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externalidades, desde que estas atuem do lado da oferta. Quando as externalidades atuam
do lado da demanda, mesmo que tenham alcance geográfico limitado, não geram vantagem
competitiva a firmas, setores ou grupos de setores de regiões específicas, pois podem ser
apropriadas por firmas, setores ou grupos de setores de quaisquer regiões, capazes de
exportar seus produtos para as regiões em que exista concentração de demanda.
Pela discussão acima, são particularmente relevantes para a divisão internacional de
trabalho, então, os benefícios externos derivados dos investimentos em P&D e dos efeitos
de rede catalisados por ecologias de serviços, produtos, e tecnologias que configurem
insumos non-tradables para a produção de um produto tradable. Estes benefícios externos
atuam, geralmente, do lado da oferta e têm, freqüentemente, alcance geográfico limitado.
Agem, por exemplo, em pólos tecnológicos, como os de Silicon Valley e Boston, nos EUA,
que concentram, em uma mesma região geográfica, capital humano especializado,
empresas de alta tecnologia, que empregam o capital humano e investem pesadamente em
P&D, universidades, que formam capital humano e também investem pesadamente em
P&D, e empresas especializadas de infra-estrutura, que oferecem insumos non-tradables
específicos para os trabalhadores, empresas, universidades e outras empresas de infra-
estrutura que atuam na região. No Brasil, um exemplo deste tipo de pólo é o de São José
dos Campos, no Estado de São Paulo. Nascido do Centro Técnico Aeroespacial (CTA), na
década de 50, sob comando da Aeronáutica, este pólo deu origem ao Instituto Tecnológico
de Aeronáutica (ITA), que, ainda na década de 50, formava engenheiros aeronáuticos. Deu
origem, também, em 1969, à Embraer, então uma empresa estatal focada na indústria
aeronáutica. Ao contrário dos pólos tecnológicos norte-americanos, nos quais predominam
investimentos privados, o pólo de São José dos Campos nasceu de investimentos públicos,
e deu origem a uma empresa estatal pouco eficiente, que chegou à década de 90 em
situação financeira precária. Com sua privatização, em 1994, a Embraer se recuperou e
passou a ser, em poucos anos, o principal exemplo de empresa brasileira protagonista no
mercado internacional em um setor de alta tecnologia, marcado por retornos crescentes,
como o aeronáutico. Sua competitividade no mercado internacional fundamenta-se não só
em uma gestão profissional, voltada ao lucro, introduzida pelo capital privado, mas também
em externalidades geradoras de retornos crescentes, que atuam do lado da oferta, de alcance