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duas características altamente valorizadas na sociedade ocidental”
38
. E também:
“nós temos a crença de que as pessoas gordas são agradáveis, contentes,
agradáveis, engraçadas, mas também que são tolas, ‘gordurosas’ e avarentas”
39
.
O que ocorre, como podemos observar com os exemplos, é a criação de uma
multiplicidade de estereótipos dos indivíduos que possuem obesidade severa,
coerente com o fato de que, em diferentes campos ou diferentes posicionamentos
na sociedade, estão a todo o momento nos identificando, a partir de atributos, por
vezes depreciativos, e símbolos padronizados de nossa cultura, fazendo com que
assumamos diferentes e fragmentadas identidades sociais. Essa identificação se dá
sempre em relação a um padrão cultural ou a uma identidade específica que serve
como parâmetro para que outras identidades sejam identificadas.
Seguindo com a mesma linha argumentativa, Silva (2000) concebe o conceito
de identidade também como uma construção, que é instável, fragmentada e
contraditória. Nas suas palavras:
A identidade não é uma essência, não é um dado ou um fato (seja da
natureza, seja da cultura). A identidade não é fixa, estável, coerente,
unificada, permanente. A identidade tampouco é homogênea,
definitiva, acabada, idêntica, transcendental. Por outro lado,
podemos dizer que a identidade é uma construção, um efeito, um
processo de produção, uma relação, um ato performativo. A
identidade é instável, contraditória, fragmentada, inconsistente,
inacabada. A identidade está ligada a estruturas discursivas e
narrativas (SILVA, 2000, p. 96-97).
Anselm Strauss, assim como Silva (2000) e outros autores
40
, também rejeita
uma visão estática da identidade. Para ele,
38
No original, “just as being ‘fat’ is often associated with laziness and a lack of self-control, being ‘thin’
is viewed as evidence of one's motivation and self-discipline, two characteristics highly valued in
western society” (CRANDALL & SCHIFFHAUER, 1998 apud GREENLEAF et al, 2004, p. 374).
39
No original, “we have the beliefs that fat people are good-natured, contented, likable, funny, and
also that they are foolish, ‘greasy’, and greedy” (POWDERMAKER, 1997, p. 208).
40
Ver (Hall, 2000, 2001; Woodward, 2000; Bento, 2003).