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RESUMO
ESTUDO DA TOXICIDADE HEPÁTICA DA trans-DESIDROCROTONINA (t-
DCTN), UM DITERPENO OBTIDO DA Croton cajucara BENTH, E DE
ESTRATÉGIAS FARMACOLÓGICAS PREVENTIVAS EM MODELOS ANIMAIS.
Alana Fonteles Lima Rabelo. Orientador: Prof. Dr. Vietla Satyanarayana Rao. Dissertação
submetida como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Farmacologia do
programa de Pós-Graduação em Farmacologia. Departamento de Fisiologia e Farmacologia.
Faculdade de Medicina. Universidade Federal do Ceará, 2008.
A trans-desidrocrotonina (t-DCTN) é o principal composto diterpenóide presente no extrato
da casca do caule de Croton cajucara (sacaca). Este diterpeno possui um amplo espectro de
atividades farmacológicas que inclui antiinflamatória, antinociceptiva, e efeitos
hipoglicemiante e hipolipidêmico. Substâncias com esse perfil farmacológico são comumente
associadas a efeitos deletérios sobre o fígado. Tendo em vista que estudos in vitro e in vivo
mostraram uma hepatotoxicidade da t-DCTN, o presente estudo objetivou analisar em maior
profundidade o seu potencial em causar dano hepático e, então, buscar estratégias
farmacológicas para mitigar tal toxicidade. Desta forma, os experimentos iniciais foram
direcionados para observação do dano hepático em camundongos que receberam, por
gavagem, uma única (aguda) ou repetidas (subcrônica) administrações de t-DCTN, em doses
que variam de 10 a 300 mg/kg. A segunda série de experiências foi projetada para avaliar os
efeitos do (i) pré-condicionamento com a menor dose de t-DCTN (10 mg/kg) ou etanol (1
g/kg), e do (ii) pré-tratamento com Vitamina E ou NAC no dano hepático associado a altas
doses de t-DCTN em camundongos. Um possível envolvimento de NO também foi verificado
no efeito pré-condicionante de t-DCTN e/ou Etanol. t-DCTN em doses mais altas (100 e 300
mg/kg, v.o.) causou dano hepático severo, comprovado por aumentos significativos (p
<0,001) nos níveis séricos de ALT e AST e por alterações histopatológicas, quando
administrada isolada ou repetidamente. Em contraste, as doses de 10 e 30 mg/kg não
promoveram alterações significantes, sugerindo que a toxicidade da t-DCTN é dose
dependente. O pré-condicionamento farmacológico com t-DCTN (10 mg/kg, v.o.) e Etanol (1
g/kg, v.o.) atenuaram significativamente (p <0,001) a hepatotoxicidade associada a alta dose
(100 mg/kg) de t-DCTN, como comprovado pela redução na atividade das transaminases
séricas, como também nas lesões hepáticas. A suplementação em camundongos com L-
arginina, um substrato para geração de NO, preveniu parcialmente o efeito hepatotóxico da t-
DCTN, possivelmente devido a um aumento na microcirculação hepática. Adicionalmente, o
pré-tratamento com Vitamina E, mas não com NAC, reduziu efetivamente os efeitos
hepatotóxicos de t-DCTN, comprovado pela diminuição dos níveis séricos de ALT e AST, de
TBARS hepático e das alterações histológicas. Isto sugere que Vitamina E protege contra o
aumento da peroxidação lipídica hepática promovido por alta dose de t-DCTN.
Paradoxalmente, comparada a outros hepatotoxicantes relatados na literatura, a t-DCTN
aumenta os níveis de glutationa hepática que pode ser uma conseqüência do estresse oxidativo
prolongado. Em conjunto, estes resultados confirmam as observações anteriores sobre o
potencial hepatotóxico da t-DCTN e sugerem que um aumento no estresse oxidativo e na
peroxidação lipídica das membranas dos hepatócitos contribui para o dano hepático desse
diterpeno. A suplementação com Vitamina E, um antioxidante lipossolúvel, ou o pré-
condicionamento com doses menores de t-DCTN ou etanol poderiam ser profilaticamente útil
para superar os efeitos hepatotóxicos de t-DCTN.
Palavras-chave: Croton cajucara, trans-desidrocrotonina, diterpenos, hipoglicemiantes,
hepatotoxicidade.