73
O desafio principal que temos a enfrentar é o de saber implementar uma
estratégia educativa. Isto é, planejar e pôr em prática processos educativos,
lógicos, coerentes, que tenham uma seqüência e uma perspectiva tal, que nos
permitam chegar a apropriar-nos criticamente da realidade para transformá-la.
O autor demonstra com isso que a concepção metodológica deve sublinhar o
sentido mais profundo na busca de como orientar e organizar estrategicamente as
práticas de educação popular. Dessa maneira, a concepção metodológica dialética e
suas formas de aplicação à educação popular abrangem com mais profundidade e
riqueza os elementos fundamentais para o desvelamento da atual sociedade capitalista.
Reforçamos que se tratamos aqui da dialética materialista é porque a consideramos a
principal desmistificadora de uma leitura da realidade febril que insiste em considerar o
pensamento como caminho de saída para nossas mazelas sociais. Marx e Engels
(1987, p. 54) traduzem por excelência essa questão:
Segundo a Crítica, todo o mal vem unicamente do "pensamento" dos operários.
Ora, os operários ingleses e franceses formaram associações onde eles não
contentam apenas de se instruir mutuamente sobre suas necessidades
imediatas enquanto operários, mas se instruem ainda sobre suas necessidades
enquanto homens, sem contar que eles manifestam nestas associações
também uma consciência muito profunda e muito extensa da força "enorme",
"imensa", que provém de sua cooperação. Mas, estes operários da massa,
estes operários comunistas, que trabalham nas fábricas de Manchester e de
Lyon, por exemplo, não cometem o erro de acreditar que o "pensamento puro"
os libertará de seus patrões e de sua inferiorização prática. Eles se ressentem
amargamente da diferença entre o ser e o pensamento, entre a consciência e a
vida. Eles sabem que a propriedade, o capital, o dinheiro, o trabalho
assalariado, etc., não são minimamente simples criações de sua imaginação,
mas resultados muitos práticos, muitos concretos da alienação de seu ser que
devem, portanto, ser abolidos de forma prática, concreta, para que o homem se
torne homem não somente no pensamento, na consciência, mas também no
ser de massa, na vida. A Crítica crítica lhes ensina, ao contrário, que eles
deixam de ser assalariados na realidade se, em pensamento, eles abolirem a
idéia do trabalho assalariado, se eles deixarem, em pensamento, de se manter
como assalariados e, em conformidade com esta excessiva pretensão, não
quiserem mais ser pagos pessoalmente. Idealistas absolutos, entidades
estéreas, depois disto, estes poderão, naturalmente, viver do etéreo, da idéia
pura. A Crítica crítica lhes ensinavam que eles conseguirão suprimir o capital
real ao ultrapassar a categoria do capital no pensamento, que eles conseguirão
se transformar realmente fazendo de si mesmos homens reais, quando
transformarem seu eu abstrato na consciência e quando desprezarem, como
uma operação contrária à Crítica, toda a transformação de sua existência real,
das condições reais de sua existência, ou seja de seu eu real. O espírito, que
na realidade vê apenas categorias, reduz também, naturalmente, toda atividade
e toda prática humana ao processo de pensamento dialético da Crítica crítica. É