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NOTAS
1- Anthony Giddens afirma que as mulheres desde muito têm sido divididas, em virtude de sua
capacidade de recusar os prazeres sexuais, entre “virtuosas” e “perdidas”. A sociedade tem
amparado essa recusa ou virtude através de determinadas instituições como a autoridade
paterna, o namoro com acompanhantes, casamento forçado, entre outras. Para maiores
informações ver As transformações da intimidade. São Paulo: Edusp, 1993.
2- Cora Coralina, na verdade Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, poetisa goiana, nasceu em
1889 e, quando indagada sobre a idade que tinha, respondia que viera do século passado,
tendo consigo todas as idades. Publicou o seu primeiro de conto ainda na adolescência, aos 14
anos. É autora de O cântico da volta, Poemas dos becos de Goiás, Estórias mais e Vintém de
cobre – meias confições de Aninha. O reconhecimento veio na década de 1980, quando foi
eleita uma das dez mais importantes escritoras brasileiras, passando a receber prêmios como
Idoso do Ano/Sesc (1982), da Associação Paulista de Crítica de Arte, da União Brasileira de
Escritores (Troféu Juca Pato) e Comenda Honra ao Mérito. Recebeu ainda homenagens da
ONU e da Rede Globo. Apesar de ter começado a escrever ainda na adolescência, Cora
Coralina só se dedicará ao ofício, de fato, na terceira idade, quando, viúva, volta a morar na
cidade de Goiás, antiga Vila Boa, local onde nascera. Junto com Alice Augusta de Sant’Anna,
Leodegária de Jesus e Rosa Godinho editou em 1907 o semanário A Rosa, periódico divulgador
do Movimento Literário da Cidade de Goiás. Nos registros do Centro de Valorização da Mulher
(Cevam), Cora Coralina se fez presente em reuniões, discutindo o papel da mulher na
sociedade. Ver Britto (1982) ou os arquivos do Cevam.
3- Souza define quatro tipos de violência que constitui o habitus goiano. Para a do nosso trabalho,
interessa-nos a violência do tipo impulsiva e a do tipo expressiva. Primeiro porque relacionam-
se a crimes comumente praticados na esfera doméstica e, segundo, pela natureza deles. A
violência impulsiva refere-se a atos que evidenciam a imediaticidade da reação do agressor a
uma contrariedade momentânea, o caráter espontâneo da ação e a ausência de premeditação.
Nessa categoria, Souza inclui, entre outras, as reações violentas de maridos contra as esposas
em discussões domésticas, fortuitas por motivos diversos. Guarda estreita relação com o
padrão de sociabilidade cotidiana dos agentes, sociabilidade partida, incompleta, frustrada.
Pode, ainda, ser classificada, nos termos weberianos, como uma ação irracional afetiva. “Pode
ser referida ao monopólio imperfeito da violência por parte do Estado, incapaz de criar, ao longo
prazo, os constrangimentos externos aos quais correspondem a racionalização da conduta e o
autocontrole”. Elias citado em Souza (1999, p. 125) . A violência expressiva no Brasil associa-
se aos princípios da honra que exaltam masculinidade e a braveza física. Ela “visa desvalorizar
o outro para atribuir-lhe um valor maior numa escala hierárquica. Depende do valor que o
indivíduo atribui a si próprio e de sua expectativa de que esse valor presumido lhe seja atribuído
pelo outro. Nas situações de conflito, a expectativa não é correspondida, fazendo com que o
indivíduo se sinta diminuído, desprezado. Ele expressa então essa incongruência de valores por
meio da violência [...] trata-se de colocar-se numa posição superior ao considerado desigual
porque é inferior. Cabem nesse tipo de violência”, entre outras, “tanto a violência que eclode das
relações de gênero – quando a vítima é a mulher – e que não resulta de impulsos apenas
momentâneos, mas da reafirmação do papel do homem, da sua virilidade, da sua condição de
provedor, da consagração das relações de poder dentro da família”. Esses conceitos foram
retirados de Souza (1999, p. 121 a 192)
4- Benedita Cypriano Gomes, mais conhecida na região de Pirenópolis pela alcunha de Dica, teve
sua história marcada pelo misticismo, pela defesa do povo sofrido, do trabalhador sem terra e
pela proximidade com os poderosos de seu tempo. Para melhor compreender seu poder de
liderança, na década de 1920, em torno da qual sua história é construída, ver Vasconcellos,
1991.
5- Resta-nos esclarecer que este é um recurso analítico e por isso mesmo corre o risco de ser
reducionista no que se refere às práticas feministas de ação social, pois sabemos que as
mulheres que tomaram parte do movimento se associaram a um ou mais tipos de ação coletiva
(sindicatos, partidos políticos, instituições, movimentos sociais) com o mesmo fim ou, ainda, que
há, em decorrência das gerações e das mudanças que o próprio feminismo produz, das
matrizes teóricas que orientam seu discurso e, ainda, das mudanças socio-econômicas por que
passam a sociedade, a atualização das ações e dos discursos feministas. Essa classificação
obedece a uma tipologia construída por Castells a partir da diversidade que assume o