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INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA – INPA
UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS – UFAM
Programa de Pós-Graduação em Biologia Tropical e Recursos Naturais da
Amazônia
COMPOSIÇÃO FLORÍSTICA E ESTRUTURA DA REGENERAÇÃO ARBÓREA
DE FLORESTAS DE VÁRZEA ALTA E VÁRZEA BAIXA NA RDS MAMIRAUÁ,
AMAZÔNIA CENTRAL
RAFAEL LEANDRO DE ASSIS
Manaus – AM
Julho, 2008
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RAFAEL LEANDRO DE ASSIS
COMPOSIÇÃO FLORÍSTICA E ESTRUTURA DA REGENERAÇÃO ARBÓREA
DE FLORESTAS DE VÁRZEA ALTA E VÁRZEA BAIXA NA RDS MAMIRAUÁ,
AMAZÔNIA CENTRAL
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Biologia Tropical e
Recursos Naturais do convênio
INPA/UFAM, como parte dos requisitos
para obtenção do Título de Mestre em
Ciências Biológicas, área de concentração
em Botânica.
ORIENTADOR: DR. FLORIAN WITTMANN
Manaus – AM
Julho, 2008
i
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A848 Assis, Rafael Leandro
Composição florística e estrutura da regeneração arbórea de
florestas de várzea alta e várzea baixa na RDS Mamirauá,
Amazônia / Rafael Leandro de Assis .--- Manaus : [s.n.], 2008.
xii, 86 f. : il.
Dissertação (mestrado)-- INPA/UFAM, Manaus, 2008
Orientador: Florian Wittmann
Área de concentração: Botânica
1. Florestas de várzea – Amazônia. 2. Fatores abióticos.
3. Regeneração arbórea – Reserva de Desenvolvimento
Sustentável Mamirauá. 4. Composição florística. I. Título.
CDD 19. ed. 634.95
Sinopse:
Estudou-se a composição florística e estrutura da regeneração
arbórea em duas florestas maduras de várzea sujeitas a diferentes
níveis de inundação na RDS Mamirauá, Amazônia Central.
Aspectos como influência dos fatores luz e inundação na regeneração
foram avaliados.
Palavras-chave:
Espécies regenerantes, fatores abióticos, composição florística, distribuição.
ii
Aos meus pais Luciana e Gilberto, e minha irmã Renata eu dedico.
iii
AGRADECIMENTOS
Primeiramente gostaria de agradecer o Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pela bolsa concedida durante os
dois anos em que desenvolvi o mestrado. Agradeço também a todo os meus
avaliadores que em muito ajudaram com as correções e críticas ao meu trabalho e
possibilitaram torná-lo melhor. Também agradeço muito o pessoal que ajudou nas
minhas análises, André Junqueira, Flávia Costa, Charles Zartman, Mário Terra muito
obrigado, vocês foram fundamentais para a obtenção dos meus dados e da
concretização de minnha dissertação.
Agradeço ao curso de pós-graduação do INPA, que forneceu a estrutura física
e também materiais de uso para o desenvolvimento de muitas das etapas de meu
estudo. Às secretárias do curso Gisele e Neide, que sempre me trataram de forma
excepcional e mantinham um desinformado (eu!!!) sempre por dentro das
obrigações, regimento, deveres do curso. Também ao Herbário INPA, onde estive
por muitas semanas e até meses identificando o material coletado em campo.
Especial agradecimento ao para-taxonomista José Ramos, cuja colaboração foi
fundamental para os resultados obtidos. Não sei o que seria de mim sem ele.
Com grande carinho agradeço a toda a turma do mestrado em Botânica do
INPA, grandes amigos que fiz na Amazônia, companhias intensas nas disciplinas da
pós-graduação, no trabalho do cotidiano, nas dúvidas quanto ao trabalho, nas crises
de curso, orientação, etc.
Agradeço ao Instituto Mamirauá pelo financiamento junto ao CNPq deste
trabalho e também pelo apoio logístico oferecido, desde transporte na Reserva
Mamirauá até o consentimento de uso das bases flutuantes.
Também agradeço muito ao pessoal do convênio INPA-Max Planck pelo
fornecimento de ótima infra-estrutura para meu trabalho, ajudas nas horas difíceis,
por confiarem em mim no desenvolvimento de meu estudo. Neste contexto, incluo
todo o grupo. Desde a Jesus que sempre manteve meu local de trabalho em
excelentes condições, até o Edvaldo com a Toyotinha pra cima e pra baixo levando
o pessoal. A Keila, Joneide, Terezinha, Aline, Juliana, Sammya, Astrid, Maria Astrid,
Tati, Lucia, sempre tão próximas e ótimas companheiras nas boas conversas do dia-
a-dia. Ao Dr. Jochen Schöngart, que se mostrou disposto em todos os momentos em
que lhe procurei para alguma ajuda, comentário, crítica em relação à minha
iv
dissertação. Além das críticas mais que construtivas referentes ao meu plano de
mestrado. A Maitê, sempre bem humorada e super acessível em todos os
momentos, fáceis ou difíceis.
Especial agradecimento ao pessoal que esteve comigo nas minhas coletas de
campo, ajudando, divertindo, acompanhando. Que fizeram da minha estadia na
Amazônia uma grande experiência de vida. O que seria deste trabalho sem a
deliciosa comida de Dona Leni, além das risadas e do aprendizado que essa pessoa
incrível é capaz de passar para as pessoas; ou do Jackson, sempre disposto a nos
guiar pela Reserva, ensinando, divertindo, sempre amigo; ou ainda do Zé Pretinho,
com todo o conhecimento das plantas, das áreas alagáveis, das piadas; ou do Zé
Lima, para-taxônomo de primeira linha e que muito me ajudou nos ensinamentos de
botânica; ou do Daniel Berô, nem sempre companheiro de coletas, mas muito mais
que um colega de trabalho; ou ainda do Valdeney, que esteve comigo em todas as
minhas coletas, em todas as minhas parcelas, todos os meus dados coletados tem
lá um pouco de sua mão, todo oconhecimento deste trabalho tem um monte de sua
contribuição; ou do Celso, responsável por toda a organização das viagens, desde o
que vamos comer no café do primeiro dia no campo até a última janta do último dia,
fundamental como poucos na conclusão deste trabalho, nos conselhos de campo,
de vida, nos ensinamentos da Amazônia, nos puxões de orelha necessários, na
companhia mais que freqüente durante estes dois anos, um paizão que tive ao meu
lado pelos confins da Amazônia. Também agradecimentos especiais ao meu
orientador Dr. Florian Wittmann, que me conduziu e forneceu os conhecimentos
fundamentais para a realização deste trabalho. Sempre empolgado com as idéias,
sempre acessível, mesmo quando estive meio “perdidão” sobre como carrear
minhas idéias e atingir os objetivos da dissertação. A cada conversa era uma nova
motivação para me empenhar e realizar uma boa pesquisa. Muito obrigado por ter
me orientado nessa missão e possibilitar a realização deste trabalho que tanto estou
contente em ter concluído acima de nossas expectativas.
Especial agradecimento às pessoas que nestes dois anos na Amazônia
dividiram comigo mesmo teto, contas, estresses, e amizade. Feliz, Caio, Brasa, Dri,
Sol, Baré, Júlio, Maria, muito obrigado pelo convívio e pelos bons momentos que me
proporcionaram na Amazônia.
Agradeço fortemente a todos os amigos, alguns mais que amigos, que fiz e
dividi alguns dos melhores momentos de minha vida. Desde meus amigos de
v
graduação, o pessoal mussum-mano, que apesar da distância sempre acessíveis,
onde cada conversa era sempre interminável. E os amigos novos e não menos
importantes. Todo o pessoal da Nação: Gabi, Saci, Mindu, Thainá, Francês, Dé,
Catá, todos vocês foram fundamentais na minha vivência aqui na Amazônia;
Carlinha loira, uma das melhores almas da região e companheira indescritível; Mano
e Bogão, Rena e Caê, Mario Fernandez, todos os Londrinenses Amazônicos, Luís,
Nando e Cami, Pancho, Marconi, JB, China, Fabi Manaus, Murilão, a todo o pessoal
do Futebol, meus companheiros da balada manauara, dos drinks noturnos.
Agradeço a turma do Curso de Campo EFA 2007, que me ensinaram mais que
ecologia de campo, me proporcionaram incrível experiência de convívio social, de
valores, de amizade. Glauco e Zé Luís, muito obrigado por possibilitarem-me essa
oportunidade.
Especial agradecimento ao pessoal do Lixão: Catinha, Helô, Paulão, Carol,
minha família em Manaus. Sempre, juntamente com o glorioso André Junqueira e
sua fiel esposa, ao lado, aconselhando nas coisas da vida, seja num almoço
descomprometido, na mesa do bar do Carlão, ou numa prévia de aula, etc. Espero
tê-los sempre ao meu lado, foram realmente muito importantes nestes dois anos.
E por último e mais importante agradeço à minha família. Tios, primos, avó,
todo o pessoal de Bariri. Foram incríveis durante este tempo que residi na
Amazônia, sempre tão confiantes em mim, sempre mandando incentivos, bons
pensamentos, muito carinho, sempre tão próximos apesar da distância. Em especial
meu pai, mãe e minha irmã. Sem palavras para dizer a importância de cada
conversa no telefone, cada desebafo, cada carinho, cada ajuda (que foram
muitas!!!). Sempre tão próximos. Quanto mais longe, mais os vejo ao meu lado.
Obrigado por confiarem em mim, me ampararem. Obrigado por se mostrarem ao
meu lado, possibilitando que eu pudesse contar com vocês para tudo. Sempre!!!
Enfim, agradeço a todos aqueles que de alguma forma ajudaram neste
trabalho. Valeu!!!!!!!
vi
RESUMO
As florestas de várzea da Amazônia são classificadas quanto ao nível e ao
tempo de inundação a que estão sujeitas em floresta de várzea alta (VA) e de
várzea baixa (VB). O presente estudo investigou composição e estrutura da
comunidade arbórea regenerante e também sua distribuição ao longo dos gradientes
de inundação e radiação solar em florestas de várzea alta e várzea baixa de
estádios sucessionais tardios na Reserva de Desenvolvimento Sustentável
Mamirauá, Amazônia Central.
Para isso foram instaladas 20 parcelas em VB e 20 parcelas em VA,
totalizando uma área de 0,147 ha em cada tipo florestal. Todos os indivíduos
pertencentes a espécies arbóreas, maiores que 1 m de altura e com menos de 10
cm de DAP foram amostrados. Também foram registrados em cada unidade
amostral dados referentes à radiação fotossintética ativa relativa (rPAR) local e
também foi estimada a média anual de inundação a qual a parcela está sujeita.
Foram amostrados 1054 indivíduos pertencentes a 90 espécies na várzea
alta, e 432 indivíduos de 51 espécies na várzea baixa. Houve uma separação nítida
quanto à composição florística das parcelas de VA em relação às parcelas de VB.
Maior diversidade florística foi observada em VA e está provavelmente relacionada à
menor influência da inundação neste ambiente, sendo menos limitante ao
estabelecimento e desenvolvimento das espécies em relação à VB. O número de
indivíduos e de espécies em VB responderam de forma positiva à maior intensidade
de luz, fato não observado em VA.
Foi observado também que muitas das espécies regenerantes registradas
não foram amostradas no inventário florístico com espécies adultas no mesmo local,
fato que pode estar relacionado à alta taxa de mortalidade entre as plantas jovens
no local estudado. O padrão agregado de distribuição espacial prevaleceu, porém o
número elevado de espécies que apresentou padrão aleatório em relação aos
estudos realizados em florestas de terra-firme pode estar ligado ao tipo de dispersão
típica de ecossistemas alagáveis: a hidrocoria. Entre as espécies de interesse
madeireiro, a abundância de indivíduos foi baixa, possivelmente porque estas
espécies ocorrem naturalmente em baixa densidade. Também é possível que suas
populações tenham sido diminuídas durante o período de extração madeireira
anterior à implantação da Reserva.
vii
ABSTRACT
According to the height and the duration of the inundations, the different
várzea forest types can be distinguished in high-várzea forests (HV) and low-várzea
forests (LV). The present study investigated community structure and species
composition of tree regeneration, and sapling species distribution along the gradients
of inundation and solar radiation in late-successional stages of high-várzea and low-
várzea forests within the Mamirauá Sustainable Development Reserve, Central
Amazon. Twenty plots each with the size of 75.5 m
2
were established in both, late-
successional low-várzea and late-successional high-várzea forests, where all trees
1 m height and < 10 cm diameter at breast height – dbh were inventoried. In each
plot, the relative photosinthetically active radiation (rPAR) and the mean inundation of
the individuals was recorded.
In total, 1054 individuals were recorded in the high-várzea forests, belonging
to 90 species, whereas the 432 recorded individuals in the low-várzea forest
belonged to 51 species. Floristic composition at the species level differed significantly
between the low-várzea and the high-várzea plots. The major diversity in the high
várzea possibly reflects the limitations of species establishment and development
caused by the comparatively high inundations in the low várzea. On the other hand,
significant relations between floristic composition, the investigated structural
parameters, and rPAR could only been recorded in the low várzea.
Several sapling species recorded in the present study were not presented in
floristic inventories of the mature tree community ( 10 cm) at the same sites, which
can be traced back to high mortality rates in tree regeneration. The majority of
species recorded showed aggregated spatial distribution patterns, however, the
number of randomly distributed species populations was higher than that described
in inventories performed in Amazonian upland forests, reflecting the hydrochoric
dispersal of many várzea tree species.
The presence of timber species in the present inventories was low, indicating
that the majority of várzea timber species occur with natural low abundances.
Additionally, timber species populations maybe significantly reduced at the sites
before the implementation of the reserve.
viii
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ..............................................................................................................13
1.1 Considerações Gerais Sobre as Áreas Inundáveis da Amazônia........................13
1.2 Ecossistema Várzea ............................................................................................15
1.3 Sucessão Vegetal e Tipos Florestais na Várzea..................................................16
1.3.1 Florestas de Várzea Baixa .........................................................................17
1.3.2 Florestas de Várzea Alta............................................................................20
1.3.3 Chavascal ..................................................................................................21
1.4 Uso Sustentado dos Recursos Naturais nas Florestas de Várzea.......................21
2. JUSTIFICATIVA ............................................................................................................23
3. OBJETIVOS ..................................................................................................................24
3.1 Geral ....................................................................................................................24
3.2 Específicos...........................................................................................................24
4. AREA DE ESTUDOS – RESERVA DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
MAMIRAUÁ.......................................................................................................25
4.1 Criação da Reserva .............................................................................................25
4.2 Localização ..........................................................................................................26
4.3 Aspectos Físicos ..................................................................................................27
4.4 Vegetação............................................................................................................27
4.5 O Homem e a RDSM ...........................................................................................28
5. MATERIAIS E MÉTODOS ............................................................................................30
5.1 Área de Estudos...................................................................................................30
5.2 Amostragem e Coleta de Dados ..........................................................................30
5.2.1 Inventário Florístico....................................................................................30
5.2.2 Luz x Regeneração Arbórea .....................................................................31
5.2.3 Inundação x Regeneração Arbórea ..........................................................31
5.3 Análise dos Dados ..............................................................................................32
5.3.1 Parâmetros Fitossociológicos ....................................................................32
5.3.2 Padrão de Distribuição Espacial ................................................................32
5.3.3 Suficiência Amostral...................................................................................33
5.3.4 Diversidade Florística.................................................................................33
5.3.5 Similaridade Florística................................................................................34
5.3.6 Estrutura de Comunidade ..........................................................................34
6. RESULTADOS E DISCUSSÃO....................................................................................35
6.1 Composição Florística...................................................................................35
6.2 Diversidade de Espécies...............................................................................47
6.3 Estrutura de Comunidade .............................................................................53
6.4 Distribuição Espacial.....................................................................................57
6.5 Luz e Inundação x Regeneração Arbórea.....................................................60
6.6 Espécies de Utilidade Econômica e/ou Consumo.........................................69
7. CONCLUSÃO................................................................................................................74
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................................76
ix
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Características gerais quanto à composição florística de espécies arbóreas
regenerantes nos dois habitats estudados na RDS Mamirauá .........................35
Tabela 2. Relação das espécies vegetais, número de indivíduos, ocorrência, valor
referente a I.V.I. e classificação quanto a utilidade econômica e/ou de consumo
das espécies arbóreas regenerantes do Setor Jarauá da RDS Mamirauá .......36
Tabela 3. Área basal total, abundância relativa, dominância relativa , freqüência relativa e
valor de IVI das 15 espécies regenerantes (< 10 cm DAP e 1 m de altura) mais
importantes nos dois tipos florestais estudados..................................................42
Tabela 4. Valor de Importância de Família (FIV) das famílias botânicas de espécies
regenerantes em florestas de várzea alta e várzea baixa.................................44
Tabela 5. Número de espécies e Índice de Similaridade de SØrensen entre três
levantamentos considerando espécies regenerantes em florestas de várzea alta
e várzea baixa na Amazônia.............................................................................50
Tabela 6. Características estruturais de espécies arbóreas regenerantes nos dois
ambientes estudados na RDS Mamirauá..........................................................54
Tabela 7. Relação das espécies arbóreas regenerantes com oito ou mais indivíduos
amostradas em VA e VB e os respectivos índices de agregação de Morisita (Id),
os valores de F calculados e o padrão de distribuição......................................58
Tabela 8. Características dos habitats estudados considerando apenas espécies arbóreas
1 m altura e <10 cm DAP ...............................................................................60
x
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Área da RDSM, entre os rios Japurá e Solimões. Parcela 1: várzea alta; Parcela
2: várzea baixa..................................................................................................26
Figura 2. Distribuição das plantas arbóreas jovens ( 1 m de altura e < 10 cm DAP) quanto
às famílias botânicas amostradas nos dois tipos florestais...............................39
Figura 3. Distribuição das plantas arbóreas regenerantes ( 1m de altura e < 10 cm DAP)
quanto às famílias botânicas amostradas nos dois tipos florestais...................40
Figura 4. Abundância de espécies nos dois tipos florestais estudados.............................46
Figura 5. Curva do número de pontos de amostragem versus o número de espécies
amostradas para os dois tipos florestais estudados..........................................48
Figura 6. Curvas de rarefação para a riqueza estimada de espécies arbóreas
regenerantes amostradas nas sub-parcelas das florestas de várzea alta e
várzea baixa......................................................................................................48
Figura 7. Índice de Shannon (H’) e de Equabilidade de Pielou (J’) de todas as parcelas
amostradas .......................................................................................................49
Figura 8. Agrupamento das parcelas de floresta de várzea alta e várzea baixa de acordo
com a composição florística..............................................................................52
Figura 9. Distribuição dos indivíduos jovens de acordo com a classe de diâmetro (D.A.P.)
e altura média ...................................................................................................55
Figura 10. Distribuição de indivíduos em relação às classes de DAP e altura média em
ambientes de várzea alta e várzea baixa..........................................................56
Figura 11. Número de indivíduos e espécies em relação ao gradiente de inundação em
florestas de várzea alta e várzea baixa.............................................................61
Figura 12. Média do número de indivíduos e espécies por parcela em relação aos níveis
de rPAR (%) em floresta de várzea alta e floresta de várzea baixa ..................62
Figura 13. Ordenação das espécies com abundância 8 indivíduos de acordo com os
gradientes de luz (rPAR) e inundação nos tipos florestais várzea alta e várzea
baixa amostrados..............................................................................................66
Figura 14. Distribuição espacial das espécies amostradas nas parcelas localizadas em
floresta de várzea alta e em floresta de várzea baixa em relação as variáveis
nível de inundação média e rPAR.....................................................................67
Figura 15. Relação entre tamanho médio de DAP e rPAR, DAP médio e nível de
inundação, altura média e rPAR, e altura média e nível de inundação em
floresta de várzea alta .....................................................................................
68
xi
Figura 16. Relação entre tamanho médio de DAP e rPAR, DAP médio e nível de
inundação, altura média e rPAR, e altura média e nível de inundação em
floresta de várzea baixa .................................................................................... 68
Figura 17. Índice de diversidade de Shannon (H’) em relação ao nível de inundação e em
relação ao rPAR entre todas as parcelas amostradas ......................................69
xii
1. INTRODUÇÃO
1.1 Considerações Gerais Sobre as Áreas Inundáveis da Amazônia
2
A planície inundável ocupa cerca de 300.000 km na Amazônia, sendo 30%
são ocupados por diversos tipos de vegetação, que variam desde campos abertos
até florestas (Whitmore & Prance, 1987; Klinge et al., 1990). Nesta região, o principal
fator responsável pela existência, produtividade e interações nos ecossistemas
inundáveis é o ciclo de flutuação do nível da água. Esta flutuação resulta em um
prolongado e, de certa forma previsível, período anual de inundação, sobre extensa
área ao longo dos cursos dos rios. A alternância entre fase terrestre e aquática na
Amazônia inundável motivou Junk et al. (1989) a descrever o conceito do pulso de
inundação, que é fundamentado nas considerações hidrológicas dos rios, seus
afluentes e as planícies alagáveis. O pulso de inundação monomodal é o fator ativo
dominante dos processos ecológicos nas planícies alagáveis da Amazônia. Quanto
à previsibilidade deste pulso de inundação, entre 1903 e 2004 a inundação atingiu
seu maior nível na segunda metade de junho em 55% dos anos (Irion et al., 1997),
entretanto, a altura máxima da inundação variou muito de um ano para o outro. A
menor inundação registrada ocorreu em 1926, quando o nível da água atingiu altura
máxima de apenas dois metros em relação ao período da seca, enquanto em 1953
foi registrada a maior inundação, onde no pico da cheia o rio Negro subiu oito
metros. De forma que em Manaus, a amplitude anual média de inundação está em
torno de seis metros (Schöngart & Junk, 2007).
O pulso de inundação, que ocorre na bacia Amazônica desde o Terciário
(Junk, 1989), tem grande influência nos ciclos biogeoquímicos, ritmos de
crescimento e ciclos de vida de muitas espécies da biota, como algas, macrófitas,
árvores, peixes e invertebrados (Junk, 1997). Até mesmo as atividades econômicas
como agricultura, pesca e extração de madeira estão diretamente relacionadas às
flutuações do nível da água. A pesca é mais intensa durante a vazante, quando os
estoques de peixes estão concentrados nos corpos de água remanescentes. A
agricultura é praticada durante a fase terrestre nos locais mais elevados
topograficamente, onde a inundação é menor e a plantação tem mais tempo para
atingir a idade ideal para a colheita (Junk et al., 2000). A extração de madeira
ocorre, preferencialmente, na fase aquática, quando as florestas podem ser
13
acessadas mais facilmente através de barcos e canoas e o transporte das toras se
dá através dos canais, que diminui muito o custo (Barros & Uhl, 1995; Albernaz &
Ayres, 1999). Também a fenologia, a dispersão de frutos e sementes, a regeneração
e a distribuição das espécies arbóreas são fortemente influenciadas pela duração e
amplitude do período de inundação (Gottsberger, 1978; Goulding, 1980; Revilla,
1981; Van der Pijl, 1982; Piedade, 1985; Worbes, 1985).
Muitos autores têm descrito as diferentes formações vegetais das florestas
inundáveis, sendo que os tipos mais representativos na Amazônia Central são as
florestas periodicamente inundadas por rios de água branca (várzeas) ou
periodicamente alagadas por rios de água preta ou clara (igapós) (Sioli, 1951). As
florestas de várzea e igapó apresentam características estruturais e florísticas
próprias, que são resultado de diferenças geomorfológicas e hidrológicas (Sioli,
1956; Imler, 1977). Enquanto as várzeas ocorrem em formações geológicas do
período Quaternário, mais recentes e ricas em sedimentos, os igapós ocorrem em
formações mais antigas do período Terciário, que apresentam baixos níveis de
nutrientes (Fittkau et al., 1975).
A formação da várzea e do igapó está relacionada às flutuações no nível do
mar durante o Pleistoceno, efeito que causou mudanças no clima global. Durante os
períodos glaciais, onde o nível do mar esteve mais baixo, os rios penetraram nos
depósitos de sedimentos e erodiram vales profundos nos rios da Amazônia Central
(Junk, 1997). Durante essa época, a extensão das áreas inundáveis era
relativamente pequena. Mas durante os períodos interglaciais, quando o nível do
mar era mais alto, ocorreu um bloqueio às águas que se dirigiam em direção à foz
do rio e os vales foram preenchidos com os sedimentos fluviais. Estes eventos
influenciaram a dinâmica dos rios amazônicos até 2500 km para dentro da foz,
inclusive áreas do norte e sul que margeiam os Escudos Brasileiro e da Guiana
(Junk, 1997).
A maioria dos sedimentos dos rios de água branca é originada da região dos
Andes (Fittkau et al., 1975). Inicialmente a maior parte destes sedimentos andinos
eram depositados nas terras baixas sub-andinas, onde sofriam alterações devido às
condições climáticas tropicais (Irion,1976a, Johnsson & Meade, 1990). Com isso,
houve um grande aumento no conteúdo de argila mineral e uma diminuição de
calcita (Junk, 1997). Do ponto de vista geoquímico e mineralógico, isto faz da várzea
um caso especial dentro da Amazônia Central. Enquanto áreas inundáveis da
14
Amazônia que possuem solos originados dos períodos Cretáceo, Paleozóico e Pré-
Cambriano são extremamente pobres em nutrientes e elementos alcalinos e
alcalinos-terrosos, o conteúdo destes elementos na várzea são relativamente altos
(Junk, 1997).
1.2 Ecossistema Várzea
Dentre as áreas alagáveis, a de particular interesse neste estudo é a várzea,
que possui cerca de 200.000 km
2
e corresponde a dois terços da área total das
planícies inundáveis da Amazônia (Junk, 1993). Predominantemente formada por
Floresta Ombrófila Densa Pluvial, formação ribeirinha ou mata ciliar, as florestas de
várzea da Amazônia cobrem uma área entre 60.000 e 100.000 km
2
(Junk, 1997),
representando apenas 3% de toda a área florestal da Amazônia brasileira. São
influenciadas por inundações periódicas de rios de água branca e rica em
sedimentos (Prance, 1979), como os rios Solimões, Madeira e Japurá. Na Amazônia
Central, as florestas de várzea apresentam amplitude média da flutuação do nível de
água em torno de 10 m, sendo que as árvores podem se encontrar submersas por
mais de 230 dias por ano (Junk, 1989).
A alternância entre as fases aquáticas e terrestres, combinadas com a grande
quantidade de sedimentos e materiais em suspensão provoca a formação de uma
paisagem altamente dinâmica, caracterizada pela formação de depressões, bancos
de areia e lagos (Gibbs, 1967; Irion et al., 1995). A sedimentação e a textura do solo
estão relacionadas com o tempo de inundação na qual as áreas estão submetidas, e
também à distância que a área se encontra dos rios ou mesmo dos lagos. Em geral,
a deposição de sedimentos diminui conforme aumenta a altitude da área em relação
ao curso de água. Simultaneamente, a proporção de argila no solo aumenta
(Wittmann et al., 2004). Locais mais próximos dos cursos de água podem apresentar
taxas de deposição de sedimentos de mais de um metro por ano (Junk, 1989;
Campbell et al., 1992) ou podem ainda sofrer forte influência do processo de erosão,
capaz de destruir hectares de floresta durante um período de cheia (Wittmann,
2001). Estas condições instáveis resultam na existência de diferentes tipos
florestais, formando um mosaico de microhabitats (Kalliola et al., 1991; Campbell et
al., 1992).
15
A distribuição das espécies está diretamente relacionada ao nível de
inundação em que a região está sujeita (Junk, 1989; Ayres, 1993), pois a duração e
altura da inundação têm influência na ecofisiologia das árvores e exigem adaptações
específicas para que as plantas consigam sobreviver em condições muitas vezes
hipóxicas (pouco oxigênio), ou até mesmo anóxicas. Em resposta ao prolongado
período de inundação à que estão submetidas, muitas plantas que sobrevivem em
ambientes com pouco oxigênio apresentam adaptações fisiológicas, como
metabolismo reduzido durante a fase aquática, e anatômicas, como formação de
lenticelas hipertróficas e aumento da superfície radicular (Kozlowski, 1984; Piedade
et al., 2000; Parolin et al., 2002). Além disso, espécies arbóreas que colonizam
áreas altamente inundadas mostram adaptações específicas para as condições
geomorfológicas locais. Dentre estas adaptações, Wittmann e Parolin (2005)
observaram que espécies que se estabelecem próximo às margens dos rios
apresentam raízes adventícias, que aumentam a superfície de captação de oxigênio.
A inundação e a disponibilidade de luz juntos podem determinar padrões
espaciais de regeneração de árvores, pois influem diretamente na germinação das
sementes e sobrevivência de plântulas em regiões inundáveis (Streng, 1986; Walker
et al., 1986, Jones et al., 1989, Streng et al., 1989; Jones et al., 1995). Segundo
Grime (1979) estes ambientes são menos diversos por causa da combinação de
estresse causado pela inundação e pouca disponibilidade de luz durante a cheia,
sendo rigoroso demais para permitir o estabelecimento e sobrevivência de algumas
plantas. Por isso, as florestas inundáveis amazônicas possuem em geral menos
espécies que as áreas não inundáveis da mesma região (Prance, 1979; Balslev et
al., 1987; Junk, 1989). O tipo florestal mais próximo dos rios se estabelece quando a
inundação média atinge de 6.5 a 7 metros, correspondendo a um período de
submersão entre 219 e 240 dias por ano (Wittmann et al., 2004). Abaixo desta
formação florestal, algumas espécies arbustivas e até mesmo arbóreas podem ser
encontradas nas zonas marginais dos lagos, mas nunca desenvolvendo um tipo
florestal com dossel fechado (Wittmann et al., 2004).
1.3 Sucessão Vegetal e Tipos Florestais na Várzea
Devido às características físicas do solo e, principalmente, devido à dinâmica
de sedimentação e erosão típica destes ambientes banhados por rios ricos em
16
material em suspensão (Salo et al., 1986; Terborgh & Petren, 1991), é característica
da sucessão na várzea a existência de uma zonação na comunidade de árvores ao
longo do gradiente de inundação (Junk, 1989; Ayres, 1993). No caso específico da
várzea amazônica, Worbes et al. (1992) descreveram a seqüência de sucessão
vegetal, do estabelecimento de plantas em terrenos com sedimentos recém
depositados até as florestas em estádios sucessionais mais avançados, com árvores
alcançando idades entre 100 e 300 anos. Com o decorrer da sucessão, o número de
espécies tende a aumentar ao longo do gradiente sucessional, sendo que ambientes
em estágios primários de sucessão podem apresentar formações vegetais
compostas por uma única espécie, enquanto que aqueles em estádios tardios
podem comportar mais de 100 espécies por hectare. A densidade de árvores declina
de um máximo de 1000 indivíduos por hectare nos estádios iniciais de sucessão
para cerca de 500 indivíduos por hectare nos estádios tardios. A altura das árvores
mais altas encontra-se entre 10 e 15 metros nas primeiras fases da sucessão,
atingindo cerca de 30 a 35 metros nos estádios subseqüentes, desenvolvendo,
desta forma, florestas bem estratificadas.
Baseados nestes estudos e levando em consideração a influência da
dinâmica de sedimentação no incremento do gradiente topográfico, Wittmann et al.
(2002) dividiram em três os tipos florestais existentes no ecossistema várzea:
floresta de várzea baixa, com diversos estádios sucessionais, floresta de várzea alta,
que apresenta estádios sucessionais mais tardios, e o chavascal.
1.3.1 Florestas de Várzea Baixa
Basicamente, duas espécies arbóreas representam a fase inicial da sucessão
na várzea: Alchornea castaneifolia (Humb. & Bonpl. ex Willd.) e Salix martiana Leyb.,
sendo estas responsáveis por cerca de 70% das plantas encontradas nesta fase da
sucessão, que pode exibir nível de inundação máximo de 7,5 m durante 230 dias por
ano em média. As espécies encontradas neste habitat apresentam adaptações para
suportar prolongada inundação e apenas se estabelecem em locais onde a taxa de
radiação fotossintética ativa relativa (rPAR) está entre 70 e 100% (Wittmann et al.,
2002). Como necessitam de muita radiação solar para se desenvolverem são
conhecidas como estrategistas-r (Pianka, 1970), pois apresentam rápido
crescimento, ciclos de vida relativamente curtos, e um grande potencial de
17
reprodução, tanto vegetativa, quanto sexual (Puhakka & Kalliola, 1993; Worbes,
1997; Parolin, 1998). As sementes de S. martiana, por exemplo, são flutuantes e
germinam enquanto ainda sobre a superfície da água, podendo se estabelecer tão
logo atinjam o substrato (Oliveira Wittmann no prelo). Florestas formadas por
espécies pioneiras, geralmente, não formam um dossel estratificado e a idade
máxima que os indivíduos atingem é de apenas 10 anos (Worbes et al. 1992). Nas
florestas de várzea da Amazônia Central, A. castaneifolia é, geralmente, mais
abundante que S. martiana nas florestas pioneiras. Já na floresta de várzea da
Amazônia Ocidental, Salix martiana dá lugar a Tessaria integrifolia Ruiz & Pav. no
estádio inicial da sucessão arbórea (Kalliola, et al., 1991). O estabelecimento destas
espécies promove a sedimentação local, pois os caules e raízes das árvores
resistem a corrente dos rios e diminuem a energia da água, causando um contínuo
aumento nos níveis topográficos (Wittmann et al., 2002, 2004). Com o passar do
tempo, estas florestas pioneiras promovem o sombreamento, que reduz o
estabelecimento de pioneiras e permitem o desenvolvimento de outras espécies,
moderadamente dependentes de luz (“inibição” e “facilitação” sensu Connell &
Slatyer, 1977).
O estádio secundário inicial da sucessão é considerado o mais uniforme.
Ocorre em taxas de inundação entre 4,5-6 m na Amazônia Central e geralmente é
formada por uma floresta densa, monoespecífica e não estratificada, no qual a
Cecropia latiloba é a espécie dominante, cujos indivíduos atingem idade máxima de
15-20 anos (Worbes et al., 1992, Schöngart, 2003). Nos estudos realizados por
Wittmann e colaboradores (2004) em uma floresta em estádio secundário da
Reserva Mamirauá, das cinco espécies encontradas neste estádio, Cecropia latiloba
Miq. foi predominante com 87% do total de indivíduos inventariados, seguida por
Nectandra amazonum Ness (8%) e Crataeva benthamii Eichler (3%). Estas espécies
necessitam de uma vegetação pré-existente para se estabelecerem, pois não são
tolerantes à incidência direta da radiação solar nas primeiras fases da vida. A média
de rPAR neste ambiente está em torno de 15%.
Já o estágio secundário tardio, que ocorre próximo aos rios, pode apresentar
entre 500-600 indivíduos distribuídos em até 50 espécies por hectare (Wittmann et
al. 2004). Este estágio é caracterizado como o começo de uma estratificação, e
entre as espécies mais comuns estão Pseudobombax munguba (Mart. & Zucc.)
Dugand, Laetia corymbulosa Spruce ex Benth., Luehea cymulosa Spruce ex Benth.,
18
Maclura tinctoria (L.) D. Don. ex. Steud., Nectandra amazonum Nees e Crateva
benthamii Eichler. A inundação nestes habitats geralmente está entre 4 e 5 m,
durante um período entre 210-160 dias por ano. As árvores podem atingir idades
entre 60-80 anos (Worbes et al., 1992).
E por último entre as florestas de várzea baixa está o tipo florestal de estádio
sucessional tardio, que geralmente ocorre em locais mais distantes dos rios do que
os estádios anteriores e pode ser definido como a floresta madura entre os tipos
florestais de várzea baixa. Apresenta solo com grande quantidade de grãos finos e,
por estar localizado em locais topograficamente mais elevados, apresenta menores
taxas de inundação, sendo estas entre 3 e 4,5 m, durante um período de 50 a 120
dias por ano. São florestas bem estratificadas, podendo apresentar até 90 espécies
arbóreas e com cerca de 40% de todas as árvores ( 10 cm DAP) formando um
dossel elevado (30-35 m). Entre as espécies características estão Piranhea trifoliata
Baill., Tabebuia barbata (E. Mey) Sandwith, e Hevea spp., Oxandra spp.e Duroia
duckei Huber. A radiação fotossintética ativa relativa (rPAR) que atinge o solo deste
tipo de floresta está na média de 3-5%. A idade máxima encontrada para uma árvore
neste habitat foi de 400 anos, apresentado por um indivíduo da espécie de Piranhea
trifoliata (Worbes et al. 1992). De acordo com o modelo sucessional de Worbes, as
árvores longevas encontradas neste ambiente sugerem que estas são florestas de
várzea baixa de sucessão tardia. Mas segundo Wittmann (no prelo), isto pode ser
característico em áreas distantes dos canais de rios, onde as taxas de sedimentação
são muito baixas (< 1 mm por ano). Entretanto, os inventários florísticos de Cattanio
et al. (2002) na Amazônia Oriental, Wittmann et al. (2002) na Amazônia Central, e
Balslev et al. (1987), Dallmeier et al. (1996), e Nebel et al. (2001) na Amazônia
Ocidental sugerem que as florestas sucessionais tardias de várzea baixa são
vulneráveis às condições de mudanças ambientais, e são eventualmente
substituídas pelas florestas de várzea alta. Dependendo das taxas de sedimentação
nestas florestas, este processo pode durar séculos, permitindo o estabelecimento de
algumas espécies que intermedeiem os processos desta sucessão (Wittmann et al.,
2004).
19
1.3.2 Florestas de Várzea Alta
Localizadas nos maiores níveis do gradiente topográfico, encontra-se o tipo
florestal que representa a fase tardia nas florestas de várzea. As florestas de várzea
alta apresentam taxas de sedimentação e níveis de inundação bem menos limitantes
em relação aos outros tipos florestais da várzea, sendo o fator mais limitante a baixa
intensidade luminosa, principalmente para as planta jovens e aquelas de sub-bosque
(Wittmann et al., 2004). As florestas de várzea alta são as que apresentam a maior
riqueza de espécies entre as florestas de várzea, podendo apresentar número de
espécies arbóreas maior que 160 espécies por hectare na Amazônia Central e nas
porções da Amazônia Ocidental (Balslev et al. 1987, Dallmeier et al. 1996, Nebel et
al. 2001, Wittmann et al. 2002). Também é muito comum neste tipo florestal a
presença de muitas espécies arbóreas de grande porte, e também muitas espécies
de crescimento lento e alta densidade da madeira.
Este tipo florestal se estabelece onde o nível da água durante a inundação
não ultrapassa os três metros. Em alguns locais ao longo do gradiente de
inundação, o período de inundação média pode ser inferior a 50 dias por ano, e
durante períodos excepcionais de grandes secas (p. ex. durante eventos de El Niño)
podem sequer apresentar fase aquática (Schöngart et al. 2004). Muitas espécies
ocorrem em baixa densidade, geralmente representadas por apenas um indivíduo
adulto por hectare. Estas florestas mostram uma distinta estratificação, com muitas
árvores com copas atingindo alturas de 30-35 m e as emergentes podendo alcançar
mais de 45 m de altura (Wittmann et al., 2002). Na Amazônia Central, os gêneros
abundantes entre as árvores de dossel são Terminalia, Aspidosperma e Guarea;
entre as espécies de estrato médio ou sub-dossel, são citadas Pouteria, Brosimum e
Eschweilera; e as de estratos inferiores ou sub-bosque são principalmente espécies
dos gêneros Inga, Duguetia e Annona (Wittmann et al., 2004). Elas geralmente se
estabelecem ao longo dos canais dos rios, se estendendo até cerca de 100 m da
margem, ocupando apenas 10-15% de toda a extensão das florestas de várzea
(Wittmann et al. 2002). Dentro da Reserva Mamirauá a sedimentação de algumas
destas florestas, que apresentam distância de sete km do canal do Rio Japurá,
corresponde no máximo a 0.1 cm por ano, enquanto as florestas de várzea do Rio
Solimões próximo a Manaus a taxa de sedimentação é de 0.2 cm ao ano (Wittmann
et al., 2004).
20
1.3.3 Chavascal
Na várzea da Amazônia Central, o chavascal é uma floresta densa e pobre
em espécies, onde as árvores geralmente apresentam raízes aéreas como
estratégia para aumento da superfície de captação de oxigênio, que é escasso neste
habitat (Wittmann & Parolin 2005). Os chavascais ocorrem em depressões das
florestas de várzea baixa e são caracterizados pela lenta deposição de argila e
matéria orgânica, onde o acumulo de partículas pequenas durante as fases
aquáticas leva à formação de um substrato impermeável. A baixa drenagem induz a
formação de um ambiente permanentemente alagado, mesmo durante os períodos
do ano em que o nível da água é baixo. As taxas de sedimentação mensuradas em
um chavascal no baixo Rio Japurá foram de 0,1-0,2 cm por ano, e o conteúdo de
argila no solo excede os 80% (Wittmann et al., 2004). A relativa estabilidade
geomorfológica existente combinada com as condições anóxicas durante a maior
parte do ano leva a uma seqüência sucessional na qual os primeiros estádios podem
durar várias décadas. As espécies características das primeiras fases sucessionais
dentro do chavascal são Polygonaceaes do gênero Symmeria, e Myrtaceas dos
gêneros Calyptranthes e Eugenia (Wittmann & Parolin 2005).
1.4 Uso Sustentado dos Recursos Naturais nas Florestas de Várzea
A exploração madeireira diminui a diversidade de espécies, pois as árvores
de madeira densa (que apresentam maior interesse madeireiro) são espécies que
apresentam naturalmente menor abundância. Por esse motivo, muitas das espécies
de madeira densa que ocorrem em áreas de concentração humana já se extinguiram
localmente. Além disso, grandes áreas de florestas são devastadas para o
desenvolvimento de atividades agrícolas nos solos ricos em nutrientes da várzea,
especialmente nas áreas de várzea alta, menos inundadas e onde está contido o
maior número de espécies exploráveis (Wittmann et al, 2002).
Em comparação com as áreas não-inundáveis, os custos para a exploração e
transporte de madeira nas florestas de várzea é menor, pois as toras são removidas
por barcos e enviadas às serrarias (Barros & Uhl, 1998). Entretanto, a exploração é
extremamente ameaçadora à biodiversidade das florestas da várzea, pois em geral
21
a madeira é extraída de forma não sustentável (Higuchi et al., 1994; Anderson et al.,
1991). De acordo com Klenke & Ohly (1993) e Higuchi e colaboradores (1994), entre
60 e 90% da madeira explorada na Amazônia Central e no oeste da Amazônia são
originadas das florestas de várzea. Muitas das árvores da várzea alta são espécies
de madeira densa, como Calophyllum brasiliense e a Ocotea cymbarum, e são
responsáveis por grande parte da madeira comercializada a nível local, regional e
até mesmo internacional (Worbes et al., 2001).
Outras espécies, como Ceiba pentandra e Hura crepitans apresentam
madeira de baixa densidade, por isso são muito utilizadas para a produção de
compensados e também na construção de casas flutuantes pela população local
(Wittmann et al., 2004). Além disso, muitas espécies arbóreas da várzea são
importantes na obtenção de produtos não-madeireiros, como óleos, palmito, frutos
comestíveis, resinas, fibras têxteis, produtos aromáticos e taninos, usados para o
tratamento de couro, tinturas e substância de importância medicinal (Parolin, 2000).
A elaboração de um plano de manejo florestal sustentável é de extrema
importância para a manutenção da alta diversidade nas florestas de várzea.
Principalmente nas áreas de várzea alta, pois são tipos florestais de estádio
sucessional mais tardio e por isso necessitam de centenas de anos para se
desenvolver. Este tipo florestal, que ocupa somente cerca de 10-15% da várzea,
também apresenta maior diversidade em relação à várzea baixa, concentrando
grande parte das espécies com madeira de alta densidade. Isso faz este ambiente
sofrer grande pressão antrópica e ser caracterizado como o ambiente mais
vulnerável das planícies alagáveis da Amazônia (Wittmann et al., 2004).
Manejo florestal sustentado pode ser definido como uma forma de exploração
da floresta que garanta sua recuperação, regeneração e recomposição visando à
obtenção de benefícios econômicos e sociais. A grande vantagem ecológica deste
sistema é que garante a conservação do ecossistema pela não retirada total da
floresta, diminuindo a erosão e assoreamento dos rios e demais corpos de água e
causando menor impacto no solo, além da manutenção da flora e fauna (Silva &
Kritz, 2005). Em 1989, uma ordem de serviço definiu um extensivo protocolo de
plano de manejo para as espécies da flora brasileira, incluindo especificação das
técnicas de extração para diminuir os danos à floresta, estimativas de volume a ser
explorado, tratamentos silviculturais e métodos de monitoramento do
22
desenvolvimento da floresta após a exploração. O ciclo de corte mínimo foi fixado
em 30 anos (Silva & Kritz, 2005).
As pesquisas biológicas são fundamentais para a produção de subsídios
consistentes capazes de avaliar as estratégias de zoneamento e de uso dos
componentes da biodiversidade (Ayres et al., 1997a), além de propor alternativas de
manejo viáveis (Ayres et al., 1997b), de forma a garantir que os objetivos de
proteção e conservação da biodiversidade sejam alcançados (Queiroz, 1994).
Tais pesquisas devem ser baseadas nas características biológicas das
espécies estudadas, especialmente nos aspectos de dinâmica populacional (como o
recrutamento, seja por natalidade ou por migração, e a mortalidade, seja natural ou
induzida pelo uso). Desta forma, aspectos importantes como a reprodução do
recurso, e sua capacidade de regeneração sempre devem ser considerados
(Queiroz, 1994). Modelos baseados em dados dendrocronológicos têm sido usados
como ferramentas para o manejo florestal, estabelecendo um tamanho mínimo para
os ciclos de corte de algumas espécies de interesse madeireiro (Schöngart et al.,
2007). No entanto, estudos sobre a comunidade de plantas regenerantes nas
florestas de várzea são escassos, principalmente estudos que abordem a influência
de fatores abióticos como luz e inundação, que podem fornecer dados importantes
para o manejo florestal, principalmente relacionados à capacidade de regeneração e
ciclos de cortes.
2. JUSTIFICATIVA
As respostas fisiológicas para as inundações periódicas das espécies
vegetais da várzea são bem documentadas (e.g. Schlüter et al., 1993; Parolin, 2000;
Walhoff et al., 1998; Wittmann & Parolin, 1999; Müller & Junk, 2000; Piedade et al.,
2000; Schöngart et al., 2002), e também são muitos os inventários botânicos
realizados nas florestas de várzea da Amazônia Central. Entretanto, a maioria
destes inventários botânicos amostrou apenas espécies adultas, acima de 10 ou 15
cm de diâmetro à altura do peito (DAP), sendo raras as informações sobre
composição e estrutura da regeneração nas florestas inundáveis na Amazônia e as
existentes geralmente estão relacionadas a experimentos extra-campo sobre o
estabelecimento de plântulas (Ziburski, 1991; Oliveira, 1998; Parolin, 2000, 2001;
Ferreira, 2002).
23
Por ser mais rica em nutrientes quando comparada com áreas de igapó, a
várzea é um dos ecossistemas mais afetados pelas atividades antrópicas na
Amazônia (Junk et al., 2000). Com a expansão da atividade rural, grandes porções
das florestas da várzea foram derrubadas para a prática agrícola, principalmente
próximo aos maiores centros urbanos, onde as derrubadas ocorreram e ainda
ocorrem em grande escala (Wittmann et al., 2004). Estas florestas também abrigam
muitas espécies endêmicas de animais e vegetais, além de serem essenciais para a
população local, que dependem da extração de seus recursos, tanto madeireiros
quanto não-madeireiros (Klenke & Ohly, 1993; Parolin, 2000). Desta forma, a
preservação das florestas de várzea pela introdução de planos de manejos
sustentáveis é fortemente recomendada (Ayres et al., 1999; Junk, 2000; Worbes et
al., 2001; Wittmann et al. 2002).
Neste contexto, a busca de informações básicas sobre a composição e
estrutura das plantas regenerantes é fundamental para a manutenção da
biodiversidade, já que muitas espécies da fauna necessitam da integridade florestal
para sobreviverem, além da madeira, frutos silvestres e compostos fitoterápicos que
são de grande importância para as populações ribeirinhas das florestas de várzea.
As informações a serem obtidas podem ser decisivas para o atual plano de manejo
florestal da RDS Mamirauá, gerando dados sobre a população regenerante das
espécies de interesse madeireiro e verificando se o modelo de corte aplicado é
realmente sustentável.
3. OBJETIVOS
3.1 Geral
Conhecer a composição florística e estrutura da comunidade das espécies
arbóreas regenerantes de florestas de várzea alta e de várzea baixa da RDS
Mamirauá.
3.2 Específicos
- analisar a diferença entre dois tipos de florestas madura na várzea quanto a
composição e estrutura da comunidade de espécies arbóreas regenerantes;
24
- investigar a influência das variáveis luz e inundação na regeneração arbórea
dos dois tipos florestais;
- comparar a composição e estrutura da comunidade regenerante com os
dados pré-existentes da comunidade arbórea adulta;
- descobrir quais as condições de luz e inundação mais adequadas para o
desenvolvimento das espécies vegetais em geral, em especial para as espécies
importantes ou potencialmente importantes para extração de madeira.
4. ÁREA DE ESTUDO - RESERVA DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
MAMIRAUÁ (RDSM)
4.1 Criação da Reserva
Em 1983 o biólogo José Márcio Ayres encontrou na região do lago Mamirauá
o local ideal para seu estudo de doutorado sobre o uacari-branco (Cacajao calvus
calvus). A pesquisa mostrou a necessidade de preservar uma área na quais esses
primatas ameaçados de extinção tivessem asseguradas suas chances de
sobrevivência. Em 1985 o biólogo enviou uma proposta à Secretaria de Meio
Ambiente (SEMA) para criação de uma Estação Ecológica em uma área de 260.000
hectares, a primeira reserva em ambiente de várzea do país, com o objetivo de
assegurar a biodiversidade da área (Sociedade Civil Mamirauá, 1996).
Como a categoria Estação Ecológica refere-se a unidades de conservação
não habitadas por populações humanas, sendo reservados 10% de sua área para
pesquisa e 90% para preservação total, houve a necessidade de criação de um novo
modelo que comportasse casos como o Mamirauá. Ou seja, de uma área protegida
que concilie os objetivos de preservação da natureza aliada à melhoria de qualidade
de vida de seus habitantes (Sociedade Civil Mamirauá, 1996). A solução foi a
criação, em 1996, da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (RDSM),
primeira unidade de conservação deste tipo implantada no Brasil, permitindo que as
comunidades tradicionais, que ocupam a região desde o início do século XX,
permaneçam na região (Sociedade Civil Mamirauá, 1996).
25
2
Desta forma, no centro da chamada área focal, com 2.500 km , uma região foi
demarcada para a proteção das espécies animais e vegetais. A zona de proteção
possui uma área onde é desenvolvido um sistema de exploração sustentável dos
recursos naturais, na qual o Instituto Mamirauá desenvolve em cooperação com a
população local.
4.2 Localização
A RDSM (2º 51’ S, 64º 55’ W), localiza-se na parte ocidental da Amazônia
Central, à cerca de 70 km do município de Tefé. A reserva cobre uma área de
1.124.000 hectares de várzea entre os rios Japurá, Solimões e canal Auati-Paraná, e
é a maior reserva existente dedicada exclusivamente à proteção da várzea
amazônica (Sociedade Civil Mamirauá, 1996). A área escolhida para o estudo está
situada no setor Jarauá da RDSM (fig. 1).
10 km
Figura 1: Área da RDSM, entre os rios Japurá e Solimões. Parcela 1: várzea alta;
Parcela 2: várzea baixa.
26
4.3 Aspectos Físicos
A RDSM localiza-se em um longo trecho onde a pluviosidade média está em
torno de 3000 mm (Instituto de Desenvolvimento Sustentável da Reserva Mamirauá
– IDSRM, Tefé). A maior parte da precipitação concentra-se entre janeiro e abril,
mas não foi observado até o momento nenhum mês com precipitação inferior a 60
mm ou superior a 450 mm (Sociedade Civil Mamirauá, 1996). A amplitude média de
inundação na região esteve em torno de 10.8 m entre 1995 e 2000 (Wittmann et al.,
2004).
O clima da região, assim como o restante da Bacia Amazônica, é do tipo
tropical úmido, onde a sazonalidade é totalmente dependente do regime hidrológico.
Em geral, os maiores valores de precipitação ocorrem de dezembro a maio (Queiroz,
1995); as maiores temperaturas são atingidas nos meses de seca, outubro e
novembro, com médias mensais variando de 30 a 33 °C, enquanto as médias das
temperaturas mínimas oscilam entre 21 e 23 °C. A média da amplitude térmica
mensal é de 8 a 10 °C (Sociedade Civil Mamirauá, 1996). Apresenta solos
hidromórficos do tipo glei-húmico, com fertilidade elevada, médio teor de matéria
orgânica e boa capacidade de troca catiônica. Em geral são mal drenados, sem
estratificação do perfil vertical e com elevado teor de argila e silte (Queiroz, 1995).
4.4 Vegetação
As diferenças no período de alagamento decorrentes das diferenças de relevo
entre os terrenos da várzea levaram ao desenvolvimento de fitofisionomias distintas
nestes mesmos terrenos. Apoximadamente 10,2% da superfície da reserva está
representada por corpos d'água, e os 89,8% restantes são formados de 44,3% de
florestas de várzea, 31,3% de chavascais e 14,2% de outras coberturas (palhais,
campos, roças e praias) (Ayres, 1993).
Quanto à composição florística, Wittmann e colabradores (2004)
considerando apenas espécies arbóreas 10 cm DAP no setor Jarauá da Reserva,
amostraram entre as espécies mais abundantes na floresta de várzea alta: Pouteria
procera (com 11.8% do total de árvores inventariadas), Eschweilera sp. (10.5%),
Eugenia sp. (10.1%), Homalium guianense (8.6%), Xylopia calophylla (8.4%),
Aspidosperma riedelli (6,3%), Malouetia tamaquarina (6,3%), Piranhea trifoliata
27
(6,1%), Pseudobombax munguba (5,3%) e Tapura juruana (5,1%). A floresta madura
de várzea baixa tem como espécies mais abundantes ( 10 cm DAP): Couepia sp.
(15.2%), Cecropia latiloba (14.1%), Symmeria sp. (10.9%), Tabebuia barbata
(10.8%), Vitex cymosa (9.6%), Coccoloba sp. (9,5%), Pouteria elegans (9,4%),
Hevea spruceana (8,4%), Piranhea trifoliata (8,3%) e Crataeva benthamii (8%).
4.5 O Homem e a RDSM
A ocupação humana moderna de Mamirauá data do início do século XX.
Antes desta ocupação, a região era habitada por diversos grupos indígenas, dentre
os quais os Omágua predominavam (Medina, 1988). A população ameríndia foi, em
sua maioria, dizimada pelas guerras e doenças introduzidas com a colonização pós-
colombiana e os indígenas remanescentes foram incorporados à sociedade colonial
pelo processo de miscigenação induzido pelo governo Português (Moreira Neto,
1988). Atualmente, mesmo as poucas comunidades indígenas remanescentes na
região, duas delas localizadas na área focal, têm forte grau de miscigenação com os
portugueses colonizadores, tanto cultural quanto biológica (Sociedade Civil
Mamirauá, 1996).
A agricultura de subsistência, juntamente com o manejo de atividades
extrativistas como caça e pesca, além da extração seletiva da madeira, formam a
base econômica da população local. Por estar a RDSM situada em uma área que é
considerada de alto potencial madeireiro, devido à acessibilidade, variedade e
abundância de espécies, o recurso madeireiro é tradicionalmente utilizado pelas
comunidades locais para benfeitoria ou comercialização. Levando isso em
consideração, em Mamirauá foi implantada a primeira experiência de manejo
florestal comunitário simplificado em área de várzea. Através deste tipo de manejo é
possível conservar a floresta, além de melhorar a renda das famílias, pois esta
atividade tem importância fundamental principalmente durante a cheia, quando as
principais atividades econômicas na várzea, a pesca e a agricultura, são
interrompidas (Sociedade Civil Mamirauá, 1996).
A primeira fase de obtenção de informações necessárias para o
embasamento da proposta do modelo de manejo florestal a ser implantado na
RDSM ocorreu entre 1993 e 1995. Nesta fase foram realizados monitoramentos
anuais de toda a extração madeireira tradicional realizada na área focal da RDSM,
28
abordando principalmente as características biológicas (quantidade de árvores
extraídas, espécies, diâmetros, locais de extração) e sócio-econômicas (origem dos
cortadores e compradores, preços, sistemas de pagamento); foram realizados
levantamentos dos estoques das espécies madeireiras através de inventários
convencionais com o objetivo de conhecer a estrutura das populações e sua
distribuição e também foi feito um mapeamento da cobertura vegetal. Outros
estudos relevantes ao manejo florestal foram: levantamentos fenológicos, interação
de mamíferos, aves e peixes com espécies de plantas da várzea e seu papel na
dispersão de sementes. Foi iniciado também durante este período um trabalho de
extensão florestal junto às comunidades, cujos objetivos principais foram fortalecer
as relações com os usuários dos recursos florestais da RDSM, incentivar a
exposição de dúvidas, expectativas e dificuldades relacionadas a essa atividade,
investigar conhecimentos existentes e incentivar o manejo da floresta (Sociedade
Civil Mamirauá, 1996).
Os comunitários interessados recebem treinamento e assistência técnica e
participam ativamente do planejamento, execução e monitoramento do manejo
florestal. As áreas com produção madeireira das comunidades onde é realizado o
manejo são divididas em 25 áreas menores, denominadas talhões. A exploração
madeireira se dá a cada ano em uma dessas áreas, que permanece em repouso até
que todos os talhões tenham sido explorados, o que ocorre dentro de um ciclo de 25
anos (Sociedade Civil Mamirauá, 1996). É critério do plano de manejo executado na
RDSM não incluir espécies proibidas de corte pela Lei Brasileira, e, segunda as
normas aprovadas pelas Assembléias Gerais da RDSM, também são vetadas de
corte as espécies cedro (Cedrela odorata L.), jacareúba (Calophyllum brasiliensis
Cambess.), sumaúma (Ceiba pentandra L. Gaertn.), envira-vassourinha (Xylopia
sp.), macacauba (Platymiscium pinnatum Harms.) e espécies do gênero Virola
(Sociedade Civil Mamirauá, 1996). Os setores da Área Focal da RDS Mamirauá
onde é realizado o manejo florestal são: Aranapu, Ingá, Barroso, Mamiurauá, Tijuaca
e Liberdade, e entre as espécies mais exploradas pelo manejo estão assacu (Hura
crepitans Wild.), loro-inamuí (Ocotea cymbarum Poepp. ex Nees), tacacazeiro
(Sterculia elata Ducke.) e jitó (Guarea sp.).
29
5. MATERIAIS E MÉTODOS
5.1 Área de Estudo
O local escolhido para o estudo foi o Setor Jarauá, que fica situado no rio
Japurá, parte central da Área Focal da RDS Mamirauá e é o maior dos setores da
reserva, com uma área de 563 km
2
e uma população estimada em 338 habitantes. É
constituído pelas comunidades de São Raimundo de Jarauá, Nova Colômbia, Novo
Pirapucu e Manacabi. Nesta área, encontram-se unidades amostrais permanentes
de um hectare instaladas por Wittmann e colaboradores (2002) para inventário de
árvores >10 cm DAP. Uma destas parcelas fica localizada em um ambiente florestal
classificado como várzea alta (VA), às margens do Canal do Jarauá, num local
denominado Paracuúba (2°50'24.41"S; 65° 0'18.10"W). A outra parcela foi instalada
em meio a uma floresta de várzea baixa de estádio sucessional tardio ou madura
(VB), cujo sítio recebe o nome local de Mojuí (2°51'14.02"S; 64°55'51.79"W) e fica
próxima a comunidade São Raimundo do Jarauá. A distância entre os dois sítios
amostrais é de cerca de 8.3 km em linha reta. A parcela localizada no Paracuúba
(Habitat VA) apresenta inundação média anual de 2.2 m durante um período médio
de 36 dias por ano. Já a parcela instalada no Mojuí (Habitat VB) apresenta
inundação média de 4.1 m durante 111 dias por ano (Wittmann et al., 2002)
5.2 Amostragem e Coleta de Dados
5.2.1 Inventário Florístico
Foram selecionados de forma arbitrária locais com diferentes níveis de
penetração da luz solar (sombreados ou intensamente iluminados) tanto em VA
quanto em VB e nestes locais foram estabelecidas parcelas circulares com o
tamanho de 78,54 m
2
(r = 5 m) cada uma. Foram instaladas 20 parcelas em floresta
de várzea baixa e mais 20 parcelas em floresta de várzea alta, totalizando uma área
de 1570 m
2 2
(0,157 ha) em cada habitat e 3140 m (0,314 ha) quando somadas as
parcelas de VA e VB. Para o inventário da comunidade arbórea regenerante, todas
as plantas lenhosas com diâmetro à altura do peito (DAP) igual ou inferior a 10 cm e
com mais de 1 m de altura presentes nas parcelas foram marcadas e a altura e
30
diâmetro foram medidos. O diâmetro dos indivíduos com menos de 130 cm de altura
(altura do peito) foi determinado a 10 cm acima do chão. Para medir o diâmetro das
plantas, foi utilizado um paquímetro eletrônico e, para a altura, barras métricas.
Amostras de cada uma das espécies presentes nas parcelas foram coletadas (sob
autorização do IBAMA: licença Nº 10062-1, emitida em 08/2006), prensadas
(exsicatas) e transportadas até o Herbário INPA para sua devida identificação.
Todos os indivíduos amostrados foram classificados até menor nível taxonômico
possível. Em todas as parcelas foram obtidas as coordenadas geográficas do ponto
com o auxílio de aparelho de GPS.
5.2.2 Luz x Regeneração Arbórea
Medições referentes à rPAR (radiação fotossintética ativa relativa) foram
realizadas com auxílio de aparelho fotômetro (Li 188b, Li-cor, Lincoln, Nebraska,
USA) em dez pontos fixos de cada uma das parcelas. Estes pontos foram escolhidos
arbitrariamente e em cada um deles foram realizadas duas medições, totalizando 20
dados referentes à rPAR em cada parcela. As medições ocorreram durante o
período de maior intensidade luminosa do dia, entre 11:00 horas e 13:00 horas.
Simultaneamente, medidas de radiação absoluta foram realizadas por outra pessoa
localizada em pontos fixos fora da floresta, no canal de rio mais próximo, e serviram
como medidas controle de intensidade luminosa. Através desta metodologia é
possível medir o percentual de radiação luminosa absoluta capaz de atingir o sub-
bosque e determinar a rPAR local em cada uma das parcelas. Com a finalidade de
minimizar as situações climáticas especiais (como dias muito nublados),
mensurações fotométricas foram realizadas durante cinco dias sucessivos.
5.2.3 Inundação x Regeneração Arbórea
Em cada uma das parcelas estabelecidas foi medido a altura máxima da
coluna de água referente à última inundação (outubro de 2007) através da “marca
d’água” que fica registrada no tronco das árvores. Segundo Schöngart (2003) a
flutuação do nível da água do rio Japurá na RDS Mamirauá e no baixo Solimões
próximo a Manaus para os dados existentes (1993-2000), apesar da grande
distância entre as duas áreas (aproximadamente 550 km), estão estritamente
31
relacionadas (R2= 0,80, p<0,001), apresentando uma diferença de apenas 9 cm na
amplitude média. Sendo assim, utilizou-se os dados coletados em campo referentes
à última cota de inundação e estes foram comparados aos dados referentes ao nível
da água do porto de Manaus (que são reportados diariamente desde 1903) para a
elaboração de um histórico de inundação para cada uma das parcelas amostradas,
já que os dados referentes ao nível da água na área são inexistentes ou coletados
somente à partir de 1993.
5.3 Análise dos Dados
5.3.1 Parâmetros Fitossociológicos
A avaliação dos parâmetros fitossociológicos foi feita de acordo com Mueller-
Dombois & Ellenberg (1974):
- Abundância relativa (%) = número de indivíduos de uma espécie (ni)/ número total
de indivíduos de todas as espécies (N) x 100;
- Dominância relativa (%) = área basal total de uma espécie (AB)/ área basal de
todas as espécies (ABT) x 100;
- Área basal total = área basal de todos os indivíduos de uma espécie;
- Freqüência relativa (%) = freqüência absoluta de uma espécie/ soma das
freqüências absolutas de todas as espécies x 100;
O Índice de Valor de Importância (IVI) foi calculado conforme proposto por
Curtis & McIntosh (1951), onde IVI= Abundância relativa + Dominância relativa +
Freqüência relativa. Para as famílias botânicas, foi calculado o Índice de Importância
de Família (FIV) segundo Mori et al. (1983), sendo FIV= Abundância relativa +
Dominância relativa + Diversidade Relativa, onde Diversidade Relativa (%) = número
de espécies em uma família/ número total de espécies x 100.
5.3.2 Padrão de Distribuição Espacial
A distribuição espacial horizontal foi determinada com base na freqüência dos
indivíduos inseridos nas parcelas estabelecidas. Para todas as espécies com
abundância maior ou igual a oito indivíduos, empregou-se o Índice de Distribuição de
Morisita (Id) como proposto por Brower e Zar (1984): Id = n (x
2 2
- x)/ ((x) -x),
32
onde: n = número de parcelas; x = somatório do número de plantas presentes nas
parcelas estudadas; x
2
= somatório do quadrado do número de plantas por parcela.
Adotou-se como critério para a caracterização da distribuição espacial os valores de
Id obtidos, sendo: Id < 2 – distribuição aleatória e Id 2 - distribuição agregada
(Arruda & Daniel, 2007). Para as espécies classificadas com padrão agregado de
distribuição, a significância do Id foi testada através do teste F com nível de
significância < 0,05, onde o valor calculado de F é comparado com o valor da tabela
de F, com n – 1 graus de liberdade para o numerador e infinito () para o
denominador (Poole, 1974).
5.3.3 Suficiência Amostral
A curva da quantidade de espécies em relação ao número de pontos de
amostragem foi construída com base em Mueller-Dombois & Ellenberg (1974) para
avaliar se o tamanho da amostra foi suficiente para avaliar a composição florística. O
tamanho mínimo da amostra está relacionado com a heterogeneidade da vegetação
em cada localidade, e em teoria, a curva que representa uma amostra adequada
forma um platô com o aumento do número de pontos de amostragem (Kershaw,
1975).
5.3.4 Diversidade Florística
Foram utilizados os índices de Shannon (H’) (Shannon & Weaver, 1949), α de
Fisher-Williams (Southwood, 1980) e de Eqüabilidade (J’) (Pielou, 1975) para
estimativa de diversidade nos dois habitats, sendo: H’ = - S pi * Log (pi); Fisher's α: S
= α ln(1 + N/α); J’ =H’/Log S, onde:
S = número total de espécies;
p
i
= n
i
/N;
n
i
= número de indivíduos da espécie i;
N = número total de indivíduos.
Para analisar a riqueza de espécies plantas regenerantes em cada ambiente
(várzea alta e várea baixa), foram confeccionadas curvas de rarefação de espécies
33
(Gotelli & Colwell, 2001) com o auxílio do programa Ecosim (Gotelli & Entsninger,
2001). O programa gera 1000 curvas de acumulação de espécies aleatorizando a
ordem das amostras. Assim, cada ponto da curva corresponde à média de riqueza
acumulada nas 1000 curvas e está associado a um desvio-padrão. Cada parcela foi
considerada uma amostra, o que resultou em 20 amostras para cada ambiente.
5.3.5 Similaridade Florística
A similaridade entre os dois hábitats (VA e VB) foi calculada pelo índice de
SØrensen (S) (1948), segundo a fórmula: S= 2 a /(2a+ b+ c) onde: a = número de
espécies comuns nos dois habitats, b = número de espécies restritas a VA e c =
número de espécies restritas a VB. Este índice pode variar de 0, quando não há
nenhuma coincidência entre as áreas amostradas, até 1, quando a coincidência é
total. Também foi aplicada uma ordenação pelo método de escalonamento
multidimensional não paramétrico (NMDS, Kruskal 1964), utilizando-se o índice de
distância de Bray-Curtis (descrito em Krebs 1989). A análise visou, basicamente,
construir um mapa de configuração das amostras, agrupando as amostras mais
similares segundo um menor número possível de dimensões. Para a elaboração da
ordenação utilizou-se o programa Pcord 4 System (McCune & Melfor, 1999) onde
foram inseridos os dados de densidade das espécies nas parcelas amostradas,
resumindo as variáveis em dois eixos.
5.3.6 Estrutura de Comunidade
Para os testes referentes à estrutura da comunidade e efeitos da radiação
solar e nível de inundação sobre a estrutura e composição das plantas jovens nas
parcelas foram realizadas análises de co-variância (ANOVA) e correlação linear de
Pearson utilizando o Programa Bioestat 2.0 (Ayres et al., 2000), sendo o nível de
significância estabelecido p< 0,05. Para avaliar a relação entre a similaridade
florística e a distância geográfica entre as unidades amostrais, foi feito o teste de
Mantel com nível de significância de 5%, usando o programa PC-ORD para
Windows versão 4.0.
34
6. RESULTADOS E DISCUSSÃO
6.1 Composição Florística
Em uma área total de 3141.6 m
2
, o inventário fitodemográfico realizado
apresentou um total de 1487 indivíduos menores que 10 cm de DAP e maiores que
1 m de altura, pertencentes a 116 espécies e 38 famílias. A maior parte dos
indivíduos amostrados, cerca de 20%, pertenciam à família Rubiaceae, seguida de
Myristicaceae (9,1%), Clusiaceae (8,7%), Sapotaceae (8,5%), Moraceae (5,9%),
Melastomataceae (4,4%), Fabaceae (4,2%) e Euphorbiaceae (4%) (Figura 2). As
famílias que apresentaram maior número de espécies foram: Rubiaceae (14
espécies), Fabaceae (10 espécies), Euphorbiaceae (9 espécies), Sapotaceae (8
espécies), Annonaceae (7 espécies) e Apocynaceae (6 espécies). Como as outras
famílias juntas apresentaram 62 espécies no total (53,5%), foi possível observar que
as espécies nas florestas estudadas estão relativamente bem distribuídas nas
famílias botânicas. Sessenta e seis espécies ocorreram exclusivamente em floresta
de várzea alta, enquanto 27 foram restritas ao ambiente de várzea baixa. Apenas 24
espécies ocorreram em ambos os habitats, evidenciando a diferença florística entre
várzea alta e várzea baixa. As características gerais da composição florística de
cada habitat, incluindo número de indivíduos, espécies, gêneros e famílias são
apresentadas na Tabela 1 e a lista de espécies inventariadas nas duas áreas,
juntamente com a abundância, ocorrência, Índice de Valor de Importância e utilidade
econômica e/ou de consumo (IVI) de cada uma delas podem ser conferidos na
Tabela 2.
Tabela 1. Características gerais quanto à composição florística de espécies
arbóreas regenerantes nos dois habitats estudados na RDS Mamirauá
(VA = várzea alta; VB = várzea baixa).
Habitat N º Indivíduos Indivíduos por
parcela (média)
Dens. indivíduos
estimada
Espécies Gêneros Famílias
VA 1054 52,7±21,2 3360 ind/ha 90 82 34
VB 432 21,6±20,1 1376 ind/ha 51 46 24
35
Tabela 2. Relação das espécies vegetais, número de indivíduos, ocorrência, valor
de I.V.I. (Índice de Valor de Importância) e classificação quanto a
utilidade econômica e/ou de consumo das espécies arbóreas
regenerantes do Setor Jarauá da RDS Mamirauá
Família Espécie indivíduos IVI Uso*
total V A V B
Anacardiaceae Spondias lutea L. 2 2 0 0,525 FC
Annonaceae Anaxagorea brevipes Benth. 2 2 0 0,798 -
Duguetia quitarensis Benth. 5 5 0 2,3 -
Guatteria inundata Mart. 15 15 0 3,693 -
Oxandra riedeliana R.E. Fr. 10 1 9 3,917 IM
Rollinia sp. 4 4 0 1,557 -
Unonopsis guatterioides (A. DC.) R.E. Fr. 7 7 0 3,97 -
Xylopia calophylla R.E. Fr. 3 3 0 1,612 -
Apocynaceae Aspidosperma rigidum Rusby 4 4 0 1,458 FT
Bonafousia juruana Markgr. 7 0 7 1,305 FT
Himatanthus sucuuba K. Schum. ex Markgr. 14 8 6 3,31 FT
Malouetia tamaquarina (Aubl.) A. DC. 13 9 4 4,036 IM
Rauvolfia sprucei Müll. Arg. 2 0 2 0,496 -
Tabernaemontana sananho Ruiz & Pav. 9 9 0 2,363 -
Bignoniaceae Tabebuia barbata (E. Mey.) Sandwith 1 0 1 0,527 IM, FT
Boraginaceae Cordia goeldiana Huber 7 7 0 2,079 IM
Capparaceae Capparis sp. 1 1 0 1,045 -
Chrysobalanaceae Couepia paraensis (Mart. & Zucc.) Benth. ex Hook. 8 0 8 2,905 FC
Licania heteromorpha (Mart. ex Hook. f.) Prance 1 0 1 0,508 -
Licania mollis Benth. 9 5 4 3,68 FT
Parinari montana Aubl. 1 1 0 0,247 IM
Clusiaceae Calophyllum brasiliense Cambess. 3 3 0 0,859 IM
Rheedia brasiliensis (Mart.) Planch. & Triana 54 13 41 5,562 FC, FT
Tovomita schomburgkii Planch. & Triana 70 28 42 10,46 -
Vismia guianensis (Aubl.) Pers. 3 3 0 0,79 PO
Connaraceae Connarus sp. 4 4 0 1,025 -
Dichapetalaceae Tapura juruana (Ule) Rizzini 3 3 0 0,848 IM
Ebenaceae Diospyros guianensis (Aubl.) Gürke 5 3 2 1,173 PO
Elaeocarpaceae Sloanea sp. 4 4 0 0,999 -
Euphorbiaceae Acalypha macrostachya Jacq. 3 0 3 0,659 -
Alchornea discolor Poepp. & Endl. 3 2 1 0,876 FT
Alchorneopsis floribunda (Benth.) Muell. Arg. 33 33 0 5,872 -
36
Aparisthmium cordatum (A. Juss.) Baill 4 0 4 0,736 -
Drypetes cf. variabilis Uittien 7 2 5 3,597 IM
Hevea spruceana (Benth.) Müll. Arg. 4 2 2 1,411 -
Hura crepitans L. 8 8 0 2,291 IM
Mabea nitida Spruce ex Benth. 8 3 5 4,259 -
Sapium sp. 2 2 0 0,51 -
Lauraceae Endlicheria cff. formosa A.C. Sm. 12 10 2 3,847 -
Nectandra amazonum Nees 1 0 1 0,454 IM
Ocotea cymbarum Kunth 7 7 0 1,262 IM
Ocotea sp1 2 2 0 0,505 -
Ocotea sp2 1 1 0 0,243 -
Lecythidaceae Gustavia augusta L. 4 4 0 0,585 FT
Fabaceae Abarema jupunba (Willd.) Britton & Killip 1 1 0 0,274 IM
Clitoria amazonum Mart. ex Benth. 2 2 0 0,879 -
Clitoria leptostachya Benth. 2 0 2 0,784 -
Inga disticha Benth. 2 2 0 0,363 -
Inga sp1 38 37 1 7,243 -
inga sp2 1 0 1 0,922 -
Lecointea amazonica Ducke 1 1 0 0,499 IM
Pterocarpus amazonum (Mart. ex Benth.) Amshoff 12 5 7 4,473 -
Vatairea guianensis Aubl. 1 1 0 0,413 IM
Zygia cataractae (Kunth) L. Rico 4 4 0 0,657 FC
Malvaceae Pachira aquática Aubl. 1 1 0 0,262 -
Pseudobombax munguba (Mart. & Zucc.) Dugand 8 1 7 2,892 IM
Quaralibea sp. 2 0 2 1,409 -
Herrania mariae (Mart.) Decne. ex Goudot 2 2 0 0,497 FC
Apeiba echinata Gaertn. 17 17 0 3,301 IM
Luehea cymulosa Spruce ex Benth. 5 5 0 0,771 IM
Melastomataceae Tococa capitata Trail ex Cogn. 66 66 0 8,829 -
Meliaceae Guarea sp. 2 2 0 0,795 IM
Trichilia sp 7 7 0 2,706 -
Mouriri acutiflora
Naudin
1 1 0 0,243 IM
Memecylaceae
Moraceae Clarisia racemosa Ruiz & Pav. 32 32 0 5,248 IM
Maclura tinctoria (L.) D. Don ex Steud. 9 0 9 1,879 IM, FC
Naucleopsis ternstroemiiflora (Mildbr.) C.C. Berg 40 40 0 8,229 -
Pseudolmedia laevis (Ruiz & Pav.) J.F. Macbr. 2 2 0 0,521 -
Sorocea duckei W.C. Burger 5 0 5 2,132 -
Myristicaceae Iryanthera juruensis Warb. 21 21 0 5,548 IM
Virola calophylla (Spruce) Warb. 81 81 0 12,77 IM, FT
Virola elongata (Spruce ex Benth.) Warb 31 31 0 6,052 -
37
Virola surinamensis (Rol. ex Rottb.) Warb. 4 4 0 1,557 IM
Myrsinaceae Cybianthus sp. 3 2 1 1,209 -
Myrtaceae Calyptranthes crebra Mc Vaugh 11 4 7 2,83 -
Eugenia sp. 3 3 0 0,845 PO
Myrcia fallax (Rich.) DC. 3 3 0 0,845 -
Myrciaria dubia (Kunth) McVaugh 10 10 0 2,065 PO, FC
Psidium acutangulum DC. 1 0 1 0,558 -
Nyctaginaceae Neea madeirana Standl. 33 12 21 3,194 -
Olacaceae Heisteria acuminata (Humb. & Bonpl.) Engl. 17 17 0 7,34 IM, FT
Piperaceae Piper sp. 2 2 0 0,314 -
Polygonaceae Symmeria paniculata Benth. 9 1 8 1,831 -
Triplaris surinamensis Cham. 2 2 0 0,548 -
Quiinaceae Quiina rhytidopus Tul. 5 0 5 1,259 -
Rhamnaceae Cormonema spinosum (Vell.) Reiss. 1 0 1 0,576 -
Rubiaceae Alibertia edulis (Rich.) A. Rich. ex DC. 16 16 0 3,132 FC
Borojoa verticillata (Ducke) Cuatrec. 3 3 0 0,683 -
Coussarea ampla Müll. Arg. 189 189 0 24,33 -
Duroia genipoides Hook. f. ex K. Schum. 22 0 22 4,45 FC
Faramea sp. 8 7 1 1,417 -
Genipa americana L. 1 0 1 0,274 IM, FC
Palicourea crocera (Sw.) Roem. & Schult. 5 0 5 0,716 -
Psychotria sp1 21 21 0 3,059 -
Psychotria sp2 15 15 0 2,635 -
Psychotria sp3 11 11 0 2,293 -
Psychotria sp4 4 0 4 0,928 -
Psychotria sp5 8 0 8 1,268 -
Randia sp 1 1 0 0,244 -
Rubiaceae sp. 8 8 0 3,203 -
Salicaceae Laetia corymbulosa Spruce ex Benth. 1 0 1 0,248 FT
Sapindaceae Talisia cupularis Radlk. 1 1 0 0,351 FC
Sapotaceae Chrysophyllum argenteum Jacq. 1 0 1 0,647 IM
Elaeoluma glabrescens (Mart. & Eichler) Aubrév. 87 0 87 10,63 -
Micropholis egensis (A. DC.) Pierre 14 14 0 5,141 -
Pouteria
sp1
3 3 0 1,337 -
Pouteria sp2 10 10 0 2,641 -
Pouteria elegans (A. DC.) Baehni 9 5 4 3,514 -
Pouteria gomphiifolia (Mart. ex Miq.) Radlk. 2 0 2 0,615 -
Sapotaceae sp 1 1 0 0,281 -
Solanaceae Solanum leucocarpon Dun. 59 54 5 7,132 -
Solanum sessile Ruiz & Pav. 2 0 2 0,506 -
38
Theophrastaceae Clavija lancifolia Desf. 17 15 2 4,29 -
Urticaceae Cecropia latiloba Miq. 47 8 39 6,832 -
Violaceae Leonia glycycarpa Ruiz & Pav. 34 5 29 7,739 FC
Leonia racemosa Mart. 17 17 0 2,989 -
IM= importância madeireira (construção civil, naval, móveis, artesanato), PO= madeira potencialmente
utilizável, FC= frutos comestíveis, FT= uso fitoterápico.
Fontes: Alvino et al. (2005), Alvino et al. (2005),
Wittmann e colaboradortes (no prelo), Lista de Espécies Madeireiras
<http://www.manejoflorestal.org/guia.cfm?cap=12>
0
100
200
300
400
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de indivíduo
Figura 2. Distribuição das plantas arbóreas jovens ( 1m de altura e < 10 cm DAP)
quanto às famílias botânicas amostradas nos dois tipos florestais.
As famílias mais representativas quanto ao número de indivíduos diferiu
consideravelmente entre os dois habitats. Enquanto na floresta em VA, maior
abundância encontrada nas espécies pertencentes respectivamente às famílias
Rubiaceae, Myristicaceae, Moraceae e Melastomataceae, em VB foram mais
abundantes indivíduos das famílias Sapotaceae, Clusiaceae, Rubiaceae e
Urticaceae (Figura 3).
39
0
100
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300
Rubiacea
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de Indivíduos
Várzea baixa
Figura 3. Distribuição das plantas arbóreas regenerantes ( 1m de altura e < 10 cm
DAP) quanto às famílias botânicas amostradas nos dois tipos florestais.
Considerando indivíduos arbóreos menores que 10 cm de DAP em floresta
tropical inundável no México, Bongers et al. (1988) reportaram valores referentes a
densidade de indivíduos entre 2250 e 5000 ind/ha; já Nebel et al. (2001) obteviveram
em seu estudo com espécies de sub-bosque na floresta de várzea madura em
Braga-Supay (Peru) densidade de indivíduos em torno de 4400 ind/ha tanto na
várzea baixa quanto na várzea alta. Ambos os trabalhos registraram valores
referentes à densidade de indivíduos muito maiores em relação ao presente estudo.
Entretanto, Gentry e Terborgh (1990) mensuraram apenas 203 indivíduos em 0,1 ha
40
de área amostrada na floresta inundável de Cocha Cashu, no Peru. Como explicar
esta possível restrição de desenvolvimento do sub-bosque da área estudada em
Cocha Cashu e em Mamirauá, já que ambos são florestas maduras? Provavelmente
a resposta está na amplitude e tempo de inundação a que as plantas estão sujeitas
nas diferentes áreas estudadas, já que estes são os fatores mais limitantes para o
estabelecimento e desenvolvimento das espécies vegetais (Junk et al., 1989;
Puhakka & Kalliola, 1993; Klinge et al., 1995). Em Braga-Supay, a altura máxima
que o nível da água chega durante o período da cheia não ultrapassa os oito metros,
durante cerca de um a dois meses por ano. Já na área do presente trabalho e em
Cocha Cashu, o nível dos rios podem subir mais que 8 m durante a estação cheia e
o período de inundação muitas vezes é superior a 60 dias. Assim sendo, as florestas
de várzea da Amazônia Ocidental parecem ser menos exigente quanto ao nível e
tempo de inundação, o que resultaria em um menor índice de mortalidade entre as
plântulas e estabelecimento de um maior número de indivíduos.
A composição florística regenerante no estudo de Oliveira & Amaral (2005)
realizado na floresta de terra-firme da Reserva Ducke (Manaus, AM) foi muito
diferente da encontrada no presente estudo, sendo as famílias mais comuns
Lecythidaceae, Fabaceae, Euphorbiaceae, Chrysobalanaceae, Moraceae e
Annonaceae; também poucas espécies coincidiram entre os dois levantamentos,
apenas Mabea nitida, Clitora leptostachya, Gustavia augusta, Clarisia racemosa,
Pseudolmedia laevis e Virola calophylla. O levantamento também diferiu muito de
outros realizados em florestas de várzea alta (Gama et al., 2002) e de várzea baixa
(Gama et al., 2003) no baixo rio Amazonas, e também em floresta de várzea da
Amazônia Peruana (Nebel et al., 2001). Enquanto no baixo Amazonas, mais comuns
foram indivíduos pertencentes à família Arecaceae, no Peru maiores registros em
VA para Violaceae e Arecaceae, e em VB para Euphorbiaceae, Myrtaceae e
Olacaceae. Também Wittmann e colaboradores (2006) descrevem as palmeiras em
geral como espécies importantes nas florestas de várzea da Amazônia Ocidental e
Oriental, mas sem uma explicação para a baixa ocorrência de Arecaceae na várzea
da Amazônia Central.
A floresta de várzea baixa apresentou consideravelmente maior dominância
de espécies em relação à floresta de várzea alta. Em VA, as 15 espécies mais
importantes somadas apresentaram 161,9% de IVI, (53,9% do total de indivíduos),
enquanto em VB as 15 espécies mais importantes juntas somaram 198,7% de IVI
41
(66,24% do total de indivíduos) (Tabela 3). Se em VA desconsiderarmos a espécie
com maior valor de importância, Coussarea ampla, as nove espécies mais
importantes juntas foram responsáveis por 94,16% de IVI; em VB apenas quatro das
espécies mais importantes são capazes de apresentar valor superior de IVI
(95,61%).
2
Tabela 3. Área basal total (cm ) (AB), abundância relativa (%) (AR), dominância
relativa (%) (DR), freqüência relativa (%) (FR) e valor de IVI (%) das 15
espécies regenerantes (< 10 cm DAP e 1 m de altura) mais
importantes nos dois tipos florestais estudados.
Espécies AB AR DR FR IVI IVI (1-15)
Várzea Alta
1 832,1 17,94 13,34 3,65 34,94 161,9 (53,9%)
Coussarea ampla
2 313,4 7,69 5,96 4,62 18,28
Virola calophylla
3 117,2 6,26 3,42 2,92 12,61
Tococa capitata
4 270,5 3,79 4,57 3,4 11,78
Naucleopsis ternstroemiiflora
5 Inga sp1 215,7 3,51 3,57 2,91 10,01
6 71,9 5,12 1,16 2,67 8,96
Solanum leucocarpon
7 200,8 2,94 3,54 2,19 8,67
Virola elongata
8 123,9 3,13 2,07 3,16 8,36
Alchorneopsis floribunda
9 206,7 1,99 4,54 1,46 7,99
Iryanthera juruensis
10 142,9 3,03 2,27 2,19 7,5
Clarisia racemosa
11 237,6 1,32 3,87 2,19 7,38
Micropholis egensis
12 175,4 1,61 3,3 2,43 7,34
Heisteria acuminata
13 107,8 1,99 2,33 2,18 6,52
Neea madeirana
14 24,4 2,66 0,47 2,67 5,8
Tovomita schomburgkii
15 169,1 0,66 3,6 1,46 5,72
Unonopsis guatterioides
16-92 2332,6 36,27 41,96 59,8 138,1
5542,1 100 100 100 300
Várzea Baixa
1 286,6 20,0 8,48 7,93 36,4 198,7 (66,3%)
Elaeoluma glabrescens
2 127,3 9,65 3,76 7,92 21,35
Tovomita schomburgkii
3 235 8,96 7,35 3,96 20,27
Cecropia latiloba
4 213,3 6,67 6,31 4,87 17,86
Leonia glycycarpa
5 160,3 5,05 4,74 4,88 14,68
Duroia genipoides
42
6 160 2,76 4,74 4,88 12,37
Neea madeirana
7 172,4 2,07 5,1 4,27 11,44
Oxandra riedeliana
8 Mabea nitida Spruce 237,5 1,15 7,03 3,05 11,23
9 25,6 9,42 0,76 0,61 10,8
Rheedia brasiliensis
10 154,9 1,61 4,58 1,83 8,02
Pterocarpus amazonum
11 136,6 1,61 4,04 1,83 7,48
Calyptranthes crebra
12 81,97 1,84 2,42 3,05 7,31
Couepia paraensis
13 Drypetes cf. variabilis 161,6 1,15 4,78 1,22 7,15
14 101,4 1,15 3 2,44 6,59
Sorocea duckei
15 23,9 2,07 0,71 3,66 6,43
Maclura tinctoria
16-51 1098,8 24,82 32,54 43,9 101,3
100 100 100 300
Em VA, das 90 espécies amostradas, apenas uma mostrou valor de IVI
superior a 20%: Coussarea ampla, que apresentou quase o dobro do valor em
relação à segunda mais importante, devido principalmente a grande quantidade de
indivíduos amostrados (AR= 17,94%), além de encontrar-se presente em 15 das 20
parcelas inventariadas neste ambiente. Outras espécies relativamente importantes
(IVI superior a 10%) relacionadas em VA foram Virola calophylla, Tococa capitata,
Naucleopsis ternstroemiiflora e Inga sp1. Todas as outras espécies apresentaram
individualmente valores inferiores a 10% do total de IVI. Em VA, as cinco espécies
mais importantes apresentaram cerca de 87% do valor de importância, enquanto as
outras 10 mais importantes apresentaram valor de IVI igual a 74%. Cinqüenta e uma
espécies de 25 famílias foram amostradas no inventário realizado em VB.
Diferentemente de VA, este ambiente apresentou três espécies com valor de
importância superior a 20%, sendo elas, respectivamente, Elaeoluma glabrescens,
Tovomita schomburgkii e Cecropia latiloba. A primeira apresentou grande
quantidade de indivíduos (AR= 20%) relativamente bem distribuídos em toda a área,
estando presente em 13 das 20 parcelas (freqüência relativa= 7,93%), o que
proporcionou o elevado valor de importância. Já Tovomita schomburgkii e Cecropia
latiloba apresentaram quantidade de indivíduos semelhantes (AR= 9,65% e 8,96%,
respectivamente). Porém, a primeira esteve presente em 16 das 20 parcelas (FR=
7,92%) e a segunda só ocorreu em 6 parcelas (FR= 3,66%); por outro lado C.
latiloba apresentou a segunda maior área basal entre as espécies deste ambiente
(DR= 6,95%), muito superior a T. schomburgkii (DR= 3,76%). Coletivamente, estas
três espécies representaram 78,02% de valor de importância, demonstrando uma
43
evidente dominância no ambiente. Outras espécies bastante representativas em VB
foram, respectivamente: Leonia glycycarpa, Duroia genipoides, Neea madeirana,
Oxandra riedeliana, Mabea nitida e Rheedia brasiliensis, todas com valor de
importância superior a 10%.
A família mais importante em VA foi Rubiaceae, seguida por Myristicaceae,
Fabaceae e Moraceae enquanto em VB as famílias que apresentaram maior índice
de importância foram respectivamente Clusiaceae, Sapotaceae, Rubiaceae e
Euphorbiaceae (Tabela 4). As 15 famílias mais importantes em VA foram
responsáveis por 263,3% do valor de FIV, enquanto em VB, as 15 mais importantes
famílias representaram 274% de valor de FIV. Estes resultados mostram que ocorre
elevado nível de dominância quanto às famílias de plantas regenerantes presentes
em ambos os habitats, sendo em VB esta dominância um pouco maior que em VA.
Tabela 4. Valor de Importância de Família (FIV) das famílias botânicas de espécies
regenerantes de florestas de várzea alta e várzea baixa (AR=
abundância relativa; Dom R= dominância relativa; Diver R= diversidade
relativa; FIV= valor de importância da família).
Várzea alta
Várzea baixa
A R Dom R Diver R FIV FIV Diver R Dom R A R
1
40,23
Rubiaceae
19,21
25,71
Clusiaceae
57,32
9,89
92,92
63,36
3,92
2
25,04
Myristicaceae
21,76
13,00
Sapotaceae
20,13
4,40
37,53
54,64
7,84
3
5,83
Fabaceae
9,49
4,93
Rubiaceae
2,81
8,79
16,53
27,08
11,76
11,76
4
5,74
Moraceae
4,63
7,02
Euphorbiaceae
5,88
3,30
16,19
22,13
1,96
5
6,98
Euphorbiaceae
9,03
4,93
Urticaceae
1,73
7,69
14,36
17,97
7,84
6
2,17
Annonaceae
4,40
3,51
Apocynaceae
2,64
7,69
13,85
14,41
1,96
7
4,09
Sapotaceae
6,71
3,13
Violaceae
2,67
6,59
12,39
12,76
7,84
8
1,98
Clusiaceae
2,55
4,46
Fabaceae
0,46
4,40
9,32
12,37
5,88
9
1,55
Melastomataceae
3,01
6,26
Chrysobalanaceae
1,81
1,10
9,17
10,44
3,92
10
1,10
Malvaceae
3,24
2,47
Moraceae
0,42
5,49
8,38
8,26
3,92
11
1,19
Apocynaceae
1,85
2,85
Myrtaceae
0,55
4,40
7,79
6,96
3,92
12
0,65
Myrtaceae
2,08
1,90
Malvaceae
0,67
4,40
6,96
6,65
1,96
13
1,34
Solanaceae
2,78
5,12
Nyctaginaceae
0,51
1,10
6,73
6,07
3,92
14
0,09
Lauraceae
1,62
1,90
Solanaceae
0,30
4,40
6,60
5,64
1,96
15
1,28
Violaceae
2,08
2,09
Annonaceae
0,31
2,20
4,60
5,33
16-34 10,72 1,79 24,18 36,68 25,92 19,61 0,76 5,56 16-25
100 100 100 300 300 100 100 100
44
Os resultados referentes à composição florística da regeneração arbórea
foram muito divergentes em relação ao levantamento realizado por Wittmann et al.
(2002) considerando apenas indivíduos de espécies arbóreas adultas ( 10 cm
DAP). Em 4 ha de inventário, realizado nas mesmas áreas, foram registrados 2080
indivíduos distribuídos em 226 espécies e 45 famílias. Deste total de espécies, 94
ocorreram exclusivamente em florestas de várzea baixa, 103 foram restritas à várzea
alta e 27 espécies arbóreas foram encontradas em ambos os ambientes. No referido
estudo, as espécies arbóreas adultas com maior abundância na floresta de várzea
alta foram Pouteria procera (Mart.) K.Hammer, Malouetia tamaquarina,
Aspidosperma riedelli Muell.Arg., Guatteriopsis paraensis R.E. Fries, Gustavia
augusta, Pseudoxandra polyphleba Diels (R.E.Fries) e Chomelia sp. Já em VB,
foram mais abundantes: Cecropia latiloba, Oxandra riedeliana, Pouteria polyphleba
Diels (R.E.Fries), Tabebuia barbata, Mabea nitida, Hevea spruceana e Crataeva
benthamii Eichl. Muitas destas espécies encontradas neste inventário referente a
indivíduos adultos sequer foram amostradas no presente estudo.
Resultado semelhante foi encontrado por Nebel et al. (2001) e Gentry e
Dodson (1987), onde muitas espécies também só estiveram presentes com
indivíduos jovens (menores que 10 cm DAP), enquanto outras apenas foram
representadas entre os indivíduos com mais de 10 cm de DAP. Segundo Nebel et al.
(2001), algumas destas espécies encontradas apenas na fase regenerante podem
ser invasoras de alguma outra localidade, provavelmente de uma floresta em fase de
sucessão, e alguma condição ambiental diferenciada (como um período de maior ou
menor enchente ou o surgimento de uma clareira) possibilitou seu estabelecimento.
Ou ainda, as espécies presentes apenas na fase adulta podem ter se desenvolvido
em alguma destas condições ambientais diferenciadas ocorridas no passado ou
surgiram quando a localidade se encontrava em fase de sucessão ecológica e agora
não são mais capazes de estabelecerem.
A não ocorrência de algumas espécies na fase regenerante pode ainda estar
relacionada à alta taxa de mortalidade a que as espécies presentes neste tipo de
habitat estão sujeitas. É possível que um indivíduo adulto de determinada espécie
necessite de diversos ciclos reprodutivos para apenas uma plântula se estabeleça e
atinja a fase juvenil, devido à alta mortalidade causada pelo pulso de inundação nos
ecossistemas alagáveis.
45
A Figura 4 apresenta os padrões referentes ao número de indivíduos
distribuídos entre todas as espécies amostradas. Nenhum dos habitats apresentou
os mesmos padrões de levantamentos florísticos realizados com árvores adultas em
florestas maduras com alta diversidade, onde é típico muitas espécies (mais de
50%) sendo representadas por um ou poucos indivíduos e poucas espécies
representadas por muitos indivíduos (Faber-Langendoen & Gentry, 1991; Valencia et
al., 1994). Em VA, cerca de 30% das espécies apresentaram mais de 10 indivíduos,
enquanto em VB, essa proporção foi de 13,7%, enquanto a porcentagem de
ocorrência única entre as espécies de VA foi de 16,6%, muito inferior a VB, com
25,5% das espécies apresentando apenas um indivíduo.
0
2
4
6
0 20406080
Espécies
Abundância (log)
0
2
4
6
0 1020304050
Espécies
Abundância (log)
Várzea alta Várzea baixa
Figura 4. Abundância de espécies nos dois tipos florestais estudados.
O fato da baixa ocorrência de espécies com apenas um representante, ou
seja, a maioria das espécies amostradas apresentarem muitos indivíduos era
esperado neste estudo. Isto porque padrão anteriormente citado é aplicado para
levantamentos florísticos com árvores adultas. Mesmo em florestas maduras, as
comunidades de plantas regenerantes, devido à alta taxa de mortalidade nesta fase
(que é ainda maior nas florestas inundáveis) apresentam espécies ocorrendo em
densidades elevadas, pois esta estratégia aumenta as chances de que ao menos
um indivíduo da população atinja a fase adulta reprodutiva e garanta a perpetuação
local da espécie. O padrão de distribuição das espécies em relação ao número de
indivíduos encontrado também pode ser reflexo da menor diversidade nas florestas
de várzea em relação às florestas de terra-firme. O número de espécies capaz de
estabelecer no ambiente periodicamente inundado é menor, o que provoca a
46
existência de maior dominância, assim como maior abundância de indivíduos de
mesma espécie nas florestas de várzea quando comparadas à terra-firme.
6.2 Diversidade de Espécies
Uma estimativa da riqueza de espécies arbóreas regenerantes do setor
Jarauá da RDSM pode ser obtida através da curva de acumulação de espécies para
os dois habitats, que é mostrada na Figura 5. Laurence e colaboradores (1998)
afirmam que inventários de dois a cinco hectares são necessários para que a
maioria (>75%) das espécies locais de uma floresta tropical seja amostrada. Porém,
essa idéia pode ser aplicável para as florestas de terra-firme onde a riqueza de
espécies é muito maior que nas florestas alagáveis, pois no presente estudo 1/3 de
hectare foi suficiente para amostrar a maioria das espécies arbóreas regenerantes,
pois tanto em VA quanto em VB é possível observar a formação da assíntota de
estabilização da curva do coletor. Gama e colaboradores (2003) também
demonstraram em seu estudo na Amazônia Oriental que uma área inventariada
relativamente pequena (0,13 ha) é suficiente para representar a composição
florística da regeneração arbórea. Através da Figura 5 também é possível propor a
diferença quanto ao número de espécies entre floresta de várzea alta e de várzea
baixa. Evidência comprovada pela curva de rarefação (Figura 6), que demonstra a
presença de maior número de espécies em VA, indicando que a diferença quanto ao
número de indivíduos amostrados entre os dois habitats não influenciou em uma
menor diversidade em VB, visto que os desvios diferem claramente, para um
intervalo de confiança de 95%.
47
0
25
50
75
100
2 4 6 8 101214161820
Unidades amostrais
Nº de espécies
VA VB
Figura 5. Curva do número de pontos de amostragem versus o número de espécies
amostradas para os dois tipos florestais estudados.
0
25
50
75
100
0 400 800 1200
Número de indivíduos
Número estimado de espécies
VA VB
Figura 6. Curvas de rarefação para a riqueza estimada de espécies arbóreas
regenerantes amostradas nas parcelas das florestas de várzea alta
(VA) e várzea baixa (VB).
Quanto aos índices de diversidades de Shannon-Weaver (H’) nas florestas de
várzea alta e várzea baixa, estes foram respectivamente 3,61 e 3,1, apresentando
as parcelas de VA significativamente maior Índice de diversidade em relação às
48
parcelas de VB (ANOVA: p< 0,05; F= 50,116; GL= 1). Enquanto o Índice de
Equabilidade de Pielou (J’) não variou de forma significativa entre as parcelas dois
tipos florestais (ANOVA: p= 0,215; F= 1,569; GL= 1) (Figura 7). Já os índices α de
diversidade de Fisher foram 24,57 e 13,1 em VA e VB respectivamente.
0
0.3
0.6
0.9
1.2
0 10203040
Nº espécies
Equitabilidade (J )
Várzea alta Várzea baixa
0
1
2
3
0 10203040
escies
Indice de Shannon (H')
Várzea alta rzea baixa
VA VBVA VB
Figura 7. Índice de Shannon (H’) e de Equabilidade de Pielou (J’) de todas as
parcelas amostradas.
Além da diferença entre a composição florística do presente trabalho e os
realizados com espécies regenerantes em outras florestas de várzea (Gama et al.,
2003; Gama et al., 2004; Nebel et al. 2001), também variaram muito os índices de
diversidade. Nebel e colaboradores (2001) apresentam em seu trabalho índice de
diversidade α de Fisher superior a 40; já Gama e colaboradores (2002) e Gama e
colaboradores (2003) em estudos realizados no estuário do rio Amazonas
apresentam índices de diversidade inferiores a este levantamento realizado no
Mamirauá, tanto para VA quanto para VB. Em estudo sobre os padrões de
composição florística em 48 inventários realizados nos Neotrópicos, Terborgh &
Andresen (1998) concluíram que a posição geográfica é o fator mais influente na
composição florística das florestas inundáveis. Neste contexto, trabalhos recentes
têm documentado que as florestas de várzea da Amazônia apresentam um aumento
de diversidade no sentido leste-oeste da bacia do Amazonas, ou seja, em direção à
nascente do rio Solimões (Wittmann et al., 2006). Esse padrão também é observado
entre as florestas de terra firme da Amazônia (Ter Steege et al., 2000, 2003), onde a
diversidade parece estar relacionada à densidade de indivíduos e sazonalidade e
quantidade de chuvas (Ter Steege et al., 2003) ou à quantidade de nutrientes
49
presentes no solo (Ter Steege et al., 2006). Assim, comunidades de espécies
arbóreas de florestas inundáveis tendem a ser mais semelhantes às florestas de
terra-firme da mesma região geográfica do que de florestas inundáveis de regiões
adjacentes (Wittmann et al., 2006). Esses resultados referentes à semelhança entre
florestas de terra-firme e de várzea de mesma região reforçam a hipótese que a
várzea atua como zona transitória para a colonização de árvores de terra-firma para
zonas sujeitas a inundações periódicas, e que também explica o aumento de
diversidade no sentido leste-oeste da bacia Amazônica.
Wittmann e colaboradores (2006) mencionam que na bacia do Amazonas, as
florestas de várzea baixa apresentam grande similaridade, mesmo através de
grandes distâncias, resultado da alta conectividade proporcionada pelos
mecanismos de dispersão. Ainda segundo Wittmann e colaboradores (2006), a
dispersão hidrocórica e ictiocórica é mais efetiva entre as florestas de várzea baixa e
contribui para a similaridade florística ocorrente entre os milhares de quilômetros
ocupados por floresta de várzea baixa na Amazônia. Porém, quando foram
comparados inventários de espécies regenerantes realizados em florestas de várzea
baixa e várzea alta no Peru (Nebel et al., 2001), no Mamirauá (presente estudo) e no
estuário amazônico (Gama et al. 2002, 2003), poucas foram as espécies presentes
em mais de um dos levantamentos, resultando em baixos valores de similaridade
florística de SØrensen entre as três áreas (Tabela 5).
Tabela 5. Número de espécies e Índice de Similaridade de S
Ørensen entre três
levantamentos considerando espécies regenerantes em florestas de
várzea alta e várzea baixa na Amazônia.
Peru Mamirauá Estuário Amazonas Similaridade (SØrensen)
Área
(ha)
VA 0,32
0,32
0,157
0,157
0,29
0,25
Nebel x
P.E.
Nebel x
Gama
Gama x
P.E.
Nebel x Gama
x P.E.
VB
Nº espécies
VA 160 90 70 4,8% 3,45% 7,5% 0
VB 166 51 63 3,7% 3,5% 10,5% 0
VA + VB 204 116 83 8,1% 2,7% 6% 0
O levantamento florístico realizado na Amazônia Ocidental apresentou baixa
similaridade em relação ao realizado na região estuarina. No entanto, ambos
apresentaram maior similaridade florística quando comparados com os dados
50
obtidos no Mamirauá (Amazônia Central). Neste caso, a distância geográfica
reduzida entre os pontos de amostragens tenha resultado em maior similaridade
florística entre Mamirauá e os outros locais eqüidistantes na Amazônia Ocidental e
Oriental. A similaridade florística elevada entre florestas de várzea baixa de regiões
distantes pode ocorrer quando forem levados em consideração os estádios mais
iniciais da sucessão da várzea baixa, onde a diversidade é comparativamente
pequena, já que os altos níveis de inundação permitem o estabelecimento de um
número restrito de espécies.
A análise de ordenação (NMDS, Figura 8) indica uma clara separação da
vegetação de espécies arbóreas regenerantes que compõem a várzea alta e a
várzea baixa. As 20 parcelas de VA estão mais próximas floristicamente entre si na
análise de ordenação quando comparadas às parcelas de VB, o que caracteriza
uma maior similaridade na composição florística nas parcelas que se localizam no
mesmo tipo de vegetação. O Índice de Similaridade de SØrensen entre os dois
habitats amostrados foi de apenas 35,46%, deixando ainda mais evidente a grande
diferença florística existente entre as comunidades.
51
VA 08
VA 06
VA 16
VA 15
VA 09
VA 20
VA 19
VA 10
VA 14
VA 05
VA 02
VA 04
VA 03
VA 01
VA 12
VA 07
VA 13
VA 17
VA 18
VA 11
VB 19
VB 04
VB 09
VB 14
VB 17
VB 02
VB 06
VB 10
VB 18
VB 07
VB 08
VB 16
VB 03
VB 13
VB 01
VB 15
VB 11
VB 12
VB 05
VB 20
Várzea alta Várzea baixa
Figura 8. Agrupamento das parcelas de floresta de várzea alta e várzea baixa de
acordo com a composição florística.
A diferença quanto à composição florística entre os dois tipos florestais
parece estar relacionada ao tempo e amplitude da inundação. Para as espécies
arbóreas se desenvolverem nas florestas de várzea baixa, são necessárias muitas
adaptações fisiológicas, morfológicas e anatômicas para tolerarem o prolongado
período de inundação (Wittmann & Parolin, 1999; Parolin, 1998, 2001; Parolin et al.,
2002b; Schöngart et al., 2002; Fernandes-Corrêa & Furch, 1992; Sclüter et al., 1993;
Worbes, 1986). Este ambiente suscetível a altos níveis de inundação impede o
desenvolvimento de muitos indivíduos encontrados na várzea alta desprovidos de
tais adaptações ou com estas adaptações menos desenvolvidas. Além deste fator
52
limitante, esta região mais baixa é mais suscetível às mudanças da textura do solo,
causada pela dinâmica de sedimentação e erosão provocada pelos rios que
influenciam na riqueza e diversidade das florestas de várzea (Salo et al., 1986;
Lamotte, 1990; Kalliola et al., 1991; Campbell et al., 1992; Wittmann et al., 2006). A
deposição e remoção periódica da serrapilheira, incluindo os bancos de sementes
afetam o recrutamento das plântulas e tem influência direta na seleção de espécies
capazes de sobreviver nestas áreas (Metzger et al., 1997).
Na floresta de várzea alta, altura e duração da inundação são menores,
apresentando uma fase terrestre durante grande parte do ano e assumindo
características similares a ambientes não inundáveis. Entretanto, em estudo
realizado por Oliveira & Amaral (2005) com espécies regenerantes em 0,5 ha de
floresta de terra-firme da Amazônia Central foram amostradas 2434 indivíduos
pertencentes a 355 espécies, evidenciando que o pulso de inundação na floresta de
várzea alta ainda é um fator limitante, limitando a riqueza de espécies regenerantes
(Wittmann et al., 2002). Kubitzki (1989) afirma que a origem de muitas das espécies
das florestas de várzea está no ambiente florestal de terra-firme. Ocasionalmente
períodos com inundações relativamente pequenas podem ter sido cruciais para o
estabelecimento das espécies arbóreas de terra-firme no ambiente de várzea, que
possui solo mais fértil devido à influência dos rios de água branca ricos em
nutrientes (Wittmann et al., 2006). Quando estas espécies colonizaram florestas
inundáveis, gradualmente desenvolveram adaptações para as inundações
periódicas (Parolin 2001). Por essa razão, muitas espécies da várzea alta
provavelmente desenvolveram menos adaptações para tolerarem a inundação que
as espécies da várzea baixa, e são extremamente sensíveis às pequenas variações
no pulso de inundação. E é devido a essa coexistência de espécies bem adaptadas
à inundação juntamente com espécies generalistas que também ocorrem em
florestas de terra-firme que as florestas de várzea da Amazônia apresentam uma
grande riqueza de espécies quando comparada a outras florestas alagáveis
(Wittmann et al., 2006).
6.3 Estrutura de Comunidade
O total de indivíduos amostrados em VA apresentou uma área basal de 33,34
m
2 2
, enquanto em VB a área basal total foi de 10,65 m . Apesar de VB ter
53
apresentado significativamente menor número de indivíduos, este apresentou
maiores valores médios referentes à área basal (316,2±12,17cm
2
) e altura
(3,29±2,25 m) em relação à VA (área basal média= 246,7±10,24cm
2
, altura média=
2,83±1,94 m) (Tabela 6). A distribuição dos indivíduos de acordo com a classe
diamétrica nos dois ambientes mostra uma curva exponencial negativa característica
de florestas tropicais maduras (Zent & Zent, 2004) (Figura 9). VB apresentou maior
proporção de indivíduos com mais de 7,5 cm de DAP (41 indivíduos,
correspondendo à cerca de 9,5% do total) em relação à VA, que apresentou 47
indivíduos entre as maiores classes de DAP (cerca de 4,5%). Na floresta de várzea
baixa, a maior classe de DAP incluiu indivíduos das seguintes espécies: Elaeoluma
glabrescens, Bonafousia juruana, Oxandra riedeliana, Rheedia brasiliensis,
Quaralibea sp, Psidium acutangulum, Mabea nitida, Drypetes cff. variabilis, entre
outras. Já na várzea alta, alguns exemplos de espécies que apresentaram
indivíduos com valores elevados de DAP são: Unonopsis guatterioides, Solanum
leucocarpon, Iryanthera juruensis, Inga sp1, Endlicheria cff. formosa, Cordia
goeldiana, Apeiba echinata, Micropholis egensis e Virola calophylla. Observou-se
ainda um aumento significativo (ANOVA: p< 0,05; F= 248,44; GL= 1) quanto a altura
média entre os indivíduos com menos de 3 cm de DAP para os classificados entre 3
e 4,5 cm de DAP, mas a altura a partir dessa classe de diâmetro manteve-se
constante, sem aumentos significativos entre as classes de diâmetro seguintes
(Figura 9).
Tabela 6. Características estruturais de espécies arbóreas regenerantes nos dois
ambientes estudados na RDS Mamirauá (VA = várzea alta; VB = várzea
baixa).
2
Habitat Área basal total (m ) Área basal média (cm
2
) DAP médio (cm) Altura média (m)
VA 33,34 246,7±10,24 1,9±1,75 2,83±1,94
VB 10,65 316,2±12,17 2,8±1,92 3,29±2,25
54
0
300
600
900
<3 3-4,5 4,5-6 6-7,5 7,6-10
Classes de DAP (cm)
de indivíduo
s
0
2
4
6
8
Altura média (m)
VA VB altura
Figura 9. Distribuição dos indivíduos jovens de acordo com a classe de diâmetro
(D.A.P.) (cm) e altura média (m).
Indivíduos compreendidos entre as menores classes de DAP presentes na
floresta de várzea alta demonstraram maior altura média em relação aos presentes
na floresta de várzea baixa. Porém, nas classes de DAP mais elevadas, os
indivíduos da floresta de várzea baixa apresentaram maior altura média do que
aqueles encontrados no tipo florestal várzea alta (Figura 10). Embora a relação
altura/DAP dos indivíduos presentes em VA tenha apresentado maior média
(1,69±1,79) quando comparado com a média entre os indivíduos de VB (1,49±2,3),
não ocorreu uma diferença significativa entre os dois habitats.
55
0
2
4
6
8
10
12
14
0-1 1,1-2 2,1-3 3,1-4 4,1-5 5,1-6 6,1-7 7,1-8 8,1-9 9,1-10
Classes de DAP (cm)
Altura média (m)
VA VB
Figura 10. Distribuição de indivíduos em relação às classes de DAP (cm) e altura
média em ambientes de várzea alta e várzea baixa.
Particularmente nas florestas inundáveis, o tempo logo após o período de
inundação é limitado a poucos meses no ano (Junk et al., 1989) e as taxas de
sobrevivência das plântulas serão maiores de acordo com o crescimento vertical que
tiverem adquirido antes da próxima inundação. Para as espécies que não toleram a
inundação completa por muitos meses, o rápido crescimento pode ser considerado
como uma adaptação para evitarem a submergia total. Nos menores níveis do
gradiente de inundação, onde mesmo as espécies com altas taxas de crescimento
vertical não conseguem escapar da inundação total, as plantas têm que resistir.
Segundo Parolin (1999), a probabilidade de uma plântula de várzea baixa estar hábil
para crescer mais que o nível máximo da inundação é pequena e somente espécies
tolerantes à inundação sobrevivem. Elas necessitam de outras estratégias, como
adaptações fisiológicas e morfológicas que capacite-as de tolerarem muitas
semanas ou meses de submersão. A capacidade de fotossíntese sobre a água foi
documentada para algumas espécies (Fernandes-Correa & Furch; 1992, Schlüter,
1989; Schlüter & Furch, 1992) e pode ser de fundamental importância para a
sobrevivência. Outras espécies mantêm as folhas dormentes (baixa atividade
metabólica) durante o todo o período da inundação e as reativam logo após a água
retroceder (Parolin 1997, 1998).
56
Nas plantas localizadas nos maiores níveis topográficos, a necessidade para
as referidas adaptações é menor e a estratégia do rápido crescimento pode agora
ser importante. Se a plântula conseguir atingir uma altura razoável antes da próxima
inundação, algumas folhas podem ficar sobre a superfície da água e aumentando as
chances de sobrevivência, como foi mostrado com a espécie Senna reticulata: esta
espécie da várzea alta não tolera a submersão, mas é capaz de crescer 4 m em
apenas oito meses, o que habilita a sobrevivência aos maiores níveis do gradiente
de inundação onde ela ocorre exclusivamente (Parolin, 1999). Embora a altura das
espécies regenerantes de VA não tenha sido significantemente maior que as
espécies regenerantes de VB, o que se nota é uma tendência a esse padrão, como
estratégia das plantas de VA de evitarem a inundação total. É possível que este
padrão seja mais expressivo nas plântulas, enquanto nas plantas jovens já
estabelecidas as espécies podem vir a diminuir a velocidade do crescimento
primário, destinando energia também no crescimento secundário, ramos etc.
6.4 Distribuição Espacial
Com o Índice de Distribuição Espacial de Morisita (Id) (Tabela 7) foi possível
visualizar a distribuição espacial das espécies dentro da comunidade. Em VA, este
índice não foi calculado para 65,5% das espécies, uma vez que estas foram
representadas por um número menor que oito indivíduos. Do restante, 61,3% (21,1%
do total de espécies amostradas) apresentaram padrão de dispersão agregado e
38,7% (13,3% do total de espécies) apresentaram padrão aleatório. Neea madeirana
apresentou Id superior a 2, porém esta diferença não foi significativa
estatisticamente, sendo considerada portanto uma espécie de distribuição aleatória.
Já em VB, apenas 12 espécies (23,5%) apresentaram mais de oito indivíduos, sendo
que destas, 75% apresentaram padrão agregado (17,6% do total de espécies
amostradas) e 25% padrão aleatório de distribuição (5,9% do total de espécies).
No ambiente de várzea alta, apenas cinco espécies, Apeiba echinata,
Cecropia latiloba, Inga sp1, Psychotria sp1 e Iryanthera juruensis apresentaram
índices de distribuição espacial relativamente elevados (Id superior a cinco). Já em
VB, das nove espécies com padrão agregado, 55% apresentaram Id superior a
cinco, sendo elas Cecropia latiloba, Duroia genipoides, Leonia glycycarpa,
Psychotria sp5 e Rheedia brasiliensis; esta última com Id igual ao número de
57
parcelas (20), tendo ocorrido somente em uma das unidades amostrais de VB. Entre
as espécies que ocorreram nos dois ambientes, Cecropia latiloba e Rheedia
brasiliensis apresentaram em ambos o padrão agregado de distribuição, enquanto
Neea madeirana apresentou padrão aleatório. Já T. schomburgkii apresentou
padrão agregado em VA e aleatório em VB.
Tabela 7. Relação das espécies arbóreas regenerantes com oito ou mais indivíduos
amostrados em VA e VB e os respectivos índices de agregação de
Morisita (Id), valores de F calculados e o padrão de distribuição.
Várzea alta
Espécie Morisita (Id) F calc. Padrão de distribuição
aleatório
-
1,85
Alchorneopsis floribunda
aleatório
-
0,57
Clavija lancifolia
aleatório
-
1,33
Endlicheria cff. formosa
aleatório
-
1,76
Leonia racemosa
aleatório
-
0,55
Malouetia tamaquarina
aleatório
-
1,32
Micropholis egensis
aleatório
-
1,77
Myrciaria dubia
aleatório
-
1,41
Naucleopsis ternstroemiiflora
aleatório
1,43
2,095
Neea madeirana
aleatório
-
1,62
Psychotria sp2
aleatório
-
1,09
Psychotria sp3
aleatório
-
1,5
Virola calophylla
agregado
1,789
2
Alibertia edulis
6,07
7,205
agregado
Apeiba echinata
3
6,43
agregado
Cecropia latiloba
3,46
2,54
agregado
Clarisia racemosa
12,38
2,149
agregado
Coussarea ampla
2,083
2,47
agregado
Guatteria inundata
2,26
2,5
agregado
Heisteria acuminata
2,47
5
agregado
Himatanthus sucuuba
1,94
3,57
agregado
Hura crepitans
8,66
5,045
inga sp1
agregado
8,36
8
agregado
Iryanthera juruensis
2,2
3,55
Pouteria sp2
agregado
10,47
10
Psychotria sp1
agregado
1,66
2,051
agregado
Rheedia brasiliensis
8,3
3,62
agregado
Solanum leucocarpon
2,68
5
agregado
Tabernaemontana sananho
7,11
2,78
agregado
Tococa capitata
3,11
2,486
agregado
Tovomita schomburgkii
3,49
2,58
agregado
Virola elongata
Várzea baixa
Espécie Morisita (Id) F calc. Padrão de distribuição
1,51 - aleatório
Neea madeirana
1,11 - aleatório
Oxandra riedeliana
58
aleatório
-
1,72
Tovomita schomburgkii
agregado
12,65
6,82
Cecropia latiloba
agregado
1,94
3,57
Couepia paraensis
agregado
8,69
7,96
Duroia genipoides
agregado
18,59
4,88
Elaeoluma glabrescens
agregado
7
5,07
Leonia glycycarpa
agregado
1,98
3,33
Maclura tinctoria
agregado
6,15
Psychotria sp5 15
agregado
41
20
Rheedia brasiliensis
agregado
2,2
4,28
Symmeria paniculata
A tendência de que a distribuição espacial com padrão aleatório é rara em
populações de plantas, sendo que a maioria das espécies possui algum grau de
agregação no espaço, tem sido constatada em muitos estudos realizados em
florestas maduras não alagáveis com comunidades de plantas adultas de florestas
tropicais (Legendre & Fortin, 1989; Horvitz & Le Corff, 1993). Resultado semelhante
foi encontrado por Oliveira e Amaral (2005) em seu estudo com plantas
regenerantes de terra-firme, onde apenas uma entre as 30 espécies analisadas
quanto ao padrão de distribuição espacial apresentou padrão aleatório. Porém, em
estudos realizados com comunidades de plantas regenerantes em florestas maduras
de várzea alta (Gama et al.,2003) e de várzea baixa (Gama et al., 2002),
encontraram resultados semelhantes ao presente estudo, com valores próximos a
68% de espécies com distribuição agregada e 32% aleatória em VA e 74% e 36%
respectivamente para os padrões agregados e aleatórios em VB. É possível que o
tipo de dispersão que ocorre nas florestas inundáveis, onde muitas vezes água é o
principal agente dispersor, tenha influência nos padrões encontrados. Nas florestas
inundáveis estão presentes, além de todas as síndromes de dispersão existentes em
florestas de terra-firme, também a hidrocoria e ictiocoria, que possibilitam uma
dispersão mais ampla.
A maior cota de inundação faz com que as plantas que se estabelecem em
florestas de várzea baixa sejam mais influenciadas pela dispersão hidrocórica. Por
este motivo este tipo florestal tende a apresentar as espécies mais bem distribuídas
por todo o terreno. Tendência esta mostrada pelo teste de Mantel que foi realizado
entre as unidades amostrais de VA e de VB. Enquanto em VB as parcelas
inventariadas não aparecem como sendo correlacionadas quanto à composição
florística, em VA as unidades amostrais se apresentam correlacionadas,
demonstrando que a distância entre elas não proporcionou menor similaridade. Isso
leva a crer que, devido à maior influência da hidrocoria, florestas maduras de várzea
59
baixa tendem a apresentar um ambiente mais homogêneo em relação às florestas
de várzea alta.
6.5 Luz e Inundação x Regeneração Arbórea
Considerando o histórico da cota de inundação dos últimos vinte anos,
ocorreu uma diferença significativa quanto à média de inundação entre VA e VB
(ANOVA: F= 2304,98; p<0,05; GL= 1). A inundação média obtida entre todas as
parcelas presentes na floresta de várzea alta foi de 0,68±0,38 m, enquanto nas
parcelas da floresta de várzea baixa a média anual de inundação foi igual a
4,12±0,17 m. Quanto à radiação fotossintética ativa relativa (rPAR), as médias de VA
e VB foram respectivamente 15,58±17,93% e 16,41±16,4%, sendo que não houve
diferença significativa quanto a rPAR entre os dois tipos florestais (Tabela 8).
Tabela 8. Características dos ambientes estudados considerando apenas espécies
arbóreas 1 m altura e <10 cm DAP.
Habitat VA VB
Inundação média (m) 0,68±0,38 4,12±0,17
rPAR média (%) 15,58±17,93 16,41±16,4
A riqueza e abundância de indivíduos de plantas arbóreas regenerantes
apresentaram um padrão de decréscimo ao longo do gradiente de inundação até a
classe de 3,5-3,75 m de inundação, onde é possível observar uma tendência de
estabilização, principalmente quanto ao número de indivíduos (Figura 11). Na várzea
alta, houve uma correlação significativa quanto ao nível de inundação e o número de
indivíduos (Correlação de Pearson: p<0,05; R
2
= 0,227; GL= 18), e também quanto
ao número de espécies (Correlação de Pearson: p<0,05; R2= 0,3934; GL= 18) de
forma que a maior abundância e riqueza ocorreram nos menores níveis de
inundação em VA. Porém, na várzea baixa tal correlação não foi observada quanto
à abundância e nem quanto à riqueza.
60
0
20
40
60
80
< 0,5 0,51-0,75 0,76-1 1-1,25 3,5-3,75 3,75-4 4,1-4,25 >4
Inundação anual média (m)
Indiduos e espécies (3141,6 m
2
)
indivíduos espécies
Figura 11. Número de indivíduos e espécies em relação ao gradiente de inundação
em florestas de várzea alta e várzea baixa.
As espécies presentes na floresta de várzea baixa estão muito mais
adaptadas à pressão causada pela inundação periódica, muitas delas apresentando
adaptações morfológicas e fisiológicas para tolerarem maior tempo submersas. Isto
demonstra que a inundação periódica é menos limitante para a comunidade arbórea
de VB do que para a de VA. No caso de VB, é possível que pouca diferença faça à
comunidade arbórea permanecer submersa alguns dias a mais do que está
habituada a tolerar. Porém em VA, o nível de inundação e conseqüentemente o
número de dias que a planta pode permanecer submersa é extremamente limitante,
pois a tolerância à inundação entre as plantas de várzea alta é muito menor. Pode-
se afirmar que em VA parcelas com diferentes níveis de inundação podem variar
muito quanto ao número de indivíduos e conseqüentemente composição florística,
preferindo estes parcelas menos exigentes, enquanto o tipo florestal de várzea baixa
que o presente estudo abordou isso não ocorreu.
De acordo com os resultados referentes à rPAR no sub-bosque de florestas
maduras de várzea amostrados por Wittmann e colaboradores (2002), as unidades
amostrais de ambos os ambientes foram divididas em: parcelas com alta intensidade
Várzea alta Várzea baixa
61
luminosa (rPAR >6%); e parcelas tidas como de baixa intensidade luminosa ou
sombreadas (rPAR 6%). Em VA, foi observada pouca influência da radiação solar
na abundância e número de espécies (ambos não diferenciaram significativamente).
No entanto em VB, embora o número de espécies não tenha diferenciado
significativamente entre os níveis de rPAR alto e baixo, o número de indivíduos
respondeu de forma significativa à maior radiação solar (F= 4,484; p<0,05; GL=1)
(Figura 12).
0
2
4
6
8
10
baixo alto
Níveis de rPAR (%)
Espécies por parcela (média)
VA VB
0
20
40
60
80
baixo alto
Níveis de rPAR (%)
Indivíduos por parcela (média
)
VA VB
Figura 12. Média do número de indivíduos e espécies por parcela em relação aos
níveis de rPAR (%) em floresta de várzea alta e floresta de várzea baixa
(rPAR baixo: 6%; rPAR alto: > 6%).
Apesar da pouca diferença média quanto ao rPAR entre VA e VB, esta
variável ambiental parece influenciar de forma diferente a comunidade regenerante
nos dois ambientes. Enquanto em VA, caracterizado como o estádio sucessional
mais tardio entre as florestas de várzea, são poucas as espécies heliófitas típicas de
ambientes em processos de sucessão ecológica, estas espécies ocorrem em maior
abundância na floresta de várzea baixa, ambiente que se apresentam em estádios
sucessionais mais prematuros. Na floresta de várzea baixa onde foi conduzido o
presente estudo, muitas foram as espécies típicas de ambientes em estádios
sucessionais mais iniciais, como Cecropia latiloba, Laetia corymbulosa,
Pseudobombax munguba, Nectandra amazonum e Maclura tinctoria. Estas
espécies, principalmente C. latiloba, ocorrem densamente em locais com alta
incidência luminosa. Aproximadamente 40% das espécies estiveram presentes tanto
62
em locais com radiação solar alto quanto baixo, proporcionando um índice de
Similaridade de SØrensen de 51%. Por isso micro-habitats com altos níveis de rPAR
podem ser considerados importantes para a regeneração de muitas espécies
arbóreas heliófitas características deste tipo florestal. Já em VA, 47 espécies (mais
de 50%) apresentaram indivíduos tanto em ambientes mais iluminados como em
ambientes sombreados, proporcionando uma similaridade de SØrensen entre os dois
ambientes superior a 70%.
Segundo alguns estudos realizados em florestas de terra-firme, um
considerável número de espécies vegetais está associado ou possui sítio de
regeneração ótimo em locais com altas intensidades de radiação solar, ambiente
muitas vezes proporcionado pela formação de clareiras naturais (Schulz, 1960;
Orians, 1982). Em La Selva na Costa Rica, Harshorn (1978) concluiu que grande
número de espécies de dossel regeneram em clareiras e em Barro Colorado no
Panamá, Augspurger (1983) encontrou uma alta sobrevivência de plântulas que
colonizavam clareiras, por redução de ação de patógenos. Nestes ambientes,
espécies que exigem níveis de temperatura, umidade e luminosidades diferentes
daqueles existentes no sub-dossel da floresta são favorecidas (Pires, 1974b;
Denslow, 1980). Em contraste, algumas espécies arbóreas da floresta madura,
ervas e arbustos de condições sombreadas do sub-bosque têm suas populações
reduzidas ou mesmo suprimidas pela formação de uma clareira (Brokaw, 1980).
Porém, poucos estudos abordaram a questão de regeneração de clareiras naturais
em florestas inundáveis. Em estudo realizado em floresta de igapó, Ferreira (1991)
afirma que a maioria das espécies (94 espécies ou 89%) encontradas regenerando
nas clareiras estavam também presentes no levantamento florístico realizado fora
das condições de clareiras. O mesmo pode estar ocorrendo em VA, ambiente em
mais avançado estádios sucessional entre as florestas inundáveis e com predomínio
de espécies esciófitas (estabelecem e regeneram em locais sombreados), cujas
parcelas com maiores níveis de rPAR não apresentam-se como sítios de
regeneração importantes para o aumento da diversidade. Entretanto, em ambas as
áreas estudadas não estiveram presentes nas unidades amostrais nenhuma clareira
natural, e estudos futuros podem esclarecer melhor a importância da luz na
regeneração arbórea assim como a regeneração de clareiras naturais nas florestas
de várzea.
63
A maioria das espécies amostradas em ambos os habitats apresentou
indivíduos ao longo de todo o gradiente de luz. (Figura 13). Em VA, apenas duas
espécies Inga sp1 e Apeiba echinata, apresentaram maior tendência de ocorrência
em locais com maiores intensidades luminosas. Entretanto, 31,25% das 31 espécies
ordenadas em relação ao gradiente de rPAR em VA localizam-se quase que
exclusivamente em locais com baixa radiação solar, sendo elas: Iryanthera
juruensis, Virola elongata, Rubiaceae sp., Clarisia recemosa, Pouteria sp2,
Micropholis egensis, Rheedia brasiliensis, Tovomita schomburgkii, Myrciaria dubia e
Heisteria acuminata. Em VB, quase metade das espécies apresentaram maior
preferência ou exclusividade de ocorrência em locais com maiores níveis de rPAR:
Psychotria sp5, Cecropia latiloba, Pseudobombax munguba, Leonia glycycarpa,
Maclura tinctoria e Rheedia brasiliensis; enquanto somente Couepia paraensis e
Oxandra riedeliana apresentaram maior abundância em locais mais sombreados.
Quanto à distribuição de espécies em relação à cota de inundação em VA,
nenhuma das espécies apresentou maior tendência de ocuparem as parcelas
suscetíveis aos maiores níveis de inundação. Apenas Cecropia latiloba, uma espécie
pioneira na sucessão vegetal da várzea, apresentou grande parte dos indivíduos em
locais que permanecem mais tempo inundados. Por outro lado, a grande maioria das
espécies ordenadas em relação ao gradiente de inundação apresentou poucos ou
nenhum indivíduo na cota de inundação a 0,5 m. Em VB, apenas três espécies
(Psychotria sp5, C. paraensis e L. glycycarpa) apresentaram maior ocorrência em
locais menos suscetíveis a inundação, enquanto a maioria das espécies apresentou
indivíduos ao longo de todo o gradiente e demonstrando bastante tolerância a
inundação. Uma delas, S. paniculata, até apresentou mais indivíduos em parcelas
sujeitas a um alagamento mais prolongado. No entanto, deve ser deixado claro que
o gradiente de inundação amostrado em ambos os habitats é pequeno. Isso porque
foram abordados tipos florestais de estágios sucessionais mais avançados. Se
levarmos em consideração todo o gradiente de inundação existente entre os tipos
florestais no ecossistema várzea, ficará evidente a típica zonação de espécies
causada pela influência das diferentes cotas de inundação na comunidade de
plantas (Worbes et al., 1992; Wittmann et al., 2004).
64
Várzea alta
baixo alto
indivíduos indivíduos
65
Várzea baixa
baixo alto
indivíduos indivíduos
Figura 13. Ordenação das espécies com abundância 8 indivíduos de acordo com
os gradientes de luz (rPAR) e inundação nos tipos florestais várzea alta
e várzea baixa amostrados.
Quanto à relação entre as espécies arbóreas regenerantes e os gradientes de
luz e inundação, foi possível observar na floresta de várzea alta que poucas foram
as espécies que ocorreram em locais sujeitos ao nível de inundação superior a um
metro. Já em VB, apesar da maior ocorrência de espécies entre 4 e 4,5 m de
inundação, as espécies parecem ocorrer de forma mais regularmente distribuídas
entre todos os níveis de inundação registrados neste habitat. Em relação a rPAR,
tanto em VA quanto em VB, a distribuição das espécies parece ser pouco
influenciada por este fator, podendo ser observado que as espécies ocorreram de
forma razoavelmente ampla entre as diferentes classes de rPAR (Figura 14).
Haugaasen e Peres (2006) afirmam que a abertura de dossel é similar entre
florestas de terra-firme e florestas de várzea. Considerando que a densidade de
plantas regenerantes é significantemente menor na várzea, sugere-se a idéia de que
a disponibilidade de luz não é o fator que explica esse contraste. Como a idéia da
luz como um fator limitante na várzea não fica evidente, conclui-se que ocorre outro
fator limitante para o desenvolvimento das espécies regenerantes. Mais uma vez,
66
portanto, a inundação parece ser o fator limitante que mais influencia o
estabelecimento e distribuição das espécies regenerantes (Klinge et al., 1995).
0
20
40
60
80
33,544,55
Inundação média (m)
rPAR (%)
0
20
40
60
80
00,511,5
Inundação média (m)
rPAR (%)
Várzea alta Várzea baixa
Figura 14. Distribuição espacial das espécies amostradas nas parcelas localizadas
em floresta de várzea alta e em floresta de várzea baixa em relação as
variáveis nível de inundação média (m) e rPAR (%).
Em VA, não houve uma correlação significativa entre tamanho médio de DAP
e as faixas de rPAR e nem entre DAP e os níveis de inundação amostrados nas
parcelas (Figura 15). Em VB, também não foi observada uma correlação significativa
entre DAP e níveis de inundação (Figura 16), no entanto o tamanho médio do DAP
dos indivíduos respondeu de forma significativa às diferentes faixas de rPAR
(Correlação de Pearson: R2= 0,222; GL= 17; p<0,05). Quanto a altura média dos
indivíduos versus rPAR, houve uma correlação significativa tanto em VA, quanto em
VB. Já a altura média dos indivíduos não esteve relacionada de forma significativa
aos diferentes níveis de inundação em VA e em VB (Figuras 15 e 16).
67
Figura 15. Relação entre tamanho médio de DAP (cm) e rPAR (15. A), DAP médio
(cm) e nível de inundação (m) (15. B), altura média (m) e rPAR (%) (15. C), e altura média
(m) e nível de inundação (m) (15. D) em floresta de várzea alta.
68
Figura 16. Relação entre tamanho médio de DAP (cm) e rPAR (16. A), DAP médio
(cm) e nível de inundação (m) (16. B), altura média (m) e rPAR (%)
(16. C), e altura média (m) e nível de inundação (m) (16. D) em floresta
de várzea baixa.
As parcelas que registraram os maiores níveis de rPAR apresentaram
indivíduos com menores estaturas e também menor DAP. Somente locais que
apresentam dossel mais baixo, com árvores mais jovens e/ou arvoretas permitem
que maior quantidade de luz solar atinja o solo florestal. De forma que, através da
metodologia aplicada neste estudo, não foi possível obter dados sobre a influência
da radiação solar na estatura e diâmetro da comunidade de plantas arbóreas
regenerantes. Estudos futuros poderão abordar de forma mais adequada a questão
e fornecer informações importantes, principalmente se aplicadas às espécies de
interesse madeireiro.
Não ocorreu correlação significativa entre nível de inundação e Índice de
Diversidade de Shannon & Weaver (H’), tanto nas parcelas amostradas em VA,
quanto em VB (Figura 17. A). Também não houve nenhuma correlação significativa
quanto ao rPAR e Índice de Diversidade de Shannon entre todas as parcelas
amostradas nos dois habitats (Figura 17. B).
69
17. A 17. B
0
1
2
3
012345
Nível de inundação (m)
Indíce de Shannon (H')
0
1
2
3
0204060
rPAR (%)
Índice de Shannon (H')
80
Figura 17. Índice de diversidade de Shannon (H’) em relação ao nível de inundação
(m) (17. A) e em relação ao rPAR (%) (17. B) entre todas as parcelas
amostradas.
6.6 Espécies de Utilidade Econômica e/ou Consumo
Entre as espécies amostradas, 46 espécies (quase 40%) apresentam alguma
utilidade econômica e/ ou de consumo entre os moradores da região. As categorias
de uso que apresentaram maior número de espécies na área estudada foram:
árvores de importância madeireira (58,7%), frutos comestíveis (26,1%), uso
fitoterápico (23,9%) e madeira potencialmente utilizável (8,7%). Dentre do grupo de
espécies no inventário florestal que possuem interesse madeireiro, destacaram-se:
Virola calophylla (81 indivíduos) e Heisteria acuminata (17 indivíduos), muito
utilizadas na construção civil; Clarisia racemosa (32 indivíduos), Iryanthera juruensis
(21 indivíduos), Apeiba echinata (17 indivíduos) importante na construção naval e
para a construção de flutuantes e Hura crepitans (8), importante na construção civil,
naval e confecção de móveis. Em relação à área basal, fator de elevada importância,
quando se refere a produtos florestais madeireiros, a espécie que mais se destacou
entre as espécies de interesse madeireiro foi Virola calophylla, com 366,5 cm
2
de
área basal. Já a espécie Iryanthera juruensis apresentou número bem inferior de
indivíduos, porém de relativamente grande porte, o que lhe fez ocupar a segunda
posição com 213,2 cm
2
.
Foi possível observar também entre as espécies de interesse madeireiro, que
a grande maioria delas esteve mais presente em VA que em VB, não somente em
70
número de indivíduos, como também em número de espécies. Outras espécies,
como Myrciaria dubia, Vismia guianensis, Diospyros guianensis e do gênero Eugenia
sp. não possuem madeira de valor econômico, mas segundo Alvino e colaboradores
(2005), podem ser muito úteis na construção rural e fabricação de ferramentas. Doze
espécies amostradas apresentam frutos comestíveis e são importantes como fonte
de alimento para os moradores da região e também para a fauna local. Entre outras
espécies que apresentam produto florestal não-madeireiro muito utilizado pelos
ribeirinhos estão: Guatteria inundata, que fornece fibras para tecelagem, Xylopia
calophylla, cuja casca é utilizada para forrar a parede das casas, Pseudobombax
munguba que fornece a paina, muito utilizada na confecção de estofamentos,
Licania heteromorpha que possui resina importante na calafetagem de canoas,
Alchornea discolor e Symmeria paniculata, cujos frutos são utilizados como isca para
peixes e Hevea spruceana que fornece látex para borracha e semente para
artesanato.
O conhecimento tradicional faz com que, além das utilidades já citadas,
muitas das espécies amostradas sejam também importantes no uso fitoterápico.
Neste quesito, destaca a importância de Himatanthus sucuuba, cujo látex é utilizado
para tosse por meio da ingestão do leite, e para dores no corpo por meio de implasto
(Ferreira, 2000). No presente estudo, Himatanthus sucuuba obteve 14 indivíduos,
sendo oito amostrados em VA e seis em VB.
Algumas famílias foram características de determinados tipos de uso, como
por exemplo, a família Myristicaceae. Das quatro espécies encontradas no
levantamento, três pertenciam ao grupo de espécies de interesse madeireiro, além
do grande número de indivíduos da família entre as espécies madeireiras. Entre as
espécies utilizadas como fitoterápicas destaque para Apocynaceae, com três
espécies das seis amostradas sendo agrupadas nessa forma de uso.
Nove das espécies classificadas como de interesse ou potencial madeireiro
tiveram seus padrões de distribuição espacial calculados e houve um equilíbrio
quanto aos dois tipos de padrões entre as espécies. O padrão agregado foi
representado por cinco espécies (Apeiba echinata, Heisteria acuminata, Hura
crepitans, Iryanthera juruensis e Maclura tinctoria) e o padrão aleatório ocorreu em
quatro espécies (Oxandra riedeliana, Malouetia tamaquarina, Myrciaria dubia e
Virola calophylla). Entre as espécies que apresentam frutos comestíveis, a grande
maioria apresentou padrão agregado, com apenas uma espécie, Myrciaria dubia,
71
apresentando padrão aleatório. Apenas duas espécies de uso fitoterápico tiveram o
Id calculado (Himatanthus sucuuba e Rheedia brasiliensis), e ambas apresentaram
padrão agregado.
Quando foi levada em consideração a influência da luz na distribuição destas
espécies, somente A. echinata e M. tinctoria demonstraram tendência em ocorrer em
locais sujeitos a maior incidência solar, enquanto I. juruensis, M. dubia, H.
acuminata, C. racemosa e O. riedeliana apresentaram a maioria dos seus indivíduos
distribuídos em ambientes mais sombreados. Em relação ao fator inundação,
apenas I. juruensis entre as espécies madeireiras esteve mais abundante em locais
suscetíveis a menores taxas de inundação, enquanto as outras ocorreram
distribuídas de forma mais regular no gradiente analisado. Ainda em relação à
influência das variáveis ambientais luz e inundação na regeneração das espécies de
interesse madeireiro, tais informações obtidas no presente trabalho podem ser
importantes para técnicas de replantio dessas espécies em áreas degradadas ou
ainda para a silvicultura. Dados referentes ao ótimo ecológico em que estas
espécies regeneram aumentam as chances de se desenvolverem de forma
adequada no ambiente natural.
Entre as espécies que apresentam valor econômico elevado, como
Calophyllum brasiliense, Drypetes cf. variabilis, Hura crepitans, Tapura juruana,
Ocotea cymbarum, Lecointea amazonica, nenhuma delas apresentou número
elevado de indivíduos. E mais, das 23 espécies que apresentaram apenas um
indivíduo, sendo, portanto, consideradas raras segundo o conceito de Martins
(1993), oito delas (mais de um terço) são espécies de interesse madeireiro:
Tabebuia barbata, Nectandra amazonum, Abarema jupunba, Lecointea amazonica,
Vatairea guianensis, Mouriri acutiflora, Genipa americana e Chrysophyllum
argenteum. Muitas das espécies de interesse madeireiro apresentam crescimento
lento, o que implicaria na alta taxa de mortalidade entre os indivíduos e
conseqüentemente uma baixa taxa de estabelecimento, explicando a densidade
relativamente pequena que estas espécies apresentaram. É possível ainda que as
espécies com apenas um indivíduo encontram baixo número de microsítios
favoráveis à sua regeneração, estando a inundação possivelmente envolvida na
definição destes sítios (Bianchini et al., 2003). O fato de tais espécies apresentarem
poucos indivíduos, aliado às suas ausências em muitos dos inventários florísticos na
Amazônia, podem também estar indicando redução de suas populações nos
72
remanescentes florestais estudados. Estudo realizado por Martini e colaboradores
(1998) sobre as espécies de árvores potencialmente ameaçadas pela atividade
madeireira na Amazônia cita Calophyllum brasiliense como espécie suscetível à
redução populacional. Além destas, Ocotea cymbarum e Virola surinamensis estão
na categoria de espécies vulneráveis segundo a lista de espécies da flora brasileira
ameaçada de extinção (IBAMA, 1992).
De modo geral, entre as espécies que foram citadas, poucas apresentam
condições de serem aproveitadas em projetos que visem apenas a produção de
madeira. Entretanto, verificou-se que há inúmeras espécies que podem ser
utilizadas, seja para a obtenção de produtos não-madeireiros, ou ainda substituindo
a madeira de espécies que já têm um mercado definido por aquelas que já vêm
sendo utilizadas em outros locais para o mesmo fim. Há, portanto, necessidade de
se efetuarem estudos que confirmem suas propriedades tecnológicas e divulguem
amplamente suas características dendrológicas (Gama et al., 2003). De forma que
devem ser levadas em consideração para o manejo florestal também algumas
espécies que não apresentam potencial ou interesse madeireiro, mas apresentaram
densidade baixa e são importantes fontes de alimento para a fauna e até mesmo
para a comunidade dos moradores locais, como por exemplo a espécie Talisia
cupularis.
Dado que a maioria das espécies de árvores da Amazônia é rara em uma
escala local, a exploração, particularmente em suas formas mais agressivas, poderia
contribuir para um declínio na biodiversidade local (Martini et al., 1998). Estudar
fatores que mantêm espécies raras em baixas densidades é a chave para entender
a biodiversidade tropical (Primack & Hall, 1991). O correspondente desafio no
campo da política é desenvolver protocolos de exploração que mantenham os níveis
atuais da biodiversidade. Alguns dos impactos negativos da exploração madeireira à
biodiversidade da Amazônia podem ser atenuados se, futuramente, esta atividade
for conduzida de maneira mais cuidadosa do que é atualmente. Os danos da
exploração madeireira podem ser reduzidos através do planejamento apropriado
(Veríssimo et al., 1998).
73
7. CONCLUSÃO
Os diferentes níveis e períodos de inundação evidenciam uma composição
florística distinta entre as duas florestas abordadas, mesmo estando separadas por
apenas alguns quilômetros. As espécies de várzea alta parecem ser bem menos
tolerantes às inundações periódicas, já que ocorreram preferencialmente em locais
sujeitos a inundação média anual inferior a um metro. As espécies de várzea baixa
estudadas se apresentaram distribuídas mais amplamente ao longo do gradiente de
inundação, provavelmente devido às adaptações específicas desenvolvidas para
suportarem as inundações prolongadas. Além disso, as espécies presentes na
várzea baixa parecem apresentar bastante especificidade por esse ambiente mais
altamente inundável, pois poucas foram também amostradas na floresta de várzea
alta.
Foi observado que rPAR influencia de forma diferente a comunidade
regenerante de VA e de VB. Enquanto na várzea alta a intensidade de luz parece
exercer papel pouco importante para a distribuição das espécies, ela determina os
padrões de distribuição de espécies em VB. Possivelmente isso demonstra que a
floresta de VB investigada ainda não se encontra nos estádios sucessionais mais
avançados, indicando vários nichos de colonização típicos de estágios sucessionais
em desenvolvimento.
A alta taxa de mortalidade nas fases iniciais de desenvolvimento pode
promover uma constante alternância de espécies que compõem a comunidade
arbórea presente nas florestas de várzea, o que explicaria a diferença florística entre
as comunidades regenerante e adulta. Quanto à baixa similaridade encontrada entre
o presente estudo e os levantamentos realizados com espécies regenerantes em
outras florestas de várzea da Bacia Amazônica, é possível que isso seja causado
pelas diferenças quanto ao nível e tempo de inundação a que as áreas estudadas
estão sujeitas e também devido às diferenças florísticas presente nas florestas
adjacentes, fonte de colonização das espécies vegetais.
Através do presente trabalho foi possível obter algumas informações
importantes sobre o ótimo ecológico de ocorrência de espécies de importância ou
potencialmente importantes para a extração de madeira. Estas espécies ocorreram
principalmente em VA, porém em ambos os habitats estudados elas ocorreram em
densidades relativamente baixas. As informações geradas no contexto deste estudo
74
podem ser importantes para o manejo de recursos florestais na RDS Mamirauá e em
florestas de várzea em geral, já que o conhecimento sobre a composição florística,
diversidade e distribuição de espécies é de fundamental importância para garantir o
uso sustentável.
75
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