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primeiro governo Lula da Silva procura afirmar a identidade internacional de
system-affecting state, recuperando alguns aspectos já visíveis na Política
Externa Independente do início dos anos 1960 e no Pragmatismo Responsável
e Ecumênico de Geisel, já na década de 1970. Mais do que isso,
argumentamos também pela presença significativa do pragmatismo na Política
Externa Brasileira, ainda que sob diversas orientações e contextos, como
elemento de continuidade cuja origem remonta ao modelo da
agroexportação
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.
Ainda, buscaremos demonstrar que a estratégia brasileira de CTPD
representa avanço significativo no sentido de formação de uma política externa
assertiva, multilateral, mas não necessariamente terceiro-mundista, ou seja,
que inclui os países do Norte no esforço de desenvolvimento dos países de
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Em “História da Política Exterior do Brasil”, Amado Cervo e Clodoaldo Bueno sistematizam,
de maneira didática e ao mesmo tempo substancial, as grandes linhas de continuidade da
Política Exterior do Brasil e seus momentos de ruptura. A negociação da Independência do
Brasil foi, segundo os autores, “o modelo mais ruinoso ao interesse nacional já experimentado”,
pois desconsiderou os interesses nacionais, enquadrando o Estado brasileiro no sistema
internacional, desde o seu nascimento, sob condição dependente.
A partir da nossa leitura desta obra fundamental, acreditamos ser possível estabelecer uma
linha contínua de pragmatismo na política externa brasileira, que teria início efetivamente em
meados do século XIX com a Tarifa Alves Branco. A partir de então, a política externa brasileira
adquiriu uma função mais pragmática de serviço aos interesses nacionais que, à época,
estavam diretamente atrelados à agroexportação. O período republicano, de alinhamento aos
EUA sob a orientação do Barão do Rio Branco, também contou com importantes elementos de
pragmatismo, que, de forma mais ou menos ininterrupta, caracterizou a política externa
brasileira até a contemporaneidade.