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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
AS RELAÇÕES POLÍTICAS E ECONÔMICAS ENTRE BRASIL E ESPANHA DA
TRANSIÇÃO DEMOCRÁTICA A NOSSOS DIAS
GIOVANA FIGUEIRA HERDY CALDEIRA
CAMPINAS
NOVEMBRO 2008
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
GIOVANA FIGUEIRA HERDY CALDEIRA
AS RELAÇÕES POLÍTICAS E ECONÔMICAS ENTRE BRASIL E ESPANHA DA
TRANSIÇÃO DEMOCRÁTICA A NOSSOS DIAS
Dissertação de Mestrado submetida à banca
examinadora para obtenção do título de Mestre em
Relações Internacionais, sob orientação do Prof. Dr.
Reginaldo Carmello Correa de Moraes.
Este exemplar corresponde a versão final da
Dissertação defendida perante a Comissão
Julgadora. 18/11/2008.
Prof. Dr. Reginaldo Carmello Correa de Moraes
Profª Drª Janina Onuki
Prof. Dr. Reginaldo Mattar Nasser
Prof. Dr. Luis Fernando Ayerbe
Prof. Dr. Valeriano Mendes Ferreira Costa
CAMPINAS
NOVEMBRO 2008
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FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA
BIBLIOTECA DO IFCH - UNICAMP
Título em inglês: Political and economic relations between Brazil and Spain
from the democratic transition to our days
Palavras chaves em inglês (keywords) :
Área de Concentração: Política Externa
Titulação: Mestre em Relações Internacionais
Banca examinadora:
Data da defesa: 18-11-2008
Programa de Pós-Graduação: Relações Internacionais San Tiago Dantas - SP
International relations
Foreign policy
Brazil – Foreign relations – Spain
Spain – Foreing relations - Brazil
Reginaldo Carmello Correa de Moraes, Janina Onuki,
Reginaldo Mattar Nasser
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Caldeira, Giovana Figueira Herdy
C127r As relações políticas e econômicas entre Brasil e Espanha da
transição democrática a nossos dias / Giovana Figueira Herdy
Caldeira. - - Campinas, SP : [s. n.], 2008.
Orientador: Reginaldo Carmello Correa de Moraes.
Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual de Campinas,
Instituto de Filosofia e Ciências Humanas.
1. Relações internacionais. 2. Política externa. 3. Brasil –
Relações exteriores – Espanha. 4. Espanha – Relações exteriores
Brasil. I. Moraes, Reginaldo C. Correa de (Reginaldo Carmello
Correa de), 1950-. II. Universidade Estadual de Campinas.
Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. III.Título.
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“Three passions, simple but overwhelmingly strong, have governed
my life: the longing for love, the search for knowledge, and
unbearable pity for the suffering of mankind.”
Bertrand Russell
Aos meus pais, Miriam e Walmir,
pelo exemplo e amor.
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AGRADECIMENTOS
A elaboração deste trabalho não teria sido possível sem os apoios institucionais e pessoais,
aos quais gostaria de agradecer.
Ao meu orientador, Professor Reginaldo Moraes, a quem sou grata por ter aceito minha
orientação e por ter contribuído com idéias e críticas, acadêmicas e burocráticas, sem as quais esta
dissertação nunca seria concretizada.
Agradeço meus pais, Miriam e Walmir, e ao meu irmão Luigi, pelo apoio e “puxões de
orelha”.
A todos os professores do Programa San Tiago Dantas, pelo trabalho e dedicação ao estudo
das Relações Internacionais no Brasil. Agradeço especialmente aos mestres Clodoaldo Bueno,
Shiguenoli Miyamoto e Reginaldo Nasser pelo incentivo e amizade, mesmo quando parecia que
tudo estava perdido.
A Giovana Vieira, pela paciência e apoio incondicionais.
A Gilvani Rodrigues, pelos constantes direcionamentos.
Aos Dantas e Dantescos, meus colegas de mestrado, pelas trocas de informações e pelos
relatos de suas próprias experiências de pesquisa – essenciais para a reflexão sobre o meu trabalho,
em especial os companheiros André Chaves, Leandro Monteiro, Fabricio Martins, Paulo Pereira e
Thalia Lacerda, pelas orientações acadêmicas e pelos momentos de descontração.
Aos professores Janina Onuki e Luis Fernando Ayerbe, pelas críticas e sugestões
apresentadas na banca de qualificação, de grande valia para o desenvolvimento final do texto.
A meus queridos amigos, pelo estímulo, pela confiança, e pela presença, mesmo nos
momentos mais distantes: Antonio, Neiva, Ester, Carol Hatae, Andrea, Sergio Quito, Iramaia,
Mirian, Caryn, Rossana e Felipe Massote.
A meu chefe, Enrique Hormaechea, por ajudar a encontrar bibliografia (e decifrá-la!) e me
conceder tantos “dias livres” para que pudesse levar a cabo meu projeto de mestrado.
E finalmente ao Danilo, pelo “suporte técnico” e especialmente pelo carinho além da
preterição.
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RESUMO
As relações entre Brasil e Espanha tiveram escassa importância até meados dos anos 1970,
quando, paralelamente aos respectivos processos democráticos, produziram-se uma abertura ao
exterior e uma transformação econômica e social em ambos países que promoveram sua integração
em um mundo cada vez mais globalizado.
A Espanha, por diversos fatores, um dos quais foi o grande fluxo de fundos recebidos da
União Européia, teve um grande crescimento econômico, passando de país receptor de
investimentos externos a país investidor no exterior. Tais investimentos foram especialmente
dirigidos à América Latina - sendo o Brasil o país mais favorecido pelos mesmos - e concentraram-
se nos setores de telecomunicações, bancário, energético e de infra-estrutura.
O intercâmbio comercial entre os dois países, no entanto, continua sendo pequeno e
limitado quanto ao conteúdo, como conseqüência do protecionismo de ambos. A rigidez
administrativa do Brasil soma-se também à dificuldade de implantação de um maior número de
empresas. Existem ainda diversos campos em que é possível uma maior cooperação bilateral, sendo
o setor energético, a pesca e o turismo os mais destacados.
Do ponto de vista cultural, cada vez maior aproximação, fruto da potencialização do
ensino de espanhol no Brasil, o aumento do turismo bilateral e a emigração de brasileiros a
Espanha, assim como os esforços dirigidos pelos governos para este fim.
Politicamente, as relações apresentam um baixo perfil, que tem sido melhorado pela
integração do Brasil nas pulas Ibero-americanas de Chefes de Estado e de Governo. A liderança
do Brasil na região e sua crescente projeção no exterior devem condicionar um novo equilíbrio nas
relações bilaterais: caso os países ajustem suas posições a esta nova realidade, no futuro as relações
podem alcançar níveis de cooperação superiores aos atuais.
Palavras chave: Relações Internacionais, Política Externa, Brasil, Espanha.
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ABSTRACT
Relations between Brazil and Spain had little importance until the mid-1970s when,
concurrently with their democratic processes, an opening toward the outside world and an economic
and social transformation took place in both countries, thus promoting their integration in an
increasingly globalized world.
Spain, for several reasons, such as the large flow of funds received from the European
Union, had a great economic growth, leaving the position of a country that receives foreign
investment to become a country that invests abroad. Such investment was particularly directed to
Latin America most especially to Brazil and concentrated in the areas of telecommunications,
banking, energy and infrastructure.
Commercial exchange between the two countries, however, remains limited in its amount
and contents, as a consequence of protectionism on both parts. The rigidity of Brazilian
administrative procedures also raises difficulties for the establishment of a higher number of
companies in the country. There are several fields in which it is possible to further bilateral
cooperation, being the energy industry, fishing and tourism the most prominent of them.
From the cultural point of view, the ties between the countries have become stronger as a
result of an increase in the teaching of the Spanish language in Brazil, enhanced bilateral tourism,
and the emigration of Brazilians to Spain, as well as the efforts led by both governments for this
purpose.
Politically, the relations have a low profile, which has been improved by the integration of
Brazil in the Iberian-American Summit of Heads of State and Government. The Brazilian leadership
in the region and its increasing projection abroad must determine a new balance in bilateral
relations; if the countries adjust their position to this new reality, relations of cooperation may reach
higher levels in the future.
Keywords: International Relations, Foreign Policy, Brazil, Spain.
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SUMÁRIO
AGRADECIMENTOS v
RESUMO vii
ABSTRACT ix
LISTA DE TABELAS xv
LISTA DE ABREVIATURAS xvii
1. Introdução 01
2. Espanha e Brasil em um mundo em transformação 07
2.1. O caso espanhol
2.1.1. Transição democrática 08
2.1.2. Integração regional 15
2.1.3. Liberalização econômica 21
2.2. O caso brasileiro
2.2.1. Transição democrática 31
2.2.2. Integração regional 36
2.2.3. Liberalização econômica 43
3. A Política Exterior Espanhola e sua projeção latino-americana 55
3.1. Breve história da Política Exterior da Espanha Democrática
3.1.1. O Europeísmo do governo Felipe González 58
3.1.2. O Atlantismo de José María Aznar 60
3.1.3. A política de gestos de José Luis Rodríguez Zapatero 63
3.2. Política Exterior Espanhola para América Latina
3.2.1. Evolução histórica 68
3.2.2. Cúpulas Ibero-americanas de Chefes de Estado e de Governo 73
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3.2.3. Espanha e América Ibérica: relações dentro do multilateralismo 75
4. Relações Políticas entre Brasil e Espanha 77
4.1. Relações diplomáticas
4.1.1. O começo 77
4.1.2. Os fatos mais destacados 80
4.1.3. Bilateralidade vs Multilateralidade 89
4.1.4. Situação atual 90
4.2. A Paradiplomacia das Comunidades Autônomas 90
4.3. Cooperação Bilateral
4.3.1. Cooperação Institucional 92
4.3.2. Cooperação dos segundo e terceiro setores 97
4.3.3. Fundos de Ajuda ao Desenvolvimento 98
5. Relações Econômicas entre Brasil e Espanha 101
5.1. Comércio Bilateral 101
5.2. Investimentos espanhóis no Brasil 105
5.2.1. Energia 107
5.2.2. Turismo 114
5.2.3. Pesca 118
5.2.4. Outros setores 119
5.2.5. Conclusão 122
5.3. Investimentos brasileiros na Espanha 123
5.4. Desafios para os próximos anos
5.4.1. Aspectos jurídicos, administrativos e fiscais 124
5.4.2. Plano Integral de Desenvolvimento de Mercado 126
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6. Aspectos sociais das relações hispano-brasileiras 129
6.1. Migrações
6.1.1. Imigrantes espanhóis no Brasil 129
6.1.2. Imigrantes brasileiros na Espanha 130
6.1.3. Remessas de dinheiro dos emigrantes 133
6.2. Idioma e Cultura
6.2.1. Idioma 134
6.2.2. Arte e Cultura 136
6.2.3. Mecenato 137
Conclusões 139
Referências 143
Anexos 151
Anexo I
Anexo II
Anexo III
Anexo IV
Anexo V
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LISTA DE TABELAS
Tabela 01 – Crescimento do PIB a preços constantes de 1995
Tabela 02 – Principais indicadores da mudança política: 1986-2006
Tabela 03 – Principais magnitudes de mudança econômica: 1986-2006
Tabela 04 – Saldo orçamentário da Espanha na União Européia
Tabela 05 – Crescimento do PIB brasileiro comparado com inflação
Tabela 06 - Evolução da balança comercial: 1993-2008
Tabela 07 – Estudos financiados no Brasil com FEV
Tabela 08 - Balança comercial brasileira
Tabela 09 – Balança comercial Brasil-Espanha
Tabela 10 – Principais componentes do intercâmbio comercial Espanha-Brasil
Tabela 11 – Participação espanhola no comércio brasileiro
Tabela 12 – Investimento Externo Direto no Brasil: 1996-2007
Tabela 13 – Posição relativa da Espanha no total de IED no Brasil
Tabela 14 – Contratos da Gamesa no Brasil (2002)
Tabela 15 – Turistas espanhóis no Brasil
Tabela 16 – Plano Integral de Desenvolvimento de Mercado – Atuações no Brasil
Tabela 17 – Censo eleitoral de espanhóis residentes no exterior
Tabela 18 – Imigrantes na Espanha por país de origem
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LISTA DE ABREVIATURAS
ABC Paulista Inclui os Municípios de Santo André, São Bernardo
do Campo e São Caetano do Sul
ALALC Associação Latino-Americana de Livre Comércio
ALCA Área de Livre Comércio das Américas
ARENA Aliança Renovadora Nacional
BC/BACEN Banco Central do Brasil
BBVA Banco Bilbao Vizcaya Argentaria
BM&F Bolsa de Mercadorias e Futuro
BOVESPA Bolsa de Valores de São Paulo
BSCH Banco Santander Central Hispano
CASA Comunidade Sul-Americana de Nações
CD Coordenação Democrática
CEE Comunidade Econômica Européia
CCOO Comissões Obreiras
COPOM Comitê de Política Monetária
CPI Comissão Parlamentar de Inquérito
ETA Euskadi Ta Askatasuna
EU / UE European Union / União Européia
EUA Estados Unidos de América
EUMM Missão de Observadores da UE na
Geórgia
EUROLAT Assembléia Parlamentar Euro-
Latino-americana
FCE Fundo de Coesão Europeu
FEDER Fundo Europeu de Desenvolvimento
Regional
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FEOGA Fundo Europeu de Orientação e Garantia
Agrícola
FHC Fernando Henrique Cardoso
FMI Fundo Monetário Internacional
FSE Fundo Social Europeu
FUNDEF Fundo de Manutenção do Ensino
Fundamental
IED Investimento Externo Direto
IFOP Instrumento Financeiro de Orientação das
Pescas
INI Instituto Nacional da Indústria
ISAF Força Internacional de Assistência para
Segurança (Afeganistão)
KOFOR Kosovo Force
LRP Lei para Reforma Política
MCE Movimento Comunista Espanhol
MDB Movimento Democrático Brasileiro
MERCOSUL Mercado Comum do Sul
MG Minas Gerais
MONUC United Nations Mission in the Democratic
Republic of Congo
NAFTA North America Free Trade Agreement
Área de Livre Comércio da América do Norte
OCDE Organização para Cooperação e
Desenvolvimento Econômico
OMC Organização Mundial do Comércio
ONU Organização das Nações Unidas
ORT Organização Revolucionária dos
Trabalhadores
OTAN Organização Tratado do Atlântico Norte
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PAB Piso de Atenção Básica
PAC Programa de Aceleração do Crescimento
PC do B Partido Comunista do Brasil
PCE Partido Comunista Espanhol
PDS Partido Democrático Social
PDT Partido Democrático Trabalhista
PESD Política Européia de Segurança e Defensa
PFL Partido da Frente Liberal
PIB Produto Interior Bruto
PICE Programa de Integração e Cooperação
Econômica
PMDB Partido do Movimento Democrático.
PND Plano Nacional de Desestatização
PNV Partido Nacionalista Vasco
PRN Partido da Renovação Nacional
PSB Partido Socialista do Brasil
PSC Partido Socialista de Catalunha
PSDB Partido da Social Democracia Brasileira
PSOE Partido Socialista Obreiro Espanhol
PSP Partido Socialista Popular
PT (Espanha) Partido do Trabalho
PT (Brasil) Partido dos Trabalhadores
PTB Partido Trabalhista Brasileiro
SICA Sistema de Integração Centro-Americana
SP São Paulo
TEC Tarifa Externa Comum
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UCD União de Centro Democrático
UEM União Econômica e Monetária
UEO União da Europa Ocidental
UNASUL União de Nações Sul-Americanas
UNCTAD Conferência das Nações Unidas para o Comércio e
Desenvolvimento
UNESCO Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura
UNMEE Missão das Nações Unidas para Etiópia e
Eritréia
UNMIK Administração Provisória da ONU no
Kosovo
URV Unidade Real de Valor
YPF Yacimientos Petrolíferos Fiscales
1
1. INTRODUÇÃO
As relações entre Brasil e Espanha passaram por diferentes fases ao longo de sua
história. Durante o período colonial, essas relações foram marcadas, sobretudo, por litígios
fronteiriços. O período da União Ibérica (1580-1640), no qual a Espanha apoderou-se da
coroa portuguesa, trouxe a anulação de facto do antigo Meridiano de Tordesilhas (1494),
centralizando todas as colônias americanas sobre o domínio espanhol. Com a restauração
do governo autônomo de Portugal, fez-se necessária a assinatura de uma série de acordos,
visando acomodar uma situação na qual colonos lusos ocuparam terras espanholas e vice-
versa. Os Tratados de Madri (1750), El Pardo (1761), Santo Ildefonso (1777) e Badajoz
(1801), todos tiveram essa pretensão
1
. A partir da independência (1822), as relações entre
Brasil e Espanha foram de escassa importância, devido à ausência de interesses comuns e
de conflitos importantes entre os dois países
2
, tais como os problemas derivados da
imigração espanhola e o permanente superávit comercial brasileiro
3
.
Quase dois séculos depois, os laços entre o Brasil e a Espanha começaram a se
estreitar no fim da década de 1970 com a derrocada da ditadura franquista e o rompimento
do isolacionismo espanhol. Notadamente, a visita do presidente Adolfo Suárez em 1979 - a
primeira de um chefe de governo espanhol desde a independência do Brasil marca o
início de uma nova fase de relações bilaterais entre esses países.
Na cada de 1980, ocorreram dois eventos de grande importância para a história
moderna que afetaram ambos os países. Do ponto de vista político, a queda do muro de
Berlim (1989) marcou o fim da guerra fria e ilustra a perspectiva de um mundo unipolar
sob preponderância dos Estados Unidos. Nas últimas décadas do século XX, assistia-se a
1
GOES, Synesio S. Navegantes, Bandeirantes, Diplomatas. Aspectos da descoberta do continente, da
penetração do território brasileiro extra–Tordesilhas e do estabelecimento das fronteiras da Amazônia.
Brasília: Fundação Alexandre de Gusmão, Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais, 1991.
2
LESSA, Antônio C. A diplomacia universalista do Brasil: a construção do sistema contemporâneo de
relações bilaterais. RBPI, 1998, ano 41, especial 40 anos, 1958-1998, p. 29-41. Para o autor, a Espanha
pertencia ao “eixo sentimentaldas relações exteriores do Brasil, caracterizado pela simpatia entre os povos
mas com poucas possibilidades de realização de interesses econômicos.
3
AYLLÓN PINO, Bruno. Las relaciones entre Brasil y España ponderadas desde la perspectiva de la
política exterior brasileña (1979-2000). Tese de Doutorado defendida na Universidad Complutense de
Madrid. Outubro de 2004.
2
uma “grande transformação”, tanto econômica como política no sistema internacional. A
crise do socialismo soviético deu lugar a uma reafirmação do sistema capitalista e da
democracia liberal como modelo hegemônico de governança
4
. Criou-se, nesse imediato
pós-Guerra Fria, uma atmosfera de otimismo, uma esperança de que os valores liberais se
tornariam universais e construiriam um mundo de paz e desenvolvimento nunca antes
visto
5
. Do ponto de vista econômico, a crise da economia mundial de 1980-3, provocada
pela recessão dos EUA (que aumentou sua taxa de juros para conter a inflação resultante
dos choques do petróleo), influenciou a realização de reformas de Estado nos países que
enfrentavam severas dificuldades sociais e econômicas. Embora não existisse um pacote
bem definido de preceitos a ser aplicados, a regra geral indicada por organismos financeiros
internacionais era diminuição do papel do Estado na economia, através do corte de gastos
públicos, eliminação de subsídios, privatizações, abertura da economia para atrair capital
estrangeiro e aumentar o comércio internacional
6
. Em poucas palavras, a doutrina
posteriormente conhecida como “Consenso de Washington”. Essas mudanças ocorreram de
distintas maneiras nos países capitalistas após a Guerra Fria e foram também
implementadas no Brasil e na Espanha.
Neste cenário, o Brasil, como outros países da América Latina no início da década
de 1980, enfrentou um período de recessão e crise da dívida externa. Para obter
empréstimos que aliviassem os déficits na Balança de Pagamentos, o governo brasileiro
recorreu aos credores que, por meio de instituições como o Banco Mundial e o Fundo
Monetário Internacional, “recomendavam” a implantação de políticas econômicas
restritivas e que favorecessem o livre mercado
7
.
A Espanha, por sua vez, optou por implantar um ortodoxo plano de estabilização
econômica, que levou ao fechamento de muitas indústrias, causando desemprego e conflito
4
ALMEIDA, Paulo R. As duas últimas décadas do século XX: fim do socialismo e retomada da globalização.
IN: SARAIVA, José F. S. (org.). História das Relações Internacionais Contemporâneas. São Paulo:
Saraiva, 2007, pág. 253-316.
5
LAFER, Celso; FONSECA Jr., Gelson. Questões para a diplomacia no contexto internacional das
polaridades indefinidas. IN: FONSECA Jr., Gelson; NABUCO DE CASTRO, Sergio Henrique (orgs.).
Temas de Política Externa Brasileira II. São Paulo: Paz e Terra, 1994, pág. 55.
6
CRUZ, Sebastião C. V. Globalização, Democracia e Ordem Internacional. São Paulo: Editora Unicamp,
2004, pág. 94.
7
Em geral, para que os países endividados conseguissem empréstimos em tais organismos, era-lhes
condicionada a aplicação de medidas de abertura econômica.
3
com as centrais sindicais, mas permitiu assentar as bases da recuperação. No início da
década de 1980, a fim de romper com o isolacionismo da era franquista e integrar-se à
Europa, pôs em prática um projeto de convergência que alinhava a economia espanhola às
de seus vizinhos: era preciso controlar inflação, déficit blico, juros, e equiparar dívida
pública em patamares semelhantes aos da média européia, além de manter o câmbio
estável. Estas transformações sócio-econômicas impulsionaram a entrada da Espanha na
Comunidade Econômica Européia em 1985, e as reformas estruturais e a
internacionalização das empresas permitiram ao país deixar de ser receptor de capitais para
ser investidor em terceiros países
8
.
Um processo de integração regional, que “leva não a um maior ordenamento e a
uma institucionalização crescente das relações econômicas internacionais como também,
em alguns casos, a um processo gradual de integração e cooperação política
9
”, começou a
ser esboçado também na América do Sul, culminando com a criação do Mercado Comum
do Sul (MERCOSUL). Tendo início com a aproximação entre Argentina e Brasil, durante
os governos dos presidentes Raúl Alfonsín (1983-9) e JoSarney (1985-90), que em 1985
assinaram a Declaração de Foz de Iguaçu, dando base à integração econômica bilateral,
essa aproximação progrediu e finalmente em 1991 foram incorporados Paraguai e Uruguai
ao processo, pela assinatura, em Assunção, do tratado constitutivo do bloco.
Em 1994, com a implantação do Plano Real, o Brasil conseguiu controlar seu
crônico inflacionismo, conferindo estabilidade à economia do País. Durante a gestão
Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), deu-se continuação à desestatização iniciada em
1990 pelo presidente Fernando Collor de Melo (1990-2) que, além de liberalizar o comércio
exterior, privatizou parte dos setores siderúrgicos e petroquímicos. A partir de 1995, as
privatizações foram intensificadas no Brasil, pela venda de empresas produtoras de energia
elétrica, bancos, telecomunicações, em cujos processos a participação de empresas
espanholas foi expressiva
10
.
8
AYLLÓN PINO, Bruno. Op. cit., pág. 317. O assunto será mais detalhado no capítulo segundo, sobre a
transição econômica espanhola.
9
MELLO, Valerie de C.. Globalização, regionalismo e ordem internacional. RBPI vol.42, nº1,1999.
10
De acordo com o Ministério do Planejamento, no período de 1991 a2005, ocorreu no Brasil a privatização
de 41 empresas e participações acionárias de estatais federais, nos setores elétrico, petroquímico, de
mineração, portuário, financeiro, de informática e de malhas ferroviárias. Fonte:
4
O processo de democratização, abertura econômica e integração regional, além de
localizar as relações dos dois países no sistema internacional, inauguraram um novo
patamar de relações bilaterais, como resultado da coincidência de interesses, a começar no
campo econômico. A demanda brasileira por capitais que cobrissem as necessidades
financeiras do desenvolvimento nacional encontrou correspondência na disposição
espanhola de investir no mercado externo.
11
Convém ressaltar que o crescimento do
investimento direto espanhol na América Latina foi motivado em grande parte pelas
oportunidades derivadas dos processos de privatização de empresas públicas e liberalização
de determinados setores de atividade que ocorreram na região.
12
O então presidente Cardoso, em entrevista ao El País no ano 2000,
13
afirmou que as
relações entre o Brasil e a Espanha não poderiam ser melhores. No contexto da citada
declaração, o Brasil recebia fluxo inédito de investimento estrangeiro, sendo precisamente a
Espanha o principal investidor. Ocorria uma “invasão” de empresas hispânicas no país em
diversos setores: telecomunicações, finanças, energia, serviços, informática
14
.
Este incremento dos fluxos de investimentos espanhóis destinados ao Brasil foi uma
resposta das empresas hispânicas ao Plano Nacional de Desestatização (PND), criado pela
Lei nº 8.031 de 1990.
15
Em 2003, o desempenho das relações ganhou forma de um plano de
ação que expressava a importância conferida por ambos os Estados ao relacionamento
bilateral e aproximou as chancelarias dos países a ponto de serem alcançados anos mais
tarde um Plano de Parceria Estratégica bilateral
16
. O Plano de Parceria Estratégica Brasil-
Espanha, consolidado em janeiro de 2005 pela Declaração de Brasília, demonstra que o
compromisso com a intensificação das relações hispano-americanas não se restringe aos
www.planejamento.gov.br/controle_estatais/conteudo/perfil/empresas_privatizadas.htm. Acesso em:
08/07/2007.
11
DUARTE, Cristina L. Evolución de la Inversión Directa Exterior de la Gran Empresa Española 1988
2003”. El papel de las Empresas Cotizadas. Tribuna de Economía ICE, Mayo – Junio 2007, N° 836.
12
DUARTE, Cristina L. e CANAL, Esteban G. “La inversión directa de las empresas españolas en
Latinoamérica”. Revista Asturiana de Economía. RAE n° 23, 2002.
13
“Las relaciones con España son inmejorables”. El País, 27/10/2000, por ocasião da entrega do Prêmio
Príncipe de Astúrias de Cooperação Internacional.
14
CERVO, A. e BUENO, C. História da política exterior do Brasil, Brasília: UnB, 2002 - p.457-458.
15
http://www.bndes.gov.br/privatizacao/resultados/historico/history.asp. Acesso em: 01/11/2007
16
Em 24 de janeiro de 2005, os presidentes Lula e Zapatero assinaram a Declaração de Brasília sobre a
Consolidação da Parceria Estratégica Brasil-Espanha, projeto que havia sido lançado na XIII pula Ibero-
Americana (Santa Cruz de la Sierra, Bolívia, 14-5/11/2003) por Lula e Aznar.
5
interesses de determinado governo, mas trata-se de objetivos dos dois Estados e suas
sociedades.
Esta intensificação das relações entre Brasil e Espanha, nos âmbitos públicos e
privados, nas esferas político-diplomática, econômico-financeira e sócio-cultural, a partir
da segunda metade da década de 1990, tem despertado interesse de pesquisadores de
relações internacionais nos dois países, embora de forma ainda incipiente.
Esta dissertação tem como ponto de partida os anos setenta do século 20. Para esta
eleição, considera-se o fato de que, no período, em ambos os países, ainda que de maneira
não simétrica ou simultânea, produz-se a transição democrática, que é acompanhada pela
abertura ao exterior e de uma nova gica na política externa. No caso espanhol, a ação
exterior dirigiu-se, em primeiro lugar, à integração regional, na Comunidade Econômica
Européia (CEE) e na Organização Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e, por outra parte, a
recuperar sua influência na América. Por sua vez, o Brasil orientou sua diplomacia em duas
vertentes: por um lado, a promover sua liderança entre os países latino-americanos e, por
outro, no aumento de suas relações comerciais e políticas com o resto do mundo, com o fim
de relançar sua economia e de evitar uma excessiva dependência regional, uma vez que seu
mercado “natural” em relação aos países vizinhos, não era suficiente para absorver sua
capacidade exportadora. Faremos referência fundamentalmente às relações políticas e
econômicas entre Brasil e Espanha, com ênfase nas segundas. A limitação dos marcos
temporal e de conteúdo da pesquisa, no entanto, não impedique em determinados casos
faça-se referência a outros aspectos históricos e sociais ligados aos anteriores.
No desenvolvimento desta pesquisa, procuramos contextualizar aspectos que
apoiarão as hipóteses quanto aos objetivos que propomos a alcançar e às conclusões que
pretendemos justificar. Esses aspectos são: a evolução social, política e econômica em
ambos os países no período selecionado; a evolução da política exterior espanhola,
especialmente no que se refere a sua projeção para a América Latina e, especialmente, em
relação ao Brasil; a preponderância dos fatores econômicos frente aos políticos na
aproximação entre Brasil e Espanha; a importância crescente dos programas de cooperação
e de relações culturais e sociais entre os dois países; e, por fim, as possibilidades de um
aumento real das políticas, uma vez consolidadas as relações econômicas e comerciais.
6
O trabalho está dividido em seis capítulos, sendo esta Introdução o primeiro deles.
O segundo capítulo, “Espanha e Brasil em um mundo em transformação”, tratará de
situar o início das relações bilaterais que, para ambos os países, era uma situação de
ditadura militar, isolamento internacional e autarquia econômica. Descreveremos as
mudanças que foram implementadas por ambos os países nas últimas cadas, tanto no
plano da política e economia doméstica quanto nas relações exteriores.
O terceiro capítulo, “A Política Exterior Espanhola e sua Projeção Latino-
americana” aprofundará os processos de inserção internacional do país nos últimos anos,
fundamentalmente durante o mandato dos três últimos presidentes: Felipe González, José
María Aznar e José Luis Rodríguez Zapatero, incidindo especialmente ao que se refere às
atividades relacionadas à projeção americana da Espanha.
Uma vez exposta a situação de partida e a evolução histórica de forma detalhada, os
seguintes capítulos, que constituem o núcleo do trabalho, aprofundarão as relações entre
Brasil e Espanha. Inicia-se descrevendo, no capítulo quarto, as relações políticas entre os
dois países, assim como aspectos ligados a programas e atividades de cooperação bilateral.
No capítulo seguinte, desenvolvemos as relações econômicas (financeiras e comerciais)
entre os dois países. Este pico tem importância chave nas relações bilaterais, posto que,
nas mesmas, atualmente, têm mais peso os aspectos econômicos do que aqueles puramente
políticos. No capítulo sexto, serão tratados os aspectos sociais das relações hispano-
brasileiras, que têm sido pouco considerados, mas cuja potencialização deveria constituir
objetivo para os dois países, pois suas relações não podem estar unicamente ligadas a
aspectos econômicos e crematísticos. O desenvolvimento das relações humanas, a
transmissão e o intercâmbio de valores culturais são a única forma de consolidar relações
internacionais autênticas.
Por último, apresentam-se as conclusões que devem ser reflexo das idéias expostas
e que sirvam para resumir a situação atual das relações entre Brasil e Espanha,
proporcionando fonte de informação para interessados no tema e orientação para promover
melhor entendimento entre os países e aprimorar as relações entre os mesmos.
7
2. ESPANHA E BRASIL EM UM MUNDO EM
TRANSFORMAÇÃO
O Brasil e a Espanha, nos últimos trinta anos, passaram por profundas
transformações. Ambos os países partiram de um cenário político de ditadura militar e por
uma situação econômica de autarquia e protecionismo. Nos dois países, apesar dos
processos de industrialização, a agricultura ainda desempenhava pepel relevante. O
desenvolvimento industrial e tecnológico era (como segue sendo) fundamentalmente
vinculado a empresas estrangeiras. Do ponto de vista social, a população constituía-se por
classes médias e baixas, de escasso poder aquisitivo.
As transformações políticas e econômicas foram motivadas por dois fatores, um
interno e outro externo, relacionados entre si. Simplificando os quadros, pode-se dizer que
o fator interno foi o processo de democratização política e de modernização das estruturas
produtivas, com tendência a deslocar a economia agrícola e rural para uma economia
urbana e industrial. Quanto ao fator externo, é possível citar as pressões internacionais por
abertura econômica, a necessidade de integração regional, o crescente fluxo de capitais e o
peso das empresas multinacionais em um mundo de crescente globalização
17
, que
completaram a mudança nos dois países, alterando sua estrutura política, social e
econômica.
É necessário ressaltar que, apesar do paralelismo entre as transformações sofridas
pelo Brasil e pela Espanha nas últimas décadas, não seria correto afirmar que suas
evoluções podem ser sobrepostas, pois, mesmo partindo de situações conceitualmente
semelhantes e alcançando posteriormente status similar, política e economicamente, no que
se refere a aspectos qualitativos, nem a situação de partida era igual, assim como não o é a
condição atual
18
.
17
Entendida como internacionalização da produção e dos fluxos financeiros.
18
Sobre a ausência de padrão das reformas orientadas para o mercado nos países em desenvolvimento, ver
Cruz, Sebastião C. V. Globalização, democracia e ordem internacional: ensaios de teoria e história.
Campinas: Editora da Unicamp, 2004.
8
As diferenças podem ser encontradas nos aspectos sócio-culturais. O Brasil, neste
sentido, partia de uma situação ainda mais desfavorável do que a Espanha, especialmente
no que se refere à coesão social profundas desigualdades sociais como conseqüência da
desequilibrada distribuição de riqueza. Quanto ao aspecto estratégico, a localização do
Brasil na América Latina favoreceu menos o país do que a posição geográfica da Espanha
no continente europeu: a integração do Brasil no MERCOSUL o proporcionou ao país
tantas vantagens como aquelas que a Espanha recebeu como conseqüência de sua
incorporação à Comunidade Econômica Européia. Vale destacar ainda o tamanho do país: o
déficit crônico de infra-estruturas no Brasil (estradas, ferrovias, energia elétrica, portos,
aeroportos, etc.) é mais difícil de consertar do que supôs à Espanha a modernização de sua
infra-estrutura.
Para facilitar a compreensão dos processos em ambos os casos e apreciar mais
facilmente o paralelismo destas transformações, será seguida a mesma metodologia para os
dois países, dividindo-a em três tópicos: transição democrática, integração regional e
liberalização econômica.
2.1. O caso espanhol
2.1.1. Transição democrática
O falecimento do general Francisco Franco Bahamonde, “caudilho da Espanha pela
graça de Deus” em 20 de novembro 1975 encerrou o regime ditatorial que ele inaugurou
em 1936. O governo franquista nasceu de uma guerra civil (1936-39) e foi uma mescla de
fascismo, ditadura militar e autoritarismo pessoal. Com o fim do regime, a Espanha, no
último quarto do século XX, experimentava grandes desafios: restabelecer o sistema
democrático, restaurar a economia e integrar-se ao arranjo supranacional europeu
19
.
19
ARÓSTEGUI, Julio. “La transición política y la construcción de la democracia (1975-1996)”. In:
MARTÍNEZ, Jesús A., coord. Historia de España Siglo XX 1939-1996. ed. Madri: Ediciones Cátedra,
2003. Cap. XXII-XXVI, p. 245-310.
9
O próprio regime estabeleceu as regras para a transmissão de poder ao sucessor, o
príncipe Juan Carlos de Bourbon, depois que seu pai, o rei Juan, conforme acordo prévio
renunciara o trono em seu favor. O desenvolvimento deste concerto culminou com o
advento de um sistema político de democracia partidária. O processo de transição precisava
do diálogo entre a elite reformista do Movimento Franquista e de todas as oposições. A
abordagem neste momento era clara: os partidos (na verdade, movimentos políticos, que
partidos como tais não existiam nesta fase), denominados democráticos, dificilmente
aceitariam uma mudança política sem sua participação: qualquer tentativa de
democratização careceria de legitimidade e abriria espaço para enfrentamentos
retrocessivos.
Carlos Arias Navarro, que estava à frente do governo desde 1973
20
, permaneceu
na liderança do Executivo até julho do ano seguinte. O presidente Arias era um “franquista
irreformável” e tentou estabelecer um regime democrático usando moldes do modelo
anterior, na tentativa de acomodar as Leis Fundamentais da ditadura à democracia nascente,
objetivo que se demonstrou inviável. As oposições (direita reformista e esquerda radical) e
a Coroa queriam mudanças que colocassem o país de volta ao contexto europeu de
democracias representativas e liberais. O governo de Arias foi marcado por turbulências e
durou apenas seis meses. Após o juramento do rei Juan Carlos I como novo chefe de
Estado, tomou posse um novo gabinete, que nunca funcionou como uma equipe de governo
coesa. O presidente era visto como membro do búnker
21
, a velha guarda do franquismo.
Além do fracasso político e de segurança
22
, no plano econômico, o novo governo também
não conseguiu programar as reformas necessárias para conter a inflação, por temer que
medidas impopulares de restrição econômica e financeira piorassem ainda mais a delicada
situação política do país. Finalmente em julho de 1976, o rei pediu a demissão de Arias e
20
O Alm. Luis Carrero Blanco presidia o governo, era o sucessor que o General Franco escolheu. Em
20/12/1973, no entanto, foi vítima fatal de um atentado organizado pelo ETA (Pátria Basca e Liberdade, da
sigla em euskera, grupo terrorista basco) e Arias assumiu.
21
O termo foi utilizado durante a transição espanhola à democracia, em referência a setores franquistas,
opostos a qualquer classe da mudança social ou política.
22
Uma greve geral em Vitória (País Basco), em março de 1976, foi fortemente reprimida. Em maio, uma
romaria organizada anualmente pelo Partido Carlista em Montejurra (Comunidade Foral de Navarra)
terminou com a morte de dois militantes carlistas, vítimas das forças de segurança.
10
indicou Adolfo Suárez González, ex-ministro da Secretaria Geral do Movimento, para
assumir o posto de chefe de governo.
Mesmo sendo Suárez um homem do Movimento Franquista, o rei e seu conselheiro
Torcuato Fernández Miranda acreditavam que ele seria capaz de realizar as reformas de que
o país precisava. Entrara no governo na cada de 1960, não tinha muito peso nem
prestígio e era pouco comprometido ideologicamente com o regime, podendo assim ajustar-
se aos planos do monarca. Converteu-se no retrato do reformismo gerado pelo próprio
regime, por efetuar mudanças sem romper a legalidade: de la ley (franquista) a la ley
(liberal-democrática)
23
.
Em agosto de 1976, o governo apresentou proposta de Lei para Reforma Política
(LRP), que previa o fechamento das instituições franquistas e a criação de cortes
representativas, por meio de eleições gerais. A LRP declarava que “a democracia é a
organização política do estado espanhol”. O Parlamento seria composto por duas cortes: o
Congresso dos Deputados, formado por 350 representantes eleitos, e o Senado, formado por
250 representantes, 102 deles eleitos e os demais nomeados pelo chefe de Estado.
Em setembro, a proposta de Lei de Reforma foi apresentada ao Conselho Nacional
do Movimento, que a aprovou, em votação nominal. O apoio dos franquistas à LRP, de
acordo com Aróstegui (2003), justifica-se pela expectativa de que na nova lei estavam
contemplados seus principais interesses na transição: conservação do status, predomínio da
direita, não petição de responsabilidades ao regime e manutenção da esquerda radical na
ilegalidade. A oposição, em contrapartida, não apoiava a reforma naqueles termos. Em
dezembro, realizou-se um referendo popular que, apesar da campanha pela abstenção da
oposição, aprovou a Lei de Reforma Política com 80% de votos.
Suárez tinha então o desafio de criar um sistema partidário, em meio ao espectro
político fragmentado em mais de cem grupos e partidos. O presidente mais uma vez
pretendia atrair ao processo de reforma todos os segmentos de oposição ao franquismo. As
oposições se uniram na coalizão entre os organismos rivais: Junta Democrática da Espanha,
formada pelo Partido Comunista Espanhol (PCE), o Partido do Trabalho (PT, de ultra-
esquerda, próximo do maoísmo), o Partido Socialista Popular (PSP, social–democrata) e a
23
ARÓSTEGUI. Op.cit. pág. 267-8.
11
central sindical Comissões Obreiras (CCOO), entre outras agrupações da “esquerda
radical”, e Plataforma de Convergência Democrática, formada pela “esquerda moderada”,
do Partido Socialista Obrero Espanhol (PSOE), Democracia Cristã, Organização
Revolucionária dos Trabalhadores (ORT, maoísta), Movimento Comunista Espanhol
(MCE, extrema-esquerda, juntava ex-maoístas e dissidências do ETA). A fusão das duas se
em 26 de março de 1976, sob o nome de Coordenação Democrática (também chamada
de Platajunta).
24
Esta Platajunta pretendia ser a interlocução com o presidente Adolfo
Suárez para pleitear legalização das associações políticas, anistia e eleição das Cortes
Constituintes. A Coordenação Democrática (CD) pedia anistia aos delitos políticos criados
pelo franquismo e legalização dos partidos o que originava um importante conflito ao
governo, devido a seus entendimentos com a cúpula militar.
Todas as forças políticas, finalmente, cederam em suas posturas mais extremistas,
chegando a um acordo e, conseqüentemente, como definiram os analistas políticos, a
mudança da ditadura para democracia na Espanha aconteceu como uma reforma pactuada e
não uma ruptura. Talvez o maior mérito das forças políticas no poder no final deste período
foi sua capacidade de acabar com o regime desmantelando-o a partir do seu interior.
Em junho de 1977 seriam realizadas as primeiras eleições gerais desde 1936. A
Fórmula D´Hondt
25
funcionava como uma cláusula de barreira e limitava a
representatividade dos partidos pequenos. Seriam eleitos quatro deputados e três senadores
por província. Havia também uma lei de desincompatibilização: os candidatos deveriam
pedir demissão de seus cargos na gestão provisória para poder concorrer. Estavam
registrados 23,5 milhões de eleitores, dos quais 18,2 milhões (80%) compareceram às
urnas. Suárez, oder da União Centro Democrática (UCD), continuou presidente do
governo, agora referendado por voto popular. Seu partido obteve 6,3 milhões de votos e
elegeu 165 deputados (34,6%), enquanto o segundo colocado, da coligação PSOE-PSC,
recebeu 5,2 milhões de votos e 118 cadeiras (28,5%).
24
MORAES, Reginaldo C., A “Redemocratização” Espanhola. Uma distensão lenta, gradual e insegura.
Sâo Paulo: Editora Brasilense, 1983.
25
A Fórmula D'Hondt é um método para alocar a distribuição de cargos representativos nas democracias
proporcionais. Apesar de amplamente utilizada, essa forma de cálculo não é perfeitamente proporcional, uma
vez que o mecanismo de sobras acaba favorecendo os maiores partidos. Na prática, funciona como uma
espécie de "cláusula de barreira", pois limita o acesso dos pequenos partidos às cadeiras parlamentares.
12
Na nova gestão, fazia-se necessário introduzir reformas profundas nas instituições
sociais e trabalhistas do país. A resposta das forças políticas para a crise econômica e
tensões sociais foram os Pactos de la Moncloa (ainda em 1977), que definiam as metas
políticas a ser adotadas: diminuição do desemprego, atualização do sistema tributário
defasado, controle da inflação, saneamento econômico do Estado e das empresas públicas,
reforma do sistema educativo, redefinição da função dos sindicatos, reforma da seguridade
social, garantia da liberdade de expressão e reforma dos códigos legais (penal, civil,
militar)
26
. O principal mentor dos Pactos de la Moncloa foi o ministro da economia,
Enrique Fuentes Quintana
27
. Os pactos, dizia, foram uma ocasião de convergência entre
crise geral e oportunidade democrática, uma forma de legitimação do regime prévia à
Constituição
28
.
As cortes eleitas em junho de 1977 tinham como primeira função desenvolver um
documento constitucional que estabelecesse as bases do novo regime liberal democrático. A
Constituinte marcaria a ruptura entre os regimes. A elaboração da nova Carta Magna foi
marcada pelo consenso dos partidos: aspirava-se a produzir uma lei fundamental que
pudesse ser aceita por todas as forças que queriam um regime democrático. Tratava-se de
estabelecer os “mínimos políticos”. Finalmente em outubro de 1978 o texto foi aprovado
pela Câmara e pelo Senado e dois meses depois se realizou o referendo popular. Votaram
18 milhões de pessoas, 87% delas a favor (15,7 milhões de votos).
De acordo com novo texto constitucional, a Espanha é um estado social e
democrático de direito, baseado na indissolúvel unidade da nação, integrada por
nacionalidades e regiões às quais se garante o direito à autonomia. A língua oficial é o
castelhano e as co-oficiais são as demais línguas espanholas em suas respectivas
comunidades autônomas. Em relação à economia, passa a vigorar a liberdade de mercado,
26
MARÍN, José M. et al. Historia política 1939-2000. Madri: Ediciones Istmo, 2001, p. 290.
27
Os Pactos de la Moncloa foram assinados, entre outros, por Suárez, chefe do governo, Felipe González
(PSOE), Manuel Fraga Iribarne (Aliança Popular AP), Enrique Tierno Galván (PSP), Juan de Ajuriaguerra
Ochandiano (Partido Nacionalista Basco – PNV), Leopoldo Calvo Sotelo (UCD) e Santiago Carrillo (PCE).
28
ANDREOLI, Carlo. La economía. Los Pactos de la Moncloa Disponível em:
http://vespito.net/historia/transi/economft.html. Acesso em: 17-09-07.
13
estando prevista a possibilidade de planificação econômica e intervenção do Estado na
propriedade por motivos de interesse coletivo
29
.
Promulgada a Constituição, o presidente Suárez dissolveu as Cortes e convocou
eleições legislativas para março e eleições locais (municipais) para abril. O ano de 1979 foi
chave para a consolidação do novo regime. As eleições foram realizadas com partidos
legalizados, nova constituição em vigor, leis eleitorais e garantias jurídicas. O Congresso
continuaria com 350 deputados, enquanto o Senado passaria a ter 208 senadores, todos
eleitos diretamente. Foi a primeira vez que realmente aconteceu uma campanha eleitoral
com a utilização dos meios de comunicação pelos candidatos.
Nas eleições legislativas de março de 1979, houve 32% de abstenção, revelando a
falta de mobilização social. A UCD conseguiu 168 cadeiras e a coligação PSOE-PSP, 121.
A UCD deixou de ter maioria absoluta. Os dois principais partidos, UCD e PSOE
detiveram quase 90% dos votos. Esse bipartidarismo imperfeito continua até os dias de
hoje.
Suárez conduziu a transição para democracia, mas não pôde governar dentro do
novo regime. O partido que o apoiava (UCD) não era propriamente um partido, mas a soma
de diversos grupos políticos (cerca de quinze organizações), unidas por um interesse
concreto em um momento determinado: democratas-cristãos, liberais, social-democratas e
independentes
30
. Quando surgiram problemas, cada componente da UCD elaborou uma
estratégia própria e o presidente não conseguiu manter a coesão necessária para governar.
Em maio de 1980, o Congresso votou uma moção de censura contra o governo, apresentada
pelo presidente do PSOE, Felipe González, que não foi aprovada por não obter maioria
qualificada. Mesmo ganhando, esse debate marcou um ponto decisivo na trajetória de
decadência do partido do governo. A oposição era essencialmente democrata-cristã e
conservadora e sua crítica mais incisiva a Suárez eram de que o presidente fazia “política
de esquerda com votos da direita”
31
. Finalmente em janeiro de 1991, Suárez demitiu-se
alegando estar desgastado pelos cinco anos de governo. Leopoldo Calvo Sotelo foi o nome
que o comitê do partido escolheu para o lugar de Suárez, que aceitou o cargo
29
Constituição Espanhola, 1978. Artigos I §1, II, III §1-2, XXVIII, XXXVII.
30
MORAES. Op.cit.
31
ARÓSTEGUI. Op.cit., p.301.
14
desvinculando-o da presidência do partido. A fragilidade do governo aumentou a
resistência de alguns setores à democracia nascente, especialmente as Forças Armadas. Os
militares demonstravam, em discursos, declarações, insubordinações e resistência a
mudanças, que discordavam do espírito democrático.
Na tarde de 23 de fevereiro de 1981, quando os deputados votavam a candidatura de
Sotelo para presidente, houve uma tentativa de golpe de Estado, quando cerca de duzentos
guardas civis armados
32
assaltaram o Congresso, sob ordem do tenente-coronel Antonio
Tejero
33
. Dada sua importância, a votação estava sendo transmitida por rádio e televisão, de
maneira que a população teve conhecimento do golpe no momento em que acontecia. Após
a invasão, esperava-se a chegada de uma autoridade que anunciasse as medidas a ser
adotadas. Surgiu o tenente-coronel Tejero, propondo um governo de concentração, cívico-
militar, a ser presidido por ele mesmo. Os cabeças da conspiração eram o general Alfonso
Armada Comín, segundo chefe do Estado Maior, homem de confiança do rei, e o capitão-
general Jaime Milans del Bosch, de Valência. O plano era que, nas principais cidades do
país, militares tomassem os centros de poder, especialmente os centros de comunicações
(rádio e televisão). Acreditava-se que os Capitães-Generais, responsáveis máximos de cada
um dos distritos militares nos quais a Espanha estava dividida, somar-se-iam ao golpe.
Embora a maioria dos capitães-generais não se opusessem claramente, o único que levou
adiante a sublevação foi Milans del Bosch. Com todo o governo seqüestrado, montou-se
um gabinete de subsecretários, presidido por Francisco Laína, que manteve contato com o
rei. O tenente Armada e outros conspiradores tentavam difundir a afirmação de que o rei
era favorável ao ato. O monarca, por sua vez, horas depois do golpe, fez um
pronunciamento na televisão desautorizando totalmente a tentativa anticonstitucional de
tomada do poder, afirmando que a Coroa não poderia ir contra os desejos manifestados
pelos espanhóis. Após a declaração do rei, Bosch rendeu-se, Tejero decidiu negociar a
32
A Guarda Civil é um corpo policial fundado em 1844 que depende, quanto a seus serviços puramente
policiais, do Ministério do Interior, apesar de que, organicamente, depende do Ministério da Defesa e, de fato,
sua estrutura hierárquica e normativa é de caráter exclusivamente militar.
33
O tenente-coronel Antonio Tejero, em outubro de 1978, coordenara uma conspiração que pretendia ocupar
o Palácio de la Moncloa, deter o processo constitucional e retomar a ditadura. A ação ficou conhecida como
Operação Galáxia. Sua preocupação eram os antigos perigos que ameaçavam a Espanha: comunismo,
separatismo, relaxamento moral, delinqüência mesmo discurso empregado desde antes do golpe que
instaurou a ditadura de Primo de Rivera, em 1923.
15
impunidade para seus homens e no dia seguinte os deputados e o governo foram libertados.
O rei reuniu-se com lideranças militares e civis. Aqueles que participaram da tentativa de
golpe foram presos, embora nenhuma investigação profunda tenha sido feita. O Tribunal
Militar que julgou os trinta e três processados foi indulgente com os acusados e aplicou
penas brandas. Bosch e Tejero foram condenados a trinta anos de prisão e Armada a seis.
Um recurso do governo ao Supremo Tribunal resultou no aumento da pena de Armada para
trinta anos.
O poder civil saiu fortalecido do golpe e o prestígio e a primazia da Coroa ainda
mais. Em 25 de fevereiro houve nova votação e a posse de Calvo Sotelo. O
conservadorismo político aumentou e tanto a UCD como o PSOE pareciam renunciar ao
ânimo de reformas profundas. Com as eleições legislativas de 1982 e a vitória do PSOE
com ampla maioria, inaugura-se uma fase de consolidação da democracia espanhola.
2.1.2. Integração regional
O fim do regime ditatorial permitiu a criação de condições favoráveis à elaboração
de uma política exterior distinta e o processo de transição pós-franquista contribuiu para
situar o país em uma nova posição internacional. O principal desafio da democracia
nascente era tirar a Espanha do isolamento: o país precisava se aproximar dos vizinhos
europeus e recuperar papel ativo na comunidade internacional.
Com a morte de Franco, alguns países temiam um retrocesso da situação política
(desestabilização e violência), fazendo com que o processo de inserção internacional
recebesse ajuda da Europa ocidental e dos Estados Unidos para consolidar a jovem
democracia. A eleição de junho de 1977 é marco significativo do nascimento da nova
Espanha de diversos pontos de vista, inclusive o internacional. Os partidos, neste sentido,
entraram em acordo sobre questões internacionais a partir de 1975, com tal de tirar o país
do isolamento e entrar em organizações supranacionais ocidentais. Partindo dessa situação
de retraimento, a partir do estabelecimento da democracia na Espanha, todos os governos,
começando pelo próprio governo da União de Centro Democrático (UCD), fixaram como
16
objetivo recuperar o papel da Espanha como potência intermediária e obter o
reconhecimento dos países ocidentais a esta nova situação política.
Os objetivos imediatos eram a integração à Comunidade Econômica Européia
(CEE) e à Organização Tratado do Atlântico Norte (OTAN). No que se refere à CEE, havia
consenso entre todos os partidos sobre o interesse espanhol na participação neste organismo
regional. O mesmo não ocorreu em relação à OTAN, e o processo de integração espanhola
nesta organização militar e de defesa foi mais complexo do ponto de vista político, pois
havia resistência quanto à participação em grandes blocos ou em alianças militares.
Também era consenso aproximar-se da América Latina, recuperando os tradicionais laços
políticos, econômicos e sociais com os países da região.
Entrada na CEE
Franco havia designado em1960 um embaixador para a instituição e dois anos mais
tarde solicitara abertura das negociações para a adesão. Em julho de 1970, foi assinado o
Acordo Preferencial de Comércio, negociado pelo ministro Alberto Ullastres. No entanto,
tratava-se mais de uma ação propagandística do mandatário, pois a Espanha não seria aceita
enquanto se mantivesse sob um regime ditatorial.
Finda a ditadura, o país apresentou pedido de abertura de negociações com a
Comunidade Econômica Européia em 1977. As negociações foram abertas em julho
daquele ano, a pedido do presidente Suárez, durante o governo da União de Centro
Democrático, que designou como ministro das relações com as comunidades européias ao
ex-presidente Calvo Sotelo. O presidente francês Valery Giscard d´Estaing, em 1980,
chegou a vetar a entrada da Espanha, pois defendia que a CEE primeiro precisava arrumar
seus problemas internos, especialmente os desajustes econômicos, antes de admitir novos
sócios. Curiosamente, a oposição mais forte ao ingresso espanhol vinha dos comunistas
franceses e o maior apoio, da Alemanha: 58 % dos alemães eram favoráveis à entrada da
Espanha na CEE
34
. O problema central para o governo francês era a Política Agrícola
34
MONTEIRA, Fernando. “Apoyo de la mayor parte de los partidos políticos europeos a la entrada de España
en la CEE”. El País, 02/01/79.
17
Comum (PAC) e a defesa dos agricultores franceses, que se sentiam ameaçados pela
inclusão de outros países de economia basicamente primária
35
. O argumento foi seguido
pelo presidente François Mitterrand em 1982, na Cúpula de Copenhague.
Felipe González, por sua vez, a partir de 1982, dedicava-se pessoalmente à política
exterior e seu governo tinha condições políticas estáveis para retomar temas internacionais.
Seu primeiro chanceler foi Fernando Morán López. O presidente optou pelo ocidentalismo,
reforçando relações também com os Estados Unidos. Chegou a criticar as ditaduras latino-
americanas. Foi durante este lustro que a política exterior espanhola foi redefinida, entrando
no concerto europeu e ocidental.
À época, o ministro de relações comerciais era Manuel Marín. Os espanhóis deram
a entender que entrariam na OTAN se fossem aceitos na CEE.
36
Com isso, a Alemanha de
Helmut Kohl acentuou seu apoio à entrada dos países ibéricos e a partir de 1984 as
negociações se aceleraram. Na Cúpula de Stuttgart (junho de 1983), a República Federal
Alemã condicionou o aumento de sua contribuição ao Orçamento Comunitário à entrada de
Espanha e Portugal, forçando a França a optar entre carregar a responsabilidade da exclusão
dos dois países ou protagonizar a operação de sua integração. Mitterrand escolheu a
segunda opção
37
. Em 1985, houve cinqüenta e sete sessões de negociação sobre agricultura,
pesca, mobilidade de pessoas, legislação social e estatuto das Ilhas Canárias. Espanha e
Portugal assinaram os Tratados de Adesão em 12 de junho de 1985, e, em 1º de janeiro de
1986, passaram a ser membros do bloco regional europeu.
38
Entrada na OTAN
A decisão de entrar na OTAN foi mais complexa, pela oposição de partidos de
esquerda e, posteriormente, pelos enfrentamentos políticos entre o Partido Socialista e a
35
A entrada da Espanha era vinculada à de Portugal, que também acabava de sair de um regime autoritário
(1926-74) e solicitara inclusão ao bloco.
36
SÁNCHEZ, Enrique G. Las negociaciones de adhesión de España a las Comunidades Europeas.
Revista de Instituciones Europeas: Enero 1983 – Marzo 1984.- Vol. 11, nº 1. Mayo-Agosto 1984
37
MORÁN, Fernando. El papel de Francia y Alemania en la entrada de España en la CEE. Análisis de
Documentos Históricos, Documento n° 3.
38
BADAJOSA PAGÉS, Juan. La adhesión de España a la CEE - 75 años de Política Económica Española.-
ICE, Noviembre 2005, nº 826.
18
Aliança Popular (precursor do atual Partido Popular). Inicialmente, o principal problema
em relação à entrada da Espanha na OTAN foi a falta de definição da UCD, partido no
governo e, do presidente Suárez, que era interpretada como a vontade do presidente de
evitar discutir uma questão de relação externa sobre a qual não existia consenso e que
poderia complicar a situação da política interna do país, necessitada do maior consenso
possível. Assim, embora a UCD fosse favorável à adesão, o tema não era urgente em seu
programa. A integração à OTAN era apresentada como uma moeda de troca para entrada na
CEE, que a Espanha solicitava
39
.
Como prólogo às negociações para a entrada na OTAN, em outubro de 1981, foi
votada no Parlamento a renegociação do Tratado Bilateral com os Estados Unidos,
procedente do Acordo de Ajuda para a Defesa Mútua, assinado pelos presidentes Francisco
Franco e Dwight Eisenhower em 1953. O tratado de 1981 referia-se especialmente à
utilização das bases arrendadas em território espanhol e foi aprovado por 186 votos a favor
e 146 contra. Em 1982 prorrogou-se o tratado, que só chegou a ser renegociado em
dezembro de 1988. A Espanha impôs o abandono da base de Torrejón de Ardóz (província
de Madri), a separação de acordos não-militares e a redefinição do uso do território e do
espaço aéreo. Este novo enfoque na renegociação do Tratado, que tinha por objetivo
diminuir a presença militar norte-americana na Espanha, foi usado politicamente como uma
vitória do governo em seu esforço por demonstrar internamente independência dos Estados
Unidos, promovendo a idéia que a entrada na OTAN não era feita por pressões daquele
país.
Em outubro de 1981, o Congresso dos Deputados aprovou a solicitação de ingresso
na Aliança Atlântica com 186 votos a favor, com apoio da UCD, Centro Democrático,
Convergencia i Unió, Unión del Pueblo Navarro e PNV, e 146 votos contra (PSOE, Partido
Socialista Andaluz, Euskadico Ezquerra, Ezquerra Republicana de Cataluña, Partido
Aragonés Regionalista e Unión del Pueblo Canário)
40
. Em dezembro, o Protocolo de
39
SÁNCHEZ, Juan A. M. El referéndum sobre la permanencia de España en la Otan. Disponível em
http:/www.monografias.com/trabajos10/otan/otan.shtml. Acesso em 25/03/2008.
40
GIDRÓN, Miriam. OTAN Sí, OTAN no. Expansión 20º aniversario: Los veinte días que conmovieron a
España. Disponível em: http://www.expansion.com/especiales/20aniversario/20diasespana/otan.html Acesso
em: 01/11/2007.
19
Adesão foi assinado em Bruxelas, mesmo com 43% de rejeição da opinião pública. A
Espanha integrou-se à Organização, concluindo o processo de ratificação do protocolo de
adesão em 30 de maio de 1982. O país converteu-se no décimo sexto membro da Aliança,
sendo Javier Rupérez o primeiro embaixador espanhol na organização. Entre 1981 e 1986,
continuaram os debates, com marcada oposição à aliança militar, a favor do isolacionismo e
da neutralidade, especialmente em setores da esquerda e do PSOE.
A chegada ao poder do Partido Socialista em outubro de 1982 supôs uma freada no
processo de integração até a celebração de um referendo em 1986. A opinião de Felipe
González, novo mandatário, anteriormente contrária à integração, foi mudando quando
assumiu o governo e à medida que teve contato com outros países europeus. Em outubro de
1984, apresentou no Congresso de Deputados seu Decálogo de Paz e Segurança
41
, em que
propunha o diálogo com outros partidos sobre o tema. Dentro desta nova política,
vinculava-se claramente a permanência da Espanha na OTAN com o ingresso na CEE. Em
dezembro, o XXX Congresso do PSOE aprovou a permanência da Espanha na OTAN e
autorizou a realização de um referendo sobre integração na estrutura militar.
Em fevereiro de 1986, ocorreu uma manifestação em Madri defendendo o “não”,
que reuniu cem mil pessoas, enquanto o governo pedia voto favorável. O chanceler
Fernando Morán foi substituído por Francisco Fernández Ordóñez, de vocação mais
“atlantista” que seu antecessor. O referendo aconteceu em 12 de março de 1986, a
participação foi de 59,42 % do censo eleitoral. O “sim” ganhou por 52,5%, enquanto o
“não” obteve 39,5% dos votos, com 6,54 % de votos em branco.
A entrada na OTAN não foi incondicional e irrestrita, uma vez que a Espanha
apresentou ressalvas: não integração à estrutura militar do bloco, proibição de instalar,
armazenar ou introduzir armamento nuclear em seu território e redução progressiva da
presença militar norte-americana no país
42
.
No entanto, a mudança do cenário estratégico, que se produz ao longo da década de
1990 com a desaparição dos blocos “hegemônicos” e a emergência de novos riscos e
ameaças, incitaria maior implicação da Espanha em questões de defesa coletiva. O país
41
PARDOS, José Luis. Política española de Paz y Seguridad en los últimos años. Disponível em:
http://www.sispain.org/spanish/foreing/peace.html. Acesso em 29/03/2008.
42
Fonte: Ministério de Assuntos Exteriores e de Cooperação de Espanha.
20
ingressou na União da Europa Ocidental
43
em 1990 e contribuiu no desenho da nova
Política Européia de Segurança e Defesa (PESD), a partir da elaboração do Tratado da
União Européia de Maastrich, em 1992
44
. As guerras da Iugoslávia (1991-2001)
fortaleceram a consciência de que era necessário participar eficazmente nesses mecanismos
mediante o envio de contingentes às zonas de conflito, tornando patente a necessidade de
institucionalizar a cooperação militar e a integração nas estruturas militares da OTAN
45
.
Por outra parte, a Espanha adquiria visibilidade com a eleição, em dezembro de 1995, do
ex-ministro de Assuntos Exteriores espanhol, Javier Solana, como secretário-geral da
organização. Finalmente, em janeiro de 1999, o país ingressou na estrutura militar da
Aliança Atlântica.
A Espanha é, atualmente, membro ativo da organização, sendo o quinto maior
contribuinte em tropas nas operações lideradas pela Aliança e o sexto contribuidor
financeiro. De acordo com o Ministério da Defesa da Espanha, o país participa atualmente
nas seguintes operações com unidades: Althea Eurofor (Bósnia-Herzegovina), KFOR
(Kosovo), ISAF (Afeganistão), Libre Hidalgo (Líbano) e com observadores: EUMM (Ex-
Iugoslávia), EU AMIS II (Darfur), UNMIK (Kosovo), UNMEE (Eritréia) e MONUC (R.D.
Congo).
43
União da Europa Ocidental (UEO) é uma organização de defesa européia, estabelecida pelo Tratado de
Bruxelas em 1954, formada pelos Estados membros da OTAN e da União Européia (exceto a Dinamarca)
antes da expansão do bloco de junho de 2004. As maiorias de suas funções estão em processo de serem
fundidas com as da UE.
44
O Tratado de Maastrich (1992) foi o primeiro tratado a prever disposições relativas à responsabilidade da
União Européia no domínio da segurança e à eventual definição de uma política comum de defesa. Com a
entrada em vigor do Tratado de Amsterdã (1999), foram incluídas novas missões no Tratado da União
Européia (Título V). Essa mudança diz respeito às missões humanitárias e de evacuação, às missões de
manutenção da paz, bem como às missões de forças de combate para a gestão das crises, incluindo as missões
de restabelecimento da paz. A essas missões de gestão de crises civis e militares, deve-se acrescentar a
“prevenção de conflitos” da PESD. UNIÃO EUROPÉIA. Política Européia de Segurança e Defesa.
Disponível em: http://europa.eu/scadplus/glossary/european_security_defence_policy_es.htm Acesso em:
25/09/2007.
45
MINISTÉRIO DE DEFESA. Participación de España en la OTAN. Disponível em
http://www.mde.es/multiContenido.jsp?id_nodo=4229&navegacion=T&&keyword%20Acesso#4230. Acesso
em: 17/03/2008.
21
2.1.3. Liberalização econômica
O Plano de Estabilização de 1959, elaborado segundo as indicações do Banco
Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI),
46
encerraria vinte anos de autarquia,
encorajando o investimento externo, abrindo o país para o turismo e começando a integrar a
peseta ao sistema monetário transnacional
47
. O Plano foi precursor de um longo período de
crescimento. Entre 1961 e 73, ainda no período ditatorial, portanto, o PIB cresceu 7% ao
ano o mais rápido crescimento entre os países da OCDE, à exceção do Japão. Entre 1974
e 84 a economia sofreu uma profunda crise e cresceu em média apenas 1,4% anual
48
,
enquanto administrava a transição para a democracia e os impactos dos choques do petróleo
em 1973 e 79
49
(Tabela 01). O crescimento econômico e o desenvolvimento social da
Espanha, porém, só aconteceram depois do fim da ditadura e a restauração da democracia.
Tabela 01
Crescimento do PIB a preços constantes de 1995
(taxa de variação media acumulativa anual, em %).
Período Espanha
Portugal UE-15
*
1961-1973 7,2 7,0 4,7
1974-1984 1,4 2,2 2,0
1985-1990 4,5 5,7 3,2
1991-1995 1,3 1,1 1,5
1996-2002 3,4 3,0 2,2
*: Desde 1991, inclui a antiga República Democrática Alemã.
Fonte: Comissão Européia (2002).
46
OCAÑA, Juan Carlos. El Franquismo, evolución política, económica y social desde 1959 hasta 1975. La
oposición al Régimen.Disponível em: http://www.historiasiglo20.org/HE/15b-2.htm. Acesso em30/03/2008.
47
ESTEFANÍA, Joaquín. La larga Marcha: La Economía española del Plan de Estabilización (1959) al Euro
(1998). El País, Domingo 3 de Mayo 1998.
48
SERRANO SANZ, José María. Técnica sin disciplina en los años de flotación 1974-1989. IN: Del real al
euro: Una historia de la peseta. Barcelona: Ed. La Caixa, Col. Estudios Económicos, 21 (2000). Pág.151-
168.
49
LÓPEZ MARTÍNEZ. Ivan, PEÑA, Beatriz. García-Carro. Un análisis de los ciclos económicos de España
y Portugal. VI Reunión de Economía Mundial (Badajoz 2004). Disponível em: http://www.sem-
wes.org/VIREM/cm57.doc. Acesso em: 02/04/2008.
22
De forma paralela à liberalização política, produziu-se uma progressiva
liberalização econômica. Esta transformação não foi fácil, já que se partia de uma economia
rígida e centralizada, com forte intervencionismo do Estado e grande peso das empresas
públicas. Pode-se resumir esta liberalização econômica em cinco elementos, que serviram
de suportes do crescimento da economia espanhola: determinação política, nova estrutura
do Estado, integração regional, desenvolvimento da iniciativa privada e investimento
externo direto.
Houve forte determinação política (a). Foi uma postura arriscada do governo do
Partido Socialista, presidido por Felipe González, de realizar uma dura reconversão
industrial, que passou pelo fechamento e/ou privatização de grande número de empresas
públicas, especialmente na área siderúrgica e no setor naval, levando ao desemprego mais
de 100.000 trabalhadores
50
. Além disso, modificou-se totalmente a estratégia do Instituto
Nacional de Indústria (INI)
51
, que passou de um cemitério de indústrias pouco produtivas
com alto custo para o Estado a uma empresa orientada a aperfeiçoar os resultados de suas
filiais. Essas políticas provocaram um choque importante com os sindicatos e outras forças
sociais e somente o Partido Socialista seria capaz de realizá-lo: a transformação do tecido
industrial espanhol dificilmente seria implementado por um governo de direita.
Em troca desta dura reforma que deu lugar ao aumento do desemprego, o Partido
Socialista desenvolveu o Estado de Bem-estar social, partindo de reforma fiscal, que
favoreceu a redistribuição de renda, e de reforma da Seguridade Social, que melhorou tanto
as prestações passivas (desemprego, aposentadoria) como a assistência sanitária. A nova
legislação modernizou o sistema público de saúde, por meio do Real Decreto de Estruturas
Básicas de Saúde de 1984 e da Lei Geral de Atenção à Saúde de 1986. A consolidação do
estado de bem-estar no país foi uma das principais conquistas da gestão González. As
reformas em saúde, educação e prestações sociais elevaram o gasto público em uma
50
HERAS, Raúl. 1984: El problema del paro. La cirugía de la reconversión industrial desata los
enfrentamientos. Disponível em: http://www.elmundo.es/nacional/constitucion/1984/historia.html . Acesso
em: 30/03/2008.
51
O INI foi fundado em 1941 como um organismo estatal destinado ao fomento da indústria, e
progressivamente tornou-se um gigante econômico, chegando a ser, por ocasião da morte de Franco (1975), a
décima empresa da Europa, empregando 5% da população espanhola economicamente ativa, controlando 65
% do refino de petróleo e produção de aço, mais de 50% da produção de carvão e alumínio e 95 % da
construção naval. MORAES, Reginaldo C. op. cit.
23
conjuntura econômica difícil e na contramão no cenário internacional, em que predominava
a redução do gasto público, mas conseguiram pela primeira vez na história da Espanha a
universalização de bens sociais básicos, até o ponto de se converter em um modelo
socialmente aceito pelos espanhóis.
O primeiro governo do Partido Popular (presidido por José María Aznar, entre 1996
e 2000) deu continuidade às privatizações iniciadas em 1983, a passos mais rápidos. O
governo do PP vendeu quarenta e três empresas, principalmente as de telecomunicações
(Telefónica), eletricidade (Endesa), petróleo (Repsol), tabaco (Tabacalera), aço (Aceralia) e
bancos (Argentaria). A última grande operação foi em 2001, quando 48,5% da Ibéria
(aviação) passaram para o setor privado. A renda das privatizações representou 1,6% do
PIB entre 1996-8, bastante acima dos 0,5% do período 1993-5.
Joaquim Vergés (2003) divide as privatizações em dois tipos: venda direta e oferta
de ações
52
. O primeiro bloco refere-se às empresas públicas que foram diretamente
vendidas, mediante acordo com empresa e/ou grupo econômico privado, geralmente do
mesmo setor produtivo (Anexo I). Na maioria dos casos, tratava-se de empresas industriais
e grande parte delas era deficitária à época da privatização
53
. Aquelas classificadas pela
imprensa econômica como as “jóias da coroa”, por se tratar de empresas grandes com alta
rentabilidade, posição forte no mercado e projeção internacional (Anexo II), foram
vendidas mediante a oferta na bolsa de pacotes de ações. De acordo com o autor, as
privatizações realizadas entre 1981 e 2001 renderam ao estado espanhol cerca de 26,3
milhões de euros. Algumas das empresas privatizadas nessa época, como Repsol, Endesa e
Telefónica, posteriormente adquiriram grande protagonismo na expansão espanhola no
exterior. O grupo Repsol tornou-se o maior grupo privado de energia na América Latina,
depois da aquisição da argentina YPF em 1999. A principal empresa de eletricidade
espanhola, Endesa, tornou-se o maior grupo na América Latina através da aquisição de
empresas de energia em vários países, incluindo Brasil e Chile.
54
52
VERGÉS, Joaquim. Las privatizaciones de empresas públicas. Un estado de la cuestión, con especial
referencia al caso de España. Barcelona, Departtament d´Economia de l´Empresa, 2003.
53
Idem, p.10-13. Uma lista com as principais indústrias privatizadas está disponível como Anexo I.
54
EXPANSIÓN. Las empresas españolas se juegan inversiones de 129.000 millones en Latino América.
Disponível em: http://www.expansion.com/edicion/exp/empresas/es/desarrollo/1056938.html. CAÑAS
LOPEZ, Robert. Conquistadores Españoles II. Multinacionales españolas en América Latina: del
24
Desenvolveu-se uma da nova estrutura do Estado (b). A partir da Constituição de
1978, o novo Estado espanhol, baseado nas dezessete comunidades autônomas
55
, deu lugar
à potencialização das administrações locais: cada comunidade autônoma passou a ter
possibilidade legal e capacidade econômica necessárias para desenvolver seu tecido
industrial e econômico e, em muitos casos, competindo umas comunidades com outras.
Esta transformação política reflete-se na distribuição do gasto público entre o
Governo Central e as Administrações periféricas ao longo do tempo
56
. (Tabela 02)
Tabela 02
Principais indicadores da mudança política: 1986-2006
1986 1996 2006
Distribuição do gasto
público por nível de
governo
Central 76,6%
65,0% 51,4%
Autonômico 12,6% 23,1% 33,6%
Municipal 10,8% 12,3% 15,0%
Fonte: Ministerio de Economía y Hacienda
A integração regional (c) foi outro fator de crescimento da economia espanhola. A
entrada da Espanha na União Européia supôs uma mudança na política econômica e
industrial do país. De acordo com dados do Ministério de Indústria, Turismo e Comércio
57
,
nos cinco anos anteriores à entrada na CEE (1981-5), por exemplo, o PIB espanhol cresceu
a uma taxa média acumulada de 1,8%, abaixo da taxa comunitária no mesmo período
(2,1%). Nos cinco anos posteriores (1986-90), o crescimento médio espanhol foi de 4,8%,
quase dois pontos acima do comunitário (2,9%). Este crescimento superior à média regional
explicaria a mudança de uma renda média que, em 1985, supunha apenas 71% daquela da
desembarco a la reordenación. Disponível em: http://lacomunidad.elpais.com/canaslopez1/category/-
empresas-espanolas. Acessos em: 02/04/2008.
55
LEGAL FRAMEWOKR FOR INFORMATION SOCIETY. Introducción a la estructura jurídico–
política general del Estado Español. Disponível em:
www.egobs.org/documentos/Estructura%20Juridica%20del%20Estado%20Espanol.pdf. Acesso em:
30/03/2008.
56
PIEDRAFITA, S., STEINBERG, F., Y TORREBLANCA, J.I. La europeización de España (1986-2006).
Madri: Real Instituto Elcano, 2007.
57
BADAJOSA PAGÉS, Juan. La adhesión de España a la CEE. 75 años de Política Económica Española.
Boletim Econômico de Informação Comercial Espanhola (ICE). Noviembre 2005, Nº 826.
25
Europa dos 15, para a situação atual, em que a média espanhola supera em cerca de 2% à da
Europa dos 27. Aprecia-se a mudança na seguinte tabela:
Tabela 03.
Principais magnitudes de mudança econômica: 1986-2006
1986 1996 2006
1. Renda per capita (Euros de 2005)
7.950
13.636
23.087
2. PIB pm, bilhões de euros
205
474
976
3. Inflação (%)
9,3
4,8
2,7*
4. De
semprego (%)
17,7
17,8
8,1*
5. Juros de curto prazo (%)
12,2
7,5
3,1
6. Déficit público (% do PIB)
6,2
6,6
-
1,4*
7. Dívida Pública (% do PIB)
42,3
68,1
37,0*
Fonte: Banco de España e Eurostat, Statistical Annex Spring 2007. * Previsão para 2007
Existem dois elementos chave neste quesito: transferência de fundos comunitários e
adoção das normativas regionais. Desde 1986, a Espanha tem sido grande receptor de
fundos comunitários: a União Européia destinou ao país cerca de 11,3 bilhões de euros
anuais em valores de 2003 (1,8% do PIB espanhol), cifra que aumentou para 13 bilhões no
período 1993-9 (2,2% do PIB) e 14,5 bilhões entre 2000-3 (2,1%), conforme Tabela 04
58
.
Tabela 04.
Saldo orçamentário da Espanha na UE
(em milhões de euros, valores de 2004)
Contribuições
da Espanha
Aportes
da UE
Saldo
orçamentário
1986 1.451,44 1.341,51 -109,93
1987 1.707,76 2.159,27 451,51
1988 2.624,45 4.500,38 1.875,94
1989 3.157,75 5.146,03 1.988,29
1990 3.830,07 5.052,58 1.222,52
1991 5.204,55 8.913,88 3.709,33
1992 5.773,49 8.692,32 2.918,82
1993 6.347,01 9.679,04 3.332,04
1994 6.640,26 9.507,46 2.867,20
1995 4.856,24 13.819,80 8.963,56
58
TORREBLANCA, José Ignacio. Las perspectivas financieras 2007-2010 de la Unión Europea: Un buen
acuerdo para España. Madri: Real Instituto Elcano, 2007.
26
1996 5.627,72 12.580,50 6.952,78
1997 6.698,48 12.883,40 6.184,93
1998 6.330,53 13.467,81 7.137,28
1999 5.912,16 12.332,36 6.420,20
2000 7.559,83 12.460,76 4.900,92
2001 7.412,41 13.439,39 6.026,98
2002 8.658,53 16.190,10 7.531,57
2003 8.734,56 17.330,86 8.596,30
2004 9.275,14 16.179,46 6.904,32
2005 9.854,29 15.330,33 5.476,04
Total 117.656,66 211.007,25
93.350,59
Fonte: Herce y Sosvilla 1986-1999 FEDEA, Mineco 2000-2004, Presupuestos generales del Estado 2005.
Dentro do gasto estrutural, os recursos recebidos pela Espanha em conceito de
Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) somam cerca de 2,8 bilhões de
euros anuais no período 1986-2003, cifra que representa 50% do total dos recursos
estruturais. Depois vem o Fundo Social (FSE), com cerca de 1,2 bilhões de euros (22%), o
Fundo Europeu de Orientação e Garantia Agrícola (FEOGA) e o Instrumento Financeiro de
Orientação das Pescas (IFOP) com 850 milhões (15%) e por fim o Fundo de Coesão, com
cerca de 750 milhões de euros (13%). Em termos evolutivos, destaca-se o aumento que o
Fundo de Coesão foi adquirindo, chegando a representar 20% do total da ajuda estrutural
no período 2000-3.
59
Como se deduz dos dados expostos anteriormente, as quantidades recebidas ao
longo dos anos foram importantes e contribuíram à melhora da economia do país. Com os
fundos de coesão europeus, investimentos estrangeiros e comércio internacional mais livre,
a economia cresceu em média 3,1% em 1986 e 97, com um ano de recessão (1993). Em
1999, a Espanha era um dos fundadores da União Econômica e Monetária (UEM). A
entrada na UE e na UEM integrou a Espanha à economia mundial e contribuiu para
sustentar o mais robusto período de crescimento desde meados dos anos 1970. Tanto os
governos do Partido Socialista como os do Partido Popular realizaram o investimento
59
FUNDACIÓN DE ESTUDIOS FINANCIEROS. España y las nuevas perspectivas financieras de la
Unión Europea 2007 2013. Nuevos condicionantes, nuevos objetivos, nuevas estrategias. Disponível em:
http://www.ieaf.es/_img_admin/118823842911.pdf. Acesso em: 30/03/2008.
27
desses fundos dedicando a maior parte dos mesmos à transformação das infra-estruturas do
país: estradas, ferrovias, aeroportos, portos, indústrias estratégicas, etc.
No entanto, como conseqüência da ampliação da União Européia para 25 sócios, a
situação muda e a Espanha, entre 2007 e 2013, deixará de ter um balanço positivo em
relação aos fundos europeus, o que acarretará em um déficit estimado de 23,4 milhões de
Euros
60
.
O segundo fator de incentivo à recuperação econômica espanhola decorrente de sua
integração regional é a aplicação das normativas da União Européia, no que se refere ao
controle do gasto público, contenção da inflação e limitação da dívida, que obrigou
governos a ordenar as contas do Estado e a realizar orçamentos e com controle estrito. O
critério de estabilidade macroeconômica exigido para a entrada na UEM (inflação e juros
baixos e disciplina fiscal) colocou a Espanha em um círculo virtuoso de crescimento
sustentado não inflacionário, acima da média européia desde 1995.
O desenvolvimento da iniciativa privada é o núcleo da liberalização econômica.
(d). A empresa privada alcançou na Espanha desenvolvimento impensável antes da
democracia. Este desenvolvimento não se limita apenas ao território nacional, mas um
número importante de empresas espanholas situa-se entre as maiores empresas do mundo.
As fusões e aquisições entre empresas cada vez são mais freqüentes.
Desde o lançamento do Euro em 1999, a Espanha vivenciou a criação de dois
gigantes nos serviços financeiros: a fusão do Banco Santander com o Banco Central
Hispano e a dos bancos Bilbao Viscaya com Argentaria. Santander Central Hispano e
BBVA são fortes na América Latina e crescem na Europa. As empresas espanholas melhor
situadas no ranking mundial têm representação no Brasil
61
:
- Banco de Santander: é o sétimo banco do mundo em faturamento e a maior
franquia de varejo no mundo ocidental, com 10.852 filiais, 129.749 empregados e
67 milhões de clientes.
60
TORREBLANCA, J.I. ¿Adios a los fondos? Las claves para entender la posição de España a la hora de
negociar el presupuesto de la UE para 2007 – 2013.Real Instituto Elcano de Estudios Internacionales y
Estratégicos.- Documento de Trabajo (DT) 21/2005.- 13/06/2005.
61
CAÑABATE, Alberto. La empresas españolas se codean en beneficios con las grandes do mundo.-
Invertia, 02/03/2007.
28
- Banco Bilbao Viscaya Argentaria (BBVA): Empresa situada no 39ª lugar do
mundo por lucro, 15º banco do mundo.
- Telefónica: A segunda empresa de comunicações do mundo, depois da
Vodafone, com 205 milhões de clientes.
- Repsol: uma das dez maiores petroleiras do mundo e a maior companhia
energética privada da América Latina.
- Endesa: Primeira companhia elétrica privada da América Latina.
Os Investimentos Externos Diretos (IED) (e) tiveram papel predominante na
modernização da indústria espanhola nos últimos quarenta anos. Enquanto outros países
europeus recebiam ajuda do Plano Marshall para sua reconstrução, a Espanha passou vinte
anos isolada e sofrendo a devastação da Guerra Civil. Com a instauração do regime
ditatorial franquista, o país não recebia empréstimos externos até 1959-60, quando ratificou
acordos com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e a Organização para Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE). Estes acordos coincidiram com o Plano de
Estabilização que favoreceu investimentos e começou a integrar a peseta ao sistema
monetário internacional. Os investimentos externos começaram a chegar, passando de US$
12 milhões em 1958 para US$ 86 milhões em 1960.
O fluxo de IED desde o ingresso na Comunidade Econômica Européia em 1986 foi
tão grande que, como define William Chisllet (2002), parecia que o país estava pronto para
venda
62
. A entrada de IED aumentou da média de US$ 8,2 bilhões anuais entre 1985-95,
US$ 14,2 bilhões em 1998, US$ 15,8 bilhões em 1999, US$ 36,6 bilhões em 2000 e
começou a cair em 2001, com US$ 20,2 bilhões, de acordo com a UNCTAD
63
. O estoque
de investimentos recebidos alcançava US$ 162,6 bilhões em 2001 (em 1985, era de US$
8,9 bilhões). Esses investimentos ajudaram o país a sustentar seu crescimento econômico
acima da média dos países da OCDE, diminuindo o déficit de conta corrente. O volume dos
IED, com notáveis exceções, é resultado de fusões e aquisições
64
.
62
CHISLLET, William. The Internalization of Spanish Economy. Real Instituto Elcano. Madri, 2002. O
autor escreve:it seemed at times as if the country was up for sale”, pág. 150.
63
UNCTAD. World Investment Report, 2001.
64
O Valor Agregado Bruto (VAB) das empresas de origem norte-americana significou em média cerca de
1,72% do PIB espanhol entre 1994 e 2002. Comparando o dado para o setor industrial espanhol, o VAB
americano, como média no período 1999-2002, foi de 8,2 % do PIB industrial espanhol. ALLARD, Gayle e
29
A liberalização da economia a partir de 1986 abriu oportunidades para os
estrangeiros, enquanto muitas empresas espanholas, especialmente as familiares, preferiram
se vender a ter que fazer os ajustes para sobreviver em um ambiente mais competitivo.
Empresas estrangeiras controlam a indústria automobilística (Seat, Ford, Nissan, Opel,
Peugeot, Renault e Volkswagen) e são fortes no setor de cimento (Portland e Lafarge
Asland), eletrônicos (Sony, Philips e Electrolux, Siemens e Bosch), computadores (Hewlett
Packard e IBM) e produtos de consumo (Unilever e Procter & Gamble). As francesas
Auchan (conhecida na Espanha como Alcampo) e Carrefour transformaram o setor
varejista, abrindo hipermercados nas cidades que esvaziaram as tradicionais “lojinhas de
esquina”. Vários bancos estrangeiros (Barclays, Citibank e Deutsche Bank) adquiriram
participações em bancos espanhóis, assim como empresas de seguros (Allianz, Axa,
Generali). Nem mesmo a indústria do vinho tem sido imune à invasão de investimentos
estrangeiros: em 1994, a Allied-Lyons comprou a Pedro Domecq, empresa líder de bebidas
espirituosas na Espanha e no México, e em 2001 a Allied Domecq comprou a Bodegas y
Bebidas, maior produtor de vinhos do país.
A Espanha tem o terceiro maior mero de filiais estrangeiras entre os países da
União Européia, atrás da Alemanha e da França. Do total de 53.753 filiais estrangeiras na
UE em 2001, 7.465 estavam na Espanha. Um estudo da Economist Intelligence Unit, sobre
atração de investimento, colocou a Espanha entre os países mais baratos da União
Européia, levando em consideração as seguintes categorias: custos trabalhistas, gastos com
viagens, custo dos expatriados, taxas corporativas, nível de corrupção, custo da
propriedade, telecomunicações e transporte rodoviário
65
. Outro atrativo para empresas
estrangeiras é o tamanho do mercado interno espanhol e sua força de consumo,
possibilidades de exportação e potencial de crescimento.
Como conseqüência dos fatores acima expostos, a Espanha emergiu como ator na
economia global. A gradual transição para uma economia de mercado, aproveitando a
integração regional européia, foi a mais bem sucedida entre as antigas economias estado-
cêntricas. Atualmente, a Espanha é o 51º em tamanho, 30º em população e 11ª economia
PAMPILLÓN Rafael. El impacto de la Inversión Directa de Estados Unidos en España. Real Instituto
Elcano.- Documento de Trabajo (DT) 19/2005.- 18/04/2005.
65
Economist Intelligence Unit, Worldwide Business Costs, 2001.
30
(8ª entre os países da OCDE)
66
. Em 2000, a renda per capita, em paridade de poder de
compra, era de US$ 19.180, a 21ª no mundo. A renda per capita espanhola se situou em
2006 em 93,9% da Europa dos Quinze (anterior às ampliações ao leste de 2004 e 2007). Em
2007, cinco comunidades autônomas superaram a riqueza média dos Quinze: Madri
(121,3%), Navarra (118,2%), País Basco (117,1%), Aragão (104,4%) e Catalunha
(102,6%). De acordo com o jornal Cinco Días, em 2007, a Espanha alcançou 98,9% da
renda da EU-25 e praticamente se iguala à Europa atual de 27 membros
67
e, em 2008,
depois das últimas ampliações para o Leste (Romênia e Bulgária), o PIB da Espanha supera
em 2 % a média da União Européia.
68
O crescimento econômico espanhol foi acompanhado pelo desenvolvimento de
infra-estruturas e programas de desenvolvimento social. O sistema de bem estar espanhol
foi o último a ser criado no continente: enquanto a maioria dos países da UE esteve
ocupada entre os anos 1960 e 75 construindo pensões, benefícios para desempregados e
esquemas de saúde e habitação, a economia espanhola tinha nima presença do Estado
nestas questões. Tal crescimento deu lugar, ainda, a um excedente de capitais, a um excesso
de liquidez e também a empresas com tamanho suficiente para não se conformar com o
mercado local. Por conseguinte, a Espanha deixou de ser um país fundamentalmente
receptor de investimentos externos e passou a realizar investimentos no exterior, através de
suas novas empresas “multinacionais”. Esta internacionalização da economia espanhola,
com crescente participação em investimento externo direto na última década, dirigiu-se
especialmente para a América Latina.
Desde 1986, o foco estratégico das grandes empresas foi-se alterando gradualmente,
passando da defesa de seu mercado doméstico até expandir-se para o exterior pesadamente.
Os investimentos de empresas espanholas fora do país subiram de uma média de US$ 2,3
66
SÁNCHEZ, Carlos. Espãna no estará en el G-7: el Banco Mundial la sitúa como undécima economía del
planeta. Disponível em:
http://www.cotizalia.com/cache/2008/02/20/77_espana_estara_banco_mundial_situa_undecima.html#.
Acesso em: 03/4/2008.
67
EZQUERRA, Marcos. Cinco regiones españolas superan renta media de la UE-15. Madri, 06/03/2007.
Disponível em: http://www.cincodias.com/articulo/economia/regiones-espanolas-superan-renta-media-UE-
15/20070306cdscdieco_3/cdseco/ Acesso em: 15-09-07
68
“España supera la media europea de PIB per capita gracias a efecto de ampliación”. Disponível em:
http://www.eleconomista.es/economia/noticias/250670/07/07/ESPANA-supera-media-europea-de-PIB-per-
capita-gracias-a-efecto-de-ampliacion.html. Acesso em: 03/4/2008.
31
bilhões entre 1985-95 para US$ 12,6 bilhões em 1997, US$ 18,9 bilhões em 1998, US$
42,1 em 1999, US$ 53,7 bilhões em 2000 e tiveram uma brusca queda em 2001, de acordo
com relatórios da UNCTAD
69
. O estoque de investimento no exterior aumentou de US$ 4,5
bilhões em 1985 para US$ 186,4 bilhões em 2001. Nesse ano, a Espanha era o oitavo
investidor mundial. Chegou a ser o maior investidor na América Latina, superando os
Estados Unidos, cuja economia é quinze vezes maior.
Existem alguns fatores chave que impulsionaram o investimento espanhol na
América Latina. Dois deles são puramente econômicos: a liberalização e a privatização
abriram setores da economia latino-americana que até então estavam fechados e havia uma
enorme demanda por capital para desenvolver a infra-estrutura da região. Outro fator de
atração é o tamanho do mercado latino-americano, cujo potencial de crescimento é maior
que o europeu. Além disso, grande parte da ajuda oficial ao desenvolvimento espanhol é
dirigida à América Latina
70
. Laços lingüísticos, históricos e culturais com a maioria dos
países da região e sua experiência de construir um estado democrático colocam o país em
posição privilegiada para compartilhar suas experiências com os países latino-americanos.
A Espanha, como Portugal, está localizada como uma ponte entre a zona do euro e a
América Latina.
2.2. O caso brasileiro
2.2.1. Transição democrática
A transição democrática no Brasil começou em 1974, quando o regime militar -
inaugurado dez anos antes, no golpe que depôs o Presidente João Goulart - introduziu uma
série de medidas liberalizadoras que, de acordo com as palavras do próprio Presidente
Geisel, visavam à abertura lenta, gradual e segura”
71
. O ponto de inflexão pode ser
69
UNCTAD. Op. cit., p.164.
70
O tema das Ajudas Oficiais ao Desenvolvimento (AOD) será tratado no capítulo sobre cooperação bilateral.
71
SKIDMORE, Thomas E. Brasil: de Castelo a Tandredo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988.
32
estabelecido com a eleição realizada em 1974, na qual o avanço da oposição, o Movimento
Democrático Brasileiro (MDB), foi superior ao esperado, surpreendendo não apenas ao
governo militar no poder, mas também ao próprio Movimento.
72
O MDB praticamente
dobrou sua representação na Câmara dos Deputados (cujo número de assentos aumentou de
310 a 364), passando de 87 para 165 deputados. A Aliança Renovadora Nacional
(ARENA), partido que representava o governo, diminuiu seu número de deputados de 223
para 199. Os resultados no Senado foram parecidos: o MDB passou de sete para 20
senadores e a Arena baixou de 59 para 46. Além disso, a oposição conseguiu o controle das
Assembléias Legislativas estaduais de importantes estados, nos quais o eleitorado urbano
foi crucial: São Paulo, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Paraná, Acre e Amazonas.
Anteriormente, apenas haviam conseguido o controle da Grande Rio, que na época
constituía o Estado da Guanabara.
O avanço da oposição foi-se consolidando nas eleições municipais de novembro de
1976. A Arena venceu nas zonas mais carentes do país, onde existia grande controle da
população, mas nas áreas urbanas, o triunfo foi do MDB, que venceu no Rio, São Paulo,
Belo Horizonte, Porto Alegre, Salvador, Campinas e Santos.
A pressão sobre o governo militar causada por esse avanço do partido oposicionista
foi apoiada, na esfera internacional, pela denúncia que o Departamento de Estado dos
Estados Unidos, durante a administração Carter, fez em 1997 sobre a situação dos Direitos
Humanos no Brasil
73
. Por estas ou outras razões, o governo Geisel foi diminuindo o
protagonismo da “linha dura”
74
e, com a decisão de promover para a sucessão presidencial,
em 1978, o General João Batista Figueiredo, o processo de mudança foi irreversível
75
.
Sob mandato do General Figueiredo, as transformações continuaram, ainda que
lentamente, dentro de um contexto de grave crise econômica, com inflação galopante e
múltiplos conflitos trabalhistas. Em 1978, os trabalhadores dos setores automobilístico e
metalúrgico do cinturão industrial do ABC Paulista, liderados pelo Sindicato Metalúrgico
72
SKIDMORE, Thomas E. Brazil´s Slow Road to Democratization: 1974 – 1985.
73
GASPARI, Elio. A Ditadura Envergonhada. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.
74
CASTRO, Celso e ARAÚJO, Maria C. (orgs.) Dossiê Geisel. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2002.
75
Para maiores detalhes a respeito da ligação entre o processo eleitoral e a distensão do regime militar, ver:
“O Brasil Autoritário revisitado”: o Impacto das eleições sobre a Abertura (pg. 83-134, in: LAMOUNIER,
Bolivar. Democratizando o Brasil. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986.
33
de São Bernardo, cujo presidente era Luiz Inácio Lula da Silva, provocaram o maior
conflito trabalhista desde as greves duramente reprimidas de Osasco (SP) e Contagem
(MG) em 1968. Esta greve dos metalúrgicos foi repetida um ano mais tarde, promovendo
uma onda de conflitos trabalhistas que afetou a mais de três milhões de trabalhadores.
Novos movimentos grevistas deste setor repetiram-se em 1980, a conseqüência dos quais
alguns de seus líderes (incluindo o atual Presidente Luis Inácio Lula da Silva) foram presos.
O processo de mudança política desembocou na eleição indireta de Tancredo Neves,
em 1985, ao redor da qual se agrupavam todos os grupos de oposição ao regime ditatorial.
Em 15 de novembro de 1982, realizaram-se os primeiros comícios pluripartidários desde
1964, quando o poder constitucional foi suspenso pelos militares. Estas eleições serviram
para variar o panorama político, iniciando um ciclo de reformas sem ruptura. Os estados
mais industrializados, povoados e ricos passaram a ser dirigidos pelos governadores da
oposição: São Paulo, Minas, Rio e Paraná. Também foi renovado um terço do Senado
(vinte senadores), a Câmara dos Deputados e a Assembléia Legislativa. A oposição obteve
240 deputados, diante dos 235 do Partido Democrático Social (PDS), que, no entanto,
manteve maioria no Senado: 46, enquanto a oposição ficou com 23.
Nesse processo eleitoral é interessante destacar o nascimento como partido com
representação nacional do Partido dos Trabalhadores (PT). Apesar de não ter conseguido os
votos esperados, fez-se presente em todos os estados e estabeleceu uma rede de filiados e
voluntários locais, imprescindível para promover êxitos futuros
76
.
Diante da pretensão governista de promover como sucessor do general Figueiredo o
candidato Paulo Maluf, criou-se, em dezembro de 1984, o Partido da Frente Liberal (PFL),
integrado por membros do PDS e por alguns dirigentes do PMDB, que apoiou oficialmente
a candidatura de Tancredo Neves para as eleições presidenciais. Neves foi eleito presidente
em janeiro do ano seguinte por um colegiado eleitoral, obtendo 480 votos dos 686 totais.
Hospitalizado às pressas e depois de uma série de intervenções cirúrgicas, Tancredo Neves
76
ARAÚJO, Maria P.N. A Utopia Fragmentada: As Novas Esquerdas no Brasil e no Mundo na Década de
1970. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2000.
34
faleceu em abril daquele ano, nas vésperas da posse. Foi substituído pelo vice-presidente
eleito José Sarney
77
.
Sob o mandato do Presidente Sarney, a “Nova República”
78
começa a assentar as
bases para a democracia, com “novas esperanças e velhos problemas
79
”. Em 10 de maio de
1985, publicou-se uma Emenda Constitucional que restabeleceu as eleições diretas para as
prefeituras das cidades consideradas pelo Regime Militar como áreas de segurança
nacional. A emenda também concedeu o direito de voto aos analfabetos e aos jovens
maiores de 16 anos, além de extinguir a fidelidade partidária e abrandar as exigências para
registro de novos partidos. A partir deste momento, o País desenvolveu um sistema de
partidos fragmentado. Desde 1990 houve menos de dezoito partidos com representação na
Câmara e nenhum deles alcançou um quarto dos assentos nesta corte legislativa. Entretanto,
destacam-se quatro partidos principais: o Partido dos Trabalhadores (PT), o Partido da
Social Democracia Brasileira (PSDB), o Partido do Movimento Democrático (PMDB) e o
Partido da Frente Liberal (PFL). Em relação à ideologia política, considera-se o PT como
esquerda, o PSDB de centro-esquerda, enquanto o PMDB é centrista e o PFL, centro-
direita.
A mais importante medida dessa Emenda Constitucional, todavia, foi a convocação
de uma nova constituinte, que viria a promulgar uma Constituição em 1988, a oitava na
história de Brasil, que não foi votada diretamente pelos cidadãos, mas cuja publicação
concluiria a transição democrática no país. O extenso documento, que originalmente
contava com 245 artigos, manteve a forma de governo presidencial, mas limitou os limites
da presidência, que já não poderia governar por decreto.
As eleições municipais realizadas em novembro de 1985 em 31 cidades, deram o
triunfo ao PMDB, com 72% dos votos, enquanto o conservador PDS, que sustentara a
ditadura, conquistou 27% dos sufrágios. O PDS surgiu como sucessor a “oficiosa” Arena.
No ano seguinte, mais de 69 milhões de brasileiros elegeram 49 senadores e 487
77
MINISTERIO DE ASUNTOS EXTERIORES Y COOPERACIÓN. Monografía Brasil: Publicaciones de
la Dirección General de Comunicación Exterior. Agosto 2007
78
A expressão "Nova República" foi criada por Ulysses Guimarães para designar o plano de governo da
Aliança Democrática, foi assumida por Sarney como sinônimo de sua administração.
79
SKIDMORE, Thomas. Uma história do Brasil. São Paulo: Editora Paz e Terra, 1998.
35
deputados federais. O PMDB conseguiu 259 dos 487 deputados, aumentando o número de
seus senadores para 44, de um total de 72. Esse processo de democratização abarcou assim
um período de quatorze anos (1974-1988), motivo suficiente para sua qualificação como
“a transição mais longa do mundo”
80
.
Em 15 de novembro de 1989, foram celebradas eleições presidenciais diretas pela
primeira vez em 29 anos, nas quais Fernando Collor de Mello (Partido da Renovação
Nacional PRN) obteve 30,48% dos votos, Lula (PT), 17,9% e Leonel Brizola (PDT),
16,51%, sendo necessário segundo turno, que deu uma vitória apertada a Fernando Collor,
candidato da direita.
A presidência de Collor, entretanto, foi desastrosa. Durante os quase três anos que
ocupou o cargo, não conseguiu enfrentar a profunda crise econômica que herdou do regime
anterior, e tampouco teve apoio do Congresso para suas propostas dirigidas a sanar os
males que afligiam o país. Eventualmente, Collor aparentou estar envolvido em um
escândalo multimilionário de corrupção e tráfico de influências e estes fatos truncaram sua
carreira.
81
A Comissão do Congresso encarregada de investigar a corrupção na
Administração deu a conhecer seu relatório em agosto de1992, em que recomendava o
processamento do presidente. Um mês depois, a Câmara decidiu destituí-lo, por 441 votos a
favor e 38 contra. Conseqüentemente, o vice-presidente Itamar Franco assumiu o posto em
02 de outubro, de forma interina. O Senado aprovou, em dezembro, por esmagadora
maioria, o relatório da CPI que acusava Collor de corrupção e prevaricação. No dia 29,
Collor renunciou e o Congresso, reunido em uma sessão de emergência, proclamou o vice
Itamar Franco como novo presidente
82
.
Em 1993, o presidente Itamar nomeou o sociólogo e ex-senador Fernando Henrique
Cardoso como Ministro da Fazenda. Cardoso introduziu o Plano Real, que estabilizou as
finanças do país e pôs fim à hiperinflação. Nas eleições presidenciais de 1994, Cardoso
lançou-se candidato pelo PSDB (com apoio do PFL e do PTB). O êxito do Plano Real
80
STEPAN, Alfred. Democratizando o Brasil. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988.
81
ALVAREZ RIVERA, Manuel. Recursos electorales en la internet: Elecciones Federales en Brasil.
Diponível em: http://electionresources.org/br/index_es.html. Acesso em: 01/06/2008.
82
Em 1994, o Supremo Tribunal Federal absolveu por falta de provas o ex-presidente Collor e seu tesoureiro
de campanha, o empresário Paulo César Farias.
36
permitiu-lhe prevalecer, por ampla margem, sobre Luiz Inácio Lula da Silva, do PT (2º
colocado) e outros seis candidatos, alcançando a maioria absoluta no primeiro turno da
votação.
Em janeiro de 1995 o social-democrata Fernando Henrique Cardoso assumiu a
Presidência prometendo focar-se no enorme desafio de diluir as desigualdades e varrer a
fome e a miséria do mapa do país. Em janeiro de 1997 obteve significativa vitória política
com a aprovação em primeira instância de uma emenda constitucional que lhe permitia
concorrer a um segundo mandato. Nas eleições de 1998, foi reeleito com maioria absoluta.
Nas eleições presidenciais seguintes (2002), o candidato do Partido dos
Trabalhadores (PT), Luiz Inácio Lula da Silva, foi o vencedor, com 61,3% dos votos no
segundo turno, diante do segundo colocado, o “tucano” José Serra, economista e ex-
ministro da Saúde, que obteve a metade dos votos.
Durante o primeiro mandato, vieram à tona diversos escândalos de corrupção,
financiamento ilegal de partido, prisão de destacados “companheiros” petistas, em plena
campanha eleitoral. Apesar de tudo, Lula candidatou-se a reeleição em uma coligação de
partidos de esquerda (PT, PSB e PCdoB) e foi eleito em segundo turno com 60% dos votos,
em parte por seu carisma, em parte por não ter adversários de peso (o segundo lugar,
Geraldo Alckmin (PSDB), teve menos votos no segundo turno que no primeiro)
83
. A posse
foi em janeiro de 2008.
2.2.2. Integração regional
Após a transição democrática, o Brasil dedica-se a integração com seus vizinhos,
fundamentalmente em nível regional. Uma primeira etapa centrada no MERCOSUL,
composta primordialmente por temas de comércio e economia, e uma segunda fase a partir
de 2004, de caráter mais político. Em ambas as etapas, o núcleo fundamental da integração
regional do Brasil continua sendo o Mercado Comum do Sul.
As origens da integração econômica na América Latina, fundamentalmente
comercial e alfandegária, remontam a 1960, quando da criação da Associação Latino-
83
Proceso electoral en Brasil, año 2006. Dossier Alpe nº 13, Enero 2007.
37
Americana de Livre Comércio (ALALC), precursora da Associação Latino-Americana de
Integração (Aladi), instituída pelo Tratado de Montevidéu de 1980
84
.
As origens do Mercado Comum do Sul (MERCOSUL) podem ser encontradas nas
negociações entre Brasil, Argentina e Paraguai que culminaram com a assinatura do
Acordo Tripartite de Itaipu/Corpus em 1979. O passo decisivo de cooperação entre o Brasil
e a Argentina foi dado no encontro entre os presidentes Raul Alfonsín e José Sarney, em
novembro de 1985. Nesta ocasião, assinou-se uma declaração de cooperação pacífica no
campo da energia nuclear e inaugurou-se a Ponte Tancredo Neves, ligando as cidades de
Foz do Iguaçu e Puerto Iguazú.
Esta aproximação com a Argentina levou o Brasil à negociação do Programa de
Integração e Cooperação Econômica (PICE, 1986) e logo ao Tratado Geral de Integração,
Cooperação e Desenvolvimento (1988), que previa a criação de um mercado comum em
dez anos. Neste mesmo ano, o Uruguai foi incorporado ao processo através da Ata da
Alvorada. Esta política teve plena continuidade durante o governo Collor. Depois da Ata de
Buenos Aires, assinada com a Argentina em 1990, foi celebrado o Tratado de Assunção
(1991) para a constituição do MERCOSUL, com a incorporação do Uruguai e do Paraguai.
O MERCOSUL foi criado como zona de livre comércio, estimulada pela
liberalização tarifária gradual, linear e automática acordada por seus quatro Estados Partes
(Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai). O segundo passo foi estabelecer os primeiros
contornos da União Aduaneira, com a entrada em vigor em de janeiro de 1995 da Tarifa
Externa Comum (TEC).
Do ponto de vista físico, o bloco tem dimensões continentais. Somando uma área
total de pouco menos de 12 milhões de quilômetros quadrados, o que corresponde a mais de
quatro vezes a União Européia, o MERCOSUL representa um mercado potencial de mais
de 200 milhões de habitantes e um PIB acumulado de mais de um trilhão de dólares, o que
o coloca entre as quatro maiores economias do mundo, atrás do Nafta, União Européia e
Japão.
84
Atualmente, fazem parte da ALADI os países da Comunidade Andina (Bolívia, Colômbia, Equador, Peru e
Venezuela), do Mercosul (Argentina,Brasil, Paraguai e Uruguai), Chile e México.
38
No início, o comércio entre os quatro países era da ordem dos US$ 5 bilhões. Nove
anos depois, no ano 2000, os intercâmbios internos alcançaram US$ 18 bilhões e, neste
mesmo período, o comércio do bloco com o resto do mundo aumentou mais de 60%, de
US$ 41 bilhões a US$ 67 bilhões.
A conjuntura econômica desfavorável dos países membros teve nos últimos anos
impacto negativo sobre os níveis de comércio. Os intercâmbios internos baixaram em 2001
e o comércio entre Brasil e Argentina sofrera um retrocesso de aproximadamente 60%. Esta
situação foi parcialmente superada e na atualidade a economia dos quatro países membros
está mais saneada
85
.
O MERCOSUL é hoje um global trader e interessa-se em manter relacionamento
externo amplo e variado. Na agenda externa do MERCOSUL, que inclui iniciativas nas
esferas latino-americana, hemisférica e extra-hemisférica, destacam-se os seguintes temas:
(a) a negociação de acordos de livre comércio entre o Mercosul e os demais membros da
Aladi; (b) a implementação do Acordo-Quadro Inter-regional de Cooperação Econômica e
Comercial, firmado em dezembro de 1995 entre o Mercosul e a União Européia; (c) a
coordenação de posições no âmbito das negociações com vistas à formação da Área
Hemisférica de Livre Comércio; (d) as negociações da Rodada Doha no âmbito da
Organização Mundial do Comércio
86
.
No que se refere à integração do Brasil em organismos internacionais, do ponto de
vista comercial, durante o governo Cardoso (1995-2004), foi-se consolidando o interesse
estratégico em manter um paralelismo nas negociações comerciais da Área de Livre
Comércio das Américas (ALCA) e com a União Européia. O êxito das negociações entre
MERCOSUL e UE constituía para o Brasil um objetivo de relevância estratégica, pois,
diante da aceleração das negociações da ALCA, desejava-se manter um padrão de
equilíbrio da inserção brasileira na economia internacional. As negociações hemisféricas
85
CARDOSO, Fernando H.. “América Latina e Brasil, autonomia e integração”. Economia Exterior, n. 27,
2003/2004.
86
As negociações da Ronda Doha fracassaram totalmente na última reunião celebrada em Genebra em julho
de 2008, fundamentalmente pela intransigência da Índia. Não obstante, o Brasil não renuncia à oportunidade
de chegar a um acordo. O Ministro Celso Amorin afirmou ao periódico francés Le Monde que, “ainda resta
uma pequena oportunidade de concluir o ciclo de Doha”. Brasil insta a Retomar Doha. Disponível em:
http://lanacion.com.ar/nota.asp?nota_id=1039986 Acesso em: 23/08/2008.
39
não deveriam supor a diminuição dos tradicionais laços de amizade com a Europa e,
conseqüentemente, era saudável fortalecer o paralelismo entre os processos negociadores.
O presidente Lula posteriormente chegou a reconhecer que seria mais fácil, “ideológica e
politicamente”, negociar acordos comerciais com a UE do que com a ALCA
87
. Em seu
primeiro governo (2003-2006), pelo menos no terreno retórico e em um momento inicial,
foram declaradas as vantagens de um acordo comercial entre a UE e o MERCOSUL,
devido ao maior potencial de benefícios do que seria possível alcançar com os Estados
Unidos no contexto da ALCA.
Atualmente o governo tem orientado a política externa para os países do Sul,
visando a promover e a posição internacional do País. Os temas em discussão/negociação
atualmente são: ampliação do MERCOSUL, programas de integração latino-americanos
(como a Unasul, o Conselho de Defesa, o Banco do Sul, o acordo do MERCOSUL com os
países da América Central), negociações com a União Européia (UE), a OMC e em relação
à formação de uma Área de Livre Comércio das Américas (ALCA).
Ampliação do MERCOSUL
O “Protocolo de Adesão da República Bolivariana da Venezuela ao Mercosul”,
assinado em 04 de julho de 2006, consagra a integração da Venezuela no bloco, apesar de
que para que o referido protocolo entre em vigor deve ainda ser ratificado por todos os
Estados-parte, o que até o momento apenas aconteceu na Venezuela e no Uruguai.
A integração da Venezuela implica não apenas um salto quantitativo em relação ao
aumento do espaço econômico, social, populacional do MERCOSUL, que passaria a
representar 65% da população da América do Sul (242 milhões de pessoas, dos quais
187,6 milhões de brasileiros, 38,6 milhões de argentinos, 27 milhões de venezuelanos, 6,2
milhões de paraguaios e 2,4 milhões de uruguaios) e quase 85% do PIB latino-
americano
88
, mas também um salto qualitativo quanto à integração de um país que, do
87
AYLLÓN PINO, Bruno. La política exterior do Gobierno Lula y las relaciones de Brasil con la Unión
Europea (ARI). Madri: Real Instituto Elcano, 28/11/2006. Tradução livre.
88
PONTIROLI, Norberto. La incorporación de Venezuela al Mercosur. Disponível em:
http://www.mercosurabc.com.ar/nota.asp?IdNota=999&IdSeccion=1. Acesso em: 08/06/2008.
40
ponto de vista político, dadas as características de seu governo e seu enfrentamento com a
maior parte dos países da União Européia e dos Estados Unidos, como com alguns outros
do hemisfério americano, México por exemplo, pode constituir fator de instabilidade para
o conjunto de Mercosul.
Programas de Integração Latino-Americana
União de Nações Sul-Americanas (Unasul).
Em 23 de maio de 2008, foi assinado
em Brasília o Tratado Constitutivo que institucionaliza a União das Nações Sul-
Americanas, integrada por doze países: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia,
Equador, Guiana, Paraguai, Peru, Suriname, Uruguai e Venezuela. Sua área abrange 388
milhões de pessoas e representa um PIB de aproximadamente 2,35 bilhões de dólares
89
.
O Tratado estabelece uma estrutura apoiada em três Conselhos: de Chefes de
Estado, de Ministros de Relações Exteriores e de Delegados, com sede permanente em
Quito (Equador), e incluiu a proposta de um Parlamento Sul-americano em Cochabamba
(Bolívia).
A Unasul é a continuação da Comunidade Sul-americana de Nações (CASA),
fundada em Lima (Peru) em 2005, mas com diferenças importantes: trata-se de uma
iniciativa brasileira que nasceu com a criação de um Conselho Sul-americano de defesa
90
. Previsto de ser criado na assinatura da Unasul, o organismo, por uma série de desacordos
entre Colômbia, Venezuela e Equador, teve sua entrada em funcionamento adiada. O
Ministro de Defesa do Brasil, Nelson Jobim, no entanto, considera o atraso normal, para
que os países que compõem a Unasul preparem-se para dividir as responsabilidades
91
.
Banco da América do Sul
. No Planalto acredita-se que a criação de um banco dos
países da América do Sul deve ser o próximo passo no processo de integração regional e,
89
SEQUEIRA, Cláudio D. “Unasul deve agilizar integração dos países andinos ao Mercosul”. Folha de São
Paulo, Brasil, 24/05/2008, p. 1g.
90
MARIRRODRIGA, J. Brasil impulsa un organismo común de defensa suramericano”. El País,
Internacional, 24/05/2008, p.17.
91
SEQUEIRA, Cláudio D. “Falta de consenso impede a criação do Conselho de Defesa”. Folha de São Paulo,
Brasil, 24/05/2008, p. 1g.
41
uma vez constituído o banco central único, se procederia com a criação de uma moeda
única
92
.
Acordos Mercosul SICA
. Em viagem a El Salvador em maio de 2008, o
presidente Lula abriu uma reunião com os mandatários das nações do Sistema de
Integração Centro-americana (SICA), formado por Panamá, Costa Rica, Nicarágua,
Honduras, El Salvador, República Dominicana e Belize. Seus objetivos ali eram
potencializar as relações entre Brasil e os países centro-americanos e impulsionar a
assinatura de um tratado de livre comércio entre os blocos MERCOSUL e SICA
93
.
Relações com UE, OMC e ALCA
. Na agenda das negociações econômicas com os
países europeus, destacam-se dois temas: questões políticas bilaterais e multilaterais e os
assuntos comerciais na Rodada Doha (OMC) e entre blocos regionais (UE-Mercosul).
As negociações bi-regionais entre a Europa e o Cone Sul americano datam de 1995.
Em dezembro daquele ano, o presidente Cardoso assinou em Madri o Acordo Quadro entre
a União Européia e o MERCOSUL, que fora rubricado cinco dias antes pelos presidentes
da Argentina, do Paraguai e do Uruguai, diante dos chefes de Estado e de Governo dos
países da UE. A materialização de acordos concretos tem sido complexa e está em um nível
ainda inicial, devido à correlação com os temas da ALCA e da OMC
94
. No entanto, o fato
de que o Brasil não esteja disposto a negociar um Acordo Bilateral com a União Européia
semelhante ao assinado pelo México em 2000 e pelo Chile em 2003 não tem sido obstáculo
para que em 04 de Julho de 2007, a UE e o Brasil assinassem em Lisboa uma aliança
estratégica que os converte em interlocutores preferenciais, estabelecendo dois
compromissos concretos: potencializar os biocombustíveis e relançar a Rodada Doha de
negociações com a OMC. Com este acordo, a UE outorga ao Brasil o mesmo tratamento
92
Agencia Estado. “Lula: após Unasul, região caminha para ter moeda única”. Disponível em:
http://noticias.br.msn.com/brasil/artigo.aspx?cp-documentid=7689018 . Acesso em: 26/05/2008.
93
DALTON, Juan José. “Lula impulsa en El Salvador las relaciones comerciales con Centroamérica”. El País,
30/05/2008, Internacional, p.14.
94
ZABALETA FAJARDO, Alfonso. Unión Europea Mercosur “Hacia um acuerdo de asociación
interregional”. El País, 08/06/2008, Internacional, p.12.
42
dispensado à Rússia, China ou Índia, e converte-se na chave para desbloquear as relações
bi-regionais
95
.
De fato, na reunião MERCOSUL-UE realizada em Bruxelas em abril de 2008, os
representantes europeus reiteraram sua preferência por esperar o desenlace das negociações
da Rodada Doha, que aconteceria no segundo semestre do ano, antes de continuar as
negociações bilaterais
96
. O fracasso das negociações de Doha, no passado mês de julho,
talvez favoreça a volta das negociações bi-regionais entre UE e Mercosul.
A posição brasileira em todas as negociações tem como base seu apoio nos
organismos multilaterais na América Latina. É neste contexto que podemos entender a
proposta do presidente Lula na reunião de Cúpula do MERCOSUL do Rio de Janeiro
97
, de
integrar os blocos atualmente existentes na região em uma Comunidade Ibero-americana de
Nações, proposta que se materializou em maio de 2008, conforme comentado
anteriormente.
A reunião da Assembléia Parlamentar Euro-Latinoamericana (EUROLAT),
celebrada em maio de 2008 em Lima
98
, incidiu em promover tratados comerciais “globais”:
criação de uma Zona Euro-latinoamericana de Associação Global Inter-regional para 2012
e conclusão das negociações dos acordos de Associação UE - Centro América e UE -
Comunidade Andina para 2009
99
.
Em relação às negociações com a OMC, aos êxitos alcançados no momento pelo
Brasil nas disputas sobre o comércio de bananas, açúcar e frango, deve-se somar a recente
vitória diante dos Estados Unidos sobre o algodão
100
. De fato, no cenário do comércio
95
MORA, Manuel. “Brasil y la EU sellan una alianza centrada en el cambio climático”. Disponível em:
http://www.elpais.com/articulo/internacional/Brasil/UE/sellan/alianza/centrada/cambio/climatico. Acesso em:
08/06/2008.
96
Relaciones Unión Europea América Latina. Newsletter OBREAL/EULARO 67, 15/04/2008.
Disponível em: http://www.obreal.unibo.it/Presss.aspx?Action=Data&IdPress=419. Acesso em: 08/06/2008.
97
A 32ª Reunião do Conselho do Mercado Comum (CMC) e da Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul,
que se realizaram entre 18 e 19 de janeiro de 2007 no Rio de Janeiro.
98
Uma delegação do Parlamento Europeu participou de 29 de Abril a de Maio na segunda sessão plenária
ordinária da Assembléia Parlamentar Euro-Latino-Americana, que se realizou em Lima, no Peru, e que
integra deputados do Parlamento Europeu e dos parlamentos Andino, Latinoamericano e Centroamericano,
assim como das comissões parlamentares mistas UE-México e UE-Chile.
99
Assembléia Parlamentaria Euro – Latinoamericana. Resolução: Desafios e Oportunidades da Rodada Doha.
Mensagem à V Cúpula União Européia-América Latina e Caribe. Lima, 1º/05/2008.
100
OMC condena EUA em caso do algodão e Brasil poderá impor sanções. Folha Online, 20/06/2008.
Disponível em:
43
mundial, o Brasil está tomando mais protagonismo e mostrando mais capacidade de
negociação
101
, especialmente em dois componentes do comércio e da economia
internacional: energia e alimentos.
Por fim, as negociações bilaterais com os Estados Unidos, e especialmente entre
MERCOSUL e NAFTA, para chegar a uma Área de Livre Comércio das Américas
(ALCA), a possibilidade de se chegar a um acordo no curto prazo é remota. A opinião
generalizada é que não se vai chegar a um acordo global com os EUA até que seja
consolidado um bloco sólido na América Latina
102
. No entanto, a ALCA tem um
componente político tão importante quanto o comercial
103
. Devido a isso, apenas a
consolidação da união dos países latino-americanos e uma negociação em bloco pode
permitir a obtenção de um acordo satisfatório para os países da região.
2.2.3. Liberalização econômica
A transformação do modelo econômico do Brasil foi lenta. A chegada ao poder de
Fernando Collor de Mello (1989), implementando medidas de liberalização econômicas
como as propagadas pelo Consenso de Washington (1989), supõe a ruptura do modelo
econômico do Estado nacional desenvolvimentista, vigente no país desde 1930, e sua
substituição pelo paradigma do Estado neoliberal.
Collor procedeu a uma abertura comercial unilateral e ao lançamento do Programa
Nacional de Desestatização (PND), que iniciou o caminho das privatizações das empresas
estatais. A execução material deste plano, entretanto, correspondeu a Fernando Henrique
http://tools.folha.com.br/print?site=emcimadahora&url=http%3A%2F%2Fwww1.folha.uol.com.br%2Ffolha
%2Fdinheiro%2Fult91u407859.shtml. Acesso em: 08/06/2008.
101
“Brasil se define: dentro de La OMC todo, fuera de ella, nada” Agencia Periodística del Mercosur.
Publicado en 03/06/2008. Disponível em: http://www.bilaterals.org/article.php3?id_article=5424. Acesso em:
08/06/2008.
102
SOSA, Alberto J. “Mercosur vs ALCA?”. Disponível em:
http://www.amersur.org.ar/Integ/MSvsALCA.htm. Acesso em: 08/06/2008.
103
INSTITUTO BOLIVIANO DE COMERCIO EXTERIOR. “El TLC gana espacio a la integração
Latinoamericana”. Disponível em: http://www.ibce.org.bo/Documentos/tlcgana.htm. “Candidatos entre dos
caminos: seguir en Mercosur o TLC com EEUU” Disponível em: http://www.eldeber.com.bo/2008/2008-04-
17/vernotaahora.php?id=080416165035. Acesso em: 08/06/2008.
44
Cardoso, a partir de 1995, com a aplicação das medidas mais amplamente liberalizadoras e
desestatizantes da economia brasileira, diretamente implicadas na substituição de seu plano
de estabilização econômica, que se denominou Plano Real
104
.
O Plano Real um instrumento econômico que assentou as bases para a estabilização
econômica e financeira do País, convertendo-o em um mercado vantajoso para a chegada
de investimentos estrangeiros e integrando-o às demandas da economia internacional
globalizada. Acompanhado de medidas aberturistas, favoreceu e intensificou as relações
internacionais, incluindo as relações com a Espanha. É conveniente recordar que o Plano
Real começou a ser estudado por Fernando Henrique Cardoso quando foi nomeado
Ministro da Economia e Fazenda, em 1993, no governo de Itamar Franco.
O Plano Real foi um mecanismo elaborado para reduzir a inflação do Brasil, após
uma série de planos heterodoxos frustrados
105
, que tinham como pontos-chave os conceitos
de inflação inercial
106
seguido pelos “choques monetários”
107
. O Plano Real atacou a
inflação no país através de um pacote gradual com três medidas: ajuste fiscal; indexação
completa da economia (pela adoção da Unidade Real de Valor - URV); e a transformação
posterior da URV em Real
108
. Embora o Real também tivesse a inflação inercial como
pressuposto, o governo adotou práticas distintas das usadas nos antigos planos para frear o
processo inflacionário: “anunciou metas de expansão monetária bastante restritiva,
restringiu operações de crédito e impôs depósito compulsório de 100% sobre as captações
adicionais do sistema financeiro”
109
. Nota-se aqui a âncora monetária, visando restringir a
inflação pela pouca emissão de moeda e limitando as possibilidades dos agentes repassarem
os custos para os preços
110
.
104
O Plano Real foi lançado pelo governo Itamar Franco (1992-4), quando FHC era ministro da fazenda.
105
Plano Cruzado (1986); Bresser (1987); Verão (1989); Collor I (1990); Collor II (1991).
106
Inflação inercial significa que a partir de certo momento a inflação adquire uma “autonomia”, quando a
taxa de inflação do passado determina as expectativas para a taxa atual, que determinará a do futuro. Essa
inércia vem dos mecanismos de indexação, que propagam a inflação. SIMONSEN, Mário Henrique. “Inércia
inflacionária e inflação inercial” in Ensaios Econômicos da EPGE no. 122, de 01/1988, Rio de Janeiro:
Fundação Getúlio Vargas.
107
Muitas vezes sobre a forma de congelamento de preços.
108
Para maiores detalhes, ver: http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/Leis/L8880.htm.
109
GREMAUD, Amaury Patrick. Economia Brasileira Contemporânea. São Paulo: Atlas, 2005, 6ª ed., pp.
475.
110
GARCIA, Mário P. Vida longa para o Real”. O artigo está disponível em: http://www.econ.puc-
rio.br/mgarcia/Artigos/VidalongaReal.PDF
45
Ao mesmo tempo, o governo também lançou mão de uma âncora cambial
111
.
Visando abrir mais a economia nacional aos capitais externos e aproveitando o momento de
grande liquidez internacional, o governo valorizou a moeda nacional para facilitar a
importação, o que impedia que os preços internos subissem. Devido ao acesso aos bens
importados a preços baixos, a concorrência se acirrou e os preços internos (pelo menos dos
bens duráveis) ficaram em patamares estáveis
112
.
A política econômica do primeiro governo Cardoso partiu desse arcabouço. As
conseqüências indesejadas, porém, não tardaram a aparecer: com a queda da inflação, a
demanda interna aqueceu e, somada à valorização do Real perante as moedas estrangeiras,
levou a crescentes déficits de balança comercial, muitas vezes acompanhadas pela dívida
externa
113
. Outro fator problemático era que grande parte dos investimentos no Brasil eram
hot money, investimentos em capital financeiro volátil
114
; uma situação macroeconômica de
risco no curto prazo e danosa no longo, que obriga o governo a manter altas taxas de juros
para atrair capital estrangeiro e com isso o crescimento econômico fica seriamente
prejudicado pela dificuldade de crédito
115
.
Desde o começo do governo de FHC esse efeitos colaterais foram percebidos: no
mesmo ano de 1994 foram estabelecidas as margens de flutuação do dólar, o que restringiu
a entrada de recursos externos, pois as possibilidades de lucro especulativo ficaram
reduzidas
116
. Com as crises externas de 1995, 1997 e 1998, esse sistema foi colocado à
prova: pelos problemas no México, na ssia e no Sudeste Asiático, o Banco Central
perdeu um volume considerável de reservas
117
. Mesmo com o aumento forte das taxas de
juros para reter capital, a fuga foi muito grande; os empréstimos com o FMI foram
111
Para uma análise entre “âncora cambial” e “âncora monetária”, ver:
http://www.ipea.gov.br/pub/td/td_520.pdf
112
Já com os serviços, não “importáveis”, fica mais difícil o controle. Os preços subiram bastante nessa
época. GREMAUD, Amaury Patrick. Op. Cit., pp. 478.
113
Os Balanços de Pagamentos do período comprovam esse fato. Em
http://www.bcb.gov.br/?SERIEBALPAG
114
Ver http://www.fgv.br/ibre/cecon/cibre.htm
115
Sobre os efeitos da taxa de juros no crescimento, ver VASCONCELLOS, Marco Antônio Sandoval de.
Economia: Micro e Macro. São Paulo: Atlas, 2002, Capítulos 9 e 10.
116
SICSÚ, João. Disponível em: http://www.ie.ufrj.br/moeda/pdfs/a_alternativa_ao_regime_de_metas.pdf
117
Ver http://www.dieese.org.br/esp/real/crisereal.xml
46
acertados, todos os indicadores econômicos de 1998 mostravam que as condições estavam
piores do que dos anos passados: a recessão começara
118
.
A solução foi uma mudança cambial, para estancar as perdas com a artificial
valorização monetária e tentar melhorar o saldo em conta corrente. A mudança ocorreu em
janeiro de 1999, um mês após a reeleição de Cardoso. Com a troca de Gustavo Franco por
Francisco Lopes à frente do BC, o governo procedeu com uma desvalorização do mbio,
mas manteve ainda o sistema de bandas
119
. Com a suspeita de ajuda ilícita a bancos
privados por Lopes, ele foi substituído por Armínio Fraga, que abandonou de vez o sistema
de bandas e adotou o modelo flutuante
120
.
Havia, porém, o receio de que, abandonando a taxa fixa, a inflação voltaria pela
dificuldade de comprar produtos importados. A solução para esse problema veio em junho
de 1996 com a criação do Comitê de Política Monetária, o COPOM, que implantou o
sistema de Metas de Inflação. “De acordo com ele, a função básica do BC é cumprir a meta
estipulada pelo Conselho Monetário Nacional, utilizando a taxa de juros para tal, que, por
meio de seus impactos sobre a demanda, influencia a inflação”
121
. As Metas são um
instrumento para manter a confiança nos mercados de que o governo é responsável para
com a estabilidade monetária e com os choques cambiais; ainda mais quando somadas ao
superávit primário. O que, por outro lado, gera problemas sérios ao desenvolvimento, que
podemos comprovar pelas taxas de crescimento de 1999 até hoje.
De acordo com Abrucio (2006), o governo de Cardoso impulsionou ainda uma
reestruturação da gestão econômica em nível federal, para a qual usou principalmente sete
mecanismos: (1) o combate à inflação e a respectiva regularização de repasses, permitindo
negociação mais estável e planejada com os outros entes federativos; (2) a associação dos
objetivos da reforma do Estado, como o ajuste fiscal e a modernização administrativa, a
descentralização; (3) o condicionamento das transferências de recursos à participação da
sociedade na gestão local; (4) a criação de formas de coordenação nacional das políticas
118
AVERBUG, Ande GIAMBIAGI, Fábio. A Crise Brasileira de 1998/1999. Texto para Discussão 77.
Rio de Janeiro: BNDES, maio de 2000.
119
GREMAUD, Amaury Patrick. Op. Cit., pp. 496.
120
Idem, pp. 497.
121
Ibidem, pp. 498.
47
sociais baseadas na indução dos governos subnacionais a assumirem encargos, mediante
distribuição de verbas, cumprimento das metas e medidas de punição, também
normalmente vinculadas à questão financeira, além da utilização de instrumentos de
redistribuição horizontal no Fundo de Manutenção do Ensino Fundamental (Fundef); (5) a
adoção de políticas de distribuição direta de renda a população, partindo do pressuposto de
que o problema redistributivo não se resolveria apenas com ações dos governos locais,
dependendo também do aporte da União; (6) a aprovação de um conjunto enorme de leis e
emendas constitucionais, institucionalizando as mudanças feitas na Federação, e assim
dando-lhes maior força em relação às pressões conjunturais; e (7) o estabelecimento de
instrumentos de avaliação das políticas realizadas no nível descentralizado, especialmente
na área educacional
122
.
No conjunto dessas medidas adotadas na “era FHC”, duas foram as mais bem-
sucedidas. A primeira foi o combate ao modelo de relações intergovernamentais,
particularmente em relação ao endividamento e aos mecanismos de repasse de custos
fiscais dos governos subnacionais à Federação como um todo. Nesse caso, a reformulação
mais importante, que de fato resultou de uma soma de mudanças – como a intervenção nos
bancos estaduais e a renegociação das dividas -, foi a aprovação da Lei de
Responsabilidade Fiscal.
Em segundo lugar, destacam as ações de coordenação federativa em políticas como
as de saúde e educação, particularmente o Fundef e o Piso de Atenção Básica (PAB). O
Fundef conseguiu reorganizar a ação federal e tornou-se um dos principais responsáveis
pela quase universalização do ensino fundamental. O PAB, por sua vez, reduziu as
desigualdades de recursos entre os municípios e, com isso, favoreceu o aprofundamento de
uma municipalização mais justa.
A eleição de Lula como presidente em 2002 supôs inicialmente uma revolução
política e criou certo temor no mundo empresarial e na direita em geral, tanto dentro como
fora do Brasil. Entretanto, notam-se poucas diferenças nesse “tripé” de superávit primário,
câmbio flutuante e metas de inflação (somados a uma boa relação com instituições
122
ABRUCIO, Fernando Luiz. Para além da descentralização: os desafios da coordenação federativa no
Brasil., IN: FLEURY, Sonia (org.) Democracia, descentralização e desenvolvimento: Brasil & Espanha.-
Rio de Janeiro: FGV Editora, 2006.
48
financeiras internacionais). Se Lula se preocupou em dizer que romperia com o
“neoliberalismo”, essa mensagem não ecoou na macroeconomia.
O que em todo caso se depreende do quadro de dados oficiais (e algumas
estimativas) são três realidades nítidas: (a) a primeira é que a economia brasileira vem
conhecendo taxas de crescimento bastante modestas nos últimos anos, inferiores às médias
históricas conhecidas em fases precedentes; (b) a segunda, mais preocupante, é uma contínua
deterioração da situação fiscal, ainda que o superávit primário tenha podido conter os níveis
dos déficits nominais; (c) a terceira, bem mais feliz, é que a situação das contas externas
conheceu uma melhoria sensível ao longo dos últimos três anos, a ponto de se poder dizer que
o Brasil rompeu, finalmente, com a sua famosa “vulnerabilidade externa”
123
.
Nessa citação de Paulo Roberto de Almeida, resume-se a política econômica do
governo Lula. Se no plano interno os gastos públicos continuam crescendo a taxas
perigosas (alguns dizem que alarmantes), a razão investimento/PIB diminuiu; ao mesmo
tempo em que as exportações crescem com vigor, o aumento da carga tributária faz crescer
a informalidade e onera o setor produtivo
124
. Mas um aspecto que vale de fato ressaltar é a
redução da “vulnerabilidade externa” do País, como diz o diplomata; uma boa parte disso é
efeito da ampliação de parcerias no Bloco Sul-Sul, favorecendo as exportações brasileiras.
A outra parte vem do próprio crescimento mundial, que nos últimos quatro anos têm sido
relativamente alto (4% a 5% ao ano)
125
. O gasto social também cresceu no último governo,
especialmente com o programa Bolsa Família, que contribui para a redução das
desigualdades em algumas áreas nacionais
126
, o que, somado ao esforço para aumento do
salário mínimo, ajuda a criar um indicador um pouco menos desfavorável de pobreza.
A política econômica do governo Lula está sendo orientada por um comportamento
ortodoxo, conseguindo alguns logros
127
. Para o segundo mandato do presidente Lula
(iniciado em 2007) são esperadas reformas estruturais para aumentar o ritmo de
crescimento econômico, especialmente no sentido de que o investimento produtivo alcance
123
ALMEIDA, Paulo Roberto de. Disponível em: http://www.espacoacademico.com.br/058/58almeida.htm
124
Ver http://www.cni.org.br/produtos/econ/src/crescimento_visao_prioridades.pdf
125
ALMEIDA, Paulo Roberto de. Disponível em: www.pralmeida.org/05DocsPRA/976PolExtGovLula.pdf
126
Ver http://www.ipea.gov.br/sites/000/2/publicacoes/tds/td_1228.pdf
127
ARAHUETES GARCÍA, Alfredo. La economia de Brasil em el primer año de Lula: la búsqueda de la
estabilidad y la lucha contra los desafíos de la inserção internacional. Madri: Real Instituto Elcano, 2003.
Disponível em: http:/realinstitutoelcano.org/wps/portal/rielcano/contenido?WCM_GLOBAL_CONTEXT .
Acesso em: 12/06/2008
49
25% do PIB e de uma relativa desoneração nas áreas de engenharia, máquinas e
equipamentos.
Esta política tem mudado a inserção do Brasil na economia internacional
128
. A
inserção financeira foi substituída pela comercial, similar à seguida pelas economias
asiáticas, fortalecida pela entrada de IED. Com essa nova inserção, as exportações
passaram de US$ 60 bilhões em 2002 para US$ 161 bilhões em 2007, quase o triplo em
cinco anos, e o país obteve elevados superávits comerciais e de conta corrente que, junto
com a entrada dos IED, permitiu-lhe reduzir passivos externos e acumular nível de reserva
recorde: US$ 182 bilhões no final de 2007.
A gestão da economia pelo presidente Lula, até o momento, tem produzido uma
melhora significativa da situação do País, tanto em sua situação interna (crescimento e
distribuição de renda, criação de postos de trabalho) como em sua projeção externa:
valorização da economia brasileira, certificação do País, crescimento da balança comercial,
peso político nos mercados, etc..
Comparando o crescimento do PIB brasileiro com a inflação, apreciamos a melhoria
econômica do país e sua estabilização, no que se refere ao crescimento real (Tabela 05).
Destaca-se ainda a balança comercial do País, positiva nos últimos oito anos (Tabela 06).
Tabela 05
Crescimento do PIB brasileiro comparado com a inflação
ANO
PIB
(%)
INFLAÇÃO
GOVERNO
1991 1,0 375,49 * Collor
1992 -0,5 1.149,05 Collor
1993 4,9 2.489,11 Itamar
1994 5,8 929,3 Itamar
1995 4,2 21,98 FHC
1996 2,7 9,12 FHC
1997 3,3 4,34 FHC
1998 0,1 2,49 FHC
128
ARAHUETES GARCÍA, Alfredo.- La peculiar adaptação asiática de Brasil. El País, Internacional,
18/03/2008, p.19.
50
1999 0,8 8,43 FHC
2000 4,3 5,27 FHC
2001 1,3 9,44 FHC
2002 2,7 14,74 FHC
2003 1,1 10,38 Lula
2004 5,7 6,13 Lula
2005 3,2 5,05 Lula
2006 3,8 2,81 Lula
2007 5,4 4,46 ** Lula
* De fevereiro a dezembro
** Estimativa
Fonte: Dieese
Tabela 06
Evolução da Balança Comercial (1993-2008)
Valores em US$ Milhões
ANO IMPORTAÇÕES EXPORTAÇÕES
SALDO
1993 25.659 38.597 12.938
1994 33.105 43.545 10.440
1995 49.664 46.506 -3.158
1996 53.301 47.747 -5.554
1997 61.347 52.990 -8.357
1998 57.594 51.120 -6.474
1999 49.272 48.011 -1.261
2000 55783 55.086 -697
2001 55.581 58.223 2.642
2002 47.048 60.141 13.093
2003 48.283 73.084 24.801
2004 62.779 96.475 33.696
2005 73.545 118.309 44.764
2006 91.350 137.807 46.457
2007 120.610 160.649 40.039
2008* 63.397 72.055 8.658
* Janeiro a Maio
Fonte: Base de dados do Portal Brasil, Banco Central do Brasil, Ministério do
Desenvolvimento, Siscomex e Fundação Getúlio Vargas.
51
O Brasil é líder político e econômico da América Latina em um momento de
especial bonança no subcontinente
129
, inclusive dentro da crise atual
130
, ocupando uma
posição no ranking do Banco Mundial, segundo a capacidade de compra, equivalente ao
Reino Unido, França e Itália
131
, sendo a economia brasileira responsável por 2,5% do
PIB planetário
132
.
Esta melhora da evolução econômica do Brasil foi reconhecida pela agência
internacional de classificação de risco Standard & Poor´s, que elevou o índice de
credibilidade dos títulos do governo em moeda estrangeira de BB+ (ainda em zona de
risco) para BBB- (capacidade adequada para cumprir com seus compromissos
financeiros). Esta melhora da qualificação também foi confirmada pela agência Fitch
133
.
em outubro de 2007, de acordo com estudo realizado pelas Nações Unidas, o
Brasil aparecia como o quinto país do mundo mais interessante para investimentos
estrangeiros, depois da China, Índia, Estados Unidos e Rússia
134
.
Esta importância econômica do Brasil em nível mundial aumentou o peso do País
no Fundo Monetário Internacional
135
e de suas empresas na bolsa
136
. No aspecto
financeiro, a integração da Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo) e da BM&F (Bolsa
de Mercadorias e Futuro) criará um terceiro mercado mundial de ações e o segundo da
América
137
.
Esse crescimento econômico, embora de maneira não igualitária, repartiu-se pela
sociedade brasileira em diversos níveis: desde melhoras nos índices sanitários (a
129
Brasil toma las riendas de Latinoamérica. El País, 25/11/2007, Economia, 28.
130
El despegue de América Latina. El País, 30/03/2008, Negocios, 24.
131
Brasil sobe uma posicição e ocupa 6° lugar na economía mundial, diz Bird.. Folha Online, Dinheiro,
18/12/2007. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u355967.shtml. Acesso em:
14/06/2008.
132
OTÁLVORA, Edgar C. Brasil se rearma. Disponível em:
http://webarticulista.net.free.fr/eco200705111236+Edgar-C-Otalvora.html. Acesso em: 14/06/2008.
133
ARIAS, Juan. Brasil entra en el club de los países seguros para invertir. El País, 02/05/2008, Economia,
p.23.
134
ARIAS, Juan. Brasil es el quinto país do mundo más interesante para invertir, según la ONU. El País,
05/10/2007, Economia, p.23.
135
POZZI, Sandro.- España, Brasil y México ganarán peso en el FMI.- Economía El País, 29/03/2008,
Economia, p.18.
136
Brasil y México dominan la lista de las mayores empresas latinoamericanas en la bolsa.- El País,
11/01/2008, Economia, p.25.
137
ARIAS, Juan. Bovespa y BM&F se integran y crean la Nueva Bolsa El País, 27/03/2008, Economia, p.27.
52
mortalidade infantil diminuiu 65% desde 1990) até o aumento do número de milionários,
que aumentou em 60.000 em 2007
138
, e uma melhor distribuição de renda apesar de
que neste aspecto a maior parte do trabalho ainda está por ser feita.
Outro aspecto a melhorar é o desenvolvimento tecnológico do país. Se a produção
industrial é cada vez mais proeminente
139
, no ranking de competitividade mundial, o
Brasil ocupa o 43º lugar, apesar da melhora em relação a 2007 (ocupava a 49ª
posição)
140
.
O Plano de Desenvolvimento Industrial apresentado pelo Ministro da Fazenda
Guido Mantega, no valor de US$ 125 milhões, destinados a estimular novas indústrias de
exportação e alta tecnologia mediante isenções tributárias, capital de risco e outras
iniciativas, provavelmente melhorará esta situação no médio prazo
141
.
O Brasil, por outra parte, alcançou auto-suficiência energética com a “descoberta”
de novas jazidas de petróleo na bacia de Santos e o desenvolvimento da produção de
biocombustíveis, energia eólica e energia solar, pode converter-se em grande gerador de
energia
142
. O tema da energia, dada sua importância, será tratado mais detalhadamente no
capítulo sete.
Em relação ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC)
, promovido pelo
governo Lula em seu segundo mandato, deve-se ressaltar, em primeiro lugar, a
importância da própria iniciativa: posto que, até o ano 2010, são previstos investimentos
no volume de US$ 250 bilhões. Em segundo lugar, porque a maior parte destes
investimentos serão destinados a infra-estruturas e a modernização das comunicações,
com o qual se pretende que o País um enorme salto na promoção da integração
territorial, dando lugar a uma melhor distribuição da riqueza. Por fim, devemos destacar
138
ARIAS, Juan. Brasil registra 60.000 nuevos millonarios. El País, 14/01/2008, Economia, p.28.
139
España cae al octavo puesto en el ranking de producção mundial de vehículos, superada por Brasil.
Disponível em: http://www.eleconomista.es/empresas-finanzas/noticias/422688/03/08/Economia-Motor.
Acesso em: 14/06/2008.
140
Ranking de competitividade mundial 2008 IMD (Suiça). Disponível em: www.imd.ch. Acesso em:
14/06/2008.
141
Brasil endereza el rumbo y se transforma en un nuevo motor de la economía mundial. Disponível em:
http://www.sela.org/sela/prensa.asp?id=13299&step=3. Acesso em: 14/06/2008.
142
ARIAS, Juan. El mercado mundial de la energía apuesta por Brasil. El País, 25/04/2008, Economia, p.22.
53
o interesse que o PAC despertou na Espanha, como uma via de possibilitar as relações
comerciais e os investimentos espanhóis no País
143
.
143
Lula llega a España para presentar su Programa de Aceleração do Crecimiento. Latinoamérica Exterior,
nº58, 15/09/2007. Los empresarios españoles se suman al Programa de Aceleração do Crecimiento de Brasil
propuesto por Lula. Disponível em: El Economista.es. Acesso em: 17/09/2007.
54
55
3. A POLÍTICA EXTERIOR ESPANHOLA E SUA PROJEÇÃO LATINO-
AMERICANA
3.1 Breve história da Política Exterior da Espanha Democrática
Neste capítulo, expor-se-á a evolução da Política Externa da Espanha democrática
especialmente a partir do governo de Felipe González (1982-96) até o momento atual.
Trataremos de destacar os movimentos em direção à América Latina e especialmente ao
Brasil. Considera-se relevante, entretanto, fazer uma recapitulação histórica para nos
situarmos no tempo.
A política exterior espanhola, ao longo dos últimos séculos (fim do século XV até a
atualidade), considerada enquanto capacidade de influir em seu entorno e de assumir
protagonismo, tem perdido força de maneira irreparável. Após a fase ascendente do final do
reinado dos Reis Católicos, o máximo protagonismo durante o período Habsburgo, sofreu
uma diminuição progressiva de seu peso internacional com a dinastia dos Bourbon. O papel
da Espanha no contexto internacional alcançou seu mínimo com a perda das colônias na
América e na Ásia, na guerra com os Estados Unidos no final do século XIX.
No começo do século XX, encontramos uma Espanha totalmente fechada em si,
neutra na Grande Guerra e com tamanha instabilidade interna que culmina na Guerra Civil
(1936-39). A neutralidade também na Segunda Guerra (1939-45) e o posterior bloqueio e
isolamento internacionais fizeram com que apenas ao final da ditadura do general Franco
tivesse lugar um movimento de inserção internacional do país, com a preocupação de
recuperar protagonismo. Esta vontade de conseguir um papel relevante no cenário
internacional desenvolveu-se com diferentes enfoques e com resultados desiguais, como
será detalhado a seguir.
A Guerra Civil espanhola foi seguida pela II Guerra Mundial. O triunfo dos Aliados
deixou como únicos governos totalitários no “Ocidente” o regime de Franco na Espanha e o
de Oliveira Salazar em Portugal. Como conseqüência, os Aliados estabeleceram um
bloqueio político e econômico ao país após a guerra: a Espanha foi excluída do Plano
Marshall e apenas mantinha relações diplomáticas com a Santa e com a Argentina do
56
general Juan Domingo Perón. Aparte disso, a Espanha tinha certa projeção na África, que
cessou com a independência dos territórios de Guiné Equatorial (1968) e do atual Saara
Ocidental (1976).
A situação de isolamento manteve-se praticamente até a retomada das relações com
os Estados Unidos. Em novembro de 1952, as eleições norte-americanas deram a vitória ao
candidato republicano General Dwight D. Eisenhower, fato que alterou as relações entre os
dois países. A assinatura dos convênios bilaterais de ajuda econômica, técnica e militar de
26 de setembro de 1953 foi apresentada à opinião pública como o maior logro diplomático
de Franco
144
. Esse acordo de Ajuda para a Defesa Mútua permitiu aos Estados Unidos
implantar diversas bases militares na Espanha, concretamente em Torrejón de Ardóz
(Madri), Zaragoza, Morón de la Frontera (Sevilha) e Rota (Cádiz). Além disso, a Espanha
receberia, nos dez primeiros anos do Acordo, uma ajuda do montante de US$ 226 milhões e
outros US$ 141 milhões para gastos militares. Todo este apoio dos Estados Unidos foi em
grande parte conseqüência da Guerra Fria e da obsessão dos Estados Unidos diante da
expansão do comunismo soviético.
A partir de 1953, o governo franquista foi sendo progressivamente reconhecido
pelos demais países europeus e americanos, retomando as relações diplomáticas com todos
eles. A concretização desta relação de “amizade” foi simbolizada pela visita do presidente
Eisenhower à Espanha em dezembro de 1959 primeira visita de um presidente de país
democrático à Espanha franquista
145
.
As relações com os Estados Unidos, fundadas no ambiente da Guerra Fria, foram
chave para a inserção internacional da Espanha durante a época ditatorial. Recordemos que
a Organização das Nações Unidas (ONU), pela Resolução 39 de 14 de dezembro de 1946,
recomendara a seus membros a retirada de embaixadores e a suspensão de relações
diplomáticas com a Espanha. Estas sanções foram revocadas em 04 de novembro de 1950,
embora a admissão da Espanha (e outros quinze países) não foi aprovada até a Assembléia
Geral de 14 de dezembro de 1955 (Resolução AG 995/55 e Recomendação do Conselho de
144
PARDO DE VERA, Ana. España-EEUU: uma historia de amor y odio. Disponível em:
http://www.elsiglodeuropa.es/siglo/historico/dossier2003/547%20dossier.htm. Acesso em: 27/04/2008.
145
LÓPEZ, María-Paz. Cuando Ike hizo a Franco um gran favor. Disponível em:
http://www.udel.edu/leipzig/041199/vana211299.html. Acesso em: 22/06/2008.
57
Segurança Doc. A/3099)
146
. Outro passo importante na “reinserção” internacional da
Espanha foi seu ingresso na UNESCO (Organização das Nações Unidas para a educação, a
ciência e a cultura) em 1952.
Sobre as relações exteriores da Espanha democrática, trataremos das políticas
promovidas pelos três últimos presidentes recentes: Felipe González, entre 1982 e 1996, do
Partido Socialista Obrero Español (PSOE); JoMaría Aznar, de 1996 a 2003, do Partido
Popular (PP) e José Luis Rodríguez Zapatero, do PSOE, que iniciou o mandato em 2003 e
continua no poder, tendo iniciado seu segundo mandato após vencer as eleições de março
de 2008.
Antes de comentar aspectos concretos das atividades em política exterior dos
últimos Presidentes de Governo da Espanha, deve-se ter em conta algumas peculiaridades.
A política exterior naquele país, tradicionalmente, está mais ligada ao presidente do
governo do que ao partido a que ele pertence, ainda que haja estreita relação e alinhamento:
“de tal maneira o Ministério de Assuntos Exteriores converteu-se em um instrumento de
apoio a um presidencialismo em política exterior, que não é nem bom nem mal,
simplesmente é assim”
147
. Essa circunstância explica a diferença entre a política exterior
espanhola sob o governo de Felipe González e a atual, sob o governo de Rodríguez
Zapatero, apesar de que ambos pertencem ao mesmo partido (PSOE).
Não existe na Espanha uma tradição de diplomatas, ou de uma carreira diplomática
como a que há, por exemplo, no Itamaraty. Os representantes do Estado em muitos casos
sequer são oficiais de carreira, e quando o são, prima seu caráter de funcionários públicos,
sobre seu valor como representantes do país. Isto é, costumam ser mais representantes do
governo do que do Estado.
O antecedente mais claro desta dependência remonta-se ao Real Decreto de 1844,
que excluía os postos de maior responsabilidade política (embaixadores e ministros
plenipotenciários) da carreira profissional, sendo sua nomeação exclusivamente
146
LLEONART AMSELEM, Alberto José. El ingreso de España en la ONU: obstáculos e impulsos.
Cuadernos de Historia Contemporánea, 17, Servicio de Publicaciones, p. 101-119. Madri: Universidad
Complutense de Madrid, 1995.
147
CALDUCH CERVERA. La política exterior de España: Balance y perspectivas. El carácter
presidencialista y la herencia do franquismo. Claves del Mundo. Fundación General Democracia y Desarrollo,
14/08/2002.
58
competência do Estado. Esta dependência política tornou-se mais notória durante o regime
do general Franco, que impuha lealdade explícita ao Regime por parte de todos seus
representantes diplomáticos. Um exemplo mais recente desta tendência é o fato de que,
desde 1939 até 2008, de 19 Ministros de Assuntos Exteriores, apenas cinco provinham da
Carreira Diplomática
148
.
Por outra parte, na projeção da Política Exterior Espanhola existem importantes
problemas de coordenação, posto que à ão do Ministério de Assuntos Exteriores somam-
se as atuações de outros organismos e instituições, como o Ministério de Economia, a
Coroa Espanhola, o Parlamento, as Comunidades Autônomas, etc.
149
.
3.1.1 O europeísmo de Felipe González (1982 – 1996)
Felipe González Márquez foi o primeiro presidente da nova Espanha
democrática
150
. Adolfo Suárez (1976-81) e Leopoldo Calvo Sotelo (1981-2), seus
antecessores, arrastavam ainda forte componente ideológico e bases políticas influenciadas
pelo antigo regime franquista. O triunfo do Partido Socialista Obrero Español (PSOE) em
1982 marcou a consolidação do sistema democrático. González foi o presidente que ficou
no poder por mais tempo até agora (quatorze anos). Soube ainda liderar a transformação
econômica e social do país, como comentado no capítulo anterior: combinou duras
transformações do tecido industrial espanhol, iniciando acelerada privatização das
empresas, com a realização de grandes mudanças sociais: reforma fiscal, da educação
(pública obrigatória e gratuita até os 16 anos), da saúde, da previdência. Sua política
econômica foi liberal, pragmática e separada de dogmatismos partidários.
148
VALDIVIESO DEL REAL, Rocío. “La Carrera Diplomática en España”. IN: PEREIRA, Juan Carlos
(coord.). La Política Exterior Española. Barcelona: Ariel Historia, 2003, p. 251-257.
149
SANZ DÍAS, Carlos. “La Administración Exterior del Estado”. IN: PEREIRA, Juan Carlos (coord.). La
Política Exterior Española. Barcelona: Ariel Historia, 2003, p. 169-187.
150
Fonte: CIDOB: Centro de Investigaciones de Relaciones Internacionales y Desarrollo. Barcelona.
59
Em relação à política externa, primeiramente devemos notar que foi González quem
inaugurou a nova fase das relações exteriores do país, uma vez que os governos da UCD
(Suárez e Calvo Sotelo) estiveram centrados em assuntos domésticos. González projetou a
diplomacia espanhola para o continente europeu, não deixando de lado, no entanto, a busca
de relações amistosas com os Estados Unidos
151
. Esta vontade de entendimento com os
Estados Unidos foi claramente refletida na ratificação, em abril de 1983, dois meses antes
da viagem de González a Washington, do Convênio Bilateral de Amizade e Cooperação,
assinado trinta anos antes.
No final da década de 1980 e no início da seguinte, discutia-se na Espanha sua
participação em conflitos bélicos externos. Durante a Guerra do Golfo (1990 - 1991), o
presidente González o apenas apoiou as forças aliadas estrategicamente (concedendo
portos e aeroportos para operações militares contra o Iraque), mas também enviou tropas à
região de conflito.
Com relação ao mundo ocidental, cabe destacar a entrada da Espanha na
Comunidade Econômica Européia: o acordo de adesão foi assinado em junho de 1985 e
começou a valer em janeiro do ano seguinte. Defendeu e conseguiu a permanência na
OTAN, através do referendo de março de 1986. Também ingressou a Espanha na União da
Europa Ocidental (UEO) e na Política Européia de Segurança e Defesa (PESD). Ainda em
relação à Europa, destaca-se o apoio do presidente González ao chanceler Helmut Kohl no
processo de reunificação alemã.
Quanto ao Oriente Médio, González estabeleceu relações diplomáticas com Israel,
em janeiro de 1986 e reconheceu o status diplomático da Organização para a Libertação da
Palestina. Em 1991, promoveu a Conferência de Madri para a paz no Oriente Médio.
Fortaleceram-se ainda os vínculos com o Marrocos, pela assinatura em Rabat do Tratado de
Amizade, Boa Vizinhança e Cooperação, de julho de 1991, na presença do Rei Hassan II.
151
ORTIZ DE ZÁRATE, Roberto. Felipe González Márquez. Centro de Investigaciones de Relaciones
Internacionales y Desarrollo. Fundación CIDOB. Disponível em:
http://www.cidob.org/es/documentacion/biografias_lideres_politicos/europa/espana/felipe_gonzalez_marquez
Acesso em: 30/03/2008.
60
Sobre a América Latina, devemos destacam-se as atividades realizadas na
Comemoração do V Centenário e o início das Cúpulas Ibero-americanas, que continuam
sendo realizadas e em 2008 foi celebrada sua 18ª edição em El Salvador.
Os maiores méritos de González, talvez, tenham sido a inserção internacional da
Espanha, rompendo o isolacionismo, e a manutenção do equilíbrio nas relações externas:
teve relações amistosas com os países europeus, com os Estados Unidos, com os países
árabes e com Israel. Em outras palavras, fez uma política exterior universalista e pouco
agressiva
152
. Promoveu também a imagem do país com dois eventos de projeção
internacional: as Olimpíadas de Barcelona e a Exposição Internacional de Sevilha, ambas
em 1992.
Nem tudo foi positivo no longo governo socialista de Felipe González. Os
escândalos de corrupção nos últimos anos de seu mandado e ações de terrorismo de Estado
praticadas contra o movimento separatista basco Euskadi Ta Askatasuna (ETA) escurecem
a trajetória do político. Apesar da imagem pessoal prejudicada ao deixar o governo, em
julho de 2007, González foi nomeado Embaixador Plenipotenciário e Extraordinário para a
celebração do bicentenário de independência da América, que ocorrerá no México em
2010
153
.
3.1.2 O atlantismo de José María Aznar (1996 – 2003)
Se a política externa de Felipe González pode ser caracterizada pelo seu equilíbrio,
a do presidente José María Aznar foi a mais controversa desde a restauração da democracia.
Para críticos como Eduardo Fayanás Escuer
154
, um dos aspectos mais sobressalentes
do governo Aznar foi a ruptura do consenso” sobre política exterior que tinha presidido
todo o período desde o fim do franquismo em 1975 até 2000: Aznar teria fortalecido a
152
Op.cit.
153
El Gobierno nombrará mañana a Felipe González embajador extraordinario para el bicentenario de la
independencia de América. Disponível em:
http://www.cadenaser.com/articulo/espana/Gobierno/nombrara/manana/Felipe/Gonzalez/embajador/extraordi
nario/bicentenario/independencia/America/csrcsrpor/20070726csrcsrnac_7/Tes/ Acesso em: 26/09/2007.
154
FAYANÁS ESCUER, Edmundo. La Nueva Política Exterior Española. El Inconformista Digital
Redação. Barcelona, 06/04/2004.
61
orientação atlantista (pró EUA) em detrimento do “tradicional” europeísmo. A política
atlantista responderia à defesa dos interesses das classes dominantes, especialmente das
grandes multinacionais como o Banco Santander (BSCH), Banco Bilbao Viscaya (BBVA),
Repsol (petroleira), Telefônica, etc. O fortalecimento do Mercado Único Europeu, através
das políticas de convergência, teria colocado o capitalismo espanhol em posição de
fragilidade por sua falta de capacidade competitiva e com peso escasso no contexto
continental.
Entre 1995 e 2001, as empresas espanholas investiram mais de US$ 90 bilhões nos
países latino-americanos, aproveitando a aplicação das políticas de liberalismo econômico
que os governos da região implementaram na época, especialmente as privatizações de
empresas públicas. Atualmente, cerca de 30% do valor da Bolsa de Madri depende desses
investimentos, que são determinantes para os lucros das multinacionais espanholas. Outro
fato importante refere-se às relações com o Marrocos. Segundo Escuer, o presidente Aznar
teve que acudir os norte-americanos na crise de Perejil, em julho de 2002, diante do
bloqueio imposto pela França e a falta de definição dos outros países da União Européia
155
.
A defesa dos investidores espanhóis na América Latina e a paulatina marginalização
da Espanha do centro de decisões do processo de construção européia, de acordo com
Escuer
156
, aprofundaram o atlantismo do presidente, estando na origem de uma visão da UE
subordinada à hegemonia dos Estados Unidos.
No entanto, esta política de subordinação aos Estados Unidos não foi bem recebida
na América Latina nem na Europa, nem mesmo pelos próprios espanhóis, que se alarmaram
diante do nível de submissão do país às diretrizes da política exterior dos
“fundamentalistas” da administração George W. Bush, que conduziu o país à guerra. O
aspecto mais criticado do governo Aznar foi a política exterior e, mais concretamente, a
aproximação com os EUA e o apoio à guerra do Iraque.
Os logros econômicos e a luta contra o terrorismo ficaram esquecidos. A propósito,
dever-se lembrar que a Espanha não participou diretamente da guerra do Iraque: as tropas
155
Perejil é uma ilhota desabitada perto da cidade de Ceuta, localizada no estreito de Gibraltar. É uma
possessão espanhola que foi objeto de uma confrontação entre as forças de Espanha e as do Marrocos em
2002.
156
Op.cit.
62
espanholas que estiveram no país até a repatriação realizada por Zapatero (2003) chegaram
à zona de conflito depois do final” da guerra e em missões de reconstrução e vigilância.
Nunca entraram realmente em combate. Vale lembrar que, sob o governo de Felipe
González, a Espanha participou ativamente da “primeira” Guerra do Golfo e, durante o
governo Aznar, da guerra da Iugoslávia, em que a Força Aérea espanhola entrou em ações
de combate, com apoio da maioria dos grupos parlamentares, incluindo o Partido Socialista
(PSOE)
157
.
Feita esta ressalva, também se deve dizer que o tal consenso que Aznar teria
rompido nunca existiu. Esta aproximação potencializou o papel e o peso internacional da
Espanha no mundo, promoveu o desenvolvimento das relações econômicas e comerciais
com a América Ibérica e também, contrário ao que se costuma dizer, não diminuiu sua
influência dentro da União Européia, mas, como se viu em Nice, durante a negociação do
Tratado que leva o nome da cidade, em dezembro de 2002, estabeleceu-se um “pacto de
estabilidade” com consenso sobre aportação e distribuição dos Fundos Comunitários,
sistema de votação e número de votos por país, que se mostrou proveitoso até as novas
ampliações do bloco
158
.
A ambição do presidente Aznar no que se referia à projeção exterior da Espanha
está definida por ele mesmo:
“Um povo de quarenta milhões de habitantes e muitos séculos de história, um país de meio
milhão de quilômetros quadrados entre o Mediterrâneo e o Atlântico, uma cultura que está entre
as duas ou três mais universais, uma economia que apesar de todos seus problemas se encontra
entre as quinze primeiras do mundo, em suma, uma nação como a Espanha, tem que assumir
suas responsabilidades internacionais sem jactância, mas com firmeza e decoro.
159
O enfoque de Aznar em sua política exterior é corroborado, assim como criticado,
pelo ex-ministro de Assuntos Exterior alemão Joschka Fischer em suas memórias:
157
SHORT, Vicky. La guerra de Yugoslavia intensifica las tensiones políticas en España. World Socialist
Web Site, publicado pelo Comitê Internacional da Quarta Internacional em 01/05/1999. Disponível em:
http://www.wsws.org/es/articles/1999/may1999/span-01m.shtml. Acesso em: 22/06/08.
158
COMISSÃO EUROPÉIA. Tratado de Nice. Disponível em:
http://ec.europa.eu/comm/nice_treaty/summary_es.pdf. Acesso em: 24/09/2007
159
AZNAR, José María. Presente y futuro de España en el mundo. Instituto de Cuestiones Internacionales
y Política Exterior. Ensayos INCIPE nº 8, Febrero 1996. Tradução livre.
63
“A Aznar interessava sobretudo realizar seus sonhos de ascensão da Espanha como uma
potência digna de consideração no cenário mundial e não no futuro da Europa. A Europa servia-
lhe como um meio, mas seu objetivo era a vindoura grandeza nacional da Espanha”
160.
O principal problema pode ter sido que Aznar pretendeu desenvolver essas políticas
com excesso de personalismo e falta de capacidade de envolver a população em seu projeto
de elevar a posição internacional do país, assentado sobre bases liberais e democráticas
161
.
3.1.3 A política de gestos de José Luis Rodríguez Zapatero (2003 -
2008)
Com a volta dos socialistas ao poder nas eleições de 2003, seguidas do atentado de
terroristas islâmicos em Madri, ocorreu uma mudança na política exterior espanhola, que
começa com um gesto de grande transcendência: o anúncio da retirada das tropas
espanholas do Iraque.
Esta retirada produziu uma distorção das relações entre a Espanha e os Estados
Unidos que permanecem sem se normalizar. Outros “gestos” do atual presidente
contribuíram para essas más relações: durante o desfile militar de 12 de outubro de 2003
em Madri, ao passar da bandeira dos Estados Unidos, Zapatero foi o único membro do
governo que não se levantou
162
, embora o tenha feito em desfiles posteriores
163
. Por outra
parte, o fato de que se deixou vestir em um ato blico por um “kefia”, lenço típico
palestino, tampouco foi uma atuação afortunada, nem com os EUA nem com Israel
164
.
160
COMAS, José. Camarero Fisher y cocinero Schröeder. El ex líder de Los Verdes repasa en sus
memorias la política alemana de los últimos años. El País, 05/10/2007, Internacional, p.10.
161
JIMÉNEZ REDONDO, Juan Carlos. De Suárez a Rodríguez Zapatero. La política exterior de la España
democrática. Publicações do Instituto de Estudios de la Democracia. Universidad San Pablo CEU. Disponível
em: http://www.uspceu.com/id/pages/id_libros.htm. Acesso em: 24/09/2007.
162
Rajoy recuerda a Zapatero que la bandera de EE.UU. no es de un presidente o un gobierno, sino de los
estadounidenses. Disponível em: http://www.abc.es/hemeroteca/historico-14-10-2003/abc/Nacional. Acesso
em: 22/06/2008.
163
MARTÍN, José Luis. España celebro La Fiesta Nacional. Disponível em:
http://www.lomejor.com/webmaker/portal/wmlink_2223. Acesso em: 22/06/2008.
164
SUÁREZ, Marta. Rodríguez Zapatero tropieza con sus gestos en política exterior. Sur.es, 23/07/2006.
64
De fato, o presidente Zapatero tem sido sistematicamente ignorado pelo governo
estadunidense desde que assumiu
165
. A saída do Iraque foi “compensada” com o envio de
tropas para o Afeganistão, sob a bandeira das Nações Unidas. A negativa da Espanha,
entretanto, de enviar tropas para determinadas zonas do país, também tem criado conflitos
com os aliados
166
.
Em setembro de 2004, Zapatero lançou um plano de Aliança das Civilizações, na
59ª Assembléia Geral da ONU, defendendo a aproximação entre o Ocidente e os mundos
árabes e muçulmanos, com o fim de combater o terrorismo internacional por outro caminho
não militar. A idéia recuperava proposta que seis anos antes o presidente da República
Islâmica do Irã, Mhuhammad Jatami, fizera na própria ONU, de desenvolver um “Diálogo
entre civilizações”, pelo qual se estabeleceu uma agenda de trabalho destinada a promover
o entendimento entre “o Ocidente” e os países islâmicos
167
.
Toda essa política, no entanto, parece não ter tido nenhum efeito prático. O
islamismo radical continua tendo a Espanha entre seus objetivos e deixa isso claro aos
meios de comunicação. Os soldados espanhóis no Afeganistão são atacados continuamente
e o terrorismo islâmico continua atuando pelo país. A Espanha não recuperou sequer papel
no conflito do Oriente Médio, apesar de que o Ministro de Assuntos Exteriores, Miguel
Ángel Moratinos, seja especialista no tema.
Em relação à Aliança das Civilizações, exceto o secretário-geral da ONU, Bam Ki-
Moon, o primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, e governo da Arábia Saudita,
ninguém mais se interessou por ele. Não se sabe bem em que consiste o projeto, e até agora,
após quatro anos, não se concretizou em nada, a exceção do I Foro celebrado em 2008 em
Madri
168
.
165
Cuatro años sin noticias de Bush. Disponível em:
http://www.larazon.es/29325/noticia/espana/Cuatro_a%F1os_sin_noticias_de_bush. Acesso em: 20/03/2008.
166
MARCHI. S. La OTAN no cuenta com España para reforzar su despliegue en Afganistán. Disponível em:
http://www.larazon.es/31286/noticia/Internacional/La_OTAN_no_cuenta_con_España. GONZÁLEZ, Miguel.
España se resiste a incrementar su presencia militar en Afganistán. El País, 03/04/2008, Internacional, p.03.
167
Zapatero propone a la ONU crear una alianza de civilizaciones entre occidente y el mundo árabe.
Disponível em: http://www.elmundo.es/elmundo/2004/09/22/internacional/1095810596.html. Acesso em:
22/06/2008.
168
CRUZ, Marisa. Zapatero propone 57 medidas para impulsar el diálogo entre civilizaciones. Disponível em:
http://www.elmundo.es/el mundo/2008/01/15/espana/1200379171.html . Acesso em: 22/06/2008.
65
Nas relações com o norte da África, a aproximação com o Marrocos na questão do
Saara Ocidental e a venda massiva de armamento a este país (1.200 blindados, 800
caminhões militares e dez patrulheiros) conduziu a um enfrentamento com a Argélia, que se
traduziu no cancelamento de importantes contratos de empresas espanholas em gás,
petróleo e outros produtos. Esta venda de armamentos inscreve-se em uma linha política
deste governo contrária a seu discurso pacifista
169
. Em 2006, a Espanha converteu-se no
segundo país da OCDE que mais aumentou orçamento destinado a pesquisa militar. Em
dezembro desse ano, o Ministério da Defesa apresentou proposta para suprimir o limite de
três mil militares para missões no exterior. Também aumentou a exportação de armas: em
2000 eram vendidos para o exterior 138 milhões de euros e em 2005, segundo os últimos
dados oficiais, as cifras quase quadruplicaram, alcançando 420 milhões de euros
incluindo “bombas de racimo” que estão condenadas por organizações humanitárias. A
Espanha é hoje o primeiro fornecedor de munição aos países da África subsaariana,
somando 1,2 milhões de euros.
Em relação à União Européia, a falta de sintonia não com a primeira-ministra
alemã, Ângela Merkel, tanto em temas políticos como econômicos (apoio oficial à empresa
italiana ENEL em detrimento da alemã E.ON na negociação com a Endesa), mas também
com o mandatário francês, Nicolás Sarkozy, deixam a Espanha fora do principal núcleo de
poder continental, o eixo fraco-alemão. Por outra parte, tampouco as relações com a Grã
Bretanha estão em seu melhor momento. Para a reunião organizada pelo primeiro ministro
britânico Gordon Brown, em janeiro de 2008, apenas foram convidados a chanceler alemã,
o presidente francês e o primeiro ministro italiano em exercício Romano Prodi
170
.
Sem esquecer os enfrentamentos decorrentes do processo de regularização de
imigrantes realizado pelo governo Zapatero sem contar com o resto dos países da UE, que
resultou em uma séria crítica. Conforme afirmou o então presidente francês Jacques Chirac,
na Cúpula Européia de Lati, realizada em outubro de 2006 na cidade finlandesa, “todos os
169
QUIÑONES, Armando. Las paradojas de la política exterior española. Disponível em:
http://www.rebelion.org/noticias.php?id=46550. Acesso em: 23-09-2007.
170
Zapatero minimiza la ausência de España na reunión de Londres y Rajoy dice que “es una bofetada”.
Disponível em:
http://www.larazon.es/16545/noticia/Espa%F1a/Zapatero_minimiza_la_ausencia_de_la_reunion. Acesso em:
29/01/2008.
66
países que estão em Schengen, sofrem as conseqüências dessas regularizações”
171
,
referindo-se à convenção entre países europeus sobre política de imigração comum e
controle compartilhado de fronteiras, originalmente assinado em 14 de junho de 1985.
O referendo sobre a Constituição Européia, celebrado em fevereiro de 2005 e
aprovado por ampla maioria (76,73%) apesar da baixa participação (42,32%), foi
apresentado pelo governo como um grande êxito pessoal de Zapatero. A Constituição,
entretanto, foi recusada pela França e pela Holanda em 2005, e o processo de votação nos
outros países se congelou. Aprovam-se acordos mínimos para poder avançar na construção
de uma União ampliada. Em um esforço por conseguir um acordo mínimo que permitisse à
UE avançar, depois das últimas ampliações, em 19 de outubro de 2007, o Conselho
Europeu de Lisboa adotou o texto definitivo do Tratado elaborado pela Conferência
Intergovernamental. Os Chefes de Estado e de Governo dos 27 Estados membros assinaram
o Tratado de Lisboa em 13 de dezembro daquele ano. O Tratado, entretanto, não foi bem
recebido. A Irlanda, único país que o submeteu a referendo popular, recusou-o, criando
uma grave crise institucional no bloco, deixando o Tratado de Nice como o único
instrumento de trabalho
172
.
Quanto às relações com a América Ibérica, o balanço é bastante negativo. Se por um
lado as empresas espanholas estão ganhando terreno no continente, a política oficial, de
aproximação aos governos da Venezuela e da Bolívia, fez com que o governo espanhol
perdesse prestígio e força moral. Apesar disso, a Venezuela cancelou um importante
contrato de armamentos (barcos) que tinha assinado com a Espanha e a Bolívia
nacionalizou propriedades de petroleiras espanholas além das tentativas de modificar a
política européia em relação a Cuba, que foram possíveis condicionadas a mudanças na
política cubana nos próximos doze meses
173
.
171
BARDAJÍ, Rafael L. e PORTERO, Florentino. La Política Exterior de Zapatero en 2006. Publicado en el
Suplemento Exteriores de Libertad Digital, 25/12/2006. http://www.gees.org/articulo/3395/ Acesso em:
23/09/2007.
172
“Las grandes etapas de la reforma institucional de la Unión Europea”. Disponível em:
http://europa.eu/institucional_reform/index_es.htm e ROYO, Sebastián. “Derrota del Tratado de Lisboa en
las urnas”. Disponível em: http://www.cincodias.com/articulo/opinion/Derrota-Tratado-Lisboa-
urnas/20080614cdscdiopi_1/cdsopi/. Acessos em: 23/08/2008.
173
La UE decide levanter definitivamente las sanciones contra Cuba. Disponível em:
http://www.elmundo.es/elmundo/2008/06/19/internacional/1213912577.html. Acesso em: 22/06/2008.
67
Um exemplo da falta de peso da política exterior espanhola do governo Zapatero é a
participação do país na reunião de alto vel sobre mudança climática realizado em Nova
York em setembro de 2007, em que estiveram presentes cento e cinqüenta países, metade
deles representada por seus chefes de estado ou de governo. As reuniões previstas de
Zapatero resumiram-se ao secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, puramente protocolar,
com o presidente da Bolívia, Evo Morales, e com o primeiro-ministro da Turquia, Recep
Tayip Erdogan – representando uma atividade política mínima.
174
Como resume a jornalista Victoria Burnett
175
, de acordo com o jornal International
Herald Tribune, uma cada de elevado crescimento econômico e expansão ultramarina
pôs a Espanha nas grandes ligas [internacionais], mas o perfil político do país está
minguando sob a liderança de um homem profundamente preocupado com as reformas
domésticas e carente de experiência internacional.
A falta de experiência de Zapatero ficou clara na derrota de duas indicações de
espanhóis em postos de relevância internacional: fracasso da candidatura do general Félix
Sanz à presidência do Comitê Militar da OTAN e de Elena Salgado para a direção da
Organização Mundial de Saúde
176
.
O primeiro mandato de Zapatero em política exterior obteve, portanto, um saldo tão
pobre que se tem falado em uma “diplomacia de noções e gestos
177
”. Em seu segundo
mandato, parece que pode reorientar sua política exterior a uma posição mais realista, que
promova melhor relação com seus sócios regionais e evite situações como a que teve lugar
na última reunião de pula da OTAN no passado mês de abril
178
. Dentro deste novo
enfoque, deve-se ter em conta as seguintes circunstâncias: a Espanha vai presidir a União
Européia no segundo semestre de 2010; ao final de 2008 chegará um novo presidente à
Casa Branca; deve-se chegar a um equilíbrio nas relações com Marrocos e Argélia; é
174
AYLLÓN, Luis. Zapatero sólo logra cerrar reuniones con Ban Ki-Moon, Erdogan y Morales. Diario ABC,
22/09/2007, Nacional, p.21.
175
International Herald Tribune Europe, 17/08/2007. Tradução livre.
176
España en el exterior. El País15/11/2007, Opinión, p.3.
177
PALOMERA, Esther L. Zapatero se replantea la relación con EEUU trás fracasar su política exterior.
Diario La Razón, 20/3/2008, Exteriores, p.14.
178
RAMÍREZ, María. El Gobierno intenta minimizar “la soledad” de Zapatero en la cumbre de la OTAN.
Disponível em: http://www.elmundo.es/elmundo/2008/04/04/espana/1207305736.html. Acesso em:
04/4/2008.
68
urgente consolidar as Cúpulas Ibero-americanas; a Espanha deve assumir protagonismo nas
relações entre União Européia e América Latina.
3.2 Política Exterior Espanhola para América Latina
3.2.1 Evolução Histórica
A política latino-americana da Espanha a partir de 1976 distingue-se em três etapas:
a primeira etapa vai da transição democrática até 1992; a segunda abrange o período de
1992 a 2002; e a terceira é a atual
179
.
A primeira etapa, que vai de 1976 a 1992, abarcando os governos da União de
Centro Democrático (UCD) e parte dos governos socialistas, sob a presidência de Felipe
González, é uma fase marcada pela necessidade de articular uma nova política latino-
americana, distinta da franquista, que mudasse a imagem da Espanha entre as ex-colônias e
recuperasse o protagonismo não paternalista” na região. Esta época se inicia com a
transição democrática, tem como momentos decisivos a política centro-americana e o
ingresso da Espanha na Comunidade Européia e termina com a realização das Cúpulas
Ibero-americanas a partir de 1991, a celebração da II Cúpula em Madri em 1992 e a
comemoração do Quinto Centenário do Descobrimento – Encontro de Dois Mundos. É uma
etapa na qual, especialmente até a segunda metade dos anos oitenta, como conseqüência da
Guerra Fria e do ativismo da Espanha na região, a política latino-americana da Espanha
entra em choque com a dos Estados Unidos, produzindo-se algumas tensões bilaterais.
Estas tensões são fáceis de entender, analisando as linhas básicas da política
espanhola expostas então pelo Ministro de Assuntos Exteriores do Governo Socialista,
Francisco Fernández Ordónez:
“Em primeiro lugar, apoiar a causa da paz, da liberdade e da democracia diante da guerra, da
ditadura e do golpismo. (…) Em segundo lugar, fomentar o crescimento e o bem-estar
179
ARENAL, Celestino del. Política Exterior de España hacia Iberoamérica, Madrid. Ed. Complutense, 1994.
69
econômico da região. E em terceiro lugar, colaborar para mais justiça na relação Norte–Sul”
180
.
O que mais se destaca desta primeira etapa, no que se refere à participação
espanhola na política e relações com a América Latina é sua intermediação no conflito da
América Central. A situação, especialmente em El Salvador e Nicarágua, chegou a um
nível de conflitividade que ameaçava a paz em toda a região. Diante dessa situação, em
1983, os Ministros de Relações Exteriores da Colômbia, México, Panamá e Venezuela,
reuniram-se na ilha de Contadora, onde decidiram unir esforços e assinaram a Ata de
Contadora para a Paz e a Cooperação na América Central. Este plano de paz recebeu
respaldo do Conselho de Segurança das Nações Unidas e de diversos organismos regionais
e internacionais. Em 1985, foram criados Grupos de Apoio a este processo de paz em
Argentina, Brasil, Peru e Uruguai, em torno aos conselheiros do Grupo de Contadora, que a
partir de então passaram a reunir-se conjuntamente.
Como conseqüência dessas atividades político-diplomáticas, em março de 1997, o
Grupo da Contadora, o Grupo de Apoio, a ONU e a Organização dos Estados Americanos
(OEA) associaram-se para gerir o acordo de paz, que foi assinado em agosto pelos
presidentes centro-americanos na cúpula de Esquipulas II
181
.
Em todo o processo, teve importância o papel do presidente González, tanto em
relação com os países em conflito, como em sua mediação com o governo dos Estados
Unidos, que inicialmente não apoiava a atividade do Grupo de Contadora
182
. Entretanto, a
concessão em 1984 do Príncipe de Astúrias de Cooperação ao Grupo da Contadora foi uma
mostra da implicação da Espanha no processo de paz
183
, que se realizou com envio de
180
FERNÁNDEZ ORDÓÑEZ, Francisco. Intervenção durante a comissão mista para as Comunidades
Européias do Congreso de Deputados, sobre as prioridades em matéria de cooperação política da presidência
española. BOCC 1 /2 /1989, Actividades, Textos y Documentos de la Política Exterior Española, Ministerio
de Asuntos Exteriores, Madrid 1989.
181
1985 - El Grupo de Contadora. Disponível em:
http://portal.unesco.org/culture/es/ev.php-URL_ID09374&URL_DO=DO_TOPIC&URL. Acesso em:
24/06/2008.
182
BLÁZQUEZ VILAPLANA. El impulso del presidente del gobierno español, Felipe González, a los
procesos democráticos y de paz en Nicaragua y El Salvador, 1982-1996. Tese de Doutorado defendida na
Universidad de Jaén em agosto de 2000.
183
SOMOVILLA, Miguel. El “Grupo de Contadora”, premio Príncipe de Asturias de Cooperación
Iberoamericana por sus iniciativas de Paz. El País, 24/06/2008. Disponível em:
70
material e pessoal na missão de observadores da ONU em El Salvador (Onusal), que foi
desenvolvida entre julho de 1991 e abril de 1995
184
.
A segunda etapa vai de 1992 a 2002, cobrindo os últimos governos socialistas e os
do Partido Popular, no contexto do Pós Guerra Fria. É uma fase de política latino-
americana normalizada e de adaptação, de crescente pragmatismo. Desaparecem as
diferenças e tensões políticas com os EUA, apesar de que começam a surgir problemas no
terreno econômico e comercial. Desta fase podem-se destacar três características, que se
desenvolvem simultaneamente e se completam.
Em primeiro lugar, a europeização da política latino-americana. Apesar de que esta
se iniciou em 1986, com a entrada da Espanha na Comunidade Econômica Européia, é a
partir do começo dos anos 90 que o processo será mais importante. As políticas e as
relações exteriores da UE transformam-se no elemento mais determinante não só da política
interna, mas também da política exterior espanhola e mais concretamente da política latino-
americana, condicionando os objetivos e os desenvolvimentos, especialmente comerciais e
de cooperação para o desenvolvimento, da política bilateral. Além do mais, proporcionam
mecanismos multilaterais, como o Fórum de San José com a América Central, as reuniões
UE – Grupo do Rio, os diálogos UE – Comunidade Andina, UE Mercosul, UE México,
UE Chile, que a Espanha utilizou para impulsionar com êxito sua política latino-
americana. Como conseqüência desse enfoque das relações entre Espanha e América
Latina, setores do “lobby americanista”
185
avaliam muito negativamente os efeitos que teve
para a América Latina a entrada da Espanha na Comunidade, e insistem na necessidade de
fortalecer os vínculos bilaterais entre a Espanha e os países da região
186
.
Em segundo lugar, a ibero-americanização da política latino-americana, que as
Cúpulas Ibero-americanas de Chefes de Estado e de Governo, celebradas anualmente desde
http://www.elpais.com/articulo/espana/GRUPO_DE_CONTADORA_PREMIOS_PRINCIPE_DE_ASTURIA
S. Acesso em: 24/06/2008.
184
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Missão de Observadores das Nações Unidas em El
Salvador– ONUSAL. Disponível em: http://www.un.org/spanish/Depts/dpko/co_mission/onusal.htm. Acesso
em: 24/6/2008.
185
T
ermo usado para designar aquelas organizações da comunidade intelectual, os meios de comunicação, as
organizações de caráter o governamental e associações políticas que advogam em favor de uma presença
mais notável e comprometida da Espanha na América Latina
186
GRUGEL, Jean y ALEGRE, Jorge. España y América Latina: ¿Hacia una nueva relação? Madri:
Instituto Universitario Ortega y Gasset, 1991.
71
1991, com o objetivo de articular um espaço comum ibero-americano, ou uma Comunidade
Ibero-americana, transformaram-se em um segundo referencial essencial. Esta dimensão
ibero-americana é a que afirma seu caráter singular diante da Europa e dos Estados Unidos
– e é ela que inclui o Brasil no processo, até então direcionado para as ex-colônias
hispânicas na América.
Por último, a economização da política latino-americana. Trata-se de um processo
relacionado com o aumento dos investimentos espanhóis na América Latina, desde meados
dos anos 1990, manifestada pela adoção de medidas e ações destinadas a impulsionar a
presença internacional das empresas espanholas e a proteger seus interesses econômicos no
exterior. Entre 1995 e 2000, a América Latina converteu-se no principal destino dos IED
espanhóis, absorvendo em média anual 60 % das mesmas, enquanto os países da União
Européia situavam-se em segundo lugar, com 26%. Este elevado fluxo de investimentos
diretos transformou as empresas espanholas, no ano 2000, nos segundos investidores
internacionais da região, atrás apenas dos Estados Unidos.
Ao final desta etapa, a partir de 2001, e como conseqüência dos atentados de 11 de
Setembro nos EUA, o alinhamento da Espanha com aquele país na Guerra do Iraque, o
enfoque da política exterior espanhola passou a ser condicionada por esse “giro atlantista”
do Governo Popular, com o qual se perdeu um pouco da autonomia. A abordagem do
presidente Aznar, em relação a sua vontade de aumentar o protagonismo e liderança no
mundo ibero-americano, visto especialmente como um sócio preferente os Estados Unidos,
criou resistência e não contribuiu necessariamente para aumentar a coerência no grupo de
países.
A terceira etapa envolve o primeiro governo do presidente Rodríguez Zapatero e
está marcada, por uma parte, pela tentativa de realizar um giro de 180 graus em relação à
política de seu antecessor, especialmente no final do segundo mandato de Aznar, e
portanto, distanciou-se dos Estados Unidos e orientou-se à aproximação aos governos de
viés mais “socialista”, como Cuba, Venezuela, Bolívia, Equador e Nicarágua. Por outra
parte, no que se refere às Cúpulas Ibero-americanas, como se tratado mais adiante, o
governo Zapatero também modificou sua orientação, tanto em gestão como em objetivos.
72
Entretanto, e independentemente do governo no poder, não existe uma política clara
nem coerente nas relações da Espanha com a América Latina, como conseqüência de
diversos fatores. Em primeiro lugar, o excessivo peso dos presidentes na orientação da
política externa espanhola, como comentada anteriormente (muda o mandatário, muda-se a
política). Em segundo lugar, pela descoordenação entre o Ministério de Economia,
responsável pela política comercial, e o Ministério de Assuntos Exteriores, responsável pela
política externa. Além do exposto anteriormente, parece que a Política de Cooperação para
o Desenvolvimento funciona de maneira “autônoma”. Os organismos responsáveis por ela
passaram por diversas mudanças: Centro Ibero-americano de Cooperação, Instituto de
Cultura Hispânica, Instituto de Cooperação Ibero-americana, Secretaria de Estado para a
Cooperação Internacional e para Ibero-América (1985), Agência Espanhola de Cooperação
Internacional (1988), Agência Espanhola de Cooperação Internacional para o
Desenvolvimento (AECID).
Por último, em 2006, foi criada, dentro do Ministério de Assuntos Exteriores e
Cooperação, a Secretaria de Estado para Ibero-América, nomeando-se como secretária a
Trinidad Jiménez, vereadora de Madri e porta-voz do PSOE na cidade
187
.
Portanto, atualmente, as relações política e comercial com a América Ibérica
dependem de quatro organismos: Ministério de Assuntos Exteriores e Cooperação, AECID,
Secretaria de Estado para Ibero-América e Ministério de Economia e Comércio.
Dentro das limitações que o pertencimento à União Européia impõe, diferente da
França com sua política africana, a Espanha não tem conseguido garantir independência e
protagonismo em suas relações com a América Ibérica.
187
EGURBIDE, Peru. Trinidad Jiménez encabeza la nueva Secretaría de Estado para Iberoamérica.El País,
06/09/2006. Disponível em:
http://www.elpais.com/articulo/espana/Zapatero/encarga/Trinidad/Jimenez/nueva/Secretaria/Estado/Iberoame
rica/elpepuesp/20060907elpepinac_7/Tes. Acesso em: 24/6/2008.
73
3.2.2 Cúpulas Ibero-americanas de Chefes de Estado e de Governo
As Cúpulas Ibero-americanas de Chefes de Estado e de Governo são celebradas
anualmente desde 1991, como mecanismo multilateral de diálogo, concertação e
cooperação entre os Estados de língua espanhola e portuguesa da América e Europa.
Estas cúpulas têm articulado um espaço comum ibero-americano, sendo sua mais
palpável realidade e potencial ponto de partida para o aprofundamento das relações entre o
conjunto dos países que o integram, que podem se materializar sob forma de concertação e
cooperações específicas, da mais variada natureza e nos mais diversos campos
188
. Hoje em
dia, mais além da retórica que as caracteriza, configuram um importante foro internacional
e um elemento essencial da política exterior espanhola e mais especialmente de sua política
latino-americana
189
.
Desde a primeira reunião, foram celebradas outras dezesseis, com diferentes
resultados e diferentes interpretações, das quais se podem tirar algumas conclusões.
A primeira, à vista dos acontecimentos históricos, é que as Cúpulas não podem ser
entendidas sem um país que as gerencie e exerça certa liderança direta, e parecia que esse
país não poderia ser outro além da Espanha, que deu início às pulas e desde o primeiro
momento foi seu coordenador. As reuniões têm sido realizadas ininterruptamente desde
1991 e é precisamente sua continuidade e duração um de seus principais ativos. As Cúpulas
Ibero-americanas continuam sendo um foro multilateral ibero-americano que se identifica
principalmente com a Espanha, mas apenas se o conjunto dos países ibero-americanos
assume plenamente o projeto terá futuro.
A segunda, conseqüência da anterior, é que a evolução e a orientação política das
mesmas têm estado excessivamente ligadas à orientação política do presidente espanhol em
exercício. Um primeiro período, entre 1990 e 96, ligado à presidência de Felipe González
(PSOE), em que se pretende buscar concertação e consenso com os países ibero-americanos
baseados em uma relação igualitária. Esta primeira fase, entretanto, pela proposta de “não
protagonismo” da Espanha, deu lugar a um declive generalizado do processo das Cúpulas.
188
ARENAL, Celestino del. Introducción: Construyendo un espacio común Iberoamericano. IN: Las
Cumbres Iberoamericanas (1991-2005) Logros y Desafíos. Madri: Fundación Carolina, 2005.
189
Arenal, C. del. El papel de España en las Cumbres. Madri, Real Instituto Elcano, 28/6/2004.
74
Um segundo período, entre 1997 e 2002, com José María Aznar (PP) como presidente
espanhol, em que a Espanha não apenas procura recuperar liderança, mas trata de arrastar a
política ibero-americana aos interesses dos Estados Unidos, provocando uma crescente
conflitividade interna. Por último, o terceiro período, sob comando do presidente José Luiz
Rodríguez Zapatero (PSOE), a partir de 2004, que procura recuperar o consenso e o espírito
de diálogo
190
.
Em terceiro lugar, a projeção das Cúpulas Ibero-americanas entra em conflito com
diversos organismos e instituições multilaterais (como União Européia, Mercosul, ALCA,
ALBA), aos quais os países ibero-americanos estão integrados. Por conseguinte, as Cúpulas
têm orientado cada vez mais seus esforços a aspectos de desenvolvimento social, cultural e
humano da região, abandonando aspirações de hegemonia política e comercial que tiveram
anteriormente, complementando os objetivos fundamentalmente econômicos e mercantis
das demais organizações.
Em quarto lugar, alguns governos no poder em países ibero-americanos estão
tratando de ocupar sua parcela de poder nas Cúpulas e de utilizá-las como plataforma para
propaganda. Um exemplo dessa circunstância foi o enfrentamento entre o Rei da Espanha e
o presidente venezuelano na XVII Cúpula celebrada em Santiago do Chile em 2007.
Um dos países com os quais sempre existiram pontos de fricção nas pulas é
Cuba, apesar de que a IX Reunião foi realizada em Havana, em novembro de 1999
191
, de
que Fidel Castro tenha assistido à maioria das Cúpulas, e de que em várias delas foi
condenado o embargo norte-americano à ilha
192
. Os enfrentamentos foram mais freqüente
durante o governo Aznar e, pelo contrário, atualmente as Cúpulas Ibero-americanas podem
ser cenário profícuo para apoiar uma transição pacífica e sem ruptura social em Cuba.
190
FRERES, Christian. La corta historia de las Cumbres. 1991-2004. IN: ARENAL, Celestino del. Las
Cumbres Iberoamericanas (1991-2005) Logros y Desafíos. Madri: Fundación Carolina, 2005.
191
IX Cumbre Iberoamericana de Jefes de Estado y de Gobierno. Declaração de Havana. 15-16/11/1999.
http://www.oei.es/ixcumbre.htm. Acesso em: 28/6/2008.
192
La Cumbre Iberoamericana pedi a EEEUU el fin del embargo a Cuba. Disponível em:
http//www.elmundo.es/elmundo/2005/10/13/espana/1129231387.html e Comunicado especial: XVII
Cumbre Iberoamericana de Jefes de Estado y de Gobierno. Disponível em:
http://embacu.cubaminrex.cu/Default.aspx?tabid=2009&mid=4688&ctl=Details&ItemID. Acesso em:
28/6/2008.
75
Por fim, na XV pula Ibero-americana de Chefes de Estado e de Governo,
celebrada em Salamanca (Espanha) em outubro de 2005, foi decidido criar uma estrutura
permanente: a Secretaria Geral Ibero-americana (SEGIB), cuja direção foi designada a
Enrique Iglesias. A institucionalização deve promover uma melhora da gestão da
organização e maior efetividade na implementação de suas recomendações e programas
193
.
A sede da SEGIB foi estabelecida em Madri.
3.2.3 Espanha e América Ibérica: relações dentro do multilateralismo
Este tema será tratado específica e detalhadamente no capítulo das Relações
hispano-brasileiras: aqui será apenas apontada sua relevância no contexto das relações
globais com a América Latina.
A Espanha e a maior parte dos países ibero-americanos participam de diversas
sociedades e organismos supranacionais, algumas de caráter político, outras no âmbito
comercial e econômico, etc., como nas Nações Unidas, Banco Mundial, Banco
Interamericano de Desenvolvimento, Organização Mundial do Comércio, Confederação
Mundial do Trabalho, União Européia, Mercosul, entre outras. Em geral, estes organismos
definem determinados compromissos econômicos (como pagamento de quotas,
cumprimento de normas de conduta, limitações sobre endividamento, etc.), comerciais,
(regulamentações aduaneiras, tarifas, etc.), políticos e sociais (como a imigração, por
exemplo), e se sub-rogam funções importantes dos estados membros, reduzindo sua
capacidade de manobra e autonomia.
Entre as organizações internacionais, a mais proeminente é a União Européia, que
tem legislação própria. A Legislação Comunitária é bastante extensa e detalhada, abarcando
quase todos os aspectos do funcionamento interno de um país: economia, trabalho, saúde,
assim como afeta as relações internacionais, isto é, as relações dos países membros com
terceiros países.
193
XV Cúpula Ibero-americana de Chefes de Estado e de Governo. Declaração de Salamanca, Outubro 2005.
Disponível em: http://www.oei.es/xvcumbredec.htm. Acesso em: 28/6/2008.
76
As relações da Espanha com os países ibero-americanos, como conseqüência, está
submetida às normas da Comissão Européia, em diversos aspectos: socais (legislação e
normativa sobre imigração, residência; em geral, movimento de pessoas), acadêmicos
(reconhecimento de titulações acadêmicas e profissionais), negociações comerciais (só em
escassas circunstâncias estas negociações podem se dar de forma bilateral), credenciais
tecnológicas, patentes, normas de qualidade, legislação sobre alimentos e equipamentos,
etc.
Essas limitações, no entanto, não existem apenas do lado europeu. Os países ibero-
americanos estão em alguns casos em condições parecidas, por se encontrarem ligados a
organismos regionais de características similares, como o MERCOSUL e Pacto Andino.
As negociações bilaterais, na atualidade, são portanto, menos bilaterais e mais
condicionadas por fatores “externos” aos países que negociam.
O fato de a Espanha ser membro da União Européia pode servir para que exerça
uma função de ponte, intermediando as relações entre os países ibero-americanos e o
“Velho Continente”, e não se refugiando nas limitações “regionais” para descuidar de seus
deveres e obrigações com esses países.
77
4 RELAÇÕES POLÍTICAS ENTRE BRASIL E ESPANHA
4.1 Relações diplomáticas
As relações diplomáticas entre o Brasil e a Espanha, como comentado no início
deste trabalho, não tiveram grande intensidade em nível bilateral e tampouco um
significado importante no contexto internacional, mesmo depois dos processos de
democratização e abertura ao exterior que tiveram lugar em ambos os países. Com o fim de
realizar uma exposição coerente sobre o assunto, serão apresentados três pontos: o início
destas relações, os fatos temporais de maior interesse e a situação atual.
4.1.1 O começo
As relações diplomáticas entre Brasil e Espanha a partir do século XX começam a
ter interesse a partir da Guerra Civil Espanhola (1936-9). Durante o conflito, as relações
bilaterais seguiram um curso normal, apesar das diretrizes do governo Vargas evidenciarem
sua incompatibilidade com o governo legalmente constituído na Espanha. As semelhanças
entre as idéias defendidas por Getúlio Vargas (1930-45) e pelos nacionalistas espanhóis
eram múltiplas. A República da Espanha, quando não se identificava com o comunismo,
era vista como modelo de desordem causada por instituições democráticas. Desta forma,
grande parte da elite política brasileira desejava um desenlace satisfatório para os
nacionalistas espanhóis
194
. Nesse contexto, em março de 1939, antes de cessar o conflito
civil espanhol, o Brasil reconheceu a Espanha nacionalista, representada pela Junta do
Governo de Burgos, encabeçada pelo General Francisco Franco.
Posteriormente, sob a presidência de Eurico Gaspar Dutra (1946-51), a postura do
Brasil mudou e, quando se debatia na ONU o “Caso Espanhol” e em 12 de dezembro de
194
IZEPE DE SOUZA, Ismara. Brasil en la trama del conflicto: el Gobierno Vargas, los inmigrantes
españoles y la sociedad brasileña ante la guerra civil española. Congreso Internacional La Guerra Civil
Española. Sociedad Estatal de Conmemoraciones Culturales. Disponível em:
http://www.secc.es/media/docs/8_3_Ismara_I_de_Souza.pdf. Acesso em: 28/6/2008.
78
1946 a Assembléia Geral aprovou resolução condenatória a Espanha, o Brasil era um dos
34 países que votaram a favor desta resolução.
Entretanto, desde 1949, o Brasil passou a expressar seu apoio à Espanha em todas as
questões propostas contra ela nas Nações Unidas e, em maio daquele ano, apresentou uma
proposta de resolução, junto a Bolívia, Colômbia e Peru, em que os signatários decidem
“sem voltar sobre as declarações contidas na Resolução de 1946, deixar as nações-membros
da ONU em total liberdade de ação no que se refere a suas relações diplomáticas com a
Espanha”. Como conseqüência dessa mudança de postura, em março de 1950, o Brasil
restabelece relações diplomáticas plenas com a Espanha e em novembro vota a favor da
derrogação da resolução de 1946
195
. Estas relações consolidam-se com a visita a Espanha
do Presidente Juscelino Kubitschek, em janeiro de 1956.
Não obstante, estas relações, desde o princípio, estiveram impregnadas por um
choque de interesses: o Brasil via a política espanhola de potencializar as relações com a
América Latina como uma forma de exercer domínio sobre a zona, o que contrariava sua
própria política, orientada a converter-se em líder da mesma.
A visita do chanceler espanhol Gregorio López Bravo a Brasília em 1971 foi
interpretada pelo Itamaraty como uma tentativa de conquistar o apoio brasileiro para as
pretensões espanholas de associação à ALALC (Associação Latino-americana de Livre
Comércio, criada em 1960), ou pelo menos de conseguir neutralizar as resistências
brasileiras. A política espanhola em relação ao Brasil passaria a estar pautada pelo objetivo,
ainda que implícito, de evitar uma posição de liderança brasileira no continente americano,
que pudesse comprometer o fortalecimento do chamado bloco “hispano parlante”,
centrando-se no estabelecimento de uma atenta vigilância sobre o desenvolvimento da
política brasileira para os países hispano-americanos
196
.
Se por um lado a saída da ditadura e a implantação da democracia na Espanha
melhoraram as relações entre ambos os países, por outra parte as desconfianças não
desapareceram. A iniciativa do governo de Felipe González de comemorar o V Centenário
195
MINISTÉRIO DE ASUNTOS EXTERIORES Y COOPERACIÓN - Dirección General de Comunicación
Exterior. Informe Brasil. Agosto de 2007.
196
Ofício Confidencial da Embaixada do Brasil em Madri para a Secretaria das Relações Externas (SER), 7
de Abril de 1972, AHB, caixa 05, pág. 13 – 14. Citado por Ayllón Pino (2004).
79
do Descobrimento da América, a partir de 1982, com a celebração de reuniões com os
países latino-americanos, contou também com a presença e a participação ativa do Brasil.
Os receios tradicionais que Brasil tinha demonstrado quanto a certas concepções da
política ibero-americana da Espanha continuaram latentes nos primeiros encontros
preparatórios
197
. As reticências brasileiras eram matizadas pelo pragmatismo com que o
Itamaraty afrontava a inevitabilidade desta iniciativa diplomática:
“Durante as sessões da II Reunião, manifestou-se de forma evidente a intenção
espanhola de utilizar as comemorações do V Centenário a favor da antiga aspiração de aglutinar
ao redor de Madri uma comunidade de países hispânicos ou ibéricos. (…) O México e o Brasil
colocaram em discussão a própria filosofia” que a Espanha queria que orientasse as
Comemorações. (…) Os países da América Central insistiram que a secretaria permanente fosse
exercida pela Espanha, através do Instituto de Cooperação Ibero-americana, com o que a
Espanha teria o comando da festa (…) da qual não podemos, nem devemos estar ausentes.
Como não deveria estar ausente Portugal”.
198
Não era questão de ganhar a inimizade espanhola por se negar a participar em uma
iniciativa em que o Brasil figuraria como co-patrocinador original a custo baixo e com
benefício que poderia ser alto. Os dados dos volumosos investimentos espanhóis entre 1996
e 2000 confirmaram que o diálogo político propiciado pelas Cúpulas Ibero-americanas
facilitou a aproximação econômica posterior
199
.
Quanto às razões da participação brasileira, analistas brasileiros coincidem em
afirmar que o presidente Fernando Collor pretendia aproveitar com a oportunidade das
Cúpulas Ibero-americanas as novas modalidades de inserção internacional oferecidas com o
fim da Guerra Fria. O presidente Collor pessoalmente apoiou a iniciativa, apresentada como
fruto de uma convocatória tripartite, ao entender que a proposta do presidente mexicano,
Carlos Salinas de Gortari, era uma ocasião para realçar o prestígio do Brasil na região e no
mundo, especialmente quando a cidade de Salvador sediaria a III Cúpula Ibero-americana
197
AYLLÓN PINO, Bruno. Brasil y la política de España en Latinoamérica, Carta Internacional, año X, nº
111.
198
Despacho confidencial da SER para a Embaixada do Brasil em Madri, 31 de agosto de 1984, AHB, caixa
279. Citado por Ayllón Pino (2004).
199
SANTOS, Theotônio dos.- As Relações Brasil Europa em transição.- Anuário Brasil Europa 2000,
Konrad Adenauer Stiftung, São Paulo, 2001.
80
(1993), apenas um ano depois da Conferência sobre Meio Ambiente (ECO-92) realizada no
Rio de Janeiro
200
.
Esta integração do Brasil nas Cúpulas Ibero-americanas constitui um dos fatores
mais importantes da “ibero-americanização” da política “latino-americana”, entendida até
então como hispânica apenas. Como veremos mais adiante, entretanto, uma vez
regularizadas as relações diplomáticas entre o Brasil e a Espanha, seu desenvolvimento
posterior estará mais condicionado pela economia e o comércio do que por conceitos
puramente políticos.
4.1.2 Os fatos mais destacados
A seguir, com base em dados do Itamaraty e do Ministério de Assuntos Exteriores e
Cooperação da Espanha e em levantamentos de Bruno Ayllón Pino (2004), detalham-se
outros marcos das relações entre o Brasil e a Espanha, de maneira meramente descritiva.
No Anexo III, inclui-se dados do Ministério de Assuntos Exteriores e Cooperação da
Espanha em relação ao intercâmbio de visitas entre este país e o Brasil, assim como
Tratados e Acordos assinados por ambos.
O marco inicial das relações bilaterais pode ser identificado pela visita do presidente
do governo espanhol Adolfo Suárez ao Brasil entre os dias 06 e 08 de agosto de 1979, a
convite do presidente João Baptista Figueiredo. Foi a primeira visita de um presidente
espanhol nos cento e cinqüenta e sete anos de independência do Brasil. Durante a visita,
estabeleceu-se um mecanismo de consultas anuais e os dois mandatários entraram em
acordo sobre a necessidade de ampliar a cooperação econômica bilateral.
Ainda nos anos de transição democrática, em 1983, os monarcas espanhóis vieram
ao Brasil em visita oficial. Em 14 de maio, os Reis da Espanha, Don Juan Carlos de
Bourbon e Dona Sofia, chegaram a Salvador. No ano seguinte, aconteceu a visita de Estado
à Espanha do presidente Figueiredo, entre os dias 11 e 14 de abril, que se entrevistou com o
200
AYLLÓN PINO, Bruno. Espana y Brasil em América Latina (1946 2000): de la Política de
Hispanidad franquista a las Cumbres Iberoamericanas.- Ediciones Universidad de Salamanca. América Latina
Hoy nº 37, 2004, p. 145-163.
81
rei Juan Carlos, o qual expressou apoio ao processo de abertura democrática no País. Em
1985, chegou a Madri o presidente eleito do Brasil, Tancredo Neves, para realizar uma
visita na qual se entrevistou com o rei da Espanha e com o presidente do Governo, Felipe
González.
Durante o governo de José Sarney, questões de caráter econômico e político
marcaram a agenda bilateral. Em abril de 1987, o ministro espanhol de Assuntos Exteriores,
Francisco Fernández Ordóñez visitou oficialmente o Brasil, com a missão de tentar reduzir
o déficit comercial espanhol, e anunciou a visita de Felipe González ao país para
impulsionar as relações bilaterais. Em 9 de abril, o Príncipe de Astúrias, Felipe de Bourbon,
visitou Salvador. O presidente do Governo da Espanha, Felipe González, veio ao Brasil
entre 13 e 18 de junho, ocasião em que pronunciou um discurso diante da Assembléia
Constituinte brasileira. Em agosto, o governador do Estado de São Paulo, Orestes Quércia,
anunciou a criação de dezoito centros de estudo de espanhol. Poucos dias depois, o
governador do Rio de Janeiro, Wellington Moreira Franco, estabeleceu o espanhol como
idioma optativo no segundo grau. Em fevereiro de 1988, aconteceu em Brasília assinatura
do Acordo sobre extradição, firmado pelo ministro de Relações Exteriores de Brasil,
embaixador Paulo Tarso Flecha de Lima e pelo ministro de Justiça espanhol, Fernando
Ledesma. Em março, o chanceler brasileiro viajou a Madri para ter uma reunião de consulta
política com as mais altas autoridades espanholas. Em abril, o secretário de Estado
espanhol para a Cooperação com a América Ibérica, Luis Yáñez, visitou o Brasil, tratando
com as autoridades brasileiras de assuntos relativos às comemorações do V Centenário do
Descobrimento da América. Em 26 de abril, Yáñez assinou um Convênio de Cooperação
para a realização de obras para a revitalização do centro histórico de João Pessoa (PB). O
rei da Espanha enviou, em 15 de julho, uma carta ao Sarney, felicitando-o pela nomeação
de seu primo, Manuel de Orleans e Bragança, como representante do Brasil nos assuntos
relacionados à EXPO-92. No contexto do Clube de Paris, a Espanha e o Brasil chegaram a
um acordo em 29 de julho, para o refinanciamento da dívida externa brasileira. Em outubro,
o governador Moreira Franco (RJ) visitou a Espanha, para tratar de assuntos econômicos.
O Governo espanhol esperou a realização das eleições presidenciais de 15 de
novembro 1989 antes de negociar acordo de créditos, investimentos, transferência de
82
tecnologia e cooperação cultural. Após a vitória de Fernando Collor de Mello no pleito, o
presidente eleito visitou a Espanha em fevereiro de 1990, quando, em entrevista com o
presidente González, confirmou sua intenção de concluir com a Espanha um Tratado de
Amizade e Cooperação. O presidente espanhol veio a Brasília assistir à posse do novo
presidente brasileiro em março.
Em maio de 1991, o presidente Collor voltou à Espanha em viagem oficial e assinou
a ata de bases do Tratado de Amizade e Cooperação hispano-brasileiro que previa
investimentos e empréstimos no valor de três bilhões de dólares. A imprensa espanhola
denunciou a aparente carência de conteúdo do Tratado. No ano seguinte, Collor voltou a
Madri, para participar da II Cúpula Ibero-americana e celebrar o Tratado Bilateral Geral de
Amizade e Cooperação e o acordo econômico complementar. O poeta brasileiro João
Cabral de Melo Neto, que foi diplomata do Itamaraty destinado na Espanha entre 1947 e
1967, visitou pavilhão do Brasil na Exposição Universal de Sevilha (EXPO 92)
representando o Presidente da República nas comemorações do 7 de Setembro. Em julho de
1993, o presidente Itamar Franco enviou ao Congresso brasileiro a lei que estabelece o
ensino obrigatório do espanhol.
O Tratado Geral de Amizade e Cooperação hispano-brasileiro entrou em vigor em
maio de 1994. Em setembro, ocorreu uma reunião de planejamento político em Madri, entre
as chancelarias dos dois países. No final do mês de setembro, depois de sete anos de
trabalhos, autoridades do Brasil e da Espanha inauguraram a terceira etapa da restauração
do centro histórico de João Pessoa, financiado com fundos da cooperação espanhola. Em 19
de outubro, o secretário geral do sindicato espanhol Comisiones Obreras (CCOO) visitou o
Brasil para entrevistar-se com representantes da Central Única de Trabalhadores (CUT) e
com o líder do Partido dos Trabalhadores (PT), Luiz Inácio Lula da Silva.
A Comissão Mista de Cooperação Brasil-Espanha, em setembro de 1995, reuniu-se
em Brasília pela primeira vez desde a entrada em vigor do Tratado Geral de Amizade e
Cooperação. Foram estabelecidos quatro blocos temáticos: educação, capacitação e
formação de recursos humanos; modernização interinstitucional; modernização de infra-
estruturas; setores produtivos e culturais. Felipe González visitou o Brasil em outubro, em
sua volta da Cúpula Ibero-americana de Bariloche. Na ocasião, foi assinada uma ata pela
83
qual se constituiu uma Comissão de Alto Nível, presidida pelos ministros de Assuntos
Exteriores, Javier Solana e Luiz Felipe Lampreia. O objetivo era a busca de mecanismos
para estimular o intercâmbio bilateral. As estatísticas comerciais do mês de dezembro
apontaram um aumento das exportações espanholas para o Brasil de 225%. Durante a
presidência espanhola da União Européia, no segundo semestre de 1995, foi assinado o
Acordo Marco de Cooperação Inter-regional entre a União Européia e o MERCOSUL em
dezembro.
No ano seguinte, o príncipe Felipe inaugurou em São Paulo, em 23 de novembro, a
maior exposição industrial da Espanha no exterior Expotecnia a que assistiram mais de
quatrocentos empresários espanhóis. O Instituto de Comércio Exterior espanhol (ICEX)
investiu no evento a maior quantidade dedicada até então em um projeto dessas
características: 1.750 milhões de pesetas (equivalentes a 10,5 milhões de euros).
Paralelamente à Expotecnia, constituiu-se o Comitê hispano-brasileiro de homens de
negócios. Foi inaugurada em São Paulo, em novembro, uma exposição de pintores
valencianos. O presidente Aznar lançou, na Cúpula Ibero-americana de Viña del Mar, uma
proposta para realização de uma Cúpula entre a União Européia, América Latina e Caribe.
Em 1997, o ministro Luiz Felipe Lampreia visitou Madri, para intensificar as
relações econômicas bilaterais. O presidente do governo, José María Aznar, iniciou em 16
de abril sua primeira visita oficial pelo Brasil, acompanhado por empresários de quarenta
grandes bancos e empresas espanholas. Aznar pôs em manifesto o papel da Espanha nas
relações da União Européia com o MERCOSUL. Em 27 de outubro, ocorreu a visita oficial
do vice-presidente Marco Maciel. Em outubro também visitou a Espanha o governador de
Minas Gerais, com a finalidade de atrair investimento para o estado.
A primeira visita do presidente Fernando Henrique Cardoso a Madri em abril de
1998 foi subitamente suspensa devido ao falecimento de apoios políticos: o ministro Sergio
Motta (Comunicações) e o deputado Luis Eduardo Magalhães. O presidente retomou a
visita no mês seguinte e, em suas entrevistas, tratou de assuntos econômicos - em especial
os investimentos espanhóis no Brasil nos setores bancário, de infra-estruturas e
telecomunicações. O rei da Espanha ressaltou ao presidente brasileiro que a “Espanha está
de novo hoje presente no Brasil, com uma aposta forte, esperançosa e irreversível para o
84
futuro”
201
. Por sua parte, o chanceler espanhol afirmou que a Espanha considerava o Brasil
uma das grandes prioridades da política exterior de seu país.
Depois que a crise financeira internacional atingiu o Brasil, em novembro, a
Espanha anunciou uma ajuda de um bilhão de dólares em apoio à economia brasileira. O
ministro Pedro Malan (Economia) foi à Espanha no início de 1999 para explicar ao governo
espanhol e aos investidores as medidas do Governo para a estabilização da economia
nacional, depois da desvalorização do real. O ministro espanhol de Energia, Josep Piqué,
inaugurou o seminário “Brasil-Espanha: novos caminhos e possibilidades” na sede da
Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), no dia 19 de abril. Realizou-se
no Rio de Janeiro, em junho, a I Cúpula União Européia, América Latina e Caribe (UE-
ALC), onde a UE apresentou mandato de negociação para alcançar uma zona de livre
comércio com o Mercosul. O ministro da Economia espanhol, Rodrigo Rato, visitou o
Brasil e, acompanhado de empresários espanhóis, participou, em 05 de julho, do seminário
“Brasil-Espanha: novas associações econômicas”, em que se analisaram as relações
econômicas bilaterais. Em 13 de outubro, durante a reunião do Patronato do Instituto
Cervantes, o rei da Espanha agradeceu a decisão do Brasil de incorporar o ensino do
espanhol a seu sistema educativo. Em 11 de novembro, foi assinado o Acordo bilateral
hispano-brasileiro em matéria de prevenção do consumo e controle do tráfico ilícito de
estupefacientes e substâncias psicotrópicas. O ministro espanhol de Educação e Cultura,
Mariano Rajoy, visitou o Brasil em dezembro, para apoiar iniciativas relacionadas com o
ensino obrigatório do espanhol. Rajoy assinou um rascunho para a elaboração de um
convênio para a implantação de uma dupla titulação hispano-brasileira. Em 29 de
novembro, o vice-presidente Marco Maciel e o chanceler espanhol inauguram em Madri o I
Encontro Empresarial Hispano-Brasileiro, em que Maciel destacou a importância das
afinidades culturais entre os dois países.
Em abril de 2000, aconteceu no Rio de Janeiro, o Seminário Brasil-Espanha
organizado pelo Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (IPRI/MRE). A segunda
visita oficial dos reis da Espanha ao Brasil ocorreu entre 10 e 13 de julho, com o propósito
201
Discurso do rei Juan Carlos em ocasião de almoço oferecido ao presidente Cardoso. Madri, 18/05/1998.
Disponível em: http://www.casareal.es/noticias/news/1449-ides-idweb.html. Acesso em: 18/09/2006.
85
de reafirmar os crescentes laços empresariais e culturais hispano-brasileiros. O rei encerrou
um seminário com 350 empresários (espanhóis e brasileiros). Os reis inauguraram, no Rio
de Janeiro, com motivo dos 500 anos do descobrimento do Brasil, a macro exposição de
pintura “Esplendores da Espanha”. Em 27 de outubro, o presidente FHC recebeu em
Oviedo o prêmio Príncipe de Astúrias de Cooperação Internacional e afirmou que as
relações entre Espanha e Brasil atingiam seu nível máximo.
No campo do intercâmbio acadêmico, vale lembrar a criação do Centro de Estudos
Brasileiros pela Universidade de Salamanca em 2001. Na inauguração deste centro, a
ministra espanhola de Educação e seu homólogo brasileiro assinaram convênio para
incentivar programas de formação conjuntos. No mesmo ano, em fevereiro, foi inaugurada
em Madri a feira de arte ARCO, que reuniu mais de cem artistas brasileiros. Em 5 de
março, o presidente Fernando Henrique recebeu o empresário espanhol Jesús de Polanco,
que explicou os planos de expansão do Grupo Prisa no País e as negociações para adquirir
as editoras brasileiras Objetiva e Moderna. Em 12 de março chegou ao Brasil o secretário
espanhol de Economia e Energia, Jo Folgado, acompanhado de trinta empresários
espanhóis. Na ocasião, ocorreu a assinatura de Acordo de Cooperação com a Petrobrás. Em
16 de março, foi assinado em Madri o Convênio de Cooperação entre o Ministério de
Educação, Cultura e Desporto da Espanha com o MEC brasileiro, para o desenvolvimento
de programas de formação, aperfeiçoamento e atualização de conhecimento de pós-
graduados e professorado universitário. Em 26 de abril, a ministra espanhola de Ciência e
Tecnologia, Ana Birulés, chegou a Brasília para assinar convênios com o governo brasileiro
para o desenvolvimento de projetos científicos. Em 17 de maio, foi inaugurada a Bienal do
Livro do Rio de Janeiro, em que a Espanha foi o país homenageado. Em junho, aconteceu
em Recife o II Encontro do Grupo Tordesilhas, integrado por representantes de
universidades da Espanha, Brasil e Portugal. Em 4 de julho, na sede do Centro para o
Desenvolvimento Tecnológico Industrial (CDTI) de Madri, inaugurou-se seminário
hispano-brasileiro de cooperação em ciência e tecnologia. Em 11 de julho, o Secretário de
Estado espanhol de Comércio, Juan Costa, anunciou que os investimentos espanhóis no
Brasil concentraram 60% do investimento nacional na América Latina no ano 2000. Em
de agosto, a exposição “De Picasso a Barceló” foi inaugurada em São Paulo. O presidente
86
do Banco Santander Central Hispano (BSCH), Emilio Botín, inaugurou em Porto Alegre
um centro cultural para a difusão da cultura gaúcha, declarando que a presença de seu
grupo no Brasil tinha caráter de permanência. No mês de setembro, foi apresentada em
Madri a exposição itinerante “Espanha, século XVIII” que chegaria ao Brasil em 2002, na
Pinacoteca do Estado de São Paulo e no Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro.
Em 06 de setembro foi constituída a Fundação Cultural hispano-brasileira. O presidente
FHC assistiu, em 27 de outubro, à Conferência sobre Transição e Consolidação
Democráticas, em Madri, referindo-se ao “exemplo” da transição espanhola. No dia
seguinte, em encontro com o presidente Aznar, os dois mandatários afirmaram que Espanha
e Brasil estavam em sintonia e que as relações bilaterais eram muito cordiais. Trataram
também da possibilidade de mudar o formato das Cúpulas Ibero-americanas.
Em 2002, o grupo BSCH patrocinou o lançamento do portal universitário Universia.
Em fevereiro, Brasil e Espanha realizaram um programa de cooperação bilateral para o
desenvolvimento rural integrado e auto-sustentável no semi-árido brasileiro. Em maio,
ocorreu a assinatura do Convênio complementar ao convênio bilateral de Seguridade
Social. No mês de abril, o chanceler Celso Lafer visitou a Espanha. Em maio, o presidente
Fernando Henrique assistiu à II pula Euro-latino-americana de Madri. Em julho,
inaugurou-se no Museu Nacional do Rio de Janeiro a exposição “O século XVIII: Espanha,
o sonho da Razão”. O presidente Aznar enviou telegrama felicitando a Luiz Inácio Lula da
Silva por sua vitória nas eleições presidenciais de outubro. A Universidade de Castilla La
Mancha criou uma Cátedra de Estudos Brasileiros. No ano seguinte, o Príncipe Felipe
representou a Espanha na posse do presidente Lula em Brasília. Em 15 de maio aconteceu a
terceira reunião bilateral de cooperação cultural e educacional, no Rio de Janeiro. O
presidente Lula foi à Espanha em julho, onde participou do encontro empresarial Brasil
Espanha auspiciado pela CEOE (Confederação Espanhola de Organizações Empresariais).
Depois de mais de seis anos, reuniu-se em julho em Madri a III Comissão Mista Brasil
Espanha de cooperação. O presidente Lula foi agraciado com o prêmio Príncipe de Astúrias
de Cooperação Internacional, deslocando-se para Oviedo, em outubro de 2003, para a
cerimônia de entrega. No mês de outubro, o presidente Aznar visitou o Brasil. Na ocasião,
Lula e Aznar anunciaram um Plano de Associação Estratégica que seria assinado em
87
novembro na Cúpula Ibero-americana de Santa Cruz de la Sierra (Bolívia). Criou-se a
Consejería de Informação da Embaixada espanhola no Brasil. A Rainha Sofía presidiu, em
outubro, em Brasília, a celebração do III Fórum Internacional de Micro-créditos.
O novo chanceler espanhol, Miguel Ángel Moratinos, visitou o Brasil em julho de
2004. Entre os temas abordados com seu homólogo Celso Amorim destacam-se questões
políticas bilaterais e multilaterais e a criação de canais de fomento para o financiamento de
pequenas e médias empresas. Brasil e Espanha assinaram, junto com outros países, a Carta
de São Paulo, no contexto do primeiro encontro de ministros de Cultura do Fórum Cultural
Mundial. O governo espanhol aderiu à Iniciativa de Genebra contra a Fome e a Pobreza,
auspiciada pelo presidente Lula. Em visita ao Brasil, a ministra de Cultura espanhola,
Carmen Calvo, anunciou a criação do Centro Cultural Brasil Espanha e a realização de
um acordo de cooperação com a Prefeitura de São Paulo para o ensino do espanhol nas
escolas municipais. Espanha e Brasil lançaram a rede internacional de cooperação das
Administrações blicas pelo software livre. No contexto da X Conferência das Nações
Unidas sobre Mudança Climática, no mês de dezembro, Brasil e Espanha assinam um
memorando para o desenvolvimento da cooperação bilateral em matéria de recursos
hídricos.
Em janeiro de 2005, o presidente do governo espanhol, Jo Luiz Rodríguez
Zapatero veio ao Brasil. A imprensa brasileira destacou que o Brasil se encontrava no alto
das preferências espanholas na América Latina. Durante a visita, foi assinada a Declaração
de Brasília para o relançamento do Plano de Associação Estratégica
202
. Também foram
assinados acordos em matéria de cooperação turística, meio ambiente, educação para
difusão das respectivas línguas e agricultura. Em fevereiro, os Príncipes de Astúrias
visitaram o Brasil. Inauguraram o Instituto Cervantes de São Paulo e um fórum de
investimentos promovido pelo ICEX. Também foi anunciada a instalação dos novos
Centros Culturais da cooperação espanhola em São Paulo e Salvador. Na estância em esta
última cidade, os Príncipes visitaram diversos projetos de cooperação financiados pelo
governo espanhol e foram recebidos por Carlinhos Brown e a comunidade do Candeal. O
202
HERNÁNDEZ, Enric. Zapatero hace a Lula su socio estratégico en Iberoamérica. El Periódico de
Extremadura, 24/01/2005. Disponível em:
http://www.elperiodicoextremadura.com/noticias/noticias.asp?pkid=153074. Acesso em: 28/6/2008.
88
secretário de Turismo e Comércio da Espanha, Pedro Mejía, anunciou o lançamento do
“Plano Brasil” para fomentar o estabelecimento de mais empresas espanholas no País.
Em visita a Espanha, em fevereiro de 2006, a ministra de Minas e Energia, Dilma
Rousseff aplaudiu o comportamento das empresas espanholas. Em abril se realizou em
Madri a primeira reunião da Aliança Brasil Espanha, patrocinada e impulsionada pela
Telefónica. No mês de maio, a ministra espanhola de Agricultura, Elena Espinosa, visitou o
Brasil. Entre suas atividades, destaca-se a negociação de um convênio de cooperação
bilateral em desenvolvimento rural que abranja o setor vitivinícola, cooperativismo e
seguros agrários. A segunda reunião da Aliança Brasil Espanha foi realizada em São
Paulo, no mês de junho.
Mais recentemente, o presidente Lula visitou oficialmente a Espanha e apresentou a
empresários espanhóis, em setembro de 2007, seu Plano de Aceleração do Crescimento
(PAC), visando buscar cooperação e apoio para sua implementação.
203
Esta visita teve três
tipos de atividade. Por uma parte, uma atividade fundamentalmente diplomática e bilateral:
visitas de Estado e reuniões com o presidente Rodríguez Zapatero, com os Reis e Príncipes
da Espanha, com o Ministro de Assuntos Exteriores. Em segundo lugar, a inauguração de
um seminário sobre o PAC e as perspectivas das economia brasileira, organizado pelo
Instituto Elcano e pela Embaixada do Brasil na Espanha. O evento foi presidido, na
abertura, pelo presidente Lula, o príncipe Felipe e o Ministro espanhol de Indústria,
Comércio e Turismo, Juan Clos. A exposição do PAC foi realizada pela Ministra Dilma
Rousseff dele participaram os presidentes das maiores empresas espanholas presentes no
Brasil: Banco Santander, Telefónica, Iberduero, Gamesa, entre outras. Por último, durante a
visita, foram assinados, entre Brasil e Espanha, diversos convênios nas áreas consular,
diplomática e judicial, assim como um Plano de Ação em Ciência e Tecnologia.
No mês de maio de 2008, o presidente Zapatero, em sua primeira viagem oficial
depois da posse do segundo mandato, visitou o presidente Lula em Brasília. O objetivo
dessa visita era discutir planos de cooperação com terceiros países, a ser apresentados na V
Cúpula União Européia – América Latina e Caribe, realizada ainda no mês de maio·.
203
Lula llega a España para buscar una segunda oleada de inversiones. El País.com, 15/09/2007,
Internacional, p.10.
89
4.1.3 Bilateralidade vs Multilateralidade
As limitações decorrentes da integração de ambos os países em blocos políticos e
econômicos, que não afeta apenas Brasil e Espanha, implicam fundamentalmente em três
aspectos das relações bilaterais: as relações econômicas e comerciais, os aspectos
relacionados ao trânsito de pessoas (migração) e as contingências puramente políticas.
Quanto às relações econômicas e comerciais, cada um dos grupos regionais, seja a
União Européia, ALCA, MERCOSUL, Pacto Andino, têm implicações sobre as soluções a
todos os temas comerciais, tarifários, de subsídios devem ser tratados em uma mesa de
negociações não apenas internacional, mas “inter-regional”, como está acontecendo nas
negociações da Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio.
Atualmente, as relações econômicas e comerciais do Brasil com a União Européia
supõem 25% do intercâmbio comercial, um terço do superávit comercial e cerca de 50%
dos investimentos externos do País
204
.
As migrações, no que se refere a Brasil e Espanha, serão tratadas no Capítulo 8
sobre Aspectos Sociais das relações bilaterais. O tema é bastante complexo, agravado neste
momento por dois fatores: a crise econômica mundial, que está produzindo recessão nos
países do denominado primeiro mundo e a miséria dos países pobres, que compele suas
populações a emigrar apesar dos riscos e inconvenientes que a prática supõe. Diante dessa
pressão externa, os países da União Européia estão endurecendo a legislação e tratando de
“blindar” suas fronteiras, o que tem criado freqüentemente situações conflitivas.
Do ponto de vista político, terminada a Guerra Fria, o “mundo em transformação”
no qual os problemas sociais, os integracionismos e novamente os nacionalismos têm
obrigado os países a se posicionar.
Em segundo lugar, a assimetria de poder entre Espanha e Brasil. Apesar de que até
recentemente, e ignorando por ora a questão das dimensões de cada um, a Espanha aparecia
204
Fonte: Mercosur ABC.
90
como um país rico e desenvolvido e o Brasil pobre e em desenvolvimento. Esta situação
está mudando: o País tem enorme potencial de crescimento, com PIB semelhante ao
espanhol (e com perspectivas de superá-lo a curto prazo).
Do ponto de vista geopolítico, o Brasil tem protagonismo crescente em seu entorno,
enquanto a Espanha não tem essa possibilidade em sua área de influência imediata (UE).
As relações entre Brasil e Espanha, portanto, o cada vez mais assimétricas. Ao
Brasil, na potencialização de sua presença no mundo, pode ser útil uma associação com a
Espanha, por suas conotações ibero-americanas e imagem de neutralidade, dadas as
facilidades culturais para o entendimento mútuo.
4.1.4 A situação atual
Visto o exposto até o momento, percebe-se que existem boas relações bilaterais
entre os países, que precisam ser matizadas. No que se refere à situação atual, os aspectos
políticos se destacam pela ausência de problemas: não existe nenhum contencioso entres os
dois países mais do que devido a uma colaboração em assuntos internacionais, regionais
ou bilaterais, não existe uma sintonia política por objetivos comuns. Quanto às relações
econômicas, comerciais e financeiras, elas constituem na atualidade o núcleo fundamental
da relação bilateral. Isto é, e como ressaltaremos e detalharemos mais adiante, Brasil e
Espanha, mais do que aliados do ponto de vista político, são parceiros econômicos. É certo
que este caso não é exclusivo das relações atuais, posto que, cada vez mais os aspectos
financeiros estão primando sobre os políticos nas relações internacionais em geral.
4.2 A paradiplomacia das Comunidades Autônomas
Atores governamentais sub-nacionais contribuíram notavelmente com a
internacionalização da Espanha e especificamente no que se refere a potencializar sua
presença na América Latina e no Brasil: destaca-se o papel das Comunidades Autônomas
(CA). Se por uma parte, a política exterior, de acordo com a Constituição de 1978, é uma
91
competência do Estado, isso não tem impedido que as Comunidades Autônomas, em maior
ou menor grau, tenham tratado de potencializar sua presença no exterior, fundamentalmente
com fins comerciais e turísticos, se bem em alguns casos também como promoção de seu
componente nacionalista. Esta presença tem sido proporcional à própria importância das
CA, assim, a presença exterior destaca-se especialmente para Catalunha, País Basco,
Galícia e Comunidade Valenciana.
Nesta etapa de intensificação dos contatos políticos hispano-brasileiros, as
Comunidades Autônomas exercem papel importante (umas mais que outras), em duas
vertentes
205
: visitas oficiais de seus presidentes e estabelecimento de escritórios
representativos.
Entre as visitas de seus presidentes ao Brasil, destacam-se as cinco visitas do
presidente da Xunta de Galícia, Manuel Fraga (1991, 1995, 1997, 1998 e 1999), as três do
presidente da Generalitat de Catalunha, Jordi Pujol, (1988, 1997, 1998), as duas dos
lehendakariak do País Basco José Antonio Ardanza e Juan José Ibarretxe (1998, 2003) e
outras efetuadas por Ruiz Gallardón, da Comunidade de Madri (1998), Juan José Lucas, da
Comunidade de Castilla-León (2000) e Miguel Sanz, da Comunidade Foral de Navarra
(2000).
Quanto ao estabelecimento de escritórios comerciais ou de representação das CA no
Brasil, destacamos as seguintes: Agencia Andaluza de Promoção Exterior (Extenda);
Associação de Exportadores Asturianos (Exportastur) e Instituto para el Desarrollo
Económico do Principado de Astúrias (IDEPA); Câmara de Madrid; Consorcio de
Promoção Comercial de Catalunha (COPCA); Instituto de Fomento para la región de
Murcia (INFO Murcia); Instituto Valenciano de la Exportação (IVEX); Exportaciones de
Castilla y León (Excal) e Sociedad para la Promoción y Reconversión Industrial (SPRI, do
País Basco).
205
AYLLÓN PINO, Bruno. Zapatero y Lula: ¿Nuevo signo en las relaciones Hispano – Brasileñas? Boletín
Brasil. Centro de Estudios Brasileños Ortega y Gasset. Enero – Febrero 2005, vol. 2, nº 1.
92
4.3 Cooperação Bilateral
Trataremos da cooperação entre os dois países sob os seguintes conceitos:
cooperação institucional, cooperação política, cooperação dos segundo e terceiros setores e
fundos de ajuda ao desenvolvimento.
4.3.1 Cooperação Institucional
A cooperação entre Brasil e Espanha está orientada pelos seguintes acordos
bilaterais: Acordo Cultural de 25 de julho de 1960
206
, Convênio Básico de Cooperação
Científica e Tecnológica, de 13 de abril de 1989
207
, Tratado Geral de Cooperação e
Amizade entre a República Federativa do Brasil e o Reino da Espanha, de 23 de julho de
1992 (Capítulos III e IV)
208
, Plano de Ação em Matéria de Ciência e Tecnologia entre
Brasil e Espanha, de 07 de fevereiro de 2008
209
, e IV Reunião da Comissão Mista Brasil-
Espanha de Cooperação, de 28 de fevereiro de 2008
210
.
Do lado espanhol, as atividades institucionais de cooperação são desenvolvidas
quase exclusivamente pela Agência Espanhola de Cooperação Internacional para o
Desenvolvimento (AECID), criada pelo Real Decreto 1403/2007
211
, que substitui a Agência
Espanhola de Cooperação Internacional (AECI). A AECID está adstrita ao Ministério de
206
Assinatura: Madri, 25 de junho de 1960. B.O.E. de 9.06.1965.
207
Diário Oficial, 1992-08-20, núm. 160, págs. 11289-11291
208
Assinatura: Madri, 23 de julho de 1992. B.O.E. de 6.07.1994.
209
Plano de Ação em matéria de Ciência e Tecnologia entre o governo do Reino da Espanha e o governo da
República Federativa do Brasil. Fonte: Agencia Espanhola de Cooperação. Disponível em:
http://www.fcm.aeci.es/09cultural/02ccult/ftp/PLANACCIONBRASILVERSESPA%C3%91A.pdf. Acesso
em: 25/5/2008.
210
Ata da IV Reunião da Comissão Mista Brasil-Espanha de Cooperação. Fonte: Agencia Brasileira de
Cooperação. Disponível em: http:/www.abc.gov.br/download/ATA_BrasilEspanha.pdf. Acesso em:
25/05/2008.
211
Boletim Oficial do Estado, Real Decreto 1403/2007, de 26 de outubro, pelo qual se aprova o Estatuto da
Agência Espanhola de Cooperação Internacional e Desenvolvimento (AECID). Disponível em:
www.aecid.es/estatuto/estatutoAeci26-11-07.pdf. Acesso em: 25/5/2008.
93
Assuntos Exteriores e de Cooperação, através da Secretaria de Estado de Cooperação
Internacional.
No Brasil, o organismo homólogo é a Agência Brasileira de Cooperação (ABC),
dependente do Ministério de Relações Exteriores.
Atualmente a Espanha é um dos países europeus que aporta maior volume de ajuda
ao Brasil, somando 13,6 milhões de euros sob o conceito de Ajuda Oficial ao
Desenvolvimento (AOD) em 2006. A Espanha aumentou o orçamento para 2008 destinado
a AOD em 33,8%.
De acordo com a Ata da IV Reunião da Comissão Mista Brasil-Espanha de
Cooperação, de 28 de fevereiro de 2008, o Programa de Cooperação 2008-12 tem os
seguintes objetivos gerais: luta contra a pobreza; defesa dos direitos humanos; igualdade de
gênero; sustentabilidade ambiental e respeito à diversidade cultural. Do ponto de vista
operacional, são dois os objetivos da cooperação: fortalecimento da capacidade
institucional, com ênfase no fortalecimento da justiça e da função pública, e
desenvolvimento integral da região Nordeste. O Plano de Ação de Ciência e Tecnologia
prevê as seguintes atividades e projetos: tecnologia da informação e comunicação;
nanotecnologia e nano medicina; engenharia biomédica, genômica e proteômica;
biotecnologia; energias renováveis e biocombustíveis; pesquisa agro-pecuária;
hidrogeologia; atividades aeroespaciais; divulgação da ciência e cooperação entre
museus.
212
Entrando em programas concretos, temos os seguintes projetos, agrupados por
objetivos:
1. Governança Democrática, Participação Cidadã e Desenvolvimento
Institucional.
.1. Fortalecimento do Estado de Direito
- Desenvolvimento Institucional da Escola Nacional de Magistratura
do Trabalho (ENAMAT).
212
Para informação mais detalhada sobrela estratégia da Cooperação Espanhola para o Brasil, do Ministério
espanhol de Assuntos Exteriores e Cooperação Plan de Actuación Especial de Brasil, ver
http://www.maec.es/es/MenuPpal/Cooperacion%20Internacional/Publicaciones%20y%20documentacin/Docu
ments/Brasil%20D__documentos_PAE_2_2.pdf.
94
- Criação e Desenvolvimento da Escola Nacional de Magistratura
(ENFAM)
- Programa de Capacitação e Educação em Direitos Humanos para
Profissionais dos Sistemas de Justiça, Segurança e Docentes
Universitários do Estado da Bahia (PROCEDH).
- Apoio ao Fortalecimento de Políticas Públicas para a população
Guarani na Região Trans-fronteiriça (Brasil – Argentina – Paraguai).
.2. Desenvolvimento da Administração para o serviço ao cidadão e boa
gestão dos assuntos públicos
- Fortalecimento da Gestão de Políticas para a Inclusão Social do
Governo Federal Brasileiro.
- Desenvolvimento Gerencial Estratégico no Governo Federal Brasileiro
- Fortalecimento da Agência de Fomento de Alagoas (AFAL)
- Fortalecimento das capacidades de Gestão das Administrações
Públicas Municipais.
- Governança Local para o desenvolvimento
Cobertura das Necessidades Sociais
.1. Educação
- Cooperação Acadêmica
- Programa Bolsas MAEC – AECID
- Programa de Cooperação Universitária (PCI)
- Inclusão social através da educação
- Projeto Bravo Bahia
- Projetos Oficina – Escola de João Pessoa (Paraíba), Salvador (Bahia)
e São Luis (Maranhão)
- Parceria para o Desenvolvimento da Comunidade de Candeal,
Salvador (Bahia).
95
- Projeto Saberes de Águas para alfabetização de pescadores
artesanais do Rio São Francisco (Bahia)
.2. Saúde
- Transferência da metodologia do Sistema Diraya: acordo entre a
Comunidade Autônoma da Andaluzia e os Estados de Alagoas e Pernambuco.
- Escola Materno – Infantil de Candeal, Salvador (Bahia)
.3. Habitabilidade Básica
- Projeto de Revitalização do Porto do Capim (Paraíba)
- Projeto de Revitalização Urbana em São Luis (Maranhão)
3. Promoção do Tecido Econômico e Empresarial
3.1. Pesca
- Desenvolvimento da Pesca Artesanal na Área de Influência do Parque
Nacional Lençóis Maranhenses.
- Apoio ao Desenvolvimento de um Centro de Formação de Pesca e Cultura
Marinha em Cabedelo (Paraíba).
3.2. Turismo
- Projeto de Desenvolvimento do Setor Turístico no Parque Nacional Serra da
Capivara (Piauí)
- Projeto de Desenvolvimento Turístico do Litoral Oeste do Ceará.
- Projeto de Desenvolvimento de Setor Turístico na Área de Influência do
Parque Nacional Lençóis Maranhenses.
- Projeto de Desenvolvimento Turístico Cultural na Região das Missões
Jesuítas, Guarani (Rio Grande do Sul).
4. Ecoturismo
- Projeto para o Desenvolvimento do Ecoturismo na Ilha de Marajó (Pará)
96
- Projeto para o Desenvolvimento do Ecoturismo na Região do Delta do
Parnaíba (Piauí).
Podem-se incluir ainda os projetos realizados através de organismos multilaterais,
como o Fundo Espanha–PNUD para o desenvolvimento integrado e de inclusão, do
Programa de Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD); as ações de fortalecimento
dos sindicatos frente às novas metas de integração na América Latina e de promoção do
emprego juvenil na região, no âmbito da Organização Internacional do Trabalho (OIT); e o
Programa Eurosocial da Comissão Européia. No âmbito regional, há projetos de
cooperação entre os países membros do MERCOSUL. Da cooperação derivada das Cúpulas
Ibero Americanas de Chefes de Estado e de Governo, que será tratada em outro capítulo,
destacam-se os seguintes projetos:
Programa de Apoio ao Desenvolvimento de Arquivos Ibero Americanos (ADAI);
Programa de Aplicação em Rede para Casos de Emergência (ARCE);
Centro de Desenvolvimento Estratégico Urbano (CIDEU);
Programa Ibero-americano de Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento
(CYTED);
Programa de Desenvolvimento em Apoio à Construção de Espaço Cênico Ibero
Americano (IBERESCENA);
Escola Ibero – Americana de Governo e Políticas Públicas (IBERGOP);
Programa de desenvolvimento Audiovisual em apoio à Construção do Espaço
Visual Ibero – Americano (IBERMEDIA);
Programa Ibero-americano de Cooperação Interinstitucional para o
desenvolvimento da Pequena e Média Empresa (IBERPYME);
Programa Ibero-americano pela Qualidade (IBERQUALITAS);
Programa de Alfabetização e Educação Básica para Adultos (PAEBA);
Programa Ibero-americano de Cooperação em Matéria de Bibliotecas Públicas
(PICBIP);
Rede de Arquivos Diplomáticos Ibero-americanos (RADI);
97
Coleção Integrada de Livros à Venda na América Ibérica (RILVI);
Televisão Educativa Ibero-americana (TEIB);
Rede Ibero-americana de Escolas Judiciais (RIAEJ);
Rede Ibero-americana de Documentação Judicial (IBERIUS);
Rede Ibero-americana de Cooperação Judicial (IberRED).
4.3.2 Cooperação da Empresa Privada e Organizações Não Governamentais
A cooperação dos segundo e terceiro setores direciona-se, na maioria dos casos, às
áreas de tecnologia e cultura. A cooperação em ciência e tecnologia está em fase ainda
embrionária, mas pode ter um futuro promissor, especialmente em áreas de grande interesse
econômico, estratégico e comercial, como são as relacionadas com energia,
telecomunicações, aeronáutica.
Existem acordos institucionais de cooperação tecnológica entre Brasil e Espanha,
dentre os quais se destacam aqueles desenvolvidos pelo Centro para o Desenvolvimento
Tecnológico e Industrial (CDTI, espanhol) com a Financiadora de Estudos e Projetos
(FINEP), empresa pública vinculada ao Ministério de Ciência e Tecnologia brasileiro.
Dentro desta colaboração desenvolveram-se nos últimos anos 54 projetos, no montante de
US$ 87 milhões
213
. Nesta linha, destacamos também o Convênio de Colaboração
Acadêmica entre a Universidade Politécnica de Madri e a Embaixada do Brasil na Espanha
para a criação de uma Cátedra de Ciência e Tecnologia naquela instituição.
214
Entre as atividades de cooperação pelo setor privado, destacam-se três setores:
energia, aeronáutica e telecomunicações. Os investimentos espanhóis no Brasil no campo
da energia, especialmente as fontes renováveis, abriram caminho para a cooperação
tecnológica, com o desenvolvimento de tecnologias locais próprias. Com relação à
Indústria aeronáutica, a empresa espanhola Aernova (antiga Gamesa aeronáutica) colaborou
com a Embraer para o desenho e a fabricação de aviões, como conseqüência da qual se
213
http://157.88.193.41/GrupoTordesillas/Documentos/CuartoEncuentro/CDTI.ppt Acesso em 23-09-2007
214
http://157.88.193.41/GrupoTordesillas/Paginas/Catedra Madrid.php Acesso em: 08/07/2007.
98
constituiu uma sociedade local, Aernova Brasil, transferindo parte da produção espanhola
para o Brasil. Quanto a Telecomunicações, ressaltar que a empresa telefônica espanhola,
amplamente instalada no Brasil, está desenvolvendo no país programas de Pesquisa e
Desenvolvimento, associados a empresas locais e prevê aumentar o número desses
programas, constituindo no Brasil o maior centro de desenvolvimento tecnológico da
empresa na América Latina.
4.3.3 Fundos de Ajuda ao Desenvolvimento
Os Fundos de Ajuda ao Desenvolvimento (FAD) têm sido um importante
instrumento de cooperação e internacionalização das empresas espanholas nos últimos
anos, embora no Brasil tenham pouca relevância.
O governo espanhol estabeleceu os FAD a partir do Real Decreto de 25 de
Fevereiro de 1977 que instituiu a Comissão Interministerial para a Ajuda ao
Desenvolvimento, encarregada de outorgar os créditos de Fomento ao Desenvolvimento,
estabelecidos no Real Decreto Lei de 24 de Agosto desse mesmo ano.
Associados a estes créditos FAD, o governo espanhol pôs à disposição dos países
elegíveis, os Fundos de Estudo de Viabilidade (FEV). Estes fundos, não retornáveis,
destinam-se ao estudo, elaboração e avaliação de projetos. Como os FAD, sempre
relacionados com as áreas de desenvolvimento social. No Brasil, foram financiados cerca
de quinze estudos, conforme Tabela 07.
Tabela 07
Estudos financiados no Brasil com FEV
PROJETOS ÓRGÃO SOLICITANTE
Ferrovia São Paulo - Campinas
Estado de SP - Secretaria de
Transportes Metropolitanos
Ampliação do Metrô de Fortaleza
Estado de CE - Secretaria de Infra-
estruturas (METROFOR)
Plataforma Logística Multimodal em
Juazeiro
Estado de BA - Secretaria de
Infraestructuras
99
Saneamento Básico de Pequenas
Comunidades
Estado de RS - Secretaria de Obras
Públicas e Saneamento
Ampliação da ferrovia São Paulo -
Campinas, até Aeroporto de Viracopos
Estado de SP - Secretaria de
Transportes Metropolitanos
Programa estadual de resíduos sólidos
Estado de CE - Secretaria de Infra-
estruturas
Recuperação e Desenvolvimento da
bacia hidrográfica do Rio Santa María
Estado de RS - Secretaria de Obras
Públicas e Saneamento
Saneamento Básico de Pequenas
Comunidades
Estado de MG - Secretaria de
Desenvolvimento Regional e Política
Urbana
Plataforma Logística Multimodal no
Rio Grande do Sul
Estado de RS - Secretaria de
Transportes
Construção de sistema de distribuição
de água no Semi-árido da Bahia
Estado da BA- Secretaria de Meio
Ambiente e Recursos Hídricos
Plano Diretor de Resíduos Sólidos do
Distrito Federal
Governo do DF - Secretaria de Infra-
estruturas e Obras
Programa de desenvolvimento
sustentável do Semi-árido Sergipano
Estado de SE - Secretaria de
Agricultura
Construção de sistema de distribuição
de água no Semi-árido da Bahia
Estado de BA - Secretaria de Meio
Ambiente e Recursos Hídricos
Plano Diretor de Resíduos Sólidos do
Distrito Federal
Governo do DF - Secretaria de Infra-
estruturas e Obras
Programa de desenvolvimento
sustentável do Semi-árido Sergipano
Estado de SE - Secretaria de
Agricultura
Fonte: Oficina Económica y Comercial de la Embajada de España en Brasília
Com base na existência dessas linhas de crédito brando, a Espanha assinou
múltiplos acordos de colaboração com diferentes países da América Latina, que permitiram
não apenas melhorar as relações políticas, mas também promover a presença das empresas
e indústrias espanholas nestes países.
Com o Brasil, foi negociada em 2004 a assinatura de um Convênio Bilateral, que
incluía a abertura de uma linha de crédito FAD. Entretanto, no final não chegou a se
materializar nenhum acordo e, apesar de que existe a disponibilidade econômica, tampouco
se materializou algum projeto baseado nesta forma de financiamento, cuja disponibilidade
termina em junho de 2008.
100
101
5. RELAÇÕES ECONÔMICAS ENTRE BRASIL E ESPANHA
A mudança de enfoque da política exterior espanhola para América Latina,
iniciada por Felipe González, a partir de 1982, foi seguida por Aznar e não sofreu
modificações substanciais por Zapatero
215
. Trata-se da “economização da política ibero-
americana”, como destacada anteriormente. As relações comerciais e financeiras entre
Espanha e Brasil foram crescendo em forma paralela aos processos de democratização e
liberalização econômica e se materializaram em alguns casos em forma bilateral e em
outros casos através de instituições políticas ou financeiras multilaterais.
O processo de crescimento dos fluxos bilaterais comerciais e de investimento nos
últimos dez anos coloca o Brasil como o primeiro parceiro econômico e comercial da
Espanha na América Latina: o Brasil é o primeiro destino das exportações espanholas para
a América do Sul, terceiro no continente americano e um dos primeiros receptores de
investimentos diretos espanhóis no mundo
216
.
A importância das relações econômicas, financeiras e comerciais, que supera à das
relações puramente políticas não é fenômeno que afeta exclusivamente Brasil e Espanha:
atualmente, as atividades das Embaixadas em todo mundo e, em geral, dos Serviços
Exteriores dos países, estão mais centradas nos temas econômicos.
5.1 Comércio bilateral
No início dos anos 1990, os fluxos comerciais entre a Espanha e o Brasil se
caracterizavam por seu valor reduzido, da ordem de US$ 900 milhões anuais, saldo
favorável ao Brasil e com uma taxa de cobertura para a Espanha de apenas 21% em 1992.
Desde então, ocorre forte crescimento dos fluxos em ambos os sentidos. Este aumento do
comércio bilateral, no entanto, tem acompanhado o crescimento global do comércio
215
ROITMAN ROSENMANN, Marcos. Los ejes de la política exterior de España hacia Latino América.
Disponível em: www.jornada.unam.mx/2007/02/18/index.php?section=opinion&article=028al. Acesso em:
23/09/2007.
216
GARZÓN, Francisco Javier. Relaciones económicas España – Brasil. El gran socio suramericano;
Economía exterior. Nº 27. 2003 / 2004.
102
brasileiro, que passou de US$ 101 bilhões em 1996 para US$ 229 bilhões em 2006 (v.
Tabela 08).
Tabela 08
Balança Comercial Brasileira (valores em US$ FOB)
Ano Exportação Importação Saldo
Corrente de
Comércio
1996 47.746.728.158
53.345.767.156
-5.599.038.998
101.092.495.314
1997 52.994.340.527
59.747.227.088
-6.752.886.561
112.741.567.615
1998 51.139.861.545
57.763.475.974
-6.623.614.429
108.903.337.519
1999 48.011.444.034
49.294.638.739
-1.283.194.705
97.306.082.773
2000 55.085.595.326
55.838.589.722
-752.994.396
110.924.185.048
2001 58.222.641.895
55.572.176.018
2.650.465.877
113.794.817.913
2002 60.361.785.544
47.236.751.800
13.125.033.744
107.598.537.344
2003 73.084.139.518
48.304.598.424
24.779.541.094
121.388.737.942
2004 96.475.244.310
62.813.150.832
33.662.093.478
159.288.395.142
2005 118.529.184.899
73.600.375.667
44.928.809.232
192.129.560.566
2006 137.807.469.531
91.349.560.988
46.457.908.543
229.157.030.519
Acum.
799.458.435.287
654.866.312.408
144.592.122.879
1.454.324.747.695
Fonte: MDIC
As importações brasileiras procedentes da Espanha multiplicaram-se por cinco entre
1992 e 1995 e passaram de US$ 1,1 bilhão a partir de 1997, equilibrando a balança
comercial entre os dois país, que passou a ser favorável para a Espanha entre 1997 e 2001.
O comércio bilateral mais que duplicou em relação ao início da década de 1990, passando a
se estabilizar em torno da média de US$ 2,4 bilhões anuais. Em 2002, houve forte déficit
desfavorável à Espanha, principalmente devido à desvalorização do real, que motivou a
queda de 21,8% das exportações para situá-las em US$ 975 milhões. O Brasil foi o décimo
oitavo cliente da Espanha, sexto entre os não-comunitários e terceiro no continente
americano, atrás dos EUA e do México.
As importações espanholas procedentes do Brasil subiram de US$ 937 milhões em
1996 para US$ 3.476 milhões em 2007, colocando o país como o vigésimo sexto
103
fornecedor. Do lado brasileiro, em 2002, a Espanha situou-se como o décimo segundo
fornecedor e o décimo quarto consumidor de produtos brasileiros (Tabela 09).
Tabela 09
Balança Comercial Brasil – Espanha
Valores em US$ FOB
Ano Exportação Importação Saldo
Corrente de
Comércio
1996 937.498.840
908.525.614
28.973.226
1.846.024.454
1997 1.056.996.252
1.140.714.710
-83.718.458
2.197.710.962
1998 1.055.712.864
1.194.849.127
-139.136.263
2.250.561.991
1999 1.169.257.844
1.179.539.446
-10.281.602
2.348.797.290
2000 1.008.767.776
1.119.125.393
-110.357.617
2.127.893.169
2001 1.043.300.735
1.224.967.502
-181.666.767
2.268.268.237
2002 1.121.199.705
975.285.509
145.914.196
2.096.485.214
2003 1.554.041.589
974.442.486
579.599.103
2.528.484.075
2004 1.987.558.891
1.175.775.138
811.783.753
3.163.334.029
2005 2.177.382.985
1.332.573.637
844.809.348
3.509.956.622
2006 2.330.367.717
1.431.096.119
899.271.598
3.761.463.836
2007 3.476.310.366
1.843.309.710
1.633.000.656
5.319.620.076
2008 * 2.510.732.380
1.356.373.802
1.154.358.578
3.867.106.182
Acum. 21.429.127.944
15.856.578.193
5.572.549.751
37.285.706.137
* Dados referentes Janeiro-Julho 2008
Fonte: MDIC - Estatísticas de Comércio Exterior
O comércio bilateral apresenta uma pauta reduzida de produtos, em ambos os lados,
e configura um padrão de especialização que coloca o Brasil como fornecedor de matérias
primas e produtos agrícolas e a Espanha como fornecedora de produtos industriais e
manufaturados. Por grandes grupos de produtos, os bens industriais representaram em
média 87,7% das exportações espanholas para o Brasil, enquanto os bens de consumo
representaram 7,7% e os agrícolas, 4,6%. As duas partidas mais importantes são partes e
acessórios de automóveis (11,46%) e partes e acessórios para aviões e helicópteros
(16,91%). As exportações brasileiras para a Espanha apresentam um grau de concentração
ainda maior, sendo que os dez primeiros produtos representam 56,54% do total, e trata-se
104
de produtos básicos e agrícolas, como a soja principal partida com 20,35% da exportação
brasileira para a Espanha -, e minério de ferro, madeira, café, carnes e milho.
A Tabela 10, elaborada pela Direção Geral de Aduanas da Espanha apresenta os dez
primeiros componentes das importações e exportações espanholas em relação ao Brasil nos
últimos três anos.
Tabela 10
Principais componentes do intercâmbio comercial entre Espanha e Brasil
Ordem
Exportações Espanha a Brasil Exportações Brasil a Espanha
1
Partes e componentes de aviões e
Helicópteros
Grãos de soja
2
Partes e acessórios de veículos
automotores
Milho
3
Azeites de petróleo ou minerais
betuminosos
Minerais de ferro e concentrados
4
Livros, folhetos e impressos, inclusive
folhas soltas
Fundição em bruto e especular, em
lingotes e blocos
5 Carbonatos e peroxocarbonatos Produtos laminados planos de ferro e aço
6 Azeite de oliva e derivados Café
7 Árvores de transmissão
Resíduos sólidos da extração de óleo de
Soja
8
Elementos para vias férreas (fundição,
ferro, aço)
Madeira
9 Fornos industriais ou de laboratório Carne e despojos comestíveis de aves
10
Aparelhos emissores de radiotelefonia,
radiodifusão ou televisão
Carne bovina congelada
Fonte: DGA - Espanha
O crescimento do comércio bilateral, no entanto, não foi acompanhado pelo
aumento da representação espanhola no total do comércio exterior brasileiro: tem-se
mantido em torno dos 2% do comércio total do Brasil, como apreciado na Tabela 11,
ocupando o décimo lugar entre os destinos das exportações brasileiras desde 2002
217
·. O
217
LEO, Sergio. Exportação do Brasil sobe 514 % desde 2002 e eleva investimentos. Valor Econômico,
05/08/2008, Brasil, A4.
105
Brasil, por sua vez, em janeiro de 2007, ocupava a posição 24 no ranking de destino das
exportações espanholas por países
218
.
Tabela 11
Participação espanhola no comércio brasileiro
Ano
Exportação
Importação
Corrente de
Comércio
1996
1,96% 1,70% 1,83%
1997
1,99% 1,91% 1,95%
1998
2,06% 2,07% 2,07%
1999
2,44% 2,39% 2,41%
2000
1,83% 2,00% 1,92%
2001
1,79% 2,20% 1,99%
2002
1,86% 2,06% 1,95%
2003
2,12% 2,02% 2,08%
2004
2,06% 1,87% 1,98%
2005
1,84% 1,81% 1,83%
2006
1,69% 1,57% 1,64%
2007
2,16% 1,53% 1,89%
Fonte: Elaboração própria com dados do MDIC
5.1 Investimentos espanhóis no Brasil
Como ocorre na economia da globalização, os fluxos financeiros entre Espanha e
Brasil e concretamente da Espanha ao Brasil foram muito mais importantes do que os
intercâmbios comerciais. Neste contexto, o Brasil é um país que historicamente recebe
volume significativo de investimento estrangeiro. A participação espanhola nesses
investimentos representa em média 12,42% do total nos últimos doze anos, apesar das
variações, contempladas na Tabela 12.
218
Datos comparativos de la exportación española entre enero de 2006 y enero de 2007. El Exportador, Maio
2007, p.51.
106
Tabela 12
Investimento Estrangeiro Direto no Brasil 1996 – 2007
(US$ milhões)
ANO
IED
TOTAL
IED
ESPANHOL
% SOBRE
TOTAL
1996 7.665,49
586,63
7,65
1997 15.310,95
545,79
3,56
1998 23.270,77
5.120,23
22,00
1999 27.571,89
5.702,00
20,68
2000 29,876,37
9.592,86
32,11
2001 21.041,70
2.766,58
13,14
2002 18.778,30
586,90
3,12
2003 12.902,41
710,47
5,50
2004 20.265,34
1.054,93
5,20
2005 21.521,57
1.220,43
5,67
2006 22.231,30
1.513,74
6,80
2007 33.704,58
2.163,52
6,42
Total 224.264,30
31.564,08 12,42
Fonte: Banco Central do Brasil - Diretoria de Fiscalização
(DIFIS).
A posição relativa da Espanha, entre os investidores no Brasil, também tem variado
ao longo deste período, como se aprecia na Tabela 13.
Tabela 13
Posição relativa da Espanha no total de IED no Brasil
(1996 - 2007)
Ano
Posição
Espanha
Ano
Posição
Espanha
1996 5 2002 10
1997 7 2003 6
1998 1 2004 4
1999 2 2005 7
2000 1 2006 5
2001 2 2007 4
107
Grande parte desta entrada de capitais, como comentado no capítulo 2, foi
produzida como conseqüência das privatizações, apesar deque não se pode perder de vista
que estas privatizações foram dominadas por empresas de capital brasileiro, isto é, por
empresas nacionais, que aportaram 51% do total do capital destinado a compra de empresas
públicas
219
.
Os investimentos das empresas espanholas implantadas e/ou com relações
comerciais com o Brasil abrangem amplo espectro de negócios e atividades, mas existem
ainda possibilidades de aumentar os intercâmbios bilaterais, seja aprofundando setores
consolidados, seja iniciando atividade em novos segmentos. Serão tratados os três mais
expressivos e com maior potencial de desenvolvimento: energia, turismo e pesca.
Primeiramente faremos referência às novas fontes de energia: biocombustíveis, energia
eólica e energia solar. Entre as energias convencionais, serão abordadas petróleo, gás
natural e eletricidade.
5.1.1 Energia
Biocombustíveis: etanol e biodiesel
Etanol. O crescimento da produção de álcool destinado a sua utilização como fonte
de energia passou de cifras praticamente desprezíveis em 1975 a quase 40 milhões de litros
em 2005
220
. Na Europa, atualmente, a Espanha é o maior produtor, com 615 mil toneladas
de etanol produzidas em 2006. De fato, entre 2000 e 2006, foram implementadas cinco
novas plantas de produção de etanol.
219
ARAHUETES, Alfredo. Inversión extranjera directa en la economía brasileña, 1990 – 2003; Economía
Exterior. Nº 27 – 2003 / 2004.
220
"Biocombustibles: Un Aporte para la Seguridad Energéticas".
Seminario Agroenergía-Biocombustibles (FAO, Santiago, 27 de julio de 2006). Disponível em:
http://www.minmineria.cl/img/fao.ppt Acesso em: 07/07/ 2007.
108
Biodiesel. Como o etanol, sua produção disparou nos últimos anos, passando de
cifras insignificantes em 1991 para 3.700 bilhões de litros em 2005, sendo a Alemanha o
primeiro produtor mundial, de acordo com o Worldwatch Institute.
Nos últimos anos, porém, esta situação tem variado bastante, especialmente na
Espanha e no Brasil. O projeto conjunto das empresas espanholas Acciona e Repsol para a
implantação de uma nova planta de biodiesel na Espanha, com investimento de 300 milhões
de Euros e produção programada de um bilhão de toneladas anuais, deverá situar o país
como cabeça da produção européia, liderando o mercado continental de biocombustíveis,
tanto no que se refere a etanol como a biodiesel.
221
O Brasil, por sua vez, está promovendo a produção de biodiesel em grande escala,
com base em duas linhas de atuação. Por uma parte, tornando progressivamente obrigatória
a mistura de biodiesel com combustíveis convencionais procedentes do petróleo: para 1º de
janeiro de 2008, a porcentagem de mistura obrigatória será de 2% e para 2010, subirá para
5%. Isto representa um mercado potencial de aproximadamente 840 milhões de litros por
ano
222
. Por outra parte, aumentando a produção. Neste sentido, a empresa hispano-brasileira
Naturoil Combustibles Renovables vai investir 55 milhões de dólares em uma planta de
biodiesel em Ourinhos (SP), com capacidade de produção de 227 milhões de litros ao ano.
Está prevista uma segunda fase do projeto, com investimento adicional de 200 milhões de
dólares, para produção de quinhentos milhões de litros anuais. Além disso, a Petrobrás está
pondo em funcionamento três plantas de biodiesel nos estados do Ceará, Bahia e Minas
Gerais, com produção esperada de 172 milhões de litros anuais.
Apesar dos investimentos das empresas espanholas neste setor, especialmente
através da criação de empresas mistas, nenhuma delas participou nas 23 aquisições de
empresas para a consolidação de grupos de produção, que aconteceram entre 2005 e os
primeiros meses de 2006, como se pode apreciar no Anexo VI “Aquisição de empresas
produtoras de biocombustíveis 2005-7”. Provavelmente, a explicação para este fato seja
que as empresas espanholas do setor já tinham consolidado sua presença antes desta época.
221
http://acciona.es/secciones/0002040206/Es/64980.pdf .- 7 de julio 2007.
222
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA AGRICULTURA E ALIMENTAÇÃO. O estado
mundial da agricultura e alimentação. Disponível em: www.fao.org. Acesso em: 08/07/ 2007.
109
Na Espanha atualmente, apenas 1,5% das gasolinas está composto por combustíveis
vegetais. A previsão de que para 2010 a lei obrigue que esta proporção aumente até 5,83%,
ou seja, quase quadruplicar a porcentagem atual, explicita a possibilidade de crescimento
dos biocombustíveis. Esta mesma política de aumento do conteúdo de biocombustíveis nas
gasolinas será norma para toda a União Européia
223
.
Por outra parte, como afirmou o presidente Lula em reunião em Bruxelas para
negociar a entrada desse tipo de combustível na União Européia, em julho de 2007,
“ao optar pelos biocombustíveis, mais de cem países produzirão energia. O acesso a
esta energia será muito mais democrático e serão reduzidas as desigualdades entre os países
produtores e os consumidores, uma vez que se evitarão conflitos pela escassez de produtos
energéticos”
224
.
Na produção de biocombustíveis, especialmente etanol, o Brasil tem vantagem
diante dos outros países, por partir da cana de açúcar e pelas inovações tecnológicas que
desenvolveu para o processo. Os demais produtores utilizam cereais como matéria-prima,
que têm preço maior e provocam a distorção do mercado de cereais para consumo humano
e ração animal, repercutindo no custo dos alimentos. Por outra parte, o rendimento dos
cereais é muito mais baixo do que o da cana de açúcar: o método brasileiro tem
produtividade quase 50% superior aos sistemas de produção empregados por outros países,
especialmente os Estados Unidos
225
, país que tem interesse em colaborar com o Brasil no
desenvolvimento tecnológico ligado à produção de etanol
226
.
A empresa espanhola Abengoa, instalada no Brasil, inaugurou em 2007, nos
Estados Unidos uma planta de produção de etanol a partir da biomassa de resíduos de
cereais e outros produtos, inclusive florestais. O investimento foi de US$ 215 milhões e
terá capacidade de produção de 50 milhões de litros por ano. Esta nova tecnologia deve
223
http://www.publispain.com/revista/energias-renovables-los-biocarburantes.htm.- 7 de julio 2007
224
El País, 06/07/2007, p. 04. Tradução livre.
225
O responsável da IEA (Agencia Internacional de Energia) afirma que o etanol de cana brasileiro é bastante
competitivo. El País, 07/07/2008, Economía, p.24.
226
EE.UU y Brasil ultiman un acuerdo para la producción de Etanol. El País, 04/03/2007, Economía, p.41. e
EE.UU busca un acuerdo con Brasil para producir más etanol. El País, 08/02/2007, Internacional, p.11.
110
revolucionar a produção de etanol naquele país, por utilizar matérias-primas que não
competem com a cadeia alimentar humana
227
.
Energia Eólica
A Espanha ocupa o primeiro lugar no mundo em produção de energia eólica. Este
protagonismo da indústria espanhola no setor envolve duas frentes. De um lado, produção
de “aero geradores”, componentes e tecnologia associada a esses elementos. A empresa
Gamesa é atualmente o líder mundial no setor, ao lado da dinamarquesa Vestas Wind
System
228
. De outro, produção de energia elétrica de origem eólica. A empresa espanhola
Iberdrola (que possui participação no capital da Gamesa) é a líder no mundo na produção
de energia elétrica deste tipo. A Gamesa é uma das empresas que mais investe em Pesquisa
e Desenvolvimento neste campo: 1% do faturamento, que em 2006 foi de 2,39 milhões de
Euros. Possui cinco centros de pesquisa, um na Dinamarca e quatro na Espanha
229
.
A Iberdrola, por sua vez, é líder mundial em geração de energia eólica e seus
projetos contemplam enorme crescimento. Em 2007, o potencial instalado no conjunto dos
países em que está presente foi de 6.835 MW. A previsão para 2011 é a geração de 14.694
MW
230
.
Ambas as empresas têm importante presença no Brasil, não apenas com
investimentos, mas também como empresas locais com produção própria, constituindo um
elemento de interesse no entramado industrial brasileiro.
A Iberdrola, em 2004, instalou sua primeira planta no Brasil: Parque Eólico de Rio
do Fogo, situado em Rio Grande do Norte, com 49,3 MW de potência, com investimento de
66 milhões de Euros
231
. O segundo grande parque eólico de Brasil foi instalado em Osório,
no Rio Grande do Sul.
A Gamesa, por sua vez, inicia sua presença com os primeiros contratos em 2002
232
:
227
La energía está en la biomasa. El País, 21/10/2007, Negocios, p.13.
228
Iberglobal, 13 /06/ 2007.
229
GOROSPE, Pedro. Plan Renove para el viento. El País, 21/10/2007, Negocios, p.12.
230
GOMEZ, Carlos. Viento huracanado para Iberdrola. El País, 03/06/2007, Negocios, p.5.
231
http://www.eleconomista.es/empresas-finanzas/noticias Acesso em: 27/06/2007
232
Idem.
111
Tabela 14
Contratos da Gamesa no Brasil (2002)
Parque
Produção
Mw
Localização Estado
Inaguração
Parque Eólico Jaguarão 50,15 Jaguarão RS 12/11/2002
Parque Eólico Cassino 80,75 Rio Grande RS 12/11/2002
Parque Eólico Serra do
Antunes
98,6 Piratini RS 12/11/2002
Parque Eólico Tainhas 99,45
São Francisco de
Paula
RS 12/11/2002
Parque Eólico Jiribatu 85
Santa Vitória do
Palmar
RS 12/11/2002
Parque Eólico
Livramento
149,6
Santana do
Livramento
RS 12/11/2002
Energia Solar
Nesta indústria a Espanha também é pioneira e suas empresas deste setor estão
presentes no Brasil. A Gamesa Solar conseguiu seu primeiro contrato em janeiro de 2002,
associada à também espanhola Isofóton: contrato para fornecimento de 576 sistemas
fotovoltaicos para escolas na Amazônia, pelo importe de três milhões de dólares.
233
A partir
daí, os investimentos neste tipo de energia e a implantação de empresas espanholas do setor
no Brasil tem sido crescente.
Energias Convencionais
No setor das energias convencionais (gás e petróleo), existem fortes relações entre
Brasil e Espanha. A Repsol YPF, maior empresa espanhola e uma das maiores do mundo,
tem grande peso no Brasil, desde o acordo assinado em 1998 com a Petrobrás, em várias
fases:
233
Fonte: Avance Empresarial. Disponível em: http://www.guiadeprensa.com/construccion/energias/gamesa-
solar.html. Acesso em: 27/06/07.
112
¾ Prospecção: a partir de 2001, a Repsol YPF realiza investimentos anuais entre 40
e 50 milhões de dólares na busca de petróleo e gás natural em território
brasileiro
234
.
¾ Refino: a primeira empresa estrangeira a investir em refino de petróleo no Brasil,
através de sua associação com a FEPAF (Fundação de Estudos e Pesquisas
Agrícolas e Florestais - SP) e a refinaria de Manguinhos (RJ)
235
.
¾ Extração: participa na plataforma marinha na jazida Albacora Leste (Bacia de
Campos, RJ), onde investiu 198 milhões de dólares
236
. As atividades do
consórcio formado por Petrobrás (45%), Repsol (25%) e British Gas (25%)
resultaram na descoberta de novos poços, com reservas estimadas entre 33 e 70
bilhões de barris de petróleo
237
.
¾ Distribuição e venda: possui 475 postos de gasolina, 400 com bandeira Repsol e
75 com a de YPF.
Por último, dentro deste ponto, ressaltar a posição política e estratégica comum da
Repsol YPF com a Petrobrás, no contencioso do gás com a Bolívia.
A associação entre a Espanha e o Brasil, em forma de empresas mistas, está dando
lugar a autênticos gigantes industriais que não apenas propiciam aumento de riqueza
(incremento das exportações, criação de postos de trabalho, etc.) mas também
desenvolvimento tecnológico relevante, especialmente no desenho e produção de material
para explorações no fundo do mar, área em que o Brasil é líder mundial, apesar da falta de
equipamento suficiente
238
.
234
Repsol-YPF espera producir petróleo em Brasil em cinco años. Disponível em:
http://www.finanzas.com/id.2255846/noticias/noticia.htm Acesso em: 27/06/2007.
235
Repsol YPF ratifica su interés por Brasil y decide invertir 200 millones de dólares en el país. Repsol YPF y
Brasil estrechan sus lazos comerciales. Empresa Exterior, 01/03/2003. Disponível em:
http://www.empresaexterior.com/conte/394.asp. Acesso em: 27/06/2007.
236
CHAPARRO, Eva. Repsol invertirá 196 millones de euros en Brasil en 2006. Empresa Exterior,
22/05/2006. Disponível em: htpp://www.empresaexterior.com/conte/3882.asp. Acesso em: 27/06/2007.
237
Los nuevos pozos de Repsol YPF em Brasil producirán en unos cinco os. El País, 16/04/2008,
Economía, p.23.
238
Brasil congela las concesiones de petróleo por falta de equipàmiento. El País, 16/05/2008, Economía, p.21.
113
¾ Energia elétrica: Endesa e Iberdrola têm presença, sobretudo na distribuição e
transporte de energia, e de forma mais modesta na geração.
A Iberdrola é, atualmente, a principal empresa de distribuição elétrica no Brasil
239
.
Junto com o Banco do Brasil e o fundo Previ, gere o Consórcio Neoenergia, que faz a
distribuição elétrica da Bahia, Pernambuco e Rio Grande do Norte. Controla ainda as
empresas Enerbrasil (de energias renováveis) e Energy Works (de prestação de serviços no
setor elétrico). Na área de geração, o grupo conta com uma central termoelétrica em
Pernambuco (Termo Pernambuco), além de um projeto para a construção de outra central
elétrica no Rio Grande do Norte (Termo Açu).
A Endesa, por sua vez, distribui energia no estado do Rio de Janeiro, é proprietária
de duas linhas de transmissão de alta tensão entre Argentina e Brasil e possui duas centrais:
hidrelétrica de Cachoeira Dourada (Goiás) e termoelétrica de Fortaleza (Ceará). Criou uma
holding, Endesa Brasil, da qual dependem suas filiais no país.
Estão presentes também outras empresa no setor: Cobra, Abengoa, Gamesa,
Inabesa, Elecnor e Isolux, adjudicatárias de projetos de instalação e manutenção de linhas e
transporte de eletricidade. Em julho de 2007, Abengoa Bioenergia comprou, por US$ 677
milhões, a brasileira Adriano Ometto Participações, do grupo Dedini Agro, e produz etanol
e açúcar em duas plantas no estado de São Paulo. Em junho de 2008, as companhias
espanholas Isolux e Cymi se adjudicaram um contrato da Companhia de Transmissão de
Energia Elétrica Paulista (Cteep), para a instalação de 720 quilômetros de linhas de
transmissão que vão conectar as cidades de Colinas (Tocantins) e São João de Piauí (Piaui)
240
.
¾ A empresa Gas Natural possui 54% da CEG, empresa de distribuição de gás da
região metropolitana do Rio de Janeiro e 72% da CegRio, que atua no interior do estado.
Tem ainda a distribuição no sul do estado de São Paulo. Entre suas empresas, conta com
mais de 700 mil clientes, situando-se como a maior empresa de distribuição de gás por
número de clientes.
239
Las empresas piden estabilidad para seguir invirtiendo en Latinoamérica. El País, 21/11/2007, Economia,
p.26.
240
CAPELA, Mauricio. Cteep fecha parceria com espanholas.- Valor, 11/06/2008, p. B8.
114
5.2.2 Turismo
Apesar de seus numerosos atrativos, o Brasil ainda não conta com uma indústria
turística desenvolvida, tendo importantes carências em infra-estrutura e know-how turístico.
Depois da diminuição em 2002, passando dos cinco milhões de turistas registrados
em 2001 para 3,8 milhões, como conseqüência da crise argentina e do 11 de Setembro, em
2003 ocorreu modesta recuperação, chegando aos 4,1 milhões de turistas, que se consolidou
até alcançar 4,6 milhões, quantidade que se elevaria a 5,4 milhões de turistas em 2005. Em
2006, no entanto, esta cifra diminuiu novamente, para cinco milhões, com escassa
recuperação em 2007 (5,2 milhões) de turistas. O potencial de crescimento é importante e,
sem dúvida, este é um dos setores que pode ter mais interesse para o investimento espanhol.
Além disso, nos últimos anos, houve um aumento médio dos ingressos por turismo, de
3,5% anual. Assim sendo, o governo brasileiro comprometeu promover o turismo, a fim de
alcançar a cifra de nove milhões de visitantes estrangeiros até 2010.
A principal dificuldade para as perspectivas futuras continua sendo a escassa
capacidade aérea, apesar do recente aumento de freqüências por parte de diversas
companhias – situação agravada pela quebra da Varig. O problema vai se resolvendo
progressivamente devido ao aumento de vôos das companhias Ibéria (aumentou de um para
três os diários, dois a São Paulo e um ao Rio de Janeiro), e Air Europa, além da maior
participação em vôos oceânicos da TAM, Gol e da própria Varig. As linhas aéreas
portuguesas (TAP) também aumentaram sua freqüência de vôos para o Brasil em 2007.
Este aumento da freqüência, que alcança trinta vôos semanais entre Brasil e Espanha, deve
favorecer o intercâmbio turístico.
Para analisar a situação atual do segmento entre os dois países, serão considerados
os fluxos turísticos de brasileiros para a Espanha e de espanhóis para o Brasil, a infra-
estrutura brasileira e a colaboração existente bilateralmente.
115
¾ Fluxo de turismo do Brasil para a Espanha
Em 2005, a Espanha recebeu a visita de 222.487 turistas brasileiros, um aumento de
21,1% em relação ao ano anterior e, em 2006, esta cifra subiu novamente para 269 mil
turistas. Apesar de estes dados serem preliminares, revelam um panorama otimista para o
turismo brasileiro, sendo a Espanha o quarto destino internacional para os turistas
brasileiros.
Estima-se em dez milhões de pessoas o mercado potencial de viajantes
internacionais brasileiros, com alto poder aquisitivo e elevado nível acadêmico. O brasileiro
é um mercado emissor quantitativamente modesto, mas qualitativamente interessante
caracterizado pela alta rentabilidade, motivado quase que exclusivamente pelo interesse e
afinidade cultural e idiomática, que facilita a integração. O nível de gasto médio do turista
brasileiro é 63 % superior à média e o gasto médio diário é 29 % superior, comparado com
o restante dos turistas que visitam a Espanha.
¾ Fluxo de turismo da Espanha para o Brasil
O fluxo de turistas da Espanha para o Brasil tem crescido nos últimos anos e em
2007 o número foi quase o dobro do constatado em 2003
241
.
Tabela 15
Número de turista espanhóis no Brasil
Ano
Número de
turistas
Variação
2003 115.941
2004 147.895 27,50%
2005 169.999 15,00%
2006 211.741 12,45%
2007 216.373 2,18%
241
España, un mercado de “altísima prioridad” para el Instituto Brasileño de Turismo. Disponível em:
http://24horas.excite.es/economia/turismo--administraciones-autonomicas-y-
locales/43659/EconomiaTurismo-Espana-un-mercado-de-altisima-prioridad-para-el-Instituto-Brasileno-de-
Turismo. Acesso em: 10/08/2008.
116
Considerando os diferentes programas que costumam ser considerados na hora
eleger um destino turístico (praias, centros urbanos, aspectos históricos, natureza, campo,
aventura), o Brasil tem oferta variada e competitiva. Não obstante seus atrativos, o Brasil
recebe menos turistas espanhóis do que o Caribe, incluindo o México, e da Argentina,
apesar da distância, o que poderia ser explicado pelo idioma e pela valorização do Real.
Para promover a “Marca Brasil” e aumentar o número de turistas, a Empresa
Brasileira de Turismo (Embratur) elaborou um programa denominado Aquarela”, que ao
longo do período 2007-10 pretende desenvolver uma série de atividades destinadas a
promover e aumentar o fluxo turístico para o País
242
. Em relação à Espanha, dentro destas
atividades, está a participação na Feira Internacional do Turismo (Fitur, em Madri), na
Expovacaciones (em Bilbao) e a Feira do Turismo de Valência. Soma-se ainda a promoção
de diferentes atividades culturais, que ajudam a divulgar o País, como é o caso do festival
de música Rock in Rio 2008, realizado em Madri e patrocinado pela Embratur (agora,
Instituto Brasileiro do Turismo)
243
. Na mesma linha, foi criada a Associação para o
Desenvolvimento Imobiliário e Turístico do Nordeste Brasileiro (Adit)
244
.
¾ Infra-estrutura Turística
A experiência da Espanha no setor turístico pode ser considerada das maiores do
mundo, sendo atualmente o segundo país do mundo quanto ao número de visitantes. Esta
experiência traduz-se na existência de grandes redes hoteleiras, algumas das quais, como
comentado anteriormente, estão presentes no Brasil. Sem embargo, que existem enormes
possibilidades de desenvolvimento do setor e, portanto, possibilidades de colaboração
bilateral, tanto em nível privado como público.
242
MINISTÉRIO DO TURISMO. Plano Nacional de Turismo 2007 – 2010 – Plano Aquarela e Projeto Vai
Brasil. Disponível em: http://www.turismo.gov.br. Acesso em: 10/08/2008.
243
El Instituto Brasileño de Turismo patrocina Rock in Rio Madrid 2008. Disponível em:
http://www.europapress.es/internacional/noticia-espana-brasil-instituto-brasileno-turismo-patrocina-rock-in-
rio-madrid-2008-20080624142122.html. Acesso em: 10/08/2008.
244
SANCHEZ-SILVA, Carmen. Brasil quiere convertirse em destino turístico. El País, 06/07/2008, Negócios,
p.14.
117
A presença de empresas hoteleiras espanholas no Brasil, comentado anteriormente,
está abaixo daquela desenvolvida em outros destinos turísticos, como Cuba, República
Dominicana e México e, portanto, existem possibilidades de crescimento neste campo.
A questão da “segunda casa”, cujo desenvolvimento pode condicionar uma linha de
investimento no Brasil, fonte de postos de trabalho e aumento do mero de visitantes. No
lançamento deste tipo de projeto, o Brasil participou da 11ª edição do Barcelona Meeting
Point, que recebeu pela primeira vez o “Live & Invest in Brazil”, com área de 4.000m²
dedicados a projetos imobiliários no País; e do Salão Imobiliário de Madri (SIMO), em
abril de 2008.
¾ Colaboração bilateral
Foram estabelecidos programas de colaboração bilateral entre Espanha e Brasil no
setor do turismo. O interlocutor por parte do Brasil é o Ministério do Turismo. As
atividades a ser realizadas consistirão em projetos de desenvolvimento turístico em regiões
brasileiras menos desenvolvidas. Em um primeiro momento, os projetos serão executados
na Serra da Capivara (Piauí) e na região dos Lençóis Maranhenses e Camocim (Ceará).
Em 2006, foi inaugurado o escritório de turismo do Brasil na Espanha, que desde
então tem desenvolvido ações de promoção dentro do citado “Plano Aquarela”, elaborado
pelo Ministério do Turismo.
Em visita do presidente Lula a Espanha (2007), foi assinado acordo para
transferência de tecnologia espanhola de turismo para o Brasil. Na ocasião, a ministra do
turismo, Marta Suplicy, destacou a necessidade de aumentar o peso do setor turístico no
País, que atualmente representa apenas 2,6% do PIB (na Espanha, são 12%); a
possibilidade de desenvolver o modelo espanhol dos “Paradores
245
”; o interesse em
promover investimentos dos hoteleiros espanhóis (a ministra reuniu-se com representantes
245
Rede de hotéis situados em edifícios históricos, palácios, castelos, monastérios, etc., adaptados para tal fim.
Esta rede cobre todo o território espanhol, trabalha como um único sistema de reservas e se distingue pela
qualidade de seu serviço, pela boa gastronomia, enfatizando o alimento regional, e por excelente relação de
preço/qualidade. Disponível em: http://www.parador.es/ Acesso em: 26/09/2007.
118
das redes locais: Sol Meliá, NH Hoteles, Nicolás Mateos e Fluxa y Riu) e em desenvolver o
turismo doméstico, com base em programas para aposentados similares aos espanhóis.
¾ Profissionalização
A citada experiência espanhola também pode ser importante no que se refere à
profissionalização dos recursos humanos do setor: garçons, cozinheiros, diretores de hotel,
etc. Esta experiência pode ser benéfica para o Brasil e a colaboração da Espanha no nível
oficial para implantação de centros e/ou programas de formação estaria garantida.
¾ Investimentos
A principal rede instalada no Brasil é a Sol Meliá, dedicada à gestão de cerca de 40
hotéis, constituindo-se assim o segundo grupo hoteleiro do Brasil. Também está presente
Barceló (dez hotéis), o grupo NH e os grupos Serhs (um resort de luxo em Natal com 400
apartamentos) e Iberostar (com o maior complexo hoteleiro do Brasil em Praia do Forte
(Bahia), e um hotel flutuante no Rio Amazonas), começaram diferentes projetos de
investimento.
5.2.3 Pesca
As possibilidades de colaboração entre Espanha e Brasil neste setor são imensas. O
Brasil ocupa a décima quinta posição do mundo quanto a longitude de costa, que é de
7.600km e a Espanha é um dos países com indústria pesqueira mais desenvolvida, não
apenas no que se refere a capturas, mas também piscicultura, conservas e transformação.
Foi apresentado em Brasília, pelas autoridades espanholas, em março de 2006, do
“Projeto Barloa”, de apoio ao desenvolvimento do setor pesqueiro
246
. As atividades na área
teriam como objetivo melhorar as condições de vida das comunidades pesqueiras mais
necessitadas do Brasil e se iniciarão no Estado do Maranhão, com um projeto de
desenvolvimento sustentável de pesca artesanal.
246
AECI: Projetos Cooperação Espanha - Brasil 2006, Sub-direção geral América do Sul.
119
Do ponto de vista comercial e financeiro, a Espanha é o terceiro importador de
pescado do mundo. Os organismos internacionais estabelecem quotas rígidas de pesca
permitida, que a Espanha utiliza totalmente e o Brasil não, especialmente quanto a atum e
peixe-espada, espécies de alto valor. Por isso a Espanha tem interesse em negociar com o
governo brasileiro a criação de um porto pesqueiro internacional. Existem tratativas entre
os governos e um estudo de viabilidade está sendo feito na Bahia e em Pernambuco, de
acordo com a Agência Espanhola de Cooperação Internacional (AECI).
Neste porto pesqueiro internacional, os cento e vinte barcos pesqueiros espanhóis
que operam no oceano Atlântico estabeleceriam sua base e teriam capacidade de pesca de
50 mil toneladas anuais, 75% das quais seriam importadas. De acordo com o projeto
“Desenvolvimento da pesca artesanal na área de influência do Parque Nacional Lençóis
Maranhenses, do Programa de Cooperação Técnica Hispano-Brasileiro 2003-7, estas
instalações gerariam um lucro anual para o Brasil de US$ 40 milhões anuais e oito mil
empregos, entre diretos e indiretos
247
.
5.2.4 Outros setores
¾ Bancos: o principal investidor é o Banco Santander Central Hispano (BSCH) que,
com a compra do Banespa em 2000, somadas as aquisições anteriores, converteu-se no
terceiro maior banco privado do país e o primeiro de capital estrangeiro. A posição do
Banco Santander no mercado tem melhorado e chegou a ser o segundo banco no País,
superado apenas pelo Banco do Brasil (BB), no que se refere a ativos, créditos e depósitos;
e o terceiro, depois do BB e Banco Itaú, quanto a lucros, depois da compra, em 2007, por
70 bilhões de Euros, do holandês ABN Amro Real Bank
248
.
247
Fonte: Agência Espanhola de Cooperação e Desenvolvimento (AECID)
248
Santander se convertirá en el segundo mayor banco de Brasil si compra el ABN Amro. Disponível em:
http://www.eleconomista.es/mercados-cotizaciones/noticias/199129/04/07/Santander-se-convertira-en-
segundo-mayor-banco-de-Brasil-si-compra-ABN-Amro.html e El Consorcio del Santander se hace com ABN
tras la retirada de Barclays. Disponível em:
http://www.elmundo.es/mundodinero/2007/10/05/economia/1191583016.html. Acesso em: 09/08/2007.
120
Destaca-se também o Banco Bilbao Viscaya Argentaria (BBVA), com 4,5% do
capital do Bradesco, o maior banco privado do país, que ao final vendeu sua filial brasileira.
Por último, La Caixa, que possui 3,5% do Banco Itaú.
¾ Seguros: A empresa espanhola Mapfre, com as sucessivas aquisições brasileiras:
Veracruz Seguradora, Nossa Caixa Seguros e Previdência e Seguradora Roma.
¾ Telecomunicações: A Telefónica é proprietária da Telesp, a operadora de telefonia
fixa do Estado de São Paulo, a maior do país, e participa de 50% com a Portugal Telecom
na Vivo, maior operadora de celulares da América do Sul, com cota de 54% do mercado
brasileiro. Por outro lado, prevê-se que a Hispasat prestará serviços de telecomunicações
via satélite para todo o continente, através do satélite Amazonas. Para a comercialização
dos serviços deste satélite, destinado a cobrir os mercados de Brasil, América do Norte
(desde o Canadá até o Panamá, incluindo México e Caribe), América do Sul (desde a
Venezuela e Colômbia até o sul da Argentina e Chile), assim como o sudoeste europeu e o
norte da África, a Hispasat constituiu a sociedade Hispamar, no Rio de Janeiro.
Dentro desta política de expansão, a operadora brasileira Vivo comprou 53,9% do
capital da Telemig Celular por 429 milhões de Euros, tendo previsto lançar uma oferta
pública de ações para adquirir o restante do capital da empresa
249
. Comprou ainda a
Amazônia Celular, somando 4,83 milhões de clientes a sua carteira no País.
Na rede mundial de computadores, a Telefônica possui a operadora Terra Lycos.
O Grupo Telefônica realizou investimentos no Brasil no valor de US$ 31 bilhões
entre 1998 e 2006 e suas previsões são de aumentar o investimento em US$ 8,5 bilhões
entre 2007 e 2010 nos segmentos de internet banda larga e televisão digital
250
.
Em 2007, o Grupo contava com 46 milhões de clientes e 73 mil empregados diretos.
No setor de Call Center”, a subsidiária Atento converteu-se na segunda empresa privada
em geração de empregos diretos no País, ao somar 61 mil funcionários.
249
Vivo, filial de Telefónica acelera su expansión en Brasil. Disponível em:
http://www.expansion.com/edicion/exp/mercados/es/desarrollo/1107912.html. Acesso em: 04/4/2008.
250
Inversiones de Telefónica en Brasil llegan este año a 2.096 millones de dólares. Disponível em:
http://www.eleconomista.es/empresas-finanzas/noticias/329899/12/07/Inversiones-de-Telefonica-en-Brasil-
llegan-este-ano-a-2096-millones-dolares.html. Acesso em: 24/05/2008.
121
A partir de 2006, os esforços do grupo estão se concentrando em duas áreas:
desenvolvimento da rede GSM da Vivo e da oferta de serviços “triple play” (telefonia,
televisão e internet banda larga)
251
.
¾ Construção: OHL, Nexo, FCC, Acciona e Dragados estão presentes, entre outras
atividades, através de concessões de rodovias. Em outubro de 2007, foram licitadas sete
rodovias federais, das quais seis foram adjudicadas a empresas espanholas: cinco para a
OHL e uma para Acciona. Com essas adjudicações, a OHL do Brasil é a empresa com mais
quilômetros de estradas concessionadas no Brasil. Por outra parte, no segmento de
saneamento, a OHL controla a empresa Ambient Serviços Ambientais de Ribeirão Preto.
¾ Tratamento de águas: Aguas de Barcelona no Mato Grosso do Sul e OHL em
Ribeirão Preto.
¾ Siderúrgica: Sidenor, através da empresa Aços Villares, e Gonvarri (processamento
e comercialização de aços planos).
¾ Confecção: Zara e Mango m redes de lojas, principalmente no Rio de Janeiro e
em São Paulo. Zara tem atualmente quarenta lojas no país e planos para chegar a oitenta
nos próximos cinco anos.
¾ Sanitários e revestimentos cerâmicos: Roca, Pamesa e fornecedores de esmaltes e
outros componentes para a indústria cerâmica, como Torrecid e Esmaglass.
¾ Setor editorial: Planeta e Santillana possuem cada uma, uma editora no Brasil.
¾ Componentes de veículos automotores: neste setor destacam-se as espanholas
Grupo Antolín (mais de 800 empregados) e CIE Automotive.
¾ Ônibus: Irizar, fabricante de carrocerias de ônibus também está implantada no País.
¾ Segurança: Prosegur é atualmente uma das maiores empresas do setor no país.
¾ Sector vinícola: Osborne está montando uma joint venture com as empresas
brasileiras Miolo e Lovara, para a produção de brandy no Vale do São Francisco.
¾ Setor ferroviário: Construcciones y Auxiliar de Ferrocarriles (CAF) assinou em
2008 três contratos de fornecimento: um primeiro contrato de 57 unidades de trem para a
cidade de São Paulo, por 626 milhões de Euros, um segundo contrato com a Companhia
251
OFICINA ECONÓMICA Y COMERCIAL DE ESPAÑA EN BRASÍLIA. Flujos de Inversión Brasil,
Janeiro de 2007.
122
Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) para o fornecimento de quarenta unidades de
oito carros cada uma, por 442 milhões de Euros e um contrato de fornecimento para o
Metrô de São Paulo por 184 milhões de Euros
252
.
¾ Imobiliário: os projetos imobiliários, especialmente no Nordeste, por empresas
espanholas têm se desenvolvido bastante: a estimativa de construções, como segunda
residência, é de 25 mil moradias para os próximos cinco anos.
¾ Certificação: A Associação Espanhola de Normatização e Certificação (AENOR)
criou recentemente a AENOR Brasil, com sede em São Paulo, visando a atender as
necessidades das cerca de trezentas empresas espanholas instaladas no país, assim como a
mais de 17 mil empresas brasileiras que exportam para Espanha
253
.
¾ Estacionamentos: A OHL é a empresa espanhola mais ativa no setor.
5.2.5 – Conclusão
A estas grandes empresas deveríamos acrescentar outras pequenas e médias
empresas, que chegam quase ao número de trezentas. Como Anexo V, inclui-se lista de
investimentos diretos das empresas espanholas no Brasil, por setores de atuação para os
períodos 1993-2000 e 2001-2006; e como Anexo VI, a lista geral das empresas espanholas
registradas atualmente no País. A presença espanhola está diversificada praticamente em
todos os setores da economia, o que demonstra a intensidade das relações e a importância
do mercado brasileiro para as companhias espanholas na hora de definir sua
internacionalização.
Há setores da economia brasileira que enxergam os investimentos espanhóis no País
como competência desleal, ao entender que existem subvenções encobertas por parte do
governo espanhol
254
. A legislação espanhola favorece ações comerciais de exportação e
implantação das empresas espanholas no exterior. O Artigo 12 da Lei de Imposto das
Sociedades (Lei 43/1995) permite que as empresas com sede fiscal na Espanha amortizem
252
CAF firma la venta de 57 trenes a Brasil por 626 millones. El País, 05/07/ 2008, Economia, p.21
253
INSTITUTO ESPAÑOL DE COMERCIO EXTERIOR. Aenor se implanta en Brasil.
254
NETTO, Andrei. Concessões no Brasil vão garantir á OHL subsídios de até € 340 milhões. O Estado de
São Paulo, 04/11/2007, Economia, p.B8.
123
o Fundo de Comércio Financeiro que resulte de aquisições superiores a 5% das ações de
companhias estrangeiras ou da contratação de licitações públicas. O argumento legal é
evitar a sobre-imposição econômica internacional sobre dividendos e rendas originadas no
exterior. Na prática, este benefício atrai novos grupos empresariais para a Espanha e
suporte financeiro para que as empresas do país cresçam no exterior. Entretanto, apesar das
críticas e denúncias, este tipo de apoio institucional à internacionalização das empresas
espanholas não está proibido pela Organização Mundial do Comércio ou União Européia.
É difícil designar uma ação direta dos investimentos espanhóis no Brasil,
considerando que, apesar de importantes, a Espanha não foi o único país a investir e sua
participação variou ao longo dos últimos anos. O impacto gerado pelos investimentos
diretos espanhóis, entretanto, dinamizou e democratizou o acesso a diversos serviços de
utilidade pública, sendo as telecomunicações o mais notável.
Em telefonia fixa, o número de usuários passou de 16,5 milhões em 1996 para 49,34
bilhões em 2002. Em telefonia móvel, o crescimento foi ainda maior: passando de 2,7
milhões de usuários para 31,6 milhões no mesmo período. Atualmente, o número de
telefones celulares supera os cem milhões no País.
Outras áreas importantes desenvolvidas por investimentos espanhóis foram as de
produção e distribuição elétrica, energia (tradicionais e “novas”) e a contribuição dos
bancos espanhóis para a modernização do setor financeiro brasileiro.
O investimento espanhol no Brasil, em termos gerais, teve importante efeito na
criação de empregos, gerando mais de trezentos mil postos de trabalho.
5.3 Investimentos brasileiros na Espanha
Nos últimos anos, empresas brasileiras estão internacionalizando sua produção e o
IED brasileiro está crescendo
255
. Em 2006, pela primeira vez, o Brasil investiu mais capital
255
SOBEET Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização.
Internacionalização das empresas brasileiras. São Paulo: Clio Editora, 2007.
124
fora (US$ 24 bilhões) do que recebeu (US$ 22 bilhões), quase dez vezes mais do que fora
investido em 2005 e o dobro de 2004, considerado recorde na época
256
.
Em 2005, os investimentos brasileiros na Espanha chegaram a 151 milhões de
euros. Este dado é muito significativo, dado que tradicionalmente o investimento direto do
Brasil na Espanha era praticamente inexistente.
Uma das operações a destacar neste sentido é a compra, em novembro de 2005, pela
siderúrgica Gerdau, de 80% das ações da empresa espanhola líder no setor de aços
especiais Sidenor, junto com o Banco Santander (BSCH). A operação entre o grupo
brasileiro e um grupo de diretores da empresa espanhola, que adquiriram os outros 20%, foi
realizado por um montante total de 443,8 milhões de euros. Além disso, em março de
2005, o grupo Camargo Correia adquiriu 58,9% da espanhola Tavex, que passou a controlar
a brasileira Santista Têxtil, através de um protocolo de acordo para fundir ambas as
empresas. A nova companhia se configurará como líder mundial na fabricação de tecidos
Denim, com faturamento superior aos US$ 500 milhões anuais.
5.4 Desafios para próximos anos
Para aumentar as relações econômicas entre Brasil e Espanha, deixando de lado
temas específicos de relações políticas e comercias bilaterais ou inter-regionais, é
necessária a realização de uma série de mudanças, especialmente em aspectos jurídicos,
administrativos e fiscais e aprofundar determinados setores potenciais nos quais a
colaboração entre os dois países pode ser profícua.
5.4.1 Aspectos jurídicos, administrativos e fiscais
No campo das relações econômicas, tanto financeiras como intercâmbio de
mercadorias, criação de empresas transnacionais, implantação de filiais de empresas
estrangeiras, o Brasil tem deficiências importantes em sua estrutura administrativa, política
256
América Económica, 07/05/ 2007.
125
fiscal e normas legais. A partir de um relatório publicado de forma conjunta pelo Banco
Mundial e a International Finance Corporation (2006)
257
, pode-se assinalar que o Brasil
ocupa uma posição extremamente baixa em relação a esses aspectos, que não corresponde
com sua posição na economia mundial nem com seu nível de desenvolvimento. O estudo
analisa dez parâmetros chave para avaliar a fluidez ou a lentidão na hora de fazer negócios.
O Brasil obtém melhores pontuações em quatro itens analisados. Quanto a obtenção
de créditos e financiamentos e proteção dos investimentos, o país ocupa posição
intermediária, não recebe críticas nem prêmios. A situação brasileira também é mediana
quanto ao cumprimento de contratos. E, em relação ao comércio internacional, o Brasil se
encontra em posição média: o próprio relatório reconhece que o país tem avançado para
facilitar os trâmites de importação e exportação.
Em relação aos requerimentos para iniciar um negócio, o Brasil ocupa uma das
piores posições, ao lado do Paraguai e de Uganda, com um tempo médio necessário para a
tramitação de 152 dias. Se considerarmos o tempo necessário nos países em que o processo
é mais simples, como Dinamarca (cinco dias), Canadá (três dias) e Austrália (dois dias),
percebemos a notável diferença. O país também ocupa os últimos lugares devido à
complexidade e o custo relacionados com o fechamento de empresas.
Os trâmites para obter licenças de construção para infra-estrutura industrial, naval,
fabril, chegam a 460 dias no Brasil como na Nigéria ou Camarões. Os países onde o
tempo e as dificuldades para obter licenças são menores são Finlândia (56 dias), Coréia do
Sul (60 dias) e Nova Zelândia (65 dias).
Quanto à rigidez trabalhista, o Brasil se encontra ao lado do Níger e da Burkina
Faso e bem longe do Canadá, que é o país melhor situado neste quesito. Demissão de
empregados aqui supõe um custo equivalente a 165 semanas de salário, frente às doze na
Suíça e zero nos Estados Unidos e Nova Zelândia.
O Brasil ocupa novamente uma das últimas posições também no que se refere às
facilidades para o registro de propriedades, como o Uzbequistão e a Etiópia.
Em relação à tributação, o Brasil é um dos países com impostos globais mais altos
sobre o lucro bruto e é, sobretudo, o país em que as empresas precisam de mais tempo para
257
BANCO MUNDIAL. Doing Business in 2006: Creating jobs.
126
cumprir com as obrigações fiscais: 2.600 horas. A carga tributária chega a 39% do PIB,
existindo 72 impostos diferentes, entre municipais, estaduais e federais. Na Espanha, que
não é o melhor país neste sentido, são necessárias “apenas” 56 horas.
A situação global do País não melhorou desde a publicação do relatório de 2006 e o
Brasil continua ocupando os últimos lugares quanto às facilidades para fazer negócios, de
acordo com a edição 2008 do relatório Fazendo Negócios, do Banco Mundial. No ranking
geral, que reúne 178 países analisados em 2006-2007, o Brasil ficou na 122ª posição, atrás
de países como Namíbia (43ª posição), Botsuana (51ª) e Peru (58ª). Entre os Brics, o país
ficou em último lugar
258
.
Para abertura de novos bancos, o BACEN demora mais de um ano para concluir o
processo de aprovação, existindo atualmente 53 instituições esperando resposta para suas
solicitações
259
.
Resumindo, o Brasil deve realizar esforços institucionais em todos os níveis
(federal, estadual e municipal) para melhorar o ambiente de negócios e situar-se em uma
posição adequada a sua importância econômica, seu nível de desenvolvimento e sua
vontade de melhorar seu papel no comércio internacional.
5.4.2 Plano Integral de Desenvolvimento de Mercado
Dentro das atividades destinadas a melhorar e aumentar as relações econômicas e
comerciais entre Brasil e Espanha, assim como para promover a busca de negócios e linhas
de colaboração bilateral, estão os Planos Integrais de Desenvolvimento de Mercado
(PIDM), elaborados com a projeção bianual pela Secretaria de Estado de Turismo e
Comércio da Espanha, dependente do Ministério da Indústria, Turismo e Comércio.
O Plano elaborado para o Brasil contempla, para o período 2007-9, investimentos de
168,39 milhões de Euros, conforme Tabela 16.
258
BANCO MUNDIAL. Fazendo Negócios 2007.
259
RIBEIRO, Alex. BC demora mais de um ano para aprovar abertura de novos bancos.- Valor, 05/08/2008,
Finanças, p.C1.
127
Tabela 16
Plano Integral de Desenvolvimento de Mercado
Atuações no Brasil
(cifras em milhões de Euros)
2007 2008 2009 TOTAL
APOIO FINANCEIRO
31,5 52 72
155,5
CESCE Aberto
Aberto
Aberto
Linha FEV 1,5 2 2
5,5
COFIDES 30 50 70
150
APOIO NÃO FINANCEIRO
(ICEX)
3,2 3,48 0,8
10,48
Promoção comercial e imagem 1,5 1,7 1,9
5,1
Promoção investimentos 0,5 0,55 0,65
1,7
Atividades informação 0,65 0,68 0,7
2,03
Atividades formação 0,55 0,55 0,55
1,65
APOIO AO TURISMO
0,78 0,8 0,82
2,4
TOTAL
35,48 56,28 76,62
168,38
128
129
6. ASPECTOS SOCIAIS DAS RELAÇÕES HISPANO-BRASILEIRAS
6.1 Migrações
Neste capítulo serão tratados três aspectos sobre migrações: a emigração de
espanhóis para o Brasil, a emigração de brasileiros para a Espanha e a remessa desses
imigrantes a seus países de origem.
A emigração de cidadãos da América Latina e Caribe é um fenômeno de grandes
dimensões. Atualmente existem cerca de 26 milhões de latino-americanos morando fora de
seus países de origem. Destes, 22,4 milhões vivem em países fora da região (migração Sul-
Norte) e cerca de 3,5 milhões habitam em outros países latino-americanos
260
.
6.1.1 Imigrantes espanhóis no Brasil
Da mesma maneira que com outros países latino-americanos, especialmente depois
da Guerra Civil Espanhola (1936-9), ocorreu emigração de espanhóis para estes países. Esta
migração esteve condicionada inicialmente por motivos políticos e, nos anos seguintes, por
motivos econômicos. Para o Brasil, fundamentalmente por motivo de idioma, a imigração
de espanhóis não foi especialmente significativa. Entre 1946 e 1969, entretanto, chegaram
ao País cerca de cento e vinte mil espanhóis, procedentes em grande parte da Galícia, que
se estabeleceram fundamentalmente em São Paulo, Salvador e Rio de Janeiro.
A Tabela 17 apresenta o número de residentes espanhóis no exterior, com dados do
Escritório de Censo Eleitoral de Espanhóis Residentes no Exterior (CERA), registrados nos
consulados
261
. A cifra pode ser maior, considerando que existem pessoas que não se
registram nos consulados. O quadro abaixo representa dados dos 14 países com mais
residentes espanhóis, com cifras comparativas dos anos 2002 (31 de dezembro) e 2008 (31
260
SOLIMANO, Andrés. Migraciones internacionales en América Latina y Caribe: oportunidades,
desafíos y dilemas. Foreing Affairs en español. Vol.8, nº 2, 2008
261
OFICINA DEL CENSO ELECTORAL/INSTITUTO NACIONAL DE ESTADÍSTICA. Censo electoral
de españoles en el extranjero (CERA). Madri, 2008.
130
de julho).
Tabela 17
Censo eleitoral de espanhóis residentes no exterior
País 2002 2008
Argentina 185.894
267.445
França 165.629 160.879
Venezuela 98.137 124.542
Alemanha 88.677 83.232
Suíça 76.257 70.233
Reino Unido 47.643 46.235
Brasil 41.684 67.911
México 40.678 53.549
Estados Unidos 39.779 48.741
Bélgica 36.103 33.876
Uruguai 34.910 41.490
Andorra 21.124 21.569
Cuba 19.775 37.602
Chile 17.921 24.822
Excetuando o caso de Andorra, que para o caso não é significativo, o maior
incremento do fluxo de espanhóis no período foi para América Latina e Estados Unidos. O
aumento para o Brasil foi de 62,9%, provavelmente conseqüência do número de espanhóis
que têm se estabelecido temporária ou permanentemente no país, acompanhando os
investimentos e a implantação de empresas.
6.1.2 Imigrantes brasileiros na Espanha
O fluxo migratório para a Espanha, e para os demais países da União Européia,
aumentou de maneira espetacular nos últimos anos. Na Espanha, o número de estrangeiros
incluídos no censo passou de 198.042 em 1981 para 5.220.577 em de janeiro de 2008,
para uma população total de 46,06 milhões de habitantes. Isto é, os imigrantes na Espanha
131
passaram de 0,52% da população para 11,33 % em vinte e sete anos. Desses 5.220.577,
2.100.000 são cidadãos europeus e o restante de países extra-comunitários
262
. De acordo
com o Instituto Nacional de Estatísticas da Espanha (INE), o número de imigrantes de
origem brasileira passou de 90.161 em 2007 para 115.390 em 2008: 25.229 pessoas (28%)
em um ano, aumento apenas superado pelos paraguaios (44,3%) e romenos (38,3%).
Considerando que em 2001 o número de brasileiros era de 17.078, temos 98.312 emigrantes
a mais naquele país, o que em termos percentuais significa aumento de 575%. Estes dados
confirmam a tendência recente de os brasileiros dirigirem-se mais a Europa do que para os
Estados Unidos, habitual destino da emigração brasileira. Esta mudança pode ser motivada
por dois fatores: a política restritiva dos Estados Unidos e a queda do valor da moeda
americana em relação à européia
263
.
Estes dados, vale lembrar, referem-se a emigrantes em situação legal na Espanha e,
portanto, o número real é maior.
Tabela 18
Imigrantes na Espanha por país de origem
(1º de Janeiro 2008)
PAÍS DE
ORIGEM
NÚMERO
% DO
TOTAL
Romênia 728.967 14
Marrocos 644.688 12,3
Equador 420.110 8
Reino Unido 351.919 6,7
Colômbia 280.705 5,4
Bolívia 239.942 4,6
Alemanha 180.650 3,5
Itália 157.435 3
Bulgária 153.664 2,9
Argentina 145.315 2,8
Portugal 126.651 2,4
262
INSTITUTO NACIONAL DE ESTADÍSTICA. La población empadronada em España alcanza los 46
millones de personas a 1 de enero de 2008. Notas de prensa, 20/06/2008.
263
ZENKER, Ana Luisa. Brasileiros estão procurando mais a Europa para morar, availa diretor. Agência
Brasil. Disponível em: http://www.agenciabrasil.gov.br/noticias/2008/07/16/materia.2008-07-
16.8573162700/view. Acesso em: 17/07/2008.
132
China 124.022 2,4
Peru 120.272 2,3
Brasil 115.390 2,2
França 112.349 2,2
Polônia 78.305 1,5
Ucrânia 77.713 1,5
Rep. Dominicana 76.954 1,5
Paraguai 66.710 1,3
Venezuela 57.679 1,1
O perfil do emigrante brasileiro é formado por profissionais liberais que deixam o
país na maioria dos casos pela falta de esperanças no País. Do ponto de vista social, são
rebaixados e passam a exercer funções discordantes com sua qualificação profissional. A
maioria ascende economicamente, pois apesar de se dedicarem a trabalhos menos
qualificados, conseguem aumentar seu nível de poupança. Apesar de que a migração de
brasileiros para Espanha tenha se multiplicado por cinco, a Espanha não é o país de destino
mais escolhido pelos emigrantes brasileiros. Existem mais de dois milhões de brasileiros no
exterior, dos quais a metade está nos Estados Unidos. No Japão, o número de brasileiros
aproxima-se de trezentos mil (cerca de 6%).
Não obstante, apesar de que este fluxo migratório não é muito significativo, tanto
Brasil como Espanha preocuparam-se em estabelecer acordos correspondentes de
assistência sanitária e social. Sabe-se que no tema da imigração sempre existe uma
diferença que pode chegar a ser notável, entre o número de imigrantes reais e o número de
imigrantes legais e, portanto contabilizados oficialmente.
Entre 2007 e 2008 ocorreu uma crise entre Brasil e Espanha sobre migração, quando
foram deportados um número crescente de visitantes brasileiros nas fronteiras espanholas,
especialmente pela forma como essas deportações ocorreram: em muitos casos, totalmente
arbitrárias e o tratamento dispensado foi inadequado
264
. Diante desta situação, o governo
brasileiro aplicou a “reciprocidade”, impedindo a entrada de espanhóis em diversas
264
“Vine por turismo y encontré uma prisión” Asegura la brasileña que va a ser deportada.
http://www.elmundo.es/elmundo/2008/03/16/espana/1205664537.html. Acesso em: 01/011/2007 e Barradas
Barradas terão que ficar 6 dias em aeroporto. Folha de S.Paulo, 14/03/2008, Cotidiano, p.C9.
133
ocasiões
265
. Mediante diálogo e negociações, esta situação foi resolvida e chegou-se a
acordos para colaboração policial, permitindo à polícia brasileira trabalhar conjuntamente
com a espanhola no aeroporto de Barajas, principal porto de entrada de brasileiros na
Espanha
266
.
Esta situação é conseqüência do endurecimento das normas de imigração da União
Européia e dos países do Espaço Schengen. Por outra parte, a Espanha não é o único nem é
o país que mais deportou brasileiros. Brasileiros constituem 26% dos estrangeiros
deportados pelo Reino Unido em 2007 e em 2006 a cifra foi ainda maior
267
. Na Irlanda
recentemente ocorreu episódio similar ao que desencadeou a crise com a Espanha
268
, sem
que o Brasil tenha empreendido nenhuma ação de reciprocidade.
Agravada a situação pela atual crise econômica, a União Européia parece que vai
endurecer cada vez mais a política de imigração, tornando mais restritiva a entrada e
acelerando e aumentando a expulsão de ilegais
269
.
6.1.3 Remessas de dinheiro dos emigrantes
Um dos elementos importantes da imigração, do ponto de vista econômico, é a
repatriação de dinheiro por parte dos emigrantes. No caso da Espanha, as remessas dos
imigrantes a seus países de origem cresceu 23,2% entre 2006 e 2007, alcançando um total
de 6.712 milhões de Euros nos primeiros dez meses de 2007, situando a Espanha no
265
Lula autoriza PF a barrar espanhóis como retaliação. Folha de S.Paulo, 08/03/2008 Cotidiano, p.C1-2. e
Brasil deniega la entrada a ocho turistas españoles. Disponível em:
http://www.elpais.com/articulo/espana/Brasil/deniega/entrada/turistas/espanoles/elpepiesp/20080308elpepina
c_41/Tes . Acesso em: 08/03/2008.
266
Brasil e Espanha anunciam fim da crise das expulsões. Folha de S.Paulo, 02/04/ 2008, Cotidiano, p.C5 e
Policías de Brasil y Espana trabajarán juntos en Brarajas. El País, 02/04/ 2008, España, p.14.
267
Reino Unido devolve 339 brasileiros em situação ilegal. Folha de S. Paulo, 25/05/2008, Cotidiano, p.C11.
268
Irlanda barra e prende alunos brasileiros. Folha de S.Paulo, 26/03/2008, Cotidiano, p. C3.
269
Europa reforça controle de fronteiras. Folha de S.Paulo, 21/06/ 2008, Mundo, p. A18. e Los ministros de la
EU acuerdan la primera norma común para la expulsión de inmigrantes. Disponível em:
http://www.elmundo.es/elmundo/2008/06/05/internacional/1212659870.html. Acesso em: 05/6/2008.
134
terceiro lugar na classificação mundial de países que mais emitem remessas de
trabalhadores, depois dos Estados Unidos e Arábia Saudita
270
.
Em alguns casos, como o dos equatorianos na Espanha, devido a seu elevado
número, as remessas dos imigrantes significam ingressos muito importantes para o país.
Em 2007, as remessas dos equatorianos que vivem na Comunidade de Madri somaram
417,9 milhões de Euros, muito superiores às realizadas pelos brasileiros, que alcançaram
59,6 milhões de Euros
271
. Apesar de que as remessas têm menor peso na economia
brasileira que em outros países da região, os fluxos recebidos são consideráveis. De fato, o
Brasil é, depois do México, o segundo maior receptor de remessas na América Latina e
Caribe. Estima-se que em 2005 o país recebeu mais de US$ 6,4 bilhões, o que supõe um
aumento de 14% em relação ao ano anterior. Deste total, aproximadamente 42% veio dos
Estados Unidos, 34% do Japão, 23% da Europa e 7% de outros países e regiões. Nenhum
outro país da região tem um perfil tão diversificado geograficamente quanto a origem das
remessas, o que é uma vantagem, pois diminuiu o risco de que flutuações econômicas em
um determinado país afetem o fluxo de remessas para o país.
6.2 Idioma e cultura
6.2.1. Idioma
Até meados dos anos 1990, quando o Brasil aproximou-se da Argentina e países do
Cone Sul, não havia grande preocupação ou interesse na implantação do idioma castelhano
no País. Em dezembro de 1999, teve início uma iniciativa para a consolidação da língua
espanhola: o governo brasileiro começou com os trâmites parlamentares para elevar o nível
do aprendizado do espanhol como ngua obrigatória no ensino médio. Em 2004, os
trâmites foram acelerados e o que era uma iniciativa bem-intencionada converteu-se em
uma realidade tangível. A lei foi sancionada pelo presidente Lula em agosto de 2005 e
entrou em vigor no curso letivo de 2006. De acordo com cálculos oficiais, em 2011, quando
270
Las remesas de inmigrantes a sus países crecen el 23,2 %. El País, 21/03/2008, Economía, p.24.
271
COMUNIDAD DE MADRID. Las remesas enviadas desde Madrid en 2007. Madri: Consejería de
Inmigración y Cooperación, fevereiro-abril de 2008, p. 1-15.
135
todas as escolas de ensino médio devem estar adaptadas à Lei, serão necessários 22.000
professores de espanhol
272
.
A medida está orientada a favorecer as relações do Brasil com seus vizinhos latino-
americanos. Dos quatrocentos milhões de hispanohablantes, nove de cada dez encontram-
se no continente americano. No entanto, o aprendizado do idioma espanhol pelos brasileiros
também facilita as relações com a Espanha e, assim mesmo, esta maior difusão do espanhol
dentro do Brasil facilita o comércio com a Espanha e a implantação de empresas espanholas
no Brasil e a partir daqui para os demais países da região.
Neste trabalho de promoção do espanhol, destacamos ainda:
¾ O Instituto Cervantes do Brasil: teve sua primeira sede em São Paulo (1998) e outra
posteriormente no Rio de Janeiro (2001). Atualmente estão implantados postos do
Instituto Cervantes em Brasília, Salvador, Curitiba e Porto Alegre e, em breve serão
inaugurados os centros de Recife, Belo Horizonte e Florianópolis. Com estes novos
centros, o Instituto Cervantes terá no Brasil nove “filiais”, convertendo-se no país com
mais sedes do Instituto no mundo.
¾ Os centros culturais Brasil Espanha, localizados nas cidades de Belo Horizonte,
Brasília, Curitiba, Florianópolis, Porto Alegre e Recife.
¾ O Colégio Cervantes de São Paulo.
¾ A biblioteca virtual Miguel de Cervantes, criada pela Universidade de Alicante e
patrocinada pelo Banco Santander Central Hispano.
¾ O Centro Virtual Cervantes, do Instituto Cervantes.
¾ Associações de Professores de Espanhol
Em 24 dos 26 Estados brasileiros existem Associações de Professores de Espanhol,
que contam com mais de dois mil sócios ativos e a maioria delas organizam cursos de
formação, seminários e atividades de apoio para seus membros, além de promover a defesa
dos interesses profissionais e os direitos dos professores.
272
Contra portunhol, príncipe da Espanha amplia instituto de idioma no Brasil. O Estado de S. Paulo, 23/07/
2007, Caderno 2, p. C15.
136
O ensino da língua espanhola no Brasil conta, desde setembro de 2006, com um
poderoso aliado. A Universia, maior rede universitária do mundo, assinou contrato de
cooperação com o Estado de São Paulo, pelo qual 45 mil docentes serão capacitados para o
ensino da língua. Este acordo, assinado pelo presidente do Grupo Santander e da Universia,
Emilio Botín, e o governador do Estado de São Paulo, Cláudio Lembo, plasma um dos
princípios básicos de atuação da rede para este ano: a difusão do espanhol.
A Universia conta com cerca de mil universidades, 74 delas espanholas, e mais de
nove milhões de alunos de fala espanhola e portuguesa
273
.
Em reconhecimento ao trabalho em favor do idioma espanhol desenvolvido
institucionalmente, o presidente Lula foi agraciado, junto com o escritor mexicano Carlos
Fuentes, com o I Prêmio Don Quijote de La Mancha
274
.
6.2.2.- Arte e Cultura
As relações culturais entre os dois países cada vez m cada vez mais densidade e
delas destacam-se algumas das atividades mais importantes que se produziram
recentemente.
Semana Cultural de Brasil: celebrada em Valladolid entre 25 e 29 de abril de
2006;
ARCO 08: A Feira Internacional de Arte Contemporânea de Madri, uma das
mais prestigiadas da Europa, teve o Brasil como convidado de honra em sua
edição de 2008, em que participaram artistas brasileiros com 32 galerias
275
.
273
Universa firma un acuerdo con Brasil. Disponível em:
http://www.laflecha.net/canales/comunicacion/noticias/universia-firma-un-acuerdo-con-brasil. Acesso em:
08/07/ 2007.
274
Lula y Carlos Fuentes, primer Premio Don Quijote de la Mancha. Disponível em:
http://www.elmundo.es/elmundo/2008/10/13/cultura/1223922723.html. Acesso em: 16/8/2008.
275
Los Reyes inauguran oficialmente ARCO 88 con Brasil como país invitado. Disponível em:
http://www.lavozdigital.es/jerez/20080214/cultura/inauguracion-reyes-arco-200802141732.html. Acesso em:
01/10/2007.
137
Braaasiiil Festival de Cultura Brasileira, coincidindo com a Feira ARCO
08, organizado pelo Centro de Arte Reina Sofía, com a apresentação de
filmes brasileiros, música, teatro
276
.
Cine Fest Brasil: realizado em maio de 2008 em Madri, o primeiro festival
de cinema brasileiro apresentou 13 filmes ao público espanhol, com o apoio
da Embratur
277
.
Fundação Comillas: esta fundação com sede na Cantábria, cujas atividades
estão dedicadas à difusão da língua e cultura espanholas, está promovendo a
divulgação do Brasil como sócio e colaborador
278
.
Em nível institucional, destaca-se o acordo de promoção cultural entre
Espanha e Brasil, aprovado em 07 de setembro de 2007 pelo Conselho de
Ministros da Espanha, visando a reestruturação das instituições culturais
espanholas no Brasil, além da criação dos nove novos centros do Instituto
Cervantes citados anteriormente
279
.
6.2.3.- Mecenato
As empresas espanholas radicadas no Brasil, especialmente aquelas associadas à
Câmara Oficial Espanhola de Comércio no Brasil, em paralelo às suas atividades
comerciais, industriais, de negócios, etc., desenvolvem também atividades nas áreas sociais
e culturais no País. Estas atividades encontram-se detalhadas na “Memória da
Responsabilidade Social das Empresas Associadas à Câmara Espanhola”, editada pela
instituição, na qual são descritas diferentes ações promovidas pelas empresas, diretamente
ou associadas com instituições públicas brasileiras. A importância dessas ações,
representada em números, alcançou US$ 72 milhões em 2007.
276
Un aperitivo del Brasil más moderno. El País, 22/01/2008, Vida & Artes, p.45.
277
El cine brasileño brilla en Madrid. El País, 20/05/2008, Vida & Artes, p. 38.
278
Brasil, el futuro de la Fundación Comillas. Disponível em:
http://www.eldiariomontanes.es/20080114/local/occidental/brasil-futuro-fundacion-comillas-
200801141923.html. Acesso em: 14/01/2008.
279
Madrid autoriza acuerdo con Brasil para reforzar la cooperación cultural. Disponível em:
http://noticias.terra.com/articulo/html/act957077.htm. Acesso em: 07/09/2007.
138
139
CONCLUSÕES
Tanto no Brasil como na Espanha, produziu-se a partir dos anos setenta uma série
de mudanças políticas, econômicas e sociais que tiveram como conseqüência a
transformação radical desses países, passando de regimes ditatoriais e de economias
autárquicas e com um alto controle por parte do Estado a governos democráticos com
economias liberalizadas e de mercado que permitiu-lhes integrar-se plenamente no mundo
da globalização. Em ambos os casos, a transição foi incruenta: mais uma reforma pactuada
do que uma ruptura. Esta transição foi também, de forma mais ou menos sincronizada,
política, econômica e social. Por isso, diferencia-se claramente das transformações que
estão sofrendo alguns países de ortodoxia comunista, como China e Vietnã, e inclusive a
antiga União Soviética, onde as reformas são principalmente econômicas, depois sociais e
em último plano, políticas.
Considerando a importância política, econômica e estratégica do Brasil na América
Latina e a vontade de protagonismo que a Espanha tem de liderar as relações da Europa
com a região, as relações políticas e econômicas entre os países estão muito abaixo do que
se poderia esperar. Esta situação também é conseqüência da falta de uma política espanhola
clara para a América Latina e da descoordenação entre os distintos ministérios e
organismos públicos implicados no processo, assim como da crescente atividade das
Comunidades Autônomas (CA) no exterior, fundamentalmente comercial apesar de que
em alguns casos pretende incluir um sentido político. Estas atividades, não obstante sua
importância, constituem outro fator de descoordenação, que nem sempre as atividades
das CA coincidem e/ou complementam as do Estado.
Outro fator de distorção é a evolução das relações entre a Espanha e uma América
hispanohablante, da qual o país se considerava “líder natural”, para uma relação com a
chamada América Ibérica, na qual o Brasil, com idioma diferente, por sua importância
econômica e política, está assumindo liderança regional e a Espanha deve posicionar-se
diante dessa nova situação, inclinando-se a “compartilhar” com o Brasil as relações com os
outros países da região, e estabelecer um bloco conjunto nas relações multilaterais,
especialmente em seus aspectos comerciais (UE-Mercosul, Alca, OMC).
140
Provavelmente por essa falta de critério político coerente por parte da Espanha, as
relações entre ambos países atualmente estão mais condicionadas pelas empresas do que
pelos governos. A importância do intercâmbio comercial entre ambos os países continua
pequena e isso se deve em parte à concentração excessiva dos intercâmbios comerciais em
um mero pequeno de artigos, o que torna ainda mais frágil a relação comercial. As
maiores exportações do Brasil para Espanha são fundamentalmente de produtos agrícolas e
de matérias primas, ocupando a soja o primeiro lugar. As exportações da Espanha para o
Brasil são de componentes para a construção de aviões, helicópteros e carros. Não ocorre o
mesmo no que se refere ao fluxo de capitais e de investimentos, especialmente da Espanha
para o Brasil, que foram elevados nos últimos anos e certamente com grandes benefícios
para as empresas espanholas, especialmente no setor bancário.
Este predomínio do fluxo de capitais sobre o intercâmbio comercial é conseqüência
de dois fatores. Em primeiro lugar, da própria dinâmica do mundo globalizado, o
predomínio do fluxo de capitais sobre o fluxo comercial é típico. Em segundo lugar, é
conseqüência da rigidez administrativa, legal e fiscal existente no Brasil para importações,
decorrente de uma política protecionista, que conduz a preferência das empresas em
investir e fabricar no país a exportar seus produtos.
Quanto às facilidades para criação de empresas (processo burocrático, tempo
necessário, etc.), o Brasil está mal situado no ranking mundial, inclusive abaixo de países
com desenvolvimento político e sócio-econômico inferior. A condição burocrática constitui
uma barreira considerável para o desenvolvimento nacional, incluindo a criação de postos
de trabalho. Seria preciso que os governos (federal, estaduais e municipais) estabelecessem
programas para transformar essa situação e torná-las equiparável aos aspectos legais,
administrativos e fiscais dos países com que pretende estabelecer relações comerciais,
como Estados Unidos e União Européia. Apesar destas dificuldades, o número de empresas
espanholas implantadas no Brasil é grande e continua crescendo, abarcando um amplo
leque de atividades, nos quais criou cerca de trezentos mil postos de trabalho diretos.
No que se refere às relações sociais e concretamente a imigração, se por uma parte a
Espanha não é um país prioritário para a emigração brasileira, o fluxo de brasileiros para o
país está aumentando notavelmente nos últimos anos. Dada a progressiva melhoria
141
econômica e social do Brasil, quizás esta tendência não se mantenha de maneira tão
acentuada no futuro. Por outro lado, o endurecimento da política migratória da União
Européia (e, portanto, da Espanha), certamente terá incidência negativa na emigração
brasileira para este destino.
A crescente difusão do espanhol é outro fato positivo nas relações hispano-
brasileiras e, dentro dessa difusão do espanhol no Brasil, devemos destacar ainda o papel do
Instituto Cervantes que desde sua criação no Brasil no ano 1998, tem tido atividade
crescente até o momento atual. Esta difusão também deve ser potencializada pela legislação
aprovada pelo governo brasileiro de promoção do ensino do espanhol no ensino médio.
Ainda existem setores em que as relações bilaterais podem potencializar-se, sendo o
turismo e a energia os dois mais destacados.
Ao longo do período estudado, as circunstâncias de cada um dos países
transformaram-se. A Espanha viveu forte crescimento econômico e grande
internacionalização de suas empresas, o que possibilitou investimentos e presença no
Brasil. Como conseqüência, chegou a ocupar a décima posição entre as economias
mundiais. Entretanto, atualmente, dentro de uma crise econômica generalizada, seu
crescimento está estancando. O Brasil, pelo contrário, depois de passar pelo
subdesenvolvimento, nos últimos anos está crescendo economicamente e diminuindo as
disparidades sociais. Seu PIB supera o da Espanha e sua posição vai aumentando entre as
economias mundiais. O País está alcançando um nível de protagonismo político e comercial
na América Latina que é muito superior ao que a Espanha pode conseguir na União
Européia. Como conseqüência, as relações entre ambos países devem se projetar no futuro
considerando esta realidade.
142
143
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151
ANEXOS
I – Empresas públicas espanholas vendidas diretamente
II.- Privatizações espanholas mediante venda de ações em bolsa
III.- Intercâmbio de visitas e tratados entre Brasil e Espanha
IV.- Investimentos diretos das empresas espanholas por setor (1993-2006)
V.- Empresas espanholas estabelecidas no Brasil (ICEX)
VI.- Processos de aquisição de empresas produtoras de biocombutíveis (2005 – 2007)
152
ANEXO I
- EMPRESAS PÚBLICAS ESPANHOLAS VENDIDAS DIRETAMENTE
Empresas públicas estatais vendidas diretamente
Ano
Empresa Setor Entidade pública vendedora % Venda Comprador (nacionalidade)
1985
Textil Tarazona Textil Instituto Nacional de Industria 69,9 Entrecanales/Cima (Esp)
Secoinsa Electrónica Instituto Nacional de Industria 69,1 Fujitsu (Jap)
SKF España Rodamientos Instituto Nacional de Industria 98,8 SKF (Suec)
Viajes Marsans Turismo Instituto Nacional de Industria 100 Trapsatur (Esp)
1986
Entursa Turismo Instituto Nacional de Industria 100 Ciga (Ital-Esp)
Seat Automóvil Instituto Nacional de Industria 75+25
en 1990
Volkswagen (Alem)
Telesincro (Inisel) Electrónica Instituto Nacional de Industria 40+60
en 88 e 93
Bull (Franc)
1987
Purolator Ibérica Aux. Automóvil Instituto Nacional de Industria 97,4 Knecht Filterwerke (Alem)
1989
Maquinista T.M. Mat Ferroviario Instituto Nacional de Industria 85 + 15
en 1992
Gec - Alsthom (Franc)
Ateinsa " Instituto Nacional de Industria 85 + 15
en 1992
" "
Enfersa Fertilizantes Instituto Nacional de Industria 80 + 20
en 1991
Ercros (Esp- Kuwait)
Astican Astilleros Instituto Nacional de Industria 90,7 Italmar
Oesa (Endiasa) Aceite Instituto Nacional de Industria 100 Ferruzzi (Ital)
Interhorce Textil Gestión de Patrimonio 100 Orecifi (Ital)
1990
Imepiel Calzado Gestión de Patrimonio 100 Cusi (Esp)
Hytasa Textil Gestión de Patrimonio 100 Integusa (Esp)
Salinas de Torrevieja
Extractiva Gestión de Patrimonio 38,5 Solvay (Franc)
1991
Enasa - Pegaso Camiones Instituto Nacional de Industria 100 Fiat - Iveco (Ital)
G. Empresas Alvarez
Porcelanas Instituto Nacional de Industria 100 Pickman - Estudesa (Espa)
1992
Campsa Carburantes Instituto Nacional de Hidrocarburos 100
1993
Fáb. De S. Carlos Bienes Equipo Instituto Nacional de Industria 100 Grupo Navarcel (Esp)
Carcesa Alimentación Tabacalera 100 RJR Nabisco (USA)
1994
Artespaña Artesanía Inst. Nal Industria-Teneo 100 Medino (Esp)
153
C. Trasatlántica Transp. Marítimo Inst. Nal Industria-Teneo 100 Nav. de Odiel/Marit. Valencia
Enagas Gas Instituto Nacional de Hidrocarburos 91 Gas Natural (Esp)
1995
Sidenor Siderurgia
Inst. Nal Indus.
-
A. Ind. Est
-
Inst. Créd.
Of. 100 Soc. Indust Ferr. Del Norte
Lactaria Española Alimentación Tabacalera 100 Leyma/Parmalat (Esp)
1996
Sagane Gas Sociedad Est. Partic. Industriales 91 Enagas (Esp)
Elecções de Março.- Mudança de governo
Sodical Industrial. Regional Sociedad Est. Partic. Industriales 51 Junta Castilla León
Iongraf Trt. para metales Sociedad Est. Partic. Industriales 100 Directivos empresa
Sefanitro Fertilizantes Sociedad Est. Partic. Industriales 52,65 Fertiberia (esp)
1997
Min. De Almagrera Minería Sociedad Est. Partic. Industriales 100 Navan (Irlanda)
Superginiclinic-plus Material Clinico Sociedad Est. Partic. Industriales 50 Hambros (GB)
Ferroperfil Siderurgia Sociedad Est. Partic. Industriales 100 Directivos empresa
Infoleasing Arrend. Financiero Sociedad Est. Partic. Industriales 100 Liscat (Esp)
Tisa
Telefonía
internacional Sociedad Est. Partic. Industriales 27,8 Telefónica (Esp)
Elcano Naviera Sociedad Est. Partic. Industriales 100 Varios
1998
Inespal Aluminio Sociedad Est. Partic. Industriales 100 Alcoa (USA)
Productos Tubulares Siderúrgia Sociedad Est. Partic. Industriales 100 Tubos Reunidos (Esp)
Inima Ingeniería Sociedad Est. Partic. Industriales 100 Lain (Esp)
H.J. Barreras Astilleros Sociedad Est. Partic. Industriales 100 Equipo Directivo
Suria K/Potasas del
Ll. Fertilizantes Sociedad Est. Partic. Industriales 100 Dead Sea W. (Israel)
1999
Initec Ingeniería Sociedad Est. Partic. Industriales 100 Dragados Ind. (esp)
AYA Bienes de equipo Sociedad Est. Partic. Industriales 100 Mecaniz. Aeron. (Esp)
ICSA Bienes de equipo Sociedad Est. Partic. Industriales 100 Mecaniz. Aeron. (Esp)
Astander Astilleros Sociedad Est. Partic. Industriales 100 Italmar (Ital)
154
Enatcar Servc. Autobús Sociedad Est. Partic. Industriales 100 Alianza Bus (Esp)
2000
Santa Bárbara Armamento Sociedad Est. Partic. Industriales 100 General Dynamics (USA)
2001
Babcok Wilcox Esp. Bienes de equipo Sociedad Est. Partic. Industriales 100 Babcock Sourcing (Alem)
Conversión
Aluminio Aluminio Sociedad Est. Partic. Industriales 100 Alucoil (Esp)
Aerolíneas
Argentinas Compañía Aérea Sociedad Est. Partic. Industriales 92,1 Air Comet (Esp)
Transmediterránea Naviera Sociedad Est. Partic. Industriales 95,24
2003
Musini-Riesgo Seguros Sociedad Est. Partic. Industriales 98,7 Mapfre (esp)
155
ANEXO II
. - PRIVATIZAÇÕES MEDIANTE VENDA DE AÇÕES EM BOLSA (ou concurso de ofertas)
Privatizações mediante venda de ações em Bolsa (ou concurso de ofertas)
Ano Empresa
Pertencente à holding de
controle
Setor/ Atividade
%
Vendida
Valor obtido (em
milhões de pesetas)
%
Restante
prop.
pública
1986 ACESA Fondo Garantía Depósito Autopistas 57,6 s.d. 0

GESA Endesa/Inst. Nal. Industria Electricidad 38 s.d. 55,3
1988 ENDESA (1ª) Instituto Nacional de Industria Electricidad 20,4 80.000 75,6

ENCE Instituto Nacional de Industria Papel 34,8 13.200 66,2
1989 REPSOL (1ª) Inst. Nal. Hidrocarburos Petróleo 30,6 156.229 69,4
1990 REPSOL (2ª) Inst. Nal. Hidrocarburos Petróleo 2,9 31.919 66,5
1992 REPSOL (2ª) Inst. Nal. Hidrocarburos Petróleo 2,1
(incuido en cifra anterior)
64,4

REPSOL (3ª) Inst. Nal. Hidrocarburos Petróleo 10 70.000 54,4
1993 ARGENTARIA (1ª)
Gestión de Patrimonio Banca 24,1 119.000


ARGENTARIA (2ª)
Gestión de Patrimonio Banca 24,34 173.000 51,66

REPSOL (4ª) Inst. Nal. Hidrocarburos Petróleo 13,9 110.000 40,5
1994 ENDESA (2ª) Inst. Nal Indus.-Teneo Electricidad 8,7 145.000 66,9
1995 REPSOL (5ª) Soc. Est. Part. Indus.-Teneo Petróleo 19,5 200.500 21

ENCE (2ª) Soc. Est. Part. Indus.-Teneo Papel 14,9 13.000 51,3

TELEFÓNICA (1ª) Gestión de Patrimonio Telecomunic. 10,7 158.000 21,16

INDRA (1ª) Soc. Est. Part. Indus.-Teneo Electrónica 24,9 3.000 63
1996 AUXINI (1ª) Soc. Est. Part. Indus.-Teneo Construcción 40 3.030 60

REPSOL (6ª) Soc. Est. Part. Indus.-Teneo Petróleo 11 132.710 10

ARGENTARIA (3ª)
Gestión de Patrimonio Banca 25,4 160.000 26,2
      
156
ELEIÇÕES DE MARÇO - MUDANÇA DE GOVERNO

GAS NATURAL Soc. Estatal Part. Industriales Gas 3,8 36.066 0
1997 TELEFÓNICA (2ª) Gestión de Patrimonio Telecomunic. 21,16 607.079 0

REPSOL (7ª) Soc. Estatal Part. Industriales Petróleo 10 168.692 0

CSI (1ª) Agencia Insdustrial del Estado Siderurgia 35 Intercambio acciones
65

RETEVISION (1ª) Ministerio de Fomento Telecomunic. 60 116.359 40

ALDEASA Agencia Esp. Naveg. Aérea
Tiendas libres
imp. 20
 

ALDEASA Soc. Estatal Part. Patrimonial.
Tiendas libres
imp. 80 45.000 0

ENDESA (3ª) Soc. Estatal Part. Industriales Electricidad 25 750.000 41,9

CSI-Aceralia (2ª) A. Ind. Estado-S.Est. Part.Ind. Siderurgia 12,2 44.692 52,8

AUXINI Soc. Estatal Part. Industriales Construcción 60

0

CSI-Aceralia (3ª) Soc. Estatal Part. Industriales Siderurgia 52,8 162.174 0
1998 ARGENTARIA (4ª)
Soc. Estatal Part. Patrimonial. Banca 28,6 325.000 0

TABACALERA Soc. Estatal Part. Patrimonial. Tabaco/alimentac.
52,4 310.000 0

ENDESA (4ª) Soc. Estatal Part. Industriales Electricidad 41,1 1.490.000 0

COMEE Soc. Estatal Part. Industriales Electricidad 100
 
1999 INDRA (2ª) Soc. Estatal Part. Industriales Electrónica 63 92.500 0

Red Eléctrica Esp. Soc. Estatal Part. Industriales Red Alta Tensión 31,5 80.000 28,51

RETEVISION (2ª) Ministerio de Fomento Telecomunic. 30 123.300 10

IBERIA Soc. Estatal Part. Industriales Líneas Aéreas 40 174.000 53,9
2001 IBERIA (2ª) Soc. Estatal Part. Industriales Líneas Aéreas 48,5 97.431 5,4
157
ANEXO III. - INTERCÂMBIO DE VISITAS E TRATADOS ENTRE
BRASIL E ESPANHA
1.- INTERCÂMBIO DE VISITAS
1.1.- Visitas de personalidades brasileiras a Espanha
Chefes de Estado
Janeiro 56 Juscelino Kubistchek
11-4-84
João Baptista de Oliveira Figueiredo
30-1-85
Tancredo Neves
10-2-90
Fernando Collor de Melo
15-5-91
Fernando Collor de Melo
23-7-92 Fernando Collor de Melo assiste à II Cúpula Ibero-americana
celebrada em Madri
20-12-95 Fernando Henrique Cardoso
23-1-96 Fernando Henrique Cardoso: Escala técnica em Barcelona,
entrevista com o Presidente da Generalitat.
21-4-98 Fernando Henrique Cardoso
17-5-98 Fernando Henrique Cardoso
26-10-2000 Fernando Henrique Cardoso: Oviedo, “Prêmio Príncipe de
Astúrias”.
25-10-2001 Fernando Henrique Cardoso. Confêrencia sobre a Transição
Democrática, celebrada en Madri.
17-5-2005 Fernando Henrique Cardoso: II Cúpula EU-Latinoamerica-
Caribe
24-10-2003 Luiz Inácio Lula da Silva: Oviedo, “Prêmio Príncipe de
Astúrias”
14-10-2005 Luiz Inácio Lula da Silva: Salamanca, XV Cúpula Ibero-
americana.
158
Ministros de Relaciones Exteriores
11-4-84
Ramiro Saraiva Guerreiro
11-4-89
Roberto Costa de Abreu
11-1-93
Fernando Cardoso: assiste a reunião de Chanceleres da
América latina
21-4-98 Luiz Felipe Lampreia, acompanhando ao Presidente Cardoso.
17-5-98 Luiz Felipe Lampreia, acompanhando ao Presidente Cardoso.
20-9-2001 Celso Lafer
29-4-2002 Celso Lafer: Visita oficial
17-5-2002 Celso Lafer: Madri, II Cúpula EU-Latinoamerica-Caribe
14-10-2003 Celso Luiz Nunes Amorín. Visita oficial acompanhando a
Lula da Silva
Outras personalidades
10-56
Clovis Salgado, Ministro de Educação
10-57
Clovis Salgado, Ministro de Educação
15-8-60
Mattoso Maya, Ministro da Marinha
5-65
Hugo Beucer, Ministro de Educação
6-65 Marcelo Galindo, Ministro – Secretário da Presidência
29-6-65 Arnoldo López, Ministro do Trabalho
2-66 Artur da Costa e Silva, Ministro do Exército
2-7-66 Zilmar Campos, Ministro da Marinha
8-11-66 Raimundo Moniz Aragão, Ministro de Educação
5-67 Gonçalves Pasarino, Ministro de Trabalho
10-10-67 Alfonso Alburquerque, Ministro do Interior
3-5-68 Ivo Arzua Pereira, Ministro da Agricultura
10-5-70 José Costa Cavalcanti, Ministro do Interior
23-5-70 Francisco da Paula Rocha Lagoa, Ministro de Saúde Pública
20-3-73 Antonio Leite, Ministro de Minas e Energia
21-5-73 João Paulo da Reis Velloso, Ministro do Planejamento e
Coordenação Geral
10-9-73 Caetano Consetti, Ministro de Comunicações
11-3-76 Miguel Franchini Neto, Ministro de Assuntos Econômicos
17-12-80 S.Murillo Macedo, Ministro de Trabalho
8-10-81 Maximiliano Eduardo da Silva Fonseca, Ministro de Marinha
11-4-84 Nestor Jost, Ministro de Agricultura
11-4-84 João Camilo Penna, Ministro de Indústria e Comércio
11-4-84 Rubem Carlos Ludwig, Ministro Chefe do Gabinete Militar
da Presidência da República
11-4-84 João Leitão de Abreu, Ministro Chefe do Gabinete Civil da
Presidência da República
159
11-4-84 Antonio Delfin Neto, Ministro Chefe da Secretaria de
Planejamento da Presidência da República.
11-4-84 Danilo Venturiani, Ministro Chefe da Secretaria Geral do
Conselho de Seguridade Nacional e Ministro Extraordinário
para Assuntos Exteriores
22-9-86 Alfonso Alves, Ministro do Transportes
25-5-68 Gama e Silva, Ministro de Justiça
25-10-86 Vicente Fialho, Ministro do Regado
21-3-88 Paulo Tarso Flecha de Lima, Secretario Geral de Relações
Exteriores
17-5-88 Rómulo Furtado, Secretário do Estado
28-1-97 Paulo Paiva, Ministro do Trabalho e Seguridade Social.
Assinatura do Convenio de Seguridade Social en Madri.
23-10-97 Marco Macial, Vicepresidente
21-4-98 Pedro Sampaio Malan, Ministro de Fazenda e Francisco
Correa Weffort, acompanhando ao Presidente Cardoso
17-5-98 Pedro Sampaio Malan, Ministro de Fazenda, acompanhando
ao Presidente Cardoso
30-7-98 Francisco Turra, Ministro de Agricultura
19-10-98 Marco Antonio de Oliveira Maciel, Vicepresidente:
Preparação da XII Assambleia da Internacional Democrata
Cristã, em Bayona (Pontevedra)
12-11-98
José Renan Calheiros, Ministro de Justiça
24-2-99
José Renan Calheiros, Ministro de Justiça
17-3-99
Pedro Malan, Ministro de Economia
29-11-99 Marco Maciel, Vice-presidente: I Encontro Empresarial
Hispano Brasileiro (Madri)
5-200 Diputado Luis Augusto Lara
19-5-2000 Luiz Henrique da Silveira, Prefeito da Joinville
2-6-2000 Ronaldo Mota Sardenberg, Ministro da Ciência e Tecnologia
26-10-2000 Francisco Weffort, Ministro de Cultura
8-3-2001 Paulo Renato Souza, Ministro da Educação
15-2-2002 Anthony Garotinho, Governador do Rio de Janeiro
6-2003 Tarso Genro, Ministro para o Desenvolvimento Econômico e
Social
30-6-2004 Petrus Annanias, Ministro para o Desenvolvimento Social e
Luta contra a Fome
31-5-2004 Tarso Genro, Ministro de Educação
30-6-2004 Petrus Annanias, Ministro para o Desenvolvimento Social e
Luta contra a Fome
13-9-2004 Olivio Dutra, Ministro das Cidades. - Foro Mundial Urbano
(Barcelona)
23-11-2004 Tarso Genro, Ministro de Educação
21-1-2005 Gilberto Gil, Ministro de Cultura
31-1-2005 Dilma Rousseff, Ministra de Minas e Energia
160
14-3-2005 Marcio Thomas Bastos, Ministro de Justiça
6-6-2005 José Dirceu, Ministro da Presidência
6-9-2005 Gilberto Gil, Ministro de Cultura: Premio Extremadura
(Cáceres)
1.2.- Visitas de personalidades espanholas ao Brasil
Casa Real
14-5-83
Reis Don Juan Carlos e Dona Sofia
14-5-84
Príncipe de Astúrias, Don Felipe de Borbón
13-10-89
Infanta dona Elena de Borbón
15-7-93
Reis Don Juan Carlos e Dona Sofia: III
Cúpula Ibero-americana (Salvador da Bahia)
20-11-96 Príncipe de Astúrias, Don Felipe de Borbon
25-10-98 Reis Don Juan Carlos e Dona Sofia: Firma do Acordo de Paz
entre Ecuador e Peru
9-7-200 Reis Don Juan Carlos e Dona Sofia
30-12-2002 Príncipe de Astúrias. Posse do Presidente Lula da Silva
5-10-2003 Rainha dona Sofía
22-2-2005 Príncipes de Asturias a Brasília, Salvador e São Paulo.
17-7-2007 Príncipe de Astúrias: inauguração do Instituto Cervantes em
Brasília.
Chefes do Governo
4-8-79
Adolfo Suárez
15-6-87
Felipe González
15-3-90
Felipe González
13-6-92
Felipe González: Cúpula da Terra
17-10-95
Felipe González
16-4-97
José María Aznar
27-6-99 José María Aznar: Cúpula UE-Iberoamerica-Mercosul
28-10-2003 José María Aznar
23-1-2005 José Luis Rodríguez Zapatero: Gira Ibero-americana junto
com os Ministros de Asuntos Exteriores e de Cooperação e
Indústria
161
Ministros de Asuntos Exteriores
31-3-71
Gregorio López Bravo
4-8-79
Marcelino Oreja
14-5-83
Fernando Morán, acompanhando aos Reis
7-4-87
Francisco Fernández Ordóñez
21-4-94 Javier Solana: Reunión UE – Grupo de Rio em São Paulo
17-10-95
Javier Solana
27-6-99
Abel Matutes: Cúpula UE-Iberoamérica-Mercosul
17-1-2003
Ana Palácios
22-7-2004
Miguel Angel Moratinos
23-1-2005 Miguel Angel Moratinos, acompanhando ao Presidente
Zapatero
15-2-2006 Miguel Angel Moratinos
Outras personalidades
6-61
Alberto Ullastres, Ministro do Comércio
8-66
Gregorio López Bravo, Ministro de Indústria
8-66 Laureano López Rodo, Ministro Comissário do Plano de
Desenvolvimento.
13-2-67 Pedro Nieto Antúnez, Ministro da Marinha
24-9-67 Faustino García Monco, Ministro do Comércio
2-5-72 Licínio de la Fuente, Ministro do Trabalho
17-9-72 Antonio María de Oriol y Urquijo, Ministro de Justiça
5-11-72 Laureano López Rodo, Ministro Comissário do Plano de
Desenvolvimento.
8-12-72 José Maria Porcioles, Perfeito de Barcelona
7-10-73 Julio Rodríguez Martínez, Ministro de Educação
16-3-74 Gabriel Pita da Veiga, Ministro da Marinha
10-5-74 Alfredo Santos Blanco, Ministro de Indústria
21-5-74 Nemesio Fernández Cuesta, Ministro de Comércio
6-4-76 Joisé Luis Cerón, Ministro de Comércio
16-3-77 José Lladó y Fernández Urrútia, Ministro de Comércio
13-3-79 Jaime Lamo de Espinosa, Ministro de Agricultura
13-3-79 Delegação presidida por Carlos Robles Piquer, Secretário de
Estado para Assuntos Exteriores
18-8-79 Juan Antonio García Díez, Ministro de Comércio e Turismo
20-2-80 Juan Rovira Tarazona, Ministro de Saúde e Seguridade Social
16-982
Santiago Rodríguez Miranda, Ministro do Trabalho
26-9-84 Guillermo de la Dehesa, Secretário Geral de Comércio, do
Ministério de Economia e Fazenda
19-5-86 Jordi Carbonell, Secretário Geral do Ministério de
Agricultura
162
15-6-87 Carlos Solchaga, Ministro de Economia e Fazenda e Javier
Solana, Ministro de Cultura e Portavoz do Governo,
acompanhando ao Presidente Felipe González
30-1-88 Fernando Ledesma, Ministro de Justiça
26-4-88 Luis Yáñez, Secretário do Estado para a Cooperação
Internacional e Ibero-américa
30-5-88 Abel Caballero, Ministro de Transportes, Turismo e
Comunicações
31-8-88 Jordi Pujol, Presidente da Generalitat da Catalunha
29-6-89 Manuel Fraga Iribarne, Presidente do Partido Popular
17-9-90 Luis Yáñez, Secretário de Estado para a Cooperação
Internacional e Ibero-américa
27-12-90 Barco Escola Juan Sebastián Elcano
11-11-91 Leopoldo Calvo Sotelo, ex-presidente do governo
18-11-91 Juan Manuel Eguiagaray, Ministro para as Administrações
Públicas
24-11-91 Manuel Fraga Iribarne, Presidente da Xunta da Galicia
10-5-92 José Borrell, Ministro de Obras Públicas e Transportes:
Cúpula da Terra (Rio de Janeiro)
30-12-94 Narcis Serra, Vice-presidente do Governo: Posse do
Presidente Fernando Henrique Cardoso
23-3-95 Manuel Fraga, Presidente da Xunta da Galicia
26-6-95 Juan Manuel Eguiagaray, Ministro de Indústria e Energia
10-9-95 José Maria Aznar, Presidente do Partido Popular
21-9-95 José Luis Dicenta, Secretário de Estado para a Cooperação
Internacional e Ibero-américa
22-11-96
Josep Piqué, Ministro de Indústria e Energia
23-11-96
Felipe González, Secretário Geral do PSOE
16-4-97 Fernando Villalonga, Secretario e Estado de Cooperação
Internacional e Ibero-américa, acompanhando al Presidente
Aznar.
15-7-97 Manuel Fraga, Presidente da Xunta da Galicia
26-8-97 José Manuel Romay Beccaria, Ministro de Saúde
12-9-97 Jordi Pujol, Presidente da Generalitat de Catalunha: Reunião
Mercosul (São Paulo)
7-3-98 Manuel Fraga, Presidente da Xunta da Galicia
23-9-98 Jordi Pujol, Presidente da Generalitat de Catalunha: Terceira
Reunião Plenária do Círculo do Montevideo (Brasília)
29-3-98 Alberto Ruiz Gallardón, Presidente da Comunidade de
Madri: Terceira Reunião Plenária do Círculo do Montevideo
(Brasília)
29-3-98 José Antonio Ardanza, Presidente do Governo Basco
25-10-98 Fernando Villalonga, Secretário de Estado de Cooperação
Internacional e Ibero-américa, acompanhando aos Reis na
assinatura do Acordo de Paz entre Equador e Peru
163
18-4-99 Josep Piqué, Ministro de Indústria e Energia e Portavoz do
Governo
4-7-99 Rodrigo Rato, Vice-presidente Segundo e Ministro de
Economia e Fazenda
6-10-99 José Manuel Romay Beccaria, Ministro de Saude e Consumo
21-11-99 Manuel Fraga, Presidente da Xunta da Galicia
3-12-99 Mariano Rajoy, Ministro de Educação e Cultura
21-9-2000 Baltasar Garzón
15-9-2000 Miguel Sanz Sesma, Presidente da Comunidade Foral de
Navarra
17-11-2000 Baltasar Garzón
22-11-2000 CESEDEN
8-11-2000 Juán José Lucas Giménez, Presidente da Junta de Castilha e
Leão
12-1-2001 Delegação do Parlamento de Galicia
5-2-2001 Juan Costa Climent, Secretário de Estado de Comércio e
Turismo
11-3-2001 José Folgado Blanco, Secretário de Estado de Economia,
Energia e PIME
25-4-2001 Ana Birulés, Ministra de Ciência, Tecnología e
Comunicações
11-3-2002 Rodrigo Rato, Vice-presidente Segundo e Ministro de
Economia: Reunião Anual do BID (Fortaleza)
21-3-2002 Ana Birulés, Ministra de Ciência e Tecnologia: Conferência
dos Ministros de Ciência e Tecnologia da América Latina,
Caribe e UE (Brasília)
3-7-2002 Miguel Ángel Cortés, Secretário de Estado de Cooperação
Ibero-americana. Posse do Presidente Lula da Silva
8-1-2003 José Pedro Sebastián de Erice, Sub-secretario de Assuntos
Exteriores
3-10-2003 Juan José Ibarretxe, Presidente do Governo Basco
1-6-2004 Juan López Aguilar, Ministro de Justiça: XVI Reunião dos
Ministros da Justiça de Iberoamérica (Fortaleza)
29-6-2004 Cármen Calvo, Ministra de Cultura: Fórum Cultural Mundial
(São Paulo)
6-10-2004 Vicente Álvarez, Presidente Principado do Astúrias
29-1-2005 Leire Pajin, Secretária de Estado de Cooperação
Internacional: Foro Social Mundial (Porto Alegre)
11-5-2005 Elena Espinosa, Ministra de Agricultura, Pesca e
Alimentação
29-5-2005 Jesús Caldera, Ministro de Trabalho e Assuntos Sociais
8-8-2005 Mª Teresa Fernández de la Vega, Vice-presidenta Primeira do
Governo: Gira com Bernardino Leon e Leire Pajín
11-04-2006 Jesús Caldera, Ministro de Trabalho e Assuntos Sociais
22-5-2006
Juan Fernando López Aguilar, Ministro de Justiça
164
19-03-2007 Emilio Pérez Touriño, Presidente da Xunta de Galicia
29-03-2007 Leire Pajín, Secretária de Estado de Cooperação Internacional
09-04-2007 Delegação Parlamento Espanhol
29-5-2007 José Maria Aznar, ex-presidente do governo
2.- TRATADOS
28-5-19
Acordo Administrativo para o intercambio da
correspondência diplomática em malas especiais.
28-11-49 Convênio sobre transportes aéreos regulares, protocolo
adicional.
23-6-51 Acordo para regular o serviço das malas diplomáticas por via
aérea
13-6 y 7-7-52 Intercâmbio do Notas modificando o quadro de rotas do
Convêio sobre transportes aéreos regulares de 28 novembro
1949
25-6-60 Convênio Cultural. - BOE 9-6-65
25-6-60 Convênio Cultural. Em Vigor: 1-6-1965. BOE 9-5-65
13 y 21-10-60 Acordo sobre supressão do vistos nos passaportes de
diplomatas
27-12-60 Acordo sobre Migração. Canje de Notas interpretativo e
Canje de Notas relativo às reclamações judiciais e
extrajudiciais. (Os artigos 41 a 51, ambos inclusive, ficaram
substituídos pelo Convênio de Seguridade Social de 25 do
Abril dos 1969, substituídos a sua vez pelo Convênio de
Seguridade Social de 16 de Maio de 1991). BOE 5-8-64
16-5-62
Canje de Notas considerando expirados o 31 de março dos
1962, os Canjes de Notas comerciais e de pagos de 24 do julho
de 1952 e estabelecendo novas disposições comerciais (Decisão
do Conselho CEE, de 06 do Dezembro de 1993, autorizando a
tácita econducción de 31 do dezembro de 1994. Se desconhece
a sua aplicação na atualidade)
2-12-63 Canje de Notas sobre co-produção cinematográfica
11-8-64 Convênio de Cooperação Social. BOE 14-4-66
26-5 y 20-6-69 Canje de Notas aprovando novos cuadros de rotas
23-9-71 Acordos sobre higiene e saúde de veterinaria. BOE 6-3-72
14-11-74 Convênio para evitar a dupla imposição e prevenir a evasão
fiscal na matéria dos impostos sobre a renda. Protocolo. BOE
31-12-75
7-8-79 Canje de Notas fixando a celebração das reuniões periódicas
dos Ministros das Relações Exteriores
165
12-5-83 Acordo da Cooperação em no campo dos usos pacíficos da
energia nuclear. BOE 4-6-93
12-4-84 Acordo de Defesa fitosanitária. BOE 12-1-91
12-4-84 Canje de Notas sobre radio - amadores. BOE 31-7-87
2-2-88 Tratado da extradição
13-4-89 Acordo de Cooperação jurídica na matéria civil. BOE 10-7-91
e 13-8-91
13-4-89 Convênio Básico de Cooperação técnica, científica e
tecnológica. Protocolo de Intenções. BOE 24-2-92
8-5 y 2-10-89 Canje de Notas relativo ao Convênio sobre transportes aéreos
regulares de 28 de novembro de 1949, aprovando a Ata de 13
de maio de 1987. BOE 30-7-91
16-5-91 Convênio Seguridade Social
18-9/31-10-91 Canje de Notas modificando o Anexo do Convênio sobre
transportes aéreos regulares de 28 do novembro de 1949
23-7-92 Tratado Geral de Cooperação e Amizade. BOE 8-7-94
23-7-92 Acordo Econômico integrante do Tratado Geral de Cooperação
e Amizade. BOE 6-7-94
7-11-96 Tratado sobre o traslado dos presos
18-4-97 Acordo de Cooperação em matéria de Turismo. BOE 15-8-98
11-11-99 Acordo sobre cooperação em matéria da prevenção do
consumo e controle do trafico de estupefacientes e substancias
psicotrópicas
14-5-2002 Convênio complementar ao Convênio de Seguridade Social de
maio de 1991
23-11-2005 Acordo administrativo para a aplicação do Convênio de
seguridade social. Em Vigor: 23-11-2005. BOE 9-5-2006
166
ANEXO IV -
INVESTIMENTOS DIRETOS DAS EMPRESAS ESPANHOLAS
POR SETOR DE DESTINO: 1993-2006
Empresa Setor
ABN AMRO Holding ENXTAM:AABA Serviços financieros
Acerías y forjas de Azcoitia Metalurgia
Alcatel Standard Electrica Telecomunicações
Amper Telecomunicações
BBVA Entidades financeieras
BSCH Entidades financeieras
Caixa Entidades financeieras
Caixa d´Estalvis i Pensiones de Barcelona Servicios financeieros
Caja Madrid Entidades financieras
Calvo Conservas Pesca
Cie Automotive Manufatura
Control de ITV iTV
Corp. Industrial Engana Partes e componentes
Corp. Patricio Echeverría Metalurgia
CSI Planos Engenharia
DMR Consulting España Serviços
Empresa Nacional Elcano de la Marina
Mercante Transporte
Espiga Capital Inversiones Ind. Química
Fagor Ederla Cooperativa Manufatura
Gas Natural Energia Elétrica
Gesfor Serviços
Grupo Antolin Irausa Partes e componentes
Grupo Auxiliar Metalúrgico Partes e componentes
Grupo Dragados Construção
Grupo Flex Móveis e colchões
Grupo Santillana Editorial
Guardian Glass España Vidro
Iberchem Ind. Química
Iberdrola Energia Elétrica
Latinoamericana de Gestion Hotelera Hotelería
Lignotock Partes e componentes
Maga Serviços
Magnetti Marelli Ibérica Material Elétrico
Mapfre Seguros
Modragon Corp. Partes e componentes
Obrascon Huarte Lain Serviçõs
OHL Serviçõs
Patagon internet bank Servicios financeieros
Peguform
Prosegur Cia de Seguridad Serviçõs
167
Repsol YPF Petróleo
Sidenor Transf. Metálica
Tableros de Fibras TAFISA Madeira
Talleres Fabio Murga Partes e componentes
Tavsx Algodonera CATS:ASA Têxtil
Telefónica Telecomunicações
Unión Fenosa Gener. Energia Elétrica
Unitronics Comunicaciones Telecomunicações
Uralita Construção
Veber España Holding
Vicofan Ind. Navarra Envoltorios Embalagens
168
ANEXO V -
EMPRESAS ESPANHOLAS ESTABELECIDAS NO BRASIL
EMPRESA SETOR DE ATIVIDADE MATRIZ NA ESPANHA
Abengoa Construção Brasil Ltd Engenharia Abengoa S.A.
ACX do Brasil, Representações Ltda Siderurgia- aço inoxidável Acerinox S.A.
Ajusa do Brasil Ltda
Equipes, componentes e
acessórios de automoção
Auto Juntas S.A U-Ajusa
Alimatic, Alimentação Automática de
Plásticos Ltda
Transformação de plásticos Alimatic S.L.
Alona Laboratorios
Fabricação de produtos
cosméticos e tintas capilares
Alosyl S.l.
Amara Brasil Ltda
Material elétrico e
telecomunicações
Amara S.A.
Antex Ltda Têxtil Antex - Angles Textil, S.A.
Antolín - Sudamerica Ltda
Equipamentoss, componentes e
acessórios de automoção
Grupo Antolin - Irausa S.A.
Arteche EDC Equipamentos e
Sistemas S.A.
Maquinaria e material elétrico Electrotécnica Arteche Hermanos S.A.
Atlántica Agrícola do Brasil -
Comércio e Serviços Ltda
Fertilizantes, adubos e
corretores de solo
Atlántica Agrícola
Azud Brasil Ltda
Sistemas de irrigação e
filtragem
Sistema Azud S.A.
Bargoa S.A.
Equipamentos de
Telecomunicações
Abengoa S.A.
Bayes Forecast Sistemas de Atenção
Dinâmica Ltda
Serviços de consultoria,
administração e gestão
Bayes Decisión S.L.
Biotools do Brasil Ltda Biotecnologia
Biotools Biotechnological & Medical
Laboratories S.A.
Caixa Galicia (Brasil), Representações
Ltda
Serviços bancários e de
investimento - Representação
Caja de Ahorros de Galicia
Caucho Metal Productos Engebor do
Brasil Ltda
Equipamentos, componentes e
acessórios de automoção
Caucho Metal Productos II, S.L.
Cesde Ltda Electrodomésticos Electrodomésticos Taurus
Cia Brasileira de Amarras
"Brasilmarras"
Metalurgia Vicina y Cadenas S.A.
Clarke, Modet Propriedade Intelectual
Ltad
Consultoria Clarke Modet y Cia, S.L.
Cointer Brasil Ltda Concessões infra-estruturas Concesiones Intercontinentales S.L.
Comexi do Brasil Ltda
Impressoras flexográficas,
laminadoras e cortadoras
Comexi Group
Copreci do Brasil Ltda
Componentes para
eletrodomésticos
Copreci, Soc. Coop. Grupo Mondragón
Crédito y Caución do Brasil, Gestão de
Riscos de Crédito e Serviços Ltda
Serviços anexos e seguros
Compañía Española de Seguros e
Reaseguros Crédito y Caución
169
Crédito y Caución Seguradora de
Crédito á Exportação
Seguros
Compañía Española de Seguros e
Reaseguros Crédito y Caución
Crédito y Caución Seguradora de
Crédito de Garantías S.A.
Seguros
Compañía Española de Seguros e
Reaseguros Crédito y Caución
Cuatrecasas Consultoría em Negocios
Ltda
Servços jurídicos Cuatrecasas Abogados S.L.
Cortume Brasil Ltda Couro e peles curtidas Curtidos Codina S.A.
Danobat do Brasil Ltda
Comercialização de máquinas-
ferramenta
Danobat, Soc. Coop. Grupo Mondragón
Deten Quimica S.A. Petroquímico
Compañía Española de Petróleos -
CEPSA
Ediçoes del Prado do Brasil Editorial Ediciones del Prado S.A.
Editorial Planeta do Brasil Ltda Editorial Editorial Planeta S.A.
Egoki Alliance do Brasil Ltda
Elementos de fixação -
puxadores para móveis
Tiradores Egoki S.A.
Egorbe Brasil Comercio de Maquinas
para Madeira Ltda
Maquinaria manipulação de
madeira
Egurko S. Coop.- Grupo Mondragón
Enerbrasil Energias Renováveis do
Brasil S.A.
Energias renováveis Iberdrola Renovables S.A.
Eptisa Brasil Ltda Serviços de engenharia Eptisa Servicios de Ingenieria S.A.
Esteban do Brasil Ltda
Equipamentoss, componentes e
acesóorios de automoção
Asientos Esteban S.A.
Facomsa da Amazonia Ltda Metalurgico - Motocicletas
Fabricación componentes de
motocicletas S.A.
Fagor Arrasate do Brasil Ltda Maquinaria siderurgica
Fagor Arrasate Service Technology S.A.
- Grupo Mondragón
Fagor Automation do Brasil Com.
Imp. E Exportação Ltda
Comercialização de centros de
controle numérico
Fagor Automation, Soc. Coop. - Grupo
Mondragón
Fagor Ederlan Brasileira Autopeças
Ltda
Equipamentos , componentes e
acessórios automotivos
Fagor Ederlan, Soc. Coop.- Grupo
Mondragón
Genebre do Brasil Intermediações de
Negocios Ltda
Equipamentos para
manipulação de fluidos
Genebre S.A.
Gesaworld do Brasil Consultoria em
Sistemas e Gestão de Saúde Ltda
Serviços de consultoria em
setor sanitário e hospitalar
Gesaworld S.A.
Gestamp Gravatai Industria de
Autopeças S.A.
Equipamentos, componentes e
acessórios automotivos
Gestamp Automoción S.L.
Gestamp Paraná S.A.
Equipamentos, componentes e
acessórios automotivos
Gestamp Automoción S.L.
Grifols Brasil Ltda Instrumental médico hospitalar Grifols S.A.
Hispamar satélites S.A. Telecomunicações Hispasat S.A.
Hispasat Brasil Ltda Telecomunicações Hispasat S.A.
HR do Brasil Ltda Componentes eletrônicos Diemen S.A.
Iberdrola Consultoria e Serviços do
Brasil Ltda
Engenharia e construção
Iberdrola Ingenieria y Construcción S.A.,
Iberinco
Iberdrola Energia do Brasil Ltda Energia Eletrica Iberdrola S.A.
Iberia Líneas Aéreas de España Transporte Aéreo Iberia Líneas Aéreas de España S.A.
170
Idom Consultoria Ltda
Engenharia, arquitetura e
Consultoria
Idom S.A.
Infinity System do Brasil S.A. Informática e Hardware Infinity System S.L.
Intertrim Ltda
Equipamentos, componentes e
acessórios automotivos
Grupo Antolin - Irausa S.A.
Iramec Autopeças S.A.
Equipamentos, componentes e
acessórios automotivos
Grupo Antolin - Irausa S.A.
Irizar Brasil Ltda
Equipamentos, componentes e
acessórios automotivos
Irizar Soc. Coop. - Grupo Mondragón
Kondia do Brasil Indústria e Comércio
Ltda
Máquina-ferramenta Kondia M.E. Taldea S.L.
Mango Brasil Comercial Ltda Moda e complementos Punto Fa S.L.
Mantraco do Brasil Comercial Ltda Iluminação
Global manufacturing & Trading
Company S.L.
MB Metalbages do Brasil Ltda
Equipamentos, componentes e
acessórios automotivos
Gestamp Automoción S.L.
MCC Mondragon Brasil Ltda
Representação corporativa e
promoção de negócios
Mondragón Corporación de Comercio
Internacional S.A. MCC Internacional
Medidata Informatica S.A.
Ternologia da informação e
comunicação
Hemisferio Norte S.A., Grupo Amper
Mirvi Brasil Ltda Embalagens de plástico Betapack
Murta Energetica S.A. Energia Eletrica Eptisa Servicios de Engenharia S.A.
Neoenergia S.A. Energia Iberdrola S.A.
Ocelibros Brasil Importação e
Comercio de Livros Ltda
Editorial Editorial Oceano
Olivé Química do Brasil Ltda Produtos químicos Olivé Química
Orkli do Brasil. Industria de Controles
para electrodomesticos
Climatização e equipamentos
para manipulação de fluidos
Orkli S. Coop.- Grupo Mondragón
Paranoa Ind. De Borracha S.A.
Equipamentos para
manipulação de fluidos
Cikautxo s. Coop.- grupo Mondragón
Pastor Representantaçoes Ltda
Serviços Bancarios e de
investimento. Representação
Banco Pastor
Pescanova Brasil Ltda
Pesca, acuicultura,
processamento de pescados
Pescanova S.A.
Pinord do Brasil Importadora e
Exportadora Ltda
Importação bebidas e alimentos
Bodegas Pinord
Repsol YPF Brasil S.A. Petróleo e gás Repsol YPF S.A.
Roca Brasil Ltda Aparelhos sanitários e torneiras
Roca Corporación Empresarial S.A.
Rotatek Brasil Equipamientos Gráficos
Ltda
Maquinaria para artes gráficas Rotatek S.A.
Sabadell Brasil Trade Services
Assesoria Comercial Ltda
Serviços Bancários e de
investimento. Representação
Banco de Sabadell S.A.
Samec Carioca Sociedade Mecanica
Ltda
Produtos siderurgicos para
maquinaria de elevação
Perfiles Especiales Selak S.L.
Sanchez Cano Ltda Confeitaria Sánchez Cano S.A.
171
Shad do Brasil
Acessórios para motos (baús e
capacetes)
NAD S.L.
Temoinsa do Brasil Ltda
Equipamento para material
rodante
Técnicas Modulares e Industriales S.A.
Trimtec Ltda
Equipamentos, componentes e
acessórios automotivos
Grupo Antolin - Irausa S.A.
Ulma Brasil Andamies, Formas e
Escoramento Ltda
Material de construção Mondragón Corporación Cooperativa
Ulma Brasil Formas e Escoramentos
Ltda
Materiais auxiliares para
construção
Ulma C. Y S. Coop.- Grupo Mondragón
Ulma Packing Ltda
Fabricação de equipamentos e
sistemas de embalagem
Ulma C. Y S. Coop.- Grupo Mondragón
Uria & Menendez Ltda Serviços jurídicos Uría Menéndez y Cia Abogados S.L.
Zanini do Brasil Ltda
Equipamentos, componentes e
acessórios automotivos
Zanini Autogrup S.A.
Ziv do Brasil Ltda
Equipamentos de
Telecomunicações
Ziv Aplicaciones y Tecnología S.L.
172
ANEXO VI.-
AQUISIÇÃO DE EMPRESAS PRODUTORAS DE
BIOCOMBUSTÍVEIS (2005 – 2007)
USINAS ADQUIRIDAS GRUPO COMPRADOR ORIGEN DO
CAPITAL
2005
Destivale Cosan e FBA Brasil e França
Destileria Tuntum Grupo EQM Brasil
Marca União, outras marcas Nova América Brasil
Usina Galo Bravo José Alberto Abrão Miziara e
Marcelo Marques
Brasil
Usina Novagro (Atual Santa Fé) Grupo Safi Itália
Usina Corona Cosan Brasil
Usina Alcana Evergreen Reino Unido
Usina Mundial (ex Alcomira) Cosan Brasil
2006
Destilaria Araguaia Grupo EQM Brasil
Usina Corona Cosan Brasil
Usina Monte Alegre Adeco Agropecuaria Argentina
Copernavi Kidd & Company EUA
Usina Bom Retiro Cosan Brasil
Cristal Destilaria de Álcool
(Cridasa)
Evergreen Reino Unido
Cevasa Gargrill EUA
Cocamar Cooperativa
Agroindustrial
Grupo Santa Terezinha Brasil
Usina em construção do Grupo
Petribu (em Tanabi)
Açúcar Guaraní (Tereos) França
2007
Petribu Paulista Noble Group Hong Kong
Tavares de Melo Luis Dreyfuss França
Destileria Paranapanema Biofuel AS Noruega
Usaciga Clean Energy Brasil Reino Unido
Usina Boa Vista Mitsubishi Corporation Japão
Santa Luiza Etanol Participações Brasil
Fonte
: KPMG
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