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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E FILOSOFIA
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SOCIOLOGIA
MESTRADO EM SOCIOLOGIA
EXTENSÃO RURAL NO ESTADO DE GOIÁS: ACESSO
DA PRODUÇÃO FAMILIAR À MODERNIDADE
(1975-1999)
Mestranda: Eloisa Pio de Santana
Orientador: Dr. Fausto Miziara
Goiânia-GO
2005
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ELOISA PIO DE SANTANA
EXTENSÃO RURAL NO ESTADO DE GOIÁS: ACESSO DA
PRODUÇÃO FAMILIAR À MODERNIDADE
(1975-1999)
Dissertação apresentada ao Mestrado em
Sociologia do Programa de Pós-Graduação em
Sociologia da Faculdade de Ciências Humanas
e Filosofia, como requisito parcial à obtenção
do título de Mestre.
Área de Concentração: Processos Sociais
Agrários
Orientador: Professor Dr. Fausto Miziara
Goiânia-GO
2005
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ELOISA PIO DE SANTANA
EXTENSÃO RURAL NO ESTADO DE GOIÁS: ACESSO DA
PRODUÇÃO FAMILIAR À MODERNIDADE
(1975-1999)
Dissertação defendida e aprovada em ______de _______________de 2005, pela
Banca Examinadora constituída pelos professores:
___________________________
Prof. Dr. Fausto Miziara (FCHF/UFG)
Orientador
______________________________________
Prof. Dr. Danilo Nolasco Cortes Marinho (UNB)
_____________________________________________
Profª Lyz Elizabeth Amorim Melo Duarte (FCHF/ UFG)
___________________________________________________
Profª Dra. Maria do Amparo Albuquerque Aguiar (FCHF/ UFG)
Suplente
À minha família, Pai Hildebrando Pio de Santana,
mãe Maria Nery Sampaio, irmãos, Eloide, Dilma,
Hilmaide, Hudson, à minha filha Charmânia Cristina
e minha netinha Thainá.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente a Deus por me proporcionar à realização de mais um sonho,
por mais uma vitória conquistada.
A minha família pelo apoio em todas as horas, em especial aos meus pais
que não mediram esforços para que eu conseguisse essa vitória.
Ao meu orientador Prof. Dr. Fausto Miziara pela atenção e companheirismo
durante todo o período de orientação.
Aos professores do Programa de Pós-graduação em Sociologia que sempre
me trataram com respeito durante o período de realização do curso.
Em especial à minha amiga Mary-Nise pela amizade, apoio nos momentos
mais difíceis.
Ao meu amigo Ademar Jr. Pelo companheirismo e pela colaboração na
realização da capa ilustrada.
Aos amigos André de Oliveira Amorim e Tatyane Vicentine de Oliveira pela
assistência nas dúvidas com computação.
A minha amiga e companheira Antoninha pela amizade e apoio nas horas
difíceis.
A minha amiga Rosemeire Bernardino dos Reis pela presteza e
companheirismo.
A minha amiga Francilane Eulália de Souza pelas informações no
levantamento dos materiais bibliográficos e na tabulação do trabalho.
À Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia-SECTEC pela liberação para
freqüentar as aulas do mestrado e realização da pesquisa empírica.
Aos técnicos extensionistas e à bibliotecária da AGENCIARURAL pela
colaboração quando do levantamento dos dados nos relatórios de atividades da
empresa. Aos técnicos entrevistados pela colaboração e presteza no momento das
entrevistas
Ao Supervisor Regional da AGENCIARURAL da microrregião Sudoeste de
Goiás Sr. Fernando Servilha pela atenção e apoio quando da visita aos municípios
do Sudoeste.
Enfim, a todas as pessoas que direta ou indiretamente contribuíram para a
realização deste trabalho.
AGRICULTURA
“O povo de boca aberta...
pedindo pão,
Multidões famintas, correndo atrás de alimentação.
A terra, cobriram-na com pisos, asfalto, pedrinhas ou varreram-na para longe.
Terra vermelha, arenosa, encharcada, dura, lamacenta.
Ninguém quer pisar no chão...
O paraíso fica nos arranha-céus.
Concreto vale mais que madeira, que natureza.
O povo, iludido, veste-se de cidade grande e aprende a comer lixo no chão.
De comer bem, o povo até se esquece.
Comer aquela comidinha tão gostosa que só a vovó lá no sítio fazia...
A vida, aos poucos vai se acabando e ninguém presta atenção.
As cidades lotadas de almas iludidas, cheias de gente faminta, enquanto no campo
há deserto de plantação.
Acorda “povo”!
Você não quer viver?
Volte para o campo, para tratá-lo, cuide do que Deus lhe deu, com carinho e muito
amor.
Da terra se extrai os frutos, dos frutos a continuidade da vida.
Só da terra é que nasce tudo, no chão do asfalto não se planta nada.
Volte a respirar esse ar puro que só o campo tem.
Volte a plantar, volte à cultura do campo.
Faça agricultura!
Faça nascer algo de bom para que a vida cresça forte e sadia.
Plante na terra os seus dons de semeador.
Transforme o povo de boca aberta em povo farto de alimentação.
Coloque a mão na terra e sinta a força divina.
Povo! Levanta a cabeça!
Nasça de novo!
Que Deus ajude quem da vida faz agricultura!”
Tânia Falqueiro Barbosa
RESUMO
A proposta central desse trabalho consiste em verificar a atuação da
EMATER-GO na visão dos técnicos da Extensão Rural como ponto de acesso entre
os produtores familiares e a modernização agropecuária, materializadas nas novas
tecnologias introduzidas na agricultura e na pecuária. Esta pesquisa se desenvolveu
em dois períodos: de 1975 (ano de transformação da ACAR-GO em EMATER-GO)
até 1990 (ano de extinção da EMBRATER). O segundo período vai de 1990 até
1999 (ano de liquidação da EMATER-GO e criação da Agência Rural). Esta
pesquisa foi realizada com o intuito primordial de revelar algumas das
particularidades do processo de modernização agropecuária: Qual foi o papel das
instituições que foram criadas para promover este desenvolvimento no campo.
Nessa perspectiva, optamos por utilizar o referencial teórico de alguns autores, para
trabalharmos temas específicos.
Ressaltamos a inovação da aplicação do modelo teórico de Anthony Giddens,
o modelo da modernidade reflexiva, introduzido para facilitar a compreensão do
papel que as instituições especializadas desempenharam dentro de todo esse
processo, e aqui, exclusivamente os serviços de extensão rural do Estado de Goiás.
A metodologia utilizada para a realização da pesquisa, baseou-se
primeiramente em leituras bibliográficas que nos levassem a compreender de forma
mais precisa o processo de modernização da agropecuária brasileira, um processo
que envolveu, entre outros fatores, a inserção dos serviços de extensão rural e a
abertura de fronteiras agrícolas. Fizemos o levantamento dos dados da atuação da
empresa EMATER-GO durante o período de 1975-1999, com os quais tabulamos e
elaboramos as tabelas e os gráficos. Para entendermos a ação dos agentes
envolvidos neste processo, num primeiro momento fizemos uma visita a alguns
municípios da Microrregião Sudoeste de Goiás, ocasião em que realizamos
entrevistas com técnicos da extensão rural para conhecimento de algumas
particularidades dessa microrregião em relação às outras do Estado de Goiás.
Essas entrevistas foram complementadas por outras que envolveram técnicos
envolvidos com a Extensão Rural em todo o Estado de Goiás. No total realizamos
21 entrevistas com técnicos que atuaram e atuam na empresa no período em
estudo.
Pelos dados levantados e pelas entrevistas realizadas foi possível constatar
que durante o período de 1975-1999 a EMATER-GO foi a instituição que promoveu
a inserção do produtor familiar no processo de modernização da agricultura, foi o
ponto de acesso entre o conhecimento científico dos órgãos de pesquisa e o meio
rural, principalmente o produtor familiar. Trabalhando juntamente com os órgãos de
pesquisa e levando os seus resultados ao campo em forma de Unidades
Demonstrativas, Cursos, Excursões, dias de campo; enfim, proporcionando o
conhecimento ao produtor rural.
Diante de tais fatos é preciso ser repensado o serviço de extensão rural, se
não forem elaboradas políticas públicas a nível estadual e federal para o
reerguimento da extensão rural a tendência é cada vez mais inviabilizar o trabalho
de extensão. O pequeno produtor ainda precisa muito da extensão, pois o grande e
médio tem condições de contratar os serviços particulares mas, o pequeno só tem a
extensão.
PALAVRAS-CHAVE: Modernidade, Produção Familiar, Extensão Rural.
ABSTRACT
The main purpose of this report is to verify EMATER-GO´s work through the
technicians of Rural Extension as an acess point between the family productures and
the agriculturist modernity, materialized in the new technology introduced in
agriculture and farming. This research was done in two periods: from 1975 ( year of
transformation in ACAR-GO in EMATER-GO) to 1990 (year of extintion of
EMBRATER). The second period goes from 1990 to 1999 (year of liquidation of
EMATER-GO and creating the Rural Agency). This research was done with a priority
to reveal some particularities of the agriculturist modernity: What was the role of the
institutions which were created to provide this development in field. From this
perspective, we chose to use a theoric referencial from some authors, to work
specific themes.
We reinforce here the inovation of the aplicability of the theoric model from
Anthony Giddens, the model of reflexive modernity, introduced to ease the
comprehension of the role that the institutions specialized in all of these process, and
here, exclusively the services of the rural extension of Goiás State.
The metodology used on this research, was first based on readings which
could take us to comprehend a more precise way of the process of the brazilian
agriculturist modernity, a process which involved, like other factors, the entrance of
the rural extension services and the opening of agriculture frontiers. We collected the
facts from EMATER-GO during the period of 1975-1999, which we tabulated and did
the tables and graphics. To understand the action of agents involved on this process,
in a first moment we visited some areas around the microareas of the southwest part
of Goias, ocasion where we did some researches with technicians of rural extension
to know some particularities from this microarea related with others areas from Goias
State. These researches where complemented with others which involved
technicians who were also involved with Rural Extension in all of Goias State. In a
total we did 21 researches with technicians who worked and still work in the company
during the period studied.
From the facts studied and through the researches done it was possible to
see that during the period of 1975-1999 the EMATER-GO was an institution that
provided the entrance of the family productor in the process of agriculturist
modernity, it was the point of acess between the cientific knowledge from the
researches and the rural area, mainly the family productor. Working together with the
researches organs and taking the results to the field in Demonstrative Units,
Courses, Tours, days of fields; at last, providing the knowledge to the rural productor.
Facing the facts it is necessary to think of the rural extension service, if public
politics won´t be elaborated in a state and federal level to the increasing of rural
extension, the tendency is each time more blocking the work of extension. The small
productor still needs the extension, because the large and medium have conditions
to hire private services, but the small one just have the extension.
KEY WORDS: Modernity, Family Production, Rural Extension
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
1- Uso do solo no sudoeste goiano – 1940 -1995............................................ 25
2- Modelo de estratificação do agente............................................................. 73
3- Área de trabalho da EMATER em Goiás – 1975-1999................................ 98
4- Número de produtores assistidos em Goiás - 1975-1999.......................... 106
5- Áreas atendidas com conservação do solo em Goiás – 1975-1999............ 110
6- Capacitação de produtores rurais em Goiás - 1975-1999........................... 112
7- Pessoas atendidas na área de bem estar social em Goiás - 1975-1999..... 120
8- Atividades com organização rural em Goiás - 1975-1999........................... 122
9- Pessoas atendidas em organização rural em Goiás - 1975-1999............... 123
10- Total de produtores assistidos em pecuária em Goiás - 1975-1999......... 127
11- Número de rebanho assistido em Goiás - 1975-1999................................ 128
12- Número de produtores assistidos em culturas em Goiás - 1975-1999...... 130
13- Área assistida em culturas em Goiás - 1975-1999.................................... 131
14- Culturas: área colhida no estado e área assistida pela EMATER em
Goiás - 1975-1999............................................................................................
136
15- Atividades realizadas com o POLOCENTRO em Goiás - 1980-1986........ 138
16- Atividades realizadas com o programa região GEOECONÔMICA em
Goiás - 1980-1986............................................................................................
140
17- Atividades realizadas com o programa POLOAMAZÔNIA em Goiás
1980-1986.........................................................................................................
142
18- Programas especiais de desenvolvimento agropecuário em Goiás a
partir de 1970....................................................................................................
144
LISTA DE TABELAS
01- Uso do Solo no Sudoeste Goiano – 1940 -1995...................................... 24
02- Área colhida e produção de alho e arroz (em casca), segundo as
microrregiões de Goiás - 2001 – 2002.............................................................
28
03- Área colhida e produção de melancia e milho, segundo as microrregiões
de Goiás - 2001 – 2002....................................................................................
29
04- Área colhida e produção de soja e sorgo granífero, segundo as
microrregiões de Goiás - 2001 -2002..............................................................
32
05- Área colhida e produção de cana-de-açúcar e feijão (em grão), segundo
as microrregiões de Goiás - 2001 – 2002........................................................
33
06- Área colhida e produção de laranja e mandioca, segundo as
microrregiões de Goiás - 2001 – 2002.............................................................
35
07- Área colhida e produção de abacaxi e algodão herbáceo, segundo as
microrregiões de Goiás- 2001 – 2002.............................................................
36
08- Ranking dos cinqüenta maiores municípios goianos em rebanho bovino
– 2002...............................................................................................................
38
09- Vacas leiteiras e produção de leite, segundo as microrregiões de Goiás
2002..................................................................................................................
39
10- Produto Interno Bruto, per capita a preço de mercado corrente
microrregião Sudoeste de Goiás -2003............................................................
40
11- Brasil - estabelecimentos, área e valor bruto da produção e percentual
do financiamento total (FT) - 1995-1996..........................................................
60
12- Agricultores familiares-estabelecimentos área e Valor Bruto Produção
segundo as regiões Brasileiras - 1995-1996.................................................... 60
13- Agricultores Familiares:Pessoal Ocupado segundo as diferentes formas
no Brasil – 1995-1996......................................................................................
61
14- Agricultores Familiares: Acesso à tecnologia e à Assistência Técnica no
Brasil - 1995-1996............................................................................................
71
15- Relação dos entrevistados no Trabalho de Campo em Goiás – 2005....... 99
16- Estado de Goiás: área colhida dos principais produtos agrícolas - 1980,
1985, 1990 e 1995 - 2002................................................................................
134
17- Estado de Goiás: área colhida dos principais produtos agrícolas - 1980,
1985, 1990 e 1995 - 2002................................................................................
135
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
ABCAR- Associação Brasileira de Crédito e Assistência Rural
ACAR - Associação de Crédito e Assistência Rural
AGENCIARURAL- Agência Goiana de Desenvolvimento Rural e Fundiário
AIA - Associação Internacional Americana
ANCAR - Associação Nordestina de Crédito e Assistência Rural
ASBRAER- Associação Brasileira das Entidades Estaduais de Assistencia Técnica
e Extensão Rural
ASCAR - Associação Sulina de Crédito e Assistência Rural
ASTER - Associações de Assistência Técnica e Extensão Rural
BDMG - Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais
CAMPO - Companhia de Promoção Agrícola
CBAR - Comissão Brasileiro-Americana de Educação das Populações Rurais
CEPAL- Comissão Econômica para a América Latina
DATER- Departamento de Assistência Técnica e Extensão Rural
DNPE.- Departamento Nacional de Pesquisas Agropecuárias-
EMATER – GO - Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de
Goiás
EMATER –MG - Empresa de Assistência técnica e Extensão Rural do Estado de
Minas Gerais
EMBRAPA- Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias
EMBRATER - Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural
ESAV - Escola Superior de Agricultura e Veterinária de Viçosa-
FAO- Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação
FESURV- Fundação de Ensino Superior de Rio Verde (atualmente Universidade)
FT - Financiamento Total
FUNABEM – Fundação Nacional do Bem Estar do Menor
IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística-
ICMS- Imposta sobre Circulação de Mercadorias e Serviços
INCRA - Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária –
JADECO - Japan-Brazil Agricultural Development Corporation
MDA- Ministério do Desenvolvimento Agrário –
ONU- Organização das Nações Unidas
OSEGO- Organização de Saúde do Estado de Goiás
PCI - Programa de Crédito Integrado
PIPMO- Programa Intensivo de Preparação de Mão de Obra
PNMH- Programa Nacional de Microbacias Hidrográficas
PNRA - Programa Nacional de Reforma Agrária
POLOAMAZÔNIA –Programa de Pólos Agropecuários e Agrominerais da Amazônia
POLOBRASÍLIA – Programa Especial da Região Geo-Econômica de Brasília,
POLOCENTRO - Programa de Desenvolvimento do Cerrado
PROAGRO- Programa de Garantia de Atividade Agropecuária
PROÁLCOOL- Programa Nacional do Álcool
PROBOR - Programa de Incentivo à Produção da Borracha Natural- PROBOR
PROCAL- Programa Nacional de Calcário Agrícola
PRODECER - Programa cooperativo Nipo-Brasileiro para o Desenvolvimento do
Cerrado
PRODOESTE- Programa de Desenvolvimento do Centro-Oeste
PROFIR - Programa de Financiamento de Equipamento de Irrigação
PROLEITE- Programa de Estímulos Técnicos e Financeiros para o
Desenvolvimento da Pecuária Leiteira
PRONAF- Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar
PROSSOLOS- Programa Nacional de Conservação do Solo
PROVÁRZEAS- Programa Nacional de Várzeas Irrigáveis-
RT - Renda Total Agropecuária
SENAR- Serviço Nacional de Aprendizagem Rural
SEPIN- Superintendência de Estatística, Pesquisa e Informação
SEPLAN- Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento-
SIBER Sistema Brasileiro de Extensão Rural
SIBRATER - Sistema Brasileiro de Assistência Técnica e Extensão Rural
SNCR - Sistema Nacional de Crédito Rural
UNESCO- Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e a Cultura
VBP- Valor Bruto da Produção
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO................................................................................................... 01
1- MODERNIZAÇÃO DA AGROPECUÁRIA E POLÍTICAS
PÚBLICAS...................................................................................................
05
1.1- A estruturação do rural na sociedade brasileira.................................... 05
1.2- Modernização da agropecuária brasileira............................................ 09
1.3- Fronteira agrícola e modernização agropecuária................................. 17
1.3.1- Produção agrícola do Sudoeste de Goiás...........................................
27
1.3.2- Produção pecuária do Sudoeste de Goiás..........................................
37
1.4- Extensão rural e assistência técnica: processo histórico e seu papel
educativo..............................................................................................
42
2- PRODUÇÃO FAMILIAR E MODERNIDADE.............................................. 59
2.1- Produção Familiar................................................................................. 59
2.2- A produção familiar e a modernização agropecuária............................ 67
2.3- A modernidade reflexiva....................................................................... 72
2.4- Da produção familiar à modernidade racional e reflexiva .............. 86
3- A ATUAÇÃO DA EMATER-GO E A SUA RELAÇÃO COM OS
PRODUTORES DE BASE FAMILIAR NO PERÍODO DE 1975-1999............
94
3.1- Áreas de trabalho atingidas no Estado de Goiás................................. 96
3.2- Número de produtores assistidos.......................................................... 103
3.3- Preservação do meio ambiente............................................................ 108
3.4- Capacitação de mão de obra rural........................................................ 111
3.5- Bem estar social................................................................................... 118
3.6- Organização rural................................................................................ 121
3.7- Atendimento à pecuária....................................................................... 125
3.8- Atendimento à agricultura ..................................................................... 129
3.9- Programas especiais............................................................................ 137
CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................. 155
REFERÊNCIAS................................ ............................................................... 158
APÊNDICES..................................................................................................... 164
Apêndice 1- Tabela produtores assistidos em Goiás 1980- 1999............... 164
Apêndice 2- Tabela produtores assistidos em cultura em Goiás 1975-
1999.....................................................................................
165
Apêndice 3- Tabela áreas assistidas em cultura em Goiás 1975-
1999....................................................................................
166
Apêndice 4- Tabela produtores assistidos em pecuária em Goiás 1975-
1999.....................................................................................
167
Apêndice5- Tabela criações assistidas em Goiás 1975-
1999.....................................................................................
168
Apêndice 6- Tabela número de pessoas assistidas em organização rural
em Goiás 1975-1999...........................................................
169
Apêndice 7- Tabela número de organizações rurais atendidas em Goiás
1975-1999............................................................................
170
Apêndice 8- Tabela preservação do meio ambiente em Goiás 1975-
1999.....................................................................................
171
Apêndice 9- Tabela de pessoas atendidas na área de bem estar social
em Goiás 1975-1999.................................................
171
Apêndice 10- Tabela capacitação de produtores rurais em Goiás 1975-
1999.....................................................................................
172
Apêndice 11- Tabela programas especiais POLOCENTRO em Goiás
1980-1986..........................................................................
173
Apêndice12- Tabela programas especiais GEO-ECONÔMICA em
Goiás....................................................................................
173
Apêndice 13- Tabela programas especiais POLAMAZÔNIA em Goiás
1980-1986...........................................................................
173
Apêndice 14- Tabela área colhida no Estado e área assistida pela
EMATER-GO 1980-1999.....................................................
174
ANEXOS........................................................................................................... 175
Anexo 1- Roteiro para aplicação das entrevistas com os técnicos da
extensão rural - EMATER-GO...................................................
175
Anexo 2- Parecer Consubstanciado protocolo nº 027-2004........................ 177
Anexo 3- Formulário para cadastramento de projeto de pesquisa – Pós-
graduação..................................................................................
179
Anexo 4- Título de protocolo de pesquisa................................................... 180
Anexo 5- Folha de rosto para pesquisa envolvendo seres
humanos....................................................................................
181
Anexo 6- Termo de Consentimento livre e esclarecido- Técnicos da
AGENCIARURAL......................................................................
182
INTRODUÇÃO
Com a expansão da modernidade ocorrem mudanças de comportamento,
caracteristicamente produto de uma crescente racionalização
1
. Cada vez mais nos
tornamos dependentes do conhecimento científico e tecnológico, base desse
processo de modernização. Sendo assim, a importância do conhecimento e da
tecnologia, em qualquer ramo da atividade humana é fato notório, e particularmente
no setor agrícola. Estamos a cada dia ingressando no mundo da informática, da
biotecnologia e das novas fontes de energia. Ciência e tecnologia são instrumentos
imprescindíveis para que o país possa dispor plenamente de suas riquezas naturais
e transformá-las em bens econômicos a serem colocados à disposição de toda a
sociedade.
Goiás é um Estado que se dedica principalmente à produção agropecuária,
com altos índices no contexto nacional. Sendo voltado ao setor primário, a
importância desse tema se justifica pelo fato de buscar apreender vários fatores
ligados à modernização agropecuária, estudando especificamente a inserção dos
produtores familiares, pois é através de novas técnicas que acontecem de fato
modificações no meio rural e, principalmente, na produção familiar. Tais
modificações provocam mudanças na forma de pensar dos produtores familiares, no
seu comportamento e na sua visão de mundo, levando-os na maioria das vezes a
incorporar o pensamento racional e reflexivo.
A inclusão dos serviços de assistência técnica e extensão rural,
especificamente a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural- EMATER (a
partir de 1999, Agência Goiana de Desenvolvimento Rural e Fundiário-
AGÊNCIARURAL) como um dos pontos centrais da pesquisa, prende-se ao fato de
representar uma das áreas de atuação do Estado no setor agrícola, com a expansão
dos serviços de extensão rural, desempenhando um papel central na difusão do uso
de insumos modernos e crédito rural. E, agindo, de certa forma, como orientadora
dos produtores tradicionais no uso dos novos instrumentos de produção, ou seja,
constituindo um ponto de acesso entre os produtores familiares e a modernização
agropecuária.
1
Segundo Giddens (2003) “A capacidade que atores competentes têm de se “manterem em contato”
com as bases do que fazem, de tal modo que, se interrogados por outros, podem fornecer razões
para suas atividades.
O destaque à Microrregião Sudoeste de Goiás justifica-se pela utilização de
processos mais avançados na produção agropecuária, se comparada às outras
microrregiões do Estado. A partir de 1975, o Estado de Goiás teve sua agricultura e
pecuária modernizada. No Sudoeste, principalmente nas grandes propriedades, a
agricultura é altamente mecanizada, com pequena utilização de mão-de-obra, e
produção de monoculturas voltadas para exportação, como é o caso da soja e do
milho.
A partir de 1975, houve uma preocupação sistemática com a otimização do
processo produtivo, imprimindo um ritmo mais dinâmico à atividade agrícola, onde a
mecanização foi um passo fundamental na modernização. As novas tecnologias
desenvolvidas pelos centros de pesquisas, também contribuíram para o incremento
da produção e da produtividade no Sudoeste de Goiás.
A proposta central desse trabalho consiste em verificar a atuação da
EMATER-GO na visão dos técnicos da Extensão Rural como ponto de acesso entre
os produtores familiares e a modernização agropecuária, materializadas nas novas
tecnologias introduzidas na agricultura e na pecuária. Esta pesquisa se desenvolveu
em dois períodos: de 1975 (ano de transformação da ACAR-GO em EMATER-GO)
até 1990 (ano de extinção da EMBRATER). O segundo período vai de 1990 até
1999 (ano de liquidação da EMATER-GO e criação da Agência Rural).
A partir desses fatos surgiu a necessidade de estudar as transformações
ocorridas na agropecuária, que foram decisivas para o desenvolvimento do Estado
de Goiás. Cremos que os conhecimentos obtidos através desta pesquisa poderão
ser úteis à sociedade em geral e, principalmente, ao Estado, para a elaboração de
novas políticas agrícolas ou para a reestruturação das políticas já existentes.
A metodologia utilizada para a realização da pesquisa, baseou-se
primeiramente em leituras bibliográficas que nos levassem a compreender de forma
mais precisa o processo de modernização da agropecuária brasileira, um processo
que envolveu, entre outros fatores, a inserção dos serviços de extensão rural e a
abertura de fronteiras agrícolas. Fizemos o levantamento dos dados da atuação da
empresa EMATER-GO durante o período de 1975-1999, com os quais tabulamos e
elaboramos as tabelas e os gráficos. Para entendermos a ação dos agentes
envolvidos neste processo, num primeiro momento fizemos uma visita a alguns
municípios da Microrregião Sudoeste de Goiás, ocasião em que realizamos
entrevistas com técnicos da extensão rural para conhecimento de algumas
particularidades dessa microrregião em relação às outras do Estado de Goiás.
Essas entrevistas foram complementadas por outras que envolveram técnicos
envolvidos com a Extensão Rural em todo o Estado de Goiás. No total realizamos
21 entrevistas 06/06/05 à 05/07/05 com técnicos que atuaram e atuam na empresa
no período em estudo.
Ressaltamos a inovação da aplicação do modelo teórico de Anthony Giddens,
o modelo da modernidade reflexiva, introduzido para facilitar a compreensão do
papel que as instituições especializadas desempenharam dentro de todo esse
processo, e aqui, exclusivamente os serviços de extensão rural do Estado de Goiás.
Na tentativa de desenvolver uma pesquisa que respondesse aos temas
ligados à modernização da Agropecuária familiar e a extensão rural no Brasil, foi
preciso refletir sobre os tópicos: a modernização agropecuária no Brasil, as
conseqüências para a produção familiar, os efeitos das políticas públicas
implementadas desde meados dos anos 60 no processo de estruturação do rural e,
em especial, o papel da extensão rural e da assistência técnica como ponto de
acesso entre a modernização agropecuária e a produção familiar, apresentando
também o modelo teórico de Anthony Giddens.
Assim, no primeiro capítulo, trabalhamos com os aspectos ligados à
modernização agropecuária. Na primeira parte analisamos a “Estruturação do Rural
da Sociedade Brasileira”, no qual destacamos as políticas agrícolas implementadas
desde meados nos anos 60 . Na segunda parte tratamos dos aspectos gerais da
Modernização da Agropecuária Brasileira e os fatores que viabilizaram esse
processo, para entendermos as transformações ocorridas na agricultura,
determinadas pela modernização. Quando destacamos a microrregião Sudoeste de
Goiás como uma das regiões responsáveis pelo desenvolvimento da agropecuária
no Estado de Goiás, necessitávamos conhecer um pouco mais sobre a microrregião
e, sendo uma região de fronteira agrícola, na terceira parte fazemos uma análise a
respeito das concepções de fronteira agrícola, destacando algumas características a
respeito da modernização agropecuária e os aspectos sócio-econômicos do
Sudoeste Goiano. Na quarta parte, analisamos o processo histórico do sistema de
assistência técnica e extensão rural, assim como, destacamos alguns pontos do
papel educativo da extensão rural junto aos produtores familiares.
No segundo capítulo trabalhamos com os aspectos ligados à produção
familiar e à modernidade. Na primeira parte é realizada uma discussão teórica a
respeito da produção familiar, destacando suas características principais. Na
segunda parte, são analisadas as conseqüências que a modernização agropecuária
traz para a produção familiar. Ao falar sobre o tradicional e a modernidade, elegendo
os serviços de extensão rural e assistência técnica como ponto de acesso entre a
modernização agropecuária e a produção familiar, que adota as normas dos
sistemas peritos para serem repassadas aos produtores familiares, na terceira parte,
fazia-se necessário apresentar o modelo teórico de Anthony Giddens, quando
elabora a Teoria da Estruturação e faz reflexões sobre a modernidade reflexiva.
Após apresentar o modelo de Giddens, na quarta parte, aplicamos este modelo para
compreender a inserção da produção familiar no processo de modernização,
mostrando a inserção da agricultura tradicional na agricultura moderna, destacando
a racionalidade e a reflexividade da produção familiar, desenvolvida a partir da
modernização agropecuária.
No terceiro capítulo apresentamos os resultados da pesquisa empírica, na
qual fizemos um levantamento da história da Extensão Rural no Estado de Goiás.
Este trabalho foi realizado por meio de análise de documentos e entrevistas com
alguns extensionistas que participaram do processo desde 1975(ano da passagem
da ACAR-Goiás para EMATER-GO) até 1999 (ano de liquidação da EMATER-GO e
criação da AGENCIARURAL).
1- MODERNIZAÇÃO DA AGROPECUÁRIA E POLÍTICAS PÚBLICAS
1.1- A Estruturação do rural na sociedade brasileira
Um dos principais eixos temáticos sobre os quais se deteve a sociologia a
partir da década de 1970 pode ser denominado “a estruturação do rural na
sociedade brasileira” pois envolve, basicamente, a análise da atuação do Estado no
espaço agrário e no setor agropecuário. Segundo José Vicente Tavares (1991), essa
atuação pode ser analisada por meio das políticas públicas, divididas em políticas
agrárias e agrícolas.
De acordo com esse autor,
O rural é um espaço privilegiado de intervenção do Estado, havendo uma
séria preocupação dos pesquisadores de avaliar a implantação e a eficácia
das políticas públicas em relação ao mesmo, estas, por sua vez estiveram
marcadas pela temática da modernização da agricultura. Deve-se ressaltar
que tal orientação perpassa os mais variados matizes teóricos e
ideológicos, chegando-se a produzir uma larga confluência de várias
abordagens teóricas em relação aos efeitos sociais e as formas de
relações sociais que são produzidas por tais políticas de modernização.
(TAVARES, 1991, p.16)
No âmbito das políticas agrárias, podemos incluir os seguintes temas
particulares:
Os impactos sociais das barragens, as estratégias de ocupação dos
cerrados e os programas de desenvolvimento “rural” integrado em seus
aspectos fundiários. No que se refere à questão da reforma agrária, ela é
retomada a partir do último período de transição política, ou seja, a partir da
Nova República. Uma série de trabalhos trata de dar conta não só das
demandas sociais por essa política de reforma agrária, mas também de
todos os percalços que a formulação e definição dessa política provocou,
tais como: o debate havido no ano de 1985 entre várias forças políticas,
sobressaindo-se a análise do PNRA- Programa Nacional de Reforma
Agrária: a avaliação dos assentamentos federais e estaduais e a acirrada
polêmica no âmbito da Assembléia Nacional Constituinte. (TAVARES,
1991, p.16)
Passaremos agora a analisar as políticas agrícolas, que é o nosso tema em
questão. Essas políticas podem ser relacionadas aos seguintes temas:
A aplicação dos ”Pacotes tecnológicos” de modernização do setor
agropecuário, as representações das técnicas agrícolas acerca da
modernização da agricultura: os incentivos econômicos à “pecuarização” e
à plantação de cana-de-açúcar para a produção do álcool, a política
energética e seus reflexos no espaço agrário, os planos de irrigação, as
políticas de saúde e os programa de desenvolvimento “rural” integrados em
seus aspectos tecnológicos, bem como outras experiências de
planejamento participativo. (TAVARES,1991,p.17)
Uma das questões sociológicas em debate no início dos anos 1980 refere-se
à modernização da agricultura, isto é, os efeitos das políticas públicas
implementadas desde meados dos anos 1960 no processo de estruturação do rural.
Deve-se salientar que o Estado aparece como o agente necessário de indução das
transformações tecnológicas no setor agropecuário brasileiro pelo estabelecimento
de políticas de “modernização da agricultura”. Neste sentido, desde o final dos anos
1960, várias políticas foram paulatinamente criando condições para que a
agropecuária alcançasse um outro patamar tecnológico e produtivo.
Assim, em 1965, nas atividades de suporte institucional, houve o
estabelecimento do sistema de crédito rural nas seguintes modalidades:
fundiário, investimento, custeio e comercialização; depois, a
institucionalização da pesquisa agropecuária(com a criação da EMBRAPA),
e em seguida, a centralização das atividades de assistência técnica e
extensão rural ( a formação da EMBRATER). Além do mais, o Estado
estimulou a produção de insumos extra-setoriais, com a expansão do
departamento produtor de bens de capital, isto é, de
máquinas(colheitadeiras e tratores, principalmente) e equipamentos, e de
fertilizantes, corretivos e “defensivos” ou agrotóxicos agrícolas. Também
promoveu o fortalecimento dos canais de comercialização, através da
política de preços mínimos, a criação do seguro agrícola e o estímulo ao
cooperativismo. Finalmente, as diferentes políticas contribuíram para a
expansão, centralização das agroindústrias.(TAVARES, 1991, p.22-23)
As grandes transformações técnico-econômicas e sociais na agricultura não
resultaram da ação “livre” das forças do mercado. Muito ao contrário, o Estado
esteve presente em todas as fases do processo, ora criando condições para as
transformações (através das políticas de financiamento e tecnológicas), ora
articulando diversos elementos em torno de um projeto definido de modernização da
agricultura brasileira.
Em termos históricos, a intervenção do Estado, estimulando a modernização
da agricultura brasileira, pode ser vista como uma nova etapa de um processo que já
vinha se desdobrando desde os anos 1930 e que constitui um dos problemas
fundamentais do processo de industrialização brasileira: conformar a agricultura às
necessidades de acumulação de capital comandada pelo setor urbano-industrial.
Dentro dessa temática, as políticas orientaram-se para o conjunto do setor
agrário e, tiveram impactos diferentes no setor exportador e no importador, afetando
em graus diferentes os diversos tipos de produtos e produtores e regiões do país.
O Instrumento mais importante no período foi o crédito agrícola, que, a
partir da criação do Sistema Nacional de Crédito Rural-SNCR em 1965,
estabeleceu que os bancos particulares deveriam aplicar 10% dos seus
depósitos no crédito agrícola, ou canalizá-los junto ao Banco Central com
juros de 7% ao ano.(SORJ,1980,p.86)
A criação do Sistema Nacional de Crédito Rural- SNCR, juntamente com a
reforma do sistema financeiro, estabeleceu as bases para assegurar que parte dos
recursos captados pelos bancos fosse canalizado para o setor agrícola.
Embora a ação do Estado tenha envolvido várias instituições públicas e
privadas, órgãos de financiamento e de pesquisa ligados à agricultura, programas
especiais de desenvolvimento regional e de âmbito nacional, planos ligados a
produtos agrícolas particulares e a questão de ordem social, esta ação unificava-se,
senão em seus objetivos explícitos, pelo menos em relação ao conteúdo e meios,
uma vez que passava sempre pela modernização da agricultura e pela integração da
agricultura à dinâmica da expansão capitalista, o que equivale à integração
Agricultura - indústria.
A assistência creditícia, ou seja, o crédito fácil e a juros favorecidos foi o fator
decisivo do processo de modernização da agricultura no Brasil.
Primeiro crédito apenas para o trigo; depois (1969 em diante), também
para a soja; e a partir de 1979, também para outras culturas e a criação de
animais e aves. Crédito para aquisição de máquinas, implementos,
equipamentos, calcário, fertilizantes, sementes, defensivos(herbicidas,
pesticidas, fungicidas, etc.), crédito para custeio, para instalações, para
aquisição de matrizes, etc.(BRUM, 1988,P.88).
O que devemos analisar é que com o sistema de crédito rural orientado, o
agricultor ficou subordinado à fiscalização e à assistência técnica, introduzindo-o de
forma maciça no “pacote tecnológico” da modernização.
Podemos passar neste momento a fazer uma análise com relação à
distribuição do crédito agrícola entre os produtores, desde o momento de sua
implantação.
A distribuição do crédito rural ocorreu de forma bastante eqüitativa entre
crédito e custeio, comercialização e investimento, mas, entre o conjunto dos
produtores, foram utilizados basicamente pelos médios e grandes, ficando os
produtores familiares, especialmente os mais pobres, marginalizados.
Apresentando alguns pontos para verificar a situação de crédito rural com
relação aos produtores familiares na época de implantação do SNCR, destacamos
que as exigências de garantia constituem o principal entrave. Dos parceiros e
arrendatários era exigida a carta de anuência do proprietário, que é de difícil
consecução, e nem sempre a época da liberação dos financiamentos e os prazos
fixados para resgate são favoráveis aos produtores familiares. Além disso, há a
excessiva burocracia que envolve as operações bancárias.
O crédito rural não somente privilegiou certo tipo de produtor e produto,
como parte importante dele foi desviada para atividades urbanas ou
compra de terras. Embora se trate de um dado dificilmente quantificável,
esse é um fato reconhecido praticamente por todos os técnicos
relacionados ao setor, e, a partir de fins de 1977, pelo próprio governo.
(SORJ, 1980, p.89).
Analisando as políticas dos créditos rurais mais vantajosos, percebe-se
claramente, que apenas o grande proprietário tem acesso ao crédito. Podemos
analisar essa questão de dois ângulos: primeiro porque o crédito é para comprar
coisas que somente os grandes fazendeiros podem comprar: tratores,
colheitadeiras, defensivos químicos e adubos. Segundo, o custo operacional de um
financiamento é alto, a burocracia bancária dá preferência ao mais forte, portanto,
ganham com isso somente os grandes fazendeiros. Os pacotes tecnológicos
privilegiavam uma produção de grande escala.
O maior impulsionador do processo de modernização foi o crédito agrícola,
chegando por vezes a subsidiar praticamente mais da metade do valor da
maquinaria agrícola, segundo Sorj (1980,p.89),
[...] A diminuição dos preços da maquinaria permitiu viabilizar a
mecanização, na medida em que encareceu relativamente a força de
trabalho. Em muitos casos significou um desperdício sistemático, na
medida em que gerou uma grande capacidade ociosa e a substituição
desnecessária de maquinarias, por ser mais barata a compra de um novo
instrumento do que a substituição de suas partes[...].
Podemos perceber que o âmbito das atividades do Estado na agricultura se
alargou com a própria expansão do complexo agroindustrial através do apoio direto
à modernização e criação de condições infra-estruturais necessárias à expansão do
setor, que dificilmente poderiam ser assumidas por capitais agrícolas individuais.
Desse modo,
[...] Esse conjunto de atividades orienta-se de forma geral, para a
modernização da produção agrícola, favorecendo claramente determinados
tipos de produtores e de produtos, em função da correlação de forças na
sociedade e da estrutura de acumulação industrial que orienta a própria
expansão agrícola. (SORJ, 1980, p. 90)
1.2- Modernização da agropecuária brasileira
Para falarmos em modernização da agropecuária, faz-se necessário,
primeiramente, destacar a diferença entre questão agrícola e questão agrária, pois
foi a partir da questão agrícola que de fato aconteceu a modernização da agricultura
brasileira.
A questão agrícola diz respeito aos aspectos ligados às mudanças na
produção em si mesma: o que se produz, onde se produz e quanto se
produz. Já a questão agrária está ligada às transformações nas relações
de produção: como se produz, de que forma se produz. Os indicadores da
questão agrícola, são as quantidades e os preços dos bens produzidos. Os
principais indicadores da questão agrária são as maneiras como se
organiza o trabalho e a produção; o nível de emprego dos trabalhadores
rurais, a produtividade das pessoas ocupadas no campo, etc.(GRAZIANO
DA SILVA, 1980-A ,p.11)
A partir dessas considerações, podemos realmente falar em “modernização
da agropecuária”, que está ligada às transformações da produção em si mesma: O
que se produz, onde se produz e quanto se produz.
Uma outra condição imprescindível para entender realmente esse processo
de modernização da agropecuária brasileira, é fazer uma análise, tomando como
base o texto da Kageyama (1990), e esclarecermos algumas dúvidas àcerca desse
conceito. De acordo com a autora, existem três conceitos que muitas vezes são
usados como sinônimos e na verdade não o são: Modernização da Agricultura,
Industrialização da Agricultura e a Formação dos Complexos Agroindustriais.
Por modernização se entende basicamente a mudança na base técnica da
produção agrícola. É um processo que ganha dimensão nacional no pós-
guerra com a introdução de máquinas na agricultura, elementos químicos,
mudanças de ferramentas e mudanças de culturas ou novas variedades. É
uma mudança na base técnica da produção que transforma a produção
artesanal do camponês, à base da enxada, numa agricultura moderna ,
intensiva, mecanizada, enfim,
numa nova maneira de
produzir.(KAGEYAMA, 1990, p. 113).
A modernização da agricultura significa a passagem de uma atividade de
apropriação das condições naturais existentes para uma atividade de fabricação
dessas mesmas condições quando ausentes, que implicam em transformações na
produção .
A industrialização da agricultura envolve a idéia de que a agricultura acaba
se transformando num ramo de produção semelhante a uma indústria,
como uma “fábrica” que compra determinados insumos e produz matérias
primas para outros ramos de produção. O camponês produzia em “
interação com a natureza” , como se esta fosse o seu “ laboratório natural”,
trabalhava a terra com os insumos e ferramentas que tinha ao seu alcance,
quase sempre produzidos em sua propriedade. A agricultura
industrializada, ao contrário, está conectada com outros ramos da
produção, para produzir ela depende dos insumos que recebe de
determinadas indústrias, e não produz mais apenas bens de consumo final,
mas basicamente bens intermediários ou matérias-primas para outras
indústrias de transformação. O processo de industrialização da agricultura
é qualitativamente diferente, o que torna o processo de modernização
irreversível, a partir do momento em que a agricultura se industrializa, a
base técnica não pode regredir mais. Se regredir a base técnica, também
regride a produção agrícola.(KAGEYAMA, 1990,p.114)
O longo processo de transformação da base técnica, chamado de
modernização, culmina na própria industrialização da agricultura. Esse processo
representa a subordinação da natureza ao capital.
Finalmente, no período pós-1975 temos a constituição do que vem sendo
chamado de complexos agroindustriais. São vários complexos que se formam, ao
mesmo tempo em que a atividade agrícola se especializa continuamente.
Esclarecida a dúvida acerca dos três conceitos, podemos analisar mais
profundamente o processo de modernização da agropecuária brasileira.
Um dos grandes desafios da sociologia tem sido o debate sobre as
especificidades da penetração do capitalismo na agricultura, o fenômeno da
modernização da agricultura podendo ser definido como o processo através do qual
ocorrem modificações na base técnica da produção. Assim, a agricultura moderna é
a fase agrícola que se caracteriza pelo uso intensivo de máquinas e insumos
modernos, bem como por uma maior racionalização do empreendimento e pela
incorporação de inovações técnicas, quer dizer, a utilização de métodos e técnicas
de preparo e cultivo do solo, de tratos culturais e de processos de colheita mais
sofisticados.
A partir do Pós-Segunda Guerra Mundial, ao lado do crescimento extensivo
da produção, a agricultura brasileira passa a experimentar de forma mais decisiva,
especialmente do ponto de vista da ação estatal, um processo de modernização de
sua base técnica.
O processo de modernização, ao mesmo tempo em que implica a
integração técnica intra-setorial e a mercantilização da agricultura, promove
a substituição de elementos internos do complexo rural por compras extra-
setoriais (máquinas e insumos), abrindo espaço para a criação de
indústrias de bens de capital e insumos para a agricultura.(KAGEYAMA.
1990, p. 115)
Este processo pode ser visualizado pela elevação do consumo intermediário
na agricultura de compras industriais para a produção de suas mercadorias.
A partir de meados dos anos 1960, o processo de modernização atinge uma
fase mais avançada, a de industrialização da agricultura. O que deve ficar bastante
claro é que o processo de industrialização da agricultura não se resume à utilização
de insumos industriais na produção agrícola, embora esse elemento seja um dos
seus componentes.
A industrialização do campo é um momento específico do processo de
modernização: A ”reunificação agricultura-indústria” num patamar mais
elevado do que o simples consumo de bens industriais pela agricultura. É
um momento da modernização a partir do qual a indústria passa a
comandar a direção, a agricultura se converte assim num ramo da
produção que compra insumos e vende matérias- primas para outros
ramos industriais. A terra deixa de ser o “laboratório natural”, para se
converter em mercadoria. Os equipamentos utilizados deixam de ser meros
instrumentos de trabalho, para representar partes do capital a ser
valorizado.(KAGEYAMA, 1990, p.122).
A modernização da agricultura pode ser definida ainda como um processo de
significativos impactos nas relações sociais de produção. Neste caso, implica numa
maior integração do produtor e da produção no mercado e na racionalidade do lucro.
Segundo Graziano Neto ,
[...] Ao mesmo tempo em que vai ocorrendo aquele progresso técnico na
agricultura, vai-se modificando também a organização da produção, que diz
respeito às relações sociais (e não técnicas) de produção. A composição e
a utilização do trabalho modificando-se, intensificando-se o uso do “bóia-
fria” do trabalhador volante; a forma de pagamento da mão de obra é cada
vez mais a assalariada, os pequenos produtores, sejam proprietários,
parceiros ou posseiros, vão sendo expropriados, dando lugar, em certas
regiões, à organização da produção em modelos empresariais.(GRAZIANO
NETO, 1982, p.26)
Outra característica da modernização da agricultura é a transformação
capitalista da agricultura. À medida que o processo se implanta e avança, a
agricultura tende a se especializar, com uma tendência à monocultura, o que, de um
lado, cria dificuldades e estrangulamentos à pequena propriedade rural e aos
produtores autônomos e, do outro, viabiliza e estimula a empresa rural, grande e
média, onde se estabelecem as relações capitalistas de produção: os proprietários
dos meios de produção (terras, máquinas, etc) assumindo o papel de patrões e os
trabalhadores diretos destituídos dos meios, assumindo a condição de assalariados.
A modernização da agricultura também se define e se explica pela estreita
relação que a industria estabelece com a agricultura. É importante observar que na
agricultura de subsistência o vínculo predominante da agricultura é com o consumo
ou, mais especificamente, com o autoconsumo. Na agricultura mercantil, a atividade
agrícola está estreitamente relacionada com o comércio e o setor financeiro.
Todavia, na agricultura moderna, preponderam e se fortalecem os vínculos entre a
agricultura e a indústria.
A “Revolução Verde”
2
foi a propulsora da modernização da agricultura no
mundo e, conseqüentemente, no Brasil, ampliando a venda de insumos modernos:
máquinas, equipamentos, implementos, fertilizantes, defensivos, pesticidas, etc.
Sem dúvida, uma forma inteligente de os grupos econômicos internacionais
realizarem a expansão de suas empresas e de seus interesses com extraordinária
rapidez e eficiência. Assim,
A Revolução Verde foi um programa que tinha como objetivo explícito
contribuir para o aumento da produção e da produtividade agrícola no
mundo, através do desenvolvimento de experiências no campo da genética
vegetal para a criação e multiplicação de sementes adequadas às
condições dos diferentes solos e climas resistentes às doenças e pragas,
bem como da descoberta e aplicação de técnicas agrícolas ou tratos
culturais mais modernos e eficientes.(BRUM, 1988, p. 44)
Com o desenvolvimento da produção capitalista na agricultura (ou seja, na
atividade agropecuária), há a tendência de um maior uso de adubos, de inseticidas,
de máquinas, de maior utilização de trabalho assalariado, o cultivo mais intensivo da
terra, e, a produção se torna mais intensiva sob o controle do capital.
2
Ver - BRUM, Argemiro Jacob. Modernização da Agricultura. Trigo e Soja. Petrópolis, Vozes,1988.
Deve-se ressaltar que é dessa maneira que as barreiras impostas pela
natureza à produção agropecuária vão sendo gradativamente superadas. É como se
o sistema capitalista passasse a “fabricar” uma natureza que fosse adequada à
produção de maiores lucros. Assim, se uma determinada região é seca, existe a
irrigação para resolver a falta de água, se é brejo, existe a draga para resolver o
problema do excesso de água, se a terra não é fértil, aduba-se e, assim por diante.
Com relação à pecuária, existe ração, silagem, ordenha mecânica, sistema de
resfriamento do leite, medicamentos veterinários, etc.
Um fato que deve ser levado em consideração é que a modernização
agropecuária no Brasil não é um fato novo, vem desde o final dos anos 1950 e início
da década de 1960, quando a agricultura passou a ser um dos temas centrais de
discussão. Como exemplo citamos o arcabouço teórico da Comissão Econômica
para a América Latina (CEPAL), na tentativa de mostrar que a nossa estrutura
agrária, extremamente concentrada, era um empecilho ao processo de
industrialização no país. A indústria gradativamente vai assumindo o controle do
processo de acumulação de capital. O país vai deixando de ser “eminentemente
agrícola”, durante essa fase, a industrialização se fazendo pela “substituição das
importações”.
No início dos anos 1960, que corresponde ao final da fase de industrialização
pesada no Brasil, instalam-se no país as fábricas de máquinas e insumos agrícolas;
são implantadas indústrias de tratores e equipamentos (arados, grades, etc.),
fertilizantes químicos, rações e medicamentos veterinários, etc. Surge a indústria de
fertilizantes e defensivos químicos, através da instalação da industria Petroquímica,
e os tratores e equipamentos através da implantação da Siderúrgica.
Podemos agora avaliar as críticas daqueles que pregavam a industrialização
do país em substituição ao modelo agrário existente. Seus argumentos principais
diziam respeito à concentração da propriedade (e da posse) da terra nas mãos de
uns poucos latifundiários (propriedade rural de monocultura, ou seja, um só produto
agrícola) e com terras incultas, o que para eles representava:
a) Um estrangulamento na oferta de alimentos aos setores urbanos, pois a
produção reagia menos que proporcionalmente ao crescimento dos preços.
Assim, na medida em que fosse aumentando a proporção da população
brasileira nas cidades, tenderiam a haver uma pressão nos preços dos
alimentos, como conseqüente reflexo no crescimento dos salários,
tornando inviável o processo de industrialização.b) a não ampliação do
mercado interno para a industrialização nascente. As fazendas eram quase
que auto-suficientes baseadas numa economia “natural”: não adquiriam a
grande maioria dos produtos de que necessitavam, confeccionando aí
mesmo em bases artesanais. (GRAZIANO DA SILVA, 1980-A, p.32).
É importante destacar que, a partir da constituição desses ramos industriais
no próprio país, a agricultura brasileira teria que criar um mercado consumidor para
esses “novos” meios de produção. E, para garantir a ampliação desse mercado, o
Estado implementou um conjunto de políticas agrícolas destinadas a incentivar a
aquisição dos produtos desses novos ramos da indústria, acelerando o processo de
incorporação de modernas tecnologias pelos produtores rurais, a industrialização da
agricultura brasileira.
Com o intuito de acelerar o desenvolvimento do capitalismo no campo,
incentivando a reprodução da propriedade capitalista, durante os governos militares
pós-1964, foram criadas as condições necessárias para o desenvolvimento de uma
política agrária, privilegiando as grandes empresas mediante incentivos financeiros,
que passaram a se ocupar da agropecuária.
A escolha da agricultura como “meta prioritária” do governo, reaviva as
discussões que se travaram em torno do conteúdo político e social das
transformações no campo brasileiro nas duas últimas décadas.
A questão agrária faz parte da vida diária dos trabalhadores rurais e, nessa
época, ela foi silenciada; para isso foi necessário fechar sindicatos, prender e matar
líderes camponeses, além de outras séries de violências.
Entretanto, o Golpe Militar de 1964 impôs transformações estruturais básicas
no modelo político-brasileiro que influenciaram os movimentos sociais ocorridos até
então. A modernização da economia, via industrialização e arrocho salarial obrigou o
Governo a intervir em sindicatos, federações e confederações usando arbitrariedade
jurídicas e policiais.
O “novo período” necessitava de mão-de-obra barata nas cidades, com vistas
a mecanizar o campo, e, assim, atrair investimentos internacionais. Portanto era de
vital importância o controle dos movimentos sociais e sindicais no campo. Assim,
com os sindicatos atrelados ao Estado e as principais lideranças no exílio, na prisão,
sem qualquer possibilidade de se expressar, o governo implementa a sua política de
modernização do campo, que teve como uma das conseqüências sociais mais
imediatas, o processo de migração rural-urbana.
Podemos perceber, com isso, que a implementação da industrialização
agropecuária foi mais uma questão política do que técnica, na qual o grande capital
se aliou ao latifúndio, sob a égide do Estado. A partir daí, podemos perceber que a
implantação da modernização agropecuária foi um caminho de grandes
contradições, agravando ainda mais a situação, principalmente dos produtores
familiares. No final, a estrutura agrária continuou concentrada, mas houve uma
transformação interna no âmbito das relações de produção que permitiu que a
agricultura respondesse às necessidades da industrialização.
Segundo Graziano da Silva (1980), Na primeira metade dos anos de 1960, há
um aumento praticamente generalizado de todos os tamanhos de propriedades.
Ainda assim, podemos notar que o crescimento das grandes propriedades é maior
que o das pequenas, segundo os dados do INCRA e IBGE. Já no período de
crescimento e auge 1967/1972, época que ficou conhecida como “milagre brasileiro”,
aumenta apenas o número de grandes propriedades.
Na época do “milagre brasileiro” pouco se falou da questão agrária, em parte,
porque a repressão política não deixava; por outro lado, porque muitos achavam que
a questão agrária tinha sido resolvida com o aumento da produção agrícola na
época. Um fato que não podemos esquecer é que esse aumento vinha beneficiando
os então chamados “produtos de exportação” (café, soja, etc.) em detrimento dos
chamados “pequenos produtos alimentícios” (feijão, arroz, etc.). As pequenas
propriedades são engolidas pelas grandes. Porém, o que significou a manutenção
desse padrão de concentração da propriedade da terra tão elevado no Brasil, aliado
a uma rápida expansão da fronteira? Significou que milhares de pequenos
posseiros, parceiros, arrendatários e mesmo pequenos proprietários que iam
perdendo as terras que possuíam, não tiveram nova oportunidade na agricultura,
tiveram que mudar para as cidades em busca de uma nova maneira de ganhar a
vida, ou seja, a manutenção de um elevado grau de concentração da terra no país
funcionou como um acelerador do processo de urbanização. Essa urbanização da
população ativa significou exatamente a ampliação do mercado interno para a
indústria. A própria industrialização criou o mercado de que necessitava para sua
expansão, pela ampliação da fronteira agrícola
3
e a urbanização da população
3- Limite da área de exploração agrícola.ORMOND, José Geraldo Pachego.Glossário de Termos
Usados em Atividades Agropecuárias, Florestais e Ciências Ambientais.Rio de Janeiro:BNDES 1ª
ed.2004.
anteriormente dedicada às atividades agropecuárias. Por outro lado, pelas
mudanças que provocou na própria agricultura, ao transformá-la também em
“indústria” que compra certos insumos (adubos, máquinas) para produzir outros
insumos (matérias primas para as indústrias de alimentos).
A ampliação do mercado interno para a industrialização brasileira se fez,
como em todo o mundo capitalista, pela proletarização dos camponeses, através da
expropriação deles como produtores independentes. “Parece-nos evidente, portanto,
que a ”velha” agricultura, entendida como um “setor autônomo”, tende
gradativamente a desaparecer” (GRAZIANO DA SILVA, 1980,p.68). Passando assim
a depender de determinadas políticas públicas, ou seja, o Estado como incentivador
do processo de produtividade. Ou seja,
A industrialização era apresentada como fórmula milagrosa capaz de, por
si só, gerar o desenvolvimento; e o setor agrícola, apontado como o
responsável pelo atraso desses países, deveria ceder a sua posição
dominante na economia.(GRAZIANO DA SILVA, 1982, p.17)
Vê-se, portanto, claramente que o processo de modernização se fez
acompanhar de unidades de produção cada vez maiores, com uma
conseqüente deterioração da distribuição da renda no setor agrícola [...] Os
fertilizantes e defensivos, na medida em que aumentam a produtividade da
terra, aumentam as exigências de mão-de-obra não qualificada por ocasião
das colheitas. A mecanização, na medida em atinge(por questões
tecnológicas) principalmente outras atividades que não a colheita, acentua
a sazonalidade de ocupação dessa mão-de-obra. Desse modo, a
modernização aumenta as exigências e diminui o período de ocupação da
mão de obra não- qualificada numa dada propriedade agrícola. A solução
mais econômica para o proprietário que moderniza passa a ser a
substituição do trabalhador permanente pelo volante, com o conseqüente
aumento da sazonalidade do emprego dos trabalhadores rurais.
(GRAZIANO DA SILVA, 1982, p.29- 30)
Nesse sentido, uma série de políticas públicas orienta-se para o conjunto do
setor agrário; e, tais políticas tiveram impactos diferentes no setor exportador e no
importador, afetando em graus diferentes os diversos tipos de produtos e produtores
e regiões do país.
O avanço da modernização no Brasil, na década de 1970, exigiu instrumentos
mais eficientes e uma articulação mais eficaz para atender a essa necessidade,
levando o governo brasileiro a criar em 1971 a Empresa Brasileira de Pesquisas
Agropecuárias (EMBRAPA). A atuação dessa organização, de fato, acaba sendo
influenciada direta ou diretamente, pelos centros internacionais. Estes ocupam
posições de vanguarda nas pesquisas e passam a articular as organizações
nacionais levando-as, de forma hábil e sutil, através do fornecimento de subsídios,
”recomendações”, ou do estágio de técnicos, a seguir, a executar sua orientação,
dentro de um trabalho integrado em que os centros internacionais são o cérebro de
comando, sempre inspirados nos interesses das corporações transnacionais. O que
ocorre com os organismos públicos verifica-se também em relação às universidades
e outras entidades de pesquisa de caráter privado.
Também na década de 1970 e pelas mesmas razões, foi reestruturado e
dinamizado o sistema nacional de assistência técnica e extensão rural, através da
criação da Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural-
EMBRATER, vinculada ao Ministério da Agricultura. O sistema se completa,
estendendo-se aos diversos Estados, através da criação, em cada um deles, da sua
respectiva Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural- EMATER.
Este sistema visava o controle da articulação dos produtores rurais à
introdução de novas culturas, de técnicas de cultivo e manuseio do solo e, também,
à orientação alimentar. Os rumos de sua orientação geral dependem da natureza do
modelo econômico e agrícola e do tipo de suas relações com os centros
internacionais de pesquisa.
Tais políticas públicas permitiram dotar o país de uma infra-estrutura pública
de pesquisa agropecuária reconhecida internacionalmente. Nas décadas de 1970-
1980, uma infra-estrutura de assistência técnica e extensão rural capaz de veicular,
a um grande público, os avanços da incorporação do uso de insumos modernos na
agricultura, permitiu a estruturação de um sistema nacional de crédito rural, que
durante a década de 1970 e, principalmente, na década de 1980, foi fundamental
para a consolidação desse modelo de modernização da agricultura.
1.3- Fronteira agrícola e modernização da agropecuária
O processo de modernização da agropecuária em Goiás insere-se na
expansão da moderna tecnologia para novas áreas. Esse processo recebeu o nome
de “Fronteira Agrícola”.
É costumeiro analisar fronteira agrícola como uma linha separando áreas
ocupadas com atividades agropecuárias de espaços vazios. Mas, partindo do
conceito elaborado por Figueiredo e Trigueiro (1986, p. 4) “A fronteira agrícola seria
entendida como área potencial, um espaço que oferecia condições para a expansão
(e, em condições, para retração) de atividades econômicas do setor primário,
especialmente da agropecuária”.
Um outro autor que parte desta mesma linha de raciocínio é Sawyer (1983,
apud: Mueller, 1990 p.49) Ele define Fronteira Agrícola como “área potencial, como o
espaço que oferece condições à expansão de atividades relacionadas à
agropecuária”.
Segundo Mueller (,1990, p.49),
É esse potencial que delimita o espaço da fronteira. Três elementos são
fundamentais no estabelecimento do espaço potencial em que a fronteira
se constitui: O funcionamento de mercados diversos (de produtos, de
trabalho, de terras, de bens de consumo), o desenvolvimento de sistemas
de transportes e a disponibilidade de terras a serem ocupadas.
Um outro autor que também discute a respeito do conceito de Fronteira
Agrícola, que também será importante para nossa análise, é José Graziano da Silva,
segundo este autor,
A fronteira não é necessariamente uma região distante, vazia do ponto de
vista demográfico. Ela é fronteira do ponto de vista do capital, entendido
como uma relação social de produção.[...] Não se deve, pois, pensar que
fronteira é algo externo ao “modelo Agrícola” brasileiro, [...] A fronteira é
simultaneamente condicionante e resultado da nossa “modernização
dolorosa” no campo.(GRAZIANO DA SILVA, 1982, p. 115
)
Partindo desses pressupostos, podemos analisar Fronteira Agrícola como um
processo de expansão tecnológica, mudança no padrão tecnológico, ou seja,
expansão do capitalismo para área potencial e, segundo o modelo apresentado por
Miziara (2.000), e Espaço aberto para a ação dos indivíduos.
“O capitalista individual encara zona de fronteira agrícola, todo espaço
onde existe a possibilidade de alterar uma das variáveis, social, geográfica
ou econômica, de acordo com seus interesses[...]. Fatores macro, como
intervenção estatal, desenvolvimento das forças produtivas, mudança na
base tecnológica, etc., criam condições para a ação do capitalista
individual. Entretanto, esses fatores macro por si só não garantem a
ocorrência de novas aplicações de capital de capital, sendo necessário,
com vistas à compreensão do processo, perceber os elementos que fazem
com que os capitalistas individuais tomem a decisão, ou não, de aplicar
seus recursos em outros locais”. (MIZIARA, 2.000, p. 283-284).
Tomando como base essas discussões, trabalharemos com três variáveis
para a nossa discussão sobre Fronteira agrícola: social, geográfica e, partindo do
modelo de Miziara (2.000), a economia, que adota uma perspectiva instrumental e
privilegia o nível de inversão de capital.
As frentes de agricultura comercial só começaram a avançar pelo espaço do
Centro-Oeste em fins da década de 1950. Até o final da década de 1960, não
existiam programas especiais para estimular a expansão agrícola no sul do Centro-
Oeste.
O aumento da produção dependia da abertura de estradas, da criação de
um mínimo de infra-estrutura de apoio à agropecuária e, de forma muito
importante, da disponibilidade de terras aptas para o cultivo com as
técnicas agropecuárias então conhecidas. Na verdade, este foi um fator de
amortecimento da expansão agrícola na região. Na década de 70
completou a ocupação das terras acessíveis com essas características no
sul de Goiás e de Mato Grosso do Sul e o avanço das frentes comerciais
para áreas mais setentrionais do Centro-Oeste foi bloqueado pelo de que
ali predominava o “cerrado” que não se sabia como
cultivar.(MUELLER,1990,p.51).
A abertura da fronteira agrícola se dá efetivamente nos anos 1970, com a
introdução do cultivo do arroz e logo depois da soja, utilizada como a propulsora da
fronteira agrícola. Na pecuária o plantio de pastagens com o cultivo de forrageiras
aumentou a produção e a produção do rebanho por hectare.
A adoção das inovações ocasionou mudanças nas relações sociais de
produção e de trabalho, alterando as paisagens regionais, agora altamente
desenvolvidas e integradas ao progresso. Esse avanço, como vimos, apoiava-se no
receituário da revolução verde. A região Centro-Oeste foi o alvo central dos
programas de ocupação econômica do cerrado como o POLOCENTRO (Programa
de Desenvolvimento do Cerrado) e o PRODECER (Programa Cooperativo Nipo-
Brasileiro para o desenvolvimento do cerrado).
No início da década de 1970 decidiu-se dar um salto sobre os “cerrados” e
estimular a ocupação da Amazônia na esperança de que, em pouco tempo, ela
pudesse se tornar importante área agrícola. Como isso não aconteceu, as atenções
voltaram-se novamente para os cerrados, mais bem situado em relação aos
crescentes mercados do Centro-Sul. Para tal, criaram-se programas especiais de
estímulo à agricultura nos “cerrados”, de apreciável impacto na evolução de frentes
comerciais.
Os programas mais importantes de estímulo à expansão agrícola em áreas de
cerrado foram o POLOCENTRO, o PRODECER, entre outros.
Antes da implantação do POLOCENTRO, em 1972 o Banco de
Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG) lançou o Programa de Crédito Integrado
(PCI) que objetivava estimular a expansão de agricultura empresarial tecnificada em
área de cerrado do Estado (SALIM, 1986, p.309-314). O PCI funcionou como
projeto-piloto para o programa de estímulo à expansão agropecuária mais amplo, o
Programa de Desenvolvimento dos Cerrados- O POLOCENTRO.
O Programa estava voltado às áreas que conceituamos como de fronteira
Mueller (1990) , objetivando induzir nelas a expansão de frentes comerciais. Foram
definidas 12 áreas de atuação para o POLOCENTRO, sendo três em Minas Gerais e
nove no Centro-Oeste. Na região, as áreas selecionadas foram: Campo Grande,
Três Lagoas e Bodoquena no atual estado de Mato Grosso do Sul, Xavantina e
Parecis em Mato Grosso e Gurupi, Paraná, Pirineus, Piranhas e Rio Verde em
Goiás.
O principal instrumento de incentivo do POLOCENTRO foi o crédito
favorecido, estendido aos que desejassem investir em exploração agropecuária
empresarial nas áreas selecionadas. Financiavam o desmatamento, os trabalhos de
proteção, correção e fertilização básica dos solos, a construção de estradas, açudes,
armazéns, galpões, cercas, eletrificação de propriedade, formação de pastagens,
irrigação, drenagem, aquisição de equipamento mecanizado e de veículo, entre
outras iniciativas que beneficiavam o desenvolvimento agropecuário da região.
Além do apoio direto ao produtor, o programa previa investimentos em
estradas vicinais, em eletrificação rural e em armazenagem nas áreas selecionadas,
a promoção da extensão rural, incentivos à produção e comercialização regional de
calcário e de outros insumos agrícolas e estímulo a projetos de florestamento e
reflorestamento, havendo um investimento muito grande em desenvolvimento
tecnológico. O desenvolvimento de pesquisa e da experimentação agropecuárias
voltadas à agricultura dos cerrados, ficando a cargo, principalmente, do sistema
EMBRAPA.
A pequena agricultura beneficiou-se muito pouco do programa.
[...] Ele foi na realidade um programa para o estímulo da média e da grande
agricultura empresarial nas áreas de cerrado, mediante o fornecimento de
crédito altamente subsidiado, de assistência técnica e de remoção de
obstáculos ao seu funcionamento. A pequena agricultura das áreas
atingidas quase não se beneficiou[...]. (MUELLER, 1990.p.55).
Outro programa importante para o desenvolvimento dos cerrados o Programa
de Cooperação Nipo-Brasileira para Desenvolvimento dos Cerrados- PRODECER,
resultou do acordo de cooperação firmado em 1986, entre o Brasil e o Japão, para a
promoção da expansão da agricultura moderna em áreas de cerrado. O principal
objetivo era a concessão de crédito para empreendimentos agrícolas de colonos de
um conjunto de projetos de assentamento dirigido. Eram necessárias cooperativas
credenciadas, assim como a aptidão para desenvolver agricultura em áreas de
cerrado. Era um programa destinado especialmente à constituição de fazendas de
médio porte (entre 250 a 500 ha), dedicadas principalmente à produção de grãos.
A entidade encarregada da implantação do PRODECER a Companhia de
Promoção Agrícola (CAMPO), era formada por duas empresas, uma nacional
(Companhia Brasileira de Participação Agroindustrial) e uma japonesa a JADECO
(Japan-Brazil Agricultural Development Corporation).
O Estado de Goiás foi contemplado com 02 projetos na segunda etapa do
PRODECER, o PRODECER II que se iniciou em 1987, tendo sido implantado em
1990.
De acordo com Mueller,
O Polocentro foi um programa concebido para fazer vingar uma agricultura
empresarial em partes selecionadas dos cerrados da região. Entretanto
tinha também o objetivo de promover um desenvolvimento mais amplo e
harmônico nas áreas afetadas, numa concepção de pólos de
desenvolvimento. Ele teve alguns sucessos apenas no primeiro desses
objetivos e, mesmo assim, com substanciais distorções. Houve a expansão
da agricultura empresarial, mas esta se fez com base em médias e grandes
propriedades. Houve também um crescimento bem mais vigoroso da
pecuária, e na produção vegetal predominou a soja. Ademais, tudo isso
ocorreu à base de generosos subsídios, num esquema altamente
concentrador da propriedade e da renda. (MUELLER, 1990,p. 62)
Com relação ao PRODECER (MUELLER, 1990) teve um papel muito
importante pois, colaborou na reorganização fundiária em áreas agrícolas do Centro-
Sul.
A partir da introdução da agricultura agroexportadora, inicia-se um processo
de alteração no uso e na ocupação dos solos no Centro-Oeste, com a
implementação de técnicas modernas no cultivo de grãos e na criação de gado. As
tradicionais áreas de cerrado, como os extensos chapadões com topografia plana,
até então pouco utilizadas, passam a ser intensamente aproveitados, mediante a
disponibilidade de capitais (programas governamentais), de recursos técnicos
(máquinas, de tecnologia e desenvolvimento de pesquisas científicas) e de apoio na
construção de infra-estrutura pelo Estado Brasileiro, como forma de viabilizar os
interesses do capital privado nacional e transnacional.
A primeira região de Goiás a sofrer esse processo foi o Sudoeste Goiano, que
apresentava condições locais favoráveis, tais como: proximidade geográfica com os
mercados do Centro-Sul; tradição na atividade agropecuária com a presença dos
latifúndios e de uma elite agrária voltada para a absorção das inovações; pouco
adensamento populacional no campo, o que facilitou o processo de incorporação
das terras, quase sem resistência por partes dos pequenos e médios produtores
rurais.
Esses fatores, associados às políticas creditícias e fiscais do governo Federal
para a “Ocupação Racional” das áreas de cerrado e a construção da infra-estrutura,
necessária fizeram dessa região o “portal” de entrada da modernização da
agropecuária em Goiás e, com certeza, de grande parte do Centro-Norte brasileiro.
Assim,
A reestruturação do sistema produtivo foi particularmente acentuadas nas
áreas meridionais da região do cerrado, sendo o Sudoeste de Goiás bem
representativo de um espaço onde foram marcantes as alterações no
quadro agrário. Sua proximidade dos grandes centros de consumo e
comercialização do país, bem como sua integração à rede viária da região
Sudeste o tornaram altamente dinâmico em termos de evolução recente
das atividades agropecuárias .(Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística- IBGE, 1982, p.11).
Os dados apresentados na tabela 1 e figura 1 confirmam o sentido geral do
processo de modernização da agropecuária associado com a Fronteira Agrícola:
intensificação no uso do solo. Primeiramente é interessante observar que Existe
uma relativa estabilidade na ocupação da área total da região pelas propriedades,
ficando em torno dos 70% por todo o período analisado. Isso reflete a ocupação
antiga da região, com a Frente Pioneira já consolidada.
Se considerarmos a partir de 1975, quando a Fronteira Agrícola chega à
região, podemos verificar que a área explorada tende à estabilidade, mas ocorre
uma intensificação no seu uso. Isso se reflete em duas variáveis: em primeiro lugar a
tendência de substituição de pastagens nativas por pastagens plantadas. Aliás
ocorre uma inversão: em 1975 as pastagens plantadas representavam 1/5 do total
de pastagens e passam em 1995 para 4/5.
As lavouras temporárias apresentam um aumento significativo em todo o
período, indicando inclusive a substituição de pastagens por lavouras. Além disso
podemos verificar um aumento quase exponencial das áreas irrigadas.
Para entender bem este processo de modernização agropecuária no
Sudoeste de Goiás, vamos destacar algumas informações importantes sobre a
microrregião.
A Microrregião Sudoeste de Goiás está localizada na mesorregião sul goiano
e é formada pelos municípios: Aparecida do Rio Doce, Aporé, Caiapônia,
Castelândia, Chapadão do Céu, Doverlândia, Jataí, Maurilândia, Mineiros,
Montividiu, Palestina de Goiás, Perolândia, Portelândia, Rio Verde, Santa Helena de
Goiás, Santa Rita do Araguaia, Santo Antônio da Barra e Serranópolis.
TABELA 01: USO DO SOLO NO SUDOESTE GOIANO 1940-1995
FONTE: IBGE
Elaboração: Eloisa Pio de Santana e Dr. Fausto Miziara
1940 1950 1960 1970 1975 1980 1985 1995
Área total micro-região Km2 65.389,7
Área total estabelecimentos 4.926.377,0 5.190.642,0 3.874.569,0 4.450.558,9 4.743.020,6 4.876.105,85.018.385,84.490.208,9
% área estab. / área total 75,3 79,4 59,3 68,1 72,5 74,6 76,768,7
Matas naturais 491.379,0 361.785,0 281.643,0 184.141,1 172.066,7 371.503,0 363.407,4645.876,3
Matas plantadas 2.134,0 15.045,0 2.766,8 825,4 977,2 2.951,42.930,9
Lavouras temporárias 30.384,0 40.602,0 65.103,0 180.610,3 336.937,1 483.356,3 643.917,9715.786,1
Lavouras permanentes 6.242,0 3.331,0 5.448,0 4.560,9 2.982,8 4.861,3 3.757,95.617,4
Pastagens Naturais 3.686.205,0 2.217.760,0 3.070.417,4 3.016.000,6 2.041.730,31.530.144,6589.093,4
Pastagens Plantadas 428.249,0 642.841,0 618.624,8 784.450,9 1.604.118,32.078.544,32.256.415,1
Total Pastagens 4.114.454,0 2.860.601,0 3.689.042,2 3.800.451,5 3.645.848,63.608.688,92.845.508,5
% pastag plant / total past 10,4 22,5 16,8 20,6 44,0 57,679,3
Inaproveitáveis 290.506,0 498.340,9 350.403,7 249.530,5 181.793,5 264.027,0 235.396,0177.208,4
Produtivas não utilizadas 107.074,0 207.233,0 370.532,0 86.221,6 238.445,4 76.630,9 114.052,455.851,1
terras irrigadas 5,00 427,20 174,12 239,33 1.445,716.204,59
FIGURA 1- USO DO SOLO NO SUDOESTE GOIANO
Uso do solo no Sudoeste Goiano
0,0
1.000.000,0
2.000.000,0
3.000.000,0
4.000.000,0
5.000.000,0
6.000.000,0
1940 1950 1960 1970 1975 1980 1985 1995
Ano
Área (ha)
Área total estabelecimentos
Matas naturais
Lavouras temporárias
Lavouras permanentes
Pastagens Naturais
Pastagens Plantadas
Total Pastagens
Inaproveitáveis
Produtivas não utilizadas
terras irrigadas
Fonte: IBGE
Organização: Eloisa Pio de Santana e Dr. Fausto Miziara
As transformações no setor agropecuário em Goiás e, em particular, no
Sudoeste de Goiás, desencadeadas no bojo das mudanças na economia nacional,
atingiram de forma diferenciada a agricultura e a pecuária. No entanto, o dinamismo
da região, frente a uma reorganização na divisão regional do trabalho provocadas a
partir dos pólos industriais do centro-sul do país, pode ser observado no ritmo de
crescimento apresentado pelo setor agropecuário como um todo. No setor agrícola,
a expansão do Sudoeste de Goiás supera os níveis registrados em termos de
Estado. Desse modo,
O Sudoeste apresentou diferenciadas etapas em sua formação
econômica. Primeiro, a exploração da pecuária extensiva que vai de sua
ocupação até o início do século. Em seguida, começa a destacar-se no
cenário goiano na produção de arroz, milho e feijão. Nas últimas décadas,
com a incorporação de tecnologia avançada no campo, angariou o troféu
de sede dos mais diversificados produtores agropecuários do Estado.
(ESTEVAM, Luís,1998,p.250).
A microrregião Sudoeste de Goiás caracteriza-se pela utilização de processos
mais avançados na produção agropecuária, se comparada às outras microrregiões
do Estado. A partir de 1975, o Sudoeste de Goiás teve sua agricultura e pecuária
modernizadas. Principalmente nas grandes propriedades, a agricultura é altamente
mecanizada, com pequena utilização de mão-de-obra e produção de monoculturas
voltadas para exportação, como é o caso da soja e do milho.
Nesta última década, houve uma preocupação sistemática com a otimização
do processo produtivo, imprimindo um ritmo mais dinâmico à atividade agrícola,
onde a mecanização foi um passo fundamental na modernização. A utilização de
novas tecnologias desenvolvidas pelos centros de pesquisas, também contribuiu
para o incremento da produção e da produtividade não só no Sudoeste de Goiás,
como em todo Estado..
Das exportações de Goiás, soja e derivados, parte substancial provém do
Sudoeste [...] Em termos percentuais, o Sudoeste constitui a maior região
em terras cultivadas do Estado, sendo o maior criador de bovinos, o maior
produtor de arroz, de milho e de soja [...]. (ESTEVAM, Luís,1998,p.252).
1.3.1- Produção agrícola do Sudoeste de Goiás
A produção agrícola do Sudoeste de Goiás, assim como das demais regiões
do Estado, vem registrando taxas significativas de crescimento, especialmente na
segunda parte da década de 1970, através da introdução e ampliação de novas
culturas, maior absorção do progresso técnico via pesquisas científicas, maior
utilização de implementos e máquinas agrícolas, com conseqüente aumento da
produtividade por área plantada.
A produção agrícola do Sudoeste, no contexto goiano, disputa com a
região Mato Grosso Goiano na maioria dos setores. A Soja produzida no
Sudoeste corresponde a mais da metade de todo o produto cultivado no
estado e o milho e o algodão colhido na região representa a metade do
montante de Goiás. A lavoura do sorgo, por sua vez, praticamente existe
só no sudoeste que produz quase a totalidade do produto no Estado. De
resto, a zona Sudoeste produz 26 por cento do arroz e grande parte do
feijão de Goiás . Rio verde por si só, consta entre os maiores produtores de
algodão, arroz de sequeiro, melancia, soja, feijão, sorgo e milho do
Estado.(ESTEVAM,1998,P.251)
O arroz constitui a base alimentar de grande parte da população dos países
subdesenvolvidos, sendo também uma cultura caracterizada de subsistência e
utilização de áreas a serem incorporadas ao processo produtivo.
Existem duas formas de cultivo de arroz - de sequeiro e irrigado - sendo que
em Goiás predomina o de sequeiro, embora apresente uma produtividade inferior à
do arroz irrigado (sequeiro: 1,4 ton/ha; irrigado: 5,4 ton/ha) .Dentre as microrregiões
destacadas no cultivo do arroz em 2001-2002, está o Sudoeste de Goiás com os
municípios de Jataí, Rio Verde e Mineiros. (Tabela 02)
O milho é uma cultura de longa tradição no Estado de Goiás, estando
incorporado ao hábito alimentar nacional, tanto “in natura”, como industrializado. É
utilizado em grande escala na fabricação de ração animal, o que lhe confere uma
grande importância comercial, principalmente no que se refere à exportação para
outros Estados.
Ocupando uma posição de destaque no ranking da produção de grãos do
país, a mesorregião Sul Goiano é a maior produtora deste grão de Goiás, com uma
participação em 1994/1996 de 71,96% em relação ao Estado com uma alta
produtividade, em 2001-2002 o sudoeste ainda se destaca. (Tabela 03)
Tabela 02: Área colhida e produção de alho e arroz (em casca), segundo as microrregiões de Goiás 2001 - 2002
Alho Arroz (em casca)
Área colhida (ha) Produção (t) Área colhida (ha) Produção (t)
Microrregiões
2001 2002 2001 2002 2001 2002 2001 2002
ESTADO DE GOIÁS 1.620 1.909 13.590 19.525 115.000 111.492 192.839 212.812
001 – São Miguel do Araguaia - - - - 5.500 4.894 10.185 11.146
002 – Rio Vermelho - - - - 3.740 3.490 5.150 5.153
003 – Aragarças - - - - 2.588 2.974 3.680 5.204
004 – Porangatu - - - - 13.120 11.150 16.420 13.890
005 – Chapada dos Veadeiros - - - - 2.460 3.535 2.069 8.961
006 – Ceres - - - - 10.350 10.566 17.723 19.033
007 – Anápolis 405 420 2.080 2.170 12.350 11.980 25.690 24.560
008 – Iporá - - - - 2.420 2.560 3.550 3.700
009 – Anicuns - - - - 6.100 5.430 12.050 10.890
010 – Goiânia 100 25 560 100 3.145 3.100 5.519 5.699
011 – Vão do Paraná - - - - 5.321 7.640 11.217 24.616
012 – Entorno de Brasília 755 960 8.720 11.125 7.255 7.159 10.057 10.599
013 – Sudoeste de Goiás - - - - 19.731 19.459 36.052 38.391
014 – Vale do Rio dos Bois - - - - 4.768 4.285 9.190 7.922
015 – Meia Ponte - - - - 6.795 6.040 10.445 11.539
016 – Pires do Rio - - - - 1.205 1.585 1.424 1.684
017 – Catalão 360 504 2.230 6.130 4.600 2.535 5.673 3.794
018 – Quirinópolis - - - - 3.552 3.110 6.745 6.031
Fonte: IBGE.
Elaboração: SEPLAN-GO / SEPIN / Gerência de Estatísticas
Socioeconômicas – 2003
Tabela 03: Área colhida e produção de melancia e milho, segundo as microrregiões de Goiás 2001 - 2002
Melancia Milho (em grão)
Área colhida
(ha) Produção (t) Área colhida (há) Produção (t)
Microrregiões
2001 2002 2001 2002 2001 2002 2001 2002
ESTADO DE GOIÁS 6.685 6.817 173.878 184.470 907.628 734.303 4.157.387 3.400.223
001 – São Miguel do Araguaia - - - - 5.450 5.360 13.535 12.740
002 – Rio Vermelho - 75 - 1.500 6.343 5.676 17.975 17.640
003 – Aragarças 22 - 288 - 4.690 3.525 13.380 9.658
004 – Porangatu 55 240 1.375 6.270 30.870 24.320 77.089 65.032
005 – Chapada dos Veadeiros - - - - 10.932 11.470 29.978 39.515
006 – Ceres 4.678 4.797 116.765 131.320 34.586 27.667 113.749 97.100
007 – Anápolis 960 1.090 24.360 27.250 41.450 36.480 147.150 131.015
008 – Iporá - 4 - 100 6.350 5.780 16.730 15.550
009 – Anicuns - - - - 21.530 20.130 71.840 68.520
010 – Goiânia - - - - 12.170 10.980 42.441 37.708
011 – Vão do Paraná 194 60 9.260 1.800 13.380 14.720 13.097 30.366
012 – Entorno de Brasília - 36 - 1.000 106.996 103.810 522.909 615.659
013 – Sudoeste de Goiás 200 - 3.800 - 356.000 313.707 1.811.913 1.412.003
014 – Vale do Rio dos Bois 10 10 300 300 53.896 32.486 267.412 162.746
015 – Meia Ponte 566 500 17.730 14.900 104.725 53.277 531.230 303.781
016 – Pires do Rio - 5 - 30 21.890 18.750 107.360 107.370
017 – Catalão - - - - 43.870 34.055 215.243 209.512
018 – Quirinópolis - - - - 32.500 12.110 144.356 64.308
Fonte: IBGE
Elaboração: SEPLAN-GO / SEPIN / Gerência de Estatísticas
Socioeconômicas – 2003
De acordo com dados do IBGE/SEPLAN/SEPIN-2004, a produção de milho
em Goiás destaca-se na 6ª posição em relação à nacional, sendo a 2ª maior área
plantada do Estado, perdendo apenas para a soja. O milho é a segunda cultura em
valor bruto da produção em Goiás
Em 2003 dentre as microrregiões em destaque está o Sudoeste de Goiás,
com os municípios de Rio Verde, Santa Helena de Goiás, Jataí, Montividiu ,
Chapadão do Céu e Caiapônia.
A cultura da soja constitui o exemplo mais significativo das transformações
ocorridas na agricultura goiana. Na última década apresentou uma rápida
expansão, estando incluída, atualmente, entre os três principais produtos agrícolas
do Estado, tanto em termos de produção como em área colhida. Esta rápida
expansão se deve ao franco favoritismo deste produto no mercado internacional, à
topografia plana dos cerrados que facilita a mecanização e à menor sensibilidade da
cultura às condições agroecológicas do Estado.
No que se refere ao cultivo a produção da soja nas pequenas propriedades é
insignificantemente, sendo que no padrão tecnológico predomina a homogeneidade:
uso de correção de acidez no solo, altas doses de fertilizantes, mecanização em
todas as fases do cultivo, uso intenso de agrotóxicos, herbicida e outros.
A soja é um produto extremamente dependente do mercado internacional,
sugerindo altos riscos para os sojicultores, uma vez que o governo não pode
controlar os preços praticados no mercado externo.
O sul goiano é responsável por cerca de 80% da soja produzida no Estado,
sendo que a microrregião Sudeste de Goiás respondeu em 1994, por
aproximadamente 60% da produção da mesorregião e 48% da produção estadual,
destacando-se os municípios de Rio Verde, Jataí, Mineiros e Montividiu, vejamos em
2001-2002. (Tabela 04)
De acordo com dados do IBGE/SEPLAN/SEPIN-2004, a cultura da soja em
Goiás no ano de 2003, apresentou uma produção de 6,3 milhões de toneladas,
garantindo ao estado a 4ª colocação entre os produtores nacionais. A área colhida
foi de 2,2 milhões de hectares em 1999, registrando-se um crescimento de 69,2%.
A soja representa 55% da produção goiana de grãos, sendo grande a sua
representatividade na agropecuária.
Goiás processa cerca de 30% do que colhe. As principais indústrias de
processamento da soja são: Caramuru Alimentos, Comigo, Coimbra e Granol.
Aproximadamente 70% da soja produzida no Estado são vendidas in natura, sem
agregar valores. Uma parte vai para esmagadoras de soja do país e outra parte é
exportada.
A partir de 1975 o cultivo da cana-de-açúcar no Estado de Goiás, sofreu uma
expansão considerável, em virtude dos incentivos advindos da criação do Programa
Nacional do Álcool- PROÁLCOOL, que tinha como objetivo principal expandir a
produção de álcool a viabilizar o seu uso como matéria-prima para a indústria
química.
O cultivo da cana-de-açúcar é realizada de forma empresarial, cabendo às
destilarias o beneficiamento da maior parte da produção, sendo o restante
complementado por fornecedores. O nível tecnológico é considerado alto para os
padrões nacionais; todas as operações são mecanizadas, exceto o corte, que é
manual, em 2001-2002 a microrregião se destaca. (Tabela 05)
De acordo com Dados IBGE/SEPLAN/SEPIN, a produção de cana-de-açúcar
em 2003 foi de 12,9 milhões de toneladas, contra 9,2 milhões em 1999, tendo uma
variação positiva de 40,2%. A cana -de -açúcar em Goiás vem registrando, nos
últimos anos, incrementos na sua área colhida devido às exportações de açúcar
para outros países e à produção de álcool para uso automotivo. A produtividade tem
aumentado: em 2000 o rendimento médio foi de 72,3 t/ha e para o ano de 2003 os
resultados foram de 78,3t/ha.
Dentre as maiores microrregiões produtoras de Cana-de-açúcar está o
Sudoeste de Goiás, destacando-se os municípios de Serranópolis, Maurilândia e
Santa Helena de Goiás.
A produção do feijão tem sofrido em incremento expressivo, principalmente
pelo uso da irrigação. Em 1994, a produção de feijão com tecnologia tradicional
representou na mesorregião sul goiano, 5.318 t., enquanto que a de feijão irrigado
foi de 46.396 t., com uma produtividade de 2 t/ha. No Sudoeste de Goiás, destacam-
se os municípios de Montividiu, Rio Verde e Santa Helena de Goiás.
Tabela 04: Área colhida e produção de soja e sorgo granífero, segundo as microrregiões de Goiás 2001 -2002
Soja (em grão) Sorgo granífero (em grão)
Área colhida (ha) Produção (t) Área colhida (ha) Produção (t)
Microrregiões
2001 2002 2001 2002 2001 2002 2001 2002
ESTADO DE GOIÁS 1.538.988 1.902.950 4.052.169 5.405.589 121.910 128.861 252.352 238.545
001 – São Miguel do Araguaia - 548 - 1.003 - - - -
002 – Rio Vermelho 1.423 1.160 3.015 2.559 - - - -
003 – Aragarças 150 2.439 270 6.830 - - - -
004 – Porangatu 10.090 15.864 25.316 44.217 250 620
005 – Chapada dos Veadeiros 10.200 9.000 23.280 25.200 - - - -
006 – Ceres 2.426 9.560 4.342 24.048 - - - -
007 – Anápolis 8.655 11.250 22.453 32.870 2.000 2.030 4.000 4.938
008 – Iporá 1.000 2.567 1.800 6.020 - 20 - 25
009 – Anicuns 845 1.191 1.785 2.565 25 170 90 780
010 – Goiânia 7.685 4.954 20.725 13.620 200 45 480 108
011 – Vão do Paraná 1.200 2.300 1.750 5.595 - - - -
012 – Entorno de Brasília 109.790 147.132 235.480 413.841 5.000 7.260 14.400 30.370
013 – Sudoeste de Goiás 754.054 904.208 2.221.641 2.622.489 101.163 82.723 207.496 140.414
014 – Vale do Rio dos Bois 117.090 158.036 309.950 426.786 1.352 10.706 2.200 19.500
015 – Meia Ponte 245.790 327.504 555.312 913.137 6.150 22.242 10.290 34.560
016 – Pires do Rio 91.400 106.050 244.150 318.670 2.310 1.650 6.800 3.030
017 – Catalão 133.690 154.997 280.120 424.299 1.210 1.300 2.596 3.080
018 – Quirinópolis 43.500 44.190 100.780 121.840 2.500 465 4.000 1.120
Fonte: IBGE
Elaboração: SEPLAN-GO / SEPIN / Gerência de Estatísticas Socioeconômicas - 2003
Tabela 05: Área colhida e produção de cana-de-açúcar e feijão (em grão), segundo as microrregiões de Goiás
2001 - 2002
Cana-de-açúcar Feijão (em grão)
Área colhida (ha) Produção (t) Área colhida (ha) Produção(t)
Microrregiões
2001 2002 2001 2002 2001 2002 2001 2002
ESTADO DE GOIÁS 129.921 145.069 10.253.497 11.674.140 126.466 122.605 221.742 235.418
001 – São Miguel do Araguaia 230 60 5.100 1.700 367 125 1.175 278
002 – Rio Vermelho 100 80 2.280 1.540 4.766 2.573 13.095 7.070
003 – Aragarças 98 98 3.125 4.900 1.401 1.650 3.683 4.140
004 – Porangatu 1.090 480 28.225 15.580 1.910 1.990 2.674 2.440
005 – Chapada dos Veadeiros 595 605 15.140 15.170 1.705 1.835 3.089 2.965
006 – Ceres 25.885 29.010 2.017.200 2.299.100 4.008 3.226 4.312 2.916
007 – Anápolis 7.678 10.176 551.700 782.200 13.853 12.940 15.389 13.198
008 – Iporá 40 40 1.820 1.820 125 40 72 16
009 – Anicuns 9.057 9.057 729.697 759.697 2.653 2.536 2.242 2.101
010 – Goiânia 582 1.047 37.800 71.470 1.320 1.390 1.506 1.761
011 – Vão do Paraná 1.127 1.203 25.797 28.508 705 708 610 629
012 – Entorno de Brasília 5.873 5.370 400.248 390.430 37.780 47.680 74.407 107.901
013 – Sudoeste de Goiás 33.976 34.511 3.035.110 3.043.196 35.405 24.339 55.349 39.318
014 – Vale do Rio dos Bois 23.644 34.554 2.008.640 2.934.329 3.846 3.233 8.381 7.506
015 – Meia Ponte 18.394 16.791 1.324.145 1.236.470 4.244 6.570 11.550 18.331
016 – Pires do Rio 157 172 3.140 3.730 5.810 6.080 10.937 12.023
017 – Catalão 1.395 1.815 64.330 84.300 6.135 4.630 12.250 9.984
018 – Quirinópolis - - - - 433 1.060 1.021 2.841
Fonte: IBGE
Elaboração: SEPLAN-GO / SEPIN / Gerência de Estatísticas Socioeconômicas - 2003
A cultura da mandioca caracteriza-se por ser típica de pequena
propriedade, com baixo índice de utilização de tecnologia, isto é, seu cultivo é
realizado através de manejo tradicional, sendo que a maior parte de sua
produção é voltada para o autoconsumo da unidade agrícola produtora. Em
1994, a produção do Sul Goiano representou 38,86% do total do Estado,
destacando-se dentre as microrregiões o Sudoeste de Goiás, com as cidades
de Jataí e Rio Verde. Vejamos os dados em 2001-2002. (Tabela 06)
O Estado de Goiás em 1994 posicionou-se em 4º lugar na produção de
algodão em âmbito nacional, sendo superado apenas pelos Estados do
Paraná, São Paulo e Bahia. A mesorregião sul goiano concentrou 97,81% do
total produzido no Estado; dentre os cinco municípios mais importantes estão
Santa Helena de Goiás, Rio Verde que foram responsáveis por 64,56% da
produção estadual.
Em volume de produção, o Estado ocupa o 2º lugar no ranking nacional
do algodão. Com uma produção de 305 mil toneladas em 2003, portanto, 20%
maior que a registrada no ano de 2000, Goiás produz em torno de 14% do
algodão brasileiro. A cultura de algodão no cerrado do sudoeste goiano es
alcançando produtividade de até 300 arrobas por hectare, destacando-se em
2001-2002. (Tabela 07)
Estes são os principais produtos agrícolas do Estado de Goiás, mas a
microrregião Sudoeste de Goiás conta com a produção de vários outros
produtos como: melancia (Rio Verde), tomate (Montividiu, Rio Verde, Santa
Helena de Goiás), abacaxi (Doverlândia, Mineiros, Caiapônia e Jataí), laranja
(Mineiros, Jataí, Rio Verde, Portelândia), dentre outros, que corroboram a
importância da microrregião Sudoeste de Goiás na produção agrícola do
Estado .
Tabela 06: Área colhida e produção de laranja e mandioca, segundo as microrregiões de Goiás 2001 - 2002
Laranja Mandioca
Área colhida (ha) Produção (t) Área colhida (ha) Produção (t)
Microrregiões
2001 2002 2001 2002 2001 2002 2001 2002
Estado de Goiás
6.643 6.056 119.954 115.813 16.666 17.111 248.568 254.912
001 – São Miguel do Araguaia - - - - 620 490 10.240 8.490
002 – Rio Vermelho 117 117 2.480 2.480 650 497 8.030 6.425
003 – Aragarças 23 23 794 454 455 415 7.260 6.680
004 – Porangatu - - - - 1.565 1.725 27.720 30.380
005 – Chapada dos Veadeiros 90 90 710 710 515 515 6.330 6.330
006 – Ceres 42 42 457 457 1.022 1.034 16.440 16.630
007 – Anápolis 1.101 1.112 22.710 20.720 1.878 1.843 26.010 25.730
008 – Iporá 7 7 138 138 870 800 15.290 14.220
009 – Anicuns 87 61 1.913 1.213 1.015 965 16.445 15.695
010 – Goiânia 787 791 12.720 12.570 1.410 1.436 20.610 21.031
011 – Vão do Paraná 4 4 64 64 545 505 7.410 7.030
012 – Entorno de Brasília 1.384 869 28.304 21.467 1.635 1.890 22.640 25.890
013 – Sudoeste de Goiás 296 372 4.306 8.456 925 927 12.355 13.105
014 – Vale do Rio dos Bois 198 213 2.849 3.560 500 495 7.380 7.305
015 – Meia Ponte 1.549 1.488 29.364 28.834 1.240 1.210 18.195 17.830
016 – Pires do Rio 658 617 10.445 9.890 598 1.124 8.883 14.566
017 – Catalão 300 250 2.700 4.800 930 950 13.660 13.950
018 – Quirinópolis - - - - 293 290 3.670 3.625
Fonte: IBGE.
Elaboração: SEPLAN-GO / SEPIN / Gerência de Estatísticas Socioeconômicas – 2003
Tabela 07: Área colhida e produção de abacaxi e algodão herbáceo, segundo as microrregiões de Goiás
2001 – 2002
Abacaxi Algodão herbáceo (em caroço)
Área colhida (ha) Produção (mil frutos) Área colhida (ha) Produção (t)
Microrregiões
2001 2002 2001 2002 2001 2002 2001 2002
ESTADO DE GOIÁS 2.298 2.525 59.519 64.481 106.539 102.185 326.150 301.255
001 – São Miguel do Araguaia 22 2 536 44 - - - -
002 – Rio Vermelho 10 14 250 350 4.666 3.156 15.435 9.220
003 – Aragarças 1 4 30 120 - - - -
004 – Porangatu 105 162 2.420 4.175 - - - -
005 – Chapada dos Veadeiros - - - - - - - -
006 – Ceres 515 650 12.344 14.694 68 10 170 22
007 – Anápolis 1.036 1.085 28.025 29.230 - - - -
008 – Iporá 38 38 900 900 - - - -
009 – Anicuns 19 19 565 565 250 270 530 650
010 – Goiânia 24 11 505 310 - - - -
011 – Vão do Paraná - - - - - - - -
012 – Entorno de Brasília 43 66 975 1.529 6.619 6.283 22.528 22.489
013 – Sudoeste de Goiás 71 81 2.006 2.300 29.599 26.247 102.759 85.553
014 – Vale do Rio dos Bois 185 195 4.130 4.460 40.224 43.060 113.260 115.270
015 – Meia Ponte 217 190 6.699 5.750 22.121 19.532 62.720 55.024
016 – Pires do Rio 4 - 80 - - - - -
017 – Catalão - - - - 1.642 1.976 5.418 8.795
018 – Quirinópolis 8 8 54 54 1.350 1.651 3.330 4.232
Fonte: IBGE.
Elaboração: SEPLAN-GO / SEPIN / Gerência de Estatísticas Socioeconômicas – 2003.
1.3.2 - Produção pecuária do Sudoeste de Goiás
Desde o início do povoamento do Estado de Goiás, a pecuária constituiu um
fator determinante na formação da renda, sendo um componente de suma
importância no processo de ocupação do território, assim como na economia.
O rebanho bovino contava em 1993, com 18.580.908 cabeças, constituindo-
se, sem dúvida, no segmento mais importante da pecuária estadual.
A suinocultura também é expressiva, embora seu aproveitamento industrial
seja incipiente.
A avicultura tem experimentado crescimento significativo, relacionado à
produção de aves e ovos em larga escala, com adoção de novas tecnologias para o
abastecimento do mercado regional, ainda que parcialmente, uma vez que este
ainda é suprido por grupos empresariais, localizados em sua maioria, no sul e
sudeste do país.
A mesorregião Sul Goiano deteve em 1993, 44,26% do rebanho bovino do
Estado, o que demonstra o peso da região na pecuária estadual. Os rebanhos suíno
e avícola participam com 30,29% e 25,27%, respectivamente, constituindo este
segmento um mercado promissor, com boas perspectivas para o processo industrial.
A microrregião Sudoeste está entre as que destacam como maiores
produtoras de rebanho bovino em 2002, sobressaindo-se os municípios de Rio
Verde, Jataí, Caiapônia e Mineiros. (Tabela 08)
A produção de leite no Estado tem ampliado sua participação na produção
nacional, sendo que em 1992, Goiás posicionava-se entre os 5 maiores produtores
do país. Dentre os fatores que contribuíram para este crescimento, pode -se
destacar:
O avanço tecnológico e de manejo do rebanho, com controle progressivo
das zoonoses mais incidentes;
Melhoria do padrão genético do rebanho, para a especialização leiteira, com
a introdução de matrizes e reprodutores de sangue europeu;
Aumento da capacidade instalada das indústrias processadoras de leite.
Tabela 08: Ranking dos cinqüenta maiores municípios goianos em rebanho bovino – 2002
Qtde
Municípios
(cabeças)
Ranking Municípios
Qtde
(cabeças) Ranking
ESTADO DE GOIÁS 20.101.893
- Piranhas 190.000 26º
Nova Crixás 656.097 Jaraguá 169.870 27º
São Miguel do Araguaia 468.000 Mozarlândia 169.565 28º
Rio Verde 400.000 Cachoeira Alta 168.000 29º
Jataí 375.487 Itajá 161.558 30º
Quirinópolis 375.000 Itumbiara 161.500 31º
Jussara 363.015 Palmeiras de Goiás 154.950 32º
Caiapônia 362.299 Catalão 150.500 33º
Mineiros 321.879 Araguapaz 150.180 34º
Porangatu 300.000 Ipameri 146.000 35º
Itarumã 292.475 10º Luziânia 145.000 36º
Montes Claros de Goiás 283.500 11º Mara Rosa 145.000 36º
Serranópolis 273.353 12º Itapuranga 144.000 37º
Morrinhos 255.680 13º Cristalina 140.000 38º
Itapirapuã 236.460 14º Britânia 137.477 39º
Goiás 236.110 15º Pirenópolis 133.000 40º
Aporé 232.158 16º Pontalina 130.225 41º
Niquelândia 222.000 17º Bom Jardim de Goiás 130.000 42º
Piracanjuba 221.352 18º Bonópolis 126.000 43º
Doverlândia 217.738 19º Itaberaí 124.800 44º
Formosa 213.165 20º São Luiz de Montes Belos 122.000 45º
Caçu 208.247 21º Faina 120.822 46º
Aruanã 205.630 22º Santa Fé de Goiás 120.677 47º
Paraúna 201.740 23º Corumbaíba 120.100 48º
Crixás 195.000 24º Padre Bernardo 120.000 49º
Mundo Novo 190.815 25º Goianésia 118.500 50º
Fonte: IBGE
Elaboração: SEPLAN-GO / SEPIN / Gerência de Estatísticas Socioeconômicas – 2003.
Mesmo detendo uma produção significativa de produção de leite, com 2,41
litros/vaca/dia produzidos em 1993, a produtividade ainda pode ser considerada
baixa, sendo que esta média poderá ser ampliada com a adoção de técnicas mais
modernas de manejo. (Tabela 09)
A mesorregião Sul Goiano tem peso considerável na bovinocultura leiteira do
Estado, sendo responsável por cerca de 56,38%, 2ª lugar da produção estadual. A
microrregião Sudoeste de Goiás em 2002 apresentou umas produções significativas,
destacando-se os municípios de Jataí, Rio Verde, Mineiros e Santa Helena.
Tabela 09: Vacas leiteiras e produção de leite, segundo as microrregiões de
Goiás- 2002
Vacas
leiteiras
Part.
Produção
de leite
Part.
Microrregiões
(cabeças) (%)
Ranking
(mil litros) (%)
Ranking
ESTADO DE GOIÁS 2.217.158 100 2.483.366 100
001-São Miguel do Araguaia 71.235 3,21 15º 69.351 2,79 15º
002-Rio Vermelho 86.930 3,92 12º 87.293 3,52 13º
003-Aragarças 70.950 3,2 16º 68.100 2,74 16º
004-Porangatu 154.900 6,99 162.886 6,56
005-Chapada dos Veadeiros 19.842 0,89 18º 10.094 0,41 17º
006-Ceres 192.200 8,67 236.645 9,53
007-Anápolis 167.690 7,56 174.500 7,03
008-Iporá 81.525 3,68 13º 78.253 3,15 14º
009-Anicuns 107.810 4,86 10º 104.922 4,22 11º
010-Goiânia 118.850 5,36 146.154 5,89
011-Vão do Paraná 25.700 1,16 17º 7.638 0,31 18º
012-Entorno de Brasília 200.890 9,06 176.598 7,11
013-Sudoeste de Goiás 201.857 9,1 296.452 11,94
014-Vale do Rio dos Bois 127.070 5,73 149.894 6,04
015-Meia Ponte 304.994 13,76 335.730 13,52
016-Pires do Rio 80.555 3,63 14º 102.539 4,13 12º
017-Catalão 111.030 5,01 133.834 5,39 10º
018-Quirinópolis 93.130 4,2 11º 142.483 5,74
Fonte: IBGE.
Elaboração: SEPLAN-GO / SEPIN / Gerência de Estatísticas Socioeconômicas – 2003.
Ressaltamos que de acordo com dados da SEPLAN/SEPIN 2003 conforme
tabela 10, a microrregião Sudoeste de Goiás é responsável por 10,93% do PIB do
Estado de Goiás.
Tabela 10: Produto Interno Bruto, per capita a preço de mercado corrente
microrregião Sudoeste de Goiás-2003
Microrregião/Município
Participação
(%)
PIB (R$ mil) População
PIB per
capita (R$)
Sudoeste de Goiás
10,93
2 367 318
344 377 6 874
Rio Verde 3,57 773 467 116 552 6 636
Jataí 2,52 546 042 75 451 7 237
Mineiros 1,04 226 358 39 024 5 800
Santa Helena de Goiás 0,98 213 005 34 545 6 166
Chapadão do Céu 0,50 108 421 3 778 28 698
Montividiu 0,47 101 080 7 736 13 066
Caiapônia 0,44 94 999 14 673 6 474
Serranópolis 0,25 53 289 6 447 8 266
Perolândia 0,23 49 871 2 791 17 868
Doverlândia 0,18 39 885 8 558 4 661
Aporé 0,16 34 618 3 427 10 101
Maurilândia 0,12 25 203 8 969 2 810
Portelândia 0,11 24 812 3 696 6 713
Castelândia 0,08 17 061 3 882 4 395
Santa Rita do Araguaia 0,07 15 865 5 087 3 119
Palestina de Goiás 0,07 15 644 3 307 4 731
Aparecida do Rio Doce 0,07 14 731 2 402 6 133
Santo Antônio da Barra 0,06 12 967 4 052
3 200
Fonte: IBGE
Elaboração: SEPLAN-GO / SEPIN / Gerência de Estatísticas Socioeconômicas – 2003.
Atualmente, o Sudoeste é conhecido como O Celeiro do Cerrado. Com o
agronegócio em alta, esta região pólo de grãos e carnes, atrai investimentos e faz
negócios milionários.
De acordo com a Revista Exame - Goiás de 23 de junho/2004, das grandes
plantações do Sudoeste saíram no ano passado 5,2 milhões de toneladas de grãos,
46,1% da produção goiana. Só Rio verde produziu 21,5% do sorgo e 11,8% da soja
colhida em Goiás. Com 480.000 cabeças, o município tem ainda o segundo maior
rebanho bovino do Estado e é o maior produtor de leite. Mas, a instalação da
Perdigão criou as bases para o que está sendo apontada como a mais bem-
sucedida experiência em Agricluster
4
no Brasil.
Como vimos a partir dessas considerações, a primeira etapa da abertura da
fronteira agrícola no Sudoeste de Goiás foi a introdução da modernização
agropecuária. Souza (2003) aponta uma segunda etapa de abertura da fronteira
agrícola no cerrado, onde está a microrregião, a partir da introdução dos complexos
agroindustriais.
A instalação recente (2000) de uma unidade do frigorífico Perdigão no
município de Rio Verde ampliou o espaço de atuação das culturas de soja e milho
para a criação de suínos e aves. No rastro da Perdigão, já chegaram à cidade quase
uma centena de empresas, de distribuidores de sementes e de máquinas agrícolas a
fabricantes de embalagens, como o Grupo Orsa e a Videplast. Vieram também
outros investimentos, como a Cargil, uma das maiores exportadoras de soja do país.
A região está sendo consolidada como um dos principais centros do agronegócio no
país com incentivos oferecidos pelo Governo do Estado. O Cluster é uma das
soluções para competir na economia globalizada. Rio Verde ilustra bem as
vantagens trazidas por este modelo.
Num curto espaço de três anos, a população de Rio Verde subiu de 100.000
para 140.000 habitantes, a arrecadação do imposto sobre Circulação de
Mercadorias e Serviços (ICMS) saltou de 36,5 milhões para 80 milhões de reais e o
PIB da cidade cresceu quase 200%.
4
O termo Cluster-grupo ou segmento, em inglês - foi usado inicialmente no mundo da informática
para designar o compartilhamento de recursos entre máquinas. Dos computadores, esse conceito se
estendeu ao mundo dos negócios, dando nome a uma concentração de pequenas e médias
empresas em torno de uma maior para formar um complexo que possibilita obter vantagens
competitivas, especialmente no suprimento de produtos e fornecimento de serviços.(Revista Exame,
junho/04, p.15)
A Perdigão implantou em Rio Verde o Projeto Buritis, um complexo agro-
industrial de 100.000 metros quadrados para a produção de carne de frango e
suínos. Na seqüência, uma série de outras empresas correlatas e prestadoras de
serviços foram atraídas para a região. Inicialmente vieram fábricas de embalagem,
frigoríficos, distribuidores de insumos, adubos, sementes, máquinas, empresas de
transporte, seguidas pelos serviços de apoio, como hotéis, restaurantes,
transportadoras, supermercados e revendedoras de todo o tipo. Destacando-se os
Programas Educacionais que começaram a ser disponibilizados na região através
da Fundação de Ensino Superior de Rio Verde - FESURV e o Centro Tecnológico
Comigo.
Outras empresas agroindustriais vêm se instalando na região, atraídas pela
dinâmica da cultura dos grãos e, acabam por complementar as cadeias
agroindustriais. Dessa forma, a microrregião do sudoeste Goiano vem abrigar
agriclusters de grãos, aves e suínos, à medida que torna possível trabalhar com
custos de produção competitivos. Por outro lado, tal competitividade é alcançada em
função da associação do investimento em capital humano e da geração e difusão de
tecnologia.
1.4- Extensão rural e assistência técnica: processo histórico e o
seu papel educativo
A idéia de extensão com conteúdo educativo surgiu no Brasil, pela primeira
vez, em 1930, na Escola Superior de Agricultura e Veterinária de Viçosa-ESAV, no
Estado de Minas Gerais. O trabalho teve início através da orientação de seu
fundador, Profº. Peter H. Koofs, que organizou, junto com professores e líderes
rurais, a Semana do Fazendeiro
5
.
Quando a Escola Superior de Agricultura e Veterinária de Viçosa transformou-
se em Universidade Rural, nos anos 1940, contava com um Departamento de
Extensão, no sentido de integração Ensino-Pesquisa-Extensão.
5
Trata-se de uma reunião anual de agricultores que se hospedam na ESAV e durante uma semana
recebem aulas práticas com demonstrações detodos, tanto para homens em assuntos
agropecuários, quanto para mulheres sobre economia doméstica”(OLINGER,1996,p.43)
A primeira experiência extensionista de campo no Brasil foi em Santa Rita de
Passa Quatro-SP, a partir de 1948, com ênfase na difusão de tecnologia para a
solução dos problemas de alimentação do gado na seca. O trabalho foi conduzido
com base em demonstração, sob forma cooperativa, e com apoio de experiências e
recursos dos próprios criadores, de firmas locais e de prefeituras municipais, com a
assistência da Associação Internacional Americana (AIA) e a cooperação do
Governo do Estado. O trabalho foi estendido às famílias dos agricultores,
abrangendo, também, o município de São José do Rio Pardo.
A história da extensão rural no Brasil, significa o início dos serviços
institucionalizados de extensão rural, melhor dizendo, significa o resultado das
conversações e convênios realizados entre o Brasil e Estados Unidos, que
culminaram na implantação do programa piloto de Santa Rita do Passa Quatro no
Estado de São Paulo e da fundação da ACAR -Minas Gerais, através do mensageiro
especial da missão Americana no Brasil, Nelson Rockefeller.
Para compreender como aconteceu a implantação da extensão rural no
Brasil, é preciso analisar alguns fatos históricos que nortearam estes
acontecimentos. Havia uma preocupação com a educação rural por partes das elites
econômicas, assim como era exigido um desempenho econômico ao setor agrícola
após o movimento de 1930 no contexto das relações políticas e, na sua relação com
a conjuntura internacional .
A preocupação das elites com a educação rural se deu quando a migração
para as zonas urbanas passou a ser vista como uma ameaça à harmonia e à ordem
das grandes cidades, conseqüentemente, levando a uma baixa produtividade no
campo, no início da década de 1920.
Diante do contexto, era necessário conter a migração, com a justificativa de
que a educação rural seria o mecanismo mais eficaz, para que isso acontecesse.
Houve, então, a união dos grupos de interesses opostos na mesma campanha: o
agrário e o industrial.
Quando a população agrícola passou a deixar o campo em busca da
metrópole, surgiu o “Ruralismo Pedagógico”, movimento que buscava fixar o homem
no campo. Era necessário pensar uma escola que valorizasse o homem do campo.
Assim sendo, a escola de educação rural deveria ter características regionalistas
que fizessem com que o agricultor se sentisse mais valorizado e, por conseguinte,
produzisse mais, servindo aos interesses do capital que exigia uma maior produção
agrícola.
Pensava-se num determinado tipo de escola que atendesse as orientações
do ”ruralismo pedagógico”. Propunha-se uma escola integrada às
condições locais, regionalistas, cujo objetivo escola-novista reforçava essa
posição “da escola colada á realidade”, baseada no princípio da
“adequação” e assim colocava-se ao lado das forças conservadoras. Isto
porque a “fixação do homem ao campo”, a “exaltação da natureza agrária
do brasileiro” faziam parte do mesmo quadro discursivo com que a
oligarquia rural defendia seus interesses. Por outro lado o grupo industrial,
também ameaçado pelo “inchaço” das cidades e pela impossibilidade de
absorver a mão de obra, engrossava a corrente dos ruralistas
6
(MAIA 1982,
apud:FONSECA,1985 P.55).
O Movimento ruralista foi quem primeiro colocou em discussão os problemas
mais prementes da escola rural, e, ao mesmo tempo, fixou uma postura política
conservadora que estava presente em todos os movimentos oficiais de educação
rural daí por diante. Como afirma Fonseca (1985, p.56), “para as elites era
fundamental a manutenção do “status quo” (principalmente da estrutura agrária),
desde que também não faltassem braços para a lavoura e nem reduzisse a
produtividade dos campos”
A instrução popular deveria ser de tal conteúdo que aperfeiçoasse o povo
sem deixar de ser trabalhador, sem criar nele a veleidade de querer sair de
sua classe, de não aceitar disciplinadamente sua função no sistema de
produção (ARROYO, 1981, .apud: Fonseca,1985,P.56)
O movimento ruralista foi muito mais do que um simples repensar da
educação rural no Brasil. E, embora houvesse educadores e políticos envolvidos,
prevaleceu a ideologia dominante, que menosprezava o agricultor, a representação
de uma ideologia política-econômica que se instaurou naquela época , efetivando
um estigma que permaneceria até a atualidade
Até a década de 1940, a perspectiva “ruralista” com relação à educação rural
permaneceu inalterada. No mesmo período, outras propostas passaram a ser
implementadas com a mesma postura conservadora, mudando apenas seus
promotores, pois, o Governo Brasileiro passa a receber ajuda do governo americano
6
O movimento ruralista que envolve políticos e educadores é muito mais que uma tomada de
consciência sobre os problemas da educação rural.. O que realmente o define é a sua face político-
ideológico que permanece oculta pela questão educacional. Comprometido com a manutenção do
“status quo” contribui para uma percepção viesada da contradição cidade-campo como algo “natural”,
concorrendo conseqüentemente para sua perpetuação”.(Ibid,p.5-11).
e da Organização das Nações Unidas- ONU. Ocorrem mudanças também nas
direções e estratégias de ação, passando a atingir não só a escola rural, como o
homem do campo adulto, por meio de campanhas comunitárias.
A partir daí, várias medidas foram tomadas em 1945. Outro fator importante
do período foi a criação da “Comissão Brasileiro-Americana de Educação das
Populações Rurais”-CBAR, com o apoio da UNESCO, estabelecendo as condições
para a Campanha Nacional de Educação Rural, tendo como idéia básica que o
atraso das zonas rurais era causado pela escassa preparação do homem do campo.
Surgiu então, a necessidade de se preparar melhor este homem por meio do
aperfeiçoamento de métodos e técnicas de uma prática pedagógica não-escolar, ou
seja, a educação comunitária.
Houve um intenso trabalho para a implantação de programas voltados ao
homem do campo, paralelos, é claro, à educação formal rural. Surgiu então, o
trabalho de “Extensão Rural” que teve o seu início com a Associação de Crédito e
Assistência Rural-ACAR. Com a ajuda externa, sob a aquiescência do governo e
das elites, estava aberto o cominho para a implantação do modelo americano de
Extensão Rural no setor Agrário brasileiro.
O movimento extensionista surgiu no Brasil como uma reação ao malogro
da educação rural, tendo sido definido pelos seus idealizadores como um
processo de educação extra-escolar. Seu ponto de partida é a noção de
comunidade rural, vista como uma organização social homogênea e não
estratificada, sem conflitos internos de interesses. Sob este rótulo são
agrupados os grandes fazendeiros, os minifundistas e os trabalhadores
agrícolas, incluídos todos no chamado público de Assistência Técnica.
Para esse público são elaborados programas que visam a melhoria do seu
padrão de vida, de saúde e de educação. Este objetivo deve ser atingido
através da elevação do nível de vida da comunidade rural, mediante o
aumento da produção e da produtividade agropecuária. (QUEDA, 1976,.
apud:FONSECA,1985,P.58)
O objetivo da Extensão Rural foi o combate às deficiências encontradas no
campo, como as doenças, a subnutrição e o empobrecimento do homem rural
devido a fatores sociais como ignorância e desassistência agrícola, o que, na
verdade, funcionava como uma educação informal.
A experiência extensionista brasileira é preciso ser entendida como uma
experiência singular em termos da formação social aqui preconizada, e como algo
necessário e imprescindível aos interesses das camadas populares rurais. É um
projeto educativo para o meio rural, introduzido pelas classes hegemônicas
nacionais e internacionais, visando adequar os produtores técnicos e
ideologicamente aos novos rumos do desenvolvimento da sociedade industrial,
condicionada às exigências capitalistas, para atender as demandas das grandes
indústrias do país. Assim,
Neste quadro que registrou uma nova fase do desenvolvimento brasileiro,
girava o eixo central da economia. O capital hegemônico passava a ser o
capital industrial para que a modernização do sistema econômico se
fizesse sem entraves e desvios em termos do processo de produção
capitalista. Isso requereria do setor agrícola o exercício de um novo papel
perante a economia como um todo . Além de continuar como geradora de
divisas pelo fornecimento dos produtos alimentícios de exportação, a
agricultura deveria suprir ainda as necessidades das classes urbanas e
trabalhadoras sem contudo onerar o capital industrial com altos custos,
seja na alimentação dos operários, seja no preço da matéria-prima para a
indústria. (FONSECA,1985. p. 61)
A extensão rural como projeto educativo extra-escolar, foi um importante
instrumento do grupo social dominante para o exercício de sua hegemonia, isto é,
para desempenhar funções de direção econômica, política e cultural sobre os
demais grupos sociais. Portanto, a extensão apresentou uma concepção própria da
realidade, definida como a serviço da classe dominante. Mediante vários
mecanismos, a extensão visava ajustar os produtores à ordem econômica e social
vigente, ocultando as contradições sociais e mantendo coesa toda a sociedade em
torno de seus propósitos.
Foi então implementada no Brasil uma política de desenvolvimento
comunitário, que buscava a modernização do campo via mudança tecnológica. A
conjuntura nacional neste período caracterizava-se pelo considerável crescimento
industrial e pelo grande crescimento da população urbana, devido ao intenso êxodo
rural.
Estes fatores reforçavam a “necessidade de modernizar o setor agropecuário”
para fornecer maior quantidade de matéria-prima para processamento industrial e
abastecer com alimentos a crescente mão de obra urbana. Por outro lado, o meio
rural era visto como um potencial mercado consumidor de produtos agrícolas.
A experiência paulista ensejou as bases para que a Associação Internacional
Americana - AIA, entidade privada do grupo Rockfeller, passasse a cooperar
permanentemente na criação do serviço de Extensão Rural no Brasil.
De acordo com Fonseca (1985 p. 64)
A missão Rockfeller no Brasil precisa ser entendida não somente como
mais uma das investidas do expansionismo americano sobre os países
sub-desenvolvidos, mas também pela firme disposição das elites brasileiras
de responderem às demandas imediatas da economia, ou seja, de
continuarem como detentoras dos lucros de uma acumulação que é gerada
pela natureza das relações que se estabelecem entre as classes que
compõem a sociedade como um todo.
Foi escolhido o Estado de Minas Gerais para o lançamento da idéia por já ter
sido, de forma pioneira, iniciada pela Universidade Rural de Viçosa daquele Estado
a qual constituía, à época, um centro de apoio importante à extensão futura do
serviço.
Dessa forma, foi criada a ACAR-MG (Associação de Crédito e Assistência
Rural), em 6 de dezembro de 1948, através de convênio entre a Associação
Internacional Americana- AIA e o Governo do Estado de Minas Gerais , como
entidade civil, sem fins lucrativos. Características estas que foram estendidas às
demais entidades componentes do Sistema de extensão.
A ACAR seguiu os moldes da “Farm Security Adminstration”, criada pelo
Presidente Roosevelt para auxiliar os agricultores nos Estados Unidos a se
refazerem dos efeitos da crise de 1930. O Sr. Rockefeller, antigo
Coordenador dos Assuntos Interamericanos e Sub-secretário de Estado,
acreditava que um programa semelhante de assistência técnica e crédito
rural supervisionado aos pequenos agricultores, poderia ser adaptado às
condições existentes em Minas Gerais, para aumentar a produção e elevar
o nível de vida no meio rural. Ao mesmo tempo, a AIA providenciou a vinda
de vários de seus especialistas, que já haviam pertencido aos quadros do
“Extension Service” e da “Farm Security Administration”, os quais passaram
a treinar os técnicos brasileiros para a daptação às condições locais dos
métodos utilizados nos Estados Unidos.(ACAR, relatório de Atividades
1950/51. apud: FONSECA,1985,p.77-78)
A ACAR tinha por princípio a tese de que com crédito e assistência técnica
através de processo educativo, era possível elevar o nível de vida das famílias rurais
mineiras.
A ACAR difundia práticas de agricultura, pecuária e economia doméstica
entre agricultores adultos, senhoras donas de casa, moças e a juventude rural
através dos Clubes 4-S
7
.
Vamos passar a analisar neste momento as condições históricas que
viabilizaram a implantação do modelo extensionista, primeiramente no Estado de
Minas Gerais.
7
Sistema de trabalho da extensão com jovens, diferente de grupos de jovens, eram organizados,
estruturados, oficializados. Maiores informações ver: Cap. A Atuação da EMATER-GO.
Em 1946, a economia mineira passava por uma situação crítica, havia grande
indefinição de recursos, fatores que causavam freqüente emigração do Estado, o
que refletiam as dificuldades da economia mineira.
As dificuldades econômicas acabaram agravando a vida dos agricultores e
suas famílias, o que causou o grande êxodo rural que estava comprometendo de
forma significativa a produtividade agrícola mineira. A decisão sobre que medidas
efetivas deveriam ser tomadas, demonstra um raciocínio que levava em conta um
maior realismo quanto à compreensão dos problemas sociais rurais.
É evidente que, embora a compreensão do problema fosse real do ponto
de vista econômico, a solução apresentada se mostra dentro dos ideais da
nova ordem política, sendo pois legitimadora de sua ótica liberal-
democratizante. Em nenhum momento o êxodo rural foi tratado fora dos
limites da interpretação das elites, pois tratar tal problema do ponto de vista
dos interesses da população rural (acesso á terra, condições satisfatórias
de trabalho, comercialização adequada da produção) significava, naquele
momento, rever a estrutura secular do sistema agrário brasileiro. Isto
necessariamente, implicava questionar a nova estrutura de poder que
estava se firmando, exatamente por emitir soluções que visavam antes de
tudo a um encontro consensual e harmônico entre as forças antagônicas
da sociedade, isto é, dissimular na fórmula liberal-democratizante o caráter
excludente do sistema político.(FONSECA, 1985, p.75).
Além dessa interpretação dos problemas rurais brasileiros, existia uma
situação conjuntural concreta, e, a partir de 1930, com a opção pela industrialização,
passou-se a exigir do setor agrícola uma maior diversificação e produção de
alimentos para o abastecimento do mercado interno. Minas Gerais era exatamente
um Estado bastante significativo deste “momento brasileiro”. O fato de possuir
abundância em recursos naturais, uma burguesia atuante com forte poder de
negociação, uma firme disposição de colocar seu estado em destaque no cenário
nacional e um governo disposto a superar os problemas antigos da economia era
motivo suficiente para colocar o Estado de Minas Gerais numa posição de fronteira
ante a expansão do capitalismo brasileiro.
De acordo com Fonseca (1985), segundo historiadores da extensão, nessa
época a ACAR funcionava como entidade creditícia, isto é, tinha por objetivo
principal fazer empréstimos aos agricultores e não educar o agricultor, palavra até
então desconhecida. Isto é, a prática extensionista brasileira ainda estava presa ao
modelo clássico e ao crédito.O modelo difusionista-inovador
8
ainda não era uma
orientação presente nesta prática.
Numa primeira avaliação da ACAR-MG feita em 1952, percebeu-se que os
serviços de extensão não obtiveram os resultados satisfatórios como se esperava. A
ACAR-MG não podia continuar trabalhando como vinha fazendo, sendo necessária
uma mudança urgente e radical em todo o sistema de trabalho. Diante disso, foi feito
um novo planejamento, mas com a nova idéia de educar o agricultor e sua família e
utilizar o crédito como ferramenta de educação, para que o agricultor pudesse
realizar com mais facilidade as técnicas recomendadas pelos extensionistas. Então,
a partir de 1952 o serviço de extensão do Brasil passou a fazer extensão com o
objetivo de educar.
A extensão era definida então como um empreendimento educativo, o
trabalho extensionista se propondo como diferenciado ou até mesmo incompatível
com o caráter centralizador e curricular do ensino escolar.
Tanto o discurso como os produtos introduzidos no meio rural permitem
identificar o papel da extensão no meio rural, isto é, como um instrumento
capacitado para garantir que o homem rural entrasse no ritmo e na
dinâmica da sociedade de mercado, ou melhor, que ele deixasse de ser
parado e retraído e passasse a produzir mais, com melhor qualidade e em
menor tempo, para com isso obter algum rendimento que lhe permitisse
consumir adubos, vacinas, equipamentos para continuar produzindo e
conseqüentemente consumindo. (FONSECA,1985,p.96)
Em 1956, a experiência mineira já estava consolidada e havia se espalhado
por vários outros Estados brasileiros. Surgiram, assim, a Associação Nordestina de
Crédito e Assistência Rural - ANCAR, para os estados nordestinos; e a Associação
Sulina de Crédito e Assistência Rural - ASCAR, para os Estados do sul. Este fato
exigiu a criação de um órgão coordenador no âmbito nacional .
Em 1956, o Governo Brasileiro criou a ABCAR - Associação Brasileira de
Crédito e Assistência Rural, para coordenar as Unidades Estatais de Extensão Rural
em todo o país. A terminologia “Associação de Crédito e Assistência Rural”, está
consubstanciada aos primeiros programas de Extensão porque foram implantados
8
De acordo com a teoria difusionista, difusão e alocação de idéias novas significa “transferência de
certos traços de cultura de uma das áreas civilizadas a outra não-civilizada. Distingue-se geralmente,
a difusão por migração da população e por contato da população. O fato cultural que surge pode ser
material (uma técnica, um instrumento) ou moral( uma instituição, um costume,etc).(PAISANT ,André:
In FONSECA,1985,p.44)
vinculados ao crédito rural supervisionado, dada a sua importância no financiamento
e melhoria da renda do produtor rural.
Com a criação da ABCAR, todas as Associações de Crédito e Assistência
Rural dos Estados (serviços estaduais de extensão) a ela se filiaram e passaram a
fazer parte do órgão máximo de direção da ABCAR, que era sua Junta Governativa.
A finalidade principal da ABCAR era coordenar a Extensão Rural no Brasil,
preservando sua filosofia, princípios, normas e metodologia de ação,
acompanhando o desempenho das filiadas, realizando avaliações de
resultados e buscando novos caminhos para aumentar a eficácia dos
serviços. A ABCAR era, ainda, responsável pela obtenção e distribuição
dos recursos financeiros de origem federal , internacional e de outras
fontes. Promovia o intercâmbio de conhecimentos entre os técnicos das
filiadas e do exterior [...]. A ABCAR procurou expandir a Extensão Rural
nos Estados, estimulando a assinatura de convênios com os governos que
ainda não dispunham de tais serviços[...]” “Esse foi o melhor período da
Extensão no Brasil, em termos de expansão e qualidade dos serviços
prestados. É um fato histórico que precisa ser avaliado, sem
tendenciosidade, para obter-se algumas lições úteis sobre a condução de
serviços financiados pelo poder público. (OLINGER, 1996, p. 59-61).
No final da década de 1960 e início da década de 1970, O Sistema Brasileiro
de Extensão Rural contava com a ABCAR e mais 21 Associações de Crédito e
Assistência Rural, 1025 escritórios locais e 138 regionais, atuando em regime de
cooperação com o governo federal.
A ABCAR (1960) definiu seu Plano diretor 1961-1965, a extensão Rural
como um processo de educação informal, destinado a agricultores, donas-
de-casa, jovens rurais e demais interessados no melhoramento da
agricultura e do lar em melhores condições de vida para as populações
rurais[...]. Conforme o Plano Diretor para o SIBER, seria o desenvolvimento
do meio rural, através da valorização do homem, contribuindo, desta forma,
para o desenvolvimento do país. (RIBEIRO, 1985, p. 15).
Neste contexto, o trabalho extensionista passou institucionalmente por
mudanças, perdeu um pouco do seu aspecto aleatório e improvisado, “informal”,
dando lugar à ação planejada baseada em critérios racionais e neutros como
anunciava a moderna técnica de planejamento.
O trabalho educativo passou a constituir a tentativa de mudar o
comportamento das famílias rurais quanto à utilização de inadequadas práticas
agrícolas e de ausência de planejamento de trabalho, para que estas se libertassem
e pudessem viver “independentes de ajudas governamentais”.
No dia 03 de março de 1959, sob os auspícios da ABCAR e do Governo do
Estado de Goiás, nasce a ACAR-Goiás - Associação de Crédito e Assistência Rural
do Estado de Goiás. Lançou-se então em solo goiano a semente da Extensão Rural.
A década de 1965 a 1974 foi bastante fértil para a ACAR-GO no Estado, pois,
neste período, o número de escritórios locais elevou-se de 13 para 81 e de
escritórios regionais de 02 para 12. A sua força de trabalho no campo elevou-se de
36 para 279 extensionistas até o final do decênio 1965/75.
Para essa grande expansão, a ACAR-GO necessitava de apoio estrutural o
que se concretizou com a construção do Edifício Extensão Rural, iniciada em 1966 e
concluído em 1970; e, ainda, com a aquisição da área onde hoje está em
funcionamento o Centro de Treinamento (Campus II), com a transferência dos
cursos de pré-serviço e de capacitação de pessoal de Viçosa-MG para Goiás, bem
como com a formação de pessoal especializado. Tais medidas foram
complementadas com a instalação das primeiras unidades de extensão no Norte
Goiano consolidando, definitivamente, a ACAR-GO no Estado.
Até a década de 1970, a pesquisa agropecuária pública federal era realizada
através dos institutos de pesquisa agropecuária, vinculado ao Ministério da
Agricultura. Na área dos Estados, destacava-se o Instituto Agronômico de Campinas
como uma das melhores instituições de pesquisa do continente sul-americano. Mas,
“Declarações de investigadores ligados ao Ministério da Agricultura, afirmavam que
havia muito resultado de pesquisa engavetado nos Institutos e os serviços de
Extensão não os difundia para os
agricultores”.(OLINGER,1996.p.87)
Este fato, somado a outros, resultou na criação da Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuária-EMBRAPA, através da Lei nº 5.851, de 7 de dezembro de
1972, vinculada ao Ministério da Agricultura, com personalidade jurídica de direito
privado. A EMBRAPA deveria dar ênfase à pesquisa aplicada, delegando às
universidades parte da pesquisa básica. Com a EMBRAPA extinguiam-se os
institutos de pesquisa agropecuária do Departamento Nacional de Pesquisas
Agropecuárias- DNPE.
A EMBRAPA seria “o órgão executivo central do governo para promover e
executar as tarefas de pesquisa no País”, de forma integrada com os Estados,
Instituições privadas e universidades, propiciando apoio técnico e financeiro “
(OLINGER, 1996. p. 88). Assim,
Criada a EMBRAPA teve início a movimentação em Minas Gerais para
criação de uma empresa de extensão rural semelhante à de pesquisa. O
argumento que circulava era assegurar recursos financeiros ao sistema de
extensão rural, problema que estava começando a tornar-se insolúvel ante
o crescimento quantitativo, sem a necessária qualidade, do quadro do
pessoal dos serviços estaduais[...]. A ABCAR vinha sofrendo retaliações do
Ministério da Agricultura, a ponto de remeter os recursos financeiros para
os Estados via sua Delegações Estaduais (OLINGER, 1996, p. 93)
A ABCAR foi extinta e, em 14 de fevereiro de 1975, foi criada a Empresa
Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural – EMBRATER.
A partir daí, e para manter coerência com o princípio de descentralização das
estruturas administrativas no âmbito dos estados e dos territórios, foram criadas as
Empresas de Assistência técnica e Extensão nos Estado (EMATER) E Associações
de Assistência Técnica e Extensão Rural, nos territórios (ASTER). O Sistema
Brasileiro de Extensão Rural (SIBER) passou a constituir o Sistema Brasileiro de
Assistência Técnica e Extensão Rural (SIBRATER). Desse modo,
As empresas estaduais que viessem a ser constituídas deveriam “absorver
o acervo físico, técnico e administrativo e os encargos trabalhistas do órgão
integrante do sistema Brasileiro de Extensão Rural da respectiva Unidade
da Federação, salvo deliberação em contrário da Associação de Crédito e
Assistência Rural Interessada. Com essa medida estava determinado a
criação das EMATERs, nos estados, com a extinção das associações civis,
sem fins lucrativos (Sistemas ACAR, ANCAR e ASCAR). (OLINGER, 1996,
p. 94)
As EMATER deveriam substituir as Associações de Crédito e Assistência
Rural (ACAR, ASCAR, ANCAR) que eram associações civis, sem fins lucrativos, de
direito jurídico privado, ao passo que as EMATER eram empresas públicas
estaduais, com personalidade jurídica de direito privado, a exemplo da EMBRATER.
Assim, cabia aos Estados a adequação à Lei 6.126 em 1975. Por determinação do
Governador Irapuan Costa Júnior, iniciaram-se os preparativos para a transformação
da ACAR-Goiás em EMATER-Goiás - Empresa de Assistência Técnica e Extensão
Rural do Estado de Goiás.
A Lei 7.969, de 15 de outubro de 1975, consolida esses estudos e, em
reunião, no dia 25 de fevereiro de 1976, a junta Governativa da ACAR-GO aprova a
incorporação da Associação de Crédito e Assistência Rural do Estado de Goiás pela
EMATER-Goiás e, assim, nasce o novo sistema, coordenado, agora, pela
EMBRATER.
A função da EMBRATER, como entidade Coordenadora do Sistema
Nacional, seria no sentido de garantir a atuação, junto ao produtor, dos
Serviços de Assistência Técnica e Extensão Rural, a nível das Unidades
Federadas, prestadas pelas instituições vinculadas ao
SIBRATER.Recentemente, as empresas privadas de assistência técnica,
mediante decreto presidencial, saíram da responsabilidade de coordenação
da EMBRATER, restringindo a ação da Empresa à esfera dos órgãos
estaduais/territoriais de Assistência Técnica e Extensão Rural[...]“.”Outra
função da EMBRATER é buscar a cooperação intersetorial junto às
instituições de apoio ao meio rural, em consonância com as diretrizes
setoriais do Ministério da Agricultura, respeitadas as formas de atuação dos
órgãos de desenvolvimento regional e as diretrizes específicas das
instituições de apoio ao meio rural na região, no campo de estímulo à
produção e do Bem-estar social das famílias dos produtores.(RIBEIRO,
1985, p.25)
Em primeiro de Janeiro de 1977, a EMATER-Goiás absorve todo o acervo de
recursos humanos e materiais da ACAR-Goiás, bem como a responsabilidade pela
execução do serviço de extensão rural no Estado. O caráter, até então privado, de
extensão é substituído pelo de empresa pública.
Um fator importante para a decadência dos serviços de extensão no país,
com relação à extinção da ABCAR e da ACAR é que as mesmas eram consideradas
como organizações sem fins lucrativos, filantrópicas e, nessa condição, isentas do
pagamento de obrigações sociais, impostos e taxas, tais como INSS (Previdência
social), I.R. (Imposto de Renda), IPVA (Imposto sobre veículos automotores), ICMS
(Imposto sobre Circulação de Mercadorias), etc.
As isenções citadas representavam uma economia para a ABCAR e
Associadas que girava em torno de 25% sobre o montante das folhas de
pagamento de pessoal, ou seja, uma quantia mais que suficiente para
cobrir todas as despesas de capital e custeio dos serviços de extensão do
ex-sistema brasileiro composto pela ABCAR e Associações
Estaduais[...]”.“A EMBRATER e suas associadas estaduais perderam a
prerrogativa de isenções fiscais que eram concedidas à ABCAR e às suas
associadas. A perda orçamentária significava cerca de 10 milhões de
dólares por mês. (OLINGER, 1996, p. 125-126)
Dentre outros fatores, o não ajustamento aos novos tempos, questões político
administrativas, metodológicas, técnicas, políticas, relacionamentos, salários,
motivação, contribuíram para a decadência dos serviços de extensão no país. Um
outro fator importante a ser destacado é que neste período acabou o crédito
subsidiado enfraquecendo assim os serviços de extensão que dependia dos
mesmos . Assim,
Novos tempos exigindo mudanças nos Serviços de Extensão ante o
surgimento de novas técnicas de trabalho, processamento e
comercialização das safras[...].Excessivo números de funcionários, falta de
acompanhamento, excessiva mobilidade dos agentes locais de extensão,
mobilidade determinada pelo próprio serviço de extensão,excesso de
burocracia exigida, deficiência na disponibilidade dos meios de trabalho,
tendências dos agentes de permanecerem nos escritórios urbanos,Evasão
de técnicos mais qualificados para outras instituições,falta de recursos
financeiros[...].Tendência ao uso de métodos de extensão mais cômodos,
mais simples, rejeitando os mais eficazes, falta de definição clara de
prioridades, abrangendo muita coisa e realizando pouco de cada coisa,
falta de metodologias aplicáveis às práticas no campo[...]. Existência de
professores de disciplinas de extensão que nunca foram agentes do
campo,falta de informações úteis aos pequenos agricultores, falta de
articulação entre o ensino de ciências agrárias com os serviços de
extensão[...]. Ingerência político-partidária, baixos salários, falta de
marketing[...].(OLINGER;1996, p.120-152)
Diante desse quadro, apoiado em inúmeros problemas, em 1990, o Governo
do Presidente Fernando Collor, no seu Programa de reformas com supressão de
instituições públicas, enviado ao Congresso Nacional, propõe a extinção da
EMBRATER.
A prova que a EMBRATER estava realmente enfraquecida e que o próprio
Sistema Brasileiro de Assistência Técnica e Extensão Rural já não possuía
a força e o ânimo necessários para reverter o quadro , foi a aprovação da
proposta presidencial, pelo poder legislativo, sendo a EMBRATER extinta e
seus funcionários demitidos.(OLINGER, 1996, p. 167)
A responsabilidade pela coordenação da extensão rural, que era da
EMBRATER passava então, para a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária –
EMBRAPA. Essa experiência não deu certo pois,
Iniciativas para que fosse criada uma diretoria de extensão na EMBRAPA
foram firmemente rechaçadas pela mesma. Em verdade, o grupo assessor,
composto por extensionistas, era pouco prestigiado pelos pesquisadores e,
sem recursos financeiros para remeter à EMATER, pouca influência
exerceria nos Estados.(OLINGER, 1996,p.171)
Com a extinção da EMBRATER, os dirigentes das EMATERs estaduais
conseguiram junto ao governo federal a criação da Associação Brasileira das
Empresas de Extensão Rural - ASBRAER em 1990. E, com os esforços da
ASBRAER, e EMATER, foi criada pelo decreto nº 1.261 de 4 de outubro de 1994 o
DATER- Departamento de Assistência Técnica e Extensão Rural, junto à Secretaria
Nacional de Desenvolvimento Rural do Ministério da Agricultura.
Nas análises de Olinger (1996), o departamento já nasceu fraco,
principalmente quanto aos recursos financeiros e materiais disponíveis para ajudar a
manter os serviços de extensão existentes no país, que na sua maioria, se
encontrava sob forte crise financeira. Desse modo,
A avaliação histórica da extensão rural no Brasil leva a crer que o período
em que a extensão rural produziu os melhores resultados para os
produtores rurais e para a agricultura brasileira foi aquele em que o sistema
era composto por associações civis, sem fins lucrativos, de direito jurídico
privado (Associações de Crédito e Assistência Rural-tipo ACAR), instituídas
nos Estados e Territórios e coordenadas por uma Associação nacional, a
ABCAR (Associação Brasileira de Crédito e Assistência Rural), formando o
Sistema Brasileiro de Extensão Rural, que tinha como órgão máximo uma
Junta Governativa (OLINGER,1996,p. 173).
Diante das considerações acima, destacou-se a importância do papel
educativo da extensão rural, sendo, importante uma análise, neste momento, do
papel educativo dos serviços de extensão rural e assistência técnica, iniciando com
a diferença dos pólos da dimensão qualitativa da ação extensionista, a Assistência
Técnica e a Extensão Rural. Assim,
A assistências técnica, deve ser entendida como um tipo de
assessoramento prestado ao produtor, visando à solução de problemas
relacionados com as atividades inerentes à produção agropecuária e a
gestão da empresa rural[...]”. (RIBEIRO, 1984, p.7)
Extensão Rural é um processo de educação e capacitação de caráter
permanente, que se caracteriza pela interação e comunicação recíproca e
constante dos técnicos com os produtores, suas famílias e suas
organizações. O objetivo desse processo é obter, por meios participativos:
a compreensão da problemática agropecuária, tanto a nível da unidade de
produção de forma individualizada, como das comunidades e regiões
agrícolas onde agricultores estão localizados; a seleção das melhores
soluções para estes problemas, com ênfase na utilização dos recursos
existentes no próprio meio; a realização dos programas de capacitação que
surjam dessas análises e a avaliação permanente do processo
(RIBEIRO,1985, p. 21-22).
Tomando como base o objetivo maior de um país, que é promover o seu
desenvolvimento global por meio da tecnologia para adequar o meio e a interação
entre grupos, pessoas e instituições, percebe-se que esse desenvolvimento está
associado ao desenvolvimento de vários setores. Nestes se insere a agricultura,
que necessita aumentar sua produção, por meio da ampliação da fronteira, e
incrementar sua produtividade, por meio da mão-de-obra, terra e outras formas de
capital, que compõem os custos de produção das culturas e criações. Desse modo,
O crescimento da produção agropecuária pelo alargamento de sua
fronteira, implica na incorporação de novas áreas do processo produtivo,
áreas essas que aos poucos vão se tornando escassas[...].Já o
crescimento da produção agropecuária, pela utilização de recursos
econômicos em áreas tradicionais, tem como condição básica algum grau
de inovação tecnológica, para que sejam elevados os índices de
produtividade dos fatores de produção utilizados na agricultura”.“A geração
de tecnologia é primordialmente de responsabilidade das instituições de
pesquisa [...], a pesquisa para obter resultados, utiliza-se de pessoal
habilitado e capacitado, que lança mão de métodos científicos para sua
implementação. (RIBEIRO, 1983, P.6)
Para que os produtores rurais tenham acesso a essas tecnologias de
incremento a sua produção, será necessário primeiramente um processo educativo,
para sucessivamente haver a transferência de tecnologia.
Esse deve ser o papel da extensão rural para o desenvolvimento da
agricultura, que necessita de pessoal habilitado e capacitado para adotar posturas
diferentes em situações diferentes, dentro de um processo de extensão global,
característica central do processo de extensão rural.
Para que a extensão rural atinja os seus objetivos é necessário uma avaliação
do processo cultural, que deve ser levado em consideração nas tomadas de decisão
pelo produtor rural, ao aceitar ou não as informações, pois, o mesmo, ao ser
exposto a uma informação, engaja-se num processo que pode estar condicionado
a fatores de rejeição.
A Extensão Rural necessita diante desse quadro exercer um papel instrutivo,
interativo e participativo. Assim,
O papel instrutivo exercido junto aos produtores, na área do SABER. Na
fase de decisões, fornecendo-lhes informações que permitam a tomada de
decisões gerenciais (difusão de tecnologia gerencial) e na fase de
execução, ensinando-os como fazer (difusão de tecnologia agropecuária)”.
Papel Interativo junto aos produtores rurais na área do QUERER, quando
há necessidade de motivação, visando a minimizar a relutância. Aqui, a
mudança do produtor está altamente condicionada à habilidade do
extensionista em motivar. Junto às instituições, na área do PODER[...] a
extensão deve atuar junto aos fatores que impedem o desenvolvimento
rural, procurando organizar os meios necessários a esse desenvolvimento
[...]. Papel participativo, junto ás instituições de pesquisa, tanto para a
captação de resultados que devem ser disseminados aos produtores rurais,
como para levar às mesmas os problemas que impedem o aumento da
produção e da produtividade agropecuária, visando a obtenção de soluções
que possa, ser levadas aos referidos produtores. Junto aos organismos
responsáveis pelo estabelecimento de políticas agropecuárias
[...].(RIBEIRO, 1983, p.11).
É preciso que as informações e as técnicas cheguem aos produtores rurais e
não sejam somente geradas mas difundidas, assim como uma política agrícola
global, que atenda a todos os fatores necessários ao desenvolvimento da
agricultura. Para que isso aconteça é necessário buscar a continuidade das políticas
econômicas, o que , raramente acontece.
No processo educacional, a Extensão rural deve levar sempre em
consideração os valores e as tradições dos grupos envolvidos, respeitando a cultura
dos agricultores, que não são simples receptores passivos ou instrumentos da
Extensão rural, e sim, pessoas ativas, críticas e reivindicatórias. É preciso analisar o
agricultor como cidadão e como profissional da agricultura, respeitando o seu saber
e confrontando-o com o saber dos técnicos. Desse modo,
Na ação extensionista, supõe-se que a percepção e a interpretação dos
técnicos tenham como base o saber acadêmico, e dos produtores, um
conhecimento adquirido através da experiência e da socialização: O saber
popular. São dois saberes distintos, mas não essencialmente opostos. O
saber técnico ao confrontar-se com o saber popular, não objetivará dominá-
lo ou a ele se impor. Só assim ambos os sujeitos do processo educativo
terão oportunidade de crescer, de desenvolver-se como seres humanos e
como membros de sua comunidade e da sociedade
global.(SILVA,1987,p.16).
Deve ser um processo de troca entre o que educa e aquele que é educado,
pelo qual, ambos aprendem, conhecem um ao outro e crescem. Para que isso
aconteça, é preciso respeitar a cultura e os valores daqueles que são educados.
Na verdade, porém, bastaria que reconhecêssemos o homem como um
ser de permanentes relações com o mundo, que ele transforma através de
seu trabalho, para que o percebêssemos como um ser que conhece, ainda
que este conhecimento se dê em níveis diferentes; da “doxa”, da magia e
do “logos”, que é o verdadeiro saber. Apesar de tudo isso, porém, e talvez
por isso mesmo, não há absolutização da ignorância nem absolutização do
saber. Ninguém sabe tudo, assim como ninguém ignora tudo. O saber
começa com a consciência do saber pouco(enquanto alguém atua). É
sabendo que sabe pouco que uma pessoa se prepara para saber mais. Se
tivéssemos um saber absoluto, já poderíamos continuar sabendo, pois que
este seria um saber que não estaria sendo. Quem tudo soubesse já não
poderia saber, pois não indagaria: O homem, como um ser histórico,
inserido num permanente movimento de procura, faz e refaz
constantemente o seu saber. E é por isso que todo saber novo se gera
num saber que passou a ser velho, o qual, anteriormente, gerando-se num
outro saber que também se tornara velho, se havia instalado como saber
novo.(FREIRE, 1997.p.47).
Diante do exposto, é indiscutível que o meio rural necessita de um trabalho de
comunicação, no sentido de comunhão de idéias, como analisa Freire (1997), no
qual o extensionista, respeitando e valorizando a cultura do trabalhador rural, junto
com ele, no seu grupo, problematiza a situação, buscando sempre soluções
alternativas aos problemas evidenciados, soluções que podem ser técnicas,
políticas, econômicas, sociais ou culturais. Assim,
[...] O trabalho do agrônomo educador não pode limitar-se, apenas, à
esfera da substituição dos procedimentos empíricos dos camponeses, por
suas técnicas. Duas razões básicas nos levam a esta afirmação: Uma,
porque é impossível a mudança do procedimento técnico sem repercussão
em outras dimensões da existência dos homens; outra, pela inviabilidade
de uma educação neutra, qualquer que seja seu campo[...]. “Rejeitar, em
qualquer nível, a problematização dialógica é insistir num injustificável
pessimismo em relação aos homens e à vida. É cair na prática depositante
de um falso saber que, anestesiando o espírito crítico, serve à
“domesticação” dos homens e instrumentaliza a invasão cultural”.(FREIRE,
1997, p.55).
Para que a Extensão Rural possa exercer os papéis que lhe cabem no
desenvolvimento rural, sua atuação não deve estar simplesmente voltada à difusão
de tecnologia agropecuária e gerencial, mas exercer ações mais amplas como
agente de mudança às necessidades de ajustamentos contínuos e constantes na
economia rural.
Conhecer não é o ato através do qual o sujeito transformado em objeto,
recebe dócil e passivamente os conteúdos que outro lhe dá ou lhe impõe.
O conhecimento pelo contrário, exige uma presença curiosa do sujeito em
face do mundo. Requer sua ação transformadora sobre a realidade,
demanda uma busca constante, implica invenção e reinvenção[...].“No
processo de aprendizagem, só aprende verdadeiramente aquele que se
apropria do aprendido, transformando-o em apreendido, com o que pode,
por isso mesmo, reinventá-lo; aquele que é capaz de aplicar o aprendido-
apreendido a situações existenciais concretas. Pelo contrário, aquele que é
”enchido” por outros conteúdos cuja inteligência não percebe, de conteúdos
que contradizem a própria forma de estar em seu mundo, sem que seja
desafiado, não aprende”. (FREIRE, 1997, P. 12).
2- PRODUÇÃO FAMILIAR E MODERNIDADE
2.1- Produção Familiar
De acordo com dados da Organização das Nações Unidas para a Agricultura
e Alimentação -FAO/ Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária -INCRA/
Ministério do Desenvolvimento Agrário -MDA (2001), a agricultura Familiar constitui
importante segmento das unidades rurais no Brasil, assim como em outros países.
Os países que hoje ostentam os melhores indicadores de desenvolvimento humano,
dos Estados Unidos ao Japão, apresentam um traço comum: a forte presença da
agricultura familiar, cuja evolução desempenhou um papel fundamental na
estruturação de economias mais dinâmicas e de sociedades mais democráticas e
eqüitativas.
A agricultura familiar desempenhou um papel estratégico que tem sido
relevado em muitas análises: o de garantir uma transição socialmente equilibrada
entre uma economia de base rural para uma economia urbana e industrial.
Segundo o Censo agropecuário 1995-96 e FAO/INCRA
9
, existem no Brasil
4.859.732 estabelecimentos rurais, ocupando uma área de 353,6 milhões de
hectares. Nesta safra o Valor Bruto da Produção (VBP) Agropecuária foi de R$ 47,8
bilhões. De acordo com a metodologia adotada, são 4.139.369 estabelecimentos
familiares, ocupando uma área de 107,8 milhões de ha, sendo responsáveis por R$
18,1 bilhões ou 37,9% do VBP total, apesar de receber apenas 25,3% dos
financiamentos agrícolas.
Desse modo, os agricultores familiares representam 85,2% do total de
estabelecimentos. Ocupam 30,5% da área total e são responsáveis por 37,9% do
valor bruto da produção agropecuária nacional. Quando considerado o valor da
renda total agropecuária (RT) de todo o Brasil, os estabelecimentos familiares
respondem por 50,9% do total de R$ 22 bilhões. A participação dos familiares na
renda total agropecuária (RT) é maior do que no VBP, o que pode ser explicado pelo
fato de esse último desprezar os gastos de produção incorridos pelos agricultores.
9
O universo familiar foi caracterizado pelos estabelecimentos que atendiam, simultaneamente, às
seguintes condições: a) a direção dos trabalhos do estabelecimento era exercida pelo produtor; b) o
trabalho familiar era superior ao trabalho contratado.(GUANZIROLI, Carlos...[et al.]. Agricultura
Familiar e Reforma Agrária no Século XXI. Rio de janeiro: Guaramond,2001.
Tabela 11: Brasil - estabelecimentos, área e valor bruto da produção e
percentual do financiamento total (ft)
CATEGORIAS
Estabel.
Total
%Estab.
Área Total
%
% Área VBP(R$ mil) %VBP %FT
Familiar
4.139.369 85,2 107.768.450 30,5 18.117.725 37,9 25,3
Patronal
554.501 11,4 240.042.122 67,9 29.139.850 61,0 73,8
Instit.
Pia/Religiosa
7.143 0,1 262.817 0,1 72.327 0,2 0,1
Entidade
Pública
158.719 3,3 5.529.574 1,6 465.608 1,0 0,8
Total
4.859.732 100,0 353.602.963 100,0 47.795.510 100,0 100,0
Fonte: Censo Agropecuário 1995/1996 – IBGE
Elaboração: Convênio FAO/INCRA
O Centro-Oeste registra o menor percentual de estabelecimentos familiares
entre as regiões brasileiras: 66,8% dos estabelecimentos da região, ocupando
12,6% da área regional.
Tabela 12: Agricultores familiares-estabelecimentos área e VBP segundo as
regiões brasileiras
CATEGORIAS
Estabel.
Total
%Estab.
Área Total
(há)
%Área
VBP
(R$ mil)
%VB
P
%FT
Nordeste
2.055.157 88,3 34.043.218 43,5 3.026.897 43,0 26,8
Centro – Oeste
162.062 66,8 13.691.311 12,6 1.122.696 16,3 12,7
Norte
380.895 85,4 21.860.960 37,5 1.352.656 58,3 38,6
Sudeste
633.620 75,3 18.744.730 29,2 4.039.483 24,4 12,6
Sul
907.635 90,5 19.428.230 43,8 8.575.993 57,1 43,3
Brasil
4139.369 85,2 107.768.450 30,5 18.117.725 37,9 25,3
Fonte: Censo Agropecuário 1995/1996 – IBGE
Elaboração: Convênio FAO/INCRA
Com relação a pessoal ocupado, a agricultura familiar é a principal fonte de
ocupação da força de trabalho no meio rural brasileiro. Dos 17,3 milhões de pessoas
ocupadas na agricultura brasileira, 13.780.201 estão empregadas na agricultura
familiar. Mesmo dispondo de apenas 30% da área, é responsável por 76,9% do
pessoal ocupado (PO). Enquanto na Região Sul a agricultura familiar ocupa 83% da
mão-de-obra utilizada na agricultura, no Centro-oeste esse percentual cai para 54%.
Os agricultores familiares são responsáveis por 16,8% (308.097) do total de
empregados permanentes do Brasil, enquanto os estabelecimentos patronais
contratam 81,7% (1.502.529) deles.
Tabela 13- Agricultores Familiares:Pessoal Ocupado segundo as diferentes
formas no Brasil
Pessoal
Ocupado
Empregados Parceiros
Região
Total
% s/
Total
Permanentes Temporários (empr.)
Outra
Condição
Nordeste
6.809.420 82,9 81.379 588.801 34.081 62.212
Centro –
Oeste
551.242 54,1 42.040 39.824 2.793 15.418
Norte
1.542.577 82,2 25.697 68.636 6.880 29.772
Sudeste
2.036.990 59,2 98.146 160.453 58.146 58.294
Sul
2.839.972 83,9 60.835 128.955 20.548 26.207
Brasil
13.780.201 76,9 308.097 986.678 122.448 191.903
Fonte: Censo Agropecuário 1995/1996 – IBGE
Elaboração: Convênio FAO/INCRA
Com base nos dados acima,
Em Suma, os dados dos dossiês estatísticos elaborados pela FAO/INCRA
revelam um quadro nacional onde a agricultura familiar, apesar de
fortemente marginalizada pelas políticas públicas, tem marcante presença,
seja quando se considera o número de estabelecimentos, o pessoal total
ocupado ou o valor da produção total. Tal situação não se verifica na região
Centro-Oeste, onde o caráter marginal do setor familiar na produção
agropecuária é o traço dominante, o que pode ser explicado pelas
características de seu processo histórico de ocupação.(CAUME,1997,p. 15)
A produção familiar na agricultura apresenta-se, contemporaneamente, com
uma diversidade de características, como: ser fortemente integrada em uma
economia de mercado do tipo competitivo, ser baseada em uma economia de
subsistência ou, muitas vezes, ser excluída do modelo de desenvolvimento
dominante. Considerando, ainda, que existe uma multiplicidade de termos que
identificam os agentes sociais nela envolvidos, ou seja : produtor, explorador
agrícola, explorador familiar, cultivador, camponês, agricultor, cultivador da terra,
chefe de empreendimento, pequeno produtor, etc.
Este trabalho pretende reconstruir a caracterização da produção familiar,
considerando que “essa heterogeneidade reflete... as diferentes faces de um mesmo
objeto e não de objetos intrinsecamente diferentes” (LAMARCHE,1993,p.13) que é
possível delimitar um quadro conceitual definidor da “Agricultura Familiar”.
Baseando-se em conceitos utilizados pelas Ciências Sociais, podemos
conceituar a produção familiar, dentro de uma perspectiva chayanoviana, como uma
produção baseada no trabalho familiar, tendo como objetivo a satisfação de suas
necessidades de consumo familiar, produzindo o desejado equilíbrio entre trabalho e
consumo.
Chayanov (1981) foi quem inicialmente procurou caracterizar a unidade de
produção camponesa, a partir do entendimento de que ela não pode ser
compreendida à luz das categorias conceituais utilizadas para interpretar o
comportamento de empresas capitalistas, na medida em que cada um desses tipos
de exploração apresentaria lógica econômica diferenciada. “A unidade de produção
camponesa, por não apresentar no seu funcionamento categorias como salário,
renda, capital e preços, possui uma estrutura econômica fundamental distinta das
empresas capitalistas e, por conseqüência, requer uma teoria econômica distinta”.
(CHAYANOV, 1981,p. 132)
De acordo com Chayanov,
Na moderna teoria da economia nacional, tornou-se costume pensar todos
os fenômenos econômicos exclusivamente em termos de economia
capitalista. Todos os demais tipos, ou seja, não capitalistas, são vistos
como insignificantes, ou em extinção, no mínimo considera-se que não tem
influência sobre as questões básicas da economia moderna e não
apresentam, portanto, interesse teórico. (CHAYANOV, 1981, p. 133).
Chayanov (1981) defende esta tese, levando em consideração a dominância
do capital financeiro e mercantil no comércio mundial e o papel que desempenha na
organização atual da economia mundial, mas ressalta que não se consegue
progredir no pensamento econômico unicamente com as categorias capitalistas,
mostrando que uma área muito vasta da vida econômica baseia-se, não na forma
capitalista, mas, numa forma inteiramente diferente, de unidade econômica familiar
não assalariada.
Para este mesmo autor, o campesinato não é simplesmente uma forma
ocasional, transitória, fadada ao desaparecimento, mas, ao contrário, mais do que
um setor social, trata-se de um sistema econômico, cuja existência é possível
encontrar nas leis de reprodução e do desenvolvimento.
De acordo com Chayanov (1981), numa economia natural, a atividade
humana é dominada pela exigência de satisfazer às necessidades de cada unidade
de produção. O orçamento é qualitativo, para cada necessidade de cada unidade
econômica, o produto in natura correspondente. Ou seja,
Na exploração agrícola familiar, a família equipada com meios de
produção, emprega sua força de trabalho no cultivo da terra, e recebe
como resultado de um ano de trabalho certa quantidade de bens.[...] uma
simples observação de estrutura interna da unidade de trabalho familiar é
suficiente para compreender que é impossível, sem a categoria salário,
impor a esta estrutura o lucro líquido, a renda e o juro do capital, como
categorias econômicas reais, no sentido capitalista da palavra.
(CHAYANOV, 1981, p. 137-138).
Ainda segundo esse autor,
A quantidade do produto do trabalho familiar é determinado principalmente
pelo tamanho e a composição da família trabalhadora, e o número de
seus membros capazes de trabalhar, e , além disso, pela produtividade da
unidade de trabalho e pelo grau de esforço do trabalho, o grau de auto-
exploração através do qual os membros trabalhadores realizam certa
quantidade de unidades de trabalho durante o ano. Para medir o grau de
exploração, defende a seguinte tese: O grau de auto-exploração é
determinado por um peculiar equilíbrio entre a satisfação da demanda
familiar e a própria penosidade do trabalho. (CHAYANOV, 1981, p. 138-
139).
No plano teórico, as formulações de Chayanov (1981) centram-se no objetivo
de mostrar uma nova perspectiva analítica que concebe a unidade familiar como
ponto de partida para a interpretação do sistema econômico global. A Unidade
estaria representada pela estrutura produtiva camponesa, que possui uma
morfologia própria na qual ressalta o caráter familiar do processo produtivo.
Chayanov (1981) defende que o campesinato se constitui numa formação
específica de existência social, detentora de uma dinâmica e de um funcionamento
próprio, distinguindo-se frontalmente do comportamento de outras categorias
constitutivas do universo social. Neste sentido, se o lucro é o principal objetivo de
uma empresa capitalista, a satisfação das necessidades familiares representa a
meta fundamental da exploração camponesa.
Segundo Anjos (1996) na teorização Chayanoviana, o tamanho da atividade
econômica produtiva é governado pelo número de consumidores e não pelo número
de trabalhadores. Ao longo de sua existência, a família atravessa diferentes ciclos
demográficos, que determinam tanto a oferta de trabalho, quanto o nível de
consumo. Em termos de operacionalização, a proposição Chayanoviana está
explicitamente sustentada no que denominou de balanço-trabalho-consumo,
envolvendo as alterações que a unidade familiar conhece na relação existente entre
o número de consumidores e de trabalhadores na exploração.
A perspectiva Chayanoviana foi importante para o desenvolvimento de
estudos sobre a agricultura familiar no Brasil Heredia (1979) por exemplo, no seu
trabalho “A morada da vida”, estuda o campesinato marginal a plantation açucareira
da Zona da Mata de Pernambuco. Podemos perceber neste trabalho que os
produtores familiares têm suas especificidades e sua própria lógica interna de
funcionamento e estão subordinados a um projeto familiar coletivo que é
representado pelo “roçado” e roçadinho”. Assim,
No roçado familiar, trabalham os membros da unidade familiar que não
recebem nenhuma parte especial do que ali é produzido por executarem
essa tarefa; o que é obtido no roçado é destinado ao consumo da própria
família. Este produto é, pois, o resultado do esforço conjunto dos seus
integrantes e é dividido entre seus membros somente no momento do
consumo [...] É o pai, como chefe de família, quem realiza tanto o cálculo
do esforço necessário por parte dos membros da unidade de trabalho
familiar, como o do produto a ser consumido por cada um deles. Além do
roçado já mencionado existem outros roçados individuais e que pertencem
aos filhos e à esposa[...]. Este recebem o nome de roçadinhos.“[...] o que é
produzido nos roçados individuais é vendido para se adquirir produtos de
consumo individual que não são fornecidos pelo roçado familiar aos
membros do grupo (HEREDIA, 1979.p.105-112).
Daí podemos perceber que a unidade camponesa é ao mesmo tempo,
unidade de produção e unidade de consumo, um primeiro passo na identificação da
lógica da produção familiar.
A produção familiar assume diversos tipos de atividades que se explicam e se
subordinam a sua estratégia de sobrevivência. Um elemento que devemos levar em
consideração quanto às especificidades da produção familiar diz respeito à
afirmação de que esta produção só se orienta para o auto-consumo, de que a
produção familiar produz os produtos que ela mesma consome, não tendo nenhuma
vinculação com o mercado.
Na verdade, a relação “agricultura e negócio” é uma atividade de subsistência
da agricultura familiar. A produção familiar coloca no mercado mercadorias para
trocá-las por outras que não são produzidas no seu sítio ou roçado, chegando ao
esquema apresentado por Marx, M-D-M (Mercadoria, Dinheiro, Mercadoria). Assim,
mesmo quando o produtor produz mercadorias que coloca no mercado, o objetivo
principal seria a reprodução da unidade produtiva familiar. Contudo, isso não
significa que a pequena produção não fornece um excedente agrícola para o
mercado, ao contrário, o excedente ou até mesmo a maior parte da produção tem
um papel fundamental no abastecimento de centros urbanos. Desse modo,
[...] é erro, porém, pensar que o negócio para todos os feirantes nada tem a
ver com o fato de ser também agricultor. Ao estudar o uso do tempo de
cada indivíduo feirante, nem precisa ser durante a semana - baste ser
durante as próprias feiras - o observador verá que: nas feiras o indivíduo
negocia, o que é evidente, ele adquire produtos para o consumo da
unidade familiar a que pertence, ele faz a feira da casa; e ele leva para a
feira, para apurar-lhe o valor, o produto de sua agricultura, [...]. (GARCIA
Jr., 1989:104).
É preciso deixar claro que a opção dos produtores familiares por culturas
passíveis de serem destinadas ao autoconsumo, não elimina a possibilidade de
venda do produto no mercado.
Antes de concluir, não podemos deixar de citar dois autores que
contemporaneamente, também se preocuparam com a questão da exploração
familiar: Lamarche (1993) e Abramovay (1992).
Lamarche (1993) parte do princípio de que em todos os países onde o
mercado organiza as trocas, a produção agrícola é sempre, em maior ou menor
grau, assegurada por explorações familiares, ou seja, por explorações nas quais a
família participa da produção.
Lamarche (1993) nos aponta uma grande diversidade de situações, que são
reveladoras da enorme capacidade de adaptação deste objeto sociológico, que é a
produção familiar.
Em alguns lugares, a exploração familiar é a ponta de lança do
desenvolvimento da agricultura e de sua integração na economia de
mercado: em outros, permanece arcaica e fundada essencialmente sobre a
economia de subsistência: em alguns lugares, ela é mantida, reconhecida,
como a única forma social de produção capaz de satisfazer as
necessidades essenciais da sociedade como um todo, em outros ao
contrário, é excluída de todo o desenvolvimento, sendo desacreditada e a
custo tolerada, quando não chegou a ser totalmente
eliminada.(LAMARCHE, 1993, p.13)
A exploração familiar é ao mesmo tempo uma memória, uma situação, uma
ambição, um desafio. Assim,
A exploração familiar como a concebemos, corresponde a uma unidade de
produção agrícola onde propriedade e trabalho estão intimamente ligados à
família[...].(LAMARCHE, 1993, p.15)
Diante dessa enorme diversidade de situações onde se encontram
explorações familiares, Lamarche (1993) destaca duas razões pelas quais essa
comparação, esse estudo deve ser feito diante de uma abordagem qualitativa: Por
uma razão teórica, a exploração familiar deve ser analisada em seu conjunto, ou
seja, levando-se em conta diversas entidades que a estruturam. Compreender seu
funcionamento significa colocar em evidência as diferentes lógicas em função das
quais o explorador determina suas escolhas fundamentais. Por uma razão prática,
nos mostra que, além da exploração familiar ser analisada e compreendida em si
mesma, todos os estudos que lhe dizem respeito devem ser elaborados em seu
contexto no âmbito local e global.
Sendo assim, tanto Chayanov (1981), como Lamarche (1993) definem
exploração familiar como uma unidade de produção agrícola onde propriedade e
trabalho estão intimamente ligados à família.
Para Hugues Lamarche (1993), a exploração familiar é, mais do que nunca
objeto de um novo desafio, por estar presente no mundo todo.
Abramovay (1992) acrescenta que, por mais que se possa reduzir a família a
um tipo idealmente estático, por mais importante que sejam suas mudanças e
mesmo que suas funções tradicionais encontrem francamente em crise, não há
como negar a particularidade da agricultura no ambiente econômico geral do mundo
de hoje.
O peso da produção familiar na agricultura faz dela hoje um setor único no
capitalismo contemporâneo: não há atividade econômica em que o trabalho
e a gestão estruturem-se tão fortemente em torno de vínculos de
parentesco e onde a participação de mão-de-obra não contratada seja tão
importante.(ABRAMOVAY, 1992.p.209).
Neste capítulo procuramos caracterizar o que constitui a produção
familiar,vamos analisar agora a sua relação com a modernização agropecuária.
2.2- A produção familiar e a modernização agropecuária
Passamos a analisar neste momento as conseqüências da modernização
agropecuária para a produção familiar.
A agricultura é uma atividade que demanda ação constante no decorrer do
ano, embora haja determinados momentos que requerem maior atenção em termos
de “o que plantar”, “quanto plantar”, “quando plantar”, “o que criar” e tantas outras
atividades semelhantes. Para o produtor familiar, planejar suas ações não é tarefa
fácil, diante dos ajustamentos aos seus objetivos, em relação à realidade de
recursos escassos e da incerteza com relação aos recursos para manter a
sobrevivência de seus familiares. Para tanto, é necessário que cada produtor rural
aumente sua produção. Este aumento, via incremento da produtividade, depende
cada vez mais do uso adequado de técnicas agropecuárias, representadas por
insumos ou bens de capital.
O desenvolvimento do capitalismo no campo, na medida em que incorporou
máquinas, defensivos, fertilizantes e outros insumos modernos, modificou
profundamente a base técnica da produção familiar, conseguindo grandes avanços
na solução das questões agrícolas, isto é, dos problemas ligados à produção. Mas
esse desenvolvimento só fez agravar a questão agrária, ou seja, o nível de miséria
da população rural brasileira. O dinheiro passou a incrementar o que antes era
considerado como uma forma de ajuda mútua entre os produtores familiares, como
por exemplo, o mutirão.
Dentre os vários fatores que contribuem para agravar os impactos da
modernização agropecuária sobre os produtores familiares, podemos destacar, a
subordinação da pequena produção ao capital através da venda direta de sua força
de trabalho em determinados períodos do ano, ou seja, a sazonalidade do trabalho
agrícola10.
10
“[...]. Refere-se às variações nas exigências de mão-de-obra numa determinada cultura, fato que
está ligado às diferentes estações do ano agrícola. Isso porque a modernização não atingiu todas as
fases do ciclo produtivo, especialmente a fase da colheita, que é uma das mais exigentes em termos
de mão-de-obra, e também porque o progresso técnico se incrustou em determinadas áreas de
monoculturas específicas, reforçando as oscilações sazonais próprias do calendário agrícola
[..]”.(GRAZIANO DA SILVA, 1980, p.54).
Um outro fator a ser destacado é que essas transformações procedem
sempre do núcleo capitalista, entendido tanto ao nível mais restrito da grande
propriedade, das agroindústrias, dos complexos comerciais, das indústrias
fornecedoras de insumos e máquinas, como no sentido amplo do capital global da
sociedade e de seu representante, o Estado. Além disso, a produção familiar no
Brasil está sempre subordinada ao capital, que se interpõe como comprador de suas
mercadorias e como fornecedor dos meios de produção de que necessita.
Essas modificações operam no sentido de tornar a unidade da produção
familiar cada vez mais dependente dos mecanismos estruturais do mercado na
obtenção dos seus meios de vida, na compra de insumos da produção, dos
instrumentos de trabalho, na venda de suas mercadorias, no mercado de trabalho,
tanto fornecendo temporariamente sua força de trabalho para as grandes
propriedades, como contratando eventualmente empregados para complementar a
força de trabalho familiar.
A produção familiar passou também a se especializar em determinados tipos
de produtos, por imposição dos grandes comerciantes e industriais. Assim,
Essa tecnificação ocorre na maioria das vezes por imposição do grande
capitalista comprador, que exige uma padronização da produção, ou por
necessidades inerentes ao próprio tipo de cultivo. Não se deve esquecer
que as variedades selecionadas que existem para a grande maioria das
“culturas de rico” só são altamente produtivas quando acompanhadas de
um verdadeiro “pacote tecnológico”. Tampouco se deve esquecer que esse
pacote é uma imposição do grande capital industrial que produz os
chamados insumos modernos para a agricultura. O fundamental aí não é o
aumento da produção em si, mas sim que os pequenos agricultores
passem a desempenhar um novo papel, o de compradores de insumos
industriais, mesmo que isso se reflita numa elevação dos seus custos.
(GRAZIANO DA SILVA, 1980, p.67).
O que podemos concluir com isso é que os produtores familiares, passaram a
desempenhar um novo papel, o de compradores de insumos por imposição do
capital industrial e comercial.
É importante entender que foi esse processo de tecnificação da pequena
produção que representou uma completa modificação na sua estrutura de
custos. Antes, o pequeno produtor de subsistência utilizava-se quase que
exclusivamente da terra e da mão de obra familiar não remunerada para
produzir seus ”excedentes”. Agora entretanto, o pequeno produtor terá que
organizar o seu orçamento, incorporando cada vez mais o trabalho dos
membros da família, tanto na própria produção, como na forma de trabalho
assalariado alugado temporariamente (GRAZIANO DA SILVA, 1980, p.67-
68).
As dificuldades eram enormes para que esses produtores conseguissem
crédito no mercado financeiro, devido principalmente à burocracia. Ou seja,
A política de crédito rural tem dois aspectos básicos. Por um lado, visa
modernizar as forças produtivas, e desse ponto de vista pode ser
considerado como um crédito para o conjunto do complexo agroindustrial,
que se favorece mais do crédito rural do que o próprio setor agrícola. Por
outro, trata de compensar a política de controle de preços, sendo uma
transferência de renda especialmente para os médios e grandes
produtores, que têm maiores condições de reagir contra essa política. Os
produtores tradicionais, que são os menos favorecidos pelo crédito rural,
por sua vez, tem poucas opções econômicas de modificar ou abandonar o
tipo e o volume de produção. (SORJ, 1980, p.89)
Como o produtor familiar conseguirá atingir esse patamar de
desenvolvimento? visto que, um dos caminhos eram as linhas de crédito e as
mesmas, pelo que parece, sempre estiveram muito distantes dos produtores
familiares. Desse modo,
[...] No caso brasileiro, fica mais ou menos claro por que as políticas de
estímulo à modernização não atingiram as pequenas unidades agrícolas,
especialmente as que se dedicam à produção de gêneros alimentícios de
primeira necessidade (GRAZIANO DA SILVA, 1982, p. 30)
Outro fator importante a ser considerado é que o processo de modernização
da agricultura brasileira adquire dimensões amplas e diversificadas, possui
características comuns e específicas, variando de acordo com regiões e produtos
atingidos. Assim,
Entre as características comuns identificam-se como principais: a
especialização, com forte tendência à fixação de monoculturas regionais;a
viabilização e consolidação da empresa rural capitalista, acompanhada da
progressiva desestabilização e desaparecimento da pequena propriedade
rural em regime de trabalho familiar; a concentração da propriedade da
terra, quer através da aquisição de extensas áreas de terras nas novas
fronteiras agrícolas, quer pela absorção de pequenas propriedades rurais
por parte de médios e grandes produtores; a supervalorização das terras,
frustrando as aspirações dos produtores mais fracos; o uso intenso do fator
capital(máquinas, implementos, etc)... (BRUM,1988,p. 69)
Pode-se perceber que o processo de modernização não é global, pois, não
atinge todo o país, todas as atividades agropecuárias e todos os produtores. Ou
seja,
[...] Por enquanto, embora venha avançando, a modernização é parcial,
apresentando acentuadas variações de grau entre as regiões do país, com
destaque para o Sul e Sudeste e avanço acelerado no Centro-Oeste; entre
as atividades agropecuárias, com destaque para as lavouras de soja, trigo,
arroz, café, cana-de-açúcar e algodão, além da pecuária em diversas áreas
do território nacional, e entre os produtores rurais. (BRUM, 1988 p. 69).
O processo de modernização, de transformação tecnológica da agricultura,
beneficiou alguns produtores, particularmente os grandes e alguns produtos,
particularmente de exportação. Ainda,
Quanto ao crédito rural, menos de 30% dos produtores tem acesso ao
mesmo. A participação proporcional tem favorecido os grandes produtores
em prejuízo dos pequenos, bem como os produtos de exportação em
detrimento das culturas destinadas ao consumo interno. Na atividade
agrícola, enquanto os 50% menores tiveram um decréscimo proporcional
de 7,4% para 5,2% no total do crédito rural entre 1969 e 1979, os 1%
maiores aumentaram sua participação de 25,7% para 38,5% no mesmo
período. Na pecuária, a participação dos 50% menores baixou de 12,2%
para 7,3%, enquanto os 1% maiores passaram de 16,1% para 23,1%, entre
1969 a 1979. Igualmente, cinco produtos (café, soja, cana-de-açúcar,
algodão e trigo) participam com cerca de 33% do valor total da produção
agrícola do país e utilizam 60% do crédito rural, enquanto outros três
produtos (milho, feijão e mandioca), representando em torno de 30% do
valor total da produção recebem apenas cerca de 12% do crédito
rural[...].(BRUM,1988,P.70)
No que se refere ao processo de desenvolvimento da agricultura brasileira,
se, por um lado, a contribuição da ciência e da tecnologia foi fundamental para sua
modernização, por outro, a natureza desse processo trouxe, como conseqüência
indesejável, um elevado nível de exclusão social.
Num primeiro momento, tal exclusão aconteceu por meio da substituição da
mão de obra pela mecanização intensiva das tarefas agropecuárias. A agricultura
tradicional, se caracterizava pelo cultivo de um conjunto diversificado de produtos
agrícolas, pelo uso predominante do trabalho braçal e da tração animal, e de
instrumentos de trabalho simples e geralmente produzidos na própria região, o que
expressa elevado grau de integração econômica no âmbito local. A agricultura
moderna, ou modernizada, por outro lado, revela forte tendência à monocultura,
dependência acentuada do uso do petróleo como fonte energética básica e a
utilização intensiva de instrumentos mecânicos sofisticados nas diversas fases do
processo de produção, além do uso abundante de outros insumos modernos,
particularmente os oriundos da indústria química.
Analisando os dados contemporaneamente, de acordo com o Censo
Agropecuário IBGE de 1995-96 e FAO/INCRA, as condições de acesso à
tecnologia ainda continuam diferenciadas regionalmente e entre os agricultores
familiares e patronais. Apenas 16,7% dos familiares utilizam assistência Técnica
contra 43,5% patronais. Entre os familiares, este percentual varia de 2,7% na região
Nordeste a 47,2% na região sul. Mesmo considerando as diferenças no interior da
agricultura familiar nordestina, o número de agricultores com acesso à assistência
técnica é muito pequeno.
O acesso dos agricultores familiares à energia elétrica também é bastante
restrito nas regiões Norte e Nordeste. Enquanto 36,6% dos estabelecimentos
familiares do Brasil têm acesso a esse serviço, os percentuais variam,
respectivamente, de 9,3% e 18,7% nas regiões Norte e Nordeste, a 73,5% na região
Sul (FAO-INCRA-IBGE 1995/1996) conforme tabela 14.
Tabela 14-Agricultores Familiares: Acesso à tecnologia e à Assistência Técnica
no Brasil 1995-1996
Região
Utiliza
assistência
técnica
Usa
energia
elétrica
Uso de força nos trabalhos
Usa
adubos e
corretivos
Faz
conservação
do solo
Nordeste
2,7 18,7 20,6 18,2 61,1 16,8 6,3
Centro –
Oeste
24,9 45,3 12,8 39,8 47,3 34,2 13,1
Norte
5,7 9,3 9,3 13,7 87,1 9,0 0,7
Sudeste
22,7 56,2 19,0 38,7 42,2 60,6 24,3
Sul
47,2 73,5 37,2 48,4 14,3 77,1 44,9
Brasil
16,7 36,6 22,7 27,5 49,8 36,7 17,3
Fonte: Censo Agropecuário 1995/1996 – IBGE
Elaboração: Convênio FAO/INCRA
O uso de tração animal e/ou tração mecânica é muito baixo entre os
estabelecimentos familiares, e cerca de 50% empregam apenas tração manual nos
trabalhos agrícolas. No Brasil, 23% dos agricultores familiares utilizam apenas tração
animal e 27% tração mecânica ou mecânica e animal.
Na região Norte, 87% dos estabelecimentos familiares não utilizam tração
animal ou mecânica, limitando-se à força manual. O uso de tração mecânica e
animal é mais difundido entre os agricultores familiares da região sul:48,5% dos
estabelecimentos usam tração mecânica e animal e 37,2% utilizam somente tração
animal.
Entre os familiares, 36,7% dos agricultores usam adubos e corretivos,
variando de 9% na região Norte, 1,8% no Nordeste até 77,1% na região Sul. Em
relação à conservação de solos, na região Sul 44,9% dos estabelecimentos
familiares fazem algum tipo de conservação de solos, enquanto na região Norte
menos de 1% dos estabelecimentos praticam qualquer tipo de conservação.
Com relação ao crédito, de acordo com os dados do FAO/INCRA(2001), o
crédito de custeio ainda é pouco utilizado pelos agricultores familiares, limitando a
exploração do potencial instalado e comprometendo, em alguns casos, os resultados
de investimentos feitos em culturas permanentes. Os principais problemas são
praticamente os mesmos, ou seja, a burocracia, atrasos na liberação e baixa
sincronia entre momento da liberação, volume de recursos liberados e as reais
necessidades dos agricultores.
2.3- A Modernidade Reflexiva
Analisando o balanço atual do conhecimento sociológico, deparamos com
formulações teóricas, visando à superação das antinomias clássicas do pensamento
sociológico, ou seja; oposição entre os níveis micro e macro, estrutura-ação,
objetividade e subjetividade, mudança-reprodução, indivíduo-sociedade.
Na tentativa de superação das antinomias clássicas do pensamento
sociológico, Giddens formula a Teoria da Estruturação, que, segundo ele, deseja
furtar-se ao dualismo associado com o objetivismo e o subjetivismo, ressaltando que
a teoria da estruturação não será de muito valor se não ajudar a esclarecer os
problemas da pesquisa empírica.
Na teoria da estruturação,
Considera-se “estrutura” o conjunto de regras e recursos implicados de
modo recursivo na reprodução social; as características institucionalizadas
de sistemas sociais têm propriedades estruturais no sentido de que as
relações estão estabilizadas através do tempo e espaço.(GIDDENS,
2003,p. XXXV).
O que é especialmente útil para a orientação da pesquisa, de acordo com
Giddens (2003), é o estudo, primeiro, das interseções rotinizadas
11
de práticas que
constituem os “pontos de transformação” nas relações estruturais
12
; e, segundo, do
modo como as práticas institucionalizadas estabelecem a conexão entre a
integração social
13
e a integração do sistema
14
.
De acordo com Giddens (1991), a reflexividade é inerente ao ser humano na
modernidade. O monitoramento reflexivo da atividade é uma característica crônica
da ação cotidiana e envolve não apenas a do indivíduo, mas, também dos
outros(figura 2). Quer dizer,
os atores não só controlam e regulam continuamente o fluxo de suas
atividades e esperam que os outros façam o mesmo por sua própria conta,
mas também monitoram rotineiramente aspectos sociais e físicos, dos
contextos em que se movem. Por racionalização da ação entendo que os
atores também, rotineiramente e, na maioria dos casos, sem qualquer
alarde mantêm um contínuo “entendimento Teórico” das bases de sua
atividade” (GIDDENS, 2003,p.6)
Figura 2- Modelo de Estratificação do Agente
15
, segundo Giddens
Fonte: Anthony Giddens (2003,p.6)
Segundo Giddens (2003) a monitoração reflexiva da ação é,
O caráter deliberado ou intencional do comportamento humano,
considerado no interior do fluxo de atividade do agente; a ação não é uma
série de atos discretos, envolvendo um agregado de intenções, mas um
processo contínuo.(GIDDENS 2003, p.443)
11
O caráter habitual e assente da maior parte das atividades da vida social cotidiana; a
preponderância de estilos e formas de conduta familiares e sendo sustentado por um senso de
segurança ontológica.(GIDDENS,2003,P.444)
12
... Estudar estruturas, inclusive princípios estruturais, é estudar aspectos importantes das relações
de transformação/mediação que influenciam a integração social e sistêmica(ibid,p.442)
13
Reciprocidade de práticas entre atores em circunstâncias de co-presença, entendida como
continuidades e disjunções de encontros.(ibid, p.442)
14
ou Integração sistêmica, reciprocidade entre atores ou coletividade no tempo-espaço ampliado, fora
de condições de co-presença.(Ibid, p.442).
15
Segundo Giddens(2003) “Uma interpretação do agente humano, sublinhando três “camadas” de
cognição/motivação:consciência discursiva, consciência prática e o inconsciente.
condições monitoração reflexiva da ação conseqüências
não-reconhecidas racionalização da ação impremeditadas
da ação motivação da ação da ação
Sobre a racionalização da ação Giddens afirma que é,
A capacidade que atores competentes têm de se “manterem em contato
com as bases do que fazem, da forma como o fazem, de tal modo que, se
interrogados por outros, podem fornecer razões para suas atividades.
(GIDDENS 2003, p.443)
Giddens (2003) distingue a monitoração reflexiva da ação e a racionalização
da ação de sua motivação.Segundo o autor, se as razões se referem aos motivos da
ação, estes, por sua vez, referem-se às necessidades que a instigam. Entretanto, a
motivação não está tão diretamente vinculada à continuidade da ação quanto sua
monitoração reflexiva ou racionalização. Ela se refere mais ao potencial para a ação
do que propriamente ao modo como a ação é cronicamente executada pelo agente.
Desse modo,
Os motivos tendem a ter uma influência direta na ação apenas em
circunstâncias relativamente incomuns, situações que, de algum modo,
quebram a rotina. Em sua grande maioria, os motivos fornecem planos ou
programas globais.[...], muito de nossa conduta cotidiana não é
diretamente motivada”. (GIDDENS,2003,p.7).
A ação depende da capacidade do indivíduo de criar uma diferença em
relação ao estado de coisas ou curso de eventos preexistentes. A estrutura refere-
se, em análise social, às propriedades de estruturação que permitem a “delimitação”
de tempo-espaço em sistemas sociais, às propriedades que possibilitam a existência
de práticas sociais, discernivelmente semelhantes por dimensões variáveis de tempo
e de espaço, e lhes emprestam uma forma “sistêmica”.
Giddens (2003) concebe estrutura como conjunto de regras e recursos, ou
conjunto de relações de transformação organizados como propriedades de sistemas
sociais. Os sistemas sociais em que a estrutura está recursivamente implicada, pelo
contrário, compreendem relações reproduzidas entre atores ou coletividades,
organizadas como práticas sociais regulares. Analisar a estruturação de sistemas
sociais significa estudar como tais sistemas, fundamentados nas atividades
cognoscitivas de atores localizados, que se apóiam em regras e recursos na
diversidade de contexto de ação, são produzidos e reproduzidos em interação.
Giddens (2003) nos apresenta alguns problemas conceituais básicos
representados pela conexão entre os principais conceitos da teoria da estruturação e
uma interpretação da natureza do inconsciente. Eles giram em torno de questões
sobre qual será a melhor maneira de conceituar o self
16
, especialmente o “eu” do
agente reflexivo.
O reconhecimento da importância essencial da monitoração reflexiva da
conduta na continuidade cotidiana social não significa refutar o significado das fontes
inconscientes de cognição e motivação. Mas, segundo Giddens (2003), envolve
prestar alguma atenção à diferenciação que separa “consciente” e “inconsciente”,
pois, a motivação inconsciente é uma característica significativa da conduta humana.
Segundo Giddens (2003) a palavra “consciente”, refere-se à monitoração
reflexiva da conduta por agentes humanos, à qual o autor dá o nome de consciência
prática, cuja noção de consciência prática
17
é fundamental para a teoria da
estruturação. E, consciência discursiva
18
significa a capacidade de pôr coisas em
palavras, colocar no papel o porque das coisas. O Inconsciente é a incapacidade de
dar expressão verbal aos impulsos da ação.
De acordo com Giddens (2003), a vida comum do dia-a-dia, em maior ou
menor grau, de acordo com o contexto e os caprichos da personalidade individual
envolve uma segurança ontológica
19
, que expressa uma autonomia do controle
corporal do âmbito de rotinas previsíveis, ou seja, “a confiança em que os mundos
natural e social são como parecem ser, incluindo parâmetros existenciais básicos do
self e da identidade social. O self é a soma daquelas formas de recordação por meio
das quais o agente caracteriza reflexivamente ”o que” está na origem de sua ação.
O self é o agente enquanto caracterizado pelo agente. Self, corpo e memória estão,
portanto, intimamente relacionados.
De acordo com a análise do pensamento de Giddens, podemos perceber que
ele não parte nem da ação, nem da estrutura , mas de uma inter-relação onde a
ação reproduz a estrutura.
16
É formado através das definições feitas por outros que servirão de referencial para que ele possa
ver-se a si mesmo.O self representa o processo social no interior do indivíduo, envolvendo duas fases
analíticas distintas: O eu é a tendência impulsiva do indivíduo e o mim que representa o outro
incorporado ao indivíduo. (HAGUETTE, Teresa Maria Frota. Metodologias Qualitativas na
Sociologia.Petrópolis:Vozes,2000,p.29-30)
17
O que os atores sabem (crêem) acerca das condições sociais, incluindo especialmente as de sua
própria ação, mas não podem expressar discursivamente, nenhuma barreira repressiva, entretanto,
protege a consciência prática, como acontece com o inconsciente.(GIDDENS, 2003, p.440)
18
O que os atores são capazes de dizer ou expressar verbalmente, acerca das condições sociais,
incluindo especialmente as condições de sua própria ação, consciência que tem uma forma
discursiva.
19
A confiança em que os mundos natural e social são como parecem ser, incluindo os parâmetros
existenciais básicos do self e da identidade social. (GIDDENS, 2003,p.444)
Giddens (2003) nos mostra alguns pontos para o desenvolvimento da
pesquisa social, a partir da teoria da estruturação: Em primeiro lugar, toda pesquisa
social tem um aspecto necessariamente cultural, etnográfico ou “antropológico”. O
sociólogo tem como campo de estudo fenômenos que já são constituídos como
significativos. A condição de “entrada” nesse campo é travar conhecimento com o
que os atores já sabem, e têm de saber, para “prosseguir” nas atividades cotidianas
da vida social. As descrições sociológicas têm a tarefa de mediar as redes de
significado, dentro dos quais os atores orientam sua conduta.
Em segundo lugar, é importante, na pesquisa social, ser sensível às
habilidades complexas que os atores possuem para coordenar os contextos de seu
comportamento cotidiano. É preciso incluir a relação entre aspectos reflexivamente
monitorados e aspectos impremeditados da reprodução de sistemas sociais, e o
aspecto “longitudinal” de conseqüências impremeditadas de atos contingentes, em
circunstâncias historicamente significativas de uma espécie ou outra.
Em terceiro lugar, o analista social também deve ser sensível à constituição
espaço-temporal da vida social, fazer uma ligação disciplinar com a história e a
geografia.
Neste contexto, Anthony Giddens (2003) nos oferece uma nova interpretação
das transformações sociais associadas à modernidade;o debate se configura como
uma contribuição à discussão das concepções e diagnóstico sobre a modernidade,
investida do caráter de modernidade reflexiva, sobre suas transformações, seu
processo de crise e sobre as conseqüências que daí podem ser tiradas em termos
de suas configurações atuais. Outros autores, sociólogos contemporâneos que
também participam do debate a respeito da modernidade reflexiva são Ulrich Beck
20
e Scott Lash
21
.
Giddens (1991) na sua obra “As Conseqüências da Modernidade”,
desenvolve uma análise institucional da modernidade com ênfase cultural e
epistemológica, ou seja, não privilegiando áreas separadas e sim, agrupando-as
para entender o cultural como um todo.
O autor destaca a importância das Ciências Sociais para responder o que
está nos levando para além da modernidade. De acordo com Giddens (1991),
alguns dos debates sobre estas questões se concentram principalmente nas
20
GIDDENS, Antony; BECK Ulrich, LASH. Modernização reflexiva. São Paulo: UNESP,1997.
21
Id.
transformações institucionais, particularmente as que sugerem que estamos nos
deslocando de um sistema baseado na manufatura de bens materiais para outro
relacionado mais centralmente com informação. Assim,
Em vez de estarmos entrando num período de pós-modernidade, estamos
alcançando um período em que as conseqüências da modernidade estão
se tornando mais radicalizadas e universalizadas do que antes[...]
(GIDDENS, 1990, p.13)
O seu estudo tenta obter uma nova caracterização, tanto da natureza da
modernidade quanto da nova ordem, que deve emergir do outro lado da era atual.
De acordo com Giddens (1991), a idéia de que a história humana é marcada
por certas “descontinuidades” e não tem uma forma homogênea de desenvolvimento
é obviamente familiar e tem sido enfatizada em muitas versões do marxismo.
Ressaltando que,
Meu uso do termo não tem conexão particular com o materialismo histórico,
contudo, e não está dirigido para a caracterização da história humana
como um todo. Existem indiscutivelmente descontinuidades em varias
fases do desenvolvimento histórico - como por exemplo, nos pontos de
transição entre sociedades tribais e a emergência de estados agrários.Não
estou preocupado com estas. O que quero sublimar é aquela
descontinuidade específica, ou conjunto de descontinuidades, associados
ao período moderno.(GIDDENS, 1991, P.14)
Para entender as descontinuidades, de acordo com Giddens (1991) é preciso
deslocar a narrativa evolucionária, ou desconstruir o seu enredo. Isso não apenas
ajuda a elucidar a tarefa de analisar a modernidade, como também muda o foco de
parte do debate sobre o assim chamado pós-moderno. Desconstruir o evolucionismo
social significa aceitar que a história não pode ser vista como uma unidade, ou como
refletindo certos princípios unificadores de organização e transformação.
Segundo Giddens (1991) Hoje em dia, os mundos sociais e naturais estão
influenciados pelo conhecimento humano reflexivo; mas isso não conduz a uma
situação que nos permite ser, coletivamente, os donos do nosso destino. As
tendências para a intensificação da globalização interagem com e são as causas de
mudanças na vida cotidiana.
O mundo da reflexividade desenvolvida, em que a interrogação das formas
sociais torna-se lugar-comum, é um mundo, que em muitos casos, estimula a critica
ativa.
De acordo com Giddens (1991), vivemos em uma época de finalizações, um
período de evidente transição, não somente no ocidente, mas, no mundo todo. Uma
finalização sob o disfarce da emergência de uma série pós-tradicional.
Para explicar esse termo, Giddens afirma,
Que a modernidade, quase por definição, sempre se colocou em oposição
à tradição. Durante a maior parte da sua história, a modernidade
reconstruiu a tradição, enquanto a dissolvia. Nas sociedades ocidentais, a
persistência e a recriação da tradição foram fundamentais para a
legitimação do poder, no sentido em que o Estado era capaz de se impor
sobre “sujeitos” relativamente passivos. (GIDDENS, 1997, p.73).
Poucas pessoas, em qualquer lugar do mundo, podem continuar sem
consciência do fato de quais atividades locais são influenciadas e às vezes até
determinadas por acontecimentos globais.
Esta extraordinária e acelerada relação entre as decisões do dia-a-dia e os
resultados globais, juntamente com o seu reverso, a influência das ordens globais,
sobre a vida individual, compõem o principal tema da nova agenda.
As conexões entre o desenvolvimento do conhecimento humano e o auto-
entendimento humano provaram ser mais complexas do que sugere essa
visão. Atualmente, as características de nossa vida são o que se poderia
chamar de “incerteza fabricada”. De repente, muitos aspectos de nossas
vidas tornaram-se abertamente organizados apenas em termos de
“suposições de cenários” a construção “como se” dos possíveis resultados
futuros. Isto ocorre tanto nas nossas vidas individuais quanto na da
humanidade. Como um todo. Por um lado, podemos facilmente discernir
muitas novas oportunidades que potencialmente nos libertam das
limitações do passado. Por outro, quase em toda a parte enxergamos a
possibilidade de catástrofe. E, em muitos momentos é difícil dizer com
qualquer grau de segurança que direção as coisas vão tomar.
(GIDDENS,1997,p.219)
Podemos perceber que, em outras palavras Beck (1997), a sociedade de
risco é tendencialmente, também, uma sociedade de autocríticas. Os especialistas
em seguro (involuntariamente) contradizem os engenheiros de segurança. Enquanto
esses últimos diagnosticam risco zero, os primeiros decidem: impossível de ser
segurado. Especialistas são anulados ou depostos por especialistas de áreas
opostas. Políticos encontram resistência de grupos de cidadãos, e a sociedade
industrial encontra boicotes de consumidores organizados e politicamente
organizados. As organizações são criticadas por grupos de auto-ajuda. Enfim, na
verdade, a questão de risco divide famílias, grupos profissionais de trabalhadores
químicos especializados em todos os níveis até a gerência, e com muita freqüência
até os indivíduos. Assim,
Isto significa risco em um mundo que, em grande parte, permanece como
”dado”, inclusive a natureza externa e aquelas formas de vida social
coordenados pela tradição. Quando a natureza é invadida e até destruída,
pela socialização, e a tradição é dissolvida, novos tipos de incalculabilidade
emergem. (GIDDENS, 1997.p.76).
Por isso, a nível global, a modernidade tornou-se experimental. Queiramos ou
não, estamos todos presos em uma grande experiência, que está ocorrendo no
momento da nossa ação, como agentes humanos, mas fora do nosso controle, em
um grau imponderável. Não é uma experiência do tipo laboratorial, porque não
controlamos os resultados dentro de parâmetros fixados, é mais parecida com uma
aventura perigosa, em que cada um de nós, querendo ou não tem que participar.
Segundo Giddens (1990), a modernidade é um fenômeno complexo, pois, o
desenvolvimento das instituições modernas e sua difusão em escala mundial
criaram oportunidades bem maiores para os seres humanos gozarem uma
existência segura e gratificante do que qualquer tipo de sistema pré-moderno. Em
contrapartida a modernidade tem também um lado sombrio, que se tornou muito
aparente no mundo atual.
De acordo com Giddens (1997), a experiência global da modernidade está
interligada, e influencia, e é por ela influenciada pela penetração das instituições
modernas nos acontecimentos da vida cotidiana. Não apenas na comunidade local,
mas as características íntimas da vida pessoal e do eu tornaram-se interligadas a
relações de indefinida extensão no tempo e no espaço. Estamos todos presos às
experiências do cotidiano, cujos resultados, em um sentido genérico, são tão abertos
quanto àqueles que afetam a humanidade como um todo. As experiências do
cotidiano refletem o papel da tradição, em constante mutação e, no plano global,
devem ser consideradas no contexto do deslocamento e da reapropriação de
especialistas, sob o impacto da invasão dos sistemas abstratos, e, no contexto do
nosso trabalho, a implantação dos serviços de extensão rural e assistência técnica.
A tecnologia, no significado geral da “técnica”, desempenha aqui o papel
principal, tanto sob a forma de tecnologia material quanto da especializada
expertise social. Ou seja, a tecnologia (conhecimento) transformada em processos
de uma determinada ação, arte ou ciência.
Giddens (1991) chama a atenção para a questão do desencaixe dos sistemas
sociais, ou seja, o “deslocamento” das relações sociais de contextos locais de
interação e sua reestruturação através de extensões indefinidas de tempo-espaço.
Giddens (1991) analisa dois tipos de mecanismos de desencaixe,
intrinsecamente envolvidos no desenvolvimento das instituições modernas: A
criação das fichas simbólicas e o estabelecimento dos sistemas peritos.
O autor descreve fichas simbólicas (1991, p.30), como “meios de intercâmbio
que podem ser ”circulados” sem ter em vista as características específicas dos
indivíduos ou grupos que lidam com eles em qualquer conjuntura particular”. Ex: O
dinheiro é um meio de distanciamento tempo-espaço, possibilita a realização de
transações entre agentes amplamente separados no tempo e no espaço. Com
relação aos sistemas peritos,
Os ”Sistemas Peritos” são os sistemas de excelência técnica ou
competência profissional que organizam grandes áreas dos ambientes
material e social em que vivemos hoje. A maioria das pessoas leigas
consulta “profissionais”- advogados, arquitetos, médicos, apenas de modo
periódico ou regular. Mas, os sistemas nos quais está integrado o
conhecimento dos peritos influenciam muitos aspectos do que fazemos de
uma maneira contínua. Ao estar simplesmente em casa, estou envolvido
num sistema perito, ou numa série de tais sistemas, nos quais deposito
minha confiança.(GIDDENS, 1991, p.35).
Os sistemas peritos removem as relações sociais de imediações do contexto,
assim como as fichas simbólicas, são mecanismos de desencaixe, pois promovem a
separação entre tempo e espaço, e segundo Giddens (1991,p.35) “fornecendo
“garantias” de expectativas por meio de tempo-espaço distanciados”.
Ao conjunto das fichas simbólicas com os sistemas peritos, Giddens dá o
nome de “Sistemas abstratos”.
No contexto da modernidade, uma população cada vez maior vive em
circunstâncias nas quais instituições desencaixadas, ligando práticas locais a
relações sociais globalizadas, organizam aspectos principais da vida cotidiana. As
relações estão acontecendo com as pessoas em lugares diferentes e em tempos
diferentes.
Da mesma forma que Giddens nos apresenta os mecanismos de desencaixe,
analisa também a noção de reencaixe. Ou seja,
Com este termo me refiro à reapropriação ou remodelação de relações
sociais desencaixadas de forma a comprometê-las(embora parcial ou
transitoriamente) a condições locais de tempo e lugar”. (GIDDENS,
1990.p.83).
Para explicar estes termos, Giddens faz a distinção entre compromisso com
rosto e compromisso sem rosto.
Os primeiros se referem a relações verdadeiras que são mantidas por ou
expressas em conexões sociais estabelecidas em circunstâncias de co-
presença. Os segundos dizem respeito ao desenvolvimento de fé em fichas
simbólicas ou sistemas peritos, os quais, tomamos em conjunto, devo
chamá-los de sistemas abstratos. (GIDDENS, 1990, p.84)
O autor quer nos mostrar que o significado de “estranho” muda com o
advento da modernidade, ou seja, nas culturas pré-modernas, em que a comunidade
local aparece como base de uma organização social mais ampla, o ”estranho” se
refere a alguém que vem de fora e que é potencialmente suspeito. Na sociedade
moderna não acontece do mesmo modo; principalmente nos cenários urbanos,
interagimos mais ou menos de forma contínua com outros que, ou não conhecemos
bem, ou nunca encontramos antes, numa interação que assume a forma de contatos
relativamente efêmeros.
Giddens (1991) destaca a questão da confiabilidade em relação às fichas
simbólicas e os sistemas peritos. Segundo o autor há duas formas confiabilidade:
Aquela estabelecida entre indivíduos que se conhecem bem e que,
baseados num relacionamento de longo prazo, substanciaram as
credenciais que tornam cada vez um fidedigno aos olhos do outro. A
confiabilidade relativa aos mecanismos de desencaixe é diferente, embora
a fidedignidade seja ainda central e as credenciais estejam envolvidas. Em
certas circunstâncias, a confiança em sistemas abstratos não pressupõe
encontro algum com os indivíduos ou grupos que são de alguma forma
“responsáveis” por eles. Mas, na grande maioria das instâncias tais
indivíduos e tais grupos estão envolvidos, e devo me referir a encontros
com eles por parte de atores leigos como os pontos de acesso dos
sistemas abstratos. Os pontos de acesso dos sistemas abstratos são o
terreno comum dos compromissos com rosto e sem
rosto.(GIDDENS,1991,p.87)
Giddens (1991) parte da premissa de que a natureza das instituições
modernas está profundamente ligada ao mecanismo da confiança em sistemas
abstratos. Em condições de modernidade, o futuro está sempre aberto, não apenas
em termos da incerteza comum das coisas, mas, em termos da reflexividade do
conhecimento no qual as práticas sociais são organizadas. Numa situação em que
muitos aspectos da modernidade tornaram-se globalizados, ninguém pode optar por
sair completamente dos sistemas abstratos envolvidos em instituições modernas.
Por esta razão, contatos com peritos ou seus representantes ou delegados, sob a
forma de encontros em pontos de acesso
22
são peculiarmente conseqüentes nas
sociedades modernas.
Uma questão importante a ser ressaltada é que os encontros com os
representantes de sistemas abstratos podem ser regularizados e assumir facilmente
características de confiabilidade associada com amizade e intimidade, como, por
exemplo, de um médico, dentista ou agente de viagens, com os quais se lida
regularmente por um período de anos. Entretanto, muitos encontros com os
representantes de sistemas abstratos são periódicos ou transitórios.
Nesse sentido,
Relações de confiança são básicas para o distanciamento tempo-espaço
dilatado em associação com a modernidade. A confiança em sistemas
abstratos assume a forma de compromisso sem rosto, nos quais é mantida
a fé no funcionamento do conhecimento em relação ao qual a pessoa leiga
é amplamente ignorante.(GIDDENS, 1991.p.91).
A confiança pressupõe fé em princípios impessoais, que retrucam apenas de
uma maneira estatística quando não cumprem com os resultados buscados pelos
indivíduos. Esta é uma das principais razões pelas quais os indivíduos nos pontos
de acesso se esforçam para se mostrar confiáveis; eles proporcionam o elo entre a
confiança pessoal e a do sistema.Ex: fazer um depósito em banco, acender uma luz,
abrir uma torneira, enviar uma carta, dar um telefonema, etc. A confiança em
sistemas abstratos contribui para a confiabilidade da segurança cotidiana, mas por
sua própria natureza não pode oferecer nem a mutualidade nem a intimidade que as
relações de confiança pessoal oferecem.
Com o desenvolvimento dos sistemas abstratos, a confiança em princípios
impessoais, bem como em outros anônimos, torna-se indispensável à existência
social. O homem não detém todo o conhecimento, hoje cada atividade deve ser
feita por instituições especializadas. A confiança pessoal, precisa então ser
trabalhada pelas partes envolvidas, requerendo uma entrega do indivíduo para o
outro, a confiança tem que ser ganha e o meio da fazê-lo consiste em abertura e
cordialidade demonstráveis. Assim,
22
Ponto de acesso são pontos de conexão entre indivíduos ou coletividades leigos e os
representantes de sistemas abstratos. São lugares de vulnerabilidade para os sistemas abstratos,
mas, também junções nas quais a confiança pode ser mantida ou reforçada.
A confiança em sistemas abstratos é a condição do distanciamento tempo-
espaço e das grandes áreas de segurança na vida cotidiana que as
instituições modernas oferecem em comparação ao mundo tradicional. As
rotinas que estão integradas aos sistemas abstratos são centrais à
segurança ontológica em condições de modernidade[...].Há uma conexão
direta entre as tendências globalizantes da modernidade e o que ele chama
de transformações da intimidade
nos contextos da vida cotidiana, que a
transformação da intimidade pode ser analisada em termos da adição de
mecanismos de confiança, e que as relações de confiança pessoal nessas
circunstâncias , estão intimamente relacionadas à situação na qual a
construção do eu se torna um projeto reflexivo.(GIDDENS,1991,p.116-
117).
No contexto desta pesquisa, com base nas análises de Giddens, adotamos o
conceito de sistemas peritos e pontos de acesso, ou seja: A Extensão Rural e
Assistência Técnica (EMATER/AGENCIA RURAL) é um ponto de acesso entre os
produtores familiares e as novas tecnologias (Pacotes Tecnológicos) implementadas
pelos sistemas peritos (as normas da ciência agronômica, máquinas e equipamentos
das indústrias, etc). Podemos dizer que a extensão rural promove uma relação
entre a agricultura e a indústria, mediada pela ciência.
É a reflexão do produtor em relação à sua ação, pois, a reflexividade na
modernidade é explicado pela ciência
23
.
O fato é que se criou em nosso país uma ideologia que orienta a ação das
pessoas que trabalham no setor agrícola, direta ou indiretamente. Esta
ideologia tende a desprezar e ignorar aquilo que não pé rotulado como
moderno, provocando assim, uma substituição das técnicas que são
consideradas obsoletas ou tradicionais. A sociedade valoriza aqueles
engendrados pela “ideologia da modernização”, considerando os racionais
progressistas e aliados do progresso e, marginaliza aqueles preocupados
em questionar as tecnologias propostas, defensoras do ‘passado.
(GRAZIANO NETO, 1985, p.43)
O indivíduo deve achar sua identidade entre as estratégias e opções
fornecidas pelos sistemas abstratos.
Nas sociedades pré-modernas, a tradição e a rotinização da conduta
cotidiana estão intimamente relacionadas. Na sociedade moderna, ao contrário, a
rotinização torna-se vazia, a menos que esteja ajustada aos processos da
reflexividade institucional. Ou seja,
É institucional por ser um elemento estrutural básico da atividade social nos
ambientes modernos. É reflexivo no sentido de que os termos introduzidos
23
Esta reflexão será desenvolvida no item 2.4- Da Produção Familiar à Modernidade Reflexiva.
para descrever a vida social habitualmente chegam e a transformam - não
como um processo dinâmico, nem necessariamente de uma maneira
controlada, mas porque tornam-se parte das formas de ação adotadas
pelos indivíduos ou pelos grupos.(GIDDENS, 1993,p.78)
Para identificar as descontinuidades que separam as instituições sociais
modernas das ordens sociais tradicionais, Giddens (1991) destaca três
características da modernidade:
A primeira é o ritmo de mudança que a era da modernidade põe em
movimento. As civilizações tradicionais podem ter sido consideravelmente
mais dinâmicas do que outros sistemas pré-modernos, mas a rapidez da
mudança em condições de modernidade é extrema;
Uma segunda descontinuidade é o escopo da mudança; conforme diferentes
áreas do globo são postas em interconexão, ondas de transformação social
penetram através de virtualmente toda a superfície da terra;
Uma terceira característica diz respeito à natureza intrínseca das instituições
modernas. Algumas formas sociais modernas simplesmente não se
encontram em períodos históricos precedentes, tais como o sistema político
do Estado-nação, a dependência por atacado da produção de fontes de
energia inanimadas, ou a completa transformação em mercadoria de produtos
e trabalho assalariado.
Analisando o conceito de reflexividade expresso por Giddens(1991),
podemos perceber que o autor nos mostra que a mesma é uma característica
definidora de toda ação humana na modernidade, através de princípios, valores,
ideais, etc. Nas culturas tradicionais, o passado é honrado e os símbolos valorizados
porque contêm e perpetuam a experiência de gerações. A tradição é um modo de
integrar a monitoração da ação com a organização tempo-espaço da comunidade.
Mas, a tradição não é inteiramente estática, porque tem que ser reinventada a cada
nova geração na medida em que assume sua herança cultural dos precedentes.
Com o advento da modernidade, a reflexividade assume um caráter diferente.
Ela é introduzida na própria base da reprodução do sistema, de forma que o
pensamento e a ação estão constantemente refratados entre si. A rotinização da
vida cotidiana não tem nenhuma conexão intrínseca com o passado, exceto na
medida em que o que “foi feito antes” por acaso coincide com o que pode ser
defendido de uma maneira proba à luz do conhecimento renovado.
A reflexividade da vida social moderna consiste no fato de que
as práticas sociais são constantemente examinadas e
reformadas à luz de informação renovada sobre estas mesmas
práticas, alterando assim constitutivamente seu caráter[...]. O
que é característico da modernidade não é a adoção do novo
por si só, mas a suposição da reflexividade indiscriminada que
é claro, inclui a reflexão sobre a natureza da própria
reflexão.(GIDDENS, 1991, p.45)
Podemos dizer que todas as formas de vida social na modernidade é
parcialmente constituída pelo conhecimento científico.
Estamos em grande parte num mundo que é inteiramente constituído através
do conhecimento reflexivamente aplicado, mas, onde, ao mesmo tempo, não
podemos nunca estar seguros de que qualquer elemento desse conhecimento não
será revisado.
Todas as ciências participam desta relação reflexiva, embora a sociologia
tenha um lugar especialmente central. Segundo Giddens (1990, p. 49), “a
modernidade é ela mesma profunda e intrinsecamente sociológica”.
A natureza problemática da confiança nas condições sociais modernas é
especialmente significativa quando consideramos os próprios sistemas abstratos,
em vez de apenas seus “representantes”. Em uma multiplicidade de sistemas
abstratos, a confiança é uma parte necessária da vida cotidiana da atualidade, quer
isto seja ou não conscientemente reconhecido pelos indivíduos em questão. Os
sistemas de confiança tradicionais eram quase sempre baseados no “trabalho
visível” por ter acesso especial às qualidades esotéricas da tradição: o guardião era
a tradição em forma de pessoa.
As características desincorporadoras dos sistemas abstratos significam uma
constante interação com os “outros ausentes”, pessoas que nunca vimos ou
encontramos, mas cujas ações afetam características da nossa própria vida. Pelo
caráter dividido e contestado da especialização, a criação de sistemas abstratos
estáveis é uma tentativa que vale a pena. Alguns tipos de sistemas abstratos
tornaram-se tão pertinentes às vidas das pessoas, que, em um determinado
momento no tempo, parecem ter uma solidez de pedra, semelhante à tradição
estabelecida, mas, são vulneráveis ao colapso da confiança generalizada.
Um fator importante a ser analisado é não confundir reflexividade com
reflexão, baseados nos estudos de Beck (1997), podemos conceituar:
A “reflexão” é individualista, consciente e intencional, volta da consciência
para si mesma, para o exame do seu próprio conteúdo. A “reflexividade” é
como um “reflexo”, não é individualista, nem consciente, nem intencional. É
o modo como o princípio referente da modernidade reflexiva entra em
contradição com o princípio da modernidade simples. A modernidade
reflexiva está em grande parte lidando com os efeitos colaterais, os perigos
ou males, que se originam da produção de bens da modernidade
simples.(...) A reflexividade, pode também incluir a reflexão, podendo ser
individual, coletiva ou institucional.(BECK, 1997,p.16-17).
Importante analisarmos neste momento a passagem do tradicional para a
modernidade racional e reflexiva.
2.4- Da produção familiar à modernidade racional e reflexiva
Os avanços tecnológicos vêm provocando mudanças em todos os segmentos
da sociedade, mudanças essas notórias também na agricultura e principalmente na
produção familiar.
Segundo Giddens, (1991, p.14)
Os modos de vida produzidos pela modernidade nos desvencilharam de
todos os tipos tradicionais de ordem social de uma maneira que não tem
precedentes. Tanto na sua extensionalidade quanto na sua
intencionalidade, as transformações envolvidas na modernidade são mais
profundas que a maioria dos tipos de mudanças características dos
períodos precedentes. Sobre o plano extensional, elas serviram para
estabelecer formas de interconexão social que cobrem o globo; em termos
intencionais, elas vieram a alterar algumas das mais íntimas e pessoais
características da nossa vida cotidiana.
Assim, em virtude do seu dinamismo, a sociedade moderna transforma todas
as relações sociais da vida tradicional e, inclusive, da produção familiar,
transformando a maneira de pensar do produtor, obrigando-o a agir de maneira mais
racional e reflexiva.
O processo de modernização da agricultura brasileira resultou em profundas
modificações nas relações sociais, no mundo do trabalho e da produção.
Em praticamente todos os setores agropecuários está havendo um
processo de racionalização dos processos produtivos, de organização
social e técnica do trabalho, de modo a acelerar a produtividade e ampliar
as condições de produção de excedente, lucro ou mais valia. Os processos
de concentração e centralização do capital, em escala mundial,
revolucionam as condições de vida e trabalho no campo, acelerando,
inclusive, a urbanização como estilo de vida, e o modo de localizar-se no
mundo. (IANNI,1994,P.14)
Para Ianni (1994) a pequena produção continua a existir, desenvolver-se e se
afirmar, não estando em vias de se extinguir, engolida pelo grande capital
monopolizado e globalizado. Porém, ele detecta diferenças marcantes na atual
configuração da pequena produção, onde as relações capitalistas estão cada vez
mais presentes, pelo assalariamento, pela integração aos processos agroindustriais,
ou por estar motivada a se atualizar via ação do Estado que, através da assistência
técnica e créditos, procura “modernizar” a pequena produção. Assim,
O mundo rural modifica-se pelo desenvolvimento mecânico, pelas novas
tecnologias, pelo avanço da engenharia genética, da biotecnologia e da
química. E este avanço no campo acontece de uma forma devastadora,
com o trabalho humano sendo substituído pelo emprego de máquinas,
fazendo com que a população diminua sempre num contexto de aumento
da produtividade. Este fato, a diminuição da população rural, é muito
importante no contexto das transformações atuais, pois modifica
profundamente o antigo modo de vida rural[...]. Assim, este é um momento
em que a globalização do capital transforma as relações sociais e de
produção no campo, trazendo conseqüentemente, mudanças culturais
profundas.(MENEZES NETO,2005,p.4)
Por meio desta modernização, a industrialização da agricultura é direcionada
para atender às demandas, cada vez maiores, do capital nacional e internacional,
apesar do discurso oficial, onde se alegava que o estágio de subdesenvolvimento
seria ultrapassado pela política de substituição de importação das tecnologias do
Primeiro Mundo. Paradoxalmente, esse processo causou e tem causado problemas
sociais ao trabalhador rural, como o desemprego estrutural.
Importante analisarmos nesse momento, o que caracterizava ser a agricultura
tradicional, segundo Esteves (2004)
24
, As Plantações eram feitas em solo preparado
a mão ou tracionado por animais, roçado a foice, fogo e enxadão. Não se pensava
em conservação do solo; apenas usava as melhores terras, depois se mudava para
outra, era uma Agricultura nômade.
A semeadura era feito à mão (em covas, e até mudas enterradas no solo e
água) de sementes e mudas com ou sem nenhuma prática de seleção.
O solo sem correção de acidez (quanto muito uso de cinza) ou adubação (uso
de esterco de animais). Quantidades insignificantes mesmo nos cultivos que eram (e
são) feitos em áreas menores.
24
In: PEREIRA, Armantino Alves(org). Agricultura de Goiás:Análise & Dinâmica.Editora
UCG.Goiânia,2004
.
O controle de pragas e doenças era feito por práticas de pequena eficácia.
Desconhecia os produtos de hoje (agrotóxicos, herbicidas, etc). A colheita quase
sempre era manual (arranquio, com enxadão, enxada, cutelo, batida em girau ou no
próprio solo com ou sem pano).
O armazenamento era simples a granel, em sacos, balaios, tulhas, paiôs,
cômodos. Os produtos não recebiam tratamentos específicos (exceto uso de terra
de formigueiro , arroz conservado em casca; café em coco; banana em cacho etc).
O transporte dos alimentos era feito em lombo de animais, carro de boi,
raramente em caminhões.
Com relação ao consumo, era feito geralmente in natura (uso de moinho,
monjolo, máquina de beneficiar, engenho, farinhas, fubás etc).
A comercialização quando sobrava da família era trocado por outras coisas ou
vendido próximo do local de produção; raramente chegava a outros Estados.
Na pecuária, os animais quase sem nenhum processo de seleção ou
melhoramento, apenas cruzamentos simples, quase não existiam vacinas,
carrapaticidas, bernicidas, rações balanceadas, mineralizadas, os pastos eram
naturais.a criação era semi ou extensiva, na alimentação usava-se sal comum. A
produção de leite e carne era pequena (produtividade, quantidade), consumida in
natura cozida, assada, frita (leite, coalhada, carne seca, defumada, de sol,
conservada em banha). Machos reprodutores juntos com as fêmeas nos pastos,
mangueiros, galinheiros etc. Sobra de leite e carne era permutada com vizinhos e
até levado por estrada de chão e trem aos compradores.
Mais recentemente vieram as fases de cria, recria e engorda para gado;
porcos em chiqueiros/mangueiros; aves/ galinheiros. No passado distante a caça e a
pesca eram atividades comuns paralelas à agricultura tradicional
Após a Segunda Guerra Mundial tornou-se mais sensível o declínio da
agricultura tradicional. Entre os fatores que mais influenciaram na decadência da
agricultura tradicional, destacam-se três:
Segundo Brum, (1988, p.59.)
a) O esgotamento da fertilidade natural do solo, em muitos casos até
a exaustão, decorrente da intensa exploração agrícola praticada
com métodos e técnicas que geralmente neglingenciaram a
preservação da natureza e a conservação, defesa e recuperação da
terra; b)a redução substancial do tamanho das propriedades rurais
em decorrência das partilhas por herança, o que forçava uma
exploração ainda mais intensa da terra escassa, acelerando seu
esgotamento ao mesmo tempo em que reduzia os frutos do
trabalho;c)Os baixos preços dos produtos agrícolas, constantemente
eviltados no mercado pela exploração dos intermediários e dos que
controlavam e comercializavam nos diversos níveis”.
Por outro lado, a introdução de fertilizantes e maquinários agrícolas é vista
pelo produtor como um passo final em uma trajetória de máximo aproveitamento das
condições naturais de produção, com o preço da destruição dos recursos ambientais
anteriores e a perda conjunta de um equilíbrio de troca entre o homem e a natureza.
Estes e outros fatores se conjugavam, trazendo como resultado o
empobrecimento do agricultor e o desestímulo agravados pela falta de perspectivas.
Essa situação se tornou progressivamente mais aguda no decorrer da década de
1950 e nos anos 1960. Por essa época processava-se o esgotamento das
possibilidades da agricultura tradicional nos moldes como vinha sendo praticada.
A ruptura de uma ética de troca de serviços entre a sociedade e a natureza, é
acompanhada de uma perda correspondente na qualidade da troca de serviços
entre categorias de produtores rurais, que se acentua no caso de agentes dos dois
pólos antagônicos: os patrões e os peões. Os recursos naturais para o trabalho rural
e as relações solidárias neste mesmo trabalho vão sendo destruídos aos poucos
porque, para produzir alimentos para o consumo e para a venda, os homens
tornaram-se ambiciosos fazendo com que se perdessem, em benefício dos
aumentos da venda (excedentes) de alguns, as reservas para o consumo
(mantimentos) de todos.
As roças cedidas foram substituídas por lavouras em parceria. O aumento das
facilidades vindas de uma sociedade de fora, aliada um aumento das dificuldades de
produção devido ao empobrecimento da natureza, responde pela situação atual de
carência de trabalho e de bens para o lavrador. Esta situação foi definida em seu
extremo quando se tornou muito difícil o acesso a terras suficientes e adequadas
para o plantio “na meia”, ao lado da redução de ofertas de emprego rural durante
todo o ano e das pressões de fazendeiros para a saída de agregados de suas terras.
Face ao estrangulamento da agricultura e da falta de perspectiva no meio
rural, o produtor é empurrado para a cidade, onde não consegue mais prover a
família de alimentos no período entre duas safras, sendo então obrigado a comprar
a comida, que lhe sobrava no passado. Esta comida acaba sendo toda ela
comprada, quando, ao não conseguir “terras de meia” em um ano agrícola, o
lavrador se divide entre peão diarista e biscateiro urbano.
Vamos analisar neste momento os efeitos que essa modernização
agropecuária produziu na produção familiar, transformando a forma de pensar do
pequeno produtor, tornando-o cada vez mais um cidadão racional e reflexivo.
O que podemos constatar sobre o que foi discutido até agora,é que na
agricultura tradicional, a maior parte das tecnologias eram desenvolvidas pelos
próprios produtores.Havia um alto grau de unidade entre o colono e a natureza, ou
seja, as condições naturais de trabalho. O produtor detinha o conhecimento técnico
necessário em seu trabalho cotidiano e produzia a maior parte dos instrumentos
necessários no processo produtivo. A família tinha grande importância no processo
de transmissão do conhecimento aos filhos.
O processo de socialização era ativo e constante, levando o produtor familiar
a reinventar o aprendido de acordo com as necessidades e possibilidades materiais
e sociais. A observação direta dos fenômenos naturais possibilitava aos
camponeses inovar seus conhecimentos. O saber tecnológico dos produtores era
fundamentalmente adquirido no trabalho e na vida, caracterizava-se por ser
experimental, não sistemático.
As tecnologias modernas não apenas carrearam mais exploração e
subordinação da força de trabalho do pequeno produtor em favor do capital, mas
também a expropriação do conhecimento. O conhecimento deixa de ser “apossado”
pelo camponês para se localizar na própria tecnologia, ao separar o conhecimento
do trabalho, retira do trabalhador a condição de domínio sobre o seu próprio
trabalho.
A racionalização da produção agrícola, viabilizada pela modernização
processou a separação do trabalho manual do trabalho intelectual; assim, a
distribuição de atividades no interior da família passa a exigir um conhecimento
especializado para a execução de determinadas tarefas.
Na medida em que a lógica capitalista foi se fortalecendo, sobretudo mediante
o capital comercial, financeiro e industrial, houve uma transformação gradual das
relações internas e dos elementos naturais que fundamentam a produção familiar. O
próprio processo de transformação tecnológica que acompanha o desenvolvimento
capitalista impõe um outro conhecimento, estreitamente vinculado aos seus
interesses.
o conhecimento camponês passou a ser questionado e desqualificado, por
não conseguir responder às imposições da sociedade em que se inseria,. A
desqualificação do saber, enquanto relação social, é uma inadequação do saber-
fazer das exigências e necessidades impostas pela estrutura de produção social
capitalista.
Um fator que deve ser ressaltado é que o conhecimento científico potencializa
o esforço empregado na agricultura, recuperando os solos empobrecidos,
aumentado a produtividade, sendo necessário para continuar a reprodução. O
produtor deve pensar reflexivamente, pois, o prestígio do conhecimento científico
adquire um poder invisível e passa a determinar os espaços em que os indivíduos
podem se mover, os tipos de relações possíveis de manter entre si e a participação
de cada indivíduo na sociedade, destacando a produção familiar.
As tecnologias que se difundiram no Brasil e em outros países latino-
americanos, encontram-se inseridas e definidas nos objetivos de desenvolvimento e,
por isso, são uma combinação de um conjunto de procedimentos e recursos que
expressam manifestações concretas das relações sócio-econômicas capitalistas.
Os conhecimentos são elaborados e sancionados sem a participação do
trabalhador, além de lhe negar a possibilidade de conhecimentos úteis, fora
daqueles propostos pelos detentores do saber. Os novos conhecimentos adquiridos
estão dissociados do universo econômico e cultural dos produtores familiares. O fato
de situar o conhecimento fora a acima da realidade prática dos produtores,
representa um mecanismo coercitivo e de controle social.
Segundo Marin (1991) O caráter científico aparece como um critério
diferenciador da cultura dominante. Oferecendo o saber verdadeiro, por meio da
cientificidade da cultura dominante. Ou seja,
“De um lado, a suposta universalidade do saber dá-lhe a
neutralidade e disfarça o seu caráter opressor; de outro lado, a
ignorância do povo serve para justificar a necessidade de dirigi-
lo do alto e, sobretudo, para identificar a possível consciência
da dominação com o irracional, visto que lutar contra ele seria
lutar contra a verdade (o racional) fornecida pelo
conhecimento”. (CHAUÍ, 1989.p.51.)
Diante do exposto, podemos perceber que o produtor familiar a todo o
momento, a partir da introdução das novas tecnologias deve monitorar
reflexivamente e pensar racionalmente a sua ação, que segundo Giddens, não é o
mesmo que motivação.
De acordo com Giddens (1991), a reflexividade é inerente ao ser humano na
modernidade. O monitoramento reflexivo da atividade é uma característica crônica
da ação cotidiana e envolve a conduta, não apenas do indivíduo, mas também de
outros.
Giddens (2003) distingue a monitoração reflexiva da ação e a racionalização
da ação de sua motivação. Se as razões se referem aos motivos da ação, estes, por
sua vez, referem-se às necessidades que a instigam. Entretanto, a motivação não
está tão diretamente vinculada á continuidade da ação quanto sua monitoração
reflexiva ou racionalização. Ela se refere mais ao potencial para a ação, do que
propriamente ao modo como a ação é cronicamente executada pelos agentes.
A monitoração reflexiva da ação, segundo Giddens (2003, p.443) “é o caráter
deliberado ou intencional do comportamento humano, considerado no interior do
fluxo de atividade do agente, a ação não é uma série de atos discretos, envolvendo
um agregado de intenções, mas um processo contínuo”.
A ação depende da capacidade do indivíduo de “criar uma diferença” em
relação ao estado de coisas ou curso de eventos preexistentes.
A estrutura refere-se, em análise social, às propriedades de estruturação que
permitem a “delimitação” de tempo-espaço em sistemas sociais, às propriedades
que possibilitam a existência de práticas sociais, discernivelmente semelhantes por
dimensões variáveis de tempo e de espaço e lhes emprestam uma forma
“sistêmica”.
Giddens (2003) concebe estrutura, como um conjunto de regras e recursos,
ou um conjunto de relações de transformação organizados como propriedades de
sistemas sociais. Os sistemas sociais em que a estrutura está recursivamente
implicada, pelo contrário, compreendem relações reproduzidas entre atores ou
coletividades, organizadas como práticas sociais regulares.
Analisar a estruturação de sistemas sociais significa estudar como tais
sistemas, fundamentados nas atividades cognoscitivas de atores localizados, que se
apóiam em regras e recursos na diversidade de contexto de ação, são produzidos e
reproduzidos em interação.
Passaremos agora para a análise do trabalho de campo realizado a partir do
levantamento dos dados nos relatórios de atividades da EMATER-GO e por meio
das entrevistas com os técnicos da extensão rural no período de 1975 à 1999.
3 - A ATUAÇÃO DA EMATER-GO E A SUA RELAÇÃO COM OS
PRODUTORES DE BASE FAMILIAR NO PERÍODO DE 1975 À 1999
A tarefa de examinar o papel desempenhado pela extensão rural durante o
período de sua criação até o período de sua liquidação, leva-nos a fazer uma
reflexão sobre a modernidade analisada por Antonny Giddens (1991), quando o
mesmo nos mostra as conseqüências trazidas por esta modernidade reflexiva e
radicalizada
25
.
De acordo com Giddens (1991), a modernidade traz alguns traços e, dentre
eles, para a reflexão da nossa proposta de trabalho, os mecanismos de desencaixe,
intrinsecamente envolvidos no desenvolvimento das instituições modernas: a criação
da fichas simbólicas e o estabelecimento dos sistemas peritos.
No contexto da modernidade, uma quantidade cada vez maior de pessoas
vive em circunstâncias nas quais instituições desencaixadas, ligando práticas locais
a relações sociais globalizadas, organizam aspectos principais da vida cotidiana.
Todas as formas de vidas sociais na modernidade são parcialmente constituídas
pelo conhecimento científico.
O indivíduo deve achar sua identidade entre as estratégias e opções
fornecidos pelos sistemas abstratos. No contexto da nossa pesquisa é a reflexão do
produtor rural com relação a sua ação, pois, a reflexividade na modernidade é
explicada pela ciência, implica auto-confrontação é compulsiva e indesejada, não
planejada. É a desqualificação e o questionamento do conhecimento tradicional do
produtor, que passa a depender do conhecimento especializado para a aplicação de
determinadas técnicas na sua propriedade.
Com a implementação da modernização da agricultura, por meio da
revolução verde foram criados mecanismos de apoio para a introdução dos pacotes
tecnológicos no campo. Dentre esses mecanismos e baseados nas análises de
Giddens, para o trabalho de campo desta pesquisa elegemos como nossa
problemática principal a atuação da extensão Rural e Assistência Técnica
(EMATER-GO) como ponto de acesso
26
entre os produtores familiares e as novas
tecnologias (pacotes tecnológicos) implementados pelos sistemas peritos (as novas
técnicas introduzidas pelos institutos de pesquisas, as normas da agronomia e
25
Ver cap. 2.3- A modernidade reflexiva- Apresentação do Modelo teórico de Giddens.
26
Ver cap. 2.3- Modernidade Reflexiva- Apresentação do Modelo teórico de Giddens
equipamentos e insumos introduzidos pela indústria), promovendo uma relação
entre a agricultura e a industria, mediados pela ciência, ou seja, a extensão rural a
serviço da revolução verde, introduzindo o capital no campo com todos os seus
reflexos e conseqüências
27
.
Para a verificação do nosso problema de pesquisa, analisamos os relatórios
de atividades institucionais da EMATER-GO de 1975 (Ano de criação da EMATER-
GO) a 1999 (Ano de liquidação da empresa), os quais nos mostram a atuação da
instituição junto aos produtores. Ao analisar estes relatórios, fazemos uma analogia
com o desenvolvimento do Estado de Goiás, verificando qual a contribuição da
extensão rural no desenvolvimento do Estado.
Nesse processo de levar a transferência de tecnologia ao campo a EMATER-
GO atuou em várias áreas: assistiu a pequenos, médios e grandes produtores,
famílias, jovens; capacitou produtores em várias áreas do conhecimento; prestou
assistência técnica às culturas do algodão, alho, arroz, banana, citros, feijão, milho,
oleráceas, soja, tomate, mandioca, abacaxi, melancia, outras culturas e outras
hortícolas; na organização rural prestou assistência às cooperativas agropecuárias,
sindicatos rurais, grupos de produtores, grupos de mães, clubes 4-S *, comissões e
outras associações; atuou também em preservação do meio ambiente
especialmente em conservação do solo; na pecuária teve atendimento prioritário em
avicultura, bovinocultura de leite e corte e suinocultura;com relação ao Bem-Estar-
Social, assistiu às áreas de saúde, alimentação e educação.
Quanto aos programas especiais do Governo Federal, a extensão rural teve
uma atuação significativa nos programas como o Polocentro, Poloamazônia e região
Geoeconômica. Devemos ressaltar também trabalhos desenvolvidos na introdução
de máquinas agrícolas, integração pesquisa-extensão, crédito rural aplicado e em
outros programas especiais como o PROVÁRZEAS/PROFIR, PROBOR e Programa
de Mobilização Energética, dentre outros.
Antes de entrar de fato no trabalho desenvolvido pela EMATER-GO no
Estado de Goiás, dando uma atenção especial à Microrregião Sudoeste do
Estado
28
, é necessário analisar o avanço das áreas de trabalho no Estado de Goiás,
pois, a partir da introdução de escritórios locais e regionais que houve o avanço dos
serviços de extensão.
27
Ver cap. 1.2- Modernização da Agropecuária Brasileira
28
Por ser a região que apresenta os maiores índices de tecnificação no Estado de Goiás.
3.1 - Áreas de trabalho atingidas no Estado de Goiás
Para introdução desse assunto é preciso entendermos primeiramente quais
são os órgãos mantenedores dos serviços de Extensão Rural nos Estados , quais
sejam: Governo Federal- Ministério da Agricultura, Governo do Estado de Goiás e
Governos Municipais -Prefeituras, tendo como órgão executor a EMATER-GO,
atuando a partir de seus escritórios locais , regionais por intermédio do Escritório
Central, com as seguintes atribuições:
Escritório Central - É o coordenador das atividades da extensão no Estado,
com sua sede em Goiânia. Compõe-se da Diretoria executiva, Departamento de
Execução de Projetos, Departamento de Planejamento, controle e avaliação,
departamentos administrativos, entre outros.
Escritórios Regionais - As unidades regionais, são responsáveis pela
coordenação, orientação e supervisão dos trabalhos à nível de regiões, são
integradas por um supervisor, assessores técnicos e administrativos, ambos com
maior experiência nos trabalhos de extensão rural, coordenam os trabalhos, em
determinada região de atuação.
Escritórios Locais - Os escritórios locais, unidades básicas e efetivamente
executoras dos serviços de extensão rural, são localizados nas sedes dos
municípios. A ação pode atingir toda a área municipal, parte dela, ou ainda, parte do
território de municípios vizinhos, sendo desenvolvida por um agrônomo ou técnico
agrícola, veterinário, que responde aos assuntos agropecuários e uma extensionista
social responsável pela atuação ante aos problemas de bem-estar social da família,
e no geral, de um auxiliar de escritório.
Ressalta-se que, nos últimos tempos, tem havido uma defasagem muito
grande na contratação desses profissionais.Os últimos concursos públicos foram
realizados em 1989 para a área administrativa e 1993 para área técnica; a junção
com a Empresa Goiana de Pesquisa Agropecuária-EMGOPA em 1996, causou
transtornos na execução dos serviços de extensão rural.
As áreas de Trabalho atingidas no Estado, ressaltando a microrregião
Sudoeste de Goiás, foram desenvolvidas conforme figura 3 abaixo relacionados:
Analisando número de escritórios locais, durante o período de 1975-1999, a
extensão aumentou os escritórios em 50%, ou seja, de 99 escritórios para 182,
considerando os 246 municípios de Goiás isso significa 74%. Os escritórios
regionais não tiveram grandes avanços, considerando que os mesmos atuam em
microrregiões, avançaram de 14 para 15 escritórios durante o período.
Considerando os municípios atingidos nos anos de 76-87, foram os anos mais
promissores em número de áreas trabalhadas, tendo algumas quedas nos outros
anos fechando em 1999 com 182 municípios atingidos. A força de trabalho,
considerando várias oscilações, aumentou cerca de 50% de 1975 a 1999, ou seja,
de 510 em 1975 para 1000 em 1999. Na microrregião Sudoeste houve um avanço
de 2 escritórios locais em 1975, para 16 escritórios em 1999, conforme figura 3.
Passando a analisar como foi desenvolvido de fato o trabalho da extensão
Rural durante o período de 1975 a 1999, fizemos o levantamento e leituras
bibliográficas de autores relacionados aos temas, o levantamento dos dados nos
relatórios institucionais da empresa de 1975(Ano de criação da EMATER-GO à
1999( Ano de liquidação da EMATER-GO), somando 24 anos de extensão rural no
Estado de Goiás.
Após tabulação dos dados, confeccionamos as tabelas e os gráficos,
visitamos o Sudoeste de Goiás para conhecer um pouco do trabalho da extensão
rural desenvolvido nessa região, fizemos entrevistas com 21 técnicos da extensão
rural distribuídos nas áreas social, agricultura e pecuária, conforme tabela 15.
Ressaltamos que procuramos abranger todas as áreas técnicas da empresa.
Nessas entrevistas conseguimos reunir experiências de atuação da empresa em
vários municípios e regiões do Estado de Goiás, quais sejam: Nordeste Goiano,
Sudoeste de Goiás, Norte, Mato Grosso de Goiás, Porangatu, Entorno de Goiânia e
Sul Goiano. Ressaltamos ainda que, atendemos todas as normas do Comitê de
Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Goiás conforme processo nº
027/2004. Todos os entrevistados tiveram conhecimento e assinaram o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido, exigência do Comitê de Ética em Pesquisa.
Para garantir o anonimato dos entrevistados, todos os nomes citados nas
entrevistas são fictícios.
Figura 3- ÁREA DE TRABALHO DA EMATER EM GOIÁS
Área de Trabalho Emater - Goiás
0
100
200
300
400
500
600
700
800
900
1000
1100
1200
1300
1400
1500
1600
1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999
Anos
Índice
Escritórios Locais Escritório Regional Escritório central Municípios atingidos
Força de trabalho Sudoeste de Goiás Municípios atingidos - Sudoeste
Fonte: Relatórios de atividades da EMATER/GO no período de 1975/1999
Organização: Eloisa Pio de Santana e André de Oliveira Amorim
Tabela 15- Relação dos Entrevistados no Trabalho de Campo em
Goiás-2005
Número de
ordem
Área de Atuação
Data da
Entrevista
Ano de Admissão
01 Técnico em Agropecuária 06/06/05 1986
02 Técnico agrícola 06/06/05 1975
03 Extensionista Social 07/06/05 1967
04 Técnico em Agropecuária 07/06/05 1973
05 Técnico em Agropecuária 07/06/05 1969
06 Veterinário 07/06/05 1981
07 Administrador Rural 07/06/05 1978
08 Engenheiro Agrônomo 07/06/05 1974
09 Zootecnista 08/06/05 1972
10 Técnico em Agropecuária 08/06/05 1977
11 Técnico em Agropecuária 08/06/05 1974
12 Extensionista Social 21/06/05 1976
13 Extensionista Rural 21/06/05 1973
14 Engenheiro Agrônomo 21/06/05 1968
15 Veterinário 22/06/05 1973
16 Engenheiro Agrônomo 22/06/05 1981
17 Extensionista Social 23/06/05 1975
18 Engenheiro Agrônomo 23/06/05 1966
19 Veterinário 23/06/05 1965
20 Técnico em Agropecuária 01/07/05 1976
21 Técnico em Agropecuária 05/07/05 1976
Fonte: Entrevistas realizadas no período de junho / julho de 2005
Elaboração: Eloisa Pio de Santana – Julho de 2005
Estas entrevistas foram não diretivas
29
, elaboramos um roteiro e durante a
entrevista a motivação foi no sentido de abranger as seguintes variáveis:
1. O desenvolvimento do trabalho da empresa durante o período;
2. A aceitação ou não das novas técnicas pelos produtores familiares;
3. As vantagens das novas técnicas implantadas e o direcionamento das mesmas.
29
Roteiro das entrevistas em anexo.
4. Quais os problemas enfrentados a partir da Extinção da EMBRATER (1990) e
Liquidação da EMATER (1999).
5. Quais as formas de gestão implantadas pelos produtores, após a adoção das
novas técnicas de manejo da agricultura e pecuária.
Enfim, diante, de todo esse processo descrevemos um pouco da história da
extensão rural no Estado de Goiás, priorizando a hipótese de que, no
desenvolvimento dos seus trabalhos, a extensão rural foi ponto de acesso entre a
modernização da agropecuária e a produção familiar, na visão dos agentes de
execução das metodologias da extensão rural.
Para um melhor desenvolvimento e entendimento da pesquisa realizada,
passamos a expor, de uma forma geral, como foi o desenvolvimento do trabalho da
empresa nesse período na visão dos técnicos.
Falar de extensão rural a partir do ano de 1975, nos faz reportar a alguns
anos atrás quando os serviços de extensão eram feitos pela Associação de Crédito
e Assistência Rural- ACAR-GO, para compreender de fato o trabalho realizado pela
Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural- EMATER-GO.
A ACAR fez um trabalho de grande importância para Goiás, porque até então,
o Estado tinha praticamente suas instituições agropecuárias que não conseguiam
muitos resultados, porque faltava integração entre elas. Mas, com a metodologia
mundial herdada dos Estados Unidos da América- EUA, que veio primeiramente
para ACAR-MG (1948), disseminou-se pelo Brasil e chegou em Goiás. Esta
metodologia de trabalho demonstrativa, de acordo com os técnicos, realmente
convencia o produtor rural, que ficava atento às novidades, analisando, e muitos
deles aderiam às novas tecnologias.
No período da ACAR-GO, os técnicos conseguiram introduzir tecnologia
desconhecida do produtor rural; práticas de saúde na parte social, ligadas à família,
como uma alimentação correta, por meio de hortas comunitárias, pomares
domésticos e a assistência social. A equipe era formada por técnicos da área de
agropecuária e da promoção social, ensinava a resolver problemas ligados à saúde
com farmácias caseiras nas quais todos obtinham os remédios necessários para
alguma emergência, bem como problemas de alimentação, vestuário.
Nesse particular a família se desenvolveu muito, nos clubes 4-S
30
criou nos
jovens uma nova mentalidade para receptividade às tecnologias. Os produtores, por
sua vez, desenvolveram-se muito, tanto na parte de agropecuária como na parte de
pecuária, pelo sistema metodológico e pelas novas tecnologias adaptadas as suas
condições trazidas pelos técnicos .
De acordo com o Engenheiro Agrônomo
31
Juarez da extensão rural;
“A ACAR-GO foi indispensável à realidade agropecuária do Estado, foi ela
quem fez a união, ou seja, a integração que era característica da
metodologia difusionista, as instituições, secretaria, trabalhavam unidos
pensando no bem de agricultura goiana, forças que estavam dispersas se
uniram formaram o famoso Programa Integrado de Pesquisa Agropecuária-
PIPAGO que nasceu em 1967-1973, era a união das instituições
conjuntamente, programando onde sementes de plantas, pastagens, foram
introduzidos e distribuídos no Estado, disseminados através dos campos
de demonstrações, através de experimentos, ensaios e os resultados foram
fantásticos, em termos de produtividade. Com o desenrolar desses
processos o Governo sentiu que a agricultura precisava avançar suas
fronteiras, assim em substituição ao PIPAGO, foi criado então o
FAO(organização para alimentação e agricultura)-ANDA(Associação
Nacional de Difusão de Adubos Fertilizantes)-ABCAR(Associação
Brasileira de Crédito e Assistência Rural), as três se uniram para realizar
esse programa no Estado de Goiás, juntamente com Secretaria da
Agricultura, Departamento de Pesquisa Vegetal do Ministério da
Agricultura, Escola de agronomia e Veterinária da UFG e o IPEAGO-
Instituto de Pesquisa Agropecuária do Centro-Oeste/EEA-Estação
esperimental de Anápolis. Foram dois programas importantes para Goiás,
as tecnologias agropecuárias foram introduzidas conforme projeto na
época, com metodologia extensionista, mostravam a necessidade de tentar
deslocar com o projeto de extensão que tinha em Goiás. A ACAR-GO além
de introduzir a metodologia extensionista, uniu as instituições
agropecuárias, foi um catalizador desse processo, tudo já existia mas
estava separado e nessa integração interinstituicional, conseguiu abastecer
Goiás dos principais dados indispensáveis à essa transferência de
tecnologia no Estado de Goiás. Eu diria até somando esses fatores com
outros fatores(programas especiais do Governo federal), fez com que
chegássemos hoje a essa alta produtividade e a esse grande
desenvolvimento, esse agronegócio pujante que é digamos assim a âncora
verde de Goiás e do Brasil como um todo”.
É preciso também analisar esse desenvolvimento de uma outra forma, pois
existiam o interesse da Associação Internacional Americana-AIA no
desenvolvimento desse processo no país. É importante ressaltar que alguns agentes
envolvidos nesse processo desenvolveram uma percepção crítica, por exemplo,
30
Ver metodologia de organização rural
31
Entrevista realizada em 23/06/05 às 11 horas.
identificando os interesses envolvidos na adoção dos modernos pacotes
tecnológicos.
De acordo com o Técnico em Agropecuária Justino
32
“O sistema internacional tinha que fomentar a modernização no Brasil pra
absorver os insumos que eles tinham a ofertar, adubos, defensivos,
maquinários, eles queriam que os agricultores evoluíssem e passassem a
ser consumidores e eles botaram as indústrias de alimentos deles
também. Que tinha que produzir matéria prima para as indústrias deles e
que tinha que absorver os insumos das indústrias deles. A ANDA-
Associação Nacional de Difusão de defensivos doava anualmente todo
fertilizante para fazermos as Unidades Demonstrativas , o adubo, que
chegou ao ponto de devolver 40% do adubo utilizado. Eles queriam que as
pessoas experimentassem e ficassem condicionadas àquilo. Mas, tinha
que ter uma associação orientando aquele sistema, então, a extensão
rural, as ACARs foi fomentada pelo grupo Rockefeller que era dono do
estudo, tem que levar essa informação, ele não tem que falar de esterco,
esterco orgânico, isso não interessava. Era adubo, era semente melhorada,
a CARGIL era deles também, era coisas que eles produziam e ao mesmo
tempo abastecia as industrias de alimentos que eles também(...).O
produtor pensou que estava evoluindo, mas, estava alimentando um
sistema que é a revolução verde, foi pra isso. Aí o negócio ficou
independente, passou a não ter importância mais ter uma associação,
passaram a não investir mais, passaram a não vir dinheiro internacional
para as ACARs, porque o que eles queriam já tinha sido cumprido, já tava
todo mundo consumindo, as cooperativas também foram criadas para esse
fim, porque as cooperativas tinham que montar armazéns para receber a
produção e daí ir para as indústrias deles, toda estrutura estava montada.
Os dias de campo, excursões que era uma metodologia própria da
extensão tudo quanto era empresa de adubo passou a fazer, outras
instituições passaram a fazer. Aí faltou recursos, o governo da revolução
reconhecendo o grande desempenho da extensão, então vamos fortalecer
esse sistema, então criou a EMBRATER-Empresa Brasileira de Assistência
Técnica e Extensão Rural que assumiu as atribuições da ABCAR e nos
Estados criaram as EMATERs, o que foi para a EMATER-GO: o CAT-
Coordenação de Assistência Técnica Integral da Secretaria da Agricultura,
O CONDEPE- Conselho de Desenvolvimento da pecuária de corte, tinha
um monte de veterinário e a ACAR-GO. O Estado resolveu estatizar os
serviços de Assistência Técnica e Extensão Rural por achar importante e
até porque o Estado Autoritário queria o domínio, não que a sociedade
fizesse a gestão, a decisão foi do Governo Federal. Desmanchou uma
cultura e implantou outra “.
Deve ser considerado o grande desenvolvimento do Estado nesse período,
mas há também que se entender como foi desenvolvido o processo.
Após esclarecermos sobre o período anterior da EMATER-GO, para que fique
claro o objetivo da sua criação, demonstraremos como foi desenvolvido o trabalho
da EMATER-GO durante esse período. Segundo o Engenheiro Agrônomo
Henrique
33
,
32
Entrevista realizada em 01/07/05 às 8h30
33
Entrevista realizada em 07/06/05 ás 18h
“Na época com a vinda do POLOCENTRO , POLOBRASÍLIA, e
POLOAMAZÔNIA, tinha-se por medo que faltaria alimento para a
população, um dos principais objetivos dos programas. Tinha muito recurso
e houve um grande incremento de tecnologia, muitos técnicos da própria
EMATER, começaram a trabalhar com Assistência técnica e abriram
empresas. O desenvolvimento tecnológico para o produtor foi grande,
vinham pessoal de fora, São Paulo, compravam terras baratas. O
programa financiava a compra de terras e de calcário para o
desenvolvimento da região. Foi bom para a extensão, pois, houve injeção
grande de recursos. Iniciava com agricultura e terminava com pecuária.
O Engenheiro Agrônomo Eduardo
34
acrescenta,
“Nessa época, nos anos 80, época de bastante efervescência na
agropecuária no Estado. Haviam vários programas como Pró-leite,
Polocentro e vários outros. Grande parte do cerrado foi desmatado e a soja
começou a surgir como cultura alternativa para a região do cerrado, as
culturas tradicionais perderam terreno, assim com as pastagens nativas.
Houve grande desenvolvimento em alguns pólos do Estado e
principalmente da região Sudoeste em função da característica de relevo e
solo, por serem áreas planas, tinha só um limitante que era a fertilidade, aí
com a introdução de calcário, da variedade adaptada a essa condição e
mais adubação e manejo foi possível se produzir nessas terras. Houve
então um grande desenvolvimento, foi a época do desenvolvimento, foi a
época do desenvolvimento da soja e do milho e as primeiras
agroindústrias, revendedoras de equipamentos e insumos e para nós da
EMATER que estávamos presentes em quase todos os municípios do
estado de Goiás, poucos municípios tinha atividade nessa área no setor
privado, praticamente a EMATER na época realizava o trabalho de
assistência técnica, elaboramos vários projetos e fechamento de colheitas”
.
A maioria dos técnicos afirmam que o trabalho da empresa, nesse período,
era um trabalho mais coordenado; segundo eles, havia uma disposição e uma
organização da própria empresa no desenvolvimento dos trabalhos, um
planejamento, era uma época melhor para se trabalhar.
Baseados nas entrevistas e nos dados coletados nos relatórios, destacamos
como atividades principais da extensão rural:
3.2 - Número de produtores assistidos
Antes de analisar o número de produtores assistidos pelos serviços de
extensão rural no Estado de Goiás, precisamos primeiramente tecer algumas
considerações a respeito do público alvo da instituição em estudo, tendo em vista o
processo de modernização da agricultura brasileira.
34
Entrevista realizada em 22/06/05 às 15h30
Destaca-se o primeiro Plano Diretor Qüinqüenal (1961-1965), no qual o
Sistema ABCAR
35
alinha-se ao modelo de modernização conservadora, patrocinado
pelo Governo federal e apoiado, fundamentalmente pelo estímulo ao uso do crédito
rural subsidiado, com vistas à tecnificação da agricultura para a produção de
excedentes comercializáveis.
Neste contexto, os médios e grandes produtores ganham espaço como
público-meta do serviço de extensão rural, que, segundo o sistema vigente na
época, estaria mais preparado para atender às exigências bancárias de garantias
reais para a concessão de créditos, além de apresentar melhores condições de
respostas a tecnificação proposta para a produção de excedentes, como previa o
modelo de modernização em vigor
36
.
As implicações desse modelo se fizeram sentir na modificação da estratégia
de atuação, a extensão rural passa a atuar dentro de um processo de contato
individual baseado em visitas para orientação técnica e creditícia, em detrimento de
um trabalho grupal e participativo. Com este processo, o trabalho com a família foi
questionado e enfraquecido.
Com a criação da EMBRATER
37
(1975) e a extinção da ABCAR (1975), o novo
sistema elege como prioritárias algumas diretrizes e estratégias, dentre elas,
prioridade aos pequenos e médios produtores rurais, aos agricultores e
trabalhadores rurais sem terra e às famílias dos agricultores assistidos
representados pelas mulheres e jovens rurais.
Importante nesse momento, buscarmos informações para analisar os critérios
que a empresa adotava para caracterizar pequeno, médio e grande produtor.
Segundo O Engenheiro Agrônomo Eduardo
“A gente teve um tempo em que na EMATER a gente classificava de 0 a
100ha, pequeno produtor, de 100 a 500ha, médio produtor, de 500 em
diante, grande produtor. Era basicamente o único critério que a gente tinha
para enquadrar, era o tamanho da propriedade. Hoje os critérios são
basicamente os preconizados pelo sistema de crédito, pelo PRONAF, é um
movimento quer vem do próprio produtor, e definir os critérios da mão de
obra, renda, forma como administra e prática do processo produtivo”
35
Ver cap.1.4 para maiores informações.
36
Ver cap. 1.2 para maiores informações.
37
Ver cap.1.4 para maiores informações.
De acordo com os técnicos, hoje se trabalha somente com o critério da renda,
junto aos bancos; antigamente o INCRA tinha um, O IBGE tinha outro e assim
sucessivamente.
Nessa perspectiva, a EMATER-GO, tomando como base a assistência aos
produtores a partir do ano de 1980, intensificou a assistência aos pequenos
produtores, atendendo em média 30.000 pequenos produtores ao ano, sendo que,
estabilizados nos anos 1980/1981, houve uma queda em média de 15% nos anos
1982/1987, uma pequena ascensão em 1988, tornando a haver uma queda nos
anos 1989/1992, permanecendo na mesma média de ascensão nos anos
1993/1999. Foi decrescendo o atendimento aos médios produtores entre 1975-1999,
atingindo em média 10.000 produtores/ano. O atendimento aos grandes produtores
da mesma forma foi decrescendo durante o período, atingindo uma média de 2.500
produtores/ano. (figura 04)
Com relação às famílias rurais, o atendimento atingiu uma média de 6.000
famílias no ano de 1981, tendo um corte de atendimento nos anos de 1982/1986,
com um aumento considerável nos anos de 1987/1999, atingindo em média 10.000
famílias ao ano. A empresa assistiu a uma média de 3.000 jovens rurais nos anos de
1980/1999, ocorrendo um corte no atendimento nos anos de 1981/1986.
Baseados nos dados da figura 04 podemos perceber que apesar do
atendimento a este grande número de pequenos, médios e grandes produtores, não
houve aumento no total geral de produtores assistidos pela extensão rural. Isto nos
leva a inferir que o problema poderá ter ocorrido pela repetição dos mesmos
produtores assistidos durante o período em questão, ou seja, 1980/1999. Mas,
segundo o Técnico em Agropecuária, Amadeus
38
, a repetição se dá pelo seguinte
fato,
“O trabalho da EMATER visava você formar o produtor, dar a ele uma
sustentação para que ele pudesse andar com suas próprias pernas, né.
Praticamente você trabalhava com o produtor até ele se sentir auto-
suficiente, são poucos que chegam a esse patamar propriamente dito, e se
profissionaliza. Mas é uma forma que você pode jogar ele numa situação
onde ele depende muito menos. Se ele era um produtor que vinha toda
semana no escritório à medida que você vai profissionalizando ele,
introduzindo tecnologia, ele passa a vir de 15 em 15 dias, uma vez por
mês, ou às vezes ele se sente até com mais confiança de trabalhar, é
nesse momento que a gente passava a procurar novas áreas e novos
produtores”.
38
Entrevista realizada em 05/07/05 às 15h30.
Figura - 4- Nº DE PRODUTORES ASSISTIDOS EM GOIÁS 1975-1999
Gráfico N de Produtores Assistidos
0
5000
10000
15000
20000
25000
30000
35000
40000
45000
1980 1981 1982 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999
Anos
Índice
PRODUTORES ASSISTIDOS Grandes Médios Pequenos Famílias Jovens
Fonte: Relatórios de atividades da EMATER/GO no período de 1975/1999
Organização: Eloisa Pio de Santana, André de Oliveira Amorim e Dr. Fausto Miziara
Conversando com outros técnicos estes afirmam que alguns produtores
levavam até 10 anos para se emancipar. Isso nos leva a refletir como era a relação
dos extensionistas com os produtores, o que fazia os produtores ficar tanto tempo
dependendo de um serviço dessa natureza.
De acordo com todos os técnicos entrevistados, a relação no passado era
muito boa, era uma relação de confiança; além de um planejamento com a
comunidade, havia vários técnicos para fazer a extensão.
Nas palavras do Veterinário José Reis
39
“Muito boa, a gente era treinado, muito bem treinado para conversar com o
produtor, era uma relação de confiança, o pessoal da ACAR e da
EMATER eram muito respeitados”
Para a extensionista social Eliane
40
,
“Olha no passado foi muito boa. Hoje está mais difícil, mas tem muita
confiança. A demanda está grande e não têm técnicos. Não há
desenvolvimento do trabalhador sem a extensão”.
Para o Técnico em Agropecuária, Justino,
“relação de confiança, amizade, família, interação. Um tempo bom, mais
com muito sofrimento, a gente vivenciava e o produtor vivenciava a
extensão”
Em contraposição aos outros o Engenheiro Agrônomo, Eduardo , ressalta,
“A relação sempre foi muito paternalista, além disso era gratuito, de graça
chegando a ponto de não se reconhecer mais o valor do técnico por causa
disso. Hoje a gente acha que a relação tem que ser menos paternalista e
mais pro-ativa, as pessoas participando do processo (...). Naquela época
as coisas eram mais impostas, o Estado ainda se julgava suficiente, então,
ele sempre colocava no poder de atender às necessidades, as pessoas. A
gente queria dar trator pra mundo, sementes, adubo, chegou o tempo que
isso se tornou inviável, impossível, hoje as pessoas tem coragem e
disposição de pagar para ter acesso às tecnologias, aos mecanismos de
produção, hoje o paternalismo a tendência é desaparecer né, as pessoas
estarem conscientes que precisam valorizar aquilo que estão recebendo e
até pagar pelos serviços, é um processo meio lento, mas estamos
caminhando pra isso”.
39
Entrevista realizada em 23/06/05 às 15h30.
40
Entrevista realizada em 21/06/05 às 9h15
Agora , paternalista ou não a confiança dos produtores com os técnicos era
muito fortalecida, e isso, é unânime entre os técnicos da empresa, talvez por ser
justamente paternalista. Só que quando da liquidação da EMATER-GO (1999) e
criação da AGENCIARURAL em que houve a junção com o IGAP órgão de defesa e
fiscalização, essa confiança foi abalada e tornou difícil o desenvolvimento dos
trabalhos, porque os produtores ficaram desconfiados do verdadeiro papel que a
EMATER-GO estava desempenhando a partir desse momento. Eles não foram
preparados para isso, as coisas aconteceram de maneira muito brusca.
Nas palavras do Técnico em Agropecuária, Amadeus
“Com certeza a confiança ficou abalada com a junção com a defesa, o
produtor tinha nos técnicos da EMATER-GO, uma confiança muito grande,
ele abriu suas portas, a porta de sua casa, sua propriedade, dos seus
negócios, ele não tinha o menor receio de falar de sua situação econômica,
social, essa coisa toda, mesmo porque ele tinha confiança que o objetivo
da empresa era só de ajudá-lo, E, quando veio a necessidade dessa
junção, esse mesmo técnico que ele abriu as portas pra ele, o recebeu, deu
todo apoio pra ele poder adentrar sua propriedade e fazer com que o
próprio produtor desenvolvesse, esse mesmo técnico um dia chegou lá
com outra finalidade que era de fiscalizá-lo, talvez às vezes ele nem tinha
conhecimento disso e o técnico mesmo sem querer, mas dentro de sua
obrigação foi obrigado a multá-lo, adverti-lo, a tomar uma série de medidas
do qual, nem ele, nem o produtor que aquilo chegasse aquele ponto, mas
foram as circunstâncias, isso veio então a fazer com que o produtor que
tinha grande receptividade para os técnicos, passou a ficar meio arisco em
termos de aceitação, informação e outras mais”.
Importante ressaltar neste momento a confiança em sistemas abstratos no
contexto de modernidade já mencionada por Giddens (1991) pois,a confiança é a
crença na credibilidade de uma pessoa ou sistema, sendo ele criada socialmente, e
não dada pela natureza das coisas. Essa confiança está muito clara no
relacionamento dos técnicos com os produtores rurais no desenvolvimento dos
trabalhos da extensão rural.
3.3 - Preservação do meio ambiente
Com relação à preservação do meio ambiente, a EMATER-GO reuniu neste
programa as atividades especificamente voltadas para a conservação do solo para o
benefício às microbacias hidrográficas e para o uso racional do agrotóxico.
Analisando especificamente o trabalho voltado à conservação do solo, temos os
seguintes dados:
Em 1975 a empresa deu assistência a mais de 600.000 ha de área, segundo
os relatórios; tendo um decréscimo de 50% em 1976, uma grande queda nos anos
1977/1979, aumentando no ano de 1980, tornando a decair nos anos 1981/1985;
tendo um aumento razoável em 1987/1989, oscilando para uma queda em 1990,
com um período bom de 1991/1996, em 1996 atingindo a média de 1975 e 1989,
não tendo grandes avanços de 1997/1999, conforme figura 5.
Para justificar os avanços no gráfico de conservação do solo no Estado, se
explica pelo fato de ter havido quatro injeções de recursos durante o período:
Programa Federal de Conservação do Solo (1975), Programa Estadual de
Conservação do Solo (1980), Formação da Primeira Comissão de conservação do
Solo- Fundação EMAS-Mineiros (1989). Logo depois houve liberação de recursos
para os programas (1996), pois o modelo de modernização já havia se esgotado e a
conservação do solo estava se fortalendo cada vez mais. Para o zootecnista,
Alberto
41
,
“A Fundação Emas, foi criada pela EMATER-GO há vinte anos atrás em
Mineiros-GO, é a Comissão de Conservação dos Solos nos municípios, foi
uma semente que rendeu frutos. Mas, hoje a extensão foi esquecida. A
fundação Emas é bastante conhecida”
Vale ressaltar, que a prioridade à conservação do solo estava voltada para as
regiões onde o cultivo e a mecanização são intensivos: Sul, Sudoeste e Mato Grosso
de Goiás. Outro fator que contribuiu para esta prática a partir de 1975 foi a criação,
pelo Governo Federal, da Lei que disciplinava “a proteção do solo”(Lei nº 6.225 de
14/07/1975).
A explicação para essa prioridade à conservação do solo em determinadas
regiões se dá pelo fato de serem regiões agricultáveis com muita lavoura, o que
exige que se faça conservação do solo.
Para o Engenheiro Agrônomo, Eduardo,
“É na verdade nessa época essa atividade, essas regiões foram as
primeiras que entraram no processo de uso intensivo da terra, agricultura
intensiva, naturalmente à exposição mais constante de uso das máquinas,
equipamentos, plantio todo ano, começou um processo de degradação do
ambiente , isso foi detectado e teve um uso intensivo dessas técnicas, de
conservação dessas áreas. Nessas áreas tidas com melhor qualidade de
mais cultura, tem um relevo desfavorável para agricultura, então se
degradavam com mais rapidez né, então por isso a ação nossa dentro
essas áreas especificamente. Hoje não se consegue nada sem se utilizar a
conservação do solo. Já era o início da preservação do meio ambiente”.
41
Entrevista realizada em 08/06/05 às 8h40
Figura 5- GRÁFICO DAS ÁREAS ATENDIDAS COM CONSERVAÇÃO DO SOLO EM GOIÁS 1975-1999
Conservação do Solo
0
100.000
200.000
300.000
400.000
500.000
600.000
700.000
1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1987 1988 1989 1990 1991 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999
Anos
área conservada
Conservação do Solo
Fonte: Relatórios de atividades da EMATER/GO no período de 1975/1999
Organização: Eloisa Pio de Santana, André de Oliveira Amorim e Dr. Fausto Miziara
3.4- Capacitação de mão de obra rural
De acordo com dados da empresa a capacitação de mão de obra tem por
objetivo a melhoria da mão de obra do setor primário, representada por produtores,
assalariados, jovens, dirigentes de cooperativas, por meio da transferência de
tecnologia, visando o aumento da produção e da produtividade ao mesmo tempo
que concorre para a elevação das condições de vida do homem do campo.
Os cursos de capacitação abrangiam várias áreas: olericultura, arroz, milho,
soja, sericicultura, feijão, fruticultura, algodão, bovinos de corte e leite, educação,
nutrição, alimentação, saúde, organização rural e conservação do solo, dentre
outros. Para a realização desses cursos os serviços de extensão rural contavam
com a participação de parceria com profissionais liberais, órgãos e entidades
federais, estaduais e municipais, além de recursos técnicos e financeiros à época
postos à disposição do programa. o Programa Intensivo de Preparação de Mão de
Obra- PIPMO, Organização de Saúde do Estado de Goiás- OSEGO, Fundação
Nacional do Bem Estar do Menor- FUNABEM , Serviço Nacional de Aprendizagem
Rural- SENAR, dentre outros.
Outro fator também considerado para a realização desse programa de
capacitação de mão de obra rural é que a carência de mão de obra qualificada no
meio rural acentua-se à medida que novas tecnologias são introduzidas no setor
agropecuário.
Partindo desses princípios, analisando os dados referentes aos anos de
1975/1999, podemos verificar que a quantidade de cursos oferecidos em média foi a
mesma durante os anos e os produtores atendidos atingiram praticamente a mesma
média durante os anos, tendo um avanço a partir de 1977, atingindo um maior índice
em 1994/1997. (Figura 6)
É importante analisar neste momento como era feito o trabalho de
transferência de tecnologia aos produtores, como era a aceitação dos produtores
com relação a essas técnicas, e que resultados a empresa obtinha visando o
aumento da produção, a produtividade e o bem-estar do produtor e da sua família.
Figura 6- CAPACITAÇÃO DE PRODUTORES RURAIS EM GOIÁS 1975-1999
Capacitação
0
2000
4000
6000
8000
10000
12000
14000
16000
18000
1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999
Anos
Índice
Cursos Produtores Capacitados
Fonte: Relatórios de atividades da EMATER/GO no período de 1975/1999
Organização: Eloisa Pio de Santana, André de Oliveira Amorim e Dr. Fausto Miziara
Segundo os técnicos da extensão, primeiramente eram feitos contatos para
conhecimento da realidade do produtor; logo após eram feitas visitas periódicas,
reuniões, unidades demonstrativas para a transferência de tecnologia, dias de
campo e excursões, para mostrar os resultados obtidos aos produtores.
O técnico em agropecuária Paulo André, destaca
“Antigamente o trabalho de transferência de tecnologia era repassado aos
produtores através de Unidades Demonstrativas que a gente fazia,
antigamente, a gente tinha os recursos eles viabilizava via regional, né, e
tinha os técnicos que eram responsáveis nas áreas pela implantação das
unidades nas áreas de milho, feijão, soja, todos os cereais em geral, na
área bovino de corte, leite. A gente fazia diretamente com o produtor rural
e eles se tornava um multiplicador rural e aquelas tecnologias que eram
utilizadas eram repassadas aos pequenos produtores. Os cursos de
capacitação naquela época eram passados pelo programa falavam
PIPMO, Através da EMATER. Hoje com essa mudança aí né acaba
dificultando os recursos e os cursos de capacitação do produtor são feitos
através da Fundação -FUNDATER , hoje a capacitação é feita através dos
recursos do FAT. A FUNDATER tem uma meta e tem que cumprir aquele
de números de produtores a capacitar. É feito uma avaliação do que
realmente a região precisa e tem a demanda nas associações , dos
projetos de assentamentos que eles solicitam o que eles necessitam .
Agora estamos com alguns cursos, nos assentamentos: processamento de
leite derivados do leite e horticultura”.
O técnico em agropecuária Cláudio
42
, acrescenta,
“Basicamente, era feito através de campos de demonstração, nessa época
os famosos campos de demonstração, você queria transferir tecnologia ao
produtor, você ia e montava os campos de demonstração , nesse campo
de demonstração você fazia tudo que era necessário e mostrava ao
produtor aquilo que estava colocado ali . A relação entre pesquisa e
extensão, mas na verdade não era uma pesquisa e sim uma técnica
consolidada. Você fazia a demonstração da técnica em uma propriedade e
fazia dias de campos para demonstração das técnicas aos produtores,
então era assim que era feito”.
É importante também analisar a aceitação dos produtores quando do
recebimento dessas técnicas, se recebiam de imediato ou se havia resistência, se
viam vantagens ou desvantagens nas mesmas. Tudo isso é importante observar
para analisar a relação dos extensionistas com os produtores, pois a aceitação ou
não dependia do nível de confiança estabelecida entre eles. Para os técnicos, isso
não foi tão fácil, exigia paciência, habilidade para transformar, adequar o que era
tradicional em conhecimento moderno.
42
Entrevista realizada em 07/06/05 às 10h15.
Segundo o Veterinário Rafael
43
,
“Naquela época eram técnicas mais simples. Falávamos,
mostrando as técnicas através de Unidades Demonstrativas e
Unidades de Observação
44
.Nem todos viam vantagens,
somente quando a técnica era implantada e ele via o resultado
aí sim ele aplicava no próximo ano. Muitas vezes era preciso
trabalhar com vizinhos de produtores mais arredios para que
chamassem o produtor para ele ver o resultado das técnicas,
onde o próprio produtor falava sobre a técnica para os outros,
tentado convencer seus vizinhos”
Para o técnico em agropecuária Paulo André
45
,
“Não, não aceitavam de imediato. A gente encontrava alguns
produtores, né, por terem aquelas técnicas tradicionais antigas,
a gente encontrava algumas resistências. Mas, encontrava
aqueles, né, que era mais fácil o acesso e a gente conseguia
levar aquele pacote de tecnologias e implantar, certo. Mesmo
que era um pouco difícil, mas com o resultado que a gente já
tinha da pesquisa que tinha testado e os resultados eram
positivos, facilitava aquele trabalho com o produtor, ou aqueles
produtores que tinham mais aceitabilidade da tecnologia e
conseqüentemente ele se tornava multiplicador na área né.
Então, através dele a gente conseguia levar até os outros
aquela tecnologia que dava resultado mais positivo e uma
renda melhor para a família, conseqüentemente melhorando o
seu aspecto de vida das famílias. Eles viam vantagens ao
utilizar as técnicas, era melhor utilizar aquelas técnicas porque
a gente tinha certeza daquilo e a gente tinha como realmente
aplicar aquelas tecnologias que nós tínhamos realizado, e,
nós”. podíamos orientar realmente, eles poderiam utilizar
aquela atividade no meio rural. O resultado era positivo”.
Uma outra questão destacada por vários técnicos era que naquela época as
tecnologias eram mais demoradas , os meios de comunicação não chegavam ao
campo com a velocidade que chegam hoje, então um processo de adoção que
envolvia desde o dia em que ele recebia a primeira mensagem até a adoção da
técnica, era muito mais demorado.
Analisando esta oposição entre o tradicional e moderno, Giddens (1997)
afirma que a modernidade sempre se colocou em oposição à tradição. A experiência
global da modernidade está interligada e influência, sendo por ela influenciada, a
43
Entrevista realizada em 22/06/05 às 14h
44
A diferença entre Unidades Demonstrativas(UD) e Unidades de Observação(UO) é a seguinte, as
UDs eram feitas com produtor as UO eram abertas somente aos técnicos, pois as técnicas ainda
estavam sendo analisadas para serem repassadas ao produtor em forma de UD.
45
Entrevista realizada dia 07/06/2005 as 09:00 hs
penetração das instituições modernas nos acontecimentos da vida cotidiana. Ou
seja,
Estamos todos presos às experiências do cotidiano, cujos resultados, em
um sentido genérico, são tão abertos quanto àqueles que afetam a
humanidade como um todo. As experiências do cotidiano refletem o papel
da tradição, em constante mutação e, como também ocorre no plano
global, devem ser considerados no contexto do deslocamento e da
reapropriação de especialistas, sob o impacto da invasão dos sistemas
abstratos. A tecnologia, no sentido geral da técnica, desempenha aqui o
papel principal, tanto da forma de tecnologia material quanto da
especializada expertise social.(GIDDENS,1997,p.77)
A tecnologia (conhecimento) transformada em processos de uma
determinada ação, arte ou ciência.
Quando enfatizado aos técnicos nas entrevistas sobre o conhecimento
tradicional do produtor rural os mesmos relataram que,
Engenheiro Agrônomo Eduardo,
“O conhecimento tradicional nunca foi esquecido e sempre procuramos
respeitar e dar crédito. O saber dele nunca foi desprezado, aliado à nossa
explicação científica”
O técnico em agropecuária, Luís Antônio diz que,
“O conhecimento tradicional é importantíssimo. O que a gente tenta é
aprimorar o que ele já sabe, e não acabar”.
A empresa, também, num certo período, adotou um projeto chamado Projeto
de Convivência para detectar realmente o que aquele produtor, aquela família
estava necessitando.
O Extensionista Rural, João Pedro
46
nos falou sobre a implantação e o
porque desse projeto,
“Eu me lembro muito bem que criaram um trabalho justamente nessa área
de sociologia, na área de movimento sociológico, socializar o produtor, que
foi tirar o técnico do escritório e conviver com o produtor rural, chamava
naquela época Projeto de Convivência com o produtor rural, vinham
aqueles projetos enlatados lá de cima, a gente era obrigado a adequar e
jogar em cima do produtor rural, a gente via que não dava certo e quando
a gente percebeu que tinha que criar um projeto de acordo, projeto
diferenciado para atender a essa gama que era grande de produtor rural,
então achamos melhor criar um programa de convivência, o técnico saía do
escritório e ia conviver um mês, até dois meses junto com o produtor,
trazendo dali, a convivência de acordo como o produtor vive e viu de perto
o que realmente aquela comunidade estava precisando, daí ver qual o
projeto encaixaria de acordo com a necessidade de cada produtor”.
46
Entrevista realizada em 21/06/05 às 14h30.
O que observamos neste depoimento é uma contraposição à perspectiva
anterior relatada pelos técnicos, com relação ao conhecimento tradicional,
Assim, podemos perceber que a empresa capacitou produtores, transferiu
tecnologia, pois era o seu papel, mas, será que conseguiu inserir o produtor no
mercado, aumentou sua produção e produtividade, conseguiu o bem estar do
produtor e sua família? Em entrevistas com os técnicos, foram obtidas as seguintes
informações.
O Engenheiro Agrônomo, Juarez,
“Eu acho que quase totalmente, a ACAR-GO foi o pivô e a EMATER-GO foi
a continuidade. Sem essa duas instituições do passado, eu penso, que a
agricultura em Goiás estava lá embaixo, houve é claro falhas, há claro
críticas, mas, o sistema de extensão rural ACAR/EMATER, ajudou o
produtor e graças a elas houve esse aumento da produção e da
produtividade. O agricultor nos anos 70/78, o agricultor não sabia o que era
calcário, nem adubo, de num modo geral, hoje ele já sabe, bem ou mal,
houve a inserção, e a extensão contribuiu com o aumento da produção e
produtividade, graças a ela, claro que não sozinha, a pesquisa esteve
sempre presente, ajudando, fazendo, as duas fizeram isso”.
No depoimento do Engenheiro Agrônomo Eduardo, ele acrescenta mais,
“A princípio era aumentar a produção
47
e depois veio o conceito de
produtividade
48
. Para o produtor familiar houve um desenvolvimento do seu
capital social, ou seja, participa de associações, cooperativas, tem
consciência, diversificação, passou de uma produção de subsistência para
ter um excedente de produção, e, tem produtos que é exclusividade da
produção familiar”.
Um outro fator a ser destacado é que naquela época não existia outro órgão
que fizesse isso a não ser a extensão rural, segundo o Técnico em Agropecuária
Amadeus,
“Perfeitamente. Tudo o que foi feito até agora em termos de promoção do
pequeno produtor principalmente, se não fosse feito pela extensão
praticamente não teria sido feito por ninguém, a gente não vê nenhum
outro órgão estruturado durante este período, substituindo esse apoio ao
pequeno que não fosse a extensão rural. Bem ou mal o que se pode
fazer,foi feito , acho que devemos isso à EMATER hoje AGENCIARURAL”.
47
Soma de toda produção agrícola e pecuária de uma determinada região ou país em determinado
período.Fonte: ORMOND, José Geraldo Pacheco. Glossário de Termos Usados em Atividades
Agropecuárias, Florestais e Ciências Ambientais.Rio de Janeiro. Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social, 1ª edição,2004.
48
Relação entre a quantidade ou valor produzido e a quantidade ou valor dos insumos aplicados à
produção; eficiência produtiva. Idem.
Conforme as entrevistas, houve uma mudança na área técnica, assim como
na parte de capital social, ao serem inseridos num processo de participação em
grupos sociais.
Para fazer transferência de tecnologia junto aos produtores, era preciso uma
boa relação com os órgãos de pesquisa;este fator também foi discutido com os
técnicos da extensão rural. Segundo eles, a extensão não vive sem a pesquisa e, se
a pesquisa não se integrar com a extensão perde a função de ser. No Estado de
Goiás, com a criação da EMGOPA- Empresa Goiana de Pesquisa Agropecuária em
1973, veio a Estação Experimental de Arroz e Feijão, o relacionamento das
instituições, segundo eles, foi mais fácil. Porém a nível nacional eles têm algumas
reclamações.
Para o Engenheiro Agrônomo Juarez
“Todavia, a nível nacional, sempre que a extensão quis unir de forma mais
eficaz com a pesquisa, não deu muito certo. Por duas razões, primeiro, a
cultura do extensionista difere da cultura do pesquisador, o extensionista
tem que comunicar, tem que desqualificar a tecnologia, torná-la simples a
ser usada pelo produtor. Já o técnico ligado à pesquisa de um modo geral
é introspectivo, ele fala pouco e fala a linguagem técnica e científica, então,
não deu certo, houve uma tentativa em Goiás, mas, não foi pra frente”.
O técnico em agropecuária Amadeus já pensa de maneira um pouco
diferente,
“Olha a relação sempre foi muito boa, a pesquisa como é do conhecimento
de todos, são órgãos que pesquisam, produzem resultados, mas tem uma
certa dificuldade de levar esse resultado ao produtor, então, nós éramos,
havíamos de fazer chegar ao produtor essas tecnologias geradas pela
pesquisa, como da antiga ENGOPA como da EMBRAPA, das
universidades e outros órgãos que conseguíamos trabalhar com
convênios”.
Todas essas dificuldades enfrentadas de uma forma ou de outra, são
explicadas pelo Engenheiro Agrônomo Eduardo da seguinte forma,
“Hoje depois de 15 anos que a gente vem discutindo a questão das
parcerias, hoje estamos maduros para fazer as mesmas. Os parceiros já
conseguem entender que quando se junta não é para tomar nada do outro,
pelo contrário, é para juntar forças e cada um dar o melhor que tem. Foi
aprendido com a convivência, foi preciso 10,15 anos para se chegar a essa
conclusão”.
Cabe aqui fazer a diferenciação existente num sistema perito, ou seja, o
sistema perito que rege a modernização no campo é a ciência agronômica, este
sistema se divide em produtores do conhecimento que no caso são os institutos de
pesquisa e nos difusores do conhecimento que são os pontos de acesso, que no
caso é a extensão rural.
3.5 - BEM ESTAR SOCIAL
De acordo com os dados institucionais, o objetivo desse trabalho era o de
melhorar o nível de vida junto às famílias e comunidades, a EMATER-GO atuando
prioritariamente nas áreas de saúde, alimentação e educação.
O trabalho em saúde voltou-se para a educação sanitária, formação de infra-
estrutura sanitária e prevenção às doenças de massa. Na área de alimentação
enfatizou-se a educação alimentar, levando-se conhecimentos sobre produção de
alimentos a nível doméstico, educação nutricional, consumo de alimentos e melhoria
de hábitos alimentares.
Em educação, procurou-se somar ação aos esforços públicos, no sentido de
solucionar problemas educacionais, dinamização de escolas rurais, construção de
escolas, utilizando-se das forças vivas da comunidade. Em alimentação, enfatizou-
se a educação alimentar, levando conhecimento sobre produção, produtividade e
consumo de alimentos e melhoria de hábitos alimentares.
O atendimento em saúde no período de 1975/1999 teve grandes oscilações
devido às campanhas e imunizações contra doenças infecto-contagiosas, nos outros
anos manteve-se uma média, sem grandes avanços. (Figura 07)
Em alimentação e educação, os dados nos mostram que há uma grande
oscilação de um ano ao outro, tanto crescente como decrescente, deixando uma
certa dúvida com relação à veracidade dos dados. Bem, em entrevistas com
extensionistas sociais, elas nos explicaram este fato da seguinte forma,
Para a extensionista social, Maria do Carmo,
“Na década de 70/80, não havia outra empresa que fizesse isso. Existia
somente um posto de saúde só em algumas cidades em funcionamento,
existia um médico, nós é que fazíamos tudo.
Para a extensionista social, Eliane
“O trabalho de bem estar social no interior foi pioneiro e histórico, o trabalho
da extensionista social foi muito bom para os técnicos, pois, levava todo
aquele trabalho de qualidade de vida, produção de alimentos,etc.
Segundo os técnicos, em épocas de campanhas de vacinação todos do
escritório se mobilizavam para trabalhar juntamente com as extensionistas sociais
nas campanhas.
Percebe-se na área de bem-estar-social, a ligação da empresa de Extensão
Rural com outros sistemas peritos, ou seja, a extensão rural também foi difusora de
conhecimentos que abarcam os sistemas que regem as normas para saúde e
alimentação.
Figura 7- PESSOAS ATENDIDAS NA ÁREA DE BEM ESTAR SOCIAL EM GOIÁS 1975-1999
Bem Estar social
0
50.000
100.000
150.000
200.000
250.000
300.000
1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999
Anos
Número de Pessoas Assistida
s
Saúde Alimentação Educão
Fonte: Relatórios de atividades da EMATER/GO no período de 1975/1999
Organização: Eloisa Pio de Santana, André de Oliveira Amorim e Dr. Fausto Miziara
3.6 - Organização rural
De acordo com os relatórios, a organização rural é representada pelo
cooperativismo, pelo sindicalismo, por clubes e associações de produtores,
constituindo-se assim como a base para o autodesenvolvimento dos
agropecuaristas, entendendo que a promoção do homem rural está direta e
positivamente relacionada com a organização de suas entidades de classe.
Partindo dessa perspectiva, de acordo com os dados e analisando a partir de
1980, considere-se que a empresa já atuava nessa área desde 1975, mas não tinha
dados precisos para análise.
Com relação ao número de cooperativas, não houve grandes avanços nos
anos de 1980/1989, ressaltando que a partir dos anos 1990, o trabalho foi
praticamente nulo, com um decréscimo muito grande no número de pessoas
atendidas no período de 1980/1999. Figura 8
Para o Técnico em Agropecuária Amadeus,
“O trabalho com organização rural começou bem antes de 1980, chegamos
a ponto de formar clubes 4-S, e jovens. Ela está ligada aos grupos de
produtores, depois associações até chegar às cooperativas. Foi a extensão
rural que implantou o sistema de cooperativismo. Depois que se forma a
cooperativa, ela anda sozinha, não depende mais da extensão rural, já é
uma outra forma de vida, outro sistema, o do sistema nacional de
cooperativismo, mas, até você educar um elemento pra ele chegar ao
ponto do cooperativismo dá muito trabalho”.
O atendimento a sindicatos rurais foi maior do que o atendimento às
cooperativas agropecuaristas, permanecendo a mesma média de um ano para outro.
Percebe-se a intensificação desse trabalho em detrimento do trabalho com
cooperativa.
Com relação aos grupos de produtores, os dados nos mostram um trabalho
intensivo sem cortes, tendo algumas oscilações, mas, um trabalho permanente.
Analisando o número de pessoas atendidas manteve-se a mesma média de um ano
para outro, conforme figura 08 e 09.
A quantidade de grupos de mães atendidas não teve grandes avanços de um
ano para o outro, com cortes em 1984/1986/1997. O número de mães atendidas
também permaneceu na mesma média durante os anos 1980/1999.
Figura 8- ATIVIDADES COM ORGANIZAÇÃO RURAL EM GOIÁS 1980-1999
Organização Rural
0
200
400
600
800
1000
1200
1980 1981 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1992 1993 1994 1995 1996 1998 1999
Anos
Número de Organizações
Cooperativas agropecuárias Sindicatos rurais Grupos de produtores Grupo de mães
Grupo de jovens Clubes 4-S Comissões Outras associações
Fonte: Relatórios de atividades da EMATER/GO no período de 1975/1999
Organização: Eloisa Pio de Santana, André de Oliveira Amorim e Dr. Fausto Miziara
Figura 9- PESSOAS ATENDIDAS EM ORGANIZAÇÃO RURAL EM GOIÁS 1980-1999
Número de Pessoas Assistidas nas Organizações Rurais
0
20.000
40.000
60.000
80.000
100.000
120.000
140.000
1980 1981 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1992 1993 1994 1995 1996 1998 1999
Anos
Número de Pessoas
Cooperativas agropecuárias Sindicatos rurais Grupos de produtores Grupo de mães
Grupo de jovens Clubes 4-S Comissões Outras associações
Fonte: Relatórios de atividades da EMATER/GO no período de 1975/1999
Organização: Eloisa Pio de Santana, André de Oliveira Amorim e Dr. Fausto Miziara
O número de grupos de jovens atendidos não foi muito relevante, pois, o
trabalho decaiu muito de um ano para o seguinte.
Nos clubes 4-S poucas pessoas foram atendidas; ocorrendo uma queda muito
grande nos anos 90. O trabalho foi insignificante, tendo uma ação mais concentrada,
sem grandes avanços, na década de 80. Figura 8 e figura 9
Os clubes 4-S era um sistema de trabalho da extensão, com jovens, diferente
de grupos de jovens. Eram grupos organizados, estruturados, oficializados, que se
propunham a trabalhar economicamente e socialmente; recebiam orientação técnica
da área de produção e agropecuária, da área econômica e da área social, tanto do
sexo feminino como masculino.
O técnico em agropecuária Amadeus, ressaltou que ,
“Era tipo um cursinho de promoção e, por meio disso aí, ele viria a ser mais
tarde um integrante, dirigente de cooperativas. Inclusive esses clubes 4-S
saíram alunos para as escolas agrotécnicas e mais tarde para as escolas
de agronomia, veterinária, zootecnia, saiu alunos para área de formação
social, temos vários exemplos que podem ser confirmados. A filosofia dos
grupos era Saber para Sentir e Saúde para Servir”
O número de comissões atendidas foi numa média de 1000/ano.
Com relação ao número de outras associações atendidas pela extensão rural
houve um crescimento entre os anos 1980/1999, foram atendidos em número maior
do que as cooperativas e sindicatos. O total de pessoas atendidas em outras
associações comprova que o trabalho com estas classes foi mais intenso. Figura 8 e
figura 9.
Em entrevista com o Engenheiro Agrônomo Eduardo, ele nos esclareceu que
a intervenção estatal era feita de cima para baixo,
“O governo nessa época achou que a solução para o país era o
cooperativismo, e os técnicos foram treinados para isso. Foi a época que
mais criou-se cooperativas, nessa época, estávamos acabando o governo
militar, o Estado reconhecendo que é indispensável e não suficiente e que
não conseguiria resolver todos os problemas, queria criar entidades que
assumissem a responsabilidade no desenvolvimento da agricultura,
pecuária, adotou-se o modelo de cooperativismo e começamos a trabalhar
em organizações rurais e principalmente em cooperativas, foi a época que
mais se criou cooperativas, em compensação, como elas foram criadas
como uma forma alternativa para amenizar um problema, mas foi criada
como empresa comum, privada, então, houve uma queda, porque elas
perceberam que não tinha competitividade no mercado, embora elas
fossem cooperativas não tinham nenhum privilégio com relação com
relação às empresas privadas.Os produtores foram agrupados mais por
convencimento do que por necessidade, algumas sobreviveram mais a
maioria não sobreviveu “.
3.7 - Atendimento à pecuária
As ações da EMATER-GO, no campo de criações, contemplaram
preferencialmente, bovinos de leite, bovinos de corte, suínos e aves. Dentre as
atividades desenvolvidas para a melhoria da produtividade dessas explorações,
destacam-se: confinamento, inseminação artificial, imunização do rebanho, formação
de pastagens, mineralização e alimentação do animal na seca.
Segundo relatórios, em coerência com a prioridade de atendimento ao
pequeno e médio produtor, a empresa estimulou a introdução de criações de
pequeno porte como, abelha e ovelha como alternativa para obtenção de maiores
rendimentos e a ocupação da mão de obra familiar, além de permitir o incremento de
produtos de subsistência. Assim, nos relata o Técnico em agropecuária Justino,
“A apicultura era uma atividade desconhecida em Goiás.A extensão rural
tornou a atividade visível, eficiente e reconhecida como atividade. Eu
mesmo fui treinado para implantar apicultura no Norte, em todo o Norte de
Goiás, os primeiros cursos foram da extensão rural”.
Analisando os dados, da figura 10 e 11 percebe-se que o atendimento foi
maior com criadores de gado de corte, que a nosso ver são grandes produtores,
ficando logo após os criadores de gado de leite, suínos e aves.
Ainda, o número de rebanho assistido também fortalece os dados anteriores,
o rebanho de gado de corte foi atingido em maior escala, tendo uma queda muito
grande em 1978 e 1980.
O Engenheiro Agrônomo Eduardo nos esclarece que,
“nessa época não tinha definição clara entre bovino de corte e leite, era
exploratória.O produtor era criador e tirava leite, era tudo considerado
como bovino de corte, somente com o passar dos anos que foi
aprimorando, as novas tecnologias, houve a especialização e houve a
separação dos dois”.
Todos os técnicos concordam com essa explicação, pois segundo eles a
produção era mista e somente com a chegada do PROLEITE
49
se começou a fazer
essa separação mais claramente,
49
Programa de Estímulos Técnicos e Financeiros para o Desenvolvimento da Pecuária Leiteira.
Criado em 1973 e regulamentado por Resolução do Conselho Monetário Nacional, em Dezembro de
1974. Ver: PEREIRA, Armantino Alves.Programas Especiais de Desenvolvimento Agropecuário.In.
PEREIRA, Armantino Alves(org). Agricultura de Goiás:Análise & Dinâmica.Goiânia:UCG,2004.
Para o técnico em agropecuária Cláudio, considerando o Sudoeste de Goiás
“Na verdade, essa bacia leiteira agora que está desenvolvendo,
antigamente era corte. Em Rio verde, por exemplo o total do rebanho é
450.000, 80.000 é leite e o restante é tudo corte. O produtor tinha atividade
mista, e era considerado corte”.
O rebanho de gado de leite permaneceu em 2º lugar, tendo também uma
queda em 1980. O rebanho de aves foi mais assistido do que o de suínos, com
alguns cortes, mas, a intensidade foi maior, conforme figura 10 e figura 11. A queda
com a assistência a aves, segundo os técnicos, foi o período em que Goiás começou
a trabalhar com granjas, aves caipira e, com a formação das granjas passaram a ter
assistência própria e, não demandaram mais assistência de órgãos oficiais.
Figura 10- TOTAL DE PRODUTORES ASSISTIDOS EM PECUÁRIA EM GOIÁS 1975-1999
Total de Criadores Assistidos
0
5000
10000
15000
20000
25000
1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999
Anos
Criadores Assistidos
Aves Bovinos de corte Bovinos de leite Snos
Fonte: Relatórios de atividades da EMATER/GO no período de 1975/1999
Organização: Eloisa Pio de Santana, André de Oliveira Amorim e Dr. Fausto Miziara
Figura 11- NÚMERO DE REBANHO ASSISTIDO EM GOIÁS 1975-1999
Rebanho Assistido
0
500000
1000000
1500000
2000000
2500000
3000000
3500000
4000000
4500000
1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999
ano
Número de animais
Aves Bovinos de corte Bovinos de leite Suínos
Fonte: Relatórios de atividades da EMATER/GO no período de 1975/1999
Organização: Eloisa Pio de Santana, André de Oliveira Amorim e Dr. Fausto Miziara
3.8 – Atendimento à agricultura
De acordo com os relatórios de atividades, as ações de assistência técnica,
voltadas para o aumento da produção e produtividade, foram direcionadas a todas
as culturas com representatividade econômica para o Estado de Goiás. Procurou-se
também, junto aos produtores, estimular a introdução e fomento de novas culturas,
como é o caso da cana de açúcar e do trigo.
A EMATER-GO deu maior ênfase aos seguintes aspectos: conservação do
solo e da água, administração rural, racionalização do processo de comercialização,
através da oferta de informações de mercado, redução nos custos de produção, uso
de insumos modernos, irrigação e drenagem, etc.
O produto que teve o maior número de área atendida foi o arroz até o ano de
1984, a tendência foi de decréscimo até 1999. O milho ficando em segundo lugar,
mantendo a mesma média durante os anos de 1975/1999. Em seguida vem a soja
mantendo-se na média, e logo após o feijão e o algodão. (Figura 12)
Segundo os técnicos, a cultura do arroz era desbravadora; era cultura de
abertura de fronteira agrícola sendo plantado com sementes de capim.
Para o Engenheiro Agrônomo Eduardo,
“Esse período dos programas especiais, era a cultura do arroz, pois era
desbravadora. Daqui até Mineiros só se via cultura de arroz. À medida que
foi avançando 1980, a soja foi substituindo o arroz. Outra coisa o arroz era
plantado com capim e quando você colhia o arroz a pastagem ficava
formada, então nesse período a Branquiária introduziu com o consórcio
com arroz, entrou no Estado 1970 e 1975 foi adotado como pastagem
artificial. O arroz foi caindo até chegar no que estamos hoje”.
Analisando o número de produtores assistidos (Figura 13) nas diversas
culturas, podemos perceber que, apesar do tomate não ter sido uma cultura com um
atendimento expressivo em área, foi o que atingiu o maior número de produtores de
1986 a 1991. Fazendo uma comparação com os dados do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística- IBGE, Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento-
SEPLAN e Superintendência de Estatística, Pesquisa e Informação-SEPIN-2003,
foram os anos em que a produção do tomate aumentou consideravelmente no
Estado de Goiás. Daí até 1999 a produção aumentou no Estado, mas, o número de
produtores atendidos pela EMATER-GO decaiu, devido à ação das empresas
privadas.
Figura 12- NÚMERO DE PRODUTORES ASSISTIDOS EM CULTURAS EM GOIÁS 1975-1999
Número de produtores assistidos
0
20000
40000
60000
80000
100000
120000
140000
160000
1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1998 1999
Anos
Número de produtores
Algodão Alho Arroz banana Citros
Feijão Milho Oleráceas Soja Tomate
Outras culturas Mandioca Abacaxi Melancia Outras horcolas
Fonte: Relatórios de atividades da EMATER/GO no período de 1975/1999
Organização: Eloisa Pio de Santana, André de Oliveira Amorim e Dr. Fausto Miziara
Figura 13- ÁREA ASSISTIDA EM CULTURAS EM GOIÁS 1975-1999
Área Assistida
0
100000
200000
300000
400000
500000
600000
700000
800000
1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998
Anos
Área Assistid
a
Algodão Alho Arroz banana Citros
Feijão Milho Oleráceas Soja Tomate
Outras culturas Mandioca Abacaxi Melancia Outras horcolas
Fonte: Relatórios de atividades da EMATER/GO no período de 1975/1999
Organização: Eloisa Pio de Santana, André de Oliveira Amorim e Dr. Fausto Miziara
Analisando o total de área colhida na cultura do tomate no Estado a extensão
rural assistiu a uma média de 80% em 1980, 40% em 1985, 50% em 1990, 58% em
1995, 50% em 1996 e 40% em 1997, de toda área colhida do Estado, de acordo
com os dados do IBGE/SEPLAN/SEPIN-2003. (Tabela 17)
Para explicação desse fato na cultura do tomate, em conversa com o Técnico
em agropecuária Paulo André, referindo ao Sudoeste de Goiás,
“houve realmente isso aqui, nós temos uma associação de produtores aqui
que tem cento e tantos produtores e tinha sido feito um trabalho muito
grande com esses pequenos produtores a própria prefeitura em si era um
parceiro muito grande disponibilizou recursos nessa área, máquinas para
estruturar os produtores, no sentido melhorar a produção e
conseqüentemente a renda familiar. É por isso que houve esse aumento
aqui, porque o tomate é o filé mion da horticultura ,quando tem uma boa
produção ele se destaca no sentido de ter uma lucratividade maior. Houve
também o tomate industrial nisso aí”.
Apesar de o arroz ter sido a cultura que mais foi atendida em termos de área,
com relação aos produtores a assistência foi estável durante todos os anos.
Comparando com os dados do Estado de Goiás, a EMATER-GO prestou assistência
técnica numa média de 50% da área colhida em 1980, 30% em 1985, 30% em 1990,
40% em 1995, 35% em 1996, 50% em 1997 e 40% em 1998. (Tabela 16)
A cultura do feijão em área assistida esteve em constante ascensão no
período de 1976 a 1994, sofrendo uma queda considerável entre 1995 a 1998. Com
relação aos produtores assistidos, manteve-se sempre na mesma proporção.
Analisando os dados do Estado de Goiás, a EMATER-GO prestou assistência
técnica a uma média de 25% do total de áreas colhida no Estado em 1980, 25% em
1985, 30% em 1990, 30% em 1995, 30% em 1996, 30% em 1997 e 25% em 1998.
(Tabela 16)
O milho foi o segundo a ter maior assistência em área plantada, tendo
avanços significativos no total de produtores atendidos durante o período de
1975/1999. No estado de Goiás a EMATER-GO prestou assistência técnica numa
média de 38% do total de área colhida em 1980, 38% em 1985, 20% em 1997 e
35% em 1998. (Tabela 16)
A cultura da soja teve uma área bem expressiva atendida pela Extensão
Rural, não tendo também muitas oscilações com relação ao número de produtores
atendidos, com exceção de 1975. Comparando ao Estado de Goiás assistiu 45% de
toda área colhida em 1980, 40% em 1985,15% em 1990, 25% em 1995, 15% em
1996, 15% em 1997 e 10% em 1998. (Tabela 16)
A área assistida na cultura do Algodão permaneceu estável, somente com
algumas exceções nos anos de 1976, 1977 e 1979. Comparando com o Estado de
Goiás, temos a considerar que no ano de 1980 a extensão rural assistiu a uma
média de 80% de toda área colhida do Estado de Goiás, conforme dados do
IBGE/SEPLAN/SEPIN-2003,20% em 1985, 11% em 1990, 10% em 1995,15% em
1996, 20% em 1997 e 3% em 1998. (Tabela 16)
Analisando todos os dados da figura 14 especificados, podemos perceber
que houve um grande número de repetição com relação ao número de produtores
atendidos pela extensão rural , o que comprova a nossa hipótese quando do número
de produtores em escala grande, médio e pequeno atendidos pela EMATER-GO.
Analisando o desenvolvimento das culturas pelo modelo teórico de Miziara
(2000)
50
, a fronteira agrícola é vista como um processo onde ocorre um aumento na
exploração do solo, via intensificação dos recursos investidos. Nesse caso, temos
uma mudança no patamar tecnológico associado. O arroz no caso de Goiás, foi
importante num primeiro momento de expansão da agricultura, porque é uma cultura
de “abertura de lavouras”, ou seja, é plantado logo que se derruba a vegetação
nativa.
O problema é que a cultura de arroz de sequeiro, aqui desenvolvida, é muito
suscetível a mudanças climáticas, e não se desenvolveu um pacote tecnológico
muito adequado. Por isso, a intensificação da lavoura não teve por base a cultura do
arroz, sendo substituída pela soja, esta sim, apresenta elevado patamar de
intensificação em termos de investimento e capital por unidade de área. Já o caso
do milho é interessante, pois ele era muito cultivado, mas num patamar tecnológico
inferior. Mas, foram desenvolvidas tecnologias para essa cultura e a área do milho
se manteve.
50
Ver cap. 3-Fronteira agrícola e Modernização da Agropecuária no Sudoeste de Goiás
Tabela 16: ESTADO DE GOIÁS: Área colhida dos principais produtos agrícolas - 1980, 1985, 1990 e 1995 - 2002.
Área Colhida (ha)
Ano
Algodão
Herbáceo
Arroz (em
casca)
Café (em
côco)
Feijão Milho Soja Sorgo Trigo
1980 31.450 1.186.728 15.879 160.547 803.268 246.066 460 -
1985 64.060 860.774 18.000 198.239 734.120 734.210 6.400 343
1990 35.459 296.070 17.460 180.770 873.650 972.430 5.410 560
1995 69.533 263.068 6.159 133.915 881.954 1.121.511 32.479 899
1996 81.575 189.703 5.646 83.418 924.794 913.633 59.987 5.274
1997 83.234 138.092 4.789 107.380 956.296 1.017.068 93.048 2.716
1998 186.621 130.607 3.957 108.337 667.719 1.382.705 134.963 7.973
1999 117.056 196.558 3.603 143.170 802.289 1.333.646 117.559 10.208
2000 96.718 150.334 3.986 112.279 839.844 1.491.066 175.850 6.887
2001 106.539 115.000 5.559 126.466 907.628 1.538.988 121.910 14.415
2002 (1) 102.185 111.492 5.995 122.605 734.303 1.902.950 128.861 20.609
Fonte: IBGE.
Elaboração: SEPLAN-GO / SEPIN / Gerência de Estatísticas Socioeconômicas - 2003.
(1) Preliminar
Tabela 17 - ESTADO DE GOIÁS: Área colhida dos principais produtos agrícolas - 1980, 1985, 1990 e 1995 - 2002.
Área Colhida (ha)
Ano
Abacaxi Alho Banana
Cana-de-
Açúcar
Laranja Mandioca Melancia Tomate
1980 623 810 26.730 20.664 2.549 21.020 2.629 1.076
1985 1.064 863 35.405 90.010 2.550 23.880 2.681 2.053
1990 855 2.210 12.350 97.950 3.590 14.700 3.695 6.896
1995 992 1.408 11.254 104.498 6.142 18.776 7.974 4.653
1996 1.579 1.170 11.360 114.480 6.327 21.994 ... 4.756
1997 1.927 1.042 12.414 129.340 6.971 20.725 3.119 6.833
1998 2.192 1.130 12.917 128.093 6.067 17.571 6.424 5.568
1999 2.222 1.253 12.636 128.746 6.512 17.268 6.566 10.677
2000 2.308 1.536 12.828 138.750 6.609 16.956 6.120 10.196
2001 2.298 1.620 13.013 129.921 6.643 16.666 6.685 10.514
2002 (1) 2.525 1.909 13.088 145.069 6.056 17.111 6.817 12.512
Fonte: IBGE.
Elaboração: SEPLAN-GO / SEPIN / Gerência de Estatísticas Socioeconômicas - 2003.
(1) Preliminar
Figura 14- CULTURAS: ÀREA COLHIDA NO ESTADO E ÁREA ASSISTIDA PELA EMATER-GO 1980-1999
Culturas: Área colhida no Estado e área atendida pela EMATER/GO
0
200.000
400.000
600.000
800.000
1.000.000
1.200.000
1.400.000
1.600.000
GOI Á S
EMATER
GOI Á S
EMATER
GOI Á S
EMATER
GOI Á S
EMATER
GOI Á S
EMATER
GOI Á S
EMATER
ARROZ FEIJÃO SOJA MILHO TOMATE ALGODÃO
Cultura
Área (ha)
1980
1985
1990
1995
1996
1997
1998
1999
Fonte: Relatórios de atividades da EMATER/GO no período de 1975/1999 e IBGE/SEPLAN/SEPIN-2003
Organização: Eloisa Pio de Santana, André de Oliveira Amorim e Dr Fausto Miziara – 2005.
3.9 - Programas especiais
Em 1975, os serviços de extensão rural se aperfeiçoaram, dando início à
implantação de dois programas especiais de desenvolvimento regional, criados pelo
Governo federal, conforme Decretos de nºs 75.320 de 29/01/75 e 74.607 de
25/09/74. Trata-se do Programa de Desenvolvimento dos Cerrados - POLOCENTRO
e do Programa de Ocupação de Áreas Selecionadas (Pólo-Araguaia-Tocantins). Em
1975 a ACAR-GO investiu na capacitação de mão de obra para atuação dos
técnicos nos programas. A partir de 1976, foi incluído também o programa
POLOBRASÍLIA.
Dentre os programas especiais, merece destaque o POLOCENTRO-
Programa de desenvolvimento do Cerrado , que teve por finalidade promover o
desenvolvimento e a modernização das atividades agropecuárias, mediante a
ocupação racional de áreas com características de cerrado e seu aproveitamento em
escala empresarial. Este programa foi de fundamental importância para a
agropecuária de Goiás, visando as seguintes ações segundo Pereira (2004)
a) Pesquisa e experimentação agropecuária;
b) Serviços mecanizados, de natureza agrícola, compreendendo estímulo à
organização de patrulhas mecanizadas;
c) Projetos de florestamento e reflorestamento
d) Construção de estradas de acesso dentro das propriedades rurais;
e) Construção de estradas vicinais; eletrificação rural, silos, armazéns,
máquinas de beneficiamento;
f) Organização mediante estímulo, de sistema de comercialização da
produção;
g) Estímulo à produção regional de calcário agrícola e de outros insumos
agrícolas e regularização fundiária.
Analisando os dados a partir de 1980/1986(último ano do programa), temos a
considerar que, com relação ao número de produtores foi estável não tendo
avanços satisfatórios. A área assistida em culturas teve avanços em 1980/1981, com
queda em 1982, permanecendo na mesma média nos anos seguintes. A assistência
a rebanhos bovinos foi a área mais beneficiada pelo programa, com pouca
assistência em rebanhos suínos e avícolas. (Figura 15)
Figura 15- ATIVIDADES REALIZADAS COM O POLOCENTRO EM GOIÁS 1980-1986
Polocentro
0
200.000
400.000
600.000
800.000
1.000.000
1.200.000
1.400.000
1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986
Anos
Índice
Produtores assistidos Áreas de lavouras assistidas Rebanho bovino assistido rebanho suíno assistido rebanho avícola
Fonte: Relatórios de atividades da EMATER/GO no período de 1975/1999
Organização: Eloisa Pio de Santana, André de Oliveira Amorim e Dr. Fausto Miziara
Previsto no II Plano Nacional de Desenvolvimento, O Programa Especial da
Região Geo-Econômica de Brasília foi instituído pela Exposição de Motivos nº 04/75,
do Conselho de Desenvolvimento Econômico e aprovado em 02 de abril de 1975.
Seus objetivos principais, segundo Pereira (2004) eram:
a) Minimização dos fluxos migratórios que demandam a capital da república,
através da abertura de oportunidades alternativas de emprego na Região
Geo-Econômica de Brasília;
b) Alteração das pressões sobre o equipamento urbano de Brasília, através do
fortalecimento dos subcentros polarizados de rede urbana básica da Região
Geo-Econômica de Brasília;
c) Preservação do caráter essencialmente político-administrativo e cultural da
capital do país, através da canalização dos esforços diretamente produtivos
de maior vulto para o quadro mais amplo da Região, o qual deverá incorporar-
se às ações estratégicas dos organismos federais atuantes na área, bem
como do Governo do Distrito Federal;
d) Valorização econômica da Região, com vista às integração de sua economia
ao processo de desenvolvimento nacional e de abastecimento de Brasília,
através do estímulo de atividades produtivas, industriais, agroindustriais e
agropecuárias.
Este programa tinha por objetivo final criar condições de desenvolvimento
mais equilibrado e consentâneo na área de influência da Capital Federal.
Da mesma forma que os anteriores a área mais assistida foi a de pecuária,
logo após áreas de lavouras assistidas, este programa teve uma assistência
expressiva na área de avicultura. (Figura 16)
Figura 16- ATIVIDADES REALIZADAS COM O PROGRAMA REGIÃO GEOECONÔMICA EM GOIAS 1980-1986
Programa Região Geoconômica
0
200.000
400.000
600.000
800.000
1.000.000
1.200.000
1.400.000
1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986
Anos
Índice
Produtores assistidos Áreas de lavouras assistidas Rebanho bovino assistido rebanho suíno assistido rebanho avícola
Fonte: Relatórios de atividades da EMATER/GO no período de 1975/1999
Organização: Eloisa Pio de Santana, André de Oliveira Amorim e Dr. Fausto Miziara
O Programa de Pólos Agropecuários e Agrominerais da Amazônia-
POLOAMAZÔNIA, Previsto no II Plano Nacional de Desenvolvimento, instituído pela
Exposição de Motivos nº 15 de 24 de setembro de 1974, pelo Conselho de
Desenvolvimento Econômico e aprovado em 25 de setembro de 1974. Segundo
Pereira (2004) Criado com o objetivo de promover a ocupação e o desenvolvimento
integrado de áreas da Amazônia, considerando, para agropecuária, dois
componentes estratégicos: sua adequada localização no espaço amazônico e a
crescente tecnificação do setor.
Durante os anos de 80/86 a área mais assistida foi a de pecuária, ficando as
áreas de lavouras assistidas em 2º lugar. Com relação aos produtores assistidos
permaneceu na mesma média.(Figura 17)
Analisando os três programas, verificamos que teve uma atenção especial a
área de pecuária, levando-nos a pensar que beneficiou na sua maioria grandes e
médios produtores. O que comprova a análise de Mueller (1990) no capítulo
Fronteira Agrícola e modernização agropecuária , o programa beneficiou grandes e
médios produtores.
Para compreender um pouco do desenvolvimento desses programas,
verificaremos o depoimento de 3 técnicos da extensão rural.
Técnico em Agropecuária,Cláudio
“Os projetos foram mais para grandes produtores,basicamente
para grandes produtores, na verdade naquela época o Brasil
precisava aumentar sua produção, ele precisava colocar
projetos para abertura de fronteiras, e esse projetos de
aberturas de fronteira é para grandes produtores, então ele foi
feito e desenvolvido pelos grandes produtores, aqui em Rio
Verde foi desenvolvido praticamente com grandes produtores.
Administrador Rural, Álvaro
51
“Muitos produtores ficaram ricos, quem acreditou no programa
se deu bem. A região era pecuária, 90% gado de corte. Foi o
começo do desenvolvimento da Microrregião Sudoeste. O
desenvolvimento do Sudoeste foi estimulado pelos programas
Especiais, por meio da extensão rural e pesquisa”
51
Entrevista realizada em 07/06/05 às 16h
Figura 17- ATIVIDADES REALIZADAS COM O PROGRAMA POLOAMAZÔNIA EM GOIÁS 1980-1986
Programa Poloamazônia
0
50.000
100.000
150.000
200.000
250.000
1980198119821983198419851986
Anos
Índice
Produtores assistidos Áreas de lavouras assistidas Rebanho bovino assistido
rebanho suíno assistido rebanho avícola Crédito rural aplicado
Fonte: Relatórios de atividades da EMATER/GO no período de 1975/1999
Organização: Eloisa Pio de Santana, André de Oliveira Amorim e Dr. Fausto Miziara
Extensionista Social, Eliane,
“Foi um recurso abundante, o desenvolvimento do Sudoeste se
deve a isso aí. Polocentro, Provárzeas, dentre outros. Muitos
produtores enriqueceram com esses programas”.
O sudoeste goiano teve um desenvolvimento diferenciado das demais regiões
do Estado. Esses programas ao mesmo tempo em que inseriram o Centro-Oeste
numa nova dinâmica econômica, trouxeram drásticas conseqüências para o meio
ambiente e social.
Importante também citarmos de uma forma mais geral os Principais
Programas de Desenvolvimento Agropecuário criados pelo Governo Federal, bem
como os criados pelos Governos de Goiás, a partir de 1970, pois todos eles estavam
integrados ao serviço de extensão rural no Estado de Goiás.
Falamos em programas especiais, mas, o que vem a ser Programas
Especiais?
Entende-se por PROGRAMAS ESPECIAIS algo a ser realizado para suprir
alguma demanda existente num determinado setor, que está
obstacularizando o Plano Nacional ou Estadual de Desenvolvimento do
País ou do Estado.É óbvio que, solucionado o problema para o qual o
PROGRAMA ESPECIAL, foi criado, normalmente, ele deixa de existir.
Surgirão no futuro, com certeza, outras demandas, e novos Programas
Especiais serão criados.(PEREIRA,2004, p.430)
Os Programas Especiais surgiram Segundo Pereira (2004) porque,até a
década de 1970, o desenvolvimento da agropecuária estava concentrado no Centro-
Sul do país. Em Goiás constatavam-se o domínio da monocultura da cultura do arroz
de sequeiro e a marcante pecuária extensiva. O mundo, carente de alimentos para a
população, e o Brasil, com gigantesca área de cerrado, acima de 200 milhões de
hectares a ser explorada, enquanto o país registrava uma produção de grãos
estacionada, havia anos, em torno de 50 milhões de toneladas. Estes e outros
fatores ou interesses levaram o Governo do Presidente Ernesto Geisel a criar os
PROGRAMAS ESPECIAIS, para fazer avançar a fronteira agrícola.
Segundo Pereira (2004), os principais programas especiais a partir da década
de 1970 foram PROAGRO, PRODOESTE, Programa de subsídios aos preços de
fertilizantes, PROSSOLOS, PROLEITE, e outros conforme tabela 18.
Figura - 18- PROGRAMAS ESPECIAIS DE DESENVOLVIMENTO AGROPECUÁRIO EM GOIÁS A PARTIR DE 1970
PROGRAMAS ESPECIAIS DE DESENVOLVIMENTO AGROPECUÁRIO
Programa Objetivo Lei de Criação
Programa de Garantia
de Atividade
Agropecuária-
PROAGRO
a) Exonerar o produtor rural de obrigações financeiras relativas à operação de
crédito rural de custeio, e para cujo cumprimento venha a ficar impedido pela
ocorrência extraordinária de fenômenos naturais, pragas e doenças que
prejudiquem rebanhos e plantações, de modo a comprometer os seus
rendimentos;
b) Atuar como instrumento de incentivos à utilização de tecnologia adequada à
exploração das atividades rurais.
Lei nº 969 de 11 de
dezembro de
1973.Regulamento
aprovado e
divulgado pela
Resolução nº 1 de
09 de outubro de
1974
Programa de
Desenvolvimento do
Centro-Oeste-
PRODOESTE
a) Incrementar o desenvolvimento econômico no sul dos Estados do Mato Grosso,
Distrito Federal e Goiás, mediante a construção de uma rede rodoviária básica,
prioritária, conjugada a um sistema de estradas vicinais e uma rede de silos,
armazéns, usinas de beneficiamento e frigoríficos;
b) Promover a realização de obras de saneamento geral, retificação de cursos
d’água e recuperação de terras.
Decreto-Lei nº
1.192, de 08 de
novembro de 1971
Programa Nacional de
Calcário Agrícola-
PROCAL
a) Defesa do patrimônio nacional:terra;
b) Aumento da produtividade do solo através da correção de acidez, com o
decorrente incremento na renda do produtor agrícola; e
c) Criação de bases necessárias à implantação mais eficaz do Programa Nacional
de Fertilizantes
Circular nº 245 do
Banco Central do
Brasil em 09 de
janeiro de 1975
PROGRAMAS ESPECIAIS DE DESENVOLVIMENTO AGROPECUÁRIO
Programa Objetivo Lei de Criação
Programa Nacional de
Conservação do Solo-
PROSSOLOS
a) Disciplinar a ocupação e o uso do solo, visando à conservação, à preservação e à
restauração dos recursos naturais;
b) Aumentar o potencial produtivo do solo e elevar a renda do setor agropecuário e o
nível de vida do meio rural, através da racionalização do uso dos fatores de
produção.
Decreto nº 76.470
de 16 de outubro
de 1975
Programa Nacional de
Microbacias
Hidrográficas-PNMH
a) Executar ações voltadas para a prática de manejo e conservação dos recursos
naturais renováveis, evitando sua degradação e objetivando um aumento
sustentado da produção e da produtividade agropecuária;
b) Estimular a participação dos produtores rurais e promover a fixação das
populações no meio rural e reduzir os fluxos migratórios do campo para a cidade.
Decreto nº 94.076
de 05 de março de
1987
Programa de Incentivo
à Produção da
Borracha Natural-
PROBOR III
a) Formar seringais nativos nos municípios de Porangatu, Araguaçu, Alvorada,
paraíso do Norte, Pium, Fátima e Cristalina
Decreto nº 85.929
de 23 de abril de
1981
Programa Nacional de
Fortalecimento da
Agricultura Familiar-
PRONAF
a) Investimentos para implantação e modernização da infra-estrutura de produção e
serviços agropecuários e não agropecuários;
b) Investimento integrado, coletivo, com ou sem custeio associado a associações,
cooperativas;
c) Projeto de desenvolvimento integrado por unidade agroindustrial;
d) Produção agropecuária e instalação de unidades centrais de apoio gerencial.
Decreto
Presidencial nº
1946 de
Junho/1996
Programa Objetivo Lei de Criação
Programa de
Financiamento de
Equipamento de
Irrigação-PROFIR
a)Incorporar áreas irrigadas ao processo produtivo, por meio do uso racional da água, na
implementação e na operacionalização de projetos de irrigação.
b) Na região Centro-Oeste, foi direcionado para as áreas de cerrado, inicialmente para o
aumento da produção de trigo. Durante a sua execução, outras culturas foram também
contempladas, tais como feijão,milho, sorgo e soja;
c) O PROFIR foi um programa baseado na concessão de crédito para aquisição de
máquinas, equipamentos de irrigação e implementos essenciais à implementação dos
projetos. Sua execução se deu sob a coordenação do ministério da Agricultura, Pecuária
e Abastecimento, com a participação das Empresas Estaduais de Pesquisas
Agropecuárias e Empresas Estaduais de Extensão e Assistência Técnica.
Decreto nº 86.912
de 10 de fevereiro
de 1982
Programa Nacional de
Várzeas Irrigáveis-
PROVÁRZEAS
a)Promover aproveitamento racional e gradativo de várzeas em propriedades rurais;
b)Promover, por meio de obras de saneamento agrícola, drenagem e irrigação, bem
como serviços de assistência técnica e de pesquisa e aproveitamento racional de
várzeas;
c)Incrementar e racionalizar a cultura do arroz e implantar, na rotação anual, outras
culturas, permitindo melhor utilização da áreas
d) Incentivar o associativismo e a criação de cooperativas de produção e comercialização
e melhorar a produtividade das explorações.Goiás foi o Estado onde se atingiu a segunda
maior área irrigada do Programa. Foram 56.000 hectares, em 3.000 projetos.
Decreto nº 86.146
de 23 de junho de
1981
Programa
Objetivo Lei de Criação
Programa de
Estímulos Técnicos e
Financeiros para o
Desenvolvimento da
Pecuária Leiteira-
PROLEITE
a) Recuperação e fomento do setor de pecuária leiteira, através do estabelecimento de
novos estímulos, principalmente com o desenvolvimento do sistema de assistência
técnica, combinado com vantagens que induzem os pecuaristas das principais bacias e
novos investimentos, na procura de índices mais elevados de produtividade leiteira.
Criado em 1973 e
regulamentado por
resolução do
Conselho
Monetário Nacional
em dezembro de
1974.
Programa de
Subsídios ao Preço de
Fertilizantes
a) criação de uma nova sistemática para concessão de subsídios ao preço dos
fertilizantes químicos ou minerais;
Foi instituído em
decorrência da
Exposição de
Motivos nº 49 de 24
de março de 1975,
aprovado em 25 de
março de 1975.
ESTADUAL
GOIAS RURAL
Incorporar um milhão de hectares de cerrado ao processo produtivo estadual, pelo
desmatamento. O Programa registrava a existência de tratores em operação e
respectivas áreas incorporadas, ou seja: Ano /73- 150 tratores e 78.800 ha; Ano/74-380
tratores e 163.953 ha; Ano/75-501 tratores e 198.727 ha;Ano/76-501 tratores e
200.000ha (previsão).
Criado em 1975 no
governo de
Leonino Di Ramos
Caiado
Fonte: Pereira (2004, p.433) Elaboração: Eloisa Pio de Santana , 2005
Esclarecida as dúvidas sobre os programas especiais, vamos nos atentar
para a preparação da empresa para desenvolver os trabalhos de transferência de
tecnologia junto aos produtores familiares.
Para a transferência de tecnologia junto aos produtores familiares, a empresa
investiu muito em capacitação dos seus técnicos, tanto da área social como da área
de agricultura e pecuária, os critérios utilizados para a escolha desses cursos,
passaram por diversas fases, na opinião dos técnicos entrevistados,
Engenheiro Agrônomo Henrique
“Na época da EMBRATER, vinha tudo enlatado. Hoje de cada equipe sai a
demanda”
Extensionista Social, Eliane,
“Nós temos um plano de ações integrado, com base nisso, é local, levanta
a necessidade do público e com base nisso é feito os cursos. No período
da EMATER o treinamento era mais contínuo, hoje há falta de pessoas e
de treinamento”
Engenheiro Agrônomo, Eduardo,
“Nós já tivemos vários critérios para fazer isso, até aquele critério, vamos
dizer burro né, onde você fazia capacitação pelo recurso que se tinha e
estava disponível, se tinha para irrigação fazia-se para irrigação, se era
bovino de leite, treinava para bovino de leite. Hoje nós temos um Plano de
Ações Integradas -PAI, com a participação de todos os agentes envolvidos
no processo de desenvolvimento (comunidade, associações, sindicatos,
etc), a nível municipal. Elaboramos o plano construído por eles, que depois
de pronto retorna para eles e eles elegem as prioridades, valida as
necessidades e diante disso identifica as necessidades do município e
conseqüentemente a necessidade do técnico. Se o município tem a
vocação para pecuária de leite e o técnico não tem esse conhecimento,
Nós vamos capacitá-lo para atender a essa necessidade. Se tem
agrônomo ao invés de um veterinário, nós vamos ver se troca ou capacita o
profissional”.
Um outro fator importante a ser destacado nesse momento é a questão da
extinção da EMBRATER (1990) e liquidação da EMATER (1999). Pela situação da
empresa diante de tais fatos, acreditamos que as dificuldades hoje enfrentadas pela
empresa AGENCIARURAL, devem-se a esse dois fatos acontecidos.Nas entrevistas
foi ressaltado a respeito desses problemas com os técnicos da extensão, dos quais
apresentamos alguns depoimentos.
Técnico em Agropecuária Cláudio,
“Olha, eu acho que com a extinção da EMBRATER o primeiro problema foi
a parte de programação da empresa, as empresas ficaram soltas, cada
empresa tinha o seu programa, quando existia a EMBRATER, a
EMBRATER, ela coordenava todo esse trabalho, existia um trabalho
coordenado pela EMBRATER. Outra coisa foi as fontes de recursos,
acabaram as fontes de recursos , passou tudo pro Estado , de lá pra cá as
fontes de recursos só vieram diminuindo e conseqüentemente o trabalho foi
diminuindo também , como nós encontramos hoje. Com a extinção da
EMATER, Veja bem o processo foi um processo contínuo, extingiu a
EMBRATER, diminuiu a força de trabalho das auxiliares, extinguiu-se a
EMATER e também diminuiu a força de trabalho , porque, a EMATER
apesar de tudo primava muito pela organização, hierarquia, todos esses
fatores com a extinção da EMATER e criação das agências, é (...) as
agência ficaram mais ligadas a uma parte política, quando eu falo política
não é política de programas não, política na acepção da palavra, mesmo,
politicagem, então hoje o técnico sai daqui vai pra ali , muito em função de
um político que pediu para ele ficar ali ,então isso aí da um desgaste muito
grande , é a questão da ingerência política , se você precisa de um técnico
em determinado município , se o político falar que ele deve ficar em outro ,
essa parte criou uma série de problemas pra gente, isso se deveu mais
quando acabou a EMATER, quando era EMATER era mais independente”.
Extensionista Social, Maria Aparecida
52
“Precaríssima, foi o início do sucateamento dos serviços de extensão. A
EMATER tinha uma filosofia de preparação dos técnicos, hoje vemos
técnicos que não estão preparados para atender o produtor, é uma
descontinuidade muito grande dos trabalhos”
Extensionista Rural, João Pedro
“Foram todos né, uma empresa que era canalizadora, nossa orientadora,
que era nossos olhos, era nosso elo de ligação, no campo e na sociedade,
vem e nos corta o cordão umbilical, a EMATER ficou perdida, ela tinha que
criar o programa dela e às vezes ela não tinha técnicos específicos para
criar esses programas, tinha técnicos para fazer a difusão de tecnologias,e
dar uma desenvoltura melhor para que esses programas pudessem chegar
até nossos governantes e políticos,e serem aprovados, para que eles
pudessem abraçar a causa que agente estava mostrando em grupo. Com a
liquidação da EMATER aí que ficou pior ainda, a gente já não tinha
direcionamento, já tinha cortado nossa cabeça, agora cortaram as pernas
praticamente, além de cegos ficamos perdidos, assim ficou o produtor
ficamos perdidos. E o governo achou que podia fazer um shopping de
informações,ali o produtor chegando ali na empresa que ele criou , até hoje
que é a a Agência Rural, pega 5 empresas com objetivos praticamente
que comuns, mas com filosofias diferentes de trabalho. Eles pegaram a
52
Entrevista realizada em 23/06/05 às 9h
EMATER, que era uma empresa de orientação, educadora, de difusão de
tecnologia, empresa de mudança de comportamento e junta com uma
empresa chamada IGAP, que é uma empresa de fiscalização, de punição,
aí ficou difícil a nossa ida até o produtor rural.Nós não gozávamos mais
daquela credibilidade que o produtor rural tinha em nós. Quando a gente
chegava e perguntava ao produtor rural qual era o rebanho dele, ele ficava
com medo de responder, já pensava que aquela pergunta era pra saber se
ele estava sonegando ou estava escondendo alguma cabeça de gado. Foi
difícil o nosso trabalho juntando essas empresas, principalmente uma
empresa de punição que era o IGAP. A classificação também não teve
muito o que fazer em virtude que ela pendeu mais pelo lado da
fiscalização, então ficou difícil. Aí ficou um trabalho quase que
praticamente, quase que junto, tinha a mesma visão , o mesmo
sentimento,já tinha o mesmo direcionamento, trabalhava com o pequeno
produtor,que era o IDAGO, aí sim houve um casamento forte, ampliamos
aquilo que já vínhamos fazendo, de maneira a errar menos e acertar mais,
a empresa de pesquisa também que era geradora de tecnologia que era a
EMGOPA, embora que a empresa que se sobressaiu era a empresa que
punia, que fiscaliza e trazia dinheiro , então a que põe dinheiro dentro de
casa é a que realmente fala mais alto , e aí o pessoal pegou a idéia de
punir de fiscalizar, e ficou no que tá hoje, o campo desassistidos”.
Técnico em Agropecuária Luís Antônio,
“Nossa foi, pra nós foi terrível, nós tinha o apoio financeiro, sendo extinto o
Estado tem poucos recursos. Muito também pelo seguinte, mudou-se a
direção para pessoas que nem sabiam o que produtor, suas necessidades,
muitos não estavam preparados para assumir esses cargos técnicos”.
Engenheiro Agrônomo Henrique,
Bom, eu acho que antes da sua extinção nós já estávamos abalados, pois, a
partir de quando acabou com os programas do governo federal, pois tivemos
que passar para o governo estadual e saímos da extensão e passamos para
o crédito e vice e verso, e isso dificulta muito, é preciso adaptação.
Ficávamos sem saber por onde começar. Naquela época a extensão rural
ficou sem incentivo e apoio a gente trabalhava com o que podia. A extinção
da Embratel foi por um capricho, nacionalmente hoje não tem uma política de
extensão rural e assistência técnica, assim como não tem a nível estadual, e
talvez trabalhamos no município pela demanda, trabalhamos pela
necessidade do produtor. Para falar da liquidação da EMATER-GO, aí vamos
voltar um pouco com a ACAR-GO. A empresa já nascia com dificuldade,
apesar que era com o apoio do governo estadual, muitas vezes tinha o
salário do governo estadual e não tínhamos um programa de trabalho do
Governo Estadual. Com a AGENCIARURAL, grandes problemas, não teve
recomposição dos cargos, dificuldades para fazer concursos, as pessoas
contratadas não têm funções técnicas, tem funções administrativas, nós
temos muitos escritórios sem cargos técnicos. Um grande problema da
AGENCIARURAL foi juntar a parte de fiscalização com extensão. Ao mesmo
tempo que faz extensão você faz fiscalização, esse foi o problema da junção.
Apresentamos os pontos principais que demonstram a atuação da EMATER-
GO e sua relação com os produtores de base familiar no período de 1975 à 1999. É
preciso analisar o problema central da nossa pesquisa, ou seja, a extensão rural no
contexto de modernidade como ponto de acesso entre a modernização agropecuária
e a produção familiar. Todos os técnicos entrevistados afirmam que a extensão rural
desempenhou um papel muito importante no desenvolvimento da agropecuária no
Estado de Goiás,assim, elegemos os seguintes depoimentos.
Técnico em agropecuária Cláudio,
“Há, com certeza, mesmo porque é o único segmento capaz de atender a
agricultura familiar, por uma questão até econômica não interesse das
empresas particulares em trabalhar com este público, eu acho que a
extensão rural é o único intermediário da agricultura familiar”.
Extensionista Social Eliane,
“Há tranqüilo. A EMATER teve a sua participação na história do
desenvolvimento do produtor, mesmo porque foi a única que trabalhou com
o produtor. Hoje nós temos outros órgãos, naquela época só existia a
EMATER, não tinha outro, bem ou mal, o desenvolvimento rural que Goiás
atingiu foi com o trabalho extensionista daquela época. O avanço da
agropecuária deve-se ao trabalho da EMATER”.
Administrador Rural Álvaro,
“É uma contribuição espetacular. Em muitas regiões do Estado a
contribuição da EMATER foi muito grande. Muitas pessoas não
reconhecem isso. Foi a EMATER que alavancou o desenvolvimento, eu
sou testemunha disso. Foi a extensão rural.Pode ser que algumas regiões
não foi bem, pode ser pelos técnicos ou mais recursos para umas do que
para outras. Talvez se não fosse a EMATER e a própria pesquisa andarem
juntos a microrregião sudoeste não seria o celeiro que é hoje”.
Engenheiro Agrônomo Eduardo,
“É, na verdade. A modernização é uma coisa incontrolável. Houve
deliberadamente financiamentos para o desenvolvimento do Centro-Oeste,
criaram as instituições para isso, a EMATER até aí fez bem o seu papel
dela, estimulou a produção, fez transferência de tecnologia, é uma
adaptação que deve ser feita a todo momento. De repente o modelo
inverteu a gente passou e a gente passou a se preocupar com a
preservação do meio ambiente, avanços das culturas, impactos,
tendências, a nova proposta da AGENCIARURAL é trabalhar na vertente
agro-ecológica, de preservação ambiental, de plantio direto, com técnicas
que permitam aumentar a produtividade sem a necessidade de aumentar
as áreas plantadas, o modelo estava esgotado e precisaria elaborar um
novo modelo, além de não destruir o que nós temos, tentar recuperar parte
do que foi perdido. A visão nossa é essa hoje não aumentar a produção em
detrimento da qualidade de vida.Ela foi intermediária num determinado
momento para cumprir uma determinado papel que estava estabelecido
para ela e hoje ela vai ser intermediária de um outro papel que ainda não é
reconhecido de uma outra fase. Embora a EMATER esteja num processo
de liquidação, a ACAR já passou a época dela, e a AGENCIARURAL está
aí hoje, mas amanhã poderemos estar com um outro nome, mas a
extensão não acaba, é preciso alguém levar a mensagem antes da
mudança. A extensão é indispensável, seja feita por qualquer um dos
órgãos que estão aí, mista, privada, institutos. A extensão é necessária. É
preciso manter o equilíbrio entre a produção e a qualidade de vida,
preservação ambiental.É uma tendência mundial, estadual, nacional, é
preciso trabalhar articulado com toas as tendências. A EMATER veio
cumprir uma função histórica, precisava de uma entidade para desenvolver
o processo, executar os planos nas regiões, dentro daquilo que ela foi
autorizada, ela fez muito bem o seu papel. Tudo acontece em função de
uma época, cumprimos o papel de forma brilhante, agora precisamos
trabalhar em outra vertente”.
O engenheiro agrônomo Eduardo, nos faz reportar à introdução dos pacotes
tecnológicos quando da implementação da modernização da agricultura. A extensão
foi criada e utilizada para desempenhar o papel de difusora das novas tecnologias,
precisava de um órgão que fizesse este papel, a extensão rural a partir da ACAR-
GO e depois com a EMATER-GO, desempenhou este papel mas, foi muito além
disso, pois adquiriu a confiança do produtor rural e passou a fazer parte da família
rural. No contexto de modernidade a confiança é primordial no desenvolvimento de
qualquer trabalho. Assim, ressalta o Engenheiro Agrônomo Juarez sobre a relação
da EMATER como intermediária da tecnologia junto aos produtores,
“Claro que vejo, claro que sim. Ainda há pequena influência que a
extensão e a pesquisa tem na vida do produtor rural na agricultura familiar.
Mas, não tem ainda a assistência na qualidade e na quantidade que ela
precisa. Ela é intermediária sim, é necessária sim, eu penso que a
extensão tinha que voltar como antigamente, mas agindo em termos de
gestão de maneira diferente, oportuna e adequada ao momento, onde os
técnicos seriam todos reciclados, pensando grande, pensando em
agronegócios, agroindústrias e mercado internacional, além é claro do
aspecto da criação ou produção de uma lavoura. São produtos técnicos
indispensáveis a qualquer profissional que se propõe a entrar num órgão
desse e levar a extensão a assistência técnica ao campo. Têm que ser
capacitados à altura do momento, e eles não estão , como também
precisam ser mais valorizados à altura e não são, muita coisa precisa ser
feita. A extensão rural fez o que está aí e poderia fazer muito mais é uma
pena que o governo federal não tenha uma política agrícola, senão isso,
da maneira possível entre governo estadual, município e governo federal
seria beneficiado com isso, o país está perdendo muito. Sem assistência
técnica, sem extensão rural, sem recursos financeiros, sem organização
desse produtor, para que possa produzir e vender a sua produção, ele
ficará órfão, isolado no seu pedacinho de terra, sem saber o que fazer, aí a
rotatividade de vender seu pedacinho de terra”.
A situação da empresa, atualmente, é quase que exclusivamente dependente
do Governo de Goiás e dos convênios com a prefeitura, e diante disso, a empresa
tem que construir e estabelecer uma relação de confiança com as duas esferas
governamentais. Outro fator de difícil conciliação, citado pelos técnicos, é a
questão da ingerência política dentro da extensão rural, isso muitas vezes dificulta a
continuidade dos trabalhos.
No depoimento mais crítico do Técnico em Agropecuária Justino, podemos
perceber o nível de ingerência política que há dentro da empresa,
“Com o governo municipal a relação era excelente porque tinha os
convênios. Como os técnicos da EMATER desempenhavam bem os
papéis, naquela época não era tão politizada a Diretoria, aqui acolá havia
ingerência, mas, independente quando o técnico não se envolvia em
política, a relação quando mudava de prefeito era boa. O Governo Estadual
reconhecia, pagava a folha em dia, aqui acolá uns atrasava 6 meses, o
outro vinha e pagava(risos). Era uma relação de reconhecimento
financeiro, a EMATER tinha que se virar, era os convênios com as
prefeituras e os bancos. Na época da ACAR a ingerência era mínima, a
sociedade quer o domínio político das instituições, só que ela não exerce
bem, ela às vezes coloca técnicos muitas vezes despreparados, mas se é
do meu partido é bom, se não é do meu partido é ruim. Essa é a avaliação
política, não avalia não o que o técnico já fez, mas o que ele poderia ainda
fazer, com o grau de experiência que ele acumulou e com a capacidade
que ele tem, o que ele fez é dever, o que poderia fazer, iria contribuir.
Então à medida que o pessoal percebeu que podia interferir nas chefias, na
lotação do escritório, foram exercendo esse direito e foi desorganizando
tudo. Aí, inclusive tem lugares que tem equipes boas, a política vai lá e
substitue, não assina convênio, até que vá um do agrado deles Isso já
acontecia na EMATER e hoje com mais força”.
Em entrevista com o agrônomo Eduardo,
“Quando tinha a EMBRATER, ela determinava os caminhos, apontava
soluções, injetava grande quantidade de recursos na instituição, e o Estado
entrava com as contrapartidas e o município com nada. Com o fim da
EMBRATER o Estado assumiu grande partes dos custos da instituição e
nós precisamos dividir isso com os municípios. É a questão mais
importante, até moralmente, quando temos o convênio com o município,
porque isso é que estabelece a vinculação da instituição com o município
e, nós precisamos também disso na questão financeira de dar
sustentabilidade ao serviço, embora o Estado banque a folha de
pagamento, ajuda de custo, encargos sociais, é preciso a ajuda dos
municípios para dar um serviço à altura da comunidade. O Convênio
atualmente é feito diferentemente dos convênios anteriores, o convênio é
feito hoje por padrões que contempla a quantidade de técnicos para cada
município já definido, mas, o município Pode escolher um a menos ou a
mais, considerando a vocação local e regional.
Este é um pouco da história da Extensão Rural no Estado de Goiás,
verificando o que ela proporcionou ao produtor rural, e as metodologias utilizadas
pela empresa para ser viabilizadora do processo de modernização agropecuária no
Estado de Goiás. E, diante de tais informações, verificamos a importância dos
serviços de extensão para o produtor familiar, é preciso aprimorar o que se tem e
não deixar acabar.
“Eu acredito que a extensão é imprescindível, indispensável..A cada
momento, com novas tecnologias, novos processos de comercialização,
industrialização, é preciso que esteja alguém ao lado do produtor para que
ele possa evoluir, porque muitos deles, embora hoje esteja bem, menos
grave que antigamente, muitos não tiveram oportunidades de acesso às
escolas, a única educação que eles tem é a educação informal e nós
estamos presentes em 203 municípios, então esses produtores, a
oportunidade que eles tem de agregar algum conhecimento é através do
trabalho de extensão, com excursões, orientações práticas, palestras,
cursos, programas. Eu vejo a extensão como indispensável e seria
necessário que houvesse uma sensibilização para isso, para que houvesse
uma injeção de recursos para a extensão, tivesse recursos que fosse a
título desses destinados para educação, saúde, etc..Porque o Estado de
Goiás é eminentemente agropecuário(...) é por isso que deveria ampliar,
merecer atenção e esse serviço deveria ser preservado e ampliado e
desenvolver o verdadeiro potencial do Estado que é a produção
agropecuária, porque o processo e industrialização nosso, ainda é lento e
as indústrias que temos em Goiás, são todas ligadas ao setor
agropecuário. Nós temos grandes indústrias de processamento de aves,
vem do setor agropecuário, indústria de óleo e ração, vem do setor
agropecuário, se nós temos indústrias de sabão vem do setor
agropecuário, se nós temos laticínios e frigoríficos, tudo vem do setor
agropecuário. Embora o Estado esteja de certa forma industrializado, a
dependência da produção é total. O Estado depende basicamente da
produção, do setor agropecuário, é por isso que eu acho que a extensão
deveria ser mais valorizada “.(Engenheiro Agrônomo Eduardo)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta pesquisa foi realizada com o intuito primordial de revelar algumas das
particularidades do processo de modernização agropecuária: Qual foi o papel das
instituições que foram criadas para promover este desenvolvimento no campo.
Nessa perspectiva, optamos por utilizar o referencial teórico de alguns autores, para
trabalharmos temas específicos. E, o modelo teórico utilizado para explicar as
especificidades da modernidade, introduzida no meio rural, por meio das instituições
especializadas foi o da modernidade reflexiva de Anthony Giddens.
Anthony Giddens nos oferece uma nova interpretação das transformações
sociais associadas à modernidade, mostrando os mecanismos de desencaixe,
intrinsecamente envolvidos no desenvolvimento das instituições modernas. A
criação das fichas simbólicas, o estabelecimento dos sistemas peritos e as relações
de confiança que são essenciais para o distanciamento tempo-espaço, constituem
elementos centrais para compreender a ação dos extensionistas encarregados de
promover a modernização da agropecuária.
No processo de modernização da agricultura foram criados mecanismos
institucionais para viabilizar o processo de modernização junto ao produtor rural.
Diante da nossa pesquisa, baseados nas leituras bibliográficas, na pesquisa de
campo, identificamos que a EMATER-GO foi e ainda é um ponto de acesso entre
modernização da agropecuária e produção familiar, trabalhando juntamente com os
órgãos de pesquisa e levando os seus resultados ao campo em forma de Unidades
Demonstrativas, Cursos, Excursões, dias de campo; enfim, proporcionando o
conhecimento ao produtor rural. Com algumas dificuldades, com suas falhas, é
claro, mas durante o período foi o único órgão a desenvolver este trabalho, o de ser
intermediária junto ao produtor.
Quando analisamos a modernização agropecuária, vista pelo lado da
aceitação do produtor na visão dos extensionistas, podemos perceber claramente
que a introdução das tecnologias não foi fácil, era preciso um trabalho de
sensibilização, conhecimento, prática, pois a aceitação por parte do produtor não
era imediata. significava uma mudança de cultura, a até aquele momento ele vivia
do conhecimento tradicional passado de pai para filho.
Quando Giddens nos afirma que a confiança em princípios impessoais, bem
como em outros anônimos, torna-se indispensável à existência social, e, que essa
confiança pessoal precisa ser trabalhada pelas partes envolvidas, requerendo uma
abertura do indivíduo para o outro, a confiança tem que ser ganha e o meio de fazê-
lo consiste em abertura e cordialidade demonstráveis. Trazendo isso para o contexto
da nossa pesquisa, torna-se bastante claro que os extensionistas conseguiam
fazer as transferências de tecnologia porque existia uma confiança do produtor no
técnico extensionista no sentido do conhecimento científico. Mas também existia
uma confiança que ultrapassava esse limite, ou seja, transferindo o conhecimento
científico para os laços da vida cotidiana, o técnico passava a fazer parte da vida do
produtor. Os produtores conseguiram achar a sua identidade entre as estratégias e
opções oferecidas pelos serviços de extensão. Foi por meio da metodologia da
extensão que essa confiança foi adquirida, pois extensão segundo os técnicos,
envolve muito mais que a simples assistência técnica,ou seja, envolve o trabalho
como um todo, o social, o técnico, enfim, a vida do produtor,. O verdadeiro
extensionista é aquele que vê o todo na propriedade e tenta ajudar o produtor.
Nós estamos falando muito mais do que tecnologia, envolve toda uma
concepção de mundo, mais racional e moderno.
Entretanto, quando essa confiança é abalada, torna-se inviável aos agentes
nos pontos de acesso transferir os conhecimentos adquiridos pelos órgãos de
pesquisa ao produtor. Isso ficou muito claro no nosso trabalho, quando houve o
processo de liquidação da EMATER-GO e a criação da AGENCIARURAL, e se
juntaram órgãos incompatíveis de se trabalhar em conjunto, como a extensão e a
fiscalização. Toda aquela confiança que o produtor tinha no extensionista foi abalada
e precisa ser recuperada se os serviços de extensão quiserem continuar a
desempenhar o seu papel, mesmo que seja dentro de uma outra vertente como foi
falado nas entrevistas, a preservação do meio ambiente.
Podemos perceber claramente que os problemas da EMATER começaram
com a extinção da EMBRATER, depois a junção com a EMGOPA e se intensificaram
com a liquidação da EMATER e criação da AGENCIARURAL. Vários problemas que
foram acarretando uma situação que, a meu ver, se não forem elaboradas políticas
públicas a nível estadual e federal para o reerguimento da extensão rural a
tendência é cada vez mais inviabilizar o trabalho de extensão.
Outro ponto constatado na nossa pesquisa de campo é a uniformidade de
informações repassadas pelos técnicos da extensão rural, o que demonstra que na
época da EMATER havia um planejamento de ações e uma metodologia de trabalho
bastante integrada entre os técnicos. Nas entrevistas conversamos com
extensionistas de localidades diferentes, e também com funções diferenciadas na
empresa. Percebemos também nos técnicos um grande comprometimento pelo
serviço de extensão, apesar, de no momento estarem um pouco abalados e
desanimados com tantas mudanças.
Pelos dados levantados e pelas entrevistas realizadas foi possível constatar
que durante o período de 1975-1999 a EMATER-GO foi a instituição que promoveu
a inserção do produtor familiar no processo de modernização da agricultura, foi o
ponto de acesso entre o conhecimento científico dos órgãos de pesquisa e o meio
rural, principalmente o produtor familiar. Diante de tais fatos é preciso ser repensado
o serviço de extensão rural, ele não pode acabar, pois, segundo os técnicos, o
pequeno produtor ainda precisa muito da extensão, pois o grande e médio tem
condições de contratar os serviços particulares mas, o pequeno só tem a extensão.
Outro fator a ser considerado é que os serviços particulares visam lucro e o
pequeno produtor não tem condições para tal. Nas palavras da Extensionista Social
Eliane “Assistência Técnica todo mundo faz, mas Extensão Rural somente a
EMATER fez e a AGENCIARURAL pode fazer”.
Toda a nossa pesquisa empírica baseou-se na percepção dos agentes de
extensão frente ao processo de relação entre Produção Familiar e Modernização da
Agropecuária e o papel da extensão rural dentro desse processo. Mas, essa
pesquisa não se encerra aqui, é preciso retomá-la futuramente, em uma outra
ocasião, para que possamos analisar os impactos desses métodos extensionistas na
vida do produtor e no aumento de sua produção e produtividade, assim como a sua
qualidade de vida. Verificar na sua visão como a extensão desempenhou o seu
papel nesse processo.
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APÊNDICES
Apêndice 1- TABELA PRODUTORES ASSISTIDOS EM GOIÁS 1980-1999
PRODUTORES
ASSISTIDOS 1980 1981 1982 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993
Grandes
3.838 3.160 2.040 1.401 1.362 1.797 2.126 1.201 1.610 1.411 1.115 1.519
Médios
12.475 10.564 8.836 4.314 4.403 3.357 6.315 5.147 4.581 4.400 3.867 4.604
Pequenos
31.667 31.129 26.673 25.371 25.120 26.754 35.072 29.755 27.905 29.851 30.281 31.409
Famílias
6.360 10.534 15.635 14.244 12.182 11.691 11.531 12.406
Jovens
2.334
2.891 3.363 3.049 3.567 3.506 5.153 3.593
PRODUTORES
ASSISTIDOS 1994 1995 1996 1997 1998 1999
Grandes
1.829 1.744 1.598 1.391 1.320 1.014
Médios
5.482 5.617 5.089 4.127 4.322 3.379
Pequenos
36.435 39.717 36.937 31.460 36.714 30.452
Famílias
12.944 15.046 11.582 8.712 10.887 9.808
Jovens
3.733 4.412 4.364 2.823 2.657 1.923
Fonte: Relatório de atividades da EMATER – GO – 1975-1999. Elaboração: Eloisa Pio de Santana, 2005
Apêndice 2- TABELA PRODUTORES ASSISTIDOS EM CULTURAS EM GOIÁS 1975-1999
CULTURAS
1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986
Algodão 517 349 513 302 169 322 1.571 151 125 327 449 109
Alho 363 801 910 1.359 1.359 409 201 359
Arroz 12.377 12.457 10.781 6.847 9.456 24.306 23.635 18.713 14.952 13.880 12.699 14.146
banana 133 289 926 2.136 1.391 1.228 782 850 755 462
Citros 139 356 255 1.160 164 439 484 498
Feijão 784 1.116 1.240 1.109 771 4.274 5.029 5.331 3.192 4.343 4.893 5.946
Milho 6.703 6.511 7.312 4.771 5.280 13.919 12.980 12.824 10.826 11.166 11.822 12.130
Oleráceas 1.113 1.668 1.820 2.216 1.153 3.491 3.149 2.881 2.881 3.176 2.013 2.428
Soja 9.836 597 839 573 906 1.912 2.188 1.624 1.729 2.250 1.851 1.213
Tomate 622 1.955 1.365 1.160 889 841 674 669
CULTURAS
1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1998 1999
Algodão 147 113 112 124 84 69 110 64 333 68 133 71
Alho 6.360 5.960 6.130 6.820 643 640 167 385 248 337 311
Arroz 14.955 19.316 14.114 10.266 13.008 12.130 12.434 13.167 11.260 8.897 9.717 7.070
banana 396 405 577 851 736 962 877
Citros 1.088 898 748 888 785 833 710
Feijão 6.956 7.885 7.373 6.356 6.441 5.109 4.099 6.274 4.091 2.951 3.559 2.397
Milho 14.051 17.668 15.139 11.584 12.644 10.968 11.649 13.789 12.267 13.367 12.628 10.128
Oleráceas 3.318 3.227 3.533
Soja 1.207 1.233 1.718 1.443 1.054 990 874 1.316 1.015 888 1.019 958
Tomate 63.920 88.590 64.525 135.990 1.077 898 616 656 1.244 1.169 1.006
Fonte: Relatório de atividades da EMATER – GO – 1975-1999. Elaboração: Eloisa Pio de Santana, 2005
Apêndice 3- TABELA ÁREAS ASSISTIDOS EM CULTURAS EM GOIÁS 1975-1999
CULTURAS/ÁREAS 1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986
Algodão 517 349 513 302 169 322 1.571 151 125 327 449 109
Alho 363 801 910 1.359 1.359 409 201 359
Arroz 12.377 12.457 10.781 6.847 9.456 24.306 23.635 18.713 14.952 13.880 12.699 14.146
banana 133 289 926 2.136 1.391 1.228 782 850 755 462
Citros 139 356 255 1.160 164 439 484 498
Feijão 784 1.116 1.240 1.109 771 4.274 5.029 5.331 3.192 4.343 4.893 5.946
Milho 6.703 6.511 7.312 4.771 5.280 13.919 12.980 12.824 10.826 11.166 11.822 12.130
Oleráceas 1.113 1.668 1.820 2.216 1.153 3.491 3.149 2.881 2.881 3.176 2.013 2.428
Soja 9.836 597 839 573 906 1.912 2.188 1.624 1.729 2.250 1.851 1.213
Tomate 622 1.955 1.365 1.160 889 841 674 669
Outras culturas 1.064 1.064 652 443 258 153
CULTURAS/ÁREAS 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1998 1999
Algodão 147 113 112 124 84 69 110 64 333 68 133 71
Alho 6.360 5.960 6.130 6.820 643 640 167 385 248 337 311
Arroz 14.955 19.316 14.114 10.266 13.008 12.130 12.434 13.167 11.260 8.897 9.717 7.070
banana 396 405 577 851 736 962 877
Citros 1.088 898 748 888 785 833 710
Feijão 6.956 7.885 7.373 6.356 6.441 5.109 4.099 6.274 4.091 2.951 3.559 2.397
Milho 14.051 17.668 15.139 11.584 12.644 10.968 11.649 13.789 12.267 13.367 12.628 10.128
Oleráceas 3.318 3.227 3.533
Soja 1.207 1.233 1.718 1.443 1.054 990 874 1.316 1.015 888 1.019 958
Tomate 63.920 88.590 64.525 135.990 1.077 898 616 656 1.244 1.169 1.006
Outras culturas 1.448 1.735 1.561 1.325 881 870 1.037 1.562 1.263 2.270 2.734 1.861
Fonte: Relatório de atividades da EMATER – GO – 1975-1999. Elaboração: Eloisa Pio de Santana, 2005
Apêndice 4- TABELA PRODUTORES ASSISTIDOS EM PECUÁRIA EM GOIÁS 1975-1999
Produtores
1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983 1984
Aves 110 167 20 171 152 248 231
Bovinos de corte 11.360 10.941 10.152 6.265 7.839 2.610 15.332 13.589 11.435 11.776
Bovinos de leite 3.097 3.193 4.362 2.921 3.461 8.390 7.247 7.028 6.314 7.615
Suínos 193 79 68 91 341 258 271 282 284
Produtores
1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995
Aves 455 1.067 273 593 581 4.178 889 1.209
Bovinos de corte 9.564 7.876 9.963 12.264 8.632 6.699 6.940 8.302 16.286 20.228 11.695
Bovinos de leite 6.614 7.339 8.680 11.810 11.640 11.710 10.616 11.588 13.310 13.900 18.475
Suínos 525 818 259 246 384 890 542 1.070
Produtores
1996 1997 1998 1999
Aves 745 580 1.210
Bovinos de corte 12.424 8.567 5.826
Bovinos de leite 21.747 23.016 15.655
Suínos 699 448
Fonte: Relatório de atividades da EMATER – GO – 1975-1999. Elaboração: Eloisa Pio de Santana, 2005
Apêndice 5- TABELA CRIAÇÕES ASSISTIDAS EM PECUÁRIA EM GOIÁS 1975-1999
Rebanho
assistido 1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983 1984
Aves 1.636.147 595.029 2.602 3.550.416 3.199.903 2.262.893 3.201.120
Bovinos de
corte 2.483.289 2.524.606 2.610 2.482.149 2.873 3.577.443 2.500.742 2.335.321 2.079.528
Bovinos de
leite 504.571 715.478 549.684 644.763 793 842.385 575.225 571.411 640.850
Suínos 25.071 100.205 10.427 30 44.151 27.352 34.714 18.247
Rebanho
assistido 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994
Aves 26.130 77.530 12.603 90.021 18.169 1.173 59.878
Bovinos
de corte 1.944.399 1.335.594 2.596.414 2.931.041 2.931.041 1.868.106 2.149.953 3.025.803 1.421.874 2.550.354
Bovinos
de leite 595.860 554.281 854.900 991.450 1.179.950 1.230.000 1.149.687 1.111.347 3.359.281 1.303.126
Suínos 21.618 19.642 2.716 56.334 38.851 70.065 27.312
Rebanho
assistido 1995 1996 1997 1998 1999
Aves 125.051 311.384 40.171 389.401
Bovinos
de corte 2.863.192 2.939.540 4.022.141 2.909.155 1.795.503
Bovinos
de leite 1.523.525 1.747.276 1.875.413 1.584.211
Suínos 59.778 40.452 38.647
Fonte: Relatório de atividades da EMATER – GO – 1975-1999. Elaboração: Eloisa Pio de Santana, 2005
Apêndice 6- NÚMERO DE PESSOAS ATENDIDAS EM ORGANIZAÇÃO RURAL EM GOIÁS 1975-1999
ORGANIZAÇÃO RURAL/No.
Pessoas
1980 1981 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990
132.523 11.200 9.537 12.769 12.066 3.608
Sindicatos rurais 19.360 25.569 43.774 44.290 58.502 58.485 53.648 46.666
Grupos de produtores 1.697 2.309 2.672 5.340 13.552 18.671 14.404 12.808 11.514 9.958
Grupo de mães 1.248 2.318 2.498 2.138 3.052 4.042 4.356 4.648
Grupo de jovens 1.058 1.514 2.791 3.251 2.500 2.950 3.135 2.097
Clubes 4-S 712 820 318 367 422 389 228 122
Comissões 410 622 1.021 1.059 1.009 1.643 1.045 1.557 1.476
Outras associações 1.987 2.032 4.278 3.859 2.922 4.811 3.500 7.851 10.135 15.411
ORGANIZAÇÃO
RURAL/No.
Pessoas
1992 1993 1994 1995 1996 1998 1999
1.951 2.447 2.300 3.101 2.541 2.340
Sindicatos rurais 38.984 36.527 38.222 35.248 43.880 35.969 37.837
Grupos de
produtores 9.216 8.735 9.483 10.136 12.426 12.548 7.441
Grupo de mães 4.034 3.104 3.151 4.178 4.111 3.486 3.531
Grupo de jovens 2.055 1.028 1.001 1.089 983 732 530
Clubes 4-S 1.591
Comissões 1.374 1.947 2.155 2.770 1.991 1.185
Outras
associações 25.602 22.057 24.681 25.378 22.803 18.795 15.844
Fonte: Relatório de atividades da EMATER – GO – 1975-1999. Elaboração: Eloisa Pio de Santana, 2005
Apêndice 7- NÚMERO ORGANIZAÇÕES ATENDIDAS EM GOIÁS 1975-1999
Organização
Rural/Quantidades 1980 1981 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990
46 46 67 67 31 31 36 39 29
Sindicatos rurais 44 101 71 87 87 79 113 111 110
Grupos de produtores 140 164 177 338 338 1.050 940 643 585 443
Grupo de mães 92 104 166 144 184 243 283 241
Grupo de jovens 64 76 109 118 118 154 168 146 105
Clubes 4-S 31 35 14 16 16 15 8 4
Comissões 43 67 97 136 118 105 125 130 104
Outras associações
Organização Rural
/Quantidades 1992 1993 1994 1995 1996 1998 1999
Sindicatos rurais 111 91 98 110 255 167 155
Grupos de produtores 413 416 138 464 627 687 495
Grupo de mães 231 187 191 269 273 288 211
Grupo de jovens 94 50 43 51 50 38 26
Clubes 4-S 121
Comissões 187 103 129 196 158 140
Outras associações 416 557 557 811 770 727 711
Fonte: Relatório de atividades da EMATER – GO – 1975-1999. Elaboração: Eloisa Pio de Santana, 2005
Apêndice 8- TABELA PRESERVAÇÃO MEIO AMBIENTE EM GOIÁS 1975-1999
Preservação Meio
Ambiente 1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985
Conservação do Solo –
área assistida(há) 640.639 326.751 42.768 44.228 49.145 474.454 66.850 64.979 58.326 97.182 275.495
Preservação
Meio
Ambiente
1987 1988 1989 1990 1991 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999
Conservação
do Solo área
assistida(há) 401.290 605.670 614.242 153.409 406.091 428.478 362.934 391.786 631.852 91.693 293.981 66.679
Fonte: Relatório de atividades da EMATER – GO – 1975-1999. Elaboração: Eloisa Pio de Santana, 2005
Apêndice 9- TABELA PESSOAS ATENDIDAS EM BEM ESTAR SOCIAL EM GOIÁS 1975-1999
PROJETO BEM ESTAR SOCIAL 1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983 1984
Saúde 74.316 76.335 52.203 25.175 18.996 3.328 77.768 255.757 36.117 29.683
Alimentação 31.833 6.531 7.643 3.743 2.744 4.086 13.296 58.456 38.077 2.388
Educação 19.732 3.008 2.822 3.743 7.826 77.691 3.023 2.820 6.674 80
PROJETO
BEM
ESTAR
SOCIAL 1985 1986 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999
Saúde 5.182 56.982 14.244 18.064 20.633 13.324 12.091 9.380 10.926 7.935 4.326 5.302 6.615
Alimentação 5.427 18.984 14.246 12.614 13.638 5.931 4.102 6.288 5.829 5.262 2.847 5.632 11.146
Educação 3.317 382 348 1063
Fonte: Relatório de atividades da EMATER – GO – 1975-1999. Elaboração: Eloisa Pio de Santana, 2005
Apêndice 10- TABELA CAPACITAÇÃO PRODUTORES RURAIS EM GOIÁS 1975-1999
CAPACITAÇÃO MÃO DE OBRA RURAL 1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983
Cursos 129 246 144 575 608 661 514 324 453
Produtores Capacitados 2.201 3.470 1.915 8.458 8.634 8.217 8.024 6.408 7.884
CAPACITAÇÃO
MÃO DE OBRA
RURAL 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995
Cursos 12 459 568 500 683 542 279 386 469 885 797
Produtores
Capacitados 8.770 7.947 8.805 7.708 10.428 8.178 4.643 6.374 8.374 16.147 11.780
CAPACITAÇÃO
MÃO DE OBRA
RURAL 1996 1997 1998 1999
Cursos 718 405 966 435
Produtores
Capacitados 9.879 8.000 17.128 8.530
Fonte: Relatório de atividades da EMATER – GO – 1975-1999. Elaboração: Eloisa Pio de Santana, 2005
Apêndice 11- TABELA PROGRAMAS ESPECIAIS POLOCENTRO EM GOIÁS 1980-1986
Polocentro
1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986
Produtores assistidos 14.257 17.177 11.372 9.094 11.722 11.200 11.088
Áreas de lavouras assistidas 567.073 888.370 422.560 430.097 377.507 333.300 345.882
Rebanho bovino assistido 1.102.000 1.180.651 807.846 741.350 898.022 1.090.377 796.122
rebanho suíno assistido 7.000 6.410 10.844 536 530 2.222
rebanho avícola 15.000 21.000 11.290
Crédito rural aplicado 3.623.937
Fonte: Relatório de atividades da EMATER – GO – 1975-1999. Elaboração: Eloisa Pio de Santana, 2005
Apêndice 12- TABELA PROGRAMAS ESPECIAIS GEOECONÔMICA EM GOIÁS 1980-1986
Geoeconômica
1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986
Produtores assistidos 13.924 12.710 11.421 9.190 11.528 11.100 10.188
Áreas de lavouras assistidas 219.922 334.225 222.535 175.819 195.430 178.500 145.486
Rebanho bovino assistido 868.000 1.145.519 715.794 613.660 738.068 455.605 496.823
rebanho suíno assistido 6.000 4.944 1.273 1.870 3.773 11.821
rebanho avícola 290.000 130.000 12.000 49.000 16.650 1.440 42.940
Crédito rural aplicado 1.278.210
Fonte: Relatório de atividades da EMATER – GO – 1975-1999. Elaboração: Eloisa Pio de Santana, 2005
Apêndice 13- TABELA PROGRAMAS ESPECIAIS POLAMAZÔNIA EM GOIÁS 1980-1986
Polamazônia
1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986
Produtores assistidos 1.592 1.739 1.472 1.565 1.333 1.600 1.209
Áreas de lavouras assistidas 11.679 20.481 11.675 19.072 14.198 12.000 6.569
Rebanho bovino assistido 167.000 197.773 108.065 137.122 170.676 203.570 49.870
rebanho suíno assistido 200
rebanho avícola 14.030 14.030
Crédito rural aplicado 205.911
Fonte: Relatório de atividades da EMATER – GO – 1975-1999. Elaboração: Eloisa Pio de Santana, 2005
Apêndice 14- TABELA ÁREA COLHIDA NO ESTADO E ÁREA ASSISTIDA PELA EMATER-GO 1980-1999
1980 1985 1990 1995 1996 1997 1998 1999
ARROZ
GOIÁS
1.186.728 860.774 296.070 263.068 189.703 138.092 130.607 196.558
EMATER
598.604 260.211 83.425 100.522 62.816 60.065 55.128
FEIJÃO
GOIÁS
160.547 198.239 180.770 133.915 83.418 107.380 108.337 143.170
EMATER
37.575 42.306 55.925 37.353 24.974 26.373 26.189
SOJA
GOIÁS
246.066 734.210 972.430 1.121.511 913.633 1.017.068 1.382.705 1.333.646
EMATER
110.192 169.262 85.728 206.014 121.034 181.082 131.569
MILHO
GOIÁS
803.268 734.120 873.650 881.954 924.794 956.296 667.719 802.289
EMATER
295.838 279.162 148.098 258.890 230.779 178.549 230.191
TOMATE
GOIÁS
1.076 2.053 6.896 4.653 4.756 6.833 5.568 10.677
EMATER
849 791 3.205 2.960 2.381 2.099
ALGODÃO
GOIÁS
31.450 64.060 35.459 69.533 81.575 83.234 186.621 117.056
EMATER
21.957 10.085 3.962 9.972 12.332 18.179 5.018
Fonte: Relatório de atividades da SEPLAN/SEPIN – GO – 2003. Elaboração: Eloisa Pio de Santana, 2005
Relatório de atividades da EMATER-GO-1980-1999
ANEXOS
Anexo 1
Universidade Federal de Goiás
Faculdade de Ciências Humanas e Filosofia
Departamento de Pós-graduação em Sociologia
Mestrado em Sociologia
ROTEIRO PARA APLICAÇÃO DAS ENTREVISTAS COM OS
TÉCNICOS DA EXTENSÃO RURAL - EMATER-GO
Selecionar junto ao setor de pessoal e nos próprios escritórios locais os
funcionários que participaram dos trabalhos de extensão e assistência técnica
durante o período de 1975-1999, para a realização das entrevistas.
Esta entrevista será não diretiva, durante a entrevista a motivação será no
sentido de abranger as seguintes variáveis:
1. Como foi o desenvolvimento do trabalho da empresa durante o período de 1975 a
1999;
2. Como era a aceitação ou não das novas técnicas pelos produtores familiares;
3. Cite as vantagens que os produtores familiares viam nas novas técnicas
implantadas e o direcionamento das mesmas.
4. Quais os problemas enfrentados pela empresa a partir da Extinção da
EMBRATER (1990) e Liquidação da EMATER (1999).
5. Quais as formas de gestão implantadas pelos produtores, após a adoção das
novas técnicas de manejo da agricultura e pecuária.
6. Como o extensionista percebe esse padrão tecnológico moderno;
7. O que você entende por extensão? E assistência técnica? Qual a sua avaliação
das tecnologias repassadas aos produtores?
8. Como era feito o trabalho de transferência de tecnologia para a agricultura
familiar?
9. Como era a relação da EMATER-GO com todos os produtores: Pequenos, Médios
e Grandes?
10. Como você avalia o conhecimento tradicional do produtor familiar?
11. Quais são os critérios utilizados para caracterizar pequeno, médio e grande
produtor?
12.Quais eram os critérios utilizados para escolha dos cursos para capacitação dos
técnicos para haver transferência de tecnologia junto aos produtores?
13. Gostaria de saber se há diferenciação com relação à atuação da extensão rural
nas diversas regiões em que a empresa atua por meio dos escritórios regionais e
locais?
14. Como era a relação da EMATER-GO com o Governo Federal, Estadual e
Municipal? Há ingerência política no desenvolvimento dos processos?
15.Você vê a EMATER-GO como uma intermediária entre os produtores familiares e
a modernização da agropecuária?
16. A proposta da extensão era o aumento da produção e da produtividade do
produtor, como você analisa esse aspecto com relação ao produtor familiar? a
extensão rural contribuiu para o avanço da sua produção e sua inserção no
mercado?
17. A microrregião Sudoeste atuou de forma bastante intensiva no desenvolvimento
dos Programas Sociais do Governo Federal. Como foi o desenvolvimento desses
programas no Sudoeste, o atendimento foi prioritário aos pequenos produtores ou
privilegiou médios e grandes, quais eram os critérios desses programas para
atendimento aos produtores.
18. Fazendo a análise dos dados da atuação da empresa no Estado, identificamos
por meio dos relatórios que a prioridade à conservação do solo estava voltada
principalmente para as regiões onde o cultivo e a mecanização são mais
intensivos: Sul, Sudoeste e Mato Grosso de Goiás. Gostaria de discutir um pouco
com vocês, as outras regiões não foram privilegiadas? Por quê?
19. Analisar os dados levantados, tabelas e gráficos 1975-1999.
Anexo 2
ANEXO 3
Anexo 4
Anexo 5
Anexo 6
Livros Grátis
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