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A CONSTRUÇÃO DE UM MODELO DE GESTÃO
DESCENTRALIZADA DE RESÍDUOS SÓLIDOS
NA ESCOLA AGROTÉCNICA FEDERAL DE
UBERLÂNDIA INSPIRADO NAS METAS DE
DESENVOLVIMENTO DO MILÊNIO
MARILDA RESENDE DE MELO
Dissertação
DE
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Marilda Resende de Melo
A CONSTRUÇÃO DE UM MODELO DE GESTÃO
DESCENTRALIZADA DE RESÍDUOS SÓLIDOS NA
ESCOLA AGROTÉCNICA FEDERAL DE UBERLÂNDIA
INSPIRADO NAS METAS DE DESENVOLVIMENTO DO
MILÊNIO
Dissertação apresentada à Faculdade de Engenharia Civil da
Universidade Federal de Uberlândia, como parte dos
requisitos para a obtenção do título de Mestre em
Engenharia Civil.
Orientadora: Profª. Dra. Ana Luiza F.C. Maragno
Co-orientador: Prof. Dr. Manfred Fehr
Uberlândia, outubro de 2008.
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
M528c Melo, Marilda Resende de, 1965-
A construção de um modelo de gestão descentralizada de resíduos só-
lidos na Escola Agrotécnica Federal de Uberlândia inspirado nas metas de
desenvolvimento do milênio / Marilda Resende de Melo. - 2008.
101 f. : il.
Orientadora: Ana Luiza F.C. Maragno.
Co-orientador: Manfred Fehr.
Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Uberlândia, Progra-
grama de s-Graduação em Engenharia Civil.
Inclui bibliografia.
1. Resíduos sólidos - Uberlândia (MG) - Teses. I. Maragno Ana Luiza
Ferreira Campos. II. Fehr, Manfred. III. Universidade Federal de Uberlân-
dia. Programa de Pós-Gradua
ção em Engenharia Civil. III. Título.
CDU: 628.54 (815.12 * UDI)
Elaborada pelo Sistema de Bibliotecas da UFU / Setor de Catalogação e Classificação
Ao meu eterno namorado, meu esposo, aos meus filhos,
presente de Deus, à toda a minha família, aos amigos e
colegas que sempre me incentivaram e acreditaram que
seria possível a realização desse trabalho.
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Agradeço primeiramente a Deus, minha voz interior, que esteve presente em todas as
etapas desse trabalho, mostrando-me sempre o caminho a trilhar. À Maria, exemplo de
mulher, que me faz refletir sempre sobre a paciência, a dedicação e humildade.
Ao meu esposo, que sempre me deu forças para que eu pudesse concluir esta pesquisa,
acreditou em mim, mais que eu mesma. Quanto incentivo! Muito obrigada.
Aos meus queridos filhos Guilherme e Giovana, amigos incondicionais. Guilherme, que
muitas vezes, abdicou do computador, cedendo sua vez para mim, para que eu pudesse
escrever esta dissertação. Giovana, que, embora sendo uma criança de 7 anos, reconhecia
meu cansaço e muitas vezes, além da água que levava para mim, sem eu pedir, fazia uma
massagem em meus ombros com suas pequeninas mãos.
Aos meus pais, exemplo de garra e muita luta. Com certeza, este trabalho tem um
pouquinho de tudo que me ensinaram: lutar com muita fibra, coragem e não desistir jamais.
Ao profissional exemplar, o meu orientador, prof. Manfred, pelo impulsionar das primeiras
idéias, sempre dedicado e envolvido no desenvolvimento da dissertação. A sua conduta,
substituiu muitas palavras e tornou-se para mim, o melhor exemplo de pessoa e
profissional.
À querida Ana Luíza, minha orientadora, por acreditar que poderia contribuir com o
trabalho ora desenvolvido pelo colega, o prof. Manfred. Muito obrigada quando, em meio
às minhas incertezas, disse seu sim a esta pesquisa.
À Escola Agrotécnica Federal de Uberlândia que me deu o apoio necessário à realização da
pesquisa.
À todos os meus colegas, que me incentivaram a fazer o mestrado, acreditaram em mim e
colaboram com suas idéias, para que este trabalho pudesse ser ainda mais relevante. Muito
obrigada mesmo.
Melo, M.R. A construção de um modelo de gestão descentralizada dos resíduos sólidos na
Escola Agrotécnica Federal de Uberlândia inspirado nas Metas de Desenvolvimento do
Milênio. 101 p. Dissertação de Mestrado, Faculdade de Engenharia Civil, Universidade
Federal de Uberlândia, 2008.
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O objetivo deste trabalho foi a construção de um modelo de gestão descentralizada de
resíduos sólidos na Escola Agrotécnica Federal de Uberlândia (EAF-Udi), em 2007, a fim
de contribuir para o cumprimento da sétima Meta de Desenvolvimento do Milênio –
Garantir a Sustentabilidade Ambiental - traduzindo-a em ações locais. A pesquisa reporta
especificamente a um dos indicadores desta meta, o décimo, que é o de reduzir pela
metade, até 2015, a proporção da população sem acesso permanente e sustentável à água
potável e a serviços de saneamento, por meio da adoção de políticas e programas
ambientais. A questão específica que se aborda está contida em uma das vertentes do
saneamento e diz respeito à gestão descentralizada de resíduos sólidos da Escola
Agrotécnica Federal de Uberlândia, a qual envolveu toda a comunidade escolar por meio
de projetos de educação sanitária e ambiental, com ações para redução do desperdício e
para a mudança na destinação dos resíduos, promovendo assim a melhoria da qualidade de
vida de todos os envolvidos. Para a construção de um efetivo modelo gerencial iniciou-se
com a Coleta Diferenciada dos resíduos sólidos gerados na Instituição, separando-os em
secos e molhados, dando-lhes um destino correto Os secos foram separados por categorias
(papelão, PET, latas e plásticos) e submetidos à logística reversa. Os molhados, que
constaram de material putrescível, foram reaproveitados para a compostagem em um local
na própria escola e o composto formado foi utilizado no setor de horticultura e no viveiro
da Instituição. Com a efetiva participação da comunidade, obteve-se, como conseqüência,
uma redução significativa na quantidade de resíduos levados ao aterro sanitário local,
garantindo uma gestão sustentável. Este trabalho contribui efetivamente para a qualidade
de vida das pessoas envolvidas e pode ser adotado tanto por instituições de educação
similares à pesquisada quanto por outros municípios.
Palavras Chave: Coleta Diferenciada. Compostagem. Logística reversa. Metas do
Milênio. Resíduos sólidos. Saneamento.
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The objective of this work focused on the construction of a decentralized model of solid
waste management in Escola Agrotécnica Federal de Uberlândia (EAF-Udi) in order to
contribute to the fulfilment of the seventh Millennium Development Goal - Ensure
Environmental Sustainability - translated it into local actions. Reports specifically to one of
the indicators of this goal, the tenth one, which is to reduce by half until 2015, the
proportion of people without sustainable access to drinking water and sanitation, through
the adoption of policies and environmental programs. The specific issue to be addressed is
contained in part of sanitation concerns and decentralized management of solid waste from
School Agrotécnica Federal de Uberlândia, involving the entire school community through
environmental health education projects with actions to reduce of waste and to change the
destination of it, improving quality of life of every body involved. For the construction of
an effective managerial model began with the Differentiated Collection of solid waste
generated in the institution, separating them into dry and wet. Later it was made the
recovery of dry and wet, giving them the correct destination. The dried were separated by
categories (cardboard, PET bootle, cans and plastics) and were sent to reverse logistics.
The wet ones, which consisted of organic stuff were reused to their composting in a place
of the school. With the effective participation of the community, it was possible to get a
significant reduction in the amount of waste brought to the landfill site, guaranteeing a
sustainable management. This work contributes for the improvement of life of people. It
could be imitated by education institutions similar to the search imitated by other
municipalities.
Keywords: Composting. Differentiated Collection. Millennium Goals. Reverse logistics.
Sanitation. Solid waste.
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Figura 1: Percentual de municípios com serviços de saneamento - Brasil – 1989/2000 .... 33
Figura 2: Média da massa coletada (RDO + RPU) per capita em relação à população
urbana (I
021
), para grupos selecionados de municípios, por Estado. Brasil,
municípios selecionados, 2005.......................................................................... 41
Figura 3: Localização da EAFUDI...................................................................................... 50
Figura 4: Vista lateral do prédio central da Escola Agrotécnica Federal de Uberlândia .... 51
Figura 5: Bacia do Córrego Bebedouro............................................................................... 51
Figura 6: Vista aérea da Escola Agrotécnica Federal de Uberlândia.................................. 52
Figura 7: Reunião com a equipe diretamente envolvida com o projeto.............................. 60
Figura 8: Palestra de sensibilização -1ª turma dos servidores do refeitório........................ 61
Figura 9: Palestra de sensibilização feita aos servidores residentes da EAF- Udi.............. 62
Figura 10: Cartaz relativo à Coleta Diferenciada................................................................ 63
Figura 11: Divulgação da Coleta Diferenciada na lanchonete............................................ 63
Figura 12: Divulgação da Coleta Diferenciada na cantina 1............................................... 64
Figura 13: Local das leiras de compostagem ...................................................................... 65
Figura 14: Leiras de compostagem (final) .......................................................................... 66
Figura 15: Leira de compostagem....................................................................................... 66
Figura 16: Percentual dos resíduos sólidos secos gerados na EAF- Udi. ........................... 73
Figura 17: Variação da temperatura da leira I..................................................................... 78
Figura 18: Variação da temperatura da leira II. .................................................................. 79
Figura 19: Variação da temperatura da leira III. ................................................................. 79
Figura 20: Variação da temperatura da leira IV.................................................................. 79
Figura 21: Variação de temperatura das leiras de compostagem, utilizando-se diferentes
resíduos............................................................................................................. 80
Figura 22: Temperatura média e pluviosidade do mês de dezembro de 2007. ................... 81
Figura 23: Temperatura média e pluviosidade do mês de janeiro de 2008......................... 81
Figura 24: Temperatura média e pluviosidade do mês de fevereiro de 2008. .................... 82
Figura 25:Temperatura média e pluviosidade do mês de março de 2008........................... 82
Figura 26: Adubo orgânico produzido nas leiras de compostagem. .................................. 84
Figura 27: Separação e acondicionamento dos resíduos secos da EAF-Udi....................... 85
Figura 28: Cartaz motivacional para o uso de copos não descartáveis. .............................. 87
Figura 29: Cartaz utilizado para a motivação e continuidade do projeto............................ 90
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Tabela 1: Objetivos e indicadores da 7ª Meta do Milênio .................................................. 21
Tabela 2: de municípios e respectiva população na amostra publicada, segundo
porte do município. Brasil, municípios selecionados – 2005........................... 35
Tabela 3: Quantidades e população dos municípios. Brasil e amostra convidada – 2005.. 36
Tabela 4: Quantidades e população dos municípios. Brasil e amostra publicada – 2005... 37
Tabela 5: Média dos percentuais da população atendida com coleta de RDO, por tipo de
freqüência da coleta, segundo porte dos municípios. Brasil, municípios
selecionados, 2005. ............................................................................................ 37
Tabela 6: Natureza jurídica dos órgãos gestores do manejo de RSU presentes na amostra
segundo porte dos municípios. Brasil, municípios selecionados, 2005. ............ 38
Tabela 7: Massa coletada (RDO + RPU) per capita em relação à população urbana (I
021
),
segundo porte dos municípios. Brasil, municípios selecionados, 2005. ............ 39
Tabela 8: Média da massa coletada (RDO + RPU) per capita em relação à população
urbana (I
021
), para grupos selecionados de municípios, por Estado. Brasil,
municípios selecionados, 2005........................................................................... 40
Tabela 9: Quantidades de unidades de processamento de RSU, segundo tipo de
unidade. Brasil, Municípios selecionados, 2004................................................ 42
Tabela 10: Massa de resíduos gerados no refeitório da EAF- Udi...................................... 72
Tabela 11: Relação Carbono/Nitrogênio (C/N) de alguns resíduos utilizados para a
compostagem.................................................................................................. 75
Tabela 12: Massa de resíduos utilizada em cada leira de compostagem. ........................... 76
Tabela 13: Relação C/N de cada leira no início e final da compostagem........................... 76
Tabela 14: Balanço de massa .............................................................................................. 83
Tabela 15: Tipos e quantidade semanal de resíduos secos produzidos na EAF/Udi .......... 86
Tabela 16:Estimativa da massa e volume de resíduo seco reciclável gerado na
EAF- Udi ......................................................................................... 86
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RESUMO ............................................................................................................................. 3
ABSTRACT......................................................................................................................... 4
LISTA DE FIGURAS ......................................................................................................... 5
LISTA DE TABELAS......................................................................................................... 6
CAPÍTULO 1....................................................................................................................... 9
INTRODUÇÃO................................................................................................................... 9
CAPÍTULO 2..................................................................................................................... 18
METAS DE DESENVOLVIMENTO DO MILÊNIO ................................................... 18
2.1 AS METAS DE DESENVOLVIMENTO DO MILÊNIO MDM ........................ 18
2.2 - A SUSTENTABILIDADE E O DESENVOLVIMENTO....................................... 24
2.3 - EXEMPLOS DE AÇÕES DESCENTRALIZADAS .............................................. 28
CAPÍTULO 3..................................................................................................................... 30
RESÍDUOS SÓLIDOS...................................................................................................... 30
3. 1 - CLASSIFICAÇÃO E DEFINIÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS ........................... 30
3. 2 - CENÁRIO DOS RESÍDUOS ................................................................................. 32
3.3 A COMPOSTAGEM COMO OPÇÃO DE GERIR OS RESÍDUOS
BIODEGRADÁVEIS ....................................................................................... 44
CAPÍTULO 4..................................................................................................................... 50
ÁREA DA PESQUISA...................................................................................................... 50
4. 1 - INFRA-ESTRUTURA SICA DA ESCOLA AGROTÉCNICA FEDERAL DE
UBERLÂNDIA .................................................................................................... 52
CAPÍTULO 5..................................................................................................................... 56
METODOLOGIA ............................................................................................................. 56
CAPÍTULO 6..................................................................................................................... 71
RESULTADOS E DISCUSSÃO ...................................................................................... 71
6.1 - DIAGNÓSTICO DOS RESÍDUOS GERADOS NA ESCOLA AGROTÉCNICA
FEDERAL DE UBERLÂNDIA............................................................................. 71
6.2 DIAGNÓSTICO POSTERIOR .............................................................................. 71
6.3 A COMPOSTAGEM COMO ALTERNATIVA PARA GERIR OS RESÍDUOS
PUTRESCÍVEIS GERADOS NA EAF-UDI......................................................... 73
6.4 - APROVEITAMENTO DOS RESÍDUOS RECICLÁVEIS GERADOS NA EAF-
UDI: A LOGÍSTICA REVERSA COM SUB-PRODUTO DA PESQUISA ......... 84
CAPÍTULO 7..................................................................................................................... 88
CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................... 88
REFERÊNCIAS ................................................................................................................ 93
ANEXOS ............................................................................................................................ 98
Capítulo 1 – Introdução
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Após diversas conferências mundiais nos anos 90, como ECO-92 no Rio de Janeiro,
sobre o meio ambiente e a de Beijing, na China em 1995, sobre as mulheres, a Organização
das Nações Unidas ONU - constatou uma realidade preocupante no planeta e decidiu
criar uma Agenda Social Mundial: o Projeto Milênio. Para sistematizar acordos
internacionais alcançados em várias cúpulas foram lançadas, no dia 8 de setembro de
2000, as Metas para o Desenvolvimento do Milênio (MDM). Cada Meta se desdobrou em
Objetivos e Indicadores que foram ratificados por todos os 191 países membros. O
documento resultante é uma Declaração que estabelece uma série de compromissos
concretos a serem cumpridos por cada um dos países filiados à ONU, até 2015 (PNUD,
2005).
Concretas e mensuráveis, as 8 metas com seus 18 objetivos e 48 indicadores,
podem ser acompanhadas por cada país; os avanços podem ser comparados e avaliados em
escalas regional, nacional e global e os resultados podem ser cobrados pela população e
seus representantes, sendo que ambos devem colaborar para alcançar os compromissos
assumidos em 2000. As Metas também servem de exemplo e alavanca para a elaboração de
formas complementares mais amplas e até sistêmicas para a busca de soluções
quantitativas que os acompanham, para melhorar o destino da humanidade neste século.
No que se refere ao saneamento, que envolve os quatro componentes: água,
esgotos, resíduos sólidos e águas pluviais, a sétima Meta propõe a garantia da
sustentabilidade ambiental. O foco deste trabalho foi um dos indicadores desta Meta, o
décimo, que é o de reduzir pela metade, até 2015, a proporção da população sem acesso
permanente e sustentável à água potável e a serviços de saneamento, por meio da adoção
de políticas e programas ambientais, o que exige controle, regulação, gestão e a criação de
leis que permitam o controle da prestação de serviços.
Capítulo 1 – Introdução
10
Foi feita uma adaptação desta Meta face à realidade da Escola Agrotécnica Federal
de Uberlândia para que ela pudesse então ser executada localmente e, assim, contribuir
para que seu objetivo fosse cumprido.
O aumento populacional com seu nível crescente de consumo tem levado à geração
cada vez maior de resíduos, principalmente lidos. A falta de compromisso com o
controle ambiental, advindo desse aumento expressivo de resíduos, faz com que muitos
países fiquem à margem de uma qualidade de vida satisfatória (DIAS, 2002).
Considerando a articulação entre Ecologia e Economia, no padrão civilizatório do
capitalismo industrial globalizado, verifica-se que a atual forma produtiva da economia de
mercado baseia-se numa tecnosfera que produz uma grande pegada ecológica (resíduos,
poluição) e um envenenamento da biosfera (LAYRARGUES, 2002).
Deve-se ressaltar que o sistema capitalista, em si, não pode ser considerado o vilão
das catástrofes ambientais, pois, se assim fosse, não se tinha presenciado o colapso
ambiental vivido pelos antigos países comunistas da Europa oriental. Embora ele vise ao
mercado, incentivando o consumo e a produção em larga escala, com o objetivo de
promover o crescimento econômico de uma minoria, sem se preocupar com o
desenvolvimento pleno dos povos, é ele quem a sustentação necessária para a
prosperidade de uma nação.
Regulamentar a apropriação e o uso dos recursos naturais poderia contribuir para se
conter a crise ambiental e a grande quantidade de lixo gerada na produção e no consumo.
Assim sendo, com um olhar atento e sério, a natureza poderá ser vista não somente como
um meio para a produção de mercadorias, mas, como meio para se promover o
desenvolvimento de um país em todos os aspectos: econômico, social e ético.
Segundo relato no manual do CEMPRE (2007), as variações de resíduos são as
seguintes: quanto mais desenvolvido o país ou mais alta é a classe social, menor é a
proporção de resíduos orgânicos compostáveis e, maior a de recicláveis (papel, papelão,
vidro, metais e plásticos).
Dados do CEMPRE (2007) mostram que, no Brasil, os componentes orgânicos
somam cerca de 60% de todo o peso do lixo coletado, nos Estados Unidos representam
12% , Índia 68% e França 23%. Dos 60% de resíduos orgânicos coletados no Brasil, esses
Capítulo 1 – Introdução
11
dados mostram ainda que, em 2006, aproximadamente 3% foi reciclado, sendo que, em
Minas Gerais, considerando somente a área urbana, esse índice subiu para 4% .
Estudos feitos por Fehr e Castro (1999), sobre a caracterização do resíduo sólido
domiciliar da cidade de Uberlândia, mostram que 72% dele é constituído de matéria
orgânica putrescível. Um índice preocupante que aponta novos paradigmas para o
manuseio e valorização desses resíduos (CALÇADO, 1998).
A criação da Lei 11.445, no Brasil, de 5 de janeiro de 2007, e publicada com
retificações no D.O.U em 11 de janeiro de 2007, estabelece diretrizes nacionais para o
saneamento básico e possibilita a regulação dos Resíduos Sólidos em consonância com as
Políticas Nacionais de Meio Ambiente, de Recursos Hídricos, de Saneamento e de Saúde.
Em conformidade com os objetivos, princípios, fundamentos, diretrizes, instrumentos,
planos e programas adotados, permite-se a gestão associada, priorizando ações que
promovam a eqüidade social e a melhoria da qualidade de vida da população e das
condições ambientais.
Pensar em aliar crescimento econômico com inclusão social é fundamental para se
ter o cumprimento das Metas do Milênio com efetiva sustentabilidade. Faz-se mister
buscar experiências bem sucedidas que vão de encontro ao objetivo desta pesquisa. Jacobi
& Teixeira (1998) apud Layrargues (2002) relatam as experiências dos municípios de
Embu, em São Paulo e de Belo Horizonte, em Minas Gerais, com relação à coleta seletiva
de lixo. Estes municípios obtiveram sucesso justamente porque houve a vontade política do
poder público em equacionar a articulação da reciclagem com a inclusão social, apoiando a
criação de cooperativas de catadores e providenciando o suporte necessário básico, o que
evidencia que é possível executar a gestão de resíduos sólidos por intermédio de políticas
que não sejam reféns exclusivas do jogo livre de mercado. Estes autores ressaltam ainda
que:
... ( ) o momento atual exige que a sociedade esteja mais motivada e mobilizada
para assumir um caráter mais propositivo, para questionar de forma concreta a
falta de iniciativa dos governos em implementar políticas pautadas pelo binômio
sustentabilidade e desenvolvimento, num contexto de crescentes dificuldades
para promover a inclusão social (LAYRARGUES, 2002, p.210)
Para a questão dos resíduos, a adoção de um modelo capaz de minimizar os impactos
ambientais por eles gerados faz-se necessária e deve ser urgente. Modelo baseado apenas
Capítulo 1 – Introdução
12
na coleta, afastamento, e, quando muito, na disposição adequada dos resíduos, já é
superado.
A coleta seletiva na fonte poderia ser uma alternativa, mas, é onerosa em termos de
infra-estrutura e esforços educacionais (FEHR e CALÇADO, 2000). A percepção
dominante sobre a coleta seletiva explicitada em uma homepage brasileira
(www.lixo.com.br) apud Layrargues (2002,p.182) é vista como:
uma alternativa ecologicamente correta que desvia do destino em aterros
sanitários ou lixões, resíduos sólidos que podem ser reciclados. Com isso, dois
objetivos importantes são alcançados. Por um lado, a vida útil dos aterros
sanitários é prolongada e o meio ambiente é menos contaminado. Por outro lado,
o uso de matéria-prima reciclável diminui a extração dos nossos tesouros
naturais. Uma lata velha que se transforma em uma lata nova é muito melhor
que uma lata a mais. E de lata em lata, o planeta vai virando um lixão.
A solução pode estar no desenvolvimento de modelos integrados e sustentáveis que
considerem, desde o momento da geração dos resíduos, a maximização de seu
reaproveitamento e de sua reciclagem e da conseqüente redução de seu volume com o
processo de tratamento e destinação final, que é o aterro sanitário.
Programas de educação ambiental devem ser implementados de forma reflexiva e
não de forma apenas reducionista, considerando-se a reciclagem não como produto
desses programas, mas como uma forma de se repensar os valores culturais sobre a
sociedade do consumo. Analisando-se a interface entre a educação ambiental e a questão
do lixo, Layrargues (2002, p.181), faz a seguinte observação:
uma excessiva predominância da discussão a respeito dos aspectos técnicos,
psicológicos e comportamentais da gestão do lixo, em detrimento de seus
aspectos políticos. A discussão conduzida pela educação ambiental está
consideravelmente deslocada do eixo da formação da cidadania como atuação
coletiva na esfera pública, que um expressivo silêncio no que se refere à
implementação de alternativas para o tratamento do lixo por intermédio da
regulação estatal ou dos mecanismos de mercado. Além disso, a questão do lixo,
nas variadas facetas, ainda não se tornou objeto de demanda social específica
pela criação de políticas públicas, a exemplo das lutas socioambientais
consolidadas em alguns movimentos sociais. As dispersas e isoladas iniciativas
de criação de cooperativas de catadores de lixo, por exemplo, ainda não
alcançaram uma articulação ampla e coesa o suficiente para transformar essa
atividade em política pública.
Qualquer modelo de gestão dos resíduos evidencia a importância de estudos e
ações voltadas à sua correta disposição final. Estes modelos são constituídos de fases que
envolvem desde a geração de resíduos até a sua disposição final, compreendendo-se como
Capítulo 1 – Introdução
13
um conjunto de partes que, interligadas, visam a atingir determinados objetivos, de acordo
com um planejamento elaborado com fundamentação teórico-metodológica.
Seguindo esse raciocínio, a utilização de indicadores lógicos para a construção da
filosofia de gestão mais adequada à comunidade local, faz-se necessária. A filosofia
internacional hoje, considerada moderna, busca o maior desvio possível de resíduos dos
aterros, no intuito de prolongar a sua vida útil (FEHR, 2001).
Formular um modelo gerencial com o qual se possa coletar separadamente o
material putrescível e reaproveitá-lo por meio da compostagem e encaminhar os recicláveis
à logística reversa, é sem dúvida, o primeiro passo rumo ao cumprimento da Sétima Meta
do Milênio e uma forma de contribuir para o equilíbrio ecológico.
A compostagem é uma alternativa para o tratamento dos resíduos orgânicos,
principalmente em países tropicais, onde fatores climáticos favorecem uma biodegradação
controlada dos resíduos orgânicos. Nesse sentido, a compostagem pode ser definida como
um processo aeróbio e controlado de tratamento e estabilização da matéria biodegradável
(redução da atividade biológica pelo esgotamento dos estoques de alimentos e competição
entre espécies de agentes detritívagos, ocorrendo transformação dos componentes químicos
com a diminuição da carga carbonácea e a oxi-redução dos elementos químicos para
formas orgânicas mineralizadas) de resíduos orgânicos para a produção de húmus,
diminuindo assim problemas ambientais e sanitários associados às grandes quantidades
desses resíduos.
Para o cumprimento desse passo, é importante que se inicie com a Coleta
Diferenciada (CALÇADO,1998), modelo resultante das ponderações feitas com relação às
variadas formas de coleta, em que se tem a separação dos resíduos em duas categorias:
seco e úmido. Como conseqüência, obtém-se uma redução significativa da quantidade de
resíduos levada ao aterro, tornando a comunidade em questão sustentável sob esse prisma.
A logística reversa é uma nova área da logística empresarial que atua de forma a
gerenciar e operacionalizar o retorno de bens e materiais após sua venda e consumo, às
suas origens, agregando valor aos mesmos. Dentro do contexto econômico, ambiental e
social, essa nova ferramenta contribui de forma significativa para o reaproveitamento de
produtos e materiais após seu uso, amenizando os prejuízos causados ao meio-ambiente
Capítulo 1 – Introdução
14
pelo grande volume de bens fabricados pelos complexos produtivos. O Brasil não dispõe
ainda de um acervo bibliográfico nesta área, apesar de sua importância para as
organizações, sejam elas industriais, comerciais ou de serviços.
Segundo Tchobanoglous, Theisen e Virgil (1993), o modelo mais adotado para
reverter a disposição inadequada dos resíduos sólidos urbanos em lixões é baseado no
gerenciamento integrado em que todos os elementos fundamentais são avaliados e
utilizados, e todas as interfaces e conexões entre os diferentes elementos são avaliadas com
o objetivo de se obter a solução mais eficaz e econômica.
Um outro modelo de gestão integrada de resíduos sólidos urbanos é, então,
apresentado por Nunesmaia (2002) intitulado Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos
Socialmente Integrada, tendo como suporte:
O desenvolvimento de linhas de tratamento (tecnologias limpas) de resíduos
sólidos, priorizando a redução e a valorização;
a economia (viabilidade);
a comunicação/educação ambiental (o envolvimento dos diferentes
protagonistas sociais);
o social (a inclusão social, o emprego);
o ambiental (os aspectos sanitários, os riscos à saúde humana).
A integração entre as categorias dos protagonistas: geradores de resíduos, catadores
(badameiros e catadores de papel e de latas), municípios e cooperação entre municípios;
prestadores de serviços (terceiros), indústrias (indústrias de reciclagem) diz respeito ao
elemento principal do modelo que é a associação da redução de resíduos em sua fonte
geradora, com políticas sociais municipais (NUNESMAIA 2002).
Numa visão moderna de gestão ambiental, a sustentabilidade é entendida como a
manutenção harmônica das espécies que compõem uma rede de relações. Num
ecossistema, nenhum ser é excluído da rede; todas as espécies até mesmo as menores
bactérias contribuem para a sustentabilidade (CAPRA, 2002).
Este trabalho propõe a adoção de políticas descentralizadas pela própria sociedade
por meio de projetos de educação sanitária e ambiental, com ações voltadas para redução
Capítulo 1 – Introdução
15
do desperdício e para a mudança na destinação dos resíduos. Estes planos podem ser
eficazes, contribuindo efetivamente para a mudança de postura das pessoas, melhorando a
sua qualidade de vida e, conseqüentemente, indo de encontro ao cumprimento de uma das
Metas do Milênio, objeto desta pesquisa.
A questão específica que se pretende abordar está contida em uma das vertentes do
saneamento e diz respeito à gestão descentralizada de resíduos sólidos da Escola
Agrotécnica Federal de Uberlândia.
Prevê-se que, a União, por meio do Ministério das Cidades, elabore um Plano
Nacional de Saneamento Básico que conste das diretrizes para a gestão de resíduos sólidos,
a fim de regulamentar a lei 11.445. É pertinente, portanto, antecipar-se a este plano, com a
realização de pesquisas que possam contribuir de forma positiva para a sua efetiva
regulamentação.
Para o cumprimento do objetivo central desta pesquisa, fez-se necessário
estabelecer os objetivos específicos, que, ao longo do trabalho contribuíram para a
concretização dessa pesquisa. Estão assim elencados:
Redução da quantidade de resíduos sólidos encaminhados ao aterro da
cidade de Uberlândia e determinação de seu percentual;
destinação para a compostagem dos resíduos biodegradáveis produzidos no
refeitório da Escola Agrotécnica Federal de Uberlândia e nas residências de
seus funcionários moradores e utilização do composto orgânico produzido,
durante a pesquisa, em substratos para a produção de plantas existentes no
Viveiro da Escola para a aplicação no setor de Olericultura;
destinação dos resíduos secos recicláveis gerados na Escola Agrotécnica
Federal de Uberlândia, encaminhando-os à Cooperativa de Catadores,
garantindo a aplicação da logística reversa;
adoção de um modelo piloto de gestão descentralizada de manejo dos
resíduos sólidos que possa ser utilizado em outros lugares e, assim, tornar-se
uma referência;
prover um exemplo local de adequação à sétima Meta do Milênio;
antecipar à regulamentação da Lei 11.445;
Capítulo 1 – Introdução
16
contribuir para a solução de um problema de engenharia urbana referente
ao transporte de resíduos.
O desafio, portanto, foi a construção de um modelo de gestão descentralizada, que
atenda às necessidades e demanda da comunidade, envolvendo-a numa participação
individual e coletiva e, ainda, o esclarecimento de que os indicadores selecionados para a
meta em questão são justamente "indicativos" da adoção de atitudes responsáveis e
conscientes da própria comunidade. Nesse sentido, o desenvolvimento de um projeto de
compostagem envolvendo um grupo de pessoas, com a realização de ensaios e
experiências na Escola Agrotécnica, representou uma solução para a destinação dos
resíduos orgânicos e servirá de subsídios às instituições similares e aos municípios,
contribuindo para que eles possam adequar-se à sétima meta, favorecendo o seu
cumprimento de forma eficaz. Ao controlar e reduzir seus aterros, os municípios estarão
garantindo uma gestão sustentável de resíduos e melhorando a qualidade de vida das
pessoas.
Com o manejo adequado dos resíduos sólidos urbanos (RSU), a área destinada aos
aterros fica reduzida, o trabalho dos coletores e catadores torna-se mais eficiente e reduz
seu impacto sobre o trânsito, a otimização da rota dos veículos coletores dos resíduos fica
evidenciada, mostrando, dessa forma, que um problema típico da Engenharia Urbana está
sendo resolvido.
No que se refere à metodologia, utilizou-se a pesquisa-ação visto que ela é
concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de
problemas coletivos e com os quais, os pesquisadores e os participantes estão envolvidos
de modo cooperativo ou participativo (THIOLLENT, 2003).
Esta dissertação está estruturada em outros seis capítulos, cujas idéias estão
explicitadas resumidamente no parágrafo que se segue.
O segundo capítulo apresenta um resgate histórico das Metas do Desenvolvimento
do Milênio, focando mais especificamente na sétima Meta. Enfatiza, ainda, iniciativas bem
sucedidas de algumas empresas que, por meio de atos descentralizados de gestão de seus
resíduos, têm reduzido significativamente os impactos ambientais gerados por suas
atividades e que podem servir de referência e modelo a qualquer município. Os resíduos
Capítulo 1 – Introdução
17
sólidos são abordados no terceiro capítulo. Apresenta-se o diagnóstico deles no mundo, no
Brasil e em Uberlândia. O quarto capítulo retrata o local da pesquisa, destacando a parte
física da Escola Agrotécnica Federal de Uberlândia. A metodologia encontra-se no quinto
capítulo, em que se detalham os passos para a concretização dos objetivos propostos. O
sexto capítulo apresenta os resultados do trabalho e discute as possibilidades
ecologicamente viáveis da redução dos resíduos sólidos para o aterro, por meio da
compostagem e da logística reversa. Por fim, apresentam-se as considerações finais no
sétimo capítulo.
Capítulo 2 – Metas de Desenvolvimento do Milêno
18
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2.1 – AS METAS DE DESENVOLVIMENTO DO MILÊNIO – MDM
As Metas de Desenvolvimento do Milênio surgiram da necessidade da
concretização das ações propostas e estabelecidas na Agenda 21, cuja base conceitual
aponta, em síntese, para a importância de se construir um programa de transição que
contemple as questões centrais reduzir a degradação do meio ambiente e,
simultaneamente, a pobreza e as desigualdades sociais e contribuir para a
sustentabilidade progressiva do planeta.
No capítulo 21 da Agenda 21 destaca-se a necessidade de diminuir o consumo para
minimizar os impactos dos resíduos no meio ambiente. Esta diretriz foi pensada no
relatório de Brundtland (1987) que definiu o desenvolvimento sustentável como aquele
que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as futuras
gerações atenderem às suas próprias necessidades.
O documento ainda estabelece o ano de 2025 para que esta proposta esteja em
exercício pleno de promoção para a sustentabilidade. A idéia central desse documento é,
em última instância, tratar da importância de se reduzir o consumo, reutilizar os resíduos
na produção de novos produtos, fechar o ciclo produtivo e promover a reciclagem por meio
do manejo adequado dos resíduos sólidos. Os aterros sanitários deixariam de existir ou
diminuiriam o seu tamanho, garantindo assim a sustentabilidade ambiental. Para o
cumprimento deste objetivo, em linhas gerais, no que tange aos resíduos sólidos, esse
artigo enfatiza a necessidade de uma re-orientação cultural como a alteração no estilo de
vida das pessoas e dos padrões de consumo.
Capítulo 2 – Metas de Desenvolvimento do Milêno
19
Sobre os resíduos sólidos, a Agenda 21 elaborou metas para os governos, levando-
se em consideração os recursos disponíveis e a cooperação das Nações Unidas e de outras
organizações pertinentes, para:
Até o ano 2000, implementar políticas destinadas à redução, ao mínimo, dos
resíduos;
Até o ano 2000, implantar, em todos os países industrializados, programas
para estabilizar ou diminuir, caso seja praticável, a produção de resíduos
destinados a depósito definitivo, inclusive os resíduos per capita; os países em
desenvolvimento devem também trabalhar para alcançar esse objetivo sem,
contudo comprometer suas perspectivas de desenvolvimento.
A secretaria da Conferência sugere que os países industrializados considerem a
possibilidade de investir no reaproveitamento máximo de seus resíduos, reduzindo-os
significativamente, gerando, com isso, uma economia de aproximadamente de $6,5 bilhões
de dólares anuais, os quais poderiam ser utilizados para:
Fortalecer e ampliar os sistemas nacionais de reutilização e reciclagem dos
resíduos;
Criar, no sistema das Nações Unidas, um programa modelo para a
reutilização e reciclagem internas dos resíduos gerados, inclusive do papel;
Difundir informações, cnicas e instrumentos de política adequados para
estimular e operacionalizar os sistemas de reutilização e reciclagem de
resíduos.
Os governos, segundo sua capacidade e recursos disponíveis e com a cooperação
das Nações Unidas e de outras organizações pertinentes, quando apropriado, deveriam:
Até o ano 2000, promover capacidades financeira e tecnológica suficientes
nos planos regional, nacional e local, quando apropriado, para implementar
políticas e ações de reutilização e reciclagem dos resíduos;
ter, até o ano 2000 em todos os países industrializados e até o ano 2010 em
todos os países em desenvolvimento, um programa nacional que inclua, na
Capítulo 2 – Metas de Desenvolvimento do Milêno
20
medida do possível, metas para a reutilização e reciclagem eficazes dos
resíduos.
As propostas elencadas neste documento Agenda 21- têm o intuito de reduzir,
reciclar e reutilizar os resíduos como forma de diminuir seus impactos no meio ambiente.
Para isso deveria fechar o ciclo da produção, ou seja, matéria-prima produto - resíduo e
produto. Com isso, diminuem-se a degradação do meio ambiente e a depleção dos recursos
naturais.
As Metas de Desenvolvimento do Milênio (MDM), apresentadas na Declaração do
Milênio das Nações Unidas, foram assinadas pelos 189 estados membros participantes da
Cúpula no dia 8 de setembro de 2000, em Nova York. Criada em um esforço para sintetizar
acordos internacionais, como o da Agenda 21, alcançados em várias cúpulas mundiais, ao
longo dos anos 90 (sobre ambiente e desenvolvimento, direitos das mulheres,
desenvolvimento social, racismo, etc.), a referida declaração traz uma série de
compromissos concretos que, se cumpridos nos prazos fixados, segundo os indicadores
quantitativos que os acompanham, deverão melhorar a qualidade de vida da humanidade
neste século.
As Metas do Milênio são discutidas e expandidas globalmente, em muitos países.
Entidades governamentais, empresariais e da sociedade civil procuram formas de inserir
essas Metas em suas próprias estratégias de desenvolvimento. O esforço no sentido de
incluir várias dessas Metas do Milênio, em agendas internacionais, nacionais e locais de
Direitos Humanos, por exemplo, é uma forma criativa e inovadora de valorizar e levar
adiante a iniciativa.
Concretas e mensuráveis, as 8 Metas com seus 18 objetivos e 48 indicadores
podem ser acompanhadas por cada país; os avanços podem ser comparados e avaliados em
escalas global, nacional e regional; e os resultados podem ser cobrados pelos povos e seus
representantes, sendo que ambos devem colaborar para alcançar os compromissos
assumidos em 2000. Tais compromissos servem de exemplo e alavanca para a elaboração
de formas complementares, mais amplas e até sistêmicas, para a busca de soluções
adaptadas às condições e potencialidades para cada sociedade alcançar até 2015.
Capítulo 2 – Metas de Desenvolvimento do Milêno
21
De perto para a questão dos resíduos sólidos, a 7ª Meta - Garantir a sustentabilidade
ambiental destaca:
Um bilhão de pessoas ainda não m acesso a água potável. Ao longo dos anos
90, no entanto, quase um bilhão de pessoas ganharam esse acesso à água bem
como ao saneamento básico. A água e o saneamento são dois fatores ambientais
chaves para a qualidade da vida humana, e fazem parte de um amplo leque de
recursos e serviços naturais que compõem o nosso meio ambiente – clima,
florestas, fontes energéticas, o ar e a biodiversidade e de cuja proteção
dependemos nós e muitas outras criaturas neste planeta. Os indicadores
identificados para esta meta são justamente "indicativos" da adoção de atitudes
sérias na esfera pública. Sem a adoção de políticas e programas ambientais, nada
se conserva adequadamente, assim como sem a posse segura de suas terras e
habitações, poucos se dedicarão à conquista de condições mais limpas e sadias
para seu próprio entorno (METAS..., 2007).
A tabela 1 mostra os objetivos e indicadores da Meta de Desenvolvimento do
Milênio, conforme apresentado no relatório do Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD, 2000).
Meta Objetivos Indicadores
9: Incorporar os princípios de
desenvolvimento sustentável
nas políticas e programas
nacionais e minimizar a perda
de recursos naturais.
25: Proporção de área coberta
por florestas.
26: Razão entre a área da
superfície e a protegida para
manter a diversidade biológica.
27: Eficiência energética.
28: Redução drástica das
substâncias que causam a
obstrução da camada de ozônio.
29: Proporção da população
usando os combustíveis fósseis.
10: Reduzir pela metade a
proporção de pessoas sem
acesso à água potável e ao
saneamento básico.
30:
Proporção da população
urbana e rural com acesso à
água potável.
31: Proporção da população
urbana e rural com acesso a
saneamento básico.
7
Garantir a
sustentabilidade
ambiental
11: Atingir, até 2020, uma
melhoria significativa na vida
de pelo menos 100 milhões de
favelados.
32: Proporção de famílias com
acesso à moradia com
condições mínimas de
qualidade
Tabela 1: Objetivos e indicadores da 7ª Meta do Milênio
Fonte: PNUD- 2000.
A Cúpula das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustententável (“World
Summit on Sustainable Development WSSD”), conhecida como a Conferência de
Johannesburg, foi realizada na República da África do Sul, entre 2 e 4 de setembro de
Capítulo 2 – Metas de Desenvolvimento do Milêno
22
2002, reunindo chefes e representantes de Estados. Foram reafirmados a consciência
ambiental e os objetivos ambientais propostos e revistos nas Metas do Milênio e nas
cúpulas anteriores, tais como a de Estocolmo e do Rio de Janeiro, propondo ainda
programas para o meio ambiente, como o da Agenda 21. O propósito central da Cúpula
WSSD foi estabelecer novas prioridades para o século XXI, em termos de
desenvolvimento sustentável, criando, para isso, um Plano de Implementação para alcançar
o desenvolvimento sustentável, baseadas nas Metas de Desenvolvimento do Milênio.
Sobre os resíduos sólidos, a WSSD, em seu Plano de implementação, no capítulo 3,
parágrafo 15, encoraja o engajamento dos Estados signatários a promover
[...] the development of a 10 -year framework of programmes in support of
regional and national initiatives to accele ate the shift towards sustainable
consumption and production to promote social and economic development
within the carrying capacity of ecosystems by addressing and, where appropriate,
delinking economic growth and environmental degradation through improving
efficiency and sustainability in the us e of resources and production processes
and reducing resource degradation, pollution and waste
(MILLENNIUM…,2007).
Portanto, o manejo sustentável do meio ambiente, e de seus recursos, inclui, entre
outros, uma diminuição dos resíduos sólidos. Ainda nesse capítulo, no parágrafo 22, a
WSSD sinaliza para medidas de restrição e minimização dos resíduos sólidos, além de
propor a maximização da reutilização e o emprego de materiais alternativos, processo a ser
gerido com a participação das autoridades governamentais e demais setores da sociedade.
Nesse sentido, seriam necessários:
desenvolver sistemas de manejo de resíduos sólidos, visando à prevenção e
à minimização, o reuso e a reciclagem dos materiais, bem como a captura de
energia dos materiais que forem, enfim, depositados em aterros.
promover o reuso de produtos e o consumo de produtos biodegradáveis.
No parágrafo 23, o WSSD dispõe, em seu Plano de Implementação, um prazo até
2020 para o desenvolvimento de ações que minimizem significativamente os efeitos
adversos provocados à saúde humana e ao meio ambiente por produção de rejeitos sólidos
tóxicos. Para tanto, propõe, no inciso a desse parágrafo, a ratificação e a implementação
dos instrumentos internacionais relevantes (incluindo a Convenção de Rotterdam e a
Capítulo 2 – Metas de Desenvolvimento do Milêno
23
Convenção de Estocolmo com prazos, respectivamente, de 2003 e 2004 para início da
efetivação de suas propostas) para que os Estados pudessem agir nesse sentido.
No contexto do Capítulo IV, que trata da relação entre Saúde e Desenvolvimento
Sustentável, no parágrafo 54, inciso l, o Plano de Implementação aborda a questão
tecnológica para o tratamento e organização dos depósitos de resíduos sólidos, propondo a
transferência e a disseminação de tecnologias para tratar água, realizar saneamento e
manejar resíduos sólidos em áreas rurais e urbanas tanto de países desenvolvidos quanto de
países em transição econômica, por meio de acordos comuns entre os diversos níveis dos
setores públicos e privados, com suporte financeiro internacional.
A Cúpula do Milênio reforça a proposta da Agenda 21, concebendo o nível
municipal como o âmbito de implementação das ações previstas. Assim, é tarefa dos
administradores locais a realização de diagnósticos e a formulação de modelos gerenciais
que norteiam as ações político-administrativas, cabendo-lhes o processo decisório para
atingir os objetivos estabelecidos:
[...] (a) redução ao mínimo dos resíduos; (b) aumento ao máximo da reutilização
e reciclagem ambientalmente saudáveis dos resíduos; (c) promoção do depósito e
tratamento ambientalmente saudáveis dos resíduos; (d) ampliação do alcance dos
serviços que se ocupam dos resíduos
(AGENDA 21, p. 420).
Essa posição em relação às administrações municipais é reafirmada pela Cúpula de
Joanesburgo.
Embora, a partir da Conferência do Rio, ocorrida em 1992, cada país tenha se
comprometido a definir a sua própria agenda, fixando prioridades, envolvendo a sociedade
e o governo, promovendo parcerias e introduzindo meios de implementação do modelo de
desenvolvimento em vigor no mundo, não houve o estabelecimento sistemático de metas
específicas e prazos.
O fato de as MDM e os prazos estabelecidos serem revistos e reconduzidos à
Joanesburgo indica a complexidade da sua implementação a curto e dio prazos. Uma
transformação política, social e econômica, direcionada à sustentabilidade, exige uma
transformação cultural que requer um intenso trabalho educativo e o desenvolvimento de
práticas possíveis de serem implementadas durante três gerações, no mínimo, isto é, a
Capítulo 2 – Metas de Desenvolvimento do Milêno
24
longo prazo. Esta transformação exige, também, uma reorganização da estrutura produtiva
e dos padrões de consumo.
Muito foi feito e mais ainda há por fazer desde que 147 chefes de estado e de
governo, representando 189 países, entre eles o Brasil, reuniram-se na Cúpula do Milênio
da ONU, em 2000, assumiram o compromisso de cumprir as Metas de Desenvolvimento
do Milênio até 2015. O Relatório de Desenvolvimento Humano 2004 do Programa das
Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) revelou que a qualidade e a amplitude da
educação, a expectativa de vida e a renda da população nos 177 países analisados não
crescem como na década de 80.
Para que cada país consiga atingir as Metas do Milênio, é preciso que os governos
articulem ações descentralizadas por meio da sociedade civil - sindicatos de trabalhadores,
entidades empresariais, igrejas, organizações não-governamentais e movimentos sociais.
2.2 - A SUSTENTABILIDADE E O DESENVOLVIMENTO
As últimas décadas vêm registrando uma profunda crise mundial que tem afetado a
qualidade de vida e a saúde do homem, bem como a qualidade do meio ambiente. Trata-se,
pois, de uma crise de dimensões intelectuais, morais e espirituais, que, devido a uma
concepção cartesiana de mundo, fragmenta a ciência, o homem e o ambiente ( GRÜN,
1986).
A exploração ambiental acompanha o avanço do complexo desenvolvimento
tecnológico, científico e econômico que tem alterado o cenário do planeta e levado a
processos degenerativos profundos da natureza.
Capra (2002) evidencia que as atividades econômicas prejudicam a biosfera e a
vida humana de tal modo que, em pouco tempo, os danos poderão se tornar irreversíveis,
caso a humanidade não reduza sistematicamente o impacto das suas atividades sobre meio
ambiente natural.
Os problemas ambientais decorrentes das práticas econômicas predatórias,
desperdício dos recursos naturais e a degradação generalizada com perda da qualidade
ambiental e de vida têm trazido implicações para a sociedade como um todo. Torna-se
necessária a criação de um planejamento físico, a curto e médio prazo, construindo um
Capítulo 2 – Metas de Desenvolvimento do Milêno
25
novo paradigma de desenvolvimento que permita rever as práticas atuais de incorporação
do patrimônio natural. Esse é o desafio no nosso século: harmonizar desenvolvimento e
qualidade ambiental (BECHER, 2002).
Desde a Revolução Industrial, que a busca de se produzir mais e mais, obrigou o
homem a usar indiscriminadamente os recursos existentes na natureza, tornando-o refém
do seu espaço, comprometendo definitivamente a sua ocupação no planeta.
Jardim et al (1995) citam que o aumento da população mundial implica no aumento
do uso das reservas do planeta, da reserva de produção de bens e também da geração de
lixo. Segundo Paulella&Scapim (1996,p.36):
Tanto nos países industrializados, como nos países em desenvolvimento,
aumenta, ano após ano, a quantidade de resíduos e de produtos que se tornam
lixo, e apenas o Japão e a Alemanha m diminuído a quantidade de lixo por
habitante
Becher (2002) ressalta que a degradação é fruto da exploração econômica, da
desintegração cultural e da destruição natural. As crises ambiental, econômica e social
colocaram em cheque as noções generalizadas e crescentes do desenvolvimento e do
progresso.
De acordo com a Comissão Mundial em Meio Ambiente, na última década, o
desenvolvimento sustentável foi visto como um caminho para se viver em harmonia com o
meio ambiente e definido como um conjunto de necessidades atuais com o compromisso
de assegurar estas necessidades para as futuras gerações. Porém, o que se hoje é que
este conceito de sustentabilidade não passa de um sonho, quase dissociado da realidade da
ocupação na Terra (GLASBY, 2003).
Holthausen (2002) traça um breve histórico sobre o desenvolvimento sustentável,
mostrando que o termo surgiu em 1983 e está contido no relatório das Nações Unidas, O
Nosso Futuro Comum Relatório de Brundlandt- enfatizando a necessidade de conciliar a
produção, bens e serviços com a preservação ambiental da Terra. Em 1972, em Estocolmo,
na Suécia, os países desenvolvidos, presentes na Reunião de Cúpula da ONU, já se
mostravam preocupados com o meio ambiente, delegando aos países pobres, a
responsabilidade da preservação ambiental. Posteriormente, a busca pela minimização de
um outro problema, a fome, que acometia 1/3 da população mundial, levou a Cúpula da
Capítulo 2 – Metas de Desenvolvimento do Milêno
26
Organização das Nações Unidas, reunida na Conferência sobre Meio Ambiente, em 1992,
na cidade do Rio de Janeiro, a instituir o conceito de desenvolvimento sustentável, como
uma forma de unir o desenvolvimento e a preservação ambiental, valorizando a vida e a
sua qualidade.
Embora há os que não vêem nenhum tipo de desenvolvimento como sustentável, de
um outro lado, os que acreditam ser algo que possa ser construído por cada um de nós,
na busca pela melhoria da qualidade da vida das pessoas. Algo bem mais abrangente que a
simples idéia de preservação ambiental e de crescimento econômico (HOUTHAUSEN,
2002).
É preciso entender que o desenvolvimento é indispensável ao conforto e bem estar
e que a sustentabilidade dá a ele o caráter de permanência e de sobrevivência. Não se pensa
mais em meio ambiente como uma paisagem, mas algo intimamente relacionado ao
homem e ao seu comportamento. Segundo Houthausen (2002, p.34) o desenvolvimento
sustentável representa uma proposta cultural, pois, é obtido com a transformação de
valores e práticas humanas, embora de maneira lenta e gradual:
O mundo material a formação do lixo e sua significação, a vida útil das coisas,
os padrões de descarte e sua espacialização, a reciclagem, a função dos objetos
passou a registrar informações culturais e a modificar valores e práticas nas
atividades humanas. Passou também a ser e a produzir cultura
Em uma visão holística, Capra (1982) prenuncia uma transformação da percepção
do mundo e de seus valores. De acordo com Grün (1996) é preciso resgatar alguns valores
que foram reprimidos ou até mesmo deixados de lado pela tradição dominante do
racionalismo cartesiano.
A questão posta hoje indica para um novo modo de desenvolvimento ou de
organização social desenvolvimentista e modernizadora que tenha base social, econômica,
cultural e ambiental mais sustentável. O Desenvolvimento Sustentável vem sendo utilizado
como portador de um novo projeto para sociedade, capaz de garantir no presente e no
futuro, a sobrevivência dos grupos sociais e da natureza (BECHER, 2002).
O desenvolvimento deve considerar as condições sociais, políticas, econômicas, de
estruturação e organização da comunidade. No entanto, duas vertentes no capitalismo: a
que busca a sustentabilidade como um novo estilo de desenvolvimento, que respeita os
Capítulo 2 – Metas de Desenvolvimento do Milêno
27
limites naturais, induz a reconhecer o caráter finito dos recursos, acumulação compatível
com a conservação dos recursos naturais e a que se baseia na racionalidade econômica do
capitalismo que é contraditória com a sustentabilidade.
Ao se pensar e praticar o desenvolvimento sustentável é preciso que aconteça a
reconstrução política total da sociedade contemporânea. A crise ambiental e a busca de um
desenvolvimento sustentável evidenciam a inclusão da capacidade dos recursos naturais se
equilibrarem no contexto do desenvolvimento econômico (CAVALCANTI, 1995).
Na busca do desenvolvimento sustentável, o progresso não pode ser visto como
sinônimo de conquista da natureza (DIEGUES, 2000).
O respeito ecológico deve ser visto como princípio universal na organização
econômica e fazer-se presente em toda e qualquer atividade humana. A poluição e os seus
efeitos negativos têm evidenciado que a qualidade do meio ambiente é um pré-requisito
para a prosperidade econômica e técnica da humanidade (ELY,1986).
De acordo com Fajardo (2003), para a formação da cidadania e a melhoria do meio
ambiente é preciso ter informação e participação que são conquistados por meio da
educação e envolvimento de todos nas políticas públicas.
Loureiro, Layrargues e Castro (2002) ressaltam que a permanência do homem na
comunidade planetária depende do incentivo e apoio das ações locais, inovadoras e
criativas para a superação da miséria, pobreza, desemprego, niilismo e uso de drogas, entre
outras questões relacionadas à luta cotidiana pela sobrevivência e pela melhoria da
qualidade de vida. É necessário e urgente despertar em cada indivíduo o sentido de
“pertencer”, participar com responsabilidade na busca de respostas locais e globais que o
tema nos exige para um desenvolvimento sustentável.
A tarefa é romper com círculo vicioso do atual sistema de desenvolvimento social
e degradação ambiental e buscar simultânea e integralmente soluções para os problemas
econômico-político, social e ambiental (RAMPAZZO, 2002). Para tanto é necessário criar
modelos de gestão que visem a um desenvolvimento sustentável.
Capítulo 2 – Metas de Desenvolvimento do Milêno
28
2.3 - EXEMPLOS DE AÇÕES DESCENTRALIZADAS
Pensando no desenvolvimento de projetos locais, visando ao desenvolvimento de
ações descentralizadas, é importante citar exemplos de empresas que têm atitudes com
vistas ao ecodesenvolvimento, que segundo Sachs (1986, p. 53 ) é:
dar ênfase à diversidade de situações como caminhos para o desenvolvimento,
possibilitando a complementaridade entre as atividades com o objetivo de evitar
o desperdício de recursos, minimizando a perda residual gerada pelos produtos,
buscando sustentação nos esforços internos e na implantação de projetos locais.
Um exemplo de ação descentralizada é o da fábrica de motores da Volkswagen, em
São Carlos SP, que tem o certificado ISO 14.001 (gestão ambiental). A empresa,
querendo dar um destino adequado aos restos de comida de seu restaurante, instalado na
própria fábrica, procurou uma escola naquela localidade, que desenvolvia o projeto de
compostagem, em uma unidade descentralizada, sob a orientação do professor Valdir
Schalch, do Departamento de Hidráulica e Saneamento da Escola de Engenharia de São
Carlos (EESC) da USP e sua aluna doutoranda, Luciana Massukado .
Após orientação do professor, a Volkswagen montou unidade similar à instalada na
Escola. As sobras de alimentos foram levadas a uma área coberta na parte exterior da
fábrica, com cerca de 30 m², onde montaram-se 3 leiras (espécie de canteiros triangulares)
com peso entre 400 e 600 quilos cada e altura variando de 70 e 80 centímetros. Essas leiras
foram montadas sobre um piso cimentado de forma a impedir que o chorume - líquido
decorrente da decomposição do material orgânico - penetre no solo.
Durante cerca de 90 dias, dois funcionários da fábrica fazem o revolvimento dos
resíduos a cada 2 ou 3 dias, a fim de homogeneizar toda a massa e propiciar uma
degradação uniforme da matéria orgânica. Quando a leira fica seca ela é triturada a fim de
acelerar o processo. “Fazemos freqüentemente a análise do carbono e do nitrogênio para
oferecer condições ideais de sobrevivência às bactérias que estão naquele meio”, comenta
o professor, que visita semanalmente o projeto. O produto final, o adubo orgânico, é usado
para adubar as árvores e plantas da área verde ao redor da fábrica que tem cerca de 280 mil
metros quadrados (m²) (DIAS, 2007).
Com relação ao retorno dos recicláveis, pode-se citar as empresas Dupont e
Welman, nos Estados Unidos, que adotaram a Logística Reversa como estratégica em suas
Capítulo 2 – Metas de Desenvolvimento do Milêno
29
empresas montando redes reversas que permitem a recuperação de valor de filmes e outros
produtos de poliéster, descartados como matéria-prima secundária, na fabricação de novos
produtos como fibras de poliester para tapetes, acolchoados, confecções esportivas e
agasalhos.
O objetivo ecológico ou de imagem corporativa na Logística Reversa é constituído
de ações empresariais que visam contribuir com a comunidade através de incentivo à
reciclagem de materiais, à alterações de projeto para reduzir impactos ao meio ambiente,
entre outros. A substituição da embalagem de poliuretano pelo papel, no grupo
MacDonalds, visando à redução do impacto e à melhoria em reciclagem e o projeto do
automóvel Volvo reciclável, no qual as condições de desmontagem foram facilitadas, são
exemplos de objetivos desta natureza.
O objetivo de competitividade, por diferenciação de nível de serviço ao cliente,
evidencia-se pelos exemplos da empresa farmacêutica Bristol-Myers Squibb que
estabeleceu a Logística Reversa como prioridade estratégica, visando equacionar o retorno
de medicamentos que perdem validade no mercado, oferecendo um nível de serviço
diferenciado a seus clientes. A empresa de cosméticos americana Estée-Lauder, além de
oferecer um serviço diferenciado a seus clientes ao implantar tecnologia de informação em
sua Logística Reversa, obteve enormes economias pela redução de perdas e pela
possibilidade de redistribuição de produtos. As conhecidas empresas varejistas Wall Mart,
Kmart e Sears possuem diversos centros de distribuição reversos nos Estados Unidos, e
contratam terceiros para operá-los de forma a dar suporte ao crescimento de devolução de
produtos, função de políticas de liberalização de devolução espontânea de mercadorias e
em moda naquele país por força da competitividade estabelecida nesse ato comercial .
O objetivo de satisfação de legislação na Logística Reversa é caracterizado por
situações em que existem impedimentos de destinação final de um produto. A legislação
obriga ao fabricante a providência de coleta e destino dos produtos de pós consumo,
obriga os diversos elos da cadeia a aceitar devoluções de embalagens de seus clientes, a
aceitar e se responsabilizar pelo retorno de produtos perigosos. Empresas de óleos
lubrificantes, lâmpadas fluorescentes, bateria de celulares, entre outros produtos no Brasil
são responsáveis pela Logística Reversa de retorno de seus produtos de pós consumo
através de legislação expressa (OLIVEIRA, MOREIRA,2005).
Capítulo 3 – Resíduos Sólidos
30
C
C
A
A
P
P
Í
Í
T
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U
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3
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S
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I
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D
D
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O
S
S
3. 1 - CLASSIFICAÇÃO E DEFINIÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
Resíduo é qualquer material considerado inútil, supérfluo, e/ou sem valor, gerado
pela atividade humana o qual precisa ser eliminado. É qualquer material cujo proprietário
elimina, deseja eliminar, ou necessita eliminar (RESÍDUOS..., 2007).
O termo resíduo sólido aplica-se geralmente para materiais no estado sólido.
Líquidos ou gases, considerados inúteis ou supérfluos são, enquanto isto, geralmente
chamados de resíduos líquidos ou gasosos. Porém, o termo resíduo também pode ser
utilizado para descrever fluidos e sólidos.
A definição legal de Resíduos Sólidos encontra-se na Resolução CONAMA 5
(Conselho Nacional do Meio Ambiente), de 05/08/93. Esta resolução serve de parâmetro
ao definir resíduo sólido como sendo: “Resíduo em estado sólido e semi-sólido, que resulta
de atividades da comunidade de origem: industrial, doméstica, hospitalar, comercial,
agrícola, de serviço e de varrição”. Na maioria das vezes, esses resíduos são devolvidos ao
meio ambiente, de forma inadequada, levando à contaminação do solo e das águas,
trazendo vários prejuízos ambientais, sociais e econômicos.
A classificação dos resíduos é feita de acordo com suas características físicas,
composição química e quanto à origem (CONAMA,1993).
Para que os resíduos possam ser gerenciados adequadamente, é necessário que eles
sejam classificados de acordo com as normas brasileiras, a ABNT (Associação Brasileira
de Normas Técnicas) NBR 10.004 que trata dos Resíduos sólidos e sua classificação -
elaborada em 1987 e revisada em 2004. Essa Norma foi baseada no Regulamento Técnico
Federal Norte-Americano denominado Code of Federal Regulation (CFR) title 40
Protection of environmental – Part 260-265 – Hazardous waste management.
Capítulo 3 – Resíduos Sólidos
31
A caracterização de um resíduo descrito na ABNT NBR 10.004 permite classificar
um resíduo sólido, bem como identificar se este deve ser qualificado como perigoso por
apresentar características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade e
patogenicidade. Estas características devem nortear os cuidados no seu gerenciamento. A
escolha de uma alternativa para a destinação de um resíduo sólido, por sua vez, depende da
composição química, do teor de contaminantes, do estado físico do resíduo sólido, entre
outros fatores. A classificação de um resíduo sólido, por si só, não deve impedir o estudo
de alternativas para a sua utilização. No entanto, é essa classificação que orienta os
cuidados especiais no gerenciamento do resíduo sólido, os quais podem inviabilizar sua
utilização quando não se puder garantir segurança ao trabalhador, ao consumidor final ou
ao meio ambiente.
Segundo a NBR 10.004 de 2004, Resíduos Sólidos são todos aqueles resíduos nos
estados sólido e semi-sólido que resultam das atividades das comunidades de origem, tais
como industrial, doméstica, hospitalar, comercial, de serviços, de varrição ou agrícola.
Ficam incluídos, nessa definição, os lodos provenientes de sistemas de tratamento de água,
aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição, bem como
determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede
pública de esgoto ou corpos de água ou exijam, para isso, soluções técnicas e
economicamente inviáveis em face à melhor tecnologia disponível. São classificados em
duas classes, a I e a II, sendo que II se divide em II A e II B.
Os resíduos Classe I são denominados perigosos e são definidos como aqueles que
apresentam periculosidade. Podem ser subdivididos de acordo com:
Inflamabilidade.
Corrosividade.
Reatividade.
Toxicidade.
Patogenicidade.
Os resíduos Classe II são denominados não perigosos e são subdivididos em II-A e
II- B, chamados respectivamente de não inertes e inertes.
Capítulo 3 – Resíduos Sólidos
32
Os resíduos pertencentes à Classe II-A são aqueles que não se enquadram nas
classificações de resíduos Classes I ou II-B e podem ter propriedades como:
biodegradabilidade, combustibilidade ou solubilidade em água.
os resíduos da Classe II-B são quaisquer resíduos que, quando amostrados de
uma forma representativa, segundo a ABNT NBR 10007 e submetidos a um contato
dinâmico e estático com água destilada ou desionizada, à temperatura ambiente, conforme
ABNT NBR 10006 (2004), não tiveram nenhum de seus constituintes solubilizados à
concentrações superiores aos padrões de potabilidade de água, excetuando-se aspecto de
cor, turbidez, dureza e sabor.
Quando as características de um resíduo não puderem ser determinadas nos termos
desta Norma por motivos técnicos ou econômicos, a classificação deste resíduo ficará sob a
responsabilidade dos órgãos Estaduais ou Federais de controle da poluição e preservação
ambiental.
3. 2 - CENÁRIO DOS RESÍDUOS
No Brasil, trabalhos apontam o aumento do volume do lixo sem tratamento e a
elevação de seu teor tóxico. Esta situação tem sido comparada a uma bomba relógio, que
poderá explodir, a qualquer momento.
A legislação ambiental é um valioso instrumento colocado à disposição da
sociedade, a fim de que se faça valer o direito constitucionalmente assegurado a todo o
cidadão brasileiro, de viver em condições dignas de sobrevivência, num ambiente saudável
e ecologicamente equilibrado. A Constituição Federal, promulgada em 1988, garante a
necessidade da proteção ambiental ao definir, em seu artigo 225: “Todos têm o direito ao
meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e
preservar para as presentes e futuras gerações” (BRASIL, 1995). rias legislações
envolvendo o meio ambiente têm sido implantadas no País, nos últimos anos. Mas, as
principais foram sancionadas, em 1997 e 1998: a Lei 9433, de oito de janeiro de 1997 e a
Lei 9605, de 13 de fevereiro de 1998 (BRASIL, 1997; BRASIL,1998).
Capítulo 3 – Resíduos Sólidos
33
Para que se possa intervir de maneira eficiente no processo de gestão dos resíduos
sólidos, primeiramente é preciso que se conheça a sua definição e como se classificam
estes materiais.
A Pesquisa Nacional de Saneamento Básico (PNSB) 2000 realizada pelo IBGE
revela uma tendência de melhora da situação de destinação final do lixo coletado no país
nos últimos anos. Em 2000, o lixo produzido diariamente no Brasil chegava a 125.281
toneladas, sendo que 47,1% era destinado a aterros sanitários , 22,3 % a aterros controlados
e apenas 30,5 % a lixões. Ou seja, mais de 69 % de todo o lixo coletado no Brasil estaria
tendo um destino final adequado, em aterros sanitários e/ou controlados. Todavia, em
número de municípios, o resultado não é tão favorável: 63,6 % utilizavam lixões e 32,2 %,
aterros adequados (13,8 % sanitários, 18,4 % aterros controlados), sendo que 5% o
informou para onde vão seus resíduos. Em 1989, a PNSB mostrava que o percentual de
municípios que dispunham seus resíduos de forma adequada era de apenas 10,7 %.
Em relação ao serviço de saneamento básico, a Figura 1 mostra o percentual dos
municípios brasileiros atendidos pelos serviços de saneamento – tratamento de água,
esgoto e coleta dos resíduos - segundo a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico (PNSB)
referente aos anos de 1989 e 2000.
Figura 1: Percentual de municípios com serviços de saneamento - Brasil – 1989/2000
Fonte: IBGE – PNSB 1989 e 2000.
Os números da pesquisa permitem, ainda, uma estimativa sobre a quantidade
coletada de lixo diariamente nas cidades com até 200 mil habitantes, que é de 450 a 700
Capítulo 3 – Resíduos Sólidos
34
gramas por habitante. Nas cidades com mais de 200 mil habitantes, essa quantidade
aumenta para a faixa entre 800 e 1.200 gramas por habitante. A PNSB 2000 informa que,
na época em foi realizada, eram coletadas 125.281 toneladas de lixo domiciliar,
diariamente, em todos os municípios brasileiros.
Dos 5.507 municípios brasileiros, 4.026, ou seja, 73,1% têm população até 20.000
habitantes. Nesses municípios, 68,5% dos resíduos gerados são jogados em lixões e em
alagados. Entretanto, se considerar como referência a quantidade de lixo por eles gerada
em relação ao total da produção brasileira, a situação é menos grave, pois em conjunto
coletam somente 12,8 % do total brasileiro (20.658 t/dia). Isto é menos do que o gerado
pelas 13 maiores cidades brasileiras, com população acima de 1 milhão de habitantes.
estas, coletam 31,9 % (51.635 t/dia) de todo o lixo urbano brasileiro e têm seus locais de
disposição final em melhor situação: apenas 1,8 % (832 t/dia) são destinados a lixões e o
restante é depositado em aterros controlados ou sanitários.
Referindo-se ainda à Pesquisa Nacional de Saneamento Básico de 2000, quanto às
unidades de processamento dos resíduos sólidos urbanos, destacam-se os seguintes dados:
36% das unidades cadastradas pertencem ao grupo em que o destino é a
disposição no solo (lixões, aterros controlados e aterros sanitários);
39% do total de unidades são operados pelas prefeituras; - as quais se
destacam lixões e aterros controlados, unidades de manejo de galhadas e podas
e unidades de reciclagem de entulhos;
47% de unidades sem qualquer tipo de licença ambiental e 1,7% com
licença prévia;
42% já possuem licença de operação;
chegam a 15% as unidades que recebem resíduos de outro município;
49% das unidades de disposição no solo (lixões, aterros controlados e
aterros sanitários) não têm impermeabilização da base e 11% não fazem
recobrimento;
27% fazem recirculação do chorume;
há moradias de catadores em 11,5% delas.
Importante tecer também considerações sobre as unidades de processamento de
resíduos sólidos. Como se sabe, uma unidade de processamento de resíduos sólidos é toda
Capítulo 3 – Resíduos Sólidos
35
e qualquer instalação dotada ou não de equipamentos eletromecânicos− em que
quaisquer tipos de resíduos sólidos urbanos sejam submetidos a qualquer modalidade de
processamento. Assim, enquadram-se nessa designação de caráter geral, as seguintes
unidades: lixão, aterro controlado, aterro sanitário, vala específica para resíduos de saúde,
aterro industrial, unidade de triagem, unidade de compostagem, incinerador, unidade de
tratamento por microondas ou autoclave, unidade de manejo de podas, unidade de
transbordo, área de reciclagem de resíduos da construção civil, aterro de resíduos da
construção civil, área de transbordo e triagem de resíduos da construção civil.
Outra fonte de informação que diz respeito aos resíduos sólidos é o SNIS –
Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento - é um sistema administrado pelo
governo federal, no âmbito do Programa de Modernização do Setor Saneamento, lotado na
Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental do Ministério das Cidades. O sistema conta
com onze anos de atualização consecutiva e de publicação do diagnóstico relativo aos
serviços de água e esgotos, e também com quatro anos das mesmas atividades na área de
manejo de resíduos sólidos. O referido sistema em operação em 1996 e vem conseguindo
bons resultados na busca de diminuir a profunda carência de dados sobre o setor
saneamento no Brasil. A partir dos dados, aos quais aplicam seus critérios de filtragem, o
SNIS produz o Diagnóstico do Manejo de Resíduos Sólidos Urbanos.
Dados do SNIS de 2005 foram obtidos por meio da escolha da amostra dos
municípios, baseada nas informações contidas na Tabela 2 abaixo:
Tabela 2: Nº de municípios e respectiva população na amostra publicada, segundo
porte do município. Brasil, municípios selecionados – 2005.
Brasil
Amostra
publicada
Participação
Faixa
populacional
Quant. de
municípios
População
Quant. de
municípios
População
Quant. de
municípios
População
1 4.556 46.935.737 39 846.694 0,9% 1,8%
2 753 38.852.055 42 2.331.862 5,6% 6,0%
3 157 23.951.240 46 7.411.778 29,3% 30,9%
4 84 36.430.063 51 23.371.563
60,7% 64,2%
5 12 20.993.001 12 20.993.001
100,0% 100,0%
6 2 17.022.168 2 17.022.168
100,0% 100,0%
Total 5.564 184.184.264
192 71.977.066
3,5% 39,1%
Fonte: IBGE e SNIS, 2005.
Para fins da análise dos dados obtidos, neste Diagnóstico os municípios foram
agrupados em seis faixas de porte populacional:
Capítulo 3 – Resíduos Sólidos
36
Faixa 1 – até 30.000 habitantes.
Faixa 2 – de 30.001 até 100.000 habitantes.
Faixa 3 – de 100.001 a 250.000 habitantes.
Faixa 4 – de 250.001 a 1.000.000 habitantes.
Faixa 5 – de 1.000.001 a 3.000.000 habitantes.
Faixa 6 – mais de 3.000.000 de habitantes.
A amostra obtida contempla:
municípios em todos os Estados e mais o Distrito Federal;
todos os municípios com mais de 820.000 habitantes; correspondendo a
40,3 milhões de habitantes urbanos;
95% dos municípios com mais de 500.000 habitantes;
mais de 71 milhões de habitantes urbanos e a 50 milhões de habitantes
urbanos metropolitanos.
Os municípios convidados para o Diagnóstico 2005 , sua população e o percentual
da participação deles na amostra, encontram-se na tabela 3:
Tabela 3: Quantidades e população dos municípios. Brasil e amostra convidada – 2005.
Brasil
Amostra
convidada 2005
Participação da
amostra no total
Quantidade
(municípios)
5.564 247 4,4%
População
(habitantes)
184.184.264 77.782.937 42,2%
Fonte: IBGE e SNIS, 2005.
Apesar de todo o esforço realizado, contudo, não se consegue que todos os
municípios convidados enviem os dados solicitados, devido a razões que vão do
desinteresse às dificuldades internas que têm muitos municípios para obter seus dados. Dos
247 municípios convidados foram obtidas respostas válidas de 192, resultando numa taxa
de adesão de 77,7% e, por outro lado, num crescimento de 31 (19,2%) municípios na base
de dados, referente ao ano anterior. A Tabela 4 apresenta as características da amostra
publicada para este diagnóstico.
Capítulo 3 – Resíduos Sólidos
37
Tabela 4: Quantidades e população dos municípios. Brasil e amostra publicada – 2005.
Brasil
Amostra
convidada 2005
Participação da
amostra no total
Quantidade
(municípios)
5.564 192 3,5%
População
(habitantes)
184.184.264 71.977.066 39,1%
Fonte: IBGE e SNIS, 2005.
Com relação à coleta de resíduos sólidos urbanos, o SNI destaca:
a cobertura média (indicador I016) é de 97,5% da população urbana, com
uma freqüência média de coleta de duas ou três vezes semanais;
essa coleta é realizada por coletadores e motoristas que trabalham a uma
produtividade média (indicador I018) de 2.099 kg/empregado/dia;
a essa massa coletada corresponde um valor per capita (indicador I021) de
0,79 kg/habitante urbano/dia;
à massa de resíduos exclusivamente domiciliares (sem considerar resíduos
públicos) corresponde um per capita (indicador I022) de 0,58 kg/habitante
atendido/dia.
A freqüência da coleta de resíduos pode ser vista na Tabela 5.
Tabela 5: Média dos percentuais da população atendida com coleta de RDO, por tipo de
freqüência da coleta, segundo porte dos municípios. Brasil, municípios selecionados, 2005.
Freqüência da coleta de RDO
Faixa
populacional
Quant. de
municípios
(municípios)
População
atendida
(habitantes
Diária
(%)
2 ou 3 vezes na
semana (%)
1 vez na
semana (%)
1 39 684.681 50,4 38,9 10,7
2 42 1.896.300 45,4 46,2 8,4
3 46 7.127.389 38,5 56,9 4,7
4 51 21.979.830 28,4 70,1 1,5
5 12 20.320.660 41,6 58,4 0,0
6 2 16.932.764 7,0 93,0 0,0
Total 192 68.941.624 35,2 60,6 4,2
Fonte: SNIS, 2005.
Quanto ao tratamento dos resíduos sólidos urbanos, dentre os municípios
amostrados pelo SNIS, 127 informaram que o destino final de toda a massa coletada de
resíduos sólidos domiciliares e públicos é disposta em aterro sanitário, aterro controlado ou
lixão. Segundo classificação do próprio município - para esta amostra, que totaliza uma
Capítulo 3 – Resíduos Sólidos
38
massa coletada de 15,8 milhões de toneladas - em 2005, os índices relativos à disposição
final dos resíduos alcança os seguintes valores:
em aterro sanitário............68,5%
em aterro controlado ........25,2%
em lixão ............................6,5%
Mesmo considerando a possibilidade de alguns aterros sanitários não atenderem a
todos os requisitos técnicos recomendados, ainda assim, deve-se registrar que os índices
demonstram um bom resultado em termos de disposição final dos resíduos sólidos urbanos,
uma vez que apenas 6,5 % deles são jogados em lixões.
Deve-se observar, no entanto, que a presença na amostra dos maiores municípios do
país, provoca viés nos resultados uma vez que, na maioria dos casos, estes municípios dão
aos resíduos sólidos um tratamento mais adequado do que os municípios de menor porte.
Os órgãos públicos gestores do manejo de resíduos sólidos urbanos nos municípios,
predominantemente são da administração direta (82,3%), como revela a Tabela 6.
Tabela 6: Natureza jurídica dos órgãos gestores do manejo de RSU presentes na amostra
segundo porte dos municípios. Brasil, municípios selecionados, 2005.
Faixa
populacional
Administração
pública direta
(%)
Autarquia
(%)
Empresa pública
(%)
Sociedade de economia
mista com
administração pública
(%)
1 20,3 0,0 0,0 0,0
2 20,3 1,0 0,0 0,0
3 19,8 2,1 1,0 1,0
4 18,2 3,1 3,1 2,1
5 3,1 1,6 1,0 0,5
6 0,5 0,0 0,0 0,5
Total 82,3 7,8 5,2 4,2
Fonte: SNIS, 2005.
O
cálculo do indicador I021 Massa coletada (RDO+RPU) per capita em relação à
população urbana, impropriamente chamado de geração per capita, apresentou valores
médios que vão de 0,71 kg/hab./dia, na faixa 2, a 1,07 kg/hab./dia, na faixa 6. Aparece uma
tendência de aumento do per capita com o tamanho do município, conforme mostra a
Tabela 7.
Capítulo 3 – Resíduos Sólidos
39
Tabela 7: Massa coletada (RDO + RPU) per capita em relação à população urbana (I
021
),
segundo porte dos municípios. Brasil, municípios selecionados, 2005.
Massa coletada (R
DO + RPU)
Faixa
populacional
Quant. de
municípios
(municípios)
Mínima
(kg/hab/dia)
Máxima
(kg/hab/dia)
Média
(kg/hab/dia)
1 29 0,10 1,86 0,74
2 29 0,05 1,89 0,71
3 38 0,31 2,19 0,79
4 43 0,47 1,76 0,81
5 12 0,58 1,74 0,94
6 2 0,93 1,21 1,07
Total 153 0,05 2,19 0,79
Fonte: SNIS, 2005.
A Tabela 8 apresenta o indicador I
021
, Massa coletada (RDO+RPU) per capita em
relação à população urbana, calculado para os conjuntos de municípios de cada Estado para
os quais tem-se dados aproveitados. Já Figura 4 ilustra a distribuição das faixas per capita
nos estados do Brasil.
Capítulo 3 – Resíduos Sólidos
40
Tabela 8: Média da massa coletada (RDO + RPU) per capita em relação à população
urbana (I
021
), para grupos selecionados de municípios, por Estado. Brasil, municípios
selecionados, 2005.
Estado
Nome Sigla
Quantidade de
municípios
(municípios)
I
021
(kg/hab/dia)
Acre AC 2 0,41
Alagoas AL 2 1,02
Amapá AP 2 0,44
Amazonas AM 1 1,19
Bahia BA 10 0,87
Ceará CE 2 0,83
Distrito Federal DF 1 1,74
Espírito Santo ES 3 0,87
Goiás GO 4 0,83
Maranhão MA 6 0,72
Mato Grosso MT 4 0,69
Mato Grosso Sul MS 4 0,73
Minas Gerais MG 23 0,76
Pará PA 5 0,84
Paraíba PB 4 1,06
Paraná PR 11 0,85
Pernambuco PE 5 0,78
Piauí PI 6 0,61
Rio de Janeiro RJ 5 0,75
Rio Grande do Norte RN 6 1,00
Rio Grande do Sul RS 13 0,70
Rondônia RO 1 0,61
Santa Catarina SC 8 0,67
São Paulo SP 18 0,82
Sergipe SE 3 1,12
Tocantins TO 4 0,44
Fonte: SNIS, 2005
Capítulo 3 – Resíduos Sólidos
41
Figura 2: Média da massa coletada (RDO + RPU) per capita em relação à população urbana (I
021
), para
grupos selecionados de municípios, por Estado. Brasil, municípios selecionados, 2005.
Fonte: SNIS, 2005.
Alheio ao fato de que estivessem ou não em operação, no levantamento de 2005,
607 unidades de processamento de resíduos sólidos foram cadastradas no país ao longo das
4 edições do SNIS-RS. Infelizmente, para 94 delas, os municípios encarregados da sua
gestão não forneceram informação sobre o tipo da unidade restando então 513. O tipo de
unidade de processamento (informado pelo operador do sistema) e a respectiva quantidade
encontram-se no Tabela 9.
Brasil Per capita
≤ 0,45
> 0,45 a 0,75
> 0,75 a 1,05
> 1,05 a 1,35
> 1,35
Sem Informação
Capítulo 3 – Resíduos Sólidos
42
Tabela 9: Quantidades de unidades de processamento de RSU, segundo tipo de
unidade. Brasil, Municípios selecionados, 2004.
Quantidade de unidades de processamento
Tipo de unidade de processamento
Absoluto Relativo (%)
Área de reciclagem de resíduos da
construção civil
6 1,2
Área de transbordo e triagem de RCD e
volumosos
8 1,6
Aterro controlado 58 11,3
Aterro de resíduos da construção civil
(inertes)
32 6,2
Aterro industrial 3 0,6
Aterro sanitário 71 13,8
Lixão 47 9,2
Queima em forno de qualquer tipo 1 0,2
Unidade tratamento por microondas ou
autoclave
7 1,4
Unidade de compostagem (pátio ou
usina)
22 4,3
Unidade de manejo de galhados e
podas
19 3,7
Unidade de transbordo 27 5,3
Unidade de tratamento por incineração 25 4,9
Unidade de triagem (galpão ou usina) 134 26,1
Vala específica de resíduos de serviços
de saúde
53 10,3
Total 513 100,0
Fonte: SNIS, 2005
Devido à importância de padronização e uma uniformidade de comportamento no
que tange aos resíduos sólidos, o governo enviou, em setembro de 2007, um Projeto de lei
que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, que tem como objetivo preservar o
meio ambiente e a saúde pública dos problemas causados pelos resíduos sólidos, além de
incentivar a inserção social dos catadores de lixo e a redução, reutilização, reciclagem,
tratamento e destinação adequada de resíduos. Essa Lei norteará com certeza as ações de
cada município, nesse aspecto.
Tratar adequadamente os resíduos sólidos não reduz o impacto ambiental
provocado pela produção e consumo, como também gera emprego e renda. O cidadão
deixa de ser um mero expectador e passa a ter participação ativa na sua comunidade, sendo
portando incluído socialmente. Segundo o IBGE (Instituto brasileiro de Geografia e
Capítulo 3 – Resíduos Sólidos
43
Estatística), 25 mil brasileiros moram em lixões, sendo que 25% deles, ou seja, 6.250
pessoas, têm menos de 14 anos.
Um ponto importante da Lei 11.445/07 permite às cooperativas de catadores de
materiais recicláveis serem contratadas por prefeituras e governos estaduais sem a
necessidade de licitação.
O fato de a cifra inaceitável de 59% dos municípios depositarem seus resíduos
sólidos em lixões, motivou a ministra do Meio Ambiente a afirmar a necessidade urgente
de cada município tratar seus resíduos.
O Projeto de lei com seus 33 artigos, distribuídos em sete capítulos, tratam dos
resíduos sólidos urbanos, industriais, rurais, de saúde e os chamados especiais, como
entulhos da construção civil e responsabilizam o gerador por seu rejeito. Cabe aos
fabricantes a retirada do meio ambiente de seus produtos pós-consumo e a
responsabilidade dos geradores de resíduos domésticos cessa com a destinação para a
coleta.
O projeto foi elaborado por um grupo interministerial do qual participam os
Ministérios das Cidades, Meio Ambiente, Saúde, Desenvolvimento, Indústria e Comércio
Exterior, Planejamento, Orçamento e Gestão, Desenvolvimento Social e Combate à Fome,
Fazenda e Casa Civil.
Para atingir os objetivos propostos, o projeto de lei prevê que as unidades
federativas poderão obter crédito no Sistema Financeiro Nacional, com taxas de juros
reduzidas, ou no Fundo Nacional do Meio Ambiente, cuja receita está prevista no
Orçamento Geral da União. Para receber os recursos, municípios, Distrito Federal e
consórcios municipais devem elaborar seus Planos de Gestão Integrada de Resíduos
Sólidos. Esses planos precisam conter o diagnóstico diferenciado de cada tipo de resíduo,
ações previstas para curto, médio e longo prazos e informações sobre regulação,
fiscalização e prestação de serviços, abrangendo da coleta à destinação final do rejeito.
O Projeto de lei representa um plano de ação dos governos, que vem dar respaldo
aos municípios, para que eles possam cumprir as prioridades estabelecidas nas Metas do
Milênio e alcançar o desenvolvimento sustentável, alvo da Cúpula do Milênio.
Capítulo 3 – Resíduos Sólidos
44
3.3 A COMPOSTAGEM COMO OPÇÃO DE GERIR OS RESÍDUOS
BIODEGRADÁVEIS
Pensar em tornar o ambiente em que se vive sustentável, é direcionar ações capazes
de trazer satisfação e qualidade de vida às pessoas, hoje, sem prejuízo às gerações futuras.
Estima-se que cada pessoa produza, em média, 0,79 kg de resíduo sólido por dia (Tabela 6)
e destes, aproxidamente 58% é de material putrescível (FEHR, 1999).
A compostagem é praticada desde a História antiga, porém até recentemente de
forma empírica. Gregos, romanos e povos orientais já sabiam que resíduos orgânicos
podiam ser retornados ao solo, contribuindo para a sua fertilidade. No entanto, a partir
de 1920, com Albert Howard, é que o processo passou a ser pesquisado cientificamente e
realizado de forma racional.
A compostagem pode ser definida como uma bioxidação aeróbia exotérmica de um
substrato orgânico heterogêneo, no estado sólido, caracterizado pela produção de CO
2
,
água, liberação de substâncias minerais e formação de matéria orgânica estável (PROSAB,
1999). Na prática, significa que a partir de resíduos orgânicos com características
desagradáveis (odor, aspecto, contaminação por microrganismos patogênicos,etc.), o
processo transforma estes resíduos em composto, que é um insumo agrícola, de odor
agradável, fácil de manipular e livre de microrganismos patogênicos (CAMPBELL, 1999).
Enquanto muitos municípios têm como alternativas para os Resíduos Sólidos
Urbanos (RSU) sua disposição em aterros, bem como a incineração e a reciclagem, neste
trabalho,utilizou-se um componente importante da estratégia alternativa, a compostagem,
realizada após o primeiro passo crítico: a separação na fonte geradora. Essa alternativa
deve-se ao fato de a matéria orgânica representar um percentual de aproximadamente 55%
dos resíduos gerados na maioria dos municípios e por ser o elemento orgânico
(biodegradável) causador de muitos dos problemas em aterros conforme dados do IBGE.
No Brasil, o lixo orgânico representa mais da metade do total coletado, sendo que apenas
1,5 % do lixo sólido orgânico urbano gerado são reciclados (IBGE,2000).
No caso específico da EAF-Udi, o composto pode ainda retroalimentar os setores
de produção vegetal, o que implica em redução de custos, além dos benefícios ambientais à
instituição.
Capítulo 3 – Resíduos Sólidos
45
São diversos os métodos para a realização da compostagem, entre eles os métodos
de compostagem artesanal, compostagem envolvendo reviramento mecânico,
compostagem em pilhas estáticas com aeração forçada e em recintos fechados com aeração
forçada.
Uma das vantagens ecológicas do processo de compostagem é a redução do lixo
destinado ao aterro e a céu aberto (o processo pode diminuir muito o volume inicial dos
resíduos), com conseqüente economia dos custos de aterro e aumento de sua vida útil;
aproveitamento agrícola do composto orgânico. Neste aspecto, a aplicação do material no
solo resulta em benefícios às suas propriedades físico-químicas e biológicas
(PROSAB,1999). Também exerce um efeito tampão no solo, atua como fonte de cátions e
de nutrientes, causa o aumento da absorção de calor no solo durante o dia e a absorção de
nutrientes, atua como elemento de fixação de elementos metálicos e de formação de
complexos húmus-argilo-minerais, retém nutrientes, favorece as condições físicas do solo e
reduz os efeitos da erosão).
Considerando-se que a compostagem é um processo ambientalmente seguro, de
baixo custo de implantação, que tem efeito controlador sobre muitas doenças e pragas de
plantas, que pode ser utilizado como instrumento de educação ambiental, despertando a
consciência ecológica em toda a comunidade envolvida, propôs-se o desenvolvimento
desta pesquisa na Escola Agrotécnica Federal de Uberlândia.
O processo de compostagem pode ser dividido em duas fases, denominadas
degradação ativa e maturação ou cura, embora alguns autores dividam esse mesmo
processo em três fases distintas, conhecidas como decomposição, semimaturação e
maturação ou humificação, em que a fase de semimaturação estaria envolvendo o final da
fase de degradação ativa e grande parte da fase de maturação, quando comparada às
divisões em apenas duas fases ( PROSSAB,1999).
Todo o processo envolve uma população bastante heterogênea de microrganismos,
bactérias, fungos e actinomicetos, além de organismos como as minhocas, e cada fase é
caracterizada pela ação principal de determinados organismos e faixas de temperatura. A
fase de degradação ativa é necessariamente termofílica, pois envolve a ão de
microrganismos termófilos, aqueles ativos a temperaturas de 45° a 65°C e, nessa faixa, a
temperatura deve ser mantida, aumentando a eficiência do processo e eliminando
Capítulo 3 – Resíduos Sólidos
46
microrganismos patogênicos. Ocorre nesse primeiro momento uma decomposição da
matéria orgânica facilmente degradável, como os carboidratos, e uma maior estabilização
da matéria orgânica.
a fase de maturação ou cura é caracterizada por temperaturas mesofílicas, pois
envolve a ão de microorganismos mesófilos, aqueles ativos a temperaturas de 20
0
C a
45
0
C, e a temperatura deve ser mantida na faixa de 30º a 45ºC durante grande parte da
fase, caindo para 25-30
0
C no final do processo. Nessa fase ocorre a formação de
substâncias húmicas e vale lembrar que somente após a maturação do composto é que ele
está humificado e viável para uso agrícola.
O composto orgânico maturado ou curado apresenta cheiro de terra e cor marrom. É
importante que o composto orgânico não tenha a presença de organismos patogênicos e
sementes de erva daninha e apresente quantidade adequada de macronutrientes e certa
variedade de micronutrientes.
Alguns fatores afetam a atividade microbiológica e conseqüentemente o processo
de compostagem, destacando-se os seguintes:
Umidade - é necessário controlar para evitar o excesso ou a deficiência. O excesso
pode causar uma falta de oxigenação (anaerobiose) pelo preenchimento dos espaços
vazios e, em caso de ressecamento, devido à falta de umidade, a ação dos
microrganismos e manutenção da temperatura são prejudicados.
Oxigenação - trata-se de um processo aeróbico, logo a presença de oxigênio é
indispensável para a ação dos microrganismos, além de também ajudar no controle
da temperatura. A oxigenação pode ser feita por reviramento mecânico ou manual.
Temperatura - esse fator é de grande importância para a atividade dos
microrganismos e indica a eficiência do processo; concentração de nutrientes - é
um fator crítico para o processo, pois o crescimento e diversificação dos
microrganismos possuem relação direta com a disponibilidade de nutrientes.
Teoricamente, a relação carbono/nitrogênio inicial ótima do substrato deve se situar
em torno de 30. Na prática, constata-se que ela pode variar de 20 a 70 de acordo com a
maior ou menor biodegradabilidade do substrato (PROSAB, 1999). O carbono e o
nitrogênio são fonte de energia e fonte para a reprodução dos microrganismos,
Capítulo 3 – Resíduos Sólidos
47
respectivamente. Resíduos orgânicos palhosos (vegetais secos) apresentam alta relação
C/N enquanto legumes, resíduos fecais e penas têm relação C/N mais baixas. O tamanho
das partículas também afeta o processo sendo que quanto menor o tamanho das partículas
maior será a rapidez do processo, pois, as partículas menores apresentam maior superfície
de contato, além de uma maior capacidade de aeração e menor compactação.
A técnica para a produção de composto orgânico tem se desenvolvido no mundo
todo, porém no Brasil, a eliminação dos resíduos orgânicos domésticos não é tratado como
um processo industrial.
3.4 LOGÍSTICA REVERSA: ALTERNATIVA PARA A REINTEGRAÇÃO DOS
RESÍDUOS RECICLÁVEIS AO PROCESSO PRODUTIVO.
O crescente volume de bens produzidos trouxe consigo uma preocupação com o
meio ambiente e tem despertado a consciência ecológica da população. A distribuição de
produtos desenvolveu-se de forma rápida e eficaz, porém a preocupação por parte das
organizações, quanto ao reaproveitamento desses produtos após o seu descarte não
acompanhou esse desenvolvimento.
Raras são algumas exceções, como é o caso da reciclagem de embalagens de
alumínio, que teve início no Brasil, em 1991, de forma sistematizada, com a criação do
Programa Permanente para Reciclagem de Alumínio pela Reynolds Latasa. O aumento no
uso de embalagens e descartáveis demonstra a preocupação com processos de reciclagem
(BALLOU, 1993). Embora ela seja tão importante nesse processo, tem-se um paradigma,
que é, como preconiza Layrargues (2002, p.202):
a possibilidade de superação da contradição do modelo de desenvolvimento
econômico exponencial e ilimitado a partir de uma base de recursos naturais
finita, no eterno jogo da busca do controle do binômio abundância/escassez. Esse
controle traz o discurso da eficiência, que combate o desperdício ( na entrada e
na saída do metabolismo industrial), e a reciclagem vem agregar-se ao discurso
da agora ecoeficiência, inscrito na lógica da racionalidade econômica.
Segundo Leite, Dong e Chen (2003 apud OLIVEIRA; RAIMUNDINI, 2005),
grande parte dos produtos que são consumidos e depois descartados, podem passar pelo
processo de reciclagem. Eles podem ser reaproveitados por meio da reintegração ao
processo produtivo. De forma geral, a logística reversa trata do retorno de produtos
Capítulo 3 – Resíduos Sólidos
48
consumidos e/ou não utilizados, por meio de canais de distribuição. Assim como nos
processos produtivos diretos, a logística reversa faz o planejamento, implementa e controla
o fluxo inverso ao fluxo produtivo direto, procurando agregar valor a esses produtos,
reintegrando-os ao processo produtivo e de negócios. Felizardo e Hatakeyama (2005)
destacam que, a organização e implementação do processo reverso em uma cadeia
produtiva agregará valor à imagem das empresas frente à sociedade, beneficiando o meio
ambiente, estabelecendo inclusive novas oportunidades de negócios, trazendo também
outros benefícios tais como a geração de postos de trabalho, revertendo assim em
benefícios ao meio no qual está inserida.
A logística, no que diz respeito ao aspecto da distribuição direta, se consolidou
como agente importante para os mais diversos processos de fornecimento, armazenagem,
estocagem, produção e distribuição de produtos até o consumidor e as empresas. A
logística é responsável por planejar, implementar e gerenciar, de forma eficaz, o fluxo de
matérias-prima, produtos e informações ao longo da cadeia. Ao contrário da logística
direta, a logística reversa, por enquanto, não conta com uma estrutura suficiente para fazer
fluir, de forma eficiente, todos os resíduos, embalagens, produtos, entre outros, gerados
pela cadeia de distribuição direta.
Logística reversa é um tema pouco explorado, de pouca produção textual. Nos anos
90, segundo Chaves e Martins (2005), surgiram novas abordagens sobre o assunto,
destacando o aumento da preocupação com questões ambientais, legislação nessa área,
órgãos de fiscalização e a preocupação com as perdas por parte das empresas, como
aspectos que contribuíram para a evolução do tema logística reversa. Segundo Zikmund e
Stanton apud Felizardo e Hatakeyama (2005), a conceituação mais antiga sobre logística
reversa data do início dos anos 70. Aplica os conceitos de distribuição, porém voltados
para o processo de forma inversa, com o objetivo de atender as necessidades de
recolhimento de materiais provenientes do pós-consumo e pós-venda.
No final dos anos 70, Ginter e Starling apud Felizardo e Hatakeyama, (2005),
destacaram a logística reversa dando uma maior atenção para os aspectos da reciclagem e
suas vantagens para o meio ambiente e, também, seus benefícios econômicos, além da
importância dos canais reversos como forma de viabilizar o retorno dos efluentes. Lambert
e Stock apud Felizardo e Hatakeyama, (2005), destacaram a logística reversa como o
Capítulo 3 – Resíduos Sólidos
49
produto seguindo na contramão de uma rua de sentido único pela qual a grande maioria
dos embarques de produtos flui em uma direção. Nesta conceituação percebe-se a logística
reversa fazendo o sentido contrário ao da logística direta. De forma mais abrangente, Leite
(2003, p. 16-17) conceitua logística reversa da seguinte forma:
área da logística empresarial que planeja, opera e controla o fluxo e as
informações logísticas correspondentes, do retorno dos bens de pós-vendas e de
pós-consumo ao ciclo de negócios ou ao ciclo produtivo, por meio dos canais de
distribuição reversos, agregando-lhes valor de diversas naturezas: econômica,
ecológica, legal, logístico, de imagem corporativa, entre outros.
A logística reversa vem servir de base operacional para se planejar, implementar e
gerenciar os fluxos que podem ser gerados em maior proporção, dos resíduos que venham
a ser captados depois de serem utilizados ou consumidos. A logística reversa sinaliza
benefícios em vários sentidos. Do ponto de vista ambiental, pode contribuir para amenizar
os impactos causados pelo grande número de efluentes descartado no meio-ambiente. Para
o meio social pode contribuir, a partir da estruturação de seus canais reversos, para a
geração de novos postos de trabalho, proporcionando geração de renda para diversas
famílias. E finalmente, do ponto de vista econômico, pode contribuir para o
reaproveitamento de matérias-primas, proporcionando assim uma redução de custos no
processo produtivo. A logística reversa pode também contribuir para o posicionamento
estratégico das empresas, possibilitando inclusive o estabelecimento de uma relação
positiva entre organização e sociedade.
Capítulo 4– Área da Pesquisa
50
Met ros
UBERLÂNDIA
MINAS
GERAIS
BRASIL
Fonte: Cartas Topográficas do IBGE - Escala: 1:100000
BARRA, L. A. B./ AGROTOPO/2003
Org.: SILVA, M. K. A., NHME, V. G. F./2007
N
LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA
ESCOLA AGROTÉCNICA FEDERAL DE UBERLÂNDIA
FAZENDA SOBRADINHO
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Có rregos
Escola Agrotécnica Federal de Ub erlândia
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Km
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784800
786000
786000
7921200
7921200
7922400
7922400
7923600
7923600
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A pesquisa foi realizada na Escola Agrotécnica Federal de Uberlândia, localizada
no município de Uberlândia, na Fazenda Sobradinho, distante 25 km do centro da cidade e
próxima aos distritos de Martinésia e Cruzeiro dos Peixotos (Figura 3). A sede da Escola
(Figura 4) encontra-se nas coordenadas geográficas 18º 46" 12' de latitude sul e 48º 17" 17'
de longitude oeste. O solo se classifica como latossolo vermelho escuro e podozólico
(RODRIGUES, 2004).
Figura 3: Localização da EAFUDI
Fonte: Org. SILVA, M. K., NEHME, V. G. F./2007.
Capítulo 4– Área da Pesquisa
51
Figura 4: Vista lateral do prédio central da Escola Agrotécnica Federal de Uberlândia
A fazenda é drenada pelo córrego Bebedouro (Figura 5), afluente do Rio Araguari e
seu afluente da margem direita é o córrego das Moças. Este córrego é responsável pelo
abastecimento dos tanques de piscicultura e suas águas são represadas para a irrigação e
para o consumo de animais. Completam a carga hídrica, dois poços tubulares que são
utilizados para o abastecimento de água potável.
Figura 5: Bacia do Córrego Bebedouro
Segundo registros do Laboratório de Climatologia e Recursos Hídricos do Instituto
de Geografia da Universidade Federal de Uberlândia - IG/UFU, a temperatura média anual
em Uberlândia, nos meses mais quentes (outubro e fevereiro) é de 23,9º C e 23,7º C,
respectivamente, e nos meses mais frios (junho e julho), a temperatura média é pouco
Capítulo 4– Área da Pesquisa
52
acima de 19º C. O regime pluviométrico no município é tropical semi-árido
(RODRIGUES, 2004).
4. 1 - INFRA-ESTRUTURA FÍSICA DA ESCOLA AGROTÉCNICA FEDERAL DE
UBERLÂNDIA
Por se tratar de uma pesquisa em gestão de resíduos sólidos, é necessário relatar no
projeto a infra-estrutura física da Escola, que por estar situada na zona rural, possui uma
paisagem natural complexa combinada com estruturas físicas, como as Unidades
Educativas de Produção (UEP) e uma Estação de Tratamento de Esgoto.
A Escola Agrotécnica Federal de Uberlândia, localizada na fazenda Sobradinho
(Figura 6), possui 286,5 hectares, sendo que, deste total, 4 hectares representam a área
construída, 57,3, a área destinada a reservas nativas e o restante representa a parte
agricultável, ou seja , 225,2 hectares.
Figura 6: Vista aérea da Escola Agrotécnica Federal de Uberlândia.
Fonte: Org. SILVA, M. K., NEHME, V. G. F./2007.
Da área construída, destaca-se um prédio didático/administrativo, contendo 14 salas
de aula, uma sala para audiovisual, laboratórios de Solos, Física, Química, Biologia e
Microbiologia, 03 laboratórios de Informática com um total de 60 micro-computadores,
sala de mecanografia e reprografia, sala de professores, sala de estudo, cantina, secretaria,
almoxarifado, gabinete da Direção, serviços gerais, patrimônio, serviço de pessoal,
orçamento e finanças, coordenação de integração escola comunidade e de cursos técnicos,
Capítulo 4– Área da Pesquisa
53
arquivo morto, procuradoria jurídica, departamento pedagógico de atendimento ao
educando e administrativo e ainda um consultório médico e odontológico.
Em 2008, foi construído um prédio específico para o funcionamento do Curso
Superior de Tecnologia em Alimentos da instituição, com 6 salas de aula, secretaria
escolar, sala de professores e 3 laboratórios, sendo 1 de microbiologia, 1 de análise
sensorial e 1 de análise físico-química.
A Escola conta ainda com um prédio onde se localizam a Cooperativa-Escola dos
Alunos, uma sala para professores e uma sala de jogos. Em uma outra estrutura próxima à
citada, têm-se duas salas de televisão com antenas parabólicas. A cozinha e o refeitório,
com capacidade para servir 1.000 refeições diárias, estão situados em um outro prédio,
onde também funcionam uma padaria e um açougue.
um prédio onde funciona a Escola de grau que atende mais de 400 alunos,
mantida pela Prefeitura Municipal de Uberlândia. Em outro prédio, funciona a lavanderia
e, próximo a ela, quatro prédios para o alojamento com capacidade para hospedar 400
alunos.
A Escola possui um complexo de esporte e lazer composto por um ginásio
poliesportivo, com academia para musculação, uma quadra coberta, 02 quadras de peteca e
02 campos de futebol society, todos com iluminação.
A Escola conta com um centro de convivência, local de descanso e descontração,
onde se localizam uma lanchonete e um bazar, em que são comercializados produtos
alimentícios, escolares e de higiene pessoal. Possui também um centro de treinamento com
duas salas de aula equipadas com tv/vídeos, retroprojetores e data show, próprias para
oferecer cursos diversos de qualificação profissional e quartos com capacidade para
hospedar até 30 pessoas. Para reunir toda a comunidade escolar, a Instituição conta com
um anfiteatro, com capacidade para 500 pessoas. Uma nova biblioteca foi construída no
ano de 2001, para atender à nova demanda de alunos e cursos, ampliando seu acervo, que
hoje é de aproxidamente 9.000 livros.
Da área construída é importante destacar os setores que constituíram objetos deste
estudo:
Capítulo 4– Área da Pesquisa
54
Uma cozinha industrial e um refeitório onde são servidas 550 refeições
diárias.
Residências de servidores da Instituição, num total de 21.
Setor de Olericultura com aproximadamente 3,5 hectares.
Setor de Avicultura com cinco aviários que alojam 8.000 aves de corte e
5.000 de postura.
Setor de Jardinagem e Paisagismo.
Planta de Processamento de vegetais.
Fábrica de Derivados da Cana-de-açúcar.
Cinco silos.
Como a pesquisa envolve toda a comunidade escolar é importante relatar o perfil de
seus educandos, oriundos dos diferentes cursos oferecidos pela instituição.
Atualmente a Escola oferece 4 cursos técnicos de nível médio, que são:
Agropecuária, Agroindústria, Meio Ambiente e Informática e um curso de nível superior
que é o de Tecnologia de Alimentos, criado em 2004.
Todos os cursos técnicos oferecidos pela Escola formam profissionais habilitados
para atuarem, junto a empresas públicas e privadas, relacionadas ao setor do qual fazem
parte, em atividades de gestão, planejamento e projetos. A diferença entre cada um está em
sua competência básica, relatada a seguir:
Técnico em Agropecuária e Agroindústria: atender de forma sistemática às
necessidades de organização e produção dos diversos segmentos da cadeia
produtiva do agronegócio e agricultores familiares para melhorar a qualidade e
a sustentabilidade econômica, ambiental e social do país.
Técnico em Informática: operação e manutenção de computadores,
comunicação de dados e desenvolvimento de softwares, de aspectos
organizacionais e humanos, voltados para a produção de bens, serviços e
conhecimentos.
Técnico em Meio Ambiente: auxiliar na fiscalização e controle de serviços
de manutenção, desenvolvendo programas alternativos para a conservação dos
recursos naturais, garantindo a sustentabilidade do meio ambiente.
Capítulo 4– Área da Pesquisa
55
Tecnólogo em Alimentos: coordenar, supervisionar e controlar a qualidade
do processo de produção, condução de equipes, pesquisa e desenvolvimento
nas empresas de transformação dos alimentos.
Capítulo 5 - Metodologia
56
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Como a pesquisa baseou-se em um sistema de comunicação dialógica entre
pesquisador e pessoas da comunidade envolvida, rumo à construção de um modelo de
gestão descentralizada, que minimiza a quantidade de resíduos encaminhados para o aterro,
a metodologia utilizada na conscientização e coleta foi a pesquisa-ação.
De acordo com Thiollent (2003), a pesquisa-ação é um tipo de pesquisa social com
base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação, ou com a
resolução de um problema coletivo, ou para a tomada de consciência, ou ainda para a
produção de conhecimentos. Em outras palavras, a pesquisa-ação se apóia no diálogo entre
pesquisadores e participantes para a produção de um novo tipo de conhecimento que
favorece a orientação da ação em um determinado contexto. Não existe um sujeito e um
objeto de pesquisa, todos são sujeitos e participam ativamente rumo a um objetivo.
A pesquisa participante tem sido concebida como sinônimo de pesquisa-ação. No
entanto, Thiollent (2003) argumenta que naquele tipo de pesquisa, os pesquisadores
estabelecem relões comunicativas com pessoas ou grupos da situação investigada com o
objetivo de serem mais bem aceitos. Já na pesquisa-ão, eles desempenham um papel ativo no
que se refere à resolução dos problemas, no acompanhamento das atividades e na avaliação das
ações encadeadas. Pode-se dizer que toda pesquisa-ão é um tipo de pesquisa participante,
pom nem toda pesquisa participante é uma pesquisa-ação.
Alguns dados da literatura têm mostrado que a pesquisa participante, geralmente se
inicia com um papel meramente de "observação participante" em suas primeiras etapas,
mas se transforma em pesquisa-ação ao longo do processo.
Pode se dizer que toda pesquisa-ação é participativa, pois é concebida e realizada em
estreita associação entre os pesquisadores e os participantes, sob uma ão coletiva e
emanciparia. o limita suas investigões aos aspectos puramente acamicos e
Capítulo 5 - Metodologia
57
burocráticos da maioria das pesquisas convencionais. Considera que as pessoas implicadas
tenham algo a dizer e a fazer. o se trata de simples levantamento de dados ou relatórios a
serem arquivados para uma futura publicação; na pesquisa-ação os pesquisadores
desempenham papel ativo na realidade observada. Os principais aspectos da pesquisa-ação,
segundo Thiollent (2003, p.16):
a) uma ampla e explícita interação entre pesquisadores e pessoas
implicadas na situação investigada;
b) desta interação resulta a ordem de prioridade dos problemas a serem
pesquisados e das soluções a serem encaminhadas sob forma de ação concreta;
c) o objeto de investigação não é constituído pelas pessoas e sim pela situação
social e pelos problemas de diferentes naturezas encontrados nesta
situação;
d) o objetivo da pesquisa-ação consiste em resolver ou, pelo menos, em
esclarecer os problemas da situação observada;
e) há, durante o processo, um acompanhamento das decisões, das ações e de
toda a atividade intencional dos atores da situação;
f) a pesquisa não se limita a uma forma de ação (risco de ativismo): pretende-
se aumentar o conhecimento dos pesquisadores ou "nível de consciência"
das pessoas e grupos envolvidos.
No plano da educação, Hart (apud SATO, 1997) considera quatro elementos
básicos para a pesquisa-ação:
a) é uma tarefa conjunta: de compreensão, decisões democráticas e ações
comunitárias, implicando que professores e pesquisadores tenham objetivos
comuns, principalmente em relação aos problemas e aos assuntos em salas
de aula, assumindo uma comunicação aberta para a avaliação do processo,
b) baseia-se na práxis: concentra-se na ação comprometida da teoria e da
prática, no processo de ensino e aprendizagem, uma investigação dentro da
própria prática que reconstrói uma interpretação de ação e conseqüências,
Capítulo 5 - Metodologia
58
contextualizando-as como uma espiral auto-reflexiva de ciclos de
planejamento, ação, observação, avaliação e reflexão,
c) implica em desenvolvimento profissional: assume que a transformação
educativa depende do compromisso dos participantes envolvidos, que os
professores estarão trabalhando conjuntamente na elaboração de estratégias
que possam melhorar o sistema educativo, e que os grupos de ação
participativa são necessários para o apoio e impulso requeridos para
explorar sistematicamente as práticas e os problemas profissionais,
incrementando a flexibilidade do profissionalismo; e
d) implica criar condições para estruturar o projeto (tempo e apoio): assume a
necessidade de comunicação entre os participantes, a partir de metas claras
para compartilhar um marco teórico, permitindo o comprometimento com o
discurso e sucessivas melhorias para a prática investigativa e o
envolvimento das comunidades escolares.
O desenvolvimento dos conhecimentos, habilidades e valores não estão garantidos
somente pela ação. Por isso, deve-se considerar um contexto que prepare a ação. Os
planejamentos curricular e pedagógico devem ser flexíveis, que esta metodologia
incorpora uma característica interdisciplinar. As questões ambientais devem ser tratadas à
medida que os alunos se envolvem com elas. Na abordagem da pesquisa-ação, a
construção dos conhecimentos precede a prática que por sua vez, deve ultrapassar as meras
informações ou divulgações, tornando-se uma ação contínua.
O objetivo de uma pesquisa-ação nesse trabalho é iniciar uma mudança, envolver
os participantes em um processo, monitorar e relatar a mudança e finalmente reportar uma
avaliação dos resultados. O relato da pesquisa-ação não é simplesmente descritivo. Os
princípios norteadores dessa pesquisa, segundo Gayford (2001) são as mudanças realizadas
no modo como os participantes das escolas trabalham:
os alunos devem experienciar o meio ambiente como algo que é real:
identificando problemas e conseqüências dentro de seu próprio ambiente,
os alunos devem examinar o ambiente como uma disciplina a ser tratada
interdisciplinarmente durante a aprendizagem e a pesquisa,
Capítulo 5 - Metodologia
59
os alunos devem ter a oportunidade de dar forma e mudar o seu ambiente de
maneira socialmente importante,
os alunos devem ver o ambiente como um desafio para a capacidade de
tomar iniciativas e responsabilidade de ação.
Neste contexto, a pesquisa consistiu de sete etapas, relatadas a seguir:
1 - Sondagem da infra-estrutura disponível para a Coleta Diferenciada e
compostagem. Preparação de material para a sensibilização
Inicialmente verificou-se, em toda a área disponível da Escola
Agrotécnica, um local adequado para a realização da compostagem e também
um local coberto onde se poderia acondicionar e separar os resíduos secos.
Depois de escolhidos os locais apropriados, encaminhou-se um ofício aos
Diretores de Ensino e Pesquisa da Instituição, solicitando esses locais e
também alguns materiais necessários, que seriam utilizados, tanto para a
compostagem como para a separação dos recicláveis, como luvas, máscaras,
pás, enxadas, balanças, lixeiras apropriadas, telas para o cercamento da área,
trator com carreta para recolher os resíduos nos setores e residências e outros.
Após o deferimento dos diretores, iniciou-se o cercamento da área, sendo
necessários a requisição de telas e postes e também de mão-de-obra para a
execução do serviço.
Para o bom êxito do trabalho foi necessário reunir as pessoas responsáveis
diretamente por cada setor envolvido. Assim, em dia, hora e local previamente
agendados, fez-se uma reunião que contou com a Diretora do Departamento de
Desenvolvimento de Ensino, convocando todos os demais membros para
participarem e a comprometerem-se com o projeto. Estiveram presentes à esta
reunião, o coordenador e o técnico, responsáveis pelos educandos, a
nutricionista, pessoa incumbida de gerir as atividades do refeitório, o tratorista
cuja tarefa, neste projeto, seria o de transportar os resíduos até o local da
compostagem, a cantineira, cuja atribuição básica seria a de encaminhar os
resíduos das duas cantinas para o refeitório, onde se concentraria todos os
resíduos para a posterior separação. A Figura 7 ilustra esse momento.
Capítulo 5 - Metodologia
60
Figura 7: Reunião com a equipe diretamente envolvida com o projeto
Para a execução do projeto foi necessário que a Escola disponibilizasse
pessoas para colocá-lo em prática. Para tanto, a coordenação do Curso de Meio
Ambiente da Instituição fez uma entrevista com os seus alunos para a escolha
de dois deles para atuarem como monitores com o objetivo de auxiliar nesse
projeto.
Em seguida, montou-se um deo e uma palestra para serem utilizados na
sensibilização de toda a comunidade envolvida neste projeto. O vídeo e a
palestra reportam sobre a importância da coleta diferenciada e o papel que
cada ser humano tem na geração de resíduos e de que forma pode-se reduzir
esse percentual e dar uma destinação adequada a eles.
2 - Conscientização da comunidade
É importante detalhar a comunidade envolvida: são 11 servidores do refeitório; os
funcionários residentes na Instituição que são 21 e suas respectivas famílias, totalizando 61
pessoas; os 43 docentes, 553 discentes e todos os demais servidores. Foram envolvidas
inicialmente 750 pessoas.
Iniciou-se a pesquisa com a sensibilização de todos os envolvidos, chamando-os
à tomada de consciência sobre a importância da implantação de um modelo de
gestão de resíduos sólidos.
Capítulo 5 - Metodologia
61
Começou-se primeiramente com os servidores do refeitório da Escola, pois, este
local é o maior gerador de resíduos orgânicos. Para tanto, foi necessário solicitar ao
Diretor responsável por esse setor, que convocasse os referidos funcionários, para
participarem das palestras de sensibilização em local e data mencionados. Foram
realizadas duas palestras em virtude de esses funcionários trabalharem em equipes
que funcionam sob o sistema de rodízio, em termos diferentes. A Figura 8 mostra
uma das palestras proferidas a uma das equipes de servidores do refeitório da EAF-
Udi.
Figura 8: Palestra de sensibilização -1ª turma dos servidores do refeitório.
Após a sensibilização com os servidores do refeitório, repassou-se a mesma
palestra, com o mesmo enfoque aos funcionários residentes, docentes, discentes e
demais servidores, segundo a ordem proposta. Para tanto, também se fez necessária
uma convocação dos diretores de departamento aos respectivos servidores e alunos
a eles vinculados, com a estipulação de data, horário e local agendados
antecipadamente. É importante ressaltar que estas palestras foram realizadas em
momentos distintos e separadamente para cada categoria acima mencionada. O
tema abordado em cada palestra foi a questão ambiental, focando especificamente
no tópico de resíduos sólidos, dando ênfase no papel que cada um tem, em desviar
a máxima quantidade de resíduos do aterro sanitário local. O tempo de duração, de
cada uma das palestras, foi de aproximadamente 1 hora e meia. A Figura 9 mostra a
palestras feita aos servidores residentes na instituição.
Capítulo 5 - Metodologia
62
Figura 9: Palestra de sensibilização feita aos servidores residentes da EAF- Udi.
3 - Diagnóstico dos resíduos sólidos gerados na EAF- Udi
Após a ciência da comunidade sobre o projeto, inclusive que ele faz parte de um
projeto maior de Gestão Ambiental da própria Escola Agrotécnica, procedeu-se então o
diagnóstico dos resíduos sólidos gerados.
Primeiramente foi necessário enumerar os principais setores da Escola geradores
de resíduos, que são: o refeitório, os 20 alojamentos com seus 98 alunos residentes,
as duas cantinas (a do prédio pedagógico e a do administrativo), a lanchonete e as
moradias dos servidores.
Passou-se diariamente, durante uma semana, em cada um desses locais,
recolhendo os resíduos, verificando seu tipo e quantificando-os.
4 - Implantação da Coleta Diferenciada
Foram confeccionados cartazes sobre a importância de se reduzir a quantidade de
resíduos levada ao aterro, os quais foram fixados em alguns pontos estratégicos
da escola. No desenho gráfico dos cartazes sobre a Coleta Diferenciada, destaca-
se a seguinte frase: Aqui tem cidadão, aqui se faz a coleta diferenciada”. Pode
se ver, na Figura 10, o cartaz relativo à campanha de conscientização sobre a
importância da Coleta Diferenciada.
Capítulo 5 - Metodologia
63
Figura 10: Cartaz relativo à Coleta Diferenciada.
Pode-se ver esses cartazes fixados em alguns pontos estratégicos, como mostram
as Figuras 11 e 12.
Figura 11: Divulgação da Coleta Diferenciada na lanchonete
Capítulo 5 - Metodologia
64
Figura 12: Divulgação da Coleta Diferenciada na cantina 1
Foram distribuídas lixeiras aos moradores e aos alunos residentes, para que eles
pudessem acondicionar adequadamente os resíduos secos e úmidos. Os mesmos
também foram informados do horário e dia em que o trator de recolhimento
passaria.
Houve uma conversa prévia com os funcionários do refeitório para saber que
tipos de materiais necessitariam para iniciar o processo de coleta diferenciada
naquele local. Assim, tão logo estavam de posse de todo o material necessário e das
instruções para fazerem a coleta diferenciada, marcou-se a data para o seu início e
também o horário que o trator da Escola passaria para fazer a retirada dos resíduos
secos e molhados. Foi estabelecido o compromisso de que, uma vez por dia,
preferencialmente ao final da tarde, os funcionários teriam que disponibilizar do
lado de fora do refeitório, até aquele horário, todo o resíduo gerado no dia.
Após o início da coleta diferenciada, fazia-se a remoção diária dos resíduos,
sendo que, os secos eram transportados para o local, previamente cedido, onde
acontecia a separação e em seguida realizava-se o acondicionamento e
encaminhamento à reciclagem, por meio da logística reversa. Os molhados,
diariamente eram levados para as leiras de compostagem (Figura 13).
Capítulo 5 - Metodologia
65
Figura 13: Local das leiras de compostagem
5 - Definição da destinação dos resíduos orgânicos
As sobras de alimentos foram levadas a uma área não coberta, localizada na
Unidade Educativa de Produção (UEP) da Olericultura, com cerca de
aproximadamente 180 m², onde foram montadas 16 leiras (espécie de pirâmides
retangulares) com massa de aproxidamente 1.400 kg e altura variando de 80 cm a
1,0 m. Essas leiras foram montadas num local sombreado, sem muito sol, sobre o
solo, tendo em média, cada uma, uma área de aproximadamente 5 m². As leiras
foram separadas umas das outras por pequenas áreas de terra.
Como o sistema utilizado para a realização da compostagem foi o aeróbio, à
medida que se fazia necessário, as leiras eram reviradas, geralmente a cada 2 ou 3
dias, a fim de homogeneizar toda a massa, aumentar a quantidade de oxigênio
existente nelas e propiciar uma degradação uniforme da matéria orgânica.
Freqüentemente media-se a temperatura das leiras, a uma profundidade de
aproximadamente 20 cm, no meio da leira, com o objetivo de se fazer o controle
biológico delas e de verificar a necessidade de humidificá-las ou não.
As leiras podem ser vistas por meio das figuras 14 e 15.
Capítulo 5 - Metodologia
66
Figura 14: Leiras de compostagem (final)
Figura 15: Leira de compostagem
Os resíduos secos eram levados diariamente para a área destinada a eles, onde
eram separados, pesados e acondicionados. Posteriormente, após o acúmulo de
certa quantidade, o caminhão, enviado pela empresa Coca-Cola, recolhia todos
esses resíduos, encaminhando-os à logística reversa.
Capítulo 5 - Metodologia
67
6 - Confecção das leiras de compostagem - Elaboração do composto orgânico
Um total de 16 leiras foi preparado, sendo que, cada uma, comportava os
resíduos orgânicos gerados durante uma semana, sendo feito diariamente o seu
depósito nas leiras.
O número estipulado para o total de leiras existentes neste projeto, foi baseado
no fato de que cada leira receberia a quantidade de resíduos orgânicos gerados na
semana, embora a deposição do material fosse diária. E como após 16 semanas a
primeira leira estaria pronta e o espaço destinado à ela estaria desocupado,
verificou-se que 16 leiras seriam suficientes para a realização da compostagem.
Com relação ao dimensionamento de cada leira, pode-se afirmar que ele foi feito
tendo-se em mãos a estimativa preliminar realizada anteriormente sobre a quantidade de
resíduos orgânicos gerados por semana no refeitório, cantinas e residências dos
funcionários. Após essa quantificação, calculou-se a quantidade de resíduos estruturantes
necessária (observando-se a relação C/N dos resíduos orgânico e estruturante) e em
seguida, o volume que essa mistura teria. De posse desse volume e levando-se em
consideração a altura da leira de 1 metro e o seu formato, semelhante à de um cone,
obteve-se a área que cada uma ocuparia.
Resíduos estruturantes têm características complementares aos resíduos com ele
misturados, que, neste caso específico, foram os orgânicos e possuem características
intrínsecas, como granulometria, teor de umidade e teor de nitrogênio. A sua função é a de
conferir integridade estrutural à mistura a ser compostada (PROSAB, 1999). A escolha de
um determinado resíduo estruturante deve considerar alguns aspectos práticos, como a sua
disponibilidade, distância de transporte e características desejadas no produto final
(PROSAB, 1999). Na pesquisa, utilizaram-se os resíduos estruturantes disponíveis na
escola, que foram : bagaço de cana-de-açúcar, esterco bovino, esterco de poedeiras, folhas
e podas de jardim e serragem.
Segue-se o detalhamento dos cálculos:
a) Determinação da relação C/N de cada leira de compostagem e da proporção
de cada resíduo estruturante utilizado:
Capítulo 5 - Metodologia
68
Verificação da relação C/N de cada resíduo utilizado na compostagem, por
meio da Tabela 11.
C/N
M
= (C/N
OR.
+ C/N
ER.
)/ 2. Onde C/N
M
= Relação C/N da mistura;
C/N
OR.
= Relação C/N do resíduo orgânico; C/N
ER.
= Relação C/N do resíduo
estruturante utilizado na leira em questão. Caso 25 < C/N
M
< 35, a proporção
de cada resíduo utilizada na mistura é de 1:1. Caso contrário foi preciso
adicionar um outro resíduo estruturante para que a mistura ficasse com uma
relação C/N entre 25 e 35, considerada ideal para o início da compostagem.
Dessa forma, para a obtenção desta proporção, escolheu-se primeiro qual seria
o segundo resíduo estruturante utilizado com a sua respectiva relação C/N.
Assim, considerando-se a proporção de 1:1 para os resíduos orgânicos (R.O) e
o resíduo estruturante 1 (R.E
1
), a massa do 2º resíduo estruturante, a ser
utilizado na mistura, pode ser obtida aplicando-se a fórmula abaixo.
M
2..
ER
=
2...
1...
/30
000.60)//(1000
ER
EROR
NC
NCNC
+
, onde:
M
2..ER
= Massa (em gramas) do segundo resíduo estruturante utilizado.
C/N
OR.
= Relação C/N do resíduo orgânico.
C/N
1..ER
= Relação C/N do resíduo estruturante 1.
C/N
2..ER
= Relação C/N do resíduo estruturante 2.
Nestas condições, a proporção utilizada dos resíduos orgânico, estruturante 1 e estruturante
2 será de 1000 g: 1000 g: M
2..ER
.
b) Determinação da densidade aparente de cada resíduo:
Pegou-se um balde cujo volume é de 0,014 m
3
, encheu-o completamente de
resíduo orgânico, sem compactá-lo, pesando-o logo em seguida. Após sua
pesagem descontou-se o peso do balde vazio, obtendo-se a massa do referido
resíduo.
De modo análogo, procedeu-se com os outros resíduos estruturantes, tendo-se
a massa deles contida no balde de volume conhecido. Calculou-se, enfim a
densidade aparente de cada resíduo, aplicando-se a fórmula d= m/V, onde m=
massa do resíduo e V= volume do balde.
Capítulo 5 - Metodologia
69
c) Determinação do volume de cada leira de compostagem:
Conhecendo-se a densidade e a massa de cada resíduo, na leira, calculou-se o
seu volume. Tendo-se os volumes dos resíduos utilizados em cada leira,
calculou-se o seu respectivo volume total, por meio da equação:
V
Total
= V
OR.
+ V
1..ER
+ V
2..ER
.
De posse do volume e da altura estipulada para cada leira, que ficou em torno
de 1 m, e tendo em vista o formato da pilha de compostagem, que se
assemelhou a de um cone, calculou-se a área ocupada por cada de leira de
compostagem, por meio da fórmula: A
L
= 3V/h, onde A
L
é a área ocupada pela
leira de compostagem, V é o volume ocupado pelos resíduos na leira e h é a
altura da leira de compostagem.
Realizou-se um experimento em apenas quatro leiras, que consistiu em
utilizar esterco de poedeiras, esterco bovino, bagaço de cana e serragem, como
resíduos estruturantes, haja vista a sua disponibilidade na Instituição e a
necessidade de se dar um destino adequado à eles. Foi feita uma análise inicial,
teórica e uma análise final, laboratorial, para verificação da relação C/N de cada
uma das quatro leiras. Houve o monitoramento da temperatura e a umidade a
cada 2 dias, com o objetivo de verificar a necessidade de interferência ou não.
Para o controle da temperatura, utilizou-se um termômetro, o qual
era colocado no meio de cada leira, a uma profundidade de 20 cm.
O controle da umidade foi feito com as mãos, não sendo utilizado
nenhum teste laboratorial.
Ao final da compostagem, houve a coleta da amostra das quatro diferentes
leiras, para se fazer a comparação dos seus nutrientes, com o objetivo de verificar
a qualidade dos respectivos compostos orgânicos. O critério adotado para
classificar a qualidade do composto orgânico baseou-se em seu conteúdo
nutricional para fins hortículas, obtido por meio de análise físico-química
realizada no laboratório de solos do Instituto de Ciências Agrárias da
Universidade Federal de Uberlândia, cujos laudos encontram-se no Anexo.A.
Utilizou-se o composto como substrato na produção de mudas do cerrado do
Viveiro da Escola.
Capítulo 5 - Metodologia
70
7 - Balanço de massa e quantificação dos resíduos
Para a realização do balanço completo de massa da operação de
compostagem, foi necessário anotar primeiramente, as quantidades de resíduos
orgânicos, estruturantes e água, utilizadas em cada leira de compostagem.
Em seguida, após o término da compostagem, fez-se a pesagem do
composto existente em cada leira, anotando-se os dados obtidos na tabela 14.
Depois de se ter em mãos, a massa no início e no final do processo de
compostagem, realizou-se então o cálculo para ver quanto de composto havia
se formado com a massa inicial da mistura, tendo-se então, o balanço de massa.
Segundo o Manual do Programa de Pesquisa em Saneamento Básico (PROSAB,
1999), o balanço de massa consiste em fixar as proporções de combinação dos
resíduos orgânicos com os estruturantes, fornecendo assim tanto o
dimensionamento da área de compostagem, como a porcentagem de composto
formado ao final do processo, face à quantidade de resíduos utilizados na
compostagem.
Foi realizada a quantificação do desvio dos resíduos gerados na Escola
Agrotécnica Federal de Uberlândia, destinados ao aterro sanitário e avaliação do
atendimento da Meta 7 do Desenvolvimento do Milênio.
Capítulo 6 – Resultados e Discussão
71
C
C
A
A
P
P
Í
Í
T
T
U
U
L
L
O
O
6
6
R
R
E
E
S
S
U
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L
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A
A
D
D
O
O
S
S
E
E
D
D
I
I
S
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S
S
S
S
Ã
Ã
O
O
6.1 - DIAGNÓSTICO DOS RESÍDUOS GERADOS NA ESCOLA AGROTÉCNICA
FEDERAL DE UBERLÂNDIA.
Os resíduos recicláveis gerados na Escola compreendem restos de comida, latas,
papelão, papel, PET, copos descartáveis e sacos plásticos. A sua quantificação inicial não
foi possível, devido ao fato de se ter na Instituição a Coleta Mista, como o único modelo de
gestão de resíduos.
Na Escola Agrotécnica Federal de Uberlândia, a gestão de resíduos, até então, antes
desta pesquisa, consistia apenas em sua coleta e afastamento. O caminhão de coleta de lixo
da empresa terceirizada que presta serviços à Prefeitura do município, é o responsável pelo
recolhimento de todos os resíduos ali gerados e encaminhamento ao aterro sanitário local,
passando às terças e sextas feiras.
Não havia nenhum tipo de separação na fonte, com exceção do óleo de cozinha, que
inicialmente era utilizado, pelos próprios servidores do refeitório, para o feitio de sabão, e
hoje é destinado à fábrica de ração da Escola.
6.2 – DIAGNÓSTICO POSTERIOR
Com a implementação da Coleta Diferenciada, realizou-se o diagnóstico dos
resíduos sólidos gerados no refeitório da escola, durante 9 semanas, pesando-se
diariamente os resíduos orgânicos e recicláveis. A quantidade de resíduos putrescíveis
obtida foi desdobrada em: sobra nas panelas, sobra nos bandejões e restos de folhas e
cascas de verduras. Os dados foram condensados semanalmente para facilitar a sua
visualização, conforme apresentados na Tabela 10.
Capítulo 6 – Resultados e Discussão
72
Tabela 10: Massa de resíduos gerados no refeitório da EAF- Udi.
Sema
na
Nº de
refeições
servidas
Sobra
panelas
(a) (kg)
Sobra
bandeijões
(b)(kg)
Folhas e
cascas de
verduras (c)
(kg)
Recicláveis
(kg)
Total
(kg)
1ª * 3850 40 174 56 8 278
3850 103 201 150 26 480
3850 146 195 165 24 530
3850 55 113 164 10,5 342,5
3850 87,5 125,5 119,5 12,5 345
3850 80 126,5 157,5 6 370
3850 61 162 206 4,5 433,5
3850 150 356,5 332 10 848,5
3850 147 344 212 5 708
Média 3850 96,61 199,72 173,56 11,83 481,7
Fonte: Dados da pesquisa/2007.
Verificou-se que a quantidade de resíduo orgânico gerada no refeitório da escola,
da 1ª à 7ª semana, foi bem inferior ao produzido na 8ª e 9ª semanas. Isso se deve ao fato de
que, nessas semanas intermediárias, os resíduos sólidos, embora adequadamente separados
dentro do refeitório, à medida que enchiam as lixeiras, tinham de ser levados para os latões
colocados do lado de fora. Como não havia nenhuma identificação nesses latões, os
funcionários do setor depositavam em qualquer um deles, sem a preocupação e a iniciativa
de separá-los também fora da cozinha. O responsável pela pesagem destes resíduos, ao
encontrá-los misturados, ao invés de separá-los para pesar, pegava apenas parte deles.
Assim, ao realizar o diagnóstico, como os resíduos estavam misturados nos latões,
não foi possível quantificar adequadamente os secos dos putrescíveis. Verificou-se então
que nas pesagens anteriores ( da primeira até à sétima semana ), estavam incluídas uma
parte do resíduo orgânico, o qual se encontrava misturado com plásticos, latas de conservas
e outros resíduos não orgânicos. Somente com a detecção dessa falha, fazendo a
identificando dos latões que ficam do lado de fora do refeitório e conversando com o
pessoal do refeitório, sobre a importância da separação, é que se pôde obter uma precisão
nos dados apresentados, ou seja, os valores correspondentes às pesagens da .8ª e 9ª
semanas.
O fato de se estar sempre em contato com esses funcionários, inclusive realizando
as palestras e conversando sobre a importância da separação dos resíduos na fonte,
contribuiu para a eficiência do modelo de gestão ali implantado. Outro ponto pendente
Capítulo 6 – Resultados e Discussão
73
3%
37%
9%
4%
3%
44%
Latas Papelão PET
Sacos plásticos Copos plásticos Outros
solucionado foi a reclamação desses funcionários, que alegavam não ter lixeiras em
número suficiente, razão pela qual, não faziam a separação como deveriam. Como o
desafio era fazer com que o trabalho tivesse êxito, providenciaram-se então as lixeiras.
Pode-se, portanto, com toda a segurança, levar em consideração que os dados das 8ª
e semanas, são os mais significativos. Isso representa, em média, um descarte semanal
no refeitório, de 778,25 kg de resíduos sólidos ( (848,5 + 708)/2 ).
Com o intuito de estimar a quantidade de resíduos recicláveis, foi realizado também
o diagnóstico dos resíduos secos em toda a escola, durante o período de uma semana. Para
tanto, foram recolhidos diariamente, separados e quantificados, a fim de que se pudesse ter
uma noção do que estava sendo gerado na instituição, para então encaminhar os resíduos
recicláveis à logística reversa. Os dados obtidos encontram-se na Figura 16.
Figura 16: Percentual dos resíduos sólidos secos gerados na EAF- Udi.
Fonte: Dados da pesquisa/2007.
Pode-se perceber que dos resíduos secos gerados na escola, 56% são recicláveis.
6.3 A COMPOSTAGEM COMO ALTERNATIVA PARA GERIR OS RESÍDUOS
PUTRESCÍVEIS GERADOS NA EAF-UDI
Para minimizar o impacto dos resíduos orgânicos gerados no refeitório da escola e
o domicílio de seus servidores residentes e, ao mesmo tempo, contribuir para o
cumprimento da sétima Meta do Milênio, propôs-se, então, a compostagem aeróbia, por ser
mais simples, e requerer uma pequena quantidade de recursos, tanto humanos quanto
financeiros.
Capítulo 6 – Resultados e Discussão
74
O resultado do diagnóstico dos resíduos sólidos gerados no refeitório da Escola
Agrotécnica Federal de Uberlândia, apontam que, em média, são descartados 770,75 kg de
resíduos putrescíveis por semana ( (838,5 +703)/2 ), levando-se em consideração apenas os
dados da e semanas. Isso representa uma média de 110,11 kg diários. Este lixo é
constituído de restos de alimentos que ficam nos bandejões, cascas e folhas de verduras e o
que sobram nas panelas e equivale a 99% do lixo gerado no refeitório, o que levou-se a
pensar em uma forma de se dar uma destinação adequada à eles.
Para verificar a quantidade de resíduo orgânico que cada pessoa descarta por dia,
considerou-se apenas as sobras dos bandejões e das panelas, desconsiderando-se os restos
de cascas de verduras e folhas, por não serem utilizados na alimentação das pessoas na
Escola. Desta forma, como o número de refeições servidas por dia, está em torno de 550 (
400 no almoço e 150 no jantar) e a quantidade diária média que sobra nos bandejões e
panelas é de 71,25 kg (498,75 / 7) pode-se afirmar que, em média, cada pessoa da
comunidade escolar descarta 129,5 g de resíduo putrescível por dia, somente no refeitório.
Estima-se que o total desperdiçado por dia, represente uma quantidade suficiente para
alimentar aproximadamente 89 pessoas, supondo-se ser de 800 g a quantidade de comida
ingerida por uma pessoa em cada refeição.
Se for computado mensalmente o total de resíduos putrescíveis gerado apenas no
refeitório, que vai para o aterro, esse valor sobe para aproximadamente 3.200 kg.
Tratando-se dos resíduos putrescíveis e considerando-se a sétima Meta do Milênio,
o que se pretende é reduzir pela metade, essa quantidade que se leva atualmente, ao aterro
sanitário, verificou-se neste trabalho que a instituição pode ir além desta meta, ou seja, a
Escola Agrotécnica tem possibilidade de reduzir em até 100% o que se destina ao aterro de
Uberlândia. A Instituição tem área disponível para a realização da compostagem e pode
disponibilizar tanto servidores como alunos para realizarem o trabalho de
acompanhamento do projeto, contribuindo para minorar os impactos negativos no
ambiente e criando alternativas de uso e produção de novos produtos e processos.
Sendo assim, o trabalho revestiu-se de importância porque além de instigar a busca
da otimização de processos de produção, identificando os meios para a máxima utilização
da matéria prima, criou oportunidades de utilização do composto formado no viveiro de
mudas e no setor de Olericultura. Desta forma, a inclusão do material nas cadeias de
Capítulo 6 – Resultados e Discussão
75
produção, contribuiu para a diminuição dos impactos ambientais e para a sustentabilidade
do ecossistema agrícola local.
Nesta pesquisa buscou-se em escala crescente o envolvimento, cada vez maior, de
toda a comunidade, no sentido de se desviar a maior quantidade possível de resíduos do
aterro. Por meio de desenvolvimento de projetos locais como este, propõe-se uma reflexão
sobre o comportamento de cada um, mostrando-se que é possível, numa atitude
descentralizada, minimizar a geração de resíduos e garantir o cumprimento efetivo da Meta
de Desenvolvimento do Milênio.
Para a confecção de cada leira de compostagem, observou-se que a relação C/N,
teoricamente, deve ficar em torno de 25 a 35 (PROSSAB, 1999). Assim, procurando-se
equilibrar os nutrientes, foi necessário conhecer o valor teórico da relação C/N tanto dos
resíduos estruturantes utilizados como do resíduo putrescível. Embora essa relação varie de
autor para autor, a obtida nesse experimento seguiu-se pelos dados contidos na tabela 11.
Tabela 11: Relação Carbono/Nitrogênio (C/N) de alguns resíduos utilizados para a
compostagem
Resíduo estruturante Relação C/N
Resíduo orgânico 15
Podas de jardim 46
Bagaço de cana-de-açúcar 50
Esterco bovino 20
Esterco de poedeiras 10
Serragem 500
Fonte: Silva e Fernandes (1998).
Conhecendo-se o valor da relação C/N de cada resíduo utilizado na compostagem,
foi possível estabelecer a proporção de cada resíduo estruturante a ser utilizado nas leiras,
tendo como base a quantidade de resíduo orgânico que se tinha disponível. A Tabela 12
mostra essa proporção. As quatro leiras de compostagem tiveram em sua composição, além
do resíduo orgânico (R.O), quatro resíduos estruturantes: bagaço de cana-de-açúcar,
esterco bovino, esterco de poedeiras e serragem. O resíduo estruturante utilizado na leira I
foi o bagaço de cana-de-açúcar. A leira II foi confeccionada utilizando-se tanto o esterco
bovino como a serragem. A leira III foi feita com esterco de poedeiras e serragem e a leira
IV, com esterco bovino, esterco de poedeiras e serragem.
Capítulo 6 – Resultados e Discussão
76
Tabela 12: Massa de resíduos utilizada em cada leira de compostagem.
Resíduo estruturante
Leira
R.O (kg)
Esterco
bovino (kg)
Esterco de
poedeiras (kg)
Serragem
(kg)
Bagaço de cana-de-açúcar
(kg)
I 32 0 0 0 32
II 32 32 0 1,7 0
III 32 0 32 2,4 0
IV 140 72 30 6 0
Fonte: Dados da pesquisa/2007.
Utilizando-se esta proporção, cada leira de compostagem teve a relação C/N,
mostrada na Tabela 13:
Tabela 13: Relação C/N de cada leira no início e final da compostagem
Leira
Relação C/N
inicial (teórica)
Relação C/N final
(análise
laboratorial)
I 32,5 13
II 30 12
III 30 16
IV 28 10
Fonte: Dados da pesquisa/2007.
A relação C/N inicial mostrada na Tabela 13 foi obtida observando-se a relação
C/N de cada componente da mistura, expressa na Tabela 11. Para a realização destes
cálculos, fez-se a média ponderada dos componentes envolvidos na mistura. Quando o
resultado não estava entre 25:1 e 35:1, considerado ideal, era necessário acrescentar um
outro resíduo estruturante à mistura. Como foi o caso das leiras II, III e IV. Assim, pode-se
exemplificar abaixo um dos cálculos feitos, quando da confecção da 3ª leira.
Nesta leira, queria se usar apenas o esterco de poedeiras, cuja relação C/N = 10:1,
com os resíduos orgânicos, com C/N = 15:1. Fazendo-se a média ponderada dos dois
componentes, utilizando-se a mesma massa, obteve-se a relação C/N da mistura (C/N
M
) :
C/N
M
=
2
1/101/15
+
= 12,5. Como esse valor não é ideal para o início da compostagem,
foi necessário acrescentar um outro resíduo estruturante à mistura existente. Optou-se,
neste caso, pela serragem, componente disponível na propriedade, cuja relação C/N é de
Capítulo 6 – Resultados e Discussão
77
500:1 e calculou-se novamente a quantidade necessária desse resíduo, para que se tivesse
uma relação C/N próxima da ideal, em torno de 30:1. Para se obter a quantidade de
serragem que se deveria usar (x) fez-se novamente a média ponderada com os três
resíduos, utilizando-se a mesma massa de resíduo orgânico e de esterco de poedeiras que
foi de 1000 g, procedendo-se os cálculos abaixo:
C/N
M
= 30
1000
1000
500.10.100015.1000
=
++
+
+
x
x
. Resolvendo-se esta equação, chegou-se nas
seguintes proporções: 1000 g de R.O : 1000 g de E.P : 74 g de S. Onde R.O = Resíduo
orgânico, E.P = Esterco de poedeiras e S = Serragem. De modo análogo, procedeu-se todos
os cálculos, com as demais leiras.
Fazendo-se uma comparação de quanto foi a redução de C/N ao final da
compostagem, procedeu-se com os cálculos abaixo mostrados. Chamando-se de X, a taxa
decimal, equivalente à relação C/N ao final da compostagem, em relação à inicial, tem-se:
Leira I => 13 = 32,5.X.. => X= 0,4
Leira II=> 12 = 30.X => X= 0,4
Leira III=>16= 30.X => X= 0,53.
Leira IV=>10= 28.X=> X= 0,357.
Importante destacar que embora a relação C/N foi calculada no início, baseada na
relação C/N de cada componente da mistura, e medida ao final, no laboratório, percebe-se
que, em média, a relação C/N final de cada composto, foi de aproximadamente 42% da
C/N inicial. O que mostra certa uniformidade nesta relação, embora cada composto tenha
sido proveniente de resíduos estruturantes diferentes. Pode-se então utilizar-se da seguinte
equação, neste caso:
C/N
f
= 0,422 C/N
i
, onde C/N
f
é a relação C/N no final da compostagem e C/N
i
, a
relação C/N no início da compostagem. O que evidencia que a relação C/N final teve uma
redução de 57,8%.
Capítulo 6 – Resultados e Discussão
78
Pelo fato de a temperatura ser um fator indicativo do equilíbrio biológico do
processo de compostagem, para avaliar a sua eficiência, esta variável foi monitorada. Se a
leira em compostagem, registrar temperatura da ordem de 40 – 60°C no segundo ou
terceiro dia é sinal que o ecossistema está bem equilibrado e que a compostagem tem todas
as chances de ser bem sucedida. Caso contrário é sinal de que algum ou alguns parâmetros
físico-químicos (pH, relação C/N, umidade) não estão sendo respeitados, limitando assim a
atividade microbiana (PROSAB, 1999).
Assim sendo, para acompanhar com mais rigor cada leira, mediu-se
periodicamente, a cada 2 dias. Os dados referentes ao monitoramento da temperatura
encontram-se apresentados graficamente por meio das Figuras 17 18, 19 e 20, que
representam respectivamente as leiras I, II, III e IV.
Figura 17: Variação da temperatura da leira I
Fonte: Dados da pesquisa/2007.
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Tempo ( em dias)
Temperatura (em °C)
Capítulo 6 – Resultados e Discussão
79
Figura 18: Variação da temperatura da leira II.
Fonte: Dados da pesquisa/2007
.
Figura 19: Variação da temperatura da leira III.
Fonte: Dados da pesquisa/2007
Figura 20: Variação da temperatura da leira IV.
Fonte: Dados da pesquisa/2007.
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Tempo ( em dias )
Temperatura (em °C)
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Tempo ( em dias)
Temperatura ( em °C)
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Tempo ( em dias )
Temperatura ( em °C )
Capítulo 6 – Resultados e Discussão
80
O gráfico a seguir (Figura 21) apresenta um comparativo das temperaturas das
quatro leiras.
Figura 21: Variação de temperatura das leiras de compostagem, utilizando-se diferentes resíduos
estruturantes.
Fonte: Dados da pesquisa/2007.
Pode-se verificar que a partir do 60º dia, a temperatura das quatro leiras manteve-se
praticamente constante, fato que levou-se a deduzir que as leiras de compostagem estavam
iniciando a fase de maturação.
Como as leiras de compostagem foram feitas em uma área não coberta e devido ao
fato de que sofrem os efeitos diretos, dentre outros fatores, da pluviosidade e temperatura,
é importante então mostrar como estas duas variáveis se comportaram ao longo do período
da realização da compostagem das 4 leiras especificadas anteriormente. Portanto, mostra-
se abaixo a temperatura média diária e a pluviosidade na Escola Agrotécnica, durante os
meses de Dezembro de 2007 a Março de 2008, por meio das Figuras 22, 23, 24 e 25. A
temperatura média diária foi obtida, fazendo-se a média da temperatura nas 24 horas do
dia. Já a pluviosidade foi calculada, considerando-se o seu somatório nas 24 horas do dia.
Tanto os dados de temperatura como os de pluviosidade, foram obtidos pela Estação
Climatológica da Escola. Importante ressaltar que, quando ocorriam as chuvas, o
monitoramento das leiras ficava comprometido. Era necessário cobrí-las evitando o seu
encharcamento, o que de certa forma, tornou a compostagem um pouco mais trabalhosa.
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Tempo ( em dias )
Temperatura ( em °C)
Leira I
Leira II
Leira III
Leira IV
Capítulo 6 – Resultados e Discussão
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Dias Dezembro/2008
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Temperatura média (ºC)
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Dias janeiro/ 2008
Pluviosidade (mm)
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Temperatura média C)
Pluviosidade Temperatura
Figura 22: Temperatura média e pluviosidade do mês de dezembro de 2007.
Fonte: Estação Climatológica da E.A.F- Udi.
Figura 23: Temperatura média e pluviosidade do mês de janeiro de 2008.
Fonte: Estação Climatológica da E.A.F-Udi.
Capítulo 6 – Resultados e Discussão
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Dias fevereiro/2008
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Temperatura média (ºC)
Pluviosidade Temperatura
Figura 24: Temperatura média e pluviosidade do mês de fevereiro de 2008.
Fonte: Estação Climatológica da E.A.F-Udi.
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Dias março/2008
Pluviosidade (mm)
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Temperatura média (ºC)
Pluviosidade Temperatura
Figura 25:Temperatura média e pluviosidade do mês de março de 2008.
Fonte: Estação Climatológica da E.A.F-Udi.
Capítulo 6 – Resultados e Discussão
83
Outro parâmetro importante que se pode obter é a perda de matéria orgânica
durante a compostagem. Como durante o processo de biotransformação, parte da matéria
orgânica é degradada em CO
2
e H
2
O, havendo uma perda importante de massa, mostra-se
na Tabela 14 o balanço de massa realizado nas quatro leiras, objeto deste estudo de
compostagem.
Tabela 14
: Balanço de massa
Material (em Kg) Leira I Leira II Leira III Leira IV
Resíduo orgânico 32 32 32 140
Resíduo estruturante 32 33,7 34,4 108
Água 58 58 53 60
Total p/compostagem 122 123,7 119,4 308
Composto formado 85 86 78 214
Umidade (2º análises
laboratoriais)
46,64% 41,57% 54,02% 45,59%
Rendimento em
composto seco
45,35 50,25 35,86 116,44
Fonte: Dados da pesquisa/2007
.
Com os dados da Tabela 14, pode-se constatar que houve uma perda de massa
significativa nas leiras mencionadas. A leira I e II tiveram perdas de 76,65 e 73,45 kg,
respectivamente. Já as leiras III e IV registraram perdas aproximadas de 83,54 e 191,56 kg
respectivamente. Estas perdas, registradas na pesquisa, estão dentro do esperado que,
segundo o manual do PROSAB (1999) podem variar de 30 a 60% do peso inicial. Essas
perdas são devidas à evaporação de água e à liberação de CO
2
.
O percentual de umidade das leiras estudadas foi praticamente o mesmo. Com
relação ao rendimento, pode-se afirmar que a leira I teve um rendimento em composto seco
de 37% da massa inicial que foi para a compostagem. As leiras II, III e IV tiveram
rendimento em composto seco, respectivamente iguais a 40,62%, 30% e 37,81%, o que se
configura estar dentro dos resultados esperados.
Capítulo 6 – Resultados e Discussão
84
Em virtude de não se ter feito um delineamento estatístico, não se pode afirmar que
a compostagem realizada na leira II, com esterco bovino e serragem, é a que vai sempre
originar um composto com menos perda.
Após o término da compostagem, o adubo foi ensacado (Figura 26 ) e destinado ao
setor de Olericultura da Escola.
Figura 26: Adubo orgânico produzido nas leiras de compostagem.
6.4 - APROVEITAMENTO DOS RESÍDUOS RECICLÁVEIS GERADOS NA EAF-
UDI: A LOGÍSTICA REVERSA COM SUB-PRODUTO DA PESQUISA
Com relação aos resíduos secos, pode-se destacar a iniciativa que se teve em
recolhê-los e encaminhá-los à um local que foi reservado para tal, dentro da própria
instituição. Ao final de cada dia, os alunos, que participaram do projeto, recolhiam esses
resíduos, que estavam concentrados na lanchonete e refeitório, e os levavam, em um trator,
para o setor de avicultura, onde eram cuidadosamente separados e pesados. Em seguida,
eram acondicionados em sacos plásticos e colocados em um local que foi deixado
exclusivamente para a deposição desse material. A Figura 27 mostra respectivamente os
resíduos chegando ao local onde se fazia a separação e seu posterior acondicionamento.
Capítulo 6 – Resultados e Discussão
85
Quando se atingiu uma quantidade significativa, todos os resíduos recicláveis foram
destinados à empresa Coca-Cola, de Uberlândia, que ia até ao local para buscá-los,
fechando o ciclo da produção com a Logística Reversa. Esta empresa desenvolve o
programa “Reciclou Ganhou”, iniciado em 1999, incentivando seus participantes com
prêmios, os mais variados, constando de uma lista oferecida pela empresa, que podem ser
livros, computadores, material esportivo e outros. Para se adquirir esses prêmios é
necessário que se tenha um número mínimo de pontos. Os pontos conquistados estão
relacionados com o tipo e a quantidade de cada resíduo.
Figura 27: Separação e acondicionamento dos resíduos secos da EAF-Udi.
Em relação à quantidade de resíduos secos gerados na instituição, inicialmente
foram pesados apenas os que eram depositados nos latões do refeitório. Na tabela 10,
mostrada anteriormente, observa-se que ao longo de 9 semanas de coleta neste local, os
resíduos secos constituíram-se de copos e garrafas PETs, totalizando 106,5 kg, o que
representa uma média de 11,83 Kg por semana. Posteriormente, houve o monitoramento
sistemático, durante uma semana, dos resíduos secos produzidos na Escola, obtendo-se os
dados contidos na Tabela 15.
Capítulo 6 – Resultados e Discussão
86
Tabela 15:
Tipos e quantidade semanal de resíduos secos produzidos na EAF/Udi
Tipo de resíduo seco Massa semanal (em Kg)
Copos 6,1
Latas 4,1
PET 14
Plásticos 6,3
Papelão 61,7
Outros 72
Total 164,2
Fonte: Dados da pesquisa/2007.
Com os dados apresentados na Tabela anterior, deduz-se que, dos resíduos secos
gerados na Instituição, 56% é reciclável, uma vez que o item “Outros” é constituído de
resíduos de banheiro misturados a materiais de escritório, não sendo, pois, reciclável.
Considerando-se todos os resíduos sólidos gerados na Escola, o percentual de resíduo seco
reciclado é de 10%.
Mediante os dados apresentados na Tabela 15, foi possível realizar uma estimativa
da massa de resíduos secos recicláveis gerados na escola por ano, mostrada na Tabela 16.
Tabela 16:
Estimativa da massa
e
volume de resíduo seco reciclável gerado na EAF- Udi
por ano.
Tipo de resíduo seco Massa anual ( em kg)
Copos 292,8
Latas 196,8
PET 672
Plástico 302,4
Papelão 2.961,6
Outros 3.456,0
Fonte: Dados da pesquisa/2007
.
Com relação aos copos descartáveis, tem-se algumas considerações a fazer. Se um
pacote do copo descartável, utilizado na Escola, tem em média 210 gramas e a massa
descartada destes copos/semana é de 6.100 gramas, deduz-se que gastam-se
aproximadamente 29 pacotes deste copo descartável/semana. Pesquisando-se no Setor de
Compras da Instituição, verificou-se que o preço de cada pacote usado é de
aproximadamente R$ 3,00. Sendo assim, de posse destes dados, mostra-se que se a Escola
deixar de usá-los, pode-se economizar aproximadamente R$ 87,00/semana, R$ 348,00/mês
ou ainda R$ 4.176,00/ ano, além de reduzir em 100%, a quantidade deles em função do
Capítulo 6 – Resultados e Discussão
87
encaminhamento à logística reversa, pois, não mais se teria este tipo de material fazendo
parte dos resíduos secos da Escola. O dinheiro gasto com este material poderia ser
destinado a outros setores, como o de biblioteca, esporte e informática. Com o objetivo de
incentivar as pessoas da comunidade a não usarem os copos descartáveis, promoveu-se
uma campanha, colocando-se cartazes em pontos estratégicos da Instituição (Figura 28 ) .
Figura 28: Cartaz motivacional para o uso de copos não descartáveis.
Fazendo-se uma projeção da massa de resíduos secos recicláveis gerada pela
Escola, incluindo os copos descartáveis, pode-se estimar que por ano, este número sobe
para aproximadamente 7,88 toneladas. Com esta pesquisa mostra-se que é possível
encaminhar 4,43 toneladas à logística reversa, reduzindo em 56%, a quantidade desses
resíduos encaminhada ao aterro sanitário local. Tendo como o foco o cumprimento da
Meta do Milênio, pode-se perceber que a Escola Agrotécnica, cumpre-a com sucesso, haja
vista que, antes desta pesquisa, encaminhava-se todos os seus resíduos ao aterro de
Uberlândia e hoje desvia mais da metade dos seus resíduos secos produzidos. Com relação
á quantidade desviada, é imperceptível, comparada a do município, mas altamente
significativa, se o olhar se voltar para dentro da instituição.
Capítulo 7 – Considerações Finais
88
C
C
A
A
P
P
Í
Í
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U
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L
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O
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C
O
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N
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Ç
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E
S
S
F
F
I
I
N
N
A
A
I
I
S
S
Por meio do processo de compostagem e da logística reversa foi possível dar uma
destinação adequada aos resíduos sólidos gerados na EAF-Udi, mostrando uma forma de
utilizá-los, agregando valor e combatendo o desperdício.
Foi nessa perspectiva que se implementou o objetivo principal desta pesquisa, a
Coleta Diferenciada, modelo de gestão descentralizada de resíduos sólidos utilizado na
Escola Agrotécnica Federal de Uberlândia. Pode-se destacar que a resistência a este
modelo foi superada gradativamente pela comunidade, pois, sabe-se o quão normal é
romper com um modelo há anos na Instituição. A Coleta Mista, modelo existente até então,
antes desta pesquisa, foi substituído pela Coleta Diferenciada, com sucesso. Notou-se que,
graças à sensibilização feita ao longo do trabalho, despertou-se nas pessoas, a tomada de
consciência, mostrando que é possível minimizar o lixo produzido pelos resíduos sólidos,
com a sua coleta e destinação adequada, atendendo assim a sétima Meta do Milênio.
Embora a EAF-Udi represente uma comunidade relativamente pequena, a
construção desse modelo requereu esforço e cuidado. Esforço, porque, mesmo sutilmente,
trabalhou-se com a mudança de postura das pessoas. Chamou-as a sair do status- quo -
uma situação de acomodação - para se chegar a uma outra, mais sustentável, sob a ótica
das novas necessidades requeridas pelo mundo atual. Foi preciso cuidado, porque quando
as pessoas se sentem obrigadas a fazer tal coisa, geralmente colocam obstáculos
dificultando o trabalho a ser feito. A execução das etapas constituiu um trabalho silencioso
e contínuo, onde a persistência e a boa vontade foram fundamentais.
O fato de se ter a convicção e acreditar que essa pesquisa contribuiria para uma
mudança no modo de pensar e agir das pessoas deu impulso para que a cada dia, o trabalho
pudesse ser recomeçado, mesmo com as frustrações e dificuldades do dia anterior, que
foram transformadas em estímulos.
Capítulo 7 – Considerações Finais
89
O envolvimento de todos deu-se gradativamente e as mudanças diárias foram quase
imperceptíveis. Um fato importante a ser relatado é que os mais envolvidos e conscientes
de seu papel, incentivavam os outros, chamando-os à responsabilidade. Isso foi percebido
tanto em relação a servidores quanto aos alunos. Observou-se constantemente, um colega
incentivando o outro para que se fizesse adequadamente a Coleta Diferenciada - passo
decisivo para a eficácia da pesquisa.
Quando a escola, por meio de sua equipe diretiva, encampou a idéia do projeto,
inúmeras vezes o chamavam pelo nome da pessoa que o propôs, sem a preocupação de
mencioná-lo como da instituição, fato que, de certa forma, dificultou o bom andamento do
trabalho.
A falta de articulação entre os vários setores foi um dos fatores que prejudicaram o
andamento da pesquisa. Embora fosse notado um esforço por parte de vários servidores
dessa equipe, para a efetividade do projeto, fazendo-se cumprir as tarefas por ela
propostas, muitas vezes não se priorizava a sua execução, talvez pelo fato de elas não
terem sido incorporadas à rotina de cada responsável.
A resistência pela sua incorporação às atividades cotidianas da escola foi notória,
mas vencida silenciosamente. Não se observou no início, um engajamento efetivo dos
coordenadores com seus imediatos, no sentido de cobrar deles e fazer-se cumprir o novo
programa de gestão de resíduos sólidos da EAF-Udi.
Aos poucos percebeu-se que as atividades desenvolvidas diariamente , foram
tornando-se habituais e incorporadas no dia-a-dia da comunidade, em virtude de se ter
procedimentos padrões claros a serem executados sistematicamente.
Importante destacar que a sensibilização, objetivo secundário, foi essencial para o
cumprimento do objetivo principal. Feita por meio de cartazes, colocados em pontos
estratégicos, mostrando o quanto de lixo a Escola havia deixado de levar para o aterro
sanitário, serviram de incentivo para se continuar o trabalho (Figura 26). O fato de se ter
também feito cartazes publicando informações sobre a quantidade de copos descartáveis
que se fazia uso, bem como seus custos semanal, mensal e anual, levaram as pessoas a
repensarem o seu uso.
Capítulo 7 – Considerações Finais
90
Figura 29: Cartaz utilizado para a motivação e continuidade do projeto.
Com relação ao combate do desperdício, preconizado como um dos objetivos deste
trabalho, teve a colaboração da Coordenação Geral de Assistência ao Educando,
responsável direto pela cozinha. Ela elaborou cartazes e fixou-os em ponto estratégico no
refeitório, incentivando o combate ao desperdício. Adotou medidas para punir, com
medidas sócio-educativas, alunos que deixassem uma quantidade substancial, além da
normal, no bandejão. Isso corroborou para que essa meta fosse cumprida.
Com relação à compostagem, embora o período de sua realização tenha sido
chuvoso, as chuvas o atrapalharam os andamentos dos trabalhos, apenas tornou o
processo um pouco mais trabalhoso, pois, houve a necessidade de reviramento das leiras,
com uma maior freqüência, para que o processo continuasse aeróbio. Pode-se afirmar que
essa meta foi cumprida com sucesso, que todos os resíduos putrescíveis gerados no
refeitório e cantinas foram encaminhados para a compostagem, originando um composto
de qualidade.
Com relação ao encaminhamento dos resíduos recicláveis à logística reversa, um
outro objetivo da pesquisa, percebeu-se que os obstáculos para a sua implantação foram
menores, haja vista o incentivo oferecido pela empresa coletora desses resíduos secos
recicláveis, fator que motivou um pouco mais.
Capítulo 7 – Considerações Finais
91
Embora não seja fácil a internalização pela comunidade de suas ações no sentido de
minimizar e reciclar seus resíduos, esta pesquisa mostrou que é possível fazer a
compostagem, reduzindo-se em 100%, a quantidade dos resíduos putrescíveis e em 56%, a
quantidade dos resíduos secos gerados, enviados ao aterro sanitário local.
Somando-se todos os resíduos gerados por semana, tem-se em média 940,95 Kg,
sendo que destes, aproximadamente 92% podem ser aproveitados tanto para a realização
da compostagem, como para serem encaminhados à logística reversa. O que mostra um
desvio altamente expressivo, superando os 50% de redução, propostos na 7ª Meta do
Milênio.
Esta pesquisa levou à comprovação de que a implantação de qualquer modelo de
gestão deve ser aceita e encampada primeiramente pelo dirigente máximo de qualquer
instituição, pois, ele tem autoridade de cobrar de seus colaboradores imediatos a tomada
de atitude para que o modelo possa ser incorporado ao dia-a-dia da comunidade. Sem isso
fica difícil sua continuidade, pois, a necessidade de pessoal para gerir este modelo e
um gestor tem competência de delegar responsabilidades neste caso.
Concluiu-se então que, para a efetiva implantação deste modelo de gestão proposto
na pesquisa, é preciso:
Apoio da Instituição, no sentido de envolver todos os seus setores.
Instituir uma pessoa de cada setor para ficar responsável pela coleta diferenciada.
Cota de responsabilidade e colaboração de cada coordenador.
Nomear um servidor para promover o projeto por meio de marketing interno:
promover uma gestão ambiental eficaz.
Investimento financeiro para adequar o projeto e incentivar a gestão de resíduos
seja com uma campanha de marketing: ou com a compra de equipamentos
necessários à Coleta Diferencida, como a elaboração de cartazes novos e a compra de
lixeiras apropriadas.
Incorporar as atividades desenvolvidas aos cursos ministrados pela Instituição.
Por fim, espera-se que este trabalho sirva de motivação para que outras instituições
possam adotar um modelo de gestão semelhante a este e que cada indivíduo da
Capítulo 7 – Considerações Finais
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comunidade escolar seja uma agente multiplicador e transformador da realidade em que
vivemos.
Referências
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Anexos
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