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A Flama Espírita demonstrou acolher tal apelo, procurando se explicar fazendo um
mea culpa:
Não ignoramos que é impossível agradar a todos. Por isso, não é de hoje que espíritas
e outros manifestam verbalmente descontentamentos e mesmo acusações contra os
colaboradores e assessores do médium Francisco Cândido Xavier. Desde o dia 5 de
janeiro de 1959, quando ele se instalou em Uberaba e foi vinculado à administração da
Comunhão Espírita-Cristã, da qual, mais tarde – ansioso de total descompromisso e
autonomia – , se desligou, estabelecendo-se no Grupo Espírita da Prece, em casa de
sua propriedade, sempre houve, como continua havendo, tais descontentamentos e
mesmo acusações.
De nossa parte, acompanhando, como observadores, as atividades do devotado
logopsicófano, desde sua vinda para essa cidade, podemos afirmar que A Flama
Espírita, porta-voz da Doutrina nesta região, nunca, em momento algum, publicou
qualquer matéria que contivesse desdouro algum, nem sequer crítica, nem mesmo
simples sugestão a qualquer cooperador da Comunhão Espírita-Cristã ou do Grupo
Espírita da Prece, tampouco ao próprio Chico Xavier. Verdade seja dita: ao longo
destes 41 anos de presença dele entre nós, jamais, por motivo algum, sequer
publicamos mesmo os nomes das diversas pessoas malquistas que os descontentes
sempre visavam, como outras ainda visam – ligadas lá tais pessoas às atividades do
abnegado médium, que dele se acercam e que são por ele fraternalmente acolhidas.
Já, por diversas vezes, nos indagaram, com justa razão, muitos leitores nossos, quase
nos censurando e exigindo ‘uma tomada de atitude que contribua para coibirem-se
aquelas falhas’. Indagaram, em resumo: ‘Porque A Flama Espírita, sendo um jornal
tradicionalmente sério e idôneo, intransigente com os erros conscientes e obstinados
cometidos em prejuízo da Doutrina, sempre se mantém omissa, até parecendo conivente
com tais irregularidades verificadas lá no Chico?’ Em nome da verdade, penitenciamo-
nos – sim, mas em parte – de semelhante posicionamento. Porém, desde os tempos da
Comunhão, em todas as oportunidades nas quais se verificavam tais motivos de
descontentamento por parte de terceiros, procurávamos, como ainda procuramos,
adotar toda a prudência e tolerância, acreditando – como tantos mais – que as coisas
se harmonizassem, senão por si mesmas, por providências de determinados
freqüentadores íntimos do médium, portanto sem uma talvez indevida interferência
nossa. Porque afinal essa prudência e tolerância de nossa parte? Em primeiro lugar,
para evitarmos a propagação prejudicial de certos fatos desabonadores ou mesmo
equívocos, seja entre a comunidade espírita, seja pior ainda – entre os adversários do
Espiritismo; em segundo lugar, talvez principalmente, para não aborrecermos,
ofendermos mesmo, o próprio Chico Xavier, parecendo queremos tomar as dores de
quem prefere suportá-las em silêncio e resignação, passivelmente, sem reagir nem
corrigir.
(...) Quando pois os casos ganham as páginas dos jornais , já nenhum segredo
consegue manter-se por mais tempo e já não é possível ignorá-los ou ficar indiferente;
é pretender ‘tapar o Sol com peneira’; é tentar fazer crer que está tudo bem, tudo certo,
iludindo, assim, não por muito tempo, a Opinião Pública (...).Só nos resta, então
lamentar profundamente a longa série de ocorrências que, aliás, bem poderiam se
evitadas, ainda no seu antigo começo, pelo próprio Chico, se ele diferente fosse, ou
pelas idôneas e influentes que se gratificam de freqüentar a casa dele, privando de sua
intimidade e confiança.
Por fim, mais uma vez lamentamos profundamente os denunciados graves e reiterados
fatos abusivos a ensombrecerem de tristeza a alma boníssima do venerável irmão de
todos nós, em honra de quem nos resta bradar a quantos possa concernir nosso apelo:
Deixemos Chico Xavier descansar em paz, a desfrutar, com gratidão, o respeito e a
dignidade devidos, o justo e merecido recesso no crepúsculos de sua existência
missionária!