Download PDF
ads:
CÉSAR IMAI
A UTILIZAÇÃO DE MODELOS TRIDIMENSIONAIS FÍSICOS
EM PROJETOS DE HABITAÇÃO SOCIAL: O PROJETO
CASA FÁCIL.
Tese apresentada à Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade de São Paulo como requisito
necessário para obtenção do título de Doutor.
Área de Concentração: Tecnologia da Arquitetura
Orientadora: Profª. Dr.ª Sheila Walbe Ornstein
SÃO PAULO
2007
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
I
DEDICATÓRIA
À Márcia
Companheira incansável e batalhadora, sem a qual este trabalho
não teria sido concretizado.
ads:
II
AGRADECIMENTOS
À minha orientadora, Sheila Walbe Ornstein, que além do constante apoio e dedicação,
dados de uma forma generosa durante este trabalho, também representa para mim um
modelo referencial de conduta como professora e pesquisadora.
Aos meus colegas, professores do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade Estadual de Maringá, pelo apoio durante meu afastamento para esta pesquisa.
À Universidade Estadual de Maringá pelo meu afastamento durante os dois últimos anos do
desenvolvimento da pesquisa.
À CAPES pela bolsa concedida.
À arquiteta Lílian Lumi Nimi e ao Prof. Mauricio Hidemi Azuma pelo auxílio no levantamento
de campo realizado nos finais de semana, muitas vezes em detrimento ao tempo necessário
para seu descanso e encontro com a família.
À Profª Gleice Azambuja Elali pelas sugestões na bibliografia e no texto deste trabalho.
Ao Prof. Renato Leão Rego pelo apoio e pelas sugestões no texto deste trabalho.
Ao Prof. Paulo Julio Valentino Bruna pelo material bibliográfico emprestado.
À Profª Marta Marcondes e ao Prof. César Ballarotti pelas sugestões bibliográficas.
Aos arquitetos Marcelo Palhares Santiago, Gabriel Velloso da Rocha Pereira, Matheus
Marques Ferreira de Melo, Luís Felipe de Farias e Natália Batista Botelho por terem
disponibilizado material ainda não publicado.
Ao Prof. José Roberto Hoffmann por ter permitido e apoiado a execução desta pesquisa
junto ao Projeto Casa Fácil da Universidade Estadual de Londrina.
III
LISTAS DE FIGURAS
Figura 1 – Croqui do autor do projeto dos edifícios Pruitt Igoe com a visão de como seria
utilizado o corredor comunal do 3
o
. andar e a foto do corredor em uso e o vandalismo
decorrente. .....................................................................................................................44
Figura 2 – Croqui de concepção do autor em 1971 e foto do local em 2003........................ 46
Figura 3 – Croqui de concepção com vista a partir do edifício “BykerWall”.......................... 46
Figura 4 – Croquis de concepção da época do projeto e a situação posterior...................... 47
Figura 5 – Estudo de alternativas de fachadas de habitações sociais.................................. 88
Figura 6 – Dimensões do mobiliário a ser empregado no estudo de caso - cozinha / área de
serviço (centímetros).................................................................................................... 108
Figura 7 – Dimensões do mobiliário a ser empregado no estudo de caso - sala (centímetros).
...................................................................................................................................... 109
Figura 8 – Dimensões do mobiliário a ser empregado no estudo de caso - dormitórios
(centímetros). ............................................................................................................... 110
Figura 9 – Estudo iniciais dos modelos tridimensionais e os respectivos esquemas de
distribuição do mobiliário.............................................................................................. 117
Figura 10 – Exemplos de modificações a partir de um projeto base................................... 124
Figura 11 – Matriz de referência para os modelos tridimensionais com três dormitórios A.125
Figura 12 – Matriz de referência para os modelos tridimensionais com três dormitórios B.125
Figura 13 – Matriz de referência para os modelos tridimensionais com dois dormitórios A.126
Figura 14 – Matriz de referência para os modelos tridimensionais com três dormitórios B.126
Figura 15 – Matriz de referência para os modelos tridimensionais de edículas e habitações
geminadas.................................................................................................................... 127
Figura 16 – Esquema da APO............................................................................................. 142
Figura 17 – Mapa de Londrina com a localização dos bairros que possuem habitações da
pesquisa....................................................................................................................... 152
Figura 18 – Implantação das habitações pesquisadas e o corte esquemático do terreno A.
...................................................................................................................................... 187
Figura 19 – Implantação das habitações pesquisadas e o corte esquemático do terreno B.
...................................................................................................................................... 188
Figura 20 – Implantação das habitações pesquisadas e o corte esquemático do terreno C.
...................................................................................................................................... 189
Figura 21 – Implantação das habitações pesquisadas e o corte esquemático do terreno D.
...................................................................................................................................... 190
IV
Figura 22 – Mapa de Londrina com a localização das habitações do universo de pesquisa –
região 1......................................................................................................................... 298
Figura 23 – Mapa de Londrina com a localização das habitações do universo de pesquisa –
região 2......................................................................................................................... 299
Figura 24 – Mapa de Londrina com a localização das habitações do universo de pesquisa –
região 3......................................................................................................................... 300
Figura 25 – Mapa de Londrina com a localização das habitações do universo de pesquisa –
região 4......................................................................................................................... 301
Figura 26 – Mapa de Londrina com a localização das habitações do universo de pesquisa –
região 5......................................................................................................................... 302
Figura 27 – Mapa de Londrina com a localização das habitações do universo de pesquisa –
região 6......................................................................................................................... 303
Figura 28 – Mapa de Londrina com a localização das habitações do universo de pesquisa –
região 7......................................................................................................................... 304
Figura 29 – Mapa de Londrina com a localização das habitações do universo de pesquisa –
região 8......................................................................................................................... 305
Figura 30 – Mapa de Londrina com a localização das habitações do universo de pesquisa –
região 9......................................................................................................................... 306
Figura 31 – Mapa de Londrina com a localização das habitações do universo de pesquisa –
região 10....................................................................................................................... 307
LISTA DE FOTOS
Foto 1 – Vistas da face sul do edifício “BykerWall”. .............................................................. 47
Foto 2 – O edifício La Mé, o modelo tridimensional empregado por Kroll e o modelo
original empregado no sistema SAR.............................................................................. 50
Foto 3 – Ilustração do modelo da casa primitiva de Laugier e o modelo de Tatlin à Terceira
Internacional...................................................................................................................63
Foto 4 – Maquete de fios pendurados da Igreja Guel e desenho baseado na fotografia da
maquete.......................................................................................................................... 66
Foto 5 – Exemplo de maquete humana para estudo estrutural da Ponte Forth Bridge. ....... 66
Foto 6 – Exemplos de modelos de referência para os artesões executarem as pinturas e
edifícios: o retrato da realeza egípcia e o papiro reproduzindo a elevação da tumba de
Ramsés IV...................................................................................................................... 69
V
Foto 7 – Exemplos de maquetes de casas e de um açougue encontradas em tumbas do
antigo Egito..................................................................................................................... 70
Foto 8 – Pirâmide de Zoser................................................................................................... 70
Foto 9 – Exemplos de modelos da Grécia Antiga – placa de cerâmica do palácio de Cnosos;
pequena casa e replica de templo.................................................................................. 71
Foto 10 – Exemplos de modelos Romanos – maquete de um pequeno templo e de um
pórtico............................................................................................................................. 73
Foto 11 – Exemplo de modelos da Renascença – Catedral de Santa Maria del Fiori.......... 74
Foto 12 – Desenvolvimento do projeto do Museu Guggenheim desde os croquis iniciais,
passando pela modelagem física tridimensional, o escaneamento dos modelos e a obra
final................................................................................................................................. 77
Foto 13 – Modelos originais de Le Corbusier – capela de Ronchamp e o edifício
Rentenanstalt. ................................................................................................................ 78
Foto 14 – Modelos reproduzindo projetos de Le Corbusier – capela de Ronchamp, a
unidade de Habitação de Marselha e Palácio de Chandigarh. ...................................... 78
Foto 15 – Modelos reproduzindo projetos de habitação de diversos autores – Alvar Aalto; .Le
Corbusier; Louis Kahn; Frank Loyd Wright; Ernst May e Adolf Loos. ............................ 79
Foto 16 – Estudo da variação de mobiliário e dos planos de parede, piso e cobertura........ 80
Foto 17 – Estudo da variação de mobiliário e dos planos de parede, piso e cobertura 2..... 81
Foto 18 – Organização das peças que compuseram os ambientes e a montagem da
simulação. ......................................................................................................................81
Foto 19 – Modelos diversos apresentados na Bienal de Arquitetura de São Paulo - 2005. . 82
Foto 20 – Modelos diversos apresentados na Bienal de Arquitetura de São Paulo - 2005. . 83
Foto 21 – Exemplo de utilização de modelos físicos na elaboração do projeto de habitações
sociais............................................................................................................................. 85
Foto 22 – Exemplo de utilização de modelos físicos na elaboração de projetos de uma
habitação e de um ambiente interno.............................................................................. 87
Foto 23 – Exemplo de utilização de modelos físicos na elaboração do projeto de habitações
sociais............................................................................................................................. 88
Foto 24 – Execução das habitações por meio de sistemas pré-fabricados. ......................... 88
Foto 25 – Dinâmica com os usuários para definição da ocupação do terreno...................... 90
Foto 26 – Dinâmica com os usuários para distribuição espacial interna da unidade
habitacional. ...................................................................................................................90
Foto 27 – Discussão do projeto com os moradores, simulação do ambiente em um canteiro
de obras e o modelo tridimensional final........................................................................ 90
Foto 28 – Primeiro modelo de móveis elaborados.............................................................. 118
VI
Fotos 29 – Primeiros estudos para o sistema móvel do modelo......................................... 119
Fotos 30 – Modelo em escala reduzida para estudo do sistema móvel.............................. 120
Foto 31 – Sistema de esquadrias móveis sobrepostas às paredes.................................... 121
Foto 32 – Modelo em escala reduzida para estudo do sistema móvel da cobertura. ......... 122
Foto 33 – Modelos dos móveis e equipamentos com as áreas de uso para a cozinha,
banheiro e área de serviço........................................................................................... 127
Foto 34 – Modelos dos móveis e dos equipamentos com as áreas de uso para a sala e
dormitórios.................................................................................................................... 128
Foto 35 – Modelos tridimensionais do sistema de cobertura retrátil e suas variações. ...... 129
Foto 36 – Base de montagem dos modelos com a matriz de referência de projetos.......... 130
Foto 37 – Base de montagem dos modelos com a matriz de referência de projetos.......... 130
Foto 38 – Exemplo do sistema de cobertura em diferentes níveis...................................... 131
Foto 39 – Exemplo de simulação das fundações da construção. ....................................... 132
Foto 40 – Exemplo de ocupação do ambiente da cozinha.................................................. 132
Foto 41 – Exemplo de ocupação do ambiente da sala........................................................ 133
Foto 42 – Exemplo de ocupação do ambiente de dormitório.............................................. 133
Foto 43 – Exemplo de um modelo tridimensional finalizado com seus ambientes internos.134
Foto 44 – Exemplo de um modelo tridimensional finalizado com cobertura. ...................... 134
Fotos 45 – Exemplos de terrenos e construções das habitações pesquisadas.................. 158
Foto 46 – Habitações que indicam a intenção / previsão de execução de acabamentos e
melhorias...................................................................................................................... 194
Foto 47 – Habitações com melhor nível de acabamento e uso de materiais...................... 195
Foto 48 – Trecho do processo de projeto da habitação do Grupo de Pesquisa 11 ............ 209
Foto 49 – Trecho do processo de projeto da habitação do Grupo de Pesquisa 13 ............ 212
Foto 50 – Exemplos de desenvolvimento do projeto e da percepção espacial do usuário 1.
...................................................................................................................................... 239
Foto 51 – Exemplos de desenvolvimento do projeto e da percepção espacial do usuário 2.
...................................................................................................................................... 239
Foto 52 – Exemplos de desenvolvimento do projeto a partir dos desenhos dos usuários 1.
...................................................................................................................................... 241
Foto 53 – Exemplos de desenvolvimento do projeto a partir dos desenhos dos usuários 2.
...................................................................................................................................... 242
Foto 54 – Exemplo de desenvolvimento do projeto a partir dos desenhos dos usuários 3. 243
Foto 55 – Exemplo de desenvolvimento do projeto a partir dos desenhos dos usuários 5. 244
Foto 56 – Exemplos de desenvolvimento do projeto e os aspectos estéticos. ................... 246
VII
Foto 57 – Exemplos de projetos com a execução de aberturas entre a sala e a copa e/ou
cozinha 1...................................................................................................................... 248
Foto 58 – Exemplos de projetos com a execução de aberturas entre a sala e a copa e/ou
cozinha 2...................................................................................................................... 249
Foto 59 – Exemplo de projeto sem a execução de aberturas entre a sala e a copa e/ou
cozinha......................................................................................................................... 250
Foto 60 – Exemplos de habitações executadas com aberturas entre a sala e a copa e/ou
cozinha......................................................................................................................... 250
Foto 61 – Exemplo de projetos sem aberturas para garantir privacidade 1........................ 251
Foto 62 – Exemplos de projetos sem aberturas para garantir privacidade 2...................... 252
Foto 63 – Exemplos de projetos com aberturas para controle visual.................................. 253
Foto 64 – Exemplo de projeto com abertura por motivos estéticos..................................... 253
Foto 65 – Exemplo de desenvolvimento de projetos e os aspectos de decisão projetual. . 256
Foto 66 – Exemplo de desenvolvimento de projetos e a influência do projetista 1............. 258
Foto 67 – Exemplo de desenvolvimento de projetos e a influência do projetista 2............. 259
Foto 68 – Exemplos de desenvolvimento de projetos e a definição da tipologia da cobertura
1.................................................................................................................................... 260
Foto 69 – Exemplos de desenvolvimento de projetos e a definição da tipologia da cobertura
2.................................................................................................................................... 261
Foto 70 – Exemplos de desenvolvimento de projetos e a definição da tipologia da cobertura
3.................................................................................................................................... 262
Foto 71 – Exemplos de desenvolvimento do projeto e os aspectos de orientação espacial.
...................................................................................................................................... 264
Foto 72 – Exemplo de desenvolvimento do projeto e a execução em etapas. ................... 265
Foto 73 – Exemplos de desenvolvimento de projetos e o aspecto provisório da moradia.. 266
Foto 74 – Exemplos de desenvolvimento de projetos e a previsão do mobiliário............... 267
Foto 75 – Desenhos dos usuários e o projeto definido no modelo tridimensional 1. .......... 323
Foto 76 – Desenhos dos usuários e o projeto definido no modelo tridimensional 2. .......... 324
Foto 77 – Desenhos dos usuários e o projeto definido no modelo tridimensional 3. .......... 325
Foto 78 – Desenhos dos usuários e o projeto definido no modelo tridimensional 4. .......... 326
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 – Cidade de origem.............................................................................................. 168
Gráfico 2 – Moradia anterior.................................................................................................168
VIII
Gráfico 3 – Cidade de origem.............................................................................................. 168
Gráfico 4 – Moradia anterior.................................................................................................168
Gráfico 5 – Tipo de atividade............................................................................................... 169
Gráfico 6 – Idade dos moradores (anos)............................................................................. 169
Gráfico 7 – Escolaridade dos moradores com mais de 18 anos......................................... 170
Gráfico 8 – Tipo de aquisição do terreno..............................................................................171
Gráfico 9 – Recursos para aquisição do terreno................................................................. 171
Gráfico 10 – Origem dos recursos........................................................................................172
Gráfico 11 – Sistema construtivo......................................................................................... 172
Gráfico 12 – Ocupação do lote.............................................................................................172
Gráfico 13 – Moradia anterior...............................................................................................172
Gráfico 14 – Diagrama de Paretto sobre a média das avaliações da edificação................ 174
Gráfico 15 – Diagrama de Paretto sobre a média das avaliações dos serviços públicos e
infra-estrutura............................................................................................................... 176
Gráfico 16 – Tipo de piso......................................................................................................177
Gráfico 17 – Patologias do pisos......................................................................................... 177
Gráfico 18 – Patologias das paredes................................................................................... 178
Gráfico 19 – Tipos de revestimentos internos......................................................................178
Gráfico 20 – Patologias dos revestimentos internos ........................................................... 178
Gráfico 21 – Tipos de revest. externos.................................................................................178
Gráfico 22 – Patologias dos revest. externos...................................................................... 179
Gráfico 23 – Tipos de Cobertura..........................................................................................179
Gráfico 24 – Patologias das coberturas............................................................................... 180
Gráfico 25 – Patologias nas estruturas................................................................................ 181
Gráfico 26 – Patologias das esquadrias.................................................................................181
Gráfico 27 – Sistemas de abertura.......................................................................................182
Gráfico 28 – Características das áreas livres do terreno (respostas múltiplas) .................. 183
Gráfico 29 – Patologias das instalações elétricas............................................................... 184
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Habitação do Grupo de Pesquisa 1.................................................................. 197
Quadro 2 – Habitação do Grupo de Pesquisa 2.................................................................. 198
Quadro 3 – Habitação do Grupo de Pesquisa 3.................................................................. 199
Quadro 4 – Habitação do Grupo de Pesquisa 4.................................................................. 200
IX
Quadro 5 – Habitação do Grupo de Pesquisa 5.................................................................. 201
Quadro 6 – Habitação do Grupo de Pesquisa 6.................................................................. 202
Quadro 7 – Habitação do Grupo de Pesquisa 7.................................................................. 203
Quadro 8 – Habitação do Grupo de Pesquisa 8.................................................................. 204
Quadro 9 – Habitação do Grupo de Pesquisa 9.................................................................. 205
Quadro 10 – Habitação do Grupo de Pesquisa 10.............................................................. 206
Quadro 11 – Habitação do Grupo de Pesquisa 11.............................................................. 207
Quadro 12 – Habitação do Grupo de Pesquisa 12.............................................................. 210
Quadro 13 – Habitação do Grupo de Pesquisa 13.............................................................. 211
Quadro 14 – Habitação do Grupo de Pesquisa 14.............................................................. 213
Quadro 15 – Habitação do Grupo de Pesquisa 15.............................................................. 214
Quadro 16 – Habitação do Grupo de Controle 1................................................................. 215
Quadro 17 – Habitação do Grupo de Controle 2................................................................. 216
Quadro 18 – Habitação do Grupo de Controle 3................................................................. 217
Quadro 19 – Habitação do Grupo de Controle 4................................................................. 218
Quadro 20 – Habitação do Grupo de Controle 5................................................................. 219
Quadro 21 – Habitação do Grupo de Controle 6................................................................. 220
Quadro 22 – Habitação do Grupo de Controle 7................................................................. 221
Quadro 23 – Habitação do Grupo de Controle 8................................................................. 222
Quadro 24 – Habitação do Grupo de Controle 9................................................................. 223
Quadro 25 – Habitação do Grupo de Controle 10............................................................... 224
Quadro 26 – Habitação do Grupo de Controle 11............................................................... 225
Quadro 27 – Habitação do Grupo de Controle 12............................................................... 226
Quadro 28 – Habitação do Grupo de Controle 13............................................................... 227
Quadro 29 – Habitação do Grupo de Controle 14............................................................... 228
Quadro 30 – Habitação do Grupo de Controle 15............................................................... 229
Quadro 31 – Depoimentos dos usuários do Grupo de Pesquisa sobre a compreensão de
uma planta baixa.......................................................................................................... 233
Quadro 32 – Depoimentos dos usuários do Grupo de Controle sobre a compreensão de uma
planta baixa.................................................................................................................. 233
Quadro 33 – Exemplos de desenvolvimento do projeto e da percepção espacial do usuário.
...................................................................................................................................... 240
X
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Dimensionamento dos móveis e equipamentos da cozinha e área de serviço 1
(centímetros) .................................................................................................................. 96
Tabela 2 – Dimensionamento dos móveis e equipamentos da cozinha e área de serviço 2
(centímetros) .................................................................................................................. 96
Tabela 3 – Dimensionamento dos móveis e equipamentos da sala (centímetros)............... 98
Tabela 4 – Dimensionamento dos móveis e equipamentos dos dormitórios 1 (centímetros).
........................................................................................................................................ 99
Tabela 5 – Dimensionamento dos móveis e equipamentos dos dormitórios 2 (centímetros)99
Tabela 6 – Medidas encontradas e recomendações de dimensionamento de mesas
(centímetros). ............................................................................................................... 102
Tabela 7 – Medidas encontradas e recomendações de dimensionamento dos móveis e dos
equipamentos da cozinha (centímetros). ..................................................................... 103
Tabela 8 – Medidas encontradas e recomendações de dimensionamento de equipamentos
da área de serviço (centímetros).................................................................................. 104
Tabela 9 – Medidas encontradas e recomendações de dimensionamento dos móveis da sala
(centímetros). ............................................................................................................... 105
Tabela 10 – Medidas encontradas e recomendações de dimensionamento dos móveis dos
dormitórios 1 (centímetros)........................................................................................... 106
Tabela 11 – Medidas encontradas e recomendações de dimensionamento dos móveis dos
dormitórios 2 (centímetros)........................................................................................... 107
Tabela 12 – Medidas encontradas e recomendações de dimensionamento dos
equipamentos dos banheiros (centímetros)................................................................. 108
Tabela 13 – Áreas de uso para mesas (centímetros).......................................................... 112
Tabela 14 – Áreas de uso para móveis e equipamentos da cozinha (centímetros)............ 113
Tabela 15 – Áreas de uso para equipamentos da área de serviço e banheiro (centímetros).
...................................................................................................................................... 114
Tabela 16 – Áreas de uso para móveis da sala (centímetros)............................................ 114
Tabela 17 – Áreas de uso para móveis dos dormitórios 1 (centímetros)............................ 115
Tabela 18 – Áreas de uso para móveis dos dormitórios 2 (centímetros)............................ 116
Tabela 19 – Classificação das residências conforme o tipo de projeto............................... 153
Tabela 20 Distribuição da amostra conforme tipologia dos projetos.................................. 155
Tabela 21 Distribuição da amostra dentro da área de pesquisa........................................ 155
Tabela 22 – Avaliação dos entrevistados sobre a edificação.............................................. 173
Tabela 23 – Comparação da média, desvio padrão e moda............................................... 174
XI
Tabela 24 - Avaliação dos entrevistados sobre a serviços públicos e infra-estrutura......... 175
Tabela 25 - Comparação da média, desvio padrão e moda................................................ 176
Tabela 26– Área útil total recomendada para a habitação em m
2
por manuais técnicos e por
normas (dormitórios, salas, cozinha, banheiro e área de serviço)............................... 192
Tabela 27 – Relação das áreas e quantidade de pessoas levantadas no grupo de pesquisa.
...................................................................................................................................... 192
Tabela 28 – Relação das áreas e quantidade de pessoas levantadas no grupo de controle.
...................................................................................................................................... 192
XII
RESUMO
O presente trabalho busca estudar a questão da habitação social por meio
de um estudo de caso que tem como principal característica a participação dos futuros
moradores no processo de produção de suas residências. Para tanto, buscou-se estudar
esta sistemática por meio de avaliações no decorrer de seu processo produtivo. Os projetos
das habitações foram desenvolvidos a partir de modelos tridimensionais físicos e de
desenhos gráficos bidimensionais, com o objetivo de estudar as eventuais diferenças entre
os dois processos de comunicação entre o projetista e o usuário. Os modelos
tridimensionais utilizados buscaram ser um instrumento que fornecesse parâmetros
referenciais de dimensionamento e de soluções formais e construtivas. Os projetos
desenvolvidos foram avaliados dos pontos de vista do projetista e dos seus futuros
moradores (Avaliação Pré-Projeto), sendo realizada também uma Avaliação Pós-Ocupação.
Nesta se procurou observar de que forma acontece a apropriação desses ambientes pelos
seus usuários, levantando-se as suas eventuais deficiências ou qualidades, tivessem elas
origem no projeto ou no processo construtivo. As bases teóricas da pesquisa abordaram
questões relativas à percepção espacial e, em específico, as questões relativas à
compreensão do espaço representado a partir dos modelos gráficos e icônicos utilizados
comumente na Arquitetura. Foram também estudadas questões relativas à forma de
produção da habitação e, em específico, da habitação social produzida com a participação,
em diferentes níveis, de seus futuros moradores no processo. Os resultados da pesquisa
demonstram que as duas abordagens projetuais possuem resultados similares em alguns
aspectos e opostos em outros. Dentro dos resultados obtidos é possível considerar que os
modelos tridimensionais podem contribuir em diversas questões na elaboração dos projetos
habitacionais e no processo produtivo das habitações.
Palavras chave: Avaliação Pós-Ocupação; Avaliação Pré-Projeto;
Habitação Social; Modelos Arquitetônicos; Simulação Tridimensional.
XIII
ABSTRACT
The purpose of this research is to study the Social Housing issue by means
of a case study whose main characteristic is the participation of prospective dwellers in the
production process of their residences. This process was studied by means of evaluations
carried out during the production process. The housing designs were developed based on
physical Architectural Models and graphical drawings, with the purpose of studying possible
differences between both communication processes with the designer and the user. The
three-dimensional models used intended to be tool that could provide reference parameters
of dimension as well as of formal and constructive solutions. The design developed were
evaluated based on the architect and the prospective dwellers’ point of view (Pre-Design
Research). A Post-Occupation Evaluation was also carried out observing how the
appropriation of these places by the users occur, carrying out a survey of their deficiencies or
qualities, having their origin in the design or in the construction process. The theoretical
bases of the research dealt with questions related to space perception and, more specifically,
to the understanding of the space represented from graphical and iconic models usually used
in Architecture. In addition, questions related to the form of housing production, and more
specifically, the social housing produced with the participation, in different levels, of their
prospective dwellers in the process, were also studied. The results of the research show that
both design processes are similar in some aspects and different in others. Within the results
obtained it is possible to consider that the three-dimensional models can contribute to
several issues in the elaboration of housing designs and in the production process of the
housing.
Key words: Post-Occupancy Evaluation; Pre-Design Research; Social
Housing; Architectural Models; Three-dimensional Simulation.
XIV
SUMÁRIO
DEDICATÓRIA......................................................................................................................... I
AGRADECIMENTOS.............................................................................................................. II
LISTAS DE FIGURAS............................................................................................................ III
LISTA DE FOTOS..................................................................................................................IV
LISTA DE GRÁFICOS ..........................................................................................................VII
LISTA DE QUADROS..........................................................................................................VIII
LISTA DE TABELAS ..............................................................................................................X
RESUMO...............................................................................................................................XII
ABSTRACT..........................................................................................................................XIII
SUMÁRIO.............................................................................................................................XIV
1 INTRODUÇÃO............................................................................................................... 1
1.1 TEMA ............................................................................................................................................ 1
1.2 OBJETO........................................................................................................................................ 2
1.2.1 PROJETO CASA FÁCIL.......................................................................................................... 2
1.3 HIPÓTESE.................................................................................................................................... 4
1.4 JUSTIFICATIVA DA PESQUISA................................................................................................... 4
1.5 OBJETIVOS.................................................................................................................................. 6
1.6 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS..................................................................................... 7
1.7 DESCRIÇÃO DOS CAPÍTULOS................................................................................................... 8
2 A CONSTRUÇÃO DA PERCEPÇÃO ESPACIAL E A REPRESENTAÇÃO DO
AMBIENTE CONSTRUÍDO................................................................................................... 10
2.1 ALGUNS PRESSUPOSTOS TEÓRICOS................................................................................... 12
2.2 A FUNÇÃO COGNITIVA............................................................................................................. 16
2.3 A REPRESENTAÇÃO COMO INFORMAÇÃO ........................................................................... 21
2.4 O ATO DE APRENDER E DE COMPREENDER........................................................................ 26
3 A HABITAÇÃO E A CRIAÇÃO DO ESPAÇO DA MORADIA..................................... 34
3.1 A AUTOCONSTRUÇÃO ............................................................................................................. 34
3.2 O PROCESSO PARTICIPATIVO................................................................................................ 39
3.2.1 O PODER DE DECISÃO ....................................................................................................... 39
3.2.2 O PROJETO PARTICIPATIVO.............................................................................................. 42
3.3 A INDIVIDUALIZAÇÃO DO HABITAR......................................................................................... 55
4 MODELOS TRIDIMENSIONAIS FÍSICOS................................................................... 62
4.1 AS ORIGENS DO MODELO FÍSICO E SEU USO NA ARQUITETURA...................................... 67
4.2 A IDEALIZAÇÃO E ANTECIPAÇÃO DO ESPAÇO CONSTRUÍDO............................................ 75
4.3 A COMUNICAÇÃO ENTRE O PROJETISTA E O USUÁRIO...................................................... 83
5 A CONSTRUÇÃO DO MODELO TRIDIMENSIONAL................................................. 92
XV
5.1 DIMENSIONAMENTOS DO MOBILIÁRIO.................................................................................. 93
5.1.1 DIMENSIONAMENTO DO MOBILIÁRIO EXISTENTE EM HIS............................................ 94
5.1.2 RECOMENDAÇÕES DIMENSIONAIS E O MERCADO MOBILIÁRIO............................... 100
5.1.3 DIMENSÕES DE MOBILIÁRIO ADOTADAS ...................................................................... 108
5.2 DIMENSIONAMENTO DAS ÁREAS DE USO........................................................................... 111
5.3 ESTUDOS DO MODELO FÍSICO ............................................................................................. 116
5.3.1 ESTUDOS INICIAIS............................................................................................................. 116
5.3.2 DESENVOLVIMENTO DO SISTEMA MÓVEL.................................................................... 119
5.4 TIPOLOGIAS FUNCIONAIS NO PROJETO CASA FÁCIL ....................................................... 122
5.4.1 CLASSIFICAÇÃO DOS PROJETOS POR ANALOGIA COM OS MODELOS.................... 123
5.5 ELABORAÇÃO DO MODELO................................................................................................... 127
6 O PROCESSO DE PRODUÇÃO DA HABITAÇÃO: DA AVALIAÇÃO PRÉ-PROJETO
(APP) À AVALIAÇÃO PÓS-OCUPAÇÃO (APO)............................................................... 137
6.1 CONCEITOS NAS PESQUISAS EM APO................................................................................ 137
6.2 A RETROALIMENTAÇÃO DO PROCESSO PROJETUAL....................................................... 145
6.3 CRITÉRIOS PARA A CLASSIFICAÇÃO DOS PROJETOS...................................................... 149
6.4 DEFINIÇÃO DA AMOSTRA...................................................................................................... 154
6.5 INSTRUMENTOS DE PESQUISA ............................................................................................ 156
6.5.1 DESENVOLVIMENTO DO PROJETO ................................................................................ 156
6.5.2 LEVANTAMENTOS PRÉVIOS DOS LOCAIS DAS HABITAÇÕES.................................... 157
6.5.3 AVALIAÇÃO APÓS A EXECUÇÃO..................................................................................... 159
6.6 APLICAÇÃO E ANÁLISE DO PRÉ-TESTE............................................................................... 163
6.6.1 ALTERAÇÕES NOS INSTRUMENTOS DE PESQUISA .................................................... 164
6.7 TABULAÇÃO DOS DADOS OBTIDOS NA AVALIAÇÃO PÓS-OCUPAÇÃO ........................... 167
6.7.1 CARACTERÍSTICAS DOS MORADORES.......................................................................... 167
6.7.2 CARACTERÍSTICAS DO LOTE E DA CONSTRUÇÃO...................................................... 170
6.7.3 AVALIAÇÃO DA HABITAÇÃO............................................................................................. 173
6.7.4 AVALIAÇÃO DA INFRA-ESTRUTURA E DOS SERVIÇOS URBANOS............................. 175
6.7.5 DESCRIÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS TÉCNICO–CONSTRUTIVAS............................. 176
6.8 CARACTERÍSTICAS DAS HABITAÇÕES DO PROJETO CASA FÁCIL.................................. 185
7 ANÁLISES E DIAGNÓSTICOS................................................................................. 196
7.1 A HABITAÇÃO E O PROJETO: AS ESCOLHAS E OS DESEJOS. .......................................... 196
7.2 O PROCESSO DE PROJETO E A PERCEPÇÃO DOS USUÁRIOS........................................ 238
7.2.1 O ESBOÇO PRÉVIO DOS USUÁRIOS E A COMPREENSÃO COM O MODELO
TRIDIMENSIONAL.............................................................................................................................. 238
7.2.2 OS ASPECTOS ESTÉTICOS DA MORADIA...................................................................... 245
7.2.3 O CONTROLE ESPACIAL E A PRIVACIDADE COMO INDUTORES DO PROJETO....... 251
7.2.4 O PROCESSO DECISÓRIO NA DEFINIÇÃO DO PROJETO ............................................ 254
7.2.5 A COBERTURA DA EDIFICAÇÃO E OS ASPECTOS SOCIAIS DA HABITAÇÃO............ 259
XVI
7.2.6 A PERCEPÇÃO ESPACIAL E O PLANEJAMENTO DA HABITAÇÃO............................... 263
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................... 268
9 BIBLIOGRAFIA ......................................................................................................... 280
10 ANEXOS .................................................................................................................... 297
10.1 MAPAS DAS REGIÕES PESQUISADAS ................................................................................. 297
10.2 MODELO DE FORMULÁRIO DE QUESTIONÁRIO/ENTREVISTA.......................................... 308
10.3 MODELO DE FORMULÁRIO DE LEVANTAMENTO TÉCNICO CONSTRUTIVO ................... 311
10.4 EXEMPLO DA TRANSCRIÇÃO EM VÍDEO (SIMULAÇÃO DOS PROJETOS)........................ 313
10.5 EXEMPLOS DE DESENHOS DOS USUÁRIOS E O MODELO TRIDIMENSIONAL................ 323
1
1 INTRODUÇÃO
1.1 TEMA
O presente trabalho busca estudar a questão da habitação social por meio
de um estudo de caso que tem como principal característica a participação dos futuros
moradores no processo de produção de suas residências.
Esse processo possui as características da autoconstrução, com o
diferencial que esses autoconstrutores recebem os projetos e o assessoramento técnico
para a execução da obra, bem como têm sua situação regularizada perante os órgãos
públicos.
Os diversos processos de produção das habitações sociais, no país como
um todo, representam uma dinâmica e uma diversidade de situações que podem incluir ou
não a presença do poder público. A execução das habitações da pesquisa pelos seus
próprios usuários, com maior ou menor domínio técnico, conjuntamente com o fornecimento
dos projetos e acompanhamento profissional, representa um modelo pouco utilizado. Uma
das diferenças entre esse modelo e a autoconstrução convencional e a produção estatal é a
necessidade de que o processo de comunicação entre o morador e o profissional técnico
aconteça de forma direta.
O trabalho proposto teve a intenção de estudar essa sistemática por meio
de avaliações no decorrer de seu processo produtivo. Os projetos foram desenvolvidos a
partir de modelos tridimensionais físicos, de forma a ser possível avaliá-los dos pontos de
vista do projetista e dos seus futuros moradores (Avaliação Pré-Projeto). Foi realizada
também uma Avaliação Pós-Ocupação que procurou observar de que forma aconteceu a
apropriação desses ambientes pelos seus usuários, levantando as suas eventuais
deficiências ou qualidades, tivessem elas origem no projeto ou no processo construtivo.
A Avaliação Pré-Projeto (APP) apresenta algumas características que a
torna próxima aos estudos de viabilidade técnica ou de programação arquitetônica, pois tem
como objetivo pesquisar aspectos do edifício “antes” do projeto estar finalizado. Ela busca,
dessa forma, levantar as necessidades e exigências dos futuros usuários de determinado
ambiente que será edificado, utilizando para isso algum tipo de simulação (ORNSTEIN;
BRUNA; ROMÉRO, 1995). Segundo Bechtel (1997), o primeiro passo para esse tipo de
2
avaliação é coletar os dados pesquisados em Avaliações Pós-Ocupação (APO) aplicadas
em edifícios similares. Em linhas gerais, a APP utiliza as APOs como fonte de informação,
ou seja, busca coletar o que foi identificado como positivo ou negativo e procura evitar a
repetição de equívocos e incorporar soluções que apresentaram bons resultados. Alguns
estudos relatam exemplos de simulações aplicadas em projetos de habitações, de hospitais
ou em ambientes urbanos, utilizando para isso o emprego de maquetes, mock-ups e
modelagens computacionais (BOSSELMANN; CRAIK, 1987; BECHTEL, 1989; SANOFF,
1991).
A Avaliação Pós-Ocupação (APO) é uma visão retrospectiva de um
determinado ambiente construído, no sentido de repensar o projeto após seu uso. A sua
diferença para as avaliações de desempenho convencionais é que, além das questões
observadas pelos técnicos que executam a avaliação, também é levado em consideração o
ponto de vista do usuário do ambiente pesquisado. Dessa forma, a APO busca também
contribuir no processo projetual, pois ao mesmo tempo em que propõe soluções para
minimizar ou corrigir problemas detectados em um ambiente específico, também utiliza “os
resultados das avaliações sistemáticas para realimentar o ciclo de processo de produção e
uso de ambientes semelhantes, buscando otimizar o desenvolvimento de projetos futuros
(ORNSTEIN com ROMÉRO, 1992, p. 23).
1.2 OBJETO
O objeto da pesquisa, conforme já mencionado, é o processo de produção
de habitações sociais, que tem como principal característica a participação do futuro
morador no processo. O universo da pesquisa é composto por residências cujos projetos
foram feitos por meio do Projeto Casa Fácil, em Londrina, no Paraná, entre março de 2005 e
julho de 2006.
1.2.1 PROJETO CASA FÁCIL
A provisão da habitação social para as camadas menos favorecidas da
população brasileira, no decorrer dos anos, pode ser analisada dentro de duas vertentes
básicas. Na primeira a provisão da moradia se dá a partir da atuação do poder público, com
3
a implantação de conjuntos habitacionais e/ou o financiamento da moradia por meio das
mais variadas modalidades (AZEVEDO, 1982; TASCHNER, 1997). Na segunda ocorre uma
produção espontânea, decorrência direta da falta de acesso à moradia pelos canais oficiais,
para uma camada da população cuja demanda não foi atendida pelo Estado. Os mais
diversos casos (favelas, cortiços, invasões) juntam-se ao tipo de produção espontânea mais
comum em todo o país: a autoconstrução ilegal (LEMOS; SAMPAIO, 1977; VALADARES,
1981; MAUTNER, 1991; BONDUKI, 1998; SAMPAIO, 1998).
Com a percepção de que a autoconstrução ocorria independente da
atuação dos órgãos públicos (CASA FÁCIL, 1998), o Conselho Regional de Engenharia e
Arquitetura (CREA-PR) iniciou a implantação do Projeto Casa Fácil em 1989, por meio de
convênios firmados entre o CREA-PR, as prefeituras municipais, as associações de
engenheiros e arquitetos e as universidades. Os convênios prevêem o fornecimento do
projeto, a isenção de taxas e a orientação técnica necessária para os usuários poderem
executar suas moradias de forma individual e financiada com recursos próprios de cada
família. Essas habitações devem ser unidades unifamiliares térreas que não ultrapassem o
limite de 70m2 de área construída, devendo a família comprovar ter renda inferior a três
salários mínimos para participar do programa e ter acesso a essa orientação. Apesar de
algumas experiências anteriores, como a Anotação de Responsabilidade Técnica Social
(ART Social), somente a partir desse momento as moradias isoladas unifamiliares térreas
não foram consideradas pelas entidades participantes como uma obra complexa de
engenharia, permitindo que os proprietários assumissem a execução da obra, seguindo os
projetos e a orientação técnica para sua execução.
As entidades de classe, por meio dos convênios firmados, passaram a
fornecer os profissionais que iriam orientar os usuários em relação aos projetos e à
construção de suas residências. Segundo o CREA-PR esses convênios atingem cerca de
95% dos municípios do Estado. Partindo do pressuposto de que as famílias de baixa renda
normalmente não iriam contratar um profissional para projetar e executar suas habitações, o
CREA-PR considerou que o Projeto Casa Fácil facilitaria o acesso dessa camada da
população a uma orientação técnica no processo de produção de suas moradias. Dessa
forma, poderia contribuir na legalização do que possivelmente seriam autoconstruções
irregulares, auxiliando no crescimento organizado das cidades, além de permitir às
entidades de classe e às universidades uma presença mais atuante junto à comunidade. A
proposta básica, dessa forma, é evitar a autoconstrução pela facilitação no acesso ao
4
projeto habitacional e à orientação técnica, não sendo, portanto, um programa de produção
de habitações ou de financiamento público.
Atualmente o Projeto Casa Fácil existe na maioria dos municípios do
Paraná. Como os convênios são assinados individualmente com cada prefeitura existem
variações entre os diversos municípios que participam do Projeto. Em alguns a área
construída máxima diminui para 60m
2
ou até mesmo 45m
2
, sendo que em outros os projetos
são fornecidos, porém não de forma gratuita. Essa variação possibilitou o surgimento de
casos como o da cidade de Londrina, no Interior do Paraná, onde os projetos e o
acompanhamento da obra são fornecidos gratuitamente por universidades que possuem
cursos de Engenharia Civil e de Arquitetura. Nesse caso, existe a possibilidade de o futuro
morador escolher entre projetos padronizados, existentes em catálogos, ou solicitar a
elaboração de projetos personalizados, que serão confeccionados por alunos sob a
orientação dos professores responsáveis.
1.3 HIPÓTESE
A pesquisa parte da hipótese de que, para usuários com o perfil do Projeto
Casa Fácil, seria adequada a utilização de um procedimento mais didático e participativo
para a compreensão do projeto, como o uso de modelos tridimensionais físicos. Esse
instrumento permitiria uma melhoria no processo de comunicação entre o profissional
técnico e o autoconstrutor, comparativamente ao uso exclusivo das peças gráficas
tradicionais, contribuindo para diminuir as reformulações nas habitações decorrentes dessa
falta de compreensão.
1.4 JUSTIFICATIVA DA PESQUISA
A questão habitacional revela sua importância em relação à amplitude da
demanda por esses espaços, ao montante de recursos que envolve e ao alcance social que
possui. A autoconstrução representa uma das principais formas de produção da habitação
pelos seus próprios moradores, atingindo uma parcela da população que não pode esperar
por uma solução do poder público. A incapacidade do poder público em atuar de forma
5
satisfatória na provisão de moradias, em função da ampliação populacional, contribui para o
crescimento da área urbana por meio da implantação de loteamentos periféricos.
A opção por mudar-se para esses loteamentos periféricos é, por vezes, a
única solução para uma camada da população sem recursos financeiros. O fato de estar
pagando o financiamento do terreno não permite o pagamento de aluguel ao mesmo tempo
(IMAI, 2000; LEMOS; SAMPAIO, 1977), levando o morador a construir uma moradia
precária de forma rápida e ampliá-la em etapas. A implantação dessas habitações, além das
dificuldades no contexto urbano, apresenta também uma série de problemas em relação à
habitação em si, tais como má adequação espacial, questões de conforto ambiental e
patologias construtivas decorrentes de má execução e do uso de materiais de baixa
qualidade.
Nesse contexto o Projeto Casa Fácil apresenta-se como uma tentativa de
minimizar o problema por meio da assessoria técnica que fornece. Apesar de existir há
dezessete anos e de estar implantado em praticamente todo o Estado, poucos estudos
foram realizados para compreender melhor o seu processo produtivo, de forma a
retroalimentar a sua produção (IMAI, 2000; CAMPONEZ, 1996).
Alguns dos problemas detectados na pesquisa de mestrado desenvolvida
anteriormente (IMAI, 2000) demonstram falhas no processo projetual, principalmente na
comunicação entre os projetistas e os futuros moradores. Dessa forma, em sua maioria, os
problemas encontrados nessas habitações referem-se principalmente a questões de projeto.
Além de alguns equívocos projetuais, como implantação inadequada e uso de tipologias
ineficientes, a maior parte dos problemas, quando existiram, referem-se à inadequação de
alguns projetos às características de seus usuários que, apesar de terem participado
ativamente na definição do projeto, não detectaram essas questões nessa etapa, fazendo
alterações na própria obra ou reformando-a posteriormente.
A relevância da pesquisa encontra-se na geração de informações que
possibilitem compreender melhor o processo produtivo dessas habitações, avaliando o perfil
sociocultural de seus moradores e as condicionantes que interferem nesse processo. Dessa
forma, buscam-se projetos mais adequados às características individuais dos usuários,
permitindo uma melhor apropriação e evolução dessas habitações em relação à própria
evolução da família moradora.
6
Os modelos tridimensionais físicos analógicos vêm sendo empregados
pelos arquitetos como uma importante ferramenta de transmissão de idéias e como
instrumento auxiliar na compreensão dos ambientes projetados. O enfoque desse
instrumento foi alterado pelo recente desenvolvimento do meio digital nas formas de
representação do espaço arquitetônico. A relativa facilidade e a ampla gama de
possibilidades da computação gráfica fizeram com que diversos aspectos do projeto, antes
analisados pelo modelo analógico, viessem a ser explorados de maneira digital. Apesar da
importância inequívoca dos instrumentos digitais, os aspectos didáticos e de transmissão de
informação e de conhecimento para um público leigo, por meio de modelos analógicos, não
podem ser considerados esgotados. A proposta desta pesquisa é utilizar esse instrumento
como ferramenta no processo de comunicação entre os projetistas e usuários, analisando,
com maior profundidade, desde a etapa do projeto até o produto final, na sua etapa de
ocupação. O emprego de instrumentos digitais, importantes na representação e no projeto
dos ambientes arquitetônico e urbano, já é objeto de pesquisas sobre o seu caráter de
comunicação com os futuros usuários da habitação (KAPP; SANTOS, 2005; RUSCHEL;
OLIVEIRA, 2004; PEREIRA et al, 2003), ao passo que praticamente inexistem estudos
sistematizados sobre o impacto da utilização dos modelos analógicos nesse processo. As
características desta pesquisa, dentro dos prazos e dos recursos disponíveis, levaram à
opção pelo estudo com os modelos analógicos, no sentido de contribuir para a discussão da
produção da habitação, em geral, e para a comunicação dos processos projetuais
participativos, em específico.
1.5 OBJETIVOS
A tese teve como objetivos:
- o levantamento por meio da APO das principais características,
deficiências e aspectos positivos do Projeto Casa Fácil nos moldes em que é utilizado e a
proposição de melhorias nos seus procedimentos;
- a verificação da forma como ocorre o processo de comunicação entre os
profissionais técnicos, com o material produzido por eles, e os usuários autoconstrutores,
utilizando-se para isso um modelo tridimensional físico que busque ser o mais didático
possível;
7
- a realização de análises comparativas entre processos de produção
habitacional em moldes semelhantes, porém com diferentes graus de participação dos
moradores no processo projetual, verificando-se as possíveis diferenças entre esses casos;
- a avaliação das habitações projetadas e executadas no sentido de buscar
identificar quais aspectos interferem no processo projetual e na produção da habitação.
1.6 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Adotou-se como procedimentos metodológicos:
a) revisão da literatura pertinente ao assunto, com o objetivo de definir os
referenciais que servem de base para a discussão teórica e metodológica que envolve a
questão;
b) análise conceitual, histórica e contemporânea da temática e de sua
interface com o objeto de estudo;
c) coleta de informações junto aos promotores desses projetos de forma a
levantar as tipologias projetuais e o universo de pesquisa;
d) elaboração dos modelos tridimensionais físicos que foram utilizados na
simulação dos espaços projetados;
e) definição dos procedimentos adotados para a coleta de dados e para a
definição da amostra;
f) aplicação de uma APP junto aos usuários do Projeto Casa Fácil de forma
a levantar o nível de compreensão do projeto;
g) aplicação de uma APO junto aos proprietários de habitações, de forma a
levantar como ocorre a apropriação e a modificação desses espaços, utilizando-se para isso
instrumentos e métodos empregados em APOs: aplicação de questionário e/ou entrevistas
para levantamento do nível de compreensão dos projetos, de questões socioeconômicas e
de satisfação do usuário; realização de observações por meio de roteiros para levantamento
e definição de como abordar os aspectos operacionais do levantamento em campo (com a
aplicação do pré-teste para avaliar os instrumentos de pesquisa e possibilitar o treinamento
dos pesquisadores); realização de um levantamento físico-espacial para verificar questões
técnico-funcionais e alterações na distribuição espacial; levantamento fotográfico das
residências para verificação dos tipos de alteração e de aspectos comportamentais;
h) tabulação dos dados coletados;
i) análise e diagnósticos;
j) conclusões.
8
1.7 DESCRIÇÃO DOS CAPÍTULOS
Os resultados dessa pesquisa estão estruturados em oito capítulos, considerando-se
como o primeiro esta introdução, como se segue:
O capítulo 2º estuda questões relativas à percepção espacial e, em
específico, as questões relativas à compreensão do espaço representado a partir dos
modelos gráficos e icônicos utilizados comumente na Arquitetura. Foram analisados os
aspectos cognitivos no desenvolvimento dos conceitos de espacialidade das pessoas,
relacionados à abstração da representação do ambiente construído em comparação com a
experiência “real”. Buscou-se dessa forma compreender a forma como ocorre o processo de
apreensão e de percepção do ambiente e de suas formas de representação, e como os
aspectos sociais, culturais, históricos, econômicos e ideológicos, entre outros, podem
influenciar nesse processo.
O capítulo 3º estuda questões relativas à forma de produção da habitação
e, em específico, da habitação social produzida com a participação, em diferentes níveis, de
seus futuros moradores no processo. Foram analisados os aspectos que envolvem a
habitação autoconstruída, o processo participativo na elaboração do projeto e da construção
da habitação e, por fim, de que forma ocorre a apropriação e a individualização dos
ambientes e sua conseqüente definição como um espaço de moradia.
O capítulo 4º estuda as questões relativas ao conceito de modelos
aplicados em Arquitetura, dentro do seu desenvolvimento histórico e no contexto atual do
objeto de estudo.
O capítulo 5º demonstra o processo de execução do modelo
tridimensional empregado na pesquisa, desde sua etapa de definição de parâmetros
referenciais de dimensionamento até a construção do modelo final.
O capítulo 6º demonstra os conceitos que envolvem as pesquisas na área
das relações de ambiente e comportamento e também as formas como a APO e a APP
podem ser utilizadas no processo projetual. São demonstrados os procedimentos utilizados
nas avaliações das habitações pesquisadas, durante o seu processo produtivo, e os
resultados obtidos nessas avaliações. Foram estudados dois grupos, um dos quais passou
por uma APP, com base no uso de modelos tridimensionais físicos. Após a construção das
9
moradias, ambos os grupos foram alvo de uma APO que buscou verificar a qualidade da
habitação do ponto de vista técnico e de atendimento às necessidades e aos anseios de
seus moradores.
O capítulo 7º analisa os resultados encontrados nos processo de
avaliação, com o objetivo de verificar a qualidade final das moradias. São feitas algumas
análises comparativas entre os diferentes grupos pesquisados com o objetivo de observar,
quando existiram, as diferenças entre as duas abordagens. Para tanto são avaliados os
motivos e as opções de escolha das soluções de projetos, as questões espaciais
programáticas e de configuração espacial dos ambientes projetados (e dos edificados) e as
formas de uso e apropriação dos espaços da habitação por seus moradores.
As considerações finais encontram-se no capítulo 8º, que pretende fazer
uma reflexão sobre os resultados encontrados, com o objetivo de contribuir para eventuais
reformulações do Projeto Casa Fácil, da mesma forma que busca uma compreensão sobre
a importância de vários aspectos presentes em uma habitação, que podem ser percebidos
de diferentes maneiras pelos agentes envolvidos na sua produção (usuários e projetistas).
10
2 A CONSTRUÇÃO DA PERCEPÇÃO ESPACIAL E A REPRESENTAÇÃO DO
AMBIENTE CONSTRUÍDO
A arquitetura representa um amplo espectro de relações que a tornam um
tema de caráter multi e interdisciplinar. As relações com outras áreas de conhecimento
envolvem, por vezes, aspectos que extrapolam o simples fazer construtivo. O ato projetual
tem (ou deveria ter) como objetivo atender às expectativas das pessoas sob os mais
diferentes aspectos em relação ao seu ambiente. Esse rol de necessidades, sejam elas de
caráter técnico-funcional, social ou psicológico, entre outros, representa a diversidade de
aspectos que permeiam todas as relações humanas, incluindo suas relações com o
ambiente projetado e construído
1
.
A produção da habitação e sua etapa inicial de projeto, nesse contexto,
necessitam ser compreendidas não apenas como objeto e produto final, mas também nas
suas relações com o sujeito, formador e definidor dos espaços. A definição dos espaços
2
refere-se não necessariamente apenas à atuação do arquiteto, mas também à de diversos
agentes que interagem e definem o ambiente, entre os quais, obviamente, encontram-se os
usuários e moradores finais das edificações projetadas.
O processo comunicacional entre esses agentes, com suas diferenças de
concepção e de conhecimento prévio, pode representar uma ampla gama de dificuldades e
de idiossincrasias. Não é incomum o pensamento projetual encontrar-se embasado em um
processo individual e introspectivo, sem considerar que o ambiente construído, assim como
quase todos os aspectos da vida humana, é reinventado e reformulado pelas pessoas de
maneira constante e ininterrupta. Da mesma forma que definimos nossos ambientes,
também somos definidos por eles, numa relação dialética que envolve os mais diversos
fatores.
1
O termo ambiente pode ser definido como tudo o que é pertencente ou relacionado ao meio que envolve os
indivíduos. O ambiente projetado refere-se ao planejamento prévio das características do ambiente, enquanto o
ambiente construído refere-se a todo ambiente executado ou adaptado pelo ser humano, geralmente estruturas
físicas, edificações ou artefatos realizados pelo homem.
2
O termo espaço pode ser definido como uma área configurada por limites determinados. Em arquitetura o termo
pode ser empregado como toda área que é gerada e limitada por elementos arquitetônicos, que se manifestam
para os indivíduos que estão na sua circunvizinhança por meio das diferentes dimensões da forma arquitetônica,
seja ela visual, táctil, auditiva ou odorífica, ou por meio dos aspectos sentimentais, sociais, culturais ou
psicológicos, entre outros.
11
A produção de habitações sociais que tenha a participação de seus futuros
moradores em todo o processo produtivo, do projeto à execução, e sua efetiva ocupação,
necessita de uma reflexão sobre os aspectos que influenciam nesse processo e que se
originam tanto no usuário quanto no projetista, e nas relações decorrentes desse encontro.
As concepções prévias individuais e o conhecimento adquirido no decorrer da vida de cada
pessoa exercem influência decisiva sobre a forma de compreender o mundo e de se
relacionar tanto com os sujeitos quanto com os objetos.
Esse processo pressupõe a adoção de códigos de comunicação que sejam
legíveis para os diferentes grupos envolvidos. Convém questionar a forma como as pessoas
compreendem os ambientes e, em um nível de maior complexidade, como compreendem os
ambientes que ainda não foram concretizados. O que diferentes pessoas possuem em
comum na compreensão espacial? O que as une, provavelmente, é que, como são
diferentes pessoas, cada uma “vê” de forma diferente o ambiente, ao mesmo tempo em que,
como pessoas pertencentes a um grupo social e cultural, também vêem de maneira similar
muitas das coisas.
O conhecimento prévio dos usuários, ainda que não embasado em
critérios científicos, mas sim no senso comum dessas pessoas, pode contribuir de maneira
significativa na evolução qualitativa da formação dos ambientes e das suas relações com os
indivíduos. Relegar esse conhecimento a um segundo plano significa abrir mão de uma
série de informações que, por si mesmas, permitem compreender não apenas o ambiente
construído, mas uma série de relações que influenciam na definição e redefinição do espaço
arquitetônico.
Os diferentes níveis de compreensão espacial das pessoas demandam
uma capacidade adaptativa do projetista tanto em se fazer entender como em compreender
a linguagem e os códigos empregados pelo usuário leigo. Esse usuário, por vezes,
apresenta-se em um estágio de desenvolvimento sensorial e motor que não lhe permite
trabalhar com os mesmos instrumentos usados por um profissional técnico. Da mesma
forma, ainda que em uma escala menor, ele também possui dificuldades em compreender
os códigos empregados na representação espacial. Muitas dessas pessoas apresentam-se
com seu desenvolvimento cognitivo espacial muito pouco explorado, em estágios próximos
ao desenvolvimento perceptivo infantil e sem o domínio das visualizações projetivas tão
características da produção arquitetônica.
12
O presente capítulo busca demonstrar algumas das questões que
envolvem a construção da percepção espacial e quais as características e dificuldades
apresentadas nesse processo. As relações entre a compreensão teórica dos temas e o
objeto de estudo abordado permitem uma série de inter-relações entre diferentes áreas de
conhecimento. As relações biunívocas existentes nos estudos que envolvem ambiente e
comportamento representam uma importante fonte de embasamento para uma teoria, ou
conjunto de teorias, relacionadas ao estudo.
2.1 ALGUNS PRESSUPOSTOS TEÓRICOS
O conhecimento pode ser definido como fenômeno da consciência. No
conhecimento, encontram-se frente a frente a consciência e o objeto, ou seja, o “sujeito” e o
objeto”. Na correlação entre esses dois elementos, a função do sujeito consiste em
apreender o objeto, e a do objeto em ser apreendido pelo sujeito. Dentro desse pensamento
a tarefa do fenômeno do conhecimento “não é resolver o problema do conhecimento, mas
conduzir-nos até o problema. A descrição fenomenológica pode e deve descobrir e trazer à
nossa consciência os problemas que se apresentam” (HESSEN, 1973, p. 26).
A formação do conhecimento pode ser considerada como o resultado das
interações entre o sujeito e o objeto, pois a concepção de que o conhecimento é próprio do
ser humano deve levar também em consideração que a experiência empírica oferece
importante contribuição nessa formação. Nesse pensamento, o conhecimento se principia
com a experiência, porém não significa que todo ele derive dessa experiência. Segundo
Kant (2006, p. 61),
3
existem dois “troncos” do conhecimento humano, que são a
“sensibilidade” e o “entendimento”, sendo que o primeiro nos fornece os objetos e no
segundo esses objetos são pensados. Dessa forma, o conhecimento pode ser considerado
um composto do que conseguimos perceber por meio da nossa sensibilidade e aquilo que
nossa capacidade de conhecer, acionada por estas impressões sensíveis, produz por si
mesma.
Para podermos ter uma compreensão crítica da apreensão do
conhecimento na ciência moderna é necessário transformar o distante em próximo, o
3
Publicado originalmente em 1787.
13
estranho em familiar, por meio do discurso racional, orientado pelo desejo de dialogar com o
objeto de reflexão, enriquecendo e contribuindo para aprofundar a autocompreensão do
nosso papel na sociedade (SANTOS, 1989).
As ciências sociais, enquanto prática de conhecimento, transformam a
sociedade em objetos teóricos (coisificam). Esse processo faz com que os objetos teóricos
transformem-se nos objetivos sociais dos indivíduos que podem investir no conhecimento
científico e, portanto, apropriar-se dele. As ciências sociais são subjetivadas pela sociedade
na medida em que fortalecem os sujeitos individuais da ciência (os cientistas), e os sujeitos
coletivos (as universidades e centros de pesquisa). Estes, no entanto, são objetivados nos
objetos teóricos que criam. A objetivação dos cientistas está simbolizada no caráter anônimo
do conhecimento cientifico, já que, uma vez produzido, este adquire uma materialidade
própria que o separa e o aliena do seu criador: o cientista deixa de ser um sujeito-para-si
para ser um sujeito-para-os-objetos (SANTOS, 1989).
As relações humanas envolvidas nas ciências sociais devem levar em
consideração a complexidade inerente a esses processos. Dentro da pesquisa tecnológica,
segundo Vargas (1985, p. 177), as pesquisas que envolvem o estudo de caso podem ser
consideradas como relevantes para uma efetiva aproximação entre o objeto de estudo e o
sujeito, não sendo apenas uma “simples ilustração de teorias”, mas representando um tipo
de descrição de acontecimentos reais que podem comprovar uma teoria ou permitir a
compreensão de determinado fenômeno. Dessa forma, conhecer os fatores humanos é
importante para captar as relações internas do fenômeno:
“Em vez de analisar o fenômeno, como faz a explicação, a compreensão
respeita a totalidade vivida no fenômeno. (...) E pode mesmo ocorrer que,
após a compreensão nítida de um fenômeno, se torne possível a sua
explicação; o inverso, contudo, não é tão evidente. E cumpre notar que a
inteligência não se julga satisfeita após uma explicação sem compreensão.
É então que aparece a necessidade de interpretação. Essa intervém quase
sempre sob a forma de modelos, para conduzir a uma compreensão dos
fenômenos que foram somente explicados com base em relações externas
a ele. Daí nasce uma outra noção de compreensão, que é a seguinte: a
captação, por meio da interpretação, do sentido do fenômeno pesquisado,
tanto no seu aspecto de um caso histórico particular, como no seu aspecto
aproximado do comportamento médio de uma população.” (VARGAS,
1985. p. 178-179).
Não obstante, para validar aquilo que foi compreendido é necessária uma
forma de legitimação por meio da análise, mesmo que esta não seja quantitativa nem
mesmo rigorosa; o importante é ela possuir uma coerência interna que permita verificar
14
uma regularidade de conexões significativas no fenômeno pesquisado” (VARGAS, 1985, p.
179).
Os paradigmas dominantes, por vezes, não permitem que determinados
pensamentos orientados pela vida prática (senso comum) prosperem dentro do pensamento
científico, sobrevivendo de forma marginal à hegemonia predominante. Segundo Santos
(1989, p. 38), a oposição entre ciência e senso comum não pode equivaler a uma oposição
entre luz e trevas, sob o risco de adotarmos uma atitude preconceituosa. O caminho, dessa
forma, seria a busca por uma nova relação entre a ciência e o senso comum, uma relação
em que qualquer um deles é feito do outro e ambos fazem algo novo. Para compreender
essa afirmação é necessário observar que a caracterização do senso comum é feita
geralmente a partir da ciência e que, por isso, está saturada de negatividade. Pode-se
adotar uma caracterização mais positiva, na qual o senso comum permita coincidirem causa
e intenção e tenha uma visão dentro da ação e no princípio da criatividade e
responsabilidade individual:
“O senso comum é prático e pragmático; reproduz-se colado às trajetórias
e às experiências de vida de um dado grupo social, e nessa
correspondência se afirma de segurança e dá confiança.(...) o senso
comum é superficial porque desdenha das estruturas que estão para além
da sua consciência, mas, por isso mesmo, é exímio em captar a
profundidade horizontal das relações conscientes entre pessoas e entre
pessoas e coisas. (...) Ele é indisciplinar e imetódico, não resultando de
uma prática orientada para produzir, reproduzindo-se espontaneamente no
quotidiano. (...) Por último, o senso comum é retórico e metafórico; não
ensina, persuade” (SANTOS, 1989, p. 40).
As concepções e formas de compreensão do mundo não devem ser vistas
como qualidades individuais. Essas concepções da realidade podem ser consideradas como
formas de descrição usadas para facilitar a compreensão dos casos concretos do
funcionamento humano. Essas descrições aparecem em diferentes situações sendo,
portanto, generalizáveis e demonstrativas de “um tipo de inteligência coletiva, uma
ferramenta evolucionaria em contínuo desenvolvimento” (MARTON, 1981, p. 177).
A forma de compreender o mundo por meio da experimentação, como um
processo contínuo e aberto de inter-relações, e não apenas nas bases do pensamento
individual, pressupõe uma forma de comunicação, porém não de domínio, que é descrita por
Merleau-Ponty (1996, p. 18):
“O mundo fenomenológico é não o ser puro, mas o sentido que
transparece na intersecção de minhas experiências, e na intersecção de
minhas experiências com aquelas do outro, pela engrenagem de umas nas
15
outras; ele é portanto inseparável da subjetividade e da intersubjetividade
que formam sua unidade pela retomada de minhas experiências passadas
em minhas experiências presentes, da experiência do outro na minha.”
A impossibilidade de separar o que é experimentado da experiência em si,
faz com que tenhamos que compreender claramente o fenômeno estudado. Para
compreender a experiência das pessoas no poder político, por exemplo, o pesquisador deve
aprender sobre poder político, mesmo que seu objeto de estudo sejam as pessoas e não a
política. A ação e o sujeito são indissociáveis. Na pesquisa de um fenômeno é importante a
noção de essência. Essência se refere ao comum e à intersubjetividade de cada aspecto.
Entre o comum e a idiossincrasia existe um nível: o nível dos modos de experiência e das
formas de pensamento. O estudo desses aspectos busca transformar o pensamento em
pesquisa empírica, com a intenção de descrever, analisar e entender as experiências
(MARTON, 1981).
O aspecto da experiência prévia dos indivíduos é, segundo Maturana e
Varela (2001), ressaltado na importância da subjetividade e da qualidade, tanto quanto da
objetividade e da quantidade, na formação do conhecimento científico. Dessa forma não é
possível imaginar que o fenômeno do conhecimento se dê por meio da “absorção” de fatos
ou objetos do mundo exterior, como se estes fossem simplesmente captados e introduzidos
na cabeça das pessoas. Toda a experiência deve ser validada pela estrutura humana, de
maneira particular e, de certa forma, única. Todo conhecimento depende da estrutura das
pessoas que formam esse conhecimento, pois os processos observados dependem das
correlações feitas por quem os observa a partir de sua perspectiva.
Dentro desse processo, a contribuição de diferentes áreas pode ser
considerada como uma forma de garantir a convergência de campos do conhecimento, que
contribuem conjuntamente para uma compreensão maior e mais aprofundada de
determinado fenômeno. O desenvolvimento do projeto de uma habitação pode envolver a
necessidade de compreender diferentes aspectos que envolvem as relações humanas
dentro e fora do ambiente habitacional. O estudo desses fatores, ainda que estes não sejam
explicitamente perceptíveis no processo projetual, pode auxiliar na tomada das decisões que
irão definir a formação dos ambientes e suas relações com as pessoas.
16
2.2 A FUNÇÃO COGNITIVA
As diferentes disciplinas envolvidas nas áreas de estudo das Relações de
Ambiente e Comportamento (RACs), tais como a Psicologia, a Geografia e a Arquitetura,
entre outras, têm se debruçado sobre as questões que envolvem os aspectos perceptivos e
cognitivos das relações dos indivíduos com seu meio ambiente. Esses processos, dinâmicos
por natureza, tornam-se ainda mais complexos quando o ambiente ainda está nas idéias e
nos conceitos, sob a forma de antecipação espacial, que não é o ambiente em si, mas sim
uma idealização espacial baseada em esquemas e simbologias: a representação do projeto.
A qualidade dos ambientes projetados pode estar diretamente ligada às
atitudes e aos comportamentos dos usuários, muitas vezes influenciados pelas experiências
espaciais vivenciadas pelas pessoas, definindo a forma como elas “percebem” o ambiente.
Segundo Golledge e Stimson (1997), os termos percepção e cognição podem ser
compreendidos de diferentes formas, conforme o contexto e a área de estudo onde são
empregados. Para estes autores, em linhas gerais, a percepção pode ser definida como a
apreensão imediata da informação sobre o ambiente por meio de algum dos nossos
sentidos, enquanto que a cognição é um processo de desenvolvimento mental no qual a
pessoa acumula conhecimento e define valores. Esses conceitos podem ser compreendidos
de duas formas, descritas por Reis e Lay (2006): na primeira o usuário interage com o
espaço exclusivamente por meio de seus sentidos básicos - como o olfato, a audição, o tato,
o paladar e, principalmente, a visão; na segunda, essa interação não ocorre apenas pelos
sentidos básicos, mas acrescenta outros fatores tais como a memória, personalidade,
cultura e o próprio meio de transmissão, que pode influenciar e interferir no processo
interativo. Apesar de muitos projetos serem elaborados tendo como concepção o primeiro
exemplo, com a percepção baseada principalmente nos sentidos, iremos explorar também
neste texto os aspectos que envolvem o segundo caso.
A apreensão dos conhecimentos, seja ela por meio de um processo
perceptivo mais vinculado aos sentidos, seja por meio da construção de relações na
experiência pessoal e coletiva, em um processo cognitivo de construção do conhecimento,
necessariamente envolve um mesmo tipo de evento. Nesse conceito, a percepção pode
ocorrer independente da atribuição de significados, pois podemos observar um objeto sem
necessariamente atribuir-lhe algum juízo de valor, avaliando apenas seus aspectos formais,
enquanto a atribuição de valores a determinado objeto, confere a este uma interpretação
que pode ser única (WERBER, apud REIS; LAY, 2006).
17
O processo da percepção pode ser estudado levando-se em consideração
dois tipos de memória: a de curto e a de longo prazo. Dentro dessa abordagem, a memória
de curto prazo envolve o processamento da informação visual, e a de longo prazo, a
retenção dessa informação. Pode-se também considerar a memória de curto prazo como
uma memória fotográfica e a de longo prazo como simbólica. As relações entre percepção e
memória, ao mesmo tempo em que reiteram suas distinções, apresentam-se como
componentes necessários para um mesmo processo (ITTELSON, 1973). A fixação de
determinada informação dentro da nossa memória permitirá desenvolver um corpo de
conhecimentos que servirá como base para todo o nosso desenvolvimento futuro.
A maneira como compreendemos o mundo está intrinsecamente ligada ao
nosso conhecimento prévio desenvolvido no decorrer da vida. As informações que
recebemos sobre os fenômenos ao nosso redor irão induzir ao significado e a importância
que daremos a cada fato, dependendo da forma como iremos absorver essa informação.
Esse processo é dinâmico e extremamente complexo, pois segundo Lee (1977, p.12 e 13):
“O homem não tem uma relação passiva e unilateral com o meio ambiente,
construído ou natural. Ele é um organismo ativo, empreendedor,
ambicioso, que pode selecionar e modificar seu próprio meio.” (...) “A
experiência do meio ambiente através da sensação e da percepção deixa
um resíduo de conhecimento, ou de cognições, no sistema nervoso
central. A pessoa nunca mais é a mesma após as experiências vividas no
decorrer da vida e, sobretudo, em relação às sensações de contexto,
armazenadas em forma de experiências e percepções humanas”.
O contato com os objetos que nos cercam e com os quais convivemos
dependerá basicamente das condições de que dispomos para captá-los, senti-los, entendê-
los e fazer com que participem de nossas vidas. O processo de comunicação entre o
ambiente e o sujeito se dá, segundo Monzéglio (1979, p. 35) “ou porque as coisas
simplesmente existem no ambiente ou, porque há intenção de comunicar o ambiente pelas
coisas.” A percepção das imagens como um todo unitário, organizado em um campo de
figura/fundo, deve levar em consideração que essas imagens também se sucedem, de
maneira contínua, em um movimento que relaciona espaço e tempo. Essa sucessão permite
construir, no final, um novo todo que não está presente por completo, mas que é uma
associação das partes. Essa relação em que o todo visualizado é resultante da variação
constante da figura sobre o fundo (e vice-versa) é reforçada segundo Monzéglio (1979, p.
102) “por um conhecimento prévio do fenômeno, conseqüência de experiência visual
passada, portanto, associando valores na percepção.” Segundo Gombrich (1995), o poder
da sugestão adquire uma importante presença, pois se torna difícil distinguir entre o que
recebemos de informação e aquilo que complementamos a partir de nossas experiências.
18
Nesse aspecto, Maturana e Varela (2001, p. 181) alertam que a percepção
visual não deve ser considerada apenas como o efeito de projetar uma imagem sobre a
retina, em um simples processo de emissão e recepção similar ao que se utiliza em uma
linha telefônica. Deve-se considerar que se trata de um intrincado processo com múltiplas
“vozes”, de diferentes níveis, como em uma sessão de transações de uma bolsa de valores,
onde “cada participante ouve o que lhe interessa”. A percepção visual, dessa forma,
dependerá tanto das condições do meio no qual ela ocorre quanto dos interesses e valores
de cada indivíduo.
Da mesma forma que o ambiente físico pode ter uma significativa
influência no comportamento, nas percepções e nas emoções de um indivíduo, ou grupo de
indivíduos, modelando sua personalidade, as pessoas possuem instrumentos para modelar
o ambiente físico e, de maneira cíclica, interagir nesse processo. Os objetos pesquisados
necessitam de um ponto referencial que os situe, permitindo que possam ser melhor
compreendidos se soubermos onde se encontram. As coisas somente podem efetivamente
ser algo se estiverem em algum lugar (LEE, 1977).
O fato de os indivíduos terem um desenvolvimento físico, emocional e
cognitivo no decorrer de sua vida - afirmação que parece ser senso comum - indica que as
suas experiências possuem uma grande importância tanto no conhecimento do ambiente
real quanto no desenvolvimento de conceitos abstratos de espacialidade. Pode-se ilustrar
isso quando crianças são colocadas em frente a representações de locais que lhes são
pouco familiares e elas geralmente acabam falhando em reconhecer esses locais. (LIBEN,
1991).
O desenvolvimento cognitivo do ser humano está em constante evolução,
partindo de um estado de menor equilíbrio (infantil) para um estado de maior equilíbrio
(espírito adulto). O desenvolvimento mental pode ser considerado como uma construção
contínua, pois à medida que se acrescenta algo, fica mais sólido. Essa evolução é
perceptível na medida em que a pessoa passa de uma condição instável e incoerente,
presente nas idéias infantis, para uma fase adulta na qual o raciocínio está mais
sistematizado (PIAGET, 1997).
As primeiras noções espaciais do ser humano, na infância, estão muito
mais vinculadas aos aspectos perceptivos do ambiente do que de a um pensamento
representativo. A exploração necessária para desenvolver a capacidade motora perceptiva
19
será adquirida pela experimentação, em um processo de exploração por parte da pessoa no
decorrer do seu desenvolvimento cognitivo. Essas características não permitem a uma
criança pequena, por exemplo, uma leitura acessível à representação espacial. Somente a
partir de sete a oito anos a coordenação representativa de perspectivas e proporções pode
indicar que o espaço intelectual começa a sobrepor-se ao espaço perceptivo (PIAGET;
INHELDER, 1993).
As formas perceptivas e a representação figurada dessas formas, ao
mesmo tempo em que estão em oposição, também estão em continuidade, pois se
percebemos um círculo ou um quadrado, podemos reconstruí-los por meio da identificação
entre diversos modelos ou pelo ato de desenhar. Dessa forma a imagem não resultaria
apenas da percepção:
“Ora, se a construção do espaço começa no plano perceptivo, ela
prossegue no terreno da representação e, para introduzir ao estudo da
intuição espacial de ordem representativa, seria necessário, precisamente,
compreender a passagem de um desses planos ao outro.” (PIAGET;
INHELDER, 1993, p. 53).
A forma como uma figura geométrica é abstraída do objeto percebido, e
depois imaginado, necessita também de um processo de ação que, por meio da atividade
motora de movimentos coordenados, possibilite a construção da imagem representativa. A
correlação entre as formas e a coordenação das ações é evidente, segundo Piaget e
Inhelder (1993, p. 58):
“... o sujeito não consegue reconhecer e, sobretudo, representar, a não ser
as formas que é capaz de reconstruir graças às suas próprias ações,
efetuando-se, pois, a ‘abstração’ da forma a partir da coordenação das
ações e não, ou não somente, do objeto.”
Quando compreendem uma forma gráfica específica, como fotografias ou
mapas de um local, crianças em idade pré-escolar interpretam componentes da
representação para o que lhes parece um senso icônico. Essas representações icônicas,
algumas vezes, permitem reconhecer estradas em um mapa, “porque elas são cinza”, ou
reconhecer um rio porque “ele é azul” (LIBEN, 1991, p. 267).
Essa percepção infantil possui limitações entre os correspondentes
geométricos utilizados e o ambiente real. Quando um grupo de crianças em idade pré-
escolar foi colocado em frente à representação de um mapa, elas identificaram os barcos
como peixes (considerando-se que a escala era muito pequena), enquanto em um mapa
rodoviário, essas crianças rejeitaram a idéia de que linhas pudessem ser estradas, porque
20
não havia carros. Um extenso número de pesquisas vêm sendo desenvolvidas sobre vários
aspectos da cognição ambiental, onde é possível identificar que crianças mais velhas
possuem um melhor desempenho que crianças mais jovens, ao passo que pessoas idosas
apresentam uma deteriorização dos aspectos cognitivos (LIBEN, 1991).
O amadurecimento das pessoas, tanto no seu aspecto biológico quanto na
sua experimentação ambiental, permite o desenvolvimento de uma compreensão das
linguagens e dos códigos que existem em determinada realidade de uma cultura. Sem uma
compreensão do contexto histórico, que permita relacioná-lo com a sua realidade pessoal, a
leitura e compreensão de ambientes construídos torna-se apenas uma atitude referencial
estática e esvaziada em relação aos seus aspectos originais (CARPIGIANI; MINOZZI,
2002).
Segundo Ittelson (1973), a natureza da percepção pode permitir três
observações gerais: a percepção é relativamente livre do controle direto dos estímulos, pois
nem toda experiência visual garante a apreensão de um conhecimento; existe uma ligação
inseparável entre a percepção e os aspectos do funcionamento psicológico; e a percepção é
relevante e apropriada para o contexto ambiental no qual ocorre. O ambiente possui uma
atmosfera, uma ambiência, difícil de definir, porém carregada de importância. Os ambientes
fazem parte das atividades sociais, portanto a relação com outras pessoas, a percepção de
e com essas pessoas, tornam o fenômeno social. Nesse aspecto, o autor argumenta que:
“O homem e o ambiente são inseparáveis, e ambos são definidos em
termos da sua participação no processo ambiental. Em qualquer situação
concreta, o ambiente não fixa limites no espaço e no tempo. Talvez a
melhor forma de conceitualizar isso, é ver o ambiente como um sistema
aberto. (...) Ao mesmo tempo, a situação esta constantemente mudando. A
grande participação de vários aspectos, ou componentes, produz um
desequilibro no processo que altera o modo de participação desses
aspectos, e isso modifica a situação ambiental em um processo contínuo.”
(ITTELSON, 1973, p. 18)
4
.
Os aspectos que envolvem a percepção apresentam-se extremamente
complexos e dificilmente podem ser compreendidos na sua plenitude (GOMBRICH, 1995).
Os processos cognitivos, tanto na sua forma de perceber quanto na de pensar e relembrar,
representam hipóteses que o próprio organismo cria. Essas hipóteses necessitam de
respostas, que podem ser baseadas nas experiências prévias da pessoa, permitindo criar
um juízo de opinião que confirmará ou refutará aquela imagem (BRUNNER; POSTMAN,
4
Tradução nossa.
21
apud GOMBRICH, 1995). O que vemos e o que compreendemos dependerão basicamente
do que já vivenciamos e absorvemos do mundo que nos rodeia.
2.3 A REPRESENTAÇÃO COMO INFORMAÇÃO
“Mostrar como tudo que existe fabricado pelo gênio do homem, viveu
primeiro como
idéia na imaginação de alguém; explicar que quando a idéia
ocorre ao inventor, ele a traduz numa fórmula ou num gráfico, ou seja, um
desenho esquemático, desenho bisonho e aparentemente destituído de
sentido, mas que significa tudo, porquanto a idéia está contida ali; grifar a
importância desse desenho, lembrando aos alunos como, na
eventualidade da morte do seu autor, outros poderão retomar, graças a
ele, o raciocínio interrompido; novos desenhos em escalas diversas e cada
vez mais precisos, para a construção de modelos, depois outros desenhos
alterando, aperfeiçoando, apurando, até aos desenhos definitivos de
execução, muitas vezes em tamanho natural, e é só então que a
humanidade toda aproveita e se beneficia do que foi um dia, simples idéia
na imaginação de alguém; acentuar o sentido moral desse esforço comum
em benefício da coletividade e, para gravar melhor no espírito das
crianças, lembrar quantas centenas e milhares de desenhos não serão
necessários para se fazer um automóvel, um avião, ou melhor ainda, um
transatlântico.” (COSTA, 1940, p. 3)
A compreensão da palavra representar leva-nos ao conceito de um objeto
que pode ser a imagem ou a reprodução de algo, podendo também conferir-lhe algum
“significado”. O ato de dar ou conferir significado a algo também pode trazer em si a idéia de
dar um sentido, de querer dizer, expressar ou exprimir, ao mesmo tempo em que pode
também ser um símbolo de alguma coisa (CUNHA, 1999). Esses conceitos básicos indicam
que a representação pode ser interpretada de diferentes maneiras, porém basicamente
indica ser uma maneira de, por um principio de analogia, substituir alguma coisa.
O emprego de representações como forma de comunicação, é uma das
primeiras manifestações conhecidas do ser humano, sendo elas utilizadas mesmo em
períodos pré-históricos:
“O mapa é uma forma de linguagem mais antiga que a própria escrita.
Povos pré-históricos, que não foram capazes de registrar os
acontecimentos em expressões escritas, o fizeram em expressões
gráficas, recorrendo ao mapa como modo de comunicação. O mesmo
acontece na atualidade com povos primitivos que não contam com um
sistema de escrita, mas possuem mapas de suas aldeias e vizinhanças.”
(OLIVEIRA, 1996, p.187)
22
A natureza do pensamento analógico empregado nas representações é
conceituada por Downs (1981) como uma forma de expressar idéias construindo relações.
Dessa maneira, um mapa pode ser considerado como uma forma de expressão, na medida
em que demonstra um conceito de como é o mundo (metáfora), mas por outro lado, também
pode ser considerado como uma forma de explicação, que não tem por objetivo demonstrar
o mundo “como ele é”, mas representá-lo no sentido de transmitir uma informação, mesmo
que de forma análoga.
O desenvolvimento da nossa formação cognitiva permite termos uma visão
de mundo que faz com que fiquemos em alerta quando recebemos uma informação de
“segunda mão”, pois o conhecimento anterior sobre a fonte da informação irá balizar a
importância e a credibilidade que cada indivíduo irá conferir ao assunto. As formas de
experimentar o ambiente podem ser distinguidas de acordo com o tipo de experiência
envolvida: as que têm uma relação direta com o ambiente podem ser consideradas como
primárias, enquanto as experiências indiretas podem ser consideradas secundárias.
Segundo Pinheiro (2004, p. 170), as “abstrações do ‘mundo real’ são representantes
(surrogates) da realidade e deveriam ser decodificadas pelo percebedor como re-
apresentações dos ambientes. Elas não se confundem com simulações, substitutos de
ambientes de ‘mundo real’, e percebido por todos como tal”.
A aplicação de representações bidimensionais do mundo real (surrogates)
como instrumento de pesquisa nas relações de ambiente e comportamento deve observar
que esses instrumentos não são válidos per se como indicação das relações ambientais;
mais válida será a representação e o ambiente que ela representa, quanto mais familiar,
disponível e acessível for esse fenômeno às pessoas envolvidas. A validade ecológica para
estudos nessa área depende necessariamente de um processo de análise que não
considere de forma independente os aspectos da representação e os das relações de
comportamento (DANIEL; ITTELSON, 1981).
A utilização da representação ambiental pode ser considerada como uma
ferramenta experimental para simular uma experiência direta no ambiente. O emprego
dessas representações, como as fotografias, foi utilizado em pesquisas sobre percepção
ambiental (KAPLAN, 1991; KÜLLER, 1991; AXIA et al, 1991). A opção por adotar essas
representações deve ser tomada pela necessidade de que a experiência esteja o mais
próximo possível das características do ambiente real, porém somente deve ser empregada
23
quando a simulação no ambiente for muito complexa, pois, se for um processo simples, o
mais adequado é empregar a experiência direta (LIBEN, 1991).
O uso de representações como fotografias pode ser um importante
instrumento de comunicação, porém não permite algumas abstrações que outros tipos de
representação possibilitam. Cada uma possui suas características e validades conforme as
necessidades e interesses específicos. Esse fato já era lembrado por Costa (1940, p. 4):
“Reconhecer que a fotografia reproduz as coisas com muito maior
perfeição que o desenho, mas que, apesar disso, o desenho lhe leva
vantagem porque a fotografia, normalmente só reproduz o que vemos: – o
alcance dela é, portanto, limitado, ao passo que o desenho cria formas
livremente e reproduz e exprime tudo que imaginamos ou sentimos, – o
seu horizonte, assim, não tem limites”.
As representações dos ambientes possuem um papel de amplificação em
comparação com a experiência direta. Essa amplificação acontece pela organização
antecipada, em que recursos como mapas permitem uma orientação prévia sobre o
ambiente, possibilitando uma função cognitiva e afetiva em relação à experiência que irá
acontecer. Um exemplo dessa amplificação se dá por meio de representações de aspectos
do ambiente, como no caso de um mapa do planeta Terra. Não podemos ver todos os
continentes do planeta de uma só vez, mesmo a partir do espaço, sendo necessário inserir o
elemento tempo dentro dessa observação para que possamos compreender o objeto como
um todo, ao passo que um mapa planificado, apesar de deformado em relação ao real,
permite a observação de todo o objeto em um único instante. (LIBEN, 1991)
São poucos os casos relatados em manuais de psicologia ambiental que
tratam da análise em relação ao processo de cognição ambiental a partir de fontes
secundárias (PINHEIRO, 2004). As experiências com representações do ambiente
construído constituem uma importante forma de estudo da cognição ambiental. Segundo
Liben (1991, p. 269) “um aspecto importante é que muitas funções que auxiliam na
representação ambiental simplesmente não podem auxiliar na experiência ambiental direta.”
Devemos considerar ambas as experiências para termos uma completa compreensão e uso
da cognição ambiental e da forma como as pessoas interagem com seus ambientes.
A forma como as pessoas compreendem o ambiente representado refere-
se a quanto essas conseguem criar “correspondências” entre a representação e o que esta
representa. As relações espaciais contidas no ambiente em si devem levar em consideração
as correspondências geométricas existentes nas relações espaciais da representação
24
(escala, ângulo de vista, orientação). Compreender essas correspondências permite às
pessoas o acesso a informações sobre o ambiente a partir de sua representação. Para
verificar que existe uma real compreensão da representação do ambiente, o indivíduo tem
que “interpretar tão bem quanto lê” a representação (LIBEN, 1991, p. 266).
O aspecto da interpretação pode ser observado em um exemplo sobre a
representação de organismos marinhos e panoramas subaquáticos mostrado por Gould
(2003). Até a metade do séc. XIX os organismos marinhos eram quase sempre desenhados
na superfície das águas (peixes) ou estendidos sobre a costa (invertebrados), tornando-se
este um padrão convencional de representação para a época. Ora, como essa
representação não encontrava paralelo com a realidade, ela demonstra uma forma de
ilustrar, que evita o olhar lateral ao objeto de representação, o que só passaria a ser
efetivamente empregado com a invenção do aquário. Essa postura era empregada porque
ninguém efetivamente poderia compreender uma representação que não demonstrasse um
ponto de vista do domínio das pessoas. A representação passa a ser, não um instrumento
fiel dos fatos, mas sim uma forma de explicação de aspectos que não eram visíveis na sua
origem para a maioria das pessoas.
A relação entre o mundo visível e aquilo que supostamente não é visível
representa uma passagem entre o domínio do mundo representado e o não-domínio. Um
importante momento que ampliou a compreensão da forma como os objetos se relacionam
entre si no espaço se deu quando essa relação passou a ser mais próxima da experiência
visual e empírica do homem, por meio da representação dos espaços pela perspectiva.
Segundo Rocha (1997, p. 4), a importância dessa passagem é percebida pelo fato de que:
“Até o Renascimento eram os conceitos sobres as relações entre os
objetos que prevaleciam, e a pintura fundiu conceitos e experiência visual
numa representação analógica. (...) Com o advento da perspectiva, o
espaço (preenchido pela luz) inseriu o tempo como assunto a esse mundo
de representações.”
A descoberta da perspectiva, atribuída a Brunelleschi, não apenas
possibilitou ser ela um instrumento profissional, mas garantiu o estabelecimento preciso da
homogeneidade e da unidade matemática do espaço visível, possibilitando o abandono do
espaço geométrico e abstrato da ciência antiga, adotando-se o “espaço empírico do
quotidiano
5
. A percepção de que a perspectiva foi a mais importante descoberta da ciência
no século XV é destacada por Katinsky (1999a, p. 18):
5
Para análise mais detalhada sobre o assunto ver Katinsky (2002).
25
“Com a perspectiva exata é que se pode falar, pela primeira vez, em
‘composição’, pois o artista passa a ter um instrumento de controle sobre
cada trecho do campo, do espaço a ser trabalhado, seja ele bi ou
tridimensional. Assim, já no século XV, vemos os cadernos de esboços
preparatórios povoarem-se de fragmentos de pintura (ou escultura),
estudados separadamente porque o artista sabia de antemão que, pela
perspectiva, poderia unificar todas as partes, proporcionalmente, na
composição final.”
As decisões tomadas pelos arquitetos envolvem diferentes aspectos que
podem ser compartilhados, em menor ou maior proporção, com outras áreas de
conhecimento. Uma das habilidades características dos arquitetos é a sua capacidade de
visualizar e gerar formas tridimensionais (BROADBENT, 1973). Esse aspecto é
provavelmente, e em maior nível, o que os diferencia do usuário na concepção do projeto,
pois esse geralmente possui idéias pré-concebidas baseadas em esquemas e arranjos
espaciais que fazem parte de seu universo de conhecimento (MALARD, 2002). Para que a
informação tridimensional efetivamente seja compreendida pelo morador é necessário que
esta esteja mais próxima ao seu universo de entendimento, pois a informação não pode ser
efetivamente compartilhada se as pessoas não compreendem o objeto.
A visualização tridimensional como forma de trazer ao domínio das
pessoas (e dos projetistas) os aspectos inerentes a cada obra pode ser considerada como
essencial para superar algumas limitações comunicacionais do sistema de representação
geométrica que se utiliza de projeções e secções. Algumas dessas dificuldades são listadas
por Gregotti (2001, p. 31 e 33):
“Nossos critérios de representação geométrica revelam-se completamente
insuficientes, para além de um determinado limite dimensional, quando a
intervenção da memória na estruturação da imagem é tão elevada que nos
obriga a pensar em notações simbólicas novas e diferentes das
geométricas. Por último, nossos critérios de notação projetual estão
ligados à situação histórica concreta da produção arquitetônica, seja como
indicação do processo de montagem, seja como capacidade de traduzir a
mensagem gráfica por parte de quem a recebe.”
“Mas, o meio de representação, seja simbólico ou geométrico, já o
afirmamos, não é nem objetivo nem indiferente; não se institui somente
como representação, mas também como controle do real, indica e faz
parte da intenção projetual inclusive em suas formas de aparente
neutralidade comunicativa.”
Outro aspecto importante para o entendimento do objeto é a adoção de
escalas capazes de representá-lo e de tornar evidentes suas características. Cada diferente
26
nível possui ou requer uma simbolização de seus elementos que permita sua manipulação.
A passagem dessa informação não ocorre apenas como uma tradução do elemento
representado, mas pode apresentar uma forma de leitura que permita diferentes
compreensões do objeto. As alterações dimensionais indicam mudanças de significado
mesmo para formas iguais, visto que não podemos considerar um córrego como um rio e
um monte de terra como uma montanha, da mesma forma que não podemos considerar um
modelo reduzido de um edifício como a obra em si. Esses diferentes níveis operativos
estabelecem em seu interior significados limitados pelas diferentes escalas adotadas
(GREGOTTI, 2001).
A compreensão dos usuários torna-se cada vez maior na medida em que o
objeto representado esteja mais próximo da sua capacidade perceptiva. Isso dependerá da
forma e da proporção em que cada pessoa dominar a capacidade de abstrair o espaço,
capacidade essa em geral decorrente da prática e do uso dos signos utilizados na
representação. Quanto maior for o domínio desses signos, mais facilmente se podem
perceber todos os aspectos que envolvem uma habitação desenhada por meio do sistema
projetivo. Como em muitos casos as pessoas possuem pouca familiaridade com o sistema
projetivo, as deformações decorrentes desse desconhecimento apresentam-se das mais
variadas formas. Alguns dos desenhos elaborados pelos usuários do Projeto Casa Fácil
demonstram esses aspectos (ver capítulo 7). Como então facilitar o acesso à informação por
essas pessoas? Segundo Szücs (1995), quanto maior for a escala e o nível de resolução da
representação mais facilmente o objeto é compreendido pelo autoconstrutor. Convém
ressaltar, no entanto, que não é suficiente aumentar o tamanho da representação se ela
continuar com os mesmos símbolos projetivos, que não são do domínio de significativa
parcela das pessoas. Torna-se necessário utilizar instrumentos que tornem o projeto da
habitação em objeto compreensível e compreendido pelo usuário.
2.4 O ATO DE APRENDER E DE COMPREENDER
“Para percebermos visualmente é necessário que o estímulo emitido do
ambiente encontre condições favoráveis para sua captação. Estas
condições dizem respeito à adequação não só dos aspectos físicos, mas
também à existência da faculdade de poder apreendê-lo, saber julgá-lo, e
corresponder à resposta esperada, a fim de ser completado o equilíbrio do
ato perceptivo. Há estímulos que produzem sensações de algo provindo do
espaço visual, porém não passam de simples sensações desse algo
existente, sem precisão de conteúdo visual, não completando, portanto, a
resposta adequada. No entanto, a situação muda, quando a sensação
27
produzida se relaciona com algo que não só podemos, mas também
queremos aprender. No ato perceptivo, portanto, se selecionamos os
estímulos segundo a capacidade físico-fisiológica, para podermos ver, os
selecionamos também segundo a capacidade do intelecto de discernir
entre o que quer e o que não quer apreender.” (MONZÉGLIO, 1979, p. 75
e 76).
Aquilo que percebemos ao nosso redor e, por conseqüência, apreendemos
enquanto conhecimento, está segundo Merleau-Ponty (1996, p. 26 e 358), no ato de
construir “pela ótica e pela geometria, o fragmento do mundo cuja imagem pode formar-se a
cada momento em nossa retina.” Esse aspecto da percepção está intrinsecamente ligado ao
domínio e ao alcance da nossa compreensão:
“Quando dizemos que um objeto é gigantesco ou minúsculo, que ele está
distante ou próximo, freqüentemente é sem nenhuma comparação, mesmo
implícita, com algum outro objeto ou mesmo com a grandeza ou posição
objetiva de nosso próprio corpo; é apenas em relação a um certo ‘alcance’
de nossos gestos, a um certo ‘poder’ do corpo fenomenal sobre sua
circunvizinhança.”
A percepção dos objetos que nos circundam não é possível senão a partir
da própria percepção interna das pessoas. Questões como espaço e tempo são
representações que residem internamente nas pessoas, como uma forma da intuição
sensível do ser humano. Nesse aspecto, Kant (2006) argumenta que o espaço, como
fenômeno, como representação, só existe a partir do eu interior, pois ele “não é nada fora da
nossa sensibilidade”, e que, por isso mesmo os fenômenos externos são reais apenas na
percepção:
“O conhecimento dos objetos pode ser extraído das percepções ou por um
simples jogo da imaginação ou graças à experiência. E então podem
certamente resultar representações enganosas, a que não correspondem
os objetos e em que a ilusão deve ser atribuída, quer a uma
fantasmagórica da imaginação (no sonho), quer a um vício do juízo (nos
chamados erros dos sentidos). Para escapar aqui à falsa aparência segue-
se a regra: O que está de acordo com uma percepção segundo leis
empíricas, é real” (KANT, 2006, p. 231).
Dentro do universo perceptível os objetos não aparecem de maneira
individual e solitária, mas se encontram dentro de um conjunto que forma uma totalidade.
Para que possa ocorrer a percepção é necessário que as “coisas” estejam apenas
parcialmente visíveis, pois se estivessem totalmente visíveis não seriam o objeto em si, mas
sim uma idéia ou representação do mesmo. A principal dúvida está em como perceber a
identidade de coisas que observamos apenas em suas parcialidades ou, da mesma forma,
em quais garantias temos de que diferentes pessoas estão vendo a mesma coisa, se elas a
estão observando sob diferentes perfis? O processo em que ocorre a unidade em um
28
mundo subjetivo está intrinsecamente ligada à forma como a pessoa percebe ”a totalidade à
partir de parcialidades, como estas só existem para mim a partir do meu ponto de vista,
como toda percepção se dá sempre num contexto, situando todas as significações, sendo
ela própria, temporalidade.” (PALLAMIN, 1992, p. 747). Essa ausência do todo auxilia na
construção da percepção do mais simples objeto, na medida em que ele sempre apresenta
um lado que não vemos, um aspecto que define a sua presença e que é completado pela
nossa perspectiva pessoal.
A forma como construímos nossa percepção sobre o mundo representado
pode ser analisada de acordo com o nosso processo de aprendizagem. Ao estudar a
maneira como apreendemos os conceitos gerais de um projeto, Abercombie (1971)
considera dois aspectos: receber informação, onde a percepção caracteriza-se como uma
forma de assimilação, e relacionar coisas, que nesse enfoque está considerado como o ato
de construir, e não apenas de projetar, demonstrando a preocupação com o caráter ativo do
processo e do contato direto com o material.
A concepção de que as pessoas recebem passivamente a informação
pode ser equivocada quando consideramos a variedade de acontecimentos que antecedem
e que envolvem esse processo. Uma pessoa, ao receber informação, constrói uma série de
esquemas que auxiliam a ver o que ela está acostumada e que impendem de ver o que lhe
causa conflito. Esse processo representa não apenas o ato de receber informação, mas
também o de atuar sobre ela, podendo ser considerado como um desenvolvimento longo e
trabalhoso. Quando uma pessoa recebe uma tarefa muito difícil ela tende a retornar a
esquemas infantis:
“Pensemos, por exemplo, na maneira como uma criança aprende a ler (...).
Ela lê com quase todo o corpo; move a cabeça seguindo as linhas;
freqüentemente move o dedo também para acompanhar as palavras, e
pode inclusive fazer ruídos ao mover os pés ou por o corpo em tensão se é
um texto realmente difícil. Mas à medida que lê com mais facilidade,
concentra esses movimentos somente com os olhos, e os olhos de um
leitor realmente hábil se movem somente de forma perpendicular pela
página porque aprendeu a absorver a informação de um campo muito mais
amplo.” (ABERCOMBIE, 1971, p. 258-259)
A experiência corporal, de maneira geral, pode assumir uma grande
importância quanto à forma como se vê o mundo. Essa preocupação revela-se na
necessidade de “atacar de frente” o problema da codificação, exercitando a prática a quem
aprende, tanto em ambientes “reais” quanto na construção de representações de tamanho
manejável. Nesses casos torna-se importante relacionar “as percepções visuais, auditivas e
29
sinestésicas com os desenhos ou maquetes das realidades que experimenta.”
(ABERCOMBIE, 1971, p. 267 e 277)
Segundo Broadbent (1973), a origem e o destino da informação em um
processo projetual são “cérebros humanos”, e que são, portanto, passíveis de subjetividades
que podem influenciar esse processo e os canais de comunicação das mais variadas
formas. A necessidade de uma linguagem comum, que empregue os mesmos símbolos e
signos para todos os interlocutores é condição essencial para o processo. As diferenças
comunicacionais entre o projetista e o usuário final dos ambientes podem dificultar que se
alcancem alguns “valores” muitas vezes relegados a um segundo plano, devido a uma
diferença de percepção sobre a importância de cada coisa. Em alguns casos a linguagem
utilizada pelos arquitetos, centrada nos aspectos gráficos e geralmente voltada a atender as
necessidades funcionais e estéticas, não consegue aproximar-se da forma como os
usuários decodificam o ambiente, de modo perceptivo, com uma maior importância aos
aspectos de valor, significado e afetividade em relação ao ambiente (ELALI; PINHEIRO,
2003).
A participação dos usuários no processo projetual pode envolver diversos
aspectos, entre os quais o emotivo, o afetivo e o de construção de uma percepção ambiental
e ecológica. Um exercício desenvolvido por Alves (1996) demonstra um processo de
aprendizagem e construção da percepção e valorização do ambiente urbano por crianças.
Os desenhos exploratórios iniciais, desenvolvidos por essas crianças, abordavam aspectos
que eram considerados relevantes, como fachadas de casas, desenhos de muros e prédios,
e foram materializados por meio de uma oficina de maquetes. A primeira etapa desse
exercício foi destinada à aprendizagem e à manipulação do material para a construção do
modelo, em um processo de descoberta de suas características e possibilidades. O
emprego desse instrumental foi assim definido:
“Elas eram um meio para se conversar, de se ter momentos de um
trabalho concentrado utilizando as mãos, de lidar com o raciocínio
projetivo, de mexer com a criatividade e de observar os pontos positivos do
Preventório. Mais do que isso, era naqueles momentos que eu os ajudava
a perceber o potencial de intervenção de cada um no seu meio, fazendo
com que se percebessem como participantes do processo de formação da
cidade” (ALVES, 1996, p. 228).
O desenvolvimento da percepção espacial utilizando-se instrumentos de
representação pode ser considerado como um processo de aprendizagem, em que os meios
podem favorecer ou dificultar o processo. Em um exercício desenvolvido com alunos do
30
ensino médio, Costa (2004) demonstrou de que maneira o emprego da representação
tridimensional pode contribuir para o aprendizado espacial dos alunos, por meio de
exercícios com técnicas de perspectiva e de construção de modelos tridimensionais. Esse
processo de formação de um conhecimento espacial abstrato indica de que maneira as
pessoas relacionam aquilo que “percebem” e aquilo que transformam em códigos de
representação.
A forma como as pessoas que não possuem treinamento para a leitura de
desenhos, normalmente utilizados para representar os projetos, apresentam dificuldades no
entendimento e na transmissão dessas informações é estudado por Cattani (1994; 2001) por
meio da análise da compreensão dos operários da construção civil sobre os projetos que
eles executam. O fato de o desenho cumprir, há muitos anos, o papel de transmissor do
conhecimento arquitetônico e construtivo não significa que ele faça parte do repertório das
próprias pessoas encarregadas da sua concretização:
“Fica claro que aqueles que têm a capacidade ou a atribuição de ter
acesso ao projeto de uma maneira integral, tendo também a atribuição de
determinar a seqüência de tarefas a serem realizadas, exercerão o poder
de mando sobre aqueles aos quais o projeto não é tornado acessível, quer
por determinação hierárquica, quer por incapacidade dos subordinados
compreenderem os códigos gráficos utilizados na representação da tarefa,
por este conhecimento ter-lhes sido negado” (CATTANI, 1994, p. 43).
O exemplo de um diálogo entre um engenheiro, o proprietário e o executor
da obra demonstra bem a dificuldade de se fazer entender tecnicamente, dentro do
processo de comunicação entre os diferentes agentes envolvidos na produção do ambiente
construído (CATTANI, 1994, p.10):
“- O seu Chico, tudo bem? Este aqui é o engenheiro que vai construir a
minha casa.
- Prazer dotor.
- Prazer seu Chico. Tudo bem?
- Vai se levando.
- Bem, eu trouxe aqui as plantas prá gente dar uma olhada em como vai
ser a casa do seu José.
- Ah...
Depois de seu Chico ter olhado demoradamente as plantas:
- E daí, seu Chico? O que é que o senhor acha? Dá pra construir?
- É... Prá quem entende as planta, deve de sê bem mais fácil...”
O fato de que os trabalhadores da construção civil geralmente vêm de
classes populares, que muitas vezes necessitam desenvolver suas próprias estratégias de
solução para seus problemas, acabam levando para o canteiro de obras esses
procedimentos. Essa condição faz com que a aprendizagem na construção civil se dê no
31
próprio canteiro de obras, por meio de um processo de “aprender fazendo” (CATTANI,
1994).
Uma pesquisa desenvolvida por Mautner (1991) demonstra que a
mobilidade entre o trabalho assalariado na indústria da construção civil, e o trabalho
autônomo, garante o acesso a novas técnicas construtivas, numa espécie da atualização
constante originada no emprego formal. Além disso, esse “domínio” do saber construtivo é
reproduzido por meio da transmissão do conhecimento para os auxiliares que
eventualmente venham a participar da execução da obra, contribuindo para a difusão de
técnicas construtivas e para a generalização do uso de novos materiais de construção na
periferia.
Esse processo de aprendizagem se dá em diversos níveis, porém
basicamente trata-se de uma transferência de conhecimento baseada na prática diária do
construir e nas relações entre os agentes que possuem maior ou menor conhecimento do
objeto a ser concretizado (SOMMER, 1983). O domínio do processo e do produto projetual
geralmente é atribuído ao arquiteto, autor do projeto, que, segundo Ferreira (2006), possui
uma melhor aptidão para materializar os ambientes desejados pelos moradores, da maneira
mais próxima possível da idealização da moradia. Ao mesmo tempo, no entanto, este autor
alerta que nem sempre o projetista possui todas as aptidões necessárias para,
isoladamente, interpretar o ideal da casa e buscar sua concretização. Dessa forma, os
autores de projetos que possuem melhores resultados, em relação à satisfação dos usuários
com o ambiente construído, são aqueles que conseguem, dentro de suas convicções
próprias, a conciliação com e entre o grupo familiar. Esse processo busca compreender
melhor as características e anseios dos usuários, e não impor concepções certas ou excluir
aspectos considerados errados, tampouco determinar o que seria melhor ou pior. Quando
age dessa forma o projetista parece ser capaz de interpretar melhor as necessidades e
aspirações dos moradores e, principalmente, não permitir que outras pessoas com menor
domínio técnico (moradores ou construtores) assumam o comando das tarefas que seriam
uma atribuição natural do projetista.
Esse processo pressupõe que se deve atribuir uma maior importância na
compreensão do conhecimento prévio de cada pessoa, e a utilização dessa experiência
como instrumento na construção do conhecimento, pois segundo Marton (1981), os
indivíduos possuem diversas concepções que, muitas vezes, pessoas que estão em uma
posição de maior poder buscam sistematicamente modificar ou substituir.
32
O aspecto da construção do conhecimento pode ser entendido, não por
meio de uma atitude passiva, mas sim por um processo interativo de aprender vivendo e
viver aprendendo. Nessa linha de pensamento Maturana e Varela (2001) argumentam que o
conhecimento não se origina apenas no processamento de informações provindas de um
mundo anterior à experiência do sujeito enquanto observador, como se essas informações
fossem apenas um produto a ser apropriado e explorado. Deve-se considerar que os seres
humanos possuem também um caráter autônomo, produzindo seus próprios componentes
de conhecimento ao interagir com o meio que os circunda.
O observador não pode ser considerado independente do meio na mesma
medida em que ele não reflete um mundo exterior, mas sim um mundo “interior real”
(RHEINGANTZ; ALCANTARA, 2007). Dessa forma, o observador de determinado fenômeno
deve utilizar seu conhecimento prévio, por meio de suas sensações, sentidos e emoções,
para auxiliá-lo na análise de determinada situação ou ambiente. Esse conceito de
“observação incorporada” (RHEINGANTZ, 2004; VARELA; THOMPSON; ROSCH, 2001)
deve levar em consideração a experiência da reflexão e da vivência prévia, de forma a
permitir que o observador do processo possa experimentar o ambiente construído. Esse
procedimento deve ser feito de maneira criteriosa e precisa, porém sem desconsiderar que
não é possível separar o observador daquilo que é observado.
A percepção de que a apreensão do conhecimento se dá por meio de uma
prática construtiva leva em consideração a existência de diferentes sujeitos nesse processo.
Dessa forma, os conhecimentos prévios se inter-relacionam, em um processo biunívoco, no
qual a aprendizagem não é linear e direcional, mas supõe uma interação entre quem ensina
e quem aprende. Essa “construção social do conhecimento” leva em consideração que os
diferentes agentes envolvidos nesse processo irão gerar uma construção inacabada de
conhecimentos, na qual o pensamento crítico e a capacidade de compreensão do mundo
permitirão que os indivíduos possam ser mais independentes, conscientes e autônomos em
suas decisões. (RHEINGANTZ et al, 2003).
Em muitos casos o meio no qual está imerso faz com que o futuro arquiteto
adquira alguns dos conceitos defendidos pela escola ou pela linha de pensamento vigente.
A maneira como o projeto de arquitetura é visto - como um substituto da “arquitetura vivida” -
alcança, segundo Martínez (2000, p. 81), uma grande importância nas faculdades:
“O estudante separa-se do entorno construído que conhece e habita; este
é, por hipótese, má arquitetura. A experiência vivida não pode suavizar a
rigidez dos modelos da boa arquitetura moderna. O arquiteto formado
33
desse modo tem por objetivo impor à realidade uma arquitetura paralela, a
Arquitetura de Arquitetos, conhecida por ele por meio de representações.
O fracasso dessa atitude messiânica o converte em céptico: fracassou ao
impor a boa arquitetura. E o êxito pode ser ainda pior. Em ambos os casos,
baseia-se em um desconhecimento do imediato, o que equivale a uma
alienação. (...) A revalorização do entorno conhecido oferece um primeiro
passo para diminuir a distância entre o arquiteto e o público.”
As características da atuação do arquiteto, em uma área extremamente
vasta e complexa, não podem ser consideradas em uma única disciplina ou abordagem.
Nesse aspecto, segundo Romice (2004; 2005), é necessário um diálogo com outras áreas
em uma relação biunívoca e equilibrada, sendo considerável a importância da psicologia
ambiental nas atividades dos projetistas. O envolvimento de diferentes áreas nos processos
projetuais faz com que os trabalhos adquiram um caráter complexo, capaz de gerar
situações “delicadas”, que envolvam problemas de natureza social, física, política, ética e
econômica. Para que esse processo possa ter sucesso é necessário existir responsabilidade
e comprometimento de todos os participantes - tanto dos usuários quanto dos técnicos
envolvidos.
Qualquer tipo de participação requer uma revisão das formas de projetar
adotadas como prática tradicional na atuação do arquiteto. Uma das maneiras de
participação é o envolvimento direto da comunidade, de forma sistematizada e organizada,
nas decisões de projeto. O sucesso dessa abordagem está diretamente associado com a
qualidade da coordenação desse processo e dos procedimentos que irão decidir as
questões de projeto. Quando é necessário um nível de interação entre os membros da
comunidade, o emprego de grupos de trabalho pode contribuir para o aprendizado e o
conhecimento entre os moradores, e destes com os projetistas, de forma que todos possam
se engajar efetivamente no processo de decisão do grupo (SANOFF, 2006a).
Desde a década de 60 houve um aumento da percepção da necessidade
da participação do público na definição do ambiente físico, com a ampliação da
responsabilidade social, e um início de uma consciência comunitária para os ambientes
urbanos das famílias de baixa renda. Esse processo levou à busca pela adoção de
procedimentos mais transparentes, em que as decisões técnicas pudessem ser claramente
compreendidas pelas pessoas para as quais o ambiente estava sendo projetado (SANOFF,
2006b).6
6
Para mais detalhes sobre esses procedimentos ver capítulo 3.
34
3 A HABITAÇÃO E A CRIAÇÃO DO ESPAÇO DA MORADIA
As habitações projetadas pelo Projeto Casa Fácil são, em sua essência
exemplos de um processo que busca fornecer orientação técnica aos usuários que irão
executar suas moradias. Elas são, dessa forma, ainda que parcialmente, um modelo de
habitação autoconstruída, pois todo o processo de execução e de viabilização financeira
depende exclusivamente de seus moradores.
Essas moradias possuem a característica, no entanto, de serem também
alvo de um processo projetual participativo individual, o que as torna exemplos singulares
dentro dos modelos de participação, que envolvem geralmente grupos e comunidades. Isto
não acontece no Projeto Casa Fácil, pois nele os atendimentos são individuais, específicos,
e implantados de forma dispersa por toda a malha urbana do município, em especial na
periferia mais distante e com menos recursos financeiros.
Outro aspecto observado nessas moradias é que durante a elaboração do
projeto, da execução da obra, ou até mesmo após a sua efetiva ocupação, elas representam
um modelo idealizado pelos seus moradores que projetam, no sentido literal e figurado,
todas as aspirações, desejos e concepções de vida que trazem consigo a partir de sua
vivência e experiência prévia.
As discussões que envolvem a questão habitacional são amplas e
abrangentes, pela própria característica da temática. O presente capítulo busca discutir
alguns desses aspectos que envolvem o objeto de estudo, de forma especifica, os quais,
não obstante, podem ser encontrados em diversas outras cidades do país, de maneira geral.
3.1 A AUTOCONSTRUÇÃO
A inadequação de projetos habitacionais às necessidades de seus
moradores, entendendo-se necessidade dentro de um espectro abrangente, pode ocasionar
uma não-apropriação e insatisfação quanto a esses ambientes. A ação de alguns dos
agentes que atuam na produção de habitações sociais, notadamente na etapa decisória do
35
projeto, leva em consideração, quando muito, apenas aspectos técnico-funcionais - como o
dimensionamento dos ambientes - e técnico-construtivos.
A atuação estatal na produção da habitação, durante um período recente
de história brasileira, demonstrou a adoção de uma postura paternalista e centralizadora. O
Banco Nacional de Habitação, até o seu fechamento em 1986, notabilizou-se pelo incentivo
à produção de conjuntos habitacionais em massa. Esse modelo, dentro de uma visão linear,
preocupou-se mais em atender à demanda de uma grande quantidade de pessoas por casa
própria do que com a qualidade da unidade habitacional e do contexto onde ela estava
inserida. Essa visão, sob muitos aspectos, permanece quando observamos que o principal
alvo encontra-se no enfoque econômico (GHOUBAR, 1990), de forma que a redução de
custos baseia-se na redução da área construída e da qualidade dos acabamentos.
A inadequação dessa conduta é percebida quando observamos o alto
índice de modificações e/ou insatisfação com essas moradias. Diversas pesquisas
(ORNSTEIN; CRUZ, 2000, SZÜCS, 2000; KOWALTOWSKI et al, 1995, ORNSTEIN,
ROMÉRO; CRUZ, 1995; REIS, 2000; entre outras) demonstram que o principal motivo de
modificações nos projetos originais encontra-se nas diminutas áreas úteis dos ambientes.
No outro lado da produção de habitações sociais, o da autoconstrução, percebe-se de que
forma essa conduta representa uma inadequação às necessidades dos moradores. Como
nesse processo a tomada de decisão está vinculada diretamente ao usuário, as áreas
médias úteis são geralmente superiores às dos conjuntos habitacionais (IMAI, 2000; CRUZ,
1998; CRUZ; ORNSTEIN, 1995).
A produção da habitação autoconstruída representa uma importante área
de estudo para compreender as relações que permeiam o habitar e o processo que leva à
sua produção. O processo de expansão do capital por meio dos loteamentos periféricos e a
conseqüente expansão habitacional da área urbana, com conseqüências bem conhecidas,
são alvo de estudos diversos (BONDUKI, 1998; GROSTEIN, 1998; TASCHNER, 1997;
MARICATO, 1997; MAUTNER, 1991; LEMOS; SAMPAIO, 1977; SANTOS, 1981; entre
outros).
Segundo Santos (1981), para a periferia dirigem-se os pobres que estão
sendo expulsos dos núcleos das metrópoles, seja por ação direta do Estado ou do capital
(por meio de programas de remoção de favelas, construção de obras públicas, etc.), seja
por sua ação indireta (legislação, taxação, supervalorização de terra, etc.). Para a periferia
36
vão as pessoas que não podem ocupar as regiões mais centrais. Algumas iniciativas do
poder público para facilitar o acesso à moradia, no entanto, podem ser encontradas
atualmente, tais como o Programa de Arrendamento Residencial (PAR). Este programa
permite uma política de adensamento habitacional nas áreas centrais (ou em regiões
próximas) das grandes e médias cidades do país, com a implantação de empreendimentos
habitacionais em edifícios existentes ou em terrenos ociosos. Ainda que em pequena
escala, comparativamente à demanda habitacional, esse procedimento pode ser
considerado como uma política pública urbana que possibilita uma requalificação das
regiões centrais das grandes cidades e também contribui para a redução do déficit
habitacional das cidades de médio porte (MEDVEDOVSKI et al, 2006b). Ao contrário da
habitação autoconstruída, as unidades térreas implantadas pelo PAR podem apresentar
uma menor quantidade de alterações executadas pelos moradores, pois se os agentes
promotores e gerenciadores do empreendimento mantiverem um efetivo controle, existe
uma tendência maior de que não surjam modificações nos projetos originais
(MEDVEDOVSKI et al, 2006a).
Apesar das iniciativas como o PAR, elas não são suficientes para atender
toda a demanda, ainda persistindo uma grande quantidade de casos de moradores que se
instalam em loteamentos periféricos, geralmente levados por vantagens como o prazo para
pagamento dos lotes relativamente curto (entre 5 e 7 anos); prestações reajustadas
anualmente segundo uma correção pré-fixada; nenhuma alteração no preço final do lote ou
no prazo de pagamento; possibilidade de negociar a dívida no caso de atraso de pagamento
e a inexistência da intermediação burocrática, com relações face a face entre moradores e
vendedores (CHINELLI, 1979).
7
Esses aspectos positivos se fazem acompanhar de uma série de
desvantagens, entre as quais a distância do centro da cidade e a ausência de facilidades
urbanísticas no loteamento. Segundo Lima (1979), outro grave problema nos loteamentos é
o custo da autoconstrução, tendo o trabalhador que estender sua jornada de trabalho,
comprimir ao extremo seus gastos de alimentação e vestuário e fazer a substituição de
ganhos monetários por trabalho próprio. O produto final da autoconstrução tende a ser
desalentador: uma habitação inacabada, mal-localizada, com precárias condições de
habitabilidade e sem beneficiamento da rede de infra-estrutura urbana.
7
Apesar de transcorridos quase trinta anos desde essas alises feitas por Santos, Chinelli e Lima, entre outros,
a questão aparentemente não teve grandes alterações, em especial na região do objeto de pesquisa em
questão.
37
A viabilização do auto-empreendimento da casa própria passa, muitas
vezes, pela construção em etapas e a aquisição do terreno em prestações, em loteamentos
distantes e sem infra-estrutura, conforme a disponibilidade de recursos dos moradores. Isso
os leva a habitar uma obra inacabada e precária, pois não podem mais arcar com as
despesas de aluguel e ao mesmo tempo com o financiamento do terreno (BONDUKI, 1998).
Segundo SANTOS (1981), o sucesso desses loteamentos estava, além da
facilidade no acesso às famílias de baixa renda, na aceitação das “regras do jogo” por todos
os agentes envolvidos no processo: os loteadores, os moradores e o Estado (mesmo que
por omissão). O lado perverso desse processo é descrito da seguinte forma:
“Quando o loteamento é lançado no mercado ele tem a vantagem de
apresentar um custo econômico próximo a zero. É por isso que eles se
submetem a morar longe, em lugares desprovidos de qualquer facilidade
urbanística. A par da tranqüilidade e da segurança da propriedade, eles
sabem e aceitam que o seu desconforto e as péssimas condições de
consumo coletivo a que se submeterão no início são o preço a pagar. A um
custo econômico zero, corresponde, portanto, um custo social tão mais
próximo do infinito quanto maior seja o vazio e o nada onde se implanta o
loteamento” (SANTOS, 1981, p. 39).
O poder público tem na legislação um forte instrumento de controle da
organização e da expansão urbana. A prática tem demonstrado, porém, que ela mais
assumiu uma posição estratégica para arrecadação do que necessariamente para o controle
do ambiente habitacional. As taxas sobre as áreas edificadas e loteadas têm se
demonstrado como a principal fonte de recursos municipais para investimentos. Por outro
lado, o setor privado relaciona-se com a legislação conforme seus interesses, de acordo
com o tempo e lugar, sendo por vezes respeitada e por outras ignorada, seguindo os
interesses econômicos e especulativos (TARALLI, 1995).
Uma pesquisa de Mautner (1991, p. 156) demonstra que o pequeno
empreiteiro adquire o status de produtor independente que conhece, ainda que não de
maneira refinada, os princípios básicos do ofício. Eles se consideram como “trabalhadores
autônomos”, porém aprenderam sua profissão geralmente na indústria da construção civil,
onde freqüentemente se empregam, mesmo que por alguns poucos meses, para obter a
previdência social e alguns benefícios durante determinado período. É muito comum ao
pequeno empreiteiro essa dupla jornada de trabalho, uma no mercado formal, e a outra
como construtor autônomo, complementando sua renda.
38
As questões listadas anteriormente, alvo de pesquisas iniciadas há
algumas décadas, apresentam aspectos que são perceptíveis na região periférica de
Londrina e no objeto de estudo em questão. Aspectos como a implantação de loteamentos
periféricos para a camada da população de menor poder aquisitivo, os aspectos dos custos
sociais da autoconstrução (como a extensão da jornada de trabalho), o caráter inacabado da
obra e a ausência ou omissão do poder público, são temas ainda válidos e atuais, pelo
menos na região da pesquisa.
Os problemas decorrentes da autoconstrução são amplos e complexos,
revelando uma situação que não depende apenas de soluções técnicas para ser resolvida
ou minimizada. Apesar dessa ressalva, convém lembrar que estudos sobre autoconstrução
identificam que alguns dos principais problemas detectados na execução dessas habitações
têm como origem a ausência de orientação técnica no processo produtivo. Nesse “saber
fazer” decorrente do conhecimento adquirido na indústria da construção civil, nem sempre
as soluções adotadas pelos autoconstrutores podem ser consideradas como exemplos bem-
sucedidos de projeto e construção.
A transferência de conhecimento durante o próprio processo participativo
de elaboração do projeto e de acompanhamento da execução da obra, pode ser
considerada como uma alternativa para amenizar alguns dos problemas detectados na
autoconstrução (PINA et al, 2002). Esse processo encontra-se dentro de uma idéia de
compartilhamento e desalienação, que possui a sua raiz no próprio desenvolvimento, por
parte do morador, de seu conhecimento sobre a habitação e seu processo produtivo.
Podemos verificar, nas análises posteriores deste trabalho, de que forma ocorre essa
evolução dos usuários devido ao processo de produção de suas moradias.
Nesse contexto é necessário compreender não apenas o processo
produtivo habitacional, mas também as características do local e de seus moradores e suas
interfaces com o ambiente construído. Algumas das soluções defendidas para essas
questões envolvem a flexibilização no projeto da habitação (SZÜCS, 2000), onde a
adequação dos projetos às necessidades e às características individuais das famílias
moradoras seria uma forma de garantir que a edificação consiga adaptar-se a um amplo
espectro de necessidades especificas. Essa adequação refere-se não apenas aos aspectos
de projeto, mas também ao processo construtivo, pois, segundo Arantes (2002, p. 83 e 119),
enquanto não houver condições que viabilizem “a industrialização em larga escala, o déficit
habitacional exige o aproveitamento de técnicas populares e tradicionais”, tratando-se “de
39
um saber fazer sem complicações que qualquer um, com algum esforço e inventividade,
estaria apto a exercer”.
3.2 O PROCESSO PARTICIPATIVO
3.2.1 O PODER DE DECISÃO
“A teoria da participação democrática foi construída ao redor da asserção
central que os indivíduos e suas instituições não podem ser isolados uns
dos outros. A existência de instituições representativas em nível nacional
não é suficiente para a democracia; para um máximo de participação de
todas as pessoas à um nível de socialização, ou treinamento social. Para a
democracia deve-se buscar outras esferas, na medida em que a
necessária atitude individual e a qualidade psicológica possam ser
desenvolvidas. Esse desenvolvimento toma lugar por meio do próprio
processo participatório. A função principal da participação, na teoria
democrática participatória, é uma função educativa, entendendo educação
em seu senso mais amplo, incluindo tanto os aspectos psicológicos e o
ganho na prática da habilidade democrática. “ (PATEMAN, 1970, p. 42)
O conceito de participação pode se referir a uma grande variedade de
situações, vivenciadas por pessoas que podem ter percepções diferenciadas acerca do
significado desse conceito. O significado da palavra participar pode estar simplesmente no
ato de informar e comunicar algo, tomar parte em alguma ação ou atividade, ou
simplesmente ter pontos em comum, analogias com outros aspectos (FERREIRA, 1999).
Um dos conceitos sobre a teoria participatória é a necessidade de
consenso, se não entre todos os indivíduos, pelo menos entre aqueles delegados de poder
decisório. A aceitação das diversidades e diferenças e a busca pelo “consenso” dependem
de um treinamento social, que só pode ser alcançado pela prática envolvida no próprio
processo participatório. A complexidade do processo participatório e suas conseqüências
nas estruturas existentes na sociedade podem levar a um “medo” da participação ativa das
pessoas que, em uma visão totalitarista, não agem, e sim “reagem” às iniciativas das elites
(PATEMAN, 1970). Nesse contexto, podemos considerar que as questões que envolvem a
participação estão permeadas pelas práticas e relações de poder, entendendo-se poder não
como um objeto em si, mas como algo que se exerce, aplica-se e funciona. Esse
funcionamento age como uma “maquinaria” que se dissemina por toda uma estrutura social
(MACHADO, 1979).
40
Segundo Santos (2007, p. 266), o poder, em nível geral, é “qualquer
relação social regulada por uma troca desigual”, onde persiste sua característica de produzir
desigualdades mais por suas trocas internas do que por determinações externas. Essa
desigualdade pode ser efetivada não apenas pelos aspectos materiais, mas também pela
impossibilidade da participação autônoma em algum processo de tomada de decisões.
Nesse aspecto, Rousseau (apud PATEMAN, 1970, p. 23) argumenta que certas condições
econômicas são necessárias para um processo participatório, não requerendo para isso
absoluta igualdade, como alguns imaginam, mas sim uma situação em que “os cidadãos
não sejam tão ricos que possam comprar outros, e nem tão pobres que sejam forçados a
vender a si próprios”.
A formação do conhecimento, seja ele científico ou ideológico, só pode
ocorrer a partir de condições que formem tanto o sujeito do conhecimento quanto o domínio
do saber. Nesse aspecto, pode-se considerar que não existe um saber neutro, pois o
exercício de poder pode ser ao mesmo tempo instrumento de produção, acúmulo e
transmissão do saber. Para exemplificar esse pensamento, Machado (1979) argumenta que
determinados ambientes - como hospitais, escolas e até mesmo hospícios - estão na origem
da formação do conhecimento de áreas como a medicina, a pedagogia e a psiquiatria, e
que, cada vez mais, impõe-se a necessidade de o poder se tornar competente, sob domínio
do perito. Segundo Foucault (1979), o que faz com que o poder seja aceito e se mantenha é
o fato de que ele não é apenas uma força que diz não, mas possui uma característica
produtiva, permeando todas as relações, formando saberes e produzindo discursos.
A produção de um “conhecimento emancipatório” é, segundo Santos
(2007, p. 109), uma forma de romper com uma postura conservadora e mistificada. A ciência
moderna atuou de maneira positiva ao rejeitar o senso comum simplificador, porém com
esse processo relegou a segundo plano todo um saber pragmático. A emancipação, obtida
por meio do conhecimento, não despreza o conhecimento que produz tecnologia, mas
entende que esse conhecimento deve ser traduzido em autoconhecimento, a ser apropriado
pelos grupos sociais excluídos. Essa apropriação provavelmente ocorrerá de maneira
desigual, pois esses grupos são característicos por suas assimetrias, e não é possível
imaginar, senão de forma utópica, que possam existir “consensos e diálogos
indiferenciados” que permitam homogeneizar toda a discussão.
As estruturas de produção e propagação do conhecimento podem se
utilizar de uma série de saberes que até então foram desqualificados, como não
41
competentes ou insuficientemente elaborados. Esses saberes ingênuos, considerados por
muitos como hierarquicamente inferiores, são vistos, por vezes, como situados abaixo do
nível necessário de conhecimento e cientificidade. Nesse aspecto Foucault (1979, p. 71)
lembra que “os intelectuais descobriram recentemente é que as massas não necessitam
deles para saber. (...) Mas existe um sistema de poder que barra, proíbe, invalida esse
discurso e esse saber. Poder que não se encontra somente nas instâncias superiores da
censura, mas que penetra muito profundamente, muito sutilmente em toda a trama da
sociedade”.
O conceito básico de um processo participatório é o de que os
conhecimentos existentes entre duas ou mais partes levam-nas a uma influência mútua no
sentido de definir os diferentes aspectos do objeto de discussão. Para que isso seja possível
é necessário serem equacionadas as dificuldades de comunicação entre o objeto imaginado
(projeto) e o mundo real. Para que uma pessoa efetivamente participe na elaboração de um
projeto é necessário que ela possua meios de compreender o que está sendo representado
e possa contribuir nesse processo. Caso contrário, o projeto participativo pode-se tornar
apenas uma forma de legitimar as decisões do projetista ou de quem detém o conhecimento
técnico (MALARD, 2002). Esse aspecto é lembrado por Sanoff (2000), ao afirmar que a
participação depende do contexto, variando em intensidade, extensão e freqüência,
podendo-se encontrar dois tipos básicos de participação: a pseudoparticipação e a
participação genuína. A primeira é dividida entre a “domesticação”, que envolve o controle
ao acesso à informação e a manipulação do processo e o “assistencialismo”, que envolve
aspectos de consulta sem transferência de poder decisório; e a segunda é dividida entre a
cooperação”, que envolve aspectos de parceria e delegação de poder e o “controle” do
processo por parte do usuário.
As diferentes formas de participação também são classificadas por
Pateman (1970) em pseudoparticipação, participação parcial e participação total. A
pseudoparticipação refere-se não apenas a um método de tomada de decisões, mas
também ao uso de técnicas para persuadir as pessoas a aceitar decisões que já haviam
sido tomadas pelos detentores do processo de gerenciamento. A participação parcial
estabelece um processo em que um indivíduo, ou grupos de indivíduos, podem influenciar
as decisões que serão tomadas pela pessoa que detém efetivamente o poder decisório e a
participação total pode ser considerada como “um processo onde cada indivíduo possui
poder igualitário na tomada de decisões. Como no caso da participação parcial, ela é
42
possível com um maior ou menor nível de gerenciamento do processo.” (PATEMAN, 1970,
p. 71)
8
.
Os exemplos encontrados no processo projetual do Projeto Casa Fácil,
como veremos no decorrer deste trabalho, são desenvolvidos dentro de uma estrutura
sistematizada e única, porém com grupos individualizados de usuários e com uma ampla
variedade de projetistas. Nesse aspecto, podemos encontrar exemplos onde aparece, total
ou parcialmente, cada uma das diferentes formas de participação listadas por Pateman.
Como os detentores do poder decisório, na etapa de projeto, não possuem necessariamente
a mesma influência na etapa de execução, transparecem, mesmo que de forma implícita, as
confluências e divergências entre o projeto e a obra finalizada. A principal contribuição
dessa teoria participatória deve estar em possibilitar que o foco da nossa atenção esteja
voltado para as inter-relações entre os indivíduos e as estruturas de autoridade de
instituições com as quais eles interagem (PATEMAN, 1970).
3.2.2 O PROJETO PARTICIPATIVO
“O arquiteto, por mais que ele queira, não tem controle sobre o uso dos
espaços que projeta. E é bom que assim seja pois, do contrário,
acabaríamos por querer controlar a própria vida das pessoas, dirigindo
suas práticas no espaço. As abordagens cuja pretensão seja a de
impregnar os projetos com as intenções do arquiteto são, pois, inócuas
pela própria natureza e, portanto, ingênuas, se examinadas objetivamente.
Mas, se somos ingênuos ao buscar o inatingível, podemos nos tornar
nocivos ao preconizá-lo. Intenções não têm formas visuais. O modo como
percebemos o espaço nos é ensinado pela cultura, pela prática social.”
(MALARD, 2005, p. 96)
A questão habitacional tem sido alvo de inúmeras pesquisas e
desenvolvimento de teorias (com aplicação de algumas) em todo o último século. A
existência de leque tão variado de propostas para a solução da problemática, adequadas ou
não, justifica-se pela complexidade que envolve o próprio tema. A habitação representa não
apenas uma necessidade física do espaço da moradia, mas também uma aspiração pessoal
que envolve, além da questão econômica, aspectos sociais, psicológicos e culturais
(BECHTEL, 1997; FRANCESCATO et al, 1989; LEMOS, 1989; entre outros).
8
Tradução nossa.
43
O conceito da participação do usuário no projeto arquitetônico surgiu com
maior vigor e aplicação nas décadas de 60 e de 70. Alguns diferentes exemplos de
aplicação desse método podem ser encontrados nos trabalhos de Ralph Erskine, Giancarlo
de Carlo, Lucien Kroll e Christopher Alexander, entre outros. A preocupação principal era a
garantia do envolvimento dos futuros usuários no processo de planejamento e/ou produção
de suas edificações, com uma clara preocupação social, tendo como foco as pessoas e não
apenas os edifícios.
Para compreendermos esse processo é necessário buscarmos a origem
da preocupação com os aspectos de socialização e de garantia de condições mínimas de
habitabilidade, a qual não é uma discussão recente e pode ser encontrada como uma
reação direta às precárias condições impostas aos trabalhadores urbanos desde o início da
Revolução Industrial. A definição de parâmetros de necessidades que garantissem
condições mínimas de existência levou os arquitetos a buscarem o conceito de habitação
mínima (AYMONINO, 1973), no início do séc. XX.
A ideologia do Movimento Moderno (KOPP, 1990) buscava, naquele
momento, uma melhor compreensão da habitação, com a definição de padrões de
dimensionamentos mínimos que são a origem de muitos dos manuais de referência para o
projeto arquitetônico utilizados até hoje (NEUFERT, 2004). Entre as discussões existentes
na época se pode observar a importância dada ao projeto como indutor de uma nova cultura
de habitação e de um novo comportamento social. Um exemplo é a adoção de critérios de
funcionalidade aplicados ao ambiente da cozinha, desenvolvida por Grete Lihotsky,
conhecida como Cozinha de Frankfurt, e que foi a origem de muitos conceitos empregados
atualmente. Deve-se ressaltar, no entanto, que esses conceitos de funcionalidade foram e
estão sendo constantemente reformulados e alterados para adaptar-se às naturais
mudanças da sociedade e de seus hábitos e necessidades (TORRES et al, 2006).
Esses procedimentos possuem raízes profundas e desdobramentos que
influenciam todo o processo projetual contemporâneo. Deve-se observar a importância
dessas discussões, no seu devido contexto histórico, e a contribuição obtida em muitos dos
projetos desenvolvidos dentro desses parâmetros. Em muitos casos, no entanto, a
replicação do modelo modernista não seguiu as discussões de cunho social que haviam
sido iniciadas pelos modelos originais, porém foram empregados mais dentro de um
processo de produção industrial, cujo principal foco era a produção em massa pra suprir o
déficit habitacional.
44
A necessidade da produção de grandes quantidades de habitação era um
problema efetivo e necessitava ser enfrentado. Alguns projetos, entretanto, não levaram em
consideração que as aspirações pessoais dos moradores de conjuntos habitacionais, por
vezes, não seguem padrões predeterminados. Esses “desejos individuais”, quando não
considerados necessidades básicas, podem tornar-se incompatíveis com os projetos
executados, não permitindo a apropriação dos espaços e ocasionando problemas sociais.
A rejeição, por parte dos moradores, de determinados conceitos, pode ser
fortemente influenciada pelo contexto social no qual estão inseridos. A preocupação com a
socialização dentro dos ambientes habitacionais, durante a elaboração do projeto, pode ser
observada em um exemplo clássico de implantação de habitação social, o conjunto Pruitt-
Igoe, nos Estados Unidos. O projeto do arquiteto Minoru Yamasaki, considerado um dos
mais eminentes arquitetos do país na época, pôde ser considerado, em um primeiro
momento, interessante como proposta, pois defendia uma visão de mundo baseada em
esquemas espaciais que buscavam a socialização de seus moradores. Um dos esboços
iniciais do projeto (figura 1) demonstra essa preocupação do arquiteto, que além do espaço
físico em si, insere a forma como ele previa o uso e ocupação desse ambiente. Essa
idealização do espaço traz uma idéia de convívio que seria determinada e induzida pelo
projeto. Pode-se observar nesse esboço um espaço ocupado por pessoas em atividades
comunitárias, como a lavagem de roupa, com crianças brincando e até um pequeno cercado
com um bebê. O efetivo corredor comunal, no entanto, não foi apropriado pelos moradores
como um espaço comunitário, ficando como uma área sem domínio espacial (NEWMAN,
2004).
Figura 1 – Croqui do autor do projeto dos edifícios Pruitt Igoe com a visão de como seria utilizado o corredor
comunal do 3
o
. andar e a foto do corredor em uso e o vandalismo decorrente.
Fonte: (NEWMAN, 2004)
45
Outro exemplo de como a atuação dos arquitetos pode ocasionar uma
forte interferência nas comunidades onde seus projetos são inseridos é o projeto de Byker,
na cidade de Newcastle, na Inglaterra. Até o início dos anos 60 a região de Byker era uma
típica área de habitação para trabalhadores, no lado leste da cidade, próxima ao rio Tyne.
No meio daquela década as condições eram precárias em boa parte dessa região, levando
à proposta de revitalização da área. O forte senso de comunidade foi um importante fator
nas decisões do processo projetual. Ao contrário do Priutt Igoe, onde houve resistência por
parte dos moradores em aceitar o local onde foram instaladas as habitações, a região de
Byker, embora em estado precário, já estava ocupada por habitações, e a comunidade
mantinha forte desejo de permanecer no local.
O autor do projeto, Ralph Erskine, foi contratado para realizar o
planejamento e a consultoria no processo de revitalização, onde atuou com uma diferente
forma de pesquisa e participação na comunidade. Erskine montou seu escritório na própria
região da intervenção, encorajando a população local a participar das decisões de projeto.
Esse processo, que poderia ser classificado como uma participação parcial (PATEMAN,
1970), não abria mão das decisões projetuais tomadas pelo arquiteto, porém levava em
consideração a opinião de seus moradores.
É possível perceber, nos croquis iniciais de Erskine, da mesma forma que
no croqui do corredor comunal de Yamasaki, certa idealização do espaço, demonstrada nos
desenhos a seguir, onde a praça é representada com ampla vegetação, pessoas circulando
e crianças brincando. Nesse aspecto, os dois autores têm pelo menos uma coisa em
comum: a intenção de demonstrar, por meio de seus desenhos, um ideal de uso e a
apropriação de seus projetos. Os resultados, no entanto, são diferenciados, pois possuem
formas de abordagem nas quais as características socioculturais das populações envolvidas
tiveram forte impacto na apropriação e conseqüente assimilação dos conceitos do projeto
por parte dos moradores. Convém ressaltar que diferentes conceitos podem ser bem
recebidos em um determinado contexto, mas podem ser rejeitados em outras situações. A
busca pela aprovação dos moradores por parte de Erskine pode ser considerada como uma
importante forma de evitar uma rejeição aos espaços projetados, mesmo que as definições
finais fossem de domínio pleno do arquiteto, que não abriu mão do poder decisório sobre o
projeto (MITCHELL, 1993).
46
Figura 2 – Croqui de concepção do autor em 1971 e foto do local em 2003.
Fonte: (www.greatbuildings.com, 2004)
Figura 3 – Croqui de concepção com vista a partir do edifício “BykerWall”.
Fonte: (www.greatbuildings.com, 2004)
47
Figura 4 – Croquis de concepção da época do projeto e a situação posterior.
Fonte: (www.greatbuildings.com, 2004)
Foto 1 – Vistas da face sul do edifício “BykerWall”.
Fontes: (www.byker/newcastle-kays/as geography.com.uk; www.greatbuildings.com, 2004)
O exemplo de Byker demonstra a visão pessoal do projetista, com um foco
na elaboração de soluções técnicas que garantissem aspectos de conforto térmico em
relação às condições locais do clima. Essa preocupação não era nova nos projetos de
Erskine (NEWMAN, 1961, apud BARONE, 2002), e demonstra que ele nunca abriu mão de
explorar sua própria linguagem arquitetônica nos projetos participativos. A sua forma de
participação era a busca por um diagnóstico da realidade local que fosse marcado pela
48
compreensão das relações interpessoais do grupo de moradores, que, em suas próprias
observações, era heterogêneo e possuía diversos conflitos de interesse. A busca por um
processo democrático de participação (ainda que parcial), era empregada por Erskine tanto
na sua relação e discussão com a comunidade como no próprio processo projetual, onde
trabalhava com um grupo de projetistas que chegava às soluções de projeto por meio de
discussões coletivas (BARONE, 2002).
Outro arquiteto que desenvolveu um trabalho envolvendo comunidade foi
Giancarlo de Carlo, que tinha preocupações de aspecto políticos como uma das suas
principais características. Na sua visão, a arquitetura deveria ser focada como um processo
social, como uma possibilidade de transformação e de ação política. Nesse aspecto ele se
aproxima de um dos conceitos preconizados pelo Movimento Moderno: a possibilidade de
mudanças nos aspectos sociais por meio da prática do projeto. O que o diferencia de seus
predecessores, de maneira até mesmo antagônica, é que, na sua preocupação com os
aspectos sociais e políticos envolvidos na produção da arquitetura, De Carlo acreditava ser
necessário uma maior participação das comunidades nos processos decisórios (BARONE,
2002).
A viabilização de qualquer discurso arquitetônico depende
necessariamente da existência de grupos ou agentes interessados em patrocinar as idéias
ou conceitos e permitir a sua concretização. No caso de Erskine isso foi possível graças ao
poder público, que buscava resolver um problema social, enquanto que no caso de
Giancarlo de Carlo, além do próprio poder público, houve também o envolvimento de
agentes privados, como se verificou no caso das habitações operárias da Vila Matteoti e no
planejamento da Universidade de Urbino, na Itália. O processo de participação nos projetos
deu-se por meio de discussões sucessivas das propostas apresentadas aos usuários. No
caso da Vila Matteoti, De Carlo buscou ampliar o repertório dos trabalhadores,
demonstrando diferentes possibilidades de projeto e abandonando as formas
tradicionalmente empregadas na região. No caso de Urbino, a importância do contexto, mais
valorizado e significativo pelos seus aspectos de tradição local, apresentou-se como um
importante aspecto a ser considerado na solução projetual (BARONE, 2002).
Nem todos os processos participativos tiveram o mesmo resultado positivo
obtido no caso de Byker e nas moradias desenvolvidas pelo arquiteto Giancarlo de Carlo. O
processo de renovação por meio da “arquitetura comunitária” iniciou-se, nos Estados
Unidos, como uma reação ao planejamento urbano dominante, em 1963, com o
49
“Architectural Renewal Committee in Harlem” (ARCH). Este foi considerado o primeiro centro
de projeto comunitário, e nele os arquitetos buscaram defender os interesses de grupos
minoritários. Na década de 70 já existiam cerca de 80 desses grupos em todo o país,
buscando fornecer assistência técnica em centenas de projetos de interesse social. A maior
parte desses projetos, no entanto, nunca foi implantada. Dois problemas básicos podem ser
identificados como causa dessa inércia. Em primeiro, os centros de projeto comunitário
eram compostos por profissionais jovens e inexperientes, cuja ideologia era mais forte que o
domínio técnico, e no qual a rebelião contra o sistema era também uma rebelião contra o
projeto e o planejamento urbano. Eles estavam, dessa forma, mais focados no processo do
que no produto. O segundo aspecto que contribui para a pouca concretização dos projetos
foi que esses centros recebiam alguma verba do governo federal, mas como programas
sociais, e não como programas de construção de edifícios, sendo esses recursos
insuficientes para executar obras. Com as mudanças políticas na década de 70, os
financiamentos sociais foram cortados e essas experiências interrompidas. A diferença de
concretização nos dois exemplos europeus foi que em ambos havia patrocinadores dos
empreendimentos que viabilizaram sua execução (o município de Newcastle no caso de
Byker e a Universidade de Urbino, no caso italiano). Além disso, a comunidade estava
interessada e envolvida com o assunto e houve a coordenação de arquitetos interessados,
experientes e sensíveis à problemática (COMERIO, 1987). O projeto comunitário
representou um forte conceito no planejamento urbano norte-americano, implicando em um
trabalho não apenas para a comunidade, mas também com a comunidade. Apesar de certo
esvaziamento dessas experiências, diversos centros ainda existem atualmente, porém com
uma visão mais empreendedora e menos idealista buscando uma maior eficácia na sua
atuação (RIO, 2005).
Outro exemplo europeu de participação na elaboração de projetos é o caso
das áreas para estudantes da Faculdade de Medicina da Universidade de Louvain, na
Bélgica, desenvolvido pelo arquiteto Lucien Kroll, conhecido como La Mémé. Esse projeto
contou com a participação dos estudantes na definição dos espaços destinados aos seus
usos, e é caracterizado pelo emprego de sistemas modulares que possuíam flexibilidade
para alterações nas fachadas dos edifícios e nos seus espaços internos.
Segundo Krool (1987), a opção por um sistema diferenciado em relação ao
que outros arquitetos empregavam em termos de solução de projeto para sistemas
industriais deve-se mais a uma postura política, a uma atitude que demonstrava uma
diferente mentalidade. Ele acreditava que a evolução da tecnologia deveria ser destinada a
50
atender aos anseios das pessoas, e não servir a um processo produtivo focado na produção
da edificação, com uma busca de padronização dos elementos em uma diferente escala.
Para empregar sua concepção de que o sistema construtivo modular deveria estar focado
nas pessoas, e não no edifício, ele trabalhou adaptando o sistema SAR (Stichting
Architecten Research), proposto por Habraken (1979). Nesse caso, a padronização dos
elementos primários, facilitando o uso industrial, permitiria a diversidade na produção em
massa de habitações e abriria a possibilidade de modificações e reajustes no projeto
durante sua vida útil (KROLL, 1987).
Foto 2 – O edifício La Mé, o modelo tridimensional empregado por Kroll e o modelo original empregado no
sistema SAR.
Fontes: (KROLL, 1987, p. 51 e 62; HABRAKEN, 1979, p. 131)
Outro arquiteto que possui marcante participação no envolvimento com as
comunidades no sentido de desenvolver projetos com a participação dos usuários é
Christopher Alexander. Em uma de suas experiências na produção de habitações,
executada no México, trabalhou com a participação dos moradores tanto na definição do
projeto de suas habitações quanto na sua execução. Todo o seu sistema de produção
buscava um envolvimento com a comunidade e o atendimento aos anseios individuais e
coletivos de todos os moradores. Dessa forma, procurou substituir o processo padronizado
das habitações pelo desenvolvimento de projetos específicos para cada família, por meio de
um processo de discussão que envolvia um padrão de linguagem definidor de uma série de
diretrizes de projeto a serem empregadas. Esses padrões, que envolviam diversos
aspectos, tais como a dimensão da habitação, seu programa, disposição funcional,
implantação, acessos, fluxos, vãos e o layout interno, entre outros (ALEXANDER, 1980),
buscavam atender às idiossincrasias de cada caso, porém respeitavam as limitações do
empreendimento. A definição da dimensão do espaço interno, por exemplo, foi feita com a
participação dos usuários por meio de um processo de comparação das dimensões dos
ambientes do projeto em relação às dimensões dos ambientes nos quais as pessoas
habitavam. Quando não existia um ambiente com dimensões correspondentes, os usuários
eram incentivados a realizar experimentos em suas moradias, a partir da simulação desses
51
espaços. Apesar de toda sua sistemática de projeto e de seu discurso fortemente marcado
por uma ideologia participativa, Alexander (1985, p. 200), reconhece que os esquemas
espaciais desenvolvidos inicialmente pelos usuários apresentavam um “projeto pobre”,
geralmente definido por um formato retangular em forma de caixa. Essa pobreza projetual
poderia ser explicada, em parte, por uma quebra cultural, uma perda do autoconhecimento
de um padrão de linguagem de suas residências, motivada pelo “esquecimento do que essa
população sabia (culturalmente) de como construir uma casa”. A idéia básica é que não
podemos discutir sobre algo de que não temos domínio, e não podemos ter domínio se não
exercemos a prática daquela atividade. Segundo Mitchell (1993, p. 85), um processo
projetual participativo, como o de Alexander, necessita uma mudança nos hábitos dos
projetistas, pois a imposição de uma solução formal, sem o domínio dos usuários, retira
muito das possibilidades efetivas de participação, sendo útil o “ uso de modelos ou de uma
linguagem, por meio da qual os ‘não-projetistas’ sejam capazes de participar diretamente no
processo projetual.”
A definição do projeto por parte de seus moradores possui outro exemplo
citado por Alexander (1994), por meio do projeto de conjunto habitacional na cidade de
Nagoya, no Japão, onde os usuários desenvolveram um desenho, em escala real, do
dimensionamento e posição dos ambientes que eles desejavam. Esse processo possibilitou
que cada pessoa produzisse um desenho diferente e particular, dentro do mesmo padrão
dimensional de seis metros por doze metros, de acordo com cada desejo familiar individual.
Segundo Alexander, isso permitiu algo que seria inimaginável para esses usuários, porque
eles assumiram, a princípio, que a habitação seria algo fornecido pelo poder público e que,
portanto, seria algo padronizado e indiferenciado. O fato de poderem definir o projeto
permite um ganho qualitativo no espaço, pois cria laços afetivos derivados de uma sensação
de apropriação decorrente da definição de seus espaços. Tudo que é definido (e projetado)
por uma pessoa pertence emotivamente mais àquela pessoa do que algo que foi definido
por outrem.
O conceito de participação pública deveria ser uma forma de descobrir
diferenças de opinião e conflitos de interesse (MALPASS, 1979). Compreender essas
diferenças pode ser considerado como um fator positivo para que determinada proposta
possa efetivamente ter sucesso. Para isso, o acesso ao que os moradores pensam em
relação ao projeto, ao mesmo tempo em que gera uma situação complexa, na qual o
consenso é uma difícil opção, permite que os benefícios do projeto possam ser distribuídos
para todos. Essa é uma situação paradoxal, onde a participação dos moradores no processo
52
projetual é importante para garantir um espaço mais adequado às suas necessidades, ao
mesmo tempo em que a busca por atingir uma situação que atenda a todas as diferentes
expectativas e anseios, muitas vezes antagônicos, pode inviabilizar todo o processo. Outro
componente dessa situação é o poder público que, ao aceitar ou propor o processo
participativo, pode não estar necessariamente querendo uma participação plena e ampla
(com todos os seus problemas e complexidades), e sim buscando uma legitimação e uma
justificativa de suas ações, de forma a garantir o controle sobre os resultados de acordo com
os seus interesses. A atuação do projetista, de forma madura e consciente, não abrindo mão
de suas atribuições e cumprido-as de maneira técnica e socialmente adequada, pode ser o
elemento que dará equilíbrio a essa difícil equação.
Um problema que pode ser identificado nesse processo é que algumas
pessoas, quando questionadas, não necessariamente sabem o que querem, apresentando
uma visão superficial com idealizações espaciais, muitas vezes baseadas em uma
massificação cultural da própria sociedade. Os arquitetos devem buscar entender os
motivos dessa alienação e seu papel nesse processo. A perda do real contexto social, com
uma visão focada em aspectos tecnológicos ou artísticos, pode transformar a arquitetura em
uma manifestação autônoma e auto-referencial, preocupada com jogos formais e estilísticos,
descartando a experiência do uso ou a identidade do usuário. A imprensa especializada,
muitas vezes, tende a excluir as pessoas como se elas pudessem contaminar a pureza do
trabalho. A arquitetura deve buscar a conexão entre o lugar e as pessoas, o que pode
representar um profundo e difícil problema. O arquiteto deve consultar os futuros usuários,
utilizando um diálogo progressivo, formulando hipóteses, preferencialmente com a
participação de ambos os lados, para serem testadas e aceitas ou rejeitadas (JONES,
1987).
Durante o desenvolvimento do projeto os usuários, muitas vezes, podem
apresentar idéias pré-concebidas da habitação, porém ter dificuldade em expressá-las,
verbal ou graficamente, sem um modelo prévio. Essa dificuldade, comentada por Alexander
(1985), também é perceptível no desenvolvimento dos projetos do Projeto Casa Fácil e na
elaboração de um programa participativo comentado por Shimbo (2004), quando os
usuários tiveram dificuldade em definir se preferiam receber um “modelo” da casa ou se
iriam discutir esses aspectos com os projetistas. Em muitos casos é perceptível que para
algumas pessoas o modelo imaginado da habitação já está efetivamente consolidado e,
portanto, não é necessário executar modificações nas concepções originais dos moradores.
A definição do efetivo desejo de participação dos usuários dependerá do quanto eles
53
estiverem efetivamente seguros na sua pré-concepção da habitação e em que proporção o
projetista conseguir compreender, avaliar e apresentar os eventuais aspectos positivos e
negativos dessa concepção. A experiência no Projeto Casa Fácil, conforme veremos neste
trabalho, demonstra que os usuários possuem diferentes níveis de compreensão projetual e
que, quando confrontados com eventuais problemas nas suas idéias originais, podem
efetivamente abandoná-las em seu próprio benefício. A grande questão que se coloca ao
projetista é a necessidade de sensibilidade para saber demonstrar os problemas e
compreender as prioridades dos usuários.
Essa busca por um processo de participação efetiva necessita quebrar
uma alienação que não é apenas do usuário, mas também do projetista, pois ambos
necessitam aprender a discutir e compartilhar os aspectos do projeto. Caso contrário a
relação se dará apenas como um processo de poder, pois ninguém efetivamente pode
participar se não estiver disposto a compreender, aceitar e ceder em relação aos seus
pontos de vista. Esse procedimento apresenta-se como um processo dialético e construtivo,
e é defendido por Prosanto (2005, p. 18) por meio da construção de “uma relação delicada:
a relação entre a arte e economia política, que converge na luta contra a alienação que o
sistema nos submete. A situação dos espaços públicos na paisagem urbana, revela
características intrínsecas da produção capitalista das cidades que, no Brasil, se
concretizam na segregação, na divisão social, e na deterioração da paisagem”.
A partir do momento em que essa prática tornar-se algo mais constante,
poderá existir uma diferente compreensão do processo produtivo das habitações sociais, e
das condicionantes que interferem nesse processo, levando à adoção de projetos mais
flexíveis, que permitam uma melhor apropriação e evolução dessas habitações em relação à
própria evolução da família moradora. A utilização de procedimentos mais didáticos e
participativos pode contribuir para a compreensão do projeto, auxiliando a reconectar tanto a
arquitetura com seus usuários, quanto o arquiteto com as reais necessidades de parcelas da
sociedade que, durante um longo período, foi relegada a uma postura centralizadora e
autoritária.
Esse processo pode ser difícil se considerarmos que a efetiva participação
implica a necessidade de abrir mão de uma parcela de poder que, tanto o conhecimento
técnico reserva ao projetista, quanto a questão política atribui ao poder público. O aspecto
de elaborar os projetos “para” o povo, em uma visão paternalista é descrita por Sommer
(1979, p. 30):
54
“Os arquitetos perguntavam de que maneira se podia ensinar o povo a
apreciar o bom
9
design e como fazer para que os moradores do cortiço não
destruíssem parques próximos. O povo era a falha do sistema: os
arquitetos sabiam projetar boas casas, hospitais e parques, mas ninguém
queria utilizá-los corretamente. O problema dos profissionais era como
fazer o povo se comportar de maneira adequada.”
A elaboração de uma arquitetura destinada às classes populares é, no
entanto, uma tarefa difícil para os profissionais que possuem interesse nesse processo, pois
segundo Turner (1977), a maioria dos patrões ou dos clientes é formada pelos grandes
agentes produtores da habitação (no caso brasileiro, geralmente o poder público), que,
mesmo quando declaram o interesse em atuar de forma participativa, ao mesmo tempo
buscam resultados que garantam a sua sobrevivência enquanto poder político. Parecer
estar fazendo pode-se tornar algo mais importante do que a efetiva concretização do
envolvimento participativo da comunidade, algo que, apesar de “politicamente correto”, é
muito mais complexo, assim como são complexas todas as atividades que envolvem a
participação de grupos da sociedade que almejem idéias de consenso.
A forma como os interesses do poder público induzem soluções para a
problemática, de uma forma ou outra, em muitos casos é passível de questionamentos.
Essas diferentes formas de abordagem são descritas por Taschner (2002, p. 201-205),
dentro das soluções empregadas durante as últimas décadas na cidade de São Paulo e,
guardadas as devidas proporções qualitativas e de intenções entre elas, sempre indicam a
complexidade do tema e a dificuldade na sua solução:
“Alguns setores técnicos acreditavam que a construção em larga escala, a
pré-fabricação, a industrialização e a racionalização da construção
poderiam promover o barateamento da casa, colocando-a ao alcance de
todos. (...) De outro lado preconizavam-se a cooperação, a auto ajuda e a
ajuda mútua como instrumentos que auxiliariam a superar os problemas
das favelas. As classes médias nacionais tentaram transmitir aos favelados
uma determinada concepção de sociedade, de forma que esses
considerassem que seu cotidiano poderia ser melhorado mediante esforço
próprio e auxílio comunitário.”
“As críticas às políticas vigentes foram inúmeras, ligadas à morosidade do
processo de mutirão, à transformação de movimentos populares em
máquinas políticas, gerando um novo clientelismo.”
“O Projeto Cingapura mantém os favelados no mesmo terreno da favela,
mas em unidades verticalizadas construídas por empreiteira. Difere assim,
da urbanização de favela do governo anterior ao não aproveitar o tecido
urbano já construído pelos favelados e fornecer unidade habitacional
acabada e não-extensível. (...) as unidades do Cingapura tem sido
construídas preferencialmente em lugares de grande visibilidade, sendo os
9
Grifo nosso.
55
critérios de escolha das favelas a serem melhoradas mais
propagandísticos que técnicos.”
As dificuldades enfrentadas pelo processo participativo podem estar no
despreparo do poder público para conduzir esse tipo de programa habitacional (PICARELLI
et al, 1992). Nesse processo ocorre uma pressão da comunidade em ter o mais rapidamente
possível suas habitações, enquanto o corpo técnico acaba tendo dificuldade em definir
critérios para enfrentar essas pressões. A incapacidade do Estado em atender a essa
demanda, em decorrência direta da falta de recursos, acaba gerando uma situação de
desgaste que é descrita pelo responsável pela área de habitação no município de São Paulo
durante uma gestão na década de 80, pela percepção de que “ o poder público sentia-se
frente a um rolo compressor, e a participação era a responsável por esse estado de coisas,
sem que aqueles que lançaram a idéia soubessem na verdade a que ela poderia conduzir,
se fosse tolerada em toda a sua força” (MARQUES apud PICARELLI et al, 1992, p. 44).
O desenvolvimento de um atendimento técnico na execução da habitação
e de uma atitude projetual participativa, como no caso do Projeto Casa Fácil, ainda que
limitada pelo aspecto de atender apenas uma parcela da população, que efetivamente tem
condições de executar suas moradias (mesmo que de forma precária), possibilita uma forma
de atender a essa demanda que o poder público não consegue suprir, pelo menos não de
forma participativa. A percepção do gestor público de que o processo participativo era o
“responsável” por uma situação que fugia ao controle desses gestores é apenas uma forma
de evitar a problemática da falta de conexão entre os anseios individuais e coletivos, e a
efetiva produção habitacional, desenvolvida conforme as conveniências, disponibilidades e
interesses do poder público. O problema pode ser considerado complexo e de difícil
solução, porém a participação não pode ser considerada apenas como uma etapa do
processo de produção habitacional, mas também como uma forma de transferência de
conhecimento, educação e cidadania a uma camada da população muitas vezes alijada
desses aspectos.
3.3 A INDIVIDUALIZAÇÃO DO HABITAR
O conceito de habitar está intrinsecamente ligado à realidade cultural e
temporal das diferentes sociedades. O que pode indicar relevância em determinado contexto
pode ser totalmente desnecessário ou inócuo em outra realidade. O exemplo de tribos
56
aborígines seminômades na Austrália (RYKWERT, 2003) demonstra a pouca, ou quase
nenhuma, importância da construção de habitações permanentes. Devido às características
da região, a proteção contra as intempéries é de pouca utilidade, sendo no máximo
empregados arbustos como quebra-vento em dias mais frios, pois todos dormem ao ar livre.
Por outro lado, as habitações efêmeras ou temporárias, características de povos nômades e
caçadores, são amplamente conhecidas, com exemplos espalhados por todos os
continentes e em diferentes períodos da história (SCHOENAUER, 2000)
A evolução dos conceitos da moradia é descrita por Rybczynski (1996) por
meio da explicação histórica da mudança dos hábitos e costumes no espaço da habitação e
de como isso originou novos conceitos. Um dos exemplos listados foi a mudança do foco de
importância nas atividades da habitação:
“A casa havia se tornado o lugar para outro tipo de trabalho - o trabalho
doméstico especializado -, o trabalho feminino. Este trabalho em si não era
nenhuma novidade, mas seu isolamento era. (...) A feminilização da casa
na Holanda do séc. XVII foi um dos eventos mais importantes da evolução
do interior doméstico.” (RYBCZYNSKI, 1996, p. 81 e 82).
A percepção de que a casa não era um lugar muito bem planejado para a
permanência diária foi defendida por Caterine Beecher, no século XIX, com um ponto de
vista pouco comum para os conceitos da época: a visão do usuário. A domesticidade
americana passava a ser vista por meio dos olhos de quem trabalhava na casa: as
mulheres. Os textos de Beecher fizeram com que a visão da casa, que como a maioria dos
aspectos da sociedade da época, estava focada nas necessidades dos homens, sendo
assim considerada um espaço destinado ao retiro e ao descanso, fosse deslocada para uma
visão mais dinâmica, em que ainda existia a relação com o estar, mas também se levava em
consideração o trabalho. Pode-se dizer que o foco passou da sala para a cozinha. Dentro
dessa visão ela defendia a redução do tamanho da casa como uma forma de aumentar o
conforto. Pode parecer um pouco paradoxal essa afirmação quando analisada por alguém
que não tenha como preocupação a manutenção e o uso da habitação, mas o que ela
defendia era um novo enfoque do que era importante na moradia. Beecher descrevia que a
desvantagem de uma casa grande estava no fato de que “os móveis, os materiais e os
utensílios de cozinha, a pia e a sala para comer estão tão distantes uns dos outros, que
metade do tempo e da força é gasta para se andar para cima e para baixo, para pegar e
guardar os artigos usados” (BEECHER, apud RYBCZYNSKI, 1996, p. 169).
A cozinha como a principal peça nas habitações sociais é descrita por
Lemos (apud PAMPLONA, 1981), como um espaço onde ocorre boa parte das funções da
57
casa. Por outro lado, percebe-se também o aumento da importância da antiga sala de
visitas, que passa a incorporar uma nova função de lazer da casa, devido à popularização
da televisão (BECHTEL, 1987; LEMOS, 1989).
A habitação pode ser encarada dentro de um processo de personalização,
na medida em que as pessoas modelam sua casa para expressar os aspectos da sua
identidade. Se elas não puderem escolher ou inserir os elementos que expressem essa
individualidade, são altas as possibilidades de compreenderem a moradia como uma
ameaça à sua identidade e, por conseqüência, ao seu próprio modo de vida, levando a uma
não-apropriação que pode degradar e desumanizar o ambiente (BECHTEL, 1997). A
moradia pode contemplar inúmeras necessidades, além das naturalmente definidas - como
abrigo, descanso, trabalho e lazer. Ela também pode representar um local de auto-
expressão, um receptáculo de memórias e um refúgio do mundo externo. Esses aspectos
revelam o lado psicológico e social da habitação, pois ao mesmo tempo em que esta
permite a introspecção pessoal, também representa um elemento que a define socialmente.
Segundo Marcus (1995, p. 4), uma pessoa que “não possui um domicílio fixo é vista com
suspeitas na nossa sociedade”.
O caráter cultural e étnico do projeto da habitação pode ser uma expressão
da própria sociedade na qual ela está inserida. A forma como as pessoas compreendem o
conceito de moradia, o “olhar” para sua casa, é um processo dinâmico, que se modifica
conforme a época na qual se analisa o assunto, e que envolve aspectos culturais,
comportamentais e financeiros. As características funcionais ou programáticas, que eram
adequadas para atender às necessidades da população há algum tempo atrás, estão
evoluindo na mesma rapidez com que evolui a própria sociedade (BECHTEL, 1997).
A moradia apresenta-se, cada vez mais, como uma replicação dos próprios
hábitos de consumo preconizados pela sociedade capitalista. Essa demanda aumenta na
medida em que avança a inserção da mídia na habitação, por meio das propagandas de
televisão, jornais e revistas, que vendem uma concepção de mundo calcada nas novidades
das mercadorias de consumo ou de um padrão “sofisticado” de viver. As diferentes formas
de morar irão depender das variadas concepções e do nível de importância atribuído pelos
moradores a cada uma delas. Nos grandes centros urbanos, por exemplo, o aspecto da
privacidade pode ganhar relevância devido às questões de segurança e da agitação das
metrópoles. Da mesma forma a moradia pode representar um caminho, mesmo que não
58
completo, de inserção na sociedade, visto que não possuir uma casa pode representar um
forte fator de exclusão social (CORREIA, 2004).
A observação de aspectos físicos e comportamentais pode ajudar os
projetistas a terem uma idéia dos efeitos de suas decisões sobre a forma como as pessoas
se relacionam com o ambiente. Da mesma forma que os ambientes criam oportunidades
para as pessoas, também estas interferem no seu entorno e este influencia seus
comportamentos novamente. Todas essas questões podem ter diversas origens e
motivações, porém uma das mais negligenciadas pelos projetistas são os aspectos afetivos
e comportamentais em relação ao espaço projetado. Muitas vezes, os habitantes mudam
seus ambientes para colocar um selo que diz: “isto é meu, e diz alguma coisa sobre mim”,
buscando imprimir sua individualidade por meio de certo estilo de mobiliário ou do emprego
de objetos decorativos, entre outras coisas (ZEISEL, 2006, p.175).
Segundo Marcus (1995), a chave da personalização do espaço, para
algumas pessoas, encontra-se cada vez mais nos objetos que estão dentro da habitação,
como o mobiliário, equipamentos e objetos decorativos, que demonstram uma forma de
expressão individual. Ao suprir as necessidades básicas de abrigo e proteção, os moradores
das habitações sociais em geral, e também no caso específico do Projeto Casa Fácil,
buscam definir os aspectos da moradia que a tornam uma extensão da sua própria
personalidade. Esse processo pode demorar anos até estar efetivamente consolidado,
demonstrando que, se houver condições para tal, os moradores irão naturalmente
transformar seus espaços individuais, e também os coletivos, em áreas mais humanizadas.
Um exemplo desse tipo de transformação é citado por Jacobs (2000, p. 7 e 8):
“Há vinte anos, quando vi pela primeira vez o North End, suas construções
(...) eram superpovoadas, e o panorama geral era de um distrito muito
maltratado e miseravelmente pobre. Quando visitei o North End novamente
em 1959, fiquei espantada com a mudança. Dezenas e mais dezenas de
prédios haviam sido reformados. No lugar de colchões encostados às
janelas havia venezianas e a aparência de tinta fresca. Muitas das
casinhas reformadas acolhiam então apenas uma ou duas famílias, em vez
de três ou quatro que as lotavam antes. Algumas das famílias desses
prédios (como vim a saber mais tarde, ao conhecê-los por dentro) abriram
mais espaço juntando dois dos antigos apartamentos, e tinham instalado
banheiros, cozinhas novas e similares.(...) Misturadas aos prédios
residenciais havia uma quantidade incrível de excelentes mercearias,
assim como casas de estofamento, serralheria, carpintaria e
processamento de alimentos. As ruas tinham vida com crianças brincando,
gente fazendo compras, gente passeando, gente falando”.
59
Os aspectos que envolvem o uso e a apropriação do espaço domiciliar
revelam questões sociais que vão muito além dos simples aspectos formais ou técnico-
funcionais. A maneira como as pessoas incorporam em suas habitações certos aspectos
sociais indica um desejo de ascensão para uma camada da população socialmente
reconhecida como mais elevada do que a situação atual em que a família se encontra.
Como essas pessoas não têm condições de construir uma habitação com as mesmas
características programáticas que as de famílias mais ricas, buscam adotar os mesmos
conceitos, ora sobrepondo funções, ora diminuindo o tamanho dos ambientes, para garantir
uma adequação do programa da casa ao seu sonho de consumo, amplamente divulgado e
difundido pelos meios de comunicação. Um desses aspectos, relacionado ao desejo de
transformar a cozinha em uma espécie de área social, com a intenção de esconder os
equipamentos de serviço, é comentado por Lemos (2005)
10
em relação a uma habitação
visitada:
“Casa bem arrumada, limpa. Cozinha grande. Chão vermelho impecável.
Fogão com capa plástica e com flores. Botijão de gás com capa redonda.
Torneiras revestidas com bonequinhas de tricô. A cozinha vira sala!”.
O desejo de ascensão social pode ser identificado de diversas formas,
tanto dentro do processo projetual quanto na própria execução da moradia. Segundo
Marcus (1995), a habitação pode ser considerada como um lar ou como um símbolo de
status social, dependendo da forma como seus moradores se relacionem com esse espaço.
As duas concepções podem conviver conjuntamente de maneira harmoniosa ou mesmo
antagônica, pois se cada membro da família entender a habitação de forma diferenciada,
isso pode representar conflitos internos. Para algumas pessoas, aspectos como status,
privacidade e localização da habitação podem ser mais importantes do que o programa da
habitação, tanto na sua distribuição espacial interna quanto na quantidade de ambientes.
A diferenciação entre o espaço de moradia das diferentes classes sociais
era determinada, durante boa parte da história brasileira, pela quantidade de cômodos que
as habitações possuíam. O maior status social era determinado pela maior quantidade de
ambientes (LEMOS, 1978, p. 18), visto que as técnicas construtivas não diferiam muito no
período colonial. Apesar da evolução nas técnicas construtivas e nos acabamentos, que
ajudam a diferenciar claramente uma habitação popular de uma casa de alto padrão de
renda, o desejo implícito de ascender socialmente e de morar conforme os padrões de
10
Baseado em anotações realizadas pelo autor durante o curso: A casa brasileira, sua evolução no tempo e no
espaço, ministrado em maio e junho de 2005.
60
“sucesso”, amplamente divulgados pela mídia, faz com que as pessoas busquem ainda uma
habitação com uma quantidade maior de cômodos:
“O incorporador usa psicologia aplicada: o rico não gosta de sobreposição;
a classe média gosta de morar como rico; aumenta-se a compartimentação
sem aumentar a área. Morar sem suíte é coisa de mau-gosto!” (LEMOS,
2005)
10
O futuro da casa irá demandar, na visão de Lemos (2005), uma maior
sobreposição de funções, com uma maior indefinição entre os espaços de trabalho, lazer e
dormir. Cada vez mais os novos hábitos de consumo e o acesso às novas tecnologias,
como o informática, transformam os ambientes de dormir, por exemplo, no espaço onde se
estuda, trabalha e diverte, com o computador e a televisão, de forma que “antigamente
morava-se mal assim, e no futuro irá se morar bem assim! Morar bem ou mal depende do
contexto de cada sociedade”. (LEMOS, 2005)
10
Segundo Tramontano e Benevente (2004), as transformações sociais e as
conseqüentes mudanças nos estilos de vida da sociedade contemporânea necessitam
novas abordagens arquitetônicas. Algumas das atividades da vida doméstica que em um
passado recente eram centralizadas na habitação, progressivamente começam a se
deslocar para fora da casa, como no caso do preparo e do consumo de refeições. Esta vem
deixando, de maneira progressiva, de ser uma atividade exclusivamente de serviço
constante e diário, considerando-se que cada vez mais as pessoas não retornam para casa
para fazer todas as refeições. Nessa visão, a cozinha passa a incorporar atividades de
convívio e lazer, em uma proporção cada vez maior, comparativamente com as atividades
de serviço.
A constante mutação do que pode ser considerado como espaço ideal
para moradia revela que os conceitos aplicados em determinada época podem não ser
predominantes em outra. A alta satisfação dos moradores com suas habitações, em cidades
como o Rio de Janeiro e São Paulo (HELVÉCIA, 2006), demonstra, no entanto, que os
aspectos que influenciam nas vendas do mercado imobiliário não significam uma mudança
na opinião dos moradores sobre suas próprias residências. A moradia é um sonho de
consumo que, depois de alcançado, traduz-se em uma estabilidade que pode representar a
permanência da família no mesmo imóvel durante um longo período. Dessa forma, a
satisfação do morador com sua habitação não significa uma busca pelo último “modelo” de
apartamento ou casa encontrado no mercado imobiliário, mas sim uma adaptação às
características do imóvel conforme os anseios da família, ao mesmo tempo em que as
61
pessoas vão também se adaptando aos aspectos da edificação que não podem modificar.
Os vínculos afetivos criados com o espaço também podem se misturar com a própria
história familiar. Segundo Maroni (apud HELVÉCIA, 2006, p. 36), o morador possui no
espaço da moradia algo que o identifica e o define, criando vínculos que ultrapassam os
aspectos materiais. Esse aspecto torna difícil mudar de casa, pois “as pessoas relutam em
sair; quando saem, deixam muito valor simbólico para trás”. É que muitos dos aspectos da
moradia são na realidade o que somos e o que projetamos ser, e que, portanto, não seria
normal avaliar negativamente a própria moradia, pois ele representa suas escolhas e seus
valores.
A adaptação dos moradores às suas residências é demonstrada por
Ferreira (2006) em habitações individuais empreendidas pelos próprios moradores por meio
da contratação de arquitetos para elaborar seus projetos. Essa pesquisa, apesar de referir-
se a habitações de características socioeconômicas diferentes das moradias do Projeto
Casa Fácil, demonstra aspectos similares na relação dos níveis de satisfação dos
moradores com suas residências, os quais aumentam proporcionalmente em relação ao
nível de participação na elaboração do projeto. A apropriação dos espaços ocorre
naturalmente, mesmo quando alguns membros da família não tenham participado de
maneira mais ativa nas definições projetuais. Essas pessoas demonstraram não estar
insatisfeitas com a casa, como também não manifestaram maior entusiasmo, indicando que
não se tratava de uma realização pessoal coletiva, mas sim do membro familiar que definiu
o projeto.
A habitação idealizada é, deste modo, adaptada e adaptável às realidades
de contexto e às condições de acesso ao objeto. Apesar dessa ressalva, convém lembrar
que em cada período no qual as habitações são executadas, os padrões referenciais
possuem forte influência sobre a sua configuração. A forma de todos os ambientes
projetados pelo ser humano, incluindo a moradia, depende de modelos referenciais que são
facilmente perceptíveis na história da arquitetura. Esse aspecto assume, com uma
velocidade cada vez maior, uma importante característica nos nossos tempos atuais. O ato
projetual utiliza-se de obras paradigmáticas (ou não tão paradigmáticas assim) como
referência, e as revistas especializadas, ou os diversos meios de comunicação, veiculam os
mais atuais e contemporâneos exemplos de arquitetura que passam a ser os novos modelos
a serem seguidos.
62
4 MODELOS TRIDIMENSIONAIS FÍSICOS
“O primeiro homem quis fazer um alojamento que Ihe cobrisse, sem
sepultá-lo. Alguns troncos cortados no bosque foram os materiais
adequados para seu projeto. Escolheu os mais fortes e os levantou
perpendicularmente formando um quadrado. Colocou em cima outros
quatro transversais e sobre estes, outros inclinados, em duas vertentes,
formando um vértice no centro. Esta espécie de teto foi coberta com folhas
para que nem o sol e nem a chuva pudessem entrar e estava assim o
homem alojado. É certo que o frio e o calor fizessem sentir incomodo na
casa aberta por todas as partes e assim colocou-se palha entre os pilares
e assim ficou seguro. A pequena cabana rústica que descrevi é o modelo
sobre o qual se tem imaginado toda a magnificência da arquitetura. E
aproximando-se, na execução, da simplicidade deste primeiro modelo,
como se evita os grandes defeitos, como se alcança a verdadeira
perfeição...” (LAUGIER, 1977, p. 18 e 19 )
11
.
O trecho do texto do séc. XVIII, do monge francês Marc-Antoine Laugier,
representa de maneira filosófica a origem da casa primitiva e, por conseqüência, dentro
desse pensamento, da própria arquitetura. Essa idealização simbólica, feita por um
tratadista que não era arquiteto, representou uma imagem abstrata que teve forte impacto
no pensamento teórico da época. Segundo Summerson (1994), esse pensamento poderia
soar como profético, pois até então seria algo impensável abolir as paredes em prol de um
princípio de beleza arquitetônica. Esses conceitos tinham a ver basicamente com um
modelo de representação da “essência” da arquitetura, de uma verdade construtiva baseada
em um protótipo hipotético, que tinha um caráter funcional e racional.
O emprego de modelos na arquitetura está fortemente arraigado na
concepção teórico-filósófica e, por vezes, espiritual e religiosa, daqueles que os
empregaram em determinados momentos da história. Eles buscam não apenas uma
representação simplificada da realidade construtiva ou formal, mas, por vezes, uma
idealização de princípios que não têm necessariamente a intenção de concretude, e sim de
serem instrumentos de transmissão de valores e idéias. Nesse aspecto o modelo
iconográfico do abade Laugier não difere dos modelos construtivistas russos do início do
séc. XX, nos quais os projetos traziam implícita uma nova concepção de sociedade e de
valores e ideais.
11
Tradução nossa.
63
Foto 3 – Ilustração do modelo da casa primitiva de Laugier e o modelo de Tatlin à Terceira Internacional.
Fontes: (SUMMERSON, 1994, p. 99; SMITH, 2004, p.98).
O modelo foi utilizado, ao longo da história, de diversas formas, porém,
com o desenvolvimento do pensamento científico moderno teve uma grande ampliação nos
seus conceitos e aplicações. Dentro do mundo contemporâneo, o termo modelo pode
comportar uma variada gama de interpretações e de aplicações, dependendo da área de
conhecimento para a qual ele esteja sendo aplicado. A palavra modelo (FERREIRA, 1999)
possui quase duas dezenas de definições, que indicam coisas totalmente díspares, que vão
desde modelos matemáticos e econômicos, passando por modelos computacionais e
iconográficos, até modelos de conduta e de referência, como as modelos do mundo da
moda.
O uso de modelos não se encontra apenas no fazer arquitetônico, mas em
boa parte do pensamento e da estrutura científica atual. Todo modelo é, a priori, uma forma
de simplificação do original que pretende, por meio da maior facilidade de manuseio e de
observação de todo um conjunto, antever diversos aspectos que envolvem o objeto em si,
antes de ele estar concretizado. Segundo Merleau-Ponty (1971), o modelo é um mecanismo
64
de pensamento que torna perceptível aquilo que é invisível, trazendo à tona a presença do
que é eminente, latente e escondido. A idéia básica de simplificação existente no modelo,
que permita ou facilite a compreensão do que não seria possível no objeto, faz com que o
mesmo não possua todas as características do original, pois se assim fosse, não seria um
modelo, mas sim o próprio original (NOVAES, 1981; SERRA, 1995).
O modelo pode ser considerado como uma representação da realidade, de
tal forma que certas características relevantes encontradas no objeto real sejam
reproduzidas, mesmo que o objeto exista, tenha existido ou possa existir um dia
(ECHENIQUE, 1975). A representação de um modelo permite discutir quais são as
características relevantes da realidade, em um processo de observação e/ou abstração, que
pode ter um caráter subjetivo no momento em que o pesquisador, ao fazer suas
observações, imprime sua visão e percepção das coisas (MATURANA; VARELA, 2001;
MATURANA, 1997). O risco de uma observação intersubjetiva é lembrado por Zeisel (2006),
ao ressaltar que um observador ou grupo de observadores devem levar em conta que os
dados devem ser da mesma categoria para que possam ser comparados. Ainda assim, o
que um indivíduo escolhe observar depende do que ele quer que os dados lhe forneçam;
portanto duas pessoas, com interesses ou objetivos diferentes, observando o mesmo objeto,
poderão ver coisas totalmente distintas.
Para melhor compreender os modelos, Echenique (1975) defende algumas
definições que passam necessariamente pela classificação dos tipos de modelos. Essa
classificação possui três tipos básicos, que delimitam os seus objetivos, a sua forma e o
aspecto temporal do modelo. Esse autor categoriza os modelos, de acordo com seus
objetivos, em modelos descritivos, predectivos, exploratórios e de planejamento. No caso do
modelo descritivo, a principal intenção é a compreensão da realidade, com um caráter
explicativo, enquanto o predectivo busca prognosticar o futuro, buscando mostrar de que
forma a realidade está mudando. A verificação das possíveis variáveis de determinada
realidade transformam o modelo descritivo em modelo exploratório, de tal forma que a busca
dessas alternativas permita confirmar, ou não, novas realidades. Os modelos de
planejamento buscam aperfeiçoar determinados aspectos existentes em algum sistema, por
meio da avaliação de diferentes decisões, buscando minimizar os custos e maximizar os
benefícios, por exemplo.
Outro critério de classificação se refere à maneira como o modelo é feito,
ou seja, de que forma se pode representar a realidade. Nesse caso a classificação principal
65
fica entre físico - subdividido em icônico e analógico - e conceitual, no qual estão
categorizadas as representações feitas por meio da linguagem verbal (palavra falada ou
escrita) e aquelas feitas por meio de símbolos (modelos matemáticos). No campo do modelo
físico, seja ele icônico ou analógico, encontra-se boa parte dos modelos utilizados
comumente na área de Arquitetura e Urbanismo. O modelo físico icônico busca representar
as propriedades físicas do objeto alterando apenas sua escala. Entram nessa categoria as
maquetes empregadas na simulação dos objetos e do ambiente construído. O modelo físico
analógico representa as propriedades físicas de maneira a transformar suas características,
entrando nesse rol as representações projetivas utilizadas como referencial gráfico para a
construção de determinado objeto ou ambiente, como as plantas, cortes e elevações
(ECHENIQUE, 1975).
Os modelos físicos são amplamente empregados nas áreas de pesquisa
tecnológica, pois permitem construir, guardadas as devidas proporções, os objetos em
dimensões reduzidas, que buscam reproduzir de maneira simplificada as configurações
principais do objeto original. Alguns exemplos de modelos físicos considerados bem-
sucedidos (VARGAS, 1985) são os estruturais, que já foram bastante empregados em
ensaios e pesquisas de estática de construções, antes do advento das simulações
computacionais.
Um dos exemplos mais paradigmáticos de simulação estrutural é o
emprego de modelos funiculares, no início do séc. XX, por parte do arquiteto catalão Antoni
Gaudí, na concepção e na construção de suas obras. O uso de fios pendurados, puxados
por pequenos saquinhos com areia, simulando a carga da edificação de forma invertida em
relação ao que seria a própria obra, se não era baseado em um princípio totalmente original,
representava a concretização, até então nunca experimentada, desses conceitos numa
construção de edifício. Esse fato pode ser considerado como um importante marco no
estudo estrutural, principalmente considerando-se um conjunto tridimensional tão
entrelaçado e complexo quanto o que Gaudí empregava (GONZALEZ; CASALS, 2004;
LOPES; BOGÉA; REBELLO, 2006). Segundo Pevsner (1981), pode-se considerar Gaudí
como um pioneiro da estrutura no séc. XX, ainda que tenha utilizado complexos modelos
para estudar as cargas e as tensões, que o tornavam mais próximo das características de
um artesão individual e inventor do que das de um engenheiro e arquiteto contemporâneo.
66
Foto 4 – Maquete de fios pendurados da Igreja Guel e desenho baseado na fotografia da maquete.
Fonte: (GONZALES; CASALS, 1994, p. 129).
O emprego de modelos reduzidos para auxiliar na análise estrutural é
descrito por Rebello (2000) como uma conseqüência da revalorização do sistema estrutural
ocorrida no início do séc. XX com o advento de um maior emprego de sistemas estruturais
que utilizavam o aço e o concreto armado. Alguns dos primeiros exemplos da aplicação
desses novos materiais foram as pontes metálicas que, já no final de séc. XVIII, começaram
a ser executadas na Inglaterra. O emprego do concreto armado, no entanto, ficou mais
popularizado a partir do séc. XX, quando alguns projetistas, dentre os quais Pier Lugi Nervi,
ousavam propor formas em concreto armado muito mais complexas que demandavam, além
das ferramentas de cálculo, o emprego de ensaios utilizando modelos.
Foto 5 – Exemplo de maquete humana para estudo estrutural da Ponte Forth Bridge.
Fonte: (LOPES; BOGÉA; REBELLO, 2006, p. 98).
67
Outros exemplos de aplicação dos modelos, além da Engenharia Civil e
Arquitetura, podem ser encontrados na Engenharia Mecânica, Aeronáutica e Naval
(ANDRADE, 1988). O uso de modelos nessas áreas apresenta-se como uma importante
ferramenta de simulação, por meio de modelos analógicos e/ou digitais, que permitem
realizar ensaios das condições em que o objeto real será utilizado, estudando as possíveis
alternativas durante a própria elaboração do projeto, sem a necessidade da construção de
protótipos caros. Essa antecipação dos possíveis problemas e características do objeto real
mostra-se essencial na elaboração de empreendimentos de grande porte e de alto valor de
investimento, tais como barragens, aviões e navios, por exemplo.
Outra área que emprega o modelo de forma constante é a do Desenho
Industrial, na qual as representações dos objetos ou produtos podem ser encontradas desde
sua etapa de concepção até o formato do produto final. Além de auxiliar na simulação das
propriedades do objeto de estudo, de forma a permitir a correção de eventuais falhas
durante a etapa de projeto, o modelo também serve como base para gerar os moldes ou as
matrizes necessários para a própria produção do objeto. Quando executado como um
protótipo possibilita ainda avaliar o desempenho do produto antes de ser produzido em
escala industrial, estudando as reações do mercado. (ALEXANDRE, 1993)
4.1 AS ORIGENS DO MODELO FÍSICO E SEU USO NA ARQUITETURA
“Sob a forma de bonecos, ídolos, efígies e imagens esculpidas de
diferentes espécies, o modelo físico é tão universal quanto a magia e a
religião, desde os rituais paleolíticos até as manifestações contra um
técnico de futebol que foi vencido” (KAPLAN, 1975, p. 280).
O significado etimológico do termo modelo tem origem na palavra italiana
modèllo, que por sua vez vem do termo latino modellus, que é uma variação diminutiva do
termo modus. O significado de modus relaciona-se a maneira, método, disposição ou forma
particular, entre as mais comuns definições do termo. A palavra maquete, muito empregada
na área de Arquitetura, tem origem no termo francês maquette, por sua vez provindo do
italiano macchietta, que é um diminutivo da palavra macchia (do latim mácula), podendo ser
compreendido como pequena mancha. O significado dessa palavra, nesse contexto, pode
ser entendido como um esboço, podendo ser de um desenho ou de uma escultura, onde a
forma seja delineada e simplificada (CUNHA, 1999).
68
Os termos modelo e maquete têm em comum o aspecto da forma, nas
suas acepções de origem, existência, construção e reprodução. No entanto, enquanto a
palavra modelo se refere tanto a uma forma material ou a algo abstrato, o termo maquete
possui uma relação direta com a materialidade da forma, mesmo que não totalmente precisa
(ROZESTRATEN, 2003).
Na origem histórica do modelo físico, a distinção entre modelo e maquete
não é tão clara quanto nos dias atuais. De fato, se analisarmos diferentes culturas, em um
amplo leque temporal, veremos que o emprego desses ícones variou muito conforme o
contexto social e cultural de cada época. As maquetes arquitetônicas vêm sendo utilizadas,
há um longo período, como forma de representar idéias, conceitos ou crenças que
permeiam não apenas o fazer arquitetônico, mas toda a percepção de mundo. Os modelos
antigos podem ser compreendidos como elementos de representação que nos remetem aos
hábitos e costumes, incluindo diferentes aspectos simbólicos ou religiosos, de um
determinado período de nossa história (AZARA, 1997).
Os modelos da antiguidade, ou pelo menos os que chegaram até os dias
atuais, eram feitos de vários materiais e possivelmente tinham várias funções, das quais,
segundo Knoblaugh (1958, p. 1 e 2), a mais importante era o emprego em rituais
religiosos
12
, em que pequenos modelos reproduziam os objetos, feitos aos deuses, que
desempenhavam um papel importante nos rituais fúnebres (...) principalmente entre os
egípcios, que colocavam nas tumbas de seus mortos modelos de suas casas, com sua
mobília, suas ferramentas e seus animais, e um barco para levá-los à eternidade,
acreditando que eles seriam úteis na vida que viria.
13
O uso de modelos reduzidos por parte dos arquitetos egípcios pode ser
considerado uma certeza, segundo Adam (1997), principalmente após o período da
construção das grandes pirâmides; porém não é possível afirmar se era um procedimento
sistemático ou habitual. Esse uso, por parte dos arquitetos e mestres de obras, como
referências para serem executadas nos seus detalhes, era justificado pela necessidade de
12
Segundo Roth (1999, p. 154 e 165), algumas maquetes de argila encontradas nas regiões atuais da Romênia
e Republica Tcheca, datadas provavelmente do período neolítico (4500 a.C.), permitem deduzir que era utilizada
madeira entrelaçada, recoberta com barro, nas paredes da casa, e o emprego de pinturas com desenhos
geométricos curvos nessas paredes. Esse autor argumenta, no entanto, que não deve ser descartada a
possibilidade de que essas maquetes fossem apenas “brinquedos infantis”, não devendo ser interpretadas
literalmente.
13
Tradução nossa.
69
rapidez e pela falta de mão-de-obra especializada (ALDRED, apud KNOBLAUGH, 1958, p.
2):
“A rapidez com que a cidade de Akhet-aten foi construída, em um terreno
virgem, deve ter exigido o máximo de recursos e meios dos artesões, onde
foram empregados trabalhadores de qualificação mediana, para trabalhar
em várias frentes de obra. Para atender à essas necessidades, os mestres
de obra produziram modelos dando os padrões de vários detalhes
arquitetônicos e de inscrições para serem copiados pelos aprendizes e
trabalhadores analfabetos.”
14
Foto 6 – Exemplos de modelos de referência para os artesões executarem as pinturas e edifícios: o retrato da
realeza egípcia e o papiro reproduzindo a elevação da tumba de Ramsés IV.
Fonte: (KNOBLAUGH, 1958, p. 2; AZARA, 1997, p. 163).
O caráter espiritual desses modelos revela-se na sua função básica de
acompanhar a pessoa na sua vida pós-morte. Elas acompanhavam o morto em sua tumba,
com o objetivo de auxiliá-lo e distraí-lo em sua vida posterior, como uma forma de
recordação de sua condição terrestre (ADAM, 1997). O significado exato dessas “casas da
alma” tem sido objeto de estudo por parte de egiptólogos com diversas interpretações
possíveis. O caráter atípico dessas maquetes, em comparação com os objetos de arte
egípcios, é não possuir restrições formais seguidas pelos artesãos. Segundo Niwinski
(1997), esses objetos representam, do ponto de vista formal, uma variação das bandejas de
oferendas aos mortos, utilizadas em algumas culturas, inclusive contemporâneas. Nesse
contexto, algumas outras maquetes, além das casas, podem ser encontradas junto às
tumbas, como maquetes de armazéns de grãos, estábulos, padarias, açougues e jardins.
Dessa forma, as necessidades do morto continuariam sendo atendidas pela eternidade, com
um suprimento de comida, companhia e auxílio da família e dos servos (SMITH, 2004).
14
Tradução nossa.
70
Foto 7 – Exemplos de maquetes de casas e de um açougue encontradas em tumbas do antigo Egito.
Fonte: (AZARA, 1997, p. 168, 169, 175; SMITH, 2004, p. 8).
A arquitetura egípcia de maiores proporções também utilizou modelos de
referência e estudo para sua execução. A primeira grande pirâmide conhecida, a do faraó
Zoser, da III dinastia (2778-2723 a.C.), foi construída durante um longo período de estudos e
experimentações, pelo sacerdote Imhotep, considerado o primeiro arquiteto da história
(NORBERG-SCHULZ, 1983; ROTH, 1999). Essa construção pode ser uma evolução das
primeiras tumbas funerárias, as mastabas, pois, como elas, era formada por um bloco
compacto de paredes inclinadas. A diferença é que sobre esse bloco foram colocados
outros cinco blocos com o mesmo formato, porém sucessivamente de menor dimensão
(GYMPEL, 1996). Segundo Smith (2004), a pirâmide era baseada em dois modelos em
escala real feitos anteriormente, sendo que o primeiro possuía uma forma de mastaba e o
segundo era um zigurate, com um formato simbólico de montanha.
Foto 8 – Pirâmide de Zoser.
Fonte: (NORBERG-SCHULZ, 1983, p. 13).
A importância da arquitetura clássica grega como padrão de referência
para a arquitetura ocidental é reconhecida pela influência que ela teve, em maior ou menor
intensidade, desde o seu surgimento. Essa arquitetura, em todos os seus desdobramentos,
é o próprio modelo referencial que se propagou pelo mundo. O emprego das maquetes,
nesse contexto, pode ser considerado como um fenômeno geográfico e cronologicamente
71
muito extenso. Uma das mais importantes representações bidimensionais são as placas de
mosaico do Palácio de Knossos, que representam pequenas fachadas de casas individuais
e elementos paisagísticos (SCHOEP, 1997). Pode-se identificar o caráter simbólico e
religioso dos modelos tridimensionais de casas e templos, segundo Schattner (1997), pois
provavelmente eram feitos para serem suspensos e levados em procissões. Dessa forma, a
maioria das maquetes de casas nunca serviu de modelo para execução dos edifícios, sendo
na verdade utilizadas em santuários, provavelmente como oferendas.
Como as formas gerais da arquitetura grega estavam fortemente definidas,
o grau de importância dos arquitetos na cultura grega não era igual ao dos arquitetos do
antigo Egito, nem conferia o mesmo status. Por causa das formas básicas do templo grego,
pré-definidas, possíveis modelos tridimensionais dos projetos de edifícios eram de pouca
importância. Havia, no entanto, um tipo de modelo reduzido, conhecido como “paradeigma”,
que era utilizado no estudo de alguns elementos arquitetônicos, como tríglifos e capitéis,
que requeriam um projeto tridimensional (SMITH, 2004).
Foto 9 – Exemplos de modelos da Grécia Antiga – placa de cerâmica do palácio de Cnosos; pequena casa e
replica de templo.
Fonte: (AZARA, 1997, p. 204, 208, 210).
O surgimento de modelos tridimensionais nas culturas pré-românicas que
habitavam a península itálica remonta à existência de pequenas urnas funerárias para
armazenagem de ossos, em formato de cabanas. Não é possível afirmar, com certeza,
quais motivos levaram a que essas urnas tivessem diferentes formas, porém pode-se
pressupor que a reprodução em miniatura da casa do morto pretendia compensar a
destruição do corpo ocorrida na cremação (BARTOLONI, 1997).
72
O emprego de modelos como referência construtiva e de projetos surge
somente em um momento posterior, com a influência e a absorção dos cânones da
arquitetura grega. Apesar da forte identificação dos elementos gregos na arquitetura
romana, é possível verificar algumas diferenças na reinterpretação feita pelos romanos,
como no uso e emprego das ordens clássicas. A importância conferida na sociedade
romana aos aspectos de engenharia também é perceptível observando-se o grande
desenvolvimento dessa área, quando comparado com o dos gregos. Essa preocupação
pode ser identificada nos tratados do arquiteto Vitrúvio (POLIÃO, 1999), onde ele descreve e
define uma série de aspectos relacionados à arquitetura. Entre esses aspectos encontra-se
certa preocupação quanto à construção de máquinas de guerra e gruas de construção,
engenhosamente projetadas (KATINSKY, 1999b). Em um dos trechos de seu tratado,
Vitrúvio faz um breve relato do emprego de modelos reduzidos desses artefatos:
“Havia aí (em Rodes) um arquiteto de nome Dogneto, ao qual, anualmente,
creditava-se uma soma dos cofres públicos a título de pensão e honorários
em reconhecimento ao valor de sua arte. Nesse tempo, chegando a
Rodes, um certo Cálias, arquiteto oriundo de Arado, pronunciou uma
conferência e apresentou um modelo
15
de fortificação sobre a qual instalou
uma máquina com gávea giratória, sobre a qual agarrou uma helépole
16
e
a introduziu dentro das muralhas. Ao ver tal modelo, os habitantes de
Rodes, admirados, retiraram a pensão dada anualmente a Diogneto e a
transferiram em favor de Cálias” (POLIÃO, 1999, p. 243).
Esse trecho do tratado de Vitrúvio revela, segundo Smith (2004), certo
poder de persuasão que o modelo reduzido teria sobre as pessoas, permitindo que a
população sem domínio técnico pudesse compreender as possibilidades do mecanismo em
escala real. No trecho seguinte, entretanto, Vitrúvio alerta sobre as limitações do uso dos
modelos, ao comentar um iminente ataque que a cidade de Rodes iria sofrer, por parte de
inimigos que possuíam uma poderosa helépole:
“Tendo, no entanto, os habitantes de Rodes pedido a Cálias que
preparasse uma máquina contra essa helépole e, como já lhes havia
demonstrado, que a transportasse para dentro da edificação. Este negou-
lhes que isso fosse possível. Com efeito, nem tudo pode ser feito segundo
os mesmos procedimentos, mas há outros, no entanto, que com modelos
não muito grandes, dão uma idéia do efeito semelhante ao produzido em
dimensões reais, e ainda outros, que não admitem modelos, mas que
funcionam executados normalmente. Há alguns, por outro lado, que vistos
em modelo parecem exeqüíveis, mas que ao passarem para a verdadeira
grandeza mostram-se impraticáveis. Podemos observar tal fato com
facilidade. Com uma verruma
17
, fazem-se orifícios de meio, um e um dedo
e meio. Se quiséssemos, com o mesmo dispositivo, fazer orifícios de um
15
Grifo nosso.
16
Arrebatadora de cidades
17
Instrumento em forma de hélice, com extremidade em ponta, utilizado para fazer furos em madeira.
73
palmo, não haveria como; se quiséssemos ainda maiores, não haveria
nem que se pensar a respeito. Assim parece acontecer com alguns
modelos. Como as coisas parecem se dar para o que é muito pequeno,
não ocorre do mesmo modo para o que é maior” (POLIÃO, 1999, p. 243-
244).
As limitações existentes no emprego de modelos reduzidos como
referência para a execução dos objetos reais parecem ser algo de domínio dos arquitetos
romanos. Esse conhecimento demonstra que esses projetistas possuíam uma sofisticada
educação em aspectos da Engenharia (SMITH, 2004). A preocupação com a formação
ampla e abrangente dos arquitetos é descrita por Vitrúvio como uma necessidade de “muitos
conhecimentos e saberes variados” que unissem prática e teoria, com o domínio da leitura e
escrita, do desenho, da geometria, da história, da filosofia, da música, da medicina, do
direito e, por fim, da astrologia e do céu (POLIÃO, 1999, p. 50-51).
Ainda que influenciados pela tradição, os arquitetos romanos tiveram certa
liberdade em desenvolver seus projetos, se comparados com os gregos, provavelmente
devido à formação ampla do arquiteto, que procurava compreender melhor as dificuldades
que seriam encontradas em um projeto, analisando-os antecipadamente por meio de
modelos (SMITH, 2004).
Foto 10 – Exemplos de modelos Romanos – maquete de um pequeno templo e de um pórtico.
Fonte: (AZARA, 1997, p. 236; HELLMANN, 1999, p. 46).
Os modelos reduzidos, ainda que não totalmente abandonados durante a
Idade Média, retornam como uma grande referência para os arquitetos italianos da
Renascença. O emprego desses modelos pelo arquiteto Brunelleschi, para estudar
complexas questões construtivas e estruturais, serviu de base de discussão entre o
projetista e os responsáveis pela execução da obra. Os diversos modelos elaborados para a
74
execução da cúpula de Igreja de Santa Maria del Fiori
18
tinham por objetivo demonstrar a
forma e a técnica de execução da cúpula, considerada na época como uma “construção
impossível”. O conceito do emprego do modelo, bem como do projeto, era inicialmente
buscar a aprovação do patrono responsável pela viabilização da obra. Além dessa função,
eles também serviam como instrumento de discussão entre o projetista e os responsáveis
pela execução do projeto (KOSTOF, 2000, p. 109).
No caso de outro projetista, Michelangelo, o emprego de pequenos
modelos de argila tinha por função estudar questões tridimensionais em edificações, pois ele
raramente utilizava perspectivas, acreditando ser mais adequada a observação em
movimento do que a visualização da edificação a partir de um ponto fixo (SMITH, 2004).
Foto 11 – Exemplo de modelos da Renascença – Catedral de Santa Maria del Fiori.
Fonte: (SMITH, 2004, p. 16 e 17).
Um dos principais tratadistas da época renascentista, o arquiteto Leon
Batista Alberti, descreve a importância do emprego de modelos por meio de um exemplo do
Império Romano:
“Suetonio conta que Julio César praticamente demoliu uma casa (...)
porque não tinha tido sua aprovação, apesar dele ter conhecimento desde
a fundação e ter tido uma grande despesa. (...) Por esta razão eu sempre
tenho a recomendação, praticada pelos melhores construtores, preparar
não apenas desenhos e esboços, mas também modelos de madeira ou de
qualquer outro material” (ALBERTI, 1996, p. 33-34).
19
18
Segundo King (2000, p. 3 a 5), uma grande quantidade de modelos foi executada antes mesmo do início da
participação de Brunelleschi na execução da cúpula: “o problema era que o modelo incluía um enorme dômus –
um dômus que, se construído, seria o maior e mais imponente já executado. E por cinqüenta anos havia ficado
obvio que ninguém em Florença , ou mesmo na Itália, tivesse a mínima idéia de como construí-lo. O inacabado
dômus de Santa Maria del Fiore era o maior quebra-cabeças arquitetônico da época.”
19
Tradução nossa.
75
A característica do modelo tridimensional reduzido, que permitia o
acréscimo ou a retirada de elementos, mudando as características de uma obra antes de
sua execução, possibilitava construir propostas que encontrassem a necessária aprovação.
Além disso, possibilitaria também uma noção aproximada dos custos, das dimensões e do
peso das peças individuais e do conjunto total (ALBERTI, 1996).
Na visão de Alberti (1996, p. 34), o modelo arquitetônico deveria ser um
instrumento de estudo prévio, que permitisse antever os eventuais problemas de maneira
muito mais fácil e econômica do que durante ou após a concretização do edifício. Nesse
aspecto, ele argumenta que os modelos deveriam ser simplificados, como uma forma de
fazer um constante reexame das características essenciais da obra:
“A apresentação de modelos que são coloridos e luxuriosamente acabados
com fascinantes pinturas é a marca, não da intenção do arquiteto em
conduzir aos fatos; antes, é o que o envaidece, esforçando-se em atrair o
olhar do observador, a buscar sua atenção para partes que ele considera
que devam ser admiradas. É melhor que os modelos não sejam finalizados
com exatidão, refinados, e finamente decorados, mas planos e simples,
para que eles demonstrem a simplicidade de quem concebeu a idéia, e
não as habilidades de quem construiu o modelo”
20
A sugestão de Alberti era que o modelo fosse um instrumento de
referência a ser avaliado tanto por outros envolvidos no processo de construção quanto pelo
próprio projetista. O modelo passa a ser uma nova ferramenta para se chegar ao projeto
final, e não uma representação da solução final. Nessa visão, qualquer concepção prévia do
modelo deve ser evitada, pois este deve ser uma ferramenta conceitual, o que pode ser
considerado, apesar dos séculos já transcorridos, como um pensamento válido para os dias
atuais e como um modelo conceitual que ainda persiste enquanto idéia (MORRIS, 2006).
4.2 A IDEALIZAÇÃO E ANTECIPAÇÃO DO ESPAÇO CONSTRUÍDO
As maquetes de arquitetura podem despertar fascinação e interesse,
encontrando-se também os aspectos técnicos e certo conteúdo lúdico representado pela
concretização do que antes era imaterial. O papel da maquete na arquitetura atualmente, é
reforçado, segundo Ragazzo (apud Consalez, 2000, p. 3), pela “necessidade de
20
Tradução nossa.
76
tridimensionalidade e materialidade nos sistemas de representação que tem levado, nos
últimos tempos, a revalorizar especialmente o papel da elaboração de maquetes, entendidas
como antecipação tridimensional em escala reduzida da proposta arquitetônica.” Essa
retomada de interesse é, segundo Consalez (2000), curiosamente unida ao
desenvolvimento das aplicações do desenho computadorizado. Nessa visão, o papel da
maquete transcende à simples tarefa descritiva do projeto que ela representa, assumindo
um papel de desenvolvimento do projeto, como um banco de dados de diferentes soluções
projetuais que somente a verificação tridimensional pode confirmar ou refutar.
O senso comum pode considerar que as maquetes arquitetônicas não
deverão ter a mesma forma de uso e aplicação que possuíam antes do advento da
computação gráfica, porém o seu emprego não pode, em princípio, ser considerado como
algo totalmente dissociado das novas tecnologias. O trabalho do arquiteto norte-americano
Frank Gehry demonstra uma curiosa simbiose entre sofisticados processos computacionais
e o uso de modelos físicos que, conjuntamente com os esboços do arquiteto, fazem parte de
um processo que vai variando em nível de definição até à obra final. A simplificação dos
modelos iconográficos iniciais (croquis) representa um processo ágil e de baixa resolução e
definição.
Essa etapa projetual pode ser considerada como exploratória e, por isso
mesmo altamente especulativa em relação aos resultados finais que se deseja alcançar. O
uso das maquetes dentro do processo projetual, e não apenas como reprodução final de um
produto, pode ser considerado como de uma definição intermediária, enquanto que as
simulações computacionais possibilitam uma ampla e vasta gama de instrumentos e
ferramentas, que os dois processos anteriores não possibilitariam. Esses processos não
podem ser considerados como excludentes e unívocos, mas sim complementares e inter-
relacionados em diferentes graus de importância, conforme cada caso específico.
77
Foto 12 – Desenvolvimento do projeto do Museu Guggenheim desde os croquis iniciais, passando pela
modelagem física tridimensional, o escaneamento dos modelos e a obra final.
Fonte: (www.wikipedia.org; www.arcspace.com; www.cityofsound.com; 2006).
A relação entre o processo analógico e o digital pode representar uma
diferenciação entre o nível de resolução de cada etapa, porém a capacidade de abstração
necessária para a elaboração de esboços tridimensionais rápidos necessita de um complexo
raciocínio mental que, por vezes, é desenvolvido em anos de exercício e prática profissional.
A ausência de domínio nesse processo pode representar diferenças entre o que foi
imaginado e o que efetivamente ficou executado. Mesmo arquitetos experientes podem ter
no esboço uma liberdade de concepção que represente uma perda de informações entre a
prancheta e a obra, ou mesmo uma imprecisão nas proporções (TEIXEIRA, 2004).
O modelo como ferramenta de concepção projetual foi muito utilizado no
processo de trabalho de alguns arquitetos, como no caso de Le Corbusier. Os modelos de
Le Corbusier, como intenção artística, podem ser entendidos dentro de uma dupla
polaridade: os modelos como cópias ideais do projeto imaginado e os modelos como
demonstração do processo de origem da obra e de sua estrutura interna. Em alguns casos
eles podem ser esquematizados para demonstrar informações específicas, como os
aspectos estruturais da obra, explicitando o mecanismo tipológico e técnico do projeto
(ROSSI, 1979).
78
Foto 13 – Modelos originais de Le Corbusier – capela de Ronchamp e o edifício Rentenanstalt.
Fonte: (IZZO; GUBITOSI, 1979, p. 100 e 103).
Em outros casos o modelo possui a característica de ser uma construção
posterior às definições projetuais, sem ter sido elaborado conjuntamente com o projeto.
Nessa situação o termo modelo pode ser compreendido também como uma reprodução, ou
cópia, de determinada realidade. Esse tipo de reprodução pode ter um caráter
eminentemente didático, pois o processo de imaginar os espaços reais, de maneira
tridimensional e de forma reduzida, pode contribuir como instrumento de construção do
conhecimento (ROSSI, 1979).
Foto 14 – Modelos reproduzindo projetos de Le Corbusier – capela de Ronchamp, a unidade de Habitação de
Marselha e Palácio de Chandigarh.
Fonte: (IZZO; GUBITOSI, 1979, p. 103, 104, 105).
O emprego do processo de construção de modelos tridimensionais como
forma de compreensão de elementos da arquitetura e da construção da percepção espacial
a partir de desenhos bidimensionais pode ser um instrumento no ensino da arquitetura.
Segundo Kurrent (1999), ele pode contribuir para a leitura e compreensão da circulação e
79
distribuição de ambientes e dos aspectos de iluminação, além da própria compreensão da
construção tridimensional. Nesse aspecto a importância do modelo é não ser apenas uma
maquete “naturalista”, mas também um processo de aprendizagem e de trabalho, com a
correlação dos espaços internos com a forma exterior da edificação.
Foto 15 – Modelos reproduzindo projetos de habitação de diversos autores – Alvar Aalto; .Le Corbusier; Louis
Kahn; Frank Loyd Wright; Ernst May e Adolf Loos.
Fonte: (KURRENT, 1999, p. 15, 91, 147, 353, 233, 153).
O uso de modelos como instrumento de construção da percepção espacial
permite um tipo de simulação que envolve aspectos táteis e físicos que os desenhos,
analógicos ou digitais, não possibilitam (AZUMA; IMAI, 1999). A utilização desse
instrumento permite complementar o processo projetual e auxiliar na percepção espacial de
maneira mais simplificada e rápida do que a própria execução do ambiente construído na
sua escala real. A elaboração de modelos, e em especial os modelos tridimensionais (físicos
ou não), pode não apenas contribuir para a construção de um conhecimento e repertório
arquitetônicos, mas também auxiliar no processo de comunicação entre o futuro arquiteto e
os usuários dos espaços para os quais ele esta projetando.
Um exercício de simulação de ambientes utilizando modelos
tridimensionais físicos (maquetes), aplicados em trabalhos didáticos para alunos da 1
a
. série
de diferentes cursos de Arquitetura e Urbanismo (AZUMA; IMAI, 2005), teve como objetivo
colocar os estudantes em contato direto com materiais, formas, texturas e questões de
execução dos ambientes projetados. Nesse caso, os ambientes foram esquematizados em
planos independentes, compostos pelo piso, paredes e tetos que, conjuntamente com o
mobiliário, serviram de base para diferentes simulações.
80
O exercício desenvolvido baseou-se na idéia de utilizar esse instrumento
não apenas como a confirmação final de um processo projetivo, mas como a própria
experimentação necessária e existente na definição dos ambientes projetados, sendo que
cada um dos planos propostos para simulação deveria variar em texturas, cores e material.
O caráter deste exercício era a criação de uma “biblioteca” de elementos (pisos, paredes e
tetos) que pudessem ser substituídos, alterando as características dos ambientes conforme
a variação de cada peça.
Foto 16 – Estudo da variação de mobiliário e dos planos de parede, piso e cobertura.
Fonte: (AZUMA; IMAI, 2005).
81
Foto 17 – Estudo da variação de mobiliário e dos planos de parede, piso e cobertura 2.
Fonte: (AZUMA; IMAI, 2005).
Foto 18 – Organização das peças que compuseram os ambientes e a montagem da simulação.
Fonte: (AZUMA; IMAI, 2005).
Os aspectos didáticos do emprego de modelos tridimensionais vêm sendo
explorados por meio de um instrumento que busca desenvolver a criatividade e interação de
alunos de ensino médio pelo aprendizado da arquitetura brasileira, com o emprego da
construção de maquetes de edificações (GIL; KATINSKY, 1995; NAKANO; LOURENÇO,
1995; ISHIKAWA; KATINSKY, 2004; NOGUCHI; KATINSKY, 2004). Para isso foram criados
“kits” de maquetes em papelão que poderiam ser montados pelos alunos, colocando-os em
contato direto com alguns exemplos de edificações, com o objetivo de auxiliar na divulgação
do patrimônio artístico ou cultural. Esses exemplos de edificações podem estar até ao
alcance desses alunos, porém nem sempre são observados da mesma forma que o são por
meio da sua construção e concretização, mesmo que utilizando-se um processo
simplificador como o modelo.
82
A preocupação com o caráter didático da transmissão das informações na
área de Arquitetura e Urbanismo pode ser compreendida pela importância dada à
transmissão das idéias e dos conceitos do projetista a um cliente, ou grupo de pessoas a
quem se destine o projeto, da maneira concebida originariamente. Os organizadores da
última Bienal de Arquitetura de São Paulo (2005) ressaltaram como um dos principais
objetivos aproximar a arquitetura ao público comum, demonstrando que se trata de uma arte
que não é exclusiva de profissionais e que se pode trazer essa linguagem ao grande
público, dialogando com as pessoas e mostrando “o que os arquitetos fazem para ajudar e
resolver os problemas da cidade” (CURY, 2005).
Essa intenção, não por acaso, levou a uma grande quantidade de
maquetes físicas expostas no pavilhão da Bienal, onde os projetos puderam ser observados
tanto em seus aspectos formais, quanto na sua estrutura de concepção e de funcionamento,
com um claro caráter didático na forma de abordagem de muitos desses modelos (ver fotos
19). Em alguns casos pode-se também observar a intenção da transmissão de idéias e dos
conceitos que transformam o modelo em figura abstrata e de forte impacto visual, sem que
necessariamente se compreenda em plenitude o funcionamento e, por vezes, a própria
função de alguns desses modelos (ver fotos 20).
Foto 19 – Modelos diversos apresentados na Bienal de Arquitetura de São Paulo - 2005.
83
Foto 20 – Modelos diversos apresentados na Bienal de Arquitetura de São Paulo - 2005.
4.3 A COMUNICAÇÃO ENTRE O PROJETISTA E O USUÁRIO
Algumas pesquisas de avaliação de habitações sociais no Brasil têm
demonstrado que a simples participação dos futuros moradores no processo de produção
não pode ser considerada como uma garantia nem de satisfação com a habitação (REIS,
1997), tampouco de compreensão do projeto (IMAI, 2000). As possíveis falhas no processo
de comunicação entre o projetista e o usuário, juntamente com a desconsideração por parte
dos projetistas de conhecimentos prévios relativos ao tema e a falta de conhecimento das
condicionantes locais e socioculturais dos moradores podem ser considerados como fatores
que contribuem para os problemas detectados nas habitações decorrentes da inadequação
do projeto.
Em alguns casos a inadequação dos projetos pode representar a execução
de reformas dispendiosas no núcleo original da habitação e em ampliações não previstas
(IMAI, 2000; SZÜCS, 1998; KOWALTOVSKI et al, 1995; REIS, 1995). Neste caso cria-se
uma situação perversa em que as famílias, geralmente de baixa renda, terão que gastar
tanto na aquisição quanto na reformulação de suas moradias, em um processo oneroso que
penaliza pelo desperdício de recursos e pelo desconforto da residência em obras, sem a
garantia de que o resultado final represente um ambiente de melhor qualidade.
Uma pesquisa sobre habitação social (IMAI, 2000), demonstra que mesmo
após vários anos de ocupação, os níveis de satisfação dos usuários com as residências
84
continuam altos, sem que diversos problemas tenham sido solucionados. O fato de esses
usuários terem participado do processo produtivo de suas habitações, indiretamente no
projeto e diretamente na execução e no autofinanciamento de suas moradias, faz com que
qualquer crítica sobre a edificação represente uma espécie de autocrítica.
Pode-se considerar que existe uma percepção diferenciada do que é
“problemático” para o projetista e para o usuário, levando a situações em que questões
como conforto térmico e acústico e patologias construtivas não são consideradas essenciais
para os moradores. Nessa visão, o desconforto existente é compensado pelo sentimento de
apropriação de um espaço feito por e para os moradores, o qual, se um dia for possível,
poderá ter esses problemas corrigidos.
Muitos dos problemas detectados referem-se a questões de projeto e, em
especial, à inadequação entre os anseios e as expectativas dos moradores e algumas
soluções adotadas. Essas soluções, à primeira vista, não parecem estar com nenhum
problema técnico-funcional, sendo adequadas genericamente a qualquer morador. A
questão é que nem todos os usuários podem ser considerados “genéricos”, pois, apesar de
serem todos de baixa renda, possuem particularidades que podem ser incompatíveis com o
projeto (IMAI, 2002).
Os problemas decorrentes de inadequações de projeto poderiam ser
minimizados por meio de verificações prévias durante o processo projetual. Essas pré-
decisões podem contribuir para a racionalização do projeto, minimizando os custos de
execução e de manutenção (ORNSTEIN com ROMÉRO, 1992). As simulações visuais, por
meio de modelos tridimensionais físicos, podem ser utilizadas de diversas formas no projeto
como ferramenta analítica e, em alguns casos, podem representar para os usuários que
participam dessas simulações uma “nova compreensão do real espaço da casa,
determinando um considerável número de mudanças
21
(SANOFF, 1991). Segundo SZÜCS
(1995), apesar de os documentos gráficos serem destinados a facilitar a compreensão da
construção, eles não são muitas vezes compreendidos por usuários leigos, sendo
necessária a adoção de procedimentos mais didáticos e pedagógicos que facilitariam o
processo de comunicação com o autoconstrutor. Entre esses procedimentos está o uso de
maquetes, que permitiria uma melhor percepção dos espaços e de suas inter-relações.
21
Tradução nossa.
85
A utilização de diferentes técnicas de simulação, como vídeos, modelos
em escala natural e reduzida e simulações computacionais pode contribuir para a
compreensão espacial, funcional e de fluxos (BECHTEL, 1989), bem como para a
adequação ao clima e redução de consumo de energia a partir de conceitos de energia
passiva (ROMÉRO, 2000).
Um exemplo de simulação por meio de modelos tridimensionais na
elaboração e na discussão de projetos habitacionais é o caso do empreendimento
habitacional de Vila Nova Cachoeirinha, com um sistema de construção por ajuda-mútua,
implantado no início da década de 80. O grupo inicial era de cerca de 300 famílias, que
foram divididas em subgrupos de 40, os quais iriam construir conjuntamente suas casas.
Com o auxílio de uma assessoria técnica foram elaborados três diferentes projetos e
apresentados por meio de maquetes com módulos móveis (foto 21).
A opção pelo uso da maquete foi decorrente da percepção que era
insatisfatório o emprego de desenhos para a obtenção de informações em projetos de
intervenção habitacional que contam com a participação da população” (IPT, 1984, p. 114).
Dentro dessa visão a maquete estimularia a conversa entre o indivíduo, o grupo e o técnico,
o que tornaria possível a percepção visual das aspirações dos futuros moradores.
Foto 21 – Exemplo de utilização de modelos físicos na elaboração do projeto de habitações sociais.
Fonte: (IPT, 1984, p. 114).
86
Segundo uma pesquisa posterior (SILVA, 1998b), o projeto de Vila Nova
Cachoeirinha era o menos repetitivo e massificado, quando comparado com outros
assentamentos próximos. A homogeneidade inicial dos projetos, que eram baseados
sempre no mesmo modelo, foi se diversificando com o decorrer do tempo, com casas
bastante modificadas e ampliadas em relação às propostas originais, o que de certa forma
representa o desejo de personalização existente quando da escolha dos projetos. Naquela
etapa, a escolha deu-se por projetos de dois pavimentos que permitissem uma maior área
de terreno livre. Segundo Lima (1989), o processo de produção dessas moradias foi
complexo e levou certo tempo para o amadurecimento tanto da equipe técnica quanto do
grupo de moradores. Apesar da apresentação do modelo tridimensional aos moradores, eles
efetivamente participaram da escolha do projeto, porém não da sua concepção. As
modificações posteriores nos projetos podem também indicar, além do desejo de
personalização, um amadurecimento da concepção dos moradores sobre suas habitações.
O depoimento de uma líder comunitária ilustra de que forma ocorreu o processo de escolha
do projeto:
“Quando eu peguei a planta pra olhar pela primeira vez, assim, quer dizer,
a gente não entende bem. Alguma coisa das divisórias, o desenho, a gente
não entende. (...) Agora, na hora de fazer o projeto foi o seguinte: o
Guilherme tinha uma maquetezinha que trouxe da Faculdade. Era um
bauzinho, uma caixinha daquela de metal. Ele armava. Ele tinha a
maquetezinha do sobradinho e da casa térrea. Então, quando foi pra
discutir, o Guilherme fez reunião com todos os grupos levando aquelas
maquetes. Então, ele sentava ali no chão, e ia formando as paredes. As
paredes era tudo os pedacinhos de madeira. Colocava ladeirinha por
ladeirinha, formava um sobradinho com tudo, com aquela mesa que ele
tem, tudo! Explicava pra gente (inclusive aquela mesa era pra ser em
alvenaria). Ele discutiu com nós se ela seria de alvenaria ou de madeira.
Então a própria população decidiu ser de madeira. Isso foi bem discutido
por nós, o projeto. Ele explicava a casa térrea também. Então, chegou-se à
conclusão que a casa térrea, ela já não tinha aquele espaço que tinha o
sobradinho, que ia servir pra ampliação. E o sobradinho dava condição
para isso. Então todos os grupos decidiu (sic) pelo sobradinho...” (LIMA,
1989, p. 58 a 60)
Outro exemplo da utilização de modelos é de um kit representando
componentes da construção (foto 22), empregado por um programa de uma cooperativa
habitacional canadense (BENTZ apud SANOFF, 1991). O modelo, um pouco mais
sofisticado que o exemplo anterior, possuía aberturas para portas e janelas, em uma escala
maior do que a normalmente empregada em representações bidimensionais (1:16). Os
participantes fotografaram os modelos para futuras referências, mas normalmente faziam
esboços das alterações realizadas por meio da manipulação do modelo. A experiência
87
demonstrou que, na maior parte dos casos, houve um aumento no tamanho dos ambientes
em relação ao projeto original.
O emprego de modelos com o objetivo de estudar ambientes internos é
demonstrado por Mitchell (1993), levando em consideração as atividades dos usuários. O
seu processo de trabalho envolvia uma entrevista prévia onde eram listadas as
necessidades dos usuários em relação aos equipamentos e móveis, sendo então
preparados os modelos para a discussão das atividades diárias que ocorreriam nos
ambientes, com o desenvolvimento de alternativas projetuais de forma conjunta entre o
projetista e o usuário (ver foto 22).
Foto 22 – Exemplo de utilização de modelos físicos na elaboração de projetos de uma habitação e de um
ambiente interno.
Fonte: (SANOFF, 1991, p. 141; MITCHELL, 1993, p. 79).
Um caso mais contemporâneo da aplicação de maquetes na elaboração
de projetos é o das habitações produzidas pelo arquiteto Jo Coenen, na Holanda
(RAVESTEIN, 1996). A idéia básica era construir utilizando um sistema de pré-fabricados,
ao mesmo tempo em que houvesse a garantia de uma continuidade da linguagem urbana
existente. Foi utilizado um kit de maquete em madeira que reproduzia o sistema pré-
fabricado das fachadas, porém permitia a alternância das tipologias empregadas nessas
fachadas e, por conseqüência, também nas plantas dessas habitações.
Os projetos, que pela tipologia construtiva poderiam indicar algo
extremamente padronizado e repetitivo, na realidade possuíam uma flexibilidade que
permitia atender a diferentes necessidades de variados grupos familiares, com diferentes
áreas de apartamentos.
88
Figura 5 – Estudo de alternativas de fachadas de habitações sociais.
Fonte: (RAVESTEIN, 1996, p. 26).
Foto 23 – Exemplo de utilização de modelos físicos na elaboração do projeto de habitações sociais.
Fonte: (RAVESTEIN, 1996, p. 25).
Foto 24 – Execução das habitações por meio de sistemas pré-fabricados.
Fonte: (RAVESTEIN, 1996, p. 29).
89
O último exemplo é o do Conjunto Habitacional Santa Rosa em Belo
Horizonte, baseado em um sistema de autogestão, em que houve a participação dos
moradores na elaboração e definição dos projetos e construção das habitações. As
dinâmicas de grupo utilizaram maquetes para estudar desde a implantação do terreno (foto
25) e o adensamento das edificações até o estudo de distribuição interna dos móveis e
equipamentos das moradias (foto 26) e posteriormente a simulação da construção por meio
de um canteiro experimental (SANTIAGO et al, 2005).
Durante o contato com a comunidade, os arquitetos
22
e a assistente social
buscaram discutir com as famílias quais eram as necessidades e os anseios da
comunidade, utilizando técnicas de grupo para promover a participação e elevar a auto-
estima dos usuários. Esse processo buscou, além de ouvir os envolvidos, prepará-los para o
entendimento de conceitos relativos ao projeto, em uma espécie de transferência
tecnológica, em que se discutiram aspectos de qualidade espacial e ambiental da casa, dos
sistemas construtivos, da leitura e interpretação de projetos e do canteiro de obras, entre
outros (SANTIAGO et al, 2005).
O contato com a comunidade identificou a necessidade das famílias de
terem três dormitórios, o que se apresentava fora das condições de orçamento do projeto.
Dessa forma, optou-se pela solução de um dormitório estendido, com um espaço maior que
permitisse receber três camas ou beliches, ou ser divido em dois dormitórios pelo morador
por meio de divisória ou de um armário. Assim poder-se-ia atender a parcela da comunidade
que tivesse necessidade de um terceiro dormitório. Esse “privilégio“ concedido aos
moradores do 2º e 3º pavimentos foi compensado pela concessão de acesso a um quintal
privativo, através da cozinha e da área de serviço, aos moradores do pavimento térreo, e
pelo acesso, para os apartamentos do último pavimento, a um terraço com área coberta e
descoberta (SANTIAGO et al, 2005).
Esses procedimentos demonstram que, mesmo com orçamento limitado, o
processo de discussão e de envolvimento consciente dos futuros usuários pode significar a
adoção de procedimentos simples, que atendam às expectativas dos moradores e,
possivelmente, melhorem sua auto-estima, pois todos receberam “privilégios” de acordo
com seus interesses e necessidades.
22
Projeto elaborado por uma equipe de arquitetos composta por: Marcelo Palhares Santiago, Gabriel Velloso da
Rocha Pereira, Matheus Marques Ferreira de Melo, Luís Felipe de Farias e Natália Batista Botelho.
90
Foto 25 – Dinâmica com os usuários para definição da ocupação do terreno.
Fonte: (Cedido pelos autores do projeto, 2005).
Foto 26 – Dinâmica com os usuários para distribuição espacial interna da unidade habitacional.
Fonte: (Cedido pelos autores do projeto, 2005).
Foto 27 – Discussão do projeto com os moradores, simulação do ambiente em um canteiro de obras e o modelo
tridimensional final.
Fonte: (Cedido pelos autores do projeto, 2005).
91
Os modelos descritos anteriormente não diferem, na essência, do que vem
sendo feito há vários anos, em termos de maquetes em escala reduzida. Eles possibilitam
uma maneira de antever o ambiente construído e modificado pelo ser humano. O que os
torna únicos é o olhar dado pelas pessoas envolvidas na sua construção e na sua
manipulação. Essa participação, em maior ou menor escala, traz consigo um envolvimento
afetivo e emocional que ultrapassa o simples fazer construtivo. Trata-se de uma tentativa de
quebrar uma alienação, representada pela repetição indiscriminada e massificada de
esquemas espaciais vistos como grandes soluções para a problemática habitacional.
Esse processo não pode ser visto como algo linear e determinístico. Ele é
complexo, com toda a diversidade existente nos relacionamentos humanos. A visão de
como deve ser a habitação por parte do projetista pode, por vezes, ser diferente da visão do
usuário, sendo que, tanto um quanto o outro, podem trazer consigo uma visão estereotipada
do conceito de moradia. A elaboração do projeto pode ser uma rica experiência ou desaguar
em completo fracasso. Isso dependerá da condução do processo e de quanto todos os
agentes envolvidos estejam preparados para fazer, ou realmente desejem fazer uma
arquitetura - nas palavras de Sanoff (2006c) - mais “democrática”.
92
5 A CONSTRUÇÃO DO MODELO TRIDIMENSIONAL
Os modelos tridimensionais desenvolvidos buscam ajudar o futuro usuário,
de maneira didática, a compreender o projeto da habitação e participar das escolhas e das
decisões que cercam o processo projetual. A constatação de que uma parcela considerável
dos usuários não havia compreendido o projeto das moradias elaboradas pelo Projeto Casa
Fácil (IMAI, 2002), em um processo no qual eles próprios tinham participado das decisões
projetuais, indica que nem sempre os documentos gráficos são claramente entendidos por
usuários leigos (SZÜCS, 1995). As falhas existentes no processo de comunicação entre o
projetista e o usuário demonstraram que parte dos problemas detectados nas habitações,
decorrentes do projeto, tem como origem as inadequações entre as expectativas dos
moradores e a efetiva concretização do projeto da habitação.
O uso da simulação visual como instrumento que auxilie a compreensão
do real espaço da moradia, complementando o desenho bidimensional tradicional, pode
trazer ao usuário uma participação realmente efetiva nas decisões tomadas durante a
elaboração do projeto. Esse processo, teoricamente mais didático e participativo, é uma via
de duas mãos, necessitando também a participação do projetista como agente interessado
em um processo projetual mais “democrático”. Isso não significa, necessariamente, abrir
mão do domínio do processo projetual, mas sim permitir que o futuro morador tenha uma
voz efetiva nas decisões, por meio de uma espécie de um diálogo aberto, discutindo as
possibilidades e as alternativas e explicitando as vantagens e as desvantagens de cada uma
delas.
O modelo tridimensional elaborado buscou explicar ao usuário os aspectos
projetuais que determinam certas escolhas, com flexibilidade para modificar os projetos de
acordo com a necessidade programática, a orientação mais adequada, os aspectos
dimensionais, de fluxo e de layout e até mesmo aspectos construtivos e estruturais.
A participação dos usuários no processo de planejamento e no projeto do
ambiente construído deve levar em consideração como as pessoas irão compreender as
informações que lhes são colocadas antes da concretização do espaço. A maior parte das
experiências com processos participativos no país busca uma abordagem relativa ao
planejamento e gestão urbanos, ou como uma política pública de autogestão e/ou mutirão
na produção de habitações (PRONSATO, 2005; TASCHNER, 2002; MALARD, 2002;
93
BONDUKI, 1998; GORDILHO-SOUZA, 1997; entre outros). Poucos são os casos que
abordam a questão do projeto arquitetônico participativo sob a ótica da comunicação nesse
processo, e quando o fazem geralmente enfocam projetos multifamiliares, com discussões
em grupo com a comunidade (IPT, 1984; SANTIAGO et al, 2005).
O emprego do modelo tridimensional descrito nesse trabalho busca
contribuir para essa discussão por meio da simulação de projetos unifamiliares para
usuários que participarão de maneira individual e em contato direto com o projetista na
definição do projeto de sua moradia. Esse processo, ao contrário dos exemplos anteriores,
não acontece em discussões com a comunidade, visto que os usuários são moradores das
mais variadas regiões, dispersas pelo município, e não configuram uma “comunidade”
propriamente dita. Eles representam, na realidade, uma parcela da população que
normalmente faria parte da produção espontânea do espaço habitacional (autoconstrução).
O modelo tridimensional aqui proposto busca ser uma ferramenta que auxilie na
comunicação entre o projetista técnico e o morador, que, em última instância, é o produtor
da sua própria moradia.
5.1 DIMENSIONAMENTOS DO MOBILIÁRIO
A elaboração de habitações sociais pode lançar mão do uso de
dimensionamentos referenciais, que buscam garantir uma qualidade mínima nas questões
funcionais espaciais. A aplicação desses padrões nos projetos, fruto de pesquisas que vêm
sendo desenvolvidas há várias décadas, se não garante a qualidade final de um
empreendimento habitacional, pelo menos evita o surgimento de graves problemas
funcionais.
Foram realizados levantamentos, dentro de diferentes referências, que
buscaram identificar padrões de tipologia e dimensionamento de móveis e de equipamentos
utilizados em habitações sociais, em especial relacionados à realidade local do objeto da
pesquisa.
Os dados referenciais adotados buscam atender a critérios mínimos de
dimensionamento defendidos por diferentes autores (IPT, 1987; CEF, 2002; SILVA, 1982;
PEDRO, 2001), ao mesmo tempo em que levam em consideração as características de
94
mobiliário e dos equipamentos disponíveis no mercado local e também os hábitos de
consumo desses móveis pelos usuários do Projeto Casa Fácil.
5.1.1 DIMENSIONAMENTO DO MOBILIÁRIO EXISTENTE EM HIS.
Os dados apresentados a seguir foram coletados em uma pesquisa na
qual foi aplicada uma Avaliação Pós-Ocupação em habitações do Projeto Casa Fácil na
cidade de Londrina, Paraná (IMAI, 2000). Os levantamentos dessas habitações, além do
tamanho de cada ambiente, também incluíram a verificação das dimensões dos móveis e
dos equipamentos existentes. A situação dos usuários era relativamente consolidada, pois,
em média, já fazia cerca de quatro anos que residiam nessas moradias, portanto já
possuíam o mobiliário básico para seus hábitos, necessidades e condições sociofinanceiras.
O levantamento realizado indica quais móveis comumente são
encontrados e com que freqüência isso ocorre. Atualmente é perceptível uma mudança nos
hábitos familiares de consumo e de acesso a novos equipamentos, tais como o computador,
que já é encontrado, ainda que de maneira incipiente, em algumas HIS (TRAMONTANO et
al, 2006a; 2006b; 2006c). Apesar da rapidez desse processo, os móveis encontrados nas
habitações pesquisadas apresentam dimensões e características, na maioria dos casos,
muito próximas às encontrados no mercado mobiliário atualmente, sendo, dessa forma, o
que está disponível e ao alcance dos usuários. Deve-se, é claro, levar em consideração que
o próprio mercado mobiliário, em função da demanda, produz móveis com novas
características e dimensões em relação ao encontrado nesse levantamento, devido em
muito às novas condições de consumo e à maior possibilidade de acesso das famílias de
baixa renda a equipamentos como televisores de tela grande, computadores e aparelhos de
dvd e de som.
23
Apesar de não existir uma ocupação acentuada de mobiliário em relação à
área útil dos ambientes nessas habitações (IMAI, 2004), em alguns casos foi perceptível
certa sobreposição de funções. Esse problema teve origem na inadequação da previsão
inicial do projeto em relação ao layout dos ambientes, que muitas vezes não possuíam
flexibilidade, ou não eram adequados ao mobiliário utilizado pelos moradores.
23
A comparação entre as dimensões dos móveis e dos equipamentos encontrados nas habitações e os que
estão disponibilizados pelo mercado atualmente, podem ser vistas nas tabelas 6 a 12.
95
Os dados coletados foram distribuídos em três categorias básicas de
ambientes: cozinha, sala e dormitórios. Os levantamentos demonstram os tipos, a
quantidade e as dimensões dos móveis mais utilizados por esses usuários. Na cozinha os
móveis comumente encontrados foram o fogão, o refrigerador, a pia, os armários, balcões,
mesas e também equipamentos de serviço como máquina e tanque de lavar roupa.
Geralmente os equipamentos estavam na proporção de uma peça por
habitação, na maior parte dos casos dentro dos ambientes da cozinha e da copa. Em cerca
de 15% dos casos pesquisados foram encontrados dois fogões por moradia, sendo que, no
total, 28% eram de seis bocas. Os móveis destinados à armazenagem correspondiam a
cerca de duas peças por habitação, divididas entre balcões (32%), armários altos (34%) e
paneleiros/cristaleiras (34%).
As dimensões desses equipamentos apresentaram certa homogeneidade
em relação aos fogões e aos refrigeradores e uma grande variação em relação a outros
móveis como armários, balcões, mesas e pias, por exemplo. Essa variação, que também
ocorre em outros móveis dessas moradias, levou à adoção de um critério de referência que
buscou contemplar 90% dos casos, sendo desconsiderados 10% dos móveis entre os que
tinham a maior dimensão (90º percentil)
24
. Essas dimensões, listadas a seguir (tabelas 1 e
2), demonstram a existência de uma quantidade razoável de móveis com medidas acima do
que normalmente é utilizado para HIS.
As pias foram classificadas como pequenas (até 125cm de comprimento) e
grandes (acima de 140cm de comprimento), sendo que o segundo caso representava 32%
do total. No caso das mesas encontradas na pesquisa observou-se uma predominância de
mesas retangulares de quatro lugares (36,5%) e seis lugares (51%), sendo também
encontradas mesas retangulares de dois lugares (7,5%) e mesas circulares de quatro
lugares (5%). Os móveis que apresentaram, no entanto, maior variação dimensional, foram
os balcões e armários. Em alguns casos, como nos armários aéreos, os comprimentos
variaram entre 80cm até 240cm, e nos paneleiros/cristaleiras variaram entre 40cm até
24
O percentil é uma medida de dispersão que permite determinar qual quantidade, dentro do universo de
pesquisa, será atendida pelo dimensionamento adotado, da mesma forma que permite antever o percentual de
pessoas que não serão atendidas. O emprego de conjuntos de valores como os quartis e os percentis, que
delimitem não apenas os valores centrais (médias, modas ou medianas), permite que um maior número da
população possa ser atendida, mesmo que não seja possível contemplar a totalidade dessa população. Para
maiores informações sobre o assunto consultar Barbetta (2006), Ornstein com Roméro (1992) e Boueri (1991).
96
190cm. No caso dos balcões, apesar de uma variação média menor, foram encontradas
peças entre 70cm e 155cm de comprimento.
Observando-se esses dados pode-se perceber que as habitações
possuem uma grande quantidade de áreas de armazenagem, o que na média representa,
entre paneleiros e balcões, 122cm por moradia, além de cerca de 90cm de armários altos.
Considerando-se a quantidade de pias com dimensões superiores a 140cm de comprimento
que também servem como áreas de armazenagem, percebe-se a importância dada a essa
questão nessas habitações.
Tabela 1 – Dimensionamento dos móveis e equipamentos da cozinha e área de serviço 1 (centímetros)
Fogão 4b Fogão 6b Refrigerador Pia Pq. Pia Gd
Maquina
lavar rou
p
a
50º Percentil 60 x 60 56 x 76 60 x 68 55 x 120 57 x 160 50 x 60
90º Percentil 60 x 60 60 x 79 64 x 70 60 x 120 60 x 191 60 x 73
Maior 60 x 65(*) 60x 80 80 x 80 65 x 125(*) 62 x 271 62 x 80(*)
(*) – Maior dimensão da largura e do comprimento de diferentes móveis.
Tabela 2 – Dimensionamento dos móveis e equipamentos da cozinha e área de serviço 2 (centímetros)
Balcão Armário
Paneleiro/
Cristaleira
Mesa 4 lug. Mesa 6 lug. Tanque
50º Percentil 50 x 113 33 x 120 35 x 80 75 x 117 80 x 158 72 x 100
90º Percentil 55 x 120 35 x 175 46 x 141 81 x 120 90 x 160 80 x 110
Maior dimensão 60 x 155(*) 47 x 240(*) 55 x 190(*) 87 x 130(*) 95 x 160(*) 80 x 120(*)
(*) – Maior dimensão da largura e do comprimento de diferentes móveis.
Em relação às áreas de serviço pôde-se observar que a maioria desses
espaços não possuía uma delimitação clara, tanto que em apenas 30% dos casos os
tanques de lavar roupa estavam em áreas cobertas, alguns dos quais na cozinha ou em um
dormitório. Os demais estavam localizados nas imediações externas das habitações,
geralmente sob o beiral, próximo à porta da cozinha. As máquinas de lavar roupa,
encontradas em 37% das residências, estavam distribuídas igualmente entre cozinha e área
de serviço. Percebe-se que a cozinha adquire, por vezes, a função de local de lavar roupas,
da mesma forma que os dormitórios acabam abrigando a função de passar roupas,
conforme veremos adiante.
97
Fotos 1 – Exemplos de máquinas de lavar roupa nas cozinhas.
Fotos 2 – Exemplos de tanques de lavar roupa em áreas externas e na cozinha.
Dois fogões x Uma cozinha Equipamentos novos x Acabamento casa
Fotos 3 – Exemplos de ocupação da cozinha.
Os levantamentos realizados na sala demonstram que os móveis
comumente encontrados foram os sofás, estantes, racks, mesinhas de apoio e cadeiras,
além de outras peças como a máquina de costura, mesas e até mesmo camas. Alguns dos
equipamentos pesquisados encontram-se próximos à proporção de uma peça por habitação,
98
como a estante/rack e os sofás. Nesses casos, a maioria dos móveis encontrava-se dentro
da sala, com algumas exceções dentro de dormitórios. As demais peças foram encontradas
em menor proporção, como as mesinhas de apoio (32%) e as cadeiras (12%), ou indicavam
uma esporádica sobreposição de funções, como no caso de camas e máquinas de costura.
As dimensões desses equipamentos apresentaram uma relativa variação,
demonstrando a diversidade e a falta de padronização do mercado mobiliário, mesmo que
seja para um segmento que atinja famílias de baixa renda. Essas dimensões, listadas a
seguir (tabela 3), da mesma forma que no caso da cozinha, demonstram que os móveis
estão com medidas superiores às normalmente utilizadas nos projetos. Algumas peças,
como o sofá de dois lugares, por exemplo, apresentou variação na largura entre 66cm e
100cm, e no comprimento entre 120cm e 195cm, enquanto que o rack apresentou variações
que iam de 35cm até 60cm na largura e de 65cm até 240cm no comprimento.
Tabela 3 – Dimensionamento dos móveis e equipamentos da sala (centímetros).
Sofá 3 Sofá 2 Sofá 1 lugar Mesinha Rack Estante
50º Percentil 80 x 190 80 x 148 74 x 81 40 x 70 40 x 140 40 x 145
90º Percentil 93 x 210 91 x 166 83 x 95 50 x 97 51 x 156 45 x 170
Maior 100 x 257(*) 100x 195(*) 85 x 100 70 x 100(*) 60 x 240 50 x 195(*)
(*) – Maior dimensão da largura e do comprimento de diferentes móveis.
Cama na sala
Sofá no dormitório
Fotos 4 – Exemplos de sobreposição de funções.
Os levantamentos realizados nos dormitórios demonstram que a maior
parte dos móveis encontrados foram camas (média de 2,3 por habitação), guarda-roupas e
cômodas (média de 1,3 por habitação). De uma maneira mais dispersa foram encontrados
99
também criados-mudos (média de 0,65 por habitação), berços (15% das habitações), mesas
de estudo (22%), passadeiras (15%), máquinas de costura (5%) e armários altos de parede
(10%). Não houve nesses ambientes uma sobreposição de funções como na sala e na
cozinha. A presença da máquina de costura, apesar de caracterizar uma atividade de
serviço, restringiu-se a duas peças, sendo que as demais foram encontradas em área de
serviço e sala.
Os móveis encontrados nesses ambientes, assim como na sala e na
cozinha, apresentam dimensões superiores ao normalmente previsto nos projetos (ver
tabelas 4 e 5). Assim como foi detectado na cozinha, as áreas de armazenagem (guarda-
roupas e cômodas) são as que apresentam as maiores variações, o que muitas vezes
acarreta problemas de utilização desses ambientes (IMAI, 2004).
Tabela 4 – Dimensionamento dos móveis e equipamentos dos dormitórios 1 (centímetros).
Cama Casal Cama Solteiro Guarda-roupa
Cômoda ou
baú
Criado mudo
50º Percentil 140 x 200 80 x 200 50 x 152 50 x 100 42 x 49
90º Percentil 145 x 200 90 x 200 56 x 200 60 x 129 49 x 58
Maior dimensão 152 x 210 105x 200(*) 60 x 297(*) 85 x 220(*) 60 x 75(*)
(*) – Maior dimensão da largura e do comprimento de diferentes móveis.
Tabela 5 – Dimensionamento dos móveis e equipamentos dos dormitórios 2 (centímetros)
Berço Mesa estudo Passadeira
Máquina de
costura
Armário alto
50º Percentil 70 x 134 60 x 80 31 x 106 44 x 88 30 x 89
90º Percentil 72 x 174 72 x 170 37 x 114 46 x 90 34 x 107
Maior dimensão 73 x 179(*) 80 x 212(*) 38 x 118(*) 47 x 90 36 x 114
(*) – Maior dimensão da largura e do comprimento de diferentes móveis.
100
Fotos 5 – Exemplos de conflito entre a dimensão dos ambientes e a distribuição dos móveis.
5.1.2 RECOMENDAÇÕES DIMENSIONAIS E O MERCADO MOBILIÁRIO.
A adoção de padrões dimensionais para a elaboração de projetos de HIS
adquiriu impulso no início do séc. XX quando a necessidade da produção em massa de
moradias para a população na Europa tornara-se um problema a ser resolvido no pós-
Primeira Guerra Mundial. Isso, conjuntamente com o contexto social e cultural da época,
abriu a discussão de quais aspectos seriam necessários para garantir as condições básicas
para a moradia das pessoas, a chamada habitação mínima (KOPP, 1990). Com isso
originou-se a preocupação em adotar parâmetros de dimensionamento que, ao mesmo
tempo em que reduzissem ao máximo o custo com essas construções, não fossem tão
exploratórios e desumanizados quanto nas primeiras habitações operárias encontradas no
início da Revolução Industrial.
As críticas existentes sobre esses procedimentos consideraram que eles
tiveram uma postura baseada em um “unilateralismo”, com uma dose de utopia e certo anti-
humanismo. Em que pese à importância dessas considerações, Katinsky (1990, p. 69)
considera que não é nenhum crime propugnar utopias e que as preocupações desses
pioneiros, apesar de passados tantos anos, ainda podem ser consideradas válidas e atuais.
101
Após essas discussões iniciais surgiram e começaram a ser usados como
referência no momento do projeto, manuais e publicações que indicam quais seriam as
dimensões mais adequadas para cada caso. O exemplo mais emblemático, o livro “A Arte
de Projetar em Arquitetura” (NEUFERT, 2004), desde meados do século passado vem
sendo reeditado e consultado por arquitetos. Apesar de algumas limitações ou críticas que
possam ser feitas a esse material, é inegável sua influência sobre o processo projetual.
Segundo Katinsky (1990, p. 32), não é exagerado afirmar que publicações com a de Neufert
tiveram “um impacto muito mais amplo, determinante e duradouro sobre os bens, móveis e
imóveis produzidos em nosso século, do que o produzido pelos críticos e historiadores de
arte.”
Dentro das pesquisas que tratavam do tema, alguns autores buscaram
abordar as necessidades e a organização do espaço habitacional (PORTAS, 1969), e outros
os aspectos antropométricos e ergonométricos dos espaços interiores, como Panero e
Zelninik, 1979; Diffrient et al, 1974; Boueri, 1989, entre alguns exemplos de dentro e fora do
Brasil. O dimensionamento de mobiliário e equipamento, bem como de suas áreas de uso,
possui algumas referenciais que indicam as dimensões mínimas necessárias para o uso da
habitação (NEUFERT, 2004; BOUERI, 2004; SZÜCS, 2003; CDHU, 1998; HMSO, 1972).
Para análise neste estudo foram escolhidas quatro publicações que
abordam o dimensionamento do mobiliário e equipamentos utilizados em habitações, dois
levantamentos dos móveis ofertados pelo mercado local e uma pesquisa dos móveis
encontrados em habitações locais. Entre as publicações existem dois manuais técnicos
(IPT, 1987; CEF, 2002) e duas publicações acadêmicas (SILVA, 1982; PEDRO, 2001).
Apesar de o material de Pedro (2001) ser muito mais extenso e aprofundado que os demais,
ele é uma evolução do trabalho desenvolvido por Portas (1969) no Laboratório Nacional de
Engenharia Civil de Portugal (LNEC), portanto pode apresentar algumas diferenças em
relação ao contexto local devido aos aspectos culturais e comportamentais. As
recomendações dimensionais desse material apresentam diferentes níveis qualitativos,
sendo adotado, para fim de estudo comparativo, o nível mínimo apresentado.
Convém ressaltar que muitos móveis (e principalmente equipamentos)
apresentam variações em suas dimensões no transcorrer do tempo, e muitas das
dimensões podem sofrer variações em curtos períodos. Os levantamentos de móveis
ofertados no mercado mobiliário local se constituem de um levantamento feito por Yamaki
102
(2000) e uma pesquisa das condições do mercado no ano de 2005, no momento da
confecção dos modelos. Essa pesquisa foi realizada devido a uma percepção de que a falta
de normatização e de padronização na indústria moveleira poderia ocasionar uma variação
dimensional, em alguns casos, em relação ao levantamento anterior (YAMAKI, 2000). Para
efeito comparativo foi escolhido, nos dois levantamentos, sempre o maior dimensionamento
de cada móvel. O levantamento realizado para esta pesquisa procurou móveis de padrão
“popular”, fornecidos por lojas com esse perfil, levando em consideração o valor e a
disponibilidade do produto.
Tabela 6 – Medidas encontradas e recomendações de dimensionamento de mesas (centímetros).
ABC D
MESA 4 LUGARES MESA 4 LUGARES MESA 4 LUGARES MESA 6 LUGARES
HABITAÇÕES MERCADO MOBILIÁRIO MANUAISCNICOS
PEÇA
IMAI
(2000)
1
IMAI
(2005)
2
YAMAKI
(2000)
2
PEDRO
(2001)
SILVA
(1982)
IPT
(1987)
CEF
(2002)
A
Ø 83 Ø 100 Ø 97 Ø 85 - Ø 100 Ø 100
B
- 92 x 90 94 x 94 75 x 95 - - 100 x 100
C
81 x 120 80 x 120 78 x 135 75 x 110 90 x 120 80 x 120 80 x 120
D
90 x 1,60 90 x 160
90 x 150
80 x 160
75 x 165 - 80 x 150 80 x 150
(1) 90º Percentil; (2) Maior dimensão da largura e do comprimento de um móvel ou de diferentes móveis.
Entre os móveis e os equipamentos da cozinha, a mesa de jantar
retangular de quatro lugares não apresenta grandes variações entre as recomendações dos
manuais técnicos e o encontrado no mercado e nas habitações. As mesas de seis lugares
apresentam larguras e comprimentos superiores aos dos manuais técnicos, enquanto as
mesas de quatro lugares, quadradas e circulares, são pouco encontradas nas habitações
pesquisadas e alguns autores não as classificam.
103
Tabela 7 – Medidas encontradas e recomendações de dimensionamento dos móveis e dos equipamentos da
cozinha (centímetros).
AB C D
BALCÃO
PANELEIRO
EF G
PIA
PIA
REFRIGER.
FOGÃO 6BFOGÃO 4B
HABITAÇÕES MERCADO MOBILIÁRIO MANUAISCNICOS
PEÇA
IMAI
(2000)
1
IMAI
(2005)
2
YAMAKI
(2000)
2
PEDRO
(2001)
SILVA
(1982)
IPT
(1987)
CEF
(2002)
A
64 x 70 62 x 70 70 x 70 60 x 60 60 x 60 75 x 70 70 x 70
B
60 x 120 52 x 120 55 x 120 60 x 60 55 x 100 60 x 120 60 x 120
C
60 x 191 - - - 60 x 140 - -
D
60 x 60 56 x 70 50 x 60 60 x 60 55 x 60 50 x 50 60 x 60
E
79 x 60 73 x 63 77x 60 80 x 60 - - -
F
46 x 141
35 x 71
32 x 80
32 x 80
31 x 81
- - 45 x 115 -
G
55 x 120 52 x 120 55 x 120 60 x 70 - - -
(1) 90º. Percentil; (2) Maior dimensão da largura e do comprimento de um móvel ou de diferentes móveis.
Os refrigeradores atualmente encontrados no mercado apresentam
dimensões inferiores às encontradas em Yamaki (2000) e nas habitações (IMAI, 2000). Em
alguns casos é possível encontrar refrigeradores, disponíveis no mercado, de até 47cm x
62cm, dimensão bem inferior à menor encontrada nas habitações, que era de 55cm x 60cm.
Essa diminuição ocasionou também uma maior variação de dimensões, mesmo no caso de
refrigeradores de menor preço, e por isso mesmo mais acessíveis à população de baixa
renda.
O tamanho da pia, geralmente encontrada no mercado com o comprimento
de 120cm, está de acordo com o que indicam o IPT e a CEF, sendo superior ao dos demais
manuais técnicos. Em relação à largura do móvel é possível identificar que ela está sendo
gradativamente diminuída, chegando atualmente a 52cm, enquanto em Yamaki (2000) era
de 55cm e nas habitações pesquisadas, que provavelmente tiveram esses móveis
adquiridos pelos usuários em um período anterior, era de 60cm.
104
Tabela 8 – Medidas encontradas e recomendações de dimensionamento de equipamentos da área de serviço
(centímetros).
AB
TANQUE ROUPA
MÁQUINA
ROUPA
HABITAÇÕES MERCADO MOBILIÁRIO MANUAISCNICOS
PEÇA
IMAI
(2000)
1
IMAI
(2005)
2
YAMAKI
(2000)
2
PEDRO
(2001)
SILVA
(1982)
IPT
(1987)
CEF
(2002)
A
80 x 110 65 x 139 - 60 x 60 45 x 55 60 x 60 60 x 55
B
60 x 73
66 x 70
54 x 74
62 x 67 60 x 60 60 x 60 60 x 65 60 x 65
(1) 90º. Percentil; (2) Maior dimensão da largura e do comprimento de um móvel ou de diferentes móveis.
Os equipamentos destinados às áreas de serviço, como máquinas e
tanques de lavar roupa, e eventualmente passadeiras e armários, possuíam situações
distintas. Devido às características específicas do perfil dos usuários, com habitações
unifamiliares térreas, que em muitos casos ficam totalmente vazias durante o dia, a questão
de segurança, aliada ao fato de que poucas casas possuíam espaços específicos para as
funções de lavar e passar roupas, ocasionou uma situação em que não foram encontrados
armários ou passadeiras nessas áreas de serviço.
As máquinas de lavar roupa levantadas no mercado e nas habitações
pesquisadas, possuíam uma grande variação dimensional, sendo que as maiores tinham
medidas um pouco superiores ao recomendado pelos manuais técnicos. Os tanques de
lavar roupa, geralmente localizados na parte externa das residências, possuíam dimensões
extremamente superiores ao recomendado pelos manuais técnicos, provavelmente pelo fato
de estes recomendarem equipamentos reduzidos para áreas fechadas, muitas vezes em
apartamentos.
105
Tabela 9 – Medidas encontradas e recomendações de dimensionamento dos móveis da sala (centímetros).
RACK
AB C D E F
ESTANTE
MESINHA
CENTRO
SOFÁ 1L
SOFÁ 2L SOFÁ 3L
HABITAÇÕES MERCADO MOBILIÁRIO MANUAISCNICOS
PEÇA
IMAI
(2000)
1
IMAI
(2005)
2
YAMAKI
(2000)
2
PEDRO
(2001)
SILVA
(1982)
IPT
(1987)
CEF
(2002)
A
83 x 95 86 x 82 76 x 100 80 x 80 - 70 x 80 70 x 80
B
91 x 166
94 x 160
88 x 170
90 x 165 80 x 160 - 70 x 170 70 x 120
C
93 x 210
94 x 210
88 x 220
90 x 216 80 x 200 70 x 180 70 x 200 70 x 170
D
52 x 159
58 x 143
51 x 183
55 x 167 45 x 60 40 x 70 - 50 x 80
E
45 x 170
50 x 180
45 x 188
45 x 180
38 x 220
- 40 x 95 35 x 160 -
F
50 x 97
88 x 88
45 x 110
-
70 x 70
50 x 100
70 x 70 - -
(1) 90º. Percentil; (2) Maior dimensão da largura e do comprimento de um móvel ou de diferentes móveis.
Os móveis comumente encontrados na sala são os que apresentam as
maiores variações entre o que é recomendado e o que é encontrado na região. Enquanto os
manuais técnicos (IPT e CEF) recomendam larguras de 70 cm para os sofás, as medidas
encontradas nas habitações chegam a 91cm e no mercado mobiliário a 94cm. Cabe
ressaltar, no entanto, que o mercado mobiliário possui uma grande variação dimensional e
que uma quantidade significativa de sofás encontrados possui dimensões de 80cm a 85cm
de largura. Os comprimentos indicados pela CEF para sofás de dois e três lugares, de
120cm e 170cm respectivamente, são bem inferiores às medidas encontradas, que são no
mínimo de 165cm para sofás de dois lugares e de 210cm para sofás de três lugares.
Os racks e as estantes apresentam uma forte variação nas suas
dimensões entre o recomendado e o existente. Enquanto a maior dimensão encontrada nos
manuais recomenda que o rack tenha 50cm x 80cm (CEF, 2002), no mercado mobiliário
essas peças chegam a ter 58cm x 183cm, enquanto que nas habitações pesquisadas essas
medidas chegam a 52cm x 159cm. Mesmo se considerarmos as menores peças ofertadas
pelo mercado mobiliário, nenhuma possui comprimento inferior a 90cm e a grande maioria
(80%) possui comprimento igual ou superior a 120cm.
106
Tabela 10 – Medidas encontradas e recomendações de dimensionamento dos móveis dos dormitórios 1
(centímetros).
ABCD
COMODA
GUARDA-ROUPAS
CAMA SOLTEIRO
CAMA CASAL
HABITAÇÕES MERCADO MOBILIÁRIO MANUAISCNICOS
PEÇA
IMAI
(2000)
1
IMAI
(2005)
2
YAMAKI
(2000)
2
PEDRO
(2001)
SILVA
(1982)
IPT
(1987)
CEF
(2002)
A
145 x 200
159 x 198
146 x 210
150 x 200 150 x 200 130 x 190 130 x 190 140 x 200
B
90 x 200
110 x 195
98 x 209
96 x 200 80 x 200 80 x 190 80 x 190 80 x 200
C
56x 200
50 x 214
47 x 217
53 x 225 60 x 120 50 x 180 60 x 170 55 x 160
D
60 x 129
55 x 78
47 x 136
50 x 128
55 x 102
45 x 80 40 x 80 40 x 70 -
(1) 90º. Percentil; (2) Maior dimensão da largura e do comprimento de um móvel ou de diferentes móveis.
No caso dos móveis do dormitório, as diferenças dimensionais entre o
recomendado e o que é encontrado na região também são perceptíveis. O recomendado
pelos autores, com exceção de Pedro (2001), é que as camas de casal tenham até 140cm x
200cm, enquanto as camas de solteiro tenham até 80cm x 200cm. Os dados dos
levantamentos indicam que esse tipo de móvel está gradativamente aumentando, pois no
levantamento das habitações as dimensões eram de 145cm x 200cm e 90cm x 200cm,
enquanto em Yamaki (2000) é possível encontrar camas com 150cm x 200cm e 96cm x
200cm e no levantamento atual as maiores dimensões chegam a 159cm x 210cm e 110cm x
210cm.
O guarda-roupa é o tipo de móvel que apresenta duas situações em
relação ao seu padrão dimensional. Os comprimentos encontrados no mercado mobiliário e
nas habitações pesquisadas são muitos superiores ao recomendado pela bibliografia, que
no geral recomenda entre 120cm e 180cm, enquanto nas habitações existem peças de até
200cm, chegando em alguns casos a até 300cm (IMAI, 2004). Em relação à largura é
possível identificar que existe uma tendência da indústria em diminuir a dimensão, passando
de 56cm (IMAI, 2000) para 53cm (YAMAKI, 2000) e chegando atualmente a 50cm e, em
muitos casos, a até 46cm.
107
As cômodas apresentam uma grande variação dimensional e são
geralmente maiores do que o que é recomendado pelos diferentes autores, com dimensões
que chegam a 136cm de comprimento no mercado mobiliário e 129cm nas habitações.
Tabela 11 – Medidas encontradas e recomendações de dimensionamento dos móveis dos dormitórios 2
(centímetros).
AB CD
MAQUINA COSTURA
MESA DE ESTUDO
BERÇO E COMODABERÇO
HABITAÇÕES MERCADO MOBILIÁRIO MANUAISCNICOS
PEÇA
IMAI
(2000)
1
IMAI
(2005)
2
YAMAKI
(2000)
2
PEDRO
(2001)
SILVA
(1982)
IPT
(1987)
CEF
(2002)
A
70 x 134 77 x 139 73 x 135 40 x 75 60 x 120 60 x 130 -
B
70 x 178 69 x 180 68 x 175 - - - -
C
72 x 170
52 x 111
50 x 120
- 60 x 100 50 x 80 40 x 70 -
D
47 x 97 46 x 133 - - 40 x 90 - -
(1) 90º. Percentil; (2) Maior dimensão da largura e do comprimento de um móvel ou de diferentes móveis.
Entre os móveis encontrados em menor número nas habitações
pesquisadas (IMAI, 2000), o berço apresentou uma grande variação entre as diferentes
fontes pesquisadas. As larguras variaram de 40cm a 60 cm, sendo encontrados móveis com
largura de 72cm no mercado mobiliário.
As mesas de estudo levantadas, tanto nas habitações quanto no mercado
mobiliário, apresentam grande variação dimensional entre diferentes tipos. Mesmo com essa
diversidade, o padrão dimensional recomendado pelos autores não se enquadra nos móveis
disponíveis no mercado, sendo geralmente inferior. No caso das máquinas de costura, as
que foram encontradas nas habitações apresentavam dimensões inferiores às do mercado
mobiliário, apesar de ser necessário ressalvar que atualmente é pouco comum a
disponibilidade de móveis destinados a servir exclusivamente como base para as máquinas
de costura que, ao contrário dos modelos mais antigos encontrados nas habitações, são
equipamentos com um caráter mais portátil, sendo possível apoiá-los em diferentes mesas.
108
Tabela 12 – Medidas encontradas e recomendações de dimensionamento dos equipamentos dos banheiros
(centímetros).
AB
HABITAÇÕES MERCADO MOBILIÁRIO MANUAISCNICOS
PEÇA
IMAI
(2000)
1
IMAI
(2005)
2
YAMAKI
(2000)
2
PEDRO
(2001)
SILVA
(1982)
IPT
(1987)
CEF
(2002)
A
- 56 x 46 - 50 x 60 35 x 50 - -
B
-
39 x 52
36 x 56
- 50 x 65 35 x 55 - -
(1) 90º. Percentil; (2) Maior dimensão da largura e do comprimento de um móvel ou de diferentes móveis.
5.1.3 DIMENSÕES DE MOBILIÁRIO ADOTADAS
As dimensões finais a serem adotadas como parâmetros projetuais devem
levar em consideração não apenas os níveis mínimos necessários a seus aspectos
funcionais, mas também os aspectos culturais e comportamentais que influenciam os
hábitos de consumo de determinado grupo social e a disponibilidade de acesso a esses
produtos. As dimensões levantadas dos mobiliários disponíveis na região e dos encontrados
nas habitações pesquisadas demonstram, na maior parte dos casos, medidas superiores
aos padrões sugeridos pelas diferentes publicações.
95
BALCÃO
PANELEIRO
95
95
80
90
120 160
70
55
55
65
65
35
55
12080805516012065
65105
75
70
MESA 4 LUG. MESA 4 LUG. MESA 4 LUG. MESA 6 LUG.
TANQUE ROUPA
MÁQUINA
ROUPA
REFRIGER.
PIA
PIA
FOGÃO 6BFOGÃO 4B
Figura 6 – Dimensões do mobiliário a ser empregado no estudo de caso - cozinha / área de serviço (centímetros)
109
Para determinar quais seriam os padrões dimensionais mínimos adotados
na elaboração dos projetos, foram seguidos critérios que buscaram observar as
características de cada caso. No caso da cozinha, os fogões ficaram com dimensões de
55cm x 65cm (quatro bocas), o que atende com folga ao maior tamanho encontrado no
mercado atualmente (51cm x 63cm), e de 80cm x 65cm para os de seis bocas, o que atende
a todas as dimensões levantadas. O dimensionamento para o refrigerador adotado foi de
65cm x 70cm, que também é muito próximo ao maior tamanho encontrado no mercado
(62cm x 70cm) e nas habitações (64cm x 70cm), considerando-se também que atualmente o
mercado possui diversos refrigeradores com dimensões de 48cm e 55cm de largura.
As dimensões finais adotadas para as pias pequenas (55cm x 120cm) e
grandes (55 x 160cm) atendem ao comprimento em todos os parâmetros, porém são
menores na largura proposta por alguns autores e em relação ao que foi levantado nas
habitações. O critério adotado leva em consideração a oferta do mercado atual, que não
ultrapassa a dimensão de 52cm x 120cm. As dimensões adotadas para as mesas de jantar
ficaram em 80cm x 120cm e em 90cm x 160cm, respectivamente para quatro e seis lugares,
que são as dimensões mais utilizadas nas habitações e atendem à maior parte das
dimensões levantadas. As áreas de armazenagem como o balcão e o paneleiro atendem às
dimensões encontradas no mercado, que são respectivamente 55cm x 120cm e 35cm x
80cm.
RACK
ESTANTE
190150165 210100
90
50
50
SOFÁ 1L
SOFÁ 2L SOFÁ 3L
MESINHA
APOIO
70
70
MESINHA
APOIO
50
110
Figura 7 – Dimensões do mobiliário a ser empregado no estudo de caso - sala (centímetros).
As dimensões dos sofás ficaram em 90cm x 165cm para 2 lugares e 90cm
x 210cm para três lugares, o que atende a todas as referências bibliográficas sendo, porém,
um pouco inferior ao levantado nas habitações (91cm x 166cm e 93cm x 210) e no mercado
(94cm x 170cm e 94 cm x 220cm). O critério adotado nesse caso observou que uma parte
significativa dos sofás oferecidos pelo mercado mobiliário possuía dimensões iguais ou
inferiores a 90 cm de largura (82%) e medidas iguais ou inferiores a 165cm e 210cm (96%).
O mesmo critério foi adotado para definir as dimensões dos racks e estantes que ficaram
com 50cm x 150cm e 50cm x 190cm, respectivamente.
110
COMODA
BERÇO BERÇO E COMODA
MESA DE ESTUDO MAQUINA COSTURA
205
145
95
205
130
80-250
50
55
75
75
55
50
135 180 120 130
GUARDA - ROUPA
CAMA SOLTEIRO
CAMA CASAL
Figura 8 – Dimensões do mobiliário a ser empregado no estudo de caso - dormitórios (centímetros).
No caso das camas de casal e de solteiro foram adotadas as dimensões
de 145cm x 205cm e 95cm x 205cm respectivamente, pois atendiam às recomendações de
quase todos os autores e do que foi levantado nas habitações pesquisadas, adequando-se
aos hábitos de consumo desses usuários. Apesar de algumas camas levantadas no
mercado mobiliário possuírem dimensões superiores (159cm x 210cm e 110cm x 209cm), a
maioria possui dimensões iguais ou inferiores ao padrão adotado. A grande variação
dimensional encontrada nos guarda-roupas, tanto no levantamento de mercado quanto nas
habitações, fez com que a proposta ficasse com diversos móveis com medidas entre 80cm e
250cm de comprimento.
Os berços seguiram o dimensionamento encontrado no mercado
mobiliário, pois, apesar de todas as outras fontes indicarem medidas inferiores, a
disponibilidade desses móveis e o caráter por vezes efêmero de seu uso indicam uma
grande possibilidade da aquisição de móveis mais novos e por isso mais próximos das
dimensões atuais. As mesas de estudo apresentaram uma variação muito grande nas
habitações pesquisadas, sendo muitas vezes adaptações de mesas convencionais ou
improvisadas, instaladas nos dormitórios como mesas de estudo. Nesse caso, optou-se por
adotar as dimensões dos móveis encontrados no mercado local, com uma variação
dimensional que atendesse às mesas de estudo “convencionais” e às mesas de apoio para
computador, pois atendiam a quase todos os padrões dos manuais técnicos e estavam
disponíveis aos usuários.
111
5.2 DIMENSIONAMENTO DAS ÁREAS DE USO
O dimensionamento das áreas de uso levou em consideração o
dimensionamento do mobiliário pesquisado, que adotou alguns critérios de referências
dimensionais geralmente superiores ao recomendado pela maioria das publicações. Esses
critérios levaram em consideração os hábitos de consumo do grupo pesquisado, bem como
a disponibilidade de oferta do mercado local.
A “generosidade” nesse dimensionamento buscou criar condições que
permitissem o uso de móveis com dimensões que muitas vezes não se consideram como
adequadas para as habitações de pessoas de baixa renda. Como a experiência da pesquisa
anterior (IMAI, 2000; IMAI, 2002; IMAI, 2004) demonstrou que os conceitos prévios relativos
a essa questão geraram, em alguns casos, problemas funcionais nas moradias, houve a
intenção de que os usuários tivessem a possibilidade de escolher móveis de dimensões
superiores.
O procedimento de utilizar móveis com dimensões maiores poderia
ocasionar problemas durante a elaboração dos projetos, devido à restrição dimensional de
70m
2
da construção, bem como às condições financeiras do morador para construir uma
habitação de dimensões superiores. Como as necessidades programáticas dos moradores
não seriam diferentes, independentemente do tamanho do mobiliário que cada grupo
familiar fosse adotar, e como essa demanda poderia ser de uma grande quantidade de
ambientes, eventualmente esses espaços poderiam não comportar todos os móveis e
equipamentos desejados e imaginados pelos usuários.
Dessa forma, ao mesmo tempo em que os móveis não seguiram
dimensionamentos mínimos, optou-se por fazer o caminho contrário nas áreas de uso
desses mesmos móveis e equipamentos. Com esse critério buscou-se permitir que os
usuários tivessem condições de uso em qualquer situação. Se eles adquirissem ou
possuíssem móveis de maior dimensão, seria viável seu uso, ao passo que, se optassem
pelos de menor dimensão, teriam uma condição de maior conforto, sem grandes
desperdícios de área construída e, conseqüentemente, de recursos.
Os dimensionamentos das áreas de uso buscam contemplar alguns dos
espaços necessários para acesso e uso dos móveis e equipamentos, porém não substituem
a necessidade de estudo e de desenvolvimento do projeto nos seus aspectos de fluxos e
112
layout, pois apenas fornecem alguns padrões referenciais que devem ser analisados
conforme cada caso. Um desses padrões se refere aos aspectos dimensionais necessários
para as pessoas portadoras de algum tipo de restrição para locomoção. As necessidades
individuais desses usuários, dependendo do tipo de restrição que cada pessoa possua,
geram uma grande variação de alternativas em relação ao dimensionamento das áreas de
uso, sendo necessária a execução de uma maior quantidade de modelos, o que se tornava
complexo em função das restrições de tempo e recursos da pesquisa. Os projetos
elaborados dentro dessas condições devem ser analisados com maior cuidado no sentido
de atender às necessidades específicas de acordo com as normas vigentes (ABNT, 2004).
Nas áreas de uso para mesas da cozinha e/ou copa foi adotado como
parâmetro o dimensionamento de 70cm para acessar e sentar nas cadeiras. Essa dimensão
é a recomendada por Pedro (2001), sendo um pouco inferior à que os demais autores
indicavam como referência.
Tabela 13 – Áreas de uso para mesas (centímetros).
95
B
B
MESA 4 LUGARES MESA 4 LUGARES MESA 4 LUGARES MESA 6 LUGARES
AA
95
AA
80
90
B
B
120 160
MANUAISCNICOS
ÁREA DE UTILIZAÇÃO
DIMENSÃO ADOTADA
PEDRO
(2001)
SILVA
(1982)
IPT
(1987)
CEF
(2002)
A
70 70 - 75 75
B
70 70 75 75 75
Para o refrigerador foi adotada a dimensão de 85cm, próxima ao
recomendado por todos os autores, com exceção de Pedro (2001), que determina como
referência mínima 70cm. A opção nesse caso levou em consideração que a dimensão do
equipamento, no caso português, era inferior ao do contexto local, portanto, poderia
demandar uma menor área de uso.
113
Para a pia optou-se pela dimensão de 90cm, próxima ao que recomendava
a maioria dos autores. No caso do fogão a dimensão ficou em 100cm, superior à
recomendada por Silva (1982) e pela CEF (2002). Nesse caso a descrição do uso do forno
demonstrava-se melhor detalhada e definida no material de Pedro (2001) e do IPT (1987).
Para o paneleiro a referência adotada foi a menor encontrada, enquanto para o balcão, que
possui apenas uma referência, optou-se por adotar a mesma dimensão da pia, pelo fato das
características desses móveis serem próximas.
No caso do lavatório e do vaso sanitário, as dimensões recomendadas
pelos autores eram todas próximas, sendo adotado um padrão que atendesse a todos os
manuais. No caso do tanque e da máquina de lavar roupa, houve bastante variação entre as
diferentes recomendações, sendo adotadas dimensões iguais nas áreas de uso desses dois
equipamentos.
Tabela 14 – Áreas de uso para móveis e equipamentos da cozinha (centímetros).
BALCÃO
PANELEIRO
70
55
55
65
65
35
55
12080805516012065
REFRIGER.
PIA
PIA
FOGÃO 6BFOGÃO 4B
A
B
B
C
C
D
E
MANUAISCNICOS
ÁREA DE UTILIZAÇÃO
DIMENSÃO ADOTADA
PEDRO
(2001)
SILVA
(1982)
IPT
(1987)
CEF
(2002)
A
85 70 85 90 90
B
90 80 95 90 90
C
100 100 85 100 90
D
80 80 - 90 -
E
90 80 - - -
114
Tabela 15 – Áreas de uso para equipamentos da área de serviço e banheiro (centímetros).
65105
75
70
TANQUE ROUPA
MÁQUINA
ROUPA
A
B
C
E
D F
MANUAISCNICOS
ÁREA DE UTILIZAÇÃO
DIMENSÃO ADOTADA
PEDRO
(2001)
SILVA
(1982)
IPT
(1987)
CEF
(2002)
A
50 80 75 45 50
B
50 50 70 45 50
C
90 100 100 89
1
89
1
D
80 80 80 80 -
E
110 115 115 110 110
F
60 60 55 60 60
(1) O manual do IPT recomenda 50cm para área de uso, considerando variável a largura do lavatório. Foi considerado como
referência a maior largura encontrada no mercado, que é de 39cm.
Nos móveis da sala é possível constatar que o espaço de uso dos sofás
possui recomendações próximas, com exceção de Pedro (2001), em que esse espaço é
bem inferior ao recomendado pelos demais autores, sendo o único que indica dimensões de
uso e de acesso em todos os lados do móvel, e não apenas no acesso frontal. Como essas
características podem não coincidir com os hábitos dos usuários, essa recomendação não
foi considerada para a pesquisa. No caso dos racks e das estantes, que possuem uso
similar, a dimensão de uso segue o mínimo recomendado por Pedro (2001) e pela CEF
(2002).
Tabela 16 – Áreas de uso para móveis da sala (centímetros).
RACK
ESTANTE
190150165 210100
90
50
50
SOFÁ 1L
SOFÁ 2L SOFÁ 3L
A
B
B
MANUAISCNICOS
ÁREA DE UTILIZAÇÃO
DIMENSÃO ADOTADA
PEDRO
(2001)
SILVA
(1982)
IPT
(1987)
CEF
(2002)
A
50 25 55 50 50
B
50 50 80 90 50
115
As dimensões recomendadas para as áreas de uso das camas variam
conforme o grau de importância dado ao tipo de acesso e às atividades que são exercidas
nessas áreas. No caso de Silva (1982), elas são classificadas em acesso desejável,
secundário e circulação mínima, enquanto que para o IPT (1987) as atividades são
classificadas em circular, arrumar, deitar-se, vestir-se e varrer. No caso de Pedro (2001)
essas atividades são classificadas em passar de frente/lado, acesso, vestir-se, limpar e
fazer a cama.
Como a variação de atividades somente será definida durante a
elaboração dos projetos, optou-se por adotar, no modelo tridimensional, dimensões únicas
para essas áreas, que atendessem aos padrões mínimos recomendados, mas que também
permitissem flexibilidade de arranjos entre os principais móveis encontrados nos dormitórios:
as camas e os guarda-roupas. Dessa forma, a circulação entre esses móveis ficou definida
em 50cm, com exceção dos casos em que houvesse uma circulação entre duas camas,
para os quais ficou definida a dimensão de 80cm. No caso das cômodas foi adotada a
dimensão mínima sugerida por Pedro (2001), que é de 60 cm.
Tabela 17 – Áreas de uso para móveis dos dormitórios 1 (centímetros)
COMODA
205
145
95
205
130
80-250
50
55
GUARDA - ROUPA
CAMA SOLTEIRO
CAMA CASAL
ÁREA CIRCULAÇÃO ENTRE DUAS CAMAS
BA
C
D
F
E
G
H
MANUAISCNICOS
ÁREA DE UTILIZAÇÃO
DIMENSÃO ADOTADA
PEDRO
(2001)
SILVA
(1982)
IPT
(1987)
CEF
(2002)
A
50 35 40 40 50
B
50 60 55 90 50
C
50 40 30 40 50
D
80 70 - 90 80
E
50 35 55 - 50
F
50 35 30 - 50
G
50 60 60 65 50
H
60 60 70 90 -
116
As dimensões adotadas para os berços, mesas de estudo e mesas para
apoio de máquina de costura buscaram tanto atender à menor dimensão proposta nos
manuais técnicos, como permitir a flexibilidade nos arranjos com uma dimensão igual à
adotada para as camas e guarda-roupas.
Tabela 18 – Áreas de uso para móveis dos dormitórios 2 (centímetros)
BERÇO BERÇO E COMODA
MESA DE ESTUDO MAQUINA COSTURA
75
75
55
50
135 180 120 130
A
A
B
C
MANUAISCNICOS
ÁREA DE UTILIZAÇÃO
DIMENSÃO ADOTADA
PEDRO
(2001)
SILVA
(1982)
IPT
(1987)
CEF
(2002)
A
50 45 55 65 -
B
50 70 70 40 50
C
50 - 50 - -
5.3 ESTUDOS DO MODELO FÍSICO
5.3.1 ESTUDOS INICIAIS
Os estudos iniciais para a elaboração dos modelos tridimensionais
buscaram atender a padrões de dimensionamento mínimos para os ambientes básicos da
habitação. Esses modelos eram elaborados em material rígido e simulavam as diferentes
possibilidades de distribuição geométrica espacial que os mobiliários e equipamentos
ocupariam em um ambiente específico.
A opção inicial foi utilizar uma escala de representação que permitisse o
fácil manuseio desses modelos, ao mesmo tempo em que tivesse uma dimensão ampliada
que facilitasse a compreensão por parte dos usuários (SANOFF, 1991; SZÜCS, 1995).
Nesse caso optou-se por adotar a escala 1:20, que atenderia a esses dois requisitos, e não
tornaria o modelo muito “saturado” de informações, pois ao contrário da representação da
planta baixa mobiliada, o modelo tridimensional possui a proposta de interação com o
117
usuário, sendo necessário uma maior quantidade de informações a serem comunicadas. A
planta mobiliada apresentada ao usuário possui uma escala menor (1:75), pois isto facilita o
seu manuseio e o seu caráter estático não permite a alteração da posição dos móveis ou da
dimensão dos ambientes, não sendo necessário inserir maiores informações sobre as áreas
de uso, ou de gabaritos de dimensão, conforme veremos no modelo final adotado.
Figura 9 – Estudo iniciais dos modelos tridimensionais e os respectivos esquemas de distribuição do mobiliário.
Os primeiros modelos tridimensionais executados demonstravam que,
enquanto a escala permitia uma percepção satisfatória da distribuição espacial e um fácil
manuseio, a possibilidade de variações na distribuição espacial ocasionaria uma elevada
quantidade de alternativas dimensionais, dentro dos diferentes ambientes que compõem a
habitação. Essa limitação apresentava-se como um fator que necessitaria ou de uma grande
quantidade de modelos ou de uma redução das alternativas a alguns exemplos básicos,
sem muita possibilidade de flexibilidade ou de variação programática para cada ambiente.
Outro aspecto desse modelo seria que a elaboração do projeto ocorreria
por um processo de composição, em que os diferentes esquemas espaciais de cada tipo de
ambiente seriam demonstrados aos futuros usuários e, conjuntamente com os projetistas,
seriam escolhidos quais melhor se adequassem às necessidades de cada família. Após a
definição das características necessárias para cada ambiente e de posse de todos os
modelos que atendessem esses parâmetros, seriam iniciados os estudos por meio da
adição dos diferentes espaços uns aos outros, na busca de alcançar o todo do projeto da
habitação.
118
A percepção ocorrida nessa etapa da construção do modelo é a de que, se
por um lado ele permitia que o usuário tivesse uma compreensão individual de cada
ambiente, ao mesmo tempo tornaria o processo projetual extremamente complexo e de
resultados imprevisíveis. O modelo tridimensional poderia atuar, no máximo, como um
instrumento auxiliar ao processo projetual convencional. Dessa forma, após os esboços
iniciais do projeto, seria demonstrado ao usuário o que aquilo representava em termos de
distribuição espacial em cada ambiente e, não havendo concordância, retornar-se-ia ao
estudo por croquis até atingir o resultado desejado.
Foto 28 – Primeiro modelo de móveis elaborados.
A necessidade de um processo projetual mais simplificado levou à busca
de um sistema que permitisse uma maior flexibilidade e tirasse o caráter estático do primeiro
modelo. A idéia posterior previa um sistema móvel que permitisse deslocar a parede de tal
forma que ela deslizasse apoiada em outra parede, ao mesmo tempo em que ela seria
formada por um sistema tipo “sanduíche”, em que a parte interna deslizaria para ampliar o
comprimento da parede.
119
Fotos 29 – Primeiros estudos para o sistema móvel do modelo.
5.3.2 DESENVOLVIMENTO DO SISTEMA MÓVEL
O desenvolvimento do sistema móvel baseou-se na possibilidade de fazer
alterações na configuração de um projeto de habitação dentro de um modelo único, que
permitisse deslocar as paredes, ampliando ou diminuindo os ambientes e alterando suas
configurações. Para verificar a viabilidade do procedimento foi executado um modelo em
escala reduzida (1:50), que buscou antever possíveis problemas, dificuldades ou limitações
do sistema.
Para a montagem do modelo foi utilizado como base um projeto-padrão do
Projeto Casa Fácil com três dormitórios, sala, cozinha e banheiro. As peças utilizadas eram
unidas em duas (formando um L) ou em três unidades (formando um U), de tal forma que
elas tivessem maior estabilidade. Algumas das paredes, no entanto, ficaram isoladas para
verificar a questão do deslocamento de peças individuais, que permitisse uma maior
flexibilidade ao modelo.
Com a definição de uma quantidade específica de peças do modelo,
conjuntamente com a dimensão mínima e máxima que a extensão das paredes permitiria,
foram estudadas as alterações que o modelo aplicado possibilitaria em relação às
características programáticas definidas naquela tipologia de projeto.
Esses estudos buscaram verificar quais projetos teriam condições de ser
executados a partir de uma mesma matriz de peças. Ao mesmo tempo buscou-se analisar
quais formatos de peças possibilitariam uma maior quantidade de projetos executados com
o modelo, com o objetivo de permitir uma maior flexibilidade e variação no processo
projetual.
120
Fotos 30 – Modelo em escala reduzida para estudo do sistema móvel.
Por meio desse primeiro estudo pôde-se verificar que o sistema móvel do
modelo tridimensional era viável, porém seria necessária uma maior quantidade de peças,
com a variação na dimensão, de maneira a ser possível executá-lo em todas as tipologias
de projetos empregadas no Projeto Casa Fácil. Buscou-se também minimizar ao máximo o
emprego de peças individuais, pois estas demonstraram certa dificuldade em manter o
equilíbrio na posição vertical.
Como o sistema móvel pressupunha a idéia de flexibilidade na alteração
dos arranjos espaciais, buscou-se também manter essa idéia no posicionamento dos vãos e
nas aberturas da habitação. A implantação e a orientação de cada projeto teriam situações
específicas, portanto a locação das janelas e portas deveria adequar-se às condições locais.
As peças que representariam as esquadrias ficaram independentes das paredes e
encaixaram-se de maneira sobreposta, não fazendo efetivamente um vão na parede, mas
indicando em qual posição esse vão estaria localizado.
121
Foto 31 – Sistema de esquadrias móveis sobrepostas às paredes.
A altura adotada para as paredes da habitação foi de 2,10m, de tal forma
que permitisse a colocação de portas e de janelas, ao mesmo tempo em que não
dificultasse a visualização dos móveis e dos equipamentos internamente. Nos primeiros
modelos fixos elaborados (ver foto 28) a altura do corte do modelo equivalia ao que é
empregado no sistema de projeção ortogonal de planta baixa, que varia de 1,20m a 1,50m
de altura. Ao mesmo tempo em que permite uma melhor visualização interna dos móveis,
essa posição pode dar uma impressão de maior amplitude espacial devido à falta de
limitação vertical das paredes.
A última definição na etapa de desenvolvimento do modelo foi a da
elaboração do sistema que representasse a cobertura. Um modelo em escala reduzida
(1:50) também foi elaborado para estudar e antever possíveis problemas. Para que a
cobertura pudesse ser empregada em projetos com diferentes dimensões, buscou-se
manter o principio retrátil adotado nas paredes. O primeiro módulo montado era composto
por duas peças com a mesma inclinação
25
, que se encaixavam uma sobre a outra,
deslizando a peça inferior, o que permitia que o telhado praticamente duplicasse de
comprimento. Outro módulo era sobreposto ao primeiro, mantendo a idéia de extensão da
peça e permitindo uma ampliação na largura do telhado, ao mesmo tempo em que também
possibilitava a ampliação no comprimento.
25
Foi adotada uma inclinação de 30%, que permitiria o emprego de telhas cerâmicas, ao mesmo tempo em que
poderia ser ajustada no projeto posteriormente para um telhado com cobertura em fibrocimento.
122
Foto 32 – Modelo em escala reduzida para estudo do sistema móvel da cobertura.
Por meio desse estudo pôde-se verificar que, se por um lado o sistema
retrátil era viável para a cobertura, por outro o emprego da expansão de dois módulos, em
uma única peça, tanto no comprimento quanto na largura, tornava o conjunto frágil e pouco
resistente ao manuseio. A colocação de quatro diferentes superfícies que deslizariam umas
sobre as outras necessitaria de um material com espessura um pouco superior à que era
planejado empregar inicialmente, o que poderia passar a impressão de um telhado com
quatro águas em diferentes alturas. Dessa forma optou-se por empregar apenas um módulo
que deslizaria no sentido longitudinal, alterando o comprimento da cobertura, porém não sua
largura. Para adequar-se aos projetos, buscou-se elaborar uma variação de telhados que
atendesse às diferentes possibilidades de composição.
5.4 TIPOLOGIAS FUNCIONAIS NO PROJETO CASA FÁCIL
Os projetos de habitação fornecidos pelo Projeto Casa Fácil, no início da
sua atuação na cidade de Londrina, formavam um catálogo constituído por uma série de
projetos desenvolvidos por alunos da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC) e
por projetos de padrão popular existentes no cadastro da prefeitura municipal (IMAI, 2000).
Esse conjunto de alternativas, com mais de trinta soluções, possuía diferentes tamanhos e
tipologias.
123
Esses projetos padronizados foram utilizados, sem alterações
significativas, até o ano de 2001, quando houve uma reformulação baseada em alguns dos
resultados obtidos por uma pesquisa de Avaliação Pós-Ocupação (IMAI, 2000). Foram
desenvolvidos projetos que, mesmo quando em alguns casos possuíam similaridades com
os anteriores, representaram uma significativa alteração. Algumas idéias constantes nos
antigos projetos, como a cozinha conjugada com a sala (cozinha americana), foram
suprimidas dos novos projetos, enquanto alguns ambientes que não eram previstos
anteriormente, como a garagem, foram acrescidos em alguns projetos ou previstos para
serem executados em futuras ampliações.
O novo catálogo de projetos padronizados, apresentado aos usuários,
possui 39 modelos que, conforme cada caso, são escolhidos ou descartados durante a
entrevista com os projetistas. Apesar da diversidade de tipologias, algumas pessoas têm
interesses ou necessidades que não condizem com os padrões existentes, ocasionando
pequenas alterações nos projetos para adequá-los às características dos futuros moradores
ou levando à elaboração de novos projetos.
Os modelos existentes seguem também a classificação conforme suas
características de ambientes e implantação (ver capítulo 6). Dos 39 modelos de projeto, 18
possuíam 3 dormitórios (um dos quais com 2 banheiros), 15 possuíam 2 dormitórios (com
uma variação maior nos tipos de ambientes, como a existência eventual de garagens, 2
banheiros, área de serviço e varanda), 3 projetos eram de edículas e 3 projetos de casas
geminadas.
5.4.1 CLASSIFICAÇÃO DOS PROJETOS POR ANALOGIA COM OS MODELOS
Os projetos foram divididos em cinco diferentes matrizes que possibilitam
montar um determinado conjunto de projetos-padrão. Os projetos que eram apresentados
aos usuários em planta baixa estão contemplados nessas matrizes. Elas servem como
referência para a montagem do modelo, sendo que cada módulo do modelo empregado é
identificado por uma cor específica.
124
Cada matriz é composta por uma série de módulos que permitem executar
todos os projetos que estão naquele conjunto. Dessa forma eles foram classificados pela
similaridade que possuem na tipologia funcional e pela facilidade na execução, montagem
ou alteração do projeto no modelo tridimensional. Buscou-se com isso certa agilidade na
montagem inicial (que posteriormente poderia passar ou não por modificações), necessária
em virtude do tempo disponível no processo de atendimentos aos usuários.
A similaridade entre os projetos permitiu que, a partir de uma base original,
fossem alteradas as características dos projetos, com deslocamentos horizontais ou
verticais de alguns ambientes, rotacionando todo o conjunto ou acrescentando alguma peça
para a inserção de um novo ambiente (ver figura 10).
DORM.
DORM.
DORM.
BANHO
SALA
COZINHA
DORM.
DORM.
DORM.
BANHO
SALA
COZINHA
DORM.
DORM.
DORM.
BANHO
COZINHA
SALA
SALA
BANHOCOZINHA
DORM.
DORM.
DORM.
PROJETO BASE
PROJETO DESLOCADO VERTICAL
PROJETO ROTACIONADO
PROJETO DESLOCADO HORIZONTAL
Figura 10 – Exemplos de modificações a partir de um projeto base.
O conjunto de projetos que compõe cada matriz não possui nenhuma
indicação de móveis, vãos ou funções, servindo apenas como uma referência inicial. A
intenção desse procedimento foi permitir que os projetistas e os usuários pudessem ter a
flexibilidade, durante a definição do projeto, para definir as funções dos ambientes da forma
que julgassem conveniente. A primeira matriz é composta de 12 projetos de habitações com
três dormitórios, sala, cozinha e banheiro, sendo que, em alguns casos, existiam ainda uma
área de serviço ou dois banheiros. Esses projetos possuem como característica morfológica
espacial o fato de terem três ambientes de um lado do projeto (muitas vezes destinados, nos
projetos originais, aos dormitórios), e do outro lado dois ambientes separados pelo banheiro.
125
Figura 11 – Matriz de referência para os modelos tridimensionais com três dormitórios A.
A segunda matriz foi montada com projetos de habitações que possuíam
três dormitórios, porém necessitavam de alguns módulos diferentes para a execução dos
modelos tridimensionais. A morfologia espacial desses projetos é mais variada, sendo que
alguns demonstram a clara intenção de ampliação posterior para a execução da garagem, e,
ao contrário da matriz anterior, são encontrados banheiros voltados para frente do terreno.
Figura 12 – Matriz de referência para os modelos tridimensionais com três dormitórios B.
As habitações cuja principal característica no programa funcional era
possuírem dois dormitórios foram classificadas em duas matrizes. Na primeira matriz é
possível perceber uma morfologia espacial, em muitos projetos, onde existem dois
ambientes maiores de um lado do projeto e dois do outro lado, geralmente separados pelo
banheiro. Nesse caso, devido ao fato de terem um ambiente a menos que os projetos
similares de três dormitórios, surge uma variação maior nas soluções, explorando mais o
uso de dois banheiros e área de serviço, muitas vezes em um mesmo projeto, e em alguns
casos a colocação de garagem no projeto original, e não em previsões de ampliação
posterior. Como o limite para os projetos do Projeto Casa Fácil é de 70m
2
, no caso dos de
126
dois dormitórios é possível perceber, além da variação programática, um dimensionamento
maior de ambientes como a sala, a cozinha e os dormitórios. Em relação à segunda matriz,
com projetos de dois dormitórios, a principal diferença é a necessidade de diferentes
módulos para a sua montagem.
Figura 13 – Matriz de referência para os modelos tridimensionais com dois dormitórios A.
Figura 14 – Matriz de referência para os modelos tridimensionais com três dormitórios B.
A última matriz elaborada buscou agregar os projetos de habitações
implantadas no fundo do terreno (edículas) e de construções geminadas em um mesmo
terreno. Em todos esses casos, devido às características da sua implantação, o programa
funcional previa geralmente habitações com apenas um dormitório, sala, cozinha e banheiro,
sendo que, em dois casos de casas geminadas, era possível também inserir no projeto um
segundo dormitório.
127
Figura 15 – Matriz de referência para os modelos tridimensionais de edículas e habitações geminadas.
5.5 ELABORAÇÃO DO MODELO
Os modelos tridimensionais executados adotaram como móveis de
referência, no caso da cozinha, as mesas retangulares de 4 e 6 lugares e, mesmo
encontradas em menor quantidade na pesquisa anterior (IMAI, 2000), mesas quadradas e
circulares de 4 lugares. Também foram colocados como referência fogões de 4 e 6 bocas,
geladeira, armário tipo paneleiro/cristaleira e pias pequenas e grandes. Apesar de não ter
sido encontrada, no mercado local de móveis “populares”, pias com comprimento superior a
1,20m, elas representavam cerca de 32% dos casos pesquisados anteriormente, portanto
foram colocadas também como um possível modelo para os novos projetos.
Nos banheiros e nas áreas de serviço não existia uma grande variação de
tipos de equipamentos, sendo adotados como padrão referencial o lavatório comum, o vaso
sanitário e chuveiro para o banheiro. O tanque e a máquina de lavar roupa foram
disponibilizados para uma possível área de serviço, visto que este espaço não foi
encontrado, como um ambiente construído propriamente dito, na maioria das habitações
pesquisadas.
Foto 33 – Modelos dos móveis e equipamentos com as áreas de uso para a cozinha, banheiro e área de serviço.
128
Para o ambiente da sala foram executados modelos de sofás de um, dois e
três lugares, racks, estantes e mesinhas de apoio. Apesar de não ser tão amplo o uso de
sofás/cadeiras de um lugar e de mesas de apoio, elas também serviram como padrão
referencial, caso isso fosse característica de algum futuro usuário. No caso dos dormitórios
houve uma maior variação de tipos de móveis, de modo que, além das camas, foram
empregados também modelos de cômodas, berços, escrivaninhas/mesas de apoio para
computador e mesas de apoio para máquina de costura. Apesar de alguns móveis e
equipamentos serem pouco encontrados nas moradias, como berços, escrivaninhas,
máquinas de costura e computador, eles foram executados como possíveis usos para esses
ambientes, levando-se mais em consideração a variação do que é disponibilizado no
mercado mobiliário, como no caso do berço com cômoda. Os guarda-roupas foram
executados com uma grande variação de comprimentos para permitir flexibilidade durante a
execução do projeto, de acordo com o interesse do futuro morador.
Foto 34 – Modelos dos móveis e dos equipamentos com as áreas de uso para a sala e dormitórios.
Para a execução do sistema de cobertura no modelo tridimensional foi
levada em consideração a lei de parcelamento e uso do solo do município de Londrina, que
prevê como largura mínima para um lote a dimensão de 10 metros, sendo que a maior parte
das empresas do setor utiliza esse parâmetro na elaboração dos projetos de novos
loteamentos.
O aspecto da largura mínima do lote, conjuntamente com a característica
do Código de Obras do município que prevê que os recuos mínimos laterais devam ser de
1,50 metro, e o fato de que o limite de área construída nas habitações do Projeto Casa Fácil
é de 70 m
2
, fazem com que uma grande quantidade de projetos acabe adequando-se a um
módulo de 7 metros por 10 metros. Dessa forma, optou-se por executar peças de cobertura
com 3,50 metros e 5,0 metros de largura. Os comprimentos ficaram com 3,50 metros
(expansíveis para 7,0 metros) e 7,0 metros (expansíveis para 14,0 metros).
129
Para complementar possíveis variações no sistema de cobertura, em
função de características especificas de cada projeto, foram executadas peças em formato
de chapas independentes, de variados tamanhos, que poderiam ser encaixadas nos
módulos de cobertura para ampliar determinados trechos da cobertura.
Os materiais empregados na execução do modelo buscaram conferir
resistência ao uso e manuseio, bem como ser adequados às escalas empregadas,
utilizando-se para isso chapas de acrílico e de pvc com variadas espessuras.
Foto 35 – Modelos tridimensionais do sistema de cobertura retrátil e suas variações.
Para a montagem dos modelos foi elaborada uma base de apoio composta
de uma chapa de acrílico transparente fixada em uma prancha rígida de madeira. O sistema
da base foi elaborado de tal forma que se tornasse possível encaixar, entre os dois, um
painel contendo o desenho de cada uma das seis diferentes matrizes de projeto e do
projeto-base inicial de cada uma. A dimensão da base buscou seguir a principal medida de
referência dos lotes aprovados na cidade, que é de 10 metros de largura, sendo que, para
lotes de maior dimensão, poderiam ser encaixadas lateralmente duas bases ou invertida a
posição da chapa. Sobre a chapa transparente foram desenhadas linhas que indicavam
eixos horizontais e verticais, com a distância de 10cm entre si (na escala do modelo), para
auxiliar no momento da simulação. Com o mesmo objetivo foram fixadas réguas nas laterais
da base, com a indicação das medidas. As linhas e as dimensões de referência foram
desenhadas com diferentes graus de espessura para facilitar a compreensão do gabarito
reticulado.
130
Foto 36 – Base de montagem dos modelos com a matriz de referência de projetos.
As peças construídas para a simulação das paredes das habitações foram
elaboradas de tal forma que pudessem atender a maior variedade de possíveis
combinações espaciais dos ambientes. Como as peças se deslocam encaixadas uma dentro
da outra, a maior dimensão possível alcançada é o dobro da menor dimensão. Dessa
maneira buscou-se executar peças de diferentes dimensões e formatos que pudessem
atender a cada situação de projeto. Assim como na base, foram fixadas réguas com as
dimensões de comprimento na parte superior e inferior de cada parede, possibilitando que a
peça pudesse ser utilizada também invertida.
Foto 37 – Base de montagem dos modelos com a matriz de referência de projetos.
Como as paredes do modelo ficaram com uma altura de 2,10m e
geralmente o pé-direito utilizado nas habitações é de 2,70m, o restante das paredes ficou
fixado no módulo da cobertura. Prevendo uma possível necessidade de variação
dimensional nas alturas dos telhados, com planos de cobertura em diferentes níveis, foram
executadas peças que simulam uma ampliação das alturas das paredes, as quais
permitiriam essa variação na cobertura.
131
Foto 38 – Exemplo do sistema de cobertura em diferentes níveis.
Também foi elaborado, para demonstração ao usuário, um sistema de
marcação das fundações da construção, que geralmente ocorre utilizando-se brocas. O
objetivo foi explicar, de maneira didática, como deveria ser o sistema estrutural a ser
adotado durante a execução da habitação. Como parcelas dos usuários são
autoconstrutores ou contratarão empreiteiros que executarão suas moradias, buscou-se dar
recomendações aos proprietários no sentido de executarem o mínimo necessário nas
fundações, ou dar-lhes subsídios técnicos para poderem verificar essas questões junto com
os empreiteiros.
Apesar do acompanhamento previsto pelo Projeto Casa Fácil durante a
execução da obra, a experiência prévia demonstra que cada morador possui um ritmo
próprio de execução, geralmente durante os finais de semana, não sendo possível, muitas
vezes, a presença na obra durante a locação e a marcação das fundações. Dessa forma,
buscou-se fazer, por meio de procedimentos explicativos das necessidades e das
características do sistema estrutural, uma transferência tecnológica para esses usuários.
Obviamente não é possível substituir uma orientação técnica competente durante e no local
da construção, e nem é esse o objetivo desse instrumento. A intenção é contribuir para a
qualidade da construção e, conseqüentemente, da moradia final, no sentido de evitar o
surgimento de patologias graves na edificação por causa de uma locação e um
dimensionamento incorretos da estrutura, muitas vezes inerentes ao próprio processo
autoconstrutivo.
132
Foto 39 – Exemplo de simulação das fundações da construção.
São demonstrados a seguir alguns exemplos de simulação de cada um
dos ambientes da habitação, com seus respectivos móveis, e um modelo tridimensional
finalizado.
Foto 40 – Exemplo de ocupação do ambiente da cozinha.
133
Foto 41 – Exemplo de ocupação do ambiente da sala.
Foto 42 – Exemplo de ocupação do ambiente de dormitório.
134
Foto 43 – Exemplo de um modelo tridimensional finalizado com seus ambientes internos.
Foto 44 – Exemplo de um modelo tridimensional finalizado com cobertura.
135
O modelo tridimensional executado buscou atender à maior variação
possível de projetos, adotando um sistema flexível que permitisse alterações e modificações
que não demandassem o tempo e o trabalho normalmente exigidos por um modelo
convencional. A idéia básica foi empregar o modelo como um instrumento didático para uma
maior compreensão do projeto pelo usuário leigo, possuindo também uma série de
informações dimensionais e construtivas que permitem ao projetista um domínio e uma
definição prévia que os desenhos de esboço (croquis) não possibilitam. Essa característica
do modelo, além de praticamente definir a maior parte do projeto no momento do
atendimento com o usuário, também demanda um maior tempo para sua elaboração, se
comparado com um atendimento verbal e iconográfico convencional.
A falta de uma padronização clara no mercado mobiliário, para móveis
ditos “populares” (não estamos discutindo os aspectos negativos ou positivos que tal
padronização poderia acarretar) representa a necessidade de um maior cuidado durante a
elaboração do projeto. A adoção de dimensões mínimas, que não permitam flexibilidade,
pode dificultar de tal forma o uso dos ambientes da habitação, resultando em ambientes
com os mais variados problemas, adaptados e improvisados, como se não tivessem sido
planejados. As alterações que o próprio mercado mobiliário imprime em seus produtos,
independentemente dos motivos que o levem a essas alterações, possuem uma relativa
agilidade e possivelmente características de contexto.
A grande variação dimensional encontrada, em alguns casos, nos
mobiliários das habitações sociais indica que, mesmo quando o projetista busca uma
padronização mínima que facilite o processo projetual, essa postura não será efetivamente
útil se o morador não compreender o que significam as escolhas tomadas. As aspirações e
os anseios que envolvem o tema habitação, por vezes, não possuem uma lógica meramente
funcional, como seria do agrado dos técnicos projetistas, mas envolvem aspectos muitas
vezes emotivos e de vivências prévias dos usuários
26
que são a referência das posturas
adotadas em relação à moradia. Imaginar que toda a população de baixa renda que produz
a sua habitação possui as mesmas características e que isso se resume nos aspectos
funcionais e nas necessidades fisiológicas é um engano relativamente comum.
O planejamento prévio de como será o uso da habitação, existente quando
o projeto é elaborado, não significa necessariamente que as pessoas irão adotá-lo, a menos
26
Ver capítulo 2.
136
que exista um comprometimento e um conhecimento dos motivos que impulsionam as
ações tanto do projetista quanto do usuário. Caso contrário, o planejamento do projeto não
irá “resistir” à ação do morador, que modificará o ambiente de maneira improvisada e muitas
vezes caótica, para atender aos seus anseios e às suas expectativas que o projetista não
soube identificar ou concretizar.
137
6 O PROCESSO DE PRODUÇÃO DA HABITAÇÃO: DA AVALIAÇÃO PRÉ-
PROJETO (APP) À AVALIAÇÃO PÓS-OCUPAÇÃO (APO).
6.1 CONCEITOS NAS PESQUISAS EM APO
O termo qualidade pode ser conceituado como uma propriedade, atributo
ou condição das coisas ou pessoas capaz de distingui-las das outras e lhes determinar a
natureza (CUNHA, 1999), natureza essa que, dentro de uma escala de valores, permite
avaliar e, consequentemente aceitar, aprovar ou recusar qualquer coisa. Uma conceituação
mais voltada aos aspectos de um produto, na área da construção civil, permite considerar a
qualidade como o conjunto das características que satisfaçam às finalidades a que se
destina o produto ou serviço, dentro das condições de uso previstas (CEB, 1988; apud
BENEVENTE, 2002)). Considerando que os principais envolvidos no uso dos ambientes são
necessariamente seus usuários, e não as pessoas que os projetam e executam, podemos
considerar que existe uma associação direta entre a qualidade e o desempenho dos
ambientes e das relações ambiente e comportamento (ROMÉRO; ORNSTEIN, 2003).
Segundo Voordt e Wegen (2005), o conceito de qualidade arquitetônica é
um termo amplo, abrangendo diversos aspectos, que podem envolver tanto questões
estéticas quantos valores culturais e aspectos funcionais, entre outros. Nesse contexto, a
qualidade não pode ser considerada de forma estática, dentro apenas de critérios objetivos
e racionais. A qualidade deve se originar do “confronto” entre o indivíduo, o objeto e a
situação, considerando-se que em cada período histórico as mudanças das sociedades
indicam padrões que podem ser alterados conforme as condições do seu tempo. Segundo
Cold (apud VOORDT; WEGEN, 2005, p. 7), três aspectos devem ser observados para
alcançar esta condição: seguir a “mensagem” da nossa época e do local, com a
compreensão do contexto onde se produz a arquitetura; treinar nossa sensibilidade e
desenvolver um “refinamento dos sentidos” por meio da experiência, buscando criar uma
nova cognição; e aprender sobre as relações entre as pessoas e os ambientes.
A qualidade arquitetônica deve levar em consideração a discussão cultural
que possibilita, sem deixar de observar os aspectos de valor utilitário, de tal forma que o
edifício seja adequado às necessidades dos usuários, com uma construção “eficiente” no
emprego de seus materiais e técnicas e concordante com o contexto urbano. (VOORDT;
WEGEN, 2005)
138
O conceito de que a qualidade residencial deve ser uma adequação da
habitação e de seu espaço circundante às necessidades de seus moradores deve levar em
consideração tanto os aspectos individuais quanto as necessidades da sociedade.
Considerando-se que essas necessidades podem se alterar no decorrer do uso de um
edifício, aumenta a importância de se ter uma perspectiva de adequação da edificação às
demandas dos usuários, a longo prazo, durante sua vida útil. Nesse aspecto, Pedro (2000)
indica que a qualidade residencial possui diversos fatores que a determinam, a saber:
1. qualidade arquitetônica e urbanística:
aspectos espaciais e funcionais – busca pela adequação das características da
habitação ao modo de vida dos usuários;
aspectos socioculturais – busca pela adequação das características da
habitação aos valores e identidade dos usuários;
aspectos estéticos – busca pela adequação da imagem e volumetria da
habitação aos significados de uma determinada cultura;
2. qualidade ambiental (adequação ao conforto ambiental);
3. qualidade construtiva (relativo aos materiais, ao acabamento e aos processos
construtivos);
4. qualidade social (adequação às necessidades, aspirações, preferências, percepções,
valores e aos aspectos afetivos dos moradores);
5. qualidade do processo (adequação do modo de produção da habitação).
Nos países desenvolvidos, há mais tempo e com mais freqüência, um
produto colocado em uso geralmente passa por uma série de etapas no seu controle de
qualidade, não sendo diferente no caso do ambiente construído. Esse controle passa não
apenas pelas etapas de execução do produto, mas também do seu planejamento e seu uso
depois de finalizado. A especificação em todas essas etapas, de materiais, peças e
componentes, não apenas em função de suas características físicas, mas principalmente
devido a um critério de avaliação de seu desempenho, busca atender às necessidades de
seus usuários (ORNSTEIN com ROMÉRO, 1992).
O atendimento às necessidades dos usuários é descrito por Voordt e
Wegen (2005) dentro dos critérios de “qualidade funcional”, compreendida como uma forma
de contribuir para o desenvolvimento ou manutenção do ambiente construído, pensado do
ponto de vista do uso. A qualidade funcional pode ser compreendida, dessa forma, em
relação à eficiência do edifício, de tal forma que este atenda a critérios que garantam
aspectos como a acessibilidade e a adequação dimensional, possua flexibilidade para
139
adequar-se aos usos e tenha a característica de prover condições físicas e espaciais
capazes de garantir a segurança, a saúde e o bem-estar de seus moradores.
Segundo Coelho (2002), a qualidade arquitetônica residencial deve
transitar entre a temática arquitetônica e a satisfação de quem habita. A compreensão de
que, por vezes, aquilo que é preferido pelo projetista pode ser rejeitado pelos usuários deve
levar à busca de uma situação de equilíbrio entre os aspectos da formação de uma cultura
arquitetônica, com uma certa “mais-valia” cultural, e os aspectos de satisfação de seus
moradores. A busca por opções intermediárias que criem pontes entre a liberdade total de
elaboração do desenho e a satisfação dos usuários deve dar atenção às boas práticas
comprovadas, acrescentando bom senso e serenidade às escolhas. A elaboração de
projetos sem a adoção de referências, com total liberdade e sem a preocupação em cumprir
determinadas regras e refletir um conjunto de preocupações que, entre outras coisas, leve
em consideração a satisfação das pessoas, pode ser um procedimento mais fácil, porém
muito mais pobre. Nessa visão, a elaboração do projeto arquitetônico não deve ser
unidirecional:
“A qualidade arquitetônica residencial deve dialogar, por um lado, com os
habitantes, humanizando-se, e, por outro, participar no fundamental e
gradual enriquecimento de nosso patrimônio cultural, estando
frequentemente associada a uma rigorosa capacidade de integração e a
uma clara sobriedade formal, que não arrisque os aspectos mais objectivos
e pacíficos, como os funcionais, e que acolha uma ‘reserva’ de imagens de
referência e até de sonho da casa desejada” (COELHO, 2002, p. 122).
A importância do projeto arquitetônico e suas influências na qualidade
residencial são claras quando observamos que algumas pesquisas realizadas em diversos
países, como a Bélgica, a Inglaterra, a Alemanha e a Dinamarca, demonstram que uma
proporção de 36% a 49% das patologias encontradas nos edifícios tem como origem as
falhas de projeto (ROMÉRO; ORNSTEIN, 2003). No caso brasileiro esse percentual também
segue um padrão elevado, sendo que 45% dos casos de falhas apresentadas na obra
acabada foram de responsabilidade do projeto (BASTOS, 1992, apud BENEVENTE, 2002).
O emprego de avaliações como forma de compreender melhor os
problemas de projeto pode ser uma importante contribuição para a qualidade residencial.
Nas áreas de Arquitetura, Engenharia e Construção, podemos fazer uma distinção entre as
avaliações que têm como foco principal o produto final e as avaliações que observam
também o processo de produção, as quais podem incluir as etapas iniciais de concepção, a
140
de execução, a de uso e a de manutenção, ou apenas alguma dessas etapas, como no caso
do processo projetual (VOORDT; WEGEN, 2002).
A avaliação e a gestão do projeto podem ser um importante instrumento
auxiliar para a consecução da qualidade do produto produzido, na medida em que permitem
verificar quais características são adequadas ao uso e registrar quais soluções de projeto
atendem melhor às necessidades dos usuários (HINO; MELHADO, 1998). A influência dos
projetos na qualidade final do produto deve-se pautar não apenas pelo preço do projeto no
mercado de serviços, mas também pela própria preocupação em agregar aspectos
qualitativos, tanto no produto final quanto no seu processo de produção. As boas soluções
técnicas devem se aliar aos diversos aspectos que envolvam a eficiência no processo
construtivo e a satisfação do cliente (JAGLBAUER, MELHADO; LIMA, 2006).
A importância da formação e de uma visão multidisciplinar para os
projetistas é destacada por Fabrício, Melhado e Bertezini (2006), pois a coordenação eficaz
de um projeto depende cada vez mais da capacidade de gerenciar equipes
multidisciplinares. A qualidade do projeto, dentro dessa visão, depende tanto da
competência individual do projetista quanto da gestão adequada de um processo projetual
multidisciplinar, visto que cada vez mais novas competências são solicitadas aos arquitetos.
A prática projetual deve considerar os conhecimentos e valores de sua própria
especialidade, porém não pode ignorar que a gestão do processo de projeto, em virtude das
diversas outras especialidades envolvidas, requer uma melhor integração entre os agentes
que atuam no processo. Nesse aspecto, Gomes, Guadanhim e Hirota (2006) descrevem as
relações entre os diversos agentes envolvidos no processo de desenvolvimento do produto,
indicando que os agentes financiadores, por vezes, assumem o papel de principal tomador
de decisões, definindo as condicionantes de projeto em função das necessidades de
mercado e do valor agregado às características do produto. Esse processo pode
representar, nas etapas de uso e ocupação, o cumprimento de regras estritas, mais
vinculadas ao arrendador do que ao arrendatário, tornando a convivência social mais
“congelada”, pois, geralmente, os usuários querem participar não apenas das decisões
relativas à manutenção dos edifícios, mas também nas definições de melhorias e
modificações nas habitações (MEDVEDOVSKI et al, 2006a).
O processo projetual deve passar, dessa forma, por um ciclo de verificação
que permita avaliar e controlar o produto final, no sentido de proceder a análises críticas que
permitam realizar os ajustes necessários no projeto durante sua elaboração, levando em
141
consideração as diversas necessidades dos usuários, inclusive nos aspectos da evolução
da família moradora e das possibilidades de modificações posteriores na habitação. Essa
análise crítica (MELHADO et al, 2005) pode ser entendida como uma avaliação do projeto,
de suas partes ou componentes, no sentido de propor alterações e/ou complementações
que permitam atender a determinadas diretrizes ou objetivos, contribuindo para incrementar
a qualidade final da edificação.
A preocupação dos projetistas, em especial no Brasil, está muito mais
vinculada à qualidade do produto final (projeto executivo ou edificação construída) do que à
gestão do processo de projeto (ORNSTEIN, 2004). Muitas das decisões que irão formar as
principais características de uma edificação são tomadas antes mesmo do início do
processo projetual. Segundo Hershberger (1999), se o cliente e o projetista estão mais
interessados na eficiência funcional e organizacional ou nos aspectos sociais e psicológicos
das necessidades dos usuários e de suas relações, ou ainda nos aspectos econômicos da
edificação, estes diferentes enfoques poderão afetar significativamente a configuração dos
espaços e as características formais do projeto. Os valores e pontos de vista do cliente
poderão ter significativo impacto no resultado formal dependendo das informações que ele
repassar ao projetista. Para exemplificar essa questão, Hershberger (1999) cita o caso do
arquiteto Louis Kahn que, quando recebia dos clientes os programas de necessidades que
poderiam ser considerados de qualidade questionável, insistia em voltar à “origem”,
repensando com o cliente a natureza do problema do projeto.
O retorno à origem do problema pode passar não apenas pela melhor
compreensão das questões técnicas e funcionais do projeto, mas também pelas demandas
dos mais diferentes aspectos que envolvem um determinado tema. Essas condicionantes
podem, por vezes, indicar que o projetista necessita ter subsídios que lhe permitam avaliar
melhor todos os aspectos que envolvem o projeto.
O termo “avaliar”, surgido provavelmente no séc. XVI (CUNHA, 1999),
significa conferir a alguma coisa determinado valor, ou seja, qual grau de importância aquele
aspecto ou objeto possui em relação a algum parâmetro estabelecido. Segundo Voordt e
Wegen (2002) podemos imaginar que o termo começa a ser empregado com o surgimento
dos procedimentos bancários, no momento em que as trocas de produtos necessitavam de
um padrão comparativo para determinar os preços em dinheiro.
142
A Avaliação Pós-Ocupação (APO) busca ser uma visão retrospectiva de
um determinado ambiente construído, no sentido de repensar o projeto após seu uso. A sua
diferença para as avaliações de desempenho convencionais é que, além das questões
observadas pelos especialistas que executam a avaliação, também é levada em
consideração a opinião do usuário do ambiente pesquisado. Dessa forma, a APO busca
também contribuir no processo projetual, pois ao mesmo tempo em que propõe soluções
para minimizar ou corrigir problemas detectados em um ambiente específico, também utiliza
os resultados das avaliações sistemáticas para realimentar o ciclo de processo de produção
e uso de ambientes semelhantes, buscando otimizar o desenvolvimento de projetos futuros
(ORNSTEIN com ROMÉRO, 1992, p. 23).
Figura 16 – Esquema da APO.
Fonte: (ROMÉRO; ORNSTEIN, 2003, p. 26).
A APO pode ser conduzida em diferentes níveis de profundidade,
dependendo dos recursos disponíveis de tempo e pessoal e das necessidades de
aprofundamento que cada pesquisa necessita. Nesse aspecto, Preiser (1988, p. 29)
categoriza as APOs em três níveis:
1. Nível indicativo: é indicado para avaliações que possuam reduzida disponibilidade de
tempo para sua execução, buscando indicar as principais falhas e acertos no
desempenho do edifício. Este tipo de avaliação pressupõe que o avaliador ou a equipe
APO
Planejamento /
Pré-Projeto
Projeto
Fabricação de
materiais e de
componentes
Construção
execução
Uso,
operação e
manutenção
143
de avaliação possuam experiência em conduzir APOs e familiaridade com o objeto de
estudo.
2. Nível investigativo: demanda maior disponibilidade de tempo e recursos, buscando
levantar com maior aprofundamento e detalhamento o desempenho das
características físicas da edificação e do comportamento de seus usuários. Ao
contrário da APO indicativa, que se baseia, em parte, na experiência de quem avalia, a
APO investigativa emprega critérios de avaliação que são objetiva e explicitamente
estabelecidos previamente.
3. Nível diagnóstico: é uma investigação mais aprofundada e conduzida com um alto
nível de empenho. Normalmente se trata de um procedimento que emprega múltiplos
métodos e, em muitos casos, de caráter multidisciplinar.
As pesquisas na área de Avaliação Pós-Ocupação utilizam-se de diversos
métodos e técnicas empregados em ciências sociais, os quais vêm sendo sistematicamente
adotados como instrumentos de coleta e análise comparativa de dados em variados
trabalhos (BECHTEL, 1987; PREISER, 1988, 1989; ORNSTEIN com ROMÉRO, 1992;
BAIRD et al, 1996; ABIKO; ORNSTEIN, 2003; PREISER; VISCHER, 2005; VOORDT;
WEGEN, 2005; ZEISEL, 2006; entre outros). As possíveis diferenças entre os diversos
indivíduos e grupos, dentro de pesquisas que envolvem ambiente e comportamento, tornam
adequado o emprego de várias formas de avaliação, pois evitam distorções que poderiam
ocorrer se empregada apenas uma única. A verificação das informações a partir de pelo
menos três métodos permite aumentar a eficiência da pesquisa e garante a validade dos
resultados (BECHTEL, 1987; PREISER, 1988).
O emprego de uma abordagem com multimétodos na área das Relações
Ambiente e Comportamento (RAC) é descrito por Sommer e Sommer (1991) em um guia
prático sobre pesquisas comportamentais. Estes autores alertam que não existem técnicas
ideais em ciências comportamentais, variando sua eficácia conforme cada caso específico.
A meta do pesquisador não deve ser encontrar o “melhor” método, mas sim compreender
que quanto maiores a complexidade e as variações do problema, mais útil será a adoção de
diversos procedimentos para verificar a informação, em vez de um único. Como cada
abordagem possui suas próprias limitações, o emprego de diferentes métodos permite
minimizar essas limitações. As simulações realizadas em laboratório podem ser melhor
compreendidas quando suplementadas com observações em campo, da mesma forma que
questionários, que permitam abranger uma grande quantidade amostral em um curto
144
período de tempo podem ser complementados com entrevistas detalhadas que possibilitem
obter informações mais qualitativas e aprofundadas sobre questões específicas.
Esse conjunto de métodos e técnicas aplicados no ambiente construído
pode, durante o seu uso, incluir avaliações físicas de desempenho ou aferir as opiniões e os
níveis de satisfação dos usuários. As análises das relações entre o ambiente construído e o
comportamento humano possibilitam gerar diagnósticos que poderão auxiliar na
manutenção dos ambientes estudados, bem como permitem subsidiar novos projetos
similares por meio de um banco de dados que pode, inclusive, colaborar no
desenvolvimento e aperfeiçoamento de normas (ORNSTEIN, 2004).
As APOs podem ser consideradas, segundo Bechtel (1997), como uma
parte integrante do processo de projeto, na medida em que o conhecimento gerado pelas
avaliações de cada edifício específico podem contribuir para o avanço do conhecimento
baseado na experiência anterior e para a aplicação desse conhecimento em novos projetos.
Dessa forma, o uso das APOs pode gerar um conhecimento cumulativo que resultaria em
uma segunda ou terceira geração de avaliações. Esse sistema proposto tem por objetivo
introduzir um controle de qualidade que auxilie tanto na manutenção quanto na adaptação
de ambientes existentes, por meio de avaliações que permitam uma melhoria no
desempenho de edifícios com programas e atividades complexos, como hospitais e centros
de pesquisa (CASTRO, 2004), e ao mesmo tempo em gerem informações que criem um
processo cíclico de reavaliação de projetos similares.
O processo de avaliação que leve em consideração a opinião dos usuários
pode ser realizado de diversas formas, porém compreende a necessidade de um diálogo
com essas pessoas, que Kernohan e Gray (1996) definem como “negociação social”. A
forma como o processo de avaliação é conduzido pode criar situações sociais nas quais as
pessoas sintam-se envolvidas e com a oportunidade de participar da avaliação,
reformulação ou definição dos ambientes que utilizam. Cada grupo envolvido nesse
processo, seja ele especialista ou usuário, possui variados níveis de conhecimento, com
pontos de vista muitas vezes diferenciados. Dessa forma, o sucesso de qualquer
intervenção ou proposta dependerá do comprometimento e da negociação dos diferentes
pontos de vista. A responsabilidade do especialista é desenvolver um processo de avaliação
que transforme a experiência, o conhecimento e os valores do usuário em ambientes com
maior qualidade.
145
Segundo Rifrano (2006, p. 103), o projeto é um instrumento pelo qual se
pode observar antecipadamente todo o potencial de uso da habitação, sendo importante que
a solução adotada seja explicitada para o usuário de tal forma que ele possa compreender
todos os espaços previstos para utilização de sua família. Dessa forma, o conhecimento
sobre os mais diversos aspectos da habitação por parte dos seus proprietários antes da sua
concretização pode garantir uma melhor adequação às suas expectativas, pois “em termos
práticos, é mais econômico reformar na fase de projeto do que durante a fase de produção
ou após a conclusão”. A responsabilidade do projetista em relação à eficiência da
funcionalidade das habitações sociais passa a ser cada vez maior e mais complexa, à
medida que suas soluções devam atender a uma ampla e variada gama de aspirações e
necessidades das pessoas.
6.2 A RETROALIMENTAÇÃO DO PROCESSO PROJETUAL
A área das Relações Ambiente e Comportamento (RAC) vem sendo, há
vários anos, objeto de pesquisas no campo da Psicologia e, mais recentemente, em estudos
nas escolas de Arquitetura e Urbanismo, ainda que não de forma constante e sistemática
(ORNSTEIN; BRUNA; ROMÉRO, 1995). A aplicação nessas pesquisas de procedimentos e
critérios que sejam replicáveis em estudos similares permite verificar de maneira sistêmica
essa área de conhecimento. Se outras pessoas puderem compreender os métodos de
pesquisa e seus resultados, elas podem ajudar o pesquisador na evolução de seu trabalho,
da mesma forma que este pode comparar as conclusões de sua pesquisa com outras
interpretações de dados similares, identificando seu próprio progresso (ZEISEL, 2006).
Segundo Yin (2005, p. 58), um dos critérios para julgar a qualidade de uma
pesquisa é o da validade externa, buscando saber se o que foi descoberto em um estudo de
caso pode ser generalizado para além daquele exemplo específico. Ele sugere que uma das
formas é a generalização analítica, em que “o pesquisador está tentando generalizar um
conjunto particular de resultados a alguma teoria abrangente”. Para ilustrar esse
pensamento, Yin cita o caso de Jacobs (2000), cujas experiências tratam de questões
teóricas mais amplas sobre o planejamento urbano, o que teria ocasionado grande
controvérsia na área e o surgimento de novas investigações empíricas em outros locais,
buscando verificar um ou outro dos aspectos apresentados pela autora. Dessa forma, as
146
suas idéias podem ser consideradas como uma teoria que impulsionou outras pesquisas e
contribuiu para o desenvolvimento do estado da arte no planejamento urbano.
O emprego do modelo tridimensional para as habitações do Projeto Casa
Fácil, ao mesmo tempo em que é um processo avaliatório, tanto do usuário quanto do
projetista, sobre o projeto que se apresenta por meio deste modelo, leva em consideração
os insumos obtidos em pesquisa de Avaliação Pós-Ocupação prévia (IMAI, 2000). Os
projetos desenvolvidos são, em seu conjunto, importante fonte de informações quantitativas
e de tendências de um determinado grupo social; mas estes também são, individualmente,
exemplos ilustrativos de questões específicas de cada habitação, de seus usuários e do
próprio processo projetual, abordando importantes características que, por vezes,
convergem ou divergem entre si. Cada caso é único e ao mesmo tempo componente de um
conjunto amplo de diversidades que ilustram a principal característica desses exemplos: a
sua individualidade em certos aspectos, e o seu conjunto, em outros.
Os métodos empregados no desenvolvimento desse processo projetual
utilizam-se da Avaliação Pré-Projeto (APP), que apresenta algumas características que a
torna próxima dos estudos de viabilidade técnica ou de programação arquitetônica, pois tem
como objetivo pesquisar aspectos do edifício “antes” do projeto estar finalizado (BECHTEL
et al, 1987) A APP busca, dessa forma, levantar as necessidades e as exigências dos
futuros usuários de determinado ambiente que será edificado, podendo utilizar para isso
algum tipo de simulação. Segundo Bechtel (1997), o primeiro passo para esse tipo de
avaliação é coletar os dados pesquisados em edifícios similares em Avaliações Pós-
Ocupação (APO). Em linhas gerais a APP utiliza as APOs como fonte de informação, ou
seja, busca coletar o que foi identificado como positivo ou negativo e procura evitar e
repetição de equívocos ou incorporar soluções que apresentaram bons resultados.
Nos estágios prévios ao projeto, a programação arquitetônica
(HERSHBERGER, 1999; PREISER, 1978, 1993; PEÑA et al, 1987; SANOFF, 1977), pode
ser considerada como a primeira e provavelmente mais importante etapa no
desenvolvimento do projeto arquitetônico, pois permite levar a interação entre o cliente, os
usuários e o arquiteto a níveis mais elevados do que uma definição programática
unidirecional. Nesse aspecto, Ornstein (2004, p. 95 e 97) argumenta que para utilizar os
insumos gerados pelas Avaliações Pós-Ocupações, no sentido de realimentar as fases
iniciais do projeto (programa de necessidades), deve-se atuar de modo “pró-ativo”, a partir
de ações que extrapolem a simples elaboração do programa e objetivem “produzir um
147
circulo virtuoso de gerenciamento ou gestão da qualidade do ambiente construído”. As
APOs, dentro dessa visão, não podem ser um fim em si mesmas, mas sim devem integrar
um vasto conjunto de instrumentos e ferramentas que possam ser empregados no processo
de produção (planejamento, programa de necessidades, projeto e construção), bem como
no uso, operação, manutenção e gerenciamento da qualidade de ambientes construídos. A
gestão da qualidade no processo de projeto deve adotar a APO dentro de um papel
estratégico, “desde que os procedimentos e resultados para sua implementação continuada
e também no caso dos demais instrumentos para a gestão da qualidade aplicados em
outras etapas, tais como a Avaliação Pré-Projeto (APP), seja objeto de verificações
regulares ou de meta-avaliações que visem a aferição associada ao aperfeiçoamento do
próprio método.
A programação arquitetônica feita de maneira sistematizada pode,
segundo Preiser (1993), permitir que os projetistas aprendam com experiências do passado,
bem como fornecer informações que possam estar disponíveis durante o próprio processo
projetual. Dessa forma, a programação auxilia o cliente e o projetista por meio da
compreensão das características do edifício e dos aspectos necessários para sua
adequação ao uso.
Segundo Peña et al (1987), a programação arquitetônica pode ser
considerada como um processo no qual se busca estabelecer o problema arquitetônico e a
forma de encontrar a solução. Nesse conceito, a busca do problema projetual pode ser
separada e identificada em uma análise prévia (a programação) que tem por objetivo servir
de subsídio para a busca da síntese que se propõe a resolver o problema (o projeto). Dessa
forma, o projeto pode ser considerado como um processo de resolução de um problema
que, para ser bem-sucedido, é necessário estar clara e criteriosamente definido. Segundo
Brown e Scarbrough (1993, p. 48) os critérios projetuais que irão definir as características da
edificação devem obedecer a metas de programação:
coletar todas as informações pertinentes disponíveis;
identificar boas idéias que devem ser consideradas;
obter consenso entre as partes envolvidas;
desenvolver um quadro geral, sem dar importância excessiva aos detalhes;
estabelecer níveis de qualidade desejados pelo cliente e;
identificar problemas e apontar possíveis soluções.
148
A busca pela identificação do problema pode empregar o uso de
instrumentos e ferramentas que auxiliem o projetista na sua interface com os usuários e
suas necessidades. Nesse aspecto o emprego de simulações pode contribuir para uma
comunicação mais fluída entre os agentes envolvidos no processo projetual. Alguns estudos
relatam exemplos de simulações aplicadas em projetos de habitação, de hospitais ou em
ambientes urbanos, utilizando para isso maquetes, mock-ups e modelagens computacionais
(BOSSELMANN; CRAIK, 1987; BECHTEL, 1989; SANOFF, 1991). Outros instrumentos e
técnicas empregados no planejamento e programação, com a participação dos usuários,
envolvem o emprego de questionários, entrevistas, grupos focais, workshops e simulações
em cenários e/ou modelos em escala real (SANOFF, 2000; VOORDT; WEGEN, 2005).
Algumas das etapas de avaliação do projeto podem abranger procedimentos de simulação
que são classificados por Hershberger (1999) em quatro categorias: mental (carregado de
subjetividade e podendo ser variável de pessoa para pessoa), icônico (variações por meio
de imagens, como plantas com diferentes alternativas de layout), simbólico (simulações
matemáticas que indicam a viabilidade e as relações de custo-benefício) e experimental
(emprego de mock ups e simulações em ambientes na escala real).
A importância de compreender cuidadosamente as diversas expectativas e
as necessidades dos futuros usuários dos edifícios é ressaltada por Voordt e Wegen (2005)
como uma forma de evitar desapontamentos posteriores, buscando deixar claro quais
alternativas são possíveis (e quais não são), em função do tempo e dos recursos
disponíveis. Segundo Sanoff (apud VOORDT; WEGEN, 2005) a programação de um
ambiente construído é um sistema de coleta e de processamento de informações que irá
indicar direções para o projeto, com o objetivo de acomodar as necessidades dos usuários,
dos contratantes e dos projetistas. Ela também pode ser vista como uma etapa do projeto,
na qual se busca descobrir tanto a “natureza do problema projetual quanto a natureza da
solução projetual” (HERSHBERGER, 1999, p. 1)
27
.
A participação dos usuários na etapa de projeto dos edifícios, muitas
vezes, tem demonstrado que as pessoas têm a capacidade de participar e de desenvolver
tarefas nas etapas iniciais de planejamento e de projeto (KERNOHAN et al, 1992). Elas
podem dar respostas a complicadas questões sobre as relações entre as pessoas, as
funções e os edifícios, pois possuem uma vivência e experiência prévia que possibilitam ter
uma visão diferenciada do projetista:
27
Tradução nossa.
149
“As pessoas que são especialistas sobre cozinhas são os cozinheiros,
porém eles podem informar sobre mais coisas do que apenas cozinhar.
Em seus domínios eles podem contar tudo sobre as pessoas que comem,
ou que aguardam pela comida, e sobre as relações entre cozinhar e
comer, cozinha e sala de jantar, ambiente e comportamento. Nós todos
temos experiência em nossas próprias áreas de interesse. Mas nós só
podemos contribuir se questionados, e a informação possui valor apenas
quando compreendida e colocada em prática” (KERNOHAN et al, 1992, p.
82)
28
.
A resposta que o projeto final deve dar às questões propostas nas etapas
iniciais de programação deve buscar “transcender” ao problema, buscando capturar a
essência das diversas variáveis que envolvem aquele projeto. A busca por soluções que
atendam aos aspectos do contexto local (físico e humano) deve também atender às
necessidades dos potenciais usuários e atender às aspirações de todos os agentes
envolvidos e da própria sociedade (HERSHBERGER, 1999). A etapa de programação pode
ser considerada, dessa forma, como o primeiro estágio do processo projetual, em que a
participação dos futuros usuários pode contribuir para uma melhor articulação do projeto em
relação às demandas que se apresentam.
6.3 CRITÉRIOS PARA A CLASSIFICAÇÃO DOS PROJETOS
O universo da pesquisa é composto por residências cujos projetos foram
elaborados por meio do Projeto Casa Fácil, em Londrina, entre março de 2005 e julho de
2006. Durante o período em questão foram elaborados projetos a partir do sistema
“convencional” (grupo de controle), no qual o projetista entrevista o usuário, verifica se
existe alguma idéia prévia de projeto e mostra o grupo de projetos padronizados existentes
em plantas bidimensionais mobiliadas. Após esse contato, e a determinação das principais
características do projeto solicitado, é agendado um retorno, geralmente após uma semana,
quando o projeto final é entregue. Outros usuários também foram entrevistados pelos
projetistas e, a partir de alguma idéia prévia do próprio usuário, com base na escolha de
algum projeto-padrão existente no catálogo ou de sugestões do projetista, é iniciada a
simulação da habitação. Utiliza-se o modelo tridimensional físico onde são modificadas, ou
não, algumas características do projeto, ou opta-se pela elaboração de um novo projeto
(grupo de pesquisa). Da mesma forma que no grupo anterior, o projeto final geralmente é
entregue na semana seguinte.
28
Tradução nossa.
150
O presente trabalho caracteriza-se pelo estudo comparativo entre essas
duas aplicações de um processo projetual, dentro de uma mesma estrutura básica, porém
diferenciadas de acordo com os instrumentos utilizados. Segundo Yin (2005), o método
comparativo, ou o estudo de casos múltiplos, para garantir a confiabilidade nos seus
resultados deve adotar a utilização de protocolos de pesquisa, de forma a assegurar que, se
os procedimentos forem repetidos, chegar-se-á aos mesmos resultados.
O interesse da pesquisa em estudar o processo produtivo da habitação,
desde a etapa de projeto até o uso e ocupação, resultou em um período de elaboração de
projetos que tornou o universo de pesquisa reduzido a uma pequena quantidade de
unidades. Os projetos elaborados com os modelos tridimensionais foram os que tiveram o
universo mais reduzido pelo fato de demandarem um tempo muito superior para a
elaboração de seus projetos se comparados com os demais, tendo proporcionalmente uma
menor quantidade de unidades. Durante o período de março de 2005 até julho de 2006
foram elaborados 229 projetos, dos quais 156 no grupo de controle e 73 no grupo de
pesquisa. Dos que foram desenvolvidos no grupo de pesquisa, seis foram aplicados como
pré-teste e dez foram retirados da pesquisa, por diferentes razões, totalizando 57 projetos
válidos.
29
Dentre os projetos que saíram da pesquisa, a retirada de um se deveu à
desistência do usuário de utilizar o Projeto Casa Fácil, e outro a erros de projeto em relação
à legislação. Todos os projetos restantes foram descartados pelo fato de que os projetos
legais, desenvolvidos pelos alunos posteriormente à simulação, possuíam significativas
alterações em relação ao modelo original, as quais descaracterizavam as soluções adotadas
inicialmente.
Os projetos estão distribuídos em 68 diferentes bairros da cidade (ver
mapas no anexo 10.1), geralmente localizados na periferia do perímetro urbano, dentro de
um fenômeno bastante conhecido na formação e no desenvolvimento urbano de grande
parte das cidades de médio e grande porte do país. Esses bairros, em um considerável
número, estão no limite da malha urbana, em um processo de expulsão desses moradores
para regiões nas quais o contorno, por vezes, acaba sendo mais rural do que urbano.
29
Ver exemplo de transcrição do atendimento e fotos da maquete final de um projeto do grupo de pesquisa no
anexo 10.4.
151
As habitações pesquisadas estão espalhadas em toda a periferia da
cidade, com alguma concentração na região Norte, devido à sua forte característica
residencial, em específico, de moradias unifamiliares térreas. A expansão do perímetro
urbano do município, especialmente no final da década de 70 e início de 80, por meio da
implantação de conjuntos habitacionais financiados pelo poder público, levou ao surgimento
de diversos vazios urbanos entre os conjuntos - implantados praticamente fora da área
urbana - e o núcleo original da cidade (IMAI, 2000).
Os loteamentos privados implantados nos últimos anos ocuparam, em
grande parte, esses vazios dentro do perímetro urbano. A quase-totalidade das habitações
executadas pelo Projeto Casa Fácil encontra-se dentro dessas áreas, geralmente em
loteamentos urbanos com alguma infra-estrutura periférica preexistente. Isso possibilitou
que, se não todos, pelo menos a maioria possuísse sistemas razoáveis de pavimentação,
fornecimento de água, energia elétrica, coleta de lixo e de águas pluviais, entre outros.
Alguns dos serviços públicos ofertados podem variar conforme as características de cada
região. Dessa forma, questões como transporte e abastecimento (comércio) e o acesso a
equipamentos e a serviços públicos como educação, lazer e saúde não estão definidos de
maneira tão homogênea quanto a infra-estrutura física urbana. Como as habitações estão
distribuídas por todo o contorno periférico da cidade, pode-se considerar a possibilidade de
esses aspectos urbanos terem influência diferenciada na percepção do espaço urbano e, de
alguma forma, na própria avaliação das habitações por parte de seus moradores.
Segue-se a figura 17, com a localização geral das áreas que possuem
habitações da pesquisa. Como as habitações estão espalhadas pelo perímetro urbano,
optou-se pela adoção de uma classificação por regiões (ver Anexo 10.1), com o objetivo de
facilitar os procedimentos de coleta de dados da pesquisa. Essa organização buscou adotar
critérios geográficos de proximidade e acesso, que visaram definir regiões que possuíssem
grupos de habitações com uma quantidade de no mínimo 10 unidades por área. Algumas
das habitações situam-se em regiões distantes de outras áreas da pesquisa, sendo
encontradas duas unidades em distritos rurais fora da malha urbana, uma unidade em um
bairro isolado na região Oeste da cidade e um caso próximo à região central.
152
N
V
0
1
2
3
4
5
K
M
REGIÕES PESQUISADAS
Figura 17 – Mapa de Londrina com a localização dos bairros que possuem habitações da pesquisa.
Após a definição do universo de pesquisa em 213 projetos, entre o grupo
de controle (156 projetos) e o grupo de pesquisa (57 projetos), foram adotados alguns
critérios para sua classificação. Os projetos foram divididos conforme a quantidade de
ambientes internos que possuíam, diferenciados pela quantidade de dormitórios e de
153
banheiros ou por características específicas como a execução de garagens ou a
implantação de casas geminadas e edículas.
Conjuntamente com a classificação por tipologias funcionais de projeto,
também foram observados alguns aspectos relativos à implantação dos lotes dentro do
contexto urbano, levando em consideração aspectos como orientação solar, intensidade de
fluxo das vias e os lotes serem de esquina.
Quanto à implantação do lote em esquina foram identificados 20 casos
(12,8%) no grupo de controle e 4 casos (7,0%) no grupo de pesquisa. Em relação ao tipo de
via existia apenas um caso (1,8%) em via principal no grupo de pesquisa, enquanto no
grupo de controle foram identificados 14 casos (9,0%) em vias principais e/ou de fluxo
intenso. A posição dos lotes em relação à orientação solar demonstrou que, se por um lado
a distribuição não era totalmente homogênea, por outro, não existiram variações que
pudessem representar algum tipo de implantação predominante.
Tabela 19 – Classificação das residências conforme o tipo de projeto
GRUPO PESQUISA GRUPO CONTROLE
TIPO PROJETO
QUANTIDADE %
TIPO PROJETO
QUANTIDADE %
1D1B-ED
02 3,5
1D1B-ED
06 3,8
1D2B-ED
- -
1D2B-ED
01 0,6
2D1B-ED
02 3,5
2D1B-ED
03 1,9
2D2B-ED
01 1,8
2D2B-ED
01 0,6
3D1B-ED
- -
3D1B-ED
01 0,6
1D1B-GE
01 1,8
1D1B-GE
10 6,4
2D1B-GE
03 5,3
2D1B-GE
10 6,4
2D2B GE
01 1,8
2D2B GE
02 1,3
3D1B GE
01 1.8
3D1B GE
02 1,3
1D1B
- -
1D1B
05 3,2
2D1B
10 17,5
2D1B
26 16,7
2D1BG
03 5,3
2D1BG
20 12,8
2D2B
06 10,5
2D2B
13 8,4
3D1B
18 31,5
3D1B
43 27,6
3D2B
09 15,7
3D2B
13 8,4
TOTAL
57 100,00
TOTAL
156 100,00
CÓDIGO UTILIZADO
:
1D= 1 dormitório 2D= 2 dormitórios 3D= 3 dormitórios
1B= 1 banheiro 2B= 2 banheiros
G= garagem GE= geminada ED= edícula
EXEMPLO: 2D1B-GE = Projeto com dois dormitórios e um banheiro, geminado.
154
6.4 DEFINIÇÃO DA AMOSTRA
A principal característica na definição da amostra é determiná-la de tal
forma que seja representativa em relação ao grupo pesquisado, confiável e adequada aos
custos e prazos da pesquisa. Como o universo de pesquisa era muito pequeno,
principalmente no grupo que utilizou os modelos tridimensionais (57 casos), e as
características da pesquisa demandam que as habitações estejam construídas e habitadas
para a avaliação final, optou-se por adotar uma amostra mínima, utilizada em pesquisas de
APO, de 30 unidades (ORNSTEIN com ROMÉRO, 1992). Essa definição procurou atender à
viabilidade da execução da pesquisa no prazo necessário, visto que muitas das habitações
não estavam concluídas e ocupadas em tempo hábil para a coleta dos dados. No período da
realização da APO, apenas 16 unidades estavam habitadas no grupo de pesquisa, o que
levou à definição do tamanho total da amostra em 30 unidades, divididas em 15 unidades
para o grupo de pesquisa e 15 unidades para o grupo de controle.
Após a definição do tipo de classificação dos projetos, optou-se por
trabalhar com uma amostra estratificada de acordo com as características do universo
pesquisado. Dessa forma buscou-se garantir a análise das características das habitações
pesquisadas de maneira proporcional na amostra. A adoção de critérios probabilísticos
aleatórios poderia resultar no estudo de unidades que não fossem representativas em
relação às diversas características do grupo pesquisado, correndo-se o risco de não obter
resultados confiáveis (ORNSTEIN com ROMÉRO, 1992).
O principal critério adotado para a definição da amostra foi a
proporcionalidade em relação à tipologia funcional do projeto, com a classificação dos
projetos pela distribuição espacial interna e pelo tipo de implantação no lote. Como as
unidades estão distribuídas em diversos bairros da cidade, optou-se também pela
proporcionalidade de acordo com as regiões definidas pela pesquisa.
155
Tabela 20 Distribuição da amostra conforme tipologia dos projetos
GRUPO PESQUISA GRUPO CONTROLE
TIPO PROJETO
QUANTIDADE %
TIPO PROJETO
QUANTIDADE %
1D1B-ED 1D1B-ED
1D2B-ED 1D2B-ED
2D1B-ED 2D1B-ED
2D2B-ED 2D2B-ED
3D1B-ED 3D1B-ED
1D1B-GE 1D1B-GE
2D1B-GE 2D1B-GE
2D2B GE 2D2B GE
3D1B GE 3D1B GE
1D1B
3
20,0
1D1B
3
20,0
2D1B 2D1B
2D1BG 2D1BG
2D2B
6 40,0
2D2B
6 40,0
3D1B 3D1B
3D2B
6 40,0
3D2B
6
40,0
TOTAL 15 100,0 TOTAL 15 100,0
Obs.: Ver código utilizado na tabela 20, anterior.
Tabela 21 Distribuição da amostra dentro da área de pesquisa
GRUPO PESQUISA GRUPO CONTROLE
TIPO PROJETO
QUANTIDADE %
TIPO PROJETO
QUANTIDADE %
REGIÃO 1 REGIÃO 1
REGIÃO 2
5 33,3
REGIÃO 2
6 40,0
REGIÃO 3 REGIÃO 3
REGIÃO 4
4 26,7
REGIÃO 4
4 26,7
REGIÃO 5 REGIÃO 5
REGIÃO 6
1 6,7
REGIÃO 6
3 20,0
REGIÃO 7 REGIÃO 7
REGIÃO 8
3 20,0
REGIÃO 8
2 13,3
REGIÃO 9 REGIÃO 9
REGIÃO 10
2 13,3
REGIÃO 10
- -
OUTRAS
REGIÕES
- -
OUTRAS
REGIÕES
- -
TOTAL
15 100,0
TOTAL
15 100,0
Após a definição da amostra, os levantamentos foram realizados somente
nas unidades que estavam construídas e ocupadas. As unidades sorteadas para a amostra
que não atenderam a esse requisito foram substituídas por outras com as mesmas
características da tipologia funcional do projeto, preferencialmente seguindo a
proporcionalidade do universo de pesquisa em relação à localização nas regiões da cidade.
156
6.5 INSTRUMENTOS DE PESQUISA
6.5.1 DESENVOLVIMENTO DO PROJETO
Os projetos do grupo de pesquisa, composto pelas habitações simuladas
com os modelos tridimensionais, foram desenvolvidos entre setembro de 2005 e julho de
2006. Do total de 62 projetos considerados válidos, cinco foram desenvolvidos dentro da
pesquisa como pré-teste e os demais para o grupo definitivo. O desenvolvimento dos
projetos foi feito a partir de atendimentos individuais de alunos, acompanhados ou não de
professores, com um ou mais usuários, conforme cada caso. Antes do início dos
atendimentos houve uma reunião com os alunos, quando foram apresentados os objetivos
da pesquisa e demonstrado como funcionava o processo projetual com os modelos
tridimensionais. O grupo de discentes que desenvolveu os projetos do Projeto Casa Fácil foi
totalmente substituído no ano de 2006, sendo repetidos os procedimentos aplicados na
turma anterior.
Os alunos foram convidados a participar da pesquisa, sendo-lhes facultado
utilizar ou não o processo de projeto com os modelos tridimensionais. Esse procedimento foi
adotado para garantir a efetiva participação daqueles que tivessem interesse e
comprometimento com o bom desenvolvimento da pesquisa, visto que, geralmente, o
emprego do modelo tridimensional demanda uma quantidade maior de tempo durante a
elaboração do projeto em comparação com a escolha por meio do catálogo de projetos
padronizados.
O emprego do modelo tridimensional, da forma como foi proposto,
representa um nível de definição maior se comparado com um desenho esboçado pelo
aluno e apresentado no momento da discussão com o usuário. Dessa forma, quando o
projeto era concluído no final do atendimento com os modelos, todas as definições de
dimensionamento, layout, estrutura e cobertura já estavam concluídas, sendo necessário
apenas elaborar a documentação gráfica.
No caso do processo convencional, o grau de definição no final do
atendimento com o usuário é menor, sendo comum o aluno realizar alterações no decorrer
da semana antes da entrega definitiva do projeto. Essa flexibilidade no processo tornava
possível ao aluno, de acordo com suas possibilidades e interesses, desenvolver, revisar e
reformular o projeto (ou não), antes da entrega.
157
6.5.1.1 Registro do processo e do projeto.
O desenvolvimento do projeto foi registrado em vídeo, de tal forma que
pudesse ser feita uma análise comportamental dos usuários e dos projetistas durante a
simulação da habitação. O foco principal seria observar a dinâmica do processo projetual, as
escolhas e as motivações que levaram às opções adotadas no projeto, e de que forma o
modelo tridimensional modificou a percepção prévia sobre os espaços. A observação
comportamental, segundo Zeisel (2006), pode colocar o pesquisador como participante
marginal ou ativo do processo, sendo que o primeiro requer mais uma análise introspectiva
posterior enquanto o segundo, além da análise, necessita de um maior tempo de
preparação da pesquisa. A utilização de modelos físicos para simulação é caracterizada
pela descoberta das atitudes dos envolvidos na modelagem dos espaços ou ambientes, as
quais podem ser analisadas, além dos vídeos, por questionários e entrevistas (BAIRD et al,
1996).
Algumas questões apontadas no projeto, como a definição das fundações,
poderiam não ser totalmente assimiladas em um único atendimento, levando à opção pelo
registro fotográfico do modelo, com todas as soluções finais de layout, estrutura e cobertura,
que foi entregue aos usuários juntamente com a documentação gráfica.
Os diálogos durante a elaboração do projeto foram transcritos e ilustrados
com imagens de trechos da filmagem, com o objetivo de fazer uma análise de todos os
processos projetuais (ver exemplo no anexo 10.5).
6.5.2 LEVANTAMENTOS PRÉVIOS DOS LOCAIS DAS HABITAÇÕES
Os terrenos onde estão sendo implantados os projetos que compõem o
grupo de pesquisa foram visitados antes e durante a execução da construção. Essas visitas
têm por objetivo observar as características do terreno e do entorno urbano imediato, tais
como pavimentação, calçadas, topografia natural e modificada, vegetações e outros
elementos existentes no local. Durante esse levantamento foram observadas as
características da construção e a forma de execução da habitação.
158
Fotos 45 – Exemplos de terrenos e construções das habitações pesquisadas.
As visitas prévias aos terrenos, além de fornecerem as condições locais e
as características da construção, permitem também um levantamento da quantidade de
habitações que estavam sendo de fato edificadas bem como estimar se algumas habitações
poderiam estar construídas e habitadas dentro dos prazos necessários aos levantamentos
da pesquisa. O acompanhamento de todos os terrenos das habitações projetadas do grupo
de pesquisa, entre janeiro e novembro de 2006, demonstrou que apenas dezesseis
moradias estavam finalizadas e ocupadas.
159
6.5.3 AVALIAÇÃO APÓS A EXECUÇÃO
As pesquisas de Avaliação Pós-Ocupação, em habitações sociais,
recomendam realizar levantamentos em moradias que estejam ocupadas há pelo menos um
ano, para evitar que a satisfação decorrente do fato de o morador ter alcançado uma
importante meta, muitas vezes sua principal necessidade, mascare alguns possíveis
problemas existentes (DEL CARLO; MOTTA, 1975).
A Avaliação Pós-Ocupação foi realizada com base em questionários e em
entrevistas para coletar a opinião dos usuários, registros fotográficos para verificar as
condições da moradia, do seu terreno e do entorno próximo, levantamentos dimensionais da
edificação e de layout dos ambientes e observações sobre desempenho físico relativo às
questões técnico-construtivas.
A coleta dos dados sobre a opinião dos moradores foi feita individualmente
pelo pesquisador com cada usuário, podendo ser considerada uma entrevista, apesar de
possuir várias características de questionário, com questões estruturadas de respostas
abertas e questões de respostas definidas dentro de uma escala específica de valores.
Segundo Zeisel (2006), qualquer forma de questionamento “face a face” pode ser
considerada como uma entrevista, ainda que geralmente as entrevistas tenham um caráter
mais aberto, enquanto que os questionários buscam obter a opinião dos usuários por meio
de respostas do tipo sim/não ou múltipla escolha.
A obtenção de informações que permitam compreender melhor o universo
da pesquisa pode ser focada pela busca por compreender como é o mundo (na visão do
pesquisador) ou qual é a idéia que as pessoas fazem de como é o mundo, baseada nas
suas experiências prévias. As duas concepções de pesquisa podem ser falseadas ou
comprovadas de forma individual ou em conjunto (MARTON, 1981). Alguns estudos com
pessoas de diferentes estratos sociais descrevendo o mesmo evento indicam diferentes
percepções acerca da realidade (SCHATZMAN; STRAUSSS, 1966: apud MARTON, 1981).
A diferença de importância que cada grupo de pessoas atribui a determinados aspectos
pode demonstrar o interesse e as necessidades dessa parcela da população. Essa linha de
pesquisa, que busca compreender como as pessoas interpretam significantes aspectos da
realidade, atribui uma grande importância à descrição, análise e compreensão das
experiências prévias das pessoas:
160
“Consideramos que encontrar as diferentes maneiras como cada pessoa
experimenta, interpreta, entende, apreende, percebe ou conceitualiza
vários aspectos da realidade, é suficientemente interessante por si próprio,
e não apenas pelo seu potencial pedagógico e pela necessidade de um
campo de conhecimento ser formado” (MARTON, 1981, p. 178 )
30
A complexidade existente em entrevistas demonstra que não existem
entrevistas ideais, pois, da mesma forma que os entrevistados podem dar respostas
importantes, também podem fornecer informações sem nenhuma importância para a
pesquisa, tendo que ser descartadas pelo pesquisador. Ao mesmo tempo pode-se correr o
risco de o entrevistador, ao tentar direcionar a entrevista aos objetivos estipulados, induzir o
entrevistado ao seu ponto de vista. Essa indução pode ser evitada com base em técnicas
simples, como a repetição das próprias palavras do entrevistado, o chamado “efeito eco
(ZEISEL, 2006).
O questionário/entrevista que foi utilizado nessa pesquisa buscou avaliar, a
partir de dados quantitativos e qualitativos, as informações fornecidas pelos usuários.
Procurou-se dessa forma utilizar a vivência prévia das pessoas como fonte de informações
sobre as relações do morador com a moradia e com seu processo de produção. Esse tipo
de abordagem, que atribui um novo foco às entrevistas, foi originalmente desenvolvido para
compreender as relações emocionais entre as pessoas e seu local de moradia (MARCUS,
1995: apud ZEISEL, 2006).
A observação do desempenho físico das edificações buscou verificar
eventuais problemas ou patologias construtivas, bem como as características da edificação,
da implantação e do terreno, com base em uma vistoria visual do tipo “walkthrough”. Esses
roteiros do tipo “checklist” levam em consideração quais fatores podem influenciar o
desempenho do edifício. O roteiro elaborado (ver anexo 10.3) foi baseado em pesquisas
similares (ORNSTEIN; BORELLI, 1996; IMAI, 2000) e em alguns itens listados pelo Centre
for Building Performance Research - CBPR (BAIRD et al, 1996).
30
A linha de pesquisa defendida por Marton é conhecida como Fenomenografia. Tradução nossa.
161
6.5.3.1 Questionário/entrevista
O modelo de questionário utilizado (ver anexo 10.2) pela pesquisa
procurou avaliar aspectos da habitação relativos às características de seus moradores, ao
processo produtivo da habitação e ao processo de escolha do projeto e suas conseqüências
posteriores. Além dessas questões também foram contemplados aspectos relativos a
questões dimensionais, de conforto térmico e acústico, de fluxos, de segurança e
privacidade da habitação, entre outros, e da infra-estrutura urbana e dos serviços públicos.
O questionário proposto ficou com os seguintes itens:
- Característica dos moradores: para levantar o perfil socioeconômico dos usuários. É
composto pela posição familiar, idade, sexo, ocupação, escolaridade e estado civil, além
de levantar a renda familiar, a naturalidade do entrevistado, o tempo de moradia e a
procedência.
- Característica do lote / construção: para ajudar a compreender de que forma ocorreu o
processo de produção das residências e quais agentes estão envolvidos. É composto
pela forma de aquisição do lote, quem financiou, o período de financiamento, o valor
gasto, a fonte dos recursos e o tipo de ocupação do lote (se com uma ou mais famílias e
se com construções independentes). Inclui também o período de construção, o processo
construtivo, a fonte dos recursos, o valor gasto com a edificação, a moradia durante a
construção e a legalização da construção.
- Avaliação do processo de escolha: para levantar os motivos que levaram os usuários a
escolher as tipologias de projetos utilizadas. É composto por questões sobre como
obteve conhecimento e por que utilizou o Projeto Casa Fácil, o motivo da escolha do
projeto da casa, se as expectativas prévias durante a etapa de projeto confirmaram-se
após a construção, se houve mudanças nessas expectativas após o processo produtivo,
quais elementos da habitação são considerados mais ou menos agradáveis, se houve
162
mudanças nas funções e forma de ocupação em relação à previsão do projeto (e o
motivo dessas alterações) e se pretende fazer modificações posteriores na habitação.
- Avaliação da habitação: para aferir o nível de satisfação dos usuários em relação às
residências. É composto por tamanho e quantidade de ambientes, segurança contra
crimes, circulação e integração, conforto térmico, iluminação, privacidade, conforto
acústico, aparência da habitação, espaço livre no terreno e a sobreposição de funções.
- Avaliação da infra-estrutura urbana e serviços sociais: para aferir o nível de satisfação
dos usuários em relação ao contexto urbano. É composto por abastecimento de água,
instalações sanitárias, coleta de lixo, energia elétrica, pavimentação, educação, lazer,
abastecimento, transporte e saúde.
6.5.3.2 Observações de desempenho físico
A estrutura do roteiro elaborado para o levantamento técnico-construtivo
(ver anexo 10.3) foi feita tomando como base roteiro similar adotado na pesquisa anterior
(IMAI, 2000). Com base nesse modelo foram acrescidas algumas questões, de acordo com
as necessidades da pesquisa, sendo que o roteiro empregado na aplicação do pré-teste
ficou com os seguintes itens:
- Áreas livres do terreno: levantamento da forma de ocupação do terreno, suas
características de calçamento, vegetação e alterações topográficas.
- Piso: levantamento do tipo de piso utilizado e, se existirem, quais as principais patologias
encontradas.
- Paredes: levantamento da tipologia utilizada e, se existirem, quais as principais
patologias encontradas.
163
- Revestimentos: levantamento dos tipos de revestimentos utilizados interna e
externamente e, se existirem, quais as principais patologias encontradas. Dentro das
entrevistas realizadas com os líderes comunitários verificou-se que os moradores da
região geralmente não têm condições de construir rapidamente, fazendo apenas o
‘básico’ para morar. Dessa forma, tornou-se importante o levantamento dos
revestimentos internos e externos para determinar o grau de acabamento da construção.
- Esquadrias: levantamento dos materiais e sistemas de abertura mais utilizados e, se
existirem, quais as principais patologias encontradas.
- Instalações elétricas: levantamento da distribuição, funcionamento, manutenção e
conservação dos pontos elétricos e de iluminação artificial.
- Instalações de telefonia e de internet: levantamento das possíveis instalações de
telefonia e de internet.
- Instalações hidráulicas: levantamento dos pontos hidráulicos e, se existirem, quais as
principais patologias encontradas.
- Cobertura: levantamento do sistema utilizado e, se existirem, quais as patologias
encontradas.
- Estrutura: a pesquisa anterior (IMAI, 2000) indica o uso exclusivo da estrutura
independente de concreto, com a vedação em alvenaria de tijolos. Essa questão buscou
verificar também qual é o estado geral dessas estruturas e se existe alguma exceção.
6.6 APLICAÇÃO E ANÁLISE DO PRÉ-TESTE
A etapa de pré-teste dos instrumentos de coleta de dados é importante
dentro do planejamento da Avaliação Pós-Ocupação, pois permite verificar a eficiência dos
métodos utilizados. Dessa forma é possível antever, em uma amostra mais reduzida,
eventuais problemas que podem ocorrer nos procedimentos da pesquisa e efetuar, se
necessário, uma reprogramação da pesquisa definitiva (ORNSTEIN; BRUNA; ROMÉRO,
1995).
164
O emprego do pré-teste é uma prática em APOs, sendo útil não apenas
para verificar a consistência dos dados levantados, mas também para permitir que o
avaliador se familiarize com o processo e aumente a eficiência da avaliação, podendo ser
considerado como um estudo-piloto, desde que utilize unidades representativas do universo
de pesquisa (PREISER, 1988).
Além de auxiliar na obtenção de dados mais confiáveis o pré-teste permite
agilizar o levantamento de campo posterior, diminuindo os custos e garantindo a previsão de
um cronograma factível. Ele também permite o contato direto com o entrevistado, tornando
mais familiar para o entrevistador o contexto social do grupo pesquisado. Essa aproximação
possibilita verificar a legibilidade dos questionários ou roteiros de entrevistas, pois
determinados termos podem ser interpretados de diferentes formas por diferentes pessoas
(PREISER, 1988).
A aplicação do pré-teste ocorreu em agosto de 2006, em quatro unidades
da pesquisa, sendo que duas foram elaboradas com os modelos tridimensionais. Das cinco
habitações projetadas com modelos, no início do atendimento, as quais foram consideradas,
para efeito de pesquisa, como pré-teste do processo projetual, apenas essas duas unidades
já estavam ocupadas pelos moradores na época do levantamento do pré-teste.
6.6.1 ALTERAÇÕES NOS INSTRUMENTOS DE PESQUISA
6.6.1.1 Registro em vídeo
O início do processo projetual, dentro do pré-teste, buscou fazer com que o
mesmo fosse desenvolvido a partir do modelo tridimensional, de tal forma que a entrevista
do usuário com o projetista começasse diretamente no modelo. O uso das matrizes de
referência (ver item 5.4.1) seria a orientação gráfica inicial para o projetista demonstrar de
que forma o projeto poderia atender às necessidades programáticas apresentadas
previamente pelos usuários.
Apesar da variedade de projetos constante no catálogo do Projeto Casa
Fácil, alguns dos usuários traziam uma idéia sobre o projeto, não apenas em termos
conceituais, mas desenhada em forma de um esboço de planta baixa. Essa “pré-concepção”
do projeto era um forte referencial para o usuário como idealização prévia. Em alguns casos,
165
esses esquemas apresentavam problemas de ordem técnica e legal, pois muitas vezes não
respeitavam a legislação ou representavam dimensões que não era possível executar, pois
o desenho não levava em consideração que as paredes possuíam espessura, por exemplo.
Em alguns casos houve também uma dificuldade, por parte dos alunos que
desenvolviam os projetos, em trabalhar no modelo tridimensional sem uma discussão prévia
sobre as alternativas existentes nos projetos padronizados dos catálogos. Essa discussão
prévia conseguia dar, tanto ao projetista quanto ao usuário, um referencial das
características espaciais, de fluxos e funções, sobre a habitação desejada, o que uma
simples entrevista verbal não possibilitava.
Durante a elaboração dos projetos do pré-teste percebeu-se que tanto as
idéias prévias do usuário, em forma de desenho, quanto a falta de referencial gráfico mais
detalhado para os usuários e projetistas, representavam dificuldades na elaboração dos
projetos com o modelo tridimensional. A idéia inicial do usuário, algumas vezes, estava
representada em algum projeto padronizado encontrado no catalogo, sem os vícios ou os
equívocos de representação do esboço original. A discussão prévia com esses referenciais
gráficos possibilitava uma definição mais clara de qual modelo de projeto seria empregado
na simulação inicial da habitação, mesmo que depois ele fosse modificado ou, em alguns
casos, abandonado e substituído por outro tipo de projeto.
Dessa forma, após o pré-teste, optou-se por manter a entrevista prévia
com o usuário, demonstrando os projetos padrões que poderiam dar um referencial inicial.
Após essa discussão o usuário era convidado a estudar a simulação da habitação no
modelo tridimensional. Em alguns casos os usuários e/ou os alunos optaram por não
realizar a simulação, por considerarem que ela não era necessária e que o projeto já estava
claramente compreendido por todos.
6.6.1.2 Questionário/entrevista e roteiro Walkthrough
Após a aplicação do pré-teste foi feita uma análise do grau de legibilidade
do questionário e do roteiro walkthrough . Estes tiveram, na maior parte dos itens, uma boa
compreensão por parte dos entrevistados, sendo necessário apenas algumas pequenas
alterações.
166
Na questão sobre o aspecto legal da obra, se o proprietário possuía ou não
o habite-se, foi acrescida uma terceira alternativa de resposta, indicando quando o usuário
não sabe ou não quer responder à pergunta. Nas questões da avaliação do processo de
escolha, o item relativo ao motivo da escolha do projeto da casa gerou certa indecisão nos
usuários devido ao excesso de respostas alternativas. Apesar da dificuldade, por vezes
verificada, em obter respostas de algumas questões abertas, nesse caso optou-se por
modificar a questão de múltipla escolha para resposta aberta.
As questões abertas revelaram, por vezes, que as respostas dos usuários
tiveram algumas inconsistências, pois ao mesmo tempo em que afirmaram que a habitação
ficou da forma como a imaginavam, quando receberam o projeto, todos também afirmaram
ter realizado modificações na casa em relação ao projeto original, indicando que essas
mudanças não tinham relação com a compreensão do projeto, mas com outros fatores
diversos. Isso pode ser questionado quando comparado com a resposta relativa à própria
opinião dos usuários em relação ao seu domínio de percepção espacial quanto ao desenho
de uma planta baixa, pois a maioria afirmou que não compreendia esse tipo de
representação. Apesar dessas inconsistências, ou talvez devido a elas, optou-se por manter
as questões abertas na forma como estavam formuladas.
A última questão reformulada refere-se ao aspecto das instalações
sanitárias, onde se optou por colocar outra questão de múltipla escolha, entre o tipo de
sistema existente (esgoto ou fossa), pois algumas regiões apresentavam o sistema de
coleta de esgoto, apesar de eventualmente o usuário não utilizá-lo, enquanto outras áreas
não possuem essa coleta.
No roteiro walkthrough foi inserida mais uma alternativa de resposta na
questão da caixa d’água, que era a da sua inexistência. Nos demais itens não houveram
dúvidas significativas, sendo mantida a estrutura do roteiro. A única alteração realizada foi a
modificação da seqüência das questões, sendo colocado inicialmente os aspectos
perceptíveis do lado externo da edificação, como o terreno, a cobertura, a estrutura e os
revestimentos, buscando dessa forma facilitar a coleta dos dados.
167
6.7 TABULAÇÃO DOS DADOS OBTIDOS NA AVALIAÇÃO PÓS-OCUPAÇÃO
Os levantamentos realizados nas habitações da pesquisa foram realizados
durante o mês de dezembro de 2006. Nesse período foram realizados quinze levantamentos
no grupo de pesquisa e quinze levantamentos no grupo de controle, seguindo os critérios
proporcionais da amostra de acordo com o universo de pesquisa. Os dados a seguir
referem-se ao conjunto de residências compreendidas pelos dois grupos, considerando-se
os aspectos que não possuem diferenças significativas, tais como as características dos
moradores, do lote e construção, da avaliação da infra-estrutura e dos serviços urbanos e
das características técnico-construtivas das edificações. Apenas os aspectos de avaliação
da habitação foram objeto de análise separada, mesmo quando os resultados apresentaram
diversos pontos de convergência.
6.7.1 CARACTERÍSTICAS DOS MORADORES
As famílias da amostra pesquisada, em sua totalidade, já moravam em
Londrina antes de iniciarem a construção de suas casas. O tempo de moradia na cidade
pode ser considerado relativamente alto, com cerca de 19 anos em média, demonstrando
que essas pessoas já tinham uma situação consolidada, apesar de, na sua maioria, não
possuírem anteriormente casa própria. Devido às características da pesquisa, o
levantamento dos dados ocorreu, em média, após cerca de 6 meses de moradia na
residência, indicando uma situação relativamente recente e ainda não vivenciada com muita
profundidade em alguns casos.
A composição dos grupos familiares possui, na sua origem, cerca de 23%
dos casos de pessoas que sempre moraram em Londrina, sendo que o restante dos
moradores vieram, na sua maioria, de cidades localizadas no Interior do Paraná e de São
Paulo. Cerca de um terço dos grupos familiares representa ainda um deslocamento da área
rural para os aglomerados urbanos, que ocorreu com maior intensidade até a década de 80.
168
Interior Pr
46,67%
Londrina
23,33%
Interior Sp
10,00%
São Paulo
6,67%
Outros
13,33%
rural
33,33%
urbana
66,67%
Gráfico 1 – Cidade de origem Gráfico 2 – Moradia anterior
A estrutura familiar encontrada na maioria dos casos pesquisados é
composta por um casal, dos quais cerca de 23% não possuíam filhos. Uma pequena
quantidade das famílias pesquisadas era composta por um único chefe familiar (em todos os
casos, a mãe), com uma quantidade variada de filhos. Foi encontrado apenas um único
caso em que existiam dois grupos familiares dentro da mesma moradia, com a presença de
um casal morando na casa dos pais da esposa.
Chefe
familiar
individual
10 %
Casais
90%
Pais
54%
Filha(o)
45%
Outros
1%
Gráfico 3 – Núcleo familiar Gráfico 4 – Composição familiar
169
Entre todos os moradores das habitações pesquisadas, cerca de 50,48%
possuem algum tipo de renda (46,60% com alguma atividade remunerada e 3,88% como
aposentados). Entre as atividades remuneradas, cerca de dois terços dos entrevistados
estão no mercado de trabalho formal e cerca de um terço trabalha de maneira informal ou
como autônomo.
A composição dos grupos familiares indica uma concentração dos
componentes da família na faixa de 20 a 39 anos (44,66%), com uma média de 1,5 filhos
por núcleo familiar. Se considerarmos apenas as famílias que possuem filhos na moradia, a
média passa a 1,95 filhos por habitação.
A renda mensal familiar varia de R$400,00 até R$2.500,00, com uma
média de R$888,00
31
, sendo que 80% informaram possuir renda igual ou inferior a três
salários mínimos. O nível de escolaridade é bastante diversificado, pois, já se excetuando as
crianças em idade escolar, cerca de 48,44% dos moradores ou não possuem nenhuma
escolaridade, ou possuem apenas o ensino fundamental incompleto. Por outro lado, cerca
de 32,81% dos moradores possuem o ensino médio completo ou até mesmo o ensino
superior.
Aposentado
3,88%
Autônomo
14 ,5 6 %
Do lar
13 ,5 9 %
Estudante e
< 7 anos
33,98%
Trabalhador
formal
32,04%
Desempreg.
1,9 4 %
até 9
21,36%
10 à 19
14 ,5 6 %
20 à 29
22,33%
30 à 39
22,33%
40 à 49
6,80%
50 à 59
4,85%
60 ou +
7,77%
Gráfico 5 – Tipo de atividade Gráfico 6 – Idade dos moradores (anos)
31
O valor do salário mínimo no período do levantamento dos dados (dezembro de 2006) era de R$ 350,00.
170
dio
Incompleto
7,81%
Superior
Inco mpleto
1,5 6 %
Superior
6,25%
dio
25,00%
Fundamental
10 ,9 4 %
Nenhuma
6,25%
Fundamental
Incompleto
42,19%
Gráfico 7– Escolaridade dos moradores com mais de 18 anos.
6.7.2 CARACTERÍSTICAS DO LOTE E DA CONSTRUÇÃO
A proposta do Projeto Casa Fácil é ser um sistema de suporte técnico na
construção das habitações dos usuários atendidos, não sendo um sistema de financiamento
da construção, o que leva o proprietário a conseguir os recursos para comprar o terreno e
construir a moradia. Cerca de 86,67% dos moradores adquiriram seus terrenos de forma
financiada, em geral diretamente com o loteador do empreendimento, com recursos
originados na renda familiar, na maioria dos casos. O período médio de financiamento é de
82 meses, variando de 6 meses até 120 meses. O valor médio dos terrenos financiados é de
R$ 18.930,00, sendo que nos casos em que o terreno foi adquirido à vista essa média cai
para R$11.750,00.
171
Financiado
86,67%
À vista
13 ,3 3 %
Próprios +
Outros
10 ,0 0 %
Própios
83,33%
Outros
6,67%
Gráfico 8 – Tipo de aquisição do terreno Gráfico 9 – Recursos para aquisição do terreno
A construção das edificações teve uma fonte de recursos mais
diversificada que a do financiamento dos terrenos. Na maior parte dos casos (60,0%) a
origem foi de recursos próprios, complementados com financiamentos ou auxílio de
terceiros. Em alguns casos é possível encontrar moradias executadas com recursos
oriundos de auxílio de parentes e amigos, ou da venda de bens como imóveis e automóveis.
O processo de construção dessas moradias apresenta casos com a participação exclusiva
de moradores e familiares (30,0%) ou de empreiteiros (33,3%), sendo que em 36,67% das
edificações ocorreram os dois tipos de mão de obra. O período de tempo em que as casas
foram construídas variou de 1 mês a 12 meses, com uma média de 4,5 meses por
edificação. Convém ressaltar, no entanto, que esse período curto de construção pode
representar o fato de os levantamentos terem sido realizados com habitações edificadas e
ocupadas dentro dos prazos da pesquisa, visto que as edificações que não haviam sido
ainda finalizadas não puderam fazer parte da amostra. De qualquer forma, esse grupo
pesquisado apresenta suas habitações geralmente inacabadas em diversos aspectos
(coberturas, pisos, revestimentos, etc), pois foram levados pela urgência em ter uma
moradia, que os obrigou a se mudarem para a nova casa antes de estar totalmente
finalizada. As despesas com o financiamento, ou a compra do terreno, conjuntamente com
os custos da construção da nova moradia e, por vezes, com o aluguel da moradia anterior,
podem representar um “esvaziamento” dos recursos da família, perceptível pelo fato de que
o valor médio com as despesas da construção, segundo seus moradores, foi de cerca de
R$16.200,00.
172
FGTS
7%
Aulio
terceiros
10 %
Diversas
fontes
10 %
Outros
13 %
Próprios
30%
Próprios e
financiamento
17 %
Próprios e
auxí lio
terceiros
13 %
Autoconstrão
e empreita
36,67%
Autoconstrão
30,00%
Empreita
33,33%
Gráfico 10 – Origem dos recursos Gráfico 11 – Sistema construtivo
A ocupação dos lotes é, na sua maioria, unifamiliar, sendo encontrados
alguns casos de duas edificações no mesmo terreno, com dois grupos familiares diferentes.
Durante o processo de execução dessas casas a maior parte dos usuários morava com
parentes e amigos (50,0%) ou em habitações alugadas (46,67%).
Unifamiliar
90,00%
Multifamiliar
10,00%
Aluguel
46,67%
Casa
Própria
3,33%
Com
parentes
43,33%
Com
amigos
6,67%
Gráfico 12 – Ocupação do lote Gráfico 13 – Moradia anterior
173
6.7.3 AVALIAÇÃO DA HABITAÇÃO
A escala de valores utilizada na avaliação do nível de satisfação dos
usuários em relação à sua residência foi de: 1 (péssimo), 2 (ruim), 3 (bom) e 4 (ótimo).
Apesar de algumas questões terem um alto índice de pessoas que não responderam,
devido ao fato de não se enquadrarem naquele quesito, em sua maior parte as respostas
foram de bom a ótimo, o que demonstrou um alto índice de satisfação com a maioria dos
aspectos pesquisados. Apenas nos aspectos de conforto térmico é perceptível certa
variação nas respostas, decorrente muitas vezes do caráter inacabado da moradia e/ou do
tipo de projeto e forma de implantação. Na avaliação da habitação feita pelos moradores
não são perceptíveis grandes diferenças entre o grupo de controle e o grupo de pesquisa. O
item melhor avaliado (iluminação natural) e o pior avaliado (segurança) são os mesmos em
ambos os grupos. Os resultados são demonstrados, a seguir, por meio da tabela com o grau
de satisfação e o percentual de cada uma das respostas, de uma tabela comparativa entre
as médias, o desvio padrão e a moda, e do diagrama de Paretto do grupo de controle e do
grupo de pesquisa.
Tabela 22 – Avaliação dos entrevistados sobre a edificação
QUESTÃO
ÓTIMO=4
%
BOM = 3
%
RUIM = 2
%
PÉSSIMO = 1
%
NSA(*)
%
Tamanho Ambientes
46,7 43,3 6,7 3,3 0,0
Tamanho Dormitório 1
50,0 36,7 10,0 0,0 3,3
Tamanho Dormitório 2
40,0 33,3 0,0 0,0 26,7
Tamanho Dormitório 3
20,0 13,3 0,0 0,0 66,7
Tamanho Sala
40,0 53,3 3,3 0,0 3,3
Tamanho Cozinha
63,3 23,3 10,0 0,0 3,3
Tamanho Bwc 1
56,7 40,0 0,0 0,0 3,3
Tamanho Bwc 2
10,0 6,7 0,0 0,0 83,3
Tamanho A. Serv.
6,7 20,0 6,7 0,0 66,7
Segurança c/ crimes
16,7 43,3 30,0 10,0 0,0
Circulação Integração
56,7 40,0 3,3 0,0 0,0
Conforto Térm. Inverno
36,7 20,0 6,7 6,7 30,0
Conforto Térm. Verão
43,3 23,3 23,3 10,0 0,0
Iluminação Natural
93,3 6,7 0,0 0,0 0,0
Privacidade
53,3 23,3 10,0 6,7 6,7
Nível de ruído
66,7 20,0 6,7 3,3 3,3
Aparência da casa
56,7 26,7 10,0 6,7 0,0
Espaço Livre
63,3 23,3 10,0 3,3 0,0
(*) Não se aplica.
174
Tabela 23 – Comparação da média, desvio padrão e moda
QUESTÃO
MÉDIA DESVIO
PADRÃO
MODA
Quantidade ambientes
3,33 0,76 4
Tamanho Dormitório 1
3,41 0,68 4
Tamanho Dormitório 2
3,55 0,51 4
Tamanho Dormitório 3
3,60 0,52 4
Tamanho Cozinha
3,38 0,56 3
Tamanho Sala
3,55 0,69 4
Tamanho Bwc 1
3,59 0,50 4
Tamanho Bwc 2
3,60 0,55 4
Tamanho A. Serv.
3,00 0,67 3
Tamanho Garagem
4,00 0,00 4
Tamanho Varanda
2,67 0,58 3
Segurança c/ crimes
2,67 0,88 3
Circulação Integração
3,53 0,57 4
Conforto Térm. Inverno
3,20 1,01 4
Conforto Térm. Verão
2,97 1,05 4
Iluminação Natural
3,93 0,25 4
Privacidade
3,32 0,94 4
Nível de ruído
3,55 0,78 4
Aparência da casa
3,33 0,92 4
Espaço Livre
3,47 0,82 4
1,00 2,00 3,00 4,00
Segurança c/ Crimes
Conforto Térm. Verão
Aparência da casa
Quantidade de Ambientes
Privacidade
Tamanho Dormitório 1
Tamanho Sala
Espaço livre
Tamanho Cozinha
Conforto Térm. Inverno
Nível de ruído
Circulação Integração
Tamanho Bwc 1
Tamanho Dormitório 2
Iluminação Natural
G
RUPO CONTROLE
1,00 2,00 3,00 4,00
Segurança c/ Crimes
Conforto Térm. Inverno
Conforto Térm. Verão
Tamanho Dormitório 2
Privacidade
Quantidade de Ambientes
Tamanho Sala
Circulação Integração
Espaço livre
Tamanho Dormitório 1
Tamanho Bwc 1
Nível de ruído
Aparência da casa
Tamanho Cozinha
Iluminação Natural
G
RUPO PESQUISA
Gráfico 14 – Diagrama de Paretto sobre a média das avaliações da edificação.
175
6.7.4 AVALIAÇÃO DA INFRA-ESTRUTURA E DOS SERVIÇOS URBANOS
A escala de valores utilizada na avaliação da infra-estrutura e dos serviços
urbanos é a mesma empregada na avaliação da habitação. Apesar de em sua maioria as
respostas serem bom e ótimo, foram detectados itens que tiveram uma avaliação mais
negativa, ao contrário da avaliação da habitação. Certas questões - como espaços
destinados ao lazer e à saúde - tiveram uma quantidade maior de respostas negativas. As
questões melhor avaliadas foram o abastecimento de água e de energia elétrica,
demonstrando que esses aspectos continuam sendo os que possuem a melhor avaliação na
percepção dos usuários do Projeto Casa Fácil (IMAI, 2000). Alguns itens tiveram baixo
índice de respostas, por não se aplicarem ao caso de diversas famílias, como são os casos
da creche e da escola, em maior grau, e aos aspectos de lazer e saúde, em menor
quantidade. O fato de diversas pessoas habitarem há pouco tempo a atual moradia fez com
que as respostas indicassem um desconhecimento sobre esses aspectos e ainda certa
vinculação com a antiga região de origem.
Os resultados são demonstrados, a seguir, por meio da tabela com o grau
de satisfação e o percentual de cada uma das respostas, do diagrama de Paretto e uma
tabela comparativa entre as médias, o desvio padrão e a moda para cada uma das
questões.
Tabela 24 – Avaliação dos entrevistados sobre a serviços públicos e infra-estrutura
QUESTÃO
ÓTIMO=4
%
BOM = 3
%
RUIM = 2
%
PÉSSIMO = 1
%
NSA(*)
%
Água 60,0 26,7 6,7 3,3 3,3
Esgoto 40,0 36,7 13,3 10,0 0,0
Lixo 43,3 46,7 10,0 0,0 0,0
Energia 70,0 26,7 0,0 0,0 3,3
Pavimentação 56,7 30,0 6,7 6,7 0,0
Escola 13,3 13,3 10,0 0,0 63,3
Creche 3,3 3,3 0,0 0,0 93,3
Lazer 13,3 13,3 30,0 23,3 20,0
Comércio 26,7 33,3 23,3 13,3 3,3
Transporte 46,7 26,7 16,7 3,3 6,7
Saúde 16,7 20,0 20,0 26,7 16,7
(*) Não se aplica.
176
1,00 2,00 3,00 4,00
Energia
Água
Pavimentão
Lixo
Transporte
Escola
Esgoto
Comércio
Saúde
Lazer
Gráfico 15 – Diagrama de Paretto sobre a média das avaliações dos serviços públicos e infra-estrutura
Tabela 25 – Comparação da média, desvio padrão e moda
QUESTÃO
MÉDIA DESVIO
PADRÃO
MODA
Lazer 2,21 1,06 2
Saúde 2,32 1,14 1
Comércio
2,76 1,02 3
Esgoto 3,07 0,98 4
Escola 3,09 0,83 4
Transporte 3,25 0,89 4
Lixo 3,33 0,66 3
Pavimentação 3,37 0,89 4
Água 3,48 0,78 4
Creche 3,50 0,71 3 e 4
Energia 3,72 0,45 4
6.7.5 DESCRIÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS TÉCNICO–CONSTRUTIVAS
6.7.5.1 Pisos
O tipo de piso predominante nas habitações da pesquisa é o cerâmico,
encontrado em 71,70% dos casos, seguido pelo piso cimentado sem acabamento em
177
20,75% das moradias. Foram detectadas patologias em 36,67% dos casos, sendo que os
maiores problemas foram relativos ao nível e à má execução.
Cemico
71,70%
Madeira
1,8 9 %
Outros
5,66%
Cimentado
20,75%
Nível
43,75%
Fissuras
12 ,5 0 %
Manchas
18 ,7 5 %
-
execão
25,00%
Gráfico 16 – Tipo de piso Gráfico 17 – Patologias do pisos
6.7.5.2 Paredes
O sistema construtivo empregado em todos os casos adota o uso de
blocos cerâmicos de vedação. Nesse aspecto percebe-se que o emprego de outras técnicas
e materiais não possui penetração dentro desse grupo de usuários. Mesmo em um aspecto
básico como a execução de paredes, percebe-se certa deficiência na qualidade da mão-de-
obra empregada, aliada, em alguns casos, a uma construção inacabada e precária. Em
cerca de 56,67% das edificações foram encontrados os mais variados problemas de
patologia construtiva, tais como manchas, umidade, fissuras, prumo, má-execução e
ausência de esquadro.
178
Esquadro
6,45%
Pr umo
16,13%
Fissuras
19,35%
Umidade
19,35%
Manchas
25,81%
-
execão
12,90%
Gráfico 18 – Patologias das paredes
6.7.5.3 Revestimentos internos
Os tipos de revestimento mais encontrados nas habitações pesquisadas,
em respostas que poderiam ter múltiplas escolhas, foram o reboco, a pintura e o azulejo.
Apenas em 4,35% dos casos foram encontrados ambientes nas edificações que não
possuíam nenhum tipo de revestimento. Foram encontradas patologias em 46,67% dos
casos, distribuídas principalmente entre problemas de umidade, manchas e fissuras.
Sem revest.
4,35%
Reboco
44,93%
Pintura
21,74%
Azulejo
28,99%
Fissuras
18 , 18 %
Umidade
31,82%
Manchas
31,82%
Outros
18 , 18 %
Gráfico 19 – Tipos de revestimentos internos Gráfico 20 – Patologias dos revestimentos internos
179
6.7.5.4 Revestimentos externos
No aspecto dos revestimentos externos, o principal caso encontrado foi o
da inexistência, parcial ou total, de revestimentos, sendo também encontrados casos de
edificações com chapisco e reboco sem pintura. O caráter inacabado das habitações é
perceptível quando observamos que apenas 10,87% dos casos possuem parte ou todas as
paredes externas pintadas. Foram detectadas patologias em cerca de 40,00% das
moradias, sendo as mais comuns a presença de manchas, má execução, fissuras e
umidade.
Pintura
10 ,8 7 %
Chapisco
19 ,5 7 %
Reboco
32,61%
Sem revest.
36,96%
Fissuras
27,78%
-
execão
22,22%
Manchas
44,44%
Umidade
5,56%
Gráfico 21 – Tipos de revest. externos Gráfico 22 – Patologias dos revest. externos
6.7.5.5 Cobertura
Entre os variados tipos de cobertura encontrados nas habitações
pesquisadas percebe-se uma maior quantidade de habitações com laje, geralmente
conjugada com algum tipo de telha, encontrada em 76,21% dos casos. Muitos dos
moradores que possuíam apenas laje indicaram o desejo de complementar a cobertura com
algum tipo de telha. A execução de uma cobertura com laje é, muitas vezes, considerada
por esses moradores como um elemento que agrega qualidade à sua edificação,
principalmente pelo conforto térmico e acústico e pela manutenção desse tipo de solução.
Comparativamente às habitações do Projeto Casa Fácil pesquisadas anteriormente (IMAI,
180
2000), verifica-se um incremento na quantidade de casas com laje, que na pesquisa anterior
representavam cerca de 53,19% dos casos.
Cerca de 60,00% dos casos apresentaram patologias das mais variadas,
destacando-se a ausência de rufos, vazamentos, inclinações insuficientes, ausência de
dutos pluviais e falta de isolamento térmicos, entre outros. Em dois casos foram detectados
um padrão de qualidade superior ao normalmente empregado nessas edificações e a
utilização de estrutura metálica na cobertura.
Forro/ t. barro
9,09%
T. fibrocimento
9,09%
Laje
18,18%
Laje/ t.barro
27,27%
Laje / t.
fibrocimento
27,27%
Outros
9,09%
Outros
8,33%
Iso lam.
rmico
11,11%
Auncia
dutos
pluviais
11,11%
Inclinação
insuficiente
13 ,8 9 %
Vazamento
13 ,8 9 %
Ausência
rufos
25,00%
-
execão
8,33%
Beiral
pequeno
8,33%
Gráfico 23 – Tipos de Cobertura Gráfico 24 – Patologias das coberturas
6.7.5.6 Estrutura
Em todas as habitações pesquisadas foi encontrado o sistema de estrutura
independente em concreto armado com vedação com tijolos cerâmicos. Em cerca de
43,33% dos casos foram encontradas patologias na estrutura, sendo as principais a falha na
argamassa do concreto, deixando partes da armadura aparente, e a existência de pequenas
fissuras e trincas na estrutura.
181
Fissuras e
trincas
31,58%
Ausência
vigas
5,26%
Armadura
aparente
57,89%
Deformão
5,26%
Gráfico 25 – Patologias nas estruturas
6.7.5.7 Esquadrias
Os principais tipos de esquadrias encontrados foram as esquadrias
metálicas de ferro, geralmente pré-fabricadas, encontradas em todas as janelas das
habitações e em cerca de 42,55% das portas, sendo que as demais, geralmente internas,
eram de madeira. Os sistemas de abertura geralmente são de janelas de correr e/ou
basculantes e portas de abrir, sendo encontrados alguns poucos casos de portas de correr.
Em cerca de 67,50% dos casos foram detectados problemas dos mais variados,
principalmente a inexistência de pingadeiras, a falta de estanqueidade e falta de segurança
decorrente da fragilidade de algumas esquadrias. Em dois casos isolados foram
encontradas esquadrias de um padrão de qualidade mais sofisticado, executadas pelos
próprios moradores ou adquiridas no mercado.
182
Correr
58,82%
Basculante
35,29%
Maxim-mar
5,88%
Outros
17,39%
Não estanque
13 ,0 4 %
Falta
segurança
15,22%
Inexist.
Pingadeira
54,35%
Gráfico 26 – Sistemas de abertura Gráfico 27 – Patologias das esquadrias
6.7.5.8 Áreas livres do terreno
As áreas livres dos terrenos apresentam-se, de maneira geral, sem o
calçamento externo do passeio (56,67%), sem um piso de acesso entre a calçada e a
edificação (70,00%) e sem nenhum tipo de jardim nas áreas livres do terreno (86,67%). A
prioridade da conclusão da edificação é perceptível quando se observa que a maioria das
pessoas estão satisfeitas com a área livre do terreno, mesmo que efetivamente não estejam
fazendo nenhum uso específico dessas áreas que não seja o simples acesso, muitas vezes
precário, à sua moradia. A forma como essas áreas livres estão sendo ocupadas indica a
impossibilidade, em 60,00% dos casos, de utilização dessas áreas como local de descanso
e lazer (mesmo que de forma passiva). O descaso com esses espaços, em alguns casos, é
perceptível quando observamos problemas de erosão (26,67%) e de contenção inadequada
do terreno (30,00%). Apesar desses problemas, foi encontrado apenas um caso de mato no
terreno, indicando cuidado com sua manutenção por parte do morador e, em alguns casos,
um cuidado maior com o uso efetivo dessas áreas, por meio da implantação de hortas.
183
Outros
1,0 0 %
Erosão
8,00%
Contenção
9,00%
Ausência
Caamento
passeio
17 ,0 0 %
Auncia a.
lazer
18 ,0 0 %
Ausência
Calçamento
acesso
21,00%
Auncia
vegetação
26,00%
Gráfico 28 – Características das áreas livres do terreno (respostas múltiplas)
6.7.5.9 Caixa d’água e instalações de telefonia e Internet
A maioria das edificações avaliadas não apresenta maiores problemas em
relação à caixa d’água (60,00%), com exceção, em alguns casos, de dificuldade de acesso
para manutenção (20,00%) e da simples ausência de caixa d’água em outros casos
(20,0%).
Em relação às instalações de telefonia e Internet observou-se que a
maioria das pessoas possui algum tipo de telefone (93,33%). Das pessoas que possuíam
telefone, cerca de 17,85% tinham apenas telefone fixo, 39,30% tinham apenas telefone
móvel e cerca de 42,85% tinham ambos. Em apenas 6,67% dos casos foi encontrado o uso
de internet conectado com a linha telefônica.
184
6.7.5.10 Instalações elétricas e hidráulicas
Os problemas perceptíveis nas instalações elétricas das residências
referem-se principalmente à insuficiência de pontos e à sua má distribuição. Em cerca de
46,67% das habitações pesquisadas não foram detectados problemas significativos, sendo
que em alguns casos (6,67%) observou-se, além de uma instalação adequada, o emprego
de produtos de padrão de qualidade superior, quando comparados com os produtos de
padrão “popular” normalmente empregados nessas residências.
As instalações hidráulicas geralmente não apresentaram problemas
(93,67%), sendo encontrados apenas casos de desgaste de metais e de instalações
executadas de forma precária.
Insuficiência
pontos
59,09%
-
distribuão
27,27%
Outros
13 ,6 4 %
Gráfico 29 – Patologias das instalações elétricas.
185
6.8 CARACTERÍSTICAS DAS HABITAÇÕES DO PROJETO CASA FÁCIL
As habitações desenvolvidas pelo Projeto Casa Fácil apresentam uma
grande diversidade de soluções individuais, porém, em alguns casos, essas configurações
diferenciam-se apenas por pequenas alterações nas suas dimensões e nos seus formatos.
Dessa forma, os projetos foram classificados por tipologias funcionais, conforme descrito
anteriormente. Dentre os modelos de projeto, a opção pela edícula foi encontrada em 8,8%
dos casos no grupo de pesquisa e em 7,7% dos casos do grupo de controle. Este tipo de
solução, que indica uma clara intenção, por parte do usuário, de executar uma moradia de
menor custo e de caráter provisório, apresenta uma diminuição em relação à pesquisa
anterior (IMAI, 2000) onde representava 23,2% dos casos. Essa mudança nos hábitos dos
usuários pode indicar diversas motivações, como uma possível melhoria nos aspectos
sociofinanceiros deste grupo de moradores, porém também pode indicar uma mudança na
forma de abordagem dos projetistas (claramente contrária ao emprego da solução da
edícula), que buscam induzir os moradores a executar a moradia em etapas.
A alteração dos hábitos dos usuários pode ser considerada como uma
evolução natural da mudança da sociedade e do contexto, e pode ser identificada no
emprego da varanda, que era uma solução bastante característica do repertório
arquitetônico das casas de madeira da região (ZANI, 1989; 1997) e que teve uma
diminuição significativa nas habitações atuais. Apesar de o foco da moradia se transferir
para o espaço interno, dentro das suas necessidades dimensionais (IMAI, 2000), o interesse
pela varanda e/ou alpendre ainda permanece em alguns casos específicos, quando esse
espaço possui grande importância para o usuário e não significa reduzir o dimensionamento
interno da habitação.
Outro aspecto que pode ser identificado é o maior emprego da solução de
edificações geminadas, que até alguns anos atrás praticamente não era empregada, e no
levantamento atual passou a representar 10,7% dos casos do grupo de pesquisa e 15,4%
dos casos do grupo de controle. Este tipo de habitação geralmente é utilizado dentro de um
grupo familiar que adquire um terreno e o subdivide para a execução de duas unidades,
demonstrando também uma busca pela diminuição dos custos.
186
As demais configurações espaciais encontradas se referem, basicamente,
à presença de dois dormitórios (33,3% no grupo de pesquisa e 37,8% no grupo de controle)
e de três dormitórios (47,2% no grupo de pesquisa e 35,9% no grupo de controle). Convém
ressaltar que alguns dos casos de habitações com dois ou três dormitórios possuem a
previsão de execução em etapas, não sendo, portanto, a tipologia encontrada em um
estágio inicial da moradia. Apesar da diferença de quantidade de projetos com três
dormitórios entre os dois grupos, não é possível identificar que o processo projetual possa
ter interferido na definição das tipologias.
As limitações existentes no tocante à legislação local e aos parâmetros do
Projeto Casa Fácil apresentam-se como fortes indutores ou limitadores das soluções de
projeto. O principal aspecto que configura esses projetos é a limitação da área máxima
permitida para este programa, que é compreendido como de cunho social e por isso não
permite a execução de habitações maiores do que 70,0m² de área construída. Outra
questão que deve ser considerada é o fato de que a legislação municipal prevê dez metros
como a largura mínima para o lote. Este aspecto leva os empreendedores privados, que
executam os loteamentos, a buscar o máximo possível de lotes com esta largura, sendo
praticamente uma constante na maioria dos empreendimentos encontrados na periferia da
cidade.
187
GRUPO PESQUISA 01
GRUPO PESQUISA 01
GRUPO PESQUISA 02
GRUPO PESQUISA 02
GRUPO PESQUISA 03
GRUPO PESQUISA 03
GRUPO PESQUISA 04
GRUPO PESQUISA 04
GRUPO PESQUISA 05
GRUPO PESQUISA 05
GRUPO PESQUISA 06
GRUPO PESQUISA 06
GRUPO PESQUISA 07
GRUPO PESQUISA 07
0 5 10 M
N
V
N
V
N
V
N
V
N
V
N
V
N
V
Figura 18 – Implantação das habitações pesquisadas e o corte esquemático do terreno A.
188
GRUPO PESQUISA 08
GRUPO PESQUISA 08
GRUPO PESQUISA 09
GRUPO PESQUISA 09
GRUPO PESQUISA 10
GRUPO PESQUISA10
GRUPO PESQUISA 11
GRUPO PESQUISA 11
GRUPO PESQUISA 12
GRUPO PESQUISA 12
GRUPO PESQUISA 13
GRUPO PESQUISA 13
GRUPO PESQUISA 14
GRUPO PESQUISA 14
GRUPO PESQUISA 15
GRUPO PESQUISA 15
0510 M
N
V
N
V
N
V
N
V
N
V
N
V
N
V
N
V
Figura 19 – Implantação das habitações pesquisadas e o corte esquemático do terreno B.
189
GRUPO CONTROLE 07
GRUPO CONTROLE 07
GRUPO CONTROLE 06
GRUPO CONTROLE 06
GRUPO CONTROLE 05
GRUPO CONTROLE 05
GRUPO CONTROLE 04
GRUPO CONTROLE 04
GRUPO CONTROLE 03
GRUPO CONTROLE 03
GRUPO CONTROLE 02
GRUPO CONTROLE 02
GRUPO CONTROLE 01
GRUPO CONTROLE 01
0 5 10 M
N
V
N
V
N
V
N
V
N
V
N
V
N
V
Figura 20 – Implantação das habitações pesquisadas e o corte esquemático do terreno C.
190
GRUPO CONTROLE 15
GRUPO CONTROLE 15
GRUPO CONTROLE 14
GRUPO CONTROLE 14
0510 M
GRUPO CONTROLE 13
GRUPO CONTROLE 13
GRUPO CONTROLE 12
GRUPO CONTROLE 12
GRUPO CONTROLE 11
GRUPO CONTROLE 11
GRUPO CONTROLE 10
GRUPO CONTROLE 10
GRUPO CONTROLE 09
GRUPO CONTROLE 09
GRUPO CONTROLE 08
GRUPO CONTROLE 08
N
V
N
V
N
V
N
V
N
V
N
V
N
V
N
V
Figura 21 – Implantação das habitações pesquisadas e o corte esquemático do terreno D.
191
A implantação das habitações nos terrenos indica, em alguns casos, o
interesse do usuário pela possibilidade de possuir a área frontal do terreno livre, ou pela
motivação de um quintal grande, ou pelo desejo de executar outra edificação nesse local.
Podemos identificar dois casos com essas características no grupo de pesquisa (ver
habitações 6 e 7 na figura 20) e dois casos no grupo de controle (ver habitação 5 na figura
18 e a habitação 9 na figura 19), indicando que a habitação executada pode ter uma
imagem de moradia efetivamente provisória para seus usuários, a ser substituída em um
futuro “hipotético”, quando da execução da moradia definitiva.
Outro aspecto que pode ser observado é que a maior parte das habitações
pesquisadas não efetuou grandes modificações no perfil topográfico original do terreno, em
grande parte devido ao fato de a maioria dos lotes não possuir grandes declividades. Nos
casos em que os terrenos possuíam declividades mais acentuadas, a maioria das soluções
simplesmente empregou cortes e aterros significativos, com uma grande movimentação de
terra (ver a habitação 03 na figura 18, as habitações 10 e 12 na figura 19 e a habitação 02
na figura 20). Em apenas um caso (ver habitação 02 na figura 18) o perfil topográfico foi
utilizado para a execução de uma espécie de “porão” no pavimento inferior da edificação. As
características dos terrenos podem influenciar na alteração do próprio dimensionamento do
projeto da habitação, durante sua execução, conforme veremos adiante (ver quadro 12 no
capítulo 7).
O aspecto do dimensionamento das habitações pesquisadas pode indicar
um importante critério para a avaliação da qualidade habitacional. Esses indicadores de
desempenho funcional são empregados, por diversos autores, há algum tempo, como
padrões referenciais para condições mínimas de habitabilidade da moradia social (PORTAS,
1969; ROSSO, 1980; SILVA, 1982; BOUERI, 1991; entre outros). O trabalho de Rosso, por
exemplo, cita diversos outros autores como referência dimensional, tais como Blacherè e
Lauwe, que indicam áreas úteis (como referencial mínimo) que variam de 8,0 m
2
a 14,0 m
2
por morador. Alguns autores indicam padrões referenciais que servem como base para a
definição de normas mais abrangentes (PEDRO, 2006) ou como manuais técnicos
referenciais para a execução de empreendimentos habitacionais (IPT, 1987; CDHU, 1997).
Essas publicações indicam as dimensões mínimas que devem ser empregadas no espaço
útil das habitações, mas também podemos encontrar um exemplo de manual técnico que
não indica a área útil mínima, mas sim a quantidade mínima de móveis e equipamentos,
com suas dimensões e definições de áreas de uso, que devem ser contempladas em cada
ambiente da habitação (CEF, 2002).
192
Tabela 26– Área útil total recomendada para a habitação em m
2
por manuais técnicos e por normas (dormitórios,
salas, cozinha, banheiro e área de serviço).
Fonte de critérios
1 dorm. / 2 moradores 2 dorm. / 4 moradores 3 dorm. / 6 moradores
IPT (1) 35,00 43,00 51,00
CDHU (2) 32,44 36,15 51,72
Pedro (3) 43,00 59,20 75,00
Coelho e Pedro (4) 36,00 56,00 76,00
Fontes: (1) Manual de Tipologias de projeto - IPT, 1987; (2) Caderno de Tipologias - CDHU, 1997; (3) Revisão das áreas
mínimas da habitação definidas pelo Regulamento Geral das Edificações Urbanas de Portugal - Pedro, 2006; (4) Ministério das
Obras Públicas e Urbanismo da Espanha - Coelho e Pedro, 1998.
As habitações pesquisadas possuem, em média, uma área útil por
habitante de 20,40m
2
no grupo de pesquisa (com uma média de 3,27 moradores por
habitação) e 17,58 m
2
no grupo de controle (com uma média de 3,60 moradores por
habitação). Esses valores atendem às recomendações dos diferentes autores listados
anteriormente. Foram identificados, no entanto, dois casos (um em cada grupo) que
apresentaram valores mínimos muito abaixo do recomendado (ver tabelas 27 e 28).
Também houve oito casos (quatro de cada grupo) em que não foi atingido o mínimo de área
útil por morador recomendado por Pedro (2006), em sua maior parte formados por grupos
familiares que apresentam quatro ou mais moradores na habitação. As áreas das
habitações executadas ficaram, em média, muito próximas do que os projetos originais
previam, devido ao fato de que as edificações foram executadas e ocupadas recentemente,
não havendo tempo hábil, em muitos casos, para a execução de reformas ou ampliações.
Tabela 27 – Relação das áreas e quantidade de pessoas levantadas no grupo de pesquisa.
Área útil total
(m
2
)
Área constr.
total (m
2
)
Área constr.
original (m
2
)
Pessoas por
habitação
Área útil por
pessoa (m
2
)
VALOR MÉDIO 57,16 67,09 64,48 3,27 20,40
VALOR MÁXIMO 95,08 105,86 70,00 7,00 36,40
VALOR MÍNIMO 35,12 40,11 38,77 2,00 5,86
Tabela 28 – Relação das áreas e quantidade de pessoas levantadas no grupo de controle.
Área útil total
(m
2
)
Área constr.
total (m
2
)
Área constr.
original (m
2
)
Pessoas por
habitação
Área útil por
pessoa (m
2
)
VALOR MÉDIO 54,66 64,16 67,40 3,60 17,58
VALOR MÁXIMO 80,56 91,30 70,00 8,00 40,28
VALOR MÍNIMO 33,12 41,05 51,80 2,00 4,90
193
As características dimensionais, ainda que importantes para delimitar o
projeto da habitação, aparentemente não possuem grande influência na satisfação dos
moradores. O pouco tempo de ocupação média das residências (que não permite vivenciar
de forma plena todos os possíveis problemas perceptíveis com o passar do tempo),
provavelmente teve certo impacto na forma positiva como as habitações foram avaliadas,
pois os resultados demonstram que as pessoas estão satisfeitas com o produto final da sua
moradia.
A avaliação positiva das residências por parte de seus moradores também
não demonstra grandes diferenças entre o grupo de pesquisa e o grupo de controle. O fato
de terem alcançado uma importante meta, fonte de aspirações e de desejos - a casa própria
- também deve ser considerada como um fator da satisfação dos moradores. Qualquer
aspecto negativo é parcial ou totalmente eclipsado pela estabilidade fornecida pela posse do
imóvel. Ao proprietário não é possível imaginar que sua moradia possa ter problemas, pois
ela é, por si própria, a solução do problema.
Outro aspecto que deve ser considerado é que as pessoas sempre tendem
a comparar sua situação atual com suas experiências anteriores. A percepção da qualidade
de uma habitação, do ponto de vista dos moradores, é geralmente baseada em uma análise
comparativa com a moradia, ou moradias, em que ele habitou, ou vivenciou, no decorrer de
sua vida. A percepção positiva é, portanto, altamente influenciada pelo nível em que a
moradia atual pode ser considerada melhor e mais adequada que a anterior. Da mesma
forma que muitas das necessidades e expectativas em relação ao projeto, apresentadas
pelos usuários no momento de sua elaboração, estão vinculadas ao desejo de não repetir
problemas vivenciados anteriormente em suas habitações, certos problemas podem surgir
em decorrência da falta de percepção dos aspectos espaciais e funcionais que determinada
solução de projeto possa acarretar.
As características das habitações executadas indicam que, apesar do
aspecto provisório e inacabado de algumas dessas moradias, existe uma previsão / intenção
de execução de acabamentos ou da adoção de soluções tidas como de melhor qualidade,
como no caso da execução da laje conjuntamente com algum tipo de telha. A adoção dessa
solução pela maioria dos usuários demonstra uma busca por agregar qualidade à habitação,
geralmente motivados por experiências prévias com problemas de manutenção, e de busca
de conforto ambiental, aliada ao aspecto social da adoção de uma solução que agrega valor
à edificação.
194
Mesmo quando os acabamentos da edificação ainda não foram feitos,
pode-se observar a intenção de executar uma série de melhorias na edificação e nas áreas
livres do terreno. As expectativas futuras dos moradores, venham ou não a ser
concretizadas, indicam uma idealização do espaço, um sonho que é planejado para ser
executado em etapas. Em alguns casos podemos identificar que uma parcela desses
usuários teve condições de executar as moradias em estágios mais avançados de
finalização, porém ainda indicando o desejo em executar algum tipo de acabamento ou
complementação.
Foto 46 – Habitações que indicam a intenção / previsão de execução de acabamentos e melhorias.
195
Foto 47 – Habitações com melhor nível de acabamento e uso de materiais.
Algumas das edificações levantadas demonstram um padrão mais elevado
de qualidade em relação às demais, nos acabamentos, nas esquadrias e nas instalações
elétricas e hidráulicas da habitação. Essas características, além de evidenciarem uma
melhor condição financeira dessas famílias, indicam uma priorização de determinados
aspectos da moradia. Pode-se identificar uma evolução desses grupos familiares quando
comparados com os da pesquisa anterior (IMAI, 2000), tanto no aspecto do nível de
escolaridade quanto na renda familiar, ao mesmo tempo em que se pode identificar uma
modificação no núcleo familiar com uma menor quantidade de filhos e de moradores por
habitação. Estes aspectos podem indicar, ainda que não de maneira homogênea e
constante, a possibilidade de um maior investimento de recursos e de esforços na produção
da habitação. Essa busca é muitas vezes perceptível na própria definição programática da
habitação, que adquire uma maior quantidade de cômodos, indicando um desejo implícito de
ascensão social (LEMOS, 2005). Essa definição é um dos motivos das escolhas dos
projetos alegados pelos usuários. Entre todos os motivos identificados, alguns indicam
aspectos que diferenciam o grupo de usuários que utilizou o modelo tridimensional daqueles
que visualizaram seu projeto por meio de representação bidimensional, conforme veremos
no próximo capítulo.
196
7 ANÁLISES E DIAGNÓSTICOS
7.1 A HABITAÇÃO E O PROJETO: AS ESCOLHAS E OS DESEJOS.
Os resultados descritos a seguir foram coletados durante as filmagens do
processo de projeto realizadas entre os meses de setembro de 2005 e julho de 2006 e
durante a aplicação da Avaliação Pós-Ocupação (APO) realizada no mês de dezembro de
2006, em uma amostra definida de acordo com os critérios descritos no capítulo 6º.
As análises realizadas referem-se ao conjunto das unidades objeto da
APO, buscando dar um panorama dos motivos das escolhas dos projetos e sua
conseqüente execução. Procurou-se também analisar de que forma e em que proporção
ocorreram modificações na obra, quais as suas motivações e origens e a maneira como elas
influenciaram na qualidade da edificação do ponto de vista técnico e de atendimento às
necessidades e à satisfação dos usuários. Foram ainda observadas as eventuais diferenças,
quando existentes, entre as habitações elaboradas no grupo de pesquisa e no grupo de
controle.
Os quadros demonstrados a seguir contêm trechos das entrevistas
realizadas com os moradores durante a APO e trechos das transcrições, realizadas pelo
autor desta tese, do atendimento durante a elaboração dos projetos do grupo de pesquisa.
As transcrições desses diálogos serão apresentadas em textos de cor azul, em fonte normal
e precedidas pelo código (P) para o(s) projetista(s) e (E) para o entrevistador, e na cor
vermelha, em fonte itálica e precedidas pelo código (U) para o(s) usuários(s). Os demais
textos referem-se às análises ou às observações efetuadas pelo autor desta tese. Os
quadros também possuem as plantas baixas dos projetos das habitações, com as sugestões
de mobiliário, e da edificação efetivamente executada, com o mobiliário existente no local.
Também são indicadas as áreas construídas do projeto e da habitação executada.
197
Quadro 1 – Habitação do Grupo de Pesquisa 1
N
V
BWC
3.22m²
DORMIT.
8.17m²
SALA
13.39m²
COZINHA
12.92m²
DORMITÓRIO
10.24m²
CIRC.
5.04m²
4.70
2.85
2.85
2.75
4.70
0.90
1.50
2.15
2.15
3.80
3.20
3.20
5.60
BWC
3.82m²
DORMIT.
8.10m²
SALA
13.44m²
COZINHA
13.44m²
DORMITÓRIO
10.89m²
CIRC.
5.04m²
4.80
2.80
3.10
2.80
4.80
0.90
1.70
2.25
2.25
3.60
3.30
3.30
5.60
PROJETO ORIGINAL
A= 61,57m2
012345 M
PROJETO EXECUTADO
A= 64,78m2
A habitação 01 do grupo de pesquisa foi
projetada em metade do terreno para ser
executada como casa geminada, sendo que
a outra metade ainda não foi executada. Ela
apresenta-se com a mesma configuração
elaborada no projeto, com algumas
pequenas modificações na locação dos
móveis e equipamentos em relação ao
sugerido pelo projeto.
U – Pretendo ampliar, aquele quarto do
fundo, já foi feito com estrutura para fazer um
segundo andar, e essa laje aqui também já
foi reforçada pra usar ela como terraço.
E – E, além disso, e do muro, tem mais
alguma coisa que o senhor quer fazer na
casa?
U – Só a pintura, a massa corrida,
acabamentos.
U – A parte que eu mais gosto da casa é a
sala.
U - A parte que eu menos gosto é a frente da
casa porque não está terminada, o quintal
que ainda nem tem muro.
198
Quadro 2 – Habitação do Grupo de Pesquisa 2
SALA/COZ.
18.72m²
DORMITÓRIO
10.95m²
B.W.C
4.20m²
SALA
13.02m²
DORMITÓRIO
9.62m²
B.W.C
3.06m²
CIRC.
1.50m²
5.20
3.60
3.00
1.40
3.00
3.65
COZINHA
18.72m²
DORMITÓRIO
10.95m²
B.W.C
4.20m²
5.20
3.60
1.40
3.00
3.10
4.20
1.30
2.35
3.50
2.75
SALA/COZ.
19.53m²
DORMITÓRIO
12.00m²
B.W.C
3.60m²
5.35
3.65
3.00
1.20
3.00
4.00
PROJETO ORIGINAL
A= 38,77m2
PROJETO ORIGINAL AMPLIADO
A= 69,44m2
012345 M
PROJETO EXECUTADO
A= 40,11m2
N
V
A habitação 02 do grupo de pesquisa foi
projetada para ser executada em duas
etapas, devido às condições financeiras dos
usuários. No atual estágio encontra-se em
uso a sua primeira etapa, que foi executada
praticamente com a mesma configuração do
projeto, com exceção da porta do banheiro,
que ficou na posição prevista no projeto de
ampliação.
U – Eu já tinha uma idéia e fiz um desenho,
mas eu não sabia que uma planta de casa
era feita de maneira totalmente diferente do
que eu fiz, não sabia que ela é feita como se
olhasse de cima pra dentro. Eu fiz o desenho
da casa olhando da frente do terreno para o
fundo, mas chegando lá, a gente teve outra
idéia totalmente diferente, que foi essa, ele
desenhou e a gente gostou e resolveu fazer
como estava lá, né? (...). A gente só via a
fachada. Por dentro a gente nem imaginava
como seria.
E – E em relação ao projeto, tem alguma
coisa que você diria?
U – Eu diria pra saber aproveitar melhor a
caída do terreno. Aqui, em vez de aterrar o
terreno, a gente fez um porão e não
gastamos dinheiro com aterro, eu acho que
saiu mais em conta do que se fosse aterrar.
Eu aconselharia quem tiver um terreno assim
pra fazer um porão, aproveita o terreno, né?
199
Quadro 3 – Habitação do Grupo de Pesquisa 3
CIRC.
1.42m²
VARANDA
8.07m²
3.10m²
BWC
COZINHA
11.05m²
DORMITÓRIO
10.54m²
11.00m²
DORMITÓRIO
13.45m²
SALA
3.55
4.35
3.10
3.10
3.10
3.40
2.30
3.40
3.30
1.35
3.25
3.48
2.52
2.12
CIRC.
1.74m²
VARANDA
7.71m²
2.88m²
BWC
COZINHA
11.29m²
DORMITÓRIO
10.74m²
11.72m²
DORMITÓRIO
15.07m²
SALA
3.50
4.50
3.35
3.16
3.40
2.10
3.40
3.32
1.37
3.31
3.73
2.32
1.90
A. SERV.
11.65m²
2.33
5.00
3.35
PROJETO ORIGINAL
A= 66,08m2
012345 M
PROJETO EXECUTADO
A= 81,87m2
N
V
A habitação 03 do grupo de pesquisa foi
executada seguindo a configuração do
projeto e com uma ampliação na área de
serviço. Um dos requisitos do usuário, no
processo de elaboração do projeto, era a
presença de uma varanda. Durante a
Avaliação Pós-Ocupação o usuário justificou
esse desejo em função da visualização da
paisagem, motivo pelo qual ele comprou
esse terreno em específico.
U - Agora não tem nada que eu não goste
(na habitação), por que eu fiz como eu
queria, então não tem como não gostar de
alguma coisa, né? É uma questão de amor e
carinho pela casa que eu fiz.
200
Quadro 4 – Habitação do Grupo de Pesquisa 4
DORMITÓRIO
13.36m²
DORMITÓRIO
7.93m²
COZINHA
10.47m²
SALA
10.85m²
DORMITÓRIO
10.83m²
BWC
3.50m²
CIRC.
3.06m²
3.05
1.40
3.55
2.50
2.60
3.05
3.05
4.10
3.95
2.65
3.95
3.00
3.05
DEPÓSITO
3.70m²
DORMITÓRIO
12.80m²
COZINHA
7.90m²
SALA
12.64m²
BWC
4.00m²
3.20
4.00
2.00
2.00
3.95
2.00
3.95
3.20
2.70
1.85
2.00
PROJETO ORIGINAL
A= 69,98m2
012345 M
PROJETO EXECUTADO
A= 47,46m2
NV
A habitação 04 do grupo de pesquisa foi
alterada significativamente em relação ao
projeto original. Apesar de ela não haver sido
planejada para ser executada em duas
etapas, o usuário executou apenas uma
parte. Segundo suas informações, embora
ele houvesse compreendido bem o projeto
durante sua elaboração, os aspectos
financeiros foram decisivos para as
modificações efetuadas.
U – Eu mudei o banheiro. É, na verdade, eu
pensei: já que vou ficar no fundo, vou fazer
um quartinho no fundo pra guardar
ferramentas, e esse banheiro aqui eu
transformo numa suíte pra mim e pra ela (...).
E – No projeto original esse banheiro existia
aqui ou não?
U – Não.
E - Então a casa original do desenho é daqui
pra lá?
U – É, é daqui pra lá.
E – Entendi. Mas já que o senhor fez essa
parte do fundo aqui, por que o senhor não
fez o projeto no tamanho original?
U – É que eu já tinha a madeira (na
dimensão da largura da habitação), a telha
que eu tinha não ia dar para fazer maior,
então eu achei esse jeito mais fácil, usar o
material que eu tinha, porque eu não podia
comprar!
201
Quadro 5 – Habitação do Grupo de Pesquisa 5
3.40
2.35
1.35
3.00
3.40
3.40
3.55
2.85
3.40
1.50
DORMITÓRIO
10.41m²
BWC
3.17m²
DORMITÓRIO
10.20m²
SALA
12.07m²
COZINHA
9.69m²
CIRC.
1.05m²
A.SERV.
5.32m²
3.40
3.55
3.40
2.35
1.35
3.00
3.45
3.40
3.20
3.30
3.40
1.55
DORMITÓRIO
11.73m²
BWC
3.17m²
DORMITÓRIO
10.20m²
SALA
10.88m²
COZINHA
11.22m²
CIRC.
1.41m²
A.SERV.
5.50m²
3.40
3.55
PROJETO ORIGINAL
A= 61,37m2
012345 M
PROJETO EXECUTADO
A=73,22m2
NV
A habitação 05 do grupo de pesquisa
apresenta-se com a mesma configuração do
projeto, porém com uma modificação na
dimensão da cozinha e da sala. Segundo o
usuário o motivo da modificação foi o fato de
a esposa, que não participou da elaboração
do projeto, considerar que a cozinha (menor
do que a sala) ficaria pequena. Podemos
considerar que a escala de prioridades
espaciais entre o casal é diferenciada e que
a ausência de um dos membros pode
representar a elaboração de um projeto que
não atenda às expectativas do outro.
E – O senhor mudou a casa em relação ao
projeto?
U – Mudei. Essa parede aqui da sala, eu fiz
ela diminuindo 50 cm da sala que ficou
grande, pra aumentar 50 cm na cozinha que
ficou pequena. Foi sugestão da minha
esposa.
E – E como vocês perceberam isso? Pelo
desenho ou pela maquete?
U – Ela viu pelo desenho e pelas fotos da
maquete montada, com os móveis dentro, e
daí deu para ter uma noção. Ela viu a sala e
achou que a cozinha ficou um pouco menor.
202
Quadro 6 – Habitação do Grupo de Pesquisa 6
10.37m
DORMITÓRIO
10.72m²
SALA
COZINHA
12.64m²
BANHO
3.05m²
CIRC.
1.17m²
9.52m²
DORMITÓRIO
3.20
3.40
2.35
3.403.20
2.40
3.95
3.00
3.35
3051.30280
10.37m²
DORMITÓRIO
10.72m²
SALA
COZINHA
12.64m²
BANHO
3.05m²
CIRC.
1.17m²
9.52m²
DORMITÓRIO
3.20
3.40
2.25
3.40
3.20
5.30
4.38
1.50
4.38
3.65
8.33
1.50
3.25
A. SERV.
4.87m²
VARANDA
27.07m²
PROJETO ORIGINAL
A= 68,27m2
012345 M
PROJETO EXECUTADO
A= 105,86m2
NV
A habitação 06 apresenta-se com a mesma
configuração do projeto, porém com
ampliação nas dimensões de praticamente
todos os ambientes. O fato de na moradia
existirem dois grupos familiares
provavelmente contribuiu para a ampliação.
A usuária alega ter consultado “a prefeitura”
para saber se seria possível executar a casa
com a área ampliada, porém não procurou o
Projeto Casa Fácil para realizar a
modificação, pois na sua concepção não
houve “alteração” no projeto, que continua
com o mesmo programa. A possível
informação recebida pela usuária foi
interpretada de acordo com seus interesses
e de maneira simplificada, inclusive na
execução da varanda, a qual, apesar de
irregular, ela afirma que foi executada
conforme “orientação”, o que efetivamente
não pôde ser comprovado.
203
Quadro 7 – Habitação do Grupo de Pesquisa 7
1.20
3.60
2.85
3.15
2.65
CIRC.
4.14m²
3.17m²
BWC
3.00m²
BWC
DORMITÓRIO
8.35m²
10.26m²
DORMITÓRIO
SALA
12.24m²
10.91m²
COZINHA
DORMITÓRIO
8.12m²
1.30m²
CIRC.
3.70
2.95
2.80
2.90
3.10
3.95
2.35
1.35
0.90
2.50
1.20
3.65
2.90
3.15
2.75
CIRC.
2.93m²
3.17m²
BWC
3.00m²
BWC
DORMITÓRIO
8.66m² 10.58m²
DORMITÓRIO
SALA
12.24m²
11.25m²
COZINHA
DORMITÓRIO
8.26m²
1.35m²
CIRC.
3.75
3.00
2.85
2.90
3.10
3.95
2.35
1.35
0.85
2.50
PROJETO ORIGINAL
A= 69,91m2
012345 M
PROJETO EXECUTADO
A= 70,99m2
N
V
A habitação 07 do grupo de pesquisa foi
executada seguindo a configuração e as
dimensões do projeto. Segundo a usuária, a
principal motivação para a escolha do projeto
foram os aspectos estéticos que essa
solução permitiu, pois considerou o projeto
“mais bonito”.
U - E quanto ao material pra construir, deve
ser um material melhor, isso tem que
pesquisar com alguém que entende, né?
Tem que contratar um bom pedreiro. Nós
tivemos problemas com isso, ele fez o
telhado muito mal feito e o vento arrancou
com madeiramento e tudo, alagou toda a
casa. Tivemos que refazer todo o telhado de
novo.
204
Quadro 8 – Habitação do Grupo de Pesquisa 8
SALA
13.83m²
COPA/COZINHA
12.78m²
BWC
2.90m²
DORMITÓRIO
7.14m²
DORMITÓRIO
10.62m²
CIRC.
3.60m²
1.30
2.23
0.90
3.27
3.02
3.82
3.20
2.23
2.68
4.77
1.00
2.90
4.77
SALA
13.63m²
COPA/COZINHA
13.63m²
BWC
2.76m²
DORMITÓRIO
6.10m²
DORMITÓRIO
12.06m²
CIRC.
3.87m²
1.20
2.30
0.90
3.35
3.60
2.65
2.30
2.90
4.70
1.80
2.90
4.70
PROJETO ORIGINAL
A= 59,50m2
012345 M
PROJETO EXECUTADO
A= 60,10m2
N
V
A habitação 08 do grupo de pesquisa foi
executada seguindo a configuração do
projeto. Houve uma execução de parede-
balcão, não prevista originalmente, que
apesar de não finalizada na sua execução, já
se apresenta como um fator onde o usuário
explicita seu “sonho”, em relação à imagem
que ele cria da moradia. Ele afirma que faria
essa divisão interna diferentemente do que
de fato executou:
U - Eu faria essa repartição do meio
diferente, faria uma curva, aqui no meio da
sala. A divisão entre a sala e a cozinha eu
faria como um arco e aqui colocaria uma
bancada, ficaria mais bonito, né? Só mudaria
isso.
205
Quadro 9 – Habitação do Grupo de Pesquisa 9
8.58m²
COZINHA
14.70m²
VARANDA
11.11m²
SALA
CIRC.
1,35m²
3.30m²
BWC
11.70m²
DORMITÓRIO
4.35m²
A.SERV.
3.90
2.20
2.85
1.20
3.00
3.90
2.75
3.90
1.00
7.56m²
COZINHA
15.00m²
VARANDA
10.40m²
SALA
CIRC.
1,40m²
3.06m²
BWC
10.98m²
DORMITÓRIO
3.88m²
A.SERV.
3.60
2.10
2.90
1.25
3.05
3.60
2.45
3.60
0.90
1.85
2.35
7.35
2.00
1.85
0.80
2.10
PROJETO ORIGINAL
A= 62,00m2
012345 M
PROJETO EXECUTADO
A= 59,29m2
N
V
A habitação 09 do grupo de pesquisa foi
executada seguindo a configuração e as
dimensões do projeto. Devido às
preocupações com aspectos de segurança,
os usuários optaram por fechar a área de
serviço com uma esquadria, o que garantiria
a guarda da motocicleta que eles não
possuíam no momento da execução do
projeto. Dessa forma não foi executado o
fechamento entre a área de serviço e a
cozinha, pois os usuários consideraram que
isso poderia prejudicar os aspectos de
ventilação e iluminação.
U – É que fazendo assim, sem ser parede
inteira, dá a impressão de ter mais espaço.
206
Quadro 10 – Habitação do Grupo de Pesquisa 10
COZINHA
13.02m²
DORMITÓRIO
11.17m²
8.06m²
DORMITÓRIO
6.11m²
BWC
4.66m²
SALA
12.04m²
CIRC.
6.79m²
3.05
3.95
2.50
2.00
4.85
2.80
1.30
1.00
2.60
2.50
2.95
2.60
3.75
2.50
DORMITÓRIO
3.30
COZINHA
13.44m²
DORMITÓRIO
10.50m²
8.14m²
DORMITÓRIO
6.31m²
BWC
4.34m²
SALA
13.63m²
CIRC.
4.25m²
3.45
3.95
2.80
1.55
4.80
2.80
1.00
1.00
2.65
2.38
3.07
2.65
3.80
2.50
DORMITÓRIO
3.50
PROJETO ORIGINAL
A= 69,63m2
012345 M
PROJETO EXECUTADO
A= 69,76m2
N
V
A habitação 10 do grupo de pesquisa foi
executada seguindo a configuração do
projeto, porém com uma modificação nas
dimensões do banheiro que possuía a
função de atender a uma filha que utiliza
cadeira de rodas e que eventualmente visita
os pais. Os usuários consideraram as
dimensões do banheiro exageradas, pois
consideram que a visita ocasional da filha
não representa um fluxo de uso tão
significativo e optaram por ampliar a sala e
diminuir o banheiro.
U – É que antes a gente morava em uma
casa de dois quartos, e os quartos eram
grandes. Agora a gente queria três quartos,
por causa da minha menina deficiente, então
teve que deixar a circulação maior. Eu achei
que o meu quarto ficou pequeno, mas não é
por causa do projeto, é porque precisa
mesmo de mais espaço para circular.
207
Quadro 11 – Habitação do Grupo de Pesquisa 11
SALA
12.16m²
DORMITÓRIO
12.35m²
CIRC.
2.79m²
DORMITÓRIO
10.39m²
BWC
3.64m²
COZINHA
13.12m²
3.85
3.85
2.70
1.30 3.90
3.25
3.20
0.95
0.90
0.90
2.80
2.10
2.80
3.80
3.80
SALA
12.60m²
DORMITÓRIO
12.49m²
CIRC.
1.63m²
DORMITÓRIO
10.12m²
BWC
3.72m²
COZINHA
15.09m²
3.85
3.85
3.92
1.33
2.78
3.27
3.30
0.83
0.90
2.80
2.25
2.80
3.82
3.82
PROJETO ORIGINAL
A= 62,53m2
012345 M
PROJETO EXECUTADO
A= 63,71m2
NV
A habitação 11 foi alterada em sua
configuração original, com a inversão da
posição da cozinha e de um dormitório.
Essa configuração foi solicitação original
dos usuários, sendo inclusive montado um
modelo tridimensional dessa alternativa. Foi
também elaborado um segundo modelo,
que, após argumentação do projetista, foi
aceito pelos moradores (ver foto 48). As
duas principais condições solicitadas pela
usuária seriam a necessidade de controle
espacial externo e o desejo de privacidade
da porta do banheiro em relação à sala. No
projeto entregue, a condição de controle
espacial não foi atendida, o que levou os
usuários a tentarem retornar ao projeto
original no início da execução da obra.
Essa alteração significou a perda do
aspecto de privacidade do banheiro.
Convém ressaltar que o esboço original dos
usuários atendia a essas duas condições,
portanto, era totalmente adequado às
expectativas da usuária. A intenção do
projetista foi tentar aproximar a cozinha do
banheiro, para facilitar a execução das
instalações hidráulicas, e ao mesmo tempo
diminuir o tamanho do banheiro e/ou
circulação, considerados como uma área
“perdida” e melhorar as condições de
conforto térmico. Apesar de, sob esses
aspectos, essa posição possuir certa lógica,
nenhuma dessas condições havia sido
colocada como importante ou mesmo
necessária pelos usuários.
(continua na próxima página)
208
Continuação do Quadro 11.
Esses aspectos pertenciam mais ao
universo de prioridades do projetista do que
dos moradores. Dessa forma, o projetista
induz essas pessoas a um projeto que,
depois de modificado, não atende às
expectativas iniciais. As transcrições abaixo
demonstram de que forma ocorreu essa
indução.
Entrevista na Avaliação Pós-Ocupação
U – O quartinho estava aqui desse lado e a
cozinha lá, e aí a gente achou melhor colocar
a cozinha aqui.
E – Isso foi durante a obra?
U – É que o rascunho que a gente tinha feito,
tinha essa janelinha aqui (janela da cozinha
voltada para frente do terreno). Na hora que a
gente foi construir fez essa mudança. (...) A
gente trocou de lado. (...) Quando a gente foi
fazer o projeto, falaram para a gente assim:
ou coloca a cozinha aqui ou coloca do outro
lado.
E – E vocês decidiram mudar na hora que
estava construindo?
U – Foi na hora eu que eles foram medir
(locação da obra) que eles (marido e filho)
acharam melhor. Por aqui a gente pode ver a
rua e qualquer coisa, se a gente quiser
atender...
E – Aí vocês passaram o quarto e o banheiro
para o outro lado? No primeiro projeto, o
banheiro estava com a porta protegida, aí
quando inverteu o banheiro ficou com a porta
de frente para a sala?
U – Foi lá na idéia deles (marido e filho) que
aconteceu isso. Eu não gostei.
Elaboração do projeto
P1 – É, também pode inverter, né? Pode
fazer assim, desloca a janela um pouquinho
mais pra cá, a senhora está vendo aqui?
Agora a senhora tem uma cozinha bem
maior do que a cozinha que a senhora tinha
antes. No quarto continua cabendo duas
camas e um guarda-roupa de cinco portas
grandes. A janela do quarto fica voltada
para o sol da manhã, o quarto da senhora
está grande, a sala está imensa e a cozinha
ficou bem maior, a gente pode até mudar
aqui. A única questão é que daqui a
senhora vê a cozinha.
U2 – Não tem nada não. (...)
P1 – Se achar, né? E o banheiro, não ficou
tão grande quanto aquele, mas a senhora
também não precisa de um banheiro tão
grande, dá pra economizar. É um banheiro
bom aqui, olha. Agora aqui, o que é
importante pra vocês, inclusive, é que esse
banheiro perto da cozinha, toda a tubulação
de esgoto fica perto uma da outra, aí vocês
economizam na hora de fazer a casa e
gasta menos tubulação.
O processo do projeto pode ser observado no trecho da transcrição
colocada a seguir, onde são demonstrados o desenho original elaborado pelos moradores e
as duas opções de projetos demonstradas por meio do modelo tridimensional.
209
U1 – O maior problema aqui, é que ela não
quer... A gente jogou esse banheiro aqui lá
no canto, por que ela não quer que saia da
sala e tenha a visão do banheiro. (...)
P1 – Vocês querem colocar uma janelinha
aqui?
U1 – É?
P1 – Pra ver quem está chegando da rua?
U1 – É (...)
P1 – Vamos colocar os móveis aqui pra
eles, pra eles terem uma noção de espaço,
por que se a gente inverte aqui, esse quarto
da senhora, a gente pode colocar a janela
aqui e pegar sol, e essa cozinha sai pra cá.
Só que daí, pra sair da cozinha e vir pra cá,
tem que dar uma volta maior, tá? (...)
P1 – Ah, entendi. A senhora não quer que o
quarto saia direto na sala?
U1 – Pode ser no corredor.
U2 – É que a porta está aqui, daqui já sai na
sala, é isso que eu não quero.
P1 – Vamos mudar aqui só pra gente, só pra
vocês verem, se não gostar, volta pra essa
aqui, tá? Não tem problema não.
(desenvolvimento do projeto)
U1 – A única coisa boa da cozinha é essa
janelinha pra olhar da cozinha...
P1 – Lá fora, né?
U1 – Pra ver quem está no portão querendo
entrar, né?
U3 – Vai modificar só aqui, né? (inverter a
cozinha com o dormitório)
P1 – Isso, não muda nada. Só muda a
posição...
Foto 48 – Trecho do processo de projeto da habitação do Grupo de Pesquisa 11
210
Quadro 12 – Habitação do Grupo de Pesquisa 12
DORMITÓRIO
10.97m²
COZINHA
11.06m²
DORMITÓRIO
7.43m²
CIRC.
3.26m²
BWC
3.50m²
SALA
10.95m²
DORMITÓRIO
13.41m²
3.00
3.65
1.00
3.55
3.65
2.65
4.15
1.40
2.50
2.70
2.75
3.95
2.80
2.60
3.75
2.85
3.95
1.00
COZINHA
9.21m²
CIRC.
2.84m²
BWC
4.17m²
SALA
9.12m²
DORMITÓRIO
10.87m²
3.05
0.87
3.60
3.02
1.67
2.50
3.80
2.40
3.02
1.70
1.67
PROJETO ORIGINAL
A= 69,75m2
01 2 3 4 5 M
PROJETO EXECUTADO
A= 42,44m2
N
V
A habitação 12 do grupo de pesquisa foi
executada apenas parcialmente, apesar de o
projeto não prever a execução em etapas. O
usuário diminuiu o tamanho do dormitório
frontal e da sala, que foi adaptada para uso
de cozinha. O espaço destinado a outro
dormitório foi utilizado, de maneira
provisória, como sala, e o usuário ampliou o
tamanho do banheiro. A alegação de que
não possuía recursos financeiros para
executar a habitação, com um terreno que
demandaria uma grande movimentação de
terra, em função da topografia, levou o
usuário a diminuir as dimensões gerais dos
ambientes e executar a obra em etapas. A
percepção desses aspectos, segundo o
usuário, ocorreu no próprio momento da
elaboração do projeto, porém, de uma forma
despreocupada com o projeto “oficial”, ele
não abordou essas questões naquele
momento, adaptando-as diretamente no
local.
U – Na hora que eu peguei o projeto eu falei
pra minha mulher: esse banheiro eu vou dar
uma mudadinha nele, vou fazer um
pouquinho maior.
211
Quadro 13 – Habitação do Grupo de Pesquisa 13
SALA
11.18m²
CIRC.
3.06m²
COZINHA
12.28m²
DORMITÓRIO
11.03m²
DORMITÓRIO
6.00m²
DORMITÓRIO
8.67m²
BWC
3.05m²
LAVAND.
3.77m²
3.40
3.15
3.55
3.10
2.55
2.35
0.90
2.35
1.30
2.55
3.40
3.90
3.15
0.90
SALA
11.18m²
CIRC.
4.00m²
COZINHA
12.12m²
DORMITÓRIO
10.54m²
DORM.
5.85m²
DORMITÓRIO
8.67m²
BWC
2.81m²
LAVAND.
4.12m²
3.40
3.15
3.55
3.10
2.60
2.25
1.00
2.25
1.25
2.55
3.40
3.85
3.15
0.85
DEP.
13.09m²
3.85
3.40
PROJETO ORIGINAL
A= 67,79m2
012345 M
PROJETO EXECUTADO
A= 86,54m2
NV
A habitação 13 do grupo de pesquisa foi
executada seguindo a configuração original e
as dimensões do projeto. Durante a
elaboração do projeto as idéias iniciais do
usuário foram reformuladas em função da
impossibilidade de executá-lo da forma como
ele o havia esquematizado no seu esboço
inicial (ver foto 49).
U – Tem que escolher um bom pedreiro, com
experiência. O meu problema aqui foi o
pedreiro,ele parou de trabalhar com a gente
no meio da obra, tivemos que arrumar outro,
mas pra consertar o que ficou mal feito, aí já
tem que comprar mais material e aí vai...
Gastou mais material, mais pedreiro...
E – Então o conselho que a senhora daria é:
tome cuidado na hora de contratar a
pessoa?
U – É isso.
E – Então a casa não ficou do jeito que você
queria não por que a casa poderia ser
diferente, mas por causa do acabamento?
U – Não, o acabamento ficou muito mal
acabado.
E – Vocês esperavam que ficasse melhor?
U – É, porque a gente comprou tudo material
melhor, só que não resolveu...
212
O trecho da transcrição a seguir mostra o desenho original feito pelo
morador e a listagem dos ambientes, com suas respectivas dimensões, que indicam as
expectativas dos usuários em relação ao programa funcional da habitação.
U2 – A gente tinha pensado em fazer um
tipo de despensa, um quartinho fechado, e
a lavanderia e a garagem aí atrás.
P1 – Mas aí como é que você entra?
U1 – Entrava pela lateral.
P1 – Entrava na lateral e dava a volta aqui,
para o fundo?
U1 – Eu acho que ficaria melhor mesmo
nessa área, nessa areazinha.
P1 – Sabe qual é o problema? Aqui tem
10,00m de terreno. Se você coloca os
quartos aqui, tem que 1,50m daqui até a
divisa. Se você coloca a cozinha aqui, tem
que ter 1,50m até a divisa. Só sobram
7,00m, e com 1,50m você não passa o
carro, entendeu? Então eu acho que você
não consegue guardar o carro aqui, a não
ser que encoste o projeto numa lateral.
P1 –Isso aqui é um quarto?
U2 – É.
P1 – Com largura de 1,50m? Não pode...
U2 – Não pode?
P1 – Não pode, é muito pequeno. E não
pode mesmo por que é proibido por lei.
U2 – Seria um quartinho pequenininho pra
pôr uma beliche, um quartinho de solteiro.
P1 – Então, mas a cama, só a beliche já
tem 0,90cm x 2,00m, tá? Com 1,50m, só
sobram 0,60cm. Isso é muito ruim
psicologicamente pra pessoa, ela se sente
meio que numa cela, além do que é
proibido também.
Foto 49 – Trecho do processo de projeto da habitação do Grupo de Pesquisa 13
213
Quadro 14 – Habitação do Grupo de Pesquisa 14
12.24m²
SALA
14.52m²
SUÍTE
8.97m²
DORMITÓRIO
13.11m²
COZINHA
3.69m²
BWC
3.57m²
BWC
4.27m²
CIRC.
2.95
3.60
3.40
4.55
4.05
2.85
3.15
2.55
1.40
1.45
1.00
4.60
2.85
1.00
2.55
12.41m²
SALA
14.72m²
SUÍTE
9.13m²
DORMITÓRIO
13.48m²
COZINHA
3.77m²
BWC
3.51m²
BWC
4.15m²
CIRC.
2.95
3.65
3.40
4.60
4.05
2.90
3.15
2.60
1.35
1.45
1.00
4.65
2.90
1.05
2.60
PROJETO ORIGINAL
A= 69,85m2
012345 M
PROJETO EXECUTADO
A= 70,74m2
N
V
A habitação 14 do grupo de pesquisa foi
executada seguindo a configuração original e
as dimensões do projeto. O usuário financiou
a execução da habitação junto a um agente
financeiro, por isso utilizou materiais e peças
de acabamento seguindo as especificações,
o que contribuiu para uma boa qualidade da
obra como um todo. Outro aspecto do
projeto foi a previsão de ampliação posterior,
que ainda não ocorreu, com a execução de
mais um dormitório.
U – Mudou a porta da cozinha, só.
E – A porta da cozinha? Por que foi que
mudou?
U – Por que a porta da cozinha saía pra
aquele corredor ali e pra aumentar depois (a
área de serviço) vai ficar muito fora de
padrão.
E – Com ela saindo na lateral, ficaria longe
da área de serviço que vocês vão fazer no
fundo?
U – Isso
214
Quadro 15 – Habitação do Grupo de Pesquisa 15
12.32m²
DORMITÓRIO
3.50m²
CIRC.
3.45m²
10.95m²
SALA
11.06m²
COZINHA
BWC
DORMITÓRIO
7.83m²
DORMITÓRIO
10.96m²
2.80
4.45
2.50
3.25
3.55
3.65
3.00
3.65
2.70
2.75
0.90
3.75
2.70
11.36m²
DORMITÓRIO
3.37m²
CIRC.
3.11m²
9.60m²
SALA
12.24m²
COZINHA
BWC
DORMITÓRIO
7.56m²
DEP.
12.11m²
2.75
4.45
2.50
3.20
3.55
3.00
3.20
2.70
2.80
1.00
3.85
2.65
1.401.35
PROJETO ORIGINAL
A= 69,85m2
012345 M
PROJETO EXECUTADO
A= 69,51m2
N
V
A habitação 15 do grupo de pesquisa seguiu
as configurações iniciais do projeto, porém
apesar de já habitada, encontra-se ainda em
obras, sem a execução de cobertura, a
instalação de algumas esquadrias internas e
os acabamentos. Os usuários alteraram a
posição da porta da cozinha para a lateral
com o objetivo de “proteger” a porta contra
as intempéries.
U – É, a gente vê e já começa a ter uma
idéia, né? Aí eu estudei esse corredor pra
não perder espaço, verifiquei as portas, pra
ficar escondidas, dando para o corredor, pra
ficar bem aproveitado, pra ter privacidade. E
lá com a maquete dá pra ter uma idéia
melhor do espaço que a gente tem né? Você
tem uma idéia, mas aí quando coloca as
coisas fica apertado e tendo a maquete dá
pra ter uma definição melhor dos espaços.
U – Sim, (modificaria o projeto) primeiro, eu
tiraria a janela daquele quarto de frente pra
rua e faria de forma que não ficasse pra rua,
que fosse pra lateral, pra ter uma liberdade
maior. (o usuário informa que durante a noite
sente-se incomodado pelas luzes dos faróis
dos carros da rua transversal que chega de
frente ao seu terreno).
215
Quadro 16 – Habitação do Grupo de Controle 1
CIRC.
DORMITÓRIO
DORMITÓRIO
10.02m²
DORMITÓRIO
SALA
BWC
COZINHA
7.52m²
4.37m²
2.50m²
6.23m²
8.26m²
12.68m²
3.01
4.20
3.05
2.71
2.30
2.71
3.70
2.71
3.01
2.50
2.35
1.86
1.00
CIRC.
DORMITÓRIO
DORMITÓRIO
10.02m²
DORMITÓRIO
SALA
BWC
COZINHA
7.52m²
4.37m²
2.50m²
6.23m²
8.26m²
12.68m²
3.01
4.20
3.05
2.71
2.30
2.71
3.70
2.71
3.01
2.35
1.86
1.00
2.50
PROJETO ORIGINAL
A= 59,54m2
012345 M
PROJETO EXECUTADO
A= 59,54m2
NV
A habitação 01 do grupo de controle foi
executada seguindo a configuração e as
dimensões iniciais do projeto. O usuário
modificou a posição da porta da sala
alegando que ficava muito próxima à rua e
que isso tiraria a privacidade dos moradores.
U - Eu trabalho de doméstica, então eu vejo
a casa dos outros, vejo como são as coisas,
né? E assim eu fui criando uma idéia pra
fazer a minha casa. Foi aí que eu achei que
ela ficaria melhor aqui (no meio do terreno).
Eu medi cada lugar antes de fazer o projeto.
Aí eu levei o desenho lá e a moça fez do
jeito que eu queria.
E – Então a senhora ficou com aquele
desenho e foi pensando melhor, foi
medindo... E quanto tempo a senhora ficou
pensando nisso até voltar lá de novo? Uma
semana ou duas?
U – Uma semana? Foi mais de ano, eu não
tinha como construir.
E – Então fez um novo projeto?
U – Fez um novo projeto.
U – Eu coloquei a janela do quarto da frente
voltada pra rua e a janela do quarto do fundo
voltada para o fundo do quintal, por que eu
fiz a lavanderia lá atrás, e se um dia eu
quiser fechar aquele corredor, o quarto que
está ali não vai ficar escuro, com as janelas
do outro lado não vai ter problema com
iluminação.
216
Quadro 17 – Habitação do Grupo de Controle 2
3.65
4.30
2.70
3.75
3.00
2.85
2.45
1.30
2.70
3.10
2.70
3.30
1.05
3.30
3.75
COZINHA
9.85m²
DORMITÓRIO
11.27m²
3.87m²
CIRC.
3.18m²
BWC
8.37m²
DORMITÓRIO
SALA
11.25m²
8.91m²
DORMITÓRIO
A. S.
3.43m²
2.25
0.90
1.40
2.45
3.67
4.15
3.95
2.30
1.30
2.95
3.10
2.75
3.50
3.50
3.95
COZINHA
10.09m²
DORMITÓRIO
11.34m²
3.53m²
CIRC.
2.99m²
BWC
9.15m²
DORMITÓRIO
SALA
12.78m² 9.62m²
DORMITÓRIO
DEP.
2.99m²
2.45
0.85
1.30
2.30
2.87
2.75
PROJETO ORIGINAL
A= 69,00m2
012345 M
PROJETO EXECUTADO
A=73,09m2
N
V
A habitação 02 do grupo de controle teve
sua configuração espacial modificada, com a
inversão da planta de tal forma que a sala
ficasse na frente do terreno e a cozinha nos
fundos. A locação da casa também foi
alterada, sendo ela movida do meio do
terreno para uma das laterais, com o objetivo
de garantir um maior corredor lateral para
uma possível execução de
garagem/varanda.
E – Por quê escolheu esse projeto?
U – Esse modelo aqui quem escolheu pra
mim foi o cunhado da minha patroa. Ele
pegou vários modelos de projetos na Cohab
e aí eles acharam que esse aqui ficaria bom
pra mim. Aí nós levamos na Universidade, a
aluna olhou e fez esse com três quartos,
sala, cozinha e banheiro.
U – Eu não sei, porque minha patroa e o
cunhado dela é que fizeram tudo pra mim,
até buscar o projeto ele foi comigo. Pra mim
está tudo ótimo, porque eu ganhei tudo, o
projeto e a construção da casa, eu ganhei
tudo da minha patroa.
217
Quadro 18 – Habitação do Grupo de Controle 3
3.00
3.55
3.40
3.60
3.40
2.80
3.00
1.00
1.65
3.65
3.25
2.50
1.40
2.50
3.25
3.65
GARAGEM
10.65m²
SALA
12.24m²
DORMITÓRIO
9.52m²
DORMITÓRIO
10.02m²
BWC
3.50m²
CIRC.
3.00m²
11.86m²
COZINHA
1.35
2.90
0.95
2.00
3.60
3.60
2.50
1.40
2.50
3.60
DORMITÓRIO
10.00m²
DORMITÓRIO
11.20m²
BWC
3.50m²
CIRC.
2.99m²
11.52m²
COZ./SALA
3.45
3.20
3.15
PROJETO ORIGINAL
A= 69,30m2
012345 M
PROJETO EXECUTADO
A= 45,84m2
N
V
A habitação 03 do grupo de controle teve
executada apenas uma parte da edificação,
embora o projeto original não tenha sido
elaborado prevendo essa possibilidade. A
configuração original da parte executada
segue o projeto, apesar de modificações nas
dimensões dos dormitórios. O usuário afirma
que o projeto foi elaborado prevendo a
execução de um terceiro dormitório (o que
aparentemente não foi o caso), porém ele
próprio percebe que a configuração do
projeto dificulta essa possível ampliação.
E – A senhora poderia ter pego um projeto
de três quartos, por que a senhora pegou de
dois quartos?
U1 – Mas no caso, eu peguei um de três
quartos, só que eu falei pra aluna que no
momento a gente só ia fazer dois quartos e
mais pra frente faria o outro.
U2 – Eu tenho uma dúvida nos quartos, por
que tem um quarto aqui e outro ali. Agora no
caso, se eu for fazer outro quarto, onde que
eu vou fazer? Por que se eu fizer lá, um
deles vai ficar sem janela.
218
Quadro 19 – Habitação do Grupo de Controle 4
3.50
3.44
3.05
3.50
2.70
1.30
2.90
2.80
2.70
3.85
3.00
4.60
SALA
12.04m²
DORMITÓRIO
DORMITÓRIO
11.59m²
12.00m²
DORMITÓRIO
8.12m²
12.15m²
COZINHA
3.51m²
BWC
CIRC.
2.44m²
3.55
3.45
3.15
2.25
1.50
2.90
3.30
3.30
3.30
3.00
4.40
SALA
12.25m²
DORMITÓRIO
DORMITÓRIO
11.18m²
9.90m²
DORMITÓRIO
9.57m²
14.52m²
COZINHA
3.38m²
BWC
CIRC.
1.62m²
PROJETO ORIGINAL
A= 70,00m2
012345 M
PROJETO EXECUTADO
A= 71,08m2
N
V
A habitação 04 do grupo de controle teve
sua configuração espacial modificada em
relação às dimensões da cozinha, dos
dormitórios e do banheiro. Apesar da
evidente modificação efetuada, a usuária
afirma durante a entrevista que “foi feito tudo
como está no projeto”. Apesar dessa
afirmação, pode-se perceber na usuária uma
preferência explícita pela cozinha como o
principal ambiente da habitação, que foi
justamente o local ampliado em relação ao
projeto original. Quando questionada sobre
qual conselho poderia dar a uma pessoa
para evitar possíveis problemas posteriores,
ela demonstra que o aspecto do projeto é o
mais importante. Isso pode indicar a
possibilidade de que ela própria não teria
ficado satisfeita com seu projeto inicial, o que
a teria levado à modificação e à conseqüente
definição da cozinha como um espaço
centralizador da casa.
U – Eu ia falar pra escolher bem o desenho
da planta, senão depois ela pode se
arrepender, né? Pode ficar de um jeito que
ela não queria.
219
Quadro 20 – Habitação do Grupo de Controle 5
21,87m²
VARANDA
3,79m²
BWC
15,72m²
DORMITÓRIO
10,61m²
SALA
10,34m²
COZINHA
2.65
3.90
2.72
3.90
4.03
3.90
1.48
2.56
8.07
2.71
22,08m²
VARANDA
3,93m²
BWC
15,59m²
DORMITÓRIO
10,39m²
SALA
10,59m²
COZINHA
2.70
3.85
2.75
3.85
4.05
3.85
1.53
2.57
8.12
2.72
PROJETO ORIGINAL
A= 69,10m2
012345 M
PROJETO EXECUTADO
A= 69,39m2
N
V
A habitação 05 do grupo de controle foi
executada com algumas modificações na
configuração espacial interna, apesar de não
existirem alterações significativas nas
dimensões dos ambientes. A alteração
inverteu as posições da cozinha e da sala e
retirou o acesso para a área externa da
casa. Os dois ambientes possuem apenas
uma mureta a separá-los, o que aumenta a
sensação de amplitude visual.
U – Eu escolhi esse, por que eu queria
desse jeito. E depois, mais pra frente, eu
quero construir pra cima e deixar a frente
para as crianças brincarem, aí fica um
quintal grande, com um jardim e bastante
espaço
U – No começo, eu achei que tudo ia ficar
melhor assim, né? A sala, a cozinha e um
quarto com o banheiro dentro, eu achei que
ia ficar mais confortável pra mim. Mas depois
eu vi que assim eu não queria, que eu queria
com dois quartos, e que a cozinha eu
pudesse dividir com algum móvel e ficar
também como sala, acho que só.
E – E você percebeu que gostaria de ter dois
quartos depois que a casa já estava
construída?
U – Depois que construiu.
220
Quadro 21 – Habitação do Grupo de Controle 6
DORMITÓRIO
9.96m²
7.90m²
DORMITÓRIO
CIRC.
4.03m²
BWC
3.18m²
9.30m²
SALA
COZINHA
9.62m²
4.48
1.20
3.32
1.75
4.85
2.60
3.10
3.00
2.65
2.65
3.00
2.98
0.90
3.70
DORMITÓRIO
9.40m²
7.80m²
DORMITÓRIO
CIRC.
4.00m²
BWC
2.99m²
8.46m²
SALA
COZINHA
9.80m²
4.45
1.15
3.30
1.90
2.65
3.00
2.82
2.60
2.60
2.85
3.00
0.90
3.70
PROJETO ORIGINAL
A= 51,80m2
012345 M
PROJETO EXECUTADO
A= 63,92m2
N
V
A habitação 06 do grupo de controle seguiu
a configuração espacial e as dimensões
especificadas no projeto. Percebe-se um
maior domínio do usuário na questão da
execução da edificação e o emprego de
materiais de melhor qualidade na obra.
U –Eu faço curso de desenho técnico, eu
desenho, então eu consigo entender e ter
uma noção de tamanho, essas coisas.
U – Na verdade, nós já fomos lá com o
desenho mais ou menos do jeito que a gente
queria, a menina melhorou pra nós, né?
E – E mudou muito do desenho que vocês
levaram pra esse projeto que ficou?
U – Mudou as posições.
E – É? E como eram as posições no primeiro
desenho, na primeira idéia que vocês
tiveram?
U – O banheiro ficava atrás, no canto, e
depois passou a ser entre os dois quartos.
E – E a posição da sala e da cozinha,
também mudou?
U – Não, foi só isso.
221
Quadro 22 – Habitação do Grupo de Controle 7
3.90
4.05
3.10
3.45
2.85
3.45
3.10
3.15
1.30
3.35
2.40
2.05
1.05
3.65
ABRIGO
10.40m²
10.87m²
COZINHA
11.56m²
SALA
11.92m²
DORMITÓRIO
11.46m²
DORMITÓRIO
2.54m²
CIRC.
3.12m²
BANH.
3.90
4.05
3.00
3.55
2.85
3.55
3.00
3.00
1.35
3.45
2.40
1.95
3.60
ABRIGO
10.26m²
10.65m²
COZINHA
12.25m²
SALA
11.52m²
DORMITÓRIO
11.00m²
DORMITÓRIO
2.60m²
CIRC.
3.24m²
BANH.
PROJETO ORIGINAL
A= 69,75m2
012345 M
PROJETO EXECUTADO
A= 70,05m2
NV
A habitação 07 do grupo de controle seguiu
a configuração espacial do projeto com
pequenas alterações nas dimensões dos
ambientes.
E – Se você pudesse construir novamente
faria a casa diferente?
U – Eu modificava sim. Eu ia fazer a casa na
frente, deixava o corredor do outro lado, pra
não encostar no vizinho. A casa ia ficar no
meio.
U – Eu faria diferente, faria ela maior e com
laje, como eu tinha pressa de mudar e não
tinha condições financeiras na época, eu não
fiz com laje, mas eu me arrependi. Se eu
pudesse, aumentaria os cômodos, faria a
mesma quantidade, mas com tamanho
maior, todos os cômodos. A sala ficou um
pouquinho apertada, a cozinha também,
então eu faria maior.
222
Quadro 23 – Habitação do Grupo de Controle 8
DORMITÓRIO
10.05m²
DORMITÓRIO
8.55m²
CIRC.
7.35m²
BANH.
3.00m²
SALA
13.02m²
COZINHA
13.07
2.85
2.00
1.50
3.00
3.00
0.90
3.35
12.85
A.S.
3.75m²
4.70
4.70
2.77
2.78
2.50
1.50
DORMITÓRIO
10.97m²
CIRC.
1.53m²
BANH.
3.29m²
SALA
12.69m²
COZINHA
14.10
2.85
2.35
1.40
3.85
A.S.
3.22m²
4.70
2.70
3.00
2.30
1.40
0.90
4.70
PROJETO ORIGINAL
A= 68,18m2
012345 M
PROJETO EXECUTADO
A= 52,73m2
NV
A habitação 08 do grupo de controle foi
executada de acordo com a configuração
espacial do projeto original, porém com
modificações nas dimensões de alguns
ambientes. O tamanho do banheiro foi
aumentado e a área de serviço diminuída.
Pode-se observar também que foi executado
apenas um dos dormitórios previstos no
projeto.
U1 – Na verdade eu tinha visto um projeto de
uma casa geminada, da filha de um amigo
meu que eu gostei, aí eu peguei como base,
eu fiz um desenho igual e a minha esposa
levou lá no Casa Fácil pra fazer o projeto
igual.
E – Então a aluna fez a planta por esse
desenho que o senhor fez?
U2 – Isso, ela fez um primeiro desenho e
colocou um corredor, mas a cozinha ficou
muito fina, e a sala também.
E – Então a aluna fez um primeiro desenho,
a senhora trouxe pra casa, depois a senhora
voltou lá e vocês duas perceberam que tinha
ficado muito comprido e ela fez um segundo
desenho?
U1 – Isso, aí ela fez outro desenho tirando o
corredor. Agora não tem mais o corredor pra
ir para o fundo, tem que passar aqui por
dentro de casa.
223
Quadro 24 – Habitação do Grupo de Controle 9
SALA
11.85m²
DORMITÓRIO
10.82m²
DORMITÓRIO
7.93m²
10.46m²
COZINHA
3.50m²
BWC
13.35m²
DORMITÓRIO
2.43m²
CIRC.
4.10
3.05
0.90
2.60
3.05
3.55
3.05
2.50
1.40
3.00
3.95
4.00
3.95
2.65
SALA
12.12m²
DORMITÓRIO
11.16m²
DEP.
8.06m²
10.48m²
COZINHA
3.57m²
BWC
12.65m²
DORMITÓRIO
2.34m²
CIRC.
4.15
3.05
2.60
3.10
3.60
3.10
2.55
1.40
3.03
4.00
4.00
2.62
0.90
PROJETO ORIGINAL
A= 69,98m2
012345 M
PROJETO EXECUTADO
A= 71,02m2
N
V
A habitação 09 do grupo de controle foi
executada de acordo com a configuração
espacial do projeto original, modificando-se
apenas a posição da porta da cozinha.
U – Vendo o desenho e depois a casa
pronta, é diferente. Mas eu acho que ficou
ótimo, ficou grande, espaçosa, como eu
queria.
U – Eu ainda quero fazer uma lavanderia,
um quartinho tipo despensa, só pra guardar
as coisas e uma varanda na frente.
224
Quadro 25 – Habitação do Grupo de Controle 10
3.17m²
CIRC.
11.38m²
DORMITÓRIO
12.20m²
SALA
13.12m²
COZINHA
4.90m²
BWC
8.72m²
DORMITÓRIO
3.50
4.00
3.50
3.05
2.45
3.36m²
VARANDA
2.15
3.93m²
ILUM./VENT.
POÇO
3.05
4.36
2.55
0.90
2.00
1.51
2.60
3.31
1.31
3.20
3.38m²
CIRC.
11.38m²
DORMITÓRIO
17.54m²
SALA
11.89m²
COZINHA
5.02m²
BWC
8.75m²
DORMITÓRIO
3.50
3.50
3.05
2.45
2.10
3.05
3.90
2.50
0.90
2.05
3.25
5.75
2.48m²
DEP.
PROJETO ORIGINAL
A= 66,07m2
012345 M
PROJETO EXECUTADO
A= 70,73m2
N
V
A habitação 10 do grupo de controle teve
sua configuração espacial modificada. O
espaço destinado ao poço de iluminação
transformou-se parcialmente em um
depósito, enquanto a varanda frontal teve
sua área anexada à sala. A cozinha também
foi ampliada e foi executada uma mureta
separando-a da sala, ao mesmo tempo em
que a posição da porta da sala foi
modificada.
U – Eu ampliei um pouco da varanda pra
aumentar a sala e mudei a porta da sala pra
essa lateral aqui por causa do vento.(...)Aqui
em casa foi colocado tudo no lugar previsto,
a não ser na sala, por que mudou a porta de
lugar. (...) É que a sala ficou meio comprida,
e como que eu ia abrir aquela porta e as
pessoas passarem por aqui? Teriam que
passar pelo meio da sala, no meio do tapete,
batendo nas pernas de quem está sentado,
incomodando quem está sentado na sala.
225
Quadro 26 – Habitação do Grupo de Controle 11
COZINHA
11.40m²
SALA
10.50m²
1.99m²
CIRC.
BWC
3.70m²
BWC
3.70m²
DORMITÓRIO
8.97m²
DORMITÓRIO
8.97m²
4.50
3.18
4.82
2.85
1.00
1.50
2.03
3.85
3.17
2.03
2.70
3.18
3.85 1.20
3.18
COZINHA
14.02m²
DORMITÓRIO
15.09m²
BWC
4.01m²
2.00
4.92
2.85
1.56
2.57
3.85
0.65
1.43
2.19
3.55
1.00
PROJETO ORIGINAL
A= 69,72m2
012345 M
PROJETO EXECUTADO
A= 41,05m2
N
V
A habitação 11 do grupo de controle foi
projetada com a intenção de executar a obra
em etapas. Apesar desse planejamento o
usuário não executou a primeira etapa com
as dimensões previstas no projeto,
notadamente na dimensão do banheiro, o
que irá afetar a possível ampliação prevista.
Deve-se observar também que o usuário
optou pela execução da cozinha americana e
pela colocação de uma porta em uma parede
diagonal no canto da sala, o que poderá
representar dificuldades na distribuição do
mobiliário da casa, que no momento se
apresenta provisoriamente sem sala.
U –Eu não queria ter uma porta pra frente,
pra rua, aí a gente foi tendo outras idéias,
por que na verdade, na cozinha, eu não
queria nem janela pra rua, eu queria tudo
para o fundo. Até essa janela, ela não ficou
do meu gosto, mas enfim, tudo bem, né?
U –O banheiro também eu achava que ia
ficar pequenininho, mas agora eu não acho
ele pequeno, também por que eu puxei essa
parede aqui um pouquinho e ele ficou maior.
226
Quadro 27 – Habitação do Grupo de Controle 12
1.20
3.60
2.85
3.15
2.65
CIRC.
4.14m²
3.17m²
BWC
3.00m²
BWC
DORMITÓRIO
8.35m²
10.26m²
DORMITÓRIO
SALA
12.24m²
10.91m²
COZINHA
DORMITÓRIO
8.12m²
1.30m²
CIRC.
3.70
2.95
2.80
2.90
3.10
3.95
0.90
1.35
2.35
2.50
1.25
3.50
2.55
2.13
2.60
CIRC.
2.14m²
2.34m²
BWC
1.87m²
DEP.
DORMITÓRIO
5.54m²
8.93m²
DORMITÓRIO
SALA
12.24m²
10.48m²
COZINHA
DORMITÓRIO
8.12m²
1.47m²
CIRC.
3.65
2.87
2.80
2.90
3.10
3.95
0.90
1.17
2.00
1.50
0.90
PROJETO ORIGINAL
A= 69,91m2
012345 M
PROJETO EXECUTADO
A= 61,78m2
NV
A habitação 12 do grupo de controle foi
executada com uma configuração diferente
do projeto original, em grande parte pelas
alterações nas dimensões dos ambientes, o
que levou à impossibilidade de executar o
banheiro da suíte, ficando apenas como uma
espécie de depósito. Os tamanhos dos
dormitórios também foram significativamente
modificados, com uma drástica redução em
um deles, fato percebido pela usuária, que
demonstrou estar também insatisfeita com o
tamanho da cozinha.
U1 – Depois de construída eu achei que
ficou grande. Quando ainda estava no chão,
eu achei tão pequeno os cômodos, olhando
o desenho eu achava que ia ficar pequeno,
mas ficou grande. Só a cozinha, que ficou
pequena mesma. A aluna disse que é um
tamanho padrão, mas agora essa mesa
grande não cabe nela, e eu queria uma
cozinha bem grande.
227
Quadro 28 – Habitação do Grupo de Controle 13
14.57m²
SALA
CIRC.
2.75m²
12.47m²
4.16m²
BWC
DORMITÓRIO
DORMITÓRIO
10.72m²
12.47m²
COZINHA
BWC
4.35m²
3.20
3.35
4.35
3.35
1.30
3.20 3.20
1.30
3.50
2.20
3.77
3.20
1.00
3.20
3.77
2.20
3.50
14.78m²
SALA
CIRC.
2.61m²
13.32m²
4.61m²
BWC
DORMITÓRIO
DORMITÓRIO
10.49m²
12.60m²
COZINHA
DEP.
4.90m²
3.18
3.30
4.48
3.30
1.45
3.38
1.45
3.55
2.40
3.73
3.33
0.95
3.38
3.93
2.40
3.55
3.18
3.85
4.48
17.25m²
SALA COSTURA
PROJETO ORIGINAL
A= 70,00m2
012345 M
PROJETO EXECUTADO
A= 91,30m2
NV
A habitação 13 do grupo de controle
manteve a configuração espacial do projeto,
com algumas alterações no posicionamento
das portas e na definição da posição da
suíte. Foi também executada uma ampliação
posterior com o objetivo de abrigar um
espaço de trabalho.
E – E por que a senhora mudou? A senhora
lembra?
U – Eu achei que esse quarto do fundo ia
ficar melhor como suíte do que o quarto da
frente.
228
Quadro 29 – Habitação do Grupo de Controle 14
DORMITÓRIO
11.46m²
COZINHA
10.87m²
SALA
11.56m²
DORMITÓRIO
11.92m²
BWC
3.12m²
CIRC.
2.54m²
ABRIGO
10.40m²
2.85
3.65
2.40
3.10
3.45
2.05
1.30
4.05
3.90
3.15
3.35
3.10
3.30
3.45
3.45
0.90
DORMITÓRIO
22.87m²
BWC
4.62m²
ABRIGO
13.97m²
3.45
4.05
6.10
3.75
1.40
3.30
PROJETO ORIGINAL
A= 69,75m2
012345 M
PROJETO EXECUTADO
A= 48,87m2
N
V
A habitação 14 do grupo de controle teve
seu projeto alterado na configuração
espacial, principalmente pelo fato de ter sido
executada, de maneira provisória, apenas
uma etapa da obra. Como o projeto não
previa a execução em etapas, a adaptação
produziu um espaço diferente das
dimensões originais e de caráter bastante
precário. A usuária, mesmo sabendo que
construiria em etapas, não percebeu que
esse projeto não seria adequado às suas
necessidades.
U – Eu acho que é importante fazer no
padrão que está ali no projeto. Se a
Prefeitura deu aquele padrão, tem que seguir
ele certinho e fazer uma casa menor pra não
gastar muito.
E –A senhora achava que ia construir ela
toda ou já imaginava que não ia dar pra
terminar?
U – Não, eu já imaginava que não ia
conseguir construir ela toda agora, por que
tudo é caro, então já sabia que ia fazer só
uma parte. Eu poderia ter pedido o projeto só
disso aqui e ter construído tudo no fundo,
não podia?
E – Poderia sim.
U – Aí eu já teria pedido o habite-se e estaria
sossegada, seria melhor se eu tivesse feito
isso...
229
Quadro 30 – Habitação do Grupo de Controle 15
SALA
11.88m²
DORMITÓRIO
7.65m²
COZINHA
11.14m²
SUÍTE
10.08m²
BWC
4.48m²
BWC
3.64m²
DORMITÓRIO
8.26m²
CIRC
3.60m²
3.60
3.30
2.80
3.04
1.30
2.80
1.51
2.80
2.80
3.60
2.55
3.30
3.60
0.90
2.55
3.00
SALA
11.36m²
DORMITÓRIO
10.88m²
COZINHA
10.24m²
SUÍTE
12.07m²
BWC
4.80m²
BWC
3.68m²
DORMITÓRIO
6.86m²
CIRC
2.80m²
3.55
3.40
2.45
2.80
3.20
3.55
3.20
3.20
1.15
3.20
1.50
3.20
3.20
3.40
0.95
0.95
PROJETO ORIGINAL
A= 68,87m2
012345 M
PROJETO EXECUTADO
A= 72,00m2
N
V
A habitação 15 do grupo de controle foi
modificada na sua configuração espacial em
relação ao projeto original. Na realidade,
pouco pode ser observado do projeto original
na edificação executada. A principal
modificação, a alteração da posição da
cozinha, foi motivada pelo desejo da usuária
de executar uma cozinha americana, o que
não foi detectado durante a etapa de projeto,
pois, segundo a própria usuária, o projetista
a convencera da posição da cozinha nos
fundos do terreno devido ao hábito familiar
de organizar festas. Dessa forma ficaria mais
próxima de uma área privativa e mais ampla.
Somente no início da execução da obra a
usuária percebeu que não seria possível
executar seu desejo de cozinha americana,
sendo então modificado o projeto.
Podem-se perceber alguns aspectos
diferenciados nessa edificação, como o
emprego de portas de correr em todos os
ambientes e o uso de estrutura metálica
como sustentação do telhado, o que é
totalmente inusitado em relação à prática
construtiva habitacional da região.
230
Os motivos alegados pelos usuários do grupo de pesquisa para escolher o
projeto adotado foram os mais variados. O mais comumente citado é a questão de
economia (33,3%), com a adoção de um programa de menores proporções ou simplicidade
de execução. Outro motivo citado refere-se aos aspectos de iluminação e de conforto
térmico (20%), e o terreno de meio lote, para casas geminadas (13,33%). Os demais
motivos alegados variaram entre os aspectos estéticos, a privacidade, as necessidades
especiais para pessoa com dificuldade de locomoção e a configuração do programa com
uma quantidade maior de cômodos.
Entre os usuários do grupo de controle o principal motivo alegado é
justamente a falta de definição clara de qual aspecto do projeto foi o mais decisivo (43,75%),
pois os usuários alegaram que não sabiam, que um amigo indicara ou que simplesmente
era “melhor”. Outro aspecto bastante citado foi a quantidade de cômodos do projeto
(31,25%) e, de maneira mais esparsa, aspectos como o tipo de implantação (12,5%) e a
questão de privacidade (12,5%).
A justificativa dos usuários não invalida outros aspectos que
provavelmente influenciaram na escolha do projeto da habitação. Eles demonstram, no
entanto, que dentre diversos motivos que influenciaram nessa escolha, houve um que atuou
de maneira mais decisiva, ou pelo menos está mais claro na percepção do usuário e na sua
escala de prioridades.
Para os usuários que utilizaram o modelo tridimensional os motivos
alegados podem ser claramente observados nas transcrições dos processos de projeto.
Mesmo que o tema não tenha sido inicialmente observado pelo usuário, como no caso da
iluminação e do conforto térmico, ele muitas vezes era levantado pelo projetista, que o
questionava sobre esse aspecto demonstrando no modelo de que forma ocorreria a
insolação e quais as conseqüências disso em termos de conforto térmico.
Nos projetos elaborados sem o modelo não houve nenhuma citação dos
aspectos de conforto térmico e de iluminação como motivo de definição do projeto. O fato de
que significativa quantidade dos usuários do grupo de controle não expressou de modo claro
o motivo da escolha do projeto possibilita inferir que o processo de projeto não explorou de
maneira mais abrangente a mesma gama de aspectos que envolvem a habitação como
231
ocorreu no grupo de pesquisa, em que nenhum usuário deixou de nominar claramente qual
aspecto o tinha levado a escolher o projeto em questão.
Quando questionados sobre se o projeto ficara da maneira que os usuários
imaginavam no momento do recebimento do mesmo, tanto o grupo de pesquisa (80,0%)
quanto o grupo de controle (60,0%) afirmaram que a habitação tinha pelo menos um
aspecto diferente do que previam. O principal aspecto alegado foi que um ou mais
ambientes haviam ficado maiores do que a percepção inicial havia deixado transparecer
(71,43% no grupo de pesquisa e 80,0% no grupo de controle). É interessante observar que
tanto o modelo tridimensional quanto o desenho em planta baixa, isoladamente ou em
conjunto, aparentam possuir uma menor dimensão para os usuários do que a habitação
acabada. Mesmo no momento em que as fundações ou as primeiras fileiras de tijolos estão
sendo assentadas, os usuários alegam, ainda assim, ter a impressão de que os ambientes
seriam menores, sensação essa que somente foi alterada quando da finalização da
edificação.
Tanto no caso da observação em escala reduzida (planta baixa e modelo
tridimensional) quanto na observação in loco, a forma de percepção do ambiente é sempre
de um ponto de vista superior, como em uma “visão aérea”. A observação do ambiente
acabado, no entanto, possui delimitações verticais (paredes) e superiores (laje/forro), das
quais somente a experimentação com o mobiliário real, que varia de acordo com o usuário,
possibilita uma compreensão definitiva. Os equipamentos e os móveis utilizados no modelo
tridimensional foram dimensionados de acordo com critérios que privilegiaram a maior
dimensão entre os móveis categorizados como de padrão “popular” (ver capítulo 6), com o
objetivo de minimizar eventuais problemas em relação ao padrão de consumo individual de
cada morador. Como vários usuários adquiriram móveis com dimensões inferiores aos do
modelo, essa sensação de amplitude pode ser mais facilmente compreendida.
A questão relativa à possibilidade hipotética de construir novamente a
habitação, com a experiência já acumulada do processo de produção e de ocupação,
revelou que dois terços das pessoas efetuariam algum tipo de modificação, tanto no grupo
de pesquisa quanto no grupo de controle, com os mais variados tipos de modificação, sem
uma tendência predominante. A pergunta relativa a essa mesma possibilidade, aliada à
maior disponibilidade de recursos, revelou que a ampla maioria (80,0%), nos dois grupos,
desejaria executar a casa diferentemente, em geral indicando o desejo de executar
ambientes em maior quantidade e dimensão (50,0%), bem como, em alguns casos, executar
232
uma tipologia que aparenta ser um símbolo de status para esses moradores, que é o
sobrado (23,33%).
No caso do sistema estrutural no modelo tridimensional, pode-se observar
que em 33,3% dos casos a estrutura sugerida foi executada de acordo com o projeto, em
13,3% dos casos não foi possível identificar se isso ocorreu e, na maioria dos casos
(53,34%), pode-se observar que a estrutura foi executada com pequenas alterações. Dentre
esses casos, o motivo alegado pelos usuários para as modificações, geralmente sugeridas
pelos empreiteiros executores da obra, ou pelo próprio usuário quando imbuído dessa
função, foi que considerou mais “seguro” colocar uma quantidade maior de brocas (cinco
casos de um total de oito), em função da topografia do terreno ou por simples precaução. Os
outros motivos alegados foram a colocação de menos brocas em função de economia e a
adoção de sistemas de fundação diferenciados mais próximos do universo de conhecimento
do executor, tais como a sapata corrida, e em função do tipo de terreno, no caso do uso de
blocos. Observando-se os resultados da Avaliação Pós-Ocupação, em relação às condições
da estrutura, pode-se verificar que são encontrados poucos casos de patologias envolvendo
aspectos de subdimensionamento da estrutura, tanto no grupo de pesquisa quanto no grupo
de controle. Pode-se inferir que a preocupação de uma parcela dos usuários - e
possivelmente dos empreiteiros também - com a solidez da edificação leva muitas vezes a
um superdimensionamento da estrutura, com o objetivo de garantir a solidez da edificação e
compensar eventuais falhas na concretagem dessa estrutura, considerando-se que as
principais patologias encontradas nessas construções referem-se à falha na argamassa de
recobrimento do concreto, deixando partes da armadura aparente, e à existência de
pequenas fissuras e trincas na estrutura.
Os usuários, quando questionados sobre se compreendiam bem um
desenho de planta baixa antes do processo de execução de sua habitação, demonstraram
certo equilíbrio no grupo de pesquisa (46,7% afirmaram que compreendiam), enquanto os
usuários do grupo de controle afirmaram em maior proporção que compreendiam o desenho
(60,0%). Se observarmos as respostas de alguns desses usuários podemos observar, entre
os que afirmaram não compreender, o caráter didático tanto do modelo tridimensional como
do próprio processo de produção da habitação, pelos quais muitos moradores passaram
pela primeira vez:
233
Quadro 31 – Depoimentos dos usuários do Grupo de Pesquisa sobre a compreensão de uma planta baixa.
U – É, ajudou (a maquete), por que o rapaz falou que os móveis eram do tamanho normal,
meu marido viu só o papel, ele não foi lá, então quem viu na maquete fui eu e ele quando
viu o desenho achou que não ia caber nada, mas ficou tudo certinho. Meu marido teve mais
dificuldade de entender, mesmo vendo a foto, ele achava que não ia dar. (Quadro 14)
U – Sim, eu entendi bem os desenhos, mas com a maquete dá pra entender melhor por
que aí a gente tem a noção dos espaços, né? (Quadro 05)
U – Não, não entendia (os desenhos). Eu tinha um desenho que eu levei, mas depois,
chegando lá teve que mudar tudo. (...) ficou bem melhor do que o meu rascunho. (...) hoje
eu já consigo fazer um orçamento mais detalhado e consigo fazer um desenho melhor. A
gente aprende, né? (Quadro 03)
U – Eu não, eu nem sabia que existia aquilo lá. Aí que, depois que fomos lá, é que a gente
teve uma noção melhor.
E – E a maquete ajudou?
U – Ajudou, aquilo abriu a nossa mente de como ia ser. (...) Se não fosse aquela maquete
lá eu não ia ter noção de como era essa frente aqui que eu fiz. (Quadro 02)
U – Não, eu acho que não. Aí depois que vocês me mostraram com a maquete eu comecei
entender.
E – É? Mas o desenho no papel o senhor não entendia?
U – Não. Agora se eu olhar eu já sei: Aqui é o quarto, a sala, a cozinha. (Quadro 01)
Quadro 32 – Depoimentos dos usuários do Grupo de Controle sobre a compreensão de uma planta baixa.
U1 - Eu, se eu pegar uma planta eu entendo ela mais ou menos. Dá pra entender o
tamanho, onde vai ser janela ou porta. Ela (esposa) reclama que os quartos são pequenos.
U2 - É que eu comprei uma cama maior (...) O quarto ficou apertado e o colchão eu tive que
colocar do tamanho da outra. (...) Mas nós estamos querendo achar alguém que possa
diminuir o tamanho da cama. (Quadro 27)
U – Não, tanto que o aluno me falava que depois de construídos o banheiro e a cozinha
ficariam grandes e eu achava que ficariam pequenos, mas ele tinha razão, a cozinha e o
quarto ficaram grandes. O banheiro eu achei que ficou pequeno, por isso eu aumentei um
pouco.
E – E o senhor chegou a erguer toda a parede do banheiro antes de perceber que estava
apertado ou não?
U – Não, eu subi até uma metragem assim, aí eu imaginei assim o vaso (sanitário). E vi que
ficou apertado, se colocasse uma porta abrindo pra dentro não ia dar.
E – O senhor teve que quebrar a parede que estava fazendo pra puxar pra lá?
U – É, eu quebrei a paredinha e puxei ela aqui, como ela estava bem baixinha ainda, o meu
prejuízo foi pequeno. (Quadro 26)
U – Eu não, eu olhava e achava as coisas muito pequenas, o quarto, tudo eu achava
pequeno.
E – E na hora que construiu a senhora viu de maneira diferente?
U – É. (Quadro 19)
U – Não, por que nunca tinha construído uma casa pra mim.
E – E quando a senhora fez o seu primeiro desenho, a senhora conseguiu entender o seu
desenho?
U – Ah, sim, por que eu levei anos vendo as coisas e medindo tudo, mas eu comecei a me
234
empenhar e entender mais o desenho quando eu peguei a primeira planta. (Quadro 16)
U - Não, por que ali na planta está marcada, aqui é tal peça, ali é tal peça, né? E como eu
não sei ler, então eu só tenho a minha idéia, agora que construiu eu consigo entender as
medidas, o tamanho. (Quadro 22)
U - Vendo o desenho e depois a casa pronta, é diferente. (Quadro 24)
U - Ah, eu não. Pra mim era só um desenho qualquer. (Quadro 18)
Quando observamos as habitações executadas e as modificações em
relação ao projeto original podemos encontrar diversos casos de alteração, porém convém
observar mais detalhadamente os motivos dessas modificações. Uma quantidade
significativa dessas alterações refere-se à mudança nas dimensões de ambientes, na maior
parte dos casos com pequenas alterações, mantendo a mesma configuração do projeto
original. Nesse caso, podemos encontrar dois tipos de situação: no primeiro caso os
usuários fizeram essas modificações antes ou durante a execução das casas, pois
consideraram, por diversos motivos, que isso lhes era mais conveniente naquele momento;
no segundo caso essas modificações são decorrentes de erros de execução, geralmente no
momento da marcação e execução da locação da obra e da execução das fundações.
Os casos de erro de execução geralmente originam-se na qualidade da
mão-de-obra, seja ela contratada ou não, e por vezes escapam à percepção do morador
durante a execução da obra. Esse aspecto, quando as alterações não são muito grandes,
pode continuar despercebido. Em alguns casos, isso só passa a ser compreendido
efetivamente após a execução, ou durante um estágio da obra em que o retorno às
dimensões originais não é mais viável. A preocupação de parcela dos usuários com a
qualidade da mão-de-obra, conforme veremos adiante, indica uma percepção, mesmo que
tardia, desse aspecto. Isso envolve, além da própria configuração do projeto, aspectos
relativos à qualidade de acabamento e às instalações elétricas e hidráulicas, como no caso
da locação das tomadas e dos pontos de água, que não seguiram o planejamento original
ou não se adequaram aos anseios dos moradores.
No caso dos usuários que fizeram essas modificações motivados pelas
suas conveniências pessoais, podemos detectar diversas situações. Em alguns casos
referem-se a uma incompreensão do projeto original em relação às suas dimensões ou
configuração espacial, que só foram efetivamente percebidas no momento da locação da
obra ou nos estágios iniciais da execução das paredes. Em outros casos, essas
235
modificações são decorrentes não da incompreensão do projeto, mas de uma revisão do
projeto original por parte do morador. Essa alteração geralmente é motivada por algum
aspecto surgido posteriormente à elaboração do projeto que se refletiu em uma mudança de
posicionamento do usuário.
Se considerarmos apenas as modificações efetuadas de forma consciente
pelos moradores, excetuando-se aquelas originadas de erros de execução, podemos
verificar que no grupo de pesquisa houve 46,67% de casos (ver quadros 4, 5, 6, 9, 10, 11 e
12) de alteração do núcleo original da habitação, enquanto que no grupo de controle esse
percentual sobe para 60,00% dos casos (ver quadros 17, 18, 19, 23, 25, 26, 27, 29 e 30).
Nesse conjunto de casos, podem-se verificar diversos motivos para as alterações das
habitações, bem como diferentes níveis de alteração, desde pequenas mudanças de
dimensões até completas reformulações no núcleo original da edificação.
Podemos encontrar vários motivos que levaram às alterações, sendo
possível, em alguns casos, identificar mais de uma razão para as alterações de uma mesma
habitação. Algumas modificações foram executadas devido à discussão com membros da
família que não haviam participado da elaboração do projeto (ver quadro 5), pelas condições
locais de contexto urbano (ver quadro 25), pela alteração das necessidades familiares após
a elaboração do projeto (ver quadro 6 e 9), pelo projeto não ser adequado aos anseios do
usuário devido à indução do projetista (ver quadros 10, 11 e 30) e devido a aspectos
financeiros (ver quadros 4, 12, 18 e 29).
Em alguns casos a incompreensão de aspectos do projeto também
contribuiu para as modificações (ver quadros 11, 17, 18, 19, 25, 26, 29 e 30). Em outros,
apesar de os usuários admitirem a modificação do projeto - não sendo, portanto, um erro de
execução - não foi possível determinar, mesmo que de forma aproximada, o motivo da
alteração, geralmente pela alegação do usuário de que se tratava de uma situação “melhor”
do que a anterior (ver quadros 23 e 27).
Quando observamos apenas as habitações que tiveram alterações de
configuração espacial no núcleo que era o projeto original, com uma desconfiguração da
idéia original, e não apenas de modificação de dimensões, podemos encontrar duas
situações distintas: na primeira, as modificações foram ocasionadas, principalmente, pela
incompreensão de aspectos do projeto que conflitavam com alguma necessidade específica
do usuário, como a posição da cozinha, a circulação interna ou a execução em etapas (ver
236
quadros 17, 25, 29 e 30); na segunda podemos identificar problemas de ordem financeira,
não identificados pelos usuários durante a elaboração do projeto, (aspectos de
disponibilidade de materiais e das condições do terreno), e pela indução do projetista (ver
quadros 4, 11 e 12).
A questão relativa a qual tipo de conselho o usuário daria a uma pessoa
que fosse começar a executar sua casa, desde a etapa de projeto até a construção final,
baseado na experiência própria de já ter passado por esse processo produtivo, demonstrou
uma ampla variação de respostas. Considerando-se a especificidade de cada caso e a
experiência de vida de cada um dos diferentes moradores, é possível encontrar algumas
tendências de respostas que diferenciam o grupo de pesquisa do grupo de controle.
No caso do grupo de controle, o principal item, em múltiplas respostas, foi
que a pessoa deveria se preocupar com o planejamento do projeto, escolhendo e definindo
com “cuidado” a planta baixa da habitação, o que foi citado em 26,08% das respostas. O
cuidado com a estrutura da casa (13,04%) e a precaução na escolha da mão-de-obra que
iria executar a edificação (13,04%) foram os outros aspectos mais lembrados pelos
moradores. No grupo de pesquisa o aspecto de planejamento do projeto foi lembrado
apenas em 3,70% das respostas, sendo os aspectos mais lembrados o cuidado com a
estrutura (22,22%) e a precaução na escolha da mão-de-obra (14,81%). Se não
considerarmos as respostas múltiplas, e sim a quantidade de usuários que responderam a
essa questão em relação à quantidade total de usuários, o percentual de pessoas
preocupadas com o projeto aumenta para 40,0% no grupo de controle e 6,67% no grupo de
pesquisa.
Uma análise inicial desses dados poderia indicar que as pessoas do grupo
de pesquisa dão menor importância aos aspectos do planejamento do projeto do que os
demais. Porém convém questionar por que isso poderia ocorrer? A questão que originou
essas respostas indagava que conselho o usuário poderia dar no sentido de alertar uma
pessoa sobre o “tipo de cuidado que ela deveria ter no projeto e na construção para evitar
problemas” (ver anexo 10.2). No caso do grupo de controle, o principal conselho dado para
evitar problemas foi o de que eles deveriam ter cuidado na elaboração do projeto.
O motivo mais freqüente de alterações na execução das casas em relação
ao projeto foi identificado como sendo a incompreensão do projeto em relação ao
237
atendimento de algumas necessidades dos usuários (38,01%). Podemos observar que a
maior parte desses casos referem-se a habitações desenvolvidas no grupo de controle.
Os dois fatores conjuntamente (a importância dada ao planejamento do
projeto e a incompreensão de aspectos do projeto), permitem considerar a possibilidade de
que uma parcela dos usuários do grupo de controle, em maior proporção do que no grupo
de pesquisa, indique implicitamente que o projeto poderia ter sido planejado de forma
diferente. Seguem alguns comentários de usuários do grupo de controle que fizeram
modificações nas suas habitações em relação ao projeto original:
“Eu ia falar pra escolher bem o desenho da planta, senão depois ela pode se arrepender,
né? Pode ficar de um jeito que ela não queria” (Quadro 19)
“Não sei, na verdade, aqui eu queria diferente, era pra ter fechado aqui, mas a gente ainda
vai mexer aqui, vai fazer uma parede escondendo a geladeira. Aqui vai ficar só um pedaço
menor. Na verdade era pra ser uma cozinha menorzinha e uma copinha, mesmo
pequenininha ficaria bem planejada. (...) Por que assim a sala está grande. Se tivesse a
copinha, fechava aqui e ela ficaria bem melhor.” (Quadro 25)
“O mais importante é o planejamento. Por que a gente fez assim, mas achou que não ficou
legal, então tem que pensar bem. (...) Eu puxei essa parede aqui do banheiro pra cá, por
que ele ficou grande na largura, então eu aumentei ele um pouquinho no comprimento.”
(Quadro 26)
“Só a cozinha, que ficou pequena mesma. A aluna disse que é um tamanho padrão, mas
agora essa mesa grande não cabe nela, e eu queria uma cozinha bem grande. (...) Pra mim
a cozinha é a cabeça da casa.” (Quadro 27)
“Eu acho que é importante fazer no padrão que está ali no projeto. Se a Prefeitura deu
aquele padrão, tem que seguir ele certinho e fazer uma casa menor pra não gastar muito,
senão não consegue fazer a casa toda.(...) Eu poderia ter pedido o projeto só disso aqui e
ter construído tudo no fundo.(...) seria melhor se eu tivesse feito isso, mas eu não pensei
nisso antes.” (Quadro 29)
“O rapaz lá disse pra gente que era melhor colocar a cozinha no fundo, porque era mais fácil
ir para o fundo e porque faz mais bagunça, e que junto com a sala, toda vez que a gente
recebesse visita, iria ficar muita bagunça. Mas eu sempre sonhei com a minha cozinha
assim, bonitinha, aí a gente, na hora que estava construindo, foi conversando e achou que
podia ser assim, né? Se a gente for fazer uma festa, faz lá no fundo, faz uma edícula, que aí
cabe todo mundo.” (Quadro 30)
238
7.2 O PROCESSO DE PROJETO E A PERCEPÇÃO DOS USUÁRIOS
As análises a seguir referem-se a todos os projetos elaborados com o uso
do modelo tridimensional durante o período da pesquisa (57 unidades). A opção pela análise
de todos os projetos, e não apenas daqueles que foram objeto da Avaliação Pós-Ocupação,
deve-se à percepção de que uma série de aspectos observados durante o processo
projetual poderiam contribuir para uma compreensão maior dos motivos que levaram às
escolhas dos projetos. Dessa forma foi possível identificar de maneira mais clara algumas
tendências preferenciais dos usuários e de que forma sua compreensão do espaço influiu
nas decisões tomadas.
As transcrições dos processos de projeto foram ilustradas com imagens
retiradas das gravações em vídeo que ocorreram durante a manipulação do modelo
tridimensional, e ainda com imagens de alguns dos desenhos prévios de planta baixa das
habitações, elaborados ou obtidos pelos próprios usuários, e fotos dos modelos finais que
eram entregues aos moradores conjuntamente com a documentação gráfica legal para a
aprovação do projeto junto aos órgãos competentes.
7.2.1 O ESBOÇO PRÉVIO DOS USUÁRIOS E A COMPREENSÃO COM O
MODELO TRIDIMENSIONAL
Os exemplos a seguir ilustram a forma como os usuários antecipam e
idealizam seu espaço da moradia por meio do instrumental de representação de seu
conhecimento, dominado parcial ou precariamente em alguns casos. Deve-se ressaltar, no
entanto, que os esboços ou plantas técnicas levados pelas famílias dos moradores para
demonstrar seu interesse em relação ao projeto da casa, muitas vezes são retirados de
algum modelo prévio, visualizado pelo próprio morador, em uma ou mais habitações já
existentes, ou por meio de uma planta baixa desenvolvida por algum parente ou conhecido
que trabalha na área de construção civil.
239
P2 – Dá pra imaginar certinho (com a
maquete), como é que vai ficar aqui, né?
U – Assim dá pra entender bem. Só no
papel assim, pelo menos eu que não
entendo nada, nem consigo imaginar
exatamente como que fica.
Foto 50 – Exemplos de desenvolvimento do projeto e da percepção espacial do usuário 1.
U2 – Está bom, até que enfim, saiu.
P1 – Mais não é melhor você perder um
tempo agora do que depois, na hora em
que você for colocar os móveis na casa,
você descobrir que não cabia aquilo que
você pensava?
U1 – É, aí teria que se desfazer de tudo.
P1 – Se a gente tivesse feito igualzinho
àquele que vocês tinham desenhado, você
acha que daria problema?
U1 – Daria, com certeza, como daria!
Foto 51 – Exemplos de desenvolvimento do projeto e da percepção espacial do usuário 2.
240
Quadro 33 – Exemplos de desenvolvimento do projeto e da percepção espacial do usuário.
U – Se não tivesse planejado isso (a maquete) jamais que ia caber... (o mobiliário).
U – Nossa, mas é muito bom isso aqui (a maquete), dá até para brincar de casinha, parece
real.
U – É bom com a maquete que a gente já vê como fica, não é?
U – Complicado, né, porque a gente vê uma coisa (no desenho), depois quando está
montando (a maquete), a gente percebe que não era bem isso que queria.
U – Nossa, eu já estou até sonhando com a minha casinha...
U – É interessante isso, né? (A montagem da maquete). É bem prático.
Os casos anteriores demonstram que durante o desenvolvimento do
projeto com os modelos tridimensionais alguns usuários indicaram ter uma melhor
compreensão do projeto do que apenas com os desenhos bidimensionais de planta baixa.
Convém ressaltar que essa compreensão, muitas vezes, mescla-se com aspectos lúdicos
que o modelo pode proporcionar. O aspecto tridimensional do modelo, mesmo que em
escala reduzida, aparentemente aproximou o projeto ao usuário não apenas em uma
compreensão espacial de caráter funcional, mas também permitiu antecipar no imaginário
das pessoas a virtualização da moradia.
Quando comparado com as idéias originais trazidas pelos usuários, o
desenvolvimento por meio do modelo pode representar uma profunda transformação do
esboço original em relação ao projeto final alcançado. Os esquemas espaciais
desenvolvidos pelos moradores geralmente variam entre meros esboços com baixa
resolução, desenhos mais elaborados e calculados e até peças gráficas de representação
técnica, sendo que estas últimas geralmente são algum modelo obtido com algum amigo ou
parente, seja ele profissional técnico ou não.
Quando iniciado o processo de desenvolvimento do projeto com o modelo
tridimensional, a partir do esboço original, geralmente o usuário não demonstra estar
insatisfeito com o projeto visualizado no modelo. Apenas quando são colocados os móveis
com suas respectivas áreas de uso é que começam os questionamentos e as dúvidas.
Essas situações são muitas vezes acompanhadas de surpresa, pois geralmente, nesses
casos, existia uma percepção prévia de que o projeto já estava resolvido e que as
dimensões previamente determinadas seriam adequadas às necessidades. Quando
questionados sobre quais tipos de móveis e equipamentos planejam colocar em cada
ambiente, muitas vezes percebe-se a incompatibilidade entre as respectivas dimensões.
241
Os projetos mostrados a seguir possuem em comum um esboço original
que contempla um programa com uma maior quantidade de cômodos, ao mesmo tempo em
que estipulam dimensões dos ambientes sem levar em consideração a espessura das
paredes. A concepção inicial desses moradores indica que eles imaginam os ambientes em
função dessas dimensões úteis, demonstrando uma intenção espacial interna, porém com
uma série de erros, como por exemplo, a somatória das medidas em relação às dimensões
do terreno ou a área máxima construída permitida pelo Projeto Casa Fácil. No primeiro caso,
o desenvolvimento do projeto teve a participação do usuário e de seu pai, que trabalha
como pedreiro e elaborou o esboço. Os equívocos existentes, observados no modelo
tridimensional, geram uma situação em que o usuário apresenta-se surpreso e de certa
forma inconformado, pois não acredita que o desenho possa estar errado. A definição da
copa como um espaço centralizador é uma característica cultural demonstrada por Lemos
(1978) e também está presente em algumas das primeiras casas modernistas de Londrina
(GUADANHIM, 2002). Nesse caso, ela demonstra ser um espaço importante para o usuário,
que não aceita sua exclusão do projeto, apesar dos problemas de circulação decorrentes
das dimensões dos ambientes. No segundo caso, o desenho apresenta equívocos em
relação aos recuos necessários e à dimensão da garagem, o que praticamente inviabilizou a
concepção original do usuário em relação à implantação da garagem.
P – Você montou esse desenho aqui (planta
baixa), mas você considerou a espessura das
paredes? Senão não vai bater a área... Você
calculou a área?
U – A área é de 69 m2.
P – Incluindo a garagem, ou sem a garagem?
U – Com.
P – Aqui tem um quarto, um banheiro, outros
dois quartos, a cozinha e a sala. Você tem
uma copa, né? Sabe qual é o problema aqui?
A copa virou um grande corredor, onde não
consegue colocar os móveis.
P1 – Essa sua casa aqui (maquete), ficou um
pouco diferente dessa (croqui-planta),
inclusive tirando a garagem. Os ambientes
têm uma área mínima que o seu projeto não
alcança. Bom, eu estou com esse projeto
aqui, e ele é de 72,00 m2, sem a garagem.
U – Sem a garagem?!?
Foto 52 – Exemplos de desenvolvimento do projeto a partir dos desenhos dos usuários 1.
242
U – A área mínima do quarto tem que ser
3,00m x 3,00m, né?
P2 –3,00m x 3,00m já é um quarto maior.
P1 – É porque o senhor quer três quartos e
dois banheiros, então alguma coisa vai ter
que ficar pequena, o senhor está
entendendo? Porque são 70,00m2, e o
senhor quer três quartos, dois banheiros,
mais a sala e a cozinha, tá?
U – Vai ficar muito pequeno! (dormitório)
U - Fica mais fácil se tirar um quarto?
P1 – Pra aumentar a área?
U – É.
P1 – Fica, mas o senhor não precisa de três
quartos?
U – É que eu queria um pra visitas.
(desenvolvimento do projeto)
U – Minha esposa queria vir, mas...
P1 – Ah, seria bom que ela viesse, né (...)
U – Eu não posso levar esse projeto aqui e
mostrar pra ela? (manteve projeto)
Foto 53 – Exemplos de desenvolvimento do projeto a partir dos desenhos dos usuários 2.
Geralmente, nesses casos, os usuários apresentam certa resistência em
efetuar modificações nas idéias originais, pois muitas vezes foram discutidas anteriormente
com membros da família e definidas como adequadas às necessidades do grupo familiar.
Qualquer alteração nessa concepção inicial representa uma “quebra” no acordo familiar, e
acaba surpreendendo o membro da família que foi “buscar” o projeto o qual, muitas vezes,
não se sente confortável para alterar, sem a concordância da família, o que havia sido
previamente definido.
Em outros casos o domínio espacial dos usuários é extremamente
deficitário em relação às dimensões da habitação e ao uso dos ambientes. Apenas quando
demonstradas com o modelo tridimensional as características dimensionais da cozinha, com
a inserção de alguns móveis e equipamentos no ambiente, nas dimensões previstas pelo
usuário, este efetivamente compreendeu que seu próprio desenho não atendia suas
expectativas em relação à moradia.
243
P2 - É isso que ele propôs. Só que daí pra
ele construir seria só metade.
U - De começo eu queria fazer só meia, né,
daí eu quero fazer a fundação dela inteira
P1 - O senhor quer aumentar para cá?
U - Não, para cá.
P1 – Para o fundo?
U - Isso. É. Porque daí a janela vai ser aqui
e aí no meio aqui não vai precisar janela...
P1 - Então tá, Vamos supor que o senhor
faz um quarto aqui, né?
U – Daí, a janela aqui eu abro no fundo.
P1 - Mas daí o senhor faz... tem que fazer
um corredor.
U - É. Daí aqui eu vou fazer um
corredorzinho
P1 - Mas o senhor está vendo aqui, olha, o
senhor tem um corredor aqui, mas daí tem
um banheiro e a sala que está no corredor
aqui, está entendendo? Mas aqui, como
tem essas janelas aqui, fica um pouco difícil
para o senhor aumentar para cá.
(montagem maquete)
P2 - Só que fazer a cozinha dele com
1,30m (largura da cozinha)
U - Mas está com 1,30m.
P1 -... é isso aqui a cozinha do senhor
U - Por isso que, olha, para você ver, eu fiz
1,30m porque futuramente dá para
aumentar, né?
P1 - Então, mas 1,30m é o tamanho dessa
mesa aqui. Mesmo que o senhor aumente,
mas olhe a largura aqui.
U - Coloca uma geladeira aí e já não dá pra
passar!
P1 – O senhor não quer escolher outro
projeto?
U – Ah, pode ser...
Foto 54 – Exemplo de desenvolvimento do projeto a partir dos desenhos dos usuários 3.
244
O último exemplo demonstra que, mesmo com um desenho técnico mais
elaborado, trazido pelo próprio usuário, alguns aspectos da distribuição espacial interna não
são totalmente compreendidos antes da inserção do mobiliário no modelo tridimensional. A
possibilidade de alteração do projeto a partir do desenho original não é uma opção
considerada inicialmente pelo usuário, que considera que a “planta” já resolvida, inclusive
dentro dos limites máximos permitidos pelo Projeto Casa Fácil.
P1 - E aqui a senhora tem uma porta, na
entrada do quarto. A senhora viu que ficou
esse espaço perdido, né? Porque a
senhora não puxa essa parede até aqui
pelo lado de fora?
U – Porque já está com 70,00m2.
(cálculo de área e diminuição de outros
ambientes)
P1 – A senhora está vendo como vai ficar
bem mais distribuído, se aumentar esse
espaço aqui?
U – E aumenta quanto?
P1 – Aumenta esse canto aqui (...)
U – Dá para colocar o guarda-roupa aí?
P1 – Dá para colocar o guarda-roupa e dá
para colocar a cama em qualquer lugar, e,
além disso, a senhora pode colocar aqui
outros móveis, como cômoda ou uma
mesinha.
U – Ah! Ficou bem melhor para mim.
Foto 55 – Exemplo de desenvolvimento do projeto a partir dos desenhos dos usuários 5.
Os desenhos que os usuários fornecem como modelo da habitação
imaginada demonstram que o conhecimento prévio sobre o projeto da habitação e seus
recursos de representação variam significativamente de um morador para outro. A
experiência prévia com a execução de alguma habitação, seja como uma atividade
profissional, seja como experiência pessoal ou familiar, auxilia na formação e compreensão
dos instrumentos de representação e da própria habitação, mas não representa uma
garantia de que não existirão diversos equívocos ou mesmo incompreensão de aspectos do
projeto.
245
7.2.2 OS ASPECTOS ESTÉTICOS DA MORADIA
Uma questão que exerce forte influência nas definições de projeto, entre
alguns usuários, refere-se aos aspectos estéticos da habitação, com preocupação tanto em
relação ao visual externo, que possui características de demarcação social, quanto com
características internas, fortemente influenciadas por modelos referenciais de
comportamento e conduta. Esses aspectos podem sobrepujar questões de racionalização
do processo construtivo, de conforto ambiental ou mesmo de aspectos funcionais e
dimensionais.
Os casos descritos abaixo demonstram a preocupação do usuário em
relação ao resultado visual que uma possível ampliação do banheiro acarretaria, em função
da descontinuidade do alinhamento das paredes. A posição da ampliação do banheiro
permitiria uma situação de melhor conforto térmico devido à orientação, permitindo que a
janela do dormitório fosse instalada na face leste, ao mesmo tempo em que o fluxo e a
circulação interna seriam melhor distribuídos dentro dos ambientes. Convém destacar que
este usuário não demonstrou preocupação com esses aspectos, tampouco com questões
construtivas ou com a solução da cobertura, mas sim quanto à “estética” resultante do
desalinhamento da parede que estava voltada para os fundos do terreno.
No outro caso a preocupação estética aparece mesmo em uma situação
que teoricamente deveria ser considerada transitória, em que a casa está sendo planejada
para ser executada em etapas. A proposta de implantar um dos banheiros na parte frontal
do módulo que seria executado em uma primeira etapa poderia, no futuro, quando da
execução do restante da edificação, representar certa economia nas instalações hidráulicas
da habitação. Apesar disso os moradores preferem executar o banheiro no fundo para não
possuírem um banheiro voltado para a frente do terreno.
246
U2 – Agora, se ele quiser aumentar só o
banheiro aqui, não vai ficar fora de
estética?
P1 – Olha, com a distância que você tem
até o fundo do terreno, eu não sei se fica
tão ruim assim em termos estéticos, pois
não tem nem distância para você perceber
bem esse dente.
P1 – A preocupação dele é a seguinte: Se a
gente colocar um banheiro aqui e esse
outro banheiro aqui, enquanto não construir
a outra metade da casa, o banheiro vai ser
sempre aqui na frente da casa. Vocês vão
demorar muito para construir o resto da
casa?
U1 – Não temos previsão.
P1 – Não tem previsão? Então, por isso que
ele pensou em colocar o banheiro aqui no
fundo. Se colocar aqui na frente, aí ele
pode colocar o outro banheiro aqui do lado
e aí economiza o encanamento que a
senhora estava perguntando.
U2 – Ah, entendi.
U1 – É, não sei. É que às vezes, a gente
pode chegar até a não construir o resto ou
pode também mudar de casa e daí acaba
ficando um banheiro na frente,
esteticamente não ficaria muito legal.
P2 – Na frente não fica muito bonito?
U2 – Fica estranho.
U1 – Ah, não, nós vamos fazer esse aí
mesmo. (no fundo).
Foto 56 – Exemplos de desenvolvimento do projeto e os aspectos estéticos.
Um aspecto que pode ser observado em alguns projetos é o interesse pela
execução de aberturas (totalmente livres ou com a presença de balcões) entre a sala e a
copa e/ou cozinha. Esse tipo de solução, em habitações similares e em um período anterior
(IMAI, 2000; ROMÉRO; ORNSTEIN, 2003), demonstrou ser rejeitada pelos usuários. Nos
casos observados atualmente, percebe-se um crescente interesse pela adoção da cozinha
americana.
247
Os casos de ligação direta entre a sala e a cozinha e/ou copa, separadas
por uma parede a meia altura ou por algum tipo de bancada podem ser encontrados em
12,28% dos projetos elaborados no grupo de pesquisa. Durante a elaboração do projeto
também ocorreram alguns casos em que as pessoas expressaram o interesse em executar
essa solução, porém ela não foi concretizada geralmente pelo fato de que os ambientes
possuíam dimensões diminutas e não permitiam que uma das paredes não fosse utilizada
para apoiar algum tipo de móvel da cozinha ou da sala. Se considerarmos esses casos, a
quantidade de usuários que expressou o desejo de executar esse tipo de solução aumenta
para 19,29% dos projetos elaborados.
A percepção de ampliação do espaço que essa solução proporciona pode
ser inferida se observarmos alguns dos depoimentos dos usuários. Ela pode também ser
observada no fato de que em pouco mais da metade dos casos (54,54%) que expressaram
o desejo de executar essa solução tratavam-se de edículas e de casas geminadas, que em
essência possuíam áreas reduzidas pelas próprias características da tipologia. Essas
configurações de projeto, no entanto, representam apenas 21,05% de todos os casos do
grupo de pesquisa.
Mesmo quando expresso pelo morador o desejo de executar algum tipo de
bancada, esta geralmente não substitui o emprego de uma mesa convencional para
refeições, esteja ela instalada na sala, na cozinha ou na copa. Os aspectos estéticos são
claramente explicitados pelo desejo de executar uma parede em forma de arco ou ter um
“mármore” separando esses dois ambientes.
248
U – Essa parede, na verdade é aberta,
(ligação entre copa e cozinha), fazendo um
arco.
P1 – Um arco?
U – É.
U – No caso, quando a gente for fazer lá,
essa parede a gente vai por um “mármore”
no meio.
P1 – Vai fazer uma abertura nela?
U – É, vai ficar a sala e a cozinha.
U – (...) a sala vai ser lá no fundo e a
cozinha aqui. A outra está assim, olha.
P1 – Assim como, o senhor já tem uma
casa desse jeito?
U – É, eu já tenho (moradia atual) uma casa
alugada em outro terreno.
P2 – E o senhor quer igualzinha?
U – Sim, se minha esposa estivesse aqui,
ela mudaria de idéia. E eu não posso mudar
a idéia dela senão vai dar problema! Eu, pra
mim, é indiferente. O negócio é não chover
dentro!
Foto 57 – Exemplos de projetos com a execução de aberturas entre a sala e a copa e/ou cozinha 1.
249
P1 - Só uma curiosidade: Porque que o
senhor quer a parede-balcão?
U – Pra falar a verdade, é que onde a gente
mora é assim, e a gente gosta. Parece que
dá a impressão que tem mais espaço do
que uma parede.
P1 – Ter mais espaço? (...)
U – A impressão que dá é que a casa fica
mais clara, está me entendendo? Dá a
impressão de mais espaço do que se tiver
uma parede aí, né?
P1 - Agora aqui o senhor entendeu que pra
entrar pela casa o senhor vai entrar pela
cozinha? É isso mesmo?
U – (...) eu quero colocar uma porta de
correr e aqui uma janela. Essa parede entre
a sala e a cozinha uma meia parede.
P1- Uma parede baixa...Tá, tudo bem.
U - O pensamento da minha esposa é usar
essa parede aqui e colocar uma pedra em
cima. É como se fosse uma mesa,
entendeu?
Foto 58 – Exemplos de projetos com a execução de aberturas entre a sala e a copa e/ou cozinha 2.
Apesar do desejo de executar a cozinha americana expresso por esse
grupo, é perceptível que a maior parte dos usuários, mesmo quando não o explicitam de
maneira verbal, optam por uma solução em que a cozinha se apresenta separada da sala e
geralmente disposta com a sala voltada para a frente do terreno e a cozinha voltada para os
fundos. Essa situação é encontrada em 85,96% dos projetos do grupo de pesquisa, sendo
que, nos demais casos, 7,02% eram projetos de edículas onde a cozinha necessariamente
250
estava voltada para a frente do terreno. Os casos em que a cozinha estava voltada para a
frente do terreno, mesmo que não necessariamente com cozinha americana, representam
apenas 7,02% da totalidade dos casos.
U1 – Eu não tinha escolhido esse projeto
(alternativa anterior) porque ele (o marido)
já tinha falado que não queria a sala e a
cozinha juntas.
Foto 59 – Exemplo de projeto sem a execução de aberturas entre a sala e a copa e/ou cozinha.
Foto 60 – Exemplos de habitações executadas com aberturas entre a sala e a copa e/ou cozinha
Entre as habitações que foram objeto da Avaliação Pós-Ocupação, foram
encontrados três casos de cozinha americana no grupo de pesquisa (de um total de quinze)
e quatro casos no grupo de controle (de um total de quinze). Em todos os casos do grupo de
controle não havia sido prevista a execução dessa abertura, e nos casos do grupo de
pesquisa apenas uma a previa.
251
7.2.3 O CONTROLE ESPACIAL E A PRIVACIDADE COMO INDUTORES DO
PROJETO
O interesse dos usuários pelas aberturas de portas e janelas pode variar
conforme a experiência prévia e os hábitos de vida de cada indivíduo ou grupo familiar. Nos
casos mostrados a seguir podemos verificar que o principal foco da questão é garantir
privacidade em relação às pessoas que eventualmente pudessem manter algum contato
visual, geralmente do lado externo da casa, seja a partir da rua ou mesmo dos fundos do
terreno. Nesses casos, as conseqüências para o projeto em termos estéticos ou de conforto
térmico apresentam-se em segundo plano na escala de prioridade dos usuários. Mesmo
quando o projetista apresenta as eventuais deficiências originadas desse tipo de solução no
projeto, que em alguns casos podem desencadear situações posteriores de desconforto, o
problema não é encarado como tão grave quanto a ausência da privacidade.
P1 – Só acho que essa janela não ficou
muito legal (janela da cozinha voltada para
a varanda)
U – A minha esposa não quer. É que quem
passa na rua vai ver você cozinhando.
P2 – Não vê muito. Vais estar no fundo, uns
15m da frente do terreno, até o portão.
U – (...) Eu sei que para você não aparenta
ser bom, mas talvez se a minha esposa
estivesse aqui ela resolvesse fazer a casa
na frente, só que ela não pode vir, ela tá
trabalhando.
P1 – E o senhor, colocaria a janela onde?
U – Eu colocaria aqui (parede frontal), mas
não sou eu que decido isso, é minha
esposa...
Foto 61 – Exemplo de projetos sem aberturas para garantir privacidade 1.
252
P2 – O senhor não quer nada de abertura
pra rua? (janelas do dormitório e da sala)
U – Pra rua, nada!
P1 – Nada?
P2 – Ele já tinha comentado que ele não
gosta...
U – Porque, às vezes, chega uma visita
indesejada: aí já pode avisar lá que eu não
estou.
U1 – Nesses quartos aqui, não dá para
colocar as três janelas de um lado só?
P2 – Dá, é que o Norte tá...
U – É, porque daí a pessoa que está do
lado de fora (fundos da casa) não vai ver
ela pela janela do quarto. Na lateral as três
janelas dos quartos ficam mais escondidas.
P3 – É que do jeito que ficou, os três
quartos pegam sol à tarde, se ficar na outra
parede, o quarto pega sol de manhã.
U2 – Eu prefiro assim (janela na lateral). É
que assim a pessoa que está aqui (fora da
casa ) não vai ver.
Foto 62 – Exemplos de projetos sem aberturas para garantir privacidade 2.
Em alguns casos a preocupação principal com as aberturas é justamente o
contrário dos casos que abordam a preocupação com a questão da privacidade. Nesse
aspecto o principal foco é a garantia do controle visual de determinada região ou área
próxima à habitação, com o objetivo de permitir um domínio sobre o espaço circundante.
Estes casos demonstram que os usuários buscam ter o controle não apenas do que
acontece na rua e nos espaços de caráter mais público, mas também na própria área
interna do terreno, com um claro interesse nos aspectos de segurança. Esse domínio visual
geralmente é requisitado a partir do ambiente de maior permanência diária dentro da
habitação, a cozinha.
253
U2 – Mas eu quero uma visão aqui para a
rua, por que fica difícil assim, ter visão só...
P1 – Tudo bem, a gente pode chegar até
aqui na divisa, continua aqui com a porta-
janela, pra você iluminar, e aqui (janela
frontal) fica com um pouco de ventilação e
um visor, digamos assim, um controle, né?
P2 – No caso a janela da cozinha é para cá.
U – Eu prefiro para cá, (parede dos fundos),
ao lado da porta, assim dá prá prestar
atenção, olhar para os fundos.
Foto 63 – Exemplos de projetos com aberturas para controle visual.
A preocupação dos projetistas com aspectos de conforto térmico,
buscando, pelo projeto, implantar a edificação com uma orientação mais adequada em
relação ao clima da região pode, por vezes, encontrar resistência no desejo dos usuários em
garantir aspectos dos mais diversos, como controle visual, segurança e privacidade. A
percepção dos moradores é de que os possíveis problemas de conforto térmico são
secundários em relação aos demais aspectos, mesmo que para isso tenham que conviver
com uma situação precária ou adotar soluções paliativas como o uso de cortinas ou
venezianas.
U1 – A janela do quarto, no caso do sol da
manhã, eu não posso colocar ela na frente?
P1 – Vai pegar sol a tarde. Poder, pode. A
senhora pode tudo. (...)
P2 – Ela quer aqui na frente...
P1 – Por uma questão estética, eu sei ...
U2 – É que é de frente pra rua, aí vai ficar
aquela parede assim, entende?
P1 – (...) mas vai ficar quente.
U1 – Mas pode colocar. (janela na face
oeste e frontal da habitação)
Foto 64 – Exemplo de projeto com abertura por motivos estéticos.
254
Em outros casos a preocupação principal pode estar focalizada na imagem
idealizada pelo morador quanto à habitação, na qual a idéia da moradia compreende uma
conformação espacial pré-concebida. A habitação tem que ter a “cara” de um modelo de
casa onde necessariamente as janelas devem estar voltadas para a frente do terreno. O
aspecto da fachada assume uma importância maior em relação à distribuição espacial
interna, à iluminação ou ao conforto térmico:
“... a gente muda um pouquinho as dimensões aqui pra aumentar um pouco mais este
ambiente, ficar aqui a cozinha (face oeste) e daí passa um quarto pra cá” (face leste).
“É que a gente queria a cozinha aqui”.
“Ah, nos fundos mesmo...” (face leste)
“E o quarto maior vai pegar sol à tarde, se o senhor o fizer na frente, se o senhor fizer ele no
fundo, aí pega sol de manhã.” (dormitório na frente e cozinha nos fundos)
“Acho que pode deixar assim mesmo.” (dormitório na frente )
“Se a janela for aqui vai pegar sol todos os dias à tarde. Vai ser um quarto quente. Se
colocar aqui, não vai ter esse problema, só que olhando de frente, se não colocar janela
aqui, vai ficar uma parede cega. Tem isso: é uma questão de escolha.”
“Ah, então faz desse outro jeito.”
“... não faz mal pegar o sol da tarde, principalmente no verão?”
"Não. É que senão vai ficar aquela paredona reta, vai ficar meio esquisito.”
“Como eu já expliquei, esse quarto aqui na frente vai ficar maior, mais confortável, mas vai
pegar sol todo dia à tarde.”
“E se colocar um toldinho?”
“Toldinho não resolve. Não nessa posição(...) O senhor pode fazer o quarto maior aqui no
fundo.”
“Não, eu quero na frente mesmo.”
7.2.4 O PROCESSO DECISÓRIO NA DEFINIÇÃO DO PROJETO
O processo decisório na definição do projeto envolve aspectos de
negociação e imposição de posturas individuais tanto internamente dentro do grupo familiar
quanto entre os usuários e o projetista. Essas relações de poder podem indicar aspectos de
concepção prévia de conceitos da moradia, bem como as relações pessoais entre os
moradores.
255
Os exemplos a seguir ilustram de que forma a decisão dentro do processo
projetual pode representar um risco de possíveis modificações posteriores na obra,
decorrentes da falta de negociação entre todas as pessoas envolvidas no processo
projetual. No primeiro caso, quando o usuário é confrontado com questões que não são de
seu total domínio, como o aspecto do conforto térmico versus a intenção de fazer novas
ampliações em um futuro não determinado (além das naturalmente já previstas pelo
projeto), o usuário demonstra a necessidade de consultar a esposa para verificar a questão.
Pode-se inferir que a habitação é uma projeção das expectativas de vida e dos anseios e
desejos dessas pessoas, incluindo uma possível aspiração a uma melhor condição social e
a um maior conforto, com a implantação de um banheiro no dormitório do casal. Essa
expectativa, ainda que demonstrativa desses anseios e desejos, não possui a menor
previsão de quando (e se) poderá ser executada. O sonho da moradia se apresenta como
um processo em contínuo desenvolvimento, atuando de forma a interferir nas definições do
projeto.
Em outro caso a indecisão da usuária refere-se ao fato de que
determinadas decisões foram tomadas antes do atendimento no qual foi elaborado o projeto.
Nesse caso, a definição da porta da sala com saída direta para a frente do terreno foi uma
decisão que levou em consideração a opinião do marido, o qual não estava presente
durante o desenvolvimento do projeto. Apesar de a usuária considerar a mudança na
posição da esquadria uma opção melhor, ela reluta em decidir isso sem a aprovação do
marido. Em outro projeto, as definições iniciais tomadas pelo casal, provavelmente em
conjunto, são alteradas pelo marido após um longo desenvolvimento do projeto com o
modelo tridimensional, onde as alternativas projetuais foram exploradas para demonstrar as
vantagens e desvantagens no layout da cozinha e da área de serviço. Apesar da definição
prévia, o usuário convence-se de que a solução final alcançada é melhor do que a idéia
original e, apesar da ausência da esposa no processo, ele define pelo projeto modificado.
Quando confrontado com a possível repercussão da opinião da esposa, mostra que o
projeto não pode ser considerado definitivo e que é passível de alterações.
256
P1 – O que me incomoda um pouco nesse
quarto é que você vai pegar sol à tarde na
janela. Nesse outro quarto também, se você
mudar a janela para ampliar a casa. (...) Eu
não sei quanto tempo você vai levar para
aumentar a casa.(...) Isso porque você pode
ficar morando 2, 3 ou mais anos assim, com
o sol pegando todo dia à tarde na janela.
U – Eu posso conversar com a minha
esposa em casa e eu volto depois para a
gente ver. (manteve a janela à sudoeste)
P1 – Tudo bem? A senhora quer mudar alguma coisa? Aproveita pra mudar agora que é
mais fácil do que mudar na obra. Depois não pode mudar, né?
U1 – O problema é a porta. Com o tempo o meu marido vai querer a porta aqui, que ele
queria a porta de frente. E agora?
(desenvolvimento do projeto)
P1 – Mas o que a senhora prefere?
U1 – Eu prefiro a porta do lado, porque daí a sala fica mais ajeitada. (...)
P3 – Porque você não vai e conversa com o seu marido? (manteve a porta na frente)
P2 – Agora é só o senhor decidir a cozinha.
U – Mas a cozinha ficou boa, ela ficou num tamanho bom, porque eu tenho a opção de
levantar com elemento vazado aqui, ou transferir essa porta pra cá e deixar aberto, ou eu
posso deixar ela pra fora e colocar outra porta aqui. O banheiro também ficou bom.
P1 – Agora pra gente terminar o projeto para o senhor, o senhor precisa decidir se vai ter
uma parede aqui ou não. Deixa essa parede aqui?
U – Pode deixar.
P1 – Pode? Não vai dar briga em casa? Não?
U – Se der briga, depois a gente muda.
Foto 65 – Exemplo de desenvolvimento de projetos e os aspectos de decisão projetual.
Os exemplos acima ilustram que, quando os usuários recebem explicações
e orientações sobre diversos aspectos das suas idéias originais, com suas respectivas
deficiências e possíveis conseqüências, eles podem, eventualmente, optar por uma
modificação de seus conceitos originais, em função de uma situação que lhes traga mais
conforto ou alguma vantagem. A definição dessas modificações passa, por vezes, pela
aprovação conjunta do casal, embora nem sempre ambos estejam presentes durante a
elaboração do projeto. Não é incomum a definição do projeto e o retorno posterior do
usuário solicitando algum tipo de alteração em aspectos que não foram aceitos por outros
membros da família. Da mesma forma, não é rara a definição de um projeto e a posterior
modificação durante ou após a conclusão da construção, em detrimento do projeto original.
257
Uma parcela significativa dos usuários apresenta uma concepção prévia
do modelo da habitação que eles planejam executar, dentro das suas expectativas, que
muitas vezes envolvem aspectos econômicos, comportamentais, sociais e psicológicos,
entre outros. Esses modelos geralmente são baseados em experiências prévias e podem
ser muitas vezes representados como esquemas espaciais codificados em forma de
rascunhos ou desenhos de planta baixa com a definição programática e espacial da
moradia. Mesmo quando não apresentam esses esboços iniciais, as pessoas possuem
sempre algum tipo de pré-concepção sobre a moradia, ainda que não expressem ou
verbalizem isso de forma direta.
Da mesma forma que esses usuários possuem essa concepção inicial,
baseada em seus interesses e no seu universo de conhecimento prévio e de prioridades, os
projetistas também podem possuir concepções pré-definidas de diversos aspectos que
envolvem o tema. A isenção total nos procedimentos projetuais, com o objetivo de permitir
que o usuário tenha a oportunidade de expressar seus anseios e aspirações, pode ser uma
tarefa difícil e complexa. Além de certa dificuldade de algumas pessoas em expressar de
maneira gráfica, ou mesmo verbal, os aspectos que envolvem o projeto que necessitam, o
projetista também pode experimentar certa dificuldade em compreender e saber interpretar
as informações passadas pelos usuários. Na realidade, por mais atento e cuidadoso que o
projetista esteja em relação a esses aspectos, é pouco provável que ele consiga elaborar
algum projeto sem inserir questões da sua concepção individual sobre diversos aspectos,
técnicos ou conceituais, que envolvem o tema da moradia. Obviamente, não é possível
imaginar que a conduta do projetista possa ser totalmente isenta em relação ao projeto que
elabora, porém a busca por delinear um determinado limite entre o que é de fato
contribuição para a melhoria da qualidade de vida do morador, por meio do projeto da casa,
ou o que é simplesmente uma indução de um ponto de vista pré-concebido, baseado em
uma concepção de mundo individual do projetista, requer não apenas experiência e
maturidade, mas também a real vontade de ser democrático e efetivamente participativo no
processo projetual.
A sutil linha que separa essas duas situações pode ser observada em
alguns casos em que a concepção prévia do projetista fica evidente. Convém ressaltar que,
obviamente, o usuário também possui idéias pré-concebidas que muitas vezes podem ser
questionadas. A questão é: questionadas por quem? Na realidade, como em última
instância, o usuário será o morador da habitação (e não o projetista), convém imaginar que
258
a edificação deverá servir e resistir à ação de seus moradores, não devendo antagonizar-se
as suas concepções, sejam elas quais forem.
P1 – O que ela está comentando com a
senhora é que a gente pode “esticar“ a casa
e fazer um corredor inteiro aqui, para que a
senhora passe pelo corredor (externo) sem
entrar na casa. O que acontece é que esses
ambientes aqui vão ficar um pouco
menores. Dentro da sua casa vai ter um
corredor maior. Vai ter duas situações: A
senhora pode estudar e ver as diferenças
entre uma e outra. Inclusive o que cabe e
não cabe em termos de móveis.
P2 – No caso, se a senhora ver, ficou um
ambiente mais gostoso (projeto da
esquerda). Dá para a senhora colocar uma
mesa, sem problemas.
U1 – Deu 70,00m
2
aí?
P2 - Eu particularmente prefiro assim! (...).
Considerando essa parte da casa, eu
particularmente prefiro essa (projeto da
esquerda). Você cria um corredor que vai
pro fundo, da mesma forma, você cria
ambientes onde a posição dos móveis fica
melhor. (não haviam ainda sido colocados
os móveis).
(discussão do projeto)
P1- Nessa outra opção dá para colocar
esses móveis, passar a mesa para cá, igual
ela fez do outro lado.
P2 – Eu acho que não dá. Fica muito
pequeno. Na verdade a melhor disposição,
no caso, é desse lado (projeto da esquerda).
Eu particularmente prefiro essa. Você cria
esse corredor pro fundo, certo? E mesmo
assim, você cria ambientes mais agradáveis.
Foto 66 – Exemplo de desenvolvimento de projetos e a influência do projetista 1.
259
P1 – Nesse quarto, a janela nessa parede
maior pega mais sol de manhã, no verão
(parede sudeste). Nessa parede menor
pega mais sol de manhã, no inverno (parede
nordeste).
P2 – Fica uma janela muito pequena.
P1 – Fica uma janela de 1,50m. Não é tão
pequena assim. O que você acha?
P2 –Se eu imaginasse o meu quarto, eu
preferiria a janela ali (parede sudeste).
P1 – O que a senhora acha?
U – Eu prefiro que deixe assim (parede
sudeste)
Foto 67 – Exemplo de desenvolvimento de projetos e a influência do projetista 2.
Os exemplos constantes nas fotos anteriores mostram como as
concepções prévias dos projetistas induzem os usuários a uma determinada solução. No
primeiro caso, a montagem de duas opções de projetos, para uma habitação geminada,
contempla basicamente a diferença entre o tipo de circulação de acesso ao fundo do terreno
(por dentro ou por fora da edificação) e o conseqüente tamanho da sala e da cozinha em
cada caso. No caso da circulação externa à edificação, o projeto possibilita o acesso direto
ao fundo do terreno sem passar por dentro da casa. No outro caso a passagem se dá por
dentro da habitação, porém permite que os dois ambientes sejam ampliados em 1,5m.
Ambas as soluções apresentam vantagens e desvantagens, porém o projetista afirma
claramente que uma das opções é melhor que a outra, sem explicitar as características de
cada caso. No segundo exemplo o projetista demonstra sua preferência por determinado
posicionamento da janela, mesmo não deixando claro qual é o motivo dessa escolha. O
posicionamento da janela em qualquer uma das paredes também apresenta vantagens e
desvantagens, em aspectos de distribuição de iluminação ou de conforto térmico, porém
esses aspectos não são claramente explicitados ao usuário.
7.2.5 A COBERTURA DA EDIFICAÇÃO E OS ASPECTOS SOCIAIS DA
HABITAÇÃO
A definição da cobertura da edificação geralmente é baseada mais nos
aspectos sociais, estéticos e comportamentais do que em uma preocupação financeira.
260
Apesar de alertados sobre o custo que determinada solução acarreta, os usuários
manifestam interesse em executar a opção que, dentro da sua visão, é mais “bonita”,
mesmo com custos mais elevados. É interessante observar que, mesmo quando o usuário
planeja executar a moradia em etapas, ou nos casos de habitações geminadas - que
geralmente referem-se a uma condição financeira de menor poder aquisitivo - ele por vezes
abre mão de aspectos dimensionais e programáticos, com redução das dimensões dos
ambientes ou mesmo a supressão de outros, porém não aceita modificações na solução da
cobertura.
Fica evidente a necessidade de inserção social dentro de uma linguagem
que aparentemente se torna predominante na periferia habitacional da cidade, quando um
usuário afirma que o motivo para a escolha do telhado de três águas é que não se faz mais
o telhado convencional de duas águas. Esse aspecto já foi detectado anteriormente em
alguns casos de usuários do Projeto Casa Fácil (IMAI, 2000), porém o que aparentemente
era apenas um aspecto de uma parcela da população tornou-se uma presença quase
hegemônica dentro das opções de projeto dos usuários atuais, principalmente entre os que
utilizaram o modelo tridimensional na elaboração dos projetos.
P1 - O senhor pode fazer o telhado inteiro
assim (uma água) ou fazer parte assim e na
frente assim (água para frente). Aí tem que
ter uma parede aqui, ela continua subindo
para separar as duas partes do telhado. São
duas opções.
P2 – Essa outra é mais econômica (uma
água).
P1 –É. Ela não vai ter aquela parede lá, mas
a frente da casa vai ficar assim.
U – Eu achei estranho. Fica estranho.
P1 – Qual o senhor prefere mais?
U – Esse aqui (telhado com duas águas)
Foto 68 – Exemplos de desenvolvimento de projetos e a definição da tipologia da cobertura 1.
261
U – Por mim eu colocaria o telhado caído pra
frente e caído para o fundo. Meu marido já
acha melhor caído pra frente e assim aqui no
fundo (telhado com três águas).
P1 – A vantagem é que a senhora tem um
telhado voltado pra frente, pelo que eu
entendi que vocês querem, né?
U – Sim, é isso.
P1 – E a senhora pode fazer os outros dois
telhados voltados para o fundo, assim. Esse
telhado da frente, pode ser uma telha de
barro e esse aqui do fundo, pode ser uma
telha de fibrocimento, que é mais barato. Ou
pode ser tudo de barro, faz de acordo com o
que a senhora quiser. A vantagem é que
aqui, no futuro, a senhora pode pegar esse
pedaço do telhado aqui, olha, e a senhora
pode esticar pra cá. (possibilidade de
ampliação para os fundos).
U – Sim, entendi. Ah, então pode ser da
maneira que o meu marido sugeriu mesmo.
P1- Qual que a senhora prefere?
U1- Qual filho, você achou bonito?
U2- Olha mãe, eu vou ser bem sincero, eu
preferia nessa forma, porque hoje em dia
não se faz, bom, pelo menos as casas novas
que tem lá perto de casa, coisa e tal, não se
faz mais telhado assim. Faz assim no fundo
e caído pra frente.
U1- Então faz, igual esse aqui.
U – Ah, então eu acho melhor assim.
P1 – Ah, é? Por quê?
U – Por que desde que nós começamos a
pensar na casa, a gente já via a nossa casa
com o telhado desse jeito.
P1 – Ah, era desse jeito aqui que a senhora
pensava?
U – É desse jeito que a gente falava, tem
uma casa lá que o telhado é igualzinho esse,
é assim e depois assim. E a gente falava que
ia ser assim.
Foto 69 – Exemplos de desenvolvimento de projetos e a definição da tipologia da cobertura 2.
262
1
2
3
4
5
“... é bem mais bonitinho” (1)
“É mais bonito. Então vai ser o telhado de
duas águas” (2)
“Ficou bonitinha, né?” (3)
“Assim fica mais bonito, né?” (4)
“Ficou bonito, né?” (5)
Foto 70 – Exemplos de desenvolvimento de projetos e a definição da tipologia da cobertura 3.
Entre os projetos elaborados para o grupo de pesquisa, excetuando-se as
edículas, que geralmente só possuem um tipo de solução de cobertura, a ampla maioria
apresenta algum tipo de cobertura com uma das águas voltada para a rua. Todos os casos
de casas geminadas apresentaram essa solução, com uma pequena água voltada para a
frente separada do restante da cobertura por uma parede, representando cerca de 11,54%
dos casos. Nas demais habitações, cerca de 48,08% dos casos apresentavam uma
263
cobertura de duas águas voltadas para frente e para os fundos do lote, 34,62% dos casos
apresentavam uma cobertura de três águas, com uma parede separando a parte frontal das
duas águas restantes e apenas 5,77% dos casos apresentaram coberturas de duas águas
voltadas para as laterais do lote.
Entre os projetos elaborados para o grupo de controle, excetuando-se as
edículas, é possível observar uma grande quantidade de habitações com a solução de
cobertura com a água frontal voltada para a frente do lote, ainda que não na mesma
proporção do grupo de pesquisa. Entre as casas geminadas, parte dos projetos foi
executada com uma pequena água voltada para a frente separada do restante da cobertura
por uma parede (5,75% dos casos), enquanto outra parte utilizou apenas uma água na
cobertura, voltada para a lateral do terreno (5,75% dos casos). Nas demais habitações cerca
de 48,20% dos casos apresentavam uma cobertura de duas águas, voltadas para frente e
para os fundos do lote, 17,99% dos casos apresentavam uma cobertura de três águas,
20,87% apresentaram cobertura de duas águas voltadas para as laterais do lote e em cerca
de 5,04% dos casos foram encontradas outras soluções variadas de cobertura.
Quando comparamos os projetos elaborados com o auxílio do modelo
tridimensional (grupo de pesquisa) com os elaborados por meio de desenhos bidimensionais
(grupo de controle), podemos identificar a influência do processo projetual na escolha da
cobertura. Enquanto que no grupo de pesquisa o emprego de coberturas voltadas para a
frente do lote representavam, no total, cerca de 95,33% dos casos, no grupo de controle
essa proporção diminui para 73,38% dos casos. A visualização tridimensional permitiu ao
usuário optar, de maneira mais freqüente, por este tipo de solução. Esse aspecto pode ser
identificado de maneira mais clara nos projetos geminados de duas águas e nos projetos de
três águas, que passam a ser uma opção mais adotada quando utilizado o modelo
tridimensional.
7.2.6 A PERCEPÇÃO ESPACIAL E O PLANEJAMENTO DA HABITAÇÃO
A percepção dos usuários pode estar relacionada diretamente com uma
orientação espacial definida por padrões predeterminados. A posição dos usuários durante a
montagem do modelo tridimensional, geralmente do lado onde ficava a parte dos fundos do
terreno, gerou uma dúvida quanto à posição da rua e da frente da casa. Nos próprios
264
desenhos esboçados pelos usuários, percebe-se que a orientação normalmente empregada
é observar o desenho a partir da parte frontal do terreno, e que ao se colocar em outra
posição em relação ao modelo tridimensional, pode haver certa desorientação espacial.
U2 – Na verdade, a frente da casa seria aqui.
Ali seria o fundo.
P1 – O senhor vai deixar a cozinha para
frente, e a sala para o fundo?
U2 – Vai sim, é que a rua tá aqui !
P1 – E a garagem, o senhor entra pelos
fundos? O senhor quer vir para o lado de cá
para ver, talvez ajude o senhor a entender
melhor.
U2 – Eu entendi.
U2 – Você pode virar ela assim?
P1 – Posso, a senhora quer ver de que lado
está a rua? A senhora quer que vire a rua pra
senhora? A senhora fica na rua?
U2 – O terreno está aqui, eu estou na rua,
né?
P1 – Isso, eu vou colocar a senhora aqui na
rua, agora a senhora está na rua olhando o
terreno, é assim. A senhora está na rua e o
terreno está aqui. A garagem é aqui e a
senhora está aqui na calçada, olhando pra cá.
Foto 71 – Exemplos de desenvolvimento do projeto e os aspectos de orientação espacial.
265
O planejamento do projeto é um fator levado em consideração pelos
usuários, pois mesmo quando a intenção inicial é construir um embrião da habitação, toda a
discussão baseia-se na configuração final da residência, que será finalizada quando o
usuário tiver condições financeiras. Essa condição, quando não planejada antecipadamente,
pode significar uma série de alterações no projeto original com o surgimento de eventuais
problemas de ordem funcional e espacial.
U – Eu quero fazer só uma parte da casa,
no começo. Só a sala, o quarto, banheiro e
cozinha.
P1 – Nesse caso, a gente pode alinhar
essas duas paredes para fazer uma parte
primeiro.
Foto 72 – Exemplo de desenvolvimento do projeto e a execução em etapas.
Entre os projetos, alvo da Avaliação Pós-Ocupação, podemos encontrar
dois casos de execução em etapas no grupo de pesquisa e quatro casos no grupo de
controle. Dos casos encontrados, metade foi planejada com esse fim e metade foi adaptada
no momento da execução devido às dificuldades financeiras enfrentadas pelos seus
moradores. Essas adaptações, por vezes, podem representar uma série de modificações ou
inadequações do projeto pela falta da previsão de execução em etapas.
Os aspectos que envolvem o planejamento da habitação extrapolam o
simples fazer técnico quando envolvem escolhas que não estão claras nem mesmo para o
próprio usuário. As expectativas e os anseios dos moradores e suas eventuais projeções de
uma casa idealizada baseada em sonhos ou desejos individuais podem encontrar
dificuldades quando confrontados com problemas de ordem financeira. Os dois exemplos a
seguir demonstram que a disponibilidade de recursos dos usuários pode induzi-los a uma
solução que não atende às suas expectativas em relação ao seu modelo idealizado de uma
habitação. A execução do projeto em etapas, ou mesmo a implantação de uma construção
no fundo do terreno - considerada pelos usuários como uma forma de moradia provisória de
menor custo - representam esse processo de execução da habitação em etapas e de forma
muitas vezes precária. O projeto da habitação passa a ser algo “em aberto”, pois representa
266
uma realidade momentânea, a partir da qual o usuário espera melhorar e ascender
socialmente, construindo futuramente a moradia definitiva ou adaptando a moradia atual aos
seus anseios. Quando confrontados com os problemas que eventuais modificações
poderiam acarretar, se não planejadas previamente, e alertados de que tais alterações
representam na realidade a execução de um novo projeto, os usuários geralmente optam
pela manutenção da idéia original.
P3 – Normalmente você tem o acesso pela
sala e a porta da cozinha fica no fundo, mas
se você quiser colocar mais uma porta lá
(parede frontal da cozinha), pode pôr, mas
não há necessidade, você acaba perdendo
espaço.
U – Perde a parede, né, porque ali vai ter
uma janela, né?
P2 – Tem uma parede ali, está bom?
U – Tá, bom, então, só uma entrada. (...) Se
eu quiser mudar mais para frente e quiser
colocar uma porta aí, pode né?
P2 – (...)se a senhora quiser mudar agora, a gente pode mudar, entendeu?
U2 – Não, não, só estou falando porque aí, futuramente, se a gente não quiser desse jeito,
se quiser de outro jeito, não pode ficar mexendo, não é?
P2 – Daí tem que fazer outro projeto.
U1 – Ah, mas acho que é isso daí mesmo.
U2 – Mas vai que de repente a gente quer fazer de outro jeito.
U1 – Aí a gente compra outro terreno, ou melhor, já compra a mansão pronta... Que sonho
alto, hein!
Foto 73 – Exemplos de desenvolvimento de projetos e o aspecto provisório da moradia.
As condições financeiras de uma parcela dos moradores ficam evidentes
no próprio processo projetual, quando as características da habitação ficam vinculadas à
disponibilidade de recursos:
“Olha, essas janelas a gente pode aproveitar aquelas que vão sobrar lá.”
“Essas janelas, como é que vocês estavam falando, vão pegar de algum lugar?”
“É que o meu tio, ele está demolindo uma casa, e vai dar para aproveitar, né?”
“Agora aqui, entre a cozinha e o corredor, a senhora tem a opção de colocar uma porta ou
abrir um vão, um buraco. A senhora está entendendo, olha?”
“Só uma passagem.”
“Pode colocar uma porta assim.”
“Mas aí vai gastar porta pra danar (risos). É que sou eu quem vai pagar, aí eu vou ter que
comprar porta até não querer mais. Acho que até a porta do quarto eu não vou colocar.”
267
O mobiliário que o usuário possui previamente, ou mesmo suas
expectativas de aquisição de novas peças podem muitas vezes ter uma forte influência na
configuração espacial do projeto. Esse aspecto é mais claramente percebido no momento
da distribuição dos móveis no modelo tridimensional, quando o projeto programado
inicialmente representa a capacidade financeira do usuário em termos de dimensão da
moradia, porém não consegue adequar-se à quantidade ou volume de móveis ou
equipamentos que ele possui ou planeja possuir.
U – Geralmente quando a gente vai projetar
quarto, a gente sempre coloca assim
(janela entre duas camas), pra de repente
colocar uma escrivaninha no meio, né?
P1 – (...) eu não sei se cabe uma
escrivaninha aqui...
U – Ah, mas aí eu faço sob medida, né?
U – É que lá em casa é tudo guarda-roupa grande. Então a gente tá acostumada. Depois ela
pode comprar para ela um de solteiro...
U – Bem, se a sala não ficar muito pequenininha, por que no futuro eu pretendo comprar
uma estante.(...) Agora no momento, eu tenho um rack, mas o rack já está pequeno.
U – Foi isso que eu disse, porque ela quer uma edícula só para sair do aluguel, só que ela
não vai conseguir usar todos os móveis na edícula, porque não vai caber. O problema do
aluguel resolve, né...
Foto 74 – Exemplos de desenvolvimento de projetos e a previsão do mobiliário.
Os aspectos relativos ao comportamento dos usuários e seus hábitos de
vida e consumo, ainda que inconsistentes com a disponibilidade de recursos e/ou condições
para concretizar suas expectativas, apresentam-se como fortes indutores de aspectos do
projeto que poderão ser concretizados com ou sem a participação do projetista. Os
exemplos de alterações espaciais nas habitações, durante ou após sua construção,
demonstram que os conceitos e as idéias que formam a moradia estão em constante
evolução, da mesma maneira que a própria família de moradores ou a sociedade na qual ela
está inserida.
268
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pesquisa tinha como foco a busca de uma melhor compreensão das
características de um processo produtivo habitacional que possui aspectos singulares. Ao
mesmo tempo buscava propor uma abordagem projetual que auxiliasse na compreensão do
espaço da moradia e facilitasse a participação do usuário nas decisões de projeto. A
avaliação desse processo ocorreu pela utilização de instrumentos de pesquisa que
buscaram, por meio de análises comparativas, identificar quais aspectos interferiram no
processo projetual e na produção da habitação, desde suas origens até suas conseqüências
mais imediatas. Iremos abordar neste capítulo os resultados da avaliação desse processo,
bem como procurar esclarecer alguns aspectos identificados e lançar novos
questionamentos.
A hipótese de investigação da pesquisa é que o emprego de um
procedimento, que busque ser mais didático e participativo, por meio de modelos
tridimensionais, permitiria uma melhoria no processo de comunicação entre o profissional
técnico e o autoconstrutor, comparativamente ao uso de peças gráficas tradicionais,
contribuindo para diminuir as reformulações nas habitações resultantes dessa falta de
compreensão. As análises e considerações feitas a seguir irão demonstrar de que forma a
hipótese foi verificada.
Os resultados desta pesquisa permitem considerar que os modelos
tridimensionais podem contribuir significativamente no desenvolvimento do projeto, mesmo
que não sejam garantia de que os projetos serão executados sem alterações. Os
desdobramentos esperados para essa pesquisa referem-se não apenas ao processo
projetual, mas também aos aspectos de aprendizagem e aquisição de novos conhecimentos
tanto por parte do aluno quanto dos usuários do Projeto Casa Fácil. Além da exploração dos
aspectos didáticos do modelo tridimensional, novas análises podem (e devem) levar em
consideração os aspectos que envolvem a percepção espacial em escalas mais próximas
ao tamanho real, comparativamente à simulação do ambiente real. Outro aspecto a ser
explorado é o emprego de esquemas de representação espacial que permitam uma análise
comparativa dos instrumentos analógicos utilizados nesta pesquisa com os novos
instrumentos digitais, como a simulação tridimensional computadorizada da habitação.
269
Os levantamentos realizados durante a Avaliação Pós-Ocupação
demonstraram que uma considerável parcela dos usuários ou não realizaram alterações em
suas habitações ou, quando o fizeram, as alterações se referiram a aspectos pontuais cuja
origem eram questões que não envolviam necessariamente, como causa, o
desenvolvimento do projeto. Convém ressaltar, no entanto, que alguns projetos foram
significativamente modificados e torna-se importante compreender os motivos que levaram a
essas modificações.
O fato de as avaliações dos moradores sobre suas residências terem sido
altamente positivas indica uma série de aspectos, já descritos anteriormente, que
demonstram satisfação com o alcance de metas sociais e uma elevação dentro da condição
de vida desses usuários. Isso, por vezes, oculta os possíveis aspectos negativos
perceptíveis (ou compreendidos como tal) por profissionais técnicos. Em pesquisa similar
sobre habitações autoconstruídas (ORNSTEIN, ROMÉRO; CRUZ; 1995), é possível
identificar a “extrema” satisfação dos usuários com suas moradias, decorrente
principalmente da construção dos cômodos necessários às suas necessidades, mesmo que
estes tenham soluções deficientes em relação ao arranjo espacial e aos sistemas
construtivos. Este fato pode ter uma de suas origens no desconhecimento do autoconstrutor
em relação a soluções mais eficientes e racionais.
O aspecto da moradia anterior dos usuários deve ser considerado como
um importante fator que influencia na satisfação em relação a moradia atual. Se esses
moradores estivessem, no entanto, em uma situação anterior mais adequada, de acordo
com parâmetros técnicos, a satisfação com a habitação atual seria diferenciada? O fato de
estarem em uma situação melhor do que aquela em que estavam anteriormente indica, se
não de todo, pelos menos em parte, a origem da satisfação desses usuários.
Uma situação anterior mais confortável e adequada às suas necessidades
poderia alterar a percepção e o critério de qualidade estabelecido por cada um desses
moradores? Mesmo questões básicas como o conforto ambiental podem ser consideradas
pelos usuários, dentro de uma escala de prioridades, como aspectos menos importantes do
que a privacidade e o controle espacial. A dificuldade de se efetuar uma análise desses
aspectos reside no fato de que as variáveis são tantas e de tão difícil acesso, que qualquer
análise pode se tornar inconclusiva e imprecisa dentro de critérios científicos.
270
A colocação dessas restrições é importante para podermos iniciar uma
análise que busca compreender, dentro das respostas (ou na ausência delas), indicações de
quais são os aspectos que envolvem as necessidades e as aspirações reais dos moradores.
A compreensão do que se encontra nas entrelinhas das respostas dadas por esse grupo de
pessoas pode ajudar no início de um maior entendimento sobre a real importância de vários
aspectos de uma habitação que podem ser percebidos de diferentes maneiras pelos
moradores e pelos projetistas que planejam essas edificações.
O alto índice de satisfação dos usuários com suas moradias, muitas vezes,
encontra-se nesse patamar devido a questões comparativas com a moradia anterior,
conforme já comentado. Nesses casos, mesmo que a habitação contenha aspectos que
poderiam ser melhorados, sob uma ótica técnica, esses fatores não são considerados pelos
usuários como significativos, pelo menos nesse estágio de ocupação das habitações. Ou
seja, as respostas diretas dos usuários, importantes para indicar seu aspecto emocional e
perceptivo, não demonstram necessariamente uma visão clara sobre os problemas técnicos
das habitações. Elas indicam, muitas vezes, uma vinculação afetiva e de identidade com a
moradia (ALEXANDER, 1994; BECHTEL, 1997; MARCUS, 1995; ZEISEL, 2006; JACOBS,
2000), de tal forma que o usuário não teria interesse em executar nenhum tipo de autocrítica
na habitação que ele definiu e executou com (muito) esforço próprio. Esses moradores
participaram de todo o processo produtivo, desde a escolha e a definição do projeto,
passando pela execução da edificação, muitas vezes de maneira precária e com a
participação de toda a família. Não é comum uma autocrítica em relação ao produto final da
habitação, pois ela não é só uma edificação em si, mas é também a concretização de um
sonho alcançado. A moradia passa a ser a extensão do próprio morador, parte de sua
individualidade, de suas escolhas e de seus valores.
As habitações do Projeto Casa Fácil, desde pesquisas anteriores (IMAI,
2000) até o levantamento atual (ver capítulo 6), demonstram altos índices de satisfação
quando o questionamento sobre os aspectos da habitação é direto e objetivo. Esse aspecto
levou à adoção de questões abertas e indiretas que possibilitassem uma melhor
compreensão da experiência prévia do usuário, do conhecimento obtido no processo de
produção da edificação e dos aspectos (positivos e negativos) indicados por ele como
importantes em uma habitação. Esses tipos de resposta, ainda que de maneira indireta,
indicam tendências que podem ser identificadas no comportamento dos usuários e na sua
percepção sobre a habitação. Nesse caso, quando os usuários indicam que alguns aspectos
são importantes, mesmo quando as questões não tratem da avaliação da própria habitação,
271
mas sim de aspectos “hipotéticos” - como a possibilidade de realizar modificações ou os
eventuais conselhos que ele poderia dar a outras pessoas (ver questionário no anexo 10.2) -
eles estão indiretamente indicando aspectos de sua própria habitação. Todo o universo de
conhecimento das pessoas é impregnado pelas experiências prévias (SANTOS, 1989, 2007;
RHEINGANTZ; ALCANTARA, 2007; MATURANA; VARELA, 2001; MATURANA; 1997;
MERLEAU-PONTY, 1996; MARTON, 1981; LEE, 1977; entre outros). Essas experiências
geram um corpo de conhecimento que pode ser encontrado nas respostas dos moradores,
pois a experiência mais próxima e clara sobre o processo de produção da habitação é
justamente a que eles acabaram de vivenciar.
Os aspectos observados pelas respostas dos usuários e pelas alterações
na configuração espacial das habitações em relação ao projeto demonstram a existência de
um grupo que executa modificações em suas habitações pelos mais variados motivos. Essa
variedade relaciona-se à individualidade dos usuários e às idiossincrasias de cada situação.
As alterações também demonstram, no entanto, que alguns aspectos podem ser
encontrados em diversos casos. Quando analisamos separadamente o grupo de controle e
o grupo de pesquisa podemos identificar que, quando houve alterações feitas
conscientemente pelos moradores, os motivos diferem entre os dois grupos. Dos nove
casos de alterações no grupo de controle, sete tiveram como um dos motivos da
modificação a incompreensão de alguma característica do projeto que inviabilizava um ou
mais aspectos desejados pelos usuários. No caso do grupo de pesquisa, dos sete casos de
alterações, apenas um teve como um dos motivos a incompreensão de alguma
característica do projeto. Convém ressaltar, neste caso específico, que a indução do
projetista também foi um forte fator no sentido de o usuário aceitar o projeto inicialmente
proposto.
Um maior entendimento das características do projeto por parte do usuário
não pode ser considerado como uma garantia de que não existirão modificações na
edificação. Da mesma forma, uma maior compreensão do projeto por parte do usuário pode
contribuir para evitar algumas modificações decorrentes dessa falha de comunicação entre o
projetista e o usuário. Uma série de diferentes aspectos pode contribuir para as alterações
encontradas. A inexperiência do usuário (e em muitos casos do projetista também) no
processo de produção da habitação, especificamente no tocante à previsão dos recursos
financeiros necessários, pode representar, por vezes, um problema posterior na execução
da habitação. Apesar da entrevista prévia com o usuário, quando se definem as
características programáticas e dimensionais da habitação, geralmente por uma solicitação
272
do próprio morador, pode não ficar claro o que o projeto representa em termos de demanda
financeira. A característica de grande parte dos usuários em executar a sua habitação de
forma precária, sem diversos tipos de acabamento, pode dificultar uma efetiva estimativa
dos custos, pois isso dependerá de qual nível de execução o morador irá de fato empregar.
Em alguns casos os usuários podem simplesmente não informar ao projetista as
dificuldades de executar o projeto de forma integral, mesmo que tenham essa percepção
prévia, o que pode gerar um projeto inadequado à execução em etapas. Em outros casos,
os próprios usuários não possuíam essa compreensão, só percebendo efetivamente esse
aspecto no momento da execução. Em ambos os casos, no entanto, fica implícito que os
projetos estão fora das possibilidades financeiras dessas pessoas, embora os desejos e os
anseios em relação à moradia, vinculados à idealização do espaço final, tenham sido
provavelmente os principais definidores do projeto. Os aspectos do projeto podem
representar um sonho de consumo, presente em toda a sociedade, pois, segundo Lemos
(1978, 2005), considera-se tanto maior o “status” social quanto mais ambientes existirem
nas habitações, induzindo os moradores a buscar uma maior compartimentação nos
projetos. Este aspecto indica implicitamente um desejo e uma busca pela melhoria nas
condições de vida e por ascensão social, mesmo que as pessoas ainda não tenham
condições financeiras para tal (CORREIA, 2004).
Outra questão que pode influenciar na execução de modificações na
habitação refere-se à inadequação do projeto, decorrente da inserção de aspectos que não
estavam no rol das expectativas dos usuários, porém representavam questões consideradas
importantes pelos projetistas. Deve-se ressaltar que, em qualquer procedimento projetual, o
projetista sempre está inserindo características que, em sua concepção, irão contribuir para
a qualidade do ambiente projetado. O que diferencia os casos identificados nessa pesquisa
é que o procedimento do projetista não conseguiu identificar os anseios dos moradores, ao
adotar soluções que se antagonizaram com as expectativas dos usuários, levando estes a
executar reformulações nas suas moradias. As soluções adotadas nos projetos não
significavam, a priori, nenhum erro técnico ou funcional, porém representavam uma espécie
de indução de aspectos que os projetistas consideravam importantes, mas que não tinham o
mesmo nível de relevância para os moradores. Em alguns desses casos podemos identificar
a importância dada pelos projetistas aos aspectos de distribuição espacial e de
racionalização da execução que se antagonizaram com os aspectos de privacidade e
domínio visual almejados pelos usuários (ver quadro 11), a importância de
dimensionamentos mais adequados às necessidades de pessoas com limitações de
locomoção, considerados exagerados pelos usuários (ver quadro 10), e aspectos de
273
socialização e uso dos ambientes que não atendiam à idealização dos espaços imaginados
pelos moradores (ver quadro 31). O conhecimento técnico pode indicar um saber que está
impregnado de noções de domínio que buscam induzir e determinar a forma como as coisas
devem transcorrer. O poder emanado desse conhecimento não pode ser considerado como
negativo (FOUCAULT, 1979), porém o não-compartilhamento do poder decisório com o
futuro morador ou a incapacidade do projetista em compreender os anseios dos usuários
podem resultar em uma troca desigual de conhecimentos. O projetista deseja “partilhar” seu
domínio técnico, porém não consegue absorver ou compreender os domínios próprios dos
moradores, condição necessária para que o processo fosse realmente dialético e
participativo (SANTOS, 2007; PATEMAN, 1970, SANOFF, 2006a, 2006b).
Os demais aspectos que influenciam na execução de modificações nas
habitações são específicos, conforme as características de cada caso. Em geral referem-se
a revisões, posteriores à etapa de projeto, das prioridades dos usuários. Esses aspectos
geralmente não foram identificados pelo próprio usuário em um momento inicial, sendo
considerados necessários em um momento posterior. A alteração das necessidades dos
usuários é dinâmica e constante, e pode apresentar diferentes níveis de rapidez nas suas
reformulações. Em alguns casos a evolução da família moradora e de suas necessidades
pode levar anos para produzir alguma alteração espacial, não devendo ser descartada a
possibilidade de essas alterações nunca ocorrerem. O que caracteriza os exemplos
analisados é que essas modificações foram realizadas logo nos primeiros momentos do
processo produtivo da habitação, antes da efetiva concretização da moradia (ver quadros 5
e 6), durante sua produção (ver quadro 9), ou mesmo logo após sua execução (ver quadro
26).
Alguns dos exemplos encontrados durante a elaboração dos projetos
referem-se a questões relacionadas à tomada de decisões por parte do morador, que muitas
vezes necessita do aval de outros membros da família para executar qualquer tipo de
modificação no projeto pré-concebido e acordado em um pacto familiar. Nesses casos
específicos, os usuários demonstram ser extremamente participativos, entre si, e pouco
participativos com o projetista. E isto não poderia ser de forma diferente, pois todo processo
participativo envolve necessariamente o domínio sobre o objeto da participação e o desejo
de partilhar algo. O ato de partilhar algo significa necessariamente estar disposto a dar ao
outro algo, o que no caso da relação do usuário com o projetista refere-se basicamente ao
fornecimento de informações. Em alguns casos, as pessoas são extremamente receptivas e
abertas a passar os aspectos das suas vidas pessoais que podem ter alguma relevância
274
para a elaboração do projeto. Em outros casos, no entanto, um simples atendimento não
gera a confiança necessária para que o usuário partilhe com o projetista os aspectos da sua
vida pessoal. É claro que isso não ocorre de forma homogênea entre os diferentes usuários,
porém os que são mais receptivos e discutem de maneira mais abrangente com o projetista,
geralmente apresentam uma menor propensão a realizar modificações no projeto. Os
usuários que possuem dificuldade em aceitar reformulações nas suas concepções originais
podem, por vezes, entrar em conflito com os projetistas em relação a determinados
aspectos do projeto, o que pode gerar uma incompreensão de ambas as partes, motivada
pelo desconhecimento e pela desconfiança. Dessa forma, se o projeto final não se adequar
às expectativas prévias dos usuários, ele pode ser modificado com eventuais danos à
qualidade final da habitação. A abordagem madura e consciente do projetista pode evitar
que esse processo ocorra dessa forma. A tomada de decisão, quando não ocorre o
compartilhamento de idéias e desejos, também pode indicar que um dos lados conseguiu
sobrepor-se ao outro nessa relação de poder, o que não significa necessariamente que
sempre o projetista consiga impor suas opiniões na etapa projetual. As relações de poder
existentes no processo projetual podem indicar que existiam processos de indução, às
vezes de discussão ou mesmo de persuasão tanto por parte do projetista quanto do usuário.
Alguns aspectos identificados durante o desenvolvimento do projeto com
os modelos tridimensionais permitem inferir que o processo projetual pode ter contribuído
para uma nova percepção dos usuários sobre questões que envolvem a habitação. No
momento em que começa a montagem do modelo, ocorre um processo de transferência
tecnológica, que na realidade é muito mais uma transferência de informações, de
conhecimentos, de ensino das questões do projeto que não são de inteiro domínio dos
usuários. O procedimento inicial sempre buscava mostrar no modelo aquilo que o usuário
queria, mesmo que contrário aos critérios de qualidade funcional do projetista, pois tinha o
objetivo de explicitar quais eram os aspectos positivos ou negativos, além dos eventuais
problemas decorrentes daquela solução. As pessoas passaram a ter acesso a uma
informação que lhes permitia avaliar o projeto e participar das definições de maneira mais
consciente, percebendo, dessa forma, quais aspectos podem ser executados de acordo com
suas possibilidades, disponibilidades e necessidades, levando, por vezes, à modificação do
projeto.
A percepção da adequação de determinada situação, apesar do aspecto
cotidiano do ato de morar, pode ser considerada como melhor atendida pelos critérios
técnicos conforme o acesso à informação e à educação possa contribuir para uma melhor
275
compreensão, por parte do morador, de diversos aspectos da habitação. Essa percepção
pode mudar a concepção daquilo que é considerado importante na moradia pelos seus
habitantes. O processo contrário também ocorre, pois à medida que o projetista compreende
melhor os anseios dos usuários, sua concepção projetual pode incorporar esses novos
conhecimentos, redefinindo prioridades e interagindo de uma maneira participativa com os
moradores.
A característica didática do modelo tridimensional pode ser observada
quando observamos que, dentre os motivos citados pelos usuários para a escolha do
projeto, as questões de conforto térmico e de iluminação estão entre os aspectos mais
lembrados pelo grupo de pesquisa. No grupo de controle, no entanto, nenhum dos usuários
citou esses aspectos como definidores do projeto. A demonstração, no modelo
tridimensional, de como seriam as características do projeto em relação ao conforto térmico
e à iluminação natural pode ter sido mais clara para os usuários do que as discussões feitas
tendo como base o desenho bidimensional da planta baixa.
Algumas das dificuldades enfrentadas durante o processo projetual
referem-se, muitas vezes, à falta de prática dos alunos com um processo que envolva
aspectos participativos, não raro decorrente da própria característica de cada escola, pois o
ensino de projeto está fortemente vinculado a um esforço criador individual e introspectivo
(SILVA, 1998a; MARTÍNEZ, 2000; COMAS, 1986; MALARD, 2005). O grupo de alunos é
heterogêneo, o que levou a algumas dificuldades, principalmente com aqueles que já se
consideravam auto-suficientes na elaboração do projeto, detentores de um processo
projetual próprio e particular. Em alguns casos, eles afirmavam que não era necessário
mostrar o projeto ao usuário no modelo tridimensional, porque, na essência, o projeto já
estava bem resolvido, portanto iria ser adequado para aquela pessoa.
Apesar desses poucos casos específicos, podem-se encontrar grupos de
alunos mais interessados no processo, dependendo de uma posição individual no sentido de
efetivamente buscar compreender os anseios dos usuários e, a partir desta perspectiva,
tentar transformar essa informação em um projeto. Esse processo não pressupõe a
necessidade do modelo tridimensional, pois este não tem como característica garantir uma
efetiva participação, mas sim facilitar o processo que, a priori, depende da disposição do
projetista e do usuário em participar.
276
Os alunos e os usuários que participam do Projeto Casa Fácil trazem
consigo uma idealização prévia da habitação. Esses conceitos - ou pré-conceitos definidos -
representam padrões e modelos que demonstram uma expectativa de vida, um anseio de
idealização espacial. A habitação não é só uma construção, é também a concretização de
um sonho. Os modelos prévios dos usuários podem demonstrar uma ausência de domínio
dos meios de representação ou produção, pois em alguns casos eles são inexeqüíveis, mas
eles demonstram, quase sempre, que o usuário não é “tábula rasa”, e que ele possui
conhecimentos prévios, mesmo que deficientes, de aspectos técnicos. Se tecnicamente são
incompletos, socialmente demonstram uma série de aspectos que não podem ser
desconsiderados pelos projetistas, sob pena de produzirem habitações que, no final das
contas, representem mais problemas do que soluções. O caso do pedreiro (ver foto 52) que
queria a habitação com um extenso programa, é um exemplo dessa projeção dos sonhos e
anseios. O fato de não ser possível executar o projeto desejado dentro dos limites
dimensionais do Projeto Casa Fácil e dentro dos limites da própria dimensão do terreno não
impediu que o usuário buscasse alcançar essa meta. O modelo referencial de projeto,
provavelmente observado em algum local no qual ele trabalhou (ou presenciou), gerou um
modelo de habitação que passou e ser almejado como objetivo pessoal. Apesar de não
possuir recursos financeiros - pois planejava construir em etapas - a definição programática
era algo que o usuário deixou claro que não poderia ser modificada, mesmo que os
ambientes possuíssem problemas funcionais devido às suas dimensões diminutas ou à
circulação decorrente da impossibilidade de ampliar o espaço. O sonho passa a ser maior
do que a percepção dos limites.
O modelo tridimensional empregado para a elaboração do projeto deve ser
considerado como um instrumento de representação, pois não se trata de uma simulação
que busque ser fiel ao original, mas sim de uma redução que, com sua simplificação, facilite
o manuseio e a compreensão do objeto como um todo (PINHEIRO, 2004; NOVAES, 1981).
Nesse aspecto, a percepção do todo só pode ser efetivamente captada dentro de um
processo de representação que o simplifique e o torne visível, não em suas parcialidades,
mas em sua totalidade (PALLAMIN, 1992). A simplificação de qualquer tipo de
representação reduzida, ao mesmo tempo em que o torna mais manejável, também pode
produzir diversas ilusões em relação ao ambiente “real” (MALARD, 2002). Algumas dessas
variações sobre a percepção podem ser identificadas quando os usuários alegam que a
habitação ficou “maior” do que o modelo tridimensional ou a planta baixa possibilitavam
imaginar. O espaço representado demonstra que a adoção de escalas reduzidas (SZÜCS,
1995) pode alterar a percepção quando comparado com representações em escalas
277
maiores e, por isso mesmo, mais próximas ao tamanho do objeto real e da compreensão do
usuário.
Apesar dessas restrições, que nos fazem compreender o modelo como um
instrumento de representação, é importante ressaltar que ele também pode ser empregado
no desenvolvimento do projeto, de forma a facilitar a compreensão do usuário e permitir um
diálogo mais fluído com o projetista. Em muitos casos, os modelos são empregados como
uma forma de convencer e induzir um cliente em relação às idéias contidas no projeto
(SMITH, 2004; MORRIS, 2006). Em outros casos eles podem ser, principalmente, um
instrumento de concepção projetual (ALBERTI, 1996; ROSSI, 1979) ou de construção do
conhecimento por meio da exploração dos seus aspectos tridimensionais (KURRENT, 1999;
AZUMA; IMAI, 2005; GIL; KATINSKY, 1995). O modelo tridimensional empregado
apresentou, ainda que nem sempre com proporções iguais, exemplos de cada uma dessas
situações. O aspecto tridimensional, característica própria da atividade do arquiteto
(BROADBENT, 1973), permitiu ao usuário explorar algumas concepções que não seriam tão
perceptíveis em representações bidimensionais. Um exemplo que ilustra essa afirmação é a
inserção dos móveis e equipamentos, com as suas respectivas áreas de utilização, dentro
do modelo. A compreensão do usuário sobre as características dimensionais dos ambientes
fica explicitada com o emprego desses referenciais, de uma maneira muito mais clara e
direta do que apenas com as paredes e vãos do modelo.
Outro exemplo importante é o desenvolvimento tridimensional da solução
de coberturas. A forma como os usuários definiram o telhado de suas habitações está
fortemente marcada por questões sociais, estéticas e comportamentais, que ficam
explicitadas durante a montagem das diferentes soluções de cobertura. Nesse aspecto, o
modelo tridimensional efetivamente contribuiu para uma melhor compreensão do projeto,
aproximando a linguagem do usuário à do projetista.
As mesmas questões que definem a solução das coberturas também
podem ser identificadas em outros aspectos durante o processo projetual. A posição do
banheiro em relação à frente da casa e os aspectos dos vãos e das aberturas indicam que
diversas questões de privacidade, controle espacial e condição social assumem uma grande
importância na concepção do projeto. Cada diferente caso demonstra a busca por uma
individualização da habitação de acordo com necessidades específicas (MARCUS, 1995) ou
com o desejo de se adequar aos hábitos culturais e de consumo da sociedade (LEMOS,
1978).
278
Essa adequação a padrões de consumo, que penetram em toda a
sociedade com uma velocidade característica dos aspectos midiáticos de nossos tempos,
pode ter influência na tendência incipiente de adoção da cozinha americana para essa
parcela da sociedade. Apesar de a maioria das pessoas definir a cozinha como uma área de
trabalho que deve ser separada da área de estar social, a sala, é perceptível a adoção de
uma tipologia espacial que até então não havia tido muita penetração nesse grupo de
habitantes (IMAI, 2000). O exemplo de uma das casas pesquisadas (ver quadro 30)
demonstra que o projetista estava preocupado, com uma visão pré-concebida, de que a
solução da cozinha americana poderia estar fora da realidade social e cultural dos
moradores, mesmo que estes expressassem o interesse em executar essa solução. A
solução convencional da cozinha voltada para os fundos do lote e da sala voltada para
frente representava a imagem da cozinha como área de trabalho, “suja”, devendo por isso
estar longe do acesso da sociedade (LEMOS, 1978). A cozinha conjugada com a sala
apresenta-se como um novo espaço para este grupo social, não abrindo mão de
eventualmente haver uma segunda cozinha nos fundos, mas que na realidade torna-se
também um espaço de acesso para as pessoas e a sociedade e que, segundo Lemos
(2005), faz com que a “cozinha vire sala”.
A casa dos nossos dias pode ser considerada como uma construção
contínua, alterando seus conceitos na mesma velocidade em que a sociedade como um
todo e os moradores de forma específica também se modificam. Esse processo torna-se
cada vez mais rápido e ágil, e não necessita de novas moradias para ocorrer; ocorre no
espaço existente, que é transformado por seus usuários, da mesma forma que o contexto
existente transforma o usuário. A moradia é um espaço em constante evolução, na mesma
medida que o morador também o é. Dessa forma, a materialidade da moradia, que conforma
e estabiliza as pessoas, passa a apresentar uma nova dicotomia: a casa passa a ser
também um espaço provisório, que se altera e se adapta, muitas vezes em decorrência dos
aspectos financeiros das pessoas. O desejo de melhoria nas condições de vida, em um
processo eventualmente longo, pode ser observado tanto na moradia como nos próprios
hábitos de consumo perceptíveis na aquisição dos mobiliários e dos equipamentos da
habitação. O sonho não é apenas a casa, mas tudo o que a compõe, desde a edificação,
passando pelos móveis e pelos objetos de decoração.
A mudança de paradigma que consolidará critérios de qualidade que
efetivamente considerem os usuários acontecerá quando passarmos a compreender que o
problema do projeto da habitação não envolve apenas os aspectos técnicos, mas
279
compreende também um esforço, por parte do projetista, em entender a moradia como um
“sonho” do usuário. O modelo tridimensional pode ser um instrumento que contribua com
esse processo de maneira dialética e democrática ou ser simplesmente uma extensão mais
sofisticada dos mesmos instrumentos de dominação e exercício do poder por parte dos
projetistas e de quem possui o poder emanado do acesso à informação e ao conhecimento.
Essa dominação pode levar em consideração apenas um lado do problema, não
compreendendo a real complexidade e riqueza existentes nas inúmeras relações que dão
origem e/ou são originadas pelo projeto da habitação. A necessidade de o projetista
simplificar o problema é natural e necessária para a busca de um resultado possível de
maneira pragmática e realista. Se não fosse dessa maneira poderíamos incorrer em um
circulo infinito de discussões do problema sem chegar a nenhuma proposta concreta. Esse
processo, porém, não exime e não impede o projetista de buscar compreender melhor os
diversos aspectos que envolvem todo o vasto espectro de inter-relações sociais da vida dos
futuros moradores do projeto desenvolvido. O fato de ignorar, total ou parcialmente esses
aspectos, pode significar uma postura autocrática e autoritária, pois não busca compreender
e aprender com os usuários assim como não se preocupa em transmitir a informação e o
conhecimento a essa parcela da população, de tal forma que possa discutir e argumentar
em um processo mais rico e dialético.
280
9 BIBLIOGRAFIA
ABERCOMBIE, M. L. J. Percepción y construcción . In: Metodologia del diseño
arquitetônico, Barcelona, Gustavo Gili, 1971, p. 257-278.
ABIKO, Alex K.; ORNSTEIN, Sheila W. (ed.). Inserção Urbana e Avaliação Pós-Ocupação
(APO) da Habitação de Interesse Social. São Paulo, Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo / Universidade de São Paulo / Financiadora de Estudos e Pesquisas, 2003.
ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9050: Acessibilidade
a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos. Rio de Janeiro, 2004.
ADAM, Jean-Pierre. Dibujos y Maquetas: La concepción arquitectónica antiga. In: Las
Casas del Alma. Barcelona, Fundación Caja de Arquitectos, 1997, p. 25-33.
ALBERTI, Leone B. On the art of building in ten books. Tradução de Joseph Ryckwert
Cambridge, Massachusetts Institute of Technology Press, 1996. Título original: De re
aedificatoria.
ALEXANDER, Christopher. Domestic Architecture. In: Doors of perception 2: @home.
Amsterdam, 1994. Disponível em: < www.museum.doorsofperception.com> Acesso em
02/04/2007.
__________ Um lenguaje de patrones. Barcelona, Gustavo Gili, 1980.
ALEXANDER, Christopher; DAVIS, Howard; MARTINEZ, Julio; CORNER, Donald. The
production of houses. New York, Oxford University Press, 1985.
ALEXANDRE, Carlos Alberto Inácio. Modelos físicos aplicados ao desenho industrial.
Tese de Doutorado, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo / Universidade de São Paulo,
São Paulo, 1993.
ALVES, Mariza W. Percepção da Arquitetura e do Urbanismo – Uma aproximação com o
ensino nas classes populares. In: Percepção Ambiental – A Experiência Brasileira. São
Paulo, Nobel / Universidade Federal de São Carlos, 1996, p. 213-236.
ANDRADE, Júlio M. de. Os elementos tridimensionais de representação como
instrumental básico e suas aplicações no desenvolvimento de projetos de desenho
industrial. Dissertação de mestrado, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo / Universidade
de São Paulo, São Paulo, 1988.
ARANTES, Pedro F. Arquitetura Nova. São Paulo, Editora 34, 2002.
AXIA, Giovanna; PERON, Erminielda M.; BARONI, Maria R. Environment Assessment
Across the Life Span. In: Environment, Cognition and Action. Oxford Press, New York,
1991, p. 221-244.
AYMONINO, Carlo. La vivienda racional – Ponencias de los congressos CIAM 1929-
1930. Barcelona, Gustavo Gili, 1973.
281
AZARA, Pedro (org). Las Casas del Alma. Barcelona, Fundación Caja de Arquitectos,
1997.
AZEVEDO, Sérgio de. Habitação e Poder. Rio de Janeiro, Zahar, 1982.
AZUMA, Mauricio H; IMAI, César. Simulação de ambientes: o uso de maquetes físicas
como instrumento para o desenvolvimento da percepção espacial. In: V ENCONTRO
TECNOLÓGICO DE ENGENHARIA CIVIL E ARQUITETURA. Anais. Maringá,
Departamento de Engenharia Civil / Departamento de Arquitetura e Urbanismo /
Universidade Estadual de Maringá, 2005, p. 79.
__________ Aplicação do método de Grupos Cooperativos no ensino de Arquitetura. In: IX
CONGRESSO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENSINO DE
ARQUITETURA E URBANISMO, Anais. Associação Brasileira de Ensino de Arquitetura e
Urbanismo, Londrina, 1999, p. 250-255.
BAIRD, George; et al. Building Evaluation Techniques, New York, MacGraw-Hill, 1996.
BARBETTA, Pedro Alberto. Estatística aplicada às Ciências Sociais. Florianópolis,
Universidade Federal de Santa Catarina, 2006.
BARONE, Ana Claudia Castilho. Team 10 – Arquitetura como crítica. São Paulo,
Annablume: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, 2002.
BARTOLONI, Gilda. Las urnas em forma de cabana de la Protohistoria Lacia e Etrusca, y
sus relaciones com la Arquitectura real. In: Las Casas del Alma. Barcelona, Fundación Caja
de Arquitectos, 1997, p. 111-118.
BECHTEL, Robert B. Ecological Psychology. In: Methods in Environmental and Behavior
Research, New York, Van Nostrand Reinhold, 1987, p. 191-215.
__________ Environment & Behavior: An Introduction. Thousand Oaks, California, Sage
Publications Inc., 1997.
__________ Simulation Techniques in design research. In: Building Evaluation, New York,
Plenum press, 1989.
BECHTEL, Robert B; MARANS, Robert; MICHELSON, William. Methods in Environmental
and Behavior Research, New York, Van Nostrand Reinhold, 1987.
BENEVENTE, Varlete. Derivações da Avaliação Pós-Ocupação (APO) como suporte
para verificação da aceitação de propostas habitacionais concebidas a partir de
soluções espaciais e tecnológicas não usuais. Tese de Doutorado, Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo / Universidade de São Paulo, São Paulo, 2002.
BONDUKI, Nabil G. Origens da habitação social no Brasil. Arquitetura moderna, Lei do
Inquilinato e difusão da casa própria. São Paulo, Estação Liberdade / Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, 1998.
BOSSELMANN, Peter; CRAIK, Kenneth. Perceptual Simulations of Environments. In:
Methods in Environmental and Behavior Research, New York, Van Nostrand Reinhold,
1987, p. 162-190.
282
BOUERI FILHO, José Jorge. Antropometria Aplicada à Arquitetura, Urbanismo e
desenho Industrial. São Paulo, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo / Universidade de
São Paulo, 1991.
__________ Antropometria: fator de dimensionamento da habitação. São Paulo, Tese
de Doutorado, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo / Universidade de São Paulo, 1989.
__________ Modelos de Dimensionamento dos Espaços da Habitação: Disciplina da
Pós Graduação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo / Universidade de São Paulo, 15
de março à 17 de maio de 2004. 13 f. Notas de Aula.
BROADBENT, Geoffrey. Design in Architecture – Architecture and the Human Sciences.
London, John Wiley & Sons, 1973.
BROWN, Conny; SCARBROUGH, Timothy. Applyng the Problem-Seeking approach to
Engineering Programming. In: Professional Practice in Facility Programming. New York,
Van Nostrand Reinhold, 1993, p. 23-46.
CAMPONEZ, Adriana Andréa. Política Habitacional: as novas relações entre estado e
sociedade civil. Londrina, Monografia de Especialização, Universidade Estadual de
Londrina, 1996.
CARPIGIANI, Berenice; MINOZZI, Celso Lomonte. O construtivismo piagetiano e o processo
de representação do espaço. In: Projeto do lugar – colaboração entre psicologia,
arquitetura e urbanismo. Rio de Janeiro, Contra Capa: PROARQ , 2002, p. 89-96.
CASA FÁCIL – PROJETO DE MORADIA POPULAR. Curitiba, Conselho Regional de
Engenharia e Arquitetura - PR, 1998.
CASTRO, Jorge (org). Avaliação Pós-Ocupação – APO: saúde nas edificações da
FIOCRUZ. Rio de Janeiro, Fiocruz, 2004.
CATTANI, Airton. Recursos informáticos e telemáticos como suporte para a formação e
qualificação de trabalhadores da construção civil. Tese de Doutorado, Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2001.
__________ Um estudo sobre o acesso de operários da construção civil à linguagem
gráfica arquitetônica. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal do Rio Grande do
Sul, Porto Alegre, 1994.
CDHU – COMPANHIA DE DESENVOLVIMENTO HABITACIONAL E URBANO DO
ESTADO DE SÃO PAULO. Caderno de Tipologias. São Paulo, CDHU, 1997.
__________ Manual Técnico de Projetos. São Paulo, CDHU, 1998.
CEF - CAIXA ECONÔMICA FEDERAL. Manual Técnico de Engenharia. São Paulo, Caixa,
2002.
CHINELLI, Filippina. Os loteamentos de periferia. In: Habitação em questão. Rio de
Janeiro, Zahar, 1979, p. 49-68.
COELHO, Antonio. O habitar vivo: entre a objetividade e a criatividade. In: SEMINÁRIO
INTERNACIONAL NUTAU 2002 – SUSTENTABILIDADE, ARQUITETURA E DESENHO
URBANO. Anais. São Paulo, Núcleo de Pesquisa em Tecnologia de Arquitetura e
283
Urbanismo - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo / Universidade de São Paulo, 2002, p.
95-125.
COELHO, Antonio; PEDRO, João Branco. Do bairro e da vizinhança à habitação:
tipologias e caracterização dos níveis físicos residenciais. Lisboa, Laboratório Nacional
de Engenharia Civil, 1998.
COMAS, Carlos Eduardo (org.). Projeto arquitetônico: disciplina em crise, disciplina em
renovação. São Paulo, Projeto, 1986.
COMERIO, Mary C. Design and Empowerment: 20 years of Community Architecture. In:
Built Environment, v.13. Oxford, Alexandrine Press, 1987, p. 15-28.
CONSALEZ, Lorenzo. Maquetas: La representación del espacio em el proyecto
arquitectônico. Barcelona, Gustavo Gili, 2000.
CORREIA, Telma de B. A construção do Habitat Moderno no Brasil – 1870-1950. São
Carlos, Rima, 2004.
COSTA, Cristiano Othon de A. A perspectiva no olhar. Dissertação de mestrado, Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2004.
COSTA, Lúcio. O Ensino do Desenho – Programa para a reformulação do ensino de
desenho no curso secundário, por solicitação do ministro Capanema. Rio de Janeiro,
1940. Disponível em: <http://www.acessolivre.org.br> Acesso em 23 de junho de 2006.
CRUZ, Antero de O. Avaliação Pós-Ocupação (APO) dos espaços gerados em
habitações autoconstruídas - O caso da favela Nossa Senhora Aparecida em São
Miguel Paulista. São Paulo, Dissertação de Mestrado, Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo / Universidade de São Paulo, 1998.
CRUZ, Antero de O.; ORNSTEIN, Sheila W. O projeto arquitetônico da habitação
popular: insumos para a análise do desempenho funcional com base na Avaliação
Pós-Ocupação da autoconstrução. In: ENTAC 1995 – VI ENCONTRO NACIONAL DE
TECNOLOGIA DO AMBIENTE CONSTRUÍDO: QUALIDADE E TECNOLOGIA NA
HABITAÇÃO. Anais. Rio de Janeiro, Associação Nacional de Tecnologia do Ambiente
Construído, 1995, p. 275–280.
CUNHA, A.G. Dicionário Etimológico Nova Fronteira da Língua Portuguesa. Rio de
Janeiro, Nova Fronteira, 1999.
CURY, Pedro. Bienal de Arquitetura de São Paulo terá participação de 13 países. Folha de
São Paulo. São Paulo, 19 de setembro de 2005. Folha Ilustrada. Disponível em:
<www.folha.uol.com.br/folha/ilustrada>. Acesso em 20 de julho de 2006.
DANIEL, Terry; ITTELSON, William. Conditions for Environmental Perception Research:
comment on “The Psychological Representation of Molar Physical Environments” by Ward
and Russell. In: Journal of Experimental Psychology: General, 110, p.153-157. American
Psychological Association, Washington, 1981.
DEL CARLO, Ualfrido.; MOTTA, Caio Fábio Attadia da. Nível de satisfação em conjuntos
habitacionais da Grande São Paulo. São Paulo, Instituto de Pesquisas Tecnológicas do
Estado de São Paulo S/A, 1975.
284
DIFFRIENT, Niels; TILLEY, Alvin; BARDAGIY, Joan. Humanscale 1/2/3. Massachusetts,
Henry Dreyfuss Associates / Massachusetts Institute of Technology Press, 1974.
DOWNS, Roger. Maps and Metaphors. In: The Professional Geographer, n. 3, v. 33,
Association of American Geographers, Washington, 1981, p. 287-293.
ECHENIQUE, Marcial. Modelos: uma discussión. In: La estructura del espaço urbano.
Barcelona, Gustavo Gili, 1975.
ELALI, Gleice A.; PINHEIRO, Jose Q. Relacionando espaços e comportamentos para definir
o programa do projeto arquitetônico. In: I SEMINÁRIO NACIONAL SOBRE ENSINO E
PESQUISA EM PROJETO DE ARQUITETURA: OS DESAFIOS DO ENSINO E DA
PESQUISA PARA O NOVO SÉCULO. Anais. Natal, Universidade Federal do Rio Grande do
Norte, 2003, p. 28.
FABRICIO, Marcio; MELHADO, Silvio B.; BERTEZINI, Ana L. A formação do arquiteto e seu
papel de líder na equipe de projetos. In: SEMINÁRIO INTERNACIONAL NUTAU 2006 –
INOVAÇOES TECNOLÓGICAS E SUSTENTABILIDADE. Anais. São Paulo, Núcleo de
Pesquisa em Tecnologia de Arquitetura e Urbanismo - Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo / Universidade de São Paulo, 2006.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Aurélio Século XXI: o dicionário da
língua portuguesa. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999.
FERREIRA, Clóvis Chiezzi Seriacopi. A casa dos sonhos: necessidades, aspirações,
símbolos. São Paulo, Dissertação de mestrado, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo /
Universidade de São Paulo, 2006.
FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder. Rio de Janeiro, Edições Graal, 1979.
FRANCESCATO, Guido; WEIDEMANN, Sue; ANDERSON, James. Evaluating the Built
Environment from the Users’ Point of View: An Attitudinal Model of Residential Satisfaction.
In: Building Evaluation. New York, Plenum Press, 1989.
GHOUBAR, Khaled. Os custos de implantação de conjuntos habitacionais populares. In:
SEMINÁRIO NATUREZA E PRIORIDADES DE PESQUISA EM ARQUITETURA E
URBANISMO. Anais. São Paulo: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
/ Faculdade de Arquitetura e Urbanismo / Universidade de São Paulo, 1990.
GIL, C. B.; KATINSKY, Júlio R. Modelos de edifícios, objetos artísticos ou máquinas
destinados à difusão do patrimônio artístico entre o 1º. E 2º. Graus. In: III SIMPÓSIO DE
INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, Anais, v. 1. Universidade
de São Paulo, São Paulo, 1995, p. 225.
GOLLEDGE, Reginald; STIMSON, Robert. Spatial Behaviour: a geographic perspective.
New York, The Guilford Press, 1997.
GOMBRICH, Ernst Hans. Arte e Ilusão: um estudo da psicologia da representação
pictórica. São Paulo, Martins Fontes, 1995.
GOMES, Danilo; GUADANHIM, Sidnei Junior; HIROTA, Ercília Hitomi. Diagnóstico da
gestão dos requisitos de clientes no processo de desenvolvimento do produto de
empreendimentos de Habitação de Interesse Social em Londrina-Pr. In: ENTAC 2006 – XI
ENCONTRO NACIONAL DE TECNOLOGIA DO AMBIENTE CONSTRUÍDO. Anais.
285
Florianópolis, Associação Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído, 2006, p. 1524-
1533.
GONZALEZ, Josep-Luís; CASALS, Albert. Gaudí e a Arquitetura. In: Gaudí: a procura da
forma. São Paulo, Instituto Tomie Ohtake, 2004.
GORDILHO-SOUZA, Angela (org). Habitar Contemporâneo: novas questões no Brasil
dos anos 90. Salvador, Universidade Federal da Bahia / Faculdade de Arquitetura /
Mestrado em Arquitetura e Urbanismo / Lab Habitar, 1997.
GOULD, Stephen Jay. A montanha de moluscos de Leonardo da Vinci – ensaios sobre
história natural. São Paulo, Companhia das Letras, 2003.
GREGOTTI, Vittorio. Território da Arquitetura. São Paulo, Perspectiva, 2001.
GROSTEIN, Marta Dora. Expansão urbana e habitação da classe trabalhadora: da vila
operária ao lote popular. In: Habitação e Cidade. São Paulo, Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo / Universidade de São Paulo / Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de
São Paulo, 1998, p. 101-121.
GUADANHIM, Sidnei Junior. Influência da Arquitetura Moderna nas casas de Londrina.
Tese de Doutorado, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo / Universidade de São Paulo,
São Paulo, 2002.
GYMPEL, Jan. História da Arquitectura. Hong Kong, Konemann, 1996.
HABRAKEN, N.J.; et al. El diseño de soportes. Barcelona, Gustavo Gili, 1979.
HELLMANN, Marie-Christine. Les maquettes du monde classique – Grèce, Italie et Empire
romain. In: Dossiers d’Archeologie, n. 242. Dijon, Faton, 1999, p. 42-47.
HELVÉCIA, Heloísa. Nossa casa é 10. Revista da Folha de São Paulo - Morar. São Paulo,
27 de outubro de 2006, p. 30-40.
HERSHBERGER, Robert. Architectural programming and predesign manager. New
York, MacGraw-Hill, 1999.
HESSEN, Johannes. Teoria do conhecimento. São Paulo, Studium, 1973.
HINO, Mauricio K.; MELHADO, Silvio B. Melhoria da qualidade do projeto de
empreendimentos habitacionais de interesse social utilizando o conceito de desempenho.
CONGRESSO LATINO AMERICANO: TECNOLOGIA E GESTÃO NA PRODUÇÃO DE
EDIFÍCIOS. Anais. São Paulo, Escola Politécnica / Universidade de São Paulo, 1998. v.2, p.
485-91.
HMSO – HER MAJESTY’S STATIONERY OFFICE. Space in the Home: metric edition,
Design Bulletin 6. London, HMSO, 1972.
IMAI, César. Análise dimensional em habitações de interesse social baseadas em projetos
participativos. In: SEMINÁRIO INTERNACIONAL NUTAU 2004 – DEMANDAS SOCIAIS,
INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS E A CIDADE. Anais. São Paulo, Núcleo de Pesquisa em
Tecnologia da Arquitetura e Urbanismo - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo /
Universidade de São Paulo, 2004, p. 146-147.
286
__________ Avaliação Pós-Ocupação (APO) no Projeto Casa Fácil: o caso de
Londrina, Paraná. Dissertação de mestrado, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo /
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2000.
__________ Habitações Auto Construídas baseadas em projeto participativo: alterações
espaciais e desempenho funcional. In: SEMINÁRIO INTERNACIONAL NUTAU 2002 –
SUSTENTABILIDADE, ARQUITETURA E DESENHO URBANO. Anais. São Paulo, Núcleo
de Pesquisa em Tecnologia da Arquitetura e Urbanismo - Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo / Universidade de São Paulo, 2002.
IPT - INSTITUTO DE PESQUISAS TECNOLÓGICAS DO ESTADO DE SÃO PAULO.
Manual de tipologias de projeto e de racionalização das intervenções por ajuda-
mútua. São Paulo, Instituto de Pesquisas Tecnológicas, 1987.
__________ Projeto Vila Nova Cachoeirinha – a participação da população na produção de
moradias. In: Tecnologia de Edificações, São Paulo, Instituto de Pesquisas Tecnológicas,
1984, p. 113-116.
ISHIKAWA, Márcia; KATINSKY, Júlio R. Kit de Modelo Tridimensional do Conjunto
Arquitetônico da marquise do Parque Ibirapuera. In: XII SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE
INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, Anais (cd-rom).
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2004.
ITTELSON, William. Environment and Cognition. Seminar Press, New York, 1973.
IZZO, Alberto; GOBITOSI, Camillo. C. E. Jeanneret – Le Corbusier. Roma, Officina
Edizioni, 1979.
JACOBS, Jane. Vida e morte nas grandes cidades. São Paulo, Martins Fontes, 2000.
JAGLBAUER, Vivien; MELHADO, Silvio B.; LIMA, José R. Análise da gestão da qualidade
em um pequeno escritório de Arquitetura In: SEMINÁRIO INTERNACIONAL NUTAU 2006
INOVAÇOES TECNOLÓGICAS E SUSTENTABILIDADE. Anais. São Paulo, Núcleo de
Pesquisa em Tecnologia de Arquitetura e Urbanismo - Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo / Universidade de São Paulo, 2006.
JONES, Peter Blundell. Lagoon grouping. In: The Architectural Review no. 1085, p. 21-27,
Londres, 1987.
KAPP, Silke; SANTOS, Ana Paula Baltazar dos. Interface Digital para Produção Autônoma
de Moradias. In: IX CONGRESO IBEROAMERICANO DE GRÁFICA DIGITAL - SIGRADI,
2005, Anais. Universidad Peruana de Ciencias Aplicadas, Lima, 2005, p. 793-799.
KANT, Immanuel. Crítica da razão pura. Tradução de Alex Marins. São Paulo, Martin
Claret, 2006. Título original: Kritik der Reinen Vernunft.
KAPLAN, Abraham. A conduta na Pesquisa. Editora da Universidade de São Paulo, São
Paulo, 1975.
KAPLAN, Rachel. Environment Description and Prediction: A Conceptual Analyses. In:
Environment, Cognition and Action. Oxford Press, New York, 1991, p. 19-34.
KATINSKY, Julio R. Ensinar – aprender: por uma educação criadora. In: Contribuição ao
ensino de Arquitetura e Urbanismo. Brasília, INEP, 1999a, p. 7-30.
287
__________ Leituras de Arquitetura, Viagens, Projetos. São Paulo, Tese de Livre
Docência, FAUUSP, 1990.
__________ Preliminares a um estudo futuro de Vitrúvio. In: Da Arquitetura. São Paulo,
Hucitec / Fundação para a Pesquisa Ambiental, 1999b, p. 8-47.
__________ Renascença: Estudos periféricos. São Paulo, FAUUSP, 2002.
KERNOHAN, David; GRAY, John. Selecting Acomodation. In: Building Evaluation
Techniques, New York, MacGraw-Hill, 1996.
KERNOHAN, David; GRAY, John; DAISH, John; JOINER, Duncan. User Participation in
building design and management. Oxford, Butterworth Heinemann, 1992.
KING, Ross. Brunelleschi’s Dome – How a Renaissance genius reinvented
Architecture. Penguin Books, New York, 2000.
KNOUBLAUGH, Ralph R. Modelmaking for industrial design. New York, McGraw Hill,
1958.
KOPP, Anatole. Quando o Moderno não era um estilo e sim uma causa. São Paulo,
Nobel, 1990.
KOSTOF, Spiro. The Architect: Chapters in the History of the Profession. Los Angeles,
University of Califórnia Press, 2000.
KOWALTOWSKI, Doris C. C. K.; PINA, Silvia A.M.G. Transformações de Casas Populares:
Uma Avaliação. In: III ENCONTRO NACIONAL E I ENCONTRO LATINO-AMERICANO DE
CONFORTO NO AMBIENTE CONSTRUÍDO. Anais. Gramado, Associação Nacional de
Tecnologia do Ambiente Construído, 1995, p. 625-630.
KROLL, Lucien. An Architecture of complexity. Tradução de Peter Blundell Jones.
Cambridge, Massachusetts Institute of Technology Press, 1987. Título original: Composants
– faut-il industrialisier l’architecture?
KÜLLER, Rikard. Environment Assessment from a Neuropsychological Perspective. In:
Environment, Cognition and Action. Oxford Press, New York, 1991, p. 111-147.
KURRENT, Friedrich. Scale Models – Houses of the 20th Century. Berlin, Birkhäuser,
1999.
LAUGIER, Marc-Antoine. An Essay on Architecture. Tradução de Wolfgang and Anni
Herrmann. Los Angeles, Hennessey & Ingalls, 1977. Título original: Essai sur l’Architecture.
LEE, Terrence. Psicologia e Meio Ambiente. Zahar, Rio de Janeiro, 1977
LEMOS, Carlos Alberto Cerqueira. A casa brasileira, sua evolução no tempo e no
espaço
: Curso, 4 de maio a 08 de junho de 2005. São Paulo, Museu da Casa Brasileira,
2005. (Notas de aula do ouvinte).
__________ Cozinhas, etc. São Paulo, Perspectiva, 1978.
__________ História da Casa Brasileira. São Paulo, Contexto, 1989.
288
LEMOS, Carlos Alberto Cerqueira; SAMPAIO, Maria Ruth Amaral de. Habitação Popular
Paulistana. São Paulo, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo / Universidade de São Paulo,
1977.
LIBEN, Lynn. Environmental Cognition through Direct and Representational Experiences: a
Life-Span Perspective. In: Environment, Cognition and Action. Oxford Press, New York,
1991, p. 245-276.
LIMA, Aluizia Márcia Fonseca de. Arquiteto Pau-de-Arara – A aventura da procura do
saber. Dissertação de mestrado, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo / Universidade de
São Paulo, São Paulo, 1989.
LIMA, Maria Helena Beozzo de. Em busca da casa própria: Autoconstrução na periferia do
Rio de Janeiro. In: Habitação em questão. Rio de Janeiro, Zahar, 1979, p. 69-92.
LOPES, João M.; BOGÉA, Marta; REBELLO, Yopanan C. P. Arquiteturas da Engenharia,
ou, Engenharias da Arquitetura. São Paulo, Mandarim, 2006.
MACHADO, Roberto. Por uma genealogia do saber. In: Microfísica do Poder. Rio de
Janeiro, Edições Graal, 1979, p. 6-13.
MALARD, Maria Lucia (org.). Alguns problemas de projeto ou de ensino de Arquitetura. In:
Cinco textos sobre Arquitetura. Belo Horizonte, Editora da Universidade Federal de Minas
Gerais, 2005, p. 79-114.
__________ Avaliação Pós-Ocupação, participação de usuários e melhoria de qualidade de
projetos habitacionais: uma abordagem fenomenológica. In: Inserção Urbana e Avaliação
Pós-Ocupação (APO) da Habitação de Interesse Social. São Paulo, Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo / Universidade de São Paulo, 2002.
MALPASS, Peter. A reappraisal of Byker Part 2: Magic, myth and the architect. In: The
Architects Journal, v. 16, p. 1011-1021, London, 1979.
MARCUS, Clare Cooper. House as a mirror of self. Berkeley, Conari Press, 1995.
MARICATO, Ermínia. Autoconstrução, a arquitetura possível. In: A produção capitalista da
casa (e da cidade) no Brasil industrial. Salvador, Universidade Federal da Bahia/
Faculdade de Arquitetura/ Mestrado em Arquitetura e Urbanismo/ Lab-Habitar, 1997, p. 21-
37.
MARTÍNEZ, Alfonso C. Ensaio sobre o Projeto. Brasília, Editora da Universidade de
Brasília, 2000.
MARTON, Ference. Phenomenography – describing conceptions of the world around us. In:
Instructional Science 10, Elsevier Scientific Plublishing Company, Armsterdam, 1981, p.
177-200.
MATURANA, Humberto R. A ontologia da realidade. Belo Horizonte, Editora da
Universidade Federal de Minas Gerais, 1997.
MATURANA, Humberto R.; VARELA, Francisco J. A árvore do conhecimento: as bases
biológicas da compreensão humana. São Paulo, Palas Athena, 2001.
MAUTNER, Yvonne. The periphery as a frontier for the expansion of capital. London,
Bartlett School of Architecture & Planning, 1991.
289
MEDVEDOVSKI, Nirce S.; COSWIG, Mateus T.; BRITO, Juliana; ROESLER, Sara. Gestão
condominial e satisfação do usuário: estudo de caso para o programa PAR em Pelotas. In:
Revista Ambiente Construído v. 6, n. 4. Porto Alegre, Associação Nacional de Tecnologia
do Ambiente Construído, 2006a, p. 33-49.
MEDVEDOVSKI, Nirce S.; ROESLER, Sara; COSWIG, Mateus T. Histórico e caracterização
da implantação do programa PAR no município de Pelotas-RS: análise dos fatores de
sucesso. In: SEMINÁRIO INTERNACIONAL NUTAU 2006 – INOVAÇOES TECNOLÓGICAS
E SUSTENTABILIDADE. Anais. São Paulo, Núcleo de Pesquisa em Tecnologia de
Arquitetura e Urbanismo - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo / Universidade de São
Paulo, 2006b.
MELHADO, Silvio B.; et al. Coordenação de projetos de edificações. São Paulo, O Nome
da Rosa, 2005.
MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da Percepção. São Paulo, Martins Fontes,
1996.
__________ O visível e o invisível. São Paulo, Perspectiva, 1971.
MITCHELL, C. Thomas. Redefining Designing: from form to experience. New York, Van
Nostrand Reinhold, 1993.
MONZÉGLIO, Elide. Espaço / Cor – Unidade de Comunicação. Tese de Livre Docência,
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo / Universidade de São Paulo, São Paulo, 1979.
MORRIS, Mark. Models: Architecture and the miniature. London, John Wiley & Sons,
2006.
NAKANO, Anderson; LOURENÇO, Maria C. F. “Kit” para maquete de uma habitação
indígena do alto Xingu construída pelos Yawalapiti. In: III SIMPÓSIO DE INICIAÇÃO
CIENTÍFICA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, Anais, v. 1. Editora da Universidade de
São Paulo, São Paulo, 1995, p. 226.
NEUFERT, Ernst. A arte de Projetar em Arquitetura. 17ª.edição. Barcelona, Gustavo Gili,
2004.
NEWMAN, Oscar. Defensible Space. Disponível em: <http://www.defensiblespace.com>
Acesso em 15 de junho de 2004.
NIWINSKI, Andrzej. Las “Casas del Alma” y su relación com la arquitectura funerária y civil
del antiguo Egipto. In: Las Casas del Alma. Barcelona, Fundación Caja de Arquitectos,
1997, p. 41-46.
NOGUCHI, Andrea; KATINSKY, Júlio R. Modelos Tridimensionais para estudantes do curso
secundário – Ginásio do Ibirapuera. In: XII SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE INICIAÇÃO
CIENTÍFICA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, Anais (cd-rom). Universidade de São
Paulo, São Paulo, 2004.
NORBERG-SCHULZ, Christian. Arquitectura Occidental. Barcelona, Gustavo Gili, 1983.
NOVAES, Antonio G. Modelos em planejamento urbano, regional e de transportes. São
Paulo, Blücher, 1981.
290
OLIVEIRA, Lívia. Percepção e representação do espaço geográfico. In: Percepção
Ambiental – A Experiência Brasileira. São Paulo, Nobel / Universidade Federal de São
Carlos, 1996, p. 187-212.
ORNSTEIN, Sheila W. Programa(ação) de necessidades e para manutenção, operação e
gerenciamento do ambiente construído: aproveitando o potencial da Avaliação Pós-
Ocupação (APO). In: Avaliação Pós-Ocupação – APO: saúde nas edificações da
FIOCRUZ. Rio de Janeiro, Fiocruz, 2004.
ORNSTEIN, Sheila W.; BORELLI NETO, José (Coord.). Avaliação de desempenho de
Conjuntos Habitacionais da Grande São Paulo. In: Cadernos Técnicos do AUT nº 2. São
Paulo, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo / Universidade de São Paulo, 1996.
ORNSTEIN, Sheila W.; BRUNA, Gilda; ROMÉRO, Marcelo. Ambiente construído e
comportamento - A avaliação Pós-Ocupação e a qualidade ambiental. São Paulo,
Studio Nobel, Fundação para a Pesquisa Ambiental / Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
/ Universidade de São Paulo, 1995.
ORNSTEIN, Sheila W.; CRUZ, Antero de O. Análise de desempenho funcional de
habitações de interesse social na Grande São Paulo. cd-rom. In: ENTAC 2000 – VIII
ENCONTRO NACIONAL DE TECNOLOGIA DO AMBIENTE CONSTRUÍDO:
MODERNIZAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. Anais. Salvador, Associação Nacional de
Tecnologia do Ambiente Construído, 2000.
ORNSTEIN, Sheila W.; ROMÉRO, Marcelo (colaborador). Avaliação Pós-Ocupação (APO)
do ambiente construído. São Paulo, Studio Nobel, Editora da Universidade de São Paulo,
1992.
ORNSTEIN, Sheila W.; ROMÉRO, Marcelo; CRUZ, Antero de O. Avaliação Funcional e do
conforto ambiental de habitações autoconstruídas: o caso do município de São Paulo. In:
SEMINÁRIO NACIONAL SOBRE DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO DOS PRÉ-
MOLDADOS E AUTOCONSTRUÇÃO. Anais. São Paulo, Núcleo de Pesquisa em
Tecnologia de Arquitetura e Urbanismo, USP, 1995, p. 249-258.
PALLAMIN, Vera. A construção da espacialidade plástica. Tese de Doutorado, Faculdade
de Arquitetura e Urbanismo / Universidade de São Paulo, São Paulo, 1992.
PAMPLONA, Telmo Luiz. O interior da casa proletária. São Paulo, Dissertação de
Mestrado, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo / Universidade de São Paulo, 1981.
PANERO, Julius; ZELNIK, Martin. Dimensiones Humanas para los Espacios Interiores.
Barcelona, Gustavo Gili, 1979.
PATEMAN, Carole. Participation and Democratic Theory. London, Cambridge Press,
1970.
PEDRO, João Branco. Definição e avaliação da qualidade arquitectónica habitacional.
Lisboa, Faculdade de Arquitectura / Universidade do Porto, 2000.
__________ Programa habitacional – espaços e compartimentos Arquitetura - v.1.
Lisboa, Laboratório Nacional de Engenharia Civil, 2001.
291
__________ Revisão das áreas mínimas da habitação definidas no RGEU. In: ENCONTRO
NACIONAL SOBRE QUALIDADE E INOVAÇÃO NA CONSTRUÇÃO – QIC2006. Anais.
Lisboa, Laboratório Nacional de Engenharia Civil, 2006.
PEÑA, William. Problem Seeking: na architetctural programming primer. Washington,
AIA Press, 1987.
PEREIRA, Alice T. C.; et al. Consideração do usuário no projeto de Habitação Social através
de Sistema Hipermídia. In: Características da Habitação de Interesse Social na região
de Florianópolis: desenvolvimento de indicadores para a melhoria do setor.
Florianópolis, Universidade Federal de Santa Catarina / Financiadora de Estudos e
Pesquisas, 2003 (cd rom).
PEVSNER, Nikolaus. Origens da Arquitetura Moderna e do Design. São Paulo, Martins
Fontes, 1981.
PIAGET, Jean. Seis Estudos de Psicologia. Rio de Janeiro, Forense Universitária, 1997.
PIAGET, Jean; INHELDER, Bärbel. A representação do espaço da criança. Porto Alegre,
Artes Médicas, 1993.
PICARELLI, Marlene; et al. Habitação: Representação. In: Sinopses no. 17. São Paulo,
FAUUSP, 1992, p. 42-47.
PINA, Silvia; KOWALTOWSKI, Doris; RUSCHEL, Regina; LABAKI, Lucila; BERTOLI
Stelamaris; BORGES FILHO, Francisco; FÁVERO, Édison. Ação e cooperação na questão
da habitação social em área de interesse ambiental. cd-rom. In: ENTAC 2002 – IX
ENCONTRO NACIONAL DE TECNOLOGIA DO AMBIENTE CONSTRUÍDO. Anais. Foz do
Iguaçu, Associação Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído, 2002.
PINHEIRO, José Q. Experiência “ambiental” de ambientes representados. In: Psicologia
Ambiental - Entendendo as relações do homem com seu ambiente. Campinas, Alínea,
2004, p. 167-180.
POLIÃO, Marco Vitrúvio. Da Arquitetura. Tradução de Marco Aurélio Lagonegro. São
Paulo, Hucitec / Fundação para a Pesquisa Ambiental, 1999. Título original: Vitruvii De
Arqchitectura Libri Decem.
PORTAS, Nuno. Funções e Exigências de Áreas na Habitação. Lisboa, Laboratório
Nacional de Engenharia Civil, 1969.
PREISER, Wolfgang F. E. (ed.). Building Evaluation. New York, Plenum Press, 1989.
__________ (ed.). Facility Programming: methods and aplications. Stroudsbourg,
Dowden, Hutchinson & Ross, 1978.
__________ (ed.). Professional Practice in Facility Programming. New York, Van
Nostrand Reinhold, 1993.
PREISER, Wolfgang F. E.; RABINOWITZ, Harvey Z. & WHITE, Edward T. Post-Occupancy
Evaluation. New York, Van Nostrand Reinhold, 1988.
PREISER, Wolfgang F. E.; VISCHER, Jacqueline C. Assessing Building Performance.
Oxford, Elsevier, 2005.
292
PRONSATO, Sylvia A. D. Arquitetura e Paisagem – projeto participativo e criação
coletiva. São Paulo, Annablume / Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São
Paulo / Fundação para a Pesquisa Ambiental, 2005.
RAVESTEIN, Albert, et al. Vaillantlaan de haag: Jo Coenen en eem nieuwe visie op
stedebouw en stadsvernieuwing. Roterdan, NAI Uitgevers, 1996.
REBELLO, Yopanan C. P. A Concepção Estrutural e a Arquitetura. São Paulo, Zigurate,
2000.
REIS, Antonio. Avaliação de alterações realizadas pelo usuário no projeto original da
habitação popular. In: VI ENCONTRO NACIONAL DE TECNOLOGIA DO AMBIENTE
CONSTRUÍDO: QUALIDADE E TECNOLOGIA NA HABITAÇÃO. Anais. Rio de Janeiro,
Associação Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído / Universidade Federal do Rio
de Janeiro, 1995, p. 319-330.
__________ Participação do usuário no projeto da habitação popular. In: Ambiente
Construído, v. 1, nº. 1. São Paulo, Associação Nacional de Tecnologia do Ambiente
Construído, 1997, p. 31-44.
__________ Ambientes residenciais: Alterações espaciais, comportamentos e atitudes dos
moradores. cd-rom. In: ENTAC 2000 – VIII ENCONTRO NACIONAL DE TECNOLOGIA DO
AMBIENTE CONSTRUÍDO: MODERNIZAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. Anais. Salvador,
Associação Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído, 2000.
REIS, Antonio; LAY, Maria Cristina. Avaliação da qualidade de projetos. In: Revista
Ambiente Construído v. 6, n. 3. Porto Alegre, Associação Nacional de Tecnologia do
Ambiente Construído, 2006, p. 21-34.
RHEINGANTZ, Paulo Afonso. De corpo presente: sobre o papel do observador e a
circularidade de suas interações com o ambiente construído. In: SEMINÁRIO
INTERNACIONAL NUTAU 2004 – DEMANDAS SOCIAIS, INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS E
A CIDADE. Anais (cd rom). São Paulo, Núcleo de Pesquisa em Tecnologia da Arquitetura e
Urbanismo - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo / Universidade de São Paulo, 2004, p.
118-119.
RHEINGANTZ, Paulo Afonso; ALCANTARA, Denise de. Cognição experiencial, observação
e sustentabilidade na avaliação pós-ocupação de ambientes urbanos. In: Revista Ambiente
Construído v. 7, n. 1. Porto Alegre, Associação Nacional de Tecnologia do Ambiente
Construído, 2007, p. 35-46.
RHEINGANTZ, Paulo Afonso; RHEINGANTZ, Ana; PINHEIRO, Ethel. A construção social do
conhecimento no atelier de projeto de Arquitetura. In: I SEMINÁRIO NACIONAL SOBRE
ENSINO E PESQUISA EM PROJETO DE ARQUITETURA: OS DESAFIOS DO ENSINO E
DA PESQUISA PARA O NOVO SÉCULO. Anais. Natal, Universidade Federal do Rio
Grande do Norte, 2003, p.47.
RIFRANO, Luiz. Avaliação de Projetos habitacionais. Determinando a funcionalidade
da Moradia Social. São Paulo, Ensino Profissional, 2006.
RIO, Vicente del. Considerações sobre a universidade e seu papel social. In: II SEMINÁRIO
SOBRE ENSINO E PESQUISA EM PROJETO DE ARQUITETURA: REBATIMENTOS,
PRÁTICAS E INTERFACES. Anais. Rio de Janeiro, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo /
Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2005, p. 59-80.
293
ROCHA, Ângela M. Por uma caracterização da pintura contemporânea. Tese de
Doutorado, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo / Universidade de São Paulo, São Paulo,
1997.
ROMÉRO, Marcelo. A arquitetura, o conforto ambiental e o comportamento dos usuários. In:
Sinopses nº. 34 . São Paulo, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo / Universidade de São
Paulo, 2000, p. 31-49.
ROMÉRO, Marcelo; ORNSTEIN, Sheila W. (ed.). Avaliação Pós-Ocupação: métodos e
técnicas aplicados à Habitação Social. Porto Alegre, Associação Nacional de Tecnologia
do Ambiente Construído, 2003.
ROMICE, Ombretta. Conhecimento, interdisciplinaridade e psicologia ambiental. In:
Psicologia USP, v. 16, p.167-178. São Paulo, Instituto de Psicologia / Universidade de São
Paulo, 2005.
__________ Psicologia ambiental e Arquitetura. In: Psicologia e Ambiente. Campinas,
EDUC, 2004, p. 305-330.
ROSSI, Aldo Loris. I Modelli originali e lê riproduzioni de-costruibili. In: C. E. Jeanneret – Le
Corbusier. Roma, Officina Edizioni, 1979, p. 100-106.
ROSSO, Teodoro S. Racionalização da construção. São Paulo, Faculdade de Arquitetura
e Urbanismo / Universidade de São Paulo, 1980.
ROTH, Leland. Entender la Arquitectura: sus elementos, historia y significado.
Barcelona, Gustavo Gili, 1999.
ROZESTRATEN, Artur. Estudo sobre a história dos modelos arquitetônicos na
antiguidade: Origens e características das primeiras maquetes de arquiteto.
Dissertação de mestrado, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo / Universidade de São
Paulo, São Paulo, 2003.
RUSCHEL, Regina C.; OLIVEIRA, Alessandra A. S. O potencial da animação digital como
ferramenta de verificação de projeto. In: VIII CONGRESSO ANUAL DA SOCIEDADE
IBERO-AMERICANA DE GRÁFICA DIGITAL: O SENTIDO E O UNIVERSO DIGITAL. Anais.
São Leopoldo, Universidade do Vale do Rio dos Sinos, 2004, p. 265-268.
RYBCZYNSKI, Witold. Casa: pequena história de uma idéia. Rio de Janeiro, Record,
1996.
RYKWERT, Joseph. A casa de Adão no Paraíso. São Paulo, Perspectiva, 2003.
SAMPAIO, Maria Ruth Amaral (coord). Habitação e Cidade. São Paulo, Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo / Universidade de São Paulo / Fundação de Amparo à Pesquisa do
Estado de São Paulo, 1998.
SANOFF, Henry. Community Design: A New Delivery System. In: 53 Research Papers in
Social Architecture: 1965-2005. Raleigh, Aardvark, 2006a, p. 281-289.
__________ Community Participation Methods in Design and Planning. New York, John
Willey & Sons, 2000.
294
__________ Democratizing design and planning through community participation. In: 53
Research Papers in Social Architecture: 1965-2005. Raleigh, Aardvark, 2006c, p. 494-
501.
__________ Methods of architectural programming. Stroudsburg, Dowden, Hutchinson &
Ross, 1977.
__________ Participatory Design in Focus. In: 53 Research Papers in Social Architecture:
1965-2005. Raleigh, Aardvark, 2006b, p. 372-387.
__________ Visual Research Methods in Design. New York, Van Nostrand Reinhold,
1991.
SANTIAGO, Marcelo P.; PEREIRA, Gabriel V. da R.; MELO, Matheus M. F.; FARIAS, Luís F.
de; BOTELHO, Natália B. Conjunto Santa Rosa 2. Belo Horizonte, 4 p. Trabalho não
publicado. 2005.
SANTOS, Boaventura de S. A crítica da razão indolente – Contra os desperdícios da
experiência. São Paulo, Cortez, 2007.
__________ Introdução à uma Ciência Pós-Moderna. Rio de Janeiro, Editora Graal, 1989.
SANTOS, Carlos Nelson Ferreira dos. Velhas novidades nos modos de urbanização
brasileira. In: Habitação em questão. Rio de Janeiro, Zahar, 1981, p. 17-47.
SCHATTNER, Thomas G. Las maquetas arquitectónicas de la Grécia Antiga y su relación
com la Arquitectura de la época. In: Las Casas del Alma. Barcelona, Fundación Caja de
Arquitectos, 1997, p. 90-94.
SCHOENAUER, Norbert. 6.000 years of housing. New York, W.W. Norton & Company,
2000.
SCHOEP, Ilse. Maquetas arquitectônicas Prehelënicas em el Egeo. In: Las Casas del
Alma. Barcelona, Fundación Caja de Arquitectos, 1997, p. 83-89.
SERRA, Geraldo G. Teoria, Simulação e Modelo na Arquitetura. In: ENCONTRO
NACIONAL DE MODELOS DE SIMULAÇÃO DE AMBIENTES. Anais. Núcleo de Pesquisa
em Tecnologia da Arquitetura e Urbanismo - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo /
Universidade de São Paulo, 1995. São Paulo, p. 09-18.
SHIMBO, Lúcia Zanin. A casa é o pivô: mediações entre o arquiteto, o morador e a
habitação rural. Dissertação de mestrado, Escola de Engenharia de São Carlos /
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2004.
SILVA, Elvan. Geometria funcional dos espaços da habitação: Contribuição ao estudo
da problemática da habitação de interesse social. Porto Alegre, Editora da Universidade
do Rio Grande do Sul, 1982.
__________ Uma introdução ao Projeto Arquitetônico, 2
a
. ed., Porto Alegre, Editora da
Universidade do Rio Grande do Sul, 1998a.
SILVA, Paulo Sergio Souza. Ajuda Mútua e Autogestão na produção da Habitação de
Interesse Social e do ambiente Urbano – o caso de Vila Nova Cachoeirinha. In: Habitação e
Cidade. São Paulo, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo / Universidade de São Paulo /
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, 1998b, p. 147-168.
295
SMITH, Albert C. Architectural Model as Machine - a new view of models from antiquity
to the present day. Oxford, Architectural Press / Elsevier, 2004.
SOMMER, B; SOMMER, R. A practical guide to behavioral research. Tools and
Techniques. New York, Oxford University Press, 1991.
SOMMER, Robert. A conscientização do Design. São Paulo, Brasiliense, 1979.
__________ Social Design – Creating Buildings with People in Mind. New Jersey,
Pretince-Hall, 1983.
SUMMERSON, John. A linguagem clássica da Arquitetura. São Paulo, Martins Fontes,
1994.
SZÜCS, Carolina P. Apropriação e modificação dos espaços da casa: Inventário de
soluções populares, cd-rom. In: NUTAU 98 - ARQUITETURA E URBANISMO:
TECNOLOGIAS PARA O SÉC. XXI. Anais. São Paulo. Núcleo de Pesquisa em Tecnologia
da Arquitetura e Urbanismo / Faculdade de Arquitetura e Urbanismo / Universidade de São
Paulo, 1998.
__________ Autoconstrução: Desafio Profissional. In: SEMINÁRIO SOBRE
DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO DOS PRÉ-MOLDADOS E AUTOCONSTRUÇÃO.
Anais. São Paulo, Núcleo de Pesquisa em Tecnologia da Arquitetura e Urbanismo,
Universidade de São Paulo, 1995, p. 71-87.
__________ Flexibilidade e contextualização na habitação de interesse social. In:
SEMINÁRIO INTERNACIONAL NUTAU 2000 – TECNOLOGIA E DESENVOLVIMENTO.
Anais. São Paulo, Núcleo de Pesquisa em Tecnologia da Arquitetura e Urbanismo /
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo / Universidade de São Paulo, 2000, p.342-351.
__________ Recomendações e alternativas para novos projetos de habitação popular a
partir da avaliação das interações entre usuário e moradia. In: Inserção Urbana e
Avaliação Pós-Ocupação (APO) da Habitação de Interesse Social. São Paulo,
Financiadora de Estudos e Pesquisas, 2003, p. 184-193.
TARALLI, Cibele H. Ambiente construído e legislação: o visível e o imprevisível. São
Paulo, Tese de Doutorado, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo / Universidade de São
Paulo, 1995.
TASCHNER, Suzana P. Política habitacional no Brasil: retrospectivas e perspectivas.
Cadernos de pesquisa do LAP-21. São Paulo, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo /
Universidade de São Paulo, 1997.
__________ Um olhar sobre o urbano: políticas públicas em São Paulo. In: Ambientalismo
e participação na contemporaneidade. São Paulo, Editora da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo / Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, 2002, p.
185-208.
TEIXEIRA, Paulo S. Espaço e arquitetura: entre o analógico e o digital. Dissertação de
mestrado, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo / Universidade de São Paulo, São Paulo,
2004.
TORRES, Myrla Lopes; et al. Avaliação do desempenho ergonômico de cozinhas
residenciais através da análise comparativa de arranjos físicos. In: Revista Ambiente
296
Construído v. 6, n. 3. Porto Alegre, Associação Nacional de Tecnologia do Ambiente
Construído, 2006, p. 69-90.
TRAMONTANO, Marcelo; BENEVENTE, Varlete. (Re) Programas: As e-pesquisas Nomads
sobre comportamentos e espaços de morar. cd-rom. In: ENTAC 2004 – X ENCONTRO
NACIONAL DE TECNOLOGIA DO AMBIENTE CONSTRUÍDO. Anais. São Paulo,
Associação Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído, 2004.
TRAMONTANO, Marcelo; SILUK, Ana Paula. Mídias e Espaço Doméstico: levantamento
e caracterização. Disponível em: <http://www.eesc.usp.br/nomads> Acesso em 07 de
setembro de 2006a.
TRAMONTANO, Marcelo; TREVISAN, Nilton. Informatização e espaço doméstico:
Estudos para a inclusão da população de baixa renda na sociedade digital. Disponível
em: <http://www.eesc.usp.br/nomads> Acesso em 07 de setembro de 2006b.
TRAMONTANO, Marcelo; VILLA, Simone; JUNQUEIRA, Patrícia; QUEIROZ, Fábio.
Apartamento Paulistano, a passagem para o século XX. Disponível em:
<http://www.eesc.usp.br/nomads> Acesso em 07 de setembro de 2006c.
TURNER, John F. C. Vivienda, todo el poder para los usuários. Madri, Hermann Blume,
1977.
VALADARES, Lícia do Prado (org). Habitação em questão. Rio de Janeiro, Zahar, 1981.
VARELA, Francisco; THOMPSON, Evan; ROSCH, Eleanor. A mente corpórea. Lisboa,
Instituto Piaget, 2001.
VARGAS, Miltom. Metodologia da pesquisa científica. Rio de Janeiro, Globo, 1985.
VOORDT, Theo J. M. van der; WEGEN, Herman B. R. van Programmming of buildings. In:
Ways to study and research – Urban, architectural and technical design. Delft, Delft
University Press, 2002, p. 271-277.
__________ Arquitecture in Use: an introduction to the programming, design and
evaluation of buildings. Oxford, Architectural Press / Elsevier, 2005.
YAMAKI, Humberto. Dimensões do Mobiliário Popular. Londrina, Editora da Universidade
estadual de Londrina, 2000.
YIN, Robert K. Estudo de caso. Planejamento e métodos. Porto Alegre: Bookman, 2005.
ZEISEL, John. Inquiry by Design; Environment/Behaviour/Neuroscience/in
Architecture, Interiors, Landscape, and Planning. Ed. revisada. New York, W. W. Norton
& Company, 2006.
ZANI, Antonio Carlos. Arquitetura de madeira: Reconhecimento de uma cultura
arquitetônica norte paranaense – 1930/1970. São Paulo, Tese de Doutorado, Faculdade
de Arquitetura e Urbanismo / Universidade de São Paulo, 1997.
__________ Repertorio arquitetônico e sistema construtivo das casas de madeira de
Londrina. São Paulo, Dissertação de Mestrado, Escola de Engenharia de São Carlos /
Universidade de São Paulo, 1989.
297
10 ANEXOS
10.1 MAPAS DAS REGIÕES PESQUISADAS
298
N
0
1
2
3
4
5
K
M
Bairro
Grupo de
Pesquisa
Grupo de
Controle
Jd. Ana Terra 01 03
Jd. dos Andes - 01
Jd. Imagawa 02 02
Jd. Nova Olinda 01 01
Jd. Santiago - 02
Jd. Savana - 02
R. Santa Rita 5 01 01
Total 05 12
N
0
100
20
0
300
40
0
500
m
PROJETOS GRUPO DE CONTROLE
PROJETOS GRUPO DE PESQUISA
Figura 22 – Mapa de Londrina com a localização das habitações do universo de pesquisa – região 1.
299
N
0
1
2
3
4
5
K
M
Bairro
Grupo de
Pesquisa
Grupo de
Controle
Jd. Alto Boa Vista - 03
Jd. Continental 01 -
Jd. Everest 01 04
Jd. Ilha do Mel - 01
Jd. Palmas - 01
Jd. Paracatu - 01
Jd. Paraty - 01
Jd. São Paulo 04 12
Jd. Tocantins - 01
Total 06 24
N
0
1
0
0
2
0
0
3
0
0
4
0
0
5
0
0
m
PROJETOS GRUPO DE CONTROLE
PROJETOS GRUPO DE PESQUISA
Figura 23 – Mapa de Londrina com a localização das habitações do universo de pesquisa – região 2.
300
N
0
1
2
3
4
5
K
M
Bairro
Grupo de
Pesquisa
Grupo de
Controle
Jd. Bavária - 01
Jd. Paris 01 06
Jd. Viena - 01
Pq. Leblon - 01
Pq. R. Portal do Sol 01 05
Total 02 14
N
0
1
0
0
2
0
0
3
0
0
4
0
0
5
0
0
m
PROJETOS GRUPO DE CONTROLE
PROJETOS GRUPO DE PESQUISA
Figura 24 – Mapa de Londrina com a localização das habitações do universo de pesquisa – região 3.
301
N
0
1
2
3
4
5
K
M
Bairro
Grupo de
Pesquisa
Grupo de
Controle
Jd. Aliança 04 12
Jd. Belém 02 08
Jd. Campos Verdes 01 -
Jd. Catuaí - 01
Jd. Itapoá - 03
Jd. Novo Horizonte 02 04
Jd. Primavera - 01
Total 09 29
N
0
1
0
0
2
0
0
3
0
0
4
0
0
5
0
0
m
PROJETOS GRUPO DE CONTROLE
PROJETOS GRUPO DE PESQUISA
Figura 25 – Mapa de Londrina com a localização das habitações do universo de pesquisa – região 4.
302
N
0
1
2
3
4
5
K
M
Bairro
Grupo de
Pesquisa
Grupo de
Controle
Jd. Belleville 01 01
Jd. Itaparica 01 01
Jd. Itapema - 01
Jd. Michael Licha - 01
Jd. Moema 02 -
Jd. Tropical 02 06
Pq. R. Elizabeth - 04
R. Quadra Norte - 01
Total 06 15
N
0
100
200
30
0
400
500m
PROJETOS GRUPO DE CONTROLE
PROJETOS GRUPO DE PESQUISA
Figura 26 – Mapa de Londrina com a localização das habitações do universo de pesquisa – região 5.
303
N
0
1
2
3
4
5
K
M
Bairro
Grupo de
Pesquisa
Grupo de
Controle
Jd. Alemanha - 02
Jd. da Urca 02 01
Jd. Industriville - 01
R. Vila Romana 01 05
Total 03 09
N
0
1
0
0
2
0
0
3
0
0
4
0
0
5
0
0
m
PROJETOS GRUPO DE CONTROLE
PROJETOS GRUPO DE PESQUISA
Figura 27 – Mapa de Londrina com a localização das habitações do universo de pesquisa – região 6.
304
N
0
1
2
3
4
5
K
M
Bairro
Grupo de
Pesquisa
Grupo de
Controle
Jd. da Luz 02 04
Jd. Pioneiros 01 -
Jd. Laranjeiras 01 02
Jd. Monte Sinai - 01
Jd. Santa Alice 01 -
Jd. São Rafael - 01
Jd. Sérgio Antônio - 01
Jd. Tatiane - 01
Jd. Vale do Cedro 02 04
R. Abussafe 02 03
R. Abussafe 2 01 08
Vila Fraternidade - 01
Total 10 26
N
0
1
0
0
2
0
0
3
0
0
4
0
0
5
0
0
m
PROJETOS GRUPO DE CONTROLE
PROJETOS GRUPO DE PESQUISA
Figura 28 – Mapa de Londrina com a localização das habitações do universo de pesquisa – região 7.
305
N
0
1
2
3
4
5
K
M
Bairro
Grupo de
Pesquisa
Grupo de
Controle
Jd. Peq.Londres - 03
Jd. Neman Sahyun 02 -
Jd. Vale Azul - 01
R. José de Almeida - 02
R. Loris Sahyun 01 02
Total 03 08
N
0
1
0
0
2
0
0
3
0
0
4
0
0
5
0
0
m
PROJETOS GRUPO DE CONTROLE
PROJETOS GRUPO DE PESQUISA
Figura 29 – Mapa de Londrina com a localização das habitações do universo de pesquisa – região 8.
306
N
0
1
2
3
4
5
K
M
Bairro
Grupo de
Pesquisa
Grupo de
Controle
Jd. Alto do Cafezal 02 03
Jd. Atlanta - 02
Jd. Del Rei - 01
Jd. N. Esperança 02 -
Jd. Perobal 01 01
Pq. das Indústrias - 01
R. Café Cereja 01 01
Total 06 09
N
0
1
0
0
2
0
0
3
0
0
4
0
0
5
0
0
m
PROJETOS GRUPO DE CONTROLE
PROJETOS GRUPO DE PESQUISA
Figura 30 – Mapa de Londrina com a localização das habitações do universo de pesquisa – região 9.
307
N
0
1
2
3
4
5
K
M
Bairro
Grupo de
Pesquisa
Grupo de
Controle
C. H.Avelino Vieira - 01
Jd. Columbia C 02 01
Jd. Columbia D 02 -
Jd. Tókio 01 -
Jd. Sabará - 02
Pq. Universidade 02 02
Total 07 06
N
0
1
0
0
2
0
0
3
0
0
4
0
0
5
0
0
m
PROJETOS GRUPO DE CONTROLE
PROJETOS GRUPO DE PESQUISA
Figura 31 – Mapa de Londrina com a localização das habitações do universo de pesquisa – região 10.
308
10.2 MODELO DE FORMULÁRIO DE QUESTIONÁRIO/ENTREVISTA
309
310
311
10.3 MODELO DE FORMULÁRIO DE LEVANTAMENTO TÉCNICO CONSTRUTIVO
312
313
10.4 EXEMPLO DA TRANSCRIÇÃO EM VÍDEO (SIMULAÇÃO DOS PROJETOS)
1
2
3
P – Você montou esse desenho aqui (planta baixa),
mas você considerou a espessura das paredes?
Senão não vai bater a área... Você calculou a área?
U – A área é de 69 m
2.
P – Incluindo a garagem, ou sem a garagem?
U – Com.
P – Aqui tem um quarto, um banheiro, outros dois
quartos, a cozinha e a sala. Vamos ver! Você tem
uma copa, né? Sabe qual é o problema aqui? A
copa virou um grande corredor, onde não consegue
colocar os móveis. Vamos montar essa proposta
para você ver.(1 e 2)
(Montagem de Maquete)
P2 – Esse quarto aqui precisa ser de 8,00 m
2
. e
está com 7,00 m
2
.
P1 – Não. Nem estava considerando ele com essa
largura de 2,00m . (montagem).
P1 – Quanto deu a área?
P2 – 73,00 m
2
.
P1 – Ela calculou e deu 73,00 m
2
. Bom, nós vamos
ter que dar uma verificada e ver também essa
questão das paredes, porque sem elas não dá, né?
(Montagem de Maquete)
U – Essa parede, na verdade é aberta, (ligação
entre copa e cozinha), fazendo um arco. (3)
P1 – Um arco?
U – É.
(Montagem de Maquete)
P1 – Esse quarto tem que ser bem maior para poder
abrir a porta aqui. No seu desenho essa cozinha
tem 2,5m. (largura). (4)
U – A cozinha pode ser menor!
P1 – Essa sua casa aqui (maquete), ficou um pouco
diferente dessa (croqui-planta), inclusive tirando a
garagem. Os ambientes tem uma área mínima que
4
314
5
6
7
8
o seu projeto não alcança. Se você aprovar o
projeto com um quarto com 7,0 m
2
. (segundo
dormitório), sem. considerar as paredes, a prefeitura
não aprova. O primeiro quarto tem que ser 10,00 m
2
, o segundo 8,0 m
2
e o terceiro 6,0 m
2
(5)
(Cálculo da área)
P1 – Bom, eu estou com esse projeto aqui, e ele é
de 72,00 m
2
, sem a garagem.
U – Sem a garagem?
P1 – É que agora tem as paredes, por isso
aumentou. Eu vou colocar os móveis e podemos ver
como fica. Só que vai ter que aprovar sem a
garagem. Se você achar que pode diminuir a casa,
a gente tira alguma coisa e coloca a garagem. Você
que montou isso daqui (planta-croqui) quer colocar
os móveis? Como você pensou? Esse é o quê?
U – Quarto de casal.(6)
P1 – Qual é o Norte do terreno dele?
P2 – Para cá.
P1 – Então o melhor para a janela dele é aqui. Se
colocar aqui pega mais sol de manhã e na outra,
mais sol à tarde.(7)
P1 – Olha, não cabe a porta aqui. Vamos ter que
diminuir este outro quarto para poder colocar a
porta.
U – O guarda-roupa não pode ser aqui? (8)
P1 – Não, porque senão a porta do guarda-roupa
bate na cama. Essa circulação tem 0,50cm, se eu
colocar menos pode dar problema.
U – E se colocar a cama de outro jeito?
P1 – Assim?
U – É.
P1 – Você pode também colocar um guarda-roupa
bem maior, em outra parede (9), você pode colocar
mais alguma coisa aqui, uma cômoda ou
escrivaninha, aqui dá um criado. E dá para diminuir
o quarto ainda, esse quarto é grande. Na sua
cozinha eu sugeria colocar uma pia comum de
1,20m. Vamos colocar uma porta para a gente se
localizar. Onde você tinha pensado?
U – Aqui.
9
315
10
11
12
13
P1 – Vamos ver. Não sei se é uma boa posição. O
legal da pia é colocar ela voltada para uma janela.
U – Eu tinha colocado essa janela aqui (dormitório)
(10), no caso de aumentar, e futuramente, quem
sabe, colocar um banheiro aqui.
P2 – Interessante. No caso você teria que colocar a
janela mais na lateral.
P1 – Mais se ele aumentar aí, não dá para colocar a
janela da cozinha ali, pois está na divisa.
U – Mais na lateral tem um corredor de 1,5m, e nós
podemos colocar a janela ali.
P1 – Mas então não é esse desenho que o senhor
quer, porque a casa tem 6,65m, essa lateral (da
garagem) tem 2,5m. Só aí dá 9,15. Mais um
corredor de 1,5m dá 10,6m e o terreno tem 10,00m.
U2 – Veja bem, a minha pergunta é a seguinte:
Essa largura tem mais ou menos 7,00m? (11)
P1 – É.
U2 – Então, com 1,5m de cada lado dá 10,00m?
P2 – Mas, e o espaço para a garagem?
P1 – Não, vamos mudar para cá, só esse módulo,
daí deixamos o espaço da garagem dele e desloca
tudo para cá. (12)
(Montagem de Maquete)
P1 – Então deixamos esse espaço para a garagem.
Então ele quer colocar a janela aqui para um dia
aumentar para lá. Vamos colocar a pia aqui e o
fogão do lado. Do outro lado uma geladeira e o
paneleiro e tem espaço para algum outro móvel. Na
cozinha não cabe a mesa, tem que ser na copa.
Você quer uma mesa de 4 ou de 6 lugares?
U – Eu quero aqui.
P1 – Mas aí tem uma porta. Pega uma porta aí. Viu,
não dá. (13) Se você colocar ela aqui, no entanto,
fica meio congestionado, para passar para a
cozinha, mas dá. Ali fica uma espécie de circulação,
e por aqui passa para a cozinha. Isso é claro,
encostando a mesa na parede, porque se colocar
no meio não dá.
U – E se virar o lado? (14)
P1 – Nesse caso a mesa fica no meio da circulação.
A não ser que a gente diminua essa parede aqui, e
14
316
15
16
17
18
coloque uma parede aqui, é uma opção. (15)
(Montagem de Maquete)
U – Eu quero fazer só uma parte da casa, no
começo. Só a sala, o quarto, banheiro e cozinha.
P1 – Nesse caso, a gente pode alinhar essas duas
paredes para fazer uma parte primeira.
(Montagem dos Móveis)
P1 – Esse quarto dá para uma cama de casal e um
guarda-roupa pequeno, além dos criados mudos, é
claro. Veja bem, esse quarto não está com 2,10m,
como no seu desenho, mas com 2,5m.(16) Na sala,
você já tem algum móvel?
U – Não, nenhum.
P1 – Bom, dá para colocar um rack, um sofá de 3 e
um de 2 lugares. A sala está bem espaçosa. Dá
para colocar ao contrário. Se você não quiser um
rack, você tem a possibilidade de colocar uma
estante também. Fica bem no limite, mas dá.(17)
Nesse outro quarto aqui você coloca um guarda-
roupa e uma escrivaninha também. O que me
incomoda um pouco nesse quarto é que você vai
pegar sol à tarde na janela. Nesse outro quarto
também, se você mudar a janela para ampliar a
casa. O sol vai entrar aqui, principalmente no
verão.(18) Essa aqui nós chamamos de Face
Sudoeste. Ela pega sol principalmente entre os
meses de Novembro e Fevereiro, mas pega sol o
ano inteiro. Essa janela desse quarto nós podemos
mudar para cá, mas ficará de frente para a
garagem, o que não é bom também. Agora, essa
daqui, se você colocar ela aqui, você pega o sol de
manhã.(19) Então eu não sei quanto tempo você vai
levar para aumentar a casa. Você vai fazer primeiro
essa parte, depois essa, e só vai ampliar mais,
algum dia. Eu não sei se valeria a pena você prever
que essa janela vai ficar aqui, você executa aqui e
depois quando você ampliar para lá, você retira ela,
coloca na outra parede, fecha o buraco e faz a
ampliação. Isso porque você pode ficar morando 2,3
ou mais anos assim, com o sol pegando todo dia à
tarde na janela. É importante prever isso, pois se
você for colocar o guarda-roupa aqui, você não vai
colocar ponto de tomada atrás dele.
U – Eu posso conversar com a minha esposa em
casa e eu volto depois para a gente ver.
19
317
20
21
22
P1 – Você pode voltar na semana que vem.
(Montagem de Maquete)
U2 – Agora, se ele quiser aumentar só o banheiro
aqui, não vai ficar fora de estética?
P1 – Olha, com a distância que você tem até o
fundo do terreno, eu não sei se fica tão ruim assim
em termos estéticos, pois não tem nem distância
para você perceber bem esse dente. A idéia então é
aumentar apenas um banheiro, no futuro?
U1 – É, dá para fazer uma cobertura só nessa área
em cima do banheiro? (20)
P1 – Dá, agora nada impede do senhor de construir
o banheiro aqui na lateral.(21)
U1 – No corredor?
P1 – É, aí fecha a circulação para o fundo por fora
da casa. Tem gente que não gosta pois não tem
acesso para o fundo pelo lado de fora da casa. Não
tem muita opção, ou é aqui ou ali.
P2 – E se fizer o banheiro aqui mesmo?
P1 – A única questão é que o banheiro vai fazer um
dente na fachada. Ele tem que fazer um pouco
menor que o comprimento do quarto, pois fazer tão
grande assim é bobagem! A questão da janela
voltada para Oeste é ruim, mas não é a pior. O
problema seria se a janela não pegasse sol, porque
isso gera um problema de higienização do
ambiente, pode causar mofo ou problemas
respiratórios nas pessoas. Com a janela no Oeste,
não tem esse problema, mas o quarto vai ser bem
quente no verão.
U1 – E aqui, (sala e terceiro dormitório), vai pegar
muito sol? (22)
P1 – Aqui nem tanto. É a Face Noroeste, vai pegar
sol à tarde, principalmente no inverno, porque,
nessa posição, o sol nasce lá e se põe aqui.
U2 – Na verdade, a frente da casa seria aqui. Ali
seria o fundo. (23)
P1 – O senhor vai deixar a cozinha para frente, e a
sala para o fundo?
U2 – Vai sim, é que a rua tá aqui !
P1 – E a garagem, o senhor entra pelos fundos? O
senhor quer vir para o lado de cá para ver, talvez
23
318
24
25
ajude o senhor a entender melhor.
U2 – Eu entendi.
P1 – Então, esses quarto vão pegar mais sol à
tarde, aqui no verão e aqui no inverno. Já a cozinha,
a copa e o banheiro, que não precisam, vão pegar
sol de manhã. Na verdade, veja se você concorda
comigo, o ideal seria inverter o projeto, para que os
dois quartos pegassem sol de manhã. Aí você pode
considerar a janela aqui.
U2 – Eu tava pensando, e se colocasse o banheiro
aqui (no lugar do quarto)? (24)
P1 – Pode, mas aí faz o quê com o espaço que
sobra? Porque o banheiro é menor que esse quarto.
U1 – Não, faria um banheiro aqui e aumentaria na
sala, sei lá, não dá?
P1 – Dá, só que daí o senhor perde esse quarto. O
senhor não vai fazer esse quarto? Eu acho mais
fácil isso que vocês estavam pensando inicialmente.
Fazer esse banheiro aqui no fundo, no futuro, para
fora. Eu não vejo problemas estéticos, se fosse à
frente da casa, talvez, mas no fundo...O senhor
pode continuar com a ampliação do telhado em toda
a extensão da casa, e na área próxima à cozinha,
fazer talvez uma área de serviço. (25)
U1 – E depois, se eu for aumentar, eu vou precisar
tirar a janela?
P1 – Se você puder evitar esse tipo de mudança é
melhor, inclusive porque você gasta menos dinheiro.
U1 – Então, eu posso mudar o projeto depois?
P1 – Olha, funciona assim: o senhor vem, pega o
projeto até 70,00 m
2
Constrói tudo, ou em partes, e
se quiser ampliar mais, deve contratar um
engenheiro ou arquiteto. Se o senhor fizer sem
contratar ninguém, fica ilegal. Se você fizer apenas
um buraco na parede para fazer uma porta, é
simples. Essa parede forma uma linha reta, portanto
é simples de aumentar a cobertura, fazendo o
banheiro e uma área de serviço. Só que você não
pode fazer agora.
U1 – E pode ser também que eu mude (de idéia)
depois, na hora que eu for aumentar. Não estou
muito preocupado com o fundo aqui, mais com a
frente. Por enquanto eu vou fazer só a frente.
319
26
27
28
P1 – E se você fizer só a parte da frente, como você
vai fazer sem a cozinha?
U1 – No caso, eu construiria primeiro a parte do
fundo.
U2 – A gente faria no lugar da sala a cozinha
provisoriamente, como eu fiz na casa da minha
outra filha.
P1 – Mas aí o senhor vai gastar para fazer
tubulação e instalações para depois desmanchar? O
senhor vai perder toda essa instalação, mesmo que
não coloque cerâmica.
U2 – Veja bem,quando ele tiver condição, ele faz a
copa e a cozinha definitivas. O encanamento não
vai encarecer, porque na verdade, ele vai gastar o
quê? Ele vai sair do banheiro (com a tubulação) até
a sala.(26) Depois no futuro anula e desvia pra cá
(cozinha). (27)
P1 – Então o senhor não vai colocar piso, senão ele
vai ter que quebrar para levar para lá. Então ele vai
ter que morar muito provisoriamente, a não ser que
no futuro ele não se preocupe em gastar, quebrar e
trocar a cerâmica. Na minha opinião, se pudesse
fazer a cozinha definitiva, seria melhor, nem que
fizesse em outro lugar. É igual ao banheiro, também
é melhor fazer definitivo.
U1 – E se eu colocasse a cozinha aqui? (dormitório
menor)
U2 – Aí tem que quebrar, é o mesmo problema.
U1 – Não. De maneira definitiva. Aí constrói daqui
pra cá.
P1 – Fica uns 50,00 m
2
U2 – Igual da minha filha. A gente construiu uns
60,00 m
2
. O projeto é de 90,00 m
2
, e o resto a gente
vai construir só Deus sabe quando.
U1 – Faz aqui (parte da frente), provisoriamente
mesmo. (28) O projeto todo dá quanto?
P1 – 70,00 m
2
. Sem a garagem.
U2 – Como é que faz depois então pra fazer a
garagem, tem que fazer outra planta?
P1 – Tem.
U1 – Não tem algum outro projeto com garagem?
320
29
30
31
32
P1 – Tem, tem vários. É que nós montamos esse
que você trouxe. Eu entendi que você queria que
fosse mais ou menos assim. A gente monta para a
pessoa ver. A gente pode mostrar todos para você.
U2 – Inclusive tem o projeto do (.......), de 70,00 m
2
,
que eu gostei do projeto. Inclusive pode aumentar...
Ele fez aqui com vocês, e é de 70,00 m
2
, talvez
você tenha.
P1 – Deve ter. Vamos ver.
(Analisando projetos padrão).
U2 – Dentro desse projeto que você está
mostrando, aqui já tem o banheiro da suíte. (29)
P2 – Dá para fazer isso, com mais a área da
garagem, e um quarto a menos.
U1 – Daí faz o quarto depois!
P1 – Os projetos que tem garagem só tem dois
quartos, porque senão os ambientes ficam muito
pequenos.
U2 – Agora ele não vai perder espaço aqui? (30)
P1 – Vai.
U2 – Você mostrou aqui na pasta um projeto que
não perde espaço...
P1 – É, tem vários. Na minha opinião eu acho que
tem projeto melhor. Posso dar a minha sugestão:
montamos esse aqui para eles verem.
U2 – O que não tem aqui é a copa. (31)
U1 – Se bem que esse espaço todo na cozinha... A
mesa vai para a cozinha.
U2 – Isso é subjetivo. Se você gostou do seu
projeto, Acho que deve ser assim.
U1 – É...
P1 – Posso dar a minha opinião pessoal?
U1 – Sim.
P1 – Eu acho que a sua copa não está legal, ela
ficou como um lugar de passagem, uma circulação.
Todo mundo tá andando por tudo quanto é lado
aqui. (32) A única coisa que eu consigo é colocar a
mesa. Esse espaço aqui dá para colocar uma
cristaleira,(33) mas o resto ficou para circulação.
Você quer que monte esse outro para você dar uma
olhada?
(Nesse momento o cliente passa a observar
novos projetos e opta por manter essa opção).
33
321
322
323
10.5 EXEMPLOS DE DESENHOS DOS USUÁRIOS E O MODELO
TRIDIMENSIONAL
Foto 75 – Desenhos dos usuários e o projeto definido no modelo tridimensional 1.
324
Foto 76 – Desenhos dos usuários e o projeto definido no modelo tridimensional 2.
325
Foto 77 – Desenhos dos usuários e o projeto definido no modelo tridimensional 3.
326
Foto 78 – Desenhos dos usuários e o projeto definido no modelo tridimensional 4.
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo