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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL
CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM TECNOLOGIAS AMBIENTAIS
EDSON ANTÔNIO DE FREITAS
ESTUDO COMPARATIVO DAS CARACTERÍSTICAS DO
COURO E EFLUENTE BRUTO DE PROCESSO DE
CURTIMENTO CONVENCIONAL VERSUS PROCESSO COM
RECICLAGEM DIRETA DE BANHO DE CURTIMENTO
Campo Grande, MS
2007
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ii
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL
CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM TECNOLOGIAS AMBIENTAIS
EDSON ANTÔNIO DE FREITAS
ESTUDO COMPARATIVO DAS CARACTERÍSTICAS DO
COURO E EFLUENTE BRUTO DE PROCESSO DE
CURTIMENTO CONVENCIONAL VERSUS PROCESSO COM
RECICLAGEM DIRETA DE BANHO DE CURTIMENTO
Dissertação apresentada para obtenção do grau de
Mestre no Programa de Pós-Graduação em Tecnologias
Ambientais da Universidade Federal de Mato Grosso do
Sul, na área de concentração em Saneamento Ambiental
e Recursos Hídricos.
Banca Examinadora:
Profª. Drª. Maria Lúcia Ribeiro
Orientadora – UFMS
Prof. Dr. Manuel Antônio Chagas Jacinto Prof. Dr. Carlos Nobuyoshi Ide
EMBRAPA – Gado de Corte UFMS
Campo Grande, MS
2007
ORIENTADOR:
Profª. Drª. Maria Lúcia Ribeiro
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iii
Freitas, Edson Antônio de
Estudo Comparativo das Características do Couro e
Efluente Bruto de Processo de Curtimento Convencional
Versus Processo com Reciclagem Direta de Banho de
Curtimento/ Edson Antônio de Freitas – Campo Grande,
2007.
Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Mato
Grosso do Sul, 2007.
Orientador: Profª. Drª. Maria Lúcia Ribeiro
iv
AGRADECIMENTOS
À Professora Doutora Maria Lúcia Ribeiro, pela excelente orientação fornecida durante a
elaboração deste trabalho. Ao Professor Doutor Carlos Nobuyoshi Ide pelo apoio e
informações fornecidas.
À minha esposa Carla e minha filha Bárbara, pela compreensão nos momentos de sobre
carga de tarefas.
Aos meus pais e minha irmã pela amizade e apoio.
À Induspan, representada pelo Sr. Dirceu, pela permissão de desenvolver meus trabalhos e
acompanhar todas as aulas.
A todos os colegas, professores e funcionários do Departamento de Hidráulica e
Transportes da UFMS, pela colaboração.
v
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS .........................................................................................................vii
LISTA DE TABELAS .......................................................................................................viii
LISTA DE SIGLAS E SÍMBOLOS.....................................................................................ix
RESUMO .............................................................................................................................. x
ABSTRACT ......................................................................................................................... xi
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 1
2 OBJETIVOS ................................................................................................................ 3
2.1 Objetivo geral ..................................................................................................... 3
2.2 Objetivos específicos.......................................................................................... 3
3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .................................................................................... 4
3.1 Rebanho bovino.................................................................................................. 4
3.2 Conservação........................................................................................................ 6
3.2.1 Estudo da pele....................................................................................... 6
3.2.2 Constituição química da pele................................................................ 9
3.2.3 Estrutura química das proteínas............................................................ 9
3.3 Processo industrial de curtimento..................................................................... 10
3.3.1 Entrada de peles.................................................................................. 12
3.3.2 Pré-descarne ....................................................................................... 12
3.3.3 Depilação e encalagem....................................................................... 12
3.3.4 Redescarne.......................................................................................... 12
3.3.5 Desencalagem e purga........................................................................ 13
3.3.6 Píquel.................................................................................................. 13
3.3.7 Curtimento.......................................................................................... 13
3.3.8 Agente curtente: cromo ...................................................................... 14
3.3.9 Tratamento de águas residuárias ........................................................ 16
3.3.10 Tratamento preliminar........................................................................ 16
3.3.11 Controle do processo.......................................................................... 17
3.4 Preocupação ambiental..................................................................................... 19
4 MATERIAIS E MÉTODOS...................................................................................... 22
4.1.1 Reciclo de caleiro............................................................................... 23
vi
4.1.2 Descrição do processo de reciclagem do banho de curtimento.......... 24
4.1.3 Tratamento primário........................................................................... 25
4.1.4 Monitoramento de efluentes............................................................... 25
4.1.5 Sistema de dosagem ........................................................................... 26
4.1.6 Decantação primária........................................................................... 27
4.1.7 Processo industrial de curtimento....................................................... 27
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO............................................................................... 33
5.1 Curtimento do couro......................................................................................... 34
5.1.1 Banho reciclado de cromo.................................................................. 35
5.1.2 Qualidade do couro produzido ........................................................... 36
5.1.3 Efluente gerado no processo............................................................... 38
6 CONCLUSÕES ......................................................................................................... 41
7 BIBLIOGRAFIA ....................................................................................................... 43
vii
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 3.1 – Corte histológico da pele bovina. ................................................................. 7
FIGURA 3.2 – Hidrólise da proteína. ................................................................................. 10
FIGURA 3.3 – Fulões: reatores de batelada utilizados no processo................................... 11
FIGURA 3.4 – Fluxograma do processo industrial convencional de curtimento ao
cromo. ................................................................................................................. 11
FIGURA 3.5 – Coleta de amostra do couro........................................................................ 18
FIGURA 4.1 – Sistema de reciclagem de banho de caleiro................................................ 23
FIGURA 4.2 – Sistema de reciclagem de cromo. ............................................................... 25
FIGURA 4.3 – Sistema primário de tratamento de efluentes.............................................. 26
FIGURA 4.4 – Decantação primária do tratamento de efluentes........................................ 27
FIGURA 4.5 – Fluxograma do curtimento sem reciclagem de cromo................................ 29
FIGURA 4.6 – Fluxograma do curtimento com reciclagem de cromo............................... 30
FIGURA 5.1 – Banho do reciclo de cromo......................................................................... 35
FIGURA 5.2 – Couro curtido sem banho reciclado............................................................ 36
FIGURA 5.3 – Couro curtido com banho reciclado de cromo............................................ 37
FIGURA 5.4a – Banho do efluente sem reciclo de cromo.................................................. 39
FIGURA 5.4b Banho da ETE com reciclo de cromo....................................................... 39
viii
LISTA DE TABELAS
TABELA 3.1 – Indicativos da oferta de peles bovinas no Brasil em 2005........................... 4
TABELA 3.2 – Rebanho dos principais Estados em 2005.................................................... 5
TABELA 3.3 – Curtumes do Estado de Mato Grosso do Sul, em 2005............................... 5
TABELA 3.4 – Classificação dos aminoácidos do colagênio............................................. 10
TABELA 3.5 – Propriedades químicas do cromo............................................................... 15
TABELA 3.6 – Métodos e Parâmetros utilizados para analisar as características dos
couros curtidos.................................................................................................... 18
TABELA 4.1 – Parâmetros que serão analisados para caracterizar as o efluente
líquido. ................................................................................................................ 26
TABELA 4.2 – Formulação de curtimento sem reciclagem de banho de cromo................ 31
TABELA 4.3 – Formulação de curtimento com reciclagem do banho de cromo............... 32
TABELA 5.1 – Características das peles industrializadas.................................................. 34
TABELA 5.2 – Peso e quantidade de peles por fulão......................................................... 34
TABELA 5.3 – Características do banho de reciclo de cromo. .......................................... 36
TABELA 5.4 – Características do couro curtido. ............................................................... 37
TABELA 5.5 – Resultados das análises do efluente líquido produzido nos dois
processos testados............................................................................................... 39
ix
LISTA DE SIGLAS E SÍMBOLOS
MS – Mato Grosso do Sul
CONAMA – Conselho Nacional de Meio Ambiente
pH – Potencial Hidrogeniônico
DBO
5
– Demanda Bioquímica de Oxigênio
DQO – Demanda Química de Oxigênio
m
3
metros cúbicos
ABNT NBR – Associação Brasileira de Normas Técnicas Normas Brasileiras
ETE – Estação de Tratamento de Efluente
mg.L
-1
– miligrama por litro
Laqua – Laboratório de Qualidade Ambiental
x
RESUMO
FREITAS, E. A. (2007). Estudo comparativo das características do couro e efluente bruto de processo
de curtimento convencional versus processo com reciclagem direta de banho de curtimento. Campo Grande,
2007. 60p. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Brasil.
Este estudo avaliou a utilização do banho residual, em processos de curtimento de
peles bovinas, comparando o processo convencional, onde se utiliza somente água, com o
processo com reciclagem direta do banho de curtimento. As peles utilizadas foram
provenientes de frigoríficos de gado bovino, instalados na região central do Estado de Mato
Grosso do Sul. O processo foi estudado em uma indústria curtidora de couros localizada na
cidade de Campo Grande – MS, utilizando o cromo trivalente (agente curtente), com
capacidade diária de 2.700 couros por dia. Foram realizados testes em triplicatas. No
experimento do curtimento sem reciclo foi utilizados em média 70.032 kg de peles, enquanto
que no experimento com reciclo de cromo foi utilizado 64.465 kg de peles em média. Foi
avaliada a otimização do processo de industrialização de couro, principalmente em relação ao
consumo de água no processo de curtimento e a redução de carga poluidora. Obteve-se uma
redução de 12,78% de água no processo de curtimento e uma redução de 90% do teor de
cromo no efluente gerado com a utilização de banho de reciclo de cromo, em relação ao
efluente gerado no processo de curtimento sem a utilização de banho de reciclo de cromo. O
processo com utilização de reciclo de cromo mostrou sua viabilidade, sem alterar a qualidade
do couro, e ainda ter um ganho ambiental.
Palavras-chave: curtume, processo, efluente, reciclagem, reuso, qualidade, consumo de água, couro, pele, wet-
blue.
xi
ABSTRACT
FREITAS, E. A. (2007). Comparative study of the characteristics of leather and raw effluent from
conventional processing versus processing with direct recycling from the processing bath. Campo Grande, 2007.
60p. Masters Thesis – Federal University of Mato Grosso do Sul, Brazil.
This study evaluated the use of residual bathing in tanning processes of cattle hides,
comparing the convencional process, in wich only water is used, with a process of direct
recycling from the processing bath. The hides used came from cattle abattoirs, installed in the
central region of state of Mato Grosso do Sul. The processes were studied in a leather tanning
plant, located in the city of Campo Grande – MS, that uses trivalent chromium (tanning
agent), and has a daily capacity of 2.700 hides. Triplicate tests were carried out. In the
experiment of tanning without recycling, an average of 70.032 kg of hide hide were used,
while, in the experiment with chromium recycling, an average of 64.465 kg of hide were used.
The optimization of the leather industrialization process was evaluated, principally in relation
to water consumption in the tanning process and reduction in pollution loading. Reductions
of 12,78% in water consumption, and 90% in the effluent chromium concentration were
obtained using the process with recycling, as compared to the process without recycling. The
former process showed itself to be viable, with unaltered leather quality, and greater
environmental friendliness.
Key-words: tannery, process, effluent, recycling, reuse, quality, water consumption, skin, leather, wet-blue.
1 INTRODUÇÃO
O crescimento populacional trouxe um consumo dos recursos naturais, bastante
acelerado nas últimas décadas. O desenvolvimento humano, juntamente com o
desenvolvimento industrial, aumentou o volume de utilização de tais recursos, o que exigiu
uma racionalização e alocação adequada dos mesmos, como forma de reduzir o impacto
ambiental.
A resolução CONAMA nº. 357/05, define “impacto ambiental como qualquer
alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por
qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas ...,” (BRASIL, 2005).
A legislação tem sido cada vez mais rígida, no que se refere aos impactos
ambientais causados pelas empresas. O mercado consumidor exige que haja preocupação em
minimizar os efeitos causados ao meio ambiente. Com isso, são valorizadas as empresas que
têm essa preocupação (TOMMASI, 1999).
Atualmente, as indústrias que apresentam grande consumo de água, como os
curtumes, os abatedouros de aves e de bovinos, as indústrias siderúrgicas e petroquímicas,
estão percebendo no reuso, uma oportunidade de resolver os problemas de poluição, causado
pelos efluentes.
Os curtumes são empresas de transformação de peles bovinas, caprinas, ovinas e
suínas. As peles são transformadas em couro, termo utilizado para designar as peles após
serem tratadas com produtos curtentes, como por exemplo, o cromo. O processo seguinte ao
curtimento é que dará as características desejadas ao couro, como cor, maciez, espessura,
toque e estampa.
Existe uma grande dificuldade em tratar águas residuárias de curtumes, quando
ocorre a mistura de águas contendo bases e ácidos. Em processos de curtimento ao cromo, o
2
metal é o principal limitante, onde há a necessidade de precipitá-lo com álcali. Sendo assim, é
de suma importância a segregação das águas de curtumes (BAJZA & VRZTEK, 2001).
A avaliação do curtume pela sociedade sempre foi negativa, uma vez que está
associada à emanação de odores desagradáveis. Porém, as novas tecnologias possibilitam aos
técnicos que trabalham com tratamento de efluentes, tornar os curtumes empresas
ambientalmente responsáveis.
O desenvolvimento desta pesquisa visou atender as necessidades das indústrias de
curtimento, sem perda da qualidade do produto final, minimizando o impacto ambiental da
unidade curtidora.
Este trabalho avalia a reciclagem direta de banho de curtimento, buscando obter
informações que justifiquem a viabilidade da reciclagem, uma vez que a indústria está
estruturada, esperando-se que não haja alguma restrição, quanto à continuidade de suas
atividades no futuro.
3
2 OBJETIVOS
2.1 Objetivo geral
Avaliar e comparar as características do couro e efluente bruto de processo de
curtimento convencional x processo com reciclagem direta de banho de curtimento.
2.2 Objetivos específicos
Avaliar a qualidade do couro curtido ao cromo produzido com o sistema
tradicional e com o sistema de reciclagem direta.
Avaliar a qualidade do efluente bruto gerado, a partir do processo
produtivo que utiliza água, com processo que utiliza o banho de cromo
reciclado diretamente, sem adição de qualquer ácido ou base ao sistema.
Comparar o consumo de água utilizada nos processos de curtimento, com
e sem banho reciclado de cromo.
4
3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
3.1 Rebanho bovino
Existem no mundo aproximadamente 1.400 milhões de cabeças bovinas, com uma
taxa de abate entre 15 e 25%, variando de acordo com cada país. Entre 65 e 70% das peles são
trabalhadas pelas indústrias de curtimento, o restante são exportadas ou não são aproveitadas.
A qualidade da pele varia de acordo com a raça, sexo e idade do animal, tipo de alimentação e
região onde é criado. As diferenças observadas na pele são quanto à gordura, glândulas
sudoríparas, peso, tamanho, espessura, ataque de parasitas e cuidados quanto à limpeza das
pastagens e quanto à saúde no animal. Também, é importante o cuidado dentro do frigorífico,
no momento da esfola da pele do animal, pois cortes com faca, desclassificam a pele,
perdendo valor comercial (GERHARD, 1998).
A tabela 3.1 apresenta o efetivo do rebanho bovino, a taxa de abate e a produção
de couros no Brasil, no ano de 2005, representada em número de cabeças bovinas.
TABELA 3.1 – Indicativos da oferta de peles bovinas no Brasil, em 2005.
Relação Rebanho/Oferta de pele Milhares de cabeças %
Rebanho Bovino 163.899 100,00
Abate de Bovinos 42.661 26,03
Fonte: Instituto FNP (2006).
Conforme a tabela 3.1, a taxa de abate de bovinos no Brasil estava em 26,03%, ou
seja, para o total de 163.899.000 bovinos existentes, 42.661.000 são abatidos anualmente.
Na tabela 3.2, podem ser observados os principais Estados produtores de bovinos
do Brasil, representado por número de cabeças.
5
TABELA 3.2 – Rebanho dos principais Estados em 2005.
Estado Número de Cabeças
Mato Grosso 21.881.504
Mato Grosso do Sul 19.476.012
Minas Gerais 19.113.297
Goiás 15.915.541
Rio Grande do Sul 11.427.973
São Paulo 11.405.067
Fonte: Instituto FNP (2006).
Conforme os dados apresentados na tabela 3.2, o Estado com maior número de
cabeças é o Estado do Mato Grosso. O Estado de Mato Grosso do Sul, detém o segundo maior
rebanho bovino brasileiro, seguido por Minas Gerais, Goiás, Rio Grande do Sul e São Paulo.
A oferta de peles no Estado de Mato Grosso do Sul atraiu várias indústrias de
curtimento de couros. A tabela 3.3 mostra a capacidade de produção diária instalada no
Estado de Mato Grosso do Sul
TABELA 3.3 – Curtumes do Estado de Mato Grosso do Sul, em 2005.
Curtume Capacidade Produtiva Diária em Couros
BMZ Couros – Dourados 1.500
Curtume Bertin – Rio Brilhante 2.200
Curtume Couro Azul – Campo Grande 2.500
Curtume Independência – Nova Andradina 4.000
Curtume Monte Aprazível – Paranaíba 2.000
Curtume Panorama – Amambaí 1.000
Curtume Panorama – Iguatemi 800
Curtume Três Lagoas – Três Lagoas 2.000
Induspan – Campo Grande 2.500
Total 18.500
Fonte: SINDICOUROS (2005).
Considerando-se que o abate de bovinos no Estado de Mato Grosso do Sul,
segundo o SINDICOUROS (2005), era de aproximadamente 12.000 cabeças diárias e a
capacidade para produção de couros curtidos ao cromo é de 18.500 couros por dia, então,
6
existe uma capacidade ociosa nas indústrias de curtimento no Estado de Mato Grosso do Sul.
Para a plena produção dos curtumes, deve-se importar a matéria-prima de outros Estados, para
produzir couro wet-blue.
3.2 Conservação
Segundo HOINACKI (1989), as peles, uma vez removidas do animal em operação
denominada esfola, constituem a pele fresca. Em tal estado, devido ao seu teor de água e às
transformações post-mortem, estão sujeitas a deterioração. A finalidade da conservação é
interromper todas as causas que favorecem a decomposição das peles, de modo a conservá-las
nas melhores condições possíveis, até o início dos processos que irão transformá-las, pelo
curtimento, em material bastante estável e imputrescível.
Os processos de conservação, de um modo geral, baseiam-se na desidratação das
peles, visando criar condições que impossibilitem o desenvolvimento de bactérias e a ação
enzimática podendo ser classificados, em três grupos (HOINACKI, 1989):
a. processos que utilizam sal - compreendem os processos de salga, salmouragem e
secagem;
b. processos que não utilizam sal - este grupo abrange os processos de curta duração
(processo de conservação por desidratação com solventes, processo de secagem, a
conservação por resfriamento, etc.);
c. sistemas que utilizam curtimentos leves ou biocidas - incluem os processos de
cura com extrato de tanino de Acácia-negra (árvore cultivada principalmente na
região Sul do Brasil), ou aplicação de biocidas a base de carbamato de sódio ou de
potássio.
3.2.1 Estudo da pele
A pele bovina é considerada observando-se dois aspectos: a parte externa, que
contém a pelagem do animal, denominada “flor”; e a parte interna, que se encontra junto à
carne do animal, denominada “carnal” (ADZET et al., 1986).
Para se conhecer a estrutura interna da pele, é necessário efetuar cortes
transversais, utilizando-se um aparelho denominado de micrótomo. A figura 3.1 , apresenta o
7
corte histológico da pele bovina, onde da parte mais externa para a mais interna, denomina-se:
epiderme, derme ou corium e tecido subcutâneo.
FIGURA 3.1 – Corte histológico da pele bovina.
As proteínas da pele apresentam-se em duas formas: fibrosas e globulares. As
proteínas fibrosas são as queratinas, o colágeno e a elastina; as globulares pertencem às
albuminas e globulinas. As características dessas proteínas, segundo ADZET et al. (1986),
são apresentadas a seguir.
As queratinas são as proteínas que formam o pêlo e a epiderme, sua característica
essencial é a elevada quantidade do aminoácido cistina em sua molécula, cujos percentuais
sobre o peso seco da proteína estão entre os valores de 4 - 18%. Os valores baixos
correspondem às queratinizações leves e os valores altos às que se encontram em estado
avançado de queratinização. A presença de cistina proporciona à sua molécula grande
estabilidade e que possui um enlace transversal do tipo ligação covalente –S-S-, chamada
ponte de sulfeto. As queratinas são insolúveis em água, porém se dissolvem facilmente sob a
ação de substâncias redutoras em meio alcalino as quais produzem a ruptura das pontes de
sulfeto.
O colágeno se diferencia facilmente das demais proteínas da pele por seu elevado
conteúdo de hidróxiprolina (aminoácido), é insolúvel em água e quimicamente mais reativa
que a elastina, porém menos que as proteínas globulares. A diferença é que o colágeno resiste
8
bem à ação de agentes redutores em presença de álcali, pois não contêm cistina. A elastina
possui poucos grupos ácidos e básicos, e muitas cadeias laterais não polares. Por isso, tem
uma maior resistência à ação de ácidos e álcalis diluídos.
As proteínas globulares são encontradas na pele formando parte da pele e do
plasma sanguíneo, que serve para a sua alimentação. São muito reativas quimicamente e
facilmente solubilizáveis, já que contém muitos grupos ácidos e básicos. Consideram-se
albuminas as proteínas solúveis em água e globulinas as que são insolúveis em água. As
enzimas proteolíticas as hidrolizam e o calor as desnaturaliza facilmente.
Entre os lipídeos contidos na pele, os triglicerídeos são os componentes mais
abundantes. Quimicamente, são tri-ésteres de ácidos graxos com glicerol. Os triglicerídeos
formam depósitos graxos, que servem de reserva nutritiva para o animal. Encontram-se
diluídos por toda a derme, porém acumulam-se principalmente no tecido subcutâneo,
constituindo o tecido adiposo.
Ao se examinar a pele que recobre o corpo dos animais, seja a olho nu, ou com a
ajuda de microscópio, podem-se observar diversos elementos constitutivos da mesma, cuja
diferenciação e separação é objeto de estudo da histologia. O estudo histológico da pele em
estado natural (pele verde), representa o estado em que a pele se encontra imediatamente após
ser retirada do animal. Faz-se o corte transversal da pele, com a ajuda de um micrótomo,
adicionando-se reagentes que conferem cores características à cada componente da pele,
como proteína colagênica, queratínica, albumínica e outras. Ao microscópio, vê-se as
diferenças na estrutura da pele (ADZET et al., 1986):
a. Epiderme - é a parte superior da pele, que adentra recobrindo os folículos pilosos e
que se desprende facilmente da pele durante o processo de depilação.
b. Derme - é a porção imediatamente abaixo da epiderme. Constitui a chamada capa
hialina, zona hialina ou capa de flor. É formado por capas muito finas que contêm
diversos elementos constitutivos, tais como músculo eretor do pêlo, glândulas
sebáceas, veias dos pêlos contendo as raízes dos mesmos, as glândulas sudoríparas e
seus dutos e os vasos sanguíneos. O corium, ou zona reticular que é formado por
fibras colagênicas que vão em todas as direções, formando um entrelaçamento de
fibras. A derme é a formação da união das camadas flor, hialina e corium.
9
c. Endoderme - é a parte inferior do corte, constituída principalmente por fibras
horizontais, atravessadas por vasos sanguíneos, com traços de carnes, músculos ou
tecido adiposo.
3.2.2 Constituição química da pele
De uma maneira muito simples, pode-se dizer que a pele fresca é formada por um
retículo de proteínas fibrosas banhadas por um líquido aquoso, que contém proteínas
globulares, graxas e substâncias minerais e orgânicas. Segundo ADZET et al. (1986), a
composição aproximada da pele bovina recém esfolada (pele verde), é a seguinte:
Água............................... 64,0%
Proteínas......................... 33,0%
Graxas............................... 2,0%
Substâncias minerais......... 0,5%
Outras substâncias............ 0,5%
Considera-se que aproximadamente 20% da água, encontra-se combinada com as
fibras colágenas de forma similar à água de cristalização, dando, portanto, a sensação de
umidade. O restante está em forma livre entre as fibras da pele. Do total de proteínas que a
pele contém, aproximadamente 94 - 95% é colágeno, 1% elastina, 1-2% de queratina e o resto
são proteínas não fibrosas. Portanto, o principal constituinte da pele fresca, depois da água são
as fibras colagênicas. Porém, a importância dos outros tecidos também é fundamental para a
obtenção de um couro de boa qualidade (ADZET et al., 1986).
3.2.3 Estrutura química das proteínas
Todas as proteínas são essencialmente constituídas de alfa-aminoácidos, unidos
pela reação entre o grupo carboxila de um, e o grupo amino de outro, com eliminação de água
e formação de ligação peptídica (HOINACKI, 1989).
A figura 3.2 apresenta a reação de hidrólise da proteína na formação de
aminoácidos. Com a hidrólise, que poderá ser efetuada pela ação de ácidos, bases ou enzimas,
estas cadeias polipeptídicas são rompidas, dando lugar aos aminoácidos.
10
FIGURA 3.2 – Hidrólise da proteína.
Fonte: HOINACKI (1989)
Como constituintes das proteínas animais, foram isolados vinte e um aminoácidos
(HOINACKI, 1989).
Na fórmula genérica em que —NH—CHR—CO— representa um resíduo
aminoácido, R constitui a cadeia lateral. A natureza química das cadeias laterais R, determina,
em parte, o comportamento físico-químico de uma dada proteína. O grupo R pode representar,
tanto um átomo de hidrogênio, como uma grande cadeia, possuindo grupos polares ou
apolares, com função ácida ou básica (HOINACKI, 1989).
A tabela 3.4 apresenta os aminoácidos que constituem o colagênio que é o
principal componente da pele.
TABELA 3.4 – Classificação dos aminoácidos do colagênio.
Aminoácidos do colagênio
Com radicais polares Com radicais apolares
Com hidrofilia ácida: Ácido aspargínico,
Ácido glutamínico, tirosina
Neutros: Aspargina, glutamina, treonina,
serina, cisteína
Com hidrofilia básica: Lisina, hidróxilisina,
arginina, hoitidina
Glicina, alanina, valina, leucina, isoleucina,
prolina, hidróxiprolina, fenilalanina,
metionina
Fonte: GUTTERRES (2004)
3.3 Processo industrial de curtimento
No processo de transformação para obtenção do couro ocorrem modificações de
propriedades físicas e químicas da pele e da sua estrutura, de acordo com os objetivos de cada
etapa de tratamento (GUTTERRES, 2004).
11
A figura 3.3 apresenta um exemplo de série de reatores de batelada, chamados de
fulões, onde são curtidos os couros ao cromo, com descarga e escoamento do banho de
curtimento.
FIGURA 3.3 – Fulões: reatores de batelada utilizados no processo.
A figura 3.4 apresenta o fluxograma do processo industrial convencional de
curtimento ao cromo.
O processo de fabricação do couro consiste em uma seqüência de etapas, que
serão descritas a seguir, obedecendo à ordem de transformação da pele em couro.
FIGURA 3.4 – Fluxograma do processo industrial convencional de curtimento ao cromo.
Entrada de Peles
Pré-descarne
Redescarne
Desencalagem e Purga
Píquel
Depilação e Encalagem
Curtimento
Reciclagem de Caleiro
12
3.3.1 Entrada de peles
As peles, após serem retiradas do animal, são transportadas através de caminhões,
chegando ao curtume para serem processadas. Ao chegarem, são pesadas, contadas e
recortados os pedaços das peles que não serão aproveitadas, direcionando-os para a fabricação
de gelatina em outra indústria.
3.3.2 Pré-descarne
Após o recebimento, pesagem e contagem das peles, estas passam por uma
máquina, chamada de descarnadeira, onde sofrerão um processo para retirada do excesso de
carne e gordura contidas, ainda, na pele, chamado de processo de pré-descarne, sendo
novamente pesadas e carregadas em sistema de batelada (fulão de depilação e encalagem).
3.3.3 Depilação e encalagem
A pele devidamente hidratada, limpa e com parte de suas proteínas eliminadas no
remolho, passa para as operações de depilação, cuja dupla missão consiste em eliminar da
derme a epiderme com o pêlo e produzir uma abertura da estrutura fibrosa do colágeno com o
objetivo de prepará-la adequadamente para os processos de curtimento (ADZET et al., 1986).
Nesta etapa do processo, é feita a remoção do pêlo através da ação química e
mecânica; outra função é a abertura das fibras, proporcionando maciez e limpeza interna da
pele. A correta abertura da estrutura fibrosa da pele é muito importante, para que se possa ter
um bom descarne e divisão, e para que haja uma boa penetração dos produtos químicos, nas
etapas seguintes (CUSTÓDIO, 2005).
O pH das peles é elevado com sulfeto de sódio e hidróxido de cálcio, na faixa de
11,5 a 12, inibindo o desenvolvimento de bactérias decompositoras e permitindo a quebra de
proteínas não desejáveis, fazendo uma espécie de “limpeza” do colágeno.
3.3.4 Redescarne
Após as peles serem depiladas e encaladas, estarão preparadas para a próxima fase
mecânica, o redescarne. O processo de redescarne é um processo semelhante ao pré-descarne,
13
passando por um máquina de descarne, onde será retirado o excesso de carne e gordura que
não puderam ser retirados na etapa anterior.
3.3.5 Desencalagem e purga
A descalcinação é a etapa que serve para eliminar a cal e os produtos alcalinos do
interior do couro, portanto a eliminação do inchamento alcalino (ADZET et al., 1986).
Nesta etapa, retira-se a cal que está depositada entre as fibras e, também, a que
está quimicamente ligada a elas. Assim, já se inicia o processo de redução de pH, preparando
a pele para os próximos processos industriais (CUSTÓDIO, 2005).
Na desencalagem utilizam-se sais amoniacais ou ácidos orgânicos fracos, com o
objetivo de solubilizar a cal contida nas peles, preparando-as para receber a purga, que é uma
enzima proteolítica, que atua em pH na faixa de 8,2 a 8,8.
3.3.6 Píquel
No processo de piquelagem, as peles desencaladas e purgadas são tratadas com
soluções salino-ácidas visando, basicamente, preparar as fibras colágenas para uma fácil
penetração dos agentes curtentes, ocorrendo fenômenos tais como a implementação da
desencalagem, a desidratação das peles, a interrupção da atividade enzimática, etc.
(HOINACKI, 1989).
Para CUSTÓDIO (2005), a piquelagem é a fase onde o pH é reduzido para poder
receber o cromo, que penetra na pele em pH inferior a 3. O pH é reduzido com o uso de
ácidos.
3.3.7 Curtimento
Para HOINACKI (1989), o curtimento é a transformação das peles em material
imputrescível, ocorrendo o processo de reticulação através dos agentes empregados. As
principais características conferidas pelo curtimento são o aumento da resistência à
temperatura, a estabilidade frente às bactérias decompositoras e a diminuição do
intumescimento das fibras.
14
O curtimento é obtido utilizando substâncias com características curtentes, que
por seus diferentes tipos de enlace proteico, reagem sem trocar a estrutura natural das fibras.
Nessa transformação da pele do animal, liberada de pêlos e tecidos de endoderme transforma
a pele em couro (GERHARD, 1998).
Conforme CUSTÓDIO (2005), nesta etapa, proporciona-se à tripa (pele bovina
antes de reagir com o cromo) o efeito de não apodrecimento, através da reação com o cromo.
Além disso, aumenta-se a resistência do couro e o prepara para os demais processos
industriais.
No curtimento com sais de cromo é utilizado o Sulfato de cromo trivalente,
resultando em um couro de excelente estabilidade e resistência. Além disso, tem-se grande
versatilidade nos processos posteriores, isto é, de um mesmo couro curtido ao cromo, pode-se
produzir desde uma napa para estofamento, até couro para artefatos ou calçado. (PRADOS et
al., 2002).
3.3.8 Agente curtente: cromo
O cromo foi descoberto em 1797, por Vauquelin, a partir do mineral de chumbo
vermelho siberiano. A matéria base para a fabricação do cromo é a cromita, também chamada
de mineral de cromo; a cromita pura é preta, cristalizando regularmente. Estes elementos
encontram-se no mercado em forma de blocos ou massas areentas (PRADOS et al., 2002).
Os países com maiores reservas de cromita são: Rússia, Turquia, África do Sul,
Cuba, Índia e Paquistão.
Por volta de 1930, o mercado começou a utilizar o sal de cromo básico, ou sulfato
básico de cromo, mas a maior utilização teve início após a segunda guerra mundial. O sulfato
básico de cromo já apresenta em sua composição cerca de 33% de basicidade e concentração
em torno de 23% de Cr
2
O
3
(PRADOS et al., 2002).
Convencionalmente, o curtimento ao cromo envolve pré-tratamento com ácido
sulfúrico e Cloreto de sódio, para obter um pH de equilíbrio entre 2,8 e 3,0. Esta operação é
chamada de píquel (SUNDAR et al., 2002).
O curtimento parte das peles piqueladas adicionando-se de 6 a 8% de Sulfato
básico de cromo, sobre o peso molhado das peles. Após haver a penetração do cromo,
15
adiciona-se solução de álcali, para atingir um pH entre 3,8 e 4,0. A duração do curtimento é
de aproximadamente 6 horas (SUNDAR et al., 2002).
O cromo forma três séries de compostos, que têm importância para o curtimento
de couro (BAYER, 1996):
o cromo bivalente (CrO), óxido de cromo (II) conhecido também como óxido
cromoso;
o cromo trivalente (Cr
2
O
3
), óxido de cromo(III), conhecido como óxido crômico;
o cromo hexavalaente (CrO
3
), conhecido como anidrido de cromo(VI).
A tabela 3.5 mostra as propriedades químicas do cromo:
TABELA 3.5 – Propriedades químicas do cromo.
Cromo Propriedades
Número atômico 24
Valência 2,3,4,5,6
Massa atômica (g/mol
-1
) 51,996
Densidade (g/mL
-1
) 7,19
Ponto de ebulição (°C) 2.665
Ponto de fusão (°C) 1.875
Fonte: O’CONNOR (1977)
Há um século a fabricação do couro não sofre alteração substancial, tendo sido
verificado apenas algumas adaptações nas suas formulações e desenvolvidas máquinas mais
modernas. O curtimento de couro com cromo trivalente continua sendo o maior agente
curtente utilizado em curtumes.
O couro curtido ao cromo deve obedecer determinados critérios para estar
considerado em conformidade com os padrões previstos pela Associação Brasileira de
Normas Técnicas (ABNT), como pH, cifra diferencial (teor de ácido forte livre na estrutura
do couro), substâncias solúveis em diclorometano (teor de gordura no couro).
16
3.3.9 Tratamento de águas residuárias
A caracterização das linhas geradoras de efluentes visa possibilitar o estudo da
reutilização destes banhos no processo produtivo. A outra possibilidade é que se pode
estabelecer condições de tratamento, em separado, para cada banho residual ou grupos de
banhos residuais. Desta forma, é possível avaliar tecnicamente e economicamente possíveis
reusos no próprio processo, disposição sem tratamento e tratamento em separado com
possibilidade de reaproveitamento (RIBEIRO et al., 2002).
3.3.10 Tratamento preliminar
O tratamento preliminar é o sistema responsável pela quebra de emulsão da
gordura e retenção da mesma e contribuindo para um tratamento físico-químico e biológico
mais eficiente.
O tratamento preliminar destina-se principalmente, à remoção de sólidos
grosseiros. Os mecanismos básicos de remoção são de ordem física, como peneiramento e
sedimentação. Além das medidas de remoção de sólidos grosseiros, incluem-se também uma
unidade para a medida da vazão. Usualmente, esta é constituída por um dispositivo de
dimensões padronizadas (ex: calha Parshall), onde o nível do fluxo pode ser correlacionado
com a vazão (VON SPERLING, 2004).
A carga poluidora (CP), de cada poluente, pode ser calculada da seguinte forma
(RIBEIRO et al., 2002).
1000
VxP
CP =
Onde:
CP é a carga poluidora (kg);
V é o volume do banho residual (m
3
);
P é a concentração do parâmetro em questão (mg.L
-1
).
17
3.3.11 Controle do processo
Para demonstrar a viabilidade do experimento, foram coletadas amostras dos
couros dos dois processos de curtimento, com e sem reciclo.
Para se obter um couro curtido ao cromo que tenha características físico-químicas
que permitam que se produza artigos com padronização, maciez, resistência, possibilitando a
confecção de calçados, bolsas, estofados e outros artigos desejados, é muito importante que se
tenha um controle de alguns parâmetros. Os controles normalmente utilizados e que se
tornaram parâmetros exigidos no mercado internacional, são apresentados abaixo.
Na avaliação da qualidade do couro, os parâmetros mais importantes são:
pH do couro - é uma medida de ácidos e bases. No couro há preponderantemente a
presença de ácidos. O curtimento do couro se dá em pH ácido, o desejável é entre 3,5 e 3,8,
o que demonstra uma fixação do cromo nas fibras e a tonalidade desejada do couro;
Cifra diferencial - a presença de ácidos fortes livres provocam a degradação da cadeia
protéica. Isso é medido avaliando-se a diferença entre o pH do couro e o resultado de sua
mistura com água destilada em 1:10. Os valores desejáveis são abaixo de 0,7. Acima do
valor mencionado poderá haver ataque das fibras colagênicas por algum ácido forte
presente;
Teor de cromo - o grau de curtimento se mede com o teor de cromo fixado ao colágeno, o
que mantém o couro estabilizado, ou seja, sem ataque bacteriano. O teor de cromo desejado
é acima de 3,6%. O método utilizado para demonstrar o teor de cromo, consiste da digestão
das fibras com Ácido sulfúrico e Ácido nítrico e posterior oxidação do cromo hexavalente
com Ácido perclórico.
Teor de óleos e graxas - são extraídas todas as substâncias solúveis em dicloromentano,
que não estão ligadas quimicamente à estrutura do couro. O excesso de gordura demonstra
alguma falha no sistema, o que pode comprometer as etapas posteriores de beneficiamento
do couro. O teor de gordura presente no couro deve ser inferior a 0,5%.
A tabela 3.6 apresenta os métodos preconizados pela ABNT e suas normas para
avaliar as características do couro.
18
TABELA 3.6 – Métodos e parâmetros utilizados para analisar as características dos couros.
Parâmetro Norma Método a Utilizar
pH
ABNT NBR 11057/99 Potenciométrico
Cifra diferencial (ácidos fortes)
ABNT NBR 11057/99 Potenciométrico
Teor de cromo
ABNT NBR 11054/99 Titulométrico
Teor de gordura
ABNT NBR 11030/97 Soxhlet
A figura 3.5 apresenta a região do couro onde deve ser coletada a amostra, para
testes comparativos do couro. Esta região apresenta um bom entrelaçamento fibras
colagênicas, ou seja na região das extremidades dos couros existe uma distribuição menos
uniforme dos produtos adicionados no sistema. Na região especificada, o corte do couro é
mais uniforme, tendo-se um resultado mais significativo no processo de curtimento.
FIGURA 3.5 – Coleta de amostra do couro.
Fonte: HOINACKI (1989)
19
3.4 Preocupação ambiental
O problema da poluição ambiental tem caráter mundial. Originou-se na revolução
industrial, intensificou-se com a explosão populacional humana e perpassa pelo modelo sócio-
econômico-cultural, atual. Muitas regiões brasileiras, que abrigam pólos industriais e densa
população, vêm sofrendo uma degradação efetiva causada pelos esgotos domésticos e
industriais. Medidas preventivas e corretivas devem ser implantadas concomitantemente aos
crescimentos regionais, conduzindo a níveis aceitáveis para a manutenção da qualidade de
vida. A poluição química do ar, solo e água se tem tornado uma fonte de preocupação
(RIBEIRO et al., 2002).
Em algumas indústrias, o consumo de água potável representa uma demanda
significativa. Por exemplo na produção de uma tonelada de aço é requerido o emprego de
cerca de 150 m
3
de água; o refino de uma tonelada de petróleo consome cerca de 180 m
3
de
água e, para produzir uma tonelada de papel, são consumidas até 250 m
3
de água. No processo
de curtimento, o volume de água utilizado pode variar de 20 a 40 m
3
por tonelada de pele
processada, devido às variações na tecnologia utilizada. Essas variações podem ser
determinadas pelo produto final a ser obtido, técnicas adotadas, tendências da moda, etc.
Além do volume de efluente gerado, a concentração de poluentes também sofre variações
consideráveis (CLAAS & MAIA, 1994).
Os resíduos líquidos de curtumes contêm grande quantidade de material
putrescível (proteínas, sangue, fibras musculares), e substâncias tóxicas ou potencialmente
tóxicas tais como: sais de cromo, sulfeto de sódio, cal livre e compostos arseniacais. Geram
H
2
S, com facilidade, que pode tornar as águas receptoras impróprias para fins de
abastecimento público, usos industriais, agrícolas e para recreação. Apresentam uma grande
quantidade de DBO
5
e DQO, podendo exaurir todo o oxigênio dissolvido nos cursos d’água
receptores. A alcalinidade e amônia elevadas, também podem causar mortandade aos peixes.
Colóides e sabões contidos nos efluentes dão origem à formação de grande quantidade de
espuma (BRAILE & CAVALCANTI apud RIBEIRO; 2002).
Todos os países, de um modo geral, e toda a empresa de modo específico, devem
posicionar-se de forma “original” frente aos problemas “Matéria Prima” e “Trabalho”, e
resolvê-los de maneira diferente, em função de (MARTIGNONE, 2001):
localização geográfica;
20
maior aproveitamento da matéria prima;
menor poluição;
menores custos.
A indústria global de couro tem dificuldades com respeito aos problemas
ecológicos causados por algumas de suas águas. As dificuldades das indústrias em cumprir
com as exigências ambientais dos países mais desenvolvidos são conhecidas. Tem sido
crescente as evidências que uma verdadeira solução científica para o problema pode ser
encontrada, utilizando um controle estratégico que envolve (SIVAKUMAR et al., 2003):
a auditoria detalhada dos impactos dos produtos químicos utilizados na
industrialização;
otimização dos produtos utilizados e redução da água utilizada;
desenvolvimento de conhecimento químico com baixo volume de resíduos;
desenvolvimento de tecnologias com pouca toxicidade na industrialização de
couros;
uso de altas tecnologias no processamento de couro.
O cromo entra no ambiente aquático, tanto por meios naturais, como por
influência humana. Os maiores consumidores de cromo são curtumes, metalúrgicas, indústrias
têxteis (pigmentos e corantes). O cromo contribui significantemente para a poluição das
águas. A Índia é um maiores exportadores de couro, tornando-se vital para a economia. Nesse
país, o efluente do curtume é descarregado nos corpos de água após ser tratado junto com
efluente comum, resultando em concentrações de cromo acima do permitido. Isto tem causado
danos irreversíveis às reservas de água, solo e agricultura pela constante disposição do metal
(SUSEELA et al., 2002).
As indústrias de processos químicos têm mostrado um grande interesse na
implementação de políticas de reuso da água e reciclo, por meio de sua regeneração.
Adicionalmente, a possibilidade de distribuir o tratamento ao longo das várias correntes
poluídas está ganhando aceitabilidade. A estas técnicas dá-se o nome de integração mássica
de processos. Com base nos processos de integração mássica e de processo produtivo de
couros, a programação da produção, a qual visará uma melhoria dos processos
(GUTTERRES, 2005).
21
Um dos maiores problemas que o setor enfrenta é a redução da disponibilidade
hídrica, devido à degradação da qualidade da água dos rios, lagos e aqüíferos. Durante muito
tempo, o controle da qualidade da água foi visto apenas de forma setorial, intervindo-se,
prioritariamente, no efluente da indústria e nos efluentes domésticos, geralmente sem
tratamento. Juntam-se a essa fonte de poluição, as cargas difusas de origem urbana e rural,
além da poluição oriunda das indústrias (GUTTERRES, 2005).
O volume de efluente gerado no processo de curtimento é muito alto, sendo
atualmente motivo de preocupação para a classe curtidora, uma vez que a cobrança pela
utilização de água é eminente e a redução de utilização deste recurso será fundamental para a
rentabilidade do negócio.
22
4 MATERIAIS E MÉTODOS
O curtume estudado situa-se na cidade de Campo Grande, Mato Grosso do Sul,
com uma produção diária de dois mil e setecentos couros bovinos. As peles são originárias da
região, onde são abatidos os animais e conduzidos ao curtume in natura, ou seja, sem
qualquer adição de produtos conservantes.
Este trabalho teve como objetivo principal avaliar a reutilização do cromo,
considerando a qualidade do couro e do efluente bruto, comparando o consumo de água nos
dois processos industriais de curtimento, com e sem reciclo de cromo.
Os experimentos foram feitos em escala industrial, utilizando os mesmos critérios
para os dois experimentos, ou seja, selecionando os couros com pesos semelhantes, fazendo
os controles, como pH, volume de banho, temperatura e velocidade dos fulões.
As análises laboratoriais foram realizadas no laboratório LAQUA da Universidade
Federal e no laboratório da empresa pesquisada.
A seguir são discriminados os banhos originados no processo de transformação
das peles em couro. Os banhos resultantes do processo industrial foram segregados em três
vias:
a) banho de caleiro - é direcionado para um tanque, após ser coletado, é filtrado e
depositado em outro reservatório, onde é denominado de reciclo de caleiro. O
retorno se dá durante o início da depilação dos lotes de peles subseqüentes;
b) banho de curtimento - é o objeto do estudo, sendo o cromo o componente a ser
avaliado, procura se desenvolver um sistema simplificado e eficiente de reutilização
deste componente, que é o retorno após o peneiramento do banho;
23
c) banhos homogeneizados da industrialização do couro - é a coleta de todos os
demais banhos utilizados no trabalho de beneficiamento, água utilizada nas
máquinas, limpeza do piso e máquinas, chuveiros e cozinha, tratando-os
primeiramente no sistema físico-químico, seguido de sistema biológico.
4.1.1 Reciclo de caleiro
O processo tradicional de depilação, com utilização de 1,2% de sulfeto de sódio
sobre o peso da pele, conduz a um banho residual contendo grandes quantidades de sulfeto e
de proteínas devido, principalmente, à degradação do pêlo e conseqüente solubilização do
mesmo.
Portanto, é mais econômico e de menor agressão ao meio ambiente, a reciclagem
deste banho, melhorando inclusive a qualidade do couro, pois o caleiro se faz com banho
alcalino, previamente peneirado.
A figura 4.1, mostra um tanque de segregação do banho de caleiro, com separação
dos sólidos através de filtro rotativo e tanque de depósito deste banho, peneirado. A
reutilização do banho se dá durante o processo de depilação, com incorporação de apenas dez
por cento de água limpa e duas vezes o volume de banho reciclado sobre o volume de couro
industrializado.
FIGURA 4.1 – Sistema de reciclagem de banho de caleiro.
24
4.1.2 Descrição do processo de reciclagem do banho de curtimento
A reciclagem é o processo que apresenta as maiores perspectivas de evolução em
todo o mundo, pois trata-se da alternativa mais econômica e ambientalmente mais adequada
(ANDREOLI; FERNANDES; VON SPERLING, 2003).
A reciclagem de cromo no processo de curtimento tem sido tratada como uma
necessidade no processo industrial, uma vez que a consciência ecológica e as obrigações em
preservar o meio no qual se está inserido faz com que as empresas pensem em investir em
novas tecnologias. Existem diversas opções para reciclagem do banho de reciclagem de
cromo (CLAAS & MAIA, 1994):
a. Precipitação do banho de curtimento: esta alternativa consiste na precipitação do
cromo sob a forma de hidróxido de cromo (III), com posterior sedimentação do
precipitado formado. Redissolve-se o precipitado com ácido sulfúrico, sob adição
controlada, de forma a obter-se novamente o sulfato de cromo. O licor recém
preparado é reutilizado como agente curtente, no lote seguinte, sendo necessário
adicionar mais cromo e sal ao processo;
b. Acidificação do banho de curtimento: é o processo de reciclagem direta que
consiste no sistema de filtragem simples, com peneira estática para separação dos
sólidos grosseiros.
Tendo em vista o potencial tóxico de algumas formas de cromo, as normas
reguladoras ambientais estipulam que os níveis de cromo no tratamento de efluentes sejam
controlados. A reciclagem de cromo (III) utilizado no processo de curtimento tem sido aceito
na produção e é comercialmente atrativo (SREERAM et al., 2000).
Em curtumes, o metal cromo deve ser reciclado e reutilizado, pois nas indústrias
que não o fazem, são gerados volumes excessivos de lodo com presença de cromo, o que
inviabiliza a possível utilização de parte do resíduo como biossólido.
A figura 4.2 apresenta o sistema de reciclagem de cromo do curtume onde foi
desenvolvida a pesquisa, onde pode ser observada a grade de separação de sólidos grosseiros,
seguida de peneira estática.
25
FIGURA 4.2 – Sistema de reciclagem de cromo.
4.1.3 Tratamento primário
O tratamento primário utilizado na indústria de curtimento destina-se à remoção
de sólidos em sedimentáveis e sólidos flutuantes. O efluente, após passar pelas unidades de
tratamento preliminar, contém ainda os sólidos em suspensão, os quais podem ser
parcialmente removidos em unidades de sedimentação. Uma parte significativa destes sólidos
em suspensão é compreendida pela matéria orgânica em suspensão (VON SPERLING, 2004).
O sistema de aeração utilizado em tanque de equalização, através de aeradores de
superfície, que permitem uma perfeita equalização das cargas em todos os pontos do tanque, a
transferência de oxigênio deve ser suficiente para a oxidação de grande parte do sulfeto
oriundo da indústria, durante o processo de descalcinação e purga.
A figura 4.3 apresenta o sistema primário de tratamento de efluentes de curtume.
4.1.4 Monitoramento de efluentes
Para atender a resolução CONAMA 357/05, foram avaliados os parâmetros pH,
DQO, teor de cromo e óleos e graxas no efluente líquido.
26
FIGURA 4.3 – Sistema primário de tratamento de efluentes.
Todos os parâmetros foram avaliados, segundo o Standard Methods. A tabela 4.1
apresenta os parâmetros e as técnicas analíticas que foram adotados para a avaliação da
qualidade do efluente bruto.
TABELA 4.1 – Parâmetros que serão analisados para caracterizar as o efluente líquido.
Parâmetro Técnica Analítica
pH Potenciométrica
DQO Dicromato, refluxo fechado
Cromo total
Titulométrica
Óleos e Graxas Extração em Soxhlet
Para mostrar a viabilidade do sistema de reciclagem direta, foram considerados:
a. volume de água gerado em cada experimento;
b. qualidade do efluente gerado.
4.1.5 Sistema de dosagem
A dosagem de insumos é feita através de bomba dosadora, adicionando o
coagulante e floculante diretamente na entrada do decantador primário. Com isso, a reação é
27
mais eficiente, permitindo a separação mais rápida e, conseqüentemente, uma melhor
decantação .
4.1.6 Decantação primária
É uma unidade de coagulação e floculação, fazendo com que não se necessite
construir uma câmara específica para cada etapa. O material em fibra, garante uma
durabilidade superior e o sistema compacto, permite obter uma área superficial menor que o
convencional, conforme apresentado na figura 4.4.
FIGURA 4.4 – Decantação primária do tratamento de efluentes.
4.1.7 Processo industrial de curtimento
Para caracterizar o efluente gerado, durante três dias na produção, foi utilizada
somente água, como veículo no processo de curtimento, coletando-se amostras do efluente
bruto, após o final da etapa de curtimento, onde foram misturados todos os banhos utilizados
na industrialização. Os efluentes foram segregados e analisados separadamente,
quantificando-se os volumes gerados em cada fase do experimento. Também, foram coletadas
amostras do couro curtido, após a finalização do processo de curtimento. Repetiu-se o
experimento na mesma seqüência e no mesmo período de três dias, porém adicionando-se
banho de cromo reciclado no processo.
A pesquisa foi conduzida respeitando-se os seguintes passos:
28
a) determinação das características dos couros curtidos ao cromo, analisando o pH,
cifra diferencial (ácido forte livre) e substâncias solúveis em diclorometano (teor de
óleos e graxas). Comparou-se o processo sem reciclagem, com o processo com a
reciclagem direta do banho de cromo;
b) determinação qualitativa e quantitativa dos banhos gerados no processo, analisou-se
o teor de Cr
+3
, pH, DQO, teor de óleos e graxas e volume de efluente gerado;
c) comparação dos resultados das análises, do efluente bruto e da qualidade do couro,
obtidos nos dois processos de curtimento;
d) comparação dos parâmetros da qualidade do couro curtido ao cromo e do efluente
gerado. A comparação foi feita avaliando-se as características do couro curtido e do
efluente bruto homogeneizado do curtume em estudo.
Inicialmente avaliou-se o sistema tradicional, utilizando a água como único
veículo. Todos os produtos (sais, ácidos, cromo, biocida e bases), foram diluídos e
adicionados nos fulões utilizando água. Toda a produção do dia foi feita da mesma forma,
durante três dias. Foram utilizados aproximadamente 60% de água na fase de curtimento,
sobre o peso das peles industrializadas.
Todo o volume de banho de curtimento do experimento seguiu para a estação de
tratamento de efluentes. A figura 4.5 apresenta o fluxograma do sistema sem reciclagem de
cromo.
Para se comparar os dois processos de curtimento, foi realizado um novo
experimento, procurando manter constantes todas as variáveis, com exceção da água, que foi
substituída pelo banho de cromo reciclado, na fase de curtimento, previamente utilizado e
descartado do processo, filtrado e armazenado em um reservatório. Todos os produtos, da
mesma forma como no sistema tradicional, foram adicionados tendo o banho reciclado como
agente de dispersão dos produtos na fase de curtimento.
A figura 4.6 mostra o fluxograma do processo de curtimento de couro, onde foi
utilizado o banho descartado do processo de transformação da pele em couro, filtrando e
retornando ao sistema, evitando-se o descarte deste banho, que contém grande concentração
de óxido de cromo.
Foram coletadas amostras no banho de efluente nos processos sem reciclo de
curtimento (EH1), figura 4.5 e com reciclo (EH2), figura 4.6, durante três dias.
29
FIGURA 4.5 – Fluxograma do curtimento sem reciclagem de cromo.
Foram adotadas duas formulações:
a. formulação padrão - utilizando o processo sem reciclagem, onde se utiliza água
durante todo o sistema de trabalho, inclusive no curtimento;
b. formulação do experimento com reciclagem de cromo - utilizando reciclo do
curtimento em substituição à água, na fase de curtimento.
Para obter-se dados confiáveis, foram eleitos três fulões de curtimento, com
características semelhantes, em volume, capacidade de carga e velocidade de 8 RPM
(rotações por minuto). Os valores trabalhados em cada batelada, também foram semelhantes
em peso, pois se fossem trabalhados couros muito pesados, ou muito leves, isso influenciaria
nos resultados.
Pré-descarne
Entrada de Peles
Desencalagem e Purga
Píquel
Depilação e Encalagem
Curtimento
Reciclagem
de Caleiro
Estação de Tratamento
de Efluentes (EH1)
Redescarne
30
Entra
d
a
d
e
P
e
l
es
Pré-descarne
Redescarne
Desencalagem e Purga
que
l
De
p
ila
ç
ão e Encala
g
e
m
Cu
rtim
e
nt
o
Reciclagem
de Caleiro
Estação de Tratamento
de Efluentes (EH2)
Reciclo de
Curtimento
Corpo receptor
FIGURA 4.6 – Fluxograma do curtimento com reciclagem de cromo.
Os três fulões, em cada dia de testes, foram monitorados, procurando minimizar
os interferentes.
A tabela 4.2 apresenta a formulação do processo sem a reciclagem do banho de
cromo e a tabela 4.3 apresenta a formulação para o processo com a reciclagem do banho de
cromo. Os fulões utilizados (em escala real), processaram em média 271 peles por batelada,
com massa média de 7.425 kg, para o primeiro teste, sem banho reciclado de cromo e no
segundo teste, com banho reciclado de cromo, foram processadas em média, 261 peles, com
massa média de 7.125 kg, sendo que nas formulações apresentadas nas tabelas 4.2 e 4.3, o
cálculo foi feito considerando o percentual sobre o peso das peles inseridos em cada fulão
processado.
31
TABELA 4.2 – Formulação de curtimento sem reciclagem de banho de cromo.
ETAPA % PRODUTO TEMPO
30 Á
g
ua
0,05 Tensoativo
0,5 Sulfato de amônio 20 min.
Es
g
ota
r
20 Água
0,15 Tensoativo
3 Sulfato de amônio
2 Descalcinante 30 min.
0,1 Ácido fórmico 90 min.
Descalcinação
Escorre
r
30 Á
g
ua
0,07 Purga 50 min
Escorrer be
m
Purga
40 Água 15 min.
Escorrer be
m
40 Água 15 min.
Lavagem
Escorrer be
m
20 Água
4 Sal 10 min
0,7 Clorito de sódio 20 min.
0,8 Ácido fórmico 30 min.
Píquel
1,2 Ácido sulfúrico 180 min.
30
Água
6 Sulfato de cromo 180 min.
30
Água
0,6 Óxido de magnésio 180 min.
Curtimento
0,12 Fungicida 240 min.
As formulações são baseadas na massa das peles contidas no fulão. Os produtos
químicos foram adicionados individualmente, calculando-se o percentual sobre a massa das
peles contidas nos fulões, respeitando a ordem e o tempo especificados na relação, .
Após o esgotamento do banho de piquelagem, juntamente com o sal de cromo, foi
adicionado o banho reciclado de cromo, reduzindo-se então em 20% o óxido de magnésio
(álcali), pois o banho reciclado de cromo substituiu parte deste álcali na fixação do cromo no
couro.
32
TABELA 4.3 – Formulação de curtimento com reciclagem do banho de cromo.
ETAPA % PRODUTO TEMPO
30 Á
g
ua
0,05 Tensoativo
0,5 Sulfato de amônio
20 min.
Es
g
ota
r
20 Á
g
ua
0,15 Tensoativo
3 Sulfato de amônio
2 Descalcinante
30 min.
0,1 Ácido fórmico 90 min.
Descalcinação
Escorre
r
30 Á
g
ua
0,07 Pur
g
a
50 min
Escorrer be
m
Purga
40 Á
g
ua
15 min.
Escorrer be
m
Lavagem
40 Á
g
ua
Esco
r
rer be
m
15 min.
20
Água
4
Sal
10 min
0,7
Clorito de sódio
20 min.
0,8 Ácido fórmico
30 min.
Píquel
1,2 Ácido sulfúrico
180 min.
Escorrer o banho
30
Reciclo de cromo
6 Sulfato de cromo
180 min.
30
Reciclo de cromo
0,48 Óxido de magnésio
180 min.
Curtimento
0,12 Fungicida
240 min.
33
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os experimentos foram realizados em escala industrial, em três bateladas por dia,
repetindo em três dias. No processo sem banho reciclado de curtimento foi utilizado somente
água como veículo, e no processo com reciclo de cromo foi utilizado carga semelhante de
produção, porém, com a utilização de banho reciclado de cromo. A produção média diária foi
de 2.549 peles para o sistema sem reciclo e 2.338 com reciclo, pois foi o total de peles que
entraram em produção nos dias dos testes.
Na indústria, foram utilizados 8 fulões no processo de curtimento. Foram escolhidos 3
fulões que continham características de tamanho e peso de peles semelhantes.
Foram avaliados, também, a qualidade do couro e da água residual, gerados na
produção de cada batelada. O tempo total do processo de curtimento foi de 23 horas para
todos os testes, pois além do tempo que estão descritos nas tabelas 4.1 e 4.2, há o tempo de
esgotamento e de adição de produtos químicos.
Foram coletadas amostras representativas do couro após o curtimento. O efluente dos
fulões, no homogeneizador do sistema, avaliando a qualidade e o volume da água consumida.
A tabela 5.1 apresenta as quantidades e peso de couros processados nos dois
experimentos.
Na indústria, foram utilizados 8 fulões no processo de curtimento. Foram escolhidos
fulões que continham características de tamanho e peso de peles semelhantes.
O volume de água residual consumido em todo o processo de curtimento, foi calculado
medindo-se através de um hidrômetro modelo multijato, marca Ciasey de 2 polegadas, na
entrada do homogeneizador antes do início do experimento, e durante três dias consecutivos
34
calculou-se a vazão do sistema pelo número de horas trabalhadas. Foi considerado o volume
de banho gerado em relação ao número de couros produzidos.
TABELA 5.1 – Características das peles industrializadas.
Quantidade de Peles Peso Total (kg) Peso Médio (kg)
Experimento
Sem
Reciclo
Com
Reciclo
Sem
Reciclo
Com
Reciclo
Sem
Reciclo
Com
Reciclo
Teste 1 2.520 2.517 71.190 70.199 28,25 27,89
Teste 2 2.653 2.378 71.266 66.940 26,85 28,15
Teste 3 2.475 2.120 67.641 59.254 27,33 27,95
Média 2.549 2.338 70.032 64.465 27,48 28,00
5.1 Curtimento do couro
Em todos os testes realizados foram utilizadas quantidades de peles e peso
semelhantes. Os fulões utilizados para os testes de curtimento, possuem capacidade de carga
máxima de 8.000 kg ou 280 couros, cada. As cargas foram padronizadas, a fim de não haver
variações nos processos, como atrito entre as peles, temperatura, dispersão dos insumos
químicos, ou outra variável, as quais poderiam influenciar nos resultados.
A tabela 5.2 apresenta o peso e a quantidade de peles utilizadas nos experimentos com
e sem reciclo.
TABELA 5.2 – Peso e quantidade de peles por fulão.
Quantidade de Peles Peso (kg)
Experimento
Sem Reciclo Com Reciclo Sem Reciclo Com Reciclo
Teste 1 275 265 7.520 6.565
Teste 2 268 278 7.610 7.716
Teste 3 271 261 7.425 7.125
Com o início dos testes, os três fulões eleitos para que se fizessem os testes, foram
monitorados, objetivando-se a padronização. Para se comparar os resultados, foram feitas as
médias em cada teste, ou seja, após a conclusão das análises, através da média aritmética
ponderada, obteve-se o resultado médio diário, que serão expostos neste tópico.
35
5.1.1 Banho reciclado de cromo
Para se obter o banho reciclado, a produção foi elaborada durante dois dias que
antecederam o teste utilizando-se somente água como veículo, obtendo-se um volume de
banho suficiente. Após o processo de industrialização do couro, todo o banho originado do
curtimento foi direcionado ao tanque de coleta do banho, filtrando-se para a retirada dos
sólidos grosseiros, armazenado em outro tanque, para ser reutilizado no sistema
A figura 5.1 mostra o aspecto límpido do banho de cromo reciclado
.
FIGURA 5.1 – Banho do reciclo de cromo.
O banho reciclado apresentou-se bastante límpido e com tonalidade azul-esverdeada,
com baixa concentração de sólidos dispersos ou sedimentáveis. Procurou-se então caracterizar
este banho, para obter a padronização do processo, pois o couro deve manter sua integridade,
obedecendo as normas de qualidade. Para se ter o controle do sistema, foram feitas análises,
que contribuiriam para se trabalhar com segurança, sem comprometer as características
desejáveis no produto final. As análises consideradas fundamentais para a padronização do
sistema estão apresentadas na tabela 5.3.
Os valores encontrados foram considerados ideais para se trabalhar no curtimento,
pois todos os parâmetros apresentaram limites que não ocasionará qualquer forte reação, ou
choque de pH, que poderia causar algum dano à pele.
36
TABELA 5.3 – Características do banho de reciclo de cromo.
Parâmetro Unidade Valor
pH - 3,75
Cifra Diferencial - 0,25
Teor de cromo gL
-1
2,72
Teor de gordura mg.L
-1
0,21
5.1.2 Qualidade do couro produzido
A avaliação da qualidade do couro e do banho obtidos foi efetuada logo após o
término da produção do dia, encaminhando as amostras para análises.
Para o primeiro teste, a quantidade de água seguiu rigorosamente o prescrito na
fórmula, havendo um bom equilíbrio do banho com o substrato.
A temperatura e pH mantiveram-se dentro dos valores esperados. O couro também
manteve o padrão, o pH final do banho e do couro apresentaram valores dentro da
normalidade, ou seja, entre 3,50 e 3,62.
A figura 5.2 mostra o couro curtido sem reciclo, podendo-se notar que o padrão do
wet-blue é muito bom, o que foi constatado pelos profissionais classificadores da produção.
FIGURA 5.2 – Couro curtido sem banho reciclado.
O segundo experimento foi conduzido utilizando-se o banho reciclado. A adição de
álcali, ao final do processo de curtimento, foi 20% menor, pois parte do banho de piquelagem
foi escorrido, o que diminui a acidez no processo de cromagem.
37
A figura 5.3 apresenta o couro curtido com banho reciclado de cromo, com tonalidade
bem uniformizada.
FIGURA 5.3 – Couro curtido com banho reciclado de cromo.
TABELA 5.4 – Características do couro curtido.
Teste 1 Teste 2 Teste 3 Média
Parâmetro Unidade
Sem
Reciclo
Com
Reciclo
Sem
Reciclo
Com
Reciclo
Sem
Reciclo
Com
Reciclo
Sem
Reciclo
Com
Reciclo
pH - 3,54 3,54 3,51 3,61 3,54 3,58 3,53 3,58
Cifra diferencial
(ácidos fortes)
- 0,64 0,44 0,65 0,36 0,68 0,41 0,66 0,40
Teor de cromo % 3,66 3,85 3,62 3,90 3,64 3,87 3,64 3,87
Teor de óleos e
graxas
mg.L
-1
0,35 0,26 0,32 0,22 0,36 0,27 0,34 0,25
Os processos de curtimento (com e sem reciclo) ocorreram de acordo com o esperado,
não havendo variação de tempo de processo em nenhum dos testes. O couro apresentou
valores bastante próximos, o que mais uma vez demonstra um sistema ajustado.
O tempo de processo de curtimento, neste curtume é de 23 horas, o que se repetiu
nestes testes, não havendo qualquer atraso de processo ou variação considerável de pH no
couro.
Os valores da cifra diferencial do couro, mostram que o teor de ácidos fortes livres na
estrutura do couro, apresentando certa variação, onde o processo sem banho reciclado de
cromo variou de um mínimo de 0,64 a um máximo de 0,68. Porém, ambos obedecem as
38
normas, que estipulam o máximo de 0,7. O teste com a utilização de banho reciclado de
cromo apresentou um resultado que pode ser considerado melhor, permanecendo com o
mínimo de 0,36 e o máximo de 0,44, proporcionando maior segurança.
O teor de cromo fixado nas fibras do couro. Estes percentuais avaliam a qualidade do
couro obtida no processo. O teor de cromo mínimo esperado é de 3,60%.
O teor de cromo no processo industrial do couro é fundamental, pois o primeiro
parâmetro exigido é o cromo presente nas fibras do couro. Quando o sistema não está bem
ajustado, os valores podem ficar muito abaixo ou muito acima do esperado.
O teor de cromo encontrado nos dois processos testados (acima de 3,62), proporciona
as características desejadas do couro, que é a resistência à temperatura, maciez e capacidade
de se trabalhar nos processos finais de industrialização do couro.
O teor de cromo detectado nos testes pode ser considerado bom em ambos os testes.
Porém, no teste com banho reciclado de cromo, o couro apresentou um teor de cromo dentro
dos limites desejáveis, acrescentando mais segurança ao sistema de trabalho.
O teor de óleos e graxas especifica o percentual de gordura presente no couro curtido.
Este parâmetro está contemplado nas normas da ABNT (NBR – 11054/99), que especifica
que o couro curtido deve ter no máximo 0,5%, no estágio de wet-blue.
O teor de óleos e graxas encontrado no couro, foi menor no couro curtido com a
utilização de banho reciclado, o que é bom, podendo-se atribuir ao fato de se ter esgotado o
banho de piquelagem, sendo a variável que poderia influenciar neste resultado.
5.1.3 Efluente gerado no processo
O volume de água gerado no primeiro teste foi de 205,96 litros por couro produzido,
ou seja, foi gerado, em média por dia 525.000 litros de efluente, para se produzir em média
2.549 couros. No segundo teste, com utilização de banho reciclado, o consumo foi de 179,64
litros por couro produzido, com um consumo médio diário de 420.000 litros, para 2.338
couros produzidos. Portanto, o couro produzido com banho reciclado consome menor volume
de água, mantendo-se a qualidade do produto final.
As amostras dos efluentes foram coletadas no homogeneizador da estação de
tratamento no final dos experimentos. Nas figuras 5.4a e 5.4b pode-se observar a diferença
39
visual entre os dois efluentes, onde a primeira, sem utilização de banho reciclado apresentou
tonalidade mais escura, demonstrando uma maior presença do metal cromo (611,37 mg/L
-1
),
já a amostra do segundo experimento apresentou-se mais acinzentada (61,14 mg/L
-1
de
cromo).
FIGURA 5.4a – Banho do efluente sem
reciclo de cromo.
FIGURA 5.4b Banho da ETE com reciclo
de cromo.
Ao final dos experimentos sem e com a utilização de banho reciclado, o efluente
gerado nos três fulões, foi homogeneizado, coletado e levado para serem analisados. Os
resultados são descritos na tabela 5.5.
TABELA 5.5 – Resultados das análises do efluente líquido produzido nos dois processos
testados.
Teste 1 Teste 2 Teste 3
Média
Parâmetro Unidade
Sem
Reciclo
Com
Reciclo
Sem
Reciclo
Com
Reciclo
Sem
Reciclo
Com
Reciclo
Sem
Reciclo
Com
Reciclo
pH - 8,31 8,42 8,05 8,3 7,95 8,45 8,10 8,42
DQO mg.L
-1
12.500 11.092 11.925 10.070 12.115 11.800 12180 11.092
Cromo total
mg.L
-1
645,60 61,14 582,00 58,20 606,50 60,65 611,37 61,14
Óleos e Graxas
mg.L
-1
2.235 2.667 2.425 2.850 2.488 2.480 2.383 2.667
Volume de
Efluente
520 425 530 421 525 414 525 420
O pH das amostras do banho residual dos experimentos, coletados no homogeneizador
da ETE, apresentou uma pequena variação, de acordo com o teste e com o tipo de processo. O
pH mínimo encontrado foi de 7,95 e o máximo em 8,31 no experimento sem reciclagem de
40
cromo. O experimento com a utilização de banho reciclado, os valores de pH ficaram entre
8,30 e 8,45, considerando-se normal, pois o banho de reciclo que foi descartado no primeiro
experimento, e que direcionado para a ETE, apresentou-se com pH médio de 3,75.
A DQO média do efluente gerado após os testes, sem a utilização de banho reciclado
foi de 12.180 mg.L
-1
, com a utilização do banho reciclado, foi de 11.092 mg.L
-1
,
demonstrando uma carga menor para o experimento com a utilização do banho reciclado de
cromo, provavelmente este melhor resultado foi devido à segregação do banho contendo
cromo, com isso houve uma diminuição de carga.
O teor de cromo encontrado no efluente homogeneizado, no final do teste foi, em
média, de 61,14 mg.L
-1
no experimento com utilização de banho reciclado e 611,37 mg.L
-1
,
no experimento sem utilização de banho de reciclado de cromo.
Os valores encontrados demonstram a redução de cromo, quando se utiliza o reciclo
do banho de curtimento, com a minimização do impacto ambiental. A quantidade de cromo
encontrada, quando se utiliza o banho reciclado, se origina principalmente do couro
armazenado.
O couro contém na camada derme, uma grande quantidade de gordura. Esta gordura é
retirada, parcialmente, através do processo mecânico de descarne, sendo complementado com
o desengraxe físico-químico, nos fulões. Porém, após a retirada da gordura mecânica, física e
quimicamente, parte desta gordura estará presente na água residual do curtume. O teor de
óleos e graxas detectado na ETE após o final do processo foi maior no experimento com a
utilização do banho reciclado de cromo, com resultado de 2.667 mg.L
-1
, enquanto efluente
gerado sem utilização de banho reciclado foi de 2.382 mg.L
-1
. Pelo fato de se esgotar o banho
de píquel, provavelmente a concentração de gordura apresenta um valor um pouco maior, pois
há a diminuição do volume de banho que é direcionado para a ETE.
41
6 CONCLUSÕES
O desenvolvimento da pesquisa, visando a comparação da utilização do banho de
cromo reciclado no curtimento de couros, de maneira direta, sem adição de insumos químicos
no banho reciclado, com o curtimento de couros ao cromo sem utilização de banho reciclado
de cromo, possibilitou as seguintes conclusões:
O couro produzido com banho reciclado, em comparação com o couro
produzido sem reciclagem, pode ser considerado dentro dos padrões
adequados, com todos os parâmetros dentro do exigido pelo mercado e de
acordo com a ABNT.
O pH do couro com a utilização do banho reciclado e sem a sua utilização, se
mantiveram dentro dos valores esperados, ou seja, acima de 3,50.
A cifra diferencial do couro foi muito positiva, pois ficou em a média de 0,40,
com a utilização do banho reciclado de cromo, o que demonstra que tem muito
pouco ácido forte presente, enquanto o teste sem a utilização de banho
reciclado foi de 0,66. Porém ambos são aceitáveis.
O teor de cromo no couro ficou acima de 3,80%, o que é muito bom,
significando o bom aproveitamento do cromo contido no banho reciclado,
obtendo-se maior fixação do que o experimento sem utilização de banho
reciclado, que apresentou fixação pouco acima de 3,60. O valor acima de
3,80% proporciona maior segurança no trabalho;
A aparência do wet-blue apresentou-se muito limpa e padronizada, tanto para o
couro produzido com banho de reciclo, como para o couro produzido somente
42
com água. A tonalidade do couro produzido somente com água, apresentou
uma tonalidade mais azulada e límpida, o que era de se esperar.
As características do efluente bruto produzido nos dois processos testados
forma praticamente similares, sendo que a DQO do experimento sem a
utilização do banho de reciclo apresentou resultado de 12.180 mg.L
-1
, do
experimento com a utilização do banho reciclado, foi de 11.092 mg.L
-1
, o que
pode-se considerar normal, pois o segundo experimento não contém o banho
contendo cromo. O teor de óleos e graxas no teste com a utilização de banho
reciclado, apresentou 2.667 mg.L
-1
, enquanto no teste sem banho reciclado de
cromo, foi de 2.383 mg.L
-1
. Quando comparados os valores, observa-se que o
volume de efluente gerado foi menor no experimento com banho reciclado 420
m³, enquanto no sistema sem utilização do banho reciclado foi de 525 m³,
portando era de se esperar uma concentração maior de gordura no teste com a
utilização do banho reciclado de cromo.
O volume de água consumido no processo, quando utilizado banho reciclado
foi 14,28% menor em termos comparativos, que o processo convencional.
Pode-se afirmar que é um resultado importante, considerando-se a redução de
efluente gerado.
O teor de cromo encontrado no efluente do experimento, com a utilização do
banho reciclado, foi reduzido em aproximadamente 90%, o que é muito
significativo em se tratando de curtume, tanto em termos de economia na
utilização de água, como na geração de efluentes líquidos e lodos com menor
teor de cromo.
Portanto, os resultados obtidos comprovam a viabilidade do sistema de
reciclagem direta do banho de cromo, tanto quanto à qualidade do couro
produzido com o reciclo, como a qualidade e quantidade do efluente gerado,
demonstrando grandes vantagens, pois a presença do metal cromo, tanto no
efluente final, como nos resíduos sólidos gerados na ETE, inviabilizam sua
possível reutilização. Como em qualquer novo sistema, é necessário o
comprometimento dos profissionais envolvidos com a produção e o apoio da
diretoria das empresas, no sentido de criar condições de segregação dos
banhos.
43
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