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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO
PATRICIA BERTACCHINI
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
Tese apresentada à Faculdade de Arquitetura
e Urbanismo da Universidade de São Paulo
para a obtenção do título de Doutor em
Arquitetura e Urbanismo
Orientador: Prof. Dr. Bruno Roberto Padovano
São Paulo, 2007
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PATRICIA BERTACCHINI
As redes no projeto urbanístico
Tese apresentada à Faculade de Arquitetura
e Urbanismo da Universidade de São Paulo
para a obtenção do título de Doutora em
Arquitetura e Urbanismo
Área de Concentração: Projeto de Arquitetura
Orientador: Prof. Dr. Bruno Roberto Padovano
São Paulo, 2007
ORGANISMOS EM REDE
A rede só ocorre a partir do desenvolvimento espontâneo dos organismos. A orquídea no vaso não é o
desenvolvimento espontâneo. Sem as trocas com o meio, ela precisa ser constantemente alimentada,
carregada até o sol da manhã, guardada à tarde...
Mas a orquídea, se colocada na árvore, em condições climáticas propícias, se desenvolve a partir das
trocas com o meio, e melhora as condições do meio também. Ela se torna uma rede, em contato com
os uxos de água, de sol, de ar....se torna capaz de fazer mais fotossíntese, de crescer, e de exprimir
sua beleza plástica.
Mas para que ela sobrevivesse e se desenvolvesse, ela precisou de um projeto: onde ela seria colocada,
como seria xada, qual a melhor seiva, a melhor sombra. Como cresceria... Assim são as cidades e os
edifícios. Projetar não é o ato de “deixar pronto, mas de possibilitar e ampliar o uir da vida.
A beleza do ato de projetar está em saber plantar, e deixar condições para que os organismos se
desenvolvam, para que entrem em contato com as redes vivas do ambiente, e sejam também...
...REDES VIVAS
Aos meus avós Oswaldo Sestaroli (in memorian)
e Dirce Massaia Sestaroli, que me ensinaram,
“plantando orquídeas”, que a compreensão
acontece de fato a partir do conhecimento, da
percepção e do pensamento.
AGRADECIMENTOS
O escritor Ítalo Calvino escreveu, em Da Palomar que “o conhecimento do próximo tem qualquer
coisa de muito especial: passa necessariamente pelo conhecimento de nós mesmos.
A pesquisa que embasa essa tese não partiu da uma busca por uma teoria, que é o que normalmete
acontece quando se ingressa na academia para fazer uma tese. Essa tese é o resultado da oportu-
nidade de convivência com pessoas que eu admiro tanto. Tentando conhecer cada um, fui formando
os valores nos quais hoje acredito, e que se re etiram, ao longo desses anos de formada, na minha
prática de projeto e na minha forma de “ensinar” projeto.
Sou muito grata ao meu orientador, Prof. Dr. Arq. Bruno Roberto Padovano, que no dia a dia sempre
me inspirou, como colaboradora, a buscar sentido para a arquitetura que fazemos. Tenho cada vez
mais convicção de que o que busco não é o sentido para essa arquitetura, mas sim o sentido da
própria existência, como arquiteta. Não existe possibilidade de projetar ao lado dele sem dispender
pelomenos quatro horas de pesquisa para cada hora de projeto - é preciso ler e re etir muito para
entender a complexidade intertextual dos conceitos que existem por trás de seus singelos croquis.
Agradeço minha primeira orientadora, Profa. Dra. Arq. Vera Osse, urbanista com a qual estagiei,
que me ensinou ainda durante a graduação, a perceber a cidade como um organismo rico por sua
complexidade de relações e con itos. Também sou grata ao colega Prof. Msc. Arq.Dominique Fretin,
pelos intermináveis jantares em que discutíamos as teorias sobre complexidade, desde a física quân-
tica até a escala global, e não apenas por ter me apresentado autores como Alexis Carrel, Prigogine,
Maturana, mas por ter me ensinado a ler esses autores e por ter agregado tanto à forma como per-
cebo as cidades e como atuo em projeto.
Agradeço ao querido Msc. Arq. Fábio Zepellini pela interlocução sincera e sempre disponível. Dos
nossos estudos de projeto se originou o T.E.I.A. STUDIO (Teamwork-Enhanced Investigation on Ar-
chitecture), com os amigos: Arq. Adriana Cocchiaralli, Arq. Isabella Jock, Arq. Carolina Duva, Des.
Lars Diederichsen e Arq. Letícia Lodi. Meu sincero obrigado a todos pelas noites sem sono, envol-
vidos pela paixão em discutir conceitos que tornam tão agradáveis as realizações de concursos, e
a cumplicidade por cada prêmio. É muito prazeiroso crescer junto com vocês. E também sou grata
ao amigo Msc. Cont. Prof. Rodrigo Debus Soares, pelas agradáveis discussões sobre valor e uso
do solo, que mesmo não estando mais em São Paulo, sempre participou do processo de pesquisa
realizado durante esse programa de doutorado, com críticas e novas referências.
Agradeço também aos colegas da Uninove - Centro Universitário Nove de Julho, em especial a Pro-
fa. Dra. Fís. Neide Sato e o Prof. Dr. Marco Violani pela rica convivência e por tanto apoio durante o
desenvolvimento dessa pesquisa.
Quase por m, apenas para distinguir das relações pro ssionais e acadêmicas, mas com extrema
importância, agradeço à minha família: aos meus pais, Mauri Bertacchini e Eliana M.S. Bertacchini
pelos imensuráveis esforços que dispenderam para possibilitar que eu estudasse em bons colégios,
e por serem sempre presentes em minha educação; às minhas tias Maria Lucia Sestaroli, Maria Inês
Sestaroli e Dirce Maria Sestaroli, que sempre se esforçaram para me colocar em contato com todas
as novidades e referências culturais que existem mundo afora. E à minha irmã Priscila Bertacchini de
Godoy, que foi forçada a entender que tem uma irmã que se perde em sua própria cabeça, e que, por
isso, às vezes está apenas de corpo presente.
E nalizando, também devo muito dessa última etapa da tese ao apoio dos profs: Prof. Dr. Eng. Ual-
frido del Carlo e Prof. Dr. Arq. Geraldo José Serra, que me incentivaram a vencer as várias cirurgias
que z no rim, nesses últimos meses, e que me incentivaram a não desistir de nalizar a pesquisa;
e ao Dr. Nelson Gattás, que está tornando possível minha cura com tão poucos recursos que pude
oferecer, em troca de uma técnica que tão poucos médicos realizam. Merece minha homenagem pela
nobre atitude sem a qual não poderia ter nalizado essa tese.
10
RESUMO
Nessa tese visa-se abordar a importância da contribuição da Teoria das Redes para o Projeto Urbanís-
tico. O projeto urbanístico é um tipo de atividade desenvolvida por arquitetos-urbanistas, que lida com
a relação espacial do urbano, com o espaço de contato entre os edifícios, e com a relação que a infra-
estrutura urbana desempenha nesse espaço.
A tese que defendo é que hoje, esta atividade projetual deve se basear em um novo paradigma, que
tem na Teoria das Redes seu principal embasamento conceitual.
Entende-se aqui que um dos problemas mais recorrentes enfrentado por pro ssionais que atuam com
projeto urbanístico, é a maneira como a infra-estrutura urbana participa da qualidade do espaço pú-
blico: esta pode contribuir fortemente com a degradação do entorno onde foi instalada, se for projetada
de maneira dissociada desse entorno; ou pode ter a possibilidade de catalisar a modi cação do uso do
solo no entorno próximo aos espaços em que são instaladas de uma maneira interativa. O que acon-
tece é que, de uma maneira ou de outra, percebe-se claramente que a infra-estrutura urbana sempre
induz a transformação dos espaços nos quais ou ao redor dos quais é instalada.
Com base nessa percepção, a pesquisa aqui apresentada desenvolve-se em quatro partes: um estudo
histórico que veri ca paradigmas característicos de diferentes maneiras de como as redes se manife-
staram no tecido urbano; a avaliação metodológica de autores relacionados ao projeto urbanístico que
são referenciais seguida da proposição de uma metodologia de projeto urbanístico; e a a aplicação
dessa metodologia proposta na análise de projetos urbanísticos referenciais e em alguns projetos de
minha co-autoria.
11
ABSTRACT
In this thesis the importance of the contribution of the Theory of Networks for the eld of urban design is
addressed. Urban design is a type of activity develped by architects/planners that deals with the spatial
relationships of the urban phenomenon, with the space of contact between buildings and with the role
that infrastructure plays within this space.
The thesis that I defend is that today this design activity should be based on a new paradigm, that has
in the Theory of Networks its main conceptual basis.
It is hereby understood that one of the most recurrent problems for urban designers is the way that in-
frastructure particpates of the quality of public space: it can contribute effectively with the degradation
of its surroundings wherever it is installed, if it is designed in a manner that is divorced from such sur-
roundings, or it can show the potential for catalyzing the change of land-uses in the surrounding context
in the spaces in which it is installed in an interactive manner. What occurs is that, in one way or other,
it is clearly perceived that infrastructure always induces transformations in the spaces within which, or
around which, it is implemented.
Based on this perception, the research here presented was developed in four parts: a historical study
that veri es paradigms characteristic of the different ways by which networks manifest themselves in
the urban fabric; the methodological evaluation of authors related to urban design who are referential,
followed by the proposition of a methodology for urban design projects; and the application of this
proposed methodology in the analysis of referential urban design projects and in some of my own co-
authorship.
Introdução .............................................................................................................................................................................................................................................................................1
1. Evolução paradigmática do projeto urbanístico .............................................................................................................................................................................................................3
1.1. Paradigmas no Projeto Urbanístico .............................................................................................................................................................................................................................5
1.2. O que é uma rede urbana estruturada a partir da mobilidade dos indivíduos ....................................................................................................................................................... 57
1.3. Como as redes urbanas se transformaram a partir da mudança no conceito de estrutura urbana ..................................................................................................................... 81
1.4. Territórios e a rede interpessoal no projeto urbanístico ............................................................................................................................................................................................94
1.5. Elementos do projeto urbanístico em rede...............................................................................................................................................................................................................113
2. O Método no projeto urbanístico: apresentação.........................................................................................................................................................................................................133
.
2.1. Um breve panorama sobre o discurso metodológico no Projeto urbanístico........................................................................................................................................................135
2.2. Uma mudança contextual que propiciou a conceituação do aprendizado cadeia, e novas abordagens do objeto arquitetônico e da participação do usuário....................137
2.3. Uma trajetória metodológica como referência conceitual: a construção da complexidade .................................................................................................................................141
2.4. Uma metodologia projetual que considera a axis do movimento como referência aos objetos arquitetônicos – a percepção espacial..........................................................147
2.5. Uma metodologia de percepção espacial que parte do conceito de emergência ...............................................................................................................................................151
2.6. Uma metodologia de percepção espacial que infere a emergência .....................................................................................................................................................................153
2.7. Uma concepção de projeto urbanístico estrutural: relações catalíticas essenciais ao projeto urbanístico em rede .........................................................................................157
2.8. A proposta de uma matriz relacional para o projeto urbanístico.............................................................................................................................................................................162
3. Análise de projetos referenciais...................................................................................................................................................................................................................................197
3.1 – Análise do projeto urbanístico para a área da Bicocca, Milão, Itália....................................................................................................................................................................198
3.2 – Análise do projeto urbanístico para a área do Parque das Nações, Lisboa, Portugal........................................................................................................................................213
4. Análise de projetos realizados em minha co-autoria..................................................................................................................................................................................................227
4.1 - Análise do projeto urbanístico para a Cixi Nature Village, Cixi, China .................................................................................................................................................................229
4.2 – Análise do projeto urbanístico Wuxi Helie Center, em Wuxi.................................................................................................................................................................................243
4.3 – Análise do projeto urbanístico para a área do monumento histórico Sheli Pagoda ...........................................................................................................................................257
4.4 – Análise do “Projeto Teia”- uma proposta para o concurso de Idéias para um Bairro Novo, em São Paulo .....................................................................................................271
Conclusão..........................................................................................................................................................................................................................................................................285
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
O projeto urbanístico é um tipo de projeto, desenvolvido por arquitetos-urbanistas, que lida com as
relações espaciais do urbano, e que aborda principalmente o espaço de contato entre os edifícios, e
a relação que a infra-estrutura urbana desempenha nesse espaço. A tese que defendo é que, hoje,
esta atividade projetual deve se basear em um novo paradigma, que tem na Teoria das Redes seu
principal embasamento conceitual.
Imagina-se que um dos problemas mais recorrentes enfrentado por pro ssionais que atuam no pro-
jeto urbanístico, é a maneira como a infra-estrutura urbana participa da qualidade do espaço público:
esta pode contribuir fortemente com a degradação do entorno onde foi instalada, se foi projetada de
maneira dissociada desse entorno, ou tem o poder de catalisar a modi cação do uso do solo no en-
torno próximo aos espaços em que são instaladas de uma maneira positiva. O que acontece é que,
de uma maneira ou de outra, percebe-se que a infra-estrutura urbana sempre induz a modi cação
dos espaços ao redor de onde é instalada.
De fato, percebe-se que, quase sem exceções, a infra-estrutura urbana que é criada normalmente
com o objetivo de conectar pelo menos dois pontos da trama urbana para permitir mobilidade de
algum tipo de serviço (água, transporte, energia, etc) resulta em lógicas de apropriação do espaço
ao redor da oferta desse serviço, mesmo que esse fato ocorra de maneira não planejada ou não in-
tencional. A infra urbana se con gura certamente como elemento estrutural, nas cidades, mesmo que
não tenha sido projetada com esse objetivo.
Considerando a infra urbana é um elemento estrutural por natureza, é possível a rmar, por conse-
qüência, que o projeto urbanístico, ao lidar com a relação entre a infra-estrutura urbana e com os
espaços entre os edifícios, interage necessariamente com sistemas estruturais do espaço urbano.
Porém, após as inúmeras experiências sem sucesso das intervenções espaciais sicistas (inter-
venções que normalmente criam limites rígidos à dinâmica urbana, como veremos), como as inter-
venções racionalistas ou funcionalistas, começou a haver grande participação de pro ssionais de
outras áreas com relação às intervenções urbanas estruturais, como a contribuição por parte da
economista Jane Jacobs, cujos trabalhos teóricos, já nos anos 1960 denunciavam a rigidez que as
estruturas urbanas propostos por urbanistas modernos podem representar para a vida nas ruas e
para a diversidade local.
Curiosamente, essa forma mecanicista de se ver o mundo também cessou no imaginário de pesquisa-
dores de outras áreas do conhecimento que também atuavam com estruturas espaciais (os físicos,
os químicos, os economistas), à medida que os pesquisadores de outras áreas do conhecimento
começaram a perceber a necessidade de explorar as relações complexas entre os sistemas espa-
ciais.
Quando o Segundo Principio da Termodinâmica começou a ser difundido e explorado por diversas
áreas do conhecimento, os pesquisadores em geral começaram a veri car as qualidades dos proces-
sos abordados como sistemas abertos. E vários pesquisadores começaram a desenvolver outras for-
mas de estrutura espacial que não xassem limites físicos, e pudessem, assim, ser mais adaptáveis e
dinâmicas. E foi assim que surgiu o conceito de redes conectoras desenvolvido inicialmente por lingüis-
tas, e também o conceito de que o território é algo distinto dos limites físicos da cidade, desenvolvido
principalmente por pelos sociólogos e geógrafos, Veremos ao longo dessa tese como ocorreu essa
mudança no pensamento que deu origem às estruturas em rede, para podermos de nir os diferentes
desempenhos dos diversos conceitos de rede estrutural.
Procuramos assim, em um primeiro momento da pesquisa realizada, sistematizar as contribuições de
outras áreas do conhecimento, que buscaram novas formas de como tornar a estrutura espacial mais
exível. Por esse motivo a rede, nessa tese, é entendida como uma forma de abordagem cientí ca
estrutural de elementos que interagem na organização do espaço urbano.
Ao longo da pesquisa desenvolvida, percebeu-se que as redes urbanas estão essencialmente rela-
cionadas à qualidade do espaço de uso público. Quando são rígidos, tais espaços de uso públicos são
questionados por representarem momentos espaciais limitantes das necessidades sociais. Entretanto,
detectou-se que a mobilidade urbana acontece exatamente na relação que existe entre a infra-estrutura
e os espaços de uso público. Se os espaços de uso público são fracionados, degradados e ermos, e
não estabelecem ligações com a infra-estrutura urbana, detecta-se que as cidades normalmente sof-
rem sérios problemas de mobilidade.
Ao longo do desenvolvimento da pesquisa detectou-se, por exemplo, que é recorrente a existência de
cidades que apresentam expressiva quantidade de espaços de propriedade pública, mas tais espaços
oferecem pouca qualidade de uso – se encontram, muitas vezes cercados, inviabilizando sua função
coletiva. Por outro lado, observa-se que em algumas cidades que possuem relações estruturais boas
entre a infra-estrutura e os espaços de uso público, os espaços de usufruto público funcionam com
qualidade. Nos casos em que existem políticas públicas incentivadoras do usufruto público do espaço
de propriedade privada, através de ferramentas urbanísticas que obrigam a iniciativa privada a manter
esses espaços seguros, iluminados, e com usos que convidam as pessoas não apenas a utilizarem
esses espaços como passagem, mas como locais de permanência rápida (aplicando nesses espaços
de uso público um conceito muito difundido por Jane Jacobs, de que ruas com usos diversi cados que
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
atraem o movimento de pessoas, são ruas naturalmente mais seguras).
Em um segundo momento, a partir da sistematização da contribuição da teoria das redes por outras
áreas do conhecimento, foi possível detectar duas qualidades das estruturas espaciais em rede, que
têm aplicabilidade direta no espaço urbano. São estas:
- a capacidade catalisadora que as estruturas em rede podem apresentar: as mudanças na teoria do
conhecimento constataram ao longo do último século que a abordagem em rede só vale a pena se é
capaz de desencadear processos evolutivos saudáveis a partir da intervenção espacial proposta. Esse
conceito os lingüistas desenvolveram com a internet, e hoje são aplicados até mesmo no tratamento
de doenças em áreas especí cas do corpo humano, através do uso das células-tronco, que podem se
adaptar para formar diversos tipos de tecido humano.
- a possibilidade que as estruturas em rede apresentam, de adaptação às diversidades em várias es-
calas, que, na aplicação em projeto urbanístico, pode contribuir para uma melhor acomodação da infra-
estrutura em relação à diversidade local, sendo que a infra-estrutura passa a ser entendida como parte
integrante às especi cidades locais, e passa a se relacionar com a escala local de maneira orgânica
- também pode ser alterada de acordo com essas especi cidades locais.
As pesquisas sobre a maneira como os organismos evoluem estruturalmente, a partir da observação de
relações dinâmicas das próprias estruturas, foi a grande contribuição de outras áreas do conhecimento
para a Teoria das Redes. E foi essa contribuição que fez com que os pesquisadores que interagem
com estruturas espaciais compreendessem que o valor de uma abordagem em rede está justamente
na possibilidade de revisão estrutural que a rede permite. A rede nunca é atualizada por inteiro, e nunca
de uma única vez. E o projeto urbanístico em rede é um processo evolutivo. Não existe uma avaliação
pós-ocupação de todo o sistema, e uma nova intervenção totalizante, em todo o sistema. A evolução
das redes é contínua, de maneira que o projeto urbanístico precisa se preocupar com a criação, no
espaço urbano, de certas relações de mobilidade de permitem a interação dos usuários. Assim, quando
certas interações se tornam recorrentes, a demanda para alguma mudança estrutural surge natural-
mente (como a necessidade de surgimento de estações de metrô em determinadas áreas de cidade,
ou a extinção de algumas linhas de ônibus, em outros casos).
Considerando que o valor de uma abordagem em rede está justamente na possibilidade de revisão
estrutural que a rede permite, foi possível chegarmos ao ponto focal desse trabalho: uma metodologia
de projeto urbanístico que se desenvolve em torno da hipótese de que a exibilidade do espaço urbano
está na forma como o espaço é compreendido. Imagina-se que, quando a compreensão do urbano não
INTRODUÇÃO
ocorre à priori (imposta por governantes, por planejadores ou por quaisquer pro ssionais que tenham
previamente tentado organizar o espaço a partir de uma lógica não compreensiva) não há como existir
participação no processo de seu desenvolvimento.
Para existir essa participação na produção do espaço urbano, é necessário que as intervenções ten-
ham considerado previamente que a compreensão do espaço se dá através de três relações (explora-
das principalmente pelos lingüistas, como veremos) que partem de diversas formas de interação entre
indivíduos:
- através do conhecimento (a leitura dos usuários locais, que vivenciam a temporalidade do espaço
urbano local - que percebem mudanças no espaço ao longo do tempo e conseguem mapear intuitiva-
mente essas mudanças);
- através da percepção (os usuários precisam perceber oportunidades de evolução, e a evolução so-
mente ocorre de maneira saudável se os usuários percebem boas condições de mudança para si e
para os grupos com os quais estabelece comunidades)
- através do pensamento, que permite às pessoas sonharem e terem idéias, para poderem contribuir
ativamente com as transformações do espaço.
No terceiro momento da tese, a metodologia de projeto urbanístico proposta, por considerar que as
relações inter-pessoais são o cerne da prosperidade evolutiva da estrutura urbana, explora a fundo
as formas como diferentes processos associados à compreensão do espaço de uso público podem
desencadear processos estruturais mais ou menos rígidos de evolução. A partir desse ponto de vista,
imagina-se que o projeto urbanístico contemporâneo somente é estrutural se apresenta certas re-
lações espaciais que podem desencadear processos evolutivos que consideram que a compreensão
do espaço se dá a partir da relação entre o conhecimento, a percepção e o pensamento, e a partir de
espaços que propiciem essa relação. O projeto urbanístico só é catalítico se, entre a compreensão do
espaço e a ação, existam meios de comunicação e cientes.
Finalmente, em um quarto momento da pesquisa, após a de nição dessa metodologia, mostramos que
a sua aplicação em projetos urbanísticos referenciais, e em projetos realizados no Brasil e na China
(com minha co-autoria) que representaram, em pontos especí cos, momentos-chave do processo de
de nição de algumas das relações exploradas na metodologia apresentada. Nas conclusões apresen-
tamos algumas considerações a respeito do uso dessa metodologia, para averiguar sua pertinência e
e cácia a partir das hipóteses que embasam a tese.
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
“Arquitetura é o ato de alcançar a verdade. [...]Projetar não é fazer o belo.
A beleza vem da seleção, da a nidade, da integração, do amor”.
(Kahn, Louis Isadore.Toward a Plan for Midtown Philadelphia.
In The Yale Architectural Journal Perspecta. 1995. N.2: 14).
EVOLÃO PARADIGMÁTICA
DO PROJETO URBANÍSTICO
CAPÍTULO 1
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
1. Evolução paradigmática do projeto urbanístico
O campo do Projeto Urbanístico vem se consolidando como uma área signi cativa no trabalho dos ar-
quitetos e urbanistas, principalmente a partir dos anos 60, quando o arquiteto Louis Kahn começou a re-
alizar palestras nas universidades, enfatizando a idéia de que os uxos são geradores da forma urbana,
conceito que o arquiteto havia utilizado no Plano Diretor de Filadél a
1
, projetado nos anos 50 ( gs.1.a,
1.b e 1.c). Nessa época, estavam surgindo os primeiros cursos de Urban Design no mundo anglo-saxô-
nico, e assim, as primeiras contribuições teóricas acadêmicas, como as de Kevin Lynch ( g.1.d), Cris-
topher Tunnard, Donald Appleyard, Christopher Alexander ( g. 1.e), Serge Chermayeff ( g. 1.f), Robert
Venturi e Denise Scott Brown ( gs 1.g e 1.h). Em uma primeira instância, o Projeto Urbanístico, como
disciplina, recebeu in uência da abordagem crítica de teorias anteriores que não foram formuladas por
pro ssionais arquitetos – urbanistas, como as críticas da ativista Jane Jacobs
2
; e incorporou, na prática
projetual, as teorias dos defensores do Advocacy Planning
3
, como Robert Goodman e Paul Davidoff.
Esta área se diferencia do urbanismo tradicional, fortemente vinculada ao sicismo clássico e neoclás-
sico e ao funcionalismo do movimento moderno, pelas preocupações com o projeto do espaço urbano
como uma expressão concreta das práticas participativas de gestão, que resultam em formas mais de-
mocráticas de usufruto do meio urbano, como veremos a seguir.
Através da busca pelo usufruto democrático do espaço projetado, no m dos anos 70, planejadores
urbanos inspirados na teoria do engenheiro Donn Fischer, de transit systems ( gs. 1.i e 1.j), trouxeram
à tona o tema do transporte de massas e a forma como esse se conecta com a malha urbana, e assim
começaram os primeiros ensaios sobre novas possibilidades de difusão das centralidades, como o das
transit villages, e os novos ensaios qualitativos sobre o uso do solo que se conecta ao transporte de
massas. Os trabalhos de Barnett em Nova York
4
, nessa época, também são referências essenciais para
se entender como foram imaginados os desenhos e a legisção urbanística das novas centralidades e
do espaço terciário que permeia os acessos aos transposrtes de massa. Nos anos 80, as propostas de
advocacy planning já estavam integradas nos conceitos do New Urbanism, presentes nos ensaios de
Calthorpe
5
sobre o crescimento inteligente (uma teoria chamada Smart growth) das cidades, que con -
guram uma espécie de rede espacial de centralidades.
Percebe-se que aos poucos, como veremos nesse capítulo, a prática do Projeto Urbanístico foi consti-
tuindo uma área com metodologias projetuais próprias, caracterizadas por conceitos novos, tais como
o conceito das conectividades, as diversas propostas para edifícios multi-funcionais, e a tentativa de
1 Reproduzidos em seguida por Alison Smithson (ed.) in Team 10 Primer, p. 53.
2 Jacobs, Jane. Morte e vida das grandes cidades. 1961 - trad. 2003. pp. 21-35.
3 Goodman, Robert. After the planners. in Davidoff, Paul, “Advocacy and Pluralism in Planning,” American Institute of
Planners Journal, Novembro 1965. p. 213.
4 Barnett, Jonathan. Urban Design as Public Policy. 1974, pp. 9-23
5 Calthorpe, Peter. The Regional city: planning for the end of sprawl. 2001, pp.47-79
2
Fig. 1.a
Louis I. Kahn - Plano de Filadél a
Fluxos como geradores da forma urbana
Fig. 1.d.
Kevin Lynch e o mapa mental da cidade de Brookline.
Preocupação com o mapeamento da complexidade de signi cados dos trajetos das pessoas
Fig. 1.b
Louis I. Kahn - Plano de Filadél a.
Fig. 1.c
Louis I. Kahn - Plano de Filadél a - reproduzido por Allison Smithson
.
CONCEITUAÇÃO
CAPÍTULO 1
3
experimentar processos mais transparentes na elaboração de propostas urbanísticas com ênfase na
assimilação de técnicas voltadas aos processos de implementação, através de estudos de viabilidade
técnico- nanceiras, e, mais recentemente, de aspectos voltados à sustentabilidade ( gs. 1.l, 1.m, 1.n e
1.o).
Na busca por metodologias de projeto que visam espaços urbanos mais democráticos, mais interagen-
tes, e mais adequados às a nidades dos usuários, nota-se, através de uma visão global da bibliogra a
analisada durante esse processo de pesquisa, que a velocidade com que ocorrem as mudanças nos
dias de hoje tem levado os pro ssionais do projeto urbanístico a desenvolverem exaustivos trabalhos,
com pontos de vista variados, que buscam conhecer informações de outras áreas do conhecimento.
Como conseqüência, nota-se grande sucesso de modelos projetuais cuja exibilidade no tempo resulte
em rápida atualização. Essa parece ser, coincidentemente, a direção que tem apontado os estudos mais
atuais sobre as redes. A rede, tal como a conceituaremos nesse capítulo da tese, é a materialização
espacial de a nidades, que estão em constantes mudanças, devido à velocidade com que os conheci-
mentos especí cos variam.
Ao longo da história, os conhecimentos especí cos, alterados pelas inovações tecnológicas, cientí cas,
pelas guerras, pela necessidade de comércio e de deslocamento de mercadorias, e pelas mudanças
das necessidades de abrigo e proteção, re etiram formas de como a humanidade entende sua realidade
histórica. O lósofo Karl Popper
6
, quando publicou A lógica da descoberta cientí ca em 1959, desen-
volveu a idéia de que o entendimento de realidade é relativo, que o homem cria sistemas interpretativos
da realidade. Thomas Kuhn
7
, em 1962, em A estrutura das revoluções cientí cas retomou dos gregos,
então, o termo paradigma (de paradeigma - modelo) para tentar de nir com maior clareza o que são
esses sistemas interpretativos da realidade, que Popper a rmava existirem. Para Kuhn, os paradigmas
são modelos que dominam a racionalidade cientí ca durante determinado estágio de desenvolvimento.
Kuhn alertou que, ao mudarem os paradigmas, muda a própria noção de realidade, de verdade.
Apesar de os estudos de Kuhn não serem os mais atuais à respeito dos sistemas interpretativos da reali-
dade, como veremos adiante, essa descoberta de Kuhn é substancial para o desenvolvimento posterior
dos sistemas interpretativos. No Projeto Urbanístico, essa veri cação de Kuhn possibilitou o entendi-
mento de que o embasamento do projeto urbanístico é relativo aos sistemas interpretativos, e portanto,
móveis com o tempo. Por esse motivo, a idéia fundamental, nesse capítulo, é explorar a utilidade da
contribuição da Teoria das Redes no projeto urbanístico, com o objetivo de se conseguir usufruto demo-
crático do espaço urbano, através da veri cação de possibilidades de utilização de processos projetuais
que resultem em espaços exíveis, que permitam a rápida compatibilização com a mudança dos conhe-
cimentos especí cos que interferem constantemente na reorganização espacial.
Entender a estrutura paradigmática de um projeto urbanístico não se trata apenas de ler a imagem da
6 Popper, Karl. A lógica da descoberta cientí ca, 1959 - pp. 36-94
7 Kuhn, Thomas. A estrutura das revoluções cientí cas, 1962 - pp. 23-35
Fig. 1.e - Christopher Alexander e a rede:
as interações urbanas não seguem lógica
de árvore
Fig. 1.f
Serge Chermayeff e os espaços conectores.
Fig. 1.g - Robert Venturi e Denise Scott
Brown. Mapeamento das complexidade de
preferencias
Fig. 1.h -
Robert Venturi e Denise Scott Brown
Espaços de conexão
Fig. 1.i - Rede inter-regional ao redor do
Lago Michigan, baseada no conceito de
Transit Systems
.
Fig. 1.j
Edifícios planejados a partir do conceito
de Trasit Systems - Chicago.
Fig. 1.k
Sistema de transporte de monorail para Seattle, baseado no conceito de Transit Systems.
.
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
4
organização da trama urbana, mas subentende compreender algumas noções de verdade que se re-
etem na espacialidade deste. É preciso veri car como as cidades se reorganizaram de acordo com as
necessidades que os homens sempre tiveram, de se abrigarem, de realizarem suas atividades, de se
sentirem seguros, de compartilharem ou rivalizarem suas idéias políticas, de mostrarem suas conquistas
e os limites ou as hospitalidades dos seus territórios; ou ainda a necessidade de mostrar que o espaço
da cidade está exível às participações dos menores grupos.
Se, por um lado, é preciso considerar que a disciplina de Projeto Urbanístico tem uma história própria
de projetos, como mencionamos acima, que derivou de experiências do urbanismo tradicional e foram
se modi cando ao longo da história, de outro lado, é importante considerar que as redes, tal como a
conceituaremos nesse capítulo da tese, não são organismos novos na estrutura funcional das cidades.
E mais surpreendente ainda, é observar que quando estas apareceram ao longo da história, constituí-
ram estruturas aleatórias, mutáveis, e, em geral, como veremos à seguir, foram respostas à rigidez dos
paradigmas. Existem indícios de organização espacial das estruturas das cidades em rede desde a
época imperial, que foram sucessivamente negligenciados pelos sistemas interpretativos utilizados pelo
urbanismo tradicional.
Por esse motivo essa pesquisa inicialmente re-investiga alguns padrões emergentes de organização
do espaço das cidades, que já foram interpretados anteriormente através da óptica do urbanismo tra-
dicional, entretanto, com um foco especí co: extrair destes padrões relações entre os paradigmas de
organização da trama urbana e os pontos de rigidez que esses paradigmas apresentaram; e detectar
as conseqüentes quebras de mobilidade urbana, para, através disso, detectar indícios, no desenho da
trama urbana, de como surgiram estratégias de exibilização que emergiram como resposta à rigidez
desses paradigmas.
O primeiro item desse capítulo da tese, intitulado Paradigmas projetuais no Projeto Urbanístico é uma
breve leitura, elaborada para esse m ilustrativo, de como ocorreu esse processo de materialização
das a nidades humanas, ou dos objetivos do estado baseado na idéia de senso-comum, ao longo da
história. Em seguida, será feita uma revisão teórica de como a Teoria das Redes, um conceito criado e
desenvolvido por várias áreas do conhecimento pode ser utilizado no como um instrumento analítico-
propositivo no Desenho Urbano. Com base nesses conceitos, serão exploradas algumas das possíveis
vantagens de utilização dessa teoria no processo de análise e projeto urbanístico, e a partir dessas
possíveis vantagens de utilização dessa teoria no processo de análise e projeto urbanístico, serão elen-
cados os elementos básicos que participam de maneira estrutural, em um projeto urbanístico abordado
como rede.
Esse capítulo é, portanto, a conceituação da teoria e dos elementos que constituem as redes como
uma possível ferramenta organizacional do espaço das cidades. A partir desse capítulo, será possível a
veri cação de como esses elementos do projeto urbanístico estruturado como rede se interagem, nos
capítulos seguintes.
Fig. 1.l
SOM - espaço terciário conectado
ao transporte de massas
Fig. 1.n
Jonathan Urban Ecosystem Studies in
Malaysia e
Fig. 1.o
Ken Yeang e o projeto urbanístico de caráter ambiental.
Fig. 1.m
SOM - modelo - espaço terciário conectado
ao transporte de massas
CONCEITUAÇÃO
CAPÍTULO 1
5
1.1. Paradigmas no Projeto Urbanístico
“O importante nessa relação simbiótica é a criação desse espaço intermediário (em japonês
se diz Ma), de ligação, que transita de uma cultura para outra. [...] É um lugar de ligação entre
diferentes, entre corpo e espírito, entre sim e não, um espaço virtual ou físico onde as pessoas
podem mudar sua sensibilidade em relação ao mundo”
8
.
(Kurokawa, Kisho. sobre a Simbiose - Espaços de Transição)
A capacidade de atualização devido à grande velocidade de mudança dos conhecimentos especí cos, uma
das principais propriedades da abordagem cientí ca em rede, sempre esteve associada à idéia de aumento
da capacidade de exibilidade (seja esta espacial, temporal, dependendo da abordagem cientí ca).
No caso do projeto urbanístico, quando se fala em exibilidade espacial, existe um atributo essencial do
espaço, que nem sempre é considerado no processo projetual, mas que é a condição essencial para a exis-
tência das redes tais como conceituadas nessa tese, que é a transitoriedade do espaço. Na cultura oriental,
a transitoriedade é um atributo contido no signi cado da palavra espaço
9
. Os ideogramas orientais da palavra
espaço trazem em si a idéia de que é possível a superação da organização em um estágio que apresenta
limitações, para alcançar outro estágio de organização. A transitoriedade, na cultura oriental é a pausa, a
oportunidade de re exão. A capacidade de transição é o atributo de tudo o que é exível, interativo.
Na China antiga, depois do solstício de inverno, quando as pessoas se preparavam para a renovação, os reis
da antiguidade fechavam as portas e preparavam as cidades para a fase de transição. Assim, na tradição
chinesa, o ponto de transição signi ca a fase da síntese, em que apenas o caráter retornaria. É esse o valor
de transitoriedade que se re ete no texto do arquiteto Kisho Kurokawa. Para Kurokawa, a transição é impor-
tante para que o homem re ita sobre o padrão de organização vigente, e consiga extrair deste o caráter, e
relacioná-lo com as necessidades emergentes, na busca de um novo padrão organizacional
Com base nesse raciocínio, a leitura paradigmática que se apresenta nessa tese não pretende ser uma
análise histórica, e nem desenvolver o tema da avaliação espacial de organização da trama urbana através
de imagens das tipologias resultantes - imagens formais dos modelos de trama urbana, recortadas tempo-
ralmente. O que interessa, para essa pesquisa, é extrair dessa análise de paradigmas realizada, o ponto de
mudança entre os modelos de organização das cidades que se conhece. O objetivo dessa leitura é detectar
momentos nos quais as estruturas urbanas se tornam tão rígidas que a falta de mobilidade levou os habi-
tantes a descobrirem estratégias de exibilização espacial. Interessa veri car padrões de quebra da rigidez
urbana, ao longo da história, para notar o aparecimento - a emergência – de conexões, de espaços de tran-
sição, de elementos na mudança da trama urbana, capazes de retomar a mobilidade espacial.
4 Kurokawa, Kisho. Intercultural architecture: the philosophy of symbiosis. 1991. p.11
9 Pribram, Karl H. Con ict patterns of thought. 1949, p. 139
Fig. 1.1.a
Kisho Kurokawa e os espaços de transição
conceitos da simbiose na Eco-Tech City, Singapura
Fig. 1.1.d
Central Park - tornou-se um exemplo de espaço de grande transitoriedade
Fig. 1.1.b
Kisho Kurokawa e os espaços de transição
Eco-Tech City, Singapura
Fig. 1.1.c
Kisho Kurokawa e os espaços de transição
Eco-Tech City, Singapura
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
6
As estratégias de exibilização espacial constituem maneiras diferentes do paradigma vigente, de se alo-
car recursos, para se conseguir determinados objetivos. As estratégias geralmente são criadas quando as
práticas quotidianas (de deslocamento, de comércio, de trabalho, etc.) se tornam insustentáveis. O excesso
de rigidez geralmente é o principal fator que denuncia que um paradigma urbanístico não é e ciente. Kuhn
chama esse excesso de rigidez do modelo, de falsi cador do paradigma.
Assim, vamos aqui retomar alguns dos paradigmas de leitura do espaço urbano, já explorados pela literatura
de referência sobre esse assunto, porém, procurando atribuir a estes uma visão dinâmica, cujo foco é detec-
tar mudanças essenciais no conceito de comunidade, de indivíduo e de produção, que levaram a emergência
destes paradigmas; e veri car quando os desenhos das tramas urbanas denunciam o aparecimento de estra-
tégias que surgiram em decorrência da falta de mobilidade, denunciando as crises dos paradigmas vigentes e
as novas possibilidades de entendimento do espaço, capazes de recon gurar novas redes de objetivos, que
re etem na reorganização estrutural das cidades.
Da mesma maneira, de forma recíproca, a reorganização estrutural das cidades re ete, de maneira intera-
gente ou excludente, com a rede de objetivos, como veremos nesse primeiro capítulo. A rede de objetivos
se forma e também se alimenta das a nidades que se criam pelo interesse de uso do espaço das cidades.
Em um projeto urbanístico, a rede de objetivos é entendida por tudo aquilo que ativa e conecta os meios de
produção, os signos de linguagem. Sem essa rede de objetivos, deixaria de existir a estrutura lógica e natural
que dá sentido à noção de coletividade, ao lugar coletivo, e às nalidades de uso dos espaços públicos, nas
cidades.
Assim, essa análise de paradigmas organizacionais do espaço urbano, nessa tese, enfoca seis pontos es-
senciais que se relacionam com as importantes mudanças no conceito de comunidade, indivíduo e produção,
e que constituem elementos essenciais na delimitação da problemática das redes urbanas, que rebatem no
desenho da trama urbana, que são:
- a representatividade do indivíduo – as formas institucionalizadas de produção (se este é representado pelo
estado);
- as mudanças tecnológicas, que levam às novas concepções estruturais do espaço;
- as formas de aglutinação da trama urbana;
- as aglomerações decorrentes de perspectivas individuais (ou dos menores grupos) e de perspectivas co-
letivas
- a funcionalidade e a tipologia dos espaços privados;
- as formas de fechamento e de atratividade dos espaços de domínio público.
A forma como esses elementos se relacionam e afetam o desenho da trama urbana, a mobilidade e as tipo-
logias das conexões, foram classi cadas em quatro ciclos.:
- as cidades para o homem político – ciclo que compreende a organização do espaço desde as formações
orgânicas familiares ou das malhas por acúmulo que deram origem ao surgimento das primeiras institui-
ções centrais. A alternativa às organizações religiosas centrais originou novas formas de entendimento da
Fig. 1.1.g
Padrões responsivos de kinéticos (respostas à interação humana) -Topotransengrity
Fig. 1.1.f
Kurokawa e os padroes generativos de espaço, Eco Tech City, Singapura
CONCEITUAÇÃO
CAPÍTULO 1
7
sociedade, e surgiram as primeiras re exões sobre o homem político, o que culminou no surgimento das
características clássicas de organização do espaço e das conexões urbanas. Essa visão gerou maneiras
representativas da realidade, não condizentes com algumas necessidades de movimentação, defesa e ex-
pansão dos territórios. Como resultado, as estruturas das cidades (algumas, como Roma, muito obsoletas)
precisaram de nova con guração, e os pequenos territórios se transformaram em poucas e grandes redes
imperiais, para subsistirem.
- as cidades do “homem de fé” ao “homem universal” – compreende a formação do pensamento da idade
média e a conseqüente estrutura atomizada das cidades medievais, o ressurgimento do comércio, a nova
negação da fé, que culminou no paradigma sicista que compreende o período de evolução do pensamento
que se estende do Iluminismo até o período que antecede o Barroco. Como resultados da rigidez sicista,
surgiram novos conceitos para a forma urbana, com os eixos barrocos de movimento, até o período que an-
tecede o surgimento do pensamento racional da indústria.
- as cidades para o “homem institucional e modular” – tem início a partir do surgimento das primeiras tentati-
vas de racionalizar os recursos, o que causou grandes mudanças na malha e nas relações territoriais urbanas
e culminou no paradigma dominante funcionalista. A rigidez funcionalista levou à novas formas de pensar
o espaço urbano a partir de novas formas representacionais buscavam tornar tempo e espaço relativos às
necessidades e à interpretação dos usuários.
- as cidades para o “homem do conhecimento” – a crise dos paradigmas representacionais levaram à várias
formas de rigidez física, então o terceiro ciclo traz uma forma complexa de entendimento da realidade, que
parte dos ensaios pós-funcionalistas sobre mobilidade, e desencadeiam processos que analítico-propositivos
que questionam as relações entre a estrutura e as funções dos sistemas vivos. Entendido como sistema vivo,
o projeto urbanístico também passa por questionamentos metodológicos, em busca de um entendimento
cada vez mais orgânico de participatividade.
Cada uma das fases desses ciclos podem inclusive serem sobrepostas: a emergência de um novo pensa-
mento, a consolidação de um paradigma dominante (e a detecção da rigidez do paradigma, e as estratégias
adotadas para a novas formas de alocação e mobilidade de recursos).
Durante a organização desses ciclos, muitas bibliogra as foram utilizadas, e estão citadas ao longo de cada
ciclo, mas duas obras foram fundamentais para essa análise (além dos clássicos História da Cidade de Leo-
nardo Benévolo e A cidade na história, de Lewis Mumford) que são: Elementos de piani cazione e progetto,
de Cesare Blasi e Gabriella Padovano e Design of Cities, de Jonathan Bacon. Essas obras se tornaram par-
ticularmente importantes para essa pesquisa porque foram fundamentais para a compreensão do hábito de
buscar recursos bibliográ cos de outras áreas, como a loso a, a sociologia, para detectar que seriam esses
seis pontos ( a representatividade do indivíduo, as formas de aglutinação da trama urbana, as mudanças tec-
nológicas de cada civilização, as tipologias dos espaços privados e as formas de fechamentos dos espaços
públicos) que, relacionados entre si, poderiam ser indicadores de maior ou menor mobilidade urbana.
Fig. 1.1.f
O espaço público do “homem político”
Acrópole - Atenas
Fig. 1.1.g
O espaço público do “homem universal”
Praça São Marco - Veneza
Fig. 1.1.h
O espaço público do “homem institucional e
modular” - entre edifícios modernistas
Fig. 1.1.i
O espaço público do “homem do conhecimento”
Integração publico - privado no Panamá - Sánchez Arquitectos y Asociados
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
8
CONCEITUAÇÃO
CAPÍTULO 1
9
1.1.1. Primeiro Ciclo – as cidades para o ‘homem político’
1 – FORMAÇÃO E IDEÁRIO - Das organizações espaciais orgânicas às primeiras cidades-estado.
2 – PARADIGMA DOMINANTE - O pensamento clássico - uma evolução do pensamento sobre o conceito de movimento.
3 – ESTRATÉGIA - Os impérios: as massas em movimento (estratégia global x local), a rede comercial e os portões do mundo.
1.1.2. Segundo Ciclo – do ‘homem de fé’ ao ‘homem universall’
1 - FORMAÇÃO E IDEÁRIO - Paradigma Múltiplo na Idade Média - da estrutura “atomizada” e concêntrica à reconstrução das redes comerciais.
2 - PARADIGMA DOMINANTE – O Paradigma Fisicista - O Iluminismo, o Renascimento, e o ressurgimento do espírito humano no desenho das
cidades.
3 - ESTRATÉGIA - Crise do Paradigma Fisicista – E a rede de elementos conectores do Barroco ao mundo industrial
1.1.3. Terceiro Ciclo - as cidades para o ‘homem institucional e modular
1 - FORMAÇÃO E IDEÁRIO - A hipótese racionalista - Os limites e os territórios racionalizados.
2- PARADIGMA DOMINANTE – O Paradigma funcionalista - a rede da mobilidade funcional.
3 - ESTRATÉGIA - Crise do paradigma funcionalista - a rede do espaço e do tempo relativos.
1.1.4. Quarto Ciclo - as cidades para o ‘homem do conhecimento
1 - FORMAÇÃO E IDEÁRIO - Pós-funcionalismo - a rede da mobilidade virtual.
2 - PARADIGMA DOMINANTE – O Paradigma da Complexidade - a rede da pluralidade multidisciplinar - materialidade inspirada na
ciência da matéria viva.
3– ESTRATÉGIA - Fase de revisão do Paradigma da Complexidade – a rede da síntese de a nidades como estratégias de retroalimentação
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
10
1.1.1.1 - Das conformações espaciais orgânicas às primeiras cidades- estado
É provável que a agricultura tenha sido um dos mais signi cativos hábitos na história do processo de
formação das cidades. A prática da agricultura permitiu que o homem armazenasse alimentos. Por esse
motivo, a prática da agricultura implicou na criação de formas de demarcação das áreas de cultivo e
de armazenamento, que começaram a in uenciar na organização do espaço entre os abrigos. Dessa
maneira, as formas de plantar, estocar, transportar e trocar esses alimentos foram de nindo diferentes
con gurações espaciais de assentamentos. Pode-se a rmar assim que as cidades surgiram a partir do
momento em que o homem começou a modi car a natureza.
O primeiro paradigma de organização espacial das civilizações ocorreu desde o surgimento dos pri-
meiros assentamentos familiares, quando o homem deixou de ser coletor, de depender da caça e dos
recursos naturais oferecidos, e começou a se xar com o objetivo de cultivar os alimentos. Essa fase
provavelmente se estendeu até o surgimento dos códigos escritos, que passaram a juramentar as pro-
priedades, os espaços comuns e as formas de uso das propriedades utilizadas para o cultivo.
As primeiras civilizações não possuíam um governo constituido. Organizavam-se em comunidades
gentílicas – a localização central do líder era importante no processo de con guração espacial dessas
aldeias. O espaço se organizava através do acúmulo de abrigos ao redor dos líderes de comunidade
10
.
Observa-se que a malha urbana se desenvolvia através de aglomerações orgânicas que ocorriam a
partir de certas a nidades, como graus de parentesco, funções desempenhadas no meio social, hierar-
quia social, etc. Não havia a divisão do solo em lotes antes da existência das cidades-estado. Nessas
civilizações, a trama urbana não apresentava eixos de circulação constituidos e nem parcelamento do
solo.
Essas primeiras civilizações se localizavam perto de grandes rios – Tigre, Eufrates, Nilo, Rio Azul, Rio
Amarelo, Ganges e Indo - que as serviam nas cheias regulares. Por terem se desenvolvido às margens
desses rios, essas civilizações foram chamadas pelos arqueólogos de Civilizações de Regadio. Nes-
sas civilizações, a organização do espaço comum foi resultado da sedentarização da população e da
revolução agrícola que ocorreu a partir do domínio de tecnologias que permitiam o aproveitamento da
água desses rios para a agricultura.
De acordo com o que se pode perceber, a partir da análise dos levantamentos realizados pelos an-
tropólogos sobre essas civilizações
11
, na primeira fase das civilizações de regadio não existia divisão
entre espaços públicos e privados. Nem mesmo as residências constituíam espaços fechados ou com
10 Volkman, Nancy; Pregill, Phillip. Landscapes in history: design and planning in the eastern and western traditions. 1999. p 29.
11 entre as quais a mais signi cativa se encontra em Yale University Publications in Anthropology Por Yale University Institute
of Human Relations, Peabody Museum of Natural History, Yale University Dept. of Social and Political Science.
Fig. 1.1.a.1
Çatal Huyuk - 6.400 a.C.
Fig. 1.1.a.3
Lepenski Vir - 6.300 a.C.
Fig. 1.1.a.4
Sesklo - 6.200 a.C.
Fig. 1.1.a.2
Pintura da cidade de Çatal Huyuk
Artista desconhecido
CONCEITUAÇÃO
CAPÍTULO 1
11
possibilidades de isolamento privativo. Em vilarejos como Çatal Huyuk ( g.1.1.a.1 e g. 1.1.a.2) era
necessário transitar por sobre as coberturas e por entre as aberturas para se atingir o local de destino,
não existiam ruas. Já em outros assentamentos como Lepenski Vir ( g. 1.1.a.3), Sesklo ( g. 1.1.a.4), e
Avebury ( g. 1.1.a.5) e Skara Brae, na Europa, que existiram entre 6.500 e 4.000 a.C., é possível notar
a presença de um espaço central organizador do espaço entre abrigos.
Durante muito tempo essas civilizações se desenvolveram a partir da utilização das mais diversas téc-
nicas agrícolas, até que os avanços tecnológicos permitiram que cada vez mais pessoas deixassem
de trabalhar na agricultura, e se especializassem em outros tipos de atividades, como no artesanato,
na costura e na mineração. Essa especialização do trabalho causou grande desenvolvimento nessas
civilizações. Por consequência, a atividade comercial entre os assentamentos se tornou mais intensa,
o que provocou o surgimento de uma nova concepção de cidade: com a intensi cação da atividade
comercial entre esses assentamentos, foi necessária a criação de espaços de troca e de transporte de
mercadorias no interior dos assentamentos, e assim surgiram as primeiras ruas como calhas conecto-
ras. As escavações mapeadas pelos arqueólogos Marguerite Yon
12
e Thomas Dinham Atkinson
13
, , por
exemplo, pemitem veri car que cidade de Ugarit, no Oriente médio - 6000 aC ( g. 1.1.a.7) , e as cida-
des de Gúrnia ( g. 1.1.a.8) e Cnossos ( g. 1.1.a.9), na Creta pré-palaciana, apesar de construídas a
partir do paradigma do acúmulo (semelhantes à Çatal Huyuk), já apresentam ruas e espaços religiosos
comerciais centrais.
Na medida em que a agricultura gerava excedentes, e ao mesmo tempo exigia maior organização
no controle da utilização das águas dos rios, os sacerdotes encontraram estratégias que permitiram
a construção de maiores infra-estruturas através da uni cação de vários assentamentos. Assim, os
templos passam a gerir a economia e surgiram as primeiras cidades-estado. Muitos zigurates foram
construídos. O historiador Pedro Bosch Gimpera
14
reuniu imagens que nos permite veri car que algu-
mas cidades desenvolveram uma organização de estado mais avançada, como Nínive ( g. 1.1.a.10)
e Samarra ( g. 1.1.a.11), que apresentavam muralhas externas que as delimitavam territorialmente,
portões de acesso e espaços de circulação de nidos.
Em algumas cidades que se desenvolveram ao longo do rio Nilo, como Badari ( g. 1.1.a.12), Merimde
e Naqada ( g. 1.1.a.13), entre 5.000 e 4.000 a.C., e posteriormente em Thebas, as construções eram
dispostas ao redor de templos religiosos, separadas umas das outras, deixando espaços para facilitar
a circulação. Inúmeras cidades como essas (que seriam uni cadas para formar o império egípicio em
3.000 a.C.) formavam nessa época os Nomos, que constituiam divisões administrativas, tinham líderes
próprios nomeados pelo Faraó, mas em períodos de guerras tinham autonomia para eleger seus su-
cessores. Assim como nas cidades-estado da mesopotâmia, as primeiras cidades-estado egípcias tam-
bém apresentavam tramas urbanas que se desenvolviam a partir de espaços centrais que exprimiam a
12 Yon Marguerite in Gates, Charles. Ancient Cities: The Archaeology of Urban Life in the Ancient Near East. 2003. p.164.
13 Atkinson, Thomas D. Excavations at Philakopi in Melos in British School at Athens publ. 1904.p.184.
14 Gimpera, Pedro Bosch. História do Oriente,1947. p. 267
Fig. 1.1.a.5
Avebury - 6.200 a.C.
Fig. 1.1.a.6
Skara Brae - 2.600 a.C.
Fig. 1.1.a.7
Ugarit - 6.000 a.C.
Fig. 1.1.a.8
Gurnia - 6.000 a.C.
Fig. 1.1.a.9
Cnossos - 6.000 a.C.
Fig. 1.1.a.10
Nínive - 6.000 a.C.
Fig. 1.1.a.11
Samarra - 5.200 a.C.
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
12
representatividade da própria divindade tutelar e suas regras locais. Como não havia o código escrito,
as regras concernentes à propriedade, a produção e as formas de convivência eram inclusive um dos
principais objetivos da divindade tutelar central de cada cidade.
Com o desenvolvimento de uma escrita pictórica, provavelmente elaborada pelos sacerdotes, que se
tornaram fundamentais na organização do papel do estado nessas civilizações, a atividade comercial
entre as cidades começou a ser organizada de maneira instituída. Os templos começaram a trocar seus
produtos (principalmente cerâmica) entre si e com fazendeiros das localidades próximas para obterem
alimentos. Em seguida, pessoas de uma dada cidade começaram a comerciar com outras cidades.
Outras pessoas tornaram-se administradores públicos, soldados, líderes religiosos e políticos. Assim,
houve uma nova mudança no trabalho, que resultou em novas formas de controle da propriedade dos
espaços de produção e de comércio, instituídas pelo Estado.
Essas novas formas de controle da propriedade dos espaços de produção e de comércio, instituídas
pelo estado se devem ao fato de que, com a escrita e com a organização do estado como ferramenta de
legitimação do controle e da propriedade, começaram a ocorrer as primeiras divisões territoriais que se-
gregaram os espaços dos zigurates, e começou a haver a segregação também entre espaços internos
e externos das residências (já que agora não se situavam mais em comunidades familiares, mas em
cidades), o que pode ser notado a partir do III milênio a.C., principalmente nas cidades da Mesopotâmia
como Lagash ( g. 1.1.a.14), Umma ( g. 1.1.a.15), Kish, Ur ( g. 1.1.a.16), Uruk ( g. 1.1.a.16), Akkad,
Gatium e na região do Elão, me nas cidades sumérias, como Khorsabad ( gs. 1.1a.18 e 1.1a.19). O
historiador Mikhail Rostovtzeff demonstra que, através dessas regras de propriedade e conduta, que
passaram a ser escritas, surgiram os primeiros códigos escritos, e então o espaço das cidades passou
a ser organizado a partir de leis
15
. O Código de Hamurábi, primeiro código escrito, por exemplo, teve
grande in uencia na formação e na organização espacial da Babilônia. As leis deste código regiam as
formas de apropriação do solo e promoviam punições a quem desrespeitasse o direito de propriedade,
de produção e de deslocamento das pessoas, de acordo com o território que lhes cabiam, dependendo
da função que exerciam na sociedade.
Os inúmeros códigos da antiguidade, que sucederam o Código de Hamurábi, apresentaram detalhes
sobre a propriedade e as formas de cultivo no território das cidades-estado. Durante 3000 anos, a
prosperidade das civilizações resultou em acúmulo de poder através da utilização de regras políticas.
Essas regras foram ferramentas de uso de autoridade principalmente nos territórios que eram predo-
minantemente militares.
O estado se organizou a partir da necessidade de controle e legitimação da propriedade. De maneira
geral, as regras de controle da propriedade foram elaboradas pelos sacerdotes e atreladas a alguma
entidade religiósa, a exemplo dos faraós no Egito ou da força divina presente no Decálogo hebreu. Es-
15 Rostovtzeff, Mikhail. A history of ancient world: the Orient and Greece. 1926. p. 25
Fig. 1.1.a.14
Lagash - 2.900 a.C.
Fig. 1.1.a.15
Umma - 2.500 a.C.
Fig. 1.1.a.16
Ur - 4.500 a.C.
Fig. 1.1.a.12
Badari - 5.000 a.C.
Fig. 1.1.a.13
Naqada - 4.000 a.C.
CONCEITUAÇÃO
CAPÍTULO 1
13
ses códigos também derivaram do Código de Hamurábi. Nessas primeiras cidades-estado as religiões
regulavam a sociedade, interferiam na organização espacial, nos deveres e nos direitos dos indivíduos,
resultando em maneiras diferente de representatividade e de organização espacial, se comparadas à
organização gentílica.
A partir dessa organização espacial que resultava do controle do estado, foi possível criar infra-es-
truturas maiores do que aquelas que estavam ao alcance das comunidades gentílicas. Foi possível a
criação de estruturas que permitiriam, por exemplo, o transporte de água para áreas mais distantes dos
rios, ou o armazenamento de água acima do solo, como na Babilônia. Essa nova forma de domínio do
ambiente, que se tornou possível através da uni cação dos vilarejos gentílicos em pequenos estados,
foi uma das possíveis causas do grande desenvolvimento urbano que ocorreu na antiguidade, princi-
palmente na Mesopotâmia e nos Balcãs.
Essa forma de domínio do ambiente que se tornou possível através da uni cação dos vilarejos gentíli-
cos em pequenos estados também permitiu que as cidades-estado cretenses (Creta Minóica) e fenícias
introduzissem os canais de irrigação e a geometria, que viria a ter grande in uencia na formação da
cultura clássica, como veremos a seguir, principalmente na arquitetura e na organização das novas
cidades, dando origem, futuramente, ao desenho da malha urbana em eixos perpendiculares.
Por um lado, a uni cação dos pequenos assentamentos de caráter gentílico através da instituição do
estado permitiu a sobrevivência e o aumento de território de algumas civilizações através do grande
desenvolvimento tecnológico. Por outro, o falsi cador desse paradigma está no fato de que, ao pro-
mover regras de propriedade sobre porções de terra, essa con guração espacial de origem a espaços
mais rígidos, delimitados, e discriminados. Fez surgir a discriminação territorial entre as propriedades
públicas e as propriedades privadas. E também trouxe para o imaginário coletivo a idéia de que a gran-
de utilidade do espaço público é a contemplação do poder do estado gestor, através da observação da
monumentalidade dos edifícios, e o breve trânsito.
Fig. 1.1.a.17
Pintura representando a cidade de Uruk
autor desconhecido
Fig. 1.1.a.18
Palácio de Khorsabad - 721 a.C.
Fig. 1.1.a.19
Plano de Khorsabad - 721 a.C.
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
14
1.1.1.2 – Primeiro Ciclo / A formação do pensamento clássico:
uma evolução do pensamento sobre o conceito de movimento.
De uma forma muito diferente das civilizações antigas orientais, a cultura urbanística clássica concebeu
o espaço urbano como local “democrático” de convergência de atividades políticas, econômicas, militares
e religiosas. Essa função do espaço urbano parece ter se tornado viável através agricultura, que vinha
se intensi cando não só como atividade geradora de riqueza e alimento, mas como atividade ordenadora
territorial, já que criava uma geometria no solo que facilitava a mediação, o transporte e o cultivo.
Segundo o historiador Lewis Mumford
16
, o que diferenciou as cidades-estados gregas clássicas das an-
teriores (cidades da Creta Minóica, e das demais civilizações orientais, que já se constituíam em estado),
era o distanciamento da religião como organizadora institucional do espaço comum: “suas cidades [dos
gregos] eram cortadas mais próximas da medida humana e foram libertadas das pretensões paranóicas
de monarcas quase divinos, com todas as compulsões e arregimentações do militarismo e da burocra-
cia”. Os primeiros esforços de traçado da malha urbana que se adaptam ao relevo e aos movimentos das
pessoas podem ser notados, por exemplo, no desenho das cidades de Piraeus ( g. 1.1.b.1), Selinus ( g.
1.1.b.2), Mileto antiga ( g. 1.1.b.3), Delos ( g. 1.1.b.4) e Cyrene ( g. 1.1.b.5). O plano de Piraeus, que
foi descrito por Aristóteles, apresenta uma trama que se desenvolve em eixos, mas que se deforma de
acordo com o relevo, interligando os principais locais públicos, enquanto os planos de Selinus e Cyrene,
apresentavam uma malha ortogonal que surgia a partir de dois eixos perpendiculares, norte-sul e leste-
oeste, e cresciam através de adaptações orgânicas com o relevo.
De um lado, o distanciamento da religião como organizador institucional do espaço trouxe maior vivência
humana para o espaço comum. Entretanto, de outro lado, essa forma de organização espacial tornou
possível que tiranos como Psítrato construíssem grandes obras públicas e regrassem a divisão da pro-
priedade privada em zonas bidimensionais provocando o aparecimento dos traçados ortogonais rígidos.
O projeto de reconstrução da cidade de Mileto ( g. 1.1.b.6), discutido pelo cientista político Jordi Xifra
Heras, é um exemplo não apenas da malha ortogonal rígida, mas também de zoneamento: “Hipódamo
projetou a divisão da cidade a partir de um zoneamento bidimensional que continha áreas destinadas ao
porto militar, à ágora, aos santuários, ao porto comercial (emporion), e as áreas residenciais”
17
. Observa-
se que rapidamente o paradigma do traçado de Mileto, sugerido por Hipódamo, se espalhou por toda
Grécia continental. Hipódamo de Mileto também imaginou uma cidade de 10.000 habitantes, dividida
bidimensionalmente em 3 classes: artesãos, agricultores e guerreiros. O território dessa cidade também
se dividiria em 3 partes: a dos deuses, a pública, e a das propriedades privadas.
Após essa primeira fase de malhas ortogonais, as cidades clássicas começaram a apresentar os espa-
16 Mumford, Lewis The city in history. 1961.Trad. português. A cidade na história 1982.p.192.
17 Heras, Jordi Xifra. Las ideologias del poder en la antiguedad. 1983. p.52
Fig. 1.1.b.1
Piraeus - sec. V a.C.
Fig. 1.1.b.6
Plano de Hipodamo para Mileto
em 500 a.C. - em cinza a cidade antiga
Fig. 1.1.b.2
Selinus - 409 a.C
Fig. 1.1.b.3
Mileto antiga - 500 a.C.
CONCEITUAÇÃO
CAPÍTULO 1
15
ços públicos como polarizadores de tramas ainda ortogonais, porém, mais exíveis, retomando a idéia
da trama conectora de Piraeus, principalmente com a contribuição de Platão e Aristóteles. O surgimento
das primeiras escolas de loso a proporcionou a criação novas bases para pensamento ocidental que
in uenciaram diretamente no desenho das cidades: com a loso a surgiu a cosmologia associada à idéia
de direito natural, uma forma de se entender a política e o espaço da cidade organizados a partir de um
novo conceito para o estado, baseado na idéia de um novo homem ideal: o homem político de nido por
Aristóteles. Como é a idéia de homem político de Aristóteles e o que esse conceito de direito natural trou-
xe de alterações aos paradigmas de organização da trama urbana das cidades clássicas?
Como é possível notar no desenho da cidade de Priene e Olinto ( gs. 1.1.b.7/ 1.1.b.8), ao contrário das
cidades-estado organizadas a partir de aspectos teológicos e guras místicas, a cosmologia de nia a na-
tureza dos homens e o seu lugar na hierarquia cósmica - subordinava o homem ao cosmos e procurava
encontrar onde se encontrava a perfeição das tendências naturais do homem. A concepção de Aristóteles
sobre a natureza humana, desenvolvida em A política
18
, foi talvez aquela que teve maior repercussão no
pensamento ocidental. Para Aristóteles, o homem é por natureza um ser social, um animal político que
tende a viver em comunidade e a constituir formas de organização “mais perfeitas”, como o estado. No
raciocínio de Aristóteles, as necessidades mais complexas de organização social, como a produção, o
controle e o poder fazem parte da natureza do homem. Para Aristóteles, através da capacidade de exer-
cer a política, o homem se libertou das imposições místicas que regulamentavam os espaços da cidade
e começou a criar regras e limites territoriais baseados nas suas próprias necessidades de produção,
controle e poder.
Não foi apenas esse conceito de estado criado pelos gregos que fez com que, nas cidades, o pensamento
(as regras e os projetos de con gurações espaciais) evoluísse sobre o movimento (a organicidade). O
pensamento ocidental, de maneira geral, parece ter suas raízes em um ideário de permanência e unida-
de, que se iniciou com a visão clássica de mundo, e que tende, inclusive atualmente, a retornar sucessi-
vamente, no desenho, no funcionamento e na permeabilidade da trama urbana
Outra in uência importante do pensamento clássico, que reforçou a idéia de permanência e unidade da
trama das cidades foi o conceito de forma criado por Tales. Para Tales, a forma de nia a substância dos
objetos: o pensamento descrevia a realidade, procurando assemelha-la à um conjunto de imagens
19
. E o
grande problema do conceito de forma de Tales, estava na rigidez e na permanência que essa conceitua-
ção de forma resultava. Veremos adiante, no paradigma da complexidade, que apenas no início do século
XX esse conceito de imagem e de forma passou por um questionamento, e as imagens “do objeto” pas-
saram a ser menos importantes que as imagens “das ações” proporcionadas ou mediadas pelos objetos.
Com base nesse questionamento, hoje se entende que a forma é uma representação simbólica de como
e (do processo) não do que é (da nalidade) composto o mundo.
18 Aristóteles. Política. III séc a.C. Γ 3 pp. 3-11
19 esse tema da permanência clássica é abordado por muitos historiadosres, mas aparece discutido com maior profundidade
por Constantini, Michel La generatiòn Thales. 1992. p.129.
Fig. 1.1.b.5
Cyrene - 466 a.C
.
Fig. 1.1.b.8
Priene - 350 a.C.
Fig. 1.1.b.7
Olinto - 432 a.C.
Fig. 1.1.b.4
Delos - 350 a.C.
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
16
Foi principalmente com base na da visão de Aristóteles do homem político (o homem que tende a viver
em comunidade e a constituir formas de organização “mais perfeitas”, como o estado), e da conceituação
rígida e permanente de Thales sobre a forma, que evoluiu a organização espacial e o ideário das cida-
des clássicas. Para que o homem político pudesse desenvolver formas de organizações “mais perfeitas”
foram planejadas as Pólis, como por exemplo, as cidades de Messênia, Tebas, Mégara, Erétria, Delfos,
Olímpia ( g. 1.1.b.9), e as maiores e mais importantes cidades-estado, como Atenas ( g. 1.1.b.10), Sira-
cusa ( g. 1.1.b.11), Corinto e Esparta ( g. 1.1.b.12).
As cidades-estado na Grécia produziram normas internas que, aos poucos, sistematizaram a soberania
do estado sobre a liberdade dos indivíduos, com o objetivo de defender seus membros, os cidadãos,
contra os bárbaros, ainda que nem todas as pessoas, abrigadas entre os mesmos limites territoriais das
polis pudessem desfrutar dos mesmos privilégios de serem cidadãos. Os povos passaram por diversas
fases de organização social. Entretanto, na democracia grega, já que os aristocratas gregos - os cidadãos
- viviam apenas das discussões na Agora – oportunidade restrita a um pequeno círculo de privilegiados,
a cidadania somente era possibilitada graças aos não-cidadãos.
Também com o objetivo de defesa e controle da política interna, expressos por grande desejo de controle
territorial, as cidades gregas começaram a apresentar, no desenho da trama urbana, a delimitação terri-
torial simbolizada por pequenas muralhas implantadas nos limites das cidades. A partir desse conceito de
território delimitado, o termo polis passou a ser aplicado para todas as regiões que obedeciam autorida-
des de controle exercidas por um mesmo grupo, dentro de um limite espacial estipulado de território.
Dessa maneira, o paradigma clássico de organização do espaço urbano caracterizou-se pela represen-
tatividade do estado “democrático” sobre a maioria dos indivíduos (que não era cidadã), pela xação
espacial do limite territorial da trama urbana. Sendo assim, o principal problema apresentado por esse
paradigma é a constatação de que uma estrutura urbana forjada pelo desejo de dominação territorial im-
pede o desenvolvimento harmonioso e democrático (com real participatividade) da sociedade.
Aos poucos, à medida que os romanos foram conquistando o território que contorna o Mar Mediterrâneo,
a forma de representatividade dos indivíduos, que acontecia através das instituições que governavam a
cidade (o jus civile – no caso dos gregos, exercida, de fato, pela minoria aristocrática, os cidadãos) foi-se
transformando e tornando o homem livre (através do jus gentium, o direito das gentes, um princípio moral
romano que autoriza a consciência individual, e amplia a cidadania a todos os romanos, de acordo com
o princípio romano de liberdade - libertas).
Com o intercâmbio dos romanos com outros povos, principalmente com os gregos, ao longo das conquis-
tas, a cultura romana foi se transformando na nova cultura greco-latina. A in uência grega na organização
da sociedade romana, como em Cícero, por exemplo, trouxe também para os latinos a idéia de direito na-
tural que haviam in uenciado Aristóteles na conceituação do homem político, e também havia se tornado
Fig. 1.1.b.10
Atenas - 440 a.C.
Fig. 1.1.b.11
Siracusa - 400 a.C.
Fig. 1.1.b.12
Esparta - 430 a.C.
Fig. 1.1.b.9
Olimpia - sec. V a.C.
CONCEITUAÇÃO
CAPÍTULO 1
17
a base da idéia de estado, sociedade e cidade ideais gregas. E assim, também na cultura greco-romana,
as de nições e leis de propriedade, de delimitação do território das cidades, e de organização da trama ur-
bana passaram por novas mudanças, que trariam in uências ao desenho das cidades até hoje: enquanto
os gregos tinham o costume de estabelecer cidades independentes politicamente, os greco-romanos
se organizaram por um método diferente. De acordo com o paradigma greco-latino de organização do
espaço urbano, cada território colonizado deveria se submeter a Roma. Assim, cada cidade conquistada
passou a ser um novo centro, porém, uma representação de Roma em terras estrangeiras, como se ob-
serva, por exemplo, nas cidades de Posseidonia ( g. 1.1.b.13) e Molfetta ( g. 1.1.b.14).
Essa con guração urbana presente em cidades como Posseidonia e Molfetta foi resultante da fusão da
cultura grega com a cultura romana trouxe soluções espaciais para as cidades que parecem heranças
de elementos presentes tanto nas antigas cidades gregas, quanto nas romanas. Com a herança da idéia
romana de cidadania, baseada no direito das gentes (o jus gentium, como vimos) as áreas de espaços
comuns passaram a se desenvolver em pequenas praças, quadradas ou ovais, e acessíveis a todos os
cidadãos greco-romanos, como o exemplo da cidade de Barcino ( g. 1.1.b.15), atual Barcelona. Com a
herança dos gregos, as cidades passaram a ser divididas em dois eixos que se cruzavam, separando
a cidade em quatro partes, que continham ruas paralelas que conectavam as áreas residenciais, com
precisão geométrica. As orientações dos eixos principais de circulação eram também, invariavelmente
Norte-Sul e Leste-Oeste, e havia uma terceira rua principal que apontava para o nascer do sol, em algum
dia importante para a cidade.
Os edifícios públicos dessas cidades eram pequenos e implantados com pouco esplendor, raramente
dominavam o espaço urbano por sua magnitude, ou cruzavam praças e ruas. O espaço aberto entre edi-
fícios era raro, e o fórum era bem diferente do fórum grego, com dimensões bem menores. Os an teatros,
com frequência, eram construídos fora das paredes da cidade. Em alguns locais especí cos, um arco
triunfal cruzava o passeio, emoldurando alguma vista importante.
A desnacionalização do direito exercido em Roma antiga, e a conseqüente transformação do direito ro-
mano em direito natural (greco-romano), seria, mais tarde, o grande motivo de crescimento do império
romano, que impunha a transformação da restrita sociedade romana em uma nova sociedade – a socie-
tas humans. A partir deste momento o individuo, para existir perante a sociedade, precisou ser legitimado
pelo estado. Max Weber, em História agrária romana
20
, comenta sobre a criação e a importância da pra-
efecturae como um órgão local que legitimava os documentos de nascimento, de trabalho e das proprie-
dades dos cidadãos. Na sociedade romana, para que o indivíduo existisse como cidadão, era obrigatório
que ele registrasse seus documentos, e isso só era possível se os cidadãos estivessem ligados a terra,
com endereço xo. Foi a primeira vez na história, segundo Weber, que ocorre a necessidade de xação
do individuo à terra, para que o indivíduo romano tenha inclusive sua existência reconhecida como cida-
dão. Nas palavras, de Weber, a relação entre os direitos do cidadão e o territorium ocorriam da seguinte
20 Weber, Max. Römische agrargeschichte, 1864. Trad. português por Brandão, Eduardo. História agrária romana.1994. pp. 48-49.
Fig. 1.1.b.13
Posseidonia - 600 a.C.
Fig. 1.1.b.14
Molfeta - sec. IX a.C.
Fig. 1.1.b.15
Barcino - 10 a.C.
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
18
maneira: “ Signi cado da forma praefecturae: Os magistrados do município tinham competência tanto na
jurisdição civil relativa às glebas do territorium, dentro de certos limites de competência só em parte co-
nhecidos, como nos procedimentos judiciais pelos delitos cometidos dentro do territorium. Da mesma ma-
neira, cabia-lhes também, como consequência do poder policial, as funções de policia de abastecimento,
sempre dentro do territorium respectivo. (...) Do que foi dito, depreende-se que a grande importância que
a forma revestia para todas essas relações. Se parte de um territorio colonizado não era representado na
forma, na planta da zona, essa parte cava excluída de todo o procedimento de assignação”
O paradigma clássico de organização do espaço urbano surgiu, entre os gregos, com uma necessidade
de controle do território que resultou em uma trama urbana rígida e descentralizada, e baseada em uma
idéia de democracia exercida por poucos, e por esse motivo, o exercício da cidadania acontecia em locais
elevados, especiais, de acesso aos poucos cidadãos. Com as conquistas romanas, o direito à cidadania
é estendido a todo povo greco-romano (os escravos passaram a ser os bárbaros, os cidadãos não regis-
trados nas praefecturae, que não possuíam terras em Roma). Assim, os espaços públicos se tornaram
mais acessíveis, menores, e mais descentralizados. Cada pequena cidade ligada à Roma possuía suas
praças, seu fórum, seu an teatro. E a trama urbana passou a ser mais delicada, e a estabelecer lógicas
de geometria perfeita de ligação entre os espaços públicos.
Essa noção de cidadania herdada dessa fase da antiguidade, de construção do paradigma clássico de
organização do espaço das cidades é tão forte, que tende a retornar como imagem ideal de espaço
comum, ao longo da história, em projetos urbanísticos que retomaram o paradigma clássico, como por
exemplo, os racionalistas, como veremos adiante. Entretanto, nota-se que esse paradigma de organiza-
ção estrutural das cidades apresenta um importante falsi cador a ser considerado, que se repete quando
o paradigma clássico é retomado: ao forjar a existência da cidadania aos homens que possuíam terras
em locais delimitados dentro do território romano, foi necessária a adoção de regras que segmentavam
as cidades em pequenos lotes. Mais tarde seria possível para o imperador romano Constantino veri car
que isso seria a grande causa da di culdade de mobilidade intra-urbana e da conseqüente obsolescência
dos espaços de produção da cidade romana, já que a rigidez interna da cidade romana impedia o bom
escoamento dos produtos agrícolas, e impedia que Roma se transformasse em uma cidade polarizadora
de trocas comerciais. Por causa de dessa rigidez fundiária da resultante obsolescência produtiva, falhas
do paradigma clássico, Constantino transferiria, mais tarde, a capital do Império Romano para a região
portuária de Bizâncio, criando novas estratégias de desenvolvimento para as cidades romanas a partir do
momento em que possibilitou que as cidades romanas se interligassem com maior força às redes comer-
ciais por mar, características dos impérios.
Por esse motivo, a terceira fase desse ciclo, o paradigma dos impérios, apresentaria estratégias de e-
xibilidade para a solução da rigidez intra-urbana da trama organizada a partir do paradigma clássico. As
redes comerciais por mar representariam o surgimento de redes regionais de mobilidade, que novamente
provocariam recon gurações internas das tramas conectoras das cidades, a partir da lógica regional de
transporte.
CONCEITUAÇÃO
CAPÍTULO 1
19
1.1.1.3 - Primeiro ciclo / O paradigma dos impérios: as massas em movimento, a
rede comercial e os portões do mundo
Das antigas cidades-estado criaram-se os impérios em diferentes períodos cronológicos, mas que forma-
ram entre si um padrão de redes regionais de controle político, que resultaram no desenvolvimento regional
das formas de transporte e do comércio. Como resultado, as então novas formas de deslocamento regional
dos impérios recriaram as lógicas de funcionamento, deslocamento e organização do uso do solo das cida-
des, também em escala local.
As estruturas urbanas internas cidades-estado que se desenvolveram a partir de centros religioso-admi-
nistrativos, como os zigurates, foram reorganizados e uni cados, dando origem às estruturas urbanas dos
impérios do oriente. O que levou essas civilizações a se organizarem em impérios foi a necessidade de
uma nova concepção de território integrado para permitir a defesa. Na China, por exemplo, a invasão dos
mongóis provocava a construção de pequenas muralhas nos diferentes reinos. A união entre essas mura-
lhas, formando a Grande Muralha da China só foi possível com a uni cação dos reinos, formando o império
chinês ( g. 1.1.c.1).
De maneira diferente, as cidades-estado ocidentais, antes de se tornarem impérios, passaram por expe-
riências de governos democráticos e republicanos, o que resultou na organização espacial de diversas
tipologias urbanísticas internas nas cidades, in uenciadas pelo desenvolvimento do pensamento clássico,
como vimos. Essas diferentes con gurações políticas permitiram que as cidades-estado gregas experimen-
tassem a autonomia de governo; e posteriormente, permitiu o surgimento de uma rede cristã entre as cida-
des dos impérios ocidentais ( g. 1.1.c.2). Das redes imperiais do ocidente, uma das mais fortes, prósperas
e duradouras foi a do Império Romano.
O paradigma de organização espacial característica do período imperial esteve presente no padrão das
cidades do Império Romano, do Império Kushana no Rio Ganges; na atual China sendo a Dinastia Han a
que mais tarde estabeleceu interface com os outros impérios; e no império da Pérsia Sassânida, até apro-
ximadamente o segundo século d.C. Apesar de os impérios terem início em épocas muito diversas, existi-
ram entre os impérios semelhanças de organização da trama urbana que se basearam em estratégias de
deslocamento regional por mar. É a primeira vez na história que se nota o aparecimento de redes regionais
funcionando como estratégias de recon guração das tramas locais mais rígidas das cidades.
Observa-se que a prosperidade e o desenvolvimento dos impérios se alternavam porque dependiam, de
um lado, de avanços tecnológicos que melhoravam o desenvolvimento das embarcações e das formas
de defesa das cidades. De outro lado, a prosperidade e o desenvolvimento dos impérios dependiam das
estratégias políticas de avanço e manutenção das conexões regionais entre cidades que era realizada pelo
mar. Assim, a possibilidade de deslocamento marítimo resultou na formação de novas cidades, já que a
tecnologia que estes povos possuíam de navegação permitia a navegação em mar fechado e próximo às
Fig. 1.1.c.2
Redes comerciais romanas
Fig. 1.1.c.1
Muralha da China
Padrões de fechamento
territorial anteriores e
posteriores ao
império
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
20
costas. Dessa forma a necessidade de trocas de mercadorias foi possível a partir dessa forma de desloca-
mento territorial em escala regional. A civilização Elamita, por exemplo, que se originou principalmente das
cidades de Susa ( g. 1.1.c.4) e Anshan, de 4000 a.C., é considerada a principal civilização que deu origem
ao Império Persa, que era conhecido pela produção de temperos e tecidos. Por causa da tecnologia de
navegação desenvolvida pelos persas, os Elemitas prosperaram a partir do comércio com a Fenícia, com o
Egito e com a Índia, trocando produtos agrícolas e também manufaturados.
Do ponto de vista da organização espacial das cidades, uma das principais características da organização
política em impérios é que essa organização parece ter resultado em territórios cujos limites em escala re-
gional estavam em constante movimento. Ao invés das delimitações xas e locais de território, que surgiram
nas cidades-estado gregas autônomas, os limites do território dos impérios eram exíveis e variavam de
acordo com as conquistas empreendidas nas batalhas entre impérios. Os impérios avançavam e recuavam,
como um todo, em seus limites, uns sobre os outros, na disputa por terras e portos ao redor dos mares.
A via marítima, para esses povos, passou a desempenhar o mesmo papel que tem uma rodovia de cone-
xão regional, atualmente. Com base nessa forma regional de deslocamento surgiu então a necessidade de
transposição do uxo urbano em diferentes escalas (a regional e a local) e, com isso, um novo paradigma
para organizacional da trama urbana, em redes de uxos regional-local. A forma de deslocamento regional
resultante da capacidade de navegação permitiu logísticas de deslocamento que transpunham, pela primei-
ra vez, a escala local de atividades quotidianas dos cidadãos.
As cidades, vinculadas à Roma ou às demais capitais imperiais, deixavam aos poucos de ser herméticas e
funcionarem de acordo com lógicas internas, e então, conectadas aos portos, passaram a cumprir o papel
de centralidade comercial e pólo logístico de armazenamento e distribuição de mercadorias. Esse foi o
paradigma de desenvolvimento das cidades que mais prosperaram na época imperial. Foi, por exemplo,
a partir da percepção da falta de mobilidade e da obsolescência produtiva de Roma ( g. 1.1.c.5) que não
tinha conexão com o mar (as atividades de Roma eram basicamente culturais através das casas de banho,
os an teatros, o coliseu, onde havia corrida de bigas), que o imperador Justiniano optou por deslocar a
capital do Império Romano para a cidade de Bizâncio, localizada em uma das margens do atual Estreito
de Bósforo.
Ao entrarem pelos principais portos dos impérios, as embarcações passavam por arcos simbólicos, que
sinalizavam a entrada em território imperial alheio. Esses portões, a exemplo do Grande Portão da Índia
( g. 1.1.c.6), do portão Carnuntum em terras hoje gregas ( g. 1.1.c.7); dos portões romanos e árabes no Es-
treito de Bósforo ( g. 1.1.c.8); e dos arcos romanos em terras atualmente africanas ( g. 1.1.c.9), constituíam
referenciais que simbolizavam a transposição da escala regional para a escala local de transporte. A partir
desses portões, as redes regionais de deslocamento via mares se fundia com a rede local, que acontecia
dentro dos limites territoriais dos impérios.
Para atender à demanda de deslocamento regional via mar, as tramas locais dos impérios sofreram mo-
Fig. 1.1.c.4
Susa - 4000 a.C.
Fig. 1.1.c.5
Roma Imperial - 150 a.C.
CONCEITUAÇÃO
CAPÍTULO 1
21
di cações ( g. 1.1.c.9). Em escala local, os impérios eram formados por sistemas agrário-militares que
resultavam em redes locais de estradas e pequenas cidades. A malha viária se ajustava à topogra a. No
Império Romano, por exemplo, as ruas eram pavimentadas, e tinham saneamento básico (tecnologia tra-
zida dos gregos).
Com a grande mobilidade regional, as redes locais também começaram a crescer, e novas formas de
deslocamento por terra também foram, aos poucos, se desenvolvendo, até que novamente por terra os im-
périos avançavam seus limites, uns sobre terras de domínio de outros. Para assegurar os limites terrestres
dos impérios foi criada uma forma de organização militar, chamada de themata. No regime de thematas,
os camponeses deixavam suas casas para trabalhar para o governo, guerreando nas fronteiras, com o
objetivo de manter ou avançar os limites territoriais do império
21
.
As cidades, que passaram a ser sedes do poderio religioso e civil do império, passam a re etir as prosperi-
dades econômicas dos impérios. Do ponto de vista da trama interna das cidades, houve uma preocupação
com a abertura dos espaços públicos para o escoamento e troca de mercadorias, com a reunião de grande
quantidade de pessoas, e com a possibilidade de trocas religiosas. Na cidade de Bizâncio, por exemplo, as
casas eram construídas por acúmulo, antes do império. Com a transferência da capital do Império Romano
para essa cidade, houve a necessidade de abertura de espaço público entre as casas, que deram origem
à espaços que permitiram a instalação de galerias de comércio, que mais tarde se transformaram nos ba-
zaars, como o Kapali Çarsi.
O paradigma dos impérios permitiu que as cidades prosperassem através do comércio, via mar e terra. E
o que manteve os impérios foi o surgimento dos pequenos comerciantes, que se instalavam perto dos nós
estratégicos de distribuição – perto dos portos, perto dos grandes centros de distribuição das cidades. As
cidades de Petra ( g. 1.1.c.10) e Qumram ( g. 1.1.c.11) são exemplos de locais que se desenvolveram a
partir de entrepostos por terra. Esses comerciantes pagavam impostos, o que possibilitava que o império
se expandisse através da força militar. Estabelecia-se, assim, uma relação de trocas entre manutenção da
estrutura interna do império (setor terciário) e defesa (poder imperial).
O imperador Constantino do Império Romano, por exemplo, pode perceber essa dinâmica, e inseriu o
Império Romano nessa lógica comercial regional, mesmo que essa decisão tenha lhe custado a mudança
da capital do império e causado crises de poder entre a igreja católica latina, que dominava uma grande
porção de terras em Roma e o império, já que, com a transferência da capital para Bizâncio, o poder impe-
rial se aproximou das terras da igreja católica ortodoxa (de origem grega), causando grandes competições
por terras, por éis e por poder entre as duas igrejas. Entretanto, a transferência de capital permitiu que
o imperador Constantino criasse a possibilidade de desenvolvimento de estruturas adequadas às novas
vocações do império, transformando Constantinopla ( g. 1.1.c.12) em uma cidade muito desenvolvida pelo
21 a contribuição das thematas para a xação dolimite territorial do estado bizantino, encontra-se discutido, pela primeira vez,
por Ostrogorky, Georg. Георгије Острогорски 1977 . Trad. espanhol de Viadero, Pedro. Historia del estado bizantino, 1977.
1983. pp. 189 e 256.
Fig. 1.1.c.6
Grande portão
da Índia
Fig. 1.1.c.7
Portão Carnuntum
Fig. 1.1.c.8
Portão da Turquia, no Estreito de
Fig. 1.1.c.9
Portão romano em terras africanas
Fig. 1.1.c.9
Os portões e as redes mar-terraa
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
22
setor terciário, durante quatro séculos, até que uma falha estratégica, causada pelo imperador romano
Justiniano provocou a crise interna do sistema terciário.
Avaliando este contexto no âmbito da rede, observa-se que essa falha estratégica ocorreu provavelmente
porque ao invés de forti car o potencial comercial-marítimo, do Império Romano do oriente, que apre-
sentava forte identidade de crescimento a partir dos muitos portos que foram se desenvolvendo durante
quase dez séculos ao longo do litoral de Constantinopla (como o porto de Eleutério, Kontoskalion e So a) e
promover a forti cação das conexões comerciais que as cidades tinham espontaneamente através do estí-
mulo aos pequenos proprietários, o imperador Justiniano, sucessor do imperador Constantino, adotou uma
política universalista, juramentada pelo Corpus Juris Civilis
22
- a primeira lei que detalha a representativida-
de do estado sobre o direito das pessoas, e detalha normas para as instituições) Através dessa política,
Justiniano pôde rever a política agrária romana, a legislação de direito à terra aos cidadãos, e o bem-estar
econômico do ocidente, promovido pelo oriente. Dois séculos mais tarde, essa formatação político-territorial
permitiu que o imperador Heráclito tentasse reaver os limites físicos do ocidente, como objetivo de torná-los
impermeáveis aos demais povos (sendo que o oriente, com uma lógica contraria, prosperava a partir do
contato entre os povos) Essa tentativa do imperador Heráclio resultou em uma política que, em detrimento
do enfraquecimento da mobilidade estrutural, teve como objetivo a forti cação dos limites físicos, e, por
conseqüência, causou a fragilidade estrutural interna, porque aumentou sucessivamente a dívida pública,
gerando a falência dos pequenos proprietários. Nota-se, no âmbito das redes urbanas, que a falta de mobi-
lidade estrutural contribuiu fortemente com para a tomada de Constantinopla pelos turcos, em 1453.
Como a estrutura imperial não havia sido capaz de manter as vilas de camponeses guardando as fronteiras
dos territórios do império, os centros das cidades se mostraram frágeis para a xação dos nobres (os des-
cendentes dos antigos patrícios). Durante muito tempo, com as sucessivas invasões bárbaras, as demais
cidades do Império Romano desapareceram ou diminuíram suas atividades comerciais, com exceção das
cidades marítimas (como Gênova e Veneza), que continuaram a subsistir do comércio com as civilizações
costeiras do Mediterrâneo. Para que as cidades que não estavam conectadas ao litoral subsistissem, um
fato curioso começou a acontecer: buscando segurança, os nobres começaram a se aliar aos camponeses,
e a se estabelecerem com estes, perto das fronteiras. Os nobres nanciavam os camponeses na produção,
no sustento e nos armamentos de defesa; e recebiam, em troca, na maioria das vezes, segurança e deli-
dade. Desta forma, uma transferência de soberanias, do império, para os senhores feudais, acabou acon-
tecendo de maneira responsiva à quase autodestruição da estrutura imperial, decorrente de Justiniano.
Esse exemplo ilustra como o falsi cador do paradigma dos impérios reside, portanto, na falta de percep-
ção de que a prosperidade do território se deve muito mais à manutenção de sua dinâmica estrutural, do
que de seu limite físico de terra. Os feudos surgiram como um processo responsivo à essa autodestruição
dos impérios. Com o surgimento dos feudos, houve a privatização das forças militares locais e regionais;
a possibilidade de uma cobrança de tributos mais difusa, o que resultou novamente no ressurgimento do
comércio e dos mercados, nas cidades feudais.
22 foi o Corpus Juris Civilis que originou as bases do direito hoje praticano nos países latinos, e das política territoriais também
utilizadas nesses países.
Fig. 1.1.c.11
Qumram - 250 a.C.
Fig. 1.1.c.12
Constantinopla - 330 a.C.
Fig. 1.1.c.10
Petra - 500 a.C.
CONCEITUAÇÃO
CAPÍTULO 1
23
1.1.2.1 - Segundo ciclo / Paradigma Múltiplo na Idade Média
Da estrutura “atomizada” e concêntrica à reconstrução das redes comerciais.
Com a desestruturação da rede imperial durante o século V d.C. ocorreu a desarticulação do território
e das relações sócio-culturais européias, o que tornou o território europeu cada vez mais frágil, o que
facilitou a expansão árabe. Durante a expansão árabe na Idade Média, o sistema agrário-militar pas-
sou, inicialmente, por uma completa desarticulação de centros, mas foi, aos poucos, se transformando
em uma rede de cidades: a forma de governância, que até então era centralizada nas capitais dos
impérios, tornou-se inicialmente fragmentada, e com o tempo, se reestruturou de maneira orgânica,
baseada nas redes comerciais que ressurgiram entre as cidades.
No início da Idade Média, com a ausência de uma estrutura regional que assegurasse a proteção aos
territórios das cidades-estado medievais, e que lhes fornecesse e a oportunidade de desenvolvimento
das atividades comerciais, essas cidades voltaram a adotar lógicas internas de funcionamento, e a
aumentar a proteção externa. Enquanto o desenvolvimento das cidades na época imperial visava a
criação de novas possibilidades de navegação, a possibilidade de transporte de produtos que permitis-
sem grande intercâmbio comercial regional, o paradigma de organizacional da Idade Média, de forma
contrária, foi, o início, voltado ao desenvolvimento endógeno das cidades, e às formas de defesa,
principalmente próxima às muralhas. Essa linha de defesa do território, na época medieval, colaborou
para a formação de uma realidade urbana formada por diversos núcleos esparsos. Por esse motivo,
alguns autores, como Cesare Blasi e Gabriella Padovano
23
denominam essa con guração territorial de
‘atomizada’.
Essa con guração regional entre cidades, formada por diversos núcleos esparsos, ocorreu principal-
mente porque grupos de camponeses que, por muitas gerações, haviam deixado o cultivo para exercer
atividades agrário-militares nas thematas durante o império, foram obrigados a procurar novas formas
de subsistência, já que não poderiam mais contar com o poder de sustento que a estrutura imperial
lhes proporcionava. Dessa maneira, a nobreza e os camponeses começaram a estabelecer entre si
laços de vassalagem e serventia: os camponeses passaram a ocupar as terras ao redor das proprieda-
des dos nobres e realizavam a defesa das propriedades em troca de terras para cultivo. Assim surgiram
os feudos, con gurando com uma nova lógica de organização político-espacial na idade média.
O paradigma de organização espacial característico da Idade Média, em um primeiro momento, de-
pendeu do papel dos padres da igreja como o bispo Aurélio Agostinho (que mais tarde viria a ser
Santo Agostinho
24
) que criaram diferentes bases morais para os conceitos de usura e lucro através da
23 Blasi, Cesare; Padovano, Gabriella. Teorie di piani cazione e progettazione, 1984. Ed.1991. p. 47
24 processo descrito de maneira mais elucidativa por Saranyana, Josep Ignasi. Filoso a medieval: das origens patrísticas à
escolástica barroca. 1941, pp. 17- 43.
Fig. 1.1.d.1
Diagrama da evolução das cidades até a idade média
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
24
construção de doutrinas teológicas baseadas na Escolástica
25
, uma loso a que unia elementos que
poderiam ser de apropriação natural do ser-humano (como o uso das terras, por exemplo), à uma mo-
ral espiritual. Esse raciocínio teve grande in uência na con guração do espaço urbano e na estrutura
fundiária da Idade Média.
Segundo essas primeiras doutrinas teológicas do início da Idade média que foram in uenciadas por
Platão (uma espécie de afastamento da realidade que os fez crer que a fé humana poderia substituir a
crise estrutural criada pela razão)
26
, o lucro, a usura e o acúmulo de terras eram práticas contrárias à
puri cação da alma dos éis. Por esse motivo, a igreja se encarregaria de concentrar em si tamanhos
‘pecados’ (como ouro e terras). Dessa maneira, os monastérios voltaram a aglutinar grande parte da
sociedade medieval ao seu redor. A cidade de Barcelona, por exemplo, que foi constituída a partir do
paradigma clássico de eixos centrais, adquiriu muros de proteção e passou a se desenvolver como uma
lógica concêntrica, quase hermética à comunicação por terras com outras cidades, no início da Idade
Média ( g 1.1.d.2).
Assim do ponto de vista da lógica organizacional do espaço urbano, a sociedade medieval se carac-
terizou pela forte presença do sistema defensivo. Como a organização da trama urbana das cidades
medievais ocorreu fortemente delimitada pelas muralhas, a parte interna das muralhas era, de maneira
geral, bem compacta e com lógica centralizante. A área interna à muralha con gurava o espaço urba-
no. Fora da muralha residiam os camponeses-militares, que tinham a função de cultivar a terra, e de
promover a proteção da borda da cidade. Começou a existir, assim, uma forte distinção entre o espaço
urbano e o espaço rural nas cidades medievais – entre o centro e a borda.
A planta da cidade medieval apresentava tipologias diversi cadas: em alguns casos, apresentavam
diferentes lógicas centralizantes da malha urbana: em alguns casos a muralha dessas cidades refor-
çava o direcionamento trama urbana para sua região central como se pode perceber pelas plantas das
cidades como Palombara ( g. 1.1.d.4) e Chiari ( g. 1.1.d.5); em outros casos, a borda se expressava
de maneira menos impositiva, permitindo que a malha se construísse a partir dos uxos das pessoas,
ou de acordo com o melhor aproveitamento do relevo, de maneira bem semelhante às cidades muçul-
manas como, por exemplo, nas cidades medievais de Argel ( g. 1.1.d.6) e Milão ( g.1.1.d.7). Existem
ainda casos de cidades que se mantiveram com a queda da rede imperial. Essas cidades receberam
muros de proteção, e voltaram a funcionar como territórios autônomos. É comum, nesse caso, veri car
que a trama urbana dessas cidades geralmente apresenta heranças da lógica clássica de organização
do espaço interno, como é o caso de Barcelona, como vimos, e Florência ( g. 1.1.d.8) e Veneza ( g.
1.1.d.9), por exemplo, cujas malhas urbanas trazem, por um lado, as muralhas medievais, por outro, os
eixos clássicos das cidades romanas.
25 existem publicações em varios idiomas das teorias patrísticas, como a Teoria do Preço Justo de Santo Agostinho. A Univer-
sidade de Harvard disponibiliza a transcrição digital da publicação Scientia Juridica, 1941- digitalizada em 2005.
26 esse processo é discutido amplamente por Amzalak, Moses Bensalak. Platão e a economia da cidade. 1950. pp.11-13.
Fig. 1.1.d.2
evolução de Barcino para cidade medieval
CONCEITUAÇÃO
CAPÍTULO 1
25
Em um segundo momento do paradigma medieval, padres católicos como São Tomás de Aquino, que
negavam as teorias de Platão e retomaram a idéia do homem político de Aristóteles, trouxeram novas
visões para a Escolástica, propondo novas formas de interpretar a realidade, que não seriam apenas
baseadas na fé, mas também na própria capacidade de organização humana. Esses padres forne-
ceram grandes contribuições não só para a loso a política medieval, mas para todo um processo de
reestruturação de um sistema fundiário que resultou no ressurgimento do comércio e no retorno da
prosperidade econômica entre cidades na Idade Média.
Entretanto, a tradição judaico-cristã, resumida nas teorias de São Tomás de Aquino abriram fronteiras
para uma nova retomada do direito natural (no qual havia se baseado Aristóteles, na concepção do
homem político e na justi cativa do estado ideal como parte da natureza de organização humana), e
assim houve o declínio da visão teocêntrica que havia in uenciado inicialmente a lógica estruturante do
espaço urbano característico do paradigma medieval. Como conseqüência, começou um processo de
forti cação do poder estatal nessa transição do paradigma medieval para o paradigma sicista.
O falsi cador desse paradigma demonstra que, apesar da retomada da organicidade territorial que
ocorreu com o ressurgimento das redes comerciais entre cidades ( g. 1.1.d.10), que se pode notar na
transição entre a primeira fase e a segunda fase do paradigma medieval, é também possível perceber
que existiram dois extremos de organização político-espacial que resultaram na forte manifestação
do poder sobre a organicidade das relações humanas cotidianas – inicialmente, a presença do poder
exacerbadamente teológico, e mais tarde, a recuperação também excessiva do poder estatal.
Como explicam Cesare Blasi e Gabriella Padovano
27
“Com a disputa entre os estados religiosos, essa
época termina no segundo milênio d.C. quando o espírito humano questionou a violência e a coesão
religiosa utilizadas para interesses territoriais.”
Assim, começaram a surgir nesse período diversas escolas de arquitetura (época em que Vitrúvius
criou Os 10 livros de Arquitetura) e uma grande diversidade entre os núcleos urbanos, fortemente ar-
raigados no entendimento das estruturas tipológicas do território, até a renascença.
27 Blasi, Cesare; Padovano, Gabriella. Teorie di piani cazione e progettazione, 1984. Ed.1991. p. 50
Fig. 1.1.d.4
Palombara - sec. XI
Fig. 1.1.d.5
Chiari
Fig. 1.1.d.6
Argel
Fig. 1.1.d.7
Milão - sec. XII
Fig. 1.1.d.8
Florencia - sec. XVI
Fig. 1.1.d.9
Veneza - sec X
Fig. 1.1.d.10
Rotas comerciais medievais
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
26
1.1.2.2 - Segundo ciclo / Paradigma Fisicista
O Iluminismo, o Renascimento, e o ressurgimento do espírito humano no dese-
nho das cidades
O Paradigma Fisicista teve início com a grande explosão demográ ca européia e com a explosão cultural
e territorial que resultou no Renascimento. Foi nessa fase de poucos anos que antecederam o Renas-
cimento, conhecida como Iluminismo, que houve a grande primeira desconstrução cultural. As grandes
modi cações que ocorreram nas artes e nas ciências, através da revalorização da cultura clássica grega
transformaram profundamente a visão que os homens tinham do mundo.
Nessa época, a representatividade que o estado passou a exercer sobre o indivíduo (ainda que com a
revisão do Direito Romano originário do Corpus Júris Civilis), e o surgimento da nova forma de trabalho
decorrente da manufatura estimulou o surgimento de fortes argumentos contra o poder hegemônico da
cosmologia cristã. Até então, como vimos, a hegemonia cristã determinava o que se poderia dizer ou não
sobre a natureza, o território, e sobre o direito das pessoas.
Com esse questionamento da cosmologia cristã surgiu um novo tipo de homem, que começou a se agru-
par para institucionalizar novas oportunidades de trabalho e participatividade, com o objetivo de construir
seu espaço face aos concorrentes poderes da igreja e do Estado. Nessa época foram estabelecidas as
primeiras institucionalidades comerciais privadas e as primeiras corporações de ofício.
Nessa época também houve um grande investimento na tecnologia da navegação que tornou possível o
desenvolvimento de navios que alcançassem territórios além do alto mar. As trocas por mar começaram a
alcançar outras civilizações, e as viagens além-mar resultaram em descobertas que levaram às diversas
rivalidades políticas entre as nações. Na Europa começou a existir uma grande competição entre estados
monárquicos com objetivos imperialistas, que passaram a apresentar constantes con itos entre si.
Com a grande aplicação nas tecnologias de navegação, as cidades do continente cresceram e receberam
populações que antes eram empregadas no campo. Com a saturação demográ ca nas cidades, as revo-
luções cientí ca, industrial e democrática levaram às guerras com armas tecnologicamente avançadas.
A vivência de uma Europa violenta levou a humanidade a uma necessidade de revisão da forma de vida
nas cidades.
A necessidade de revisão da forma de vida nas cidades provocou o surgimento de projetos de cidades
utópicas, chamadas de cidades ideais. Surgiram assim os grandes temas do Urbanismo, como o planeja-
mento urbano. Os estados e a igreja, para demonstrarem poder face às novas perspectivas de liberdade
dos cidadãos (inclusive a liberdade de comércio e acúmulo de bens e terras) desenvolveram construções
monumentais. As praças e as fachadas passaram a re etir a grandiosidade pública.
Fig. 1.1.e.1 - Diagrama de Girolamo
Maggi para uma cidade ideal
Fig. 1.1.e.2 - Diagrama de Giorgio Martini
para uma cidade ideal
Fig. 1.1.e.3
Sforzinda de Filarette - 1460
Fig. 1.1.e.4
Palmanova de Scamozzi - 1593
Fig. 1.1.e.5
Valetta de Laparelli da Cortona - 1594
CONCEITUAÇÃO
CAPÍTULO 1
27
O traçado urbano passou a ser projetado de maneira regular, baseado em dois principais pressupostos
que norteavam a organização do espaço das cidades: o rápido acesso do centro às muralhas, através de
vias conectoras de trânsito rápido, como se pode perceber no diagrama de Girolamo Maggi ( g. 1.1.e.1);
e a lógica radial-concêntrica, presente, por exemplo, no diagrama de Giorgio Martini (1.1.e.2) para a Cida-
de Ideal. Esses duas lógicas estiveram presentes nas cidades ideais projetadas, como por exemplo, as
cidades de Sforzinda de Filarette ( g. 1.1.e.3), Palmanova de Scamozzi ( g. 1.1.e.4), e Valetta de Lapa-
relli da Cortona ( g. 1.1.e.5), e em espaços públicos como os jardins de Viladeste ( g. 1.1.e.6) e Povolli
( g. 1.1.e.7).
Nesses modelos é possível notar que a estruturação espacial
das cidades, no Renascimento, ocorre a
partir da necessidade de organização dos deslocamentos de mercadorias e pessoas pelas cidades. A
rua passou a ser, de maneira instituída, o espaço público da cidade. A partir do Renascimento todas as
estruturações urbanas tiveram a rua como elemento fundamental. Entretanto, apenas algumas vezes a
rua foi considerada também espaço do encontro, de lazer, de compras. No Renascimento, a rua tornou-se
espaço de movimento, no Barroco a rua viria a ser o espaço das procissões e das corridas de carruagens,
e no século XX, as ruas seriam o símbolo da velocidade, do automóvel, que seria capaz de unir a modu-
laridade humana racionalizada.
A descoberta da perspectiva e a representação do conceito de in nito, no Renascimento, também in-
uenciaram a lógica organizacional da trama urbana. O poder de representar a realidade de maneira
universal, descoberto na perspectiva, permitiu não somente que o homem passasse a descrever experi-
ências sensitivas da realidade, mas que pudesse antecipar essas experiências através do projeto. Assim,
a parspectiva começou a in uenciar o desenho de praças e largos. As praças públicas renascentistas
passaram a constituir espaços livres, sem programa, envolvidos por edifícios muito grandes e profundos,
para ressaltar a repetição de arcos que evidenciavam a profundidade do espaço público em perspectiva,
demostrando a grandeza dos edifícios. Desta maneira, a praça passou a ser uma abertura na trama ur-
bana, para que o pedestre pudesse ter ponto de fuga para observar essa grandeza dos edifícios, solução
que foi idealizada e descrita pelo jurista Leon Battista Alberti, que havia se tornado assitente do papa
Nicolau V, aconselhando-o em muitos projetos como o desenho do entorno da Basílica São Marcos, no
Vaticano ( g. 1.1.e.8).
Entretanto, apesar de constituírem grandes molduras às praças, os edifícios renascentistas eram fecha-
dos em si. Parece não ter existido, entre a maioria dos renascentistas que projetaram espaços urbanos,
a preocupação em fazer do edifício uma continuidade funcional da trama urbana. Essa característica
- da ausência de preocupação em fazer do edifício uma extensão da trama urbana - parece retornar, ao
longo da história das cidades, cada vez que o estado ou a igreja proporcionaram intervenções projetuais
nos espaços de circulação pública. Mas à medida em que outras institucionalidades humanas foram se
formando e questionando o poder da igreja e do estado (vimos que essa foi uma das grandes mudanças
do Renascimento), foi necessário que a igreja e o estado revissem o espaço do homem, não apenas na
sociedade, através da reforma e da contra-reforma da igreja católica, mas também através das novas
Fig. 1.1.e.6
Jardins Viladeste
Fig. 1.1.e.8
Entorno da Basílica São Marcos, no
Vaticano
Fig. 1.1.e.7
Povilli
Fig. 1.1.e.9
Desenhos de Leornado da Vinci para Ímola
Fig. 1.1.e.10
Desenhos de Leornado da Vinci para
Ímola
Fig. 1.1.e.11
Desenho de Leornado da Vinci para
cidade ideal
Fig. 1.1.e.12
Modelo físico da cidade ideal de Leornado
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
28
Fig. 1.1.e.13
Ponte Vecchio
Fig. 1.1.e.14
Ponte Rialto
conceituações de estado que começaram a emergir do apelo humano por liberdade, que vinha ocorrendo
desde o iluminismo.
Foi assim que a partir do Renascimento o espírito humano, estimulado pelo o progresso espiritual e cien-
co, começou a estar presente no desenho das cidades. Com isso, começaram a aparecer as primeiras
preocupações com os projetos dos lugares urbanos. Leonardo da Vinci, à frente do seu tempo, soube
enfatizar a importância das conexões entre edifícios não apenas como espaços conectores de uxos,
mas como lugares urbanos, ou seja, espaços de encontro que con guravam pequenas praças junto aos
espaços de uxo e lugares com vistas privilegiadas, como se pode notar nos desenhos que Da Vinci fez
para Ímola ( g. 1.1.e.9 e g. 1.1.e.10), e nos seus planos da Cidade Ideal, ( g. 1.1.e.11 e g. 1.1.e.12).
Percebe-se, assim que, quando o paradigma sicista surge retomando os modelos clássicos de organiza-
ção espacial das cidades, esse paradigma tem um efeito instantâneo de delimitar os espaços de vivência
e encontros espontâneos nas cidades. Por outro lado, esse paradigma provoca o surgimento espontâneo
de estruturas que se criam para permitir as atividades comerciais, a informalidade de vida quotidiana
nos bairros. Na contramão da lógica rígida sicista do estado e da igreja, também surgiram, no Renasci-
mento, estruturas vivas e que conjugam a racionalidade plástica com a informalidade, como a cobertura
de pedestres da Ponte Vecchio ( g. 1.1.e.13), em uma reconstrução que estimulou o surgimento de
estabelecimentos anexos à ponte, inicialmente com o intuito de vender carnes e alimentos perecíveis; e
a construção da Ponte Rialto ( g. 1.1.e.14) em Veneza, treliçada para conter grandes vãos e permitir que
o comércio se desenvolvesse entre os arcos.
O falsi cador do paradigma sicista reside no fato de que é comum que a rigidez de soluções urbanís-
ticas/arquitetônicas geradas pelo estado ou pela igreja (quando têm como objetivo ou a organização
aparente do espaço urbano ou a demonstração de poder) sejam resultado da desconsideração da forma
como a organicidade que hábitos dos cidadãos pode in uir nas tramas urbanas e nas tipologias dos es-
paços públicos.
Quando isso acontece, normalmente os usuários são obrigados a procurar estratégias que busquem res-
taurar a organicidade quotidiana nas tarefas já que desempenhavam anteriormente às intervenções. As-
sim, por um lado a análise histórica demonstra que o paradigma sicista gera espaços rígidos em prazos
mais curtos, por outro, provoca o surgimento de redes orgânicas que reestruturam a lógica dos movimen-
tos de pessoas ao redor das novas intervenções que se demonstram rígidas, com o intuito de regenerar
as qualidades funcionais do espaço que se tornou rígido. Veremos adiante que, na teoria das redes, esse
é um processo regenerador natural nas cidades, porém, que dispende maior custo de recursos, desloca-
mentos e energia para a regeneração das qualidades vivenciais do espaço. Entretanto, como mencionam
Cesare Blasi e Gabriella Padovano “durante 4 séculos o Paradigma Fisicista dominou o universo cultural,
e, através de várias estratégias, conseguiu sobreviver aos paradoxos que o minaram.”
28
28 Blasi, Cesare; Padovano, Gabriella. Teorie di piani cazione e progettazione, 1984. Ed.1991. p. 63
CONCEITUAÇÃO
CAPÍTULO 1
29
1.1.2.3 - Segundo ciclo / Crise do Paradigma Fisicista
Da rede de elementos conectores do Barroco ao mundo industrial
Apesar das diversas estratégias para manter a unidade cultural desenvolvida na Renascença perante
as tendências à complexidade crescente e à diversidade de uma era revolucionária que substituiu o
trabalho humano com a utilização de novas tecnologias produtivas, o paradigma sicista enfrentou
di culdades crescentes de lidar com a descentralização de poder, gerada pela ascendência da classe
empresarial e pela participação dos empresários na política.
A Crise do Paradigma Fisicista ocorreu, assim, durante o processo de enfraquecimento completo da
cosmologia cristã, que já havia iniciado durante o Renascimento e seguiu uma lógica de organização
espacial que se desenvolveu junto à consolidação das monarquias absolutistas na Europa. A transição
da forma urbana medieval para a barroca re etiu nas tramas urbanas a emergência dessa consoli-
dação do poder de estado característico dos séculos XVI ao XVIII. A simetria radial de Versalhes ( g.
1.1.f.1) é um exemplo de projeto em que predomina o diagrama do poder sobre a organicidade do
espaço. Após o século XVII começou a surgir uma nova rede regional que conectava as capitais das
monarquias absolutistas. Muitas cidades, por serem capitais dessas monarquias absolutistas foram se
consolidando e chegaram a ser grandes metrópoles, como Paris ( g. 1.1.f.2) e Londres ( g. 1.1.f.3).
A consolidação das monarquias e a participação dos empresários na política signi caram a diminuição
na atribuição de terras por suserania, e constituíram fatos que tornaram possível que os monarcas
governassem através da atribuição eletiva de funções, e dessa maneira, os monarcas começaram a
governar em nome dos eleitores. Surgiram, assim, os primeiros parlamentos e os primeiros códigos de
posturas que regulamentavam os domínios fundiários, territoriais e a cidadania (que mais tarde origi-
nariam o primeiro código de usos e procedimentos urbanos no século XVIII).
A transição da complexidade orgânica desde a idade média para o paradigma sicista não foi mera-
mente plástico ou simbólico: demandou mudanças na forma de produção, no uso do solo, na trama
urbana e nas lógicas centralizantes das cidades; e principalmente demandou uma mudança de valores
econômicos, territoriais e militares.
A primeira fase do Barroco, que ainda trazia heranças de regularidade renascentista, aportou à trama
urbana as axes principais e secundárias. Entretanto, as rotatórias e distâncias relativas do centro se
tornaram inicialmente atributos que, com malhas regulares, faziam com que algumas localidades se
tornassem mais importantes que outras. Essa hierarquia de localização em relação aos pólos centrali-
zantes fazia com que a distribuição relativa do uso do solo se tornasse um dos elementos-chave para
a a criação de novas regras de divisão da terra, o que contribuiu para uma segregação mais acentuada
entre espaços públicos e os espaços privados. Quando Pierre L’Enfant em 1791 projetou a cidade de
Washington ( g. 1.1.f.4), utilizou o modelo de Versalhes com suas vistas axiais e os jardins formais,
Fig. 1.1.f.1
Palácio de Versalhes
Fig. 1.1.f.2
Paris
Fig. 1.1.f.3
Londres
Fig. 1.1.f.4
Washington
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
30
ressaltando os rumos do poder, em uma acentuada separação de usos.
Leonardo Benevelo
29
, Edmund Bacon
30
e Geoffrey Broadbent
31
consideraram que as intervenções que
ocorreram nas cidades européias nessa primeira fase do Barroco tiveram como objetivo adequar a ci-
dade às regras de perspectiva que surgiram com a cultura renascentista. Para Benevolo, a perspectiva
nas cidades barrocas foi se tornando a lógica organizadora dos referenciais urbanos, que eram dis-
postos através de ruas retilíneas, como se percebe nas plantas de Londres e Paris barrocas. Praças e
ruas abriam espaços entre palácios que formavam seqüências de fachadas que se repetiam e criavam
espaços fechados e simétricos quando vistos de quaisquer de seus ângulos. As praças reais de Madrid
(como a Praça Oriente, onde os monarcas apareciam em público na sacada do palácio nas celebra-
ções de Estado - g. 1.1.f.5) ou de Paris (como a Place Royale - g. 1.1.f.6) e também as praças ducais
de Gualtieri ( g. 1.1.f.7) e Vigevano ( g. 1.1.f.8), e a Strada Nuova ( g. 1.1.f.9) em Genova demonstram
esse tipo de solução, ilustrada na perspectiva de paisagem urbana ideal atribuída ao pintor Piero della
Francesca ( g. 1.1.f.10).
Entretanto, a grande herança barroca humanista que a crise do paradigma sicista trouxe para dis-
cussão da organização do espaço urbano em redes foi a concepção do espaço urbano elaborada por
Domenico Fontana, um arquiteto menos in uente e menos vinculado aos valores clássicos de territo-
rialização do espaço da cidade que Alberti. Em 1585 o papa Sixtus V pediu à Fontana para pensar em
uma forma de reestruturação para Roma ( g. 1.1.f.11), a partir dos ideais da Contra-reforma, e Fontana
obteve sucesso, utilizando um recurso que hoje poderia ser chamado de re-invenção da cidade. Sua
visão de espaço urbano revelou um desenho de cidade que deixava de ser estática, composta por
objetos controlados. A cidade de Fontana era concebida como uma rede. Fontana elaborou para Roma
um traçado baseado em espaços nodais, identi cados por referenciais – obeliscos e colunas – criando
túneis de visão abertos na malha medieval.
Domenico Fontana considerava que as conexões entre a forma e os uxos nas cidades seriam os ge-
radores da trama urbana, que necessitava ser rapidamente adequada à crescente demanda de trans-
porte. Fontana entendia que a cidade deveria ser um organismo que se adequasse constantemente ao
transporte, e não uma mera disposição de espaços a partir de regras de composição formal. As inter-
venções de Fontana traziam a idéia de que a cidade não se desenvolve a partir de elementos dispostos
de maneira controlada (como se faziam os edifícios, naquela época), mas a cidade se desenvolve a
partir pólos de funções hierárquicas, que servem de estrutura para o crescimento e a mudança dos
espaços que se conectam à essas funções hierárquicas. Para Fontana, a arquitetura proveria meios
para que os nós e as conexões pudessem adquirir presença.
29 Benevolo, Leonardo. História da cidade, 2001. p . XX (veri car)
30 Bacon, Edmund N.. Design of cities. 1967. p. 35
31 Broadbent. Emerging patterns in urban space design. 1995. p. 38.
Fig. 1.1.f.5
Praça Oriente
Fig. 1.1.f.6
Praça Real
Fig. 1.1.f.7
Praça Gualtieri
Fig. 1.1.f.8
Praça Vigevano
Fig. 1.1.f.9
Estrada Nuova
Fig. 1.1.f.10
Pintura de Piero Della Francesca
F
ig. 1.1.f.11
Reestruturação de Roma
CONCEITUAÇÃO
CAPÍTULO 1
31
E assim o Barroco foi aproximando, de fato, as necessidades dos homens aos espaços de passagem
32
,
e recriando lugares urbanos. Muitas tramas barrocas foram baseadas no desenho do movimento das
pessoas nas cidades – como a trama da área histórica da cidade de Ouro Preto, feita a partir dos ca-
minhos das procissões. E dessa maneira, os idealizadores dos espaços barrocos nas cidades também
foram tentando trazer os edifícios para mais próximo da escala humana, após a contra-reforma, as fa-
ces dos edifícios que estavam de gente para locais públicos passaram a trazer imagens tridimensionais
de pessoas nas fachadas.
Do ponto de vista da organização espacial das centralidades urbanas, a lógica de organização do es-
paço característica das cidades barrocas trouxe uma valiosa contribuição para o desenvolvimento do
conceito das redes urbanas: a percepção de que existem outras formas de organização das centralida-
des urbanas que não se desenvolvem de maneira radial a partir de pólos concêntricos ( g. 1.1.d.12).
De um lado, a lógica sicista se expressou no desenho das centralidades de maneira polar, a partir
de referenciais que serviam de pólos de gravitação. Na lógica sicista de organização espacial, a ge-
ometria radial materializada espacialmente como multiplicação da força centralizadora era a solução
que ainda trazia em si a herança da forma clássica de se desenhar o espaço a partir de relações geo-
métricas. De outro lado, a materialização radial de lógica concêntrica acontecia de maneira tão óbvia
que se não se considerava, até então, que tudo o que gravitava ao redor do pólo principal poderia ter
outras lógicas de movimento próprias entre si. Com o Barroco e a contribuição de propostas como a de
Fontana, dos espaços nodais, a lógica de organização espacial urbana passou a evidenciar a relação
que as centralidades exerciam entre si.
O falsi cador desse paradigma, do ponto de vista da estrutura da trama urbana, entretanto, está no tipo
de segregação decorrente da valorização geométrica do traçado entre as centralidades. Apesar de as
centralidades e suas conexões barrocas representarem uma primeira desconstrução do pensamento
radial-concêntrico de organização espacial, estas apresentavam grande rigidez à atualização de usos
e ao crescimento orgânico do espaço urbano. A crise do barroco ainda representou uma continuação
à crise do paradigma sicista porque a hierarquia de espaços ainda esteve presente nas cidades bar-
rocas em detrimento de uma malha urbana que favorecesse a integração social de fato – ao invés de
hierarquias polares, o espaço passou a apresentar hierarquias polares e lineares.
Apenas no m do século XX o conceito de rede, como elemento ambiental, passaria a abordar a rege-
neração de algumas relações de vivência urbana que foram prejudicadas a partir da lógica sicista de
organização do espaço urbano; e assim a rede passaria a ser caracterizada pela abordagem conjunta
dos elementos do ambiente e viria a incorporar a idéia de que poucos processos urbanos se desenvol-
vem de maneira isolada.
32 Giedion, Sigfried. Space, Time and Architecture. 1941 p. 151
Fig. 1.1.f.12
A lógica de desenvolvimento da trama urbana barroca’
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
32
1.1.3.1 - Terceiro ciclo / A hipótese racionalista
A desconstrução do centro, a multiplicação de estruturas em série e a falta de
conexões funcionais
Apesar de o barroco ter constituído novas relações urbanas, vimos que as redes urbanas barrocas tam-
bém deram origem à hierarquias de organização e de valorização do solo urbano ( g. 1.1.g.1). Entretan-
to, essas hierarquias parecem ter ocorrido em função da grande rigidez espacial das centralidades e das
conexões entre centralidades, que, entendidas como imutáveis, foram muito criticadas por urbanistas
racionalista por criarem hierarquias de adensamento e de funções secundárias ao seu redor.
Essa forma hierárquica de organização espacial das cidades barrocas se manteve até o surgimento das
indústrias, quando houve uma grande mudança na forma de produção que provocou grandes reorga-
nizações do espaço urbano. Apesar de o tipo de urbanismo barroco ser um modelo característico do
processo de desconstrução da rigidez espacial que surgiu durante a crise do paradigma clássico, essa
forma de organização espacial ainda trazia vestígios da organização urbana sicista que resultava em
hierarquias de usos do espaço urbano, como vimos. A hierarquia e a segregação espacial que causaram
a crise das cidades barrocas parecem ter sido resultantes muito mais da rigidez espacial dos centros
e da própria funcionalidade das conexões entre os centros barrocos, do que da própria concepção da
trama urbana a partir da conexão entre pólos.
Por causa do lapso de compreensão da diferença entre a rigidez espacial e o paradigma organizacional
do espaço das cidades barrocas, a rigidez espacial característica de um processo de dispersão ainda
em início, no barroco, e que ainda apresentava falhas, seria associado mais tarde às lógicas de loca-
lização dos empreendimentos burgueses. Dessa forma, os modelos racionalistas de organização do
espaço urbano que surgiram na seqüência das iniciativas liberais tenderiam a negar e a setorizar as
atividades da burguesia, separando-as das atividades dos ‘comuns’ (os não-burgueses).
Do ponto de vista das redes urbanas, é imprescindível esclarecer que muitos autores que desenvolvem
estudos sobre a trama urbana, criticam a polarização de funções barroca relacionando-as com lógicas
de polarizações atuais, mesmo que atualmente ocorram de maneira orgânica. Veremos no segundo
item desse primeiro capítulo, que a lógica de conexões entre as centralidades é uma das principais
características das redes. Entretanto, esses autores associam o conceito de polarização orgânica à
polarização ainda rígida de origem barroca. Entendem que os empreendimentos burgueses, que ocor-
reram no período de desconstrução da hierarquia espacial sicista e da procura por novas lógicas de
localização, foram a grande causa da segregação social do espaço. Parece não existir a compreensão
entre historiadores de formação moderna (como em Lewis Mumford , por exemplo) de que a segregação
social pode ter sido ainda um problema herdado do paradigma sicista, ainda não solucionado nem no
Renascimento, nem nos modelos polares que ocorreram entre o barroco e a sociedade industrial.
Fig. 1.1.g.1
Valorização próxima aos eixos
CONCEITUAÇÃO
CAPÍTULO 1
33
Durante o m do século XVIII e primeira metade do século XIX as lutas pela participação da burguesia na
política haviam crescido. Em 1773 o congresso americano havia declarado a independência das 13 colô-
nias dos Estados Unidos, e em 1789 organizou-se a Guarda Nacional na França, uma milícia burguesa
criada para resistir ao rei e liderar a população civil, cujo comando coube ao deputado da Assembleia
e herói da independência dos Estados Unidos, o Marquês de La Fayette. Assim teve início a Revolu-
ção Francesa, com a queda da Bastilha (curiosamente, por volta de um século mais tarde, a principal
galeria de Paris levaria o nome de Galeria La Fayette em sua homenagem). Assim a principal atividade
da burguesia, a manufatura, havia começado a crescer, apoiada em novas tecnologias, e a entrar em
confronto territorial com a atividade essencialmente agrícola, até então realizada pela aristocracia, que
era proprietária de grandes extensões de terras para cultivo.
As manufaturas se transformaram em indústrias e se xaram em grandes extensões de terra, nas cida-
des, devido à grande disponibilidade de mão de obra. E a grande possibilidade inicial de empregos fez
com que cada vez mais pessoas deixassem a agricultura e se instalassem próximas às fábricas, o que
levou as cidades a um rápido crescimento populacional ( g. 1.1.g.2/ g. 1.1.g.3/ g. 1.1.g.4). Esse gran-
de crescimento populacional fez das cidades grandes acúmulos de construções insalubres, realizadas
por funcionários não capacitados para construir – daí o surgimento de vários estilos arquitetônicos que
misturavam referências arquitetônicas anteriores e elementos exóticos hindus, chineses, etc. Paralela-
mente a essa confusão de estilos, o neoclássico continuou a se desenvolver como a forma de organi-
zação espacial característica do estado liberal. Curiosamente, ao realizar um paralelo entre urbanismo
neoclássico e a economia neoclássica, nota - se que a relação que existe entre ambos é a desconcen-
tração urbana e a necessidade de criação de novas formas de dispersão espacial.
Surgiram assim, duas vertentes de conceitos sobre a organização do espaço urbano: de um lado, um
grupo menor de urbanistas que continuaram a desenvolver modelos neoclássicos, como os que origina-
riam a Escola de Chicago, e continuariam a explorar teorias de concentração procurando desvendar, de
maneira probabilística, novas lógicas de localização, em uma atividade que viria a ser valorizada apenas
após o modernismo; de outro lado, um grande grupo de urbanistas defenderam a lógica de organização
espacial racionalista, acentuada pela necessidade de criação urgente infra-estrutura urbana, primeiro
devido à grande expansão populacional e depois pela necessidade de rápida reconstrução das cidades
após Primeira Guerra Mundial.
Esse segundo grupo de urbanistas criticava o modelo neoclássico de dispersão, procurando criar pa-
drões de estruturas urbanas que fossem capazes de se multiplicar, o que gerou, nas cidades, uma nova
ordem racionalizada não apenas de reorganização do espaço urbano, mas também da reorganização
das formas de produção nas cidades: a nova lógica de organização das cidades passou a acontecer a
partir de grandes eixos viários contínuos, do surgimento de grids regulares entre eixos, e da maior se-
gregação social e funcional, e pela segregação entre espaços públicos e privados, como se observa no
projeto da Ciudad Lineal, de Arturo Soria y Mata, em 1880 ( g. 1.1.g.5),e o projeto da Cittè Industrielle,
de Tony Garnier, em 1917 ( g. 1.1.g.6). O espaço formado entre a arquitetura dos edifícios privados
Fig. 1.1.g.2
Vilas e acúmulo populacional
Fig. 1.1.g.4
Centros e o acúmuo populacional
Fig. 1.1.g.3
Vilas operárias
Fig. 1.1.g.5
Vilas operárias
Fig. 1.1.g.6
Vilas operárias
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
34
passou a ser vista como espaço semi-público, e a industrialização provocou uma separação entre o
desenho das cidades e do espaço público, e o desenho do edifício arquitetônico.
O sistema de grids, que retomava novamente o paradigma clássico, se tornou predominante no século
XIX, por causa da e ciência de transporte, e se tornou atrativo às necessidades de rápida construção.
Através do grid era possível a utilização de modulações com capacidade de expansão in nita, mas que
ainda permitiria pequenos crescimentos incrementais dentro dos padrões de construção das cidades.
Com o tempo esse sistema permitiu o uso de uma variedade de detalhes com desenho estandardizado
de sistemas urbanos. Mas o sistema em grids se demonstrou falho especialmente onde as quadras
eram muito grandes. Somente em quadras mais curtas foi possível notar em muitas cidades o apareci-
mento mais fácil de vida nas ruas, e o surgimento de uma grande variedade de espaços terciários – lo-
jas, restaurantes, entre outros. Em São Francisco ( g. 1.1.g.7), por exemplo, dois grids foram projetados
em 1906, um a Norte e outro à Sul, e os dois grids se desenvolviam a partir da principal rua comercial
da cidade. O grid do norte, que foi projetado com quadras pequenas, apresentou ao longo do tempo um
melhor desenvolvimento terciário, enquanto os grids do sul entraram em constante decadência, desde
a construção.
Como alternativas aos módulos em grid surgiram, então, os movimentos em prol das reformas utópicas
do século XIX, contra a superlotação das cidades no período industrial. Surgiram diversas propostas
que levaram à experimentação de diferentes formas de vida em comunidade, como as de Robert Owen
(e o experimento da cidade de New Harmony, em 1825 - g. 1.1.g.8), baseadas no conceito de que o
caráter no homem é moldado pelo seu ambiente), Charles Fourier (com a idéia da fortaleza calculada
para 1.600 pessoas, em 1834), Etienne Cabet (com o conceito ctício da cidade comunista Icárie - g.
1.1.g.6 - em 1840), entre outras. Todos esses idealizadores foram levados por impulsos de criar formas
de se tratar as doenças das cidades com novos conceitos para a luz, o ar e o uso dos espaços verdes.
O modelo mais in uente foi o de Ebenezer Howard, Cidades Jardins de Amanhã
33
( g. 1.1.g.10), publi-
cado inicialmente em 1898. A cidade ideal de Howard tinha 30.000 habitantes e crescia por modulari-
dade, reprodução ( g. 1.1.g.11), sendo que dez ou mais cidades como essas poderia se agrupar para
estabelecer relações culturais. O planejamento dessas cidades poderia acontecer em maiores escalas
de terras públicas. Cada cidade-jardim foi concebida para ser uma unidade com capacidade própria de
suporte, mas os usos eram separados por zonas, e as habitações aconteciam em lotes individuais para
produção de alimentos. A idéia de crescimento reprodutivo e sustentabilidade própria fez com que o
modelo perdurasse por mais de cinqüenta anos nas novas cidades inglesas que foram planejadas para
conter a dispersão de Londres. Infelizmente, foi a dispersão horizontal proposta por Ebenezer Howard
que ressaltou sobre a idéia de auto-su ciência planejada das cidades-jardim. O movimento da Reforma
havia associado a idéia de campo à qualidade de vida, e as cidades à doença, ainda durante a crise
do paradigma sicista. Essa noção levou as pessoas à promoverem uma gradual desurbanização das
33 Howard, Ebenezer. Garden cities of to-morrow. 1898. Trad. português Cidades jardins de amanhã por Szmrecsanyi, Maria
Irene Q. F. 2002. p. 4-12
Fig. 1.1.g.7
São Francisco
Fig. 1.1.g.8
New Harmony
Fig. 1.1.g.10
Icárie
Fig. 1.1.g.9
Fortaleza Fourier
Fig. 1.1.g.11
Ebenezer Howard 1
Diagrama local da cidade-jardim
Fig. 1.1.g.11
Ebenezer Howard 1
Diagrama regional da cidade-jardim
CONCEITUAÇÃO
CAPÍTULO 1
35
cidades, e, como resultado, desencorajou o surgimento dos modelos de habitação com maiores aden-
samentos nesse período.
O Plano para Camberra, 1913 ( g. 1.1.g.12), o Plano Voisin de Corbusier idealizado em 1925 ( g.
1.1.g.13), e principalmente o plano de para Radburn de Clarence Stein em 1926 ( g. 1.1.g.14), foram
os primeiros projetos criados para a era do automóvel. Alguns elementos do desenho de Radburn
mostram essa in uência: as ruas com cul-de-sac utilizadas para isolar o grande tráfego das vizinhanças
(pela primeira vez as ruas foram utilizadas para separar, não para conectar); as unidades de vizinhança,
que se formavam em superquadras, com áreas verdes internas usadas como espaços comuns pelos
residentes; e os serviços eram agrupados em centros cívicos, próximos à equipamentos públicos como
escolas e hospitais.
Foi também com a lógica racionalista que o Barão de Haussmann, em 1856 reformulou a área em um
dos extremos dos Champs-Elysées (Campos Elíseos - g. 1.1.g.15) através da criação de uma estrela
de 12 avenidas amplas em volta do Arco do Triunfo, onde grande mansões foram construídas posterior-
mente; e que também Idelfonso Cerdà criou o Plano de Barcelona em 1855 ( g. 1.1.g.16), através da
demolição da muralha da construção de um sistema de vias e de quadras que poderia se estender de
maneira modular.
Os trabalhos de Lewis Mumford, em particular A Cultura das Cidades
34
, ajudaram a divulgar o conceito
da cidade do plano de Radburn, que foi criado a partir de um sistema de movimento que separa o uxo
de pedestres do uxo de automóveis. Esse plano in uenciou o projeto de muitas cidades, até a década
de 50. Corbusier também adotou a mesma idéia de tráfego diferenciado para a Cidade para 3 milhões
de habitantes, em 1930, para Chandigarh em 1947, para o plano que propôs para São Paulo e para a
Ville Radieuse ( gs. 1.1.g.17 a 1.1.g.21), que Frank Lloyd Wright adotou para Broadacare City em 1930
( g. 1.1.g.22) e Lúcio Costa para Brasília, em 1957 ( g. 1.1.g.23 e ig. 1.1.g.24). Para esses urbanistas, a
modernidade signi cou a ruptura com a forma clássica de abordar a ciência política e o poder.
Entretanto, a expansão territorial não demanda apenas uma infra-estrutura multiplicável, exige, também,
uma possibilidade de gestão de tudo o que se expande: das vias, da infra-estrutura, do consumo, do
deslocamento de cargas e pessoas. Porém, como a forma de expansão racionalista das cidades sobre
os territórios não permitia a adequada gestão da expansão, os governos criaram mecanismos de con-
trole territorial. Max Weber, em O estado Racional
35
veri cou que, para que pudesse existir o controle
do território, o Estado racional foi criado a partir da personi cação da regra. Não se obedecia a alguém
em virtude de seu direito, mas à regra, através da moderna burocracia e da empresa burocrática. Os
grandes teóricos da constituição estatal desse período dizem que existiu uma associação do relativismo
com o positivismo. Mas o que isso signi ca, e em quê afeta a trama urbana e as lógicas racionalistas de
organização das cidades? E de que forma o falsi cador do paradigma racionalista foi identi cado?
34 Mumford, Lewis. The culture of cities. 1938, 1997 p. 490
35 Weber Max. O estado racional. Trad. português In: Coleção Os Pensadores - Max Weber. 1980. pp. 13-19
Fig.1.1.g.17
Chandigarh
Fig.
1.1.g.15
Plano de Haussmann
para Paris
Fig. 1.1.g.12
Plano de Camberra
Fig. 1.1.g.13
Plano Voisin
Fig. 1.1.g.14
Radburn
Fig.
1.1.g.16
Plano de
Haussmann
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
36
Vimos anteriormente, no paradigma Imperial, que política universalista de Justiniano, ao tentar recupe-
rar os territórios do Império Romano a ocidente, ao custo da prosperidade comercial dos investidores do
oriente, causou uma fatal desestruturação interna do império, decorrente do aviltamento dos pequenos
proprietários, pra poder manter o exército na retomada e defesa limites territoriais. Nesse caso, ao en-
tender o território a partir dos limites físicos, e não como um organismo que se mantém, e que funciona
em rede, Justiniano, criou uma forma de organização territorial que passou a contrariar e a sobrepor
as redes inter-pessoais e a diversidade de iniciativas locais que surgem dessa rede de contatos entre
pessoas que desejam prosperar. Esse processo foi possível através da criação de uma ferramenta que
conferia esse poder a Justiniano – o Corpus Júris Civilis, a base do direito positivo (direito romano) utili-
zado até hoje pelos países de origem latina. Pelo direito positivo, aquilo que é público está sob o poder
de decisão nal do estado, e está sobre o direito de decisão das pessoas.
Coincidentemente, foi também no início do século XIX que as primeiras teorias cientí cas sobre a rela-
tividade começaram a surgir e a serem experimentadas entre os cientistas teóricos, lósofos e artistas,
in uenciados pela física teórica de Albert Einstein. Nessa época, esses teóricos, deslumbrados com a
tecnologia, entendiam que a força motriz de tudo estava presente nas máquinas (eram in uenciados
ainda por Descartes, mais tarde, viriam a descobrir que está na capacidade de raciocinar, que somente
o homem tem). Mas nessa época, entendiam que a lógica de crescimento dos organismos acontecia de
maneira tecnológica, a partir da técnica (e não teleológica, a partir do conhecimento que se cria com a
utilização crítica da técnica).
O desenho racional das cidades seguiu então, nessa época, uma lógica de crescimento que demonstrou
a força que o Estado poderia exercer sobre as necessidades locais e a diversidade de objetivos dos me-
nores grupos sociais, impondo seu poder de mudança sobre o direito de decisão das pessoas (como é a
“democracia” em um estado positivo), e as formas urbanas de organização interna, expansão e controle
deveriam seguir regras formais: as cidades se expandiam pelos limites físicos projetados como células
cuja função seguia uma lógica interna à essa própria célula. A função dos espaços também era modular.
Não havia preocupação com a interligação de funções nas cidades.
Assim, o principal falsi cador do paradigma racionalista de organização do espaço urbano esteve pre-
sente na força impositiva do modelo físico. Grandes cidades foram construídas nessa época, e grandes
reformas urbanas foram realizadas, entretanto, a forma de expansão territorial de infra-estrutura, que
se apoiou no controle burocrático e no limite territorial físico ajudou a reforçar a segregação de usos, a
segregação social. Os padrões e as regras se tornaram mais fortes, com mais poder do que o espírito
humano e as necessidades locais, e apenas a simbologia passou a ultrapassar as fronteiras organiza-
doras do espaço que função não foi capaz de alcançar.
Fig. 1.1.g.18
Plano de Le Corbusier para São Paulo
Fig. 1.1.g.19
Plano de Le Corbusier para São Paulo
Fig. 1.1.g.21
Ville Radieuse
Fig. 1.1.g.20
Ville Radieuse
Fig. 1.1.g.22
Desenho de Frank Loyd Wight para
Broadacare city
Fig. 1.1.g.23
Brasilia
Fig. 1.1.g.24
Foto aérea das quadras habitacionais
de Brasília
CONCEITUAÇÃO
CAPÍTULO 1
37
1.1.3.2 - Terceiro ciclo- Paradigma funcionalista
A rede da mobilidade funcional
A função sempre foi uma preocupação presente na história da lógica de organização espacial das ci-
dades. Do ponto de vista formal, até a metade do século XIX a simbologia era disciplinadora da forma
de utilização do espaço. A simbologia atribuía diversas preocupações estéticas a espaços que tinham
a mesma função. A estética do espaço e a lógica de organização espacial dependiam da importância
social dos usuários do espaço, dos valores culturais, da importância religiosa e política que o espaço
viria a ter. Mas a estética do espaço, no paradigma racionalista, não dependia da função que o espaço
viria a desempenhar.
Porém, o papel da funcionalidade já havia sido relacionado no primeiro século a.C., na tríade de Vitrú-
vius ( rmitas, utilitas, venustas), que compreendia o conforto, conveniência e a utilidade. A funcionali-
dade é uma lógica de organização espacial através da qual o arquiteto começava a desenhar o edifício
com base nos propósitos à que o edifício serviria no futuro. Na virada do século XX, o arquiteto Louis
Sullivan tornou popular a frase “a forma segue a função” para transmitir a idéia de que a estética da
organização espacial é resultado da função do espaço ( g.1.1.h.1).
Nos anos 1930 a funcionalidade originou discussões sobre a aestética do movimento (uma forma de
organização espacial funcionalista que, do ponto de vista do projeto urbanístico, a estética projetual é
a própria forma que resulta do movimento espontâneo das pessoas e dos elementos urbanos). As dis-
cussões do Team 10 foram consideradas informais, mas para o Team 10, o movimento na arquitetura
era um mecanismo de se melhorar e sustentar o senso de comunidade e a democracia, a interação
social e a maximização da escolha. Desenhavam para o homem na rua. Os projetos do Team 10 eram
interpretações, em pré-fabricados, não da plástica ideal, mas do movimento das pessoas, na reali-
zação de suas tarefas quotidianas. Essa intenção do grupo estava claramente presente nos artigos
dos irmãos Smithson, ainda no nal da década de 50, como descrita nas publicações sobre o CIAM
no Architect’s Year Book’an “If, thirty years ago, the use in a creative way of new techniques was an
urgent problem for ClAM, today... [the problem] is to create the forms of habitat which can stimulate the
development of human relations
36
.
A partir desta sentença, esse artigo dos Smithsons trouxe uma lista de relações que especi cavam as
conexões entre edifícios, sem ao menos mencionar a questão plástica. Assim, na reunião do CIAM, em
1956, os Smithsons apresentaram um croqui (Play Brubeck - g1.1.h.2) que mostrava a possibilidade
de uma ligação casual entre ordem social e ambiente ( g.1.1.h.3). Essa discussão sobre Play Brube-
ck formou o embasamento teórico que foi desenvolvido no concurso alemão de projeto urbanístico
Haupstadt, em 1957 ( gs.1.1.h.4 e 1.1.h.5). O croquis de Alisson Smithson para o projeto Haupstadt
36 Lasdun, Denis. Mars Group 1953 - 7’, Architect’s Year Book 8, 1957, pp 56-60
Fig. 1.1.h.1
Capa do lme “Tall” de Manfred Kirchheimer
Fig. 1.1.h.2
Play Brubeck - Smithsons
Fig. 1.1.h.3
CIAM/ conexões - Smithsons
Fig. 1.1.h.4
Smithsons Haupstadt Competition
Fig. 1.1.h.5
Smithsons Haupstadt Competition
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
38
Competition evidenciou as relações orgânicas que as conexões embasadas nas relações funcionais
podem reconstruir sobre a trama racionalista de quadras. Esses croquis dos Smithsons estimularam as
inspirações da nova geração, mostrando novos horizontes de projeto ( g.1.1.h.6).
Em Londres, ao mesmo tempo em que espaços urbanos ainda racionalistas eram projetados e execu-
tados, o grupo Archigram, também em meados dos anos 1950, começou a expor idéias questionadoras
sobre arquitetura e urbanismo em grande escala, chamando atenção à importância da integração de
funções para a mobilidade urbana. As especulações teóricas do grupo Archigram apresentavam formas
inovadoras de se pensar o espaço urbano, porque defendiam a idéia de que o funcionamento das cida-
des é integrado por seus mecanismos ( gs.1.1.h.7 a 1.1.h.12).
Com a evolução da indústria, e a possibilidade de fabricar quase todos os elementos construtivos, a re-
alidade da fabricação em série trouxe à tona a responsabilidade de tornar os produtos acessíveis a to-
dos. Houve, a partir da possibilidade de integração de funções das tramas urbanas, uma preocupação
com o aumento da mobilidade das cidades. Uma nova fascinação com o movimento foi explorada pelos
arquitetos metabolistas japoneses. Kenzo Tange ( g.1.1.h.13) estava entre os primeiros a investigar as
implicações do aumento da mobilidade em seu plano para Tóquio, em 1960. E assim os funcionalistas
começaram a explorar o uso de estruturas inovadoras para moldar a conexão entre funções, nas cida-
des, como se observa, por exemplo, nos projetos de Friedman ( g.1.1.h.14), como a Vila Spatiale,1964
e nas experiências com redes, feitas por Buckminster Fuller ( g.1.1.h.15) em seus últimos ensaios,
como em Shrinking Planet Earth, 1969
37
. Fuller já demonstrou, em seu croqui, o conceito de que a
rede é uma alternativa à descentralização hierárquica. Veremos, no item 10 desse capítulo, como esse
croqui de Fuller traz, de maneira intuitiva, conceitos importantes sobre a estrutura urbana em rede, tal
como será conceituada nessa tese.
De maneira geral, é possível que o processo de construção do ideário funcionalista tenha originado a
partir da modi cação da base econômico-produtiva que ocorreu no mundo, durante o início da Revo-
lução industrial. Essa modi cação da base produtiva fez surgir a classe média nas cidades, e fez com
que ocorresse uma rápida transição entre o mundo essencialmente agrário e o mundo urbano. Com a
indústria, a capacidade de consumo dessas pessoas que haviam vindo do campo também aumentou.
Elas passaram a depender do trabalho gerado pelas fábricas e passaram a consumir bens essenciais,
como alimentos e roupas, para sobreviverem. Entretanto, essa rápida transição entre o mundo agrário
e o mundo industrial exigiu uma rápida e radical operação de adequação sócio-cultural que se exprimiu
inicialmente no racionalismo, que como vimos, substituiu uma diversidade de sistemas sociais e cul-
turais que antes eram válidos pra um mundo predominantemente agrícola, e provocou uma inovação
nos modelos de referência dessa sociedade em transição. O racionalismo fez com que as pessoas
absorvessem a nova lógica da Era das Máquinas, e o funcionalismo, logo em seguida, demonstrou que
37 Fuller, Richard Buckminster. Shrinking planet Earth. 1969 In: Fuller, Richard Buckminster. Your private sky: the art of design
science. 1999 - p.256
Fig. 1.1.h.6
Smithsons - Conexões e
Relações funcionais
Fig. 1.1.h.9
Archigram - Plug in city
Fig. 1.1.h.10
Archigram - Plug in city
Fig. 1.1.h.7
Archigram - Plug in city
Fig. 1.1.h.8
Archigram - Plug in city
CONCEITUAÇÃO
CAPÍTULO 1
39
as máquinas e as novas possibilidades estruturais poderiam aumentar de maneira impressionante a
mobilidade humana. A função passou, assim, a representar um dos pontos essenciais da dinâmica da
forma, e passou a proporcionar maior liberdade na reorganização das cidades e do território.
O paradigma funcionalista, entretanto, entrou em crise na medida em que alguns projetos que materia-
lizavam diretamente a função do espaço tenderam a representar momentos rígidos do projeto. Talvez
por esse motivo, os ensaios do Archigram, dos Smithsons, do Team 10 foram especulações teóricas,
e não necessariamente se materializaram em projetos urbanísticos. Talvez estivessem à frente do seu
tempo, já que as críticas ao funcionalismo expressaram o conceito de que a rigidez de um projeto que
se demonstra in exível ao tempo provavelmente está alienado do seu contexto social e ambiental.
Aos poucos, as críticas à lógica de organização do espaço baseado na função começou a ser desvin-
culadas da plástica dos projetos pós-modernos. Nos anos 1970 o arquiteto Phillip Johnson a rmou que
a arquitetura não tem nenhuma responsabilidade funcional. Essa visão prevalece até hoje entre arqui-
tetos como Frank Gehry, Steven Holl e Richard Méier cujos edifícios são trabalhos artísticos, criados
para serem interpretados, e não para gerarem debates críticos. Entretanto, existem arquitetos como
Ken Yeang, e Zaha Hadid que desenvolvem trabalhos sob uma ótica complexa da realidade (como
veremos no paradigma da complexidade) e que retomam e defendem, entre outros fatores, a função
como um dos fatores principais da lógica de organização do espaço urbano. Mais tarde, a teoria das
redes viria a comprovar, em outras áreas do conhecimento, que o aprendizado das redes se dá não
apenas pela função, mas pela capacidade de aprendizado que a mudança funcional agrega à experi-
ência do espaço.
Fig. 1.1.h.14
Friedmann
Fig. 1.1.h.13
Projeto capsula do arq. Kisho Kurokawa
Fig. 1.1.h.11
Archigram - Plug in city
Fig. 1.1.h.12
Archigram - Plug in city
Fig. 1.1.h.14
Shrinking Planet Earth - As redes de Buckminster Fuller
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
40
1.1.3.3 - Terceiro ciclo- Crise do paradigma funcionalista
Interfaces urbanas: o espaço multifuncional que nega a discriminação de funções e
busca a exibilidade temporal
Quando a estruturação das cidades começou a acontecer efetivamente a partir da lógica funcional de orga-
nização do espaço urbano, alguns arquitetos conseguiram observar que o funcionalismo estava provocando
uma fragmentação funcional nas cidades, e puderam perceber que essa fragmentação funcional estava
resultando em uma grande crise de ordem social, ambiental e cultural nas cidades modernas. Esses arqui-
tetos/urbanistas começaram a perceber que a fragmentação funcional das cidades era a principal causa da
dilatação do território e da segregação da população em áreas periféricas ( gs.1.1.i.1 e 1.1.i.2).
Mas o principal problema que os arquitetos/urbanistas que criticaram o paradigma funcionalista perceberam
é que a função, como ponto de partida da idealização da forma, representa momentos estáticos e muito rígi-
dos (apenas um dos momentos possíveis de uso do projeto), e com isso notaram que a abordagem espacial
a partir do paradigma funcionalista destaca o projeto de seu contexto sócio-ambiental. Os arquitetos Cesare
Blasi e Gabriella Padovano explicam que, nesse caso, as tipologias funcionais se tornam o fundamento do
projeto, e a forma passa a ser resultado direto da função o projeto que segue o paradigma funcionalista se
torna “desprovido de problema”
38
A partir da atribuição de determinadas funções a determinados espaços, toda a lógica de conexões entre
funções se tornava engessada, sob a óptica do paradigma funcionalista – as conexões, em grande maioria,
foram criadas e dimensionadas para suprir a mobilidade de pessoas que demandavam certas combinações
de funções. Como as funções espaciais não eram abordadas de maneira dinâmica, as conexões entre as
funções também não se expressavam de maneira dinâmica. No paradigma funcionalista, as conexões ainda
não foram abordadas a partir da qualidade dos uxos. Nessa época provavelmente ainda não havia a clara
compreensão de que a mudança qualitativa de uxos poderia caracterizar uma nova mudança qualitativa na
demanda, o que levaria, no futuro, à necessidade de se reavaliar sucessivamente as funções espaciais. Mais
tarde alguns pro ssionais que interferem no espaço urbano (primeiro os economistas, incorporadores e os
urbanistas) passariam a entender que a relação qualitativa entre a mobilidade da demanda (ligada à dinâmi-
ca das conexões) e a dinâmica das funções urbanas são ambos atributos dinâmicos do espaço urbano que
provocam, um no outro, constantes atualizações.
Entretanto, para que a real crise do paradigma funcionalista fosse de fato compreendida, precisou haver uma
nova grande mudança tecnológica nos m dos anos 80. Essa mudança tecnológica trouxe novas possibilida-
des de aplicação da lógica digital e da realidade virtual nas práticas de projeto arquitetônico e urbanístico, e
possibilitou que os pro ssionais que interagem com o ambiente urbano pudessem compreender que, quando
a forma, no projeto urbanístico, deriva apenas da função, se torna impossível incorporar na forma as relações
históricas do lugar (já que essas relações se manifestam antes mesmo do projeto e da função que se atribui
38 Blasi, Cesare; Padovano, Gabriella. Teorie di piani cazione e progettazione, 1984. Ed.1991. p. XX (veri car)
Fig. 1.1.i.1 - Problemas da fragmentação funcional dos centros, e a dilatação do território
Fig. 1.1.i.2 - A fragmentação funcional das cidades e a paisagem poluída de conexões sobrepostas.
Fig. 1.1.i.3 - Retomada dos estudos
realizados por Camillo Sitte
Fig. 1.1.i.4 - Camillo Sitte - estudo de
Verona - Pazza DÉrbe e Piazza del Signori
Fig. 1.1.i.5
Camillo Sitte - estudo dos problemas de uxos em cruzamentos
CONCEITUAÇÃO
CAPÍTULO 1
41
ao espaço, no projeto funcionalista). E, em adição, os pro ssionais que trabalhavam com projeto urbanístico
também começaram a perceber que quando a forma deriva da função, também se torna impossível introduzir
na forma a dinâmica clara do processo tecnológico, como observam Cesare Brasi e Gabriella Padovano
39
.
Por esse motivo, como estratégias aos problemas do paradigma funcionalista, começaram a surgir vários
movimentos com o título de pós-modernos, que, do ponto de vista conceitual, variavam desde o retorno aos
paradigmas sicistas até a inovação tecnológica. Essa época de crise do paradigma funcionalista foi um perí-
odo de adequação da tecnologia industrial à realidade virtual e globalizante: a então nova realidade das redes
informacionais, embasadas em descobertas eletro-eletrônico e digitais. A crise paradigmática que resultou da
segregação funcional exigiu, primordialmente, uma nova compreensão da relação entre forma e função.
Foi provavelmente em busca dessa nova compreensão entre forma e função, que o Urban Design (enten-
dido, nessa tese, como projeto urbanístico) se formou como disciplina, através da crítica ao ambiente cons-
truído produzido pelos modernistas. O primeiro uso do termo Urban Design como uma disciplina aparte ao
Urbanismo se deu em 1956 em uma conferência de Harvard. Essa conferência deu início aos programas de
Harvard dedicados ao projeto urbanístico que tiveram início a partir do m da década de 50. Nessa época, o
projeto urbanístico foi associado à gestão urbana. A visão pós-moderna, mais tarde, agregou ao desenho das
cidades a preocupação com a qualidade ambiental e a melhor adequação e exibilidade de usos. É possivel
observar, como veremos, que a maioria dos estudos que exploram o papel do projeto urbanístico com o ob-
jetivo de se obter melhoria na qualidade de vida urbana é de origem pós-moderna.
Do ponto de vista do projeto urbanístico, os trabalhos dos arquitetos e urbanistas pós-modernos inicialmen-
te resgataram trabalhos realizados antes do paradigma racionalista, da virada do século XIX, como a obra
City Planning According to Artistic Principles, de Camillo Sitte
40
, que foi escrita em 1889. Nessa obra, Sitte
já sugeria que a cidade medieval possuía métodos de organização espacial capazes de trazer vida para as
cidades contemporâneas, e propunha a revisão das a partir dos espaços já existentes, através de estudos
dos espaços vazios ( gs.1.1.i.3 a 1.1.i.5). Essa forma de análise urbana desenvolvida por Sitte in uenciou o
trabalho de muitos arquitetos-urbanistas pós-modernos, como é possível perceber nas análises desenvolvi-
das entre os anos 1960 e 70 pelos irmãos Leon e Rob Krier
41
( gs.1.1.i.6 a 1.1.i.8). Na década de 60, também
foram publicados muitos textos sobre a regeneração dos sistemas vitais nas cidades, de Kevin Lynch
42
, Jane
Jacobs
43
, Christopher Alexander
44
e Gordon Cullen
45
. As obras de Jacobs, como Morte e Vida das Grandes
Cidades (1961) trouxeram à tona as falhas do planejamento das cidades. Jacobs apresentou problemas da
arquitetura desenvolvida pelo CIAM, alegando que a lógica modernista de organização espacial das cidades
eram incentivadoras do crime, e propôs que os urbanistaspassassem a se preocupar em desenhar ruas
39 Blasi, Cesare; Padovano, Gabriella. Teorie di piani cazione e progettazione, 1984. Ed.1991. p. XX (veri car)
40 Sitte, Camillo. Der Städtebau nach seinen künstlerischen Grundsätzen. 1889. Trad City Planning According to Artistic Princi-
ples, 1889. 1965 pp. 12-16
41 Krier, Rob. Elements of architecture. 1992, p.26 e Krier, Leon. Architecture: choice or Fate, 1998. pp. 12-35
42 Lynch, Kevin. The image of the city. 1960. ed. utilizada:19XX(veri car) pp.32-34.
43 Jacobs, Jane. The death and life of great american cities. 1961. pp 223-231
44 Alexander, Christopher. The city is not a tree. 1966. pp. 47-55.
45 Cullen, Gordon. Townscape. Escrito após a guerra - 1945-1961. Editado em 1971 com o título The concise townscape. Ed
utilizada 1995, p 87 e Cullen, Gordon. The good city form. 1984. p.390.
Fig. 1.1.i.6 - Leon Krier. Paralelo entre praças políticas, religiosas e cívicas européias
Fig. 1.1.i.7 - Rob Krier - vitalidade dos cruzamentos. Semelhança entre os estudos de Krier e
os de Camillo Sitte (realizados aproximadamente um século mais cedo).
Fig. 1.1.i.8 - Leon Krier e o início dos mapas de redução, muito utilizados atualmente. Esses
mapas são importantes para a veri cação da evolução do uso do solo, em relação às
conexões. Uma visão que retoma o processo histórico local.
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
42
vigiadas. Jacobs demonstrou que as ruas bem movimentadas com espaços de lazer e permanência podem
se tornar espaços mais seguros
46
.
Kevin Lynch , também em 1961, publicou A imagem da Cidade, que resultou em uma evolução no conceito
de legibilidade urbana, baseada em cinco elementos (caminhos, distritos, zonas, nós e referenciais) a partir
dos quais Lynch acreditava ser possível que as pessoas pudessem entender a cidade a partir de referenciais
não mais bidimensionais ( g.1.1.i.9). Gordon Cullen, também em 1961, publicou The Concise Townscape
( gs.1.1.i.10 e 1.1.i.11). Nessa obra, Cullen veri cou as origens do desenho artístico no Desenho Urbano de
alguns arquitetos que já haviam se preocupado com a vitalidade urbawna, como Camillo Sitte, Barry Parker
e Raymond Unwin. Cullen criou o conceito de visão seriada, que caracteriza um espaço urbano a partir de
vistas que se relacionam. Christopher Alexander, em The City is not a Tree, publicada em 1966 questionou a
estrutura hierárquica de organização do espaço urbano modernista, e argumentou que a cidade se estrutura
de maneira complexa, através de espaços que proporcionam funções urbanas solidarizantes e sobrepostas.
Nas palavras de Alexander: “patterns needs the context of others to make sense”
47
(os padrões precisam do
contexto de outros [padrões] para fazerem sentido).
Alguns outros arquitetos, como Aldo Rossi, em The architecture of the City, em 1966; Robert Venturi
( g.1.1.i.12), em Learning from Las Vegas (1977); Collin Rowe, em Collage City (1978) e Peter Calthorpe
( gs.1.1.i.13 a 1.1.i.15) em The Next American Metropolis (1993) desenvolveram conceitos teóricos sobre a
lógica organizacional pós moderna do espaço urbano: Aldo Rossi trouxe a visão metodológica historicista
para a abordagem dos problemas urbanos
48
; Collin Rowe, através da colagem, trouxe o conceito de que e
possível a convivência de sistemas antigos com as novas estruturas
49
; e Peter Calthorpe desenvolveu um ma-
nifesto à vida sustentável em médias densidades, a partir de um profundo estudo de desenvolvimento urbano
orientado pelo trânsito (chamado de TOD – transit-oriented development)
50
- ( gs.1.1.i.13 a 1.1.i.15). Esses
trabalhos trouxeram aos projetistas urbanos novas idéias de espaço urbano e projeto, e foram responsáveis
por trazer nova vida aos termos vitalidade, historicismo, aestética, qualidade de vida.e sustentabilidade.
Nessa época de crise da rigidez do paradigma funcionalista houve um grande debate sobre o papel do
Desenho Urbano na criação de espaços urbanos mais saudáveis. O Desenho Urbano passou a abordar
as cidades a partir de seu signi cado ecológico (porque passou a envolver o ambiente natural, a qualidade
do ambiente construído e as implicações do ambiente construído nos ecossistemas); passou a abordar as
cidades a partir do seu signi cado econômico (porque passou a considerar que a qualidsade do ambiente
construído tem re exos nas atividades econômicas locais, regionais e globais); e passou a abordar o ambien-
te construído a partir de seus signi cados culturais.
A crise do paradigma funcionalista emergiu do questionamento das idéias que nortearam a forma de produ-
ção modernista e seguiram a lógica da mudança fordista (in exível) para a acumulação exível. Em A Con-
dição Pós-moderna (1989) David Harvey sugeriu que a cidade pós-moderna foi resultado de um ecletismo
46 Jacobs, Jane. The death and life of great american cities. 1961. p.29.
47 Alexander, Christopher. The city is not a tree. 1966. p. 35.
48 Rossi, Aldo. Architecture of the city.1966. ed.1984. p.20-33
49 Rowe, Collin. Collage City. 1977. p. 36
50 Calthorpe, Peter. The next american metropolis. 1993. p.44.
Fig. 1.1.i.10 - Gordon Cullen e a proecupação com a vitalidade urbana em metodologias de
análises e propostas
Fig. 1.1.i.9 - Kevin Lynch e a análise de referências não-bidimensionais da cidade
CONCEITUAÇÃO
CAPÍTULO 1
43
histórico, que emergiu a partir da imitação de formas anteriores; de um multi-culturalismo, já que valorizou a
relação local do projeto; e do espetáculo, já que englobou a visão cênica e o comércio como partes integran-
tes do ambiente construído da cidade. Harvey explicou que a transição do modernismo para o pós-moder-
nismo foi resultado de mudanças signi cativas no sistema econômico-produtivo das cidades, e da mudança
de escala dos códigos culturais
51
.
Harvey encontrou uma relação curiosa entre a cultura pós-moderna e a acumulação exível do Fordismo
pós-guerra, e com isso, comprovou que existiu uma estreita relação entre a mudança da forma de produção
e a arquitetura, no período de transição da lógica moderna de organização do espaço urbano para a lógica
pós-moderna. No capítulo entitulado “Pós-modernismo na cidade: arquitetura e desenho urbano” Harvey de-
monstrou que existem muitas semelhanças entre a lógica de produção em massa elaborada por Henry Ford,
e as obras de arquitetos como Corbusier (modelos de produção de habitações em massa, como resposta
à Grande Depressão e à Segunda Guerra Mundial). Segundo Harvey, quando houve o declínio do lucro da
produção fordista devido à falta de exibilidade do modelo de produção em massa, também houve um declí-
nio na construção de habitações em massa. Assim, do ponto de vista da produção, a lógica de organização
do espaço urbano pós-moderno foi mais diversi cada do que a lógica de organização espacial das cidades
modernistas.
Os principais problemas das estratégias criadas a partir da crise do funcionalismo, entretanto, surgiram por-
que, apesar do grande questionamento de problemas relacionados à rigidez da forma que deriva da função,
os arquitetos/urbanistas que apresentaram estratégias à solução funcionalista mostraram soluções em que
os limites arquitetônicos (e a própria concepção de limite territorial) ainda continuaram sendo produtos de
sistemas funcionais. A própria lógica do processo produtivo ainda estava xo em bases funcionais; a própria
operacionalidade de mudança e crescimento do projeto urbanístico ainda se dava em momentos estáticos
do espaço – não houve a introdução da variável temporal no projeto que abordasse o espaço projetado como
um organismo que apresenta variação contínua, o que ainda continuou a gerar um rompimento entre a forma
e a função.
Como o Desenho Urbano pós-moderno buscou a exibilidade e a desconstrução da rigidez funcional, as
ações propostas pelos arquitetos/urbanistas pós modernos passaram a ser mais pontuais, e, ao contrário da
visão universalista dos modernistas, as intervenções desses pro ssionais passaram a envolver preocupa-
ções com os equipamentos que favoreceriam o melhor aproveitamento de espaço urbano por seus usuários.
Através da busca pelo pluralismo, e dos conceitos inovadores defendidos nas teorias pós-modernas, como
o Novo Urbanismo, esses pro ssionais procuraram soluções que tinham como ênfase a preocupação com
a revitalização de áreas centrais e a preocupação com o redesenho de áreas segregadas. Mais tarde, essa
postura de preocupação com a reconstrução da vitalidade que as cidades haviam perdido (com as fragmen-
tações causadas pelas lógicas racionais e funcionais de organização do espaço urbano) originaria novas
preocupações com a sintaxe espacial, o planejamento estratégico, e os projetos de renovação e revitaliza-
ção urbana. E, dessa forma, o Desenho Urbano passaria a ser entendido como exercício de prospecção da
qualidade de vida urbana.
51 Harvey, David. The Condition of Postmodernity: An Enquiry Into the Origins of Cultural Change. 1989. Trad. português de
Sobral, Adail Ubirajara; Gonçalves, Maria Stela. Condição pós-moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural,
2001. pp. 139.
Fig. 1.1.i.11 - Levin Lynch
Paths, Edges, Nodes, Districts,Landmarks
Fig. 1.1.i.12 - Robert Venturi. Estudo da
comunicação urbana - comparação entre
seções típicas
Fig. 1.1.i.13 - Peter Calthorpe - TOD
Transit Oriented Development
Fig. 1.1.i.14 - Peter Calthorpe - TOD
Transit Oriented Development
Fig. 1.1.i.15
Peter Calthorpe - TOD e a rede de conexões entre centralidades
a proposta de um Novo Urbanismo
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
44
1.1.4.1- Quarto ciclo - Paradigma pós-funcionalista
O debate estrutural da complexidade organizada: a estruturação do espaço das
cidades a partir dos uxos que possibilitam usos ad- hoc- da renovação urbana à
revitalização urbana
Vimos que muitos urbanistas procuraram apresentar soluções aos inúmeros tipos de barreiras urbanísticas
causadas pela rigidez da lógica funcional de organização do espaço urbano. Enquanto o paradigma funcio-
nalista operou a partir de lógicas de intervenção no espaço urbano que discutiam a in uência da interpretação
do local exerce sobre a forma do projeto, o modelo estrutural pós-funcionalista parece ter surgido inspirado na
consciência de que existem pro ssionais de muitas outras áreas do conhecimento que interferem nas formas
de organização do espaço da cidade.
Assim, enquanto a crise do funcionalismo coincidiu com a crise das Teorias de Localização
52
espaciais e
com a “crise das matrizes espaciais” (como denominou o arquiteto Fábio Duarte)
53
, uma nova conceitua-
ção estrutural investigando o fragmento que se multiplica surgiu após a crise do funcionalismo, trazendo a
possibilidade de novos conceitos organizacionais para o fragmento que se multiplica -uma maneira qualita-
tiva/quantitativa de organização (não mais acumulativa, como no racionalismo, e nem apenas qualitativa,
como no funcionalismo). A nova conceituação estrutural que surgiu após a crise do funcionalismo tinha como
principal foco o movimento, a mobilidade – surgiu com o objetivo de solucionar os problemas da dinâmica
funcional do espaço.
Motivadas por essa discussão teórica sobre o processo e o produto de projeto, cujo objetivo era propor solu-
ções para os problemas da dinâmica funcional do espaço através de novas lógicas estruturais para o espaço
urbano, as propostas do arquiteto Louis Kahn in uenciaram de maneira signi cativa o projeto urbanístico.
Baseadas no conceito de que a inovação que é previamente programada carrega uma intenção formal, Kahn
substituiu a cópia funcional formal pelo conceito de espaços servidos e espaços serventes, através de uma
abordagem do espaço em dois layers de uxos uxo servido / uxo servente ( gs.1.1.j.1 a 1.1.j.9).
Essa nova forma de estruturação espacial permitiu que Kahn desenvolvesse novas lógicas estruturais com
racionalidades diferentes da planta livre. Com isso, os debates sobre as propostas de Kahn originaram novas
formas de interpretação das funções espaciais, e passaram a enfatizar a possibilidade de organização ad-hoc
de funções. Kahn inspirou os pro ssionais do projeto urbanístico ao debate sobre novas formas estruturais
que poderiam incluir uma nova racionalidade espacial mais complexa – organizadas a partir de uxos que
são alimentadores e uxos que são alimentados, sendo que ambos funcionariam de maneira complementar
(espaço servido / espaço servente; assim como sangue / tecidos; espaço público / espaço privado; uxos de
transporte / uso do solo; ambiente construído / ambiente natural).
Nesse debate sobre como o projeto urbanístico poderia organizar a complexidade espacial, cinco principais
temas - segundo é possível detectar com a análise teórica feita para essa tese - foram discutidos de maneira
complementar pelos pro ssionais que entendiam que a sociedade continha um grau de complexidade que
poderia ser organizada.
Um primeiro tema discutido nos debates pós-funcionalistas foi como trabalhar a ad-hocidade funcional do
espaço. A utilização do conceito de uxos alimentados, que se associam ou desassociam permanentemente
52 Krugman, Paul; Fujita, Masahisa. Teorias de localização, 1998. p.106.
53 Duarte, Fábio. Crise das matrizes espaciais. 2002, p.14
Fig. 1.1.j.1 - Retomada dos primeiros
estudos de Louis I. Kahn sobre uxos
servidos / uxos serventes - projeto da
Trenton Bath House, 1954
Fig. 1.1.j.3 - Louis I. Kahn. Centro cívico de Filadél a, registrados por Tafuri.
Fig. 1.1.j.4 - Louis I. Kahn - uxos
servidos e serventes - planta da
Phillips Exeter Academy Library.
Fig. 1.1.j.2 - Retomada dos primeiros
estudos de Louis I. Kahn sobre uxos
servidos / uxos serventes - Trenton Bath
House, 1954
Fig. 1.1.j.5 - Louis I. Kahn - uxos
servidos e serventes - corte da Phillips
Exeter Academy Library.
Fig. 1.1.j.6 - Louis I. Kahn - uxos
servidos e serventes - modelo da Phillips
Exeter Academy Library por Tafuri.
Fig. 1.1.j.7 - Louis I. Kahn - uxos
servidos e serventes - vista interna da
Phillips Exeter Academy Library.
CONCEITUAÇÃO
CAPÍTULO 1
45
dos uxos alimentadores trouxe à tona o tema da obsolescência espacial. Surgiram assim os projetos de
revitalização, que começam a trazer a tona questões como a temática da mudança de função do espaço.
Estudos como o do geógrafo Heitor Frúgoli Jr. para São Paulo
54
, demonstra que a função se desloca de seu
espaço, e torna o espaço obsoleto. Se o espaço não é exível para abrigar novas funções, torna-se vazio,
como a caso do centro de São Paulo, nos anos 90.
Um segundo tema abordado nos debates entre os pro ssionais pós-funcionalistas, de igual importância, foi
a multidisciplinaridade no projeto urbanístico. Começou a se falar, nesse período, sobre a interação entre
pontos de vista diferentes no processo de projeto. A de nição da problemática urbanística evoluiu de ob-
servações estritamente descritivas da geogra a, e chegou a envolver análises como as de Milton Santos,
utilizadas por várias áreas do conhecimento que lidam com o espaço urbano. Também as ciências naturais
evoluíram na direção de uma melhor compreensão da interação do homem com seu ambiente, e criaram
a lingüística e a ecologia – todas essas, temáticas que passaram a ser incorporadas pela teoria de projeto
urbanístico. Surgiu, assim, a relação representativa da nova estrutura pós-funcionalista: o caleidoscópio, que
representa a idéia de re-articulação de um mesmo espaço, a partir de novos arranjos de seus fragmentos - a
constante reorganização dos fragmentos a partir de fatos aleatórios (provenientes de vários pontos de vista,
de várias áreas do conhecimento).
Um terceiro tema discutido em contexto estrutural pós-funcionalista é a importância do processo e a aceita-
ção da incerteza no processo cientí co. A ciência, nesse período, abria suas fronteiras para a interação entre
várias áreas do conhecimento, a partir da consciência de que o mundo social não é uma sobreposição de sis-
temas fechados, e portanto, não pode ser manipulado. Com isso, houve uma melhor aceitação da incerteza
nos processos cientí cos (que vinham sendo questionados desde o início do século XIX, com o 2. Princípio
de Termodinâmica, mas que, até então, não havia sido efetivamente explorado amplamente pelas metodolo-
gias de análise nas ciências humanas) e, com isso, descobriu-se o valor do processo também naquelas dis-
ciplinas que lidam com o espaço urbano. As metodologias inovadoras de projetos que propunham interações
entre as cidades, entre as comunidades e o mercado, passaram a valorizar os processos participativos.
O tema da visão ambiental como um processo sistêmico também surgiu nesse contexto, a partir da a retoma-
da da idéia de ecologia urbana (derivada da ecologia humana já criada no início do século XX, por McKenzie,
em 1925) desenvolvida por Burgees e Robert Park, nos anos 70, na Escola de Chicago. A ecologia urbana
trouxe uma nova abordagem das interações humanas pela competitividade do território e passou a in uen-
ciar a prática do projeto urbanístico. Outros teorias ambientais anteriores também foram incorporados nesse
processo estrutural pós-funcionalista, como o conceito de Ecossistemas, criado por Tansley
55
em 1935, e a
Hipótese de Gaia, por Lovelock
56
, em 1970. Ainda que em layers estritamente sobrepostos, e ainda que com
certa rigidez, alguns aspectos ambientais como a uidez dos cursos d´água, a drenagem urbana e a preo-
cupação com a qualidade de verticalização e com os recursos ambientais nos grandes centros. Essa visão
ambiental incorporada de maneira sobreposta no projeto urbanístico já vinha sendo incorporada e melhorada
por alguns arquitetos/urbanistas desde o m da década de 1960, como é possível notar, por exemplo, no
Plano para Guanabara, desenvolvido pelo arquiteto grego Constantinos Doxiadis ( gs.1.1.j.9 a 1.1.j.14), e
recebe uma conotação mais exível nos projetos de revitalização que são desenvolvidos em parcerias com a
iniciativa privada, a exemplo do projeto para Boston Waterfront, para Canary Wharf, em Londres; ou Darling
Harbour, em Sidney.
54 Frúgoli Jr. Heitor. Centralidades em São Paulo: trajtórias, con itos e negociação na metrópole. 2000. p. 9.
55 Tansley. The use and abuse of vegetational concepts and terms in Ecology, 16, p.3 - re-publicado recentemente em Keller,
David R.; Golley, Frank B. The philosophy of ecology: from science to synthesis, 2000, p.55.
56 Lovelock, James E.. Gaia: a new look at life on Earth, 1970. Ed utilizada 2000, p. 10.
Fig. 1.1.j.10 - Konstantinos Dioxadis -
Ekistica - a rede urbana busca a
adaptação do uso do solo ao ambiente
Fig. 1.1.j.8 - Louis I. Kahn - uxos servi-
dos e serventes - vista do Salk Institute.
Fig. 1.1.j.9 - Louis I. Kahn - uxos
servidos e serventes - vista doedifício do
Parlamento de Dacca.
Fig. 1.1.j.11 - Konstantinos Dioxadis -
Ekistica - teoria
Fig. 1.1.j.12 - Konstantinos
Dioxadis- Ekistica - a rede
conectiva urbana
Fig. 1.1.j.13 - Konstantinos Dioxadis -
Plano para a Guanabara
Fig. 1.1.j.14 - Konstantinos Dioxadis
- uso do solo e as conexões multi-uso
no Plano para a Guanabara
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
46
O tema da dinâmica relativa do espaço também passou a ser considerado nos projetos urbanísticos realiza-
dos nesse período. Não era mais a localização, mas a possibilidade de acesso que passou a agregar valor
aos locais. Essa consciência muda consideravelmente a dinâmica urbana, e a forma estrutural da infra-es-
trutura, na medida em que se torna admissível que vale a pena valorizar com acessibilidade e infra-estrutura
áreas em processo de degradação. Essa mudança na capacidade de valorização, que contrariava o valor
da proximidade urbana de acordo com as teorias de localização e de centralidades, muito desenvolvidas
pelo urbanista Jonathan Barnett ( gs.1.1.j.15 a 1.1.j.17) trouxe novas leituras das relações de proximidade
nas cidades, como dizia o músico Paul Simon, “train is the distance”. E essa nova leitura de proximidades
provocou uma associação direta, pelos pro ssionais de projeto urbanístico, entre os transportes de massas,
o caminhar dos pedestres, e a valorização e mobilidade dos usos que locais com comércio e serviços podem
agregar ao projeto urbanístico, e está presente também nas renovações urbanas citadas acima. Essa asso-
ciação entre usos e transporte de massas também funcionava de maneira semelhante aos uxos alimenta-
dores / uxos alimentados de Kahn, cuja nalidade seria a de operarem de maneira complementar (um pode
agregar valores ao outro, que pode voltar a agregar ao um).
O paradigma pós-funcionalista aparece com grande ênfase, no projeto urbanístico, no processo de transição,
da renovação urbana para a revitalização urbana. As renovações urbanas nos anos 80 mostravam áreas ver-
ticalizadas com grandes pátios de automóveis impermeabilizados, e sem conexões entre os edifícios. Esse
tipo de concepção espacial gerou, entre os edifícios locais ermos e altamente excludentes (já que os edifícios
se fechavam em si). Por esse motivo, as renovações urbanas receberam críticas veementes como as de
Jane Jacobs, pelo processo de gentri cação (exclusão em cascata da população mais pobre, nas áreas cen-
trais). Esse problema da renovação urbana também foi um grande problema da falta de mobilidade funcional
dos espaços urbanos, que as revitalizações tentaram corrigir. Nota-se, assim, que as revitalizações de locais
como Canary Wharf em Londres e Darling Harbour em Sidney voltaram apresentar, assim como nos projetos
de Doxiadis, gestos de inclusão entre os edifícios e os espaços públicos que os penetram.
O principal falsi cador desse modelo parece ser na a rigidez estrutural que este apresenta. Apesar de esse
modelo gerar estruturas que podem ser interligadas aos uxos principais (geradores da mobilidade), existiu,
entre esse paradigma e o paradigma complexo, uma grande transformação na idéia de centralidade. Ainda
que Buckminster Fuller, como mostramos, tenha visualizado as centralidades a partir de redes distributivas,
apontando problemas do modelo funcionalista, e ainda que Christopher Alexander tenha explicado de manei-
ra veemente que a hierarquia das funções urbanas não se dão “em árvore” (partindo de centralidades estru-
turadas – pólos geradores de informação e de tomada de decisões - com a presença de áreas periféricas que
teriam sempre que se integrarem aos pólos, mas nunca teriam participação na tomada de decisões). Esse
problema ainda persistiu nessa tentativa de estruturação territorial pós-funcionalista, e foi provavelmente a
causa das crítica aos processos “não inclusivos socialmente”.
Veremos que essa parece ter sido a principal falha, combatida pelos projetistas urbanos que novamente
tentaram, defendendo um paradigma complexo de projeto urbanístico, buscar metodologias estruturais de
constante proposição e revisão dos processos de tomada de decisão em projetos urbanísticos, como as
estruturas generativas. Percebe-se que esse processo de crítica à organização polar da estrutura territorial
ocorreu em várias áreas do conhecimento. Enquanto Marx sempre defendeu uma que um mercado que não
tivesse uma coordenação central se extinguiria, Hayek, o economista que propôs a metodologia de análise
de mercados em rede na economia, defendia que era impossível manter uma coordenação central, já que o
mesmo não poderia levar em conta as peculiaridades de cada mercado regional e local.
Apesar de ter apresentado esse problema estrutural, o debate acerca dos projetos urbanísticos com carac-
terísticas conceituais pós-funcionalistas iniciaram um questionamento em direção às formas de participati-
vidade no projeto urbanístico. Seria o início de um debate novamente estrutural, que provocaria constantes
revisões conceituais nas de nições de território, de uso do solo, de acessibilidade e de cidadania.
Fig. 1.1.j.15 - Análise de Jonathan Bar-
nett mostrando a localização do espaço
público, e a maneira como o lobby do te-
atro se integra com o espaço público da
Tomes Square. Projeto do edifício One
Astor Plaza, de Lois I. Kahn e Jacobs.
Barnett demonstra que “desenhar ci-
dades nãso signi ca [apenas] desenhar
os edifícios”
Fig. 1.1.j.17 - Análise de Jonathan Barnett
vista externa do Hotel Times Square
Fig. 1.1.j.16 - Análise de Jonathan Barnett
mostrando como as políticas publicas po-
dem regenerar espaços de uso público de
domínio privado. Projeto do Hotel Times
Square, de John Portman.
Fig. 1.1.j.18 - A rede (funcionamento da estrutura urbana) criticada por Christopher Alexander
em “The city is not a tree”, e a rede urbana representada conceitualmente pelo matemático
Nikos Salingaros
CONCEITUAÇÃO
CAPÍTULO 1
47
1.1.4.2 - Paradigma da Complexidade Fase I – a rede da pluralidade transdisci-
plinar
A rede da materialidade inspirada na ciência da matéria viva, a interdependência
entre os componentes vitais do espaço, e a retomada da transitoriedade
Com base nas criticas às tentativas estruturais pós-funcionalistas de organização do espaço urbano,
uma nova forma de projeto urbanístico começou a surgir, através da preocupação com a interdepen-
dência e com a interatividade entre os componentes vitais das estruturas territoriais na cidade (a análise
dessas metodologias está no capítulo 2 dessa tese). Houve a adoção, por parte de alguns pro ssionais,
de uma nova postura sistemática, e a interpretação da realidade começou a se processar a partir de
movimentos de concentração e expansão de a nidades entre certos hábitos dos usuários.
A partir da crítica enfática ao “paradigma arbóreo”
57
, realizada principalmente por Gilles Deleuze e Félix
Guattari (1976)
58
, após as várias re exões de Buckminstar Fuller, de Christopher Alexander, como cita-
mos anteriormente, é apenas a partir das propostas estruturais que operaram sob o paradigma comple-
xo que se nota do “paradigma rizomático” no projeto urbanístico – mais especi camente na metodolo-
gia estrutural-generativa proposta por Cesare Blasi e Gabriella Padovano em Complessità e Progetto
59
(que será analisada no capítulo 2 dessa tese, entretanto, o que importa no momento, é o entendimento
de um contexto cientí co e artístico que inspirou o surgimento de propostas estruturais desse tipo).
Na obra Introdução ao Pensamento Complexo, o lósofo Edgar Morin propôs a idéia de que o paradig-
ma complexo representa principalmente uma ruptura com a atitude da simpli cação da realidade. Para
Morin, a adoção do “pensamento complexo” busca apreender interações entre os diversos campos do
conhecimento a partir de uma ótica da diversidade, da incorporação do acaso, da incerteza. Pensar em
termos complexos contribui para que todos que interagem com o espaço urbano possam dialogar com
o ambiente polifônico e polissêmico das tecnologias hipertextuais e com a complexidade dos objetos
de conhecimento. Segundo de ne o próprio Edgar Morin “À primeira vista, a complexidade é um tecido
(complexus: o que é tecido em conjunto) de constituintes heterogêneos inseparavelmente associados:
coloca o paradoxo do uno e do múltiplo. Na segunda abordagem, a complexidade é efetivamente o
tecido de acontecimentos, ações, interações, retroações, determinações, acasos, que constituem o
nosso mundo (...)”
60
.
57 como Christopher Alexander havia criticado, como vimos, a hierarquia de organização espacial das cidades projetadas,
associando-as às estruturas das árvores ( e demonstrando os problemas desse tipo de estrutura, se adotado nas cidades),
esse tipo de organização foi chamado, mais tarde, por Felix Guattari e Gilles Deleuze, de “paradigma arbóreo”, criticado porque
opera de maneira diferente do “paradigma rizomático” .
58 a de nição de paradigma rizomático foi, pela primeira vez, publicada por Deleuze a Guattari na introdução de Deleuze,
Gilles; Guattari, Felix. A thousand plateaus: capitalism and schizophrenia. 1976. Ed utilizada 1988, p. 7.
59 Blasi, Cesare; Padovano, Gabriella. Complessità e Progetto. 1997. p. 71.
60 Morin, Edgar. Introdução ao Pensamento Complexo, 1991. Pp. 17-19.
Fig. 1.1.k.1
Esquemas generativos de organização espaçial urbana
Fig. 1.1.k.2
Estruturas generativas do
espaço - croquis do arquiteto
Toyo Ito
Fig. 1.1.k Projeto com códigos generativos (discussão de processos morfo-genéticos) para o
Cenro para Estruturas Ambientais Europeu - projeto de Christopher Alexander
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
48
Com o paradigma complexo, começou a transformação do processo territorial a partir de uma nova re-
lação estrutural entre o espaço e a sociedade. Começou a existir um novo entendimento das relações
estruturais dos sistemas vivos, aberta às constantes mudanças de preferências dos usuários, capaz de
absorver e se adaptar às novas e constantemente diferentes condições do conhecimento especí co.
Segundo esse raciocínio, a metodologia estrutural-generativa (que será explicada de no cap.2 dessa
tese) de Blasi e Padovano é inovadora com a compreensão de que a construção do conhecimento
ocorre a partir de entradas múltiplas próprias dos sistemas complexos (fazendo com que a metodologia
seja sempre analítico-propositiva) e defendende a ausência de hierarquização do conhecimento, assu-
mindo que o objeto de projeto é sempre passível de mudança para nova adaptação à realidade, a partir
de novos diagnósticos. Consideram que o a relação estrutural do “organismo projetado” pode sempre
ser alterado de acordo com as forças os seus espaços secundários do projeto apresentam de maneira
re exiva, sabendo-se que quase sempre acontece a emergência e construção de novos territórios.
Herb Simon, um cientista político que desenvolveu pesquisas sobre o comportamento dos territórios
políticos a partir da análise das redes sociais, foi o primeiro a analisar a arquitetura da complexidade e
a propor algoritmos que utilizaram a topologia (as formas pelas quais a rede se apresenta sicamente)
para explicar as formas de distribuição do poder, utilizando, pela primeira vez, termos como “tomada
de decisões” e “sistemas complexos”. Herb Simon defendeu a idéia de que os modelos cognitivos
deveriam ser vistos como os causadores da emoção se quisessem se aproximar do que é realmente
a rede de conhecimentos humana - a mente. Para Simon, a importância do pensamento em redes é
importante, em metodologias de análise e proposta que lidam com sociedades complexas, porque,
segundo Simon “a aprendizagem denota mudanças, no sistema, que são adaptativas no sentido em
que permitem ao sistema fazer a tarefa ou as tarefas tiradas da mesma população de maneira mais
e ciente e e caz da próxima vez”
61
.
A partir da Teoria da Decisão, desenvolvida por Herb Simon, passou a existir, entre as ciências que co-
meçavam a explorar a produção social do espaço das cidades, a consciência de que as organizações
que acontecem entre grupos de pessoas, e vão modi cando o espaço urbano (entendidas a partir de
então como institucionalidades ad-hoc) são complexos sistemas de decisões e não só compostas de
ações – são in uenciadas pelo que o homem vê e interpreta, e são dependentes daquilo que homem
percebe. Assim, a partir da Teoria da Decisão, de Simon, as ciências que intervém no espaço da cida-
de passaram a trabalhar com relações satisfatórias de percepção humana, e não mais com relações
ótimas.
Porém, existiram algumas teorias anteriores, desenvolvidas a partir dos anos 1960, que foram provo-
cando atualizações em outras áreas do conhecimento, e se tormaram signi cativas para a formação
do paradigma complexo. Essas teorias in uenciaram pesquisadores que discutiam teorias cientí cas/
61 Simon, Herbert Alexander. Administrative behavior: a study of decision-making processes in administrative organizations.
1957. edição utilizada 1976. p.xxi
Fig. 1.1.k.4
Diagrama de transposições de conceitos entre paradigmas de superfícies.
Cidade do Porto - por Carlos Romay Vergara.
Fig. 1.1.k.5 - Diagrama de células básicas como elementos geradores de uma Gramática
Generativa - formulado por Hilier e Hanson
CONCEITUAÇÃO
CAPÍTULO 1
49
artísticas de vanguarda durante as últimas décadas do século XX e também alguns pro ssionais de
projeto urbanístico, pesquisadores que discutiam teorias cientí cas/artísticas de vanguarda durante as
últimas décadas do século XX. As principais teorias são:
A Teoria da Gramática Generativa - a idéia de que o vazio pode ter signi cado, apesar de ser uma idéia
antiga na cultura oriental, como vimos na pág XX dessa tese, faz parte de discussões recentes, entre as
mais diversas áreas do conhecimento ocidental, que sempre consideraram como prioridade a evidên-
cia concreta de dados mensuráveis e capazes de serem observados. Principalmente para a ciência de
herança moderna, baseada no princípio da objetividade, a teoria da Gramática Generativa elaborada
por Noam Chomsky
62
(um lingüista que recebeu formação estruturalista) e por lingüistas do Massachu-
setts Institute of Technology nos anos 1960, representou uma revolução na linguística, porque investi-
gava o vazio na gramática (aquilo que atribui sentido à linguagem, que permite ao interlocutor entender
o sentido da palavra falada). Noam Chomsky contribuiu para o desenvolvimento da ciência complexa,
com um grande esforço em perceber a gramática como uma teoria estrutural e não como um processo
descritivo de orações concretas, e trouxe, para diversas áreas do conhecimento, inclusive para a arte,
a idéia de que os “organismos” que são produtos da interação social (assim como a linguagem) podem
ser transformacionais (que se transformam – que aceitam diferentes decodi cações - para se adaptar
à compreensão do usuário).
A Termodinâmica do não-equilíbrio (também conhecida como o 2. Princípio da Termodinâmica) – uma
teoria formulada pelo físico Ilya Prigogine, em 1977
63
, que revolucionou a ciência, a partir da demons-
tração de que um sistema realimentado é realmente um sistema dinâmico. Assim, os trabalhos de Pri-
gogine esclareceram à várias outras áreas do conhecimento o que é realmente o caos em um sistema
que se auto-organiza (re-de niu o sentido de caos, e esclareceu a relação do caos com a incerteza).
Para Prigogine, as relações deterministas podem desencadear processos que inviabilizam a própria
realimentação do sistema, impedindo que o sistema alcance equilíbrio com seu ambiente. O mesmo
acontece com os projetos urbanísticos – sob essa lógica, já era possível identi car, por exemplo, a
rigidez estrutural dos projetos urbanísticos sicistas, racionalistas, funcionalistas, e detectar os falsi -
cadores dos paradigmas predominantes nesses projetos.
A Teoria do conexionismo – existe uma diferença grande entre armazenar conhecimentos, e tornar
utilizáveis os conhecimentos armazenados. Os sistemas orgânicos mais e cientes de alocação (e ci-
ência de distribuição e utilização) de conhecimento são as redes de neurônios humanas. Os cientistas
que se aprofundaram no estudo das teorias conexionistas, inicialmente os espacialistas em linguagem
computacional David Rumelhart e James McCLelland
64
, contribuíram com diversas teorias do conhe-
cimento ao notarem que neurônios dessas redes mais parecem comunicar valores numéricos do que
mensagens simbólicas, e que, entretanto, esses valores se transformavam em mensagem simbólicas
62 sobre a teoria generativa, vide Chomsky, Avram Noam. Syntatic structures. 1957. Cópia disponível para consulta na página
o cial de Noam Chomsky no MIT - http://web.mit.edu/linguistics/people/faculty/chomsky/index.html
63 Nicolis, Gregoire; Prigogine, Ilya. Self-Organization in Non-Equilibrium Systems. 1977. Pp. 18-20
64 Rumelhart, David; McCLelland, James. Parallel Distributed Processing: Explorations in the Microstructure of Cognition. 1986. p.16
Fig. 1.1.k.6
Metodologia estrutural-
generativa de projeto
urbanístico elaboirada
por Cesare Blasi e
Gabriella Padovano.
Projeto para a ´´area
sul de Friuli ( Venezia
Giulia)
Fig. 1.1.k.7
Metodologia estrutural-
generativa de projeto
urbanístico elaboirada
por Cesare Blasi e
Gabriella Padovano.
Projeto para a ´´area
sul de Friuli ( Venezia
Giulia)
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
50
ao interagirem com os diversos meios de decodi cação. A distribuição da informação nos neurônios e
o processamento em paralelo são características que o distinguem do paradigma simbólico guiado por
regras que combinam os símbolos de forma serial. Uma outra importância dada às conexões está na
necessidade de entender o funcionamento dos sistemas a partir de suas possibilidades de conexões
para alcançar suas reais possibilidades e predizer dinâmicas futuras.
Foi a partir das teorias conexionistas do psicanalista Thorndike, também na década de 1920, que co-
meçaram a se desenvolver as teorias de evolução orgânica que estabelecem, de maneira resumida,
três relações espaciais fundamentais que terão aplicação direta nas teorias de projeto urbanístico:
- a relação de efeito: uma conexão neural é fortalecida se for seguida de recompensa e enfraquecida
se seguida de incómodo.
- existência ad-hoc: quando é feita uma conexão modi cável entre uma situação e uma resposta, a
força dessa conexão é aumentada, mantendo-se as outras coisas iguais.
- disponibilidade: quando uma conexão está pronta para atuar, a ação não dispende esforços, e não
agir dispende esforços do sistema.
O conceito de autopoiese – criado pelos biólogos Humberto Maturana e Francisco Varela
65
, que desen-
volveram a idéia de que existem sempre uma relação complementar (e não apenas de sobreposição)
entre a estrutura e as funções, nos organismos vivos. Essa nova consciência de interatividade entre
estrutura e função levou pesquisadores de várias disciplinas que lidam com o espaço que é produto de
relações sociais complexas a repensarem o signi cado dos limites territoriais e das relações estruturais
(agora dinâmicas – crescentes ou em extinção) que constroem e reconstroem o espaço urbano.
Para Cesare Blasi e Gabriella Padovano, existiu uma crise do objeto (já anunciada na de nição anterior
do lósofo Edgar Morin), tanto do ponto de vista formal quanto funcional, e que corresponde a uma
crise maior, que podemos denominar de crise global
66
. Na medida em que os territórios nacionais, os
sistemas político-institucionais que ainda os sustentam, e as estruturas sociais econômicas tendem a
se diluírem, se difundirem e a se transformarem em totalidades de complexidade crescente. Para os
autores, o Projeto Urbanístico desenvolve uma trajetória conceitual na busca universal de uma liber-
dade individual e coletiva que se torna possível na medida em que são abandonadas as práticas de
domínio e de segregação que ainda retém o potencial integrador e auto-alimentador, que segundo os
mesmos, se tornou possível quando o Projeto Urbanístico opera no novo paradigma emergente da
complexidade.
De acordo com a visão de Cesare Blasi e Gabriella Padovano, “a humanidade, entendendo-se como
moradora de um planeta com recursos nitos, passou a se enxergar como agente privilegiado em um
processo que pode levar ou ao extermínio coletivo”
67
, ou em direção à sustentabilidade e à sobrevivên-
cia. Existe, assim, a ameaça representada pelo falsi cador do paradigma complexo, que, segundo os
65 Maturana, Humberto R. ; Varela, Francisco J. Autopoiesis and Cognition: The Realization of the Living. 1980 p.49 / p138
66 Blasi, Cesare; Padovano, Gabriella. Teorie di piani cazione e progettazione, 1984. Ed.1991. p. XXXXX (veri car)
67 Blasi, Cesare; Padovano, Gabriella. Teorie di piani cazione e progettazione, 1984. Ed.1991. p. XXXXX (veri car)
Fig. 1.1.k.8 - Projeto de jatos interativos
com algorítimos generativos. Toronto
Fig. 1.1.k.9 - Painel eletrônico com ores
em movimento - de Don Relyea
Fig. 1.1.k.10 - Frank Gehry - Fachada
forma generativa do Rasin Building
Fig. 1.1.k.11 - Paisagismo - forma gen-
erativa para área próxima à Stonehenge
Fig. 1.1.k.12 - Forma generativa de Renzo Piano. para o Museu Paul Klee em Berne, Suíssa-
trabalhando a expressão generativa do relevo. - Corte .
Fig. 1.1.k.13 - A forma generativa de Renzo Piano. para o Museu Paul Klee - trabalhando a
expressão generativa do relevo. Perspectiva
CONCEITUAÇÃO
CAPÍTULO 1
51
autores, é que há um perigo de práticas formalistas e funcionalistas, exempli cadas por um retorno à
uma arquitetura de objetos revisitados como não-objetos, tanto no desconstrutivismo, quanto no mini-
malismo (no ato de desconstruir como no ato de sintetizar o objeto).
O falsi cador do paradigma complexo, detectado a partir da análise das bibliogra as pertinentes à
discussão desse tema, no âmbito dessa tese, está na visão de que o projetista é capaz de, em seu
diagnóstico, colher a opinião dos envolvidos e rever sua contribuição projetual constantemente. Esse
representou, sem dúvida, um novo passo na direção da participatividade, mas não garante que a leitura
da realidade do projetista – dos problemas apresentados em um processo participativo - sejam seme-
lhantes às apresentadas pelos participantes consultados.
O lósofo Edgar Morin aponta, em O problema epistemológico da complexidade
68
, que um dos prin-
cipais falsi cadores do paradigma complexo é um problema de leitura no processo de reavaliação da
realidade – a participatividade, no processo estrutural, precisa ser revista. E esse engano, segundo
foi possível detectar através da análise de projetos realizada para essa tese, parece ser característico
do próprio conceito estrutural de generatividade (veremos essa questão com maior profundidade do
ponto de vista das metodologias de Projeto Urbanístico analisadas, no cap.2) porque, na sequência,
nota-se que algumas redes (como o site da Amazon – que trabalha com logística de entrega de livros,e
, portando, com relações de aglomeração e dispersão espaciais urbanas) evoluíram no sentido de
permitem que o usuário entrem com seus próprios inputs (sua própria visão de mundo) no sistema, e
esse sistema se molda às necessidades do usuário, sem que necessariamente todo o sistema passe
por uma fase de diagnósticos e novas proposições, ou seja, a retroalimentação de informações passa a
ocorrer em pequena escala, a ser realizada pelo próprio usuário, o que desencadearia um processo de
adaptação pequeno no sistema. Nota-se que o paradigma complexo está desencadeando constantes
revisões no processo de participatividade, que caminham em direção à uma nova espécie de raciona-
lidade, baseada na síntese de a nidades, como veremos no item L.
68 Morin, Edgar. O problema epistemológico da complexidade. Paletra transcrita por Marques, Antonio. 1992, p.7
Fig. 1.1.k.14
Forma generativa a partir da leitura dos uxos. Zaha Hadid- London Acquatic Center
Fig. 1.1.k.15 - Estação para Trens Rápidos. Florença, Itália, 2002. Cortesia Zaha Hadid e
Patrik Schumacher, Londres
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
52
1.1.4.2 - Paradigma da Complexidade Fase II – a rede da síntese e das a nida-
des
A estruturação do espaço das cidades a partir de usos ad-hoc, interconectando
fatores de sustentabilidade que se especializam
Com a primeira fase do paradigma da complexidade, abandonou-se a idéia de uma razão ilusória,
que não apresentaria falha. Começou-se a notar, em várias áreas do conhecimento, a começar pela
Tecnologia Informacional, que a tecnologia, além de apresenta falhas (às vezes até que desencadeiam
processos positivos, satisfatórios), permite uma nova forma operacional que desencadeia mudanças.
Com isso, um novo sentido à tecnologia começou a ser pesquisado. Com o avanço das pesquisas
sobre as relações conexionistas, Muitas dessas redes que estruturam relações de mobilidade e perma-
nência de elementos físicos no espaço urbano passaram a operar de forma simultânea e cooperativa
no processamento da informação.
Mas para a compreensão de como poderia ocorrer essa mudança na concepção estrutural das redes
que estruturam relações de mobilidade e permanência de elementos físicos no espaço urbano, seria
preciso que uma das principais bases do raciocínio ocidental, a lógica de herança aristotélica, fosse for-
temente revista e questionada. Para Aristóteles, a veri cação da verdade estaria baseada em três prin-
cípios: o princípio da identidade (um objeto A só poder ser igual à ele mesmo – sem nenhuma abertura
à visões re exivas e múltiplas interpretações sobre o referido objeto); o princípio da não-contradição
(ao se dizer algo, um signi cado é incorporado à essa algo, e esse algo só é verdade se seu signi cado
se mantém o mesmo – não entra em contradição); e o princípio dos meios excludentes (uma sentença
deve ser igualmente verdadeira ou falsa – nunca ambos ao mesmo tempo, ou seja, não permite traba-
lhar com a ambigüidade e com diversas interpretações que contextualizariam a sentença)
69
.
Aristóteles introduziu os pensamentos de veri cação da verdade durante o período clássico - conheci-
do como leis do pensamento lógico aristotélico (um raciocínio que foi, ao longo dos séculos, estruturado
formalmente, e que supõe certas premissas colocadas previamente para que haja uma conclusão nal
necessária). Mas a lógica aristotélica forneceu bases para toda a fundamentação da teoria escolástica,
que deu origem aos mais diversos questionamentos da razão (mencionamos anteriormente como esse
processo afetou o desenhos das cidades, nos itens paradigmáticos anteriores) e inclusive in uenciou
a formação do pensamento moderno e as inúmeras teorias dobre as mais diversas formas e empregos
da razão, ou da negação desta. Assim, imagina-se que é possível que a crise dos modelos represen-
tativos, apontada no paradigma da complexidade, portanto, seja conseqüência da crise do modelo
aristotélico que não permitiu a aceitação da ambigüidade (e que talvez tenha originado modelos repre-
sentativos não condizentes com as necessárias relações de verdade).
69 Aristóteles. Metafísica. Trad.italiana por Bonghi, Ruggiero. Publicado em 1854. Prop. Universidade de Harvard. Digitalizado
em 2006. Seção 19. p. 298.
Fig. 1.1.l.1
A rede generativa e o paradigma rizomático
Os sistemas ainda são atualizados por núcleos
tomadores de decisão
Fig. 1.1.l.2
A rede regenerativa - os nós existem de maneira ad-hoc, enquanto são acessados e
desempenham funções diversas na rede
CONCEITUAÇÃO
CAPÍTULO 1
53
Enquanto, nas últimas três décadas, a razão e as formas de representação da realidade vinham sendo
re-discutidas por pro ssionais de várias áreas do conhecimento que trabalham com sistemas comple-
xos (e que portando viam-se obrigados e rever a relação lógica entre a estrutura e a função nos siste-
mas para buscarem tornar esses sistemas cada vez mais interativos com os usuários), o matemático
Lot Zadeh, a partir dos questionamentos do lósofo Bertrand Russel, havia procurado o problema em
sua origem: o princípio dos meios excludentes de Aristóteles, como a rmava Russel, seriam inválidos,
já que uma sentença pode ser ao mesmo tempo verdadeira e falsa, dependendo da interpretação de
seu contexto. E com base nessa re exão, Lot Zadeh revolucionou a ciência lógica, que atualmente
está revendo toda a relação de complementaridade entre as estruturas e as funções, nos sistemas
complexos – e inclusive questionando os processos estruturais generativos que até a década anterior
eram considerados os processos mais evoluídos, do ponto de vista da aplicação do conhecimento.
A teoria da lógica-fuzzy do matemático Lot Asker Zadeh
70
, divulgada em 1965, havia originado desen-
volvimento de novas possibilidades de relações entre a estrututura e a função dos organismos vivos,
muito exploradas atualmente nas intervenções que lidam com o espaço que é produto de interações
sociais (principalmente nas redes computacionais), porque permite trabalhar com ambiguidade, abrin-
do uma perspectiva alternativa de estrutura que substitui a lei do meio excludente de Aristóteles pela
lógica de Bertrand Russel, onde uma a rmativa ambígua pode ter valores entre zero e 1. Esta lógica é
subjetiva, baseada na linguagem natural, e é expressa por variável lingüística que pode ser mapeada
pelo “conjunto fuzzy” – Lot Asker Zadeh identi cou que existem domínios de aplicação nos quais a
incerteza é parte inerente do problema devido a dados ausentes ou imprecisos e/ou relações causa-
efeito que não podem ser determinadas. E assim criou uma nova forma de representar a relação entre
a estrutura e a função dos sistemas complexos, os “conjuntos fuzzy”, que permitem especi car quão
bem um objeto satisfaz uma descrição vaga, porque trabalham essencialmente o mapeamento de
padrões que emergem nos sistemas, e a dinâmica de comportamento desses padrões, não necessa-
riamente tentando obter relações apenas de causa-efeito (por esse motivo, a metodologia estrutural
de análise e proposição de projeto urbanístico proposta nessa tese utiliza conceitos fundamentais de
compreensão da participatividade, no processo dinâmico de criação e recriação das relações estrutu-
rais dos sistemas, utilizando a óptica da lógica-fuzzy, como veremos no terceiro capítulo dessa tese).
Vimos, na Introdução desse primeiro capítulo da tese, que a rede de objetivos que se forma a partir das
a nidades, em um projeto urbanístico, é entendendida por tudo aquilo que ativa e conecta os meios de
produção, os signos de linguagem. Sem a rede de objetivos, deixaria de existir a estrutura lógica, que
dá sentido à noção de coletividade, ao lugar coletivo, e às nalidades de uso dos espaços públicos,
nas cidades. Mas a questão sobre como essa rede de objetivos pode se re etir em estruturas espaciais
cada vez mais interativas continua sendo um tema de investigação para a sociologia, para a economia,
para o projeto urbanístico, e várias outras áreas do conhecimento:
70 Zadeh, Lot . Fuzzy sets in Information and Control, 8. pp. 338-353.
Fig. 1.1.l.3 - O conceito de signi cancia, que difere a Lógica Fuzzy da ciência baseada na
razão aristotélica (que utiliza a precisão). Dessa maneira, a opinião do usuário pode interagir
com a mudança em seu espaço de convivência, de maneira qualitativa, por prioridades de
uso.
Fig. 1.1.l.4 - Novas necessidades provo-
cam mudanças no espaço. As estações
que tinham menor prioridade de uso por
causa da distância que o pedestre per-
corre, voltam a ser utilizadas se permitidas
bicicletas - uma adaptação do espaço
Fig. 1.1.l.5 - Berlin Hauptbanhof (estação
de trem) As estações que estabelecem
pontos de convergência de muitos modos
de transporte podem se ornar espaços
exíveis, de média permanência e de
encontro de pessoas, se tiver conectada
à serviços e comércio de passagem
Fig. 1.1.l.6 - A Hauptbanhof precisou ser ampliada para abrigar espaço terciário, após ter
vocacionado o espaço.
Hauptbanhof
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
54
- Herb Simon
71
, o lingüista mencionado anteriormente sobre a Teoria da Decisão, quando desenvolveu
pesquisas sobre a inteligência Arti cial e se tornou ganhador do prêmio Nobel de 1978, estabeleceu
uma diferença entre a racionalidade devido à limitação de recursos (que denominou racionalidade de
procedimentos) da racionalidade de realizar algo objetivamente racional (que denominou racionalidade
substantiva) (Simon, 1958). Para Simon, a estratégia “é uma forma diferente do paradigma vigente, de
se alocar recursos, para se conseguir um determinado objetivo”. A partir dessa visão de Simon, se torna
mais clara a visão de que, ao m de cada ciclo paradigmático ( como os dividimos para efeito de per-
cepção das relações urbanísticas que interessam para essa tese) as redes ressurgem, sempre através
de estratégias que são criadas devido à rigidez apresentada pelo paradigma dominante.
- Turing, o matemático britânico criador da capacidade computacional, de niu que a inteligência de um
sistema é medida pela sua habilidade de alcançar estados nais em face das variações, da di culdade
e da complexidade impostas por seu ambiente.
Hoje os cientistas citam a existência de um 4. princípio da termodinâmica, que foi criado pelos matemá-
ticos Alfred Lotka e Vito Volterra,
72
em 1922, que nunca foi demonstrado, mas que apresenta semelhan-
ças com essa busca de relações mais interativas entre a estrutura e as funções dos sistemas. Muitos
cientistas rejeitam o princípio de Lotka por falta de demonstração, mas os ecólogos, como Eugène
P. Odum (que difundiu a Teoria dos Ecossistemas, que se baseia profundamente nesse princípio de
Lotka-Volterra) defendem esse princípio como uma das bases mais importantes da ciência atual. Diz o
postulado de Lotka-volterra:
“Natural selection will operate so as to increase the total mass of the organic system, and to increase the
rate of circulation of matter through the system, and to increase the total energy ux through the system
so long as there is present an unutilized residue of matter and available energy”. [Principle of Maximum
Energy Flux] Lotka 1922
“A seleção natural operará de maneira a aumentar a massa total do sistema orgânico, e para aumentar
a taxa de circulação de matéria através do sistema, e para aumentar o uxo total de energia através do
sistema sempre que houver presença de resíduos inutilizados de matéria e energia disponível”.
Tecendo uma analogia entre o Princípio do Máximo Fluxo de Energia de Lotka-Volterra e o projeto
urbanístico, existem relações diretas entre estrutura e função, que se mostram interagentes e auto-
modi cáveis, como a relação entre o transporte de massas e o espaço terciário; a emergência cres-
cente de determinados usos podem alterar estruturalmente a implantação de determinados sistemas
de transporte, assim como o transporte, de maneira estrutural, pode ou não desencadear processos
modi cativos do uso do solo, positivos ou não, dependendo da interação entre os aspectos estruturais
dos sistemas e os usuários. Os uxos de energia de Lotka parecem se comportar de maneira muito
71 Simon, Herbert Alexander. Empirical exploitations of the Logic Theory Machine, 1958. In Simon, Herbert Alexander et al. The
sciences of the arti cial. 1996. p. 194.
72 Lotka, Alfred J. Elements of mathematical biology. pp. 437- 466
Fig. 1.1.l.8 - Milwalkee - novas formas de ocupação do espaço ao redor de rodovias, partir
dos recursos gerados com o Joint-use development (desenvolvimento a partir da mudança
corrente na demanda pública) - melhora na qualidade de vida dos pedestres e dos usuários
do entorno.
Fig. 1.1.l.7 - Berlin Lerther Banhoff - reforma e ampliação baseados no Joint-use develop-
ment (desenvolvimento a partir da mudança corrente na demanda pública)
CONCEITUAÇÃO
CAPÍTULO 1
55
semelhante aos uxos de mobilidade de pessoas, mercadorias, funções e inclusive de territórios.
Assim como a o Princípio do Máximo Fluxo de Energia propõe a sustentabilidade dos sistemas através
da revisão da relação entre estrutura e função, e Odum também o faz para a Teoria dos Ecossitemas, é
possível que a sustentabilidade no projeto urbanístico dependa de uma revisão entre estrutura e função
dos uxos das cidades. E, para isso, as pesquisas em torno da lógica ambígua de Zadeh podem ajudar
no mapeamento de tipos de conexões e comportamentos, em relações “fuzzy” (que não são necessa-
riamente excelentes -1- e nem impraticáveis – o - mas satisfatórias em vários graus de aceitação). As-
sim como o mencionado site da Amazon, que é uma ferramenta que vai relacionando os livros que um
usuário escolhe como os livros que outros compraram, para poder sugerir títulos novos à esse usuário,
de acordo com uma racionalidade de aceitação, e vai se personalizando a cada usuário, porém, sem
deixar apresentar ao alcance de qualquer uma visão global de menus para que este possa fazer, de
maneira imprevista, uma escolha fora do seu costume de preferências. E essa escolha começa a ser
incorporada nas preferências daquele usuário, mas com importância secundária.
Assim, talvez exista uma melhor possibilidade de o projeto urbanístico continuar avançando em direção
a melhores relações de participatividade, mais condizentes a com a de nição simples que o sociólogo
Richard Sennett demonstra esperar da “arquitetura de amanhã”.
A arquitetura de amanhã será, portanto, um meio de modi car os atuais conceitos de tempo e de
espaço. Será um meio de conhecimento e um meio de agir. (...) O complexo arquitetônico será pas-
sível de modi cação. Seu aspecto pode mudar em parte ou totalmente, segundo a vontade de seus
moradores. (...)
73
73 Sennett, Richard. The Conscience of the Eye: The Design and Social Life of Cities. 1990. p. 107.
Fig. 1.1.l.8 - condomínio residencial com acréscimo de multi-uso na base, utilizando o
conceito do Joint-use development, em Nova York Melhor qualidade ambiental, melhoria nos
acessos devido à melhor abertura aos espaços públicos. Melhoria no valor do condimínio
para os moradores dos edifícios residenciais, já que o ônus passa a ser assumido pelo
aluguel dos espaços multi-uso. .
Fig. 1.1.l.9 - Com a possibilidade de soluções de troca de potencial construtivo, como no
Joint-use development, o espaço privado pode agregar qualidades de mobilidade e regener-
ação ambiental em áreas construídas.
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
56
1.2. O que é uma rede urbana estruturada a partir da mobilidade dos indivíduos
Entendemos a rede, nessa tese, como uma forma de abordagem cientí ca estrutural de elementos
que interferem na organização do espaço urbano. Em diversas áreas do conhecimento, as redes
parecem ser sempre relações estruturais de sistemas que se manifestam espacialmente. Exemplos
signi cativos da abordagem em rede, em outras áreas do conhecimento, são: as redes computacionais
(desenvolvidas a partir das pesquisas sobre a lógica fuzzy, de Lot Zadeh, como vimos); as redes
sociais (que se recriam a partir da interação humana, com uma visão territorial dinâmica, como as
redes conceituadas pelo geógrafo Milton Santos); as redes econômicas (desenvolvidas a partir das
investigações sobre competitividade iniciadas pelo economista Friederich Hayek – as teorias das
redes de Hayek provocaram críticas e defesas, mas criaram um novo campo de estudos sobre a
competitividade dos mercados econômicos) entre outras.
A maneira como evoluem as relações estruturais dos sistemas que se manifestam espacialmente
parece ser o principal questionamento que torna semelhantes as abordagens em rede elaboradas
por várias áreas do conhecimento. Esse questionamento em várias áreas do conhecimento tem, de
maneira geral, o objetivo de veri car formas de se obter estruturas que evoluam espacialmente, mas
que apresentem cada vez melhor transitoriedade, e por isso possam resultar em relações espaciais
com melhor capacidade de interação com os usuários. Por esse motivo, a contribuição das teorias sobre
redes, desenvolvidas por outras áreas do conhecimento, são tão valiosas para o projeto urbanístico.
No caso do projeto urbanístico, vimos (no item 1.1 dessa tese) que os homens intervêm naturalmente
no espaço, nos sistemas sociais e nos recursos vitais, buscando espacializar suas interações através
dos territórios. Essa idéia dinâmica de território nos leva à compreensão de que, no projeto urbanístico,
as redes são formadas pelas espacializações de territórios, que ocorrem a partir da associação de
a nidades entre indivíduos.
Durante muito tempo, entretanto, para os urbanistas, as relações estruturais nas cidades se davam a
partir da relação direta entre espaços (sejam estas, por exemplo: a relação formal, a relação racional,
a relação funcional, como vimos). A análise dos paradigmas de apropriação territorial, desenvolvida no
item 1.1 dessa tese, permitiu observar que quando as cidades são compreendidas apenas através da
relação entre espaços, estas se tornam extremamente rígidas. Na maioria dos casos em que foram
detectados exemplos de extrema rigidez da trama urbana, foi possível notar que os paradigmas de
estruturação espacial das cidades apresentavam falhas e provocavam o surgimento de redes informais
de mobilidade. Essas anomalias parecem ter ocorrido por um problema comum a todos os locais que
apresentaram rigidez: o espaço passara a representar limites à mobilidade natural dos territórios.
Diferentemente do espaço, que pode ou não ser dinâmico, os territórios parecem ser naturalmente
Fig. 1.2.1- limites físicos e con itos territoriais - croqui esquemático
CONCEITUAÇÃO
CAPÍTULO 1
57
dinâmicos
74
, já que são compostos por diferentes con gurações entre as a nidades dos indivíduos, que
mudam a cada dia. Quando as redes urbanas estão muito mais em acordo com a dinâmica territorial
do que com os limites espaciais da trama urbana, estas podem se tornar organismos que aprendem
e se desenvolvem, e se modi cam inclusive de maneira estrutural. O território, a partir desse ponto de
vista, tende a se materializar na dinâmica de conexões dos indivíduos, e as redes urbanas tendem a
constituir organismos que se constroem e se renegociam constantemente, através da representatividade
dos indivíduos: das suas memórias, experiências e expectativas. Assim, não é mais possível abordar
a estrutura urbana apenas através da relação entre espaços, quando o conceito de território, como
caracterização do limite espacial, com qualidades especí cas, evoluiu para uma caracterização móvel,
associada ao indivíduo que se move no tempo e no espaço - um novo conceito de indivíduo, que tem
agora uma capacidade constante de comunicação.
Vimos, no primeiro item dessa tese, que a revolução na teoria do conhecimento (a mudança na forma
como o homem mudou sua visão de estrutura social, de fé, de estado e de cidadania) foi responsável
por associar, em alguns períodos históricos, melhor mobilidade aos territórios. Para compreendermos
esse processo, detectamos as principais mudanças que a evolução na teoria do conhecimento causou
no entendimento estrutural do espaço urbano. As teorias do conhecimento levaram a humanidade
a perceber a interação entre grupos sociais de várias maneiras, ao longo desse período analisado,
de nindo diversos tipos de mobilidade territorial, o que resultou em diferentes conformações espaciais.
Assim, a análise paradigmática de apropriação territorial das cidades permitiu observar que a revolução
na teoria do conhecimento foi transformando a rigidez das estruturas espaciais de localização nas
estruturas espaciais que se moldam a partir da mobilidade interpessoal dos territórios.
A análise paradigmática do projeto urbanístico permitiu investigar a maneira como o conhecimento
em cadeia possibilita a constante revisão da organização do território, e permite que o território seja
entendido como o fator multi-temporal de alteração dos signi cados do objeto arquitetônico, na rede
urbana. Através da análise paradigmática da organização espacial das cidades é possível observar que
as primeiras localizações aconteceram fundamentadas na relação espacial de centralidade simples.
Mais tarde, diluiu-se espacialmente a centralidade – descobriram, com isso, e centralidade funcional
(desenvolvida pelos neoclássicos). A centralidade funcional trouxe a relação temporal para as relações
locacionais, e uma signi cativa mudança no potencial de produção de trabalho, o que alterou a estrutura
espacial das cidades, que se fundamentaram, em princípio, no próprio espaço, depois no tempo, e
atualmente, nos uxos inter-pessoais.
A cidade contemporânea transforma-se continuamente, em grande velocidade, e não necessita de
territórios estáticos que determinem limites espaciais. Tudo evolui a partir da vivência e da experiência
quotidiana, tendendo assim a adquirir sempre novas qualidades e a assumir diferentes identidades.
Assim, a mobilidade é, por natureza, uma das características mais evidentes na conceituação de uma
74 No ítem 1.8 dessa tese veremos como o conceito de território passou por modi cações signi cativas durante o século XX, e
o conceito de limite territorial foi dissociado do conceito de limite espacial, por contribuição das ciências humanas.
Fig. 1.2.2- o território urbano organizado em rede, a partir de conexões estruturais
territórios se sobrepoem e se interpolam - croqui esquemático
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
58
urbanidade complexa, entendida através das redes, em que os recursos, os bens e as populações
não são estáticos no espaço, mas transitórios, e apresentam-se constantemente em processos de
transformação. Neste sentido, a cidade contemporânea representa-se preferencialmente através das
relações que os espaços de interface (o espaço terciário, o transporte de massas e as conexões de uso
público) estabelecem entre si.
A mobilidade estrutura sistemas referenciais do espaço através da sua característica temporal,
e materializa a dinâmica territorial a partir da experiência individual. Na rede urbana e ciente, a
referência de deslocamento parece estar na habilidade de codi cação de informações dos indivíduos:
na possibilidade de construção do conhecimento em cadeia. Veremos no capítulo 2 que a metodologia
de projeto urbanístico apresentada nessa tese busca veri car, analisar e interagir com o processo de
materialização territorial, que parece ocorrer a partir da mobilidade inter-pessoal. Busca-se veri car
de que maneira o espaço urbano pode adquirir melhores condições de adaptação e exibilização,
se estiver estruturado de maneira colaborativa. Por esse motivo foi fundamental a investigação de
como surgiu o conceito das redes de territórios inter-pessoais, ao longo da pesquisa realizada para a
elaboração dessa tese.
Através da análise de como o interesse pelas matrizes estruturais do espaço se transformou no
interesse pela mobilidade inter-pessoal permitiu a observação, através desta pesquisa, de algumas
possibilidades do papel do estado e do papel privado, nas parcerias público-privadas, na gestão territorial
e na materialização espacial dos interesses pelo uso do solo. Observou-se que o empreendedorismo
pode aumentar a liquidez do espaço urbano, e melhorar, com isso, a capacidade de exibilização das
estruturas urbanas. Essas redes estruturais que se formam podem permitir, assim, uma mais rápida
acomodação funcional, quando ocorrem estruturadas a partir da capacidade colaborativa entre as
centralidades, como veremos a seguir.
A possibilidade de compreender os propósitos sociais que sustentam ou minimizam o potencial do
espaço urbano em gerar trabalho pode tornar mais transparente a de nição de estratégias projetuais que
buscam agregar valor a uma área de intervenção, a partir do projeto urbanístico como uma ferramenta
estratégia de visualização das possibilidades; e demonstram que estrutura urbana, se abordada a partir
das potencialidades colaborativas, tendem a aprender a se acomodarem, enquanto que, desprovidas
da possibilidade colaborativa, a estrutura urbana caótica, como já foi mencionado, tenderia a se alastrar
horizontalmente e a consumir os recursos não renováveis em progressão exponencial.
Mas como a rede de estruturas colaborativas pode funcionar efetivamente, do ponto de vista do projeto
urbanístico?
Desde que o imperador Constantino de Roma transferiu a capital da cidade para Constantinopla, as
redes que interligam funções urbanas de forma dinâmica a partir do comércio, dos serviços, e da
logística de transporte de pessoas e mercadorias em massa, são utilizadas como estratégias para
Fig. 1.2.3-As redes não colaborativas - um novo elemento inserido provoca o alastramento do
sistema como um todo - croqui esquemático (entropia - 2.Lei da Termodinâmica)
CONCEITUAÇÃO
CAPÍTULO 1
59
viabilizar as revitalizações estruturais de cidades ou de pequenas áreas urbanas.
Uma breve análise histórica dos conceitos relacionados às teorias conhecidas sobre as formas de se
empreender formas de uso do solo urbano nos permitiu veri car que os empreendimentos criados com
a nalidade de reorganizar o espaço urbano parecem seguir lógicas muito semelhantes aos ciclos
paradigmáticos descritos no item 1.1 porque relaciona as diversas lógicas centralizantes que foram
criadas em diferentes épocas e contextos, com a capacidade de valorização dos empreendiemntos.
Esses processos de investigação sobre a estrutura de valorização dos empreendimentos resultaram
em espaços que correspondem tardiamente aos detectados na análise paradigmática da organização
da trama urbana. Por esse motivo, muitas formas de empreender o solo urbano normalmente repetem
problemas já detectados nos paradigmas urbanísticos, ocorridos décadas, muitas vezes séculos
antes.
Veremos no ítem 1.2.1 que os empreendimentos que resultaram em espacialidades urbanas semelhante
à organização estrutural clássica de trama urbana começaram a surgir a partir dos conceitos de
empreendedorismo e liquidez espacial, criados pelos siocratas no séculos XVIII, receberam grande
in uência dos conceituadores da livre-concorrência, principalmente no século XIX, e da Teoria do
Mercado de Terras, que permitiu a incorporação de terras mais afastadas, dando origem às teorias
de localização. Esses empreendimentos que resultavam em espacialidades urbanas clássicas se
caracterizaram principalmente pela demanda centralizada, e gerava centralidades muito semelhantes
aos centros urbanos clássicos (vide ciclo paradigmático 1, no ítem 1.1 dessa tese). Entende-se que os
limites que esta forma de centralidade ofereceu resultaram em modelos estáticos, através dos quais a
localização e ciente era determinada em função de uma única dimensão também estática de espaço: a
distância. Por esse motivo, a visão clássica de organização do espaço das cidades foi, provavelmente,
entendida mais tarde como reducionista de uma realidade mais complexa.
No ítem 1.2.2, veremos que as teorias neoclássicas de localização foram importantes para a
revisão dos modelos de centralidades criados com o objetivo de estruturar o espaço, baseados em
uma demanda rigidamente localizada. Houve um provável objetivo de desconstruir a espacialidade
clássica da centralidade estática já que os modelos clássicos de empreendimento do espaço urbano
não se apresentavam compatíveis com as características dinâmicas e de crescimento dos mercados
consumidores. Surgem assim as primeiras tentativas em estruturar o espaço, a partir da fragmentação.
As propostas neoclássicas trouxeram ao conceito das redes a idéia de demanda dispersa, apesar de
não apresentarem ainda soluções estruturais regionais. Os modelos neoclássicos de localização deram
origem aos policentros, e outras estruturas ainda rígidas, porque se referenciam em modelos ainda
baseados em uma única dimensão de uso do solo, ainda que re-organizada: o espaço fragmentado
(fractalizado) e reorganizado. São as redes sicistas (vide a relação paradigmática de organização
espacial com o item ciclo paradigmático 2, no ítem 1.1 dessa tese)
Fig. 1.2.4 - As redes colaborativas - um elemento inserido pode gerar efeitos variacionais,
mas a rede é capaz de se adaptar (variações internas) e não expandir - croquis esquemático
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
60
No íten 1.2.3 veremos que as tentativas de quebra de rigidez das estruturas neoclássicas propostas
uma nova dimensão à lógica estrutural dos empreendimentos, diferente do tempo e da distância de
localização: a incerteza. A partir do questionamento dos modelos neoclássicos, passou-se a incluir
os hábitos humanos como elementos referenciais de deslocamento e localização. A possibilidade de
adaptação da rede passa a ser considerada unidade de valor estratégico. A rede cujo caráter estrutural
admite a incerteza incorpora alguns conceitos como a decisão estratégica, a verticalização como
fatos de valorização do solo, a percepção ambiental como motivo para se exibilizar as estratégias
de resposta rápida; e as teorias estruturais corporativas, especializadas e mais exíveis. Tornou-se
necessário investir em uma melhor comunicação. A rede da incerteza como estratégia ao paradigma
funcionalista se caracterizam por incorporar às revitalizações estruturais com novos conceitos que
permitem a mudança exível de funções (e se assemelham, do ponto de vista do resultado espacial, à
organização discutida no ciclo paradigmático 3, no ítem 1.1 dessa tese).
A partir da conceituação da rede como estrutura, houve uma investigação da forma como se processa
a dinâmica espacial, a partir das particularidades internas da rede. A rede deixou de ser compreendida
a partir das referências construídas a partir da incerteza, da temporalidade, das ações oligopolistas, e
da interação simplesmente empírica com os padrões emergentes; e começa a ser abordada a partir
do conhecimento em cadeia, que é capaz de provocar a revisão dos padrões regionais a partir da
mudança do espaço local, invertendo a lógica escalonar e hierárquica de compreensão espacial.
A rede desenvolvida a partir das relações interpessoais permite a possibilidade descentralizada de
tomadas de decisões, de uma maneira diferente do que a simples interação com padrões emergentes
(como sugere Jane Jacobs ou ainda Steven Johnson, em suas análises sobre o comportamento dos
formigueiros). A rede que se desenvolve a partir das relações interpessoais, parece desempenhar
relações cognitivas não apenas com base na observação e na capacidade de interação com padrões
emergentes, mas ela carrega principalmente o aprendizado característico da qualidade do trabalho que
a reproduz. Por esse motivo, as redes urbanas parecem ser, ao mesmo tempo, objetivo e conseqüência
da sua própria existência.
No ítem 1.2.4 veremos uma outra mudança no conceito de rede estrutural urbana - a rede estrutural
regenerativa do conhecimento, como estratégia racionalizante ao paradigma complexo da informação.
Essa rede é a do espaço contemporâneo, caracterizado pela inclusão do quarto condicionante de
abordagem estrutural: o conhecimento em cadeia que resulta da necessidade de abordagens qualitativas
das relações inter-pessoais no espaço urbano (que parece se materializar espacialmente de maneira
semelhante às estratégias ao paradigma complexo discutidas no ciclo paradigmático 4 (item 1.1 dessa
tese).
Fig. 1.2.5. a evolução da percepção e do
pensamento no processo participativo de projeto
do espaço urbano - croquis esquemático
O Modelo Clássico
de estruturação espacial
O Modelo Neoclássico
de estruturação espacial
O Modelo da Incerteza
na estruturação espacial
O Modelo Regenerativo
na estruturação espacial
CONCEITUAÇÃO
CAPÍTULO 1
61
1.2.1. As estruturas urbanas e o conceito de empreendedorismo e de liquidez
espacial
Atualmente, qualquer cidadão que caminha pela rua pode perceber a in uência que a informação
desempenha nas atividades da cidade: a mídia presente, a rapidez de relato dos acontecimentos, a
realidade digital para a realização das tarefas mais simples - como um cartão de bilhete de ônibus. É
possível, assim, que qualquer pro ssional que trabalha com projeto urbanístico note facilmente que
a informação, e posteriormente o conhecimento em cadeia, provocaram mudanças signi cativas nas
teorias estruturais de projeto urbanístico nas últimas décadas, desde os tão discutidos ensaios de Mc
Luhan
75
sobre a realidade virtual e global. “Is it a fact . . . that, by means of electricity, the world of matter
has become a great nerve, vibrating thousands of miles in a breathless point of time? Rather, the round
globe is a vast head, a brain, instinct with intelligence!”
Mas é necessário considerar que essas mudanças provavelmente se tornaram possíveis porque
existiu, ao longo das últimas décadas, um processo essencial de mudança na concepção da estrutura
urbana, que pode ter levado a uma melhor integração de recursos. É fundamental considerar que, de
acordo com a pesquisa feita para essa tese, como veremos a seguir, é possível perceber que a vida
urbana normalmente se adapta às condições de virtualidade que surgem, e podem estabelecer novas
relações de integração espacial, se a visão empreendedora estiver presente na estruturação do espaço
urbano.
Veremos adiante, na análise de projetos urbanísticos, que algumas regiões revitalizadas, como o caso
da Biccocca, podem apresentar soluções urbanísticas estanques – o espaço interno do lote (ou lotes)
que recebe novo desenho adquire nova qualidade espacial, entretanto a borda desse espaço pode
continuar degradada. Imagina-se, assim, que essa revitalização realizada não provocou mudanças
estruturais no local porque se comporta de maneira estanque: uma revitalização urbana pode não ser
estrutural se não tiver a capacidade de atrair empreendedores que vislumbrem a melhora dos espaços
ao redor do empreendimento inicial.
Ou, ao contrário, imagina-se que uma revitalização urbana pode ser estrutural se for capaz constituir
pólos de interesse que se conectam à outros possíveis do entorno, e que juntos, melhoram a capacidade
de liquidez do solo ao redor, e podem desempenhar a possibilidade de atrair a visão empreendedora.
Imagina-se que um bom projeto urbanístico pode existir quando os empreendedores têm a possibilidade
de criar novas redes de relações de liquidez espacial, sobre aquele mesmo espaço urbano que está
sendo projetado. O empreendedor só consegue interagir com o espaço urbano quando ele é pode
vislumbrar a capacidade de liquidez – o que lhe gera retorno. Entretanto, existem várias formas de
participação dos empreendedores nos processos de revitalização das cidades – bené cas e malé cas
75 McLuhan Marshall; Powers, Bruce R. The Global Village: Transformations in World Life and Media in the 21st century.
1989. p. 27
Fig. 1.2.6. A Aldeia Global - Representação da frase de Mc Luhann
Fig. 1.2.7. A Aldeia Global - Representação da frase de Mc Luhann
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
62
– que podem melhorar ou causar danos ao espaço público, à mobilidade e ao exercício da cidadania
nas cidades.
Quando os empreendedores começaram a pesquisar relações estruturais nas cidades, para veri carem
os retornos e a possibilidade de mobilidade e de valorização futura dos espaços empreendidos,
começaram a abordar a estrutura urbana com uma visão muito semelhante à visão clássica de organização
do espaço urbano. Essa é a visão presente nos primeiros empreendedores que pesquisaram relações
de localização para a agricultura e para a indústria (por ex. Von Thunnen e Ricardo, como veremos a
seguir). Porém, essa primeira intenção de agregar valor ao solo trouxe ao projeto urbanístico atual dois
conceitos que ainda hoje são importantes para a compreensão das revitalizações urbanas, que têm a
qualidade de serem estruturais: são os conceitos de empreendedorismo e de liquidez espacial, criados
pelos economistas clássicos e muitos explorados pela geogra a espacial.
Esses dois fundamentos – o empreendedorismo e a liquidez espacial - são importantes para a
compreensão das possibilidades de regeneração espacial nas estruturas urbanas em rede, porque
parecem desempenhar in uências signi cativas na forma como o espaço terciário é hoje estruturado a
partir da mobilidade inter-pessoal.
Quaisquer lógicas estruturais urbanas (inclusive as lógicas estruturais aplicadas nas áreas de
revitalização urbana) somente se tornam possíveis se associadas à economia de mercado (e portanto,
associadas à visão empreendedorista e à capacidade de liquidez do espaço), porque se justi cam
apenas pela possibilidade de liquidez associada ao espaço.
Segundo o economista e consultor de
políticas públicas Robert Formaini
76
, só é possível existir qualquer lógica estrutural do espaço urbano
se houver a possibilidade de se empreender qualidades ao espaço. As qualidades atribuídas ao espaço
urbano representam valores, já que os empreendedores geram produtos e materializam o espaço
construído.
Porém, de onde vem a idéia inicial de que é possível se empreender qualidades ao espaço, com o
objetivo de que os espaços com certas qualidades atribuídas passem a representar novos valores?
Quais os problemas já detectados pelos empreendedores que compreenderam o espaço urbano de
maneira rígida? Existem exemplos de empreendimentos que comprovadamente estão melhorando a
qualidade de vida dos usuários, a mobilidade urbana e a qualidade do espaço de uso público? Em que
aspectos a evolução de alguns conceitos utilizados por economistas, geógrafos e planejadores urbanos
na construção nas inúmeras lógicas de desconstrução da localização, pode trazer contribuições para
o projeto urbanístico?
No início do século XVIII, um grupo de pensadores, chamados siocratas, se destacaram na França por
seus pensamentos que relacionavam as estratégias de estruturação espacial com a economia urbana.
76 Formaini, Robert L. The engine of capitalist process: entrepreneurs in economic theory. Economic & Financial Review;
10/1/2001 pp 18.32.
Fig. 1.2.8. Fromas empreendedoristas de revitalização estrutural, que provocaram a melhoria
das áreas residenciais e outros usos lindeiros associados à áreas projetada - Vancouver
Waterfront - plano estrutural.
Fig. 1.2.9. Fromas empreendedoristas de revitalização estrutural, que provocaram a melhoria
das áreas residenciais e outros usos lindeiros associados à áreas projetada - Vancouver
Waterfront - vista de área de recuperação ambiental.
CONCEITUAÇÃO
CAPÍTULO 1
63
Apesar de os siocratas se oporem às teorias mercantilistas - porque imaginavam que, enquanto a
agricultura era capaz de criar riqueza, a indústria somente transformava a matéria, posicionando-se
contra a produção (como bene ciamento da matéria-prima), contra os lucros com a circulação e com o
consumo - os siocratas dividiram os produtores do mercado econômico em duas classes: as pessoas
contratadas, que recebiam um valor xo; e as pessoas que recebiam retornos incertos, mas que tinham
a capacidade de surpreender, de descobrir. Assim, os siocratas vislumbraram o que, mais tarde, viria
a ser o hábito de empreender.
O siocrata que mais se destacou foi o primeiro grande economista teórico Richard Cantillon
77
, com Essai
sur la nature du commerce en general (traduzido como Ensaio sobre a natureza do comércio em geral).
Para Cantillon, os empreendedores signi cavam agentes de equilíbrio do mercado nanceiro. Mas foi
Françoise Quesnay
78
, o primeiro siocrata a mencionar as qualidades de um proprietário empreendedor
que intervém no espaço, na terra. Para Françoise Quesnay, o empreendedor é “aquele que trabalha
com incertezas, organiza e supervisiona a produção, introduz novos métodos e novos produtos, e
procura novos mercados. Para que isso acontecesse, ele precisaria con ar no governo, que forneceria
liberdade máxima de ação em seus empreendimentos”. Quesnay foi assim o criador do paradigma do
pensamento siocrata de organização do espaço da produção (das cidades e do campo), embasado
por regras da liberdade natural do mercado, e defendia, assim, a liberdade econômica. Dessa forma
Quesnay estabeleceu os primeiros conceitos da lei de oferta e procura, que hoje, de maneira muito
mais avançada, servem inclusive para caracterizar qualitativamente os investimentos em áreas que
necessitam de revitalização urbana.
Os economistas políticos franceses, que sucederam Cantillon e Quesnay continuaram a desenvolver
os conceitos de empreendedorismo. Anne-Robert-Jaques Turgot
79
defendeu, em 1758, pela primeira
vez, que os riscos do empreendedor provêm de um capital que não lhe pertence. Segundo Formaini,
essa conclusão de Turgot se deve ao fato de o mercado ainda estar cru, na época, o que tornava o
capital institucional disponível ainda raro. Essa associação de Formaini - da habilidade empreendedora
com a institucionalização do capital - tem especial interesse à esta pesquisa, porque discute o papel
institucional do estado, em comparação ao poder institucionalizante ad-hoc, da iniciativa privada. Mais
à frente, no capítulo 2, haverá a discussão sobre as propriedades estruturais do projeto urbanístico
– observa-se que a exibilização institucional traz maior mobilidade ao capital empregado, agregando
melhor competitividade ao espaço revitalizado.
Como ressalta Formaini, os franceses souberam entender o capitalismo, de uma forma mais semelhante
ao que ele é hoje, e possuíam conceitos mais precisos e complexos sobre empreendedorismo e
valorização do uso atribuído ao solo. Porém, os ingleses instituíram as relações produtivas de maneira
77 Cantillon, Richard. Ensaio sobre a natureza do comércio em geral. 1755. Ed. Utilizada - trad.português 2000. pp. 47.51
78 É de Quesnay a conhecida frase: “Laissez-faire, laissez-passer, le monde va de lui-même” (deixar fazer, deixar passar,
que o mundo vai por si mesmo). Através do conceito sintetizado por esta frase, Quesnay ilustrou o conceito de oferta-procura.
Quesnay Françoise. Quadro Econômico. Ed. Calouste Gunbelkian, Lisboa, 1985.
79 Turgot. Anne Robert Jaques 1758. Trad. Discurso sobre el progreso humano. 1999. Pp.25-29.
Fig. 1.2.10. Fromas empreendedoristas de revitalização estrutural, que provocaram a melho-
ria das áreas residenciais e outros usos lindeiros associados à áreas projetada - Parque das
Nações em Lisboa
Fig. 1.2.11 Intervenção estrutural - Parque
das Nações em Lisboa eixo principal
Fig. 1.2.12 Intervenção estrutural - Parque
das Nações em Lisboa- áreas culturais
Fig. 1.2.13 - Conexão entre a Estação Oriente e o Parque das Nações - intervenção urbana
estrutural - Lisboa, 1995-1998
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
64
direta com potencial produtivo do solo. Isto fez com que os conceitos franceses precisassem ser re-
analisados mais tarde, para que fossem re-descobertos e reutilizados como referência.
Passaram-se duas décadas até que Adam Smith
80
publicou The Nature and Causes of the Wealth of
Nations, em 1776. É importante ressaltar que, tanto na leitura dos ensaios de Adam Smith, quanto
nas passagens de O Capital, de Karl Marx
81
, não se encontra o empreendedorismo mencionado como
característica importante aos ensaios econômicos. A ausência da visão empreendedora nos ensaios de
ambos (já que são referências primordiais que relacionam espaço, valor da terra e trabalho) é explorada
justi cada por Formaini. Foi essa indagação, inclusive, que nos levou a averiguar esse autor, no âmbito
dessa tese. Segundo o economista, a ausência de uma visão empreendedorista nos primeiros ensaios
que relacionam espaço, valor da terra e trabalho – de Adam Smith e Karl Marx - ocorreu porque a visão
empreendedorista é resultado da forma empírica francesa, e o empiricismo da forma francesa de se
empreender não era adequado ao foco de ambos: segundo Formaini, a realidade inglesa, na época de
Smith o levava defender um conceito de usura, de acordo com o qual, o estudo do lucro dos proprietários
não se fazia importante. Karl Marx, por outro lado, estava preocupado em pesquisar as condições do
trabalhador (que tinham um ganho xo); e o capital, para Marx, era determinado em relação ao valor
que o espaço poderia ter - a partir da possibilidade de trabalho (realizado pelo empregado), que ele
pudesse gerar. Marx também não estava interessado em investigar as capacidades empreendedoristas.
Talvez por esse motivo (ou também por esse motivo), a visão empreendedorista de espaço urbano (que
considera que a grande chave da mobilidade do espaço da cidade é a capacidade de mobilidade de
capital privado) seja inconcebível - senão inaceitável - por parte dos pesquisadores que investigam
relações estruturais do espaço urbano (a partir das mudanças nos conceitos de valor da terra e de
trabalho) puramente embasados pelas visões de Marx ou Smith.
Porém, a realidade inglesa trouxe, com a revolução industrial, experiências que resultaram em conceitos
até hoje utilizados na estrutura de espaços urbanos renovados. No século XVI, a Inglaterra dependia
do mercantilismo. Na política mercantilista a obtenção de metais - prata e ouro – era considerada
a maneira mais importante de trazer enriquecimento para o país. No século XVII, o mercantilismo
começava a entrar em crise, e os ingleses precisaram encontrar formas de manter esse sistema. Surgiu
assim, a necessidade de exportar para se conseguir prata e ouro.
A necessidade de exportar fez com que, no século XVIII e XIX, os ingleses tivessem consciência
da verdadeira fonte de riqueza do país: a capacidade produtiva das indústrias. Assim, o pensamento
econômico inglês evoluiu a partir de re exões sobre as mudanças da sociedade, que começava então
a ver as vantagens da produção. Começaram a surgir, então, obras sobre as causas da riqueza, sobre
a divisão do trabalho, os salários, a ação do Estado, e também sobre o liberalismo econômico. De
um lado, o empreendedorismo francês não teve continuidade nas teorias da escola inglesa. De outro,
80 Smith, Adam. Inquiry into the Nature and Causes of the Wealth of Nations. Ed, 1993. pp. 67-71 / pp. 123-127
81 Marx, Karl. O capital. Trad. do original por Samuel Moore and Edward Aveling . Editado por Frederick Engels. Transcrição
digital em http://www.marxists.org/archive/marx/works/1867-c1/index.htm.
Fig. 1.2.14 - O parlamento inglês surgiu a partir do momento em que os proporietários de
terras começaram a atribuir uma visão empreendedorista à terra, buscando melhor e ciência
em menores espaços ( enquanto os reis e demais proprietários de grandes extensões de
terra não se preocupavam em criar políticas de e ciência, já que produziem com disperdício
e ganhavam pela grand extensão.
Fig. 1.2.15. Na França, como não houve o processo de discussão de trras como no
Parlamento Inglês, a queda da Bastilha representou o questionamento ao poder que a igreja
exercia, como consequência, uma questionamento às relações territoriais e à propriedade
de terras.
CONCEITUAÇÃO
CAPÍTULO 1
65
a forma inglesa de pensar as relações econômicas re etiam as mudanças estruturais e con itantes,
enfrentadas pela sociedade industrial, e essas mudanças estruturais foram importantes para entender
os modelos de localização industrial: o liberalismo defendido pelos ingleses propunha a não intervenção
do Estado na capacidade de produção, na distribuição de riquezas e no mercado. Esta nova política
foi defendida por Adam Smith, Thomas Malthus
82
, David Ricardo
83
, James Mill
84
, Nassau Senior
85
, entre
outros, que constituíram a Escola Clássica Inglesa.
A obra de Adam Smith, dessa maneira, enfatiza um ponto importante entre a relação estrutural do
espaço urbano e a mobilidade estratégica das cidades: ao contrário do que pensavam os mercantilistas,
para Adam Smith, não havia necessidade de o Estado intervir na economia, pois esta era guiada pelas
leis naturais do mercado - a “mão invisível”: a concorrência e a competição entre os produtores, que
determinavam o preço das mercadorias e eliminavam os concorrentes sem e ciência, assim o próprio
mercado poderia regulamentar naturalmente a economia, trazendo a harmonia social, sem a necessidade
da intervenção da autoridade pública. E assim a livre-concorrência passou a representar uma mudança
fundamental nos interesses sobre o espaço produtivo através da óptica da localização e ciente. Com
a não-intervenção de estado no mercado e nem na distribuição dos lucros, a estratégia de distribuição
e consumo começou a depender de condicionantes espaciais para se mostrarem e cientes. Mas ainda
que a concorrência seja um problema estudado até os dias atuais, por conta da má utilização de
mecanismos gerados pela concorrência em casos especí cos
86
, foi a partir das idéias de Adam Smith
que começou a preocupação em adequar os interesses da produção à e ciência de distribuição para a
sociedade. Aos poucos, os conceitos de livre concorrência, levantados por Smith, passaram a instigar
os primeiros questionamentos sobre as vantagens em se estabelecer em determinados locais. E assim,
começaram a surgir, no contexto industrial, as primeiras localizações planejadas.
Já a Teoria do Mercado de Terras surgiu com o grande crescimento das cidades, decorrentes da primeira
revolução industrial, quando as disputas de terras entre latifundiários e industriais começaram a se
tornar freqüentes. Enquanto os industriais defendiam a livre-concorrência, os latifundiários passaram
a reivindicar uma política de proteção à agricultura, exigindo que o Estado impusesse restrições mais
fortes às importações de gêneros agrícolas. Com base nestas reivindicações, a Teoria do Mercado de
Terras tinha, inicialmente, a nalidade de criar modelos pra representar e simular a melhor relação entre
o espaço e a produção.
A investigação sobre a estruturação do espaço das cidades, a partir de uma lógica que justi cava a
82 Malthus, Thomas Robert. Principios de economia política. Ed. Original em 1817. Trad. Ed.1998. pp 29-33 / pp 83-85
83 Ricardo, David . Princípios de economia e de tributação. Ed. Calouste Gulbekian. Trad 1.Lisboa, 1994.Pp.23-68. Vide tam-
bém Ricardo, David in Economistas políticos. 2001. Pp. 94-127.
84 Mill, James. Ensayo sobre derecho y política. 1805. Trad. Ed. Comares, 1995. Pp. 26-75.
85 Senior, Nassau W.. Political Economy (1790-1864) 1854. em http://www.econlib.org/library/Senior/snPContents.html. Cap.
2-4.
86 Discutidos amplamente por Rajan, Raghuran e Zingales, Luigi. Salvando o capitalismo dos capitalistas: acreditando no
poder da livre concorrência
Fig. 1.2.16 - Representação das relações pessoais de participação do cidadão no espaço
público no modelo clássico. A compreesão do espaço coletivo não passa pela observação e
nem pelo pensamento - todas as formas de expressão no espaço público ocorre a posteriori.
A compreensão do espaço público ocorre diretamento e de maneira imposta. Não há formas
participativas nem na apreensão nem na intervenção do espaço público.
Fig. 1.2.17- Darlington, 1825. Cenário da aplicação das primeiras teorias do mercado de
terras. A visão da menor propriedade e ciente, em contraposição às grandes glebas de terras
improdutivas na nobreza e do clero.
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
66
valorização com base em um mercado de terras deve-se a Thomas Malthus. Malthus desenvolveu
vários estudos que relacionavam a valorização da terra com a capacidade de produzir trabalho e
recursos, geralmente intrigado com a relação que conseguia notar entre a capacidade individual de
exploração dos recursos que a terra poderia oferecer em contradição às necessidades da população.
Mais tarde, esses estudos de Malthus começaram a ter as contribuições de David Ricardo, e passaram
a constituir tentativas estruturais de organização do espaço das cidades.
Thomas Malthus, que foi in uenciado principalmente pelo pensamento político iluminista escocês do
lósofo David Hume
87
(que desenvolveu uma descrição de uma realidade a partir do ponto de vista
emocional e relativo das pessoas), pelo pensamento político iluminista francês de Jean-Jacques
Rousseau
88
(que, de maneira diferente do iluminismo escocês, ensaiava sobre o ponto de vista
emocional, a liberdade, mas pensava o homem em contexto social) , e pelas idéias socialistas do
lósofo William Godwin (que imaginava que o homem não mais viveria melancolicamente, e nem teria
mais angústia; não haveria a necessidade do governo, e nem e se administrar a justiça
89
). O contato
com esses pensadores despertou uma postura crítica em Malthus, que decidiu estudar na Universidade
de Cambridge, e escrever sobre a forma como ele entendia o futuro da humanidade.
Em 1798, Malthus publicou, anonimamente, um ensaio entitulado An Essay on the Principle of Population,
as It affects the Future Improvement of Society: with Remarks on the Speculations of Mr. Godwin, M.
Condorcet and Other Writers (Um Ensaio sobre o Princípio da População, que afeta a melhoria futura da
sociedade: com observações sobre as investigações do Senhor Godwin, Monsieur Condorcet e outros
escritores). Esta foi a obra mais polêmica de Malthus, que buscava atingir os autores das idéias utópicas
que haviam se originado com a Revolução Francesa. A teoria da população, um conceito fundamental
apresentado nesta obra de Malthus, tinha a nalidade de explicar a questão social, representada
87 Hume era conhecido como a gura mais célebre, notável e controversa do iluminismo escocês. Publicou, em 1739, anoni-
mamente, as duas primeiras partes de “Tratado da Natureza Humana”, uma tentativa de criar um sistema losó co completo. A
primeira parte descreve a origem das idéias, os conceitos sociais de espaço e tempo, de causalidade, o ceticismo com respeito
aos sentidos. Na segunda parte, de ne as “paixões” do homem, e apresenta um mecanismo complexo para explicar a ordem
afetiva ou emocional no homem, e reservando uma posição subordinada para a razão. Na terceira parte, já publicada em seu
nome, em 1740, Hume descreve o bem moral em relação aos “sentimentos” de aprovação ou desaprovação que o homem
sente: a conseqüência do que agradável ou desagradável para ele ou para os outros.
88 Rousseau, um dos principais lósofos do Iluminismo francês, justi cava que a liberdade moral do trabalhador da terra
dependia da liberdade de posse desta terra. As idéias de Rousseau in uenciaram fortemente o Liberalismo. Há em Rousseau
– como demonstra Ernest Cassirer – “ um movimento de pensamento que continuamente se renova, um movimento de tal for-
ça e paixão que parece quase impossível, diante dele, refugiar-se na quietude da contemplação histórica ‘ objetiva’”.( Cassirer
Ernst, A questão de Jean-Jacques Rousseau, in: Quirino Célia Galvão & SOUZA Maria Teresa Sadek R. de. O pensamento
político clássico. 1980, p. 379). As idéias de Rousseau in uenciaram fortemente o Liberalismo.
89 entitulado An Enquiry Concerning The Principles of Political Justice and Its In uence on General Virtue and Happiness
(Um Inquérito Concernente aos Princípios da Justiça Política e Sua In uência sobre a felicidade e a Virtude em Geral). Nesta
publicação, Godwin a rmava que no futuro não haveria mais um grupo de ricos e uma multidão de pobres. Não haverá mais
guerras, nem doenças. Assim, as idéias de Godwin impressionaram Malthus
Fig. 1.2.17 - A teoria de e ciência da terra de Von Thunnen, que procurou organizar as terras
de maneira que todos os agricultores pudessem se manter com a troca dos produtos que cul-
tivavam. Antes, haviam agricultores que produziam alimentos tão perecíveis que o transporte
ao mercado de consumo, em uma maior distância, não permitia que os alimentos chegassem
próprios para o consumo. Thunnen foi o primeiro a panejar, junto com os agricultores, uma
estratégia coletiva que organizava os tipos de alimentos produzidos em relação à distância
que cada alimento deveria percorrer até o consumo. Essa teoria de Thunnen deu origem aos
modelos de localização clássicos, desenvolvidos inicialmente para as cidades indutriais, mas
que evoluíram para as diversas teorias estruturais urbanas,.
Fig. 1.2.18 - David Ricardo - Modelo explicativo de queda do valos dos aluguéis com a
distância.
CONCEITUAÇÃO
CAPÍTULO 1
67
pela crescente miséria do operariado
90
. Segundo Malthus, a miséria que se assistia na Inglaterra, era
causada pelo desequilíbrio entre os recursos naturais e as necessidades da população
91
.
A teoria de Malthus in uenciou a investigação das estruturas espaciais de Ricardo
92
, que, duas décadas
mais tarde, defendia, neste contexto, os interesses industriais, através da publicação Princípios de
Economia Política e da Tributação, desenvolvendo a Teoria da Renda Fundiária. Uma teoria de mercado
de terras que relacionava melhores rendas com a melhor localização das áreas produtivas. Ricardo
a rmava que o crescimento da população gerava a necessidade de se aumentar as áreas de cultivo,
e que, como os terrenos mais férteis já estavam ocupados, seria necessário incorporar novas áreas,
que estariam mais deslocadas das áreas de produção originais. Porém, por serem mais deslocadas da
área fértil, estas novas áreas exigiam maior adubagem e trabalho. Ricardo entendeu e assumiu que o
deslocamento da área produtiva culminaria na elevação de preços dos produtos agrícolas em geral,
e no melhor rendimento relativo, aos proprietários dos melhores solos. E dessa forma, pensou em
modelos estruturais de localização ideal para as indústrias.
Porém, de acordo com a teoria de Ricardo, o industrial que trabalhava e produzia riqueza para a nação
foi prejudicado porque seria necessário aumentar os salários dos trabalhadores, em decorrência dos
altos preços dos alimentos. Com a diminuição dos lucros dos industriais, estes deixaram de investir na
produção e passaram a oferecer um número menor de empregos. Em adição, ao invés de o aumento
do salário trazer melhor qualidade de vida aos trabalhadores, trouxe a possibilidade de ter mais lhos.
Segundo o próprio Ricardo ( já em 1827) o aumento nominal do salário fazia-os terem mais lhos e, com
isso, continuavam vivendo ao nível da subsistência
93
. Assim Ricardo concluiu que o preço natural do
trabalho depende do preço do alimento, e das conveniências necessárias a manutenção do trabalhador
e de sua família. Com um aumento no preço dos alimentos e das necessidades, o preço natural do
trabalho se eleva. Com a queda, o preço natural do trabalho cai.
94
A partir desta constatação, Ricardo
elaborou a Lei Férrea dos Salários. Alguns historiadores, como Kenneth John Braith criticam esse ensaio
sobre a lei dos salários de Ricardo, com o argumento de que provavelmente Ricardo tenha fornecido
aos proprietários industriais a justi cativa para a exploração dos operários. Nas palavras de Braith:
“Ricardo deu aos ricos uma fórmula plenamente satisfatória de se conformarem com a infelicidade
90 Malthus considerava que o trabalhador deveria receber apenas o su ciente para sua subsistência, isto é, o necessário para
cobrir as necessidades de alimentos, roupas e moradia, evitando assim, o crescimento demográ co.
91 Segundo Malthus, um homem que nasce em um mundo já ocupado não tem direito a reclamar alguma parcela de alimento
sequer. Na natureza, não há lugar para ele. A natureza intima-o, então, a sair; e essa saída não tarda a acontecer. A saída a
qual Malthus se referia era o aumento da mortalidade devido à fome.
92 É importante resslatar que, do ponto de vista da estruturação do espaço urbano, o precursor da Teoria de Localização, no
entanto, foi J. H. Von Thünen, um alemão, em 1826, em um cenário muito diferente da realidade industrial inglesa. Thünen
encontrou uma aplicação para a localização buscando ajudar os colonos a encontrar terras ideais para a produção. Entretanto,
as estruturas espaciais apresentadas por Von Thunnen não con guram relações estruturais do espaço urbano, ponto que nos
interessa para essa tese.
93 Huberman, Leo. História da riqueza do homem (1927). Ed. trad. Português, 1986.p. 210.
94 Ricardo, (1827) David. in Huberman, Leo. História da riqueza do homem (1927). Ed. trad. Português, Ed. LTC, São Paulo,
1986.p. 212.
Fig. 1.2.19 - Ilustração da realidade de Malthus, que imaginava que a população das cidades
cresceria de forma exponencial. A miséria nas cidades.
Fig. 1.2.20 - As primeiras teorias sobre a organização da terra. O mercado consumidor se
localizava no centro. Ao redor do mercado, os vários tipos produtos, organizados levando em
consideração o quento os alimentos são perecíveis, em relação à distância a percorrer
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
68
dos pobres.
95
Imagina-se que, para Ricardo, um menor esforço do governo em aumentar os salários
signi caria entrar em con ito com a lei econômica.
A princípio as teorias de localização industriais enfocaram essencialmente a análise da melhor
localização da produção, em relação ao mercado consumidor (não tinham como objetivo abordar outras
relações estruturais da cidade, ou seja, não abordava outros pontos de vista da estrutura urbana, como
as questões de localização da população mais pobre. Essas estruturas de localização iniciais foram
criadar com foco na lógica de produção). Entretanto, ainda assim são essenciais para essa pesquisa,
porque essas teorias deram início à lógicas de localização que estabelecem relações importantes com
outras questões estruturais na cidade, e foram o ponto de partida para o surgimento de outros tipos
de estrutura urbana que passaram a ser abordadas por sociólogos, geógrafos, e se deu origem aos
modelos estruturais em rede do espaço urbano, como veremos a seguir.
Wilhelm Launhardt em 1885, e Alfred Weber em 1909, foram os precursores em relacionar , através
de representações espaciais, as referências teóricas de Malthus com os modelos de Ricardo, com
o objetivo de estimar custos de localização relativo das indústrias. A estrutura de Launhardt era
monodimensional: um triângulo que representava, em dois vértices, dois inputs localizados, e no
terceiro vértice, a localização do mercado. A evolução aplicativa do modelo de Launhardt ocorreu com
o uso de algoritmos interativos, que começam a representar a distância industrial adequada, a partir
do centro de gravidade (processo aritmético), e vai ao encontro da mediana espacial. Weber utilizou
uma representação da lógica mais e ciente de organização espacial de maneira muito semelhante
ao triângulo de Lauhardt, porém, em sua solução, a localização espacial ótima não é o centro de
gravidade, e sim a mediana. Weber chegou, ainda, a utilizar um aparelho representativo espacial,
chamado Verignon Frame, para ensaiar modelos estruturais de aproveitamento do espaço urbano,
considerando a melhor localização da indústria.
Durante esses anos, nos Estados Unidos, Adna Ferrin Weber, publicava sua tese de doutorado em
1899
96
, sobre a necessidade de crescimento das cidades americanas. A tese de Ferrin estimulou o
sociólogo Ernest Burgess a criar, em 1925, um modelo de e ciência da organização das cidades, que
trazia a idéia de cidades organizadas em anéis concêntricos. Entretanto, esse modelo de Burgess
se mostrou obsoleto quando os pesquisadores das estruturas urbanas começaram a entender que
a demanda se movimenta, formando vários pólos de concentração de mercado consumidor, e assim
ocorreu uma mudança efetiva na lógica de centralidade proposta por Burgues.
Não apenas esse modelo de Burgess, mas todos os modelos clássicos de localização, de maneira geral,
parecem ter constituído diretrizes de intervenção estrutural tanto no empreendimento de novas áreas
95 Braith, Gal; Kenneth John. A era da incerteza. 1979, p. 24 e 26.
96 Weber, Adna Ferrin. The Growth of Cities in the Nineteenth Century: A Study in Statistics 1898. Reprodução eletrônica pela
Universidade de Harvard , 2005. pp 41-44.
Fig. 1.2.21 o modelo de Lauhardt para
explicar a localização ótima das indús-
trias em relação ao mercado consumidor
Fig. 1.2.22 - Aparelho experimental
criado por Launhardt - gabarito para
explicar sua relação de triângulos
- chamado de Verignon Frame
Fig. 1.2.23 - Modelo locacional
de Burguess - primeiro modelo
que considerava a organização
da trama urbana como um todo.
Fig. 1.2.24 - Modelos estruturais de dispersão, que originaram , aos poucos, modelos
estruturais espaciais menos rígidos, que evoluíram para as redes colaborativas.
CONCEITUAÇÃO
CAPÍTULO 1
69
urbanas, quanto na reformulação estrutural de áreas existentes. Mas, do ponto de vista da qualidade
estrutural urbana (aspecto focal, do projeto urbanístico, que nos interessa no âmbito dessa tese), os
modelos clássicos apresentaram tal rigidez à mobilidade urbana que provavelmente tenham provocado
o próprio questionamento da racionalidade espacial característica da era industrial.
Alfred Marshall 1890, e William Alonso, também no m do século XIX, relacionaram o conceito de
valorização do solo, com a estruturação espacial ao desenho da cidade. Os principais pontos discutidos
por Marshall e Alonso foram, pela primeira vez, a regulamentação do uso do solo, as relações espaciais
da cidade monocêntrica, as cidades policêntricas, e a idéia de subcentros (apenas como uma estrutura
espacial representativa, utilizada para estimativa de valor do solo).
1.2.2. As teorias neoclássicas de empreendimento do espaço urbano – novas
estruturas que visaram a desconstrução da centralidade xa.
As teorias neoclássicas de localização, procuram re-interpretar as teorias clássicas, e readequá-las, em
um primeiro momento, a um mercado com centralidades dispersas. As primeiras teorias neoclássicas,
procuravam, essencialmente, desconstruir a rígida estrutura econômica clássica de localização. Com o
tempo, houve a necessidade de se criar novas lógicas estruturais urbanas para que os locais recentemente
empreendidos fossem passíveis de valor agregado. Outras lógicas estruturais neoclássicas, entretanto,
foram criados visando a re-de nição conceitual de centralidade, e a re-adequação da escala local às
formas descentralizadas de se pensar a demanda.
As investigações a respeito das reestruturações de caráter empreendedorista do espaço urbano,
posteriores aos modelos clássicos, já buscavam resolver algumas incompatibilidades conceituais das
localizações clássicas. Com o questionamento da rigidez racionalista característica das teorias clássicas
de localização, começou a haver uma profunda alteração na maneira de se pensar estruturalmente as
aglomerações. Começaram a surgir estudos mais profundos sobre novas estruturas urbanas urbana e
as novas lógicas de aferição de valores relativos em centralidades dispersas. Houve a compreensão de
que o mercado consumidor é algo em constante movimento, e que a localização e ciente da produção
depende de como se compreende a dinâmica da demanda. Então esses estudos que abordavam
a localização e o empreendimento de novas lógicas estruturais que envolviam o espaço coletivo
começaram a viabilizar novas formas de se empreender o espaço urbano em relação à demanda, que
deixava de ser compreendida como xa no tempo e no espaço.
Essa investigação sobre a localização para a demanda dispersa provocou uma alteração signi cativa na
dinâmica espacial urbana: começou a ocorrer o surgimento das novas estruturas urbanas neoclássicas
que se caracterizaram principalmente por constituírem alternativas espaciais à dispersão do mercado
e também por constituírem soluções que apresentavam diferentes lógicas ao surgimento de novas
Fig. 1.2.25- Croqui esquemático que representa
a relação competitiva entre localidades ( este
ponto que difere os estudos de dispersão dos
modelos neoclássicos)
Fig. 1.2.26 - modelo de dispersão
- em preto, a área ótima para
a circulação de pedestres. Em
cinza, a circulação “otimizada” para
automóveis
Fig. 1.2.27 - Representação das relações
pessoais de participação do cidadão no
espaço público no modelo neoclássico.
Ainda existe no centro, a compreensão que
estabelece relações de conhecimento ( sem
a percepção pessoal do espaço, e sem a
re exão). A comunicação, o pensamento
e a percepção acerca da participação do
cidadão (na compreensaõ e na intervanção)
do espaço público são ações à posteriori.
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
70
centralidades.
O primeiro grande exemplo de estudo signi cativo sobre a dispersão urbana e a busca de novas
maneiras de se estruturar lógicas de valor de determinados locais, equacionados com formas de
compensação à estrutura urbana como um todo, foi publicada por Harold Hotelling
97
, que no início
dos anos 1930, desenvolveu teorias sobre os preços dos aluguéis, investigando fatores espaciais que
tornam as centralidades competitivas. Esse estudo de Hotelling originou uma visão de que as cidades se
desenvolveriam a partir do movimento da demanda, e que esse movimento de demanda provavelmente
seria capaz de vocacionar com determinadas funções, portanto valorizar o espaço urbano localizado
próximo ao movimento da demanda.
O desenvolvimento teórico mais signi cativo desta linha de estruturação espacial neoclássica parece
ter evoluído a partir do objetivo de investigar as mudanças no conceito de lugar central (que, de acordo
com as teorias clássicas de localização, surgiam a partir da idéia de demanda xa e central, a partir
da qual ocorriam as polaridades urbanas sem qualquer lógica estabelecida entre estas). As teorias
neoclássicas, de maneira geral, trouxeram uma nova visão ao lugar central – o conceito de ponto ótimo
de localização (ao invés de uma zona central ótima de localização), e passou a utilizar funções centrais
com sistemas hierárquicos.
Em que sentido, portanto, as teorias neoclássicas de fragmentação espacial foram importantes para
o projeto urbanístico contemporâneo? É válida a observação de que estas propostas representam
relações localizadas de estruturação do espaço. Nenhuma destas propostas apresentou soluções
estruturais regionais. A riqueza destas propostas, entretanto, está na transformação da maneira
de se pensar a centralidade – todas estas propostas constituem, em menor escala, pontos focais
interessantes para a discussão da preocupação com a diversidade local. Por outro lado, pode-se notar
que este conjunto de propostas que buscam a estruturação de centralidades locais, caminha em busca
de estruturas regionais, capazes de representar como seria a interação entre várias centralidades; e o
espaço intersticial entre centralidades.
Um estudo de demanda espacial muito conhecido por urbanistas, que segue essa linha de abordagem
da estrutura espacial foi desenvolvido por Walter Christaller
98
, em 1933. As teorias desenvolvidas por
Christaller, sobre o lugar central, passaram então a avaliar não apenas a questão da localização, mas
da organização do espaço urbano, ou seja, como uma cidade pode possuir vantagens de localização
em relação ao seu entorno, em decorrência de uma série de características próprias que essa cidade
pode possuir.
97 Hotelling, Harold, Stability and Competition in Economic Journal 39(1), 1929, 41- 57.
98 Christaller, Walter. Christaller [1933]: Central Places in Southern Germany 1966-pp 84-88. e Christaller, Walter, “How I
discovered the Theory of Central Places: A Report about the Origin of Central Places.” in: English, P.W. and R.C. May eld, eds.,
Man Space and Environment. 1972, pp.601-610.
Fig. 1.2.28 - Modelos ilustrativos da Tooria do Lugar Central. Ilustrações de Walter Christaller
CONCEITUAÇÃO
CAPÍTULO 1
71
De acordo com os ensaios iniciados por Christaller, muitos empreendedores passaram a utilizar como
premissa a idéia de que o poder estruturador de uma centralidade é justamente de nido pela capacidade
desta em oferecer bens e serviços para outras localidades, de uma melhor qualidade. A partir das
novas de nições de centralidade elaboradas por Christaller, passou a haver a crescente preocupação
em oferecer serviços mais diferenciados, a um maior alcance. Para Christaller, essa capacidade de
oferecer serviços diferenciados à um maior alcance seria o melhor fator de competitividade que uma
cidade poderia ter.
Outras contribuições à estrutura de lugares centrais foram feitas por August Lösch
99
, nos m dos anos
1930, que partiu de um processo semelhante ao de Christaller, mas assumiu que o custo do transporte
aumenta com a distância, o que torna o preço inviável, em relação à demanda que tende à diminuir. Para
representar esse processo, Lösch criou uma representação em cones de proximidade, que associados,
formam uma estrutura muito semelhante à de Christaller.
Equanto Hotelling, Losch e Christaller, em outros, procuravam desconstruir a idéia de centro, o
economista de Chicago Hommer Hoytt publicou, em 1939
100
, a Teoria dos Setores, apresentando o
conceito de valorização da produção, em relação às zonas concêntricas. Para Hoytt, a partir de um
centro (que apelidou de central business district – CBD) as cidades cresceriam em setores, através
das principais vias. Para ilustrar, Hoytt utilizou o Lago Michigan como CBD. O modelo de Hoytt não era
fechado em um único centro, e, ao invés de propor tramas homogêneas de centralidade, detalhava
o que era permanente e uido nos setores. Percebe-se que no modelo de Hoytt, as indústrias e as
residências mais ricas e mais pobres estão ligadas aos eixos arteriais.
Após os estudos de Hoytt, veri cou-se que a estrutura urbana não deveria ser analisada apenas do
ponto de vista das necessidades do empreendedor, mas que o empreendedor será bem sucedido se
suas iniciativas estiverem de acordo com as necessidades de outros grupos de usuários circundantes.
Assim começou a surgir um processo que hoje representa uma nova visão para as estruturas urbanas
– as estruturas urbanas em rede. As primeiras teorias urbanas estruturais mais semelhantes àquelas
que conhecemos hoje, foram formuladas por equipes multidisciplinares, e receberam contribuições
de sociólogos, geógrafos e economistas, que se reuniram para investigar as diferentes organizações
espaciais que se criam entre espaço público e privado, bem como as diferentes formas de acessibilidade
e conectividade entre esses espaços.
O modelo de Hoyt, associado à idéia de relação de mercados de Christaller, deu origem ao detalhamento
das centralidades. Começou a existir uma investigação multidisciplinar da melhor relação entre usos
que são mais acessados se associados aos uxos, e usos que são mais valorizados se estiverem
permanentes, nas centralidades. A associação dos estudos da rede de Christaller com o setor de Hoytt
99 Losch, August, “The Nature of Economic Regions,” Southern Economic Journal, Vol. 5, No. 1, July 1938, pp. 71-78.
100 Hoyt, Hommer. The Structure and Growth of Residential Neighbourhoods in American Cities Washington, 1939 Federal
Housing Administration
Fig. 1.2.29- Croqui representativo das centralidades indutriais, seccionadas pela Estrava de
Ferro.
Fig. 1.2.30 - Leitura das cidades de Indianápolis e Toledo, a partir do modelo dos setores
Fig. 1.2.31 - modelo representativo da Teoria dos Setores, por Hommer Hoytt
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
72
chamou a atenção para o fato de que, dependendo da forma como os usos se relacionam com o CDB,
eles podem formas lógicas de centralidades com diversas funções. E que, sendo direfentes, passariam
a se relacionar entre si também de maneira não-uniforme. Assim, passam a ser concorrenciais ou
agregarem valor, umas às outras, se forem colaborativas. E assim começou uma fase de exploração
das estruturas urbanas em rede, que partiu da observação, ao mesmo tempo, das relações de funções
que compõem as centralidades, e da revisão regional estrutural que essas centralidades provocariam.
1.2.3. As Teorias Estruturais Espaciais em Rede: a incerteza e a diferenciação
competitiva
Aos poucos, os estudos sobre as estruturas urbanas começaram a acusar o fato de que a dispersão
estava sendo extremamente prejudicial à evolução das cidades, já que a infraestrutura levada às terras
sem liquidez é onerosa. Os estudos sobre a competitividade espacial e o custo da terra do início dos anos
1940 já demonstravam a consciência da existência dos subúrbios e exúrbios, como áreas de uso mais
desvalorizadas, em relação ao centro. Foi nessa época que, pela primeira vez, formas mais criteriosas
de estruturar funções dispersas no tecido urbano foram mencionadas, através das publicações de
Chauncy D. Harris e Edward L. Ullmann, em 1945
101
. Harris e Ullmann publicaram a Teoria dos múltiplos
núcleos, para ilustrar como as centralidades formam vizinhanças (como, por exemplo, que hotéis, bons
restaurantes e comércio começam se aproximar naturalmente dos aeroportos, e como instituições
nanceiras tendem a se agruparem).
Quando surgiram, as teorias estruturais espaciais ainda não haviam incorporado o conceito de
diferenciação competitiva. Assim, as redes urbanas estruturais espaciais provavelmente surgiram porque
os empreendedores buscavam principalmente critérios para se relativizar a localização entre semi-
núcleos centralizantes, e reorganizá-las em estruturas propostas que funcionariam em escala local. Sob
o ponto de vista da ocupação espacial, o principal aspecto que parece ter diferido conceitualmente as
teorias estruturais neoclássicas das teorias estruturais em rede, foi a preocupação, em escala regional,
com a interação entre várias centralidades: percebe-se que nos modelos estruturais neoclássicos,
apesar das tentativas de desconstrução da centralidade, o resultado estrutural ainda permaneceu
rígido, e provavelmente por isso foi chamada de rede sicista.
O debate multidisciplinar acerca da rede como estrutura urbana, tentando solucionar problemas da
população desfavorecida, e buscar contrapartidas dos empreendedores, em escala global, começou a
existir a partir das teorias sobre as redes urbanas: a importância das conexões, dos nós, dos graus de
acessibilidade, dos fatores atratores de centralidade, das redundâncias nodais. Mas foi de nitivamente
101 Harris, Chauncy D. and Edward L. Ullman. 1945. The Nature of Cities. in Annals of the American Academy of Political and
Social Sciences 242 pp. 7-17
Fig. 1.2.32 - Representação das relações
pessoais de participação do cidadão no
espaço público no modelo generativo
A noção central da compreensão que
estabelece relações de conhecimento (
sem a percepção pessoal do espaço, e
sem a re exão) é substituída pela relação
de percepção que surge entre o usuário e
o espaço. Nesse processo há a coleta da
percapção do usuário sobre o espaço result-
ante, e as intervenções e tronam cíclicas,
a partir da comunicação entre usuário e os
pro ssionais que intervém no espaço
Fig. 1.2.33 - Harris e Ullmann - Moodelo de competitividade entre os múltiplos núcleos
CONCEITUAÇÃO
CAPÍTULO 1
73
a partir do conceito de diferenciação, publicado nos anos 1950 por Hans W. Singer
102
que as novas
estruturas em rede parecem ter começado a incorporar a competitividade por diferenciação (e não
mais por localização), e dessa forma a rigidez estrutural sicista das redes começou se tornar mais
exível.
Somente a partir da incorporação da competitividade por diferenciação nos modelos estruturais urbanos
começaram a surgir os primeiros estudos estruturais sobre as centralidades dispersas competitivas (
que poderiam vir a gerar contrapartidas sociais, ambientais, a partir da boa capacidade de liquidez). As
estruturas em rede que depois viriam a ser mais desenvolvidos por Alfonso Shimbel em 1953
103
e mais
tarde, complementado por Louis S. Hakimi em 1964
104
haviam incorporado noções de diferenciação
competitiva. E assim, a diferenciação competitiva começou a ser utilizada, junto à infraestrutura urbana
em rede, como critério de contenção do alastramento urbano, através das redes que procuravam
otimizar a infraestrutura urbana.
Cinco décadas mais tarde à publicação de The Nature of the cities, em que alertaram para os problemas
dos subúrbios, Harris & Ullmann retomaram à idéia de subcentros, e desenvolveram, em modelos,
conceitos estruturais para as Edge Cities - subcentros com moradias e serviços, afastados do centro,
que estavam sendo discutidas por Joel Garreau
105
. Para Harris e Ullmann, as formas de valorizar
(aumentar a liquidez, e por conseqüência, o valor imobiliário) e de melhorar a qualidade de vida que
estes espaços nos subúrbios poderiam oferecer dependeria do fato de existir, perto destes, facilidades
de infra-estrutura produtiva que fossem capazes de estabelecer novas polaridades.
Enquanto Harris e Ullman discutiam modelos para as edge cities, o valor da localização em função da
densidade urbana continuou a ser discutido por Colin Clark a partir de 1951
106
. E receberia contribuições
de Bruce Newling
107
em 1969, que muito próximo de Kohl, como veremos, nota a potencialidade de
concentração vertical de infra-estrutura, em alguns casos especí cos.
Mas a rede somente passou a ser compreendida como uma forma de estruturar iniciativas integradas
como melhoria da qualidade do espaço público a partir da possibilidade da diferenciação competitiva
aplicada à relação de entre espaços privados e públicos.
Com a idéia de adaptação natural a partir dos argumentos de seleção, de Armen Alchian em 1950
108
,
102 Singer, Hans Wolfgang. In Hans Wolfgsng Singer – Trabalhos in Papers publicados pela FGV no ano de 1950. pp 67.72
103 Shimbell, Alfonso. Structure in communications networks. Proceedings of the Symposium on traf c and city structure,em
Cambridge. 1953.
104 Hakimi. An algorithmic approach to network location problems, part ii: p-media ns. SIAM Journal on Applied Mathematics,.
1979. pp 539-560.
105 Garreau, Joel. Edge City: Life on the New Frontier, 1991 pp 51-55
106 Clark, Colin. Urban population densities. Journal of the royal statistical society. Series A, vol 114. n.4, 1951. pp 490-496.
107 Newling, Bruce. The spatial variation in urban population. The geographical review, vol59, ano2. 1959. pp 242-252.
108 Alchian, Armen ‘Production, Information Costs, and Economic Organization’, American Economic Review 62 - dez 1972
pp.777-795.
Fig. 1.2.34 - Croquis representa-
tivos de dispersão - da visão
neoclássica à visão de espaços
competitivos
Fig. 1.2.35 - Modelos de dispersão
entre centralidades já estabelecidas
ao longo de grandes eixos
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
74
Milton Friedman 1953
109
, e Charles Tiebout em 1957
110
as novas estruturas urbanas começaram a
incorporar a idéia de espaços ad-hoc ( que têm função enquanto existe movimento e solicitação do
espaço, caso contrário, muda de função) e in uenciou o modelo de projeção empírico e regional de
inputs e outputs, de Paul A. Samuelson em 1954
111
e Tiebout 1957
112
, que apresentaram redes urbanas
mais exíveis. Essa exibilidade funcional começa a aparecer de forma mais clara nos modelos de
Walter Isard
113
.
Walter Isard buscou novas relações estruturais de organização do espaço urbano com foco na
localização de áreas residenciais a partir de pólos industriais, e em 1956, propôs novas formas de se
pensar as centralidades urbanas, através de um novo entendimento de equilíbrio – o equilíbrio geral
inter-regional, que considerou que localidades conectadas facilmente, dentro de uma determinada
região, podem estabelecer equilíbrio funcional entre si, o que poderia tornar a região como um todo
mais competitiva.
Completando a visão associativa regional de Isard, Leon Moses
114
desenvolveu outros estudos
signi cativos sobre a localização relativa da produção industrial, e propôs o conceito do alcance das
mercadorias como elemento-chave da estruturação de novas centralidades. De acordo com Moses,
alguns produtos possuem maior alcance do que outros. O conceito de alcance das mercadorias
forneceu bases para a criação de novos conceitos essenciais para a concepção da estrutura urbana
de centralidades competitivas, como a margem de curva de custo espacial, elaborado por Rawstron
115
,
em 1958; o conceito de inputs ótimos, antes vislumbrado por Alfred Marshall em 1890, desenvolvido
por Walter Isard em 1956 (citado acima) e por Robert Moses em 1958. Esses modelos facilitaram o
equilíbrio associativo inter-regional, e ajudou na compreensão de sistemas urbanos mais complexos,
que começavam a se estruturar mito mais a partir do comércio e de serviços, do que do espaço
industrial.
Assim, na virada dos anos 1960, o sociólogo Jean-Iona Gottmann
116
, formulou o conceito de megalópolis
– a cidade que expade suas relações para além das suas fronteiras físicas, e estabelece vínculos
funcionais (e redes de uxos) com outras cidades menores ao seu redor, constituindo relações diversas
de transporte, de demanda. Nas palavras de Gottmann “Within Megalopolis many forces are pulling and
pushing at the same time” (“nas megalópoles, muitas forças puxam e empurram ao mesmo tempo”).
109 Friedman, Milton. (1953) ‘The Methodology of Positive Economies’, in Essays in Positive Economics.pp 57-59
110 Tiebout, Charles M. “Input-output in foreign trade multiplier models in urban research. Journal of the american institute.
Regional science, Univ. Of Michigan. v.1-2 1958-1960 p 23
111 Samuelson, Paul A. The Collected Scienti c Papers of Paul A. Samuelson. 1966. P. 843.
112 Tiebout, Charles M. “Input-output in foreign trade multiplier models in urban research. Journal of the american institute.
Regional science. v.1-2 1958-1960 P 38
113 Isard, Walter. Location and Space Economy. 1956. p.88: sobre a substituição residencial em áreas urbanas criadas a partir
de indústrias.
114 Moses, Leon, “Location and the Theory of Production,” in Quarterly Journal of Economics 72(1958), pp 259-272
115 Rawstron, EM Three principles of industrial location’, Transactions n.25 1958 pp 29.32.
116 Gottmann, Jean. Megalopolis: The Urbanized Northeastern Seaboard of the United States. 1961. p. 225.
Fig. 1.2.36 - O modelo de Walter Isard - Uma nova visão concorrencial para a Teoria do
Equilíbrio geral anteriormente apresentada por Christaller - uma tentativa de reconstrução de
estruturas urbanas regionais a partir da visão concorrencial
CONCEITUAÇÃO
CAPÍTULO 1
75
Gottmann chamou atenção para o que é o território de uma megalópole – algo que ultrapassa os limites
físicos e alcança até onde a infraestrutura encontra demanda, como uma linha de ônibus, por exemplo.
Se existe na região central de uma megalópole serviço para pessoas que moram em cidades vizinhas,
existirá a demanda de transporte entre essa região e o centro da megalópole. Aos poucos, a rede
começa a se expandir para além dos limites físicos da cidade, e estabelecer conexões regionais com
as cidades circundantes.
O conceito de bases estruturais, antes desenvolvido pelos linguistas George K. Zipf
117
e Edward Ullman
em 1949
118
e que gerou a idéia da centralidade estimada por algorítmos locacionais, foi revisto por
Kuenne 1962 . Kuenne demonstrou que existem melhor formas interação espacial nas bases estruturais
urbanas, se estas puderem contemplar complementaridades (ex. espaço de domínio público e espaço
de domínio privado] através de contrapartidas geradas pelo potencial de liquidez do espaço privado,
através de trocas de potencial construtivo.
Surgiu assim o desenvolvimento de novos conceitos à respeito da estrutura urbana, que foram
evoluindo, com o tempo, para as estruturas móveis das redes inter-pessoais. O conceito de alcance
das mercadorias resultou na lógica de localização de lojas âncoras e das lojas de franchising [ainda
eram sistemas defendidos de maneiras ainda super ciais por Christaller em 1933], e foram amplamente
estudados por David Huff em 1963
119
e adotados pelo geógrafo William Applebaum
120
, em 1966. Esse
conceito trouxe à tona o desenvolvimento de uma nova forma de distribuição que tornaria possível, nos
anos 70, a localização de comércios de qualidade próximos aos uxos de transportes de massas.
Aos poucos, as tramas físicas das redes estruturais urbanas também foram se tornando mais
exíveis: os conceitos de fractalidade e mudança de padrões foram associados à esses conceitos de
diferenciação competitiva, principalmente a partir dos ensaios de Richard L. Morril, em 1966
121
sobre
a organização espacial que parte da produção social do espaço. Morril resgatou idéias da matemática
fractal, e conceituou a Sociedade Informacional como interventora signi cativa no espaço urbano, como
descreveram Peter Haggett e Richard Chorley em Geography mathematical models
122
. A competitividade
por diferenciação forneceu bases para que fossem criados dois conceitos: a rede assimétrica, que é
uma revisão subsequentes de Karel J. Kansky
123
do conceito estrutural de redes, tentando estabelecer
relações de troca entre o uso do solo e a rede de infraestrutura urbana; e o conceito de especi cidade
dos recursos em relação à localização, um assunto desenvolvido por Campbell em 1970, que permitia
117 Zipf, The Darwinian Heritage (Princeton, NJ: Princeton University Press, 1985), pp. 609-38 Zipf, GK, Human Behavior and
the Principle of Least Effort ,1949 pp. 45-48.
118 Ullmann, Edward, A Theory of Location for Cities, in American Journal of Sociology, n. 46 1941 pp 835-M
119 Huff, David L.. A Probabilistic Analysis of shopping center trade areas in Land economics. 1963. vol 39, 1 pp. 81-90.
120 Applebaum, William. Methods for determining store trade areas, marketing penetration and potential sales in Journal of
Marketing Research, n. 3 1966, pp.127-141
121 Morril, Richard L. The spatial organization of society. (1966) 1970. pp 57-59
122 Chorley Richard J.; Haggett Peter. Geography matemathical models. 1967. pp. 279, 264 e 363.
123 Kansky Karel J., ‘Structure of transportation networks: relationships between network geometry and regional characteristics
1963. pp 3i.5i
Fig. 1.2.37 - O trecho Boston-Washington, considerado pela primeira vez uma
“Megalópole”por Gottman.
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
76
que vazios urbanos fossem revistos, recebessem nova vida, mesmo que não tivessem no entorno
próximo algo que estimulasse a melhoria do espaço, se fossem implantados nesses locais produtos
especí cos, como universidades – um caso semelhante, por exemplo ao utilizado nos anos 1990 na
revitalização dos Quarteirões Biccocca, em Milão, que se tratava de uma área indusrial, sem grandes
atrativos para a revitalização, onde foi implantada a Universidade da Biccoca.
Ainda no m dos anos 1960, Robert Moses e Harold Williamson
124
, demonstraram que as estruturas
presentes nas grandes cidades não apenas se alastravam rapidamente, mas que as cidades se
expandiriam a partir de seu centro, sem controle, e se tornariam imensas com as conurbações (como
cidades contíguas). Essa é a primeira publicação em que se encontra o uso desse termo, o que nos
faz crer que foram Moses e Williamson que o criaram. Moses e Williamson não só compreenderam
qua as conurbações ocorriam rapidamente, mas previram que seria necessário prover as cidades de
cinturões verdes em seus entornor (para assegurar o plantio de alimentos e a preservação de recursos
ambientais essenciais). Por outro lado, essa visão de conurbações de Moses e Williamson trouxeram à
tona a importância de concentração de infra-estrutura, para des-incentivar o rápido alastramento.
Foi através da busca de formas de como se concentrar a infraestrutura urbana, para gerar menor ônus,
que Georg Kohl e outros economistas nos anos 1970 puderam encontrar vantagens econômicas no
espaço urbano verticalizado. Para Kohl, a verticalização seria uma saída à multiplicação espacial do
valor da localização.
As Teorias Estruturais Espaciais apresentaram, também, as primeiras preocupações com o espaço
intersticial, entre as centralidades propostas. É a partir das Teorias Estruturais Espaciais, que a
localização, como valor potencial de trabalho, e as relações de centralidade decorrentes deste conceito,
foram incorporados ao ato de se desenhar a cidade. Nas palavras do incorporador Johan Kohl, “If we
could build houses on top of each other as easily as side by side, and if we could expand in any desired
direction as easily as in the horizontal, and further, if communication upwards (i.e. on a ladder or a
staircase) were as simple as in horizontal directions, and nally if light and fresh air as well as traf c
communications could be provided at considerable depths underground as easily as at upper town
levels, every town would take on spherical shape and extend its roads in all directions like a cupola.”
125
Também como resultado do desenvolvimento do conceito de bases estruturais que buscavam otimizar a
inraestrutura urbana, e melhorar a interação espacial dos usuários, surgiuram os produtos multi-planta
e localização de multi-facilidades, desenvolvidos inicialmente por Donald Dewey
126
1969 e Frederick M.
124 Moses, Leon; Williamson Jr, Harold F., The Location of Economic Activity in Cities in American Economic Review, Papers
and Proceedings, Vol. 57,1967.p.143
125 Kohl, Johan Georg , sobre e a verticalização nas cidades, in Krumme, Gunter; Beyers, William, B.. Location Theory, Se-
attle.1970. pp 71-74
126 Dewey, Donald. The Theory of the imperfect competition:a radical reconstruction. 1969, pp 34-37
Fig. 1.2.38 - Conurbação -a expansão da mancha urbana d São Paulo - preenchimento do
espaço ocupável entre centralidades
Fig. 1.2.39 - A verticalização controlada, como alternativa para a otimização de infraestrutura
urbana - Wuxi Helie Cente - proposta a ser discutida nessa tese
CONCEITUAÇÃO
CAPÍTULO 1
77
Scherer, em 1974
127
. Dewey e Scherer foram os incorporadores pioneiros na compreensão de que o
espaço pode se adaptar às necessidades dos cidadãos. Nessa década, a evolução na comunicação
estava ocorrendo de forma exponencial e se começando a fazer parte do dia a dia das pessoas através
dos micro-computadores. Começaram a surgir os caixas-eletrônicos, as bombas de combustível self-
service, e a realidade quotidiana das cidades, de maneira geral, estavam começando a sentir os
primeiros impactos da informação agora através dos computadores, no dia a dia.
Assim, na idealização da Cidade Informacional, nos anos 1980, Morril
128
detectou três principais
manifestações da Informação, na produção social do espaço: a Cidade Informacional Corporativa; a
Vizinhança Informacional, e a Cidade Informacional Humana (que descreve novas formas de interações
entre as pessoas, alertando que estas interações não seguiriam a lógica existente de deslocamento, e
sim, defendendo que as pessoas passariam a se deslocar de acordo com a lógica informacional). Mas
apenas nos m dos anos 1990, houve a constatação de que a informação não tem valor se não produz
o conhecimento. A partir dos ensaios de Morril, os estudos mais avançados sobre as redes urbanas
começaram a abordar as redes como organismos que, quanto mais se adaptam, mais e cientes se
tornam. Essas redes podem se alterar inclusive estruturalmente, e produz conhecimento sobre as
alterações realizadas, para se adaptar às prioridades dos usuários.
1.2.4. A Teoria da Incerteza e as novas estruturas urbanas que associam o
transporte de massas ao desenho do espaço terciário – comércio e serviços: a
localização espacial exível otimizando vantagens
Quando uma região metropolitana signi cava o sinônimo de uma estrutura a partir da qual as demais se
aglomeravam, o planejamento urbano tratava de desenolver critérios de hierarquias para os espaços,
em função dos usos. No início do Século XX, por exemplo, o Movimento City Beautiful, a Escola de
Chicago e algumas teorias, como a da Cidade Linear, introduziram à prática do projeto para o ambiente
construído a discussão da reestruturação da cidade em função da mobilidade. Mas a forma de entender
a preferência das pessoas mudou, do século XX para os dias atuais, como veremos a seguir, e da
mesma forma, também mudou o signi cado de mobilidade, e assim, o projeto urbanístico agora parece
estar retornando, novamente, e com outros pontos de vista – de abordagem mais local - ao tema da
mobilidade.
Segundo explica o arquiteto Carlos Vainer, até os anos de 1970, o planejamento urbano se caracterizava
127 Scherer, Frederick. Investment variability, seller concentration, and plant scale economies. in Aus Journal of industrial
economics. Vol. 22. 1973, No. 2
128 Morril, Richard L. A Theoretical Imperative. 1987 no. 4 pp. 535-41
Fig. 1.2.40 - Croquis representativo - o efeito da informação nas polaridades - a recon gura-
ção espacial a partir do acesso à informação.
Fig. 1.2.41 - O conhecimento a percepção e o
pensamento são atos a priori à compreensão,
na interverção dos espaços públicos. A participa-
tividade passa a ocorrer com base na visão de
mundo dos cidadãos. A ação ocorre a partir da
comunicação com outras percepções de espaço
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
78
pelo padrão tecnocrático-centralizado
129
- apresentava, assim, in uências do fordismo e do longo prazo.
Isso signi ca que, nesse tipo de planejamento, a e ciência do espaço urbano se dava pela funcionalidade
e pelo longo prazo
130
. E como resultado dessa política, as redes urbanas eram desenvolvidas em padrões
regionais, e se dava muito pouca atenção na adequação dessas redes à identidade, à morfologia e às
necessidades especí cas em escala local.
Porém de acordo com o urbanista Marcelo Lopes de Sousa, nos anos 80 começou a existir um novo foco
à administração urbana. Nessa década, começou a se tornar mais evidente o colapso dos estados de
bem-estar, que tiveram que adotar políticas mais concorrenciais e investirem na melhora da e ciência,
e foram obrigados a se adaptarem aos usuários. Essa mudança ideológica provocou a substituição, aos
poucos, de planejamento associado a um estado intervencionista
131
por um planejamento que passou
a estimular o desenvolvimento a partir da visão local. Houve também uma mudança na constituição
federal brasileira que levou a uma redução de uxo no repasse de verbas dos governos federais aos
municípios. Sem a presença do estado intervencionista, o processo de desindustrialização também
acelerou, e desencadeou em um grande aumento de desemprego. Esta alteração conjuntural que
parece ter sido sintomática dos anos 80 porque se demonstrou parecida em muitos países, levou os
planejadores urbanos a buscarem estratégias locais, utilizando o apoio de grupos dirigentes próximos
às áreas de intervenção.
A partir do momento em que o desenho da cidade passou a abordar a visualização de estratégias
de formular alianças com grupos locais, as intervenções urbanas passaram a enfocar a captação de
recursos e a efetividade das atividades de empregos. Com esta mudança de foco, a partir dos anos 80,
as estratégias urbanas começaram a utilizar com mais ênfase uma espécie de projeto urbanístico que
trata de temas locais, engloba grupos empresariais e procura suprir de ciências sociais locais através
de parcerias com a iniciativa privada.
A partir das análises de Vainer e Souza, é possível veri car que o projeto urbanístico passou a incluir
meios de enfrentar as di culdades nanceiras locais, característicos da falta de auto-suporte dos bairros
e municípios, e aos mesmo tempo ez com que os municípios também fosse obrigados a criar estratégias
para se tornarem mais competitivos, o que levou à um aumento da competição interurbana, nesse
129 Vainer, Carlos B. Os liberais também fazem planejamento urbano? Re exão anexa a respeito do Plano Estratégico da
Cidade do Rio de Janeiro. Proposta, in Rio de Janeiro, n.69, jun.1996. p.28-34
130 Nos EUA havia a Escola de Chicago, e menos intervenção estatal. Em países como o Brasil esse processo só se deu
após o enfraquecimento do controle do estado.
131 Souza, Marcelo Lopes de. Mudar a cidade: uma introdução crítica ao planejamento e à gestão urbanos. 2002. p.30
Fig. 1.2.42 - projeto realizado com visão empresarial, em parceria público-privada para o
sistema de transportes (que inclui o TRAM) em Londres.
Fig. 1.2.43 - projeto realizado com visão empresarial, em parceria público-privada paraa recu-
peração da área de protação ambiental da Praia de Naus, utilizada para pesquisas Marinhas,
com apoio de empresas, conseguido pela FAPESP
Fig. 1.2.44 - projeto realizado com visão empresarial, em parceria público-privada paraa
recuperação da área da orla marítima da Praia do Forte, em Cabo Frio
CONCEITUAÇÃO
CAPÍTULO 1
79
período caracterizado por grandes características da transição do fordismo para o pós-fordismo
132
.
A própria administração pública, muitas vezes, sentindo o potencial empresarial local, parece ter
incentivado a adoção de uma políticas mais empresariais, porque passou a adotar novas técnicas de
gestão empresarial, começou a veri car a necessidade do planejamento estratégico e do marketing
urbano
133
. A este processo, David Harvey chamou de empresariamento urbano: processo que levou
a gestão urbana a assimilar as tendências contemporâneas de desregulamentação e diminuição da
presença do Estado, através de parcerias público-privadas. Assim, o projeto urbanístico passou a
incluir o planejamento estratégico, - um conceito que surgiu a partir do planejamento empresarial
estratégico, que foi sistematizado na Harvard Business School
134
. Em seu conceito original, o
planejamento estratégico visa identi car as forças, fraquezas, oportunidades e ameaças de uma de
um local planejado, em relação ao ambiente com que mantém relações em diversos tipos e escalas,
bem como visa de nir o estabelecimento de estratégias diante dessas questões segundo métodos e
objetivos visualizados com o projeto urbanístico.
Através dessa óptica relativamente nova de projeto urbanístico em rede, que começou a se desenvolver
há quase duas décadas e cujas bases conceituais ainda estão sendo exploradas e de nidas, existem
novos objetivos para a sociedade do conhecimento: o espaço urbano deve proporcionar à essa
sociedade a meios de propor inovações técnicas e soluções comunicacionais adequadas a uma nova
reorganização do trabalho, que no futuro vai necessitar de maior cooperação e mais preparo para a
tomada de decisões, que tenderão a ser, por um lado, atitudes subjetivas mas que têm cada vez mais,
alcances mais coletivos.
Imagina-se que o projeto urbanístico baseado no conhecimento em cadeia é aquele que interage com
os sentidos humanos e estimula a criação do signi cado de lugar: que não descarta a estandardização,
mas que confere à esta, a multiplicidade da constante renegociação, e da memória do lugar urbano,
assumindo a capacidade conectiva, exível, elástica, transpositiva e assimétrica. É o projeto urbanístico
que compreende a revisão do papel do estado e da iniciativa privada, buscando acomodar a mobilidade
da representatividade privada à dinâmica espacial, com o intuído de evitar a obsolescência do espaço,
e evitar situações e que o espaço, estático e sem possibilidade de renegociação, perde a vitalidade. É
o processo que, para isso, explora as propriedades colaborativas das centralidades como ferramenta
estratégica de acomodação, renegociação, construção e mudança, gerando constantemente novas
132 A reestruturação industrial pós-fordista também produziu grandes efeitos sobre a paisagem urbana - levou a mudanças
radicais na composição e na organização do trabalho, o que causou novos paradigmas de localização e uidez da estrutura ur-
bana. Na sociedade pós-fordista, ou sociedade do conhecimento, emerge um novo paradigma de trabalho, “fruto da recompo-
sição do trabalho intelectual e manual e, ao mesmo tempo, da superação desses dois termos”. Vide Mustar e Caloo in Cocco,
Giuseppe. A nova qualidade do trabalho na era da informação. In: Helena Lastres e Sarita Albagli: Informação e globalização
na era do conhecimento. 1999 pp 47-49.
133 O marketing urbano torna-se uma ferramenta essencial para vender uma imagem positiva da cidade, atraindo para si
investimentos nacionais e internacionais. “Na verdade, a venda da cidade como um espaço para atividades depende muito da
criação de um imaginário urbano atraente” Vide Harvey, David. Do gerenciamento ao empresariamento: a transformação da
administração urbana no capitalismo tardio. Espaço & Debate, n. 39, 1996. p.60.
134 Porter, M E. What Is Strategy? Harvard Business Review. Nov-Dez.1996. pp. 61-78.
Fig. 1.2.45 - projeto realizado com visão empresarial, em parceria público-privada para a rda
área comercial do Gamboa, em Cabo Frio
Fig. 1.2.46 - projeto realizado com visão empresarial, em parceria público-privada para a rda
recuperação da fachada do Mercado Modelo, Bahia.
Fig. 1.2.47 - projeto realizado com visão empresarial, em parceria público-privada para a
recuperação do Mercado Municipal em São Paulo
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
80
relações de aprendizado.
Nesse tipo de projeto urbanístico, a estruturação do território acontece em redes, e também podem
interagir com outras redes através do comportamento sistêmico. O conceito-chave para a manutenção
da vida destes sistemas é a comunicação que a rede utiliza de maneira constante para se organizar
e rever sua organização. No projeto urbanístico em rede, os níveis de subjetividade interligam a
experiência em dimensão local e as redes de comunicação, consumo, ambientais, que estruturam os
territórios regionais e globais.
Fig. 1.2.47 - projeto realizado com visão empresarial, em parceria público-privada para a
recuperação do Mercado Municipal em São Paulo - vista interna
Fig. 1.2.47 - projeto realizado com visão empresarial, em parceria público-privada para a
recuperação do Mercado Municipal em São Paulo - vista interna
CONCEITUAÇÃO
CAPÍTULO 1
81
1.3. Como as redes urbanas se transformaram a partir da mudança no conceito
de estrutura urbana
Desde a antiguidade as redes, muitas vezes, representaram meios decisivos para a prosperidade de
civilizações. Algumas vezes porque permitiram melhor aproveitamento dos recursos naturais. Em outras
porque constituíram tramas de uxos de pessoas e mercadorias, que possibilitaram que as civilizações
recuperassem a mobilidade e a capacidade de produção e trocas. As redes inicialmente surgiram como
infra-estruturas conectadas que permitiam às antigas civilizações utilizarem certos recursos vitais,
como a água dos rios. Vimos que as civilizações de regadio foram as que mais prosperaram porque
desenvolveram técnicas de transporte de água e de locomoção pela água. Vimos também, no item
1.1, que alguns impérios prosperaram quando algumas relações de troca que aconteciam por terra se
tornaram mais fáceis quando as tecnologias de trocas por mar foram exploradas.
A rede urbana contemporânea se tornou uma nova forma de abordagem estrutural de organização
do espaço das cidades – isto porque considera, de maneira integrada, a rede de infra-estrutura, e as
mudanças que, de maneira interativa, a infra-estrutura estabelece com o uso do solo. Desde que o
homem começou a criar redes para viabilizar necessidades de transporte (de água, de energia, de
mercadorias, de pessoas), as redes interferem no uso do espaço circundante, ou seja, nos tipos de
espaço que se interligam a estas. E os usos circundantes também afetam, sucessivamente, a evolução
das redes.
Mas um grande problema levantado por essa pesquisa, é que nem sempre, como vimos até agora,
as redes foram consideradas como condições transitórias do uso do espaço circundante. Nesse caso,
a rede se torna impactante ao meio (por exemplo, quando uma estrada de ferro regional intercepta o
centro de uma vila, ou secciona a trilha de animais em uma matriz de mata nativa, ou ainda quando
uma avenida é construída sobre um fundo de vale, onde existe um rio).
À primeira vista, quando se cria uma rede de infraestrutura que é impactante ao meio que a circunda,
normalmente se têm a falsa impressão se ter resolvido o problema de mobilidade, mas com o tempo,
a área circundante à rede se degrada tanto, em decorrência do impacto que a rede produz, que muitas
vezes inviabiliza o próprio funcionamento da rede. Como o caso, por exemplo, do Rodoanel, em São
Paulo: as vias abertas para a execução das obras dôo Rodoanel criaram acesso à várias áreas de
mata na Serra da Cantareira, e em poucos anos, muitas áreas foram invadidas, ocupando pedaços
de propriedades privadas que restaram das partes desapropriadas para a passagem do Rodoanel.
Quando foi inaugurado, muito pouco de mata atlântica existia ao redor da via. De uma forma crescente,
mais assaltos são relatados ao longo do Rodoanel. Esse exemplo ilustra que não apenas a infra-
estrutura causa impactos sobre o uso lindeiro, se considerada separadamente, mas o impacto do uso
Fig. 1.3.1 - Impacto positivos das redes- a retomada da prosperidade/mobilidade do Império
Romano em Constantinopla
Fig. 1.3.3 - Impacto positivos das redes-
aquedutos Grécia
Fig. 1.3.2 - Impacto positivos das redes-
irrigação Babilônia
Fig. 1.3.4 - Impacto negativos das redes-
Ruas desertas - uso apenas bancário/es-
critórios em Huston
Fig. 1.3.5 - Impacto negativos das redes-
Ocupação de fundo de vale na Av. Águas
Espraiadas
Fig. 1.3.5 - Impacto negativos das redes- ocupação da área de mangue - Rios Santos Litoral
Norte de SP
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
82
lindeiro também retorna para a infra-estrutura.
No ítem 1.1 discutimos como a cidade perdeu mobilidade com o grande impacto da infra-estrutura sobre
os usos lindeiros, e forçou que os paradigmas de organização da trama urbana fosse sucessivamente
revistos. Cada ciclo representou o surgimento de um novo paradigma de organização do espaço
urbano, depois a percepção de impactos de impediram a mobilidade, a uidez natural que viabilizava
o funcionamento interno dos assentamentos, e por m, estratégias informais para a recuperação da
mobilidade.
Curiosamente, nota-se que o homem sempre planejou as redes de infra-estrutura que permaram
os assentamentos, mas nem sempre planejou infra-estrutura e usos concomitantemente. Essa
consciência crítica é recente, tem alterado o signi cado das redes urbanas, e não pode ser estudado
de forma dissociada dos modelos de empreendimento do solo urbano, uma vez que, nas cidades
contemporâneas, a iniciativa privada é fundamental para a construção da infra-estrutura urbana.
Entretanto, existem até hoje várias abordagens diferentes para o conceito de rede urbana.
- existe o conceito de rede urbana que considera a infra-estrutura urbana dissociada do uso do solo
normalmente é aquela abordagem utilizada pelo estado, que ainda com pensamento tecnocrático, tem
a óptica da infraestrutura regional;
- o conceito de rede urbana que considera que a infraestrutura é dissociada do uso do solo, mas altera
o uso do solo – normalmente aquela que é desenvolvida pelo estado mais atual, mas que entende
que a infra-estrutura deve atingir a população local, e a solução de impactos locais é problema dos
municípios;
- o conceito de rede urbana que considera que o uso do solo é dissociado da infraestrutura urbana, mas
pode alterar a infraestrutura urbana – normalmente é a óptica dos municípios que crescem carentes de
investimentos estaduais em transportes regionais, ou na despoluição de rios que chegam poluídos em
seus limites físicos, e geralmente não têm autonomia para resolver sozinhos tais problemas;
- a rede contemporânea, que considera que a infraestrutura, o uso do solo e o ambiente estabelecem
entre si relações ecológicas. Nota-se que nos casos em que essa abordagem ocorre com sucesso
135
,
normalmente existe uma boa iniciativa local (inclusive com a visualização de oportunidades para a
iniciativa privada), acesso global (à investidores interessados), e, quando possível, colaboração
regional, quando os municípios lindeiros também visualizam vantagens de ações colaborativas.
Os três primeiros conceitos de rede urbana citados acima consideram que a infra-estrutura urbana
é um corpo dissociado do uso do solo, que apenas interliga diferentes usos no espaço das cidades.
Essa visão de rede urbana (que considera a infra-estrutura dissociada do uso do solo) é fortemente
impactante à dinâmica social e ao meio-ambiente, e parece ter evoluído muito rapidamente a partir
da revolução industrial (vide ítem 1.1 – paradigma racionalista). Quando as indústrias começaram a
135 é importante insistir aqui, que não apenas as formas de viabilização de projetos, mas cada vez mais as formas de se viabi-
lizar pesquisas têm prosperado a partir dessa lógica.
Fig. 1.3.7 - Rede 1 - via na Cisjordânia - fratura da malha local
Fig. 1.3.8 - Rede 2 - Rio Tietê - incompatibilidade entre esferas de governo
Fig. 1.3.9 - Rede 3 - Favelas na Linha Vermalha, Rio de Janeiro - tiroteios prejudicam rede
Fig. 1.3.10 - Rede 4 - Boa relação local nas ruas de Filmore, Sidney
CONCEITUAÇÃO
CAPÍTULO 1
83
surgir, e grande parte da população precisou ser rapidamente acomodada ao redor das indústrias,
houve a necessidade de ocupação rápida do solo lindeiro. Surgiram assim as vias de grande distância
(as estradas de ferro, e depois as grandes rodovias) e com estas, os automóveis que possibilitaram ao
homem percorrer essas grandes distâncias. A cidade racionalista, como vimos, é naturalmente a cidade
das grandes distâncias.
Pouco a pouco, os pro ssionais que intervém no espaço urbano estão se conscientizando de que as
redes de infra-estrutura afetam e são afetadas pelo uso do solo. E têm se preocupado, cada vez mais
com o caráter inter-modal das redes urbanas. Algumas mudanças nos desenhos das redes de infra-
estrutura, por exemplo, nos permite perceber que ao invés de se isolar: rede de trens, rede de metrôs,
rede de ciclovias, rede hídrica, circuito de lazer, etc., interessa cada vez mais saber as qualidades e o
grau de conectividade dos pontos da rede: por exemplo: em uma estação de metrô, qual a possibilidade
de o usuário:
- caminhar com segurança no entorno
- acessar ciclovias (principalmente se bicicletas forem permitidas dentro do metrô)
- acessar comércios e serviços
- acessar comércio especí co
- acessar espaços de trabalho e moradia
- acessar formas de lazer e áreas de preservação ambiental
Na Alemanha, por exemplo, o mapa de subsolo entregues nas estações de metrô, como a Laimerplatz,
trazem toda a rede de facilidades inter-modais que estão conectadas às redes de metrô. Pode-se
acessar o site da secretaria de transportes, e ver, em cada estação, como acessar parques, comércio,
outras formas de transporte, ciclovias, lazer de caráter ambiental. E também é possível que se utiliza
a bicicleta dentro dos metrôs, para poder circular com bicicletas entre facilidades que se encontram a
mais de cinco quadras de caminhada.
Existem alguns autores que desenvolveram estudos sobre essa transformação da rede urbana, à
medida em que foram veri cando mudanças na estrutura urbana.
Do ponto de vista espacial, a mudança de abordagem das redes urbanas foi muito explorada, a partir
dos anos 70, pela geogra a espacial, através de estudos de Peter Haggett
136
, (como vimos no item
1.2) e evoluiu para uma visão ecológica nos anos 90, como a encontrada nos trabalhos de Richard
Formann
137
. In uenciados por Haggett ( qua ainda possuía uma visão mais sicista das redes urbanas,
como vimos anteriormente) esse geógrafos desenvolveram sucessivamente diversas formas de matrizes
de acessibilidade para a medição das redes: a medição por diâmetros (a relação máxima de distância
136 Haggett, Peter; Chorley, Richard J. Network Analysis in Geography. 1969. pp 62-65
137 Vide Forman, Richard T.T. Road ecology: A solution for the giant embracing us. Landscape Ecology 13, 1998 pp. III-V /
Forman, Richard T. T. ; Alexander, Lauren E. Roads and their major ecological effects. Annual Review of Ecology and Syste-
matics n. 29 pp 207-232. e Forman ,Richard.T.T. ; Deblinger, Robert. D. The Ecological Road-Effect Zone of a Massachusetts
(U.S.A.) Suburban Highway. Conservation Biology 14, 2000. pp. 36-46
Fig. 1.3.11 - Projeto de revitalização do entorno da Laimerplatz - Berlim. Rede multimodal
infraestrutura x uso do solo
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
84
entre os nós), as formas de conectividade (o quão bem conectadas as partes da rede estão entre si, e
entre o organismo rede como um todo, determinado pelo que chamaram de índice gama – a relação
entre os tamanhos das bordas existentes e a quantidade de bordas que a rede comportaria), o grau de
uidez (o número máximo relativo de conexões existentes, sobre o número de conexões que as redes
de transportes comportam). A partir dessas relações, foi possível, segundo esses estudos, chegar
às diversas matrizes de acessibilidade. As primeiras matrizes representaram estruturas mais rígidas
das redes de transporte. Com o tempo, essas matrizes de acessibilidade começaram a representar
estruturas de transporte mais complexas, e incorporaram as dinâmicas de infraestrutura urbana e uso
do solo. Surgiram assim as primeiras preocupações que relacionam as redes com a paisagem: os
impactos ambientais e as relações ecológicas entre as redes e o tecido urbano.
Do ponto de vista do transporte de massas, a rede urbana constitui um corpo de estudo cada vez mais
utilizado nas investigações de transporte de massa em escala regional e intra-urbana. Os pioneiros no
estudo ecológico das redes urbanas, sob a óptica dos transportes de massas – Edward Taafe e Howard
Gauthier
138
apresentaram um conceito chamado de Teoria dos Grá cos, através do qual descreveram
centros de con uência como nós de e ciência, e ressaltaram que o papel das interconexões das
cidades não apenas como links (conexões diretas, lineares) mas também nos edges (bordas, que
são fundamentais nas redes urbanas e se sustentam a partir de toda uma relação dinâmica de usos
que cercam as infre-estruturas). O teoria de Taafe a Gauthier foi complementada pelos modelos de
Karel J. Kansky que, em seguida, desenvolveu relações entre a geometria da rede de transportes e as
características regionais das cidades, recon guradas pelas bordas. A partir dos estudos de Kansky, os
geógrafos começaram a desenvolver diversas formas de medição das relações regionais-locais nas
redes urbanas.
A abordagem ecológica em rede a partir da dinâmica de uso do solo x de infra-estrutura considera que
a intensi cação do uso do solo estimula o desenvolvimento da infra-estrutura de transporte, através de
políticas regionais de desenvolvimento da malha de transporte. Por outro lado, o desenvolvimento de
infra-estrutura de transportes também estimula mudanças no uso do solo (chamado de desenvolvimento
por demanda induzida).
Dois aspectos problemáticos ao projeto urbanístico emergem desse processo: qualquer mudança na
rede de transportes pode afetar todo o ambiente econômico, social, ambiental no entorno. Com base
nisso, é também possível considerar que à medida que mudam as lógicas de desenvolvimento do
sistema, mudam também os critérios de decisão de prioridades. Desde os anos 70 começaram a surgir
pesquisas com esse enfoque - sobre os impactos ecológicos das redes de infra-estrutura sobre o solo
e o ambiente. Muitos estudos sobre os impactos ambientais que as estradas causam começaram a ser
138 Taafe. Edward Ideal – typical sequence of transport development . 1963. p. 504 – para Taafe existia uma relação entre as
bordas da rede de transportes: γ = n. de bordas existentes / n. máximo de bordas = e / e max = e / 3(v – 2), sendo que e são
as ligações e v são os vértices (ou nós) .
Fig. 1.3.12 - Modelo de Kansky - Acessibi-
lidade relativa de veículos aos centros de
atividade econômica
Fig, 1.3.13 - Aplicação do modelo de
rede de Kansky para a veri cação da
acessibilidade aos centros de atividade
econômica em Ontário, Canadá
CONCEITUAÇÃO
CAPÍTULO 1
85
desenvolvidos a partir dos anos 1970, com Michael Hough, , Andrew F. Bennett
139
em 1991, Richard
Forman
140
e Laurie W. Carr
141
em 2002. Essas teorias, de forma geral, trouxeram novas qualidades às
estradas, relacionando-as à elementos de contenção de machas urbanas desfavoráveis ao ambiente;
à possibilidade de formação de barreiras e ltros entre áreas de proteção ambientais e grandes
aglomerações urbanas, e também evidenciaram a função que a rede de infra-estrutura urbana pode
desempenhar como fontes de aspectos bióticos (como servirem de corredores verdes, que permitem a
locomoção da fauna entre matrizes signi cativas
142
). Em estudos mais recentes, esses aspectos foram
amplamente discutidos por William Garrison e Duane Marble
143
, em 1962, que buscando a solução para
esses dois problemas, defendem que as redes de infra-estrutura urbana não deveriam ser consideradas
elementos aparte às mudanças de uso do solo.
As formas ecológicas de se abordar as redes de infra-estrutura urbana reuniram, inicialmente, o princípio
da gravidade (que parte da análise de melhor aproveitamento do terreno, e utiliza o desenho de aclives
e declives para incentivar ou bloquear determinados usos, ou criar áreas de contenção, por exemplo,
a criação de aclives para possibilitar a contenção de som), em alguns locais; e também o princípio
comportamental. Com o tempo, começaram a agregar pesquisas sobre a forma como os entornos são
determinantes do tipo de infra-estrutura, as formas como as estruturas em rede e o uxo de tráfego
afetam as funções sociais, e as conseqüências que a infra-estrutura causa ao ambiente e aos usos do
entorno, quando não são intencionais. Essa temática das redes de infra-estrutura com viés ecológico
foi muito desenvolvida por Forman
144
. Os principais pontos abordados pelos estudos que tratam da
infra-estrutura urbana a partir do ponto de vista ecológico são: a densidade das tramas das redes, o
volume de uxos, as áreas que as conexões ocupam, e as formas das tramas que estas criam. Sob o
ponto de vista ecológico, as redes de infra-estrutura urbana são e cientes a partir do momento em que
se consegue obter grande uxo com pouca área construída de rede, e o segundo aspecto da e ciência
está no fato de as redes proporcionarem uso humano intenso.
Com o passar do tempo, o grau de conectividade das redes também passou ser considerado um
ponto crucial na sustentabilidade das redes e do ambiente ao redor destas. Surgiram os métodos de
análise da conectividade entre o ambiente e os usos com as redes de infra-estrutura, muito explorados
por Dean L. Urban e Timothy Keitt
145
, em 2001, que começaram a abordar a capacidade interativa
das redes, como a indução do crescimento das bordas, a ad-hocidade física dos nós. Em seguida à
139 Bennett Andrew F. Roads, roadsides and wildlife conservation: a review. In: Nature Conservation 2: the Role of Corridors .
1991. pp. 99-117.
140 Forman e Alexander desenvolveram estudos sobre os efeitos que a distância proporciona para vários fatores ecológicos.
Forman et al 200. p.308
141 Carr Laurie W, et al (2002) Impacts of Landscape Transformation by Roads. In: Applying Landscape Ecology in Biological
Conservation (ed Gutzwiller KJ), pp. 225-243. Springer-Verlag, New York
142 Relação entre as vias e a vida selvagem – consultar Bennet, 1991, p.101.
143 Garrison, William. L.; Marble, Duane F. The Structure of Transportation Networks. 62-11. 5-31-1962. pp 103-105
144 Forman et al Diagram of a road effect zone for a Massachusetts highway., 2003 pp 313
145 Urban, Dean., and Timothy. Keitt. Landscape connectivity: a graph-theoretic perspective. Ecology 82, 200. pp 1205-1218.
Fig. 1.3.14 - Forman - Formas e Tamanhos das bordas - condição de extinção do ecossitema
Fig. 1.3.15 - Forman - Recuperação ambiental dos ecossitemas em rede
Fig. 1.3.16- Ecotope - a menor parte homogênea de ecossistemas detectados - matriz
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
86
pesquisa de Urban e Keitt, vieram os modelos aplicativos de gestão ambiental de James E. Bunn
146
,
para o Norte da Carolina, que desenvolveram métodos de gestão que enfocam esse ponto de vista
ecológico das redes urbanas, com o objetivo da preservação ambiental.
A grande questão a ser resolvida, à respeito da qualidade das redes urbanas é como os padrões em
rede podem contribuir, ao mesmo tempo, para a melhoria dos impactos no ambiente e na qualidade de
vida das pessoas – como os padrões estabelecidos pelas redes no projeto urbanístico podem afetar
propriedades ecológicas a partir da melhora do uso do solo dos entornos próximos? Essas são questões
levantadas por Richard Forman
147
. O entendimento da capacidade transitória das redes surgiu a partir
da percepção de que aberturas e vazios são também elementos de valor em uma rede urbana. A
geogra a dos transportes, perto do ano 2000, começou a explorar relações entre a heterogeneidade
e a estrutura das redes de transporte nas cidades, entretanto ainda trazendo à tona três principais
de ciências das redes de infra-estrutura urbanas: em primeiro, em quais condições os impactos de
redes de grades escalas (como por exemplo rodovias largas ou grandes dutos, ou ferrovias) são
menores que a pulverização de pequenas redes? Existem índices de melhoria na qualidade de vida
urbana, discutidos por Forman, que podem ajudar na visualização de futuros impactos, em deferentes
tipos de redes, para diversos cenários? Esses índices de melhoria de qualidade de vida podem gerar
estratégias mitigadoras capazes de estabelecer a regeneração de certas conectividades, a menor
custo?
Apenas há pouco tempo, cerca de 3-4 anos atrás, que as primeiras contribuições a respeito da regeneração
estrutural das redes urbanas através do tempo começaram a existir, e que os primeiros estudos sobre a
adaptação das redes urbanas começaram a considerar se as capacidades de mutação das redes afetam os
efeitos ecológicos das redes, e como alterações na capacidade de conectividade da redes podem melhorar as
propriedades ecológicas das redes. É nesse sentido que se desenvolve o raciocínio metodológico dessa tese, que
será discutido no capítulo 2.
146 Bunn, James E. et al. Application on North Carolina Environmental Management. 59: 265-278
147 Forman, Richard.T.T et al Road Ecology: Science and Solutions. Island Press, Washington 2003. p. 93
Fig. 1.3.17 - O dilema abordado por Sthephen Potter sobre as redes: otimizar infraestrutura
para racionalizar distâncias entre usos, ou concentrar a demanda e aumentar a densidade
em determinados pontos?
CONCEITUAÇÃO
CAPÍTULO 1
87
1.4. Territórios e a rede interpessoal no projeto urbanístico
Na pesquisa realizada para o ítem 1.1 dessa tese, foi desenvolvida uma breve discussão sobre
como ocorreu a mudança no pensamento cientí co que deu origem a uma nova compreensão do
conhecimento em cadeia. Discutiu-se a capacidade que a rede tem, de acumular experiência e gerar
signi cados em cadeia, a partir das relações interpessoais. Baseada no desenvolvimento das relações
interpessoais, esta mudança no pensamento cientí co fez com que o conhecimento em cadeia passasse
a ser considerado um atributo de e ciência da mobilidade das redes urbanas.
Entretanto, parecem ser claramente notáveis as formas como os limites de propriedade de terras
in uenciam a prática do projeto urbanístico em tudo o que diz respeito à uidez da infraestrutura, ao
uxos de pessoas e ao desenho das conexões. Em locais como a China ou a Inglaterra, onde os limites
de propriedade das terras são, por vezes, extensas áreas do estado ou da coroa, e apresentam glebas
muito maiores do que os lotes privados encontrados em locais como o Brasil atual, a uidez urbana,
ainda que ocorra pautada por diferentes mecanismos sócio-políticos, ocorrem de fato, e, muitas vezes,
à revelia da regulamentação de controle político.
Uma prova visível da força da uidez urbana sobre os limites de propriedade pode ser notada ao
se veri car a necessidade de exibilização econômica, que obrigou os chineses a desempenharem
uma economia de mercado sobreposta até mesmo à formatação comunista de propriedade da terra.
Outro exemplo da uidez urbana que pode ocorrer sobre os limites da propriedade privada está na
Operação Urbana Faria Lima, em São Paulo, que, através de trocas de potencial construtivo, incentiva
os proprietários dos lotes a criarem espaços comunicantes nos térreos dos edifícios, como alternativa
à má condição do tráfego de pedestres pelas escassas e nas calçadas do espaço público.
O limite territorial, associado à propriedade de terras, parece ser o fator in uente na e ciência da
mobilidade nas cidades. Se o limite territorial não for adequadamente compreendido e utilizado como
fator de troca de potenciais de investimento no espaço público, o limite da propriedade (privada ou
estatal) pode impedir a uidez urbana e causar desconexões. Entretanto, curiosamente, parece existir
um fator comum até mesmo aos diversos cenários políticos e culturais estudados analisados nessa
tese (como Brasil e China), que pode ser capaz de provocar a exibilização funcional dos limites da
propriedade sobre as terras: a mobilidade territorial que ocorre a partir do conhecimento em cadeia,
e interfere na recon guração espacial. A mobilidade territorial, potencializada pela rede de con itos
de interesses dos indivíduos e de menores institucionalidades foi também um elemento importante
enfocado nessa pesquisa, já que a gestão dos recursos renováveis e os investimentos comunitários
em soluções que renovam os recursos ambientais partem de ações que ultrapassam os limites de
propriedade.
Através da pesquisa realizada para essa tese procurou-se analisar de que maneira o conhecimento
Fig. 1.4.1 - O uso privado de lotes arrendados e cercados da China: caos no espaço público
Fig. 1.4.2 - O uso privado de lotes arrendados e cercados da China: caos no espaço público
Fig. 1.4.3 - Sistemas integrados entre
lotes Joint-use developmet em Calgary
Fig. 1.4.4 - Sistemas integrados entre
lotes PPP em São Paulo - Projeto
Colméia nos espaços públicos - Vila
Omlimpia
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
88
em cadeia possibilita a constante revisão da organização do território, e permite que o território seja
entendido como o fator multitemporal de alteração dos signi cados do objeto arquitetônico, na rede.
Parece ser a capacidade do conhecimento em cadeia, presente em alguns tipos de redes
148
, a causa
de adequação constante do espaço às mutantes condições de mobilidade territorial. É possível que
a capacidade do conhecimento em cadeia, associado à transposição teleológica do corpo a partir
da capacidade crítica, perceptiva e analítica dos indivíduos
149
, seja o principal fator de veri cação da
mobilidade das redes, na realidade urbana atual.
Esta forma de compreensão do conhecimento em cadeia, relacionado às redes, parece afetar, de
maneira dinâmica, não apenas a identidade urbana, mas parece in uenciar também a forma de
entendimento dos processos de concentração do espaço terciário; parece parametrizar a ad-hocidade
funcional das centralidades; e provocar a revisão funcional das hierarquias espaciais das redes urbanas
mais rígidas, que não desempenham nenhum tipo de relação ecológica em o uso do solo. De maneira
geral, esta compreensão de que o conhecimento pode formar identidade em cadeia parece afetar todos
os processos dinâmicos que re etem nas (re)-organizações do espaço urbano. Assim, imagina-se que
conhecimento em cadeia possa estar relacionado à lógica territorial e espacial das cidades e também à
mudança no conceito de território, que ocorreu com grande ênfase ao longo do século XX.
Desta maneira, uma análise acurada do conceito de mobilidade territorial, ligado ao conhecimento em
cadeia, parece ser inevitável como ponto de partida para lidar com limites de propriedade de terras que,
se não forem compreendidos a partir da óptica da competição e da visualização das potencialidades
à estas associadas, podem provocar barreiras à uidez urbana e à conexão de espaços públicos com
qualidade.
Esse ítem 1.4 da tese traz a investigação de como o processo de formação do Estado Moderno
(associado à construção da visão racionalista de cidade, como vimos no ítem 1.1), o processo de
formação da própria conceituação bidimensional das cidades modernistas e da mentalidade modernista
de abordagem espacial zeram parte da construção de uma realidade em que a representatividade do
indivíduo foi se tornando, aos poucos, estabelecida pelo estado, ou pelas rígidas instituições. O território,
aos poucos, se tornou xo aos limites espaciais de propriedade (na maioria das vezes, aos limites da
terra), e aos limites institucionais. Assim, para que fosse possível visualizar a condição de exibilização
territorial, nas cidades atuais, tornou-se necessário investigar, de uma maneira multidisciplinar, as
principais mudanças que ocorreram no conceito de território: da concepção de território como meio de
controle a uma mais atual concepção de território como aquele que resulta da interação entre grupos
148 Vimos que nem todas as redes possuem propriedades de construção do conhecimento em cadeia. Daí a importância do
entendimento cognitivo da rede que se processa como uma rede neural (a partir do conhecimento em cadeia, e da constante
revisão da identidade).
149 A mudança na capacidade de transposição teleológica do corpo, que passou a ser referenciada pela capacidade crítica,
perceptiva e analítica dos indivíduos é discutida amplamente por Duarte, Fábio, em Tecnologias da informação, 2001, p46
Fig. 1.4.5 - Territórios rígidos e a implan-
tação do Condomínio Pruitt Igoe
Fig. 1.4.6 - Territórios rígidos e os
edifícios da China comunista
Fig. 1.4.7 - Territórios rígidos - Ville
Radieuse
Fig. 1.4.8 - Implosão do Pruitt Igoe - mudança de paradigma - por um espaço mais interativo
CONCEITUAÇÃO
CAPÍTULO 1
89
sociais, sustentado a partir da competição, da mobilidade e das conexões entre menores grupos.
Na análise dos motivos que xaram os territórios aos limites geográ cos da terra, buscou-se, inicialmente,
veri car quais as possíveis origens culturais da xação dos territórios em limites espaciais. Veri cou-se
que o hábito cultural de xação do território em limites físicos é herdado da política romana. Veremos
que os romanos foram os primeiros a atribuírem à terra um signi cado jurídico que formaliza a existência
de um sujeito como cidadão, a partir do pertencimento à um determinado território. Esta averiguação
trouxe à tona a necessidade de compreensão da mudança na relação território - espaço, no processo
de constante reestruturação das cidades, para então, veri car concretamente como a compreensão do
conceito de mobilidade territorial é importante para metodologias de projeto urbanístico que partem da
signi cação em cadeia do espaço urbano.
A partir da compreensão da construção do conceito de mobilidade territorial, a partir do conhecimento
em cadeia, buscou-se ainda esclarecer algumas dúvidas que são fundamentais ao entendimento da
mobilidade da rede: como surgiu o conceito de territorialidade, e de onde vem o conceito de mobilidade,
associado ao processo de territorialização? Se as pesquisas na linha etnogra a admitem que o arquiteto
normalmente interfere na signi cação do espaço, então o arquiteto interage com o território, antes
de interagir com o espaço? De que maneira uma nova compreensão do conhecimento em cadeia
permite compreender o processo de territorialização, presente nas redes? De que maneira o processo
de territorialização pode ser permeável aos limites físicos do espaço? Ou, ao contrário, em quais
situações os limites espaciais impedem que os processos de territorialização sejam saudáveis? A falta
de interação entre os processos de territorialização e o projeto (se entendido como um ato estático)
dos espaços da cidade, no Desenho Urbano, pode ser uma forte causa da obsolescência e o abandono
destes espaços? De que maneira uma processo de projeto saudável pode interagir adequadamente
com a dinâmica territorial? E, por m, quais as qualidades de um processo de projeto capaz de interagir
com diferentes dinâmicas territoriais, mesmo lidando com diferentes formas de propriedade e divisões
do solo?
1.4.1. O estado, a mudança na representatividade individual, e considerações
acerca de um novo entendimento ao conceito de mobilidade territorial.
O primeiro pesquisador a observar e relatar com profundidade os condicionantes da mobilidade territorial
foi o geógrafo alemão Friederich Ratzel
150
, que veri cou que o Estado Moderno se utilizava dos limites
150 Ratzel, Friederich. “O povo e seu território”, in: Moraes, Antonio Carlos R. Ratzel. 1990. pp.73-82; Ratzel, Friederich. “As
leis do crescimento espacial dos Estados”, in: Moraes, Antonio Carlos R. Ratzel. 1990. pp.175-192.
Fig. 1.4.9 - Experiência didática própria - workshop interdisciplinar Plástica I com Meio
Ambiente: a exibilização das estruturas racionalistas e a reconstrução da rede a partir de um
módulo espacial - “A procura de relações sutentáveis: a questão territorial e os limites físicos
da cidade”
Fig. 1.4.10 - Quadras regulares que resultam em uma estrutura fundiária rígida, que descon-
sidera a dinâmica territorial - centro de Buenos Aires
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
90
físicos como um instrumento de controle da mobilidade das pessoas
151
. No processo de constituição de
Estado Moderno, os territórios passaram a ser de nidos como espaços restritos, limitados, de nidos
pelas instituições humanas, através de demarcações físicas ou simbólicas. Geralmente representavam
a legitimidade política de um grupo.
Veri cando como ocorrem os movimentos da humanidade sobre a Terra
152
, Ratzel procurou veri car
as causas da movimentação orgânica dos povos. Para isso, realizou diversas viagens pelo mundo,
inclusive ao Brasil. Para Ratzel, o solo representa a angústia da servidão e da falta de liberdade
humana. Nas palavras de Ratzel:
Sempre o mesmo e sempre situado no mesmo ponto do espaço, ele [o solo] serve como suporte rígido
aos humores, às aspirações mutáveis do homem, e quando lhes acontece esquecer este substrato,
ele os faz sentir seu poder e lhes recorda, através de sérias advertências, que toda vida do Estado tem
suas raízes na terra.
Já o lósofo-antropólogo Ernest Gellner, em Nações e Nacionalismo
153
, discutiu a necessidade que as
culturas centradas na gura do estado têm, de serem funcionais, para produzirem bem-estar. Gellner
recorda que nação-estado surgiu a partir do laço emocional entre o sentimento de nação e o caráter
controlador do estado. Entretanto, estas nações constituíam comunidades imaginárias, já que os
membros, em maioria, não se conheciam uns aos outros. Os estudos de Gellner ressaltam que a
representatividade do estado sobre o indivíduo, assim, era uma característica recorrente na política, na
identi cação dos lugares, na identi cação das pessoas e na sensação de pertencimento ao lugar.
Segundo é possível constatar, a partir dos estudos de Gellner, a constante recon guração da
representatividade dos indivíduos, perante o estado e a propriedade, parece ter in uenciado a forma
de abordagem da dinâmica e o movimento dos territórios, durante o século passado.
Como, então, se processou essa mudança na representatividade dos indivíduos, e quais os motivos
desta mudança? De que maneira esta mudança na representatividade individual trouxe um novo
entendimento ao conceito de mobilidade territorial? O que isto implicou, na conformação estrutural das
redes?
Na pesquisa sobre o signi cado das redes, realizada para essa tese, vimos que o pensamento pós-
moderno representou a ruptura com a forma de observar e explicar o mundo através de metanarrativas.
151 É necessário lembrar que os estudos de Ratzel visavam, inicialmente, veri car os condicionantes de mobilidade do terri-
tório, entretanto, por situarem e justi carem a caracterização do estado moderno, apoiado em limites territoriais xos, acaba-
ram, de maneira paradoxal, por justi car os motivos da xação territorial do povos. Mais tarde, a teoria de Ratzel foi utilizada de
maneira distorcida pelos nazistas. Por este motivo, Ratzel cou conhecido como determinista, devido aos equívocos de leitura
de suas teorias.
152 Ratzel, apud Gomes, Paulo César C. Geogra a e Modernidade. 1996. p.186.
153 Gellner, Ernest. Nações e Nacionalismo. 1993. pp 34-76.
Fig. 1.4.11 - O controle territorial a partir das demarcações do limite físico - um hábito do Es-
tado Absolutista (durante o mercantilismo) que se consolidou na formação do Estado Moderno
(como defende Gellner) . A imagem mostra o mapa de Capitanias Hereditárias (capa coloniza-
dor que viesse de Portugal trazendo equipes de colonização recebia a posse “hereditária” de
uma porção de terra). Brasil - 1534
Fig. 1.4.12 - Divisão fundiária em El Salvador
CONCEITUAÇÃO
CAPÍTULO 1
91
O mundo deixou de ser entendido como constante e regular; e passou a ser valorizado a partir da
diversidade, da efemeridade, da descontinuidade. Segundo o geógrafo David Harvey
154
, estamos
vivendo em ambientes intertextuais (não mais contextuais), Para Harvey, a principal característica do
intertexto é a permutação de vários mundos. Assim, a partir do momento em que o mundo deixou
de ser pensado a partir de uma visão contextual (uma realidade que é igual para todos), a idéia de
alguém que intervém no mundo, a partir de uma visão de totalidade, deixou de ter sentido. A partir
desse momento, segundo descreve Harvey, a linguagem foi desvinculada de uma única visão lógica,
e passou a apresentar representações múltiplas e relativas de mundo: passou a ser semiológica. E
a realidade passou a ser vista não mais a partir da óptica da maioria, mas a partir da relação entre
diferentes opiniões.
Essa visão de Harvey explica sintetiza a mudança de descreveremos a seguir, no conceito de Estado,
que passou, durante o século XX, de uma representatividade da opinião da maioria (em países mais
democráticos) ou dos mais poderosos ( em países menos democráticos) para a gura de um corpo
que deve representar e intermediar o con ito de opiniões, inclusive das minorias. Assim, presume-se
que essa mudança no papel do Estado, em relação ao indivíduo, é essencial para a compreensão da
construção do papel da representatividade privada, na rede urbana.que estabelece relações ecológicas
entre a infraestrtura e o uso do solo, entre a dinâmica regional e as necessidades locais, entre o
indivíduo e as comunidades e institucionalidades das quais esse indivíduo faz parte.
1.4.2. A representatividade privada e a importância da movimentação orgânica
territorial: um exemplo de estruturação estratégica da rede urbana.
Ainda que, na constituição do Estado Moderno, o conceito de imobilidade da propriedade pareça
representar a principal causa da xação territorial nos limites espaciais, o conceito de imobilidade
relacionada à propriedade privada tem origem muito anterior: na transição da Idade Antiga para a Idade
Média, em Roma. Nesta fase, o conceito de propriedade estava essencialmente ligado à terra
155
.
A partir da observação dos estudos de Max Weber, em História Agrária Romana, veri ca-se que o termo
território, já na época da antiga civilização romana, foi associado à área de vivência (por jurisprudência)
de uma cidade ou de uma comunidade. A Praefecturae era a base legal que conferia sentido à
forma (planta da cidade, que discriminava o tamanho e a localização das propriedades), através do
154 Harvey, David. Paris, Capital of Modernity. 2003. pp.69-90.
155 somente na consolidação da Idade Média, com o ressurgimento do comércio, as resistências contra esforços da igreja
em proibir a usura, e o desenvolvimento das monarquias nacionais, voltou a haver o reconhecimento do direito da propriedade
privada sobre objetos, além da terra.
Fig. 1.4.13 - Intertextos - Tempo de revisão das relações intertextuais. Mapa do centro de
Buenos Aires. Desenho de Salvador Schavelzon, reproduzido por Julieta Quirós
Fig. 1.4.15- Praefecturae romana e o conceito de cidadania representação antiga
Fig. 1.4.14- Instrumento romano
de medição agrária
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
92
assignatio
156
(maneira contratualista de respaldo jurídico, que conferia sentido ao patrimônio). O caráter
de controle, atribuído aos territórios, deu origem aos limites de espaço que representaram a soberania
dos estados. Observa-se, assim, que os Estados modernos surgiram a partir da criação de um modelo
patrimonial e contratualista, herança, em muitos aspectos, do modelo romano que associa o indivíduo
ao espaço que o regulamenta como indivíduo coletivo – cidadão. Como observou Max Weber, é a partir
do modelo agrário romano que o território da cidade foi considerado a unidade de deveres e direitos
dos cidadãos.
Analisando a organização agrária e territorial proposta por Weber, é possível veri car que existiu uma
gura jurídica, associada à propriedade, que foi utilizada para dar sentido e forma à base territorial
romana. Com base nessa gura jurídica (o assignatio) era feito o censo demográ co. Desta forma, os
indivíduos tinham direitos e deveres por pertencerem a determinados municípios. Através desta análise
da mobilidade, da propriedade e do uso das terras, o trabalho de Weber forneceu ferramentas sobre
a xação territorial e o sobre comportamento do estado neste processo de xação territorial na Roma
antiga.
Veri ca-se ainda que a cultura de entendimento do território da cidade como unidade jurídica de
deveres e de direito parece ter surgido da urgência de defesa e manutenção do Império Bizantino.
A pesquisa histórica, do ponto de vista da organização estatal, em relação à política de terras, no
Império Bizantino, demonstrou de que maneira a desestruturação político-estratégica da rede quase
levou a civilização do Império Romano do Oriente à extinção: por volta do ano 330, o Império Romano
do Ocidente, de base econômica escravocrata, estava em crise
157
. Existia, entretanto, uma pequena
cidade, com uma estrutura de apropriação de terras diferente da lógica romana: nascia e se prosperava
a partir de um porto em crescimento, localizada na con uência do Mar Morto com o Mar Mediterrâneo.
O imperador Constantino decidiu, então, transferir a capital do Império Romano do Ocidente, fazendo
de Constantinopla a nova capital do Império Romano. A partir de então, começou a existir a distinção
entre Império Romano Ocidental e Império Oriental. Constantinopla se transformou no maior centro
cultural, nanceiro e mercantil, nos onze séculos seguintes; cresceu com uma política estruturada a
partir dos vínculos entre o porto e as pequenas propriedades comerciais, e se transformou em um
grande entreposto.
Em épocas de forte expansão, Constantinopla (mais tarde Bizâncio) chegou a ter uma população
de 34,5 milhões de habitantes
158
, o que a tornou alvo de conseqüentes invasores. Para o imperador
156 Weber, Max. História Agrária Romana. 1864. Trad. Brandão, Eduardo. 1994. pp. 45-78
157 Em comparação com a Grécia e outras civilizações, grande parte dos historiadores da estrutura fundiária romana
(incluindo Weber) ressaltam que o regime escravocrata romano foi o mais perverso. O que diferenciava o regime romano de
escravidão era a ligação com a política fundiária. Roma fora dividida em muitos e pequenos latifúndios. Qualquer pequena
propriedade tinha direito a possuir 3ou 4 escravos. Assim, para cada habitante de Roma, no auge da escravidão, a proporção
da população era quase 4 escravos /habitante. Esta relação se transformou em uma grande crise estrutural na produção de
trabalho.
158 Maier, Franz Georg - Bizancio, in Historia Universal Siglo XXI, v.13, 1974, p.23.
Fig. 1.4.16- A in uênciia que a religião tinha, sobre os cidadãos, e a divisão de terras de origem
latina, com limites controlados pela associação do Estado com a Igreja
Fig. 1.4.17 - Roma: cidade estagmada pela falta de mobilidade territorial, devido à rigidez
fundiária e falta de conexão com o amr e com os mercados levou o imperador Constantino a
mudar a capital para o oriente (Constantinopla)
CONCEITUAÇÃO
CAPÍTULO 1
93
turco Maomé II, a cidade era apelidada Maçã de Prata, devido à excelente localização estratégica e à
inigualável prosperidade comercial
159
.
No nal do século VI, tentando reaver o território do ocidente (que, após o enfraquecimento nanceiro
decorrente da crise, havia sido tomado pelos invasores), o então imperador Justiniano adotou uma
política que chamou de universalista e visava utilizar os recursos do oriente, para reaver as terras do
ocidente, que, por estar estagnado desde a crise da escravidão, não possuía recursos para defesa das
terras. Com a excessiva alocação de homens para a retomada do território do ocidente, a política de
Justiniano foi responsável pelo enfraquecimento do exército responsável pela defesa da área oriental,
negligenciando Constantinopla, e permitindo que os invasores conseguissem o controle da capital.
Sob o poder dos invasores, os pequenos proprietários de Constantinopla foram obrigados a pagar
altíssimos tributos, e, aviltados, foram enfraquecidos perante os arrendatários. Ainda como parte de
sua política universalista autocrata, Justiniano restabeleceu os quadros administrativos: promoveu a
união da Igreja Ortodoxa com o Estado, construindo a Hagia So a, sede do imperador do oriente e
do clero; fez com que as moedas bizantinas (o sólidus e o numma) se tornassem universais, sendo
cambiadas em grande parte da Ásia e Europa; e foi o responsável pela criação do grande código
jurídico do Direito Civil, nomeado Corpus Júris Civilis, com o objetivo de fortalecer juridicamente as
bases do poder imperial e forti car o Estado com um sistema jurídico “e ciente”.
O Corpus Júris Civilis
160
, formatação jurídica que, mais tarde, deu origem ao código civil romano,
utilizado até hoje nos países de origem latina, já apresentava natureza territorial: mencionava questões
a respeito da jurisprudência Pandectas ( xação/limitação do território), e dos Institutos (organização
estrutural do território). Com esta estrutura, o Corpus Júris Civilis representou, por um lado, a retomada
da força estatal através de uma forte mudança cultural no entendimento da terra e do estado, no
Império Romano; por outro, culminou em uma reforma estatal ligada à terra, realizada pelo sucessor de
Justiniano, Heráclio, que quase extinguiu toda a civilização romana, tornando-a vulnerável ao ataque
dos turcos em 1453 (ataque que signi cou o m da Idade Antiga, na história das civilizações, com o
massacre do Império Romano)
161
.
Com base na estrutura jurídica do Corpus Júris Civilis, o sucessor de Justiniano, Heráclio, reformou
159 Runciman, Steven - A Civilização Bizantina 1961.pp 95-98
160 Azambuja, Darcy. Teoria Geral do Estado. 2002. pp 48-203.
161 Existe uma distinção importante para o projeto urbanístico, que precisa ser citada, entre os dos tipos de sistemas jurídicos
herdados da estrutura européia: um resulta na espacialização das políticas públicas, de uma maneira completamente diferente
do outro. O direito civil é originário da civilização romano-germânicas e o direito comum é originário da civilização anglo-saxôni-
ca. Enquanto, no Brasil se utiliza o direito civil, nos Estados Unidos e Inglaterra, a base jurídica é direito comum. Max Weber foi
um grande estudioso da ética existente por trás da ideologia protestante, que estimulou a revisão do direito e do poder exercido
pela igreja católica, na Idade Média. No direito comum, o estado não é soberano aos direitos do cidadão, e o processo partici-
pativo ocorre sobre o direito do Estado. No Brasil, as leis dos cidadãos são sempre submissas ao direito do estado, di cultan-
do, assim, o processo participativo. Cabe ressaltar a importância do Estatuto da Cidade, como uma ferramenta que assegura o
direito que os cidadãos têm, de questionar o direito estatal (nos assuntos concernentes à qualidade da vida urbana), e solicitar
a revisão da lei às necessidades das comunidades.
Fig. 1.4.17 - Constantinopla: a prosperidade devido à conexão com demais mercados via mar.
O reestabelecimento da mobilidade interna do Império Romano pela rede
Fig. 1.4.18 - Primeiro código romano, utili-
zado até hoje,,dicrimina o Direito do Estado
sobre o Direito das Coisas (dos civis). Esse
código permitiu uma política universalista
(de retomada das terras do Império Ro-
mano do Ocidente baseada no bem-estar
estatal, à s custas dos pequenos propri-
etários comerciantes do Oriente, levando
o império à um colapso estrutural, que o
tornou frágil às invasões
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
94
o estado, tornando-o objetivamente militar, e criou uma nova política de assentamento, nanciado
pelo estado. Como Heráclio visava o ataque ao centro do Império Persa, ao invés de procurar reaver
paulatinamente os territórios perdidos, reestruturou o estado e as terras a partir de um regime, por
ele, chamado de Themata, que consistia em posicionar tropas no limite da fronteira. Esta política
foi aplicada, primeiramente, com o posicionamento de tropas na Anatólia (Ásia Menor)
162
, e, além
do posicionamento, a política da Themata visava o assentamento dos antigos camponeses perto
das fronteiras, para trabalharem na defesa. Estes assentamentos foram formando pequenas vilas
chamadas chorion (aldeia em grego), administradas pelo estrátego, que visava sempre a expansão o
império. As Thematas constituíram a base do conceito da inalienação das terras. O estado garantia aos
estratíotas (soldado, em grego) o direito de moradia, e os estratíotas se comprometiam a não deixar
a terra, assumindo-a com o compromisso de defesa e scal. Em contraste, como os estratíotas eram
camponeses que passaram a trabalhar para o estado, os pequenos proprietários ligados ao comércio
no oriente, já aviltados pelos invasores no passado, continuaram a pagar altos impostos para manter a
estrutura estatal, continuaram enfraquecidos nanceiramente
163
.
Avaliando este contexto no âmbito da rede urbana, é importante a observação de que a política de
Justiniano, ao invés de forti car o potencial comercial-marítimo, do império do oriente, que apresentava
forte identidade de crescimento a partir dos muitos portos que foram se desenvolvendo, durante quase
dez séculos ao longo do litoral de Constantinopla (como o porto de Eleutério, Kontoskalion e So a), e
promover a forti cação das conexões comerciais que as cidades tinham espontaneamente, através do
estímulo aos pequenos proprietários, Justiniano adotou uma política que permitiu o conceito jurídico
de xação física do território, e o bem-estar do oriente, promovido pelo ocidente. Por conseqüência, a
necessidade de Heráclito em reaver os limites físicos do ocidente e torná-los impermeáveis aos demais
povos (sendo que o oriente, ironicamente, prosperava a partir do contato entre os povos) resultou em
uma política que, em detrimento do enfraquecimento da mobilidade estrutural, teve como objetivo a
forti cação dos limites físicos, e, por conseqüência, causou a fragilidade estrutural interna. A falta de
mobilidade estrutural permitiu, assim, a tomada de Constantinopla pelos turcos, em 1453.
Como o estado não havia sido capaz de manter as vilas de camponeses guardando as fronteiras, os
centros das cidades se mostraram frágeis para a xação dos nobres (os descendentes dos antigos
patrícios). Durante muito tempo, com as sucessivas invasões bárbaras, as demais cidades do Império
Romano desapareceram ou diminuíram suas atividades comerciais, com exceção das cidades marítimas
(como Gênova e Veneza), que continuaram a subsistir do comércio com as civilizações costeiras do
Mediterrâneo. Para que as cidades que não estavam conectadas ao litoral subsistissem, um fato curioso
começou a acontecer: buscando segurança, os nobres começaram a se aliar aos camponeses, e a se
estabelecerem com estes, perto das fronteiras. Os nobres nanciavam os camponeses na produção,
no sustento e nos armamentos de defesa; e recebiam, em troca, na maioria das vezes, segurança
e delidade. Desta forma, uma transferência de soberanias, do estado romano, para os senhores
162 Dalbon, Rafael Mansano.O Regime da Themata em Bizâncio: economia agrária, sociedade e militarização. 1985. Pp. 3-5
163 Ostrogorsky, Georg. Historia del Estado Bizantino. Tradução de Javier Facci. 1983, pp.104-115.
Fig. 1.4.19 e Fig. 1.4. 20 - A partir da política universalista de Justiniano, foi possível a utili-
zação do regime das Thematas para reaver antigos limites do Império Romano, inclusive as
terras do ocidente.
Fig. 1.4.21 - As Thematas - expansão
Fig. 1.4.22 - Nas The-
matas, os camponeses,
mantidos pelo Estado,
se tronavam parte do
exército, e iam ocupan-
do terras com o objetivo
de defender os limites
império. Uma forma de
ocupação contrária à
lógica da rede. Essa
forma de expansão foi
possível graças aos
impostos pagos pelos
comerciantes (que
foram aviltados). Essa
estrutura causou fragi-
lidade da infra-estrutura
da rede comercial.
CONCEITUAÇÃO
CAPÍTULO 1
95
feudais, acabou acontecendo de maneira responsiva à quase autodestruição do estado, decorrente de
Justiniano. Com o surgimento dos feudos, houve a privatização das forças militares locais e regionais;
a possibilidade de uma cobrança de tributos mais difusa, o que resultou no ressurgimento do comércio
e dos mercados, nas cidades feudais.
A partir da observação deste processo de adaptação variacional da rede (da privatização dos recursos
de defesa como estratégia de sobrevivência da civilização romana, porque permitiu a retomada da
mobilidade), nota-se a predominância funcional da importância estratégica, associada à mobilidade,
sobre a importância limite físico-político. Veri cou-se, também, a importância que a movimentação
orgânica territorial tem, na abordagem do projeto urbanístico que considera a rede de mobilidades o
ponto de partida para a prosperidade urbana..
1.4.3. Origens: o indivíduo e o território modernos
Em termos de reorganização da rede que vincula o estado, a propriedade e a gestão do poder, em
relação à representatividade do indivíduo, estamos em um momento grandes de mudanças culturais,
semelhantes ao que signi cou o Renascimento para a humanidade, como comparam o crítico de
arte renascentista Samuel Edgerton
164
, e o professor de relações internacionais de Harvard, John
Gerard Ruggie
165
. Nas palavras de Ruggie: “[…]If Renaissance art and the invention of single-point
perspective signaled and symbolized a breakthrough whose consequences were felt from artists’
paintings to the bundling of territorial space in ways that gave rise to the concept of nation-states
under single sovereigns
166
”.
As análises de Edgerton comparadas às hipóteses de Ruggie, sugerem que, enquanto o Renascimento
representou a construção da visão contextual de indivíduo, estamos presenciando atualmente a
construção da linguagem intertextual, e a reorganização da representatividade privada.
Muitos autores, como Ruggie, consideram que não foi no Iluminismo, mas em alguns anos antes
do Renascimento, que a visão contextual do homem moderno se criou, a partir da desconstrução
cultural decorrente das grandes modi cações nas ciências, e com a in uência de descobertas da
cultura clássica, que estava revolucionando a forma com que o homem abordava a sociedade, o
mundo e os territórios..
164 Edgerton, Samuel Y. Jr. The Renaissance Rediscovery of Linear Perspective. 1975 pp-27-29.
165 Ruggie, John. Territoriality and Beyond: Problematizing Modernity in International Relations. International Organization.
1993 pp 123-127.
166 Ruggie, John. Territoriality and Beyond: Problematizing Modernity in International Relations. International Organization.
1993 p. 159
Fig. 1.4.23 - Com a falência do im-
pério como estrutura de bem-estar, os
camponeses,que haviam se xado nas
fronteiras (que zeram parte do exércio
das Thematas, não tinham como se
sustentarem; ao mesmo tempo, a nob-
reza, que tinha terras, não tinha como
defendê-las. Dessa forma, a nobreza
se associou aos camponeses, que se
xaram ao redor dos feudos, com o intu-
ito de resguardar as terras da nobreza.
Houve uma espécie de “privatização” e
atomização da antiga estrutura do im-
pério. Com o tempo, a mobilidade entre
feudos foi aumentando, e ressurgoi o
comércio.
Fig. 1.4.24 - O espaço público que valoriza a perspectiva (Florença), e a rigidez territorial dos
edifícios do entorno - o percurso programado
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
96
Leonardo Da Vinci, desenvolveu aplicabilidades da perspectiva, e a noção de profundidade começou
a ser aplicada nos espaços públicos. Essa forma de ver o espaço afetou não apenas o desenho dos
espaços públicos, mas a forma de o homem se portar. Com o Renascimento, o homem passara a
“aproveitar as vistas”, de acordo com o ponto de vista de quem imaginara o espaço. Surge assim a
idéia de vista ideal, de percurso ideal. Com o tempo, essa idéia de percurso ideal evoluiu e contribuiu
para a criação de limites e acesso controlado, no espaço urbano moderno.
O Renascimento também representou o início da manufatura que, segundo o geógrafo Ruy Moreira
167
,
signi cou uma mudança grande nas relações de trabalho. A visão renascentista deu origem ao
conceito da manufatura, e na relação comportamental da sociedade, perante novas organizações de
trabalho. Esse parece ser o embrião da concepção racionalista e da atuação tecnocrática no espaço
público.
“A manufatura signi ca uma mudança, radical sob todos os aspectos para aquele tempo, nas relações
do trabalho. Esta mudança consistiu em colocar para trabalhar dentro de um mesmo galpão artesãos
que até então atuavam dispersa e individualizadamente nas o cinas, com a obrigação de realizar seu
trabalho de modo integrado e sincrônico. Por trás dos acontecimentos está a expansão mercantil,
que de certo modo é a origem do Renascimento, com sua necessidade de dispor de uma forma de
produção de mercadorias de maior volume, que desse ao seu uxo um horizonte mais amplo e sem
os limites e obstáculos da produção artesanal. A manufatura é essa forma nova de indústria que
aumenta fantasticamente a capacidade produtiva, a produtividade, e o volume das trocas, apenas
pelo ato de reunir, dividir e sincronizar o movimento conjunto do trabalho dos artesãos. Ela não abole
o trabalho artesanal. Rearruma-o, através da introdução de um sistema de controle e regulação
cronométrica que virá a ser a essência da relação do trabalho capitalista e a ossatura por excelência
da modernidade”.
Presume-se, assim, o estado moderno passou, na sequência, a exercer sobre o indivíduo (ainda
com a revisão do Direito Civil, originário do Corpus Júris Civilis), e o surgimento da nova forma de
trabalho, decorrente da manufatura, possibilitaram o surgimento de provas decisivas contra o poder
hegemônico da cosmologia cristã, que até então censurava os estudos cientí cos sobre a natureza, e
sobre a natureza da propriedade. Parece ser este o embrião da visão moderna da representatividade
individual (baseado na guração coletiva da construção social); de estado (sustentado por rígidas
instituições), de ambiente (lastreado pela capacidade de produção) e de propriedade (que considera
o território xo e bem delimitado).
167 Moreira, Ruy. A pós-modernidade e o mundo globalizado do trabalho. Revista Paranaense de Geogra a. Associação dos
Geógrafos Brasileiros - AGB Curitiba. 2ªEd. Julho/1999, p.23.
Fig. 1.4.25 - a rigidez dos limites territoriais modernos - o público e o privado distindos pelo
limite de lote.
CONCEITUAÇÃO
CAPÍTULO 1
97
1.4.4. A mudança na representatividade do indivíduo e a construção da visão
holográ ca de território.
Com a intenção de discutir as mudanças nas formas de representatividade do indivíduo, para o
entendimento da dinâmica dos territórios nas redes, e das diferentes formas de construção social do
espaço, veri cou-se que muitos dos trabalhos do geógrafo David Harvey abordam as relações entre
a propriedade, as instituições nanceiras, e o estado, em relação às transformações do ambiente
construído.
Em Paris, Capital da Modernidade
168
, Harvey discute, entre outros assuntos, a questão territorial da
cidade de Paris no século XIX, após as mudanças realizadas pelo Barão de Haussmann. O objetivo
de Harvey, com esta análise, foi veri car a representação do sentido de modernidade no discurso,
nas artes e principalmente detectar os possíveis nichos prosperantes do processo que chama de
criativa destruição, atentando para as novas oportunidades ao desenho das cidades, decorrentes do
surgimento do capital especulativo (tanto em grande, quanto em pequena escala), e das inovações nos
mecanismos de crédito, que surgiram com o capital ctício.
Para Harvey, ainda hoje, a dinâmica mundial e as divisões de limites territoriais se dão a partir dos modos
de produção. Enquanto o mundo se mantiver capitalista (nos moldes do capitalismo industrial estático,
que relaciona a propriedade privada de uma maneira estática e determinante dos limites de uxos da
cidade) não poderá haver grande disjunção. Em Condição Pós Moderna
169
, editado inicialmente em
1989, Harvey veri cou que o período que muitos denominam de pós-moderno não representou uma
quebra decisiva com a era moderna, mas uma extensão do período moderno levado à sua própria
exaustão. Segundo o geógrafo, a mudança do paradigma mercantil para o pós-industrial se deu de
forma mais profunda do que a mudança do Fordismo para o pós-Fordismo. Através desta constatação,
Harvey argumenta que a construção do pensamento pós-moderno se deu de uma maneira mais
impactante, o que implicou em grandes mudanças estruturais na sociedade, como as relações sociais,
as relações de trabalho, a cultura, as condições e a qualidade de vida, e as formas de urbanização.
Ainda que Harvey tenha sido o primeiro a a rmar que a pós-modernidade é conseqüência de uma
profunda transformação no tempo-espaço, o geógrafo apresenta uma visão sicista dos processos de
descentralização, ao comentar sobre a rigidez dos fatores (principalmente institucionais) responsáveis
pela falta de mobilidade de capital ctício. Para Harvey os limites físicos da propriedade privada moldam
as con gurações do capital ctício, na cidade estruturada a partir da visão moderna.
Esta a rmação de Harvey nos leva a concluir que, se as regras de interpolação da propriedade privada
são limitadas sicamente (espacialmente), o mesmo ocorre com o uxo de capital ctício, e com os
168 Harvey, David. Paris, Capital of Modernity. 2003. pp 77-81
169 Harvey, David. Condição Pós Moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural. 1989. pp 36.38.
Fig. 1.4.26 - Jacques Tati - as críticas ao percurso rígido característico da concepção moderna
de território
Fig. 1.4.27 - Territórios interpenetráveis - integração entre espaços de usufruto público (públi-
cos e privados). Projeto para a FriasStreet, Ontário, Canadá.
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
98
territórios. Isso explica o abandono encontrado áreas projetadas com a nalidade de serem comerciais,
em edifícios modernistas como o Unité d`habitación, de Corbusier, já citado no cap.1.
Entretanto, em Condição Pós Moderna
170
, a visão por vezes sicista de Harvey, torna a visão do
processo de aglomeração semelhante à visão de Keynes, e da visão pós-moderna de fractalidade. Para
Harvey, tanto quanto para Keynes (assim como para Tschumi e Libeskind) a disjunção é necessária
à quebra de limites estruturadores do espaço; entretanto, a análise da produção destes sugere que a
aleatoriedade espacial de reorganização destas disjunções molda novas possibilidades de uxos. Esta
visão é um pouco diferente da caracterização de aglomeração e territorialização abordados a partir do
conceito de aprendizado e signi cação das redes orgânicas. Em adição, Harvey destaca a importância
da burguesia na criação do novos hábitos de consumo, e, apesar de mencionar a importância da
representatividade individual, característica da corpori cação privada do capital, base estrutural da
iniciativa privada tal como é hoje, não desenvolve uma visão de realidade baseada na complexidade
de relações individuais.
A partir do estudo das redes neurais, e da criação de analogias à observação do comportamento
da iniciativa privada, nas análises dos mecanismos das PPPs apresentadas em alguns projetos
analisados no terceiro capítulo dessa tese, como o projeto desenvolvido para o Novo Bairro, em São
Paulo, acredita-se que o processo de conhecimento em cadeia presente nas redes atue a partir re-
signi cação constante dos padrões emergentes, recon gurando uxos de interesse geradores de
oportunidades. Presume-se, a partir desta pesquisa, que este processo seja responsável por atribuir
sentido às aglomerações, nas redes urbanas.
Como contraste, observa-se que a aglomeração e a descentralização, na visão pós-moderna, entendidas
a partir da recon guração de funções do espaço, eram conceituadas a partir de uma visão diferente
do que hoje se entende por aglomeração / descentralização, enfocadas na recon guração dos modos
de comunicação, a partir dos fenômenos culturais e cognitivos. Cabe observar que é provável que a
negativa ênfase de muitos críticos da globalização esteja muito mais relacionada ao desenvolvimento
equivocado da visão pós-moderna de descentralização, que se demonstra baseada na emergência
de características globalizantes criticadas por se sustentam pelas inovações eletrônicas associadas à
comunicação, o que justi ca aparentemente a falta de eqüidade de acesso a estas inovações.
Apesar de as primeiras obras de Harvey de alguns outros críticos do pós-modernismo, como o jornalista
Charles Jencks, apresentarem uma visão sicista, de início, alguns estudiosos da visão pós-moderna,
observadores dos padrões que emergem dos padrões sociais, como Boyarin
171
, veri caram, entretanto,
170 Harvey, David. Condição Pós Moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural. 1989. pp 51.54.
171 A abordagem social vista sob a ótica do pós-modernismo, entretanto se deu a partir dos trabalhos de Boyarin. Enquanto o
jornalista Charles Jencks identi cou que modernismo se encerrara em 1972, Boyarin rejeitou padrões precisos e veri cou que,
especialmente durante o último quarto do século XX, testemunhou-se uma grande revolução cultural, econômica, política, so-
cial, que pode ser chamada de pós-moderno. Vide Jencks, Charles. New Paradigm in Architecture. 2002. Pp 23-48. e Boyarin,
Daniel. Border Lines. 2004. pp 91-94
Fig. 1.4.28 - Unité d`Habitación. A área comercial desse edifício, disconexa do tecido urbano,
não é utilizada, e não contribui para gerar momentos de integração coletiva nos espaços de
usufruto público
Fig. 1.4.29 - Peter Eisenmann e o espaço público pós.moderno - melhor qualidade de con-
vivência, mas apresenta somente equipamentos ligados ao consumo. Poderia integrar outros
tipos de atividade, à várias classes sociais
Fig. 1.4.30 - Os tipos de vínculos em espaços públicos - a rede interpessoal
CONCEITUAÇÃO
CAPÍTULO 1
99
que o grande resultado da revolução pós-moderna é uma nova concepção de espaço, que começa a
se apresentar como um resultado do tecido social. O espaço como resultado do tecido social se tornou,
desde então, o foco principal da teoria social e da geogra a pós-moderna.
Analogamente à revisão da materialidade do espaço urbano e das relações entre o espaço e o indivíduo,
houve o questionamento, na história, dos conceitos de tempo / espaço, neste mesmo período, na
física. Esta nova visão de mundo, que deixava de assumir a materialidade espacial como estrutura
organizacional do átomo e da sociedade foi responsável por quebras epistemológicas que levaram
à compreensão de que, nem o tempo e nem o espaço poderiam possuir signi cados que fossem
independentes de processos materiais. Mas era consenso que não seria mais o processo material o
responsável pela existência das qualidades e da dinâmica do espaço. Disto decorrem as investigações
pós-modernas acerca da forma. Mais tarde, consciente da materialidade temporal, Harvey, em Espaços
de Esperança
172
, veri cou que a construção espacial é resultado da ação concreta da corpori cação
subjetiva do trabalho.
A partir da análise da obra de Harvey foi possível veri car que, com as grandes mudanças do uso do
solo, decorrentes da organização estrutural moderna das cidades, existiram abruptas alterações nas
relações de risco e nas formas de alocação de capital, o que causou uma forte rea rmação dos limites
de propriedade, das composições de classes sociais (que passaram a se diferir segundo grandes
alterações nos hábitos de consumo e modos de produção), e da segregação espacial.
Os estudos sociais demonstram que a natureza de organização de antigas sociedades se deu através
de várias estratégias territoriais, entretanto a observação de como ocorre o desenvolvimento de
centralidades, não baseadas na estrutura estatal (assim como a estrutura social original dos judeus),
foram abandonadas nos últimos dois séculos. Observa-se que, aparte à visão colonialista, foi
principalmente a partir da in uência do historiador George Mendenhall
173
, ao tratar da experiência no
Vietam, os estudos sociais passaram a focalizar a relação existente entre as sociedades segmentárias
e não-centralizadas, em relação ao grande sistema centralizado.
Muitas destas observações sobre a di culdade de materialização mobilidade territorial já foram feitas,
principalmente após os anos 90, e podem ser veri cadas nas obras de Harvey, da socióloga Saskia
Sassen
174
, e do arquiteto Fábio Duarte
175
, entre outros autores. Os mais diversos estudos sobre a
xação do território aos limites da espacialidade demonstram que esta temática não é concernente
apenas à abordagem causa-efeito das relações modernas, e nem à visão histórica cartesiana de
especialização.
172 Harvey. David. Espaços de Esperança. 2000. Trad. Adail Ubirajara Sobral. 2004.p 213
173 Mendelhall, George. The Tenth Generation. The John Hopkins University Press, Baltimore, 1973. p.16
174 Sassen, Saskia. Territory, Authority, Rights: from medieval to assemblages. Princeton University. New Jersey, 2006 pp. 21-
58; e Sassen, Saskia. As Cidades na Economia Mundial. Studio Nobel. São Paulo, 1998. Pp. 18-47.
175 Duarte, Fabio. Crise das Matrizes Espaciais. Ed. Perspectiva. São Paulo, 2002. Pp. 14-17/ 54-96.
Fig. 1.4.31 - Espaços interpenetráveis nos lotes - condição para a interação humana em
espaços de usufruto público - Fórum de Tóquio.
Fig. 1.4.32 - espaços públicos interativos - Intervenções do grupo de artistas E-Flux
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
100
A materialização da espacialidade de uma maneira dinâmica, interagente com a mobilidade dos
territórios, parece ser concernente muito mais à forma das estruturas (em rede) que con guram a
mobilidade espacial, como a prática concreta. Através da prática concreta, espacialidade e conteúdo
se interagem contra o status quo (que, como se observa, geralmente tenderia a manter o espaço
de maneira privilegiada por si só. Provavelmente vem daí a necessidade de pós-modernistas como
Libeskind, Tschumi e até mesmo do geógrafo Harvey e do economista Keynes de procurar a disjunção
espacial e a reformulação de novas lógicas espaciais
É provável que, ainda que novos modos de produção tenham oferecido abertura às novas pesquisas
tecnológicas relacionadas à otimização da comunicação, talvez as instituições humanas necessárias
uso adequado da tecnologia não tenham aberto novas oportunidades ao desenvolvimento de
territorialidades mais dinâmicas.
A provável falta de institucionalidades ad-hoc que facilitam o acesso à comunicação reforça a idéia
de que a tecnologia pode vir a ser, mas não é necessariamente pública: a internet pode ser a grande
metáfora cultural da espacialidade, mas não o é do conhecimento; e os meios de comunicação (mesmo
que à revelia das tão difundidas visões de McLuhan
176
) não iniciaram o processo que torna público o
conhecimento das informações. Os artistas da Renascença inovaram o pensamento cientí co através
da nova forma de olhar, do ponto de fuga, e interferiram no desenho das cidades e nos padrões
organizacionais de percepção, explorando a visão do observador a partir do ponto focal previamente
determinado. A hologra a, entretanto, permite que, a partir da paralaxe, se tenha múltiplas visões
tridimensionais do conjunto, com o deslocamento do ponto de vista do observador; e traz à discussão
a possibilidade da espacialidade alternativa, e a possibilidade de opções necessárias à construção do
conhecimento. A hologra a quebra o monopólio da informação e a distribui livremente, mas apenas
quem se importa ou pode detectar determinado tipo de informação pode percebê-la. A perspectiva e o
ponto de fuga se relacionam com o espaço, assim como a hologra a se relaciona com o território.
O território, portanto, é uma espécie de espacialidade crítica que precisa ser dinâmica porque é resultado
semiótico (do con ito de diversas visões subjetivas) do processo de conhecimento da rede. Na busca
da dinâmica de produção do conhecimento que atua sobre o espaço, muitos estudos críticos buscaram
abordar a espacialidade a partir de um ponto de vista sociológico/histórico.
176 McLuhan, Marshall. Os meios de comunicação como extensões do homem. 996. Pp 31-54 / Mc LUHAN, Marshall. The
Global Village. Transformations in World Life and Media in the 21st. Oxford USA Trade. London, 1992. pp. 12-17. e Mc LUHAN,
Marshall. The médium is the message. 1989. pp 35-48.
Fig. 1.4.33 - O território holográ co é aquele que cada indivíduo percebe uma rma de vínculo
diferente entre os outros. A cidade exível não só permite a sobreposição de territórios, mas se
molda a partir de espaços interaativos para abrigar várias relações territoriais.
CONCEITUAÇÃO
CAPÍTULO 1
101
1.4.5. Discussões que abordam a espacialidade a partir da tentativa de visões
holográ ca da cognição territorial - a busca da uma materialização exível do
território no conceito do terceiro espaço.
Alguns dos estudos pós-modernos que abordam a espacialidade a partir da tentativa de visões
holográ ca da cognição territorial, são inspirados no conceito de heterotopia
177
, desenvolvido pelos
lósofos Michel Foucault
178
, pelo sociólogo Henri Lefèbvre
179
, como é o caso do geógrafo Edmund
W. Soja
180
, que critica o estoicismo
181
, e defende o materialismo geográ co
182
. Outros desenvolveram
uma visão a partir da geogra a antropológica, e criaram de nições, baseadas na visão do indivíduo,
para o próprio espaço, para o conceito de lugar, de paisagem, e para o que chamaram de imaginação
geográ ca, como Yi Fu Tuan
183
e Hirsch
184
.
Nas análises de Tuan, as relações entre poder e tecnologia parecem ser forças contestadoras entre
si. A partir da consciência da dinâmica que a sociedade desempenha na interação com estas forças,
cria-se a representação do espaço. Já Henri Lefèbvre associa o capitalismo (ao invés da relação poder
– tecnologia) à força de contestação que alimenta a dinâmica social da produção do espaço. De acordo
com Lefèbvre, a produção do espaço é triádica – uma relação entre a prática espacial (reprodução pelo
processo capitalista), a representação do espaço (o espaço produto da ideologia hegemônica, que
obscurece as práticas sociais), e o espaço representacional (o espaço produto da resistência, resultante
da dinâmica social que almeja a mudança, liberdade). A visão marxista de Lefèbvre, entretanto, parece
ser a causa de duas inconsistências da representação espacial apresentada em sua teoria: a primeira
inconsistência está na abordagem do capitalismo, na prática social, que não é entendido como um
sistema concorrencial, quase fatal à elite estabelecida que não atualiza suas formas de produção, mas
limitado pelas fronteiras sociais da propriedade privada e da subordinação eterna dos produtores, pelos
detentores da força produtiva; a outra inconsistência parece estar na visão de que a vontade social (de
resistência e transformação) é hegemônica. Entretanto, como discutimos na pesquisa realizada para
177 Para Foucault, heterotropia é a forma alternativa de atribuição simbólica, no processo cognitivo do espaço. O espaço pode
ser concebido a partir de uma ordenação alternativa e subjetiva; para Lefèbvre, o espaço é o resultado da produção social,
muito mais produto de uma simples ordenação contínua, do que algo que oferece opressão ou da resistência às dinâmicas
sociais.
178 Foucault, Michel. Of Other Spaces.1986. pp. 49-53
179 Lefèbvre, Henri. The Production of Space. 1991 pp 32-36.
180 Soja, Edward W. Geogra as Pós Modernas: A rea rmação do Espaço na Teoria Crítica. Trad. deRibeiro, Vera. 1993 pp
12.18.
181 de acordo com o histoicismo, o homem é uma parte do propósito universal, e deve se entender uma pequena parte de um
grande processo.
182 É importante não confundir o materialismo geográ co com o materialismo dialético. O materialismo dialético tem como
fundamentado a teoria marxista e se desenvolveu com base nos estudos sobre a formação da identidade das classes. O ma-
terialismo geográ co, explorado por Soja, discute a materialidade do espaço, a partir da consciência da identidade do local. O
espaço é a materialização de uma produção social.
183 Tuan, Yi Fu. Espaço e Lugar. 1993.Pp. 21-46. Tuan, Yi Fu. Topophilia. 1980. Pp. 5-27.
184 Hirch, Eric. Anthropology of Landscape. 1995. Pp. 25-32.
Fig. 1.4.34 - espaços públicos interativos - Intervenções do grupo de artistas E-Flux
Fig. 1.4.35 - espaços públicos interativos - Intervenções do grupo de artistas E-Flux
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
102
o primeiro capítulo da tese, o papel da semiótica está justamente na produção do espaço, a partir do
con ito de vontades subjetivas.
In uenciado pelos estudos de Lefèbvre, Soja elaborou também uma relação triádica, tentando
representar a dinamicidade do espaço. A crítica feita a Lefèbvre, sobre a visão social, como se a
vontade coletiva fosse homogênea também é válida para Soja. Entretanto, o trabalho de Soja possui
uma particularidade que nos interessa, nesta pesquisa: ao se inspirar na visão triádica de Lefèbvre, Soja
enfatiza a importância do terceiro espaço. Explica, através do conceito de terceiro espaço, as intenções
de Lefèbvre em criar uma relação não-dialógica à representação da dinâmica espacial, assim como
parece ter sido a intenção de Peirce, ao trazer a idéia de signi cação triádica à semiótica. Como vimos
na pesquisa realizada para o primeiro capítulo da tese, a relação triádica de Peirce foi fundamental o
entendimento do conceito do conhecimento em cadeia.
Além de enfatizar a intenção de representação triádica da dinâmica espacial no trabalho de Lefèbvre,
Soja apresenta uma de nição mais interagente de terceiro espaço. Além de de ni-lo como espaços de
resistência, como o fez Lefèbvre, Soja menciona que também fazem parte do terceiro espaço, o caráter
político (que apresenta a imprevisibilidade de escolhas), e a vivência espacial como elemento in uente
na localização (que engloba a experiência que as pessoas criam, constantemente, sobre o espaço em
que vivem). Assim, apesar da visão marxista de coletividade, a de nição de terceiro espaço de Soja
começa a apresentar indícios de espontaneidade na concepção da dinâmica espacial.
Na pesquisa realizada para o primeiro capítulo da tese, discutimos que enquanto a arquitetura
caminhava para a abstração da forma, alguns pesquisadores, em diversas áreas do conhecimento,
criticaram a visão modernista simbólica do objeto de estudo, e buscaram compreender os processos
que levam à percepção da realidade. Michael Foucault (in uenciado pela visão subjetiva da psicanálise
de Freud e pela relatividade de Einstein) desenvolveu estudos que demonstram que o saber é relativo
ao conhecimento de mundo de cada indivíduo e percebeu que os grupos sociais são heterogêneos e
que os sujeitos, quando considerados socialmente, não constituem um grupo, mas uma multiplicação
de egos. Através das análises das obras de Lefèbvre e Soja, inspirados em Foucault, nota-se que
as discussões que abordam a espacialidade a partir da tentativa de visões holográ ca da cognição
territorial buscam uma materialização interativa do território, no conceito do terceiro espaço.
Foi a partir das questões levantadas por Foucault, a respeito do espaço perceptível e das críticas de
Heiddegger às instituições, que começam as discussões a respeito da representatividade coletiva e
da representatividade individual. Parece ser consenso entre os autores, entretanto, que a noção de
representatividade esteja sempre associada à condição de mobilidade espacial.
Fig. 1.4.36 - espaços públicos interativos - Intervenções do grupo de artistas E-Flux
Fig. 1.4.37 - espaços públicos interativos - Intervenções do grupo de artistas E-Flux
CONCEITUAÇÃO
CAPÍTULO 1
103
1.4.6. A crise da Mobilidade e as metamorfoses do território.
Alguns autores, relacionados ao estudo de políticas internacionais, costumam relacionar a questão
da dinamicidade dos territórios, com aspectos de mobilidade encontrados na observação da política
medieval. Estes autores, a exemplo do especialista em relações internacionais John Ruggie
185
e do
teórico em táticas políticas do Oriente Médio, James Anderson
186
, entendem o modernismo como um
período máximo da crise de mobilidade. De um lado, a tecnologia permitiu a conquista da rapidez
e da qualidade deslocamento. De outro, a delimitação de fronteiras, nas diversas escalas, aliada à
a rmação da identidade política do estado, representaram a grande quebra da lógica espontânea de
sobreposições das territorialidades sobre o espaço.
Ruggie e Anderson defendem, assim, que o espaço não pode ser o limite físico do território. Através
da análise das territorialidades medievais, Ruggie a rma que a estrutura que atribui signi cado aos
espaços medievais é resultante da interpenetração de territórios. Assim, os fatores responsáveis pela
e ciência da mobilidade estavam relacionados muito mais aos padrões territoriais do que aos limites
espaciais e às fronteiras de propriedade e de estado.
Rea rmando a constatação de Ruggie, Anderson explica que os mapas muçulmanos não apresentam
limites físicos que representam o poder do estado. Ao contrário, trazem a identi cação de padrões de
territorialidades, zonas de con itos, áreas de muita demanda da terra e dos recursos naturais, zonas
de transição, aglomerações, e categorias de mobilidade. Ruggie demonstra que o estado moderno
representou limites físicos excessivamente inibidores do padrão espacial necessário ao desenvolvimento
espontâneo das pequenas institucionalidades, das rmas e das re-acomodações humanas sobre os
territórios, e criou uma cultura que colaborou com a xação das estruturas sociais, com a falta de
constante reorganização interna destas estruturas, e presume-se que tenha contribuído com a falta
de adhocidade e mobilidade que torna saudáveis as institucionalidades. Ruggie comenta, assim, que
podemos estar testemunhando um período de re-acomodação variacional e responsiva dos territórios
sobre o espaço do planeta.
Um dos estudiosos da territorialidade pré-moderna é o geógrafo Robert Sack. A contribuição do trabalho
de Sack está em notar que existe uma noção de reciprocidade entre os indivíduos ou grupos instituídos,
que enfraquece e se forti ca que mantém a relação orgânica em rede de produção de atividades. Para
Sack, a territorialidade é a possibilidade de um indivíduo ou de um grupo, em empreender in uência
ou controle em uma determinada área, e os territórios, a partir da síntese da idéia de Sack, são formas
socialmente construídas a partir das relações empreendidas por estes grupos e indivíduos, sobre o
espaço, e sempre manifestam espacialmente os diferentes propósitos dos grupos.
185 Ruggie, John. Territoriality and Beyond: Problematizing Modernity in International Relations. International Organization.
Columbia, 1993. p.57
186 Anderson, James. The Shifting Stage of Politics: New Medieval and Postmodem Territorialities. Environment and Planning
D. Society and Space 14.1996. p.133
Fig. 1.4.38 - espaços públicos interativos - Intervenções do grupo de artistas E-Flux
Fig. 1.4.39 - espaços públicos interativos - Intervenções do grupo de artistas E-Flux
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
104
Assim, segundo Sack, a classi cação de territórios por áreas geográ cas é tão impossível quanto
desnecessária. Segundo o geógrafo, as pessoas não determinam quem é membro do grupo, e quem
não é a partir de limites geográ cos, mas a partir da identi cação que o indivíduo faz do território, e da
reciprocidade que ele mantém com alguns dos (não necessariamente com todos os) demais indivíduos
do mesmo território. Desta forma, indivíduos e territórios, segundo Sack, podem ser identi cados como
redes, e esta forma de aglutinação resulta em uma espacialidade diferente da espacialidade na qual os
indivíduos pertencem a um estado, ou a um território físico, demarcado pelo poder do estado.
Alguns teóricos da globalização ainda acreditam na ascensão de alternativas e novas ordens territoriais,
e defendem a re-territorialização (entendida como um novo re-arranjo que visa uma nova xação). A
União Européia e o Mercosul foram exemplos claros deste pensamento. De maneira geral, constata-
se que a integração européia reconstruiu os mecanismos de funcionamento espacial e as regras de
mobilidade e acesso no leste europeu. A tradicional estrutura tríptica, xa, de governo está, aos poucos,
se transformando em uma rede de governâncias que se desenvolve em vários níveis: diferentes arenas
políticas estão interconectadas, ao invés de sobrepostas (assim como no Brasil, o Partido Liberal,
atualmente, apóia o Partido dos Trabalhadores). Na União Européia, as redes operam de maneira
supranacional, criando governâncias transnacionais. Desta maneira, criou-se uma lacuna entre as
estruturas dos governos e a grande mobilidade da capacidade de governância; o mesmo aconteceu
entre a estrutura xa do espaço público, e a capacidade de mobilidade espacial dos setores privados.
Outros, como Saskia Sassen, acreditam que a revolução nos meios comunicacionais tem minado a
territorialidade estatal. Com a revolução na comunicação, os estados passam a ter menor controle
sobre as pessoas que vivem ou circulam nos territórios que lhes cabe. A imigração, as companhias
multinacionais, e as dissoluções interestaduais são mecanismos deste processo de busca de novas
mobilidades territoriais. As nações-territoriais estão sendo substituídas por comunidades trans-
nacionais, e o sistema de nações-estado está se tornando a rede de cidades mundiais.
A partir da análise das obras de Ruggie, Formaini, Sack e Sassen, é possível perceber que a xação
territorial no espaço geralmente desencadeia um processo de mobilidade responsiva dos territórios sobre
os limites espaciais. Desta maneira, a espacialização dos territórios que está focada na mobilidade, na
rede urbana, podem apresentar qualidades de maior interatividade e permitiem a atualização constante
entre as estruturas distributivas e a grande mobilidade da capacidade de vivência; entre a noção de
reciprocidade entre os indivíduos ou grupos instituídos, e a relação orgânica em rede de produção de
atividades, como defende Sack. No projeto urbanístico, esta relação se dá a partir das estratégias de
associação do transporte coletivo com os espaços terciários, e com a mescla e ciente de espaços
geradores de ativos, com soluções passivas (como é o caso das soluções de renovação dos recursos,
que agregam valor apenas à longo prazo).
Esta relação responsiva da mobilidade territorial é uma questão delicada, associada à e ciente liquidez
Fig. 1.4.40 - espaços públicos interativos - Intervenções do grupo de artistas E-Flux
Fig. 1.4.41 - espaços públicos interativos - Intervenções do grupo de artistas E-Flux
CONCEITUAÇÃO
CAPÍTULO 1
105
espacial, no desenho urbano. No capítulo 4 da tese será discutido como o Desenho Urbano se processa
como ferramenta estratégica, e serão discutidas soluções espaciais que trabalham a mobilidade
territorial com foco na capacidade de liquidez espacial. Na terceira parte desta tese, esta análise
teórica será vista de maneira concreta, nos projetos analisados. Por hora, é importante veri car de que
maneira a crise da representatividade, acentuada pelo ideal de formação política do Estado Moderno,
resultou no colapso de mobilidade, com a incapacidade de manutenção do bem-estar estatal. Assim,
discute-se, através desta pesquisa, de que maneira as relações individuais de conexões, baseadas na
representatividade individual e das pequenas associações ad-hoc, tentam restabelecer a mobilidade
como mecanismo de superação da obsolescência espacial.
1.4.7. O espaço como produção social: revolução tecnológica e revolução
cientí ca - a integração de várias áreas do conhecimento e o espaço pensado a
partir das relações territoriais de conexão
Para que a relação orgânica da rede urbana se dê a partir da reciprocidade entre os indivíduos ou
grupos instituídos de maneira ad-hoc, através da rede de produção de atividades, existe a necessidade
de entendimento do espaço urbano como o produto de uma produção social. A expressão produção
social, entretanto, é passível de múltiplas interpretações. Para a abordagem espacial utilizada nesta
pesquisa, interessam, entretanto, dois aspectos principais da produção social: em primeiro, a veri cação
de padrões orgânicos emergentes dos con itos de interesses que conferem um potencial ao solo, em
produzir trabalho (seja o trabalho real, ou virtual); em segundo, a veri cação de como a abordagem
multidisciplinar tem procurado detectar e interagir com estes padrões.
A partir da busca cientí ca no esforço de integração das várias disciplinas da área do conhecimento,
no estudo do espaço, procura-se discutir as diferentes possibilidades de produção de trabalho, e a
possibilidade de se agregar valor ao solo - qualidade das várias disciplinas: urbanismo, economia,
administração, sociologia, informática, etc. - ao longo do tempo.
Os lósofos positivistas foram os primeiros teóricos a ensaiarem teorias sobre identidade fundamental
entre as ciências exatas e as ciências humanas, na abordagem do espaço. O Positivismo era baseado
na observação, ou seja, toda especulação acrítica, toda metafísica e toda teologia deveriam ser
descartadas. A origem do positivismo está principalmente na tradição empirista inglesa de Francis
Bacon
187
. Estes lósofos encontraram maior expressão nos ensaios de David Hume
188
, um dos chamados
utilitaristas do século XIX. Para os utilitaristas, uma atitude boa é aquela que sempre relaciona, de
187 Bacon, Francis. The New Organon, in: Silverthorne, Michael. Cambridge texts in History of Philosophy. Cambridge, 2000.
pp. 52-76.
188 Hume David. Ensaios Políticos. Martins Fontes, São Paulo, 2003. pp. 12-26.
Fig. 1.4.42 - espaços públicos interativos - Intervenções do grupo de artistas E-Flux
Fig. 1.4.43 - espaços públicos interativos - Intervenções do grupo de artistas E-Flux
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
106
maneira mais ampla, com o bem-estar coletivo. Os utilitaristas, como o lósofo David Hume, defendiam
a urbanização de áreas naturais e a exterminação das espécies de forma um tanto arbitrária.
O arquiteto Oscar Niemeyer também é considerado, por muitos críticos, um arquiteto utilitarista. Os
utilitaristas estabeleciam uma dinâmica da percepção do indivíduo como formado por um amplo
espaço de liberdade. Este espaço de liberdade que forma o indivíduo é fundamentado na vaidade,
no egoísmo, e no amor de si. O estado, através desta percepção, tem o dever de cumprir o objetivo
de dar condições para que os atributos do homem possam se desenvolver da maneira mais completa
possível, garantindo assim suas iniciativa, segurança e integridade moral. É fundamental ressaltar que
o Direito Civil, derivado do Corpus Juris Civilis, que atribui ao estado o poder supremo sobre o direito
dos indivíduos, derivado da política universalista de terras de Justiniano, no Império Romano, como
discutimos anteriormente, é também chamado de Direito Positivo. Ainda que não se tenha encontrado
nenhuma relação o cial entre a loso a positivista e o Direito Positivo, percebe-se que ambos possuem
semelhança na abordagem da representatividade do estado, sobre o indivíduo. Nessa mesma linha
positivista de abordagem metodológica dos fatos humanos, seguiram a loso a de Augusto Comte
189
e
seus desdobramentos na sociologia de Émile Durkheim
190
, considerado o fundador da sociologia como
disciplina cientí ca.
Os antipositivistas, adeptos da distinção entre ciências humanas e ciências naturais, foram principalmente
os alemães, vinculados ao idealismo dos lósofos da época do Romantismo, principalmente Hegel
191
e Schleiermacher
192
Os principais representantes do antipositivismo foram os neokantianos Wilhelm
Dilthey
193
(que chegou a que a metafísica, como uma ciência que pretende reduzir os aspectos da
realidade em um princípio absoluto, estava falida, propondo uma loso a histórica e relativa, capaz
de analisar os comportamentos humanos visando entender a realidade), Wilhelm Windelband
194
(dos
lósofos antipositivistas, Windelband foi o que mais in uenciou Max Weber, através das críticas aos
neokantianos de sua época, e foi também criador da primeira teoria subjetiva de valor) e Heinrich
Rickert
195
(que dissociou a idéia de valor da idéia de necessidade vital). De acordo com os antipositivistas,
o modo explicativo seria característico das ciências naturais, que procuram o relacionamento causal
entre os fenômenos. A compreensão seria o modo de proceder das ciências humanas, que não estudam
fatos que possam ser explicados propriamente, mas visam aos processos permanentemente vivos da
experiência humana e procuram extrair deles seu sentido (sinn).
189 Comte, Auguste. General View of Positivism. 1957.Pp 5-32
190 Durkheim, Emile. Da divisão do trabalho social. 1999. Pp 12-27.
191 Hegel, Georg Wilhelm Friedrich. Fenomenologia do Espírito. V1, 1806. Trad. Ed. Vozes. 2000. Pp 13-25.
192 Schleiermacher, Friedrich 1814. Lectures on Philosophical Ethics. 2002. Pp 9-28
193 Dilthey estabeleceu uma distinção importante: entre explicação (erklären) e compreensão (verstehen). Vide DILTHEY,
Wilhelm. História da Filoso a. 2005. Pp 30-47.
194 Wildelband, Wilhelm. A history of philosophy. 1958. Vol1. Pp 11-53
195 Zijderveld, Anton C. Rickert´s relevance. The ontological nature and Epistemological Functions of Values. Erasmus doc.
cientí ca - http://hdl.handle.net/1765/7563
Fig. 1.4.44 - espaços públicos intera-
tivos - Intervenções do grupo de artis-
tas E-Flux
Fig. 1.4.45 - espaços públicos interativos -
Intervenções do grupo de artistas E-Flux
Fig. 1.4.46 - espaços públicos interativos -
Intervenções do grupo de artistas E-Flux
Fig. 1.4.47 - espaços públicos interativos -
Intervenções do grupo de artistas E-Flux
Fig. 1.4.48 - espaços públicos interativos -
Intervenções do grupo de artistas E-Flux
Fig. 1.4.49 - espaços públicos interativos - Intervenções do grupo de artistas E-Flux
CONCEITUAÇÃO
CAPÍTULO 1
107
O costume de limitar para formar leis que a ciência poderia explicar, e limitar os sistemas de estudo
foi, indiscutivelmente, um passo importante para o desenvolvimento da tecnologia. Porém, essa
herança havia desencadeado, no século XVIII, o desenvolvimento de uma mentalidade de abordagem
cartesiana
196
,em que cada objeto estudado seria dividido em várias partes, cada parte desempenharia
uma função, e deveria ser estudada até a menor de suas partículas indivisíveis (os cientistas, baseados
em Dalton, achavam que esta partícula seria o átomo). Até o século XIX, de acordo com a distinção
entre experiência externa e interna, poder-se-ia distinguir uma série de contrastes metodológicos entre
os dois grupos de ciências: as sociais e as exatas. Nas ciências sociais, o que se procurava conhecer
era a própria experiência humana, que considerava o fato de que o conhecimento dos fenômenos
naturais partiria do conhecimento de algo externo ao próprio homem. Separadamente, as ciências
exatas partiam da observação sensível, e desenvolviam uma metodologia experimental, procurando
obter dados mensuráveis e regularidades estatísticas que conduzissem à formulação de leis de caráter
matemático. As ciências humanas, ao contrário, dizendo respeito à própria experiência humana,
seriam introspectivas, utilizando a intuição direta dos fatos, e procurariam atingir não generalidades de
caráter matemático, mas descrições qualitativas de tipos e formas fundamentais da vida do espírito.
Excetuando-se alguns trabalhos precursores, como os de Maquiavel e Montesquieu, os pensadores
que procuravam conhecer cienti camente os fatos humanos, passaram a abordá-los segundo as
coordenadas das ciências naturais, baseados no caminho metodológico apontado por Galileu: da
ciência limitada para a formulação de leis.
Em 1900, entretanto, houve grande alvoroço no meio cientí co – o homem veri cou que o átomo
é constituído por um grande vazio e que as partículas são muito pequenas. As propriedades das
partículas se dão por probabilidade, e comprovou também que as partículas que conferem propriedades
à matéria, são tão pequenas, que ele não poderia medir. Planck descobriu, a partir desta veri cação,
os principais conceitos da física quântica. Assim, a humanidade precisou aceitar a condição de que as
proposições poderiam ser comprovadas por provas invisíveis ou intocáveis, e precisou entender que o
mundo é a totalidade dos fatos e não das coisas: o mundo seria descrito a partir de fatos, no espaço-
lógico. Na forma de abordagem do espaço, signi ca que as coisas, ou objetos, podem se recon gurar
espacialmente, e formar os fatos. O fato passou a ser, então, a existência de estados de coisas.
Assim, a linguagem, a física e o comportamento humano, passaram a ser tematizados pela loso a,
enquanto a lógica passou a fornecer a possibilidade do cálculo das proposições. O espaço passou a
ser resultado da adoção do ponto de vista do indivíduo, humano, imerso por completo no mundo natural
– o único que existe – que é observado pelo seu comportamento, e não por introspecção.
Alguns cientistas, entretanto, na virada do século XX, entenderam que o método da compreensão e o
estudo de fatos humanos particulares englobavam diversas disciplinas compreensivas. Na sociologia,
196 Julgavam os gregos antigos, que toda matéria era formada por partículas invisíveis e indivisíveis, que constituíam a uni-
dade fundamental da matéria: o átomo. O pensamento cartesiano retoma a forma de entendimento dos processos cientí cos
dos gregos antigos, de Renée Descartes e de Newton. De acordo com Renée Descartes, a realidade funcionava como uma
máquina, cada peça desempenhava a sua função, e o conjunto era formado por partes, independentes.
Fig. 1.4.50 - espaços públicos interativos - Intervenções do grupo de artistas E-Flux
Fig. 1.4.51 - espaços públicos interativos - Intervenções do grupo de artistas E-Flux
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
108
Max Weber
197
se destacou com a idéia de que, para se conhecer um fenômeno social, seria necessário
extrair o conteúdo simbólico da ação ou ações que o con guram - não é o resultado de um relacionamento
de causas e efeitos (procedimento das ciências naturais). Weber julgou necessário compreender os
fenômenos sociais como fatos carregados de sentido. Na virada do século XX, Paris, Viena e outras
grandes cidades da Europa e EUA, foram centro de grandes exposições que celebravam o avanço
da tecnologia e a inevitável marcha ao progresso. Jay Tolston
198
, no artigo A meeting of the minds, with
a nod to yesterday, comenta que, entre estes eventos, o mais interessante foi o Congresso de Artes
e Letras, em 1904, na exposição de St. Louis. Os trabalhos enviados descreviam não somente o que
havia sido desenvolvido no campo cientí co e artístico, mas também, exemplos inovadores de como a
tecnologia poderia contribuir para o desenvolvimento, durante o século que se iniciava. No Congresso
de Artes e Letras, foram levantados, pela primeira vez, dois dos principais danos sociais da tecnologia: a
pobreza como obstáculo ao desenvolvimento, e a tecnologia da informação urbana como fator exclusor
social. A escala e a ambição desta conferência evidenciaram os trabalhos de Max Weber, Woodrow
Wilson
199
, e Henri Poincaré
200
As obras dos três autores, principalmente, re etiam a preocupação com
o triunfo dos métodos das ciências naturais, que se concretizavam nas transformações essenciais da
vida material do homem, estimuladas pela Revolução Industrial.
Somente nas duas últimas décadas do século XX, entretando, que a abordagem referenciada pelo
quotidiano humano se tornou fato paradigmático no entendimento da organização espacial, pensado a
partir da integração de várias áreas do conhecimento: o espaço pensado a partir da relação dinâmica
entre os indivíduos. Desde Epicuro e Platão, as abordagens do espaço a partir do ponto de vista
da loso a, das ciências e das artes variaram entre as teses empiristas e inatistas, interferindo na
abordagem do território, do indivíduo e de sua representatividade. No período moderno, como vimos,
o debate empiricismo - inatismo se deu entre Kant e do utilitarista David Hume. Na pós-modernidade
veri cou-se a crise que foi ocasionada pelo pragmatismo materialista da visão de mundo analítica, que
voltou a sobrepor a crítica racional aos discursos de Kant e Hegel. Esta pesquisa retoma, com algumas
ressalvas, as idéias de Kant e Hegel, na tentativa de revisão da materialidade espacial e do papel do
território, neste processo em que o território adquire mobilidade, a partir da visão subjetiva.
Primeiramente, antes de retomarmos Kant e Hegel, cabe ressaltar a ciência que se tem, de que o
engano das abordagens inatistas do espaço urbano está em supor que o espaço pode ser conhecido
de maneira inata (como, por exemplo, o conceito de imageabilidade (de maneira enganosa, traduzida
para o português como legibilidade, porque perde a sutil idéia inatista) defendido por Kevin Lynch,
e discutido no cap1 – como se o imageabilidade fosse um atributo inato do espaço com qualidade.
O engano dos empiricistas, por outro lado, está em supor que a experiência sobre o espaço pode
causar a razão, como se a razão fosse adquirida simplesmente pela experiência, e não dependesse do
197 Weber concebe o objeto da sociologia como, fundamentalmente, “a captação da relação de sentido” da ação humana.
198 Tolston, Jay. A meeting of the minds, with a nod to yesterday. News & World Report; 6/28/1999. pp 22-26
199 Wilson, Woodrow. Papers of Woodrow Wilson. 1985. Encadernação Princeton University 2000. pp. 2-16
200 Poincaré, Henry. A Ciência e a Hipótese. 1988. pp 13-21.
Fig. 1.4.52 - espaços públicos interativos - Intervenções do grupo de artistas E-Flux
Fig. 1.4.53 - espaços públicos interativos -
Intervenções do grupo de artistas E-Flux
Fig. 1.4.54 - espaços públicos interativos -
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Fig. 1.4.55 - espaços públicos interativos -
Intervenções do grupo de artistas E-Flux
Fig. 1.4.56 - espaços públicos interativos -
Intervenções do grupo de artistas E-Flux
CONCEITUAÇÃO
CAPÍTULO 1
109
conhecimento de mundo do observador.
Entretanto, ao analisar Hegel e Kant, de maneira complementar, percebe-se que a experiência não é
causa das idéias (como defendem os empiricistas), mas é a oportunidade para que a razão, recebendo
informações sobre o ambiente, possa formular novas visualizações de lugar. Assim se processa o
conhecimento em cadeia da rede.
Através deste conceito, imagina-se que o espaço, diferentemente do que pensava Lynch, não pode
ser percebido (não é inato), mas é algo que permite que aconteça a percepção. Podemos perceber
situações espaciais, lugares, referenciais, mas não percebemos o espaço. Chauí
201
comenta que o
espaço é a forma a priori da sensibilidade e existe em nossa razão antes e sem a experiência.
Como o espaço não pode ser percebido, mas as situações relacionadas à este sim, então, imagina-
se que a percepção se dá sobre o sentido de territorialidade. Os conteúdos conferem diferentes
características aos territórios, e permitem que os territórios sejam empíricos e possam ser dotados de
mobilidade espacial e temporal, e que também possam provocar a alteração espacial, através de novas
experiências.
1.4.8. Como a mudança do conceito de território in uencia o projeto urbanístico
em rede
No âmbito das redes urbanas, esta pesquisa analisou a importância que a representatividade privada tem,
na movimentação orgânica territorial, e ajudou a veri car que há muitos séculos, a representatividade
privada esteve associada aos exemplos de estruturação estratégica dos territórios, na rede urbana, e
que esta estruturação estratégica sempre constituiu o ponto fundamental da materialização espacial das
cidades. Com especial interesse nestas formas de materialização espacial dos territórios, a pesquisa
realizada investigou as mudanças que ocorreram no território – de meio de controle à nalidade da
interação e da competição. Veri cou-se que a capacidade do conhecimento em cadeia, presente nas
redes mais e cientes, é a principal causa de adequação constante do espaço às mutantes condições
de mobilidade territorial.
Esta pesquisa permitiu identi car diferentes cenários da relação que o estado exerce sobre a
representatividade privada, e permitiu veri car que a relação estado – representatividade privada, ao
longo da história das cidades, foi por vezes incentivadora da mobilidade territorial, e, em outras, limitante.
Entretanto, a relação entre o papel do estado e a representatividade dos indivíduos esteve, ao longo
da história, sempre relacionada à forma como o homem se vê e se representa socialmente, perante
as ciências e a loso a, e se modi cou também de maneira coerente com os movimentos artísticos
201 Chaui, Maria Helena. Convite à Filoso a. 2000. pp 10-12
Fig. 1.4.57 - espaços públicos interativos - Intervenções do grupo de artistas E-Flux
Fig. 1.4.58 - espaços públicos interativos - Intervenções do grupo de artistas E-Flux
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
110
e cientí cos: enquanto o Renascimento representou a construção da visão contextual de indivíduo,
através da xação do observador, estamos presenciando, atualmente, a construção da linguagem
intertextual, e, como conseqüência, a noção de representatividade privada está sendo novamente
reorganizada, em adequação ao intertexto (a visão de mundo subjetiva, da experiência coletiva),
conveniente ao novo entendimento de mobilidade territorial, que é atualmente muito explorado pelos
geógrafos e antropólogos, e que implica na conformação estrutural das redes urbanas. Presume-se,
assim, que a veri cação das mudanças no comportamento do Estado no último século, em relação ao
indivíduo que produz conhecimento, seja essencial para a compreensão da construção e do papel da
representatividade privada, na rede urbana.
O conceito de imobilidade territorial, relacionada à propriedade privada, foi originado na transição
da Idade Antiga para a Idade Média, em Roma. Nesta época, o conceito de propriedade estava
essencialmente ligado a terra.
A detecção dos fatores que associaram a imobilidade do território à
política de caracterização da propriedade privada foi uma valiosa contribuição de Max Weber para
o entendimento do conceito de território como limite da jurisprudência estatal. Weber descreveu a
estrutura fundiária romana, demonstrando que a partir deste modelo agrário de Roma, o território da
cidade foi considerado, pela primeira vez, a unidade jurídica que conferia legitimidade aos direitos e
deveres dos cidadãos. Weber ressaltou, assim, a importância do assignatio como uma gura jurídica
que associa bidimensionalmente propriedade à divisão de terras.
Veri cou-se, entretanto, que mais tarde, esta formatação estatal romana, que associava o território a
terra provocou o colapso da estrutura estratégica de Constantinopla, que ironicamente havia se tornado
um exemplo de estruturação político-estratégica de rede urbana, devido à boa localização estratégica
que a conferia vantagem comercial e possibilidade de investimento, aos pequenos proprietários. Esta
pesquisa, enfocada no território e na representatividade privada, permitiu visualizar que a equivocada
abordagem estratégica territorial pode ter ocasionado a desestruturação da rede estratégica do Império
Romano Oriental, em decorrência da in uência que a formatação jurídica do Corpus Júris Civilis
desempenhou aumentando o poder do estado, sobre a representatividade privada. Esta formatação
foi utilizada em uma política universalista de recuperação de terras de áreas ocidentais, causando a
falência dos comerciantes e a desestruturação do oriente.
A civilização de origem latina herdou do Império Romano - e do Corpus Júris Civilis - a formatação do
direito civil como é atualmente. O Corpus Júris Civilis já mencionava as instituições e a soberania do
Direito do Estado sobre o Direito das Coisas. Como resultado desta formatação herdada do Direito
Romano, a participatividade pública ocorre sempre com efeito sugestivo. No Direito Romano, existe
uma visão subentendida de que o bem público é o bem do estado, e não o bem das pessoas. No Direito
Comum, base jurídica dos países de origem anglo-saxônica, ao contrário, a comunidade tem poder
decisivo e deve ser noti cada individualmente a votar nos assuntos concernentes à cidade. Por este
motivo, a estratégia de Desenho Urbano proposta por Barnett (discutida no primeiro capítulo da tese)
presume a materialização mais direta dos con itos e interesses locais. Como tentativa de melhorar a
Fig. 1.4.59 - espaços públicos interativos - Intervenções do grupo de artistas E-Flux
Fig. 1.4.60 - espaços públicos interativos - Intervenções do grupo de artistas E-Flux
CONCEITUAÇÃO
CAPÍTULO 1
111
representação participativa, alguns instrumentos em países de origem latina e base jurídica romana
buscam forçar a revisão das leis da esfera pública, como o Estatuto da Cidade, que obriga a revisão
contínua dos planos diretores municipais, a partir dos processos participativos locais.
A pesquisa realizada sobre a in uência da estrutura estratégica do império romano ainda denunciou
a herança da Themata, uma política militar paternalista, que visava manter o exército e os limites
territoriais à custas dos comerciantes, demonstraram que este tipo de assentamento, custeado pelo
estado, culminou na falência dos comerciantes e da estrutura propulsora da rede urbana, no Império
Romano Oriental. Veri cou-se, assim, que o Corpus Júris Civilis provocou uma adaptação variacional da
rede urbana, na Idade Média, para garantir a sobrevivência cidadãos originários do império romano: a
privatização da defesa, buscando a retomada da mobilidade. Com a privatização da defesa, houve uma
mudança sutil na representatividade individual perante o estado, e a propriedade passou a representar
uma nova possibilidade de dinâmica territorial. Assim, o feudalismo representou uma mudança na
representatividade privada e representou um exemplo de abordagem intertextual da rede. Um dos
estudiosos da territorialidade pré-moderna é o geógrafo Robert Sack. A contribuição do trabalho de
Sack, para esta pesquisa, foi notar que existe uma noção de reciprocidade entre os indivíduos ou
grupos instituídos, que enfraquece e se forti ca que mantém a relação orgânica em rede de produção
de atividades.
As mudanças no pensamento cientí co que permitiram conceituar a rede urbana a partir do conhecimento
em cadeia associando a mobilidade dos territórios à veri cação das condições de mobilidade da
rede urbana. Nesse processo, foram valiosas as críticas de Ratzel à xação física do território aos
limites físicos da terra, no processo de formação do Estado Moderno e as contribuições de Gelllner,
com a explicação dos mecanismos de bem-estar estatal – ambas críticas concernentes às formas
de representatividade do indivíduo. Ruggie demonstra que o estado moderno representou limites
físicos excessivamente inibidores do padrão espacial necessário ao desenvolvimento espontâneo das
pequenas institucionalidades, das rmas e das re-acomodações humanas sobre os territórios, e criou
uma cultura que colaborou com a xação das estruturas sociais, com a falta de constante reorganização
interna destas estruturas, e presume-se que tenha contribuído com a falta de adhocidade e mobilidade
que torna saudáveis as institucionalidades. Ruggie comenta, assim, que podemos estar testemunhando
um período de re-acomodação variacional e responsiva dos territórios sobre o espaço do planeta.
Observa-se que a aglomeração e a descentralização, na visão pós-moderna, entendidas a partir da
recon guração de funções do espaço, eram conceituadas a partir de uma visão diferente do que hoje se
entende por aglomeração / descentralização, enfocadas na recon guração dos modos de comunicação,
a partir dos fenômenos culturais e cognitivos. Para Harvey, Keynes (assim como para Tschumi e
Libeskind) a disjunção é necessária à quebra de limites estruturadores do espaço; entretanto, a análise
da produção destes sugere que a aleatoriedade espacial de reorganização destas disjunções molda
novas possibilidades de uxos. A história dos conceitos de tempo / espaço, neste mesmo período, na
física, foi responsável por quebras epistemológicas que levaram à compreensão de que, nem o tempo e
Fig. 1.4.61 - espaços públicos interativos - Intervenções do grupo de artistas E-Flux
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
112
nem o espaço poderiam possuir signi cados que fossem independentes de processos materiais. Disto
decorrem as investigações pós-modernas acerca da forma. Assim, o grande resultado da revolução
pós-moderna é uma nova concepção de espaço, que começa a se apresentar como um resultado do
tecido social.
A materialização da espacialidade de uma maneira dinâmica, interagente com a mobilidade dos
territórios, parece ser concernente muito mais à forma das estruturas (em rede) que con guram a
mobilidade espacial, como prática concreta. Através da prática concreta, espacialidade e conteúdo
se interagem contra o status quo (que, como se observa, geralmente tenderia a manter o espaço de
maneira privilegiada por si só). A hologra a, assim, quebra o monopólio da informação e a distribui
livremente, mas apenas quem se importa ou pode detectar determinado tipo de informação pode
percebê-la. A perspectiva e o ponto de fuga se relacionam com o espaço, assim como a hologra a
se relaciona com o território. O território, portanto, é uma espécie de espacialidade crítica que precisa
ser dinâmica porque é resultado semiótico (do con ito de diversas visões subjetivas) do processo de
conhecimento da rede.
Observa-se, assim, que somente nas duas últimas décadas do século XX, espaço pensado a partir da
relação dinâmica entre os indivíduos se tornou fato paradigmático, abordado a partir da integração de
várias áreas do conhecimento.
Ao retomar Hegel e Kant, em detrimento da abordagem racional materialista, percebe-se que a
experiência não é causa das idéias (como defendem os empiricistas), mas é a oportunidade para que
a razão, recebendo informações sobre o ambiente, possa formular novas visualizações de lugar. Assim
se processa o conhecimento em cadeia da rede. Através deste conceito, imagina-se que o espaço,
diferentemente do que pensava Lynch, não pode ser percebido (não é inato), mas é algo que permite
que aconteça a percepção. Assim, podemos perceber situações espaciais, lugares, referenciais, mas
não percebemos o espaço. Chauí comenta que “o espaço é a forma a priori da sensibilidade e existe
em nossa razão antes e sem a experiência”.
Como o espaço não pode ser percebido, mas as situações relacionadas à este sim, então, imagina-se
que a percepção espacial da cidade se dá sobre o sentido de territorialidade. Os conteúdos conferem
diferentes características aos territórios, e permitem que os territórios sejam empíricos e possam ser
dotados de mobilidade espacial e temporal, e que também possam provocar a alteração espacial,
através de novas experiências.
Fig. 1.4.62 - espaços públicos interativos - Intervenções do grupo de artistas E-Flux
Fig. 1.4.63 - espaços públicos interativos - Intervenções do grupo de artistas E-Flux
CONCEITUAÇÃO
CAPÍTULO 1
113
1.5. Elementos do projeto urbanístico em rede
Esse primeiro capítulo da tese procurou discutir as características da rede urbana, que forneceram bases
para a elaboração dos principais elementos do projeto urbanístico em rede, que fazem parte da metodologia
que será apresentada no segundo capítulo.
O item 1.1 procurou situar o conceito de rede, em relação às demais formas utilizadas por diversas civiliza-
ções para organizar o uso da terra. Analisou-se os principais paradigmas de organização do espaço modi -
cado pelo homem, para que os assentamentos pudessem existir com segurança, conforto, e que pudessem
servir às necessidades coletivas das civilizações ( religiosas, políticas, etc). Com base nessa análise, veri -
cou-se como determinadas atitudes utilizadas na organização do espaço de niram momentos mais exíveis
ou mais rígidos de mobilidade. Quando os paradigmas de organização dos espaços de abrigo resultaram em
tão pouca capacidade de mobilidade dos habitantes nos espaços coletivos, foi necessário veri car as pos-
síveis estratégias que foram utilizadas para que as redes orgânicas ressurgissem, retomando a mobilidade
no tecido de uxos, e a transitoriedade dos usos da terra, a partir das a nidades naturais dos habitantes.
O item 1.2 foi feita uma descrição da rede urbana estruturada a partir da mobilidade dos indivíduos, e os
modelos utilizados pelos empreendedores, na tentativa de concordar os uxos urbanos resultantes das a ni-
dades com a escolha de espaços que tivessem boa liquidez, e fossem capazes de gerar valor. Essa intenção
dos empreendedores geraram lógicas estruturais de organização do espaço que, à princípio, apresentavam
problemas de rigidez e falta de mobilidade nas áreas coletivas, muito semelhantes àqueles apresentados
no item 1.1; mas com o tempo, percebeu-se que alguns conceitos desenvolvidos pela óptica empreend-
edora começaram a resultar em soluções mais exíveis e integradas para os espaços coletivos, e também
a apresentar modelos que abrigassem formas de compensação aos empreendimentos, que muitas vezes
passaram a resultar em cadeias de espaços coletivos com qualidades superiores àquelas áreas cujo es-
paço coletivo era isolado territorialmente dos empreendimentos. Desse item extraímos os elementos que
são estrategicamente utilizados para potencializar a liquidez do espaço urbano, e as possíveis relações que
estes estabelecem entre si, para possibilitar visualização de oportunidades de criação de contrapartidas, que
podem atribuir qualidade de vida às estruturas urbanas que têm a qualidade de boa mobilidade, e que geram
usos com boa capacidade transitória.
No item 1.3 discutimos a transformação do conceito de rede urbana: inicialmente a rede urbana foi consid-
erada rede de infra-estruturas, desassociada da complexidade resultante de usos do entorno. Mas a con-
sciência de que a rede que causa impactos e deteriora o meio, recebe de volta impactos que podem inviabili-
zar os uxos da própria rede levou os teóricos das redes urbanas à encontrarem formas de fazer com que as
redes estabelecessem relações ecológicas com as áreas com as quais estabelece relações, e essa atitude
também mudou o conceito de rede, urbana, que hoje compreende não apenas os uxos urbanos, e nem ap-
enas o uso do solo, mas as relações complexas que a evolução dos uxos desempenham aos usos, assim
como as relações que a mudança de usos causam nos uxos, de maneira simbiótica. Desse item, extraiu-se
critérios para discriminar potenciais qualidades que os elementos do projeto urbanístico em rede em rede
Fig. 1.5.1 - espaços públicos interativos - Intervenções do grupo de artistas E-Flux
Fig. 1.5.2 - espaços públicos interativos - Intervenções do grupo de artistas E-Flux
Fig. 1.5.3 - espaços públicos interativos - Intervenções do grupo de artistas E-Flux
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
114
precisam ter, e como estes podem se relacionar.
O item 1.4 discute a visão de vários autores sobre as origens do principal problema das redes urbanas, que
é a fragmentação dos acessos. Quando as propriedades de terra representam limites espaciais aos uxos, e
estão dispostas de forma tal que a mobilidade dos territórios é prejudicada, a rede urbana deixa de funcionar
organicamente, e começa a representar impactos ao uso do solo. Desse item, extraímos formas de exibili-
zar o uso coletivo dos espaços (sejam estes de propriedade pública ou privada) através de contrapartidas, e
procurar garantir, através do projeto urbanístico, melhor qualidade de circulação, de insolação, de convivên-
cia nesses espaços coletivos no ambiente construído.
Com base nas análises anteriores apresentadas nesse capítulo, propõe-se que os elementos do projeto
urbanístico em rede devem ser ferramentas que estabeleçam relações entre tudo aquilo que é transitório na
trama urbana, e aquilo que agrega valor aos uxos por sua capacidade permanente. É preciso ter em mente
que o que se deseja não é detectar uma relação ótima de elementos xos (ex.estação com residências) mas
relatar um processo de projeto que parte de relações que desencadeiam processos estruturais saudáveis
para o ambiente, e mais interativos com o usuário.
É importante relatar também que muito da re exão de aproximadamente sete anos de desenvolvimento da
pesquisa sobre esses elementos surgiram também de projetos realizados para os chineses, muitas vezes
encomendados pelo governo (esses pontos estão elucidados no quarto capítulo, na aplicação desses ele-
mentos em propostas projetuais), e que portanto representaram elementos presentes em estruturas urbanas
para usuários desconhecidos. Através dessa premissa, procurou-se detectar e vocacionar já presentes nas
áreas, e estabelecer entre estes, relações projetuais que dessem a oportunidade aos usuários e aos futuros
empreendedores (que arrendariam espaços ao redor da infraestrutura que estava sendo criada) de intera-
girem com o espaço projetado, criando adaptações locais e culturais.
Vimos que nas revitalizações urbanas os espaços construídos pela iniciativa privada podem se comportar de
duas maneiras distintas:
- permanecer estanques em si mesmos, e não gerarem uma capacidade estrutural de melhoria do entorno e
nem recriar padrões regionais mais saudáveis, se as soluções criadas forem utilizadas como sistemas ( é o
que acontece com os condomínios fechados, por exemplo, que, utilizados isoladamente, causam fraturas na
trama urbana, e utilizados sequencialmente, causam uma sucessão de muros e comprometem a mobilidade
urbana, causando degradação no entorno).
- ao contrário da primeira alternativa, podem gerar espaços saudáveis se proporcionarem espaços de usu-
fruto público, se tiverem em parte, usos que proporcionam a passagem a talvez a curta permanência de
pessoas.
Para tentar evitar que espaços privados não se tornem estanques e não representem barreiras à mobili-
dade urbana, causando impactos ao meio pode comprometê-los no futuro, e, pelo contrário, estejam bem
conectados com os recursos ambientais, com a rede de circulação, com os referenciais urbanos e culturais,
Fig. 1.5.4 - espaços públicos interativos - Intervenções do grupo de artistas E-Flux
Fig. 1.5.5 - espaços públicos interativos - Intervenções do grupo de artistas E-Flux
CONCEITUAÇÃO
CAPÍTULO 1
115
propõe-se que os elementos que fazem parte do projeto urbanístico em rede (tal como a de nimos nessa
tese) sejam elementos estruturais e elementos associativos.
Os elementos estruturais são aqueles que estruturam a mobilidade urbana, os uxos, que agregam e dão
vida aos usos, porque proporcionam o movimento de pessoas. Os elementos associativos são aqueles que
associam valor à rede, se bem interligados pelos elementos estruturais. São aqueles elementos que, se pos-
suem fácil acesso e bons equipamentos de uso, podem atrair as pessoas por suas características ambientais
ou culturais, e que representam referenciais coletivos. São também os espaços de residência e trabalho. De
maneira geral, são aqueles que agregam valor às redes urbanas à um prazo mais longo, e normalmente são
usos mais permanentes, ainda que exíveis.
Na metodologia de projeto, desenvolvida no capítulo 2 dessa tese, vamos discutir detalhadamente como a
relação entre esses elementos e as formas como estes podem evoluir em conjunto podem resultar em lu-
gares mais saudáveis na cidade. Por hora mencionaremos o critério de enumeração desses elementos como
estruturais e associativos.
Uma das principais características associada à sustentabilidade das redes é a capacidade de modi cação
constante. As redes se modi cam através das transformações e de variações
202
, e é essa propriedade que
faz com que a rede restabeleça equilíbrio. Nenhuma rede desempenha apenas modi cações variacionais ou
apenas modi cações transformacionais. Assim, por exemplo, o projeto urbanístico que apenas transforme
o lugar e não crie condições variacionais de adaptação, não proporciona a continuidade da vida, e provav-
elmente não poderá desempenhar funções estruturais de regeneração do ambiente ao seu redor, e, com o
tempo, tenderá a se tornar estanque na trama urbana.
Para que o projeto urbanístico desempenhe interfaces estruturais com a trama urbana, os usos existentes e
o ambiente, imaginamos que o movimento (de qualidade variacional ou transformacional) no projeto urbanís-
tico depende da interface, em rede, entre os elementos que conhecemos do projeto urbanístico tradicional,
mas dispostos de maneira tal que a evolução destes na trama urbana desempenhe funções estruturais ou
funções associativas.
Uma das principais características associadas à mobilidade das redes está ligada à obsolescência do es-
paço. A rede que não resulta em espaços obsoletos é aquela que possui boa qualidade transformacional
(se acomoda às novas necessidades de permanência dos usuários - qualidades associadas aos elementos
associativos, na metodologia de projeto urbanístico proposta nessa tese) e variacional (possibilita que todos
os demais elementos estruturais permitam melhores acomodações e novas conexões entre os novos usos
inseridos – qualidades associadas aos elementos estruturais na metodologia de projeto urbanístico que será
proposta nessa tese).
202- Esse é o princípio de equilíbrio encontrado nas redes neurais para o reconhecimento de padrões e adaptação das redes
para a inclusão de novos padrões sintáticos. Conceito discutido pelo cientista cognitivo Marvin Minsky, sobre os mecanismos
de percepção que o cérebro desenvolve. Em Minsky, Marvin L Perceptrons 1969 pp 41- 44
Fig. 1.5.6 - espaços públicos in-
terativos - Intervenções do grupo de
artistas E-Flux
Fig. 1.5.8 - espaços públicos in-
terativos - Intervenções do grupo de
artistas E-Flux
Fig. 1.5.7 - espaços públicos in-
terativos - Intervenções do grupo de
artistas E-Flux
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
116
Os elementos estruturais em rede, e a capacidade transitória de regeneração entre si, no
projeto urbanístico
Os elementos estruturais do projeto urbanístico em rede, evoluem de maneira ativa, e a qualidade
desses elementos em um projeto urbanístico reside na capacidade de ativarem a regeneração do
espaço urbano. São elementos estruturais:
E1 - as conexões
E2 - os acessos
E3 - o espaço terciário
E4 - os referenciais
E5 - os transportes de massas
E6 - os espaços para as institucionalidades ad-hoc
Os elementos estruturais são aqueles que possuem melhor possibilidade de se aglutinarem, trocarem
de funções e de usos entre si, e mudarem de espaço, estabelecendo rapidamente novas relações com
o ambiente, porque normalmente se conformam a partir dos movimentos que resultam dos hábitos
das pessoas. São aqueles cujo valor depende da grande capacidade ad-hoc que têm, e também do
usufruto público e coletivo do espaço.
As qualidades estruturais de certos elementos do projeto urbanístico podem trazer uma mudança na
concepção e na percepção espacial da estrutura urbana se estimularem novos princípios de reprodução
e de inovação no espaço urbano; se estimularem a participatividade e veri cação de prioridades
coletivas; e se estimularem a evolução da permeabilidade dos territórios.
Este tipo espaço estrutural, que se desenvolve através do conhecimento em cadeia, é resultado de
um tipo diferente mobilidade territorial: que gera aprendizado e possibilidade de tomada de decisões
através de novas lógicas hierárquicas. Existe uma propriedade das redes, associadas à esse tipo de
conhecimento, que é muito discutida pelo matemático Nikos Salingaros , que ajuda a explicar essa
capacidade de mutação de usos desses elementos.
Salingaros conceitua as redes como compostas de nós e de conexões. Que os nós têm a capacidade
de prosperarem de acordo com a quantidade de solicitações que esse recebe. Um nó pode ser um lote,
mas também pode existir vários nós dentro de um mesmo lote. Essa é a qualidade do espaço multi-uso.
Sendo um organismo com vários nós próximos, os espaços multi-uso têm a qualidade de aprender e
se modi car com a demanda que eles mesmos geram. Dessa qualidade provavelmente vem a grande
transitoriedade e a propriedade estrutural regenerativa dos espaços multi-uso.
Fig. 1.5.9 - espaços públicos interativos - Intervenções do grupo de artistas E-Flux
CONCEITUAÇÃO
CAPÍTULO 1
117
Os elementos associativos em rede, e a capacidade transitória de regeneração entre si, no
projeto urbanístico
Os elementos associativos do projeto urbanístico em rede evoluem de maneira permanente, e a
qualidade desses espaços está na capacidade de se regenerarem. São elementos associativos:
A1 - as contrapartidas imobiliárias uso-valor
A2 - as contrapartidas sociais
A3 - as contrapartidas culturaisw
A4 - as contrapartidas ambientais
A rede urbana, a partir do conhecimento em cadeia, estabelece uma interface mutável entre os
fenômenos de ocupação/uso do solo.
Os elementos associativos são aqueles que se conectam aos espaços estruturais e que não precisam
ser necessariamente complexos, para responder à complexidade do meio. Mas, para não se tornarem
obsoletos precisam ser exíveis – com possibilidade de adaptação às qualidades dinâmicas dos
elementos estruturais – daí a escolha da expressão associativos (associam certa permanência ao
movimento, mas não representam rígidas barreiras ao movimento).
Normalmente os espaços privados estanques representam barreiras urbanas quando se localizam no
meio de acessos, de conexões, de qualquer um dos elementos estruturais. Se, por exemplo, um edifício
de escritórios ocupa um lote e se fecha para a calçada, e isso faz com que o pedestre seja obrigado
a contornar essa propriedade que poderia ser con gurada de forma diferente, causa uma barreira.
Diferentemente do Conjunto Nacional, que tem os edifícios de escritórios acima de praças de usufruto
público e desempenha uma rede de espaços estruturais e associativos no mesmo lote.
Os elementos associativos tem menos valor se desagregados dos elementos estruturais, em um
projeto urbanístico. Uma área verde urbana de em áreas públicas, por exemplo, se torna pouco ou
má utilizada, se não está conectada à elementos estruturais. Muitas praças e parques se encontram
cercados, hoje, na cidade de São Paulo, por exemplo. Mas podem se tornar um elementos associativos,
se estiverem associada à elementos estruturais, o que pode garantir a preservação pelo uso (e não
pelo o isolamento) dessas áreas.
A lógica de troca de potenciais construtivos também parece ser forte porque os elementos associativos
imobiliários (como edifícios de escritórios, universidades) se tornam espaços mais utilizados se
associados à elementos estruturais efetivos. Assim, podem gerar recursos extras para a manutenção
dos elementos estruturais. Veremos com mais detalhes essa lógica na metodologia proposta.
Fig. 1.5.10 - espaços públicos interativos - Intervenções do grupo de artistas E-Flux
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
118
Elemento estrutural E1 - As conexões urbanas de pedestres
As conexões urbanas de pedestres são fundamentais para a boa mobilidade das cidades. Nem sempre
as conexões urbanas estão localizadas em espaços de propriedade pública, e muitas vezes, quando as
conexões são espaços de propriedade pública sem manutenção, oferecem grande perigo à circulação
de pedestres.
É importante que as conexões estejam associadas aos demais elementos estruturais do projeto
urbanístico em rede, para que seja viável o trânsito de pessoas através destas. É importante que
as conexões tenham bons acessos, se tiverem permeadas por espaços terciários, é possível que a
iniciativa privada seja estimulada a manter o espaço de conexão com boas condições de uso. Se
tiverem associadas à referenciais coletivos terão grande uxo de pessoas, e se tiverem associadas
ao transporte de massas, podem estimular um uso mais freqüente desses transportes. Quando as
conexões criam espaços informais para o encontro de pessoas (como locais com mesas para rápido
descanso, ou salas de reunião de poucas pessoas) podem facilitar a criação de institucionalidades
ad-hoc, como encontros comunitários, reuniões pro ssionais, reuniões de amigos. Se não estiver
associada à nenhum outro elemento estrutural, as conexões se tornam espaços degradados.
As conexões não possuem valor agregado em si, mas agregam valor (se constituírem espaços
saudáveis) ou desagregam (se constituírem espaços degradados) aos elementos associativos que
estiverem conectados a estas.
Normalmente as conexões podem ser utilizadas para proteger os pedestres em ambientes ermos,
como por exemplo, as calçadas cobertas ou com proteção (buffer de vegetação) entre o uxo de carros,
os espaços de circulação sobre ou abaixo de vias, os espaços que protegem da neve ou de ventos
frios.
As conexões são também elementos de contemplação àquilo que existe fora delas (enquanto os acessos
são elementos de contemplação e informação interna) É importante que as conexões ressaltem os
eixos históricos e os elementos naturais que compõem a paisagem urbana. Aqui propõe-se atuar de
maneira oposta à de Kevin Lynch - ao invés de se propor novos referenciais, propõe-se o resgate do
percurso do pedestre ao longo de referenciais já existentes.
É importante que as conexões estejam interligadas com várias possibilidades modais de transporte, e
próximas aos estacionamentos e aos bicicletários.
As conexões de pedestres podem ser xas (passarelas, túneis, calçadas) ou móveis ( pontes, escadas
rolantes, elevadores, esteiras ou até mesmo bicicletas e pequenos veículos), que podem interligar
estações e equipamentos que se encontram à distâncias superiores a aproximadamente 500m ou em
locais de passagem desconfortáveis.
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Fig. 1.5.11 - espaços públicos interativos -
Intervenções do grupo de artistas E-Flux
Fig. 1.5.13 - espaços públicos interativos -
Intervenções do grupo de artistas E-Flux
Fig. 1.5.12 - espaços públicos interativos -
Intervenções do grupo de artistas E-Flux
Fig. 1.5.14 - espaços públicos interativos - Intervenções do grupo de artistas E-Flux
CONCEITUAÇÃO
CAPÍTULO 1
119
Elemento estrutural E2 - Os acessos
Os acessos são elementos estruturais porque carregam a mensagem ou incentivo ou inibição do uxo de usuários
entre os diferentes espaços e uso público, ou podem ltrar o uxo entre os espaços estruturais e os associativos. É o
espaço de con uência dentre os elementos estruturais e associativos. Podem assim ltrar vários uxos funcionando
concomitantemente em um mesmo lote, ou seja, é importante que o lote tenha elementos interativos (estruturais) e
elementos associativos (privativos) para que não sejam estanques na trama urbana.
Os acessos devem incentivar o usufruto público dos espaços de conexão. Para isso precisam ser móveis (com fácil
possibilidade de mudança, crescimento e diminuição, e estarem disposta de forma que permitam uma fácil leitura
dos espaços que interligam.
Se tiverem boa interação com o espaço terciário de passagem, podem atribuir boa qualidade às facilidades, e conter
balcões de informações, bilheterias, acessos de sanitários e saídas de emergência. Todos os equipamentos que se
associam às conexões e não podem obstruir os espaços de conexão.
Assim como as conexões, para existirem, os locais de acesso não podem ser considerados “áreas perdidas”, podem
ter outras funções agregadas ao espaço que ocupam, mesmo que desempenhem função simbólica. O arquiteto
Louis Kahn considerava os acessos o coração do projeto, e geralmente transformava os acessos em espaços
generosos, conferindo à eles um papel simbólico signi cativo, e que geralmente faz a interface entre os vários níveis
de circulação e os aspectos naturais do projeto. É aquele espaço que está no centro das espirais de conexão, no
Plano de Filadél a, a área acima do usuário no museu Kimbell, e o hall de circulações, para onde abrem os grandes
círculos visuais da Biblioteca Exceter. Kahn dizia que nos edifícios e na cidade, os acessos também desempenham
o papel de percepção do sagrado, do espírito do local, de preparação do espírito para a entrada nos novos espaços,
de criação de expectativa, de transição de valores. E Kurokawa considera que os acessos são espaços bons para
a transitoriedade do projeto, porque são espaços intermediários, onde as pessoas podem rever suas percepções
do espaço.
É possível que os espaços de acesso tenham outros usos agregados à estes, como espaços de exposição, espaços
performáticos. O centro da Galeria Vittorio Emmenuelle (que é muito mais um espaço de distribuição de acessos do
que de conexão, como são os corredores em si) costuma abrigar um pequeno estande com um piano, e algumas
cadeiras, onde se reúnem pessoas às sextas-feiras à noite para pequenos concertos. Outro exemplo é o hall de
acessos do Museu Kimbell, que o arquiteto Louis Kahn optou por transformou no local de guardar e ao mesmo
tempo expor os tapetes, ao invés de criar uma grande sala apenas para guardar tapetes.
Normalmente os espaços de acessos também são importantes, em locais onde se dispõe de pouca área construtiva,
porque esses espaços são fundamentais para fazer com que os uxos ambientais do projeto se comuniquem:
onde pode ocorrer o efeito chaminé e a ventilação forçada vertical, coletada dos ambientes que à ele estiverem
interligados; onde pode haver continuidade de áreas verdes e de coleta de águas pluviais, entre outros.
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Fig. 1.5.15 - espaços públicos interativos -
Intervenções do grupo de artistas E-Flux
Fig. 1.5.16 - espaços públicos interativos -
Intervenções do grupo de artistas E-Flux
Fig. 1.5.17 - espaços públicos interativos -
Intervenções do grupo de artistas E-Flux
Fig. 1.5.18 - espaços públicos interativos - Intervenções do grupo de artistas E-Flux
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
120
Elemento estrutural E3 - O espaço terciário
O espaço terciário é fundamental para que as conexões e acessos possam existir de maneira saudável
(bem iluminados, movimentados e seguros); e precisam estar não apenas interligados, mas integrados
aos espaços de usufruto público.
O espaço terciário pode ser utilizado para equalizar qualitativamente os uxos nas conexões e nos
acessos. No edifício Conjunto Nacional, por exemplo, para não aglomerar pessoas nas calçadas, não
se colocou comércio de passagem nas esquinas, mas dentro das praças de acesso.
Comércios e serviços de passagem – os comércios e serviços de passagem são aqueles utilizados
quando o usuário já está em trânsito e precisa do serviço rapidamente disponível. São as bancas
de jornais, os chaveiros, os balcões de venda de lanches prontos. Existem também funções sociais
muito importantes desempenhadas por esse tipo de equipamento. Se interpolados com comércio
de passagem, os serviços de passagem podem desempenhar funções públicas como renovação de
documentos, postos de vigia e atendimento de polícia, campanhas de utilidade pública (como vacinação,
distribuição de produtos de saúde pública e culturais)
Comércios e serviços de rápida permanência – estão mais associados aos acessos que às conexões.
Precisam de espaço para o usuário se sentar brevemente, fazer rápidas refeições. Os comércios e
serviços de média permanência são aqueles que atraem pessoas para determinados acessos, como
lojas âncora. Existe no Conjunto Nacional, por exemplo, uma livraria que atrai pessoas de diversos
bairros a freqüentar a praça de acesso do edifício. Existem equipamentos que podem ser associados
ao espaço terciário de rápida permanência, como locais de renovação de documentos tipo RG que
precisam de maior infra-estrutura e espaços de ajuda comunitária
Comércios e serviços de média permanência – não são espaços que as pessoas utilizam porque
estão na passagem, mas espaços “para onde” as pessoas vão. Normalmente são espaços ricos para
o encontro casual de pessoas, onde podem ser realizados curtos encontros, pequenas reuniões com
caráter informal, podem ser áreas de lazer rápido coletivo (como as quadras de esportes), podem ser
áreas para realização de pequenos workshops e trabalhos em grupo.
3
Fig. 1.5.19 - espaços públicos interativos -
Intervenções do grupo de artistas E-Flux
Fig. 1.5.20 - espaços públicos interativos - Intervenções do grupo de artistas E-Flux
Fig. 1.5.21 - espaços públicos interativos - Intervenções do grupo de artistas E-Flux
CONCEITUAÇÃO
CAPÍTULO 1
121
Elemento estrutural E4 - Os referenciais
Dos elementos estruturais, os elementos referenciais são indiscutivelmente os mais xos: di cilmente se pode
mover um referencial histórico, uma área ambiental preservada, ou ainda um referencial cultural. Entretanto,
esses elementos passam a ter valor na rede urbana se tiverem associados ao espaço coletivo (às conexões,
aos acessos, ao transporte de massas). Os referenciais são elementos estruturais no projeto urbanístico em
rede porque normalmente agregam vários tipos de valor (cultural, ambiental, histórico) a outros elementos
estruturais, principalmente aos acessos e a conexões.
Os elementos estruturais referenciais são certamente aqueles que mais atribuem o sentido de localidade. De
todos os elementos estruturais, são os que mais se relacionam com as características locais. Existem vários
tipos de referenciais que atuam no espaço urbano como elementos que atribuem diversas qualidades aos
demais elementos estruturais, principalmente aos acessos, às conexões e muitas vezes também justi cam
a presença de espaço terciário.
- os referenciais históricos – por exemplo, a Galeria Vittorio Emmanuelle, em Milão, poderia ser uma conexão
urbana qualquer, mas a riqueza histórica que essa referência urbana possui, e a beleza estética, fazem com
que pessoas do mundo inteiro visitem Milão para conhecer a Vittorio Emmanuelle, que proporciona vários
tipos de passagem, espaços de convivência, comércio e serviços de rápida permanência. Curiosamente,
apesar de se con gurar uma construção rígida, a escala dos arcos é de aproximadamente quatro vezes
a escala humana, o que tem permitido que outras conexões internas aos arcos aconteçam, e assim a
Vittorio Emmanuelle tem se desenvolvido como polvo, conectando também edifícios do entorno próximo, e o
transporte de massas.
- os referenciais turísticos, artísticos e arquitetônicos – assim como os referenciais históricos, também
costumam agregar qualidade aos elementos estruturais no projeto urbanístico. Um ponto importante, do ponto
de vista da estrutura urbana, que diferencia os referenciais históricos dos referenciais turísticos, artísticos e
arquitetônicos, é que esses últimos podem surgir a partir de temas criados (nem sempre são baseados em
elementos já presentes no local, como os referenciais históricos. É o caso, por exemplo, do Museu de Arte
Contemporânea em Niterói). Os referenciais urbanísticos podem ampliar visualmente o código visual de
acesso aos locais – expandir visualmente a existência de pontos referenciais acima da trama de edifícios,
como ocorria nas cidades barrocas, ou como o campanário da Piazza San Marco, em Veneza.
- os referenciais culturais e ambientais podem ampliar a freqüência de uso de outros elementos estruturais,
principalmente aos elementos de institucionalidades ad-hoc – por exemplo, se existirem locais para cursos
de apoio social e ambiental. Outra característica importante dos referenciais culturais e ambientais é que
ambos costumam agregar qualidades entre si, se integrados espacialmente, e dessa forma, contribuem para
a valorização das atividades locais. É o caso dos trabalhos ligados à vilas sustentáveis, que estão sendo
desenvolvidos na Amazônia junto aos antigos seringueiros, patrocinado por várias empresas brasileiras.
4
Fig. 1.5.22 - espaços públicos interativos -
Intervenções do grupo de artistas E-Flux
Fig. 1.5.23 - espaços públicos interativos - Intervenções
do grupo de artistas E-Flux
Fig. 1.5.24 - espaços públicos interativos - Intervenções do grupo de artistas E-Flux
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
122
Elemento estrutural E5 - Os transportes de massas
Em comparação a todos os outros elementos estruturais do projeto urbanístico em rede, o transporte de massas é
aquele que mais polariza infra-estrutura urbana. O transporte de massas também é um forte agregante de todos os
outros elementos estruturais e associativos.
Percebe-se que um problema muito recorrente, que está tipicamente associado à falta de mobilidade local da rede
urbana, é a existência de determinados acessos aos transportes de massas com amplo potencial de conexão à
outros elementos estruturais, mas que se conectam diretamente à elementos associativos e causam forte impacto
na rede urbana. Um exemplo é a Vila Olímpia – em muitas ruas os pólos de transporte de massas poderiam estar
conectado à térreos abertos, de usufruto público (que poderiam ser efetivamente obtidos através de incentivos com
trocas de potencial, como tem ocorrido nos últimos 5 anos), mas se conectam à calçadas nas, cercadas por muros,
que “ilham” edifícios de escritórios. Esse tipo de assentamento torna o espaço urbano desagradável ao percurso
do pedestre, e torna a trama de transportes de massas local muito mais complicada, já que nesse caso, ou cabe
ao transporte de massas toda a “costura” desse tipo de fragmentação, ou os automóveis surgem para conectar
pequenas distâncias impossíveis de se percorrer a pé.
Existem meios de, através do projeto urbanístico em rede, utilizar os transportes de massas como meios para
incentivar o uso mais concentrado de infra-estrutura urbana, o que pode levar à padrões de ocupação regionais
mais conscientes, do ponto de vista ambiental e social. Veremos a seguir que todos os propostos para cidades
chinesas consideram áreas verdes e área de plantio, assim como o remanejamento da população lindeira, que
trabalha com plantio. Como as áreas verdes, os canais de plantio, matas e em alguns casos até mesmo áreas de
preservação cultural permeiam as áreas de intervenção, o uso adequado do transporte de massas como um dos
elementos estruturais da rede urbana foi fundamental para que outras medidas de proteção (ou em alguns casos
ocupação consciente dessas áreas com elementos estruturais) fossem propostas.
Um exemplo de uso estrutural do transporte de massas, que se inter-relaciona com demais elementos estruturais
é o Projeto Megacidades 2000, desenvolvido para o eixo noroeste de São Paulo, pela equipe da FAU-USP. O
adensamento a partir da rede de transporte de massas é utilizado como ferramenta de contenção ou indução
da ocupação consciente de terras, a partir de uma leitura do padrão regional de ocupação atual (hoje ocorre por
alastramento e sucessivas invasões de áreas públicas e de proteção ambiental) em relação ao mapeamento das
matrizes restantes de mata atlântica ao longo desse eixo.
Os transportes de massas também bene ciam os acessos e potencializam o espaço terciário. Veremos na
metodologia de projeto que elementos associativos que se relacionam com bastante proximidade, ou conectados
por acessos seguros e confortáveis aos transportes de massas geralmente adquirem grande valor agregado.
É nesses casos que normalmente se potencializa a possibilidade de troca de potencial construtivo com vistas à
melhora do espaço privado de usufruto público, ou ainda a proposição de conexões entre lotes privados.
5
Fig. 1.5.25 - espaços públicos interativos - Intervenções do
grupo de artistas E-Flux
Fig. 1.5.26 - espaços públicos interativos - Intervenções do
grupo de artistas E-Flux
Fig. 1.5.27 - espaços públicos interativos - Intervenções do grupo de artistas E-Flux
CONCEITUAÇÃO
CAPÍTULO 1
123
Elemento estrutural E6 - Os espaços para as institucionalidades ad-hoc
Vimos, ao longo desse primeiro capítulo da tese que as estruturas sociais passaram por muitas conformações
desde a cidade moderna, racionalista, até atualmente. Vimos no item 1.4 desse capítulo da tese, que a
representatividade do estado e o conceito de território adquiriram novas con gurações: houve uma mudança
institucional das organizações do governo, dos agentes produtivos e da sociedade civil, e como resultado,
essa mudança social trouxe, aos pro ssionais que intervêm no espaço urbano, uma melhor compreensão de
que a sociedade se reorganiza constantemente a partir de novas formas de articulação entre essas esferas.
E também trouxe a consciência de que os territórios são cada vez mais dinâmicos e que se sobrepõem
espacialmente (um mesmo espaço de usufruto público normalmente interagem com vários territórios ao
mesmo tempo).
Para que as redes urbanas sejam interagentes com os valores locais não bastam excelentes técnicas de
gestão e modernização da infra-estrutura local. A reestruturação do espaço urbano a partir da noção de
coletividade compreende agregar à rede urbana elementos estruturais que promovam o encontro de pessoas,
que incentivem a constituição de comunidades móveis para que as pessoas possam interagir a partir de
suas a nidades. Uma das qualidades da rede urbana que resulta em espaços saudáveis também está na
compatibilização de a nidades das pessoas.
Parece assim, necessário considerar que é cada vez menos viável que espaços de usufruto coletivo que
são propostos para serem mantidos por grandes instituições prosperem, ou que permaneçam por muito
tempo abertos ao usufruto público; em adição, é improvável que os usos propostos por grandes instituições
estejam de acordo com a real necessidade local. Por outro lado, existe a possibilidade de que, se associados,
os elementos estruturais possam agregar facilidades de uso a espaços para institucionalidades locais se
criam, de maneira formal ou informal; em adição, é necessário considerar que as institucionalidades locais
normalmente nascem do encontro informal de pessoas, em espaços coletivos onde estas possam externalizar
suas preferências, e a partir disso, descobrir associações de a nidades.
Assim, é necessário considerar que os espaços para as institucionalidades são também (e com grande
freqüência) áreas que não foram aparentemente criadas com esse intuito: um bar, a lanchonete, quadras
da escola, a padaria onde um grupo de pessoas se encontra aleatoriamente toda manhã para tomar café.
Existem espaços que abrigam pessoas trabalhando em conjunto, mas que não são escritórios rígidos: salas
que podem ser utilizadas em áreas multi-uso; um cyber-café que pode se modular em células agrupáveis.
Imagina-se que certas a nidades humanas estão recon gurando os serviços presentes nos espaços de
usufruto público a partir de novas exigências de integração coletivas, mas que os elementos estruturais da
rede urbana também precisam incentivar a compatibilidade de a nidades em espaços de usufruto cada vez
mais seguros, para que a cidade não se desenvolva seccionada por muros de condomínios que, mais do que
agregar espaços de moradia, agregam espaços coletivos fechados.
6
Fig. 1.5.28 - espaços públicos interativos -
Intervenções do grupo de artistas E-Flux
Fig. 1.5.29 - espaços públicos interativos - Inter-
venções do grupo de artistas E-Flux
Fig. 1.5.30 - espaços públicos interativos - Intervenções do grupo de artistas E-
Flux
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
124
Elemento associativo A1 - As contrapartidas imobiliárias uso-valor
Existe um primeiro tipo ocupação do solo, característica de alguns locais onde não existiu uma divisão
em lotes que determinou a segmentação do solo em propriedades, esses edifícios se acumularam
uns nos outros (de maneira semelhante aos assentamentos islâmicos, como vimos no item 1.1 desse
primeiro capítulo da tese). Normalmente esses edifícios receberam espaços internos que muitas vezes
são adequados à ventilação, à insolação, porque consideram a apropriação do espaço de uma maneira
natural (a partir de uma percepção empírica do clima da trajetória solar, e do movimento natural das
pessoas pelos assentamentos).
Entretanto, quando as leis de uso do solo são formuladas, estas vão caracterizando, ao longo do
tempo, vários sintomas espaciais nas cidades, que geram problemas, ou que geram oportunidades.
Existem cidades que possuem um tipo de lei de uso do solo que parte da visão bidimensional do lote.
Esse tipo de legislação implica em vários problemas, porque considera o limite do lote e determina
recuos a partir dos quais é possível construir. Essa lei é limitadora a partir das bordas do lote. Existem
áreas onde não se permite que se construa mais de 1 pavimento ( então resulta em edifícios com um
pavimento exageradamente alto, para abrigar mezaninos internamente), existem leis que limitam a
altura da cobertura (e dependendo da situação, resultam em dois pavimentos mais baixos. Existem
leis que obrigam recuo de 1,5 m em cada lateral do lote, que resultam em edifícios com aberturas para
áreas estreitas e que muitas vezes não são ensolaradas. Esse tipo de lei, associada à possibilidade
da verticalização, é também responsável pela existência de muitos edifícios nos, altos e cercados aos
usufruto público, em uma mesma quadra, e resulta em espaços públicos pobres e calçadas nas e com
problemas à circulação de pedestres. (Por esse motivo, o uso do solo em São Paulo e alguns outros
municípios utilizam alguns mecanismos de exceção - como as operações urbanas - e estão recebendo
alterações no próprio código de zoneamento, nos últimos anos, permitindo que critérios de ocupação
do lote ocorram por projeto urbanístico, e também possibilitando o uso misto em diversas áreas onde
antes não se permitia – tornando-se cada vez mais semelhante ao terceiro tipo de lei).
Existe um tipo de legislação de uso do solo, que permite melhor diversidade e gera oportunidade, diferente
desse primeiro. Essa legislação é associada ao projeto urbanístico, que considera relações estratégicas
tridimensionais (que interpola usos em vários níveis) entre lotes, e parte da visualização de potenciais
que existem no entorno próximo ao lote (como a proteção de cursos d`água, o aproveitamento da
continuidade de algum trecho comercial existente na área, ou o respeito à algum elemento referencial).
Esse tipo de uso do solo normalmente ocorre:
- quando as cidades possuem legislações de uso que não impeçam a criação de estratégias
tridimensionais de uso, ou quando determinadas áreas urbanas se tornaram tão rígidas que impedem
que novas conexões se estabeleçam, então novas propostas de projeto urbanístico são sugeridas para
a apropriação de determinados lotes, como exceção à legislação (como um projeto estratégico).
- quando existem elementos estruturais referenciais (áreas de preservação ambiental, cultural,
1
Fig. 1.5.31 - espaços públicos in-
terativos - Intervenções do grupo
de artistas E-Flux
Fig. 1.5.32 - espaços públicos interativos - Intervenções
do grupo de artistas E-Flux
Fig. 1.5.33 - espaços públicos interativos - Intervenções
do grupo de artistas E-Flux
CONCEITUAÇÃO
CAPÍTULO 1
125
histórica), próximos aos lotes, que necessitam de boa mobilidade, e a área apresenta forte vocação
para verticalização. Então se faz necessário veri car critérios tridimensionais de ocupação, que inclusive
permitem trocas de potencial construtivo que ajudarão a manter essas áreas e os espaços de usufruto
público que devem permeá-las e conecta-las com os demais elementos estruturais.
Citamos o arquiteto Jonathan Barnett, na primeira parte desse capítulo da tese, que nos anos 1970 foi
um dos precursores a utilizar e descrever o projeto urbanístico como uma ferramenta para a revitalização
de áreas como a Broadway, através da utilização de trocas de potencial construtivo, que tinham a
nalidade de atrair investidores para a área degradada. Barnett utilizou o espaço terciário e o transporte
de massas como fatores de mobilidade. Barnett ainda não incluía contrapartidas sociais e ambientais,
que ainda são outras possibilidades, mas descreveu de maneira muito clara essa possibilidade para a
recuperação (às vistas dos anos 70) de áreas urbanas degradas. São essas possibilidades de utlilização
de trocas de potencial e mecanismo de incentivo que o projetista urbano pode utilizar como principais
ferramentas para obter melhor qualidade do espaço de usufruto público, e melhores interações entre os
elementos estruturais, como veremos na metodologia proposta no capítulo 2 dessa tese.
Fig. 1.5.34 - espaços públicos interativos - Intervenções do grupo de artistas E-Flux
Fig. 1.5.35 - espaços públicos interativos - Intervenções do grupo de artistas xxxxxxxxxxxxxxxx
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
126
Elemento associativo A2 - As contrapartidas sociais
Normalmente os mecanismos de recuperação de áreas centrais têm abordado a questão social a partir da
visão empresarial de contrapartidas, nas trocas de potencial construtivo das operações urbanas ou projetos
estratégicos.
A questão social, que é uma obrigação do Estado em prover, se transformou em um grande problema a
partir dos anos 80, quando os municípios começaram a receber um repasse muito menor de verbas, como
comentamos no item 1.4. A habitação social é um dos ítems de mais difícil compensação. Se p projeto
urbanístico não contempla – e exige – trocas por áreas habitacionais, por parte dos empresários, di cilmente
algum empresário terá iniciativa própria em alocar áreas para habitação social. Por outro lado, existem
programas amplos, que recebem ajuda de nanciamento da iniciativa privada e de fundações, que visam a
construção de habitação popular que não contemplam as necessidades locais.
Por esse motivo, os elementos associativos do projeto urbanístico em rede funcionam em conjunto – o
potencial que um determinado elemento gera, é necessariamente compensado e equilibrado por outros tipos
de uso, de formas que a iniciativa privada veja, a partir de uma visão empresarial, formas de incentivo no
investimento do espaço próximo (seja por trocas de potencial construtivo, ou seja por outros mecanismos
tributários).
Quando a habitação social funciona a partir de contrapartidas na mesma área limite do projeto urbanístico
que a proporciona, passa a ocorrer a necessária solidarização dos demais elementos estruturais. As pessoas
que residem na habitação social dividem as mesmas conexões de pedestres, os mesmos espaços terciários,
os mesmos acessos, os mesmos espaços para institucionalidades. Imagina-se que dessa maneira os
habitantes dos edifícios criados a partir de contrapartidas sociais passam a constituir parte integrante da vida
e da mobilidade dos elementos estruturais, que, nesse tipo de projeto urbanístico que propomos, buscam
garantir melhor usufruto público da cidade (inclusive dos lotes privados).
Imagina-se que as contrapartidas sociais, só podem resultar em atitudes mais efetivas de inclusão social se
não apenas as necessidades de habitação das pessoas forem resolvidas, mas também se as habitações
sociais estiverem associadas a elementos estruturais na cidade, que sejam capazes de cumprir uma natural
qualidade inclusora. Quando o cidadão que reside em uma habitação social puder circular entre todos,
tiver acesso aos mesmos espaços coletivos (se houver o incentivo à abertura para espaços efetivamente
de usufruto público), e usar os mesmos meios de transporte para acessar o emprego – bicicleta, metrô. Os
benefícios que esse cidadão poderá desenvolver a partir da integração social, estimulada pela presença de
elementos estruturais da trama urbana concebidos com essa nalidade, poderão fazer com que a melhora
da qualidade de vida deste cidadão resulte em melhor educação para seus lhos, e reverta em melhorias na
qualidade da sua habitação, também. Nesse sentido as contrapartidas urbanísticas podem ter um grande
papel social: procuram atingir as habitações, mas antes disso, os elementos estruturais de civilidade e
participatividade que o individuo necessita para fazer parte da vida social com integridade.
2
Fig. 1.5.36 - espaços públicos interativos -
Intervenções do grupo de artistas E-Flux
Fig. 1.5.37 - espaços públicos interativos - Intervenções do grupo de artistas E-Flux
CONCEITUAÇÃO
CAPÍTULO 1
127
Elemento associativo A3 - As contrapartidas culturais
As contrapartidas culturais têm uma relação direta com todos os outros usos que se associam aos
elementos estruturais do projeto urbanístico em rede.
No projeto urbanístico, as contrapartidas culturais ocorrem em áreas normalmente associadas a lotes de
propriedade privada, mas que têm certas qualidades culturais locais, ou certas conformações peculiares
na trama urbana, ou trazem certos elementos culturais que somente são mantidos através de um projeto
estratégico que permita aos proprietários desses lotes a visualização de benefícios que esses podem ter,
em manter certas características culturais do local.
Exemplos desse tipo de situação são bairros históricos, como Parati ou São Sebastião e Ilhabela; ou
bairros que trazem certas peculiaridades de uso. Existem ainda casos em que elementos culturais
importantes estão associados a lotes privados (como é o caso do Pagode de Wuxi, situação em que o lote
começou a apresentar um grande potencial construtivo para comércio, habitação, mas seria necessário
que se mantivesse uma relação de respeito com o pagode histórico).
Nesses casos, nem sempre a iniciativa dos proprietários de alguns dos lotes é su ciente para que esses
valores culturais sejam preservados. São necessárias estratégias locais conjuntas para o benefício
coletivo. Em adição, nem sempre o proprietário tem recursos para manter valores culturais que se encontrar
em suas propriedades. Assim, um projeto urbanístico estratégico, que considera a troca contrapartidas
entre todos os usos associados aos elementos estruturais, pode ser conveniente na solução para casos
assim.
Geralmente existem vantagens nesse tipo de contrapartida histórica. Os proprietários desse lotes podem
a chance de venda de potencial construtivo para manter seus imóveis (ao invés de ceder espaço de seus
lotes para grandes edifícios, se puder comercializar “pavimentos virtuais” que seu imóvel teria direito).
As áreas lindeiras que não apresentam esse tipo de valor local, e que podem verticalizar, se comprarem
potencial, também serão bene ciadas com a possibilidade de mais áreas de uso.
Normalmente esse mecanismo proporciona possibilidades que alcançam além da manutenção física de
determinadas áreas. Permitem que certos espaços destinados à costumes locais (festas, artesanatos,
áreas de convívio e certos vínculos culturais das populações locais) sejam mantidos.
Se isso ocorre, esses valores culturais locais podem retornar agregando diversidade aos elementos
estruturais da rede. Por esse motivo, imagina-se que a rede estrutural possa sofrer alterações em
sua estrutura, inclusive porque, se os elementos estruturais funcionarem de uma maneira integrada e
permitirem boa mobilidade, a capacidade das relações estruturais da rede, em absorver a diversidade
local provavelmente se torna maior.
3
Fig. 1.5.38 - espaços públicos interativos - Inter-
venções do grupo de artistas E-Flux
Fig. 1.5.39 - espaços públicos interativos - Intervenções do grupo de artistas E-Flux
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
128
Elemento associativo A4 - As contrapartidas ambientais
4
Fig. 1.5.40 - espaços públicos interativos -
Intervenções do grupo de artistas E-Flux
Fig. 1.5.41 - espaços públicos interativos - Intervenções do grupo de artistas E-Flux
CONCEITUAÇÃO
CAPÍTULO 1
129
METODOLOGIA
CAPÍTULO 2
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
132
2. O Método no projeto urbanístico: apresentação
Este segundo capítulo da tese discute, inicialmente, a importância da questão metodológica no projeto
urbanístico, com a intenção de mostrar como a revisão no discurso e na prática formal da arquitetura,
estimulada principalmente pelos pós-modernos, provocou o repensar sobre o objeto arquitetônico, face
aos padrões visivelmente emergentes como resposta caótica às intervenções do arquiteto sobre o
espaço urbano.
O primeiro texto, Um breve panorama sobre o papel da metodologia no Projeto urbanístico, parte
da caracterização cientí ca da metodologia de natureza crítica; veri ca como a prática narrativa e
equivocada da retórica foi responsável por estruturar em uma única dimensão perceptiva o objeto
arquitetônico; analisa a preocupação dos modernistas em admitir múltiplas possibilidades simbólicas
ao objeto, porém, ainda imaginando que a força simbólica seria intrínseca ao próprio objeto (ou de
acordo com a nalidade que nele estaria contida) e não do entendimento do interlocutor; e investiga a
in uência que lósofos como Foucault, Heidegger e Merleau Ponty, desempenharam, ao veri carem
novas abordagens a respeito da visão subjetiva, na procura de novas alternativas à visão estruturada
do objeto. Estas abordagens trouxeram a multi-dimensionalidade ao objeto arquitetônico, abordado
pelos pós-estruturalistas.
A partir da revisão do conceito moderno de indivíduo, ocorreram mudanças na representação lingüística
disciplinar, e o discurso arquitetônico passou a ser considerado, pelos pós-modernos, também um tipo
de prática projetual que acontecia paralelamente ao projeto em si, e tinha o intuito de abordar múltiplas
possibilidades de interpretação do objeto arquitetônico, de estimular o interlocutor. Esta postura foi
fundamental para o entendimento de um novo papel do usuário, que, especialmente a partir dos anos
80 passou a ser interpretado como participante ativo na produção de signi cados da obra arquitetônica
e urbanística.
Em seguida, o segundo texto, Uma mudança contextual que propiciou a conceituação do aprendizado
cadeia, e novas abordagens do objeto arquitetônico e da participação do usuário, discute ainda mudanças
epistemológicas necessárias para a compreensão da rede como uma estrutura urbana: a crítica à
visão moderna de indivíduo, de sociedade e de objeto arquitetônico deu início às novas possibilidades
de organização social, com parcerias público-privadas e ofereceu caminhos à exploração de novas
oportunidades; a crítica à projeção corporal mecânica do trabalho, característica da sociedade moderna,
instigou o repensar sobre o aprendizado em cadeia da rede; a crítica à prática narrativa do projeto
despertou interesse por um projeto processual e dinâmico; e as associações de novas tecnologias
ao projeto trazem a abordagem ambiental a uma nova concepção de uso em que a preservação e a
reconstituição dos recursos vitais passam a agregar valor.
Ao longo desta mudança contextual, o próprio conceito de objeto arquitetônico foi revisto, a partir de
vários paradigmas, e a metodologia projetual no projeto urbanístico passou a enfocar o objeto e os
Fig. 2.1 - espaços públicos interativos - Intervenções do grupo de artistas E-Flux
Fig. 2.2 - espaços públicos interativos - Intervenções do grupo de artistas E-Flux
METODOLOGIA ANALÍTICO-PROPOSITIVA
CAPÍTULO 2
133
padrões emergentes a partir de quatro principais pontos de vista, que são discutidos e exempli cados
neste capítulo: a metodologia projetual que surge a partir da construção da complexidade do objeto
arquitetônico; a metodologia projetual que surge a partir da axis do movimento provocado pelo objeto;
a metodologia que considera que o objeto surge e entra em mutação, como um resultado espontâneo
da emergência de padrões; e a metodologia que acredita que o projeto infere a emergência de padrões
e recria sempre condições à existência e con guração dos objetos (que não são mais arquitetônicos,
apenas, mas sociais, políticos, etc.).
A partir da veri cação das implicações destes quatro pontos de vista de abordagem metodológica, que
os arquitetos atuantes em Projeto urbanístico procuraram desenvolver a partir de meados dos anos
70, o objetivo desta pesquisa, neste capítulo, é caracterizar as relações de signi cação em cadeia do
projeto entendido como rede, e que faz interface com outras redes, considerando a seguir algumas
questões que nortearão, do ponto de vista epistemológico, o processo de re exão sobre a metodologia
a apresentada na parte IV dessa tese.
Os principais pontos que este capítulo busca esclarecer estão relacionados à veri cação efetiva do
funcionamento da rede como embasamento de uma concepção metodológica. Sendo assim, quais
seriam as principais diferenças metodológicas entre os tipos de conhecimento que abordam a
intervenção projetual de maneira dinâmica, e quais as características de espaço que delas resulta?
A partir da análise destas diferenças metodológicas, como veri car se a metodologia a ser proposta
nesta tese pode conter, em seu cerne, uma particularidade de interação entre processos semióticos
de reconhecimento do espaço, que permitem o aprendizado, em cadeia, da rede, e que parecem
estar presentes nos projetos a serem analisados? O desenvolvimento dessas questões associado à
caracterização das relações cognitivas da rede, no Projeto urbanístico, é o assunto abordado no último
texto deste capítulo, as redes neurais e o projeto urbanístico interagente.
Por m, será apresentada uma metodologia analítico propositiva que se julga coerente para a utilização
em projetos urbanísticos que objetivam a futura interação do usuário na modi cação do espaço
projetado.
Fig. 2.3 - espaços públicos interativos - Intervenções do grupo de artistas E-Flux
Fig. 2.4 - espaços públicos interativos - Intervenções do grupo de artistas E-Flux
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
134
2.1. Um breve panorama sobre o discurso metodológico no Projeto urbanístico
A preocupação com uma metodologia de intervenção sistêmica, que seja capaz de interagir com a
capacidade de signi cação, em cadeia, das redes, e com as necessidades de vivência, privacidade,
territorialidade, identidade e ambiência dos usuários é um tema para o qual parecem estar convergindo
as mais diversas áreas do conhecimento que se preocupam em averiguar a manifestação espontânea
da vida, da vontade, dos interesses e dos con itos.
Através de con itos, podem surgir as mais interessantes oportunidades e revisões de paradigmas,
como demonstra a história das artes e das ciências. A partir da crítica à realidade e ao paradigma
dominante, surgem constantemente as mais instigantes intervenções. É justamente esse o objeto de
estudo da teoria arquitetônica crítica: geralmente parte da averiguação de metodologias, da avaliação
das relações entre o espaço construído e os usuários, e quase sempre, segundo a arquiteta Kate
Nesbitt, tem o propósito de estimular mudanças
203
. É esta busca por mudanças que torna a teoria
crítica polêmica por natureza - porque esta teoria está sempre referenciada por cenários políticos, ou
embasamentos éticos.
Os gregos desenvolveram uma forma de teoria crítica utilizada para narrar ações interventivas no
espaço e na sociedade, relacionadas à ética. Essa forma teórica de discurso, a retórica
204
, veri cava
a capacidade de argumentação ética sobre o estudo proposto. A arquitetura clássica, entretanto, ao
justi car as proporções da perfeição do espaço arquitetônico, criava métodos e modelos
205
, utilizando a
retórica com um caráter narrativo tão persistente, que muitas vezes o que se falou sobre alguns projetos
clássicos, passou a ser mais forte do que o que era possível ser percebido, através da vivência do local
– segundo a crítica modernista, o aspecto simbólico do projeto passou a ser muito mais narrativo das
proporções e métodos, do que vivenciável ou perceptível, devido ao uso excessivo da retórica
206
.
203 Nesbitt Kate. Uma nova agenda para a Arquitetura (Theorizing a new agenda for Architecture). Tradução de Vera Pereira.
2006. Nesta obra a professora de Teoria da Arquitetura Kate Nesbitt, organizadora, discute os três tipos de teoria arquitetônica:
a prescritiva, a proscritiva e a crítica. Baseando-se em contextos discutidos por historiadores como Tafuri, Argan, Colquhoun
e Frampton, Nesbitt reúne, contextualiza e discute textos dos arquitetos atuantes em projeto, que têm como prática também o
discurso, como Rossi, Venturi, Tadao Ando, Eisenman, Tschumi e Koolhaas.
204 A Retórica (capacidade de argumentação), a Lógica e a Gramática eram as artes que constituíam o Trivium, sistema de
ensino da Idade Média. O Trivium era ensinado antes do Quadrivium (Aritmética, Geometria, Música e Astronomia). Juntos,
formavam as Artes Liberais – o conceito de arte completa, formulado ainda na antiguidade, por Aristóteles. O uso pejorativo da
palavra retórica, segundo o dicionário Houaiss, sugere o emprego de procedimentos enfáticos para persuadir ou por exibição.
205 Eisenman, Peter. “A arquitetura e o problema da gura retórica” e “O m do clássico: o m do começo, o m do m.” In
Nesbitt, Kate. Uma nova agenda para a Arquitetura (Theorizing a new agenda for Architecture). 2006; pp 71.76
206 O lósofo e professor de antropologia Massimo Canevaci desenvolve uma linha de pesquisa através da qual aborda o uso
da pesquisa etnográ ca na representação simbólica. Em uma palestra na FAU-USP, em março/2006, Canevacci falou sobre a
in uência de Platão na representação simbólica que afasta o interlocutor da capacidade de vivência do objeto, enfatizando que
esta visão de objeto perdurou por muitos anos, na representação lingüística da realidade. Canevacci entende que a etnogra a
(que considera que o arquiteto também faz parte da realidade que ele está tentando modi car). Para a veri cação da importân-
cia da pesquisa etnográ ca, na arquitetura, vide Bertacchini, Patrícia. Tudo comunica – pensando sobre as relações ecológico-
comunicativas da Arquitetura e do seu ensino, 2000. Monogra a de Lato Sensu, p20-32.
Fig. 2.1.1 - espaços públicos interativos - Intervenções do grupo de artistas E-Flux
Fig. 2.1.2 - espaços públicos interativos - Intervenções do grupo de artistas E-Flux
METODOLOGIA ANALÍTICO-PROPOSITIVA
CAPÍTULO 2
135
Por esta razão, assuntos como metodologia de projeto e os discursos sobre a leitura do objeto
arquitetônico foram muito criticados pelos modernistas, que voltaram o foco das investigações espaciais
para a abstração simbólica do objeto arquitetônico, dando origem às mais diversas especulações
simbólicas sobre a estrutura da forma. Entretanto, enquanto a arquitetura caminhava para a construção
abstrata da forma, alguns pesquisadores, em diversas áreas do conhecimento, criticaram a visão
modernista simbólica do objeto de estudo, e foram em busca da compreensão dos processos que
levam à percepção da realidade. Michael Foucault
207
(in uenciado pela visão subjetiva da psicanálise
de Freud e pela relatividade de Einstein) desenvolveu estudos que demonstram que o saber é relativo
ao conhecimento de mundo de cada indivíduo; percebeu que os grupos sociais são heterogêneos e
que os sujeitos, quando considerados socialmente, não constituem um grupo, mas uma multiplicação
de egos; e desenvolveu ainda um conceito de poder desvinculado da idéia de instituição. O lósofo
Martin Heidegger (orientando de Edmund Husserl, o criador da fenomenologia) desenvolveu estudos
sobre a forma como o homem percebe a realidade à sua volta e a entende como fenômeno, porém,
investigando como a verdade se manifesta através de interpretações subjetivas. Estes pesquisadores
que, de maneira geral, investigaram novas abordagens sobre a visão subjetiva e procuraram alternativas
à visão estruturada do objeto, estimularam uma mudança contextual que embasou conceitualmente o
pensamento pós-estruturalista.
Com a in uência epistemológica pós-estruturalista, que demonstrava as novas abordagens sobre a
visão subjetiva, o discurso metodológico do projeto foi retomado na arquitetura. Surgiram então as mais
diversas concepções para o objeto arquitetônico multi-referenciado pelos diversos pontos de vista,
defendendo paradigmas embasados sempre na revisão no conceito moderno de indivíduo. O discurso
arquitetônico pós-moderno passou a ser defendido como uma forma de prática arquitetônica. Com o
objetivo de estimular e inferir mudanças, o discurso metodológico passou a criticar a retórica como
narrativa do projeto de arquitetura.
Nota-se, de maneira enfática, na retomada do discurso por uma metodologia inferencial, a in uência de
Jacques Derrida
208
, lósofo criador do desconstrutivismo cujas idéias in uenciaram a prática discursiva
dos arquitetos pós-estruturalistas, como Bernard Tschumi; e também a revisão da fenomenologia de
Husserl e dos estudos de Heidegger sobre a verdade subjetiva, por Merleau Ponty
209
. A representação
lingüística trouxe, assim, um novo entendimento para os papéis do arquiteto como autor, e para a
interatividade do usuário. Veremos mais adiante neste capítulo, que estas alterações decorrentes
da mudança na representação lingüística foram fundamentais para a concepção da maneira como o
207 Foucault, Michael. A Ordem do Discurso, 9. 2005. p.36. Para Foulcault, “a disciplina é um princípio de controle da produ-
ção do discurso. Ela lhe xa os limites pelo jogo de uma identidade que tem a forma de uma reatualização permanente das
regras” Outra observação emblemática do pensamento de Foulcault sobre o discurso, que demonstra claramente a intenção de
uma construção perceptiva da realidade é “O novo não está no que é dito, mas no acontecimento de sua volta”.p.26.
208 Derrida, Jaques. Deconstruction and Criticism. 2005. p.37
209 Merleau-ponty, Maurice. O visível e o invisível. 2003; Merleau-ponty, Maurice. O olho e o espírito. Trad. De Maria Ermanti-
na Pereira. 2004. pp. 68-73
Fig. 2.1.3 - espaços públicos interativos - Intervenções do grupo de artistas E-Flux
Fig. 2.1.4 - espaços públicos interativos - Intervenções do grupo de artistas E-Flux
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
136
conhecimento se constrói em cadeia, nas redes.
Se, na visão do arquiteto Vittorio Gregotti
210
a teoria é uma premissa que conduz diretamente ao
projeto (o discurso projetual narrativo está bem claro na forma como Gregotti descreve a arquitetura),
os ensaios de Bernard Tschumi sugerem a idéia de que o objetivo da teoria é despertar discussão a
respeito das possibilidades, estimulando diferentes pontos de vista. Segundo Tschumi, “a arquitetura
não é uma arte ilustrativa; ela não ilustra teorias”
211
. Através da observação dos textos do arquiteto,
em um contexto pós-moderno, nota-se que o texto não é uma narrativa da arquitetura, mas através da
abordagem teórica, a arquitetura transcende os limites do texto às diferentes formas de entendimento
concernentes ao repertório de cada um dos múltiplos usuários. Para Tschumi, a teoria arquitetônica
objetiva estimular mudanças para que as estruturas arquitetônicas possibilitem a compreensão e a
interação do usuário.
Desde que o imaginário do pós-modernismo provocou a inversão da prática formal da representação
lingüística do projeto de arquitetura, através das teorias da linguagem - principalmente através do
pós-estruturalismo - as especulações sobre a criação e apreensão de signi cados têm se tornado
constantes na busca da prática arquitetônica ética, o que desencadeou inúmeras pesquisas utilizando
a semiótica na arquitetura. A loso a pós-moderna trouxe a visão multidimensional da realidade, e
assim o usuário passou a ser considerado interlocutor com papel ativo e dinâmico, na produção de
signi cados da obra arquitetônica.
2.2. Uma mudança contextual que propiciou a conceituação do aprendizado cadeia, e novas
abordagens do objeto arquitetônico e da participação do usuário.
Além da mudança no conceito sobre a prática formal da representação da linguagem do projeto, outras
heranças do pensamento pós-moderno são importantes para a abordagem de uma metodologia de
projeto que seja capaz de interagir com a capacidade de aprendizado em cadeia, das redes.
Primeiramente, por ser inferencial e provocativa, ao invés de narrativa, a prática discursiva pós-
moderna possibilitou que se assumisse a materialidade do edifício. Desenvolveu-se, então, as
primeiras especulações projetuais partindo-se da premissa de que o edifício não precisa ter um caráter
simbólico por si, mas pode ter seu signi cado revisto de acordo com o tempo e com a necessidade dos
usuários.
210 Gregotti, Vittorio. Inside Architecture.1996. pp. 37.40. Gregotti contra-argumenta o discurso desconstrutivista e demonstra
descon ança em relação aos modelos literais. Ao mesmo tempo, identi ca elementos da cultura de massa e das instituições
públicas que levaram à deteriorização do ambiente construído. Entretanto, o arquiteto despreza as in uências sociais, ambien-
tais, dinâmicas e a rma que as principais características das obras dos arquitetos contemporâneos são: a precisão, a técnica,
a monumentalidade, a modi cação, a atopia, a simplicidade, e os métodos construtivos – elementos estáticos e que não neces-
sariamente provocam uma relação entre a obra, o entorno e os usuários.
211 Tschumi, Bernard. “Six Concepts”, in Architecture and Disjunction.1995, p. 259.
Fig. 2.1.5 - espaços públicos interativos - Intervenções do grupo de artistas E-Flux
Fig. 2.1.6 - espaços públicos interativos - Intervenções do grupo de artistas E-Flux
METODOLOGIA ANALÍTICO-PROPOSITIVA
CAPÍTULO 2
137
Entendeu-se, a partir de então, que o signi cado do edifício também pode ser alterado com o tempo
(multitemporal). Assim, é importante, para o raciocínio desenvolvino nessa tese, o entendimento de
que o papel ativo e dinâmico do usuário na produção de signi cados (proporcionados pelo conceito de
multi-temporalidade do espaço) é ponto de partida para a de nição e quali cação do conceito atual de
território, que é formado a partir dos interesses individuais e da aglomeração espontânea.
O segundo conceito discutido pelos críticos pós-modernos foi o da visão social característica da utopia
moderna
212
, que se baseava na existência de um estado forte, e de instituições xas, poderosas e
presentes. De acordo com pensamento social moderno, através do seu caráter simbólico e formalmente
“acessível” dos espaços projetados para comércio e vivência no interior dos edifícios, a arquitetura
poderia exercer o papel ativo de corretora dos problemas decorrentes da desigualdade social. Nota-se,
entretanto, que a falta de mescla de usos inibe as parcerias público/privadas. Percebe-se que a partir
do momento em que o estado não se demonstrou capaz de custear as demandas dos usuários, nos
espaços projetados para serem comerciais e destinados a serviços, por estarem isolados da participação
e do uxo privado, deixaram de ser utilizados e atrair pessoas e hoje se encontram falidos.
O questionamento desta visão social pelos pós-modernos fez ressurgir a possibilidade do espaço
arquitetônico pensado a partir de parcerias ad-hoc e que contempla renovações constantes. Ainda que
esta posição pós-moderna tenha sido inicialmente excludente das preocupações com o social
213
uma
das bases desta pesquisa é o entendimento de que esta posição questionadora do papel do estado foi
uma das condições essenciais para a formatação atual da nova condição sócio-ambiental, que parte
das iniciativas privadas, através de contrapartidas exigidas por uma política pública coerente. Somente
assim a veri cação das qualidades de uma arquitetura que se atualiza com o intuito de abrigar as novas
institucionalidades, que contemplam, ao mesmo tempo, o objetivo de lucratividade e de auxílio social
pode ser possível.
O terceiro tema abordado em contexto pós-moderno, que in uencia o embasamento teórico desta
pesquisa, é a mudança na forma de projeção corporal do trabalho em uma escala de abordagem
social. De acordo com o pensamento moderno, de contexto industrial, a transposição teleológica da
capacidade corporal do homem acontecia na multiplicação da capacidade operante de ferramentas. O
homem era considerado uma peça, capaz de realizar um movimento, e faz parte de alguma estrutura
de movimentos maiores, da fabricação de um determinado produto. A participação de cada indivíduo,
na linha de produção, se fazia de maneira previsível, controlada por um processo maior, e o indivíduo
não participava do processo de maneira global – tinha especial conhecimento apenas do trabalho
realizado na etapa de produção a que pertencia. Assim, sua transposição teleológica corporal se dava
212 A Crítica de Robert Hugues, no lme O Choque do Novo, 1980 demonstra a plástica resultante deste pensamento, em
algumas obras de Corbusier, como o edifício de Pruitt Igoe
213 Provavelmente por este motivo o pós-modernismo é criticado pelos arquitetos, geógrafos, e demais pensadores que
acreditam que o estado deve ser capaz de suprir as desigualdades sociais, mesmo que a qualquer custo público, e a qualquer
custo para os micro-empresários e pequenos investidores.
Fig. 2.2.1 - espaços públicos interativos - Intervenções do grupo de artistas E-Flux
Fig. 2.2.2 - espaços públicos interativos - Intervenções do grupo de artistas E-Flux
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
138
de maneira mecânica.
Para os pós-modernos, entretanto, a transposição teleológica do corpo se dá a partir da capacidade
crítica, perceptiva e analítica de cada indivíduo. Esta diferença contextual de abordagem permite
que esta pesquisa considere e analise uma das principais heranças do pensamento pós-moderno:
a capacidade de tomada de decisões em rede. O pensamento pós-moderno ressalta que a forma de
abordagem conceitual dos vínculos de produção de trabalho interfere no desenho dos uxos de pessoas,
dos valores e das oportunidades entre as institucionalidades, as corporações, as comunidades e os
indivíduos, con gurando diferentes formas de mobilidade.
Estes vínculos de produção de trabalho que proporcionam a transposição crítica (e não mais mecânica)
da habilidade humana são entendidos como elementos que também moldam e quali cam os usos dos
espaços de vivência entre edifícios e das conexões, na cidade. Através de uma analogia observada
na estrutura das rmas e nos padrões emergentes observados nas bolsas de valores, pesquisadores
a exemplo de Rajan e Zingales
214
, percebem que a forma de terceirização do trabalho altera o espaço
e a estrutura das rmas, e ressaltam o valor cada vez maior dos ativos críticos, em contraposição
à estagnação de valor dos ativos concretos (os bens imóveis da empresa). É possível utilizar esta
analogia para se veri car, no espaço da cidade, como se formaram os grupos de ativos críticos e a
maneira como a hierarquia das grandes instituições se desfez ou se terceirizou. Esta mudança causou
novas concepções de centralidade e mobilidade, que serão exploradas nos capítulos 3 e 4. Por hora,
é importante observar que a consciência da formação da rede de ativos críticos, nas estratégias de
melhoria do espaço da cidade, interferem nos riscos e nas estratégias de liquidez do espaço (que são
responsáveis por atrair investidores). Esta é a condição sine qua non para o êxito das PPPs (parceria
público-privada) que agregam o processo participativo, devido à possibilidade que a rede crítica pode
ter de articular prioridades de maneira criativa, e com melhor adequação ao contexto local.
O quarto e último tema criticado pelos pós-modernos, que interessa particularmente a essa pesquisa,
é a possibilidade de associar as funções do edifício à pesquisa tecnológica. Esta visão possibilitou
a transição para uma nova forma de entendimento da preservação ambiental, ligada aos aspectos
tecnológicos e legislativos, possibilitando a atual existência de contrapartidas e regeneração de recursos
através da troca coerente com o meio: uma forma de habitar consciente.
Estes quatro temas (a prática narrativa / materialidade do edifício; a crítica à visão social moderna, a
critica a projeção corporal do trabalho; e a forma de associação dos edifícios à tecnologia) discutidos
pelos pós-modernos são particularmente importantes para o entendimento da mudança contextual que
ocorreu após as décadas de 1970/80, e que embasaram a discussão sobre as redes comunicacionais,
214 Rajan, Raghuram. Salvando o capitalismo dos capitalistas: acreditando no poder do livre mercado para criar mais riqueza
e ampliar oportunidades, 2003 pp. 12-15 e pp. 261-266. Raghuram e Zingales são diretor e consultor econômico do depar-
tamento de pesquisas do FMI, e demonstram que não é apenas o capital, mas o acesso às condições de uso do capital que
geram novas oportunidades.
Fig. 2.2.3 - espaços públicos interativos - Intervenções do grupo de artistas E-Flux
Fig. 2.2.4 - espaços públicos interativos - Intervenções do grupo de artistas E-Flux
METODOLOGIA ANALÍTICO-PROPOSITIVA
CAPÍTULO 2
139
e consequentemente, forneceram ferramentas para que se desenvolvesse, nesta pesquisa, uma
veri cação sobre a importância das redes no Projeto urbanístico.
As redes neurais, em virtude do aprendizado, podem criar memórias de conteúdo endereçado, podem
recriar e provocar a regeneração de informações. A especulação em torno do tema das redes neurais
emerge de um problema do papel da representação nas ciências cognitivas, porque precisam emular
sistemas de tomadas de decisão sem a necessidade explicita de xar as regras para a tomada de
decisões.
A teoria das conexões, que deu origem às Redes Neurais é mais antiga - foi desenvolvida nos anos
40, com o trabalho de Rumelhart e McClelland
215
, sobre a modelagem do comportamento da atividade
cerebral, enquanto as teorias que tratam de sistemas não-lineares estavam ainda sob investigação dos
matemáticos e físicos. Nas décadas de 1980/90, com a exploração dos sistemas não-lineares por outras
áreas do conhecimento, as redes neurais não apenas trouxeram novos resultados empíricos a respeito
de como um sistema neural pode decodi car e aprender informações, mas também trouxeram novas
formas de indeterminação ao paradigma representacional, dando origem às primeiras investigações
sobre o comportamento das Redes Neurais, por pesquisadores de outras áreas do conhecimento.
A crítica à prática narrativa do texto arquitetônico despertou o interesse da teoria por um processo
projetual aberto e dinâmico, com a possibilidade de desmaterialização do edifício, não mais realizada
através da forma do edifício
216
, e nem pronunciada pelo arquiteto, mas sim, através da interação
multitemporal do usuário com a obra. A critica a visão social moderna deu início às novas possibilidades
de inclusão, através de parcerias público-privadas; a crítica à projeção corporal mecânica do trabalho
originou as investigações sobre as tomadas de decisão em cadeia, sem a necessidade de uma
hierarquia de comando, estabelecendo padrões emergentes, que discutiremos mais adiante; e a
associação da constante busca de tecnologia ao processo de concepção do edifício tornou possível
uma maior preocupação, tanto com o conforto dos usuários, quanto com o uso consciente e até a
possível renovação dos recursos naturais.
Ao longo desta mudança contextual, o conceito de objeto arquitetônico foi revisto, e várias formas de
abordagem da complexidade do projeto urbano foram ensaiadas. Algumas formas de abordagem da
complexidade e do caráter determinístico do projeto partem das mais criativas maneiras de abordar
o objeto arquitetônico, tornando-o exível às demandas do contexto e do usuário (como é o caso
das metodologias desenvolvidas por Blasi, G.Padovano, e, ainda que mais xas, das análises de
Bacon). Outras, em outro extremo, partem da interlocução, analisando o comportamento da cidade e
da sociedade, a partir dos padrões que emergem, de maneira positiva ou negativa, propondo formas
215 Rumelhart, David. E. M, James L. Parallel distributed processing. Cambridge,1986. V.2, p. 210-275.
216 Padovano, Bruno Roberto; Bertacchini, Patrícia. Entrevista com o arquiteto Bernard Tschumi / Texto re exivo sobre a obra
o arquiteto. Revista eletrônica Vitrúvius, 2006 em www.vitruvius.com.br. O próprio Tschumi, atualmente, defende uma arquitetu-
ra complexa em suas condicionantes, e não uma forma complexa de arquitetura
Fig. 2.2.5 - espaços públicos interativos - Intervenções do grupo de artistas E-Flux
Fig. 2.2.7 - espaços públicos interativos - Intervenções do grupo de artistas E-Flux
Fig. 2.2.6 - espaços públicos interativos - Intervenções do grupo de artistas E-Flux
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
140
projetuais de interação com estes padrões (como é o caso do estudo de Jane Jacobs, e, de Jonathan
Barnett).
Na busca de referências para a veri cação dos processos que caracterizam estas diferenças
metodológicas, uma análise das obras de Blasi e Padovano, Bacon, Jacobs e Barnett elucidam as
principais diferenças metodológicas que abordam o projeto urbanístico de maneira dinâmica, e ilustram
as características de espaço que resultam destas metodologias.
2.3. Uma trajetória metodológica como referência conceitual: a construção da complexidade.
Em Per una Progetazzione Strutturale: Aspetti di uma teoria, o objetivo de Blasi e Padovano foi
caracterizar e fundamentar a aplicação de uma metodologia de projeto, diferente da metodologia que se
utilizava nas universidades (classi cadas pelos arquitetos-professores de formalistas e compositivas).
Através do estudo e pesquisa de uma metodologia estrutural de projeto, que assume a aleatoriedade
- uma interação projetual - da detecção da “estrutura profunda” ao reconhecimento da “estrutura
super cial”, os arquitetos trabalham a hipótese de que as tensões existentes no campo do projeto
levam à procura de uma realidade que contenha uma série de aspirações essencialmente libertárias,
na prática operativa e no ensino de projeto.
Já em 1973, os arquitetos discutem no primeiro capítulo desta obra - intitulado “Sul concetto di
progettazione” - o primeiro problema que consideram “crítico” à metodologia projetual: a ”noção de
arquitetura” que, em decorrência da crise na teoria projetual, a prática se encontra ‘engessada’ e
ausente de aspectos intuitivos. Esta obra apresenta uma metodologia de entendimento do espaço
urbano, revolucionária para a realidade italiana do início da década de 70. A própria realidade italiana,
por ser muito construída nas grandes áreas urbanas, como Milão, justi cou uma iniciativa metodológica
capaz de assumir a aleatoriedade e quebra da rigidez dos processos projetuais e da conseqüente
arquitetura in exível. Segundo Blasi e G. Padovano, “a incapacidade de perceber a tensão profunda,
existente nas relações espaciais, é a causa das ambigüidades projetuais”. Assim, defendem que “o
que origina o processo de projeto não é uma curiosidade intelectual, mas o fato de possuir experiência
para responder às necessidades humanas, em termos de organização do espaço, correlacionado de
maneira responsável e consciente a existência destas pessoas que vivem neste espaço projetual”
217
.
No capítulo com o título “Emarginazione e marginalità nello spazio urbano”, os arquitetos descrevem que
o entendimento de uma realidade complexa compreende os indivíduos e as suas realidades arti ciais:
“a condição necessária para a existência desta interação [entre projeto e realidade complexa], está
no reconhecimento do valor da diversidade e da importância da participação de usuários, no projeto e
gestão do próprio ambiente”
218
.
217 Blasi, Césare; Padovano, Gabriella. Per una Progetazzione Strutturale 1973, p17.
218 Blasi, Césare; Padovano, Gabriella. Per una Progetazzione Strutturale 1973 pp. 27a 29.
METODOLOGIA ANALÍTICO-PROPOSITIVA
CAPÍTULO 2
141
Em “Creatività e partecipazione urbana”, os arquitetos descrevem os aspectos envolvidos na
capacidade de criar, “no limite da capacidade de ação pública”
219
, e das diretrizes de desenvolvimento
social, condições para que a capacidade criativa do usuário tenha a possibilidade de desdobrar-se
em realização e transformação do espaço urbano. Para isso, imaginam que é necessário assumir os
aspectos aleatórios e instituir um modo de mediação ente a aleatoriedade e a burocracia existente.
Assim, o projeto precisa ser exível e conter um programa estrutural modi cável da de nição e do
potencial da forma.
Em “Condizione Del contesto culturale e línea di tendenza”, os arquitetos defendem a observação
sincrônica das dinâmicas culturais que interferem no espaço projetual, a apresentam três métodos
clássicos de apreensão espacial – o racionalismo clássico, o racionalismo global, e o neo-
monumentalismo, mencionando que as três formas de apreensão espacial resultam em uma imagem
de desenho estático, imutável, e que não se comunicam com a realidade, uma crítica do historicismo
pósmoderno, praticada por arquitetos da linha Rossiana, muito difundida nas universidades italianas,
na época.
No quinto capítulo, intitulado Approccio ai problemi dell´urbano, Blasi e G. Padovano enfatizam a
necessidade da observação da “estrutura essencial” da dinâmica urbana; a rmam que “um sistema
implica na existência de um grupo de atividades, localizadas no espaço que se de ne de modo
particular, através de uma trama de relações que servem para identi car este espaço”. “Por trás dos
diversos componentes de um sistema particular, existe uma complexa relação de interdependência”
220
. No sexto capítulo, nomeado “Svilluppo metodológico del processo di analisi e progettazione”, os
autores defendem uma metodologia de desenvolvimento do projeto, “concebida como uma totalidade
composta de elementos interdependentes – a condição preliminar para que se possa efetuar uma
análise compatível”. Para tanto, é necessário “constituir um corpus”, ou seja, uma descrição do espaço,
a partir das características dimensionais e estruturais, que garantam o entendimento qualitativo da
globalidade da estrutura urbana.
Blasi e G. Padovano desenvolveram um método perceptivo, que permite realizar esta análise, em quatro
fases: o sistema de base (que exprime a relação de atividades x escalas de valor do espaço); a estrutura
profunda: a explicação quantitativa e qualitativa do sistema de base; o sistema de transformações - da
estrutura profunda à estrutura super cial - e a estrutura super cial (física perceptível).
Esta obra é fundamental para esta pesquisa, não como um método diretamente aplicável, porque
foi desenvolvido no início da década de 70, e os próprios autores possuem hoje, atualizações deste
método, porém é o ponto de partida de uma linha metodológica de abordagem dos aspectos dinâmicos
e imprevisíveis do espaço urbano.
219 Blasi, Césare; Padovano, Gabriella. Per una Progetazzione Strutturale 1973 pp. 29 a 42.
220 Blasi, Césare; Padovano, Gabriella. Per una Progetazzione Strutturale 1973 pp. 42 a 85.
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
142
Em Território e Architettura: Metodologie scienti che nell´analisi e nell´intervento
221
, nos anos 90, com o
objetivo de reunir textos, elaborados por diversos autores, em torno da temática projetual, e investigar
aspectos criativos Gabriella Padovano promove investigações sobre diversas metodologias de Projeto
Arquitetônico – a validade da disciplina, as mutações que ela comporta, a utilização da pesquisa
cientí ca como referência, as metodologias operantes válidas, e os processos criativos.
Apesar da riqueza didática, este livro é interessante por apresentar várias metodologias projetuais, que
apresentam dez diferentes processos sistemáticos de apreensão e re-signi cação do espaço projetual,
e das dinâmicas que nele interferem; e dez diferentes maneiras de interagir projetualmente com este
espaço analisado. A obra constitui, assim, uma referência metodológica ampla, para se compreender
o processo de quebra e fragmentação espacial, iniciada nos anos 70. Cabe, entretanto observar que a
grande preocupação era, ao mesmo tempo, abrir o projeto aos processos aleatórios, e, por outro lado,
manter a integridade estrutural do espaço.
Existe uma semelhança na abordagem da dispersão, entre as metodologias ilustradas nesta obra,
e a metodologia discutida nessa pesquisa. Ao contrário dos desconstrutivistas, que dispersaram e
fragmentaram o espaço projetual com o objetivo de questionar a rigidez, mas sem imprimir um “dna”
estrutural que organizasse o espaço, estas metodologias apresentadas por Gabriella Padovano
demonstram a vontade de ruptura e síntese dos elementos aleatórios e dinâmicos do espaço, que,
quebrando a rigidez, conseguiam ainda criar maneiras de manter a estrutura dinâmica e simbólica do
espaço.
Em 1991, com o objetivo de apresentar um histórico do Planejamento Urbano, sob o ponto de vista da
análise dos paradigmas que representam as várias formas, motivos e diretrizes de organização espacial.
Blasi e G. Padovano apresentam um histórico referencial, para caracterizar, por m, o Paradigma da
Complexidade. Com o título Teorie di Piani cazione e Progettazione, o tema abordado pelos arquitetos,
nesta obra é a ciência do território a partir de arquitetura urbanística, sob a ótica do ambiente. A partir de
uma caracterização do Paradigma da Complexidade, os arquitetos acreditam que é é possível entender
como sintetizar os processos urbanos, aleatórios e dinâmicos , em uma metodologia de projeto.
Esta obra é estrutural para a pesquisa porque traz a descrição dos paradigmas de construção do
espaço urbano, demostrando o sentido das soluções. Na continuação histórica desta pesquisa,
analisa-se a organização do espaço a partir do seu valor virtual – fato que começou a preocupar
os teóricos da localização no m da década de 70, início da década de 80 – o espaço informacional
– re-estruturação do espaço que assume a desconstrução da rigidez, para englobar e sintetizar a
complexidade, característica da realidade, e é conectada, assim, pelos sistemas informacionais
222
.
221 BLASI, Cesare; PADOVANO, Gabriella (1984). Território e Architettura: Metodologie scienti che nell´analisi e
nell´intervento. 1991 pp. 42-47.
222 Hoje entende-se que os sistemas informacionais apenas recriam e não produzem estruturas de conhecimento nas redes.
METODOLOGIA ANALÍTICO-PROPOSITIVA
CAPÍTULO 2
143
Também preocupada com a valorização do espaço, G. Padovano desenvolve um estudo com o
objetivo de traçar uma linha metodológica que utilize o modelo de valorização espacial para analisar as
vocações do espaço, e projetar de acordo com os fundamentos da Teoria da Complexidade, intitulado
Modelli di Valutazione della Qualità Territoriale: il caso della area metropolitana milanese
223
. Através do
modelo de valorização, a arquiteta acredita que é possível registrar a variação da dinâmica de valores
que interferem no processo de transformação e assentamento do território. Apresenta como premissa
conceitos que embasam a compreensão da necessidade de se pensar o espaço, a partir da teoria de
valorização, explica a cultura tradicional da forma de se pensar o planejamento, a partir dos elementos
físicos, ou das relações funcionais do espaço, e crítica à compreensão sicista ou funcionalista do
espaço urbano. Gabriella Padovano introduz a noção de incerteza, no desenho do espaço urbano,
assumindo a incerteza como saudável ao processo, a autora descreve, a partir de micro-intervenções
ou por planejamento de áreas especí cas, como a dinâmica urbana pode alterar a relação estrutural
de espaço urbano. Através deste método, Gabriella Padovano veri ca o que chama de variáveis do
processo territorial, que se baseiam na veri cação das potencialidades de novas tecnologias para
realizar o planejamento urbano e territorial da área.
Esta obra é relevante para o desenvolvimento desta pesquisa, porque ilustra como um conceito
que incorpora tanta diversidade, como o planejamento a partir das teorias de valorização do solo,
pode também agir espontaneamente e de maneira contrária ao que se deseja em projeto – pode
determinar valores e coibir os investimentos em áreas para onde justamente se pretende trazer novos
investimentos
224
.
Buscando uma metodologia projetual que se desenvolve a partir do paradigma da complexidade,
através de uma resposta para variação detectada no fenômeno econômico e social, e com o objetivo
de con rmar a e cácia dos conceitos apresentados como premissas - de mobilidade, cidade aberta, e
complexidade a partir de uma forma aberta e processual de projeto, Blasi e Padovano publicam a obra
Complessita´ e Progetto, e, 1997. Nesta obra, os arquitetos defendem que, se o projeto arquitetônico
for realizado a partir da utilização de uma metodologia que tenha sido desenvolvida a partir do
entendimento do Paradigma da Complexidade, existem maiores chances de que o resultado espacial
seja aberto, processual e exível. Assim, Blasi e G. Padovano elencam os problemas do pensamento
clássico racional – paradigma que busca a instituição da ordem, da individualidade e delimitam para
criar (con nar à uma condição formal). Com isso, os autores sentem a necessidade de conferir ao
223 Padovano, Gabriella. Modelli di Valutazione della Qualità Territoriale: il caso della area metropolitana milanese. 1988 pp
25-28
224 Este tipo de abordagem ilustra o que ocorre em alguns trechos das regiões das Operações Urbanas, em São Paulo. Nas
Operações Urbanas, determina-se as áreas mais valorizadas e de possível verticalização. No caso da Operação Urbana Faria
Lima, os lotes localizados na área imediatamente perpendiculares à Faria Lima, foram os primeiros a serem incorporados – não
estavam com os preços tão elevados, quanto os localizados na área de verticalização extrema, mas atingiam um grau satisfató-
rio de verticalização. Com o grande estímulo aos lotes secundários, a região lindeira à Av. Faria Lima permaneceu relativamen-
te vazia, e a operação precisou ser revista, em termos de incentivo.
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
144
projeto arquitetônico, a máxima e ciência, e a necessidade de fornecer ao projeto, uma outra orientação
hierárquica, globalizante. Os autores também traçam uma re exão sobre a visão estática, paradigma
através do qual as respostas projetuais às necessidades do homem são as distâncias e as dimensões;
a estabilidade espacial é causada através do controle do espaço, do estabelecimento de vínculos, da
pré-determinação das necessidades das pessoas, e do impedimento.
Segundo os autores, as metodologias projetuais que se desenvolvem sob o paradigma da Complexidade
assumem as possibilidades imprevisíveis do meio e constituem uma resposta à variação do fenômeno
econômico e social, que se manifestam de uma maneira simpli cada. Desta maneira, Blasi e G.
Padovano concluem que é possível distinguir, nesta forma de raciocínio, três aspectos simultâneos
de um processo total: a destruição, a construção e a abertura, sendo que a construção do objeto
arquitetônico compreende três fases: a construção do problema (o “primeiro momento de aproximação
da realidade, como aspecto determinante”; a procura e a representação do conceito de mutação (o
“fundamento do projeto”) e a busca da complexidade como fundamento e análise do projeto).
Segundo Blasi e G. Padovano, é na fase de construção do objeto arquitetônico (busca do problema/
representação do conceito de mutação/ busca da complexidade) que se desenvolve uma metodologia
geral (chamada de Metodologia Estrutural Generativa) que garante uma maneira de projetar mais
aberta e dinâmica.
A importância desta obra está em perceber que esta é a concretização de um processo que permite
projetar a partir de um processo de entendimento do objeto arquitetônico. O objeto arquitetônico
permite sintetizar aspectos que proporcionam a interatividade com o meio. Através desta metodologia,
é possível incorporar o valor dos recursos naturais, energéticos, durante o processo projetual. Assim,
este caminho metodológico permitiu aos arquitetos o desenvolvimento analítico e projetual de propostas
que trabalham a renovação e o baixo consumo energético; a veri cação da dinâmica das pessoas, a
partir de suas necessidades: a realização de projetos abertos ao tempo e em busca da sustentabilidade,
demonstradas, por m, em La s da della sostenibilità.
METODOLOGIA ANALÍTICO-PROPOSITIVA
CAPÍTULO 2
145
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
146
METODOLOGIA ANALÍTICO-PROPOSITIVA
CAPÍTULO 2
147
2.4. Uma metodologia projetual que considera a axis do movimento como referência aos objetos
arquitetônicos – a percepção espacial
Também no início dos anos 70, na mesma época em que Blasi e Padovano publicaram Per una
Progetazzione Strutturale: Aspetti di uma teoria Edmund Bacon publica Design of Cities, a análise de um
paradigma de projeto para os espaços urbanos, que ocorre através das forças sensoriais. Estas forças
sensoriais, de acordo com Bacon, atribuem diferentes signi cados ao deslocamento, à aglomeração, e
geram diferentes respostas do espaço urbano.
O objetivo de Bacon foi demonstrar, através de uma análise histórica do desenho de diferentes cidades,
as forças que existem por trás da articulação do espaço urbano, veri cando as imagens musculares
e sensoriais em que o projeto urbanístico se baseia. Bacon defende a hipótese de que um projeto
urbanístico com qualidade, e que não se torna obsoleto, é aquele que gera a dinâmica de uso do
espaço e que tem a capacidade de se adequar aos propósitos sensoriais dos habitantes. Ele demonstra
como os hábitos das pessoas interferem na paisagem e no projeto urbanístico. O arquiteto exprime,
com isso, a importância se entender o projeto urbanístico como uma resposta às necessidades sociais
de leitura do espaço, de deslocamento, de aglomeração.
Bacon ilustra quatro conceitos que referenciam uma metodologia que visa à compreensão do espaço
urbano: a cidade pensada como um ato de esperança; a consciência do espaço a partir da experiência,
a natureza do Design, e as formas de percepção espacial a partir da própria leitura do espaço. A partir
desses quatro conceitos Bacon analisa conceitos que expressam a dinâmica que justi ca o desenho de
várias cidades, destacando traços importantes da vida quotidiana, no projeto urbanístico.
Bacon inicia sua análise histórica com a investigação das cidades gregas a partir da sua necessidade
de crescimento considerando as dinâmicas do desenho que se desenvolve a partir da repetição
de estruturas, e com a massa projetada sobre o espaço. Compara o desenho grego com a ordem
de desenho da antiga Roma, veri cando que o desenho clássico foi baseado na compreensão do
espaço sem um padrão básico integrador em maior escala, diferentemente do desenho barroco, que já
estabelecia eixos de tensões entre os edifícios.
Em seguida, Bacon analisa de que maneira o desenho medieval, após a queda do Império Romano,
organizou as construções de maneira orgânica, em uma escala mais delicada, retomada das cidades
medievais e observa que já não se usava mais o desenho clássico monumental.
Já o Renascimento, segundo Bacon, trouxe novas idéias racionais para se pensar o crescimento da
cidade através da imposição da ordem, da noção de profundidade, da visão de um espaço novo, do
desenho axial; e compara com o barroco, que trouxe a idéia de sistemas dinâmicos e obeliscos como
pontos nodais como referência para as estruturas de junção e dispersão da malha urbana.
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
148
Através da planta das cidades alemãs de herança medieval, Bacon analisa como o projeto urbanístico
é capaz de articular o uxo dos usuários, na cidade, utilizando a leitura do Culkemborg, um modelo
cidade de herança medieval formado a partir de um espaço central, retangular, alongado, que servia
para o Mercado; e utilizando também a leitura do Zaltbommel, uma estrutura mais complexa que o
Culkemborg. No Culkemborg e no Zaltbommel, Bacon de ne que a anatomia da cidade é articulada pelo
desenho. Já no modelo Wijk-Bij-Duurstede, o projeto urbanístico representa a simplicidade de 3 facetas
da vida quotidiana: a força espiritual, a força temporal e a economia de energia. Estes três elementos
da vida quotidiana expressam uma relação simbólica entre os elementos centrais, e apresentavam
inter-relações com os sistemas regionais.
Por outro lado, ao analisar o projeto urbanístico em que os objetos arquitetônicos desenham funções,
nos séculos XVIII e XVIII, Bacon veri ca os eixos espaciais de Christopher Wren no desenho inglês;
a “geração de arquitetura” e Place Stanislas, em que objetos arquitetônicos desenhavam literalmente
funções e lugares urbanos; o Eixo de Nancy e as idéias renascentistas na forma medieval; os princípios
de escala por plano, na Villa Giulia de Vignola, Roma, 1555, uma solução de desenho que surgiu
com a demanda de múltiplas escalas, decorrentes do crescimento das cidades; a Progressão sinuosa
através do espaço, que ocorreu a partir da in uência do barroco, e são livres de simetrias axiais, como
a estrutura multi-curvada de Lansdowne Crescent, do arquiteto John Palmer; e a evolução da cidade
de Bath, com as intervenções de John Wood, que introduziu um novo senso de ordem paladiana nas
praças inglesas, e nas cidades de extensões medievais.
Bacon veri ca que a evolução de Paris, também ocorreu a partir de um elemento que conferiu identidade
do limite: a expansão da muralha e a idéia de Catherine de Médicis de construir jardins dentro da
muralha em 1563,e con rmada pelo arquiteto paisagista André Le Notre, em 1740, com a expansão
do eixo Tuileries, formando a verde Champs Elisée. Bacon ressalta que foi esta a origem do desenho
regional, ao longo da Champs Elisée, que conectava o Palácio de Louvre ao centro moderno. Já a
evolução de São Petesburgo, que foi inteiramente construída após as idéias de desenho renascentistas
terem atingido maturidade. Ao contrário de Paris, cujo desenho representava uma expansão dos limites
medievais, o desenho de São Peterburgo, segundo Bacon, forçava uma pressão interna, de origem
regional, com vias que convergiam nas muralhas. A integração de movimentos cruzados e grande
dinâmica moldaram o espaço com extrema formalidade criada pelas convergências simétricas.
Em Londres, Bacon destaca como a arquitetura e inseparável do desenho das estruturas urbanas no
trabalho de John Nash, com os projetos da Regent Street e Bath.
Bacon ressalta o grande impacto que a descoberta da obra “Os Dez Livros de Arquitetura”, de Vitrúvius,
teve no trabalho renascentista. Segundo o arquiteto, esta obra representou a integração do racionalismo
clássico com as especulações intelectuais. O re exo está no desenvolvimento da cidade de Savannah,
uma acumulação funcional celular. Em 1792, o desenho de Washington procurava satisfazer o encontro
da cidade com o rio.
METODOLOGIA ANALÍTICO-PROPOSITIVA
CAPÍTULO 2
149
Em seguida, a análise de Bacon, da obra de Corbusier reforça a idéia de que Corbusier tenha provocado
uma das mais signi cativas revoluções na arquitetura. Bacon atenta à insistência do arquiteto, em
defender a suspensão do edifício da terra, e o projeto a partir da tabla rasa, do local sem condicionantes.
Com Corbusier, aprendeu-se muito do desenho moderno. Segundo Bacon, a obra de Corbusier não
se trata de um modelo que tenha aplicação direta, na realidade atual, mas uma base para a re exão
conceitual, paradigmática, da arquitetura
225
.
A partir desta análise histórica de estudos de caso, Bacon apresenta uma re exão sobre as cidades
estudadas, elencando aspectos da sua metodologia e explicando a análise que realiza dos espaços
urbanos. Os principais aspectos abordados por Bacon são:
Os sistemas de movimento simultâneo: Segundo Bacon, a grande diferença entre as cidades
analisadas, e as cidades do m da década de 60, é a “aplicação da força mecânica para o movimento
do homem, através do espaço”. A constante mudança desta percepção demanda uma rápida mudança
na percepção tempo-espaço;
O sistema de tomada de decisões: “a forma com que as decisões são tomadas, se tornam um elemento-
chave ao se pensar as formas arquitetônicas a partir das suas possibilidades de crescimento”;
O Feedback cíclico: o diagrama entre a Idéia e a Ação - da formulação e re-formulação de hipóteses,
que passam pela re-avaliação cíclica da qualidade de vida, do produto, e das pessoas;
A Procura da Forma - a forma determinada por estruturas de desenho, e a forma através de expressões
arquitetônicas;
- A gênese e o simbolismo da imagem – a expressão arquitetônica a partir do movimento.
Tanto para Bacon quanto Jane Jacobs
226
, em Morte e Vida das Grandes cidades - a arte re ete princípios
que podem ser comunicados de maneira explícita, baseados na percepção visual - uma continuidade
da experiência da escala humana. Bacon considera a vitalidade das cidades a partir do aspecto do
homem, como indivíduo, o que o diferencia da posição de Jane Jacobs, que considera a vitalidade
urbana um resultado da interação entre indivíduos.
Segundo Bacon, a experiência humana do espaço articulado, se dá a partir de axis em movimento – para
de nir estas axis, o desenhista urbano precisa locar pequenos e grandes edifícios, estrategicamente,
com o intuito de criar conexões escalonadas, ou inserir na paisagem elementos construídos como
arcos, portais ou molduras que formam uma moldura de referência para as estruturas que aparecem
em um plano rebaixado.
Segundo Bacon, a repetição de formas similares, como um arco locado logo atrás de outro, serve
para uni car a forma espacial, e estimular a penetração do homem pela sensação de profundidade
que o espaço oferece. Este recurso, como a utilização de escadas, rampas, atenua a sensação de
profundidade. A crítica de Bacon é que este tipo de intervenção parece corriqueira a um arquiteto que
225 É possível notar que até mesmo analisando as obras de Corbusier, Bacon enfoca apenas os elementos construídos, e não
as conexões, nem as intenções que existem por trás da forma. Já a obra de Blasi e Padovano resgata as intenções de Corbu-
sier em reforçar a transcendência do objeto arquitetônico.
226 No próximo texto, a discussão sobre a obra de Jacobs demonstra que a relação de percepção está baseada na detecção
de padrões emergentes, enquanto o foco de Bacon está no objeto de gera os padrões (a axis do movimento).
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
150
trabalha o edifício, mas não parece ser para os pro ssionais que projetam o espaço urbano, que muitas
vezes desconsideram o controle compreensivo do arquiteto, sobre seu meio.
O destaque metodológico da obra de Bacon é provavelmente decorrente do fato de o arquiteto mostrar
uma metodologia que parte da análise da origem da forma, da vitalidade dos espaços, do signi cado
das intervenções, e dos sistemas integrativos do desenho do espaço urbano.
METODOLOGIA ANALÍTICO-PROPOSITIVA
CAPÍTULO 2
151
2.5. Uma metodologia de percepção espacial que parte do conceito de emergência
Hoje Jane Jacobs é considerada uma lenda no estudo do processo de gentri cação
227
. Há 40 anos,
entretanto, quando sua primeira grande obra foi publicada, intitulada Morte e Vida das Grandes Cidades,
causou grande desconforto entre os planejadores urbanos porque Jacobs propôs uma crítica à cidade
construída, a partir do ponto de vista do observador, que, leigo a qualquer técnica ou teoria sobre o
Planejamento Urbano, caminha pelas calçadas e observa a cidade a partir dos cruzamentos. Grande
parte da obra da antropóloga Jane Jacobs é baseada em re exões pessoais da observação da vida
urbana.
Nesta obra, Jacobs defende que cidades saudáveis são desordenadas, espontâneas, orgânicas,
aparentemente incoerentes e, em decorrência destas qualidades, oferecem oportunidades. Jacobs
exprime uma posição anti-governamental, anti-controladora, articulando propostas que caminham na
contramão das burocracias governamentais, mas que se demonstram práticas e e cazes.
Ao criticar a grande corporação, quando explica o funcionamento das cidades, a socióloga não se
posiciona sobre a participação do estado, a propriedade privada industrial, o setor nanceiro e a indústria
da construção. Demonstra, também, ausência de interesse em tratar o problema das diferenças sociais,
simplesmente desconsiderando qualquer forma de institucionalização, em suas análises.
A tentativa de Jacobs, em enfatisar a importância dos padrões emergentes no contexto urbano foi
de grande importância para o estudo das cidades, e talvez tenha sido este o motivo da in uência
de Jacobs nos autores de varias áreas do conhecimento, que abordam a vivência das cidades, e
pesquisam formas de percepção das respostas que os edifícios e os grupos apresentam, face ao
espaço determinado pelos arquitetos e planejadores, e face à burocracia.
Entretanto, o historiador Lewis Mumford
228
foi um dos grandes críticos de Jacobs, e já demonstrava,
que o caráter do que está por trás dos padrões que emergem da cidade, dependem das organizações
e dos grupos, também como atores e construtores do espaço público. Portanto, para Mumford, é
necessária a exibilização destes grupos, para que o espaço da cidade seja sadio. De maneira análoga
227 Gentri cação é uma expressão utilizada por urbanistas para criticar o fenômeno de valorização imobiliária (também
chamado de enobrecimento) que acontecem em áreas especí cas da cidade. Este processo, muitas vezes, é alvo de repulsa
porque alguns urbanistas que acreditam na capacidade paternalista do estado, julgam que esse processo é socialmente exclu-
dente. Entretanto, existe como o poder público atuar como mediador neste processo, e exigir contrapartidas aos investidoes, o
que é vantajoso para muitos estados e municípios falidos. O geógrafo Neil Smith utilizou a expressão pela primeira vez, no en-
saio The new urban frontiers: gentri cation and the revanchist city. Neste ensaio, Smith estudou o processo em profundidade,
caracterizando-o como um fenômeno social característico das cidades contemporâneas. Smith, Neil; The New Urban Frontier;
Gentri cation and the Revanchist City; 1996 p.23. Um texto brasileiro, esclarecedor e que aborda o tema com profundidade
é Zukin, Sharon “Paisagens urbanas pós-modernas: mapeando cultura e poder” in Arantes, Antônio (org.); O Espaço da diferen-
ça. 1999. pp 81-102.
228 Mumford, Lewis. The City in History: Its Origins, Its Transformations, and Its Prospects. 1968. Trad. utilizada: A Cidade na
História. 5 ed. Martins Fontes. São Paulo, 2001.pp xxxx
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
152
aos estudos de Foucault, que, na loso a, criticou a in uência das organizações, Jacobs e Mumford
defenderam a vida nas cidades como uma criação urbana. A diferença é que, enquanto, para Jacobs,
este processo poderia ser originado a partir do desenho dos cruzamentos, das calçadas e dos espaços
de vivência (uma intervenção sobre os sintomas), Mumford, entende que a crise do espaço urbano é
estrutural
229
.
2.6. Uma metodologia de percepção espacial que infere a emergência
Pouco depois da primeira obra de Blasi e Padovano, e da análise do movimento axial de Bacon, Barnett
publica Urban Design as Public Policy
230
, com o objetivo de mostrar que o Projeto urbanístico é um
problema da vida real da cidade. As cidades são criadas por processos decisivos contínuos.
A obra de Barnett é fundamental para essa pesquisa porque apresenta a origem do projeto urbanístico
pensado a partir da política pública. Barnett descreve de maneira empírica muito da prática que adquiriu
com a cidade de Nova Iorque, exempli cando com os primeiros acertos e erros. A forma de Barnett,
de intervir nos espaços públicos, fundamentou a origem dos processos participativos da sociedade, no
projeto de espaço urbano.
Barnett interage com con itos sociais e realiza propostas que atingem a escala local, que, a partir
da participação da sociedade, põem ser mais detalhados e adequados ao costume dos usuários de
cada localidade. Para Barnett, o projeto urbanístico deve ser entendido como resultado de Políticas
Públicas.
A obra de Barnett demonstra como o desenhista urbano pode contribuir com o desenho da cidade,
participando de seus processos decisivos. O texto introdutório de Barnett demonstra como o prefeito
de Nova York, na época, Lindsay, incentivou a participação do arquiteto e alguns colegas que, com
ele trabalhavam no processo de tomada de decisões que resultavam em soluções espaciais, para a
cidade, e explica que o projeto urbanístico pode ser bem sucedido se tem o suporte dos tomadores de
decisão, responsáveis pela gestão da cidade.
Através desta obra, Barnett relata como o processo de participação nas tomadas de decisões pode
ajudar a salvaguardar os interesses públicos, nos processos de desenvolvimentos estatais, nanciados
pela iniciativa privada; descreve aplicações mais detalhadas dos distritos criados com zoneamento
especial, explicando como as políticas públicas podem ser utilizadas para conceituar o desenho de
grandes áreas urbanas, sem desenhar os edifícios;
229 Mumford, Lewis. Arquitetura, Construção e Urbanismo. Coleção Panorama das Artes.1947. Ed. Fundo de Cultura Brasil
– Portugal. Lisboa, 1965
ppXXX.
230 Barnett, Jonathan. Urban design as Public Policy 1974. p.19
METODOLOGIA ANALÍTICO-PROPOSITIVA
CAPÍTULO 2
153
Sobre o tema da identidade do espaço, o arquiteto ressalta como importante à relação simbólica que
existe entre os referenciais urbanos e as políticas públicas e evidencia fatores decisivos na escala da
vizinhança e da comunidade, demonstrando que o Projeto urbanístico pode constituir um processo
assistido pela comunidade local, e pode ser utilizado para preservar as relações de vizinhança;
Barnett enfatiza a importância do uso do projeto urbanístico, em áreas fragmentadas das regiões
metropolitanas que estimulam a revitalização e a dinâmica nos centros, e coíbem o “espalhamento”
das áreas periféricas. Assim, identi ca as estradas e o trânsito rápido como determinantes do Projeto
urbanístico atual, e descreve formas de controle das in uências do sistema viário de rápido trânsito, na
malha urbana.
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
154
Nesta obra, o arquiteto estabelece uma discussão sobre métodos de projeto urbanístico que podem ser
utilizados para se re-estabelecer a qualidade ambiental e demonstra como novas posturas na forma de
se pensar o projeto urbanístico, podem alterar o resultado de uso e convivência do espaço público.
Através desta obra, Barnett inseriu demonstra que o projeto urbanístico, para não ser impositivo, e para
que produza espaços urbanos utilizáveis, precisa estar de acordo com as políticas públicas.
Segundo Barnett, o projeto urbanístico é também produzido pela sociedade, pela legislação – é um
processo de parceria.
Para o arquiteto, a pro ssão do arquiteto que trabalha com Projeto urbanístico precisa ser revista,
e precisa incorporar os valores que partem das tomadas de decisões e da legislação, porque, para
Barnett, o arquiteto in uencia o processo político, relacionado ao uso do solo, e precisa, por outro lado,
ter o apoio dos tomadores de decisão nas intervenções que realiza.
Em 1995, com o objetivo de perceber as políticas existentes por trás de desenhos urbanos bem,
sucedidos, e utilizá-las para outras áreas, a partir destes estudos de caso, Barnett publica The Fractured
Metropolis: Improving the New City, Restoring the Old City, Reshaping the Region
231
, desenvolvendo a
hipótese de que “Sucessos locais podem ser traduzidos em políticas que ajudarão com a melhora de
outras áreas”
232
.
231 Barnett, Jonathan. The fractured Metropolis 1995. p.21
232 Barnett, Jonathan. The fractured Metropolis 1995 p35.
METODOLOGIA ANALÍTICO-PROPOSITIVA
CAPÍTULO 2
155
Nesta obra o arquiteto descreve alguns exemplos de locais onde observou que o projeto urbanístico
teve sucesso se embasado por políticas capazes de viabilizar e vocacionar esse desenho. Partindo
desse conceito, Barnett de ne a “Velha Cidade” como sendo as áreas de favela, zonas de crimes,
velhas fábricas e áreas suburbanas; e “Nova Cidade” , as áreas de novas escolas, novas moradias, os
edifícios de escritórios recentemente construídos, industrias limpas e lojas em maior escala
233
.
O autor argumenta que, quanto mais a cidade se “espalha” nas áreas agrícolas, o centro entra em uma
decadência, gerada por uma espiral de aumento de taxas e quedas nos serviços. Descreve, assim,
exemplos como o de Irvington – um subúrbio de Nova Iorque, que adotou ementas ambientais em seu
código de zoneamento, o que fez com que o desenvolvimento da malha local fosse “clusterizado”, e os
recursos naturais signi cantes pudessem ser preservados.
Entre outros locais analisados por Barnett, estão a cidade de Laguna oeste, na Califórnia, organizada
a partir dos uxos, o Mizner Park, um shopping center ao longo de um boulevard, que substituiu um
shopping convencional, em Boca Raton, na Flórida; e analisa, também, shoppings de rua em Milwaukee,
Cleverland e Denver.
Através destas análises, Barnett notou que comunidades das mais diversas rendas parecem estar
se misturando, de uma maneira saudável, em Boston - Columbia Point - e em Chicago – Lake Parc
Place.
Barnett tem uma nítida opinião sobre sua análise: “O que tem direcionado a nova urbanização, até
agora, tem sido nada menos do que a mão invisível do mercado”. Barnett explica que “as faixas
comerciais, utilizadas como artefatos de zoneamento, é derivada dos padrões estatais de cidades que
se desenvolveram a partir de uma rua principal, e, mais tarde, das fachadas contínuas de lojas que se
desenvolveram ao longo de rotas automotivas, nos subúrbios”
234
.
Barnett enfatiza que, uma vez que se segura o desenvolvimento da periferia, pode-se tornar a cidade
antiga uma melhor alternativa para atrair re-investimentos, e explica que a legislação de planejamento,
a criação de modelos de zoneamentos ambientais, modelos a rmativos de zoneamento e legislações
especí cas para determinadas áreas, não são caras, se comparadas com a maioria dos custos que
os governos têm para seus programas, em outras áreas – “quanto mais cedo a legislação para um
projeto urbanístico saudável for implantada, menor será o custo, tanto em dinheiro, quanto em con itos
sociais”
235
.
Barnett defende uma metodologia que enfoca zoneamento em clusters, o zoneamento ambiental, e
padrões locais de desenvolvimento, destacando a importância de se ter visão. Barnett mostrou, para os
moradores de Irvington, um mapa dos seus futuros, salientando que muito das características individuais
233 Barnett, Jonathan. The fractured Metropolis 1995 pp 39 a 43.
234 Barnett, Jonathan. The fractured Metropolis 1995 p. 62.
235 Barnett, Jonathan. The fractured Metropolis 1995 p. 239.
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
156
da comunidade estavam sendo apagadas. Ele mostrou que áreas montanhosas estavam se tornando
lotes construídos, que o grande prado que foi, por gerações, um recurso cênico da comunidade, havia
desaparecido em um padrão de ruas e casas. Demonstrou à população como a falta de leitura técnica
leva à decisões equivocadas, enfatizando que “similares às áreas suburbanas, tudo parecia a mesma
coisa”.
A tese de Barnett transmite a idéia de que “nenhuma área prosperará, a não ser que atraia as pessoas
que podem escolher onde elas querem morar”. Barnett a rma, assim, que o Estado pode ser o principal
responsável pelo desenvolvimento, desde o momento em que é consultado para a aprovação dos
empreendimentos a serem implantados para a valorização de determinada área e que tenha formas
de liderar o processo participativo junto à população e criar incentivos para atrair investimentos da
iniciativa privada.
Comparando a intervenção de Nova Iorque, ilustrada na primeira obra metodológica de Barnett, em 1974,
com estes exemplos demonstrados por Barnett em 1995, é possível notar como o Projeto urbanístico
em escalas menores torna os produtos projetuais mais imediatos e exíveis. Barnett trabalha com
possibilidades racionais, encorajando as pessoas a escolherem algo a mais do que infra-estruturas
urbanas – trabalha com a possibilidade de visualização e com a criação imagética dos propósito e
diretrizes, criando expectativas coletivas. Neste aspecto, a obra de Barnett é uma referência conceitual
importante para se analisar o simbólico e o referencial no projeto urbanístico que é, em primeiro lugar,
resultado de políticas públicas dirigidas e conscientes.
Desta maneira, Barnett desenvolveu uma metodologia inferencial de Projeto urbanístico, assumindo que
o arquiteto pode interferir na complexidade que cerca a formação e a mutação do objeto arquitetônico, e
o ponto principal que guia este tipo de intervenção é o conhecimento empírico das variações decorrentes
das atitudes transformacionais sobre a cidade.
Talvez, por este motivo, a metodologia desenvolvida por Barnett seja a que mais se aproxime da
abordagem da cidade em rede, quando considerada a partir do ponto de vista da relação transformacional
x variacional – aspectos que serão discutidos no próximo texto; enquanto a metodologia desenvolvida
por Blasi e G. Padovano demonstram grande utilidade no contexto das redes, pela forma como os
arquitetos demonstram a exibilidade e a mutabilidade do objeto arquitetônico. Entretanto, as quatro
abordagens metodológicas são importantes, já que a rede constrói aprendizado em cadeia. O próximo
texto discute a lógica deste aprendizado, a partir do ponto de vista da Semiótica, e recria, a partir
da teoria de Peirce, uma nova interação entre o objeto arquitetônico, os usuários e os padrões que
emergem das relações e con itos de interesses entre os usuários.
METODOLOGIA ANALÍTICO-PROPOSITIVA
CAPÍTULO 2
157
2.7. Uma concepção de projeto urbanístico estrutural: relações catalíticas essenciais ao
projeto urbanístico em rede
O principal problema de evolução das estruturas espaciais encontrado por pesquisadores em
várias áreas do conhecimento, é o fato de que a comunicação organizacional dos sistemas que
foram tradicionalmente centrados na transmissão do controle frequentemente apresentam graves
problemas estruturais associados à representação do conhecimento. Esse parece ser também o
caso do problema do projeto urbanístico estrutural, se a estrutura não é entendida como algo passível
de revisões e variações constantes. A estrutura urbana rígida, resultado de problemas associados
à representação do conhecimento, pode enrijecer a dinâmica territorial das cidades, e prejudicar
a transitoriedade e o uso de certos lugares urbanos – pode até impedir que certos espaços se
con gurem como lugares urbanos (já que, como de niu Yi FuTuan, os lugares são espaços em com
signi cados que os usuários atribuem).
No Projeto urbanístico, o problema estrutural associado à representação do conhecimento se
manifesta principalmente na possibilidade de trocas que se con gura de maneira mais ou menos
e ciente entre a rede e o território .
Como o problema de evolução das estruturas espaciais parece estar centrado no fato de que a
comunicação organizacional dos sistemas tradicionalmente centrados na transmissão do controle
apresentam problemas estruturais que estão associados à representação do conhecimento, a
dimensão mais investigada nos estudos organizacionais sobre redes passou a ser estrutural: as
diversas áreas do conhecimento passaram a investigar o comportamento das estruturas – como as
organizações estruturam-se constantemente, com o objetivo de esquematizar ou regulamentar as
interações.
A teoria do biólogo Huumberto Maturana distingue o conceito de organização do conceito de
estrutura, em uma rede. O foco da abordagem de Maturana é o comportamento da unidade composta
(entendida como uma parte do sistema que apresenta características relacionais em comum). Para
Maturana, a organização de ne uma unidade composta (descreve as propriedades do sistema),
enquanto que a estrutura determina o espaço no qual a rede existe como uma unidade composta.
Assim, unidades compostas distintas podem ter estruturas diferentes, mas apresentar o mesmo
padrão organizacional; ou ainda, uma mesma unidade composta pode mudar sua estrutura, e ainda
assim, manter o mesmo padrão organizacional.
É essa lógica de rede estrutural, que se comporta como uma unidade composta em um sistema,
que adotamos como ponto norteador da metodologia de projeto urbanístico apresentada nessa tese,
como veremos no próximo item, mas é importante explicitar aqui as referências conceituais das
relações que serão adotadas mais adiante.
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
158
Existe uma diferença grande entre inferir a possibilidade de que um projeto urbanístico propicie
melhoras no meio, e realmente constatar melhoras no meio. Mas é obrigação do pro ssional de projeto
urbanístico abrir possibilidades de projeto para que certas relações espaciais sejam catalisadas por
certos atributos do espaço projetado. Cabe ao pro ssional de projeto urbanístico detectar quais
são essas relações espaciais que podem desencadear processos evolutivos positivos e encontrar
atributos de projeto adequados em cada situação.
A metodologia de projeto urbanístico apresentada nessa tese se baseia principalmente nessas relações
espaciais que podem desencadear processos evolutivos positivos. As análises dos paradigmas de
organização do espaço das cidades, desenvolvidas no primeiro capítulo dessa tese, em conjunto
com os estudos sobre as diferentes abordagens estruturais dos sistemas urbanos em rede, por parte
de pesquisadores de outras áreas do conhecimento, nos permitiram intuir que existem seis principais
interações que os usuários podem estabelecer com o espaço das cidades.
As formas como essas interações se relacionam entre si, concepção estrutural do espaço, interferem
na forma como o espaço urbano é decodi cado e se torna <ou não> interagente com os usuários. Essas
formas de interação são: o conhecer, o perceber, o pensar, o compreender, o agir e o comunicar.
O conhecer está na possibilidade que os usuários podem ter de experienciar o espaço, de poder
fazer a leitura pessoal dos vínculos que atribuem ao espaço urbano o sentido de lugar. É a vivência
temporal das mudanças do espaço, aquilo que permite aos usuários o mapeamento intuitivo dos
processos que se manifestam escacialmente nas cidades. Por exemplo, um usuário pode conhecer
como ocorreu o crescimento de uma favela, ou as mudanças de verticalização de uma determinada
área. Pode ainda descrever, através do conhecimento, elementos que prejudicaram relações
culturais e referenciais locais, citando o surgimento de novos edifícios e barreiras, e relacionando
sua descrição a referências temporais.
O perceber está na possibilidade que os usuários podem ter, vivenciar o movimento das pessoas, os
referenciais que as pessoas utilizam para se movimentarem na cidade, vivenciar os hábitos que se
criam e a emergência de novas relações e novas oportunidades. Sobre a percepção, Maturana a rma
que existem em redes que aprendem, não é possível a distinção entre a percepção e a ilusão (isso
ocorre nos organismos e no sistema nervoso) Segundo Maturana, assim como no aprendizado de
idiomas, não se pode distinguir se certas relações surgem a partir de estímulos internos ou externos
às pessoas, e nem cabe dissociar esses dois estímulos. O importante, segundo Maturana, é entender
que a linguagem de aprendizado ocorre de maneira consensual, a partir de estímulos internos e
externos. É através dessa maneira consensual de estímulos internos e externos – de realidade e
ilusão – que a acontece a linguagem. Pr esse motivo, a linguagem dos espaços urbanos não é algo
que o arquiteto pode estabelecer, e a cidade não pode ter signi cados estabelecidos à priori à esse
processo consensual de cada indivíduo. Esse processo também parece in uenciar nos limites de
território dos indivíduos e das comunidades. Maturana denominou essa relação entre os indivíduos
METODOLOGIA ANALÍTICO-PROPOSITIVA
CAPÍTULO 2
159
e seu ambiente de domínio consensual . O domínio consensual é uma propriedade perceptiva dos
homens que permite que um grupo de indivíduos constitua o meio-ambiente para outros indivíduos,
e que permite também que os indivíduos criem para si, signi cados que certos fatores do ambiente
desencadeiam em seu processo de conhecimento.
O pensar ocorre quando o usuário tem a possibilidade de visualizar oportunidades de mudança - o
projeto urbanístico que incentiva o pensar pode permitir que o indivíduo vislumbre formas de se re-
colocar constantemente na dinâmica sócio-espacial do lugar.
O compreender tem dois signi cados distintos:
- a compreensão à priori (quando os referenciais urbanos ou a ideologia associada ao espaço da
cidade forçam que o indivíduo compreenda o espaço urbano a partir de outros pontos de vista que
não o seu);
- e a compreensão através das redes inter-pessoais, que parte da visão que os usuários constroem
do espaço, e que, por isso, envolvem necessariamente o conhecer, o perceber e o pensar.
O comunicar – o conceito-chave para a manutenção da vida de qualquer sistema em rede é a
comunicação que a rede utiliza de maneira constante para se organizar e rever sua organização.
O agir ocorre em vários níveis:
- a ação que considera apenas o conhecimento do lugar é aquela que normalmente resulta na auto-
construção aleatória.
- a ação que considera apenas a percepção da cidade, desvinculada do conhecimento e do
pensamento, é a construção do presente sem valores do passado e sem a visualizar a possibilidade
de integração do espaço à oportunidades futuras,
- a ação que se xa apenas sobre as oportunidades futuras é especulação.
- por m, o tipo de ação que gera a intervenção espacial em rede, é aquela que considera o tipo
de compreensão inter-pessoal que os usuários estabelecem entre si e com os lugares que visam
compreender: que envolve, ao mesmo tempo o conhecer, o perceber e o pensar.
Uma condição essencial para a existência dos processos de regeneração dos vínculos vitais nas redes
urbanas é parece estar vinculada à existência de processos catalíticos. O catalisador é uma substância
usada para acelerar e desencadear processos químicos. “Desencadear processos catalíticos” é uma
expressão também utilizada entre urbanistas, para identi car uma intervenção urbana que, a partir
de uma única ações diretas, é capaz de desencadear processos indiretos saudáveis. Victor Gruen, o
criador do conceito dos shopping centers soube detectar o poder catalítico que o espaço terciário tem,
se estiver associado à outros usos. Mas o que Gruen propôs foi inicialmente fechar o comércio em
grandes áreas. Trouxe virtudes para o usuário que caminha nesses centro protegido das intempéries
climáticas, mas deixou de associar essas áreas com possibilidades de melhoras na trama urbana
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
160
circundante. Por quase três décadas, os shopping centers se tornaram grandes caixas fechadas
em si, e com grande impacto nos espaços circundantes a esses. Esse é o caso, por exemplo, do
shopping center instalado na área da Bicocca, em Milão (pode ser visto com mais detalhes na área
de aplicação da metodologia sobre esse projeto, no capítulo 3 dessa tese). É importante ressaltar
assim que nem sempre uma intervenção de projeto urbanístico desencadeia processos catalíticos
no entorno próximo.
No âmbito do projeto urbanístico em rede, as intervenções e os projetos de revitalização urbana só
desencadeiam processos catalíticos se a o ato de compreender o espaço de maneira participativa (que
envolve o conhecer, o perceber e o pensar) estiver relacionado com o agir através da comunicação.
A rede é um organismo que aprende e se desenvolve. As dinâmicas projetuais da estruturação
sustentável do território acontecem em redes, e também podem interagir com outras redes através
do comportamento sistêmico. Se, por alguma anormalidade, a regulamentação da forma como as
interações ocorrem permanecer xa, a espontaneidade própria das interações, aos poucos, também
tende a se reduzir. Imagina-se que os processos de formalização espacial das estruturas da rede
aproximem, de maneira errônea, a representação formal da rede de sua estrutura abstrata (mas
também xa). Se os pro ssionais de projeto urbanístico agissem dessa maneira, com relação às
redes, estariam se aproximando, novamente, dos modelos funcionalistas, ou ainda da rede de
Buckminster Fuller.
Como resultado do processo de formalização que aproxima a representação da forma da rede de
sua estrutura abstrata (que é dinâmica), a humanidade presenciou, na última metade de século,
alguns danos organizacionais associados à falta de interação transformacional de suas estruturas
sociais, ao lidar com a destruição naturalmente variacional de alguns paradigmas como o vínculo
e estabilidade. Muitas redes não produziram o conhecimento necessário que as tornassem hábeis
a interagir de maneira variacional com a ausência da estabilidade de vínculos sociais. Como
conseqüência, conheceu-se o processo de rápida obsolescência do espaço e uma nova apropriação
dinâmica dos territórios sobre o espaço (que, ao permanecer segmentado, dividido e xo, muitas
vezes não responde ao caráter dinâmico das territorialidades).
METODOLOGIA ANALÍTICO-PROPOSITIVA
CAPÍTULO 2
161
A interação entre os usuários e a lógica estrutural
das cidades, representada no modelo
pós-moderno de conhecimento
Nesse modelo de organização espacial, o “conheci-
mento” está na perte central e representa uma forma
de organização espacial por algum tipo de poder que
força a interpretação do usuário do espaço, a partir da
ideologia imposta por esse poder.
Esse é o modelo mais rígido. Qualquer outra forma de
interação com o espaço (o conhecer, o perceber, o agir,
o pensar e o comunicar ocorrem de maneira dissociada
do conhecimento espacial.
Ainda que os outros tipos de manifestação ocorram
(como o pensar, o perceber), a rigidez desse modelo
não permite que outras formas de interação alterem o
signi cado que o poder dominanto atribuiu ao espaço.
Exemplos desse tipo de processo estrutura são os es-
paços cívicos de cidades utilitaristas como Chandigarth
e Brasília, os modelos de localização industriais que
considerava apenas a demanda, os modelos ideolígi-
cos, como os espaços públicos construídios durante o
nazismo, e alguns centros de cidades comunistas.
Normalmente esses espaços são generosos em áreas
livres, de propriedade e de uso público. Mas os es-
paços de uso público são desprovidos de programas
que representem boa interação com o usuário. O ob-
jetivo desses locais é exprimir a monumentalidade do
poder dominante.
Nesse modelo, os territórios são rigidamente de nidos
(por vezes controlados) por limites espaciais, e a mo-
bilidade urbana é muito ruim. Normalmente apresenta
redes de infra-estrutura com lógicas racionalistas ou
funcionalistas.
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
162
A interação entre os usuários e a lógica estrutural
das cidades, representada no modelo
pós-moderno de conhecimento
Esse modelo de organização espacial, representa as
primeiras tentativas de descontrução da rigidez territo-
rial central, entretanto observa-se que, do ponto de vista
estrutural, a participatividade dos usuários permanecem
quase intactas, ainda que tenha ocorrido algum tipo de
difusão ou desconstrução das centralidades.
Esse é o segundo modelo mais rígido. A compreensão
tem interação direta com o conhecimento do meio, mas
o conhecimento do meio é exercido ainda por outros ti-
pos de poder.
Como o conhecimento está diretamente relacionado à
ação, a ação é exercida antes da re exão, da percepção
e da comunicação. E esses três últimos normalmente
não desencadeiam nenhum tipo de revisão estrutural na
ação.
Exemplos desse tipo de processo estrutura são os cen-
tros nanceiros, que cresceram nas cidades nos anos
1970, com seus edifícios estanques, áreas comerciais
fechadas em si, que provocam a opressão dos excluí-
dos, condomínios residenciais que provocam o surgi-
mento de muros cegos ao longo de vias, prejudicando
a mobilidade de pedestre. De maneira geral, são os
territórios rígidos da formalização da desconstrução da
rigidez territorial, muito característica de alguns espaços
pós-modernos.
Nesse modelo, ainda que o capital privado exista na tra-
ma urbano, os territórios são tão delimitados sicamente,
entre o que é propriedade pública e o que é propriedade
privada, que a impossibilidade de associação territorial
pode levar inclusive à discriminação de usuários de es-
paços públicos com os usuários de espaços privados,
e de usuários de espaços privados com os de públicos
(essa stuação se tornou nítida, nos anos 1970, principal-
mente com as escolas e hospitais.
METODOLOGIA ANALÍTICO-PROPOSITIVA
CAPÍTULO 2
163
A interação entre os usuários e a lógica estrutural
das cidades, representada no modelo
complexo de conhecimento
Até qual grau de complexidade o urbanista pode tentar
atuar? Os pensadores e pesquisadores que conhecem
a fundo a Teoria da Complexidade julgam que as inter-
venções estruturais no espaço são in nitas, e sempre
passíveis de revisão.
Nessa visão de interação com os usuários, a percepção
do espaço é ponto inicial da intervenção, que termina
em novo conhecimento. Por esse motivo, as metodolo-
gias de intervenção estrutural que seguem essa lógica
de entendimento do usuário com o espaço urbano nor-
malmente é analítica e propositiva, ao mesmo tempo.
Exemplos desse tipo de modelo estrutural são as es-
truturas generativas (vide a metodologia de Blasi e
Padovano, apresentada nesse capítulo, que conti-
tuiu grade referência para essa tese. Também estão
incluídas as Avaliações Pós-Ocupação (APO), que
procuram levantar, junto ao usuário, problemas com o
espaço resultante de intervenções, e depois esse re-
sultado passa por uma decodi cação de prioridades,
os problemas apresentados são analisados através do
crivo técnico de pessoas especializadas, e uma nova
intervenção é proposta.
Um dos problemas levantados por essa visão é que a
revisão do sistema, ao passar pelo crivo do técnico es-
pecializado, muitas vezes é ignorado. A adaptação se
dá por prioridades e necessidades dos maiores grupos.
Não há adaptação do espaço para as necessidades
especí cas e individuais. Também não há formas de
variação e adaptação dos sistemas em escalas diversi-
cadas. A estrutura das intervenções normalmente não
são revistas porque onerariam demais a mudança. so-
mente há revisão dos que a estrutura produziu.
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
164
A interação entre os usuários e lógica estrutural
das cidades, representada no modelo
de conhecimento em rede
Essa é a representação do processo de interação do
usuário com o espaço, adotado na metodologia pro-
posta nessa tese.
Existe um processo compreensivo do ambiente urba-
no, que ocorre a partir do conhecimento, da percepção
e do pensamento.
A tríade conhecimento - percepção - pensamento per-
mite que o indivíduo crie signi cados sobre o ambiente
que o circunda e sobre os referenciais espaciais.
A interação entre indivíduos se dá através da comuni-
cação e da ação, de forma associada.
Nesse processo de compreensão, os pontos de vista
de outros indivíduos também passam a fazer parte do
ambiente que interfere na compreensão individual. É
dessa maneira que a rede interpessoal se torna, ao
mesmo tempo, elemento signi cado e signi cante do
ambiente urbano, e que alguns elementos estruturais
da trama urbana podem ser alterados para se adapta-
rem às necessidades especí cas.
As estruturas criadas a partir dessa lógica de compre-
ensão permitem a interação dos usuárioas, nas mais
diversas escalas, e com maior diversidade.
As redes criadas a partir dessa forma de compreen-
são apresentam grande possibilidade transformacional
(assim como duas últimas), mas também apresentam
a capacidade variacional (de se adaptarem a partir de
variações esteururais à certas condições de transfor-
mações que nem sempre são favoráveis.
METODOLOGIA ANALÍTICO-PROPOSITIVA
CAPÍTULO 2
165
2.8. A proposta de uma matriz relacional para o projeto urbanístico
Na literatura de Projeto Urbanístico, existem várias publicações sobre a avaliação do desempenho das
soluções de projeto. Existem muito poucas publicações sobre metodologias de projeto urbanístico, e
a história da trama urbana. Entretanto, ou bem o arquiteto ou o aluno de arquitetura são bons leitores
de sociologia, sentem prazer por estudar semiótica e conhecem os processos de mudança do en-
tendimento de indivíduo, sociedade e território, ao longo da história das cidades, e se poe a estressar
legislações e as diversas ferramentas de troca de potencial existentes, ou esse pro ssional (ou aluno
de arquitetura) não compreende, ao fazer projeto urbanístico, o que projeta, para que tipo de território
projeta, para quais uxos, para incentivar quais tipos de relações perceptivas.
Falta, na literatura sobre projeto urbanístico disponível, um material que sistematize o processo de
projeto, e que aborde o signi cado do espaço de uma maneira clara, que ajude o projetista de desenho
urbano a compreender o que é a rigidez espacial, o que é uma atitude de projeto que inibe a mobili-
dade territorial, e o que é um espaço público que pode incentivar a interação de pessoas. Normalmente
esses dados são encontrados de maneira fragmentada (para construir esse raciocínio apresentado
nessa tese, foram utilizadas publicações de várias áreas, e muitas estrangeiras, e nesse processo, as
coleções de sete obras de Cesare Blasi e Gabriella Padovano; e as três obras de Jonathan Barnett
foram fundamentais. Existem obras de Barnett, que foram utilizadas, trazidas pelo Prof. Bruno Roberto
Padovano, que foram fundamentais para a construção desse raciocínio, e que hoje não estão mais
disponíveis para compra, e nem para consulta fácil nas bibliotecas em São Paulo).
A matriz proposta nessa tese foi organizada com o objetivo de se sistematizar o processo de projeto
urbanístico, a partir de conceitos que normalmente não são discutidos entre pro ssionais da área de
uma maneira clara. Atualmente, por exemplo, não é todo edital de concurso sobre projeto urbanístico
que considera que todos os processos de intervenção em espaços de uso público precisam estabelecer
relações com o entorno próximo. Muitos pro ssionais que desenvolvem projeto urbanísticos ainda en-
tendem que projetar a cidade signi ca também projetar os edifícios, na contramão daquelo que Barnett
já defendia nos anos 1970.
Mas se Barnett ai rmava, já naquela época, que “projetar a cidade não é projetar os edifícios”. Sendo
assim, o que Barnett projetava, então? De uma maneira sintética, a resposta é:
Barnett projetava essencialmente as relações.
Barnett estabelecia regras de troca de potencial construtivo, projetava possibilidades de mobilidade
e de conexões, e fazia com que os empreendedores visualizassem possibilidades de investimentos
no espaço de uso público. Criava espaços de usos públicos dentro de lotes privados, em uma época
em que o processo de compreensão do espaço de uso público era de nido por territorialidades bem
limidadas.
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
166
Já a metodologia de Blasi e Padovano, de outra maneira, também não enfocaram o projeto de edi-
fícios em espaços públicos, mas metodologias de projeto que propuseram, mas sim a forma como
evolui o espaço de uso público, e como se dá a acomodação de diversos territórios sobre o espaço
público, de maneira dinâmica, e assim realizaram diversos estudos sobre a postura do pro ssional
de projeto urbanístico, ao longo dessa mudança que existiu, principalmente nas três últimas décadas,
nas referências relacionadas à compreensão do espaço público como algo mutável. Dessa forma, foi
imprescindívela contribuição que esses autores forneceram à pesquisa apresentada nessa tese.
Entretanto, discutimos alguns autores principais nos ítens anteriores desse capítulo 2 da tese, e pro-
curamos enumerar as diferenças metodológicas entre cada um. Parece ser um ponto concensual
entre os autores utilizados o fato de o espaço público ser algo mutável e que não depende apenas
da intervenção do pro ssional de projeto para se tornar saudável. Porém, a Teoria das Redes, em
diversas áreas do conhecimento, também demonstrou que existem relações que podem ser trabalha-
das, em sistemas abertos.Diferentemente da maneira como pensavam os defensores do paradigma
complexo, aquilo que é caótico não mantém relações totalmente caóticas de tudo com tudo. Existem
relações estruturais mesmo em sistemas caóticos, e isso já demonstrou Schroedinger há um século,
quando elaborou suas equaçóes sobre o salto quântico de elétrons. E mesmo seja impossível para
os cientístas medir o comportamento dos elétros, já que as partículas se movimentam de uma ma-
neira totalmente diferentes quanto submetidas aos aparelhos de medição, Schroedinger criou uma
equação, aberta à aleatoriedade, mas com relações entre grandezas físicas conhecidas, inclusive o
espaço. Schröedinger descobriu relações de transitoriedade que permitem melhor ou pior emissão de
energia.
A Matriz apresentada nessa tese é, em alguns aspectos, parecida com a equação de Scröedinger.
Não temos mais o desejo de medir o comportamento humano, assim como Scröedinger desejava um
dia poder medir elétrons, e nem saberíamos o que fazer com tantas medições de relações entre deter-
minados tipos de conexões e diferentes graus de aceitação dos usuários... as realidades culturais são
tão distintas. Mas da mesma forma as alguns atributos de projeto podem incentivar a transitoriedade
no espaço de uso público, e fazer provocar associações entre o espaço de uso público com qualidade
e o uso do solo? Ou seja, o espaço das cidades, que é uma ferramenta que o pro ssional de projeto
urbanístico utiliza, pode ser transitória ou ainda mutável? Pode ser transitória sem ser mutável? E
pode ser mutável a partir que quais relações? Sabemos, por exemplo, que não é saudável projetar
vários condomínios murados sequenciais, com muros faceando calçadas, porque as calçadas per-
dem vida, cam inseguras e com pouca iluminação. Sem atrativos, os usuários deixam de usar esse
espaço de calçada como elemento conector e buscam aoutras alternativas. Essa é uma relação que
foi explorada nessa matriz.
Essa matriz não foi proposta com o objetivo de relacionar resultados de projetos implantados (como a
APO) e também não é uma ferramenta para a veri cação do desempenho que parte de medições.
METODOLOGIA ANALÍTICO-PROPOSITIVA
CAPÍTULO 2
167
É apenas uma ferramenta para o pro ssional de projeto urbano veri car se determinadas soluções espa-
ciais que está adotando enquanto imagina uma proposta inicial de relações, para serem discutidas com
usuários, possuem relações que podem desencadear processos participativos de fato. Serve para checar
se o projeto urbanístico possui soluções espaciais que favoreçam processos catalíticos.
O resultado positivo em algum aspecto, nessa planilha, não signi ca a a rmação. pode-se a rmar, por
exemplo, que em um determinado projeto urbanístico, Por exemplo, não se pode a rmar que uma estação
de metrô vai vocacionar a presenta de comércios em um raio de aproximadamente três quadras, mas
pode-se a rmar que existe uma grande probabilidade de que uma estação de metrô, associada à uma
política de trocas de potencial para uso do solo, e boas conexões entre quadras, incentive o surgimento
de comércio nessa região. Também pode-se veri car, através da planilha, que quando isso ocorre, geral-
mente ocorrem outras modi cações associadas à essa: começa a existir a predisposição de mudança no
valor do uso do solo, nas relações com os recursos naturais e sociais.
Por isso, os elementos relacionados horizontalmente nessa matriz são as contrapartidas (chamadas de
elementos associativos) - são contrapartidas da relação de mudança do espaço urbano, e por isso se as-
sociam aos elementos estruturais. Assim como a energia, em um circuito elétrico, somente existe quando
há diferença de potencial, as contrapartidas associadas à melhor qualidade dos espaços de uso público
nas cidades também parecem existir somente se há o movimento de pessoas e de mercadorias - se exis-
te transitoriedade. Essas contrapartidas, que foram discutidas em Elementos do Projeto Urbanístico em
Rede, aparecerão com detalhes caso a caso, a seguir. E na vertical estão dispostos elementos estruturais,
ou seja, que con guram estruturas em si, mas que, se conectadoes entre si, podem melhorar a mobilidade
do espaço de uso público.
Entretanto, o ponto que diferencia essa matriz como uma ferramenta de uma metodologia de projeto urba-
nístico, é o fato de que essas relações entre elementos estruturais e associativos no espaço não aconte-
cem, na matriz, de forma linear. A matriz reproduz, em sua lógica, o processo de compreensão do espaço
urbano pelos usuários (vide a relação existente entre o modelo de compreesão criado para representar a
relação entre o usuário e o espaço em rede, em comparação com a matriz)
Em cada cruzamento, existem formas de checar se o projeto urbanístico considera formas de o usuário
vivenciar o espaço, antes de compreenê-lo, estabelecendo relações que favoreçam o conhecimento, a
percepção e o pensamento. Se a resposta for positiva, existe probabilidade de o projeto estimular a parti-
cipatividade.
Para checar se o processo é catalítico de maneira bené ca, a matriz veri ca se as ações particulares são
propiciadas após a comunicação (fato que não ocorre, por exemplo, nos conhecidos e criticados proces-
sos de gentri cação, criticados por Jane Jacobs).
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
168
Problema 1
Falta de vínculo com o conhecimento
Nessa situação foi possível notar que o co-
nhecimento dos usuários sobre a área de
intervenção foi desconsiderado no momen-
to em que se projetou esse elemento em
questão (imaginemos, por exemplo, que
seja o cruzamento das conexões com as
contrapartidas culturais, signi caria que,
nesse projeto, as conexões deixam de con-
templar os vínculos culturaos do local, os
caminhos entre edifícios históricos e entre
Como os problemas de projeto urbanístico podem ser mapeados constantemente, pelo projetista e pelos usuários, na matriz proposta
Problema 1
Falta de vínculo com o conhecimento
Nessa situação foi possível notar que o co-
nhecimento dos usuários sobre a área de
intervenção foi desconsiderado no momen-
to em que se projetou esse elemento em
questão (imaginemos, por exemplo, que
seja o cruzamento das conexões com as
contrapartidas culturais, signi caria que,
nesse projeto, as conexões deixam de con-
templar os vínculos culturaos do local, os
caminhos entre edifícios históricos e entre
Problema 1
Falta de vínculo com o conhecimento
Nessa situação foi possível notar que o co-
nhecimento dos usuários sobre a área de
intervenção foi desconsiderado no momen-
to em que se projetou esse elemento em
questão (imaginemos, por exemplo, que
seja o cruzamento das conexões com as
contrapartidas culturais, signi caria que,
nesse projeto, as conexões deixam de con-
templar os vínculos culturaos do local, os
caminhos entre edifícios históricos e entre
METODOLOGIA ANALÍTICO-PROPOSITIVA
CAPÍTULO 2
169
Problema 1
Falta de vínculo com o conhecimento
Nessa situação foi possível notar que o co-
nhecimento dos usuários sobre a área de
intervenção foi desconsiderado no momen-
to em que se projetou esse elemento em
questão (imaginemos, por exemplo, que
seja o cruzamento das conexões com as
contrapartidas culturais, signi caria que,
nesse projeto, as conexões deixam de con-
templar os vínculos culturaos do local, os
caminhos entre edifícios históricos e entre
Problema 1
Falta de vínculo com o conhecimento
Nessa situação foi possível notar que o co-
nhecimento dos usuários sobre a área de
intervenção foi desconsiderado no momen-
to em que se projetou esse elemento em
questão (imaginemos, por exemplo, que
seja o cruzamento das conexões com as
contrapartidas culturais, signi caria que,
nesse projeto, as conexões deixam de con-
templar os vínculos culturaos do local, os
caminhos entre edifícios históricos e entre
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
170
METODOLOGIA ANALÍTICO-PROPOSITIVA
CAPÍTULO 2
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AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
172
METODOLOGIA ANALÍTICO-PROPOSITIVA
CAPÍTULO 2
173
2.8. A proposta de uma matriz relacional para o projeto urbanístico
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
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METODOLOGIA ANALÍTICO-PROPOSITIVA
CAPÍTULO 2
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AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
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METODOLOGIA ANALÍTICO-PROPOSITIVA
CAPÍTULO 2
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CAPÍTULO 2
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METODOLOGIA ANALÍTICO-PROPOSITIVA
CAPÍTULO 2
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CAPÍTULO 3
ANÁLISE DE PROJETOS
REFERENCIAIS
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
198
AVALIAÇÃO DE PROJETOS URBANÍSTICOS REFERENCIAIS
CAPÍTULO 3
199
PROJETOS REFERENCIAIS
PROJETO 01 - BICOCCA
LOCAL: MILÃO, ITÁLIA
DATA DE REALIZÃO
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
200
E1 - CONEXÕES
A1 - CONTRAPARTIDAS
USO X VALOR
As conexões propostas conside-
ram alguns dos aspectos compre-
ensivos da cultura local, através
d o resuaro de alguns elementos
isolados, entretanto esses ele-
mentos não participam da trama
de conexões, e assim parecem
não potencializam contrapartidas
ao uso do solo.
Em adição, as conexões proje-
tadas não conversarm entre si.
Parecem ser peças formais que
conectam setores de um mesmo
edifício. Não relacionam o edifício
ao espaço público.
As conexões são rígidas e não
provocam efeito catalítico sobre o
uso do solo
E1 - CONEXÕES
A2 - CONTRAPARTIDAS SOCIAIS
No projeto da área da Bicocca,
as conexões não são elementos
que potencializam o melhoras
nas áreas de interesse social lin-
deiras.
As conexões, nesse projeto, não
visam intergrar espaços públicos;
estão muito mais associadas às
áreas culturais ou relacionadas à
universidade.
Nesse caso, as conexões não são
elementos catalíticos de fortes
melhoras da integração social.
AVALIAÇÃO DE PROJETOS URBANÍSTICOS REFERENCIAIS
CAPÍTULO 3
201
E1 - CONEXÕES
A3 - CONTRAPARTIDAS
CULTURAIS
Nesse projeto, as conexões inter-
ligam principalmente os elemen-
tos culturais (as referências histó-
ricas e a área da universidade).
Da forma como estão dispostas,
as conexões são elementos que
podem potencializar o surgimento
de novas áreas culturais no entor-
no, no futuro.
Conclui-se que, do ponto de vista
estrutural, a relação entre as co-
nexões e as contrapartidas cultu-
rais podem catalisar o desenvol-
vimento de ambos.
E1 - CONEXÕES
A4 - CONTRAPARTIDAS
AMBIENTAIS
No projeto da Bicocca, as cone-
xões não foram projetadas consi-
derando-se a s relações ambien-
tais.
Nesse local, as áreas verdes (e,
curiosamente, por vezes, tam-
bém as conexões!) têm mais
valor estético do que função. As
conexões parecem não agregar
nemnuma qualidade ou potencial
às áreas verdes.
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
202
E2 - ACESSOS
A1 - CONTRAPARTIDAS
USO X VALOR
Como os edifícios, na Bicocca,
são conectados entre si muito
mais pela rua e pelos espaços
térreos (as passarelas aéreas co-
nectam predominantemente se-
tores de um mesmo edifício), os
acessos são fundamentais para a
interligação dos edifícios.
Os edifícios se conectam por pra-
ças intermediárias, com escadas
rolante. Os acessos fazem o pa-
pel de conexões.
E2 - ACESSOS
A2 - CONTRAPARTIDAS SOCIAIS
Os acessos, mas do que as co-
nexões, parecem estabelecer, na
área da Bicocca, melhores víncu-
los entre os espaços de uso pú-
blico e os espaços de uso estrita-
mente privado.
Não existem elementos no es-
paço público que facilitem a inte-
ratividade social com o espaço.
Assim, do ponto de vista social,
não se considera que o projeto
da Biccocca seja catalisador de
ações sociais. Parece estar cen-
trado na cultura e nos referenciais
históricos.
AVALIAÇÃO DE PROJETOS URBANÍSTICOS REFERENCIAIS
CAPÍTULO 3
203
E2 - ACESSOS
A3 - CONTRAPARTIDAS
CULTURAIS
Do ponto de vista da relação en-
tre os acessos e as contraparti-
das culturais, o projeto da Bicoc-
ca apresenta boa integração. Em
alguns casos (como na frente do
Teatro Archimboldi), o piso é de-
senhado inclusive de maneira a
enfatisar a importância dos espa-
ços culturais.
Um problema detectado é que
nem empre todos os espaços de
caráter cultural e histórico estão
acessíveis em espaços de uso
público, como a usina desativa-
da, que se encontra no interior do
edifício de escritórios da Pirelli.
E2 - ACESSOS
A4 - CONTRAPARTIDAS
AMBIENTAIS
No projeto da Bicocca, os aces-
sos não estimulam a integração
entre o espaço público e os re-
cursos ambientais.
A vegetação plantada em calça-
das e praças tem apenas a função
de aminizar o espaço do usuári,
sombrear. Porém, não existem
grandes áreas verdes conecta-
das aos espaços públicos, que
sirvam efetivamente de matrizes
ambientais.
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
204
E3 - ESPAÇO TERCIÁRIIO
A1 - CONTRAPARTIDAS
USO X VALOR
O espaço terciário da área da Bi-
cocca é fragmentado , está disso-
ciado dos valores culturais locais,
não incentiva a integração com o
espaço público porque é fechado
em si.
Como os edifícios são fechados
para a rua, e possuem usos pri-
vados no térreo, o pouco espaço
terciário que existe não cumpre a
função estrutural, porque se co-
necta apenas com a rua.
Imagina-se que o espaço terciá-
rio, na área da Biccocca, não seja
catalisador de melhorias do en-
torno próximo
E3 - ESPAÇO TERCIÁRIO
A2 - CONTRAPARTIDAS SOCIAIS
Assim como as conexões e os
acessos, os espaços terciários,
no projeto da Biccocca não de-
sempenham funções catalisado-
ras de espaços mais sadios no
entorno próximo provavelmente
porque são fragmentados entre
si.
AVALIAÇÃO DE PROJETOS URBANÍSTICOS REFERENCIAIS
CAPÍTULO 3
205
E3 - ESPAÇO TERCIÁRIO
A3 - CONTRAPARTIDAS
CULTURAIS
O espaço cultural é aquele que
estabelece melhor vínculo com os
espaços terciários, na área da Bi-
cocca.
Como o comércio é fragmentado,
perto das áreas culturais ( as áreas
referenciais e as áreas de uso pú-
blico da universidade) são os espa-
ços onde se concentram um maior
número de pessoas, naturalmente.
Assim, o poder catalítico do espa-
ço terciário, quando isso ocorre,
depende do uso desses espaços,
por outros motivos; aos domingos e
férias, esses espaços permanecem
vazios.
E3 - ESPAÇO TERCIÁRIO
A4 - CONTRAPARTIDAS
AMBIENTAIS
Assim como as conexões e os
acessos, os espaços terciários,
no projeto da Biccocca não de-
sempenham funções catalisado-
ras relacionadas à práticas am-
bientais no entorno próximo.
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
206
E4 - REFERENCIAS
A1 - CONTRAPARTIDAS
USO X VALOR
O projeto de revitalização dessa
área da Bicocca utiliza os referen-
ciais históricos quase como tema
.A possibilidade de restauro da
área histórica foi utilizada como
identidade que provavelmente
agrega valor .
Apesar de a maioria dos espça-
os públicos apresentarem poder
catalisador quando existem re-
ferenciais interligados à esses
espaços, alguns dos referenciais
estão em locais cercados ao uso
público.
E4 - REFERENCIAS
A2 - CONTRAPARTIDAS SOCIAIS
Do ponto de vista dos referen-
ciais, em relação às contraparti-
das sociais, o processo participa-
tivo e de auxílio às populações de
mais baixa renda no entorno não
são contemplados pelo projeto.
AVALIAÇÃO DE PROJETOS URBANÍSTICOS REFERENCIAIS
CAPÍTULO 3
207
E4 - REFERENCIAS
A3 - CONTRAPARTIDAS
CULTURAIS
Os referenciais históricos da área
da Bicocca agregam valor aos
usos culturais, mas como nem
todos os referenciais restaurados
estão localizados em áreas de
uso público, nem sempre os refe-
renciais históricos são incorpora-
dos através da leitura do espaço,
pelo usuário.
E4 - REFERENCIAS
A4 - CONTRAPARTIDAS
AMBIENTAIS
Do ponto de vista dos referenciais,
em relação às contrapartidas so-
ciais, ao caminhar pela área da
Bicocca, a impressão que se tem
é a de que o processo participati-
vo e de auxílio às populações de
mais baixa renda no entorno não
são contemplados pelo projeto.
De maneira geral, os espaços ur-
banos projetados, em Milão, são
muito construídos e impermeabi-
lizados. Existe muito mais a pre-
ocupação com o caráter histórico
do local, do que com o caráter
ambiental.
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
208
E5 - TRANSPORTE DE MASSAS
A1 - CONTRAPARTIDAS
USO X VALOR
O projeto de revitalização dessa
área da Bicocca utiliza os referen-
ciais históricos quase como tema
.A possibilidade de restauro da
área histórica foi utilizada como
identidade que provavelmente
agrega valor .
Apesar de a maioria dos espça-
os públicos apresentarem poder
catalisador quando existem re-
ferenciais interligados à esses
espaços, alguns dos referenciais
estão em locais cercados ao uso
público.
E5 - TRANSPORTE DE MASSAS
A2 - CONTRAPARTIDAS SOCIAIS
Do ponto de vista dos referen-
ciais, em relação às contraparti-
das sociais, o processo participa-
tivo e de auxílio às populações de
mais baixa renda no entorno não
são contemplados pelo projeto.
AVALIAÇÃO DE PROJETOS URBANÍSTICOS REFERENCIAIS
CAPÍTULO 3
209
E5 - TRANSPORTE DE MASSAS
A3 - CONTRAPARTIDAS
CULTURAIS
O espaço cultural é aquele que
estabelece melhor vínculo com os
espaços terciários, na área da Bi-
cocca.
Como o comércio é fragmentado,
perto das áreas culturais ( as áreas
referenciais e as áreas de uso pú-
blico da universidade) são os espa-
ços onde se concentram um maior
número de pessoas, naturalmente.
Assim, o poder catalítico do espa-
ço terciário, quando isso ocorre,
depende do uso desses espaços,
por outros motivos; aos domingos e
férias, esses espaços permanecem
vazios.
E5 - TRANSPORTE DE MASSAS
A4 - CONTRAPARTIDAS
AMBIENTAIS
A paisagem de Milão é predo-
minantemente industrial, e, não
tem muitas áreas verdes que
permeiam a trama urbana (exce-
tuando-se áreas especiais, como
as da antiga muralha. que são
históricas).
Entretanto, com a revitalização
da área da Bicocca e da Fiera di
Milano, as áreas de tram começa-
ram a ser transformadas em gra-
des corredores ecológicos, onde
antes era asfalto, em um trajeto
que interliga os dois locais e cru-
za a área central de Milão.
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
210
E6 - INSTITUCIONALIDADES
AD-HOC
A1 - CONTRAPARTIDAS
USO X VALOR
A intervenção na área da Bicocca
é institucional. O espaço caracte-
rístico desse tipo de intervenção
também é re exo desse tipo de
origem do capital de investimen-
to.
Excetuando-se os poucos bares
nos nas praças da universidade,
não existe local para convívio de
pessoas nas ruas, nas praças.
A livraria é um local de encontro,
assim como a praça que se en-
contra em frente. Mas não é pos-
sível a a rmação de que perce-
bemos a existência de locais que
incentivam o encontro casual de
pessoas, fora dos espaços entre
os edifícios da universidade.
E6 - INSTITUCIONALIDADES
AD-HOC
A2 - CONTRAPARTIDAS SOCIAIS
Do ponto de vista dos referen-
ciais, em relação às contraparti-
das sociais, o processo participa-
tivo e de auxílio às populações de
mais baixa renda no entorno não
são contemplados pelo projeto.
AVALIAÇÃO DE PROJETOS URBANÍSTICOS REFERENCIAIS
CAPÍTULO 3
211
E6 - INSTITUCIONALIDADES
AD-HOC
A3 - CONTRAPARTIDAS
CULTURAIS
As contrapartidas culturais também
são aquelas que estão melhor vin-
culadas com a possibilidade de in-
teração com as institucionalidades
ad-hoc.
O espaço da unikversidade é por
natureza, mais propício ao encon-
tro casual de pessoas.
E6 - INSTITUCIONALIDADES
AD-HOC
A4 - CONTRAPARTIDAS
AMBIENTAIS
Assim como as conexões e os
acessos e os espaços terciários,
as no projeto da Biccocca não
existe incentivo para o encontro
de pessoas e para o susrgimento
de institucionalidades ad-hoc en-
tre os usuários, nos espaços de
uso público conectados às ruas.
Apesar de muito bem construí-
das, as ruas no local da Bicocca
são monótonas, e sem usos de
rápida permanência agregados à
estas.
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
212
AVALIAÇÃO DE PROJETOS URBANÍSTICOS REFERENCIAIS
CAPÍTULO 3
213
PROJETOS REFERENCIAIS
PROJETO 02 - PARQUE DAS NAÇÕES
LOCAL: LISBOA, PORTUGAL
DATA DE REALIZÃO
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
214
E1 - CONEXÕES
A1 - CONTRAPARTIDAS
USO X VALOR
No projeto do Parque das Na-
ções, as conexões estruturam o
uso do solo. As conexões são de
boa qualidade, nesse projeto, e
esa~bem associadas ao espaço
terciário e à áreas lindeiras ao
cais.
Com a revitalização da área do
cais para a Expo 98, toda a área
foi bene ciada . Ao longo dos
anos, a boa qualidade conectivca
provocou uma melhora signi cati-
va no entrorno próximo ao Parque
das Nações. Assim, pode-se intuir
que essa relação foi catalisante
E1 - CONEXÕES
A2 - CONTRAPARTIDAS SOCIAIS
No Parque das Nações, as co-
nexões visam intergrar espaços
públicos, estão associadas ao
comércio, e valorizou as áreas
circundantes.
As conexões, nesse projeto, são
elementos fortemente catalisado-
res, criadas com esse objetivo, e
que reverte benefícios para a po-
pulação do entorno.
Essa qualidade faz com que, do
ponto de vista social, o Parque
das Nações seja estrutural
AVALIAÇÃO DE PROJETOS URBANÍSTICOS REFERENCIAIS
CAPÍTULO 3
215
E1 - CONEXÕES
A3 - CONTRAPARTIDAS
CULTURAIS
O tema do Parque das Nações é
a contribuição de Vasco da Gama
para as navegações. Através
desse tema, o projto do Parque
das Nações expressa a identida-
de cultural, que é representada
em elementos da paisagem do
parque.
Essa intenção de criar novos ele-
mentos para marcar a identidade
do cais contribuiu para a valori-
zação do espaço que estava de-
cadente, e do entorno próximo è
este, o que permitiu a criação de
espaços de integração da popu-
lação local, e gerou recursos para
que a população de Lisboa tenha
um espaço com bons equipamen-
tos de lazer e cultura.
E1 - CONEXÕES
A4 - CONTRAPARTIDAS
AMBIENTAIS
No Parque das Nações, as co-
nexões, apesar de constituírem
grandes elementos viabilizadores
das contrapartidas ambientais,
não são em si espaços direta-
mente bebe ciados pela recupe-
ração ambiental, se comparadas
aos acessos.
Entretanto, sem o movimento de
pessoas que as conexões per-
mites (é estrutural em aspectos
essenciais) não haviaria forma
de existir geração de contrapar-
tidas abientais nos acessos. É
um exemplo concreto de que os
elementos estruturais são mais
e cientes à mobilidade se enter-
ligados entre si.
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
216
E2 - ACESSOS
A1 - CONTRAPARTIDAS
USO X VALOR
No Parque das Nações, os aces-
sos formam grandes espaços de
uso público, com riqueza espa-
ciam, geralmente com obras de
arte que atribuem alguma referên-
cia simbólica (também fazendo
alusão à algum tipo de referência
cultural),
Esse conceito de acesso enrique-
ce simbolicamente o ambiente,
e é catalisante de melhorias e
da instalação de facilidades nos
locais que têm relacão direta e
indireta à esses acessos)
E2 - ACESSOS
A2 - CONTRAPARTIDAS SOCIAIS
Construídos de forma a valorizar
a escala do pedestre, os acessos
trazem melhor movimento de usu-
ários para a área. Diferentemente
do caso da Bicocca, os acessos
do Parque das Nações são co-
nectados à espaços comerciais,
e dessa forma, geram a possibi-
lidade de contrapartidas sociais
para a área.
Esse recurso geradoa partir do
comércio dos acessos do parque
é reaplicado em programas de
melhoria das áreas ao redor do
parque, que, segundo relatório do
empreendimento, têm apresenta-
do melhoras na qualidade de vida
dos cidadãos, desde a execução
do parque na área do cais.
AVALIAÇÃO DE PROJETOS URBANÍSTICOS REFERENCIAIS
CAPÍTULO 3
217
E2 - ACESSOS
A3 - CONTRAPARTIDAS
CULTURAIS
O mesmo aspecto temático de-
senvolvido nas conexões do Par-
que das Nações (a contribuição
de Vasco da Gama para as na-
vegações). faz com que os aces-
sos sejam espaços de expressão
da identidade cultural, que é re-
presentada em elementos da
paisagem do parque. As cone-
xões, projetadas pelo arquiteto
Santiago Calatrava constituem
elementos que ressaltama força
do conjunto de estruturas leves e
elegantes na paisagem.
Essa intenção de criar novos ele-
mentos para marcar a identidade
do cais contribuiu para a valori-
zação do espaço que estava de-
cadente, e do entorno próximo è
E1 - ACESSOS
A4 - CONTRAPARTIDAS
AMBIENTAIS
Os acesos, mais ainda do que as
conexões, são geradores de con-
trapartidas ambientais,
Existem programas de tratamento
de água, de recuperação de ve-
getação e de animais, alguns dos
quais, em visitação nos acessos.
O Oceanário é um exemplo, com
um grande espaço central bem
conetado à uma das extremidades
do teleférico. Nessa área central
do Oceanário, existem aquários
de peixes raros. O mesmo acon-
tece com as plantas no viveiro lo-
calidado no cais, que é conectado
ao Pavilhão de Macau.
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
218
E3 - ESPAÇO TERCIÁRIIO
A1 - CONTRAPARTIDAS
USO X VALOR
Diferentemente da Bicocca, o es-
paço de uso público que permeia
o espaço terciário, no Parque
das Nações, tem grande riqueza
paisagística e constitui bom aglu-
tinador de espaços locais de con-
vivência.
Dessa forma, o espaço terciário
contribui com melhora do uso do
solo não apenas da área de inter-
venção, mas das centralidades
próximas ao cais, que era ante-
riormente muito deteriorada.
E3 - ESPAÇO TERCIÁRIO
A2 - CONTRAPARTIDAS SOCIAIS
A revitalização da área do trouxe
vários equipamentos socais para
a área conectada ao cais.
Foram também implantados,
como contrapartida, vários pro-
gramas de habitação que melho-
rou qualidade de vida da popu-
lação local, com recursos pagos
como contrapartida da instalação
do parque.
Desa maneira, o espaço terciário
é catalisador de melhorias sociais
através das contrapartidas que
gera.
AVALIAÇÃO DE PROJETOS URBANÍSTICOS REFERENCIAIS
CAPÍTULO 3
219
E3 - ESPAÇO TERCIÁRIO
A3 - CONTRAPARTIDAS
CULTURAIS
Na área do cais de Lisboa onde
se encontra o Parque das nações,
existem vários edifícios de caráter
cultural, que são utilizados por visi-
tantes, e pela população local.
Esses edifícios têm forte identidade
com o tema do parque (as navega-
ções portuguesas), e representam
povos com os quais os portugue-
ses tiveram contato (ou foram por
esses oprimidos). Exemplo, são o
Pavilhão de Macau, e o Pavilão do
Brasil (que homenageia a popula-
ção indígena).
Com relação à cultura local, a área
urbana incorporada ao cais revitali-
zado recebeu equipamentos cultu-
rais para a população local, man-
tidos a partir derecursos gerados
pelo parque.
E3 - ESPAÇO TERCIÁRIO
A4 - CONTRAPARTIDAS
AMBIENTAIS
O espaço terciário, no Parque
das Nações, é o grande gerador
das contrapartidas ambientais,
em conjunto com as conexões, e
interligados com os acessos.
Existe, no Parque das Nações,
um funcionamento em rede dos
elementos estruturais conexões
- acessos e espaço terciário.
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
220
E4 - REFERENCIAS
A1 - CONTRAPARTIDAS
USO X VALOR
O projeto de revitalização da área
do Parque das Naçõesse utiliza
do cais como referencial histórico
de valor urbanístico. A possibili-
dade de revitalização da área his-
tórica ligada ao cais foi utilizada
como identidade urbana, e prova-
velmente agrega valor ao uso do
solo .
Os espaços de uso público que
apresentam algum tipo de relação
com os referenciais históricos (em
Lisboa, o caso do mosteiro ou da
tradicional Confeitaria Colombo),
se tornam potencialmente mis va-
lorizados, se agora podem contar
com um percurso de chegada
mais atrativo.
E4 - REFERENCIAS
A2 - CONTRAPARTIDAS SOCIAIS
Do ponto de vista dos referen-
ciais, em relação às contraparti-
das sociais, o processo partici-
pativo e de auxílio às populações
de mais baixa renda no entorno
são contemplados pelo projeto, e
os referenciais históricos e urba-
nísticos são catalisadores de um
processo de valorização da área,
mas contribuem indiretamente
com a geração de contrapartidas
sociais - agregado aos espaços
terciários, ambos (referenciais
e espaço terciário) possibilitam
a geração de contrapartidas so-
ciais
AVALIAÇÃO DE PROJETOS URBANÍSTICOS REFERENCIAIS
CAPÍTULO 3
221
E4 - REFERENCIAS
A1 - CONTRAPARTIDAS
CULTURAIS
Os referenciais históricos da área
do Parque das Nações agregam
valor aos usos culturais de ma-
neira direta. Na área do cais de
Lisboa de entorno do Parque das
Nações, os referenciais históricos
são em maioria edifícios, e estão
localizados em meio ao espaço
de uso público.
Um conjunto de obras referenciais
arquitetônicas foram agregadas
ao local, reforçando o valor local
não apenas como referencil his-
tórico, mas como referencial tec-
nolólogco referencial para toda a
região.
E4 - REFERENCIAS
A2 - CONTRAPARTIDAS
AMBIENTAIS
Do ponto de vista dos referen-
ciais, em relação às contrapar-
tidas ambientais, a lógica do
processo participativo de trocas
ambientais ocorre de uma ma-
neira muito semelhante à das
contrapartidas sociais: existe um
real benefício do entorno com a
instalação do empreendimento,
pela própria existência de alguns
recussos naturais característicos
da área do cais ( como o conta-
do com a água). Também existe o
benefício do retorno aos recursos
naturais que são preservados.
As referências em si contribuem
para ageração de contrapartidas
de maneira indireta, associadas
aos outros elementos estruturais.
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
222
E5 - TRANSPORTE DE MASSAS
A1 - CONTRAPARTIDAS
USO X VALOR
O transporte de massas de boa
qualidade e acessível, quando
existe essa preocupação dos
governantes, é em si catalisador
de relações positivas à todos os
usos associados aos elementos
estruturais.
O transporte de massas de ótima
qualidade foi o elemento que via-
bilizou a realização da Expo 98
nas instalações do Parque nas
Nações.
É importante considerar que o
transporte de massas possibilitou
que os usos passassem por essa
grande transformação que atribu-
íram uma nova escala de impor-
tância ao Parque das Nações.
E5 - TRANSPORTE DE MASSAS
A2 - CONTRAPARTIDAS SOCIAIS
Do ponto de vista dos transpor-
tes em de massas em relação as
contrapartidas sociais, essa rela-
ção é muito bem exploirada, no
Parque das Nações.
O transporte de massas quali ca-
do com o potencial de visitação
que o Parque das Nações gerou,
provocou um rápido desenvolvi-
mento do entorno, que bene ciou
as contrapartidas sociais.
AVALIAÇÃO DE PROJETOS URBANÍSTICOS REFERENCIAIS
CAPÍTULO 3
223
E5 - TRANSPORTE DE MASSAS
A3 - CONTRAPARTIDAS
CULTURAIS
A relação que existe entre o trans-
portes em de massas e as contra-
partidas culturais, no Parque das
Nações, é direta.
Assim como no processo de ge-
ração de contrapartidas sociais, o
transporte de massas quali cado
com o potencial de visitação que
o Parque das Nações, provocou
um rápido desenvolvimento do
entorno, que bene ciou as con-
trapartidas culturais.
E5 - TRANSPORTE DE MASSAS
A4 - CONTRAPARTIDAS
AMBIENTAIS
Do ponto de vista dos transportes
de massas, em relação às contra-
partidas ambientais, a lógica do
processo participativo de trocas
ambientais ocorre de uma manei-
ra muito semelhante à das con-
trapartidas sociais: existiu um real
benefício do entorno com a insta-
lação do Parque das Nações, e o
transporte de massas é um ele-
mento que, mesmo atuando sem
conexão com outros elementos
estruturais, potencializa ao me-
nos minimamente, a geração de
contrapartidas ambientais de ma-
neira indireta.
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
224
E6 - INSTITUCIONALIDADES
AD-HOC
A1 - CONTRAPARTIDAS
USO X VALOR
O espaço do Parque das nações
foi criado para ser espaço de en-
contro de pessoas, em eventos
de várias escalas, formais e in-
formais, para o cidadão que vitita
e reside em outro país, e para o
cidadão local, que está na quadra
ao lado.
Esse movimento faz do Parque
das Nações e do entorno direto
espaço valorizados, e com bom
potencial de liquidez, o que faci-
lita a geração de contrapartidas
- recursos para serem aplicados
em espaços de uso público, aces-
sos, em projetos sociais, culturais
e ambientais.
E6 - INSTITUCIONALIDADES
AD-HOC
A2 - CONTRAPARTIDAS SOCIAIS
A área do Parque das Nações
não apenas contém espaços que
potencializam o encontro de pes-
soas, mas também se bene cia
desses encontros, e permite que
a população local se bene cia das
contrapartidas desses encontors.
Os eventos realizados no par-
que - onde existem espaços que
comportam desde o encontro de
uma turma de amigos em um
bar, até um congresso da ONU
- movimentam recursos que são
re-aplicados em iniciativa sociais
AVALIAÇÃO DE PROJETOS URBANÍSTICOS REFERENCIAIS
CAPÍTULO 3
225
E6 - INSTITUCIONALIDADES
AD-HOC
A3 - CONTRAPARTIDAS
CULTURAIS
Do ponto de vista da relação entre
as iinstitucionalidades ad-hoc e as
contrapartidas culturais, é possí-
vel perceber que a boa mobilidade
característica da relação entre os
elementos urbanísticos estruturais,
permite que os espaços e que as
institucionalidades ad-hoc ocorrem,
são espaços geradores de recur-
sos que são, assim como descrito
para as contrapartidas sociais, apli-
cados em cultura - em edifícios que
onde se produz, divulga e promove
a cultura, e no espaço estruturais,
de uso público, como nos acessos
onde existem obras de arte e refe-
rências urbanas.
E6 - INSTITUCIONALIDADES
AD-HOC
A4 - CONTRAPARTIDAS
AMBIENTAIS
Da mesma maneira que as con-
trapartidas sociais e culturais, os
espaços destinados à regenera-
ção de recursos ambientais está
relacionado ao uso de equipa-
mentos para o encontro de pes-
soas.
CAPÍTULO 4
ANÁLISE DE PROJETOS
REALIZADOS
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
228
229
AVALIAÇÃO DE PROJETOS URBANÍSTICOS REALIZADOS
CAPÍTULO 4
PROJETOS REFERENCIAIS
PROJETO 03 - CIXI NATURE VILLAGE
LOCAL: CIXI, CHINA
REALIZAÇÃO - 2003
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
230
E1 - CONEXÕES
A1 - CONTRAPARTIDAS
USO X VALOR
O projeto da Cixi Nature Village
foi criado a partir das conexões.
Surgiu de uma relação de cone-
xão regional ( a ponte que conec-
ta a cidade de Cixi a Shangai) e
está na con uência de uxos ro-
doviários com comércio e canais
de água .
A vila surge ao redor de um par-
que, que integra essses uxos, e
organiza as conexões em vários
planos. As conexões agregam
mobilidade ao uso do solo, nes-
se projeto, e são catalisadoras de
melhoras na qualidade do entor-
no próximo.
E1 - CONEXÕES
A2 - CONTRAPARTIDAS SOCIAIS
O projeto da Cixi Nature Village
foi idealizado para relocar agricul-
tores de arroz, em uma área ao
norte do centro de Cixi, que parte
da planície irrigada pelo rio Yang-
tsé.
Do ponto de vista da relação das
conexões com as contrapartidas
sociais, o projeto procura integrar
as éras de plantio à trama urba-
na, e se propria dos canais de ir-
rigação para manter a leitura das
trocas que o rio realiza com esse
espaço durante as cheias. Com o
desenvolvimento do projeto, essa
idéia de aproveitamento dos ca-
nais de irrigação teve desmam-
bramentos bené cos para outras
funcoões
AVALIAÇÃO DE PROJETOS URBANÍSTICOS REALIZADOS
CAPÍTULO 4
231
E1 - CONEXÕES
A3 - CONTRAPARTIDAS
CULTURAIS
Ao invés de se levar o agricultor
até a cidade, alguns aspectos do
centro de Cixi, foram trazidos até
a área, como o eixo comercial
Mazhong Wan Shore. Então al-
gumas etratégias culturais foram
interligadas com esse eixo, como
a criação de espaços de convi-
vência e passeio, com edifícios
culturais e institucionais (como
escolas, museus)
A grande procupação foi asso-
ciarmos as áreas de contato com
a água - tornando mais amplos os
canais de irrigação já existentes
- os equipamentos e espaços de
convivência., de uma forma que
o o uso misto é, nesse projeto,
o elemento potencializados de
certas relações culturais de inte-
gração dos agricultores no “meio
ambiente urbano”.
E1 - CONEXÕES
A4 - CONTRAPARTIDAS
AMBIENTAIS
As contrapartidas ambientais,
nesse projeto, são particularmen-
te valorizadas, uma vez que é
o próprio recurso ambiental - a
água utilizada no plantio - o prin-
cipal fator que poderia associar
identidade física local.com as re-
lações culturais que as pessoas
estabelecem com o rio.
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
232
E2 - ACESSOS
A1 - CONTRAPARTIDAS
USO X VALOR
Com a possibilidade de se co-
nectar a área com um importan-
te vetor comercial com demais
centralidades do entorno foi pos-
sível criar uma lógica catalisante
de edifícos. Foi criado assim um
elemento conector de comércio e
serviços, que alimetam e trazem
movimento ao acesso, que pode
ser um grande parque, com re-
servatório para contenção das
águas de cheias do Rio Yangstsé,
e com lazer associado ao espaço
multi-uso.
Dessa forma, esse acesso nevrál-
gico, que alimenta e é alimentado
pela rede de edifícios comerciais
na demais quadras, tem a possi-
bilidade de atuar como catalisa-
dor das funcões de vivência que
atribuem valor ao espaço urbano
E2 - ACESSOS
A2 - CONTRAPARTIDAS SOCIAIS
Construídos de forma a valorizar
a escala do pedestre, os acessos
trazem melhor movimento de usu-
ários para a área. Diferentemente
do caso da Bicocca, os acessos
nesse projeto são conectados à
espaços comerciais, e dessa for-
ma, geram a possibilidade de con-
trapartidas sociais para a área.
Esse recurso geradoa partir do
comércio dos acessos do parque
é reaplicado em programas de
melhoria das áreas ao redor do
local.
AVALIAÇÃO DE PROJETOS URBANÍSTICOS REALIZADOS
CAPÍTULO 4
233
E2 - ACESSOS
A3 - CONTRAPARTIDAS
CULTURAIS
O mesmo aspecto temático de-
senvolvido nas conexões do
projeto. faz com que os acessos
sejam espaços de expressão
da identidade cultural, que é re-
presentada em elementos da
paisagem do parque. As cone-
xões, constituem elementos que
ressaltama força do conjunto de
estruturas leves e elegantes na
paisagem.
Essa intenção de criar novos ele-
mentos para marcar a identidade
do cais contribuiu para a valori-
zação do espaço que estava de-
cadente, e do entorno próximo è
este.
E2 - ACESSOS
A4 - CONTRAPARTIDAS
AMBIENTAIS
Os acesos, mais ainda do que as
conexões, são geradores de con-
trapartidas ambientais,
Existem programas de tratamento
de água, de recuperação de ve-
getação e de animais, alguns dos
quais, em visitação nos acessos.
Existem formas de utllizar os
acessos para a instalação de pro-
gramas de educação ambiental
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
234
E3 - ESPAÇO TERCIÁRIIO
A1 - CONTRAPARTIDAS
USO X VALOR
Diferentemente da Bicocca, o es-
paço de uso público que permeia
o espaço terciário, nesse projeto,
tem grande riqueza paisagística e
constitui bom aglutinador de es-
paços locais de convivência.
Dessa forma, o espaço terciário
contribui com melhora do uso do
solo não apenas da área de inter-
venção, mas das centralidades
próximas ao cais, que era ante-
riormente muito deteriorada.
E3 - ESPAÇO TERCIÁRIO
A2 - CONTRAPARTIDAS SOCIAIS
A revitalização da área do trouxe
vários equipamentos socais para
a área.
Foram também implantados,
como contrapartida, vários pro-
gramas de habitação que melho-
rou qualidade de vida da popu-
lação local, com recursos pagos
como contrapartida da instalação
do parque.
Dessa maneira, o espaço terciá-
rio é catalisador de melhorias so-
ciais através das contrapartidas
que gera.
AVALIAÇÃO DE PROJETOS URBANÍSTICOS REALIZADOS
CAPÍTULO 4
235
E3 - ESPAÇO TERCIÁRIO
A3 - CONTRAPARTIDAS
CULTURAIS
Na área do projeto existem vários
edifícios de caráter cultural, que
são utilizados por visitantes, e pela
população local.
Esses edifícios têm forte identidade
com o tema da cultura local
Com relação à cultura local, a área
urbana incorporada ao cais revitali-
zado recebeu equipamentos cultu-
rais para a população local, man-
tidos a partir der ecursos gerados
pelo projeto
E3 - ESPAÇO TERCIÁRIO
A4 - CONTRAPARTIDAS
AMBIENTAIS
O espaço terciário, no, é o gran-
de gerador das contrapartidas
ambientais, em conjunto com as
conexões, e interligados com os
acessos.
Existe, nesse projeto, um funcio-
namento em rede dos elementos
estruturais conexões - acessos e
espaço terciário.
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
236
E4 - REFERENCIAS
A1 - CONTRAPARTIDAS
USO X VALOR
O projeto de revitalização da
área do projeto utiliza referenciais
histórico de valor urbanístico. A
possibilidade de revitalização da
área histórica ligada ao cais foi
utilizada como identidade urbana,
e provavelmente agrega valor ao
uso do solo .
Os espaços de uso público que
apresentam algum tipo de relação
com os referenciais históricos, se
tornam potencialmente mis valo-
rizados, se agora podem contar
com um percurso de chegada
mais atrativo.
E4 - REFERENCIAS
A2 - CONTRAPARTIDAS SOCIAIS
Do ponto de vista dos referen-
ciais, em relação às contraparti-
das sociais, o processo partici-
pativo e de auxílio às populações
de mais baixa renda no entorno
são contemplados pelo projeto, e
os referenciais históricos e urba-
nísticos são catalisadores de um
processo de valorização da área,
mas contribuem indiretamente
com a geração de contrapartidas
sociais - agregado aos espaços
terciários, ambos (referenciais
e espaço terciário) possibilitam
a geração de contrapartidas so-
ciais
AVALIAÇÃO DE PROJETOS URBANÍSTICOS REALIZADOS
CAPÍTULO 4
237
E4 - REFERENCIAS
A1 - CONTRAPARTIDAS
CULTURAIS
Os referenciais históricos da área
do projeto agregam valor aos
usos culturais de maneira direta.
Na área do projeto, os referen-
ciais históricos são em maioria
edifícios, e estão localizados em
meio ao espaço de uso público.
Um conjunto de obras referenciais
arquitetônicas foram agregadas
ao local, reforçando o valor local
não apenas como referencil his-
tórico, mas como referencial tec-
nolólogco referencial para toda a
região.
E4 - REFERENCIAS
A2 - CONTRAPARTIDAS
AMBIENTAIS
Do ponto de vista dos referen-
ciais, em relação às contrapar-
tidas ambientais, a lógica do
processo participativo de trocas
ambientais ocorre de uma ma-
neira muito semelhante à das
contrapartidas sociais: existe um
real benefício do entorno com a
instalação do empreendimento,
pela própria existência de alguns
recussos naturais característicos
da área ( como o contado com a
água). Também existe o benefício
do retorno aos recursos naturais
que são preservados. As referên-
cias em si contribuem para agera-
ção de contrapartidas de maneira
indireta, associadas aos outros
elementos estruturais.
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
238
E5 - TRANSPORTE DE MASSAS
A1 - CONTRAPARTIDAS
USO X VALOR
O transporte de massas de boa
qualidade e acessível, quando
existe essa preocupação dos
governantes, é em si catalisador
de relações positivas à todos os
usos associados aos elementos
estruturais.
É importante considerar que o
transporte de massas possibilitou
que os usos passassem por essa
grande transformação que atribu-
íram uma nova escala de impor-
tância ao local do projeto.
E5 - TRANSPORTE DE MASSAS
A2 - CONTRAPARTIDAS SOCIAIS
Do ponto de vista dos transpor-
tes em de massas em relação as
contrapartidas sociais, essa rela-
ção é muito bem explorada, no
local do projeto.
O transporte de massas quali ca-
do com o potencial de visitação
que o novo projeto gerou, provo-
cou um rápido desenvolvimento
do entorno, que bene ciou as
contrapartidas sociais.
AVALIAÇÃO DE PROJETOS URBANÍSTICOS REALIZADOS
CAPÍTULO 4
239
E5 - TRANSPORTE DE MASSAS
A3 - CONTRAPARTIDAS
CULTURAIS
A relação que existe entre o
transportes em de massas e as
contrapartidas culturais, no local
do projeto, é direta.
Assim como no processo de ge-
ração de contrapartidas sociais, o
transporte de massas quali cado
com o potencial de visitação que
o local, provocou um rápido de-
senvolvimento do entorno, que
bene ciou as contrapartidas cul-
turais.
E5 - TRANSPORTE DE MASSAS
A4 - CONTRAPARTIDAS
AMBIENTAIS
Do ponto de vista dos transpor-
tes de massas, em relação às
contrapartidas ambientais, a ló-
gica do processo participativo
de trocas ambientais ocorre de
uma maneira muito semelhante à
das contrapartidas sociais: exis-
tiu um real benefício do entorno
com a instalação do projeto, e o
transporte de massas é um ele-
mento que, mesmo atuando sem
conexão com outros elementos
estruturais, potencializa ao me-
nos minimamente, a geração de
contrapartidas ambientais de ma-
neira indireta.
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
240
E6 - INSTITUCIONALIDADES
AD-HOC
A1 - CONTRAPARTIDAS
USO X VALOR
O projeto foi criado para ser es-
paço de encontro de pessoas, em
eventos de várias escalas, for-
mais e informais, para o cidadão
que visita e reside em outro país,
e para o cidadão local, que está
na quadra ao lado.
Esse movimento faz local do pro-
jeto e do entorno direto espaço
valorizados, e com bom potencial
de liquidez, o que facilita a gera-
ção de contrapartidas - recursos
para serem aplicados em espa-
ços de uso público, acessos, em
projetos sociais, culturais e am-
bientais.
E6 - INSTITUCIONALIDADES
AD-HOC
A2 - CONTRAPARTIDAS SOCIAIS
A área do projeto não apenas
contém espaços que potenciali-
zam o encontro de pessoas, mas
também se bene cia desses en-
contros, e permite que a popula-
ção local se bene cia das contra-
partidas desses encontros
Os eventos realizados no parque
- onde existem espaços que com-
portam vários tipos de encontros
- podem movimentarww recursos
que são re-aplicados em iniciativa
sociais locais.
AVALIAÇÃO DE PROJETOS URBANÍSTICOS REALIZADOS
CAPÍTULO 4
241
E6 - INSTITUCIONALIDADES
AD-HOC
A3 - CONTRAPARTIDAS
CULTURAIS
Do ponto de vista da relação entre
as iinstitucionalidades ad-hoc e as
contrapartidas culturais, é possí-
vel perceber que a boa mobilidade
característica da relação entre os
elementos urbanísticos estruturais,
permite que os espaços e que as
institucionalidades ad-hoc ocorrem,
são espaços geradores de recur-
sos que são, assim como descrito
para as contrapartidas sociais, apli-
cados em cultura - em edifícios que
onde se produz, divulga e promove
a cultura, e no espaço estruturais,
de uso público, como nos acessos
onde existem obras de arte e refe-
rências urbanas.
E6 - INSTITUCIONALIDADES
AD-HOC
A4 - CONTRAPARTIDAS
AMBIENTAIS
Da mesma maneira que as con-
trapartidas sociais e culturais, os
espaços destinados à regenera-
ção de recursos ambientais está
relacionado ao uso de equipa-
mentos para o encontro de pes-
soas.
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
242
AVALIAÇÃO DE PROJETOS URBANÍSTICOS REALIZADOS
CAPÍTULO 4
243
PROJETOS REFERENCIAIS
PROJETO 04 - WUXI HELIE CENTER
LOCAL: WUXI, CHINA
REALIZAÇÃO - 2003
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
244
E1 - CONEXÕES
A1 - CONTRAPARTIDAS
USO X VALOR
No projeto do Wuxi Helie Center,
as conexões constituíram ele-
mentos principais para agregar
mobilidade à um centro urbano
que estava em rápido processo
de verticalização segregante. Em
adição, existem várias áreas do
exército que fragmentam a área.
As conexões, associadas ao
espaço terciário, permitiram a
criação de um estacionamento
abaixo das vias, o que liberou a
terra para atividades ocorram em
lugares permeáveis. Foi possível
associar à essas áreas atividades
de lazer e outros usos estruturais,
como áreas de institucionalida-
des ad-hoc.
E1 - CONEXÕES
A2 - CONTRAPARTIDAS SOCIAIS
No projeto da área as conexões
não elementos que potencializam
o melhoras nas áreas de interes-
se social lindeiras.
As conexões, nesse projeto, vi-
sam intergrar espaços públicos;
estão muito mais associadas às
áreas culturais ou relacionadas à
universidade.
Nesse caso, as conexões cons-
tituem elementos catalíticos de
fortes melhoras da integração
social.
AVALIAÇÃO DE PROJETOS URBANÍSTICOS REALIZADOS
CAPÍTULO 4
245
E1 - CONEXÕES
A3 - CONTRAPARTIDAS
CULTURAIS
Estratégias culturais foram in-
terligadas com o esse elemento
conectaor, como a criação de es-
paços de convivência e passeio,
com edifícios culturais e institu-
cionais (como escolas, museus)
A grande procupação foi asso-
ciarmos as áreas de contato com
a água - tornando mais amplos os
canais de irrigação já existentes
- os equipamentos e espaços de
convivência., de uma forma que
o o uso misto é, nesse projeto,
o elemento potencializados de
certas relações culturais de inte-
gração dos agricultores no “meio
ambiente urbano”.
E1 - CONEXÕES
A4 - CONTRAPARTIDAS
AMBIENTAIS
As contrapartidas ambientais,
nesse projeto, são particularmen-
te valorizadas, uma vez que é
o próprio recurso ambiental - a
água utilizada no plantio - o prin-
cipal fator que poderia associar
identidade física local.com as re-
lações culturais que as pessoas
estabelecem com o rio.
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
246
E2 - ACESSOS
A1 - CONTRAPARTIDAS
USO X VALOR
Com a possibilidade de se co-
nectar a área com um importan-
te vetor comercial com demais
centralidades do entorno foi pos-
sível criar uma lógica catalisante
de edifícos. Foi criado assim um
elemento conector de comércio e
serviços, que alimetam e trazem
movimento ao acesso, que pode
ser um grande parque, com re-
servatório para contenção das
águas de cheias do Rio Yangstsé,
e com lazer associado ao espaço
multi-uso.
Dessa forma, esse acesso nevrál-
gico, que alimenta e é alimentado
pela rede de edifícios comerciais
na demais quadras, tem a possi-
bilidade de atuar como catalisa-
dor das funcões de vivência que
atribuem valor ao espaço urbano
E2 - ACESSOS
A2 - CONTRAPARTIDAS SOCIAIS
Construídos de forma a valorizar
a escala do pedestre, os acessos
trazem melhor movimento de usu-
ários para a área. Diferentemente
do caso da Bicocca, os acessos
nesse projeto são conectados à
espaços comerciais, e dessa for-
ma, geram a possibilidade de con-
trapartidas sociais para a área.
Esse recurso geradoa partir do
comércio dos acessos do parque
é reaplicado em programas de
melhoria das áreas ao redor do
local.
AVALIAÇÃO DE PROJETOS URBANÍSTICOS REALIZADOS
CAPÍTULO 4
247
E2 - ACESSOS
A3 - CONTRAPARTIDAS
CULTURAIS
O mesmo aspecto temático de-
senvolvido nas conexões do
projeto. faz com que os acessos
sejam espaços de expressão
da identidade cultural, que é re-
presentada em elementos da
paisagem do parque. As cone-
xões, constituem elementos que
ressaltama força do conjunto de
estruturas leves e elegantes na
paisagem.
Essa intenção de criar novos ele-
mentos para marcar a identidade
do cais contribuiu para a valori-
zação do espaço que estava de-
cadente, e do entorno próximo è
este.
E2 - ACESSOS
A4 - CONTRAPARTIDAS
AMBIENTAIS
Os acesos, mais ainda do que as
conexões, são geradores de con-
trapartidas ambientais,
Existem programas de tratamento
de água, de recuperação de ve-
getação e de animais, alguns dos
quais, em visitação nos acessos.
Existem formas de utllizar os
acessos para a instalação de pro-
gramas de educação ambiental
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
248
E3 - ESPAÇO TERCIÁRIIO
A1 - CONTRAPARTIDAS
USO X VALOR
Diferentemente da Bicocca, o es-
paço de uso público que permeia
o espaço terciário, nesse projeto,
tem grande riqueza paisagística e
constitui bom aglutinador de es-
paços locais de convivência.
Dessa forma, o espaço terciário
contribui com melhora do uso do
solo não apenas da área de inter-
venção, mas das centralidades
próximas ao cais, que era ante-
riormente muito deteriorada.
E3 - ESPAÇO TERCIÁRIO
A2 - CONTRAPARTIDAS SOCIAIS
A revitalização da área do trouxe
vários equipamentos socais para
a área.
Foram também implantados,
como contrapartida, vários pro-
gramas de habitação que melho-
rou qualidade de vida da popu-
lação local, com recursos pagos
como contrapartida da instalação
do parque.
Dessa maneira, o espaço terciá-
rio é catalisador de melhorias so-
ciais através das contrapartidas
que gera.
AVALIAÇÃO DE PROJETOS URBANÍSTICOS REALIZADOS
CAPÍTULO 4
249
E3 - ESPAÇO TERCIÁRIO
A3 - CONTRAPARTIDAS
CULTURAIS
Na área do projeto existem vários
edifícios de caráter cultural, que
são utilizados por visitantes, e pela
população local.
Esses edifícios têm forte identidade
com o tema da cultura local
Com relação à cultura local, a área
urbana incorporada ao cais revitali-
zado recebeu equipamentos cultu-
rais para a população local, man-
tidos a partir der ecursos gerados
pelo projeto
E3 - ESPAÇO TERCIÁRIO
A4 - CONTRAPARTIDAS
AMBIENTAIS
O espaço terciário, no, é o gran-
de gerador das contrapartidas
ambientais, em conjunto com as
conexões, e interligados com os
acessos.
Existe, nesse projeto, um funcio-
namento em rede dos elementos
estruturais conexões - acessos e
espaço terciário.
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
250
E4 - REFERENCIAS
A1 - CONTRAPARTIDAS
USO X VALOR
O projeto de revitalização da
área do projeto utiliza referenciais
histórico de valor urbanístico. A
possibilidade de revitalização da
área histórica ligada ao cais foi
utilizada como identidade urbana,
e provavelmente agrega valor ao
uso do solo .
Os espaços de uso público que
apresentam algum tipo de relação
com os referenciais históricos, se
tornam potencialmente mis valo-
rizados, se agora podem contar
com um percurso de chegada
mais atrativo.
E4 - REFERENCIAS
A2 - CONTRAPARTIDAS SOCIAIS
Do ponto de vista dos referen-
ciais, em relação às contraparti-
das sociais, o processo partici-
pativo e de auxílio às populações
de mais baixa renda no entorno
são contemplados pelo projeto, e
os referenciais históricos e urba-
nísticos são catalisadores de um
processo de valorização da área,
mas contribuem indiretamente
com a geração de contrapartidas
sociais - agregado aos espaços
terciários, ambos (referenciais
e espaço terciário) possibilitam
a geração de contrapartidas so-
ciais
AVALIAÇÃO DE PROJETOS URBANÍSTICOS REALIZADOS
CAPÍTULO 4
251
E4 - REFERENCIAS
A1 - CONTRAPARTIDAS
CULTURAIS
Os referenciais históricos da área
do projeto agregam valor aos
usos culturais de maneira direta.
Na área do projeto, os referen-
ciais históricos são em maioria
edifícios, e estão localizados em
meio ao espaço de uso público.
Um conjunto de obras referenciais
arquitetônicas foram agregadas
ao local, reforçando o valor local
não apenas como referencil his-
tórico, mas como referencial tec-
nolólogco referencial para toda a
região.
E4 - REFERENCIAS
A2 - CONTRAPARTIDAS
AMBIENTAIS
Do ponto de vista dos referen-
ciais, em relação às contrapar-
tidas ambientais, a lógica do
processo participativo de trocas
ambientais ocorre de uma ma-
neira muito semelhante à das
contrapartidas sociais: existe um
real benefício do entorno com a
instalação do empreendimento,
pela própria existência de alguns
recussos naturais característicos
da área ( como o contado com a
água). Também existe o benefício
do retorno aos recursos naturais
que são preservados. As referên-
cias em si contribuem para agera-
ção de contrapartidas de maneira
indireta, associadas aos outros
elementos estruturais.
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
252
E5 - TRANSPORTE DE MASSAS
A1 - CONTRAPARTIDAS
USO X VALOR
O transporte de massas de boa
qualidade e acessível, quando
existe essa preocupação dos
governantes, é em si catalisador
de relações positivas à todos os
usos associados aos elementos
estruturais.
É importante considerar que o
transporte de massas possibilitou
que os usos passassem por essa
grande transformação que atribu-
íram uma nova escala de impor-
tância ao local do projeto.
E5 - TRANSPORTE DE MASSAS
A2 - CONTRAPARTIDAS SOCIAIS
Do ponto de vista dos transpor-
tes em de massas em relação as
contrapartidas sociais, essa rela-
ção é muito bem explorada, no
local do projeto.
O transporte de massas quali ca-
do com o potencial de visitação
que o novo projeto gerou, provo-
cou um rápido desenvolvimento
do entorno, que bene ciou as
contrapartidas sociais.
AVALIAÇÃO DE PROJETOS URBANÍSTICOS REALIZADOS
CAPÍTULO 4
253
E5 - TRANSPORTE DE MASSAS
A3 - CONTRAPARTIDAS
CULTURAIS
A relação que existe entre o
transportes em de massas e as
contrapartidas culturais, no local
do projeto, é direta.
Assim como no processo de ge-
ração de contrapartidas sociais, o
transporte de massas quali cado
com o potencial de visitação que
o local, provocou um rápido de-
senvolvimento do entorno, que
bene ciou as contrapartidas cul-
turais.
E5 - TRANSPORTE DE MASSAS
A4 - CONTRAPARTIDAS
AMBIENTAIS
Do ponto de vista dos transpor-
tes de massas, em relação às
contrapartidas ambientais, a ló-
gica do processo participativo
de trocas ambientais ocorre de
uma maneira muito semelhante à
das contrapartidas sociais: exis-
tiu um real benefício do entorno
com a instalação do projeto, e o
transporte de massas é um ele-
mento que, mesmo atuando sem
conexão com outros elementos
estruturais, potencializa ao me-
nos minimamente, a geração de
contrapartidas ambientais de ma-
neira indireta.
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
254
E6 - INSTITUCIONALIDADES
AD-HOC
A1 - CONTRAPARTIDAS
USO X VALOR
O projeto foi criado para ser es-
paço de encontro de pessoas, em
eventos de várias escalas, for-
mais e informais, para o cidadão
que visita e reside em outro país,
e para o cidadão local, que está
na quadra ao lado.
Esse movimento faz local do pro-
jeto e do entorno direto espaço
valorizados, e com bom potencial
de liquidez, o que facilita a gera-
ção de contrapartidas - recursos
para serem aplicados em espa-
ços de uso público, acessos, em
projetos sociais, culturais e am-
bientais.
E6 - INSTITUCIONALIDADES
AD-HOC
A2 - CONTRAPARTIDAS SOCIAIS
A área do projeto não apenas
contém espaços que potenciali-
zam o encontro de pessoas, mas
também se bene cia desses en-
contros, e permite que a popula-
ção local se bene cia das contra-
partidas desses encontros
Os eventos realizados no parque
- onde existem espaços que com-
portam vários tipos de encontros
- podem movimentarww recursos
que são re-aplicados em iniciativa
sociais locais.
AVALIAÇÃO DE PROJETOS URBANÍSTICOS REALIZADOS
CAPÍTULO 4
255
E6 - INSTITUCIONALIDADES
AD-HOC
A3 - CONTRAPARTIDAS
CULTURAIS
Do ponto de vista da relação entre
as iinstitucionalidades ad-hoc e as
contrapartidas culturais, é possí-
vel perceber que a boa mobilidade
característica da relação entre os
elementos urbanísticos estruturais,
permite que os espaços e que as
institucionalidades ad-hoc ocorrem,
são espaços geradores de recur-
sos que são, assim como descrito
para as contrapartidas sociais, apli-
cados em cultura - em edifícios que
onde se produz, divulga e promove
a cultura, e no espaço estruturais,
de uso público, como nos acessos
onde existem obras de arte e refe-
rências urbanas.
E6 - INSTITUCIONALIDADES
AD-HOC
A4 - CONTRAPARTIDAS
AMBIENTAIS
Da mesma maneira que as con-
trapartidas sociais e culturais, os
espaços destinados à regenera-
ção de recursos ambientais está
relacionado ao uso de equipa-
mentos para o encontro de pes-
soas.
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
256
AVALIAÇÃO DE PROJETOS URBANÍSTICOS REALIZADOS
CAPÍTULO 4
257
PROJETOS REFERENCIAIS
PROJETO 05 - SHELI PAGODA
LOCAL: SHELI, CHINA
REALIZAÇÃO - 2003
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
258
E1 - CONEXÕES
A1 - CONTRAPARTIDAS
USO X VALOR
O Pagode Sheli é um monumento
antigo chinês, que foi construído
em homenagem ao dragão. Essa
área de intervenção é peculiar
por apresetar elementos históri-
cos e ambientais raros. O projeto
interage de uma maneira delica-
da com essas duas relações, tra-
zendo o comércio para áreas já
movimentadas.
O projeto todo se estrutura a par-
tir de um elemento conector. Esse
elemento se situa acima do co-
mércio (aproveitando a área livre
das testeiras das lojas) e distribui
o uxo para os edifícios residen-
ciais. A conexão desempenha pa-
pel catalisador nesse projeto.
E1 - CONEXÕES
A2 - CONTRAPARTIDAS SOCIAIS
No projeto da área as conexões
não elementos que potencializam
o melhoras nas áreas de interes-
se social lindeiras.
As conexões, nesse projeto, vi-
sam intergrar espaços públicos;
estão muito mais associadas às
áreas culturais ou relacionadas à
universidade.
Nesse caso, as conexões cons-
tituem elementos catalíticos de
fortes melhoras da integração
social.
AVALIAÇÃO DE PROJETOS URBANÍSTICOS REALIZADOS
CAPÍTULO 4
259
E1 - CONEXÕES
A3 - CONTRAPARTIDAS
CULTURAIS
Estratégias culturais foram in-
terligadas com o esse elemento
conectaor, como a criação de es-
paços de convivência e passeio,
com edifícios culturais e institu-
cionais (como escolas, museus)
A grande procupação foi asso-
ciarmos as áreas de contato com
a água - tornando mais amplos os
canais de irrigação já existentes
- os equipamentos e espaços de
convivência., de uma forma que
o o uso misto é, nesse projeto,
o elemento potencializados de
certas relações culturais de inte-
gração dos agricultores no “meio
ambiente urbano”.
E1 - CONEXÕES
A4 - CONTRAPARTIDAS
AMBIENTAIS
As contrapartidas ambientais,
nesse projeto, são particularmen-
te valorizadas, uma vez que é
o próprio recurso ambiental - a
água utilizada no plantio - o prin-
cipal fator que poderia associar
identidade física local.com as re-
lações culturais que as pessoas
estabelecem com o rio.
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
260
E2 - ACESSOS
A1 - CONTRAPARTIDAS
USO X VALOR
Com a possibilidade de se co-
nectar a área com um importan-
te vetor comercial com demais
centralidades do entorno foi pos-
sível criar uma lógica catalisante
de edifícos. Foi criado assim um
elemento conector de comércio e
serviços, que alimetam e trazem
movimento ao acesso, que pode
ser um grande parque, com re-
servatório para contenção das
águas de cheias do Rio Yangstsé,
e com lazer associado ao espaço
multi-uso.
Dessa forma, esse acesso nevrál-
gico, que alimenta e é alimentado
pela rede de edifícios comerciais
na demais quadras, tem a possi-
bilidade de atuar como catalisa-
dor das funcões de vivência que
atribuem valor ao espaço urbano
E2 - ACESSOS
A2 - CONTRAPARTIDAS SOCIAIS
Construídos de forma a valorizar
a escala do pedestre, os acessos
trazem melhor movimento de usu-
ários para a área. Diferentemente
do caso da Bicocca, os acessos
nesse projeto são conectados à
espaços comerciais, e dessa for-
ma, geram a possibilidade de con-
trapartidas sociais para a área.
Esse recurso geradoa partir do
comércio dos acessos do parque
é reaplicado em programas de
melhoria das áreas ao redor do
local.
AVALIAÇÃO DE PROJETOS URBANÍSTICOS REALIZADOS
CAPÍTULO 4
261
E2 - ACESSOS
A3 - CONTRAPARTIDAS
CULTURAIS
O mesmo aspecto temático de-
senvolvido nas conexões do
projeto. faz com que os acessos
sejam espaços de expressão
da identidade cultural, que é re-
presentada em elementos da
paisagem do parque. As cone-
xões, constituem elementos que
ressaltama força do conjunto de
estruturas leves e elegantes na
paisagem.
Essa intenção de criar novos ele-
mentos para marcar a identidade
do cais contribuiu para a valori-
zação do espaço que estava de-
cadente, e do entorno próximo è
este.
E2 - ACESSOS
A4 - CONTRAPARTIDAS
AMBIENTAIS
Os acesos, mais ainda do que as
conexões, são geradores de con-
trapartidas ambientais,
Existem programas de tratamento
de água, de recuperação de ve-
getação e de animais, alguns dos
quais, em visitação nos acessos.
Existem formas de utllizar os
acessos para a instalação de pro-
gramas de educação ambiental
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
262
E3 - ESPAÇO TERCIÁRIIO
A1 - CONTRAPARTIDAS
USO X VALOR
Diferentemente da Bicocca, o es-
paço de uso público que permeia
o espaço terciário, nesse projeto,
tem grande riqueza paisagística e
constitui bom aglutinador de es-
paços locais de convivência.
Dessa forma, o espaço terciário
contribui com melhora do uso do
solo não apenas da área de inter-
venção, mas das centralidades
próximas ao cais, que era ante-
riormente muito deteriorada.
E3 - ESPAÇO TERCIÁRIO
A2 - CONTRAPARTIDAS SOCIAIS
A revitalização da área do trouxe
vários equipamentos socais para
a área.
Foram também implantados,
como contrapartida, vários pro-
gramas de habitação que melho-
rou qualidade de vida da popu-
lação local, com recursos pagos
como contrapartida da instalação
do parque.
Dessa maneira, o espaço terciá-
rio é catalisador de melhorias so-
ciais através das contrapartidas
que gera.
AVALIAÇÃO DE PROJETOS URBANÍSTICOS REALIZADOS
CAPÍTULO 4
263
E3 - ESPAÇO TERCIÁRIO
A3 - CONTRAPARTIDAS
CULTURAIS
Na área do projeto existem vários
edifícios de caráter cultural, que
são utilizados por visitantes, e pela
população local.
Esses edifícios têm forte identidade
com o tema da cultura local
Com relação à cultura local, a área
urbana incorporada ao cais revitali-
zado recebeu equipamentos cultu-
rais para a população local, man-
tidos a partir der ecursos gerados
pelo projeto
E3 - ESPAÇO TERCIÁRIO
A4 - CONTRAPARTIDAS
AMBIENTAIS
O espaço terciário, no, é o gran-
de gerador das contrapartidas
ambientais, em conjunto com as
conexões, e interligados com os
acessos.
Existe, nesse projeto, um funcio-
namento em rede dos elementos
estruturais conexões - acessos e
espaço terciário.
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
264
E4 - REFERENCIAS
A1 - CONTRAPARTIDAS
USO X VALOR
O projeto de revitalização da
área do projeto utiliza referenciais
histórico de valor urbanístico. A
possibilidade de revitalização da
área histórica ligada ao cais foi
utilizada como identidade urbana,
e provavelmente agrega valor ao
uso do solo .
Os espaços de uso público que
apresentam algum tipo de relação
com os referenciais históricos, se
tornam potencialmente mis valo-
rizados, se agora podem contar
com um percurso de chegada
mais atrativo.
E4 - REFERENCIAS
A2 - CONTRAPARTIDAS SOCIAIS
Do ponto de vista dos referen-
ciais, em relação às contraparti-
das sociais, o processo partici-
pativo e de auxílio às populações
de mais baixa renda no entorno
são contemplados pelo projeto, e
os referenciais históricos e urba-
nísticos são catalisadores de um
processo de valorização da área,
mas contribuem indiretamente
com a geração de contrapartidas
sociais - agregado aos espaços
terciários, ambos (referenciais
e espaço terciário) possibilitam
a geração de contrapartidas so-
ciais
AVALIAÇÃO DE PROJETOS URBANÍSTICOS REALIZADOS
CAPÍTULO 4
265
E4 - REFERENCIAS
A1 - CONTRAPARTIDAS
CULTURAIS
Os referenciais históricos da área
do projeto agregam valor aos
usos culturais de maneira direta.
Na área do projeto, os referen-
ciais históricos são em maioria
edifícios, e estão localizados em
meio ao espaço de uso público.
Um conjunto de obras referenciais
arquitetônicas foram agregadas
ao local, reforçando o valor local
não apenas como referencil his-
tórico, mas como referencial tec-
nolólogco referencial para toda a
região.
E4 - REFERENCIAS
A2 - CONTRAPARTIDAS
AMBIENTAIS
Do ponto de vista dos referen-
ciais, em relação às contrapar-
tidas ambientais, a lógica do
processo participativo de trocas
ambientais ocorre de uma ma-
neira muito semelhante à das
contrapartidas sociais: existe um
real benefício do entorno com a
instalação do empreendimento,
pela própria existência de alguns
recussos naturais característicos
da área ( como o contado com a
água). Também existe o benefício
do retorno aos recursos naturais
que são preservados. As referên-
cias em si contribuem para agera-
ção de contrapartidas de maneira
indireta, associadas aos outros
elementos estruturais.
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
266
E5 - TRANSPORTE DE MASSAS
A1 - CONTRAPARTIDAS
USO X VALOR
O transporte de massas de boa
qualidade e acessível, quando
existe essa preocupação dos
governantes, é em si catalisador
de relações positivas à todos os
usos associados aos elementos
estruturais.
É importante considerar que o
transporte de massas possibilitou
que os usos passassem por essa
grande transformação que atribu-
íram uma nova escala de impor-
tância ao local do projeto.
E5 - TRANSPORTE DE MASSAS
A2 - CONTRAPARTIDAS SOCIAIS
Do ponto de vista dos transpor-
tes em de massas em relação as
contrapartidas sociais, essa rela-
ção é muito bem explorada, no
local do projeto.
O transporte de massas quali ca-
do com o potencial de visitação
que o novo projeto gerou, provo-
cou um rápido desenvolvimento
do entorno, que bene ciou as
contrapartidas sociais.
AVALIAÇÃO DE PROJETOS URBANÍSTICOS REALIZADOS
CAPÍTULO 4
267
E5 - TRANSPORTE DE MASSAS
A3 - CONTRAPARTIDAS
CULTURAIS
A relação que existe entre o
transportes em de massas e as
contrapartidas culturais, no local
do projeto, é direta.
Assim como no processo de ge-
ração de contrapartidas sociais, o
transporte de massas quali cado
com o potencial de visitação que
o local, provocou um rápido de-
senvolvimento do entorno, que
bene ciou as contrapartidas cul-
turais.
E5 - TRANSPORTE DE MASSAS
A4 - CONTRAPARTIDAS
AMBIENTAIS
Do ponto de vista dos transpor-
tes de massas, em relação às
contrapartidas ambientais, a ló-
gica do processo participativo
de trocas ambientais ocorre de
uma maneira muito semelhante à
das contrapartidas sociais: exis-
tiu um real benefício do entorno
com a instalação do projeto, e o
transporte de massas é um ele-
mento que, mesmo atuando sem
conexão com outros elementos
estruturais, potencializa ao me-
nos minimamente, a geração de
contrapartidas ambientais de ma-
neira indireta.
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
268
E6 - INSTITUCIONALIDADES
AD-HOC
A1 - CONTRAPARTIDAS
USO X VALOR
O projeto foi criado para ser es-
paço de encontro de pessoas, em
eventos de várias escalas, for-
mais e informais, para o cidadão
que visita e reside em outro país,
e para o cidadão local, que está
na quadra ao lado.
Esse movimento faz local do pro-
jeto e do entorno direto espaço
valorizados, e com bom potencial
de liquidez, o que facilita a gera-
ção de contrapartidas - recursos
para serem aplicados em espa-
ços de uso público, acessos, em
projetos sociais, culturais e am-
bientais.
E6 - INSTITUCIONALIDADES
AD-HOC
A2 - CONTRAPARTIDAS SOCIAIS
A área do projeto não apenas
contém espaços que potenciali-
zam o encontro de pessoas, mas
também se bene cia desses en-
contros, e permite que a popula-
ção local se bene cia das contra-
partidas desses encontros
Os eventos realizados no parque
- onde existem espaços que com-
portam vários tipos de encontros
- podem movimentarww recursos
que são re-aplicados em iniciativa
sociais locais.
AVALIAÇÃO DE PROJETOS URBANÍSTICOS REALIZADOS
CAPÍTULO 4
269
E6 - INSTITUCIONALIDADES
AD-HOC
A3 - CONTRAPARTIDAS
CULTURAIS
Do ponto de vista da relação entre
as iinstitucionalidades ad-hoc e as
contrapartidas culturais, é possí-
vel perceber que a boa mobilidade
característica da relação entre os
elementos urbanísticos estruturais,
permite que os espaços e que as
institucionalidades ad-hoc ocorrem,
são espaços geradores de recur-
sos que são, assim como descrito
para as contrapartidas sociais, apli-
cados em cultura - em edifícios que
onde se produz, divulga e promove
a cultura, e no espaço estruturais,
de uso público, como nos acessos
onde existem obras de arte e refe-
rências urbanas.
E6 - INSTITUCIONALIDADES
AD-HOC
A4 - CONTRAPARTIDAS
AMBIENTAIS
Da mesma maneira que as con-
trapartidas sociais e culturais, os
espaços destinados à regenera-
ção de recursos ambientais está
relacionado ao uso de equipa-
mentos para o encontro de pes-
soas.
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
270
AVALIAÇÃO DE PROJETOS URBANÍSTICOS REALIZADOS
CAPÍTULO 4
271
PROJETOS REFERENCIAIS
PROJETO 06 - NOVO BAIRRO EM SÃO PAULO
LOCAL: SÃO PAULO, BRASIL
REALIZAÇÃO - 2004
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
272
E1 - CONEXÕES
A2 - CONTRAPARTIDAS SOCIAIS
No projeto da área as conexões
não elementos que potencializam
o melhoras nas áreas de interes-
se social lindeiras.
As conexões, nesse projeto, vi-
sam intergrar espaços públicos;
estão muito mais associadas às
áreas culturais ou relacionadas à
universidade.
Nesse caso, as conexões cons-
tituem elementos catalíticos de
fortes melhoras da integração
social.
E1 - CONEXÕES
A1 - CONTRAPARTIDAS
USO X VALOR
No projeto do Novo Bairro, as co-
nexões constituíram elementos
principais para agregar mobilida-
de à um centro urbano que esta-
va em rápido processo de vertica-
lização segregante. Em adição,
existem várias áreas do exército
que fragmentam a área.
As conexões, associadas ao
espaço terciário, permitiram a
criação de um estacionamento
abaixo das vias, o que liberou a
terra para atividades ocorram em
lugares permeáveis. Foi possível
associar à essas áreas atividades
de lazer e outros usos estruturais,
como áreas de institucionalida-
des ad-hoc.
AVALIAÇÃO DE PROJETOS URBANÍSTICOS REALIZADOS
CAPÍTULO 4
273
E1 - CONEXÕES
A3 - CONTRAPARTIDAS
CULTURAIS
Estratégias culturais foram in-
terligadas com o esse elemento
conectaor, como a criação de es-
paços de convivência e passeio,
com edifícios culturais e institu-
cionais (como escolas, museus)
A grande procupação foi asso-
ciarmos as áreas de contato com
a água - tornando mais amplos os
canais de irrigação já existentes
- os equipamentos e espaços de
convivência., de uma forma que
o o uso misto é, nesse projeto,
o elemento potencializados de
certas relações culturais de inte-
gração dos agricultores no “meio
ambiente urbano”.
E1 - CONEXÕES
A4 - CONTRAPARTIDAS
AMBIENTAIS
As contrapartidas ambientais,
nesse projeto, são particularmen-
te valorizadas, uma vez que é
o próprio recurso ambiental - a
água utilizada no plantio - o prin-
cipal fator que poderia associar
identidade física local.com as re-
lações culturais que as pessoas
estabelecem com o rio.
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
274
E2 - ACESSOS
A1 - CONTRAPARTIDAS
USO X VALOR
Com a possibilidade de se co-
nectar a área com um importan-
te vetor comercial com demais
centralidades do entorno foi pos-
sível criar uma lógica catalisante
de edifícos. Foi criado assim um
elemento conector de comércio e
serviços, que alimetam e trazem
movimento ao acesso, que pode
ser um grande parque, com re-
servatório para contenção das
águas de cheias do Rio Yangstsé,
e com lazer associado ao espaço
multi-uso.
Dessa forma, esse acesso nevrál-
gico, que alimenta e é alimentado
pela rede de edifícios comerciais
na demais quadras, tem a possi-
bilidade de atuar como catalisa-
dor das funcões de vivência que
atribuem valor ao espaço urbano
E2 - ACESSOS
A2 - CONTRAPARTIDAS SOCIAIS
Construídos de forma a valorizar
a escala do pedestre, os acessos
trazem melhor movimento de usu-
ários para a área. Diferentemente
do caso da Bicocca, os acessos
nesse projeto são conectados à
espaços comerciais, e dessa for-
ma, geram a possibilidade de con-
trapartidas sociais para a área.
Esse recurso geradoa partir do
comércio dos acessos do parque
é reaplicado em programas de
melhoria das áreas ao redor do
local.
AVALIAÇÃO DE PROJETOS URBANÍSTICOS REALIZADOS
CAPÍTULO 4
275
E2 - ACESSOS
A3 - CONTRAPARTIDAS
CULTURAIS
O mesmo aspecto temático de-
senvolvido nas conexões do
projeto. faz com que os acessos
sejam espaços de expressão
da identidade cultural, que é re-
presentada em elementos da
paisagem do parque. As cone-
xões, constituem elementos que
ressaltama força do conjunto de
estruturas leves e elegantes na
paisagem.
Essa intenção de criar novos ele-
mentos para marcar a identidade
do cais contribuiu para a valori-
zação do espaço que estava de-
cadente, e do entorno próximo è
este.
E2 - ACESSOS
A4 - CONTRAPARTIDAS
AMBIENTAIS
Os acesos, mais ainda do que as
conexões, são geradores de con-
trapartidas ambientais,
Existem programas de tratamento
de água, de recuperação de ve-
getação e de animais, alguns dos
quais, em visitação nos acessos.
Existem formas de utllizar os
acessos para a instalação de pro-
gramas de educação ambiental
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
276
E3 - ESPAÇO TERCIÁRIIO
A1 - CONTRAPARTIDAS
USO X VALOR
Diferentemente da Bicocca, o es-
paço de uso público que permeia
o espaço terciário, nesse projeto,
tem grande riqueza paisagística e
constitui bom aglutinador de es-
paços locais de convivência.
Dessa forma, o espaço terciário
contribui com melhora do uso do
solo não apenas da área de inter-
venção, mas das centralidades
próximas ao cais, que era ante-
riormente muito deteriorada.
E3 - ESPAÇO TERCIÁRIO
A2 - CONTRAPARTIDAS SOCIAIS
A revitalização da área do trouxe
vários equipamentos socais para
a área.
Foram também implantados,
como contrapartida, vários pro-
gramas de habitação que melho-
rou qualidade de vida da popu-
lação local, com recursos pagos
como contrapartida da instalação
do parque.
Dessa maneira, o espaço terciá-
rio é catalisador de melhorias so-
ciais através das contrapartidas
que gera.
AVALIAÇÃO DE PROJETOS URBANÍSTICOS REALIZADOS
CAPÍTULO 4
277
E3 - ESPAÇO TERCIÁRIO
A3 - CONTRAPARTIDAS
CULTURAIS
Na área do projeto existem vários
edifícios de caráter cultural, que
são utilizados por visitantes, e pela
população local.
Esses edifícios têm forte identidade
com o tema da cultura local
Com relação à cultura local, a área
urbana incorporada ao cais revitali-
zado recebeu equipamentos cultu-
rais para a população local, man-
tidos a partir der ecursos gerados
pelo projeto
E3 - ESPAÇO TERCIÁRIO
A4 - CONTRAPARTIDAS
AMBIENTAIS
O espaço terciário, no, é o gran-
de gerador das contrapartidas
ambientais, em conjunto com as
conexões, e interligados com os
acessos.
Existe, nesse projeto, um funcio-
namento em rede dos elementos
estruturais conexões - acessos e
espaço terciário.
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
278
E4 - REFERENCIAS
A1 - CONTRAPARTIDAS
USO X VALOR
O projeto de revitalização da
área do projeto utiliza referenciais
histórico de valor urbanístico. A
possibilidade de revitalização da
área histórica ligada ao cais foi
utilizada como identidade urbana,
e provavelmente agrega valor ao
uso do solo .
Os espaços de uso público que
apresentam algum tipo de relação
com os referenciais históricos, se
tornam potencialmente mis valo-
rizados, se agora podem contar
com um percurso de chegada
mais atrativo.
E4 - REFERENCIAS
A2 - CONTRAPARTIDAS SOCIAIS
Do ponto de vista dos referen-
ciais, em relação às contraparti-
das sociais, o processo partici-
pativo e de auxílio às populações
de mais baixa renda no entorno
são contemplados pelo projeto, e
os referenciais históricos e urba-
nísticos são catalisadores de um
processo de valorização da área,
mas contribuem indiretamente
com a geração de contrapartidas
sociais - agregado aos espaços
terciários, ambos (referenciais
e espaço terciário) possibilitam
a geração de contrapartidas so-
ciais
AVALIAÇÃO DE PROJETOS URBANÍSTICOS REALIZADOS
CAPÍTULO 4
279
E4 - REFERENCIAS
A1 - CONTRAPARTIDAS
CULTURAIS
Os referenciais históricos da área
do projeto agregam valor aos
usos culturais de maneira direta.
Na área do projeto, os referen-
ciais históricos são em maioria
edifícios, e estão localizados em
meio ao espaço de uso público.
Um conjunto de obras referenciais
arquitetônicas foram agregadas
ao local, reforçando o valor local
não apenas como referencil his-
tórico, mas como referencial tec-
nolólogco referencial para toda a
região.
E4 - REFERENCIAS
A2 - CONTRAPARTIDAS
AMBIENTAIS
Do ponto de vista dos referen-
ciais, em relação às contrapar-
tidas ambientais, a lógica do
processo participativo de trocas
ambientais ocorre de uma ma-
neira muito semelhante à das
contrapartidas sociais: existe um
real benefício do entorno com a
instalação do empreendimento,
pela própria existência de alguns
recussos naturais característicos
da área ( como o contado com a
água). Também existe o benefício
do retorno aos recursos naturais
que são preservados. As referên-
cias em si contribuem para agera-
ção de contrapartidas de maneira
indireta, associadas aos outros
elementos estruturais.
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
280
E5 - TRANSPORTE DE MASSAS
A1 - CONTRAPARTIDAS
USO X VALOR
O transporte de massas de boa
qualidade e acessível, quando
existe essa preocupação dos
governantes, é em si catalisador
de relações positivas à todos os
usos associados aos elementos
estruturais.
É importante considerar que o
transporte de massas possibilitou
que os usos passassem por essa
grande transformação que atribu-
íram uma nova escala de impor-
tância ao local do projeto.
E5 - TRANSPORTE DE MASSAS
A2 - CONTRAPARTIDAS SOCIAIS
Do ponto de vista dos transpor-
tes em de massas em relação as
contrapartidas sociais, essa rela-
ção é muito bem explorada, no
local do projeto.
O transporte de massas quali ca-
do com o potencial de visitação
que o novo projeto gerou, provo-
cou um rápido desenvolvimento
do entorno, que bene ciou as
contrapartidas sociais.
AVALIAÇÃO DE PROJETOS URBANÍSTICOS REALIZADOS
CAPÍTULO 4
281
E5 - TRANSPORTE DE MASSAS
A3 - CONTRAPARTIDAS
CULTURAIS
A relação que existe entre o
transportes em de massas e as
contrapartidas culturais, no local
do projeto, é direta.
Assim como no processo de ge-
ração de contrapartidas sociais, o
transporte de massas quali cado
com o potencial de visitação que
o local, provocou um rápido de-
senvolvimento do entorno, que
bene ciou as contrapartidas cul-
turais.
E5 - TRANSPORTE DE MASSAS
A4 - CONTRAPARTIDAS
AMBIENTAIS
Do ponto de vista dos transpor-
tes de massas, em relação às
contrapartidas ambientais, a ló-
gica do processo participativo
de trocas ambientais ocorre de
uma maneira muito semelhante à
das contrapartidas sociais: exis-
tiu um real benefício do entorno
com a instalação do projeto, e o
transporte de massas é um ele-
mento que, mesmo atuando sem
conexão com outros elementos
estruturais, potencializa ao me-
nos minimamente, a geração de
contrapartidas ambientais de ma-
neira indireta.
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
282
E6 - INSTITUCIONALIDADES
AD-HOC
A1 - CONTRAPARTIDAS
USO X VALOR
O projeto foi criado para ser es-
paço de encontro de pessoas, em
eventos de várias escalas, for-
mais e informais, para o cidadão
que visita e reside em outro país,
e para o cidadão local, que está
na quadra ao lado.
Esse movimento faz local do pro-
jeto e do entorno direto espaço
valorizados, e com bom potencial
de liquidez, o que facilita a gera-
ção de contrapartidas - recursos
para serem aplicados em espa-
ços de uso público, acessos, em
projetos sociais, culturais e am-
bientais.
E6 - INSTITUCIONALIDADES
AD-HOC
A2 - CONTRAPARTIDAS SOCIAIS
A área do projeto não apenas
contém espaços que potenciali-
zam o encontro de pessoas, mas
também se bene cia desses en-
contros, e permite que a popula-
ção local se bene cia das contra-
partidas desses encontros
Os eventos realizados no parque
- onde existem espaços que com-
portam vários tipos de encontros
- podem movimentarww recursos
que são re-aplicados em iniciativa
sociais locais.
AVALIAÇÃO DE PROJETOS URBANÍSTICOS REALIZADOS
CAPÍTULO 4
283
E6 - INSTITUCIONALIDADES
AD-HOC
A3 - CONTRAPARTIDAS
CULTURAIS
Do ponto de vista da relação entre
as iinstitucionalidades ad-hoc e as
contrapartidas culturais, é possí-
vel perceber que a boa mobilidade
característica da relação entre os
elementos urbanísticos estruturais,
permite que os espaços e que as
institucionalidades ad-hoc ocorrem,
são espaços geradores de recur-
sos que são, assim como descrito
para as contrapartidas sociais, apli-
cados em cultura - em edifícios que
onde se produz, divulga e promove
a cultura, e no espaço estruturais,
de uso público, como nos acessos
onde existem obras de arte e refe-
rências urbanas.
E6 - INSTITUCIONALIDADES
AD-HOC
A4 - CONTRAPARTIDAS
AMBIENTAIS
Da mesma maneira que as con-
trapartidas sociais e culturais, os
espaços destinados à regenera-
ção de recursos ambientais está
relacionado ao uso de equipa-
mentos para o encontro de pes-
soas.
284
285
CONCLUSÃO
Quando iniciamos a pesquisa que resultou no desenvolvimento dessa tese, ainda não era possível imagi-
nar o tema das redes como parte tão fundamental dessa pesquisa. Partimos do interesse pelas matrizes
que estruturam o espaço urbano, e aos poucos, começamos a perceber que estávamos investigando
muito mais as matrizes que exibilizam o espaço urbano. Começamos identi car, através da análise pa-
radigmática da trama urbana, que as redes sempre existiram como estratégias de retomada de vínculos
entre as pessoas, quando a trama urbana se tornava excessivamente rígida.
Veri camos que desde a antiguidade, a rede normalmente surge de maneira informal, estabelecendo
novas relações estratégicas que muitas vezes representam falhas dos paradigmas vigentes, como a rede
do Imperador Constantino de Roma, que permitiu a prosperidade do comércio com a transferência do im-
pério no oriente como uma estratégia à rigidez territorial de Roma; e posteriormente, a rede barroca, que
surgiu como estratégia ao espaço sicista; a rede funcionalista, que surgiu como estratégia ao paradigma
racionalista de evolução territorial, e a rede complexa, que surgiu como resposta à visão reducionista da
capacidade de adaptação do espaço às necessidades das pessoas, e passou a abordar uma visão estru-
tural-generativa do espaço urbano, aberto cada vez mais às opiniões dos usuários. E foi a partir das inves-
tigações sobre novas formas de interação entre os usuários, que tivemos acesso ao conceito de redes de
relações interpessoais.
Constatamos que após no paradigma moderno, a rede urbana foi considerada rede de infra-estruturas,
desassociada da complexidade resultante de usos do entorno. Mas a consciência de que a rede que causa
impactos e deteriora o meio, recebe de volta impactos que podem inviabilizar os uxos da própria rede
286
levou os teóricos das redes urbanas à encontrarem formas de fazer com que as redes estabelecessem
relações ecológicas com as áreas com as quais estabelece relações. O paradigma complexo contri-
buiu para uma mudança signi cativa no conceito de rede, urbana, que hoje compreende não apenas
os uxos urbanos, e nem apenas o uso do solo, mas as relações complexas que a evolução dos uxos
desempenham aos usos, assim como as relações que a mudança de usos causam nos uxos, de ma-
neira simbiótica.
Com a contribuição da visão competitiva e de outras áreas do conhecimento, foi possível veri carmos
contribuições de outras áreas do conhecimento sobre redes urbanas estruturadas a partir da mobilida-
de dos indivíduos. A experiência da visão competitiva, atribuída ao espaço urbano, demonstrou que a
capacidade de exibilização das estruturas urbanas permite uma mais rápida adaptação funcional dos
usos que se associam aos elementos de uxo. Assim, a contribuição de outras áreas do conhecimento
à teoria das redes começou a nos transmitir a sensação de que talvez precisássemos buscar relações
de exibilidade (e talvez não apenas estruturais) da trama urbana, que incentivassem o convívio e as
relações humanas no ambiente construído.
Concluímos, através do desenvolvimento dessa tese, que a complexidade das redes exige a criação de
uma linguagem que permita uma primeira aproximação do projeto urbanístico a um código de relações
em rede. Nesse sentido, a metodologia criada durante esse processo de pesquisa representou um
código lingüístico simples, que por um lado respeita a complexidade das redes, e que por outro, nos
permitiu analisar certos vínculos fundamentais à evolução saudável dos espaços de uso público das re-
des urbanas, a partir das formas como se dá o conhecimento do espaço. Através dessa metodologia foi
possível, por exemplo, discriminar se nos vários aspectos estruturais, as redes preservam as relações
históricas e os referenciais pessoais que os usuários mantém com o espaço público. E nos permitiu
exempli car, através dos projetos analisados, quais soluções projetuais preservam esses vínculos, sob
a óptica dos diferentes elementos estruturais da rede.
Segundo nossa percepção sobre esse processo, a contribuição que essa metodologia traz para o pro-
jeto urbanístico está na criação de um sistema muito semelhante ao sistema binário do computador,
porque detecta elementos estruturais e associativos da rede urbana. Assim como a linguagem do com-
putador, que se processa a partir de um sistema binário (de aceitação ou não aceitação de relações),
a metodologia proposta nessa tese comprova a possibilidade de criação de um código original que
permita veri car se certas relações espaciais estimulam ou impedem determinados tipos de vínculos
humanos no espaço público. Permite veri car se o espaço estimula a convivência das pessoas, e se as
287
redes urbanas contribuem para o desenvolvimento de a nidades humanas com os mais diversos ns.
A metodologia desenvolvida durante essa pesquisa tem sido aplicada na prática pro ssional e também na
prática didática, e tem representado um meio de interação entre a prática do projeto urbanístico e a com-
plexidade do meio. Tenho aplicado essa metodologia com alunos de graduação, nos dois últimos anos,
principalmente nas disciplinas de Desenho Urbano e Projeto VII (que discutem a relação do espaço entre
edifícios), e na disciplina de TFG, e tenho constatado uma melhora signi cativa no processo de compreen-
são do problema: os alunos passaram a entender que o exercício de projeto não está em dividir o espaço
em territórios, mas em estabelecer relações vitais entre o objeto proposto e o meio.
Espera-se, assim, que esse trabalho possa ser utilizado de forma contundente, tanto por pro ssionais que
desenvolvem projetos urbanísticos, quanto por alunos que estão aprendendo a lidar com as redes com-
plexas do meio urbano; que nessa mesma linha de abordagem se desenvolvam outras contribuições para
o projeto urbanístico, que procurem preservar as qualidades humanas e os vínculos ambientais nos novos
espaços construídos. Esse é apenas um ponto de partida.
AS REDES NO PROJETO URBANÍSTICO
288
AVALIAÇÃO DE PROJETOS URBANÍSTICOS REALIZADOS
CAPÍTULO 4
289
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