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ROSANA FERNANDES DA SILVA
CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS FECHADOS EM GOIÂNIA.
UM CASO: PRIVÊ ATLÂNTICO.
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de
Pós-graduação em Sociologia, da Faculdade de Ciências
Humanas e Filosofia, da Universidade Federal de Goiás,
como parte dos requisitos para obtenção do título de
Mestre em Sociologia.
Goiânia
2003
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E FILOSOFIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SOCIOLOGIA
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: SOCIEDADE E REGIÃO
CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS FECHADOS EM GOIÂNIA.
UM CASO: PRIVÊ ATLÂNTICO.
Autora: Rosana Fernandes da Silva
Orientadora: Profª. Dra. Genilda D’arc Bernardes
Goiânia,
2003
2
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ROSANA FERNANDES DA SILVA
CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS FECHADOS EM GOIÂNIA.
UM CASO: PRIVÊ ATLÂNTICO.
Dissertação defendida e aprovada em 31 de Março de 2003, pela Banca Examinadora
constituída pelos professores:
______________________________________________
Profª. Dra. Genilda D’arc Bernardes
Presidente da Banca
______________________________________
Profª. Dra. Luciana Corrêa do Lago
IPPUR/UFRJ
______________________________________
Profº. Dr. Francisco Chagas Evangelista Rabelo
FCHF/ UFG
3
TRAVESSURA
(Oswaldo Montenegro)
Eu insisto em cantar
Diferente do que ouvi
Seja como for recomeçar
Nada mais, mais há de vir
Me disseram que sonhar
É ingênuo e daí
Nossa geração não quer sonhar
Pois que sonhe a que há de vir
Eu preciso é te provar
Que ainda sou o mesmo menino
Que não dorme a planejar travessuras
E fez o som da tua risada
Um hino!!!
4
Dedico este trabalho a minha mãe por seu amor
indescritível e pela batalhadora que sempre foi. A ela,
minha gratidão. Devo isso à senhora.
5
AGRADECIMENTOS
“Eu insisto em cantar, diferente do que ouvi”, na linda
letra da música Travessura de Oswaldo Montenegro está um
pouco de minha angústia. O “som” da música que ouvia era
sempre o mesmo e eu tentando cantar diferentemente. Ao sonhar
como uma criança tanta frustração encontrei: desânimo,
cansaço, falta de coragem. Por outro lado, a “ousadia” da
criança mostrava o encantamento do trabalho. O resultado foi
que chorei e sorri muito. Nesse sentido, o que parece ser uma
mera formalidade, se transforma num momento carregado de
grandes emoções.
Foram dois anos de muito trabalho. No meio do caminho
várias pedras. Isso me envolveu num turbilhão de sentimentos:
dor, mágoa, descoberta, paixões, encantamento. O tempo como
um elemento implacável fazendo com que o “sonho de menina”
desse lugar à objetividade e a disciplina no que era possível
realizar. E esse ideal de trabalho possível que sempre exigia
maturidade intelectual, autonomia e disciplina me faziam sentir
uma solidão enorme. Todavia, mesmo me sentindo muitas vezes
sozinha, sei que um trabalho dessa natureza jamais seria possível
dessa forma. Foram inúmeras as pessoas que comigo
contribuíram e quero aqui citá-las. Apesar das angústias e do
sentimento de solidão que comigo estiveram, Deus me abençoou
com pessoas maravilhosas, essas que, de perto ou de longe,
contribuíram nessa “viagem” rumo ao conhecimento.
Agradeço de forma muito carinhosa à minha querida
orientadora, professora Genilda D’arc Bernardes que com
brilhantismo me mostrou os caminhos possíveis e mais viáveis.
Ela que sempre me foi muito mais que uma orientadora, mas
sim uma amiga e confidente com quem tive o prazer de
6
trabalhar. Ela que sempre foi uma profissional competente,
sabendo estimular-me com elogios e críticas. Agradeço pelo
carinho, paciência e por acreditar em mim e no meu trabalho.
Seu entusiasmo me enchia de expectativas e mostrou-me uma
profissional acima de vaidades, característica tão usual na
Academia. Agradeço pelo respeito, pelo crédito e pela torcida
em relação à minha pessoa.
Quero agradecer também ao professor Francisco Chagas
Evangelista Rabelo, exemplo de profissional a quem tenho uma
enorme estima e consideração. À professora Luciana Corrêa do
Lago pela disposição em participar da Banca Examinadora e
pela atenção que manifestou quando dela necessitei.
Aos professores do Departamento de Ciências
Sociais, em especial às professoras Dalva Maria Borges Dias de
Souza, Maria Cristina Teixeira Machado e Nei Clara de Lima.
Aos professores Pedro Célio Alves e Carlos Marcos Batista,
esse último não mais na UFG. Os conhecimentos propiciados
por vocês valeram-me na realização desse trabalho.
À professora Lyz Elizabeth Amorim Melo Duarte. Sua
alegria, carinho e compreensão fazem de você uma profissional
muito especial.
Agradeço também aos funcionários do
Departamento de Ciências Sociais, a atenção, cuidado e respeito
com que me auxiliaram sempre que os solicitei. Aos
funcionários da Pós-Graduação Helena e especialmente ao
Valdeci, exemplo de simplicidade e solidariedade.
À minha turma de Mestrado, com quem pude solidificar
uma amizade, sobretudo com o Adailton, Isabel e Maria. Um
carinho e agradecimento especiais a Cleudes e Cristiane, essas
7
que, mais de perto dividiram comigo as angústias e frustrações.
Muito obrigada!
Aos meus entrevistados, moradores do Privê
Atlântico. Agradeço a paciência e a confiança em dividir comigo
confidências.
Ao pessoal da SEPLAM que me disponibilizaram dados
e informações cruciais para o trabalho. À equipe do DSE
(Departamento de Ordenação Sócio-Econômico) e DVSE
(Divisão de Estudos Sócio-Econômicos) na pessoa de Aristides
Moysés e sua equipe de trabalho. A Maria de Jesus no CEDOC
(Organização Jaime Câmara). Sua disposição e o material
disponibilizado foram decisivos na realização da pesquisa. A
Cleia, agradeço a simpatia e colaboração.
Meus agradecimentos à CAPES (Coordenação do
Pessoal de Nível Superior) pelo apoio financeiro que por um ano
me disponibilizou. O meu muito obrigada também à
Universidade Pública, essa que possibilitou ver meu sonho de
“me formar” realizado.
Um agradecimento aos amigos do SESC (Serviço Social
do Comércio), em especial a Mary-Nise e Lucimar. Vocês
sabem o quanto foram decisivas na realização e finalização
desse trabalho. Agradeço o carinho, a atenção, a torcida e a
disposição em me ajudar. Realizar uma Dissertação não é tarefa
fácil mas com a ajuda de vocês, o trabalho se tornou bem menos
árduo. Obrigada pelo carinho e solidariedade.
Aos amigos de sempre, aqueles que por anos
temos dividido sonhos e perspectivas: Tia Lázara, Aline,
Simone, Dona Elvira. A Marcos Teodoro, meu amigo
“missionário” e fiel entusiasta de sonhos. Obrigada pela
8
amizade. A Vitor Sávio, meu grande amigo com quem tenho
uma dívida de gratidão. Ao José Eduardo, agradeço a
solidariedade. Ao Luciano, agradeço a ajuda no computador.
Obrigada a vocês pela torcida e paciência em conviver com
quem está redigindo uma Dissertação.
Ao Cristiano, meu “coraçãozinho”, agradeço a
paciência, a torcida e o carinho. Obrigada Gatinho pela sua
atenção, amor e preocupação.
À minha família, estes que nem sempre compreenderam
a dimensão desse trabalho mas que torceram por mim. A minha
irmã Lúcia pela solidariedade.
A todos vocês o meu muito obrigada !!!!!!.
Goiânia, Domingo, 09 de fevereiro de 2003.
9
SUMÁRIO
LISTA DE QUADRO E TABELAS ---------------------------------------------------------11
LISTA DE ILUSTRAÇÕES ------------------------------------------------------------------ 12
RESUMO ----------------------------------------------------------------------------------------- 15
ABSTRACT -------------------------------------------------------------------------------------- 16
INTRODUÇÃO --------------------------------------------------------------------------------- 18
CAPÍTULO 01
O ESPAÇO SOCIAL DA METRÓPOLE GOIANA --------------------------------------------- 27
CAPÍTULO 02
O OBJETO NO ESPAÇO CONSTRUÍDO: GOIÂNIA E A REGIÃO SUDOESTE --------35
1.1 A expansão do espaço urbano de Goiânia: sua Região Sudoeste -------------------- 37
1.2 A regionalização de Goiânia -------------------------------------------------------------- 40
1.3 A atuação do empreendedor imobiliário ------------------------------------------------ 50
CAPÍTULO 03
CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS FECHADOS: A REALIDADE DE GOIÂNIA ---------55
3.1 A formação de uma nova cultura de “morar” na cidade -------------------------------59
3.2 Condomínios Horizontais: um novo “habitar” no contexto urbano ------------------62
3.3 Os Condomínios Horizontais Fechados de Goiânia ----------------------------------- 69
3.4 O Condomínio Privê Atlântico ----------------------------------------------------------- 80
3.4.1 Privê: a construção de um “lugar” -----------------------------------------------------87
CAPÍTULO 04
PRIVÊ ATLÂNTICO – UM CASO ---------------------------------------------------------------- 98
4.1 No interior do Condomínio: o cotidiano -------------------------------------------------98
4.2 O convívio com o “outro” --------------------------------------------------------------- 103
4.2.1 O convívio com a vizinhança ------------------------------------------------------- 106
4.3 O trabalho da SOMOPA ----------------------------------------------------------------- 110
4.4 A sociabilidade no Privê ----------------------------------------------------------------- 114
4.4.1 A sociabilidade dos jovens ---------------------------------------------------------- 119
4.5 A vivência entre os muros --------------------------------------------------------------- 123
CONSIDERAÇÕES FINAIS ---------------------------------------------------------------------130
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS --------------------------------------------------------- 135
ANEXOS --------------------------------------------------------------------------------------------- 145
10
LISTA DE QUADRO E TABELAS
Quadro 01 – Goiânia: Regiões, Microrregiões e suas composições ---------------------------- 41
Tabela 01 – Renda mensal familiar dos entrevistados -------------------------------------------- 86
Tabela 02 – Tempo de moradia dos entrevistados ------------------------------------------------ 89
Tabela 03 – De que cidade você veio? --------------------------------------------------------------90
Tabela 04 – Motivo da mudança da última moradia -------------------------------------------- 102
Tabela 05 – Satisfação quanto ao convívio social entre os moradores ------------------------103
Tabela 06 – Satisfação quanto à privacidade ----------------------------------------------------- 105
Tabela 07 – Satisfação quanto à convivência com os vizinhos -------------------------------- 106
Tabela 08 – Contato com a vizinhança fora do Condomínio -----------------------------------108
Tabela 09 – Tipo de contato com a vizinhança fora do Condomínio ------------------------- 109
Tabela 10 – Satisfação quanto ao trabalho da SOMOPA ---------------------------------------110
Tabela 11 – Participação nas reuniões promovidas pela SOMOPA ---------------------------111
Tabela 12 – Satisfação quanto à taxa de Condomínio -------------------------------------------112
Tabela 13 – Satisfação quanto à segurança interna ---------------------------------------------- 113
Tabela 14 – Participação nas festividades organizadas pela SOMOPA ---------------------- 116
Tabela 15 – A melhor festividade organizada pela SOMOPA ---------------------------------117
Tabela 16 – Diversões preferidas realizadas dentro do Condomínio --------------------------118
Tabela 17 – Preferência de convivência dos adolescentes dentro do Condomínio ----------119
Tabela 18 – O Condomínio é um espaço para a criação dos filhos? -------------------------- 121
Tabela 19 – Pontos positivos referentes ao convívio dentro do Condomínio ---------------- 124
Tabela 20 – Pontos negativos referentes ao convívio dentro do Condomínio --------------- 125
11
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 01 – Mapa 01 – Regionalização de Goiânia ----------------------------------------------- 48
Figura 02 – Folder publicitário do Condomínio Residencial Granville ------------------------ 62
Figura 03 – Foto do Condomínio Aldeia do Vale ------------------------------------------------- 70
Figura 04 – Foto do Condomínio Residencial Granville ----------------------------------------- 71
Figura 05 – Foto do Condomínio Jardins Florença ----------------------------------------------- 72
Figura 06 – Foto do Condomínio Jardins Viena ---------------------------------------------------72
Figura 07- Foto do Condomínio Portal do Sol I -------------------------------------------------- 73
Figura 08 – Foto do Condomínio Jardins Madri --------------------------------------------------73
Figura 09 – Foto do Condomínio Jardins Mônaco ------------------------------------------------ 74
Figura 10 – Foto do Condomínio Portal do Sol II -------------------------------------------------75
Figura 11 – Foto do Condomínio Alphaville Flamboyant --------------------------------------- 75
Figura 12 – Foto do Condomínio Housing Alphaville ------------------------------------------- 76
Figura 13 – Foto do Condomínio Privê dos Girassóis -------------------------------------------- 76
Figura 14 – Foto do Condomínio Fontana de Trevi -----------------------------------------------77
Figura 15 – Foto do Condomínio Monte Verde --------------------------------------------------- 77
Figura 16 - Mapa 02 – Localização dos Condomínios Horizontais Fechados de Goiânia ---79
Figura 17 – Foto do Condomínio Privê Atlântico -------------------------------------------------80
Figura 18-19 – Fotos do Condomínio Privê Atlântico --------------------------------------------93
Figura 20-22 – Fotos do Condomínio Privê Atlântico --------------------------------------------94
Figura 23-25 – Fotos do Condomínio Privê Atlântico --------------------------------------------95
Figura 26-28 – Fotos do Condomínio Privê Atlântico --------------------------------------------96
12
ANEXOS
Cronograma de Entrevista com moradores do Privê Atlântico
Questionário aplicado aos moradores do Privê Atlântico
Lei Municipal nº 7.042 de 27/12/1991
Quadro 02 – Número de lotes por quadra: Privê Atlântico
Quadro 03 – Número de casas por quadra: Privê Atlântico
Quadro 04 – Lotes vagos: Privê Atlântico
Quadro 05 – Duas casas em um único lote: Privê Atlântico
Quadro 06 – Uma casa em mais de um lote: Privê Atlântico
Tabela 21 – Faixa etária dos entrevistados
Tabela 22 – Pessoas residentes na casa
Tabela 23 – Número de filhos dos entrevistados
Tabela 24 – Tipo de moradia dos entrevistados
Tabela 25 – Última moradia
Tabela 26 – Satisfação quanto ao sossego e tranqüilidade
Tabela 27 – Satisfação quanto à segurança externa
Tabela 28 – Satisfação quanto à portaria
Tabela 29 – Satisfação quanto ao uso de equipamentos em comum
Tabela 30 – Satisfação quanto à iluminação
Tabela 31 – Satisfação quanto à sinalização
Tabela 32 – Satisfação quanto ao acesso ao Condomínio
Tabela 33 – Satisfação quanto às vias de acesso no interior do Condomínio
Tabela 34 – Satisfação quanto ao abastecimento de água
Tabela 35 – Satisfação quanto ao abastecimento de energia elétrica
Tabela 36 – Satisfação quanto à distância em relação ao local de trabalho
Tabela 37 – Satisfação quanto à integração com os demais moradores do Condomínio
Tabela 38 – Satisfação em relação à moradia atual
Tabela 39 – Pretensão de morar no Condomínio por muito tempo
Tabela 40 – Se fosse mudar do Condomínio para onde mudaria?
13
Tabela 41 – Sensação de segurança dentro do Condomínio
Tabela 42 – O porque de morar em Goiânia
Tabela 43 – Utilização dos equipamentos de uso coletivo do Condomínio
Tabela 44 – Participação em festas e comemorações nos vizinhos do Condomínio
Tabela 45 – Sexo dos entrevistados
Tabela 46 – Grau de escolaridade dos entrevistados
14
RESUMO
Neste trabalho estudamos a dinâmica urbana e a expansão da cidade através do
surgimento dos condomínios horizontais fechados em Goiânia discutindo como esses espaços
fechados têm propiciado uma nova cultura na forma de morar dos goianienses. Nesse sentido,
esta Dissertação tem como objetivo maior refletir sobre a emergência dessa nova forma de
moradia, tendo como base a análise do primeiro condomínio horizontal em Goiânia, o Privê
Atlântico, construído no ano de 1978 na Região Sudoeste da cidade. Nesse espaço, buscamos
compreender a vivência cotidiana de seus moradores, bem como as formas de sociabilidade
gestadas em seu interior.
O estudo teve como premissas as reflexões de Bourdieu (1974; 1989; 1994; 1996;
2001) acerca de “estilo de vida” e gosto de grupos em particular que procuram ocupar espaços
específicos para moradia. Para compreender os processos de sociabilidade, utilizamos o
conceito de “sociação” discutido por Simmel (1983). Para o autor, a “sociação”, forma pura
da sociabilidade, essa entendida como formas de convivência com os outros, baseadas num
interesse em específico, ocorre de forma mais consistente quando realizada entre os iguais.
O trabalho de campo foi desenvolvido no Condomínio pesquisado através da aplicação
de 45 questionários padronizados e 07 entrevistas com membros da SOMOPA (Sociedade dos
Moradores do Privê Atlântico), moradores adultos, jovens e/ou adolescentes a fim de
apreender as diferentes visões de como se dá o cotidiano naquele espaço.
Desse modo, o “caso” particular do Privê Atlântico está explicitado e faz parte de uma
transformação maior que os habitantes de Goiânia vem experimentando na forma de morar, a
partir da instalação de inúmeros complexos residenciais chamados de condomínios fechados.
Parcela significativa da população goianiense têm optado por essa tipologia residencial. Essa
opção de moradia fechada tem imprimido transformações significativas na paisagem e no
imaginário popular, evidenciando o “muro” como elemento emblemático desse novo processo
de enclausuramento e auto-segregação.
15
ABSTRACT
In this project we studied the urban dynamics and the expansion of the city through the
appearance of closed horizontal condominiums in Goiânia, discussing how those closed
spaces have created a new living culture for inhabitants of Goiânia. In this sense, this
dissertation has the objective of reflecting about the emergence of this new form of housing,
based on the analysis of the first horizontal condominium in Goiânia, Privê Atlântico, built in
1978 in the Southwest region of the city. In this dissertation, we seek to comprehend the
daily life of its inhabitants, as well as the societal forms which exist there.
The study is based on the reflections of Bourdieu (1974; 1989; 1994; 1996; 2001)
about “lifestyle” and likes of particular groups that seek to occupy specific living space. To
understand the processes of sociability, we utilize the concept of “sociation” discussed by
Simmel (1983). According to the author, “sociation,” a pure form of sociability, understood
to be forms of living in a community and based on specific interests, occurs in a more
consistent way when created among equals.
The fieldwork was developed in the condominium researched through the application
of forty-five standardized questionnaires and seven interviews with members of the
Sociedade dos Moradores do Privê Atlântico (SOMOPA), the association of the inhabitants of
the condominium. Adults and youth were included in the study so as to capture the different
visions of daily life in that space.
Thus, the case study of the Privê Atlântico is highlighted as part of a larger
transformation that the inhabitants of Goiânia are experiencing in their way of life, starting
with the installation of numerous residential complexes, called “closed condominiums.” A
significant percentage of the population of Goiânia has opted for this type of residence. This
option for closed-residence has caused significant transformations on the landscape as well as
on popular thought, the “wall” being an emblematic element of the new process of
confinement and self-segregation in the urban environment.
16
Introdução
__________________________________________________________________________________________
17
Introdução
1.1 - Algumas considerações
A cidade de Goiânia, assim como tantas cidades brasileiras, têm vivenciado mudanças
significativas no que tange à sua estrutura sócio-espacial urbana, sobretudo na forma de
organização e ocupação de seu espaço. Nessa realidade, os condomínios horizontais fechados,
surgidos a partir da década de 70
1
no Brasil, constituem uma nova modalidade de ocupação do
espaço urbano e se apresenta como uma nova maneira de morar e experimentar a cidade.
A Capital do Estado de Goiás cresceu consideravelmente desde sua fundação até os
dias atuais. Embora planejada, na década de 30, para 50 mil habitantes, Goiânia hoje abriga
uma população de 1.093.007 habitantes
2
. Esta situação caracteriza-se por um crescimento
acelerado, que tem trazido problemas sociais sérios, tais como a falta de postos de trabalho
para a população e insuficiência de instituições: creches, escolas, além de problemas sociais
vinculados com a marginalização da população e aumento da criminalidade urbana, estes
últimos, decorrentes, muitas vezes, do crescimento populacional das grandes cidades,
portanto, gerados no seio do urbano.
Nessa realidade, constitui objeto do presente trabalho a emergência de uma forma
particular de produção de espaço - os condomínios horizontais fechados, tendo como base a
análise do primeiro condomínio horizontal em Goiânia, o Privê Atlântico, construído no ano
de 1978 na Região Sudoeste da cidade. Nesse espaço, buscamos compreender a vivência
cotidiana de seus moradores, bem como as formas de sociabilidade gestadas em seu contexto.
Esta tendência de enclausuramento residencial é nova no contexto de Goiânia.
Entretanto, a Prefeitura da Capital tem conhecimento de pequenos loteamentos fechados
espalhados por algumas regiões da cidade. Desde 1981 alguns lotes vêem sendo cercados por
1
Não precisão quanto à data de surgimento desses Condomínios. Na verdade, as primeiras experiências brasileiras
ocorrem em São Paulo com a criação do Alphaville, condomínio esse vertical. No caso das primeiras construções horizontais,
a data é ainda incerta. Todavia, a partir das experiências paulistas de criação de modelos habitacionais de condomínios
fechados, ocorre uma disseminação do modelo para outros estados brasileiros, como acontece em Goiânia com o surgimento
do Privê Atlântico em 1978, uma construção horizontal de casas, mas baseada no modelo de fechamento de fronteiras.
2
Dado da Radiografia Sócio-Econômica do Município de Goiânia, 2002:16. Este é um documento produzido pela Prefeitura
de Goiânia, através da SEPLAM (Secretaria Municipal de Planejamento) DSE/DVSE (Departamento de Ordenação Sócio-
Econômico) e (Divisão de Estudos Sócio-Econômicos). Tal documento constitui-se numa espécie de “Banco de Dados” sobre
a cidade, trazendo informações sobre seus aspectos históricos, físicos, bióticos e ambientais, aspectos de uso do solo e
ocupação do solo urbano, aspectos demográficos, econômicos, sociais e de serviços urbanos.
18
muros em alguns bairros e até hoje não contam com uma legalização desses muros
3
. Além
disso, um outro fator evidencia a emergência dessa nova cultura de auto-segregação: o fato de
que partes de um bairro, por vezes quadras são cercadas a partir da vontade da própria
população daquele espaço.
Desse modo, essa cultura de auto-segregação emergente nas grandes cidades e
praticada por um número significativo de goianos evidencia uma nova maneira de habitar a
cidade e fazer uso de seus espaços. Essa nova realidade acaba por imprimir transformações
significativas na paisagem e no imaginário popular, evidenciando o “muro” como elemento
emblemático desse novo processo de enclausuramento e auto-segregação.
Notadamente, esses condomínios horizontais fechados constituem uma mudança no
padrão residencial urbano, cujo espaço é reorganizado, na medida em que diferentes classes
sociais passam a viver mais próximas umas das outras, em algumas áreas, mas são mantidas
separadas por barreiras físicas como altos muros e sistemas eletrônicos de controle e
identificação, tendendo a não interagirem nos mesmos espaços. (Caldeira: 2000). E assim, a
discussão do presente trabalho versa sobre um tipo em particular de condomínio horizontal: O
Privê Atlântico em suas peculiaridades e particularidades.
Nosso objetivo ao sistematizar um estudo em particular, foi entender a vivência no
interior do Privê Atlântico, bem como as formas de sociabilidade gestadas em seu contexto. E
embora se trate de um estudo de caso, a investigação se pautou na perspectiva da
compreensão de que tal condomínio fechado constituía um espaço integrante da cidade. Seu
recorte portanto, como objeto de estudo, se deu apenas como uma estratégia heurística para o
desenvolvimento da pesquisa. A partir então dessa perspectiva é que nossa discussão buscou
extrapolar o “caso” particular e compreender seus “vínculos” com a cidade.
Pensar em “vínculos” foi uma tarefa que exigiu muita reflexão e pesquisa. Na verdade,
todas as modificações que essa nova forma de habitar as cidades vem imprimindo, seja nas
paisagens urbanas, seja nas formas de interação e relacionamento entre as diferentes classes
3
Segundo o Jornal O Popular, em matéria publicada no ano de 1981, o IPLAM – Instituto de Planejamento Municipal, órgão
hoje substituído pela SEPLAM – Secretaria Municipal de Planejamento, denunciava a existência de 18 loteamentos fechados
do tipo condomínio, nomeando 11 deles: Parque dos Cisnes, Aracoara Parque, Alphaville, Jardim Estrela Dalva, Condomínio
Amin Camargo, Condomínio Ipanema, Condomínio Cristina, Condomínio Jardim Marquês de Abreu, Condomínio Maysa,
Condomínio Santa Rita e Condomínio Rio Branco. em 1985, a imprensa local divulga a existência de 29 loteamentos
fechados.
19
sociais, é algo em andamento em Goiânia. O Privê Atlântico data de 1978, todavia, o muro
que o circunda foi regularizado em 1996, conforme explicaremos posteriormente,
momento em que também ocorre um boom no mercado imobiliário goiano, propiciando o
lançamento de alguns mega-projetos de construções horizontais do tipo condomínios
fechados.
Isso se explica pelo fato de Goiânia ser uma cidade jovem, muito embora, no auge de
sua juventude, ela seja considerada uma metrópole
4
. Atualmente a cidade extrapola seus
limites municipais, expandindo-se e conta hoje com um aglomerado urbano correspondendo à
sua Região Metropolitana, fazendo parte dela cidades como Aparecida de Goiânia, Trindade,
Senador Canedo, Goianira, Santo Antônio, Nerópolis. Com seus 69 anos, a Capital vem
passando por transformações significativas, sobretudo por ser uma cidade planejada, marcada
hoje por enormes paradoxos: trânsito caótico, inchaço das periferias, falta de postos de
trabalho, violência urbana, precariedade de habitações. “Jovem” também é essa forma de
morar. Uma forma que busca agregar num espaço físico, tranqüilidade, contato com a
natureza, status social e sociabilidade com os iguais.
Ao buscar articular um estudo de caso com seus “vínculos” com a cidade como um
todo, fomos a campo imbuídos por alguns pressupostos. Pressupostos estes que nos
evidenciavam que esses “complexos urbanos”, conhecidos genericamente por condomínios
fechados, são resultantes da busca de uma nova maneira de morar, baseada em ideais de
segurança, qualidade de vida e privacidade. Prática essa que configura processos urbanos
segregatórios, que acabam por gerar um tipo de sociabilidade dada entre os tidos como iguais,
aqui compreendidos como os moradores do próprio Condomínio. Criações portanto de
“cidades à parte da cidade”, a emergência desses condomínios horizontais fechados
reconfigura o espaço urbano, gerando, por parte de seus moradores, representações (formas de
ver) diversas sobre a cidade. De um lado, os condomínios fechados aparecem como uma
opção segura, carregada de conforto e privacidade, como um local próximo do "paraíso
urbano" com qualidade de vida e um ambiente onde crianças e jovens podem desenvolver-se
em liberdade. De outro lado, a cidade seria o local permeado pela insegurança, com ausência
de privacidade e tranqüilidade.
4
Esse termo tem sido utilizado para designar aglomerações urbanas com mais de um milhão de habitantes e que conta com
relações econômicas multifuncionais. Além disso, a idéia de metrópole evidencia um tipo em particular de cidade, diferente
de outras menores, seja pelo seu número de habitantes, seja pela oferta de equipamentos e pela evidência de vários outros
fatores.
20
1.2 – Os caminhos metodológicos da investigação
A nosso ver, todo trabalho científico é pensado antes por sua viabilidade e
possibilidade, embora por vezes, tendemos a sonhar com o “impossível”. As tentações são
muitas para discutirmos várias questões, esmiuçarmos detalhes, trabalharmos amplamente
uma realidade. O problema é sempre o tempo para a realização do trabalho. Mesmo com a
frustração do tempo, existe sempre um cuidado em pontuar o que discutir, escolher o objeto a
ser investigado, o recorte empírico, metodológico e os procedimentos analíticos a serem
utilizados para o conhecimento de determinada realidade.
O embate portanto é travado entre o ideal e o possível. E nessa luta, embora a
objetividade, enquanto marca do conhecimento científico seja sempre evocada, fica sempre o
peso da subjetividade do pesquisador. Nossa vivência, experiência, “paixão” pela pesquisa e
até elementos de ordem institucional acabam por condicionar e delimitar nosso trabalho.
Além disso, a temática que estamos tratando, parafraseando Ortiz (2000), não se trata de um
novo paradigma, de uma nova teoria, mas sim, de uma situação que redefine os quadros nos
quais os fenômenos sociais se manifestam. O autor diz que “o objeto sociológico, sendo
histórico, significa ainda que ele se transforma no decorrer dos processos sociais. O
pensamento deve assim, estar atento às mudanças, primeiro das situações, dos contextos;
segundo, das categorias que o apreendem” (p. 15). Isso quer dizer que nem toda situação nova
forja um novo paradigma. O pesquisador deve estar atento para a emergência dessas novas
realidades e buscar compreendê-las, reiventando ou redefinindo os elementos teóricos
tradicionalmente disponíveis. Ortiz (2000) explicita que nesse sentido, a imaginação
sociológica vai consistir em captar essas mudanças, essas novas realidades e propor
instrumentais conceituais e metodológicos capazes de analisá-las.
Diante disso, entendemos a importância de evidenciar aqui nossas escolhas e
caminhos percorridos para a realização de nossa investigação. Sempre nos foi importante
realizar um estudo que articulasse os procedimentos empíricos com uma reflexão teórica de
cunho mais globalizadora. Nesse sentido, a discussão de Gabriel Cohn em seu texto, “A
sociologia e a arte da controvérsia” foi importante. O autor entende a sociologia como uma
forma de autoconhecimento da sociedade, que isso somente é possível quando ela se torna
uma ciência “globalizadora” e também “empírica”.
21
Cohn esclarece que a unidade dessa concepção está presente nos clássicos da
sociologia (Durkheim, Marx e Weber). Eles buscaram “(...) captar os elementos relevantes
para a compreensão de toda uma formação social num momento dado (...) e extrair daí os
instrumentos analíticos básicos que irão informar a investigação empírica” (Cohn:03).
Embora os clássicos tenham sido capazes de promover uma “ponte” entre a sociologia
“globalizadora” e a “empírica”, hoje o que observamos, em alguns trabalhos, é uma divisão
entre essas duas correntes do pensamento. Essa “bifurcação” (expressão do próprio Cohn),
ocorre porque a sociologia globalizadora deixa de aproveitar o avanço do instrumental
analítico para tratar os dados empíricos, resultando numa coleta e tratamento dos dados pouco
consistentes, e mantendo-se, assim, somente na “periferia” da ciência, nas análises
“intelectuais”. a sociologia empirista perde seu caráter de fonte do conhecimento dado o
seu fraco fundamento metodológico, transformando-se em mera técnica de manipulação e
controle, com uma forte pobreza teórico-metodológica.
Segundo Gabriel Cohn, a sociedade sempre em transformação, está integrada num
processo global, por isso ela requer uma análise que não seja apenas globalizadora e crítica,
mas também, empírica. Assim, para ele,
Uma ciência do social realmente fecunda de ser, ao mesmo tempo, rigorosamente
empírica e globalizadora-crítica. Assim, não se trata simplesmente de optar entre
uma orientação e outra, mas de esforçar-se por discernir as condições de
reintegração dessas correntes de pensamento. (Id.:06).
Tal qual Cohn, acreditamos que um trabalho sociológico de pesquisa requer a
integração dessas duas correntes do pensamento. E nesse sentido, procuramos discutir o
espaço dos condomínios fechados com base nas reflexões de Bourdieu (1974; 1989; 1994;
1996: 2001) acerca de estilo de vida distinto de um grupo em particular. Na reflexão sobre
sociabilidade desenvolvida no espaço do Privê, nosso referencial teórico foi Simmel (1983),
sobretudo com seu conceito de “sociação” “a forma (realizada de incontáveis maneiras
diferentes) pela qual os indivíduos se agrupam em unidades que satisfazem seus interesses”
(p. 166).
22
Por outro lado, na pesquisa empírica, em função da natureza do tema proposto e de
nossa opção de estudar um caso particular de condomínio horizontal fechado, utilizamos uma
combinação de metodologias e tipos de informação. Para apreender o processo de ocupação e
adensamento populacional da Região Sudoeste de Goiânia, recorremos à pesquisas
documentais em jornais antigos da Capital, tais quais, O Popular e Diário da Manhã, e em
documentos oficiais, além de entrevistas com técnicos da SEPLAM (Secretaria Municipal de
Planejamento).
Para discutir a emergência dessa nova cultura de morar, a partir do surgimento dos
condomínios horizontais fechados, recorremos novamente à pesquisa documental em jornais e
na ASCONH-GO (Associação dos Condomínios Horizontais de Goiás). Para analisar o caso
específico do Privê Atlântico, utilizamos o recurso imprescindível da observação. Além disso,
para a realização da pesquisa no interior do Condomínio, resolvemos trabalhar com uma
amostragem aleatória simples, selecionando dois lotes, ou seja, duas residências por quadra
5
através de um sorteio numérico para a escolha desses lotes. Depois disso, passamos à
aplicação de 45 questionários, algo em torno de 11% de nosso universo de pesquisa que era
de 409 residências. O questionário utilizado na pesquisa tinha 31 questões, algumas com
desdobramentos
6
. Ademais disso, realizamos também um total de 07 entrevistas com alguns
membros da SOMOPA (Sociedade dos Moradores do Privê Atlântico) e moradores adultos,
jovens e/ou adolescentes, a fim de apreender as diferentes visões de como se o cotidiano
vivido naquele espaço.
Outro recurso utilizado foi a realização de pesquisa bibliográfica, contextualização das
realidades por nós apresentadas a partir de mapas e fotografias. A observação se deu não
somente no interior do Privê Atlântico, mas da cidade como um todo. Entendemos que
“caminhar” pela cidade e registrar em fotos suas mudanças espaciais era fundamental. Foi
essa “caminhada” pela cidade, usando a perspectiva de Magnani (2002)
7
que nos permitiu
olhar e registrar essas mudanças no contexto urbano de Goiânia, evidenciando os muros como
elemento emblemático desta nova forma de habitar a cidade.
5
Com exceção da quadra 90 onde apenas selecionamos um lote. Em função disso, aplicamos 45 questionários. Nessa quadra,
escolhemos apenas um lote porque tivemos dificuldades de encontrar moradores, que é uma quadra menor com um
excessivo número de lotes vagos, conforme mostra o quadro 04 nos anexos.
6
Ver o modelo de Questionário aplicado aos moradores do Privê Altântico nos anexos.
7
Magnani em seu texto De perto e de dentro: notas para uma etnografia urbana, fala do recurso da “passagem” como uma
estratégia de pesquisa para mapear o contexto urbano das cidades. Aqui utilizamos a perspectiva da “caminhada” pela cidade,
nos termos em que o autor sugere, ou seja, “percorrer a cidade e seus meandros observando espaços, equipamentos e
personagens típicos com seus hábitos , conflitos e experiências” (2002: 18 ).
23
1.3 - O desenvolvimento da pesquisa
Buscar articular pesquisa empírica com pesquisa bibliográfica não foi tarefa fácil, por
duas razões. A bibliografia sobre o assunto não está de todo disponibilizada. Os condomínios
horizontais fechados por serem uma forma de habitar recente nas cidades, foram ainda pouco
estudados na Capital. Conseqüentemente, se apresentam com raros quadros de referência e
uma produção sociológica escassa e não de todo sistematizada em se tratando de Goiânia.
Realidade similar é também evidenciada nos órgãos públicos direcionados para a questão e
nos arquivos dos meios de comunicação. Na pesquisa empírica, a dificuldade maior foi a
costumeira falta de tempo dos entrevistados, problema que aflige grande parte da população
das cidades.
Para aplicação dos questionários e realização das entrevistas agendamos previamente
8
com os moradores: mesmo assim, alguns desses acabaram remarcando suas entrevistas para
uma outra data. Todavia, foram somente dificuldades burocráticas, que não nos deparamos
com problemas de receptividade em relação à pesquisa por parte dos entrevistados
9
. No caso
dos moradores do Condomínio, esses sempre nos receberam muito bem, e estiveram abertos a
conversar, esclarecer dúvidas e participar da pesquisa
10
. Também no âmbito de outros espaços
onde realizamos pesquisa e entrevistas, como a SEPLAM, a receptividade ao nosso trabalho
foi significativa e decisiva.
Se a pesquisa empírica foi tranqüila no interior do Privê Atlântico, isso não ocorreu
em relação aos demais condomínios fechados da cidade. O recurso da observação se mostrou
imprescindível para a realização de nosso trabalho. Todavia, em nossa “caminhada” pela
cidade, a dificuldade maior com a qual nos deparamos foi ter acesso a esses outros
condomínios. De modo geral, suas administrações dificultaram nosso trabalho de observação
8
Ver cronograma de entrevistas nos anexos.
9
Gans, evidencia na introdução de “The Levittowners: ways of life and politics in a new suburban community (1997)
algumas das dificuldades de se realizar pesquisa nesses espaços, justamente pelo caráter fechado e monitorado presente neles.
Todavia, não as tivemos. Talvez pelo apoio irrestrito da SOMOPA e pelo caráter bastante peculiar do Privê Atlântico que
será melhor esclarecido nos capítulos seguintes.
10
A realização da pesquisa no interior do Privê Atlântico foi realmente tranqüila e sem problemas de receptividade, com
algumas poucas exceções. Apenas três moradores pré-selecionados se recusaram a participar da entrevista, embora não de
forma explícita, respondendo ao questionário por nós utilizado.
24
e investigação. Quando conseguimos realizar uma visita a alguns desses espaços, foi-nos
negada a oportunidade de filmagens, registro de fotos e abordagem a moradores
11
.
Visando uma melhor compreensão do trabalho, os capítulos da Dissertação foram
divididos da seguinte maneira:
No capítulo 01 realizamos uma discussão teórica da noção de espaço, utilizando
algumas categorias teóricas de Bourdieu para analisar e “ler” a cidade e os espaços fechados
de moradia, via condomínios horizontais fechados.
No capítulo 02 buscamos situar Goiânia a partir da ocupação e adensamento
populacional da Região Sudoeste (região onde está localizado o Privê Atlântico). Procuramos
evidenciar o papel do Estado e do mercado imobiliário nesse processo de intervenção nessa
região e na criação e expansão dos condomínios horizontais em Goiânia.
No capítulo 03 procuramos situar os condomínios horizontais fechados de Goiânia
como espaços de moradia de grupos que apresentam uma visão particular do mundo a sua
volta e a partir, de um estilo de vida distinto, ocupam esses espaços seletos para moradia. O
capítulo discute também como esses espaços fechados têm contribuído com a formação de
uma nova cultura de “morar” na cidade, e aponta o caso específico do Privê Atlântico.
No capítulo 04 abordamos, mais especificamente o Privê Atlântico, discutindo
algumas categorias mais relevantes referentes ao convívio cotidiano e às formas de
sociabilidade gestadas em seu interior. Seguem-se finalmente, algumas considerações finais.
11
No dia 02 de novembro de 2002, realizamos uma “caminhada” por alguns condomínios da cidade. Isso exigiu uma série de
procedimentos burocráticos, como agendamento prévio da visita, fornecendo nome, endereço e o número da carteira de
identidade, além do compromisso em não filmar o local, tirar fotografias e nem abordar moradores. A “visita” foi realizada
num sábado pela manhã nos condomínios Portal do Sol I e II, Aldeia do Vale, Jardins Florença e Residencial Granville. Vale
ressaltar que essa visita só foi possível graças à ajuda de uma amiga, funcionária administrativa do Portal do Sol I.
25
Capítulo 01
__________________________________________________________________________________________
O Espaço Social da Metrópole Goiana
26
1. O Espaço Social da Metrópole Goiana
(...) a posição ocupada no espaço social, isto é, na estrutura de distribuição
de diferentes tipos de capital, que também são armas, comanda as
representações desse espaço e as tomadas de posição nas lutas para
conservá-lo ou transformá-lo (Pierre Bourdieu).
O homem traz consigo a vocação da construção de cidades. Essa vocação remonta o
mito bíblico de Caim, filho do primeiro homem e da primeira mulher, como fundador da
primeira cidade
12
. De para cá, muitas mudanças ocorreram, seja no formato das cidades,
seja na sua forma de organização sócio-espacial. Hoje, pensar a cidade constitui-se como
condição essencial, tendo em vista a elaboração de sínteses e avaliações sobre a diversidade
de acontecimentos que nela ocorrem. É no contexto da cidade, atualmente, que a grande
maioria das pessoas vivencia o seu cotidiano. Pensar e resgatar o seu significado, nos habilita
a refletir sobre as atuais configurações do espaço urbano.
Desse modo, a cidade vem sendo continuamente projetada e transformada. Ao longo
dos séculos, ela vem armazenando e reunindo diversos elementos que compõem a sua cultura.
Por meio de sua materialidade e imaterialidade: prédios, arquivos, monumentos, livros, ruas,
praças, imagens e memórias, a cidade acumula uma herança cultural que é transmitida para
gerações futuras.
Através de suas mutações, visualizamos hoje uma cidade distinta de sua forma antiga.
Percebemos uma forma bastante diversificada de agrupamento humano. Com isso, noções
ambíguas como campo versus cidade, centro versus periferia, perdem força como fator
explicativo da dinâmica urbana. Constatamos hoje um fato novo em se tratando de Brasil, ou
seja, o abandono do centro, por algumas camadas sociais, em busca das periferias distantes.
Isso acaba por conferir uma nova reconfiguração ao tecido urbano, evidenciando novas
formas de ocupação e ordenamento do espaço, criando novos estilos de vida na forma de
morar, vivenciar e experimentar a cidade, possibilitando o nascer de novas interações sociais e
organizações comunitárias.
12
Bíblia Sagrada, Gênesis, capítulo 4, versículo 17. É interessante perceber também como a Bíblia nos apresenta dois
modelos distintos de cidade: a cidade corrupta, representada pelas castigas Babilônia, Sodoma e Gomorra; e a cidade plena, a
Jerusalém Celeste.
27
Sem dúvida que o urbano é uma categoria de enorme importância, sobretudo na época
atual, onde a cidade é sempre considerada o lócus de convergência das grandes correntes e
interesses econômicos, políticos e ideológicos. Este pensamento acompanha as discussões de
alguns membros da Escola de Chicago. Louis Wirth (1967) por exemplo, considera que o
início do que pode ser considerado moderno em nossa civilização é caracterizado pelo
crescimento das grandes cidades. Com isso, o mundo contemporâneo já não mais se apresenta
com pequenos grupos humanos isolados, espalhados através de um vasto território. Pelo
contrário, a característica que marca o modo de vida do homem na idade moderna é a sua
concentração em grandes agregados de onde irradiam as idéias e as práticas da chamada
civilização.
Para Wirth, a cidade é muito mais do que um local de moradia e trabalho, ela é
também o centro iniciador e controlador da vida econômica, política e cultural dos indivíduos.
É o lugar que interligou as diversas áreas, povos e atividades num único universo: o urbano.
Assim, a cidade é mais que um lugar, que um objeto que se dimensiona através de formas, ou
da sobreposição de imagens que lhe imprime novas configurações. A cidade deve ser
concebida como um equipamento vivo, uma forma coletiva de produção de valores de uso, de
memórias, de cultura, de sociabilidades, reconfigurando-se diariamente a partir da atuação dos
diversos agentes sociais que a habitam.
É assim que neste capítulo inicial pretendemos abordar as discussões atuais que se
processam sobre a cidade, concentrando-nos em sua dimensão de organização sócio-espacial,
realizando uma leitura do espaço urbano a partir das proposições de Bourdieu (2001), com a
intenção de distinguir espaço físico de espaço social. Nosso objetivo é abordar, embora
pontualmente, algumas referências teóricas de Bourdieu, no sentido de compreender o espaço
da cidade marcado pela segregação, enfocando os condomínios fechados de Goiânia.
Bourdieu (1996), em sua reflexão sobre o espaço social, enfatiza a dimensão simbólica
que moldura esse. Assim, ele vai definir espaço como um,
conjunto de posições distintas e coexistentes, exteriores umas às outras, definidas
umas em relação às outras por sua exterioridade mútua e por relações de
proximidade, de vizinhança ou de distanciamento e, também, por relações de
ordem, como acima, abaixo entre e, por exemplo (...)” (Bourdieu, 1996:18-19).
28
Ao definir o espaço dessa forma, Bourdieu aponta para a idéia de que, de fato, o que
existe são espaços de relações e não uma idéia vaga de espaço físico. Nesse sentido, falar de
cidade é falar dos efeitos que esta sofre das várias relações que ocorrem em seu contexto.
Pierre Bourdieu nos apresenta uma discussão cuja análise parte das relações entre as
estruturas do espaço social definido, segundo o autor, pela “exclusão mútua (ou a distinção)
das posições que constituem, isto é, como estrutura de justaposição de posições sociais”
(2001:160), e as estruturas do espaço físico entendido pelo autor como um “lugar”, ou seja,
“um ponto do espaço físico onde um agente ou uma coisa se encontra situado, tem lugar,
existe” (id. ibid.:160).
Assim, segundo Bourdieu, o espaço social se retraduz no espaço físico. O espaço
físico sofre influências das relações sociais que se dão entre os diferentes agentes sociais. As
realidades sociais mostram um espaço habitado, ou seja, segundo o autor, apropriado a partir
de uma simbolização e hierarquização de espaços. E essa simbolização e hierarquização se
manifestam a partir do poder que a posse do capital proporciona. Segundo o autor, esse poder
é visível no espaço físico apropriado, a partir da distribuição dos agentes e dos bens ou
serviços privados ou públicos em determinado lugar. É por isso que Bourdieu afirma: “(...) é
na relação entre distribuição dos agentes e a distribuição dos bens no espaço que se define o
valor das diferentes regiões do espaço social reificado”. (id. ibid.:161). Quer dizer, o espaço
físico utilizado é mais valorizado dependendo dos agentes que o habitam e dos bens e
equipamentos que ele dispõe para uso público e/ou privado. É o capital aplicado nesse lugar e
também a distância física desses bens e equipamentos que ditarão o valor dessa região. Usos
diversos, oposições como “novo”, “velho”, “tradicional”, “moderno” que evocam toda uma
“verdadeira simbólica da distinção”. (id. ibid.:162).
É a partir portanto, dessa lógica simbólica da distinção que Bourdieu explica as
grandes oposições sociais dadas no espaço físico como por exemplo, os casos de Capital e
interior de um Estado, o centro e a periferia de uma cidade. Interessante que, segundo o autor,
essa oposição simbólica e valorativa tende a se reproduzir nos espíritos e na linguagem,
mostrando sistemas de preferências distintos. Por essa razão, afirma Bourdieu que, sendo o
espaço social reflexo dessas preferências distintivas, “o espaço é um dos lugares onde o poder
se afirma e se exerce, e sem dúvida, sob a forma mais sutil, a da violência simbólica (...)” (id.
ibid..:163).
29
É a partir desse sistema de preferências distintivas que o autor nos mostra as diferentes
lutas pela apropriação do espaço. E é enfático ao dizer,
A capacidade de dominar o espaço, sobretudo apropriando-se (material ou
simbolicamente) de bens raros (públicos ou privados) que se encontram distribuídos,
depende do capital que se possui. O capital permite manter à distância as pessoas e
as coisas indesejáveis ao mesmo tempo que aproximar-se de pessoas e coisas
desejáveis (por causa, entre outras coisas, de sua riqueza em capital), minimizando,
assim, o gasto necessário (principalmente em tempo) para apropriar-se deles: a
proximidade no espaço físico permite que a proximidade no espaço social produz
todos os seus efeitos facilitando ou favorecendo a acumulação de capital social e,
mais precisamente, permitindo aproveitar continuamente encontros ao mesmo
tempo casuais e previsíveis que garante a freqüência a lugares bem freqüentados
(...). Inversamente, os que não possuem capital são mantidos à distância, seja física,
seja simbolicamente, dos bens socialmente mais raros e condenados a estar ao lado
das pessoas ou dos bens mais indesejáveis e menos raros. (Bourdieu, id. ibid..:163-
164).
Com isso, Bourdieu reforça a força do capital para a escolha e seleção do espaço onde
apropriar. Manter à distância pessoas e coisas indesejáveis e ao mesmo tempo, aproximar-se
das coisas e pessoas desejáveis. É a proximidade física propiciando a proximidade social entre
os grupos. Isso talvez explique os diferentes meios implementados pelos diversos segmentos
sociais para se afastarem dos “indesejáveis da rua”, buscando os membros de um grupo
particular, a partir dos diferentes meios de separação implementados para demarcar áreas.
Meios tais como isolamento, enclausuramento, vigilância ostensiva. Tudo isso usando a
marca simbólica da “distinção social”.
As disputas pela apropriação do espaço tomam a forma, segundo o autor, da
mobilidade espacial, ligada portanto à mobilidade social. Daí dizer que “o sucesso nas
disputas depende do capital acumulado (sob suas diferentes espécies)”. (id. ibid.:165). A idéia
aqui é de que, para apropriar-se de um espaço não basta apenas capital financeiro, é preciso
ter acumulado capital social e cultural também. Até porque, “pode-se ocupar fisicamente um
habitat sem habitá-lo propriamente falando se não se dispõem dos meios tacitamente
exigidos, a começar por um certo hábito”. (id. ibid.:165). Esse hábito trata-se dos costumes
sociais ditados por tal habitat. Assim, não basta a proximidade física para promover a
30
proximidade social, “nada é mais intolerável que a proximidade física (...) de pessoas
socialmente distantes”. (id.ibid.:165).
Daí essa intolerância e essa necessidade de um capital acumulado (financeiro, cultural,
social) para que haja uma proximidade entre os grupos, tanto física quanto social. Por isso as
penalidades de “deslocamentos” para aqueles que busquem penetrar num espaço sem se
adequarem às exigências de seus ocupantes. Para apropriar-se de determinado local, segundo
Bourdieu, a posse de um certo capital cultural é essencial. Sem ele, é possível até mesmo
“impedir a apropriação real dos bens ditos públicos ou a própria intenção de se apropriar
deles”. (id. ibid.:165).
Aquele indivíduo tido como intruso está condenado a sentir a exclusão e ser privado
do uso de certas “regalias”. Aqueles que não apresentam as propriedades desejadas se tornam
indesejáveis. Na interpretação do autor,
De fato, certos espaços, e em particular os mais fechados, os mais “seletos”, exigem
não somente capital econômico e capital cultural, como também capital social. Eles
proporcionam capital social e capital simbólico, pelo efeito de clube que resulta da
associação durável (nos bairros chiques ou nas residências de luxo) de pessoas e de
coisas que, sendo diferentes da grande maioria, têm em comum não serem comuns
(...)” (Bourdieu, id. ibid.:165).
Muito mais do que posses financeiras, esses espaços fechados, os mais “seletos”
mostram um estilo de vida próprio. Essas “associações duráveis” exprimidas pelas residências
de luxo em bairros chiques ou clubes, por exemplo, exigem de seus integrantes um capital
cultural e social que os aproxime. Isso faz parte de um estilo de vida particular dos grupos,
estilo este que Bourdieu define como “um conjunto unitário de preferências distintivas que
exprimem, na lógica específica de cada um dos subespaços simbólicos, mobília, vestimentas,
linguagem ou héxis corporal (...)” (Bourdieu, 1994:84).
Esses espaços baseados na exclusão das pessoas indesejáveis consagram
simbolicamente seus habitantes ao permitirem que eles participem de todo esse capital
acumulado (social e cultural). Por outro lado, o bairro estigmatizado tende a continuar
degradado na medida em que as pessoas, que dele fazem parte, são impedidas de participarem
desse capital acumulado, ficando à margem e na total exclusão.
31
Assim, fica claro que para Bourdieu o espaço físico implica numa rede de relações
sociais marcadas pela luta entre os agentes que habitam nesse espaço. Ao explicitar que o
espaço físico sofre influência das relações sociais que se dão entre os diferentes agentes
sociais, o autor está tratando do que para ele é o habitus”, o princípio gerador de todas as
práticas, desde a escolha de um vinho até ao local onde residir, reforçando sua idéia de que o
espaço social é o espaço dos estilos de vida. Por isso diz ele,
o espaço social e as diferenças que nele se desenham “espontaneamente” tendem a
funcionar simbolicamente como espaço dos estilos de vida ou como conjunto de
stand, isto é, de grupos caracterizados por estilos de vida diferentes (Bourdieu,
1989:144).
Isso quer dizer que, indivíduos não se movem no espaço social de uma maneira
aleatória, parcial, porque eles estão sujeitos a forças que estruturam esses espaços e assim a
distribuição das pessoas no espaço não é acidental. Para o autor, o processo de distribuição
espacial não sendo socialmente neutro, termina por ter um caráter extremamente importante
numa análise sobre estilos de vida e hierarquias sociais. Por isso, na sua exposição explicitar
que os indivíduos detentores dos mais distintos capitais são capazes de permitir a
aproximação dos “desejáveis” e a distância dos “indesejáveis”. Nesse caso, ao manter
distantes os “indesejáveis” e aproximar-se dos “desejáveis” não implica apenas posse de
poder aquisitivo. Bourdieu não está tratando apenas do capital econômico (dinheiro), mas
também de duas outras formas de capital particularmente importantes: o capital simbólico,
que se refere ao grau de prestígio, honra, etc. acumulados e o capital cultural que se relaciona
às diversas formas de conhecimento e competências.
Entendemos que as reflexões de Bourdieu sobre distinção entre espaço físico e espaço
social explicam a formação de espaços de moradias fechadas e seletas, no caso específico
estudado, os condomínios horizontais fechados. Ao refletir sobre esses espaços, a idéia de
segregação sócio-espacial é recorrente, no sentido de apontar regiões socialmente distintas.
Assim, na perspectiva do autor, a cidade seria uma arena de conflitos, um campo de batalha
entre diferentes modos de capital (cultural, social, econômico). Tal perspectiva clarifica como
processos sócioculturais e econômicos moldam o consumo, de forma especial aqui analisada,
na escolha da moradia. Com isso, fica evidente como mudanças econômicas e sócioculturais
32
têm resultado na emergência de novos espaços urbanos distintos: os condomínios horizontais
fechados são um exemplo dessa distinção.
Esta compreensão está explicitada no capítulo 03 que apresenta os condomínios
horizontais fechados de Goiânia, compreendendo-os como processos segregatórios gestados
por grupos em específico. Grupos esses que apresentam uma visão particular do mundo à sua
volta e que, a partir de um estilo de vida distinto ocupam espaços específicos para moradia. O
capítulo discute também como esses espaços fechados têm contribuído com a formação de
uma nova cultura de “morar” na cidade e aponta o caso específico do Privê Atlântico,
submergindo-se nas suas particularidades. Antes porém, é preciso explicitar sobre o espaço
construído de Goiânia, a cidade e sua Região Sudoeste.
33
Capítulo 02
__________________________________________________________________________________________
O Objeto no Espaço Construído: Goiânia e a Região Sudoeste
34
2. O Objeto no Espaço Construído: Goiânia e a Região Sudoeste
(...) a cidade é algo mais do que um amontoado de homens individuais e de
conveniências sociais, ruas, edifícios, luz elétrica, linhas de bonde, telefones
etc., algo mais também do que uma mera constelação de instituições e
dispositivos administrativos tribunais, hospitais, escolas, polícia e
funcionários civis de vários tipos. Antes, a cidade é um estado de espírito,
um corpo de costumes e tradições e dos sentimentos e atitudes organizadas
inerentes a esses costumes e transmitidos por essa tradição. Em outras
palavras, a cidade não é meramente um mecanismo físico e uma construção
artificial. Está envolvida nos processos vitais das pessoas que a compõem, é
um produto da natureza, e particularmente da natureza humana (Robert
Park).
Sem ter a intenção de empreender uma arqueologia da cidade, pretendemos aqui tecer
uma discussão situando, de forma compacta, a cidade de Goiânia em sua gestação e como ela
se apresenta hoje. Não queremos aqui realizar uma descrição histórica minuciosa de sua
criação, até porque, a historiografia goiana da construção da cidade elenca inúmeros fatores
responsáveis por sua construção
13
,fatores que, dependendo do autor, variam e apresentam
contornos com graus distintos de influência. Não nos cabe aqui validar ou questionar o peso
de cada um desses fatores, mas ressaltar apenas que, em sua criação, houve a confluência de
fatores políticos, econômicos e sociais diversos.
Fundada em 1933 por Pedro Ludovico Teixeira, Goiânia nasce com a missão de
conferir modernidade ao Estado de Goiás. Para sua construção foi escolhido um sítio que
apresentasse topografia regular e rede de drenagem adequada a um plano urbanístico
moderno, de avenidas largas, de espaços funcionais baseados em um rigoroso zoneamento.
Emergiu marcada por uma lógica formal dominante do Estado, através de um arrojado projeto
de construção a partir de um plano urbanístico moderno para a época. Moldada pela
perspectiva de um tempo novo, Goiânia se ergue sob o signo de uma nova cultura.
Planejada na década de 30 para 50 mil habitantes, a nova Capital do Estado pautou-se por
um projeto ousado. A antiga Capital, a Cidade de Goiás possuía uma população de apenas 8
mil habitantes, ao passo que Goiânia deveria abrigar 50 mil. Número este rapidamente
ultrapassado. O crescimento da cidade se deu de forma rápida e desordenada, sobretudo pelos
13
Sobre a mudança da Capital e a construção de Goiânia, consultar Palacin (1976); Campos (1980); Silva (1982); Chaul
(1988; 1995); Bernardes (1989; 1999); Machado (1990); Moysés (2001) e Macedo (2002).
35
fluxos migratórios de pessoas vindas das regiões Norte e Nordeste do país, e do Estado de
Minas Gerais.
Desenhada arquitetonicamente por Atílio Correia Lima e posteriormente pelo
Engenheiro Armando Augusto de Godói, Goiânia foi uma cidade planejada assim como Belo
Horizonte, Brasília e outras. Em termos políticos, a nova Capital era a concretização da força
do poder de grupos econômicos emergentes no âmbito do Estado. Criar uma nova capital foi
também uma estratégia de Pedro Ludovico para esvaziar o poder das oligarquias que
impediam o desenvolvimento sócio-econômico do Estado e tinham na Cidade de Goiás sua
base territorial. Ali, o ambiente cultural e político retrógrado, vinculado ao século anterior,
impediam as mudanças que os novos dirigentes, atendendo aos ideais da Revolução de 1930,
entendiam necessárias. Para golpear os coronéis da Velha República, (no caso de Goiás, os
Caiados), era preciso mudar a Capital para um local dotado de condições capazes de torná-la
centro irradiador e propulsor do progresso.
Se no passado a utopia dos construtores de Goiânia foi um elemento norteador de sua
implantação, hoje, o que vemos é uma cidade marcada pelo reverso dessa história de cidade
planejada, pensada e criada pontualmente. No auge de seus 69 anos, Goiânia assume novas
feições espaciais e se mostra amplamente marcada por muros e pautada por mundos sociais
distintos e específicos, representados, entre outros, pelos condomínios horizontais fechados.
Sua expansão urbana foi, desde o início, ordenada por um número expressivo de
planos diretores
14
, com suas leis de parcelamento e uso do solo, as quais tentaram na medida
do possível, intervir e ordenar a expansão de seu espaço. Nesse ordenamento é possível
encontrar os atores predominantes na estruturação do espaço urbano da cidade: o Estado, o
empreendedor imobiliário e a população
15
. É com a ação desses três agentes que Goiânia se
expande.
14
No total foram quatro planos diretores, embora oficialmente se registrem três que, o plano de Luis Saia (1959-1962)
não foi de todo utilizado, dado a explosão do Regime Militar. Assim, são eles: o plano urbanístico elaborado por Atílio
Corrêa Lima, complementado por Armando Augusto de Godói (concluído em 1937 e oficializado em 1938); o plano de Luis
Saia, não oficializado, de 1959-1962; o terceiro real e o segundo oficializado, desenvolvido pelo Arquiteto Jorge Wilheim, de
1967-1969; e o quarto atualmente em vigor, da Engevix Engenharia S/A, de 1989-1992 e oficializado em 1994. Sobre o
assunto, consultar os PDIGs, principalmente a parte que trata dos antecedentes históricos dos planos diretores de Goiânia,
produzidos por sua Prefeitura.
15
Essa relação fica mais clara na tese de Bernardes (1999). Segundo a autora, no processo de gestação de Goiânia, registra-se
o embate de duas racionalidades: o “planejado” e o “vivido”. O primeiro se deu de forma racional de quem planeja. Coloca
em evidência o Estado que assume, desde o início, o processo de implantação da nova Capital com a construção de prédios e
equipamentos destinados à adminstração pública. A segunda instância, o “vivido”, implicou numa outra forma de
racionalidade onde o uso do espaço urbano é uma realidade viva, dinâmica, em que se entrelaçam as necessidades concretas
da população e as alternativas que são criadas para o atendimento delas.
36
2.1 – A expansão do espaço urbano de Goiânia: sua Região Sudoeste
A partir de 1960 a população de Goiânia cresceu vertiginosamente. Passa de 150.000
habitantes para 260.000 em 1964. Nessa época, já consolidada como nova “cidade”, dotada de
alguns equipamentos urbanos com grandes investimentos do Estado e da iniciativa privada,
Goiânia criou a expectativa de um novo “Eldorado”. Isso mobilizou levas de imigrantes em
direção à nova Capital do Centro-Oeste.
Até 1947, o poder público era o responsável pela implantação de loteamentos com sua
infra-estrutura básica (rede de água, esgoto, energia elétrica, asfalto). Tal infra-estrutura
gerava custos e o Estado, diante disso, transfere à iniciativa privada o direito de lançar novos
loteamentos
16
. Todavia, esse direito exigia que esses empreendedores privados arcassem com
a implantação de toda infra-estrutura básica nas novas áreas de ocupação. Com o tempo, esses
agentes começaram a pressionar o poder público e este acabou por revogar tal medida. A
eliminação da obrigatoriedade de se implantar infra-estrutura básica nos loteamentos na
cidade, levou, de imediato, à aprovação de um grande número de parcelamentos, bem como o
número de construções, ativando o circuito imobiliário. Os loteamentos então se
multiplicaram de maneira desordenada, gerando grandes vazios e construções esparsas, sem
um tipo de utilização específica por espaço: havia construções industriais, comerciais e
residenciais que foram se espalhando espontaneamente com pouco controle
17
. Nesse processo
de expansão urbana, o setor imobiliário levava adiante a ocupação espacial, reservando as
imensas áreas, mais próximas dos núcleos centrais, à espera de valorização. Por outro lado,
áreas mais distantes, sem qualquer infra-estrutura, eram destinadas às classes mais pobres.
O processo de verticalização de Goiânia inicia-se na década de 60, e ocorreu de forma
rápida e relativamente desordenada nos primeiros anos, embora as normas então vigentes,
fossem omissas quanto à construção de edifícios. Foi uma verticalização significativa que se
manifestou nesse período dando uma nova configuração física à cidade, os edifícios de parte
alta que instalaram-se no Setor Oeste, criando habitação coletiva para famílias de classe
média alta.
16
Nessa época, a legislação que estabelecia as novas regras de parcelamento de terrenos era o Código de Edificações de 1947
(Lei Municipal nº 574, de 12/05/47).
17
Dos 426 loteamentos (incluindo os ilegais, conjuntos habitacionais, parcelamentos sob a forma de condomínios e sítios de
recreio) constantes nos Cadastros do poder municipal, cerca de 52% foram implantados nesse período.
37
Com a criação do BNH (Banco Nacional de Habitação) em 1964, foi possível a
construção, a partir de 1967, de conjuntos habitacionais (Vila Rendenção, Vila Alvorada, Vila
União, Alfa e Beta, Novo Horizonte, Conjunto Caiçara). É também nesse período que o poder
público implanta o terceiro plano diretor da cidade, o PDIG/1664, elaborado pelo Arquiteto e
Urbanista Jorge Wilheim. É com as definições das diretrizes e propostas para o espaço físico
da Capital, criadas por Wilheim, que serão decisivas e marcantes em toda a expansão e
formação do espaço urbano da cidade. Ele vai identificar em Goiânia a habitação como “força
agente” do “desenvolvimento e expansão da cidade” e vai propor, como “força indutora”
desse adensamento e expansão, o recurso da construção de conjuntos habitacionais. Baseado
em alguns aspectos físico-territoriais, produtivos, sociais e da especulação imobiliária,
Wilheim lança três alternativas para essa expansão:
a) “O crescimento linear Norte-Sul alcançando Aparecida, antes do ano 2000”. (Hoje
em processo);
b) “O desenvolvimento contínuo para Oeste e Sudoeste” (Hoje já esgotado);
c) “O crescimento ao longo da BR-153” (Hoje em processo).
Destas três alternativas, Jorge Wilheim adotou a segunda opção a fim de não gerar
uma conurbação com o município vizinho de Aparecida de Goiânia. A respeito dessa
estratégia, a fala do professor Aristides Moysés é esclarecedora,
A sugestão de conjuntos habitacionais como indutores do crescimento da cidade a
Sudoeste foi um orientação do PDIG dos anos 60 (....) mas a [expansão] não se deu
em razão dos vazios [da Região Sudoeste], a expansão para essa região foi uma
orientação do PDIG por conta de uma série de fatores, principalmente por questões
topográficas: solo, não havia [ali] problemas de reservas de mananciais, então uma
série de elementos. Não tinha barreiras físicas complicadas, como por exemplo, a
Leste você tem a BR-153 que era um problema (...) hoje não ta sendo mais, estão
arrumando um jeito, indo por baixo. Na época, até os anos 80 ela era um fator
limitador, então não era bom que se cresça a Leste porque se tem uma barreira e
trazer a população do outro lado da cidade, a cidade sempre foi radiocêntrica,
sempre convergiu para o centro, então trazer a população de pra exigia
investimentos, certo rompimento da barreira com a BR. A Norte não podia, não
devia porque ali se encontra as reservas florestais da cidade, os mananciais e tem
problemas de solo (...). E a Sudoeste oferecia todas essas condições topográficas e
de espaço favoráveis. (Entrevista cedida em Janeiro de 2003).
38
Assim, a orientação de conjuntos habitacionais como forma de propiciar a expansão
urbana da cidade veio se juntar à prioridade maior da Prefeitura, na década de 60, em termos
de infra-estrutura, ou seja, asfaltamento de vias, que o asfalto significava para a população
que estava migrando para a nova Capital o sinônimo de civilização e progresso que buscava.
em 1968 haviam quatro conjuntos habitacionais construídos pelo BNH, favorecendo com
isso o asfaltamento de vias, rede de transporte, água tratada e energia elétrica. Em 1975
contabilizavam-se 32 conjuntos desse tipo, alguns deles na Região Sudeste: Conjunto
Fabiana, Parque das Laranjeiras, Parque Atheneu e Parque Anhanguera I, são exemplos.
Outros na Região Sudoeste, Vila União, Novo Horizonte e o próprio Privê Atlântico, hoje
condomínio horizontal fechado. Já na Região Oeste, o conjunto habitacional mais
significativo foi o Conjunto Vera Cruz, criado em 1977, localizado a 7,5 km de distância da
malha urbana consolidada. Foi aprovado para 50.000 habitantes e construído pela COHAB
(Companhia de Habitação), órgão este que junto com outros agentes financeiros do SFH
(Sistema Financeiro de Habitação) como a CEF (Caixa Econômica Federal) tornaram-se os
“patrocinadores” de habitação à população mais carente.
Com o terceiro PDIG, definido por Jorge Wilheim no ano de 1967, a ênfase foi dada à
habitação como elemento capaz de adensar e expandir a cidade. Para essa expansão,
identificou nos conjuntos habitacionais a força indutora capaz de gerar esse adensamento
populacional. É o Estado quem assume esse papel, construindo com a ajuda do BNH,
conjuntos voltados para a população de classe média. Todavia, se atrela ao empreendedor
imobiliário que também vê nesses conjuntos um “nicho” de mercado.
Desse modo, a partir de 1975, a formação do espaço urbano de Goiânia vai resultar de
dois grandes processos: o adensamento exagerado e pontual de alguns bairros e da dispersão
exagerada da periferia. E nesse processo, como dissemos, três agentes assumem papel
relevante na ocupação do solo urbano: o Estado, os empreendedores imobiliários e os
chamados “posseiros urbanos”.
O Estado procurou induzir modificações estruturais e utilizou como elementos básicos
os investimentos públicos e a normatização legal. O empreendedor imobiliário investiu em
estratégias racionalizadas para ampliar seu mercado consumidor; e a partir de 1964, com o
BNH, passa a produzir em função da renda do comprador: para cada faixa de renda, um tipo
de imóvel. E inicia-se a partir de 1975 estratégias mais modernas e planejadas visando um
39
retorno mais significativo em seus negócios. Finalmente, a atuação dos invasores foi no
sentido de pressionar o Estado pela necessidade de “morar”. Começaram então, agora de
forma mais organizada, a forçar a ocupação de espaços vazios. Isso foi possível porque, de
1950 a 1964, o Estado, visando garantir juridicamente o regime de propriedade, entrava
sempre em conflito com esses posseiros tentando coibir invasões. Por outro lado, era mais
complacente com a ocupação de suas terras, o que acarretou uma série de invasões na fase
seguinte, que vai de 1964 a 1975. Com o aumento do número de posseiros de terras e de
invasões organizadas, em grandes grupos, o Estado acabou assumindo o ônus, quando isso era
feito em suas terras ou em terras de particulares, desapropriando a área e legalizando as
posses existentes.
2.2 – A regionalização de Goiânia
Goiânia está entre as grandes cidades brasileiras com uma população de mais de um
milhão de moradores. Tem hoje 1.093.007 habitantes
18
, com uma densidade demográfica de
aproximadamente 1.100 hab/km² Se considerarmos os núcleos populacionais que estão em
seu entorno, ou seja, somando as populações dos 11 municípios que formam sua Região
Metropolitana, seu número de habitantes eleva-se para 1.639.516 habitantes
19
.
Na década de 70, ocorre, de certa forma, uma profissionalização do planejamento
urbano de Goiânia. Isso se concretiza com a criação, em 1975, da SEPLAM e do INDUR
(Instituto de Desenvolvimento Regional). Nessa década, a cidade transformou-se num
laboratório experimental da política urbana e o planejamento urbano na Capital adquire
caráter técnico e se mostra como um possível atenuador do caos urbano em que a cidade se
apresentava.
De para cá, os órgãos municipais, hoje somente a SEPLAM, que o INDUR
20
não
mais existe,m tentado planejar e direcionar as ações que norteiam o crescimento da cidade.
Com isso, tem-se por parte de seus técnicos, um esforço em atualizar constantemente a base
18
Dado da Radiografia Sócio-Econômica do Município de Goiânia, 2002:16.
19
Idem nota anterior. Consultar página 17.
20
O INDUR no início da década de 90 fundiu-se com a ENCIDEC (Empresa de Ciência e Desenvolvimento Econômico).
40
de dados territoriais da capital, buscando espacializar os dados obtidos por bairros e também
por micros e macros regiões.
Com a aprovação, em 1992, do PDIG/2000, a cidade foi dividida em 64 distritos,
sendo este número reduzido depois para 63 quando da criação do Município de Abadia de
Goiás. A partir das várias mudanças pelas quais Goiânia passou na década de 90, essa
distritalização era insuficiente para caracterizar a realidade da cidade, dado o fato de que as
regiões Oeste, Sudoeste e Noroeste sofreram transformações com o lançamento de inúmeros
loteamentos. Após algumas discussões articuladas com representantes de outros órgãos
públicos, realizadas no ano de 2002, chegou-se à conclusão de que a área urbana de Goiânia
deveria ser regionalizada em 81 microrregiões, sendo uma delas o Distrito Vila Rica (hoje o
único existente) e 11 Grandes Regiões, apresentadas no Quadro 01 a seguir.
Quadro 01
Goiânia: Regiões, Microrregiões e suas Composições
1 - REGIÃO CENTRAL
Microrregiões Composição (Bairros, Vilas, Jardins, Setores)
1 – Central Setor Central
2 – Sul Setor Sul
4 – Oeste Setor Oeste
5 – Aeroporto Setor Aeroporto
9 – Norte Ferroviário Setor Norte Ferroviário; Setor Norte Ferroviário II
49 – Criméia Leste Loteamento Manso Pereira; Loteamento Nova Vila (parte); Setor Criméia Leste; Vila
Montecelli; Vila Fróes; Vila Jaraguá; Vila Megale.
50 – Negrão de Lima Loteamento Nova Vila (parte); Setor Leste Vila Nova (parte); Setor Negrão de Lima
51 – Vila Nova Setor Leste Vila Nova (parte); Vila Viana
52 – Bairro Feliz Bairro Feliz; Chácara Elísio Campos; "Chácara Rasmussen"; Chácara Retiro (parte);
Parque Industrial de Goiânia; Setor Morais; Vila Colemar Natal e Silva; Vila Osvaldo
Rosa; Vila Santa Izabel; Vila Yate
53. Leste Universitário Setor Leste Universitário
2 - REGIÃO SUL
Microrregiões Composição (Bairros, Vilas, Jardins, Setores)
3 – Marista – Bueno Setor Bueno ( parte ); Setor Marista; Setor Sol Nascente (parte); Vila Americano do
Brasil; Vila Boa Sorte (parte); Vila Santa Efigênia (parte) Qd. C e D e Chácaras; Vila
Teófilo Neto
10 - Pedro Ludovico Bairro Jardim das Esmeraldas ( parte dentro de Goiânia); Loteamento Areião I;
Loteamento Areião II; Setor Pedro Ludovico (parte)
11 - Nova Suiça –
Bueno
Bairro Nova Suiça (parte); Jardim América (parte) Qd.566; Setor Bela Vista; Setor
Bueno (parte)
41
Quadro 01 – Cont.
Goiânia: Regiões, Microrregiões e suas Composições
2 – REGIÃO SUL
Microrregiões Composição (Bairros, Vilas, Jardins, Setores)
12 - Parque Amazônia Bairro da Serrinha; Bairro Jardim América (parte) Qd. 461; Jardim Atlântico
(parte ); Nova Suiça (parte) Qd. 619,615,610; Parque Amazônia; Residencial
Taynan; Setor do Afonsos (parte dentro de Goiânia); Vila Divino Pai Eterno, Vila
Rosa (parte ); Vila São Tomaz (parte dentro de Goiânia)
13 - Jardim América Bairro Jardim América (parte); Vila Santa Efigênia (parte)
54 - Jardim Goiás Jardim Goiás (parte)
59 – Redenção Bairro Alto da Glória; Conjunto Vila Izabel; Jardim da Luz (parte); Setor Pedro
Ludovico (parte); Vila Maria José; Vila Redenção; Vila São João
60 - Santo Antônio Jardim Santo Antônio (parte); Jardim Botânico; Setor Pedro Ludovico (parte)
3 – REGIÃO SUDOESTE
Microrregiões Composição (Bairros, Vilas, Jardins, Setores)
16- Sudoeste Cidade Jardim (parte); Jardim Planalto (parte); Residencial Manhattan; Setor Sol
Nascente (parte); Setor Sudoeste (parte); Setor União; Vila Alpes; Vila Bela
17- Jardim Europa Bairro Anhanguera; Bairro Anhanguera (acréscimo); Conjunto Vila Alvorada;
Jardim Ana Lúcia; Jardim Atlântico (parte); Jardim Europa (parte); Jardim Planalto
(parte); Parque Anhanguera; Setor Sudoeste (parte) (divisa); Vila Adélia; Vila
Anchieta; Vila Canaã (parte); Vila Lucy; Vila Maúa; Vila Rezende
18- Jardins Florença
(Cond. Fechado)
Residencial Jardins Florença
19- Novo Horizonte/
Faiçalville
Conjunto Cachoeira Dourada; Jardim Europa ( parte ); Jardim Presidente; Jardim
Presidente (extensão); Jardim Vila Boa; Loteamento Faiçalville; Residencial
Flamingo; Vila Novo Horizonte
20- Jardim Atlântico Vila Rosa (parte); Jardim Atlântico (parte)
21- Celina Park Chácaras Dona Gê; Loteamento Celina Park; Loteamento Village Veneza; Parque
Oeste Industrial (extensão); Parque Oeste Industrial (parte); Residencial Eldorado;
Residencial Porto Seguro; Vila Luciana
22- Recreio dos
Funcionários Públicos
Bairro Recreio dos Funcionários Públicos; Residencial Canadá; Residencial Center
Ville; Residencial Eli Forte; Residencial Vereda dos Buritis
23- Parque Santa Rita Alphaville Residencial; Bairro Jardim Botânico (parte); Jardim Alfaville; Jardim
Eli Forte; Loteamento Solar Santa Rita; Parque Santa Rita; Residencial Eli Forte
(complemento); Residencial Forte Ville; Residencial Forte Ville (extensão);
Residencial Rio Verde; Residencial Solar Bougainville; Vila Rizzo (parte); Vila
São Paulo; Village Santa Rita
62 - Andréia – Cristina Condomínio Amim Camargo; Condomínio dos Dourados; Condomínio Marlene;
Setor Andréia; Setor Boa Sorte; Setor Caravelas; Setor Cristina; Setor dos
Dourados (extensão); Setor Garavelo B (parte em Goiânia); Setor Grajaú; Setor
Maria Celeste; Setor Orienteville
64- Baliza – Itaipu Cond. Habit. Madre Germana (parte em Goiânia); Conjunto Esmeralda; Conjunto
Habitacional Baliza; Jardim Itaipú; Residencial Itaipú
65- Parque Anhanguera II Parque Anhanguera II
66- Privê Atlântico Prive Atlântico
67- Residencial
Granville (Cond.
Fechado)
Residencial Granville
42
Quadro 01 – Cont.
Goiânia: Regiões, Microrregiões e suas Composições
3 – REGIÃO SUDOESTE
Microrregiões Composição (Bairros, Vilas, Jardins, Setores)
68- Santa Rita Bairro Santa Rita (3.ª etapa); Condomínio Vila Santa Rita (2.ª etapa); Condomínio
Vila Santa Rita (6.ª etapa); Condomínio Vila Santa Rita (7.ª etapa); Jardim Sônia
Maria; Loteamento Rio Formoso; Parque das Paineiras; Parque das Paineiras II
Etapa; Parque das Paineiras III Etapa; Parque das Paineiras IV Etapa; Residencial
Aquarios; Residencial Monte Carlo; Residencial Santa Rita (4.ª etapa); Setor
Doutor Ulisses; Setor Jardim Tancredo Neves; Setor Santa Rita (1ª etapa); Setor
Santa Rita (8.ª etapa); Setor Santa Rita (9.ª etapa); Vila Santa Rita (5.ª etapa)
69- Jardins Madri
(Cond. Fechado)
Jardins Madri
4 - REGIÃO OESTE
Microrregiões Composição (Bairros, Vilas, Jardins, Setores)
24 – Parque Oeste
Industrial
Bairro Goiá; Bairro Goiá (Setor Veloso); Bairro Goiá 2; Bairro Goiá 2
(complemento); Bairro Goiá 4; Chácara Santa Rita; Condomínio Santa Rita; Jardim
Mirabel; Parque Oeste Industrial (parte)
25- João Braz Chácaras Solange Park; Condomínio Anhanguera; Condomínio Nunes de Morais;
Loteamento Araguaia Parque; Loteamento Lorena Parque; Loteamento Luana Park
(continuação); Loteamento Solange Parque (complemento); Loteamento Solange
Parque 1; Loteamento Solange Parque 2; Loteamento Solange Parque 3;
Loteamento Tropical Verde; Parque Industrial João Braz; Parque Paraíso;
Residencial Goiânia Viva; Residencial Luana Park; Serra Azul; Sítios Garavelo
26- Vila Rizzo / Jardim
Aritana
Bairro Jardim Botânico (parte); Carolina Parque (extensão); Chácara São José
(parte); Condomínio Jardim das Oliveiras; Condomínio Rio Branco; Jardim
Aritana; Jardim das Rosas; Jardim Marques de Abreu; Loteamento Carolina
Parque; Residencial Della Penña; Residencial Nova Aurora; Setor das Nações
(extensão); Vila Rizzo (parte)
28- Vera Cruz Chácaras Maringá (parte); Conjunto Residencial Primavera; Conjunto Vera Cruz;
Jardim Petrópolis; Residencial Junqueira; Residencial Mendanha; Setor das Nações
63-Parque Bom Jesus Parque Bom Jesus; Parque Eldorado Oeste; Residencial Ytapuã
5 - REGIÃO MENDANHA
Microrregiões Composição (Bairros, Vilas, Jardins, Setores)
27- Jardim Petrópolis Bairro Ipiranga (parte); Bairro São Francisco; Jardim Leblon; Jardim Leblon II;
Jardim Pampulha; Jardim Petrópolis (parte); Residencial Cidade Verde; Residencial
Jardim Leblon; Vila Regina (parte)
29- Chácara de Recreio
São Joaquim
Chácara Recreio São Joaquim (parte); Condomínio Setor Maysa; Jardim Real;
Loteamento Tropical Ville; Parque Buriti; Residencial Carla Cristina; Residencial
Dezopi; Residencial Noroeste; Residencial Recanto das Garças; Residencial Solar
Ville; Residencial Tempo Novo; Setor Maysa (extensão)
30- Vila Regina Bairro Ipiranga (parte); Chácaras Maringá (parte); Jardim Bonanza; Jardim
Petrópolis (parte); Parque Industrial Paulista (parte); Residencial 14 Bis; Setor
Santos Dumont (parte); Vila Regina (parte)
31- Cândida Moraes Chácara Mansões Rosas de Ouro (parte); Jardim Nova Esperança; Parque Industrial
Paulista (parte); Setor Cândida Morais (parte); Setor Santos Dumont (parte); Vila
João Vaz (parte)
32- Capuava Bairro Capuava; Setor Cândida de Morais (parte); Vila João Vaz (parte)
43
Quadro 01 – Cont.
Goiânia: Regiões, Microrregiões e suas Composições
6 - REGIÃO NOROESTE
Microrregiões Composição (Bairros, Vilas, Jardins, Setores)
35- Mutirão Chácara Helou; Chácara Mansões Rosa de Ouro (parte); Chácaras de Recreio São
Joaquim (parte); Jardim Colorado; Jardim Colorado Sul; Jardim Curitiba (parte);
Jardim das Hortências (parte); Jardim Liberdade; Jardim Vista Bela; Parque
Aeronaútico A Sebba Filho; Residencial Anglo; Residencial Fortaleza; Residencial
Green Parque; Residencial Maringá (parte); Residencial Privê Norte; Setor Morada
do Sol (parte); Setor Novo Planalto; Setor Tremendão (parte); Vila Finsocial
(parte); Vila Mutirão I
36- Finsocial Jardim Curitiba (parte); Jardim das Hortências (parte); Residencial Maringá (parte);
Setor Estrela Dalva; Setor Morada do Sol (parte); Setor Parque Tremendão (parte);
Vila Finsocial (parte)
70- Conjunto Primavera Conjunto Primavera (zona de expansão urbana descontínua)
71- Alto Vale – Fonte
Nova
Chácaras Maria Dilce (parte); Jardim Fonte Nova; Recreio Barravento; Recreio
Panorama; Residencial Barravento; Residencial Jardim Belvedere; Residencial
Jardim Belvedere (extensão); Residencial Recreio Panorama; Setor Alto do Vale;
Sítios de Recreio Panorama
72- Recanto do Bosque Residencial Brisas da Mata; Residencial Recanto do Bosque
73- Jardim Vitória - São
Domingos
Bairro Boa Vista; Bairro da Floresta; Bairro Jardim Vitória; Bairro São Carlos;
Bairro São Domingos
7 - REGIÃO VALE DO MEIA PONTE
Microrregiões Composição (Bairros, Vilas, Jardins, Setores)
33 - Vila Maria Dilce Capuava Residencial Privê; Chácara Maria Dilce (parte); Jardim Santa Cecília;
Residencial Guarema; Residencial Hugo de Morais; Residencial Malibú; Setor
Empresarial; Setor Marabá; Setor Noroeste; Setor Perim; Setor Progresso; Setor
Sevene; Vila Clemente; Vila Cristina; Vila Cristina (continuação); Vila Maria
Dilce; Zona Industrial Pedro Abrão
34- Urias Magalhães Bairro Jardim Diamantina (parte); Granja Cruzeiro do Sul; Panorama Park;
Residencial Morumbi; Setor Gentil Meireles; Setor Urias Magalhães; Setor Urias
Magalhães II (Vila Roriz); Vila Nossa Senhora Aparecida
37- Jardim Balneário
Meia Ponte
Jardim Balneário Meia Ponte; Parque Balneário; Parque das Flores; Residencial
Balneário; Residencial Itália; Residencial Maria Lourença; Residencial Licardino
Ney
38- Mansões Goianas Bairro Jardim Diamantina (parte); Jardim Ipê; Loteamento Granjas Brasil; Mansões
Goianas; Parque das Nações
8 - REGIÃO NORTE
Microrregiões Composição (Bairros, Vilas, Jardins, Setores)
39 - Campus
Universitário
Campus Universitário ( UFG); Chácaras Califórnia; Chácaras Retiro (parte
Próximo do Arisco); Residencial Antônio Barbosa; Residencial Real; Village Casa
Grande
44
Quadro 01 – Cont.
Goiânia: Regiões, Microrregiões e suas Composições
8 - REGIÃO NORTE
Microrregiões Composição (Bairros, Vilas, Jardins, Setores)
40- Itatiaia Conjunto Residencial Campos; Loteamento Goiânia 02 (parte) Setores II e III;
Loteamento Morada dos Sonhos; Loteamento Shangry-lá; Residencial Morada do
Bosque; Residencial Atalaia; Residencial dos Ipês; Residencial dos Ipês (extensão);
Residencial Morada do Ipê; Residencial Nossa Morada; Sítios Recreio São
Geraldo; Vila Jardim São Judas Tadeu; Vila Itatiaia; Vila Jardim Pompéia; Vila
Maria Rosa; Village Atalaia
41- Goiânia II Chácara Retiro ( parte); Loteamento Goiânia 02 (parte) - Setores: IV – V – VI – VII
– VIII – IX - X
42- Jardim Guanabara Chácara Nossa Senhora da Piedade; Conjunto Parque dos Eucaliptos; Conjunto
Vila Militar; Jardim Guanabara; Jardim Guanabara II; Jardim Guanabara III;
Jardim Guanabara IV; Residencial Felicidade; Residencial Guanabara; Setor Asa
Branca; Vila dos Oficiais; Vila Santa Cruz
43- Santa Genoveva Bairro Santa Genoveva (parte)
44-Aeroporto Intenacional Aeroporto Int. Santa Genoveva
45- Jaó Bairro Santa Genoveva (parte); Setor Jaó; Chácara Retiro (parte)
74 - Parque dos Cisnes Condomínio Parque dos Cisnes (zona de expansão urbana descontínua)
81 - Vila Rica Distrito Vila Rica
9 - REGIÃO LESTE
Microrregiões Composição (Bairros, Vilas, Jardins, Setores)
46- Ceasa Sítios de R. M.Bernardo Sayão- Pólo Empresarial; Sítios de Recreio Ipê
47- Santo Hilário Bairro Santo Hilário; Bairro Santo Hilário (complemento); Bairro Santo Hílario- II;
Conjunto Caíçara; Conjunto Residencial Palmares; Jardim Abaporu; Jardim
Lajeado; Jardim Maria Helena; Loteamento Tupinambá dos Reis; Parque das
Amendoeiras; Residencial São Leopoldo; Residencial Belo Horizonte; Residencial
São Leopoldo ( complemento ); Residencial Senador Paranhos; Residencial Sonho
Dourado; Setor Recanto das Minas Gerais
48- Vila Pedroso Chácara São Silvestre; Colônia Santa Marta; Jardim Conquista; Jardim das
Aroeiras; Jardim Dom Fernando I; Jardim Dom Fernando II; Loteamento Grande
Retiro; Residencial Mar Del Plata; Vila Concordia; Vila Matilde; Vila Pedroso;
Vila Pedroso (complemento)
55- Novo Mundo Chácara Botafogo (parte); Chácara Santa Bárbara; Jardim Califórnia Parque
Industrial (parte); Jardim Novo Mundo (parte); Jardim Novo Mundo II; Vila
Martins; Vila Morais (atual)
56- Água Branca Bairro Água Branca (incluso Vila Água Branca); Chácara São Francisco de Assis;
Jardim Novo Mundo (parte); Vila Maria Luiza
57- Riviera Bairro Jardim Califórnia; Chácaras Botafogo (parte); Conjunto Habitacional
Aruanã; Conjunto Habitacional Aruanã II; Conjunto Habitacional Aruanã III;
Conjunto Riviera; Jardim Brasil (incluso Vila Maricá); Jardim Califórnia Parque
Industrial (parte); Loteamento Aruanã Park; Residencial Olinda; Residencial Sonho
Verde; Residencial Sonho Verde (complemento); Vila Parque Santa Maria
75-Condomínio
Residencial Aldeia do
Vale (Cond. Fechado)
Residencial Monte Verde; Sítios de Recreio Mansões Bernardo Sayão - Residencial
Aldeia do Vale
76- Vila Romana Novo Mundo (parte); Vila Bandeirantes (abaixo da BR 153) Vila Romana
Quadro 01 – Cont.
45
Goiânia: Regiões, Microrregiões e suas Composições
10 - REGIÃO CAMPINAS
Microrregiões Composição (Bairros, Vilas, Jardins, Setores)
6- Coimbra Setor Coimbra; Vila Aguiar; Vila Boa Sorte
7- Campinas Setor Campinas
8- Marechal Rondom Vila Viandelli; Setor Criméia Oeste; Vila São Luís; Vila São Francisco; Vila
Isaura; Jardim Xavier (parte); Vila Abajá (parte); Vila Vera Cruz; Vila Santa
Helena; Vila Ofugi; Vila Irany; Vila Santana; Conjunto Residencial Yara; Setor
Marechal Rondon (parte); Vila Fernandes; Vila Perdiz; Vila Paraíso; Setor Centro
Oeste (parte); Vila Jacaré; Vila Isaura (extensão)
14- Aeroviário Bairro dos Aeroviários; Esplanada do Anicuns (parte); Jardim Ana Flávia; Setor
São José (incluso Vila São Paulo / Conj. Padre Pelágio); Vila São José
(complemento); Vila São José (extensão)
15- Cidade Jardim Bairro Industrial Mooca; Bairro Nossa Senhora de Fátima; Bairro Rodoviário;
Cidade Jardim (parte); Conjunto Guadalajara; Conjunto Morada Nova; Conjunto
Resid. Rodoviário -Lot. Sta Terezinha; Conjunto Romildo F. R. Amaral; Esplanada
do Anicuns (parte); Granja Santos Dumont; Setor Castelo Branco; Setor Sol
Nascente (parte); Vila Adélia I e III; Vila Aurora Oeste;Vila Canaã (parte);Vila
Mooca;Vila Nova Canaã (parte);Vila Santa Rita;Vila Santa Rita (acréscimo);Vila
Santo Afonso
80- Setor dos
Funcionários
Jardim Xavier (parte); Setor Centro Oeste (parte); Setor dos Funcionários; Setor
Marechal Rondon (parte);Vila Abajá (parte)
11 - REGIÃO SUDESTE
Microrregiões Composição (Bairros, Vilas, Jardins, Setores)
58- Autódromo Autódromo Internacional de Goiânia; Jardim Goiás (parte); Parque Lozandes;
Privê dos Girassois; Residencial Aruanã; Vila Jardim Vitória (parte)
61- Parque das
Laranjeiras
Campus II – UCG; Chácara Alto da Glória; Chácara do Governador; Conjunto
Anhanguera; Conjunto Fabiana; Jardim Bela Vista; Jardim da Luz (parte); Jardim
Mariliza ;Jardim Santo Antônio (parte); Parque Acalanto (Conjunto Carajás);
Parque Atheneu; Parque das Laranjeiras; Parque das Laranjeiras (acréscimo);
Parque Residencial Flamboyant (parte de Goiânia); Parque Santa Cruz; Residencial
Ville De France; Vila Jardim Vitória (parte); Vila Legionárias; Vila Vicentina José
de Jesus
77- Vila Alto da Glória Vila Alto da Glória
78- Portal do Sol I E II Loteamento Portal do Sol I; Loteamento Portal do Sol II
79-Alphaville
Flamboyant (Cond.
Fechado)
Loteamento Alphaville Flamboyant
Fonte: SEPLAM/DPSE/DVSE - 2002
Segundo a SEPLAM, essa nova regionalização se justifica em razão da expansão
territorial da cidade
21
. Além disso, a necessidade de se isolar espaços homogêneos, como é o
caso dos condomínios horizontais fechados, espalhados pela cidade, dos espaços também
21
Expansão essa que indica que, principalmente de 1994 até final de 2001, 182 loteamentos foram aprovados. De acordo
com a SEPLAM, em 1990 aprovaram-se 113. Em 2000 foram 41 loteamentos aprovados e em 2001 182 novos loteamentos
foram aprovados na Capital.
46
homogêneos, mas com perfis diferenciados, como é o caso da área de posse, Parque
Anhanguera II, na Região Sudoeste de Goiânia.
Embora essa proposta da nova regionalização da cidade em 11 Grandes Regiões ainda
não tenha sido aprovada pelo Legislativo Municipal, o Projeto de Lei está tramitando,
aguardando aprovação e tem sido a regionalização que a Secretaria de Planejamento do
Município tem usado para direcionar suas ações no espaço da cidade de Goiânia. Essa nova
regionalização pode ser observada no Mapa 01.
Dentro dessa nova proposta de regionalização da cidade, o Privê Atlântico está
localizado na Região Sudoeste, na Microrregião 66. O Mapa 01 expressa essa localização,
bem como, a localização dos outros condomínios fechados localizados nessa Região: o
Residencial Granville, e os Jardins Florença e Madri. Conforme exposto no Quadro 01
apresentado anteriormente que contém informações sobre suas Regiões, Microrregiões e suas
composições, os espaços dos condomínios horizontais fechados foram “separados” dos
demais bairros a fim de se evitar uma homogeneização de espaços que são heterogêneos. A
idéia foi espacializar o espaço urbano de Goiânia e tentar evitar a homogeneização de espaços
com perfis diferentes. Isso porque, na Região Sudoeste, por exemplo, estão localizados quatro
condomínios fechados: o Privê Atlântico, os Jardins Madri e Florença e o Residencial
Granville. Por outro lado, esta é uma região que teve sua ocupação, conforme já dissemos, por
conjuntos habitacionais direcionados a um tipo de público de classe média e média baixa; e
também foi uma região ocupada por algumas invasões, como por exemplo, a invasão do
Parque Anhanguera II. Daí “separar” em microrregiões, espaços socialmente homogêneos
mas com perfis diferenciados, como é o caso dos condomínios horizontais fechados em
relação a áreas de posse.
47
DEIXAR ESPAÇO PARA O MAPA (UMA FOLHA)
48
A Região Sudoeste é a maior de todas as regiões em dimensão física e populacional.
Com uma população de 152.508 habitantes, essa Região está dividida em 9 Microrregiões,
sendo elas: Sudoeste, Jardim Europa, Jardins Florença (Cond. Fechado), Novo
Horizonte/Faiçalville, Celina Park, Recreio dos Funcionários Públicos, Parque Santa Rita,
Andréia Cristina, Baliza-Itaipú, Parque Anhanguera II, Privê Atlântico (Cond. Fechado),
Residencial Granville (Cond. Fechado), Santa Rita e Jardins Madri (Cond. Fechado).
Todavia, se por um lado é a Região da cidade com o maior número de habitantes, não
é a que apresenta a maior densidade populacional. Nela um total de 2.205,44 hab/km² e tal
fato se explica porque tal região foi alvo de um adensamento populacional via habitação de
ocupação horizontal, ou seja,
(...) é uma região de baixa densidade demográfica porque predomina habitação
unifamiliar. Predomina a ocupação horizontal. Aquela região localizada ali no
Celina Park você vai encontrar alguns prédios (...) mas prédios espalhados, mas ela
é ocupada majoritariamente por casas (...) vazios hoje tem mas já reduziu muito (...),
mas é uma região em que não espaço verde, não tem um bosque, você não tem
árvores, parque (Entrevista com Aristides Moysés da SEPLAM, cedida em Janeiro
de 2003).
Esse talvez seja um dos maiores problemas da Região, a falta de áreas verdes. Quando
do PDIG/1967, não se pensou na possibilidade de criar ali espaços reservados com áreas
verdes, como um bosque ou parque, que em termos de outras infra-estruturas com asfalto,
abastecimento de água, de energia elétrica e rede de esgoto, ela é uma Região favorecida.
Diante de tantas reordenações, a cidade que se ergue hoje, suplanta, de certa forma, a
cidade pensada e planejada em 1933. Ela vem ganhando novos contornos mais nítidos nas
últimas décadas, sobretudo na forma de morar de seus habitantes, organizando e ocupando o
espaço de forma distinta. Nessa nova organização espacial e nesse novo jeito de morar,
ganham visibilidade os condomínios horizontais fechados. Estes, cuja atuação do poder
público tem sido a de “negociar” com os empreendedores imobiliários que se especializaram
ainda mais na década de 90, descobrindo verdadeiros “nichos” mercadológicos, “vendendo”
um novo “estilo de vida”.
49
2.3 A atuação do empreendedor imobiliário
apontamos anteriormente que a expansão do espaço urbano de Goiânia contou com
a atuação de três agentes principais: o Estado, os “posseiros urbanos” e o empreendedor
imobiliário. Este último tem um papel significativo na expansão dos condomínios horizontais
fechados da Capital.
Ribeiro (1997), ao analisar sobre as formas de produção de moradia no Rio de Janeiro
assinala que os incorporadores exercem um papel de iniciadores e organizadores dos
processos de produção de moradia. Segundo o autor, cabe a esses agentes escolher e vender o
terreno para construção, contratação dos projetos de arquitetura e engenharia, contratação dos
promotores de venda, entrega das unidades residenciais prontas, entre outras atribuições.
Assim, este profissional compra um terreno e, a partir da obtenção do financiamento para
construção e comercialização, decidi sobre as formas de produção de moradias.
Esse tipo de agente tem pois o papel importante na organização e expansão do espaço
urbano. Nas palavras de Ribeiro,
O que confere particularidade ao incorporador e o diferencia de um simples agente
do capital comercial é que, ao adquirir o terreno, ele assume também o controle
sobre uma condição que permite o surgimento de um sobrelucro de localização: a
transformação do uso do solo. (Ribeiro, 1997:98).
A transformação do uso do solo urbano que o empreendedor imobiliário vem
promovendo na cidade de Goiânia pôde ser sentida principalmente a partir dos anos 90,
sobretudo em 1996, quando ocorreu um boom no mercado imobiliário goiano com o
surgimento de um número expressivo de condomínios horizontais fechados, alguns baseados
em mega-projetos de construções, cujo modelo arquitetônico se destaca diante das simples
construções que cercam a maioria desses condomínios.
Esses empreendedores utilizam o marketing, através da mídia para “vender” um novo
jeito de morar, incorporando, aos novos espaços de sua atuação, valores e símbolos que são
logos absorvidos pela população da cidade. Ao propiciar o surgimento desses condomínios
fechados, através do fechamento de um loteamento, esses agentes influenciam e se impõem
50
junto ao poder público. Até porque, os critérios exigidos pelo poder municipal para o
fechamento de um loteamento são negociados, portanto, flexíveis de certa forma. Os projetos
devem atender alguns requisitos básicos, mas no geral podemos dizer que a aprovação é feita
mediante negociações entre o poder público e as incorporadoras. Mesmo Goiânia possuindo
todo um aparato legal de regulação do solo urbano, que vai desde os PDIGs até as inúmeras
leis complementares de parcelamento, o raio de interferência do setor imobiliário, com um
trânsito de certa forma tranqüilo junto ao poder público, acaba sendo bastante grande
22
,
inclusive em termos de pressão
23
.
E atuar no mercado lançando novos condomínios horizontais fechados em Goiânia
tem sido algo recorrente entre os empreendedores imobiliários. As notícias veiculadas nos
jornais locais apontam essa dinâmica,
O segmento de condomínio horizontal está impulsionando o mercado imobiliário de
Goiânia. Entre 1998 e 2000, o setor investiu R$ 500 milhões em novos
empreendimentos. Nos próximos três anos serão investidos R$ 1,4 bilhão, três vezes
mais. Os condomínios horizontais, que até então não eram alvo de atenção do
mercado, vão responder agora por 60% desses investimentos, afirma Fernando
Maia, Presidente da Associação de Empresas Incorporadoras de Goiás (ADEMI-
Go). (O Popular, 25/03/01).
Assim, tudo indica que a tendência é o setor imobiliário investir cada vez mais neste
“nicho” mercadológico, lançando novos projetos voltados para diferentes setores sociais
“seduzidos” por esse “novo estilo de morar” que a publicidade tanto tem “vendido”.
Desse modo, a cidade se expande, desde sua fundação, quer através de loteamentos
legais ou clandestinos, quer através dos conjuntos habitacionais, estes financiados pelo Estado
através do SFH e do BNH. E é diante desse cenário de progressivas transformações que
Goiânia chega à década de 90 marcada por problemas urbanos e dividida entre o legal e o
ilegal. É também nos anos 90 que a cidade institucionaliza-se como metrópole. Nessa década,
ocorre uma visível ocupação de sua região Noroeste, através de sucessivas invasões e,
22
Por ser uma cidade planejada, Goiânia possui um setor imobiliário bastante especializado.
23
É preciso aqui ressaltar a atuação da SEPLAM que tem sustentado grandes preocupações em relação aos problemas
possíveis que os condomínios horizontais fechados podem trazer à cidade. Na verdade, a Secretaria sempre procurou
defender o que está em vigor nas legislações, ordenar, controlar e fiscalizar. O problema é que muitas das preocupações
acabam sendo sucumbidas pela fragilidade mesmo do poder público diante de um sistema perverso.
51
posteriormente com a intervenção do poder público estadual
24
, contribuindo para a formação
de uma das regiões mais pobres da Capital. É neste período que se intensifica em Goiânia o
processo de periferização e segregação sócio-espacial da cidade.
Simultânea a essa ocupação de sua Região Noroeste, temos uma outra forma de
segregação sócio-espacial, aquela implementada pelos grupos sociais que estão fugindo de
bairros centrais e de seus problemas para as periferias distantes. Essa é uma segregação não
por exclusão, mas sim, por opção. É nos anos 90 que os condomínios horizontais fechados
vão ganhar visibilidade, muito embora o pioneiro nesse modelo, o Privê Atlântico, nosso
objeto de estudo, tenha surgido em 1978, entretanto, seu status de Condomínio foi
alcançado em 1996, momento em que ocorre um boom do mercado imobiliário oferecendo
várias opções desses espaços fechados de moradia, propiciando uma proliferação de tais
complexos residenciais na paisagem urbana de Goiânia.
Diante de tantas mudanças num espaço de tempo tão curto, acelera-se a condição de
Goiânia como uma cidade em constante mutação. O que temos hoje é uma cidade marcada
por alterações significativas: novas avenidas, reformas de ruas, dispersão da periferia,
condomínios horizontais fechados sendo criados, deslocamento do centro, tentativas de
revitalização deste. São situações que evidenciam uma cidade em redefinição. Dotada de
espaços plurais e polissêmicos, suas transformações apontam para a idéia de variadas e
distintas Goiânias. Em seu aniversário de 67 anos, jornais locais enfatizavam a existência
dessas inúmeras Goiânias,
Mesmo completando hoje 67 anos de fundação, outras Goiânias, muito mais
novas, em muitos casos fruto da luta do povo por moradia (...) algumas regiões da
cidade parecem ter vida própria, independente, sem a necessidade de seus moradores
dirigirem-se aos bairros centrais para fazer compras ou pagar contas (...) é assim
com a região Noroeste, apesar de apresentar inúmeros problemas, cujo
desenvolvimento teve início em 1979, quando surgiu o Jardim Nova Esperança (....)
com mais de cem mil habitantes, tem perfil de cidade autônoma (O Popular,
24/10/2000).
24
Como exemplo dessa intervenção estatal na formação da Região Noroeste da cidade temos a criação do Bairro da Vitória.
Bairro esse que foi ocupado por “posseiros urbanos” com o apoio do poder estadual que, desrespeitando a legislação urbana
em vigor favoreceu a ocupação de uma área rural sem infra-estrutura, com um assentamento urbano à revelia do poder
municipal.
52
E assim, num curto espaço de tempo tem-se um espaço múltiplo, uma cidade recortada
por mundos distintos, em que diferentes setores sociais, separados por altos muros, dividem,
muitas vezes, o mesmo espaço físico mas não compartilham da mesma interação social. Isso
acaba por gerar representações distintas de como morar e vivenciar a mesma cidade na qual
vivem.
53
Capítulo 03
________________________________________________________
Condomínios Horizontais Fechados – a realidade de Goiânia
54
3. Condomínios Horizontais Fechados: a realidade de Goiânia
Aleluia! Entremos no melhor dos mundos, o paraíso sobre a Terra, o reino
da felicidade, do êxito assegurado e da juventude eterna. Nesta região
mágica de céu sempre azul, nenhuma poluição macula o verde viçoso das
folhagens, nenhuma marquinha estraga a pele vivamente rosada das
meninas, nenhum arranhão desfigura a lataria rebrilhante dos veículos. Nas
estradas desertas, mulheres jovens, de belas pernas bronzeadas, dirigem
carrões rutilantes que mal acabaram de sair da lavagem automática. Elas
ignoram os acidentes, a cerração, os controladores de velocidade, a
possibilidade de furar um pneu. Deslizam pelos engarrafamentos das
grandes cidades como verdadeiras enguias, não atravessam nunca os
bairros sinistros, evitam todos os lavadores de pára-brisa morenos dos
cruzamentos e, silenciosas, dirigem-se para apartamentos de mobília
caríssima ou para suntuosas casas de varaneio (Oliviero Toscani).
Na reflexão sobre os condomínios fechados de Goiânia vamos nos deter,
principalmente, em algumas questões: A primeira diz respeito ao debate sobre o modelo
centro-periferia que por muito tempo foi capaz de explicar a separação espacial entre as
classes
25
. A segunda refere-se à dualização da estrutura social, de um lado ricos, de outro
pobres, evidenciando a cidade como um espaço de negociação e conflito. Por isso mesmo,
marcada por gostos e visões particulares. Isso implica na gestação de um estilo de vida
próprio de um grupo. Nesse caso, daqueles que m optado por residir em espaços fechados
pelos altos muros.
A industrialização, o desenvolvimento científico e tecnológico, a educação, o aumento
e aperfeiçoamento dos meios de transportes e telecomunicações refletiram, e muito, no
crescimento das cidades, as quais, sem estrutura para atender às demandas dos que nelas
chegam, apresentam-se problemáticas, que vêem seu contingente populacional crescer de
forma desordenada. São gerados problemas de diversas ordens: congestionamento no trânsito,
ineficiência nos serviços públicos, aumento da poluição ambiental, violência e criminalidade,
sem contar graves problemas como miséria, fome, configurando processos de exclusão social.
Dessa forma, as cidades geram seus conflitos e, seus moradores acabam por vivenciá-
los: violência urbana, dificuldades nos relacionamentos, falta de confiança nos agentes
públicos (governo, policiais etc.), conflitos que levam muitas pessoas a buscarem uma
25
Tal modelo ainda é capaz de explicar a realidade de algumas cidades. O que queremos apontar é para o fato de que, a partir
dos anos 80, um novo padrão de separação espacial vem se apresentando, dando ao modelo centro-periferia uma nova
relevância.
55
alternativa “segura” ou um “refúgio” que as protejam. Essa realidade acabou por conduzir as
classes média e alta a dois movimentos específicos:
Num primeiro momento, essas classes refugiaram-se em apartamentos de condomínios
verticais fechados com porteiros, segurança. Embora estas categorias sociais ainda busquem
esse tipo de moradia, pouco conforto encontram no que se refere às áreas verdes e ao lazer. Já
num segundo momento, os condomínios horizontais ganharam notoriedade, pois, além de
guaritas, circuitos internos de TV, eles contam com áreas verdes e de lazer. A sensação de
insegurança derivada dos fenômenos de criminalidade e do tráfico de drogas, crescentes a
cada dia no contexto urbano, aflora no imaginário dos indivíduos levando-os a optar por um
desses “refúgios”.
A sociedade em que vivemos abriga diferentes grupos sociais, os quais mantêm
relações diferenciadas com o ambiente urbano. A partir de vontades individuais que são
derivadas das condições sociais, os grupos buscam realizar essas vontades e, com isso, faz
usos exclusivos da cidade. A tese da dualização da estrutura espacial, que há muito explicou o
espaço dividido em dois pólos: de um lado ricos (nos espaços mais valorizados) e, de outro,
pobres (nos espaços exclusivos para a pobreza), é hoje contestada. Nos dias atuais, existe uma
enorme complexidade na estrutura espacial urbana.
Com tantos problemas emergindo no contexto urbano, os setores sociais médios e
altos buscaram estratégias para fugir desse ambiente marcado por tantos conflitos urbanos.
Daí os diferentes movimentos em busca dos chamados “refúgios”. É esquemático e simples
dividir a sociedade em dois pólos. Os diferentes grupos sociais apresentam visões de mundo,
valores e estilos de vida distintos, fazendo usos diferenciados da cidade. Entretanto, os
diferentes usos que cada grupo social faz da cidade não passam pelo crivo da escolha racional.
Isso porque, entendemos o processo de auto-segregação como não sendo um fato produzido
apenas pela vontade de alguns atores sociais. Outras forças atuam nessa escolha como o
Estado, o mercado imobiliário, o aumento real da violência, o medo real e imaginário,
propiciado pela mídia e até mesmo a disseminação da idéia de um “novo estilo de moradia”,
via publicidade. Este conjunto de causas acaba por apontar uma nova configuração dos
espaços urbanos.
56
Diante disso, buscamos compreender a cidade de Goiânia numa perspectiva de
espaços plurais e polissêmicos, ao invés de “metrópole dualizada”. Até porque, segundo Levy
(1997), o processo de globalização tem determinado uma nova hierarquia de espaços. Novas
funções se dão em novos lugares e os espaços existentes apresentam uma nova
configuração física, econômica e social. Levy está tratando dessas mudanças a partir da
emergência do que ela chama de “cidade global”, denominação esta usada pela autora para
evidenciar as cidades que estão sendo lócus dessas transformações. Assim, as cidades se
apresentam não somente dualizadas, mas marcadas por espaços de múltiplas funções. Espaços
plurais multifacetados englobados numa realidade muito mais complexa do que a simples
idéia da dualização do espaço nos apresenta.
Ainda sobre a idéia de dualização da estrutura espacial, podemos retomar Caldeira
(Op. cit.), segundo a qual a segregação tanto social quanto espacial é uma das características
das cidades. A autora nos mostra três tipos de padrões segregatórios do espaço urbano: o
primeiro produziu uma cidade concentrada, em que os grupos sociais estavam juntos numa
área urbana próxima. O segundo é a forma centro-periferia, onde os diferentes grupos sociais
estão separados por grandes distâncias, as classes média e alta nos bairros centrais e as classes
pobres nos bairros periféricos. O terceiro padrão diz respeito a uma forma que vem se
consolidando desde os anos 80. São os espaços nos quais diferentes grupos estão muitas vezes
próximos, mas separados por muros e tecnologias de segurança, que impedem a sua
circulação e/ou interação em áreas comuns.
Nessa nova forma de organização do espaço, o conceito de periferia passa a ser
reformulado (Gottdiener, 1993). Área entendida como distante e sem infra-estrutura, lugar
que abrigava as classes pobres, agora passa a ser reassimilada como local das grandes
construções, constituindo-se assim, muitas vezes, em um espaço híbrido. As regiões centrais
passam por uma desvalorização e a proximidade dessas áreas aponta para uma estigmatização,
que, morar no “centro” é estar muitas vezes, próximo do barulho, mistura, confusão,
trânsito caótico, etc. E assim, a diferenciação centro-periferia assume outra relevância como
modelo explicativo da separação espacial entre as classes
26
. Isto não implica dizer que a
“periferia” perdeu seu sentido histórico.
26
Lago, em seu texto: O que de novo na clássica núcleo-periferia: a metrópole do Rio de Janeiro aponta algumas
transformações tais quais: “a crescente instabilidade do trabalho e da renda com seus efeitos sobre o acesso à cidade, a
retomada do crescimento das favelas tanto em áreas centrais quanto nas periféricas e o surgimento, na periferia, de novos
espaços residenciais e comerciais excludentes, destinados às camadas médias na periferia” que reforçam e sustentam tal
hipótese de que o modelo centro-periferia assume uma nova relevância como modelo explicativo, até porque, a dualidade
centro-periferia se mantém e se complexifica com a entrada de alguns setores médios em algumas áreas periféricas. (Lago,
2000: 207).
57
Até aqui buscamos não dividir a estrutura do espaço em dois pólos: de um lado ricos,
do outro pobres. Entretanto, esses pólos são encontrados quando deixamos de falar de
estrutura espacial para falarmos de estrutura social. Conforme Caldeira (Op. cit.) expõe, hoje
verificamos uma proximidade entre as classes, que muitas construções do tipo condomínio
horizontal fechado são erguidas junto às periferias marginalizadas ou em locais bastante
afastados das regiões centrais da cidade. Todavia, essa "proximidade" termina por aí. Os
diferentes extratos sociais não interagem nos mesmos espaços, mas vêem seus territórios
demarcados através dos muros altos e dos sistemas de identificação e controle dos
condomínios fechados.
Quando falamos da cidade, percebemos que a mesma é um "espaço social e este não se
reproduz sem conflitos e contradições" (Bernardes, 2001:11). Ao falarmos de conflitos e
contradições remetemo-nos a grupos sociais que, por pertencerem a estratos diferenciados,
acabam apresentando expectativas diferentes, anseios, desejos e estilo de vida próprios. E para
compreender a gestação dessa forma de morar, remetemo-nos a conceitos de Bourdieu. Para o
autor, "às diferentes posições no espaço social correspondem estilos de vida (...). As práticas e
as propriedades constituem uma expressão sistemática das condições de existência (aquilo que
chamamos estilo de vida)" (Bourdieu, 1994:82).
Ou seja, as condições de existência, as condições de vida de cada um, lhe propiciam
um estilo próprio, lhe asseguram uma visão de mundo particular e lhe dão um "habitus"
próprio. O autor define esse habitus como um "sistema de disposições duráveis e
transponíveis que exprime, sob a forma de preferências sistemáticas, as necessidades objetivas
das quais ele é o produto" (id. ibid, 82). Bourdieu quer dizer que um estilo de vida como
habitus implica em gosto, e não necessariamente em poder aquisitivo (dinheiro). Um estilo
de vida, assim como o habitus do qual ele faz parte, depende das condições nas quais foi
produzido. Bourdieu define estilo de vida como "um conjunto unitário de preferências
distintivas que exprimem, na lógica específica de cada um dos subespaços simbólicos,
mobília, vestimentas, linguagem ou héxis corporal (...)" (id. ibid, 1994:83).
No caso dos condomínios horizontais fechados, o espaço simbólico é o da moradia.
Habitar tal espaço faz parte de um estilo de vida, de uma preferência distintiva de um grupo
social. Aqui, o “aparelho simbólico”, objeto que exprime as diferenças sociais mais
fundamentais entre um estilo de vida e outro é dado pela escolha da moradia. Esse segmento
58
de pessoas apresenta aspectos econômicos e simbólicos distintos. Assim, é preciso levar em
consideração o aspecto simbólico ligado à representação que os indivíduos de um mesmo
grupo fazem de sua posição e situação relativa. Ou seja, segundo Bourdieu, as diferentes
relações simbólicas, que os indivíduos mantêm uns com os outros, acabam por exprimir
diferenças de situação e posição num contexto social dado, o que as torna “distinções
significantes”.
A busca do status, a expressão de um estilo de vida particular, mostra a oposição entre
agrupamentos. Pierre Bourdieu diz que, “os grupos se investem inteiramente, com tudo o que
os opõem aos outros grupos, nas palavras comuns onde se exprime sua identidade, quer dizer,
sua diferença” (id. ibid.: 86). A diferença explicitada no caso dos condomínios horizontais
está na escolha da moradia. Todavia, uma moradia que atende a outras necessidades além do
fato de abrigar pessoas em casas. Há, por outro lado, a busca da tranqüilidade, qualidade de
vida e de status. E, segundo Bourdieu, sempre quando uma distância entre um ato
praticado com relação à sua necessidade, o estilo de vida se torna cada vez mais o que ele
chama de “estilização da vida”, definida como a “decisão sistemática que orienta e organiza
as práticas mais diversas, escolha de um vinho e de um queijo ou decoração de uma casa de
campo”. (id. ibid. 86). Aqui podemos incluir a escolha da moradia.
3.1 – A formação de uma nova cultura de “morar” na cidade
Notadamente, esses condomínios horizontais fechados constituem uma mudança no
padrão residencial urbano, cujo espaço é reorganizado na medida em que diferentes classes
sociais passam a viver mais próximas umas das outras, em algumas áreas, mas são mantidas
separadas por barreiras físicas como altos muros e sistemas eletrônicos de controle e
identificação, tendendo a não interagirem nos mesmos espaços. (Caldeira: Op. cit).
Todavia, essa tendência de enclausuramento residencial é nova no contexto de
Goiânia. Entretanto, a Prefeitura da Capital tem conhecimento de pequenos loteamentos
fechados espalhados por algumas regiões da cidade. Desde 1981 alguns lotes veem sendo
cercados por muros em alguns bairros e até hoje não contam com uma legalização desses
59
muros
27
. Além disso, um outro fator evidencia a emergência dessa nova cultura de auto-
segregação: o fato de que, muitas vezes, partes de um bairro, por vezes quadras são cercadas a
partir da vontade da própria população daquele espaço.
Assim, essa cultura de auto-segregação emergente nas grandes cidades, e praticada por
um número significativo de goianos, evidencia uma nova maneira de habitar a cidade e fazer
uso de seus espaços. Essa nova realidade acaba por imprimir transformações significativas na
paisagem e no imaginário popular, evidenciando o “muro” como elemento emblemático desse
novo processo de enclausuramento e auto-segregação.
E é no contexto das transformações em áreas centrais e deslocamento das classes
média e alta que os condomínios horizontais aparecem como uma opção de segurança,
tranqüilidade e qualidade de vida. Isso é o que indicam os vários anúncios publicitários
veiculados em jornais locais, folders de divulgação e outdores espalhados pela cidade. O
melhor lugar dessa cidade”; Venha brincar de viver”, A moda aqui é ser feliz”, são frases
recorrentes nos anúncios publicitários visando atrair novos compradores para esses projetos.
O número significativo de pessoas que têm optado por esse tipo de habitação evidencia essa
dinâmica. Segundo a revista Veja, em matéria publicada no dia 15 de maio de 2002, são
hoje 1 milhão de brasileiros que optaram por esse tipo de moradia. No contexto de Goiânia
temos 3.950 moradores
28
, segundo dados da ASCONH–GO, evidenciando o surgimento,
portanto, de uma nova cultura de morar no contexto urbano.
A força da publicidade tem sido um elemento importante para a formação dessa nova
cultura habitacional, até porque,
27
Em matéria publicada em O Popular no ano de 1981, o IPLAM Instituto de Planejamento Municipal, órgão hoje
substituído pela SEPLAM Secretaria Municipal de Planejamento, denunciava a existência de 18 loteamentos fechados do
tipo condomínio, nomeando 11 deles: Parque dos Cisnes, Aracoara Parque, Alphaville, Jardim Estrela Dalva, Condomínio
Amin Camargo, Condomínio Ipanema, Condomínio Cristina, Condomínio Jardim Marquês de Abreu, Condomínio Maysa,
Condomínio Santa Rita e Condomínio Rio Branco. E dizia mais, “o setor imobiliário de Goiânia está em crise. No último
dia 19 de janeiro, o desembargador Clenon de Barros Loyola, então corregedor geral de justiça, baixou o provimento 03
proibindo aos cartórios o registro de escrituras de lotes nos chamados condomínios horizontais, que, no seu entender, nada
mais são do que um meio ilegal que as imobiliárias da capital encontram para fugir da obrigatoriedade de construção de infra-
estrutura nos loteamentos, prevista nas leis municipais (...) ao baixar o provimento n° 03, o desembargador Clenon de Barros
Loyola justificou que a lei 6.766 de 19 de dezembro de 1.979, que dispõe sobre o parcelamento do solo urbano, não é só
um instrumento eficaz de defesa da economia popular, como constitui necessário freio ao crescimento desordenado, que
tantos males tem causado às nossas cidades” (O Popular, 11 fev. 1981, p. 25). em 1985, a imprensa local divulga a
existência de 29 loteamentos fechados.
28
Essa informação refere-se a um número aproximado. Certamente que bem mais pessoas residindo nesses espaços, dado
o fato de alguns condomínios ainda estarem em processo de ocupação das residências. Sobre o assunto, consultar a
ASCONH-GO.
60
[ela] nos propõe um mundo de ninharias entusiastas cada vez mais batidas nestes
tempos de crise econômica e espiritual (...). A publicidade excita desejos, seduz os
ingênuos, cria-lhes necessidades, torna-os culpáveis. Ela nos atrai para os seus
encantos (...) (Toscani, 1996:28-29).
Certamente que os “encantos” da publicidade m força significativa no imaginário
dos indivíduos que, ao se sentirem reféns de uma situação “caótica”, encontram nos anúncios
que “vendem” um mundo aprazível, aconchegante, próximo à natureza e longe dessa
“confusão” da cidade, um grande “refúgio”. Tal como sugere Pesavento (1999),
as imagens urbanas trazidas pela arquitetura ou pelo traçado da cidade, ou pela
publicidade, pela fotografia, pelo cartaz, pelo selo, pela pintura, pelo desenho e pela
caricatura têm, pois, o potencial de remeter também, tal como a literatura, a um
outro tempo (Pesavento:1999:16).
A idéia é a de que tais imagens publicitárias levam ao imaginário dos indivíduos um
outro tempo, um outro espaço. Estes se vêem envolvidos por imagens que evidenciam pessoas
vivendo em constante harmonia, felicidade, pessoas convivendo num ambiente agradável,
tranqüilo, silencioso, próximo à natureza. O mundo “lá fora” faz parte da vida do “outro”. O
tempo é de alegria, felicidade, liberdade, a “moda é ser feliz”. Nos últimos anos, as
propagandas publicitárias “vendendo” esse novo estilo de morar têm sido significativas em
Goiânia. Folderes, anúncios em jornais, outdoores gigantescos espalhados por toda cidade,
anunciando essa nova estética de segurança e um novo jeito de “habitar” a cidade. Nas
palavras de Bernardes (2001) “verdadeiros totens, objetos de adoração, de referênciação a
serem adotados pelos habitantes como objetos de identificação, de orgulho” (p.17).
61
Figura 02 – Folder publicitário do Condomínio Residencial Granville.
(destaque para a harmonia da vida familiar e os dizeres “lugar de sonhar”)
Fonte: arquivo particular.
Esses totens, portanto, passam a corresponder aos anseios de uma parcela da
população, as classes média e alta. Entretanto, veem sendo assimilados por outros grupos
sociais, classes com menor poder aquisitivo que estão também absorvendo essa nova cultura
residencial. Sendo assim, percebemos que essa nova forma de morar na cidade interfere na
representação que seus habitantes têm dela. Ao criar novas representações em relação à
cidade, essa nova forma de (re)produção social do espaço, via condomínios horizontais
fechados, geram novas sociabilidades, impactos econômicos, sociais e culturais no seu
entorno, evidenciando portanto, uma nova imagem do processo de “habitar” as cidades.
3.2 – Condomínios Horizontais: um novo “habitar” no contexto urbano
Neste novo processo temos a idéia de uma ”comunidade de iguais”
29
, que passa pela
marca simbólica da “distinção” que trazem os membros de um grupo particular, e que os
distinguem dos “estranhos” e “indesejáveis” da rua. Caldeira (Op. cit) mostra essa distinção,
29
Tomamos aqui emprestada a expressão de Frúgoli (1995), ao se referir aos condomínios horizontais fechados como uma
das modificações ocorridas no contexto urbano, sobretudo no aspecto de negação da esfera pública dentro das cidades.
62
esses status, a partir dos meios de separação implementados para demarcar as áreas. Segundo
ela, nos condomínios fechados ocorre uma elaboração simbólica, que acaba por transformar
isolamento, muro, vigilância ostensiva em símbolos de status.
Para Bourdieu (1974), os grupos de status pertencem à ordem simbólica. E, para esses
grupos, interessam mais o “ser” do que o “ter”. Ou seja, é mais importante do que posses
financeiras a maneira particular de usar um determinado bem. A distinção desse grupo em
relação a outro, passa pela idéia da capacidade de tornar raro o consumo de um determinado
bem. No caso específico aqui analisado, o bem raramente consumido é o da moradia. Daí a
colocação weberiana que Bourdieu utiliza, “as classes se diferenciam segundo sua relação
com a produção e com a aquisição de bens, e os grupos de status, ao contrário, segundo os
princípios de seu consumo de bens, consumo que se cristaliza em tipos específicos de estilo
de vida”. (Bourdieu, 1974:15-16).
E, assim, os diferentes traços distintivos dos grupos que acabam simbolizando suas
posições na hierarquia e estrutura social são conferidos pela cultura, cultura na qual cada
indivíduo está inserido. Por isso que, segundo Bourdieu, o aspecto simbólico das ações
praticadas por cada indivíduo ao escolher como consumir determinado bem exprime sua
posição social segundo a lógica da distinção. Daí toda a elaboração simbólica que Caldeira
(Op. cit.) descreve. Elaboração que transforma enclausuramento, distanciamento, fronteiras,
muros altos, em símbolos de status.
Nesta concepção, os Condomínios Fechados são aqueles que fazem uma reserva a um
grupo de pessoas, vedada a entrada de estranhos. O diferencial dos condomínios horizontais
em relação aos verticais se no espaço dispensado para a localização de aparelhos de uso
coletivo, tais como praças, lagos, playgrounds, quadras esportivas e campos de futebol.
Geralmente apresentam lotes em grandes dimensões e um plano de construção das casas. São
ainda espaços privatizados, fechados e monitorados por sistemas de segurança privada e
procuram proporcionar um estilo de vida próximo à natureza.
Nas palavras de Tramontano (1999),
63
(...) Caracterizam-se condomínios horizontais fechados, os conjuntos de habitações
cercados por muros, com entrada única
30
, geralmente controlada por dispositivos
como guarita. São conjuntos, como sugere a denominação, não verticalizados, nos
quais as unidades habitacionais possuem acessos independentes e geralmente estão
dispostos em lotes definidos. Constituem uma modalidade de ocupação do solo na
qual verificam-se vários tipos de agrupamentos das unidades habitacionais, desde
unidades isoladas até blocos de unidades térreas, de dois pavimentos ou sobrepostos,
passando por unidades geminadas por um lado, podendo ser térreas ou de dois
pavimentos (Tramontano, 1999: 01).
Estes possuem uma baixa densidade ocupacional dos terrenos e uma integração do
espaço edificado com a área natural. Eles não são todos iguais e contemplam algumas
diferenças importantes, seja nos aspectos estruturais ou nas formas de sociabilidade e
convívio do cotidiano. Mas, em linhas gerais, todos apresentam um caráter urbanístico que
fortalece a relação do homem com a natureza e, conseqüentemente, com o prazer de habitar.
Os terrenos comercializados podem variar entre 434 e 5.000m²
31
. Cada um deles possui
exigências próprias de edificação e conservação da área comum e quase sempre são
planejados para grandes áreas verdes, de modo a valorizar o lazer e enriquecer a paisagem.
De um modo geral, esses condomínios apresentam uma estrutura de alto nível no que
tange aos equipamentos esportivos, quadras de tênis, pistas de cooper, campos de futebol,
gramados e de areia. Possuem áreas verdes e equipamentos para uso coletivo. Por isso, quase
sempre, não são construídos nos centros tradicionais, que requerem grandes lotes que
são acessíveis em áreas não muito adensadas
32
.
No que se que se refere à estrutura física e de serviços públicos, num condomínio
horizontal as ruas obedecem à sinalização do tráfego urbano, são asfaltadas, iluminadas e
contam com sinalização controlada. As redes de esgoto e de água tratada seguem normas
técnicas e a segurança é intensa, com recurso humano terceirizado em empresas
30
Esse número de entradas é variável. Em alguns condomínios de Goiânia existem até três portarias, como por exemplo o
Residencial Granville. É preciso explicitar também que em alguns condomínios o número de portarias varia segundo suas
funções: entrada de serviços (empregadas domésticas, pedreiros, jardineiros e outros prestadores de serviços), entrada de
moradores e de visitantes.
31
Dados da Revista Costume - ano 1, n. 1, Jun. 2000 p. 12
32
O fenômeno dos condomínios horizontais é algo recente, entretanto, seu surgimento vem ocorrendo de uma forma
significativa no cenário goiano. Se, antes, o afastamento do centro e de seus problemas era um fator atrativo para a venda
desse tipo de moradia, hoje, a proximidade também passa a ser evocada para atrair compradores. É o caso do condomínio
Fontana de Trevi construído no setor Marista, pequeno em suas dimensões físicas, mas com outros atrativos como a
“proximidade de tudo”.
64
especializadas. O acesso à entrada é restrito e controlado nas portarias e os muros dispõem de
sofisticados sistemas de segurança eletrônica.
Para esse tipo de ocupação espacial não uma legislação superior orientadora de sua
formação, cabendo, no caso de Goiânia, ao Município arcar com a edição de normas
urbanísticas para sua criação. Assim, o poder público municipal promulga a lei n° 7.042 de 27
de dezembro de 1991. Foi a partir da criação dessa lei que a Prefeitura local deu início às
negociações com os empreendedores imobiliários para o parcelamento e fechamento de
espaço público. Os artigos veiculados em jornais locais mostram a clandestinidade do
fechamento de muitos loteamentos na Capital.
Os jornais de 1981 evidenciam toda a polêmica sobre o assunto loteamento fechado
versus condomínio horizontal. De acordo com levantamento do IPLAM, segundo matéria
publicada no Jornal O Popular, em 1985 havia 29 loteamentos fechados do tipo
condomínios horizontais. A grande questão na época era em definir juridicamente se esse
novo tipo de empreendimento imobiliário estaria sujeito às normas da Prefeitura Municipal.
Se fosse considerado apenas um loteamento deveria respeitar à normatização municipal. Se,
ao contrário, fosse considerado um condomínio, o regime seria o do código civil e sob a
jurisdição do Incra. Pela legislação imobiliária urbana do município era quase impossível a
um particular ou mesmo a um grupo, em Goiânia, implantar um loteamento convencional.
Para que isso ocorresse, fazia-se necessária a realização de um projeto especial a ser aprovado
pela Prefeitura, com doação de uma parte da gleba a ser loteada para logradouros públicos e
áreas verdes, com a exigência de que os responsáveis pelo loteamento implantassem a infra-
estrutura básica (rede de água, energia elétrica, esgoto, asfalto), por conta própria, antes do
início da comercialização dos lotes. Isso deixava clara a dificuldade de se implementar um
condomínio horizontal em função dos altos custos que isso acarretaria. O que aconteceu,
segundo técnicos do município, foi que aqui os condomínios horizontais surgiram como uma
forma de burlar essas dificuldades, fugindo à jurisdição do poder municipal. Eles atingiam um
imóvel rural, onde não existem lotes, mas sim cotas ideais de condomínios, que na prática
significa a mesma coisa. Mas nesse caso, não havia a necessidade de projeto, nem a doação e
reserva de qualquer parcela do terreno para área verde, nem obrigação para o proprietário do
imóvel, de fornecer infra-estrutura básica ao local. Esta seria fornecida pela Prefeitura quando
essa área fosse incorporada ao seu acervo urbano, ou então, em último caso, seria custeada
pelos próprios condôminos.
65
A Prefeitura, através então da lei 7.042, de 27 de dezembro de 1991, permite
concessão do uso do espaço público. Esta aprova um loteamento comum e as pessoas que
adquirem lotes nos mesmos entram com um recurso na Prefeitura para que ela implemente a
construção de muros e favoreça a iluminação pública, rede de água, esgoto, etc. Hoje em dia,
são as próprias firmas que vendem esses loteamentos que “encabeçam” esse movimento.
A esse respeito, o inciso X, do artigo 26, dita que:
Núcleo residencial fechado [...é] o parcelamento do solo urbano, caracterizado por
ser um loteamento comum, onde poderão ser utilizadas com exclusividade, pelos
adquirentes dos lotes, as vias de circulação, áreas livres e verdes internas, através de
concessão administrativa de uso, outorgada a associação constituída pelos
adquirentes, sob certas condições, autorizado o seu fechamento e a utilização de
vigilância exclusiva particular. (Lei Municipal nº 7.042, de 27/12/1991).
Assim, a Prefeitura abre concessão de uso do solo público. O mercado imobiliário
parte então para as iniciativas de construção desse tipo de condomínio, vendendo os lotes a
um preço geralmente alto. A partir dessa lógica de atuação da atividade de construção civil,
aparece-nos uma outra forte característica nos condomínios horizontais fechados, que é a da
segregação da população
33
por classes sociais, haja vista, por um lado, os condomínios
fechados que abrigam uma mínima parcela da população com um alto poder aquisitivo; e por
outro, a configuração, na cidade, de uma espécie de favela, constituída pelas periferias que
abriga uma grande parcela da população com baixo poder aquisitivo.
É dentro dessa lógica de atuação do poder público e do mercado imobiliário que os
condomínios horizontais fechados podem ser entendidos aqui como uma “nova cidade na
cidade”
34
. Isso porque,
(...) a vida urbana tornou-se portátil e, desse modo, ocorreu o mesmo com a
“cidade”. Em lugar da forma compacta de cidade que outrora representava um
processo histórico em formação anos, existe agora uma população metropolitana
33
Sobre segregação da população, ver Caldeira (2000) que mostra que os “enclaves fortificados” marcam presença na cidade
como uma afirmação da diferenciação social, estabelecendo fronteiras entre os diferentes grupos sociais. Ainda sobre o tema,
Andrade (2001) evoca a idéia de que as segregações, a partir dos fenômenos de parcelamento do solo, serão a tônica nos
próximos anos.
34
Esse termo “nova cidade na cidade” foi primeiro utilizado por Robert Park em seu texto: A cidade: sugestões para a
investigação do comportamento humano no meio urbano, publicado no ano de 1967 no Brasil, no livro O Fenômeno Urbano.
O termo tem sido utilizado por vários autores como se fosse algo novo. Na verdade, essa dinâmica da emergência de “cidades
dentro das cidades” foi apontada bem antes por Park.
66
distribuída e organizada em áreas regionais em permanente expansão, que são
amorfas na forma, maciças no escopo e hierárquicas em sua escala de organização
social. Os limites desse projeto parecem ser preenchidos quase da noite para o dia, e
se tornou cada vez mais difícil fugir ao ambiente construído circunscrito. Quando
tentam mudar de um lugar de alta densidade populacional, em busca de um estilo de
vida mais satisfatório em termos de localização, as pessoas tendem a expandir as
fronteiras da dispersão populacional maciça. Atualmente, os empreendedores e
especuladores imobiliários podem escolher uma área de deserto ou de expansão
agrícola, ou mesmo fincar raízes no coração de uma metrópole, e reunir as forças do
comércio, do governo e da construção que promoverão, num curto período, um
projeto de desenvolvimento “urbano". (Gottdiener,Op. cit, 14) Grifos Nossos.
É a partir dessa lógica que se dá a criação de espaços autônomos, independentes de seu
entorno, que podem ser situados praticamente em qualquer lugar. Os moradores de
condomínios horizontais têm à sua disposição quase tudo o que precisam para que possam
evitar a vida pública da cidade. Daí, os equipamentos de uso coletivo, tais como quadras
esportivas, playgrounds, supermercados, academias e outros. A “cidade” não demora mais
anos para se constituir. Em poucos meses se a projeção e construção de uma “nova cidade
na cidade”, que os condomínios fechados, em sua grande maioria, abrigam em seu espaço
todo um aparato tecnológico-comercial para atender as demandas de seus habitantes, tais
como rede de água tratada, energia, telefone, segurança, farmácia, supermercados, além de
área verde e de lazer
35
.
Ao associar os condomínios horizontais fechados a uma "nova cidade na cidade" é
preciso explicitar que a opção por esse tipo de habitação traz consigo um novo estilo de vida,
que busca “fugir” do ambiente caótico das grandes cidades para encontrar maior satisfação em
"viver". Tudo isso é resultado de uma nova concepção de "viver bem", concepção essa muito
“vendida” pelos meios de comunicação. A preocupação comum com a segurança não parece
ser o vetor determinante e único para essa opção ocupacional. Esse comportamento mostra
também que as pessoas querem viver e viver bem, com tranqüilidade, privacidade e
comodidade, que a degradação urbana causada pela poluição ambiental, sonora e pela
violência, tornou-se incômoda para esses indivíduos.
35
Os condomínios horizontais fechados têm a intenção de buscar sanar as demandas de seus habitantes, daí oferecer em seu
interior, uma série de equipamentos para que estes possam evitar a vida pública da cidade. Todavia, no caso de Goiânia, o
único condomínio horizontal que conta com supermercado, salão de beleza, loja de roupas, confecções, gráfica, academia e
outros equipamentos de maior porte, é o Privê Atlântico. A realidade dos demais condomínios mostra que estes oferecem
uma rede de equipamentos voltados ao lazer além de áreas verdes.
67
É preciso ainda explicitar, que essa privatização de espaço público implica na idéia de
rejeição da vida no espaço público, que, nos condomínios horizontais fechados, o ambiente
tende a ser socialmente homogêneo, na medida em que as pessoas que ali residem escolhem
viver entre os seletos. Se isso não cria uma "cidade dentro da cidade", ao menos propicia uma
outra paisagem urbana. Paisagem essa adaptada às necessidades específicas de alguns atores
sociais e marcada pelos altos muros e sistemas de segurança ostensivo e pela perda do uso do
espaço público, mais especificamente da rua, que sempre constituiu uma referência relevante
nos processos de sociabilidade entre indivíduos de diferentes grupos sociais, culturais e
econômicos. Nas ruas, as pessoas constroem história, realizam projetos, deixam suas marcas,
sua memória, conferindo ao espaço da cidade a especificidade de urbes”. Ao negar essa
prática, seus moradores delegarão aos espaços da cidade um estatuto meramente geográfico,
conferindo-lhe a dimensão de lugar de trabalho, lugar de serviços e de lazer. Nessa
concepção, a cidade e suas ruas perdem o que melhor as caracteriza, o sentido de
comunidade e, portanto, o de estarem juntas. É o que Frúgoli (1995) explicita,
Configura-se uma "cidade voltada para os interiores", com formas específicas de
sociabilidade, que muitas vezes re-significam hábitos tradicionais, sob outras
"vestes". É a idéia de um resgate de uma "comunidade de iguais", protegida ante os
"males urbanos", com a criação de espécies de "cidades dentro da cidade". (Frúgoli,
1995: 81).
Morar num condomínio horizontal fechado seria então buscar a fuga aos problemas da
cidade e morar numa "cidade voltada para os interiores", sem barulho, mistura, confusão,
violência, enfim "os males urbanos". Seria o resgate de uma "comunidade de iguais", seria a
interação, o estabelecimento de novas amizades e relações de proximidade, porém, com as
pessoas do mesmo grupo social, com os iguais.
Nesta discussão, vale a pena reforçar a idéia de que, o conceito de segregação traz
agregado a si, um sentido de discriminação. Isso trouxe uma marca moral negada por nossa
sociedade, que tem explicitado que a segregação é sempre negativa e a exposição aos
diferentes, um fato positivo. A questão aqui colocada aponta para a reflexão do
desenvolvimento de práticas cotidianas nesses espaços, de formas de sociabilidade a partir da
privatização do “bairro”. É isolar, para uso particular, equipamentos. É não participar das
experiências da rua e finalmente estabelecer um tipo de convivência com os seus pares, a qual
se ajuste às suas necessidades particulares, articulando com isso um estilo de vida que nega os
68
espaços públicos, deixando estes em segundo plano. Trata-se de demarcar distinções e
privatizar espaços que outrora foram públicos. Os graves problemas urbanos são renegados
com a criação de um contexto urbano à parte da cidade, através do resgate de uma vida
harmoniosa, feliz, em contato diário com a natureza e com os iguais. O que se visa é criar um
espaço reservado no contexto da cidade, construído nos seus limites. Os limites entre cidade e
condomínio são fluidos, embora sejam enormes as conseqüências da privatização desse
espaço na expansão social do espaço urbano, bem como na própria concepção de cidade.
3.3 – Os Condomínios Horizontais Fechados de Goiânia
De acordo com a SEPLAM, a Capital conta hoje com sete condomínios fechados
implantados, legalizados e habitados; quatro implantados mas ainda inabitados e mais seis
processos de construção tramitando na Secretaria, aguardando aprovação. A saber, os sete
condomínios implantados referem-se ao Privê Atlântico, Jardins Florença, Madri e Viena,
Portal do Sol I, Aldeia do Vale, Residencial Granville. Os quatro implantados, mas ainda
inabitados são os Jardins Mônaco, Portal do Sol II e Alphaville Flamboyant/Housing
Alphaville. os seis projetos desse estilo urbanístico condomínio horizontal fechado que
aguardam aprovação diz respeito ao Paris, Atenas, Goiânia Golf Clube, Enedina Jugman,
Condomínio do Lago e Alphaville Etapa. Todos estes, tendo por característica unidades
residenciais isoladas, de alto padrão arquitetônico, com áreas superiores a 500m². Em função
disso, os outros condomínios de menor porte existentes em Goiânia, figuram na Secretaria de
Planejamento como condomínios residenciais ou habitações seriadas, apesar de alguns
possuírem sistemas sofisticados de segurança, altos muros e outras características que os
aproxima dos condomínios fechados, como é o caso, por exemplo, do Privê dos Girassóis,
Fontana de Trevi e Monte Verde.
Nossa discussão visa considerar os onze complexos residenciais registrados na
SEPLAM como condomínio horizontal fechado, e os três condomínios registrados na
Secretaria como habitações seriadas, mas que a nosso ver, possuem todas as características de
um condomínio fechado de grande porte, como por exemplo, os altos muros, sistema
sofisticados de segurança e um aparato de equipamentos de uso coletivo disponível aos
moradores. Com isso temos um total de quatorze condomínios fechados regularizados no
contexto de Goiânia. A saber: Privê Atlântico, Jardins Viena, Madri, Florença e Jardins
69
Mônaco, Portal do Sol I e II, Aldeia do Vale, Alphaville Flamboyant, Residencial Granville,
Housing Alphaville, Monte Verde, Privê dos Girassóis, Fontana de Trevi.
Para uma melhor caracterização desses condomínios, optamos por separá-los em três
grupos distintos: O primeiro grupo apresenta os condomínios horizontais registrados e
legalizados na SEPLAM e habitados
36
. São eles: Jardins Viena, Madri, Florença, Portal do Sol
I, Aldeia do Vale, Residencial Granville. O segundo grupo é composto pelos condomínios
Jardins Mônaco, Portal do Sol II e Alphavile Flamboyant/Housing Alphaville. Estes
registrados na Secretaria, mas ainda inabitados. O terceiro grupo apresenta Monte Verde,
Privê dos Girassóis, Fontana de Trevi, que estão registrados na SEPLAM como habitações
seriadas.
Primeiro Grupo de Condomínios Fechados de Goiânia:
Implantados e regularizados na SEPLAM e habitados
ALDEIA DO VALE
Figura 03: Foto do Condomínio Aldeia do Vale
(Rua que antecede a entrada principal do Condomínio).
Fonte: arquivo José Eduardo Ribeiro Macedo.
Tal Condomínio foi lançado em 1997 e está localizado na saída para Anápolis na
Região Leste da Capital. Conta hoje com aproximadamente 500 moradores num total de 116
casas. O Condomínio apresenta 1.041 terrenos, sendo que estes variam entre 500 a 1250m².
Está à disposição de seus moradores toda uma infra-estrutura com lagos, centro de
36
Aqui excluímos o Privê Atlântico que estaria nesse primeiro grupo de caracterização. Tal condomínio será melhor
discutido nas páginas seguintes.
70
lazer/esporte, um restaurante, um heliporto, quadra de tênis, monitoramento eletrônico,
montado e motorizado, além de duas portarias. O Condomínio representa-se através da
SAALVA - Sociedade dos Amigos do Aldeia do Vale, que cuida da organização dos eventos
sociais para integração dos moradores, como o Projeto CONVIVER e o Projeto coleta
seletiva do lixo.
RESIDENCIAL GRANVILLE
Figura 04: Foto do Condomínio Residencial Granville – Folder Ilustrativo
(Destaque para as famílias e o carro de segurança particular realizando a ronda interna).
Fonte: Arquivo particular
O Granville foi lançado em 1998 e está localizado na Região Sudoeste de Goiânia,
saída para a Av. Rio Verde. Quase 100% habitado, conta hoje com 170 moradores
distribuídos entre 159 lotes que variam de 450 a 900m². Sua associação é denominada
SAGRAN Sociedade dos Amigos do Residencial Granville, que cuida dos momentos de
integração, promovendo, por exemplo, torneios esportivos e a coleta seletiva do lixo. Seu
interior conta com quadras esportivas, campos, parques, pista para cooper, rede elétrica
subterrânea, praças, playground, três portarias, sistemas de segurança monitorado, rondas,
vigilância armada e circuito integrado.
71
JARDINS FLORENÇA
Figura 05: Foto do Condomínio Jardins Florença – parte lateral
(Destaque para o padrão construtivo das casas)
Fonte: arquivo José Eduardo Ribeiro Macedo.
Tal Condomínio foi construído pela FGR Construtora S/A e lançado em 1996. Está
localizado na Região Sudoeste, saída para Aparecida de Goiânia. Tem 160 moradores e um
total de 480 lotes que variam de 434 a 1525m². Seu interior conta com bosque com nascentes,
praças, quadras poliesportivas, pista de cooper e playgrounds, sistema integrado de segurança,
monitoramento, rondas internas e externas. Costumam promover como eventos sociais: café
da manhã, festas juninas, torneios esportivos e coleta seletiva do lixo.
JARDINS VIENA
Figura 06: Foto do Condomínio Jardins Viena
(Destaque para o padrão construtivo das casas: sobrados)
Fonte: arquivo particular.
Lançado em 1995, o Jardins Viena também foi construído pela FGR Construtora S/A.
Está localizado na Av. Rio Verde em Aparecida de Goiânia, com 185 famílias sendo uma
média de 4 pessoas para cada família. Um espaço que contém 423 lotes variando de 434 a
1582m², com praças, pistas de cooper, quadras poliesportivas e playground. A realização de
72
festas juninas, café da manhã, torneios esportivos e coleta seletivo do lixo são exemplos de
seus eventos sociais.
PORTAL DO SOL I
Figura 07: Foto do Condomínio Portal do Sol I
(Destaque para o muro que cerca as casas no Condomínio)
Fonte: arquivo José Eduardo Ribeiro Macedo.
Lançado em 2001, esse Condomínio está localizado na Saída para Senador Canedo na
Região Sudeste da cidade, próximo ao Autódromo Internacional de Goiânia. Tem 526 lotes,
numa área total de 629.000m². Seu projeto de paisagismo ainda não está terminado, mas em
seu interior patrulhamento motorizado, perímetro motorizado eletronicamente, quadras
esportivas, quadras de tênis, campos de futebol society, áreas verdes, quadras de petecas.
Atualmente residem apenas 12 famílias em seu espaço, entretanto, 120 outras construções
se encontram em processo adiantado.
JARDINS MADRI
Figura 08: Foto do Condomínio Jardins Madri
Fonte: arquivo ASCONH-GO
73
O Jardins Madri foi lançado em 2000 e está localizado na Região Sudoeste, na Av.
Porto do Sol S/n° no Anel Viário no Setor Garavelo, numa área total de 837.000m² 901
lotes. Em seu interior bosque com pista de cooper, logo com nascente, praça, quadras
poliesportivas, sistema de segurança integrado com rondas permanente. Como eventos sociais
tem-se café da manhã, festas comemorativas e torneios esportivos.
Segundo Grupo de Condomínios Fechados de Goiânia:
Implantados mas ainda inabitados.
JARDINS MÔNACO
Figura 09: Foto do Condomínio Jardins Mônaco
Fonte: arquivo José Eduardo Ribeiro Macedo
Esse Condomínio teve seu lançamento oficialmente em dezembro de 2002. Está
localizado na Av. Rio Verde em Aparecida de Goiânia. Conta com 600 lotes e está sendo
construído, a exemplo dos outros Jardins, pela FGR Construtora S/A. Apresenta em seu
interior quadra de squash, pista de cooper, quadra poliesportiva, parques infantis, campos de
futebol society, quadras de tênis e quadra de peteca.
74
PORTAL DO SOL II
Figura 10: Foto do Condomínio Portal do Sol II
Fonte: arquivo José Eduardo Ribeiro Macedo.
Condomínio lançado no ano de 2002, está localizado na Saída para Senador Canedo,
na Região Sudeste, próximo ao Autódromo Internacional de Goiânia. Disponibilizará para
seus moradores 742 lotes que variam de 360 a 1137m². Em seu interior constará lago,
patrulhamento motorizado, áreas verdes, quadras poliesportivas, playgrouns, pista de cooper,
perímetro monitorado eletronicamente, portarias social e de serviços.
ALPHAVILLE FLAMBOYANT
Figura11: Foto do Condomínio Alphaville Flamboyant
Fonte: arquivo José Eduardo Ribeiro Macedo
75
HOUSING ALPHAVILLE
Figura 12: Foto do condomínio Housing Alphaville – entrada principal
Fonte: arquivo José Eduardo Ribeiro Macedo
Ambos Condomínios fazem parte de um projeto maior da incorporadora Alphaville
Urbanismo S/A e da Flamboyant Urbanismo. Estão localizados na Saída para Senador
Canedo, na Região Sudeste, próximo ao Autódromo Internacional de Goiânia. uma
previsão de que esses dois complexos abriguem 5000 moradores, distribuídos em 1224 lotes.
Sua área total é de 3.049.146,12m² e deve abrigar além dos lotes, dois lagos, a Flamboyant
Alphaville Club, Centro Comercial (conveniência), escola, quadras poliesportivas, praças,
sistema de segurança monitorizado. Ambos encontram-se em processo adiantado de
construção. O Housing Alphaville trata da venda de casas construídas e não da venda de
lotes. Conta com 158 residências estilo americano, sem muro entre as casas.
Terceiro Grupo de Condomínios Fechados em Goiânia:
Habitações Seriadas
PRIVÊ DOS GIRASSÓIS
Figura 13: Foto do Condomínio Privê dos Girassóis – entrada principal
Fonte: arquivo José Eduardo Ribeiro Macedo.
76
Com data de lançamento no ano de 1999, o Privê dos Girassóis está localizado na Av.
José Hermano, 313, no Jardim Vitória I. Tem uma média de 600 moradores. Dos seus 238
lotes, 141 foram entregues. Seu espaço abriga quadras de peteca, campo de areia e society,
centro de convivência, salão de festas, sala de ginástica, duas piscinas e uma escola de
natação. Costuma realizar eventos sociais como festas comemorativas, campeonatos de
futebol e natação.
FONTANA DE TREVI
Figura 14: Foto do Condomínio Fontana de Trevi – entrada principal
Fonte: arquivo José Eduardo Ribeiro Macedo
Diferentemente dos demais, esse Condomínio está localizado na Região Central da
cidade, no setor Marista, em plena Alameda Ricardo Paranhos, nas ruas 1131, 1132 e 1133,
numa malha densa de Goiânia. Sua construção recria uma vila italiana, lançado em 2001 pela
construtora Borges Landeiro. Seu interior apresenta duas piscinas, solarium, salão de festas,
sala de descanso, sala de ginástica, sauna, área verde, sistema de segurança eletrônico, sistema
de alarme e raio laser.
MONTE VERDE
Figura 15: Foto do Condomínio Monte Verde – entrada principal
Fonte: arquivo José Eduardo Ribeiro Macedo
77
Lançado em 2001 na Saída para Anápolis, próximo ao Aldeia do Vale, na Região
Leste da cidade, tem 28 moradores. Apresenta 239 lotes previstos e 40 construídos. É um
condomínio habitado mas ainda está em processo de implantação de alguns projetos como
área de lazer, quadras esportivas, centro comercial, escola, uma creche, piscinas, sistema de
segurança humano armado 24 horas, segurança motorizada e sistema eletrônico.
78
INSERIR AQUI O MAPA COM A LOCALIZAÇÃO DOS CONDOMÍNIOS DE
GOIÂNIA.
79
3.4 – O Condomínio Privê Atlântico
Figura 17: Foto do Condomínio Privê Atlântico- entrada principal em 1987.
Fotógrafo: José Afonso, em 18/09/87
Fonte: arquivo Jornal Diário da Manhã
O Privê Atlântico é parte integrante do loteamento chamado Jardim Atlântico, que foi
aprovado pelo Decreto Municipal 334, de 11/10/68. A Prefeitura de Goiânia, através de
Termo de Concessão Administrativa de Uso do Solo, regularizou, em 27 de setembro de
1996, o muro que o circunda, definindo, dessa forma, seus limites.
O condomínio localiza-se na Rua Boulevard das Amendoeiras, quadra 66, lote 01
Privê Atlântico, Goiânia GO. Possui uma associação denominada SOMOPA, Sociedade dos
Moradores do Privê Atlântico, composta por um Presidente, Vice, Secretário, Diretor
Adjunto, Diretor Financeiro, Diretor Social e Diretor de Esportes.
Solenemente o Privê foi inaugurado pelos seus moradores, em 19 de maio de 1978,
entretanto, a Prefeitura regularizou o muro que o circunda em 1996, quase vinte anos
depois de sua inauguração. Ele conta com uma área de 286.480,00m²
37
e está localizado na
Região Sudoeste da cidade, possuindo, em seu interior, 409 casas construídas e habitadas e 8
37
Dado do Termo de Concessão Administrativa de uso. Prefeitura de Goiânia – Gabinete do Prefeito, em
27/09/76.
80
em fase de construção. Seu espaço abriga um supermercado, uma praça com quadra de
esportes, playground, um salão de beleza, uma academia, dois consultórios odontológicos, um
bar, uma gráfica, duas confecções, um salão de festas conhecido por “ranchão”, um espaço
para aulas de hidroginástica, uma loja de roupas e um consultório de engenharia.
O Privê Atlântico apresenta algumas especificidades em relação a outros condomínios
horizontais da cidade. Sua construção se deu a partir de um conjunto habitacional de classe
média, com casas financiadas pelo BNH na década de 70 e com três tipos padrões de
habitação, vendendo também os lotes vagos para que os futuros moradores construíssem suas
casas. Até hoje existem muitos lotes vagos
38
no interior do Condomínio. Alguns até quase
“abandonados”, cheios de mato e até entulhos, motivo de reclamações por parte de alguns
moradores. Isto aponta para a atuação de um mercado imobiliário de terras urbanas que
constrói um conjunto habitacional distante, com infra-estrutura, baixo preço, e que ademais,
reserva lotes vagos para serem comercializados posteriormente.
Quando a Prefeitura abre uma concessão para uso do solo, ela estabelece algumas
responsabilidades à concessionária. Na verdade, o que ocorre para a construção desse tipo de
empreendimento (condomínio horizontal fechado) é o que Frúgoli (1995) chamou de “cultura
de privatização do espaço”. Segundo o autor,
Esta seria uma espécie de solução privatizada para os graves problemas urbanos,
realizada agora de forma mais sistemática, envolvendo acordos com as
municipalidades locais, contatos com diversas instituições (como empresas,
comércio, escolas e outras) - visando atraí-las para dentro do condomínio -,
desenvolvimento de mecanismos de gestão comunitária, sofisticação de serviços de
controle e segurança e resgate de uma aparente “vida bucólica, harmoniosa e
próxima à natureza". (Frúgoli, 1995: 92).
O acordo entre os empreendedores imobiliários e as municipalidades locais inclui a
doação compulsória de certa parte da gleba a ser loteada para logradouros públicos e áreas
verdes. Esta geralmente é uma exigência do poder público municipal para aprovar um
condomínio horizontal. Além disso, a Prefeitura deixa de ser a responsável pela varrição das
vias públicas no interior de tal espaço, manutenção das áreas verdes e da iluminação pública,
além de não mais recolher o lixo em seu interior. Em troca dos muros altos e da possibilidade
38
Ver quadro 04 nos anexos
81
de não serem “incomodados” por estranhos, os habitantes de condomínios fechados pagam
alto. Arcam com atribuições estatais, como a segurança. Por outro lado, o poder público
também ganha, pois consegue negociar áreas que muitas vezes acabam sendo destinadas à
população mais pobre
39
.
Quando da concessão de uso do solo público para os habitantes do Privê Atlântico, a
Prefeitura local estabeleceu as seguintes responsabilidades:
. Cabe ao condomínio conservar e manter as áreas institucionais e vias públicas,
devendo também obter previamente a autorização de Órgão Municipal Competente
para qualquer reforma, edificação e/ou ampliação de construção dentro de seus
limites;
. Em seu interior, cabe a ele a varrição das vias públicas, coleta de lixo, manutenção e
conservação da iluminação pública das vias;
. As áreas públicas internas à área de fechamento deverão ter atividades que atendam
aos integrantes da SOMOPA. O condomínio deve cuidar também da implantação de
um projeto de paisagismo e da manutenção do mesmo.
. Construção de uma Creche fora dos limites do condomínio para a comunidade em
geral: (Termo de Concessão Administrativa de Uso, 1976:2-6).
Entretanto, essas “responsabilidades” que caberiam ao Privê Atlântico ainda são
realizadas pela Prefeitura local. À exceção de todos os outros condomínios da cidade, o Privê
Atlântico é o único, regularizado, que ainda tem esse tipo de serviço realizado pelo poder
público. Cabe a este a coleta do lixo, varrição das vias públicas, manutenção da iluminação
das ruas. Esta é uma das singularidades desse Condomínio em relação aos demais. Embora
haja uma luta entre a Prefeitura local e a SOMOPA para ver esse espaço legalizado
documentalmente como condomínio horizontal fechado, a Associação espera continuar
contando com os serviços da Prefeitura. É elucidativa a fala do atual Presidente da SOMOPA,
Eu particularmente, o modelo de condomínio não afasta esse tipo de serviço público.
Nos condomínios de Goiânia que tem esse aspecto legal garantido não tem esse tipo
de serviço. Eu, a depender de mim, o formato desse condomínio é um formato onde
39
Em algumas negociações, a Prefeitura Municipal local tem conseguido em troca da aprovação de condomínios fechados,
áreas para loteamentos populares, por vezes em locais distantes dos condomínios, construção de equipamentos de uso
público, creches, entre outros. Como exemplo, o caso do Aldeia do Vale. Sua área estava aprovada para sítios de
recreio, mas foi reloteada com o intuito do fechamento e a criação do Condomínio. Assim, teve que atender às prerrogativas
específicas exigidas pela Prefeitura a esse tipo de loteamento. Doou, desse modo, uma área de 70.000m² destinada a
regularização de lotes na Região Noroeste da cidade.
82
o serviço público ainda estará presente (...) Nós teremos que sentar com a Prefeitura
para acertarmos esses detalhes. (Entrevista cedida em julho de 2002).
A SOMOPA espera assim, contar com o apoio do poder municipal na manutenção do
espaço do Privê. A Associação entende que aquele espaço apresenta grandes singularidades, o
que garantiria a manutenção do poder público em seu interior. Uma dessas singularidades é a
abertura da portaria para que outras pessoas possam fazer uso de seus equipamentos,
principalmente do supermercado e participar das festas comemorativas que ali são realizadas,
muito embora isso acabe por gerar conflitos entre a Associação e alguns moradores, os quais,
se vêem “ameaçados” com a entrada de estanhos,
É um espaço aberto com restrição. (...) porque com restrição? No passado as
pessoas diziam: -Vou ao supermercado, passavam e iam direto para o supermercado.
Mas vale um pouco a história, a condução da história e o histórico do Privê é um
histórico que passou de um conjunto habitacional para um condomínio. Então quem
vem pra hoje, mora aqui acha que aqui sempre foi um condomínio. Então essas
próprias pessoas que não participam das assembléias, não tem o hábito de participar
de reuniões, elas começam a exigir dizendo: - Olha, se é um condomínio então nós
temos que restringir. Então uma restrição por conta dessas pessoas. O morador
antigo aqui não as coisas dessa maneira, mas aquele que veio mais recente, veio
com a mentalidade de condomínio fechado, sabe que existe restrição no Florença, no
Viena, no Granville, então ele vem com essa mentalidade (...) um ponto que é
comum a todo mundo, que é a segurança. Então quando você senta para discutir
segurança não meio termo, todo mundo caminha para ela. Então a gente não tem
interesse de restringir tanto. O pessoal que mora nas casas [próximas], a gente
procura tê-los aqui, permite, mesmo porque tem um comércio aqui dentro que tem
boa estrutura, que atende essas pessoas. Então nós não podemos restringir no total.
(Entrevista com membro da SOMOPA, cedida em julho de 2002).
Desse modo, é possível perceber que o Privê pode ser apontado como o “caso dos
casos”. Uma espécie de espaço híbrido, que procura se afirmar como condomínio
horizontal fechado, no que isso tem de premissa e significados, como restringir a entrada de
“estranhos”, mas por outro lado, abriga um comércio estruturado através de um
supermercado. Além disso, o fato de contar com moradores que utilizam daquele espaço não
para morar, mas para também trabalhar, através de seus consultórios odontológicos, lojas
de roupas, confecções, consultórios de engenharia, etc. a Associação não como restringir
totalmente a entrada de “desconhecidos”.
83
Mesmo como um espaço híbrido, o Privê Atlântico ganha status de condomínio
fechado na década de 90, quando acontece a legalização do muro que o circunda. Seu
histórico de construção demonstra uma controvérsia que para nós não foi esclarecida.
Segundo a SOMOPA e alguns moradores mais antigos, a construção do conjunto habitacional
se deu com o muro em volta das casas. Pelas entrevistas que realizamos, os moradores
apontaram para o fato de terem comprado suas casas cercadas pelo muro que circunda o
Condomínio. Já para técnicos da SEPLAM, o Privê foi construído e legalizado como conjunto
habitacional comum e somente depois foi murado. Em matéria publicada pelo jornal O
Popular em 2000, dizia-se o seguinte:
Privê Atlântico, o mais antigo. Divergências de conceituação têm levantado dúvidas
quanto à quantidade de condomínios fechados de Goiânia, especialmente em relação
ao Privê Atlântico, o mais antigo. O Privê foi o primeiro a ser implantado, 21
anos, mas pouco tempo regularizado como condomínio.(...). Segundo a diretora
de Ordenamento Socioeconômico da Secretaria Municipal de Planejamento,
Solange Rassi, completa que o Privê Atlântico surgiu em Goiânia em um segundo
momento da proposta de loteamento. Primeiro, foi solicitada a aprovação para um
loteamento e, mais tarde, para o fechamento. “Naquela época, não existia legislação
específica para fechamento de condomínios. A regularização veio depois”, frisa
Solange Rassi. (O Popular, 24 out. 2000).
Controvérsias à parte, o fato é que o Privê Atlântico conseguiu a legalização de seus
muros. Segundo a SOMOPA, houve uma luta entre eles e a Prefeitura para que isso ocorresse.
No ano de 1993, quando o Sr. Daniel Antônio assume a Prefeitura de Goiânia, os moradores
do Condomínio viram seus “muros” ameaçados, já que ele quis de fato derruba-lós. Porém, os
moradores, através da Associação, entraram com um recurso nas instâncias jurídicas
superiores e conseguiram manter a edificação do muro.
O que acontece é que ainda hoje o Privê não tem um respaldo legal como condomínio
fechado. Embora seus muros tenham sido legalizados desde 1996 e a SEPLAM o reconheça
como o primeiro condomínio horizontal da cidade, ainda hoje a SOMOPA luta por esse
reconhecimento documental de concessão de uso de solo público. Isso daria a ela um respaldo
jurídico para que pudesse receber a taxa condominial que é hoje de R$ 75,00 de todos os
moradores, que nem todos fazem esse pagamento. Permitiria também o fim das
especulações quanto sua legalidade. A fala de seu Presidente novamente se mostra
elucidativa,
84
Evitaria especulações no sentido de dizer se isso aqui é legal ou não é legal. O
Secretário de Planejamento esteve aqui e em relação ao muro ele não tem nada a
dizer, porque é algo de fato, já existe, é direito adquirido, eu diria assim. Então, o
quê que a gente ta buscando? Nós estamos buscando incorporar algumas áreas aqui
aos nossos equipamentos para que no futuro a gente venha abordar a Prefeitura e
negociar com ela a concessão definitiva. Agora para isso a gente precisa dar uma
contra-partida, nós temos que fazer uma creche, não é fácil, que é aquela contra-
partida que a população vai apresentar, que era pra ter sido feita em 96 quando o
Prefeito cedeu, fez a concessão dessa área, era pra construir uma creche, mas as
coisas não foram levadas a sério, não se fez a creche. (...) Primeiro, se regularizar
como condomínio acaba com essa especulação das pessoas, essa é uma vantagem
para os moradores. Segundo, em relação ao que está colocado, hoje eu diria para
você que não nenhum trauma. Quer queira, quer não, aqui é considerado o
primeiro condomínio de Goiânia com todas as suas dificuldades. Somente quem
vem pra ou está vinculado aos órgãos municipais sabe que isso aqui não era um
condomínio, mas se comprava um imóvel aqui, se vendi, um corretor vendia
dizendo: - é um condomínio. Está assim perante o bom senso de que aqui é um
condomínio fechado. (Entrevista cedida em julho de 2002).
Desse modo, apesar das dificuldades enfrentadas pela SOMOPA para legalizar o
espaço do Privê, seus moradores e a cidade o identificam como o primeiro condomínio
horizontal fechado de Goiânia. Seu histórico de criação, embora controverso, não deixa
dúvida quanto ao lugar ocupado no contexto da sociedade goiana. Apesar das grandes
especificidades e singularidades em relação aos demais condomínios da Capital, “está perante
o bom senso de todos” de que é um condomínio fechado. O que se percebe, é que a
Prefeitura foi bem mais permissiva com o Privê Atlântico. Ainda hoje ela realiza os serviços
de coleta de lixo, varrição das vias, manutenção da iluminação pública em seu interior. A
concessão para uso do solo público no caso Privê foi dada mediante o compromisso da
construção de uma creche fora dos limites do condomínio, mas, “as coisas não foram levadas
a sério, não se fez a creche”. Ainda assim, o Privê ganhou seu status de condomínio fechado.
Claro que a Associação tem a intenção de se adequar às exigências da Prefeitura. Nota-se, por
parte desta, um esforço para promover melhorias no interior do Condomínio e atender às
exigências do poder público, para ter de fato este legalizado documentalmente como tal.
Essa é portanto a realidade singular do Privê. Singularidade essa que vai desde sua
criação até os dias atuais. Como dissemos, o Condomínio conta atualmente com 409
residências construídas e habitadas, o que apresenta uma população de 1.636 pessoas, já que a
85
média é de 4 moradores por residência.O Condomínio é composto de 23 quadras assim
distribuídas: Quadras 58, 59, 60, 61, 62, 63, 64, 65, 66, 72, 73, 74, 75, 76, 83, 84, 85, 86, 87,
88, 89, 90, 91. Cabe ressaltar que as quadras de número 67 a 71 e 77 a 82 encontram-se fora
do condomínio, externas ao muro; e que algumas casas no interior do condomínio, são
construídas em mais de um lote, ao passo que outros lotes abrigam até duas casas em seu
espaço físico. Cada quadra conta com aproximadamente 13 a 17 lotes
40
.
O Condomínio embora tenha surgido a partir de um financiamento de casas através do
BNH em 1978, com três modelos diferentes de construção, hoje apresenta uma realidade um
tanto quanto diversificada. Existem ainda algumas construções em modelo original, sem
reforma de sua fachada, mas aquelas, em sua maioria, que mudaram totalmente o modelo
original de construção. Algumas mansões, e até sobrados, construídas em dois ou mais lotes e
algumas casas menores que se dividem em A e B, num mesmo lote. A partir das construções
residenciais podemos perceber as diferentes classes sociais que dividem aquele espaço.
Diferenças bastante substanciais. Nossa pesquisa revelou especificidades interessantes no
interior do Privê. A tabela abaixo apresenta a renda mensal familiar dos entrevistados:
Tabela 01
Renda mensal familiar dos entrevistados
SALÁRIOS fe %
De 2 a 4 SM 4 8,89
De 5 a 7 SM 6 13,33
De 8 a 10 SM 12 26,67
Acima de 11 SM 23 51,11
Total 45 100,00
(Dados coletados em pesquisa de campo nos meses de junho, julho e agosto de 2002)
Os dados evidenciam que, embora a maior freqüência dos entrevistados, 51,11% (23)
recebam acima de 11 salários mínimos, 8,89% (4) entrevistados declararam contar com uma
renda mensal familiar que varia de 2 a 4 salários mínimos. Tal dado se mostra extremamente
interessante. Estamos aqui discutindo uma forma de moradia onde a renda é uma variável
significativa. A singularidade do Privê diferencia-o de todos os demais da Capital, também no
40
Para um melhor esclarecimento, consultar os anexos que apresentam os quadros 02 com o número de lotes por quadra, o
quadro 03 com o número de casas por quadras, o quadro 04 com o número de lotes vagos, o quadro 05 que apresenta o
número de casas que foram construídas em um único lote e o quadro 06 que mostra o número de casas que foram
construídas em mais de um lote no condomínio Privê Atlântico.
86
quesito “renda mensal familiar”. Encontramos moradores que se queixaram do valor da taxa
condominial que é hoje de R$ 75,00. Esses moradores diziam não ter condições financeiras
para contribuir com tal taxa. Muitos se mostravam dispostos a colaborar e acreditavam na
importância de tal contribuição, mas, para eles, tal taxa era inconciliável com seus
rendimentos mensais. Durante a pesquisa, nos deparamos com uma entrevistada que nos
chamou a atenção. Uma moradora antiga do Condomínio, numa residência grande, com um
padrão de construção bastante luxuoso. No interior da residência, fomos surpreendidos por
um espaço quase vazio com pouca mobília. Ao responder às questões do questionário,
surpreendeu-nos saber que a entrevistada em questão contava com uma renda mensal de
apenas 2 salários mínimos (juntando sua aposentadoria e o salário do filho). Ela contou-nos
suas dificuldades financeiras e como conseguiu construir uma verdadeira mansão com essa
renda.
Sua história foi realmente surpreendente, o caso mais interessante evidenciando a
singularidade que naquele espaço encontramos. Outros também nos foram apontados: pessoas
que passaram por perdas pessoais, financeiras; pessoas que viram seu patrimônio diminuírem;
pessoas batalhadoras procurando se manter residindo no Privê, um “lugar” muito mais do que
uma localidade física, mas sim um espaço de convivência, sociabilidade e solidariedade
constante.
3.4.1. Privê – a construção de um “lugar”
Ao explicitar sobre a construção de um “lugar” queremos apontar para a necessidade
de se compreender tal espaço não por sua dimensão física, mas também por social. Diante
disso, o conceito utilizado por Leite (2002) pode nos auxiliar,
[Entendo] por lugar uma determinada demarcação física e/ou simbólica no espaço
cujos usos o qualificam e lhe atribuem sentidos diferenciados, orientando ações
sociais e sendo por estas delimitado reflexivamente. Um lugar é, assim, um espaço
de representação, cuja singularidade é construída pela “territorialidade subjetivada”
(Guattari, 1985), mediante práticas sociais e usos semelhantes (Leite, 2002: 123).
A idéia é a de que um “lugar” é muito mais do que uma localidade geográfica. No caso
do Privê, esse “lugar” é um espaço dotado de sentidos e significados dados por seus
moradores, que lhe atribuem valores, representações; e que desenvolvem formas de
87
sociabilidades que acabam por dar à aquele espaço um significado muito maior do que a
simples idéia de um espaço físico.
Para seus moradores, sobretudo os mais antigos, o Privê Atlântico é um espaço
carregado de sentido pela história. Muitos sentem verdadeiro orgulho de ali residirem. Muito
mais do que um espaço físico onde está construído suas residências, o Privê é um local de
troca de significados. As pessoas o vêem como um símbolo de segurança, de solidariedade ou
do sonho da casa própria realizado. A frase simples aqui é o meu lugar
41
, que é sempre
usada pelos moradores mais antigos, evidencia a força de uma tradição e dos significados que
o morador do Privê acaba por atribuir a tal localidade. A construção desse “lugar” acaba
revestindo aquele espaço de uma identidade simbólica que ultrapassa a sua própria realidade e
se reifica nas percepções e modos de vida de seus moradores.
O “lugar” é extremamente tranqüilo. se ouve a voz dos pássaros. Crianças brincam
na rua à vontade. São 409 construções, uma “mistura” de casas de grande luxo e outras
extremamente simples, com fachadas de quando o conjunto foi entregue à população.
iluminação nas ruas, além de um grande número de quebra-molas, uma média de 2 por rua,
com o objetivo de evitar “rachas” e dar mais segurança a seus moradores. Quase não existe
sinalização, a não ser algumas placas de endereço. O acesso ao Condomínio se pela
Avenida t-63, Ipanema e pela Avenida Rio Verde. As ruas em seu interior foram construídas
em forma de U, isso garante um acesso tranqüilo às outras vias internas. abastecimento de
energia e de água tratada, embora em algumas casas haja cisternas.
Nossa pesquisa revelou que de fato os moradores do Condomínio estão a cada dia
lutando para construir um lugar melhor. Encontramos em alguns entrevistados um verdadeiro
ufanismo em relação ao local. Pessoas que por ali estão a mais de 20 anos e realizaram
sonhos... Viram o crescimento dos filhos, alcançaram vitórias e também derrotas no cotidiano
vivido naquele espaço. A tabela abaixo aponta o tempo de moradia dos entrevistados,
41
Sobre a temática, consultar o trabalho de Oliveira (2001). A autora, em Dissertação de Mestrado, analisa o caso do Bairro
da Tijuca no Rio de Janeiro, mostrando como os cariocas tem incorporado a visão de que o lugar físico ocupado remete à
posição social e de como o termo “tijucano” reforça mais uma vez a importância do lugar ocupado como fator de
identificação e distinção, já que a pergunta “onde você mora?” faz parte do ritual carioca de conhecer o outro.
88
Tabela 02
Tempo de moradia dos entrevistados
ESPECIFICAÇÃO fe %
Menos de 01 ano 0 0,00
De 01 a 05 anos 8 17,78
De 06 a 10 anos 7 15,56
De 11 a 15 anos 5 11,11
De 16 a 20 anos 8 17,78
Acima de 21 anos 17 37,78
Total 45 100,00
(Dados coletados em pesquisa de campo nos meses de junho, julho e agosto de 2002)
Nela percebemos que 37,78% (17) dos 45 entrevistados residem no local a mais de 21
anos. O tempo de vivência em tal espaço evidencia o uso de certas ações orientadas
reflexivamente. Esses moradores trazem dentro de si uma carga de entusiasmo com aquele
espaço. Este ganha sempre representações e singularidades construídas a partir dos diferentes
usos dados por seus moradores. Sobre o tipo de moradia, 86,67% (39) declararam possuir
casa própria no Condomínio. Sobre a última moradia, se casa ou apartamento, 62,22% (28)
disseram que moravam em casa, em sua maioria, de aluguel. Ao verem um conjunto
habitacional oferecido a um preço acessível, muita dessas pessoas encararam a possibilidade
de morar entre os muros como ter o “sonho” de uma residência própria realizado, e, com isso,
fugir dos encargos do famoso, humilhante e desanimador aluguel. A entrevista do primeiro
Presidente da SOMOPA, cedida em maio de 1998 a um “jornalzinho” em comemoração aos
20 anos do Privê ilustra sobre as motivações de se viver em tal espaço,
(...) O sonho de uma casa própria, num lugar afastado. Boa parte das pessoas que se
mudaram para o local vinham de fora, lugares onde a violência havia chegado.
(...) Gostava de voltar para casa e ver crianças brincando nas ruas uma hora da
manhã, bicicletas jogadas em qualquer canto, carros dormindo abertos (... ) (Egon
Schneider - Primeiro presidente da SOMOPA - entrevista a Jornal Comemorativo
dos 20 anos do Privê Atlântico, Goiânia 23 de maio de 1998).
Assim, observamos que o “sonho de possuir uma casa”, um lugar afastado, tranqüilo,
foram elementos que se entrelaçaram para determinar a sua escolha. Entretanto, é interessante
a fala de Schneider sobre as pessoas que vieram habitar espaço fugindo da violência de outras
cidades. Nossa pesquisa revelou, conforme tabela abaixo, que, embora muito dos moradores
89
do condomínio sejam de Goiânia e interior de Goiás, um número variado de brasileiros de
outros Estados.
Tabela 03
De que cidade você veio?
ESPECIFICAÇÃO fe %
Goiânia 8 17,78
Interior de Goiás 11 24,44
Belo Horizonte – MG 5 11,11
Interior de Minas Gerais 3 6,67
São Paulo – SP 9 20,00
Interior de São Paulo 2 4,45
Rio de Janeiro – RJ 2 4,45
Interior do Rio de Janeiro 1 2,22
Salvador – BA 1 2,22
Interior do Paraná 1 2,22
Gurupi – TO 1 2,22
Santa Cruz do Sul - RS 1 2,22
Total 45 100,00
(Dados coletados em pesquisa de campo nos meses de junho, julho e agosto de 2002).
A segunda maior freqüência, com 20,00% (9) do número de entrevistados, mostra que
são pessoas de São Paulo, Capital, muitas delas vindas a trabalho para Goiânia e escolhendo o
Privê para morar em função de ser um lugar calmo, tranqüilo e seguro. Pessoas que por aqui
chegam na expectativa de encontrar uma casa para morar e um lugar aprazível para criar seus
filhos. Percebemos que a segurança e a educação dos filhos é sempre a justificativa mais
recorrente para essas pessoas optarem por um condomínio horizontal fechado. A segurança
para a família e a possibilidade de espaço para que os filhos desenvolvam-se à vontade.
Indagados sobre sua satisfação em relação à moradia atual, percebemos que 95,56%
(43) do total de entrevistados se mostraram extremamente satisfeitos com o “lugar”. E os
motivos declarados reforçam as estatísticas,
“Quando olho para fora...Aqui não tem problema com vizinho, com segurança...”;
“porque aqui é bom. Esse espaço é um pedaço de mim. Meu primeiro imóvel, tenho
muito amor por isso aqui”; “porque acaba sendo tranqüilo, um lugar seguro, um
abrigo mesmo...” (Entrevistas com moradores, cedidas em junho de 2002).
Idéia similar é apresentada em relação à pretensão de morar no Condomínio por muito
tempo. 91,11% (41) dos 45 entrevistados foram enfáticos ao apontarem esse desejo,
90
“Porque gosto daqui, pretendo ficar aqui até morrer”; “porque estou feliz aqui”;
“gosto daqui, me sinto bem pelo conforto proporcionado pela segurança”; “porque é
um lugar que gosto, pela tranqüilidade e amigos que tenho aqui. Quero ficar aqui até
morrer”; “porque é um lugar seguro com taxa de condomínio barata”; “por ser um
lugar seguro, quero ficar aqui para sempre”. (Entrevistas com moradores, cedidas
em junho de 2002).
Por outro lado, os 8,89% (4) dos entrevistados que manifestaram desejo de mudança
do condomínio apenas apontaram o fato de que irão para outro condomínio fechado, com
exceção de uma entrevistada que gostaria de ir par um lugar mais centralizado e próximo
do centro, mais perto das coisas” (entrevista cedida em junho de 2002).
Essas narrativas apontam para a idéia da construção de um “lugar”. “Quero ficar aqui
para sempre....” é a vontade da maioria dos moradores entrevistados. Esses indivíduos
percebem o espaço do Privê muito mais do que uma demarcação física, mas sim, uma
demarcação simbólica carregada de sentido. A satisfação com o lugar é tanta que “quero ficar
aqui até morrer”, o que implica que o espaço do Privê é algo bem maior do que um simples
local de residência. Tal espaço aponta para uma teia de relações sociais aprazíveis, para um
universo de sociabilidade e de solidariedade, as quais acabam por transformá-lo num “lugar”
construído e dotado de ações e significados atribuídos pela vivência cotidiana de seus
moradores, muito embora essa não seja isenta de conflitos internos.
Assim, a opção pelo espaço de um condomínio fechado, no caso dos moradores do
Privê, não se deu de forma tão consciente. A SOMOPA afirma que o conjunto foi entregue
aos moradores com o muro em volta das casas. Especula-se que tal muro tenha sido
construído pela incorporadora Sabra, hoje não mais existente em Goiânia, com o objetivo de
facilitar as vendas de casas e lotes. Uma moradora nos informou que o conjunto, por ser
distante do centro, construído num espaço “vazio”, no meio do “mato” não chamou muita a
atenção de compradores. Com a construção dos muros, o problema da segurança interna
estaria “resolvido”. O muro pode ter sido uma “jogada” de marketing da construtora que deu
certo. Pelas nossas observações, percebemos que, pelo menos para os moradores mais antigos,
o muro é um mero detalhe, que hoje está incorporado em seu cotidiano. Sua luta tem sido pela
manutenção de um lugar onde os laços de vizinhança sejam intensos, onde os vizinhos são a
extensão da família, quando na verdade são a própria família, que existem ruas onde
moram vários familiares. E sobretudo, pela casa própria, a garantia de um futuro melhor e
mais tranqüilo.
91
Embora esses moradores pontuem a existência de um espaço diferenciado, não
acreditam numa contraposição com a cidade. Por ali ser um Condomínio antigo, com 24 anos
de existência, os problemas internos são mais sentidos, levando alguns moradores a repensar
o próprio espaço da moradia. Esta discussão ficará mais clara no próximo capítulo, onde
apresentaremos dados sobre a vivência cotidiana e as formas de sociabilidade gestadas em tal
espaço. Discutiremos ainda os pontos positivos e negativos de se residir entre “muros”.
92
“IMAGENS DO PRIVÊ ATLÂNTICO”
Figura 18 – Foto do Condomínio Privê Atlântico
(Ccanteiro de obras da Portaria do Condomínio – 1977).
Fonte: arquivo Secretaria da SOMOPA
Figura 19 – Foto do Condomínio Privê Atlântico
(Canteiro de obras do Conjunto – 1977).
Fonte: arquivo Secretaria da SOMOPA
93
Figura 20 – Foto do Condomínio Privê Atlântico – 1977
Fonte: arquivo Secretaria da SOMOPA
Figura 21 – Foto do Condomínio Privê Atlântico – 1979
Fonte: arquivo Secretaria da SOMOPA
Figura 22 – Foto do Condomínio Privê Atlântico
(Portaria do Condomínio em 1998)
Fonte: arquivo Secretaria SOMOPA
94
Figura 23 – Foto do Condomínio Privê Atlântico
(Portaria atual/ 2003 do Condomínio)
Fonte: arquivo Secretaria da SOMPA
Figura 24 – Foto do Condomínio Privê Altântico
(Supermercado VPM Center – localizado no interior do Condomínio)
Fonte: arquivo Secretaria da SOMOPA
Figura 25 – Foto do Condomínio Privê Atlântico
(Campo de futebol – destaque para as pessoas jogando no interior do Condomínio)
Fonte: arquivo Secretaria da SOMOPA
95
Figura 26 – Foto do Condomínio Privê Atlântico
(Ranchão de festas do Condomínio)
Fonte: arquivo Secretaria da SOMOPA
Figura 27 – Foto do Condomínio Privê Atlântico
(Praça localizada no interior do Condomínio)
Fonte: arquivo Secretaria da SOMOPA
Figura 28 – Foto do Condomínio Privê Atlântico
(campo de futebol)
Fonte: arquivo Secretaria da SOMOPA
96
Capítulo 04
________________________________________________________
Privê Atlântico – Um Caso
97
4. Privê Atlântico – Um Caso
(...) As grades do condomínio são para trazer proteção, mas também trazem
a dúvida se é você quem está nesta prisão (Grupo Rappa).
A letra da música do Grupo Rappa é bastante instigante ao questionar os muros que
cercam os chamados condomínios fechados, explicitando se eles, ao trazerem proteção, se não
trazem também a dúvida de quem de fato está isolado. A canção nos remete ao fenômeno da
separação física entre os habitantes da cidade pelos usos de grades e muros que os cercam.
Essa separação se liga à idéia de um “encastelamento urbano”, ou seja, a idéia de que os
grupos sociais estão a cada dia se agrupando entre os muros, evidenciando com isso uma
cidade marcada por divisão, revelando a emergência de “novas cidades medievais”. Essas
“ilhas de proteção”, esses “castelos contemporâneos” exigem a separação e criam um sistema
de apartação. Essa apartação, segundo Buarque (1993), é ensejada por processos de ruptura
social, na medida em que setores de classe média e alta afastam-se cada vez mais dos
chamados excluídos, gerando uma divisão social, que, por sua vez, originará uma partição
física na população. O autor assinala que nesse momento a desigualdade se aproxima do
apartheid.
Em razão de seus 24 anos de existência, os problemas internos no Privê Atlântico são
mais facilmente sentidos por seus moradores. Problemas esses que levam muitos a
repensarem o espaço da moradia. É esse repensar o espaço da moradia que será discutido
neste capítulo, enfatizando sempre as singularidades da vivência cotidiana dos moradores do
Privê, bem como as formas de sociabilidade gestadas em seu interior, discutindo ainda o
trabalho de sua Associação (SOMOPA) e o “viver” entre os muros no que isso tem de
positivo para seus moradores, e também de negativo.
4.1 – No interior do Condomínio: o cotidiano
Em Tese de Doutorado, Bernardes (1999), analisa a cidade de Goiânia a partir de seu
planejamento urbano, partindo da hipótese de que na construção do espaço urbano da cidade
houve o embate de duas racionalidades distintas: A primeira de quem planeja, onde prevalece
98
o uso da racionalidade e onde o Estado está sempre em evidência para promover o processo
de construção de Goiânia. A segunda racionalidade é a instância do “vivido” onde o uso do
espaço urbano é uma realidade viva e dinâmica, em que se entrelaçam as necessidades da
população e as formas criadas para o atendimento dessas. Segundo a autora, é dessa realidade
que “emergem práticas sociais e construções simbólicas, conferindo novos significados e
novas formas de “habitar” a cidade” (Bernardes, 1999:03).
Ao explicitar à cerca da construção de Goiânia nessa perspectiva, não de um
planejamento tecnicista, mas a partir de uma outra vertente, a instância do vivido, a cidade
pode ser compreendida tal qual Park (1967) sugere,
[entendo a cidade como] algo mais do que um amontoado de homens individuais e
de conveniências sociais, ruas, edifícios, luz elétrica, linhas de bonde, telefones etc.,
algo mais também do que uma mera constelação de instituições e dispositivos
administrativos tribunais, hospitais, escolas, polícia e funcionários civis de vários
tipos. Antes, a cidade é um estado de espírito, um corpo de costumes e tradições e
dos sentimentos e atitudes organizadas inerentes a esses costumes e transmitidos por
essa tradição. Em outras palavras, a cidade não é meramente um mecanismo físico e
uma construção artificial. Está envolvida nos processos vitais das pessoas que a
compõem, é um produto da natureza, e particularmente da natureza humana (Park,
1967:29).
Compreender a idéia de cidade não apenas como uma unidade física mas como
construção das pessoas que nela habita, é vê-la como um “lugar por excelência da emergência
de práticas cotidianas. Essas práticas irradiam sociabilidades que conferem dinâmicas próprias
ao espaço urbano” (Bernardes, 2001:12). No caso aqui analisado, as práticas cotidianas de
seus moradores têm construído o “lugar” do Privê Atlântico. É nos momentos operados na
construção e vivência do dia-a-dia que o “cotidiano” desse espaço tem tido sua construção.
Certeau, Giard e Mayol (1996) têm explicitado que,
O cotidiano é aquilo que nos é dado a cada dia, nos pressiona dia após dia, nos
oprime, pois existe uma opressão do presente (...). O cotidiano é aquilo que nos
prende intimamente, a partir do interior. (...). É um mundo que amamos
profundamente, memória olfativa, memória dos lugares da infância, memória do
corpo, dos gestos da infância, dos prazeres (Certeau, Giard, Mayol, 1996:31).
99
Esta maneira de morar na cidade, no interior de um condomínio horizontal fechado
tem sido explicada como uma tentativa de se retornar à antiga forma de convivência em
bairros. Bairros tradicionais, cujos laços entre a vizinhança eram extremamente fortes, onde a
convivência pregava a conveniência de “saber comportar-se", ou seja, do respeito a um
contrato social que obriga o indivíduo a ser "conveniente", a fim de tornar possível a vida
cotidiana. Parece que laços de tranqüilidade, aconchego e familiaridade com os vizinhos
tendem a ser resgatados quando se buscam os "paraísos urbanos". Diante disso, os
condomínios horizontais aparecem como um local onde se procura a arte de conviver com os
vizinhos, o aconchego e a paz. Parece ser o retorno de um mundo “bucólico”, onde a vida
segue seu curso tranqüilamente.
que o “bairro”, buscado pelos habitantes de um condomínio horizontal fechado, é
específico em seus objetivos. Diferentemente dos bairros da periferia e de alguns outros mais
antigos e tradicionais, onde ainda se tem uma vida pública
42
, num condomínio fechado a vida
cotidiana é marcada por uma convivialidade entre os vizinhos, um tipo de intercâmbio formal
que tem lugar nas calçadas de cada morador, embora nesse “novo” bairro a inspiração
buscada seja dada pela negação dos espaços públicos de calçadas, praças e ruas, que perdem a
característica de aproximar grupos diferentes nos processos de sociabilidade. A busca pelo
aconchego, pela tranqüilidade dos bairros tradicionais, afastados do “centro” e de seus
problemas de trânsito, de tráfico de drogas e de poluição acontece através de relações que
negam a vida pública nas ruas da cidade.
A dinâmica urbana, a partir da década de 80, adquire uma nova conotação com a
expansão dos chamados condomínios horizontais fechados. Assim, a cidade passa a ser “re-
fabricada” para o uso de alguns, os quais acabam por organizar seu espaço da forma que lhes
convém e vivenciam o cotidiano desse espaço de uma maneira muito particular, até porque,
A cidade é, no sentido forte, "poetizada" pelo sujeito: este a re-fabricou para o seu
uso próprio desmontando as correntes do aparelho urbano; ele impõe à ordem
externa da cidade a sua lei de consumo de espaço. O bairro é, por conseguinte, no
sentido forte do termo, um objeto de consumo do qual se apropria o usuário no
modo da privatização do espaço público". (id. ibid., 1996: 45).
42
O que queremos evidenciar aqui é que, fechados num espaço restrito, os moradores de condomínios horizontais fechados
deixam de conviver com encontros imprevistos e imprevisíveis. Nesses espaços, o aspecto lúdico, que na cidade tem início na
rua, lugar do encontro por excelência, ocorre tão somente entre seus pares, no caso, os moradores de tais condomínios.
100
Os habitantes dos chamados condomínios fechados fazem do “bairro” um objeto de
consumo e dele se apropriam, privatizando um espaço que outrora era público. Porém, esse
habitat “privatizado” revela muito de seus ocupantes, pois tudo fala e se expressa através da
arquitetura, disposição dos móveis, estado de conservação das peças. O habitat “privatizado”
do Privê revelou-nos um espaço de vivência cotidiana marcada por conflitos e diferenças
sociais, culturais, educacionais. Indagados sobre essa vivência, um de nossos entrevistados
explicitaram,
É uma vivência cheia de problemas, o relacionamento humano ele implica as
relações sociais implicam diversas contradições, são contradições que você tem aqui
dentro, pessoas que têm alto poder aquisitivo, pessoas que têm baixo poder
aquisitivo, pessoas que têm uma origem eminentemente rural, que vem pra cidade e
aí acha que aqui é um local pra ele morar. Ele vem pra cá, ele não tem essa educação
ainda, o que significa o convívio social no meio da multidão, das pessoas. Então
você tem esses aspectos que eu considero contraditório (Entrevista com morador,
cedida em julho de 2002).
Diferenças sociais, culturais, educacionais, de renda, tempo de moradia. Todas elas
entrelaçam-se e acabam por gerar um convívio cotidiano marcado por conflitos. Conflitos que
são gerados porque no interior do Condomínio uma vivência face a face. São pessoas que
dividem o cotidiano com os vizinhos e com a sociedade “fora” do Condomínio. Daí os
problemas de relacionamento e as dificuldades de se estabelecer uma vivência cotidiana
tranqüila e sem atritos. Neste caso problemas porque se tem a existência de um espaço
marcado por compatibilidades e incompatibilidades, proximidades e distâncias. É um espaço
de relações sociais, marcado por gostos, visões e estilos de vida distintos, até porque, “(...)
não se pode juntar uma pessoa qualquer com outra pessoa qualquer, descurando as diferenças
fundamentais, sobretudo econômicas e culturais” (Bourdieu, 1989:138). Em relação ao Privê,
os agentes foram organizando-se por um ideal comum de “ter uma casa própria”. O sonho de
morar numa residência própria, longe do famoso, pesado e humilhante aluguel, fez com que
essas pessoas se juntassem e compartilhassem de um cotidiano em comum. Em razão de um
estilo de vida próprio, essas pessoas escolheram residir entre os muros. O ideal maior de ser
proprietário da residência os fizeram optar por um espaço diferenciado da cidade, um lugar
longe, distante e afastado que, promovesse o silêncio e a tranqüilidade que os bairros centrais
não ofereciam. Reforçando essa observação, a tabela abaixo aponta o motivo da mudança
da última moradia.
101
Tabela 04
Motivo da mudança da última moradia
ESPECIFICAÇÃO fe %
Porque a casa era de aluguel 14 31,11
Por causa do casamento 3 6,67
Para criar os filhos com liberdade, segurança, qualidade de
vida e espaço
5 11,11
Transferência de trabalho do marido 6 13,33
Porque comprei uma casa aqui 2 4,45
Por causa do crescimento da família 1 2,22
Porque mudei de Estado 1 2,22
Por causa da segurança 7 15,56
Por ser um lugar tranqüilo 1 2,22
Por causa do número de familiares que moram aqui 2 4,45
Por não gostar de apartamento 1 2,22
Preferência por mais liberdade 1 2,22
N/R 1 2,22
Total 45 100,00
(Dados coletados em pesquisa de campo nos meses de junho, julho e agosto de 2002)
Tais dados reforçam a idéia anterior de que esses indivíduos acabaram por se
organizar baseados no princípio comum de se tornarem proprietários de suas residências,
que 31,11% (14) dos entrevistados mudaram-se para o Condomínio porque suas residências
anteriores eram de aluguel. Neste caso, mesmo com diferenças fundamentais, diferenças essas
fundadas na aquisição de capital cultural, social, econômico (Bourdieu, 1989; 1994) distintos,
esses indivíduos permaneceram juntos porque ali, no espaço do Privê, viram a possibilidade
da aquisição da casa própria, aquisição que, em diferentes culturas, tem sido identificada
como um sonho, um desejo e projeto de vida, muitas vezes, acalentado e esperado
ansiosamente. Talvez por isso Caldeira (Op. cit.) explicite,
Através das mais diferentes culturas e classes sociais, o lar cristaliza importantes
sistemas simbólicos e molda sensibilidades individuais. A moradia e o status social
são obviamente associados e em várias sociedades a residência é uma forma de as
pessoas se afirmarem publicamente. Em conseqüência, a construção ou aquisição de
uma casa é um dos projetos mais importantes que as pessoas irão realizar (...) Ao
criar uma casa as pessoas tanto descobrem e criam sua posição social quanto
moldam seu mundo interior (Caldeira, Op. cit.:264).
102
O projeto de vida mais importante: a aquisição de uma casa própria. Possuí-la significa
conforto financeiro, além de ser, socialmente, um indício de sucesso e afirmação pessoal,
que a casa, como evidenciou a autora, molda o mundo interior de cada um e deixa
transparecer para o exterior a posição social de cada indivíduo. É no adquirir uma casa que os
indivíduos alicerçam e projetam anseios. Se afirmam publicamente que sempre a
associação entre moradia e o status social de ser proprietário.
4.2 – O convívio com o “outro”
apontamos que o cotidiano no interior de um espaço fechado nem sempre é
marcado por uma vida harmoniosa, feliz e aprazível como sempre tentam mostrar os anúncios
publicitários, visando atrair compradores para os chamados condomínios fechados. O
convívio social com o “outro” acaba também sendo alvo de conflitos e contradições. Por ter
uma vida social mais intensa, demonstrando-nos até mesmo a sensação de uma típica cidade
do interior, pautada por relações mais pessoais, vidas particulares expostas, essas
ambigüidades são mais visíveis a seus moradores. Os dados abaixo mostram-se reveladores
de uma ambiguidade, na medida em que é possível relacionar uma vida cotidiana marcada por
alguns conflitos com o alto grau de satisfação dos moradores em relação ao Condomínio,
enquanto espaço de moradia.
Tabela 05
Satisfação quanto ao convívio social entre os moradores
ESPECIFICAÇÃO fe %
Ótimo 18 40,00
Bom 24 53,33
Regular 3 6,67
Ruim 0 0,00
Péssimo 0 0,00
Total 45 100,00
(Dados coletados em pesquisa de campo nos meses de junho, julho e agosto de 2002)
Interessante apontar o fato de que 53,33% (24) dos entrevistados apresentam um grau
de satisfação bom em relação ao convívio social entre os moradores. Para esses,
“Somos aqui uma grande família e todos estão dispostos a ajudar (...)”; “não tenho
divergência com ninguém, gosto de interior e as pessoas com as quais me relaciono
103
aqui são do tipo de interior”; “existe muita simplicidade e amizade”; “as pessoas
estão muito próximas e a comunicação fica mais fácil, as decisões mais fáceis e a
possibilidade de entrosamento é bem maior” “aqui é tranqüilo como uma cidade do
interior, as pessoas são amigas e atenciosas” (Entrevista com moradores cedidas em
julho de 2002).
Apesar das diferenças e conflitos internos que naquele espaço, seus moradores
apresentam um grau de satisfação bom em relação à vivência no interior do Condomínio,
evidenciando assim uma ambigüidade interessante, na medida em que a avaliação é positiva,
mas as narrativas geralmente expressam contradições e problemas internos dentro do
Condomínio.
Os entrevistados que avaliaram positivamente o convívio social entre os moradores,
mostraram, através das narrativas acima, uma forte associação entre o comportamento dos
moradores do Condomínio aos de moradores de uma cidade do interior. Nesse sentido, é
possível retomar a discussão de Simmel (1967) acerca da vida mental no interior de uma
metrópole. O autor compreende a metrópole como a própria modernidade e caracteriza esta
como um espaço de distância e ligação interpessoal baseados num interesse específico. Para
Simmel, o ritmo de vida metropolitano impõe uma reserva e distância que, aos olhos dos
moradores de cidades pequenas, vai parecer uma atitude fria e calculista. Todavia, para o
autor, a metrópole confere ao indivíduo uma qualidade e quantidade de liberdade pessoal que
este não encontra em outras condições. Assim, ele vai conceituar comunidade como “um
círculo relativamente pequeno firmemente fechado contra círculos vizinhos, estranhos ou sob
qualquer forma antagonísticos” (p. 21) e continua o autor, (...) “esse círculo é cerradamente
coerente e permite a seus membros individuais um campo estreito para o desenvolvimento
de qualidades próprias e movimentos livres, responsáveis” (p. 21).
Ou seja, dividir a vida numa comunidade pequena exige abrir mão de certa
individualidade. Morar num condomínio fechado é renunciar à possibilidade de uma certa
independência individual. Por isso Simmel vai explicitar,
Quanto menor é o círculo que forma nosso meio e quanto mais restritas aquelas
relações com os outros que dissolvem os limites do individual, tanto mais
ansiosamente o círculo guarda as realizações, a conduta de vida e a perspectiva do
indivíduo( Simmel, 1967: 21).
104
Assim, as narrativas de nossos entrevistados evidenciam novamente uma ambigüidade
discursiva, na medida em que estes também avaliam positivamente o grau de satisfação
quanto à privacidade no interior do Condomínio. Vejamos a tabela abaixo:
Tabela 06
Satisfação quanto à privacidade
ESPECIFICAÇÃO fe %
Ótimo 19 42,22
Bom 22 48,89
Regular 4 8,89
Ruim 0 0,00
Péssimo 0 0,00
Total 45 100,00
(Dados coletados em pesquisa de campo nos meses de junho, julho e agosto de 2002)
Os números não negam essa ambigüidade, que 42,22% (19) dos entrevistados
consideram ótimo o grau de privacidade naquele espaço. Sociologicamente, podemos
entender por grupos primários aqueles caracterizados por associação e cooperação íntimas
face a face. Esse tipo de interação face a face deixa os indivíduos participantes dela bem mais
vulneráveis a falácias e comentários. Nessas interações, as relações se dão de forma mais
pessoais e a vida particular tende a ser suprimida. Isto fica claro na fala daqueles que
percebem como regular 8,89% (04) a privacidade no interior do Privê,
“Infelizmente temos vizinhos que não sabem respeitar o espaço do outro” “as
pessoas são muito diferentes, algumas não respeitam o espaço do outro como por
exemplo, manter o som ligado em alto volume durante a semana toda. Penso que
num condomínio fechado as pessoas devem respeitar mais isso, respeitar o espaço
do outro” (Entrevista com moradores cedidas em julho de 2002).
O respeito ao espaço do outro e a idéia de uma vida em comunidade são interessantes
nessas narrativas. O fato de o Privê Atlântico possuir 24 anos de existência mostra que a
experiência de comunidade ali é muito forte, não significando contudo, uma experiência
sempre positiva. Várias foram as reclamações da falta de um espírito coletivo que poderia
facilitar a vivência naquele espaço. O fato também do Condomínio ainda não ser legalizado
documentalmente, talvez contribua para essas dificuldades, que, fica a ausência de um
105
estatuto interno com o estabelecimento de regras claras sobre o comportamento a ser
praticado ali. Certamente que num espaço “fechado”, os problemas ficam mais visíveis e o
espírito coletivo passa a ser uma máxima onde a cooperação e a renúncia pessoal precisam ser
praticadas.
4.2.1 – O convívio com a vizinhança
Quando da realização de nossa pesquisa de campo, deparamo-nos com uma cena
instigante. Uma moradora, que logo de manhã estava na casa de outra para cumprimentá-la
pelo “dia do vizinho”
43
. A cena foi extremamente reveladora daquilo que havíamos
percebido durante as visitas in loco”. Parecia-nos claro que ali estava uma comunidade
antiga, estruturada, em cuja área se formavam grupos sociais coesos. A rede de relações
sociais efetivas que ali se estabelecia ultrapassava as fronteiras da consangüinidade. A tabela
abaixo é bastante reveladora desse rompimento de fronteira.
Tabela 07
Satisfação quanto à convivência com os vizinhos
ESPECIFICAÇÃO fe %
Ótimo 30 66,67
Bom 13 28,89
Regular 2 4,44
Ruim 0 0,00
Péssimo 0 0,00
Total 45 100,00
(Dados coletados em pesquisa de campo nos meses de junho, julho e agosto de 2002)
Nela percebe-se que 66,67% (30) dos entrevistados consideram a convivência com
seus vizinhos ótima. Esse dado é revelador de uma dinâmica muito presente no Privê. No
capítulo 03 apresentamos dados da origem dos moradores do Condomínio e foi possível
constatar que 53,33% (25) dos entrevistados eram pessoas que vieram de fora do Estado de
Goiás. Pessoas de Belo Horizonte, São Paulo, Rio de Janeiro e tantos outros locais. Isto talvez
explique porque os vizinhos acabam sendo a extensão da família. Muitas dessas pessoas
consideram seus vizinhos os parentes mais próximos e com os quais “se pode contar sempre”.
43
A saber, dia 20/08 – Dia do Vizinho.
106
A convivência com os vizinhos no caso dos moradores do Privê se mostra quase sempre
muito cordial,
“[é] uma convivência tranqüila, sem atritos”; “todos os meus vizinhos são bons, a
melhor coisa são eles, me sinto em família”; “são pessoas prestativas, solidárias”; “é
como se eu estivesse em família, não tenho problemas com meus vizinhos”; “todos
os meus vizinhos são meus amigos”; “tenho vizinhos bons e prestativos, o que se
precisa pode contar com eles” (Entrevista com moradores cedidas em julho e agosto
de 2002).
Observamos constantemente uma associação entre vizinho e família. Embora a família
se relacione com parentesco consangüíneo, é preciso explicitar que aquela não se confunde
com este. O homem tem o poder de escolher como vai realizar suas relações sociais, e assim
acaba por estabelecer interações com grupos outros que não somente os seus familiares. Pelas
nossas observações, percebemos que os laços de vizinhança eram bastante sólidos ali. O
sentimento de solidariedade parece ser uma constante entre a vizinhança. Além disso, nos
deparamos com algumas ruas em que quadras inteiras moravam familiares.
Tal realidade aponta para uma desmistificação teórica da família nuclear como grupo
familiar preponderante nas metrópoles (Barros, 1981). No trabalho de Barros, a autora
procura, utilizando as reflexões de Townsend, distinguir duas formas de família: a primeira
seria a família imediata, esta “caracterizada pelos pais (ou apenas um elemento do casal) e
seus filhos solteiros, vivendo na mesma casa” (p.19). A segunda é a noção de família extensa
que se define como “um grupo de parentes que moram em uma ou mais de uma casa, mas se
vêem freqüentemente” (p.19).
No espaço do Privê deparamos também com uma rede de auxílio que entre os
vizinhos naquele lugar, através de contatos estreitos uns com os outros, os quais sustentam e
fortalecem os laços no seio da vizinhança, tornando o convívio social bem mais fortalecido e
aprazível.
Os momentos de proximidade e de solidariedade que sempre nos eram narrados
evidenciam um vínculo muito sólido entre os vizinhos no Privê. Apontam para uma rede de
laços sociais e afetivos bastante arraigados. Nas palavras de Norbert Elias & Scotson (2000),
107
[Posso] sugerir que a idéia da “família” como unidade básica e primária da
sociedade e como essencialmente autônoma e dispensando explicações constituía
uma concepção equivocada. A família pode causar essa impressão, do ponto de vista
de seus próprios membros. Sem dúvida, ela é a unidade primária, do ponto de vista
da criança. Mas, quando se observa que as configurações de pessoas a que nos
referimos como “famílias” variam enormemente, tanto em sua estrutura quanto em
seu tipo, e quando se indaga sobre a razão dessa variação, logo se descobre que as
forças responsáveis por essas diferenças não se encontram no interior das próprias
famílias. podem ser encontradas nas unidades maiores de que elas fazem parte.
(Norbert Elias & Scotson, 2000:90).
Essas “unidades maiores” são as relações efetivas dadas no contexto da vizinhança,
como se no Privê. O Condomínio tem uma rede estreitamente unida, composta pela
pluralidade das relações que se dão entre os vizinhos, inclusive da solidariedade e cooperação
tão evidenciadas na fala dos entrevistados. Toda essa solidariedade certamente não se deve ao
fato de que naquele espaço, como que por acaso tivesse ocorrido a união de pessoas
“generosas”. Trata-se de uma tradição que cresceu ao longo dos 24 anos de existência daquele
espaço. A solidariedade entre os vizinhos evidencia a força de uma tradição de moradores de
um espaço estreitamente específico e singular.
Mas, se essa proximidade e amizade é tão presente entre os vizinhos do Condomínio, a
situação se inverte quando o assunto é contato com a vizinhança do lado de fora do
Condomínio. A tabela abaixo deixará essa relação mais clara.
Tabela 08
Contato com a vizinhança fora do Condomínio
ESPECIFICAÇÃO fe %
Sim 14 31,11
Não 31 68,89
Total 45 100,00
(Dados coletados em pesquisa de campo nos meses de junho, julho e agosto de 2002)
Se a vizinhança no interior do Condomínio apresenta laços fortemente sólidos, a
situação não se verifica do “lado de fora” dos muros, já que 68,88% (31) dos 45 entrevistados
declararam não ter contato com a vizinhança mais próxima do muro que cerca o Condomínio
por várias razões,
108
“Por que poucos vizinhos”; “porque não tenho oportunidade, não procurei as
amizades porque as aqui de dentro preenchem o vazio que possa ter”; “por falta de
tempo e oportunidade”; “porque a vida da gente é corrida, não sobra tempo pra fazer
novas amizades” (Entrevista com moradores cedidas em julho de 2002).
O Privê Atlântico é um condomínio horizontal fechado já antigo e estruturado. Seus 24
anos de existência lhe garantiram a gestação de hábitos e costumes hoje arraigados, o da
solidariedade e cooperação entre os vizinhos é um exemplo.
Nossa pesquisa constatou que os contatos com moradores próximos fora do
Condomínio são restritos, muitos deles de caráter comercial. Vejamos os dados:
Tabela 09
44
Tipo de contato com a vizinhança fora do Condomínio
ESPECIFICAÇÃO fe %
Para negociar soluções comuns 1 7,14
Contato religioso (Igreja) 2 14,28
Contato de amizade 4 28,58
Contato com prestadoras de serviços (salão de beleza,
faxineiras, empregadas domésticas, etc.)
7 50,00
Total 14 100,00
(Dados coletados em pesquisa de campo nos meses de junho, julho e agosto de 2002)
Os prestadores de serviço (cabeleireiros, faxineiras, empregadas domésticas, etc.) são
os contatos mais comuns, embora haja algumas poucas exceções de moradores que
declararam ter amizades com vizinhos nas proximidades do muro. Informou-nos, por
exemplo, uma entrevistada “minha passadeira é minha amiga e mora além do muro que cerca
o Condomínio”. O fato de o Privê Atlântico ser um condomínio mais antigo, cuja estrutura se
a partir da formação de grupos de vizinhos mais coesos, talvez explique essa dinâmica do
pouco contato com os moradores do lado de fora do muro. Os residentes do Condomínio por
vivenciarem uma sólida rede de contatos mais íntimos e próximos com seus pares, não sentem
a necessidade de terem contato com os “de fora”. A tradição da solidariedade e cooperação
entre os vizinhos se estruturou no interior do condomínio, não com aqueles de fora dele.
44
É possível perceber que aqui, o número de entrevistados é 14 e não 45, nossa amostra selecionada. Queremos atentar para
o fato de que isso ocorre em razão da pergunta anterior, cujos dados estão expostos na tabela 08 pergunta essa que indagava:
Você tem algum contato com a vizinhança fora do Condomínio? 14 entrevistados disseram que sim e coube a eles declarar
que tipo de contato era estabelecido com esses moradores. Para maiores esclarecimentos, consultar questionário aplicado aos
moradores na parte dos anexos.
109
4.3 – O trabalho da SOMOPA
Conforme descrito no Capítulo 03, a Associação de Moradores do Privê Atlântico foi
extremamente importante como movimento organizado para “lutar” pela manutenção e
efetivação do Condomínio como um espaço legalizado perante a sociedade e o poder público.
A SOMOPA é composta por um Presidente, Vice, Secretário, Diretor Adjunto, Diretor
Financeiro, Diretor Social e um Diretor de Esportes. A escolha de seus representantes é feita
pelos próprios moradores através de voto secreto. Cada diretoria exerce uma gestão de dois
anos e é a representante legal dos moradores do Condomínio como um todo. Cabe a esta
cuidar da manutenção do espaço do Privê e de administrar os recursos financeiros arrecadados
com o pagamento da taxa condominial. É um trabalho voluntário, sem remuneração, realizado
pelos moradores do próprio Condomínio. Nesse trabalho, os membros da Associação
encontram simpatizantes e opositores. Vejamos a tabela abaixo:
Tabela 10
Satisfação quanto ao trabalho da SOMOPA
ESPECIFICAÇÃO fe %
Ótimo 7 15,55
Bom 21 46,67
Regular 16 35,56
Ruim 1 2,22
Péssimo 0 0,00
Total 45 100,00
(Dados coletados em pesquisa de campo nos meses de junho, julho e agosto de 2002)
Dos 45 entrevistados, 46,66% (21) consideram o trabalho que vem sendo realizado
bom e 35,55% (16) o acham regular. Para esses, o trabalho é classificado dessa forma porque,
“Falta muitas coisas a melhorar (...) falta organização para melhor gerenciar o
trabalho”; “a SOMOPA poderia investir mais em atividades esportivas para
envolver as crianças em atividades saudáveis”; “porque houve administrações
melhores que promovia vários eventos. Falta desenvolver mais eventos e
desenvolver um trabalho interessante” (Entrevista com moradores, cedidas em julho
de 2002).
110
Para esses moradores, a SOMOPA perde tempo com questões menores e deixa as mais
importantes a realizar. A grande questão para esses é cuidar das ruas e resolver o problema
das drogas e menosprezar questões menores como a reforma da portaria, por exemplo, vista
por alguns moradores como uma mera questão de status, pouco relevante para o Condomínio
como um todo. Todavia, esses dados se mostram interessantes se os relacionarmos com os da
tabela a seguir,
Tabela 11
Participação nas reuniões promovidas pela SOMOPA
ESPECIFICAÇÃO fe %
Sim 14 31,11
Não 31 68,89
Total 45 100,00
(Dados coletados em pesquisa de campo nos meses de junho, julho e agosto de 2002)
Do total de 45 entrevistados, 68,88% (31) declararam não participar das reuniões
promovidas pela SOMOPA e os motivos dessa não participação evidenciam a pouca
experiência com processos participativos,
[Não participo por] “falta de tempo, um pouco de comodismo”; “por falta de
coragem mesmo, as reuniões geralmente são à noite, mas eu estou cansada da
correria do dia-a-dia”; “existe muitas opiniões e poucas ações”; “porque não tenho
tempo, prefiro pagar a taxa de condomínio e ficar na minha; “não tenho um motivo
específico, acho que é comodismo mesmo”; “porque há uma panelinha que participa
das reuniões e eu (...) prefiro não participar”; “porque penso de um jeito e eles de
outro, não vou para não ficar nervoso. Acho que a SOMOPA deveria se mobilizar
para resolver o problema das drogas” (Entrevista com moradores, cedidas em julho
de 2002).
Pelas narrativas acima, percebe-se que muitos desses entrevistados têm claro o
comodismo, e é interessante associar esse número de moradores que não participam das
reuniões e o outro que classifica o trabalho da SOMOPA como regular. A política é uma
prática que interessa a poucos; e no interior do Condomínio ocorre o reflexo das práticas
exteriores. Nesse caso, os indivíduos ainda estão pouco familiarizados com a idéia de
processos participativos e acabam por delegar poderes de decisão a terceiros.
111
Por outro lado, aqueles que disseram participar das reuniões 31,11% (14) dos
entrevistados, o fazem porque,
“É minha obrigação, se não tiver satisfeita com algo é meu momento de reclamar”;
“sempre participei a fim de saber as decisões que estão sendo tomadas que dizem
respeito ao local onde moro”; “acho importante colaborar com as decisões”; “a
participação é fundamental como cidadão”; “para saber o que está acontecendo,
acho que para opinar nas decisões é preciso participar delas”; “porque eu quero que
aqui melhore em relação à segurança, identificação de pessoas na portaria. Acho que
o Presidente atual tem bons planos e eu concordo com os planos e quero colaborar
nessa melhora” (Entrevista com moradores, cedidas em julho de 2002).
Essas pessoas acreditam na idéia de um dever cívico. Para esses, participar, questionar
e pensar na solução dos problemas em comum faz parte de uma ação coletiva.
Outra questão que pode ser discutida quando se analisa o trabalho da SOMOPA é a
taxa condominial cobrada por ela, cujo valor é hoje de R$ 75,00. Pela tabela abaixo, 51,11%
(23) dos entrevistados acreditam que o valor cobrado é bom. Para esses indivíduos, é um valor
compatível com seus rendimentos e também com o que é oferecido aos moradores. Além
disso, é um valor inferior ao que é cobrado num condomínio vertical, por exemplo.
Tabela 12
Satisfação quanto à taxa de Condomínio
ESPECIFICAÇÃO fe %
Ótimo 13 28,89
Bom 23 51,11
Regular 8 17,78
Ruim 0 0,00
Péssimo 1 2,22
Total 45 100,00
(Dados coletados em pesquisa de campo nos meses de junho, julho e agosto de 2002)
Por outro lado, para os 17,78% (8) dos que consideram tal taxa regular, o valor
cobrado é alto, incompatível com seus rendimentos mensais. Para esses indivíduos, aqueles
que declararam ter uma renda mensal familiar que varia de 2 a 4 salários mínimos, essa taxa
parece algo longe de suas possibilidades. Por sua diversidade de moradores, o Privê se mostra
112
um espaço singular em vários sentidos. Alguns moradores ali só querem uma casa para morar
e se comprometer com tal quantia implica em sérios sacrifícios pessoais. Além disso,
também aqueles que não colaboram com a taxa condominial porque acreditam que é um
“investimento” sem retorno. Para essas pessoas, o Condomínio está muito “desorganizado” e
somente mediante uma organização maior, somente com a adoção de um regulamento interno
com normas e regras claras os fará contribuir com tal quantia.
Outra atribuição da SAMOPA é cuidar da segurança interna do Condomínio, questão
importante quando se analisam espaços fechados e monitorados. Vejamos os dados:
Tabela 13
Satisfação quanto à segurança interna
ESPECIFICAÇÃO fe %
Ótimo 8 17,78
Bom 25 55,56
Regular 10 22,22
Ruim 2 4,44
Péssimo 0 0,00
Total 45 100,00
(Dados coletados em pesquisa de campo nos meses de junho, julho e agosto de 2002)
Para muitos entrevistados, 55,55% (25) a segurança interna está boa. Mas o que é
elucidativo é o fato de 22,22% (10) dos entrevistados a considerarem regular. Para esses,
“Ainda nos deparamos com pequenos furtos ou brincadeiras de mau gosto das
crianças e adolescentes”; “é preciso acrescentar algumas coisas para melhorar a
segurança”; “a segurança, existe falhas na portaria” (Entrevista com moradores,
cedidas em julho de 2002).
As “brincadeiras de mau gosto” implicam em alguns gestos “desagradáveis” para seus
moradores. São problemas de ordem interna do Condomínio que, em razão de seus 24 são
mais fortemente sentidos por seus moradores. Roubos, furtos, pichações de muros e de
automóveis, fazem parte das “brincadeiras de mau gosto”. Essas e outras questões mais sérias
são tratadas de forma discreta. Receosos por ver o espaço do Privê desvalorizado, financeira e
moralmente, seus moradores preferem “camuflar” esses problemas e os considerar de ordem
interna particular, tendo como medida paliativa a educação familiar.
113
Muito embora, o ideal dos condomínios fechados seja a criação de um universo a parte
da cidade, organizar a vida em comum dentro dos muros tem sido complicado no caso dos
moradores do Privê Atlântico. Isso evidencia que a vida entre os seus pares nem sempre está
próxima do ideal de harmonia pregado em alguns anúncios publicitários. As “brincadeiras de
mau gosto” praticadas por alguns adolescentes no interior do Condomínio nos levam a crer
que concordar com regras comuns, e respeitar tais regras, é algo difícil no cotidiano de
residências coletivas. Nas palavras de Caldeira (Op. cit.),
O problema central dos condomínios e edifícios parece ser como funcionar como
uma sociedade com algum tipo de vida pública. Muitos moradores [de condomínios
fechados] parecem tratar todo o complexo como casas particulares onde podem
fazer o que lhes der na cabeça. Eles interpretam liberdade como sendo uma ausência
de regras e responsabilidades em relação aos vizinhos (Caldeira, Op. cit.:275).
A autora estava tratando do caso dos condomínios fechados de São Paulo, mas tais
sentimentos são também encontrados nos condomínios fechados de Goiânia. Em relação ao
Condomínio pesquisado, seus moradores queixaram-se muito da falta de respeito ao próximo
e da ausência de regras e valores entre os adolescentes. Muitos se sentem “invadidos” em sua
privacidade e percebem uma total falta de responsabilidade de alguns adolescentes para com
os vizinhos. Como dissemos, o Privê constituindo-se de forma diferente de outros
condomínios de Goiânia, nasceu como um conjunto habitacional e depois se transformou num
condomínio horizontal fechado, circunstância que talvez impeça a adoção de um regulamento
interno que possa vir sanar esses problemas. Por outro lado, mesmo com a adoção de um
conjunto de normas a seguir, fazê-las cumprir pode se mostrar algo complicado.
4.4 – A sociabilidade no Privê
Os condomínios horizontais fechados, o dissemos, são resultantes da busca de uma
nova forma de “morar” na cidade baseada em ideais de segurança, qualidade de vida e
privacidade. Todavia, fazem parte também desses ideais a busca de uma vida comunitária que
possibilite as interações face a face, pelo menos para os moradores do Privê Atlântico, que por
ter mais de 20 anos de existência, acabou por construir laços sociais efetivos e afetivos entre
seus pares.
114
Este ideal de desenvolvimento de uma vida comunitária mais ativa nos mostra uma
convivialidade eletiva, já que, entre moradores de condomínios fechados, ocorre a busca de se
estar entre seus pares. Nossa colocação de que a convivialidade eletiva busca eleger seus
pares para desenvolver diferentes sociabilidades resgata o sentido de isolamento social,
trabalhado por Simmel (1973) e também Mannheim (1973). Para o último, o isolamento é
uma situação marginal na vida social. Segundo ele, todo grupo ou indivíduo que se apresenta
excluído do contato com outras pessoas tende a percorrer seu próprio caminho, ajustar-se
somente às suas condições particulares, sem trocar experiências com outros indivíduos e/ou
grupos. Para nós, essa não é a realidade dos moradores de condomínios horizontais fechados
em Goiânia. Por outro lado, Simmel conceitua a relação de isolamento como sendo “a relação
que, centrada num indivíduo, existe entre ele e um certo grupo ou uma vida de grupo em
geral”. (1973:129). Segundo o autor, o isolamento não significa apenas a ausência da
sociedade: pode significar a existência desta e sua rejeição pelo indivíduo.
Os habitantes de um condomínio horizontal não estão isolados da sociedade em geral,
mas são pessoas que exercem uma vida profissional, cultural e de lazer fora dos limites do
muro que cerca suas residências. E a pesquisa nos revelou que de fato o Privê Atlântico não
oferece atividades sócio-culturais (cinema, teatro, shopping, etc. serviços públicos e privados
em geral) para seus moradores, o que faz com que eles mantenham uma vida social e
profissional fora do Condomínio.
Diante disso, podemos nos nortear pelas próprias explicações de Simmel (In: Souza e
Öelze,1998) à cerca da vida moderna e da nova sociabilidade gestada nela. Segundo o autor,
são características da modernidade à distância e a ligação interpessoal, baseadas num interesse
específico. Para ele, a sociedade se apresenta como resultado das formas de sociação, ou seja,
de redes de relações sociais recíprocas. Dessa forma, a matéria das sociações são os conteúdos
como interesses, desejos, tendências e outros manifestados pelos indivíduos.
Se a sociedade se apresenta como resultado das formas de sociação, essa pressupõe
portanto a interação entre os indivíduos, a qual se com base ou em função de certos
propósitos e interesses. Para Simmel (1983), a importância das interações repousa no fato de
obrigar os indivíduos a formarem uma unidade. Para o autor, tudo o que está presente nos
indivíduos sob a forma de impulsos, interesses e propósitos, é designado como conteúdo e
matéria da sociação. Todavia, ele esclarece que tais impulsos e propósitos são fatores de
115
sociação apenas na medida em que transformam um agregado de indivíduos isolados em
formas específicas de ser com e para com um outro, nada mais que a idéia de interação. Desse
modo, Simmel define sociação como “a forma (realizada de incontáveis maneiras diferentes)
pela qual os indivíduos se agrupam em unidades que satisfazem seus interesses” (1983:166).
Percebe-se que, através do processo de sociação, se a constituição da sociabilidade
enquanto formas de conviver com os demais. Todavia, a sociabilidade de acordo com
Simmel, depende completamente das pessoas e personalidades daqueles entre as quais ocorre.
Mesmo assim, riqueza, posição social, cultura, fama e outros não representam nenhum papel
na sociabilidade. uma total exclusão dos elementos mais pessoais de cada indivíduo,
apesar de que, para Simmel, a sociabilidade entre membros de classes sociais muito diferentes
é inconsistente. Segundo ele, a interação derivada da sociação encontra sua maior, mais pura e
mais estilizada expressão, numa interação que se dá entre iguais.
Entre os moradores do Privê foi possível perceber a formação de uma unidade maior,
de uma rede de relações sociais recíprocas, embora nem sempre isenta de conflitos. Pela
tabela abaixo, fica evidenciado que os moradores do Condomínio desenvolvem uma vida
social em seu interior, gestando com isso, o desenvolvimento também de formas de
sociabilidade.
Tabela 14
Participação nas festividades organizadas pela SOMOPA
ESPECIFICAÇÃO fe %
Sim 26 57,78
Não 19 42,22
Total 45 100,00
(Dados coletados em pesquisa de campo nos meses de junho, julho e agosto de 2002)
Através da tabela é possível constatar que 57,78% (26) do total de entrevistados
participam das festividades organizadas pela Associação. Este é um número significativo,
dados os problemas apontados na vivência cotidiana nesse espaço. Por outro lado, os 42,22%
(19) que não participam dessas festividades, talvez o façam porque sabem que encontrarão
dificuldades para se “entrosarem”. Durante nossa pesquisa, muitos que disseram não
participar dessas festividades apontaram o fato de que vejo um privilégio dado aos antigos
116
moradores”, acho chatas as festas e não gosto do tipo de festa que eles fazem, um som
muito alto”. São pessoas evangélicas, idosas e moradores mais recentes que nos disseram que
os mais antigos se sentem “donos do pedaço” e acabam por “estragar” as festas e a vivência
no Condomínio. É certo que grupos formados. A configuração sócio-espacial do
Condomínio evidencia a formação de diferentes grupos de atores sociais; e o grupo dos
moradores mais antigos é um desses. Por ter um passado em comum, por terem gestado laços
de solidariedade e criado conjuntamente estratégias cotidianas de vivência, essas pessoas
estabeleceram laços fortes e isso é um entrave para aqueles moradores mais recentes que se
vêem excluídos dessa configuração. Daí a colocação simmeliana de que a sociação, como
uma forma dos indivíduos se agruparem e procurarem satisfazer seus interesses, encontra sua
mais pura expressão numa interação entre iguais.
Desenvolvendo desse modo uma vida social no interior do Condomínio e gestando
assim formas de sociabilidade, nossos entrevistados tem algumas preferências em relação às
melhores festividades organizadas pela SOMOPA. Vejamos a tabela abaixo:
Tabela 15
A melhor festividade organizada pela SOMOPA
ESPECIFICAÇÃO fe %
Festa junina 23 88,46
Baile Azul e Branco 1 3,85
Baile do Havaí 2 7,69
Total 26 100,00
(Dados coletados em pesquisa de campo nos meses de junho, julho e agosto de 2002)
Na tabela é possível perceber que 88,46% (23) dos 26 entrevistados que disseram
freqüentar as festividades organizadas pela Associação preferem a Festa Junina. Essa festa é
uma tradição do Condomínio, assim como o é em Goiânia, cidade que, por ter raízes rurais,
com muitos de seus moradores vindos de interior, encontram na festa junina um momento de
relembrar suas raízes. Segundo os entrevistados, é a festa onde o maior número de
participantes. É nela que crianças, jovens e adultos se encontram para promover um momento
de “sociação”.
Segundo relatos, a Associação já foi bem mais atuante na realização de festividades no
interior do Condomínio. O Baile Azul e Branco e o Baile do Hawai são lembrados com
saudade por alguns moradores. São bailes típicos voltados para adultos e abertos à
117
comunidade além do muro. Diante de alguns problemas, a Associação tem reduzido sua
atuação nessa área. Além disso, foi-nos reportado o fato de que um morador entrou,
recentemente, com um recurso nas instâncias jurídicas superiores para impedir o uso de som
alto depois das 10:00 hs da noite no “Ranchão”, o espaço exclusivo para as festividades do
Condomínio. Outra lembrança refere-se às Gincanas de Rua realizadas entre os vizinhos. Para
alguns entrevistados, essas gincanas eram importantes porque resgatavam o espírito de união
e fortaleciam ainda mais os laços de vizinhança.
O que se percebe é que ocorreu uma mudança no estilo de atuação da SOMOPA e
assim, o Privê Atlântico teve uma vida social mais intensa, promovendo vários momentos
de sociabilidade entre seus moradores. Mas o fato da atuação da SOMOPA ter sido reduzida
nesse sentido fez com que seus moradores procurassem outras alternativas de diversão. A
tabela abaixo nos esclarece melhor sobre essa questão.
Tabela 16
Diversões preferidas realizadas dentro do Condomínio
ESPECIFICAÇÃO fe %
Festas no ranchão 26 57,78
Festas em vizinhos e amigos 16 35,56
Praticar esportes 7 15,56
Caminhadas 6 13,33
Parar para conversar com as pessoas 2 4,44
Almoços beneficentes 1 2,22
Gincanas esportivas 4 8,89
Hidroginástica 4 8,89
Passeios na pracinha 2 4,44
Visitar a família 1 2,22
Visitar a massagista 2 4,44
Reuniões de caráter religioso 1 2,22
Visitar o barzinho 3 6,66
(Dados coletados em pesquisa de campo nos meses de junho, julho e agosto de 2002)
Nosso questionário solicitava aos entrevistados que citassem cinco diversões
preferidas realizadas dentro do Condomínio. Esta lista de 13 diversões nos foi citada e nela é
possível constatar que as festas no Ranchão e nos vizinhos e amigos são as preferidas.
Entretanto, outras alternativas cotidianas são também criadas como formas de diversão.
4.1.1 – A sociabilidade dos jovens
118
Estamos entendendo sociabilidade como formas de convivência com os outros, a partir
do conceito de sociação de Simmel “a forma (realizada de incontáveis maneiras diferentes)
pela qual os indivíduos se agrupam em unidades que satisfazem seus interesses” (1983:166).
Os jovens e adolescentes do Privê apresentam expectativas e interesses diferenciados
dos adultos. E pelo que nos foi relatado, o Condomínio sempre contou com muito pouca
diversão para esses que acabaram também por criar alternativas para satisfazer seus interesses
nesse sentido.
Nossos entrevistados, alguns pais desses jovens, quando indagados sobre a preferência
de convivência dos filhos dentro do Condomínio, nos responderam o seguinte:
Tabela 17
Preferência de convivência dos adolescentes dentro do Condomínio
ESPECIFICAÇÃO fe %
Sim 35 77,78
Não 9 20,00
N/R 1 2,22
Total 45 100,00
(Dados coletados em pesquisa de campo nos meses de junho, julho e agosto de 2002)
Estes dados evidenciam que 77,78% (35) dos entrevistados declararam que os jovens
preferem ficar e ter uma convivência social dentro do Condomínio. Para esses, isso acontece
porque,
“Em função da grande liberdade, aqui dentro estão protegidos”; “porque aqui eles
acabam estabelecendo amizades seguras”; “por causa da liberdade, amizade ‘de
dentro de casa’ e da segurança”; “porque eles acabam se ajudando, criando laços de
amizades”; “por causa da correria e amizade entre eles. Muitos cresceram juntos e
convivem próximos. A culpa é dos pais que, pela segurança e tranqüilidade do
lugar, a gente acaba deixando as crianças muito aqui dentro e elas acabam
acostumando” (Entrevista com moradores, cedidas em julho de 2002).
Essas narrativas explicitam como se dá o intercâmbio do dia-a-dia do Privê e como são
formadas e criadas as opiniões. Muitos dos pais que nos responderam desta forma, ainda tem
filhos criança. É interessante perceber como que para esses pais o espaço do condomínio se
reveste de condições ideais para a criação dos filhos. Nesses espaços, a criança estaria a salvo
119
de “estranhos”, de carros em alta velocidade e convivendo com outras crianças de iguais
valores, crescendo de forma saudável. Todavia, a vida comunitária, a intensa sociabilidade
que acontecem nesses espaços acaba por esbarrar numa outra realidade. Nesses ambientes de
convivência entre vizinhos de forma intensa e estimulada, problemas de comportamento entre
crianças e posteriormente entre os adolescentes, tornam-se preocupação de alguns pais.
Por outro lado, 20% (9) dos entrevistados disseram que os adolescentes ali preferem
conviver nos espaços fora do Condomínio, visitando shoppings, festas em boates ou em casa
de amigos da Escola, Faculdade, etc. Para esses jovens que preferem não se “agruparem” e
estabelecer relações com as pessoas de fora do Condomínio motivos bastante
esclarecedores desse comportamento,
faz algum tempo que eu não me misturo com o pessoal aqui do Privê, mesmo
porque eu acho que aqui dentro do Privê Atlântico não se oferece muitos pontos de
lazer. Então eu não saio para conversar, não tenho amiga, nenhum convívio, fico
mais em casa. (...) Porque o Privê Atlântico é um condomínio horizontal ótimo mas
as drogas estão em grande quantidade, a maioria dos jovens aqui, você conta nos
dedos os que não usam e esses últimos tempos mesmo aconteceu roubos, furtos e
assaltos nos estabelecimentos comerciais ali embaixo. Então eu procuro não me
misturar com isso e acabei me acostumando mesmo a ficar mais em casa. Tenho
minha irmã, converso com ela com minhas amigas da faculdade e trabalho (...)
(Entrevista com jovem de 20 anos moradora do Condomínio, cedida em janeiro de
2003).
Embora haja os “grupinhos” de adolescentes que se reúnem na “pracinha” para
conversar, namorara, etc., grupos esses que, a exemplo dos pais, formaram uma rede de
relações específicas. Muitos desses jovens nasceram no Condomínio, tratam as vizinhas como
“tias” e cresceram ao lado de outras crianças, criando laços de amizade que levaram para a
adolescência. Contudo, há aqueles que preferem “não se misturar” e buscam um estilo de vida
alternativo fora do Condomínio. Para esses jovens, a “falta do que fazer” acaba por favorecer
“comportamentos desviantes” e tem levado muitos jovens a se envolverem em “problemas”.
Nossa entrevista continua,
(...) esses furtos, esses atos foram praticados por pessoas que moram no condomínio.
Inclusive a gente recebeu uma circulação, porque o ruim de condomínio é isso, você
mora em condomínio fechado tem aquela coisa que polícia não pode entrar aqui
120
dentro, vira essa bagunça. Tanto é que quem fez os furtos e os roubos foram
adolescentes, nem jovens de 20 ou mais anos, são adolescentes de 14, 15 anos que
estão começando agora. (Entrevista com jovem de 20 anos moradora do
Condomínio, cedida em janeiro de 2003).
Esse “desabafo” evidencia um pouco da frustração dos jovens que preferem sair do
Condomínio para desenvolver uma vida social fora daquele espaço. Muitos se queixam da
falta de opções de lazer e do fato da Praça ser ocupada por esses adolescentes usuários de
droga. Esses jovens se sentem ofendidos e afrontados. Uma afronta moral à sua condição de
também moradores do Condomínio.
Isso aponta para uma outra questão referente também à sociabilidade no interior de
espaços fechados. Em matéria publicada em O Popular no ano de 2001, cujo título era
“Condomínio Horizontal resgata sociabilidade”, declarava que viver num ambiente como o
dos condomínios horizontais é interessante por causa da possibilidade de sociabilização (O
Popular, 8 jul. 2001). Discutia ainda o fato de que, as pessoas que buscavam residir nesses
espaços estavam procurando liberdade, segurança, silêncio, boa convivência e o resgate de
uma vida marcada por uma forte sociabilidade e interação entre os vizinhos. Tantos desejos
costumam ser atendidos. Talvez por isso a crença de que o espaço de um condomínio
horizontal seja um local propício para a criação e educação dos filhos. Vejamos a tabela
abaixo:
Tabela 18
O Condomínio é um espaço para a criação dos filhos?
ESPECIFICAÇÃO fe %
Sim 37 82,22
Não 8 17,78
Total 45 100,00
(Dados coletados em pesquisa de campo nos meses de junho, julho e agosto de 2002)
Seus dados mostram que 82,22% (37) dos entrevistados acreditam que o Condomínio
é um espaço propício para a criação dos filhos. Interessante que este dado se aproxima dos da
tabela 18, descrita anteriormente. Isso indica que, alguns desses entrevistados, ou não tem
filhos ou estes ainda são crianças, em idade de brincar à vontade e se divertirem com os
“coleguinhas” mais próximos. Para esses entrevistados, a tranqüilidade, segurança e a boa
vizinhança são fatores que favorecem e propiciam uma boa criação para os filhos. O fato de o
Privê ser um “lugar” marcado por uma rede de solidariedade entre os vizinhos também
121
favorece essa educação, já que os pais acreditam que os filhos podem crescer com um sentido
familiar maior.
Embora a maior freqüência de entrevistados considere o espaço do Condomínio
propício para a criação dos filhos, o número de indivíduos que acreditam no contrário é que
nos parece relevante. Para 17,78% (8) dos entrevistados, esse espaço é propício até uma certa
idade, até mesmo porque,
“Na adolescência surgem as amizades problemáticas e as drogas, é preciso vigiar
sempre”; “em todos os lugares temos de ser vigilantes, algumas pessoas agem como
se esse local por si educasse seus filhos”; “para as crianças é um lugar bom, se
pode brincar na rua, liberdade com os vizinhos, mas para os adolescentes, essa
liberdade toda é complicada, os pais perdem o controle sobre os filhos e esses ficam
livres demais”; “para os adolescentes é preciso um lugar mais seguro com mais
medidas por causa das drogas”; “na adolescência não é bom porque eles não querem
ter responsabilidades em relação ao cumprimento de horários. Eles ficam muito
próximos, juntos, crescem juntos e não querem ter responsabilidade. Eu oriento
meus filhos mas é difícil saber o que eles fazem. Aqui pessoas que acham que
seus filhos são melhores que os filhos dos outros mas não é por aí. As pessoas aqui
reclamam demais e colaboram pouco e não olha os filhos, isso é complicado”; “é
um lugar onde os filhos ficam soltos. Muitas mães saem e deixa os filhos. São
pessoas de valores e educação diferentes, ao se misturarem começam os problemas”
(Entrevista com moradores cedidas em julho de 2002).
Os moradores de condomínios horizontais fechados de Goiânia mantém uma vida
social e profissional fora dos seus limites. Entretanto, quando essas optam por residir nesses
espaços, quem mais sente os impactos da mudança são as crianças e os jovens. É a rotina
diária desses que tende a ser alterada, sobretudo pela distância desses espaços do centro da
cidade. As crianças começam a ter uma vida mais intensa no interior do condomínio. Por
outro lado, os adolescentes e jovens para sair do condomínio, muitas vezes, dependem dos
pais, que, em alguns casos, se tornam motoristas particulares. Esses pais, embora adotem um
estilo de vida distinto, continuam estabelecendo uma relação mais intensa com a cidade,
sobretudo em função do trabalho.
Com o crescimento dos filhos, as pessoas tendem a refletir sobre o espaço da moradia.
Por conviverem por alguns anos no mesmo espaço, os moradores mais antigos do Privê
122
Atlântico compartilharam de várias experiências e a criação dos filhos é uma delas. Grande
parte dos entrevistados foram unânimes em afirmar que tal espaço é propício para se criar
crianças, todavia, quando estas crescem e atingem a adolescência, os problemas começam a
surgir justamente pela liberdade e falta de responsabilidade que elas tendem a levar da
infância para a adolescência.
4.5 – A vivência entre os muros
Este capítulo procurou discutir algumas questões mais relevantes referentes ao
convívio cotidiano dos moradores do Privê Atlântico, bem como suas formas de
sociabilidade. Foi possível constatar que a vivência entre os muros nem sempre é positiva e,
por vezes, marcada por conflitos e problemas de ordem interna. Essas constatações levam
muitos de seus moradores a repensar o espaço da moradia e até mesmo, desejarem uma
mudança quando isso implica uma melhor qualidade de vida e um convívio menos
conflituoso.
Mas viver entre os muros não é espinhos. A vivência atrás dos muros tem seus
pontos positivos e os moradores do Privê Atlântico os conhecem bem, até por isso o
Condomínio tem se mantido por 24 anos. A tabela 19 apresenta as vantagens de se residir
nesse espaço fechado.
123
Tabela 19
Pontos positivos referentes ao convívio dentro do Condomínio
ESPECIFICAÇÃO fe %
Segurança 35 77,78
Qualidade de vida 2 4,44
Tranqüilidade 24 53,33
Privacidade 9 20,00
Acesso a equipamentos no interior do condomínio 11 24,44
Integração e união das pessoas (solidariedade) 12 26,67
Amizade entre as pessoas 16 35,56
O bom relacionamento entre os moradores 8 17,78
Ambiente selecionado (nível social) 3 6,67
Por ser casa 5 11,11
Bons vizinhos 5 11,11
Maior espaço 2 4,44
Festas de confraternização 1 2,22
O Ranchão (espaço próprio para festas) 1 2,22
Simplicidade dos moradores 1 2,22
Taxa condominial barata 1 2,22
Convivência com familiares 2 4,44
Um certo espírito de cidade pequena 1 2,22
Ausência de poluição 1 2,22
Liberdade para os filhos 8 17,78
(Dados coletados em pesquisa de campo nos meses de junho, julho e agosto de 2002)
A segurança é o primeiro ponto com 77,78% (35) da preferência dos entrevistados,
seguida pela tranqüilidade 53,33% (24); amizade entre as pessoas 35,56% (16) e a
solidariedade entre os indivíduos 26,67% (12). Estes itens seguidos de outros, apontam
porque essas pessoas, apesar dos problemas discutidos, ainda vivem nesse espaço. Seus
moradores, de um modo geral, carregam consigo um sentimento de pertença em relação ao
espaço do Privê. Esse “lugar” por ser carregado de sentido histórico leva consigo uma
comunidade de valores e interesses partilhados por seus moradores. Por sua tranqüilidade,
familiaridade e os fortes laços entre a vizinhança, o Privê Atlântico traz a vantagem de
propiciar uma sociabilidade local. Ali é um espaço onde as pessoas se conhecem e cuidam
umas das outras.
Esse sentimento de pertença está tão fortemente arraigado em alguns moradores do
Privê que foi complicado fazer com que nossos entrevistados apontassem os pontos negativos
124
de se residir ali. A tabela 20 abaixo evidencia esses pontos e é possível perceber que o total
citado é inferior ao número de pontos positivos apontados pelos moradores.
Tabela 20
Pontos negativos referentes ao convívio dentro do Condomínio
ESPECIFICAÇÃO fe %
Conviver com pessoas diferentes (origem, níveis de
qualificação e educação)
1 2,22
Uso de drogas 18 40,00
Falta de privacidade 4 8,89
Influência de amizades negativas 1 2,22
Distância do centro da cidade 9 20,00
Falhas na segurança 2 4,44
Moradores antigos que se acham donos da área 2 4,44
Pequenos furtos 2 4,44
Desinteresse de alguns moradores em ajudar a SOMOPA 1 2,22
Atos de vandalismos 4 8,89
Falta de alguns equipamentos 2 4,44
Crianças mal educadas 2 4,44
Inadimplência de alguns moradores 3 6,67
O isolamento social 1 2,22
Lotes baldios sujos 2 4,44
Menores dirigindo 2 4,44
Liberdade excessiva para os jovens 1 2,22
Falta de lazer para os moradores 6 13,33
Sinalização precária 2 4,44
Sujeira nas ruas 4 8,89
Quebra-molas mal construídos 5 11,11
Cachorros soltos pelas ruas 4 8,89
(Dados coletados em pesquisa de campo nos meses de junho, julho e agosto de 2002)
Surpreendeu-nos quando da realização da pesquisa, o grande número de entrevistados
que disseram ser o uso de drogas no interior do Condomínio algo negativo para o convívio ali.
Ao explicitar sobre o que de negativo em conviver entre os muros, 40% (18) de nossos
entrevistados apontaram este problema, seguido da distância do centro da cidade 20,00 (9) e
da falta de lazer para os moradores 13,33% (6). Estes pontos e outros levantados por nossos
entrevistados suscita algumas questões.
125
A primeira diz respeito ao não cumprimento de um “contrato social” de boa
convivência. Falta aos que não cumprem esse contrato o sentimento da importância de um
espaço que possa facilitar interações face a face. Daí várias arenas de conflitos já explicitados.
Dentro desses espaços fechados, o desrespeito entre as pessoas é uma lei, quase uma regra,
que ali, naquele espaço privado, a polícia é mantida distante e estes encaram as ruas do
Condomínio como a extensão de seus quintais. Com isso, pequenos furtos, atos de
vandalismo, menores dirigindo, e o uso de drogas em seu interior, são alguns dos atos que
acabam por descumprir esse contrato social de boa convivência.
Por outro lado, esses atos se tornam ainda mais complexos na medida em que os
moradores preferem manter a polícia do lado de fora de seus muros, deixando esses
problemas para os seguranças particulares encarregados de manterem a ordem interna. Os
adolescentes costumam tratar esses seguranças como seus empregados e se recusam a
obedecê-los. No caso, utilizam a famosa frase “sabe com quem está falando?”, quando
advertidos por funcionários do Condomínio, como um meio de impor distância social e o
reconhecimento da inferioridade social do outro.
Este “rito de separação” que marca a distância social entre os indivíduos a partir de
uma frase simples: “sabe com quem está falando?” é, segundo Da Matta (1997) uma situação
que acontece quando uma pessoa sente sua autoridade ameaçada ou diminuída, deseja impor
seu poder, tenta inferiorizar alguém em relação ao seu status social (de forma consciente ou
inconsciente) quando tratar-se de uma pessoa interiormente fraca ou que sofre de complexo de
inferioridade e, por fim, quando o “outro”, de uma forma ou de outra, é percebido como
ameaça ao cargo que ocupa.
Em condomínios fechados, a frase pode ser usada para impor poder e tentar
inferiorizar alguém em relação ao seu status social. Uma entrevistada nos narrou dois fatos
curiosos que exemplificam essa dinâmica. O primeiro diz respeito a algo ocorrido na portaria
do Condomínio. Segundo ela, alguém entregou uma embalagem um tanto quanto suspeita
endereçada a um dos moradores. O funcionário da portaria meio desconfiado entregou a
encomenda ao interessado, um jovem morador que estava sozinho em casa. No final do dia,
quando os pais do jovem chegaram ao Condomínio, o funcionário narrou o episódio e
questionou o conteúdo do pacote recebido pelo jovem, tentando de forma, displicente, alertar
os pais do rapaz de que no pacote poderia haver droga. No outro dia, esse funcionário foi
126
mandado embora. O segundo fato narrado por nossa entrevistada ocorreu, segundo ela, a uns
oito anos atrás. Diz ela que um jovem, menor de idade que dirigia sem carteira, filho de um
político conhecido na Capital, teve o carro apreendido pela segurança do Condomínio. Sua
mãe, esposa do então político, usando a célebre frase “sabe com quem está falando?” desafiou
a autoridade do segurança e garantiu, na frente de uma platéia de expectadores, que em
poucas horas o carro seria liberado.
Esses dois acontecimentos constituem indicadores de diferenciação social presente,
também, nos chamados espaços fechados. Nos condomínios horizontais fechados, onde os
moradores preferem manter a polícia longe de seus muros, pagando por uma segurança
particular, reforça-se a idéia de que o espaço do condomínio é uma mera extensão de seus
quintais.
A segunda questão refere-se ao quesito segurança, elemento tão “vendido” e
“prometido” pelas propagandas publicitárias para aqueles que tem optado em residir em
condomínios fechados. Nossa pesquisa revelou a fragilidade desses espaços, mostrando que a
segurança ali é questionável, sobretudo quando se têm filhos adolescentes,
Quando os filhos são pequenos aqui é bom porque eles podem brincar na rua, na
pracinha, liberdade. Mas na adolescência surgem os problemas porque a falta do
que fazer faz com que se envolvam em problemas (...) Aqui há o problema da droga.
Acho que é melhor na adolescência, é preferível mesmo mudar do condomínio. Pela
distância, os adolescentes acabam ficando aqui dentro (...) mas acho que quem tem
filhos adolescentes deveria morar em outro lugar que não fosse condomínio fechado.
Para pessoas de idade e quem tem criança esse espaço é ótimo. (Entrevista com
moradora, cedida em julho de 2002).
A narrativa acima evidencia a ambigüidade do espaço de um condomínio horizontal
fechado. Se por um lado é saudável e propício para as crianças, por outro lado, é perigoso e
complicado para os adolescentes. Ambíguo o é também porque, embora seus moradores
saibam da existência dos problemas internos, como pequenos furtos, pichações e uso de
drogas, há pouca mobilização para resolver esses acontecimentos,
(...) grupinhos internos que acham que são impunes pois a conivência de nós
todos do Condomínio. Sei que é difícil punir, pois se um funcionário repreender um
adolescente que usa droga ele é quem será punido. Creio que caberia aos moradores,
127
representados pela SOMOPA, resolver esses problemas. Falta uma ação forte para
resolver esse tipo de problema. (Entrevista com moradora, cedida em julho de 2002).
Diante da exposição, ficam evidenciadas as ambigüidades no tocante à avaliação que
os moradores fazem do Condomínio. Se por um lado, a avaliação quantitativa é positiva, por
outro, as narrativas mostram um certo descontentamento e uma vivência cotidiana marcada
por problemas e conflitos.
128
Considerações Finais
________________________________________________________
129
5. Considerações Finais
Os condomínios horizontais fechados surgem como uma nova opção de morar baseada
em ideais de segurança, qualidade de vida e privacidade e acabam por reconfigurar o espaço
urbano, gerando por parte dos moradores da cidade (o de condomínios fechados e de outros
espaços abertos) representações, enquanto formas de ver diversas sobre a cidade. Nesse
sentido, iniciamos esta Dissertação com o objetivo de investigar como se a vivência
cotidiana e os processos de sociabilidade gestados no interior de um condomínio horizontal
fechado em específico: o Privê Atlântico.
Procuramos encadear pesquisa empírica com pesquisa teórica através de uma
discussão articulada entre condomínio horizontal fechado como opção de moradia de um
grupo em específico, portadores de um “habitus” e um estilo de vida próprio, com o tipo de
vivência e sociabilidade gestada nesses espaços como fenômenos que se dão apenas entre os
iguais. Estas reflexões confluíram com os caminhos utilizados durante a pesquisa e o
cotejamento dos dados com os referenciais teórico-metodológicos que adotamos. Desse
modo, trabalhamos com a idéia de que habitar esses condomínios horizontais fechados faz
parte de um estilo de vida, de uma preferência distintiva de um grupo social; e que a vivência
e a sociabilidade realizadas nesses espaços se dão entre seus pares.
Todavia, é preciso explicitar que, falar em condomínios horizontais fechados é
homogeneizar diferenças. Este termo por si só acaba por mascarar diferenças de várias ordens.
No caso do condomínio pesquisado, grandes singularidades se este for comparado com os
demais da cidade. Diferenças que vão desde o histórico de formação do Condomínio, até o
tipo de morador que vive nesse espaço.
É preciso também explicitar que a compreensão da expansão da cidade através
desses complexos residenciais é um processo da própria dinâmica urbana. O Estado, os
agentes imobiliários e a própria população de uma cidade têm influência nesses processos de
expansão urbana. Diante de tantos problemas suscitados pelo crescimento das cidades, tais
quais, insegurança, trânsito caótico, poluição sonora e visual, os indivíduos começaram a
buscar alternativas para “fugir” desse ambiente desagradável. Os empreendedores
imobiliários perceberam essa demanda e, através dos meios de comunicação, disseminaram
130
uma nova opção de moradia, exigindo do poder público a abertura de negociações para a
implantação dos condomínios horizontais fechados.
Nesse sentido, a figura do empreendedor imobiliário surge como um “diretor de
marketing para definir e valorizar esse “estilo de vida” através da mídia. Foi possível
perceber que, sobretudo a partir de 1975, os empreendedores desse setor incorporaram, na
tomada de decisões, estratégias modernizadoras, cujas ações deixaram de ser espontâneas e
passaram a ser planejadas, com a perspectiva de que estas lhe proporcionariam melhores e
mais lucrativos retornos. a partir da década de 90, esses empreendedores tornaram-se bem
mais “profissionais”, intervindo com maior racionalidade no mercado, a partir de uma
atuação de forma mais organizada, se juntando à mídia para disseminar um ideal de moradia,
através dos chamados condomínios fechados, espaços, segundo esses agentes imobiliários,
dotados de todas as condições para o desenvolvimento de uma vida saudável, feliz, tranqüila,
segura e aprazível, em contato com os seus iguais.
Aspecto interessante é perceber que esse “estilo de vida” tem sido absorvido também
por camadas sociais bem menos abastadas. Goiânia é hoje uma cidade marcada por muros.
Esses muros se apresentam como o elemento emblemático desse novo processo de
enclausuramento e segregação residencial. O que se percebe é que está ocorrendo uma opção
pela eletrificação de cercas, por câmaras e vigilância privada. Como explicitou Roberts (2002)
“o muro é altamente emblemático da sociedade atual, particularmente da brasileira, onde é
imensa a diferença entre os que têm e os que praticamente nada possuem, sendo talvez o
melhor símbolo desta desigualdade” (p. 09). Mas apesar das desigualdades de renda se
mostrarem cada vez mais manifestas em nossa sociedade, essa cultura do enclausuramento
residencial não tem se restringido às construções tipo condomínio horizontal fechado por nós
definido.
Verifica-se hoje em Goiânia a formação de uma cultura do fechamento e
enclausuramento, uma auto-segregação que vem também sendo praticada por setores sociais
menos abastados financeiramente. Numa “caminhada” pela cidade é possível perceber que o
goianiense tem optado pelo muro. Muitas vezes, são pequenas construções de sobrados, ruas e
até quadras que são cercadas por muros a partir da própria vontade dos moradores daquele
espaço. Embora os modelos de condomínios fechados sejam um fenômeno recente, esse tipo
131
de moradia está proliferando-se por espaços diversos, gerando a disseminação de uma nova
maneira de vivenciar e experimentar a cidade.
A disseminação dessa cultura do fechamento entre muros tem criado universos à parte,
recriando mundos à parte da cidade, embora nela construídos. Assim, os limites entre
condomínio e cidade são fluidos, embora sejam enormes as conseqüências da privatização
desse espaço na expansão da cidade, bem como em sua própria concepção. Sem dúvida que
essa nova tendência residencial gera representações diversas quanto às formas de
experimentar e vivenciar o espaço da cidade. Representa de fato uma modalidade de
privatização de espaço público, reforça a segregação sócio-espacial, embora de maneira nova,
na medida em que ricos e pobres encontram-se próximos fisicamente, mas afastados
socialmente.
Fenômeno recente em Goiânia, os condomínios horizontais fechados nos remete a
questões como família, segurança e qualidade de vida. Esse “tripé” parece ser sempre a
justificativa para a opção de se residir nesses espaços. Nas palavras de Tramontano (1999),
É o universo em que predomina a esfera privada, o reino de dimensão homogênea,
e que apresenta contradições internas: o que era uma promessa de “vida harmoniosa,
em comunidade” pode na realidade, apresentar tensões e problemas. (Tramontano,
1999:04).
Apesar da busca dessa satisfação quanto à segurança, qualidade de vida e uma
vivência tranqüila e aprazível para a família, na prática as questões não se dão dessa forma tão
harmoniosa. A vida em espaços fechados, numa comunidade, exige renúncia e espírito
coletivo, elementos que nem todos os brasileiros adquiriram.
O fato de o Privê Atlântico ser um Condomínio com mais anos de existência, onde se
estruturou uma rede de relações sociais construídas historicamente, fez com que seus
moradores mais antigos pudessem repensar o espaço da moradia. Ali, os problemas internos
são mais fortemente sentidos. Se a vida em comunidade propicia o estreitamento de laços
efetivos e afetivos entre a vizinhança, com momentos de solidariedade e amizade, assinala por
outro lado, a dificuldade de se estabelecerem regras, sobretudo para os adolescentes. Estes
tendem a carregar, da idade de criança, a liberdade em relação ao cumprimento de horários e
132
outras regras. Alguns pais delegam a criação dos filhos ao lugar. Acreditam que como o
Condomínio é um “porto seguro”, os filhos podem ficar soltos na casa dos vizinhos. Esse
comportamento e a falta de limites dado às crianças acarreta, muitas vezes, problemas em
família, principalmente na adolescência. Nesse sentido, o espaço de um condomínio
horizontal fechado é ambíguo e contraditório no que se refere à representação no tocante à
segurança, sobretudo para a criação dos filhos. Pode ser positivo para o desenvolvimento das
crianças, mas complicado e perigoso para os adolescentes.
Nossa pesquisa revelou que a reflexão sobre o espaço da moradia exige vivência entre
seus pares e, nesse sentido, foi possível perceber uma ambigüidade nas narrativas com os
dados obtidos nos questionários aplicados. Se por um lado, seus moradores fazem uma
avaliação, principalmente quantitativa, totalmente positiva do Condomínio nos aspectos de
vivência com o outro e sociabilidade, as narrativas evidenciam um certo descontentamento,
uma vivência conflitiva, nem sempre positiva quanto à avaliação.
Finalmente queremos frisar que encontramos algumas dificuldades na realização de
nosso trabalho. Entre outras, porque, a literatura sobre o fenômeno pesquisado, embora exista,
ainda não está de todo disponibilizada. Por outro lado, por ser recente esta nova forma de
habitar e morar na cidade, foram ainda pouco estudados na Capital. Com isso, temos raros
quadros de referência e uma produção sociológica quase escassa em se tratando de Goiânia.
Além disso, a cidade guarda características particulares. Ela não é São Paulo, Londres, tão
pouco Los Angeles, é sim, uma metrópole de médio porte. Assim, algumas das redefinições
espaciais pelas quais seu espaço urbano vem passando, e o surgimento dos condomínios
horizontais fechados é uma dessas, ainda é um processo incipiente e não de todo evidente.
Desse modo, todo esse arcabouço de elementos dificulta conclusões mais incisivas e pontuais.
Nossa intenção foi refletir sobre a emergência e vivência nesses espaços fechados a
partir de um caso particular. Tarefa essa embutida de armadilhas e dificuldades, mas ainda
assim, acreditamos que um certo enquadramento da realidade dinâmica e viva do Privê
Atlântico pôde ser estabelecido. Cremos que outros estudos sobre esse novo “habitar” nas
cidades são necessários e bem vindos. Novas reflexões poderão imprimir o início de uma
nova história...
133
Referências Bibliográficas
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Goiânia, 14 jun. 1981, p.7
Condomínios Horizontais desembargador proíbe o registro de loteamentos clandestinos. O
Popular, Goiânia, 11 fev. 1981, p. 25
Loteamentos ferem o código de posturas. Diário da Manhã, Goiânia, 11 fev. 1981, p. 26
Nion prevê solução para os condomínios. O Popular, Goiânia, 17 mar. 1985, p. 5
Até o final do mês Iplan tem plano para ano 2000. O Popular, Goiânia, 16 jan. 1991, p. 1
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Cidade sofre com ocupação desordenada do solo. O Popular, Goiânia, 26 jun. 1992, p. 4
Paraíso longe do centro. O Popular, Goiânia, 24 abr. 1994
A opção pelo silêncio. O Popular, Goiânia, 24 abr. 1994
Demora do progresso desanima setor. O Popular, Goiânia, 24 abr. 1994
Revanchismo dá lugar às iniciativas de parceria. O Popular, Goiânia, 24 abr. 1994
Condomínios espaço, segurança e liberdade para uma vida bem melhor. O Popular,
Goiânia, 29 jan. 1995, p. 11
O cidadão refém do crime. O Popular, Goiânia, 08 set. 1996, p. 7
Região Noroeste é campeã em assassinatos. O Popular, Goiânia 08 set. 1996, p. 8
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Lixo reciclado barateira condomínio. O Popular, Goiânia, 06 jun. 1999
Região Sudoeste ganha posto de saúde. O Popular, Goiânia, 03 mar. 2000
Setor imobiliário tem opções de investimentos. O Popular, Goiânia, 25 jun. 2000, p. 12
Condomínios fechados lideram os lançamentos em Goiânia. O Popular, Goiânia, 25 jun.
2000, p. 10
A cidadela. Folha de São Paulo, São Paulo, 09 agos. 2000, caderno 1. p.3
Privê Atlântico, o mais antigo. O popular, Goiânia, 24 out. 2000, p. 8
As muitas Goiânias. O Popular, Goiânia, 24 out. 2000, p. 1
Novo condomínio terá campo de golf. O Popular, Goiânia, 29 out. 2000, p. 8
Mercado apresenta novo perfil com crescimento dos condomínios fechados, que receberam
60% dos investimentos esse ano. O Popular, Goiânia, 2 mar. 2001, p. 3
Alphaville vende metade das áreas. O Popular, Goiânia, 22 mar. 2001, p. 2
Investimento em imóvel triplica em Goiânia. O Popular, Goiânia, 22 mar. 2001. p. 3
Maioria dos compradores é da classe social alta e busca, além de status, conforto, segurança e
maior tranqüilidade. O Popular, Goiânia, 22 mar. 2001, p. 2
Investimentos em lotes traz riscos. O Popular, Goiânia, 25 mar. 2001, p. 25
Segurança e maior tranqüilidade são atrativos para o goianiense. O Popular, Goiânia, 25 mar.
2001, p. 25
Housing Alphaville será lançado na próxima semana. O Popular, Goiânia, 19 abr. 2001, p. 26
Batismo cultural 60 anos. O Popular, Goiânia, 04 jul. 2002. Caderno Magazine especial, p.
01-06
142
Class-Imóveis feira de móveis de Goiânia para concretizar sonhos. O Popular, Goiânia,
18 agos. 2002. Caderno especial, p. 01-26
A cidadela. Folha de São Paulo, São Paulo, 09 agos. 2000, caderno 1. p.3
DOCUMENTOS
DIÁRIO OFICIAL. Goiânia. "Dispõe sobre Loteamentos Urbanos e Remanejamento".
4.526, de 20 de Janeiro de 1972.
DIÁRIO OFICIAL. Goiânia. "Dispõe sobre a aprovação e implantação, no Município de
Goiânia, de Planos Urbanísticos Integrados, define suas características, cria nova zona de
uso e dá outras providências.. Nº 7.042, de 27 de Dezembro de 1991.
GOIÂNIA. Termo de Concessão Administrativa de Uso. Gabinete do Prefeito, em 27 de
setembro de 1996.
PDIG Plano de Desenvolvimento Integrado de Goiânia. 2000. Goiânia: Instituto Municipal
de Planejamento da Prefeitura de Goiânia. Goiânia, 1992.
RADIOGRAFIA SÓCIO-ECONÔMICA DO MUNICÍPIO DE GOIÂNIA. Secretaria
Municipal de Planejamento, Departamento de Ordenação Sócio-Econômico ed, Goiânia:
SEPLAM, 2002.
143
Anexos
________________________________________________________
144
CRONOGRAMA DE ENTREVISTAS
Qd. ______, Lt. ____________
Nome do Morador(a):_________________________________________________________________
Endereço: ____________________________________________________________________________
Telefone: _________________________________________________
Visita Dia: _______/_______/_________ Horário: ___________________
Qd. ______, Lt. ____________
Nome do Morador(a):_________________________________________________________________
Endereço: ____________________________________________________________________________
Telefone: _________________________________________________
Visita Dia: _______/_______/_________ Horário: ___________________
Qd. ______, Lt. ____________
Nome do Morador(a):_________________________________________________________________
Endereço: ____________________________________________________________________________
Telefone: _________________________________________________
Visita Dia: _______/_______/_________ Horário: ___________________
Qd. ______, Lt. ____________
Nome do Morador(a):_________________________________________________________________
Endereço: ____________________________________________________________________________
Telefone: _________________________________________________
Visita Dia: _______/_______/_________ Horário: ___________________
Qd. ______, Lt. ____________
Nome do Morador(a):_________________________________________________________________
Endereço: ____________________________________________________________________________
Telefone: _________________________________________________
Visita Dia: _______/_______/_________ Horário: ___________________
Qd. ______, Lt. ____________
Nome do Morador(a):_________________________________________________________________
Endereço: ____________________________________________________________________________
Telefone: _________________________________________________
Visita Dia: _______/_______/_________ Horário: ___________________
145
UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E FILOSOFIA
MESTRADO EM SOCIOLOGIA
PESQUISA ACERCA DA VIVÊNCIA COTIDIANA DOS MORADORES DO
PRIVÊ ATLÂNTICO
QUESTIONÁIO Nº________
Área construída__________M
2
( ) Casa térrea
( ) Sobrado
( ) Nº quartos ( ) piscina
Área do lote________M
2
( ) Nº banheiros ( ) Nº salas
1. Sexo: ( ) F ( ) M
2. Faixa etária:
( ) 18 a 23 anos ( ) 48 a 53 anos
( ) 24 a 29 anos ( ) 54 a 59 anos
( ) 30 a 35 anos ( ) 60 a 65 anos
( ) 36 a 41 anos ( ) 66 a 71 anos
( ) 42 a 47 anos ( ) Acima de 72 anos
3. Qual sua escolaridade:
( ) 1º grau incompleto
( ) 1º grau completo
( ) 2º grau incompleto
( ) 2º grau completo
( ) 3º grau incompleto
( ) 3º grau completo
( ) Pós-graduação
4. Em qual das categorias enquadra sua renda mensal familiar:
( ) De 2 a 4 SM
( ) De 5 a 7 SM
( ) De 8 a 10 SM
( ) Acima de 11 SM
5. Qual o número de pessoas residentes na casa?
( ) 1 pessoa
( ) 2 pessoas
( ) 3 a 4 pessoas
( ) 5 a 6 pessoas
( ) Acima de 7 pessoas
6. Qual o número de filhos:
( ) Nenhum filho
( ) 1 filho
( ) 2 filhos
( ) 3 a 5 filhos
( ) Acima de 5 filhos
146
7. Sobre os filhos:
Idade Escolaridade
1. Sem escolaridade
2. Pré-escolar
3. 1º grau incompleto
4. 1º grau completo
5. 2º grau incompleto
6. 2º grau completo
7. 3º grau incompleto
8. 3º grau completo
9. Pós-graduação
8. Qual seu tempo de moradia no Privê Atlântico?
( ) – de 1 ano
( ) de 1 a 5 anos
( ) de 6 a 10 anos
( ) de 11 a 15 anos
( ) de 16 a 20 anos
( ) Acima de 21 anos
9. Sua casa aqui no Condomínio é:
( ) Própria
( ) Alugada
( ) Cedida
( ) Outro tipo
___________________________________________________________________________
10. Sua última moradia:
( ) Casa ( ) Apartamento
11. Qual o motivo da mudança? ________________________________________________________________
12. Você está satisfeito (a) quanto a:
12.a Convívio social entre os moradores:
( ) Ótimo ( ) Bom ( ) Regular ( ) Ruim ( ) Péssimo
Por quê? _______________________________________________________________________________
12.b Privacidade:
( ) Ótimo ( ) Bom ( ) Regular ( ) Ruim ( ) Péssimo
Por quê? _______________________________________________________________________________
12.c Sossego e tranquilidade:
( ) Ótimo ( ) Bom ( ) Regular ( ) Ruim ( ) Péssimo
Por quê? _______________________________________________________________________________
12.d Segurança interna:
( ) Ótimo ( ) Bom ( ) Regular ( ) Ruim ( ) Péssimo
Por quê? _______________________________________________________________________________
12.e Segurança externa ao muro:
( ) Ótimo ( ) Bom ( ) Regular ( ) Ruim ( ) Péssimo
Por quê? _______________________________________________________________________________
147
12.f Portaria (exigência de documentos, atendimento etc.)
( ) Ótimo ( ) Bom ( ) Regular ( ) Ruim ( ) Péssimo
Por quê? _______________________________________________________________________________
12.g Uso de equipamentos em comum (áreas de lazer, praça, playground etc.):
( ) Ótimo ( ) Bom ( ) Regular ( ) Ruim ( ) Péssimo
Por quê? _______________________________________________________________________________
12.h Iluminação (das ruas, praça, etc.):
( ) Ótimo ( ) Bom ( ) Regular ( ) Ruim ( ) Péssimo
Por quê? _______________________________________________________________________________
12.i Sinalização (trânsito, identificação das ruas, etc.):
( ) Ótimo ( ) Bom ( ) Regular ( ) Ruim ( ) Péssimo
Por quê? _______________________________________________________________________________
12.j Acesso ao Condomínio:
( ) Ótimo ( ) Bom ( ) Regular ( ) Ruim ( ) Péssimo
Por quê? _______________________________________________________________________________
12.l Vias de acesso no interior do Condomínio:
( ) Ótimo ( ) Bom ( ) Regular ( ) Ruim ( ) Péssimo
Por quê? _______________________________________________________________________________
12.m Abastecimento de água:
( ) Ótimo ( ) Bom ( ) Regular ( ) Ruim ( ) Péssimo
Por quê? _______________________________________________________________________________
12.n Abastecimento de energia elétrica:
( ) Ótimo ( ) Bom ( ) Regular ( ) Ruim ( ) Péssimo
Por quê? _______________________________________________________________________________
12.o Distância em relação ao local de trabalho:
( ) Ótimo ( ) Bom ( ) Regular ( ) Ruim ( ) Péssimo ( ) Não trabalho
Por quê? _______________________________________________________________________________
12.p Com o trabalho da Associação SOMOPA:
( ) Ótimo ( ) Bom ( ) Regular ( ) Ruim ( ) Péssimo
Por quê? _______________________________________________________________________________
12.q Com a taxa de Condomínio cobrada pela SOMOPA:
( ) Ótimo ( ) Bom ( ) Regular ( ) Ruim ( ) Péssimo
Por quê? _______________________________________________________________________________
12.r Com a convivência com os vizinhos:
( ) Ótimo ( ) Bom ( ) Regular ( ) Ruim ( ) Péssimo
Por quê? _______________________________________________________________________________
12.s Com a integração com os demais moradores do Condomínio:
( ) Ótima ( ) Boa ( ) Regular ( ) Ruim ( ) Péssima
Por quê? _______________________________________________________________________________
148
13. Você participa das reuniões promovidas pela SOMOPA?
( ) Sim ( ) Não
Por quê? _______________________________________________________________________________
14. Você participa das festividades organizadas pela SOMOPA?
( ) Sim ( ) Não
Por quê? _______________________________________________________________________________
Se sim, fazer Q. 15
15. Qual é, na sua opinião, a melhor festividade organizada pela SOMOPA?
Por quê? _______________________________________________________________________________
16. Você está satisfeito com sua moradia atual?
( ) Sim ( ) Não
Por quê? _______________________________________________________________________________
17. Pretende morar no Condomínio por muito tempo?
( ) Sim ( ) Não
Por quê? _______________________________________________________________________________
18. Se fosse mudar do Condomínio, para onde você mudaria?
_______________________________________________________________________________________
19. Você se sente mais seguro aqui, dentro do Condomínio?
( ) Sim ( ) Não
Por quê? _______________________________________________________________________________
20. Você acredita que esse seja um espaço propício para se criar os filhos?
( ) Sim ( ) Não
Por quê? _______________________________________________________________________________
21. Você tem contato com a vizinhança além do muro do Condomínio?
( ) Sim ( ) Não
Por quê? _______________________________________________________________________________
Se sim, fazer Q. 22
22. Que tipo de contato(s)?
_______________________________________________________________________________________
23. Como você vê a cidade de Goiânia hoje? (Marque com um X os itens desejados).
GOIÂNIA SE APRESENTA: Sim Não
a) Com poluição sonora e ambiental (barulho, ruído, lixo, mistura, confusão);
b) Com falta de área disponível para lazer;
c) Com ausência de segurança;
d) Com ausência de privacidade;
e) Com ausência de liberdade para os filhos;
f) Com falta de qualidade de vida.
149
24. Essa forma de ver a cidade de Goiânia teve influência na opção de morar num condomínio horizontal
fechado?
( ) Sim ( ) Não
Por quê? _______________________________________________________________________________
25. De qual cidade você veio?__________________________________________________________________
26. Por quê morar em Goiânia? ________________________________________________________________
27. Sai dos limites do Condomínio para: (Marque com um X os itens desejados)
FORA DO CONDOMÍNIO: Sim Não
a) Trabalhar;
b) Visitar a família;
c) Visitar amigos;
d) Estudar;
e) Ir a festas, boates, bailes
f) Visitar cinema, shopping center
g) Pagar contas
28. Na sua opinião, qual a motivação maior em residir num condomínio horizontal fechado? (Marque com um
X os itens desejados).
MOTIVAÇÕES Sim Não
a) Desejo de segurança;
b) Desejo de morar em casa;
c) A convivência com as pessoas da mesma classe social;
d) Procura de privacidade;
e) Status social;
f) Estar próximo dos familiares e amigos;
g) Melhorar padrão de habitação (maior área, melhor acabamento etc.);
h) A possibilidade de desenvolver formas de sociabilidade com pessoas do mesmo grupo social;
i) Por motivo de investimento (valorização do imóvel).
29. Você utiliza os equipamentos de uso coletivo do Condomínio (praça, playground, quadra)?
( ) Sim ( ) Não
Por quê? _______________________________________________________________________________
30. Na sua opinião, os adolescentes preferem a convivência aqui dentro do condomínio?
( ) Sim ( ) Não
Por quê? _______________________________________________________________________________
31.Costuma ir às festas e comemorações nos vizinhos? Festas de aniversário, por exemplo.
( ) Sim ( ) Não
Por quê? _______________________________________________________________________________
150
32. Cite 5 diversões preferidas realizadas aqui dentro do Condomínio, por ordem de importância e que você
participa:
1. ___________________________________________________________________________________
2. ___________________________________________________________________________________
3. ___________________________________________________________________________________
4. ___________________________________________________________________________________
5. ___________________________________________________________________________________
33. Cite 5 pontos positivos e 5 negativos referentes ao convívio dentro do Condomínio:
Positivos
1. __________________________________________________________________________________
2. __________________________________________________________________________________
3. __________________________________________________________________________________
4. __________________________________________________________________________________
5. __________________________________________________________________________________
Negativos
1. __________________________________________________________________________________
2. __________________________________________________________________________________
3. __________________________________________________________________________________
4. __________________________________________________________________________________
5. __________________________________________________________________________________
Proprietário(a): _____________________________________________________________________________
Endereço: _________________________________________________________________________________
Telefone: ____________________________ Estado Civil: _________________________________________
Ocupação: __________________________________________________________________
151
Quadro 02
Número de lotes por quadra: Privê Atlântico
Quadras Lotes
58 1 a 13
59 1 a 24
60 1 a 26
61 1 a 24
62 1 a 26
63 1 a 24
64 1 a 26
65 1 a 24
66 14 a 26
72 1 a 8
73 1 a 8
74 1 a 8
75 1 a 8
76 1 a 8
83 1 a 4
84 1 a 26
85 1 a 28
86 1 a 26
87 1 a 28
88 1 a 26
89 1 a 28
90 1 a 26
91 15 a 28
Fonte: Secretaria da SOMOPA, junho de 2002.
(Dados organizados pela autora)
152
Quadro 03
Número de casas por quadras: Privê Atlântico
Quadras Nº de casas Quadras N° de casas
58 13 75 06
59 24 76 05
60 26 83 04
61 24 84 26
62 26 85 28
63 24 86 26
64 26 87 22
65 24 88 18
66 13 89 18
72 12 90 18
73 10 91 13
74 03 Total 184
Total 225 Total Geral: 409 Casas
Fonte: Secretaria da SOMOPA, junho de 2002.
(Dados organizados pela autora)
Quadro 04
Lotes vagos: Privê Atlântico
Quadras Lotes vagos
74 1, 2, 7 e 8
76 1,5 e 8
87 1, 2 e 14
88 1, 3, 4, 7 e 26
89 2, 3, 4, 5, 6, 10, 12 e 26
90 2, 4, 10, 16, 17, 21 e 22
Total 30 lotes vagos
Fonte: Secretaria da SOMOPA, junho de 2002.
(Dados organizados pela autora)
153
Quadro 05
Duas casas em um único lote: Privê Atlântico
Quadra Lotes (em A e B) Nº de Casas
72 5
a 8 8
74 4 2
91 27 e 28 4
Total 07 lotes 14 casas
Fonte: Secretaria da SOMOPA, junho de 2002.
(Dados organizados pela autora)
Quadro 06
Uma casa em mais de um lote: Privê Atlântico
Quadra Lotes Nº de Casas
73 5 e 6 1
73 7 e 8 1
74 3 e 5 1
87 1 e 2 1
88 18 e 19 1
88 20 e 21 1
89 7, 8 e 9 1
89 21, 22, 23 e 24 1
90 12 e 13 1
91 22, 23, 24 e 25 1
Total: 25 lotes 10 casas
Fonte: Secretaria da SOMOPA, junho de 2002.
(Dados organizados pela autora)
154
Tabela 21
Faixa etária dos entrevistados
FAIXA ETÁRIA
fe %
De 18 a 23 anos 0 0,00
De 24 a 29 anos 1 2,22
De 30 a 35 anos 2 4,44
De 36 a 41 anos 12 26,67
De 42 a47 anos 11 24,44
De 48 a 53 anos 7 15,56
De 54 a 59 anos 6 13,33
De 60 a 65 anos 1 2,22
De 66 a 71 anos 3 6,67
Acima de 72 anos 2 4,44
Total 45 100,00
(Dados coletados em pesquisa de campo nos meses de junho, julho e agosto de 2002)
Tabela 22
Pessoas residentes na casa
NÚMERO DE PESSOAS fe %
01 pessoa 2 4,44
02 pessoas 3 6,67
03 a 04 pessoas 24 53,33
05 a 06 pessoas 15 33,33
Acima de 07 pessoas 1 2,22
Total 45 100,00
(Dados coletados em pesquisa de campo nos meses de junho, julho e agosto de 2002)
Tabela 23
Número de filhos dos entrevistados
NÚMERO DE FILHOS fe %
Nenhum filho 3 6,67
01 filho 4 8,89
02 filhos 15 33,33
03 a 05 filhos 21 46,67
Acima de 05 filhos 2 4,44
Total 45 100,00
(Dados coletados em pesquisa de campo nos meses de junho, julho e agosto de 2002)
155
Tabela 24
Tipo de moradia dos entrevistados
ESPECIFICAÇÃO fe %
Própria 39 86,67
Alugada 4 8,89
Cedida 0 0,00
Outro Tipo 2 4,44
Total 45 100,00
(Dados coletados em pesquisa de campo nos meses de junho, julho e agosto de 2002)
Tabela 25
Última moradia dos entrevistados
ESPECIFICAÇÃO fe %
Casa 28 62,22
Apartamento 17 37,78
Total 45 100,00
(Dados coletados em pesquisa de campo nos meses de junho, julho e agosto de 2002)
Tabela 26
Satisfação quanto ao sossego e tranqüilidade
ESPECIFICAÇÃO fe %
Ótimo 29 64,44
Bom 14 31,11
Regular 2 4,44
Ruim 0 0,00
Péssimo 0 0,00
Total 45 100,00
(Dados coletados em pesquisa de campo nos meses de junho, julho e agosto de 2002)
156
Tabela 27
Satisfação quanto à segurança externa
ESPECIFICAÇÃO fe %
Ótimo 2 4,44
Bom 10 22,22
Regular 16 35,56
Ruim 10 22,22
Péssimo 7 15,56
Total 45 100,00
(Dados coletados em pesquisa de campo nos meses de junho, julho e agosto de 2002)
Tabela 28
Satisfação quanto à portaria
ESPECIFICAÇÃO fe %
Ótimo 12 26,67
Bom 17 37,78
Regular 12 26,67
Ruim 4 8,88
Péssimo 0 0,00
Total 45 100,00
(Dados coletados em pesquisa de campo nos meses de junho, julho e agosto de 2002)
Tabela 29
Satisfação quanto ao uso de equipamentos em comum
ESPECIFICAÇÃO fe %
Ótimo 6 13,33
Bom 26 57,78
Regular 11 24,45
Ruim 1 2,22
Péssimo 1 2,22
Total 45 100,00
(Dados coletados em pesquisa de campo nos meses de junho, julho e agosto de 2002)
157
Tabela 30
Satisfação quanto à iluminação
ESPECIFICAÇÃO fe %
Ótimo 10 22,22
Bom 19 42,22
Regular 12 26,67
Ruim 3 6,67
Péssimo 1 2,22
Total 45 100,00
(Dados coletados em pesquisa de campo nos meses de junho, julho e agosto de 2002)
Tabela 31
Satisfação quanto à sinalização
ESPECIFICAÇÃO fe %
Ótimo 8 17,78
Bom 19 42,22
Regular 11 24,44
Ruim 3 6,67
Péssimo 4 8,89
Total 45 100,00
(Dados coletados em pesquisa de campo nos meses de junho, julho e agosto de 2002)
Tabela 32
Satisfação quanto ao acesso ao Condomínio
ESPECIFICAÇÃO fe %
Ótimo 15 33,33
Bom 22 48,89
Regular 5 11,12
Ruim 1 22,22
Péssimo 2 4,44
Total 45 100,00
(Dados coletados em pesquisa de campo nos meses de junho, julho e agosto de 2002)
158
Tabela 33
Satisfação quanto às vias de acesso no interior do Condomínio
ESPECIFICAÇÃO fe %
Ótimo 12 26,67
Bom 28 62,22
Regular 3 6,67
Ruim 1 2,22
Péssimo 1 2,22
Total 45 100,00
(Dados coletados em pesquisa de campo nos meses de junho, julho e agosto de 2002)
Tabela 34
Satisfação quanto ao abastecimento de água
ESPECIFICAÇÃO fe %
Ótimo 10 22,22
Bom 28 62,22
Regular 6 13,34
Ruim 0 0,00
Péssimo 1 2,22
Total 45 100,00
(Dados coletados em pesquisa de campo nos meses de junho, julho e agosto de 2002)
Tabela 35
Satisfação quanto ao abastecimento de energia elétrica
ESPECIFICAÇÃO fe %
Ótimo 12 26,67
Bom 28 62,22
Regular 5 11,11
Ruim 0 0,00
Péssimo 0 0,00
Total 45 100,00
(Dados coletados em pesquisa de campo nos meses de junho, julho e agosto de 2002)
159
Tabela 36
Satisfação quanto à distância em relação ao local de trabalho
ESPECIFICAÇÃO fe %
Ótimo 7 15,56
Bom 5 11,11
Regular 8 17,78
Ruim 5 11,11
Péssimo 1 2,22
Não Trabalha 19 42,22
Total 45 100,00
(Dados coletados em pesquisa de campo nos meses de junho, julho e agosto de 2002)
Tabela 37
Satisfação quanto à integração com os demais moradores do Condomínio
ESPECIFICAÇÃO fe %
Ótimo 14 31,11
Bom 26 57,78
Regular 5
11,11
, -
Ruim 0 0,00
Péssimo 0 0,00
Total 45 100,00
(Dados coletados em pesquisa de campo nos meses de junho, julho e agosto de 2002)
Tabela 38
Satisfação em relação à moradia atual
ESPECIFICAÇÃO fe %
Sim 43 95,56
Não 2 4,44
Total 45 100,00
(Dados coletados em pesquisa de campo nos meses de junho, julho e agosto de 2002)
160
Tabela 39
Pretensão de morar no Condomínio por muito tempo
ESPECIFICAÇÃO fe %
Sim 41 91,11
Não 4 8,89
Total 45 100,00
(Dados coletados em pesquisa de campo nos meses de junho, julho e agosto de 2002)
Tabela 40
Se fosse mudar do Condomínio para onde mudaria?
ESPECIFICAÇÃO fe %
Para outro condomínio horizontal fechado 17 37,78
Para apartamento 11 24,45
Para cidade do interior de Goiás 2 4,44
Para outro condomínio horizontal fechado simples, similar ao Prive 2 4,44
Para fazenda ou chácara 4 8,89
Para outra cidade 1 2,22
Para a Austrália 1 2,22
Para Vila Velha – ES 1 2,22
Para um bairro mais centralizado 2 4,44
Não sabe 1 2,22
N/R 3 6,68
Total 45 100,00
(Dados coletados em pesquisa de campo nos meses de junho, julho e agosto de 2002)
Tabela 41
Sensação de segurança dentro do Condomínio
ESPECIFICAÇÃO fe %
Sim 45 100,00
Não 0 0,00
Total 45 100,00
(Dados coletados em pesquisa de campo nos meses de junho, julho e agosto de 2002)
161
Tabela 42
O porque de morar em Goiânia
ESPECIFICAÇÃO fe %
Sempre morei em Goiânia 12 26,67
Foi uma opção da família 5 11,11
Mudança do trabalho do marido 9 20,00
Para trabalhar e estudar 5 11,11
Por causa do casamento 4 8,89
Para os filhos estudarem 1 2,22
Porque mudei de trabalho 5 11,11
Melhor qualidade de vida 3 6,67
N/R 1 2,22
Total 45 100,00
(Dados coletados em pesquisa de campo nos meses de junho, julho e agosto de 2002)
Tabela 43
Utilização dos equipamentos de uso coletivo do Condomínio
ESPECIFICAÇÃO fe %
Sim 20 44,44
Não 25 55,56
Total 45 100,00
(Dados coletados em pesquisa de campo nos meses de junho, julho e agosto de 2002)
Tabela 44
Participação em festas e comemorações nos vizinhos do Condomínio
ESPECIFICAÇÃO fe %
Sim 33 73,33
Não 12 26,67
Total 45 100,00
(Dados coletados em pesquisa de campo nos meses de junho, julho e agosto de 2002)
162
Tabela 45
Sexo dos entrevistados
CATEGORIA fe %
Feminino 35 77,78
Masculino 10 22,22
Total 45 100,00
(Dados coletados em pesquisa de campo nos meses de junho, julho e agosto de 2002)
Tabela 46
Grau de escolaridade dos entrevistados
ESCOLARIDADE fe %
1º grau incompleto 1 2,22
1º grau completo 4 8,89
2º grau incompleto 3 6,67
2º grau completo 9 20,00
3º grau incompleto 10 22,22
3º grau completo 14 31,11
Pós-graduação 4 8,89
Total 45 100,00
(Dados coletados em pesquisa de campo nos meses de junho, julho e agosto de 2002)
163
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