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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO
Programa de Qualificação Institucional CAPES – PQI UNEB FAUUSP
PAULO FERNANDO DE ALMEIDA SOUZA
Sustentabilidade e responsabilidade social no design
do produto: rumo à definição de indicadores
São Paulo – SP
2007
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PAULO FERNANDO DE ALMEIDA SOUZA
Sustentabilidade e responsabilidade social no design
do produto: rumo à definição de indicadores
Tese apresentada à Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade de São Paulo para
obtenção do título de Doutor em Arquitetura e
Urbanismo.
Área de Concentração: Design e Arquitetura.
Orientadora: Dra. Maria Cecília Loschiavo dos Santos
São Paulo – SP
2007
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Autorizo a reprodução e/ou divulgação total ou parcial desta tese de doutorado por
qualquer meio convencional ou eletrônico somente para propósitos acadêmicos e
científicos. Reservo outros direitos de publicação e nenhuma parte desta obra pode ser
reproduzida sem minha autorização por escrito.
____________________________________________
Paulo Fernando de Almeida Souza
R. Silveira Martins 2555, UNEB/Colegiado de Desenho Industrial
Salvador-Bahia-Brasil, CEP 41195-001
Email:
psouza@uneb.br
Email Alternativo: psouza-ba@uol.com.br
http://www.paulosouza.pro.br
FICHA CATALOGRÁFICA
ELABORAÇÃO: Biblioteca Central da UNEB
BIBLIOTECÁRIA: Neuza Tinôco Melo Nunesmaia – CRB-5/229
Souza, Paulo Fernando de Almeida
Sustentabilidade e responsabilidade social no design do produto : rumo à definição de
indicadores / Paulo Fernando de Almeida Souza. _ São Paulo : [s.n.], 2007.
294 f. : il.
Orientadora: Maria Cecília Loschiavo dos Santos
Tese (Doutorado) – Universidade de São Paulo. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
Inclui referências e apêndices
1. Desenho (Projetos). 2. Produtos industrializados. 3. Desenho industrial – Aspectos
ambientais. 4. Desenho industrial – Aspectos sociais. 5. Responsabilidade social da empresa.
6. Desenvolvimento sustentável. I. Santos, Maria Cecília Loschiavo dos. II. Universidade de
São Paulo. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo.
CDD: 745.2
PAULO FERNANDO DE ALMEIDA SOUZA
Sustentabilidade e responsabilidade social no design do produto:
rumo à definição de indicadores
Tese apresentada à Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade de São Paulo para
obtenção do título de Doutor em Arquitetura e
Urbanismo – Área de Concentração: Design e
Arquitetura.
Aprovado em: ___/___/___
Banca Examinadora
Prof.(a) Dr.(a) ________________________________________________________
Orientador (a) Instituição: ________________
Assinatura: __________________________________________________________
Prof.(a) Dr.(a) ________________________________________________________
Examinador (a) Instituição: ________________
Assinatura: __________________________________________________________
Prof.(a) Dr.(a) ________________________________________________________
Examinador (a) Instituição: ________________
Assinatura: __________________________________________________________
Prof.(a) Dr.(a) ________________________________________________________
Examinador (a) Instituição: ________________
Assinatura: __________________________________________________________
Prof.(a) Dr.(a) ________________________________________________________
Examinador (a) Instituição: ________________
Assinatura: __________________________________________________________
Às donas do meu tempo e
amor: Vitória e Jamily.
Agradecimentos
Ao final de mais uma longa jornada, aliado ao sentimento de dever cumprido, há
sempre a percepção de que o caminho só foi possível de ser trilhado devido ao apoio
de diversas pessoas que nos suportaram durante os diversos momentos de stress e
completa incerteza sobre o que decidir e como fazer. Gostaria de agradecer
primeiramente àquelas pessoas que foram decisivas no start deste doutorado. Neste
sentido, agradeço à professora Mônica Tavares por seu trabalho de estruturação do
Programa de Qualificação Institucional da Uneb, que viabilizou nossa ida para São
Paulo, contaminando a todos nós com novas perspectivas profissionais. Agradeço,
também, e fundamentalmente, à professora Cecília Loschiavo, que nos acolheu no
ambiente da FAU-USP, sempre acreditando no nosso potencial e na nossa
responsabilidade para uma transformação efetiva do cenário brasileiro de design.
Agradeço, ainda, à amiga e colega de jornada Bia Simon, que sempre conseguiu com
sua alegria, sabedoria e apoio incondicional motivar-me e contribuir para a superação
das dificuldades deste processo de doutoramento. Registro e agradeço o apoio e
suporte do amigo-irmão Hernane, com seus preciosos conselhos, fundamentais na
busca pela perfeição da tese. Agradeço ao amigo Rodrigo Boufleur, sempre disposto
a trocar idéias e também mostrando alguns caminhos das pedras (e da pizza) em
Sampa. Agradeço ao amigo Marcelo Godoy pela disponibilidade e acesso a
informações fundamentais para consolidação desta tese. Agradeço muito à minha
família pelo suporte emocional e afetivo que me trouxe de volta à Terra em diversos
momentos em que precisei de superação: minha querida esposa Jamily; meu pai,
Pedro Pires, fã e ídolo ao mesmo tempo; minha mãe, Consuêlo, com as mais
deliciosas iguarias da Bahia para os momentos de lazer; minha irmã, Luciana, sem
entender o processo, mas opinando e dando força para dar certo; meu irmão, Lure,
sempre interessado na conclusão da tese (para sobrar mais tempo para o mergulho...).
Gostaria especialmente de agradecer ao amigo Manoelito Damasceno, com o qual
construí uma nova perspectiva de caminho na universidade (lá estava ele, desde o dia
em que me formei, acreditando no meu potencial!). Agradeço ao amigo Dadau, pelas
tardes de café e chá, no escritório; ao amigo Tadeu pela paciência e atenção aos meus
desabafos; e, principalmente, agradeço aos meus alunos, razão essencial da minha
busca por melhores caminhos para a prática do design em nosso país.
Salvador, junho de 2007
Paulo Fernando de Almeida Souza
RESUMO
SOUZA, Paulo F. de A. Sustentabilidade e responsabilidade social no design do
produto: rumo à definição de indicadores. 2007. 294 f. Tese (Doutorado) –
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, 2007.
A busca de harmonização entre a produção industrial, a natureza e as demandas de
qualidade de vida das sociedades revela uma necessidade de revisão dos projetos de
design de produtos, que, em essência, apresenta-se como uma atividade geradora de
massa com influência direta no meio natural, requer considerações mais abrangentes,
além da esfera econômica, devendo responder de modo integrado a questões de
ordem social, cultural, ambiental e tecnológica. A avaliação da qualidade do
processo de design, por sua vez, impõe a necessidade de qualificação das ações de
design sob as perspectivas da sustentabilidade e da responsabilidade social, visando
atingir patamares mais adequados para o processo produtivo em relação aos seus
impactos sociais e ambientais, sobretudo por meio de uma mudança metodológica
significativa para o desenvolvimento de produtos. Propõe-se, no âmbito desta tese, a
implementação de um modelo de avaliação do processo de design por meio de um
conjunto de indicadores de Design, Sustentabilidade e Responsabilidade Social
(IDSRS) como contribuição para a melhoria dos processos de design de produtos,
atuando diretamente na visualização dos pontos do sistema produtivo que apresentam
inadequações no que diz respeito aos parâmetros relacionados a uma atuação
sustentável e socialmente responsável por parte das corporações. Desenvolve-se o
modelo de indicadores IDSRS e aplica-se a metodologia, por meio de dois estudos de
caso, em empresas nacionais que têm o design como ferramenta decisiva para a
prospecção e desenvolvimento de produtos, especificamente as empresas Rosita
Brinquedos e Natura Cosméticos. Uma importante conclusão desta tese aponta para o
fato de que o modelo IDSRS contribui para a adaptação metodológica do processo de
design, no sentido de adotar, desde as fases iniciais de projeto, ações em
conformidade com padrões de sustentabilidade e responsabilidade social capazes de
atingir aos objetivos da indústria em sintonia com o respeito ao meio ambiente e às
demandas de qualidade de vida da sociedade.
Palavras-chave
Design; Sustentabilidade; Responsabilidade Social; Indicadores; Metodologia de
Projeto.
ABSTRACT
SOUZA, Paulo F. de A. Sustainability and social responsibility within the
product design: towards the definition of indicators. 2007. 294 f. Thesis
(Doctoral) – Faculty of Architecture and Urbanism, University of Sao Paulo, 2007.
The search for harmony between industrial production, nature and social demands
of quality of life reveals an urgent need in reframing the product design projects,
which essentially implies the generation of mass and directly influences the natural
environment, requiring broader considerations beyond the economic perspective and
responding to social, cultural, environmental, and technological perspectives at the
same time. On the other hand, the evaluation of design process requires the need of
qualifying design actions under the sustainability and social responsibility
approaches in order to obtain more adequate patterns of production related to social
and environmental impacts, mostly throughout a significant methodological change
in the way we develop products. This doctoral thesis proposes the implementation of
a model aimed in evaluating the design process, adopting a set of indicators of
Design, Sustainability and Social Responsibility (IDSRS), contributing to the
improvement of product design process, acting directly on the visualization of
aspects of the productive system that are inadequate in terms of a sustainable and
socially responsible way of doing business. The model of indicators and the IDSRS
index are developed and applied to the productive systems of two different Brazilian
companies, both considering design as a relevant tool of idealization and
development of products, more specifically the Rosita Toys and Natura Cosmetics,
through the case study method. An important conclusion of this thesis points out the
fact that the IDSRS model contributes to a methodological adaptation of the design
process, considering patterns of sustainability and social responsibility from the very
beginning of design projects, trying to achieve the goals of industry together with
achieving demands of quality of life and respecting the environment as whole.
Keywords
Design; Sustainability; Social Responsibility; Indicators; Projects Methodology.
SUMÁRIO
CAPÍTULO I – INTRODUÇÃO
1.1 APRESENTAÇÃO..........................................................................................1
1.2 DEFINIÇÃO DO PROBLEMA DE PESQUISA............................................3
1.3 MOTIVAÇÃO E JUSTIFICATIVA................................................................4
1.4 OBJETIVOS DA TESE...................................................................................5
1.4.1 Objetivo Geral....................................................................................5
1.4.2 Objetivos Específicos .........................................................................6
1.5 QUESTÕES DE PARTIDA.............................................................................7
1.6 HIPÓTESES.....................................................................................................7
1.7 METODOLOGIA............................................................................................8
1.7.1 Pesquisa Qualitativa ..........................................................................9
1.7.2 Métodos de Pesquisa..........................................................................9
1.7.2.1 Teoria fundamentada em dados .........................................9
1.7.2.2 Questionários ...................................................................10
1.7.2.3 Entrevistas........................................................................11
1.7.2.4 Estudo de caso..................................................................11
1.7.3 Estrutura metodológica da tese.......................................................12
1.8 LIMITAÇÕES DA TESE..............................................................................14
1.9 ORGANIZAÇÃO GERAL DA TESE...........................................................15
CAPÍTULO II – SUSTENTABILIDADE NO ÂMBITO DO
DESIGN
2.1 CONCEITO DE SUSTENTABILIDADE.....................................................18
2.2 O PAPEL DO DESIGN .................................................................................24
2.3 DESIGN ORIENTADO À SUSTENTABILIDADE.....................................30
2.4 TENDÊNCIAS METODOLÓGICAS NA BUSCA POR
SUSTENTABILIDADE NO ÂMBITO DO DESIGN...................................45
CAPÍTULO III – RESPONSABILIDADE SOCIAL DO DESIGN
3.1 NECESSIDADE DO DESIGN .......................................................................60
3.2 GESTÃO SOCIALMENTE RESPONSÁVEL...............................................66
3.3 DESIGN E RESPONSABILIDADE SOCIAL ...............................................79
3.4 CENÁRIO BRASILEIRO DE RESPONSABILIDADE SOCIAL.................88
CAPÍTULO IV – RUMO À DEFINIÇÃO DE INDICADORES DE
SUSTENTABILIDADE E RESPONSABILIDADE SOCIAL NO
ÂMBITO DO DESIGN
4.1 FUNDAMENTOS TEÓRICOS ......................................................................99
4.1.1 Conceitos sobre indicadores de sustentabilidade........................101
4.1.2 Características e critérios de escolha para indicadores de
sustentabilidade..............................................................................104
4.2 ANÁLISE DE MODELOS PARA DEFINIÇÃO DE INDICADORES
DE SUSTENTABILIDADE E RESPONSABILIDADE SOCIAL.............108
4.2.1 Princípios de Bellagio.....................................................................109
4.2.2 Modelo Daly & Meadows..............................................................112
4.2.3 Modelos PSR e PSIR......................................................................114
4.2.4 Modelo Valentin & Spangenberg:
Prisma de Sustentabilidade...........................................................116
4.2.5 Modelo Bossel.................................................................................119
4.2.6 Modelo Indicador 95/99.................................................................126
4.2.7 Modelo Ethos..................................................................................131
4.2.8 Modelo GRI....................................................................................136
4.3 MODELO PROPOSTO PARA DEFINIÇÃO DE INDICADORES DE
SUSTENTABILIDADE E RESPONSABILIDADE SOCIAL NO
ÂMBITO DO DESIGN ...............................................................................141
4.4 DEFINIÇÃO DE INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE E
RESPONSABILIDADE SOCIAL PROPOSTOS NO
MODELO IDSRS ........................................................................................147
4.4.1 Aplicação do modelo IDSRS na fase de
Produção/Manufatura...................................................................151
4.4.1.1 Demanda de energia para produção....................................151
4.4.1.2 Diversidade de materiais para produção.............................152
4.4.1.3 Grau de toxidade da produção ou do produto final............152
4.4.1.4 Normalização......................................................................153
4.4.1.5 Embalagem.........................................................................153
4.4.2 Aplicação do modelo IDSRS na fase de consumo & uso /
serviço..............................................................................................154
4.4.2.1 Atendimento à legislação....................................................154
4.4.2.2 Impacto associado ao uso do produto.................................154
4.4.2.3 Consumo de energia no uso do produto .............................154
4.4.2.4 Multifuncionalidade............................................................155
4.4.2.5 Bem-estar............................................................................155
4.4.3 Aplicação do modelo IDSRS na fase de descarte / deposição ....156
4.4.3.1 Descarte e deposição do lixo..............................................156
4.4.3.2 Reciclabilidade de matéria-prima.......................................156
4.4.3.3 Desmontagem.....................................................................157
4.4.3.4 Código de ética...................................................................157
4.4.3.5 Antecipação........................................................................157
4.4.4 Aplicação do modelo IDSRS na fase de reciclagem & reuso /
redesign...........................................................................................158
4.4.4.1 Reuso..................................................................................158
4.4.4.2 Atualização.........................................................................158
4.4.4.3 Redesign .............................................................................159
4.4.4.4 Revenda / redistribuição.....................................................159
4.4.4.5 Facilidade de Reconhecimento de materiais ......................159
4.5 COMPARAÇÃO DOS MODELOS DE DEFINIÇÃO DE
INDICADORES ANALISADOS COM O MODELO IDSRS....................160
4.6 VISUALIZAÇÃO DOS RESULTADOS DE SUSTENTABILIDADE
E RESPONSABILIDADE SOCIAL DO DESIGN PROPOSTOS NO
MODELO IDSRS ........................................................................................165
CAPÍTULO V – DEMONSTRAÇÃO DA APLICABILIDADE DO
MODELO IDSRS: O EXEMPLO DAS EMPRESAS ROSITA E
NATURA
5.1 EXEMPLO A: ROSITA BRINQUEDOS
.........................................174
5.1.1 Breve histórico................................................................................174
5.1.2 Etapas do processo produtivo.......................................................177
5.1.3 Desenvolvimento de produtos e design.........................................178
5.1.4 Entendimento do conceito de responsabilidade social por
parte da empresa............................................................................180
5.1.5 Geração do IDSRS da Rosita........................................................181
5.1.5.1 Aplicação de questionário e cálculo do IDSRS para a
fase de Produção/Manufatura da empresa Rosita...............181
5.1.5.2 Aplicação de questionário e cálculo do IDSRS para a
fase de Consumo & Uso/Serviço da empresa Rosita .........188
5.1.5.3 Aplicação de questionário e cálculo do IDSRS para a
fase de Descarte/Deposição da empresa Rosita..................193
5.1.5.4 Aplicação de questionário e cálculo do IDSRS para a
fase de Reciclagem & Reuso / Redesign da empresa
Rosita..................................................................................197
5.1.6 Consolidação dos dados e visualização dos resultados IDSRS
para cada fase de design................................................................201
5.1.7 Sugestão de melhorias a partir da interpretação dos
resultados obtidos...........................................................................208
5.2 EXEMPLO B: NATURA COSMÉTICOS.......................................210
5.2.1 Breve histórico................................................................................210
5.2.2 Etapas do processo produtivo.......................................................214
5.2.3 Desenvolvimento de produtos e design.........................................216
5.2.4 Entendimento do conceito de responsabilidade social por
parte da empresa............................................................................217
5.2.5 Geração do IDSRS da Natura.......................................................220
5.2.5.1 Aplicação de questionário e cálculo do IDSRS para a
fase de Produção/Manufatura da empresa Natura..............221
5.2.5.2 Aplicação de questionário e cálculo do IDSRS para a
fase de Consumo & Uso/Serviço da empresa Natura.........226
5.2.5.3 Aplicação de questionário e cálculo do IDSRS para a
fase de Descarte/Deposição da empresa Natura.................231
5.2.5.4 Aplicação de questionário e cálculo do IDSRS para a
fase de Reciclagem & Reuso / Redesign da empresa
Natura .................................................................................235
5.2.6 Consolidação dos dados e visualização dos resultados IDSRS
para cada fase de design................................................................240
5.2.7 Sugestão de melhorias a partir da interpretação dos
resultados obtidos...........................................................................246
5.3 REFLEXÕES SOBRE OS VALORES IDSRS CALCULADOS
PARA AS EMPRESAS ANALISADAS
..........................................247
5.4 CALIBRAÇÃO DO MODELO IDSRS............................................248
CAPÍTULO VI – CONSIDERAÇÕES FINAIS
6.1 CONCLUSÃO
.........................................................................................251
6.2 CONTRIBUIÇÃO TEÓRICA
.............................................................257
6.3 CONTRIBUIÇÃO PRÁTICA
..............................................................259
6.4 LINHAS FUTURAS DE INVESTIGAÇÃO
...................................259
REFERÊNCIAS
................................................................................................261
APÊNDICES
APÊNDICE A
Caracterização e perfil do entrevistado (Rosita) .................................................274
APÊNDICE B
Questionário de qualificação de indicadores – Rosita.........................................276
APÊNDICE C
Caracterização e perfil do entrevistado (Natura).................................................285
APÊNDICE D
Questionário de qualificação de indicadores – Natura........................................287
LISTA DE FIGURAS
Figura 1.1 – Estrutura metodológica da tese...........................................................12
Figura 2.1 – Definição de sustentabilidade.............................................................23
Figura 2.2 – Definição de design............................................................................30
Figura 2.3 – Cronologia de ações e movimentos para consolidação do design
orientado à sustentabilidade ...............................................................46
Figura 2.4 – Mudanças de orientação metodológica na busca por
sustentabilidade ..................................................................................58
Figura 3.1 – Definição de Responsabilidade Social ...............................................70
Figura 3.2 – Vetores de Responsabilidade Social das empresas ............................71
Figura 3.3 – Áreas de atuação do Design Socialmente Responsável .....................86
Figura 4.1 – Utilização de indicadores para a tomada de decisões sobre o
estado de um sistema......................................................................103
Figura 4.2 – Definição de Indicador de Sustentabilidade.....................................104
Figura 4.3 – Modelo Daly & Meadows para definição de indicadores de
sustentabilidade ................................................................................113
Figura 4.4 – Exemplificação do modelo PSIR......................................................115
Figura 4.5 – Exemplos de indicadores definidos por meio do modelo Prisma
de Sustentabilidade...........................................................................118
Figura 4.6 – Exemplo de visualização de sustentabilidade em sistemas
naturais por meio do modelo Bossel ................................................126
Figura 4.7 – Representação esquemática do ciclo de vida dos componentes
de uma cafeteira................................................................................129
Figura 4.8 – Estrutura do questionário para aplicação dos indicadores Ethos......133
Figura 4.9 – Base para elaboração do relatório de sustentabilidade GRI.............140
Figura 4.10 – Representação esquemática do modelo IDSRS................................146
Figura 4.11 – Indicadores associados às demandas sociais e ambientais do
processo de design............................................................................148
Figura 4.12 – Escala proposta para visualização dos resultados do modelo
IDSRS...............................................................................................171
Figura 5.1 – Galinha dos Ovos de Ouro e Peixão da Rosita.................................175
Figura 5.2 – Fábrica da Rosita em Lauro de Freitas, Bahia..................................176
LISTA DE TABELAS
Tabela 2.1 – Tipologia estética para produtos insustentáveis.................................31
Tabela 3.1 – Pontos de interseção dos princípios de Direitos Humanos do
Global Compact com os indicadores Ethos de Responsabilidade
Social Empresarial..............................................................................74
Tabela 3.2 – Pontos de interseção dos princípios de Relações de Trabalho do
Global Compact com os indicadores Ethos de Responsabilidade
Social Empresarial..............................................................................75
Tabela 3.3 – Pontos de interseção dos princípios de Meio Ambiente do Global
Compact com os indicadores Ethos de Responsabilidade Social
Empresarial.........................................................................................76
Tabela 3.4 – Normas jurídicas para o relacionamento socialmente responsável
de empresas com seus diversos públicos............................................77
Tabela 4.1 – Apresentação simplificada dos Princípios de Bellagio ....................110
Tabela 4.2 – Conjunto de indicadores Ethos.........................................................135
Tabela 4.3 – Comparação dos modelos de definição de indicadores em relação
ao modelo IDSRS.............................................................................161
Tabela 4.4 – Aplicação da escala Likert ao questionário proposto na tese...........166
Tabela 4.5 – Excerto das formulações do questionário aplicado para
qualificação dos indicadores da empresa A......................................167
Tabela 4.6 – Excerto das formulações do questionário aplicado para
qualificação dos indicadores da empresa B......................................168
Tabela 5.1 – Excerto do questionário aplicado para qualificação do indicador
Demanda de energia para produção da empresa Rosita...................182
Tabela 5.2 – Excerto do questionário aplicado para qualificação do indicador
Diversidade de materiais para produção da empresa Rosita............184
Tabela 5.3 – Excerto do questionário aplicado para qualificação do indicador
Grau de toxidade da produção ou do produto final da empresa
Rosita................................................................................................185
Tabela 5.4 – Excerto do questionário aplicado para qualificação do indicador
Normalização da empresa Rosita .....................................................186
Tabela 5.5 – Excerto do questionário aplicado para qualificação do indicador
Embalagem da empresa Rosita.........................................................187
Tabela 5.6 – Excerto do questionário aplicado para qualificação do indicador
Atendimento à legislação da empresa Rosita...................................188
Tabela 5.7 – Excerto do questionário aplicado para qualificação do indicador
Impacto associado ao uso do produto da empresa Rosita................189
Tabela 5.8 – Excerto do questionário aplicado para qualificação do indicador
Consumo de energia no uso do produto da empresa Rosita.............190
Tabela 5.9 – Excerto do questionário aplicado para qualificação do indicador
Multifuncionalidade da empresa Rosita...........................................191
Tabela 5.10 – Excerto do questionário aplicado para qualificação do indicador
Bem-estar da empresa Rosita ...........................................................192
Tabela 5.11 – Excerto do questionário aplicado para qualificação do indicador
Descarte e deposição do lixo da empresa Rosita..............................193
Tabela 5.12 – Excerto do questionário aplicado para qualificação do indicador
Reciclabilidade de matéria-prima da empresa Rosita ......................194
Tabela 5.13 – Excerto do questionário aplicado para qualificação do indicador
Desmontagem da empresa Rosita.....................................................195
Tabela 5.14 – Excerto do questionário aplicado para qualificação do indicador
Código de ética da empresa Rosita...................................................196
Tabela 5.15 – Excerto do questionário aplicado para qualificação do indicador
Antecipação da empresa Rosita........................................................196
Tabela 5.16 – Excerto do questionário aplicado para qualificação do indicador
Reuso da empresa Rosita..................................................................198
Tabela 5.17 – Excerto do questionário aplicado para qualificação do indicador
Atualização da empresa Rosita.........................................................198
Tabela 5.18 – Excerto do questionário aplicado para qualificação do indicador
Redesign da empresa Rosita.............................................................199
Tabela 5.19 – Excerto do questionário aplicado para qualificação do indicador
Revenda / redistribuição da empresa Rosita.....................................200
Tabela 5.20 – Excerto do questionário aplicado para qualificação do indicador
Facilidade de reconhecimento de materiais da empresa Rosita .......201
Tabela 5.21 – Visualização do IDSRS para cada item da fase 1 do processo de
design da Rosita................................................................................202
Tabela 5.22 – Visualização do IDSRS para cada item da fase 2 do processo de
design da Rosita................................................................................204
Tabela 5.23 – Visualização do IDSRS para cada item da fase 3 do processo de
design da Rosita................................................................................205
Tabela 5.24 – Visualização do IDSRS para cada item da fase 4 do processo de
design da Rosita................................................................................206
Tabela 5.25 – Visualização do IDSRS global para fase do processo de design da
Rosita................................................................................................207
Tabela 5.26 – Cronologia histórica da empresa Natura...........................................211
Tabela 5.27 – Equivalência de indicadores utilizados no modelo IDSRS em
relação ao modelo GRI adotado pela Natura....................................221
Tabela 5.28 – Excerto do questionário aplicado para qualificação do indicador
Demanda de energia para produção da empresa Natura ..................222
Tabela 5.29 – Excerto do questionário aplicado para qualificação do indicador
Diversidade de materiais para produção da empresa Natura............223
Tabela 5.30 – Excerto do questionário aplicado para qualificação do indicador
Grau de toxidade da produção ou do produto final da empresa
Natura...............................................................................................224
Tabela 5.31 – Excerto do questionário aplicado para qualificação do indicador
Normalização da empresa Natura.....................................................225
Tabela 5.32 – Excerto do questionário aplicado para qualificação do indicador
Embalagem da empresa Natura........................................................225
Tabela 5.33 – Excerto do questionário aplicado para qualificação do indicador
Atendimento à legislação da empresa Natura ..................................227
Tabela 5.34 – Excerto do questionário aplicado para qualificação do indicador
Impacto associado ao uso do produto da empresa Natura................228
Tabela 5.35 – Excerto do questionário aplicado para qualificação do indicador
Consumo de energia no uso do produto da empresa Natura............229
Tabela 5.36 – Excerto do questionário aplicado para qualificação do indicador
Multifuncionalidade da empresa Natura ..........................................229
Tabela 5.37 – Excerto do questionário aplicado para qualificação do indicador
Bem-estar da empresa Natura...........................................................230
Tabela 5.38 – Excerto do questionário aplicado para qualificação do indicador
Descarte e deposição do lixo da empresa Natura.............................231
Tabela 5.39 – Excerto do questionário aplicado para qualificação do indicador
Reciclabilidade de matéria-prima da empresa Natura......................232
Tabela 5.40 – Excerto do questionário aplicado para qualificação do indicador
Desmontagem da empresa Natura....................................................233
Tabela 5.41 – Excerto do questionário aplicado para qualificação do indicador
Código de ética da empresa Natura..................................................234
Tabela 5.42 – Excerto do questionário aplicado para qualificação do indicador
Antecipação da empresa Natura.......................................................235
Tabela 5.43 – Excerto do questionário aplicado para qualificação do indicador
Reuso da empresa Natura.................................................................236
Tabela 5.44 – Excerto do questionário aplicado para qualificação do indicador
Atualização da empresa Natura........................................................237
Tabela 5.45 – Excerto do questionário aplicado para qualificação do indicador
Redesign da empresa Natura............................................................237
Tabela 5.46 – Excerto do questionário aplicado para qualificação do indicador
Revenda / redistribuição da empresa Natura....................................238
Tabela 5.47 – Excerto do questionário aplicado para qualificação do indicador
Facilidade de reconhecimento de materiais da empresa Natura.......239
Tabela 5.48 – Visualização do IDSRS para cada item da fase 1 do processo de
design da Natura...............................................................................240
Tabela 5.49 – Visualização do IDSRS para cada item da fase 2 do processo de
design da Natura...............................................................................241
Tabela 5.50 – Visualização do IDSRS para cada item da fase 3 do processo de
design da Natura...............................................................................242
Tabela 5.51 – Visualização do IDSRS para cada item da fase 4 do processo de
design da Natura...............................................................................243
Tabela 5.52 – Visualização do IDSRS global para cada fase do processo de
design da Natura...............................................................................245
CAPÍTULO I
INTRODUÇÃO
1
CAPÍTULO I
INTRODUÇÃO
[...] todas as formigas do planeta, consideradas no todo, possuem
uma biomassa superior a dos humanos. As formigas têm sido
incrivelmente industriosas durante milhões de anos. Ademais, sua
produtividade nutre plantas, animais e solo. A indústria humana
tem se consolidado por pouco mais de um século e tem trazido um
declínio para quase todos os ecossistemas do planeta. A natureza
não tem problemas de design. As pessoas sim. (MCDONOUGH e
BRAUNGART, 2002, p. 16, tradução do autor).
1.1 APRESENTAÇÃO
O caminho para o Desenvolvimento Sustentável busca “encontrar as necessidades do
presente sem comprometer a habilidade das futuras gerações em encontrar suas
próprias necessidades”, conforme apontado pela Comissão Mundial sobre
Desenvolvimento e Meio Ambiente, das Nações Unidas, em 1987 (BRASIL, 2000).
Diante desta perspectiva, torna-se imperativo que as empresas passem a produzir de
modo a racionalizar os recursos materiais e as demandas de energia, para que sejam
2
coerentemente harmonizadas as relações entre homem, cultura
1
e ambiente. Como
aponta Tischner (2000), o objetivo deste modelo de desenvolvimento é produzir mais
a partir de menos, considerando um limite de utilização de recursos que não
comprometa a continuidade dos ecossistemas e a qualidade de vida em longo prazo.
Além disso, faz-se necessária uma preocupação cada vez maior quanto à adequação
das atividades industriais às demandas e expectativas da sociedade, sobretudo no que
diz respeito à manutenção da vida em longo prazo. Diante disso, setores da indústria
e da sociedade civil preocupados com a qualidade do meio natural têm apontado cada
vez mais a necessidade de otimização na interação entre ações humanas e o meio
ambiente, diante da perspectiva de saturação dos recursos naturais e da dramática
redução da qualidade de vida em escala mundial. Este quadro resulta,
principalmente, do uso inadequado e predatório da natureza, especialmente no que se
refere à produção industrial, onde as demandas de matéria-prima, o consumo de
energia e a emissão de resíduos e efluentes tóxicos representam o grande risco para a
continuidade da vida em longo prazo.
O design industrial, e, sobretudo, o projeto de design que possa ser considerado
simultaneamente sustentável e socialmente responsável, assume um papel decisivo
na busca por modelos de produção mais adequados à lógica da proteção ambiental e
da melhoria da qualidade de vida das populações, considerando sistematicamente o
processo de desenvolvimento de produtos, levando em conta os impactos de todo o
seu ciclo de vida, ou seja, extração de matéria-prima, manufatura, distribuição,
1
Cultura, no âmbito desta tese, refere-se ao conjunto de padrões de comportamento, crenças,
conhecimentos, costumes, tradições, valores materiais e não-materiais que distinguem um grupo
social, revelando seu equilíbrio dinâmico e sua capacidade evolutiva.
3
utilização, descarte, deposição e, por fim, o reinício de um novo ciclo de vida para a
matéria ou produto descartado (SOUZA, 2002). Este conceito revela-nos a
necessidade de redefinição dos modelos produtivos, na perspectiva de maior
conscientização sobre o papel das indústrias quanto aos impactos de sua produção
tanto em questões ambientais, quanto sociais e econômicas. Percebe-se, também, a
necessidade de novas posturas e procedimentos produtivos, na garantia de construção
de um futuro que traduza mais equilíbrio entre utilização e conservação dos recursos:
a sustentabilidade, em seus mais amplos aspectos (SOUZA, 2003).
1.2 DEFINIÇÃO DO PROBLEMA DE PESQUISA
No âmbito desta tese, estuda-se o processo de design industrial e, sobretudo, seus
impactos sociais e ambientais, particularmente por meio das metodologias que
buscam adequação do projeto de design aos princípios de sustentabilidade e
responsabilidade social. Ainda que a metodologia de projeto em design seja bem
estudada mundialmente, percebe-se uma lacuna entre uma proposta de
fundamentação teórica e as práticas de design que efetivamente atendam de modo
sistematicamente integrado às demandas econômicas, demandas de proteção
ambiental e, fundamentalmente, às expectativas da sociedade.
Ademais, outro importante aspecto a ser estudado na etapa de design e produção
industrial é o processo de tomada de decisão quanto à escolha de materiais
produtivos, às possibilidades de modularidade do projeto e, conseqüentemente, à
viabilidade de desmontagem e facilidade para o descarte dos produtos degradados ou
em desuso. Isto se deve ao fato de que as metodologias atuais voltam-se
4
prioritariamente ao projeto estético-funcional, distanciando-se da responsabilidade
sobre a correta destinação dos materiais ao final do ciclo de vida dos produtos.
Conseqüentemente, é necessário adequar não só os fundamentos teóricos, senão
também as práticas do chamado design sustentável e socialmente responsável aos
modelos de produção industrial, considerando a ótica da sustentabilidade e,
sobretudo, a otimização do (re) uso de matérias-primas in natura ou reprocessadas,
por exemplo, a redução de fluxos mássicos e energéticos na cadeia produtiva,
implementação de processos de reciclagem, reutilização de matéria-prima e redesign
do produto com foco na extensão de seu ciclo de vida.
1.3 MOTIVAÇÃO E JUSTIFICATIVA
Percebem-se diversas questões abertas dentro da temática do design que evidenciam
a necessidade de investimentos de pesquisa nesta área. As principais motivações para
a efetivação desta tese são:
a) existe uma motivação pessoal, na qualidade de designer, quanto ao aspecto da
falta de considerações ambientais e sociais no processo de design de
produtos. Além disso, percebemos uma carência de responsabilização de
designers e administradores sobre o resultado de sua produção, descarte e
deposição após uso, bem como de um projeto voltado para a extensão dos
ciclos de vida dos produtos;
b) existe uma carência de referências bibliográficas na literatura especializada
na temática do design sustentável e socialmente responsável, principalmente
no âmbito nacional. E, portanto;
5
c) o processo de design com utilização concomitante de considerações
econômicas, ambientais e sociais, durante o ciclo de vida do produto, revela-
se como um problema aberto e desafiador.
Parte-se do princípio de que designers e administradores têm uma responsabilidade
moral e social para com os impactos de seus produtos sobre a natureza e a sociedade.
Os modelos produtivos adotados no design, de modo geral, consideram apenas as
questões relativas ao controle do processo interno da produção, esquecendo-se das
emissões de toxinas, consumo energético para a produção em série, além do ciclo de
vida dos produtos e seus resultados para o meio ambiente e a sociedade. As
possibilidades de redução de riscos para a natureza e o atendimento às expectativas
da sociedade com a adoção de metodologias de design sustentável constituem-se uma
necessidade prioritária para a otimização e o aumento na qualidade dos processos de
produção.
1.4 OBJETIVOS DA TESE
1.4.1 Objetivo Geral
Propor um modelo de indicadores de sustentabilidade e responsabilidade social que
contribua na avaliação do processo de design no que diz respeito à sua adequação às
demandas de qualidade de vida da sociedade, aos limites de sustentabilidade do
ambiente e, de modo integrado, aos aspectos econômicos do projeto.
6
1.4.2 Objetivos Específicos
Para lograr o objetivo geral da tese são desenvolvidos os seguintes objetivos
específicos:
1.4.2.1 Aprofundar o conhecimento das legislações ambientais e condições de
sustentabilidade para modelos de produção industrial, buscando
adequação quanto aos conceitos de produção sustentável, de forma a
esboçar alternativas para a formulação de diretrizes aplicáveis à realidade
produtiva local, sobretudo ao processo de design.
1.4.2.2 Coletar subsídios de disciplinas como a engenharia de produção, o design
de produtos, controle da qualidade, educação ambiental, responsabilidade
social, entre outras, de modo a construir um marco teórico que contribua
para a análise de um modelo de design em sintonia com a proteção do
meio ambiente e as expectativas da sociedade.
1.4.2.3 Propor indicadores de sustentabilidade e responsabilidade social
aplicáveis ao processo de design, na busca de um modelo voltado para
uma avaliação da produção industrial sob a ótica do projeto.
1.4.2.4 Analisar o uso de materiais, seus ciclos de vida e o modus operandi do
trabalho de designers no projeto de produtos e serviços, especialmente
quanto ao atendimento de necessidades ambientais e sociais, no âmbito
da sustentabilidade.
1.4.2.5 Demonstrar a aplicabilidade do modelo desenvolvido na tese por meio de
dois estudos de caso com empresas nacionais que tenham o design como
um elemento decisivo em seu processo produtivo, buscando visualizar a
7
adequação da produção industrial nas perspectivas da sustentabilidade e
da responsabilidade social.
1.5 QUESTÕES DE PARTIDA
Diante do exposto, colocam-se as seguintes questões de partida para a condução dos
trabalhos de investigação:
Q
1
É possível o desenvolvimento de produtos e serviços que atendam
simultaneamente aos requisitos ambientais, sociais, culturais, tecnológicos e de
lucratividade das empresas, no contexto brasileiro?
Q
2
Como designers e produtores podem melhor solucionar os problemas durante
as fases de projeto, levando em consideração o atendimento às demandas
ambientais e sociais e a necessidade de práticas sustentáveis?
Q
3
A prática projetual em design no contexto nacional está em conformidade com
uma perspectiva de atuação sustentável e socialmente responsável do designer?
1.6 HIPÓTESES
A partir dos questionamentos iniciais são propostas as seguintes hipóteses para a
tese:
H
1
A prática do design pode caracterizar consumidor, usuário e cidadão de forma a
gerar respostas ambientalmente, culturalmente e socialmente adequadas, por
meio de uma metodologia projetual que contemple princípios de
sustentabilidade e responsabilidade social.
8
H
2
Modelos de indicadores de sustentabilidade e responsabilidade social
contribuem para uma avaliação mais adequada acerca da qualidade dos projetos
de design, definindo parâmetros para minimização de riscos e danos
ambientais, otimizando processos produtivos e atendendo às demandas e
expectativas da sociedade.
1.7 METODOLOGIA
Adota-se, no âmbito desta tese, um posicionamento crítico diante dos fenômenos que
constituem o objeto de estudo proposto. De acordo com Myers (1997), os
pesquisadores críticos assumem que a realidade social se constitui historicamente e
que tal realidade é produzida e reproduzida pelas pessoas. Desta maneira, a pesquisa
crítica coloca sua atenção nas oposições, conflitos e contradições observadas na
sociedade contemporânea.
Este estudo fundamenta-se na metodologia de pesquisa qualitativa, que engloba os
tipos de produção de conhecimentos associados à compreensão dos fenômenos
sociais. Deste modo, busca-se o aprofundamento das questões relativas à adequação
dos projetos de design sob a ótica da qualidade sócio-ambiental, partindo-se de
leituras e revisões bibliográficas de livros, artigos, relatórios e textos técnicos, além
da coleta e análise qualitativa de informações e depoimentos levantados por meio de
entrevistas, questionários e estudos de casos.
9
1.7.1 Pesquisa Qualitativa
Este método tem facilitado o desenvolvimento de novas perspectivas no
entendimento teórico do processo de design industrial, na construção de sistemas de
indicadores de sustentabilidade e, sobretudo, nas questões relativas ao entendimento
das relações entre homem e natureza. Como apontam Strauss e Corbin (1990), pode-
se considerar a pesquisa qualitativa como sendo um tipo de investigação capaz de
explicar fenômenos culturais e produzir resultados sociais que não seriam possíveis
por meio de dados estatísticos ou outros meios de quantificação.
Consequentemente, este tipo de pesquisa trabalha com dados qualitativos, cujas
fontes incluem artigos, livros, entrevistas e questionários, documentos eletrônicos de
naturezas diversas, além de impressões do pesquisador e suas reações para entender e
explicar o fenômeno cultural e social (STRAUSS e CORBIN, 1990; MYERS, 1997).
1.7.2 Métodos de Pesquisa
1.7.2.1 Teoria Fundamentada em Dados
Os pesquisadores Glaser e Strauss (1967) apresentaram a teoria fundamentada em
dados como método de pesquisa que, em termos gerais, contribui com uma
metodologia que visa conceber e desenvolver uma teoria baseada na coleta e análise
sistemáticas de dados. Strauss e Corbin (1990, p. 23) definem a teoria fundamentada
em dados como uma teoria que é “[...] descoberta, desenvolvida e provisoriamente
verificada mediante coleta sistemática de dados e análise de dados [...]”.
10
De modo resumido, o método consiste em (1) precisão do âmbito da pesquisa, (2)
coleta e análise geral dos dados especializados e pertinentes ao estudo em questão,
(3) ordenação dos dados segundo critérios definidos (cronológicos, espaciais,
técnicos, sociais, políticos, econômicos), (4) análise específica que consiste nos
processos de codificação, classificação e comparação entre os resultados encontrados
e outros estudos relacionados com o entorno da pesquisa proposta, e (5) geração da
teoria, isto é, apresentação da teoria ou do modelo proposto (PEREIRA e SOUZA,
2004).
1.7.2.2 Questionários
Segundo Laville e Dionne (1999), uma maneira reconhecida e comprovada das
ciências humanas de obter informação consiste em colher depoimentos de pessoas
que detêm conhecimentos específicos sobre o tema em estudo. Uma dessas
metodoligias diz respeito aos questionários de pesquisa, que são uma série de
perguntas sobre um tema, formuladas em função de uma hipótese previamente
determinada. As respostas dos interrogados são dispostas na forma de uma escala de
valores, construída de modo a indicar suas opiniões em relação ao enunciado. No
âmbito desta tese, adota-se a escala Likert (PINEDO, 2006; AJZEN, 2006) para a
estruturação dos questionários com formulações para qualificação de indicadores de
sustentabilidade e responsabilidade social, conforme descrito posteriormente no
capítulo IV.
11
1.7.2.3 Entevistas
Segundo Marconi e Lakatos (1999), as entrevistas são procedimentos utilizados para
a coleta de dados ou para dar suporte no diagnóstico ou no tratamento de problemas
de ordem social. São realizadas por meio de perguntas diretas ao entrevistado,
registradas usualmente por meio de um gravador, buscando-se uma melhor idéia
sobre os conhecimentos, valores, crenças, representações etc., sobre um determinado
tema de pesquisa. As respostas dos entrevistados são, então, transcritas de modo
cuidadoso, por meio do registro das construções verbais para posterior análise dos
conteúdos e interpretação dos dados. No âmbito desta tese, as entrevistas dão maior
abrangência às formulações desenvolvidas para qualificação de indicadores de
sustentabilidade e responsabilidade social.
1.7.2.4 Estudo de Caso
Utiliza-se, por fim, no âmbito desta tese, o método de estudo de caso, que pode ser
definido como “uma pesquisa empírica que investiga um fenômeno contemporâneo
dentro de seu contexto real, especialmente quando os limites entre o fenômeno e o
contexto não são claramente evidentes” (YIN, 1994, p. 13). Ademais, as perguntas
mais apropriadas no uso do método estudo de caso são o “como?” (associadas à
descrição das inter-relações) e o “por quê?” (associadas à existência das inter-
relações).
12
1.7.3 Estrutura metodológica da tese
Esta tese de doutorado é desenvolvida com base em 6 (seis) fases, onde as etapas
metodológicas são realizadas, visando atingir os objetivos previamente definidos. A
figura 1.1 apresenta graficamente a estrutura metodológica da tese.
Figura 1.1 – Estrutura metodológica da tese
A fase 1 da tese consiste em uma revisão bibliográfica e na construção de um banco
de dados sobre eixo central do estudo, por meio da revisão de artigos, livros e
estudos científicos e sítios da web, envolvendo os conceitos de sustentabilidade,
responsabilidade social e práticas relacionadas ao trabalho de designers, nacional e
13
internacionalmente. Este banco de dados dará suporte para as fases seguintes,
sobretudo para o desenvolvimento do modelo de indicadores proposto para avaliação
do projeto de design de modo amplo.
A fase 2 refere-se à análise crítica das metodologias levantadas acerca do design,
diante dos conceitos de sustentabilidade e responsabilidade social adotados como
parâmetros para a adequação dos processos produtivos. Ainda nesta fase, serão
realizadas análises comparativas de modelos e processos de design, visando
estabelecer os princípios que nortearão o modelo de indicadores a ser adotado na
tese.
A fase 3 concentrará a estrutura teórica da tese de doutorado, com a definição dos
indicadores aplicados ao processo de design que comporão o modelo a ser aplicado
nas empresas investigadas. A consolidação da estrutura teórica será desenvolvida
com base nos estudos preliminares de autores como Findeli (1994, 2001), Graedel e
Allenby (1995), Tischner (1996, 2000), Manzini (1994, 1995 e 1998), Schmidt-Bleek
et al. (1998), Valentin e Spangenberg (2000), Capra (2002), Manzini e Vezzoli
(2002), Margolin (2002a, 2002b, 2004), McDonough e Braungart (2002), Walker
(2000, 2003 e 2005), Santos (2003), entre outros, visando dar suporte a idéias e
métodos para uma revisão da prática do design no contexto brasileiro.
A fase 4 da tese refere-se aos estudos de casos realizados com empresas com forte
influência de design em seus processos produtivos e tomadas de decisão, visando
14
demonstrar a aplicabilidade do modelo desenvolvido para visualização das condições
de sustentabilidade e responsabilidade social nas empresas.
A fase 5 é direcionada para a análise, validação e consolidação dos dados obtidos nos
estudos de caso, além da confirmação dos indicadores propostos para cada processo
produtivo em particular. Estas informações serão apresentadas graficamente para
facilitar o entendimento do modelo e melhor visualizar os resultados obtidos em cada
fase do processo de design nas empresas estudadas. Estes dados darão suporte à
última fase da tese, a fase 6, onde serão generalizados os resultados e apresentadas as
considerações finais e conclusões alcançadas na pesquisa, concluindo a redação final
da tese de doutorado.
1.8 LIMITAÇÕES DA TESE
Esta tese de doutorado não tem o propósito de validar o modelo de indicadores de
sustentabilidade e responsabilidade social proposto, mas, sim, demonstrar sua
aplicabilidade no âmbito de empresas nacionais, com diferentes focos, que têm, em
seus processos produtivos, uma influência do design em suas tomadas de decisão.
Também não é objetivo desta tese a medição ou aferição das condições reais de
sustentabilidade e responsabilidade social nas empresas, mas unicamente estabelecer
uma escala de sustentabilidade orientada à visualização de indicadores e à adequação
do projeto de design com base no modelo proposto. Diante disso, considera-se
irrelevante, no estágio atual desta pesquisa, a realização de entrevistas e aplicação
dos questionários diretamente ao corpo diretivo e alto escalão das empresas
investigadas nos estudos de caso. Ademais, a construção de um produto do modelo,
15
por exemplo, um software ou website funcional, ou até mesmo um modelo
matemático estrutural para geração de indicadores estão claramente fora do escopo
desta tese.
1.9 ORGANIZAÇÃO GERAL DA TESE
Esta tese está estruturada em 6 (seis) capítulos, organizados conforme descrito a seguir. O
presente capítulo refere-se à introdução da tese, evidenciando seu problema de pesquisa,
motivação e justificativa, objetivos, questões de partida, hipóteses, metodologia e limitações.
O capítulo II apresenta uma discussão sobre a sustentabilidade no âmbito do design,
definindo o termo e apresentando o papel do design na busca de sustentabilidade
ambiental e social no processo de desenvolvimento de produtos, bem como as
tendências metodológicas específicas do design orientado à sustentabilidade.
O capítulo III da tese é dedicado à discussão sobre a responsabilidade social do
design, apresentando conceitos de necessidade, gestão socialmente responsável
aplicados à prática do design, além de reflexões acerca do cenário brasileiro de
responsabilidade social.
O capítulo IV da tese busca a definição de um conjunto de indicadores de
sustentabilidade e responsabilidade social do âmbito do design, descrevendo
conceitos sobre indicadores de sustentabilidade, características e critérios para sua
escolha, bem como discussões sobre leitura de indicadores e índices. Além disso, faz
uma análise de diversos modelos mundialmente utilizados para definição de
16
indicadores de sustentabilidade e responsabilidade social, apresentando, por fim, o
modelo proposto na tese, especificamente voltado para a avaliação da qualidade do
processo de desenvolvimento de produtos.
O capítulo V apresenta estudos de caso referentes a duas empresas nacionais que têm
o design de produtos como elemento de determinação das ações produtivas em suas
plantas industriais. O primeiro estudo de caso é realizado com a empresa Rosita, cujo
foco de produção é voltado para o setor de brinquedos. A partir da aplicação de um
questionário especificamente desenvolvido para o modelo de indicadores proposto
nesta tese, são realizadas análises quanto à adequação de cada fase de design no que
diz respeito aos princípios de sustentabilidade e responsabilidade social. O segundo
estudo de caso é realizado com a empresa Natura, que tem sua produção industrial
voltada para o setor de cosméticos. Seguindo o mesmo percurso metodológico, são
qualificados os indicadores de sustentabilidade e responsabildiade social propostos
na tese e realizadas as análises para cada fase de design. Por fim, o capítulo V
apresenta os resultados comparativos das empresas, buscando uma generalização dos
resultados diante da viabilidade de aplicação do modelo de indicadores proposto.
O capítulo VI é dedicado às conclusões da tese, apresentando, também, suas
contribuições teóricas e práticas para o processo de design de produtos, bem como
futuras linhas de investigação a serem desenvolvidas a partir do marco teórico
realizado.
CAPÍTULO II
SUSTENTABILIDADE NO ÂMBITO DO DESIGN
18
CAPÍTULO II
SUSTENTABILIDADE NO ÂMBITO DO DESIGN
2.1 CONCEITO DE SUSTENTABILIDADE
No âmbito desta tese, o termo sustentabilidade apresenta um conceito amplo.
Considerando os aspectos ecológicos de sua definição, a sustentabilidade diz respeito
à tendência dos ecossistemas à estabilidade, ao equilíbrio dinâmico e à capacidade de
auto-regulação dos ecossistemas, isto é,
homeostase, baseado na interdependência e
complementariedade de formas vivas (PIRES, 1998). Ademais, de acordo com Sachs
(1993), a sustentabilidade do meio ambiente reflete um relacionamento entre
sistemas sócio-econômicos e sistemas ecológicos dinâmicos, em que:
a) a vida humana assume uma continuidade vigorosa;
b) os indivíduos prosperam social e economicamente;
c) as culturas humanas podem se desenvolver; e, sobretudo,
d) os resultados das atividades humanas obedecem a limites para não destruir a
diversidade, a complexidade e a função do sistema ecológico de apoio à
vida.
19
Como afirma Bossel (1999), criar condições de sustentabilidade para uma sociedade
é dimensionar de modo integrado a viabilidade das mudanças sociais e ambientais,
culturais e tecnológicas, além de mudanças de valores e aspirações, procurando
percebê-las no caminho de desenvolvimento que possa comportar mudanças de
longo prazo. Entende-se que o desafio para a efetivação da sustentabilidade
ambiental impõe, necessariamente, equilíbrio entre os diversos interesses
econômicos, os interesses sociais e individuais, além do respeito aos limites
funcionais do meio natural.
Diante da perspectiva de desenvolvimento econômico em consonância com as
dinâmicas da natureza e da vida em sociedade, as atividades de exploração dos
recursos naturais não têm sido conduzidas em conformidade com os princípios de
desenvolvimento sustentável, ou seja, buscando “[...] encontrar as necessidades do
presente sem comprometer a habilidade das futuras gerações em encontrar suas
próprias necessidades [...]”, conforme a definição da Comissão Mundial das Nações
Unidas sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente, de 1987 (BRASIL, 2000).
A sustentabilidade é, assim, entendida como uma série de condições sistêmicas
segundo as quais as atividades humanas não devem interferir nos ciclos naturais que
fundamentam a auto-regulação dos ecossistemas, preservando, dessa forma, o capital
natural do planeta (MANZINI e VEZZOLI, 2002). Os autores Manzini e Vezzoli
acrescentam ao conceito de sustentabilidade uma premissa importante, onde todos
têm direito ao mesmo espaço ambiental, isto é, quantidade de energia, água, território
e matéria-prima necessários à vida, à produção e ao consumo, sem superar os limites
20
da sustentabilidade. Neste sentido, os autores consideram a sustentabilidade como
um objetivo a ser atingido, apresentando alguns requisitos essenciais para propostas
verdadeiramente sustentáveis:
soluções baseadas em recursos renováveis;
otimização de recursos não-renováveis;
descarte de lixo centrado na renaturalização dos materiais;
permanência de indivíduos e comunidades em seus limites de espaços
ambientais.
Em nosso entendimento, o desafio para a efetivação da sustentabilidade sócio-
ambiental impõe equilíbrio entre os diversos interesses econômicos, os interesses
sociais e individuais, além do respeito aos limites funcionais do meio natural. Numa
perspectiva unicamente econômica, por exemplo, o mercado entenderá o meio
ambiente como uma fonte de proveitos ou uma forma de rentabilidade para seus
investimentos, numa utilização progressiva das reservas naturais até seus limites de
exaustão. Já na perspectiva social, os indivíduos encaram o meio natural como uma
fonte de satisfação para suas necessidades, sejam estas no âmbito da alimentação, do
abrigo, lazer ou até mesmo no campo simbólico. A condução dos diversos interesses
acerca do meio natural, contudo, não deve interferir nos processos de retro-
alimentação dos ecossistemas, que estão diretamente associados à sua capacidade de
auto-regulação e à continuidade da vida. É preciso diferenciar bens de renda e
capital, onde os primeiros se referem a valores monetários e os últimos são bens
21
insubstituíveis, sem os quais a vida é inviabilizada, por exemplo, fauna, flora,
atmosfera, água etc.
Como aponta Schmidheiny (1992), desenvolvimento é mais do que crescimento ou
uma simples mudança quantitativa. Ele parte de uma premissa de mudança centrada
fundamentalmente na qualidade. Além disso, segundo o autor, o desenvolvimento
sustentável requer sistemas políticos e econômicos que contemplem uma
participação efetiva de pessoas comuns, consumidores, homens de negócio,
fazendeiros, trabalhadores comuns etc., considerando que estes devem ser os
verdadeiros tomadores de decisão no dia a dia de uma sociedade. Em outras palavras,
isto significa cooperação em todos os níveis sociais de organização, desde decisões
governamentais até questões empresariais, tendo em vista os impactos diretos na vida
das pessoas.
Entretanto, um comparativo entre os valores estabelecidos pela sociedade ocidental
revela que, nas décadas de 60 e 70, por exemplo, enquanto havia uma preocupação
em divisão de bens, especialmente devido à prosperidade da economia, nos anos
seguintes, entre os anos 80 e 90, houve um aumento generalizado do medo da
escassez, apesar da continuidade da cultura da abundância, o que levou a uma
mudança de visão saindo da justiça social e do bem-estar para um modelo de
materialismo centrado no individual (HOOKS, 2000). Esta mudança implicou num
forte distanciamento entre ricos e pobres.
22
A partir da década de 90, discussões alavancadas em fóruns mundiais, como a
Organização das Nações Unidas (ONU), tendo como marco a Conferência de Meio
Ambiente e Desenvolvimento Humano, Rio 92, delinearam as premissas para a
sustentabilidade ambiental, partindo-se da capacidade de equilibrar as demandas de
utilização dos recursos naturais sem levá-los a escassez para usos futuros. Para Sachs
(2000), entretanto, o desenvolvimento sustentável deve considerar outras dimensões
de sustentabilidade além das abordagens de caráter unicamente ambientais, tais
como: sustentabilidade social, cultural, ecológica, ocupação ordenada do espaço,
sustentabilidade econômica e política, além das relações de paz entre os diversos
países. Admitimos que as necessidades das populações devem ser consideradas tanto
em seus aspectos materiais como não-materiais, na busca da equidade de padrões
entre os integrantes de uma sociedade.
Como aponta Schumacher (1977), razões e valores de ordem não econômica, como,
por exemplo, sociais, ambientais, estéticos, morais ou políticos, são considerados
antieconômicos e, portanto, julgados pela economia como aspectos de interesse
secundário, e até mesmo irrelevantes na tomada de decisões, uma vez que não são
capazes de converterem-se em valores monetários, lucros. O autor afirma ainda que
“[...] o homem moderno não se experiencia a si mesmo como uma parte da natureza,
mas como uma força exterior destinada a dominá-la e a conquistá-la”
(SCHUMACHER, 1977, p. 12). Contrariamente a esta perspectiva, acreditamos que
questões como aumento coletivo de renda e propriedade privada, acesso aos recursos
públicos e investimentos diversos, satisfação e qualidade de vida, direitos individuais
e acesso aos recursos naturais, liberdade e respeito às tradições culturais, entre
23
outras, devem, obrigatoriamente, ser referendadas nas tomadas de decisão, públicas
ou privadas, que busquem a sustentabilidade. Ademais, deve-se sempre buscar a
oferta de serviços sociais e acessos coletivos aos bens naturais a partir de decisões
com base em consenso, ao invés de imposições e confrontações por meio da defesa
exclusiva de interesses de caráter individual (BADSHAH, 1996).
O chamado “modelo de sustentabilidade” é entendido como um sistema de balanços
e trocas ecológicas, formado de recursos finitos, em que a degradação de um de seus
elementos leva obrigatoriamente a um colapso do conjunto (MARGOLIN, 2002b).
No âmbito biofísico, a sustentabilidade é entendida como sendo a tendência dos
ecossistemas em balancear, de modo dinâmico, seus padrões de consumo de matéria
e energia, e evoluir a um ponto em que a vida possa continuar. Entendemos que a
sustentabilidade assume papel decisivo no projeto de desenvolvimento dos povos,
revelando fortemente uma necessidade de planejamento e integração das políticas
públicas e decisões empresariais com parâmetros de desenvolvimento que envolvam
conjuntamente as pessoas, a economia e a natureza. A figura 2.1 apresenta, por fim, a
definição de sustentabilidade adotada como base teórica para as ações de pesquisa
desenvolvidas nesta tese:
Figura 2.1 – Definição de sustentabilidade
24
2.2 O PAPEL DO DESIGN
Existem profissões mais danosas do que o design industrial,
mas apenas muito poucas. (PAPANEK, 1985, p. ix, tradução
do autor)
A atividade de design está fortemente relacionada com o planejamento e concepção
de produtos e serviços, por meio da determinação das qualidades técnicas, formais,
comunicacionais, organizacionais, semânticas e simbólicas dos objetos. De modo
geral, a prática do design tem sido tradicionalmente conduzida de forma a atender a
demandas por melhores produtos, otimização de processos, melhoria de preços,
qualidade formal e funcional dos objetos, eficiência na linha de produção e,
sobretudo, maior lucratividade para as empresas. Alguns autores definem o processo
de design industrial como um conjunto de decisões tomadas para solucionar
requerimentos específicos em produtos ou serviços, isto é, processos, normalmente
associadas às etapas de manufatura, distribuição, marketing, consumo e utilização de
um determinado artefato ou sistema (ROSE, 2000). Esta forte orientação para o
mercado estabelece como objeto central do trabalho do designer o desenvolvimento
de soluções para os problemas dos sistemas industriais, definição de materiais,
melhoria de processos produtivos e, de modo crescente, uma atenção especial para o
uso mais adequado e seguro dos produtos industrializados.
A prática do design industrial proporciona avanço nas relações de consumo além da
esfera usuário / produto (ou seja, modelo consumista), tradicionalmente associada a
esta atividade no âmbito dos países industrializados, incorporando valores de ordem
cultural, como, por exemplo, indígena e africana (MAGALHÃES, 1998). Percebe-se,
25
entretanto, que a produção industrial e, portanto, os métodos de design, associam-se
quase exclusivamente à produção de artefatos, partindo-se de uma perspectiva
isolada da tecnologia (SOUZA e SANTOS, 2003). Tal perspectiva propõe que as
questões resultantes dos impactos da produção industrial sobre a sociedade humana,
bem como as questões de ordem ecológica, sejam resolvidas a partir do advento da
técnica, das soluções desenvolvidas em laboratório e pelo poder de aparatos
tecnológicos. Todavia, como afirma Bollmann (2001), o fenômeno da ação antrópica
sobre o meio natural constitui-se numa relação complexa, originada por demandas
individuais e coletivas, fundamentadas em aspectos psicológicos, culturais, sociais e
econômicos, que refletem decisivamente no modelo de exploração e manejo dos
recursos naturais disponíveis, exigindo grande capacidade de entendimento na busca
por soluções e respostas, além de uma percepção abrangente das mais diversas
dimensões do problema.
O pesquisador Margolin (2002b) aponta que, distante de um modelo de
desenvolvimento em harmonia com a natureza e a sociedade, aqueles que operam na
ótica do mercado acreditam que o desenvolvimento de produtos e a inovação são as
principais engrenagens da economia global, considerando, sobretudo, que a força da
inovação tecnológica é capaz de ampliar as experiências humanas, considerando
também que a satisfação que a aquisição de bens proporciona não tem limites,
estando integralmente ligada à noção de felicidade. Este comportamento é
exemplificado por meio da postura dos produtores em constantemente adicionar
refinamentos aos produtos e, mais grave, intervir na criação de mercados exclusivos
e especializados para o consumo de objetos, muitas vezes relacionados
26
exclusivamente à satisfação do luxo individual, atendendo a um universo cada vez
menor de pessoas. Acreditamos, juntamente com o autor, que o confronto entre os
aspectos morais e filosóficos em relação às questões tecnológicas tende a um vácuo
intelectual e social, distante de uma solução pacífica.
Diante disso, o processo de design de produtos, enquanto atividade geradora de
massa (mass maker), e, portanto, fortemente relacionada ao chamado “mundo
artificial”
1
, requer considerações mais profundas, além de uma ótica exclusivamente
centrada em valores econômicos. Partindo-se do princípio de que a atividade de
design visa responder a situações complexas “inventando cursos produtivos de ação”,
espera-se que os designers migrem do domínio exclusivo da produção de objetos
materiais para o domínio do desenvolvimento de soluções para sistemas e ambientes
naturais, de trabalho, lazer e aprendizagem, “[...] sustentando, desenvolvendo e
integrando os seres humanos ao ambiente ecológico e cultural, dando forma a esses
ambientes quando desejável e possível, ou adaptando-os quando necessário”
(BUCHANAN, 1992, p. 14, tradução do autor).
Desta forma, o conceito apresentado por Buchanan (1992) claramente coloca o
processo de design numa esfera diferente da que vem sendo proposta desde os
primórdios da Bauhaus, que propunha que a forma de um objeto deveria sempre
seguir sua funcionalidade:
1
MARGOLIN, Victor. The politics of the artificial: essays on design and design studies. Chicago and
London: The University of Chicago Press, 2002.
27
O design é uma nova arte liberal de cultura tecnológica que tem a
capacidade de conectar e integrar conhecimentos de grande
utilidade tanto para as artes quanto para as ciências, em aspectos
orientados aos problemas e propósitos do presente (BUCHANAN,
1992, p. 6, tradução do autor).
Ademais, como aponta Sousa (2000, p. 165), existe uma grande potencialidade na
atividade de design que possibilita uma “postura pró-ativa em relação ao ambiente”,
resultando em menor degradação ambiental e em otimização de investimentos em
tecnologias de controle e remediação do processo produtivo, como filtros, estações
de tratamento, controle de poluentes do final da produção. De acordo com o autor
Orr (2002, p. 4), “[...] desenhar com a natureza disciplina as intenções humanas a
partir do aumento de conhecimento sobre o funcionamento do mundo enquanto
sistema físico”.
Entretanto, percebe-se que, apesar de alguns esforços promovidos no âmbito de
associações profissionais como o International Council of Societies of Industrial
Design (ICSID), a exemplo das discussões alavancadas no congresso Humane
Village (Aldeia Humana), em Toronto, 1997, a maioria dos designers ainda está
comprometida unicamente com os objetivos dos negócios de seus clientes,
acreditando na impossibilidade de uma ação individual para a melhoria da qualidade
de vida de todos. O idealizador da Aldeia Humana, Alexander Manu, aponta a
responsabilidade social do trabalho do designer como forma de retorno aos valores
que nos tornam “humanos”, atuando positivamente em benefício da humanidade
(MANU, 1995). Segundo Margolin (2002a), um passo importante na transição de
modelos de desenvolvimento é o reconhecimento de que, historicamente, o design
tem praticado ações de contingência ao invés de agir perante as necessidades, “[...]
28
respondendo a circunstâncias e situações particulares e ignorando outras
possibilidades” (MARGOLIN, 2002a, p. 97, tradução do autor).
Margolin (2002a) aponta, ainda, a necessidade da mudança do paradigma dominante
de atuação unicamente do design para a concepção da forma dos objetos. Faz-se
necessária, segundo o autor, a percepção clara da insuficiência desta contribuição
perante os diversos problemas a serem solucionados. Neste sentido, torna-se
fundamental a importância da atuação interdisciplinar, que possibilita o trabalho dos
designers juntamente com outros profissionais (engenheiros, cientistas sociais,
biólogos), o que não tem sido efetivamente experimentado nas escolas de design.
O projeto de design visa atendimento a diversas demandas, além da ótica econômica,
funcionando como elo entre as tecnologias e as ciências humanas, atuando,
fundamentalmente, na relação tecnologia / indivíduo (MAGALHÃES, 1998). O
autor Findeli (1994), por exemplo, distingue quatro universos de atuação do design
que refletem relações entre os artefatos e o ambiente:
1) Tecnocosmo;
2) Biocosmo;
3) Sociocosmo; e
4) Semiocosmo.
O primeiro universo de relações diz respeito ao ambiente e os artefatos propriamente
ditos, onde os produtos entram em contato com as cadeias naturais de
29
desenvolvimento da vida. O segundo universo de relações associa-se às interações e
trocas entre os diversos ecossistemas do planeta (por exemplo, montanhas, rios,
mares, plantas, animais). O chamado “sociocosmo” está intimamente relacionado
com a coletividade humana, refletindo o modo pelo qual as sociedades interagem
entre si na busca por desenvolvimento em um sentido mais abrangente. Por fim, o
quarto universo de relações entre os artefatos e o ambiente inclui o mundo simbólico,
onde interações são estabelecidas, sobretudo, por meio de aspectos não-materiais, por
exemplo a diversidade cultural. Como aponta Findeli (1994, p. 55), “[...] qualquer
produção de um novo artefato [...] causará distúrbios em cada um destes universos”.
Desta forma, é essencial a atuação do design a partir do conhecimento obtido de
diversas disciplinas da ciência, tais como antropologia, ergonomia, semiótica,
sociologia, psicologia, de forma a estudar os objetos e o ambiente tomando por base
suas relações com os quatro universos citados, entendendo que a expressão das
necessidades, desejos, aspirações e intenções humanas é a base estrutural do processo
de design, contribuindo, fundamentalmente, para estabelecer o chamado bem-estar
humano.
Diante do exposto, no âmbito desta tese, o design é entendido a partir de três eixos
conceituais considerados essenciais para a efetivação de projetos que possam, ao
mesmo tempo, determinar soluções economicamente viáveis, harmoniosas do ponto
de vista ambiental e, sobretudo, socialmente responsáveis. O primeiro eixo
conceitual refere-se à intenção do projeto, entendendo-se que este aspecto
possibilitará um direcionamento semântico apropriado à solução do problema a ser
enfrentado pelo designer. O segundo eixo conceitual refere-se à atitude de projeto,
30
onde o profissional de design buscará se colocar na condição de usuário e irá buscar
a humanização necessária para o acesso de todos à solução desenvolvida. Por fim, o
eixo conceitual da cultura permitirá ao designer respeitar a identidade de cada grupo
social envolvido no problema de projeto, desenvolvendo uma identidade cultural
própria. A figura 2.2 apresenta a definição de design proposta nesta tese.
Figura 2.2 – Definição de design
2.3 DESIGN ORIENTADO À SUSTENTABILIDADE
Considerando-se o universo da produção industrial, como definem Spangenberg e
Bonniot (1998), um sistema produtivo somente pode ser considerado ambientalmente
sustentável caso a quantidade de recursos utilizados para gerar bem-estar seja
permanentemente restrita ao tamanho e à qualidade que não excedam as fontes de
matéria-prima e energia, particularmente aquelas advindas dos sistemas naturais.
Apesar deste entendimento, como apontam McDonough e Braungart (2002), as
indústrias modernas ainda operam segundo paradigmas que foram desenvolvidos
sem uma percepção mais abrangente da natureza, sem levar em conta a saúde, a
complexidade e a interconectividade dos sistemas naturais na agenda do design
industrial. Ademais, segundo Walker (2005), apesar da disponibilidade de
tecnologias sofisticadas, a abordagem atual do design, produção e distribuição dos
produtos continua sendo a mesma, onde os recursos são extraídos da natureza,
31
processados, transformados em partes, montados como produtos, distribuídos em
larga escala, usados, descartados e, por fim, substituídos.
Este sistema unidirecional, conhecido na literatura especializada como do berço a
cova, não possibilita, na maioria das vezes, um processamento após o uso do
produto, como, por exemplo, o conserto, o recondicionamento, a redistribuição ou,
até mesmo, o reaproveitamento dos materiais e componentes que, possivelmente,
poderiam ser úteis para uma outra cadeia de produção, ou seja, segundo ciclo de vida
do produto. Segundo Mcdonough e Braungart (2002), o modelo de produção do
berço à cova resultou em consequências devastadoras para a natureza, considerando
que aquilo que se consome é muito pouco em relação ao que é desenhado para dar
suporte a sua comercialização, por exemplo, no que diz respeito à venda de alimentos
e líquidos. Grande parte de seu invólucro é, portanto, jogada “fora”. O problema,
segundo os autores, é que “fora” é um lugar que, na verdade, não existe. Este modo
linear de design desenvolve produtos e matéria que acabam, normalmente, em aterros
e incineradores, impactando significativamente o reaproveitamento de elementos que
poderiam servir de base para outros sistemas produtivos. Mcdonough e Braungart
(2002) comentam o fato de que noventa por cento dos materiais usados no modelo de
produção do berço à cova torna-se lixo ou resíduo quase imediatamente após sua
aquisição nos Estados Unidos. Mais ainda, a maioria dos produtos é desenhada para
atender a uma demanda de vida de curto prazo, considerando ser mais barato
comprar um produto novo do que repará-lo ou atualizá-lo para um novo consumo.
Como observam os autores:
32
A intenção de design por trás da infraestrutura atual da indústria é
fazer um produto atraente, que seja de baixo custo, atenda os
requisitos legais, funcione suficientemente bem e dure apenas o
bastante para atender as expectativas do mercado. Tais produtos
preenchem os desejos dos fabricantes e também algumas
expectativas dos consumidores. Mas, em nossa perspectiva,
produtos que não são desenhados particularmente para a saúde das
pessoas e do ambiente são ininteligentes e inelegantes, os quais
chamamos de produtos crus (MCDONOUGH e BRAUNGART,
2002, p. 37, tradução do autor).
Ademais, produtos de alta tecnologia, por exemplo, são compostos muitas vezes de
materiais de baixa qualidade, tais como plásticos baratos e tintas, produzidos
globalmente por pequenos fabricantes, normalmente oferecendo condições de
trabalho que agridem a saúde humana (MCDONOUGH e BRAUNGART, 2002).
Assim, um produto desenvolvido, em princípio, para um público de alto padrão de
renda, pode ocultar uma série de questões críticas para o padrão de sustentabilidade
necessário para uma convivência mais harmoniosa entre homem e natureza.
Em seu trabalho de pesquisa, Walker (2005) reconhece uma relação entre a estética
do produto, o sistema de produção e práticas insustentáveis, identificando uma série
de fatores que poderiam caracterizar um produto como danoso ao ambiente e/ou à
sociedade em função de sua forma ou método produtivo. Walker (2005, p. 50)
propõe um conjunto inicial de 7 (sete) identificadores estéticos, como estratégia
preliminar de análise da adequação dos bens de consumo com relação a práticas
insustentáveis, como segue:
Culturalmente neutro ou moderado;
Oculto e disfarçado;
33
Livre de impurezas, polido e frágil;
Frio e distante;
Curvo, arredondado e suave;
Da moda ou atraente; e
Completo e inviolável.
As principais observações do autor na busca por uma “tipologia estética” são
apresentadas na tabela 2.1.
Tabela 2.1 – Tipologia estética para produtos insustentáveis
IDENTIFICADOR
ESTÉTICO
DESCRIÇÃO RELACIONAMENTO COM
PRÁTICAS INSUSTENTÁVEIS
Culturalmente
Neutro
ou Moderado
Esta é uma função da produção
em massa para distribuição
global. Preferências e distinções
culturais ou regionais são
geralmente omitidas do design,
pois o mesmo produto precisa
ser aceitável para muitos
usuários diferentes ao redor do
mundo.
Na sua produção e design, produtos
que exibem tal neutralidade estética
freqüentemente falham em responder
às particularidades de lugar que são
tão importantes para a noção de
desenvolvimento sustentável.
Oculto e Disfarçado
O exterior do objeto é percebido
como um “envelope” ou
invólucro. É geralmente uma
“casca”, criada por molde ou
compressão, que tem pouca
relação com a função ou forma
da parte interna e funcional do
produto.
Isto é uma barreira para o
entendimento do produto. Isto não
apenas dificulta o conserto do produto,
como também pode contribuir com
uma falta de sintonia e de apego com
as nossas posses materiais, pois não as
compreendemos e não nos
relacionamos com elas, exceto em um
nível muito superficial.
Livre de Impurezas,
Polido e Frágil
Isto depende de processos de
produção de intensa energia e
capital e geralmente do “uso de
uma única vez” dos recursos
finitos, para se obter formas e
superfícies perfeitas.
Com o uso diário, a aparência
“perfeita” rapidamente se torna
arranhada ou danificada – o que pode
provocar uma insatisfação do usuário
e um descarte e substituição
prematuro do produto. Além disto, a
oferta de tais produtos ao mercado
requer uma forte confiança em
processos de embalagem. Assim, este
tipo de design ajuda a estimular um
consumismo desnecessário e contribui
para o desperdício de produção.
Continua...
34
Tabela 2.1 – Tipologia estética para produtos insustentáveis (continuação)
IDENTIFICADOR
ESTÉTICO
DESCRIÇÃO RELACIONAMENTO COM
PRÁTICAS INSUSTENTÁVEIS
Frio ou Distante
Os materiais e acabamentos de
muitos produtos contemporâneos
são estranhos e distantes em
termos do entendimento geral do
usuário.
Isto também é uma barreira para o
entendimento do produto. Esta
qualidade pode contribuir com uma
ausência de facilidade ou conforto de
alguém para com suas posses
materiais e, conseqüentemente, afetar
o quanto ele as valoriza (ou não). Por
sua vez, isto pode contribuir para um
senso de desvalorização para com os
objetos materiais e aumentar o seu
descarte.
Curvo, arredondado
e Suave
As formas exteriores de muitos
produtos contemporâneos,
geralmente feitas de plásticos,
distinguem-se como formas que
podem ser prontamente
moldadas por injeção.
Conseqüentemente, beiradas
grosseiras são eliminadas, cantos
são arredondados e as formas se
tornam suavizadas.
Esta estética “moldada” é indicativa
de processos de produção em massa
de intensa energia e recursos que são
danosos ao meio ambiente e,
freqüentemente, problemáticos
socialmente. A produção é
normalmente feita em economias com
baixos salários e péssimas condições
de trabalho para os trabalhadores,
além de possuírem políticas
ambientais fracas. Assim, esta
característica estética pode ser
indicativa de práticas ambientalmente
e socialmente insustentáveis.
Da Moda ou
Atraente
Muitos dos chamados “bens de
consumo duráveis” são
desenhados de forma que
incentivam e levam a tendências
de vida-curta para o produto –
por meio de atualizações e trocas
desnecessárias de forma e cor.
Quando tais produtos “permanentes”,
cujo descarte é problemático, são
desenhados de forma a rapidamente se
tornarem desatualizados, então isto é
um indicativo de práticas
irresponsáveis e falta de respeito para
com o meio ambiente, pelo uso de
recursos finitos. Tais designs
provocam uma “obsolescência
estética”, desperdício e descarte
prematuros.
Continua...
35
Tabela 2.1 – Tipologia estética para produtos insustentáveis (conclusão)
IDENTIFICADOR
ESTÉTICO
DESCRIÇÃO
RELACIONAMENTO COM
PRÁTICAS INSUSTENTÁVEIS
Completo e
Inviolável
Esta qualidade estética é uma
função da apresentação geral do
objeto em termos de suas formas
sofisticadas, acabamentos e
materiais.
A maioria dos produtos exige uma
aceitação passiva por parte do usuário.
Há pouco ou nada a ser adicionado ou
contribuído pelo usuário. Mesmo o
reparo de um simples arranhão ou
quebra não é bem-vindo e isso tornaria
difícil conseguir-se um resultado
satisfatório. Assim, o usuário não
pode de fato “possuir” o objeto se ele
não pode se engajar com este,
compreendê-lo (exceto em um nível
muito superficial), ou fazer sua
manutenção e cuidar dele. Mais uma
vez, isso pode incentivar uma
desvalorização do objeto por parte do
usuário e levar ao seu descarte
prematuro. Este aspecto está
relacionado com a
“profissionalização” do design e com
o fato das descrições físicas dos
nossos bens materiais terem sido
efetivamente tiradas das mãos das
pessoas comuns e locais, ou
comunidades regionais.
Fonte: (Walker, 2005)
Partindo-se dos estudos preliminares de Walker (2005), pode-se concluir que, apesar
das observações acerca da estética dos produtos insustentáveis serem consideradas
gerais, a maioria dos objetos manufaturados em larga escala, normalmente pequenos
e baratos, tendem a demonstrar as características estéticas identificadas, chamando
atenção dos designers e tomadores de decisão quanto às possibilidades de mudanças
de direção logo na fase de projeto de design, diminuindo sensivelmente os riscos de
danos e agressões sócio-ambientais decorrentes deste tipo de sistema produtivo.
Como aponta Walker:
As habilidades criativas e de visualização dos designers lhes
concedem um papel único e potencialmente influente no processo
de reestruturação dos objetos de modo que nos seus materiais,
manufatura e aparência eles estejam de acordo com, e sejam uma
36
expressão de, princípios sustentáveis e de valores humanos
significativos. Podemos inferir disto que objetos ‘sustentáveis’
serão marcadamente diferentes dos produtos existentes, e serão
identificados através de uma tipologia estética bastante diferente.
(WALKER, 2005, p. 53).
Tratando sobre a importância de se reaproveitar materiais e de se focar projetos de
design a partir do ciclo de vida dos produtos, Walker (2005, p. 56) afirma que “[...]
fazer uso do que já existe pode ser uma base para uma abordagem de design eficaz e
geralmente mais benigna [...]”, sobretudo na busca de novos parâmetros para a
sustentabilidade do meio ambiente e da sociedade.
Partindo-se deste princípio, percebe-se que, cada vez mais, empresas e líderes
corporativos estão convencidos que associar o futuro de seus negócios de modo
integrado a princípios de desenvolvimento sustentável é uma garantia de retorno e
perenização de suas atividades. Segundo Schmidheiny (1992), as principais questões
que envolvem este redirecionamento das estratégias empresariais para os parâmetros
de sustentabilidade são:
reconhecimento de que não pode haver um crescimento econômico de longo
prazo a menos que seja ambientalmente de forma sustentável;
confirmação de que produtos, serviços e processos devem contribuir para um
mundo sustentável;
a manutenção da credibilidade da empresa para com a sociedade está
intimamente associada a operações comerciais que respeitem os limites de
sustentabilidade dos ecossistemas;
37
a oferta e a significação de benefícios além dos salários aos funcionários
resulta em desenvolvimento significativo das capacidades de desenvolvimen-
to individual e empresarial, bem como o aumento da produtividade;
a percepção de resultados mais eficazes a partir da prática de adesão às
iniciativas da empresa de forma voluntária ao invés de coerções regulatórias
por parte dos gestores.
Ademais, como aponta Schmidheiny (1992), as empresas que prosperarão em um
mundo sustentável serão aquelas que melhor superarem seus competidores no
sentido de evidenciar para sociedade valores adicionais para seus produtos, por
exemplo, requisitos ambientais, ações de voluntariado, redução de matéria-prima in
natura, indo além do atendimento dos interesses de clientes e investidores.
McLennan (2004) comenta que o design sustentável pode ser visto como uma reação
consciente em oposição a práticas consideradas insustentáveis, entendendo a
sustentabilidade como uma espécie de código de responsabilidade no qual deve-se
buscar orientação para uma mudança plena de comportamento, sobretudo na esfera
do projeto. Segundo o autor, o “[...] design sustentável é uma filosofia de design que
procura maximizar a qualidade do ambiente construído e, ao mesmo tempo,
minimizar ou eliminar impactos negativos no ambiente natural” (McLennan , 2004,
p. 4, tradução do autor). A filosofia pode, aqui, ser entendida como uma abordagem
do design enquanto estratégia de desenvolvimento de projetos, englobando aspectos
e decisões além da estética dos produtos e da mera definição de materiais. Ademais,
o design sustentável relaciona-se com uma intenção de projeto, onde a preocupação
38
com o ambiente deve contribuir para ampliar a qualidade do produto em respeito aos
ecossistemas com os quais ele interage e ao desenvolvimento humano, tanto em
aspectos econômicos, quanto culturais e sociais, de forma abrangente. Neste sentido,
o autor McLennan (2004, p. 38) propõe seis princípios fundamentais para a
implementação de um design sustentável:
PRINCÍPIO I : Respeito à sabedoria dos sistemas naturais;
PRINCÍPIO II: Respeito para com as pessoas;
PRINCÍPIO III: Respeito aos lugares;
PRINCÍPIO IV: Respeito aos ciclos de vida;
PRINCÍPIO V: Respeito à energia e aos recursos naturais; e
PRINCÍPIO VI: Respeito aos processos.
O primeiro princípio do design sustentável busca um aprendizado realizado
diretamente a partir da natureza, considerando-a como um modelo inspirador para
ações projetuais, estabelecendo-a como padrão para os valores essenciais de
equilíbrio dinâmico capaz de julgar atitudes inovadoras corretas e, por fim,
assumindo-a como a grande mentora da vida. Este princípio estabelece a observação
do comportamento da natureza como a fonte de todas as nossas inovações. Apesar de
não se tratar de uma idéia nova, este posicionamento traz para o design a perspectiva
de busca de bem-estar associado ao respeito aos limites naturais de suporte a vida, o
que representa, essencialmente, um eixo central para os parâmetros de
sustentabilidade exigidos em um projeto. McLennan (2004) comenta ser este um
princípio com o qual a comunidade do design está menos familiarizada, sobretudo
39
devido ao fato deste posicionamento caminhar em um sentido oposto ao que se
ensina e se reconhece nas sociedades atuais. Segundo o autor, “[...] a natureza tem o
poder de nos ensinar tudo de que precisamos enquanto designers [...]”
(MCLENNAN, 2004, p. 43), acreditando que a chave para a maioria das questões da
contemporaneidade encontra-se no aprendizado sobre o funcionamento e a evolução
adaptativa dos sistemas naturais.
O segundo princípio do design sustentável tem foco no respeito para com as pessoas,
considerando que todos os produtos e sistemas desenvolvidos pelos designers devem
ser direcionados para o atendimento das demandas por bem-estar dos seres humanos,
isto é, o projeto dirigido ao homem. Apesar de ser este um princípio básico na
atividade de design, percebe-se que muitos projetos negligenciam estas demandas de
bem-estar coletivo e, muitas vezes, limitam suas soluções para apenas alguns poucos
usuários, fundamentalmente aqueles denominados de público-alvo ou, mais
simplesmente, consumidores. Segundo o autor, o design sustentável deve possibilitar
a criação de ambientes e produtos saudáveis e, ao mesmo tempo, capazes de nutrir
outros sistemas na manutenção da qualidade de vida, considerando os seres humanos
de modo integrado às dinâmicas da natureza (MCLENNAN, 2004).
O terceiro princípio do design sustentável refere-se ao respeito aos lugares. Segundo
o autor, a palavra “lugar” é usada para descrever as complexas inter-relações entre
fatores climatológicos, biológicos, geológicos e topográficos que estabelecem as
diferenças que podemos perceber ao nosso redor e que compõem nosso legado
cultural (MCLENNAN, 2004). Nesta perspectiva, este princípio assume uma
40
importância essencial para o respeito à cultura de um povo, onde o design pode atuar
como ferramenta de desenvolvimento de soluções e tecnologias que honrem as
diferenças que existem entre os lugares, não interfiram negativamente em mudanças
climáticas, biológicas ou topográficas do ambiente natural e que possibilitem uma
harmonização estética entre o mundo artificial e a experiência local. Como preconiza
McLennan (2004, p. 53-54, tradução do autor), “[...] o diálogo entre espaço, clima e
ecologia eleva o objeto de design a um plano maior”.
O respeito aos ciclos de vida é apresentado como o quarto princípio do design
sustentável. Este princípio chama a atenção dos designers para o fato de que os seres
humanos têm uma conexão com o meio natural, podendo criar profundos problemas
para si mesmos e para o ambiente a partir da interferência indiscriminada nos ciclos
de continuidade da vida. Como apontam os autores McDonough e Braungart (2002),
[…] existem dois metabolismos discretos no planeta. O primeiro é
o metabolismo biológico, ou a biosfera – os ciclos da natureza. O
segundo é o metabolismo técnico, ou a tecnosfera – os ciclos da
indústria, incluindo a deposição de materiais tecnológicos em
espaços naturais. Com o design correto, todos os produtos e
materiais manufaturados pela indústria irão alimentar de modo
seguro estes dois metabolismos, provendo nutrientes para algo
novo. [...] De modo a manter estes dois metabolismos saudáveis,
valorados e bem sucedidos, grande cuidado deve ser tomado
buscando-se evitar a contaminação de um metabolismo para o
outro (MCDONOUGH e BRAUNGART, 2002, p. 104).
O princípio de respeito aos ciclos de vida, portanto, retoma o que foi proposto por
James Lovelock (2001) como a Teoria de Gaia, onde os sistemas de trocas no planeta
Terra agem como um gigantesco ser vivo e a dinâmica dos organismos vivos se auto-
regula em função da manutenção das condições de continuidade da vida, envolvendo
41
diversos fatores como temperatura, humidade, gases e precipitações. Entretanto,
como aponta McLennan (2004, p. 67, tradução do autor), “[...] muito do que nossa
sociedade cria é, na verdade, danoso para os ciclos de vida, estabelecendo zonas de
morte ao invés de locais de vida”. Neste sentido, o design deve desenvolver soluções
adequadas a um novo padrão de sustentabilidade, relacionado com a disposição de
materiais e ciclos de vida que respeitem os metabolismos fundamentais para a vida
em nosso planeta.
O quinto princípio do design sustentável é representado pelo respeito à energia e aos
recursos naturais. Aqui, entende-se que a energia é um recurso de valor inestimável,
cujo uso deve sempre vir acompanhado de grande responsabilidade, uma vez que
vivemos em um mundo com recursos finitos. Assim, os projetos de design devem ser
implementados a partir da lógica de otimização do consumo energético necessário ao
funcionamento de determinado sistema, em conjunto com uma gestão coordenada do
uso de recursos naturais para o processo produtivo, sobretudo aqueles considerados
indispensáveis para a manutenção da vida, como água e solo. Este princípio também
reforça a idéia de que nossa economia industrial é tão somente uma parte de uma
economia maior, a chamada economia natural
2
, onde a degradação da natureza
implica a destruição da base de suporte natural à renovação dos recursos e,
consequentemente, da capacidade de manutenção da vida de forma abrangente.
Por fim, o sexto princípio do design sustentável relaciona-se com o respeito aos
processos, com foco específico em métodos de produção, entendendo que “[...] caso
42
queiramos mudar um resultado, devemos primeiramente mudar o processo que leva a
este resultado” (MCLENNAN, 2004, p. 86, tradução do autor). Neste sentido, uma
atenção primordial deve ser dada ao modus operandi do design, uma vez que suas
decisões podem ser crucialmente diferentes a partir dos diversos métodos adotados
no processo de prospecção e manufatura de produtos. Assim, a formação de um
designer consciente e orientado aos princípios de sustentabilidade depende da adoção
de métodos projetuais que considerem, desde a esfera do projeto, os impactos e
responsabilidades do design para com a natureza e a sociedade. Estes métodos
envolvem questões que requerem uma maior integração do pensamento do designer
com o de outros profissionais de diversas áreas, buscando uma atuação além da sua
disciplina específica, ou seja, atuação transdisciplinar, partindo sempre de soluções
que visem a eficiência ecológica e social do design, no sentido mais amplo do termo.
Como aponta Schmidheiny (1992), a eco-eficiência não é atingida apenas por
mudanças tecnológicas, mas sim por profundas mudanças nos objetivos e valores que
movem as atividades corporativas, além de mudanças em suas práticas diárias e
ferramentas utilizadas neste processo.
Avançando a discussão sobre os caminhos para a sustentabilidade do design, o autor
Orr (2002) aponta algumas questões associadas a uma abordagem mais ecológica no
processo de desenvolvimento de produtos e design:
Precisamos deste produto?
Em quais aspectos este produto pode ser ético?
2
Fonte: HAWKEN, Paul; LOVINS, Amory; LOVINS, L. Hunter. Natural capitalism: creating the
43
Quais impactos ele trará para a comunidade?
É justo?
Pode ser reparado ou reutilizado?
Quais são os custos totais do produto durante sua vida útil?
É possível torná-lo melhor?
A partir do pensamento de Orr (2002, p. 14), percebe-se que os problemas
ambientais resultam de uma espécie de “descalibragem” entre as intenções humanas
e os resultados ecológicos, evidenciando, fundamentalmente, um problema de
design. Neste sentido, Orr (2002) comenta que a qualidade de um produto deve ser
medida a partir do modo pelo qual ele consegue, eficientemente, “acomodar
desejos”, e como a melhoria destes desejos irá afetar aquilo que desejamos. Segundo
o autor, “[...] quando os humanos desenham com a ecologia em mente, existe uma
grande harmonia entre suas intenções e os lugares em particular onde estas intenções
ocorrem, preservando tanto sua diversidade cultural quanto biológica” (ORR, 2002,
p. 27, tradução do autor).
Apesar do “modelo de sustentabilidade” ter contribuído para a formação de diversos
partidos verdes, especialmente na Europa e nos Estados Unidos, servindo de temática
central em diversas conferências das Nações Unidas e formatando os programas de
diversos governos em nível mundial, segundo Margolin (2002b, p. 89), sua
inabilidade em “[...] acomodar a dinâmica do crescimento da produção e do
comércio” em economias globalizadas e emergentes tem intensificado seu
next industrial revolution. New York: Back Bay Books, 1999.
44
descrédito, de um lado, por parte de empresas e facções de mercado, de outro lado,
dos diversos segmentos da sociedade, especialmente em países industrializados. Em
consonância com a tese dos autores do relatório “The first global revolution”
3
, de
1991, uma sociedade sustentável não pode surgir com foco exclusivo no mercado,
uma vez que estas forças produtivas não atingem os objetivos e a satisfação das
necessidades de todos, mas apenas de uma minoria.
No âmbito do design, como aponta Manzini (1994), as dificuldades de
implementação de um “modelo de sustentabilidade” exigem do designer um “novo
radicalismo”, tendo em vista que o simples redesign dos produtos existentes
apresenta-se como uma solução insuficiente, quando o caminho encontra-se na
drástica mudança nos padrões de consumo. Neste sentido, Manzini propõe três
cenários de mudança:
a. os designers devem obrigatoriamente desenvolver produtos mais duráveis
enquanto artefatos tecnológicos e culturais;
b. há uma forte necessidade de mudanças comportamentais, saindo da mera
aquisição de produtos para a utilização efetiva de serviços; e
c. deve existir um esforço progressivo para consumir menos objetos.
Esta radical e, muitas vezes, irreal redução do consumo clamada pelo “modelo de
sustentabilidade” tem-nos levado a um impasse mundial. Entretanto, o design
apresenta um papel decisivo na busca de modelos alternativos de desenvolvimento,
3
Fonte: KING, Alexander; SCHNEIDER, Bertrand. The first global revolution: a report by the
45
especialmente os que considerem os valores culturais, sociais, éticos, morais e
ambientais como pilares para a construção de modelos civilizatórios. O poder do
design está em gerar metodologias e técnicas de intervenção, partindo de
observações, análises, invenções, desenho e definição de formas e também aspectos
comunicacionais capazes de promover uma prática projetual mais propositiva, isto é,
pró-ativa, ao invés de uma prática meramente demonstrativa, ou seja, reativa
(MARGOLIN, 2002a). Assim, a perspectiva de sustentabilidade irá requerer do
designer um objetivo permanente no sentido de simplificar a produção e, sobretudo,
assumir as demandas sociais e ambientais no planejamento de produtos e serviços.
2.4 TENDÊNCIAS METODOLÓGICAS NA BUSCA POR
SUSTENTABILIDADE NO ÂMBITO DO DESIGN
Analisando-se as práticas do design orientado ao ambiente, e, em particular, a busca
por sustentabilidade, em nível mundial, percebe-se que diversos movimentos e
trabalhos científicos contribuíram significativamente para ampliar o conceito e a
necessidade de se orientar o trabalho dos designers para uma atuação em maior
conformidade com a proteção ambiental e o respeito às expectativas e valores da
sociedade. Com base nos estudos preliminares de Fuller (1970), Schumacher (1977),
Papanek (1985), Maldonado (1972, 1990, 1991 e 1993), Bonsiepe (1978 e 1983),
Graedel e Allenby (1995), Allenby (1999), Margolin (2002a; 2002b e 2004) e
McDounough e Braungart (2002), entre outros, apresenta-se uma cronologia
Council of the Club of Rome. New York: Pantheon, 1991.
46
resumida destas ações e movimentos na busca de consolidação do design com ênfase
na sustentabilidade do meio ambiente de modo abrangente (figura 2.3).
Figura 2.3 – Cronologia de ações e movimentos para consolidação do design orientado a
sustentabilidade
Um dos primeiros métodos de projetação orientados à proteção ambiental foi o
chamado green design, que surgiu com as críticas quanto às necessidades de controle
e limitação dos impactos da atividade industrial, promovidas por autores como
Buckminster Fuller, a partir da década de 1920, e Victor Papanek, nas décadas de
1960 e 1970.
47
Buckminster Fuller inicia o processo de orientação do design para o meio ambiente
propondo energicamente uma nova atuação para designers e demais mentores do
sistema de produção industrial no sentido de atingir os objetivos da maioria da
população, ao invés de convergir unicamente para a fabricação voltada apenas para
consumidores efetivos e potenciais. Como afirma o autor, “[...] no princípio da
indústria de produção em massa, o significado do indivíduo enquanto máquina de
produção diminui continuamente e sua importância enquanto consumidor aumenta
proporcionalmente” (FULLER, 1970, p. 145, tradução do autor). Neste sentido,
Buckminster Fuller preocupa-se com a tendência de escassez dos recursos naturais,
sobretudo a diminuição das fontes de alimentação diante do crescente contingente
populacional do planeta, buscando uma atuação da indústria orientada para o
princípio do “fazer mais com menos”, partindo de questões como o reaproveitamento
de matéria-prima, a otimização no uso de energia para os sistemas produtivos e a
conversão de tecnologias de fabricação para manufaturas com menor impacto no
ambiente natural.
Desta forma, Fuller (1970) apresenta o conceito de Designer Inclusivo
(Comprehensive Designer): “[...] o Designer Inclusivo está preocupado com a
antecipação de todas as necessidades humanas por meio da tradução das invenções
mais atuais [...] incorporando nas soluções todo o desenvolvimento científico [...]”
(FULLER, 1970, p. 174, tradução do autor), trazendo a solução de design e
desenvolvimento de produtos para o domínio da eficiência, exigindo do designer
uma orientação ampla, envolvendo desde a condição de artista, passando a inventor,
mecânico, economista e estrategista evolucionário.
48
Fuller (1970) buscou a compreensão do papel do design na resolução dos principais
problemas mundiais, adotando alguns princípios fundamentais:
revisão e análise das fontes mundiais de energia;
definição de usos mais eficientes dos recursos naturais como, por exemplo, os
metais; e
integração de ferramentas como forma de melhorar a eficiência dos sistemas
industriais.
Ademais, o pioneirismo de B. Fuller pode ser percebido diante da base conceitual
estabelecida para seu trabalho projetual, estruturada a partir do que o autor
denominou de 3 (três) “componentes complexos” (FULLER, 1970, p. 177):
Não se pode jogar fora;
A energia cósmica não pode ser exaurida; e
Não apenas melhorar o uso, mas atuar de forma a exceder a qualidade.
Desta forma, a intensa orientação do design para questões focadas no bem-estar
humano, que caracterizaram o trabalho de Buckminster Fuller desde o início dos
anos 20 até meados dos anos 70, serviu de inspiração para outros autores e projetistas
do Século XX, no sentido de atuar com uma maior responsabilidade para com a
sociedade. Como define este autor,
49
[...] a função do design na sociedade é criar condições originais
para o emprego sistemático de características de comportamento
apropriadas, a partir de itens definidos pela ciência e que
constituem o universo, aplicando novos graus de potencial
desenvolvimento de soluções para os problemas evolucionários do
processo largamente definido como ‘homem’” (FULLER, 1970,
p.189, tradução do autor).
Por outro lado, no campo da economia, alguns pensadores iniciaram um processo de
reflexão quanto à necessidade de redução da escala de produção voltada para o
consumo como uma estratégia para equilibrar o aumento exponencial do contingente
populacional do planeta em relação aos bens de suporte necessários para a
manutenção da vida. Desde a publicação o relatório Limits to Growth (Limites para
Crescer), promovido pelo chamado Clube de Roma, e, fundamentalmente, a partir do
trabalho de Fritz Schumacher, intitulado Small is beautiful: economics as if people
mattered, uma nova retomada do processo de produção e design de produtos com
orientação para aspectos de proteção ambiental, bem como a busca por tecnologias
menos agressivas para o processo produtivo, envolveu pensadores em todo mundo.
Entretanto, o início das preocupações da atividade de design com orientação ao
ambiente e a sociedade limitaram-se a aspectos de ordem ambiental, caracterizando o
chamado Design Ecológico. Como aponta Orr (2002, p. 4), “[...] o design ecológico é
um conceito amplo que agrega ciência e artes práticas com ética, política e
economia”. Ademais, a atuação do design com o enfoque ecológico descreve um
“[...] conjunto de tecnologias e estratégias por meio das quais a sociedade utiliza o
mundo natural para construir cultura e alcançar suas necessidades” (ORR, 2002, p.
21). Portanto, o desafio do design ecológico é mais do que uma simples reengenharia
voltada para melhoria de eficiência, assumindo uma busca de redução das taxas de
50
destruição e depleção dos recursos do ambiente. Este desafio do design, tanto do
ponto de vista metodológico, quanto político, ainda está por ser alcançado.
Papanek (1985), por exemplo, considera o designer um espécie “perigosa”, visto ser
este responsável em criar diversos tipos de resíduos poluentes e, sobretudo, materiais
e processos agressivos ao ambiente. O autor propôs uma nova prática do design
como alternativa para a mera proposição de produtos para uma cultura de consumo,
especialmente envolvendo as pessoas nos países em desenvolvimento, convidando-as
a criar produtos com tecnologia de baixa complexidade, voltados ao atendimento de
necessidades sociais e atentando-se aos problemas de ordem ambiental. Esta atuação
do design, com utilização de recursos buscados muitas vezes a partir de resíduos de
sistemas produtivos, inicia uma orientação do designer para aspectos de
reaproveitamento centrados em valores de sustentabilidade, considerados relevantes
na prática projetual do design até os dias atuais.
No cenário nacional, algumas ações isoladas foram realizadas na busca de uma
atuação de design mais de acordo com os princípios de sustentabilidade ambiental e
social, muitas das quais motivadas pelo trabalho iniciado por Gui Bonsiepe (1978),
sem estabelecer, efetivamente, um marco teórico para a esta área de pesquisa em
design.
4
As discussões sobre a prática do design com orientação para a sustentabilidade
4
Pode-se considerar, também, o trabalho de Lina Bo Bardi, particularmente o trabalho realizado na
Bahia, como uma ação pragmática de resgate da cultura popular, fortemente relacionada a uma prática
de design orientado para o social. Fonte: BARDI, 1994.
51
marcaram-se, também, pelo surgimento de um novo ramo da ciência chamado de
Ecologia Industrial, principalmente com o trabalho dos autores Graedel e Allenby
(1995). Como aponta Orr (2002, p. 22), este novo campo de estudo, a ecologia
industrial, propõe “[...] resenhar o processo de manufatura buscando refletir a
maneira pela qual os ecossistemas funcionam”. Esta linha de pesquisa busca
determinar os meios pelos quais a sociedade humana pode, de modo racional e
deliberado, abarcar e manter uma considerável capacidade de funcionamento para os
sistemas naturais, tendo em vista as crescentes necessidades e transformações
econômicas, culturais e tecnológicas. Este método de pesquisa tem fundamentado os
estudos dos designers na busca por práticas sustentáveis. Segundo os autores do
método, uma consideração total no âmbito da ecologia industrial deve incluir, além
do escopo das atividades econômicas, os padrões e comportamentos de consumo,
uma vez que ambos impactam os sistemas naturais em diferentes escalas.
A partir dos conceitos desenvolvidos no âmbito da ecologia industrial, diversas
pesquisas foram conduzidas no sentido de aproximar o trabalho dos designers de
uma abordagem mais ecológica na produção industrial (novas práticas orientadas ao
reuso de materiais, reciclabilidade, remanufatura, minimização de fluxo de energia
na linha de produção), configurando o que se entende hoje por Design Orientado ao
Ambiente (Design for Environment – DFE). Este conceito é ampliado com os
estudos desenvolvidos por diversos pesquisadores, entre eles Manzini (1994; 1995 e
1998), Dumanowski (1995), Espinosa (1995), Tischner (1996), Charter (1997 e
2000), Papanek (1985), Schmidt-Bleek et. al (1998), Rose (2000), Margolin (2002a;
2002b), Souza (2002), Manzini e Vezzoli (2002), Souza e Pereira (2003), Santos
52
(2003), entre outros.
Dentro do processo de ecologia industrial, duas importantes metodologias podem ser
identificadas como abordagens evolutivas para o processo de design industrial:
a) Design orientado ao ambiente; e
b) Design para sustentabilidade.
O design orientado ao ambiente (Design for environment - DFE) tem um importante
papel em modelos de produção sustentável, isto é, modelos que compatibilizam de
modo adequado o uso, atualização, reuso, reciclagem e deposição de matéria e
energia, promovendo, sempre que possível, um ciclo fechado em seus sistemas
produtivos. É uma metodologia que integra um programa maior de gestão ambiental,
geralmente associado a exigências normativas ou demandas específicas de
competitividade em mercados internacionais, compondo sistemas de forte atuação
em proteção ambiental para as plantas industriais. A principal vantagem do DFE é a
possibilidade de respostas rápidas, no âmbito da tomada de decisões ainda na fase de
projeto, implicando significativamente em reduções de custos nas unidades fabris.
As decisões no âmbito do DFE influenciam toda cadeia produtiva, no sentido de
minimizar os impactos ambientais. De acordo com Souza (2002), este método pode
ser definido como um processo de design que leva fortemente em consideração o
desempenho ambiental, uma produção livre de riscos, danos e impactos, desde as
fases iniciais do projeto e geração de idéias, buscando otimização nos fluxos
mássicos e energéticos do sistema, especialmente caracterizando o uso eficiente de
53
materiais, técnicas e processos produtivos, na busca por atender as demandas
mercadológicas e, ao mesmo tempo, minimizar os resíduos e danos à natureza.
Assim, o DFE consiste, basicamente, de inovações tecnológicas e metodologias de
projeto que auxiliam o designer na tomada de decisões, buscando soluções
economicamente viáveis e ecologicamente amigáveis.
Conceitualmente, Allenby (1999) apresenta três fases fundamentais para o design
orientado ao ambiente:
1) fase de inventário (inventory analysis);
2) fase de análise de impactos (impact analysis); e
3) fase de implementação de melhorias (improvement analysis).
Na primeira fase, é feito o detalhamento da área de abrangência do produto, com a
identificação das principais implicações ambientais do processo produtivo e o
levantamento dos materiais e fluxos mássicos resultantes da produção; na fase de
análise de impactos, os dados coletados são confrontados com as possíveis mudanças
ocorridas no entorno da fábrica e são eleitos eco-indicadores
5
para quantificação dos
custos e danos ambientais de cada ciclo (matéria-prima, manufatura, distribuição,
transporte, armazenamento, vendas, utilização e descarte); por fim, na fase de
5
No contexto da metodologia da Análise do Ciclo de Vida, o conceito de Eco-indicador descreve em
um único valor quantitativo uma medida do impacto ambiental causado ao longo de todo o ciclo de
vida de um determinado produto (ou de fases deste ciclo, sejam temporais, geográficas ou
tecnológicas). A metodologia envolve a agregação de diversos efeitos ambientais através de um
sistema de ponderação específico.
54
implementação, são determinadas as melhorias que a serem agregadas ao processo,
visando um aumento na performance ambiental do produto.
De modo amplo, uma reflexão sobre a necessidade de mudança na forma de atuação
do design buscando-se atingir uma perspectiva mais holística de projeto é
apresentada por Ekuan (1997):
O que o design pode e deve fazer é a proposta de uma nova
imagem e estilo de vida que seja compatível com o ambiente, tanto
em aspectos da vida diária quanto à vida global e a vida nos
espaços de trabalho (EKUAN, 1997, p. 4, tradução do autor).
Segundo Manzini e Vezzoli (2002), o conceito de desgin para sustentabilidade
(design for sustainability - DFS) está fortemente relacionado a capacidade de
promover sistemas de produção que possam responder a requisitos sociais e
ambientais em seus produtos, usando a menor quantidade possível de recursos
naturais, em comparação com os padrões atuais da indústria. Neste sentido, os
designers e decisores do processo produtivo devem coordenar todo produto, serviço e
comunicação que possa contribuir para clarificar as alternativas de design e soluções
técnicas que efetivamente atendam às inovações sociais e culturais. O método
também considera o ciclo de vida de matéria e energia e seus impactos nos sistemas
naturais e humanos, assumindo que um novo padrão de comportamento deve existir
no mercado, a um ponto em que os consumidores requeiram muito mais
conformidade para os produtos e serviços, tendo por base idéias ambientalmente
sustentáveis, socialmente aceitas e culturalmente atrativas (MANZINI e VEZZOLI,
2002).
55
O método de DFS tem como base a eficiência no processo de design, dando ênfase à
redução de materiais, escolha correta de matéria-prima e fontes de energia
ambientalmente amigáveis, otimização de etapas, desenvolvimento de produtos com
maior durabilidade, confiabilidade, facilidade de desmontagem e, sobretudo,
atendimento às expectativas da sociedade quanto ao uso, qualidade e isenção de
impactos dos produtos e processos industriais.
Neste sentido, Manzini e Vezzoli (2002) apresentaram quatro importantes fases para
implementação de projetos de DFS:
a. Redesign dos produtos e modelos existentes;
b. Atualização (upgrading) dos produtos;
c. Determinação de novos padrões de consumo; e
d. Sustentabilidade.
As duas fases iniciais estão normalmente integradas e podem ser conduzidas de
modo conjunto, dependendo do planejamento estratégico da empresa e das demandas
sociais envolvidas no desenvolvimento de produtos. A fase de redesign está
fundamentada em inovações tecnológicas nos processos produtivos, não demandando
necessariamente mudanças no comportamento de consumo. Nesta etapa, o papel do
designer é definir estratégias em conformidade com a metodologia de Análise do
Ciclo de Vida (Life Cycle Assessment - LCA), definindo produtos que atendam aos
parâmetros de redução, reuso e reciclagem.
56
A fase de atualização (upgrading) baseia-se em coletas de dados e informações,
buscando otimização de bens e serviços orientados à proteção ambiental, por
exemplo, definição de novos materiais, novos processos de produção, novo ciclo de
vida de produtos e materiais. Busca-se nesta fase o desenho de produtos
reconhecidos e validados pela sociedade e pelos mercados como ambientalmente
amigáveis. As inovações propostas são implementadas progressivamente nos
produtos e processos, partindo-se de alguns critérios ecológicos que demandam,
inclusive, algumas mudanças nos padrões de consumo e posicionamento de mercado.
Esta fase pode representar grande dificuldade de implementação devido à
necessidade de investimentos em estudos mercadológicos e, também, devido aos
riscos envolvidos com o lançamento de produtos não consolidados pelos
consumidores.
As duas últimas fases de projeto, como seus títulos bem as definem, demandam
novos padrões de consumo para serem consolidadas. As soluções são propostas que
envolvem o estilo de vida das pessoas, comportamento de compra e aquisição de
bens, reutilização de materiais e produtos, reciclagem e, fundamentalmente,
(re)educação. Apesar do fato de que as mudanças são difíceis e requerem tempo,
estas questões tornam-se decisivas rumo a um modelo de vida sustentável, o que
implica, necessariamente, em uma mudança de paradigmas culturais. O designer,
aqui, torna-se não mais o solucionador de problemas, mas sim o responsável pelas
propostas de novos cenários para a obtenção de satisfação e qualidade de vida
(MANZINI, 1995). Neste sentido, Findeli (1994) propõe a necessidade de mudança
da abordagem tradicional do design, isto é, design como atividade voltada para a
57
resolução de problemas, para uma abordagem sistêmica, ou seja, design como
atividade reguladora dos processos dinâmicos de mudança dos mais diversos
sistemas envolvidos na produção, uso, reciclagem, reutilização e deposição de
produtos.
A perspectiva de sustentabilidade, portanto, discute novos conceitos de
desenvolvimento. Mudanças devem ocorrer de modo imediato no sentido de frear as
degradações dos sistemas naturais e eliminar as ameaças à vida propriamente dita.
De acordo com Meadows et al. (1992), as principais considerações necessárias para
se atingir práticas sustentáveis envolvem três eixos estratégicos de ação:
a. População;
b. Procura por bem-estar; e
c. Tecnologias de eco-eficiência.
Desta forma, as soluções orientadas à sustentabilidade refletem, de um lado,
demandas sociais por bens e serviços e, de outro lado, respostas tecnológicas de
inovação em processos. De acordo com Manzini e Vezzoli (2002), as ações de eco-
redesign são consideradas positivas ao ambiente, porém insuficientes para se
tornarem sustentáveis, visto que não representam per se mudanças nos padrões
culturais e de consumo. Neste sentido, a sustentabilidade somente pode ser atingida a
partir de novas práticas e tendências que considerem os principais aspectos que
determinam o funcionamento dos sistemas naturais e humanos propriamente ditos.
58
Desta forma, as necessidades de mudança na busca por sustentabilidade abrangem
aspectos relacionados ao ambiente, à sociedade, à ética, à cultura, à economia etc.
Propõe-se, portanto, uma mudança de foco na tecnologia para atuar diretamente no
ambiente e no bem-estar social e, por fim, manter seus esforços para a continuidade
evolutiva deste sistema, pressupondo-se que a vida deve ser a fonte de inspiração e a
razão de ser da técnica. Com base nos estudos preliminares de Souza (2003),
apresenta-se na Figura 2.4 um exemplo desta tendência, enfatizando a orientação do
processo de design para sustentabilidade em relação ao design tradicional:
Figura 2.4 – Mudanças de orientação metodológica na busca por sustentabilidade
(modificado - SOUZA, 2003)
Em conformidade com o pensamento de Margolin (2002a), acreditamos que o design
mudará a partir do momento em que os designers desenvolverem uma nova
consciência. Neste sentido, um grande passo, e também uma dificuldade, segundo o
autor, é a desagregação da atividade da cultura de consumo e a busca por terrenos
onde possa repensar seu papel na mudança de modelos mundiais. Alguns obstáculos
identificados nesse processo por Margolin (2002a):
a. Crise do querer;
b. Crise da imaginação.
59
O primeiro obstáculo permanecerá enquanto os designers não se confrontarem com a
realidade à sua volta, determinando as ações individuais que podem contribuir para a
sustentabilidade global. No segundo caso, há pouca quantidade de exemplos de
projetos que podem inspirar outros designers a assumir a postura em prol da
sociedade sustentável. A maioria desses projetos, quando existentes, restringe-se às
academias ou a publicações profissionais, distanciando-se da maioria da população, o
que dificulta a discussão mais aprofundada acerca das soluções de problemas.
No próximo capítulo, são apresentadas discussões mais direcionadas ao
entendimento de uma atuação socialmente responsável por parte do designer, na
busca de se estabelecer um marco teórico para este tema de pesquisa.
CAPÍTULO III
RESPONSABILIDADE SOCIAL DO DESIGN
CAPÍTULO III
RESPONSABILIDADE SOCIAL DO DESIGN
3.1 NECESSIDADE DO DESIGN
A partir da fundamentação teórica apresentada no capítulo II, desta tese, percebe-se
que a atuação do designer tem se limitado, de modo geral, a aspectos relacionados às
melhorias no desempenho dos sistemas produtivos e na estrutura estético-funcional
dos artefatos industrializados, sobretudo no que diz respeito a sua qualidade de uso.
Entretanto, o impacto dos produtos em ecossistemas e na cultura, de modo amplo,
não tem sido devidamente considerado no âmbito projetual, revelando a urgência na
busca de outros rumos para o design, no sentido de se atingir todas as dimensões de
sustentabilidade necessárias para a continuidade da vida, isto é, ambiental, social,
econômica e institucional.
De acordo com Findeli (1994), na perspectiva do usuário, o espaço dos artefatos
pode ser considerado a partir de dois pólos: de um lado, o uso baseado nas
60
qualidades instrumentais, utilitárias ou funcionais de um produto; de outro lado, há o
uso relativo às qualidades simbólicas, rituais e relativas ao status. Os designers
podem desafiar estas abordagens mudando a orientação do projeto para além destes
dois pólos e buscando atingir possibilidades maiores voltadas para a “satisfação” dos
usuários, o que significa, sobretudo, considerar, no projeto de design, aspectos
simbólicos, instrumentais, ecológicos, sociais e valores de natureza ética
6
,
no processo de tomada de decisões a respeito de um sistema produtivo ou processo
de design. Como resposta a esta questão, Findeli (1994) aponta uma necessidade de
mudança na abordagem tradicional do design, enquanto atividade voltada para a
solução de problemas ligados à produção de artefatos, para uma abordagem
sistêmica, ou seja, uma atividade reguladora dos processos dinâmicos de mudança
dos mais diversos sistemas, além de aspectos unicamente materiais dos produtos.
Como aponta o autor,
[...] o critério de escolha em design não surge, como em ciência, a
partir da verdade: uma solução de design nunca é verdadeira ou
falsa; ela é mais ou menos apropriada, mais ou menos aceitável,
correta, satisfatória e, portanto, depende de uma avaliação de
julgamento de natureza essencialmente qualitativa ou retórica
(FINDELI, 1994, p. 61, tradução do autor).
Partindo-se deste princípio, o pensamento do design pode ser voltado para uma
atuação em questões mais amplas, além da esfera puramente tecnológica. De acordo
com o pensamento de Findeli (2001), o paradigma de desmaterialização do mundo
tornou-se uma importante questão para o processo de design, propondo o abandono
do foco único do design com relação ao produto propriamente dito.
6
No âmbito desta tese, entende-se por ética o conjunto de princípios que norteiam ações e atitudes
humanas orientadas para o bem-estar e a qualidade da vida no planeta, na busca de uma co-existência
harmoniosa e perene entre suas diversas espécies e ecossistemas, com base em valores estruturados a
partir da responsabilidade e da solidariedade para com o outro.
61
Segundo Findeli (1994), as principais conseqüências desta mudança no pensamento
projetual são:
a) Abandono do ideal de um sistema em equilíbrio em favor de uma concepção
dinâmica de sistemas;
b) Revisão das noções atuais de “necessidade”
7
;
c) Modificação do modelo “intervencionista” de design, substituindo-o por uma
visão “reguladora”.
Ademais, de acordo com Findeli (1994), os diferentes estágios do trabalho de
deliberação moral
8
como paradigma para o processo de design e tomada de decisão
quanto a aplicação de tecnologias de produção são:
Formulação do problema;
Identificação e clarificação dos valores de suporte ao universo investigado;
Determinação de uma hierarquia de valores;
Tomada de decisões;
Justificativa e explanação acerca das posições adotadas; e
Busca de uma solução coletiva.
7
Ver, por exemplo, os trabalhos de autores como Maldonado (1991) e Fry (2005).
8
No âmbito desta tese, entende-se por moral, os princípios de ordenação estabelecidos por uma
determinada comunidade para regular as relações entre seus diversos membros, refletindo um
conjunto de valores capaz de manter seu funcionamento socialmente equilibrado em longo prazo.
62
Neste sentido, o pensamento atual do design, primordialmente voltado para um
desenvolvimento lógico e racional no âmbito do projeto, irá se voltar para aspectos
da coletividade que originalmente não faziam parte, ou pelo menos não de modo
sistemático, dos parâmetros de concepção estrutural do desenvolvimento de
produtos. Assim, cabe ao designer uma revisão de valores, buscando atender às
demandas sociais, culturais, ambientais, tecnológicas e econômicas, dentro da
abordagem sistêmica, assumindo valores capazes de suprir em sua essência as
necessidades dos usuários, entendendo claramente que o problema de projeto integra
um conjunto de situações de ordem complexa, isto é, com um desenvolvimento não-
linear de ações e respostas.
Ademais, Findeli (2001, p. 16) propõe um novo modelo de design inspirado na
ciência dos sistemas, na teoria da complexidade e na prática filosófica, visando
atender demandas de ordem ambiental, social, cultural e ética no processo projetual
de design, consequentemente aumentando o escopo da atividade e os limites onde o
design é praticado, reestruturando sua base inquisitiva. Nesta perspectiva, o autor
aponta para o fato de que “[...] um sistema, especialmente um sistema humano ou
social, é melhor entendido a partir de dentro, por meio de uma abordagem qualitativa
e fenomenológica [...]” (FINDELI, 2001, p. 12), trazendo para a esfera do projeto
uma responsabilidade e consciência no sentido de assumir que toda vez que um
projeto de design é implementado, de alguma forma, há uma transformação no
entorno social.
63
A reflexão sobre o resultado prático do projeto de design parte, fundamentalmente,
do entendimento conceitual de necessidade. Como afirma Maldonado (1993, p. 14), a
função do design é “[...] mediar dialeticamente entre necessidades e objetos, entre
produção e consumo”. Neste sentido, Fry (2005) propõe que o entendimento do
verdadeiro papel do design de produtos está associado a uma percepção de valores
associados ao que chamamos “necessidade”, na busca por uma proposta de vida mais
harmoniosa com os limites do meio ambiente: “[...] devemos nos libertar das
‘necessidades’ que nos prendem a produtos e ‘estilos de vida’ que produzem danos
ambientais” (FRY, 2005, p. 63). Na visão do autor, a necessidade está sempre vindo
de fora para dentro, mais do que uma busca interna individual por satisfação. Esta
colocação nos leva a refletir sobre o potencial risco dos designers estabelecerem
modos de vida e, portanto, “necessidades” nem sempre de acordo com os princípios
de sustentabilidade e continuidade em longo prazo da vida em comunidade. Como
aponta Santos,
[...] a plena realização do homem, material e imaterial, não
depende da economia, como hoje entendida pela maioria dos
economistas que ajudam a nos governar. Ela deve resultar de um
quadro de vida, material e imaterial, que inclua a economia e a
cultura (SANTOS, 2000, p. 6).
Nesta perspectiva, a ação de design está intimamente relacionada com a construção
de modos de vida e deve ser continuamente revisada, desde a formação do designer
até sua ocupação e prática profissional, seja no campo privado ou em instituições de
caráter público.
64
Partindo-se dos estudos preliminares de Fry (2005), pode-se inferir que a
“necessidade” do design, imposta aos usuários/consumidores, sempre estará
relacionada a uma intenção, limitada por uma visão de mundo e materializada de
modo a “satisfazer” uma lacuna, pessoal ou coletiva, diante dos diversos caminhos a
serem percorridos pelo ser humano na busca por bem-estar, entendido aqui de forma
ampla. Assim, o papel do design torna-se extremamente relevante diante das
possíveis conseqüências de uma intenção de projeto destituída de “responsabilidade”,
uma vez que a atitude para com os resultados do design deve ser o centro de uma
mudança cultural em busca de modelos mais adequados ao equilíbrio dinâmico do
ambiente e da sociedade.
Como conclui Fry (2005, p. 67), “[...] o fazer da ‘necessidade’ [...] é uma ausência na
história e teoria da cultura e do design [...]”, assumindo-se que o design reage ou gera
formações e percepções específicas de necessidade. Portanto, faz-se necessária uma
nova e urgente reflexão sobre como os projetos de design devem ser conduzidos,
sobretudo metodologicamente, no sentido de se atingir os objetivos de “satisfação”
das “necessidades” de modo integrado com práticas que respeitem a sustentação da
vida em nosso planeta.
O debate da ética, como aponta Manzini (1995), que se refere integralmente a algum
tipo de escolha, é difícil de ser articulado no âmbito da produção de objetos,
influenciada fortemente por decisões de ordem tecnológica, a partir de um sistema de
valores voltado para o consumo em grande escala. O autor chama a atenção para o
fato de ainda existir uma lacuna para o que se poderia chamar de “ética do design”,
65
ou seja, uma atitude de projeto capaz de articular valores relacionados à ciência da
tecnologia com as questões do bem-estar e, fundamentalmente, ao suporte da
qualidade de vida, de modo abrangente, em nosso planeta.
3.2 GESTÃO SOCIALMENTE RESPONSÁVEL
Os processos de gestão empresarial têm, mundialmente, perseguido a obtenção de
resultados financeiros como seu único propósito. Segundo Schumacher:
[...] a economia deslocou-se para o próprio centro de preocupação
do público, e desempenho econômico, expansão econômica, etc.,
tornaram-se o interesse constante, se não obsessivo, de todas as
sociedades modernas. [...] Se uma atividade foi estigmatizada
como antieconômica, seu direito à existência não é simplesmente
posto em dúvida, mas energicamente negado (SCHUMACHER,
1977, p. 35).
Enquanto unidade econômica, uma empresa utiliza-se de três fatores integrantes do
universo da produção para gerar um resultado expresso por um bem, um serviço ou
um direito: natureza, capital e trabalho. Estes resultados são, então, vendidos ao
mercado pelo maior preço lógico possível, sendo a diferença entre o valor de venda e
o custo de produção o proveito monetário denominado lucro. Reconhece-se,
portanto, que uma empresa é fundamentada primordialmente na proposta de geração
de lucros (MOREIRA, 2002).
Entretanto, de acordo com Moreira (2002), o advento do lucro traz para os negócios
o acréscimo de um valor indevido na relação entre as partes, dificultando a
interpretação e os limites da moral, visto que, no modelo original de economia
baseado em trocas de mercadorias e serviços, a chamada economia de escambo,
66
assumia-se um valor idêntico de resultado para satisfação a ambas as partes. Desta
forma, na busca por um relacionamento comercial que possa ser considerado justo, o
comportamento por parte da empresa baseado na igualdade entre as partes “[...] é a
única forma de obtenção de lucro com respaldo da moral” (MOREIRA, 2002, p. 31).
Assim, é exigido da empresa este tipo de orientação em todas as suas esferas de
relacionamento, tanto para com clientes, fornecedores, competidores, empregados e
mercado, quanto para com as obrigações com o governo e público em geral.
Para tanto, faz-se necessária a diferenciação, no universo empresarial, dos
significados de bens de renda e capital, onde os primeiros se referem a bens incutidos
de valor monetário, enquanto os últimos são bens insubstituíveis, sem os quais a vida
é inviabilizada, por exemplo, fauna, flora, atmosfera, água. Diante disso, como revela
o pensamento de Schumacher (1977), em uma atuação empresarial centrada
unicamente na lógica do lucro, valores de natureza não econômica, por exemplo,
sociais, estéticos, morais ou políticos, são considerados antieconômicos e, portanto,
julgados pela economia como aspectos de interesse secundário, e até mesmo
irrelevantes, na tomada de decisões, uma vez que não são capazes de converterem-se
facilmente em valores monetários, ou seja, lucros.
Apesar de existentes em diversas corporações e setores produtivos em todo mundo,
as ações relacionadas a ética e responsabilidade de empresas e stakeholders
9
para
com a sociedade têm sido isoladamente conduzidas sob a ótica da filantropia, na
9
O termo stakeholder refere-se aos diversos públicos e relacionamentos de suporte às atividades das
empresas, e.g. clientes, fornecedores, acionistas e sociedade em geral.
67
busca por levar a empresa a fortalecer sua imagem e reconhecimento corporativo
perante a sociedade.
A filantropia em si não se constitui em uma atitude ruim, mas apenas se refere a
doações materiais e respostas pontuais a problemas de ordem social, em um nível
básico de assistência. A busca por auxiliar comunidades em seu desenvolvimento e
sustentabilidade é, sim, uma tarefa muito mais específica e difícil. O conceito de
Responsabilidade Social é proposto aqui como parte integrante da gestão de
empreendimentos, particularmente no que diz respeito à responsabilidade das
corporações em atender as demandas de projetos ao mesmo tempo lucrativos e
capazes de atender e respeitar as expectativas da sociedade.
Ademais, espera-se de uma empresa socialmente responsável uma atenção contínua
para as expectativas de seus stakeholders, atuais e futuros, de modo conjunto com
uma visão permanente de sociedade sustentável como base de todas as tomadas de
decisões na prospecção de negócios (ASHLEY, 2003).
Segundo o Instituto Ethos (2003), a Responsabilidade Social é um modo de
condução de negócios vis a vis com uma significativa contribuição para o
desenvolvimento da sociedade
10
. Esta abordagem fortemente diz respeito a
considerações ambientais, culturais, sociais e éticas no processo de desenvolvimento
de produtos e serviços. A figura 3.1 apresenta a definição de Responsabilidade Social
adotada no âmbito desta tese.
68
Figura 3.1 – Definição de Responsabilidade Social
Este conceito levanta a necessidade de uma evolução no modus operandi da gestão
de empreendimentos, exigindo adequação dos valores da empresa diante de valores
impostos pela sociedade, o que, conseqüentemente, exige novos valores internos e
comportamento diferenciado para com os diversos públicos, em todas as transações
comerciais. Ademais, de acordo com Logsdon e Yuthas (1997), a evolução moral das
empresas relaciona-se fortemente com um desenvolvimento moral por parte de seus
diretores, da sociedade na qual a empresa está inserida, o equilíbrio dinâmico do
entorno ambiental, bem como a adequação às legislações, atendimento às
expectativas dos diversos setores envolvidos no processo produtivo, além de
evoluções no modo pelo qual as estratégias comerciais são formuladas e conduzidas.
A disseminação do conceito de responsabilidade social no entorno empresarial
permite criar uma nova postura da empresa, incorporando as demandas sociais
diretamente na gestão e, conseqüentemente, em atividades regulares como produção,
distribuição, recursos humanos e, sobretudo, no âmbito do projeto e, particularmente,
na esfera do design.
10
Fonte: http://www.ethos.org.br.
69
Ashley (2003) comenta a existência de 7 (sete) vetores para a responsabilidade social
das empresas, servindo de base para reflexões sobre os campos de ação que devem
ser fortalecidos no sentido de se atingir um modelo de gestão mais responsável
perante as demandas da sociedade.
A figura 3.2 apresenta graficamente os chamados vetores da responsabilidade social.
Figura 3.2 – Vetores da Responsabilidade Social das empresas (modificado – ASHLEY, 2003)
Ampliando o entendimento sobre a atuação responsável das empresas, o Instituto
Ethos de Empresas e Responsabilidade Social aponta que,
a Responsabilidade Social Empresarial (RSE) está além do que a
empresa deve fazer por obrigação legal. A relação e os projetos
com a comunidade ou as benfeitorias para o público interno são
elementos fundamentais e estratégicos para a prática da RSE. Mas
não é só. Incorporar critérios de responsabilidade social na gestão
estratégica do negócio e traduzir as políticas de inclusão social e de
promoção da qualidade ambiental, entre outras, em metas que
70
possam ser computadas na sua avaliação de desempenho é o
grande desafio (WEINGRILL, 2003, p. 13).
De acordo com Weingrill (2003), as práticas de responsabilidade social nas empresas
têm, progressivamente, reconduzido as ações desenvolvidas pelas organizações,
deslocando-as de uma atuação exclusivamente para a comunidade local, para um
eixo de ações que incluem práticas de interação com outros públicos, tais como:
colaboradores, consumidores, clientes, fornecedores, meio ambiente, governo e
sociedade.
No plano mundial, a Organização das Nações Unidas (ONU) desenvolveu um
conjunto de princípios de atuação empresarial intitulado Global Compact, que visa
“[...] mobilizar a comunidade empresarial internacional na promoção de valores
fundamentais nas áreas de direitos humanos, relações de trabalho e meio ambiente”
(WEINGRILL, 2003, p. 19). Este programa está fundamentado em 9 (nove)
princípios, inspirados em declarações internacionais:
Princípio 1 – As empresas devem apoiar e respeitar a proteção de direitos
humanos reconhecidos internacionalmente;
Princípio 2 – Assegurar-se de sua não-participação em violações desses
direitos;
Princípio 3 – As empresas devem apoiar a liberdade de associação e o
reconhecimento efetivo do direito à negociação coletiva;
Princípio 4 – Apoiar a eliminação de todas as formas de trabalho forçado ou
compulsório;
71
Princípio 5 - Apoiar a erradicação efetiva do trabalho infantil;
Princípio 6 – Apoiar a igualdade de remuneração e a eliminação da
discriminação no emprego;
Princípio 7 – As empresas devem adotar uma abordagem preventiva para os
desafios ambientais;
Princípio 8 – Desenvolver iniciativas para promover maior responsabilidade
ambiental; e
Princípio 9 – Incentivar o desenvolvimento e a difusão de tecnologias
ambientalmente sustentáveis.
No cenário nacional, o Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social
realizou, em 2003, uma interseção entre estes princípios propostos pela ONU com
sua base de indicadores de responsabilidade social, buscando uma universalização de
princípios e uma maior aproximação dos termos propostos internacionalmente. O
resultado desta iniciativa foi um conjunto de princípios que orientam o empresariado
nacional na busca de práticas de responsabilidade social mais efetivas e consistentes
a serem aplicadas como base para um maior reconhecimento das ações das empresas
no âmbito social.
A estrutura proposta pelos Indicadores Ethos de Responsabilidade Social é centrada
em 7 (sete) itens, como segue:
1) Valores e transparência;
2) Público interno;
3) Meio ambiente;
72
4) Fornecedores;
5) Comunidade;
6) Consumidores/clientes; e
7) Governo e sociedade.
Uma discussão mais específica sobre o modelo de definição dos indicadores
propostos pelo Instituto Ethos é apresentada no capítulo IV, desta tese.
As tabelas 3.1, 3.2 e 3.3 apresentam as interseções dos princípios da ONU com os
indicadores Ethos, quanto aos itens “Direitos Humanos”, “Relações de Trabalho” e
“Meio Ambiente”.
Tabela 3.1 - Pontos de interseção dos princípios de Direitos Humanos do Global Compact com os
Indicadores Ethos de Responsabilidade Social Empresarial
73
Fonte: (modificado - WEINGRILL, 2003)
Tabela 3.2 - Pontos de interseção dos princípios de Relações de Trabalho do Global Compact com os
Indicadores Ethos de Responsabilidade Social Empresarial
74
Fonte: (modificado - WEINGRILL, 2003)
75
Tabela 3.3 - Pontos de interseção dos princípios de Meio Ambiente do Global Compact com os
Indicadores Ethos de Responsabilidade Social Empresarial
Fonte: (modificado - WEINGRILL, 2003)
Percebe-se, a partir da análise destas tabelas, que o resultado destas interseções
amplia a discussão da atuação das empresas e seus impactos, considerando seus mais
diversos públicos, o que, fundamentalmente, representa um significativo avanço, no
76
que diz respeito às práticas de responsabilidade social adotadas no cenário brasileiro.
Estas idéias são entendidas como uma prioridade no sentido de atingir as
necessidades do presente, sem comprometer a habilidade das futuras gerações em
atingir suas próprias necessidades, de acordo com o que propõe a Comissão Mundial
de Desenvolvimento e Meio Ambiente das Nações Unidas.
Por outro lado, no que diz respeito à condução socialmente responsável dos
negócios, algumas normas jurídicas nacionais foram desenvolvidas no sentido de
fundamentar os comportamentos das empresas nos relacionamentos com seus
diversos públicos. Tais suportes legislativos são apresentados como fundamento para
reflexão acerca da conduta ética empresarial e, sobretudo, para balizar o
comportamento dos gestores de forma abrangente. A tabela 3.4 relaciona as
principais legislações de suporte às ações empresariais, com base nos estudos
preliminares de Moreira (2002):
Tabela 3.4 – Normas jurídicas para o relacionamento socialmente responsável de empresas com seus
diversos públicos
Relacionamento Normas Jurídicas Descrição
Clientes Lei n. 8.078 de 11/9/90
Lei n. 8.884/94
Lei n. 8.666/93
Decreto n. 1.171/94
Código Civil
Código Comercial
Código de Defesa do
Consumidor
Repressão ao Abuso de
Poder Econômico
Licitações Públicas
Código de Ética do Servidor
Público Civil Federal
-
-
Fornecedores Lei n. 8.884/94
Lei n. 9.609 de 19/2/98
Lei n. 9.279 de 14/5/96
Código Civil
Código Comercial
Repressão ao Abuso de
Poder Econômico
Proteção aos Programas de
Computadores
Lei de Patentes
-
-
Continua...
77
Tabela 3.4 – Normas jurídicas para o relacionamento socialmente responsável de empresas com seus
diversos públicos (continuação)
Relacionamento Normas Jurídicas Descrição
Concorrentes e
mercado
Lei n. 8.884/94
Lei n. 9.279 de 14/5/96
Repressão ao Abuso de
Poder Econômico
Lei de Patentes
Empregados Constituição Federal
Decreto-Lei n. 5.452 de 1/5/43
Arts. 50 e 60
Consolidação das Leis
Trabalhistas
Sócios e acionistas Lei n. 6.404/76 Lei das Sociedades
Anônimas, cujos
dispositivos principais são
também aplicáveis às
Sociedades por Quotas de
Responsabilidade Limitada.
Governo Decreto-Lei n. 2.848 de 7/12/40 Código Penal, art. 333,
corrupção contra funcionário
público.
Público em geral Lei n. 9.605 de 17/2/98
Lei n. 9.613 de 1/3/98
Lei de Crimes Ambientais
Punições às atividades de
Lavagem de Dinheiro.
Fonte: (modificado – MOREIRA, 2002)
Outro aspecto relevante no caminho para a atuação de acordo com os valores mais
abrangentes no plano empresarial, além do foco unicamente econômico, relaciona-se
a formulação e implementação de Códigos de Ética nas empresas. Como aponta
Moreira (2002):
O Código de Ética tem a missão de padronizar e formalizar o
entendimento da organização empresarial em seus diversos
relacionamentos e operações. A existência do Código de Ética
evita que os julgamentos subjetivos deturpem, impeçam ou
restrinjam a aplicação plena dos princípios (MOREIRA, 2002, p.
33).
Neste sentido, Melo Neto e Fróes (1999) propõem que as empresas concentrem a
mesma atenção ao público interno, i.e. empregados e colaboradores, em relação aos
esforços de atendimento de satisfação destinados aos clientes e público-alvo.
Algumas ações positivas na busca por um melhor relacionamento entre empresa e
78
público interno são, por exemplo, mecanismos de recompensas, participação nos
lucros e resultados dos negócios, socialização dos empregados, comunicação
transparente e eficaz dos princípios e valores empresariais, além de investimentos
permanentes em melhoria das condições de trabalho, auto-estima e bem-estar de
todos envolvidos no processo de produção. A transformação destes pontos em ações
concretas por parte das empresa é um desafio fundamental a ser enfrentado no campo
gerencial. Neste sentido, a prática do design apresenta-se como um elo estratégico,
capaz de trazer os valores definidos nos Códigos de Ética da esfera do discurso para
uma atuação mais pragmática, aplicada à melhoria das condições vividas no dia-a-dia
das corporações.
3.3 DESIGN E RESPONSABILIDADE SOCIAL
A diversidade da prática do Design facilita o diálogo entre os saberes científicos e as
necessidades sociais, especialmente devido ao envolvimento com diversas disciplinas
na formação deste tipo de profissional. Como aponta Magalhães (1998), o trabalho
do designer, principalmente devido a sua interdisciplinaridade de saberes, contribui
para a construção de uma identidade nacional, não apenas no que diz respeito à
indústria, mas também a outras formas de produção (artesanato, música, artes,
cultura regional). Assim, ao voltar-se para uma atuação socialmente responsável, o
profissional de design amplia as possibilidades de otimização de recursos, contribui
com a diminuição de contrastes e, sobretudo, viabiliza originalidade em soluções de
caráter social e cultural desde o início da fase projetual até as etapas de
implementação no mercado e interação com os usuários.
79
Em todos os aspectos citados acerca da atuação socialmente responsável no campo
empresarial, o trabalho dos designers pode ser considerado essencial, no sentido de
apresentar um grande potencial para aperfeiçoar a qualidade das ações e tomadas de
decisão, melhoria das funções comunicacionais entre os diversos setores da empresa,
aumento de desempenho e adequação do processo produtivo quanto ao atendimento
de normas e legislações internacionais, além do auxílio ao desenvolvimento de novos
métodos e tecnologias de gestão que contribuam para a qualidade das atividades
produtivas propriamente ditas.
Diversos autores têm dedicado atenção para comentar os processos gerenciais e seus
impactos no bem-estar social, particularmente os aspectos relacionados a uma gestão
antropocêntrica versus uma tomada de decisão ecocêntrica
11
. A perspectiva de
inclusão de métodos de design em ambos os modelos de atuação gerencial representa
uma importante maneira de desenvolvimento de negócios socialmente responsáveis,
visto que o designer tem seu foco principal de solução de problemas centrado nas
necessidades dos usuários, o que fortemente significa pensar primeiro no bem-estar,
ao invés de gerar alternativas centradas em rentabilidade que, necessariamente,
deverão ser adaptadas para que possam atender às expectativas humanas.
Deste modo, o conceito de Design Socialmente Responsável (Design for Social
Responsibility – DSR) entra em cena como um guia para as empresas se
referenciarem no sentido de atingir os objetivos de competitividade e, ao mesmo
11
Ver, por exemplo, os estudos preliminaries de Wood (1991), Logsdon e Yuthas (1997), Zadek
(1998), Ashley (2003), entre outros.
80
tempo, atender a algumas demandas de ordem social, por exemplo, qualidade de
vida, respeito ao ambiente, implementação de tecnologias limpas.
De acordo com Manzini e Vezzoli (2002), o projeto de design que busca a
sustentabilidade e a responsabilidade social está relacionado integralmente com a
capacidade de promover sistemas de produção capazes de responder a alguns
requisistos de ordem social e ambiental em seus produtos, usando o mínimo possível
de recursos naturais em comparação com os padrões atuais de produção e consumo.
Neste caso, o designer é chamado a oferecer eficiência no processo produtivo
focando a redução de materiais, escolhendo as fontes corretas e ambientalmente
adequadas para gerar e utilizar energia, otimizando e dando maior capacidade de uso
e durabilidade para os produtos e, particularmente, desenhando métodos de fácil
desmontagem dos materiais produzidos desde o início do processo de projetação.
Ademais, os designers também devem considerar o ciclo de vida e os impactos das
matérias-primas utilizadas na produção no que diz respeito às condições de qualidade
de vida necessárias aos seres humanos e aos diversos ecossistemas. Cada vez mais,
espera-se novos padrões de comportamento por parte dos usuários e consumidores, o
que tem exigido das empresas uma atuação mais adequada no que se refere a idéias
“[...] ambientalmente sustentáveis, socialmente aceitáveis e culturalmente atrativas”
(MANZINI e VEZZOLI, 2002, p. 36).
Por outro lado, segundo Cooper (2005), as abordagens relacionadas ao design
socialmente responsável têm sido realizadas sob várias perspectivas, com os
81
designers se dedicando a questões paralelas, sobretudo no que diz respeito à
qualidade de vida. Conforme discutido no capítulo II, desta tese, as aplicações mais
abrangentes do design orientado à sustentabilidade e, também, à responsabilidade
social ganharam força no início dos anos 60, quando diversos movimentos
procuraram abarcar questões sociais na prática de projeto. Abordagens como o Green
Design (PAPANEK, 1985), design feminista (WHITELEY, 1993) e a ecologia
industrial (GRAEDEL e ALLENBY, 1995) marcaram uma mudança de ótica para a
projetação industrial encorajando os designers a abandonar o projeto unicamente
orientado ao lucro para uma atuação mais ética e responsável, diante dos impactos
dos produtos no ambiente e na sociedade (COOPER, 2005).
A abordagem do design com orientação ao ambiente tem sido entendida como uma
atitude responsável por parte dos designers e tomadores de decisão, tentando
minimizar os impactos e danos relacionados às atividades nas plantas industriais e
núcleos produtivos. Embora estes métodos contribuam para a melhoria de
desempenho das empresas, agindo como vetores na busca de práticas mais
sustentáveis, de modo geral, eles não são suficientemente adequados para dialogar
com as necessidades das comunidades e sociedade de forma ampla. A comunicação
com comunidades se apresenta como um aspecto muito mais específico do que as
práticas comunicacionais entre empresas, clientes e fornecedores revelam. No âmbito
desta tese, acredita-se que alguns aspectos metodológicos do processo de design
podem fortemente auxiliar no que diz respeito ao entendimento e coleta de
informações entre as partes, empresa e comunidade.
82
Nesta perspectiva, e com base nos estudos preliminares de Mendonça (2003), a
empresa responsável deve planejar e agir de modo a abarcar diversas dimensões de
responsabilidade, como segue:
a. Estratégias transparentes;
b. Público interno como objetivo permanente;
c. Respeito ao meio ambiente;
d. Atendimento às necessidades dos usuários e consumidores;
e. Respeito para com as expectativas das comunidades; e
f. Adequação legal, segundo os princípios impostos pelo governo e sociedade
civil.
Primeiramente, a perspectiva de estratégias transparentes reflete o esforço das
empresas para com um planejamento de atividades socialmente responsáveis. Isto
significa discutir os objetivos do negócio com base em uma avaliação dos resultados
da gestão e reportando claramente as decisões tomadas, de acordo com as
expectativas da sociedade. No que diz respeito a esta fase, o profissional de design
pode contribuir para melhorar a comunicação das decisões e estratégias do corpo
diretivo para com os diversos públicos relacionados com a atividade empresarial,
desenvolvendo, por exemplo, manuais, displays, e outros veículos de comunicação
no sentido de facilitar o entendimento adequado dos valores e práticas da empresa.
Uma segunda dimensão de responsabilidade das empresas, mas não menos
importante, diz respeito aos seus empregados e colaboradores (público interno).
83
Este aspecto pode ser visto como uma parte essencial da atividade empresarial
propriamente dita, onde ter o bem-estar como objetivo permanente deve ser uma
marca integrada aos valores da companhia. Aqui, o designer pode também
desenvolver canais de comunicação no sentido de facilitar a relação entre diretores,
stakeholders e colaboradores.
Um terceiro aspecto dimensional da responsabilidade corporativa se refere aos
impactos ambientais da produção, que devem ser progressiva e continuamente
reduzidos até a meta de zero impacto, ou o mínimo possível. Esta questão exige
esforços extra por parte dos designers e tomadores de decisão, uma vez que o
planejamento ecológico passa a ser a base fundamental do conceito de projeto,
envolvendo escolha correta de materiais produtivos, redução de demandas de energia
com utilização de fontes renováveis, além do desenvolvimento de sistemas de
produção capazes de atender as necessidades de qualidade de produtos em conjunto
com os princípios de proteção do meio ambiente. Neste sentido, diversos métodos de
design têm sido implementados com sucesso, segundo o critério de otimização do
ciclo de vida do produto (ecodesign, design para reciclagem etc.).
A quarta dimensão de responsabilidade apresentada como base para a empresa
responsável diz respeito ao atendimento das necessidades dos usuários e
consumidores, o que se apresenta como um ponto decisivo em um sistema de
manufatura, exigindo-se inovação tecnológica para a oferta de produtos e serviços
com alto padrão de qualidade. O design, enquanto ferramenta de auxílio à inovação
84
tecnológica, atua neste aspecto, diretamente com equipes multidisciplinares, na
prospecção de idéias e soluções adequadas para cada fase do processo produtivo.
Outro aspecto importante enquanto estratégia socialmente responsável é a relação
entre empresas e comunidades, avaliando-se, aqui, os impactos das ações
empresariais na qualidade de vida e, sobretudo, nos valores culturais das pessoas.
Conforme citado, as ações de design contribuem para posicionar os objetivos das
empresas diante das necessidades imediatas dos usuários e/ou consumidores, visto
ser este o seu principal foco de intervenção.
Finalmente, o respeito legal e a adequação do sistema produtivo às normas e
princípios governamentais devem ser integrados no sistema gerencial propriamente
dito como aspecto fundamental de conformidade com as práticas de responsabilidade
social corporativa. Neste sentido, os métodos de design contribuem para a coleta de
informações e comunicação de valores adequados às necessidades culturais dos
usuários e consumidores dos produtos e serviços ofertados. Acredita-se que este seja
o mais importante e inovador aspecto a se seguir, de modo a desenvolver alternativas
de projeto centradas em práticas de sustentabilidade e soluções de design socialmente
responsáveis.
Deste modo, as empresas devem planejar seus objetivos atendendo seus interesses de
lucratividade e, ao mesmo tempo, ouvindo e entendendo as necessidades das
sociedades. Aqui, os designers podem oferecer métodos adequados na prospecção de
85
soluções e respostas, atuando como um “radar” na busca de atendimento às
necessidades dos usuários.
Uma abordagem mais pragmática das possibilidades de atuação dos designers no que
diz respeito às práticas de responsabilidade social das empresas é proposta por
Cooper (2005), evidenciando diversos caminhos e possibilidades de contribuição,
necessários para uma mudança efetiva da participação deste profissional na melhoria
de processos e práticas sociais, dialogando de modo sistemático com outras áreas.
A figura 3.3 apresenta áreas de atuação propostas por Cooper para uma abordagem
mais responsável dos designers.
Figura 3.3 – Áreas de atuação do Design Socialmente Responsável (COOPER, 2005)
86
Como aponta Cooper (2005), a responsabilidade social corporativa tem se
desenvolvido como forma de obrigação para as empresas, considerando seu papel na
sociedade e seu futuro de longo prazo, no sentido de assegurar que não apenas
evitará danos, mas também irá buscar a criação de um mundo “melhor” e mais
humano. Esta é, segundo a autora, uma tarefa básica que não diz respeito unicamente
a corporações globais, mas também para todas organizações, sejam públicas ou
privadas, grandes ou pequenas.
Ademais, algumas opções de melhorias em produtos a serem adotadas por empresas
na busca por valores socialmente responsáveis são propostas por Schmidheiny
(1992), com base nos estudos preliminares do World Wildlife Fund (WWF, 1991):
Eliminar ou substituir produtos;
Eliminar ou reduzir ingredientes danosos;
Adotar materiais e processos ambientalmente adequados;
Reduzir peso ou volume em produtos;
Produzir produtos concentrados;
Produzir em módulos;
Combinar funções em mais de um produto;
Produzir menos modelos ou estilos;
Redesenhar visando o uso mais eficiente;
Aumentar a vida útil dos produtos;
Reduzir embalagens desnecessárias;
Melhorar a capacidade de manutenção do produto;
87
Redesenhar para o reuso do produto;
Refabricar produtos.
Desta forma, novos desafios são lançados para os designers, que devem considerar
diversas questões como reciclabilidade, durabilidade e capacidade de manutenção no
momento de tomada de decisões para a escolha de tecnologias e materiais,
entendendo-se que a eficiência ecológica somente pode ser obtida por meio de
mudanças nos objetivos e valores assumidos pelas corporações (SCHMIDHEINY,
1992).
Embora a questão central desta tese seja a importância do trabalho dos designers para
com o planejamento do mundo material, diante de problemas relacionados ao
desenvolvimento das sociedades, particularmente no que se refere aos aspectos
econômicos, ambientais, culturais e éticos do desenvolvimento, percebe-se que ainda
é necessário o fortalecimento da atitude dos designers e tomadores de decisão no
sentido de trazer os conceitos de atuação responsável para um nível mais pragmático
de ação, particularmente na condução de políticas públicas.
3.4 CENÁRIO BRASILEIRO DE RESPONSABILIDADE SOCIAL
O conjunto das principais ações voltadas para o bem-estar social no cenário
brasileiro originou-se a partir de uma visão assistencialista por parte dos diversos
governos e, também, por meio de ações isoladas. Inicialmente, sob forte influência
da igreja católica, as ações concentravam-se em aspectos relativos à caridade. Aqui,
faz-se necessário esclarecer o significado destas ações sob diversas óticas que
88
atingem, de um lado, os interesses da sociedade, e, de outro lado, interesses daqueles
que, de modo solidário, se propõem a oferecer ajuda aos mais necessitados.
A palavra “caridade”, tem origem na expressão latina caritas, que se relaciona com
amor, afeição e ternura. Sua principal acepção diz respeito à virtude teologal que
conduz ao amor a Deus e ao nosso semelhante e, também, ao ato de beneficiar os
outros, especialmente os pobres e desfavorecidos, por meio de donativos e outros
tipos de ajuda. Portanto, a principal referência ao conceito de caridade está
relacionada a práticas de ordem religiosa. Este movimento, iniciado na colonização
portuguesa cristã, tem até os dias atuais ocorrido no cenário brasileiro, sendo
fundamentalmente a base da maioria das ações sociais (MOREIRA, 2002).
Ademais, no cenário brasileiro, diversos autores consideram o início das ações
socialmente responsáveis, especificamente por parte das empresas, em 1960, com o
advento da Associação de Dirigentes Cristãos de Empresas - ADCE (TOLDO, 2002).
Esta organização considerava as ações de responsabilidade social de gestores e
dirigentes de empresas como obrigação religiosa doutrinária, controlando suas
atitudes como uma extensão da religião propriamente dita. Apenas na década de 80,
premiações para o comportamento ecológica e socialmente adequado das empresas
foram introduzidos por organizações empresariais como um reconhecimento de
ações e práticas positivas, em especial o Prêmio Eco de Cidadania, criado e
promovido pela Câmara Americana de Comércio em São Paulo.
Também importante com um marco de consciência no cenário brasileiro, a
Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento Humano,
89
ECO 92, ocorrida no Rio de Janeiro, tem sido vista como um evento internacional
decisivo na busca por novos padrões de produção e adequações de comportamento
por parte das empresas perante a sociedade de modo abrangente. Imediatamente após
a Conferência, por exemplo, foi iniciada a Campanha Nacional Contra a Fome e a
Miséria, em 1993, pelo sociólogo Herbert de Souza, constituindo uma atitude
fundamental no que diz respeito à popularização da idéia de responsabilidade social
entre as empresas dos mais diversos setores produtivos e a sociedade em geral.
Outro aspecto relevante para o entendimento do papel e da força do modelo
econômico diante do modo de vida das pessoas é o direcionamento exacerbado dos
valores humanos para os valores impostos pela lógica do consumo. Como aponta
Milton Santos, “[...] a grande perversão do nosso tempo, muito além daquelas que
são comumente apontadas como vício, está no papel que o consumo veio representar
na vida coletiva e na formação do caráter dos indivíduos” (SANTOS, 2000, p. 33).
Ademais, complementa o autor, “[...] o poder do consumo é contagiante, e sua
capacidade de alienação é tão forte que a sua exclusão atribui às pessoas a condição
de alienados” (SANTOS, 2000, p. 34).
Diante disso, faz-se necessário o aprofundamento conceitual capaz de diferenciar
consumidor e cidadão. De acordo com Santos (2000, p. 35), deve-se sempre partir do
cidadão para a economia e não da economia para o cidadão. Segundo o autor, no
processo histórico brasileiro, “[...] em lugar do cidadão formou-se um consumidor,
que aceita ser chamado de usuário”. O chamado “homem-cidadão”, como aponta
Santos (2000), é o indivíduo titular de direitos e deveres, com acesso aos bens e
90
serviços coletivos que constituem uma prerrogativa de espaço social, com regras de
convivência estabelecidas, e cumpridas, com a mesma intensidade por todos os
membros de uma comunidade. Neste sentido, como afirma o autor, “[...] o
consumidor não é o cidadão. [...] O consumidor [...] alimenta-se de parcialidades,
contenta-se com respostas setoriais, alcança satisfações limitadas, não tem direito ao
debate sobre os objetivos de suas ações, públicas ou privadas” (SANTOS, 2000, p.
41-42).
Desta forma, o cidadão possui direitos e deveres perante a sociedade, enquanto que o
consumidor possui apenas direitos. Do ponto de vista do design, portanto, a
percepção dos direitos e deveres do cidadão deve ser mais abrangente do que apenas
o foco nos direitos do consumidor, convergindo a tomada de decisões de projetos
para uma perspectiva mais ampla de cidadania.
Neste sentido, o conceito de cidadania apresenta-se como um dos principais aspectos
a serem considerados na busca de ações sociais, públicas ou privadas, corporativas
ou individuais, centradas na ótica da responsabilidade. O termo cidadania diz
respeito à qualidade ou condição de cidadão, ou, em termos jurídicos, condição de
pessoa que, como membro de um Estado, se acha no gozo de direitos que lhe
permitem participar da vida política.
Outra ação relevante para a consolidação de práticas socialmente responsáveis no
cenário nacional ocorreu em 1997, com a proposta de Herbert de Souza, buscando
introduzir um modelo de Relatório Social, conhecido como Balanço Social das
91
empresas, cujo objetivo principal era publicar anualmente as ações das empresas
nacionais em favor da sociedade e do meio ambiente, revelando inclusive os
impactos de sua produção. O Relatório de Balanço Social foi posteriormente
desenvolvido e aperfeiçoado pelo Instituto Ethos, iniciado em 1998 como uma
organização não-governamental criada com a missão de mobilizar, sensibilizar e
ajudar as empresas a gerir seus negócios de forma socialmente responsável. O
Instituto Ethos adotou o modelo de Balanço Social como um painel de controle para
orientação das empresas sobre como obter reconhecimento dos consumidores,
parceiros e sociedade, a partir da melhoria de práticas de acordo com atitudes
socialmente responsáveis (ETHOS, 2003).
A necessidade de certificação segundo padrões internacionais de qualidade, tais
como as normas ISO 14.000
12
e SA 8000
13
também contribuíram para um maior
compromisso das empresas diante de aspectos ambientais e sociais na melhoria do
processo de produção.
Além disso, outros importantes fatos são considerados importantes na ampliação da
consciência das empresas nacionais no modo pelo qual tomam decisões e conduzem
seus negócios, migrando das atitudes isoladas no âmbito da filantropia para uma
gestão socialmente responsável. Primeiramente, pode-se relacionar esta mudança de
comportamento gerencial a uma grande necessidade de equidade no Brasil,
particularmente em regiões como o Norte e o Nordeste do país, o que requer uma
12
Fonte: <http://www.iso.ch/iso/en/ISOOnline.openerpage>. Acesso em 26.abr.2007.
13
Fonte: <http://www.sa-intl.org/index.cfm?fuseaction=Page.viewPage&pageId=473>. Acesso em
26.abr.2007.
92
ação muito mais controlada das empresas quanto aos impactos de seus produtos no
entorno sócio-cultural-ambiental.
Além disso, pode-se relacionar a melhoria de atitude empresarial a um aumento no
nível de organização da sociedade, especialmente no terceiro setor, isto é,
Organizações Não-Governamentais. Também se pode dar crédito positivo ao
aumento de competitividade nas atividades empresariais, o que requer uma
considerável melhoria de imagem, enquanto estratégia positiva de marketing e
reconhecimento de marca. Finalmente, percebe-se, no contexto brasileiro, um alto
nível de publicidade e comunicação de ações sociais nos meios de comunicação de
massa, o que implica, necessariamente, em um aumento nas expectativas da
sociedade para com o produto das empresas.
Trazendo o cenário brasileiro de aplicação dos conceitos de responsabilidade
empresarial para a esfera do design, percebe-se que, apesar de se tratar de uma
profissão claramente interdisciplinar, capaz de interagir e integrar conhecimentos de
diversas áreas, os designers ainda não aprenderam a comunicar suas habilidades e
idéias potenciais no sentido de facilitar e promover soluções para outras áreas de
estudo.
Neste sentido, a proposta de uma “agenda social de design”, iniciada por Margolin
(2004), ainda precisa de implementação entre a comunidade de design, acadêmicos e
profissionais de mercado, saindo do discurso teórico isolado para um nível prático de
atuação. O autor propõe uma aproximação com outros saberes capazes de atingir as
93
demandas de solução social em outros níveis, como, por exemplo, o trabalho dos
assistentes sociais, terapeutas ocupacionais, pscicólogos, médicos do trabalho,
visando uma atuação mais pragmática do design na busca de soluções e projetos
considerados socialmente responsáveis.
Identificando as possibilidades concretas de colaboração de um designer com uma
equipe de intervenção social, Margolin (2004) propõe que os profissionais de design
atuem desde a fase de avaliação da viabilidade do proejto, identificando fatores que
contribuam para ocorrência de problemas, quanto na fase de planejamento,
desenvolvendo estratégias de intervenção relacionadas ao ambiente humano,
passando pela fase de implementação propriamente dita, quando o designer pode
contribuir criando um produto necessário para facilitar a realização de determinada
tarefa com mais eficiência.
Nesta perspectiva, Margolin (2004) propõe uma série de questões para iniciar uma
ampla agenda de prática e pesquisa para o design socialmente responsável:
Que papel um designer pode desempenhar em um processo colaborativo de
intervenção social?
O que está sendo feito neste sentido e o que poderá ser feito?
Como a percepção pública da atividade de design pode mudar no sentido de
apresentar uma imagem de um designer socialmente responsável?
94
Como agências de fomento voltadas para projetos de bem-estar social e
pesquisa podem obter uma percepção mais forte do design como uma
atividade socialmente responsável?
Que tipos de produtos atendem às necessidades das populações vulneráveis?
Mais uma vez percebe-se uma necessidade urgente de ação no sentido de
desenvolver um projeto de cooperação entre designers e profissionais de áreas
correlatas, como, por exemplo, engenheiros, arquitetos, médicos, assistentes sociais,
comunicadores, visando ampliar o espectro de soluções com foco nos usuários,
objeto central do trabalho do designer. Ademais, segundo Maldonado,
Como todas as atividades projetuais que intervêm, de uma forma
ou de outra, na relação produção-consumo, o desenho industrial
atua como uma autêntica força produtiva. Mais ainda: é uma força
produtiva que contribui para a organização (e, portanto, a
socialização) das demais forças produtivas com as quais entra em
contato (MALDONADO, 1993, p. 14).
Neste sentido, o design socialmente responsável apresenta-se como uma ferramenta
indispensável aos modelos produtivos, no sentido de atingir padrões éticos e de
responsabilidade adequados às necessidades imediatas da população e do meio
ambiente.
Refletindo-se acerca do papel do profissional de design perante a consolidação de
uma prática empresarial socialmente responsável, entende-se, claramente, que a
responsabilidade das empresas não mais termina no portão das fábricas, mas se
estende para princípios de atuação do “berço ao berço”, o que significa desenvolver
sistemas de manufatura associados a processos contínuos de gestão sócio-ambiental
95
capazes de minimizar impactos e maximizar eficiência dos materiais e energia
utilizados, requerendo, inclusive, novos níveis de relacionamento entre produtores,
consumidores e governos (SCHMIDHEINY, 1992).
Ademais, outros aspectos fundamentais na busca de um processo de gestão
socialmente responsável, e que estão diretamente associados ao trabalho dos
designers, são a documentação sistemática e a comunicação periódica das ações
realizadas pelas empresas perante o público geral, envolvendo, para tanto, a
construção de um conjunto de indicadores de sustentabilidade e responsabilidade
social orientados para a identificação e o controle dos aspectos do processo de
produção que necessitam de ajustes e melhorias diante dos padrões de desempenho
sócio-ambiental estabelecidos. Como afirma Schmidheiny (1992), o relatório de
desenvolvimento sustentável é um conceito crescentemente adotado, que vai além da
documentação de aspectos ambientais, requerendo que as empresas acessem sua
performance tanto em termos ambientais, quanto em aspectos de respeito às
demandas da sociedade e aos resultados econômicos de seu processo produtivo, em
termos de qualidade de vida hoje e para gerações futuras.
No âmbito desta tese, propõe-se um modelo de indicadores voltado para a avaliação
do processo de design de produtos, como forma de consubstanciar a documentação
sistemática dos resultados das empresas em relação aos princípios de
sustentabilidade e responsabilidade social. Esta proposta de indicadores é detalhada
no capítulo IV, desta tese.
96
CAPÍTULO IV
RUMO À DEFINIÇÃO DE INDICADORES DE
SUSTENTABILIDADE E RESPONSABILIDADE SOCIAL NO
ÂMBITO DO DESIGN
98
CAPÍTULO IV
RUMO À DEFINIÇÃO DE INDICADORES DE
SUSTENTABILIDADE E RESPONSABILIDADE SOCIAL NO
ÂMBITO DO DESIGN
Um dos objetivos centrais desta tese é a proposição de um modelo de indicadores
que possa ser utilizado como base para avaliação das condições de sustentabilidade e
responsabilidade social associadas à prática do design industrial, contribuindo,
especificamente, para a determinação de melhores decisões gerenciais e projetuais no
desenvolvimento de produtos, por meio da identificação de requisitos e aspectos
considerados relevantes para um melhor desempenho sócio-ambiental por parte das
empresas. O presente capítulo irá detalhar o estado da arte do uso de indicadores com
este propósito, além de apresentar o modelo de indicadores proposto como estratégia
de avaliação da qualidade do design no âmbito desta tese.
99
4.1 FUNDAMENTOS TEÓRICOS
Na busca por entender o funcionamento e as condições ideais para um determinado
sistema natural
14
, torna-se decisiva a identificação, medição e o levantamento
eficiente de suas características intrínsecas e relações do sistema com o mundo
externo, possibilitando, dessa forma, o entendimento de seus limites e
especificidades. Como aponta o estudo desenvolvido por Souza
15
, este modelo de
medição da qualidade em sistemas sócio-ambientais é importante para a tomada de
decisões e a implementação de políticas que viabilizem a continuidade das ações
humanas em harmonia com o ambiente. Tais ações de monitoramento e controle
devem levar em conta não apenas as necessidades do negócio, mas, também, ser
orientadas no sentido de não permitir a continuidade de processos produtivos que
gerem algum tipo de impacto negativo, tanto para a natureza, quanto para as
populações humanas que dela sobrevivem.
Segundo Bollmann (2001), o fenômeno da ação antrópica sobre o meio natural
constitui-se em uma relação complexa, originada por demandas individuais e
coletivas, fundamentadas em aspectos psicológicos, culturais, sociais e econômicos,
que refletem decisivamente no modelo de exploração e manejo dos recursos naturais
disponíveis, exigindo grande capacidade de entendimento e percepção das mais
diversas dimensões do problema. O caminho em direção ao equilíbrio dinâmico dos
ecossistemas expressa-se no entendimento das questões tanto de ordem biofísica
14
Sistema natural pode ser definido como um sistema consciente, que pode experimentar problemas
de stress, emoções, dores e refletir sobre suas ações e subsequentes impactos, normalmente composto
da interação entre seres humanos e outros subsistemas (BOSSEL, 1999).
15
Fonte: SOUZA, Paulo F. de A. Análise de indicadores de sustentabilidade ambiental: o exemplo do
transporte marítimo de hidrocarbonetos na Baía de Todos os Santos. Dissertação de Mestrado. Centro
de Desenvolvimento Sustentável. Universidade de Brasília. Brasília, 2003.
100
(ameaça de extinção de espécies, degradação de solo, alteração de qualidade
ambiental, esgotamento de recursos naturais etc.), quanto de desempenho econômico
das populações envolvidas, que são diretamente comprometidas pelas mudanças na
qualidade e quantidade da base de recursos naturais (PIRES, 1998). Ademais, como
afirma Fry (2005, p. 64), “[...] as ‘necessidades’ ecológicas da vida neste planeta
estão claramente em disputa com as práticas culturais e econômicas de muitas
pessoas que o habitam”. Esta visão nos permite afirmar que o design voltado para a
satisfação de necessidades de poucos tem um impacto significativo, e altamente
danoso, no que diz respeito ao uso de recursos e energia, à deposição sistemática de
produtos inutilizados no entorno ambiental e à conseqüente redução dos níveis de
qualidade de vida global. Como afirma o mesmo autor, “[...] caso não reexaminemos
o que realmente ‘necessitamos’, nós iremos desejar e planejar, para nós mesmos e
para outros, a morte [...]” (FRY, 2005, p. 64), trazendo para a esfera da
“responsabilidade” para com a vida humana o correto entendimento de que as
“necessidades” de suporte à vida e aquelas que a destroem deve fazer parte da
agenda do design de produtos, diante de uma preocupação de ordem moral e,
consequentemente, de um “imperativo ecológico”. Na visão de Fry (2005),
[...] levando este argumento em consideração, o bom versus o ruim
não se baseia em um apelo para um sistema de julgamento cultural
socialmente construído, mas sim em uma projeção de impactos
biofísicos sobre a biosfera que irão aumentar ou diminuir a
capacidade de sustentar a vida, toda a vida, em sua sobrevivência.
(FRY, 2005, p. 64).
Neste sentido, a necessidade de harmonização entre os processos produtivos e os
ecossistemas se apresenta como uma perspectiva de imediata prioridade. Bossel
(1999, p. 1) afirma que “[...] a sustentabilidade da humanidade está influenciada pela
101
dinâmica da tecnologia, a economia e as aceleradas taxas de mudanças sociais e
ambientais impostas por atividades antrópicas”. Faz-se necessário, portanto, perceber
que o ambiente é um sistema organizado, comprometido em sua totalidade cada vez
que uma parte de seu conjunto é agredida.
No âmbito do processo de design com considerações de parâmetros de
sustentabilidade e responsabilidade social, a determinação de indicadores torna-se
relevante nas fases de parametrização de projetos e definição de técnicas e materiais,
contribuindo para a tomada de decisões sobre os impactos dos processos industriais,
considerando-se fundamentalmente que o trabalho da equipe de designers tem
influência direta no ciclo de vida das matérias-primas e fluxos de massa e energia
nos processos de produção, na manufatura propriamente dita e, de modo mais
abrangente, na maneira pela qual as pessoas vivem e obtêm satisfação.
4.1.1 Conceitos sobre indicadores de sustentabilidade
De acordo com Hodge et al. (1999), os indicadores de sustentabilidade são sinais
tipicamente mensuráveis, que podem refletir uma característica quantitativa ou
qualitativa, de importância vital para que se possa fazer julgamentos sobre as
condições atuais, passadas e futuras de um determinado sistema. A adoção de um
conjunto específico de indicadores, portanto, determinará a qualidade do sistema
propriamente dito, sua história, interesses, necessidades, objetivos e tendências.
Por outro lado, os indicadores podem ser definidos como variáveis de um sistema,
que expressam e comunicam informações importantes para determinado público
102
(PINTER et al., 2000). Fundamentalmente, os indicadores apontam os valores que
um determinado grupo social, com seus diversos interesses, assume para um
determinado sistema
16
. Esses valores adotados pela sociedade definem a atenção
dada às particularidades de cada subsistema, bem como suas inter-relações e
capacidades de interação, contribuindo de modo significativo para a evolução da
cultura e continuidade da vida em conjunto. Desta forma, criar um sistema de
medidas significa valorar, ou seja, atribuir ideais a determinados elementos do
sistema, qualificá-los e quantificá-los sob óticas pré-determinadas e, por fim, assumir
o controle sobre eles. Os indicadores provêm, assim, informação essencial sobre um
sistema, facilitando a orientação e tomadas de decisão em um mundo complexo
(BOSSEL, 1999).
Vale ressaltar que um indicador de sustentabilidade e responsabilidade social não
deve negligenciar a natureza sistêmica e dinâmica dos processos naturais. Há
diversos ciclos e realimentações envolvidos, que exigem considerações sobre as
múltiplas pressões e impactos do sistema, especialmente reações não-lineares, ou
seja, encadeamentos de ações e reações segundo lógicas complexas (BOSSEL,
1999). A figura 4.1, de acordo com estudos preliminares de Souza (2003),
demonstra, de modo simplificado, a utilização de indicadores para a tomada de
decisões no controle sobre o estado de um determinado sistema. Busca-se,
estabelecer, previamente, um objetivo para o sistema, com os valores e ideais para
seu funcionamento, servindo de parâmetro inicial para controle, com o qual são
confrontadas as leituras apresentadas pelos indicadores, que podem ser levantados
16
Algumas palavras normalmente utilizadas com o significado de indicador são: sinal, símbolo,
sintoma, grau, valor, nota, medida, ponto, posição, mostrador, indício, visão, estado e tendência.
103
diretamente do sistema (i1) ou a partir de seu fluxo de saída (i2), identificando, por
meio de comparações e análises dos resultados obtidos, o estado atual e tendências
do sistema. Estas informações possibiltam a avaliação sobre o funcionamento e
viabilizam o controle de ações corretivas para o atingimento dos objetivos finais.
A figura 4.1 é, então, apresentada para exemplificação do uso de indicadores na
tomada de decisões acerca do funcionamento de sistemas.
Figura 4.1 – Utilização de indicadores para a tomada de decisões sobre o estado de um sistema
(modificado – SOUZA, 2003)
Desta forma, a análise do exemplo utilizado por Souza (2003) revela que um
indicador só será útil à tomada de decisões se for capaz de apresentar informações
que possam ser devidamente interpretadas. A qualidade destas informações está
diretamente associada à precisão com que os dados são apresentados pelos
indicadores, desde a coleta até sua leitura e entendimento. Como conceitua Meadows
(1998, p. 6), indicadores são “[...] reflexões parciais da realidade, baseados em
incertezas e modelos imperfeitos [...]”, apresentando-se como abstrações dos
sistemas, assumindo seu estado de funcionamento e indicando seus pontos de maior
importância. Consequentemente, os indicadores apontam as características e
104
especificidades dos sistemas que, prioritariamente, necessitam ser medidas e
controladas.
Adotando-se os conceitos analisados como ponto de partida, apresenta-se, na figura
4.2, a definição de indicador de sustentabilidade utilizada no âmbito desta tese:
Figura 4.2 – Definição de indicador de sustentabilidade
4.1.2 Características e critérios de escolha para indicadores de sustentabilidade
De acordo com Souza (2003), alguns indicadores apresentam respostas que podem
ser traduzidas de modo quantitativo, como, por exemplo, o valor médio de
temperatura em uma determinada área, a quantidade de espécies endêmicas em um
determinado ecossistema, tipos de sedimentos depositados em uma região. Outras
informações, entretanto, requerem uma percepção maior do ponto de vista
qualitativo, implicando em interpretações e análises de conteúdo subjetivo e
particular (riscos de contaminação, exposição a fatores ambientais críticos,
capacidade de adaptação do meio natural diante das pressões antrópicas, qualidade
de vida de uma população etc.).
De modo geral, os indicadores que medem quantidade são chamados de objetivos,
enquanto que aqueles que apresentam informações sobre a qualidade do sistema em
estudo são expressos como subjetivos. Como aponta Meadows (1998), quando as
105
decisões são guiadas unicamente por meio de indicadores quantitativos, ignorando-se
ou menosprezando-se os dados de ordem qualitativa, cria-se um mundo centrado em
valores de quantidade, sem, necessariamente, obter-se qualidade como resultado das
ações.
Neste sentido, como demonstra Souza (2003), a desatenção ou uma ênfase menor
quanto à importância dos dados qualitativos em um levantamento de dados podem,
de um lado, estar relacionadas às dificuldades de percepção dos valores levantados
pelos indicadores subjetivos e, de outro lado, ser intencionalmente omitidos e
redirecionados por gestores pouco comprometidos com as questões referentes aos
impactos dos processos de produção sobre a qualidade sócio-ambiental e econômica
das populações envolvidas no sistema em observação.
Bossel (1999) estabelece alguns critérios considerados essenciais para escolha de
indicadores de sustentabilidade, utilizados na análise quantitativa e qualitativa de um
sistema natural:
prover informações vitais e compreensivas sobre o estado do sistema e seus
processos de mudança;
permitir intervenções e correções no comportamento do sistema de acordo
com os objetivos estabelecidos;
permitir agregação em número tão mínimo quanto possível e tão essencial
quanto necessário; e
106
ser escolhidos com atuação dos diversos segmentos da sociedade, em
processo democrático e participativo, por exemplo, a atuação conjunta do
Estado com técnicos, organizações não-governamentais, pesquisadores e
representantes de comunidades.
Os indicadores de sustentabilidade são utilizados para um entendimento mais
apurado do estágio e tendências do sistema em análise. Ademais, algumas medidas
levantadas pelos indicadores, especialmente os de natureza subjetiva, apresentam
informações de grande complexidade de interpretação, tornando-se até mesmo
impossíveis de serem realizadas, requerendo projeções e estimativas que, muitas
vezes, podem resultar em distorções e julgamentos imprecisos.
A escolha, utilização e medição indevida de indicadores de sustentabilidade, durante
o processo de leitura e interpretação dos dados, bem como a percepção de ruídos e
interferências de informações indesejadas, poderão comprometer a tomada de
decisões quanto ao equilíbrio dinâmico de todo o sistema. Meadows (1998) aponta
alguns aspectos que tornam difícil a escolha de indicadores adequados para se medir
a sustentabilidade de um sistema natural:
Hiper-agregação, ou seja, excesso de informações na base de dados,
causando mensagens combinadas, de difícil interpretação;
Medição apenas do que é mensurável, ao invés do que é importante;
Dependência de modelos pré-existentes, muitas vezes inapropriados para
análise de sistemas naturais;
107
Foco nas informações pontuais das medições sem considerar as inter-
relações com outros dados e fatores;
Hiper-acreditação nos dados obtidos com as medições, sem considerar as
possibilidades de falhas no sistema de medição; e
Insuficiência nos dados levantados para se chegar a conclusões mais
precisas acerca do estado do sistema.
Conforme analisa Souza (2003), aprofundando a visão de Bossel (1999), o
desenvolvimento sustentável, por apresentar dimensões ambientais, materiais,
ecológicas, sociais, econômicas, legais, culturais, políticas e psicológicas, implica,
sobretudo, em mudanças adaptativas e evolução das relações entre sociedade e
ambiente, requerendo, para tanto, um sistema eficiente de informações sócio-
ambientais e econômicas. Os indicadores são, na verdade, parte deste sistema de
informações, funcionando como um software, que envia sinais para que o hardware
os processe e apresente, por fim, os resultados deste processamento.
Considerando-se os princípios de sustentabilidade e responsabilidade social descritos
nos capítulos II e III desta tese, entende-se que a procura por indicadores orientados
para dar suporte ao processo de design deve ser contínua e evolucionária,
consolidada por meio de um processo sistematizado, partindo-se de reflexões sobre o
funcionamento e o equilíbrio dinâmico dos sistemas envolvidos no processo
produtivo, buscando, fundamentalmente, minimizar ou eliminar os impactos danosos
do sistema de produção no entorno social, cultural e ambiental onde o mesmo se
insere.
108
No âmbito do design para sustentabilidade e responsabilidade social, alguns dos
principais estudos relativos a indicadores desenvolvidos para dar suporte às decisões
de projeto foram desenvolvidos por autores como Meadows et al. (1992), Bartelmus
(1994 e 2002), Swart e Bakkes (1995), Hardi e Zdan (1997), Schmidt-Bleek et al.
(1998), Spangenberg e Bonniot (1998), Meadows (1998), Bossel (1999), Pinter et al.
(2000), Valentin e Spangenberg (2000), Voet et al. (2003), Goedkoop e Spriensma
(2004), Goedkoop et al. (2004), entre outros.
4.2 ANÁLISE DE MODELOS PARA DEFINIÇÃO DE
INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE E
RESPONSABILIDADE SOCIAL
Os aspectos de sustentabilidade do meio ambiente, das sociedades e dos sistemas
produtivos assumem papel decisivo no projeto de desenvolvimento dos povos,
revelando fortemente uma necessidade de planejamento e integração de políticas,
com parâmetros que envolvam conjuntamente as pessoas, as instituições, a economia
e a natureza. Para Sachs (2000), por exemplo, o desenvolvimento sustentável deve
considerar dimensões mais amplas de sustentabilidade, além das questões
ambientais, tais como: sustentabilidade social, cultural, ecológica, ocupação
ordenada do espaço, sustentabilidade econômica e política, além das relações de paz
entre os diversos países. Assume-se que as necessidades das populações devem ser
consideradas tanto em seus aspectos materiais como não-materiais, na busca da
equidade de padrões para o uso e o acesso aos bens naturais. Questões como aumento
de renda e propriedade privada, acesso aos recursos públicos e investimentos
diversos, satisfação e qualidade de vida, direitos individuais e direito aos recursos
109
naturais, liberdade e respeito às tradições culturais, entre outras, devem,
obrigatoriamente, ser abordadas nos modelos de indicadores que tenham como meta
a verificação de sustentabilidade em sistemas naturais. Ademais,
as práticas de mensuração da influência das atividades humanas
sobre o meio ambiente têm-se apresentado controversas e
raramente conseguem realizar ligações diretas entre as causas
geradoras das demandas psicológicas individuais, sócio-
econômicas e culturais, e suas consequências ambientais
(BOLLMANN, 2001, p. 15).
Esta questão tem suas bases tanto nas dificuldades de escolha de modelos de
indicadores, quanto na percepção propriamente dita da amplitude dos problemas
sociais, ambientais, econômicos e institucionais associados, direta ou indiretamente,
à sustentabilidade dos sistemas naturais. Neste sentido, diversos esforços têm sido
desenvolvidos na construção de um conjunto adequado de visualização que
proporcione a leitura, a interpretação e, finalmente, o controle dos problemas mais
relevantes relacionados à interação entre sociedade, economia e natureza. Analisa-se,
a seguir, uma série de modelos desenvolvidos mundialmente neste sentido.
4.2.1 Princípios de Bellagio
A partir do Relatório Bruntland (Comissão Mundial para o Desenvolvimento e Meio
Ambiente das Nações Unidas), em 1987, e, posteriormente, com o advento da
Agenda 21, em 1992, houve uma chamada mundial para o desenvolvimento de novos
métodos para se identificar e medir o progresso, associando-o necessariamente à
visão de sustentabilidade social, ambiental e econômica. Em novembro de 1996, uma
conferência internacional na cidade de Bellagio, Itália, propôs um conjunto de ações
que se destinaram a guiar as práticas de implementação do desenvolvimento
110
sustentável, incluindo o processo de escolha de indicadores, sua interpretação e a
comunicação de suas leituras para indicação de sustentabilidade. Estes fundamentos
foram chamados de Princípios de Bellagio e são considerados importantes
ferramentas de utilização para políticas de governos, além de orientar fortemente as
práticas de diversas organizações não-governamentais e comunidades internacionais
ligadas à proteção ambiental (HARDI e ZDAN, 1997).
Os diversos aspectos do desenvolvimento sustentável são contemplados pelos
Princípios de Bellagio, buscando-se unidade no processo de tomadas de decisões,
desde a visão e o conceito de progresso propriamente dito, até a necessidade de
sustentabilidade institucional para a continuidade das ações que valorizem a
qualidade de vida no planeta.
A tabela 4.1 apresenta, resumidamente, os princípios acordados neste encontro, que
servem de orientação para a identificação e medição da sustentabilidade do
desenvolvimento em suas mais amplas dimensões.
Tabela 4.1 – Apresentação simplificada dos Princípios de Bellagio
Princípio Orientação
Visão e Objetivo do
desenvolvimento
Todo o acesso ao progresso deve estar centrado nos conceitos de
desenvolvimento sustentável, estabelecidos de modo integrado entre
as nações.
Perspectiva Holística Identificação dos sistemas ecológicos e suas partes essenciais;
Consideração sobre a ótica do bem-estar dos sistemas social,
ecológico e econômico, bem como suas mudanças de ordem
adaptativa;
Consideração dos aspectos positivos e negativos da ação humana
sobre os sistemas naturais, em termos monetários e não-monetários.
Elementos Essenciais Consideração sobre equidade e disparidade entre as populações, em
se tratando do uso de recursos, direitos humanos, acesso a bens e
serviços comuns, pobreza.
Continua...
111
Tabela 4.1 – Apresentação simplificada dos Princípios de Bellagio (continuação)
Princípio Orientação
Escopo de Desenvolvimento Adoção de um horizonte de tempo para a compreensão da
capacidade de reação e adaptabilidade tanto humanas quanto da
natureza, considerando-se as gerações atuais e futuras;
Consideração a longo prazo dos efeitos da ação antrópica sobre o
meio;
Antecipação de eventos e condições futuras (where we want to go,
where we could go).
Foco das Práticas Associação direta dos conceitos (princípios) com o modelo de
indicadores de sustentabilidade adotado para medição do
desenvolvimento, buscando-se unidade nos discursos;
Estabelecimento de um número limitado de questões-chave para
análise;
Estabelecimento de um número limitado de indicadores, suficientes
para sinalizar com clareza as tendências dos sistemas em estudo;
Comparação permanente dos valores indicados com os objetivos e
referências estabelecidos como ideais para meta de desenvolvimento
sustentável.
Abrangência Facilidade de acesso aos dados e métodos a todos os interessados
(democratização das informações);
Explicitação dos julgamentos, incertezas e interpretações dos dados
levantados pelos indicadores.
Comunicação Efetiva Simplicidade e facilidade de leitura das informações;
Facilidade de acesso aos dados, por meio de linguagem objetiva e
clara;
Atendimento às necessidades do público e usuários dos indicadores.
Processo Participativo Representatividade dos vários setores sociais interessados, tais como
técnicos, profissionais, grupos sociais, reconhecendo a
multiplicidade de valores, visando uma ação mais efetiva na
indicação de sustentabilidade.
Revisão contínua dos
resultados
Capacidade de repetição das medições para confirmação dos dados;
Interação, adaptação e respostas às mudanças necessárias no curso
do desenvolvimento;
Possibilidade de ajuste de rotas e objetivos no processo de escolha e
definição de indicadores;
Promoção do aprendizado e retro-alimentação para novos desafios.
Sustentabilidade Institucional Responsabilização contínua das instituições encarregadas das
decisões pró-sustentabilidade;
Promoção da capacidade institucional de coleta, interpretação,
atualização e manutenção do modelo de indicadores de
sustentabilidade;
Suporte contínuo ao desenvolvimento das instituições locais.
Fonte: (modificado – HARDI e ZDAN, 1997)
De modo geral, os Princípios de Bellagio estabelecem parâmetros iniciais de análise
e definição para os indicadores de sustentabilidade, sugerindo uma ação mais
cautelosa, no sentido de se buscar detalhadamente os diferentes níveis de
organização sócio-ambiental e econômica diretamente relacionados com a
viabilidade dos sistemas naturais.
112
4.2.2 Modelo Daly & Meadows
Uma outra proposta de formulação de parâmetros para se medir sustentabilidade em
níveis sociais, ambientais e econômicos, fundamentada em Daly (1973), é
apresentada por Meadows (1998). Esta proposta aponta as relações entre a economia
humana e o ambiente natural, diante de uma lógica hierárquica das necessidades e
propósitos de cada elemento dos sistemas.
Os autores consideram como base de sustentação os chamados recursos finais
(ultimate means), onde os elementos da vida e as transações econômicas são
construídos e sustentados, apresentados como base de uma estrutura piramidal. Estes
elementos são formados pela matéria-prima disponível no planeta, energia solar,
ciclos geoquímicos, ecossistemas, biosfera etc..
O capital natural é, então, transformado, por meio do desenvolvimento científico e da
tecnologia, em recursos intermediários (intermediate means), tais como máquinas,
fábricas, trabalhos especializados, matéria e energia processadas, constituindo os
chamados capital construído e capital humano, que definem por si a capacidade
produtiva da economia, com viabilidade expressa por meio da política econômica
mundial.
Na cadeia hierárquica imediatamente superior estão os chamados objetivos
intermediários (intermediate ends), que podem ser considerados os objetivos teóricos
das políticas, ações governamentais e economia propriamente dita, tais como:
consumo de bens, saúde, riqueza, lazer, comunicação e transporte. Por fim, no topo
113
da pirâmide hierárquica, colocam-se como objetivos finais (ultimate ends) alguns
conceitos subjetivos relacionados ao bem-estar, tais como felicidade, harmonia,
respeito próprio, comunidade, identidade e transcendência, conquistados por meio da
filosofia e da ética.
Em análise objetiva deste modelo, evidencia-se a intenção dos autores em relacionar
o desenvolvimento, representado no ápice da pirâmide, com a necessidade imediata
de sustentabilidade, base de sustentação para todas as interações entre a sociedade e
o capital natural. A figura 4.3 apresenta, graficamente, os elementos fundamentais
para a construção de sustentabilidade, propostos no modelo Daly & Meadows.
Figura 4.3 – Modelo Daly & Meadows para definição de indicadores de sustentabilidade
(modificado – MEADOWS, 1998)
Analisando-se a aplicabilidade do modelo Daly & Meadows, observa-se uma
implementação dificultada devido ao excesso de subjetividade na conceituação dos
objetivos finais, que variam enormemente em função dos estágios culturais e da
114
capacidade de adaptação das sociedades em geral. Os fóruns de decisões para a
escolha de indicadores dificilmente terão consenso quanto às definições de bem-
estar, harmonia, felicidade, identidade, implicando em desorientações e possíveis
perdas de foco na identificação e interpretação da sustentabilidade. Contudo, o
modelo proporciona avanços no entendimento da problemática sócio-ambiental e
econômica, levantando aspectos de sustentabilidade que, via de regra, não são
contemplados nos modelos atuais de políticas econômicas, a exemplo dos fatores
não-materiais considerados como objetivos finais.
4.2.3 Modelos PSR e PSIR
Duas metodologias largamente utilizadas no levantamento de problemas
relacionados ao desenvolvimento sustentável são os sistemas Pressão-Estado-
Resposta, Pressure-State-Response – PSR (OECD, 1993) e Pressão-Estado-Impacto-
Resposta, Pressure-State-Impact-Response – PSIR (SWART e BAKKES, 1995). Em
ambos os modelos, as causas dos problemas são identificadas e interpretadas
individualmente: analisam-se, primeiramente, as contribuições prejudiciais ao
funcionamento do sistema (Pressão); quantifica-se, em seguida, o estágio atual do
problema (Estado), efetua-se um maior detalhamento dos impactos prováveis e/ou
ocorridos (Impacto) e, finalmente, buscam-se as alternativas a serem adotadas para o
controle da situação encontrada (Resposta).
Um exemplo simplificado de aplicação prática desta metodologia é apresentado na
figura 4.4, com base nos estudos de Bossel (1999). O gás carbônico pode ser
considerado um elemento de Pressão para o equilíbrio do sistema natural. Sua
115
concentração na atmosfera (Estado) é causa direta do aumento de temperatura global
(Impacto). Uma alternativa a ser adotada (Resposta) é a implementação de políticas
de controle e redução de emissões deste tipo de gás:
Figura 4.4 – Exemplificação do modelo PSIR (modificado – BOSSEL, 1999)
A definição de indicadores utilizando-se os modelos PSR e PSIR tem sido
desenvolvida a partir da contextualização das pressões identificadas nas dimensões
ambientais, psicológicas, culturais, técnicas, econômicas, institucionais e políticas,
por meio de uma matriz específica de sustentabilidade, considerando-se, sobretudo,
as características locais e regionais associadas à existência do sistema em análise
(ALLENBY, 1999).
Apesar das análises de PSR e PSIR apresentarem relativa facilidade de
implementação e serem amplamente utilizadas em estudos de impacto ambiental,
Bossel (1999) considera estes modelos inadequados para a indicação de
sustentabilidade, devido ao tratamento individualizado dedicado às pressões externas
116
e internas, e, principalmente, por não considerarem em sua plenitude a dinâmica dos
sistemas naturais, sua capacidade evolucionária e suas condições de adaptabilidade e
reação a mudanças. Em consonância com o pensamento de Bossel (1999),
consideramos que os ecossistemas apresentam, frequentemente, reações não-lineares
às pressões, que não necessariamente podem ser associadas a um único aspecto do
problema. Faz-se necessária, portanto, uma complementação das relações causais na
identificação das pressões, considerando-se as influências diretas e indiretas entre os
sistemas e subsistemas associados ao problema.
4.2.4 Modelo Valentin & Spangenberg: Prisma de Sustentabilidade
Os indicadores de sustentabilidade devem ser construídos em uma ótica bilateral de
interesses, envolvendo não somente conteúdos técnico-científicos, mas, também, um
processo aberto de comunicação de aspirações e desejos expressos pelas
comunidades. Neste sentido, Valentin e Spangenberg (2000) estabeleceram algumas
questões relevantes para a determinação de prioridades na identificação e escolha de
indicadores:
1) Que interesses devem ser envolvidos no desenvolvimento de indicadores?
2) Como pode ser evidenciada a participação popular neste processo?
3) Quais indicadores são adequados para a comunidade e para os técnicos e
pesquisadores?
4) Como o conjunto de indicadores adotado pode auxiliar no processo de
tomada de decisões?
117
Para responder estas questões, estes autores desenvolveram um modelo de
identificação de indicadores partindo-se do princípio de que a sustentabilidade
consiste fundamentalmente em quatro dimensões: social, econômica, ambiental e
institucional. Estas dimensões interagem entre si na tomada de decisões, compondo o
chamado “Prisma de Sustentabilidade”. Todas as dimensões devem,
necessariamente, ser conectadas entre si para gerar os indicadores e as decisões que
guiarão a sociedade, resultando em um processo que envolverá tanto os grupos
sociais interessados no problema investigado, quanto os especialistas em disciplinas
científicas correlatas às questões propostas.
O modelo “Prisma de Sustentabilidade” parte de objetivos pré-determinados pelos
diversos grupos de interesse, discutidos e aprovados em fóruns organizados
especificamente para este fim. Uma vez definidos os objetivos, são, então,
determinados os indicadores propostos pelos representantes de cada grupo, buscando
o detalhamento necessário para responder as questões apontadas inicialmente. Os
objetivos são distribuídos de modo balanceado entre as quatro dimensões de
sustentabilidade, visando ampliar a abrangência das respostas e os limites de solução
para os problemas levantados. Estes indicadores geram informações que podem, por
fim, ser utilizadas para avaliar as políticas públicas e as atividades privadas que,
direta ou indiretamente, interferem no desenvolvimento sustentável da comunidade
em estudo.
Alguns indicadores são apresentados na figura 4.5, visando exemplificar o modelo
“Prisma de Sustentabilidade”. Na dimensão institucional de sustentabilidade, são
118
propostos três objetivos a serem discutidos nos fóruns de decisão participativa:
participação popular, controle de emissões e variedades de raças vivendo em
comunidades. Para o primeiro objetivo, participação popular, propõem-se os
indicadores “número de participantes em seminários” e “investimentos em
educação”. Para o segundo objetivo é sugerido como indicador “investimentos em
controle e proteção ambiental”. Já para o terceiro objetivo, os indicadores sugeridos
na metodologia são: “número de eventos comuns” e “número de casamentos entre
raças”.
Figura 4.5 – Exemplos de indicadores definidos por meio do modelo Prisma de Sustentabilidade
(modificado – VALENTIN e SPANGENBERG, 2000)
Para a dimensão ambiental é proposto como objetivo do Prisma de Sustentabilidade a
“eficiência no uso de recursos”, gerando como indicador o “uso da água para
produção industrial”. Outro objetivo proposto nesta dimensão é a “proteção de
ecossistemas e reservas naturais”, tendo como indicadores o “número de plantas e
119
animais ameaçados”, “áreas de solo em eutrofização” e “áreas de proteção
ambiental”.
Por outro lado, a dimensão econômica do modelo estabelece, neste exemplo, o
objetivo de identificar a qualidade da “educação básica”, propondo como indicadores
o “número de estudantes por professor” e o “número de pessoas com dificuldades em
encontrar emprego devido à baixa escolaridade”.
Por fim, a dimensão social de sustentabilidade, no exemplo da figura 4.6, busca o
objetivo de avaliar a “regionalização das ações governamentais”, tendo como
proposta de indicador a “distância percorrida pelos produtos naturais até sua
comercialização”. Todos os indicadores gerados neste modelo, portanto, partem de
discussões em fóruns multidisciplinares, o que garante um caráter democrático e
participativo no método proposto pelos autores Valentin e Spangenberg (2000),
podendo, inclusive, servir de base para tomadas de decisões acerca do processo de
design de produtos.
4.2.5 Modelo Bossel
Segundo o modelo utilizado por Bossel (1999) para identificação, medição e controle
do funcionamento dinâmico dos sistemas naturais, podendo-se estender tais
conceitos também para os sistemas produtivos no entorno do design sustentável e
socialmente responsável, alguns aspectos podem ser considerados essenciais no
processo de definição de indicadores de sustentabilidade:
120
Entendimento conceitual do sistema em sua totalidade – a representação da
viabilidade de um sistema deve partir, essencialmente, do conhecimento das
relações dos subsistemas entre si e com o mundo externo, bem como suas
contribuições para o funcionamento dinâmico do conjunto, dando uma visão
mais precisa do tipo de informação que o indicador irá expressar;
Identificação dos indicadores mais representativos – deve ser selecionado
um número reduzido de indicadores, buscando informações de maior
representatividade, concentrando-se nas variáveis que, efetivamente, possam
definir a viabilidade do sistema;
Quantificação da eficácia dos indicadores eleitos – esta é uma fase de
tradução das informações levantadas pelos indicadores e teste de
entendimento dos dados, verificando-se a legibilidade e precisão da
informação expressa; e
Condução do processo de forma participativa – os valores dos diversos
interesses sociais e institucionais devem ser considerados em todas as fases
do processo de definição do modelo de indicadores, visando ampliar o
espectro de conhecimento e experiência, bem como garantir a qualidade de
aplicação do modelo na realidade social, ambiental, econômica e
institucional do ecossistema.
Segundo Bossel (1999), os indicadores responsáveis pelo fornecimento de
informações diferentes sobre o funcionamento e as tendências dos sistemas são
classificados em três tipos:
121
a) indicadores de estado;
b) indicadores de fluxo; e
c) indicadores de conversão.
O primeiro tipo traz informações quanto ao estado atual do sistema, revelando
aspectos de ordem quantitativa, tais como o número de espécies de um determinado
bioma, quantidade populacional, nível de renda etc.. O segundo tipo de indicador
expressa o ritmo de mudança do sistema, apresentando os dados de variações de
estado em função do tempo, como, por exemplo, indicador anual de mortalidade ou
natalidade de determinada espécie, vazão mensal de água tratada ofertada a uma
cidade. Por fim, os indicadores de conversão podem ser também considerados
informações essenciais, que resultam no entendimento do estado e ritmo de
mudanças sistêmicas, analisados conjuntamente, tais como: médias diárias de
temperatura, grau de esgotamento de recursos naturais em determinado período de
tempo. Estas informações compõem o conjunto de indicadores e influenciam
decisivamente o processo de tomada de decisões, fornecendo dados quantitativos e
qualitativos, que devem ser considerados tanto isoladamente, quanto agregados a
outras leituras interpretativas, visando a maior facilidade no entendimento global do
sistema.
No modelo de indicadores proposto por Bossel (1999), são inicialmente considerados
três sistemas que interagem entre si para garantir a sustentabilidade em suas
dimensões mais amplas:
122
a) sistema humano;
b) sistema de suporte; e
c) sistema natural.
O primeiro sistema refere-se às condições necessárias à vida em comunidade, tais
como o desenvolvimento individual, a organização social e o sistema de governo. O
sistema de suporte está relacionado às condições de infra-estrutura e à economia,
necessárias ao desenvolvimento da vida em comunidade. E, por fim, o sistema
natural engloba a matriz de recursos da natureza e o resultado das ações humanas
como forma de transformação permanente do meio.
A principal razão da busca por indicadores é a busca de entendimento em tempo real
acerca das mudanças a que são submetidos os sistemas e, sobretudo, à possibilidade
de exercer o controle sobre elas, sempre que necessário (BOSSEL, 1999). Essas
taxas de mudanças provêem as informações mais relevantes sobre as tendências e a
viabilidade dos sistemas, sendo, portanto, a base dos indicadores de sustentabilidade.
Na maioria dos casos, a percepção da sustentabilidade somente poderá ser discutida
partindo-se de uma situação bem definida, considerando-se que os estágios de
adaptabilidade e auto-regulação dos sistemas naturais diferem entre si. Contudo,
alguns indicadores podem ser considerados comuns, englobando as condições
sociais, ambientais, econômicas e institucionais mais relevantes para a manutenção
da vida.
123
Para verificação da viabilidade de um sistema natural, Bossel (1999) propõe alguns
procedimentos iniciais, que compõem uma lista de verificação de seu funcionamento
e desempenho. O modelo aponta parâmetros de confrontação dos sistemas humano,
de suporte e natural, que visam essencialmente:
a) verificar quais fatores contribuem para a viabilidade de um determinado
sistema, por exemplo, ambientais, culturais, sociais, psicológicos,
econômicos, legais e institucionais; e
b) identificar quais orientadores básicos do sistema são influenciados pelo
funcionamento de outros sistemas ou pela ação de forças externas.
O autor considera, portanto, o caráter de interdependência e as influências entre os
sistemas como elementos essenciais de análise e definição para a medição da
sustentabilidade. A seguir, apresentam-se os parâmetros adotados como lista de
verificação no modelo em questão (Bossel, 1999):
1) Existência – o sistema pode existir no ambiente onde está inserido? O
sistema contribui ou exerce influência direta para a existência de outros
sistemas?
2) Efetividade – o sistema tem funcionamento efetivo? É auto-suficiente?
Contribui positiva ou negativamente para a efetividade e eficiência de
outros sistemas?
124
3) Liberdade de ações – o sistema tem a liberdade necessária para responder e
reagir às demandas de sobrevivência exigidas? Contribui positiva ou
negativamente para a liberdade de ação de outros sistemas?
4) Segurança – o sistema pode ser considerado seguro, confiável e estável?
Contribui para a seguridade, confiabilidade e estabilidade de outros
sistemas?
5) Adaptabilidade – o sistema adapta-se a novas mudanças e desafios?
Contribui para a flexibilidade e adaptabilidade de outros sistemas?
6) Coexistência – é compatível com a interação e existência de outros
sistemas? Contribui para a compatibilidade de outros sistemas?
7) Necessidades psicológicas – o sistema é compatível com as necessidades
psicológicas e culturais dos seus componentes ou subsistemas? Contribui
para o bem-estar psicológico de outras populações?
Os indicadores propostos e, consequentemente, os resultados desenvolvidos no
modelo Bossel são resultantes das respostas à lista de verificação de desempenho
ambiental do sistema, apresentadas em fóruns interdisciplinares de discussão,
relativas a aspectos específicos de cada problema de viabilidade para os sistemas
humano, de suporte e natural. Este enfoque permite o levantamento de informações
de fácil compreensão por parte dos usuários do modelo, além de expressar de modo
qualitativo e abrangente o universo de investigação, buscando identificar o estado
atual e o que se considera ideal para a melhoria de qualidade de vida nas regiões
estudadas, as necessidades da população, tipos de soluções integradas determinantes
125
para o processo de construção da sustentabilidade local, além dos caminhos para
implementação de políticas sustentáveis.
Para facilitar a visualização de sustentabilidade, os fatores de orientação podem ser
diagramados na forma de gráficos de teia. Deste modo, a sustentabilidade é expressa
em níveis de viabilidade, assumindo valores de 0 (zero) a 4 (quatro), ou seja, do nível
de insustentabilidade (nível 0) ao nível de sustentabilidade mais forte (nível 4). Os
níveis intemediários caracterizam, respectivamente, ameaças à sustentabilidade do
sistema, sustentabilidade fraca e sustentabilidade média. Nesta representação, são
considerados viáveis apenas os sistemas que tiverem a totalidade de indicadores
quantificados com níveis acima do nível 2 (dois), que é o valor adotado como limite
para as condições sustentáveis, indicando, também, uma situação de ameaça.
A figura 4.6 apresenta um exemplo de gráfico de teia, fundamentado em estudos
preliminares de Bossel (1999), em que o sistema natural tem quase a totalidade dos
parâmetros quantificados em níveis sustentáveis, com exceção do item “Liberdade de
ações”, que é identificado com nível de viabilidade 1 (um). Esta condição de
insustentabilidade pode sinalizar, de um lado, a ocorrência de algum tipo de pressão,
externa ou interna, no sentido de alterar as condições de funcionamento do sistema e,
de outro lado, sua incapacidade de reagir e responder adequadamente a estas
mudanças.
O “alvo” da figura representa a sustentabilidade, que pode ser facilmente identificada
quando o gráfico resultante da interseção dos níveis de cada parâmetro convergir
126
para um heptágono perfeito nos níveis considerados sustentáveis. As oscilações na
forma sinalizam, também, as forças e fraquezas do sistema em relação a cada item de
desempenho sugerido (Existência, Efetividade, Liberdade de Ações, Segurança,
Adaptabilidade, Coexistência e Necessidades Psicológicas), o que torna mais
objetivo e de fácil interpretação o processo de tomada de decisões.
Figura 4.6 – Visualização de sustentabilidade em sistemas naturais por meio do modelo Bossel
4.2.6 Modelo Indicador 95/99
O modelo Indicador 95, complementado pelo Indicador 99, é fruto de iniciativas
governamentais e da indústria da Holanda, na busca por adequação nos processos de
produção, consumo e oferta de serviços quanto a critérios de proteção ambiental e
segurança para a vida humana. Neste modelo, foram desenvolvidos diversos
instrumentos de gestão, chamados de Políticas de Produto Integrado (Integrated
Product Policy – IPP), tendo como base estrutural o Sistema de Gestão Ambiental
Orientado ao Produto (Product Oriented Environmental Management System),
estabelecendo ações sistemáticas para melhoria contínua de desempenho ambiental
127
para o ciclo de vida dos produtos, particularmente no âmbito da tomada de decisões
em design. Desta forma, a base metodológica do Indicador 95/99 está fortemente
relacionada ao processo de Análise do Ciclo de Vida (Life Cycle Assessment – LCA),
amplamente utilizado por designers, partindo-se do entendimento e utilização dos
chamados Eco-indicadores
17
, gerados nas análises de sistemas produtivos,
entendendo-se que, quanto maior o valor expresso pelos Eco-indicadores, maior será
o impacto do sistema no ambiente (GOEDKOOP et al., 2004).
O modelo Indicador 95/99 propõe indicadores para análise de impacto ambiental em
sistemas produtivos no que diz respeito a materiais, processos de produção,
processos de transporte, processos de geração de energia e cenários de deposição de
resíduos, desenvolvidos inicialmente a partir de análises específicas no contexto
industrial da Europa. A aplicação do modelo está estruturada em cinco etapas,
iniciadas com um cálculo rápido, que deverá ser detalhado e refinado no decorrer do
processo de análise, conforme sequência a seguir (GOEDKOOP et al., 2004):
a) Estabelecimento do propósito de cálculo para o Eco-indicador;
b) Definição do ciclo de vida;
c) Quantificação de materiais e processos;
d) Preenchimento de formulários e tabelas com dados quantitativos; e
e) Interpretação dos resultados.
17
No contexto da metodologia da Análise do Ciclo de Vida, o conceito de Eco-indicador descreve em
um único valor quantitativo uma medida do impacto ambiental causado ao longo de todo o ciclo de
vida de um determinado produto (ou de fases deste ciclo, sejam temporais, geográficas ou
128
A primeira etapa consiste na descrição do produto e dos componentes que serão
analisados, definindo se, por um lado, a análise será realizada exclusivamente para o
produto, isolada, ou se, por outro lado, serão realizadas comparações com outros
produtos semelhantes. Nesta fase, torna-se decisivo estabelecer o grau de precisão,
ou seja, o nível de acurácia, que será adotado para os cálculos. Como apontam
Goedkoop et al. (2004), o propósito destes primeiros cálculos é obter uma rápida
impressão sobre os mais expressivos impactos ambientais dos processos, de modo a
caracterizar uma lista inicial de itens para análise e detalhamento posterior.
A segunda etapa do modelo Indicador 95/99 consiste na definição do ciclo de vida
que se pretende analisar, partindo-se de um desenho esquemático do ciclo de vida do
produto, atentando-se tanto para o sistema produtivo quanto para o processo de
geração de resíduos. Desta forma, não apenas o produto propriamente dito é
analisado, mas todos os elementos envolvidos no entorno de sua produção,
estabelecendo-se as relações de dependência entre os materiais utilizados e as formas
ou componentes gerados, por exemplo, alumínio gerando a estrutura de uma
máquina, papel gerando os insumos para uso de um produto, vidro gerando um
detalhe estético-construtivo de um objeto etc.. A visualização esquemática facilita a
análise e torna mais abrangente e objetiva a tomada de decisões de projeto. A figura
4.7 apresenta um exemplo de desenho esquemático para representação do ciclo de
vida de componentes utilizados no desenvolvimento de uma cafeteira (GOEDKOOP
et al., 2004).
tecnológicas). A metodologia envolve a agregação de diversos efeitos ambientais através de um
sistema de ponderação específico (GRAEDEL e ALLENBY, 1995).
129
Figura 4.7 – Representação esquemática do ciclo de vida dos componentes de uma cafeteira
(modificado - GOEDKOOP et al., 2004)
A terceira etapa do modelo Indicador 95/99 inclui a quantificação de materiais e
processos em todas as fases do ciclo de vida dos produtos, adotando-se, para tanto,
valores específicos para as chamadas unidades funcionais do produto. Uma unidade
funcional é definida como os produtos e processos necessários para prover o
funcionamento e realizar a tarefa para a qual um produto foi desenhado, por um
determinado período de tempo ou vida útil (GOEDKOOP e SPRIENSMA, 2004;
GOEDKOOP et al., 2004). Por exemplo, para a análise de uma cafeteira, pode-se
adotar como unidade funcional a produção de cinco copos de café, duas vezes ao dia,
mantendo-os aquecidos por 2 horas, após a sua produção. Desta forma, os filtros de
papel e o consumo de energia para esta tarefa são elementos considerados
determinantes da unidade funcional da cafeteira.
130
A quarta etapa do modelo Indicador 95/99 constitui-se em seleção, documentação
por meio de formulário específico e cálculo dos indicadores considerados relevantes
na análise do processo de ciclo de vida em estudo. Os indicadores são previamente
estabelecidos por meio de tabelas desenvolvidas pelos pesquisadores referentes a
cada impacto relativo aos materiais utilizados na produção industrial. Os valores de
referência são, então, comparados aos padrões identificados nos processos
investigados e, por fim, catalogados em uma planilha simples, para posterior análise.
A última etapa deste modelo, a interpretação dos resultados, é, portanto, a leitura e
verificação dos dados levantados nas planilhas de indicadores e quantitativos
identificados no universo de estudo.
De acordo com Goedkoop et al. (2004), todo produto agride em certo grau o
ambiente em que é inserido, considerando-se, sobretudo, que os impactos ambientais
ocorrem não somente nas fases de extração de matérias-primas, produção,
distribuição e embalagem, mas também, e de modo frequente, durante a fase de
utilização, devido ao consumo de energia ou de materiais. Como afirma o autor, “[...]
a produção sustentável só pode ser atingida quando todos os atores do mercado
assumem suas próprias responsabilidades [...]” (GOEDKOOP et al., 2004, p. 1), o
que significa levar em conta, em todas as decisões, os aspectos relacionados ao meio
ambiente, desde os produtores ou indústrias, passando pelos fornecedores,
distribuidores e chegando aos consumidores finais.
131
4.2.7 Modelo Ethos
O modelo de indicadores desenvolvido pelo Instituto Ethos de Responsabilidade
Social Empresarial vem sendo aperfeiçoado anualmente no sentido de oferecer às
empresas uma ferramenta de avaliação do seu comprometimento com aspectos de
gestão que impactam a sustentabilidade ambiental, e fatores que caracterizam uma
gestão corporativa considerada responsável, sobretudo dos pontos de vista social e
ambiental.
Os indicadores são estruturados na forma de questionários, com uma escala evolutiva
de parâmetros e referências a serem utilizados como forma de balizamento das ações
e políticas da empresa avaliada. Apesar de se tratar de uma ferramenta para uso
interno, atualmente, o modelo tem sido adaptado, também, como parâmetro de
avaliação de fornecedores, ampliando a base de responsabilização do negócio em
esferas além dos limites físicos das empresas.
Conforme apresentado preliminarmente no capítulo III desta tese, o modelo Ethos é
estruturado a partir de 7 (sete) campos temáticos, cada qual com seu conjunto
específico de indicadores:
Valores, transparência e governança;
Público interno;
Meio ambiente;
Fornecedores;
Consumidores e clientes;
132
Comunidade; e
Governo e sociedade.
Os indicadores gerados para cada campo temático são aplicados inicialmente de
acordo com o estágio e a prática da empresa avaliada, situando a organização do
estágio mais básico até o mais avançado para o entendimento do tema. Este primeiro
conjunto de indicadores é chamado de “indicadores de profundidade”, considerados
para cada campo temático.
O segundo conjunto de indicadores é desenvolvido por meio de questões binárias
(sim ou não), qualificando as respostas de acordo com o estágio de responsabilidade
sócio-ambiental identificado para a empresa. Este segundo conjunto de indicadores
contribui para o entendimento das práticas atuais, identificando pontos que devem
ser corrigidos no sentido de se atingir um nível de responsabilidade empresarial mais
adequado para o sistema produtivo analisado.
O terceiro conjunto de indicadores do modelo Ethos é estruturado a partir de dados
quantitativos, coletados sistematicamente e confrontados com as respostas
preliminarmente apresentadas. O questionário é, então, preenchido e formalizado
pela empresa, utilizando-se, para tanto, um grupo de funcionários especificamente
selecionados para esta tarefa, que atuarão como os gestores do processo interno de
avaliação, contribuindo decisivamente para o auto-diagnóstico da empresa. Por fim,
os resultados do questionário trazem para o corpo diretivo uma leitura das práticas
atuais e sinalizam áreas que ainda requerem um esforço maior da empresa, na busca
133
por um padrão de responsabilidade social e ambiental mais adequado ao campo de
atuação da corporação.
A figura 4.8 apresenta um excerto do questionário utilizado para avaliação das ações
empresariais segundo o modelo de indicadores Ethos, evidenciando os principais
itens de sua estrutura.
Figura 4.8 – Estrutura do questionário para aplicação dos indicadores Ethos
(modificado - ETHOS, 2006)
A estrutura do questionário permite um planejamento simplificado das ações de
fortalecimento da responsabilidade social da empresa em análise, a partir do
preenchimento de uma escala de indicadores de fácil legibilidade, apontando
134
diretrizes para a formulação de metas de aperfeiçoamento do sistema produtivo
(ETHOS, 2006).
O Instituto Ethos, por meio de seu website institucional, também desenvolveu o
chamado “banco de práticas”, onde as empresas associadas que considerarem ter
atingido o estágio mais elevado em algum dos indicadores são convidadas a relatar
suas práticas, contribuindo, assim, para uma disseminação mais efetiva dos
conhecimentos adquiridos por meio do modelo e o avanço na definição dos
indicadores de sustentabilidade e responsabilidade social mais relevantes para as
empresas avaliadas.
18
A tabela 4.2 apresenta o conjunto de indicadores definidos pelo Instituto Ethos, em
sua versão 2006, partindo dos 7 (sete) campos temáticos estabelecidos como
parâmetros iniciais de orientação para práticas socialmente responsáveis, totalizando
40 (quarenta) indicadores (ETHOS, 2006).
18
Fonte: http://www.ethos.org.br
135
Tabela 4.2 – Conjunto de indicadores Ethos
Campo
Temático
Foco Nº Indicador
1 Compromissos éticos
2 Enraizamento na cultura organizacional
Auto-regulação da
conduta
3 Governança corporativa
4 Relações com a concorrência
5 Diálogo e engajamento com as partes interessadas
Valores,
transparência e
governança
Relações transparentes
com a sociedade
6 Balanço social
7 Relações com sindicatos Diálogo e participação
8 Gestão participativa
9 Compromisso com o futuro das crianças
10 Compromisso com o desenvolvimento infantil
11 Valorização da diversidade e promoção da
equidade racial e de gênero
12 Compromisso com a equidade racial
13 Compromisso com a equidade de gênero
Respeito ao indivíduo
14 Relações com trabalhadores terceirizados
15 Política de remuneração, benefícios e carreira
16 Cuidados com saúde, segurança e condições de
trabalho
17 Compromisso com o desenvolvimento
profissional e empregabilidade
18 Comportamento frente a demissões
Público interno
Trabalho decente
19 Preparação para a aposentadoria
20 Comprometimento da empresa com a melhoria da
qualidade ambiental
Responsabilidade frente
às gerações futuras
21 Educação e conscientização ambiental
22 Gerenciamento do impacto no meio ambiente e
do ciclo de vida de produtos e serviços
23 Sustentabilidade da economia florestal
Meio ambiente
Gerenciamento do
impacto ambiental
24 Minimização de entradas e saídas de materiais
25 Critérios de avaliação e seleção de fornecedores
26 Trabalho infantil na cadeia produtiva
27 Trabalho forçado (ou análogo ao escravo) na
cadeia produtiva
Fornecedores Seleção, avaliação e
parceria com fornecedores
28 Apoio ao desenvolvimento de fornecedores
29 Política de comunicação comercial
30 Excelência do atendimento
Consumidores e
clientes
Dimensão social do
consumo
31 Conhecimento e gerenciamento dos danos
potenciais dos produtos e serviços
32 Gerenciamento do impacto da empresa na
comunidade de entorno
Relações com a
comunidade local
33 Relações com organizações locais
34 Financiamento da ação social
Comunidade
Ação social
35 Envolvimento da empresa com a ação social
36 Contribuições para campanhas políticas
37 Construção da cidadania pelas empresas
Transparência política
38 Práticas anti-corrupção e anti-propina
39 Liderança e influência social
Governo e
sociedade
Liderança social
40 Participação em projetos sociais governamentais
Fonte: (ETHOS, 2006)
136
4.2.8 Modelo GRI
O Global Reporting Iniciative (GRI) é uma organização internacional sem fins
lucrativos que tem por finalidade o desenvolvimento de parâmetros específicos para
comunicação de desempenhos econômicos, ambientais e sociais em empresas de
todos os portes, por meio de “relatórios de sustentabilidade”, que são publicações
voltadas para a apresentação do desempenho de uma organização em determinado
período de tempo, segundo as diversas dimensões de sustentabilidade estabelecidas
como ideiais para um sistema produtivo (GRI, 2007).
Iniciada em 1997, atualmente sediada na Holanda, a organização tem se dedicado ao
desenvolvimento de indicadores de sustentabilidade, implementados globalmente,
com vistas a atingir um padrão de comunicação mundialmente aceito, com base no
engajamento de diversos stakeholders, que apresentam suas práticas e os princípios
norteadores para o desenvolvimento de relatórios, continuamente aperfeiçoados com
o uso de indicadores específicos. Desde 1999, as Nações Unidas, por meio do
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento e o Meio Ambiente, integram
o quadro de colaboradores da inciativa, assegurando a implementação de uma
plataforma global com forte acreditação para o projeto, que, hoje, envolve
aproximadamente 1.000 organizações em mais de 60 países (GRI, 2007).
O relatório desenvolvido pela GRI foi concebido para dar suporte à comunicação dos
valores de sustentabilidade desenvolvidos por organizações de qualquer porte,
localização ou setor, com uma série de diretrizes e orientações para o conteúdo
propriamente dito, construído a partir de indicadores de desempenho e outros itens de
137
divulgação de resultados considerados relevantes para o entendimento do perfil da
empresa, como, por exemplo, princípios de equilíbrio, comparabilidade, exatidão,
periodicidade, confiabilidade e clareza na divulgação de seus resultados (GRI, 2007).
A estrutura do relatório parte da definição do perfil da instituição, com informações
detalhadas sobre o desempenho organizacional, suas estratégias e estilo de
governança. Também é descrita no relatório de sustentabilidade a forma de gestão da
empresa, buscando o fornecimento de informações para a compreensão de seu
contexto particular de atuação. Por fim, são aplicados os indicadores de desempenho
em diversas áreas, que procuram garantir a comparabilidade do estágio de
sustentabilidade da empresa em relação a outros sistemas produtivos já relatados pelo
modelo GRI, partindo-se do entendimento de suas práticas internas e externas.
Os indicadores são elaborados a partir de dimensões consideradas essenciais para a
percepção do estágio de sustentabilidade da empresa, dentro dos seguintes aspectos:
Indicadores de desempenho econômico (EC);
Indicadores de desempenho ambiental (EN);
Indicadores de desempenho social (SO);
Indicadores de desempenho referentes a práticas trabalhistas e trabalho
decente (LA);
Indicadores de desempenho referentes a direitos humanos (HR); e
Indicadores de desempenho referentes à responsabilidade pelo produto (PR).
138
A definição de indicadores é um processo interno que busca levantar uma série de
temas considerados relevantes para a atuação da empresa. Além disso, o nível de
agregação dos dados apresenta-se como uma etapa essencial para garantir que dados
significativos não sejam perdidos, implicando em resultados conflitantes ou
imprecisos. Neste sentido, a GRI sugere uma clara explicação deste processo no
escopo do relatório, evidenciando sua transparência e responsabilidade para com o
público interessado.
A dimensão econômica da organização é identificada no relatório por meio de
indicadores voltados para o fluxo de capital entre os diversos stakeholders e,
também, os principais impactos econômicos sobre a sociedade de forma abrangente.
Alguns indicadores considerados essenciais para esta dimensão de sustentabilidade
são: valor econômico gerado e distribuído (EC 1), cobertura das obrigações
financeiras (EC 3), investimentos em infraestrutura (EC 8), entre outros.
A dimensão ambiental está focada para a identificação dos impactos sobre os
sistemas naturais, fluxos de materiais e insumos no sistema produtivo, além do
quantitativo de emissões, efluentes e resíduos no final da cadeia de produção. Alguns
indicadores essenciais nesta dimensão de sustentabilidade são: materiais usados por
peso e volume (EN 1), percentual de materiais oriundos de reciclagem (EN 2),
consumo de energia (EN 3), total de água retirada por fonte (EN 8), emissões diretas
e indiretas de gases de efeito estufa (EN 16), entre outros.
139
A dimensão social da sustentabilidade é abarcada no relatório GRI por meio dos
impactos da organização nos sistemas sociais nos quais opera, voltados, basicamente,
para práticas trabalhistas, direitos humanos, sociedade e responsabilidade pelo
produto. Alguns dos indicadores essenciais para esta dimensão são: taxa de
rotatividade no emprego (LA 2), taxa de lesões e doenças ocupacionais (LA 7),
número de casos de discriminação e as medidas tomadas (HR 4), operações de risco
para ocorrência de trabalho forçado (HR 7), políticas anti-corrupção (SO 3), multas
referentes a não-conformidades com leis e regulamentos (SO 8), avaliação do ciclo
de vida de produtos e suas melhorias (PR 1), não-conformidades de produtos (PR 9)
entre outros.
A figura 4.9 apresenta a estrutura de organização adotada pelo GRI para elaboração
de relatórios de sustentabildade. Os contextos relatados a partir dos princípios e
orientações iniciais são confrontados com os resultados econômicos, ambientais,
práticas trabalhistas, direitos humanos, relações com a sociedade e responsabilidade
para com o produto ou serviço da empresa, diante dos três focos estruturais do
relatório: perfil, forma de gestão e indicadores.
140
Figura 4.9 – Base para elaboração do relatório de sustentabilidade GRI
(modificado - GRI, 2007)
O modelo GRI atua, também, com indicadores adicionais, que são aspectos que
podem ser relevantes para uma determinada empresa, mas que, de modo geral, não
são considerados parâmetros comuns a todas as instituições que buscam relatar a
sustentabilidade de acordo com as diretrizes preliminarmente estabelecidas. Após a
divulgação do relatório, as práticas da empresa são sistematica e periodicamente
revistas, visando atingir estágios cada vez mais avançados no que diz respeito às
práticas empresariais consideradas sustentáveis e socialmente responsáveis.
141
4.3 MODELO PROPOSTO PARA DEFINIÇÃO DE INDICADORES
DE SUSTENTABILIDADE E RESPONSABILIDADE SOCIAL NO
ÂMBITO DO DESIGN
Propõe-se, no âmbito desta tese, um modelo de indicadores voltado especificamente
para avaliar a adequação do processo de desenvolvimento de produtos, tomando-se
por base os princípios de sustentabilidade e responsabilidade social, detalhados nos
capítulos II e III. O modelo em questão, doravante chamado de modelo de
Indicadores de Design, Sustentabilidade e Responsabilidade Social (IDSRS), baseia-
se nas análises realizadas na seção 4.2, deste capítulo, e, particularmente, nos estudos
preliminares de Bossel (1999), Valentin e Spangenberg (2000), Souza (2003) e
Souza e Santos (2003), tendo um nível de detalhamento crescente em função das
necessidades de cada grupo gestor do processo de produção industrial, sobretudo no
que diz respeito a tomada de decisões associadas às dimensões de sustentabilidade
apresentadas como base de reflexão nesta tese, isto é, ambiental, social, econômica e
institucional, analisadas de modo individualizado em relação às diversas fases do
projeto de design de produtos.
Conforme discutido anteriormente, para um entendimento mais profundo acerca das
características de um sistema natural ou artificial, além de uma identificação prévia
de seus componentes essenciais, faz-se necessário a definição de parâmetros
(indicadores) que forneçam informações confiáveis sobre sua viabilidade e adaptação
evolutiva
19
. Segundo Valentin e Spangenberg (2000), uma das tarefas mais
importantes para a construção de um conjunto de indicadores de sustentabilidade e
19
Ver estudos preliminares de Bossel (1999).
142
responsabilidade social é refletir sobre a matriz energética e os tipos de recursos
necessários ao funcionamento do sistema em questão, influenciando diretamente a
tomada de decisões e a avaliação de sua qualidade, de forma ampla.
Diante disso, o modelo IDSRS parte de um núcleo central de reflexão, que representa
a base de recursos a serem utilizados como matéria-prima para o processo produtivo,
sejam estes recursos naturais, por exemplo, rios, lagos, florestas, fauna e flora,
recursos minerais etc., ou recursos derivados de um segundo ciclo de vida (matéria-
prima reprocessada, materiais reciclados, produtos reutilizados etc.). Desta forma, os
fundamentos de análise quanto ao uso dos recursos estão baseados em quatro
conceitos considerados essenciais para a decisão de utilização de um determinado
tipo de matéria-prima ou fluxo energético no sistema de produção (BOSSEL, 1999):
a) Qualidade;
b) Eficiência;
c) Suficiência; e
d) Eqüidade.
O conceito de qualidade, associado ao uso de determinado tipo de recurso, definirá o
grau de impacto, negativo ou positivo, desta matéria-prima em relação ao equilíbrio
dinâmico do sistema produtivo, diante dos valores definidos previamente como
ideais para sua continuidade, influenciando em larga escala as decisões de projeto e
todo o ciclo de vida do produto.
143
A eficiência no uso de matéria e energia para a produção relaciona-se diretamente à
capacidade de interação e funcionamento harmônico das etapas produtivas e sua
contribuição para a evolução do sistema em si. Esta tomada de decisão também
exigirá do designer uma visão do todo, no sentido de buscar alternativas mais
adequadas, levando-se em conta todas as dimensões de sustentabilidade associadas
ao desenvolvimento do produto.
A análise da suficiência do recurso a ser utilizado no sistema de produção diz
respeito à quantidade de matéria-prima necessária para prover a auto-regulação e
continuidade da atividade industrial, sem o comprometimento das condições de
sobrevivência das espécies e ecossistemas do entorno produtivo. Vale ressaltar que
os recursos reprocessados, obtidos fundamentalmente por meio de processos de
reciclagem, também possuem impactos, muitas vezes altamente nocivos, que devem
ser considerados na tomada de decisões quanto a sua escolha como matéria-prima,
sobretudo, a partir da metodologia de Análise do Ciclo de Vida (Life Cycle
Assessment – LCA).
Por fim, o conceito de eqüidade traz, para a decisão de escolha sobre a utilização de
um determinado recurso, sobretudo os recursos naturais, como matéria-prima para a
produção industrial, um parâmetro básico de justiça, quanto ao direito e acesso
universal ao equilíbrio do meio ambiente, conforme disposto na Constituição Federal
do Brasil, de 1988, em seu Artigo 225:
144
Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,
bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida,
impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-
lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações (BRASIL,
2003, p. 211).
Busca-se, a partir do entendimento destes quatro conceitos, compreender, de um
lado, o grau de equilíbrio dinâmico dos sistemas analisados, seu funcionamento e as
relações de dependência entre suas partes, sua capacidade de auto-regulação e, de
outro lado, especificamente tratando-se do critério de justiça e equidade entre os
povos, o grau de acesso das comunidades a esses recursos. Este entendimento
permitirá, ao designer ou ao responsável pela tomada de decisões de projeto, realizar
uma definição de materiais e fluxos energéticos mais adequados no processo de
produção industrial.
Os alicerces e fundamentos construídos a partir do núcleo central do modelo IDSRS
servem de parâmetros iniciais para definição de sustentabilidade em cada eixo de
reflexão, sendo, posteriormente, confrontados em uma classificação que tem como
base alguns itens relevantes para o equilíbrio dinâmico dos sistemas sócio-ambientais
de interesse para o designer e para o grupo gestor. Esta confrontação é realizada
partindo-se da lista de verificação dos parâmetros de viabilidade em sistemas naturais
proposta por Bossel (1999), ou seja, eficiência, efetividade, liberdade de ações,
segurança, adaptabilidade, coexistência e necessidades psicológicas, conforme
descrito na seção 4.2.5, deste capítulo.
Além dos itens integrantes da lista de verificação de desempenho, também são
confrontados os critérios específicos do projeto de design na determinação dos
145
fatores considerados relevantes em cada dimensão de sustentabilidade proposta para
o sistema produtivo em análise, como, por exemplo, materiais que geram impactos
danosos ao ambiente, processos que consomem energia em excesso, tecnologias mais
apropriadas para o sistema produtivo em particular, bem como critérios de adequação
de design para sustentabilidade, tais como, desmontagem, reciclagem, identificação
de materiais etc.
A partir destas análises, são definidos os indicadores a serem utilizados para cada
dimensão de sustentabilidade (ambiental, social, econômica e institucional). O
modelo IDSRS, também, prevê a necessidade de se estabelecer prazos para testes e
revisão dos indicadores propostos, buscando uma atualização constante,
considerando-se, principalmente, as mudanças adaptativas exigidas durante o
processo evolutivo de cada sistema produtivo. Por fim, são gerados os resultados de
sustentabilidade e responsabilidade social e são estabelecidos parâmetros de
ponderação específicos para cada fase do processo de produção, visando estabelecer
condições que permitam avaliar a adequação do projeto de design. O processo de
visualização dos resultados do modelo IDSRS será detalhado nas próximas seções
deste capítulo.
É importante salientar que as definições e classificações de indicadores levantados a
partir do modelo IDSRS serão determinantes para confrontar os significados
analisados nas quatro dimensões de sustentabilidade, possibilitando, assim, a
utilização dos dados, de um lado, em modelos analíticos voltados para a avaliação da
qualidade sócio-ambiental e dos graus de impacto das atividades antrópicas na
146
natureza e na sociedade; e, de outro lado, em modelos de simulação matemática,
atribuindo-se valores numéricos para os itens levantados dentro de cada parâmetro de
viabilidade dos sistemas em análise. Vale ressaltar que a criação de modelos
analíticos e de simulação matemática, como, por exemplo, softwares de avaliação de
sustentabilidade, está claramente fora do escopo desta tese, conforme descrito na
seção 1.8, do capítulo I, sendo uma proposta para futuros trabalhos de investigação.
Uma representação esquemática do modelo IDSRS, proposto no âmbito desta tese, é
apresentada na figura 4.10.
Figura 4.10 – Representação esquemática do modelo IDSRS
147
4.4 DEFINIÇÃO DE INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE E
RESPONSABILIDADE SOCIAL PROPOSTOS NO MODELO IDSRS
Nesta seção, apresentam-se os indicadores definidos como base para a avaliação de
critérios de sustentabilidade e responsabilidade social aplicados ao processo de
design.
De acordo com Manzini e Vezzoli (2002), a busca de sustentabilidade, associada a
uma atuação mais responsável por parte do designer, está fortemente relacionada à
capacidade de implementação de sistemas produtivos que possam responder a
requisitos sociais e ambientais em seus produtos, usando a menor quantidade
possível de recursos naturais, em comparação com os padrões atuais da indústria.
Neste sentido, os designers e decisores do processo produtivo devem coordenar todo
produto, serviço e comunicação que possam contribuir para clarificar as alternativas
de design e soluções técnicas que efetivamente atendam às inovações sociais e
culturais. Diante disso, os indicadores de sustentabilidade e responsabilidade social
propostos para o processo de design devem abarcar, de um lado, aspectos fortemente
relacionados ao sistema produtivo, e, de outro lado, decisões que respeitem as
expectativas da sociedade e a utilização equilibrada dos recursos naturais.
Neste sentido, Souza e Santos (2003) apresentam um modelo estrutural de
indicadores que associa a abordagem de projeto de design ao processo de tomada de
decisões, considerando a necessidade crescente de atendimento às demandas sociais
e éticas no processo de design.
148
A figura 4.11 apresenta os tipos de decisões e indicadores propostos pelos autores
para cada etapa do processo de design.
Figura 4.11 – Indicadores associados às demandas sociais e ambientais do processo de design
(modificado - SOUZA e SANTOS, 2003)
De modo abrangente, os autores consideram o processo de design composto de
quatro fases:
1) Produção/Manufatura (fase I);
2) Consumo e Uso / Serviço (fase II);
3) Descarte / Deposição (fase III); e
4) Reciclagem e Reuso / Redesign (fase IV).
149
Na fase de Produção e Manufatura, os indicadores de sustentabilidade estão
associados às decisões nos âmbitos físico e produtivo, isto é, consumo energético em
todas as etapas da produção, diversidade de materiais utilizados no desenvolvimento
dos produtos, grau de perda na linha de montagem, além dos impactos físicos e
toxidade do sistema produtivo, embalagem e transporte de materiais. Desta forma, a
fase 1 apresenta tomadas de decisão exclusivamente relacionadas ao corpo diretor, e,
portanto, de ordem interna da empresa.
A fase seguinte, Consumo e Uso / Serviço, tem indicadores associados ao uso efetivo
do produto de design, como, por exemplo, o consumo energético, as necessidades de
espaço e limpeza, a capacidade de usos múltiplos em um único produto, além de
durabilidade, possibilidade de desmontagem e modularidade. As decisões na fase 2
partem do meio externo à empresa, sobretudo por meio de adequações impostas por
legislações voltadas ao público consumidor, do plano político onde o produto é
inserido, bem como da mercadologia e das estratégias comerciais de diferenciação da
concorrência.
Na fase 3, Descarte / Deposição, as atenções são concentradas nos processos de
renaturalização e ciclo de vida do produto, gerando indicadores de sustentabilidade
que apontam a adequação do design no âmbito da Ecologia Industrial
20
, por
exemplo, a capacidade de decomposição do produto, biodegradação, deposição
adequada dos materiais etc.. Aqui, o desenvolvimento ético de produtos apresenta-se
como um forte indicador de sustentabildiade e responsabilidade social, em
20
Ver estudos preliminares de Graedel e Allenby (1995).
150
atendimento às expectativas da sociedade. As decisões desta fase projetual partem da
empresa, mas fundamentam-se em decisões nos planos político e social.
A última fase do processo de design na proposta dos autores Souza e Santos (2003),
Reciclagem e Reuso / Redesign, apresenta indicadores diretamente associados a uma
atuação socialmente e ambientalmente responsável por parte do designer,
respondendo às demandas sociais e éticas na geração de idéias e respostas projetuais
de design (capacidade de reutilização, atualização ou adaptação do produto,
indicação de materiais orientados à reciclagem, possibilidades de revenda,
redistribuição e redesign). As decisões passam cada vez mais pelas necessidades de
atendimento às expectativas da sociedade, tomando os aspectos éticos como
parâmetros decisivos na atividade projetual em design de produtos.
Partindo-se do modelo inicialmente proposto por Souza e Santos (2003), ampliado
pelo modelo IDSRS proposto, apresentam-se, a seguir, indicadores de
sustentabilidade e responsabilidade social, gerados e propostos a partir das
perspectivas ambiental, social, econômica e institucional, buscando avaliar a
qualidade do processo de design. Vale a pena ressaltar que é apresentada, no âmbito
desta tese, uma demonstração do modelo proposto, gerando-se preliminarmente 5
(cinco) indicadores para a análise de cada fase de design, sendo perfeitamente
possível, em uma aplicação futura, a ampliação ou redução deste número, de acordo
com a necessidade específica de cada sistema produtivo. Estes indicadores compõem
uma estrutura de análise que permite incluir e/ou excluir informações em função de
sua relevância para a avaliação de cada fase do processo de design em estudo.
151
4.4.1 Aplicação do modelo IDSRS na fase de Produção / Manufatura
Os indicadores definidos na fase de Produção / Manufatura do processo de design
estruturam um sistema de informações capaz de identificar e medir os impactos do
processo produtivo de modo qualitativo e quantitativo em todas suas etapas,
considerando-se as demandas energéticas e materiais necessárias para a produção, as
adequações às normas internacionais de qualidade, a capacidade produtiva e
econômica da empresa, além do seu relacionamento com o público interno, códigos
de ética e comunicação.
A aplicabilidade dos indicadores propostos será, posteriormente, demonstrada por
meio de estudos de caso, buscando a visualização dos resultados do modelo IDSRS,
e, consequentemente, uma compreensão da problemática da sustentabilidade e da
responsabilidade social relacionada ao processo produtivo, suas origens, limites e
tendências, particularmente os aspectos relacionados com o design de produtos.
4.4.1.1 Demanda de energia para produção
A produção sustentável é um item do desenvolvimento que determina um modelo
para a indústria local, buscando-se, sobretudo, a produção industrial que respeite os
limites de utilização dos recursos naturais. Para tanto, propõe-se como indicador a
demanda de energia exigida para os padrões de produção traçados para um
determinado processo produtivo. Pode-se quantificar, entre outros dados:
a) percentual de energia alternativa, por exemplo, energia eólica ou solar,
utilizada na produção industrial;
152
b) quantidade de recursos naturais utilizados como fonte de energia; e
c) áreas degradadas e/ou exploradas para fins de transmissão de energia
elétrica.
A análise destas informações auxilia a tomada de decisões quanto à implementação
de políticas de desenvolvimento adequadas à realidade local, além de considerar
aspectos importantes para a manutenção do equilíbrio ambiental.
4.4.1.2 Diversidade de materiais para produção
A diversidade de materiais em um processo produtivo, de modo geral, ocasiona um
impacto energético elevado, sobretudo no que diz respeito às conexões entre
materiais de diferentes naturezas, além de aumentar a complexidade dos processos de
desmontagem, reciclagem e redesign. Pode-se identificar, por exemplo, o número de
materiais necessários para confeccionar determinado produto e as quantidades
proporcionais destas matérias-primas no produto final, permitindo, inclusive, a
identificação das perdas durante a implementação do processo produtivo.
4.4.1.3 Grau de toxidade da produção ou do produto final
Este indicador é proposto para identificar o impacto relativo à toxidade do processo
produtivo, seja, por um lado, por meio de emissão de gases, geração de resíduos ou
lançamento de efluentes, ou, por outro lado, pela utilização de materiais tóxicos
como tintas, materiais radioativos ou elementos capazes de causar danos à saúde
humana e aos ecossistemas no entorno da produção.
153
4.4.1.4 Normalização
Busca-se, aqui, a identificação de conformidades no processo produtivo quanto às
normas internacionais de qualidade industrial, por exemplo, as normas ISO 14.000 e
SA 8000. As empresas que têm suas linhas e processos de produção certificados
apresentam, de modo geral, mais segurança e confiabilidade no sentido de prevenir
acidentes e reduzir o nível de inadequações em seus sistemas internos, bem como
evidenciam o fomento institucional para a adoção de procedimentos “verdes” e uso
de tecnologias “limpas” em seus processos produtivos. Pode ser quantificado por
meio do número de auditorias ambientais em empresas de risco potencial ou pelo
grau de conhecimento a respeito das normas por parte dos funcionários.
4.4.1.5 Embalagem
O resultado do pós-uso de embalagens são resíduos sólidos que comprometem
seriamente a vida em comunidade e que implicam em grandes dificuldades de gestão
por parte dos órgãos públicos, o que revela um aspecto negativo do processo
produtivo, do ponto de vista da responsabilidade social. Neste sentido, este indicador
é proposto para verificar se o projeto de design abarcou a preocupação com os
impactos gerados por embalagens (peso físico, quantidade de processos necessários
para reciclagem, matéria-prima etc.). Pode-se identificar claramente a qualidade de
um produto e, mais ainda, do seu processo de design, a partir dos dados gerados pelo
indicador de impacto de embalagens.
154
4.4.2 Aplicação do modelo IDSRS na fase de Consumo & Uso / Serviço
Os indicadores definidos nesta fase do processo de design visam a medição do
resultado do processo produtivo durante o consumo ou uso do produto ou serviço
adquirido. Propõe-se, por exemplo, a visualização de fatores como a adequação legal
do produto, as necessidades de embalagem e transporte, demanda energética para o
consumo ou uso, além da própria satisfação dos clientes.
4.4.2.1 Atendimento à legislação
Este indicador propõe a verificação do processo produtivo no que diz respeito às
questões ligadas à proteção ambiental. Pode-se identificar, por exemplo, o número de
processos abertos decorrentes do uso do produto ou dos serviços prestados pela
empresa, possibilitando uma análise da eficácia do processo produtivo propriamente
dito, ou se a empresa está em dia com suas obrigações legais e fiscais.
4.4.2.2 Impacto associado ao uso do produto
Este indicador é proposto para identificar se o uso do produto gera algum tipo de
matéria, resíduo ou emissão de poluentes (risco real ou potencial), verificando,
inclusive, se os usuários estão sujeitos a algum tipo de risco físico, psicológico ou
ambiental durante sua manipulação, tais como choque elétrico, emissões de energia
eletromagnética, riscos de contaminação e ferimentos.
4.4.2.3 Consumo de energia no uso do produto
A demanda de energia no uso do produto revela a preocupação do designer em
realizar um projeto de baixo, médio ou alto impacto na fase de uso/consumo. Assim,
155
este indicador é proposto para verificar o grau de responsabilidade do designer e da
empresa no que diz respeito à não disponibilização no mercado de produtos que
requerem alto consumo energético.
4.4.2.4 Multifuncionalidade
O critério de multifuncionalidade permite a diversificação de uso de um produto ou
serviço, o que otimiza sua usabilidade e permite um melhor aproveitamento
energético nesta fase. Desta forma, este indicador é proposto para verificar se o
processo projetual prevê o multiuso, ou a multifuncionalidade, de determinado
produto ou serviço proposto, ampliando as possibilidades de estensão em seu ciclo de
vida.
4.4.2.5 Bem-estar
Este indicador propõe a verificação do resultado concreto obtido a partir da aquisição
de determinado produto ou serviço, identificando, por exemplo, a percepção do
usuário / consumidor no que diz respeito a relevância do trabalho da empresa no
processo de desenvolvimento cultural e sócio-econômico de determinado público-
alvo ou, do ponto de vista do endomarketing, a qualidade e as condições de trabalho
oferecidas aos funcionários da corporação, identificando, por exemplo, suas
possibilidades de desenvolvimento pessoal e profissional.
156
4.4.3 Aplicação do modelo IDSRS na fase de Descarte/ Deposição
Os indicadores definidos nesta fase do processo de design visam a verificação das
possibilidades de descarte e deposição dos produtos e matérias-primas utilizadas em
sua produção.
4.4.3.1 Descarte e deposição do lixo
Os depósitos de matéria orgânica e inorgânica no meio físico representam um grave
obstáculo no processo de auto-regulação dos ecossistemas, inviabilizando, muitas
vezes, sua continuidade e evolução sistêmica. Os dados levantados por estes
indicadores permitem definir políticas adequadas para a vida em comunidade, limites
para as empresas produtoras e, principalmente, uma gestão efetiva das áreas naturais
mais representativas.
4.4.3.2 Reciclabilidade de matéria-prima
A quantificação do uso de matéria-prima reciclada é um importante indicador do
modelo de crescimento adotado para uma região, buscando-se, com isso, maior
harmonização entre as demandas industriais e os limites do meio natural. Este
indicador propõe-se a auxiliar as autoridades responsáveis pela proteção ambiental
na determinação de modelos de desenvolvimento regional mais adequados e,
sobretudo, sustentáveis, indicando, por exemplo, o reaproveitamento das sobras e
perdas associadas ao processo produtivo.
157
4.4.3.3 Desmontagem
O desenho de produtos orientado para a desmontagem permite uma otimização
expressiva dos processos de reciclagem e reaproveitamento de materiais. A
existência deste procedimento e uma atitude projetual de design com esta ênfase
apresenta-se como um forte indicador de sustentabilidade e responsabilidade social
para o processo produtivo em estudo.
4.4.3.4 Código de ética
A presença de um código de ética em uma corporação pode revelar uma preocupação
em adequar suas práticas no que diz respeito ao atendimento das expectativas da
sociedade. Pode-se verificar, por exemplo, as decisões tomadas e a conformidade dos
processos segundo os princípios acordados comumente com a comunidade interna da
empresa, expressos na documentação proposta pelo código. Também é possível
identificar se os diversos públicos de relacionamento da empresa reconhecem a
transparência e adequação de suas práticas em uma perspectiva solidária e ética.
4.4.3.5 Antecipação
Este indicador visa identificar o potencial de organização das instituições produtivas,
tanto no sentido de prevenir ocorrências de poluição, quanto na capacidade de ação
coordenada em casos de desastres, naturais ou acidentais, buscando a minimização
dos danos à natureza e à sociedade. Verifica-se, por exemplo, a existência e a
eficácia dos Planos de Contingência e Emergência, bem como a adequação das
práticas de gestão de riscos, as ações interinstitucionais e definição dos
procedimentos de segurança necessários para a região.
158
4.4.4 Aplicação do modelo IDSRS na fase de Reciclagem & Reuso / Redesign
Os indicadores definidos nesta fase do processo de design visam a medição do
compromisso do designer e dos tomadores de decisão no que diz respeito à
destinação correta do resultado da produção, quando não é mais possível utilizar um
produto ou serviço comercializado. Assim, são evidenciadas as possibilidades de
reaproveitamento das matérias-primas e processos em novo ciclo de vida do produto.
4.4.4.1 Reuso
O reuso de um produto permite o atendimento ao requisito básico de sustentabilidade
a partir do ciclo de vida do produto, implicando em reaproveitamento de matéria-
prima e otimização de recursos energéticos para a produção. Este indicador deve ser
considerado primordial na fase projetual, tendo reflexos decisivos na percepção da
atuação responsável da empresa no que diz respeito ao atendimento das expectativas
da sociedade.
4.4.4.2 Atualização
Quando um produto não pode ser reutilizado, o projeto de design deve permitir sua
atualização, por meio, por exemplo, de adaptação de acessórios, novos ítens ou
modelos e estilos que possibilitem seu uso prolongado. Este indicador está
fortemente associado a uma atitude socialmente responsável por parte do designer e
da empresa produtora, devendo sempre ser referenciado na busca de atendimento do
produto aos aspectos éticos de atendimento às necessidades dos usuários.
159
4.4.4.3 Redesign
O redesign se apresenta como alternativa sustentável e socialmente responsável no
que diz respeito ao aproveitamento de uma idéia anteriormente aceita e consumida,
mas que necessita de ajustes para continuar atraente e ativa no que diz respeito ao
processo de percepção de qualidade de seus usuários. O redesign é um indicador de
sustentabilidade que pode revelar o comprometimento da empresa com os critérios
de proteção ambiental e reaproveitamento energético.
4.4.4.4 Revenda / redistribuição
Este indicador é proposto para verificar a capacidade de adequação de um produto
quanto ao atendimento às necessidades de diversos mercados, evidenciado por meio
de uma redistribuição e reinserção no mercado, como estratégia mercadológica de
baixo custo e alto grau de resultados.
4.4.4.5 Facilidade de Reconhecimento de materiais
A determinação do tipo de material utilizado no processo de design se apresenta
como aspecto determinante da qualidade e adequação do produto no que diz respeito
às possibilidades de reciclagem e reaproveitamento de matéria-prima. Desta forma,
este indicador é proposto para verificar a consistência e o comprometimento do
designer quanto à destinação final do objeto de seu trabalho.
160
4.5 COMPARAÇÃO DOS MODELOS DE DEFINIÇÃO DE
INDICADORES ANALISADOS COM O MODELO IDSRS
Buscando entender a eficácia dos diversos modelos analisados para definição de
indicadores em relação ao modelo IDSRS, proposto no âmbito desta tese, é realizada
uma comparação voltada mais especificamente para a definição dos parâmetros
relativos ao processo de design, objeto central deste estudo. Para tanto, realizou-se,
inicialmente, uma classificação dos indicadores definidos para cada fase do processo
de design: fase I (Produção / Manufatura); fase II (Consumo e Uso / Serviço); fase III
(Descarte / Deposição); e fase IV (Reciclagem e Reuso / Redesign). Em seguida, foi
verificada a abrangência de cada modelo em relação aos indicadores propostos para
avaliação do processo de design.
A classificação realizada considera os três tipos de indicadores definidos por Bossel
(1999), conforme detalhado na seção 4.2.5, deste capítulo: indicador de Estado (E);
indicador de Fluxo (F); e indicador de Conversão (C). O entendimento do tipo de
indicador é importante para avaliação da eficácia de cada modelo, bem como para a
interpretação dos resultados do modelo IDSRS relativos aos aspectos específicos
analisados nas diversas fases do processo de design, facilitando seu entendimento,
sua leiturabilidade, sua consolidação enquanto unidade de valor e, por fim,
viabilizando a proposição de alternativas e caminhos necessários para a adequação
do processo produtivo em função dos parâmetros essenciais de sustentabilidade e
responsabilidade social, identificados no âmbito desta tese.
161
A tabela 4.3 apresenta os resultados da comparação entre os 8 (oito) modelos
analisados para definição de indicadores em relação ao modelo IDSRS proposto.
Tabela 4.3 – Comparação dos modelos de definição de indicadores em relação ao modelo IDSRS
Indicador
(Fase de Design)
Tipo de
Indicador*
B
E
L
L
A
G
I
O
D
&
M
P
S
R
/
P
S
I
R
V
&
S
B
O
S
S
E
L
I
95
99
E
T
H
O
S
G
R
I
I
D
S
R
S
Demanda de energia para
produção
F
x x x x x
x x
Diversidade de materiais para
produção
E
x x x x
x
x x
Grau de toxidade da produção
ou do produto final
C
x x x x x
x
x x
Normalização C x x x x x x x x
I
Embalagem C
x x x x
Atendimento à legislação C x x x x x x x x
Impacto associado ao uso do
produto
C
x x x x x x
x
Consumo de energia no uso do
produto
F
x x x x
x
Multifuncionalidade C x x
II
Bem-estar C
x x x x x x x
Descarte e deposição do lixo F x x x x x x x
Reciclabilidade de matéria-
prima
C
x x x x
x x
Desmontagem C x x
Código de ética C x x x x x x x x
III
Antecipação C
x x x x x x x x
Reuso C x x
Atualização C x x
Redesign C x x
Revenda / redistribuição F x x x x x
IV
Facilidade de Reconhecimento
de materiais
C
x x x
x
* E = Estado; F = Fluxo; C = Conversão
Analisando-se a aplicabilidade dos Princípios de Bellagio quanto às possibilidades de
definição de indicadores para avaliação do processo de design, percebe-se que se
trata de um modelo focado em aspectos mais direcionados para a dimensão
institucional de sustentabilidade, tendo pouca eficácia na definição de aspectos de
162
ordem quantitativa, ou seja, indicadores de estado e fluxo, além de não conseguir
abarcar outras dimensões de sustentabilidade capazes de definir a maioria dos
indicadores de conversão propostos, principalmente no que diz respeito à fase de
Reciclagem e Reuso / Redesign. Desta forma, o modelo em questão apresenta-se
inadequado para as dimensões de sustentabilidade consideradas essenciais para a
avaliação do processo de design de produtos.
Por sua vez, o modelo Daly & Meadows avança na definição de indicadores
aplicados ao processo de design, fundamentalmente pelo fato de ser este um modelo
centrado no entendimento das relações entre as atividades econômicas e humanas
com o ambiente natural, partindo das necessidades de utilização dos recursos de
suporte à vida (ultimate means). Entretanto, este modelo não possui grau de
especificidade elevado para tratar questões de design e, assim, falha na definição de
indicadores essenciais para a avaliação da qualidade de um processo produtivo,
sobretudo a fase IV do processo de design, apresentando dificuldades semelhantes ao
modelo anteriormente analisado.
O modelo PSR/PSIR, por se tratar de um modelo que trata quase exclusivamente de
questões de ordem quantitativa, também não consegue abarcar as questões
específicas do processo produtivo, sobretudo o que diz respeito a uma avaliação da
qualidade do projeto de design. Neste sentido, indicadores como Embalagem,
Multifuncionalidade, Bem-estar e Desmontagem, além da maioria dos indicadores
definidos para a fase IV do processo de design não podem ser definidos a partir deste
modelo.
163
Já o modelo proposto por Valentin e Spangenberg (2000), desenvolvido
especialmente para avaliar a sustentabilidade em comunidades, de forma abrangente,
atende a maioria das definições de indicadores de conversão, mas falha diante da
proposta de indicadores mais específicos, principalmente no que se refere à fase de
Reciclagem e Reuso / Redesign, essencial para uma avaliação consistente do
processo de design.
A análise do modelo Bossel para a definição de indicadores de sustentabilidade
revela, também, uma dificuldade de se interpretar questões específicas do processo
de design, tais como Embalagem, Multifuncionalidade, Desmontagem, Reuso,
Atualização e Redesign, mais uma vez apresentando uma inadequação com vistas a
avaliar a qualidade do processo de produção quanto aos aspectos relevantes de
sustentabilidade e responsabilidade social propostos no âmbito desta tese.
O modelo Indicador 95/99, por se tratar de um modelo específico, voltado para a
medição dos impactos físicos da atividade industrial no ambiente natural, consegue
abarcar a maioria dos indicadores propostos para avaliação do processo de design,
com exceção de alguns indicadores de conversão, sobretudo aqueles definidos a
partir de aspectos de ordem qualitativa, a exemplo dos indicadores Bem-estar,
Código de Ética, Antecipação e Revenda/redistribuição. Conclui-se, portanto, que
este modelo, por ser focado em aspectos quase exclusivamente quantitativos, não
consegue definir adequadamente a totalidade dos indicadores propostos neste estudo.
164
Analisando-se a aplicabilidade do modelo Ethos em relação aos indicadores
orientados para a avaliação do processo de design, percebe-se que o mesmo se
apresenta mais adequado para o tratamento de informações mais direcionadas para o
comportamento do público interno e ao entendimento das ações de ordem social da
instituição em questão, cobrindo aspectos como legislação, bem-estar, código de
ética e antecipação. Entretanto, diversas questões voltadas para a avaliação das
condições de sustentabilidade diretamente ligadas às decisões de design não são
propriamente contempladas neste modelo, sobretudo aspectos ligados à materialidade
dos produtos, tais como energia no uso e na produção, embalagem,
multifuncionalidade, reciclabilidade, desmontagem, entre outros.
Também o modelo GRI, apesar de cobrir aspectos de sustentabilidade mais amplos
em relação ao modelo Ethos, falha na prospecção de informações mais detalhadas
acerca do processo de design, sobretudo nas decisões de projeto associadas à fase de
Reciclagem e Reuso / Redesign, exigindo novos padrões de abordagem para os
indicadores gerados no modelo.
Por fim, o modelo IDSRS proposto nesta tese, devido ao fato de considerar aspectos
mais específicos da tomada de decisões de projeto, abarca indicadores de
sustentabilidade e responsabilidade social em todas as quatro fases de design, o que
pode funcionar como suporte e complementação dos modelos anteriormente
analisados, que porventura já estejam sendo utilizados para a avaliação do processo
produtivo em empresas de diversos portes e escopos.
165
4.6 VISUALIZAÇÃO DOS RESULTADOS DE
SUSTENTABILIDADE E RESPONSABILIDADE SOCIAL DO
DESIGN PROPOSTOS NO MODELO IDSRS
No âmbito desta tese, os indicadores propostos para cada fase do processo de design
são coletados por meio de questionários e entrevistas com gestores de empresas,
designers e/ou tomadores de decisão (apresentados como Apêndices), buscando-se
diagnosticar a qualidade e a adequação dos sistemas produtivos no que diz respeito
aos conceitos de sustentabilidade e responsabilidade social, sobretudo aqueles
associados às práticas de design.
Os questionários foram construídos de forma a qualificar os indicadores, ou seja,
possibilitar a formulação de questões que permitem uma maior abrangência e melhor
leiturabilidade dos aspectos específicos de cada informação levantada pelos
indicadores. Para tanto, uma série de questões fechadas é proposta para auxiliar o
consultor em design a identificar o estágio de sustentabilidade e responsabilidade
social relativo ao indicador em questão, facilitando a interpretação e quantificação
dos dados coletados.
As formulações para os indicadores são dispostas com base na escala de Likert, que
utiliza uma série de frases ou itens selecionados de forma a constituir um critério
válido, capaz de medir um fenômeno social. O uso desta metodologia prevê que as
atitudes dos entrevistados podem ser inferidas, com base em expressões verbais ou
condutas observadas, medidas indiretamente por meio de escalas construídas com
uma série de afirmações, proposições ou juízos sobre os quais são manifestadas
166
opiniões, conforme sugerem os estudos desenvolvidos por Pinedo (2006) e Ajzen
(2006).
A validação das respostas é feita adotando-se os valores de 0 (zero) a 4 (quatro),
associados às respostas: discordo plenamente (valor 0); discordo (valor 1); concordo
em parte (valor 2); concordo (valor 3); e concordo plenamente (valor 4). Além disso,
é apresentado um critério de validação neutro, quando a formulação não se aplica ao
universo do entrevistado (não se aplica). A tabela 4.4 apresenta graficamente a
valoração da escala Likert aplicada no questionário proposto.
Tabela 4.4 – Aplicação da escala Likert ao questionário proposto na tese
Para valorizar as práticas e decisões empresariais consideradas mais relevantes para
se atingir os padrões de sustentabilidade e responsabilidade social adequados ao
processo produtivo em questão, os valores coletados a partir das respostas expressas
na escala Likert são ponderados com diferentes pesos, isto é, pesos baixo, médio e
alto, de acordo com seu grau de relevância. Estes pesos são utilizados como fatores
multiplicadores, que possibilitam uma maior precisão na geração do dado
quantitativo final, onde o peso baixo tem como fator multiplicador 1 (um), o peso
médio tem fator multiplicador 2 (dois) e o peso alto tem fator multiplicador 3 (três)
para o cálculo do valor atribuído ao indicador em particular.
Para facilitar o entendimento do modelo proposto na tese, as tabelas 4.5 e 4.6
apresentam excertos de formulações apresentadas no questionário utilizado para a
167
qualificação do indicador “Demanda de energia para produção”, em diferentes
contextos. No primeiro exemplo, a empresa “A” tem em seu processo produtivo uma
alta dependência da qualidade de uso energético para o atingimento de padrões de
produção considerados sustentáveis. Neste caso, o indicador é qualificado por meio
de 6 (seis) formulações, com graus de relevância diferenciados, ou seja, diversos
pesos, que aumentam as possibilidades de identificação das condições atuais da
empresa em relação a este indicador, conforme apresentado na tabela 4.5.
Tabela 4.5 – Excerto do questionário aplicado para qualificação dos indicadores da empresa A
Já no segundo exemplo, a empresa “B” não tem forte dependência das fontes e usos
energéticos para o atingimento dos padrões de produção considerados sustentáveis, o
que pode, por exemplo, estar associado a confecção de produtos a partir de uma
produção a frio, por meio de energia mecância, potencial ou gravitacional. Desta
forma, a qualificação do indicador é construída por meio de apenas 3 (três)
formulações, também com diferentes pesos, conforme apresentado na tabela 4.6.
168
Tabela 4.6 – Excerto do questionário aplicado para qualificação dos indicadores da empresa B
A atribuição dos pesos para cada formulação é papel do consultor em design, que
define, em conjunto com o corpo diretivo da empresa, com base em um briefing de
parâmetros de projeto, quais aspectos de sustentabilidade e responsabilidade social
devem ser considerados relevantes para o entendimento do processo produtivo,
sempre levando em consideração o atendimento às expectativas da sociedade no que
diz respeito à percepção dos valores e o papel que a instituição deve cumprir perante
os diversos públicos com os quais se relaciona. É importante ressaltar que os
entrevistados, membros da comunidade interna da empresa diretamente envolvidos
com as etapas de produção, não terão acesso às informações de valoração das
questões (pesos), respondendo ao questionário sem a noção do grau de relevância
estabelecido para os indicadores associados às fases do processo de design.
Com base nos dados identificados a partir das respostas aos questionários, é
calculado, por fim, o valor do indicador IDSRS para cada fase do processo de design,
permitindo uma visualização do seu grau de adequação ou não em relação aos
parâmetros de sustentabilidade e responsabilidade social estabelecidos. Este cálculo
será aplicado inicialmente para os indicadores e, em seguida, para determinar os
169
resultados globais de cada fase, sendo considerados os fatores multiplicadores,
determinados pelos pesos específicos de cada questão.
O cálculo do resultado IDSRS da fase de design consiste na média aritmética simples
dos valores obtidos em cada uma das quatro fases (Equação 01).
4
1
1
4
i
i
I
DSRS FPD
=
=⋅
(01)
onde
i
FPD representa o valor obtido a partir da média aritmética dos indicadores de
cada fase do processo de design, dado pela Equação 02.
1
1
n
iij
j
FPD IND
n
=
=⋅
(02)
onde
i
I
ND é um conjunto de indicadores dado por 1,...,
j
n
=
, sendo que n varia de
acordo com o processo de design do produto da organização em questão. No âmbito
desta tese, propõe-se inicialmente o valor n como a representação do total de 20
(vinte) indicadores, mas considera-se, para fins de entendimento e generalização do
modelo IDSRS, a possibilidade de aumentar ou diminuir este número, em função das
necessidades específicas de cada processo produtivo a ser analisado.
O cálculo de um indicador
i
I
ND é realizado considerando a média ponderada dos
valores das m respostas
ijl
v , 1,...,lm
=
, segundo a escala 0 (discordo plenamente), 1
(discordo), 2 (concordo em parte), 3 (concordo) e 4 (concordo plenamente),
170
multiplicados pelos seus respectivos pesos
ijl
σ
que podem assumir os valores 1 para
um peso baixo, 2 para um peso médio e 3 para um peso alto, sendo atribuídos de
acordo com as informações fornecidas pelo
briefing do dirigente da organização
(Equação 03).
1
1
m
ijl ijl
l
ij
m
ijl
l
v
IND
σ
σ
=
=
=
(03)
Por fim, o valor do IDSRS calculado para cada fase do processo de design é
apresentado graficamente, adotando-se como padrão de qualificação e adequação de
cada situação analisada os valores de 0 (zero) a 1 (um) para processos insustentáveis;
1,1 (um vírgula um) a 2 (dois) para processos em ameaça; e 2,1 (dois vírgula um) a 4
(quatro) para processos considerados adequados do ponto de vista da
sustentabilidade e da responsabilidade social. Propõe-se, ainda, um maior
detalhamento dos valores de sustentabilidade no sentido de estabelecer ações
concretas de melhoria a partir da identificação dos valores associados a uma
sustentabilidade fraca (2,1 a 2,5), sustentabilidade média (2,6 a 3,0) e
sustentabilidade forte (3,1 a 4,0).
A análise destes dados identifica os pontos do sistema produtivo que merecem
atenção dos designers e gestores do processo produtivo, evidenciando a necessidade
de ações corretivas na busca de adequação e melhoria no padrão de qualidade. A
figura 4.13 apresenta a proposta de escala para visualização dos resultados do
modelo IDSRS, proposto no âmbito desta tese.
171
Figura 4.13 – Escala proposta para visualização dos resultados do modelo IDSRS
No próximo capítulo, realiza-se uma demonstração da aplicabilidade do modelo de
avaliação do processo de design proposto na tese por meio de dois exemplos,
envolvendo as condições de sustentabilidade e responsabilidade social associadas à
prática do design em organizações empresariais atuantes no cenário nacional,
utilizando-se, para tanto, os indicadores definidos e, por fim, gerando o valor do
IDSRS para cada fase de design, partindo-se das reflexões e perspectivas geradas a
respeito da atuação sustentável e socialmente responsável do designer, no âmbito da
produção industrial, detalhadas ao longo desta tese.
CAPÍTULO V
DEMONSTRAÇÃO DA APLICABILIDADE DO MODELO IDSRS: O
EXEMPLO DAS EMPRESAS ROSITA E NATURA
CAPÍTULO V
DEMONSTRAÇÃO DA APLICABILIDADE DO MODELO
IDSRS: O EXEMPLO DAS EMPRESAS ROSITA E NATURA
O presente capítulo demonstra a aplicabilidade do modelo de Indicadores de Design,
Sustentabilidade e Responsabilidade Social (IDSRS), desenvolvido para avaliação da
qualidade do processo de design, levando-se, particularmente, em conta a adequação
das decisões de projeto segundo princípios de sustentabilidade e responsabilidade
social descritos no âmbito desta tese. Busca-se, fundamentalmente, visualizar a
qualidade e a adequação do processo de desenvolvimento de produtos por meio da
utilização do modelo proposto, partindo-se da realidade investigada em duas
empresas nacionais.
Adota-se, como exemplo, a análise do processo produtivo das empresas Brinquedos
Rosita e Natura Cosméticos. A decisão pela escolha da empresa Rosita deu-se pelo
fato da mesma possuir um setor específico de desenvolvimento de produtos e design,
com tradição de mais de trinta anos no mercado nacional, cuja característica nos
permite investigar com maior propriedade a tomada de decisões de projeto e seus
173
impactos relativos a qualidade sócio-ambiental no entorno produtivo da fábrica. Já a
escolha da empresa Natura se deu pelo fato da mesma ser amplamente reconhecida
no cenário brasileiro pela qualidade de suas práticas empresariais, com foco em
ações de âmbito social e ambiental, o que nos permite investigar a aplicabilidade do
modelo IDSRS em uma empresa com características de projeto diferenciadas, bem
como entender, de modo mais abrangente, de que forma os conceitos de
sustentabilidade e responsabilidade social podem contribuir nas ações e estratégias
gerenciais.
Após a caracterização das empresas, identificando seus principais produtos, sistemas
e etapas de fabricação, mercado e estrutura interna, são apresentados os excertos dos
questionários com as formulações desenvolvidas para qualificação e análise dos
indicadores propostos no capítulo IV desta tese. A interpretação dos dados coletados
é realizada por meio da leitura das respostas dispostas na escala Likert,
desenvolvidas especificamente para valorar os indicadores e, por fim, gerar os
resultados do modelo IDSRS relativos a cada fase de projeto.
5.1 EXEMPLO A: ROSITA BRINQUEDOS
5.1.1 Breve histórico
A empresa Brinquedos Rosita Indústria e Comércio Ltda. Iniciou suas atividades no
ano de 1970, na cidade de São Paulo, fundada pelo empresário Luiz Jorge, que
batizou a empresa a partir da composição do nome de suas duas filhas: Rosa e Rita.
A história de sucesso da empresa parte da fabricação de um brinquedo produzido em
plástico, que se tornou um clássico da época, a “Galinha dos Ovos de Ouro”. Além
174
deste produto, a empresa posicionou-se fortemente no mercado nacional com outros
brinquedos de sucesso, como a “Mula Manca” e, finalmente, o “Peixão”,
desenvolvido para uma linha de brinquedos para uso em praias, que, até hoje,
mantêm-se no mercado com significativo volume de vendas (figura 5.1).
Figura 5.1 – Galinha dos Ovos de Ouro e Peixão da Rosita (ROSITA, 2007)
Com o sucesso da linha de produtos voltados para utilização em praia e crescimento
nas vendas, a Rosita mudou sua sede, em 1979, para a cidade de Itaquaquecetuba,
interior de São Paulo, permanecendo 20 anos neste endereço. A empresa buscou,
ainda, atuar na fabricação de produtos por meio do licenciamento de marcas e
utilização de imagens obtidas junto a grandes estúdios cinematográficos
internacionais, explorando diversos personagens voltados para o público infantil, por
exemplo: He-Man, Changeman, Jaspion, Jiraya, Batman. Esta forma de atuação,
além de determinar um importante nicho de mercado para os produtos
comercializados, influi diretamente no processo de desenvolvimento de produtos e
design da empresa.
175
Em setembro de 2000, a empresa transferiu sua sede para o atual endereço, na cidade
de Lauro de Freitas, região metropolitanta de Salvador, na Bahia, ocupando uma área
de 7.000 m
2
, modernizando a estrutura de fabricação de seus produtos (figura 5.2).
Figura 5.2 – Fábrica da Rosita em Lauro de Freitas, Bahia (ROSITA, 2007)
A produção atual se direciona para crianças de 4 a 12 anos, com diversas linhas de
produtos licenciados (Batman, Superman, Hello Kitty, Cavaleiros do Zodíaco, X-
plorers etc.), bem como os brinquedos voltados para praia, setor onde a empresa se
mantém como líder do mercado nacional. Esta liderança da Rosita neste segmento de
praia apresenta-se como uma permanente prioridade por parte dos tomadores de
decisão, sendo continuamente aperfeiçoada pelo processo de design, que, inclusive,
tem sido copiado por diversos fabricantes nacionais, como explica o gerente de
desenvolvimento de produtos da empresa, Marcelo Godoy:
... o que a gente faz hoje é uma renovação constante dessa linha
[praia], todo ano essa linha é renovada [...] o que tem acontecido,
ultimamente é que na verdade, a gente tá na vanguarda desse
mercado [...] e a gente precisa gerar internamente novidades [...]
diferentemente de algumas outras áreas de produção, em que
existem outras empresas, outros grupos de empresas que têm o
domínio daquela área, e você ali tentando acompanhar e gerar
alguma coisa, alguma novidade, mas são esses caras que detém o
knowhow dessa área e você tá sempre buscando visualizar o que é
que tem de interessante, o que tem, o que eles estão lançando, o
176
que é interessante, mas nessa área especificamente de praia é o
contrário [...] Os outros fabricantes é que acompanham, [...] a gente
tá sempre tentando lançar uma novidade, tá sempre antenado,
principalmente no mercado interno (GODOY, 2007, p. 2).
Uma vez que o mercado de brinquedos tem uma forte sazonalidade, particularmente
associada às datas comemorativas do dia das crianças e festas natalinas, as vendas
são concentradas no segundo semestre de cada ano. Assim, o primeiro semestre
apresenta um forte déficit de produção, inclusive com redução do quadro funcional,
quando o total de empregados diminui de 250 (duzentos e cinquenta) para cerca de
120 (cento e vinte). Diante desta situação, a empresa tem buscado atuar em outros
mercados, visando otimizar a utilização da estrutura de produção neste período de
baixa, sobretudo por meio da produção de embalagens plásticas, desenvolvendo
projetos e produzindo, principalmente, para indústrias farmacêuticas e de cosméticos.
5.1.2 Etapas do processo produtivo
As principais matérias-primas envolvidas no processo de produção da empresa são
polipropileno, poliestireno, polietileno de alta densidade, polietileno de baixa
densidade e PVC. Os processos são realizados, basicamente, a partir das técnicas de
injeção e sopro de plástico, com um controle rigoroso de qualidade para
desenvolvimento dos moldes de geração das peças que, posteriormente, irão para a
etapa de montagem dos brinquedos.
Com relação ao ciclo de vida de matéria-prima no processo produtivo, a empresa
apresenta um quantitativo mínimo de perdas e sobras, que são, em sua maior parte,
reaproveitadas ou encaminadas para reciclagem, conforme comenta o gerente de
desenvolvimento de produtos da empresa:
177
Hoje, a gente tem um sistema de reciclagem interna. Então, toda a
rebarba que é gerada no processo produtivo, ela é reciclada, até ser
re-utilizada no próprio processo, e, nessa reciclagem, existe uma
sobra de, de material que a gente chama de borra [...] que é um
material que a gente não, internamente nós não temos capacidade
de reciclar. Mas é reciclado. Isso gera alguma coisa em torno de
três por cento do que entra de matéria-prima na fábrica [...] E essa
borra é doada a uma instituição [...] Então, na verdade, 100 por
cento do material de produção é utilizado (GODOY, 2007, p. 3).
5.1.3 Desenvolvimento de produtos e design
O desenvolvimento de produtos acontece, basicamente, a partir de dois processos
distintos: a) produtos licenciados; e b) linhas próprias. No primeiro caso, a empresa
recebe orientações gerais dos detentores de patentes internacionais ou nacionais,
sobretudo aquelas relacionadas a desenhos e filmes, no sentido de adequar as
matérias-primas e os processos produtivos de modo a não descaracterizar os
personagens. No segundo caso, o desenvolvimento de produto parte de análises e
respostas do próprio mercado consumidor, além de tendências obtidas em feiras e
eventos internacionais ligados à indústria de brinquedos.
O processo de design de produtos licenciados apresenta uma série de restrições, que
são, na verdade, orientações de projeto previamente determinadas, podendo ser
adaptadas em alguns casos, dependendo das limitações técnicas de cada fabricante,
como aponta Godoy:
[...] essas empresas [licenciadoras], elas têm algumas coisas que
são muito rígidas. Por exemplo, a Sanrio, que é quem detém a
licença da Hello Kitty aqui no Brasil. eles têm uma rigidez enorme,
por exemplo, no contorno do personagem deles. O formato da
orelha, o formato do olho, pra que a coisa não, não saia das
características que eles, têm como padrão [...] Mas, por exemplo, o
que aconteceu o ano passado. Nós desenvolvemos produtos [...] e
colocamos a cara da Hello Kitty para apresentar a eles. Então é
completamente diferente. Não foi a Sanrio que tinha um produto e
passou esse produto pra gente produzir. Nós tínhamos uma idéia,
178
geramos esse projeto, e apresentamos a eles pra ser feito esse
projeto com a marca Hello Kitty. Então, esse engessamento de
desenvolvimento não se caracteriza muito nesse caso específico
[...] (GODOY, 2007, p. 3-4).
Já o design gráfico, sobretudo o que diz respeito às embalagens, é completamente
engessado, obrigando a empresa a seguir todos os padrões pré-determinados, sem
nenhum tipo de exceção:
O desenvolvimento do design gráfico fica realmente bastante
engessado [...] A parte gráfica é completamente fechada.Você vai
desenvolver uma caixa, pra um produto, você já tem preparado ali
– o fundo que aquela caixa vai ter, a logomarca que ela vai ter,
aonde vai ficar essa logomarca, que cor você pode usar, que cor
não pode. Na verdade, é só a montagem de um quebra-cabeça.
Todas as peças já vêm prontas e você vai simplesmente montar de
acordo com a necessidade da embalagem que você está produzindo
pra o seu produto. Então, o design gráfico é completamente
engessado e o design de produto é uma coisa muito mais aberta
(GODOY, 2007, p. 4).
O desenvolvimento de produtos próprios da Rosita está concentrado
fundamentalmente na linha de praia. Neste caso, o processo de design parte de uma
pesquisa de mercado, por meio das respostas dos lojistas com relação aos produtos
que mais se destacaram e aqueles que não tiveram uma procura expressiva, além de
visitas a feiras e eventos especializados para, então, desenvolver as peças que
comporão a linha de produtos para aquele ano específico:
[...] a gente gera algumas sugestões ali praquele ano, normalmente
é alguma coisa em torno de 40, 50 produtos possíveis, e, a partir
desses 40 ou 50 produtos, a gente, e aí o que que acontece? O
Gerente de Marketing traz o respaldo, principalmente dos lojistas
[...] sobre o que está sendo procurado e sobre o que está sendo
mais vendido naquele ano. [...] O Diretor Comercial entra
primeiro, [...] ele tá na Rosita desde o início, ele participa de
praticamente todas as grandes e mais importantes feiras de
brinquedos há 30 anos e daí tem um conhecimento muito bom da
área, e, que traz também o respaldo do cliente final. [...] é um
processo relativamente rápido, isso é, o processo que se inicia aí
por volta do final de novembro e [...] a gente chega no final de
179
janeiro aí com alguma coisa em torno de cinco, seis produtos, [...]
quando eu digo produtos, pode ser uma linha inteira de produtos
(GODOY, 2007, p. 5).
5.1.4 Entendimento do conceito de responsabilidade social por parte da empresa
O conceito de responsabilidade social é um tema constantemente discutido pela
Rosita, que tem gerado, desde o início da instalação da unidade de produção em
Lauro de Freitas, um cenário de transformação para os funcionários e também para a
comunidade presente no entorno da fábrica, como aponta o gerente de
desenvolvimento de produtos da empresa:
... logo quando a indústria veio aqui pra Bahia, há seis anos atrás
eles estavam no meio de uma mudança filosófica [...] e se
instalaram ali, em Lauro de Freitas, no Caji, que na época que a
empresa se instalou era um lugar assim realmente perigoso,
inclusive em termos de localização, de habitação e tal ...e uma das
primeiras atitudes que eles tomaram durante ainda a implantação
da fábrica era que, na medida do possível, os funcionários da
Rosita seriam do entorno da fábrica [...] hoje, 100% da mão de
obra, até, digamos aí, terceiro escalão é da região, é do entorno da
fábrica. Isso gerou uma mudança grande na região, na comunidade.
O entorno da fábrica hoje é completamente diferente do que era há
seis anos atrás e, logicamente, não parece ser uma quantidade
grande de pessoas, 150, 200 pessoas por ano, mas isso, assim, gera
uma série de outros negócios em torno da fábrica, e é uma
mudança visível ... (GODOY, 2007, p. 6).
O corpo diretivo da empresa, também, tem apoiado diversas iniciativas advindas dos
próprios funcionários como é o caso do programa de voluntariado intitulado
“Voluntários Rosita”, que visa assistir as comunidades carentes da região por meio
de campanhas de agasalho, roupas, programas de educação básica, saúde, além de
doações de brinquedos etc.
... existem alguns outros pontos, por exemplo. A gente tem um
programa ativo de ações sociais chamado Voluntários da Rosita,
que é formado assim, são realmente voluntários, inclusive a pessoa
180
que encabeça o movimento é uma funcionária que teve a idéia, e
que gerou todo o plano do que ia acontecer, de como a coisa ia
funcionar, e depois apresentou isso pra diretoria, que aceitou sem
problema nenhum, e isso virou um dos programas internos da
empresa. Nesse programa, a gente tem parcerias com uma série de
creches da região, uma série de escolas da região, a gente,
anualmente, faz campanhas de, materiais escolares pra doação pra
essas creches, a própria fábrica contribui com brinquedos,
principalmente no final do ano, na época de Natal e Dia das
Crianças, em determinadas datas de comemorações específicas, a
empresa, esses voluntários vão em determinadas comunidades
ajudar na preparação de algumas festas, e esse tipo de coisa
(GODOY, 2007, p. 7).
5.1.5 Geração do IDSRS da Rosita
Nesta seção são apresentadas as análises realizadas a partir do questionário aplicado
com os indicadores e as formulações desenvolvidas especificamente para o contexto
da Rosita, bem como a visualização dos resultados do modelo IDSRS, levantados
para cada fase do processo de design da empresa, partindo-se das respostas às
formulações que qualificam os indicadores propostos na seção 4.4, do capítulo IV
desta tese. O questionário foi aplicado conjuntamente ao gestor de projetos e ao
diretor geral da empresa.
5.1.5.1 Aplicação de questionário e cálculo do IDSRS para a fase de
Produção/Manufatura da empresa Rosita
A base de indicadores utilizados na análise da primeira fase do processo de design da
Rosita busca identificar aspectos associados aos impactos reais e potenciais da
matéria-prima utilizada e das demandas de energia necessárias para produção, além
de questões relativas ao uso de embalagem e adequação das práticas da empresa
perante as normas de qualidade nacionais e internacionais. O detalhamento de cada
indicador é descrito na seção 4.4.1, do capítulo IV, desta tese. A tabela 5.1 apresenta
181
o excerto do questionário aplicado para qualificação do indicador Demanda de
energia para produção, com as respostas dispostas na escala Likert.
Tabela 5.1 – Excerto do questionário aplicado para qualificação do indicador Demanda de energia
para produção da empresa Rosita
Na formulação das questões para qualificação deste indicador foram adotados
diferentes fatores de multiplicação, com pesos alto, médio e baixo, o que aumenta o
universo relativo de respostas e, consequentemente, valoriza melhor os aspectos de
sustentabilidade e responsabilidade social aplicados na análise da demanda de
energia para o processo produtivo específico. Utilizando-se como ponto de partida os
fatores de multiplicação definidos na seção 4.6, do capítulo IV, observa-se a presença
de 3 (três) pesos altos, 1 (um) peso médio e 2 (dois) pesos baixos, o que define
universo de formulações para este indicador como 13 (treze), para fins de cálculo da
média ponderada do IDSRS. Estes fatores são importantes para a qualificação das
respostas de forma mais abrangente para este indicador.
182
A aplicação da escala Likert para qualificação da primeira formulação, tendo como
resposta “discordo plenamente”, apresenta o valor 0 (zero). A resposta à segunda
formulação resulta no valor 3 (três). Já a terceira formulação tem resultado 1 (um). A
quarta formulação resulta no valor 4 (quatro). A formulação subsequente apresenta
valor 0 (zero). E, por fim, a última resposta para a qualificação do indicador
Demanda de energia para produção resulta em valor 2 (dois).
Conforme descrito na seção 4.6, do capítulo IV desta tese, o cálculo dos indicadores
é realizado a partir da equação 03. Considerando-se os pesos adotados na
qualificação do indicador, o valor do IDSRS pode ser calculado a partir da divisão do
somatório das respostas às formulações, com seus respectivos fatores de
multiplicação, pelo universo de respostas, conforme segue:
(0 x 3) + (3 x 1) + (1 x 3) + (4 x 2) + (0 x 3) + (2 x 1) = 16
Dividindo-se o valor 16 (multiplicação das respostas pelos fatores multiplicadores)
pelo valor 13 (universo de formulações), obtém-se o valor de IDSRS 1,2 para o
indicador Demanda de energia para produção.
A tabela 5.2 apresenta o excerto do questionário aplicado para qualificação do
indicador Diversidade de materiais para produção.
183
Tabela 5.2 – Excerto do questionário aplicado para qualificação do indicador Diversidade de materiais
para produção da empresa Rosita
Considerando-se a presença de 2 (dois) pesos altos e 1 (um) peso médio, o universo
de formulações para este indicador aumenta de 3 (três) para 8 (oito).
O valor gerado na primeira formulação, com a resposta “discordo plenamente”, é 0
(zero). A resposta à segunda formulação tem valor 4 (quatro). A última formulação
resulta no valor 2 (dois).
O cálculo do IDSRS foi, então, determinado como segue:
(0 x 3) + (4 x 2) + (2 x 3) = 14
Dividindo-se o resultado obtido pelo universo de formulações 8 (oito) obtém-se o
IDSRS 1,8 para o indicador Diversidade de materiais para produção.
A tabela 5.3 apresenta o excerto do questionário aplicado para qualificação do
indicador Grau de toxidade da produção ou do produto final.
184
Tabela 5.3 – Excerto do questionário aplicado para qualificação do indicador Grau de toxidade da
produção ou do produto final da empresa Rosita
Considerando-se a presença de 2 (dois) pesos altos e 1 (um) peso baixo, o universo
de formulações para este indicador aumenta de 3 (três) para 7 (sete).
A resposta à primeira formulação tem o valor 3 (três), gerado a partir da resposta
“concordo”. A resposta “concordo em parte”, na segunda formulação, resulta em
valor 2 (dois). Por fim, a resposta “discordo”, na última formulação, apresenta valor
1 (um). O cálculo do IDSRS foi, então, determinado como segue:
(3 x 3) + (2 x 1) + (1 x 3) = 14
Dividindo-se o resultado obtido pelo universo de formulações 7 (sete) obtém-se o
IDSRS 2,0 para o indicador Grau de toxidade da produção ou do produto final.
A tabela 5.4 apresenta o excerto do questionário aplicado para qualificação do
indicador
Normalização.
185
Tabela 5.4 – Excerto do questionário aplicado para qualificação do indicador Normalização da
empresa Rosita
Considerando-se a presença de 1 (um) peso alto, 1 (um) peso médio e 2 (dois) pesos
baixos, o universo de formulações para este indicador aumenta de 4 (quatro) para 7
(sete).
O valor gerado com a resposta “discordo” na primeira formulação é 1 (um). A
segunda resposta apresenta resultado 3 (três). As formulações subsequentes
apresentam o mesmo valor 3 (três). Assim, o cálculo do IDSRS é:
(1 x 3) + (3 x 2) + (3 x 1) + (3 x 1) = 15
Dividindo-se este resultado pelo universo de formulações 7 (sete) obtém-se o valor
2,1 para o IDSRS do indicador Normalização.
A tabela 5.5 apresenta o excerto do questionário aplicado para qualificação do
indicador Embalagem.
186
Tabela 5.5 – Excerto do questionário aplicado para qualificação do indicador Embalagem da empresa
Rosita
Considerando-se a presença de 2 (dois) pesos altos e 3 (três) pesos baixos, o universo
de formulações para este indicador aumenta de 5 (cinco) para 9 (nove).
O valor gerado com a resposta “concordo em parte” na primeira formulação é 2
(dois). Para a segunda formulação, tem-se o valor 1 (um). Também a terceira
formulação apresenta o valor 1 (um). Já as formulações quarta e quinta apresentam o
mesmo valor 3 (três). Assim, o cálculo do IDSRS para qualificação do indicador
Embalagem é:
(2 x 1) + (1 x 1) + (1 x 3) + (3 x 1) + (3 x 3) = 18
Dividindo-se o resultado pelo universo de formulações 9 (nove) obtém-se o IDSRS
2,0 para o indicador Embalagem.
187
5.1.5.2 Aplicação de questionário e cálculo do IDSRS para a fase de Consumo &
Uso/Serviço da empresa Rosita
A base de indicadores utilizados na análise da segunda fase do processo de design da
Rosita busca identificar aspectos associados aos impactos reais e potenciais do uso
do produto, suas adequações legais, consumo energético, além da capacidade de
gerar bem-estar para os usuários e também para o público interno, conforme descrito
na seção 4.4.2, do capítulo IV desta tese.
A tabela 5.6 apresenta o excerto do questionário aplicado para qualificação do
indicador Atendimento à legislação, com as respostas dispostas na escala Likert.
Tabela 5.6 – Excerto do questionário aplicado para qualificação do indicador Atendimento à
legislação da empresa Rosita
Considerando-se a presença de 1 (um) peso alto, 1 (um) peso médio e 2 (dois) pesos
baixos, o universo de formulações para este indicador passa de 4 (quatro) para 7
(sete).
188
O valor associado às respostas “concordo”, nas duas formulações iniciais, resulta no
valor 3 (três) da escala Likert. As formulações subsequentes resultam ambas em
valor 4 (quatro) para a resposta “concordo plenamente”.
O cálculo do IDSRS para qualificação deste indicador é:
(3 x 3) + (3 x 2) + (4 x 1) + (4 x 1) = 23
Dividindo-se o resultado pelo universo de formulações 7 (sete) obtém-se o IDSRS
3,2 para o indicador Atendimento à legislação.
A tabela 5.7 apresenta o excerto do questionário aplicado para qualificação do
indicador Impacto associado ao uso do produto.
Tabela 5.7 – Excerto do questionário aplicado para qualificação do indicador Impacto associado ao
uso do produto da empresa Rosita
Considerando-se a presença de 1 (um) peso alto e 1 (um) peso médio, o universo de
formulações para este indicador passa de 2 (dois) para 5 (cinco).
189
O valor associado à resposta “concordo plenamente”, na primeira formulação, resulta
no valor 4 (quatro) da escala Likert. A resposta à segunda formulação resulta em
valor 3 (três). O cálculo do IDSRS para qualificação deste indicador é, portanto:
(4 x 3) + (3 x 2) = 18
Dividindo-se o resultado pelo universo de formulações 5 (cinco) obtém-se o IDSRS
3,6 para o indicador Impacto associado ao uso do produto.
A tabela 5.8 apresenta o excerto do questionário aplicado para qualificação do
indicador Consumo de energia no uso do produto.
Tabela 5.8 – Excerto do questionário aplicado para qualificação do indicador Consumo de energia no
uso do produto da empresa Rosita
Considerando-se a presença de 1 (um) peso alto e 1 (um) peso médio, o universo de
formulações para este indicador passa de 2 (dois) para 5 (cinco).
O valor associado à resposta “concordo plenamente”, na primeira formulação, resulta
em valor 4 (quatro). A resposta “concordo em parte”, na segunda formulação, resulta
em valor 2 (dois). O cálculo do IDSRS para qualificação deste indicador é, portanto:
190
(4 x 3) + (2 x 2) = 16
Dividindo-se o resultado pelo universo de formulações 5 (cinco) obtém-se o IDSRS
3,2 para o indicador Consumo de energia no uso do produto.
A tabela 5.9 apresenta o excerto do questionário aplicado para qualificação do
indicador
Multifuncionalidade.
Tabela 5.9 – Excerto do questionário aplicado para qualificação do indicador Multifuncionalidade da
empresa Rosita
Considerando-se a presença de 1 (um) peso alto e 1 (um) peso médio, o universo de
formulações para este indicador também passa de 2 (dois) para 5 (cinco).
As respostas “concordo em parte”, em ambas formulações, resultam em valor 2
(dois). Assim, o cálculo do IDSRS para qualificação deste indicador é:
(2 x 3) + (2 x 2) = 10
Dividindo-se o resultado pelo universo de formulações 5 (cinco) obtém-se o IDSRS
2,0 para o indicador Multifuncionalidade.
191
A tabela 5.10 apresenta o excerto do questionário aplicado para qualificação do
indicador Bem-estar.
Tabela 5.10 – Excerto do questionário aplicado para qualificação do indicador Bem-estar da empresa
Rosita
Considerando-se a presença de 2 (dois) pesos altos e 1 (um) peso médio, o universo
de formulações para este indicador passa de 3 (três) para 8 (oito).
O valor associado à resposta “concordo”, na primeira formulação, resulta em valor 3
(três). Já a resposta “concordo plenamente”, na segunda formulação, resulta em valor
4 (quatro). Por fim, a terceira formulação tem valor 3 (três) para a resposta
“concordo”. O cálculo do IDSRS para qualificação deste indicador é, portanto:
(3 x 3) + (4 x 2) + (3 x 3) = 26
Dividindo-se o resultado pelo universo de formulações 8 (oito) obtém-se o IDSRS
3,3 para o indicador Bem-estar.
192
5.1.5.3 Aplicação de questionário e cálculo do IDSRS para a fase de
Descarte/Deposição da empresa Rosita
A base de indicadores utilizados na análise da terceira fase do processo de design da
Rosita se relaciona a adequação das ações da empresa no que diz respeito ao pós-
uso/consumo do produto comercializado, preocupações com o meio ambiente, o
descarte e a deposição de possíveis sobras e perdas da produção, além de aspectos
relacionados ao código de ética e valores da empresa. Estes indicadores são
detalhados na seção 4.4.3, do capítulo IV desta tese.
A tabela 5.11 apresenta o excerto do questionário aplicado para qualificação do
indicador Descarte e deposição do lixo.
Tabela 5.11 – Excerto do questionário aplicado para qualificação do indicador Descarte e deposição
do lixo da empresa Rosita
Considerando-se a presença de 1 (um) peso alto e 1 (um) peso baixo, o universo de
formulações para este indicador passa de 2 (dois) para 4 (quatro).
As respostas “concordo em parte”, em ambas formulações, resultam em valor 2
(dois) na qualificação deste item. O cálculo do IDSRS para qualificação deste
indicador é, portanto:
193
(2 x 3) + (2 x 1) = 8
Dividindo-se o resultado pelo universo de formulações 4 (quatro) obtém-se o IDSRS
2,0 para o indicador Descarte e deposição do lixo.
A tabela 5.12 apresenta o excerto do questionário aplicado para qualificação do
indicador
Reciclabilidade de matéria-prima.
Tabela 5.12 – Excerto do questionário aplicado para qualificação do indicador Reciclabilidade de
matéria-prima da empresa Rosita
Considerando-se a presença de 2 (dois) pesos altos, o universo de formulações para
este indicador passa de 2 (dois) para 6 (seis).
A resposta “concordo plenamente”, na primeira formulação, apresenta valor 4
(quatro) na qualificação deste item. Já a resposta “concordo em parte”, na segunda
formulação, resulta em valor 2 (dois). O cálculo do IDSRS para qualificação deste
indicador é:
(4 x 3) + (2 x 3) = 18
Dividindo-se o resultado pelo universo de formulações 6 (seis) obtém-se o IDSRS
3,0 para o indicador Reciclabilidade de matéria-prima.
194
A tabela 5.13 apresenta o excerto do questionário aplicado para qualificação do
indicador Desmontagem.
Tabela 5.13 – Excerto do questionário aplicado para qualificação do indicador Desmontagem da
empresa Rosita
Considerando-se a presença de 2 (dois) pesos altos, o universo de formulações para
este indicador passa de 2 (dois) para 6 (seis).
A resposta “concordo em parte”, na primeira formulação, resulta em valor 2 (dois). A
resposta “discordo”, na formulação seguinte, resulta em valor 1 (um). Assim, o
cálculo do IDSRS para qualificação deste indicador é:
(2 x 3) + (1 x 3) = 9
Dividindo-se o resultado pelo universo de formulações 6 (seis) obtém-se o IDSRS
1,5 para o indicador Desmontagem.
A tabela 5.14 apresenta o excerto do questionário aplicado para qualificação do
indicador Código de ética.
195
Tabela 5.14 – Excerto do questionário aplicado para qualificação do indicador Código de ética da
empresa Rosita
Considerando-se a presença de 1 (um) peso alto e 1 (um) peso médio, o universo de
formulações para este indicador passa de 2 (dois) para 5 (cinco). A resposta
“concordo em parte”, na primeira formulação, resulta em valor 2 (dois). Já a resposta
“concordo”, na última formulação, resulta em valor 3 (três). Assim, o cálculo do
IDSRS para qualificação deste indicador é:
(2 x 2) + (3 x 3) = 13
Dividindo-se o resultado pelo universo de formulações 5 (cinco) obtém-se o IDSRS
2,6 para o indicador Código de ética.
A tabela 5.15 apresenta o excerto do questionário aplicado para qualificação do
indicador Antecipação.
Tabela 5.15 – Excerto do questionário aplicado para qualificação do indicador Antecipação da
empresa Rosita
196
Considerando-se a presença de 1 (um) peso alto e 1 (um) peso médio, o universo de
formulações para este indicador passa de 2 (dois) para 5 (cinco).
As respostas “discordo”, em ambas formulações, resultam em valor 1 (um). O
cálculo do IDSRS para qualificação deste indicador é, portanto:
(1 x 2) + (1 x 3) = 6
Dividindo-se o resultado pelo universo de formulações 5 (cinco) obtém-se o IDSRS
1,2 para o indicador Antecipação.
5.1.5.4 Aplicação de questionário e cálculo do IDSRS para a fase de Reciclagem &
Reuso / Redesign da empresa Rosita
A base de indicadores utilizados na análise da quarta e última fase do processo de
design da Rosita busca identificar as condições de reuso e reciclagem do produto,
capacidade de reinserção no mercado e ações direcionadas ao ciclo de vida do
produto de modo mais abrangente, conforme descrito na seção 4.4.4, do capítulo IV
desta tese.
A tabela 5.16 apresenta o excerto do questionário aplicado para qualificação do
indicador Reuso.
197
Tabela 5.16 – Excerto do questionário aplicado para qualificação do indicador Reuso da empresa
Rosita
Considerando-se a presença de 2 (dois) pesos altos, o universo de formulações para
este indicador passa de 2 (dois) para 6 (seis). A resposta “concordo”, na primeira
formulação, resulta em valor 3 (três). Já a resposta “discordo”, na formulação
seguinte, resulta em valor 1 (um). Assim, o cálculo do IDSRS para qualificação deste
indicador é:
(3 x 3) + (1 x 3) = 12
Dividindo-se o resultado pelo universo de formulações 6 (seis) obtém-se o IDSRS
2,0 para o indicador Reuso.
A tabela 5.17 apresenta o excerto do questionário aplicado para qualificação do
indicador Atualização.
Tabela 5.17 – Excerto do questionário aplicado para qualificação do indicador Atualização da empresa
Rosita
198
Considerando-se a presença de 2 (dois) pesos altos, o universo de formulações para
este indicador passa de 2 (dois) para 6 (seis).
A resposta “concordo”, na primeira formulação, resulta em valor 3 (três). A resposta
“concordo em parte”, na formulação seguinte, resulta em valor 2 (dois). O cálculo do
IDSRS para qualificação deste indicador é:
(3 x 3) + (2 x 3) = 15
Dividindo-se o resultado pelo universo de formulações 6 (seis) obtém-se o IDSRS
2,5 para o indicador Atualização.
A tabela 5.18 apresenta o excerto do questionário aplicado para qualificação do
indicador Redesign.
Tabela 5.18 – Excerto do questionário aplicado para qualificação do indicador Redesign da empresa
Rosita
Considerando-se a presença de 2 (dois) pesos altos, o universo de formulações para
este indicador passa de 2 (dois) para 6 (seis).
199
As respostas “concordo em parte”, em ambas formulações, resultam em valor 2
(dois). Assim, o cálculo do IDSRS para qualificação deste indicador é:
(2 x 3) + (2 x 3) = 12
Dividindo-se o resultado pelo universo de formulações 6 (seis) obtém-se o IDSRS
2,0 para o indicador Redesign.
A tabela 5.19 apresenta o excerto do questionário aplicado para qualificação do
indicador Revenda / redistribuição.
Tabela 5.19 – Excerto do questionário aplicado para qualificação do indicador Revenda /
redistribuição da empresa Rosita
Considerando-se a presença de 1 (um) peso alto e 1 (um) peso baixo, o universo de
formulações para este indicador passa de 2 (dois) para 4 (quatro).
As respostas “concordo”, em ambas formulações, resultam em valor 3 (três).
Portanto, o cálculo do IDSRS para qualificação deste indicador é:
(3 x 1) + (3 x 3) = 12
200
Dividindo-se o resultado pelo universo de formulações 4 (quatro) obtém-se o IDSRS
3,0 para o indicador Revenda / redistribuição.
A tabela 5.20 apresenta o excerto do questionário aplicado para qualificação do
indicador Facilidade de reconhecimento de materiais.
Tabela 5.20 – Excerto do questionário aplicado para qualificação do indicador Facilidade de
reconhecimento de materiais da empresa Rosita
Considerando-se a presença de 1 (um) peso alto, o universo de formulações para este
indicador passa de 1 (um) para 3 (três). A resposta “concordo em parte” resulta em
valor 2 (dois). Assim, o cálculo do IDSRS para qualificação deste indicador é:
(2 x 3) = 6
Dividindo-se o resultado pelo universo de formulações 3 (três) obtém-se o IDSRS
2,0 para o indicador Facilidade de reconhecimento de materiais.
5.1.6 Consolidação dos dados e visualização dos resultados IDSRS para cada
fase de design
Partindo-se da escala de visualização descrita na seção 4.6, do capítulo IV desta tese,
apresenta-se graficamente a seguir uma série de tabelas com os valores IDSRS
obtidos a partir da qualificação dos indicadores de cada fase específica do processo
201
de design da empresa Rosita. Conforme descrito anteriormente, o cálculo do IDSRS
de cada fase é realizado a partir da equação 02.
A tabela 5.21 apresenta a visualização dos valores IDSRS relativos a cada indicador
proposto para análise da fase de Produção / Manufatura da Rosita. A visualização
dos resultados obtidos nesta fase revela que a maioria dos itens analisados encontra-
se em situação de ameaça, com exceção do indicador Normalização, que apresenta
um valor de sustentabilidade considerado fraco. O item com IDSRS mais baixo
refere-se à demanda de energia para a produção, apresentando o valor 1,2 (um
vírgula dois), o que pode requerer da empresa uma maior preocupação com o custo
energético necessário na linha de produção. Também se faz necessária uma maior
atenção para com a diversidade de materiais utilizados nos produtos da empresa, com
IDSRS 1,8, que contribui negativamente para sua desmontagem, aumentando os
custos da reciclagem / reaproveitamento em fases mais avançadas do design.
Tabela 5.21 – Visualização do IDSRS para cada item da fase 1 do processo de design da Rosita
Fase de
Design
Indicador IDSRS Visualização (Indicador)
Demanda de
energia para
produção
1,2
Diversidade de
materiais para
produção
1,8
Grau de
toxidade da
produção ou do
produto final
2,0
Normalização
2,1
FASE 1
Produção/
Manufatura
Embalagem
2,0
202
Também o grau de toxidade da produção e/ou produto final deve ser reavaliado,
buscando adequação de processos, uma vez que o IDSRS resulta no valor limite de
ameaça, ou seja, 2.0. Nesta primeira fase de design, unicamente o item Normalização
pode ser avaliado com tendência positiva para os padrões de sustentabilidade,
apresentando o valor 2,1, considerado fraco no âmbito desta pesquisa. Esta
característica pode ser justificada pelo fato desta produção ser continuamente
revisada por meio de normas e padrões do Instituto Nacional de Metrologia,
Normalização e Qualidade Industrial – INMETRO
21
e da Associação Brasileira dos
Fabricantes de Brinquedos – ABRINQ
22
, que determinam os limites de tamanho,
forma e materiais considerados adequados para cada brinquedo, em função da faixa
etária para qual o mesmo é desenvolvido.
Por fim, o item Embalagem deve ser analisado com maior aprofundamento por parte
da empresa, uma vez que o valor de IDSRS 2,0 encontra-se no limite de ameaça. Por
se tratar de um dos maiores fatores de impacto ambiental da indústria, gerando
resíduos de diversas naturezas, muitos dos quais de difícil tratamento e
decomposição, o projeto de embalagem deve ser orientado desde o início para a
proteção aos limites da natureza.
Já a fase 2 do processo de design da Rosita apresenta sustentabilidade forte em quase
todos os itens analisados, com exceção do indicador Multifuncionalidade, que se
encontra no limite de ameaça, com IDSRS 2,0. A melhor valoração foi identificada
no baixo impacto ou risco associado ao uso do produto da empresa, obtendo IDSRS
21
Fonte: <http://www.inmetro.gov.br>. Acesso em 03.maio.2007.
22
Fonte: <http://www.abrinq.org.br>. Acesso em 03.maio.2007.
203
3,6, o que está perfeitamente de acordo com os conceitos de sustentabilidade e
responsabilidade social adotados no âmbito desta tese. Os itens “Atendimento à
legislação” e “Consumo de energia no uso do produto” apresentam o valor de IDSRS
3,2, o que pode revelar uma forte sustentabilidade do processo produtivo nestes
aspectos. Também o “Bem-estar” proporcionado aos usuários e ao público interno da
empresa foi identificado como fortemente sustentável, resultando em IDSRS 3,3.
A tabela 5.22 apresenta a visualização dos resultados IDSRS calculados a partir das
análises de cada item associado à fase de Consumo & Uso / Serviço da Rosita.
Tabela 5.22 – Visualização do IDSRS para cada item da fase 2 do processo de design da Rosita
Fase de
Design
Indicador IDSRS Visualização (Indicador)
Atendimento à
legislação
3,2
Impacto
associado ao
uso do produto
3,6
Consumo
de energia
no uso do
produto
3,2
Multifun-
cionalidade
2,0
FASE 2
Consumo &
Uso/Serviço
Bem-estar
3,3
A tabela 5.23 apresenta a visualização dos resultados IDSRS calculados para a fase
de Descarte / Deposição da Rosita.
204
Tabela 5.23 – Visualização do IDSRS para cada item da fase 3 do processo de design da Rosita
Fase de
Design
Indicador IDSRS Visualização (Indicador)
Descarte e
deposição do
lixo
2,0
Reciclabilidade
de matéria-
prima
3,0
Desmontagem
1,5
Código de ética
2,6
FASE 3
Descarte/
Deposição
Antecipação
1,2
Os valores obtidos na fase de Descarte / Deposição não apresentam uma tendência
que caracterize um sistema sustentável e/ou socialmente responsável, oscilando entre
um valor de forte ameaça (IDSRS 1,2) e um outro valor de sustentabilidade média
(IDSRS 3,0), respectivamente associados aos itens “Antecipação” e “Reciclabilidade
de matéria-prima”. A “Desmontagem”, com IDSRS 1,5, é um aspecto que foi
identificado como ameaçador, no que diz respeito às práticas sustentáveis, visto não
ser esta uma rotina comum ao processo produtivo da empresa, conforme identificado
nas entrevistas realizadas. Já o item “Código de ética” resultou em valor de IDSRS
2,6, revelando-se uma prática caracterizada como sustentável. Em ocorrências tão
díspares como visualizado nesta fase, deve-se investigar com mais aprofundamento
as práticas adotadas pela empresa, por meio da formulação de um maior número de
questões, além da atribuição de diferentes pesos na análise das respostas, de modo a
permitir uma melhor qualificação dos indicadores, no sentido de buscar subsídios
para propor ações adequadas aos padrões de sustentabilidade e responsabilidade
social associados ao processo de design.
205
A tabela 5.24 apresenta a visualização dos resultados IDSRS calculados para a fase
de Reciclagem & Reuso / Redesign da Rosita.
Tabela 5.24 – Visualização do IDSRS para cada item da Fase 4 do processo de design da Rosita
Fase de
Design
Indicador IDSRS Visualização (Indicador)
Reuso
2,0
Atualização
2,5
Redesign
2,0
Revenda /
redistribuição
3,0
FASE 4
Reciclagem &
Reuso /
Redesign
Facilidade de
Reconheci-
mento de
materiais
2,0
Para a quarta fase do processo de design, os valores apontam para uma situação-
limite de ameaça para a maior parte dos itens analisados, ou seja, valor de IDSRS
2,0, identificados concomitantemente para os indicadores de “Reuso”, “Redesign” e
“Facilidade de reconhecimento de materiais”. Há uma tendência para a
sustentabilidade média a partir dos resultados obtidos com os itens “Atualização” e
“Revenda / redistribuição”, respectivamente com valoração de IDSRS 2,5 e 3,0,
demonstrando uma preocupação da empresa em buscar melhores alternativas de
mercado para seus produtos. Também neste tipo de ocorrência, deve-se buscar um
maior aprofundamento dos indicadores, por meio de um número mais significativo
de formulações e diferenciações de pesos.
206
Conforme descrito previamente na seção 4.6, do capítulo IV, desta tese, após os
resultados decorrentes da análise dos indicadores específicos, pode-se determinar o
IDSRS global, relativo a cada fase do processo de design da Rosita, calculando-se a
média aritmética dos valores determinados para cada indicador, conforme expresso
na equação 01.
Tabela 5.25 – Visualização do IDSRS global para cada fase do processo de design da Rosita
Fase de
Design
IDSRS
(Média)
Visualização (Fase)
FASE 1
Produção/
Manufatura
1,8
FASE 2
Consumo &
Uso/Serviço
3,0
FASE 3
Descarte/
Deposição
2,0
FASE 4
Reciclagem &
Reuso /
Redesign
2,3
A visualização global dos Indicadores de Design, Sustentabilidade e
Responsabilidade Social da empresa Rosita (tabela 5.25) apresenta situações de
ameaça para as fases de Produção / Manufatura, com IDSRS 1.8, e Descarte /
Deposição, com IDSRS 2.0. Já a Fase de Reciclagem & Reuso / Redesign apresenta
IDSRS 2,3, ou seja, sustentabilidade fraca. Por fim, a fase de Consumo & Uso /
Serviço resulta no IDSRS 3,0, caracterizado como sustentabilidade média, o melhor
resultado obtido, com base nos cálculos realizados.
207
5.1.7 Sugestão de melhorias a partir da interpretação dos resultados obtidos
Apresenta-se, nesta seção, um conjunto de ações de melhorias, a partir da análise dos
resultados de IDSRS considerados em situação de ameaça, no processo de design da
empresa Rosita. Em uma aplicação mais aprofundada do modelo proposto, sugere-se
uma nova rodada de entrevistas e aplicações de questionários junto ao corpo diretivo
da empresa e funcionários-chave, buscando uma maior qualificação dos indicadores,
revisando as práticas adotadas em função dos valores essenciais de sustentabilidade e
responsabilidade social diretamente aplicáveis no processo produtivo em questão.
No que diz respeito a uma análise pontual do problema, tem-se o valor 1,2
identificado como o mais baixo IDSRS da empresa, associado paralelamente aos
indicadores “Demanda de energia para produção” e “Antecipação”. No primeiro
caso, as respostas ao questionário de qualificação do indicador demonstram, por um
lado, a grande demanda de energia, necessária para a linha de produção da empresa,
o que, por si, representa um aspecto negativo no que diz respeito às práticas
consideradas sustentáveis no âmbito desta tese (tabela 5.1). Também, percebe-se que,
apesar de ser possível adotar o uso de energia considerada limpa (eólica, solar etc.),
não são utilizadas outras formas de energia que possam atenuar ou, concretamente,
eliminar este tipo de impacto.
Outro item que contribui para o baixo desempenho deste indicador é a infraestrutura
de transmissão de energia, também identificada no questionário como geradora de
impactos de ordem ambiental. Diante, disso, propõe-se como ação de melhoria uma
reavaliação do sistema de consumo energético da empresa, buscando-se, sobretudo,
208
outras formas de utilização de energia, mesmo que parcialmente, como, por exemplo,
utilizando-se energia exclusivamente proveniente de fonte limpa na estrutura
administrativa da empresa.
No que diz respeito ao indicador “Antecipação”, o questionário de qualificação
revela a ausência de um plano de contingência, bem como de treinamento específico
dos funcionários, para o enfrentamento de situações de risco ou dano ambiental
(tabela 5.15). Entende-se que este tipo de planejamento está associado a unidades de
produção com alto risco de impacto ao meio ambiente, como acontece em empresas
petroquímicas, empresas de transformação de celulose etc. Entretanto, a preocupação
com o ambiente deve ser parte integrante da gestão estratégica de qualquer unidade
fabril, mesmo aquelas que apresentam baixo risco de dano. Assim, sugere-se uma
revisão no processo de gestão da empresa, visando adequação no que diz respeito aos
impactos ambientais, garantindo fortemente uma atuação que possa ser considerada
sustentável e socialmente responsável.
209
5.2 EXEMPLO B: NATURA COSMÉTICOS
5.2.1 Breve histórico
A Natura Cosméticos S.A. é uma empresa de capital aberto, cujas ações são
negociadas no chamado “Novo Mercado” da Bolsa de Valores de São Paulo
(BOVESPA), e que tem como princípio estrutural de seu negócio “[...] a cosmética
como veículo de autoconhecimento e promoção do bem-estar e as relações humanas
como forma de expressão da vida” (NATURA, 2007a, p. 40), ocupando uma posição
de destaque no mercado brasileiro de cosméticos e produtos voltados para a higiene
pessoal. A missão da empresa é “[...] criar e comercializar produtos e serviços que
promovam bem-estar/estar bem” (NATURA, 2007a, p. 1), entendendo o conceito de
bem-estar como a relação harmoniosa do indivíduo com seu corpo e o estar bem
como a relação prazerosa do indivíduo com o outro e com a natureza da qual faz
parte, conforme descrito em seu Relatório Anual de Atividades.
As operações da empresa estão concentradas no Espaço Natura Cajamar, em São
Paulo, que abriga um centro de pesquisa, produção e logística, com 77 mil m
2
de área
construída, em terreno de 643 mil m
2
, além de outras unidades comerciais e de
distribuição em Itapecerica da Serra, também em São Paulo, Uberlândia e Matias
Barbosa, em Minas Gerais. A empresa prevê a construção de um novo Centro de
Pesquisa em Campinas, São Paulo, com previsão de inauguração em 2008. Além
disso, a empresa comercializa seus produtos em mercados externos, com destaque
para a América Latina, com revendas na Argentina, Chile, Peru e Bolívia. Desde
2005, a Natura marca presença no México e, também, na França, onde inaugurou a
Casa Natura em Paris, como estratégia de expansão e divulgação da marca no
210
cenário europeu, a partir do contato dos consumidores com produtos que refletem
aspectos da cultura e costumes brasileiros, elaborados com ativos da biodiversidade
nacional. O número de colaboradores da empresa, ao final de 2006, totalizou 4.361,
no Brasil, e 764, no exterior.
A tabela 5.26 apresenta uma cronologia com os principais fatos que marcaram a
história da empresa.
Tabela 5.26 – Cronologia histórica da empresa Natura
1969
Antonio Luiz da
Cunha Seabra funda a
Natura, então formada
por uma loja e um
laboratório, em São
Paulo.
1974
Opção pela venda
direta e surgimento
das Consultoras
Natura.
1979
A Natura entra no
mercado masculino,
com o lançamento da
linha Sr. N.
Com a criação de
novas empresas, é
formado o Sistema
Natura.
1981
Entrada no mercado de
maquiagem e
perfumaria.
1982
Início de operações no
Chile, primeira
iniciativa da empresa
no exterior.
1983
A Natura torna-se
pioneira, entre os
fabricantes brasileiros
de bens de consumo de
uso contínuo, na venda
de produtos com refil.
Lançamento da linha
Sève, que abre um
nicho, o de óleos para
banho.
1984
Lançamento da linha
Erva Doce.
1986
Lançamento do
Chronos, tratamento
anti-sinais, primeiro
produto de uma linha
de hidratantes para o
rosto.
1989
Fusão das empresas
que formavam o
Sistema Natura.
1990
A Natura explicita sua
Razão de Ser e suas
Crenças: a importância
das relações, o
compromisso com a
verdade, o
aperfeiçoamento
contínuo, o estímulo à
diversidade, a
valorização da beleza
sem estereótipos ou
manipulações e a
empresa como
promotora do
enriquecimento social.
1992
A Natura inicia,
pioneiramente, ações
na área de
responsabilidade
corporativa. Surge o
conceito Mulher
Bonita de Verdade,
que expressa a idéia de
que a beleza feminina
não depende de idade,
mas de auto-estima.
1994
Lançamento da linha
Mamãe e Bebê, com a
missão de contribuir
para o fortalecimento
do vínculo entre pais e
filhos. Inovou ao
propor o Método
Integrado de
Massagem, baseado na
técnica de Shantala, a
fim de promover a
relação mãe-filho.
Início das operações na
Argentina e no Peru.
Continua...
211
Tabela 5.26 – Cronologia histórica da empresa Natura (continuação)
1995
Criação do Programa
Crer para Ver, com o
objetivo de contribuir
para a melhoria do
ensino público no
Brasil.
1998
Criação do Conselho
de Administração.
2000
Lançamento da linha
Natura Ekos, com o
uso sustentável de
ativos da
biodiversidade
brasileira.
2001
Inauguração do Espaço
Natura Cajamar - SP.
A Natura publica o
primeiro Relatório
Anual da América
Latina seguindo o
modelo da Global
Reporting Initiative
(GRI), que desenvolve
modelos de relatórios
voluntários sobre o
impacto social e
ambiental das
atividades das
empresas.
2002
Criação do Comitê de
Sustentabilidade.
2004
Abertura de capital,
com ações negociadas
no Novo Mercado da
Bovespa. Obtenção da
certificação NBR ISO
14001.
2005
Inauguração da Casa
Natura em Paris,
França, e início das
operações no México.
Lançamento do
Chronos Spilol, o
primeiro cosmético
anti-sinais que utiliza
um ativo originário da
biodiversidade
brasileira, extraído do
jambu (Spilanthes
oleracea), planta da
Amazônia.
Obtenção da
certificação NBR ISO
9001.
2006
Canal de consultoras
atinge a marca de 561
mil pessoas.
Participação de 22,8 %
no mercado brasileiro.
241 milhões de itens
vendidos.
Fonte: (modificado – NATURA, 2007a; 2007b)
A empresa tem se destacado e obtido reconhecimento no cenário nacional por meio
de diversas premiações, tais como: “Top of Mind” na categoria cosméticos,
“Empresa mais admirada do Brasil”, segundo a Revista Carta Capital e o Instituto
InterScience, além da “Terceira marca mais valiosa do país”, segundo a Revista
IstoÉ Dinheiro e a consultoria Interbrand, além do destaque como referência em
“Boa Cidadania Corporativa”, pela Revista Exame e Instituto Ethos (NATURA,
2007a).
212
Desde 1974, a empresa optou pelo sistema de comercialização com foco em venda
direta, ou seja, porta a porta. Como aponta Almeida (2006), este sistema de vendas
apresenta vantagens para este tipo de indústria:
As características centrais da venda direta, onde reside sua força,
são a tradição da independência, de serviço ao consumidor e
confiabilidade para o crescimento empresarial no sistema de
mercado livre. Os elementos-chave do processo da venda direta
são: o vendedor, o consumidor, a organização, um código de
conduta no relacionamento entre as partes (ALMEIDA, 2006, p.
332).
Além disso, o baixo custo em termos de investimento para participar deste tipo de
negócio apresenta-se como um forte atrativo para as chamadas “consultoras”, em
comparação com investimentos necessários para participar, por exemplo, de
franquias ou iniciar empresas de pequeno e médio porte. Como aponta Almeida
(2006), uma importante característica do mercado de cosméticos refere-se ao fato das
vendas diretas serem direcionadas aos segmentos de baixa renda da população, onde
o apelo das consultoras apresenta grande eficiência. O canal de consultoras da Natura
atingiu, em 2006, a marca de 561 mil pessoas.
Outro aspecto relevante do processo de atuação da Natura refere-se à busca
permanente de fortalecimento de seus valores e crenças perante os diversos públicos
com os quais a empresa se relaciona. Segundo Almeida (2006), a estratégia de
comercialização dos produtos derivados da indústria de cosméticos está direcionada
para o fortalecimento dos ativos intangíveis da empresa, como forma de
diferenciação da concorrência do setor. Neste sentido, investimentos em sistemas de
gestão da marca, desenvolvimento e design de produtos e, fundamentalmente,
embalagens tornam-se decisivos para o sucesso dos negócios. No caso particular da
213
Natura, como aponta o diretor de marketing de produtos da empresa, o tratamento da
marca vai muito além da percepção de produtos naturais pelo consumidor:
A imagem corporativa da marca transcende a de produtos naturais.
Ela traz uma proposta de valor que está baseada na sustentabilidade
como um todo. O que passa não só pelo aspecto ambiental, mas aí
sim pela diversidade brasileira e também pelo aspecto econômico e
social. O consumo consciente que vemos aqui [evento da Natura
no São Paulo Fashion Week], traz muito desse aspecto social, do
trabalho de educação da sociedade, de saber o que ela está
consumindo. Assim, as novidades em produtos estão muito
relacionadas a dar continuidade ao exercício da identidade da
Natura nos últimos 35/37 anos (COSTA, 2007, p. 1).
5.2.2 Etapas do processo produtivo
A indústria de cosméticos lida especificamente com o desenvolvimento de produtos
voltados para a estética e a satisfação humana. Como aponta Almeida,
[...] a indústria de cosméticos é um segmento da indústria química,
cujas atividades se vinculam à manipulação de fórmulas,
destinadas à elaboração de produtos de aplicação no corpo
humano, para limpeza, embelezamento, ou para alterar sua
aparência sem afetar sua estrutura ou funções. Nesse sentido, a
noção de cosméticos vincula-se com produtos destinados,
essencialmente, à melhoria da aparência do consumidor. Assim, de
modo geral, o setor de cosméticos deve ser definido segundo o
objetivo da utilização de seus principais produtos (ALMEIDA,
2006, p. 324).
A fonte de matéria-prima para a produção de cosméticos parte de elementos da
biodiversidade e também de testes de laboratório que buscam sintetizar os elementos
essenciais para os valores de tratamento e nutrição que farão parte da linha de
produtos da empresa. Segundo o diretor de pesquisa, desenvolvimento e inovações
da empresa,
[...] a biodiversidade brasileira é uma diferenciação legítima para
se competir lá fora. Para a Natura ela é preponderante,
fundamental. Grande parte dos nossos investimentos são
214
destinados a biodiversidade como insumo. Porém, estão surgindo
restrições legais em relação à proteção do patrimônio genético
brasileiro. A idéia é regular o uso da flora brasileira e isso faz
sentido. Só que na verdade limitam um pouco. Não há um
arcabouço que proteja as empresas que querem usar a
biodiversidade brasileira de maneira construtiva. É um fator
inibidor, mas positivo. Protegem, mas devem ser olhadas sob
muitos aspectos (LUPPI, 2007, p. 6).
Com relação ao uso de animais em laboratório como etapa de testes para eficácia dos
produtos desenvolvidos, a empresa tem um posicionamento claro:
Há mais de cinco anos, a Natura vem adotando diversas iniciativas
para reduzir a necessidade dessa prática [testes com utilização de
animais em laboratório] - em sua gestão e na de seus fornecedores -
e garantir, ao mesmo tempo, a segurança dos produtos que coloca
no mercado. Como resultado desses esforços, reduziu os testes com
animais em cerca de 92%, entre 1997 e 2003. A Natura utiliza-se
dos critérios técnicos e científicos internacionais do grupo de
estudo conhecido como “3R”: Reduction, Refinement and
replacement (redução, refinamento e substituição), que reúne as
maiores indústrias de cosméticos do mundo com o objetivo de
analisar e desenvolver métodos alternativos aos ensaios com
animais. Até 2009 a empresa mantém o compromisso de eliminar
inteiramente as experiências com animais (LUPPI, 2007, p. 5).
Outro aspecto decisivo na busca de qualidade para o processo produtivo é o modelo
adotado pela empresa para a escolha dos seus principais fornecedores:
Temos um programa na Natura chamado QLICAR, que versa sobre
qualidade, logística, atendimento. [...] O QLICAR avalia nossos
fornecedores - atuais ou novas propostas. Faz um ranking daqueles
que gostaríamos de ter conosco e daqueles que gostaríamos de
manter e desenvolver cada vez mais. Mesmo porque, a avaliação
não é feita só por preço. Ela é hoje muito mais por um roll de
coisas, que é a qualidade, logística e o preço - que obviamente é
importante -, entre outras coisas.
A questão da logística é um fator determinante para uma empresa
como a Natura, em que obviamente há também o fator sazonal.
Algumas vezes as demandas vão muito além de nossa média, o que
é claro, traz transtornos não só para nós, mas também para os
nossos fornecedores. Estes devem trazer respostas rápidas e de
qualidade (LUPPI, 2007, p. 1).
215
5.2.3 Desenvolvimento de produtos e design
O desenvolvimento de produtos da indústria de cosméticos está fortemente
relacionado com investimentos em tecnologia e pesquisa, que se apresentam como
diferenciais competitivos e caracterizam a qualidade da marca, aumentando a
confiabilidade dos consumidores finais.
A cadeia de organizações de cosméticos inicia com as
organizações extratoras de matérias primas, como o minério de
ferro, petróleo, florestas, e organizações agrícolas e florestais
produtoras de plantas e animais criados para produção de partes e
subprodutos que se transformarão em cosméticos e produtos para
higiene pessoal e embelezamento estético (ALMEIDA, 2006, p.
331).
O desenvolvimento de produtos propriamente dito inicia-se com investimentos em
pesquisas de ordem tecnológica, que, posteriormente, são confrontadas com os
objetivos de marketing da empresa. Segundo o diretor de pesquisa, desenvolvimento
e inovações da empresa, os setores são divididos em pesquisa (P) e desenvolvimento
(D), com características estruturais diferenciadas:
Nós dividimos a nossa área de Pesquisa e Desenvolvimento em
dois blocos. Um de Pesquisa Básica e outro de Desenvolvimento
de Produtos. A diferença entre essas duas áreas é que o P faz
pesquisa básica sem estar necessariamente ligado ao
desenvolvimento de produto que será lançado o ano que vem – ou
seja, trabalhamos com tempos de projeto mais longos e com graus
de incerteza maior e a área de Desenvolvimento de Produtos, o
lado D, está ligada diretamente aos briefings de marketing, que
gera os projetos de novos produtos.
Então, os níveis de sucesso são diferentes em cada um desses dois
lados: o lado de Desenvolvimento de Produtos, que simplesmente
trabalha junto com o marketing desenvolvendo uma nova variante
de produto, tem grau de acerto e capacidade de desenvolver um
produto, de quase 100%. Eu diria que quase a totalidade dos
projetos é concluída com êxito, com mais ou menos tempo do que
o prometido inicialmente, mas com êxito na data determinada.
(...) Na realidade trata-se de um funil de idéias e de projetos e na
área de tecnologia, o índice de acertos e conclusão é de 30%.
216
Muitos projetos morrem na parte inicial de execução. Nós temos
um projeto de execução desses projetos que se chama Funil de
Tecnologia, dividido em quatro fases: de briefing do projeto, de
viabilidade técnica, uma fase de validação e uma fase de
disponibilização, que é quando incorporamos essa nova tecnologia
em produtos.
Ele funciona assim: após cerca de 70% dos projetos serem
descartados na fase de viabilidade técnica, aqueles que se
mostraram viáveis tecnicamente, cerca de 30% do total, absorve a
maior parte do investimento. E esse funil de tecnologia no fim
conclui projetos de tecnologia ainda não sob a forma de produto
final, mas a parte de tecnologia que será usada neste novo produto.
Só que aí, quem passa a conduzir essa outra etapa é a área de
Desenvolvimento de Produtos que tem um briefing mercadológico
para uma dada categoria, um produto específico, para o qual é
utilizada aquela tecnologia concluída no primeiro bloco (LUPPI,
2007, p. 2-3).
A agregação de valor e diferenciais para o consumidor também são consideradas na
etapa de desenvolvimento de produtos da empresa:
Os quesitos [para agregar diferencial aos produtos] são sempre as
incertezas. De comprovar as apostas feitas no desenvolvimento, se
as propostas feitas ao consumidor serão entendidas, se o orçamento
vai ser suficiente para dar o resultado e a repercussão pretendida
(apesar das pesquisas muitas vezes temos surpresas). A campanha
de sustentação também, se ela é suficiente para dar esse arranque
inicial para que um novo produto tenha sucesso. Eu acho que o
fator preponderante num novo produto é sempre a adequação da
proposta de valor que ele tem, afinal todos os quesitos de qualidade
estão embutidos nele (LUPPI, 2007, p. 3).
5.2.4 Entendimento do conceito de responsabilidade social por parte da empresa
Conforme descrito no site institucional da empresa na internet, sua estrutura interna
está fortemente direcionada para o tratamento de questões ligadas a sustentabilidade
ambiental e a responsabilidade social corporativa (NATURA, 2007a; 2007b).
Em 2002, a empresa criou a Gerência de Sustentabilidade, voltada especificamente
para atuar na interlocução entre as ações empresariais e as agências e órgãos técnicos
217
ambientais federais, estaduais e municipais, solucionando, também, problemas
internos do processo produtivo ligados às estratégias ambientais. Além disso, a
Natura implantou neste mesmo ano o Comitê de Sustentabilidade, formado pela alta
diretoria, buscando aprofundar o debate sobre a gestão sustentável em torno do
planejamento das ações do negócio. Em 2003, a empresa estabeleceu uma gerência
específica para tratar das questões ligadas à responsabilidade corporativa, visando o
alinhamento das práticas empresariais aos princípios de desenvolvimento sustentável,
levando em conta os impactos da produção em âmbito social e atuando tanto interna
quanto externamente. O Sistema de Gestão da Responsabilidade Corporativa
desenvolvido pela empresa busca trazer para o campo prático e operacional aspectos
da responsabilidade empresarial considerados abstratos, como, por exemplo,
princípios de ética e transparência, abordados, principalmente por meio de
indicadores especificamente desenvolvidos para esta função, comunicando os
resultados das avaliações segundo as diretrizes do modelo Global Reporting
Initiative (GRI) e do modelo Ethos. Além disso, a empresa desenvolveu um sistema
interno de normas operacionais voltado para o gerenciamento da qualidade ambiental
e do sistema de produção propriamente dito, com base nas normas NBR ISO 14001 e
NBR ISO 9001, obtendo ambas as certificações respectivamente em 2004 e 2005.
Em 2005, a Natura criou uma diretoria específica, a Diretoria de Sustentabilidade,
mais voltada para o atendimento às áreas de desenvolvimento de sistemas de gestão
ambiental e responsabilidade corporativa de modo integrado, incorporando tais
conceitos no dia-a-dia da empresa, buscando, sobretudo, o fortalecimento da marca.
218
Uma das principais ações da empresa no campo prático do entendimento dos
conceitos de sustentabilidade sócio-ambiental está relacionada com a opção pelo uso
sustentável dos ativos da biodiversidade nacional, tomando por base uma plataforma
tecnológica que passa desde a escolha dos fornecedores até o desenvolvimento de
embalagens com menor impacto ambiental, entre outras questões. O modelo de
gestão adotado segue três linhas específicas de ação:
a) Fundamentos do negócio;
b) Foco de investimento Econômico Social; e
c) Foco de investimento Ambiental.
A primeira linha de investimentos está relacionada a aspectos da qualidade do
relacionamento da empresa com seus diversos públicos, fundamentalmente o que diz
respeito à ética empresarial, transparência e eficiência dos canais de diálogo. A
segunda linha de investimento busca abarcar aspectos mais direcionados ao
desenvolvimento sustentável em nível local ou em aspectos mais abrangentes como
promoção de educação, diversidade, qualidade de vida e cultura. Por fim, a terceira
linha de investimentos da empresa busca tratar especificamente os aspectos ligados a
proteção do meio ambiente, buscando, inclusive, atender aspectos de proteção além
dos exigidos por determinação legal, no Brasil e no exterior.
219
5.2.5 Geração do IDSRS da Natura
O questionário com as formulações de referência para definição de indicadores
IDSRS foi aplicado a um funcionário do setor de marketing da empresa Natura
(Apêndice C), que se ateve unicamente às questões específicas do seu dia-a-dia na
corporação
23
. As formulações mais específicas, não abarcadas pelo conhecimento do
entrevistado, foram inferidas a partir dos dados obtidos nos relatórios de balanço
anual publicados pela empresa e dados coletados por meio de entrevistas,
considerando, fundamentalmente, os indicadores mais diretamente associados às
formulações do modelo IDSRS, expressos por meio do modelo Global Reporting
Initiative (GRI), adotado para definição de indicadores de desempenho social e
ambiental pela Natura. Estas questões estão devidamente indicadas ao longo do texto
explicativo acerca do IDSRS relativo a cada fase do processo de design obtido na
avaliação da empresa.
A tabela 5.27 apresenta uma comparação entre os principais indicadores definidos
preliminarmente no modelo IDSRS e os indicadores do modelo GRI, adotado pela
Natura. Vale ressaltar que a análise do processo de design considera unicamente os
indicadores que tenham equivalência no modelo IDSRS proposto nesta tese.
23
Conforme descrito no capítulo I, seção “Limitações da tese”, não é objeto deste estudo a verificação
das condições reais de sustentabilidade e responsabilidade social da empresa em questão, mas, sim,
uma demonstração da aplicabilidade do modelo IDSRS, na busca de uma avaliação específica do
processo de design. Deste modo, considera-se irrelevante a não aplicação do questionário a um
funcionário do alto escalão da empresa, nesta etapa do trabalho de investigação.
220
Tabela 5.27 – Equivalência de indicadores utilizados no modelo IDSRS em relação ao modelo GRI
adotado pela empresa Natura
Indicador
(Modelo IDSRS)
Indicador Natura / GRI Escopo
Demanda de energia para
produção
Consumo total de energia Consumo energético necessário para
o funcionamento da linha de
produção
Demanda de energia para
produção
Consumo de água por unidade
vendida
*
Quantidade de água necessária para a
produção de um único produto no
final do processo produtivo
Reuso Reutilização da água Reutilização de recursos e energia
para otimização do processo
produtivo
Descarte e deposição do lixo Destinação de resíduos Tratamento de resíduos e efluentes
resultantes do processo produtivo
Grau de toxidade da
produção ou do produto
final
Geração de resíduos Avaliação da eficiência do processo
produtivo com relação a emissões de
gases, geração de resíduos e efluentes
Código de ética Investimentos em
responsabilidade corporativa
Avaliação das práticas da empresa,
transparência nas ações empresariais
e reconhecimento por parte da
sociedade
Bem-estar Satisfação Avaliação do grau de satisfação dos
públicos interno e externo, condições
de trabalho e assistência técnica da
empresa
Classificação ambiental de
fornecedores
**
Caracterização e adequação dos
fornecedores segundo valores e
normas expressas pela empresa
Bem-estar Ações na comunidade local Ações da empresa que impactam
positivamente a sociedade
*
O item água pode ser utilizado como unidade de referência para o indicador IDSRS por se tratar de recurso
natural indispensável ao processo produtivo em particular.
**
O conjunto de 20 (vinte) indicadores definidos preliminarmente no âmbito desta tese não contempla esta
abordagem, embora o modelo IDSRS permita a ampliação e/ou redução do número de indicadores em função das
características específicas de cada empresa em análise.
5.2.5.1 Aplicação de questionário e cálculo do IDSRS para a fase de
Produção/Manufatura da empresa Natura
Seguindo o mesmo princípio de cálculo utilizado no exemplo “A”, a base de
indicadores utilizados na análise da fase 1 do processo de design da Natura busca
identificar aspectos associados aos impactos reais e potenciais da matéria-prima
utilizada e das demandas de energia necessárias para produção. Também são
analisadas questões relativas ao uso de embalagem e adequação das práticas da
221
empresa perante as normas de qualidade nacionais e internacionais. Conforme
descrito previamente no capítulo IV, desta tese, o cálculo dos indicadores é realizado
a partir da equação 03.
A tabela 5.28 apresenta o excerto do questionário aplicado para qualificação do
indicador Demanda de energia para produção, com as respostas dispostas na escala
Likert, conforme descrito anteriormente.
Tabela 5.28 – Excerto do questionário aplicado para qualificação do indicador Demanda de energia
para produção da empresa Natura
Considerando-se a presença de 3 (três) pesos altos, o universo de formulações para
este indicador aumenta de 3 (três) para 9 (nove), utilizando-se a média ponderada
para o cálculo do IDSRS.
O valor gerado na primeira formulação, com a resposta “discordo”, é 1 (um). A
resposta “concordo plenamente”, na segunda formulação, tem valor 4 (quatro). A
última formulação resulta no valor 0 (zero).
O cálculo do IDSRS foi, então, determinado como segue:
(1 x 3) + (4 x 3) + (0 x 3) = 15
222
Dividindo-se o resultado obtido pelo universo de formulações 9 (nove) obtém-se o
IDSRS 1,7 para o indicador Demanda de energia para produção.
A tabela 5.29 apresenta o excerto do questionário aplicado para qualificação do
indicador Diversidade de materiais para produção.
Tabela 5.29 – Excerto do questionário aplicado para qualificação do indicador Diversidade de
materiais para produção da empresa Natura
Considerando-se a presença de 2 (dois) pesos altos e 1 (um) peso médio, o universo
de formulações para este indicador aumenta de 3 (três) para 8 (oito).
O valor gerado com a resposta “concordo em parte” na primeira formulação é 2
(dois). As segunda e terceira respostas apresentam o mesmo valor 3 (três). Assim, o
cálculo do IDSRS é:
(2 x 3) + (3 x 2) + (3 x 3) = 21
Dividindo-se este resultado pelo universo de formulações 8 (oito) obtém-se o valor
2,6 para o IDSRS do indicador Diversidade de materiais para produção.
223
A tabela 5.30 apresenta o excerto do questionário aplicado para qualificação do
indicador Grau de toxidade da produção ou do produto final.
Tabela 5.30 – Excerto do questionário aplicado para qualificação do indicador Grau de toxidade da
produção ou do produto final da empresa Natura
Considerando-se a presença de 2 (dois) pesos altos e 1 (um) peso baixo, o universo
de formulações para este indicador passa de 3 (três) para 7 (sete).
A resposta “concordo”, na primeira e na segunda formulação resulta em valor 3
(três). Já a resposta “concordo plenamente”, na terceira formulação resulta em valor
4 (quatro). Assim, o cálculo do IDSRS para qualificação deste indicador é:
(3 x 3) + (3 x 1) + (4 x 3) = 24
Dividindo-se o resultado pelo universo de formulações 7 (sete) obtém-se o IDSRS
3,4 para o indicador Grau de toxidade da produção ou do produto final.
A tabela 5.31 apresenta o excerto do questionário aplicado para qualificação do
indicador Normalização.
224
Tabela 5.31 – Excerto do questionário aplicado para qualificação do indicador Normalização da
empresa Natura
Considerando-se a presença de 1 (um) peso alto e 1 (um) peso baixo, o universo de
formulações para este indicador aumenta de 2 (dois) para 4 (quatro). Os valores
gerados em ambas as respostas “concordo plenamente” são 4 (quatro). Assim, o
cálculo do IDSRS é:
(4 x 3) + (4 x 1) = 16
Dividindo-se este resultado pelo universo de formulações 4 (quatro) obtém-se o valor
4,0 para o IDSRS do indicador Normalização.
A tabela 5.32 apresenta o excerto do questionário aplicado para qualificação do
indicador Embalagem.
Tabela 5.32 – Excerto do questionário aplicado para qualificação do indicador Embalagem da empresa
Natura
225
Considerando-se a presença de 2 (dois) pesos altos e 1 (um) peso baixo, o universo
de formulações para este indicador passa de 3 (três) para 7 (sete).
As três respostas “concordo plenamente” resultam em valor 4 (quatro). Assim, o
cálculo do IDSRS para qualificação deste indicador é:
(4 x 1) + (4 x 3) + (4 x 3) = 28
Dividindo-se o resultado pelo universo de formulações 7 (sete) obtém-se o IDSRS
4,0 para o indicador Embalagem.
5.2.5.2 Aplicação de questionário e cálculo do IDSRS para a fase de Consumo &
Uso/Serviço da empresa Natura
A base de indicadores utilizados na análise da segunda fase do processo de design da
Natura visa a avaliação de aspectos associados aos impactos reais e potenciais do uso
do produto, suas adequações legais, consumo energético durante o uso, além da
capacidade de gerar bem-estar para os usuários e também para o público interno.
A tabela 5.33 apresenta o excerto do questionário aplicado para qualificação do
indicador Atendimento à legislação.
226
Tabela 5.33 – Excerto do questionário aplicado para qualificação do indicador Atendimento à
legislação da empresa Natura
A qualificação deste indicador foi inferida com base nos dados coletados por meio de
entrevistas e no relatório anual de atividades da empresa (NATURA, 2007a).
Considerando-se a presença de 1 (um) peso alto, 1 (um) peso médio e 2 (dois) pesos
baixos, o universo de formulações para este indicador aumenta de 4 (quatro) para 7
(sete).
Os valores gerados nas duas primeiras respostas “concordo plenamente” resultam
valor 4 (quatro). A terceira formulação tem valor 3 (três) para a resposta “concordo”
e a última formulação resulta em valor 4 (quatro). Assim, o cálculo do IDSRS é:
(4 x 3) + (4 x 2) + (3 x 1) + (4 x 1) = 27
Dividindo-se este resultado pelo universo de formulações 4 (quatro) obtém-se o valor
3,9 para o IDSRS do indicador Atendimento à legislação.
227
A tabela 5.34 apresenta o excerto do questionário aplicado para qualificação do
indicador Impacto associado ao uso do produto.
Tabela 5.34 – Excerto do questionário aplicado para qualificação do indicador Impacto associado ao
uso do produto da empresa Natura
Considerando-se a presença de 1 (um) peso alto e 1 (um) peso médio, o universo de
formulações para este indicador passa de 2 (dois) para 5 (cinco).
As duas respostas “concordo plenamente” resultam em valor 4 (quatro). Assim, o
cálculo do IDSRS para qualificação deste indicador é:
(4 x 3) + (4 x 2) = 20
Dividindo-se o resultado pelo universo de formulações 5 (cinco) obtém-se o IDSRS
4,0 para o indicador Impacto associado ao uso do produto.
A tabela 5.35 apresenta o excerto do questionário aplicado para qualificação do
indicador Consumo de energia no uso do produto.
228
Tabela 5.35 – Excerto do questionário aplicado para qualificação do indicador Consumo de energia no
uso do produto da empresa Natura
Uma vez que a segunda formulação não se aplica ao produto da empresa Natura, o
universo de formulações para este indicador aumenta de 1 (um) para 3 (três), tendo
em vista o peso alto atribuído à primeira questão e a eliminação da segunda
formulação, para fins de cálculo do IDSRS. O valor gerado pela resposta “concordo
plenamente” resulta em valor 4 (quatro). Assim, o cálculo do IDSRS é:
(4 x 3) = 12
Dividindo-se este resultado pelo universo de formulações 3 (três) obtém-se o valor
4,0 para o IDSRS do indicador Consumo de energia no uso do produto.
A tabela 5.36 apresenta o excerto do questionário aplicado para qualificação do
indicador Multifuncionalidade.
Tabela 5.36 – Excerto do questionário aplicado para qualificação do indicador Multifuncionalidade da
empresa Natura
229
Considerando-se a presença de 1 (um) peso alto e 1 (um) peso médio, o universo de
formulações para este indicador passa de 2 (dois) para 5 (cinco).
A resposta “concordo plenamente”, na primeira formulação, resulta em valor 4
(quatro). Já a resposta “concordo”, na segunda formulação, resulta em valor 3 (três).
Assim, o cálculo do IDSRS para qualificação deste indicador é:
(4 x 3) + (3 x 2) = 18
Dividindo-se o resultado pelo universo de formulações 5 (cinco) obtém-se o IDSRS
3,6 para o indicador Multifuncionalidade.
A tabela 5.37 apresenta o excerto do questionário aplicado para qualificação do
indicador Bem-estar.
Tabela 5.37 – Excerto do questionário aplicado para qualificação do indicador Bem-estar da empresa
Natura
A qualificação deste indicador foi inferida com base nos dados coletados por meio de
entrevistas e no balanço anual de atividades da empresa (NATURA, 2007a).
Considerando-se a presença de 3 (três) pesos altos, o universo de formulações para
este indicador aumenta de 3 (três) para 9 (nove), para fins de ponderação do IDSRS.
230
O valor gerado pelas respostas “concordo plenamente” resultam em valor 4 (quatro).
Assim, o cálculo do IDSRS é:
(4 x 3) + (4 x 3) + (4 x 3) = 36
Dividindo-se este resultado pelo universo de formulações 9 (nove) obtém-se o valor
4,0 para o IDSRS do indicador Bem-estar.
5.2.5.3 Aplicação de questionário e cálculo do IDSRS para a fase de
Descarte/Deposição da empresa Natura
A base de indicadores utilizados na análise da terceira Fase do processo de design da
Natura avalia a adequação das ações associadas ao pós-uso/consumo do produto
comercializado, às preocupações com o meio ambiente, o descarte e a deposição de
possíveis sobras e perdas da produção, além de aspectos relacionados ao código de
ética e valores da empresa. A tabela 5.38 apresenta o excerto do questionário
aplicado para qualificação do indicador
Descarte e deposição do lixo.
Tabela 5.38 – Excerto do questionário aplicado para qualificação do indicador Descarte e deposição
do lixo da empresa Natura
231
A qualificação deste indicador foi inferida com base nos dados coletados por meio de
entrevistas e no relatório anual de atividades da empresa (NATURA, 2007a).
Considerando-se a presença de 2 (dois) pesos altos, o universo de formulações para
este indicador passa de 2 (dois) para 6 (seis).
O valor gerado na primeira resposta, “concordo”, resulta valor 3 (três). A segunda
formulação tem valor 4 (quatro). Assim, o cálculo do IDSRS é:
(3 x 3) + (4 x 3) = 21
Dividindo-se este resultado pelo universo de formulações 6 (seis) obtém-se o valor
3,5 para o IDSRS do indicador Descarte e deposição do lixo.
A tabela 5.39 apresenta o excerto do questionário aplicado para qualificação do
indicador Reciclabilidade de matéria-prima.
Tabela 5.39 – Excerto do questionário aplicado para qualificação do indicador Reciclabilidade de
matéria-prima da empresa Natura
Considerando-se a presença de 2 (dois) pesos altos, o universo de formulações para
este indicador passa de 2 (dois) para 6 (seis).
232
A resposta “concordo”, na primeira formulação, resulta em valor 3 (três). Já a
resposta “concordo em parte”, na segunda formulação, resulta em valor 2 (dois).
Assim, o cálculo do IDSRS para qualificação deste indicador é:
(3 x 3) + (2 x 3) = 15
Dividindo-se o resultado pelo universo de formulações 6 (seis) obtém-se o IDSRS
2,5 para o indicador Reciclabilidade de matéria-prima.
A tabela 5.40 apresenta o excerto do questionário aplicado para qualificação do
indicador Desmontagem.
Tabela 5.40 – Excerto do questionário aplicado para qualificação do indicador Desmontagem da
empresa Natura
Considerando-se a presença de 2 (dois) pesos altos, o universo de formulações para
este indicador passa de 2 (dois) para 6 (seis).
O valor gerado na primeira resposta, “concordo em parte”, resulta em valor 2 (dois).
A resposta “discordo”, na segunda formulação, resulta em valor 1 (um). Assim, o
cálculo do IDSRS é:
233
(2 x 3) + (1 x 3) = 9
Dividindo-se este resultado pelo universo de formulações 6 (seis) obtém-se o valor
1,5 para o IDSRS do indicador Desmontagem.
A tabela 5.41 apresenta o excerto do questionário aplicado para qualificação do
indicador
Código de ética.
Tabela 5.41 – Excerto do questionário aplicado para qualificação do indicador Código de ética da
empresa Natura
Considerando-se a presença de 2 (dois) pesos altos e 1 (um) peso médio, o universo
de formulações para este indicador passa de 3 (três) para 8 (oito).
As três respostas “concordo plenamente” resultam em valor 4 (quatro). Assim, o
cálculo do IDSRS para qualificação deste indicador é:
(4 x 2) + (4 x 3) + (4 x 3) = 32
Dividindo-se o resultado pelo universo de formulações 8 (oito) obtém-se o IDSRS
4,0 para o indicador Código de ética.
234
A tabela 5.42 apresenta o excerto do questionário aplicado para qualificação do
indicador Antecipação.
Tabela 5.42 – Excerto do questionário aplicado para qualificação do indicador Antecipação da
empresa Natura
Considerando-se a presença de 1 (um) peso médio e 1 (um) peso alto, o universo de
formulações para este indicador passa de 2 (dois) para 5 (cinco).
As duas respostas “concordo plenamente” resultam em valor 4 (quatro). Assim, o
cálculo do IDSRS para qualificação deste indicador é:
(4 x 2) + (4 x 3) = 20
Dividindo-se o resultado pelo universo de formulações 5 (cinco) obtém-se o IDSRS
4,0 para o indicador Antecipação.
5.2.5.4 Aplicação de questionário e cálculo do IDSRS para a fase de Reciclagem &
Reuso/Redesign da empresa Natura
O conjunto de indicadores utilizado na análise da quarta fase do processo de design
da Natura busca avaliar as condições de reuso e reciclagem do produto, sua
capacidade de reinserção no mercado e as ações de projeto direcionadas ao ciclo de
vida do produto de modo mais abrangente.
235
A tabela 5.43 apresenta o excerto do questionário aplicado para qualificação do
indicador Reuso.
Tabela 5.43 – Excerto do questionário aplicado para qualificação do indicador Reuso da empresa
Natura
Considerando-se a presença de 2 (dois) pesos altos, o universo de formulações para
este indicador passa de 2 (dois) para 6 (seis).
A resposta “concordo”, na primeira formulação, resulta em valor 3 (três). Já resposta
“concordo em parte”, na segunda formulação, resulta em valor 2 (dois). Assim, o
cálculo do IDSRS para qualificação deste indicador é:
(3 x 3) + (2 x 3) = 15
Dividindo-se o resultado pelo universo de formulações 6 (seis) obtém-se o IDSRS
2,5 para o indicador Reuso.
A tabela 5.44 apresenta o excerto do questionário aplicado para qualificação do
indicador
Atualização.
236
Tabela 5.44 – Excerto do questionário aplicado para qualificação do indicador Atualização da empresa
Natura
Considerando-se a presença de 2 (dois) pesos altos, o universo de formulações para
este indicador passa de 2 (dois) para 6 (seis).
O valor gerado em ambas as formulações, a partir das respostas, “concordo”, resulta
em valor 3 (três) da escala Likert. Assim, o cálculo do IDSRS é:
(3 x 3) + (3 x 3) = 18
Dividindo-se este resultado pelo universo de formulações 6 (seis) obtém-se o valor
3,0 para o IDSRS do indicador Atualização.
A tabela 5.45 apresenta o excerto do questionário aplicado para qualificação do
indicador Redesign.
Tabela 5.45 – Excerto do questionário aplicado para qualificação do indicador Redesign da empresa
Natura
237
Considerando-se a presença de 2 (dois) pesos altos, o universo de formulações para
este indicador passa de 2 (dois) para 6 (seis).
A resposta “concordo em parte”, na primeira formulação, resulta em valor 2 (dois).
Já resposta “discordo”, na segunda formulação, resulta em valor 1 (um). Assim, o
cálculo do IDSRS para qualificação deste indicador é:
(2 x 3) + (1 x 3) = 9
Dividindo-se o resultado pelo universo de formulações 6 (seis) obtém-se o IDSRS
1,5 para o indicador Redesign.
A tabela 5.46 apresenta o excerto do questionário aplicado para qualificação do
indicador Revenda / redistribuição.
Tabela 5.46 – Excerto do questionário aplicado para qualificação do indicador Revenda /
redistribuição da empresa Natura
Considerando-se a presença de 1 (um) peso baixo e 1 (um) peso alto, o universo de
formulações para este indicador passa de 2 (dois) para 4 (quatro).
238
O valor gerado em ambas as formulações, a partir das respostas, “concordo
plenamente”, resulta em valor 4 (quatro) da escala Likert. Assim, o cálculo do
IDSRS é:
(4 x 1) + (4 x 3) = 16
Dividindo-se este resultado pelo universo de formulações 4 (quatro) obtém-se o valor
4,0 para o IDSRS do indicador Revenda / redistribuição.
A tabela 5.47 apresenta o excerto do questionário aplicado para qualificação do
indicador Facilidade de reconhecimento de materiais.
Tabela 5.47 – Excerto do questionário aplicado para qualificação do indicador Facilidade de
reconhecimento de materiais da empresa Natura
Considerando-se a presença de 1 (um) peso alto, o universo de formulações para este
indicador passa de 1 (um) para 3 (três).
A resposta “concordo” resulta em valor 3 (três). Assim, o cálculo do IDSRS para
qualificação deste indicador é:
(3 x 3) = 9
Dividindo-se o resultado pelo universo de formulações 3 (três) obtém-se o IDSRS
3,0 para o indicador Facilidade de reconhecimento de materiais.
239
5.2.6 Consolidação dos dados e visualização dos resultados de IDSRS para cada
fase de design
Partindo-se da escala de visualização descrita na seção 4.6, do capítulo IV, desta tese,
apresenta-se graficamente a consolidação dos dados obtidos em cada fase do
processo de design da empresa Natura, por meio de tabelas com os valores obtidos a
partir da qualificação dos indicadores. Conforme descrito anteriormente, o cálculo do
IDSRS é realizado a partir da equação 02.
A tabela 5.48 apresenta a visualização dos resultados de IDSRS relativos a cada
indicador proposto para análise da fase de Produção / Manufatura da Natura. Os
valores obtidos nesta fase da empresa Natura revelam que, com exceção do indicador
“Demanda de energia para produção”, a empresa apresenta condições adequadas de
sustentabilidade, chegando, inclusive, ao máximo valor de IDSRS para os
indicadores “Normalização” e “Embalagem”.
Tabela 5.48 – Visualização do IDSRS para cada item da fase 1 do processo de design da Natura
Fase de
Design
Indicador IDSRS Visualização (Indicador)
Demanda de
energia para
produção
1,7
Diversidade de
materiais para
produção
2,6
Grau de
toxidade da
produção ou do
produto final
3,4
Normalização
4,0
FASE 1
Produção/
Manufatura
Embalagem
4,0
240
O valor 1,7 para o IDSRS “Demanda de energia para produção” pode exigir maiores
esforços por parte da empresa no sentido de adotar padrões de consumo energético
mais otimizados e também utilizar fontes de energia mais sustentáveis, buscando,
inclusive, o ideal de geração de energia limpa, internamente, independente de
fornecimento externo. Já o item “Diversidade de materiais para a produção”,
avaliado com sustentabilidade média, pode servir de orientação para o
desenvolvimento de produtos com utilização de uma menor diversidade de materiais,
o que implica em melhoria na destinação final dos materiais, sobretudo visando os
processos de reciclagem. Os demais indicadores apresentam sustentabilidade forte, o
que indica o comprometimento da empresa na busca de soluções adequadas em
longo prazo.
A tabela 5.49 apresenta a visualização dos resultados de IDSRS calculados a partir
das análises de cada item associado à fase de Consumo & Uso / Serviço da Natura.
Tabela 5.49 – Visualização do IDSRS para cada item da fase 2 do processo de design da Natura
Fase de
Design
Indicador IDSRS Visualização (Indicador)
Atendimento à
legislação
3,9
Impacto
associado ao
uso do produto
4,0
Consumo
de energia
no uso do
produto
4,0
Multifun-
cionalidade
3,6
FASE 2
Consumo &
Uso/Serviço
Bem-estar
4,0
241
Nesta fase do processo de design, a empresa Natura apresenta todos os indicadores
com nível de sustentabilidade forte, o que, mais uma vez, pode revelar o
direcionamento intenso do processo de produção para os valores e padrões de
sustentabilidade e responsabilidade social considerados adequados para o
desenvolvimento dos negócios em sintonia com questões ligadas à proteção do meio
ambiente e ao atendimento às demandas da sociedade.
A tabela 5.50 apresenta a visualização dos resultados de IDSRS calculados para a
fase de Descarte / Deposição da Natura.
Tabela 5.50 – Visualização do IDSRS para cada item da fase 3 do processo de design da Natura.
Fase de
Design
Indicador IDSRS Visualização (Indicador)
Descarte e
deposição do
lixo
3,5
Reciclabilidade
de matéria-
prima
2,5
Desmontagem
1,5
Código de ética
4,0
FASE 3
Descarte/
Deposição
Antecipação
4,0
Para esta fase do processo de design da Natura, os indicadores revelam pontos onde
se faz necessário maior concentração de esforços no sentido de se atingir os padrões
de sustentabilidade e responsabilidade social necessários para todo o processo
produtivo da empresa. O valor mais baixo encontrado nesta fase refere-se ao
indicador “Desmontagem”, com IDSRS 1,5, avaliado em situação de ameaça de
sustentabilidade. Este resultado aponta para a necessidade de desenvolvimento de
242
produtos mais voltados para o descarte e a reciclagem, integrados ao ciclo de vida do
processo produtivo. Também o indicador “Reciclabilidade de matéria-prima”,
avaliado com IDSRS 2,5, com sustentabilidade fraca, reforça esta necessidade de
melhorias no desenvolvimento de produtos fundamentados na metodologia de design
orientado ao ciclo de vida (life cycle design). Os demais indicadores desta fase do
design da Natura encontram-se com níveis de sustentabilidade forte, com destaque
para “Código de ética” e “Antecipação”, ambos com o valor máximo de IDSRS.
A tabela 5.51 apresenta a visualização dos resultados de IDSRS calculados para a
fase de Reciclagem & Reuso / Redesign da Natura.
Tabela 5.51 – Visualização do IDSRS para cada item da fase 4 do processo de design da Natura
Fase de
Design
Indicador IDSRS Visualização (Indicador)
Reuso
2,5
Atualização
3,0
Redesign
1,5
Revenda /
redistribuição
4,0
FASE 4
Reciclagem &
Reuso /
Redesign
Facilidade de
Reconheci-
mento de
materiais
3,0
A fase de Reciclagem & Reuso/Redesign do processo de design da Natura apresenta
indicadores oscilando entre ameaça de sustentabilidade e sustentabilidade forte, o
que pode indicar pontos que devem ser continuamente reavaliados pelo corpo
diretivo da empresa no sentido de se atingir um desenvolvimento de produtos com
243
maior adequação quanto aos critérios de sustentabilidade e responsabilidade social. O
indicador avaliado em situação de ameaça é o que se refere ao “Redesign”, com
IDSRS 1,5. Com base nesta avaliação, o desenvolvimento de produtos deve se voltar
para o reaproveitamento dos materiais após o uso, buscando reintroduzí-los no
sistema produtivo e, consequentemente, criar novos ciclos de vida. Além disso, o
indicador “Reuso”, avaliado no limite de sustentabilidade fraca, com IDSRS 2,5,
complementa a necessidade de fortalecimento da política de incentivo ao retorno dos
produtos utilizados pelos consumidores para reaproveitamento na fábrica, o que traz
para a empresa a responsabilidade e o compromisso de oferecer a destinação correta
da matéria-prima lançada no ambiente. Já os indicadores “Atualização” e “Facilidade
de reconhecimento de materiais”, avaliados no limite de sustentabilidade média,
permitem afirmar que a empresa está se voltando para a adequação do sistema
produtivo para a reciclagem de seus produtos, mas ainda requer ajustes para o
atingimento dos padrões considerados ideais de sustentabilidade e responsabilidade
social. Nesta fase, o único indicador avaliado com o máximo IDSRS foi o item
“Revenda/redistribuição”, onde a empresa apresenta forte sustentabilidade, sobretudo
por adotar o sistema de venda direta, que favoresse o trabalho de atendimento e
percepção das necessidades do consumidor final.
Uma avaliação global da adequação do processo de design da empresa Natura pode
ser melhor visualizada a partir dos itens apresentados na tabela 5.52, que apresenta os
valores IDSRS calculados por determinação da média simples dos indicadores de
cada fase. Conforme descrito anteriormente no capítulo IV, desta tese, o cálculo do
IDSRS global é realizado a partir da equação 01.
244
Tabela 5.52 – Visualização do IDSRS global para cada fase do processo de design da Natura
Fase de
Design
IDSRS
(Média)
Visualização (Fase)
FASE 1
Produção/
Manufatura
3,1
FASE 2
Consumo &
Uso/Serviço
3,9
FASE 3
Descarte/
Deposição
3,1
FASE 4
Reciclagem &
Reuso /
Redesign
2,8
Este modelo de visualização dos resultados obtidos para cada fase de design da
Natura possibilita uma análise objetiva da situação do processo produtivo em suas
diversas vertentes. A maior adequação da empresa refere-se à fase de Consumo &
Uso/Serviço, com IDSRS médio de 3,9, ou seja, sustentabilidade forte. Também as
fases de Produção/Manufatura e Descarte/Deposição, avaliados com IDSRS médio
de 3,1, encontram-se em situação de sustentabilidade forte. Apenas a fase de
Reciclagem & Reuso/Redesign, com IDSRS médio calculado em 2,8,
sustentabilidade média, apresenta sinais de que o método de projetação deve ser
aperfeiçoado na busca de maior adequação do design para com o ciclo de vida do
produto desenvolvido pela empresa.
245
5.2.7 Sugestão de melhorias a partir da interpretação dos resultados obtidos
Na busca por uma avaliação mais precisa sobre os pontos fracos ou aqueles que
requerem maior esforço por parte da empresa, considerando-se os padrões de
sustentabilidade e responsabilidade social apresentados no âmbito desta tese, sugere-
se a revisão dos itens avaliados em situação de ameaça para o processo de design da
Natura. Neste sentido, os indicadores “Desmontagem” e “Redesign”, ambos
avaliados com IDSRS 1,5, são os pontos mais relevantes a serem revistos para
adequação do processo produtivo da empresa. Os dois itens revelam a necessidade de
revisão do modelo adotado para o projeto e desenvolvimento de produtos, visando o
fortalecimento dos aspectos relativos ao ciclo de vida. Sugere-se, por exemplo, que o
design de embalagens permita maior modularidade de peças, visando a facilidade de
desmontagem e, consequentemente, o reaproveitamento das unidades para um novo
ciclo de vida, seja de matéria-prima, seja do produto propriamente dito, ou seja,
redesign.
Outro aspecto que merece revisão por parte da empresa diz respeito à energia
necessária para o funcionamento do sistema produtivo, cujo indicador resultou em
valor de IDSRS 1,7. A redução e a otimização da “Demanda de energia para
produção” devem ser metas continuamente estabelecidas pela engenharia da
empresa, buscando, de um lado, a utilização de fontes limpas de energia para as
etapas de produção mais simples e, de outro lado, a independência do sistema em
relação ao fornecimento de energia, produzindo sua própria energia internamente, e a
partir de tecnologias limpas, sempre que possível.
246
5.3 REFLEXÕES SOBRE OS VALORES IDSRS CALCULADOS
PARA AS EMPRESAS ANALISADAS
Apesar de não ser objeto de estudo desta tese a verificação das condições reais de
sustentabilidade e responsabilidade social das empresas estudadas, os resultados de
IDSRS nos permitem sugerir caminhos para a implementação de estratégias de
melhoria nas empresas analisadas, no que se refere a um desenvolvimento de
produtos mais adequado e em conformidade com princípios de sustentabilidade e
responsabilidade social. No exemplo “A”, os resultados apontam para a necessidade
de investimentos mais intensos no âmbito do processo produtivo propriamente dito,
sobretudo nas fases de “Produção/Manufatura” e “Descarte/Deposição”, por
apresentarem os resultados mais baixos (tabelas 5.21 e 5.23).
O melhor resultado da empresa “A” está relacionado com a fase de “Consumo &
Uso/Serviço”, com a maioria dos valores apresentando condições de sustentabilidade
forte (tabela 5.22). Esta característica pode revelar um envolvimento adequado por
parte da empresa para com seus clientes e atendimento pós-venda. Por fim, a fase de
“Reciclagem & Reuso/Redesign”, apesar de apresentar dois indicadores em
condições de sustentabilidade, tem a maioria dos fatores avaliados em situação de
ameaça, o que indica a necessidade de todo um investimento em ações de projeto
voltadas para a melhoria do ciclo de vida do produto (tabela 5.24). Sugere-se, desta
forma, uma reavaliação dos métodos atualmente adotados para o design, sobretudo
reconsiderando valores específicos de sustentabilidade ambiental na linha de
produção.
247
A análise do exemplo “B” revela que as práticas de gerenciamento que impactam
mais significativamente os contextos ambiental e social como consequência das
ações desenvolvidas pela empresa encontram-se em um estágio mais avançado. A
primeira fase de design da empresa “B”, por exemplo, apresenta todos os indicadores
avaliados com condição de sustentabilidade, a exceção do indicador “Demanda de
energia para produção” (tabela 5.48). A segunda fase do processo de design avança
mais ainda em relação à primeira, obtendo valores de sustentabilidade forte como
resultado da avaliação em todos os indicadores (tabela 5.49). As maiores dificuldades
avaliadas referem-se ao pós-uso, nas fases de “Descarte/Deposição” e “Reciclagem
& Reuso/Redesign”, que efetivamente representam conceitos que revolucionam as
práticas atuais, no sentido de motivar o consumidor a participar da responsabilidade
sócio-ambiental, envolvendo-se com itens como o retorno do produto utilizado para
reutilização no processo produtivo da empresa, além de aspectos mais específicos do
ciclo de vida, como o redesign dos produtos consumidos e descartados. A partir da
análise preliminar apresentada no âmbito desta tese, esta característica de
sustentabilidade ainda está distante da realidade das empresas analisadas, merecendo
investimentos voltados para o desenvolvimento de estratégias de longo prazo mais
específicas, no sentido de atingir esta meta de adequação para as suas atividades
corporativas.
5.4 CALIBRAÇÃO DO MODELO IDSRS
Por se tratar de empresas com objeto, foco e estrutura produtiva bastante diferentes, a
aplicação do modelo IDSRS deve considerar qualificadores e valores de ponderação
diferentes (pesos), o que se apresenta como um ponto relevante de ajuste para a
248
metodologia proposta. Conforme descrito no capítulo IV, desta tese, a determinação
dos pesos é atribuição do consultor em design, partindo de um briefing previamente
discutido com o corpo diretivo da empresa e demais responsáveis pela tomada de
decisão acerca do desenvolvimento de produtos. Esta ponderação, portanto, irá
conduzir o trabalho de avaliação dos indicadores IDSRS, servindo de base para o
levantamento de pontos fortes e fracos no sistema produtivo e devendo ser alvo de
constantes aperfeiçoamentos, buscando adequação do modelo ao universo particular
da empresa estudada.
Avançar em direção a um processo de qualificação dos indicadores será objeto de
estudos futuros, onde se buscará, por exemplo, a construção de uma base de dados
com formulações diversas para cada fase do processo de design.
No próximo capítulo são apresentadas as considerações finais da tese, juntamente
com as contribuições teóricas e práticas da pesquisa, além das linhas futuras de
investigação a serem desenvolvidas a partir dos resultados obtidos com a aplicação
do modelo proposto para avaliação do processo de design.
249
CAPÍTULO VI
CONSIDERAÇÕES FINAIS
251
CAPÍTULO VI
CONSIDERAÇÕES FINAIS
6.1 CONCLUSÃO
A noção de desenvolvimento associado a expectativas sociais requer melhor
compreensão e aprofundamento antes de se avaliar os modelos produtivos adotados
em um processo civilizatório. Desenvolvimento não deve ser entendido apenas como
sinônimo de intensa industrialização, aumento per capita de renda ou resultados
econômicos isolados, mas, sobretudo, melhoria nas condições de vida, continuidade
futura de espécies e ecossistemas, acerto de rotas, equidade de direitos. As condições
de desenvolvimento que possam ser consideradas sustentáveis e socialmente
responsáveis implicam em valores centrados em complementariedade e equilíbrio
dinâmico de sistemas, ao contrário do chamado crescimento, que, historicamente,
relaciona-se mais diretamente com os estados de expansão, uniformidade,
homogeneidade e, em sentido amplo, desigualdade.
Partindo-se das questões postuladas no capítulo introdutório desta tese, discute-se, a
seguir, as principais conclusões obtidas a partir dos trabalhos de investigação:
252
Q
1
É possível o desenvolvimento de produtos e serviços que atendam
simultaneamente aos requisitos ambientais, sociais, culturais, tecnológicos e de
lucratividade das empresas, no contexto brasileiro?
De um lado, no que diz respeito aos aspectos de sustentabilidade e responsabilidade
social considerados relevantes no sentido de orientar o trabalho dos designers, tem-se
uma resposta positiva para esta primeira questão. As dificuldades de implementação
de uma metodologia de desenvolvimento de produtos e design associada às questões
ambientais, culturais, sociais e econômicas estão mais relacionadas ao
desconhecimento do designer, do que a mudanças significativas no processo
produtivo propriamente dito. Esta percepção chama a atenção para uma urgente
revisão na base formativa–educacional do profissional de design, revelando a
necessidade de atualização dos currículos e, fundamentalmente, da forma como o
entendimento da responsabilidade deste profissional para com o ambiente e a
sociedade vem sendo conduzida nas escolas de design.
Por outro lado, atingir simultaneamente os requisitos ambientais, sociais, culturais,
tecnológicos e de lucratividade das empresas pode ser entendido como um desafio
não apenas para os profissionais de projeto, mas também para uma legislação mais
direcionada ao controle das ações empresariais, que devem essencialmente estar
voltadas para a melhoria de condições de vida do tecido social de forma ampla, não
apenas atingindo os objetivos de uma minoria. Neste sentido, a aplicação do modelo
IDSRS revelou que, mesmo em se tratando de empresas certificadas por normas
253
internacionais, aspectos essenciais do projeto de design como “Demanda de energia
para produção”, “Desmontagem” e “Redesign” apresentam-se em situação de
ameaça, em ambos os estudos de caso
24
. Estes indicadores, que ainda requerem uma
atenção cuidadosa das empresas, ao invés de preocupações internas, e, portanto,
voluntárias, poderiam ser tomados como valores a serem normalizados por meio de
uma política industrial mais fortemente direcionada à proteção ambiental, o que,
efetivamente, exigiria dos departamentos de projeto uma adequação metodológica
fundamentada em parâmetros de sustentabilidade e responsabilidade social de modo
efetivo.
Uma análise dos resultados de IDSRS obtidos para as fases de design nos exemplos
das empresas analisadas
25
evidencia que seus pontos mais fortes de sustentabilidade
estão associados à fase de Consumo & Uso / Serviço. Esta orientação para o mercado
revela a preocupação das empresas com seu principal público-alvo, o consumidor,
que, no contexto brasileiro, vem se assegurando de seus direitos e tomando, cada vez
mais, consciência de seu poder de influência nos aspectos qualitativos dos processos
de produção industrial. Neste sentido, a orientação convencional do processo de
design se apresenta como a metodologia usual das empresas, o que pode acarretar em
um distanciamento da solução de projeto em relação aos parâmetros de
sustentabilidade sócio-ambiental.
24
Respectivamente, tabelas 5.21, 5.23 e 5.24, para a empresa “A”, e tabelas 5.48, 5.50 e 5.51, para a
empresa “B”.
25
Respectivamente, tabelas 5.25 e 5.52.
254
Q
2
Como designers e produtores podem melhor solucionar os problemas durante
as fases de projeto, levando em consideração o atendimento às demandas
ambientais e sociais e a necessidade de práticas sustentáveis?
O conjunto estrutural de indicadores proposto como base do modelo IDSRS permite
um foco maior do projeto de design para as demandas sociais e ambientais, que
influenciam diretamente as práticas das instituições comerciais. Diante disso, a
revisão metodológica do processo de desenvolvimento de produtos apresenta-se
como uma prioridade, fugindo das decisões de projeto voltadas unicamente para os
requisitos mercadológicos e passando a adotar valores que melhor atendam
conjuntamente às necessidades de proteção ambiental, em paralelo com o processo
de melhoria de qualidade de vida das sociedades.
Neste sentido, o entendimento de que a responsabilidade do designer vai além da
qualidade da manufatura e do melhor uso de um determinado produto ou serviço,
enfaticamente proposto no escopo desta tese, requer uma revisão metodológica
significativa, envolvendo uma mudança projetual desde a escolha da matéria-prima,
passando pela necessidade de alteração na matriz energética do sistema produtivo e
chegando, por fim, a uma destinação correta dos componentes e dos produtos
descartados pelos usuários, previstos desde as etapas estruturais de decisão sobre a
viabilidade de implementação dos projetos de design.
Q
3
A prática projetual em design no contexto nacional está em conformidade com
uma perspectiva de atuação sustentável e socialmente responsável do designer?
255
Apesar do entendimento acerca dos valores considerados sustentáveis e socialmente
responsáveis em relação às práticas industriais estar sendo gradativamente
reconhecido como valor estrutural das corporações, ainda não é possível estabelecer
um marco teórico consistente no contexto brasileiro, capaz de orientar as atividades
de projeto e avaliação do processo de desenvolvimento de produtos e design com
base em parâmetros de sustentabilidade e responsabilidade social de forma
abrangente. Este aspecto leva-nos a concluir que ainda há uma grande necessidade de
se trilhar um caminho mais adequado para a prática do design industrial, entendendo-
se que o profissional de design tem um papel estrutural nas relações entre fabricantes
e consumidores, desenvolvimento técnico e meio ambiente, homem, cultura e
produto.
Diante do exposto, pode-se afirmar que ambas as hipóteses preliminarmente
estabelecidas para a condução dos trabalhos de investigação desta tese são
consideradas verdadeiras:
H
1
A prática do design pode caracterizar consumidor, usuário e cidadão de forma a
gerar respostas ambientalmente, culturalmente e socialmente adequadas, por
meio de uma metodologia projetual que contemple princípios de
sustentabilidade e responsabilidade social.
Partindo-se, de um lado, do entendimento da sustentabilidade como sendo o
equilíbrio dinâmico de um sistema e sua harmonização com o entorno no qual se
insere e, de outro lado, a responsabilidade social como uma forma de obtenção de
256
resultados tanto para empresas quanto para a sociedade, a prática do design assume
um papel fundamental na prospecção de produtos e serviços que possam,
efetivamente, ser considerados sustentáveis e socialmente responsáveis. Entretanto,
as metodologias de projeto necessitam de uma maior abrangência na determinação de
parâmetros que permitam, de modo simultâneo, o atendimento das necessidades de
continuidade da vida no planeta e os requisitos de satisfação das necessidades
individuais e coletivas, obtidos por meio do consumo de produtos. Assim, adota-se,
no âmbito desta tese, uma metodologia projetual centrada em valores de
sustentabilidade e responsabilidade social na busca por uma tomada de decisões mais
coerentes acerca do processo de produção de bens e serviços.
H
2
Modelos de indicadores de sustentabilidade e responsabilidade social
contribuem para uma avaliação mais adequada acerca da qualidade dos projetos
de design, definindo parâmetros para minimização de riscos e danos
ambientais, otimizando processos produtivos e atendendo às demandas e
expectativas da sociedade.
A proposta de um modelo de Indicadores de Design, Sustentabilidade e
Responsabilidade Social (IDSRS) relaciona-se com a possibilidade de se comparar
os resultados dos sistemas analisados em uma base comum de análise, visando
marcos teóricos capazes de estabelecer padrões de sustentabilidade adequados para o
processo de design de forma abrangente. Em suma, a implementação do modelo
pode oferecer aos gestores e tomadores de decisão itens de comparabilidade mais
otimizados sobre a qualidade do sistema produtivo, criando um conjunto específico
257
de benchmarking de sustentabilidade, ou seja, valores estruturais que possam ser
utilizados como referência para a adequação do projeto de design.
Partindo-se das análises dos modelos de indicadores de sustentabilidade e
responsabilidade social realizadas nesta tese, pode-se afirmar que a adoção do
modelo IDSRS facilita a identificação de aspectos onde o processo de design ainda
requer melhorias, por meio de uma escala simplificada de visualização dos estágios
de sustentabilidade avaliados (figura 4.13). A análise dos resultados de IDSRS
contribui, também, para uma readequação metodológica do processo de
desenvolvimento de produtos e design, apontando os aspectos de projeto que melhor
atendem os requisitos de sustentabilidade e responsabilidade social considerados
essenciais para o sistema produtivo. Desta forma, considera-se que a qualidade do
projeto poderá ser fortalecida por meio da aplicação do modelo de indicadores
desenvolvido no âmbito desta tese.
6.2 CONTRIBUIÇÃO TEÓRICA
Diante da escassa literatura especializada em aspectos de design relacionados a
parâmetros de sustentabilidade e responsabilidade social, sobretudo no cenário
nacional, acredita-se que esta tese de doutorado traz para a comunidade do design um
roteiro metodológico focado no estabelecimento de um marco teórico inicial para o
entendimento do papel do designer na busca por uma atuação mais voltada a
respostas projetuais que possam, efetivamente, ser consideradas sustentáveis e
socialmente responsáveis. Neste sentido, a revisão de literatura apresentada como
fundamentação dos capítulos II e III, respectivamente evidenciando os aspectos de
258
sustentabilidade do design e responsabilidade social do design, pode sugerir aos
designers novas rotas metodológicas orientadas para um design de produto mais
focado em valores sociais, culturais e ambientais para a solução de design.
Além disso, o modelo proposto contribui para o estabelecimento de novos padrões de
avaliação quanto ao reconhecimento de uma atuação sustentável e socialmente
responsável por parte das corporações. Conforme evidenciado por meio da análise
comparativa apresentada na tabela 4.3, os modelos de indicadores analisados não
atingem o grau de especificidade necessário para a avaliação do design de produtos,
o que traz para o modelo IDSRS proposto a responsabilidade de estabelecer novos
patamares de avaliação para os relatórios de balanço anual das ações de
sustentabilidade e responsabilidade social corporativas.
Além disso, a proposta de escala de valores de sustentabilidade sugerida no modelo
IDSRS (figura 4.13) possibilita o estabelecimento de um parâmetro importante para
legislações e políticas industriais mais abrangentes, onde seria exigido das empresas
o atingimento de um padrão mínimo e aceitável de sustentabilidade para, por
exemplo, ser incluído como item fundamental nos Estudos de Impacto Ambiental e
Relatórios de Impacto Ambiental (EIA-RIMA)
26
, estando o licenciamento ambiental
condicionado ao padrão projeto especificado por uma norma.
26
Fonte: http://www.mma.gov.br.
259
6.3 CONTRIBUIÇÃO PRÁTICA
A implementação do modelo IDSRS permite uma adequação do projeto de produtos
antes mesmo de sua inserção no mercado, trazendo benefícios para o processo de
produção industrial, visto que diversas questões centrais para seu desempenho sócio-
ambiental podem ser antecipadamente tratadas e corrigidas, ao invés de se remediar
soluções de projeto, muitas vezes com custos elevados, sobretudo por implicar em
significativas mudanças nas plataformas de produção. Além disso, indicadores tais
como demanda de energia, desmontagem, reciclagem, embalagem, redesign etc.,
propostos no modelo IDSRS como elementos essenciais para a avaliação do processo
de design, são pontos que devem fazer parte da prática do design, exigindo uma
mudança conceitual e metodológica no sentido de se atingir os objetivos de
lucratividade das empresas em consonância com as demandas de respeito aos valores
culturais, sociais e também da continuidade harmônica da vida em comunidade.
6.4 LINHAS FUTURAS DE INVESTIGAÇÃO
Pretende-se dar continuidade aos trabalhos de investigação a partir do
desenvolvimento de uma ferramenta de avaliação, com base no modelo IDSRS, que
possa ser aplicada em plataforma web, isto é, um software com interação online, o
que permitirá a aplicação do método em contextos diversos e possibilitará outras
reflexões sobre as necessidades de calibração do modelo. Acredita-se, ainda, que o
desenvolvimento de uma ferramenta eletrônica desta natureza facilite a distribuição
do modelo e permita sua adaptação para os diversos portes e escopos das empresas
que têm o design como elemento estrutural do projeto de produtos.
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WALKER, Stuart. Sustainability: the evolution of a contemporary myth. In Techné
Design Wisdom, 5
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European Academy of Design Conference. Barcelona, 2003.
WEINGRILL, Carmen. (Coord.). Práticas de responsabilidade social das empresas:
relação entre os princípios do global compact e indicadores Ethos de
responsabilidade social empresarial. São Paulo: Instituto Ethos, 2003.
WHITELEY, Nigel. Design for society. London: Reaktion Books, 1993.
271
WOOD, D. Corporate social performance revisited. Academy of Management
Review, v. 16, n. 4. Oct. 1991.
WWF – World Wildlife Fund. Getting at the source: strategies for reducing
municipal solid waste. Washington D.C.: WWF, 1991.
YIN, Robert K. Case study research: design and methods. 2
nd
edition. Thousand
Oaks: SAGE Publications, 1994.
ZADEK, S. Balancing performance, ethics and accountability. Journal of Business
Ethics, v. 17, n.13, oct. 1998.
APÊNDICES
APÊNDICE A
Caracterização e perfil do entrevistado (Rosita)
274
Universidade de São Paulo - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
Programa de Doutorado em Arquitetura e Urbanismo – Linha de Pesquisa: Design e Arquitetura
Paulo Fernando de Almeida Souza ([email protected])
Caracterização e Perfil do Entrevistado (Rosita)
Perfil do Entrevistado
Sexo
Masculino
Feminino
Idade
18 a 25
25 a 30
30 a 45
45 a 60
acima de 60
Formação
Ensino
Fundamental
Ensino
Médio
Ensino
Superior
Especifique a área por favor:
Técnico em mecânica
industrial,
Graduando em Design
Cargo / Função
Cargo:
Gerente de Produto
Funções desempenhadas:
-Pesquisa para novos produtos
-Desenvolvimento e projeto de novos
produtos
-Projeto de moldes
-Acompanhamento da fabricação de novos
moldes
-Try out de novos moldes
-Acompanhamento de produção
-Melhoria de produtos existentes
Há quanto tempo trabalha
nesta empresa?
até 1 ano 1 a 2 anos
2 a 4 anos
4 a 7 anos
+ de 7 anos
Você considera as práticas
adotadas por esta empresa
adequadas com relação à
proteção do meio
ambiente?
SIM
NÃO
Você acredita ser esta uma
empresa socialmente
responsável?
SIM
NÃO
Em sua opinião, esta
empresa possibilita o
desenvolvimento pessoal
e/ou profissional dos seus
funcionários?
SIM
NÃO
APÊNDICE B
Questionário de qualificação de indicadores – Rosita
276
Universidade de São Paulo - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
Programa de Doutorado em Arquitetura e Urbanismo – Linha de Pesquisa: Design e Arquitetura
Paulo Fernando de Almeida Souza ([email protected])
Questionário de qualificação de indicadores – Rosita (FASE I)
Indicador Descrição
Concordo
Plena-
mente
Concordo
Concordo
em Parte
Discordo
Discordo
Plena-
mente
Não se
Aplica
Não há grande demanda de energia para o
processo de produção em nossa empresa
É possível o uso de energia alternati-
va/limpa (e.g. eólica, solar) no processo
produtivo de nossa empresa
Usamos de energia alternativa/limpa no
processo produtivo de nossa empresa
Não se utiliza como fonte de energia para
produção recurso natural não-renovável
(e.g. madeira, petróleo, gás)
A energia utilizada no processo produtivo é
gerada internamente (a empresa gera sua
própria energia para produção, independen-
te de fornecimento externo)
Demanda
de energia
para pro-
dução
A infra-estrutura de transmissão de energia
para o processo de produção não impli-
ca/implicou a degradação de áreas naturais
Indicador Descrição
Concordo
Plena-
mente
Concordo
Concordo
em Parte
Discordo
Discordo
Plena-
mente
Não se
Aplica
Não se utiliza uma grande diversidade de
matéria-prima no processo de manufatura
do nosso produto (e.g. diversos tipos de
plástico, papel, papelão, metal e vidro etc.)
Existe reaproveitamento de matéria-prima
nas etapas de produção, diminuindo signi-
ficativamente as perdas
Diversi-
dade de
materiais
para pro-
dução
Há uma sinalização/identificação dos
materiais utilizados no produto final se-
gundo padrões internacionais, que facilita
sua desmontagem/reciclagem/reutilização
Indicador Descrição
Concordo
Plena-
mente
Concordo
Concordo
em Parte
Discordo
Discordo
Plena-
mente
Não se
Aplica
Não há muita emissão de gases, geração de
resíduos e/ou lançamento de efluentes em
nosso processo produtivo
Não são utilizados materiais com grau de
toxidade que requerem cuidados em uma
ou mais etapas da produção
Grau de
toxidade
da produ-
ção ou do
produto
final
Realiza-se algum tipo de sistema de filtra-
gem/eliminação/diminuição de emissões,
resíduos e efluentes no sistema produtivo
277
Universidade de São Paulo - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
Programa de Doutorado em Arquitetura e Urbanismo – Linha de Pesquisa: Design e Arquitetura
Paulo Fernando de Almeida Souza ([email protected])
Questionário de qualificação de indicadores – Rosita (FASE I)
Indicador Descrição
Concordo
Plena-
mente
Concordo
Concordo
em Parte
Discordo
Discordo
Plena-
mente
Não se
Aplica
Nosso processo de produção é certificado
por norma(s) de qualidade industrial (e.g.
série ISO 9000 / 14000, SA 8000 etc.)
São periodicamente realizadas auditorias
de controle e verificação das adequações
do sistema produtivo
São realizados regularmente seminários,
cursos e treinamentos relativos ao aprendi-
zado contínuo do sistema de controle da
qualidade
Normali-
zação
Faz-se tratamento sistemático do ecossis-
tema de entorno do processo produtivo
(e.g. re-introdução de espécies, replantio,
preservação de áreas verdes)
Indicador Descrição
Concordo
Plena-
mente
Concordo
Concordo
em Parte
Discordo
Discordo
Plena-
mente
Não se
Aplica
Há um departamento especializado na
criação dos sistemas de embalagem
A produção de embalagem é realizada
internamente
Há um tratamento diferenciado no projeto
de embalagem do produto final, utilizando-
se materiais reciclados, com redução de
perdas de material de acondicionamento
A embalagem do produto final é concebida
desde o início do projeto de produto, no
sentido de otimizar custos
Embala-
gem
A embalagem do produto final é concebida
desde o início do projeto de produto, no
sentido de reduzir danos derivados do
manuseio inadequado do material
278
Universidade de São Paulo - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
Programa de Doutorado em Arquitetura e Urbanismo – Linha de Pesquisa: Design e Arquitetura
Paulo Fernando de Almeida Souza ([email protected])
Questionário de qualificação de indicadores – Rosita (FASE II)
Indicador Descrição
Concordo
Plena-
mente
Concordo
Concordo
em Parte
Discordo
Discordo
Plena-
mente
Não se
Aplica
A empresa atende às normas exigidas pelos
principais órgãos fiscalizadores locais,
regionais e federais (e.g. vigilância sanitá-
ria, órgão de proteção ambiental, prefeitu-
ra, estado)
A empresa busca atender às normas inter-
nacionais de produção e proteção ambien-
tal independente de imposição legal do
estado ou região onde está localizada
Não há processos de indenização / recla-
mação / devolução movidos por clientes
insatisfeitos com o produto final
Atendi-
mento à
legislação
A empresa está em dia com suas obriga-
ções fiscais (e.g. impostos, obrigações
trabalhistas)
Indicador Descrição
Concordo
Plena-
mente
Concordo
Concordo
em Parte
Discordo
Discordo
Plena-
mente
Não se
Aplica
O uso do produto não gera nenhum tipo de
matéria/resíduo/emissão poluente ou po-
tencialmente poluente
Impacto
associado
ao uso do
produto
Os usuários não estão sujeitos a nenhum
tipo de risco físico/psicológico/ambiental
ao utilizarem o produto (e.g. choque elétri-
co, energia eletromagnética, contaminação,
ferimentos etc.)
Indicador Descrição
Concordo
Plena-
mente
Concordo
Concordo
em Parte
Discordo
Discordo
Plena-
mente
Não se
Aplica
O produto oferece baixo consumo de ener-
gia durante o uso, estando de acordo com
os padrões de consumo determinados pela
indústria nacional / internacional
Consumo
de energia
no uso do
produto
A energia necessária para o uso do produto
é proveniente de fonte limpa/alternativa
(e.g. eólica, mecânica, gravitacional)
279
Universidade de São Paulo - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
Programa de Doutorado em Arquitetura e Urbanismo – Linha de Pesquisa: Design e Arquitetura
Paulo Fernando de Almeida Souza ([email protected])
Questionário de qualificação de indicadores – Rosita (FASE II)
Indicador Descrição
Concordo
Plena-
mente
Concordo
Concordo
em Parte
Discordo
Discordo
Plena-
mente
Não se
Aplica
O produto permite várias configurações de
uso ou pode ser utilizado por diversos
usuários simultaneamente
Multifun-
cionali-
dade
O uso multifuncional oferece maior durabi-
lidade e aceitabilidade do produto
Indicador Descrição
Concordo
Plena-
mente
Concordo
Concordo
em Parte
Discordo
Discordo
Plena-
mente
Não se
Aplica
Os usuários estão satisfeitos com a quali-
dade oferecida pelo produto/serviço
A empresa oferece assistência técnica
sistemática (troca/empréstimo/conserto),
atendendo às necessidades de manutenção
dos usuários em caso de mau funcionamen-
to
Bem-estar
A empresa propicia bem-estar para os
funcionários (e.g. PLR, formação continu-
ada, zonas de descanso e convívio social,
assistência médica)
280
Universidade de São Paulo - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
Programa de Doutorado em Arquitetura e Urbanismo – Linha de Pesquisa: Design e Arquitetura
Paulo Fernando de Almeida Souza ([email protected])
Questionário de qualificação de indicadores – Rosita (FASE III)
Indicador Descrição
Concordo
Plena-
mente
Concordo
Concordo
em Parte
Discordo
Discordo
Plena-
mente
Não se
Aplica
A empresa realiza algum tipo de tratamen-
to dos materiais orgânicos/não-orgânicos
resultantes de sobras da produção, plane-
jando sua deposição adequada no meio
ambiente
Descarte e
deposição
do lixo
Há um sistema de seleção, coleta e destina-
ção adequada dos diversos materiais utili-
zados em todo o processo produtivo (e.g.
plásticos, papéis, metais, vidros)
Indicador Descrição
Concordo
Plena-
mente
Concordo
Concordo
em Parte
Discordo
Discordo
Plena-
mente
Não se
Aplica
Há uso de matéria-prima recicla-
da/reaproveitada no sistema de produção
Reciclabi-
lidade de
matéria-
prima
As sobras e perdas do processo produtivo
são reaproveitadas e voltam para o proces-
so de produção em um ciclo fechado ou
semi-fechado
Indicador Descrição
Concordo
Plena-
mente
Concordo
Concordo
em Parte
Discordo
Discordo
Plena-
mente
Não se
Aplica
O projeto de produto é desenvolvido de
modo a permitir/facilitar sua posterior
desmontagem/reciclagem/reuso
Desmon-
tagem
O retorno das peças danificadas é incenti-
vado pela empresa para posterior reapro-
veitamento no processo produtivo
281
Universidade de São Paulo - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
Programa de Doutorado em Arquitetura e Urbanismo – Linha de Pesquisa: Design e Arquitetura
Paulo Fernando de Almeida Souza ([email protected])
Questionário de qualificação de indicadores – Rosita (FASE III)
Indicador Descrição
Concordo
Plena-
mente
Concordo
Concordo
em Parte
Discordo
Discordo
Plena-
mente
Não se
Aplica
As práticas da empresa perante os públicos
interno e externo são claramente definidas
por meio de um código de ética
Código de
ética
O público reconhece as práticas da empre-
sa como transparentes e éticas
Indicador Descrição
Concordo
Plena-
mente
Concordo
Concordo
em Parte
Discordo
Discordo
Plena-
mente
Não se
Aplica
A empresa possui um plano de contingên-
cia estabelecido para o caso de ocorrências
de danos ambientais
Anteci-
pação
Os funcionários têm conhecimento e são
regularmente treinados sobre as medidas de
proteção ambiental associadas ao processo
produtivo
282
Universidade de São Paulo - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
Programa de Doutorado em Arquitetura e Urbanismo – Linha de Pesquisa: Design e Arquitetura
Paulo Fernando de Almeida Souza ([email protected])
Questionário de qualificação de indicadores – Rosita (FASE IV)
Indicador Descrição
Concordo
Plena-
mente
Concordo
Concordo
em Parte
Discordo
Discordo
Plena-
mente
Não se
Aplica
Os materiais/peças/acessórios utilizados no
produto são passíveis de reutiliza-
ção/reciclagem/redesign e conseqüente-
mente novo ciclo de vida do produto
Reuso
As embalagens e materiais descartados
durante o uso são reutliza-
das/reaproveitadas para outros fins desti-
nados pelos usuários
Indicador Descrição
Concordo
Plena-
mente
Concordo
Concordo
em Parte
Discordo
Discordo
Plena-
mente
Não se
Aplica
O projeto de design permite uma atualiza-
ção, por meio de novos acessórios, adapta-
ção para novos modelos e consequente-
mente um uso mais prolongado do produto
Atualiza-
ção
A estética proposta no design do produto
permite um uso duradouro, independente
de moda
Indicador Descrição
Concordo
Plena-
mente
Concordo
Concordo
em Parte
Discordo
Discordo
Plena-
mente
Não se
Aplica
O produto descartado após consumo/uso
pode ser facilmente redesenhado para ser
revendido, ganhando novo ciclo de vida
Redesign
O produto é desenvolvido de modo a per-
mitir um redesenho e novo ciclo de vida
com baixo custo e pouco uso de energia
283
Universidade de São Paulo - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
Programa de Doutorado em Arquitetura e Urbanismo – Linha de Pesquisa: Design e Arquitetura
Paulo Fernando de Almeida Souza ([email protected])
Questionário de qualificação de indicadores – Rosita (FASE IV)
Indicador Descrição
Concordo
Plena-
mente
Concordo
Concordo
em Parte
Discordo
Discordo
Plena-
mente
Não se
Aplica
O produto é desenvolvido de modo a aten-
der diversos mercados
Revenda /
redistri-
buição
O produto pode ser distribuído de forma
simples e diferenciada, aumentando sua
aceitabilidade e facilidade de inserção no
mercado
Indicador Descrição
Concordo
Plena-
mente
Concordo
Concordo
em Parte
Discordo
Discordo
Plena-
mente
Não se
Aplica
Facilidade
de Reco-
nheci-
mento de
materiais
Os materiais utilizados no produto final são
claramente identificados de forma a facili-
tar o processo de reciclagem
APÊNDICE C
Caracterização e perfil do entrevistado (Natura)
285
Universidade de São Paulo - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
Programa de Doutorado em Arquitetura e Urbanismo – Linha de Pesquisa: Design e Arquitetura
Paulo Fernando de Almeida Souza ([email protected])
Caracterização e Perfil do Entrevistado (Natura)
Perfil do Entrevistado
Sexo
Masculino
Feminino
Idade
18 a 25
25 a 30
30 a 45
45 a 60
acima de 60
Formação
Ensino
Fundamental
Ensino
Médio
Ensino
Superior
Especifique a área por favor:
Bacharel em design gráfico
Cargo / Função Cargo:
Designer gráfico
Funções desempenhadas:
-Apoio a atividades do depto de marketing
Há quanto tempo trabalha
nesta empresa?
até 1 ano 1 a 2 anos
2 a 4 anos
4 a 7 anos
+ de 7 anos
Você considera as práticas
adotadas por esta empresa
adequadas com relação à
proteção do meio
ambiente?
SIM
NÃO
Você acredita ser esta uma
empresa socialmente
responsável?
SIM
NÃO
Em sua opinião, esta
empresa possibilita o
desenvolvimento pessoal
e/ou profissional dos seus
funcionários?
SIM
NÃO
APÊNDICE D
Questionário de qualificação de indicadores – Natura
287
Universidade de São Paulo - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
Programa de Doutorado em Arquitetura e Urbanismo – Linha de Pesquisa: Design e Arquitetura
Paulo Fernando de Almeida Souza ([email protected])
Questionário de qualificação de indicadores – Natura (FASE I)
Indicador Descrição
Concordo
Plena-
mente
Concordo
Concordo
em Parte
Discordo
Discordo
Plena-
mente
Não se
Aplica
Não há grande demanda de energia para o
processo de produção em nossa empresa
O uso de recursos naturais é planejado de
forma a otimizar o consumo energético do
sistema
Demanda
de energia
para pro-
dução
A energia utilizada no processo produtivo é
gerada internamente (a empresa gera sua
própria energia para produção, independen-
te de fornecimento externo)
Indicador Descrição
Concordo
Plena-
mente
Concordo
Concordo
em Parte
Discordo
Discordo
Plena-
mente
Não se
Aplica
Não se utiliza uma grande diversidade de
matéria-prima no processo de manufatura
do nosso produto (e.g. diversos tipos de
plástico, papel, papelão, metal e vidro etc.)
Existe reaproveitamento de matéria-prima
nas etapas de produção, diminuindo signi-
ficativamente as perdas
Diversi-
dade de
materiais
para pro-
dução
Há uma sinalização/identificação dos
materiais utilizados no produto final se-
gundo padrões internacionais, que facilita
sua desmontagem/reciclagem/reutilização
Indicador Descrição
Concordo
Plena-
mente
Concordo
Concordo
em Parte
Discordo
Discordo
Plena-
mente
Não se
Aplica
Não há muita emissão de gases, geração de
resíduos e/ou lançamento de efluentes em
nosso processo produtivo
Não são utilizados materiais com grau de
toxidade que requerem cuidados em uma
ou mais etapas da produção
Grau de
toxidade
da produ-
ção ou do
produto
final
Realiza-se algum tipo de sistema de filtra-
gem/eliminação/diminuição de emissões,
resíduos e efluentes no sistema produtivo
288
Universidade de São Paulo - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
Programa de Doutorado em Arquitetura e Urbanismo – Linha de Pesquisa: Design e Arquitetura
Paulo Fernando de Almeida Souza ([email protected])
Questionário de qualificação de indicadores – Natura (FASE I)
Indicador Descrição
Concordo
Plena-
mente
Concordo
Concordo
em Parte
Discordo
Discordo
Plena-
mente
Não se
Aplica
Nosso processo de produção é certificado
por norma(s) de qualidade industrial (e.g.
série ISO 9000 / 14000, SA 8000 etc.)
Normali-
zação
Faz-se tratamento sistemático do ecossis-
tema de entorno do processo produtivo
(e.g. re-introdução de espécies, replantio,
preservação de áreas verdes)
Indicador Descrição
Concordo
Plena-
mente
Concordo
Concordo
em Parte
Discordo
Discordo
Plena-
mente
Não se
Aplica
Há um departamento especializado na
criação dos sistemas de embalagem
Há um tratamento diferenciado no projeto
de embalagem do produto final, buscando
o reaproveitamento da embalagem original,
e.g. utilização de refil
Embala-
gem
A embalagem do produto final é concebida
desde o início do projeto de produto, no
sentido de reduzir danos derivados do
manuseio inadequado do material
289
Universidade de São Paulo - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
Programa de Doutorado em Arquitetura e Urbanismo – Linha de Pesquisa: Design e Arquitetura
Paulo Fernando de Almeida Souza ([email protected])
Questionário de qualificação de indicadores – Natura (FASE II)
Indicador Descrição
Concordo
Plena-
mente
Concordo
Concordo
em Parte
Discordo
Discordo
Plena-
mente
Não se
Aplica
A empresa atende às normas exigidas pelos
principais órgãos fiscalizadores locais,
regionais e federais (e.g. vigilância sanitá-
ria, órgão de proteção ambiental, prefeitu-
ra, estado)
A empresa busca atender às normas inter-
nacionais de produção e proteção ambien-
tal independente de imposição legal do
estado ou região onde está localizada
Não há processos de indenização / recla-
mação / devolução movidos por clientes
insatisfeitos com o produto final
Atendi-
mento à
legislação
A empresa está em dia com suas obriga-
ções fiscais (e.g. impostos, obrigações
trabalhistas)
Indicador Descrição
Concordo
Plena-
mente
Concordo
Concordo
em Parte
Discordo
Discordo
Plena-
mente
Não se
Aplica
O uso do produto não gera nenhum tipo de
matéria/resíduo/emissão poluente ou po-
tencialmente poluente
Impacto
associado
ao uso do
produto
Os usuários não estão sujeitos a nenhum
tipo de risco físico/psicológico/ambiental
ao utilizarem o produto (e.g. choque elétri-
co, energia eletromagnética, contaminação,
ferimentos etc.)
Indicador Descrição
Concordo
Plena-
mente
Concordo
Concordo
em Parte
Discordo
Discordo
Plena-
mente
Não se
Aplica
O produto oferece baixo consumo de ener-
gia durante o uso, estando de acordo com
os padrões de consumo determinados pela
indústria nacional / internacional
Consumo
de energia
no uso do
produto
A energia necessária para o uso do produto
é proveniente de fonte limpa/alternativa
(e.g. eólica, mecânica, gravitacional)
290
Universidade de São Paulo - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
Programa de Doutorado em Arquitetura e Urbanismo – Linha de Pesquisa: Design e Arquitetura
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Questionário de qualificação de indicadores – Natura (FASE II)
Indicador Descrição
Concordo
Plena-
mente
Concordo
Concordo
em Parte
Discordo
Discordo
Plena-
mente
Não se
Aplica
O produto permite várias configurações de
uso ou pode ser utilizado por diversos
usuários simultaneamente
Multifun-
cionali-
dade
O uso multifuncional oferece maior durabi-
lidade e aceitabilidade do produto
Indicador Descrição
Concordo
Plena-
mente
Concordo
Concordo
em Parte
Discordo
Discordo
Plena-
mente
Não se
Aplica
Os usuários estão satisfeitos com a quali-
dade oferecida pelo produto/serviço
A empresa propicia bem-estar para os
funcionários (e.g. PLR, formação continu-
ada, zonas de descanso e convívio social,
assistência médica)
Bem-estar
A empresa investe de modo sistemático em
programas de melhoria de qualidade de
vida voltados para as comunidades de seu
entorno
291
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Programa de Doutorado em Arquitetura e Urbanismo – Linha de Pesquisa: Design e Arquitetura
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Questionário de qualificação de indicadores – Natura (FASE III)
Indicador Descrição
Concordo
Plena-
mente
Concordo
Concordo
em Parte
Discordo
Discordo
Plena-
mente
Não se
Aplica
A empresa realiza algum tipo de tratamen-
to dos materiais orgânicos/não-orgânicos
resultantes de sobras da produção, plane-
jando sua deposição adequada no meio
ambiente
Descarte e
deposição
do lixo
Há um sistema de seleção, coleta e destina-
ção adequada dos diversos materiais utili-
zados em todo o processo produtivo (e.g.
plásticos, papéis, metais, vidros)
Indicador Descrição
Concordo
Plena-
mente
Concordo
Concordo
em Parte
Discordo
Discordo
Plena-
mente
Não se
Aplica
Há uso de matéria-prima recicla-
da/reaproveitada no sistema de produção
Reciclabi-
lidade de
matéria-
prima
As sobras e perdas do processo produtivo
são reaproveitadas e voltam para o proces-
so de produção em um ciclo fechado ou
semi-fechado
Indicador Descrição
Concordo
Plena-
mente
Concordo
Concordo
em Parte
Discordo
Discordo
Plena-
mente
Não se
Aplica
O projeto de produto é desenvolvido de
modo a permitir/facilitar sua posterior
desmontagem/reciclagem/reuso
Desmon-
tagem
O retorno das peças danificadas é incenti-
vado pela empresa para posterior reapro-
veitamento no processo produtivo
292
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Questionário de qualificação de indicadores – Natura (FASE III)
Indicador Descrição
Concordo
Plena-
mente
Concordo
Concordo
em Parte
Discordo
Discordo
Plena-
mente
Não se
Aplica
As práticas da empresa perante os públicos
interno e externo são claramente definidas
por meio de um código de ética
O público reconhece as práticas da empre-
sa como transparentes e éticas
Código de
ética
As práticas da empresa prevêem investi-
mentos em ações de responsabilidade
corporativa, traduzidas por meio do código
de ética
Indicador Descrição
Concordo
Plena-
mente
Concordo
Concordo
em Parte
Discordo
Discordo
Plena-
mente
Não se
Aplica
A empresa possui um plano de contingên-
cia estabelecido para o caso de ocorrências
de danos ambientais
Anteci-
pação
Os funcionários têm conhecimento e são
regularmente treinados sobre as medidas de
proteção ambiental associadas ao processo
produtivo
293
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Programa de Doutorado em Arquitetura e Urbanismo – Linha de Pesquisa: Design e Arquitetura
Paulo Fernando de Almeida Souza ([email protected])
Questionário de qualificação de indicadores – Natura (FASE IV)
Indicador Descrição
Concordo
Plena-
mente
Concordo
Concordo
em Parte
Discordo
Discordo
Plena-
mente
Não se
Aplica
Os materiais/peças/acessórios utilizados no
produto são passíveis de reutiliza-
ção/reciclagem/redesign e conseqüente-
mente novo ciclo de vida do produto
Reuso
As embalagens e materiais descartados
durante o uso são reutliza-
das/reaproveitadas para outros fins desti-
nados pelos usuários
Indicador Descrição
Concordo
Plena-
mente
Concordo
Concordo
em Parte
Discordo
Discordo
Plena-
mente
Não se
Aplica
O projeto de design permite uma atualiza-
ção, por meio de novos acessórios, adapta-
ção para novos modelos e consequente-
mente um uso mais prolongado do produto
Atualiza-
ção
A estética proposta no design do produto
permite um uso duradouro, independente
de moda
Indicador Descrição
Concordo
Plena-
mente
Concordo
Concordo
em Parte
Discordo
Discordo
Plena-
mente
Não se
Aplica
O produto descartado após consumo/uso
pode ser facilmente redesenhado para ser
revendido, ganhando novo ciclo de vida
Redesign
O produto é desenvolvido de modo a per-
mitir um redesenho e novo ciclo de vida
com baixo custo e pouco uso de energia
294
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Programa de Doutorado em Arquitetura e Urbanismo – Linha de Pesquisa: Design e Arquitetura
Paulo Fernando de Almeida Souza ([email protected])
Questionário de qualificação de indicadores – Natura (FASE IV)
Indicador Descrição
Concordo
Plena-
mente
Concordo
Concordo
em Parte
Discordo
Discordo
Plena-
mente
Não se
Aplica
O produto é desenvolvido de modo a aten-
der diversos mercados
Revenda /
redistri-
buição
O produto pode ser distribuído de forma
simples e diferenciada, aumentando sua
aceitabilidade e facilidade de inserção no
mercado
Indicador Descrição
Concordo
Plena-
mente
Concordo
Concordo
em Parte
Discordo
Discordo
Plena-
mente
Não se
Aplica
Facilidade
de Reco-
nheci-
mento de
materiais
Os materiais utilizados no produto final são
claramente identificados de forma a facili-
tar o processo de reciclagem
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