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Cícero Alvarez. Porto Alegre: PROPAR/UFRGS, 2008
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Como se pode notar, Krebs tinha conhecimento da produção da arquitetura
contemporânea brasileira pelas viagens da Associação e conhecia os jovens arquitetos
vencedores do prélio, tendo sido seu companheiro em diversas viagens. Sua resposta à
convocação do Instituto de Advogados continua nas páginas do Diário de Notícias:
Não podemos imaginar qual a natureza das criticas do jurista e catedrático de
Direito Comercial figura ilustre e respeitável por todos os títulos.
Por isto, tanto os advogados, como os trabalhadores do Direito, que têm a ver
com o futuro Palácio da Justiça, nós próprio na qualidade de estudioso da arte,
estamos interessadíssimos em conhecê-las. Estamos inclinado a presumir que
sejam críticas concernentes, talvez, à localização de determinados serviços, que o
professor conhecerá mais que os jovens arquitetos, em conseqüência de sua longa
e brilhante carreira de advogado militante. Não obstante o exaustivo estudo prévio a
que se atiraram os arquitetos antes de riscar o primeiro traço do projeto, é possível
que lhes tenha escapado algum pormenor neste sentido. Por que admitir no prof.
Hernani Estrella críticas quanto à arquitetura propriamente dita, seria temeridade de
nossa parte. Não seria concebível, por exemplo, que o ilustre professor pretendesse
um palácio de vários pisos, com um frontão clássico, capitéis jônicos, e elementos
de um passado brilhante, mas passado há tempo e, além de tudo, batidissimo. Ainda
mais, justamente agora, que a arquitetura brasileira contemporânea se mantém no
primeiro plano universal, precisamente agora, que nossa Capital, com o Palácio da
Justiça, sairia afinal das velhas construções estilo “compoteira” ou mesmo “bolo de
noiva”, como a nova sede municipal. Agora, que a rapaziada nova, recém saída dos
nossos cursos de arquitetura, esta tomando de assalto as rédeas da arquitetura
gaúcha e conquistando, de maneira rápida e decidida, o gosto do público comitente.
Não, nós não podemos admitir tais críticas, partindo do ilustre professor. Ao
contrário, cremos até que o prof. Hernani Estrella terá, melhor do que nós, aprendido
toda a sobriedade, a nobreza, a serena tranqüilidade, imanentes no bom conceito da
justiça, que os ______transferir para o bloco monumental do futuro palácio.
Ademais, as linhas modernas e de bom gosto, como o conforto atual, não são
absolutamente incompatíveis com a idéia de justiça. Cremos que o projeto visado é
uma das ______mais felizes no Brasil inteiro, quanto ao espírito, ao caráter que os
autores lhe souberam marcar com absoluta propriedade. Não existe nele aqueles
preciosismos de receita, postos em voga por arquitetos menos criadores. Não existe
a estandartização de seleções fáceis, porque habituais. Nem existe a leveza
graciosa, característica da boa arquitetura brasileira contemporânea, mas inoportuna
aqui, num palácio da justiça. Existe, isto sim, e do melhor quilate, tudo aquilo que se
apropria a um verdadeiro Palácio da Justiça dos nossos tempos: monumentalidade,
conforto, modernidade, racionalidade das soluções e sobretudo, espírito, caráter,
que lhe dá aspecto próprio ao fim a que se destina.
Por todas estas razões, aguardamos com vivo interesse as criticas do
professor Hernani Estrella.
Carlos Galvão Krebs escreve “Arquitetura e Estatuária das Missões”, em 1945. Faz a
cobertura, em 1948, do II Congresso Brasileiro de Arquitetos para a Revista do Globo e,
segundo Círio Simon (2002, p.449), apresenta proposta para constituir o ‘Serviço de
Levantamento do Patrimônio Público e Particular do Rio Grande do Sul’ (SPHAE). Em 1954,
será nomeado diretor do Instituto de Tradição e Folclore. Aparentemente sua figura concilia
o conhecimento do passado para a construção do presente, sem tornar-se prisioneiro de
ditas glórias ancestrais. Após a publicação de seu artigo, não são mais veiculados, na
imprensa, questionamentos ou críticas ao projeto vencedor.