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2.7. O PROJETO PAISAGÍSTICO
A presença maciça de arquitetos paisagistas na elaboração e
materialização do plano urbanístico para o Hansaviertel comprova
que a principal idéia consistia na criação de generosas áreas
verdes que pudessem ser integradas com os espaços habitacionais
– como diz Summerson a respeito de Le Corbusier, “
o parque não
está mais na cidade, mas a cidade no parque
”.
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A idéia de
conceber um complexo habitacional em uma área verde cujos lotes
não estivessem divididos, e, com isso, conferir ao bairro um
caráter de parque, já havia sido experimentada em Berlim nos
anos 20 na construção dos bairros de Haselhorst, uma parte do
Waldsiedlung em Zehlendorf e acima de tudo em Siemenstadt. No
entanto, vale ressaltar que também estas propostas partem de
uma reconsideração de certos aspectos da cidade oitocentista
como método para enasiar uma definição pertinente da cidade
moderna.
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A configuração paisagística e a acentuada proporção
de espaços públicos e privados é nestes casos bem sucedida,
porém o paisagismo segue subordinado à arquitetura dos edifícios.
No Hansaviertel, o projeto paisagístico deveria estar conectado e
em total harmonia com o plano geral. Estava claro que para atingir
os conceitos arquitetônicos e urbanísticos perseguidos
programaticamente pela Interbau de diminuição da concentração
populacional e aumento das áreas verdes da cidade, a arquitetura
e o verde possuíam valores equivalentes; deste modo, a idéia de
espaços públicos e fluídos somente seria conseguida através de
meios de configuração que incluíssem um adequado projeto
paisagístico, e, portanto, os paisagistas deveriam participar desde
o princípio como parceiros de mesma importância. Assim, o
arquiteto paisagista Walter Rossow foi escolhido para coordenar a
comissão, e determinou dez arquitetos paisagistas que,
coordenados pelo paisagista de Berlim Helmut Bournot,
configurariam as áreas verdes da exposição. Os arquitetos
paisagistas, pela primeira vez na história das exposições de
arquitetura, estiveram na coordenação dos trabalhos de
aquecimento, irrigação, drenagem, energia, gás e telefone. De
acordo com as determinações de Bournot, a sintonia dos edifícios
com a implantação – que inclui tanto a localização quanto a altura
dos edifícios – foi co-determinada pelos paisagistas.
Os dez arquitetos paisagistas, cinco provenientes da Alemanha e
cinco de países europeus, foram divididos em grupos de trabalho
que separaram as zonas de exposição em cinco grandes áreas de
intervenção. A divisão das áreas de trabalho corresponde com o
agrupamento das tipologias de edifícios. O grupo I, coordenado
pelos arquitetos paisagistas Hermann Mattern, de Kassel, e René
Pechère, de Bruxelas, abrange as barras de quatro pavimentos
entre a Klopstockstraβe e o viaduto do trem, as barras altas de
Walter Gropius e Pierra Vago, e a torre de Klaus Muller-Rehm e
Gerhard Siegmann na entrada da exposição. Os esforços nesta
região focaram-se no sentido de proporcionar à área um caráter o
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“(...) In the course of it we observe, naively, enough, that “the house stands in
the garden”, to which Le Corbusier replies, “no, the garden stands in the house”,
proving his assertion by an executed design in which this is, in fact, the case. We
suggest that “a building is, in principle, four walls with windows for light and air”, and
he replies that “on the contrary, a building may just as well be four windows, with
walls for privacy and shade”. We put it to him as axiomatic that a park is a space for
recreation in a town and he replies, “not at all; in the future, the park will not be in
the town, but the town in the park. Work, after all, is an incident in life; life is not an
incident in work”. SUMMERSON, John (1963). Heavenly Mansions and other
essays on architecture. New York: Norton. Ensaio VIII: Architecture, Painting and
Le Corbusier, págs. 190-191.
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MARTÍ ARÍS, Carlos (2000), op. cit., pág. 27.
Implantação mostrando a divisão das áreas de
intervenção de acordo com os projetos de paisagismo:
I – Hermann Mattern e René Pechère;
II – Ernst Cramer e Otto Valentin;
III – Hertha Hammerbacher e Edvard Jacobson;
IV – Gustav Lüttge e Pietro Porcinai;
V – Wilhelm Hübboter e C. Th. Sörensen.
(Fonte: Bezirksamt Tiergarten von Berlin (1995). Das
Hansaviertel - 1957 - 1993. Konzepte, Bedeutung,
Probleme, pág. 12)
Implantação de trecho da área pertencente ao grupo I.
(Fonte: Bezirksamt Tiergarten von Berlin (1995). Das
Hansaviertel - 1957 - 1993. Konzepte, Bedeutung,
Probleme, pág. 29)