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cálculo
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visava a permitir a substituição dos recenseamentos e outros levantamentos
exaustivos que, na concepção liberal nascente, eram dificilmente conceptíveis
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. O
nascimento da estatística inglesa é assim descrito por Desrosieres:
Não são teóricos universitários que edificam uma descrição global e lógica do
Estado em geral, mas sim pessoas de origens diversas que forjam saberes
práticos dentro de suas atividades e que as propõe ao “governo”. (..,) Assim se
esboça um papel social novo: o do especialista de competência específica que
propõe técnicas aos governantes, procurando convencê-los de que, para
realizar seus desígnios, eles devem recorrer a ele. Eles oferecem uma
linguagem precisamente articulada, enquanto que os estatísticos alemães,
identificando-se ao Estado, propõem uma linguagem geral e abrangente.
(D
ESROSIERES apud SCHWARTZMAN, 1996 p. 2)
Em sua origem, a estatística alemã, resumia-se a uma descrição sintética das
várias características do Estado. Frequentemente expressa em termos literários, a
estatística alemã descrevia o clima, a geografia, as atividades econômicas, os recursos
naturais, a demografia e os poderes políticos. Tratava-se de uma abordagem fortemente
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Segundo Senra (2005, p. 60), são exemplos desses registros na Inglaterra e na França o grande cadastro
das instituições inglesas, o famoso Livro do Julgamento (Domesday Book), na Inglaterra, criado por édito
de Guilherme, o Conquistador (Rei de 1066 a 1087), em 1086, e também, desde 1664, os levantamentos
periódicos idealizados e implantados por Jean-Baptiste Colbert (1619-1683), famoso ministro das
finanças de Luís XIV, mandados realizar pelos intendentes provinciais; por eles alcançavam-se
informações minuciosas sobre as condições de utilização das terras e das pessoas, usando-as, não apenas
para tributar, mas, sobretudo, para introduzir melhorias na produção. Tanto valor dava-se à época aos
números que, com visão de futuro, Charles Castel (1658-1743), Abade da Abadia de Saint-Pierre, teve
espaço público para advogar a criação de um órgão central voltado à aquisição ou produção dos mesmos.
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Contemporâneo desse período em que as idéias da ciência estatística tiveram inicio, desenvolveu-se o
cálculo de probabilidades, mas independentemente dessas idéias, vindo entretanto a influenciá-las
posteriormente. O cálculo de probabilidades originou-se da correspondência entre dois grandes
matemáticos do século 17: Blaise Pascal (1623–1662) e Pierre de Fermat (1601–1665), para solucionar
problemas relacionados com jogos de azar, em moda nos salões da França, sustentados pelo lazer de uma
aristocracia. Desses problemas, os mais célebres foram propostos a Pascal em 1654, pelo nobre francês
Chevalier de Méré, jogador de grande experiência e perspicácia. A teoria das probabilidades, destaca-se
também, a contribuição de Marquês Laplace (1749-1827) e Carl Friedrich Gauss (1777–1855). A idéia de
distribuição normal, expressa na famosa curva de Gauss, será muito usada como parâmetro para a análise
da distribuição de dados estatísticos. (
MEMÓRIA, 2004, p. 14)
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Segundo Martin (2001, p.19), parecia, de fato, inconcebível exercer uma curiosidade muito grande
sobre uma população apegada à sua liberdade e a seus direitos individuais. Em 1753, por exemplo, um
projeto de recenseamento, criticado como a ruína completa das últimas liberdades dos ingleses, foi
rejeitado pelo Parlamento. Entre essas liberdades ultrajadas, está a das “classes possuidoras” que viam
nos recenseamentos um procedimento para conduzí-las a expor seus bens aos olhos de todos. No início do
século XIX, muitos ainda lamentavam a existência de registros paroquiais e boletins de mortalidade, cuja
existência era, no entanto, obrigatória desde 1758. De fato, o estado civil só foi generalizado e laicizado
em 1836.