Antiguidade, a Idade Média e os tempos modernos” (Weber, 1967: 345). Dada a
especificidade do “capitalismo pária”, os judeus não anteciparam as linhas do capital
moderno, estivessem eles entre os antigos, medievais ou modernos. Repete-se o que disse
Ellen Wood no início do item, Weber analisa a história para encontrar barreiras ou
incentivos ao desenvolvimento do capitalismo moderno ocidental
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.
Após toda esta exegese, não é de se admirar que as abstrações desmesuradas de
Weber levem-no a estender as relações capitalistas até a distante China antiga:
Durante o Período dos Reinos Guerreiros e suas lutas por poder político, existiu
um capitalismo de provedores de empréstimo monetário, que era politicamente
determinado e aparentemente muito significativo. Altas taxas de lucro pareciam
ser a regra. Na China, como em outros Estados patrimoniais, este tipo de
capitalismo era costumeiro. Somando a estas transações politicamente
determinadas, a extração e o comércio são mencionados como fontes de
acumulação de bens. Dizem terem existido multimilionários sob a dinastia Han
(no padrão do cobre). Quando a China unificou-se politicamente em um império
mundial, como o orbis terrarum unificado do Império Romano, o resultado foi um
óbvio retrocesso deste capitalismo, essencialmente vinculado à competição entre
Estados. Por outro lado, o desenvolvimento do mercado capitalista puro, de busca
por livres oportunidades de comércio, era apenas rudimentar (Weber, 1968a: 84).
Acreditamos não ser preciso rediscutir a natureza excessiva das projeções
weberianas. À guisa de esclarecimento, a citada dinastia Han perdurou de 206 a.C. ao ano
de 220 d.C.
Essas tamanhas abstrações, no entanto, são lidas da pena de autor que escreveu
um dia: “nada seria mais perigoso que representar as condições da Antiguidade em uma
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Marx também abordou as formas antigas de aquisição de lucro. Para Weber, os usurários e comerciantes
antigos constituíam manifestações do sistema capitalista. Ao contrário, Marx disse que “a forma comercial e a
forma a juros são mais antigas do que a da produção capitalista, do que o capital industrial, forma básica da
relação capital enquanto domina a sociedade burguesa” (1974a: 279). A produção capitalista não engendra
estas formas de aquisição de lucro: “encontra estas formas mais antigas na época de sua constituição e de sua
geração, encontra-as como prévias pressuposições, que não são todavia pressuposições postas por si próprias,
formas de seu processo de vida” (Marx, idem: 279). A usura e o comércio não são gerados pela produção
capitalista; em seu processo de constituição histórica, as relações de produção de capital já se deparam com
estas formas de lucro. De fato, são pressupostos para o metabolismo capitalista: do dinheiro acumulado com a
usura e o comércio, investe-se na compra de força de trabalho; então, usurário e o comerciante transformam-
se em capitalistas industriais. Contudo, para que isso ocorra, há que se contar com determinadas
circunstâncias históricas: o acúmulo de dinheiro dos usurários e comerciantes é meio para a constituição de
uma nova sociabilidade “somente numa época em que se encontram disponíveis as demais condições para a
produção capitalista — trabalho livre, mercado mundial, dissolução do vínculo social antigo,
desenvolvimento do trabalho até determinado nível, desenvolvimento da ciência, etc.” (Marx, idem: 328).
Uma vez desenvolvida a produção capitalista, as antigas formas de obtenção de lucro subordinam-se à nova
estrutura societária. Indubitavelmente, é uma abordagem teórica diversa desta que estudamos em Weber.
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