Download PDF
ads:
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU)
Programa de Pós-graduação em Urbanismo (PROURB)
Josiane de Fátima Nogueira
A transformação da paisagem litorânea urbana:
a orla de Costazul, um caso referência.
Rio de Janeiro
Dezembro 2007
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
A transformação da paisagem litorânea urbana:
a orla de Costazul.
ads:
Josiane de Fátima Nogueira
A transformação da paisagem litorânea urbana:
a orla de Costazul.
Rio de Janeiro
Dezembro 2007
Dissertação de Mestrado apresentada ao
Programa de Pós-Graduação em Urbanismo,
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo,
Universidade Federal do Rio de Janeiro, como
parte dos requisitos necessários à obtenção do
título de Mestre em Urbanismo.
Profª Orientadora: Lúcia Maria Sá Antunes Costa
Josiane de Fátima Nogueira
A transformação da paisagem litorânea urbana:
a orla de Costazul.
_______________________________________________________________
Lúcia Maria Sá Antunes Costa - UFRJ)
_______________________________________________________________
Denise Pinheiro Machado - PROURB UFRJ)
_______________________________________________________________
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em
Urbanismo, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal do
Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de
Mestre em Urbanismo.
Aprovado em: Rio de Janeiro, 17 de Dezembro de 2007.
(Presidente, Profª Drª PROURB/FAU/
(Profª Drª /FAU/
(Drª Eloísa Carvalho de Araújo - Governo do Estado do Rio de Janeiro - Secretaria de Transportes)
N776
Nogueira, Josiane de Fátima,
A transformação da paisagem litorânea urbana: a orla
de Costazul /Josiane de Fátima Nogueira. Rio de Janeiro:
UFRJ/FAU, 2007.
281f: il. , 21 cm.
Orientadora: Lúcia Maria Sá Antunes Costa.
Dissertão (Mestrado) UFRJ/PROURB/Programa de
Pós-Graduação em Urbanismo, 2007.
Referências bibliográficas: p. 257-265.
1. Paisagem urbana. 2. Rio das Ostras (RJ)
Aspectos ambientais. I. Costa,cia Maria Sá Antunes.
II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo, Programa de Pós-Graduação
em Urbanismo. III. Título.
CDD 712
Aos meus pais,
Dejair e Solange, pelo carinho,
crença e confiança.
A meu irmão.
Às minhas sobrinhas, Ana Carolina,
Geovana e Eloísa.
Ao meu afilhado Vinícius.
Amo vocês.
Agradecimentos
Muitas foram as pessoas que contribuíram para a concretização deste trabalho. Inicio meu
agradecimento a minha orientadora, a Dra. Lúcia Sá Maria Antunes Costa, que tanto me auxiliou e
me fez despertar para uma área tão carente de atenção quanto a da paisagem nos meios aqüíferos
urbanos. Ela me auxiliou dentro do meu referencial teórico, direcionando meu caminho e
estimulando cada decisão que fui tomando ao longo dessa árdua e prazerosa tarefa de
investigação. Sinto-me profundamente privilegiada por ter tido a companhia desta grande
professora e pesquisadora durante todo esse tempo destinado ao grau de Mestre em Urbanismo.
Ainda quero agradecer aos demais professores do PROURB, Ana Lúcia Britto, Carlos Murad,
Cristóvão Duarte, Flavio Ferreira, José Barki, José Koss, Lílian Vaz, Margareth Pereira, Oscar
Corbella, Rachel Coutinho, Roberto Segre, Rosangela Cavallazzi, Sônia Schultz por seus
ensinamentos e contribuições `a minha formação. Em especial, agradeço a Dra. Denise Pinheiro
Machado, que confiou a mim a responsabilidade de ser sua tutora no ano de 2006 e a aprovação de
meu intercâmbio estudantil. Agradeço ainda aos professores da Pontifícia Universidad Católica de
Chile (PUC-Chile), Oscar Figueroa, Rodrigo Salcedo, Luis Valenzuela, Margarita Geene e Jorge
Cerdà. Todos vocês, durante o período em que fui aluna, me passaram parte de seu conhecimento
que trago hoje comigo. Muito obrigada.
Meus agradecimentos também aos profissionais das Secretarias de Planejamento Urbano, Turismo
e Meio Ambiente da Prefeitura Municipal de Rio das Ostras e aos funcionários da biblioteca desta
cidade que me forneceram grande parte do material empregado neste trabalho. E é com grande
carinho que venho agradecer ainda a todos aqueles que trabalham na secretaria do PROURB e nas
bibliotecas do IPPUR e da PUC-Chile, sempre tão solícitos e que se dedicam ao melhor
funcionamento destes espaços de estudo. Quero agradecer ainda a Maurício Pinheiro e a Denise
Pinheiro (escritório Maria Saucha) pela atenção e compreensão a mim dispensadas ao se disporem
a dar as entrevistas aqui empregadas.
Quero agradecer ainda ao Cnpq e ao Projeto Alfa que me concederam ajuda financeira durante
grande parte de minha pesquisa. Certamente, sem o apoio destes, teria sido muito difìcil concluir
este meu trabalho iniciado em 2005.
Mais do que agradecimento, aqui fica o reconhecimento de todos aqueles que me acompanharam
neste processo, que me incentivaram e deram a mão sempre que precisei. Aos meus amigos:
Anabelle Reynoso, Ana Carolina Velasquez, Davi Rocha, Eduardo Sant’elena, Fabrício Xavier,
Francisca Carter, Frederico Morsan, Jonathon Sangueza, Juliana Jabor, Júlio Erthal, Leandro Sader,
Márcia Lozano, Monara Tavares, Maurício Fatho, Natália Brandão, Narjara Gonçalves, Pedro
Manuel Delgado, Renato Ferraço e Rudi Diemer. Em especial, agradeço a Mae San Martin, a
Maurício Valladares e a Rodrigo Guimarães todo carinho, dedicação e paciência que tiveram
comigo ao longo do tempo em que estivemos juntos, mesmo na distância. Este trabalho teria sido
deficiente sem a presença de qualquer um de vocês!
E com grande amor, acima de tudo, que agradeço a minha família, especialmente a minha mãe,
Solange de Fátima Barrozo Nogueira, que nunca me desamparou, que sempre me incentivou e me
encorajou, que tanto se esforçou para que eu pudesse chegar até aqui. Agradeço ao meu pai,
Dejair Hottz Nogueira, e ao meu irmão, Wanderson Barrozo Nogueira, pela presença e firmeza na
difícil hora da saudade quando me distanciei fisicamente para prosseguir com meus estudos. Amo
muito todos vocês. Obrigada por tudo, eternamente obrigada!
Por fim, quero agradecer a meu Deus que, em todos os lugares por onde estive, sempre me
acompanhou e me guiou, assim como o faz agora.
Introdão 16
Apresentação 17
Objetivos 22
Revisão da literatura 23
Metodologia 25
As fontes 28
Estrutura da pesquisa 29
Capítulo 1 O litoral 31
1.1 Apresentão 32
1.2 A urbanização do litoral
1.3 A zona costeira fluminense
33
36
1.4 As escalas do espaço litorâneo 38
1.4.1 A zona costeira 39
1.4.2 O litoral 40
1.4.3 A orla marítima 42
1.5 Os ecossistemas de dunas e de restingas do litoral 45
1.5.1 A vegetação de restinga 46
1.6 O turismo e seus impactos 47
1.7 O turismo litorâneo 50
Sumário
1.8 O waterfront e o passeio marítimo
1.9 O passeio marítimo algumas atuações
52
55
1.10 O desenho e o projeto urbanos 60
1.11 Espaço público: disposições para a costa marítima nacional 63
1.12 A paisagem: processo e definições do termo 65
1.12.1 Paisagem urbana-cultural 67
1.12.2 A paisagem litorânea 70
1.13 Sustentabilidade origem do termo 71
1.13.1 A sustentabilidade urbana 74
1.14 O Projeto Orla 77
1.15 Apresentação de algumas categorias para medir a sustentabilidade do Projeto
urbano-ambiental de Costazul.
80
1.15.1 A questão da acessibilidade 82
Capítulo 2 Rio das Ostras: uma pérola entre o rio e o mar 85
2.1 Apresentão 86
2.2 Rio das Ostras 87
2.2.1 Localização 87
2.2.2 O processo de formão 91
2.3 Outras queses 95
2.4 Projetos para a cidade 101
2.5 A autonomia local 106
2.6 Caráter da cidade
2.7 Relação da cidade com a frente marítima
108
109
2.8 A orla marítima da cidade
111
2.9 Relevância do projeto da orla de Costazul 115
Capítulo 3 A revitalização da orla de Costazul: valores e interesses 117
3.1 Apresentação 118
3.2 A orla de Costazul e seu entorno 120
3.3 O patrimônio natural-cultural do local 121
3.3.1 O Monumento Natural dos Costões Rochosos 121
3.3.2 A água salgada (o mar e a praia) e alguns cuidados 122
3.4 A praia de Costazul 123
3.4.1 O Remanso de Costazul 124
3.5 O loteamento Costazul 125
3.6 A análise do loteamento 127
3.7 Os novos projetos do entorno imediato 134
3.7.1 A Praça da Baleia 134
3.7.2 A Lagoa de Iriry 135
3.8 Algumas considerações sobre a paisagem 136
3.9 Antecedentes do projeto: o conflito 138
3.10 Antecedentes do projeto: a iniciativa 142
3.11 O Projeto Urbano-ambiental de Costazul: as duas etapas 147
Capítulo 4 O desenho e a implantação do projeto 151
4.1Apresentação 152
4.2 A definição das escalas de analise
153
4.3 A grande zona de interferência: a primeira escala de aproximação 158
4.4 As segunda e terceira escalas de aproximação 163
4.4.1 O setor A: A Av. Costazul e a ciclovia 163
4.4.1.1 Subsetor A1 164
4.4.1.2 O Subsetor A2 165
4.4.1.3 O Subsetor A3 165
4.4.2 O setor B: o passeio matimo de Costazul 166
4.4.2.1 O Subsetor B1 171
4.4.2.2 O Subsetor B2 172
4.4.2.3 O Subsetor B3 172
4.4.3 O Setor C - a Vegetação 173
4.4.3.1 O Subsetor C1 175
4.4.3.2 O Subsetor C2 176
4.4.3.3 O Subsetor C3 177
4.4.4 O Setor D - a faixa de areia 177
4.4.4.1 O Subsetor D1 177
4.4.4.2 O Subsetor D2 178
4.4.4.3 O Subsetor D3
178
4.5 As soluções projetuais para o trecho 01 do Projeto Urbano-ambiental de Costazul 179
4.6 A implantão do projeto
181
4.7 Dificuldades encontradas 182
4.8 Considerações do capítulo 182
Capítulo 5 A orla de Costazul: atividades, usos e apropriações 186
5.1 Apresentão 187
5.2 O estudo dos usuários a partir dos questionários aplicados 188
5.3 Um lugar de lugares nas três escalas de aproximação 201
5.4 As escalas de análise: usos e experiências no local 203
5.5 A grande zona de interferência: a primeira escala de aproximação 206
5.6 As segunda e terceira escalas de aproximação 208
5.6.1 O setor A: a Av. Costazul e a ciclovia 208
5.6.1.1 Os Subsetores A1, A2, A3 e A4. 209
5.6.2 O setor B: o passeio marítimo de Costazul 209
5.6.2.1 O Subsetor B1 212
5.6.2.2 O Subsetor B2 214
5.6.2.3 O Subsetor B3 215
5.6.3 O Setor C - a Vegetação 216
5.6.3.1 O Subsetor C1 216
5.6.3.3 O Subsetor C2
217
5.6.3.3 O Subsetor C3 217
5.6.4 O Setor D - a faixa de areia
218
5.6.4.1 O Subsetor D1 219
5.6.4.2 O s ubsetor D2 219
5.6.4.3 O s ubsetor D3 220
5.7 A intensidade de usos e concentrão demográfica na orla 221
Conclusão algumas considerações 223
Apresentação 224
Avaliação da metodologia 228
Conclusão 230
Listas 242
Lista de abreviaturas 243
Lista de figuras, mapas e fotos 244
Referências 257
Anexos e Apêndices 266
Resumo
NOGUEIRA, Josiane de Fátima. A transformação da paisagem litorânea urbana: a orla de
Costazul. Rio de Janeiro, 2007. Dissertação (Mestrado em Urbanismo) - Faculdade de Arquitetura
e Urbanismo, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2007.
O presente trabalho tem por intuito discutir a questão da degradação ambiental da costa litorânea,
em especial do norte fluminense, e as novas medidas que estão sendo criadas e implementadas
pelo município de Rio das Ostras (Rio de Janeiro) para seus sítios singulares de arremate marítimo-
urbano como forma de conciliar crescimento econômico e preservação ambiental. O texto parte do
pressuposto de que os usos indiscriminados das zonas marítimas têm efeito direto na
descaracterização de sua paisagem e que, por decorrência, traz efeitos maléficos à própria cidade.
Defende-se, aqui, a importância do caráter de uso permanente e diverso dos espaços públicos
abertos como forma de preservá-los e dotá-los de vida e cultura. Assim, a pesquisa se baseou na
revisão bibliográfica referente à paisagem urbana e litorânea, considerada como uma
manifestação cultural; à cidade de Rio das Ostras; `a orla de Costazul; e às seguintes categorias
de análise que basearam o trabalho: “sustentabilidade”, “paisagem”, “cultura”, “acessibilidade”. A
metodologia incluiu pesquisa documental, pesquisa de campo e entrevistas com profissionais do
projeto para Costazul e do poder público relacionados diretamente na construção da atual
paisagem urbana riostrense.
Palavras-chave: paisagem litorânea urbana; Rio das Ostras; passeio marítimo de Costazul.
Abstract
NOGUEIRA, Josiane de Fátima. A transformação da paisagem litorânea urbana: a orla de
Costazul. Rio de Janeiro, 2007. Dissertação (Mestrado em Urbanismo) - Faculdade de Arquitetura
e Urbanismo, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2007.
The present piece of work intends to question the coastal environmental degradation, in particular
in the North Fluminense Area, and its new steps that are being created and implemented by the
municipal district of Rio das Ostras (Rio de Janeiro) to its urban maritime singular places as a way
to conciliate economical growth and environmental preservation. The text takes for granted that
the indiscriminate usage of the maritime areas has straight consequences on its landscape and
that, as a result, brings harmful sequels to their own city. Hereby, the importance of the permanent
and diverse usage of the public places as a means of preserving and endowing them with life and
culture is defended. Thus, the research was based on the bibliographic review related to the urban
and coastal landscape, regarded as a cultural manifestation; to the City of Rio das Ostras; to the
Costazul border; and to the following analysis categories that this piece of work was based upon:
“sustaining”, “landscaping”, “culture”, “accessibility”. The methodology was included a documental
research, ground research and interviews with professionals of the Costazul project and the public
administration directly related to the construction of the present urban landscape riostrense.
Key words: Urban coastal landscape; Rio das Ostras; Costazul maritime stroll.
I N T R O D U Ç Ã O
1
Apresentação
No meio marítimo-terrestre McHarg (1969) já alertava para a preservação das dunas e vegetação
presentes nas praias, elementos de grande importância para a proteção do ecossistema litorâneo e
para a própria população que habita nessas regiões. De fato, muitas das preocupações `a respeito
da melhor qualidade de vida para as pessoas já fazem parte do discurso de alguns autores como
Lynch (1960, 1981), Spirn (1984), Hough (1994, 1998), entre outros. Esses, a partir dos anos 60,
já direcionavam seus estudos na tentativa de conciliar a integração das cidades ao meio “natural”
no qual estão inseridas. Anne Spirn, em seu livro “The Granite Garden” (1984), demonstra logo em
seu prefácio a terra vista como um todo até chegar ao mínimo detalhe. Fazemos uma viagem,
percorremos cada palavra de sua narração, ficamos surpreendidos ao nos depararmos inseridos
dentro de um contexto muito maior no qual muitas vezes não imaginávamos.
Diante desta complexidade, da vasta área de atuação investigativa na qual se insere a paisagem
urbana, o presente trabalho vem recortar e dedicar especial atenção aos projetos que estão sendo
desenvolvidos nas áreas de arremate cidade-mar (*). Nestes limites urbanos, onde água e terra se
encontram, se apresentam muitos dos problemas ocasionados pela incompatibilidade das
estruturas urbano-ecológicas existentes (4). Porém, escassa é a bibliografia que trate
especificamente ‘a respeito de projetos para as bordas marítimas, que hoje aparecem como
grande ponto de convergência de interesses socioeconômicos e de preocupações ambientais,
como o aumento do nível do mar. Dos estudos encontrados destacam-se os de Trapero (1999),
Muñoz (2004) e do Governo Federal através do Projeto Orla (BRASIL 2004, 2005, 2006a, 2006b;
NAKANO, 2006).
Palco de muitos interesses e atuações, o litoral aparece hoje como lugar propício para a instalação
de passeios marítimos como forma de arremate urbano e de atratividade turística. Assim, projetos
vêm sendo desenvolvidos como meio de conciliar crescimento econômico e preservação
ambiental. O estudo a respeito da nova forma de se produzir nesses espaços, refletindo os
(*) Os termos “arremate cidade-mar” ou “arremate
urbano” surgiram a partir da tradu
“orrilla” aplicada por
Trapero (1999), que em português também pode
ser compreendida como arremate.
(4)
ção e
compreensão da palavra
HOUGH, 1994, 1998
interesses, crenças, pensamentos e atuações de um povo, se torna imprescindível para a
compreensão dos diversos valores que se têm sobre esses lugares, principalmente hoje, quando
questões de sustentabilidade ambiental, social e econômica aparecem como objetivos a serem
alcançados nos novos projetos.
Dentro da iniciativa de se alcançar através de um planejamento estratégico benefícios
econonômicos, sociais e ambientais destaca-se o litoral norte fluminense brasileiro que vem
chamando atenção para seu vertiginioso crescimento urbano e pelo incremento substancial de
seus cofres públicos através do repasse de verbas advindas da exploração de petróleo nesta
região, royalties de petróleo. Neste cenário, e reconhecendo a relevância da costa marítima de Rio
das Ostras como catalisadora de recursos, devido às suas características físico-geográficas,
socioambientais e beleza cênica, que atrai massas ligadas, também, ao turismo, uma investigação
é instigada, principalmente, para tentar entender a atual mudança de sua paisagem natural-
cultural urbana e de como se compõe e se revela esta mudança através dos projetos que se diluem
por seu território. Destacam-se, ainda: a figura e presença do arquiteto e urbanista na construção
da imagem desta cidade; do fato de ser apenas o poder público o grande financiador dos projetos
que estão em execução pelo território riostrense, o que marca a sua nova fase econômica; e pela
divulgação da voz ativa da população através do Orçamento Participativo.
Localizando-se entre um pólo turístico, região dos Lagos, e outro relacionado diretamente ao setor
de exploração petrolífera e de serviços do norte fluminense, Rio das Ostras se destaca por essas
peculiaridades frente ` a costa do Estado do Rio de Janeiro. Por volta de 1995, eu passei a
freqüentar as praias desta cidade e conhecer um pouco mais de sua paisagem e cultura. Atraída
primeiramente por seu caráter turístico, acompanhei a explosão que houve com a entrada dos
royalties de petróleo a partir de 1999, os murmurinhos a respeito da atratividade que estava sendo
gerada, a presença cada dia mais visível da Petrobrás em Macaé. E vi o inchamento da cidade, a
procura por moradia, as construções e construções que se multiplicavam, e um desejo forte se
tornou latente para desvendar o que acontecia na cidade tipicamente de pesca e veraneio.
r o
d
u
ç
ã
|
I
n t
o
18
O anseio em compreender os novos valores, projetos, interesses e agentes envolvidos em toda a
transformação que se evidenciava por toda a cidade, algo não visto ou de relevância até então,
despertou o desejo de investigar este território. A proposta investigativa inicial consistiu e
permaneceu no estudo daqueles projetos que vinham sendo realizados ou pensados para a borda
litorânea, sítios singulares de arremate urbano onde terra e mar se encontram e que tem sido
palco de atuações políticas como forma de conciliar os novos anseios de preservação ambiental
com desenvolvimento econômico. Soma-se a esse recorte espacial o estudo preliminar da história
de Rio das Ostras que tem sua origem e força econômica próxima ao mar ou nestef. Em uma cidade
turística litorânea seguramente o mar é o fator atrativo que leva centenas de pessoas `a ela.
Dentro dos projetos que se evidenciam na cidade, sobressai o primeiro projeto, cuja primeira fase
foi inaugurada em 2004 na borda costeira riostrense, que vem representar muitas das mudanças
ocorridas na cidade com a atual fase econômica: o Projeto Urbano-ambiental para a Orla de
Costazul. A escolha por este lugar partiu do interesse investigativo pelas alterações
comportamentais e físicas que vinha passando a cidade de Rio das Ostras, por muitas questões
que ainda não tinham respostas para mim, arquiteta e urbanista, e, principalmente, por
proporcionar uma síntese atual da transformação da paisagem da cidade.
Localizado na orla de Costazul, este projeto está caracterizado pela implantação de um passeio
marítimo cujo discurso está voltado para a qualidade de vida das populações urbana e turística e
do meio ambiente litorâneo. Assim, além de resumir muitas das características desta cidade
litorânea ao longo de sua história, poderia ser a peça-chave para a compreensão do novo modo de
se produzir em Rio das Ostras, pois nele se presencia grande parte dos anseios que o poder público
municipal divulga para a cidade, além de possuir as características que a singularidade costeira
proporciona, como o fator atrativo e um modo peculiar de se atuar sobre a paisagem natural que se
traduz numa manifestação cultural de uma dada localidade.
A praia de Costazul é uma região de mar aberto e de alto poder atrativo turístico dentro do
território urbano riostrense. Localizada próxima ao loteamento que recebeu seu nome, a orla de
r o
d
u
ç
ã
|
I
n t
o
19
Costazul sofreu nas últimas décadas grandes impactos em seu ecossistema original. Por volta de
50, quando surge o loteamento Costazul, a imposição de um traçado que não condizia com o
ecossistema existente resultou no começo de todo o agravante subseqüente de seu ambiente
litorâneo, através do aumento do contingente populacional e da atividade turística no setor
durante os anos seguintes, principalmente a partir de 1990.
Diante desse quadro, o governo municipal começou a planejar uma reforma que privilegiasse esta
região litorânea dando atenção especial à orla marítima. Por objetivo principal a abertura do
Corredor Ecológico, que ligará a Área de Proteção Ambiental da Lagoa de Iriry ao Monumento
Natural dos Costões Rochosos resgatando a flora e fauna do local. Respeitando `as condições
geográficas originais, o projeto foi planejado para ser executado em duas etapas, que será objeto
de preocupação no decorrer desta dissertação, dada a necessidade de execução de outras infra-
estruturas, como o emissário submarino da cidade, que já faz parte da paisagem urbana de
Costazul.
A primeira etapa do Projeto Urbano-ambiental de Costazul abrange uma área aproximada de 850
metros de extensão. Compreende o trecho entre a Praça da Baleia e a Av. Governador Roberto
Silveira e tem por objetivo conciliar o meio ambiente urbano com o natural-cultural. Já a segunda
etapa, que está para ser iniciada com o término do emissário submarino, compreende a Av.
Roberto Silveira à Lagoa do Iriry. Possui aproximadamente 990 metros de extensão e diferencia-se
da anterior por ter uma maior preocupação com a revitalização do meio ambiente e menor área a
ser “urbanizada” (5).
Fatores que ainda foram cruciais para a eleição deste lugar são explicados por uma vontade de
estudar o espaço público e a forma como as pessoas nele atuam. Considerando uma cidade
litorânea e de clima subtropical, muitos interesses foram sendo levantados a respeito: a
compreensão da ocupação desses espaços praianos, que apesar da aparente homogeneidade,
guardam interessantes características físicas e de ocupação em seu território, geralmente
marcado por uma estreita e longa faixa de areia.
(5) PMRO, 2004.
(6) COSTA, 2002.
r o
d
u
ç
ã
|
I
n t
o
20
Assim, este trabalho vem contribuir para os estudos da urbanização litorânea tendo por intuito
principal discursar sobre as intervenções atuais que estão sendo desenvolvidas nestes espaços
singulares além de buscar compreender as relações entre os principais discursos teóricos, técnicos
e políticos e de projeto urbano que envolve aspectos ambientais e sociais na construção da
paisagem urbana (6).
r o
d
u
ç
ã
|
I
n t
o
21
Objetivos
A pesquisa tem por objetivo geral o estudo das transformações da paisagem urbana litorânea de
Rio das Ostras, tentando compreender quais os valores que norteiam esta transformação e os
processos de planejamento e projeto que consideram no seu discurso teórico aspectos ambientais
e sociais na construção da paisagem. Para isso foi tomado como caso referência a orla de Costazul
onde estudos foram realizados na tentativa de responder:
· quais são os novos valores e significados que culminaram na realização do projeto urbano para
esta orla bem como para a cidade como um todo?
· quais os valores e estratégias dos autores e promotores dessas transformações urbanas?
Estaria o governo municipal preocupado em resgatar de fato a paisagem significadora de
equilíbrio, identidade e cultura de sua população?
· o atual projeto desenvolvido para a orla de Costazul corresponde aos ideais propostos pelo
governo local?
· quais são os reais interesses, significados e valores da “nova” orla para seus usuários?
· estão esses interesses e valores refletidos na paisagem através do uso do passeio?
· como se revela a mudança e do que ela se compõe?
Enfim, esta pesquisa vem investigar os reais interesses e as novas propostas que têm sido
realizadas nas zonas de arremate entre cidade e mar, onde o desenho e o planejamento desses
sítios aparecem como forma de amenizar os maus usos do meio ambiente litorâneo. Porém, acima
de tudo, investigar como conciliar a interface da cidade e da borda marítima, zona onde atuam as
escalas geográfica, urbana e humana através do olhar e da atuação do arquiteto e urbanista na
preocupação e produção de mudanças no território litorâneo.
r o
d
u
ç
ã
|
I
n t
o
22
Revisão da literatura
Como descrito anteriormente, nesta pesquisa propõe-se investigar os reais interesses e os
processos que envolveram e envolvem o Projeto Urbano-ambiental de Costazul, e suas
implicações na paisagem cultural-natural da cidade através de uma análise do discurso político,
prático e teórico deste projeto. Lugar público e de encontro por excelência, as praias são mais que
cenários de uma rica e diversa paisagem. Nela atuam diferentes grupos e interesses que são
atraídos a este ambiente singular de limite. Ambiente que abre espaço para o devaneio, para
práticas específicas de ambientes litorâneos, como o banho de mar e de sol, bem como para as
mais diversas vontades e expectativas de apropriação.
Para embasar esta pesquisa foi empregada uma vasta bibliografia composta por diversas
perspectivas teóricas. Este recorte teórico envolveu estudos direcionados à proteção e qualidade
do meio ambiente costeiro através do olhar da geografia cultural e dos estudos humanos. Esta
natureza multidisplinar foi fundamental para demonstrar os diversos interesses de profissionais,
escritores e pesquisadores das áreas de arquitetura, urbanismo, arquitetura paisagística,
geografia cultural, planejamento e gestão ambiental, etc. que vêm expressar sua preocupação na
investigação das relações da construção de projetos em áreas de interesse ambiental e humano,
como àqueles relacionados ao urbanismo litorâneo contemporâneo.
Destes estudos Hough (1994, 1995, 1998), Cosgrove (1999), Lynch (1969, 1981), Muñoz (1994)
e Trapero (1990) foram essenciais para o direcionamento do trabalho e para a pesquisa
investigativa. Hough por sua grande relevância no cenário da paisagem natural e a sua
preocupação para um urbanismo que tenha no sítio as diretrizes do projeto, visando uma
convivência harmoniosa entre homem e paisagem. Cosgrove por agregar a esses estudos a
paisagem-cultural, estabelecendo um olhar especial sobre a comunidade e as transformações ao
longo do tempo. Lynch por sua contribuição para os estudos de qualidade do ambiente urbano,
onde a cidade aparece como um fenômeno social; suas pesquisas são consideradas referência
r o
d
u
ç
ã
|
I
n t
o
23
para aqueles que valorizam a relação homem e espaço; arquitetura, meio ambiente e
desenho/paisagem urbana (7). Muñoz e Trapero por abrir o entendimento dos passeios marítimos
como obra de arremate urbano e trabalhar com as novas iniciativas urbanas nestes espaços de
interface.
Destacam-se, ainda, os estudos de Llamas (2204), Sòla-Morales (2005) Mcharg (1969) e Borja
(1996; 2006) e Borja e Muxí (2003) que compõem tópicos deste trabalho. Parte integrante das
características físico-ambientais e culturais de cidades litorâneas, a orla marítima é grande fonte
de atratividade, diversidade, sociabilidade, lazer e de subsistência para muitas sociedades. Desta
forma, o estudo sobre a população que atua sobre o ambiente e o novo espaço de Costazul se torna
relevante sob a ótica de seu processo histórico, cultural e social. Por estes motivos foi selecionada a
geografia cultural para dar suporte teórico a este trabalho (8).
Logo, estudos entre cultura e paisagem estão presentes como forma de compreensão das relações
existentes entre homem e meio que devem ser devidamente analisadas e avaliadas na tentativa
de se compreender os projetos que atualmente vêm sendo desenvolvidos para passeios marítimos
como forma de arremate urbano, espaço público e de atração turística. Nesse aspecto será
dedicada atenção particular aos projetos pensados para fomentar o turismo litorâneo (9).
De acordo com Lúcia Costa (1993) a compreensão do real significado e das necessidades de um
lugar por sua população pode ser alcançada dando voz ativa a ela para expressar sua opinião,
sentimentos, desejos, gostos sobre o espaço onde atua, no caso, a orla de Costazul. Assim, busca-
se na voz dos usuários um direcionamento para melhor entender seus interesses dentro de um
espaço comum.
(7) SCOCUGLIA; CHAVES; LINS, 2006.
(8) COSGROVE, 1999.
(9) MUÑOZ, 1994
r o
d
u
ç
ã
|
I
n t
o
24
Metodologia
Dentro da vasta bibliografia que foi pesquisada, não encontrei uma que viesse a estudar de forma
concisa a relação entre teoria e prática dos novos projetos `a beira-mar, por isso, utilizei diversos
autores e critérios que pudessem ser aplicados em meu trabalho de forma a obter as respostas dos
questionamentos feitos. Para o estudo dos valores e significados atribuídos aos passeios
marítimos, tive por fonte principal o trabalho desenvolvido pela Dra. Lucia Costa (1993). Assim, a
presente pesquisa importou a aplicação do método qualitativo com abordagem descritiva (10).
Segundo esta metodologia crê-se conseguir informações de natureza mais subjetiva e latente que
implica não apenas numa análise do discurso do entrevistado como, também, em sua postura mais
global diante de questões que lhe são colocadas (11). Logo, procurou-se entender o público
pesquisado obtendo dados da forma mais espontânea possível.
Considerando o waterfront como um parque litorâneo, um vasto estudo empírico se abre baseado
na aplicação de questionários e entrevistas como forma de avaliar os fatores que afetam o uso ou
não-uso destes espaços públicos abertos (12). Dentro dos estudos realizados para a cidade de Rio
das Ostras, não foi encontrado algum que tratasse do seu espaço público. Destacam-se apenas as
apresentações realizadas pelos próprios autores dos projetos urbanos atuais ou estudos
relacionados às atividades do setor turístico, buscando alternativas para fomentá-lo; à normativa
urbana; e à fauna marinha.
Estruturando-se a partir de três etapas principais e interdependentes, esta pesquisa envolveu: o
levantamento de bibliografia, documentos e iconografia referentes ao tema de estudo; o
levantamento de bibliografia, documentos e iconografia referentes ao caso referência; e o estudo
de campo, no qual foram aplicados questionários e entrevistas, além da observação de usos e do
projeto e entorno.
(10) MUÑOZ, 1994
(11) COGO, 2006, p.2
(12) COSTA, 1993
r o
d
u
ç
ã
|
I
n t
o
25
Segundo Costa (1993) os questionários é um método consideravelmente utilizado para identificar
os usuários de um determinado lugar, suas necessidades e motivações. Mas, para compreender
melhor as reais necessidades e atitudes frente a um espaço público, eles não podem ser
considerados exclusivos. Isto porque essas pessoas têm uma certa dificuldade em expressar sua
opinião e sentimentos através de um questionário rígido. Considera-se ainda este artifício como
um limitador na compreensão entre o relacionamento social que se estabelece nestes espaços.
Quanto ao estudo de campo, este foi realizado na praia de Costazul e entorno. Apesar de eu já
haver feito algumas visitas na área e um primeiro contato com o Secretário Mauricio Pinheiro antes
de Julho de 2006, foi somente neste mês que apliquei os questionários e as entrevistas. Depois de
uma maior percepção e esclarecimento do problema e dos objetivos desta pesquisa, esta etapa foi
fundamental para captar com os autores do projeto e com os usuários da praia os dados que me
auxiliaram e facilitaram na análise do novo projeto. Nesta fase, ainda procurei perceber e registrar
as características físicas relevantes da área e as diferentes formas de uso e de apropriação desses
espaços por seus usuários através de fotos, mapas, croquis, gravações e anotações.
Com relação aos formulários (Apêndice 2), sua estrutura foi organizada e remodelada pela Dra.
Lúcia Costa. Este recurso foi aplicado a um pequeno número de 50 pessoas em três dias
consecutivos - quinta-feira, sexta-feira e sábado - durante o período de férias escolares, que
corresponde ao mês de Julho. O maior objetivo foi estabelecer um contato face a face com os
usuários da orla de Costazul, traçando o seu perfil, buscando suas visões `a respeito do novo
projeto e suas motivações e formas de uso e de apropriação da orla. Por mais que casual, a
amostra envolveu um certo critério, isto porque procurei não aplicar o formulário a mais de duas
pessoas do mesmo grupo e que possuíssem a mesma faixa etária, o que me proporcionou uma
diversidade maior de público e percepção dos interesses no lugar.
Vale destacar que o grande interesse dessa pesquisa não foi o de trabalhar com o método
quantitativo, ou seja, aquele que compreende o fornecimento de informações de natureza mais
r o
d
u
ç
ã
|
I
n t
o
26
objetiva e aparente na forma de dados estatísticos, os quais servem para a interpretação imediata
e geral do estudo, mas sim tentar compreender o público pesquisado através de uma conversa
mais informal com diferentes camadas sociais que atuam sobre o sítio.
Já as entrevistas foram escritas e/ou gravadas e foram realizadas com as pessoas diretamente
relacionadas com o projeto (Apêndice 1). Obedeceu a um roteiro semi-estruturado de perguntas
que permitiu uma flexibilidade na conversação e uma análise mais detalhada das percepções e
experiências desses profissionais. O grande objetivo deste instrumento foi coletar informações
inerentes ao plano executado para a orla de Costazul. Assim, consegui confirmar e/ou esclarecer
muitos questionamentos que fiz a partir da leitura do discurso teórico do projeto, de fontes
bibliográficas e documentais que tratavam do tema e da minha própria experiência no local.
Os registros referentes `as observações do lugar, croquis, fotos, anotações e gravações, me
auxiliaram na sistematização das informações colhidas. Estes dados foram obtidos em algumas
visitas realizadas na área após a implantação do trecho 1 (janeiro de 2005, abril de 2006, julho e
agosto de 2006). De forma geral, primeiramente foi relizada uma sondagem pela área onde
procurei visualizar o projeto em suas partes e em sua totalidade relacionando-o com o entorno.
Procurei ainda caracterizar o público presente, onde fui anotando e fotografando o maior número
de dados.
Para o estudo da cidade e da orla de Costazul, de forma geral, foi adotada a técnica de natureza
histórica (13), que vem descrever e analisar o espaço físico e das atividades humanas sobre a qual
se apoiará grande parte dos argumentos. Essa técnica auxiliará na compreensão da evolução do
território até os dias atuais, dos principais elementos que produziram as alterações de tipo
estrutural e as relações mais determinantes. E, ainda, será de grande utilidade como recurso
analítico-compreensivo.
Para o estudo analítico do projeto será utilizada a análise comparativa ou técnicas escalares (14),
isto porque oferece a possibilidade de se trabalhar com as diferentes escalas do projeto
demonstrando suas peculiaridades tanto em equipamentos e desenho quanto nos usos e
(13) MUÑOZ, 1994
(14) MUÑOZ, 1994
r o
d
u
ç
ã
|
I
n t
o
27
apropriações desta orla. Aqui também serão empregadas as categorias de análise já apresentadas
como tentativa de verificar a sustentabilidade pretendida nos discursos teóricos do projeto.
Para o diagnóstico do subsistema físico-natural, foram aproveitados os dados coletados nas
observações relacionadas com o entorno paisagístico natural, compreendendo aspectos que
relacionam as características físico-geográficas inerentes ao local. Assim, foi estudado a
topografia, o terreno, a orla como um todo, a água e vegetação. Para as características
socioeconômicas foram utilizadas principalmente as observações de usos e atividades que
acontecem no setor, procurando ainda compreender o surgimento do projeto, quais são os seus
princípios operativos, sua repercussão, etc. Configura-se, então, o estudo da morfologia urbana do
loteamento Costazul. Quanto aos aspectos jurídico-administrativos, procurei fazer uma breve
apresentação do Projeto Orla e de alguns pontos do plano Diretor da cidade de Rio das Ostras que
tem relação direta com os dados avaliados.
Assim,o estudo em questão pretende responder como e porquê foi adotada essa metodologia
acreditando-se que não há um único critério de análise para o espaço em questão, mas como
forma de contribuição a pouca literatura existente.
As fontes
O material bibliográfico, documentário e iconográfico foi obtido em fontes particulares, nas
secretarias de Turismo e de Planejamento da cidade de Rio das Ostras, em Internet e nas seguintes
bibliotecas das seguintes instituições: FAU/UFRJ, IPPUR, PUC-Chile e do Município de Rio das
Ostras. Nas secretarias da cidade riostrense obtive grande parte do material que utilizei no caso
referência deste trabalho: fotos, história, mapas e imagens da cidade e da área. Na Internet
encontrei principalmente dados relacionados à cidade em investigação e as imagens que
compõem este trabalho. Na biblioteca da PUC-Chile pude encontrar informação bibliográfica sobre
os mais diversos conceitos aqui utilizados, principalmente os relacionados ao tema da paisagem
urbana litorânea.
r o
d
u
ç
ã
|
I
n t
o
28
A pesquisa bibliográfica, aqui entendida como um estudo exploratório, foi encontrada em obras de
referência, teses, dissertações, periódicos e Internet, que propiciou a construção do referencial
teórico. A leitura do material bibliográfico correspondeu a uma pré-seleção cujo critério foi a
adoção de alguns conceitos principais que trouxessem informação para a construção do texto e
base para a análise do projeto.
O material documentário foi encontrado nas secretarias da cidade de Rio das Ostras e Internet que
forneceram informações `a respeito da evolução e estruturação urbana da área de estudo ao longo
de sua história. Na secretaria de Planejamento tive grande contribuição de informações e material
sobre o município e de Costazul. Já na Secretaria de Turismo o grau de dificuldade na coleta desse
material foi um pouco maior. Algumas visitas foram necessárias para que me atendessem e me
passassem maiores informações.
Na pesquisa iconográfica obtive as plantas necessárias ao desenvolvimento desta pesquisa, os
projetos e imagens atuais e antigas da cidade e da referida área de estudo, que foram
fundamentais para a compreensão do processo evolutivo e de uso da área de estudo. Este material
possibilitou a ilustração, para efeitos de compreensão e beleza, deste trabalho. Esta fase foi obtida
principalmente no site da prefeitura de Rio das Ostras e na Secretaria de Planejamento da cidade.
Estrutura da pesquisa
Para a relatar esta pesquisa, o presente trabalho está composto pela parte introdutória e por mais
cinco capítulos e conclusão. A parte introdutória corresponde a atual e é de cunho didático. O
Capítulo 1 vem apresentar o referencial teórico desta pesquisa e grande parte das nomenclaturas e
definições empregadas. Assim, parte-se de uma breve introdução da ocupação do litoral brasileiro
e a problemática que tem ocasionado sua urbanização no ambiente costeiro. Trata ainda da nova
forma de se produzir e consumir que tem no turismo litorâneo parte relevante dos principais
questionamentos sobre preservação da paisagem natural-cultural urbana.
r o
d
u
ç
ã
|
I
n t
o
29
O Capítulo 2 vem apresentar a cidade de Rio das Ostras, seu processo de formação e o novo modo
de pensar e atuar sobre seu território. Este estudo foi considerado de relevância para poder
compreender as transformações que vêm sendo difundidas nesta cidade como forma de inserí-la
no contexto das cidades que visam a qualidade de vida de seus habitantes e de promoção turística.
O Capítulo 3 inicia uma discussão `a respeito do caso referência desta pesquisa: a orla de Costazul
e seu Projeto Urbano-ambiental. Aqui coube uma compreensão geral de seu entorno de forma a
comparar como este projeto está sendo visto pelo poder público dentro de um contexto local e
urbano. Serão apresentados e discutidos os interesses e valores dos autores e do poder público
municipal para o projeto pensado para ser implantado em duas etapas na orla de Costazul.
Feita essa apresentação, o foco da discussão será direcionado para a apresentação e discussão da
pesquisa de campo. O estudo e compreensão do desenho elaborado para o Trecho 01 do Projeto
está no Capítulo 4. Aqui coube o início da aplicação das categorias de análise criadas para avaliar se
os reais interesses dos autores estão de acordo com o que foi desenvolvido em papel e aplicado na
orla de Costazul. Busca-se, assim, uma comparação entre teoria e prática projetual existentes no
desenho e plano criados.
E o Capítulo 5 encerra a fase de estudo de campo discutindo as observações dos usos e
apropriações, e percepções dos usuários da orla. Foram verificadas e descritas as atividades que
ocorrem sobre o espaço e o ambiente marítimo, a aceitação do projeto, os usos e as apropriações
por parte dos usuários de Costazul. Assim, fatores como diversidade, acessibilidade, visibilidade,
poder atrativo entre outros aparecem como pontos específicos a serem trabalhados e analisados
nesta etapa.
Por fim, a conclusão, que vem resumir e finalizar a pesquisa em questão, onde serão respondidas
as perguntas levantadas nos objetivos deste trabalho. Almeja, ainda, tentar promover e provocar
a reflexão sobre os processos de produção no litoral, em particular, na cidade de Rio das Ostras.
r o
d
u
ç
ã
|
I
n t
o
30
C A P Í T U L O 1
P A I S A G E M N A T U R A L - C U L T U R A L U R B A N A L I T O R Â N E A
2
1.1 Apresentação
De acordo com Hough (1995, 1998), os cursos d'água nas suas mais variadas formas são
fundamentais para o equilíbrio ambiental. Sua utilização expressa uma intercomunicação entre
forma urbana e meio ambiente. Logo, torna-se necessário que esses meios hídricos sejam
preservados no processo de seu planejamento e desenho. Sabendo que a revalorização das
paisagens às margens oceânicas normalmente induz ao estabelecimento de novos usos e de novas
atividades, os novos projetos deveriam estar preocupados em relacionar as necessidades, desejos
e expectativas dos seus usuários juntos aos ambientes e espaços sobre os quais atuam.
Estão nas cidades grande parte dos problemas que ocasionam prejuízos à qualidade das águas.
Segundo Hough (1998) é de fundamental importância compreender os seus processos para
alcançar um uso e gestão prudentes. Como a urbanização cria um novo ambiente hidrológico, a
tarefa atual deveria ser: criar um novo simbolismo de desenho para a água (e para os demais
sistemas urbanos naturais) que reflita os processos hidrológicos da cidade; pensar uma linguagem
de desenho urbano que restabeleça a identidade dos processos vitais; desenvolver o
estabelecimento de uma paisagem vernácula cuja estética se baseie em três fatores: nas bases
funcionais e ecológicas, que definem a forma; na integração dos objetivos de desenho, que
consigam que este seja polifacetado e experimental (flexível); e na noção de visibilidade tão
fundamental como um dos princípios de projeto como estratégia para promover a consciência e
responsabilidades ambientais. Assim, considerando paisagem como um processo cultural e
dinâmico, o presente capítulo vem introduzir brevemente os problemas que têm afetado o litoral,
em particular o nacional, onde se destaca o turismo litorâneo como fator principal de medidas
públicas que trabalham em espaços de arremate urbano como forma de atração de capital e de
costura da cidade com o mar.
1.2 A urbanização do litoral
O litoral brasileiro possui uma extensão equivalente a 8.698 Km onde abriga treze das dezessete
capitais dos Estados nacionais litorâneos. Entre os seus 388 mil Km² que compõem a zona costeira
nacional localizam-se cerca de 400 municípios. Isto gera, segundo dados presentes nos
Fundamentos para Gestão Integrada do Projeto Orla, uma densidade demográfica em média 5
vezes maior que a média nacional (15). Possuindo inúmeras reentrâncias com praias, falésias,
mangues, dunas, recifes, baías, restingas etc. (16) a costa nacional é dona de uma rica e vasta
paisagem que atrai e seduz. Habitar nestes espaços de limite, onde terra e mar se encontram, é
um bem e desejo muito cobiçados.
De acordo com a história da ocupação no território brasileiro os primeiros colonizadores, os
portugueses atingiram o litoral pela esquadra de Cabral. Tendo entrado na atual baía Cabrália, ou
Porto Seguro na época em que foi batizada, encontrou um lugar favorável para ancorar seus
barcos e dar início `a exploração do que hoje constitui este país. Da Ilha de Vera Cruz partiram as
primeiras impressões deixadas sobre essas terras e desde aí começou toda uma fase de renúncia
`a princípio, e de exaustiva exploração que predomina até os dias atuais, tendo início com a
retirada do pau-brasil (17).
Distante de ser uma colonização dentro de muralhas como as da época medieval, até porque já
não condiziam mais com a tecnológica bélica nestes anos de 1500, os fortes resguardavam as
cidades que nasciam `a beira-mar (18). Aos poucos essas regiões foram sendo adensadas e
propagando outros fluxos povoadores tanto pelo litoral quanto para o interior do país (19).
Portanto, o adensamento populacional no litoral de diversos países teve a colonização como sua
principal causa (20).
Destaca-se nesta pesquisa o caso brasileiro que apresenta significativa concentração populacional
e de atividades produtivas na zona costeira, com uma densa rede de cidades de origens históricas
(15) BRASIL, 2006 a
(16) MORAES, A., 2007
(17) Exploração. Disponível em:
<http.//brasilescola.com/historiab/exploracao.htm>.
Acesso em: 24 set. 2007.
(18) TRAPERO, 1990
(19) MORAES; ZAMBONI, 2004; MORAES, A.,
2007.
(20) MORAES, A., 2007.
ap t
ul
o
1
|
P
a
g
e
n
a
t
u
r
a l
-
c
u
l
t
u
r
a l
r
a
n a
o
r â
n
e a
|
C
í
a
is
m
u b
li
t
33
3
espalhadas pelo seu vasto litoral. Basta lembrar cidades como o Rio de Janeiro, Salvador e Recife
que ainda concentram uma elevada taxa de densidade demográfica (21). Mesmo após a
reconfiguração da divisão internacional do trabalho durante o século XX, o Brasil manteve o
adensamento populacional voltado para o Oceano Atlântico. Os padrões de ocupação de sua Zona
Costeira, onde há concentração de grande parte dos bens da União, como os terrenos de marinha e
acrescidos, foram responsáveis pela grande concentração de áreas urbanas existentes na costa do
país. Atualmente, aproximadamente um terço da população brasileira habita `a beira-mar e quase
metade reside a menos de 200 quilômetros da costa, onde também estão localizadas as mais
importantes instalações industriais nacionais (22).
Segundo Freitas (2006) 70% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional estão concentrados na zona
costeira. Este fato se deve em grande medida à presença de portos na costa brasileira
responsáveis pelas trocas de mercadorias, justamente no mesmo espaço onde se concentra a
grande disponibilidade de fontes alimentícias próprias do sistema oceânico. Essa atratividade tem
gerado uma série de conflitos de interesses tanto econômico-sociais quanto ambientais na franja
litorânea.
Internacionalmente, a ocupação exercida pela atração da faixa litorânea tornou-se problemática a
partir da década de 1950 com a intensificação das atividades ligadas ao processo de
industrialização, acentuado com a chegada das multinacionais (23). Nesse período, a urbanização
atinge plena expansão dando origem ao processo de metropolização. Dentre as atividades que se
realizam no espaço litorâneo, Trapero (1990) destaca:
- a atividade agrícola: contaminação química ou biológica; dessecação de marinas ou lagoas
litorâneas;
- a atividade industrial: contaminação do meio atmosférico e do aquático através de centrais
nucleares (alteração na ecologia das águas ao devolver ao mar água em temperaturas entre 10 e
15 graus, além de repelir atividades pesqueiras, agrícolas e turísticas); prospecções petrolíferas
ou de gás natural e os freqüentes acidentes com cascos de navios carregados;
(21) NAKANO, 2006.
(22) BRASIL, 2006a
(23) NAKANO, 2006.
34
4
ap t
ul
o
1
|
P
a
g
e
n
a
t
u
r
a l
-
c
u
l
t
u
r
a l
r
a
n a
o
r â
n
e a
|
C
í
a
is
m
u b
li
t
- a atividade portuária: o desenvolvimento de parques industriais voltados à exportação e,
conseqüentemente, o surgimento de grandes conglomerados nesta região dos vários países; o
transporte marítimo de produtos entre países que utiliza de forma crescente as instalações
portuárias, que abrigam tanto portos organizados quanto terminais privados;
- a expansão urbana: a acumulação de população, com o conseguinte aumento das indústrias e
serviços de todo tipo no território costeiro. Este é sem dúvida o fato de maior transcendência na
evolução experimentada no litoral. A cidade expande-se vertical e horizontalmente, inclusive em
áreas ambientalmente vulneráveis. O custo socioambiental desse processo é alto: grande parte
dos recursos florestais que existiam na costa brasileira foi devastada, por exemplo, a Mata
Atlântica, que atualmente se restringe a aproximadamente 7% de suas formações originais,
localizadas basicamente em áreas de difícil acesso;
- o turismo e recreação: a ocupação irreversível da costa que se produz de forma desordenada,
unilateral e, muitas vezes, ilegal e clandestinamente; a progressiva destruição da paisagem
natural-cultural ou sua transformação por edificações cujos gabaritos, texturas e cores contrastam
com o entorno paisagístico; a falta de atenção pelos promotores privados aos serviços
indispensáveis, que com o tempo, tem de ser criados pela coletividade municipal; a contradição
entre os modos de vida local e turística. As urbanizações, as construções de hotéis, apartamentos
e chalés, os portos esportivos e outras instalações turísticas são as implantações que maior
impacto tem produzido na estrutura física e na ordenação do litoral.
Além de todos esses fatores acima citados, deve-se ressaltar os problemas muitas vezes
ocasionados pela política administrativa (24) através da incorreta utilização dos bens litorâneos e
fraudes. De um lado, a construção de infra-estruturas e urbanizações turísticas e a implantação de
áreas industriais têm produzido uma normativa setorial com esquecimento das ordens do conjunto
municipal. De outro lado, as ordens urbanísticas dos municípios não têm sido realizadas com
espírito integrador tendo ignorado as elementares exigências de conservação do litoral (25).
(24) A regulação do espaço litoral como espaço
administrativo se deve, em grande parte, por se
tratar de um bem escasso e progressivamente
valorizado para a localização de diferentes usos e
atividades do homem fatos estes que justificam um
incremento na demanda e valorização do mesmo.
(25)TRAPERO, 1990.
35
5
6
ap t
ul
o
1
|
P
a
g
e
n
a
t
u
r
a l
-
c
u
l
t
u
r
a l
r
a
n a
o
r â
n
e a
|
C
í
a
is
m
u b
li
t
Em resumo, o território costeiro tem-se convertido em um lugar de desejo para um crescente
número de demandas de atividades que a própria singularidade da franja costeira faz,
freqüentemente, antagônico. A competição entre essas diferentes demandas de espaço tem como
conseqüência direta uma espetacular alta de valor do solo nas faixas limítrofes do litoral, com a
conseguinte densificação abusiva. A urbanização chega a ser conduzida de uma tal maneira que
mal permite a criação de ruas arborizadas e espaços livres públicos suficientes que concedam
conforto e cultura cívica em inúmeras comunidades. O fator especulatório e econômico tem
constituído alguns dos principais vilões do desenho urbano, que ao invés de estar baseado na
criação de um projeto eficaz e em prol do equilíbrio/harmonia do ecossistema característico de
determinados nichos, trabalha em prol de um urbanismo insustentável ambientalmente e
socialmente.
1.3 A zona costeira fluminense
Com aproximadamente 600 Km de extensão e 40 Km de largura, a zona costeira fluminense abriga
33 municípios que apresentam características peculiares quanto aos interesses de preservação, ao
potencial turístico e de desenvolvimento urbano e às pressões da especulação imobiliária e de
atividades industriais e portuárias de porte (*). Abrigando 10,5 milhões de habitantes ou 80% da
população fluminense, possui uma das maiores taxas de densidade demográfica dos estados
costeiros do país: 585 hab/Km2, fato este que, somado às atividades econômicas que ocorrem na
região, põe em dúvida a sustentabilidade do meio ambiente existente caracterizado pela presença
de uma diversificada variedade de ecossistemas relevantes.
Segundo Vilma Homero (**), determinadas atividades econômicas têm contribuído para o
aparecimento de novos pólos de atração no estado do Rio de Janeiro, que favorece a
descentralização da tradicional hegemonia metropolitana. A autora cita como exemplos a
36
7
ap t
ul
o
1
|
P
a
g
e
n
a
t
u
r
a l
-
c
u
l
t
u
r
a l
r
a
n a
o
r â
n
e a
|
C
í
a
is
m
u b
li
t
(*) FEEMA, 2007.
(**) Homero, 2007.
revitalização da indústria naval na baía de Guanabara (Niterói, São Gonçalo e Rio de Janeiro) e os
royalties da extração de petróleo do litoral norte fluminense, que, não apenas culminaram na
emancipação de alguns municípios, como geraram divisas e o conseqüente enriquecimento de
Macaé, Quissamã e Rio das Ostras.
Citando Eloísa Araújo, doutora pelo Programa de Pós-graduação em Urbanismo da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (PROURBE/UFRJ), Homero (*) diz que cidades como Macaé, Cabo Frio e
Rio das Ostras realizaram obras de embelezamento e melhorias em áreas nobres de suas cidades
cuja “urbanização revelou-se agressiva em todos os sentidos, seja na busca e conquista de terras a
urbanizar, nas áreas de franja rural-urbana, nas fronteiras municipais, nas áreas intra-urbanas, ou
na apropriação muitas vezes drástica da paisagemnatural.” Já para Lúcia Costa, subcoordenadora
de Pesquisa e Projetos do Prourb (**), Rio das Ostras e Cabo Frio transformaram suas paisagens
(*) apud Homero, 2006.
(**) apud Homero, 2006.
37
7 A
ap t
ul
o
1
|
P
a
g
e
n
a
t
u
r
a l
-
c
u
l
t
u
r
a l
r
a
n a
o
r â
n
e a
|
C
í
a
is
m
u b
li
t
Urbanas conciliando programas de revitalização de suas lagoas e áreas à beira-mar, e de seus
espaços livres públicos.
Dentre as cidades que se destacam atualmente no norte fluminense, Rio das Ostras aparece como
ponto atrativo para analisar e avaliar esses novos projetos que surgem por todos os lados da
cidade e que têm por objetivo, ao menos teórico, amenizar os graves problemas sociais e
ambientais ocasionados pela urbanização rápida e desigual que se evidencia, principalmente, nos
últimos anos. Rio das Ostras se destaca ainda pelo compromisso que seus atores vêm
demonstrando pela cidade ao elaborarem projetos que tentam conciliar desenvolvimento
econômico e social junto ao ambiental. Soma-se a esses a relevante importância do mandato
consecutivo do ex-prefeito Alcebíades Sabino dos Santos no processo de construção da cidade que
possibilitou a continuidade das atividades dentro do cenário urbano riostrense.
1.4 As escalas do espaço litorâneo
Diante do título do presente trabalho “Transformação da paisagem cultural litorânea: a orla de
Costazul, um caso referência”, torna-se indispensável, à priori, esclarecer para efeitos de
compreensão, diante da vasta terminologia empregada nestes espaços de interseção terra-mar-
ar, determinados conceitos que estão inseridos dentro de um todo maior que é a zona Costeira e
que serão amplamente utilizados no decorrer deste trabalho.
Sinteticamente pode-se encontrar dentro da zona costeira o litoral e dentro deste a orla marítima.
Esses três espaços compõem as distintas escalas do território costeiro e possuem em comum a
intersecção terra, ar e água, que produz ecossistemas variados e cria paisagens singulares que
dependem de determinados cuidados para sua preservação e existência.
38
ap t
ul
o
1
|
P
a
g
e
n
a
t
u
r
a l
-
c
u
l
t
u
r
a l
r
a
n a
o
r â
n
e a
|
C
í
a
is
m
u b
li
t
1.4.1 A zona costeira (ZN)
O conceito de zona costeira conhece definições diferenciadas. No geral, duas concepções
predominam na literatura considerada: a primeira busca captar este espaço como uma unidade
natural passível de ser delimitada no terreno por aspectos físicos ou biológicos, que geralmente
predomina nos trabalhos acadêmicos; e a segunda trata de uma unidade político-administrativa
que não necessariamente se apresenta com limites naturais evidentes e está normalmente
presente nos programas governamentais de desenvolvimento costeiro (26).
Segundo a Lei Federal brasileira 7.661/88, que instituiu o Plano Nacional de Gerenciamento
Costeiro II (PNGC) (27), a zona costeira é “o espaço geográfico de interação do ar, do mar e da
terra, incluindo seus recursos renováveis ou não, abrangendo uma faixa marítima e outra
terrestre.” (28) Assim, a partir de uma revisão metodológica desse termo, o PNGC estipulou os
limites político-administrativos como critério de delimitação da zona costeira. Trata-se, portanto,
da borda oceânica, das massas continentais e das grandes ilhas, que se apresenta como área de
influência conjunta de processos marinhos e terrestres, gerando ambientes com características
específicas e identidade própria. Ou seja, para criar a ZC foram eleitos determinados municípios
que se enquadram dentro dos seguintes critérios de classificação/identificação, conforme
apresentado em BRASIL (2006a, p.24):
- aqueles defrontantes com o mar, segundo listagem estabelecida pelo Instituto Brasileiros de
Geografia Estatística (IBGE);
- aqueles não defrontantes com o mar, mas que se localizem nas regiões metropolitanas
litorâneas;
- aqueles contíguos às grandes cidades e às capitais estaduais litorâneas, que apresentem
processo de conurbação;
- aqueles próximos ao litoral, até 50 km da linha de costa, que aloquem atividades ou infra-
estruturas de grande impacto ambiental em seu território sobre a Zona Costeira ou sobre
(26) BRASIL, 2006a.
(27)
(28) BRASIL, 2006a, p.22.
O Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro
(PNGC) foi instituído através da Lei Federal no
7.661/88 e antecede a promulgação da Constituição
Federal de 1988. Obedece às diretrizes da Política
Nacional do Meio Ambiente (PNMA) e apresenta
critérios para a definição dos municípios da Zona
Costeira cuja gestão participativa deve integrar
diferentes setores e instâncias governamentais.
(http://www.mma.gov.br/port/sqa/projeto/gerco/capa
/index.html).
39
ap t
ul
o
1
|
P
a
g
e
n
a
t
u
r
a l
-
c
u
l
t
u
r
a l
r
a
n a
o
r â
n
e a
|
C
í
a
is
m
u b
li
t
ecossistemas costeiros de alta relevância;
- aqueles estuarinos-lagunares que, mesmo não diretamente defrontantes com o mar, possuem
relevância destes ambientes para a dinâmica marítimo-litorânea; e
- aqueles que, mesmo não defrontantes com o mar, tenham todos seus limites estabelecidos com
os municípios referidos nos itens anteriores.
Assim, a Faixa Terrestre será composta pela faixa continental formada pelos municípios que
sofrem influência direta dos fenômenos ocorrentes na Zona Costeira. Já o limite da Faixa Marítima,
ou seja, da faixa que se estende mar afora, deverá distar 12 milhas marítimas das Linhas de Base
estabelecidas de acordo com a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar,
compreendendo a totalidade do Mar Territorial. No Anexo A pode-se encontrar todos os municípios
que estão dentro dos limites da faixa terrestre da zona costeira nacional.
Segundo o PNGC os estados e municípios têm a responsabilidade de elaborar seus próprios planos
de gerenciamento costeiro. Os instrumentos para a operacionalização da zona costeira nacional se
encontram no Anexo B deste trabalho. As regras de uso e de ocupação do solo na zona costeira
podem ser encontrados no Decreto Federal n. 5300/04.
1.4.2 O litoral
Grande é a ambigüidade existente quanto ao termo litoral. Nem mesmo o PNGC ou o material do
Projeto Orla (29) que será tratado mais adiante puderam dar uma definição clara a respeito deste
conceito. De forma geral, entende-se por litoral o conjunto de ecossistemas marítimo-terrestres
que, devido as suas extensões, saliências e reentrâncias, propicia a inviabilidade de se construir
um limite rígido que demarque seu território.
De acordo com os estudos realizados por Juan Muñoz (1994, p.41) por litoral compreende-se a
existência de “uma zona de largura variável, de maiores ou menores dimensões, que aparece
(29) BRASIL 2004, 2005, 2006a, 2006b; NAKANO,
2006.
40
ap t
ul
o
1
|
P
a
g
e
n
a
t
u
r
a l
-
c
u
l
t
u
r
a l
r
a
n a
o
r â
n
e a
|
C
í
a
is
m
u b
li
t
como resultante de um processo de contato dinâmico do meio marítimo contrastado com uma
maior estabilidade do terrestre, o que anula parte das vantagens derivadas dessa hipotética linha
de contato resultante, que em realidade passa a converter-se em franja ou banda”.
Segundo este mesmo autor, uma certa “metodologia indutiva” percorre esse tipo de fenômeno e
delimitação. Trata-se de uma tentativa na demarcação física realizada pela Comissão das
Comunidades Européias (1980) que vem considerar o litoral terrestre como a superfície de terra
que se “estende a partir da linha da cota numa profundidade aproximada de 10 Km que
corresponde ao espaço que depende diretamente dela”. E o litoral marinho como o “espaço
marítimo que se inter-relaciona com a costa”. Essa delimitação proposta se torna questionável
quando se refere àqueles ambientes que ultrapassam ou sequer atingem esta distância.
Na tentativa de trazer algo mais significativo para essa definição de litoral, poder-se-ia tomar como
base o item “b” e “d” do PNGC citados na discussão que tratou da caracterização daqueles
municípios que fazem parte da zona costeira, lê-se:
“b) os municípios não defrontantes com o mar que se localizem nas regiões metropolitanas
litorâneas;
d) os municípios próximos ao litoral, até 50 km da linha de costa, que aloquem, em seu território,
atividades ou infra-estruturas de grande impacto ambiental sobre a Zona Costeira, ou
ecossistemas costeiros de alta relevância;”
Percebe-se uma ambigüidade enfraquecendo a compreensão e definição quanto ao emprego da
palavra litoral. A primeira palavra, “litorâneas”, induz a uma zona mais abrangente que também
está sob influência o ambiente marítimo, mas que se traduz em uma extensão um pouco maior,
podendo até ser confundida com a zona costeira. A segunda a um espaço mais delimitado que
poderia estar inserido dentro dos 50 Km da linda de costa, ou seja, naquela faixa de terra que sofre
influência direta das águas marítimas de onde surgem ecossistemas ligados a este ambiente
marítimo e que, também, se insere dentro da zona costeira.
41
8
ap t
ul
o
1
|
P
a
g
e
n
a
t
u
r
a l
-
c
u
l
t
u
r
a l
r
a
n a
o
r â
n
e a
|
C
í
a
is
m
u b
li
t
Uma definição mais bem aplicada e sintética define o litoral como “toda a região que se situa entre
a plataforma continental e as áreas sob a influência da maré mais alta (mangues, bancos de
espartino, praias, costões, estuários, etc.). A faixa litorânea é, portanto, cheia de medidas e
amplitudes, sendo sua ocupação objeto de critérios e normas especificas. Em termos gerais é a
região costeira, beira-mar.” (30) .
Diante de tais conceitos e ambigüidades, aqui, se compreenderá o litoral como toda a extensão de
terra que sofre as variações fornecidas pela presença do mar e que mantenha contado físico com
ele. Assim, apenas as cidades que possuam um pedaço de seu perímetro banhado pelas águas
marítimas serão consideradas como cidades litorâneas neste trabalho. Em termos gerais, o
território litorâneo fica, então, condicionado pelo intenso intercâmbio de energia entre o mar e a
terra, cujo equilíbrio difícil dá lugar a existências das praias.
Por praia compreende-se a “área coberta e descoberta periodicamente pelas águas, acrescida da
faixa subseqüente de material detrítico, tal como areias, cascalhos, seixos e pedregulhos, até o
limite onde se inicie a vegetação natural, ou, em sua ausência, onde comece um outro
ecossistema." (31) É exatamente nesse trecho, nesta borda marítima onde o presente trabalho se
enquadra. Mas ainda falta conceituar a última escala: a orla marítima.
1.4.3 A orla marítima
A orla é, talvez, a mais fácil de ser definida uma vez que se trata da borda marítima imediata da
zona costeira. Criada para servir a uma escala de planejamento e gestão, a orla marítima pode ser
definida como a unidade geográfica inclusa na zona costeira delimitada pela faixa de interface
entre a terra firme e o mar. Este ambiente se caracteriza pelo equilíbrio morfodinâmico no qual
interagem fenômenos terrestres e marinhos, sendo os processos geológicos e oceanográficos os
elementos básicos de conformação dos principais tipos de orla, a saber: costas rochosas (altas e
baixas), falésias erodíveis, praias arenosas, praias de seixos, planícies lamosas, pântanos,
manguezais e formações recifais. A esses tipos genéricos associam-se outros condicionantes
(30) ACESP, 1980.
(31) BRASIL, 2006a, p.18.
42
ap t
ul
o
1
|
P
a
g
e
n
a
t
u
r
a l
-
c
u
l
t
u
r
a l
r
a
n a
o
r â
n
e a
|
C
í
a
is
m
u b
li
t
geográficos como o clima, a orografia ou a hidrografia para compor os ambientes naturais
litorâneos (estuários, restingas, campos de dunas etc), que servem de suporte para ecossistemas
de “alta originalidade” e de grande importância, principalmente para a vida marinha (32).
O espaço da orla é constituído por uma porção aquática, uma porção terrestre e uma faixa de
contato ou sobreposição desses meios. Na zona marinha esse limite é definido pela isóbata de dez
metros (33) (assinalada em todas cartas náuticas), profundidade na qual a ação das ondas passa a
sofrer influência da variabilidade topográfica do fundo marinho, promovendo o transporte de
sedimentos. Já na área terrestre este limite alcança os cinqüenta metros em áreas urbanizadas ou
duzentos metros em áreas não urbanizadas (34), demarcados na direção do continente a partir da
linha de preamar ou do limite final de ecossistemas, tais como as caracterizadas pelas praias,
dunas, áreas de escarpas, falésias, costões rochosos, restingas, manguezais, marismas, lagunas,
estuários, canais ou braços de mar, quando existentes, onde estão situados os terrenos de
marinha e seus acrescidos (35) (ver figura abaixo).
Desde o ponto de vista ambiental, a orla serve de suporte para ecossistemas relevantes, tais como
os manguezais, as matas de restinga e os recifes de corais, entre outros. Na atualidade, verifica-se
forte pressão proveniente de atividades produtivas, de transporte, do setor petrolífero, de
recreação e de serviços, com destaque para o turismo, que produzem e criam na orla espaços
multiuso sujeitos ` a sérios conflitos sociais de uso e ocupação (36).
(32)
(33)
(34)
(35)
(36)
BRASIL, 2004; 2006a.
Essa referência poderá ser alterada desde que,
no caso da redução da cota, haja um estudo
comprovando a localização do limite de fechamento
do perfil em profundidades inferiores.
Os limites máximos estabelecidos para a orla
200 metros em áreas não urbanizadas e 10 metros de
profundidade no mar poderão ser aumentados, a
partir de estudos que indiquem uma tendência
erosiva acentuada (com base em taxas anuais para
períodos de 10 anos), capaz de ultrapassar
rapidamente a largura da faixa proposta.
MORAES E ZAMBONI, 2004.
MORAES E ZAMBONI, 2004.
43
9
ap t
ul
o
1
|
P
a
g
e
n
a
t
u
r
a l
-
c
u
l
t
u
r
a l
r
a
n a
o
r â
n
e a
|
C
í
a
is
m
u b
li
t
No Anexo C, encontram-se os critérios aplicáveis para a delimitação da orla em algumas situações
geográficas comuns no litoral brasileiro. O quadro a seguir resume os conceitos aqui aplicados as
escalas da zona costeira. À continuação serão apresentados os ecossistemas da zona costeira,
onde se destaca o de restinga, vegetação predominante na faixa litorânea de Costazul.
44
* Frequência relativa da largura da zona de proteção ou uso restrito em diferentes países.
* Medida a partir da preamar média de sizígia.
(Fonte: BRASIL, 2004)
1 Equador, Havaí
2 Filipinas, México, Nova Zelândia
3 Brasil
4 Colômbia, Indonésia, Venezuela, Costa Rica
5 Chile
6 França, Noruega, Suécia, Turquia, Espanha
7 Espanha, Costa Rica
8 Uruguai
9 Indonésia
10 Grécia
ap t
ul
o
1
|
P
a
g
e
n
a
t
u
r
a l
-
c
u
l
t
u
r
a l
r
a
n a
o
r â
n
e a
|
C
í
a
is
m
u b
li
t
Resumo e sinônimos aplicados aos conceitos trabalhados - zona costeira
Borda, faixa, orla marítima Primeiro contato da terra-mar englobando os ambientes originados por este
encontro situados a uma isóbata de 10 metros, 50 metros dentro da área
urbanizada e 200 metros para áreas não urbanizadas a partir da linha de
costa.
Costa ou litoral marítimo Limite do território adjacente a orla e que sofre variações em sua paisagem
característico das proximidades do ambiente marítimo; pode ser também
demarcado fisicamente pelas fronteiras internas dos municípios tocados pelo
mar (região litorânea).
Zona costeira Área de maior extensão e que engloba o litoral e por sua vez a orla. Sua área
territorial é definida pelo PNGC e seu território marítimo se insere dentro de
12 milhas náuticas de largura.
1.5 Os ecossistemas de dunas e de restingas do litoral
A paisagem físico-ambiental da zona costeira é composta por importantes ecossistemas dos quais
três deverão estar sob a Área de Preservação Permanente (APP), a saber: os mangues, as dunas e
as restingas (37).
Por APP se compreende, segundo a Lei 4.771, de 16-09-1965 em seu art 1°, §2°, II, como “área
protegida [...] coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os
recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e
flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas”.
Como este trabalho se limita ao estudo da paisagem praiana, grande é o interesse em introduzir e
aclarar a importância da sua vegetação, que além de compor a paisagem local, abriga fauna e
protege o litoral de, por exemplo, erosões.
(37) FREITAS, 2006.
45
ap t
ul
o
1
|
P
a
g
e
n
a
t
u
r
a l
-
c
u
l
t
u
r
a l
r
a
n a
o
r â
n
e a
|
C
í
a
is
m
u b
li
t
1.5.1 A vegetação de restinga
Dentre as definições existentes para caracterizar a vegetação de restinga a Resolução CONAN n°
303, de 20-03-2002 a define em seu art. 2° VIII como
“depósito paralelo a linha de costa, de forma geralmente alongada, produzido por
processos de sedimentação, onde se encontram diferentes comunidades que recebem
influência marinha, também consideradas comunidades edáficas por dependerem mais da
natureza do substrato que do clima. A cobertura vegetal nas restingas ocorre em mosaico,
e encontra-se em praias, cordões arenosos, dunas e depressões, apresentando, de acordo
como o estágio sucessional, estrato herbáceo, arbustivos e arbóreo, este último mais
interiorizado.
A vegetação de restinga é predominantemente baixa e cria variações climáticas que conferem
maior diversidade ambiental e biológica (38). Essa vegetação é fundamental para a fixação e
formação das dunas. Sendo adaptada a um alto índice de salinidade e a um solo pobre como o
arenoso, torna-se suporte vital desse ecossistema garantindo o crescimento das dunas (39).
Oficialmente classificada como “Formação Pioneira de Influência Marinha”, quando esse tipo de
vegetação sofre algum tipo de dano, conseqüentemente o ecossistema de dunas é alterado,
danificado, sofrendo erosão pelo vento e o surgimento de dunas móveis que causam sérios riscos
para o meio ambiente (40) e para a população. Atualmente, o que se verifica é que grande
percentual do ecossistema de restinga encontra-se devastado pela urbanização, pelo mau uso
dedicados às praias ou pelos efeitos climáticos que tem elevado o nível do mar. É importante
atentar para o fato de que a vegetação de restinga nas zonas costeiras tem o papel de preservar os
ecossistemas de dunas e mangues e ainda ajuda no controle de determinadas pragas como
escorpiões, cupins, baratas e formigas. Outra relevância deste ecossistema encontra-se no seu
poder medicinal, tão pouco conhecido pela população (41).
(38)
(39) FREITAS, 2006.
(40)
(41) FREITAS, 2006.
Ocupante de grandes extensões do litoral, sobre
dunas e planícies costeiras a área de restinga não
possui uma fauna e flora específicas, sendo ocupada
por animais e plantas típicas de outros ecossistemas.
É comum encontrar entre a flora algumas espécies
como Sumaré, aperta-goela, açucena, coroa-de-
frade, aroeirinha, figueira, angelim, de cactos,
orquídeas, bromélias, frutos comestíveis como caju,
mangaba, pitanga, araçá, etc. Dentre a fauna que
pode habitar essa vegetação encontra-se
caranguejos, maria-farinha, besourinho-da-praia,
coruja-buraqueira, viúva-negra, gavião-de-coleira,
gafanhoto-grande, barata-do-coqueiro, sabiá-da-
praia, perereca, jararacussu-do-brejo entre outros
(FREITAS, 2006).
De acordo com Roberto Lobato Corrêa (1992:29)
por meio ambiente se compreende, dentro da
geografia humana, o resultado material da ação
humana através do trabalho social, onde se refletem
os conflitos sociais de um lado e, de outro, o resultado
das forças produtivas, que geram novas tecnologias,
novos meios de produção de ambientes. Agregando
fixos e fluxos o meio ambiente é, assim, marcado pelo
indivíduo, por suas relações sociais e culturais,
mitos, símbolos, conflitos, utopias, ideais.
46
ap t
ul
o
1
|
P
a
g
e
n
a
t
u
r
a l
-
c
u
l
t
u
r
a l
r
a
n a
o
r â
n
e a
|
C
í
a
is
m
u b
li
t
Feitas as devidas considerações sobre o ambiente litorâneo, consideradas importantes para o
presente trabalho, que dedica especial atenção `a orla marítima, grande foi o interesse em
apresentar esse ecossistema sob a ótica ambiental-cultural. Cabe ressaltar que o ambiente
praiano é aqui compreendido como uma especificidade da orla marítima a ser trabalhada numa
escala local e intramunicipal. Entretanto, o grande interesse para o estudo neste ambiente se
revela na conformação de seu espaço físico-ambiental e cultural, onde atuam diferentes interesses
e usos que podem gerar graves conflitos socioambientais. Considerando o caso de estudo deste
trabalho, grande, também, é o interesse em dar maior ênfase a um dos maiores problemas que
vem afetando as zonas litorâneas atualmente: o turismo de massa. Atuando fortemente e, muitas
vezes, ferozmente sob inúmeras cidades, principalmente nas épocas de alta temporada, o turismo
litorâneo tem sido apreciado por muitos promotores públicos como fonte de atração e de renda
para a cidade. É isto que a seção seguinte vem desenvolver.
1.6 O Turismo e seus impactos
O turismo é a atividade econômica que tem se destacado no cenário internacional por apresentar
os mais altos índices de crescimento nas últimas décadas. Sendo a indústria que mais cresce
mundialmente, muitos países costeiros, tropicais e em desenvolvimento estão revendo suas
atuações para fomentar ainda mais o mercado turístico na tentativa de atrair maiores recursos
capitais (42). O turismo é principalmente um recurso natural de base industrial, e como tal, afeta o
ar, a terra e a água e pode ameaçar os sistemas naturais, se os seus planejamentos,
desenvolvimento e operação não forem bem manejados. Por outro lado, se desenvolvido de forma
sustentável, o turismo pode ser um ponto positivo pela conservação e proteção ambiental.
Segundo Paul Claval (1999) os tempos livres das pessoas muitas vezes são caracterizados por
momentos de repouso, distração e jogo. Neste campo, destacam-se as viagens que conseguem
(37) MORAES, 2007.
47
ap t
ul
o
1
|
P
a
g
e
n
a
t
u
r
a l
-
c
u
l
t
u
r
a l
r
a
n a
o
r â
n
e a
|
C
í
a
is
m
u b
li
t
combinar em conjunto os prazeres, as atividades físicas, os encontros, a contemplação das
belezas naturais, o comércio de obras-primas da arquitetura ou da arte, etc. Considerado pelo
autor como um dos campos mais importantes da civilização moderna, o turismo constitui nos
últimos anos como uma atividade em massa que desloca multidões, além de fomentar a economia,
gerando trabalho e renda.
Em situações gerias, o turismo não é bem manejado numa perspectiva ambientalista. Muitos dos
efeitos negativos estão ligados à construção de infra-estrutura geral, tais como, estradas e
aeroportos, e as suas facilidades: resorts, hotéis, restaurantes, shoppings, aulas de golfe e
marinas. Tais desenvolvimentos freqüentemente levam a impactos no meio ambiente, como
erosão do solo, incremento da poluição, descargas de lixo dentro do mar, perda dos habitas
naturais e, em conjunto, a perda da biodiversidade e ameaça a espécies em perigo de extinção.
Além disso, seu desenvolvimento é complexo e envolve diversos setores da economia além de
causar impacto direto sobre o modo de vida da comunidade anfitriã (43).
Para José A. Puppin de Oliveira (2001) o turismo pode gerar uma série de impactos negativos no
meio ambiente e na cultura local, ameaçando a própria indústria turística local a médio e a longo
prazos. Segundo Briassocilis e Van der Straaten (1992) destacam-se dois impactos da atividade
turística na qualidade ambiental. O primeiro refere-se ao tipo e à intensidade da atividade turística
de acordo com a quantidade de pessoas que visitam o local. O segundo diz respeito a capacidade
do ambiente em absorver e se recuperar dos impactos negativos impostos a ele.
Assim, o desenvolvimento de uma cidade não tem ligação somente com a melhoria do bem-estar
social, mas também com a mudança, seja mudança de comportamento e nas aspirações, seja no
entendimento do mundo em que se vive (44). Logo, a degradação ambiental, a deterioração dos
serviços e equipamentos públicos e privados, a massificação de grande parte da oferta, a falta de
integração no meio natural ou urbano constituem alguns dos pontos frágeis de uma oferta turística
que vem tentar atender a uma demanda cada dia mais desejosa por novidades e exigente por
serviços de qualidade.
(43)
(44)
MOWFORT; MUNT, 2006.
BARBOSA; ZAMOT, 2005.
48
ap t
ul
o
1
|
P
a
g
e
n
a
t
u
r
a l
-
c
u
l
t
u
r
a l
r
a
n a
o
r â
n
e a
|
C
í
a
is
m
u b
li
t
Mas, se o turismo é em planejado, feito, por exemplo, a partir de estudos de capacidade de carga,
estando apropriado ao lugar e `as circunstâncias locais, ele pode vir a contribuir para o
desenvolvimento sustentável do litoral marítimo. De forma geral, uma das características
positivas do turismo é que ele pode ser uma fonte renovável de renda para comunidades
litorâneas, e pode ser usado diretamente para subsidiar um manejo ambiental (45).
Zounaim e Cruz (2004) vêem o turismo como um potencializador da redução dos problemas
sociais. Isto seria viável através de uma vontade política dos gestores públicos; de uma gestão
social participativa que envolva todos os atores do processo de produção da atividade turística e
uma educação de qualidade, englobando uma alfabetização ecológica que tenha como prioridade
um desenvolvimento integral do ser humano, o senso de cidadania e a responsabilidade social;
uma gestão organizacional pública e privada que respeite e valorize o ser humano; e uma gama de
infra-estrutura física e social.
A Organização Mundial de Turismo (OMT) (46) propõe que, para se atingir aos anseios de um
desenvolvimento sustentável, um projeto deve ter por objetivos: melhorar a qualidade de vida da
comunidade receptora, prover experiência de alta qualidade para o visitante e manter as
qualidades ambientais, sociais e culturais tanto para a comunidade quanto para o visitante. Assim,
para garantir a sustentação e a vitalidade das funções econômica, ecológica e sociocultural no
espaço litorâneo de forma simultânea, tornam-se necessárias ações de planejamento e gestão
para a integração das mesmas, de modo a reduzir conflitos e eliminar antagonismos.
Segundo Claval (1999) as zonas montanhosas e litorâneas são as que mais atraem turistas,
tornando-se típicas para esta atividade, por serem zonas limites tanto fisicamente quanto
culturalmente. Como este trabalho tem por recorte espacial as praias, torna-se interessante
destacar a preocupação com o gerenciamento dessas áreas. Neste sentido, vale destacar que o
Gerenciamento integrado das zonas costeiras encontra suporte no âmbito internacional na Agenda
21, cap. 17 e em outros documentos da Organização das Nações Unidas (ONU), do qual o Brasil faz
parte.
(45)
(46)
BARBOSA; ZAMOT, 2005.
Para maiores informações acessar :
http://www.unwto.org/index_s.php.
49
ap t
ul
o
1
|
P
a
g
e
n
a
t
u
r
a l
-
c
u
l
t
u
r
a l
r
a
n a
o
r â
n
e a
|
C
í
a
is
m
u b
li
t
Após uma breve abordagem sobre uma das maiores problemáticas relacionadas a demanda e
infra-estrutura, a seção a seguir vem trabalhar especificamente com o turismo litorâneo.
1.7 O turismo litorâneo
O litoral tem sido um dos principais destinos dos turistas contemporâneos. Os atrativos litorâneos
que compõem sua paisagem natural-cultural, como, por exemplo: as praias de águas límpidas, os
ambientes “naturais” preservados, os recursos da pesca, a beleza da paisagem, etc., propiciam
uma grande diversidade de atividades de lazer e recreação propícias para a eleição desses
ambientes costeiros. Vale destacar que esses fatores atrativos também favorecem a prática do
veraneio como um fenômeno mundial, que vem ocasionando em todo o globo o surgimento de
áreas de segunda residência, uma problemática que tem sido combatida por alguns governos
locais (47).
Há algumas décadas que o turismo, o ócio e o recreio vêm se fixando como um referente muito
especial no litoral. Anualmente milhões de pessoas elegem por destino as costas litorâneas. Este
fato foi favorecido pelo surgimento dos períodos de férias, do uso massivo do automóvel e do
aumento de ingressos nas camadas mais baixas da sociedade. Muitos são os fatores atrativos que
levam essa demanda desfrutar dos vários recursos do litoral, mas nenhum outro como o binômio
sol/praia é mais evidente. Outras atividades como os esportes náuticos aparecem na raiz do
desenho de uma oferta recreativa complementaria (48).
Como o turismo não é uma atividade pontual, mas sim uma série de atividades interdependentes
de infra-estrutura de: rede viária, hoteleira, gastronomia, áreas de recuperação, etc., ele deve
possuir um planejamento adequado de forma a prevenir a degradação do meio ambiente e
comprometimento da qualidade de vida da população local e da própria atividade turística.
Segundo Muñoz (1994) é provavelmente o conjunto de subsetores relacionados ao setor turístico
(47)
(48)
Preocupada com as questões turísticas e
residenciais ligadas à praia, a lei noruega tem a
intenção de controlar o fenômeno das segundas
residências delimitando a faixa de praia de acordo
com seu interesse. Essa Lei de Planejamento e
Construção de 1985 resultou débil pela carência de
participação pública. Entretanto, a franja de 100
metros constitui um fator com intencionalidade
protetora. A Dinamarca surge como um dos países
com medidas legais mais restritivas em relação a
proteção do espaço litorâneo e seu uso público. A
Directiva de Planificação Nacional de 1981 proíbe a
construção de novas residências numa franja de 3
Km da linha da costa. Com esta medida o país
conseguiu diminuir entre os anos de 1986 e 1991 30%
das segundas residências, problema que
atrapalhava a dinâmica do município e que afetava
os ambiente costeiros (MUÑOZ, 1994).
MUÑOZ, 1994.
50
10
ap t
ul
o
1
|
P
a
g
e
n
a
t
u
r
a l
-
c
u
l
t
u
r
a l
r
a
n a
o
r â
n
e a
|
C
í
a
is
m
u b
li
t
das cidades ou as atividades econômicas nele geradas que vêm produzindo as maiores mudanças
e transformações no espaço natural-cultural litorâneo.
Particularmente, o litoral brasileiro vive na atualidade uma rápida inserção no turismo
internacional, além de um incremento do turismo em massa e do veraneio doméstico a partir da
década de 50 (49). Estes fatos têm ocasionado uma veloz ocupação e adensamento de localidades
até então isoladas e preservadas. Logo, projetos, que vêm sendo desenvolvidos para essas áreas,
têm por objetivos revitalizá-las e inserí-las dentro do contexto urbano-ambiental dito sustentável.
Segundo Vaz e Jackes (1999) a atual fase intervencionista nas cidades é marcada pela
“revitalização urbana”, que vem rejeitar os excessos do modernismo, recuperar os elementos
históricos, simbólicos, sociais e ecológicos do local, tornando-os compatíveis com o
desenvolvimento urbano. Visando o mercado turístico, procura-se investir em planos e projetos
que destaquem novos equipamentos de cultura e de lazer como forma de atender às novas
demandas existentes.
De forma geral, a possibilidade de recuperar a qualidade da paisagem litorânea implica na
promoção de sua recuperação ambiental e urbana e na recuperação ou criação de um parque de
uso extenso e de cunho ecológico, que além de conferir à água qualidades estéticas e de conforto
climático, propicia o seu acesso, uso e apropriação tendo o devido cuidado de prever a preservação
da vegetação que constitui as praias. Nesses anseios se enquadra, por exemplo, o waterfront (50)
ou mais especificamente, o passeio marítimo.
(49)
(50)
BERNARDES; FERREIRA, 2005
51
ap t
ul
o
1
|
P
a
g
e
n
a
t
u
r
a l
-
c
u
l
t
u
r
a l
r
a
n a
o
r â
n
e a
|
C
í
a
is
m
u b
li
t
1.8 O waterfront e o passeio marítimo
Segundo Paul Ryckbot (2005) um waterfront urbano se refere `a muitas propriedades que estão
adjacentes à água, seja um oceano, lago, rio, correntes podendo ou não ter uma ligação direta com
a água. Historicamente os waterfronts urbanos surgiram como centros comerciais onde se
utilizavam as águas como meio de transporte das mercadorias, como acontecem nos portos,
lugares de chegada, partida e troca de produtos. Nos séculos XVIII, XIX e princípios do XX, com a
Revolução Industrial, um aglomerado de indústrias começou a se instalar próximo a esses lugares
de troca criando, por conseqüência, as zonas industriais caracterizadas pelas construções grandes
e pesadas, tanto ao longo dos rios de cidades interioranas quanto nos grandes portos marítimos. O
autor cita cidades como Nova York, Boston, Chicago, Paris, Londres e Amsterdan como exemplos
de cidades que cresceram `as margens de suas águas e que se tornaram figuras proeminentes
entre as cidades que apresentam grandes centros comerciais.
No princípio do século XX os waterfronts começam a mudar. Os novos meios de transporte, como
os containers e os caminhões de carga que se multiplicavam pelas novas estradas criadas
permitiram o transporte de mercadorias por outros meios além daqueles aqüíferos. As indústrias
já não mais precisavam estar localizadas próximas a estas bordas marítimas, que até então
reduziam custos na transferência dos produtos. As áreas portuárias, por exemplo, foram assim
sendo, aos poucos, esvaziadas e começaram a entrar em decadência gerando malefícios `a
sociedade (51).
Nos últimos 30 anos, os waterfronts começaram a passar por outras alterações que têm por
intenção tentar solucionar as áreas degradadas como forma de fomentar o turismo na região.
Segundo Ryckbot (2005) qualquer cidade que pense em atuar ao longo de seus cursos d'água deve
primeiramente pensar a que se destinará a infra-estrutura a ser criada, bem como os usos que
qualificarão o setor e as outras atividades que recairão sobre ele.
(51) RYCKBOT, 2005.
52
11
12
ap t
ul
o
1
|
P
a
g
e
n
a
t
u
r
a l
-
c
u
l
t
u
r
a l
r
a
n a
o
r â
n
e a
|
C
í
a
is
m
u b
li
t
A rápida deteriorização que vem sofrendo o litoral nas últimas décadas, devido aos usos
indiscriminados de que tem sido objeto, tem produzido a real necessidade de proteger um meio
tão valioso e singular como o da franja marítima de nossas cidades. Em resposta a estas
inquietudes de ordenar o meio litorâneo com vista a sua proteção e acabamento das respectivas
bordas urbanas, tem-se materializado, nas últimas décadas, uma importante iniciativa de se
construir passeios marítimos que respondam a dupla preocupação litoral e urbana (52).
Por passeio marítimo Juan Trapero (1990) compreende o elemento de grande transcendência na
ordenação da cidade, podendo chegar a ser a via mais representativa da trama urbana. De acordo
com o autor os passeios marítimos possuem três significações:
. formal: constituem-se em elemento lúdico de contemplação do mar e da própria cidade, assim
como um elemento simbólico que serve para caracterizar a urbe e ressaltar seus valores através da
sua fachada mais representativa (aqui se insere o Projeto Urbano-ambiental de Costazul);
. funcional: elemento de relação cidadã de grande valor e concentra algumas atividades
fundamentais para a vida urbana (o espaço destinado ao Fórum da Cultura de 2004);
. estrutural: elemento relevante da estrutura da cidade, já que podem ser o nexo de união entre
zonas chaves da mesma (ex: Aterro do Flamengo no Rio de Janeiro).
(52) TRAPERO, 1990.
53
1413
ap t
ul
o
1
|
P
a
g
e
n
a
t
u
r
a l
-
c
u
l
t
u
r
a l
r
a
n a
o
r â
n
e a
|
C
í
a
is
m
u b
li
t
Os estudos de Trapero (1990) ainda apontam os objetivos da construção dos passeios marítimos
dentro da política de defesa do litoral. Estes objetivos podem ser resumidos em:
- a proteção da fauna costeira, que requer, de uma parte, impedir as agressões de distintos tipos
que os seres realizam sobre a costa e que são causa da perda da estabilidade das praias e, de
outra, recuperar as praias e áreas costeiras submetidas a processos agressivos;
- a materialização do limite do território urbanizado, delimitando definitivamente e positivamente
o âmbito costeiro do meio urbano e do urbanizado;
- a preservação do caráter público litorâneo, que requer a manutenção do domínio público,
defendendo-o das intenções de privatização inadequada e recuperar o caráter público quando este
estiver perdido.
Logo, a existência de um passeio marítimo serve para garantir:
- a facilidade de acesso público ao litoral;
- o uso público das costas e das praias, ao ser eixos principais de ordenação e dos usuários do
litoral;
- a consideração de obra pública, ao que deve assegurar a rentabilidade social da inversão.
Diante dessas constatações, grande é o interesse em constituir o passeio marítimo em uma obra
na qual se possa atribuir grande transcendência na proteção do litoral como elemento que impeça
futuras alterações na costa e que gere política de valorização da cultura local e trabalhe por ela.
54
ap t
ul
o
1
|
P
a
g
e
n
a
t
u
r
a l
-
c
u
l
t
u
r
a l
r
a
n a
o
r â
n
e a
|
C
í
a
is
m
u b
li
t
1.9 O passeio marítimo algumas atuações
Segundo David Mackay (2005) diversas alterações realizadas nas cidades surtiram no estímulo
para a recuperação da frente marítima, a morfologia, e a dinâmica da costa, as teorias urbanísticas
e a situação política, com o retorno da democracia. As mudanças sociais e culturais se tornam mais
fortemente evidenciadas no primeiro terço do século XX, onde o mar passa a ser considerado um
meio fácil para o transporte, no caso dos portos, e torna-se um lugar de recreio. Em Barcelona,
durante o franquismo tardio, o período de oposição ao regime e de preparação para uma
democracia conciliado a uma atividade acadêmica extremamente “fértil e pragmática”, resultou no
abandono um conceito de cidade como acumulação de funções separadas em detrimento do
conceito de “cidade como um todo e da recuperação de suas identidades formais.” Dentro de um
plano estratégico, almejou-se a construção da vila olímpica, que trouxe estrutura e identidade
cidadã em seus projetos.
Dentre os planos criados aqui merece destaque o
Pac del Litoral, uma franja de 2 Km de longitude
que compreende uma série de parques onde
cada um desempenha um papel distinto de
acordo com o contexto no qual se insere.
Situando-se numa área deteriorada da cidade,
esses projetos tiveram por vontade recuperar a
costa marítima - praias e passeios - para todos
os cidadãos e vincular a cidade ao mar.
55
1615
ap t
ul
o
1
|
P
a
g
e
n
a
t
u
r
a l
-
c
u
l
t
u
r
a l
r
a
n a
o
r â
n
e a
|
C
í
a
is
m
u b
li
t
Um outro exemplo de cidade espanhola é Torrevieja, Alicante, que aparece como outro ponto de
interesse no estudo de passeios marítimos. Ela foi objeto de um crescimento urbano desmesurado
que ocupou o máximo possível de seu território litorâneo chegando muito próximo ao mar. Na
tentativa de corrigir a escassez de espaço lúdico e a alta densidade de usuários em frente a sua
borda marítima a municipalidade decidiu criar um projeto que viesse ajustar a relação do número
de pessoas e o espaço disponível, bem como a seção da cidade em frente o mar. No ano de 1999,
foi inaugurado o projeto do Passeio Marítimo de Torrevieja, de Carme Piñoz Desplat, caracterizado
por seus espigões que abrigam piscinas de banho naturais, plataformas de madeira criando um
desenho da borda marítima (53).
(53) PIÑOZ, 2002: 38-43.
56
212018
19
17
ap t
ul
o
1
|
P
a
g
e
n
a
t
u
r
a l
-
c
u
l
t
u
r
a l
r
a
n a
o
r â
n
e a
|
C
í
a
is
m
u b
li
t
Já em Valencia, na Dehesa de El Saler, lugar que começou a sofrer com o planejamento turístico
para a área nos anos 60, surgiu um novo projeto para esta região no ano de 1997 que teve por
objetivos restabelecer o ecossistema natural e torná-lo compatível com a forte pressão turística.
Foram destinados acessos, derrubadas algumas construções como o dique, que foi substituído por
dunas, que desempenham o papel de proteção da região. Outros espaços foram planejados para
dar lugar as várias atividades, como piqueniques, estacionamentos, etc. (54).
O que se percebe são projetos que visam a reconstrução e revitalização de um espaço de beleza e
singularidade físico-ambiental e paisagística que
constituem o elo entre a cidade e o mar.
Aqui citei alguns projetos que ganham o cenário
internacional devido `as suas atuações estratégicas dentro
do contexto urbano. A seguir será destacado um outro
projeto mais abrangente e que vem desenvolver propostas
múltiplas na tentativa de articular e renovar áreas também
de interesse especial dentro das cidades.
Procurando articular a cidade com sua frente de água, melhorar e ampliar a infra-estrutura
existente, urbanizando as áreas degradadas, dotando neste espaço equipamentos comunitários e
turísticos de forma a gerar uma diversidade funcional, o projeto urbanístico de Recife-Olinda,
Brasil, prevê a criação de um contínuo urbano de 8 Km de extensão que ligará a Colina Histórica de
Olinda ao Parque da ex-Estação Rádio Pina, no Recife. Atuando numa área considerada degradada
ou rarefeita, almeja-se, com esse projeto, uma ligação da frente marítima com pontos estratégicos
visando o fortalecimento da rede cultural e turística na região, bem como a inclusão das
populações carentes através da regularização de assentamentos informais. A “Zona de
intervenção” envolve 12 setores que se distinguem entre si de acordo com a área onde atuarão e
com os objetivos pensados para cada uma delas. Além de valorizar o patrimônio cultural, o novo
projeto visa à proteção dos ecossistemas naturais. Assim, este projeto vem trabalhar com uma
gama de setores, desde portos e linhas férreas obsoletos `a áreas abandonadas (55).
(54) REGUERRA, Alfredo (2002: 18-23).
(55) FIGUEROLA, Valentina, 2006.
57
22
23
24
ap t
ul
o
1
|
P
a
g
e
n
a
t
u
r
a l
-
c
u
l
t
u
r
a l
r
a
n a
o
r â
n
e a
|
C
í
a
is
m
u b
li
t
Uma das críticas que mais se evidencia nesse
projeto é com relação à questão da especulação
que poderá atuar sobre as áreas a serem
revitalizadas, assim como o que ocorreu em
Barcelona. Segundo Afonso Orciuoli (2006) a
operação urbana para o Fórum Internacional das
Culturas em 2004 configurou um cenário elitista
ao ter encarecido o custo de vida na cidade, o que
segrega parte de sua população. Para o autor, a busca pelo mercado turístico atual em Barcelona
tem conferido a esta cidade um urbanismo espetacular que visa a renovação de suas ofertas para
um público desejoso por novidades. Dentre as novas construções que surgem nos bairros
próximos ao Fórum o que se pode perceber é que a exclusão social seguirá a especulação
imobiliária (56).
Além disto, os novos projetos implementados em Barcelona tem ido ao encontro da fabricação da
“cidade de lazer”, ou “city of leisure, que prevê a criação de espaços híbridos, dedicados ao
consumo, onde se torna difícil a leitura entre o público e o privado. As novas formas seguem estes
parâmetros gerando uma nova estética compositiva que visa atrair o olhar e o desejo de usar
através de uma forte influência sobre o julgamento ou percepção dos usuários. Miguel Pla (2002)
diz ainda em nota que os “desenhos espetaculares para espaços abertos encorajam o
consumismo”. Uma cidade média com status de metrópole, Barcelona necessita de uma boa infra-
estrutura e excelente comunicação, mas estas sozinhas não respondem às condições necessárias
para o balanço ecológico da cidade. Disse Pla (2002, p.): “O planejamento e o desenho dos
espaços públicos numa metrópole clama por muitas outras ferramentas com as quais o urbano, a
paisagem e o planejamento ambiental podem trabalhar”.
Segundo Mela (1999) a cidade é de fato um tipo particular de sistema biológico e que possui muitos
problemas e que, apesar de sua capacidade auto-organizativa, não poderá se organizar e
(56) Segundo Alfredo Mela (1999:180) a distribuição
espacial e o comportamento das populações
caracterizam sua morfologia social dentro da
peculiaridade da urbe na qual vive e convive. Logo,
as diferentes forças que atuam sobre o espaço podem
ser caracterizadas pelas ações que predominam em
determinados ambientes definindo a distribuição
dos diversos grupos sociais ou étnicos.
58
25
26
ap t
ul
o
1
|
P
a
g
e
n
a
t
u
r
a l
-
c
u
l
t
u
r
a l
r
a
n a
o
r â
n
e a
|
C
í
a
is
m
u b
li
t
desenvolver sem uma política ambientalmente correta que não explore de forma racional os
recursos ambientais existentes. Nesse contexto, a consciência da fragilidade do equilíbrio entre
cidade e ambiente produz efeitos nos movimentos sociais e nas políticas urbanas. Assim sendo, os
grandes desafios dos passeios marítimos a partir dos anos 90 é conceber caminhos de integração
total da riqueza dos espaços abertos da cidade dentro de sistemas que sirvam a usos ambientais e
sociais e assegurar a máxima diversidade. A conservação ou preservação das áreas onde se
encontram esses meios hídricos é, portanto, fundamentais para o equilíbrio da vida urbana.
Após a breve apresentação destes projetos pode-se dizer que Rio das Ostras vem ao encontro de
grande parte dos anseios procurados pelas mais diversas cidades no mundo. Esses projetos
configuram um cenário de vontades políticas e administrativas que vêm ao encontro das medidas
que estão sendo implementadas em Rio das Ostras. Passando por um processo histórico e cultural,
as alterações e construções da nova paisagem riostrense e a busca da melhoria da habitabilidade,
sustentabilidade e significação da imagem desta cidade, tem levado ao poder público municipal a
elaborar projetos urbanos nas áreas de borda que, ideologicamente, dependem da incorporação
de diretrizes ambientalmente desejáveis, compatibilizando as intervenções humanas com a
capacidade dos ecossistemas regionais na busca de se alcançar o equilíbrio ambiental e espaços de
integração social almejados (57). Deve-se atentar para atitudes equivocadas como fazer da
cultura local um objeto de consumo simplesmente, sem ao menos avaliar as consequências sobre
a comunidade anfitriã.
(57) PELEGRINO, 2000.
(58) HOUGH, 1998.
59
ap t
ul
o
1
|
P
a
g
e
n
a
t
u
r
a l
-
c
u
l
t
u
r
a l
r
a
n a
o
r â
n
e a
|
C
í
a
is
m
u b
li
t
1.10 O desenho e o projeto urbanos
É possível estabelecer relações entre os processos naturais, as pessoais, a economia, que
permitam reestruturar as cidades?
Hough, 1998
Apesar da cidade precisar ser um lugar em “balanço com a natureza” (58), o desenho urbano
convencional tem contribuído para a deterioração geral do ambiente deixando de reconhecer e
atuar sobre as relações entre as ações humanas e os sistemas naturais. Para Michael Hough
(1998) um bom desenho urbano constitui-se na arte e na ciência dedicados a realçar a qualidade
do meio ambiente físico da cidade, a proporcionar lugares civilizados e enriquecedores para as
pessoas que nele habitam. Dessa forma, o desenho urbano atual deve ser reexaminado para que
cumpra com seus objetivos teóricos devendo, por exemplo, haver uma redescoberta, através das
ciências naturais, ou seja, da “essência dos lugares familiares onde vivemos”.
26 A 26 B
60
ap t
ul
o
1
|
P
a
g
e
n
a
t
u
r
a l
-
c
u
l
t
u
r
a l
r
a
n a
o
r â
n
e a
|
C
í
a
is
m
u b
li
t
A função do desenho não é fazer das cidades somente atrativas, mas também fazê-las mais
adaptativas, mais fluidas, mais capazes de acomodar demandas de mudanças e circunstâncias
imprevistas onde novas espécies de discussão e conceitualização das condições práticas citadinas
devem ser pensadas (59). Para Paulo Pellegrino (2000) para se realizar um projeto urbano (60)
ideal é necessário incorporar diretrizes ambientalmente desejáveis para a melhoria da
habitabilidade, sustentabilidade e significação da imagem da cidade, onde a compatibilização das
intervenções humanas com a capacidade dos ecossistemas regionais são fundamentais para a
manutenção do equilíbrio natural.
O desenho de cidades começa com uma recognição do processo humano e não-humano inerente
que faz das urbes o que elas realmente são. Deve-se primeiramente compreender a natureza
como lugar, a fim de se concretizar mudanças que trabalhem com soluções do próprio ecossistema
(61) criando ambientes urbanos sustentáveis, ou lugares específicos, que estabelecem a
identidade regional (62). Assim, no planejamento urbano, o equilíbrio entre a conservação e o
desenvolvimento do território constitui uma pré-condição para a sua prática. Ao alcançarem
inúmeros objetivos desejados para a cidade, estes projetos podem, inclusive, se constituir em
exemplos de efeito demonstrativo ou multiplicador para outras urbes (63).
Segundo Frampton (apud del Rio, 1997, p. 710) a busca da revalorização da cidade como um todo
deveria estar baseada na criação do lugar através do estabelecimento de uma reflexão crítica
sobre o meio no qual se vai atuar, bem como criativa de forma a valorizar suas qualidades
intrínsecas. Uma saída para essa questão está na prática social para a qual devem ser
estabelecidos desenhos urbanos que atendam ao conjunto bem como respeite a individualidade
de seus cidadãos.
Sabendo que o projeto urbano visa uma estratégia de recuperação ou reinvenção de um conceito
atual de espaço coletivo na cidade, o setor público deveria dar o exemplo de saber incorporar-se
num projeto de espaço público ou coletivo dando lugar a um sistema de projetos urbanos
integrados com as políticas sociais, econômicas e culturais (64). Um espaço público não é um
(59) WALL, 1999.
(60) Segundo Josepa Bru (2002) um projeto se
configura em três sentidos: contexto, programa e
forma. O contexto limita um pouco a liberdade do
projetista, nele existem realidades complexas que
são consideras pela autora impossíveis de se
compreender apenas de um ponto de vista ou de
limitar-se `a ela `a princípio. O programa será
traçado de acordo com cada caso, segundo alguns
condicionantes. Já a forma se materializa na
magnitude, materiais e conceitos. Assim, a forma se
torna o campo mais abrangente e mais incerto no
momento em que trata de “interpretar conceitos e
imagens de referência do projetista que nos remete
de novo a condição e nos permite fechar o círculo
esclarecendo, diversificando e vitalizando cada
categoria posicionada com a realidade especifica de
cada um dos projetos” (2002:8).
(61) HOUGH, 1994.
(62) PLATT, 1994.
(63) PORTAS, 1996.
(64) FRANÇA; SANTOS, 2005.
61
ap t
ul
o
1
|
P
a
g
e
n
a
t
u
r
a l
-
c
u
l
t
u
r
a l
r
a
n a
o
r â
n
e a
|
C
í
a
is
m
u b
li
t
espaço residual entre ruas e edifícios como diz Borja e Muxí (2003), mas sim um espaço físico,
simbólico e político, no qual é presenciado o passeio, lazer e os encontros, vindo ainda ordenar as
distintas áreas da cidade dotando-lhes de sentido. Trata-se de um ambiente físico da expressão
coletiva e da diversidade social e cultural.
“A cidade-cidade é aquela que otimiza as oportunidades de contato, a que aposta pela
diferença e a mescla funcional e social, a que multiplica os espaços de encontro.” (Bordi Borja e
Zaida Muxí)
Numa época onde se discute a “homogeneização cultural global”, a valorização das especificidades
dos lugares surge como caminho para a criação de novas estratégias a serem alcançadas pelos
administradores públicos e a economia urbana. Assim, o que se percebe é, segundo Castells (65),
a reafirmação das tendências atuais de localismos de grupos políticos, étnicos, culturais e
religiosos. Para Vicente del Rio (1997) independentemente da visão que temos do lugar é o
desenho da paisagem que se estabelece enquanto um produto específico ou de processo contínuo
flexível de acordo com as alterações ocorridas ao longo do tempo para a afirmação do caráter da
cidade.
Como a paisagem dos espaços públicos (66) possibilita a percepção coletiva das cidades, onde
podemos nos encontrar, divertir e participar comumente de nossas vidas urbanas (67), é preciso
voltar grande atenção à ela uma vez que atualmente ela é tomada numa época na qual a imagem
visual e a experiência ocular tem atraído saliências extraordinárias na vida diária (68). Afirmando
que pessoas, naturezas e lugares são inerentemente interdependentes e fazem parte de um lugar
comum, o trabalho dos arquitetos paisagistas deve invocar e provocar uma responsabilidade nos
relacionamentos entre cultura, beleza, geografia e ecologia.
(65) apud DEL RIO, 1997.
(66) De acordo com Margarita Barreto (1996) o termo
público está associado a um conceito estatal e ao
próprio uso público. Foi no século XVII que apareceu
a distinção entre público e privado. A partir de então
“público” é tudo aquilo que está aberto à observação
de qualquer pessoa e privado está relacionado à
região protegida da vida, circunscrita à família e aos
amigos.
(67) HALPRIN, 1979.
(68) BORJA; MUXÍ, 2003.
62
ap t
ul
o
1
|
P
a
g
e
n
a
t
u
r
a l
-
c
u
l
t
u
r
a l
r
a
n a
o
r â
n
e a
|
C
í
a
is
m
u b
li
t
1.11 Espaço público: disposições para a costa marítima nacional
Compreende-se que o mar e as praias constituem bens nacionais de uso público e que merecem
ser colocados em discussão entre profissionais e o poder governamental para que os mesmos
sejam compreendidos dentro de seu papel vital e integrador. Segundo Luis Antônio de Souza (69),
ex-conselheiro do CREA-Bahia, “discutir a orla é discutir o espaço público. É discutir a relação entre
o espaço público e o privado tensionados por um sistema de construção de valores”.
Essa tensão presente no espaço público, neste lugar de oposições onde existe um conflito entre a
diferença e a possibilidade de coabitação (pacto), é muitas vezes realizada pela obediência à lei e a
seus limites onde a liberdade individual é limitada em detrimento do interesse coletivo. Logo,
contendo uma mescla social em primeira instância, um espaço público deve garantir o direito
cidadão no sentido de igualdades de apropriação entre os distintos interesses e faixa etárias dos
grupos sociais e culturais (70). Assim, o espaço público está relacionado com a questão da
cidadania (71).
Sendo um patrimônio da coletividade, o uso do espaço público deverá ser irrestrito à população
como um bem comum do povo. Essa concepção de lugar público tem referência direta a ação de
aceder a ele, ou seja, o espaço público deve ser acessível a todos os cidadãos, servindo de palco
para as trocas, os usos, as apropriações (72), as reuniões, o comércio. Nesta dinâmica de usos e
atividades e interação social, o espaço público torna-se um meio de sociabilização e de estímulo
para a troca, seja de produtos, de informação, de cultura e de capital, ficando sujeito a
determinadas integrações normatizadas e ações comuns materializadas nos modos de produção
atual dos distintos grupos sociais (73).
Segundo Albernaz (2004):o
O “espaço público não se refere apenas a um arranjo físico-espacial de aproximação coletiva, com
características próprias decorrentes de sua situação jurídica, urbanística e técnica. Ele é também
um espaço social que reflete processos mais abrangentes que ocorrem na sociedade, ao mesmo
tempo em que, em decorrência de particularidades e singularidades, possibilita e enseja
determinadas práticas sociais, econômicas e políticas.
(69)
(70) BORJA; MUXÍ, 2003.
(71) ALBERNAZ, 2004.
(72) Uso e apropriação do espaço são duas ações
distintas. O uso é “o atributo que irá integrar as
variáveis e tipologias ambientais e a análise
econômica, pois a ele estão relacionados tanto os
aspectos ambientais como os econômicos”; já a
apropriação relaciona-se com a propriedade, ou seja,
é o “atributo que permite a delimitação e
classificação dos espaços físicos da orla do ponto de
vista socioeconômico” (ALBERNAZ, 2004).
(73) ALBERNAZ, 2004, p.49-50.
63
ap t
ul
o
1
|
P
a
g
e
n
a
t
u
r
a l
-
c
u
l
t
u
r
a l
r
a
n a
o
r â
n
e a
|
C
í
a
is
m
u b
li
t
Sinteticamente, o espaço público é o lugar das interações políticas, culturais, sociais e econômicas
de uma determinada época. É palco de conflitos e de concessões, onde ocorrem as práticas da vida
social. Uma vez considerado contingente (como suporte para as práticas sociais) e contingência
(como condicionante para determinados processos exercidos nas esferas privadas) torna-se
cenário para a publicidade e para o reconhecimento. Assim, o grande número de atores envolvidos
no espaço púbico torna complexa a paisagem e a diversidade de manifestações, disputas e formas
de apropriação neste espaço comum.
Nestas alterações do espaço urbano deve-se analisar qual é o grau de interesse e de valor do
patrimônio cultural existente. Segundo Messentier (2004) a área objeto de intervenção deve ser
analisada e seu patrimônio avaliado segundo critérios de aproveitamento material com valor
cultural, que devem ser reciclados e reinseridos no contexto urbano como forma de qualidade
ambiental dos mesmos.
Considerando a paisagem ambiental-cultural como um patrimônio que reflete as características
físico-ambientais e o modo de vida de uma determinada população, por exemplo, como ela se
comporta diante de um bem que ela possui, é de grande interesse que projetos urbanos
adequados ao meio ambiente e aos interesses econômico-sociais sejam postos em prática de
forma que saibam valorizar os espaços hierarquicamente dentro de seu contexto. É importante
ainda que o desenho urbano venha a favorecer a apreensão dos significados patrimoniais tão
importantes na construção da memória social. O objetivo é que projetos sejam realizados de
formar a corrigir e alterar, sempre que necessário, determinados fatores que estejam agindo
negativamente sobre a percepção do valor patrimonial.
Como os processos de transformação do ambiente resultam em uma requalificação contínua do
espaço (74) e, portanto, da paisagem pela adição de novas formas de ocupação, pela criação de
lugares de interação social e de produção, com a construção de novos cenários, torna-se de grande
relevância entrar na questão da paisagem, tentar compreender os fatores que a envolvem e que a
configuram.
(74) Segundo Kevin Lynch, o ambiente se difere do
espaço por ser este projetável, enquanto o ambiente
pode estar condicionado, mas não estruturado (apud
ARGAN, 1995).
64
ap t
ul
o
1
|
P
a
g
e
n
a
t
u
r
a l
-
c
u
l
t
u
r
a l
r
a
n a
o
r â
n
e a
|
C
í
a
is
m
u b
li
t
1.12 A paisagem: processo e definições do termo
“A paisagem traz a marca da atividade produtiva dos homens e de seus esforços para habitar o
mundo, adaptando-o às suas necessidades”.
Paul Claval
Segundo Adrian Philips (2000), paisagem é muito mais do que a maneira como nós vemos o
mundo e de como um mero cenário e aparência. Sendo apreendida dentro de todos os nossos
sentidos, torna-se a soma de todas as alterações passadas no meio ambiente. Ela está onde o
passado e o presente se encontram e é universal. Segundo Anita Berrizbeta (1999) a paisagem
como processo é um dos paradigmas da prática pós-moderna na arquitetura paisagística
envolvendo teorias da fenomenologia, hermêutica, entre outras. Para Cosgrove (1999) a
paisagem hoje é ilimitada, flexível e móvel, composta de formas, conexões e espaços que não
podem ser contados com estruturas convencionais nem retardado de acordo a convenções de
distância como “aquilo que a visão alcança”. Assim a paisagem ultrapassa esse limite e mobiliza
matéria e mente, natureza e imaginação, espaço e técnica, em caminhos inédito e imaginativo.
Alguns podem ser os motivos pelo qual a paisagem demorou tanto a aparecer na agenda
internacional, uma vez que ela é universal e conceitualmente relevante. Pode-se atrelar esse fato
por ser a paisagem ser uma construção social, ou seja, ela é vista diferentemente em diversas
partes do mundo sob distintas óticas de valor e/ou respeito em cada sociedade. Um outro ponto se
releva por ser a paisagem um encontro de temas multidisciplinares e que une as ciências naturais e
sociais tornando-a domínio particular, mas, infelizmente, não a responsabilidade de cada indivíduo
(75). Por exemplo, quando não se preserva as características nativas de uma região em
detrimento de um paisagismo que em nada traduz ou respeita o ecossistema anteriormente
existente ou, ainda, quando se produz um ambiente que tampouco contribui para a preservação da
fauna e da flora da região.
(75) PHILIPS, 2000.
65
27
28
ap t
ul
o
1
|
P
a
g
e
n
a
t
u
r
a l
-
c
u
l
t
u
r
a l
r
a
n a
o
r â
n
e a
|
C
í
a
is
m
u b
li
t
Do final do século XIX ao meio do século XX a evolução do planejamento paisagístico foi como um
processo lento e fragmentado no qual novas idéias foram propostas e refinadas e outras foram
acrescentadas. Segundo Michael Laurie (1997), foi após a Segunda Guerra Mundial que jovens
arquitetos nos EUA, como Garett Eckbo, John Simonds, Lawrence Halprin, Dan Kiley, obtiveram a
compreensão, a análise do sítio e do programa requerido trazendo a paisagem para o cenário
investigativo.
Em 1986 presencia-se um aumento nas novas funções interdisciplinares nos Estados Unidos com o
Landscape Ecology” de Formans e Godron. O Landscape Ecology parece compreender a
estrutura, função e mudança na paisagem focalizando atenção na compreensão dela com relação
aos seus contextos cultural e social. Desta forma, fortalece a base teórica da ecologia pela
capacidade de planejadores e ecologistas compreenderem a paisagem em termos de
relacionamento entre três perspectivas inseparáveis: o aspecto visual, o aspecto cronológico e o
aspecto do ecossistema. A interpretação da paisagem por esta nova perspectiva permite que as
informações ecológicas sejam mais bem interpretadas tanto em paisagens profundamente
ecológicas quanto em paisagens que incorporam significado e um sentido de lugar. Destacam-se
nesta na linha americana Frank Golley, Edward Cook, Donna Hall Erickson, Jack acherm, Tom
Hunt, James Thorne, entre outros. A paisagem, assim, materializa um instante da sociedade e
integra-se ao território (76).
A paisagem como reflexo cultural foi trabalhada por J. B. Jackson, Yi-Fu-Tuan, John Stilgoe, Martha
Strawn, Denis Wood, Neil Evernden, Cotton Matter, entre outros. Esses propuseram diferentes
métodos teóricos do planejamento paisagístico que estão focados nos resultados metodológicos
das ideologias, finalidades e princípios do planejamento ecológico, explicando os relacionamentos
funcionais que permitem a aplicação do conhecimento dos processos humanos e naturais em
busca da solução entre o uso humano e o conflito na paisagem.
É importante frizar que apesar de Hough (1995, 1998) trabalhar na perspectiva de uma paisagem
construída a partir das características naturais existentes, a paisagem aqui ainda considera as
(76) MILTON SANTOS, 1996, p.69.
66
29
ap t
ul
o
1
|
P
a
g
e
n
a
t
u
r
a l
-
c
u
l
t
u
r
a l
r
a
n a
o
r â
n
e a
|
C
í
a
is
m
u b
li
t
experiências, os modos de vida anteriormente existentes e que influenciam diretamente na
construção do espaço dentro de um processo dinâmico. Assim, uma paisagem modificada pelos
seres humanos não constitui uma paisagem anti-natural, mas uma paisagem cultural que pode
atender tanto a requisitos de apropriação funcional, quanto estéticos e sócioambientais (77).
1.12.1 Paisagem urbana-cultural
Quando falamos em paisagem urbana se entende um conjunto de relações que definem uma
sociedade em um determinado momento e onde se percebe contradições e paradoxos na
percepção do meio ambiente, ou seja, uma desconsideração pelos problemas da própria cidade
versus uma preocupação que interaja ecossistemas e interesses humanos de forma positiva (78).
Hough compreende que o crescimento das cidades está diretamente relacionado à transformação
da sua paisagem circundante, portanto é a partir das características naturais paisagísticas que se
estabelece o caráter original, a essência de uma determinada cidade. Segundo Costa (1993) a
combinação das características naturais e culturais que contribuem em uma paisagem inclui
características físico-geográficas visíveis que refletem a cultura de seus habitantes. Como as
paisagens mudam à medida que as pessoas moldam os processos naturais, seja de acordo com os
ritmos dos mesmos, seja mais veloz que eles, criam-se as paisagens culturais reveladoras das
intenções humanas e dos processos naturais.
Torna-se relevante esclarecer o que se entende por cultura. Com relação a essa palavra Santos
(1997) propõe duas concepções: a primeira se refere a todos os aspectos de uma realidade social;
a segunda refere-se mais especificamente ao conhecimento, às idéias e crenças de um povo.
Diante dos muitos sentidos que a palavra cultura possui, aqui caberá o conceito utilizado por Vaz e
Jackes (2000:665) onde a “cultura passa a ser tudo aquilo que caracteriza um 'modo de vida' de
uma sociedade, seja esta 'civilizada' ou 'primitiva', urbana ourural”. Cabe ainda salientar que se
(77) CRICHINO, 2000.
(78) HOUGH, 1998.
67
ap t
ul
o
1
|
P
a
g
e
n
a
t
u
r
a l
-
c
u
l
t
u
r
a l
r
a
n a
o
r â
n
e a
|
C
í
a
is
m
u b
li
t
entende a cultura como algo dinâmico, e não estático, e que a própria forma de caracterizar uma
cultura é uma manifestação cultural (79).
Segundo James Corner (1999) a arquitetura paisagística não é simplesmente a reflexão da
cultura, mas um instrumento ativo na formação da cultura moderna. Torna-se de extrema
importância quando analisarmos o desenvolvimento humano dar atenção não apenas aos recursos
naturais, mas, também, `as relações sociais que se desenvolvem em determinada sociedade, ou
seja, `as relações culturais (80).
Segundo Mello (1991:52), na era pós-moderna, a consciência individual tem sido cada vez mais
“condicionada, selecionada, estereotipada e modelada pela cultura. A consciência espacial é
mediada pela carga de informações que o homem recebe através da educação informal do dia-a-
dia, da educação formal das escolas e dos meios de comunicação. A relação dos homens com os
lugares tem freqüentemente uma dimensão coletiva e assim os lugares podem ser convertidos em
símbolos de experiência comum que fomentam, por exemplo, a unidade e o orgulho patriótico.
Esse patriotismo pode estar relacionado com o sentimento de pertencimento a um determinado
lugar. Estabelece a partir de então uma sensação de posse, de enraizamento que traz o desejo de
zelo, de cuidado, de preservação pelo que se “possui”, pelo que existe, seja uma praça ou um
mobiliário urbano que a ocupa. Em grande parte os projetos de educação urbana contribuem para
essa intenção, pois direciona as pessoas a cuidar daquilo que elas possuem, seu patrimônio
público, contribuindo para a consciência social cidadã e para o espírito comunitário.
Um bom lugar seria aquele que pudesse estimular todos os sentidos humanos,
despertando a percepção de seus habitantes.
K. Lynch, 2001
O lugar é o somatório das dimensões simbólicas, emocionais, culturais, políticas e
biológicas.
Mello, 1991
Ana Fani Carlos (1996) define o lugar como o “produto das relações humanas, entre homem e
natureza, tecido por relações sociais que se realizam no plano do vivido, o que garante a
construção de uma rede de significados e sentidos que são tecidos pela historia e cultura
(79) COSTA; MONTEIRO, 2002.
(80) SANTOS, 1993.
68
ap t
ul
o
1
|
P
a
g
e
n
a
t
u
r
a l
-
c
u
l
t
u
r
a l
r
a
n a
o
r â
n
e a
|
C
í
a
is
m
u b
li
t
civilizadora produzindo a identidade. Aí o homem se reconhece porque aí vive. O sujeito pertence
ao lugar como este a ele, pois a produção do lugar se liga indissociavelmente à produção da vida”.
A sensação de identificação com uma determinada cidade por seu habitante está vinculada, por
exemplo, a sua localização e aos relacionamentos entre seus moradores (81).
Discutir a identidade e suas múltiplas faces aqui abriria um novo direcionamento a este trabalho, o
que não é do interesse dessa pesquisa. Segundo palavras de Bauman “No admirável mundo novo
de oportunidades fugazes e das seguranças frágeis, as identidades ao estilo antigo, rígidas e
inegociáveis, simplesmente não funcionam (33)”. Aqui será trabalhado com a identidade do lugar,
conceito aplicado por Kevin Lynch (1981).
Por identidade do lugar se compreende, segundo Lynch (1981), o significado que atribuímos ao
mesmo; é a identificação de uma área, sua diferenciação de outra, sua personalidade e
individualidade; indica uma particularidade oferecida por um objeto e demonstra alguma relação
estrutural com o observador e com os outros objetos que constituem o espaço. Quando as
alterações se produzem num ambiente de características comuns elas favorecem o
estabelecimento da identidade regional.
Mas estas alterações da paisagem que vêm sendo produzidas no tempo estão associadas às
alterações na forma de determinado lugar. Segundo Hough (1998) a forma de um lugar revela sua
história natural e humana, e o ciclo contínuo dos processos naturais. A forma urbana seria a
conseqüência de um constante processo evolutivo impulsionado pelas alterações econômicas,
políticas, demográficas e sociais que diretamente se relaciona com a cultura de um povo.
Tomando por base a compreensão de que o crescimento das cidades está diretamente relacionado
à transformação da sua paisagem circundante, é a partir das características naturais paisagísticas
que se estabelece o caráter original, a essência de uma determinada cidade. Assim, forma,
identidade, cultura e paisagem estão diretamente relacionadas e a alteração em alguma delas
produz efeitos nas demais gerando um ciclo infinito.
“a paisagem humanizada, a cidade e o território são fenômenos culturais.
Llamas, p. 68
(81) HALPRIN, 1979.
69
ap t
ul
o
1
|
P
a
g
e
n
a
t
u
r
a l
-
c
u
l
t
u
r
a l
r
a
n a
o
r â
n
e a
|
C
í
a
is
m
u b
li
t
A forma adquirida a partir das características físico-geográficas imprime a qualidade de vida
dentro da urbe, o sentimento de se viver nelas, seus pensamentos e sistemas de valores. Por isto é
tão fundamental o estudo da paisagem e das relações sociais existentes, que vêm sintetizar como
uma determinada população atua, pensa, vê, vive, vivencia seu habitat, revelando sua cultura,
seus pensamentos e valores.
1.12.2 A paisagem litorânea
A borda marítima está representada pela persistência de cada um de seus elementos, que
estabelecem as fronteiras, e do sistema em forma geral, que se organiza de acordo com as
mudanças ambientais existentes. Assim, os sistemas ecológicos se encontram organizados dentro
de um sistema local respeitando uma estrutura hierarquizada que configura seu entorno e
estabelece uma relação de interdependência entre seus elementos (82). Esses contextos criam
paisagens que podem ser compreendidas como sínteses de estruturas contíguas que se
encontram organizadas em seqüências escalares. Estas paisagens “abrigam uma infinidade de
espécies, fenômenos e aparências diferentes, e ainda desenham linhas e planos de
descontinuidade e se resolvem em formas nem sempre previsíveis” (83) .
E são nesses meios onde atuam respostas, meios de produção espacial e social que vão conferir
aos sítios suas particularidades caracterizadas tanto pela estrutura do ambiente quanto das ida e
de atuação criando a forma e estrutura espacial. Segundo Bru (2002) a imagem do ambiente onde
opera um projeto tem por base em três elementos: água, natureza e infra-estrutura. Categorias
que, não pensando na aparência de naturalidade, se fundamenta em “camadas” culturais.
Como este trabalho vem estudar as alterações na paisagem litorânea é importante dizer que a
forma da orla não define uma paisagem, pois representa apenas a configuração e relação do
suporte físico com os corpos d'água e o oceano, mas contribui significativamente para a definição
(82) BRU, 2002, p.8.
(83) BRU, 2002, p.8-9.
70
30
ap t
ul
o
1
|
P
a
g
e
n
a
t
u
r
a l
-
c
u
l
t
u
r
a l
r
a
n a
o
r â
n
e a
|
C
í
a
is
m
u b
li
t
de usos e para o planejamento da gestão. Assim, a paisagem litorânea é representada por um
conjunto de elementos interligados, no qual incluem-se: o suporte físico, as diferentes formas de
cobertura vegetal (nativas ou não), os assentamentos urbanos de todos os portes, além de áreas
de natureza especial, como portuárias, industriais e instalações militares isoladas; e o suporte
invisível, imaterial configurado, por exemplo, pelas experiências de vida que são geradas nesses
espaços.
1.13 Sustentabilidade - origem do termo
As percepções das paisagens sustentáveis estão começando a ligar as questões de identidade
através do movimento pela qualidade de vida, segundo a idéia de que uma comunidade define e é
definida pela paisagem e que a característica de uma reflete na característica da outra (84). Como
o desenho e o planejamento sustentável da paisagem buscam a redução dos impactos locais e
globais, tais como a criação de microclimas benignos , logo o conceito de sustentabilidade apóia-se
fortemente na consideração de fatores regionais como clima, geologia, hidrologia, história,
economia e inúmeros processos culturais.
O desenvolvimento sustentável é, em sua concepção mais genérica, todo o processo que busca
deliberadamente o logro simultâneo dos objetivos de crescimento econômico, equidade social e
conservação ambiental. Assim, é um conceito qualitativamente distinto do que se mede pelo
Produto Geográfico Bruto (PGB) e também diferente `a uma concepção estática de conservação.
As qualidades deste conceito levam à noção de que os ecossistemas têm certos “limites” que
devem ser respeitados, não obstante que estes possam expandir-se com os progressos
tecnológicos.
A palavra “sustain” possui dois significados principais: o primeiro é “suportar” (do latim sustinere),
o segundo é “prolongar” no sentido de agüentar durante um período de tempo (85). Logo, a
sustentabilidade urbana pode ser entendida em dois sentidos: o primeiro concerne a um processo
(84) ROE, 2000
(85)
71
ap t
ul
o
1
|
P
a
g
e
n
a
t
u
r
a l
-
c
u
l
t
u
r
a l
r
a
n a
o
r â
n
e a
|
C
í
a
is
m
u b
li
t
natural de um ciclo ordenado de transformação material e de energia; o segundo se refere ao
impacto das cidades no meio ambiente global, a questões de melhor aproveitamento dos recursos,
o que implicaria diversidade social e ecológica (86). Este conceito vem sendo amplamente
utilizado nos últimos anos para dizer que alguém está preocupado com o planeta no qual vivemos
em uma escala maior, ou com o meio no qual vivemos, numa escala menor. Durante os anos 60 a
percepção de que a qualidade ambiental e o desenvolvimento econômico eram incompatíveis
despertou o desejo de cuidar do meio ambiente de forma eficaz. Na década de 70 a miséria
humana e a degradação ecológica culminaram na Conferência de Stockolm que gerou uma
conscientização pública combinada com um crescimento do corpo político e legislação nacional e
internacional, além da inserção do meio ambiente nas agendas políticas resultando numa
globalização dos conceitos a respeito de sustentabilidade (87).
Em princípios dos anos 70, quando o Primeiro Informe do Clube de Roma apresentou os limites do
crescimento junto a outras publicações e acontecimentos, começou a entrar em juízo a viabilidade
do crescimento como objetivo econômico planetário. Segundo palavras de Ruano (1999) o
desenvolvimento sustentável vem proporcionar um “novo marco básico de referência para todas
as atividades humanas”, onde se deve manter a qualidade geral de vida, assegurar um acesso
contínuo aos recursos naturais e evitar a persistência de danos ambientais.
A definição geral oficial, aplicada pelo Report of the World Commision on Enviroment and
Development em 1972, caracteriza como sustentável “tudo aquilo que satisfaça as necessidades
básicas e aspirações do bem-estar da população do presente de forma a não comprometer a
possibilidade do estabelecimento das próprias necessidades e anseios das gerações futuras
através de impactos ambientais negativos”. Segundo Ruano (1999) esta definição torna-se
ambígua (88) por ser seu campo de atuação demasiadamente amplo e por não indicar caminhos
concretos de ação.
Ou seja, por uma parte evidencia uma maior preocupação pela saúde dos ecossistemas que
mantém a terra, e por outra a indefinição com que se trabalha esse termo emprega dúvidas a
(86) HOUGH, 1994.
(87) SELMAN, 2000.
(88) Em termos gerais Platt, (1994) já havia
atribuído ao termo sustentabilidade uma expressão
ambígua por não dispor de nenhuma dimensão
temporal, espacial, ecológica, tecnológica ou
administrativa.
72
ap t
ul
o
1
|
P
a
g
e
n
a
t
u
r
a l
-
c
u
l
t
u
r
a l
r
a
n a
o
r â
n
e a
|
C
í
a
is
m
u b
li
t
respeito de como funcionaria ou qual aspecto teria um assentamento humano sustentável como,
por exemplo, quais seriam essas necessidades e quem as definiriam: o mundo desenvolvido ou o
mundo em desenvolvimento? Como se mediria tudo isso? Essa definição ainda deixa margens para
que políticos e criadores de opinião a utilizem para reclamar uma correção ecológica que em boa
medida é falsa e vai a prol aos seus próprios interesses e não aos da comunidade.
Durante os anos 80, algumas organizações se destacavam ao tentar demonstrar que o progresso
econômico e a integridade ecológica foram inescapavelmente interconectados ao invés de
implacavelmente polarizados. Neste meio, destaca-se como principal corpo internacional para
conservação da natureza e uso sustentável dos recursos naturais, o World Conservation Union
(IUCN) (89). Já o World Commision on Protect Areas (WCPA) atua em parques nacionais, reservas
naturais, etc. (ROE, 2000). Após a aparição do Informe sobre nosso futuro comum (1987-1988)
coordenado por Harlem Brundtland no marco das Nações Unidas, foi colocando de “moda” o
objetivo do desenvolvimento sustentável (90).
A partir de então, as preocupações se estenderam e culminaram na Conferência das Nações
Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (ECO 92), que aconteceu no Rio de Janeiro em
1992, surgindo uma percepção de crise global e generalizada. Esta preocupação teve como
resultado a criação da Agenda 21 (91), que veio dar diretrizes para alcançar um desenvolvimento
sustentável no século XXI. Em 2002, concretizou-se a reunião Rio+10 em Johannesburgo, que
tem por desafios a erradicação da pobreza, a mudança de modelo econômico e a gestão ambiental
como vitais para se alcançar a sustentabilidade (92).
Ao englobar sistematicamente um conjunto de dimensões interdependentes, a aplicação do
conceito de sustentabilidade, desde o global até o mais peculiar, requer uma grande capacidade de
atuações e de alterações nas pautas de comportamento e nas ordens estabelecidas, assim como
no compromisso de todos os setores implicados. Por isso, diversos teóricos vêm desenvolvendo
estudos com base nesse conceito de forma a delimitá-lo e a proporcionar uma visão mais clara do
que deveria ser o papel dos representantes de cada comunidade e das mesmas em prol de um
(89) A IUCN define como “área protegida” (protect
area) uma área de terra ou mar especialmente
dedicada à proteção e à manutenção da diversidade
biológica e natural, e recursos culturais associados, e
controle através de meios legais ou outros de
significado efetivo. As áreas protegidas podem ser
estabelecidas segundo inúmeras propostas, tais
como a proteção das espécies ou ecossistemas,
cenário ou razoes paisagísticas, turismo e recreação,
pesquisa ou ciência educacional.
(90) NAREDO, 2004.
(91) A Conferência das Nações Unidas sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de
Janeiro, em 1992, aprovou um documento,
denominado Agenda 21, que estabelece um pacto
pela mudança do padrão de desenvolvimento global
para o próximo século. O resgate do termo “agenda”
teve como propósito a fixação, de fato, em
documento, de compromissos que expressem o desejo
de mudanças das nações do atual modelo de
civilização para outro em que predomine o equilíbrio
ambiental e a justiça social. Os países signatários
assumiram o desafio de incorporar, em suas
políticas, metas que os coloquem a caminho do
desenvolvimento sustentável.”“. O texto
apresentado acima foi retirado do documento
“Gestão dos Recursos Naturais Subsídios para a
elaboração da Agenda 21 Brasileira”. Disponível em:
<http://www.mma.gov.br/port/se/agen21/ag21bra/do
c/gestao.zip>.
(92) CASTIHO, 2004.
73
ap t
ul
o
1
|
P
a
g
e
n
a
t
u
r
a l
-
c
u
l
t
u
r
a l
r
a
n a
o
r â
n
e a
|
C
í
a
is
m
u b
li
t
convívio mais saudável com o meio ambiente no qual está inserido. Conceitos como ecourbanismo,
sustentabilidade urbana, entre outros exemplificam este campo de atuação, onde a gestão urbana
se torna um dos motores principais para a obtenção de respostas satisfatórias aos requerimentos
ambientais e sociais (93).
1.13.1 A Sustentabilidade urbana
Primitivamente, o termo sustentabilidade foi aplicado a uma variedade de contextos não urbanos,
particularmente agricultura, manejo de florestas, peixarias e aos recursos aquáticos. A literatura
desse conceito tornou-se mais vasto posteriormente com as reportagens publicadas “A State of
the world” e “World Recourses Institute” pelo Worldwatch Institute (94).
Platt (1994) identifica dois sentidos para a sustentabilidade urbana: produção e restauração do
fenômeno biológico remanescente, e processos dentro da comunidade urbana. Neste sentido as
comunidades ecológicas garantem um ciclo em ordem de transformações de material e de energia
regulando e amortecendo a superfície da terra ao encontro de violentas mudanças fisiográficas,
enquanto os indivíduos devem estar preocupados com o impacto da produção de suas atividades
nestes ecossistemas. Esta preocupação envolve atualmente questões de transporte, conservação
de energia, diminuição da poluição do ar e da água, reciclagem de material e nutrientes, e etc. (95)
O crescimento contínuo da população, o aumento dos ingressos e a expansão das atividades
industriais, turísticas e recreativas, ente outras, tem deixado em evidência as limitações dos
recursos naturais como insumos do processo de desenvolvimento e a necessidade de incorporar
estratégias de desenvolvimento sustentável em diversos âmbitos (96). No contexto urbano, o
trabalho humano deveria ser designado a produzir amplo proveito em qualidade ambiental e na
qualidade de vida global garantindo diversidade social e ecológica ao invés de caros riscos ao
ambiente, devidos aos precários sistemas de energia e produtos da vida urbana.
.
(93) CASTILHO, 1999.
(94) PLATT, 1994
(95) Incorretamente fazemos uma correlação entre
crescimento populacional e degradação ambiental
como fatores diretamente opostos. Como todo nosso
aporte técnico-cientetífico podemos fazer cidades
que mantenham seus ecossistemas em harmonia
dando continuidade à vida e explorando os meios
para obter recursos.
(96) EDELSBERG, 1996.
74
ap t
ul
o
1
|
P
a
g
e
n
a
t
u
r
a l
-
c
u
l
t
u
r
a l
r
a
n a
o
r â
n
e a
|
C
í
a
is
m
u b
li
t
A confluência dos usos e atividades nas grandes concentrações humanas de costa e o rápido ritmo
de crescimento populacional, unido as alterações constatadas no sistema econômico das últimas
décadas, explicam parte das tensões sofridas no seio dessas cidades e seus entornos
correspondentes. Tudo isso conduz `a procura de novos modelos qualitativos de relação e de
desenho funcional.
Uma das maiores tarefas dos profissionais de desenho urbano-paisagístico encontra-se na
preocupação e no trabalho com a natureza, ou seja, na criação de uma estratégia global para as
cidades que concilie objetivos sociais e ambientais, o que se denomina “cidade sustentável”.
Segundo Mela (1999) a relação cidade/ambiente pode ser estabelecida a partir de um sistema que
responda as seguintes necessidades: satisfazer as necessidades de seus habitantes; desenvolver-
se sem comprometer o sistema ecológico (estudos de capacidade de carga); e reproduzir os
recursos necessários para satisfação das necessidades futuras.
Assim, o autor sugere as seguintes medidas: em primeiro lugar, deve-se investigar e analisar os
recursos ambientais existentes que respondam `as necessidades para um desenvolvimento atual
quanto futuro. Depois, torna-se necessário um estudo analítico das atividades que atuam sobre
esses recursos, alterando-os sempre que necessário de forma a melhorar quantitativamente e
qualitativamente o impacto dessas atividades no meio sobre o qual atuam. E, por último, deve-se
definir o conjunto de agentes segundo modalidades de uso dos recursos, ou seja, de suas
capacidades reprodutivas.
Segundo Rheigants (2002) quando o meio ambiente é visto como processo de interação entre a
natureza e o sociocultural, respeitam-se as diferenças culturais existentes e somam-se as
questões consideradas para o desenvolvimento: educação, saúde, lazer, etc. Estas devem estar
fundamentadas em um critério interdisciplinar que leve em consideração o ambiente como um
todo, mas de modo a permitir a invenção e a criação espontânea bem como o desenvolvimento da
personalidade e do espírito de união de uma comunidade visando uma melhoria na qualidade de
vida (97).
(97)
RHEINGANTS, 2002.
75
ap t
ul
o
1
|
P
a
g
e
n
a
t
u
r
a l
-
c
u
l
t
u
r
a l
r
a
n a
o
r â
n
e a
|
C
í
a
is
m
u b
li
t
Logo, a capacidade de desenvolver atividades econômicas e, concomitantemente, sustentar a
vitalidade dos componentes e processos de funcionamento dos ecossistemas, através do cálculo
da vida útil ou a durabilidade natural, a avaliação do déficit ecológico ocasionado pelas atividades
humanas e a sabedoria para evitar impactos negativos ao ecossistema são hipóteses que
procuram ser alcançadas na sustentabilidade ambiental evitando afetar: a saúde, a segurança e o
bem-estar das pessoas, as condições estéticas e sanitárias do ambiente, e a qualidade dos
recursos naturais (98).
Uma das chaves para obter um resultado positivo em qualquer processo de ordenação ou
planificação dos espaços naturais litorâneos e marítimos aparece intimamente ligada ao conceito
de uso sustentável desses meios, onde a conservação e desenvolvimento podem estar
diretamente relacionados. Torna-se claro, nos dias atuais, que sem desenvolvimento econômico
uma sociedade dificilmente teria a capacidade de conservar seu entorno natural, logo a
interdependência desses fatores é extremamente necessária e: possibilita a integração com o
aparato produtivo prevenindo a extinção das espécies comerciais existentes; dota os espaços
produtivos de um valor educativo-científico (como os laboratórios ao ar livre); garante possíveis
benefícios econômicos e sociais; valoriza seu potencial de recreação e turismo. Todos estes
devem ter em conta o custo econômico da proteção (99).
Assim, o conceito de distribuição e uso justo dos recursos já é central na noção de
desenvolvimento sustentável onde a equidade, a capacidade de suporte da biosfera, o uso dos
recursos renováveis e não-renováveis, os fenômenos da natureza - El Niño, a Camada de Ozônio-,
a permacultura são temas sempre abertos a discussões e objetos de investigação (100). No meio
litorâneo aparece a cooperação da International Union for Conservation of Nature Resources
(IUCN) que trabalha em prol de sua proteção (101). Para Muñoz (2004) trata-se de uma das
melhores iniciativas neste sentido.
No Brasil, o Programa Nacional de Gerenciamento Costeiro e o Projeto Orla são exemplos de
iniciativas para responder adequadamente às demandas e problemas gerados no espaço
(98) NAKAMURA, 2006; HOLLAND; PRACH, 1994.
(99) BARBOSA; ZAMOT, 2004.
(100) BENSON; ROE, 2000.
(101) PHILIPS, 2000.
76
ap t
ul
o
1
|
P
a
g
e
n
a
t
u
r
a l
-
c
u
l
t
u
r
a l
r
a
n a
o
r â
n
e a
|
C
í
a
is
m
u b
li
t
litorâneo, a partir de propostas onde o ordenamento territorial e o disciplinamento de usos do solo
aparecem como eixo articulador das ações desenvolvidas localmente. É o que aborda o texto
seguinte.
1.14 O Projeto Orla
O Projeto de Gestão Integrada da Orla Marítima - Projeto Orla - é uma iniciativa do governo federal,
supervisionado pelo Grupo de Integração do Gerenciamento Costeiro (GI-GERCO) da Comissão
Interministerial para os Recursos do Mar (CIRM), tendo como coordenadores a Secretaria de
Qualidade Ambiental nos Assentamentos Humanos do Ministério do Meio Ambiente (SQA/MMA) e
a Secretaria do Patrimônio da União do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (SPU/
MP). Este projeto vem introduzir uma ação sistemática de planejamento da ação local visando
repassar atribuições da gestão deste espaço do governo federal para a esfera do município. Trata-
se, portanto, de uma estratégia de descentralização de políticas públicas enfocando um espaço de
alta peculiaridade natural e jurídica: a Orla Marítima. Soma-se, ainda, a incorporação ao contexto
da gestão integrada `a visão estratégica de planejamento e de busca de identidade local à solução
de conflitos, e à manutenção das riquezas naturais, culturais e sociais do litoral brasileiro.
77
_ Exemplo de proposta elaborada para a praia de Calhau
Situação atual
Praia limpa
Bares
construções leves
Casas de
pescadores Mata nativa
Situação desejada
Praia
problemas de
lixo e esgoto
bares
Residência
de veraneio
Novas casas de
pescadores mais
precárias Desmatamento
e poluição dos cursos
d’água
Praia
problemas de
lixo e esgoto
bares
Residência
de veraneio
Novas casas de
pescadores mais
precárias Desmatamento
e poluição dos cursos
d’água
Praia
problemas de
lixo e esgoto
bares
Residência
de veraneio
Novas casas de
pescadores mais
precárias Desmatamento
e poluição dos cursos
d’água
Situação possível
31 32 33
ap t
ul
o
1
|
P
a
g
e
n
a
t
u
r
a l
-
c
u
l
t
u
r
a l
r
a
n a
o
r â
n
e a
|
C
í
a
is
m
u b
li
t
A aplicação dos instrumentos e procedimentos técnicos do Projeto Orla, em especial aqueles
resultantes do diagnóstico e implementação dos planos de intervenção, tem por objetivo final
promover o alcance de benefícios nos três níveis de gestão territorial (102):
. a nível nacional: atender aos propósitos de uma ação convergente do poder público, no sentido
de valorizar o conceito do patrimônio coletivo da orla, revertendo a lógica da “privatização dos
benefícios e socialização dos prejuízos, dando um significado estratégico à formação da cidadania;
. a nível regional: permitir que o uso adequado da orla potencialize o ativo natural, como elemento
para o desenvolvimento do turismo, para a manutenção de recursos estratégicos e para a
implantação de infra-estrutura de interesse para o crescimento econômico regional;
. a nível local: valorizar a paisagem, os atrativos turísticos e a proteção física, como elementos
fundamentais para o convívio social da orla, propiciando a geração de pequenos negócios
compatíveis com a conservação e utilização sustentável da biodiversidade local.
Objetivo geral “dar uma nova abordagem ao uso e gestão dos terrenos e acrescidos de marinha
através da aplicação de diretrizes gerais de disciplinamento, buscando aumentar a
dinâmica de mobilização social neste processo e consolidar uma orientação
cooperativa e harmônica entre as ações e políticas praticadas na orla marítima”.
Objetivos
específicos
Fortalecer a capacidade de atuação e a articulação de diferentes atores do setor
público e privado na gestão integrada da orla, aperfeiçoando o arcabouço normativo
para o ordenamento de uso e ocupação desse espaço; desenvolver mecanismos
institucionais de mobilização social para sua gestão integrada; estimular atividades
socioeconômicas compatíveis com o desenvolvimento sustentável da orla.
Desafio Lidar com a diversidade de situações representadas pela exteno de 8.500 km de
faixa marítima e dos municípios litorâneos, que totalizam uma população em torno
de 32 milhões de habitantes; e com a crescente geração de conflitos quanto à
destinação de terrenos e demais bens sob o domínio da União, especialmente as
praias, espaços de convivência e lazer e de uso público.
Base legal * Lei 7.661 de 1988; Lei 9.636 de 1998; Plano de Ação Federal para a Zona Costeira.
(102) BRASIL, 2006a.
78
* Ver Anexo D.
34
35
36
37
ap t
ul
o
1
|
P
a
g
e
n
a
t
u
r
a l
-
c
u
l
t
u
r
a l
r
a
n a
o
r â
n
e a
|
C
í
a
is
m
u b
li
t
Tendo relatado grande parte do corpo teórico que vem delinear o perfil dessa pesquisa, a seguinte
seção tem por objetivo apresentar as categorias de análise que foram empregadas para uma parte
do estudo do caso referência deste trabalho. Elas têm por objetivo avaliar a “sustentabilidade” que
almejam para a nova orla de Costazul. Sua seleção levou em consideração alguns dos principais
pontos presentes no discurso teórico do poder público riostrense para a criação de um projeto
sustentável para a cidade e, por assim dizer, para a orla de Costazul. De modo a resumir esses
anseios e torná-los mais evidentes foi utilizado fatores que representam alguns dos valores para
um bom projeto urbano. Para isto me apoiei, também, nos escritos de Sòla Morales (2005) como
será descrito a seguir.
79
38
ap t
ul
o
1
|
P
a
g
e
n
a
t
u
r
a l
-
c
u
l
t
u
r
a l
r
a
n a
o
r â
n
e a
|
C
í
a
is
m
u b
li
t
1.15 Apresentação de algumas categorias para medir a sustentabilidade do Projeto urbano-
ambiental de Costazul.
De acordo com Hough (1995) os cursos d'água em suas variadas formas são fundamentais para o
equilíbrio ambiental e a sua utilização na construção da paisagem urbana deve expressar uma
intercomunicação entre forma urbana e meio ambiente. A preservação das áreas onde se
encontram esses meios hídricos é, portanto, fundamental para o equilíbrio da vida urbana (103).
Sabendo que a revalorização das paisagens às margens oceânicas normalmente induz ao
estabelecimento de novos usos e de novas atividades, que devem corresponder às necessidades,
desejos e expectativas dos seus usuários, torna-se importante estabelecer algumas diretrizes no
planejamento de projetos para esta área de limite entre cidade e mar.
Aqui é considerado como fundamental para a concretização de um projeto urbano sustentável o
trabalho com questões relacionadas à preservação e uso do meio ambiente, a visibilidade, a
legibilidade, a identidade do lugar e a acessibilidade. Acredita-se que esses fatores são
determinantes para se alcançar e medir a tão falada sustentabilidade para a orla marítima de
Costazul e, por isso, serão empregados como critérios para se alcançar os objetivos pleiteados
nesta pesquisa.
Acredita-se, neste trabalho, que a preservação de um ambiente está diretamente relacionado com
a possibilidade de seu uso, que para se preservar não é necessário trancar, isolar um espaço ou o
ambiente dos indivíduos. Mas, para isso, projetos devem ser pensados e executados de forma a
propiciar o melhor relacionamento entre o meio natural-cultural sob o qual se atua e os usos
destinados a ele. A diversidade de percepção, opinião e interesse sobre estas paisagens devem ser
privilegiados nos processos de planejamento e desenho dessas áreas (104). Para destinar usos
compatíveis com as características apresentadas nestes espaços são ditadas leis a fim de se
promover a conservação e a dinâmica através da promoção de uma utilização que dialogue com o
meio ambiente.
(103) COSTA E MONTEIRO, 2000
(104) COSTA, 1993.
80
ap t
ul
o
1
|
P
a
g
e
n
a
t
u
r
a l
-
c
u
l
t
u
r
a l
r
a
n a
o
r â
n
e a
|
C
í
a
is
m
u b
li
t
A visibilidade no meio urbano diz respeito à estratégica de sua utilização na promoção da
consciência e da responsabilidade ambiental (105). Essa consideração defendida por Hough
(1995), Lynch (1960) diz respeito, por exemplo, a necessidade de um novo simbolismo para a
água no meio urbano e do restabelecimento da identidade da água como um processo vivo nas
cidades.
A legibilidade é a facilidade com que o entorno ou uma forma urbana pode ser reconhecida,
organizada em unidades coerentes, apreendida e recordada. Estreitamente relacionada com a
legibilidade se encontra a imaginabilidade ou a capacidade que tem um elemento urbano de
suscitar uma imagem vigorosa em qualquer observador. Uma imagem de cidade eficaz seria
então, segundo Lynch (1960), aquela que favoreça uma boa compreensão e memória de um
determinado lugar, onde cada sítio possa expor sua individualidade, sua riqueza de significados.
Aqui também será trabalhada a identidade do lugar que é conceituada por Lynch (1981) como o
significado que atribuímos ao mesmo. É a identificação de uma área, sua diferenciação de outra,
sua personalidade e individualidade. Segundo o autor, a identidade do lugar está próxima da
identidade pessoal.
“En la identidad está su poder de sedución de las ciudades”, logo, está nos significados
misteriosos da urbe, nos lugares urbanos a sedução sobre a sedução das cidades.”
Manuel de Sola-Morales
A forma de se tocar na água trás um valor incomensurável para a vida urbana, por isso a
acessibilidade deve ter um papel tão importante e devem ser incentivadas através dos processos
de valorização destas áreas, variando conforme as características do lugar (106). Dentre todas as
categorias aqui empregadas, a acessibilidade se torna a mais extensa durante a discussão, pois
envolve uma série de fatores que são freqüentemente desprezados dentro do desenho urbano.
(105) COSTA, 1993.
(106) LYNCH, 1960.
81
ap t
ul
o
1
|
P
a
g
e
n
a
t
u
r
a l
-
c
u
l
t
u
r
a l
r
a
n a
o
r â
n
e a
|
C
í
a
is
m
u b
li
t
Soma-se a essas categorias o poder de seduzir, de atrair e de respeitar as diferenças como escreve
Manuel de Solà-Morales em “Cuatro paradigmas para un curso de ética urbanística” (107) sobre
os quatro princípios do espaço social nos quais é de grande valor concentrar a razão de ser e da
utilidade do urbanismo. Assim, Identidade, Sensualidade, Equidade e Diferença vem justificar a
existência de um campo de estudo e de proposição sobre o território construído.
1.15.1 A questão da acessibilidade
Falar em acessibilidade é falar na democracia da utilização do espaço público. Quando pensamos
em acessibilidade pensamos na possibilidade de entrar em um determinado espaço, usufruí-lo.
Porém, aceder a ele, considerado bem comum, pode passar por quatro fatores distintos: o
primeiro se refere a forma pela qual ele está aberto ao público, a facilidade em chegar e pisar em
seu território; o segundo diz respeito a possibilidade de visibilidade oferecida, como é trabalhada
essa abertura ao mar, ao horizonte; o terceiro corresponde ao poder de usufruir de todos os
serviços e/ou equipamentos oferecidos ao público em geral, uma oportunidade de ingresso de
todo cidadão `a praia e a seus bens; o último seria a possibilidade de adentrar, imergir e usufruir
das águas marítimas, ou seja, a responsabilidade de permitir a entrada `a água através de seu
cuidado e respeito que garantam sua qualidade e possibilidade de uso.
Ver o mar é um desejo que centenas e centenas de pessoas anseiam. Porém, pisar nas praias ou
tocar em sua água são outros fatores nem sempre possibilitados `a toda a população. Várias
podem ser as causas, como o meio de se chegar `a orla, a exclusão social através dos preços dos
produtos comercializados, da qualidade dos materiais e infra-estrutura empregados que não
viabilizam o adequado uso, da poluição e contaminação das águas principalmente no meio urbano,
por exemplo.
A sustentabilidade de um bom projeto urbano deve estar baseada nestes fatores que se
relacionam. Se o espaço público é para ser democrático, ele deve começar a possuir todos os
(107) SOLÀ-MORALES, 2005.
82
ap t
ul
o
1
|
P
a
g
e
n
a
t
u
r
a l
-
c
u
l
t
u
r
a l
r
a
n a
o
r â
n
e a
|
C
í
a
is
m
u b
li
t
acessos a praia. Exemplificando, a Praia do Flamengo é um patrimônio público da população e seu
acesso irrestrito são fatores positivos na cidade do Rio de Janeiro. Porém a “negação” às suas
água, devido à sua contaminação, produz uma perda irreparável neste ecossistema marinho e
para a própria sociedade. Dados comprovam o quanto é inadequado o uso e apropriação desse
bem tão precioso e que se encontra a espera de atitudes concretas de despoluição.
Ainda na cidade do Rio de Janeiro nada mais famosa que a sua princesinha do mar: Copacabana. A
praia de Copacabana tão conhecida internacionalmente é um dos principais cartões postais da
cidade e o uso de suas águas é permitido quase todo ano, salvo em condições climáticas não
satisfatórias. Porém, com as novas instalações de serviços oferecidos pelos novos quiosques
acabaram trazendo uma afirmação daquilo que antes já se via percebendo: a praia como um bem
de consumo de massa, onde poucos “podem” ter poder de acessibilidade a esses espaços públicos-
privados. Isto tem como conseqüência a inibição de se freqüentar esse ambiente, o que diminui o
uso da orla.
Esses são alguns exemplos do que se pode perceber em muitas outras cidades litorâneas tanto de
nosso país quanto do mundo. É preciso ter a consciência que a acessibilidade está muito mais além
do emprego de rampas de acesso ou elevadores. É preciso pensar na cidade para seu habitante,
seu usuário maior. É para ele que a cidade deve ser feita principalmente, resguardando seu
patrimônio ambiental e cultural através de um bom desenho e projeto urbanos que saibam ler as
reais necessidades de uma determinada cidade e sua população.
83
ap t
ul
o
1
|
P
a
g
e
n
a
t
u
r
a l
-
c
u
l
t
u
r
a l
r
a
n a
o
r â
n
e a
|
C
í
a
is
m
u b
li
t
Este capítulo iniciou com uma visão geral do processo de urbanização no litoral, que teve por
causa-conseqüência principal a colonização e as diversas heranças culturais aplicadas neste
território costeiro ao longo dos anos. Mostrou ainda que muitos dos problemas atuais do espaço
litorâneo estão freqüentemente relacionados com a decadência de áreas portuárias, pela intensa
urbanização que procura adensar ou explorar o máximo possível os terrenos adjacentes às águas
marítimas, e pelo turismo que se intensifica nestas áreas. Tudo isto pode estar caracterizado pela
forte atratividade que o mar produz, por sua imensidão, sua paisagem natural-cultural que
encanta e seduz, pelos momentos e atividades que são geradas muitas vezes na faixa de areia
aberta aos mais diversos tipos de apropriação. Discutiu diversas terminologias aplicadas à zona
costeira e aos conceitos sobre paisagem, cultura, sustentabilidade, espaço público que formam a
grande parte do corpo teórico que direciona este trabalho. E foi apresentado o novo modo de ver e
atuar sobre os espaços litorâneos e a sua importância na concretização de espaços públicos e de
arremate urbano. O contexto foi direcionado para aqueles projetos que têm anseios de atração
turística e de cunho ambiental-social.
Por fim, veio trabalhar com caracteres especialmente trabalhados pelo governo municipal de Rio
das Ostras como meio de concretizar projetos dito sustentáveis. Esses conceitos, aqui aplicados
como categorias analíticas, foram selecionados por estarem sempre presentes no discurso público
e serão empregados como forma de medir a eficácia entre teoria e prática projetual nesta
pesquisa. Assim, o capítulo seguinte tem por objetivo apresentar a cidade de Rio das Ostras dentro
de seu contexto histórico-cultural dando ênfase `as atuais transformações que passa seu território
através dos novos projetos implantados dentro de todos os segmentos: saúde, educação,
emprego, preservação ambiental, lazer, turismo. Esse novo contexto físico-urbano é favorecido
pelo novo momento econômico que passa o jovem município que vê na prática urbanística a forma
de alcançar um equilíbrio entre desenvolvimento econômico-social e de preservação ambiental.
Assim, são apresentados o novo modo de produzir em Rio das Ostras, os novos valores que se
evidenciam e a forte presença que impõe o mar para a atratividade desta cidade. Pretende-se com
isto demonstrar um pouco dessa relação entre homem e meio onde vive e atua.
84
ap t
ul
o
1
|
P
a
g
e
n
a
t
u
r
a l
-
c
u
l
t
u
r
a l
r
a
n a
o
r â
n
e a
|
C
í
a
is
m
u b
li
t
C A P Í T U L O 2
R I O D A S O S T R A S
uma pérola entre o rio e o mar
39
2.1 Apresentação
Rio das Ostras é uma das cidades que mais tem se destacado dentro da zona costeira fluminense
devido, em grande parte, às atuações de seus gestores urbanos, fato que se evidencia no mandato
consecutivo do ex-prefeito Alcebíades Sabino dos Santos (1996-2004). Riostrense nato, Sabino e
seus aliados desenpenharam uma forte política urbana caracterizada por medidas baseadas,
teoricamente, num urbanismo responsável e integrador. A posição geográfica, a proximidade ao
setor turístico da Região dos Lagos e do pólo petroquímico de Macaé e as características
paisagísticas desta cidade contribuem para essa relevância. De um lado o atrativo turístico que
leva um contigente populacional a conhecer esta bela região, de outro a forte economia que gera o
petróleo atraindo um outro público que vai `a busca de trabalho. O recebimento dos royalties de
petróleo, após sua emancipação, tem contribuído para o financiamento de projetos em todos os
setores da cidade caracterizando o novo momento econômico ligado a uma nova forma de
produzir. Assim, o presente capítulo vem apresentar Rio das Ostras abrindo campo para a
discussão sobre esta nova forma de pensar e atuar nesta cidade, que vive um momento de
explosão demográfica e financeira. Importância será dedicada `a borda costeira riostrense,
grande atrativo turístico e de recursos econômicos.
40
BÚZIOS
MACAÉ
RIO DAS OSTRAS
CASIMIRO DE
ABREU
2.2 Rio das Ostras
2.2.1 Localização
“Pérola entre o rio e o mar”
Alcebíades S. dos Santos
A cidade de Rio (108) das Ostras situa-se na extensa planície que se estende desde os
alinhamentos serranos da Serra do Mar até o Oceano Atlântico, distando 170 Km ao norte da
cidade do Rio de Janeiro. Formando parte da Região das Baixadas Litorâneas, tem como limites os
municípios de Casimiro de Abreu e Macaé e o Oceano Atlântico e seus principais acessos ocorrerem
através da Rodovia Amaral Peixoto (RJ-116) ou pela estrada Serramar (RJ 162) através da BR 101.
Em sua superfície de 230,62 Km², abriga a sede do município e as localidades de Jundiá,
Cantagalo, Mar do Norte, Palmital, Rocha Leão e Sapucaia (109). Juntas totalizam uma população
de 49.868 segundo dados do IBGE (2006).
(108) Rio das Ostras significa Rio Seripe (LIMA,
1998)
(109) PMRO, 2005.
Região das Baixadas Litorâneas.
Região das Baixadas Litorâneas
- Rio das Ostras
ap t
ul
o
2
|
i o
a
s
O
s
r
a s
:
um
a
r
o
l e
n
t
r
e
o
ri
o
e
o
ma
r.
|
C
í
R d t
a
87
41
44
42
43
ap t
ul
o
2
|
i o
a
s
O
s
r
a s
:
um
a
r
o
l e
n
t
r
e
o
ri
o
e
o
ma
r.
|
C
í
R d t
a
88
45
Provida de um clima tropical, quente e úmido e uma temperatura média anual de 22,6ºC, Rio das
Ostras reúne condições paisagístico-geográficas singulares marcadas pelo litoral de restingas,
manguezais, praias, lagoas, ilhas, rios. Sua orla marítima possui 28 Km de extensão entremeada
por praias e costões rochosos. Em seu relevo, aparecem os cordões litorâneos ou restingas
arenosas (110). As lagoas de formas alongadas ocorrem nas depreciações dos cordões litorâneos.
Os rios, em especial o Rio das Ostras, e as colinas para o interior do município somam o elevado
grau de diversidade biológica e endemismo de espécies, que atualmente se apresentam em
fragmentos espalhados, configurando a paisagem riostrense (111).
(110) Rio das Ostras, 2003.
(111) PMRO, 2006b.
ap t
ul
o
2
|
i o
a
s
O
s
r
a s
:
um
a
r
o
l e
n
t
r
e
o
ri
o
e
o
ma
r.
|
C
í
R d t
a
89
49
46
47
48
Suas condições geográficas contribuíram para o desenvolvimento histórico da cidade e da sua
morfologia urbana. A necessidade de cruzar o rio das Ostras por viajantes e comerciantes durante
o período canavieeiro, fizeram com que um pequeno núcleo urbano começasse a ser constituído
nas proximidades desse rio e do mar. A topografia praticamente plana favoreceu o
estabelecimento da malha quadricular (112) . As terras mais altas, como no Morro do Cantagalo,
zona rural da cidade, foram destinadas à produção de alimentos, hoje também explorada pelo
turismo rural.
A busca primordial de moradia ocorreu nos terrenos próximos a orla marítima e sua concentração
ao longo dos anos foi um dos fatores que culminaram na fundação da cidade de Rio das Ostras em
10/04/1992, ano de sua emancipação político-administrativo de Casimiro de Abreu (113) . Do
território citadino a frente marítima é a borda natural mais significativa para Rio das Ostras, não
apenas por sua beleza, mas por seu fator de atração turística e de capital para a cidade.
(112)
(113) PMRO, 2006b.
Muito é discutido a respeito da famosa malha
xadrez dos loteamentos que se multiplicam pelo
território litorâneo nacional. Ela exemplifica bem
essa desvalorização do sítio a ser ocupado, não
permitindo que o ambiente natural-cultural e o
antropotizado convivam da melhor forma possível
ap t
ul
o
2
|
i o
a
s
O
s
r
a s
:
um
a
r
o
l e
n
t
r
e
o
ri
o
e
o
ma
r.
|
C
í
R d t
a
90
50
51 52
(114)
(115)
(116)
(117)
(118)
(119)
(120)
Atualmente estes registros podem ser
encontrados no Museu Sítio Arqueológico Sambaqui
da Tarioba.
TAL, 2005-06.
LIMA, 1998.
TAL, 2005-06, p.13.
TAL, 2005-06.
LIMA, 1998.
TAL, 2005-06.
2.2.2 O processo de formação
A atual cidade de Rio das Ostras já foi conhecida como Rio Leripe, “ostra ou molusco grande”, de
acordo com o vocabulário dos índios Tamoios e Goitacazes que habitaram esta região, e como Baía
Formosa pelos navegadores que por aí passaram por volta do século XVI. Escavações no território
riostrense confirmam que estas terras já foram ocupadas há cerca de 4 mil anos por sambaquianos
(114), indígenas pré-históricos, um povo seminômade que vivia da caça e da coleta (115).
No século XVI, os Tamoios do Cabo Frio junto aos franceses lutaram contra o domínio português,
mas os indígenas terminaram massacrados. Posteriormente, os jesuítas e os capitães, que
lutaram junto à tropa portuguesa, pleitearam terras em Rio das Ostras e no norte-fluminense por
seus serviços prestados (116). Em 1630, foi cedida uma Sesmaria pelo Capitão-Mor Governador
Martin Côrrea de Sá e “delimitada com dois marcos de pedra colocados em Itapebussus e na
barreta do rio Leripe com a insígna dos jesuítas” (117). A sesmaria tinha como limites o Rio Iriri,
atual Rio das Ostras, ao sul e o Rio dos Bagres ao norte. Construções, tais como, o Poço de Pedras,
o cemitério e parte da Igreja de Nossa Senhora da Conceição (não terminada nesta época), são
relíquias históricas nas quais utilizaram mão-de-obra indígena e de negros escravos (118).
A partir de meados de 1731, Rio das Ostras ficou sobre jurisdição de Cabo Frio, o que comprova o
seu pertencimento à Capitania de S. Vicente até o final do século XVII, apesar de suas
propriedades terem sido apossadas pelos proprietários de S. Tomé. Em 1759, os jesuítas foram
expulsos do Brasil, o que favoreceu a posse das terras pelos sesmeeiros (119). A Igreja de Nossa
Senhora da Conceição foi então finalizada pelos Beneditinos e Carmelitas no século XVIII, porém,
na década de 50, esta arquitetura desmoronou sem deixar ruínas (120).
Os piratas eram outro tipo de população que freqüentavam as terras rioestrenses durante
investidas contra os portugueses, pois encontravam no rio das Ostras o lugar propício para
ap t
ul
o
2
|
i o
a
s
O
s
r
a s
:
um
a
r
o
l e
n
t
r
e
o
ri
o
e
o
ma
r.
|
C
í
R d t
a
91
53
(121)
(122)
(123)
(124)
LIMA, 1998.
O crescimento da indústria canavieira no norte
fluminense proporcionou o crescimento de muitas
cidades, inclusive de Rio das Ostras.
LIMA, 1998.
LIMA, 1998.
(125) MORAESa, 1996.
escapatória, seja por sua proximidade a Cabo Frio seja pela proteção natural que este rio
oferecia(121).
A partir do século XIX, Rio das Ostras deixa de ser apenas uma referência para fazendeiros para
tornar-se um pequeno arraial ou vilarejo, fato que foi favorecido pelo encontro de algumas rotas
que por seu território existia, tais como a estrada para a Barra de S. João, Rio Dourado e Macaé,
além de ser rota que ligava a produção canavieira (122) à até então capital do Brasil, o Rio de
Janeiro. Em 1877, é inaugurada a estrada de ferro Leopoldina, que interligou a capital ao norte
fluminense, ao Espírito Santo, à região das serras e a Minas Gerais terminando na cidade de
Leopoldina (123).
O desenho do atual município riostrense começou a ser traçado a partir da linha da praia, próximo
ao atual rio das Ostras, onde se localiza o Centro da cidade. Aí se encontravam o antigo Largo da N.
S. da Conceição com a igreja e a fonte de água potável que abastecia a população. O transporte da
cana-de-açúcar do norte fluminense, principalmente das fazendas próximas a Campos, fez de Rio
das Ostras uma das passagens e paradas obrigatórias por tropeiros que vinham de suas terras
rumo ao Rio de Janeiro. Ao terem de parar e preparar o transporte do gado para cruzar o rio,
começou a se constituir um pequeno núcleo nestas proximidades, onde existia policiamento para
garantir a travessia da mercadoria bem como para segurança de pequenos comerciantes dos
arredores (124).
Tornando-se terceiro distrito de Casimiro de Abreu em 1970, a atual cidade passou a evidenciar um
incremento populacional adquirido pela construção dos loteamentos de veraneio e pelos bairros de
invasão, tornando-se nítida a diferença quanto ao padrão das construções existentes. Porém, as
vias sem calçamento, a inexistência de esgotos, de galerias de águas pluviais, a indisponibilidade
de iluminação pública, o deficiente abastecimento de água somados ao baixo índice de arborização
eram evidenciados tanto na parte legal quanto na ilegal da cidade (125).
De meados do século XIX até a construção da Rodovia Amaral Peixoto em 1941, a cidade teve a
pesca como sua principal atividade econômica, tanto que a cidade foi apelidada de “Terras dos
ap t
ul
o
2
|
i o
a
s
O
s
r
a s
:
um
a
r
o
l e
n
t
r
e
o
ri
o
e
o
ma
r.
|
C
í
R d t
a
92
Peixes” (126). Essa rodovia favoreceu o turismo na região que passou a constituir uma das
principais forças econômicas da cidade. Porém, muitas reformas foram necessárias para que Rio
das Ostras afirmasse esse caráter turístico, pois até fins da década de 90 ela não provinha de
meios que favoreciam a atividade turística e à própria população (127). A falta de água e de
salubridade nos bairros mais carentes, o congestionamento na rodovia Amaral Peixoto, o intenso
tráfego nas ruas estreitas da orla marítima são fatos que se intensificavam e que se mantiveram
até pouco tempo atrás.
Além da construção da rodovia, a proximidade com a região dos Lagos e a instalação da Petrobrás
na cidade vizinha Macaé em 1978 contribuíram para o crescimento demográfico e econômico da
cidade culminando na sua emancipação de Casimiro de Abreu em 1992, o que gerou em Rio das
Ostras alterações nos seus quadros político, econômico e social. A partir de 1999, a cidade passou
a receber os royalties de petróleo e de gás natural da empresa Petrobrás, que explora o território
riostrense. Esses recursos elevaram enormemente as receitas do município ocasionando
mudanças socioeconômicas relevantes que vêm sendo marcadas no território como um todo
(128).
(126)
(127)
(128)
TAL, 2005-06
MORAESa, 1996
PMRO, 2006.
ap t
ul
o
2
|
i o
a
s
O
s
r
a s
:
um
a
r
o
l e
n
t
r
e
o
ri
o
e
o
ma
r.
|
C
í
R d t
a
93
54 55
No ano passado foi aprovado o Plano Diretor para a cidade de Rio das Ostras, que foi desenvolvido
com base em três pontos principais: fomento ao turismo, desenvolvimento de ciência e tecnologia
e preservação ambiental (129). Dentre os princípios que se destacam no Artigo 4 deste documento
e de interesse nessa pesquisa, destacam-se: a busca do direito universal à cidade,
compreendendo o direito à terra urbana, à moradia digna, ao saneamento ambiental, à infra-
estrutura urbana, ao transporte, aos serviços públicos, ao trabalho e ao lazer (inciso III); a
universalização da mobilidade e acessibilidade (inciso VII); a preservação e recuperação do
ambiente natural e construído (inciso IX); a participação da população nos processos de decisão,
planejamento, gestão, implementação e controle do desenvolvimento urbano (inciso XII); o
desenvolvimento econômico, social e ambiental sustentável (inciso XIII); a integração regional
(inciso XIV).
Nos Artigos 4 e 50 do mesmo documento, torna-se interessante citar os seguintes incisos, que
vêm esclarecer os objetivos da política de desenvolvimento econômico sustentável da cidade de
Rio das Ostras: a proposta de transformação do Município de Rio das Ostras em pólo turístico,
artístico e científico-tecnológico regional (inciso I, art 4); e o desenvolvimento de atividades
artísticas e culturais locais (inciso V, art 50). Esses incisos vêm resumir muitos dos interesses
públicos atualmente discutidos e empregados na cidade. Percebe-se que essas intenções vão ao
encontro de uma política de comprometimento e auto-envolvimento com o desempenho e a
legitimação de uma gestão organizacional que busca um desenvolvimento da cidade tanto para
manter as qualidades ambientais, sociais e culturais tanto para a comunidade quanto para o
visitante; não apenas uma melhoria do bem-estar social, mas, como diz E. Dudley (apud
BARBOSA; ZAMOT, 2004), uma mudança no comportamento e nas aspirações do mundo em que
se vive. Buscando a compreensão entre desenvolvimento econômico, social e cultural-ambiental
de uma cidade que vive um quadro de grande expansão financeiro-econômica, a seção a seguir
procurará discutir essas questões na tentativa de esclarecer muitas das alterações que vêm
passando a cidade de Rio das Ostras, onde se destaca os interesses relacionados ao turismo no
cenário atual da cidade.
(129) PMRO, 2006a
ap t
ul
o
2
|
i o
a
s
O
s
r
a s
:
um
a
r
o
l e
n
t
r
e
o
ri
o
e
o
ma
r.
|
C
í
R d t
a
94
2.3 Outras questões
O município de Rio das Ostras compõe hoje o quadro dos municípios que possuem uma das
maiores taxas de crescimento demográfico do estado do Rio de Janeiro, ou seja, 9% ao ano. Com
uma área urbana de 42,78 Km², o que compreende aproximadamente 18,5% de sua área total,
em 2002 abrigou 95% dos habitantes dentro dela, o que configura uma alta taxa de urbanização e
cria uma grande disparidade na concentração demográfica: a área urbana compreende 807,67
hab/Km² enquanto na área rural apenas 9,96 hab/Km². Porém, em períodos de alta temporada,
essa concentração urbana aumenta consideravelmente, caracterizando uma sazonalidade na
cidade (130).
O crescimento populacional da cidade tem como causa principal a proximidade física ao pólo
petroquímico de Macaé, que nos últimos anos também vem influenciando a instalação e
concentração de empresas, que atuam no apoio à atividade petrolífera em Rio das Ostras (setor de
serviços).
População residente em Rio das Ostras (1996-2007)
28.106
36.419
74.789
1996 2000 2007
(130) PMRO, 2005
Petrobrás em Macaé.
ap t
ul
o
2
|
i o
a
s
O
s
r
a s
:
um
a
r
o
l e
n
t
r
e
o
ri
o
e
o
ma
r.
|
C
í
R d t
a
95
56
Fonte: IBGE (2006)
Assim, “turismo e petróleo, indiretamente, movimentam o mercado imobiliário e geram serviços
ligados ao transporte, comércio e, principalmente, `a indústria da construção civil, que constitui a
base da economia informal local” (131). A pesca vem fechar o tripé das atividades que contribuem
para o recebimento das divisas da cidade.
Como apresentado no PMRO (2006b), o município de Rio das Ostras tem se beneficiado em grande
parte com os royalties do petróleo e tem crescido com o turismo além de atender às necessidades
básicas de sua população, uma vez que reformas e instalações de infra-estrutura vem sendo
realizadas. Vale destacar que todas essas reformas que têm ocorrido foram em grande parte
possibilitadas por essa nova fase econômica pela qual a cidade vem passando (132). No ano de
1999, o município faturou 17.714 milhões de reais, o que representa aproximadamente 46% de
toda a receita deste mesmo ano. Esse fato tem permitido que a administração municipal provoque
uma reforma urbana como um todo, a princípio guiada pela recuperação da questão ambiental e
depois pelo projeto que dialoga com o meio ambiente (133).
No Art. 10 do Plano Diretor de Rio das Ostras apresentam-se os objetivos gerais da política urbana
desta cidade, dos quais se destacam: o desenvolvimento sustentável de atividades econômicas e
sociais mediante sua diversificação, priorizando o turismo e outras atividade geradoras de
emprego, trabalho e renda (inciso I); a proteção ao meio ambiente (inciso III); a compatibilização
do desenvolvimento de atividades econômicas com a preservação e proteção ambiental (inciso
VI); a proteção ao patrimônio histórico, artístico, cultural e paisagístico (inciso VII).
Esses incisos vêm confirmar a nova forma de se pensar o espaço e a própria cidade no início deste
século onde atuam diretrizes que visam: promover a integração e a complementaridade entre as
atividades urbanas e rurais, tendo em vista o desenvolvimento sócio-econômico do município,
priorizando o Turismo como indutor e facilitador dessa complementariedade (inciso V); promover
a preservação do patrimônio natural, cultural, histórico, artístico, paisagístico, arqueológico e
arquitetônico do Município (inciso VI); fortalecer a identidade do Município, sua cultura, história,
paisagem, inclusive como meio de aumentar a atratividade turística (inciso VIII); fomentar a
(131)
(132)
(133)
PMRO, 2006b, p.16
) Segundo definição encontrada no glossário do
Plano Diretor de Rio das Ostras (PMRO, 2005): “Os
royalties constituem uma das formas mais antigas
de pagamento de direitos. A palavra royalty tem sua
origem no inglês royal, que significa "da realeza" ou
"relativo ao rei". Originalmente, royal era o direito
que os reis tinham de receber pagamento pela
extração de minerais feita em suas terras. No Brasil,
os royalties são aplicados quando o assunto é
recursos energéticos, como o petróleo e o gás natural,
sendo uma compensação financeira que as empresas
exploradoras e produtoras desses bens não-
renováveis devem ao Estado e cujo pagamento é feito
mensalmente. O Estado do Rio de Janeiro e seus
municípios (em especial aqueles que fazem fronteira
com a bacia de Campos, o que é o caso de Rio das
Ostras) são beneficiados com os royalties já que o
estado é o maior produtor de petróleo do país e possui
as maiores reservas nacionais do produto. Segundo a
ANP, os royalties são calculados mensalmente para
cada campo produtor (área produtora de petróleo
e/ou de gás natural a partir de um reservatório
contínuo ou de mais de um reservatório) através da
aplicação da alíquota sobre o valor da produção de
petróleo e de gás natural.”
PMRO, 2006.
ap t
ul
o
2
|
i o
a
s
O
s
r
a s
:
um
a
r
o
l e
n
t
r
e
o
ri
o
e
o
ma
r.
|
C
í
R d t
a
96
atividade turística (inciso XI); melhorar a oferta de equipamentos urbanos e comunitários, de
transporte coletivo de passageiros e outros serviços públicos adequados aos interesses e
necessidades da população e às características locais (inciso XV); fomentar a cultura em todas as
suas formas de expressão (inciso XIX); apoiar e incentivar a valorização e a difusão das
manifestações culturais (inciso XX); proteger os ecossistemas e os recursos naturais da Zona
Costeira com base nesta e na Lei Nacional nº 7.661, de 16 de maio de 1988, regulamentada pelo
Decreto 5.300 de 07 de dezembro de 2004 (inciso XXIII, ambos do Art. 11 do Plano Diretor de Rio
das Ostras).
A partir desses incisos, percebe-se a grande atenção dedicada ao turismo, que surge como
principal objetivo econômico a ser explorado, porque, segundo o próprio discurso do poder local, o
desenvolvimento dessa atividade deve ser ordenado e planejado de forma que, sustentavelmente,
possa ocupar o futuro espaço econômico deixado pelo fim da extração do petróleo na região.
“Estamos construindo uma cidade para o futuro, que pode ser desfrutada neste exato momento,
porque o progresso nos mostra todos os dias como é tênue o conceito de tempo” (134), disse o ex-
prefeito Alcebíades Sabino na época de início das propostas e projetos.
“O desafio atual é realinhar o crescimento do Município, sem que se
destruam os seus recursos ambientais, permitindo o desenvolvimento
econômico-social, enquanto houver o ciclo do petróleo, e garantir a sua
sustentabilidade após este ciclo.” (135)
Segue no Art. 52. do mesmo Plano alguns objetivos buscados pela Municipalidade quanto ao
turismo. Almeja-se “colocá-la entre os principais destinos turísticos estaduais, nacionais e
internacionais com vistas ao desenvolvimento do turismo de lazer, negócios e saúde e outras
modalidades similares como eixo do desenvolvimento sócio-econômico local.” As diretrizes para o
desenvolvimento do turismo estão presentes em seu Art. 53, dos quais se destacam: ampliar e
valorizar o acervo ambiental, cultural e histórico local (inciso I); promover o bem-estar dos
habitantes (inciso II); fortalecer o turismo dentre as demais atividades econômicas existentes no
Município (inciso V); promover e divulgar a cidade como produto turístico direcionado para
segmentos específicos, vedada à exposição da cidade na mídia do turismo de massa (inciso VIII);
(134)
(135)
PMRO, 2003
PMRO, 2005, p.190
ap t
ul
o
2
|
i o
a
s
O
s
r
a s
:
um
a
r
o
l e
n
t
r
e
o
ri
o
e
o
ma
r.
|
C
í
R d t
a
97
garantir a continuidade da prestação dos serviços públicos locais durante o período de alta
temporada turística (inciso IX).
Grande são os interesses em investir na orla marítima desta cidade, uma vez que ela se traduz
como o elemento mais cobiçado e atrativo aos turistas em geral, além de ser parte fundamental do
equilíbrio ambiental-urbano na região. Portanto, sempre procurando conciliar desenvolvimento
econômico com preservação, grande é a relevância do meio ambiente dentro da política riostrense
(136). Sabe-se que, a partir da década de 50, o núcleo urbano de Rio das Ostras começou a se
consolidar próximo `as suas praias, lagoas e foz do Rio das Ostras. Essa ocupação trouxe
externalidades negativas para seu meio ambiente uma vez em que foi realizado o aterramento das
áreas originalmente alagadas, drenagens, retificação do leito do rio e da redução dos ecossistemas
de restinga e de mangue. Com o crescimento urbano vertiginoso, a pequena porção desses
ecossistemas vem sofrendo sérios riscos devido à pressão imobiliária uma vez que grande parte da
vegetação nativa se localiza, por exemplo, próxima às margens dos limites urbanizados.
Um outro fator diretamente relacionado ao comprometimento desses ecossistemas e da
paisagem local da orla é evidenciado pelas invasões irregulares que contribuem para o
desmatamento, obras de terraplenagem, ocupação das margens dos corpos hídricos. Esta
ocupação desordenada, que caracterizou a falta de planejamento e controle da cidade riostrense,
tem exigido do governo municipal a legalização desses espaços ou o remanejamento de
população quando de interesse ambiental. A segunda residência, a necessidade de infra-estrutura
e os maus usos também são fatores que têm causado impactos na qualidade e integridade dos
habitas costeiros, principalmente por serem objeto de interesses imobiliários, que pouco tem se
preocupado com as características ambientais existentes.
Como forma de tentar amenizar e controlar este quadro buscando a manutenção da orla, ações
governamentais de gestão e de recursos de disciplinamento de uso e de ocupação do solo tem sido
conferidas `a faixa litorânea da cidade, por exemplo, a fim de se atingir um equilíbrio ambiental
dos ecossistemas e da paisagem natural. O parágrafo primeiro do Artigo 71 (137) do Plano Diretor
(136)
(137)
Grande parte desta sessão possui como
referência bibliográfica o Plano de Intervenção na
orla do Município de Rio das Ostras (PMRO, 2006b,
p.18-24)
Art. 71. § 1º “Constitui Área de Preservação
Permanente no Município de Rio das Ostras aquela
situada: nas restingas (inciso VIII): a) em faixa
mínima de trezentos metros, medidos a partir da
linha de preamar máxima; b) em qualquer
localização ou extensão, quando recoberta por
vegetação com função fixadora de dunas ou
estabilizadora de mangues; nas praias, em locais de
nidificação e reprodução da fauna silvestre (inciso
XIII).
ap t
ul
o
2
|
i o
a
s
O
s
r
a s
:
um
a
r
o
l e
n
t
r
e
o
ri
o
e
o
ma
r.
|
C
í
R d t
a
98
vem tentar trabalhar com essa questão do zoneamento ambiental, e o Artigo 72 (138) com suas
limitações e outras normas de conformidade de construção em áreas de preservação permanente,
caso no qual se insere o habitat da vegetação de restinga. Assim, no Artigo 13 (139), que trata do
aspecto ambiental, pode-se encontrar vários itens que exemplificam a nova postura do município
que busca essa integração entre homem e natureza.
Esses itens foram destacados de acordo com os interesses dessa pesquisa, que visa o estudo do
trabalho que vem sendo pensado e realizado para a faixa litorânea da cidade de Rio das Ostras, e
as alusões pertinentes `a ela. A atenção dedicada ao estudo do papel da população está mais bem
apresentada dentro dos projetos que se tem desenvolvido para a cidade do que na participação
popular em si, conforme dito pelo Sr. Maurício Pinheiro em entrevista. Segundo ele a população
ainda parece que não está pronta para o perfeito engajamento dentro da tomada de decisões, pois
vai discutir nas reuniões questões outras que não são pertinentes ao projeto em si. Porém,
segundo o discurso do poder local, a preocupação com relação aos munícipes está sendo em
grande parte trabalhada dentro do programa de Orçamento Participativo implantado em 1998 sob
coordenação da Secretaria de Planejamento. Segundo o governo local a cidade contava em 2006
com 15 setores, representados pelas associações de moradores que participam de forma decisiva
nas obras realizadas na cidade, fazendo valer as reivindicações da população (140).
Apesar da “ participação popular ser fundamental” ou do “cidadão ser o arquiteto de seu futuro”,
ainda faltam medidas práticas que possam possibilitar essas ações populares mais eficazmente.
Em grande parte, essa população vem sendo orientada para cuidar de seu patrimônio e reconhecê-
lo como bem público e de grande importância para o desenvolvimento e imagem da cidade. Pensa-
se que a educação e informação são fundamentais para o verdadeiro desenvolvimento ambiental e
social da cidade. Estas constatações podem ser comprovadas através do artigo 30 do Plano Diretor
(141).
De fato uma sociedade deve ser esclarecida e instruída quanto ao local no qual ela vive, necessita e
oferece de tal forma que ela possa se sentir parte integrante dele e contribuir para sua
(138)
(139)
Art. 72. § 1º “Na Área Urbana e de Expansão
Urbana do Município, em áreas urbanizáveis ou de
urbanização específica, poderá ser autorizada
excepcionalmente à supressão de vegetação em área
de preservação permanente mediante prévia licença
do órgão ambiental local [...]”
Art. 13. “A política municipal de meio ambiente
tem por objetivo a promoção de meio ambiente
ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do
povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-
se ao Poder Público e à coletividade o dever de
defendê-lo e preservá-lo para as atuais e futuras
gerações [...]”
(140) PMRO, 2006a
(141) Art. 30. “Todos têm direito à educação
ambiental, incumbindo: aos meios de comunicação
de massa, colaborar de maneira ativa e permanente
na disseminação de informações e práticas
educativas sobre o meio ambiente humano,
incorporando a dimensão ambiental em sua
programação” (inciso IV); “à sociedade como um todo,
manter atenção permanente à incorporação de
valores, hábitos e atitudes compatíveis com proteção
ambiental” (inciso VI).
ap t
ul
o
2
|
i o
a
s
O
s
r
a s
:
um
a
r
o
l e
n
t
r
e
o
ri
o
e
o
ma
r.
|
C
í
R d t
a
99
preservação. Gerar visibilidade a esse meio é um dos caminhos mais eficazes para se alcançar um
comportamento ambientalmente sustentável. Desta forma, as paisagens urbanas culturais podem
ser reveladoras das inter-relações entre as intenções humanas e os processos naturais, sendo
reconfiguradas com os valores que lhes atribuímos ao longo do tempo (142).
No artigo 31 do Plano Diretor, encontram-se os princípios básicos da educação ambiental que se
tem pensado para a cidade. Segundo os Incisos II e III respectivamente deste artigo, lêem-se os
seguintes princípios: a concepção do meio ambiente em sua totalidade, considerando a
interdependência entre o meio natural, o sócio-econômico e o cultural na perspectiva da
sustentabilidade para as atuais e futuras gerações; e o reconhecimento e o respeito à pluralidade e
à diversidade individual e cultural. Já no artigo 32 do mesmo documento encontram-se alguns dos
objetivos pensados para dar fundamento a educação ambiental na cidade. Segundo os incisos I, III
e IV tem-se, nesta ordem: o desenvolvimento de uma compreensão integrada do meio ambiente
em suas múltiplas e complexas relações; o estímulo e o fortalecimento de uma consciência crítica
sobre a problemática ambiental e social; o incentivo à participação permanente e responsável de
todos para a preservação e promoção do equilíbrio do meio ambiente.
Tudo isto está diretamente relacionado para o cuidado da paisagem existente na cidade, como se
pode observar o que se diz no artigo 39: “A proteção à paisagem tem por objetivo assegurar a boa
qualidade de sua dimensão ambiental, visual e estética a todos os munícipes, impedindo sua
degradação e permitindo a identificação do ambiente natural e cultural local”. E no artigo 40, inciso
IV: “são diretrizes da política de proteção da paisagem: promover programas de educação
ambiental para conscientizar a população `a respeito da importância de valorização da paisagem
como fator de melhoria da qualidade de vida e de incentivo ao turismo”.
Assim, fica claro o real interesse, ao menos legislativo, do poder municipal em tentar conciliar
preservação e uso dentro da cidade através da informação e orientação de sua população para o
cuidado com o bem público. Fica ainda subentendido que o governo local crê que preservação está
diretamente relacionada com o uso, e que a educação, orientação e sentimento de pertencimento
(142) COSTA; MONTEIRO, 2002, p.291
ap t
ul
o
2
|
i o
a
s
O
s
r
a s
:
um
a
r
o
l e
n
t
r
e
o
ri
o
e
o
ma
r.
|
C
í
R d t
a
100
de um ambiente por sua população é o caminho para se alcançar o objetivo futuro da
sustentabilidade, que articula valores ambientais, culturais, sociais e econômicos dentro dos
projetos que estão sendo pensados e implementados na cidade. A seguir, serão apresentados
muitos desses projetos de acordo com um critério de classificação dos mesmos dentro das
diferentes áreas em que atuam.
2.4 Projetos para a cidade
Segundo o Plano de Intervenção na orla do Município de Rio das Ostras (143) “a Prefeitura
Municipal de Rio das Ostras vem investindo em projetos urbanísticos elaborados de acordo com as
novas tendências, criando espaços que possam ser utilizados em atividades sociais e de lazer bem
como para valorizar o meio ambiente local”. Desde 2002, quando foi criado o Pro-Urbe Estudos e
Projetos Urbanos, através da portaria no. 23/2002, o município vem investindo, sem o apoio do
poder privado, mas a luz do olhar deste, no pleno desenvolvimento socioeconômico da cidade
através assessorias e orientação de projetos de urbanização.
Segundo divulgações da prefeitura, os grandes objetivos dessas intervenções urbanísticas são:
conservar as suas duas grandes 'dádivas': a natureza exuberante e a tradição histórica; preparar a
população futura para um alto padrão cultural; e tornar a cidade auto-suficiente em infra-
estrutura básica, tudo isto dentro de uma política de inserção da sociedade no novo contexto da
cidade (144).
Assim, destaca-se Rio das Ostras, que dentro de um cenário tão conflitante quanto o da questão
ambiental atual, vem tentando desenvolver projetos que mesclem desenvolvimento econômico
com preservação tendo por objetivos manter uma cultura-paisagística na região e uma melhor
qualidade de vida para seus habitantes, além de reforçar o turismo como atividade econômica de
grande relevância para a cidade. A seguir, estão apresentados, dentro de cada área de atuação
(143) PMRO, 2006b, p.11
(144) Rio das Ostras, 2003
ap t
ul
o
2
|
i o
a
s
O
s
r
a s
:
um
a
r
o
l e
n
t
r
e
o
ri
o
e
o
ma
r.
|
C
í
R d t
a
101
criada para facilitar a organização e compreensão, os projetos que estão sendo planejados e
implantados no território de Rio das Ostras, conforme segue (145):
Lazer/urbanização
Preservação
- Reurbanização de toda a orla central da cidade (Praia da Tartaruga, do
Centro, Virgens e Orla de Costa Azul fases 1 e 2), Praça da Baleia (Costa Azul) e da Lagoa do Iriry;
remodelação da Boca da Barra, antiga colônia de pescadores; Projeto Beira-rio (Colinas, Centro e
Praça Zózimo de Barros recuperação de áreas degradas do manguezal e reurbanização das
margens do rio das Ostras); centro de eventos de Rio das Ostras.
A Praça da Baleia e a Lagoa do Iriry constituem os limites físicos do projeto Urbano-ambiental de
Costazul. Elas serão apresentadas no capítulo seguinte.
- como parte de sua política ambiental, Rio das Ostras mantém uma postura de
criação de Unidades de Conservação (UC) - áreas com características naturais relevantes,
legalmente instituídas pelo Poder Público para proteção da natureza, totalizando 1.114 hectares
de áreas preservadas. As UC constituídas pelo município são: Área de Proteção Ambiental (APA) da
Lagoa de Iriry, Área de Relevante Interesse Ecológico (ARIE) de Itapebussus, Monumento Natural
dos Costões Rochosos (engloba as praias das Areias Negras, Brava e Joana) e o Parque Municipal
dos Pássaros, que abriga um Núcleo de Educação Ambiental e Centros de Pesquisa das Flora e
Fauna locais e do Manguezal de Rio das Ostras. Além de sua função principal, As UC também
atraem um turismo, que se almeja sustentável.
(145) PMRO, 2003, 2004a.
ap t
ul
o
2
|
i o
a
s
O
s
r
a s
:
um
a
r
o
l e
n
t
r
e
o
ri
o
e
o
ma
r.
|
C
í
R d t
a
58 59
57
102
Trânsito
Ciência, educação e Cultura
- A nova malha viária envolve abertura de novas estradas, pavimentação e melhorias em
mais de 70 Km pela cidade e envolve a duplicação da rodovia Amaral Peixoto, principal avenida que
corta toda a cidade; desafogar o trânsito intenso no Centro através da construção da Rodovia do
Contorno; criação do anel viário; além dos trabalhos nas RJ 106 e 162, na Estrada da Macuca, nas
rodovias vicinais e das inúmeras alamedas.
A principal via de acesso à cidade é a RJ 106 ou Rodovia Amaral Peixoto que atua como artéria
principal dentro do sistema viário da cidade conectando os bairros. Historicamente a cidade
cresceu em torno a essa via que se localiza no seio da urbe. Até o ano de 2004 foi o principal
caminho que conectava as cidades e regiões vizinhas. Com as alterações do sistema de transporte
foram realizadas reformas nesta rodovia e foi construída a Rodovia do Contorno, fora dos limites
urbanos, que possibilitou a alteração do quadro de congestionamento e acidentes freqüentes,
principalmente do Centro do município.
- Criação do Centro Integrado de Música e dança, do Aquário
Municipal, do Teatro Municipal, do Museu da Navegação, do centro de educação ambiental, de oito
escolas de ensino fundamental e um campus da Universidade Federal Fluminense (com cursos
como engenharia de pesca e engenharia de petróleo); Instituto Municipal de Educação.
A Fundação Rio das Ostras de Cultura foi criada em 1997 com intuito de fomentar o interesse pelas
artes e cultura no município. Ela coordena as seguintes unidades: Casa da Cultura Bento Costa
Júnior, que abriga o Museu do Sítio Arqueológico Sambaqui da Tarioba e o Centro de Memória
Documental, que fazem parte do Projeto Memória; a Biblioteca Pública; o Teatro Municipal; o
Centro de Formação Artística de Música; Dança e Teatro; a Sala da Cultura do Cinema; a Oficina
Escola Lutéria Rio das Ostras; o Centro Ferroviário de Cultura de Rocha Leão; a Fundição Escola de
Artes e Ofícios.
Rodovia do Contorno - inaugurada no final de
2004 - alternativa para desafogar o tráfego
intenso no Centro de Rio das Ostras. Conta com
um acesso na RJ-162 e outro, na Amaral
Peixoto, altura do acesso a Cantagalo.
RJ-162 - inaugurada em dezembro de 2004, as
obras de melhorias na RJ-162 incluíram nova
sinalização, e acostamento em todo percurso.
São mais de 8,5 quilômetros de obras, que vão
melhorar o trânsito e aumentar a segurança de
quem chega à cidade.
ap t
ul
o
2
|
i o
a
s
O
s
r
a s
:
um
a
r
o
l e
n
t
r
e
o
ri
o
e
o
ma
r.
|
C
í
R d t
a
103
60
Saneamento urbano
- construção do Hospital Municipal; abastecimento de água potável para toda
a população; construção da estação de tratamento de esgoto, do emissário submarino, do aterro
sanitário e da usina de triagem.
. Implantação do Aterro Sanitário e da Usina de Reciclagem
A preocupação com a saúde da população e com a preservação ambiental formam a base do
projeto da Central de Resíduos Sólidos da cidade, que envolve a criação do Aterro Sanitário, o
Centro de Educação Ambiental, o local de pesquisa e estudos aberto à comunidade, e a Usina de
Triagem, que atenderá o município pelos próximos 15 anos. A Usina deve ainda servir como posto
de trabalho 'as pessoas que tinham no antigo Lixão sua fonte de renda.
. Sistema de esgotamento sanitário
Desde ano passado que funciona na cidade um dos mais modernos e eficazes sistemas de
tratamento de esgoto: o “Geo Bags”. Este mecanismo opera como um sistema de
acondicionamento e desidratação de esgoto domiciliar e de estações de tratamento de esgoto
(ETEs) da cidade que trata conjuntamente o lodo e o chorume das águas residuais.
No artigo 15 do Plano Diretor fica claro essa preocupação da municipalidade com um dos seus
maiores recursos naturais: a água. Assim diz: ”São princípios fundamentais para a gestão dos
recursos hídricos no Município: a água é um bem de domínio público e destina-se prioritariamente
ao consumo humano” (inciso I); “a gestão dos recursos hídricos deve proporcionar o uso múltiplo
das águas” (inciso III); “a gestão dos recursos hídricos deve ser integrada com a gestão do uso e
ocupação do solo e do meio ambiente” (inciso IV). E, principalmente no artigo 16, que trata das
diretrizes para a gestão dos recursos hídricos: “preservar a quantidade e qualidade da água”
(inciso VII); “integrar a gestão dos recursos hídricos com os sistemas estuarinos e a zona costeira”
(inciso VIII).
Praia Virgem - Rio das Ostras
ap t
ul
o
2
|
i o
a
s
O
s
r
a s
:
um
a
r
o
l e
n
t
r
e
o
ri
o
e
o
ma
r.
|
C
í
R d t
a
61
104
Saúde
Atração de Investimentos
Dentre os projetos anteriormente citados, foram concluídas até o ano de 2006 as seguintes
obras: Lagoa do Iriry, a fase 1 do Projeto para a Orla de Costa azul, Praça da Baleia, Projeto da
Praça Mario Barreto (Beira-rio), da rodovia do Contorno, do Instituto Municipal de Educação 2004,
Hospital Municipal a sede da prefeitura, a malha viária da Rodovia do Contorno, a RJ 162 (12/2004)
com a nova sinalização, acostamento em tal percurso, mais de 8,5 Km de obras.
- Inaugurado em dezembro de 2004, o novo hospital municipal, projetado para ser um dos
mais modernos da Região, ocupa uma área de 7.800 m², no Parque Zabulão. O hospital vem
incrementar o sistema de saúde de Rio das Ostras que conta hoje com o Pronto Socorro Municipal,
o Centro Municipal de Reabilitação e mais 13 Postos de Saúde à disposição da população.
Habitação - criação de moradias para a população carente.
- Criação da Zona Especial de Negócios (ZEN), primeira Zona Especial
de Negócios do Norte Fluminense, com um milhão de metros quadrados de área, no limite com
Macaé, ao lado da base das operações da Bacia de Campos.
. ZEN Zona Especial de Negócios: instalada na divisa do município de Macaé tem por objetivo
facilitar a implantação de indústrias e empresas.
ap t
ul
o
2
|
i o
a
s
O
s
r
a s
:
um
a
r
o
l e
n
t
r
e
o
ri
o
e
o
ma
r.
|
C
í
R d t
a
105
2.5 A autonomia local
Segundo Jordi Borja (1996, p.87):
“a autonomia local tem sido entendida como a proteção legal da capacidade de se auto-organizar,
das competências exclusivas e específicas, do direito de atuar em todos os campos de interesse
geral da cidadania e da disponibilidade de recursos próprios não-condicionados. O princípio
legitimador é o da proximidade. Esta permite que a organização representativa e a estrutura
administrativa estabeleçam uma relação direta e imediata com o território e a população”.
Promover a realização de projetos que buscam responder aos desafios urbanos é o que o município
de Rio das Ostras vem tentando fazer nestes últimos cinco anos.
A partir de uma legislação vigente, que permite ao governo local atuar dentro de certas condições
no seu ambiente e com a sua população em prol dela e do meio no qual ela se insere e dos novos
recursos econômicos que o município tem recebido há menos de uma década, o governo riostrense
tem tornado seu território um verdadeiro laboratório urbanístico, onde procura atuar em todas os
setores: social, econômico, cultural, político, turístico, ambiental.
Ao contrário do que se discute atualmente a respeito da participação pública-privada para a
execução de projetos, o município riostrense tem arcado com todos os custos de financiamento de
elaboração, implantação e manutenção dos projetos que atingem a cidade como um todo. A
vontade de entrar nos espaços econômico-turísticos nacionais e internacionais, além do desejo
encontrados em seu discurso teórico de bem-estar e qualidade de vida para sua população tem
conferido ao governo municipal o papel de promotor, criando condições propicias para a atuação
dos agentes públicos ou privados.
Por este papel promotor se considera, segundo Borja (1996:89), a promoção da cidade a nível
nacional e, aos poucos, internacional, apoiada numa oferta de infra-estrutura e serviços que serve
como atrativo para a urbe investidores, visitantes e usuários que consumam e que fomente ainda
ap t
ul
o
2
|
i o
a
s
O
s
r
a s
:
um
a
r
o
l e
n
t
r
e
o
ri
o
e
o
ma
r.
|
C
í
R d t
a
106
mais a imagem da cidade do lado de “fora”; a promoção interna que crie em seus habitantes um
patriotismo cívico, alcançado através de obras e serviços visíveis que estejam focados na melhora
da qualidade dos espaços quanto do bem-estar das pessoas.
Afortunadamente, o acelerado crescimento populacional, que se evidencia nos últimos anos na
cidade riostrense, chegou praticamente junto com o atual momento econômico e de vida da
cidade, o que proporcionou ao governo local a tomada de medidas que trabalhem em prol de sua
população. Interessante é o fato de menos de 3% da população riostrense ser original desta cidade
já ano de 1999 (146), pois o discurso teórico é que esses projetos visam a criação e resgate de uma
identidade. Pergunto-me que tipo de identidade é essa que pensam em criar se a população, que a
cada dia chega à cidade em busca de melhores condições de vida, é proveniente de outras partes
do país.
De acordo com o que se tem produzido na cidade, é possível, em grande medida, que essas
reformas tenham sido objeto de interesses do próprio município para atrair investidores e
consumidores para a cidade. Projetos para uma população mais exigente, com nível escolar mais
elevado e que possui uma outra necessidade dentro da urbe ou um outro estilo de vida, distinto
daquele que a cidade oferecia. Todos esses fatores contribuem para a reforma urbana que ocorre
na cidade. Vale atentar que a imagem que se procura criar para Rio das Ostras é contrária àquela
anteriormente existente, na qual se evidencia uma cidade com escassas condições de salubridade,
com uma economia deficiente, bem como ausente de infra-estrutura adequada ao seu
crescimento.
Após o amadurecimento de outras questões, o assunto acima apresentado será discutido e terá
maior aprofundamento, pois merece uma maior reflexão. A próxima seção vem dar continuidade
ao estudo da cidade com especial dedicação a sua orla marítima, onde se encontra o caso
referência desta pesquisa.
(146) Entrevista concedida por Alcebíades Sabino
para a revista. In.: Rio das Ostras, 2003.
ap t
ul
o
2
|
i o
a
s
O
s
r
a s
:
um
a
r
o
l e
n
t
r
e
o
ri
o
e
o
ma
r.
|
C
í
R d t
a
107
2.6 Caráter da cidade
Sol, calor e praia constituem o tripé da atratividade que exercem as cidades turísticas litorâneas,
como em Rio das Ostras. Juntamente com a população que busca as praias, vêm os problemas
ocasionados pelos conflitos sociais gerados. A vegetação nem sempre ganha a disputa por um local
na areia, e compete com os lixos que contaminam as areias e as águas, e o som das ondas ao
quebrarem competem com o volume alto das músicas vindas dos carros a beira da praia. Lidar com
esses efeitos temporários não é tarefa fácil, principalmente para os moradores da cidade, que
sofrem junto com a degradação de seu ambiente.
Há algumas décadas que o turismo é a principal atividade econômica da cidade. Estando marcado
por dois períodos: baixa temporada (março-novembro) e alta temporada (dezembro-fevereiro),
outorga um caráter estacionário à cidade. Durante o verão, evidencia-se um incremento
populacional devido ao maior número de turistas e veranistas que aquece o comércio e gera uma
maior oferta de empregos diretos temporários, principalmente na área de hotelaria e restaurantes
(147). Porém, é nesta mesma época que surgem os maiores desequilíbrios no contexto urbano-
ambiental.
A fim de evitar um conflito maior, projetos estão sendo implantados nestas áreas como forma de
tentar conciliar o meio urbano e turístico estacionário ao litorâneo “natural”. Destaca-se entre
estes projetos o desenvolvido para a orla de Costazul, que vinha sofrendo os efeitos do turismo e
da falta de planejamento e que constitui o caso referência desta pesquisa.
Vale ressaltar que, nos últimos dois anos, a atratividade turística de Rio das Ostras está associada
`a uma vida urbana que já não se limita apenas ao período de férias escolares. A busca por afirmar
a condição de seu caráter turístico durante todo o ano vem com a promoção de eventos, como os
festivais de música, teatro, atividades de recreação e cultura, que diminuem os efeitos da
sazonalidade na cidade (148). Vale atentar que as pousadas de Rio das Ostras vêm sendo cada vez
mais ocupadas por funcionários de empresas localixadas em Macaé que as alugam, o que mascara
(147) Rio das Ostras, 2003
(148) PMRO, 2005
ap t
ul
o
2
|
i o
a
s
O
s
r
a s
:
um
a
r
o
l e
n
t
r
e
o
ri
o
e
o
ma
r.
|
C
í
R d t
a
62
108
o compromisso do município com o turismo, dando a falsa impressão de que aqueles
estabelecimentos estão sempre repleto de turistas.
2.7 Relação da cidade com a frente marítima
De forma lenta, Rio das Ostras foi fixando sua condição de cidade costeira. Sua atual relação com
sua frente marítima tem conferido a esta um destaque entre as cidades litorâneas mais
importantes do Estado do Rio de Janeiro. Na tentativa de preparar o município para toda alteração
que vem ocorrendo em seu território, que tem como causa principal a atratividade que a presença
da Petrobrás produz, e na busca de potencializar o caráter turístico de forma que este possa ser
fonte de renda futura quando a cidade não disponibilizar mais dos recursos dos royalties, os
promotores municipais vêm explorar as potencialidades da cidade através de projetos que têm em
seu discurso um contexto ambiental e social muito fortes.
Sua evolução histórica confere ao mar o principal atrativo da cidade. Assim, aproveitando as
condições geográficas e paisagísticas litorâneas, Rio das Ostras vê na sua costa marítima um dos
principais caminhos para alcançar seus objetivos. Atualmente, visando combater o processo de
degradação, que durante décadas veio sofrendo sua borda marítima, projetos de cunho
econômico-ecológicos vêm sendo desenvolvidos de forma a satisfazer as necessidades e
aproveitar as potencialidades de um local singular como o seu litoral, através de um planejamento
urbano-ambiental adequado aos mais diversos interesses.
Soma-se a estas medidas os projetos desenvolvidos para o tratamento de água residual da cidade
através da estação de tratamento de esgoto e do emissário submarino no quadro geral do cuidado
com a qualidade das águas marítimas urbanas. Com todos esses projetos a municipalidade vem
afirmar sua preocupação frente aos problemas que podem ser gerados pela falta de
responsabilidade ambiental no meio marítimo-terrestre e que podem trazer sérios prejuízos para a
própria sociedade.
ap t
ul
o
2
|
i o
a
s
O
s
r
a s
:
um
a
r
o
l e
n
t
r
e
o
ri
o
e
o
ma
r.
|
C
í
R d t
a
63
109
No Artigo 15 do Plano Diretor, percebe-se a preocupação da municipalidade com um dos seus
maiores recursos naturais, os princípios fundamentais para a gestão dos recursos hídricos no
Município: a água é um bem de domínio público e destina-se prioritariamente ao consumo humano
(inciso I); a gestão dos recursos hídricos deve proporcionar o uso múltiplo das águas (inciso III); a
gestão dos recursos hídricos deve ser integrada com a gestão do uso e ocupação do solo e do meio
ambiente (inciso IV). Neste contexto, Rio das Ostras vem desenvolvendo estudos e
implementando ações concretas em sua faixa marítima que dizem responder aos objetivos do
Projeto Orla. Áreas são delimitadas dentro deste território favorecendo ou não determinadas
atividades. Logo, são estabelecidas as zonas de proteção e de reservas ambientais que garantam a
preservação e recuperação da sua vegetação nativa de restinga, preservando conjuntamente a
fauna da região (149). Medidas integradas `a sua população são essenciais nesse sentido, pois
criam um sentimento de pertencimento aos novos projetos e orientam o cuidado para a
preservação do mesmo. Disse o Sr. Alcebíades Sabino: “As pessoas precisam criar vínculos com a
cidade. É fundamental incentivar o respeito à história e à memória do lugar” (150).
Diante das informações apresentadas, fica evidenciada a importância que se é dedicada à frente
marítima da cidade. Isto demonstra a responsabilidade e respeito para com um ambiente tão
singular e importante como o meio marítimo-terrestre. Pensar na qualidade da água, na sua
acessibilidade e na preservação de um ecossistema tantas vezes renegado por cidades tão
importantes, como o Rio de Janeiro, é um aspecto considerável da administração de Rio das
Ostras. Há algumas décadas que percebemos o abandono que o poder local e a própria sociedade
dedicam às praias cariocas. Pensar que uma cidade de incomensurável valor histórico-cultural-
ambiental ainda não é capaz de ver que um de seus maiores patrimônios, o mar, está sofrendo
sérios e freqüentes riscos por maus usos e descuidos. Como conseqüência, a própria população
fica desprovida do uso das águas marítimas devido `a contaminação produzida ao longo dos anos,
limitando sua acessibilidade. O que se constata é que cada vez mais esta mesma população precisa
ir mais longe em busca daquele ambiente perdido com os efeitos da má urbanização e utilização.
(149) PMRO, 2006b
(150) Entrevista concedida por Sabino. In.: Rio das
Ostras, 2003, p.7.
ap t
ul
o
2
|
i o
a
s
O
s
r
a s
:
um
a
r
o
l e
n
t
r
e
o
ri
o
e
o
ma
r.
|
C
í
R d t
a
110
64
65
É exatamente esse quadro que o município de Rio das Ostras, através de uma nova postura frente
ao seu litoral e às questões ambientais, vêm evitar. Para a cidade suas praias devem continuar
convidando de forma integral o seu uso e o seu fascínio.
2.8 A orla marítima da cidade
Os 28 Km de litoral de Rio das Ostras é constituído por onze praias sendo as do Abricó, do Bosque,
da Tartaruga, do Centro e da Boca da Barra de águas mansas. Na praia de Costazul encontramos
praticantes de surf e bodybording. As praias de Itapebussus e Mar do Norte são atrativos para
aqueles que desejam mais tranqüilidade e exuberância natural. Destacam-se ainda a Praia da
Joana, Virgem e das Areias Negras (151).
(151) Rio das Ostras, 2003; TAL, 2005-06
ap t
ul
o
2
|
i o
a
s
O
s
r
a s
:
um
a
r
o
l e
n
t
r
e
o
ri
o
e
o
ma
r.
|
C
í
R d t
a
111
65 A
Segundo informações encontradas em material divulgado pelo poder público municipal e
confirmadas em entrevista realizada com o Sr. Maurício Pinheiro, a borda marítima costeira será
palco dos investimentos relacionados ao resgate histórico e turísticos na região. A partir da Praia
da Tartaruga
“a cidade vai contar a história dos 500 anos do Brasil, através de projetos urbanísticos e objetos
arquitetônicos, como a escultura hiper realista de uma caravela, a repaginação de aldeias
indígenas, o resgate da cultura negra a serem trabalhados nas áreas de borda da orla. A maior das
atrações, porém, será o Aquário Municipal, uma atração turística científica e ambiental [...] `a
beira da praia do Abricó, na entrada da cidade” (152).
O primeiro projeto executado na orla marítima da cidade foi na praia de Costazul no ano de 2004. A
temática desse projeto tem por elemento o mar. Além de contar a história da pesca e do massacre
às baleias e fazer uma homenagem a baleia Jubarte, que acostuma passar durante o inverno nas
águas do Oceano Atlântico próximas a Rio das Ostras, todo o mobiliário urbano teve como fonte de
inspiração elementos marinhos (153).
O objetivo principal do projeto para Costazul é abrir o corredor ecológico que liga a Área de
Proteção Ambiental da Lagoa de Iriry ao Monumento Natural dos Costões Rochosos resgatando a
flora e fauna do local, conforme será apresentado mais adiante . A proposta paisagística teve como
essência o resgate da vegetação perdida, onde as manchas de vegetação nativa foram
preservadas (154).
Segundo definições encontradas no Glossário do Plano Diretor de Rio das Ostras, entende-se por
“Corredores ecológicos”: 1. As porções dos ecossistemas naturais ou seminaturais, ligando
unidades de conservação e outras áreas naturais, que possibilitam entre elas o fluxo de genes e o
movimento da biota, facilitando a dispersão de espécies e a recolonização de áreas degradadas,
bem como a manutenção de populações que demandam, para usa sobreviência, áreas com
extensão maior do que aquela das unidades. 2. Lei Nacional 9985/2000. Artigo 2°, XIX: porções de
ecossistemas naturais ou seminaturais, ligando unidades de conservação, que possibilitam entre
(152) Rio das Ostras, 2003, p.10-1
(153) PMRO, 2004b
(154) Siqueira, 2002
|
Capí
t
ul
o
2
|
i o
d
a
s
O
s
r
a s
:
um
a
r
o
la
e
n
t
r
e
o
ri
o
e
o
ma
r.
Rt
112
elas o fluxo de genes e o movimento da biota, facilitando a dispersão de espécies, a recolonização
de áreas degradadas, bem como a manutenção de populaçãoes que demandam para sua
sobrevivência áreas com extensão maior do que aquela das unidades individuais”. E no artigo 74
do Plano Diretor para a cidade encontra-se a seguinte definição: 'Os corredores ecológicos são
faixas de cobertura vegetal entre remanescentes de vegetação primária em estágio médio e
avançado de regeneração, capazes de servir de “habitat” ou área de trânsito para a fauna
residente nas áreas remanescentes.' De acordo com os parágrafos primeiro e segundo deste artigo
a recuperação das áreas degeneradas deve ser realizada com espécies nativas regionais e é de
dever do órgão ambiental do local as tarefas de localização, largura, implantação e definição dos
critérios de uso dos corredores ecológicos entre as áreas remanescentes.
Desta forma fica evidenciada a preocupação com a manutenção do ecossistema regional, sendo
este compreendido como de grande importância para a manutenção das características e proteção
da região. Relevância ainda é dedicada à preocupação com a vegetação de restinga existente,
degradada ou não, nas faixas de areia que formam as praias da cidade, ou seja, em grande parte
de sua orla marítima.
Dentro das responsabilidades de atuação para a preservação da orla marítima da cidade, incluindo
suas condições físico-ambientais, no texto apresentado pelo PMRO (2006b) se constata que a orla
de Rio das Ostras foi subdividida em duas unidades de paisagem principais:
- a Unidade de Paisagem (A): área semi-urbanizada plana com praia exposta, retilínea e de
areia grossa onde prevalece vegetação de restinga, manguezais e lagoas costeiras. Trechos 1, 2,
3, 6, 7, 8, 10 e 11.
- a Unidade de Paisagem (B): trecho recortado e predomínio de costões rochosos com
vegetação arbórea semi-residual entremeada por praias abrigadas com depósito de conchas,
apresentando Lages submersas e emersas, várias ilhas e manguezais. Trechos 4, 5 e 9.
ap t
ul
o
2
|
i o
a
s
O
s
r
a s
:
um
a
r
o
l e
n
t
r
e
o
ri
o
e
o
ma
r.
|
C
í
R d t
a
113
Essas unidades de paisagem conferem aos seus respectivos setores as medidas que poderão ser
aplicadas a eles de acordo com os interesses de expansão urbana ou de preservação das
características nativas regionais. O PMRO (2006b) ainda, seguindo a metodologia do Projeto Orla,
definiu, como mostrado nos limites abaixo, a orla do município riostrense. Os limites abaixo
relacionados foram adaptados e acrescidos na faixa continental de acordo com as características
físico e ecossistêmicas.
- 50 metros em áreas urbanizadas
- 200 metros em áreas não urbanizadas
- 10 metros em profundidade na faixa marinha
Dentro desses trechos é de grande relevância o que releva a praia de Costazul. A seguir será
apresentada brevemente a importância que desenvolve esse projeto dentro do cenário urbano
riostrense.
Mapa dos trechos da orla - 2003
Vegetação nativa
Assentamento rural
Lagoas e oceano
Rodovia Pavimentada
Rios e canais
Limite do rio
Trechos
ap t
ul
o
2
|
i o
a
s
O
s
r
a s
:
um
a
r
o
l e
n
t
r
e
o
ri
o
e
o
ma
r.
|
C
í
R d t
a
66
114
Orla de Costazul
2.9 Relevância do projeto da orla de Costazul
É por uma intensificada transformação que a cidade de Rio das Ostras vem passando nos últimos
anos. Compreender essas mudanças conjunturais (arquitetura, paisagem, cultura, infra-
estrutura) é parte dos objetivos deste trabalho. Isto porque, de acordo com informações já
apresentadas, o litoral aparece hoje como palco de muitos interesses e atuações. Rio das Ostras se
sobrepõe neste sentido ao dedicar especial tratamento a estes ambientes tantas vezes carentes
de atenção. A tentativa de compreender o seu ambiente litorâneo, de extrair o melhor dele e de
garantir acessibilidade à água também são alguns dos pontos a favor da eleição do marco espacial
deste trabalho.
De acordo com o discurso teórico dos autores dos projetos para a cidade riostrense, de
potencializar os espaços públicos urbanos na borda costeira de maneira a reforçar a relação da
cidade com sua frente marítima enriquecendo-a tanto para o habitante quanto para o turista, é
dever do município desenvolver um planejamento que possa conciliar as mais diversas atividades
e interesses de forma sustentável e que venha ocupar um espaço econômico a ser deixado pelo fim
da extração do petróleo na região (155).
De todos os projetos que estão sendo desenvolvidos e implantados na cidade e de acordo com os
interesses dessa pesquisa, destaca-se o projeto Urbano-ambiental de Costazul, região de mar
aberto, que se encontrava em um processo de expansão urbana que junto ao seu potencial
atrativo turístico intensificou o processo de degradação ambiental em sua zona costeira (156).
Este projeto vem, de acordo com os estudos em seu discurso teórico, resumir grande parte dos
interesses políticos e das transformações econômico-sociais na cidade além de responder aos
aspectos ambientais, culturais e sociais que o governo tem empregado. Por isto, o grande
interesse em efetivar um estudo neste lugar.
(155) PMRO, 2005
(156) PMRO, 2006c
ap t
ul
o
2
|
i o
a
s
O
s
r
a s
:
um
a
r
o
l e
n
t
r
e
o
ri
o
e
o
ma
r.
|
C
í
R d t
a
115
O presente capítulo veio apresentar a cidade de Rio das Ostras e sua relevância para a região onde
está situada. Foi realizada um breve análise da cidade, que procurou apontar fatos urbanos
relevantes para esta pesquisa, e diversos pontos relacionados ao novo modo de se produzir que
envolvem questões sociais, econômicas e ambientais. Estas questões foram levantadas a fim de
tentar aclarar, de forma abrangente, os novos pensamentos e a nova forma de se atuar sobre a
cidade, incluindo sua população. Dedicação especial foi dada ao turismo litorâneo, que fomenta a
economia da cidade e produz diversos conflitos tanto sociais quanto ambientais. Procurando
introduzir o interesse pela orla marítima foi desenvolvido um estudo sobre a mesma onde se
destaca, dentro de todas as obras que vêm ocorrendo pela cidade, o projeto para a orla de
Costazul.
Enfim, apresentando uma história sem grandes conquistas ou que apresente algum fato relevante
até finais do século XX, foi somente a partir de sua emancipação e das condições econômicas que
se evidenciam nos dias atuais que a cidade de Rio das Ostras vem atraindo a curiosidade de
estudiosos e investidores motivados pelas novas atitudes tomadas frente ao cenário político-
urbano. Destaca-se, assim, o Projeto Urbano-ambiental de Costazul que vem resumir muitos dos
interesses que se tem pensado e desenvolvido para a cidade dentro dos cenários político,
econômico, ambiental e social. O capítulo seguinte dedicará especial atenção a esta orla marítima
e a apresentação do projeto que está sendo pensado e desenvolvido para esta orla onde procurar-
se-á trabalhar com os diferentes interesses que levaram a este novo projeto.
ap t
ul
o
2
|
i o
a
s
O
s
r
a s
:
um
a
r
o
l e
n
t
r
e
o
ri
o
e
o
ma
r.
|
C
í
R d t
a
116
C A P Í T U L O 3
A R E V I T A L I Z A Ç Ã O D A O R L A D E C O S T A Z U L
valores e interesses
67
Apresentação
O Projeto Urbano-ambiental de Costazul é a primeira iniciativa do poder público municipal entre os
novos projetos que estão sendo desenvolvidos e implementados para a orla de Rio das Ostras.
Inaugurado no final de 2004, ele vem dar início `a materialização do novo momento econômico-
cultural visando explorar e reafirmar o caráter turístico litorâneo na cidade, além de refletir os
diversos valores e significados sociais e ambientais atualmente atribuídos a estas zonas de
arremate urbano. Esses valores e significados vêm sendo gerados, discutidos e evoluídos há algum
tempo e têm sido disseminados nos últimos anos por seus promotores que compuseram e/ou
compõem o corpo político administrativo do município.
O capítulo anterior relatou este processo, os objetivos a serem alcançados e que se apresentam
visíveis na atual estrutura física da cidade de Rio das Ostras em geral. Informou ainda que muitos
desses anseios políticos e de cunho turístico-ambiental, principalmente, podem ser claramente
observados nos espaços praiais tão procurados por diversas pessoas em seus momentos de ócio,
lazer e consumo.
A fim de organizar a etapa analítica desta pesquisa, que compreende os capítulos 3, 4 e 5, o
presente capítulo apresenta e discute o desenho do projeto pensado e implementado para a orla
de Costazul, por isso, será dada especial atenção à narrativa do poder público local e dos autores
com relação aos seus papéis e intenções para este projeto, que proporcionou a transformação da
paisagem urbana litorânea de Costazul criando uma nova imagem para a cidade de Rio das Ostras.
Busca-se, assim, uma comparação entre teoria e prática projetual existentes nessa faixa marítima
que foi possibilitada a partir do material divulgado pelo município ou com a parceria deste, das
visitas efetuadas no local e das entrevistas realizadas com dois dos autores do projeto
arquitetônico e paisagístico: senhor Maurício Pinheiro e Sra. Denise Pinheiro respectivamente.
Destacam-se, neste trabalho, os seguintes limites físicos: o loteamento Costazul e o mar e a praia
dentro da orla; e os Costões Rochosos, a Praça da Baleia, a Lagoa do Iriry no seu entorno. A seguir
será comentado cada um desses lugares que trazem um contexto único para esta região. Como o
loteamento de Costazul pode dizer muito sobre a conjuntura urbana em seu processo histórico-
cultural, ao explicar muitas questões sobre a ocupação deste território, será dedicada especial
atenção no momento de sua análise a fim de se traçar uma comparação entre o que se propõe para
os pontos de interesse dentro da cidade, marcados pelo planejamento estratégico e a sua área
imediata de entorno.
A apresentação segue uma linha no tempo. Primeiro, serão apresentadas as áreas de interesse
ambiental, consideradas como os monumentos do entorno e do local: o mar e a praia, o Remanso e
os Costões Rochosos. Em seguida, será dada ênfase ao loteamento criado, que trouxe muitos
conflitos para a região em si, e, por fim, uma atenção aos últimos projetos pensados para o entorno
como forma de se criar uma unidade entre eles.
|
Ca
p
í
t
u
l
3
A
r
e
v
i
t a
l
i z
a
ç
ã
o
d
a
o r
l
a
d
e
o
s t
a
z u
l:
v
alo
es
e
in
er
e
s
se
s
o|
C
r
t
119
3.2 A orla de Costazul e seu entorno
A orla de Costazul compreende seu estreito território marítimo, a faixa de areia com seus
ecossistemas, e, se seguisse medida considerada pelo PNGC, também parte do loteamento
Costazul, o que não é o caso. O loteamento Costazul é aqui considerado apenas como um limite
deste ambiente. Assim, esta orla tem por limites físicos o mar, a praia das Areias Negras, o
loteamento Costazul, e a praia de Itapebussus, que encerram esta orla dentro do cenário urbano.
Seu entorno guarda curiosidades que merecem ser apresentadas, pois mostram o espírito
integrador que almejam para a orla marítima desta cidade, a começar pelo Cordão Ecológico que
ligará a Lagoa do Iriry aos Costões Rochosos, composto por outras três praias.
69
|
Ca
p
í
t
u
l
3
A
r
e
v
i
t a
l
i z
a
ç
ã
o
d
a
o r
l
a
d
e
o
s t
a
z u
l:
v
alo
es
e
in
er
e
s
se
s
o|
C
r
t
120
68
3.3 O patrimônio natural-cultural do local
Em uma parte da cidade que se desenvolveu, mesmo que a partir de moradias de segunda
residência, pela atratividade exercida por características “naturais” paisagísticas do lugar, nada se
torna tão presente e monumental nesta área quanto os seus bens litorâneos: os Costões
Rochosos, e o mar e a praia que, diante de suas qualidades, importância e beleza, recentemente
são compreendidos e preservados como bens necessários ao equilíbrio ambiental e urbano.
Segundo José Llamas (2004, p.104) o monumento é “um fato urbano singular, elemento
morfológico individualizado pela sua presença, configuração e posicionamento na cidade e por seu
significado”. Constituindo-se como um elemento de permanência, ele persiste e resiste `as
transformações no tempo, mesmo após a perda de seu significado utilitário. Sua “imagem não é
marcada pela finalidade de seu uso, mas por sua significação social, histórico ou cultural.
3.3.1 O Monumento Natural dos Costões Rochosos
Os Costões Rochosos de Rio das Ostras é o único monumento natural de costão rochoso
conservado e preservado em todo o território nacional (157). Além de todas as suas características
físico-ambientais, este monumento constitui um mirante de onde se pode observar uma bela vista
da praia de Costazul, principalmente da área do Remanso com toda a sua nova infra-estrutura.
Dele, a linha do horizonte se torna ainda mais majestosa, sintetizando a paisagem marítima.
O projeto para os Costões Rochosos propõe sua preservação junto ao seu uso, segundo as
intenções do poder público. Um largo acesso foi criado próximo a Praça da Baleia, que vem ligar o
passeio marítimo a este monumento natural, de onde se abre um mirante para o mar. Os visitantes
ainda podem percorrer todo o local caminhando por entre as pedras e rochas observando a
vegetação e animais presentes.
(157) RIO DAS OSTRAS, 2003
70
71
72
|
Ca
p
í
t
u
l
3
A
r
e
v
i
t a
l
i z
a
ç
ã
o
d
a
o r
l
a
d
e
o
s t
a
z u
l:
v
alo
es
e
in
er
e
s
se
s
o|
C
r
t
121
3.3.2 A água salgada (o mar e a praia) e alguns cuidados
Tendo como maior patrimônio turístico-ambiental as águas costeiras e toda a paisagem natural-
cultural abraçada por ela, grande é a preocupação do poder público em cuidar de sua qualidade e
acessibilidade. Para isto, medidas e projetos de cunho preservacionista estão sendo pensados e
implantadas, a saber: o forte investimento na construção do sistema de esgotamento sanitário da
cidade, que será composto pela estação de tratamento de esgoto e do emissário submarino, e da
central de tratamento de resíduos sólidos, parte integrante do sistema de saneamento básico,
como visto no capítulo anterior. Assim, procura-se alcançar, dentro de outros compromissos, a tão
sonhada cidade ambientalmente sustentável.
A usina de tratamento de esgoto cuidará de todo o esgoto gerado na cidade. Trata-se de um dos
mais modernos sistemas de tratamento de águas residuais que permitirá o acesso a uma água de
qualidade bem como a manutenção de outros ecossistemas presentes na região, incluindo o
marítimo. Já o emissário submarino tem como função principal finalizar o processo de tratamento
do esgoto tratado e dar suporte ao seu lançamento para dentro do mar. Como sua localização está
inserida na orla de Costazul, mais precisamente dentro do trecho 02 do Projeto Urbano-ambiental
de Costazul, próximo a Av. Roberto Silveira, ele vem compor a paisagem e se torna um ícone da
presença antrópica nesta praia.
Como esta pesquisa vem dedicar especial atenção ao trecho 01 do projeto Urbano-ambiental de
Costazul, devido aos interesses já expostos, as construções desses sistemas de cuidado com a
água não serão incluídos dentro da grande discussão que gira em torno ao setor delimitado pela
rua da Servidão e a Avenida Roberto Silveira. Porém, eles são aqui citados, pois inestimável é o
valor de sua contribuição para a continuidade do sucesso e da manutenção da qualidade das praias
do município (158).
O Emissário submarino, de estrutura de concreto apoiada sobre pilotis, oferecerá ainda outros
usos além daquele de tratamento da água residual. Até a data da entrevista com Maurício Pinheiro,
não se tinha uma definição do que viria a ser esses novos usos. Algumas idéias estavam sendo
(158) BARBOSA; ZAMOT, 2003
73
|
Ca
p
í
t
u
l
3
A
r
e
v
i
t a
l
i z
a
ç
ã
o
d
a
o r
l
a
d
e
o
s t
a
z u
l:
v
alo
es
e
in
er
e
s
se
s
o|
C
r
t
122
75
74
discutidas, como o aproveitamento de sua superfície plana para dar espaço a educação ambiental,
divulgando e informando aos visitantes as obras de responsabilidade ambiental do município, ou
ainda, um restaurante.
A decisão de colocar o emissário nesta localidade não foi um mero desejo ou vontade de criação.
Como disse Maurício Pinheiro durante a entrevista:
“Foi uma decisão planejada de custo-benefício implementá-lo neste local, pois a primeiro plano a
estação de esgoto se encontra a 1,8 Km desta orla, menor distância se comparada a outras, em
segundo lugar por uma questão ambiental, pois se pensasse em construí-lo após a Lagoa de Iryri
estaríamos intervindo dentro de uma vegetação praticamente intacta e acabaríamos por
comprometê-la com os serviços, com o vai e vem de pessoal, além do espaço para a infra-
estrutura a ser criada [...]. Com relação à paisagem, não vejo problemas, o emissário será mais
um elemento que irá compor a paisagem já existente. Ocupará o papel de mirante e estamos
decidindo ocupá-lo também como local de conhecimento e divulgação sobre o tratamento que a
cidade destina `a sua água. Pensa-se, ainda, em implantar um restaurante. Isto partindo de um
apelo turístico”.
3.4 A praia de Costazul
A praia de Costazul localiza-se numa área singular caracterizada por uma região de mar aberto e
que permite o desenvolvimento de diversas atividades em sua extensão de 4,5 Km e largura
variável entre 15 e 30 metros. Esta praia pode apresentar outros nomes, que correspondem aos
loteamentos ou condomínios de interface `a ela, uma prática comum dentro da cidade. Eles
podem ser: Praia da Caledônia, Praia da Figueira, Praia Jardim Bela Vista (159).
De acordo com o Mapa existente no PMRO (2006b, p.20), que identifica os trechos da orla do
Município de Rio das Ostras, aqui será considerado como a praia de Costazul o espaço
(159) PMRO, ©2006c
76
|
Ca
p
í
t
u
l
3
A
r
e
v
i
t a
l
i z
a
ç
ã
o
d
a
o r
l
a
d
e
o
s t
a
z u
l:
v
alo
es
e
in
er
e
s
se
s
o|
C
r
t
123
compreendido entre a praia do Remanso e a Lagoa de Iriry, ou trecho 05 do mapa da página 114 .
Fisicamente a praia de Costazul não enfrenta a escala geográfica em seu território. Sua vegetação
é de restinga, que mais que sua beleza ocupa um papel muito importante na borda marítima: o de
proteção, pois fixa as dunas da praia e dá abrigo aos animais que aí vivem (160). Essas
características somadas à paisagem circundante seduzem o olhar daqueles que vão ao encontro
desta borda marítima. É uma rica variedade de texturas, cheiros, formas, elementos da própria
localidade que geram determinadas singularidades dentro deste território costeiro.
Costazul pode ser, portanto, caracterizada como um dos lugares mais sedutores da cidade. As
particularidades verificadas em seu ambiente proporcionam uma alta atratividade, usos e
apropriações pelas diversas faixas etárias e grupos sociais. Suas águas de boa qualidade são
propícias, por exemplo, `a prática de mergulho, surf e bodybording e de banho de mar. Já suas
areias são adequadas ao banho de sol, prática de esportes de areia, lugar de encontro, entre
outras apropriações (161). Os mais diversos interesses que repercutiram sobre seu território
sujeitaram esta praia a uma degradação ambiental e ao aparecimento de conflitos entre meio e
usuários.
3.4.1 O Remanso de Costazul
Das belezas paisagísticas desta praia destaca-se o Remanso. Ele é o local mais adequado para o
banho de mar. As ondas chegam mais fracas neste setor proporcionando maior segurança aos
usuários. Desde os anos 70, este era o local mais procurado e/ou freqüentado pelas pessoas em
Costazul (foto 82) . Soma-se, ainda, ao atrativo do local a bela vista que pode ser obtida deste
lugar estratégico e de alta procura. Por volta dos anos 70, foi aparecendo o comércio impulsionado
pela demanda sazonal existente. Primeiro, surgiram os vendedores ambulantes, posteriormente,
vieram os traillers, que já atuavam de forma insatisfatória e, logo depois, se instalaram os
quiosques de beira-mar, que favoreceram ainda mais a degradação do local (162). Percebe-se pela
(160)
(162)
McHARG, 1969
(161) PMRO, 2004b
PMRO, © 2006c
77
78
80
79
|
Ca
p
í
t
u
l
3
A
r
e
v
i
t a
l
i z
a
ç
ã
o
d
a
o r
l
a
d
e
o
s t
a
z u
l:
v
alo
es
e
in
er
e
s
se
s
o|
C
r
t
124
imagem 82 que entre estas construções comerciais foram formadas trilhas que prejudicaram a
vegetação de restinga e com isso a proteção natural deste setor.
3.5 O loteamento Costazul
Este loteamento é um dos que mais se destacam dentro do atual cenário urbano riostrense,
principalmente por dar acesso e compor a paisagem da orla marítima que recebe o seu nome e que
vem sendo alvo de interesses públicos e políticos para a cidade. Por isso, grande é o interesse em
apresentar o entorno urbano imediato a esta orla, compreender o contexto no qual se insere o
novo projeto e sua nova paisagem, a fim de se alcançar uma discussão posterior sobre o que vem
sendo produzido na cidade.
Este loteamento se localiza `a leste do centro da cidade de Rio das Ostras e possui por limites o rio
das Ostras, a Rodovia Amaral Peixoto, o Oceano Atlântico e o loteamento Recreio. Como dito no
capítulo anterior, a abertura da Rodovia Amaral Peixoto constituiu um dos principais eixos
estruturadores de crescimento da cidade. Por ela diversos loteamentos foram criados
possibilitando a formação do traçado e a ocupação do território urbano.
82 83
84
|
Ca
p
í
t
u
l
3
A
r
e
v
i
t a
l
i z
a
ç
ã
o
d
a
o r
l
a
d
e
o
s t
a
z u
l:
v
alo
es
e
in
er
e
s
se
s
o|
C
r
t
125
81
A primeira escritura desta região data de 1951, o que alterou sua antiga designação “Saco Grande”
para “Fazendinha”. Tratava-se de um território que compreendia cerca de 60 alqueires e cuja sede
estava localizada na Praia das Areias Negras, próximo a atual Praça da Baleia (163).
Geograficamente este local apresentava, e ainda apresenta, como se observou a partir dos
registros fotográficos e da pesquisa de campo, uma topografia plana imediata à orla marítima e
uma parte saliente mais para o interior, que se expõe dentro da área existente entre o rio das
Ostras, a Av. Almirante Heleno Nunes, a Av. Roberto Silveira e a Rodovia Amaral Peixoto.
Quando em 1962 “Fazendinha” foi vendida para a empresa EMISA Empreendimentos Imobiliários
S.A., um loteamento de 3.253 lotes foi criado na parte plana do terreno existente e previu ainda o
planejamento e implantação de uma hierarquia viária, que caracterizou e definiu esta área. Os
ocupantes desse loteamento passaram então a denominá-lo “Costazul” em referência ao balneário
francês de Cote d'Ázur na Riviera Francesa (164).
Sabe-se que as 10 primeiras habitações deste loteamento estavam localizadas na atual Av.
Almirante Heleno Nunes, casas estas conhecidas como “motéis”, pois eram de dimensões mínimas
e dedicadas aos per noite dos possíveis compradores de terrenos no novo loteamento. Segundo
registros a primeira casa de Costazul foi um casebre de madeira. Posteriormente foi construída
uma casa pré-moldada ganhadora do prêmio “concedido pela revista 'Casa e Jardim' devido à sua
arquitetura arrojada” (165). Já o primeiro comércio, o restaurante Costazul, estava localizado no
antigo Camping Club que tinha acesso pela Rodovia Amaral Peixoto (166).
Aos poucos, o loteamento foi sendo ocupado por comércio e residência. Dentre o comércio
destaca-se a tradicional Tocolândia, uma feira de gastronomia, artesanato, móveis rústicos e
esculturas que está localizada na Av. Costazul próxima ao Remanso constituindo uma das
principais atrações turísticas do setor. Já os primeiros moradores foram pessoas oriundas da
cidade do Rio de Janeiro, pois tinham casas de veraneio neste balneário e passavam a habitar
Costazul quando se aposentavam.
(163) PMRO, 2004b
(164) PMRO, 2004b
(165) PMRO, 2006b, p.8
(166) PMRO, 2004b
|
Ca
p
í
t
u
l
3
A
r
e
v
i
t a
l
i z
a
ç
ã
o
d
a
o r
l
a
d
e
o
s t
a
z u
l:
v
alo
es
e
in
er
e
s
se
s
o|
C
r
t
126
Conforme ia se densificando, o loteamento começava a ganhar mais força. A partir dos anos
(19)80 a preocupação e luta dos moradores por seu lugar começa a ter resultados eficazes com a
fundação da AMA-Costazul (Associação de Moradores e Amigos de Costazul) e da MERO
(Movimento Ecológico de Rio das Ostras). Dos últimos movimentos governamentais relevantes
para a cidade e que têm repercussão direta em Costazul, destacam-se: a Fundação Rio das Ostras
de Cultura criada em 1997, que tem por objetivo preservar o patrimônio histórico, cultural,
paisagístico e ambiental; e a fundação do PRO-URBE em 2002, que fez da orla de Costazul a
primeira a dar início às obras de urbanização que acontecem pela cidade (167).
3.6 A análise do loteamento
Para a análise do loteamento será dedicada maior atenção ao estudo morfológico da parte plana de
Costazul, por ser o local mais imediato ao caso referência desse estudo, o de maior período
histórico e o que mais influencia diretamente na paisagem da orla. Porém, importância também
caberá a outras áreas sempre que necessário, passando informações fundamentais para sua
compreensão através de um jogo de grandezas pertinente ao entendimento e abertura de
determinado assunto.
(167) PMRO, 2004b
85 86
|
Ca
p
í
t
u
l
3
A
r
e
v
i
t a
l
i z
a
ç
ã
o
d
a
o r
l
a
d
e
o
s t
a
z u
l:
v
alo
es
e
in
er
e
s
se
s
o|
C
r
t
127
A seguir, será apresentado muitas das variáveis apontadas por José Llamas (2004) para o estudo
da morfologia urbana da área compreendida entre a Av. Costazul, a Av. Almirante Heleno Nunes e a
Av. Roberto Silveira, bem como toda a extensão da Av. Roberto Silveira apontando os fatos antigos
e os novos que hoje são evidenciados na localidade.
No que tange o assunto referente ao sistema viário, o que se percebe é que as vias permaneceram
conforme o seu desenho original, sofrendo apenas alterações no sentido do tráfego viário, que veio
tentar ordenar a utilização de veículos neste setor. Para a caracterização das vias foi utilizada a
hierarquia estabelecida no Código de Trânsito Brasileiro, também empregado pelo Plano Diretor da
cidade de Rio das Ostras, que distingue as vias urbanas em:
. vias principais - vias de trânsito rápido e arteriais;
. vias secundárias - vias coletoras, distribuidoras e locais;
.vias complementares - ciclopistas, faixas de ciclistas, vias de pedestre e áreas de
estacionamento.;
Segundo Santos (1988) assim ficam caracterizadas:
. via local - aquela que atende apenas o bairro, de mão única e que se conecta a via coletora;
. via Coletora - aquela de bairro, mas que recebe tráfego de mais de duas ruas. Possui sentido
duplo e se conecta a via arterial.
. via Arterial - aquela que recebe todo o tráfego do bairro e interliga outros bairros da cidade e
regiões vizinhas.
A Av. Costazul e Av. Almirante Heleno Nunes e as ruas paralelas a elas (Rua Nei Cardoso, Rua
Alexon C., Rua Obede Cardoso, Rua Carlos Carvalho, Rua O. Machado, Rua Mário da Câmara, Rua
Mairo Freire, Rua Alfredo do Amaral) criam agora um sistema binário de transporte e mantém seu
caráter de vias locais dentro do loteamento. Também compõem esse sistema as ruas
perpendiculares à Av. Costazul: Rua da Servidão, Rua Luiz Lemgruber e Rua Irene dos Santos
Ferreira.
|
Ca
p
í
t
u
l
3
A
r
e
v
i
t a
l
i z
a
ç
ã
o
d
a
o r
l
a
d
e
o
s t
a
z u
l:
v
alo
es
e
in
er
e
s
se
s
o|
C
r
t
128
87
A Av. Roberto Silveira e a Rua Jéferson Góes continuam com sentido duplo e atuam como vias
coletoras. Destaca-se principalmente aqui a Av. Roberto Silveira, tanto por seu porte quanto por
ser o acesso mais procurado para aceder a orla de Costazul, conforme foi verificado no local. Esta
Avenida possui aproximadamente 1 Km de extensão e é dotada de canteiro central e ciclovia,
apresentando baixo índice de arborização.
Dentro desse sistema viário, insere-se a Rodovia Amaral Peixoto, elo de ligação de grande parte
das ruas e avenidas existentes no setor, uma via arterial dentro da escala da cidade. Esta rodovia
até o ano de 2005, como visto no capítulo dois, foi o principal acesso de todos os tipos de veículos
que cruzavam a cidade.
No desenho ao lado o está demonstrado o novo sentido viário as ruas próximas a orla de Costazul.
Segundo Maurício Pinheiro este novo sistema de transporte se torna mais eficaz e seguro para a
região em si, favorecendo o menor índice de congestionamento e de atropelamentos. O acesso
mais fácil e direto ao trecho 01 do projeto para a orla de Costazul ocorre através da Rodovia Amaral
Peixoto, entrando na Av. Roberto Silveira indo de encontro a Av. Costazul, de onde se “descobre” o
mar (imagem abaixo).
|
Ca
p
í
t
u
l
3
A
r
e
v
i
t a
l
i z
a
ç
ã
o
d
a
o r
l
a
d
e
o
s t
a
z u
l:
v
alo
es
e
in
er
e
s
se
s
o|
C
r
t
129
89
88
De acordo com os interesses dos autores do projeto Urbano-ambiental de Costazul, a Av. Costazul,
além de possuir apenas um sentido viário, fica proibido de circular veículos coletivos, incluídos as
vans, que se apresentam atualmente legalizadas e em número na cidade. Fica ainda menor o
número de automóveis que podem parar temporariamente em suas bordas com a determinação
de vagas nas laterais da avenida. Segundo Maurício Pinheiro sua vontade, que foi negada, seria
não permitir a passagem de veículos, com exceção os de serviços e dos moradores, na via paralela
a orla. Ele diz:
“Os carros poderiam ficar nas ruas paralelas [...]. Entretanto o grande número estimado de carros
em dias de alta demanda nos fez pensar ainda na criação de estacionamento para abrigar 200
9190
|
Ca
p
í
t
u
l
3
A
r
e
v
i
t a
l
i z
a
ç
ã
o
d
a
o r
l
a
d
e
o
s t
a
z u
l:
v
alo
es
e
in
er
e
s
se
s
o|
C
r
t
130
veículos nas ruas perpendiculares a orla [...]. Esses automóveis impedem, bloqueiam a passagem
dos pedestres, geram engarrafamentos, ruídos, comprometem o uso desse espaço e de sua
qualidade”.
Com relação ao estado e materiais da superfície destas vias, pode-se afirmar que, antes de tais
intervenções, algumas delas eram desprovidas de calçamento, bem como de calçadas para os
transeuntes. Um solo esburacado no qual ocasionava a necessidade de desvios por parte dos
condutores de veículos de forma a evitar um prejuízo mecânico em seus automóveis ou
surgimento de acidentes por um descuido qualquer, como se evidenciava na antiga Av. Costazul.
Mas a maior problemática se apresenta na incapacidade, por exemplo, de uma pessoa portadora
de necessidades especiais se locomover por esta faixa ou mesmo o simples passeio com um
carrinho de bebê, o que limitava usos e usuários nesta borda marítima urbana.
Desta forma, a Av. Costazul foi coberta por piso de concreto intertravado, considerado ecológico
por permitir a infiltração de água no solo, e suas calçadas tratadas de modo a favorecer a
acessibilidade física na área em questão. As demais ruas e avenidas então cobertas por
paralelepípedos ou asfalto e suas calçadas estreitas, em grande parte, foram cobertas por
concreto ou ficaram sem tratamento. A Av. Costazul será abordada detalhadamente mais adiante
no momento de se analisar a orla marítima e o novo projeto desenvolvido para ela.
Dentro deste cenário público urbano grande é a relevância dedicada às ciclovias encontradas por
toda extensão da cidade, como na Av. Costazul e no eixo da Rodovia Amaral Peixoto. Em
entrevista, Maurício Pinheiro se orgulha em dizer que a população de Rio das Ostras tem aderido
positivamente ao incentivo municipal para a utilização desse tipo de transporte, que além de
contribuir para o descongestionamento nas ruas e avenidas é ponto fundamental para a qualidade
do meio ambiente devido `a diminuição de determinados tipos de gases liberados pelos veículos
motorizados. Disse o secretário sorrindo: “Hoje, para controlar as infrações, estamos pensando
em emplacar as bicicletas, pois o número de colisões entre elas vem aumentando”, o que seria uma
medida de controle de segurança para diminuir os conflitos gerados.
|
Ca
p
í
t
u
l
3
A
r
e
v
i
t a
l
i z
a
ç
ã
o
d
a
o r
l
a
d
e
o
s t
a
z u
l:
v
alo
es
e
in
er
e
s
se
s
o|
C
r
t
131
A questão da acessibilidade física fica evidenciada como uma das áreas a serem consideradas nos
projetos de acordo com o artigo 44 do Plano Diretor da cidade (168): “implementar programas e
projetos destinados à proteção da circulação de pedestres, ciclistas e grupos, como: idosos,
portadores de necessidades especiais e crianças (inciso III); implantar ciclovias destinadas ao uso
turístico e ao deslocamento da comunidade local (inciso IV)”.
Quanto aos equipamentos urbanos nestas ruas adjacentes a Av. Costazul, não foi verificado no dia
da pesquisa de campo lixeiras ou abrigo de espera de transporte público que atendessem aos
moradores e/ou usuários da localidade e da orla. Desconforto ainda pode ser dedicado `a
insuficiência de áreas de sombra que viessem a amenizar o sol escaldante por estas vias.
Os quarteirões ou quadras foram projetadas com dimensões consideráveis. Vencer essas quadras
e chegar a praia de Costazul se torna um pouco cansativo e um tanto monótono pela grande
extensão que há desde a Rodovia Amaral Peixoto até a Av. Costazul, trecho caracterizado pelos
lotes de grande dimensão prevista no seu parcelamento original. Pode-se dizer que essa medida
somada ao terreno existente constitui um fator de grande importância, pois se torna fator
essencial na forma do edifício.
A arquitetura de Costazul é composta principalmente por edifícios de dois andares com ou sem
telhado apresentando uma geometria retangular e com poucos recortes. Constatou-se um
número considerável de residências por toda a extensão da praia, com exceção do comércio que se
concentra próximo ao trecho 1 do projeto e na Av. Roberto Silveira. Não verifiquei edifício algum de
relevância arquitetônica no entorno imediato, o que revela o contraste da arquitetura existente
com a linguagem do traço do gesto urbanístico realizado. Dentre os usos destinados a esses
edifícios, destacam-se: pousadas, hotéis, restaurantes, comércio de produtos típicos e
souveniers.
Até a construção do Plano Diretor do Município de Rio das Ostras ficou estabelecido através do
Decreto n° 035/2002 que “na primeira quadra da faixa litorânea fica suspensa toda e qualquer
aprovação de projetos de residências multifamiliares e mistas, unifamiliares e comerciais
(167) PMRO, 2005
(169) apud PMRO, 2006b, p.19
|
Ca
p
í
t
u
l
3
A
r
e
v
i
t a
l
i z
a
ç
ã
o
d
a
o r
l
a
d
e
o
s t
a
z u
l:
v
alo
es
e
in
er
e
s
se
s
o|
C
r
t
132
92
A fachada dessas edificações não possui grande interesse arquitetônico. Suas formas e texturas
são corriqueiras de um sítio de residências de veraneio de classe média. Seus espaços internos
podem, muitas vezes, ser identificados a partir de seus vãos, que geram uma hierarquia nas
funções de seus compartimentos. De forma geral, a planta corresponde à função exercida. Os
grandes volumes obedecem às edificações que prestam serviços como os de hotelaria, pousada e
restaurantes. Apesar das residências também possuírem volumes considerados, é nítido quando o
local serve a outra atividade que não a moradia.
As edificações se encontram, em alguns casos, na linha de testada do lote. Geralmente os edifícios
que compreendem essa implantação são comerciais estabelecendo um contato maior com os
clientes. As residências respeitam um determinado recuo criando um logradouro geralmente
caracterizado por um jardim verde com cobertura de grama. Este logradouro, muitas vezes
existente entre a construção residencial e a rua, corresponde ao respiro para este local (170). De
acordo com Mauricio Pinheiro, estes espaços livres residenciais, na maioria dos casos, se
convertem em estacionamentos em épocas de grande temporada de acordo com os interesses dos
donos, que não temem em cobrar um preço considerável pelo serviço prestado.
Como disse Llamas (2004), a morfologia é muito mais que o estudo da forma. Por ela podemos
decifrar muito do que uma cidade ou região quer dizer. Por exemplo, o loteamento de Costazul, até
pouco tempo, foi considerado tipicamente de segunda residência, e a partir da observação das
dimensões de seus lotes, de seu traçado, da paisagem cobiçada, de suas construções se deduz um
espaço criado para atrair pessoas de um nível socioeconômico mais elevado, de um status distinto
daquele encontrado mais para o interior da cidade após cruzar a Rodovia Amaral Peixoto. Estes
loteamentos “pós-rodovia” estão caracterizados pela maior densificação, por casas mais
modestas. Suas condições de salubridade e conforto eram ainda mais precárias que as que eram
verificadas nos loteamentos `a beira da orla marítima antes das atuais reformas de infra-estrutura
urbana na cidade (171). Esses fatos vêm ainda expressar o valor das águas marítimas e de sua
paisagem como fontes atrativas de empreendimentos e de exploração econômica que
ocasionaram, por exemplo, a estratificação social dentro de Rio das Ostras.
(170) LLAMAS, 2004
(169) Fatos evidenciados anteriormente por
vivência própria.
|
Ca
p
í
t
u
l
3
A
r
e
v
i
t a
l
i z
a
ç
ã
o
d
a
o r
l
a
d
e
o
s t
a
z u
l:
v
alo
es
e
in
er
e
s
se
s
o|
C
r
t
133
3.7 Os novos projetos do entorno imediato
Os projetos que acontecem na cidade de Rio das Ostras estão sendo trabalhados a partir da política
de preservação conciliada ao uso (172). Desta forma, as áreas, que antes estavam sendo mal
aproveitadas e cuidadas, começaram a gerar conflitos sociais e ambientais no entorno. Interesses
foram, então, despertados para a revitalização destas zonas. Estudos e planejamentos foram
estrategicamente criados. Dentro dos novos projetos presentes no entorno, destacam-se: o da
Praça da Baleia e para a Lagoa do Iriry.
3.7.1 A Praça da Baleia
Impossível falar de Costazul e não mencionar a Praça da Baleia, primeiro projeto urbano a ser
finalizado em novembro de 2002, marcando o início do processo de reurbanização da cidade
dentro da área turística. Historicamente, neste local era comum o aristamento das baleias e
posteriormente foi apropriado para estacionar os automóveis das pessoas que utilizavam as praias
dessa região, principalmente Costazul (173). Esses fatores somados ao pisoteio dos usuários da
orla intensificaram a degradação do meio ambiente existente. A deterioração produzida culminou
no interesse de revitalização desta área, que hoje desempenha um importante papel de elo entre o
projeto de urbanização/preservação para Costazul e de preservação para os Costões Rochosos que
começa na Lagoa de Iriry e se estende até a Praia do Cemitério. Esta extensão é um dos grandes
interesses que giram em torno no projeto Urbano-ambiental para Costazul: a criação do Cordão
Ecológico (174).
Diferentemente de muitos projetos urbanos, que não são acompanhados de uma qualificação e
significação funcional, a praça da Baleia tem por intenção fazer uma homenagem às baleias
jubartes, que acostumam passar pela região na primavera em busca de águas quentes para
procriarem. Teve por artista plástico Roberto Sá, quem esculpiu uma réplica deste mamífero em
(172) PMRO, 2005
(173) RIO DAS OSTRAS, 2003
(174) BONNECARRERE; SÁ, 2004
|
Ca
p
í
t
u
l
3
A
r
e
v
i
t a
l
i z
a
ç
ã
o
d
a
o r
l
a
d
e
o
s t
a
z u
l:
v
alo
es
e
in
er
e
s
se
s
o|
C
r
t
134
93
tamanho natural (20 m). Esta escultura se encontra dentro de um lago de 25 metros e pesa 20
toneladas, se somada a escultura de um mergulhador (1,85 m) preso na cauda do animal (175).
Esta praça tornou-se um local de convívio intensamente utilizado, além de constituir um elemento
de grande atratividade turística e que encanta principalmente as crianças. Este projeto se
enquadra dentro da mesma linguagem do projeto para o passeio de Costazul, favorecendo a
continuidade urbana pretendida inicialmente.
3.7.2 A Lagoa de Iriry
A Lagoa de Iriry, antes conhecida popularmente como Lagoa da Coca-cola devido a tonalidade
escura de suas águas, se localiza muito próxima ao mar de Costazul sendo apenas separada deste
pela faixa de areia de praia. A alta atratividade que esta lagoa produzia ocasionou um início de
processo de degradação ambiental que motivou a criação da Área de Preservação Ambiental da
lagoa de Iriry e da inauguração da obra de urbanização da APA da Algoa de Iriry em setembro de
2004, seguindo os ideais do poder público municipal: “urbanizar para preservar”. A área da Lagoa
ganhou local para recreação infantil, ciclovia, rinque de patinação, novos canteiros, quiosques,
|
Ca
p
í
t
u
l
3
A
r
e
v
i
t a
l
i z
a
ç
ã
o
d
a
o r
l
a
d
e
o
s t
a
z u
l:
v
alo
es
e
in
er
e
s
se
s
o|
C
r
t
135
94
96
(175) BONNECARRERE; SÁ, 2004
95
anfiteatro, torre de observação e estacionamento como se pode observar na imagem abaixo. A
APA da Lagoa de Iriry foi à primeira Unidade de Conservação criada no município em 2000
abrangendo uma área de mais de 76 hectares e se limita à área da Fazenda de Itapebussus, uma
área de preservação ecológica que não será urbanizada (176).
3.8 Algumas considerações sobre a paisagem
Apesar dos elementos naturais serem considerados caracterizadores de um determinado sítio,
criadores de identidade para esse lugar, fontes de atratividade e de equilíbrio para um ecossistema
(177), o Sr. Maurício Pinheiro não acredita que a alta demanda atualmente existente pela
habitação de primeira residência em Costazul, ou mesmo na cidade como um todo, tenha por
causa a atratividade exercida pela bela paisagem existente no litoral riostrense. Segundo Maurício,
a causa principal do crescimento acelerado de Rio das Ostras é a presença da cidade vizinha
Macaé, pois muitas pessoas que trabalham neste centro petrolífero optam por viver em Rio das
Ostras mais por uma questão econômica e de falta de espaço em Macaé do que pelo interesse pela
paisagem existente. Disse o Sr. Maurício Pinheiro:
“Macaé já está sem espaço. Hoje esta cidade encontra-se em processo de verticalização. [...] Rio
das Ostras tem sofrido um pouco com esta grande atratividade que gera o petróleo.
Equivocadamente muitas pessoas também procuram Rio das Ostras pensando que vão obter
trabalho. Atualmente Rio das Ostras vive para ela mesma”.
|
Ca
p
í
t
u
l
3
A
r
e
v
i
t a
l
i z
a
ç
ã
o
d
a
o r
l
a
d
e
o
s t
a
z u
l:
v
alo
es
e
in
er
e
s
se
s
o|
C
r
t
136
97
98
(176) RIO DAS OSTRAS, 2003; PMRO, 2006b.
(177) HOUGH, 1998; LYNCH, 1981; CORNER,
1999
A alta procura por residência e/ou trabalho nesta cidade tem gerado uma série de conflitos que a
municipalidade vem tentando contornar. Segundo este secretário vários projetos estão sendo
implementados na e pela cidade como forma de atender a esta crescente demanda populacional.
Como foi discutido no capítulo anterior, esses projetos não têm por fim último o interesse em
tornar Rio das Ostras um pólo de prestações de serviços relacionado a área de petróleo. Continuou
Maurício:
“Temos procurado solucionar a carência de empregos através da criação da Zona Especial de
Negócios, que atrairá empresas prestadoras de serviços a Petrobrás, mas não desejamos esse
caráter empresarial aqui. Rio das Ostras tem um caráter tipicamente turista e é isto que queremos
preservar”.
Esse caráter turístico tão cobiçado pelo poder público tem como principal interesse criar uma
estrutura econômico-ambiental sustentável na cidade que favoreça sua estabilidade em um futuro
quando a reserva e/ou extração de petróleo vier a se esgotar. Logo, desenvolvimento econômico
conciliado à preservação do meio ambiente é o viés que direciona esses projetos. Sabendo que não
há na cidade bem turístico maior que a sua orla marítima, vários planos estão sendo elaborados
para sua franja costeira marítima, dos quais se destaca o Projeto Urbano-ambiental de Costazul,
que tem como um de seus interesses dedicar especial atenção a questão da preservação ambiental
conciliando o desenvolvimento econômico junto com o do meio ambiente. É através do trabalho de
orientação e informação que se pretende dar visibilidade ao ecossistema marinho regional (178).
As páginas seguintes vêm apresentar: a área onde foi implantado esse projeto; os conflitos
existentes que levaram ao seu planejamento e a sua execução neste setor; os interesses do poder
público e de seus autores no momento de concebê-lo.
|
Ca
p
í
t
u
l
3
A
r
e
v
i
t a
l
i z
a
ç
ã
o
d
a
o r
l
a
d
e
o
s t
a
z u
l:
v
alo
es
e
in
er
e
s
se
s
o|
C
r
t
137
(178) PMRO, 2004b
3.9 Antecedentes do projeto: o conflito
Segundo os dados obtidos no PMRO (2006b) a orla de Costazul se caracterizava pela existência de
um ecossistema de restinga degradado cuja vegetação nativa estava distribuída em fragmentos
isolados pela areia da praia de Costazul. Esta área é ainda marcada por uma paisagem antrópica,
constituída por uma ocupação de médio adensamento e que oferece uma multiplicidade de usos,
porém, com poluição sonora e visual.
Durante as décadas seguintes a criação desse loteamento, a orla de Costazul tem passado por uma
série de alterações físicas ocasionadas por condutas culturais em sua paisagem. Inúmeros aterros
foram criados com material oriundo de outras regiões para proporcionar o estabelecimento de
terreno estável para a implantação de edificações e infra-estrutura na área, como na Av. Costazul.
Na praia eram presenciados um número de 23 quiosques antes da implantação do projeto do
trecho 1. Estas construções estavam instaladas nas proximidades da linha preamar máxima e
tinham uma tipologia rústica com estrutura em alvenaria e/ou madeira, e cobertura de telha de
barro ou palha. Precárias eram as instalações de luz, além de não dispor de água, esgoto,
recolhimento de lixo, ou qualquer outro serviço público (179). Sendo a única atividade comercial
existente na orla, estes quiosques distavam cerca de 1 Km da rodovia Amaral Peixoto e ao menos 3
Km do centro da cidade (180).
A implantação dos quiosques ainda ocasionou a deterioração da vegetação de restinga existente
nas areias da praia. A abertura de caminhos entre estes estabelecimentos veio comprometer flora
e fauna da região que aos poucos foram desaparecendo do contexto litorâneo. Uma causa paralela
desse mau uso se deve a falta de informação do que é a vegetação de restinga, muitas vezes
considerada “mato” pelas pessoas que não sabem sua real significância (181). Por esta equivocada
percepção a respeito da restinga, ela acaba recebendo maus tratos desnecessários e
comprometedores para o ecossistema do qual fazem parte. Disse Denise Pinheiro em entrevista:
|
Ca
p
í
t
u
l
3
A
r
e
v
i
t a
l
i z
a
ç
ã
o
d
a
o r
l
a
d
e
o
s t
a
z u
l:
v
alo
es
e
in
er
e
s
se
s
o|
C
r
t
138
99
100
101
(179) PMRO, ©2006c
(180) PMRO, ©2006c
(181) Considerações feitas por Denise Pinheiro
durante a entrevista. Esses dados ainda podem ser
encontrados em: PMRO, 2004b.
A restinga é característica de todo o litoral brasileiro e ela está sendo eliminada porque as pessoas
pensam que é mato e não dão a menor importância, arrancam tudo, passam o trator por cima sem
o menor cuidado, destroem espécies como os cactos, que demoram anos para atingir um metro de
altura.
|
Ca
p
í
t
u
l
3
A
r
e
v
i
t a
l
i z
a
ç
ã
o
d
a
o r
l
a
d
e
o
s t
a
z u
l:
v
alo
es
e
in
er
e
s
se
s
o|
C
r
t
139
102 103
104
* Esse estudo foi baseado no Plano de Intervenção
para o trecho 7 da orla marítima ou rio das Ostras
(PMRO, 2006b) e foi realizado através dos dados
obtidos sobre a área e observações efetuadas no local.
** Esse estudo foi baseado no Plano de Intervenção
para o trecho 7 da orla marítima ou rio das Ostras
(PMRO, 2006b) e foi realizado através dos dados
obtidos sobre a área e observações efetuadas no local.
Os atores sociais que geraram os conflitos e as atividades envolvidas na degradação do ambiente
estaurino de Costazul**
Responsáveis pelo
loteamento
Não se comprometeram com o meio ambiente existente para o estudo e
execução do loteamento Costazul.
Moradores do local Não recuperaram a vegetação própria do local em detrimento de jardins que
pouco condizem com a identidade do ecossistema original.
Veranistas e turistas Aumentaram a demanda por infra-estrutura e a produção de resíduos, além
de serem apontados como os principais agentes da degradação do
ecossistema do setor.
Comerciantes Principalmente os donos de quiosques que atuavam sobre a areia de praia
contribuindo ainda mais para a deterioração da vegetação e, por
conseguinte, para o desaparecimento da fauna da região.
Atividades que contribuíram para a geração do conflito na orla de Costazul*
O setor imobiliário Historicamente o loteamento foi elaborado e implantado em forma de
tabuleiro de xadrez e por aterramentos das áreas alagadas, logo não
previu ou respeitou a existência dos ecossistemas existentes no local,
contribuindo em grande parte para a deteriorão e aniquilamento da
vegetação anteriormente existente.
O turismo Principal fator de degradação ambiental da faixa de praia. Como visto
anteriormente o turismo a cada ano foi se intensificando nesta região e
atraindo mais e mais turistas e veranistas que procuravam um espaço de
lazer e de contemplação de um ambiente com um “caráter nativo” mais
aguçado que o encontrado na praia do Centro.
O comércio A instalação de quiosques na areia favoreceu a abertura de caminhos
entre a vegetão existente, interrompendo a dinâmica ambiental do local
e aniquilando a paisagem anteriormente existente.
|
Ca
p
í
t
u
l
3
A
r
e
v
i
t a
l
i z
a
ç
ã
o
d
a
o r
l
a
d
e
o
s t
a
z u
l:
v
alo
es
e
in
er
e
s
se
s
o|
C
r
t
140
Juntos todos esses fatores, acima mencionados, levaram ao poder público municipal ao real
interesse de proteger um meio tão valioso quando este de interface terra-água. Vale lembrar Lynch
em “Good City Form” (1981) quando diz que um problema ambiental representa a ocasião certa
para motivar os outros para uma mudança radical. Mudança essa que poderia ser ocasionada por
pessoas que se envolveriam em estratégias eficazes para a melhoria gradual do conjunto ao qual
pertencem através da aprendizagem e observação e da compreensão dos bairros da sua própria
cidade e por um princípio de aceitação de suas próprias vidas.
Num momento de crise ambiental global, os problemas locais surgem como pontos a serem
trabalhados em prol do ecossistema existente a fim de se reduzir os impactos generalizados.
Deve-se atentar para o que recomenda Lynch (1981) para o planejamento dedicado a certos
espaços: prestar atenção ao seu ponto de partida a fim de não se construir um ambiente pior do
que o anteriormente existente.
Nessa dinâmica de transformação da paisagem do espaço físico é considerável o projeto para a
orla de Costazul. Do “lugar que não tinha nada” (182) nasceu o projeto que tem por objetivo
trabalhar com aqueles critérios que possam ser úteis no comprometimento e na construção de um
bom arremate da zona costeira. As preocupações com o meio ambiente e com a função de espaço
público compõem o discurso teórico do trabalho apresentado pela municipalidade mediante uma
dupla aproximação ao tema: elemento urbano e de proteção litorânea. Aproveitando a vocação da
cidade para o turismo, o arquiteto e urbanista Maurício Pinheiro junto a sua equipe idealizou o
projeto para a orla almejando uma interferência urbano-ambiental significativa para a região em
si. Disse o Sr. Pinheiro:
“O Projeto Urbano-ambiental de Costazul conciliou a revitalização de ambos os ambientes sem
privar a nenhum deles as suas funções e princípios. Esta profunda experiência ensinou que é
possível conciliar a harmonia e integração de todos os espaços, bastando apenas usar a
imaginação para se criar uma nova filosofia que se desdobrou em cultura, técnica e
conhecimento.” (183)
|
Ca
p
í
t
u
l
3
A
r
e
v
i
t a
l
i z
a
ç
ã
o
d
a
o r
l
a
d
e
o
s t
a
z u
l:
v
alo
es
e
in
er
e
s
se
s
o|
C
r
t
141
(182) PMRO, 2004b, p.9
(183) PMRO, 2004b, p. 12
3.10 Antecedentes do projeto: a iniciativa
Todos os fatores geradores de conflito anteriormente citados resultaram na necessidade da
implantação de medidas em curto prazo para tentar solucionar a problemática existente no local: a
degradação do ecossistema costeiro. Soma-se a esses fatores os interesses do poder público para
fomentar o turismo na cidade. No ano de 2002, o Sr. Maurício Pinheiro, muito amigo do então
prefeito da cidade, o Sr. Alcebíades Sabino, foi convidado para ocupar o cargo de Secretário de
Planejamento do município de Rio das Ostras. Dentre as responsabilidades deste secretário ficou o
desenvolvimento para o projeto de urbanização para a orla de Costazul. Um projeto que
significaria mais que uma simples obra de urbanização, mas a materialização de um ideal que há
muito esses senhores almejavam para a cidade. Segundo palavras de Maurício Pinheiro:
“O nosso interesse em fazer algo por esta cidade sempre existiu. Não foram vontades de quatro
anos para cá. São idéias, discussões que sempre estiveram presentes em nossos encontros. [...] O
ex-prefeito da cidade, Sabino, um grande amigo, me convidou e confiou a mim a responsabilidade
de tornar Costazul um local de forte atração turística e de qualidade de vida. Esse projeto teria
como base a conciliação da preservação do meio ambiente ao desenvolvimento e exploração
sustentável do local”.
Um dos primeiros passos foi traçar o perfil que seria dado à nova orla, e para isso vários fatores
foram analisados: as especificidades físico-ambientais existentes em cada setor praiano, além do
estudo dos usuários, população, meio ambiente, atividades existentes, etc. Em entrevista
questionei a Maurício Pinheiro o por quê de ter sido escolhida Costazul a primeira a passar pelas
alterações e não o Centro da cidade, por exemplo. No Centro encontra-se, por assim dizer, o centro
neuvrágico da cidade, o local mais procurado em Rio das Ostras, com infra-estrutura instalada e de
visibilidade. Disse o Sr. Maurício Pinheiro:
“Desejava-se um projeto inovador, modelo nacional, que inserisse Rio das Ostras dentro do
turismo da Região dos Lagos. [...] Intervir no Centro talvez não causasse o impacto que se
desejava, pois se trata de uma área já consolidada e que não tem muito espaço para fazer as
transformações que se idealizavam. [...] Comparativamente, Costazul sempre se diferenciou das
atividades e do público que eram encontradas no Centro da cidade, desde o estilo musical à
|
Ca
p
í
t
u
l
3
A
r
e
v
i
t a
l
i z
a
ç
ã
o
d
a
o r
l
a
d
e
o
s t
a
z u
l:
v
alo
es
e
in
er
e
s
se
s
o|
C
r
t
142
paisagem mais rústica. [...] Todos esses fatores foram levados em consideração na tomada de
decisões do projeto. O Centro da cidade é o lugar do burburinho, das músicas de época, de poder
atrativo simplesmente por sua centralidade. Já Costazul era local mais procurado por artistas, por
um público que apreciava mais músicas do tipo Jazz ou MPB”.
O bairro Centro é a zona mais antiga da cidade e de grande atratividade. Antes do projeto para
Costazul era o lugar mais cobiçado pelos turistas. Possui uma vida diurna e noturna fortes,
principalmente na temporada de verão. Seu estilo mais popular e diversificado atrai pessoas das
mais diversas idades. Aqui acontecem eventos “de moda” (184), como shows com artistas que
fazem sucesso na época.
Já o loteamento Costazul teve desde sua história uma procura particular: sua paisagem para
descanso e lazer fora do tumulto encontrado no Centro. A ausência de transporte público na cidade
conciliado a distância para se aceder à praia de Costazul podem ser algumas das causas que
contribuíram para a construção de sua identidade na cidade. O estilo de música, os reais interesses
de quem apreciava uma paisagem mais rústica atraíam um outro tipo de grupo social que se
interessava pelo contato com a paisagem-natural.
O Projeto Urbano-ambiental de Costazul vem trabalhar em uma área singular da cidade de Rio das
Ostras tanto por sua localização físico-geográfica quanto por suas qualidades paisagísticas: sua
borda marítima. Resumidamente, o projeto caracteriza-se por constituir uma obra de arremate
urbano, onde o turismo surge como ponto a ser trabalhado e valorizado através da elaboração de
um ambiente que se diz “ecologicamente correto”, onde a população de Costazul e da própria
cidade se beneficiariam das obras (185). A seguir estão relacionados os objetivos do poder público
e dos autores do projeto respectivamente nesta ordem.
|
Ca
p
í
t
u
l
3
A
r
e
v
i
t a
l
i z
a
ç
ã
o
d
a
o r
l
a
d
e
o
s t
a
z u
l:
v
alo
es
e
in
er
e
s
se
s
o|
C
r
t
143
105
(184) Informação verbal de Maurício Pinheiro.
(185) PMRO, 2004b
Os objetivos do poder
blico
Compatibilizar o meio ambiente urbano com o natural (3)
Valorizar o meio ambiente urbano municipal atentando para a sua
identidade sócio-cultural, aliado ao potencial turístico e de lazer (3)
Permitir a acessibilidade total à água: construção de usinas de
tratamento de esgoto e do emissário submarino (2)
Desenvolver o turismo na região de forma sustentável (2)
Preservar o meio ambiente junto a uma política de educação
ambiental com a população e visitantes (1)
Inclusão social da cidade (1)
Preparar a cidade para assumir sua vocação natural e torná-la um
irresistível destino turístico (1).
Atender a qualidade de vida dos moradores riostrenses (1)
Orientar o uso adequado e o ordenamento da orla do Município,
potencializando esse ativo natural e propiciar sua utilização de forma
compatível com a manutenção da biodiversidade local (5)
Ordenar as atividades dos quiosqueiros (5)
Proteger os ecossistemas encontrados no trecho da intervenção (5)
Visar o bem estar social (5)
Utilizar racionalmente os recursos ambientais (5)
Valorizar o espaço a ser criado garantindo harmonia entre a paisagem
local, o meio ambiente e o desenvolvimento da cidade (8)
Objetivos dos
criadores do projeto
Respeitar as condições geográficas existentes (7)
Adequar usos e atividades que ocorrem no setor praial situando
atividades comerciais e de lazer (7)
Harmonizar a ocupação do homem com o meio ambiente natural da
orla (4)
Abrir o corredor biológico (6)
Criar acessos específicos para os usuários da praia a fim de preservar
a vegetão existente (3)
|
Ca
p
í
t
u
l
3
A
r
e
v
i
t a
l
i z
a
ç
ã
o
d
a
o r
l
a
d
e
o
s t
a
z u
l:
v
alo
es
e
in
er
e
s
se
s
o|
C
r
t
144
Dar prioridade ao pedestre em detrimento do veículo (7)
Proporcionar diversidade de usos (7)
Explorar o caráter de lazer e ócio existentes (7)
Unir o meio ambiente à expano urbana (6)
“juntar o meio ambiente a expansão urbana” (p. 28)
“Valorizar o meio ambiente urbano municipal sem perder de vista a
sua identidade sócio-cultural, aliado ao potencial turístico e de lazer”
(4)
Não criar bloqueios físicos entre as zonas de preservação e de uso
blico (7)
Tornar um projeto referência nacional no tratamento da paisagem
litorânea (2)
Atrair turistas de classes mais altas que as anteriores presenciadas na
região (7)
Tornar Costazul um ambiente onde as funções da cidade e a vida
social estariam inteiramente interligadas sem alterações
comprometedoras (6)
Conciliar revitalização junto a informação (6)
Orientar a população a valorizar e cuidar de seu patrimônio; Mudar a
concepção de uso, os hábitos a visão da população em relação a uma
obrablica (6)
Objetivos dos
criadores do projeto
paisagístico
Busca do esplendor da vegetão perdida (6)
Humanizar as áreas de intervenções urbanas (6)
Propiciar o desenvolvimento da consciência ecológica (6)
Tornar o projeto referencia para futuros planejadores ambientais (6)
Recuperação máxima possível das áreas verdes (3)
Buscar uma vocação para cada área em questão (6)
Triplicar a área de restinga (6)
(1) Rio das Ostras (revista, 2003)
(2) Zamot; Barbosa (sem data)
(3) Projeto Urbano-ambiental: revitalização da
orla de Costazul (apresentação doada pela
PMRO)
(4) Memorial descritivo do projeto para Costazul
(5) Plano de Intervenção na orla de Rio das
Ostras (sem data)
(6) Costazul: História
(7) Entrevista Maurício Pinheiro
(8) Rio das Ostras: Projetos (2003)
|
Ca
p
í
t
u
l
3
A
r
e
v
i
t a
l
i z
a
ç
ã
o
d
a
o r
l
a
d
e
o
s t
a
z u
l:
v
alo
es
e
in
er
e
s
se
s
o|
C
r
t
145
De acordo com o quadro acima, os interesses dos autores do projeto se complementam em parte e
vão ao encontro do discurso teórico divulgado: tentativa de conciliação de usos com o meio
ambiente. Porém, acrescentando informações obtidas durante a entrevista com Maurício Pinheiro,
ficou diagnosticado que a maior divergência entre os interesses do discurso entre estes agentes
sociais ocorre no fato do poder público divulgar a tão sonhada cidade justa e democrática como
apresentado brevemente no capítulo anterior e o projeto para Costazul ser desenvolvido para
atrair uma população de renda familiar mais elevada. O que se evidencia aqui é um conflito de
interesses entre os ideais pensados para a cidade e os pensados para Costazul. Como falar em
cidade justa e democrática no momento no qual se pensa em limitar um determinado público na
cidade como forma de aumento na arrecadação e melhoria da imagem do município? Conforme
palavras de Maurício:
Até então Costazul atraia turistas das classes C e D enquanto o Centro as D e E. Hoje já temos uma
alteração neste quadro, presenciamos mais os turistas da Classe B e C e queremos que melhore.
Sei que Rio das Ostras não será como Búzios, procurada o ano todo por turistas da classe A, mas foi
de interesse atender a um público mais exigente e atraí-lo à nossa cidade. Esse é nosso intuito.
Com isso temos um novo perfil de usuário”.
As praias são um bem público segundo estabelecido por leis e decretos. A tentativa de limitar esta
oferta leva a uma estratificação social e a fragmentação dos grupos sociais. Sabe-se que a própria
população se identifica dentro de certos grupos sociais existentes e a forma como foi idealizada
Costazul contribui para focalizar o público que se pretende atender e atrair. Fato interessante e que
torna ainda mais complexa essa discussão se evidencia pelo fato do governo municipal querer
resgatar a história e a cultura para uma cidade que pretende criar uma nova identidade para o
lugar. Uma discussão a respeito deste tema terá dedicação especial em seção futura, quando já
terão sido apresentadas as análises do projeto para a orla de Costazul.
Agora, torna-se necessário apresentar o projeto e suas implicações. A próxima seção dedicará
especial atenção ao estudo do desenho realizado para a orla de Costazul. Cabe aqui dizer que
|
Ca
p
í
t
u
l
3
A
r
e
v
i
t a
l
i z
a
ç
ã
o
d
a
o r
l
a
d
e
o
s t
a
z u
l:
v
alo
es
e
in
er
e
s
se
s
o|
C
r
t
146
todo o projeto teve a necessidade de uma equipe multidisplinar. O quadro com os profissionais ou
empresas envolvidas no projeto está apresentado no Anexo E.
3.11 O Projeto Urbano-ambiental de Costazul: as duas etapas
Segundo os objetivos e interesses dos autores do projeto, apresentados na seção anterior, foi
criado o Projeto Urbano-ambiental de Costazul “que transformou o local numa referência nacional
de projeto arquitetônico e intervenção paisagística” (186). Sendo a primeira a passar pelas obras
de reurbanização que ocorrem na cidade, o projeto “ousado e inovador” gerou uma nova imagem
para a cidade, uma imagem mais “moderna” que teve por inspiração a fauna marinha para o
desenho de seus equipamentos urbanos. O objetivo do projeto executado para esta orla é garantir
a utilização pública e turística. Estrategicamente este projeto foi pensado para ser realizado em
duas etapas.
A primeira será objeto de análise desta pesquisa por já ter sido implantada e por possibilitar um
estudo empírico, pois garante a maior eficácia nos resultados. A segunda só terá início quando
determinar as obras públicas na outra metade da orla, pois ainda precisam ser realizadas
instalações de infra-estrutura urbana. Segundo entrevista realizada com Mauricio Pinheiro a
continuidade das instalações das redes e calçamentos bem como a inauguração do emissário
submarino são fatores prioritários neste momento. Ele disse: “Torna-se mais lógico a finalização
desses projetos antes de se realizar a segunda fase, isto porque se otimiza tempo e os gastos com
o projeto de recuperação das áreas que seriam danificadas pela inserção dessas infra-estruturas
posteriormente”.
Juntas, essas duas áreas constituirão o cordão Ecológico almejado para alcançar a proteção da
fauna e flora da região, além de transformar a paisagem do local e reafirmar o caráter turístico. A
seguir estão relacionadas as duas etapas que constituirão a nova orla de Costazul.
|
Ca
p
í
t
u
l
3
A
r
e
v
i
t a
l
i z
a
ç
ã
o
d
a
o r
l
a
d
e
o
s t
a
z u
l:
v
alo
es
e
in
er
e
s
se
s
o|
C
r
t
147
106
107
(186) PMRO, 2004b, p.11
O Projeto Urbano-ambiental de Costazul*
Primeira etapa: trecho 01 Segunda etapa: trecho 02
Localização (1) Entre a Praça da Baleia e a Av.
Governador Roberto Silveira
Av. Roberto Silveira à Lagoa do Iriry
Extensão (1) 850 metros 990 metros
Objetivo (1) Conciliar o meio ambiente urbano com o
natural-cultural
Maior preocupação com a revitalização do
meio ambiente e menor área urbanizada
(187).
Programa (1) 16 quiosques (alimentícios e
souvenires)
Banheiros públicos
2 parques infantis
1 academia de ginástica
Ciclovia
Calçadão
Estacionamento: ruas adjacentes
8 quiosques (alimentícios e souvenires)
Banheiros públicos
1 parque infantil
1 posto salva-vidas
Continuação da ciclovia
Continuação do calçadão
2 grandes estacionamentos
Números e
intenções (1)
15.000 m² de área de lazer
14.855 m² de vegetação disposta entre
a areia e o calçadão e jardins
Realinhamento da Av. Costazul
1.722de área de lazer (praças)
10.310 m² de vegetação nativa disposta
entre a areia e o calçao e jardins
Extensão do realinhamento da Av. Costazul
Projeto (1) Finalizado em 2003 Ainda não tinha sido executado até a data
da entrevista, mas prevê:
4.862 m² de pocellanato junto a areia e 993
m² junto às residências
decks em 3 áreas totalizando 3.402 m²
Concepção Alicerçou-se em diversas premissas
voltadas para a cidade e para a
dignidade da pessoa humana.
Tem por base principal um cunho
preservacionista da vegetação do local
|
Ca
p
í
t
u
l
3
A
r
e
v
i
t a
l
i z
a
ç
ã
o
d
a
o r
l
a
d
e
o
s t
a
z u
l:
v
alo
es
e
in
er
e
s
se
s
o|
C
r
t
148
* Rio das Ostras: Projetos (2003); Rio das Ostras:
Projetos 2 (2004)
Dados evidenciados, também, durante a pesquisa de
campo.
Pode ser demonstrado, através do quadro acima, a real utilização que hoje se evidencia na praia de
Costazul. Pelo programa criado para as duas etapas do projeto Urbano-ambiental de Costazul fica
mais evidenciado, de acordo com as informações prestadas por Maurício Pinheiro quanto ao
estudo das características ambientais e de uso desta orla, que o trecho 1 é o de maior demanda e
assim está composto por uma quantidade maior de equipamentos. Porém, o que mais chama a
atenção é a força exercida por sua paisagem, onde o Remanso surge, conforme visto
anteriormente, como lugar que maior poder exerce sobre esta praia.
Outro ponto de grande repercussão na tomada de decisão do programa foi com relação à
vegetação existente. O trecho 01, por ser o mais deteriorado, foi mais explorado espacialmente
para a locação dos decks e demais objetos; já o trecho 02, que apresenta melhores condições na
sua cobertura vegetal, terá sua flora mais preservada, onde a área ocupada por objetos artificiais
será consideravelmente menor que àquela apresentada no trecho 01.
Assim, mesmo seguindo uma mesma linguagem no desenho, percebe-se a clara distinção entre os
dois trechos do projeto que exemplificam as características físico-naturais de cada um deles tanto
antes quanto depois do desenvolvimento das propostas para esta praia. No quadro abaixo está
exposto um resumo da caracterização dos problemas relacionados aos conflitos observados na
área de estudo bem como as diretrizes para a solução dessas questões.
|
Ca
p
í
t
u
l
3
A
r
e
v
i
t a
l
i z
a
ç
ã
o
d
a
o r
l
a
d
e
o
s t
a
z u
l:
v
alo
es
e
in
er
e
s
se
s
o|
C
r
t
149
Mobiliário
urbano (1)
Inspirado na fauna marinha
Inspirado na fauna marinha
Inauguração
Final de 2004 (1) Não teve início até o presente momento (2)
Total (1) 1980 metros lineares de ciclovia, 26 quiosques, 3 parques infantis, 3 postos salva-
vidas, 1 academia de ginástica
108
110
109
Praia de Costazul*
Problemas
Efeitos/Impactos Associados ao
Problema
Linhas de Ação para Equacionar o
Problema
Construção de comércio
(quiosques) dentro da
vegetação de restinga;
Uso inadequado do espaço
praiano.
Degradação do ecossistema
local;
Perda da biodiversidade e
produtividade natural;
Perda da qualidade da paisagem.
Ordenar uso e ocupação do solo em
terrenos de marinha (SPU);
Demarcação de área de restinga;
Criar condições de passagem da
fauna local;
Recuperação de áreas degradadas.
Neste capítulo foram apresentados as mediações da orla de Costazul, seus limites, as próprias
características do local de projeto e os interesses e conflitos que culminaram na criação do Projeto
Urbano-ambiental para Costazul. O próximo capítulo vem dar continuidade ao estudo do desenho
do projeto, sua forma e como o discurso teórico foi aplicado na concretização do plano.
|
Ca
p
í
t
u
l
3
A
r
e
v
i
t a
l
i z
a
ç
ã
o
d
a
o r
l
a
d
e
o
s t
a
z u
l:
v
alo
es
e
in
er
e
s
se
s
o|
C
r
t
150
*Esse estudo foi baseado no Plano de Intervenção
para o trecho 7 da orla marítima ou rio das Ostras
(PGIOM) e foi realizado através dos dados obtidos
sobre a área e observações efetuadas no local.
111 112
C A P Í T U L O 4
O D E S E N H O E A D O P R O J E T OI M P L A N T A Ç Ã O
113
4.1 Apresentação
O projeto desenvolvido e implementado no trecho 01 na praia de Costazul representa um novo
conceito de planejamento para o litoral riostrense bem como para a cidade. Projetado para abrigar
uma série de atividades, que estão organizadas em nichos dentro do espaço praiano de modo a
satisfazer as necessidades de seus usuários e os interesses de preservação do ambiente litorâneo,
este projeto busca responder os anseios de um urbanismo ecologicamente responsável,
evidenciados pela busca de projetos que dialogam desenvolvimento econômico e social com
preservação ambiental. Neste momento da pesquisa será apresentado e discutido os aspectos
pertinentes à concepção do novo projeto em três pontos principais: o desenho urbano e de
arquitetura; os equipamentos urbanos e os de uso específico para crianças e adultos; e a
vegetação.
4.2 A definição das escalas de análise
“O direito da qualidade da paisagem e da arquitetura é um direito social e,
noutro sentido, fundamento da intervenção do arquiteto.
LLamas, 2004:68
Sabendo que as alterações de um determinado contexto implica em alterações em sua forma
devido as diferentes respostas dadas `as novas situações (187), esta parte do trabalho vem
desenvolver o estudo do projeto urbano pensado para o trecho 01 da orla de Costazul finalizado no
ano de 2004, que veio mudar substancialmente este setor praiano. Tendo os capítulos dois e três
relatado a apresentação da cidade e do objeto de estudo no tempo e no espaço além dos interesses
envolvidos na tomada de decisões dos projetos que estão sendo desenvolvidos para a cidade de
Rio das Ostras, este capítulo procura trabalhar com um conjunto de operações que envolvem o
Projeto Urbano-ambiental de Costazul, abordando a concepção de sua forma urbana e as ações
para sua concretização.
Dentro do contexto das alterações do ambiente costeiro de Costazul, foi realizado o estudo dos
elementos estimulantes e geradores do partido arquitetônico, bem como aqueles que interligam o
ambiente praiano ao espaço urbano como, por exemplo, a as conexões e fluxos. Ainda foram
empregadas algumas categorias de análise, como a acessibilidade, os interesses na diversidade de
usos, a atratividade e o poder de sedução do novo lugar.
Através de uma nova forma, o projeto propõe a organizar o território costeiro de modo que este
possa suportar as atividades humanas, resgatando uma vitalidade econômica e social para a orla
de Costazul. Segundo palavras de LLamas (2004, p. 111) A leitura da cidade e do território faz-se
simultaneamente a diferentes níveis ou escalas e também pelo percurso e seqüências, o que
significa que a forma urbana só pode ser estudada e compreendida em um sistema de semi-
retícula.” Compreendendo este pensamento como desagregações e articulações sucessivas entre
(187) LLAMAS, 2004.
|
Ca
p
í
t
u
l
4
o|
O
d
s
e
n
h
o
e
i m
p
a
n
t
a
ç
ã o
d
o p
r
o
j
e
o
e
a
l
t
153
os diversos conjuntos que compõem o projeto foi criada a estrutura para a apresentação e
discussão do desenho através de três escalas de aproximação. Aplicando metodologia sugerida
por Muñoz (1994), de acordo com as leituras que se pode fazer do desenho, esta fase envolveu um
critério comparativo de análise.
Como apresentado na introdução, na parte sobre metodologia empregada para avaliação do
projeto, o momento analítico teve por objetivo trabalhar com três escalas de aproximação dadas
as suas peculiaridades físico-ambientais e projetuais apresentadas na orla. A primeira se refere ao
projeto como um todo; a segunda está caracterizada por quatro áreas de intervenção: a Avenida
Costazul, o deck e o passeio público (passeio marítimo), a vegetação, e a praia. A última escala
fraciona cada extrato de trabalho da escala anterior em três partes. Como na primeira escala de
aproximação será trabalhado os aspectos gerais do projeto, ela não se fraciona; o restante da
discussão, pertinente a segunda e terceira escalas, fica subdividida em quatro setores e nove
subsetores, a saber:
1 - Primeira escala - o projeto como um todo. Será dada atenção aos estudos relacionados as
intenções e objetivos gerais do projeto,` as conexões e fluxos que se estabelecem entre os setores
e `a leitura do conjunto através de uma comparação entre discurso e prática, ou seja, entre o
apresentado em papel e dito em entrevistas, e `a pesquisa de campo que veio confirmar os dados
fornecidos.
2 - Segunda escala - a divisão que caracteriza esta escala em quatro setores foi criada a partir de
informações contidas em uma das apresentações para o Projeto Urbano-ambiental de Costazul,
que foi fornecida pela Secretaria de Planejamento de Rio das Ostras. Nesta apresentação aparece
o projeto pensado em quatro áreas de interferência: a Avenida Costazul e a ciclovia; o deck e o
passeio de pedestre; a vegetação; e a praia. Assim, a segunda escala corresponde aos setores
trabalhados no projeto, conforme segue:
|
Ca
p
í
t
u
l
4
o|
O
d
s
e
n
h
o
e
i m
p
a
n
t
a
ç
ã o
d
o p
r
o
j
e
o
e
a
l
t
154
2.1 - Setor A - corresponde à avenida Costazul e a ciclovia. Neste capítulo serão comentados os
aspectos gerais do projeto como a questão da acessibilidade à orla e os materiais aplicados, bem
como intenções iniciais e projetuais.
2.2 - Setor B - corresponde a todo o projeto idealizado para o passeio marítimo, no qual se inserem
todos os objetos criados pelo homem, excluindo a vegetação.
2.3 - Setor C - a vegetação. Trabalha com os interesses particulares do projeto para a preservação
da área de restinga.
2.4 - Setor D - a praia de Costazul, ou faixa de areia e borda de território marítimo. Como este
capítulo se dedica as obras realizadas na orla, pouco será dito sobre este setor neste momento,
pois quase não há elementos construídos na área em questão.
3 Terceira escala os subsetores. Estes foram criados a partir da observação das particularidades
observadas no desenho. É possível afirmar que a própria dinâmica que existia anteriormente na
orla contribuiu para que cada setor tivesse suas próprias identidades. As particularidades
observadas no espaço em questão serão trabalhadas a partir do fracionamento de cada setor em
três partes, como segue:
3.1 Subsetores A1, B1, C1 e D1 seguem as linhas imaginárias traçadas a partir do eixo das ruas
Servidão e Luiz Lengruber, perpendiculares a Av. Costazul e que se estendem até o mar de
Costazul, subdividindo o setor A em três fragmentos que se distinguem entre si;
|
Ca
p
í
t
u
l
4
o|
O
d
s
e
n
h
o
e
i m
p
a
n
t
a
ç
ã o
d
o p
r
o
j
e
o
e
a
l
t
155
3.2 Subsetores A2, B2, C2 e D2 seguem as linhas imaginárias traçadas a partir do eixo das ruas
Luiz Lengruber e Irene dos Santos Ferreira, perpendiculares a Av. Costazul e que se estendem até
o mar de Costazul, subdividindo o Setor B em três fragmentos que se distinguem entre si;
3.3 Subsetores A3, B3, C3, D3 seguem as linhas imaginárias traçadas a partir do eixo da rua
Irene dos Santos Ferreira e da Av. Gov. Roberto Silveira, perpendiculares a Av. Costazul e que se
estendem até o mar de Costazul, subdividindo o Setor C em três fragmentos que se distinguem
entre si.
O quadro abaixo vem sintetizar a divisão feita para o estudo do projeto:
Cada setor ou subsetor, quando for analisado, aparacerá marcado em vermelho para falitar sua
localização.
|
Ca
p
í
t
u
l
4
o|
O
d
s
e
n
h
o
e
i m
p
a
n
t
a
ç
ã o
d
o p
r
o
j
e
o
e
a
l
t
156
Para efeitos de compreensão essas escalas foram trabalhadas individualmente e seqüencialmente.
A próxima seção vem apresentar cada uma delas, começando pela primeira escala (escala macro)
ou setor 1. Em seguida cada setor e subsetor correspondente. O quadro abaixo sintetiza essa
seqüência de apresentação.
|
Ca
p
í
t
u
l
4
o|
O
d
s
e
n
h
o
e
i m
p
a
n
t
a
ç
ã o
d
o p
r
o
j
e
o
e
a
l
t
157
4.3 A grande zona de interferência: a primeira escala de aproximação
“Quando cruzamos a porta de saída de nossas casas, entramos em um outro
tipo de moradia, muito mais ampla e complexa, com cômodos imensos, pisos
variados, teto que é um verdadeiro mistério e paredes com infinidades de
formas e de cores”.
Maurício Pinheiro
A atual seção irá trabalhar com aspectos generalizados pensados para a revitalização da orla de
Costazul. Ficou a cargo de Maurício Pinheiro a responsabilidade pelo planejamento e desenho do
projeto urbano bem como a direção da pequena equipe que esteve envolvida na criação do
mesmo. Segundo anseios dos autores era necessário recuperar a área degradada da orla marítima
e revitalizá-la, tendo por base um projeto que conciliasse o desenvolvimento ambiental com o
econômico, dando condições de acessibilidade aos usuários do setor, atendendo a população local
e fomentando o turismo na região dentro de uma política de educação ambiental.
Para solucionar o problema da deterioração da vegetação, que resgataria flora e fauna da região,
foi pensado um projeto de cunho ambientalista que depende também da orla de Costazul: o
Corredor Ecológico, como apresentado no capítulo anterior. Este “corredor” nada mais é do que a
real possibilidade dos animais percorrerem e serem atraídos novamente para seus habitas
costeiros. Abrangeria uma área que se estende desde a APA de Itapebussus aos Costões Rochosos,
ou seja, envolveria a APA de Itapebussus, a APA da Lagoa de Iriry, a praia de Costazul, os Costões
Rochosos e as praias das Areias Negras, Brava e Joana, que também estão previstas dentro do
manejo ambiental.
Uma vez delimitado a área de preservação e buscando recuperá-la, foi decidido, conforme o Plano
Diretor, que aquelas comunidades vegetais existentes deveriam permanecer na área de atuação,
onde se teria o devido cuidado de não deteriorá-las durante as obras no local. A leitura desses
conjuntos vegetais guiou o desenho do deck que se formou dos vazios existentes da areia e
|
Ca
p
í
t
u
l
4
o|
O
d
s
e
n
h
o
e
i m
p
a
n
t
a
ç
ã o
d
o p
r
o
j
e
o
e
a
l
t
158
114
respeitou as características que já eram evidenciadas na região, como os acessos abertos pelo
público, os lugares de uso mais intenso, etc. Ainda foi de intenção projetual não criar bloqueio com
barras entre os caminhos destinados ao uso público e as áreas de preservação de restinga. Foi
estabelecido ainda que os usuários deveriam ter acessos delimitados no projeto de forma a
preservar esta vegetação, que seria trabalhada com esmero de tal modo que viesse a se destacar
no conjunto. Disse Denise Pinheiro:
“(...) toda a área de projeto estava sendo desenvolvida pelo Maurício, pela equipe dele. O que foi
realizado aqui: a especificação da vegetação, a introdução de vegetação refletindo um pouco a
vegetação de dunas, a paisagem mesmo de restinga criando dunas, entendeu? E a criação
também da abertura de caminhos, indo para a praia, e esse direcionamento do aro. Porque, na
realidade, eles estavam falando que, aliás, eles pediram e não simplesmente falaram, que o
pedestre não tivesse acesso por todo o perímetro, então seria mais direcionado na área e
delimitado, com acessos limitados, justamente para desenvolver essa vegetação.
Para alcançar o objetivo da criação do Corredor Ecológico seria necessário aumentar a vegetação
existente e intervir o menos possível no ambiente praiano. Sob essas condições foi estipulado que
toda a construção sobre a faixa de areia estaria implantada sobre um deck sustentado por
palafitas, o que permitiria o estabelecimento de vegetação sob essa estrutura além de servir como
passagem para os animais da região. Assim foi idealizado o deck do passeio marítimo que fica ao
mesmo nível da Avenida Costazul e a altura existente entre este e a areia de praia seria vencida
através de rampas permitindo a acessibilidade física que almejam dentro do projeto.
|
Ca
p
í
t
u
l
4
o|
O
d
s
e
n
h
o
e
i m
p
a
n
t
a
ç
ã o
d
o p
r
o
j
e
o
e
a
l
t
159
115
116
117
No quesito acessibilidade o Art. 65 do Plano Diretor vem trabalhar com as diretrizes para a política
de bem-estar social, onde se pode perceber a importância em atender a todos aqueles que
possuem limitações em sua locomoção. Destaco os seguintes incisos deste documento: promover
as condições adequadas para o desenvolvimento das potencialidades dos portadores de
necessidades especiais PNE favorecendo sua inserção na vida econômica e social (inciso XI);
promover a realização de obras e ações destinadas a garantir a acessibilidade das pessoas
portadoras de necessidades especiais com mobilidade reduzida, a todas as edificações comerciais
o
e públicas do município, em atendimento à Lei Nacional n 10.098/2000 e em conformidade com a
NBR 9050-94, e ao transporte coletivo, com um sistema especial de atendimento a ser
desenvolvido (inciso XII). Porém, na o foi verificado no desenho do piso nem no local elementos
que demonstrem preocupação com as pessoas portadoras de necessidades especiais (PPNE)
visuais, o que evidencia uma contradição no discurso do projeto.
Desejando um ambiente lúdico, turístico, de cunho ambiental e que estimulasse as pessoas para a
atenção ao ambiente litorâneo e marítimo, o projeto vem trabalhar com as seguintes temáticas:
doambiente marinho nos equipamentos urbanos; da pesca, fonte de grande importância
econômica para a cidade ao longo de sua história, como expressão de cultura e conhecimento da
cidade; e da história da caça a baleia, uma forma de política ambientalista de proteção a esse
mamífero marítimo. Uma homenagem especifica a baleia Jubarte está concretizado na Praça da
Baleia, um dos limites do projeto para a orla de Costazul. A jubarte costuma migrar para as águas
do território marítimo brasileiro, onde se insere Rio das Ostras, em busca de águas mais quentes e
de comida durante os períodos de calor.
Como todos os equipamentos urbanos tiveram fonte de inspiração nos elementos marinhos, pode-
se perceber claramente: os quiosques em forma de estrela-do-mar, os playgrounds em forma de
tartaruga marinha, os postos salva-vidas em forma de caracol, etc.; os desenhos de peixes pela
Avenida; as placas em baixo relevo distribuídas uniformemente pelo calçadão contando através de
desenhos a história da pesca e de caça às baleias, bem como o ultimato de proibição de matança
|
Ca
p
í
t
u
l
4
o|
O
d
s
e
n
h
o
e
i m
p
a
n
t
a
ç
ã o
d
o p
r
o
j
e
o
e
a
l
t
160
118
desse mamífero. Esses elementos, segundo Maurício, vem trazer o ambiente marinho para a
cidadee ainda contribuiriam para uma consciência ecológica na região. Disse Maurício:
“Queríamos que as pessoas se sentissem de fato num ambiente litorâneo [...] nisto veio a idéia dos
desenhos de peixes já na calçada de rolamento, dos quiosques com forma de estrela-do-mar, dos
brinquedos infantis com forma de tartaruga [...].
|
Ca
p
í
t
u
l
4
o|
O
d
s
e
n
h
o
e
i m
p
a
n
t
a
ç
ã o
d
o p
r
o
j
e
o
e
a
l
t
161
120
119
121
Uma outra preocupação que se observa no projeto foi com relação aos materiais empregados. Para
o piso foi desejado materiais que fossem ao encontro do projeto ecologicamente correto e que
respeitassem as seguintes características: permeabilidade, beleza, durabilidade e maleabilidade.
Destacam-se três tipos de revestimentos: o bloco de concreto intertravado, o porcellanato e a
madeira. Assim é composto o quadro dos principais materiais que revestem o piso do projeto para
a orla.
O bloco de concreto intertravado reveste a Av. Costazul e a ciclovia. O porcelanato foi criado
inicialmente para atender aos requisitos do projeto para Costazul, e está empregado no passeio
marítimo, principalmente no calçadão. Já a madeira é de lei e veio de Rondônia e compõem o deck
do passeio.
Todo o projeto é então composto por uma riqueza de cores, formas e texturas que atraem o olhar e
o desejo de usar. O apelo turístico é acentuado pela composição e traçado, mas percebe-se o
anseio de resgate de uma vegetação até então desconsiderada pelos usuários da praia de
Costazul. Tendo exposto as grandes diretrizes do projeto, a seção a seguir vem trabalhar dentro
das quatro zonas de intervenção: a Av. Costazul, o passeio marítimo, a vegetação e a praia, de
forma mais detalhada, diminui-se a escala.
|
Ca
p
í
t
u
l
4
o|
O
d
s
e
n
h
o
e
i m
p
a
n
t
a
ç
ã o
d
o p
r
o
j
e
o
e
a
l
t
162
122 123
4.4 As segunda e terceira escalas de aproximação
4.4.1 O setor A: A Av. Costazul e a ciclovia
A principal intenção para esta avenida foi limitar o acesso e uso dos veículos bem como propiciar o
fácil cruzamento dos pedestres. A Avenida Costazul foi projetada para fazer parte do sistema
binário pensado para o setor ficando o acesso de veículos disponível em sentido único e impedida a
circulação de transporte coletivo por esta avenida. Composta por um acostamento, uma faixa de
rolamento e uma ciclovia esta avenida foi calçada com bloco de concreto intertravado, que
responde as características de permeabilidade, maleabilidade, cores, composição e beleza.
Percebe-se ainda o desenho de peixes na via de rolagem, que vem garantir o aspecto lúdico e
cuidado a ela dedicado.
Pioneira na implementação de toda fiação subterrânea, Costazul ficou mais limpa, menos poluída
visualmente pelos cabos que sustentam a eletricidade, telefonia, Internet que servem as
habitações. Caixas de cabeamento subterrâneas foram implantadas, extinguindo os fios que antes
ficavam expostos e que comprometiam a qualidade estética do local. Outras caixas de expansão e
de cabeamento de fibra de vidro foram implantadas de forma a garantir a futura demanda no setor.
Os dutos de água e esgoto se situam sob esta via. Todas estas instalações também foram
superdimensionadas prevendo uma futura expansão destes serviços de modo a evitar novos
gastos e futuros incômodos para a população e usuários. A iluminação fica a cargo dos antigos
postes de luz que incidem diretamente sobre esta Avenida, propiciando a iluminação pública desse
setor. Estes postes seguem sua implantação anterior, localizados na borda externa da calçada de
concreto defronte `as casas.
A ciclovia vem materializar o espírito ecológico e de passeio e/ou caráter esportivo. Estando entre
a via carroçável e o passeio, ela propicia maiores atividades no setor e marca a faixa de transição
entre a Avenida Costazul e o passeio marítimo. Segue o mesmo revestimento da Avenida Costazul,
|
Ca
p
í
t
u
l
4
o|
O
d
s
e
n
h
o
e
i m
p
a
n
t
a
ç
ã o
d
o p
r
o
j
e
o
e
a
l
t
163
124
porém não apresenta desenhos em seu trajeto. Sob as mesmas características de revestimento
segue o acostamento criado entre a via carroçável e a área de calçada existente em frente às
edificações do loteamento constituindo, também, um espaço de transição. Por vezes a calçada se
estende até a Avenida Costazul não existindo, nestes casos, estacionamento.
Abaixo segue o estudo mais detalhado deste setor, que foi repartido em três subsetores, como
segue:
4.4.4.1 Subsetor A1
A Subzona A1 tem por característica ser o ponto de chegada principal daqueles que vêm através de
transporte coletivo à orla de Costazul. Possui apenas dois pontos de travessia de pedestres, fato
curioso por ser este o ponto que gera maior atratividade nesta orla. Estes locais de conexão estão
situados no local próximo a esquina da rua da Servidão e outro entre o brinquedo infantil e a
academia de ginástica. Nas suas proximidades se localiza o núcleo comercial principal de Costazul
constituído por serviços alimentícios, artísticos e souveniers.
|
Ca
p
í
t
u
l
4
o|
O
d
s
e
n
h
o
e
i m
p
a
n
t
a
ç
ã o
d
o p
r
o
j
e
o
e
a
l
t
164
125
126
4.4.4.2 O Subsetor A2
O Subsetor A2 é mais bem caracterizado pela interseção entre o núcleo comercial e o residencial.
Também é constituído por dois pontos de travessia de pedestres, um próximo a Rua Luiz Lengruber
e outro junto ao conjunto de quiosques existentes no setor B2. Segue as mesmas características
de materiais empregadas no subsetor anterior.
4.4.4.3 O Subsetor A3
O Subsetor A3 é o ponto de chegada principal para aqueles que optam pela Av. Roberto Silveira
para aceder a orla de Costazul. Ela possui três pontos de travessia de pedestres distribuídos
uniformente nesta quadra. Um próximo a rua Irene dos Santos Ferreira, outro no meio das duas
travessias próximo ao brinquedo infantil e outro perto da Av. Gov. Roberto Silveira. Também segue
as mesmas características dos Subsetores anteriores quanto aos materiais.
|
Ca
p
í
t
u
l
4
o|
O
d
s
e
n
h
o
e
i m
p
a
n
t
a
ç
ã o
d
o p
r
o
j
e
o
e
a
l
t
165
127
129
130
128
4.4.2 O setor B: o passeio marítimo de Costazul
O segundo setor corresponde ao passeio marítimo onde se mesclam aspectos urbanísticos e
arquitetônicos que trabalham na difícil tarefa de arremate urbano. Caracteriza-se por um
urbanismo funcional, que busca atender as atuais exigências ecológicas da proposta projetual
inicial. Divide a área em zonas, concentrando usos e atividades (núcleos de serviços) a fim de
manter e resgatar a vegetação da praia. Dos vazios na areia, caracterizados pela remoção dos
antigos quiosques somados `aqueles marcados pelos caminhos abertos entre a vegetação,
começaram os croquis iniciais do projeto.
|
Ca
p
í
t
u
l
4
o|
O
d
s
e
n
h
o
e
i m
p
a
n
t
a
ç
ã o
d
o p
r
o
j
e
o
e
a
l
t
166
131
132
Como o objetivo principal do Projeto Urbano-ambiental de Costazul é criar o Cordão Ecológico, os
autores pensaram em deixar sobre palafitas toda a área edificada do passeio, sempre que
houvesse um desnível, de forma a proporcionar algum espaço que permitisse a circulação de
animais e o crescimento de vegetação por baixo do passeio criado. Desejando ainda a preservação
da restinga existente foi decidido que os serviços ficariam organizados em conjuntos e
implantados dentro da área livre referente aos espaços vazios criados pela retirada das antigas
construções e pelos caminhos devastados pelos usuários da orla. Nestes espaços livres foi
edificado todo o projeto tendo-se o devido cuidado de manter canteiros que iriam entremear as
novas edificações e equipamentos.
O desenho do passeio, de forma geral, obedece a linearidade observada na Av. Costazul em sua
borda interior e a um desenho mais livre em sua borda exterior, limítrofe a praia. Paralelo `a
ciclovia, apresenta-se o calçadão, que une todos os equipamentos da orla. Adentrando no passeio,
um traçado curvilíneo se faz presente abrindo passagem para o acesso ao deck de madeira. Esse
desenho curvilíneo produz um movimento e quebra da sensação da linearidade existente além de
abrir espaço para os conjuntos de vegetação existente em seu seio. Esse novo desenho em linhas
curvas vem destacar ainda mais o projeto dentro do cenário urbano, caracterizado por linhas mais
rígidas.
|
Ca
p
í
t
u
l
4
o|
O
d
s
e
n
h
o
e
i m
p
a
n
t
a
ç
ã o
d
o p
r
o
j
e
o
e
a
l
t
167
133
135
134
Este traçado curvilíneo teve como inspiração o desenho e tonalidades observadas na areia da praia
quando as ondas do mar a toca. Quando isto acontece, um desenho em curvas de distintos raios é
formado. Pode-se imaginar uma linha que desenha esse encontro que favorece o aparecimento de
cores distintas na areia alterando suas características: molhada e seca. Foi a partir dessa
percepção e com intuito de levar a praia ao passeio que tiveram a idéia de trabalhar com um
traçado mais livre e com materiais que fornecessem tons criados a partir do encontro terra-mar.
Assim surgiu a idéia do desenho mais livre no piso em três tonalidades para a madeira e para o
porcelanato. A madeira foi aplicada na área de deck e o porcellanato está presente principalmente
na calçada linear do passeio.
Durante a pesquisa de campo não pude observar essa diferença de tonalidade na madeira que
compõem o deck. Segundo Mauricio Pinheiro: “devido às intempéries, hoje já não se pode
perceber essa intenção na madeira, está quase no mesmo tom. Mas já estamos na fase de
manutenção. Tudo que necessita de cuidado ou de troca está sendo executado”. Aproveitando os
espaços vazios na areia foram planejados quatro nichos de serviços que comportam 18 quiosques
(alimentos e souvenires), banhos, duchas, mesas e bancos dispostos sobre o deck de madeira.
No passeio ficaram dispostos todo o mobiliário urbano e os equipamentos de usos específicos. Por
equipamentos de usos específicos cito os aparelhos de musculação, que compõem a área de
atividades físicas direcionadas a adultos, e os brinquedos infantis para as crianças. Com exceção
dos aparelhos de ginástica, que foram comprados segundo padrões existentes no mercado, e dos
postes de iluminação, que tem por referência as ondas do mar em seu desenho, todos os outros
objetos sobre o passeio tiveram por fonte de inspiração a fauna marinha - bancos, duchas,
letreiros, pergolados, jogos infantis, quiosques. Estes elementos foram dispostos pelo passeio de
forma a proporcionar total liberdade de locomoção e suas formas tiveram a grande incumbência de
trazer a tona o efeito lúdico desejado para o local. Cores, formas, texturas, movimento, tudo isso
contribui para a seduzir os visitantes e usuários do local.
|
Ca
p
í
t
u
l
4
o|
O
d
s
e
n
h
o
e
i m
p
a
n
t
a
ç
ã o
d
o p
r
o
j
e
o
e
a
l
t
168
136
Com os novos equipamentos de lazer infantil (playground) e de exercício para adultos (academia
de musculação) novos usos para o espaço foram propiciados conferindo maior atratividade. Esses
equipamentos, na forma como foram pensados, eram inexistentes na orla riostrense até então, o
que confere um caráter inovador e de valor no local.
A área edificada do projeto compreende os quiosques deste setor. A arquitetura de baixo gabarito e
forma pentagonal possui por temática a estrela-do-mar, por isso a forma de uma cobertura em
pontas, que vista do alto principalmente, recorda este elemento marinho. Esta forma produz ainda
um efeito de movimento e no conjunto ganha maior destaque e visibilidade, caracterizando um
ambiente distinto, mais ruidoso e agitado, tipicamente de comércio.
Dezoito quiosques criados para o trecho 01 do Projeto da orla de Costazul, onde se confere serviços
de gastronomia e de boutique e souvenir. Sua construção em alvenaria e madeira e cobertura
emborrachada abriga a área de atendimento, cozinha e banheiro público.
A concentração dos quiosques próxima ao Remanso foi estipulada por este ser o ponto de maior
concentração de pessoas e demanda por serviços alimentícios da orla. Dentre os motivos já
apresentados anteriormente, o Remanso, com ondas mais calmas, garante maior segurança
àqueles que apreciam um banho de mar, pois Costazul é uma praia de mar aberto, com ondas
fortes propícias ao surf. A criação do passeio marítimo gerou uma maior atratividade para este
setor.
Dentro das intenções projetuais, foi pensado, `a princípio, gerar luz através de captação solar para
os quiosques, mas essa tecnologia foi descartada, pelo menos provisoriamente. As águas residuais
atualmente são destinadas a fossas sépticas que poderão ser substituídas pela captação de esgoto
para depuração na estação de tratamento.
Outra preocupação forte do projeto foi com relação aos projetos elétrico e paisagístico. Desejava-
se uma iluminação que possibilitasse a visibilidade do céu, das estrelas, desse ambiente
encantador. O Sr. Paulo Sanches ficou encarregado desse objetivo que foi obtido com tecnologia
|
Ca
p
í
t
u
l
4
o|
O
d
s
e
n
h
o
e
i m
p
a
n
t
a
ç
ã o
d
o p
r
o
j
e
o
e
a
l
t
169
137
apropriada. Segundo Maurício Pinheiro, os postes de iluminação foram os únicos elementos que
não tiveram por inspiração um objeto marinho, “mas eles remetem as ondas do mar”, explica.
Com relação ao tratamento do piso, o porcelanato foi o primeiro a ser desenvolvido para áreas
públicas externas. Especialmente desenvolvido pela Portobello, atende às características de
segurança (antiderrapante) conforto térmico, permeabilidade, maleabilidade e beleza. Toda a
madeira empregada é de manejo sustentável com certificação do IBAMA e veio de Rondônia; teve
tratamento adequado para sua maior conservação.
“Quando conto parece até propaganda para este piso. Estávamos fazendo nossa visita de rotina e
vinha um menino, uma criança, correndo, pois a areia da praia estava tão quente que queimava os
seus pés. Quando esta criança pisou na calçada de porcelanato, teve uma expressão tão curiosa
que nunca me esquecerei: ele parou de correr, olhou para o piso e para o pé [...] depois ele seguiu
caminhando.
A escolha pela madeira no deck ocorreu por alguns motivos: além de dar maior flexibilidade ao
trabalho, pois havia a necessidade de maleabilidade para executar as linhas curvas do piso, seria
um elemento mais nobre e leve, que comporia o projeto. O concreto foi descartado, pois não
conseguiria atingir aos objetivos dos autores. Maurício Pinheiro explicou que o maior problema do
emprego da madeira poderia ser o surgimento de bichos perniciosos que poderiam roer a madeira
provocando sua instabilidade, um acidente, por exemplo. Essa preocupação foi eliminada pela
própria fauna que habita nesta faixa marítima, pois, na vegetação da praia existe o porquinho-da-
índia, animal que não gera riscos para a madeira, e que atrai a coruja que se alimenta de ratos.
Assim, a própria cadeia alimentar não permitiria que esta outra família roedora se instalasse no
local, evitando assim os riscos nas estruturas de palafita dos decks.
A seguir segue o estudo mais detalhado deste setor, que foi repartido em três subsetores.
|
Ca
p
í
t
u
l
4
o|
O
d
s
e
n
h
o
e
i m
p
a
n
t
a
ç
ã o
d
o p
r
o
j
e
o
e
a
l
t
170
138
4.4.2.1 O Subsetor B1
Considerado o de maior procura, tanto em dias de semana quanto nos de finais de semana, é,
portanto, o local que apresenta o maior número de quiosques e de objetos presentes no passeio.
Neste local, pode-se encontrar um total de nove quiosques, um brinquedo infantil, a academia de
ginástica e grandes conjuntos de vegetação que configuram um espaço dinâmico e atrativo.
Por entre os quiosques, sobre o deck de madeira, foram implantadas duchas de banho e foram
pensados espaços para a concentração de mesas próximas a eles com vista para o mar. O
brinquedo infantil está situado próximo ao calçadão. A areia da praia se estende até este brinquedo
e cria um espaço de permeabilidade e de integração entre a praia e o passeio, permitindo à criança
um poder de liberdade e prazer proporcionados pelo contato direto com este elemento praiano.
Já a academia de ginástica vem oferecer o culto ao corpo. Com equipamentos modernos, torna-se
um outro ponto de destaque no projeto. Antes, para o mesmo local onde está inserida a acedemia
de ginástica, estava planejado a implantação de duas quadras. Essa idéia foi descartada, pois a
necessidade de tela de proteção poderia comprometer a paisagem que pensavam para a orla,
segundo o Sr. Maurício Pinheiro.
As rampas de acesso à praia foram implantadas no aro dos quiosques de forma a favorecer a
acessibilidade pretendida. Essas conexões foram planejadas de modo a parecerem uma
prolongação do trabalho que compõe o deck, como se o piso se rasgasse e inclinasse ao chão
oferecendo passagem. Canteiros foram projetados entre estes espaços direcionando também o
caminho.
A parte interior do projeto, que se limita com a Av. Costazul, constitui um espaço de convite a
explorar o projeto que aos poucos se abre aos olhos do transeunte. O desenho do piso, a
arquitetura empregada e os canteiros, que vão permeando essas construções, criam um ambiente
sedutor e ainda mais valorizado a partir das diferentes perspectivas que se pode obter no local.
|
Ca
p
í
t
u
l
4
o|
O
d
s
e
n
h
o
e
i m
p
a
n
t
a
ç
ã o
d
o p
r
o
j
e
o
e
a
l
t
171
139
4.4.2.2 O Subsetor B2
Este Subsetor, situado entre as ruas Luiz Lengruber e Irene dos Santos Ferreira, está caracterizado
por ser o local do passeio de maior respiro e de contato visual imediato com o mar, pois não tem
bloqueios como os apresentados, principalmente no Subsetor anterior que é caracterizado pela
concentração de quiosques `a beira-mar. Contam-se três quiosques, ducha, banhos e bancos que
acompanham o desenho do deck. É o menor conjunto presente no projeto. Os acessos à praia
ocorrem por entre as laterais dos quiosques, através de rampas que se abrem à areia, conforme se
presencia em todos os conjuntos de serviços do passeio. Não há a presença de canteiros entremeio
aos quiosques.
4.4.2.3 O Subsetor B3
Entre a Rua Irene dos Santos Ferreira e a Av. Gov. Amaral Peixoto se encontra este subsetor. Pode-
se dizer que é um desenho que mescla os Subsetores B1 e B2, pois está formado por um número
considerável de quiosques (seis), um brinquedo infantil e conjuntos de vegetação entre o passeio.
Destaca-se por apresentar os equipamentos em dois núcleos, cada um com três quiosques,
banhos e uma ducha, sendo que o brinquedo infantil fica no meio destas zonas. O acesso à praia
pode ocorrer ou não por rampas, pois já não há desníveis para isso. Os caminhos que levam aos
quiosques são da própria areia da praia e por seu trajeto não se evidencia barras que ajudem a
proteger a vegetação.
|
Ca
p
í
t
u
l
4
o|
O
d
s
e
n
h
o
e
i m
p
a
n
t
a
ç
ã o
d
o p
r
o
j
e
o
e
a
l
t
172
140
4.4.3 O Setor C - a Vegetação
O trabalho desenvolvido para o paisagismo desta zona ficou sob responsabilidade do escritório
Maria Saucha Planejamento Ambiental, Paisagístico, Consultoria e Execução. A proposta teve
como essência o resgate da vegetação perdida e, por conseguinte, da fauna local (sabiá da Praia,
corujas, preás, répteis de restinga, insetos). Assim, o objetivo principal da intervenção
paisagística é contribuir para a concretização do Corredor Ecológico que liga a APA de Iriry ao
Monumento Natural dos Costões Rochosos.
Como objetivos específicos o projeto procurou adotar uma disposição mais harmônica de um
conjunto de associações vegetais organizadas paisagisticamente buscando trazer um melhor
equilíbrio tanto na paisagem quanto na funcionalidade, ou seja, tentou resgatar a flora e a fauna da
região, valorizar espaços e triplicar a área de restinga através de um grande planejamento de
recuperação. Preservando as manchas de vegetação nativa (188) e retirando espécies exóticas, a
proposta paisagística do trecho 1 proporcionou a recuperação de 70% da área verde da orla dando
lugar às novas 168 mil mudas.
(188) Josafá Carlos de Siqueira. Educação
Ambiental: resgate de valores ético-ambientais
do município de Rio das Ostras, RJ. Rio de
Janeiro: Petrobrás: PUC Rio, 2002.
|
Ca
p
í
t
u
l
4
o|
O
d
s
e
n
h
o
e
i m
p
a
n
t
a
ç
ã o
d
o p
r
o
j
e
o
e
a
l
t
173
142141 143
Durante o inventário florístico, que identificou a flora local e as espécies em risco, procurou-se
compreender os processos de configuração dos espaços livres, a identificação de seu significado e
função e, quando possível, buscou-se uma vocação para cada área em questão a fim de amenizar
os impactos até então causados no ambiente litorâneo de Costazul. O projeto vem ainda
humanizar as áreas de intervenção de forma a proporcionar o desenvolvimento da consciência
ecológica fortalecendo o uso social e contemplativo.
Considerando o projeto do paisagismo, lê-se projeto para a vegetação, como o monumento do
projeto para a orla de Costazul, alguns motivos poderiam confirmar esse fato, conforme o que foi
constatado nas informações da entrevista aplicada a Denise Pinheiro e do material divulgado pelo
poder público, tais como: o cuidado com o ambiente marinho; a forma de se preservar sem ser em
“caixa de vidro” - não foi encontrado bloqueios entre o pedestre e a área verde, com exceção do
existente próximo a Av. Roberto Silveira; a beleza e plasticidade criadas de forma um tanto lúdicas
e sem a conformação do tradicional jardim; o restabelecimento de espécies ameaçadas; etc.
Para Denise Pinheiro o grande incentivo de fazer esse projeto foi o interesse dos autores para a orla
de Costazul,ela disse :
“eles quererem esse trabalho para Costazul interagindo com o lado mais natural possível, ou seja,
eles quererem fazer uma integração entre o meio urbano e o meio ambiental. Voltar a flora. [...]
essa preocupação não são todos os gestores que possuem [...] eles não queriam que se
desenvolvesse apenas canteiros com bromélias, mas o mais próximo do ambiental. E qual foi a
nossa proposta: de fazer comunidades vegetais, reproduzir um pouco a natureza que estava ali, ou
esteve, porque aquilo ali é um ecossistema de restinga e certos sistemas foram destruídos. Só
existia um resquício de vegetação permanecente [...]. Então nesse trecho remanescente foi feita
uma recomposição da vegetação, fazendo alguns agrupamentos e trazendo de novo a vegetação
que existia ali.
Logo, fugindo do desenho dos jardins públicos que são observados freqüentemente em inúmeros
locais, a vegetação ganhou a devida preocupação na valorização e potencialização de seus
recursos ambientais, estéticos e contemplativos. Tendo apresentado os conceitos gerais para o
desenvolvimento do projeto da vegetação do projeto, a seguir será dedicada atenção ao modo
como essas comunidades vegetais estão caracterizadas dentro de cada Subsetor correspondente
a este projeto.
|
Ca
p
í
t
u
l
4
o|
O
d
s
e
n
h
o
e
i m
p
a
n
t
a
ç
ã o
d
o p
r
o
j
e
o
e
a
l
t
174
144
145
4.4.3.1 O Subsetor C1
Este ambiente é caracterizado pelo predomínio de comunidades vegetais que entremeam o deck
do passeio. Essas comunidades foram preservadas de acordo com as propostas originais do
projeto que tiveram por finalidade poupar e deixar visível e atraente a restinga da região. Não foi
verificado, nos dias da pesquisa de campo, bloqueio entre o passeio e as comunidades vegetais.
4.4.3.2 O Subsetor C2
Este subsetor se diferencia do anterior por oferecer a maior concentração de vegetação do trecho
do passeio. Dois grandes grupos de restinga foram preservados neste local e estão separados pelo
conjunto de serviços correspondente a este segmento. As duas grandes comunidades de
vegetação preservadas e ampliadas propiciam uma maior interação visual entre os ambientes
próprios da praia: sua vegetação, areia e mar. Todo o planejamento favoreceu o enobrecimento do
conjunto vegetal tornando as espécies nativas mais visíveis e atraentes ao olhar. Não há a
presença de bloqueios físicos que trabalhem no impedimento de agressões à flora deste local.
|
Ca
p
í
t
u
l
4
o|
O
d
s
e
n
h
o
e
i m
p
a
n
t
a
ç
ã o
d
o p
r
o
j
e
o
e
a
l
t
175
146 147
148
4.4.3.3 O Subsetor C3
O Subsetor C3 se assemelha ao C1, porém com uma particularidade: sua disposição. Em menor
quantidade, encontram-se seus conjuntos vegetativos, que estão dispostos nos dois últimos
núcleos de serviços do projeto. Aqui também ocorrem as atividades e a beleza característica do
projeto.
|
Ca
p
í
t
u
l
4
o|
O
d
s
e
n
h
o
e
i m
p
a
n
t
a
ç
ã o
d
o p
r
o
j
e
o
e
a
l
t
176
151150
149
152 153
4.4.4 O Setor D - a faixa de areia
O Setor D compreende o ambiente original que pouco sofreu interferências em seu território. Raros
objetos podem ser encontrados neste setor no qual se destacam os postos salva-vidas em forma
de caracol, que vem tentar guardar as pessoas que usufruem das águas marítimas. Esta pequena
intervenção foi estipulada de forma a permitir o ambiente propício `as mais diversas apropriações
e identificações que a própria singularidade da praia fornece. Por isso, pouco será descrito aqui
sobre este subsetor, haja visto que este capítulo se destina ao estudo dos objetos inseridos no
desenho do projeto.
Abaixo segue o estudo mais detalhado deste setor, que foi repartido em três subsetores, como
segue:
4.4.4.1 O Subsetor D1
Para este Subsetor localizado no Remanso, área muito procurada, foi destinado apenas um
mirante salva-vidas. Todo o restante da área foi preservado de forma a manter as características
originais dessa área e intervir o menos possível na paisagem existente.
|
Ca
p
í
t
u
l
4
o|
O
d
s
e
n
h
o
e
i m
p
a
n
t
a
ç
ã o
d
o p
r
o
j
e
o
e
a
l
t
177
154
4.4.4.2 O Subsetor D2
Área intermediária da praia que serve de elo entre as duas extremidades mais cobiçadas da orla.
Neste setor não foi idealizado ou implantado objeto que propiciasse algum uso ou efeito estético
mantendo-se, assim, todas as características físico-ambientais originais deste lugar.
4.4.4.3 O Subsetor D3
Outro subsetor de demanda considerável, também não sofreu alterações em sua borda e o posto
salva-vidas projetado está mais próximo ao subsetor B3 do que deste local, porém, para efeitos de
ordem, considero este objeto como pertencente ao Subsetor C3.
|
Ca
p
í
t
u
l
4
o|
O
d
s
e
n
h
o
e
i m
p
a
n
t
a
ç
ã o
d
o p
r
o
j
e
o
e
a
l
t
178
156
155
4.5 As soluções projetuais para o trecho 01 do Projeto Urbano-ambiental de Costazul
Para alcançar todos os interesses descritos anteriormente, ações e medidas estratégicas foram
necessárias. Resumidamente, o processo para o diagnóstico do local e da implantação do projeto,
no que tange a obra de arquitetura, de urbanização e de paisagismo, começou pela avaliação do
estado do ambiente litorâneo e da identificação das atividades existentes na orla marítima bem
como os interesses daqueles que já usufruíam desta borda para fins comerciais: os quiosqueiros.
Assim, como pontos principais e direcionadores do projeto destacam-se: a motivação em
preservar as comunidades de restinga e multiplicá-las; e a manutenção do número de unidades de
estabelecimentos comerciais existentes, a fim de se evitar maiores conflitos e beneficiar a todos
que nesta área exerciam seus trabalhos. Ficou também determinado que não se interferiria nas
características físicas existentes da praia, mantendo o mesmo perfil que configura o ambiente
original.
Grande é a relevância da leitura da vegetação existente, bem como de sua manutenção e anseios
de resgate da mesma, aumentando consideravelmente sua porcentagem na localidade. A
relocação dos quiosques em grupos contribuiu, de certa forma, para a manutenção da vegetação,
porém as edificações seguem ocupando a área de praia da orla, lugar estratégico para a existência
de restinga. A demarcação de acessos à praia vem tentar amenizar a ação do homem sobre o meio
praiano, assim como a utilização de materiais ecologicamente corretos na Av. Costazul e no piso do
passeio marítimo.
A próxima etapa foi conceber o desenho da área em questão. Diante dos interesses citados
almejava-se criar um desenho inovador para a cidade e até para a região em si, de caráter turístico
e lúdico. Este conciliado ao anseio de Maurício em criar um lugar que mantivesse as características
de um ambiente marítimo, surtiu na idéia do trabalho com elementos litorâneos presentes no local
através de uma releitura dos mesmos. Esta idéia forte proporcionou a criação de todos os objetos
presentes no passeio. Pelo calçadão do passeio foi implantado placas de porcelanato em
|
Ca
p
í
t
u
l
4
o|
O
d
s
e
n
h
o
e
i m
p
a
n
t
a
ç
ã o
d
o p
r
o
j
e
o
e
a
l
t
179
auto-relevo eqüidistantes entre si, que retratam a história da pesca considerada tão importante na
evolução da cidade de Rio das Ostras.
As preocupações dos projetistas vão além de criar um projeto atrativo. Grande é a preocupação em
se preservar as características da paisagem do local, inclusive a noturna. De forma a propiciar
acesso visual à constelação, foi projetada uma iluminação indireta a fim de realçar as formas
verdes e evitar o ofuscamento do transeunte. Com esse intuito, foram instalados postes com
rebatedores e refletores que garantem também a segurança de moradores e turistas. Assim, a
construção do passeio marítimo setorizou as atividades existentes sobre a praia ordenando usos e
criando nichos que podem ser caracterizados por seus grupos sociais.
Percebe-se, ainda, dentro desses interesses, a projeção de uma cidade que visa atender um
público distinto daquele que ocupava a praia de Costazul. Por mais que se tenha procurado
trabalhar com elementos e com características anteriormente existentes na orla em questão, o
novo desenho para a praia de Costazul marca um novo momento, uma nova concepção e
interesses da e para a cidade. Visando o capital externo, mais que o interno, medidas são tomadas
e implantadas de forma a tornar atraente a diversos segmentos sociais um local de características
“nativas” até então.
|
Ca
p
í
t
u
l
4
o|
O
d
s
e
n
h
o
e
i m
p
a
n
t
a
ç
ã o
d
o p
r
o
j
e
o
e
a
l
t
180
158157
4.6 A implantação do projeto
De acordo com a Comissão de Estudos e Projetos Urbanísticos (PRO-URBE) a implementação do
projeto envolveu duas fases: a primeira esteve relacionada com a pavimentação e infra-estrutura
urbana e a segunda com a vegetação da orla (189). Essas fases envolveram as seguintes etapas e
processo de execução:
ETAPAS
. Remoção do saibro compactado que existia no local devido aos vários aterros que foram
sendo criados para a implantação de estacionamentos e pista de rolagem de automóveis;
. Remoção dos quiosques e dos postos salva-vidas; implantação de novos dotados de infra-
estrutura com ligação de luz, telefone e de saneamento básico.
. Criação dos decks de madeira; implantação do playground e da aparelhagem de Ginástica;
. Implementação do paisagismo.
EXECUÇÃO
. A pavimentação da Av. Costazul foi realizada com a colocação de blocos intertravados de
concreto, pois, de acordo com suas propriedades de absorção das águas da superfície, torna-
se um dos mais adequado para o trecho;
. Drenagem da superfície realizada através de caixas de areia convenientemente dispostas
ao longo do trecho;
. Emprego de infra-estrutura para ligações subterrâneas de luz e de telefone, bem como
instalação de infra-estrutura de saneamento;
. Segmentação da Avenida por rampas que ligam as calçadas junto às residências ao
calçadão num mesmo nível, servindo tais rampas como redutores de velocidade (Spirn);
. A malha viária foi ordenada para dotar a Avenida Costazul de um trânsito em sentido único,
com baias para embarque/desembarque de pessoas, carga/descarga, sendo vedado o
estacionamento de veículos, que foram adequados para local adequado.
(189) Dados obtidos nos cadernos do Projeto
para Costazul (PMRO, ©2006c)
|
Ca
p
í
t
u
l
4
o|
O
d
s
e
n
h
o
e
i m
p
a
n
t
a
ç
ã o
d
o p
r
o
j
e
o
e
a
l
t
181
4.7 Dificuldades encontradas
Segundo Wagner Forjado, subsecretário de Urbanismo, Obras e Serviços Públicos de Rio das
Ostras na época, as maiores dificuldades encontradas no projeto envolveram as discussões e
interesses entre donos de pousadas, restaurante, quiosques, moradores e o próprio cidadão, ou
seja, questões como a relocação dos quiosques, a obstrução das ruas durante a fase de obras, a
autorização da CEG, que nunca tinha aprovado um projeto de rede elétrica subterrânea, com a
insistência de turistas que queriam conhecer o projeto antes mesmo de sua conclusão e com as
chuvas e materiais usados.
Para o arquiteto e urbanista Maurício Pinheiro, além das dificuldades anteriormente citadas, o
atraso no recebimento da madeira a ser empregada, as chuvas e o trabalho entre as comunidades
de restinga existentes sem comprometê-las constituem as dificuldades complementarias que se
verificou durante a execução do projeto. Disse Wayner Farjado (190):
“Nós tivemos várias dificuldades durante o trabalho para relocar os quiosques; para trabalhar com
os moradores, que ficaram com suas ruas impedidas; com a antiga CERJ, que nunca tinha
aprovado um projeto de rede elétrica subterrânea; e até mesmo com os turistas, que queriam
visitar a obra em andamento. Sem falar nas chuvas e nos materiais usados, que eram todos muito
específicos, tudo isso deu muito trabalho e acabou atrasando um pouco o cronograma inicial, mas
sem dúvida nenhuma, foi a obra de maior impacto profissional em termos de urbanização que
executei.
4.8 Considerações do capítulo
Num jogo e conflito de interesses, o que está em discussão é o futuro de uma cidade que vive um
auge econômico jamais tido anteriormente, e que tem tentado conviver com muitos dos
problemas que o crescimento acelerado produz. Segundo registros anteriores ao projeto percebe-
se que a orla de Costazul vinha sofrendo um processo de degradação contínua. Esse fato teve
(190) PMRO, 2004b, p. 23-4
|
Ca
p
í
t
u
l
4
o|
O
d
s
e
n
h
o
e
i m
p
a
n
t
a
ç
ã o
d
o p
r
o
j
e
o
e
a
l
t
182
159
como causas principais o loteamento criado sem preocupação com o ecossistema anteriormente
existente, a ocupação urbana e os maus tratos que a orla tem sofrido nas últimas seis décadas.
Esses fatores causaram uma pressão sobre o ecossistema de restinga, ameaçando-o. Num
contexto geral esses usos e atividades se intensificaram e começaram e se tornar uma ameaça ao
equilíbrio do meio ambiente existente bem como produzir malefícios a própria população. Essas
conseqüências culminaram no real interesse de se recuperar esta orla.
Dentre os novos interesses dos autores do projeto, se destacam a preservação da vegetação de
restinga e o prevalecimento do pedestre em detrimento do veículo motorizado, dotando o espaço
de locais com acessibilidade física como direito de todos. Soma-se, ainda, o interesse em atrair a
esta praia pessoas das mais diferentes faixas etárias através da criação de elementos que viessem
a atender a esta demanda. Assim foram planejados a ciclovia, o parque infantil, os quiosques, os
banhos, as duchas, a academia de ginástica, o calçadão, espaço para apropriação de uso no
passeio, etc. Todas estes elementos foram criados a partir do planejamento e desenho do projeto
que tentou conciliar todas as atividades de modo a não prejudicar o meio ambiente. Portanto, cabe
aqui pensar que a água não é o único elemento de interesse neste local. As outras atividades
agregadas a este ambiente de arremate urbano proporcionam o estímulo necessário para as
pessoas procurarem Costazul como lugar de lazer.
A questão da acessibilidade física foi um dos pontos-chave a serem explorados e trabalhados no
projeto. Além de garantir o direito à cidadania ao propor espaços com desníveis vencidos por
rampas de acesso, mantém a conexão entre os setores A e B no mesmo nível. Porém, a
preocupação com aqueles portadores de necessidades visuais não foi observada dentro das
propostas do projeto, o que torna falha a real vocação de Costazul como local democrático.
Como diretriz projetual aparece a vegetação de restinga existente em fragmentos na praia e que,
por serem elementos estruturantes e singulares dentro do ecossistema litorâneo, por possuir uma
qualidade uma estética na composição de sua paisagem, precisam de cuidados para sua
preservação (191).
(191) HOUGH, 1998
|
Ca
p
í
t
u
l
4
o|
O
d
s
e
n
h
o
e
i m
p
a
n
t
a
ç
ã o
d
o p
r
o
j
e
o
e
a
l
t
183
Uma nova imagem e atratividade para o bairro e para a cidade são criadas para a orla de Costazul
através da implantação da etapa 1. O desenho do passeio vem privilegiar a vegetação de restinga
desse setor recuperando 70% da área verde da orla e aumentando 30% do total de vegetação
existente antes da implantação do projeto. De forma geral, este projeto vem tentar conciliar o uso
com a preservação ambiental, criando outros valores para a paisagem de Costazul.
Cabe aqui um pequeno debate a respeito do uso e da forma como estão sendo apropriados os
recursos dos royalties de petróleo pelo governo municipal e a questão da sustentabilidade do
projeto. Dentro do que foi apresentado, fica evidente o real compromisso dos autores e do poder
público com relação `a cidade de Rio das Ostras e de seus habitantes. Diferentemente de tantos
casos de uso inadequado do dinheiro público, vê-se em Rio das Ostras o comprometimento, elo e
zelo da equipe que constitui e em parte ainda constitui corpo presente na tomada de decisões
político-administrativa da cidade. Todos esses fatores somados ao fato de “querer fazer” e aos
ideais do arquiteto e urbanista, Sr. Maurício Pinheiro, leva à tomada de decisões eficazes e
enobrecedoras para a “Pérola entre o rio e o mar” do norte fluminense.
Dentre os anseios de construção de um projeto sustentável percebe-se uma tentativa de desenho
que venha conciliar meio existente e uso do mesmo com fins econômicos na região de estudo. O
fato é que intenções apenas não são suficientes. É preciso avaliar o comportamento do contigente
populacional que procura Costazul para termos um levantamento mais concreto a respeito da
sustentabilidade que se almeja no projeto, afinal, mudanças no coportamento são essenciais
neste momento de transição cultural que tem passado o mundo como um todo. Preservar,
necessita acima de tudo, de respeito e comprometimento com o meio no qual vivemos.
|
Ca
p
í
t
u
l
4
o|
O
d
s
e
n
h
o
e
i m
p
a
n
t
a
ç
ã o
d
o p
r
o
j
e
o
e
a
l
t
184
Este capítulo veio apresentar a área onde está inserido o projeto para a orla de Costazul, o
loteamento Costazul onde foi dedicada especial atenção ao estudo morfológico deste local a fim de
se compreender o contexto no qual se insere o novo projeto. Foi apresentado ainda as novas
alterações e algumas carências para esta área. Feitas algumas considerações a respeito do estado
anterior da orla, foi apresentado os interesses que levaram o poder público ao desejo por criar e
concretizar este projeto. Após fornecer informações consideradas suficiente para o entendimento
do todo, posteriormente foi analisado o desenho através dos dados obtidos principalmente na
entrevista com o Sr. Maurício Pinheiro, confirmando algumas questões com a paisagista Denise
Pinheiro.
O próximo capítulo vem finalizar a pesquisa de campo através da análise dos usos e apropriações
verificados no local. Fatores como diversidade, acessibilidade, visibilidade, poder atrativo, entre
outros, aparecem como pontos específicos a serem trabalhados e analisados no projeto
implantado para a orla de Costazul. Apesar da certa rigidez em seu traçado, a forma pensada para
atingir ao objetivo de preservação da vegetação e do próprio ambiente litorâneo é fundamental.
Mas a compreensão das atividades que ocorrem sobre os espaços, a sua aceitação do projeto, os
seus usos e apropriações dos espaços mais flexíveis levam a próxima discussão. Nela serão
focalizadas as principais atividades observadas neste espaço de orla marítima relacionando os
usos de acordo com os setores e/ou subsetores onde ocorrem.
|
Ca
p
í
t
u
l
4
o|
O
d
s
e
n
h
o
e
i m
p
a
n
t
a
ç
ã o
d
o p
r
o
j
e
o
e
a
l
t
185
C A P Í T U L O 5
O R L A D E C O S T A Z U L:
a t i v i d a d e s , u s o s e a p r o p r i a ç õ e s
5.1 Apresentação
é útil olhar brevemente a historia do sítio, sua evolução natural, seu uso e
organizações anteriores. É da mesma forma útil penetrar dentro do possível na
mente dos que aí vivem e dos que têm poder de decisão: a imagem com o que o
caracterizam ou que sentem por ele e o que esperam dele. Descobre-se aí grande
parte do sabor e estrutura do lugar, como também a atual orientação de suas
alterações.
Kevin Lynch
O presente capítulo vem dar continuidade ao processo analítico do Projeto Urbano-ambiental para
a orla de Costazul iniciado no capítulo anterior. Aqui também se fará uso dos estudos referentes ao
recorte teórico e da pesquisa de campo, porém, será dedicada especial atenção ao delineamento
do perfil do público que utiliza a praia de Costazul bem como sua opinião a respeito do projeto e dos
usos e apropriações que fazem sobre este trecho de orla marítima. Empregarei a mesma estrutura
de escalas aplicada para o estudo do desenho do trecho 01 (p. 153-7) com o propósito de dar uma
mesma linguagem e continuidade `a esta pesquisa, mas, principalmente, por também verificar
que esta orla está caracterizada por usos e apropriações que definem determinados espaços.
Conforme apresentado anteriormente, a orla de Costazul e seus terrenos adjacentes foram alvo de
uma ocupação insensata de acordo com o que se tem discutido a respeito de um urbanismo
preservacionista. Sua paisagem natural-cultural, tão importante para o equilíbrio e manutenção
de seu ecossistema, foi destituída através de um loteamento que não condizia com a realidade do
ambiente existente e pela falta de percepção, informação e sensibilidade por parte dos usuários da
praia. Como se observou, desde a construção do loteamento destinado a moradia no setor até o
começo das obras de revitalização da praia de Costazul, grandes foram as interferências
ocasionadas na paisagem pelos maus usos e apropriações `a ela destinados. O parcelamento do
terreno não prevendo espaços a serem ocupados por caracteres do local, os vários aterramentos
das áreas úmidas, o aumento progressivo de pessoas por esta faixa litorânea durante a alta
temporada de verão, o aparecimento de quiosques na praia, os caminhos de restinga, que serviam
de acesso fácil e rápido aos quiosques e a conexão entre a areia de praia e a Av. Costazul são alguns
dos principais aspectos que favoreceram a degradação vegetal e o desaparecimento de animais
nessa região.
De acordo com esses dados, pode-se afirmar que o uso correto de um determinado espaço é
fundamental para se manter o equilíbrio necessário entre meio ambiente e os diferentes agentes
que atuam sobre ele. Conforme já discutido no Capítulo 1, o discurso ambiental atual refere-se ao
fato de que para se preservar é ideal que a área em questão seja planejada de forma a propiciar
determinadas atividades, mas sem comprometer a integridade do meio.
Criar um ambiente atraente, visível e preservá-lo é o grande desafio dos atuais promotores
urbanos neste início de século. Se os usos é um dos caminhos fundamentais para atingir este
objetivo, o primeiro fato é compreender o sítio que se tem interesse em atuar e verificar as
atividades que aí ocorrem (Capítulo 3). Mas identificar usos e tornar um lugar atrativo carece
também do delineamento do público que se vai atender e, por isso, grande importância está
dedicada neste capítulo ao estudo do perfil dos usuários de Costazul de modo a verificar se o atual
projeto vai de encontro aos interesses dos usuários desta orla.
5.2 O estudo dos usuários a partir dos questionários aplicados
A pesquisa de campo realizada junto aos usuários empregou questionários (Apêndice 2) que,
como explicado na metodologia, não foram utilizados para alcançar um resultado estatístico real,
mas sim como instrumento de aproximação a esse público (192) presente na “nova” orla de
Costazul. Os dados, fornecidos pelos 50 questionários aplicados durante três dias do mês de Julho
de 2006, propiciaram informações consideradas importantes para se traçar o perfil dos usuários
que este projeto vem atender, tais como a idade, a freqüência de uso, procedência, etc. Esta seção
|
Ca
p
í
t
u
l
5
O r
a
d e
C
o
s
t
a
z
u
l
:
ati
vid
a
d
e
, u
s
os
e
apr
o
p
ri
a
ç e
s o|
l
s
õ
188
(192) COSTA, 1993
irá discutir os principais resultados levantados após a compilação das informações colhidas nos
dias da pesquisa de campo através de gráficos e tabelas que exemplificam e sintetizam as
informações a serem passadas.
É importante frisar que o número de questionários aplicados não permite uma categorização
concreta dos distintos nichos socioeconômicos que atuam na praia de Costazul, mas contribui para
a formação do quadro geral desse público e da aceitação ou não do novo projeto executado para a
orla em questão. O interesse maior foi o de ter uma conversa mais informal, por mais que guiada,
com alguns dos usuários que estavam presentes nestes dias de investigação. Assim, pude obter
informações que me ajudaram a responder alguns dos objetivos da pesquisa: se o projeto atende
aos distintos grupos bem como a avaliação deles sobre a “nova” orla de Costazul.
Não foram premeditadas a quantidade de homens ou de mulheres nem as suas respectivas faixas
etárias durante a coleta das informações. A seleção do público obedeceu apenas ao critério de não
entrevistar mais de duas pessoas do mesmo grupo e que possuíssem a mesma faixa etária, a fim
de se obter uma maior diversidade de opinião dos diversos grupos que na praia se encontravam.
Tomou-se ainda o devido cuidado de não aplicar os questionários aos trabalhadores do local de
forma a se conseguir uma amostra apenas daquelas pessoas que usufruem o espaço litorâneo fora
da jornada de trabalho corrente. Desta forma, a pesquisa envolveu um certo direcionamento.
O quadro socioeconômico dos usuários do trecho 01 da praia de Costazul foi traçado a partir dos
dados referentes a sexo, idade, educação e ocupação dos entrevistados. De acordo com o gráfico
ao lado nota-se um maior percentual de mulheres (58%) que de homens (42%) na praia durante
os dias de pesquisa. Esse fato pode levantar uma série de hipóteses, como a maior procura pelo
banho de sol por elas, pela maior presença junto aos filhos na praia, entre outros interesses ou
ocupações que estão expressos no gráfico da página 192 ,“O que você veio fazer em Costazul?”,
que será mais adiante analisado.
189
|
Ca
p
í
t
u
l
5
O r
a
d e
C
o
s
t
a
z
u
l
:
ati
vid
a
d
e
, u
s
os
e
apr
o
p
ri
a
ç e
s o|
l
s
õ
Um outro interesse nesta pesquisa foi caracterizar o público por faixa etária. Verifica-se a
predominância das pessoas com idade entre 20 a 39 anos (34%) seguida pelas de 15 a 19 (28%),
40 a 64 (16%), 10 a 14 (14%) e de 65 anos ou mais (8%). Nota-se que na praia de Costazul se
apresenta um certo equilíbrio entre a população infanto-juvenil e adulta. Esse fato pode ser
explicado pela atratividade e diversidade de atividades que são oferecidas neste trecho,
constituindo um local de encontro de todas as gerações. Diante dessas informações torna-se
importante aclarar que o público infantil, que não está presente neste item da pesquisa, tem
grande presença no público total da orla. Esta presença infantil na praia pode ser um dos fatores
determinantes para o número de adultos e de famílias neste lugar, pois elas necessitam de
acompanhantes ou responsáveis (ver gráfico “Idade de acompanhante” na próxima página.
Famílias podem ser encontradas por toda a orla, mas estão em maior número próximas aos
quiosques ou na área de banho segura (Remanso), (ver gráfico “Idade e acompanhante”). Os itens
“pais” e “filhos” somam um total de 40 respostas que correspondem a aproximadamente 64% do
total, não considerando o item “outros" que também compreende a marido ou afim. Assim, fica
demonstrado o alto índice de famílias que procuraram a praia de Costazul durante este período
190
População entrevistada CompanhiaIdade
|
Ca
p
í
t
u
l
5
O r
a
d e
C
o
s
t
a
z
u
l
:
ati
vid
a
d
e
, u
s
os
e
apr
o
p
ri
a
ç e
s o|
l
s
õ
caracterizado pelas férias escolares de inverno. O grupo que mais se destaca na companhia de
amigos é aquele representado pelas pessoas da faixa dos 15 aos 19 anos, totalizando 9 respostas,
o que também vem configurar esta praia como lugar de encontro de jovens. Deve-se atentar para
o fato das respostas terem ultrapassado o número de 50, número que corresponde às pessoas
entrevistadas mas, como algumas delas tiveram por companhia mais de um tipo de
acompanhante, foram totalizadas 63 respostas. Para o quesito “outros” as respostas mais citadas
foram o cônjuge ou namorado.
191
|
Ca
p
í
t
u
l
5
O r
a
d e
C
o
s
t
a
z
u
l
:
ati
vid
a
d
e
, u
s
os
e
apr
o
p
ri
a
ç e
s o|
l
s
õ
Para o estudo do nível educacional foram relacionados os dados de idade e de grau de instrução. Se
definirmos três níveis para traçar este perfil entre aqueles que possuem apenas primeiro grau
(17), os que possuem apenas segundo grau (18) e aqueles que possuem nível superior e pós-
graduação (15), a população que freqüenta Costazul está praticamente dividida em partes iguais.
A alta porcentagem no baixo desempenho educacional, traduzido por aqueles com nível
educacional igual ou inferior ao primeiro grau deve-se, principalmente, a baixa faixa etária que não
ultrapassa a idade dos 14 anos. O mesmo poderia ser dito para os com segundo grau, dos quais
oito (8) dos dezoito (18) indivíduos que compõem este segmento enquadram-se na faixa dos 15
aos 18 anos. Diante desses índices, pode-se dizer que a praia de Costazul foi procurada nesta
época da pesquisa de campo por pessoas com nível educacional proporcional a sua faixa etária.
Saber interpretar esse gráfico também é saber ler o que vem ocorrendo no município riostrense.
Os adultos da faixa dos 20 a 39 anos, de acordo com os dados fornecidos, possuem nível superior e
pós-graduação. Isto pode ser explicado, em grande parte, pela presença e influência do setor
petrolífero na cidade vizinha Macaé. A atratividade que essa empresa exerce e a necessidade de
pessoas qualificadas e com nível superior têm proporcionado indiretamente o incremento de mão
de obra especializada em Rio das Ostras. Essa população mais exigente e com maior poder
aquisitivo pode ser umas das razões pelas quais o governo vem investindo na cidade, preparando-
a para atender essa nova demanda.
192
Ocupação atual
Nível de escolaridade
|
Ca
p
í
t
u
l
5
O r
a
d e
C
o
s
t
a
z
u
l
:
ati
vid
a
d
e
, u
s
os
e
apr
o
p
ri
a
ç e
s o|
l
s
õ
Descobrir a origem dos usuários da praia de Costazul foi outro ponto da pesquisa de campo. O
maior percentual coube `as pessoas oriundas de cidades vizinhas, da qual se destaca Macaé com
28% da procura, seguida pela da própria cidade com 22% e do Rio de Janeiro com 16%. As
pessoas oriundas da cidade de Macaé explicam que sentem falta de um lugar de praia como o
existente em Costazul. “É impressionante o que esse prefeito, ou melhor, o ex-prefeito fez por esta
cidade. Ele soube empregar bem o dinheiro recebido. Costazul se era bela hoje está ainda mais.
Não temos espaços como esse em Macaé” (Carolina, agente de turismo, Macaé). Já os habitantes
da cidade do Rio de Janeiro dão como principais interesses de procura a proximidade, a beleza e a
segurança existente neste lugar. Desde muito que os cariocas têm interesses por Costazul, e na
história deste lugar eles fazem parte especial do cenário que densificou a área. Já os riostrenses
que freqüentam Costazul são, em sua maioria, provenientes do próprio bairro (55%), ou de
bairros vizinhos como Centro (18%) ou Mariléia (27%). O senhor Antônio, morador do bairro de
193
|
Ca
p
í
t
u
l
5
O r
a
d e
C
o
s
t
a
z
u
l
:
ati
vid
a
d
e
, u
s
os
e
apr
o
p
ri
a
ç e
s o|
l
s
õ
Mariléia, explicou que a falta de locomoção para as pessoas é o principal fator que não permite que
a praia de Costazul possa ser ainda mais freqüentada por seus habitantes. Soma-se a isso os
preços dos produtos comercializados , que estão além daqueles oferecidos no Centro da cidade.
Este estudo de origem é importante para se verificar o quanto a escala geográfica interfere na
procura pelo local (193). Costazul fica então mais caracterizada por atender a seus moradores e
turistas oriundos principalmente de cidades bem próximas, como Macaé, e por continuar atraindo
pessoas do Rio de Janeiro até os dias atuais.
Dessas pessoas entrevistas, apenas 10% não conheciam Costazul, o que demonstra uma alta
procura (90%) por aquelas que gostam do lugar e a ele retornam. Pode-se verificar, ainda, que o
maior índice se evidencia naqueles que conhecem a praia entre 1 a 4 anos, fato que fortalece a
hipótese de ser o novo projeto um chamariz para este lugar. Dos que conhecem a praia há mais
tempo, igual ou acima dos 10 anos, destacam-se principalmente os moradores mais antigos ou
veranistas, conforme presenciei alguns relatos da evolução do lugar.
194
Hab. riostrense em Costazul Cidade de origem
(193) COSTA, 1993
|
Ca
p
í
t
u
l
5
O r
a
d e
C
o
s
t
a
z
u
l
:
ati
vid
a
d
e
, u
s
os
e
apr
o
p
ri
a
ç e
s o|
l
s
õ
Diante dos estudos apresentados pode-se supor que os usuários da praia de Costazul possuem por
perfil socioeconômico uma população de nível educacional representativo e jovem, atuante no
mercado de trabalho. É ainda caracterizada por grupos familiares e de amigos que se reúnem ou
vão juntos à praia e desfrutam das mais diversas atividades de ócio, lazer, recreação e esporte. A
seguir descrevo os principais interesses que levam essas pessoas a escolherem a nova orla de
Costazul para seus distintos momentos.
Quando eu fazia a pergunta “O que você veio fazer em Costazul?” os entrevistados, em sua
maioria, diziam: “Eu vim à praia!” como algo que fosse mais que natural ao estar em uma cidade
litorânea, talvez pela a característica de ser um lugar singular dentro de uma cidade de costa
marítima. Diante disto, o ato de ir `a praia ou de pegar sol foi uma resposta bem comum a todas as
faixas etárias. Outras ações que estavam diretamente relacionadas a este ambiente marítimo e
por assim dizer, público aberto, eram: encontrar os amigos, descansar, correr ou passear no
calçadão. Novas atividades, como a “correr no calçadão”, conferem ao Projeto Urbano-ambiental
de Costazul o status de gerador e atrativo para outros espaços, o que diversifica os usos e aumenta
a demanda
195
|
Ca
p
í
t
u
l
5
O r
a
d e
C
o
s
t
a
z
u
l
:
ati
vid
a
d
e
, u
s
os
e
apr
o
p
ri
a
ç e
s o|
l
s
õ
por esta região, conforme foi pretendido em seu discurso e que são defendidas aqui para gerar
maior riqueza e vida urbana ao projeto (194) trazendo uma intensidade de atividades e
heterogeneidade que conferem ao usuário maior sensação de segurança e sociabilidade. Essas
atividades que levam as pessoas a procurarem Costazul podem ser verificadas no gráfico abaixo.
196
(194) COSTA, 1993
|
Ca
p
í
t
u
l
5
O r
a
d e
C
o
s
t
a
z
u
l
:
ati
vid
a
d
e
, u
s
os
e
apr
o
p
ri
a
ç e
s o|
l
s
õ
Entre as atividades que mais encantam as pessoas na borda marítima a praia novamente é a mais
citada (46%). “Gosto de tomar banho de mar” foi a explicação que deu um advogado da cidade do
Rio de Janeiro para o seu interesse pela praia. Muitos outros citaram o sol ou o banho de sol, que
aqui ficaram considerados dentro do item praia, por ser considerado como um espaço comum que
atrai essas pessoas. Neste sentido “praia” foi reco,nhecida por mim como todas aquelas atividades
realizadas na faixa de areia relacionadas diretamente ao simples banho de mar ou de sol. Não
ficam, assim, caracterizados dentro deste quesito o comércio de produtos ou qualquer elemento
pertinente ao passeio marítimo, ou setor B.
Já a “natureza” ou paisagem cultural-natural (24%) foi citada por aquelas pessoas que apreciam
as belas vistas da orla de Costazul. “Esse ambiente natural me fascina!” foi a resposta de um
comerciante de 36 anos de Niterói. Somados, praia e paisagem correspondem a 72% da questão
“O que mais você gosta em Costazul?”, o que fortifica o poder sedutivo do lugar, de sua paisagem,
como o chamariz de usuários. A tranqüilidade teve seu percentual de importância para alguns
(12%), o que se poderia explicar pela pesquisa ter sido realizada durante um período de baixa
demanda segundo a Secretaria de Turismo de Rio das Ostras. Assim, restaram 16% das respostas
que estão relacionadas ao passeio marítimo (espaço para caminhar, quiosques e outros). Esses
dados comprovam a singularidade do ambiente marinho, mas não diminui a importância do
projeto implementado nesta orla, pois, como já mencionado anteriormente, ele é fator
fundamental para a atratividade, diversidade e acessibilidade neste local. Aqui, muitas das
respostas se inserem em mais de um quesito, por isso somam um total de 75.
Novamente as praias estão dentre os itens mais mencionados pelos entrevistados. No gráfico “Por
que você gosta de Costazul” (ao lado) das 70 respostas dadas, 26% optaram pela beleza do lugar
como fator positivo da praia, outros 35% mencionaram “praias limpas e tranqüilas”, o que reflete
novamente o período do ano no qual foi realizada esta pesquisa, fato confirmado por um
empresário de Macaé, o melhor de Costazul está fora da época de alta temporada. Já o item
segurança (11%) foi o mais citado pelos pais. Segurança ao considerar Costazul como um local
onde é possível caminhar, distrair-se, passear, namorar tranqüilo durante boa parte do ano.
Porém,
197
Por que você gosta de Costazul?
O que você mais gosta em Costazul?
|
Ca
p
í
t
u
l
5
O r
a
d e
C
o
s
t
a
z
u
l
:
ati
vid
a
d
e
, u
s
os
e
apr
o
p
ri
a
ç e
s o|
l
s
õ
a sazonalidade ocasionada pelos períodos de alta e baixa temporadas em Costazul produz suas
divergências: “Quando chegam as datas mais festivas como Reveillon ou Carnaval “é preciso
tomar um pouco mais de cuidado. Vem muita gente de todas as partes”, disse Norma, moradora
da cidade há 15 anos. A recreação infantil, traduzida pela criação e instalação dos dois
equipamentos lúdicos em forma de tartaruga marinha (19% das respostas) foi constatada
principalmente nas proximidades destes elementos de lazer e diversão. Esse percentual
representa o novo uso destinado `a orla, contribuindo também para a diversificação e atratividade
do local.
Pode-se dizer que o mar é o principal fator que encanta as pessoas e que favorece e fortalece esses
encontros familiares ou amistosos neste meio litorâneo. Seja uma competição de surf, a mesa de
chopp do final do dia, a família que se distrai na água, a senhora que sai para sua caminhada junto
`as outras amigas, todas essas atividades tem como pano de fundo a imensidão e a beleza de uma
paisagem marítima. O conforto de um espaço satisfatório para um passeio em bicicleta ou para a
corrida, ou a preocupação em atender as crianças através de um brinquedo lúdico que tem por
intenção criar um afeto entre vidas terrestres e marítimas de forma a fortalecer a educação
ambiental, também são exemplos que fazem do primeiro projeto desenvolvido para a orla de
Costazul um lugar atrativo e diversificado que aproveita as características do lugar e o sociabiliza.
Assim, a proposta da criação de um ambiente de linhas retas e curvas, cores, diversidade de usos e
espaços propícios à apropriação, que a própria faixa de areia motiva, faz de Costazul um ambiente
rico e saudável para os mais diversos gostos e idades.
Entre os motivos que levam às pessoas a não gostarem ou a terem vontade de melhorar em
Costazul, destacam-se os problemas ocasionados durante a temporada de verão. Com 30% dos
itens mencionados são o congestionamento, a falta de água, o lixo nas praias, a vegetação que fica
maltratada e o som alto dos veículos alguns dos motivos que incomodam tanto a alguns moradores
quanto aos visitantes que procuram esta praia para seus momentos de ócio nas épocas de alta
temporada. O trânsito em sentido único e a falta de estacionamento para os veículos na Av.
198
|
Ca
p
í
t
u
l
5
O r
a
d e
C
o
s
t
a
z
u
l
:
ati
vid
a
d
e
, u
s
os
e
apr
o
p
ri
a
ç e
s o|
l
s
õ
Costazul foi outro fator fortemente mencionado. “`As vezes deixo de vir a praia porque preciso
estacionar meu carro nas ruas de trás quando não encontro vaga perto. O sol é forte e faz muito
calor no verão para caminhadas. ‘Me admiro’ como não pensaram nisso!, Hélio, 57 anos da
Baixada Fluminense, que se encontrava `a sombra do quiosque. Em oposição, Telma, uma mãe de
32 anos diz que gostou de haver planejado a Av. Costazul desta forma, pois fica mais tranqüila com
relação à segurança de seu filho de 9 anos. Ela disse: “O trânsito fica mais calmo e me preocupo
menos quando meu filho está andando de bicicleta”.
Com esta análise pode-se dizer que a praia de Costazul possui um caráter familiar e que está sendo
procurada por pessoas das mais diversas faixas etárias e de distintas culturas e interesses. De
forma geral, busca-se esta zona principalmente por causa da praia e do mar. O papel
desempenhado por essas águas limítrofes, que têm tido grande atenção do poder público
municipal, constitui o fator fundamental para a atratividade da praia. O cuidado, a segurança, a
diversidade de usos, a beleza, a limpeza e o sol são os outros componentes principais que
resumem os estímulos das pessoas a procurarem Costazul.
199
O que você menos gosta em Costazul?
|
Ca
p
í
t
u
l
5
O r
a
d e
C
o
s
t
a
z
u
l
:
ati
vid
a
d
e
, u
s
os
e
apr
o
p
ri
a
ç e
s o|
l
s
õ
Um outro ponto particular dessa pesquisa se refere ao modo como as pessoas estão distribuídas
pela praia, constituindo particularidades, nichos de ambientes e de grupos diversos que favorecem
a vida social. Essa distribuição pode estar relacionada, `a princípio, com as possibilidades de usos
proporcionadas pelas configurações físico-ambientais que oferecem determinadas apropriações
espaciais e ponto de atração pelo público. Esse diagnóstico preliminar permite dizer que a praia de
Costazul é um lugar de lugares, onde distintas escalas atuam sobre sua paisagem criando
atmosferas propícias a diversos usos. Esse assunto será apresentado logo a seguir através do
emprego das escalas dos setores e subsetores que caracterizam a orla e que foram trabalhados no
capítulo anterior .
Antes de dar início a consolidação deste assunto, é importante atentar que a cidade de Rio das
Ostras tem no turismo um dos principais motores de sua economia e, antes do recebimento dos
royalties, dividia com a pesca as maiores fontes de arrecadação do município. Estes fatos vêm
direcionar muitos dos estudos que têm sido realizados para e na cidade. Ao caracterizar a região
litorânea como de interesse turístico, o programa e desenho do projeto foram traçados,
direcionados para atender a uma população que busca neste meio determinadas atividades que
hoje em dia estão muito relacionadas ao lazer, diversão e consumo.
Segundo Jordi Borja (2003) dotar um espaço público de qualidades estéticas, espaciais e formais
facilita as relações e o sentimento de pertencimento a este lugar. Sentimento que vem sendo
trabalhado junto a comunidade riostrense e que pode ser verificado na revitalização da orla de
Costazul. Tendo o governo local trabalhado junto a comunidade para o entendimento do projeto
criado como coisa pública, como a extensão de suas casas e tendo dotado esse projeto dessas
qualidades citadas, a grande questão que aqui põem em dúvida a real relação de pertencimento ou
de cuidado entre usuário e espaço refere-se exatamente a um espaço de uso comum que tem por
determinante a grande quantidade de pessoas provenientes das mais diversas cidades,
principalmente brasileiras. Com isso também quero me referir ao que diz Lynch (1981) sobre o
pertencimento refletido no uso de um determinado lugar. Como foi visto, algumas pessoas citaram
200
|
Ca
p
í
t
u
l
5
O r
a
d e
C
o
s
t
a
z
u
l
:
ati
vid
a
d
e
, u
s
os
e
apr
o
p
ri
a
ç e
s o|
l
s
õ
nos questionários a praia de Costazul como lugar ideal fora do período de alta temporada. Isto
porque, nessa estação, a praia se transforma e fica em parte degradada devido aos maus usos dos
visitantes que a procuram. Trabalhar com esse fator é outra tarefa que cabe ao governo de modo a
amenizar os custos sociais, ambientais e financeiros dos cofres municipais.
Assim, os usos e as apropriações que fazem do espaço público podem esclarecer muitos dos
interesses ou sentimento de pertencimento e, por conseguinte, de cuidado com um determinado
ambiente. É certo que, com a nova preocupação ambiental, muitas atitudes podem ser alteradas, e
devem! Mas, como será que a praia de Costazul foi percebida e aceita por seus usuários? Este é um
dos interesses que a próxima seção vem expor a seguir.
5.3 Um lugar de lugares nas três escalas de aproximação
“Complejidad conceptual y claridad formal, la arquitectura como lugar de
visualización de la complejidad y dinámica de un territorio aparentemente simple y
en calma.
Jordi Borja
Toda praia constitui um espaço público que deveria ser de direito a todo cidadão. Num espaço
público se supõe o uso social coletivo e a multifuncionalidade como pontos de atratividade. Esta
multiplicidade é caracterizada por uma dimensão cultural que proporciona um lugar de relação e
de identificação, de contato entre as pessoas, de animação urbana, onde os usos empregados
sobre esse espaço comum são os definidores de sua natureza (195). Segundo Costa (1993) os
parques, aqui caberia o waterfront, proporcionam os encontros informais nos seus espaços
abertos. A diversidade de escolhas seja cultural, recreacional ou esportiva são motivadores da
atração exercida por este espaço público e da grande quantidade de visitantes que se deparam
com outras pessoas em inúmeras situações. Estas situações podem estar de acordo com os usos
previstos ou acontecem de forma diversificada e em outros locais senão aqueles planejados. Tudo
201
(192) BORJA, 2003
|
Ca
p
í
t
u
l
5
O r
a
d e
C
o
s
t
a
z
u
l
:
ati
vid
a
d
e
, u
s
os
e
apr
o
p
ri
a
ç e
s o|
l
s
õ
um importante incremento para a sociabilidade na praia de Costazul ao atrair uma população e/ou
atividades além daquela que se pensava para a orla.
No ambiente costeiro, os seus elementos estimulam uma série de usos e apropriações que
proporcionam uma diversidade de experiências nos indivíduos. Como visto na análise dos
questionários, as pessoas são atraídas à Costazul principalmente para irem `a praia ou apreciar
sua paisagem ambiental-cultural. Estas duas atividades gestão, ao meu ver, diretamente
relacionadas, pois o mar constitui o protagonista deste cenário marítimo-terrestre. Porém, outras
motivações estão presentes na busca por esta orla riostrense. Dentro da gama dos grupos que
usufruem a praia, uma diversidade de usos e apropriações foram citadas por seus usuários.
A orla de Costazul, mais especificamente, o trecho 01 do Projeto Urbano-ambiental de Costazul,
oferece uma multiplicidade de atrações para os mais diversos grupos de faixa etária e de classes
sociais, porém, é predominante a população das classes “C” e “D”, segundo Maurício Pinheiro. É na
areia onde se mesclam mais esses grupos do que no próprio passeio, que limita o acesso pelo
comércio oferecido. Na areia, o banho de sol é a atividade mais comum, mas outras atividades, que
não foram sequer mencionadas nas respostas dos questionários, foram por mim observadas e
apontadas para o desenvolvimento desta seção. Percebe-se que antigos usos anteriormente
observados no local (vivência própria da região) seguem após o projeto do passeio marítimo, o que
já se podia imaginar, pois a franja costeira determina usos e apropriações que a própria
singularidade de sua paisagem oferece.
Além de um lugar de descanso, encontro e lazer a praia de Costazul tem se convertido em um
ambiente de consumo como um meio de sociabilidade. Como falado no estudo anterior referente
aos questionários, alguns entrevistados apontaram os quiosques como motivação para o uso desta
orla. Constituem-se, assim, lugares de encontro, de conversas informais enquanto essas pessoas
saboreiam algum produto oferecido pelo comércio durante seus bate-papos e “olhadelas”. De fato,
o espaço público é um local para ver e ser visto e o consumo aqui poderia ser encarado como um
fator de status e de inserção a determinado grupo social.
202
|
Ca
p
í
t
u
l
5
O r
a
d e
C
o
s
t
a
z
u
l
:
ati
vid
a
d
e
, u
s
os
e
apr
o
p
ri
a
ç e
s o|
l
s
õ
Vale ressaltar que o caso acima é apenas um entre os vários que ocorrem pela orla marítima. No
momento que uma pessoa ou um grupo se identifica com alguma parte do lugar, seja pelas
características físico-ambientais existentes que propiciam determinadas atividades, seja pela
utilização de determinados objetos que direcionam outros usos, as pessoas se concentram em
determinados espaços conferindo a esse território uma marca, uma qualidade própria que aferem
a esses lugares suas particularidades, suas identidades. Entretanto, muitas dessas atividades
podem se diluir e repetir ao longo deste trecho litorâneo, como, por exemplo, o banho de sol no
setor C, mesmo assim, os grupos que se inserem nesta modalidade “banho de sol” não serão os
mesmos observados pela orla, salvo exceções, o que comprova e confere a eleição de determinado
lugar por um determinado público especifico.
A partir de agora se torna interessante trabalhar com os setores e subsetores que compõem as
diferentes escalas de análise criadas para facilitar o delineamento, compreensão e caráter da área
de estudo. “Um lugar de lugares” composto pelos mais diversos usos e apropriações cabe uma
análise mais especifica de cada parte do conjunto que compõem e que se verifica na orla de
Costazul.
5.4 As escalas de análise: usos e experiências no local
Conforme apresentado no capítulo anterior, as escalas de análise para a “nova” orla foram
estabelecidas a partir de suas particularidades gerais e específicas, o que forneceu a fragmentação
deste local em doze partes: quatro setores e nove subsetores que produzem usos e experiências
distintas. Esta forma de análise não é de todo sincera, pois este princípio ordenador não é
definitivo. É importante informar que as membranas que separam os espaços é muito tênue e por
vezes se interceptam, mudam com o tempo. A intenção aqui é demonstrar, através dessa
203
|
Ca
p
í
t
u
l
5
O r
a
d e
C
o
s
t
a
z
u
l
:
ati
vid
a
d
e
, u
s
os
e
apr
o
p
ri
a
ç e
s o|
l
s
õ
ferramenta escalonar, como os lugares e as relações humanas neles existentes variam de acordo
com as características inerentes ao próprio ambiente natural-cultural bem como com os elementos
antrópicos implantados dentro deste espaço.
Vendo a paisagem do trecho 01 como síntese de uma estrutura contígua, ela se organiza dentro de
seqüências escalonares segundo padrões que as caracterizam. Recapitulando a organização dos
setores e subsetores do capítulo anterior, observa-se:
1 - Primeira escala - o projeto como um todo. Uma breve apresentação dos principais usos
existentes anteriormente e do modo como eles foram considerados no novo projeto e as novas
atividades que ocorrem na orla.
2 - Segunda escala - a divisão que caracteriza esta escala em quatro setores foi criada a partir de
informações contidas em uma das apresentações para o Projeto Urbano-ambiental de Costazul,
que foi fornecida pela Secretaria de Planejamento de Rio das Ostras. Nesta apresentação aparece
o projeto pensado em quatro áreas de interferência: a Avenida Costazul e a ciclovia; o deck e o
passeio de pedestre; a vegetação; e a praia. Assim, a segunda escala corresponde aos setores
trabalhados no projeto, conforme segue:
2.1 - Setor A - corresponde à avenida Costazul e `a ciclovia. Neste capítulo serão comentados os
aspectos gerais do projeto, como a questão de acessibilidade à orla e materiais aplicados, bem
como intenções iniciais e projetuais.
2.2 - Setor B - corresponde a todo o projeto idealizado para o passeio marítimo no qual se inserem
todos os objetos criados pelo homem, excluindo a vegetação.
2.3 - Setor C - a vegetação. Trabalha com os interesses particulares do projeto para a preservação
da área de restinga.
2.4 - Setor D - a praia de Costazul, ou faixa de areia e borda de território marítimo. Como este
capítulo se dedica as obras realizadas na orla, pouco será dito sobre este setor neste momento,
pois quase não há elementos construídos na área em questão.
204
|
Ca
p
í
t
u
l
5
O r
a
d e
C
o
s
t
a
z
u
l
:
ati
vid
a
d
e
, u
s
os
e
apr
o
p
ri
a
ç e
s o|
l
s
õ
3 Terceira escala: os subsetores. Estes foram criados a partir da observação das particularidades
observadas no desenho. É possível afirmar que a própria dinâmica que existia anteriormente na
orla contribuiu para que cada setor tivesse suas próprias identidades. As particularidades
observadas no espaço em questão serão trabalhadas a partir do fracionamento de cada setor em
três partes, como segue:
3.1 Subsetores A1, B1, C1 e D1 - seguem as linhas imaginárias traçadas a partir do eixo das ruas
Servidão e Luiz Lengruber, perpendiculares `a Av. Costazul e que se estendem até o mar de
Costazul, subdividindo o setor A em três fragmentos que se distinguem entre si;
3.2 Subsetores A2, B2, C2 e D2 - seguem as linhas imaginárias traçadas a partir do eixo das ruas
Luiz Lengruber e Irene dos Santos Ferreira, perpendiculares a Av. Costazul e que se estendem até
o mar de Costazul, subdividindo o Setor B em três fragmentos que se distinguem entre si;
3.3 Subsetores A3, B3, C3, D3 - seguem as linhas imaginárias traçadas a partir do eixo da rua
Irene dos Santos Ferreira e da Av. Gov. Roberto Silveira, perpendiculares a Av. Costazul e que se
estendem até o mar de Costazul, subdividindo o Setor C em três fragmentos que se distinguem
entre si.
Para efeitos de compreensão, essas escalas foram trabalhadas individualmente e
seqüencialmente. A próxima seção vem apresentar cada uma delas, começando pela primeira
escala (escala macro) ou setor 1, seguindo a mesma ordem do capítulo anterior.
205
|
Ca
p
í
t
u
l
5
O r
a
d e
C
o
s
t
a
z
u
l
:
ati
vid
a
d
e
, u
s
os
e
apr
o
p
ri
a
ç e
s o|
l
s
õ
5.5 A grande zona de interferência: a primeira escala de aproximação
O Projeto Urbano-ambiental de Costazul previu na leitura do contexto do local determinadas
atividades que aconteciam na orla e estipulou em seu programa novos usos e restrições de usos de
forma a conciliar o interesse de desenvolvimento econômico e ambiental na região. Sabe-se que a
própria paisagem costeira favorece o desenvolvimento de determinadas atividades tipicamente
relacionadas ao ambiente litorâneo, como o banho de mar e o banho de sol. Outras atividades
estão relacionadas com a atratividade que a borda marítima produz, seja por suas características
físico-ambientais seja pelos elementos implantados no local pelo homem.
Em Costazul antes do último projeto para a orla, eram verificados, além do banho de mar e de sol,
outros usos freqüentemente presentes em praias do litoral brasileiro, tais como o futebol de areia,
o vôlei de praia, as rodas de amigos. O grande destaque era o surf, que não pode ser realizado em
muitas das praias da cidade. A atividade comercial também era acentuada e já caracterizava o
setor com seus quiosques de cobertura de sapê dispostos pela areia de praia, ocupando o espaço
existente pela vegetação de restinga. Num contexto geral, esses usos e atividades se somatizaram
e se tornaram contrários ao que se desejava para o uso adequado da paisagem natural-cultural
que culminou no real interesse de se recuperar esta orla.
Entre os novos interesses dos autores do projeto, destacam-se a preservação da vegetação de
restinga e o prevalecimento do pedestre em detrimento do veículo motorizado dotando o espaço
de locais com acessibilidade física como direito de todos. Soma-se, ainda, o interesse em atrair `a
esta praia pessoas das mais diferentes faixas etárias através da criação de elementos que viessem
a atender a esta demanda. Assim, foram criados a ciclovia, o parque infantil, os quiosques, os
banhos, as duchas, a academia de ginástica, o calçadão, espaços para apropriação de uso no
passeio, etc. Todos estes elementos foram criados a partir do planejamento e desenho do projeto
que tentou conciliar todas as atividades de modo a não prejudicar o meio ambiente. Portanto, cabe
aqui pensar que a água não é o único elemento de interesse neste local. As outras atividades
206
160
161
|
Ca
p
í
t
u
l
5
O r
a
d e
C
o
s
t
a
z
u
l
:
ati
vid
a
d
e
, u
s
os
e
apr
o
p
ri
a
ç e
s o|
l
s
õ
agregadas a este ambiente de arremate urbano proporcionam o estímulo necessário para as
pessoas procurarem Costazul como lugar de lazer.
Apesar da certa rigidez em seu traçado, forma pensada para atingir ao objetivo de preservação da
vegetação, o espaço litorâneo é fundamental para permitir espaços flexíveis para a apropriação de
usos. A seguir serão apresentadas as principais atividades observadas neste espaço de borda
marítima relacionando os usos de acordo com os setores e/ou subsetores onde ocorrem.
207
162
163
164
165
166
|
Ca
p
í
t
u
l
5
O r
a
d e
C
o
s
t
a
z
u
l
:
ati
vid
a
d
e
, u
s
os
e
apr
o
p
ri
a
ç e
s o|
l
s
õ
5.6 As segunda e terceira escalas de aproximação
5.6.1 O setor A: a Av. Costazul e a ciclovia
A avenida Costazul é o único acesso veicular imediato à praia de Costazul desde outros bairros.
Pode-se alcançar esta praia pelo litoral, caminhando, mas é pouco comum esse fluxo. Neste
primeiro setor já é nítida a preocupação com os usuários da praia: o tratamento dado ao piso para
passagem de pessoas portadoras de necessidades especiais evidenciam um ambiente acessível,
um dos pontos para uma cidade democrática segundo Borja (2007). Falar da questão da
acessibilidade a esta praia equivale a pensar em como foi trabalhada a questão do pedestre em
detrimento do automóvel. Equivale, ainda, mencionar no cuidado das cores, formas, texturas,
acabamento que atraem o olhar, criam uma dinâmica e simboliza que algo distinto está
acontecendo.
Neste setor, percebemos dois fatores principais que o constituem: a Avenida carroçável e a
ciclovia. A Avenida foi pensada para atender tanto aos veículos quanto aos pedestres que a
cruzam. Por isso, o piso da Avenida se eleva ficando este na mesma altura das calçadas facilitando
a passagem neste local. Balizadores definem as áreas de carros, de bicicletas e de pedestres. A
ciclovia é um outro elemento importante nesse conjunto. Aqui, evidencia-se o uso de bicicletas
alugadas, caracterizando ainda mais um lugar turístico. A criação e implantação desta ciclovia
resultou num novo uso para o local, ordenando espaços e garantindo maior comodidade e
segurança para seus usuários. Tornou-se, assim, uma nova atratividade que compõe a unidade da
orla e serve de elo entre a Avenida Costazul e o passeio marítimo.
208
167
168
|
Ca
p
í
t
u
l
5
O r
a
d e
C
o
s
t
a
z
u
l
:
ati
vid
a
d
e
, u
s
os
e
apr
o
p
ri
a
ç e
s o|
l
s
õ
5.6.1.1 Os Subsetores A1, A2, A3 e A4.
De forma geral, os usos e/ou apropriações presenciados neste setor são os mesmos. O passeio de
bicicleta, o uso da via carril para automóveis particulares, as pessoas que cruzam estes segmentos
fora dos locais destinados. Por não haver mudança significativa nos padrões de comportamento,
considero estes Subsetores como lugares praticamente homogêneos dentro do projeto.
5.6.2 O setor B: o passeio marítimo de Costazul
O passeio marítimo para a orla de Costazul tem por fator característico a grande diversidade de
elementos que proporcionam uma multiplicidade de usos e que atrai as mais diversas culturas e
faixas etárias. Esses equipamentos obedeceram a uma certa hierarquia em sua implantação e
foram localizados no passeio dando forma e distribuindo funções e acessos. Assim, nos nichos
caracterizados pelos quiosques, pelos brinquedos infantis, principalmente, atuam determinados
grupos que se identificam e usufruem destes equipamentos.
De forma geral, o uso dos equipamentos, que estão dispostos sobre o passeio, é livre, o que
proporciona o acesso igualitário do bem público criado. Porém, uma diferença e elitismo se fazem
presentes nos espaços atendidos pelos quiosques, pois ingressar a eles se traduz numa seleção a
partir do momento que necessita dinheiro para usufruí-lo. Aceder a este espaço de consumo, ou
por assim dizer de seleção de grupos, confere ao passeio um limitador de acesso, menos
democrático, o que ocasiona uma estratificação social, um conflito, neste tecido de arremate
urbano.
É certo que Costazul foi pensada para atrair um público de poder aquisitivo mais elevado e para
gerar atividades culturais um pouco diferentes daquelas encontradas no Centro de burburinho da
cidade preservando, assim, determinadas características que anteriormente eram evidenciadas
209
169
170
|
Ca
p
í
t
u
l
5
O r
a
d e
C
o
s
t
a
z
u
l
:
ati
vid
a
d
e
, u
s
os
e
apr
o
p
ri
a
ç e
s o|
l
s
õ
em Costazul. Esses fatores contribuem para atrair o público turístico que a cidade tem procurado
atender como forma de obter maiores rendimentos para o seu cofre público, uma forma de
subsistência para Rio das Ostras.
Todo projeto precisa de uma certa sustentabilidade econômica para que funcione. O que pode
gerar polêmica seria o fato da municipalidade estar arcando com todas as despesas e
compromissos, sem a tão discutida participação privada. De modo geral esse aspecto é forte nas
áreas de lazer dentro da cidade, mas não anula todas as outras características que o projeto visa
atender.
Se a acessibilidade a nível econômico se torna limitada, a nível físico também. No passeio os
usuários podem percorrer toda a extensão da calçada com facilidade e certo nível de conforto e
segurança pela presença do porcelanato presente no piso, porém não foi verificada sinalização
para pessoas portadoras de necessidades visuais, o que tornou o conceito de acessibilidade cidadã
um pouco falha neste quesito. Lamentavelmente são poucos os projetos públicos que vêm dedicar
especial atenção a esta condicionante. No Rio Cidade algo a respeito veio a ser tratado em algumas
ruas e bairros selecionados.
Ao percorrer o passeio, o observador se depara com uma vista fragmentada do mar. Essa
visibilidade diz respeito aos espaços abertos ou não ao horizonte devido à presença dos quiosques.
Essa “fragmentação” na continuidade da paisagem, de acordo com Lynch, estabelece um jogo que
pode ser visto pelo observador como algo que o instiga a exercitar sua imaginação, a dar
continuidade àquilo que via antes. Poderia gerar uma vontade de descobrir, desvendar o que está
por trás desse obstáculo visual. “Era um caso que se poderia chamar de uma borda fragmentada,
quer dizer, contínua por abstração, mas apenas vista em pontos separados”. (196) Poderia, por
exemplo, gerar uma vontade de descobrir, desvendar o que está por trás dos quiosques: a praia, o
mar, o horizonte.
Ao percorrer todo esse trecho se observa uma certa rigidez e dificuldade em adentrar na praia
propriamente dita. Os locais de conexão entre os setores foram premeditados no projeto como
210
171
(196) LYNCH, 1981, minha tradução.
|
Ca
p
í
t
u
l
5
O r
a
d e
C
o
s
t
a
z
u
l
:
ati
vid
a
d
e
, u
s
os
e
apr
o
p
ri
a
ç e
s o|
l
s
õ
forma de proteção à vegetação existente. Dentro do desenho do passeio, essas conexões estariam
localizadas nas proximidades dos quiosques ou dos brinquedos infantis, principalmente; lugares
estes propícios a aglomeração de pessoas e atividades. Dessa forma, os acessos nem sempre
estão visíveis e nem indicados o que faz com que o indivíduo tenha ainda um breve sentimento de
desnorteamento ao buscá-los. Torna-se necessário supor que, indo de encontro aos quiosques,
adentrando o deck, caminhando pelo passeio permitido chegando cada vez mais próximo ao mar,
se descobrira algum elo de conexão entre passeio e praia.
Estes pontos de conexão são possibilitados por rampas em todos os lugares onde há necessidade
de vencer a altura do desnível existente entre a areia e o deck criado. Quando não é preciso, essa
conexão é realizada e marcada diretamente entre o piso de madeira do deck e a cobertura de areia
da praia. Essas rampas de acesso produzem essa interseção entre praia e passeio, além de
proporcionar um ponto de vista mais interessante e encantador, de sensação de passagem, de
ponte.
Até o momento da pesquisa, esses lugares de passagem estavam sendo respeitados e a vegetação
mantida sem o auxilio de barras de proteção, conforme desejo dos autores do projeto, pois eles
apreciam a idéia de que para se preservar, não é preciso criar “grades” que impeçam o contado
entre meio e usuário. Este deveria aprender a respeitar e cuidar daquilo que “possui”. Se preservar
211
172
|
Ca
p
í
t
u
l
5
O r
a
d e
C
o
s
t
a
z
u
l
:
ati
vid
a
d
e
, u
s
os
e
apr
o
p
ri
a
ç e
s o|
l
s
õ
está relacionado a pertencer, um projeto que se caracteriza por atrair um público turístico, que
muitas vezes não cuida daquilo que usufrui, exige do município grandes investimentos na
manutenção deste passeio, principalmente nas épocas de alta temporada quando o número de
visitantes triplica.
Ainda assim, todos os fatores de procura, de convivência, de mescla social, de raça, cultura, idade,
sexo, cores, texturas, formas, materiais, beleza produzem a vitalidade necessária ao projeto. De
forma a analisar mais profundamente as especificidades de cada setor darei seguimento a este
estudo de uso, apropriação e experiências com a análise dos subsetores do setor B.
Abaixo segue o estudo mais detalhado deste setor, que foi repartido em três subsetores, como
segue:
5.6.2.1 O Subsetor B1
Este subsetor está caracterizado pela maior concentração de equipamentos e usuários do que nos
outros subsetores. Essa presença pode ser respondida por um fator histórico e de maior procura
por esta paisagem. Há muito que o lugar do Remanso é procurado por um público diversificado,
212
173 174
|
Ca
p
í
t
u
l
5
O r
a
d e
C
o
s
t
a
z
u
l
:
ati
vid
a
d
e
, u
s
os
e
apr
o
p
ri
a
ç e
s o|
l
s
õ
mas de gostos comuns: paisagem natural-cultural que encanta e seduz. A leitura das atividades
que aconteciam neste setor levou ao entendimento de que a maior aglomeração de pessoas e de
equipamentos seguiriam neste lugar.
Sobre o deck se encontram elementos que direcionam usos, o que não favorece tanto a
apropriação livre do espaço. Um deck de madeira entremeado por moitas de vegetação de restinga
e algumas outras espécies formam um desenho em curvas que propiciam `as pessoas um passeio
sedutor e contemplativo. Os corredores existentes, que ligam a calçada `a borda do deck, são
dotados de bancos em fita que contribuem para um convite ao descanso e momento de observação
e apreciação da paisagem existente. Aproximando-se dos quiosques, já se observa as pessoas
com trajes de banho a espera da ducha. Um pouco mais além se encontram pessoas sentadas nas
cadeiras que compõem um outro grupo: o que utiliza as mesas de quiosques para saborear a
gastronomia oferecida e tomar uma água de coco, por exemplo, enquanto se distraem com e bela
paisagem marítima e/ou com a conversa entre amigos.
O parque infantil atrai, por assim dizer, as crianças e os seus responsáveis que cuidam dos
pequenos. Os bancos do deck próximo a este brinquedo oferecem aos responsáveis um lugar de
descanso enquanto esperam e vigiam as crianças brincando na estrutura da tartaruga marinha
gigante. Áreas de sombra não são evidenciadas para gerar um maior conforto térmico. Próximo à
tartaruga, há a academia de ginástica destinada a um outro público adulto e de culto ao corpo. No
dia da pesquisa, esta academia ainda não estava em funcionamento.
213
175
176 177
|
Ca
p
í
t
u
l
5
O r
a
d e
C
o
s
t
a
z
u
l
:
ati
vid
a
d
e
, u
s
os
e
apr
o
p
ri
a
ç e
s o|
l
s
õ
De acordo com essas descrições fica mais clara a presença de famílias e de crianças neste subsetor.
Elas usufruem o espaço segundo os usos que ele propicia, mas não se notou alguma apropriação
do espaço além do que foi destinado para o local.
5.6.2.2 O Subsetor B2
O subsetor B2 é caracterizado principalmente por ser lugar de passagem e de contemplação do
mar. Aqui há um respiro da tipologia dos quiosques gerando um sentimento de liberdade, de
admiração da paisagem marítima. A brisa do mar pode ser sentida mais imediatamente assim
como o cheiro do mar. É um local de menor ruído, murmurinho. O pequeno núcleo de serviços
existente neste setor constitui o único ponto de conexão à praia. Os usos destinados a este
subsetor ficam limitados ao passeio pela calçada e ao núcleo comercial existente, onde se observa
uma concentração de mesas à margem do deck, próximo `a praia. A ducha também é um dos
equipamentos de uso intenso, talvez por estar próxima ao local que não é muito recomendado o
banho de mar. Foram encontrados, principalmente, jovens e adolescentes neste lugar.
214
178 179 180
|
Ca
p
í
t
u
l
5
O r
a
d e
C
o
s
t
a
z
u
l
:
ati
vid
a
d
e
, u
s
os
e
apr
o
p
ri
a
ç e
s o|
l
s
õ
5.6.2.3 O Subsetor B3
O subsetor B3 se assemelha ao B1 pelas características de equipamentos existentes, porém sua
distribuição proporciona uma dispersão maior na concentração da população que freqüenta este
local. Assim como nos outros espaços que servem serviços nos quiosques, a borda do deck que vai
de encontro `a praia está caracterizada pela presença de mesas que vão margeando o desenho
curvilíneo do setor criando um ambiente descontraído de reunião e de gastronomia. Neste espaço,
foi observada, principalmente, a presença de amigos e familiares. Entre os dois núcleos de
quiosques, situa-se o segundo brinquedo infantil da orla em forma de tartaruga marinha onde se
presenciou a concentração de crianças e dos responsáveis que as vigiam. Uma queixa foi com
ralação `a falta de mobiliário urbano próximo, como bancos para os responsáveis desse público
infantil. O acesso aqui é permitido entre o deck dos quiosques e na faixa de areia que adentra até o
passeio e que constitui a forração do brinquedo infantil. Este local é menos procurado que o
subsetor B1, o que fortalece o poder atrativo do Remanso como local preferido na praia.
215
182181
|
Ca
p
í
t
u
l
5
O r
a
d e
C
o
s
t
a
z
u
l
:
ati
vid
a
d
e
, u
s
os
e
apr
o
p
ri
a
ç e
s o|
l
s
õ
5.6.3 O Setor C - a Vegetação
Como este capítulo é dedicado aos usos e apropriações realizadas no local de estudo, pouco será
considerado nesta seção, uma vez que raros são os usos ou apropriações nos ambientes vegetais.
O que mais se destaca nesta discussão é a forma como os usuários vêem e convivem com a nova
proposta paisagística para este setor. A seguir esses dados serão melhor apresentados.
5.6.3.1 O Subsetor C1
Neste Subsetor não foi observado qualquer tentativa de uso por entre a vegetação, talvez pelo fato
dos caminhos estarem bem delimitados e pelo desnível, o maior encontrado, entre o passeio e a
praia. As atividades ocorrem ao redor das comunidades vegetais presentes neste lugar.
216
183
184
|
Ca
p
í
t
u
l
5
O r
a
d e
C
o
s
t
a
z
u
l
:
ati
vid
a
d
e
, u
s
os
e
apr
o
p
ri
a
ç e
s o|
l
s
õ
5.6.3.2 O Subsetor C2
Grande parte desde setor não é destinada ao uso, mas sim à preservação da vegetação através de
um paisagismo que encanta o olhar. É o local com maior porcentagem de restinga e outras espécies
vegetais que compõem a totalidade do conjunto. Porém, aqui, novamente entra a questão da
preservação. Como todo bem público, o cuidado destinado a ele varia muito de pessoa para
pessoa, de cultura. O que foi percebido é que este espaço tem sofrido, nos poucos anos de uso,
maus tratos, como se observa na foto 187. Nela verificamos como as pessoas tentam deixar
registrada sua presença.
5.6.3.3 O Subsetor C3
Dentro da proposta de fazer um projeto no qual não seria empregado barras de proteção, que
viessem “proteger” a vegetação, foi constatado que caminhos foram abertos no final deste
subsetor. Assim, segundo Maurício Pinheiro, foi necessário o emprego das cercas de madeira como
forma de inibir o mau uso deste pequeno fragmento vegetativo. O arquiteto explicou, ainda, que
como este ponto ainda não se uniu ao trecho 02 pode ocasionar a impressão de ambiente não
terminado, fato que poderia afetar na atitude dos usuários no lugar. Isto evidencia que um bom
217
187186185
|
Ca
p
í
t
u
l
5
O r
a
d e
C
o
s
t
a
z
u
l
:
ati
vid
a
d
e
, u
s
os
e
apr
o
p
ri
a
ç e
s o|
l
s
õ
desenho e projeto podem contribuir para a manutenção dos lugares públicos. No subsetor C1, no
Remanso, a vegetação não sofreu maiores danos.
5.6.4 O Setor D - a faixa de areia
A faixa de areia é ausente de edificações, pois sua característica principal é gerar um espaço de
apropriação para as mais diversas atividades. Apesar de parecer um espaço homogêneo, é na sua
ocupação que se percebe as diferentes formas de apropriação e de grupos que atuam sobre a orla
de Costazul. Estes serão mais bem explicados abaixo com os subsetores respectivos a este setor.
218
189188
190
|
Ca
p
í
t
u
l
5
O r
a
d e
C
o
s
t
a
z
u
l
:
ati
vid
a
d
e
, u
s
os
e
apr
o
p
ri
a
ç e
s o|
l
s
õ
5.6.4.1 O Subsetor D1
É tipicamente o local mais procurado e freqüentado de Costazul. Neste local, caracterizado por
“zona de banho seguro”, há a predominância de famílias, incluídas as crianças, que costumam
desfrutar deste ambiente terra-água. Como em toda a franja marítima, enumera-se como
principais apropriações da areia de praia o banho de sol, o banho de mar e as brincadeiras de
criança, como a construção de castelos de areia.
As areias ficam completamente ocupadas por sombrinhas, cadeiras, cangas, isopores, cores. As
famílias conversam enquanto circulam pessoas e pessoas que vão ziguezagueando a busca da
rampa de acesso aos quiosques. Um burburinho é presenciado: risos, falações, muitas crianças.
5.6.4.2 O Subsetor D2
Neste local ocorrem, principalmente, as exposições ao sol, brincadeiras e jogos, como o frescoball,
e a prática de surf. Encontra-se, freqüentemente, a população adolescente e grupos do gênero
masculino que se dedicam aos esportes como o futebol de areia e vôlei. A ocorrência de lual foi
apontada como outra atividade que ocorre neste setor.
219
193192
191
|
Ca
p
í
t
u
l
5
O r
a
d e
C
o
s
t
a
z
u
l
:
ati
vid
a
d
e
, u
s
os
e
apr
o
p
ri
a
ç e
s o|
l
s
õ
5.6.4.3 O Subsetor D3
Foi a área com maior índice de população masculina verificada na orla marítima. Este fator pode
estar diretamente relacionado com a sensação de segurança por parte do usuário, pois em dias de
baixa temporada o uso deste local é enfraquecido. A presença da mulher pode caracterizar bem
este fato. Essa hipótese é explicitada por Borja e Muxí (2003) quando apresenta um estudo
realizado no Chile, onde a presença feminina no espaço público foi ferramenta de análise
paracalcular o índice do medidor de segurança nesses locais públicos abertos. Outra hipótese para
a menor procura por este local pode ser explicado pelo Remanso constituir o local de maior
atratividade na praia ou, ainda, pelo fato deste trecho ainda passar a percepção de local
inacabado.
220
194 195
197196
|
Ca
p
í
t
u
l
5
O r
a
d e
C
o
s
t
a
z
u
l
:
ati
vid
a
d
e
, u
s
os
e
apr
o
p
ri
a
ç e
s o|
l
s
õ
5.7 A intensidade de usos e concentração demográfica na orla
Uma vez apresentado os usos, gostaria de esclarecer as intensidades e aglomeração de usuários
nesta orla. De acordo com os estudos realizados e pela própria vivência no local, a ocupação da
orla fica caracterizada por dois momentos: aqueles de baixa procura, como nos dias de semana de
baixa temporada, e aqueles de alta procura, como nos finais de semana, feriados prolongados,
datas festivas como Reveillon e Carnaval, caracterizados pelo período de alta temporada.
Nos dias de baixa procura percebemos que os subsetores B1 e C1 são os mais cobiçados, fator que
dedico especial interesse novamente por constituir a zona de banho segura dentro da orla e por um
fator histórico também, já que este é o lugar mais procurado desde sempre na praia de Costazul.
Nos dias de alta procura se evidencia uma concentração mais diluída e homogênea pela orla,
porém, fica o setor de baixa procura com o maior índice de aproveitamento. O que tem contribuído
em grande parte para esta maior dispersão são os equipamentos ao longo do passeio marítimo,
que ocasionam outras demandas e interesses por parte dos usuários. Neste contexto, os dias de
maior procura propiciam um maior dinamismo e movimento de pessoas na praia.
As cores, cheiros, movimento, formas, texturas, raças criam um ambiente vital nesta orla, um
ambiente sedutor e prazeroso que é constituído exatamente pela paisagem e pelas pessoas que
usufruem este espaço.
221
198
|
Ca
p
í
t
u
l
5
O r
a
d e
C
o
s
t
a
z
u
l
:
ati
vid
a
d
e
, u
s
os
e
apr
o
p
ri
a
ç e
s o|
l
s
õ
Baixa temporada
Alta temporada
Este capítulo veio apresentar a população que caracteriza a praia de Costazul, pelo menos num
momento conhecido como de baixa temporada, conforme são caracterizadas as férias de inverno.
Numa conversa informal, através do artifício do emprego do questionário, se pôde obter algumas
informações que foram úteis para o delineamento da pesquisa. Foi possível saber o que as pessoas
vêem e procuram em Costazul, seus interesses e vontades, e perceber que a orla como unidade
está setorizada segundo usos, apropriações e usuários o que produz uma singularidade ainda
maior neste espaço litorâneo. São diversos grupos e culturas que atuam neste lugar, propiciando
encontros e experiências variadas.
222
|
Ca
p
í
t
u
l
5
O r
a
d e
C
o
s
t
a
z
u
l
:
ati
vid
a
d
e
, u
s
os
e
apr
o
p
ri
a
ç e
s o|
l
s
õ
0
3
|
O
l
i
t
o r
a
l
C O N C L U S Ã O
Algumas considerações
199
Apresentação
Esta última parte do trabalho vem apresentar o resultado da pesquisa, que procurou responder os
objetivos apontados na introdução desta dissertação. Nos capítulos anteriores, foram traçadas as
principais questões que atualmente estão sendo realizadas e vividas nos espaços litorâneos urbanos de
caráter turístico através do delineamento da complexidade existente dos projetos que tem trabalhado
com a busca da preservação ambiental conciliada ao desenvolvimento socioeconômico. Dentro desta
complexidade, destaca-se o mercado turístico que surge veementemente dentro do novo modo de
produção baseado no consumo em massa. A partir do estudo do projeto para a orla de Costazul, foi de
grande interesse tentar compreender como e por quê o poder público riostrense vem realizando
alterações dentro de seu espaço através dos novos projetos de arremate cidade-mar e de que forma
esses projetos contribuem para a experiência dos indivíduos dentro de um contexto sócio-geográfico
cultural como o atual.
Em primeiro lugar, será apresentado um breve resumo do que foi exposto até aqui, de modo a
recapitular todo o desenvolvimento do trabalho. Posteriormente, serão expostas as conclusões da
pesquisa que, além de responder os vários questionamentos levantados, pretende levantar uma
reflexão e contribuição para o estudo e desenvolvimento de projetos urbanos no contexto turístico-
litorâneo.
No Capítulo 1 deste trabalho, foi apresentado, rapidamente, a importância do ambiente costeiro e a
grande problemática que vem afetando-o ao longo de séculos, tornando-se mais eminente os maus
tratos dos últimos 60 anos ocasionados pela implantação de infra-estruturas e intensificação de usos
próximas às margens marítimas nacionais. Entre esses, destaca-se a atividade turística que, desde os
anos 90, vem se intensificando e acarretando maiores externalidades negativas ao meio ambiente e `a
própria população desses locais. E, como forma de amenizar os impactos ocasionados nestes meios e de
gerar lucros tanto sociais quanto financeiros, foi relatado alguns dos novos projetos que estão sendo
criados para estas zonas, dos quais se sobressaem os passeios marítimos. Nesta categoria de projeto,
destaca-se a cidade de Rio das Ostras no cenário turístico-ambiental.
Para melhor compreender o caráter da frente urbana de Rio das Ostras foi conveniente inserí-la dentro
de um contexto maior. Assim, o Capítulo 2 teve por intuito apresentar esta cidade e os principais
elementos que a constitui, salientando o novo momento econômico e cultural pelo qual esta cidade vem
passando e as principais medidas que seus gestores têm procurado implantar a fim de possibilitar uma
melhor qualidade de vida e fonte de recursos financeiros dentro de um cenário socioambiental
satisfatório. Neste contexto, destaca-se a orla marítima riostrense, de riqueza histórica e sociocultural,
dona de uma rica e diversificada paisagem, que garantiu a esta urbe sua vocação para o turismo
litorâneo. Entre os lugares procurados no litoral por uma população que se interessava por um ambiente
mais rústico destaca-se a praia de Costazul, que passou a sofrer danos em seu cenário físico-biótico
agravado pelas várias alterações em seu entorno devido à densificação urbana. A orla de Costazul,
devido `as suas diversas características, tais como: espaço público, suficiência de espaço para
implantação de equipamentos, beleza, qualidade fisco-ambiental e degradação ambiental, vem a
concretizar inúmeros dos anseios do poder público e da nova imagem que se pretendia criar para a
cidade. Assim, esta praia se tornou o local propício para a inserção das novas propostas urbanísticas que
começavam a surgir na cidade a partir do novo modo de pensar e produzir o espaço como foi
demonstrado.
c s ã
e
C
o
n
l u
o
a
m
o
ç
|
|
l
gu
a
s
c
ns
id
er
a
õ s
225
O Capítulo 3 veio trabalhar com a apresentação desta orla e de seu entorno, o que permitiu a maior e
melhor compreensão sobre o que se produzia no cenário de interface terra-mar em Costazul. De acordo
com o poder público local, criar um ambiente que concilie desenvolvimento urbano com o natural é o
ponto-chave para o caminho de uma cidade sustentável desejada por inúmeras localidades. E é esse o
viés pelo qual se almeja guiar as obras para a cidade de Rio das Ostras. O Projeto Urbano-ambiental de
Costazul tem por anseio de seus autores o resgate do ambiente marinho dentro dos padrões de
produção atual, com o intuito de ir ao encontro, dentro de um contexto turístico-ambiental a ser
explorado de forma sustentável, do que a cidade tem de melhor para oferecer: a sua orla marítima.
Conforme foi apresentado no capítulo anterior, a orla de Costazul e seus terrenos adjacentes foram alvo
de uma ocupação com moldes bem diferentes do que se tem discutido a respeito de um urbanismo de
cunho preservacionita. Sua paisagem natural-cultural, tão importante para o equilíbrio e manutenção de
seu ecossistema, foi bastante descaracterizada através de um loteamento que não condizia com a
realidade do ambiente existente e pela falta de percepção e informação por parte dos usuários da praia.
O parcelamento do terreno não prevendo espaços a serem ocupados por caracteres locais, os vários
aterramentos das áreas úmidas, o aumento progressivo de pessoas por esta faixa litorânea durante a
alta temporada de verão, o aparecimento de quiosques na praia, os caminhos abertos pela vegetação de
restinga gerando acessos fáceis e rápidos aos quiosques e `a areia são alguns dos principais aspectos
que favoreceram a degradação vegetal e o desaparecimento de animais nessa região. A análise do
loteamento foi essencial para compreender, através de um estudo histórico-comparativo, como se
desenvolveu este sítio e como ele vem sendo trabalhado hoje no cenário urbano e social. Com esse
estudo foram criadas condições satisfatórias para se verificar as reais propostas do poder público e dos
idealizadores do projeto Costazul, e para averiguar se essas medidas ditas eficazes também vêm sendo
difundidas para e por sua população, como citado nos discursos do município. Portanto, o Projeto
Urbano-ambiental de Costazul pode resumir muito dos interesses e valores do poder público municipal,
226
c s ã
e
C
o
n
l u
o
a
m
o
ç
|
|
l
gu
a
s
c
ns
id
er
a
õ s
pois cria condições para a avaliação do papel desempenhado por ele em comparação com os reais
interesses e valores de seus criadores. Além disso, permite criar suporte para analisar a forma como foi
considerada a população dentro do cenário urbano bem como o modo pelo qual ela aceita, vivencia e vê
as novas alterações da paisagem riostrense.
O Capítulo 4 trabalhou exatamente com as questões do desenho do projeto, de modo a desvendar se os
interesses mencionados para o local estão de acordo com o que foi criado neste sítio. Assim, este
capítulo discutiu três temas: as propostas, o desenho e a pesquisa de campo. Esta trabalhou na
confirmação dos dados recolhidos a fim de confirmar se teoria e prática seguiram o mesmo
delineamento para o estabelecimento do desenho. Acredita-se, nesta pesquisa, que o próprio desenho
e acabamentos de um determinado elemento favoreça sua conservação durante seu tempo de uso. Por
isso, o governo vem investindo tanto em seu patrimônio público. Assim, acredita-se que a orientação e
informação da sua população são as chaves complementares desta circunstância de valorização e de
sentimento de pertencimento a algo ou a algum lugar.
Falar dos usuários de Costazul, delineá-los, caracterizá-los, saber o que sentem, quais os seus
interesses e opiniões a respeito do novo projeto é o que foi discutido no Capítulo 5 desta pesquisa. Esta
discussão ainda teve por interesse saber quais os tipos de gostos, vontades, usos e apropriações que se
estabelecem na orla em estudo. Relevância foi dada ao estabelecimento de escalas de análise, que
permitiu um maior detalhamento do espaço analisado, e inegável é a sua contribuição na caracterização
da orla de Costazul considerada, aqui, como um lugar de lugares onde a interface terra-mar produz
distintos nichos e apropriações neste limite continental. Ainda foi discutida a diferença que existe na
intensidade de sua ocupação nos dias de alta e baixa temporada, o que marca uma sazonalidade típica
desses espaços costeiros.
De forma geral, pode-se dizer que a riqueza desta orla não está apenas no contato com a paisagem
“natural” mas, também, em seu caráter urbano. Sua gestão e cultura fazem parte deste processo de
construção da urbe, juntamente com seu desenvolvimento econômico e político. Por isso, o grande
227
c s ã
e
C
o
n
l u
o
a
m
o
ç
|
|
l
gu
a
s
c
ns
id
er
a
õ s
interesse em tornar Rio das Ostras, através do Projeto Urbano-ambiental de Costazul, um lugar ainda
mais atrativo ao destino turístico. Verifica-se mudanças de pensamento não apenas no discurso do
promotores urbanos, mas nas medidas concretas pela cidade. Disse o arquiteto e urbanista Maurício
Pinheiro para a nova orla: “(...) muito mais que um projeto de urbanização, foi uma mudança de
filosofia de toda a cidade”.
Resumidamente, este foi o percursso e o conteúdo geral desta pesquisa. A seguir, está exposta uma
breve avaliação da metodologia empregada para obter os resultados dos objetivos inicialmente
pleiteados.
Avaliação da metodologia
As entrevistas com os autores do projeto e a aplicação dos questionários aos usuários da orla de Costazul
foram muito importantes para a obtenção de informações valiosas a respeito do modo de ver e atuar
sobre este espaço de borda continental. Contribuiu, ainda, para comparar o que foi pensado e criado
com o que foi aceito e apropriado pelos usuários desta orla, traduzida na análise de uso. A aplicação dos
questionários certamente foi o recurso mais importante para o delineamento do perfil do usuário, seu
contexto socioeconômico e cultural, além de fornecer um contato direto com as pessoas que se
encontravam na orla de Costazul nos dias da pesquisa de campo. Estes fatos foram enriquecedores,
úteis e estimulantes, pois forneceram uma expressiva informação qualitativa a respeito do projeto.
Algumas das respostas fornecidas despertaram desejos e questões a serem exploradas, observadas e
registradas no próprio projeto e em seu entorno. Estes momentos enriqueceram a pesquisa e geraram
um maior poder de compreensão e crítica sobre o que vinha acontecendo neste lugar de borda marítima.
Para Lúcia Costa (1993) através da interação com os usuários, o pesquisador torna-se capaz de obter um
melhor conhecimento do lugar no sentido de ter maior clareza das características de uso e de
228
c s ã
e
C
o
n
l u
o
a
m
o
ç
|
|
l
gu
a
s
c
ns
id
er
a
õ s
comportamentos dos mesmos. Os registros levantados no local correspondem principalmente ao
artifício da fotografia, dos croquis e das anotações, tão essenciais para proporcionar uma leitura ainda
maior do local, pois se pôde trabalhar com os dados levantados num momento posterior, uma vez que a
investigação não permitia o tempo necessário para o reconhecimento minucioso dos muitos elementos e
caracteres que atuam e definem o lugar. Assim, os dados presentes neste material recolhido puderam
ser relembrados e compreendidos posteriormente, gerando, inclusive, momentos de reflexão em
determinados fatos observados nas imagens registradas, pois muitos dados não foram captados num
primeiro momento do levantamento (*).
A seguir, será apresentada a conclusão desta pesquisa. O texto segue a ordem das perguntas feitas na
Introdução deste trabalho (pag. 22) e, como forma de praticidade, as mesmas serão reamostradas à
margem esquerda do texto principal nas páginas seguintes, de acordo com o desenvolvimento das
respostas pertinentes a cada questão levantada.
229
c s ã
e
C
o
n
l u
o
a
m
o
ç
|
|
l
gu
a
s
c
ns
id
er
a
õ s
(*) Torna-se útil esclarecer que as anotações e
os croquis serviram como material de apoio e
os mesmos não foram aqui apresentados
como no original por uma simples questão de
definição de apresentação. Assim, todas as
imagens foram criadas ou trabalhadas no
computador, não ficando expostos os
desenhos ou anotações à mão.
230
c s ã
e
C
o
n
l u
o
a
m
o
ç
|
|
l
gu
a
s
c
ns
id
er
a
õ s
Conclusão
Com relação aos interesses, valores e significados do poder público para a cidade de Rio das Ostras, no
Segundo Capítulo foi tratado o intenso processo de reforma e revitalização pelo qual esta cidade vem
passando nos últimos anos em todo o seu território. Todo esse processo, como dito pelo Secretário
Maurício Pinheiro, foi uma mudança elaborada e ansiada tanto por ele quanto pelo ex-prefeito, o Sr.
Alcebíades Sabino, e discutida entre outros membros em seus encontros tanto formais quanto
informais.
Novos interesses estavam sendo gerados. O crescimento da cidade, a sua emancipação de Casimiro em
1992 e os recursos advindos dos royalties em 1999 favoreceram os desejos de mudança pelos futuros
governante que culminaram nas transformações que se evidenciam pelo território. Esse desejo
traduzido por melhorias na cidade, tanto no campo social quanto no ambiental, pode ser explicado pelo
novo momento de agir sobre a paisagem que refletiu num conjunto de medidas cujos principais
interesses estavam ligados ao desenvolvimento da cidade para seu habitante segundo anseios
ambientais e econômicos, ou seja, tornar Rio das Ostras fonte de atratividade e de responsabilidade pelo
seu meio. Todos esses fatores foram decisivos para a eficácia das novas medidas e possibilidades
efetivas de mudança de pensamentos, de hábitos e construtivas em Rio das Ostras.
Assim, o desejo de tornar a cidade auto-suficiente e com qualidade de vida para seus habitantes se
traduz em projetos que vêm sendo guiados através do fomento ao turismo e da preservação ambiental.
Projetos esses que, de acordo com o discurso do poder local, vêm atender sua população, resgatando as
suas raízes e direcionando-a, formando-a para a nova cidade que se abre ao contexto nacional e
internacional. Isto porque, como exposto, medidas estão sendo desenvolvidas para fortalecer o
mercado turístico como forma de se obter melhorias urbanas e fator de atratividade e renda para a
cidade.
1.Quais os valores e significados que
culminaram na realização do projeto urbano
para esta orla bem como para a cidade como
um todo?
231
c s ã
e
C
o
n
l u
o
a
m
o
ç
|
|
l
gu
a
s
c
ns
id
er
a
õ s
Assim, após os estudos realizados, percebe-se que a relação entre homem-meio tem sido procurada
fortemente pelos gestores e autores do projeto que, mais que comprometimento à cidade e ao cidadão,
expressam seus compromissos com o meio no qual se insere a paisagem urbana-natural, objeto dessa
pesquisa. Logo, as vontades de tornar essa cidade auto-suficiente e com qualidade de vida pode ser
verificado nas novas propostas que se tem presenciado através de discursos de projetos guiados através
do fomento ao turismo e da preservação ambiental, onde se destaca a orla marítima da cidade.
Neste contexto supracitado enquadra-se a orla de Costazul que foi eleita como primeiro fragmento de
costa marítima a passar por reformas que promovessem sua revitalização. Dentro da escala da cidade, a
praia de Costazul se destaca por sua extensão e maior possibilidade de intervenção, criando espaços de
lazer e de comércio que atendem a demanda existente no local e seus visitantes, gerando o elo entre
urbanização e preservação ambiental que se planejou como forma de revitalização ambiental-urbana
para este setor.
Entendendo a orla da cidade como catalisadora de recursos, de pólo atrativo, sua paisagem é repensada
e valorizada de modo a refletir o novo modo de pensar e agir sobre o território riostrense.
Estrategicamente, o novo projeto representaria um destaque inovador dentro dos cenários político,
público, urbano e turístico da cidade. Politicamente o projeto se constituiria como a vitrine da
municipalidade, gerando a nova imagem da urbe e tornando visível a atuação do poder municipal
através dos investimentos e interesses resultantes; como caráter público-urbano o projeto abraça a
condição de praia como bem público e acessível através de cuidados na preparação do projeto, como as
rampas de acesso e emprego de materiais considerados ecologicamente corretos, além do cuidado
dedicado à água; no campo turístico o poder de sedução através de formas, cores e materiais somados a
uma publicidade intensa na divulgação e valorização do projeto gera uma atratividade para o local até
então não presenciada na região.
2.Quais as estratégias e os valores dos
autores e promotores dessas transformações
urbanas?
232
c s ã
e
C
o
n
l u
o
a
m
o
ç
|
|
l
gu
a
s
c
ns
id
er
a
õ s
Segundo Jordi Borja (2003) dotar um espaço público de qualidades estéticas, espaciais e formais facilita
as relações e o sentimento de pertencimento de um indivíduo ou grupo social para com o bem comum. É
isto que os autores e promotores do projeto para Costazul tentam responder com a implementação do
passeio marítimo, mas acima de todos os anseios prevalece a vontade de recuperar, de gerar um espaço
que venha preservar as características físico-ambientais do lugar através da criação do Corredor
Ecológico. A criação do projeto Urbano-ambiental de Costazul representa a nova responsabilidade e
interesse socioeconômico, que vêm gerando interesses nestes locais de arremate urbano da cidade com
o mar. Preocupados em destinar usos, atividades junto à exploração dos recursos sem danificar o
ecossistema presente na orla marítima, o projeto foi direcionado para responder também os anseios do
poder público municipal, presentes em seu Plano Diretor.
A preocupação dos gestores por esta cidade está visível não apenas nos discursos ou papéis, mas,
também, no que se cria no território da cidade, objetivando o zelo e a qualidade de determinado espaço
ou bem por seu usuário. E são estas questões que o governo municipal vem trabalhando com sua
população através de projetos que visam informar e educar a comunidade para cuidar de seu bem
público como algo que se estendesse de suas próprias casas. Disse Maurício: Quando cruzamos a porta
de saída de nossas casas, entramos em um outro tipo de moradia, muito mais ampla e complexa, com
cômodos imensos, pisos variados, teto que é um verdadeiro mistério e paredes com infinidades de
formas e de cores. Valores que vêm sendo trabalhado junto à comunidade riostrense e que pode ser
verificado na revitalização da orla de Costazul.
Diante do estudo apresentado, fica evidenciado a importância que se é dedicada à frente marítima da
cidade de Rio das Ostras e à sua população. A valorização da qualidade da sua água, do anseio em troná-
la ainda mais acessível e o desejo de preservação de um ecossistema tantas vezes renegado como o de
restinga são aspectos louváveis do poder público que investe em projetos de infra-estrutura urbana de
forma a ter uma água de qualidade na cidade, preservando assim seu maior bem natural e cultural: o
mar.
233
c s ã
e
C
o
n
l u
o
a
m
o
ç
|
|
l
gu
a
s
c
ns
id
er
a
õ s
Considerando que o estudo de campo não teve por intenção uma análise quantitativa, os dados sobre o
público ficam mais bem caracterizados pela informação prestada durante a entrevista empregada ao
senhor Maurício Pinheiro. Assim, segundo este arquiteto e secretário da cidade, na cidade como um todo
há a predominância das populações das classes “C” e “D” e na orla de Costazul se evidencia uma maior
concentração de classes mais elevadas. Como resultado da pesquisa, percebe-se que é na areia onde se
mesclam mais todos os grupos do que no próprio passeio, que limita o acesso pelo comércio oferecido
através da aquisição de algum elemento alimentício.
Com a inauguração do trecho 01 do Projeto Urbano-ambiental de Costazul uma multiplicidade de
atrações para os mais diversos grupos e distintas faixas etárias e classes sociais foram reforçadas e
criadas Destacam-se, aqui, o passeio no calçadão, o uso dos brinquedos infantis, os espaços de
descanso e de ócio no passeio, entre outros. Com relação aos valores, significados e interesses dos
usuários conferidos à orla de Costazul, foi diagnosticado que diversos grupos predominam em distintos
lugares dentro desta franja costeira segundo sua identificação a um lugar e/ou a um grupo em particular.
Assim, há os grupos que freqüentam os quiosques, o das crianças próximas ao Remanso, os que apenas
passeiam a beira-mar ao final da tarde, os do banho de sol, os do surf, entre tantos outros.
Neste projeto, busca-se uma mescla de oportunidades que contribuirão para enriquecer o valor social do
local através da qualidade ambiental tanto em termos estéticos quanto de oportunidades de
experiências adquiridas por seus usuários. A grande riqueza do projeto de evidencia pelo encontro com o
mar, que possibilita uma incontável quantidade de experiências e atividades que conferem uma rica
variedade sensorial a seus usuários. Assim, a praia e o mar são de fato os motivos mais citados como
fator atrativo da orla marítima. Cheiros, formas, cores, brisa, sabor, tudo contribui para a riqueza de
Costazul.
O que se percebe é que a atual orla de Costazul é muito mais que sua bela paisagem. Nela existem
valores sociais intrínsecos que produzem uma vida urbana diversificada, com atividades recreacionais,
3.Qual o público que freqüenta Costazul e
quais são os reais interesses, significados e
valores da “nova” orla desses usuários?
234
c s ã
e
C
o
n
l u
o
a
m
o
ç
|
|
l
gu
a
s
c
ns
id
er
a
õ s
de ócio, de lazer, esportivas, sociais, culturais. Portanto, esses diferentes grupos sociais produzem
diferentes significados, valores e atividades, um espaço público aberto e convidativo aos mais distintos
gostos e interesses. Diante dessas constatações é possível afirmar os lugares estão relacionados com as
identificações de seus usuários para com ele e com seu caráter físico único. O sentimento de
pertencimento ou de reconhecimento configura os tantos nichos presentes no setor e o seu grupo
determinante, bem como as atividades neles desempenhadas. Assim, certamente a população é atraída
e direcionada por muitos outros fatores, dos quais incluem sua paisagem marítima, seu sentimento ou
afinidade por determinada atividade relacionada à borda costeira, os usos propiciados pelos
equipamentos urbanos implantados, e tantas outras particularidades presentes no ambiente costeiro.
Esta pesquisa vem, portanto, demonstrar que a procura pelo litoral, por um ambiente de limite é
traduzida, em grande parte, pela beleza da paisagem marítima, principal fator que mobiliza as pessoas a
buscarem estes lugares de espaço comum. Sabendo que toda praia constitui um espaço público que
deveria ser de direito a todo cidadão, são proporcionados os mais diversos tipos de encontros onde
atuam diferentes culturas, grupos sociais, interesses e atividades em distintos ambientes característicos
do setor litorâneo. Toda a ação envolvida nestes lugares está marcada por um constante processo de
mudança e adaptação dos usuários e vice-versa.
Como o espaço público é um local aberto as mais diversas formas de atuação e de apropriação, os
projetos que estão sendo implantados em Rio das Ostras vêm demonstrar o modo de ver e atuar sobre o
espaço público. Apesar de o município utilizar a política de uso como forma de preservação através do
Projeto Cidade que Educa as pessoas, por estarem em um local aberto, demonstram seus reais valores
aos ambientes, pois estão mais livres para desempenharem suas ações, que podem ser boas ou não
sobre este espaço. Muitas vezes essas atuações condizem com a cultura determinante influenciando o
comportamento do indivíduo sobre o meio do qual usufrui.
4.Estão esses interesses e valores dos
usuários refletidos na paisagem através do
uso do passeio?
235
c s ã
e
C
o
n
l u
o
a
m
o
ç
|
|
l
gu
a
s
c
ns
id
er
a
õ s
Assim, os usos e as apropriações que fazem do espaço público podem esclarecer muitos dos interesses
ou sentimento de pertencimento e, por conseguinte, de cuidado a um determinado ambiente. É certo
que, com a nova preocupação ambiental, muitas atitudes podem ser alteradas, e devem. Porém, um
contraponto é criado dentro desses interesses de preservação e sentimento de pertencimento, pois
projetos são pensados e criados para atrair turistas que vêm das mais diversas localidades e muitas
vezes não têm intrínsecos este sentimento de zelo pelo bem público. Com as distintas culturas e os
diversos valores que aplicam sobre a paisagem existente, a questão da preservação da vegetação em
Costazul poderia ficar comprometida, uma vez que neste lugar está sendo estimulada a atratividade
turística, que leva mais e mais pessoas de distintos lugares a procurarem esta orla. Assim, apesar da
cultura preservacionista que se tenta implantar na cidade através, por exemplo, do Projeto Cidade que
Educa, a tarefa de gerar um sentimento de pertencimento e respeito pelo espaço público e natural-
cultural numa população de características tão diversas, como a turística, não é tarefa fácil de ser
controlada e resolvida.
Segundo Maurício Pinheiro a própria comunidade vem contribuindo para o controle do seu espaço
praiano, zelando por ele, sendo olhos daquilo que lhe pertence. Para Lúcia Costa (1993) quando as
comunidades locais participam e se envolvem efetivamente nas realidades diárias do espaço público,
aqui se aplica o caso do passeio marítimo, elas patrulham, controlam e organizam as atividades culturais
e sociais de acordo com seus maiores interesses, contribuindo para uma efetiva medida de
responsabilidade e diminuição dos conflitos gerados além de manter a vitalidade deste espaço.
Deve-se atentar que não foi observada a presença de guardas municipais ou fiscalização diária na orla de
Costazul nos dias de pesquisa de campo, o que pode conferir maior liberdade aos usuários do setor em
suas apropriações sobre o espaço criado e sobre a vegetação. Este fato permite dizer que, de forma
geral, os indivíduos têm convivido “harmoniosamente” com o meio sobre o qual atua. Foram registradas
algumas pequenas atuações do homem sobre o meio que não condizem com o ambiente idealizado,
como o caminho aberto entre o conjunto vegetal do último Subsetor, próximo a Av. Roberto Silveira, que
236
c s ã
e
C
o
n
l u
o
a
m
o
ç
|
|
l
gu
a
s
c
ns
id
er
a
õ s
culminou na necessidade de implantação de barras de proteção na tentativa de se proteger a flora aí
existente; e as marcas ou “dizeres e assinaturas” deixados nas plantas nos lugares de maior
concentração e proximidade das mesmas ao calçadão.
Este novo projeto desenvolvido para a orla de Costazul vem demonstrar, de forma geral, o interesse em
torná-la um lugar mais visível e sociável, diversificado tanto em equipamentos, quanto em grupos
sociais. Para Lúcia Costa (1993) o espaço público como lugar de construções e de paisagem social estão
constantemente passando por transformações e reinterpretações que refletem as intenções humanas e
seus valores. Logo, estes espaços, como o passeio marítimo, vêm demonstrar não apenas as crenças ou
interesses daqueles que o desenham, mas também os dos seus usuários. Sabendo que o correto uso de
um determinado espaço é fundamental para se manter o equilíbrio necessário entre meio ambiente e os
diferentes agentes sociais que atuam sobre ele, o discurso ambiental atual refere-se ao fato de que para
se preservar é ideal que a área em questão seja planejada de forma a propiciar determinadas atividades,
mas sem comprometer a integridade do meio.
De forma geral, em grande medida o Projeto Urbano-ambiental para Costazul vem materializar muitos
dos ideais presentes no discurso do poder público municipal, principalmente o de obra pública e
ambientalmente sustentável. Pode-se afirmar que as atuais políticas públicas implantadas em Costazul
vêm dar início a uma série de projetos que estão sendo pensados e implantados estrategicamente na
orla marítima da cidade, direcionando programas especiais que valorizem este espaço e sua paisagem
litorânea, a fim de trazer retorno econômico, onde surge o turismo como objeto a ser explorado. Estes
programas refletem e anseiam uma dupla preocupação: o desenvolvimento socioeconômico e a
preservação ambiental, onde os usos estão diretamente relacionados neste contexto como forma de
alcançar os objetivos e interesses criados. Cuidado também ficou dedicado à população riostrense, pois
a cidade está sendo dotada de espaços públicos enriquecedores à vida urbana. Graças ao o terceiro ciclo
5.O atual projeto desenvolvido para a orla de
Costazul corresponde aos ideais propostos
pelo governo local, que tem em seu discurso
teórico aspectos ambientais e sociais, onde
se destacaria, por assim compreender, a
paisagem como significadora de equilíbrio,
identidade e cultura para sua população?
237
c s ã
e
C
o
n
l u
o
a
m
o
ç
|
|
l
gu
a
s
c
ns
id
er
a
õ s
econômico da cidade adquirido pelo recebimento dos royalties do petróleo, o financiamento de todas as
obras que surgem por todo o território podem ser financiadas e executadas.
Fato curioso e que chamou a atenção com relação a este discurso citado gira em torno das novas
propostas estarem sendo guiadas dentro de um discurso de resgate cultural, histórico, social e
ambiental voltados à uma população original que não alcançava os 3% no ano de 1999. De acordo com
os estudos desta pesquisa e pela própria vivência anterior da autora em Rio das Ostras, o que se deduz é
que as novas transformações não condizem com aquilo que se via ou criava ou se produzia na localidade
antes deste último ciclo. A maior procura por esta cidade tanto pelos antigos veranistas quanto pela nova
população, que vem buscar na cidade vizinha Macaé melhores oportunidades de emprego e renda,
poderia levar a crer que os novos projetos ou a nova cidade tem como primeira ordem cumprir com as
exigências dessa nova população “royaltiana” de origens múltiplas e mais exigente que aquela
proveniente da própria Rio das Ostras. Este fato foi, como visto, confirmado por Maurício Pinheiro
durante o emprego da entrevista.
Apesar de ter diagnosticado que as atuais obras têm por interesse primeiro atender uma nova população
e um novo modo de produzir na cidade, deve-se louvar as reais intenções de resgate histórico de uma
população e de uma identidade do lugar que se consideravam perdidas, e de sua fauna e de sua flora
através de um desenho paisagístico distante dos padrões convencionais.
Com relação à intenção de se resgatar a vegetação deteriorada da praia insere novas funções e usos
neste espaço diversificando seu público e tornando-o ainda mais visível e atraente. Destaca-se a
preocupação em projetar a vegetação sem ser em “caixa de vidro”. O que se verifica no discurso do
projeto e na sua implantação é que todas as comunidades vegetais estão separadas dos usuários apenas
pelo desenho de piso, ficando ausente de elementos que tentem impedir a entrada das pessoas nestes
locais. A “impossibilidade” de entrar nestes conjuntos vegetais pode traduzir dois interesses: o primeiro,
relacionado ao desejo de se manter as comunidades de restinga anteriormente existentes, conforme a
238
c s ã
e
C
o
n
l u
o
a
m
o
ç
|
|
l
gu
a
s
c
ns
id
er
a
õ s
proposta e discurso inicial do projeto; e o segundo, para evitar que a vegetação estivesse ainda mais
vulnerável às ações humanas, aos distintos valores e apropriações aplicados sobre elas. O novo desenho
revela a orla marítima, amplia seu poder sedutor através de formas, texturas, cores e possibilidades de
usos.
O que se verifica é que desenhos e projetos estão sendo criados para a nova população urbana e turística
que vem compor Costazul. Nesta orla, o que mais chama a atenção é o apelo turístico que se desvirtua da
realidade local. Com o novo projeto, percebe-se, ainda, uma descaracterização do novo com o já
existente, não podendo encontrar um elo de continuidade e de integração forte entre o projeto urbano e
o projeto arquitetônico como sugere Robert Krier (apud LLAMAS, 2004). Por mais que se constitua uma
arquitetura de baixo gabarito de qualquer forma impede a visibilidade do mar. Assim, o estudo do
entorno fica evidenciado, pois é preciso compreender que o atual projeto executado em Costazul é parte
de um complexo sistema de atuações que vem ocorrendo pela cidade, pois ela faz parte de um contexto
global e inter-relacionado.
O novo desenho para a praia de Costazul marca um novo momento, uma nova concepção e interesses da
e para a cidade. Visando o capital externo, mais que o interno, medidas são tomadas e implantadas de
forma a tornar a orla atraente a outros segmentos. Conciliado a outros projetos dentro de um mesmo
pensamento ambiental, como narrado pelos promotores, a orla de Costazul vem compor parte essencial
para a concretização da criação do Corredor Ecológico o que comprova os reais anseios públicos com
relação ao meio ambiente. Este projeto mais global, além de servir de estímulo, direcionou na tomada de
decisões e impulsionou a concretização dos planos.
Assim, o projeto para Costazul vem contribuir para o fortalecimento de iniciativa de desenvolvimento
econômico e de preservação ambiental, estimulando o turismo litorâneo. Tudo isto configura uma cidade
que tem no seu ambiente marítimo-terrestre muitas das chaves para seu crescimento e
desenvolvimento humano. Porém, ao analisar este espaço singular e urbano constataram-se alguns
239
c s ã
e
C
o
n
l u
o
a
m
o
ç
|
|
l
gu
a
s
c
ns
id
er
a
õ s
desvios entre o que foi pensado e o que existe atualmente neste setor praiano. Questões como o
trabalho para o desenvolvimento do espaço democrático presente no discurso do poder público são em
parte evidenciados, pois grande interesse do trabalho desenvolvido está voltado para fortalecer o
turismo local. Conflitos são, então, gerados devido à competição entre público e privado estabelecida
pela recolocação dos quiosques sobre a faixa de praia. Logo, as construções na borda marítima, ao
mesmo tempo em que trazem facilidades com os serviços prestados, ocasionam o maior fator de
exclusão social neste espaço, além de gerar uma espécie de competição entre as características
paisagísticas do entorno com as novas formas criadas. Traduz-se também em um bloqueio físico e visual
entre a cidade e a praia. Soma-se a este campo de exclusão o fato de não haver sido programado e
implantado sinalização para pessoas portadoras de necessidades visuais, tornando-se deficiente ao não
cumprir com as especificações para pessoas portadoras de necessidades visuais. Estes fatores colocam
em dúvida as relações entre política pública e interesses cidadãos e ambientais.
Sabendo que grande é a relevância das águas para a cidade de Rio das Ostras, tanto por um período
histórico, quanto econômico e cultural, foi às margens de suas águas, do rio das Ostras e do Oceano
Atlântico, que a cidade começou a se desenvolver, a criar seu primeiro núcleo urbano. E foram dessas
águas que saiu a maior fonte de subsistência para a sua população através da pesca. Povoado de uma
localidade tipicamente litorânea teve seus costumes traçados e gerados na pequena cidade que viria a
constituir hoje uma das mais importantes dentro da região. O desenvolvimento da vocação turística de
Rio das Ostras começou há pouco mais de meio século, fato que trouxe o segundo momento econômico
da cidade e tantas outras transformações em sua sociedade e morfologia e forma urbana.
Um exame geral mostra um resultado de grande significado: a crescente conscientização da importância
da requalificação de áreas urbanas de valor ambiental e cultural para o desenvolvimento das mesmas.
Apesar do projeto para a orla de Costazul ter apenas metade de seu projeto implantado, ele já é muito
6.Como se revela a mudança e do que ela se
compõe?
240
c s ã
e
C
o
n
l u
o
a
m
o
ç
|
|
l
gu
a
s
c
ns
id
er
a
õ s
procurado, tanto pelos moradores do local quanto pelos antigos usuários. Todo este estudo desenvolvido
leva a crer que o primeiro trecho do Projeto Urbano-ambiental de Costazul trouxe uma grande
contribuição para os novos passeios marítimos tornando-se, neste caso, referencial para aqueles
projetos que visam à preservação do seu meio físico-biótico junto à exploração do mesmo de forma a
alcançar o desenvolvimento econômico e social. Crê-se que a nova paisagem criada para Costazul, antes
caracterizada por um elevado grau de degradação, vem representar algumas soluções que atentam
tanto para o mercado turístico quanto para sua população, pois também a dota de um espaço público
que estimula as mais diversas atividades e trocas, integrando-a a cidade e gerando uma nova
perspectiva para o desenvolvimento urbano.
A pesquisa ainda atentou para a iniciativa do governo relacionada à gestão da Participação Cidadã que,
de acordo com os dados colhidos nas entrevistas e na aplicação dos questionários, constatou uma
deficiência que vem ocorrendo não apenas no município de Rio das Ostras. Segundo Maurício Pinheiro
(informação verbal) a população foi informada das etapas que seguem o desenvolvimento das
propostas, mas não tiveram participação nas tomadas de decisão quanto ao desenho ou equipamentos
que foram implantados em Costazul. Porém, apesar da pouca atuação da população, o projeto
implantado para o primeiro trecho da orla de Costazul teve boa aceitação. Os moradores mais antigos da
comunidade local envolveram maior emoção quando relataram o processo de construção do passeio e
aprovaram as novas alterações como beneficiadoras do loteamento e para a cidade, exceto os
momentos caracterizados pela alta temporada, que trazem algumas externalidades negativas.
Todas as transformações que passa a cidade de Rio das Ostras é fruto de um novo momento econômico e
de produção. Produção esta que caracteriza uma cultura, um modo de vida, de pensar, de valor, de
interesses e objetivos, de se produzir relações sociais e espaciais. O discurso de preservação atual é
semelhante em inúmeras partes do mundo, é, talvez, um modo global de se ver o mundo, de se
considerar peças de uma grande máquina que tece e costura a cada dia o nosso futuro. Porém, cada
cidade, da mais pequenina que houver, deve tratar seu sítio como algo único, específico, olhá-lo,
avaliado, compreendê-lo e então aproveitar, potencializar suas maiores características físicas, culturais
quanto ambientais.
Rio das Ostras se insere dentro de muitos desses parâmetros levantados. “Pérola entre o rio e o mar”
esta cidade, como na própria definição colocada por Alcebíades Sabino, tem seu nicho no e ao redor da
água. Assim, sua mãe a abraça e a incentiva a se desenvolver de forma rica e prazerosa num cenário
infinito que se descobre habitável. Limites já não fazem parte do novo modo de se ver e agir sobre a
paisagem marítima: o mar se desvenda. Filhos da terra e do mar, seus autores têm conferido sua grande
e responsável atitude frente a um território que se insere dentro deste novo século com o real interesse
em seguir fomentando medidas concisas para o futuro de uma cidade que enriquece, não no sentido
econômico como se sabe, mas no social, no de valor paisagístico, no humano.
Por fim, a cidade que busca seu desenvolvimento sustentável caminha rumo a ele. Enfrenta as mais
diversas complexidades e dualidades intrínsecas à atuação humana, tão distinta e diversificada em seu
processo diário de construção cultural. E trabalha em prol de seus interesses, de seu futuro, de melhores
condições de qualidade de vida, de valorização de sua paisagem. Ainda incentiva a criação de lugares,
acima de tudo, de prazer, sonhos, fantasias, ilimitados às próprias matérias físicas do ser.
Um dos grandes desejos dessa pesquisa é que a mesma não pare aqui. Que ela possa servir de incentivo
e contribuição a outros estudos. Creio que este será o grande mérito dela, seu maior valor e minha maior
satisfação.
241
c s ã
e
C
o
n
l u
o
a
m
o
ç
|
|
l
gu
a
s
c
ns
id
er
a
õ s
Lista de figuras, mapas e fotos*
1 - Disponível em: <http://lucenaseguros.com.br>. Acesso em nov. 2007.
2 - BAIAO, Renata. Disponível em:
<
3 - Disponível em:
<
http://www.flickr.com/photos/advogadissima/167040174>. Acesso em nov 2007.
http://images.google.com.br/imgres?imgurl=http://litoralbr.vilabol.uol.com.br/mapa.jpg&img
refurl=http://litoralbr.vilabol.uol.com.br/restingas.htm&h=242&w=233&sz=4&hl=pt-BR
&start=45&tbnid=8smlbvS8rDUOLM:&tbnh=110&tbnw=106&prev=>. Acesso em: nov. 2007.
4 - NAKANO, 2006, p. 12
5 - Disponível em: <http://www.flickfoto.com>. Acesso em set. 2007
6 - Disponível em: <http://www.flickfoto.com>. Acesso em set. 2007.
7 - Disponível em: <http://www.flickfoto.com>. Acesso em set. 2007.
7 A - FEEMA, 2007.
8 - fonte desconhecida
9 - BRASIL, 2006a, p.28
10 - fonte desconhecida
11 - fonte desconhecida
12 - fonte desconhecida
13 - NAKANO, 2006, p 21.
14 - NAKANO, 2004, p.29
15 - fonte desconhecida
16 - fonte desconhecida
244
t at
|
L
i
s
a
|
F
ig
ur
s
,
m
a
pa
s
e
fo os
(*) ver, também, referência bibliográfica
17 - Disponível em: <http://www.via-arquitectura.net/02_prem/02p-058.htm>. Acesso em:
out. 2007.
18 - Disponível em: <http://www.via-arquitectura.net/02_prem/02p-058.htm>. Acesso em:
out. 2007.
19 - Disponível em: <http://www.via-arquitectura.net/02_prem/02p-058.htm>. Acesso em:
out. 2007.
20 - Disponível em: <http://www.via-arquitectura.net/02_prem/02p-058.htm>. Acesso em:
out. 2007.
21 - Disponível em: <http://www.via-arquitectura.net/06/06-070.htm>. Acesso em: out.
2006.
22 - Disponível em: <http://www.via-arquitectura.net/17/140-017.htm>. Acesso em: out.
2007.
23 - Disponível em: <http://www.via-arquitectura.net/17/140-017.htm>. Acesso em: out.
2007.
24 - Disponível em: <http://www.via-arquitectura.net/17/140-017.htm>. Acesso em: out.
2007.
25 - FIGUEROLA, 2006.
26 - FIGUEROLA, 2006.
26 A - A rua XV de Novembro, Curitiba. Disponível em: <http://images.google.com.br/imgres?
vimgurl=http://www.n-a-u.org/RuaXVdeNovembrocentroCuritiba4.jpg&imgrefur l=http://www.
n-a-u.org/magnaniruaquinze.html&h=480&w=310&sz=134&hl=pt-BR&start=51&tbnid= gqzSU
gkv9o-uXM:&tbnh=129&tbnw=83&prev=/images%3Fq%3Dplano% 2B%252B%2Bcuritiba%26
start%3D36%26gbv%3D2%26ndsp%3D18%26hl%3Dpt-BR%26sa%3DN>. Acesso em 19 nov.
2007.
26 B - Plano Preliminar de Urbanismo de Curitiba, Sociedade Serete de Estudos e Projetos
Ltda. e Jorge Wilheim Arquitetos Associados. Fonte: Jorge Wilheim Consultores Associados.
Disponível em: <http://images.google.com.br/imgres?imgurl=http://www.vitruvius.com.br/
arquitextos/arq072/arq072_01_09.jpg&imgrefurl=http://www.vitruvius.com.br/arquitextos/ar
q072/arq072_01.asp&h=253&w=300&sz=83&hl=pt-BR&start=15&tbnid=eYVOH5oVGs-2QM
245
t at
|
L
i
s
a
|
F
ig
ur
s
,
m
a
pa
s
e
fo os
:&tbnh=98&tbnw=116&prev=/images%3Fq%3Dplano%2Bcuritiba%26gbv%3D2%26hl%3Dpt-
BR>. Acesso em: 19 de nov. 2007.
27 - Disponível em: <http://www.via-arquitectura.net/17/126-017.htm>. Acesso em: nov.
2007.
28 - Disponível em: <http://www.via-arquitectura.net/17/126-017.htm>. Acesso em: nov.
2007.
29 - Disponível em: <http://www.via-arquitectura.net/17/126-017.htm>. Acesso em: nov.
2007.
30 - CASQUILLO, Pedro. Quando o mar vem `a terra. Disponível em:
<http://olhares.aeiou.pt/quando_o_mar_vem_a_terra_/foto1619815.html>. 03.12.2007.
Acesso em: 04.12.2007.
31 - Disponível em: <www.mma.gov.br/index.cfm?id_estrtutura=11>. Acesso em: set. 2007.
32 - Disponível em: <www.mma.gov.br/index.cfm?id_estrtutura=11>. Acesso em: set. 2007.
33 - Disponível em: <www.mma.gov.br/index.cfm?id_estrtutura=11>. Acesso em: set. 2007.
34 - Disponível em: <www.mma.gov.br/index.cfm?id_estrtutura=11>. Acesso em: set. 2007.
35 - Disponível em: <www.mma.gov.br/index.cfm?id_estrtutura=11>. Acesso em: set. 2007.
36 - Disponível em: <www.mma.gov.br/index.cfm?id_estrtutura=11>. Acesso em: set. 2007.
37 - Disponível em: <www.mma.gov.br/index.cfm?id_estrtutura=11>. Acesso em: set. 2007.
38 - fonte desconhecida
39 - PMRO. Prefeitura Municipal de Rio das Ostras. Em CD-ROM. jul. 2006
40 - PMRO.Prefeitura Municipal de Rio das Ostras. Em CD-ROM. jul. 2006
41- Disponível em: <www.maps.google.com>. Acesso em ago. 2007.
42 - A região das Baixadas Litorâneas.
246
t at
|
L
i
s
a
|
F
ig
ur
s
,
m
a
pa
s
e
fo os
43 - A cidade de Rio das Ostras dentro da Região das Baixadas Litorâneas.
44 - Disponível em: <www.maps.google.com>. Acesso em ago. 2007.
45 - Mapa de acesso e distância à cidade de Rio das Ostras. Disponível em:
<http://www.ferias.tur.br/fotos/7042/rio-das-ostras-rj.html>. Acesso em: nov. 2007.
46 - PMRO. Prefeitura Municipal de Rio das Ostras. Em CD-ROM. jul. 2006
47 - PMRO. Prefeitura Municipal de Rio das Ostras. Em CD-ROM. jul. 2006
48 - PMRO. Prefeitura Municipal de Rio das Ostras. Em CD-ROM. jul. 2006
49 - PMRO. Prefeitura Municipal de Rio das Ostras. Em CD-ROM. jul. 2006
50 - Disponível em: <www.maps.google.com>. Acesso em ago. 2007.
PMRO. Prefeitura Municipal de Rio das Ostras. Em CD-ROM. jul. 2006
52 - PMRO. Prefeitura Municipal de Rio das Ostras. Em CD-ROM. jul. 2006
53 - Disponível em: <www.petfriends.com.br/images/news/ostra.jpg>. Acesso em: nov. 2007.
54 - PMRO. Prefeitura Municipal de Rio das Ostras. Em CD-ROM. jul. 2006
55 - PMRO. Prefeitura Municipal de Rio das Ostras. Em CD-ROM. jul. 2006
56 - Vista da empresa Petrobrás em Macaé. Disponível em:
<http://images.googl.com.br/imgres?imgurl=http://veja.abril.com.br/221003/imagens/cidade
s1.jpg&imgrefurl=http://veja.abril.com.br/221003/p_056.html&h=216&w=390&sz=17&hl=pt-
BR&start=33&um=1&tbnid=PM8ISKng4DJ8VM:&tbnh=68&tbnw=123&prev=>. Acesso em:
dez. 2007.
57 - A Lagoa de Iriry, também conhecida como Lagoa da Coca-cola, em 2007. Disponível em:
<http://www.flickr.com/photos/rayannamg/1841473955>. 3 nov. 2007. Acesso em: nov.
2007.
58 - SOUZA, Eduardo. Itapebussus 1. Disponível em: <http://eueriodasostras.blogspot.com/>.
15.10.06. Acesso em: nov. 2007.
51 -
247
t at
|
L
i
s
a
|
F
ig
ur
s
,
m
a
pa
s
e
fo os
59 - Restinga Praia Virgem. Fonte desconhecida
60 - Esquema da Rodovia Amaral Peixoto que corta a cidade.
61- PMRO. Prefeitura Municipal de Rio das Ostras. Em CD-ROM. jul. 2006.
62 - MATOS, Mateus. Disponível em:
<http://olhares.aeiou.pt/pescando_em_rio_das_ostras/foto1326231.html>. 30.06.07. Acesso
em: set. 2007.
63 - PMRO. Prefeitura Municipal de Rio das Ostras. Em CD-ROM. jul. 2006.
64 - PMRO. Prefeitura Municipal de Rio das Ostras. Em CD-ROM. jul. 2006.
65 - PMRO. Prefeitura Municipal de Rio das Ostras. Em CD-ROM. jul. 2006.
65 A - RIO DAS OSTRAS, 2003. p.12.
66- PMRO, 2006b, p. 20.
PMRO. Prefeitura Municipal de Rio das Ostras. Em CD-ROM. jul. 2006.
68 - PMRO. Prefeitura Municipal de Rio das Ostras. Em CD-ROM. jul. 2006.
69 - Imagem aérea da rola de Costazul e Itapebussus. Disponível em:
<www.maps.google.com>. Acesso em ago. 2007.
70 - PMRO. Prefeitura Municipal de Rio das Ostras. Em CD-ROM. jul. 2006.
71 - Mosca de localização do Monumento Natural dos Costões Rochosos.
72 - PMRO. Prefeitura Municipal de Rio das Ostras. Em CD-ROM. jul. 2006.
73 - PMRO. Prefeitura Municipal de Rio das Ostras. Em CD-ROM. jul. 2006.
74 - Mosca de localização do Emissário Submarino.
75 - NOGUEIRA, Josiane. O Emissário submarino de Rio das Ostras.
76 - Mosca de localização da praia de Costazul.
67 -
248
t at
|
L
i
s
a
|
F
ig
ur
s
,
m
a
pa
s
e
fo os
77 - PMRO. Prefeitura Municipal de Rio das Ostras. Em CD-ROM. jul. 2006.
78 - PMRO. Prefeitura Municipal de Rio das Ostras. Em CD-ROM. jul. 2006.
79 - Mosca de localização do Remanso na praia de Costazul.
80 - PMRO. Prefeitura Municipal de Rio das Ostras. Em CD-ROM. jul. 2006.
81 - PMRO. Prefeitura Municipal de Rio das Ostras. Em CD-ROM. jul. 2006.
82 - PMRO. Prefeitura Municipal de Rio das Ostras. Em CD-ROM. jul. 2006.
83 - PMRO. Prefeitura Municipal de Rio das Ostras. Em CD-ROM. jul. 2006.
84 - Mosca de localização do loteamento Costazul.
85 - PMRO. Prefeitura Municipal de Rio das Ostras. Em CD-ROM. jul. 2006. O parcelamento
inicial do loteamento de Costazul segundo um traçado tipo tabuleiro de xadrez.
PMRO. Prefeitura Municipal de Rio das Ostras. Em CD-ROM. jul. 2006.
87 - NOGUEIRA, Wanderson Barrozo Nogueira. Jun. 2007.
88 - Esquema do novo sentido viário.
89 - NOGUEIRA, Josiane de Fátima. Vista panorâmica no setor B3. O passeio marítimo, A Av.
Costazul e a Avenida Amaral Peixoto. Detalhe para a ciclovia que continua na Av. A. Peixoto.
Jul. 2006.
90- Esquema do acesso pela Avenida Amaral Peixoto.
91 - Esquema da hierarquia viária proposta.
92 - PMRO. Prefeitura Municipal de Rio das Ostras. Em CD-ROM. jul. 2006. O Remanso de
Costazul antes das reformas urbanas.
93 - NOGUEIRA, Josiane de Fátima. A Praça da Beleia. Jul. 2006
94 - NOGUEIRA, Josiane de Fátima. A Praça da Beleia2. Jul. 2006
86 -
249
t at
|
L
i
s
a
|
F
ig
ur
s
,
m
a
pa
s
e
fo os
95 - NOGUEIRA, Josiane de Fátima. A Praça da Beleia2. Jul. 2006
96 - A praça da Baleia. Disponível em: <http://www.ferias.tur.br/fotos/7042/rio-das-ostras-
rj.html>. Acesso em: nov. 2007.
97 - NOGUEIRA, Josiane de Fátima. A Lagoa do Iriry em 2006. jan. 2006
98 - NOGUEIRA, Josiane de Fátima. A Lagoa do Iriry em 2006 2. jan. 2006
99 - PMRO. Prefeitura Municipal de Rio das Ostras. Em CD-ROM. jul. 2006.
100 - PMRO. Prefeitura Municipal de Rio das Ostras. Em CD-ROM. jul. 2006. Os antigos
quiosques e as meses dispostas sobre a areia no Remanso
101 - PMRO. Prefeitura Municipal de Rio das Ostras. Em CD-ROM. jul. 2006. O antigo
quiosque com cobertura de sapê.
102 - PMRO. Prefeitura Municipal de Rio das Ostras.
103 - PMRO. Prefeitura Municipal de Rio das Ostras.
104 - PMRO. Prefeitura Municipal de Rio das Ostras. Os trechos dos caminhos entre a restinga
marcados.
105 - Imagem trabalhada em cad e photoshop do novo desenho urbano. O passeio marítimo
de Costazul. Essa imagem serviu de base para outros desenhos aplicados na análise do local,
106 - A cidade de Rio das Ostras e o trecho 01 e 02 do projeto Urbano-ambiental de Costazul
marcados.
107 - A orla de Costazul marcada segundo a divisão de suas estapas de projeto. Disponível
em: <www.maps.google.com>. Acesso em ago. 2007.
108 - NOGUEIRA, Josiane de Fátima. A nova Av. Costazul e o passeio marítimo. Jul. 2006.
109 - NOGUEIRA, Josiane de Fátima. O trecho 02 do projeto: a orla d Costazul entre a Av.
Amaral Peixoto e a Lagoa do Iriry. Jul. 2006.
110 - NOGUEIRA, Josiane de Fátima. A interface entre o trecho 01 e o 02 do projeto Urbano-
ambiental de Costazul. Jul. 2006.
250
t at
|
L
i
s
a
|
F
ig
ur
s
,
m
a
pa
s
e
fo os
111 - NOGUEIRA, Wanderson. A praia de Costazul. Vista para o trecho 01. Jun. 2007
112 - NOGUEIRA, Wanderson. A praia de Costazul. Vista para o trecho 02. Jun. 2007
113 - PMRO. Prefeitura Municipal de Rio das Ostras. A estrutura do pergolado do passeio de
Costazul. Novo modo de atuar.
114 - PMRO. Prefeitura Municipal de Rio das Ostras.
A nova orla de Costazul após inauguração do Passeio Marítimo. 2005.
115 - PMRO. Prefeitura Municipal de Rio das Ostras. Estrutura elevada do deck de madeira. A
possibilidade de crescimento de vegetação e caminho para animais. O corredor ecológico.
116 - PMRO. Prefeitura Municipal de Rio das Ostras. Estrutura elevada do deck de madeira. A
possibilidade de crescimento de vegetação e caminho para animais. O corredor ecológico. 2
117 - Marcação do Corredor Ecológico tendo como base foto obtiga no maps.google.com
PMRO. Prefeitura Municipal de Rio das Ostras. Desenho das propostas a respeito da
acessibilidade fìsica do projeto.
119 - Fonte desconhecida.
120 - PMRO. Prefeitura Municipal de Rio das Ostras. Perspectiva do setor 1 do projeto com a
proposta do mirante salva-vidas.
121 - Foto aérea do trecho 01 do projeto Urbano-ambiental de Costazul. Disponível em:
<www.maps.google.com>. Acesso em ago. 2007.
122- NOGUEIRA, Josiane de Fátima. Os materiais empregados no piso do passeio e o cuidado
no desenho do mesmo. Jul. 2006
123 - PMRO. Prefeitura Municipal de Rio das Ostras. A estrutura elevada do passeio marítimo.
124 - NOGUEIRA, Josiane de Fátima. A Av. Costazul revitalizada. Jan. 2005.
125 - O subsetor A. Disponível em: <www.maps.google.com>. Acesso em ago. 2007.
126 - PMRO. Prefeitura Municipal de Rio das Ostras. Desenho para a proposta da Av. Com
desenhos.
118 -
251
t at
|
L
i
s
a
|
F
ig
ur
s
,
m
a
pa
s
e
fo os
127 - O subsetor B. Disponível em: <www.maps.google.com>. Acesso em ago. 2007.
128 - NOGUEIRA, Wanderson. A Av. Costazul. Jun. 2007.
129 - O subsetor C. Disponível em: <www.maps.google.com>. Acesso em ago. 2007.
130 - NOGUEIRA, Josiane de Fátima. A Av. Costazul vista do passeio marítimo. Jan. 2005.
131 - PMRO. Prefeitura Municipal de Rio das Ostras. Vista aérea da aérea de restinga a ser
recuperada.
132 - NOGUEIRA, Josiane de Fátima. O passeio marítimo de Costazul. Jan. 2005.
133 - PMRO. Prefeitura Municipal de Rio das Ostras. A fase de obras. Construção dos
quiosques.
PMRO. Prefeitura Municipal de Rio das Ostras. Proposta inicial para as zonas de serviço
do passeio. Repare na itenção de implantar sistema de energia eólica que não foi concretizada.
136 - PMRO. Prefeitura Municipal de Rio das Ostras. Imagem do setor A1 em fase final de
construção.
137- PMRO. Prefeitura Municipal de Rio das Ostras. Proposta de desenho para o pergolado do
passeio. Vista da academia de ginástica.
138 - NOGUEIRA, Josiane de Fátima. A Av. Costazul e o passeio marítimo. Jul. 2006.
139 - PMRO. Prefeitura Municipal de Rio das Ostras. O subsetor B1 em fase final de
construção.
140. PMRO. Prefeitura Municipal de Rio das Ostras. Imagem dos quiosques e do acesso ao lado
dele. O deck se abre para a praia.
141. PMRO. Prefeitura Municipal de Rio das Ostras. O subsetor B3 e a área de contemplação
que se configura numa praça aberta.
142 - PMRO. Prefeitura Municipal de Rio das Ostras. Vista em detalhe do pergolado que
servirá de sombra para as áreas de descanso.
143 - BARROS, Michelli. O Passeio Marítimo de Costazul. Aog. 2007.
135 -
252
t at
|
L
i
s
a
|
F
ig
ur
s
,
m
a
pa
s
e
fo os
144 - PMRO. Prefeitura Municipal de Rio das Ostras. A vegetação.
145 - PMRO. Prefeitura Municipal de Rio das Ostras. Cactos que compõem a restinga.
146 - NOGUEIRA, Josiane de Fátima. A vegetação do subsetor C1. Intacta. Jan. 2005.
147 - PMRO. Prefeitura Municipal de Rio das Ostras. A implantação de novas comunidades
vegetais por entre o desenho do deck.
148 - Esquema do desenho do passeio. Marcação do subsetor C2 e a grande área de
preservação de restinga da orla de Costazul no trecho 1.
149 - NOGUEIRA, Josiane de Fátima. A vegetação que adentra na areia. Convívio em harmonia
entre usuário e meio ambiente.
PMRO. Prefeitura Municipal de Rio das Ostras. O caminho ao mar pelo passeio.
158 - PMRO. Prefeitura Municipal de Rio das Ostras. A vegetação. Vista aérea do passeio recém
construído.
159 - PMRO. Prefeitura Municipal de Rio das Ostras. A vegetação. As incoveniências das
construñçoes.
150 - NOGUEIRA, Josiande Fátima. A vegetação por entre os quiosques. Jul. 2006.
151 - NOGUEIRA, Josiane de Fátima. A grande comunidade de restinga do subsetor C2. Jul.
2006.
152 - NOGUEIRA, Josiane de Fátima. A comunidade de restinga do subsetor C3. Jul. 2006.
153 - NOGUEIRA, Josiane de Fátima. A comunidade de restinga e vista dos quiosques do
subsetor B3. Jul. 2006.
154 - NOGUEIRA, Josiane de Fátima. A comunidade vegetal e o desenho criado na areia. Setor
livre de construção, propício às mais diversas apropriações.
155 - NOGUEIRA, Josiane de Fátima. A praia de Costazul. Jul. 2006.
156 - NOGUEIRA, Josiane de Fátima. A praia de Costazul 2. Jul. 2006.
157 -
253
t at
|
L
i
s
a
|
F
ig
ur
s
,
m
a
pa
s
e
fo os
160 - PMRO. Prefeitura Municipal de Rio das Ostras. A vegetação. A área do Remanso antes
das intervenções urbanas.
161 - NOGUEIRA, Josiane de Fátima. O Remanso após a implantação do Projeto para a orla.
162 - NOGUEIRA, Josiane de Fátima. O subsetor D2 e as apropriações na faixa de areia pelas
mesas dos quiosques.
163 - Escolinha de bodybording em Costazul. Diponível em:
<http://abbctour.net/layout.asp?url=noticia&ID=899> 26.10.05. Acesso em nov. 2007.
http://www.ferias.tur.br/fotos/7042/rio-
das-ostras-rj.html>. Acesso em nov. 2007.
165 - NOGUEIRA, Josiane de Fátima. Momento de contemplação. Jul. 2006.
166 - Fonte desconhecida A orla de Costazul.
167 - NOGUEIRA, Josiane de Fátima. Bicicleta turística. jul. 2006.
168 - NOGUEIRA, A ciclovia e a Av. Costazul no final do subsetor A1. jul. 2006.
169 - NOGUEIRA, Josiane de Fátima. A ciclovia e a família. jul. 2006.
170 - NOGUEIRA, Josiane de Fátima. O passeio marítimo de Costazul. jul. 2006
171 - NOGUEIRA, Josiane de Fátima. O passeio marítimo de Costazul 2. jul. 2006
172 - NOGUEIRA, Josiane de Fátima. O convívio adequado entre desenho e uso. jul. 2006
173 - NOGUEIRA, Josiane de Fátima. O passeio marítimo de Costazul, setor B1. jan. 2005.
174 - NOGUEIRA, Josiane de Fátima. Praia e apropriações. jul. 2006.
175 - PMRO. Prefeitura Municipal de Rio das Ostras. O subsetor B1 recém construído.
176 - NOGUEIRA, Josiane de Fátima. A academia de ginástica ainda inutilizada. jul. 2006
177 - NOGUEIRA, Josiane de Fátima. O substetor A1 e seus equipamentos e uso. Jan. 2005.
164 - A orla de Costazul revitalizada. Disponível em: <
254
t at
|
L
i
s
a
|
F
ig
ur
s
,
m
a
pa
s
e
fo os
178 - NOGUEIRA, Josiane de Fátima. Passeio no waterfront marítimo de Costazul. jul. 2006
179 - NOGUEIRA, Josiane de Fátima. As duchas de banho do subsetor B2. Outra atratividade e
uso garantidos ao local. jan 2005.
180 - NOGUEIRA, Wanderson. Lugar de passear. jun. 2007.
181 - NOGUEIRA, Josiane de Fátima. O brinquedo infantil. Um dos elementos lúdicos do local.
jan. 2005.
182 - NOGUEIRA, Josiane de Fátima. O conjunto de serviços do subsetor B3. jul. 2006.
183 - NOGUEIRA, Josiane de Fátima. Indivíduo e meio. Novo modo de relação. jan 2005
184 - NOGUEIRA, Josiane de Fátima. Vista das rochas do Remanso. Diversidade de especies
vegetais e desenho atrativo da paisagem. Jul. 2006.
NOGUEIRA, Josiane de Fátima. A comunidade vegetal do Subsetor C2. Cuidado e
dedicação no novo desenho das comunidades vegetais. jul. 2006.
186 - NOGUEIRA, Josiane de Fátima. Sempre evidente a ausência de barras de proteção entre
usuário e comunidades vegetais. jul. 2006.
187 - NOGUEIRA, Josiane de Fátima. Vegetação como lugar de presença humana. jul. 2006.
188 - NOGUEIRA, Josiane de Fátima. Todos os setores interligados. jul. 2006.
189 - NOGUEIRA, Josiane de Fátima. Final do projeto. No subsetor C3, próximo a Av. Costazul,
se evidencia a atuação do usuário que não condiz com o desejado para o lugar. Necessidade de
barras de proteção. jul. 2006.
190 - NOGUEIRA, Josiane de Fátima. A área do Remanso de Costazu. Jul. 2006.
191 - NOGUEIRA, Josiane de Fátima. Vista do Remanso desde os Costões Rochosos. jul. 2006
192 - NOGUEIRA, Josiane de Fátima. O Remanso em fim de semana. Jul, 2006.
193 - NOGUEIRA, Josiane de Fátima. A singularidade da franja costeira e usos. Jul, 2006.
194 - NOGUEIRA, Josiane de Fátima. A faixa de areia e seus típicos usos. Jul. 2006.
185 -
255
t at
|
L
i
s
a
|
F
ig
ur
s
,
m
a
pa
s
e
fo os
256
t at
|
L
i
s
a
|
F
ig
ur
s
,
m
a
pa
s
e
fo os
195 - NOGUEIRA, Josiane de Fátima. Atibvidades em harmonia com o meio fìsico do local.
Jul, 2006.
196 - NOGUEIRA, Josiane de Fátima. Jogos de futebol no final do projeto, próximo ao
Emissário Submarino.
197 - NOGUEIRA, Wanderson. Vista do subsetor B3 para o D3. Usos e apropriações do espaço
praiano. Menor número de pessoas. Jan. 2007.
198 - NOGUEIRA, Josiane de Fátima. Vista do Remanso desde os Costões Rochosos 2. Jan.
2005.
199- Disponível em: <http://www.flickr.com/photos/advogadissima/167040174/
foto: Renata baião>. Acesso em: dez. 2007.
200 -BAIÃO, Renata. Disponível em: < http://www.flickr.com/photos/advogadissima/page7>.
Acesso em: nov. 2007.
R E F E R Ê N C I A S B I B L I O G R Á F I C A S
Referências bibliográficas
ACIESP. Disponível: site ACIESP. (Atualizado 16/outubro/2007 ) endereço:
URL:http://www.ecolnews.com.br/dicionarioambiental/conceitos-l.htm. Consultado em 21 out 2007.
ALBERNAZ, Paula. Reflexões sobre o espaço público atual. In.: FURQUIM, E.; LIMA, W. MALEQUE, M.
Espaço e cidade: conceitos e literaturas. Rio de Janeiro : 7 letras, 2004. p. 42-56. (cidade,
aqrquitetura e saber; v.1).
ARGAN, Giulio Carlo. Urbanismo, espaço e ambiente. In: ____ História da Arte como História da
Cidade. São Paulo : Martins Fontes, 1995. p. 221-224.
BACHELARD, Gaston. A água e os sonhos: ensaio sobre a imaginação da matéria. Tradução
Antonio de Pádua Danesi. 3ª tiragem. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
BARBOSA; ZAMOT. "Políticas Públicas para o Desenvolvimento do Turismo: o caso do muncípio de
Rio das Ostras". IN: Barbosa, Luiz Gustavo Medeiros & Deborah Moraes Zouain (org). Gestão em
turismo e hotelaria: experiências públicas e privadas. São Paulo, Editora Aleph, 2004.
BARRETO, Margarita.Espaço público: usos e abusos. In.: Yázigi, E.; Alessandri, A. F.; Cruz, R. C. A.
Turismo: espaço, paisagem e cultura. São Paulo : Hucitec. 1996. p. 38-54.
BENSON, J. F.; ROE, M. H. The scale and scope of landscape and sustentability. In.: ______.
Landscape and sustentability. London : Spon. 2000
BERNARDES, J. A.; FERREIRA, F. P. M. Sociedade e Natureza. In.: CUNHA, S. B.; GUERRA, A. J. T.
(Org.). A questão ambiental: diferentes abordagens. 2 ed. Rio de Janeiro : Bertrand Brasil, 2005.
p. 17-42.
BERRIZBEITA, Anita. The Amsterdam Bos: The Modern Public Park and the Construction of Colective
Experience. In: CORNER, James (ed.). Recovering Landscape: Essays in Contemporany Landscape
Architecture. New York: Princiton Architectural Press, 1999. p. 186-203.
BONNECARRERE, Gilles; SÁ, Roberto. Jubarte em Rio das Ostras. 2004
BORJA; MUXÍ. El espacio publico: ciudad y ciudadanía. Barcelona: Electa, 2003.
BORJA, Jordi. As cidades e o planejamento estratégico: uma reflexão européia e latino-americana.
In: FISCHER, Tânia (Org.). Gestao Contemporânea: cidades estratégicas e organizações locais.
Rio de Janeiro : FGV, 1996. p. 79-99.
BORJA, Jordi. Espaço público, condição da cidade democrática. A criação de um lugar de
intercâmbio. maio, 2006. Disponível em:
<http://www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq072/arq072/_03.asp>. Acesso em: set 2007.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente; Ministério do Planejamento Orçamento e Gestão. Projeto
Orla: Subsídios para um processo de gestão. Brasília: MMA/MPO, 2004. 104 p.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Secretaria de Qualidade Ambiental; Ministério do
Planejamento, Orçamento e Gestão. Secretaria do Patrimônio da União. Projeto Orla: guia de
implementação. Brasília: MMA, 2005. 36 p.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente; Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Projeto
Orla: Fundamentos para gestão integrada. Brasília: MMA, 2006a. 74 p. : il. Color.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente; Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Projeto
Orla: Manual de gestão. Brasília: MMA, 2006b. 88 p.: il. Color.
BRIASSOULIS, H.; VAN DER STRAATEN, J.. Tourism and the Environment: Regional, Economic
and Policy Issues. Netherlands: Kluwer Academic Publishers, 1992.
BRU, Josepa. Introducción. In.: BALCELLS, C.; BRU, J. Al lado de alongside: Límites, Bordes y
Fonteras. Barcelona: GG, 2002. p. 8-15.
CLAVAL, Paul. A geografia cultural. Tradução de Luiz Fugazzola Pimenta e Margareth de Castro
Afeche Pimenta. Florianópolis : UFSC, 1999. 453p.: il.
CARLOS, Ana Fani A., O turismo e a produção do não-lugar. In.: Yázigi, E.; Alessandri, A. F.; Cruz, R.
C. A. Turismo: espaço, paisagem e cultura. São Paulo : Hucitec. 1996. p. 25-37.
CASTILLO, Gabriel Leal del. Introducción al ecourbanismo: el nuevo paradigma. Bogotá : Ecoe
Eds, 2004. 252 p.
.
ê
i
|
R
e
f
e r
n c
i
a
s
B
i b
l
i o g
r
á
f
c
a
s
|
COGO, Rogrigo S. Pesquisa de Mercado. Disponível em:
<http://www.mundorp.com.br/rp.pesquisa.htm>. Acesso em: nov. 2006.
CORNER, James. Eidetic Operation and New Landscape. In: ___. Recovering Landscape: Essays in
Contemporany Landscape Architecture. New York: Princiton Architectural Press, 1999. 287 p.
CORRÊA, Roberto Lobato. O meio ambiente e a metrópole. Capitulo 2. In: ABREU, Maurício de
Almeida (org.). Natureza e sociedade no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro : Prefeitura do Rio de
Janeiro, 1992. p. 27-36.
COSGROVE, Denis. Aiport/Landscape. In: CORNER, James (ed.). Recovering Landscape: Essays in
Contemporany Landscape Architecture. New York: Princiton Architectural Press, 1999.
COSTA, Lucia Maria Sá Antunes. Popular values for urban parks: a case study of the changing
meanings of Parque do Flamengo in Rio de Janeiro. 1993. 432 f. Tese (Doutorado) University
College of London, England, 1993.
COSTA; MONTEIRO. Rios urbanos e valores ambientais. In.: Del Rio, V; Duarte, C. R.; Rheingantz, P.
A. (Org.). Projeto do Lugar: colaboração entre psicologia, arquitetura e urbanismo. Rio de Janeiro:
PROARQ/Contracapa, 2002. p. 291-298.
CRICHYNO, Jorge. Identidade Urbana Natural-Cultural: uma Expressão do Patrimônio Ambiental
Urbano de São Domingos, Gragoatá e Boa Viagem (Niterói, RJ). 2000. 279 f. Dissertação de
Mestrado UFF, Niterói, 2000.
del RIO, Vicente. Redesenhando a paisagem carioca. In: DOURADO, Guilherme Mazza (org). Visões
de Paisagem: um panorama do Paisagismo Contemporâneo no Brasil. São Paulo. ABAP. 1997. p.
21-25.
______. Considerações sobre o desenho da cidade pós-moderna. In.: Anais do VII encontro da
ANPUR, Recife, 1997. p. 685-713.
EDELSBERG, Hugo Marcelo Zunino. La administración y disposición del patrimonio
Inmobiliario fiscal: herramienta de intervención publica para promover el desarrollo sustentable.
1996 (texto xerocado)
FEEMA. Gerenciamento Costeiro. Disponível em: <http://http://www.feema.rj.gov.br/gerenciamento
-costeiro.asp?cat=85>. Acesso em: dez. 2007.
ê
i
|
R
e
f
e r
n c
i
a
s
B
i b
l
i o g
r
á
f
c
a
s
|
FIGUEROLA, Valentina. Territorio de oportunidades. In.: Revista AU: Arquitetura e Urbanismo. Ano
21, n. 149, São Paulo: PINI, agosto 2006, p. 46-55.
FRANÇA, C.; SANTOS D. A preservação das paisagens naturais e antrópicas. Algumas considerações
para Vitória. Disponível em: <http://www.vituvius.com. br/minhacidade/mc124/mc124.asp>.
Acesso: fev. 2005.
FREITAS, Mariana A. P. Dunas e restingas: importância, tratamento jurídico e proteção ambiental.
In.: Congresso Internacional de Direito Ambiental: Direitos Humanos e Meio Ambiente, 10., 2006,
São Paulo. Anais… São Paulo. p. 221-224. Disponível em:
<http://www.planetaverde.org/modules/piCal/teses2006/profissionais1 .pdf>. Acesso em: 29 jul.
2007.
GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo : Atlas, 2002.
HALPRIN, L. The collective perception of the cities. In: Talor, L. (ed.) Urban Open Spaces. New
York: The Smithsonian Institution. London: Academy Editions, 1979. p 4-6.
HOLLAND, M.; PRACH, W. Sustinnability of urban wetlands. In.: PLATT, R.; ROWNTREE, R.; MUICK,
P. C. The Ecological City: Preserving and restoring urban biodiversity. EUA : University of
Massachussets, 1994. p. 69-82.
HOMERO,Vilma. Cidades fluminenses diante dos desafios urbanos do século Xxl. Disponível em:
<http://www.faperj.br/boletim_interna.phtml?obj_id=3010>. Acesso em: dez. 2007.
HOUGH, M. Design with city nature: an overview of some issues. In.: Rutherford, H; Rowntree, A. e
Muick. P. (ed.). The Ecological City: preserving and restoring biodiversity. Massatchusetts: The
UMP, 1994. p.40-48.
____. Cities and Natural Process. Routledge. 1995.
____. Naturaleza y Ciudad: Planificación urbana y procesos ecológicos. Trad Susana Rodríguez
Alemparte. Barcelona: Ed. Gustavo Gile, 1998.
LIMA, Maria da Glória d'Almeida. Pérola entre o rio e o mar: história de Rio das Ostras. 2 ed. Rio
das Ostras : Fundação Rio das Ostras de Cultura, 1998.
LLAMAS, José M. Ressano Garcia. A morfologia urbana e desenho da cidade. 3 ed. Porto : jun
2004.
.
ê
i
|
R
e
f
e r
n c
i
a
s
B
i b
l
i o g
r
á
f
c
a
s
|
LAURIE, Michael. Landscape arquitecture and the changing city. In.: THOMPSON, G. F.; STEINER, F.
R. (ed). Ecological Desing and Planning. EUA : Wiley, 1997. p. 9-44.
LYNCH, Kevin. The Image of the City. Mass.: The MIT Press, 1960.
______. Good City Form. London: The MIT Press, 1981.
MACKAY, David. La recuperación del frente marítimo. In.: Cuadernos de Gestión 4. Barcelona:
Aula Barcelona, 1999. p. 45. Disponível em: <http://www.aulabarcelona.org>. Acesso em: jul.
2005.
MANNING, 1997.
MCHARG, Ian L. Design with nature. Garden City, N. Y.: Natural History Press, 1969. 197 p.: il.
MELA, Alfredo. O território urbano. In: A sociologia das cidades. Lisboa: Editorial Estampa, 1999.
p. 163-200.
MELLO, João B. F. de. O Rio de Janeiro dos compositores da música popular brasileira
1928/1991 uma introdução à geografia humanística. 1991. 300 p. Dissertação (Mestrado) UFRJ,
Rio de Janeiro, 1991.
MOWFORTH, M.; MUNT I. Tourism and Sustainability: development and new tourism in the third
world. 2 sd. ed. New York : Routledge, 2006.
MORAES, Frederico Eugenio Rosas. Planejamento e Gestão Ambiental no Município de Rio das
Ostras: um estudo de caso. 1996. 195 f. Dissertação (Mestrado) UFRJ/IPPUR, Rio de Janeiro , 1996.
MORAES, Antonio Carlos Robert. Contribuições para a gestão da zona costeira do Brasil:
elementos para uma Geografia do Litoral Brasileiro. 2. ed. rev. aum. São Paulo: Annablume, 2007.
MORAES, A. C. R.; ZAMBONI, A. Construindo o conceito de orla marítima. In.: Projeto Orla :
Subsídios para um projeto de gestão. Brasília : MMA/SQA; Brasília : MP/SPU, 2002. p 05-09.
MUÑOZ, Juan M. Barragán. Ordenación, planificación y gestión del espacio litoral. Barcelona :
Oikos-Tau, 1994.
NAKAMURA, Juliana. A respeito do meio ambiente. In.: Revista AU: Arquitetura e Urbanismo. Ano
21, n. 142, jan 2006.
ê
i
|
R
e
f
e r
n c
i
a
s
B
i b
l
i o g
r
á
f
c
a
s
|
NAKANO, Kazuo (cood.). Projeto Orla: implementação em territórios com urbanização consolidada.
São Paulo : Instituto Polis; Brasília: Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, 2006. 80 p.
NAREDO, José Manuel el al. Ciudades para un futuro más sostenible. Madrid : 2004.
OLIVEIRA, José Antônio Puppim de. Entendendo a relação turismo e meio ambiente. In.: Encontro
Nacional de Ecoturismo ECOTUR, Amazônia. Anais. Manaus, 2001.
ORCIUOLI, Affonso. Relação causa-efeito. In.: Revista AU: Arquitetura e Urbanismo. n° 149. São
Paulo : PINI, agosto 2006, p. 70-75.
PELLEGRINO, P. R. M. Pode-se planejar a paisagem?. Paisagem e Ambiente - Ensaios, sao paulo, v.
13, p. 159-179, 2000
PHILIPS, Adrian. International polices and landscape. In.: BENSON, J; MAGGIE, R. Landscape and
Sustainability. London : Spon. 2000. p. 78-96
PINÑOZ, Carmen. Paseo Marítimo de Torrevieja, Alicante, España. In.: BALCELLS; BRU. Al lado de
alonside: Límites, Bordes y Fonteras. Barcelona: GG, 2002. p. 38-43.
PINÓS, Carme. Paseo Marítimo de Torrevieja, Alicante, España. In.: BALCELLS, Conxita; BRU,
Josepa. Al lado de. Barcelona : GG, 2002. p. 38-43.
PLA, Miguel Vidal. Barcelona: new challenges, news responses. In.: Revista TOPOS -European
landscape magazine. 10 years of TOPOS: perspectives of European landscape architecture.
September, 40, 2002.
PLATT, Rutherford H. From Commons to Commons: evolving concepts of open space in North
American Cities. In.: The ecolical city: Preserving and restoring urban biodiversity. PLATT; TREE;
MUICK (ed.). University of Massachusetts Press, 1994.
PMRO. Prefeitura Municipal de Rio das Ostras. Secretaria Extraordinária de Governo. Rio das Ostras
: projetos. Rio das Ostras : VCP, 2003.
______. Prefeitura Municipal de Rio das Ostras. Secretaria Extraordinária de Governo. Rio das
Ostras : projetos 2. Rio das Ostras : GHAT, 2004a.
______. Prefeitura Municipal de Rio das Ostras. Secretaria Extraordinária de Governo. Costazul:
ê
i
|
R
e
f
e r
n c
i
a
s
B
i b
l
i o g
r
á
f
c
a
s
|
______. Prefeitura Municipal de Rio das Ostras. Plano Diretor de Rio das Ostras. 2005
______. Prefeitura Municipal de Rio das Ostras. Disponível em: <http://www.pmro.rj.gov.br.>
Acesso em: mar 2006a.
______. Prefeitura Municipal de Rio das Ostras. PLANO de intervenção na orla do município de Rio
das Ostras. ©2004. Disponível em: <htpp://www.
http://www.mma.gov.br/index.php?ido=conteudo.monta&idEstrutura=11&idConteudo=488.>
Acesso em: jun. 2006b.
______. Prefeitura Municipal de Rio das Ostras. Comissão de estudos e projetos urbanísticos (PRO-
URBE). Memorial descritivo do projeto. ©2006c. 1 CD-ROM.
PORTAS, Nuno. Urbanismo e Sociedade : Construindo o Futuro. In. : MACHADO, D.; VASCONCELOS,
E. (Org.). Cidade e Imaginação. Rio de Janeiro: UFRJ/FAU/PROURB, 1996. p. 30-39.
REGUERRA, Alfredo. Ordenación del frente litoral de la Albufera, Dehesa de El Saler, Valencia,
España. In.: BALCELLS; BRU. Límites, Bordes y Fonteras. Barcelona: GG, 2002: 18-23.
RHEINGANTZ, Paulo Afonso. Visões e inovações para o próximo milênio. In.: Del Rio, V; Duarte, C.
R.; Rheingantz, P. A. (Org.). Projeto do Lugar: colaboração entre psicologia, arquitetura e
urbanismo. Rio de Janeiro: PROARQ/Contracapa, 2002. p. 301-?.
RIO DAS OSTRAS: 11 anos de vida e planos para o futuro. Revista Projetos de Mercado. São Paulo
: MmPress. jul. 2003.
ROE, Maggie H. The social dimension of landscape sustainability. In.: BENSON, J; MAGGIE, R.
Landscape and Sustainability. London : Spon. 2000. p. 52-77.
ROSSI, Aldo. A Arquitetura da cidade. 2. ed. São Paulo : Martins Fontes, 2001. (1.ed. 1995)
RUANO, Miguel. Ecourbanismo: entornos humanos sostenibles : 60 proyectos = ecourbanism :
sustainable human settlements : 60 case studies. Barcelona : Gustavo Gili, 1999. 192 p. : il.
RYCKBOT, Paul. Redeveloping Urban Waterfront Property. abr 2005. Disponível em:
<http://www.umich.edu/~econdev/waterfronts>. Acesso em: jun. 2007.
SANTOS, Milton. Metamorfoses do Espaço Habitado: fundamentos teóricos e metodológicos da
geografia, São Paulo : Editora Hucitec. 5. ed., 1997.
ê
i
|
R
e
f
e r
n c
i
a
s
B
i b
l
i o g
r
á
f
c
a
s
|
______. A Natureza do Espaço: Técnica e Tempo. Razão e Emoção. São Paulo : Hucitec, 1996.
SANTOS, Carlos Nelson Ferreira dos. A cidade como um jogo de cartas. Niterói : EDUKK, 1988.
SEABRA, Lília. Turismo Sustentável: planejamento e gestão. In.: CUNHA; GUERRA (Org.). A
questão ambiental: diferentes abordagens. 2ª ed. Rio de Janeiro:Bertrand Brasil, 2005. p. 153-
187
SCOCUGLIA, J.; CHAVES, C.; LINS, J. Percepção e memória da cidade: o Ponto de Cem Reis. ©.
2005. Disponível em: <http://www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq000/esp349.asp> . Acesso em
24 out. 2007.
SELMAN, Paul. Landscape sustainability at the national and regional scales. In.: BENSON, J.;
MAGGIE, R. Landscape and sustentability. London : Spon. 2000. p.97-110.
SIQUEIRA, Josafá Carlos de el al. Rio das Ostras educação ambiental: resgate de valores ético-
ambientais. Rio de Janeiro : Petrobrás, PUC Rio, 2002, 75 p. : il.
SOLA-MORALES, I. Cuatro paradigmas para un curso de ética urbanística In.: FONT, Antonio et al.
(ed). Los territorios del urbanista: 10 años - 1994 2004. Barcelona: UPC, 2005 . 177 p.
TAL: guia turístico. Rio das Ostras: Fundação Rio das Ostras de Cultura, 2005-2006. 128 p.
TRAPERO, Juan Jesus. El paseo maritimo: experiencias recientes e ideas sobre su trazado y
diseño. MOPU (Ministerio de Obras Públicas y Urbanismo), Madrid, 1990.
VAZ, L.; JACQUES, P. A cultura na revitalização urbana: espetáculo ou participação. In.: Espaço &
Debates: Revista de Estudos Regionais e Urbanos. São Paulo : NERU. v. 23, n. 43-44, p. 129-140,
jan/dez, 2003.
VAZ; SILVEIRA. Áreas centrais, projetos urbanísticos e vazios urbanos. In: Revista Território, Rio
de Janeiro, ano IV, n. 7, p. 51-66, jul/dez, 1999.
WALL, Alex. Programming the Urban Surface. In: CORNER, James (ed.). Recovering Landscape:
Essays in Contemporany Landscape Architecture. New York: Princiton Architectural Press, 1999.
ZOUAIN, D. M.; CRUZ, F. O. BARBOSA, Luiz G. M.; ZOUAIN, Deborah M. Gestão social no sistema
turístico brasileiro: limites e possibilidades. In.: Gestão em Turismo e Hotelaria: experiências
públicas e privadas. São Paulo : ALEPH, 2004. p. 37-54.
ê
i
|
R
e
f
e r
n c
i
a
s
B
i b
l
i o g
r
á
f
c
a
s
|
A P Ê N D I C E S E A N E X O S
200
Responsáveis pela criação e execução do projeto
Autores do projeto
Arquiteto Mauricio Pinheiro
Arquiteta Anne Kellen Apicelo Cardoso
Topografia
Maurício Linhares
Projetos complementares
Designer Cecília de Oliveira
Arquiteto Newton Eduardo Apicelo Cardoso
Projeto executivo
Orce Oliveira e Rachman Consultoria em
Engenharia Ltda.
Projeto Paisagístico
Arquiteta e paisagista Denise Pinheiro escritório
Maria Saucha Planejamento Ambiental, Paisagismo,
Consultoria e Execução.
Projeto de Luminotécnica
Engenheiro Paulo Sanches
Fiscalização da obra
Engenheiro Fajardo (Secretaria de Urbanismo, Obras e
Serviços Públicos)
Engenheiro Nilton Teixeira (Secretaria de Urbanismo,
Obras e Serviços Públicos)
Anexo E
Fonte: PMRO, 2004b
|
A
n
e
x
o |
Critérios aplicáveis para a delimitação da orla em algumas situações geográficas comuns no litoral
brasileiro
nas falésias sedimentares contar 50 metros a partir da borda da falésia.
nas lagunas e lagoas costeiras contar 50 metros a partir da praia ou do limite superior da margem.
nos estuários
tomar o limite de 50 metros contados a partir do fim da praia ou da
borda superior em ambas as margens e ao longo das mesmas, até
onde a penetração da água do mar seja identificada pela presença de
salinidade mínima de 0,5.
nas falésias e costões em rocha
dura
o limite deverá ser definido segundo o plano diretor do município,
estabelecendo uma faixa de segurança de pelo menos 1 metro de
altura acima da linha máxima de ação das ondas de tempestade.
nas áreas inundáveis
o limite será definido pela cota de pelo menos 1 metro de altura acima
do limite da área alcançada pela preamar de sizígia.
nas áreas sujeitas à erosão e em
áreas próximas a desembocaduras
fluviais, que correspondem a áreas
de alta instabilidade
deve ser executado um levantamento de eventos erosivos pretéritos
para a definição da extensão da faixa emersa da orla marítima
(Fundamentos para Gestão Integrada, PO).
Anexo C
Fonte: Projeto Orla (2002)
|
A
n
e
x
o |
Instrumentos para a operacionalização da gestão costeira no Brasil
Art. 225 da Constituição Federal estabelece a zona costeira como patrimônio nacional e área de
interesse especial.
Lei nº 7.661/88 institui o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro.
Lei nº 8.617, de 04/01/93 dispõe sobre o mar territorial, a zona contígua e a zona econômica
exclusiva e a plataforma continental brasileira
Resolução CIRM no 05/97 detalha os aspectos operativos do PNGC II.
Decreto nº 2.972, de 26/02/99 instituiu o Projeto de Gestão Integrada dos Ambientes Costeiro e
Marinho no âmbito do MMA
Decreto nº 2.956, de 03/02/99 institui o V Plano Setorial para os Recursos do Mar (PSRM) - 1999 -
2003, aborda articulação com o GERCO
Plano Plurianual PPA 2000-2003 Programa Zoneamento Ecológico Econômico, Projeto de Gestão
Integrada dos Ambientes Costeiro e Marinho.
Lei Estadual de Gerenciamento Costeiro alguns estados já aprovaram suas leis estaduais para regular
especificamente o zoneamento costeiro estadual.
Plano Estadual de
GerenciamentoCosteiro - PEGC
desdobramento do PNGC, em nível estadual, apóia a
implementação da Política Estadual de Gerenciamento Costeiro.
Anexo B
|
A
n
e
x
o |
Plano Municipal de Gerenciamento
Costeiro - PMGC
desdobramento do PNGC e do PEGC, apóia a implementação da
Política Municipal de Gerenciamento Costeiro, guardando estreita
relação com os instrumentos de planejamento territorial municipal
(planos diretores).
Plano de Gestão da Zona Costeira -
PGZC
instrumento para a formulação do conjunto de ações e programas,
articulados e localizados, elaborados com a participação da
sociedade, que visa orientar a execução do Gerenciamento Costeiro
em diferentes níveis de governo (Federal, Estadual ou Municipal)
Zoneamento Ecológico-Econômico
Costeiro - ZEEC
instrumento de apoio ao processo de ordenamento territorial.
Utiliza técnicas e mecanismos para oferecer subsídios à
sustentabilidade ambiental do desenvolvimento da zona costeira.
Sistema de Informações do
Gerenciamento Costeiro e Marinho -
SIGERCOM
sistema que integra e disponibiliza informações do PNGC com
dados retirados de várias fontes: banco de dados, sistemas de
informações geográficas e sensoriamento remoto
Sistema de Monitoramento estrutura operacional de coleta de dados e informações, de forma
contínua, visando acompanhar os indicadores de qualidade sócio-
ambiental.
Relatório de Qualidade Ambiental elaborado periodicamente pela coordenação Nacional do
Gerenciamento Costeiro, a partir de relatórios desenvolvidos pelas
coordenações estaduais, permitindo a avaliação da eficiência e
eficácia das medidas e ações de gestão desenvolvidas.
Fonte: BRASIL, 2006a
|
A
n
e
x
o |
Anexo D
LEI 7.661/88
Institui o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro, definindo seus princípios,
objetivos e instrumentos; entre os quais estão os Planos de Gestão a serem
elaborados nas diferentes escalas de atuação. O Plano de Ação Federal para a
Zona Costeira, instituído mediante Resolução CIRM 005/98, estabelece como
demanda ações voltadas ao “Ordenamento da Ocupação e Uso do Solo” e
especifica a orla marítima como um espaço prioritário para seu exercício.
LEI 9.636/98
Versa diretamente sobre o “Patrimônio da União”, do qual fazem parte os
terrenos e acrescidos de marinha que constituem parte significativa da orla
marítima. Tal Lei opera uma atualização na legislação anterior (1946),
conjugando as normas e diretrizes para a utilização deste patrimônio de acordo
com as orientações emanadas da Constituição de 1988 como, por exemplo, as
preocupações relativas à preservação e conservação ambientais, que devem ser
incorporadas pela política patrimonial do governo federal.
Plano de Ação Federal PAF
Visa o planejamento de ações estratégicas para a integração de políticas
públicas incidentes na zona costeira, buscando responsabilidades
compartilhadas de atuação e estabelecendo o referencial acerca da atuação da
União na região, com uma síntese das concepções e encargos federais para o
seu planejamento e a sua gestão, definidos a partir da avaliação dos aspectos
legais, materiais e estratégicos dessa atuação, além dos encargos colocados
pelos compromissos internacionais firmados pelo país.
O Projeto Orla apóia-se diretamente em dois documentos legais que protegem seus objetivos e
ações, a saber: a Lei 7.661 de 1988 e a Lei 9.636 de 1998, e no Plano de Ação Federal para a Zona
Costeira. A saber:
Fonte: BRASIL, 2006a
|
A
n
e
x
o |
Relação dos municípios abrangidos pela faixa terrestre da zona costeira
Amapá Oiapoque, Calçoene, Amapá, Itaubal, Macapá, Santana e Cutias.
Pará Afuá, Chaves, Soure, Salvaterra, Cachoeira do Arari, Barcarena, Belém, Ananindeua,
Santo Antonio do Tauá, Colares, Benevides, Vigia, São Caetano de Odivelas, Curuçá,
Marapanim, Magalhães Barata, Maracanã, Salinópolis, São João de Pirabás, Primavera,
Bragança, Augusto Corrêa, Vizeu, Santa Bárbara do Pará e Quatipuru.
Maranhão Carutapera, Luís Domingues, Godofedro Viana, Cândido Mendes, Turiaçu, Bacuri,
Cururupu, Cedral, Guimarães, Bequimão, Alcântara, Cajapió, São João Batista,
Anajatuba, Santa Rita, Rosário, São Luís, Raposa, Paço do Lumiar, São José de
Ribamar, Axixá, Icatu, Humberto de Campos, Primeira Cruz, Barreirinhas, Tutóia e
Araioses.
Piauí Cajueiro da Praia, Ilha Grande, Parnaíba e Luiz Correia.
Ceará Chaval, Barroquinha, Camocim, Cruz, Jiboca de Jericoacoara, Acaraú, Fortim, Itarema,
Amontada, Itapipoca, Trairi, Paraipaba, Paracuru, São Gonçalo de Amarante, Caucáia,
Fortaleza, Maracanaú, Maranguape, Horizonte, Pacajus, Itaitinga, Guaiúba, Pacatuba,
Eusébio, Aquiraz, Pindoretena, Cascavel, Beberibe, Aracati e Icapuí.
Rio Grande do Norte Grossos, Tibau, Areia Branca, Mossoró, Carnaubais, Macau, Guamaré, Galinhos, São
Bento do Norte, Pedra Grande, Touros, Maxaranguape, Rio do Fogo, Ceará-Mirim,
Extremoz, Natal, Parnamirim, Nísia, Floresta, Senador Georgino Avelino, Goianinha,
Arês, Tibau do Sul, Vila Flôr, Canguaretama, Baía e Formosa.
Paraíba Mataracá, Baía da Traição, Rio Tinto, Lucena, Cabedelo, Jõao Pessoa, Bayeux, Santa
Rita, Condé, Pitimbu, Caaporã e Alhandra.
Pernambuco Goiana, Itapissuma, Itamaracá, Agarassu, Abreu e Lima, Paulista, Olinda, Recife,
Camaragibe, São Lourenço da Mata, Jaboatão dos Guararapes, Moreno, Cabo, Ipojuca,
Sirinhaém, Rio Formoso, Tamandaré, Barreiros e São José da Coroa Grande.
Alagoas Maragogi, Japaratinga, Porto de Pedras, São Miguel dos Milagres, Passo de Camaragibe,
Barra de Santo Antônio, Maceió, Pilar, Satuba, Paripueira, Santa Luzia do Norte,
Coqueiro Seco, Marechal Deodoro, Barra de São Miguel, Roteiro, São Miguel dos
Campos, Coruripe, Piaçabuçu, Feliz Deserto e Penedo.
Anexo A
|
A
n
e
x
o |
Sergipe Brejo Grande, Pacatuba, Indiaroba, Pirambu, Santa Luzia do Itanhy, Barra dos
Coqueiros, Laranjeira, Santo Amaro das Brotas, Riachuelo, Aracaju, Maruim, Nossa
Senhora do Socorro, Rosário do Catete, São Cristóvão, Itaporanga D’Ajuda, Estância,
Ilhas das Flores e Npolis.
Bahia Jandaíra, Conde, Esplanada, Cardeal da Silva, São Felix, Mata de São João, Itanagra,
Camaçari, Dias D’Ávila, Lauro de Freitas, Salvador, Simões Filho, Aratuípe, Candeias,
Taperoá, São Francisco do Conde, Madre de Deus, Santo Amaro, Cachoeira, Saubara,
Maragogipe, Salinas da Margarida, Itaparica, Vera Cruz, Jaguaripe, Valença, Cairú, Nilo
Peçanha, Ituberá, Igrapiúna, Camamu, Maraú, Itacaré, Uruçuca, Ilhéus, Una,
Canavieira, Belmonte, Santa Cruz de Cablia, Porto Seguro, Prado, Alcobaça,
Caravelas, Nova Viçosa e Mucuri.
Espírito Santo Conceição da Barra, São Mateus, Jaguaré, Linhares, Sooretama, Aracruz, Fundão,
Serra, Vitória, Cariacica, Vila Velha, Viana, Guarapari, Anchieta, Piúma, Presidente
Kennedy, Itapemirim e Marataízes.
Rio de Janeiro São João da Barra, São Francisco de Itabapoana, Campos dos Goytacazes, Quissamã,
Carapebus, Macaé, Casimiro de Abreu, Rio das Ostras, Armação dos Búzios, Cabo Frio,
São Pedro d’Aldeia, Arraial do Cabo, Araruama, Saquarema, Maricá, Itaboraí, Niterói,
São Goalo, Magé, Guapimirim, Duque de Caxias, Rio de Janeiro, São João do Meriti,
Nilópolis, Nova Iguaçu, Queimados, Japeri, Belford Roxo, Itaguaí, Seropédica,
Mangaratiba, Angra dos Reis e Parati.
São Paulo Ubatuba, Caraguatatuba, São Sebastião, Ilha Bela, Bertioga, Guarujá, Santos, Cubatão,
São Vicente, Praia Grande, Mongaguá, Itanhaém, Peruíbe, Iguape, Cananéia e Ilha
Comprida.
Para Quaraqueçaba, Antonina, Morretes, Paranaguá, Pontal do Paraná, Matinhos e
Guaratuba.
Rio Grande do Sul Torres, Arroio do Sal, Três Cachoeiras, Três Forquilhas, Maquiné, Capão da Canoa, Terra
da Areia, Xangrilá, Osório, Imbé, Tramandaí, Cidreira, Palmares do Sul, Viamão,
Mostardas, Barra do Ribeiro, Tapes, Tavares, Camaquã, Arambé, São Jodo Norte,
São Lourenço do Sul, Rio Grande, Pelotas, Arroio Grande, Jaguarão e Santa Vitória do
Palmar.
Santa Catarina Itapoá, São Francisco do Sul, Joinville, Araquari, Balneário Barra do Sol, Barra Velha,
Imaruí, Piçarras, Capivari de Baixo, Penha, Navegantes, Itajaí, Balneário Camboriú,
Camboriú, Itapema, Porto Belo, Tijucas, Governador Celso Ramos, Biguaçu,
Florianópolis, São José, Palhoça, Paulo Lopes, Garopaba, Imbituba, Laguna, Jaguaruna,
Içara, Araranguá, Sombrio, São João do Sul, Bombinhas, Guaruva, Passo de Torres,
Tubarão, Criciúma, Sangão e Santa Rosa do Sul.
Fonte: Ministério do Meio Ambiente.
Disponível em:
<http://www.mma.gov.br/estruturas/orla/_arquivos/
pngc2.pdf>
|
A
n
e
x
o |
Quest. No. : _________
Local: ____________________
Data: ____________________
Hora: ____________________
Olá! Eu sou da UFRJ e estou fazendo uma pesquisa sobre Costazul, em Rio das Ostras. Você teria 5
minutos para responder a um questionário?
1 Onde você mora?
( ) Rio das Ostras - bairro: ______________ (ir para questão 4)
( ) outro _____________________________
2 Você já conhecia Rio das Ostras?
( 1 ) sim ( 2 ) não
3 Quantas vezes por ano você visita Rio das Ostras?
( 1 ) 1ª vez ( 2 ) 1 2 ( 3 ) 3 5 ( 4 ) 6 10 ( 5 ) + 10
4 - O que mais lhe atrai em Rio das Ostras?
_______________________________________________________________
5 Há quanto tempo você conhece Costazul?
( 1 ) 1ª vez ( 2 ) 1 a 4 ( 3 ) 5 a 10 ( 4 ) 11 14 ( 5 ) + 15
6 Com quem você veio a Costazul?
( 1 ) sozinho ( 2 ) amigos ( 3 ) pais ( 4 ) filhos ( 5 ) outros
7 O que você veio fazer em Costazul?
_________________________________________________________________
Apêndice 2 - Questionário aplicado
|
A
p
ê
n d
i
c
e
|
8 O que você mais gosta em Costazul?
___________________________________________________________________
9 Por quê?
___________________________________________________________________
10 E o que menos gosta?
____________________________________________________________________
11 - Por quê?
____________________________________________________________________
12 Para você, qual é a principal opção de lazer da cidade?
____________________________________________________________________
13 - Por quê?
____________________________________________________________________
14 Teria mais alguma coisa sobre Costazul que você gostaria de me dizer?
____________________________________________________________________
15 Sexo:
( 1 ) F ( 2 ) M
16 Idade:
( 1 ) 10-14 ( 2 ) 15-19 ( 3 ) 20-39 ( 4 ) 40-64 ( 5 ) 65 ou mais
17 Poderia me dizer qual seu grau de instrução?
( 1 ) 1° grau incompleto ( 2 ) 1° grau completo ( 3 ) 2° grau completo
( 4 ) 3° grau completo ( 5 ) Pós-graduação completa
18 Qual a sua ocupação no momento?
( 1 ) estudante
( 2 ) dona de casa
( 3 ) aposentado ___________ (ocupação anterior)
( 4 ) desempregado ___________ (ocupação anterior)
|
A
p
ê
n d
i
c
e
|
Apêndice 1 - Entrevistas realizadas com autores do prpjeto
Maurício Pinheiro Machado - Prefeitura Municipal de Rio das Ostras - Secretário
Extraordinário de Governo. (Responsável pelo projeto e principal autor do desenho urbano)
Denise Pinheiro - escritório Maria Saucha Planejamento Ambiental, Paisagismo, Consultoria e
Execução. (Responsável e um dos autores do desenho da vegetação)
|
A
p
ê
n d
i
c
e
|
Anexo F
F e
ont
. Jonal do Brasil
|
A
n
e
x
o |
o o
Fonte. J
nal d Brasil
|
A
n
e
x
o |
|
A
n
e
x
o |
|
A
n
e
x
o |
|
A
n
e
x
o |
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo