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FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
ANÁLISE DA EXPRESSÃO DE P53 NO CÂNCER GÁSTRICO
PRECOCE E SUAS IMPLICAÇÕES PROGNÓSTICAS
Andréa Rodrigues Gonçalves
Rio de Janeiro
2008
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UFRJ
ANÁLISE DA EXPRESSÃO DE P53 NO CÂNCER GÁSTRICO PRECOCE E
SUAS IMPLICAÇÕES PROGNÓSTICAS
Andréa Rodrigues Gonçalves
Dissertação de Mestrado apresentada ao
Curso de Pós-graduação em Medicina
(Clínica Médica), da Universidade
Federal do Rio de Janeiro, como parte
dos requisitos necessários à obtenção do
título de Mestre em Medicina
(Gastroenterologia).
Orientadores: Prof. Dr. Antonio José de Vasconcellos Carneiro e
Prof. Dr. Heitor Siffert Pereira de Souza
Rio de Janeiro
Julho de 2008
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Gonçalves, Andréa Rodrigues
Análise da expressão de p53 no câncer gástrico precoce e suas
implicações prognósticas / Andréa Rodrigues Gonçalves. Rio de Janeiro:
UFRJ / Faculdade de Medicina, 2008.
xi, 78 f. : il. ; 31 cm.
Orientadores: Antonio José de Vasconcellos Carneiro e Heitor Siffert
Pereira de Souza
Dissertação (mestrado) UFRJ/Faculdade de Medicina,
Programa
de Pós-Graduação em Clínica Médica, Gastroenterologia
, 2008.
Referências bibliográficas: f. 68-77
1. Neoplasias gástricas - genética. 2. Mutação. 3. Genes p53 . 4.
Prognóstico. 5. Imunoistoquímica. 6. Humanos. 7. Gastroenterologia Tese.
I. Carneiro, Antonio José de Vaconcellos. II. Souza, Heitor Siffert Pereira de
.
III. Universidade Federal do Rio de Janeiro,
Faculdade de Medicina,
Programa de Pós-Graduação em Clínica Médica, Gastroenterologia
,
IV. Título.
A Luisa, razão da minha vida, e a Antonio,
meu amor.
Aos meus pais, pelo apoio incondicional na
vida.
AGRADECIMENTOS
Ao Prof. Antonio José Carneiro pelo estímulo e paciência, e pelo tempo que
disponibilizou para ensinar e orientar este trabalho.
Ao Prof. Heitor Siffert, por estar sempre disponível para ensinar, discutir, corrigir,
orientar, sendo incansável.
A Dra. Ivanir Martins, participante do trabalho, que muito me ensinou, ajudou e
incentivou, e que também esteve disponível em todos os momentos, ajudando com
sua competência na realização deste trabalho.
A Dra. Maria Aparecida Ferreira, que assistiu a vários pacientes que participaram do
trabalho, e que participou da coleta dos dados arquivados, sempre ajudando e
ensinando, neste e em outros momentos da minha vida.
Ao Antonio por estar sempre ao meu lado, ajudando-me e apoiando-me. Mais do
que marido...amigo, colega de profissão, companheiro de todas as horas.
Às colegas do SACC, Patrícia, Nathalie, Claudia Cardoso, pela ajuda imprescindível
e compreensão.
Ao Dr. Carlos Henrique, meu chefe no HUCFF, por tornar viável e incentivar a
realização do mestrado.
Aos residentes que comigo trabalharam durante todo período do mestrado, por
colaborar nos momentos de ausência em função das aulas, principalmente ao Dr.
Cláudio.
Ao Dr. Alexandre Mello, colega de trabalho do INCa, pela ajuda com a estatística.
À minha filha Luisa, por tornar tudo na vida especial e mais fácil.
À minha mãe, Selma, por viabilizar todos os meus projetos na vida.
SUMÁRIO:
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS Vi
LISTA DE TABELAS viii
RESUMO Ix
ABSTRACT X
1- INTRODUÇÃO 1
2- OBJETIVOS 3
3- REVISÃO BIBLIOGRAFICA 4
4- MATERIAL E MÉTODOS 44
4.1 IMUNOHISTOQUÍMICA 44
4.2 PACIENTES 48
4.3 ANÁLISE ESTATÍSTICA 49
5- RESULTADOS 50
5-1 VARIÁVEIS DEMOGRAFICAS 50
5-2 TIPO HISTOLÓGICO E GRAU DE DIFERENCIAÇO 51
5-3 MORFOLOGIA DA LESAO 52
5-4 LOCALIZACAO DA LESÃO 53
5-5 METASTASES PARA LINFONODOS 54
5.6 TAMANHO TUMORAL 55
5.7 p53 55
5.8 SOBREVIDA 59
6 DISCUSSÃO 63
7 CONCLUSÕES 67
8- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 68
9- ANEXOS 77
9-1 ANEXO A: Associações realizadas entre as variáveis e valores dos testes não
paramétricos de e nível p de significância.
77
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
A:T
Adenina:timina
Arg
arginina
AKT
Serina Treonina quinase
APC
Adenomatosis polyposis coli (polipose adenomatosa colônica)
Bax
BCL2-associated X protein ( proteína X associada a BCL2)
bcl-2
B-cell lImphoma 2 ( linfoma célula B 2)
CCC
Prolina
CD44
CD44 molecule ( indian blood group)/ molécula CD44 (grupo
Sanguíneo indiano)
CDH1
Cadherin1, type 1, e-cadherina ( caderina tipo 1, e-caderina)
CGC
Arginina
c-met
Met proto oncogene
COX2
Cicloxigenase 2
DC
Células dendríticas
DCC
Deleted in colorectal carcinoma ( deletado no câncer colorretal)
DNA
Ácido deoxirribonucleico
EGF
Fator de crescimento epidérmico
ERCC3
Excision repair cross-complementing rodent repair (reparo de roedor
complementando-cruzado reparo de excisão)
GADD45
Growth arrest and DNA-damage-inducible (parada de crescimento e
induzível por dano do DNA)
G1
Bem diferenciado
G2
Moderadamente diferenciado
G3
Pouco diferenciado
G:C
Guanina:citosina
H. pylori
Helicobacter pylori
HDGC
Câncer gástrico difuso hereditário
H-E
Hematoxilina-eosina
HGF
Fator de crescimento do hepatócito
Hmlh1
Human Mut L homolog 1 gene ( gene humano Mut L homólogo 1)
Hmsh2
Human Mut S homolog 2 gene ( gene humano Mut S homólogo 2)
HSP70
Heat shock protein 70 ( proteína de calor e choque 70)
IL1α
Interleucina 1 alfa
IMH
Imunohistoquímica
iNOS
Inducible nitric oxide synthase ( sintase induzível pelo óxido nítrico)
LDH
Desidrogenase lática
MDM2
Murine double minute ( murino duplo minuto)
MDR-1
Gene de resistência a múltiplas drogas
MMR
Genes de reparo do mismatch
nm23
Non-metastatic cells 1 ( células não metastáticas 1)
p13K
Phosphatidylinositide 3-kinase ( fosfatidilinositide 3-quinase)
PCR-RFLP
Polymerase chain reaction-restriction fragment length polymorphism (
reação de cadeia de polymerase- polimorfismo de comprimento de
fragmento de restrição)
PCR-SSCP
Polymerase chain reaction -single strand conformation polymorphism
(reação de cadeia de polymerase- polimorfismo de conformação de cadeia
única
PenA
Penetrante A
PenB
P-gp
Penetrante B
P-gp
Glicoproteína P
Pro
Prolina
Rb
Retinoblastoma
RER+
Reparos de erro de replicação positivos
RNAt
Ácido ribonucleico transportador
sLeª
Sialyl Lewisª
SMAD4
SMAD ( Similar to Mothers Against Decapentaplegic) family member 4/
membro 4 da família SMAD (semelhante a mães contra decapentaplégico)
Sm1
Terço superior da submucosa
Sm3
Terço inferior da submucosa
Super
Superficial
TGFα
Fator transformador de crescimento alfa
VEGF
Fator de crescimento endotelial vascular
LISTA DE TABELAS
Tabela 1
-
Resultados de séries da literatura com relação ao número de tumores precoces
estudados, freqüência de positividade de p53 e a técnica empregada.
4
8
Tabela 2
-
Relação entre o tipo histológico de Laurén e o aspecto macroscópico do tumor.
51
Tabela 3
-
Freqüência dos tipos macroscópicos encontrados com relação ao grau de
diferenciação tumoral.
5
2
Tabela 4
-
Relação entre o aspecto macroscópico do tumor e a localização.
53
Tabela 5
-
Relação entre a a localização tumoral e a sobrevida em 5 anos.
54
Tabela 6
-
Freqüência da positividade da p53 conforme o tipo histológico de Laurén.
56
Tabela 7
-
Relação entre o grau de diferenciação tumoral e a positividade da p53.
56
Tabela 8
-
Relação entre a positividade da p53 e o tipo macroscópicos
57
Tabela 9
-
Relação dos casos p53 positivos dentre os tumores limitados à mucosa.
58
Tabela 10
-
Relação dos casos p53 positivos dentre os tumores submucosos.
59
Tabela 11
-
Comparação do tipo histológico de Laurén com a positividade da p53 nos tumores
submucosos. 59
Anexo A
-
Associações realizadas entre as variáveis e valores dos testes não paramétricos
de e nível p de significância.
75
-
-
-
-
-
RESUMO
ANÁLISE DA EXPRESSÃO DE P53 NO CÂNCER GÁSTRICO PRECOCE E
SUAS IMPLICAÇÕES PROGNÓSTICAS
Andréa Rodrigues Gonçalves
Orientadores: Prof. Dr. Antonio José Carneiro e Prof. Dr.Heitor Souza
Resumo da Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Medicina
(Clinica Medica- Gastroenterologia), Faculdade de Medicina, da Universidade Federal do Rio de
Janeiro - UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Medicina
(Clinica Medica- Gastroenterologia).
Fundamentos: Existem evidências de que mutações do gene supressor tumoral p53
estejam implicadas no prognóstico do câncer gástrico. O objetivo desse estudo foi avaliar a
ocorrência da mutação do gene p53 e suas possíveis implicações prognósticas no câncer
gástrico precoce. Métodos: Em estudo retrospectivo, foram estudados 80 pacientes com
câncer gástrico precoce tratados cirurgicamente entre 1982 e 2001. A mutação do p53 foi
pesquisada por imunohistoquímica em tecido cirúrgico e comparada com as variáveis sexo,
idade, tipo histológico de Laurén, aspecto macroscópico, grau de diferenciação, tamanho e
localização tumoral, acometimento de linfonodos e sobrevida em 5 anos.Resultados: A
positividade da p53 foi mais freqüente entre os tumores do tipo intestinal de Laurén (p=0,003
), bem ou moderadamente diferenciados (p=0,007 ), e nos tumores elevados (p=0,038 ). A
mutação do p53 não apresentou associação com a sobrevida em 5 anos, nem com a
freqüência do acometimento linfonodal. Conclusões: Nesta amostra, o p53 não foi
determinante em termos prognósticos. A associação do p53 com o tipo intestinal, o grau de
diferenciação e características morfológicas, podem refletir influência de processo
inflamatório crônico gástrico subjacente. Novos estudos com um número maior de pacientes
e com maior tempo de acompanhamento são necessários para esclarecer se as mutações
de p53 têm implicação prognóstica e poderiam influenciar abordagens terapêuticas
diferenciadas.
PALAVRAS-CHAVE: Câncer gástrico precoce, p53, Prognóstico.
ABSTRACT
ANALYSIS OF P53 EXPRESSION IN EARLY GASTRIC CANCER AND ITS
PROGNOSTIC IMPLICATIONS
Andréa Rodrigues Gonçalves
Orientadores: Prof. Dr. Antonio José Carneiro e Prof. Dr.Heitor Souza
Abstract da Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Medicina
(Clinica Medica- Gastroenterologia), Faculdade de Medicina, da Universidade Federal do Rio de
Janeiro - UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Medicina
(Clinica Medica- Gastroenterologia).
Background: There is some evidence that mutations of p53 tumor suppressor gene
are associated with gastric cancer prognosis. The aim of this study was to evaluate the
occurrence of p53 gene mutations and their possible implications in early gastric cancer.
Methods: In a retrospective study, we analyzed 80 consecutive patients surgically treated for
early gastric cancer between 1982 and 2000. P53 mutations were accessed by
imunohistochemistry of surgical tissue, and compared with variables such as age, sex,
Laurén’s histhologic type, macroscopic aspect, degree of differentiation, size, and
localization of the tumor, lymph node’s metastasis, and five year survival. Results: Positive
immunostaining for p53 was significantly more frequent among Laurén’s intestinal-type
tumors (p=0.003), the well or moderately differentiated tumors (p=0.007), and in the elevated
tumors (p=0.038). However, p53 mutation was not associated with five year survival, or with
the frequency of lymph node metastasis. Conclusions: In this study, p53 did not influence
patients’ prognosis. P53 association with the intestinal-type, the degree of differentiation, and
the morphologic characteristics of the tumor may reflect the existence of an underlying
chronic inflammatory process within the gastric mucosa. New studies with a larger population
sample and longer follow-up are necessary to clarify whether p53 mutations do have
prognostic implications, possibly influencing the selection of distinct therapeutic approaches.
KEY-WORDS: Early gastric cancer, p53, Prognosis.
1 INTRODUÇÃO
O gene p53 é um gene supressor tumoral de 20kb envolvido na
carcinogênese em vários órgãos (dentre eles o estômago), estando situado
no braço curto do cromossomo 17p13. Está envolvido na regulação do ciclo
celular, na síntese e no reparo do DNA e na morte celular programada
(apoptose). O produto protéico por ele codificado é uma proteína de 53kDa
composta por 390 aminoácidos (IRELAND, 1997; SOUSSI, 2000).
O câncer gástrico é na maioria das vezes adenocarcinoma, existindo
variantes raras, como o carcinoma adenoescamoso, o carcinoma de células
escamosas, o carcinoma indiferenciado, o carcinoma-carcinóide misto, o
carcinoma de pequenas células, o carcinoma de células parietais, o
coriocarcinoma, o tumor do seio endodérmico, o carcinoma embrional, o
adenocarcinoma rico em células de Paneth e o adenocarcinoma hepatóide
(FENOGLIO-PREISER, 2002).
O carcinoma strico pode ser dividido em precoce ou avançado,
conforme o nível de invasão da parede do órgão, definindo-se como precoce
aquele que acomete apenas a mucosa ou mucosa e submucosa,
independente da existência de metástases para linfonodo, de acordo com a
definição da Sociedade Japonesa de Endoscopia Digestiva. O primeiro caso
de câncer gástrico precoce descrito é atribuído a Hauser de Leipzig (1883) ou
Versé de Leipzig (1908) ou Saeki do Japão (1938) (DIAS, 1999).
A carcinogênese gástrica é um processo gradual, envolvendo
alterações genéticas que se acumulam progressivamente, as quais podem
ser diferentes entre si e em relação ao momento de ocorrência conforme o
tipo de adenocarcinoma gástrico.
No presente trabalho objetivou-se estudar a ocorrência da mutação do
p53 no câncer gástrico precoce, através da pesquisa da proteína mutante por
imunohistoquímica, correlacionando sua presença com a ocorrência de
metástases para linfonodos e com a sobrevida dos pacientes.
2 OBJETIVOS
Definir a ocorrência da mutação do gene p53 no câncer gástrico precoce.
Estabelecer correlação entre a superexpressão da proteína p53 no tecido
tumoral e o prognóstico do câncer gástrico precoce.
Correlacionar a superexpressão da proteína p53 no tecido tumoral com o tipo
histológico de Laurén, o grau de diferenciação, o aspecto macroscópico, a
localização e o tamanho tumorais, e variáveis demográficas.
3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
O gene p53 codifica uma proteína que está implicada na sua ação
supressora tumoral. A proteína selvagem do gene p53 ativa a p21, a qual
inibe a atividade da kinase ciclina-dependente, induzindo uma parada do ciclo
celular em G1, imediatamente antes da replicação do DNA, ou em G2,
imediatamente antes da mitose, impedindo que a célula entre na fase S, e
levando também à apoptose. Ainda não está claro o que determina a indução
da parada do ciclo celular em umas células e em outras a apoptose (SOUSSI,
2000). No câncer gástrico a expressão diminuída do gene p21 pode ocorrer
independentemente da existência de mutação do p53. Sabe-se também que
o p53 estimula o reparo do DNA através de GADD45 e ERCC3.
(IRELAND,1997). Quando o reparo do DNA não é possível, o p53 induz a
apoptose celular através da regulação da transcrição e da interação com Bcl-
2 e Bax (MOSS,1998).
O gene p53 desempenha papel crítico de forma a evitar a proliferação celular
inapropriada. Quando ocorre lesão do DNA, a proteína codificada pelo p53 se torna
ativada, e ativa a transcrição de vários genes, que irão evitar a proliferação do DNA
lesado, sintetisar novamente o mesmo após a remoção do segmento lesado, e
estimular o seu reparo. A mutação do p53 vai evitar que ocorra a morte celular
quando o DNA estiver lesado. A forma mutante da p53 não ativa p21,
comprometendo sua função supressora tumoral (YOKOSAKI, 2001).
Atualmente sabe-se que existem outros estímulos, além do dano do DNA
para a ativação do gene p53, como outros distúrbios celulares: ativação de
oncogenes celulares, concentrações anormais de ribonucleotídeos celulares e
hipóxia, os quais vão ativar outras vias, que levarão à ativação do p53 (SOUSSI,
2000).
Questiona-se se a reintrodução da forma selvagem do gene poderia ser
capaz de restaurar a apoptose das células tumorais, assim como a conversão da
forma mutante em selvagem . Paralelamente estudos têm demonstrado que as
mutações do p53 podem ter papel na quimiossensibilidade tumoral, configurando-
lhes implicação terapêutica (SOUSSI, 2000). Estudos recentes sugerem que a
regressão de vários tipos tumorais em ratos pode ser obtida com a restauração da
função do p53 isoladamente (KASTAN, 2007).
O p53 interage com o oncogene MDM2, criando uma alça de feedback entre
ambos, o que pode desempenhar papel relevante na regulação da proteína
selvagem do p53. O MDM2 codifica uma proteína que gera a degradação da
proteína selvagem do p53 após ligar-se a mesma. A própria proteína selvagem
estimula a síntese da proteína do MDM2 (up regulation), o que seria perdido a partir
da mutação do p53, levando em última análise ao acúmulo da proteína mutante no
núcleo celular. Tanto a mutação do gene p53 como a amplificação da proteína do
MDM2 com conseqüente superexpressão desta podem resultar em quebra desta
alça auto-reguladora, o que poderia estar implicado na carcinogênese
(CRAANEN,1999).
Como os demais genes supressores tumorais, é necessário que ocorra a
perda da cópia selvagem do p53, permanecendo apenas a forma que sofreu
mutação no núcleo, para que ocorra perda da função do gene. Em cada loci do
genoma há duas cópias dos genes, sendo o p53 considerado dominante, bastando a
presença de apenas uma das cópias para que haja atividade da cópia selvagem. Daí
a necessidade de perda do alelo selvagem além da ocorrência de mutação no outro
alelo. Porém em algumas mutações a proteína mutante inibe a atividade do alelo
normal (atuam de uma forma dominante) (KAY, 1996). Em outras é necessário a
perda dos dois alelos para que haja perda da função supressora tumoral normal. A
mutação do gene p53 com perda concomitante do alelo normal está superexpressa
em alguns tumores humanos, como no caso do ncer gástrico, levando a detecção
da proteína p53 mutante, a qual apresenta meia–vida maior que a proteína
selvagem, podendo ser detectada mais facilmente que esta e por mais tempo (a
mutação confere-lhe alterações conformacionais que aumentam sua estabilidade). A
sua alta estabilidade confere-lhe uma meia vida de algumas horas (cerca de 5 a 10
horas), em comparação com a meia-vida de cerca de 20 min da proteína selvagem,
acumulando-se no núcleo das células neoplásicas (SOUSSI, 2000).
As mutações do gene podem ser tanto nonsense [“mutação sem sentido,
supressora, que altera um anticódon em um RNA t, de modo que é complementar a
um códon de terminação, suprimindo assim a terminação de uma cadeia de
aminoácidos” (STEDMAN, 1996)], na minoria dos casos, como missense (“mutação
de sentido equívoco, em que uma alteração ou substituição da base resulta em um
códon que leva à inserção de um aminoácido diferente na cadeia polipeptídica em
crescimento, dando origem a uma proteína alterada” segundo Stedman), as quais
levam à perda da atividade da proteína selvagem, e envolvem resíduos de contato
do DNA além da estrutura conformacional de alguns resíduos importantes. As
mutações do p53 ocorrem na sua maioria nos exons 5-8, tendo sido
demonstradas mutações a outros níveis, como no exon 4 (SOUSSI,2000)
(SHEPHERD, 2000). Acredita-se que as mutações do gene p53 sejam os eventos
genéticos mais freqüentes na carcinogênese humana, sendo as mutações mais
freqüentes as mutações missense pontuais dentro da seqüência codificadora do
gene, localizadas em 4 dos 5 domínios evolutivos conservados (II ao V ) entre os
aminoácidos 120 e 300 (KAY,1996). No câncer gástrico o gene p53 pode
apresentar principalmente as seguintes alterações: mutações mis-senses, frame
shifts (mutação por deslocamento da estrutura) e perda de heterozigosidade
(relatada como ocorrendo em 60-70% dos casos (KOUNTOURAS, 2005). As
mutações são relatadas como ocorrendo em 38-71% dos casos (KOUNTOURAS,
2005). A frequência da mutação do gene p53 no câncer gástrico precoce é variável
conforme a rie estudada (tabela 1). A perda de heterozigosidade pode ocorrer
após o acúmulo de outras mutações, podendo ser um evento mais tardio. A perda
alélica correlacionou-se com estágio avançado da doença em uma das séries da
literatura (RENAULT, 1996). relatos também de diferentes incidências de
anormalidades do p53 de acordo com o tipo histológico de câncer gástrico. O
espectro de mutações do p53 no carcinoma gástrico revela um padrão intermediário
entre o do cólon e o do esôfago (YOKOSAKI, 2001). As mutações do p53 no grupo
A:T são freqüentes no tipo bem diferenciado, enquanto transições G:C a A:T
predominam no ncer pouco diferenciado. As N-nitrosaminas causam
predominantemente substituições de base G:C a A:T e são um dos candidatos a
carcinógenos gástricos, estando freqüentemente contidas em peixes salgados secos
e vegetais em conserva, e também podem ser produzidas a partir de aminas com
nitratos no ambiente ácido do estômago. Isto poderia ser bem aplicado ao tipo pouco
diferenciado. no tipo bem diferenciado a principal fonte de compostos nitrosos
seria a flora bacteriana anormal anaeróbica que coloniza o estômago com gastrite
atrófica (devido ao ambiente com pH mais elevado) (CORREA, 1994)
Tabela 1-resultados de séries da literatura com relação ao número de tumores
precoces estudados, freqüência de positividade da p53 e a técnica empregada.
IMH=imunohistoquímica; PCR-SSCP= polymerase chain reaction- single strand
conformation polymorphism
Séries Nº de cânceres
precoces
Freqüência de
positividade da p53
Técnica empregada
1-Sakurai e cols. 27 48% IMH
2-Wu e cols. 56 35,7% IMH
3-Blok e cols. 45 60% IMH
4-Igarashi e cols. 16 43,7% IMH
5-Ikeda e cols. 29 58,6% IMH
6-Oiwa e cols. 159 21,3% IMH
7-Kyokane e cols. 40 30% IMH
8-Wang e cols. 12 41,6% IMH
9-Tamura e cols. 8 50% PCR- SSCP
10-Luinetti e cols. 70 31,4% IMH
11-Cho e cols. 29 26% IMH
12-Xiangming e
cols.
101 29,7% IMH
13-Craanen e cols. 45 60% IMH
As alterações genéticas do p53 (mutação com consequente perda de
heterozigosidade) estão envolvidas na conversão maligna do adenoma em
adenocarcinoma durante a sequência adenoma-adenocarcinoma do cólon,
estando presente em cerca de 70% dos casos de adenocarcinoma colônico, e
em mais de 60% dos adenocarcinomas gástricos. Todavia estudos do gene
p53 nos adenomas gástricos mostram que alterações deste nestas lesões
são muito menos frequentes do que nos adenomas colônicos, ocorrendo em
cerca de 30% destes (TAHARA,1996). Sakurai e cols. estudaram 19 casos de
adenocarcinoma que coexistiam com adenomas gástricos ( acreditando-se
nestes casos que os adenocarcinomas originavam-se de adenomas prévios ),
e encontraram uma superexpressão do p53 no componente de
adenocarcinoma em apenas 26 % dos casos, em contraste com o mesmo
achado em cerca de metade das células tumorais de um total de 27 casos de
adenocarcinoma gástrico precoce ( os quais se acreditavam não terem
surgido de adenomas ) (SAKURAI,1995). A mutação do p53 com perda de
alelo também foi encontrada na metaplasia intestinal, sendo relatada na
literatura com freqüências diferentes [ em cerca de 10% dos casos (TAHARA,
1995); em cerca de 38% (KOUNTOURAS,2005)]. Outro fato que também
sugere a ocorrência precoce da mutação do p53 na carcinogênese gástrica é
o relato de mutação do p53 em 58% dos casos de displasia gástrica
(KOUNTOURAS, 2005). Correa e cols realizaram imunohistoquímica para p53
em 33 espécimes de tumor gástrico e displasia, e encontraram positividade
em 61% dos carcinomas gástricos, 64% das displasias graves, 27% das
displasias moderadas, 19% das displasias leves, enquanto que a mucosa
gástrica sem displasia ou metaplasia teve imunohistoquímica negativa
(CORREA, 1994).
Cho e cols estudaram amostradas teciduais de 81 cânceres gástricos (sendo
29 precoces) ressecados cirurgicamente, analisando também a mucosa normal e
com alterações não displásicas contígua aos mesmos, além de material obtido por
endoscopia de 10 pólipos hiperplásicos e 22 adenomas. Os autores determinaram a
expressão da p53, da p21 e da bcl2 nestes materiais (por imunohistoquímica), além
de pesquisar mutações por PCR-SSCP e sequenciamento do DNA. Na mucosa
gástrica normal a expressão de p21 limitou-se às células epiteliais foveolares, e a de
bcl2 e p53 a poucas células epiteliais regenerativas da região do colo da mucosa.
Nos pólipos hiperplásicos foi encontrada expressão aumentada de p21 (esta restrita
a células epiteliais hiperplásicas) e p53, sem expressão de bcl-2. Nos adenomas a
expressão de bcl2 foi limitada à metade inferior dos mesmos na maior parte dos
casos, e a de p21 surgiu na parte superior dos mesmos. Nos adenomas a expressão
da p53 foi notada em toda e extensão dos mesmos, predominando no
compartimento médio. A expressão de bcl2 e de p21 foi maior nos adenomas do que
nos carcinomas, ao contrário de p23 (esse achado o teve significado estatístico).
Nos carcinomas a mutação do p53 foi observada em 36% dos pacientes. Os autores
sugerem que esse padrão ordenado topograficamente para a imunoexpressão de
p53, p21 e bcl2 seria alterado durante o desenvolvimento da neoplasia, e que o
controle da apoptose pelo p53 seria um evento precoce na carcinogênese gástrica
(CHO, 1998).
Graziano e cols estudaram 94 pacientes submetidos a tratamento cirúrgico
curativo para ncer gástrico, realizando imunohistoquímica nas amostras teciduais
para pesquisar a expressão do p53 e do DCC, tendo encontrado alta freqüência de
expressão da p53 em casos com envolvimento linfonodal (N1 e N2), assim como
nos tumores com invasão da muscular. A expressão da p53 foi encontrada em
estágios mais precoces, sendo detectada também nos tumores limitados à mucosa.
a expressão da DCC foi encontrada precocemente, porém em tumores pT3N0 a
mesma encontrava-se abolida. Os autores sugeriram que a superexpressão da p53
ocorreria desde os estágios precoces da carcinogênese gástrica, enquanto as
anormalidades do DCC seriam um evento tardio (GRAZIANO, 2001).
A detecção das mutações do gene p53 pode ser feita a partir de 3 métodos:
polimerase chain reaction (PCR) e tanto SSCP ( single-strand chain polymorphism )
ou menos comumente eletroforese com gel denaturante com ou sem
sequenciamento direto, imunohistoquímica e sorologia ( apenas 30 a 50% dos
tumores que apresentam mutação do p53 levam ao aparecimento de anticorpos anti-
p53 Ab no soro, por fenômeno de autoimunização ) (SOUSSI, 2000) (MOSS,1998).
Durante a realização da PCR as regiões que são seqüenciadas são os exons 5-8,
uma vez que a maior parte das mutações do p53 localiza-se nesta região. Pode
haver contaminação com quantidades variáveis de DNA de células não epiteliais,
mesmo com a microdissecção prévia, principalmente nos estágios precoces da
seqüência do câncer gástrico segundo Moss, o que faz com que a
imunohistoquímica ainda seja um método com papel importante na pesquisa das
mutações do p53. As técnicas de imunohistoquímica basicamente detectam a forma
mutante da proteína codificada pelo p53, uma vez que a forma selvagem da mesma
apresenta meia-vida muito curta (20 min), fazendo com que a forma mutante possa
ser detectada com probabilidade muito maior que a selvagem. Desta forma as
mutações missense são detectáveis por imunohistoquímica com uma probabilidade
muito maior que as nonsense, as quais em 10 a 15% dos casos não produzem
níveis detectáveis da proteína mutante (SOUSSI, 2000). A forma mutante acumula-
se no núcleo das células, e a maioria dos anticorpos disponíveis liga-se tanto à
forma selvagem como à mutante, não sendo específica para nenhuma das duas
(ALLGAYER, 1997). Diante de todos estes fatos percebe-se que a imunodetecção
pode subestimar a frequência da ocorrência de mutação do gene do p53 (SOUSSI,
2000) (STEMMERMANN, 1994). A positividade da imunohistoquímica para a p53
pode às vezes resultar da estabilização da forma selvagem da p53, que pode estar
superexpressa em células normais em resposta ao dano do DNA, levando ao
acúmulo da proteína na ausência de mutação genética (MARINONE, 2001). Na série
de Soong e cols envolvendo 116 adenocarcinomas gástricos, 23% dos casos
apresentaram imunohistoquímica positiva e 25% apresentavam mutação detectável
por PCR, com concordância de 85% (SOONG, 1996). Segundo Moss a correlação
entre a superexpressão da p53 e a mutação detectada por sequenciamento é boa
em estudos comparativos. Os anticorpos monoclonais DO1 e DO7 parecem ser os
que fornecem resultados mais reproduzíveis (SOUSSI, 2000).
Na maioria dos casos as mutações do p53 resultaram na alteração de uma
única base, levando a substituições de aminoácidos: em torno de três quartos foram
mutações de G:C para A:T(MOSS,1998).
Em pacientes com câncer gástrico Wang e cols estudaram a presença no
soro de genes circulantes relacionados ao tumor através de PCR-SSCP. Relatos
prévios indicavam que tumores podem liberar DNA ou RNA na circulação. A taxa de
detecção de marcadores moleculares para o p53 no soro foi de 36,4%, enquanto a
mutação do p53 foi encontrada em 32,4% dos pacientes. Além do p53, os autores
também estudaram a mutação do gene APC nestes pacientes, e a compararam com
a detecção de seu marcador molecular no soro dos pacientes. Os marcadores
moleculares séricos positivos correlacionaram-se diretamente com a recorrência no
pós-operatório ou com metástases, podendo representar marcadores prognósticos
potenciais nos pacientes com câncer gástrico (WANG, 2004).
Como já foi dito anteriormente, a expressão da p21 pode ocorrer
independentemente da mutação do p53. Craanen e cols. estudaram 45 espécimes
obtidos de pacientes gastrectomizados devido a carcinoma precoce gástrico, e
sugeriram que a indução do p21 pode ocorrer de forma independente do p53 em
uma proporção considerável de casos, podendo também ocorrer no tecido normal,
em áreas de gastrite crônica e na metaplasia intestinal, sendo pouco provável que
tal achado se explique por mutação do p21, dada a raridade de tal fato. Além disso
concluem que a inativação do p53 durante a carcinogênese gástrica segue uma via
diferente da alça de feedback p53/MDM2. O evento primário não parece ser a
amplificação do MDM2 e sim a inativação do p53 a partir da mutação de um dos
alelos e perda do outro. 60% dos casos estudados apresentavam acúmulo nuclear
da p53. Não foi encontrada diferença estatística de acordo com o tipo histológico de
Laurén, mas sim diferenças nas características de coloração, o que poderia ser pelo
menos em parte causado por diferença na prevalência das mutações missense do
gene p53 (CRAANEN, 1999).
Kay e cols (1996) encontraram uma variabilidade de 7% na interpretação da
marcação para o p53 no seu estudo, tendo considerado-a baixa.
Estudando uma possível relação entre o p53 e proteínas de choque térmico
70 (HSP70), Maehara e cols não encontraram resultados que a confirmassem: a
superexpressão da p53 foi notada da mesma forma nos pacientes que tinham tanto
níveis altos como baixos de HSP70, sugerindo que o prolongamento da meia vida da
proteína do p53 no câncer gástrico não depende da expressão destas proteínas
(MAEHARA, 2000b).
O câncer gástrico precoce é uma doença em geral silenciosa, sem quadro
clínico específico (CORREA, 2004), acarretando muitas vezes o retardo no
diagnóstico, devido ao baixo índice de suspeição clínica. Freqüentemente o paciente
não apresenta sintomas, mas até 50% pode ter queixas gastrointestinais
inespecíficas tais como dispepsia (FENOGLIO-PREISER, 2002). O diagnóstico
baseia-se principalmente na associação dos achados endoscópicos e
histopatológicos, necessitando de familiarização do endoscopista com a doença,
podendo o mesmo lançar mão do auxílio da cromoscopia durante o exame.
O câncer gástrico é uma doença cuja incidência vem caindo, porém mesmo
assim ainda representa o quarto tipo de câncer mais comum no mundo, e o segundo
tipo de câncer que mais leva a morte (CORREA, 2004). Em 2006 Anderson e cols
relataram o câncer gástrico como o segundo tipo de câncer mais comum no mundo .
No Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde (2006), o câncer gástrico aparece
como o sexto tumor mais incidente na população brasileira, atingindo mais o sexo
masculino, com percentuais altos em värias cidades brasileiras, distribuídas pela
maioria das regiões.
Nos países do ocidente o câncer gástrico é encontrado em apenas 1 a
2% dos pacientes submetidos a exames endoscópicos para avaliação de
dispepsia, sendo que 80-90% dos pacientes vão apresentar tumores
avançados com baixas taxas de cura (FENOGLIO-PREISER, 2002). O câncer
gástrico precoce é visto com uma freqüência muito maior no Japão (país no
qual há programas de rastreamento para câncer gástrico) do que nos países
ocidentais, nos quais não responde por mais de 7 a 9% dos casos em
algumas séries (TRAYNOR, 1987), com relato de incidência de 16-24% por
outros autores (FENOGLIO-PREISER, 2002). No Japão 80% dos tumores
diagnosticados durante os programas de rastreamento são precoces. Porém
como nem todos pacientes aceitam participar dos mesmos, apenas cerca de
50% dos tumores são diagnosticados nesta fase (FENOGLIO-PREISER,
2002).
No câncer gástrico a maioria dos casos é esporádica, mas cerca de 8 a
10% dos tumores estão relacionados a um fator genético familiar herdado
(EL-RIFAI, 2002). Oliveira e cols estudaram 32 famílias portuguesas com
história positiva para câncer gástrico que preenchiam critérios para HDGC
(câncer gástrico difuso hereditário) e 23 pacientes com câncer gástrico de
início precoce. Apenas em uma família foi encontrada uma mutação
germinativa do CDH1 (gene que codifica a E-cadherina). Nas demais famílias
e pacientes os autores pesquisaram a ocorrência da mutação do p53, além
de mutação na caspase 10 e SMAD4, hMLH1 e hMSH2 (nos que
apresentaram instabilidade microssatélite), tendo encontrado uma mutação
germinativa missense em uma família com agregação de casos. Encontraram
também duas variantes de seqüência para SMAD4 (não afetando a seqüência
codificadora), dois novos polimorfismos na caspase-10. Não foram
encontradas mutações germinativas dos genes hMLH1 e hMSH2. Os autores
concluem que é necessário o rastreamento para mutações do p53 em
famílias com excesso de câncer gástrico, e que essas famílias devem ter um
sequimento clínico distinto (OLIVEIRA, 2004).
A sobrevida do câncer gástrico precoce após tratamento cirúrgico
radical é alta, sendo relatada na literatura taxa de sobrevida de até 99,5% em
cinco anos, não havendo diferença significativa quando comparados os
tumores limitados à mucosa com aqueles que atingem a submucosa. As
metástases para linfonodos podem ocorrer em 2,3% dos cânceres intra-
mucosos e em 19,6% dos submucosos (FENOGLIO-PREISER, 1996). A
sobrevida também é diferente quando se leva em consideração os tipos
macroscópicos definidos por Kodama, sendo relata sobrevida em 5 anos de
64,8% para o tipo Pen A, e de cerca de 90% em 5 anos para os demais tipos
macroscópicos (FENOGLIO-PREISER,2002). A taxa de recorrência após
tratamento cirúrgico pode alcançar 25% após vários anos de seguimento. Na
série de Traynor e cols. a recorrência observada foi de 18%
(TRAYNOR,1987).
De acordo com os critérios definidos por Laurén o câncer gástrico pode
ser classificado do ponto de vista histológico em intestinal ou difuso. Estes
dois subtipos apresentam diferenças não somente morfológicas, mas também
clínicas e epidemiológicas, existindo um conjunto diferente de alterações
genéticas envolvidas em cada subtipo, inclusive no que diz respeito ao p53.
Entre os cânceres precoces de estômago cerca de 60% são do tipo intestinal,
e este número aumenta para 80% quando se considera apenas o câncer
gástrico mínimo (no máximo 5 mm no seu maior eixo). A frequência do tipo
intestinal aumenta com a diminuição das dimensões do câncer gástrico
precoce. Sud e cols estudaram tecidos obtidos de 26 carcinomas gástricos
(não especificando quantos destes eram precoces e quantos eram
avançados), identificando mutação somática do p53 em 8 dos mesmos, dos
quais sete eram do tipo intestinal e apenas um do tipo difuso. Porém esta
diferença não apresentou significado estatístico quando comparada com a
ocorrência de mutação do p53 (p=0,19) (SUD, 2001). Imazeki e cols
estudaram tecidos de 10 adenocarcinomas gástricos obtidos de peça
cirúrgica, encontrando mutação do p53 em 5 dos mesmos. Dos 10 tumores
dois eram diferenciados e 8 indiferenciados. Os cinco casos nos quais não
foram detectadas mutações do p53 eram indiferenciados. O número de casos
foi considerado pequeno pelos autores, inviabilizando conclusões definitivas
(IMAZEKI, 1992). Oki e cols estudaram as alterações do p53 (através de
sequenciamento direto por PCR do exon 4 ao exon 8) em 113 casos de
adenocarcinoma gástrico que foram submetidos a tratamento cirúrgico,
encontrando mutações do p53 mais frequentemente no tipo intestinal do que
no difuso (OKI, 2005).
O câncer gástrico precoce pode estar localizado em qualquer um dos
três terços nos quais se divide o estômago, e seu aspecto macroscópico
enquadra-se nos tipos definidos pelas Sociedades Japonesas de Endoscopia
Gastroenterológica e para pesquisa do Câncer Gástrico em 1962 e 1963
(DIAS, 1999):
Tipo 0-I- protruso- lesão séssil ou pedunculada, nodular ou
cerebriforme, protrusa para o lúmen, de qualquer diâmetro;
Tipo 0-II-superficial
0-IIa-elevado- lesão elevada com até duas vezes a espessura da
mucosa, vermelha, superfície irregular e que sangra facilmente;
0-IIb-plano- lesão superficial, plana, ao nível da mucosa, vermelha
ou esbranquiçada;
0-IIc-deprimido- depressão bem definida, coloração vermelha,
superfície irregular, e com depósitos de fibrina;
Tipo 0-III- escavado- lesão escavada, forma irregular, bordas
granulares, fundo liso ou espiculado.
Foto 1 Foto 2
Foto 3
Foto3 Foto 4
Fotos1,2,3,4- exemplos de tumores gástricos precoces. Foto 1-adenocarcinoma gástrico
precoce tipo 0-I. Foto 2-adenocarcinoma gástrico precoce tipo 0-IIa. Foto 3-adenocarcinoma gástrico
precoce tipo 0-IIb. Foto 4-adenocarcinoma gástrico precoce tipo 0-IIc + III.
Segundo Pelayo Correa há duas entidades clínico-patológicas distintas,
englobadas pelo nome de câncer gástrico: uma é o tipo intestinal ou
expansivo, endêmico, ocorrendo a partir de lesões precursoras em população
de alto risco, e a outro é o tipo difuso ou infiltrativo, ocorrendo mais em
população de baixo risco, sem lesões precursoras definidas. Fiocco defende
a existência de um histiotipo misto, que aparecia durante a progressão
neoplásica, no qual haveria alterações típicas da carcinogênese do tipo
intestinal e do tipo difuso misturadas. Ao longo do desenvolvimento do tipo
intestinal participariam sequencialmente deste processo a gastrite crônica, a
atrofia glandular, com perda e regeneração celular, a ação dos agentes
genotóxicos e a metaplasia intestinal. Esta poderia ser tanto do tipo delgado,
ocorrendo mais comumente em jovens, sem displasia, ou do tipo colônica,
ocorrendo mais em idosos, com displasia ou alterações carcinomatosas
precoces, sugerindo uma transição gradual de um tipo para o outro.
O aparecimento da gastrite atrófica poderia estar associado à
diminuição dos níveis séricos de pepsinogênio, os quais poderiam voltar a
aumentar com o advento do carcinoma. Com o aparecimento da metaplasia
intestinal completa (do tipo delgado) algumas enzimas normalmente
secretadas no delgado seriam produzidas no estômago, o que não acontece
na metaplasia intestinal incompleta. A presença anormal de beta
glicuronidase e de desidrogenase lática (LDH) já foi observada no suco
gástrico de jejum nos casos de metaplasia intestinal incompleta.
Alterações na produção de mucina também são notadas nesta fase,
com produção inicial de mucinas neutras durante o processo metaplásico,
com aparecimento posterior de mucinas sulfatadas, as quais são abundantes
quando a displasia e o carcinoma já estão presentes (CORREA, 1988).
Sugai e cols estudaram amostras de 62 cânceres gástricos precoces e
correlacionaram o perfil genético dos tumores bem diferenciados com o
fenótipo de mucina celular encontrado, com o objetivo de definir se estes
fenótipos distintos refletem alterações genéticas moleculares específicas.
Eles subdividiram os tumores em 4 grupos distintos conforme o fenótipo
encontrado, usando análise imunohistoquímica das mucinas, tendo
encontrado 13 fenótipos gástricos, 17 intestinais, 31 mistos e 1 não
classificado. Os autores usaram PCR e análise imunohistoquímica para
detectar perdas alélicas cromossômicas de vários loci cromossômicos
relacionados ao câncer, instabilidade microssatélite e superexpressão da
p53. Imunorreatividade para a p53 não foi encontrada na mucosa gástrica
não neoplásica, na metaplasia intestinal e nos adenomas gástricos. Não foi
encontrada diferença significativa na freqüência de superexpressão da p53
nos cânceres de fenótipo intestinal, gástrico ou misto. Eles concluíram que a
superexpressão da proteína do p53 é comum no câncer gástrico do tipo
diferenciado (SUGAI, 2004).
A carcinogênese gástrica é um processo progressivo que envolve
múltiplos passos, com ocorrência paulatina de várias alterações genéticas,
que vão acumulando-se, levando à transformação das células epiteliais
normais em células cancerosas. Várias alterações genéticas são relatadas ao
longo desta via, e estas alterações seqüenciais podem estar envolvidas na
progressão do câncer gástrico. São descritos como relevantes neste
processo a instabilidade genética, a perda dos genes supressores tumorais, a
ativação de oncogenes e a ocorrência de alterações genéticas de citocinas,
fatores de crescimento, moléculas de adesão celular, telômeros/atividade de
telomerase e reguladores do ciclo celular. Entre os genes supressores
tumorais envolvidos encontra-se papel relevante para o p53 já nas fases
precoces do processo (TAHARA,1996,1998).
TIPO HISTOLÓGICO SEGUNDO LAURÉN:
BEM DIFERENCIADO
Célula normalinstabilidade genética
superexpressão do cripto
deleção do gene 2.2kb
metaplasia intestinal
mutação do p53, K-ras, APC
ADENOMA PH do APC, PH do p53, c-
met
6.0Kb,perda do gene bcl-2
Ca precoce
Perda 18q (DCC),PH do 1p
Mudança no receptor de TGFβ
Transcrição anormal do CD44
Ca avançado PH 7q, amplificação do c-erb 2,
redução em n-
m23
Metástases
POUCO DIFERENCIADO
Célula normalinstabilidade genética
mutação do p53 e perda alélica
expressão do c-met 6.0
Ca precoce
perda de caderina, PH 1p,
superexpressão TGFβ
mudança no receptor TGFβ
Ca avançado
PH 7q, amplificação do K-sam e c-met,
redução em n-m23
Metástases
Figura 1-alterações genéticas segundo Tahara ( adaptado de TAHARA, 1996)
Tahara também relata que os dois tipos histológicos de câncer gástrico
podem ter vias genéticas distintas. Dentre todas as alterações genéticas
encontradas na doença, a ativação do gene c-met, a inativação do gene p53
e a transcrição anormal do CD44 seriam eventos comuns tanto no tipo
intestinal como no difuso (TAHARA, 1995).
A instabilidade genética pode ter papel crítico principalmente no
desenvolvimento do adenocarcinoma difuso segundo Nakamura (erros de
replicação de loci microssatélites detectados em 64 % dos difusos em
comparação com 17% dos intestinais), o qual geralmente ocorre em áreas
não metaplásicas do estômago de populações jovens (HAN,1993 apud
TAHARA, 1995). A expressão da instabilidade genética pode ser
representada por mutações somáticas de seqüências microssatélites devido a
erros de replicação do DNA (TAHARA, 1995). Já Fiocca relata que na sua
experiência os tumores gástricos com fenótipo de erros de replicação
pertenciam exclusivamente ao histotipo intestinal ou misto, e mostravam
exclusão mútua com relação às mutações do gene p53, referindo também
que outros autores encontraram correlação com a localização antral, pouca
tendência metastática e um melhor prognóstico. Entre os tumores precoces
que Fiocca estudou os tumores com fenótipo de erro de replicação estavam
confinados à mucosa e não eram metastáticos, enquanto os que eram p53
positivos preferencialmente invadiam a submucosa e não raramente
desenvolviam metástases linfonodais (FIOCCA, 2001).
No tipo intestinal a mutação e a perda alélica do APC ocorrem em
mais de 50% dos casos, sendo a mutação geralmente do tipo missense (ao
contrário do que ocorre no câncer colo-retal, onde freqüentemente encontra-
se a mutação nonsense), assim como ocorre a perda de heterozogosidade no
locus do DCC e bcl-2, sugerindo que alguns cânceres gástricos do tipo
intestinal podem se desenvolver por uma via genética semelhante à do
câncer colo-retal. No tipo intestinal perda de heterozigosidade no
cromossoma 1q freqüentemente ocorre (em 44% dos tumores), enquanto
perda de heterozigosidade no cromossomo 1p é relativamente comum no
difuso avançado. Tahara sugere a possível existência de um gene supressor
tumoral no cromossoma 1 normal. Já no tipo difuso observa-se a
superexpressão do bcl-2 (TAHARA, 1995).
Dentre os oncogenes implicados no câncer gástrico, a amplificação do
gene c-erb 2 é detectada apenas no tipo intestinal, e sua superexpressão
está intimamente relacionada a ocorrência de metástase hepática (que ocorre
mais freqüentemente no tipo intestinal). O gene c-met codifica o receptor
para o fator de crescimento de hepatócitos, estando implicado nos dois tipos
histológicos, e freqüentemente amplificado no câncer gástrico avançado,
particularmente em 39% dos carcinomas cirrosos, apresentando perda de
heterozigosidade em 30% dos cânceres intestinais, independente de sua
amplificação. O gene k-sam está amplificado no câncer gástrico difuso, e é
membro da família de receptores para o fator de crescimento do fibroblasto
(TAHARA, 1995,1996).
Um amplo espectro de fatores de crescimento e citoquinas atua como
moduladores autócrinos e parácrinos, e organiza a interação entre células
tumorais e estromais.TGF α, EGF, anfirregulina e IL1 α funcionam como
fatores de crescimento autócrinos. O HGF (fator de crescimento do
hepatócito) está implicado na progressão e na morfogênese do câncer
gástrico, promovendo a formação tubular no tipo intestinal, ou a dispersão
das células cancerosas, levando ao tipo difuso (nos clones que mostram
redução ou perda da E-cadherina, que é uma molécula importante na adesão
intercelular, ou cateninas). Cripto, membro da família EGF (fator de
crescimento epidérmico), é um estimulador do crescimento positivo para os
dois tipos de câncer gástrico. Está freqüentemente associado com o câncer
gástrico e a metaplasia intestinal, havendo uma boa correlação entre a sua
expressão e o estágio tumoral ou prognóstico. TGFα (fator transformador de
crescimento) está comumente superexpresso no tipo difuso. Resultados de
trabalhos sugerem que a maioria dos cânceres gástricos avançados escapa
da inibição do crescimento pelo TGF α através de mudanças nos genes para
os seus receptores. Evidentemente induz a expressão do gene p21, e está
implicado na apoptose em algumas linhagens celulares de câncer gástrico
humano. Pode funcionar como um inibidor do crescimento parácrino ou
autócrino, sendo um gatilho para a apoptose. O índice de apoptose é
significativamente maior no tipo intestinal do que no difuso (TAHARA,
1994,1995).
Mattar e cols pesquisaram a perda de heterozigosidade para p53, DCC
APC e Rb em 22 tumores gástricos ressecados cirurgicamente, e também
nos leucócitos do sangue periférico dos mesmos 22 pacientes, não a
encontrando para nenhum dos genes pesquisados. A imunohistoquímica para
p53 foi positiva em 63,6% dos casos, sendo negativa na mucosa normal
(MATTAR, 2004).
As moléculas de adesão celular também podem funcionar como
proteínas de supressão tumoral. A expressão da E-cadherina e α -catenina é
significativamente inferior no difuso comparado com a encontrada no
intestinal. Fiocca e cols relataram que 50% dos tumores difusos revelavam
mutações para o gene da E-cadherina, sendo que mutações de linhagem
germinativa foram relatadas em famílias com câncer gástrico do tipo difuso,
mas não naquelas com câncer do tipo intestinal. Mutações ou perda de
expressão da E-cadherina parecem se correlacionar com a perda da estrutura
glandular nos tipos mistos, podendo marcar a transição do tipo intestinal para
este (FIOCCA, 2001).
Murakami e cols estudaram (em 140 pacientes com câncer gástrico
operados) a expressão imunohistoquímica do pAkt (serine/threonine kinase)
ativada pela Pi3k (phosphatidylinositide 3-kinase), a qual é ativada pela
ligação à superfície celular de fator de sobrevida. Nos pacientes com
estadiamento T3 (88 pacientes) os autores realizaram análise
imunohistoquímica para o p53, e encontraram que os tumores tanto p53 como
pAkt positivos apresentaram um prognóstico significativamente pior do que os
pacientes que eram tanto p53 como PAkt negativos. A via pi3k/Akt diminui
(ativa downstream) a expressão do p53 (MURAKAMI, 2007).
A superexpressão do p53 e da ciclina E foi estudada por Bani-Hani e
cols em 89 pacientes submetidos a tratamento cirúrgico para câncer gástrico,
tanto no tecido tumoral como na mucosa normal adjacente. A superexpressão
da ciclina E foi encontrada em 39,3% dos tumores, e a do p53 em 51,7% dos
mesmos. Na mucosa gástrica normal nenhuma célula do epitélio glandular se
corou. Os autores encontraram uma correlação significativa entre a
superexpressão da ciclina E e o acúmulo anormal da proteína p53 nas
células tumorais ( p<0,0001). Tumores fortemente positivos para ciclina E
apresentaram a tendência para prognóstico pior do que os outros, assim
como os tumores positivos para p53 mostraram uma tendência para
prognóstico pior do que os p53 negativos. Pacientes com imunohistoquímica
positiva tanto para p53 como para ciclina E tiveram um prognóstico
significativamente pior. A combinação da superexpressão da ciclina E, da
expressão do p53 e do estágio tumoral foi o único preditor significativo de
sobrevida (BANI-HANI, 2005).
Estudos mostram que a mutação do gene p53 ocorre em uma fase inicial da
carcinogênese gástrica, sendo detectada nos tumores precoces em várias séries da
literatura (FENOGLIO-PREISER, 1996), estando principalmente associada ao tipo
intestinal de Laurén. WANG e cols estudaram 36 casos de adenocarcinoma gástrico
operados em Taiwan (destes 12 casos eram de adenocarcinoma gástrico precoce),
encontrando diferença na mutação do p53 entre adenocarcinomas gástricos
precoces e avançados do tipo intestinal (40 x 20%), o que não aconteceu no tipo
difuso (16,7 x 11,8) (WANG, 2001). As anormalidades do p53 podem ocorrer em
uma fase precoce do processo neoplásico, gerando instabilidade genética e
favorecendo a ocorrência de outras mutações posteriormente. Stemmermann e cols.
encontraram imunorreatividade para o p53 em todos os estágios do câncer gástrico,
indicando que as alterações do p53 não estão confinadas aos tumores em estágios
avançados ( STEMMERMANN,1994).
Estudos mostram uma certa estabilidade genética dos adenomas gástricos,
sendo rara a detecção da mutação do gene p53 nestas lesões, o que sugere que a
ocorrência da seqüência adenoma-adenocarcinoma no estômago seja rara, devendo
a maioria dos adenocarcinomas gástricos se desenvolver por uma via de novo ou a
partir da própria metaplasia intestinal, sem a ocorrência prévia do adenoma. Sakurai
e cols estudaram 19 adenocarcinomas gástricos precoces surgidos de adenomas
gástricos e 27 adenocarcinomas gástricos precoces sem componentes
adenomatosos, e encontrou uma freqüência de imunopositividade para a p53 menor
nos adenocarcinomas gástricos que surgiam a partir de adenomas (26% x 48%),
sugerindo que as alterações do gene p53 possam não estar relacionadas a
conversão maligna na seqüência adenoma-adenocarcinoma gástrica, que pode ter
uma via diferente do que no cólon (SAKURAI,1995).
Os erros de replicação em loci micro-satélites no adenocarcinoma gástrico
foram encontrados em 33% dos casos estudados por Semba e cols. A presença
destes reflete instabilidade genética secundária a defeitos no sistema de reparo do
DNA, as quais acompanham o processo de carcinogênese, aumentando a taxa de
mutação normal e levando a mutações em oncogenes e genes supressores
tumorais. Baseados em seus achados com relação à freqüência de erros de
replicação encontrada na metaplasia intestinal, adenomas e adenocarcinomas bem
diferenciados, os mesmos sugerem que a instabilidade genética é um dos eventos
mais precoces na carcinogênese gástrica, especialmente no adenocarcinoma bem
diferenciado que se origina da seqüência adenoma-adenocarcinoma. Porém os
mesmos não encontraram associação entre a presença de um fenótipo positivo para
erros de replicação e a ocorrência de alterações genéticas do p53 nos 24 casos de
tumores gástricos por eles estudados (SEMBA, 1996).
Uma possível associação entre a mutação do p53 e a ocorrência de
instabilidade microssatélite foi investigada em estudo conduzido por Renault e cols.
Mutações genéticas funcionais do p53 foram encontradas em 40% dos tumores, e
32,5% apresentavam erros de replicação em pelo menos um dos marcadores
testados, e 25% apresentavam instabilidade em mais de um marcador. Os autores
encontraram uma associação negativa entre mutações do gene p53 e instabilidade
microssatélite, e concluíram que como estas duas alterações genéticas não estão
simultaneamente presentes nos tumores, elas provavelmente agem através de vias
diferentes durante o desenvolvimento da doença (RENAULT, 1996).
Forones e cols estudaram através de imunohistoquímica os corpos
apoptóticos, o p53, a expressão do bcl-2 (gene que codifica uma proteína que inibe
a apoptose, e pode ser o mecanismo potencial pelo qual as células tumorais
escapam da apoptose mediada pelo p53) e a taxa de proliferação celular através da
quantificação do ki-67, tanto em 22 amostras de tecido de adenoma gástrico como
em 22 biópsias de metaplasia intestinal. A imunohistoquímica para p53 foi negativa
em todos os tecidos de metaplasia intestinal e positiva em 68% dos tumores (mais
frequentemente nos estágios avançados). A imunorreatividade para bcl-2 na
metaplasia intestinal e no câncer gástrico não apresentou diferença significativa,
porém bcl-2 foi expresso nos tumores precoces mais frequentemente do que nos
tumores avançados, o que poderia estar associado com o processo precoce de
carcinogênese gástrica, ocorrendo antes que outros eventos carcinogênicos fossem
adquiridos, como a mutação do p53 (FORONES, 2005). Segundo Stock e cols a
expressão de bcl2 e p53 foi maior nos tumores metastáticos do que nos não
metastáticos (STOCK, 2005).
As mutações no códon 72 do exon 4 do gene p53 têm sido estudadas, e vêm
sendo associadas ao alto risco de desenvolvimento de vários tipos de câncer. Há
autores que descrevem uma associação potencial entre o polimorfismo do códon 72
do gene p53 e o aumento da susceptibilidade de conversão maligna para diferentes
doenças neoplásicas. O polimorfismo do gene p53 que ocorre no códon 72 codifica
ou a arginina (CGC) ou a prolina (CCC). Pérez-Pérez e cols estudaram 65 pacientes
com câncer gástrico distal, e encontraram associação do genótipo Arg/Arg com o
câncer gástrico distal. O genótipo Arg/Arg ocorreu em 53,8% dos pacientes com
câncer gástrico distal, em comparação com 37,4% dos pacientes sem câncer
(PÉREZ-PÉREZ, 2005).
Yi e cols também estudaram o polimorfismo do códon 72 do p53, e o
compararam nos cânceres precoce e avançado. A partir da extração do DNA do
sangue periférico de 292 pacientes com câncer gástrico (103 precoces e 189
avançados) e de 216 controles, o polimorfismo foi determinado por PCR-RFLP. Eles
observaram um aumento marcado na frequência do alelotipo Pro/Pro nos pacientes
com câncer de estômago, principalmente nos pacientes com tumor precoce. Por
regressão logística eles concluíram que o genótipo homozigoto Pro 72 leva a um
aumento de 3,9 vezes no desenvolvimento de câncer gástrico, quando comparado
com a homozigose Arg e a heterozigose Arg/Pro, com risco de desenvolvimento de
câncer precoce de 5,35 vezes. Encontraram também que os pacientes com câncer
gástrico em anel de sinete tinham uma relação maior de genótipo Pro/Pro do que os
não anel de sinete (com diferença significativa do ponto de vista estatístico). Porém
o significado funcional desse polimorfismo é desconhecido, mas já foi relatado que
as propriedades transcripcionais dos diferentes genótipos são diferentes. Os autores
colocam que estruturas diferentes das proteínas p53 (resultantes da substituição de
Pro por Arg no códon 72) podem ter funções diferentes na responsividade a
estímulos diferentes causadas por carcinógenos diversos (YI, 2006).
O polimorfismo do códon 72 do gene p53 também foi estudado por Lai e cols.
em 51 pacientes com câncer gástrico e 59 controles, e não encontraram diferença
significativa na distribuição dos genótipos entre esses dois grupos. Quando
estudaram apenas o grupo com câncer e estabeleceram uma comparação entre os
diferentes genótipos e as variáveis idade, sexo, fumo, álcool, localização tumoral,
diferenciação histológica, envolvimento nodal, metástase à distância e estágio
tumoral, apenas encontraram resultado estatisticamente significativo entre as
diferentes localizações tumorais e genótipos. Encontraram na cárdia
predominantemente homozigose Pro, enquanto no antro e corpo encontraram
predomínio da homozigose Arg e heterozigotos. Não houve diferença significativa na
distribuição dos alelos entre os casos e os controles, mas sim na distribuição dos
alelos com relação às diferentes localizações tumorais. O alelo Arg foi mais comum
nos tumores de antro e corpo, enquanto o alelo Pro foi encontrado mais nos tumores
da cárdia. Os autores relatam que as características estruturais do exon 4 do p53
resíduos 61-94 foram bem preservadas através da evolução , o que não aconteceu
com o códon 72, o qual é alvo de polimorfismo. As diferenças nos alelos causam
mudanças na estrutura primária da proteína, sendo que as duas variantes
polimórficas apresentam habilidades diferentes para ativar transcrição, induzir
apoptose, reprimir transformação das células primárias e de ligar componentes da
maquinaria transcricional. A variante Arg da p53 seria um melhor indutor de
transcrição. Os autores sugerem que poderia ser esperado que o genótipo
homozigoto para Pro estivessse mais associado à resistência terapêutica que o
homozigoto para Arg, e abordam também o relato por outros autores de diferente
vulnerabilidade a diferentes carcinógenos conforme o genótipo, podendo ter relação
com variações étnicas na freqüência da doença (LAI, 2005).
Hiyama e cols estudaram o polimorfismo do códon 72 do gene p53 em 117
pacientes com câncer gástrico e gastrite crônica pelo H. pylori, dos quais 72 tumores
eram do tipo intestinal de Laurén e 45 do tipo difuso, e em 116 controles (pacientes
com gastrite crônica pelo H. pylori, sem câncer gástrico). As freqüências genotípicas
foram semelhantes entre os dois grupos, porém o genótipo Pro/Pro foi associado a
aumento do risco de câncer gástrico difuso de 2,98 vezes em comparação com o
genótipo Arg/Arg. Os autores concluíram que o genótipo Pro/Pro no códon 72 pode
estar implicado na susceptibilidade de desenvolver câncer gástrico do tipo difuso de
Laurén nos pacientes com gastrite crônica por H.pylori. (HIYAMA, 2002 apud
LYNCH, 2005).
Wu e cols encontraram diferença na superexpressão do p53 entre os casos
de câncer precoce e de câncer avançado de acordo com o subtipo de Laurén. No
tipo intestinal a superexpressão do p53 foi semelhante tanto nos casos precoces
como nos avançados (50% X 54,4%), enquanto que no tipo difuso foi maior nos
casos avançados do que nos precoces (50% x 16,7%), podendo significar a
ocorrência mais precoce de mutações do p53 no tipo intestinal e mais tardiamente
no tipo difuso (WU, 2000). Os autores também não encontraram relação entre a
infecção pelo Helicobacter pylori e a prevalência de alterações genéticas do p53
(entre outros supressores tumorais) com o subtipo histológico de Laurén ou o
estágio do tumor. Da mesma forma Blok e cols não encontraram diferença na
prevalência de acúmulo nuclear da p53 entre pacientes colonizados ou não por esta
bactéria ao estudar 45 casos de câncer gástrico precoce (BLOK, 1999). A infecção
estaria ligada à proliferação celular aumentada, como parte de um processo
inflamatório, com aumento na proteína selvagem p53 (MARINONE, 2001).
A partir de amostras teciduais obtidas por biópsia endoscópica em 108
pacientes com dispepsia (incluindo pacientes com exame normal, ou metaplasia
intestinal ou gastrite) e por ressecção gástrica curativa em 46 pacientes com câncer
gástrico, juntamente com a análise do DNA do sangue periférico, Li e cols
estudaram a imunopositividade para a p53, a ocorrência de instabilidade
microssatélite e a correlação com a infecção por Helicobacter pylori. A
imunohistoquímica para a p53 foi positiva com frequência maior nos pacientes com
câncer H. pylori positivo do que nos pacientes com câncer H. pylori negativo
(p=0,013). Dentre os pacientes com câncer gástrico, eles encontraram alta
instabilidade microssatélite (quando identificavam instabilidade em dois ou mais
marcadores) com frequência significativamente maior no grupo H. pylori positivo do
que no grupo H. pylori negativo, e concluíram que o H. pylori afeta o padrão da p53
na mucosa gástrica quando o sistema MMR (genes de reparo do mismatch) falha
(LI, 2005).
Dentre os genes do sistema MMR, os genes hMSH2 (human mutS homolog
2gene) e hMLH1 ( human Mut Lhomolog 1 gene) têm sido considerados como
fortemente relacionados à carcinogênese do trato digestivo. Analisando amostras
teciduais obtidas de biópsias endoscópicas de 129 casos de câncer gástrico, 74
casos de gastrite e 10 casos de mucosa normal, Jianmei e cols realizaram análise
imunohistoquímica para o hMSH2, hMLH1 e p53, além de pesquisar a infecção pelo
H.pylori pelo teste da urease e coloração pelo H-E. A taxa de expressão positiva do
hMSH2 no tecido com câncer gástrico foi maior do que a no tecido sem câncer
gástrico (p<0,001), enquanto a do hMLH1 no câncer gástrico foi menor do que a do
tecido não canceroso (p<0,01). A taxa de expressão positiva da p53 no câncer
gástrico foi maior do que a encontrada no tecido não canceroso (p, 0,01). A
imunohistoquímica positiva para hMSH2 e hMLH1 foi encontrada nos pacientes com
câncer gástrico com infecção pelo H. pylori com frequência menor do que naqueles
tecidos sem infecção (p<0,01), o mesmo acontecendo nos tecidos não câncer com
relação à infecção pelo H. pylori, porém sem significado estatístico. A expressão
positiva do p53 nos tecidos com câncer gástrico e infecção pelo H. pylori também foi
maior do que nos pacientes sem infecção, porém também sem significado estatístico
(JIANMEI, 2005).
Ikeda e cols. estudaram 88 estômagos removidos cirurgicamente devido a
câncer gástrico, e encontraram que a freqüência de expressão nuclear da p53 foi
basicamente a mesma nos doentes com câncer mínimo, precoce e avançado,
corroborando os achados que sugerem ser a ocorrência de mutação do p53 um
evento precoce na carcinogênese gástrica (IKEDA,1998).
Ohta e cols encontraram diferença na média de idade dos pacientes
com câncer gástrico de acordo com a macroscopia do tumor: os tipos
elevados acometendo mais indivíduos ao longo da sua sétima década de vida
e os tipos deprimidos acometendo mais indivíduos entre 40 e 60 anos de
idade (OHTA, 1987).
Milne e cols estudaram as alterações genéticas (padrão de expressão
molecular) encontradas em 113 casos de câncer gástrico em pacientes com
até 45 anos de idade, e o compararam com as alterações encontradas em 91
casos de câncer gástrico convencional (acima de 45 anos). Encontraram
positividade da imunofluorescência para a p53 com frequência maior nos
casos em pacientes com mais de 45 anos (48% x 31%, p=0,009). Outro
achado do trabalho foi o fato da imunopositividade da p53 estar associada
com nível aumentado de expressão da COX-2, além de encontrarem
positividade da p53 relacionada significativamente com tumores da cárdia
(p=0,007), entre outros achados (MILNE, 2006).
Com o objetivo de investigar a presença de instabilidade microssatélite
em tumores gástricos diagnosticados em indivíduos com menos de 40 anos
de idade, Hayden e cols analisaram o DNA extraído de material arquivado de
dez carcinomas gástricos (cujos pacientes possuíam entre 19 e 39 anos). Os
autores não encontraram instabilidade microssatélite (através da realização
de PCR) dentro do gene p53, encontrando porém desequilíbrio alélico dentro
dos 12 lócus microssatélites estudados. Os autores relatam que esse
desequilíbrio alélico pode ser explicado por perda de heterozigosidade ou
deleções genéticas espontâneas (HAYDEN, 1997).
Luinetti e cols pesquisaram a presença de mutação do p53 (por
procedimentos com imunoperoxidase e PCR) em 130 tumores (peças
cirúrgicas), sendo 70 casos de cânceres preoces. Eles distinguiram 2
padrões genéticos dentro dos tumores do tipo intestinal: aqueles com
instabilidade microssatélite e aqueles com mutação do p53. No tipo intestinal
as mutações tiveram distribuição semelhante entre os tumores precoces e os
avançados. O tipo misto apresentou um padrão intermediário entre o tipo
intestinal e o difuso puros, frequentemente com mutação do p53 e acúmulo
nuclear da proteína p53, porém com concentração das mesmas na fase mais
avançada da doença. Já o tipo difuso apresentou mutação do p53 em apenas
um caso, e nenhum caso foi RER+ (reparo de erros de replicação positivos)
(LUINETTI, 1998).
Com relação a imunorreatividade e/ou mutação genética do p53, Fléjou
e cols encontraram que estas são mais freqüentes nos adenocarcinomas da
cárdia do que nos do antro (FLEJOU,1999).
Sasaki e cols encontraram diferença na ocorrência de positividade para
a p53 não só no que diz respeito ao tipo histológico de adenocarcinoma, mas
também com relação ao padrão morfológico do câncer precoce, sendo a
freqüência mais alta encontrada no tipo IIc quando comparada com os tipos
IIa e IIb (SASAKI,1999). Kyokane e cols estudaram 40 casos de câncer
gástrico precoce, e os dividiram entre superficial elevado (8 casos) e
superficial deprimido (32 casos), encontrando superexpressão da p53
exclusivamente nos tumores deprimidos, não encontrando diferença neste
aspecto entre os tumores restritos a mucosa e os que atingem a submucosa
(KYOKANE,1998).
Alguns descrevem a ocorrência da mutação do p53 em uma fase mais
tardia (SOONG, 1996), assim como Igarashi e cols, que encontraram
superexpressão da p53 mais freqüentemente nos casos de câncer gástrico
avançado do que nos de precoce, não encontrando relação entre a presença
de metástases para linfonodos e a superexpressão da p53 nos dois grupos (
IGARASHI,1999). Porém estes resultados diferem de várias outras séries,
como, por exemplo, a série de Xiangming e cols. Estes autores
demonstraram uma associação positiva entre a expressão do p53 e a
ocorrência de metástases linfonodais, através da análise de 101 casos de
câncer gástrico precoce. E através de análise multivariada encontraram que a
co-ocorrência da p53 e da alfa catenina (uma das moléculas de adesão
celular) é um fator independente para o envolvimento linfonodal
(XIANGMING, 1999). Há também os genes que estão relacionados com a
ocorrência de metástases. O nm23 é um candidato a gene supressor para
metástases, e uma redução da sua expressão está freqüentemente associada
com metástases de câncer gástrico e colorretal. Tahara encontrou uma
transcrição anormal da CD44 (importante molécula de adesão celular para a
interação célula-célula) em todos os tecidos de câncer gástrico e tumores
metastáticos, observando diferença no padrão de transcrição entre os dois
tipos, sugerindo vias genéticas distintas para os dois.
Tahara também relata que a invasão e disseminação peritoneal podem
requerer não apenas anormalidades das moléculas de adesão celular, mas
também perda de heterozigosidade do braço longo do cromossoma 7. Em
estudo o autor encontrou que a perda de heterozigosidade no lócus D7S95
estava intimamente correlacionada com o pior prognóstico e a alta incidência
de disseminação peritoneal no câncer gástrico (ocorrendo mais
freqüentemente no tipo difuso), podendo conter um candidato a gene
supressor tumoral, com implicações possíveis para o prognóstico do câncer
gástrico (TAHARA, 1996).
Feng e cols estudaram por imunohistoquímica a expressão da p53, de iNOS,
e do VEGF em 55 casos de câncer gástrico submetidos a tratamento cirúrgico ( dos
quais 11 eram submucosos e os demais avançados) e em 60 pacientes
assintomáticos participantes de um programa de rastreamento endoscópico para
câncer gástrico e esofagiano na China. A imunohistoquímica para p53 foi positiva
em 51% dos tumores gástricos, sem haver diferença na mesma com relação à
profundidade do acometimento, sendo mais frequente nos tumores pouco
diferenciados. Nos materiais obtidos por biópsias os tecidos normais e com gastrite
crônica superficial apresentaram todas as imunohistoquímicas negativas. Já nos
tecidos com gastrite atrófica, metaplasia intestinal e displasia,a imunohistoquímica
para p53, iNOS e VEGF foi positiva com freqüência crescente, compatível com a
progressão histológica da lesão. A positividade da imunohistoquímica para p53 foi
mais freqüente nos tumores T2, T3 e T4 do que nos tumores T1. A
imunohistoquímica positiva para iNOS correlacionou-se positivamente com a
presença de metástases para linfonodos. Os autores concluem que p53, iNOS e
VEGF podem ser úteis como marcadores para agressividade do tumor gástrico
(FENG, 2002).
A existência ou não de um papel prognóstico para o p53 ainda não foi
totalmente definida na literatura, sendo os dados existentes ainda conflitantes. É
relatado que os tumores gástricos que contém o tipo selvagem da p53 seriam mais
quimio-sensíveis do que os que apresentam anormalidades da mesma (FENOGLIO-
PREISER, 1996). Em muitos cânceres a principal fonte de quimiorresistência seria a
presença de um fenótipo de resistência a múltiplas drogas (MDR-1), sendo que as
neoplasias que apresentassem este fenótipo superexpressariam a P-glicoproteína
(P-gp ). Lacueva e cols estudaram a expressão desta glicoproteína e da p53 e
encontraram que a perda da expressão da P-gp nestes tumores frequentemente era
acompanhada de ausência de acúmulo da p53 nos casos estudados (LACUEVA,
2000).
Há estudos que não encontraram relevância prognóstica no acúmulo da p53.
Em sua série Oiwa e cols encontraram implicações prognósticas para o acúmulo da
p53 no câncer gástrico precoce, dividindo os tumores conforme a classificação de
Imokuchi e Sugimachi (MING, 1998). Oiwa e cols. estudaram a relação entre o p53 e
o padrão de crescimento do câncer gástrico precoce em 159 casos da doença
(sendo 43 do tipo Super , 37 do tipo Pen A , 16 do tipo Pen B e 63 do tipo “Small
mucosal type “) . Sabendo-se que o padrão de crescimento é um importante fator de
prognóstico no câncer gástrico precoce, o achado de frequências diferentes na
superexpressão do p53 entre os diferentes padrões favorece a existência de
implicação prognóstica do p53 nesta doença. Cerca de 43% dos pacientes com o
tipo Pen A apresentaram expressão positiva da p53 em contraste com os 16% do
tipo Super que foram positivos para a p53. No tipo Pen B este número foi de 29%, e
no “Small mucosal type“ foi de 8%. O tipo Pen A foi o que apresentou pior
prognóstico, com menor sobrevida em 10 anos, maior incidência de invasão venosa,
além de ter maior incidência do tipo diferenciado, ser um tumor com crescimento
mais rápido, e morfologicamente manifestar-se geralmente como um tumor do tipo
elevado. As recorrências após cirurgia neste grupo ocorreram mais precocemente,
estando este tipo associado a uma alta incidência de metástases hepáticas (OIWA,
1995).
Maehara e cols afirmam que o comportamento biológico das células
cancerosas deve ser determinado nos pacientes com câncer gástrico precoce e com
prognóstico menos favorável, a fim de detectar potenciais recorrências precoces no
fígado. Com relação ao tipo macroscópico de Kodama eles afirmam que o Pen A
tem um prognóstico menos favorável devido à recorrência precoce no fígado. Este
tipo tem recorrência predominantemente hematogênica, tendo maior densidade de
microvasos. Estaria associado à instabilidade cromossômica com aneuploidia do
DNA e superexpressão da p53, angiogênese tumoral induzida por ativação do fator
de crescimento endotelial vascular, invasão vascular e metástase hematogênica. As
recorrências fatais nos pacientes operados por câncer precoce não foram melhores
do que naqueles pacientes com câncer avançado. No câncer precoce as
recorrências ocorreram mais no fígado, e estiveram associadas a tumores pequenos
com invasão maciça da submucosa. Questionou-se que o câncer precoce teria
vários padrões de crescimento, que estariam relacionados ao modo de recorrência e
prognóstico. O p53 tem sido relatado como envolvido na regulação da expressão de
VEGF, o que justificaria o papel do p53 no controle da angiogênese (MAEHARA,
2001).
Estes autores citam o trabalho prévio de Okamura e cols, e falam sobre os
possíveis efeitos da quimioterapia adjuvante no pós-operatório de pacientes com
câncer gástrico do tipo Pen A, relatando que micrometástases hepáticas podem
ocorrer mesmo após a ressecção curativa, e que são necessários estudos
randomizados controlados para elucidar o efeito da quimioterapia no pós-operatório
nestes pacientes (MAEHARA, 2001).
Nodaa e cols estudaram a expressão das proteínas p53 e p21 (por
imunohistoquímica) em 133 casos de adenocarcinomas gástricos atingindo a
submucosa, correlacionando-a com o padrão de crescimento tumoral. Encontraram
a maior incidência de expressão da p53 e perda da p21 nos tumores do tipo Pen-A
(71,4%). Novamente foi encontrado prognóstico pior nos pacientes com o tipo Pen-
A, em termos de sobrevida em 5 anos, encontrando-se uma taxa de recorrência de
14,3%. Quando se considerou a expressão do p53 e o prognóstico, foi encontrado
pior prognóstico nos pacientes p53 positivos em termos de sobrevida em 5 anos
(p=0,01 ) (NODAA,2001).
No câncer colo-retal trabalhos mostram que o tipo de ploidia do DNA
(aneuploidia, multiploidia ou diploidia) está associada com alterações genéticas
diferentes. Diante disto Sugai e cols estudaram as alterações genéticas associadas
com aneuploidia, diploidia ou multipoidia no câncer gástrico a partir do isolamento de
cripta, uma vez que o câncer gástrico compartilha alguns aspectos genéticos com o
câncer colo-retal, e o pouco conhecimento sobre a relação destas alterações e o
estado de ploidia do DNA, o que é importante para entender a carcinogênese
gástrica. A partir da técnica de isolamento de cripta, usando análise de citometria de
fluxo, eles classificaram o estado de ploidia do DNA de 54 cânceres gástricos
esporádicos, e estudaram a mutação do gene p53 através de análise por PCR-
SSCP. Encontraram poucas alterações genéticas (incluindo mutação do p53) nos
tumores diplóides, em contraste com tumores aneuplóides e multiplóides (em
particular com a população aneuplóide destes) (SUGAI, 2005).
Também com relação ao prognóstico sabemos que o câncer precoce gástrico
vai progredir em direção à serosa, levando às metástases linfáticas e/ou
hematogênicas. Com relação à presença de metástases linfonodais, Igarashi não
encontrou relação entre a superexpressão da p53 e a ocorrência de metástases
linfonodais, tanto nos casos de carcinoma precoce como nos avançados
(IGARASHI, 1999). Já Maehara e cols. relataram que a superexpressão da p53 está
associada a angiogênese tumoral e metástases a distância (MAEHARA, 2000a).
Ming e cols também relatam que as alterações do p53 têm sido relacionadas
ao grau de invasão tumoral em alguns relatos, a coesividade do crescimento
tumoral, além da ploidia do DNA e das metástases (MING, 1998). Maeta e cols
estudaram a ocorrência de mutação do p53, a detecção da p53 mutante no soro e a
produção de anticorpos anti-p53 específicos em 62 pacientes com adenocarcinoma
gástrico operados em vários estágios. Encontraram aumento estatisticamente
significativo dos níveis da p53 mutante em pacientes com estadiamento T3/T4 e
invasão de vasos sanguíneos, em comparação com pacientes com estadio T1/T2 e
sem invasão vascular. Também detectaram níveis circulantes de anticorpo anti-p53
exclusivamente em pacientes com tumores T3/T4, envolvimento nodal, invasão
linfática ou sanguínea, e em pacientes com estádio III / IV, configurando prognóstico
pior destes pacientes, com diferença estatisticamente significativa (MAETA, 2000).
Maruyama estudou 4734 casos de câncer gástrico tratados cirurgicamente, e
avaliou a importância prognóstica de variáveis relacionadas aos pacientes, aos
tumores e ao tratamento. Encontrou impacto no prognóstico para as seguintes
variáveis: metástases à distância (incluindo disseminação peritoneal, metástases
para linfonodos e metástases hepáticas) e profundidade da invasão, além de tipo
macroscópico de tumor avançado (Borrmann 4 teve prognóstico pior), localização
tumoral ( sendo o local associado a pior prognóstico o terço superior), e o grau de
diferenciação ( o tipo pouco diferenciado tendo sobrevida em 5 anos inferior aos dois
outros tipos) (MARUYAMA, 1987).
Ohashi e cols relatam já ter sido demonstrado previamente que a existência
de metástases para linfonodos no câncer gástrico precoce diminui a taxa de
sobrevida, tendo impacto no prognóstico, e que estas são comuns em tumores
submucosos, principalmente com mais de 4 cm, e do tipo difuso com invasão
vascular. Com base nesses fatos, eles estudaram 201 casos de câncer gástrico
submucoso, dos quais 39 apresentavam metástases para linfonodos. Eles
estudaram a relação entre a existência de metástases linfonodais e a idade do
paciente, sexo, tamanho tumoral, histologia, extensão da invasão submucosa,
invasão linfática e venosa, ulceração do tumor, e a imunohistoquímica para p53,
Ki67, VEGF, αfetoproteína, sLeª e células dendríticas. A imunohistoquímica foi
realizada em 191 pacientes (dos quais 38 apresentavam metástases para
linfonodos). Não houve diferença significativa nos parâmetros da imunohistoquímica
entre os pacientes com ou sem metástases para linfonodos. As metástases para
linfonodo nos tumores sm1 relacionaram-se com a expressão de VEGF, e nos
tumores sm3 com a expressão de DC. A presença de metástases para linfonodos
relacionou-se com o tamanho tumoral, a profundidade da invasão submucosa, a
invasão linfática e a invasão venosa (OHASHI, 2007).
Com a evolução do conhecimento da carcinogênese gástrica e seus múltiplos
passos envolvidos no desenvolvimento da doença, a análise molecular propiciará o
diagnóstico mais precoce e melhores opções de manejo terapêutico. Com o uso de
marcadores moleculares será mais fácil a identificação de vários subgrupos dentro
dos pacientes com câncer gástrico (EL-RIFAI, 2002).
Scartozzi e cols reforçam a necessidade de se considerar os fatores
biológicos (que são derivados freqüentemente de processos genéticos) na definição
das características tumorais, uma vez que um papel definitivo para os mesmos está
emergindo, como indicadores prognósticos e fatores preditivos, Os mesmos
acreditam que no futuro, fatores biológicos poderão ser incorporados, juntamente
com fatores clínicos clássicos, ao processo de tomada de decisão no que concerne
à terapêutica, desde que validados em estudos randomizados prospectivos
(SCARTOZZI, 2004).
Várias técnicas operatórias menos invasivas têm sido descritas para o
tratamento do câncer gástrico precoce, incluindo ressecção aberta limitada,
ressecção laparoscópica, ressecção em cunha e ressecção endoscópica da
mucosa. Kopp e cols relatam que para definir quais pacientes podem ser candidatos
a estes procedimentos menos invasivos será importante o uso de marcadores
(KOPP, 2005).
Com o objetivo de tentar definir a relevância prognóstica da imunorreatividade
da p53 e da bcl-2 em pacientes com tumor gástrico precoce invasivo pT1/pT2
tratados com cirurgias standart, eles estudaram amostras histológicas de 65
cânceres gástricos. A imunorreatividade para a bcl-2 esteve associada a tumores do
tipo intestinal de Laurén, enquanto a imunorreatividade da p53 estava aumentada
em tumores mais invasivos (pT1 X pT2). Eles encontraram a classificação T,
acometimento de linfonodos e o estadiamento da UICC como sendo parâmetros
prognósticos significativos por análise univariada, e definiram um grupo de pacientes
com sobrevida mais longa: pacientes com tumores moderadamente diferenciados
com imunohistoquímica negativa para bcl2 e p53, em relação aos tumores
moderadamente diferenciados com imunohistoquímica positiva para ambos,
encontrando também como fator de impacto independente de prognóstico a
imunohistoquímica negativa para bcl2 e p53 indenpendente do estadiamento T e do
envolvimento linfonodal. Concluíram que os resultados obtidos para este subgrupo
de pacientes podem fornecer evidências para uma nova classificação biológica para
câncer gástrico com estágios precoces no pré-operatório, com possíveis implicações
para terapêuticas menos invasivas (KOOP, 2005).
Segundo Yasui e cols o impacto do p53 no prognóstico permanece
controverso após a realização de vários estudos, e cita o fato de trabalhos mais
recentes terem demonstrado importância da expressão anormal da p53 na sobrevida
acumulada e na resposta a quimioterapia (YASUI, 2005).
4- MATERIAL E MÉTODOS
Foram estudados retrospectivamente 80 casos de adenocarcinoma gástrico
precoce matriculados no Hospital do Câncer I do Instituto Nacional de Câncer, e
submetidos a tratamento cirúrgico no período 1982 até 2001. Os dados foram
obtidos dos prontuários lotados no arquivo médico e dos prontuários eletrônicos.
Nenhum dos pacientes foi submetido à outra forma de tratamento pré-operatório,
tanto quimioterápico como radioterápico.
O câncer gástrico precoce foi definido conforme o conceito da Sociedade
Japonesa de Endoscopia Digestiva. Todos os tumores foram classificados com
relação ao grau de diferenciação com base na classificação da Organização Mundial
de Saúde. De acordo com os critérios de Laurén os tumores foram classificados em
intestinal ou difuso. Todas as lâminas contendo tecido tumoral (coradas com
hematoxilina- eosina ) foram revisadas pelo mesmo patologista. Os blocos de
parafina (fixados em formalina) com maior representatividade de tecido tumoral
foram selecionados para corte. Foram obtidos fragmentos de cerca de 3 micra,
tendo sido realizados um ou mais cortes ,de acordo com a necessidade e a
qualidade do material obtido.
4.1 IMUNOHISTOQUÍMICA
Para a pesquisa da proteína mutante do p53 foi utilizado o anticorpo
monoclonal de camundongo anti-proteína p53 humana (DAKO). Realizou-se cortes
teciduais de 3µm em lâminas aderidas à poli-L-lisina a 0,01% (P8920, Sigma-
Aldrich) que foram desparafinizadas, hidratadas e submetidas à recuperação
antigênica em panela de pressão utilizando tampão citrato pH6,0 durante 3min após
atingir pressão. A seguir, realizou-se o bloqueio da peroxidase endógena utilizando
peróxido de hidrogênio 3% durante 20 minutos. As lâminas foram lavadas 3 vezes
em tampão TBS 0,05M (TRIS Buffered Saline) por 5 min cada lavagem. Em seguida,
realizou-se a incubação overnight do anticorpo primário em câmara úmida a 4°C. No
dia seguinte, as lâminas foram lavadas em TBS 0,05M (3 X 5min) e posteriormente
foram incubadas por 30min com o anticorpo secundário universal biotinilado
(BIOTILYLATED LINK, K690, DAKO Cytomation, Denmark). As lâminas foram
lavadas com TBS 0,05M (3 X 5min) e incubadas com o terciário estreptavidina-
peroxidase (Streptavidin-HRP, K690, DAKO Cytomation, Denmark) durante 30min.
Em seguida, as lâminas foram lavadas em TBS 0,05M (3 X 5min) e reveladas com o
cromógeno 3,3’ diaminobenzidina durante 5 min (K3468, Dako Cytomation,
Denmark), contracoradas com hematoxilina de Mayer, desidratadas e montadas em
bálsamo do Canadá.Obtivemos controles positivos a partir de caso sabidamente
positivo de câncer de cólon. O controle negativo foi obtido com a inclusão de uma
lâmina onde não foi feita a incubação do anticorpo primário. De cada caso foi obtido
um corte, sendo este número ampliado caso necessário (em função da qualidade e
da representatividade do material).
Interpretação do resultado: foram considerados positivos os casos que
apresentavam acúmulo do p53 em mais de 10% dos núcleos celulares por campo
(fotos 5,6,7,8 e 9).
Foto 5- Adenocarcinoma bem diferenciado (padrão tubular) – imuno-reatividade
nuclear ao anticorpo p53 (corte histológico, x100)
Foto 6- Adenocarcinoma moderadamente diferenciado (padrão tubular) – imuno-
reatividade nuclear ao anticorpo p53 (corte histológico, x100)
Foto 7- Adenocarcinoma moderadamente diferenciado (padrão tubular) – imuno-
reatividade nuclear ao anticorpo p53 (corte histológico, x40)
Foto 8- Adenocarcinoma moderadamente diferenciado (padrão túbulo-papilífero) –
imuno-reatividade nuclear ao anticorpo p53 (corte histológico, x40)
Foto 9- Adenocarcinoma (padrão tubular) – imuno-reatividade nuclear ao anticorpo
p53 (corte histológico, x200)
4.2 PACIENTES
Cem pacientes consecutivos portadores de câncer gástrico precoce foram
submetidos a ressecção gástrica no Serviço de Cirurgia Oncológica Abdomino-
pélvica do Hospital do Câncer do Instituto Nacional do Câncer entre 1982 e 2001.
Destes 12 pacientes apresentavam mais de um tumor gástrico (tumores
sincrônicos), sendo excluídos do trabalho. Dos 88 casos restantes dois
apresentavam problemas com a qualidade do material armazenado para estudo do
p53, um apresentava problemas com o registro dos dados e cinco com o
armazenamento do material, impossibilitando a recuperação dos mesmos.
Dos oitenta pacientes restantes 37 tinham tumores intramucosos e 43
tumores que se estendiam até a submucosa. A média de idade dos pacientes foi de
60 anos. Destes 42 eram homens e 38 mulheres. Com relação à idade, os pacientes
tinham até 60 anos e mais de 60 anos. Com relação ao tamanho do tumor, os
pacientes foram agrupados em dois grupos׃ aqueles com tumor até 4cm no seu
maior eixo, e aqueles com mais de 4cm.
4.3 ANÁLISE ESTATÍSTICA
Os dados foram analisados usando o teste χ2, sendo os cálculos efetuados
através do programa SPSS-11, comparando-se o p53 com as seguintes variáveis:
idade, sexo, localização, aspecto macroscópico, tipo histológico de Laurén, grau de
diferenciação, acometimento de linfonodos, tamanho tumoral e sobrevida em 5 anos.
O nível de significância estatística foi definido como p valor inferior a 0,05.
5 RESULTADOS
5.1 VARIÁVEIS DEMOGRÁFICAS
Os pacientes foram estudados com relação à idade e ao sexo. A média etária
dos pacientes foi de 60 anos e a mediana 61 anos. A idade dos pacientes variou de
33 a 86 anos. Os pacientes foram divididos em dois grupos: aqueles com idade até
60 anos no momento da cirurgia e aqueles com mais de 60 anos. Não encontramos
nenhuma relação significativa entre a idade e as demais variáveis, exceto o tamanho
tumoral. Nos pacientes com até 60 anos houve predomínio dos tumores com até
4cm (64,1%), enquanto nos pacientes com mais de 60 anos predominaram os
tumores com mais de 4cm ( 58,5%), sendo esta relação estatisticamente significativa
(p=0,043). Com relação ao sexo, 42 pacientes (52,5%) eram homens e 38 (47,5%)
eram mulheres. A variável sexo não apresentou relação com nenhuma das demais
variáveis estudadas, porém houve uma tendência a uma maior sobrevida em cinco
anos nas mulheres ( 91,2% x 74,2%), embora não tenha sido encontrado significado
estatístico ( p=0,068). Quando dividimos os pacientes em dois grupos, encontramos
os resultados que se seguem: o grupo dos pacientes com tumor restrito à mucosa foi
composto por 37 pacientes, sendo a média de idade de 59,89 anos, com idade
mínima de 36 anos e máxima de 86, com mediana de 59 anos. Destes 21 (56,8%)
eram homens e 16 (43,2%) eram mulheres.
Já o grupo dos tumores com invasão até submucosa foi composto por 43
pacientes, com média etária de 60,1 anos, com idade mínima de 33 anos e máxima
de 83 anos, com mediana de 62 anos. A distribuição por sexo foi a seguinte: 22
(51,2%) eram mulheres e 21 (48,8%) eram homens.
5.2 TIPO HISTOLÓGICO E GRAU DE DIFERENCIAÇÃO
Com relação ao tipo histológico de Laurén, analisando todos os casos em
conjunto foram encontrados 37 tumores do tipo difuso (46,25%) e 43 do tipo
intestinal (53,75%). Com relação ao grau de diferenciação, encontramos 37 tumores
pouco diferenciados (G3), 30 tumores de moderado grau de diferenciação (G2) e 13
tumores bem diferenciados (G1). O tipo histológico foi comparado com as demais
variáveis estudadas, tendo sido encontrada significado estatístico na relação do
mesmo com o grau de diferenciação: 100% dos tumores difusos foram classificados
como pouco diferenciados. os tumores intestinais foram classificados quanto ao
grau de diferenciação da seguinte forma: 71,4% como moderadamente
diferenciados e 28,6% como bem diferenciados (p<0,00001). Os tumores difusos
também apresentaram uma freqüência maior de envolvimento linfonodal (26,3%) em
comparação com os tumores intestinais, embora não tenha sido encontrada uma
relação significativa entre estas duas variáveis (p=0,099). Com relação ao tipo
macroscópico, houve um aumento da freqüência das formas elevadas nos tumores
intestinais: neste grupo 30,95% dos tumores foram elevados e 69,05% deprimidos,
em comparação com 2,6% de tumores elevados e 97,4% de tumores deprimidos nos
tumores difusos (p=0,001) (tabela 2).
Tabela 2-Relacão entre o tipo histológico de Laurén e o aspecto macroscópico do
tumor.
Tipo difuso Tipo intestinal Total
Tumor elevado 1 (7,1%) 13 (92,9%) 14 (100%)
Tumor deprimido 37 (56,1%) 29 (43,9%) 66 (100%)
Total 38 (47,5%) 42 (52,5%) 80(100%)
O grau de diferenciação tumoral também apresentou associação com o tipo
macroscópico: nos três tipos possíveis de tumores com relação ao grau de
diferenciação houve predomínio das formas deprimidas, porém houve uma maior
freqüência de tumores elevados nos tipos bem diferenciados e moderadamente
diferenciados em relação aos poucos diferenciados (p=0,002) (tabela 3).
Tabela 3-Freqüência dos tipos macroscópicos encontrados com relação ao grau de
diferenciação tumoral.
TUMORES ELEVADOS TUMORES DEPRIMIDOS Total
G1 5 (38,5%) 8 (61,5%) 13 (100%)
G2 8 (26,7%) 22 (73,3%) 30 (100%)
G3 1 (2,7%) 36 (97,3%) 37 (100%)
Total 14 (17,5%) 66 (82,5%) 80 (100%)
Nos pacientes com tumores restritos à mucosa foram encontrados 19
adenocarcinomas do tipo intestinal (51,4%) e 18 do tipo difuso (48,6%). no grupo
dos tumores aa submucosa, foram encontrados 20 (46,5%) carcinomas difusos e
23 (53,5%) carcinomas intestinais. No subgrupo dos tumores intramucosos houve
predomínio dos tumores pouco diferenciados, respondendo por 48,6% destes (18
casos), com cerca de 24,3% sendo tumores bem diferenciados ( 9 casos ) e 27% de
tumores moderadamente diferenciados (10 casos). Enquanto isso nos tumores
submucosos, encontramos 3 tumores G1 (7,0%), 20 G2 (46,5%) e 20 tumores G3
(46,5%).
5.3 MORFOLOGIA DA LESÃO
Com relação ao aspecto macroscópico do tumor, optamos por agrupa-los em
dois grupos principais, com relação ao componente predominante e suas
implicações prognósticas: tumores elevados ou deprimidos. Em ambos os grupos
predominaram tumores cujo aspecto macroscópico da lesão era deprimido. No total
de 80 pacientes apenas 14 (17,5%) lesões eram elevadas, enquanto 66 (82,5%)
eram deprimidas.
Além da relação estatisticamente significativa encontrada entre o tipo
macroscópico, o tipo histológico de Laurén e o grau de diferenciação já citada, o tipo
macroscópico também apresentou relação significativa com a localização do tumor.
No terço superior do estômago houve predomínio das formas elevadas (66,66% x
34,44%), enquanto nos dois terços distais houve predomínio das formas deprimidas
(84,44% x 16,66%) (p=0,022) (tabela 4). Porém devemos ressaltar que o número de
tumores localizados no terço superior em nossa rie foi muito pequeno, sendo
apenas três, o que dificulta a valorização desse resultado.
Tabela 4-relação entre o aspecto macroscópico do tumor e a localização.
Localização Tumor elevado Tumor deprimido Total
Terço superior 2 (14,3%) 1 (1,5%) 3 (3,8%)
Dois terços distais
12 (85,7%) 65 (98,5%) 77 (96,3%)
Total 14 (100%) 66 (100%) 80 (100%)
5.4 LOCALIZAÇÃO DA LESÃO
Com relação a localização dos tumores, os tumores foram divididos em quatro
grupos: o grupo dos tumores localizados no terço inferior, o grupo dos tumores
localizados no terço médio, o dos tumores localizados nos terços médio-inferior, e o
dos localizados no terço superior. O local de ocorrência mais freqüente foi o terço
inferior do estômago: 39 casos (48,8%) estavam situados nesta topografia, 23
(28,8%) tinham localização médio-inferior, 15 (18,8%) estavam situados no terço
médio e apenas 3 casos (3,8%) no terço superior. Optamos por agrupar os tumores
em dois grupos principais: os localizados no terço superior e os localizados nos dois
terços distais. Além da relação significativa do ponto de vista estatístico entre a
localização tumoral e o tipo macroscópico, também encontramos relação entre a
localização dos tumores e a sobrevida em 5 anos. Os tumores do terço superior do
estômago apresentaram uma sobrevida menor em 5 anos: 33,3% em comparação
com a sobrevida encontrada para os tumores do resto do órgão (82,8%) (p=0,034)
(tabela 5). Novamente ressaltamos o fato de termos encontrado somente três
tumores no terço superior.
Tabela 5-Relação entre a localização tumoral e a sobrevida em 5 anos.
Localização Vivo após 5 anos Morto após 5 anos Total
Terço superior 1 (33,3%) 2 (66,7%) 3 (100%)
Dois terços distais 53(82,8%) 11(17,2%) 64 (100%)
Total 54(19,4%) 13 (80,6%) 67 (100%)
Nos tumores intramucosos foi encontrada a seguinte distribuição: 15 tumores
no terço inferior (40,5%), 12 médio-inferior (32,4%), 10 no terço médio (27%) e
nenhum no terço superior (0%). Entre os tumores até submucosa 24 estavam
situados no terço inferior (55,8%), 11 médio-inferior (25,63%), 5 no terço dio
(11,6%) e 3 no terço superior ( 7%).
5.5 METÁSTASES PARA LINFONODOS
Apenas 15 pacientes (18,8%) apresentavam metástases para linfonodos no
momento da cirurgia. A variável linfonodo não apresentou relação significativa do
ponto de vista estatístico quando comparada com as demais variáveis.
Quando dividiu-se os pacientes em dois grupos, foram encontrados os
seguintes resultados: no grupo dos tumores intramucosos este número foi de 4
(10,8%) , aumentando para11 no grupo dos tumores submucosos ( 25,6% ).
5.6 TAMANHO TUMORAL
Os casos foram analisados tanto com relação ao tamanho de cada tumor
isoladamente, assim como também foram agrupados como tumores com até 4cm no
seu maior eixo e tumores com mais de 4cm. Quando se comparou o tamanho
tumoral com as demais variáveis, encontramos relação entre este e a idade dos
pacientes (já citado anteriormente ) apenas.
5.7 p53
Dos 80 casos estudados 22 pacientes (27,5%) apresentaram positividade
para a p53 pela técnica empregada, distribuídos da seguinte forma entre os dois
grupos: 9 pacientes entre os 37 nos tumores intramucosos ( 24,3% ) e 13 pacientes
entre os tumores submucosos (30,2%).
Inicialmente comparou-se o p53 com as demais variáveis nos 80 pacientes
estudados, independente de serem limitados à mucosa ou submucosa, e foi
encontrada diferença estatística significante apenas quando comparada a p53 com o
tipo macroscópico, o tipo histológico de Lauren e o grau de diferenciação. A
positividade da p53 foi encontrada com freqüência maior no tipo intestinal (18 casos
com imunohistoquímica positiva 81,8% dos casos p53 positivos) em comparação
com a positividade da p53 encontrada no tipo difuso (4 casos apenas,
correspondendo a 18,2% dos casos p53 positivos), com significado estatístico
(p=0,003) (tabela 6).
Tabela 6-Frequência da positividade da p53 conforme o tipo histológico de Laurén
P53 Intestinal Difuso Total
Positivo 18 (81,8%) 4 (18,2%) 22 (100%)
Negativo 24 (41,4%) 34 (58,6%) 58 (100%)
Total 42 (52,5%) 38 (47,5%) 80 (100%)
Com relação ao grau de diferenciação, a positividade da p53 foi encontrada
com frequência maior no tipo bem diferenciado (em 6 casos - 46,15% dos casos
bem diferenciado), seguido do tipo moderadamente diferenciado (12 casos positivos-
40% dos casos moderadamente diferenciados) , sendo o grupo com frequência
menor o do tipo pouco diferenciado ( apenas 4 casos com imunohistoquímica
positiva- 10,8% dos casos pouco diferenciados)(tabela 7). Esta relação da
imunoexpressão da p53 com o grau de diferenciação apresentou significado
estatístico (p=0,007).
Tabela 7-Relação entre o grau de diferenciação tumoral e a positividade da p53
A comparação do aspecto macroscópico do tumor com a imunopositividade
do tumor para a p53 mostrou que esta foi encontrada com freqüência maior nas
formas elevadas em relação às formas deprimidas. Nos tumores do tipo elevado (14
casos ao todo) sete casos (50%) apresentaram imunohistoquímica positiva para a
p53, em comparação com 15 casos (22,7%) em um total de 66 tumores deprimidos
(p=0,038) (tabela 8).
P53 G1 G2 G3 Total
Negativa 7 (12,1%) 18 (31%) 33 (56,9%) 58 (100%)
Positiva 6 (27,3%) 12 (54,5%) 4 (18,2%) 22 (100%)
Total 13 30 37 80(100%)
Tabela 8-Relação entre a positividade da p53 e o tipo macroscópico.
P53 Elevados Deprimidos Total
Negativa 7 (50%) 51 (77,3%) 58 (72,5%)
Positiva 7 (50%) 15 (22,7%) 22 (27,5%)
Total 14 (100%) 66 (100%) 80(100%)
Embora não tenha sido encontrada relação significativa do ponto de vista
estatístico entre a p53 e o tamanho tumoral, houve uma tendência a uma maior
positividade da p53 nos tumores até 4 cm (p=0,084).
No grupo dos tumores intramucosos (tabela 9), quando comparada a
positividade da p53 com as variáveis tipo histológico de Laurén, grau de
diferenciação, sexo, ocorrência de metástases linfonodais, tamanho e localização do
tumor, os valores do χ2 encontrados identificaram não haver diferença significativa
quanto a positividade da p53. Porém quando a comparação foi realizada com a
idade dos pacientes, houve diferença significativa: a positividade da p53 foi
encontrada com frequência maior entre os pacientes com mais de 60 anos do que
naqueles com idade até 60 anos. (10,52% e 38,8%, respectivamente) (p=0,044).
Também houve relação entre a positividade da p53 e o tipo macroscópico neste
grupo de pacientes: a positividade da p53 foi encontrada com frequência maior nos
tumores elevados em relação aos tumores deprimidos-60% x 18,75% (p=0,046).
Vale a pena ressaltar que tais achados podem ter sido influenciados pelo
pequeno número de tumores elevados (5 casos neste grupo), dos quais três foram
positivos com relação ao p53 ( totalizando 60% de positividade ).
Já no grupo submucoso (tabela 10) a comparação da positividade do p53 com
as variáveis sexo, localização, metástases para linfonodos, revelou valores do teste
de χ2 que foram considerados o significativos, ou seja, não diferiram quanto a
positividade ou não da p53. Porém quando divididos os tumores com relação ao
tamanho em aqueles com até 4cm no seu maior eixo e aqueles com mais de 4cm, a
positividade da p53 foi encontrada com frequência maior no grupo dos tumores com
até 4cm (52,17% x 5,26%) (p=0,001). A comparação da positividade do p53 com o
grau de diferenciação mostrou haver diferença significativa (χ2=15,028) (p=0,001).
Nos tumores G1 100% dos mesmos apresentaram positividade da p53 por
imunohistoquímica, enquanto nos tumores G2 este valor caiu para 45% e nos G3
para 5%. Com relação ao tipo histológico também foi encontrada diferença
estatística pelo teste do χ2, observando-se haver maior positividade da p53 no tipo
intestinal (52,2% x 5%, χ2=11,287 e p=0,001) (tabela 11). Também encontramos
relação entre a idade e a positividade do p53: a mesma foi maior na parcela dos
pacientes com até 60 anos (45%), em comparação com os pacientes com mais de
60 anos (17,4%) (p=0,049).
Tabela 9-relação dos casos p53 dentre os tumores limitados a mucosa.
Paciente Sexo Idade local Tamanho (cm) Morfologia
Histologia Diferenciação
Celular
Linfonodos
1 M 70 inf 5,0 IIc +III Difuso G3as +
2 M 86 m-inf 5,0 I Intestinal G1 -
3 M 59 inf 3,5 III Intestinal G2 -
4 F 74 med 4,5 I Intestinal G1 -
5 F 82 med 4,0 IIc + III Difuso G3 -
6 F 84 inf 5,0 IIc Difuso G3as -
7 M 61 med 2,4 IIa Intestinal G1 -
8 M 77 inf 5,0 IIc Intestinal G2 -
9 M 51 m-inf 8,0 IIc+III Intestinal G2 -
Tabela 10-relação dos casos p53 positivos dentre os tumores submucosos
.
Paciente Sexo Idade Local Tamanho Morfologia Histologia Diferenciação
Celular
Linfonodos
1 F 72 Inf 3,2 I Intestinal G2 +
2 M 51 m-inf 2,0 III Intestinal G2 -
3 F 58 Inf 3,4 IIc Difuso G3 +
4 M 78 Sup 3,0 IIa Intestinal G2 -
5 M 58 Sup 1,2 I Intestinal G1 -
6 M 57 Inf 2,6 I Intestinal G1 -
7 M 77 m-inf 3,5 III Intestinal G1 +
8 F 53 Inf 2,5 IIc Intestinal G2 -
9 F 44 Inf 2,5 IIc Intestinal G2 -
10 M 53 Med 3,5 III + IIc Intestinal G2 -
11 M 39 Med 2,0 IIc + III Intestinal G2 -
12 F 55 Inf 2,5 III Intestinal G2 -
13 F 75 Inf 5 IIc+III Intestinal G2 -
Tabela 11–Comparação do tipo histológico de Laurén com a positividade da p53 nos
tumores submucosos.
Tipo histológico de Laurén
p53 positiva p53 negativa
Intestinal 12 pacientes 11 pacientes
Difuso 1 paciente 19 paciente
5. 8 SOBREVIDA
Dos 80 pacientes estudados a sobrevida em 5 anos só foi estudada em
apenas 67 pacientes (81,25%). Os demais 13 pacientes não puderam ser
acompanhados por pelo menos 5 anos. Dos 80 pacientes incluídos no estudo, 15
evoluíram para óbito, sendo que 13 destes antes de completarem 5 anos de cirurgia,
e 2 pacientes após este período. As causas de óbito foram variadas, sendo 5 casos
devidos a complicações no pós-operatório ( 2 casos de deiscência de sutura, 1 caso
de abscesso retroperitoneal com sepse, hemoperitônio, 1 caso de morte súbita no
terceiro dia de pós-operatório). Dois pacientes faleceram com menos de cinco anos
de follow up devido a segundo tumor primário (adenocarcinoma de cabeça de
pâncreas e carcinoma epidermóide de cordas vocais). As causas dos demais óbitos
foram as seguintes׃
-1 paciente falecido por TCE após 19 meses de cirurgia;
-1 paciente por tamponamento cardíaco, cerca de 17 meses após a cirurgia;
-1 paciente falecido cerca de 2 anos e meio após a cirurgia, tendo sido
constatada presença de massa epigástrica ao exame físico, tendo realizado
ultrassonografia abdominal que foi normal, evoluindo para óbito antes que a
investigação pudesse ser estendida;
-1 paciente evoluiu para óbito com quase 5 anos e 10 meses de seguimento
pós-cirúrgico devido a estrongiloidíase disseminada;
-1 paciente evoluiu para óbito após 8 anos e 6 meses de seguimento, devido
a complicações no pós-operatório de colecistectomia eletiva, evoluindo no terceiro
dia de pós-operatório com insuficiência respiratória e óbito;
-1 paciente evoluiu para óbito com dias de seguimento devido a complicações
da cirurgia: peritonite e sepse abdominal;
-1 paciente deu entrada na emergência do hospital em parada cardio-
respiratória, evoluindo para óbito, o sendo possível identificar a causa. Vinha em
acompanhamento ambulatorial, sem sinais de recidiva da doença. Havia sido
submetida a tratamento cirúrgico para o tumor gástrico aproximadamente 1 ano e
10 meses.
-1 paciente evoluiu para óbito após ter sido atendido no hospital com quadro
de ascite, tendo o exame citopatológico do líquido ascítico revelado adenocarcinoma
metastático. A tomografia omputadorizada de abdome revelava múltiplas lesões
hepáticas, evoluindo em três dias para óbito (faltavam apenas 5 dias para que o
paciente completasse 5 anos de cirurgia)
Dos 67 pacientes que não haviam a princípio falecido após 5 anos de
seguimento,13 casos haviam sido perdidos ao longo deste período e 54 estavam
vivos. Desta forma a sobrevida em 5 anos foi de 80,59%, sendo de 78,57% para
tumores intramucosos e 81,48% para tumores submucosos. Nenhuma das mortes
ocorreu sabidamente por recidiva da doença, podendo ser questionada apenas em 2
pacientes (o que apresentava massa epigástrica ao exame físico e o que
apresentava adenocarcinoma metastático para peritônio), os quais apresentavam
tumores submucosos. As demais mortes ocorreram por causas o diretamente
relacionadas à doença de base.
Houve um total de 15 óbitos, sendo sete casos entre os tumores intramucosos
(1caso por causa não identificada, 2 óbitos por sepse, 1 óbito por TCE, 1 óbito por
estrongiloidíase disseminada e 2 por desenvolvimento de segundos tumores
primários, os quais evoluíram ) e 8 entre os tumores submucosos ( 1 óbito por
tamponamento cardíaco, 4 por complicações no pós-operatório precoce, 1 no pós-
operatório de outra cirurgia eletiva, 1 por causa não conhecida, 1 caso por
adenocarcinoma metastático e 1 caso com massa epigástrica com ultrassonografia
abdominal normal).
Quando comparados separadamente os pacientes com imunohistoquímica
positiva para a p53 com os com imunohistoquímica negativa, excluindo-se os casos
perdidos, encontrou-se uma sobrevida em 5 anos de 81,3% e de 83,7%,
respectivamente. A sobrevida foi semelhante nos dois grupos, como pode ser
viasualizado pela curva de Kaplan Meyer, não sendo demonstrada nenhuma
relação estatisticamente significativa entre esta variável e as demais.
Survival Functions
TEMPO DE SEGUIMENTO
2001000-100
Cum Survival
1,02
1,00
,98
,96
,94
,92
,90
,88
,86
,84
P53
1,0
1,0-censored
,0
,0-censored
Figura 2-curva de Kaplan-Meyer mostrando as curvas de sobrevida muito semelhantes entre
os pacientes com tumores p53 positivos e p53 negativos. Cum Survival = sobrevida
acumulada; survival functions= funções de sobrevida; censored=censurado.
6 DISCUSSÃO
A mutação do gene p53 é um evento precoce na carcinogênese gástrica,
podendo ocorrer no adenocarcinoma gástrico precoce e em lesões precursoras de
tumores gástricos. No presente trabalho encontrou-se que 27,5 % dos tumores
gástricos precoces apresentavam positividade para a p53 no tecido, sendo este
número de 30,2% nos tumores até submucosa e 24,3% nos tumores restritos à
mucosa. Este resultado é compatível com os resultados da literatura, em que a
freqüência da positividade da p53 é variável (relatos variam entre 21,3 a 60%).
Os resultados não demonstraram nenhuma relação entre a positividade da
imunohistoquímica para a p53 (assumindo-se que a mesma é igual à ocorrência da
mutação do gene p53) e as variáveis que poderiam configurar implicação
prognóstica da mesma, que seriam a ocorrência de metástase para linfonodos , a
sobrevida em 5 anos e a sobrevida livre de doença. Porém o fato de estudar uma
doença onde a sobrevida em 5 anos é alta, e a morte por doença é um fenômeno de
baixa ocorrência, pode ter influenciado os resultados obtidos. Possivelmente seria
necessária uma casuística muito maior para que se pudesse encontrar uma relação
estatisticamente significante. As implicações prognósticas da mutação do p53 são
relatadas e demonstradas na literatura (XIANGMING, 1999; OIWA, 1995;
MAEHARA, 2000, 2001; NODAA, 2001), e a taxa de recorrência pode aumentar
consideravelmente quando o período de seguimento dos pacientes é longo.
Encontrou-se que a ocorrência de mutação da p53 esteve relacionada na
nesta série com o tipo histológico de Laurén e o grau de diferenciação, sendo mais
freqüente no tipo intestinal de Laurén e no tipo bem diferenciado. Essa freqüência
aumentada da mutação do p53 no tipo intestinal é descrita na literatura, e também é
relatada na série de Sud e de Wang (WANG, 2001). Segundo Tahara a mutação do
p53 estaria incluída no grupo das alterações genéticas que são encontradas na
progressão tumoral dos dois tipos de Laurén, em momentos diferentes. Segundo os
achados de Wu (2000) o que poderia ser diferente seria o momento da ocorrência
da mutação nos dois tipos, sendo um evento mais precoce no tipo intestinal e mais
tardio no tipo difuso (ocorreria com a mesma freqüência dos tumores intestinais
tanto precoces como avançados, sendo encontrada nos tumores difusos avançados
com freqüência maior do que nos precoces). Também poderia significar uma
evolução do tipo intestinal para o tipo difuso durante a carcinogênese gástrica. O
presente estudo abrange apenas tumores gástricos precoces, permitindo somente
concluir que a mutação no câncer gástrico precoce é encontrada com freqüência
maior no tipo intestinal de Laurén.
Também foi encontrada relação entre a mutação do p53 e o tipo
macroscópico do tumor, ocorrendo com freqüência maior nos tumores elevados. Os
achados diferem de relatos prévios de Sasaki e Kyokane, que encontraram maior
prevalência de mutação do p53 nas formas deprimidas de tumor gástrico precoce.
Na presente série de um total de 80 pacientes, 14 tumores foram considerados
elevados (destes 14 tiveram imunohistoquímca positiva-50%-e 14 negativa), em
comparação com os 66 restantes, que foram predominantemente deprimidos (destes
apenas 15-22,7%-tiveram imunohistoquímica positiva). Embora os dados difiram dos
relatos prévios, foram considerados representativos, dada a menor prevalência dos
tumores elevados e o valor de p encontrado no teste qui-quadrado (p=0,038).
Com relação ao fato de não ter sido encontrada relação estatisticamente
significante entre a imunopositividade do p53 e o tamanho tumoral, e sim apenas
uma tendência a maior positividade no grupo dos tumores até 4 cm, esse achado
pode estar relacionado à maior prevalência de imunopositividade do p53 no tipo
intestinal, sabendo-se que a frequência do tipo intestinal aumenta com a diminuição
das dimensões do câncer gástrico precoce. Ou seja, no grupo dos tumores menores
é mais freqüente o tipo intestinal de Laurén, sendo a positividade do p53 mais
freqüente neste último.
A comparação das variáveis entre si revelou a relação entre o tipo histológico
de Laurén e o grau de diferenciação com o aspecto macroscópico do tumor, além
obviamente da relação existente entre o tipo de Laurén e o grau de diferenciação: o
aumento da freqüência dos tumores elevados nos tumores intestinais em relação
aos difusos e a maior freqüência de tumores elevados nos tumores bem e
moderadamente diferenciados. Tais achados permitem concluir que nesta amostra
os tumores que são classificados tanto como intestinais, moderadamente ou bem
diferenciados, e macroscopicamente elevados, têm uma probabilidade maior de
terem imunohistoquímica positiva para a p53. Estes tumores frequentemente
originam-se de lesões precurssoras ( metaplasia intestina, displasia), podendo a
mutação do p53 estar presente desde estes estágios iniciais, o que poderia estar
relacionado a existência de um processo inflamatório crônico na topografia da lesão,
no qual poderia estar implicada também a infecção por H. pylori. Tal processo
crônico levaria a proliferação celular aumentada, o que poderia estar implicado no
aumento do número de células, e no aparecimento de lesões elevadas com
frequência maior neste tipo de Laurén. Li e cols ( 2005) demonstraram que a
infecção por H. pylori está associada a aumento da freqüência da mutação do p53
no câncer gástrico, além do aumento da freqüência do achado de instabilidade
microssatélite nestes tumores. A maioria dos tumores com alta instabilidade
microssatélite e infecção pelo H. pylori apresentavam imunoexpressão para p53,
enquanto esta não foi encontrada em nenhum tumor com instabilidade microssatélite
sem detecção do H. pylori.
O predomínio dos tumores elevados no terço superior do estômago, embora
diante do pequeno número de tumores nesta topografia, apresenta coerência com o
achado de maior freqüência de positividade do p53 nos tumores elevados, e o relato
da literatura de achado mais freqüente de tumores p53 positivos nesta topografia
(FLEJOU, 1999), embora não se tenha conseguido demonstrar relação entre a
positividade da imunohistoquímica para p53 e a localização do tumor.
Os pacientes com tumores localizados no terço superior do estômago
apresentaram uma sobrevida em 5 anos menor do que os tumores localizados no
restante do órgão, configurando um pior prognóstico para os tumores localizados
nesta topografia, embora não se tenha conseguido estabelecer uma relação entre a
localização tumoral e o acometimento de linfonodos. O baixo número de tumores
nesta topografia na presente amostra inviabiliza a valorização deste achado.
Na literatura não encontramos evidências de relação entre a idade dos
pacientes e o tamanho tumoral, como foi encontrado entre os pacientes. A idade já
foi relacionada com o tipo macroscópico de tumor, o tipo histológico de Laurén e
também com a imunopositividade da p53, o que não consegui-se demonstrar no
presente trabalho.
7 CONCLUSÕES
-a positividade da p53 no câncer gástrico precoce não apresentou implicação
prognóstica;
-a mutação do p53 é mais frequente no tipo intestinal de Laurén, nos tumores
moderadamente e bem diferenciados e nos tumores elevados. A frequência
aumentada da positividade da p53 no câncer gástrico precoce do tipo intestinal pode
estar relacionada à ocorrência mais precoce da mutação do p53 nestes tumores em
relação ao tipo difuso.
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10 ANEXOS
ANEXO A- Associações realizadas entre as variáveis e valores dos testes não-
paramétricos de χ2 e nível p de significância.
Associações χ2 P valor
Tamanho x idade 4,108 0,043
Tamanho x localização 0,251 0,616
Tamanho x aspecto macroscópico 0,043 0,837
Tamanho x sobrevida 1,867 0,172
Tamanho x grau de diferenciação 0,774 0,679
Tamanho x acometimento linfonodal 0,005 0,943
Sexo x localização tumoral 2,820 0,093
Sexo x tipo de Lauren 0,764 0,382
Sexo x grau de diferenciação 1,375 0,503
Sexo x acometimento linfonodal 0,252
0,616
Sexo x sobrevida em 5 anos 1,227 0,268
Sexo x aspecto macroscópico 0,147 0,702
Sexo x idade 0,045 0,832
Sexo x tamanho tumoral 1,749 0,186
Grau de diferenciação x acometimento linfonodal 2,860 0,239
Grau de diferenciação x aspecto macroscópico 12,419 0,002
Localização x tipo de Lauren 2,820 0,093
Localização x grau de diferenciação 2,886 0,236
Localização x acometimento linfonodal 0,719 0,396
Localização x sobrevida em 5 anos 4,486 0,034
Localização x aspecto macroscópico 5,219 0,022
Acometimento linfonodal x sobrevida em 5 anos 0,167 0,683
Acometimento linfonodal x aspecto macroscópico 0,222 0,638
Tipo de Lauren x grau de diferenciação 80,00 0,000
Tipo de Lauren x acometimento linfonodal 2,720 0,099
Tipo de Lauren x sobrevida em 5 anos 0,752 0,386
Tipo de Lauren x aspecto macroscópico 11,083 0,001
Idade x grau de diferenciação 3,639 0,162
Idade x localização 0,297 0,586
Idade x sobrevida em 5 anos 0,062 0,803
Acometimento linfonodal x idade 0,032 0,858
Idade x tipo de Lauren 0,201 0,654
Idade x aspecto macroscópico 0,236 0,627
Tamanho x tipo de Lauren 0,764 0,382
Grau de diferenciação x sobrevida em 5 anos 1,131 0,568
P53 x idade 0,019 0,890
P53 x sexo 0,529 0,467
P53 x localização 2,398 0,121
P53 x aspecto macroscópico 4,309 0,038
P53 x tipo de Lauren 10,459 0,001
P53 x grau de diferenciação 10,889 0,004
P53 x sobrevida em 5 anos 0,045 0,832
P53 x acometimento linfonodal 0,006 0,936
P53 x tamanho tumoral 2,992 0,084
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