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FAMÍLIAS DE PACIENTES GRAVES INTERNADOS EM
CENTRO DE TERAPIA INTENSIVA: DESCREVENDO SUAS
ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO
Katya Masae Kitajima Borges
Dissertação apresentada à Faculdade de Medicina da Universidade Federal
do Rio de Janeiro como requisito parcial à obtenção do Título de Mestre
em Clínica Médica
Área: Terapia Intensiva
Orientadores: Professor Cid Marcos David
Professora Márcia Gomide Mello
Rio de Janeiro
Maio, 2008
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BORGES, Katya Masae Kitajima
Famílias de pacientes graves internados em terapia intensiva: Descrevendo suas
estratégias de enfrentamento / Katya Masae Kitajima Borges. Rio de Janeiro: UFRJ /
Faculdade de Medicina, 2008.
ix, 61f.: il; 31 cm.
Orientadores: Cid Marcos Nascimento David e Márcia Gomide Mello
Dissertação (mestrado) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de
Medicina, Programa de Pós- Graduação em Clínica Médica, 2008.
Referências bibliográficas: f. 50-53
1. Família. 2. Terapia Intensiva 3. Estratégias de Enfrentamento. 3. Aspectos
Psicológicos. 4. Estresse – Tese. I. David, Cid Marcos Nascimento. II. Mello. Márcia
Gomide. III. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Faculdade de Medicina. Programa
de Pós- Graduação em Clínica Médica. IV. Título
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DEDICATÓRIA
Às minhas famílias de origem e nuclear
Aos meus avôs, pela construção de minhas crenças principais.
À minha mãe, pelo amor intenso e pela eterna presença. Saudade imensa de
você.
Ao meu pai, por acreditar e incentivar as escolhas que fiz na vida.
Aos meus irmãos, pela parceria e boas lembranças da infância.
Ao meu marido José, pelo apoio, amor e por fazer parte da minha vida.
Ao meu filho José Pedro, por ser a minha fonte de vida, ensinamento e alegria.
Aos meus filhos grandes Rodrigo e Fernando, pelo carinho e presença.
4
AGRADECIMENTOS
A todas as famílias entrevistadas, pela disponibilidade mesmo em momento de
fragilidade.
Ao professor Cid, pelo conhecimento e pelas perguntas provocativas que fizeram
com que me empenhasse na construção desta pesquisa. Obrigada pela orientação
minuciosa, firme e ao mesmo tempo carinhosa.
À professora Márcia, minha orientadora internacional, que na finalização dessa
pesquisa pode me orientar mesmo com sua “web-presença”, obrigada por me apresentar
essa nova forma de fazer ciência e principalmente pela sua disponibilidade.
Aos professores Ana Elisa, Glória e Jorge Eduardo pelas valiosas contribuições.
À Professora Mariângela Savoia pela disponibilidade em responder às minhas
duvidas.
Aos professores e funcionários da Pós Graduação, pelas aulas dinâmicas e pelas
orientações.
Ao CTI do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho por disponibilizar o
espaço para realização desta pesquisa.
Aos amigos da AMIB e da SOTIERJ, pelo incentivo e trabalho em grupo.
Às pacientes da Associação de Apoio à Mulher com Neoplasia, pela
possibilidade de aprender com vocês o sentido das palavras determinação e coragem.
À querida Mayla, amiga, sócia, parceira, obrigada por ficar a frente nesse tempo.
Aos meus queridos alunos , estagiários pelo aprendizado que tenho com todos.
Aos colegas psicólogos, psiquiatras, médicos, enfermeiros, técnicos de
enfermagem, fisioterapeutas, assistentes sociais, nutricionista, secretárias... pelo
trabalho interdisciplinar.
Aos professores e colegas do Instituto de Terapia de Família pelos quatro anos
de trocas e enriquecimento profissional.
À Clínica São Vicente, por ter me proporcionado mais que experiência
profissional.
Ao CTI do Hospital da Ordem Terceira, pela confiança, incentivo e
reconhecimento.
Ao Ailson Soares pelo cuidado mais que médico.
E a todas as pessoas que contribuem pra eu ser uma pessoa e uma profissional
melhor.
5
A trajetória de cada um legitima a nossa identidade, se consolida a partir de nossas
relações, que se constitui como processo em aberto, escrito pelas histórias de vida
pregressa e as que se constroem no dia a dia nos diferentes contextos, os quais
precisam ser apreendidos, para que as histórias façam sentido.
(Carlos Sluzki, 1997)
6
SUMÁRIO
Página
1. INTRODUÇÃO ..............................................................................................................10
2. OBJETIVOS ...................................................................................................................17
2.1 Objetivo Geral..............................................................................................................17
2.2 Objetivos Específicos...................................................................................................17
3. METODOLOGIA..........................................................................................................18
3.1 Método Misto ...............................................................................................................18
3.2 Instrumento..................................................................................................................20
3.3 Sujeitos e Coleta de dados...........................................................................................24
3.4 Critérios de inclusão....................................................................................................25
3.5 Critérios de Exclusão....................................................................................................26
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO....................................................................................26
4.1 Perfil dos Sujeitos Entrevistados................................................................................26
4.2. Inventário de Estratégias de Enfrentamento de Coping (IEE)...............................31
4.3 Entrevistas e Aplicação das Categorias Analíticas...................................................34
5. CONCLUSÃO.................................................................................................................48
6. REFERÊNCIAS..............................................................................................................50
7. ANEXOS..........................................................................................................................54
7.1 Anexo 1 - Inventário de Estratégias de Enfrentamento...........................................54
7.2. Anexo 2 - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido........................................57
7.3 Anexo 3 – Roteiro de Entrevista.................................................................................58
7.4 Anexo 4 - Parecer do Comitê de Ética e Pesquisa ....................................................59
7.5 Anexo 5 - Certificado de Apresentação em Congresso ..........................................60
7
LISTA DE FIGURAS, TABELAS E QUADROS
Figuras
Figura 1 - Estressores Familiares 14
Figura 2 - Estratégias de Enfretamento mais Utilizadas pelas Famílias em CTI 33
Tabela
Tabela 1Fatores de Avaliação do Inventário de Estratégias de Enfrentamento 32
Quadro
Quadro 1 - Categorias e Subcategorias Analíticas 36
8
RESUMO
FAMÍLIAS DE PACIENTES GRAVES INTERNADOS EM CENTRO DE TERAPIA
INTENSIVA: DESCREVENDO SUAS ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO
Katya Masae Kitajima Borges
Orientadores:
Professor Cid Marcos Nascimento David
Professora Márcia Gomide Mello
Resumo da Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação
em Medicina (Clínica Médica Terapia Intensiva), Faculdade de Medicina da
Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários à
obtenção do título de Mestre em Clínica Médica – Terapia Intensiva.
Objetivos: Descrever os processos de estratégias de enfrentamento das famílias
dos pacientes graves internados no CTI, identificar os recursos psicológicos utilizados
pelas famílias nesse evento estressante e promover recursos para a assistência
humanizada. Metodologia: Trata-se de estudo prospectivo com 14 famílias de pacientes
graves no CTI de um Hospital Universitário. Foi utilizada técnica do método qualitativo
de entrevista e observação participante complementando a coleta de dados com a
aplicação do Inventário de Estratégias de coping, de Folkman e Lazarus (1985),
adaptados por Savoia et al.(1996). O método misto utilizado para interpretação dos
resultados reúne os dados quantitativos e qualitativos em uma única fase do estudo,
priorizando a lógica descritiva-analítica, por meio dos recursos do método da pesquisa
qualitativa. Dentre os critérios de inclusão estão: um membro da família do paciente
internado mais de uma semana no CTI, ser maior de idade, deve estar presente na
maioria das visitas e receber as informações dos médicos sobre o paciente. Resultados:
Os resultados mostraram que as famílias utilizam diversas estratégias e em graus
diferentes, mas as estratégias mais utilizadas quase sempre e grande parte das vezes
foram: Fuga e esquiva (93%), reavaliação positiva e a estratégia de resolução de
problemas (79%), suporte social (43%) e aceitação de responsabilidade (7%). As
estratégias consideradas não adaptativas e menos utilizadas foram afastamento,
confronto e autocontrole. Conclusão: As estratégias de enfrentamento descritas neste
estudo mostram que foram construídas a partir do sistema de crenças de cada família.
Todas as estratégias de enfrentamento foram utilizadas pelas famílias, algumas descritas
mais vezes e outras menos. Fuga e esquiva foi potencializada pela crença religiosa,
manifestada por atitudes perseverantes e otimistas como forma de resolução de
problemas, que está diretamente relacionada à estratégia de aceitação de
responsabilidade e autocontrole. Reavaliação positiva vem buscar significados e
encorajamento para resistir às adversidades e a manutenção do sentimento de esperança.
Conhecer esses recursos psicológicos permitiu verificar a necessidade do acolhimento
humanizado pela equipe de saúde às famílias, estando disponíveis na relação e
preparados na arte da comunicação.
Palavras-chaves: Terapia Intensiva, família, estratégias de enfrentamento, aspectos
psicológicos, estresse.
9
ABSTRACT
PATIENTS’ FAMILIES IN THE INTENSIVE CARE UNIT: DESCRIBING THEIR
STRATEGIES TO FACE THE SITUATION
Katya Masae Kitajima Borges
Instructors:
Professor Cid Marcos Nascimento David
Professor Márcia Gomide Mello
Synthesis of a Master Degree Dissertation submitted to a Pos-Graduation in
Medicine (Medical Clinic Intensive Care) , Faculdade de Medicina da Universidade
Federal do Rio de Janeiro UFRJ, part of the requirements to obtain a master degree in
Medical Clinic – Intensive Care.
Objectives: Describing the strategies processes used by families of severe
patients in the Intensive Care Unit (ICU) to face the situation, identifying the
psychological resources used by families in such stressing event and providing
resources for a human assistance. Methodology: It is a prospective study covering 14
families of severe patients under ICU in an University Hospital. It was applied a
qualitative method of interviewing and observation participant complementing the data
gathering by applying the Strategies Inventory of coping, by Folkman and Lazarus
(1985), adapted by Savoia et al. (1996). The mixed method used to interpret the results
combine the quantitative and qualitative data into only one phase of the study,
prioritizing the logic descriptive-analytical, using the resources of the qualitative
research method. Among the criteria of inclusion are: one member of the patient family
in ICU for more than one week, been an adult, must be present in most of the visit
periods and receiving physician’s information of the patient conditions. Results: The
results shows that families utilize diverse strategies and in different levels, but the most
used strategies almost always and most of the times area: Escape and avoid (93%),
positive reevaluation and a strategy of problem solving (79%), social support (43%) and
responsibility acceptance (7%). The strategies considered non adaptative and less used
were distance, confront and self-control. Conclusion: The strategies described in this
study shows that they were based on each family belief. All strategies to face the
situation were used by families, even though some were more used than others.
Escaping and avoidance were the most used due to religion aspects, expressed through
perseverance and optimism attitudes as a way to solve problems, which is directly
related to responsibility acceptance strategy and self control Positive reevaluation looks
for signification and encouragement to overcome adversity and keeping hope. Knowing
such psychological recourses allowed the hospital team to identify the necessity of a
human assistance to families of patients in the UCI, making them available in the
relationship process and prepared in the art of communication.
Key-words: Intensive care, family, facing strategies, psychological aspects, stress
10
1. INTRODUÇÃO
A Medicina Intensiva é a especialidade que presta assistência aos pacientes
graves e o Centro de Terapia Intensiva (CTI) é a unidade dentro da organização
hospitalar que tem como objetivo prestar assistência em tempo integral a esses
pacientes. Existem especificidades nesse ambiente como, por exemplo, o funcionamento
com assistência 24 horas por dia com aparelhos diversos que monitorizam e dão
suportes necessários às disfunções orgânicas dos pacientes, a presença de equipe
multidisciplinar, que grande parte das vezes, pela gravidade dos pacientes e o próprio
dinamismo da unidade, dispõem de pouco tempo para dedicar atenção e conhecer as
necessidades dessas famílias.
Segundo David (2003), o CTI é um ambiente que suscita angústia permanente
nos pacientes e familiares em função da gravidade e da possibilidade de morte do
paciente. A família diante desse ambiente ameaçador, expressa sentimentos de
ansiedade, angústia, raiva, negação e culpa como processos psicológicos de adaptação e
tentativa de aceitação da realidade.
A dinâmica da família do paciente grave no ambiente da Terapia Intensiva se
relaciona diretamente com uma das premissas básicas da teoria sistêmica de família,
nessa visão as crises e as adversidades têm um impacto em todo o sistema familiar.
Para Carter e McGoldrick (1995), a família é composta por pessoas ou membros,
é definida como um sistema aberto, em transformação, que forma um conjunto de
padrões aos quais os seus membros se interagem, como também regulam o seu
comportamento, ou seja,
é formada por pessoas que são produtos e produtoras de seu
contexto social, cultural e emocional.
A família, porém vem sofrendo grandes mudanças nas últimas décadas, Baptista,
Baptista e Dias (2001), atribuem às grandes transformações nos papéis familiares, nas
11
relações de poder e nos valores individuais e coletivos. Todavia, a função principal de
familia para Campos (2004) continua sendo, sobretudo a de proteção, socialização e
afetividade. Este autor cita também a estrutura familiar em nuclear ou conjugal formada
pelo homem, a mulher com ou sem filhos, e na medida em que esses filhos se casam,
gera novas famílias nucleares, ampliando dessa forma a familia de origem. Lembra
também de caracterizar a estrutura de família extensa que inclui tios, sobrinhos, primos,
etc.
A
teoria sistêmica de família busca compreender e estudar aspectos sobre esse
grupo, fundamentando-se nos aportes teóricos de outros campos da ciência, entre eles, a
cibernética, a biologia, a química e a teoria geral dos sistemas (Rapizo, 1996).
A teoria sistêmica tem suas origens na física quântica a partir da concepção de
um mundo dinâmico e inter-relacionado, no qual fenômenos biológicos, psicológicos,
sociais e ambientais são interdependentes e intimamente interligados, ou seja, sistêmico.
A concepção sistêmica entende o funcionamento da vida a partir da dinâmica das
relações e integração, embasando desta forma, as ciências sociais e humanas (Capra,
1982).
A teoria geral dos sistemas ou teoria dos sistemas aplica princípios biológicos e
sociais ao funcionamento dos sistemas, propondo que os objetos façam parte de um
todo. Essas partes interagem entre si, formando um sistema integrado e que os
organismos vivos se mantêm através dessas interações dinâmicas múltiplas (Von
Bertalanffy apud Rapizo, 1996).
Nessas interações, os sistemas tendem a buscar a sua estabilidade por meio da
ativação dos mecanismos de regulação e controle ou estratégias de ação, denominado
homeostase. Grandesso (2000) define homeostase como mecanismo que visa manter a
12
sobrevivência do sistema à medida que controla os distúrbios que o atingem,
impedindo-os de evoluírem para uma mudança, que possa quebrar a sua organização.
Todo sistema tende ao equilíbrio como forma de manter sua existência. A
resistência à mudança nas rotinas, no padrão de funcionamento, nas atitudes, nos papéis
dentro da família pode ser visto como ameaçador, gerador de insegurança e desconforto,
em virtude de ameaça à existência do sistema
Portanto, a família é considerada um sistema vivo, as partes formam o todo que
se interagem de forma particular formando um circuito de interação ou
retroalimentação, cada pessoa afeta e é afetada pelo comportamento de outra no
contexto em que está inserido, nesse caso, o evento da internação de um membro dessa
familia no CTI e a ameaça de perda.
Segundo Bateson (apud Rapizo, 1996), as mudanças originárias desse impacto
externo podem lentamente espalhar-se pelo sistema familiar. Portanto, não é somente o
paciente que fica doente. Esses elementos de estresse podem desestruturar e romper o
equilíbrio do sistema familiar, com efeitos que se repercutem a todos os membros e à
sua rede social.
A partir de toda esta ameaça externa a família procurará manter sempre sua
estabilidade e equilíbrio, utilizando seus próprios recursos adaptativos e de
enfrentamento, e esta capacidade de reestruturação é conhecida como resiliência. O
termo resiliência vem da física, relaciona a capacidade dos materiais em resistirem ou
recuperarem-se de um determinado impacto. As ciências humanas e sociais,
principalmente a psicologia vem adotando este termo ao relacionar a capacidade do ser
humano ou do sistema familiar em resistir às adversidades, refere-se também à
capacidade das pessoas em superar as dificuldades, reconstruindo a sua própria
condição de utilizá-la nos seus processos de desenvolvimento pessoal. Yunnes (2003)
13
destaca que apesar de vários estudos sobre resiliência em psicologia, sua definição não é
clara nem precisa como nos estudos da física, pois em se tratando de estudo sobre os
fenômenos humanos, envolve uma complexidade e multiplicidade de fatores e variáveis.
Para Walsh (2005), a resiliência é um processo ativo de resistência,
reestruturação e crescimento em resposta à crise. Para esta autora, o termo resiliência
familiar está relacionado aos processos de enfrentamento e adaptação na família como
uma unidade funcional, e numa perspectiva sistêmica ser possível compreender como os
processos familiares intervêm em situações de estresse, permitindo assim, a familia
superar a crise e enfrentar as possíveis dificuldades.
Este conceito é importante nas abordagens em que
se consideram as pessoas, e famílias em
circunstâncias especialmente difíceis, que estejam
dispostas a promover a capacidade de lidar com a
adversidade sem se deixarem afetar negativamente
por ela e utilizá-la para crescer, capitalizando as
forças negativas de forma positiva e construtiva
(....) .o conceito da resiliência da família vai para
da visão que considera os membros individuais
da família como recursos potenciais para a
resiliência individual passando a focar o risco e a
resiliência na família considerada esta como uma
unidade funcional”. Walsh, 1996.
.
Portanto, a doença na família pode causar modificações em sua dinâmica,
considera-se um dos eventos mais significativos, principalmente pela doença grave,
gerando uma situação de desequilíbrio e estresse no sistema familiar e comunitário, e
percebido como ameaçadores à integridade dos seus membros.
Para Lipp (1999) o estresse rompe o equilíbrio interno das pessoas, se
classificam em fontes externas que está relacionado ao ambiente físico, mudança,
perdas, doenças, e fontes internas relacionada às crenças e valores pessoais. As
estratégias de enfrentamento vêm como recurso utilizado pelas pessoas como esforços
adaptativos para o restabelecimento desse equilíbrio.
14
Carter e McGoldrick (1995) citam que os estresses familiares geralmente
ocorrem nos pontos de transição do ciclo de vida, criando freqüentemente rompimentos,
produzindo sintomas e disfunções. Conforme mostra a figura 1, esses estresses são
caracterizados como fluxo de ansiedade vertical e horizontal. Os estressores verticais
no sistema familiar são os padrões de relacionamento e funcionamento passados de
geração em geração, está relacionado com padrões, mitos e legados familiares. E os
estressores horizontais são divididos em desenvolvimentais ou normativos, estão
relacionados com as mudanças naturais do ciclo de vida tais como, nascimento,
casamento, velhice, etc. E estressores imprevisíveis ou não normativos, que são aqueles
que podem romper com o processo do ciclo de vida, tais como, uma morte prematura,
doença crônica, doença aguda, etc.
Figura 01 - Estressores Familiares
As mudanças no ciclo de vida familiar como, por exemplo, o diagnóstico de uma
doença ou a internação hospitalar de um dos seus membros pode ser considerado uma
fonte de estresse familiar.
FAMÍLIA
Linha do Tempo
Estressores Horizontais:
Desenvolvimentais (transições naturais de ciclo de vida)
Imprevisíveis (Morte precoce, doença crônica, doença aguda)
Estressores Verticais
(padrões, mitos,
segredos e legados familiares)
15
“Do ponto de vista da família, a teoria sistêmica
familiar deve incluir o sistema da doença. Além
disso, para colocar o desdobramento de uma
doença crônica em um contexto desenvolvimental é
crucial compreender o entrelaçamento de três fios
evolutivos: a doença e os ciclos de vida do
indivíduo e da família” Rolland, 1989.
As doenças podem ser caracterizadas entre as que têm um início agudo e aquelas
com início gradual, como as doenças crônicas. A doença crônica é uma alteração
patológica irreversível, ou seja, é aquela que não pode ser curada, pode apresentar-se
como uma forma de estresse para o indivíduo ou para a família diferente daquele que
ocorre nas doenças agudas. A doença crônica também pode evoluir para um quadro
agudo, ou seja, o paciente que é portador de uma doença crônica e em determinado
momento evolui com complicações daquele órgão doente.
As doenças agudas caracterizam-se pela formabita e inesperada, exigindo que
a família se mobilize rapidamente na mudança de rotina e dos papéis. Para Groisman
(2003) quando a família enfrenta questões difíceis, emerge todo um sistema de padrões
afetivos e relacionais que envolvem cultura familiar, ligados a um sistema de crenças e
conceitos sobre a morte no qual se apóia. A experiência de ter um familiar grave
internado no CTI aciona uma reação adaptativa descrita por Fonseca (2004) como luto
antecipatório. Trata-se de um processo de luto que envolve perdas, é refletido em
pensamentos, sentimentos e reações do familiar diante da gravidade do paciente.
Segundo Rolland apud Fonseca (2004) é o processo pelo qual as famílias antecipam a
perda da pessoa doente e esse movimento pode provocar na família um sofrimento
emocional intenso. Esslinger (2004) afirma que as crenças e as experiências de perdas,
tanto simbólicas quanto concretas de um sistema familiar, irá também influenciar no
processo atual de luto antecipatório.
16
Portanto, considerar a
história da família em relação às experiências de perdas é
sempre relevante para o movimento atual e futuro do sistema familiar, na medida em
que também se investiga suas formas adaptativas de enfrentamento. Acredita-se então
que ajustamento familiar no momento da internação no CTI pode ser influenciado por
vários aspectos, dentre eles a própria experiência de perda, a idade do paciente, classe
sócio-econômica, sistema de crenças culturais, religiosas, as relações individuais dentro
da família, bem como sua estrutura emocional. Deve-se considerar também a rede de
apoio (outros parentes, amigos, igreja, etc.), o ciclo de vida da familia, o diagnóstico e a
relação com a equipe de saúde.
A relação entre a equipe de saúde e a família é citada por Azoulay et al. (2002)
ao chamarem atenção para a construção de uma comunicação efetiva e relacionamento
colaborativo, refere que esses dois componentes são vitais a qualidade de cuidados e é
complacente com as exigências de um sistema que avalia a qualidade da assistência
hospitalar.
Outro estudo sobre as famílias em Terapia Intensiva foi realizado por Molter
(1979), onde aplicou o inventário contendo 45 itens denominado Critical Care Needs
Inventory (CCFNI), levantando as principais necessidades das famílias relacionadas aos
aspectos do ambiente físico, emocional e também de informações das famílias de
pacientes. No Brasil, este instrumento foi adaptado e validado por Castro (1999)
denominando Inventário de Necessidades e Estressores de Familiares em Terapia
Intensiva (INEFTI). Em seu estudo identificou que as necessidades consideradas
importantíssimas ou muito importantes para as famílias estão relacionadas à informação
e comunicação com a equipe de saúde.
Compreender todos esses mecanismos psicológicos das famílias poderá também
sensibilizar a equipe de saúde, subsidiando ações que possam melhorar a assistência, a
17
comunicação e o relacionamento com as famílias dos pacientes graves nos Centros de
Terapia Intensiva
.
Validado pelos
15 anos de experiência profissional, realizando assistência
psicológica às famílias no CTI, percebe-se que as experiências dolorosas como a doença
grave e ameaça de perda de um de seus membros são particularmente difíceis de serem
integradas pela família. Tal situação de estresse pode fazer com que elas utilizem
recursos psicológicos apreendidos ao longo de sua história e recorram às estratégias de
enfrentamento em diferentes graus e intensidades para manter o equilíbrio de sua
estrutura emocional. Essa forma adaptativa faz com que cada membro desenvolva
reações e pensamentos que consideram menos destrutivos e perturbadores diante da
situação de internação de seu parente no CTI. Reconhecer esses mecanismos da família
poderá facilitar a promoção da assistência humanizada pela equipe de saúde em terapia
intensiva.
2. OBJETIVOS
2.1 Objetivo Geral
Descrever os processos de estratégias de enfrentamento das famílias dos
pacientes graves internados no CTI de um grande Hospital Universitário.
2.2 Objetivos Específicos
- Identificar os recursos psicológicos utilizados pelas famílias nesse evento
estressante.
- Identificar recursos para promoção da assistência humanizada às famílias no
CTI.
18
3. METODOLOGIA
3.1 Método Misto
As ciências sociais e humanas vêm utilizando cada vez mais métodos mistos nas
pesquisas. Segundo Creswell (2003), este conceito de reunir os diferentes métodos
pode ter originado nos estudos de métodos múltiplos para validade de características
psicológicas no final da década de 50. A partir daí diversos procedimentos para
estratégias de investigação de métodos associando os dados qualitativos e os
quantitativos vêm se desenvolvendo e despertando o interesse de pesquisadores mais
recentemente.
Várias publicações sobre a pesquisa mista demonstradas recentemente
por Creswell (2002), Tashakkori & Teddlie, (1998, 2003) apud Crewswell (2003),
colocam em evidência a complementação destes dois tipos de métodos, utilizados
segundo combinações seqüenciais ou em paralelo.
Para Goldenberg (2001), a integração entre a análise quantitativa e qualitativa ou
a combinação dessas metodologias no estudo do mesmo fenômeno é conhecida como
triangulação, permite abranger a máxima amplitude na descrição, explicação e
compreensão do objeto de estudo.
O método misto é aquele em que o pesquisador utiliza os dados quantitativos e
qualitativos em uma única fase do estudo. Destaca-se a possibilidade de ampliação,
interação ou complementação durante a interpretação dos resultados de dois métodos.
Quanto ao tipo de estratégias de métodos mistos, a presente pesquisa se aplica à
estratégia de triangulação concomitante. Esse modelo utiliza métodos qualitativos e
quantitativos separadamente em uma fase do estudo. Porém, o direcionamento desse
estudo foi dado ao método qualitativo e a estratégia foi de integrar os resultados dos
dois métodos somente durante a fase de interpretação.
19
“Enquanto participante do processo de construção
de conhecimento, idealmente, o pesquisador não
deveria escolher entre um método ou outro, mas
utilizar as várias abordagens, qualitativas e
quantitativas que se adequam à sua questão de
pesquisa (...) coloca-se para o pesquisador e para a
sua equipe a tarefa de encontrar e usar a
abordagem teórico-metodológica que permita, num
mínimo de tempo, chegar a um resultado que
melhor contribua para a compreensão do fenômeno
e para o avanço do bem-estar social”.
Gunther, 2006.
Esta pesquisa priorizou a lógica descritivo-analítica por meio dos recursos do
método de pesquisa qualitativa. A pesquisa qualitativa pode ser usada para obter
detalhes sobre fenômenos como sentimentos, crenças, processos de pensamento e
emoções. Segundo Strauss e Corbin (1998), a pesquisa qualitativa serve para sair a
campo e descobrir o que as pessoas estão fazendo e pensando. A descrição e
interpretação dos significados dos fenômenos são realizadas por meio da visão
subjetiva, expressadas por narrativas e declarações das pessoas entrevistadas. Nas
pesquisas sociais, Minayo (1993) sugere a substituição do termo formulação de
hipótese, por ser interpretado como positivista, para o termo formulação de pressupostos
ou questões, como uma tentativa de criar indagações. A pesquisa qualitativa é
puramente investigativa, não vai se preocupar com um padrão ou generalização, sua
função é levantar a diversificação das informações coletadas.
“A pesquisa qualitativa responde a questões muito
particulares. Ela se preocupa, nas ciências sociais,
com um nível de realidade que não pode ser
quantificado, ou seja, ela trabalha com o universo
de significados, motivos, aspirações, crenças,
valores e atitudes, o que corresponde a um espaço
mais profundo das relações, dos processos e dos
fenômenos que não podem ser reduzidos à
operacionalização de variáveis”
Minayo et al. 1994.
A pesquisa qualitativa complementa e não tem a pretensão, nem necessidade de
competir ou se opor à pesquisa quantitativa. Quando se refere à amostra de sujeitos o
20
fator numérico na pesquisa qualitativa não é determinante para garantir a sua
representatividade. Para Minayo (1992), a amostra ideal de sujeitos é aquela que
possibilita abranger a totalidade do problema investigado e suas múltiplas dimensões.
Uma das técnicas utilizadas foi a observação participante do entrevistador sobre
as famílias dos pacientes durante a visita no CTI, segundo Goldenberg (2001), esta
técnica é realizada por meio de interação dinâmica e direta do entrevistador com o
entrevistado, permitindo participar por um período de tempo, observando o cotidiano do
grupo que se estuda, descrevendo e interpretando as impressões manifestadas no campo.
Minayo et al. (1994) citam a importância desta técnica por ser capaz de captar uma
variedade de situações por meio das perguntas, uma vez que, observados diretamente
na própria realidade, transmitem o que há de mais imponderável e evasivo na vida real”.
Outra técnica utilizada nessa pesquisa foi a entrevista aberta com o familiar, foi
escolhida para proporcionar informalidade, maior flexibilidade de informações e
comentários, permitindo assim maior profundidade da experiência do entrevistado
envolvido na situação.
Realizou-se a análise descritiva a partir da transcrição das gravações das
entrevistas. Os relatos foram então organizados em categorias utilizando os mesmos
fatores de avaliação pré-estabelecidos no Inventário de Estratégias de Enfrentamento de
coping, sendo que foi dado a esses indicadores o tratamento qualitativo.
3.2 Instrumento
O instrumento selecionado para complementar o método misto foi o Inventário
de Estratégias de Enfrentamento de Coping, de Folkman e Lazarus (1985), adaptado e
validado para o português por Savoia, Santana e Mejias (1996). O termo original em
21
inglês coping foi mantido pelos autores, pois segundo eles é utilizado como referência
pela comunidade cientifica brasileira, aproximando seu significado de habilidades para
lidar com ou enfrentar situações de estresse.
O Inventário de Estratégias de Enfrentamento de Coping (IEE) é um instrumento
que contém 66 itens, engloba pensamentos e ações que as pessoas utilizam para lidar
com demandas internas ou externas de um determinado evento estressante. As respostas
são definidas por meio de escalas que vai de 0 a 3, A resposta 0 refere-se à não
utilização da estratégia em questão, 1 refere-se ao pouco uso, 2 refere-se a utilização
freqüente e 3 refere-se ao uso da estratégia em grande quantidade. Os itens de avaliação
que compõem o inventário foram divididos em oito fatores que são confronto,
afastamento, autocontrole, busca de suporte social, aceitação de responsabilidade, fuga e
esquiva, resolução de problemas e reavaliação positiva.
Estratégias de Enfrentamento são respostas ou recursos adaptativos utilizados
frente a um contexto ameaçador ao bem estar, como uma ação de autopreservação,
utiliza comportamentos ou pensamentos na tentativa de reduzir, minimizar o evento ou a
situação estressante.
Segundo Folkman e Lazarus apud Antoniazzi et al. (1998), as estratégias de
enfrentamento são utilizadas em diferentes momentos dependendo de sua função e
também podem ser classificadas em dois tipos. A primeira função está focalizada na
emoção, o objetivo é de reduzir a sensação física desagradável causada pelo evento
estressante, trata-se de um esforço para regular o estado emocional ou os sentimentos
diante da situação de estresse. E a segunda função está focalizada no problema onde
realiza esforços para tentar modificar ou mudar a situação que deu origem ao estresse,
inclui estratégias tais como negociar para resolver um conflito interpessoal ou solicitar
ajuda prática de outras pessoas. O autor citado também apresenta uma terceira estratégia
22
de coping focalizada nas relações interpessoais, na qual o sujeito busca apoio nas
pessoas do seu círculo social para a resolução da situação estressante.
Os recursos apresentados acima podem se caracterizar de diversas formas e
intensidades, considerando-se a natureza pessoal, valores, crenças culturais e religiosas
que prescrevem certas formas de comportamentos.
A avaliação dos resultados do IEE seguiu a orientação contida em Savoia,
Santana e Mejias (1996) que relacionava para o fator I (Confronto) a soma dos
resultados dos itens 47 (Descontei minha raiva em outra pessoa), 17 (Mostrei a raiva
para as pessoas que causaram o problema), 40 (Procurei fugir das pessoas em geral), 34
(Enfrentei como um grande desafio, fiz algo muito arriscado), 07 (Tentei encontrar a
pessoa responsável para mudar suas idéias) e 28 (De alguma forma extravasei os meus
sentimentos).
Para o fator 2 (Afastamento), foram somados os resultados dos itens 41 (Não
deixei me impressionar, recusava-me a pensar muito sobre essa situação), 13 (Fiz como
se nada tivesse acontecido), 44 (Minimizei a situação recusando-me a me preocupar
seriamente com ela), 21 (Procurei esquecer a situação desagradável), 06 (Fiz alguma
coisa que acreditava não daria resultados, mas ao menos estava fazendo alguma coisa),
16 (Dormi mais que o normal) e 10 (Tentei não fazer nada que fosse irreversível,
procurando deixar outras opções).
Para o fator 3 (Autocontrole) foram somados os resultados dos itens 15
(Procurei encontrar o lado bom da situação), 14 (Procurei guardar para mim mesmo (a)
os meus sentimentos), 43 (Não deixei que os outros soubessem da verdadeira situação),
54 (Procurei não deixar que meus sentimentos interferissem muito nas outras coisas que
eu estava fazendo) e 35 (Procurei não fazer nada apressadamente, ou seguir o meu
primeiro impulso).
23
Para o fator 4 (Suporte social), foram somados os resultados dos itens 42
(Procurei um amigo ou parente para pedir conselhos), 45 (Falei com alguém sobre como
estava me sentindo), 08 (Conversei com outra(s) pessoa (s) sobre o problema,
procurando mais dados sobre a situação), 31 (Falei com alguém que poderia fazer
alguma coisa concreta sobre o problema), 18 (Aceitei a simpatia e a compreensão das
pessoas) e 22 (Procurei ajuda profissional).
Para o fator 5 (Aceitação de responsabilidade), foram somados os resultados dos
itens 51 (Prometi a mim mesmo que as coisas serão diferentes da próxima vez), 09
(Critiquei-me, repreendi-me), 52 (Encontrei algumas soluções diferentes para o
problema), 29 (Compreendi que o problema foi provocado por mim), 48 (Busquei nas
experiências passadas uma situação similar), 25 (Desculpei ou fiz alguma coisa para
repor os danos) e 62 (Analisei mentalmente o que fazer e o que dizer).
Para o fator 6 (Fuga e esquiva), foram somados os resultados dos itens 58
(Desejei que a situação acabasse ou que de alguma forma desaparecesse) e 59 (Tinha
fantasias de como as coisas iriam acontecer, como se encaminhariam).
Para o fator 7 (Resolução de problemas), foram somados os resultados dos itens
49 (Eu sabia o que deveria ser feito, portanto dobrei meus esforços para fazer o que
fosse necessário), 26 (Fiz um plano de ação e o segui), 46 (Recusei recuar e batalhei
pelo que eu queria) e 01 (Concentrei-me no que deveria ser feito em seguida, no
próximo passo).
Para o fator 8 (Reavaliação positiva), foram somados os resultados dos itens 38
(Redescobri o que é importante na vida), 56 (Mudei alguma coisa em mim, modifiquei-
me de alguma forma), 60 (Rezei), 30 (Saí da experiência melhor do que eu esperava),
39 (Modifiquei aspectos da situação para que tudo desse certo no final), 20 (Inspirou-me
a fazer algo criativo), 36 (Encontrei novas crenças), 63 (Pensei em uma pessoa que
24
admiro e a tomei como modelo) e 23 (Mudei ou cresci como pessoa de uma maneira
positiva).
A partir destes resultados foi realizada a avaliação da utilização das estratégias
de enfrentamento classificados em escalas que vão de valores numéricos mínimos (não
utiliza ou utiliza pouco) a valores numéricos máximos (utiliza quase sempre).
3.3 Sujeitos e Coleta de dados
A coleta de dados foi realizada no CTI do 1andar do Hospital Universitário
Clementino Fraga Filho (HUCFF), é caracterizado como CTI geral onde são internados
pacientes adultos com diversas doenças. Funciona com 14 leitos, sendo 08 leitos
pertencentes aos pacientes cirúrgicos (pós-operatório) e 06 leitos de pacientes clínicos.
O período definido para a pesquisa de campo foi de 6 meses, sendo necessário
inicialmente um tempo de duas semanas apenas para o reconhecimento do ambiente e
da rotina do serviço. O tempo dedicado pela pesquisadora para a realização da
observação participante, a entrevista e a aplicação do inventário, foram duas vezes por
semana durante o horário de visita da família no CTI, que é das 13:00 horas ás 16:00
horas.
Os sujeitos entrevistados foram 14 membros de famílias de pacientes internados
há mais de uma semana no CTI. A data da internação do paciente era identificada no seu
prontuário que se encontrava na sala dos médicos.
A observação participante durante os dias em que a pesquisadora esteve
presente foi importante para a interação com a equipe de saúde e com as famílias
presentes na visita. Essa interação facilitou a percepção para selecionar o familiar,
que a equipe também informava qual era membro da família que ficava a frente para
25
receber a informação dada pelos médicos e que geralmente era o que estava presente na
maioria das visitas.
Durante o horário de visita a pesquisadora abordava o familiar perguntando da
disponibilidade para entrevista após a visita. O convite para participar da pesquisa
incluía a orientação sobre o objetivo e as etapas da pesquisa. Todos os pacientes tinham
diagnóstico de doença grave, apresentavam uma ou mais disfunções orgânicas e
necessitavam naquele momento de suporte de vida.
As entrevistas e as aplicações do IEE foram realizadas sempre após o
consentimento dos participantes na pesquisa e na gravação de voz por meio da
assinatura no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). E para manter uma
maior fidedignidade, todas as entrevistas foram gravadas e transcritas na íntegra
modificando somente os nomes dos entrevistados e dos pacientes.
Todos os participantes também foram orientados previamente pela pesquisadora
a responderem às questões pensando especificamente na atual internação de seu parente
no CTI.
3.4 Critérios de inclusão
- O entrevistado estar disponível e receptivo a participar da pesquisa.
- O entrevistado ser somente um membro da família.
- O entrevistado ser maior de idade.
- O familiar ser entrevistado após uma semana de internação do paciente no CTI.
- O entrevistado estar presente na maioria das visitas do CTI e recebia as
informações dos médicos sobre o paciente.
26
3.5 Critérios de Exclusão
- Pacientes que tiveram alta do CTI ou evoluíam para o óbito em menos de uma
semana de internação.
- Familiares com déficits cognitivos, analfabetos ou com transtornos psiquiátricos.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1 Perfil dos Sujeitos Entrevistados
Os sujeitos entrevistados foram identificados por meio da observação
participante e definidos conforme os critérios de inclusão. A observação participante se
estendeu à sala de espera onde as famílias aguardavam a liberação para entrada no CTI
ou se revezavam para visitar o paciente.
Nos seis meses de pesquisa de campo foram coletados dados de 14 membros de
diferentes famílias. Havia expectativa por parte do pesquisador de obter um número
maior de entrevistados, porém surgiram algumas dificuldades em encontrar famílias e
pacientes que estavam dentro dos critérios de inclusão, quando havia pacientes com uma
semana de internação, não havia família presente, ou quando havia família presente, o
paciente ainda não tinha uma semana de internação. A ausência da família era
justificada por diversas formas, por estarem em seus trabalhos no horário da visita, por
terem visitado o paciente no fim de semana e apor dificuldades financeiras para o
transporte pela longa distância entre o hospital e os bairros ou municípios.
Desses familiares, 80% foram do sexo feminino e 20% do sexo masculino. Em
relação à função parental os entrevistados foram 04 filhas, 02 filhos, 03 mães, 03 irmãs,
01 esposa e 01 marido, e a idade média encontrada foi de 44 anos. Quanto à religião,
70% eram evangélicos, 20% católicos e 10% dos entrevistados relataram não ter
religião. Quanto aos pacientes, todos estavam recebendo assistência pelo Sistema Único
27
de Saúde (SUS), e a idade média foi de 50 anos, com diferentes diagnósticos, com
outras doenças associadas e apresentando uma ou mais disfunções orgânicas.
A observação participante facilitou a aproximação do pesquisador com as
famílias tanto que não houve recusa para participação. Algumas famílias, apesar da
garantia do sigilo com o material gravado pela pesquisadora, demonstraram
preocupação por estarem falando de temas que envolviam segredos familiares como
adoção e traição.
Todos os entrevistados relataram forte vínculo afetivo com seus parentes
internados, atribuindo a eles um papel importante e representativo no sistema familiar.
Esse momento de falar sobre o paciente gerou na maioria das vezes forte emoção nos
entrevistados. A função parental e os laços de afeto foram determinantes nos critérios
dessa pesquisa, principalmente no que diz respeito às histórias, formações e vínculos
familiares. Foi necessário reconhecer que nem sempre a família nuclear tem significado
de referência para o paciente, como nos casos presentes nessa pesquisa em que as irmãs
assumiam a frente e o cuidado com o paciente e não as suas esposas.
A função cuidadora do gênero feminino é autenticada nos resultados dessa
pesquisa, onde a maioria absoluta dos familiares entrevistados foi do sexo feminino.
Mc Goldrick (1995) relembra que na história da humanidade, as mulheres sempre
desempenharam um papel central nas famílias, tendo como expectativa de que elas
cuidariam das necessidades dos outros. Apesar das transformações que vem passando a
família ao longo dos tempos, as atribuições dos papéis familiares parecem mostrar
poucas mudanças em relação ao modelo patriarcal, associando ainda a mulher ao papel
natural de cuidadora da família.
Borges (2003) destaca em seu estudo sobre dependência e morte de mulheres,
mães de famílias com esclerose lateral amiotrófica, ressaltando as desorganizações da
28
estrutura familiar quando a figura principal delegado a uma mulher fica doente e se
torna dependente. Mesmo assim, essa reorganização familiar elege outra mulher para
assumir o lugar central, nesse caso muitas filhas ou outras mulheres da família assumem
esse papel.
Sobre as informações da função e estrutura do CTI, foi relatado pelos
entrevistados, que apesar de ser um hospital público, o CTI era o local do hospital com
mais recursos material e humano disponíveis para a recuperação do paciente.
Os questionamentos geravam em torno das regras estabelecidas pelo CTI para a
entrada de visitas, principalmente no que diz respeito ao número limitado de duas
pessoas por dia. Algumas famílias com maior número de pessoas, seja de membros
familiares e pessoas da igreja, usavam da criatividade para burlar as regras, como por
exemplo, fazer cópias dos papéis que eram distribuídos na recepção do hospital que
autorizavam a entrada ou justificavam que iam fazer doação de sangue para o hospital.
Embora o tempo de quatro horas de visita seja considerado adequado comparado a
outras instituições hospitalares, parece haver necessidade dessas famílias de obter
maiores esclarecimentos sobre este limite, tal fato nos permite considerar que a equipe
de saúde deve orientá-la sobre estas restrições de visitas no CTI, sem deixar de
considerar a flexibilidade da entrada de visitantes ou até a permanência de um familiar
diante da necessidade do paciente. Percebeu-se também que nos casos terminais, a
equipe sensibilizada pela situação de finitude liberava o número de visitas e o tempo de
permanência no CTI, como se pudesse proporcionar uma despedida e mostrar
solidariedade.
O espaço físico da sala de espera do CTI foi citado por alguns familiares como
um lugar de dor única, por estarem todos na mesma situação e por se identificarem com
29
suas histórias, também foi citado como um lugar de compaixão, pela solidariedade
manifestada nas palavras de consolo vindas de outras famílias.
A emoção gerada pela noticia da piora do quadro clínico e principalmente pelo
óbito para determinada familia sempre repercutia em outras famílias presentes na sala
de espera. A emoção da notícia de óbito de um determinado paciente fazia com que a
maioria das outras famílias presentes na sala de espera se afastasse ou saísse do CTI
referindo sentirem-se frágeis e incapazes de ajudar neste momento e por também
remeter à idéia da possibilidade de perda de seu próprio parente. Por outro lado, a
alegria e o otimismo tomavam conta das famílias quando havia noticia de alta do CTI de
algum paciente.
Esse espaço mostrou albergar estados emocionais que transpassavam pela
alegria da alta do CTI, pela esperança na melhora do paciente, pelo medo e pela tristeza
da perda. Esses momentos de intensa fragilidade solicitam da equipe de saúde
demonstrações de respeito, postura acolhedora, uma escuta diferenciada e
disponibilidade de todos os profissionais para efetivação da assistência humanizada.
Morais (2005) denomina essas ações de estratégia de acolhimento que serve para
fortalecer a relação entre o profissional de saúde, o paciente e sua família.
Segundo o Ministério da Saúde (2006) o acolhimento faz parte do Programa de
Política Nacional de Humanização, como diretriz que estabelece mudanças de postura
com foco nas relações e nas ações assistenciais. Deslandes (2004), Oliveira, Collet e
Viera (2006) em suas reflexões, defendem que os termos humanização e comunicação
são indissociáveis e vem constituindo um dos principais pilares de qualidade
assistencial. No processo de humanização estão inseridos o bom relacionamento
interpessoal na equipe e a fluidez da comunicação como fundamentais para que não
repercuta no paciente e na família conseqüências desagradáveis.
30
Assim é que cada vez mais o tema comunicação tem sido abordado nos artigos
de revistas médicas, principalmente no que diz respeito aos cuidados em terapia
intensiva e no cuidado ao fim de vida. Yedidia et al. (2003) colocam a formação do
médico em questão, quando residentes e estagiários de medicina compartilham a
dificuldade em estabelecer essa comunicação, sugerem então que na formação médica,
seja incorporado treinamento de comunicação com o objetivo de promover ao estudante
de medicina a competência no cuidado ao paciente e à família.
Na rotina de assistência do CTI, construir bom relacionamento e estabelecer um
processo de comunicação eficaz é considerado pela equipe de saúde como desafiador, já
que famílias e pacientes estão cada vez mais participantes e informados dos seus
direitos. Percebe-se conseqüentemente interesse por parte das instituições hospitalares
em promover estes cuidados, baseados no que França (2003) sinalizou sobre as ações
judiciais movidas pelo paciente ou pela família em resposta às hostilidades e
dificuldades de relacionamento com a equipe.
Esslinger (2004) ressalta que a equipe pode reconhecer que a familia é
importante para o bem-estar do paciente, mas mostra dúvidas em como ajudá-la em suas
angústias. E como isso muitas vezes não é possível, a família passa a ser interpretada
como presença incômoda, que desorganiza e conturba a rotina hospitalar.
Desafiadora ou incômoda, a presença da família no CTI faz parte da rotina e,
portanto deve ser tratada seguindo-se, como em todas as outras rotinas hospitalares, a
determinado padrão. E considerando-se, também, que a evolução tecnológica em
medicina intensiva tem alguma implicação no distanciamento da relação médico-
paciente (Guanaes e Souza, 2004), além de aumentar a sobrevida dos pacientes, a
equipe experimenta um tempo maior de convivência com as famílias. Dessa forma o
acolhimento humanizado (MS, 2006) no CTI, deveria ser incluído como nova rotina,
31
porém com profissionais bem preparados para tal. Aptos a lidarem com a situação de
equilibrar gentileza no falar, no acolher, com informação técnica, porém clara.
Segundo Azoulay et al. (2000) algumas famílias não conseguem compreender o
que diz o médico face aos mecanismos psicológicos relacionados à aceitação, que
também podem levá-las a ter dificuldades em perguntar ou escutar as informações sobre
a gravidade do paciente. Até porque algumas famílias precisam de um tempo maior para
absorvê-las como forma de ajustamento à situação de estresse. Partindo do principio de
que essa situação sempre as deixará vulneráveis pelos sentimentos de impotência,
incerteza e medo, cabe então a equipe de saúde a necessária reflexão sobre como as
informações devem ser passadas de acordo com cada contexto familiar.
As famílias no CTI mostraram a necessidade de obter informações diárias, e o
médico foi considerado o principal protagonista escalado para a função de comunicar
informações sobre a evolução do quadro clínico do paciente, as intercorrências e
notícias de óbito. Outra observação interessante, é que as famílias preferiam receber
notícias diretamente do médico que o atendeu desde o início da internação, contudo, não
discriminava médicos residentes dos médicos da rotina. Nesse caso o parâmetro
considerado foi o vínculo relacional e de comunicação. Esse dado é semelhante à
pesquisa de Wallau et al. (2006) sobre a necessidade que as famílias tem de receber
informações diárias pelo mesmo médico como critério de satisfação e qualidade de
assistência.
4.2. Inventário de Estratégias de Enfrentamento de Coping (IEE)
O tempo médio para aplicação do instrumento selecionado para esta pesquisa foi
de 15 minutos, os entrevistados com menor grau de instrução levaram maior tempo para
32
responder o IEE, ora por não compreenderem a pergunta ora por necessitarem citar com
detalhes a escolha da resposta. Apenas a questão 58 (Desejei que a situação acabasse ou
que de alguma forma desaparecesse) levantou em grande parte das vezes dúvidas quanto
a sua interpretação, que relacionavam com o sentido de morte do paciente, mas no
geral o IEE foi considerado instrumento adequado, tanto na facilidade de aplicação
quanto na análise dos resultados estabelecidos pelos fatores de avaliação.
Na tabela 1, foram descritos os 8 fatores de avaliação do IEE, incluindo a soma
das respostas dos entrevistados que eram definidas por escalas de 0 a 3 conforme
descrito anteriormente.
Tabela 1 – Fatores de Avaliação do Inventário de Estratégias de Enfrentamento de
Coping (IEE).
Não
Utiliza ou
Utiliza
Pouco
Utiliza
Algumas
Vezes
Utiliza
Grande
Parte das
Vezes
Utiliza
Quase
Sempre
Confronto
93% 7% 0 0
Afastamento
100% 0 0 0
Auto Controle
14% 86% 0 0
Suporte Social
14% 43% 43% 0
Aceitação de
Responsabilidade
29% 64% 7% 0
Fuga e Esquiva
7% 0 50% 43%
Resolução de Problemas
0 21% 50% 29%
Reavaliação Positiva
7% 14% 72% 7%
Os resultados do IEE demonstraram que as famílias entrevistadas após uma
semana no CTI utilizaram algumas estratégias para se adaptarem à situação de crise.
Isso é mostrado nos resultados identificados em cada fator de avaliação deste inventário,
representado na figura 2 abaixo que mostra as somas das repostas das estratégias
utilizadas quase sempre e grande parte das vezes. Esses resultados descreveram que
Fuga e esquiva foi utilizado em 93% das famílias entrevistadas, reavaliação positiva e a
33
estratégia de resolução de problemas tiveram resultados semelhantes, foram utilizados
por 79% das famílias, suporte social foi utilizado por 43% e aceitação de
responsabilidade por apenas 7% das famílias. Outro dado interessante foi que 100% dos
entrevistados não utilizaram ou utilizaram algumas vezes as estratégias de afastamento,
confronto e autocontrole.
Figura 2 - Estratégias de Enfretamento mais Utilizadas pelas Famílias em CTI.
Autocontrole
0%
Suporte Social
43%
Aceitação de
Responsabilidade
7%
Fuga e Esquiva
93%
Resolução de Problemas
79%
Reavaliação Positiva
79%
Confronto
0%
Afastamento
0%
As estratégias de enfrentamento de pacientes e famílias diante de situações de
estresse vêm despertando interesse cada vez maior. Nos estudos em dermatologia com
pacientes com diagnóstico de psoríase, por exemplo, Silva, Muller e Bonamigo (2006)
destacam que para evitar o confronto com a doença crônica de pele, os pacientes
utilizam as estratégias de autocontrole na expressão de seus sentimentos e emoções, e
estratégia de fuga e esquiva como forma de evitar o confronto com a situação
estressante.
34
Embora o resultado do IEE aplicado na presente pesquisa descreva que as
estratégias mais utilizadas pelas famílias no CTI sejam fuga e esquiva, seguidas de
reavaliação positiva e resolução de problemas, outras pesquisas sobre o mesmo tema
apresentam resultados diferentes, como por exemplo, a de Oliveira, Watanabe e
Romano (2005) que destacam a reavaliação positiva, suporte social e resolução de
problemas como as mais utilizadas em CTI cardiológico. Bonfim, Bastos e Carvalho
(2007) identificam a estratégia de enfrentamento de suporte social como mais utilizada
pelas famílias. É claro que essas diferenças são conseqüência tanto do perfil dos
entrevistados quanto da situação. Certamente não se pensa que as estratégias de
enfrentamento do próprio doente em relação à doença sejam as mesmas de quem
acompanha um doente. E como também serão diferentes de acordo com o tipo,
gravidade e estigmas relacionados a cada situação de doença. Entretanto, é importante
observar que as estratégias de enfrentamento, de um modo geral são positivas e
auxiliam na adaptação de determinada situação de estresse. A estratégia de fuga
esquiva aparece na presente pesquisa certamente por se tratar de um cenário extremo de
ansiedade e angústia pela real ameaça de perda de um membro familiar, conforme
discutido mais adiante.
4.3 Entrevistas e Aplicação das Categorias Analíticas
Dentre as vantagens da entrevista como recurso disponível foi poder ter sido
aplicado em pessoas com vários níveis de instrução. O tempo de duração variou
conforme a necessidade e disponibilidade para falar de cada familiar. A entrevista aberta
facilitou a relação e aproximação do pesquisador com o entrevistado, principalmente
pela estrutura flexível na elaboração das perguntas que envolviam emoções.
35
A observação participante como técnica do método qualitativo foi fundamental
para exploração do tema, permitiu acompanhar as discussões dos casos e a tomada de
decisões da equipe de saúde sobre o tratamento do paciente no CTI, mais conhecido
como round, possibilitou conhecer as histórias clínicas e prognósticos dos pacientes
antes de convidar as famílias a participarem da pesquisa.
Para análise dos resultados em pesquisa qualitativa é utilizada a classificação de
categorias apresentadas como conceitos/adjetivos derivados dos dados que representam
os fenômenos. Para Strauss e Corbin (1998) é importante agrupar os conceitos em
categorias para reduzir e organizar o número de unidades com as quais trabalha. Além
disso, as categorias têm poder analítico porque tem o potencial de explicar e de prever.
Para Minayo et al. (1994) as categorias são empregadas para estabelecer
classificações dos dados coletados no trabalho de campo e são entendidas como
pensamentos, ações e sentimentos que expressam uma determinada realidade. Nico et
al. (2005) definem categorias como conceitos derivados dos dados que representam o
fenômeno e as subcategorias servem para especificar uma categoria.
As entrevistas foram classificadas em categorias utilizando as mesmas dos
fatores de avaliação do IEE, que foram confronto, afastamento, autocontrole, suporte
social, aceitação de responsabilidade, fuga e esquiva, resolução de problemas e
reavaliação positiva.
A categoria confronto descreve os sentimentos e manifestações como raiva e
esforços agressivos para alterar situações. Afastamento descreve esforços para
distanciamento da situação real, como um mecanismo psicológico de negação, uma
tentativa de desviar atenção da situação estressante. Autocontrole descreve esforços
para regular os próprios sentimentos, pensamentos e ações, uso da racionalidade e da
auto-suficiência. A categoria suporte social descreve a estratégia de pedir e aceitar ajuda
36
de pessoas próximas, de profissionais e/ou de instituição, mostra a necessidade de
compartilhar os próprios sentimentos vividos na situação. Aceitação de responsabilidade
descreve a necessidade de ações para assumir a frente dos cuidados, podem ser
provocados por sentimentos de culpa ou de responsabilidade sobre o paciente ou da
situação. Fuga e esquiva descreve os desejos, os esforços para evitar o fator estressante,
expressam desejos de solução rápida ou mágica para a situação. Enquanto que a
categoria resolução de problemas descreve ações, planejamento, criatividade,
participação ativa e busca de soluções para o problema.
Apenas na categoria de reavaliação positiva foi necessária a criação de duas
subcategorias por ter sido identificado dois sentidos para a mesma categoria, a primeira
subcategoria foi descrita como crescimento pessoal, refere que a experiência vivida no
CTI levou ao amadurecimento pessoal, uma reavaliação de vida e das relações. O
suporte religioso foi outra subcategoria, diz respeito às crenças religiosas dos familiares,
que diante da situação difícil recebe a força, o apoio e principalmente a manutenção da
esperança na melhora do paciente.
As entrevistas e a observação participante ajudaram a consolidar as categorias e
subcategorias e a classificação das mesmas foi feita a partir da própria definição dos
fatores de avaliação do IEE.
No quadro 1 estão os conceitos das categorias analíticas e a relação com as
frases ditas pelas famílias entrevistadas nesta pesquisa.
Quadro 1 - Categorias e Subcategorias Analíticas
Confronto
Descreve os
sentimentos e
manifestações
- Minha mãe aqui no CTI? Ah! É muito ruim
porque as minhas irmãs estão desempregadas, ai a
gente tem que vir aqui (...) e não temos dinheiro
para passagem (...) a minha mãe deu para ficar
doente agora! (fala rispidamente). E ela não era
de ficar doente, ela tinha que tomar uns
37
como raiva e
esforços
agressivos para
alterar situações.
remédios e ela não tomava direito (Familiar 03)
-[...] eu estou fazendo de tudo pra me segurar, pra
segurar a minha filha, o meu marido. (...) ela
cuidava da casa e da gente (...) Se eu saio triste
daqui? Só divido com Deus, não desabafo com
ninguém (...) e a minha em Deus é tão grande,
tão grande, que eu vou te falar, ser sincera...Se for
da vontade Dele que a minha filha viver ao
lado Dele, vou ter que aceitar, mas se não for da
vontade dele e quanto puder lutar por ela eu vou
lutar.. E é o que eu estou fazendo. Estou lutando
pela minha filha! (fala enfaticamente batendo a
mão em punho na mesa) (Familiar 09)
Afastamento
Descreve esforços
para
distanciamento da
situação real ,
mecanismo de
negação, desviar
atenção.
- [...] mas ás vezes a gente também não quer
acreditar... não quer acreditar, a gente tenta
maquiar a realidade, disfarçar a realidade, não
acredita que isso está acontecendo, assim, dessa
forma, aquilo deixa a gente até abalado (...) O
trabalho é até bom como se fosse uma terapia,
porque se a gente ficar parado, pensando,
pensando, a gente não consegue tocar o barco pra
frente. (Familiar 02)
Auto Controle
Descreve esforços
para regular os
próprios
sentimentos,
pensamentos e
ações,
racionalidade,
auto suficiência.
- [...] porque passa muitas coisas, será que ele vai
resistir? Será que ele vai sair dessa? vários pontos
de interrogação que ficam na cabeça da gente,
vários medos. E eu vinha pra pensando, a
gente se prepara pra tudo, tipo assim, eu estou
procurando me conscientizar. (Familiar 01)
- [...] estou agüentando sim, mas eu já chorei
muito, fiquei muito desesperada (...) ai quando
me vontade de chorar, eu me seguro porque
ele (o paciente) não gosta (emociona-se) (...)
desculpe por estar chorando (...) Eu estou
desabafando aqui com você, porque geralmente
eu deixo para chorar em casa, saio daqui do CTI,
eu choro, choro até chegar embaixo, aqui eu
tento manter uma certa calma, porque ele fica
segurando na minha o, ele quer conversar (...)
e eu vou agüentando firme até ver (Familiar 07)
- É importante você saber a verdade, vai doer,
vai, mas essa dor quando a gente tem Deus dentro
da gente, Ele vai nos confortar, Ele nos conforta
(...) Deus está cuidando de mim.(Familiar 09)
38
Suporte Social
Descreve a
estratégia de pedir
e aceitar ajuda
das pessoas /
profissional /
institucional ,
mostra
necessidade de
compartilhar os
próprios
sentimentos
vividos na
situação.
- [...] eu tenho na minha família pessoas que tem
um lado espiritual, e essas pessoas sabiam do
Diogo e a gente ligou pra elas, pediu pra todas
essas pessoas fazerem suas orações, de acordo
com as suas religiões, com o seu jeito e tal. E
acho que isso também ajudou muito sabe.
(Familiar 06)
- Mas ai eu vi que precisava das pessoas, eu
nunca fui de pedir ajuda pra ninguém. Se eu
tivesse que sofrer, eu sofria sozinho, mas aqui eu
não sofri sozinho, apesar de ter tentado sofrer
sozinho..... e as pessoas que eu nunca vi na vida
(...) vinham me abraçar, conversar, eu não sou
uma pessoa religiosa, o negava, cada um a
sua força, o católico, o evangélico na forma dele,
me mostraram que a gente tinha que acreditar em
mais alguma coisa e não só na gente (Familiar 08)
- [...] olha não importa comida, não importa
dormir, não importa nada, a única coisa que eu
gostaria, por exemplo, o pessoal da igreja, eles
estão loucos pra vir aqui, mesmo ele estando
sedado (Familiar 13)
Aceitação de
Responsabili-
dade
Descreve a
necessidade de
ações para
assumir a frente
dos cuidados,
podem ser
provocados por
sentimentos de
culpa ou de
responsabilidade
sobre o paciente
ou situação.
- Eu sou.... eu sou mãe, sou irmã, quando a minha
mãe morreu deixou ele pequenininho e eu que o
criei. Nessa jornada de 65 anos, nós nunca nos
separamos, somos como alma gêmea! (enfatiza)
(...) Eu acho que tem quase trinta dias que ele está
aqui no hospital, eu nunca faltei a uma visita (...)
Eu vindo aqui eu vejo que eu não estou
abandonando ele nem um segundo. Eu não
permaneço aqui no CTI porque não deixam. Se eu
pudesse ficar aqui, eu ficaria. (Familiar 13).
- Sempre segurei tudo na familia (...) eu digo
assim....que é uma missão que eu tenho com a
minha familia ....eu não tenho mágoa dela, .(...)
Eu não tenho raiva nem mágoa mesmo, eu acho
que é essa capacidade que eu tenho de perdoar as
pessoas. (Familiar 14)
Fuga e
Esquiva
Descreve desejos,
esforços para
escapar e evitar o
- [...] não sabemos o que fazer ...só rezar mesmo.
(Familiar 03)
- [...] eu via minha esposa se deteriorando, se
acabando e eu sem poder fazer nada, o que eu
podia fazer era orar, é o que eu faço e o que eu sei
39
fator estressante,
desejos de
solução rápida ou
mágica para a
situação.
fazer. (Familiar 04)
- É eu fico assim emocionada (...) eu fico muito
assustada, mas ai, tenho orado pra Deus pra eu
lidar com essa situação (...) Então é Jesus que tem
que dar essa sabedoria pra mim. (Familiar 05)
- [...] quando eu tenho algum problema eu fujo,
sempre fui assim à vida toda quando enfrentava
os problemas. (Familiar 08)
- E Deus falou profundamente ontem quando eu
fui pro culto (...) Deus está me dando essa força,
essa força vem do Senhor, não vem dessa mulher
aqui, de verdade....porque por mim não seria
possível, não seria humanamente possível.
(Familiar 12)
- Deus tem o poder de ressuscitar os mortos (...)
porque enquanto ele estiver respirando, minha
é inabalável. Eu tenho muita e ela que me faz
sobreviver (...) e eu determinei e determino!....
Porque eu não perdi a de que ele vai viver. (...)
o médico dos médicos é Deus. E operando ele,
quem impedirá (fala enfaticamente). (Familiar
13)
Resolução de
Problemas
Descreve ações,
planejamento,
criatividade,
participação ativa,
pró-atividade,
busca de soluções
para o problema.
- E quando eu escutei aquele hino fui
impulsionado mesmo e chorando muito. Até que
a pastora falou “O Senhor manda dizer para
ti...age (...) que Ele já está providenciando tudo,
então age”..... doutora, pra mim isso é muito forte
(emociona-se)...aquilo me deu um alívio que eu
não sei como explicar (...) e se ela morrer, ela vai
morrer comigo tentando (...) eu oro muito, peço
que Deus me sabedoria para saber o que fazer
e encontrar as pessoas certas. (Familiar 04)
- [...] a enfermeira pode me dizer que outras
coisas que eu possa trazer pra minha filha, como
eu posso ajudar ... Tudo o que for para ajudar,
porque a minha preocupação é amenizar.
(Familiar 05)
- [...] foi a primeira vez que eu senti assim... que
ele poderia morrer sabe....(emociona-se) e ai
quando.....e ai eu senti isso.....eu fiquei assim
atribuindo a responsabilidade à gente, de através
da tentar reverter isso (...) tanto eu quanto a
minha familia, meio que se tocou assim, mas
assim...mais do que fazer orações, mas também
40
de estar o dia todo aqui. (Familiar 06)
- [...] acho que por ela estar lúcida eu tinha a
obrigação de vir aqui passar força, de mostrar que
a gente estava aqui com ela, depois que ela ficou
sedada, o que me faz faltar trabalho, largar tudo
para estar aqui de 1 ás 4, é .....vê-la, é aquele
negócio de...não saber que vai vê-la, que vai
tocar de novo, isso que faz, que motiva, se tiver
que ficar aqui até mais tarde, ouvir os médicos. E
pensar assim, amanhã eu vou estar com ela de
novo, não sei se é resgatar o tempo que fiquei
sem falar com ela. E mostrar para ela que todo o
dia eu estou ali ao lado dela e eu espero que eu
fique por muito tempo ao lado dela (Familiar 08)
- [...] ai quando ela veio pra cá, eu falei pros meus
filhos “Olha todo mundo no revezamento!” (...)
organizo todo mundo, então todo dia vem um,
porque eu voltei a trabalhar, sempre vem alguém
da família para ela não se sentir sozinha, mesmo
quando estava sedada, entubada. Todo dia vem
alguém da família, apesar dos colegas do Instituto
virem visitar, mas eu falei que todo dia tem que
vir alguém da família aqui visitar. (Familiar10)
Reavaliação
Positiva
Descrevem
reavaliação de
vida, mudança,
crescimento
pessoal e crenças
a partir da
experiência da
situação.
Subcategorias:
Crescimento Pessoal
- Eu não tenho uma religião (...) nas minhas
orações eu não sabia quem evocar sabe, porque
eu não sabia se era Cristo, Buda ou Oxalá, (...)
você pode não acreditar na igreja católica, na
protestante, e nem de nenhum Deus de nenhuma
instituição, mas você tem que acreditar em
alguma coisa, numa força superior, numa coisa
você deve acreditar. (Familiar 06)
- [...] apanhei assim, tomei uma surra sabe....
(emocionada), eu acho que desde que ele ficou
internado, desde sexta feira que a gente começou
a aprender com tudo isso, todo mundo, a família
toda, porque a gente estava desunido, a gente
estava meio que ranzinza dentro de casa.
(Familiar 06)
-[...] porque conversei sozinho com a minha mãe
ali no leito, prometi a ela, coisas que eu sei que
ela ia gostar de quere fazer (...) E por esses dias
41
eu estou chorando o que eu não chorei a vida
inteira. De repente foi bom (...) então eu falo
coisas que eu não teria coragem de falar
normalmente, toco em assuntos que eu sei que ela
vai ficar alegre, e que eu não falaria até por
dificuldade de expressar o que sinto. (Familiar
08)
- Então eu mudei mesmo a minha forma de
pensar e isso vai refletir na minha vida, na
verdade já está refletindo sabe, eu sempre fui uma
pessoa muito fria, muito dura (...) e vendo que
algumas coisas acontecendo aqui...... penso como
é frágil a vida da gente. Por mais que tu possas
conquistar na frente, tu vai precisar de alguém
e....por mais que .....eu sempre me considerei uma
pessoa muito forte de saúde e de cabeça. Isso
aqui me ensinou que eu não era forte de saúde
nem de cabeça. (Familiar 08)
- Então se existe alguma coisa nisso tudo que ela
podia me ensinar, acho que é ser mais humano. A
aceitar que as pessoas deveriam ser menos
egoístas, o principal é saber que eu preciso das
pessoas. (Familiar 08)
Suporte Religioso
- Quem cuida de mim é Jesus (...) É Jesus é que
está me dando essa força, é a fé que está me
segurando (...) a crença que eu tenho, que Deus
está no comando, que ele vai ajudar a minha filha
a se recuperar como nas outras vezes. (Familiar
05)
- E o que posso falar que o que está me dando
força é a que tenho em Deus, porque sem Ele
nós não somos nada (...) E o que está segurando a
gente é a nossa (...). É em Deus, em Deus que
eu encontro forças para estar vindo aqui com ela.
(Familiar 09)
- A gente reza de mãos dadas todos os dias a noite
(...) A gente começou a fazer isso desde sexta
feira, quando ele veio para o CTI (...) porque eu
estava meio assim sem , sem esperança (...) o
paciente pode ter dúvidas que vai sair daqui, mas
a familia não tem que ter dúvida, tem que ter
confiança, tem que acreditar. (Familiar 06)
- [...] queria pedir para a equipe, que quem puder
chegar perto dela, dar uma palavra de amor, fazer
42
uma oração e ter confiança que Deus está
operando ela, está manipulando as mãos, abrindo
os olhos e a mente da equipe para que possam
cuidar dela. Isso para mim é um consolo.
(Familiar 09)
Os resultados mostraram que as famílias utilizaram uma ou mais estratégias de
enfrentamento, diferenciando-se no seu grau de utilização.
A estratégia de confronto pareceu estar relacionado a não aceitação da situação
de gravidade da doença ou pela mudança de papéis imposta pela doença. Os familiares
entrevistados mostraram-se incomodados por se sentirem sozinhos em dar conta da
situação e assumirem determinadas funções ou responsabilidades, suas reações eram
manifestadas por atitudes e discursos agressivos durante a entrevista. Relacionado a
estratégia de confronto, identificou-se também que quanto pior era o prognóstico da
doença, maior era a incerteza e o sentimento de impotência das famílias. Essa situação
provocou em algumas famílias, reações de hostilidades e/ou agressividade, gerando
intenso desgaste na relação equipe de saúde e família.
Por outro lado, a estratégia de autocontrole fez com que esses familiares
procurassem manter o controle emocional para não se tornarem inadequadas
principalmente na frente do paciente ou do restante da família, que o papel que
ocupava era de referência de força e de estabilidade para essas pessoas. O apoio
religioso foi uma das formas encontradas para confortar e manter esse autocontrole.
Vieira, Trindade e Antunes (1999) também relacionam em sua pesquisa a presença da
religiosidade na promoção do bem estar subjetivo.
Embora o resultado desse fator de avaliação no IEE ter sido descrito como pouco
utilizado, esta estratégia foi bastante citada nas entrevistas, mostrando o esforço desse
familiar que fica a frente do cuidado em manter sua emoção e sua ação sob controle.
43
A estratégia de afastamento chamou atenção ao ser descrita como recurso não
utilizado, talvez em função da grande utilização da estratégia de resolução de
problemas. Afastamento transmitiu a dificuldade de aceitação da realidade, desviando
assim a atenção para outros focos, por exemplo, no trabalho ou em outras atividades
como forma de suportar a situação e dar continuidade à vida. Esse mecanismo
psicológico foi citado tempos atrás por Kubler Ross (1969) como negação, um dos
cinco estágios que a pessoa utiliza para lidar com perdas e luto.
A estratégia de resolução de problemas foi representada pela própria atitude do
familiar entrevistado assumir o cuidado, seja pelo forte vínculo afetivo ou por remeter
ao sentimento de responsabilidade pela pessoa do paciente estabelecido antes da
internação. Nesse caso foi relacionado com a participação ativa do familiar no
processo de internação no CTI, que por meio de ações criativas buscavam superar as
adversidades, exigindo deste uma estrutura emocional flexível para identificar as
possibilidades de ajuda ao paciente, a outros membros da família e a si mesmo.
Essa dinâmica é refletida na disponibilidade para estar a frente dos cuidados,
por acreditar em si nessa função ou por ter sido eleito pela família como o mais
estruturado para estar a frente e assumir esse papel centralizador nas visitas diárias, na
tomada de decisões e no contato com a equipe de saúde para receber informações sobre
o quadro clínico do paciente. A estratégia de afastamento neste caso parece ter sido
considerada uma forma não adaptativa e que pouco ajudava nesta situação,
principalmente por se tratar do papel exercido por estas pessoas em suas famílias. A
necessidade de participar dos cuidados, sejam eles diretos ou indiretos ao paciente, era
intensa e dessa forma minimizava os seus sentimentos de impotência.
A manutenção da estrutura emocional da família pode está relacionada também
com as estratégias de suporte social. Essa estratégia buscou sustentação e apoio externo
44
que serviram de base para os sentimentos de proteção e alívio, foi representada pela
ajuda de pessoas da igreja como os pastores evangélicos, na maioria das vezes, que vem
até o CTI para orar ao lado do leito do paciente, trazendo com isso palavras de conforto
e de esperança. Outros membros da família também foram considerados, mas que não
necessariamente freqüentavam o CTI, mas por meio da construção de uma rede de
orações que incluíam todas as religiões. A equipe de saúde, e principalmente outras
famílias que estavam presentes na sala de espera, foram inseridas como suporte social
por oferecerem acolhimento e palavras de conforto
As estratégias utilizadas se entrelaçavam e refletiam a importância das crenças
pessoais e religiosas diante da situação de doença grave de um ente querido. Nesse
caso, a estratégia de reavaliação positiva trouxe dois sentidos, uma delas foi de
reavaliação de vida, mudanças e amadurecimento pessoal gerados pela experiência de
ameaça de perda, e o outro foi de suporte religioso traduzindo a necessidade de acreditar
na força divina para fortalecimento emocional e amparo. Faria (2005) ao discutir
religiosidade e enfrentamento, cita as funções da religião como proteção, conforto e
busca de significados, favorecendo também o compartilhar e o interagir com outras
pessoas por meio da mesma prática dos rituais e orações. Portanto, essa relação entre
religião e bem estar representa um recurso poderoso que influencia as atitudes das
pessoas diante de situações difíceis. Já
Figueiredo (2006) descreve que a religião
abrange dois aspectos, a crença na garantia do sobrenatural e as técnicas para garantir
essa crença na prática por meio de orações, rituais e sacrifícios. Nessa pesquisa a
religião evangélica foi predominante, apresentavam em seus discursos temas como, a
em Deus que dá força para superar os desafios, a visão de que Ele manipula as mãos dos
médicos do CTI e o milagre da cura da doença por meio das orações.
45
Vale ressaltar que a estratégia de fuga e esquiva não parece neste caso, estar
relacionado à negação defensiva, Walsh (2005) refere tratar-se de ilusões positivas
funcionando como um pára-choque contra o estresse extremo, traduzindo desta forma
como atitudes perseverantes e otimistas para a resolução do problema.
Seja como for, a equipe de CTI deverá encontrar estratégias de acolhimento que
não inibam ou comparem escolhas religiosas. Apegar-se a religião, segundo estes
pesquisadores têm permitido resultados positivos e deve ser este o objetivo da equipe de
saúde diante da família.
As famílias também solicitam receber informações completas sobre quadro do
clínico do paciente, não se contentam apenas com um “está grave”, “está estável” ou
“foi a óbito”, querem saber toda a verdade, mesmo que sejam difíceis de serem ouvidas.
Esses enfoques parecem evidenciar que a comunicação na assistência em CTI requer
profissionais treinados no uso da linguagem, capazes de identificar e compreender as
necessidades das famílias. A preocupação e o cuidado no uso das palavras não se
limitam a noticia do óbito. Moritz (2007) enfatiza que os médicos devem construir
desde o início uma relação boa e comunicação eficiente. Assim a cultura institucional
pode reforçar a promoção desse processo, fornecendo espaço físico adequado para dar
notícias ou discutir temas que geram desconfortos às famílias, que segundo além de
programas constantes de treinamento e sensibilização da equipe de saúde para o
atendimento ao paciente e à família.
Como Souza et al. (2004) afirmam, a família é um paciente secundário para a
instituição hospitalar. Sua importância compreende o vínculo com o paciente e a
necessária relação com a equipe de saúde, que por sua vez a vê como uma desconhecida
organização que em alguns momentos causa desconfortos e atitudes defensivas.
46
Tal fato nos permite considerar que essas atitudes defensivas da equipe
diminuem na medida em que maior compreensão dos mecanismos psicológicos e
necessidades das famílias nessa situação. Considerando-se também o discutido
inicialmente sobre a importância da postura da equipe na assistência e as estratégias de
enfrentamento de fuga e esquiva, resolução de problemas e reavaliação positiva
identificadas nessa pesquisa como as mais recorrentes, é importante que a equipe de
saúde tenha alguns cuidados pertinentes às estratégias de acolhimento.
Na estratégia de enfrentamento de fuga e esquiva, por exemplo, a equipe pode se
posicionar considerando a importância da crença religiosa nessa situação delicada,
aceitando os rituais, flexibilizando a visita de lideres religiosos como os pastores e
padres. Permitindo e valorizando também o significado dos objetos religiosos e imagens
deixados a beira do leito do paciente como proteção e demonstração de da família.
Percebe-se que essa estratégia diferencia-se do mecanismo de negação, na medida em
que se percebe a família compreendendo, questionando e sendo capaz de ouvir as
informações sobre o quadro clinico do paciente sem deixar de manter a esperança por
meio de sua crença religiosa.
É necessário ressaltar que esses recursos psicológicos não podem ser excluídos
dessas famílias, pois acreditam que apesar da situação dramática de ameaça de perda,
algo é possível mesmo quando há indicações contrárias noticiadas pela equipe médica.
Na estratégia de resolução de problemas, as orações também podem ser
interpretadas como uma forma de ação, de participação ativa que diminui o sentimento
de impotência, podendo ser considerado como enfrentamento religioso.
Havia nos discursos das famílias entrevistadas, certo sentimento de culpa
levando a uma necessidade quase que obrigatória da presença diária nas visitas e
também de participação nos cuidados como forma de minimizar esse sofrimento
47
psíquico. Percebeu-se que principalmente as famílias de pacientes com doença crônica
tinham mais essa necessidade, talvez pelo conhecimento e habilidade prévia nesses
cuidados específicos com o paciente.
Primeiramente por estar à frente no contato com a equipe, procurando
informações claras que os façam compreender a evolução do quadro clinico e segundo
por autenticarem um sentimento pelo paciente. Assim, a equipe deve enxergar e
valorizar o esforço das famílias em lidar com situações muito difíceis, onde são capazes
de utilizarem estratégias para se reorganizarem criativamente e estarem disponíveis no
cuidado ao paciente, tanto conversando com o paciente, mesmo que ele esteja sedado,
quanto trazendo prontamente material solicitado pela equipe como de higiene, fraldas,
medicação, cobertores, etc. O fundamental dessa relação é que a equipe possa, na
medida do possível, expor e discutir com a família as dificuldades, esperando construir
em parceria, as soluções práticas para os problemas que surgirem.
A estratégia de reavaliação positiva pode, por exemplo, ser interpretada pela
equipe como uma necessidade da família em dar sentido à experiência de crise que estão
vivendo, às inúmeras perguntas que precisam de respostas, que muitas vezes são
encontradas por elas nas reavaliações de vida que fazem e nas religiões. Portanto,
promover espaços para conversas por meio de linguagem respeitosa e cuidadosa com a
família, seja individualmente ou em grupos de apoio são bem vindos para tentar dar
vazão e organizar o pensamento.
48
5. CONCLUSÃO
Pode-se concluir que a internação no CTI faz com que as famílias revivam
experiências e sensações passadas de outras situações semelhantes. As estratégias de
enfrentamento descritas nesse estudo parecem ter sido construídas a partir do sistema de
crenças de cada família, representando as diferentes formas que utilizaram para se
adaptar à situação de estresse e manter certa estrutura emocional, já que possuem
recursos próprios para lidarem e se organizarem diante dos desafios da vida.
De acordo com esses resultados, percebeu-se que todas as estratégias de
enfrentamento foram utilizadas pelas famílias, algumas descritas mais vezes e outras
menos.
A estratégia de fuga e esquiva foi potencializada pela crença religiosa, talvez
pela presença determinante da religião evangélica nas famílias entrevistadas,
manifestando atitudes perseverantes e otimistas como forma de resolução de problemas,
que por sua vez, está diretamente relacionada à estratégia de aceitação de
responsabilidade, que o familiar entrevistado sente-se responsável pelos cuidados
com o paciente e com a própria família e para dar conta disso, utiliza os recursos da
estratégia de autocontrole.
A estratégia de reavaliação positiva vem buscar significados e encorajamento
para resistir às adversidades e a manutenção do sentimento de esperança, sentimento
esse que é inerente a qualquer ser humano na condição de sofrimento. É uma forma de
suavizar e tornar suportável o sofrimento psíquico e a intensidade emocional vivida no
CTI. Pode englobar a crença na recuperação do paciente, quando é possível a cura, mas
também pode englobar a crença que o paciente sem possibilidades de cura, possa morrer
sem sofrimento e com dignidade, acreditando que todo os recursos possíveis foram
49
realizados. A confiança estabelecida na relação com a equipe de saúde é que conduzirá
nesse sentido.
A família mostra necessidade de sentir que uma verdadeira aliança e relação
de confiança com a equipe de saúde visando sobretudo o cuidado ao paciente. Paralelo
ao movimento de participação das famílias e consciência do usufruto de seus direitos,
percebe-se que se constrói também uma mudança da cultura institucional que vem
influenciando as posturas das equipes de saúde envolvendo o tema da humanização.
E o conhecimento dos processos de estratégias de enfrentamento das famílias
desses pacientes, bem como seus recursos psicológicos, pode contribuir para a
valorização do acolhimento humanizado da equipe de saúde no atendimento às famílias
de pacientes graves. Para tal, é necessário primeiramente que a instituição hospitalar e a
equipe de saúde possam despir-se dos estereótipos sobre a família, que somente
prejudicam a assistência, e que estejam disponíveis na relação e preparados na arte da
comunicação.
A ampliação de possibilidades de assistência às famílias no CTI se complementa
com a intervenção do profissional psicólogo, que deveria passar a integrar as equipes de
saúde. Fundamentado na formação em psicologia hospitalar, esse profissional é
capacitado a ter um olhar diferenciado, ajudando as famílias a lidar com a situação de
crise sob um novo prisma e transformando-o em abordagens proveitosas que possam
fortalecer o sistema familiar. É importante que se considere o contexto familiar, bem
como as crenças e significados que trazem a respeito da doença e da internação
hospitalar.
50
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37. OLIVEIRA J, WATANABE C, ROMANO BW, Estratégias de Enfrentamento
(coping) dos Familiares de Pacientes Internados em Unidade de Terapia Intensiva,
Suplemento Rev Soc Card Est São Paulo; v. 17, p.4-9, jul.-set. 2007.
38. RAPIZO R, Terapia Sistêmica de Família Da Instrução à Construção; Noos, Rio
de Janeiro, 1996.
53
39. SAVOIA M., Escalas de eventos vitais e de estratégias de enfrentamento (Coping),
Rev Psiq Clin, São Paulo, 26 (02) pág 57-67, 1999, disponível em:
<http://www.hcnet.usp.br/ipq/revista/r262/artigo(57).htm>. Acesso em 02 Jan.
2006.
40. SAVOIA M, SANTANA P, MEJIAS N, Adaptação do Inventário de Estratégias de
Coping de Folkman e Lazarus para o Português, Psicologia USP, São Paulo, v.7, p.
183-201, 1996.
41. SOTIERJ, Bases Científicas para as Recomendações em Terapia Intensiva;
Revinter, Rio de Janeiro, 2004.
42. SOUZA R, (org), Manual de Rotinas de Humanização em Medicina Intensiva;
Psicosaúde, Curitiba, 2004.
43. SPECTOR N, Manual para a Redação de Teses, Projetos de Pesquisa e Artigos
Científicos, 2ª edição; Guanabara-Koogan, Rio de Janeiro, 2001.
44. STRAUSS A, CORBIN J, Pesquisa Qualitativa Técnicas e Procedimentos para o
Desenvolvimento de Teoria Fundamentada; Artmed, Porto Alegre, 1998.
45. SEIDL E, TROCCOLI B, ZANNON C, Análise Fatorial de Uma Medida de
Estratégias de Enfrentamento. Psic.: Teor. e Pesq. , Brasília, v. 17, n. 3, 2001.
Disponível em <www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
37722001000300004&lng=pt&nrm=iso> . Acesso em: 10 Out 2007.
46. THEOPHILO R, A História da Cibernética, disponível em
<www.psicologia.org.br/internacional> Acesso em: 08 Jan. 2007.
47. VIEIRAV, TRINDADE Z, ANTUNES N, Estratégias de Enfrentamento: um estudo
com idosos participantes de grupos de orientação e controle da hipertensão arterial,
Suplemento Rev Soc Card Est São Paulo, v. 9, p. 11-18, Jan-Fev,1999.
48. WALLAU R, LOPES R, LEAL P, et. al. Qualidade e Humanização do Atendimento
em Unidade de Terapia Intensiva. Rev Bras Terap Intens, v 18, n. 1, p. 45 51,
Janeiro / Março 2006.
49. WALSH F, Fortalecendo a Resiliência Familiar; Roca, São Paulo, 2005.
50. YUNNES MA, Psicologia Positiva e Resiliência: O Foco no Indivíduo e na Família,
Psicologia em Estudo, Maringá, v. 8, num. esp., p. 75-84, 2003, Disponível em
<www.scielo.br/pdf/pe/v8nspe/v8nesa10.pdf> . Acesso em 16 Fev 2008.
54
7. ANEXOS
7.1 Anexo 1 - Inventário de Estratégias de Enfrentamento
Leia cada item abaixo e indique, fazendo um círculo na categoria apropriada o que você fez na situação
0 não usei essa estratégia
1 usei um pouco
2 usei bastante
3 usei em grande quantidade
1. Concentrei-me no que deveria ser feito em seguida, no próximo passo
0
1
2
3
2. Tentei analisar o problema para entendê-lo melhor
0
1
2
3
3. Procurei trabalhar ou fazer alguma atividade para me distrair
0
1
2
3
4. Deixei o tempo passar _ a melhor coisa que poderia fazer era esperar _ o tempo é o melhor
remédio
0
1
2
3
5. Procurei tirar alguma vantagem da situação
0
1
2
3
6. Fiz alguma coisa que acreditava que a mesma não daria resultados, mas ao menos estava
fazendo alguma coisa
0
1
2
3
7. Tentei encontrar a pessoa responsável para mudar suas idéias
0
1
2
3
8. Conversei com outra(s) pessoa (s) sobre o problema, procurando mais dados sobre a
situação
0
1
2
3
9. Critiquei-me, repreendi-me.
0
1
2
3
10. Não tomei decisões drásticas
0
1
2
3
11. Esperei que um milagre acontecesse
0
1
2
3
12. Concordei com o fato, aceitei o meu destino
0
1
2
3
13. Fiz como se nada tivesse acontecido
0
1
2
3
14. Procurei guardar para mim mesmo (a) os meus sentimentos
0
1
2
3
15. Procurei encontrar o lado bom da situação
0
1
2
3
16. Dormi mais que o normal
0
1
2
3
17. Mostrei a raiva para as pessoas que causaram o problema
0
1
2
3
18. Aceitei a simpatia e a compreensão das pessoas
0
1
2
3
55
19. Disse coisas a mim mesmo (a) que me ajudassem a sentir melhor
0
1
2
3
20. Inspirou-me a fazer algo criativo
0
1
2
3
21. Procurei esquecer a situação desagradável
0
1
2
3
22. Procurei ajuda profissional
0
1
2
3
23. Mudei ou cresci como pessoa de uma maneira positiva
0
1
2
3
24. Esperei para ver o que acontecia antes de fazer alguma coisa
0
1
2
3
25. Desculpei ou fiz alguma coisa para repor os danos
0
1
2
3
26. Fiz um plano de ação e o segui
0
1
2
3
27. Tirei o melhor da situação, o que não era esperado
0
1
2
3
28. De alguma forma extravasei os meus sentimentos
0
1
2
3
29. Compreendi que o problema foi provocado por mim
0
1
2
3
30. Saí da experiência melhor do que eu esperava
0
1
2
3
31. Falei com alguém que poderia fazer alguma coisa concreta sobre o problema
0
1
2
3
32. Tentei descansar, tirar férias a fim de esquecer o problema
0
1
2
3
33. Procurei me sentir melhor, comendo, fumando, utilizando drogas ou medicação
0
1
2
3
34. Enfrentei como um grande desafio, fiz algo muito arriscado
0
1
2
3
35. Procurei não fazer nada apressadamente, ou seguir o meu primeiro impulso
0
1
2
3
36. Encontrei novas crenças
0
1
2
3
37. Mantive meu orgulho não demonstrando os meus sentimentos
0
1
2
3
38. Redescobri o que é importante na vida
0
1
2
3
39. Procurei modificar o que estava ocorrendo para que pudesse obter os melhores resultados
0
1
2
3
40. Procurei fugir das pessoas em geral
0
1
2
3
41. Não deixei me impressionar, recusava-me a pensar muito sobre essa situação
0
1
2
3
42. Procurei um amigo ou parente para pedir conselhos
0
1
2
3
43. Não deixei que os outros soubessem da verdadeira situação
0
1
2
3
44. Minimizei a situação recusando-me a me preocupar seriamente com ela
0
1
2
3
45. Falei com alguém sobre como estava me sentindo
0
1
2
3
46. Recusei recuar e batalhei pelo que eu queria
0
1
2
3
47. Descontei minha raiva em outra(s) pessoa (s)
0
1
2
3
48. Busquei nas experiências passadas uma situação similar
0
1
2
3
49. Eu sabia o que deveria ser feito, portanto dobrei meus esforços para fazer o que fosse
necessário
0
1
2
3
50. Recusei a acreditar que aquilo estava acontecendo
0
1
2
3
51. Prometi a mim mesmo que as coisas serão diferentes da próxima vez
0
1
2
3
52. Encontrei algumas soluções diferentes para o problema
0
1
2
3
56
53. Aceitei, nada poderia ser feito
0
1
2
3
54. Procurei não deixar que meus sentimentos interferissem muito nas outras coisas que eu
estava fazendo
0
1
2
3
55. Gostaria de poder mudar o que tinha acontecido ou como me senti
0
1
2
3
56. Mudei alguma coisa em mim, modifiquei-me de alguma forma
0
1
2
3
57. Sonhava acordado (a) ou imaginava um lugar ou tempo melhores do que aqueles em que
eu estava
0
1
2
3
58. Desejei que a situação acabasse ou que de alguma forma desaparecesse
0
1
2
3
59. Tinha fantasias de como as coisas iriam acontecer, como se encaminhariam
0
1
2
3
60. Rezei
0
1
2
3
61. Preparei-me para o pior
0
1
2
3
62. Analisei mentalmente o que fazer e o que dizer
0
1
2
3
63. Pensei em uma pessoa que admiro e a tomei como modelo
0
1
2
3
64. Procurei ver as coisas sob o ponto de vista da outra pessoa
0
1
2
3
65. Eu disse a mim mesmo (a) que as coisas poderiam ter sido piores
0
1
2
3
66. Corri, ou fiz exercícios
0
1
2
3
Adaptado por Savoia et al. (1976) do original de Folkman & Lazarus (1985).
Avaliação Fatores do inventário de estratégias de coping
Fator 1 - Confronto
itens 47, 17, 40, 34, 07, 28
Fator 2 - Afastamento
itens 41, 13, 44, 21, 06, 16, 10
Fator 3 - Autocontrole
itens 15, 14, 43, 54, 35
Fator 4 - Suporte social
itens 42, 45, 08, 31, 18, 22
Fator 5 - Aceitação de responsabilidade
itens 51, 09, 52, 29, 48, 25, 62
Fator 6 - Fuga e esquiva
itens 58, 59
Fator 7 - Resolução de problemas
itens 49, 26, 46, 01
Fator 8 - Reavaliação positiva
itens 38, 56, 60, 30, 39, 20, 36, 63, 23
57
7.2. Anexo 2 - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Hospital Universitário Clementino Fraga Filho - UFRJ
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Título do Projeto: Famílias de Pacientes Internados em Centro de Terapia Intensiva:
Descrevendo suas estratégias de Enfrentamento”.
A internação de um membro da família no CTI gera grande estresse e ansiedade,
sabemos também que as famílias funcionam de formas diferentes. O objetivo dessa
pesquisa é conhecer como cada família enfrenta esse período. Portanto, estamos
convidando você a responder um questionário que é aplicado após uma semana de
internação do paciente em CTI e participar de uma entrevista com gravação de voz, com
duração média de quarenta minutos e que após a transcrição da mesma, o material será
apagado.
Em qualquer etapa do estudo, você teacesso ao profissional responsável que pode ser
encontrado no CTI do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (13º andar), se
tiver alguma consideração ou dúvida sobre a ética da pesquisa, entre em contato com o
Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) sala 01D- 46 primeiro andar, fone 2562 2480 –
Os dados coletados serão utilizados exclusivamente para fins de pesquisa da dissertação
de mestrado, não serão identificados os nomes dos membros familiares nem o dos
pacientes que participarem da mesma. Não haverá despesas pessoais nem compensação
financeira relacionada à sua participação.
Acredito ter sido suficiente informado a respeito das informações sobre o estudo acima
citado que li ou que foram lidas para mim.
Concordo voluntariamente em participar deste estudo e poderei retirar o meu
consentimento a qualquer momento, antes ou durante o mesmo, sem penalidades ou
prejuízo ou perda de qualquer benefício que eu possa ter adquirido ou no meu
atendimento nesta instituição.
______________________________ _____________________________
Familiar Pesquisador
_______________________________ _____________________________
Prof. Cid Marcos David Katya Kitajima Borges
Orientador Cel 9234 6500 Pesquisador Responsável
Cel. 9987 4243 Tel 3385 4173
Rio de Janeiro, ___ de_______________de 200__
Resolução 196, de 10 de outubro de 1996 cap.IV – Consentimento livre e Esclarecido.
Projeto nº 380/06, aprovado em 20/04/06 pelo Comitê de Ética e Pesquisa do Hospital Universitário
Clementino Fraga Filho.
58
7.3 Anexo 3 – Roteiro de Entrevista
a) Apresentação pessoal + Bairro que mora
b) Profissão
c) Função parental
d) Composição familiar
e) Rede de apoio
f) Conhecimento do diagnóstico do paciente
g) Percepção sobre o paciente
h) Qualidade de relação com o paciente
i) Recursos de enfrentamento
j) Religião
k) Autocuidado
l) Percepção sobre a equipe de saúde
m) Percepção sobre o CTI
59
7.4 Anexo 4 - Parecer do Comitê de Ética e Pesquisa
60
7.5 Anexo 5 - Certificado de Apresentação em Congresso
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
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Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
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