remoção e reeducação da população. Segundo o autor a
origem desta política ocorreu em 1946, quando o prefeito
Abraão Ribeiro removeu favelas e implantou os primeiros
alojamentos provisórios que se tem notícia em São Paulo.
Estas propostas baseavam-se na idéia da favela ser a
primeira alternativa habitacional do imigrante e que após
um certo tempo ele ascenderia a outra alternativa
habitacional. A favela representaria, desta forma, etapa de
integração ao sistema, uma disfunção deste sistema. Sua
população se constituiria por migração rural-urbana e
permaneceria na favela até se incorporar na cidade.
TASCHNER (1986:89) contrapõe esta hipótese mostrando
que o crescimento das favelas em São Paulo estava muito
mais associado ao empobrecimento da população do que
aos processos migratórios. O trabalhador empobrecido não
consegue mais pagar o aluguel e encontra na favela a
alternativa de moradia, o que a autora chama de "filtração
descendente".
Pressionado pela população favelada e pelos
movimentos de moradia, muitos deles apoiados pela Igreja
Católica, o governo do prefeito Olavo Setúbal (1975-1979)
cria o FUNAPS - 0 Fundo de Atendimento à População
Moradora em Habitação Subnormal - possibilitando, desta
forma, que a prefeitura tivesse uma ampliação da sua ação
junto às favelas com maior independência dos recursos
federais provenientes do BNH e SFH repassados à Cohab -
Companhia Municipal de Habitação (BUENO, 2000:61).
O prefeito Reynaldo de Barros (1979-1982) cria o
programa PROFAVELA, primeiro programa destinado a
dotar as favelas de infra-estrutura básica, em alternativa ao
desfavelamento (BUENO, 2000:62). Faziam parte do
programa os sub-programas PROLUZ e PROAGUA que, com
convênios com a SABESP e ELETROPAULO, executaram
milhares de ligações em favelas municipais e estaduais.
Estes programas, embora não tenham tido grande impacto
na estrutura urbana das favelas, melhoraram a qualidade
ambiental das mesmas, sendo muito importantes para o
saneamento e melhoria dos índices básicos de saúde desta
população.
É a partir dos anos 1980, no contexto da
redemocratização do país e com o fortalecimento dos
movimentos sociais urbanos, que alguns municípios como
Recife, Belo Horizonte e São Paulo desenvolveram as
primeiras políticas públicas de urbanização de favelas, indo
além dos projetos alternativos ou experiências isoladas
(DENALDI, 2003:71).
Em São Paulo em 1983, no governo Mário Covas, o
programa PROFAVELA é aprimorado e passa a ter diretrizes
claras para a urbanização e regularização fundiária das
favelas. É uma clara alteração de enfoque do poder público
em relação às favelas, onde a prefeitura passa a assumir a
responsabilidade pela garantia da moradia digna e o direito
da população de permanecer na área de ocupação. São
desenvolvidos projetos pilotos em algumas favelas onde o
conceito adotado foi a demolição total do núcleo, remoção
temporária dos moradores e execução de novas casas, assim
como de toda a infra-estrutura urbana (BUENO, 2000:67).
Observa-se que neste momento há uma aceitação por
parte do poder público da permanência da população no
local de invasão, ou seja, o reconhecimento, em
determinadas situações, do direito à localização, muitas
vezes privilegiada, da favela, ao invés da remoção e
relocação da população em periferias distantes. No entanto,
a postura do poder público é de reurbanização dos núcleos
favelados, que significa a remoção total dos barracos para o
re-assentamento da população em novas moradias em um
novo padrão urbano com ruas e lotes traçados conforme os
padrões técnicos mínimos aceitáveis para a implantação da
infra-estrutura urbana.
Acredita-se que esta postura somente foi possível
devido ao tamanho reduzido das favelas, o programa teve
um caráter experimental atuando em 11 favelas de pequeno
porte, na média com 86 famílias, e devido a pouca
consolidação dos núcleos, ou seja, encontravam-se
basicamente barracos de madeira.
Paralelamente a estas ações experimentais e pontuais da
prefeitura de São Paulo, em Diadema, na região metropolitana
de São Paulo, a continuidade política obtida pela eleição
consecutiva de três governos do PT - Partido dos Trabalhadores
(1983 - 1996), possibilitou o desenvolvimento de um programa
16
de urbanização de favelas em logo prazo.
Estes programas irão produzir uma experiência
técnica e social nos quadros da administração pública de
Diadema que posteriormente irão alimentar as propostas
habitacionais da administração da prefeita Luiza Erundina
em São Paulo e Celso Daniel em Santo André.
Podemos dizer que as experiências ilustram o que
podemos chamar de segundo momento das ações públicas
em relação às favelas, se o primeiro momento é marcado
pela negação das favelas por parte do poder público,
levando ao abandono ou a remoção das mesmas, o segundo
momento é caracterizado pelos programas de reurbanização
dos núcleos favelados, ou seja, a aceitação da permanência
da favela no local de origem sem, no entanto, a aceitação da
sua forma e tipologia urbanística.
Na administração Jânio Quadros (1986-1988), os
programas de favelas foram paralisados e a prefeitura
retrocedeu em relação às favelas, adotando a política de
remoção.
Em 1986 a Câmara aprovou a chamada Lei de
Desfavelamento ou Lei de Operações Interligadas que visava
a flexibilização do zoneamento urbano com a intenção de
eliminar, com financiamento privado, as favelas situadas
nas áreas nobres da cidade.
As Operações Interligadas possibilitavam alterações
pontuais nas restrições à ocupação do solo e nos
coeficientes de aproveitamento sem tornar necessárias
mudanças gerais no zoneamento e, por outro lado, criam
| |16 "Diadema foi uma das
primeiras cidades brasileiras a
estabelecer, em 1983, uma
p o l í t i c a a b r a n g e n t e d e
urbanização de favelas. Inovou
a o t r a t a r a q u e s t ã o d a
urbanização de favelas não
mais como mera intervenção
p o n t u a l o u p r o g r a m a
a l t e r n a t i v o " ( D E N A L D I ,
2003:84).
No primeiro mandato do PT em
D i a d e m a , o s p r o g r a m a s
ocupavam-se basicamente da
r e e s t r u t u r a ç ã o e d a
regularização fundiária das
favelas, ou seja, a "marcação de
lotes". Naquele momento, as
favelas eram muito incipientes e
na sua maioria contavam
ape nas com ba rrac os de
madeira. Técnicos da Prefeitura
demarcavam novos lotes em um
parcelamento ortogonal e
regular, e os barracos eram
demolidos e reconstruídos em
no v o lo cal pel a pr ó pri a
população. Após a demarcação
d o s l o t e s a P r e f e i t u r a
encaminhava à SABESP a
solicitação de ligação de água e
esgoto e à ELETROPAULO, a
ligação de Luz.
Com o passar do tempo, e com as
no va s admi ni st rações , a
estrutura institucional se
aperfeiçoou e obras de infra-
estrutura, pavimentação e
canalização de córregos foram
executadas pela Prefeitura por
administração direta, por
empreitada ou por mutirão.
Instrumentos políticos e
urbanísticos foram criados para
a regularização fundiária das
favelas através da concessão de
uso da terra. Rosana DENALDI
(2003:98), que vivenciou de
perto este processo, avalia prós
e contras, "em que pese a
c o n s o l i d a ç ã o d e
assentamentos precários sem
as áreas livres necessárias, sem
os equipamentos urbanos e
sociais fundamentais e até
mesmo a consolidação de
m o r a d i a s e m á r e a s
a m b i e n t a l m e n t e e
geologicamente frágeis, este
movimento político e social
ocor rido em Di adema foi
responsável pela inclusão
social, jurídica e ambiental de
90% da população favelada e
aproximadamente um terço da
população da cidade".
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