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É, ai também, era barraco de lona. Uma vez uma cascavel dormiu enrolada
na cabeceira da cama do meu pai.
O que ele fez?
Ele pegou né, quando ele levantou , tirou leite e a cascavel ficou enrolada,
ai deu o dia e ele viu a cascavel, ele tirou a cascavel, deu uma paulada na
cascavel no chão, e ele foi empurrando ela com o pé até lá fora, e pegou um
pedaço de pau e matô ela.
E agora no assentamento? Qual foi a mudança?
Agora tem energia pra lavá roupa, tirá leite, luz, porque, antigamente, era
na vela, e a gente lavava roupa na tábua, e agora é no tanquinho. Tem
geladeira, tem prateleira, cama e também a casa, que agora é casa de tijolo,
e agora não tem mais perigo de entrá cobra, nem rato, nem sapo e nem
nada.
Você gostava de morar no acampamento?
Gostava, mas só que a gente ficava com medo de entrá cobra, sapo, coisa
assim, e picá, porque era escuro também. Tinha aquelas televisãozinhas,
porque a gente assistia na bateria.
Pegava mal?
Pegava, era preta e agora é televisão normal, tem antena parabólica e
televisão de cor.
Você queria ir muito para o assentamento? E seus pais?
Antigamente meu pai não tinha nada, ele montava no rodeio e ganhava
dinheiro montando no rodeio né, ganhava camionete, carro, moto e
dinheiro. Ele já quebrou a costela, quebrou a perna e fraturou o braço, e ai
uma vez, ele ficou sabendo que tinha um assentamento [acampamento] e
meu avô falô pra ele, ai ele entrou, e deu umas cinco vacas pra ele, ai nóis
tirô leite. E agora entrou a terra e saiu dinheiro do PRONAF, e ai meu pai
foi trabalhando, trabalhando, e agora tem porco, tem mais de duzentas
cabeças de gado, tem uns quarenta cavalos, carrinho, porco e também já tem
água encanada lá. Só que meu pai também tem uma bomba, que
antigamente, a gente puxava é no braço.
Você sabe o tamanho de lá?
Sei, quatro alqueires para cada um.
E seu pai tá criando quantas cabeças de bois lá?
Duzentas, mas só que umas 50 cabeças de gado fica na fazenda [...]
O gado fica espalhado em outros locais?
É. Ai né, quando as vacas desmama, meu pai pede um carreto.... Carreto, é
R$50,00, o carreto e leva pra lá. Meu pai comprou uma mangueira, agora tá
fazendo a mangueira bem grandona, só pra tirá leite, mas só que é grande,
tem brete pra muntá, tem um calçador pra andá de cavalo, pra levá os
bezerro, pos bezerro mamá, porque senão no outro dia não dá leite. Ai, no
outro dia, nóis levanta, tira o leite e solta o gado. Ai, eu vou na escola, e dia
de sábado, sábado fica pastorando o dia inteiro, até seis hora da noite, e
domingo sou eu que fico, e no meio do dia, assim, e de segunda até quinta,
vai eu e outra gente.
Da mesma forma, temos o aluno Clistiano (2006), morador do assentamento
Regência, com grandes dificuldades de escrita e que por ser repetente recorda-se de muitos
fatos que ocorreram no acampamento e das mudanças para o assentamento. De forma
interessante ele conta que seu pai era empregado da fazenda Santo Antônio, que foi ocupada
pelo MST. Em sua fala aparece uma controvérsia, pois ele pensa que a ocupação significa que