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aos destinos
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. Ela é sempre parcial, nunca totalmente satisfeita, e se distingue do
instinto animal por não ter um objeto pré-determinado que a satisfaça. Apesar de passar
pela rede de linguagem do inconsciente, nem tudo da pulsão pode ser simbolizado.
Quinet (2000a), parafraseando Freud quanto ao conceito limite da pulsão, define-
a com Lacan, como um conceito limite entre o simbólico e o real
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, por se encontrar na
interseção desses dois registros. No primeiro registro, a pulsão é representada no
inconsciente pelo conjunto dos significantes. “São os significantes representativos da
pulsão que fazem o inconsciente ser estruturado como uma linguagem” (p. 47). No Real,
a pulsão diz respeito à libido, ou seja, à “energia que se presentifica como satisfação
pulsional ou gozo do sintoma” (p. 47). Nesse sentido, afirmar que o inconsciente é
pulsional leva à admissão de que ele se estrutura como uma linguagem, mas também de
algo que escapa à simbolização, ou seja, que comporta algo de real.
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A concepção freudiana de pulsão teve sempre uma perspectiva dualista, referindo-se a forças em
permanente conflito. A primeira dualidade se deu entre as pulsões sexuais x pulsões do ego ou de
autoconservação. Uma outra dualidade foi proposta no interior da própria pulsão sexual: libido do eu x
libido do objeto. Por fim, Freud contrapôs a pulsão de vida x pulsão de morte.
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O real, o simbólico e o imaginário constituem os três registros formulados por Lacan para dar conta da
estruturação do psiquismo e da experiência analítica. Essas três dimensões só podem ser pensadas uma
em relação às outras.
De modo simplificado pode-se afirmar que o real consiste naquilo que não é simbolízável e, por isso
mesmo, não cessa de não se escrever. É aquilo que insiste por uma representação que é estruturalmente
impossível de se realizar.
O simbólico diz respeito ao campo da linguagem, da articulação significante que funda o sujeito a
partir de uma lei primordial – a lei de interdição ao incesto. É a falta, a ausência, que vai produzir os
significantes, instituindo uma presença na ausência. Para o bebê é a ausência/presença materna que vai
introduzir inicialmente o processo de simbolização. O simbólico determina o sujeito na medida em que o
bebê já é falado antes mesmo de nascer.
O conceito de Outro como lugar do código, onde se situa o tesouro dos significantes, também é
relacionado ao próprio inconsciente, posto se tratar de um lugar (extimo – ao mesmo tempo dentro e fora)
que se presentifica na fala a partir da linguagem. Reconhecer o inconsciente em sua dimensão simbólica
significa considerá-lo como uma alteridade radical para o sujeito. As formações do inconsciente – os
lapsos, chistes, sintomas e sonhos – atestam essa alteridade, indicando que “isso fala nele”.
O imaginário, este que o uso do divã busca esvaziar, se refere às imagens, àquilo que é do registro da
ilusão, das identificações. O registro do imaginário é compreendido a partir do que Lacan chamou de
estádio do espelho. Trata-se do momento em que a criança, anteriormente se percebendo como um corpo
despedaçado passa a reconhecer sua imagem refletido no espelho (olhar da mãe) como uma unidade, o
que já havia sido designado por Freud como o tempo de instauração do narcisismo primário, coincidente
com o surgimento do eu. O sujeito humano, através dessa alienação primeira à imagem do outro, vai
encontrar a via da sua inserção na ordem simbólica.