Simónides de Céos adquiriram uma importância de primeiro plano, tanto no domínio da
teoria como no domínio da prática artística, tendo passado a ser abusivamente interpretados
como significado a existência de semelhanças estruturais entre a poesia e a pintura. Aguiar
e Silva (1990) reitera que a mimese era considerada como matriz comum das duas artes
irmãs e, por conseguinte, segundo as palavras de Leonardo da Vinci, “a pintura é uma
poesia que é vista e não ouvida e a poesia é uma pintura que é ouvida , mas não vista”.
Semelhantemente, Camões refere-se à poesia como a pintura que fala (cf. Os Lusíada, canto
VIII, est. 41) e à pintura como a muda poesia (cf. Os Lusíadas, canto VII, est, 76)..
Étienne Souriau (1983) em seu livro Correspondência das artes propõe uma
discussão das possíveis correspondências entre as artes sob a perspectiva da estética
comparada. Tendo em vista os inúmeros trabalhos que se referem apenas a superfície deste
campo de pesquisa, estabelece que o estudo seja útil e profundo, admitindo apenas
analogias estruturais observáveis e que possam ser anotadas, escritas e expressas em
linguagem rigorosa. Comenta que quando pintores, músicos, poetas e escultores se
encontram, geralmente discutem acerca das técnicas, não apenas para compreenderem
processos, mas também objetivando encontrar motivos de inspiração, quer para obter
efeitos novos com transposições ainda não tentadas, ou quer para subtrair algum belo
segredo técnico, ignorado pelo seus iguais. Souriau (1983) explica que:
Poesia, arquitetura, dança, música, escultura, pintura são todas atividades
que sem dúvida profunda, misteriosamente, se comunicam ou comungam
[...] algumas destinam-se ao olhar, outras a audição. Umas erguem
monumentos sólidos, pesados estáveis, materiais e palpáveis. Outras
suscitam o fluir de uma substância quase imaterial, notas ou inflexões da
voz, atos, sentimentos, imagens mentais. Umas trabalham este ou aquele
pedaço de pedra ou de tela, definitivamente consagrados a determinada
obra. Para outras, o corpo ou a voz humana são emprestados por um
instante, para logo se libertarem e se consagrarem à apresentação de novas
obras e, depois, de outras mais. (Souriau, 1983, p.16)
Praz (1982) acrescenta que comparar as belezas de um poeta com as de outro poeta
constitui-se uma prática feita várias vezes. Mas congregar as belezas comuns da poesia, da
pintura e da música; mostrar-lhes as analogias, explicar como o poeta, o pintor e o músico
representam a mesma imagem, surpreender os emblemas fugitivos de sua expressão e