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Pedro Luiz de Oliveira Costa Bisneto
Faculdade Cásper Líbero
São Paulo – SP / 2008
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2
Pedro Luiz de Oliveira Costa Bisneto
Internet, Jornalismo e Weblog: a
Nova Mensagem
Estudos contemporâneos de novas tendências
comunicacionais digitais
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São Paulo
2008
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3
COSTA BISNETO, Pedro Luiz de Oliveira. Internet, Jornalismo e Weblog: a
Nova Mensagem. Estudos Contemporâneos de Novas Tendências
Comunicacionais Digitais. Dissertação de Mestrado. São Paulo SP:
Faculdade Cásper Líbero, 2008.
BANCA EXAMINADORA:
Prof. Dr. Sebastião Squirra – Universidade Metodista de São Paulo
Prof. Dr. Walter Teixeira Lima Junior – Faculdade Cásper Líbero
Prof. Dr. Dimas Antonio Künsch – Faculdade Cásper Líbero
Orientador
4
A Internet é a prensa de Gutenberg com esteróides. A importância de Gutenberg
não estava no número de bíblias impressas, mas no fato de você não ter mais de ouvir os
padres”.
Watts Wacker, futurólogo norte-americano (em Carvalho, 2003: 85).
5
AGRADECIMENTOS
Este trabalho é resultado do empuxo acadêmico que inclui diversos colegas e professores,
por isso esses agradecimentos se estendem a todos da presente lista
Prof. Dr. Cláudio Novaes Pinto Coelho, Prof. Dr. Cláudio Tognoli, Prof. Dr. Dilvo
Peruzzo, Prof. Dr. Dimas Antonio Künsch, Prof. Dr. Gustavo Venturi Junior, Prof. Dr. José
Eugênio Oliveira de Menezes, Prof. Dr. Laan Mendes de Barros, Prof. Dr. Laurindo Leal
Filho, Prof. Dr. Liráucio Girardi Junior, Prof. Dr. Luiz Claudio Martino, Prof. Dr. Marcelo
Oliveira Coutinho Lima, Prof. Dr. Pedro Luiz de Oliveira Costa Neto, Prof. Dr. Sebastião
Squirra, Prof. Dr. Sérgio Amadeu da Silveira, Prof. Dr. Walter Teixeira Lima Junior, Prof.
Gustavo de Souza Leite, Prof. Ms. Augusto Hideato Cimino Takeda, Prof. Ms. Carlos
Eduardo Kuroki Ito, Prof. Ms. Celso Agostinho Aparecido Antonio, Prof. Ms. Celso Alfaro
Malheiros, Prof. Ms. Gabriel Lages, Prof. Ms. Genilda Alves de Souza, Prof. Ms. Jairo
Camilo, Prof. Ms. Julio Cesar Degl'Iesposti, Prof. Ms. Luiz Fernando Camara Vitral, Prof.
Ms. Manuel Dorneles Rodrigues, Prof. Ms. Marcelo Briseno Marques de Melo, Prof. Ms.
Mario David Pinto de Melo, Prof. Ms. Osório Antonio Candido da Silva, Prof. Tiago Dória,
Prof. Ms. Synesio Consolo Filho, Profª. Drª. Eliany Salvatierra Machado, Profª. Drª.
Heloiza Helena Gomes de Matos, Profª. Drª. Mirtes Torres, Profª. Drª. Mônica Martinez
Oliveira de Menezes, Profª. Drª. Pollyana Ferrari, Profª. Heloisa Helena da Silva, Profª.
Lucia Teixeira de Freitas, Profª. Ms. Carolina Frazon Terra, Profª. Ms. Eliane Calixto
Paiva, Profª. Ms. Elisete Duarte Baião, Profª. Ms. Ester Marçal Fér, Profª. Ms. Ligia
Siniscalco de Oliveira Costa, Profª. Ms. Liliane Moiteiro Caetano, Profª Ms. Ivana Soares
Paim, Porfª Ms. Patrícia Rangel Moreira Bezerra, Profª. Ms. Roseli Trevisan Campos,
Profª. Ms. Tatiana Massako Kawakami, Profª. Patrícia Reis, Profª. Waléria Bertolucci.
6
Dedicatória
Aos meus pais, Pedro Luiz de Oliveira Costa Neto e Ligia Siniscalco de Oliveira Costa, à
minha filha, Thays Gomes do Sacramento de Oliveira Costa, aos meus irmãos, Suzana
Siniscalco de Oliveira Costa e Luiz Ricardo Antenore Costa e às minhas sobrinhas, Marina
Cintra de Oliveira Costa e Helena Callegari Costa, pois, como diria o filósofo das
multidões, “a família é o berço de tudo”.
7
Resumo
O seguinte estudo tem lugar no campo que engloba o Jornalismo e a Internet, bem como no
novo elemento que resulta da fusão dessas duas instâncias, o webjornalismo. Analisa-se
como a Internet está mudando o mundo do jornalismo, com um foco especial sobre a crise
que afeta a tradicional e antiga imprensa escrita. O jornal vai desaparecer? Esta é uma das
questões que a presente obra procura investigar. Os novos fenômenos que aparecem no
mundo digital da notícia através da Internet, tais como a blogosfera e a empresa Google
entre outras novas formas de disseminar a informação pela web, as novas tecnologias e
soluções que vêm sendo usadas para se fazer jornalismo de atualidade, são outro foco desta
dissertação de mestrado. Depois de definir este novo cenário para o Jornalismo, a pesquisa
apresenta um estudo de caso centrado nos dois maiores jornais de São Paulo, O Estado de
S. Paulo e Folha de S.Paulo, e seus respectivos sites da Internet, Estadao.com.br e Folha
Online. Como resultado, o estudo aponta novas tendências para o Jornalismo dentro de um
mundo de informações que, cada vez mais, flui através de linhas conectivas de banda larga,
linguagem digital-binária e dispositivos computadorizados miscelâneos.
Palavras-Chave: Jornalismo; Internet; blog; jornal; webjornalismo; Google; mídia.
Abstract
The following study takes place in the field which holds Journalism and Internet, and the
new element that emerges from the fusion of those two instances, the webjournalism. This
study shows how the Internet is changing the world of Journalism, with a special focus on
the crisis that affects the traditional old written press. Will the newspaper be vanished? This
is one of the issues which the present study looks forward to uncover. The new phenomena
that appear in the digital news through the Internet, such as the blogosphere and the Google
company, between other new ways to spread information on the web, the new technologies
and solutions which have being used to spread the news, are other focus of this Master’s
dissertation. After setting this new Journalism’ scenario, this study analyses a case focused
at Sao Paulo’s two major newspapers, O Estado de S. Paulo and Folha de S.Paulo and its
respective websites, Estadao.com.br and Folha Online. As result, the study points new
tendencies for the Journalism inside a world of information that, each time more and more,
flows through broadband connective lines, digital-binary language and miscellaneous
computerized devices.
Keywords: Journalism; Internet; blog; journal; webjournalism; Google; media.
8
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .............................................................................
11
CAPÍTULO I
O NOVO PARADIGMA DA INTERNET .....................................
17
1. Uma Nova Relação Midiática: Internet e Jornalismo ...........
Virtualização e Atualização ............................................................
Texto e Hipertexto ..........................................................................
O Ciberespaço e o Novo Mercado ..................................................
A Fórmula de McLuhan ..................................................................
McLuhan e a Imprensa .......................................................
A Galáxia da Internet ......................................................................
20
20
24
28
35
40
44
2. A Internet e a Esfera Pública ...................................................
A Esfera Pública de Jürgen Habermas ............................................
O Fim da Esfera Pública .................................................................
A Esfera Pública na Internet ...........................................................
50
54
58
63
3. A Crise dos Jornais Impressos .................................................
A Profecia de Meyer .......................................................................
O Jornalismo é uma “bobagem” ....................................................
A Questão da Convergência ............................................................
A Crise Ética do Jornalismo ............................................................
Espetáculo e Jornalismo ....................................................
A Galáxia do Espetáculo .....................................................
A Sinergia da Mídia ........................................................................
Sinergia Brasileira ..............................................................
70
84
90
92
98
100
108
113
115
CAPÍTULO II
A NOVA FACE DA NOTÍCIA: O WEBJORNALISMO ..............
117
1. As Novidades do Jornalismo na Internet ................................
Não lineariedade .............................................................................
Instantaneidade ...............................................................................
Dirigibilidade ..................................................................................
Qualificação ....................................................................................
Custos de produção e de veiculação ...............................................
Interatividade ..................................................................................
Receptor ativo .................................................................................
Usabilidade .....................................................................................
Inovação ..........................................................................................
Blog .....................................................................................
Web 2.0 ................................................................................
O Jornalista no Ciberespaço ............................................................
Ética ...................................................................................
118
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120
121
122
124
125
128
130
133
138
140
144
147
9
2. A Mídia do “Eu” ....................................................................... 149
3. Os Blogs como Novo Meio de Expressão Jornalística ...........
Os Blogs e o Resgate da Esfera Pública .........................................
O Poder dos Blogs .............................................................
Objeções ............................................................................
161
181
183
188
Considerações Finais – Capítulos I e II .......................................
O Paradigma da Internet ................................................................
Tendências para o Jornalismo ........................................................
197
197
200
CAPÍTULO III
O WEBJORNALISMO NA ATUALIDADE .................................
202
1. Iniciativas Mundo Afora ..........................................................
Google Dominando a Rede .............................................................
203
203
2. Iniciativas Brasileiras ...............................................................
Os Jornais Brasileiros na Internet ...................................................
Grupo Folha ....................................................................................
Folha Online .......................................................................
Os Blogs da Folha ...............................................................
O Site da Folha de S.Paulo .................................................
Grupo Estado ..................................................................................
Estadao.com.br ...................................................................
Os Blogs do Estadão ..........................................................
O Estadão de Hoje e o Jornal Digital ................................
O Portal Limão ...................................................................
Política na Folha Online e no Estadao.com.br ..............................
E nos Blogs da Folha e do Estadão ....................................
E na Blogosfera Também ....................................................
Outras Iniciativas ............................................................................
Globo.com ...........................................................................
ESPN Brasil ........................................................................
213
213
216
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237
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241
244
247
247
248
3. Um Chat com Especialistas .......................................................
Blogs, Blogueiros, Blogosfera e Mídia ...............................
Influência e Credibilidade ..................................................
O Jargão dos Blogs .............................................................
Inovação ..............................................................................
O Fim dos Jornais Impressos ..............................................
A Grande “Sacanagem” do Mainstream Media .................
A Pequena Roda ..................................................................
O Diálogo nos Blogs ..........................................................
Microblogging .....................................................................
BBB – Big Brother Blog ………………………………………
Futurologia ........................................................................
.
250
250
261
266
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270
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278
282
285
288
10
ÚLTIMAS CONSIDERAÇÕES ..................................................
Blogs e Webjornalismo .......................................................
Infotenimento ......................................................................
As Redes Sociais ..................................................................
Google Dominando o Brasil ...............................................
As Objeções de Yochai Benkler ..........................................
A Internet e a Esfera Pública ..............................................
A Eleição de Barak Obama .................................................
Ética ....................................................................................
De Volta para o Futuro ......................................................
GLOSSÁRIO .................................................................................
BIBLIOGRAFIA ...........................................................................
Dissertações e Teses Relacionadas com o Tema ................
XXX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação ..
Videografia ..........................................................................
Linkografia ..........................................................................
Sites .....................................................................................
ANEXOS ........................................................................................
Entrevistas Campus Party ...................................................
Entrevista Lucia Freitas .....................................................
Entrevista Gustavo Venturi .................................................
Entrevistas Revista Imprensa ..............................................
289
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291
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337
343
355
359
11
INTRODUÇÃO
Enquanto Freud explica, o Diabo
os toque” – Raul Seixas
O estudioso espanhol Manuel Castells afirma que ingressamos agora num novo
mundo de comunicação, a “Galáxia da Internet”. O francês Pierre Lévy
1
expõe que o
consumidor não apenas se torna coprodutor da informação que consome, mas é também
produtor cooperativo dos “mundos virtuais” nos quais evolui dentro desta Galáxia. o seu
compatriota Jean Baudrillard adverte que o cyberespaço determina a desertificação sem
precedentes do espaço real e de tudo o que nos cerca. Por fim, o canadense Marshall
McLuhan filosofa sobre o novo transformando o seu predecessor em forma de arte. No
meio de todas essas colocações, um ingrediente da sociedade contemporânea vagueia de
um lado para o outro, o Jornalismo.
Conforme anunciou o espanhol, evoluímos da Galáxia de Gutenberg (de McLuhan)
para a Galáxia da Internet. Estamos na era da informação e, nessa nova era, uma tradicional
instituição está em xeque, o jornalismo, como mencionado. Soberano em sua atuação na
sociedade desde os idos da prensa gráfica de Gutenberg, hoje o jornalismo sofre rupturas
em suas fundações seculares. A era da informação altera velhos paradigmas em que essa
instituição se alicerçou, subvertendo, através da Internet, o papel que antes era praticamente
exclusivo dessa habilitação comunicacional. Assim demonstram alguns estudos dos nomes
citados no parágrafo anterior, e não só, são questões que vários estudiosos estão analisando
e que são usadas para fundamentar a pesquisa dissertativa que segue.
Nessa nova era da informação, onde a Internet é o mais novo meio atuando na
grande cena midiática do mundo globalizado, o jornalismo também ganha novos horizontes
e busca o seu espaço através da grande rede e, assim, apresenta a sua nova metamorfósica
evolução, o webjornalismo, ou jornalismo digital, como muitos a ele se referem. Dentro dos
novos paradigmas do mundo conectado pela “rede das redes”, o jornalismo também nela se
conecta e, dessa forma, neste trabalho também se analisa como é essa nova prática
jornalística, como se essa nova mutação do jornalismo sob a forma do webjornalismo, o
1
Pierre Lévy é nativo da Tunísia (1956) e cidadão franco-canadense. Como completou seus estudos na
França, é referido no meio acadêmico como filósofo francês da informação e/ou ciberespaço.
12
que ele agrega ao tradicional, no que ele inova. São perguntas necessárias quando se busca
entender o contexto onde o novo é coator do tradicional dentro dessa nova era de
informação incontrolável e abundante que nos traz a Internet, pois agora “tudo está
interligado”, como nos diz a especialista em mídia digital Beth Saad. Sim, tudo está
interligado, inclusive o jornalismo.
Nesse novo paradigma do webjornalismo, algumas palavras-chave a ele associadas
não linearidade, fisiologia, instantaneidade, dirigibilidade, qualificação, custos de
produção e de veiculação, interatividade, pessoalidade, acessibilidade, receptor ativo,
usabilidade e inovação – são guias que nos levam aos fundamentos do jornalismo na
Internet e que permeiam diversos estudos, dentre os quais os do comunicólogo J. B. Pinho,
do jornalista Mike Ward e da ex-diretora da unidade de Internet da Editora Globo e diretora
de conteúdo do Portal iG, Pollyana Ferrari, que levamos em conta neste trabalho.
Dentre essas novas relações propiciadas pelo incipiente ambiente digital, este estudo
procura ir além e saber como elas estão alterando a construção do espaço público, que,
no atual momento, o cidadão estaria mais próximo da informação e suas fontes, como
afirma o professor de ética jornalística Eugênio Bucci. Assim, com toda essa informação
disponibilizada, a Internet estaria criando um novo “espaço público conectado”, conforme
termo utilizado pelo “guru” norte-americano da Internet Yochai Benkler, que concerne à
instituição jornalística como um todo, seja na web, seja na TV ou no jornal (e na relação
conjuntural dessas mídias). Como essa nova esfera estaria se constituindo é algo que este
estudo também busca analisar. Nessa esteira, interessa averiguar como se a relação do
público com o jornalismo dentro desse novo paradigma e vice-versa. Também se busca
elucidar como o leitor/usuário é “coprodutor” dentro desse novo espaço digital da notícia,
conforme apontado por Lévy no parágrafo inicial desta Introdução.
Sobre as mudanças na relação entre o público e a notícia, um estudo do professor e
jornalista Rosental Calmon Alves traz à tona dados relevantes, que demonstram como o
usuário da Internet, êle, é em grande parte o responsável pela ruptura que está pondo abaixo
os pilares da mídia. A consulta a esse estudo e outros semelhantes, para entender a questão
das novas mídias
2
, é parte de como esta pesquisa analisa a convergência que acontece em
2
Entendemos como novas mídias aquelas que se conectam em rede utilizando como base a linguagem binária
dos computadores e permitem uma comunicação em duas vias, permitem ouvir e ser ouvido, o que inclui a
13
relação aos meios comunicacionais e sua binarização/conexão junto à Internet (com foco na
questão jornalística), que não é um fator o somente tecnológico mas, também,
comportamental, do público em relação às novas mídias.
Dentro dessa convergência, novas iniciativas aparecem, novas tecnologias que vão
sendo utilizadas tanto pelos jornalistas e suas tradicionais instituições noticiosas quanto
pelo público como, por exemplo, o fenômeno da blogosfera. Nesta questão dos blogs, uma
pesquisa inglesa comissionada pela emissora Sky
3
aponta que um em cada dez jovens tem o
hábito de escrever para um diário oficial, enquanto 47% deles escrevem em blogs (dados
referentes ao público inglês). A pesquisa apontou ainda que esses jovens gastam cerca de
4,5 horas semanais entre blogs ou sites de distribuição de conteúdo online, tais como
Youtube, Myspace e similares. Cerca de 22% desse público têm o hábito de escrever em
seus blogs, ou “diários virtuais”, cerca de cinco dias por semana. Esses dados são
relevantes e demonstram parte do escopo desta pesquisa, que analisa não somente a questão
dos blogs como nova expressão da convergência do público sobre o mundo da notícia, mas
também diversos outros recursos e tecnologias novas soluções –, como as exemplificadas
nessa pesquisa da Sky e outras, que vão se amoldando em torno do jornalismo e
modificando a relação deste com o público e a postura deste último frente ao mundo da
informação.
Entretanto, está na afirmação de McLuhan uma das grandes questões que pairam
sobre o jornalismo na era da informação. Na medida em que a Internet traz um novo
paradigma para o jornalismo, ela transforma velhas práticas dessa instituição em arte, o que
parece muito romântico. Porém, nesse caminho ao “estado da arte jornalística”, pode estar a
explicação para a crise vivida pelos jornais impressos na atualidade, atônitos, em busca de
sua vocação artística, já que a informativa, a sua função fundamental até então, está sendo
solapada pela Internet. Será? Este é outro fator que este estudo procura desvendar.
Dentro das práticas jornalísticas afetadas pela nova mídia, o tradicional jornal
impresso, especialmente seus grandes e mais antigos veículos, estaria em vias de extinção
dada a introdução da Internet no mundo da informação. Essa profecia apocalíptica é alvo de
Internet e uma série de dispositivos móveis, sendo o telefone celular um deles. Basicamente, são todas as
formas de comunicação que têm como base o microchip.
3
Conforme noticiado pela WBI Brasil, em http://www.wbibrasil.com.br/boletim.php?id_boletim=324,
10/04/2007.
14
um estudo do professor e pesquisador da University of North Carolinia, além de jornalista e
experiente estatístico, Philip Meyer, que foi debatido pela revista inglesa The Economist,
em matéria que causou frisson no mundo profissional e acadêmico do jornalismo. A edição
de agosto de 2006 da revista estampou em sua capa: Who Killed the Newspaper?(Quem
matou o jornal?). No corpo da revista, um parágrafo profetiza:
De todos os meios “antigos”, os jornais são os que têm mais a perder para a Internet. A
circulação tem caído nos Estados Unidos, na Europa ocidental, na América Latina, na
Austrália e na Nova Zelândia (nos outros lugares, as vendas sobem). Mas, nos últimos anos,
a Web acentuou o declínio. Em seu livro The Vanishing Newspaper, Philip Meyer calcula
que o primeiro trimestre de 2043 será o momento em que o jornal impresso morrerá nos
Estados Unidos, quando o último leitor cansado colocar de lado a última edição amarrotada.
Se o jornal impresso tende a desaparecer ou ser relevado a um segundo plano em
relação à Internet, a análise dessa questão é algo que o presente estudo busca levar em
conta, tentando verificar até onde vai a sua veracidade, pretendendo entender até que ponto
a Internet influi na crise dos jornais impressos, se ela pode mesmo ser responsabilizada pelo
“iminente assassínio do jornal impresso”.
Estudos do professor de ética jornalística e ex-diretor fundador do portal UOL Caio
Túlio Costa, demonstram a dificuldade das empresas tradicionais de comunicação lidarem
com essa nova emergência midiática, em especial a Internet. O professor enfatiza que,
apesar das várias opções de jornais digitais de que dispomos hoje na rede, especialmente os
brasileiros e ligados às instituições tradicionais, nenhum deles ainda compreendeu os
mecanismos de interatividade disponíveis pelas tecnologias de informação da Internet e,
por isso, tendem a perder terreno para as empresas que se utilizam desses mecanismos e os
desenvolvem cada vez mais. Essas afirmações são contundentes, e levam a duas questões
que se colocam por trás da relação entre a Internet e as velhas mídias, onde se situam os
tradicionais jornais impressos. Em primeiro lugar, a sinergia dos conglomerados globais de
mídia e dos grupos nacionais em suas transações com o mundo da tecnologia da informação
e das novas redes comunicacionais, e a questão dos jornais brasileiros nessa relação com as
novas mídias. A análise destas questões leva aos bastidores da crise midiática que envolve
as empresas jornalísticas, onde para tal, além de analisar como grandes grupos
internacionais estão desenvolvendo novas tecnologias para o jornalismo, tais como a
Google, talvez a maior empresa do ciberespaço na atualidade, busca-se entender como eles
15
se relacionam com os grupos locais de informação e com os novos públicos da era digital.
Assim, em segundo lugar, cumpre analisar como esses grupos locais de mídia estão
interagindo dentro dessa sinergia onde, por esse caminho, chega-se ao objeto empírico
deste estudo: como tudo isso se dá no contexto das empresas brasileiras de mídia.
Uma notícia recente do Jornal da Tarde informa
4
: “Só percebe qualquer alteração
cultural quem a observa muito de perto, como faz desde julho o jornal MetaNews, mantido
pelo Grupo Estado exclusivamente no mundo virtual”. É a presença do velho jornal O
Estado de S. Paulo dentro da Internet e dentro do mundo virtual conhecido por Second
Life
5
. Já na TV, a propaganda anuncia: “Clique ÃO!”. Por outro lado, o da concorrência,
um videocast na web irradia: Folha OnLine, a credibilidade da Folha na Internet”. Essas
informações, que perambulam por todas as mídias, direcionam aos alvos previamente
mirados pelo presente estudo, demonstram de forma prática a questão das novas
tecnologias e da convergência midiática mencionadas acima, e expõem o estudo empírico
levado em conta nesta dissertação. Assim, pesquisa-se como os dois maiores jornais
paulistanos, O Estado de S. Paulo e a Folha de S.Paulo, estão sobrevivendo e se adaptando
no novo mundo digital binário da Internet, o que, obviamente, leva em conta a análise dos
seus respectivos websites, o Estadao.com.br e o Folha Online, onde observam-se as novas
práticas desses jornais frente e através do novo meio. É por meio desses dois tradicionais
jornais de São Paulo, ou melhor, através dessas duas megacorporações do mundo da notícia
nacional, que se tenta entender como a Internet está alterando o mundo da notícia no
cenário brasileiro, de forma que se possa analisar tendências para esses veículos dentro
desse cenário midiático digital, que se mostra cada vez mais abrangente.
Com a junção de todos esses fatores, as análises bibliográficas, os diversos estudos
e pesquisas acadêmicas, e somando-se o estudo de caso sobre os dois grandes jornais
paulistanos, além das entrevistas com especialistas em Internet e jornalismo, busca-se uma
soma cujo extrato aponte tendências para o mundo do jornalismo e sua inserção na
“Galáxia da Internet”, inclusive tentando verificar de algum modo se o jornal impresso irá
de fato sucumbir diante do novo meio e, enfim, se se pode entender como clarividêntica a
4
Matéria de Lucas Pretti, “O segredo do Second Life em uma palavra, publicada no Jornal da Tarde,
Caderno Link em 10/01/2008.
5
Realidade virtual em cenário tridimensional com conexão multiusuária de massa, que conecta em tempo-real
pessoas de qualquer parte do planeta através de um software dedicado. Site oficial:
http://www.secondlife.com.
16
afirmação de Baudrillard no parágrafo primeiro desta introdução: irá o ‘cyberespaço’
desertificar o mundo do jornalismo?
Na resposta a esta pergunta jaz a nossa hipótese para este estudo: o ‘cyberespaço’
tanto não desertificará o mundo do jornalismo, quanto não relevará à inexistência os
tradicionais meios impressos.
Para elucidarmos a hipótese acima, esse estudo se estruturará da seguinte forma:
Capítulo I – Aborda quais os fatores que fazem a Internet alterar o paradigma
comunicacional e como o jornalismo se encaixa nesse novo cenário. Questões como a do
espaço público; da crise do jornalismo impresso, que apresenta queda nas tiragens em todo
mundo; dos conglomerados internacionais e nacionais de mídia; da convergência e da crise
ética são estudadas neste capítulo.
Capítulo II – Mostra as novidades do jornalismo através da Internet, conceituando o
webjornalismo. Analisa-se o blog como nova ferramenta de veiculação da notícia e como
ele se relaciona com o paradigma estudado no capítulo anterior. Também busca-se entender
o papel do indivíduo perante as novas mídias.
Capítulo III Analisa-se o jornalismo na atualidade observando-se as novas
iniciativas que surgem dentro do ciberespaço, incluindo uma análise da empresa Google,
diversos blogs, websites noticiosos e dois grupos midiáticos brasileiros – Estadão e Folha
e seus respectivos sites jornalísticos na web, com entrevistas em profundidade com
especialistas nas questões relacionadas.
17
Capítulo I - O NOVO PARADIGMA DA INTERNET
“I'm no puppeteer. I don't make things
happen. I only set the stage; you put
your own streams” – Devil’s talking
6
Neste capítulo buscamos entender a mudança do paradigma comunicacional a partir
da introdução da Internet no contexto midiático contemporâneo. Ao longo dessa análise,
veremos como tal mudança se relaciona com o jornalismo. Como ela altera o espaço
público e leva o jornalismo a uma crise geral: jornais impressos perdem leitores, a ética se
coloca em cheque e, até mesmo, a identidade jornalística estaria se perdendo, segundo
algumas visões.
Mas, antes de tudo, vamos esclarecer o que vem a ser paradigma. Segundo o
dicionário Michaelis, um paradigma é um modelo, padrão ou protótipo. O dicionário ainda
define a palavra como sendo um “conjunto de unidades suscetíveis de aparecerem num
mesmo contexto, sendo, portanto, comutáveis e mutuamente excludentes. No paradigma, as
unidades têm, pelo menos, um traço em comum (a forma, o valor ou ambos) que as
relaciona, formando conjuntos abertos ou fechados, segundo a natureza das unidades”
Quem aborda o conceito de paradigma com profundidade é o estudioso Thomas
Kuhn. Ele parte de uma definição de Platão (428-347 a.C.), filósofo da Grécia Antiga, que
entende paradigma como algo muito semelhante a um tipo de modelo. Mas Kuhn não pára
seu estudo numa única definição, ele utiliza o conceito como amparo para o próprio estudo
científico. O modelo, nesse entendimento, se transforma num mapa, numa espécie de guia
que serve para embasar diversos estudos em seus respectivos campos. Um ponto
interessante do estudo de Kuhn refere-se à ruptura de um paradigma: “(...) quando a
comunidade científica repudia um antigo paradigma, renuncia simultaneamente à maioria
dos livros e artigos que o corporificam, deixando de considerá-los como objeto adequado
ao escrutínio científico” (Kuhn, 2003:209).
6
Em The Devil’s Advocate (1997). “Eu não sou manipulador de marionetes. Eu não faço as coisas
acontecerem. Eu apenas preparo o palco, você coloca os seus próprios fios” (T.A.). PS: As frases das
epígrafes retiradas de obras cinematográficas foram, em alguns casos, adaptadas para esta dissertação, não
correspondendo fielmente às falas originais dos filmes. Todas as falas do diabo (Devil’s talking), são
interpretadas pelo ator norte-americano Al Pacino.
18
O estudioso português Boaventura Sousa Santos, em livro intitulado Introdução a
uma ciência pós-moderna, discute a questão de ruptura de paradigma. Com base no
pensamento kuhniano, ele se pergunta se a crise atual da ciência relacionada à ruptura de
paradigma (que, no nosso caso, volta-se ao terreno da comunicação e, mais
especificamente, a habilitação em jornalismo), pode ser considerada de crescimento:
Têm lugar ao nível da matriz disciplinar de um ramo da ciência, isto é, revelam-se na
insatisfação perante métodos ou conceitos básicos até então usados sem qualquer
contestação na disciplina, insatisfação que, aliás, decorre da existência, ainda que por vezes
apenas pressentida, de alternativas viáveis (...) a reflexão epistemológica é a consciência da
punjança da disciplina em mutação e, por isso, é enviesada no sentido de afirmar e
dramatizar a autonomia do conhecimento científico em relação às demais formas e práticas
do conhecimento (Santos: 1989:18-19).
Ou de degenerescência, essa sim, de fato, de mudança completa de paradigma:
“(...) o crises do paradigma, crises que atravessam todas as disciplinas, ainda que de
modo desigual, e que as atravessam de um modo mais profundo” (Santos: 1989:19).
Assim, buscaremos entender se a mudança do paradigma comunicacional é algo que
pode ser entendida como positivo, trazendo uma evolução, um crescimento para o ramo
jornalístico, ou é de ruptura, levando tal habilitação a uma degenerecência de seus valores e
teorias de modificação completa de seus alicerces. Seria o cenário atual da comunicação
relacionado a qual tipo de ruptura? A compreensão da questão do paradigma
comunicacional dentro da era da informação digital mostra-se fundamental para lançarmos
uma luz sobre essa questão ao fim deste estudo.
A pesquisadora e livre-docente em Ciências da Comunicação Beth Saad
(ECA/USP), em Estratégias para a mídia digital, citando Clayton M. Christiansen (The
innovators dilemma, p. XV), vê a Internet como um novo paradigma comunicacional que
causa uma ruptura no setor midiático, “que, em curto prazo, piora a performance do
produto ou serviço que a empresa informativa possui, pois seus indicadores de desempenho
são típicos da mídia tradicional (aferição de circulação e/ou audiência) não sendo
adequados à inovação digital” (Saad, 2003:47). Saad procura, em seu estudo, estabelecer
uma série de estratégias que as empresas de mídia devem adotar para tirar o melhor
proveito dos negócios provenientes do novo ambiente digital, além de analisar quais são as
estratégias adotadas por diversas empresas nesse setor.
19
A definição de Kuhn, o questionamento de Santos e a afirmação de Saad nos
remetem ao objetivo que buscamos atingir neste primeiro capítulo: entender como se a
ruptura do paradigma comunicacional a partir do surgimento das novas tecnologias binárias
e interconectadas. Para entender essa ruptura e saber qual é esse novo paradigma, vamos
também refletir sobre algumas dessas mudanças que, no seu conjunto, alteram o paradigma
comunicacional.
20
1. A Nova Relação Midiática: Internet e Jornalismo
I’ll take the bricks out of your
shoulder. I’ll give you pleasure” –
Devil’s talking
7
Virtualização e Atualização
Para entendermos como a Internet está alterando os paradigmas comunicacionais e
estes, por sua vez, estão alterando o jornalismo como um todo, buscamos analisar essa nova
mídia por variados conceitos de diversos estudiosos, o que vai muito além de olhar (ou
navegar) para o novo meio apenas como mais um veículo midiático a nós disponível. O
primeiro estudioso a quem recorremos é aquele que mencionamos logo na introdução deste
estudo, o filósofo francês Pierre Lévy.
Segundo os conceitos discutidos por Lévy em sua obra O que é virtual, a Internet é
o “mundo virtual”, pois neste mundo nada é definitivamente concreto, as páginas e os sites
na World Wide Web ou simplesmente web
8
estão sempre em processo de atualização,
principalmente por serem construídos por milhares de operários que nesse espaço
interagem. A definição do “mundo virtual” de Lévy vai além de uma simples referência à
Internet, é uma chave que conduz e abrange parte de todas suas teorias relativas ao mundo
virtual e de como este está alterando a sociedade atual:
Um movimento geral de virtualização afeta hoje não apenas a informação e a comunicação,
mas também os corpos, o funcionamento econômico, os quadros coletivos da sensibilidade
ou o exercício da inteligência (...) trata-se de uma onda de fundo que ultrapassa amplamente
a informatização (Lévy, 1996:11).
Outro fator que nos diz que a Internet é o “mundo virtual” está no simples fato de
que, quando interagimos com esse mundo, seja através da navegação por páginas web, ou
por outro protocolo qualquer de comunicação disposto na rede, estamos interagindo com
representações gráficas e numéricas da informação, e não diretamente com a informação
armazenada nos diferentes computadores da rede, pois esta informação é binária,
7
Em The Devil’s Advocate (1997). “Eu vou retirar o peso de seus ombros. Eu vou lhe dar prazer” (T.A.).
8
Para saber o significado dos termos técnicos, siglas, jargões, estrangeirismos e neologismos mencionados
neste estudo, consulte glossário em anexo.
21
matemática. Nós interagimos com a atualização de informações binárias que adquirem
formas de palavras, gráficos, sons e imagens. No processo inverso, enviamos as nossas
informações com comandos reais, um endereço de um site que digitamos, um clique com o
mouse em um hipertexto etc., porém a informação que parte à rede é binária, portanto
virtualizada, uma representação numérica de uma linguagem real e identificável pelo
homem, daí a Internet ser o mundo virtual.
Lévy também enfatiza que o termo virtual vai muito além da sua definição mais
comum, atribuído ao mundo das possibilidades e, mais atualmente, à própria Internet. Para
ele, o virtual e a virtualização vão muito além disso. Dentro da amplitude do termo, Lévy
define o virtual como um processo oposto e vinculado a outro processo, que ele chama de
atual:
o virtual não se opõe ao real, mas sim ao atual. Contrariamente ao possível, estático e
constituído, o virtual é como o complexo problemático, um de tendências ou de forças
que acompanha uma situação, um acontecimento, um objeto ou uma entidade qualquer, e
que chama um processo de resolução: a atualização (Lévy, 1996:16).
A atualização, segundo Lévy, é um processo de questionamento, no qual idéias,
teorias ou entidades são atualizadas e, assim, levadas a novas realizações concretas, a
busca, a quebra e o estabelecimento de novos paradigmas, como ele bem coloca: “A
atualização aparece então como a solução de um problema, uma solução que não estava
contida previamente no enunciado. A atualização é a criação, invenção de uma forma a
partir de uma configuração dinâmica de forças e de finalidades” (Lévy, 1996:16). Sendo a
virtualização um processo vinculado e inverso à atualização, poderíamos entendê-la como
um processo de onde o real, o concreto, passa ao conjunto das possibilidades. Porém não é
exatamente isso que Lévy expõe sobre a virtualização. Para ele a relação do virtual com o
real e o atual se da seguinte forma: “O real assemelha-se ao possível; em troca, o atual
em nada se assemelha ao virtual: responde-lhe(Lévy, 1996:17). E, para ficar clara sua
posição, ele a exemplifica: “Virtualizar uma entidade qualquer consiste em descobrir uma
questão geral à qual ela se relaciona, em fazer mutar a entidade em direção a essa
interrogação e em definir a atualidade de partida como resposta a uma questão particular”
(Lévy, 1996:18). Portanto, para Lévy, uma entidade ou qualquer outra representatividade
no mundo virtual se entende como um corpo em contínuo processo de mutação, o que ele
22
coloca na seguinte passagem: “(...) a virtualização da empresa consiste (...) em fazer das
coordenadas espaço-temporais (...) um problema sempre repensado e não uma solução
estável” (Lévy, 1996:18). Fica claro então, que o virtual é o que surge de um processo de
virtualização, o processo inverso da atualização: A virtualização pode ser definida como o
movimento inverso da atualização (Lévy, 1996:17), enfatiza o francês. A virtualização
remota o inventivo de uma solução a uma problemática. O atual, a solução particular de um
problema no aqui agora se virtualiza e se torna existente. Tendo esses pontos em mente,
então, temos a definição do que é virtual, para Lévy: “(...) o virtual constitui a entidade: as
virtualidades inerentes a um ser, sua problemática, o nó de tensões, de coerções e de
projetos que o animam, as questões que movem, são uma parte essencial de sua
determinação” (Lévy, 1996:16).
O ciberespaço, um termo cuja nomenclatura não é uma criação de Lévy
9
, refere-se
ao espaço virtual criado pelas redes computacionais interconectadas pelo mundo através da
Internet. A atividade das pessoas nesse ciberespaço, sejam elas físicas ou jurídicas, compõe
o que Lévy chama de cibercultura. Como fator essencial da cibercultura, dado que esta é
composta por milhões de pessoas, sempre em contínuo processo de virtualização, nasce o
que Lévy chama de inteligência coletiva. Partindo do pressuposto de que cada indivíduo
humano deste planeta é possuidor de inteligência, Lévy define:
Cada indivíduo humano possui um cérebro particular, que se desenvolveu, a grosso modo,
sobre o mesmo modelo que o dos outros membros de sua espécie. Pela biologia, nossas
inteligências são individuais e semelhantes (embora não idênticas). Pela cultura, em troca,
nossa inteligência é altamente variável e coletiva. Com efeito, a dimensão social da
inteligência está intimamente ligada às linguagens, às técnicas e às instituições,
notoriamente diferentes conforme os lugares e as épocas (Lévy, 1996:99).
Dado que a inteligência coletiva é fruto da cultura, da interação entre os homens,
entendemos que a integração comunicacional entre esses indivíduos através de uma rede
global eleva à potência máxima a inteligência humana. Assim pode ser compreendida a
inteligência coletiva de que Lévy fala, e que ganha força através do mundo virtual. A
expressão dessa inteligência coletiva é o que Lévy chama de cibercultura, a cultura que
9
Termo originado do romance Neuromancer do escritor norte-americano Willian Gibson (1984).
23
provém das peculiaridades interativas e conectivas do ciberespaço, que tem por trás de si a
tecnologia binária computacional interligada.
24
Texto e Hipertexto
Algumas implicações das novas peculiaridades interativas da Internet nos mostram
como a nova grande rede amplifica o poder comunicativo do Homem, e como ela está
diferenciando o tradicional jornal impresso do mais recente jornal virtual, online ou
webjornal, de que falaremos neste trabalho. Existem, nas teorias de Pierre Lévy, algums
escritos que dizem respeito às diferenças entre texto e hipertexto que nos mostram as
dimensões do jornalismo dentro dessas duas formas de escrita, impressa e digital,
respectivamente. Podemos compreendê-las ao mensurarmos a diferença do texto para o
hipertexto, dado que o texto é a linguagem básica dos jornais impressos e, o hipertexto, a
linguagem básica dos webjornais.
Segundo Lévy, o advento da escrita eleva o conhecimento e a inteligência humana,
mas a escrita depende não só das palavras, e sim de representações destas sobre um suporte,
de modo que fiquem dispostas continuamente no tempo-espaço, sejam perpetuadas, daí a
sua superioridade sobre a comunicação feita de forma apenas oral:
Com a escrita, e mais com o alfabeto e a imprensa, os modos de conhecimento teóricos e
hermêuticos passaram portanto a prevalecer sobre os saberes narrativos e rituais das
sociedades orais. A exigência de uma verdade universal, objetiva e crítica só pode se impor
numa ecologia cognitiva largamente estruturada pela escrita, ou, mais exatamente, pela
escrita sobre o suporte estático (Lévy, 1996:38).
A própria escrita, segundo vy, é um mundo virtual, ou, talvez, o primeiro mundo
virtual criado pelo homem, como uma precursora da Internet como mundo virtual tal como
hoje a conhecemos. O “poder de virtualização” da escrita é entendido pela seguinte
passagem do pensador francês: “A linguagem, primeira realidade virtual a nos transportar
para fora do aqui e agora, longe das sensações imediatas, potência de mentira e de verdade,
por acaso nos fez perder a realidade ou, ao contrário, nos abriu novos planos de
existência?” (Lévy, 1999:219), fica fácil compreender que a Internet não reafirma essa
“virtualidade”, como a eleva a novos patamares muito superiores, sem limites visíveis. Tal
fato havia sido previsto pelo estudioso canadense Marshall McLuhan, quando ele
comenta o impacto dos meios elétricos (aos quais, além do rádio, TV e cinema, ele inclui o
telefone) sobre a palavra escrita: “Nossos valores ocidentais, baseados na palavra escrita,
25
têm sido consideravelmente afetados pelos meios elétricos, tais como o telefone, o rádio e a
televisão” (McLuhan, 1961:101). Agora, novamente, a palavra escrita base da
comunicação jornalística impressa está sob o impacto de um novo meio, o computador e,
em especial, a Internet. Dessa forma, vemos que mais uma vez, novos patamares são
delineados.
Se a escrita leva o Homem além do aqui-agora, a Internet vai além, pois nela não se
faz mais sobre um suporte estático e, sim, dinâmico, digital:
Pois o texto contemporâneo alimentando correspondências on-line e conferências
eletrônicas, correndo em redes, fluido, desterritorializado, mergulhado no oceano do
ciberespaço, esse texto dinâmico reconstitui, mas de outro modo e numa escala
infinitamente superior, a copresença da mensagem e de seu contexto vivo que caracteriza a
comunicação oral. De novo, os critérios mudam. Reaproximam-se daqueles do diálogo ou
conversação: pertinência em função do momento, dos leitores e dos lugares virtuais (Lévy,
1996:39).
Fica claro, então, que o texto flui na Internet numa escala muito maior que sobre um
suporte estático, pois na Internet ele passa de um simples texto a um texto dinâmico e
sempre reconstituído, que está dentro do palco da inteligência coletiva que é a aquela
construída pela coletividade da Internet. Porém, além do texto em si, Lévy nos fala a
respeito do próprio ato de ler:
Na verdade é somente na tela, ou em outros dispositivos interativos, que o leitor encontra a
nova plasticidade do texto ou da imagem, uma vez que, como já disse, o texto em papel (ou
o filme em película) forçosamente está realizado por completo. A tela informática é uma
nova “máquina de ler”, o lugar onde uma reserva de informação possível vem se realizar
por seleção, aqui e agora, para um leitor particular. Toda leitura em computador é uma
edição, uma montagem singular (Lévy, 1996:41).
Então, fica evidente que além do texto ser mais fluído e dinâmico quando
compartilhado numa rede interativa, o próprio leitor também se torna mais dinâmico, pois
entra numa máquina de leitura, onde programa o que ler, o que compartilhar. É o leitor
quem faz a montagem e a seleção do conteúdo que lhe convém. Assim, sobre a leitura e o
suporte digital, Lévy complementa:
Enfim, o suporte digital permite novos tipos de leituras (e de escritas) coletivas. Um
continuum variado se estende assim entre a leitura individual de um texto preciso e a
26
navegação em vastas redes digitais no interior das quais um grande número de pessoas
anota, aumenta, conecta os textos uns aos outros por meio de ligações hipertextuais (...). Se
ler consiste em selecionar, em esquematizar, em construir uma rede de remissões internas
ao texto, em associar a outros dados, em integrar as palavras e as imagens a uma memória
pessoal em reconstrução permanente, então os dispositivos hipertextuais constituem de fato
uma espécie de objetivação, de exteriorização, de virtualização dos processos de leitura
(Lévy, 1996:43).
Esclarece-se nesta passagem que o hipertexto, texto composto de vários textos
diretamente conectados, somado ao hábito de ler através de hipermídias, estende a leitura
para um horizonte maior, que compreende a dinâmica da inteligência coletiva. E sobre essa
“superioridade” do hipertexto sobre o texto no suporte estático, o autor nos fala:
(...) o suporte digital apresenta uma diferença considerável em relação aos hipertextos
anteriores à informática: a pesquisa dos índices, o uso dos instrumentos de orientação, de
passagem de um nó para outro, fazem-se com rapidez da ordem de segundos. (...) a
digitalização permite associar na mesma mídia e mixar finamente os sons, as imagens
animadas e os textos (Lévy, 1996:44).
Então não o texto em hipermídia estende a leitura humana, ele o faz de maneira
mais rápida e eficiente, agregando novos elementos, igualmente dinâmicos, ao texto, tais
como imagens, vídeos e sons. Estes ainda podem ser combinados de maneira adequada,
agregando novas informações, dinamizando a leitura, a informação e o conhecimento. E
mais, dispostos numa rede global, como a Internet, texto e hipertexto perdem suas
fronteiras:
Os dispositivos hipertextuais nas redes digitais desterritorializam o texto. Fizeram emergir
um texto sem fronteiras nítidas, sem interioridade definível. Não mais um texto, assim
como não uma água e uma areia, mas apenas água e areia. O texto é posto em
movimento, envolvido em fluxo, vetorizado, metafórico. Assim está mais próximo do
pensamento, ou da imagem que hoje temos deste. Perdendo sua afinidade com as idéias
imutáveis que supostamente dominaram o mundo sensível, o texto torna-se análogo ao
universo de processos ao qual se mistura (Lévy, 1996:48).
O hipertexto na Internet, diferentemente do texto estático limitado às margens de
um papel, às páginas de um livro, às prateleiras de uma biblioteca ou um acervo de jornal –,
é parte de um grande mar, composto de todas as redes e informações nele dispostos. No
ponto de vista de um jornal diário, poderíamos entender que este se limita às suas páginas, à
sua presente edição, enquanto na Internet o webjornal se estende em um mar de conexões
27
que trazem informações e conhecimentos que jamais poderiam ser dispostos em uma ou
mais edições de um texto limitado. Em suma, o webjornal também pode ser considerado
desterritorializado, ao passo que o jornal diário fica limitado em si mesmo, ao seu número
de páginas e, em termos de abrangência, ao seu campo de distribuição e número de
impressões.
Outro autor que analisa a capacidade do hipertexto como uma nova forma de leitura
e fluência da informação é o professor doutor em Sociologia, André L. M. Lemos
(Universite de Paris V França /UFBA Brasil), que o relaciona com as novas
possibilidades de interação do leitor com esse “texto vivo”:
Um hypertexto é um texto aberto a múltiplas conexões a outros hypertextos. Com os
hypertextos, é a figura do leitor que se substituída pela do “netsurfista”. Esse não é mais
um simples leitor, mas um ator, um autor e um agente de interação com as interfaces do
ciberespaço (Laurel, B.
Computer as theater. Addison-Wesley, 1993). O ciberespaço é
assim um conjunto de hypertextos interligados entre si onde podemos adicionar, retirar e
modificar partes desse texto vivo (Lemos, em http://www.futuro.eng.br/CIBER.html,
11/07/2008).
Na obra de Asa Briggs e Peter Burke, Uma história social da mídia, em que eles
descrevem com profundidade a evolução comunicacional do Homem desde o surgimento
da prensa gráfica, um capítulo inteiro é dedicado à “vaporização da comunicação”
10
. Fala
de como a tecnologia do vapor, trens, navios e maquinários diversos expandiu
assombrosamente o poder comunicativo do Homem, quebrando diversas barreiras físicas
que o limitavam. Agora, pelas palavras de Lévy, é possível perceber que a Internet, a
conexão/binarização de várias redes comunicacionais mundo afora, expande com furor essa
fronteira a novos níveis cujos limites são impossíveis de se predizer. Estamos novamente
em meio a uma vaporização comunicacional.
10
“Do vapor à eletricidade(in BURKE & BRIGGS, 2002:111-126).
28
O Ciberespaço e o Novo Mercado
A Internet não traz mudanças apenas no ato de ler, no suporte do texto e do
hipertexto, na desterritorialização que advém da web, vai muito além: ela altera e cria
novos mercados, como nos fala Lévy:
O ciberespaço abre de fato um mercado novo, que se trata menos de uma onda de
consumo por vir que da emergência de um espaço de transação qualitativamente diferente,
no qual os papéis respectivos dos consumidores, dos produtores e dos intermediários se
transformam profundamente (...).
O mercado on-line não conhece as distâncias geográficas. Todos seus pontos estão em
princípio igualmente “próximos” uns dos outros para o comprador potencial (Lévy,
1996:61).
Quando se fala em “novo mercado da Internet”, não podemos excluir os jornais que,
através de suas versões digitais, também se fazem presentes na grande rede, somados aos
novos webjornais que têm veiculação exclusiva pela web, que nasceram na Internet. Se a
Internet coloca todos os consumidores numa mesma loja, mesmo que de forma não-
presencial, o ciberespaço nos traz uma banca de jornais única, onde podemos encontrar
todos os jornais nela dispostos, uma banca de jornais sem limitações geográficas. Porém,
Lévy não fala apenas em questões geográficas, mas também da relação entre produtores,
consumidores e intermediários dentro desse novo mercado que surge com a Internet:
Como os produtores primários e os requerentes podem entrar diretamente em contato uns
com os outros, toda uma classe de profissionais corre doravante o risco de ser vista como
intermediários, parasitas da informação (jornalistas, editores, professores, médicos,
advogados, funcionários médicos) ou da transação (comerciantes, banqueiros, agentes
financeiros diversos) e tem seus papéis ameaçados. Esse fenômeno é chamado de
“desintermediação” (Lévy, 1996:62).
Como vemos, a profissão de jornalista é diretamente citada como intermediária
entre o público e a informação. Neste caso, a desintermediação coloca em risco a profissão
do jornalista, e explica em parte o porquê do sucesso dos blogs na Internet, pois estes são
feitos não só por jornalistas, mas diversos tipos de usuários que utilizam a rede para
informar, dar opinião e escrever sobre assuntos diversos. O blogueiro, por exemplo, é o
jornalista “desintermediado”, que faz notícia e gera informações diretamente ao público,
29
sem a intermediação da editoria de um jornal. É o consumidor quem faz a notícia. Sobre
isso, Lévy expõe:
O consumidor não apenas se torna coprodutor da informação que consome, mas é também
produtor cooperativo dos ‘mundos virtuais’ nos quais evolui, bem como agente de
visibilidade do mercado para os quais se exploram os vestígios de seus atos no ciberespaço.
Os produtos e serviços mais valorizados no novo mercado são interativos, o que significa,
em termos econômicos, que a produção de valor agregado se desloca para o lado do
consumidor, ou melhor, que convém substituir a noção de consumo pela coprodução de
mercadorias ou serviços interativos (Lévy, 1996:63).
O estudioso norte-americano de Tecnologia do MIT (Massachusetts Institute of
Technology) Nicholas Negroponte, na obra A vida digital, ratifica os pensamentos de Lévy,
refletindo como as novas tecnologias podem substituir muitas funções dos distribuidores de
informação. Ele coloca que “(...) a distribuição de átomos é muito mais complexa que a de
bits e requer a força de uma empresa gigantesca. Transportar bits, ao contrário, é bem mais
simples e, em princípio, capaz de prescindir desses gigantes. Ou quase” (Negroponte,
1995:83). O estudioso enfatiza como grandes marcas comunicacionais, inclusive os grandes
jornais, exercem papel fundamental de triagem da informação, são meios de “testar a
opinião pública” (Negroponte, 1995:84). Tanto pelas colocações de Lévy quanto de
Negroponte, fica evidente que esse processo de desintermediação altera o negócio de
distribuição da informação, mas percebemos nas objeções do norte-americano que nada
indica categoricamente que ela será total. Como ainda iremos abordar mais adiante neste
estudo, a existência de grandes marcas comunicacionais é algo que se faz presente também
no mundo da informação digital e da Internet.
Outro filósofo francês, Jean Baudrillard, em sua obra Simulacros e simulação,
embora analise a questão da Internet sob outro foco, onde percebe um lado mais obscuro
dentro de sua expansão, ainda assim, mesmo que indiretamente, reafirma os argumentos de
Lévy sobre a desterritorialização advinda da Internet e, para isso, apóia-se na teoria do
estudioso canadense Marshall McLuhan: “Medium is message não significa apenas o fim da
mensagem, mas também o fim do medium. não (...) instância mediadora de uma
realidade para outra, de um estado do real para outro. Nem os sentidos nem a forma. É esse
o significado rigoroso da implosão” (Baudrillard, 1997:108).
30
O que Lévy entende beneficamente como a “desintermediação”, Baudrillard prefere
chamar de implosão, mas de comum entre eles, entendemos que esse fator é algo que
coloca em cheque o papel dos produtores e distribuidores (o que inclui os jornais). Afinal,
depois da “implosão”, o público estaria quase que em de igualdade ou, ao menos, mais
próximo desses intermediadores, dentro do processo comunicativo. Neste sentido,
Baudrillard vai além. Defende que, após a “implosão” dos meios, os papéis chegam até a se
inverter: “A fórmula de McLuhan, Medium is message, que é a fórmula-chave da era da
simulação (...) o emissor é o receptor – circularidade de todos os pólos” (Baudrillard,
1997:107). Essa implosão, como analisaremos adiante neste estudo, quando relacionada
com o jornalismo, pode ser entendida como a “explosão”, ou o “boom” do jornalismo a
partir da web, quando várias empresas, instituições e até indivíduos passaram a veicular
informações através da Internet, além do próprio surgimento da blogosfera, adventos que,
com a maior inserção de todos na mídia, cada vez mais e mais, tornam-se elementos que
compõem a pólvora que explode a dinamite e implode esse segmento do mundo
comunicacional, subvertendo-o. A implosão de Baudrillard ratifica o pensamento de
McLuhan, quando ele comenta sobre a evolução dos meios. Referindo-se ao cinema, ele
diz:
Nos dias atuais, o cinema como que ainda está em sua fase manuscrita; sob a pressão da
TV, logo mais, atingirá a fase portátil e acessível do livro impresso. Todo mundo poderá ter
seu pequeno projetor barato, para cartuchos sonorizados de 8 mm. cujos filmes serão
projetados como num vídeo. Este tipo de desenvolvimento faz parte de nossa atual implosão
tecnológica. A dissociação do projetor e da tela é um vestígio do nosso velho mundo
mecânico da explosão e da separação de funções, ora em fase de desaparecimento ante a
ação da tecnologia elétrica do nosso velho mundo mecânico da explosão e da separação de
funções, ora em fase de desaparecimento ante a ação da tecnologia elétrica (McLuhan,
1969:327-328).
McLuhan explica que a implosão é característica da evolução dos meios enquanto
eles avançam tecnologicamente e, após a implosão, ele complementa: “Mas agora a
implosão elétrica reverteu o processo todo da expansão em fragmentação” (McLuhan,
1969:330). Dessa forma, o processo descrito e vinculado ao cinema pode ser associado à
Internet e sua ação sobre outros meios, como o jornal diário, uma vez que hoje assistimos à
sua “portabilidade”, ou seja, surgem novas iniciativas no ciberespaço que vão abrindo o
leque de atores dentro do palco da notícia (incluindo simples cidadãos conectados, como o
31
blogueiro e também os diversos novos suportes informacionais, os novos gadgets) e, além
disso, a fragmentação – diversos novos serviços especializados, sites e publicações sobre os
mais diversos temas, de todas as áreas da atividade humana vão se multiplicando nessa
nova era da informação “implodida”. Essas iniciativas que surgem e mesmo as empresas
jornalísticas mais tradicionais vão multiplicando as suas funções e nelas se especializando,
abrangendo múltiplas novidades, tanto na forma de noticiar quanto no tipo de informação,
ampliando públicos antes inatingíveis ou de difícil acesso.
Ora, o internauta não é parte do “jogo” de criação da informação, mas também,
parte do valor dos serviços oferecidos
11
. Em se tratando de webjornais, o internauta tem seu
valor e valoriza o produto através da participação ativa na construção da informação, que se
através de ferramentas que possibilitem a sua interação com a notícia e a informação. E,
uma afirmação que podemos relacionar diretamente ao papel dos jornais como um produtor
de informação com a questão desse novo mercado, aponta para a virtualização do texto.
Lévy expõe: “(...) a virtualização do texto nos faz assistir à indistinção crescente dos papéis
do leitor e do autor, também a virtualização do mercado põe em cena a mistura dos gêneros
entre consumidor e a produção” (Lévy, 1996:63).
Aqui não cabe mais o sistema onde a informação parte de um centro e se irradia
para o público (de poucos para muitos). O público também é parte do movimento, da onda
de criação das informações, e essa mudança de papel, a novidade dessa interatividade em
relação às mídias tradicionais, é o que expressa Lévy na seguinte passagem:
O “produtor” habitual (professor, editor, jornalista, produtor televisivo) luta assim para não
se ver relegado ao papel de simples fornecedor de matéria-prima. De onde a batalha, do
lado dos “produtores de conteúdos”, para reinstaurar tanto quanto possível, no novo espaço
de interatividade, o papel que eles ocupavam no sistema unilateral das mídias ou na forma
rígida das instituições hierárquicas (Lévy, 1996:64).
E, sobre o novo papel dos profissionais no espaço da interatividade, Lévy faz
considerações em outra obra sua, Cibercultura:
Numerosas posições de poder e diversos “trabalhos” encontram-se ameaçados. Mas se
souberem reinventar sua função para transformarem-se em animadores dos processos de
11
Como ratificaremos através das explanações de Manuel Castells e Nicholas Negroponte no tópico “A
Galáxia da Internet”, adiante neste capítulo.
32
inteligência coletiva, os indivíduos e os grupos que desempenham os papéis de
intermediários podem passar a ter um papel na nova civilização, ainda mais importante que
o anterior. Em contrapartida, caso se enrijeçam sobre as antigas identidades, é quase certo
que ficarão em situação difícil (Lévy, 1999:231).
A desterritorialização, para Lévy, então, vai ser um elemento-chave para essa nova
era da comunicação, o que ele intitula de “universal sem totalidade”:
O ciberespaço se constrói em sistema de sistemas, mas, por esse mesmo fato, é também o
sistema do caos. Encarnação máxima da transparência técnica, acolhe, por seu crescimento
incontido, todas as opacidades do sentido. Desenha e redesenha várias vezes a figura de um
labirinto móvel, em expansão, sem plano possível, universal (...). Essa universalidade
desprovida de significado central, esse sistema da desordem, essa transparência labiríntica,
chamo-a de “universal sem totalidade”. Constitui a essência paradoxal da cibercultura
(Lévy, 1999:111).
Sendo um sistema universal, o ciberespaço se constrói sem a mediação de uma
instituição central (ou uma pequena porção delas), razão pela qual Lévy o coloca como um
sistema “sem totalidade”. Um sistema desses, então, acolhe tanto a reprodução e os
modelos midiáticos tradicionais, com suas mensagens (ou não-mensagens) hiperreais –
uma das “denúncias” que Jean Baudrillard faz em seus estudos –, quanto as novas
expressões da cibercultura e da inteligência coletiva. Assim entendemos o espaço universal
sem totalidade: aberto a todas as formas de comunicação e expressão. Da mesma forma que
Baudrillard, Lévy faz uso da fórmula de McLuhan, interpretando-a como uma chave que
define a Internet como o meio expressivo da cibercultura:
(...) o significado último da rede ou valor contido na cibercultura é precisamente a
universalidade. Essa mídia tende à interconexão geral das informações, da máquina e dos
homens. E, portanto, se, como afirmava McLuhan, “a mídia é a mensagem”, a mensagem
dessa mídia é o universal, ou a sistematicidade transparente e ilimitada. Acrescentemos que
esse traço corresponde efetivamente aos projetos de seus criadores e às expectativas de seus
usuários (Lévy, 1999:113).
Dentro de um espaço universal e não totalitário, que conecta os usuários
diretamente através de uma hierarquia comunicacional “todos-todos”, as iniciativas têm de
ser igualmente “não-totais” (apenas irradiadas de um centro), não se limitando a empurrar o
conteúdo em direção ao internauta, mas trazendo este para si, para fazer parte de sua
criação. E isso se faz não somente colocando informações numa gina web, não se faz
33
apenas reproduzindo no meio virtual as mesmas informações dispostas por meios
analógicos, como numa simples reprodução do jornal diário impresso na web, se faz através
da construção de plataformas que tragam interatividade aos usuários, onde estes participem
da criação da notícia, com espaço para debates, conferências etc. (que também permita aos
gerenciadores dessas plataformas monitorar os hábitos de seus usuários, interagindo com
eles, e buscando, assim, estar sempre em sintonia com estes, satisfazendo-os, saciando suas
necessidades informativas, dessa forma, agregando valor ao seu negócio). Espaços que não
só permitam ao jornalista propagar a informação, mas, além disso, aproximar esta do
público e, também, aproximar o público das fontes de informação. Em suma, no mundo
digital, o papel do jornalista não é pura e simplesmente informar, mas também fomentar a
informação, o acesso a esta e ao pensamento crítico
12
. Sobre o papel desses novos
“mediadores” e das mídias digitais, Lévy complementa:
As tecnologias de comunicação de suporte digital (...) conhecem neste fim de século XX
mutações massivas e radicais (...). Como um dos principais efeitos da transformação em
curso, aparece um novo dispositivo de comunicação de coletividades desterritorializadas
muito vastas que chamaremos “comunicação todos-todos”. É possível experimentar isso na
Internet, nos chats (BBS), nas conferências ou fóruns eletrônicos, nos sistemas para o
trabalho ou aprendizagem cooperativos, nos groupwares, nos mundos virtuais e nas árvores
de conhecimento. Com efeito, o ciberespaço em via de constituição autoriza uma
comunicação não mediática em grande escala que (...) representa um avanço decisivo rumo
a formas novas e mais evoluídas de inteligência coletiva (Lévy, 1996:112).
Com isso, fica objetivado que no mundo virtual, de interação mútua entre pessoas
dispersas por todo globo terrestre, as formas de comunicação, de informação e de notícia
não podem apenas privilegiar a informação unicamente, mas devem trazê-las para um novo
contexto, um contexto de produção coletiva, que beneficie o coletivo, o todo, e que
integralmente faça parte da criação de uma nova consciência, constituinte e construtora da
inteligência coletiva. E não basta pensar nisto como uma hipótese futura. Trata-se de
fomentar e criar iniciativas que privilegiem a inteligência coletiva a partir de já, pois, apesar
de ainda incipiente, o mundo virtual já se apresenta como uma mídia que não pode mais ser
deixada de lado
13
, uma rede de grande abrangência mundial e em expansão ainda, que não
12
Como pretendemos analisar mais adiante no capítulo “A Crise Ética do Jornalismo”.
13
Notícias recentes têm destacado não o crescimento da rede mundial de computadores, mas vêm
demonstrando que a Internet caminha rumo ao topo dos meios midiáticos, devendo se tornar a principal mídia
global em um futuro não tão distante assim. Numa entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo
34
se limita apenas à sua constituição física. Vai além e abrange o crescimento e o surgimento
de novas formas de comunicação, novas interatividades e assim tende a ser cada vez mais,
como dizia o próprio Lévy (embora ele tenha sido muito otimista quanto aos prazos de
suas perspectivas futuras para este século que se inicia): “A perspectiva da digitalização
geral das informações provavelmente tornará o ciberespaço o principal canal de
comunicação e suporte de memória da humanidade a partir do início do próximo século”
(Lévy, 1999:93).
Fica claro que nesse novo cenário, nesse novo mercado, o jornalismo deve
privilegiar as iniciativas coletivas e a interatividade. É evidente que a desterritorialização da
notícia e da informação é um processo em andamento que tende a crescer na mesma
medida em que o ciberespaço cresce. Tudo isso já está alterando o mundo do jornalismo e o
impactará ainda mais, como pretendemos analisar no decorrer deste estudo.
(www.adnews.com, 03/03/2008), Marc Andreessen, referência mundial no assunto digital, um dos criadores
do antigo navegador Netscape, declarou: “A internet está se tornando real agora de uma forma que nunca foi
antes. Está se transformando na mídia principal na qual os consumidores se conectam para obterem
informações e se comunicarem”. Alguns dados publicados ratificam a afirmação de Andressen: a Associação
de Jornais da América divulgou em janeiro de 2008 (Portal Imprensa, 28/01/2008) que os portais noticiosos
norte-americanos atingiram a marca de 60 milhões de visitas por mês, o que corresponde a 39% dos usuários
estadunidenses. Outros dados nacionais demonstram que a banda larga está em ampla expansão no território
brasileiro e já atinge 8,1 milhões de usuários, o que corresponde a um aumento de 30,5% em relação ao ano
anterior (www.adgnews.com, 05/03/2008). Segundo o Interactive Advertising Bureau, (www.adgnews.com,
05/03/2008) também a classe C tem participação ativa na web, correspondendo a 37% dos usuários nacionais.
A expectativa é que até o final de 2008, essa massa corresponda a aproximadamente 18 milhões de usuários.
35
A Fórmula de McLuhan
Em função de os filósofos franceses Pierre Lévy e Jean Baudrillard fazerem uso da
fórmula de Marshall McLuhan, “o meio é a mensagem”, para embasarem suas teorias e
ambas interpretações falam sobre o novo paradigma que a Internet está trazendo para o
mundo da comunicação, devido a tal importância, recorremos à clássica obra Os meios de
comunicação como extensões do homem objetivando um entendimento mais profundo desta
fórmula. Logo na introdução do livro o autor comenta sobre a sua famosa frase: “‘O meio é
a mensagem’ significa, em termos da era eletrônica, que já se criou um ambiente totalmente
novo. O ‘conteúdo’ deste novo ambiente é o velho ambiente mecanizado da era industrial.
O novo ambiente está reprocessando o cinema. Pois o conteúdo da TV é o cinema”
(McLuhan, 1964:11).
Uma reflexão sobre o fato de a TV reprocessar o cinema, as diversas outras mídias
que reprocessam suas predecessoras e também reprocessam as demais mídias com que
interagem, nos remete ao fato de a Internet igualmente reprocessar a TV e as demais
mídias, algo que se pode relacionar com ambas as teorias de Baudrillard e Lévy. É cil
compreender, pelo que estudamos até aqui, que a Internet, ao mesmo tempo em que se
expande, absorve os elementos das velhas mídias. Encontramos na web desde os velhos
jornais impressos reproduzidos digitalmente até as novas iniciativas peculiares do
webjornalismo que estão reprocessando o tradicional jornalismo: a superioridade do
hipertexto sobre o texto, do suporte dinâmico sobre o estático, a desterritorialização do
texto e a desintermediação do jornalista, como vimos. Exemplos que encontramos na
Internet hoje em dia nos mostram isto na prática, em ferramentas tais como: podcast, RSS e
TV peer to peer, para citar apenas alguns exemplos básicos, são fórmulas que,
respectivamente, reprocessam o texto jornalístico, o áudio e a própria TV. O texto
jornalístico que utiliza a palavra escrita; o áudio que é o elemento fundamental do rádio; e a
TV que utiliza a imagem, que por sua vez é uma característica do cinema, e utiliza também
o áudio, característica do rádio; agora são todos elementos reprocessados pela Internet, fato
que, segundo McLuhan, é uma característica da evolução dos meios: “Toda tecnologia nova
cria um ambiente que é logo considerado corrupto e degradante. Todavia o novo transforma
o seu predecessor em forma de arte” (McLuhan, 1964:12).
36
A palavra reprocessar pode nos levar a duas interpretações, a primeira é a que
acabamos de comentar, e a segunda seria o fato de ela também fazer uso do que era
processado, remodelando-o ao novo meio, a mesma mensagem replicada em novos meios.
Afinal, a mensagem busca o seu formato de acordo com o meio, conforme entendemos pela
fórmula de McLuhan, mas, na construção de sua peculiar forma de transmitir a mensagem,
cada novo meio que surge utiliza-se dos e também fortifica os demais meios existentes: “O
‘conteúdo’ de um meio é como a ‘bola’ de carne que o assaltante leva consigo para distrair
o cão de guarda da mente. O efeito de um meio se torna mais forte e intenso justamente
porque o seu ‘conteúdo’ é um outro meio” (McLuhan, 1964:33). Nenhum meio existe sem
depender do outro: “(...) nenhum meio tem sua existência ou significado por si só, estando
na dependência na constante interrelação com os outros meios” (McLuhan, 1964:42).
Assim, grande parte do conteúdo da Internet é o conteúdo de outros meios, como
exemplificamos, o jornal, o rádio e a TV. Esta reflexão de McLuhan vai ao encontro do que
expõe Beth Saad em relação ao cenário midiático atual, quando ela afirma que “as novas
mídias não surgem de forma espontânea e independente, mas, sim, de uma metamorfose
14
das velhas mídias, que, por sua vez, não morrem, mas evoluem e se adaptam às
transformações” (Saad, 2003:56), o que a autora entende como conceitos de “coevolução e
coexistência das comunicações” (Saad, 2003:56).
McLuhan ainda nos fala das extensões do homem, a mídia como extensão
comunicacional com seus diversos meios. Ele mostra que a inteligência coletiva
defendida por Lévy como a expressão peculiar da Internet como meio comunicacional é
fator presente no mundo da tecnologia elétrica, como expressa o autor, e também
atualmente, quando pensamos na informação que, além de elétrica, é também binária:
Estamos nos aproximando da fase final das extensões do homem: a simulação tecnológica
da consciência, pela qual o processo criativo do conhecimento se estenderá coletiva e
corporativamente a toda a sociedade humana, tal como se fez com nossos sentidos e
nossos nervos através dos diversos meios e veículos. Se a projeção da consciência
antiga aspiração dos anunciantes para produtos específicos – será ou não uma “boa coisa”, é
uma questão aberta às mais variadas soluções (McLuhan, 1964:17).
14
Aqui Saad faz referência aos estudos de Roger Fidler que são parte da obra Mediamorphosis:
understanding new media (EUA: Pine Forge Press, 1997), ainda sem tradução no Brasil.
37
McLuhan fala que o processo criativo do conhecimento se expandirá coletivamente,
tanto para as corporações quanto para a sociedade e seus indivíduos. Ora, essa nova
consciência coletiva nada mais é do que uma outra interpretação do que vimos ser a
inteligência coletiva, como nos apontou Lévy. Business Inteligence, apenas para citar um
exemplo, é um conceito corporativo tecnológico que está modificando a forma das
corporações trabalharem, uma forma de expressão da inteligência coletiva, a coletividade
elétrica e binária, no mundo empresarial. A cibercultura é a expressão da sociedade com
seus indivíduos conectados frente à inteligência coletiva que advém das novas mídias
digitais interativas deste mundo eletro-binário. Como vimos, a citação de McLuhan mostra
que estamos vivendo a atualidade da “fase final das extensões do homem” e, dessa
forma, estamos assistindo a novas expressões da inteligência coletiva que surgem e vão
modificando a nossa vida dia após dia.
Em capítulo de sua obra, intitulado não por acaso de “O meio é a mensagem”,
temos a explicação do que significa essa fórmula pelas palavras do próprio McLuhan. A
primeira citação da rmula aparece logo na primeira frase do capítulo: “Numa cultura
como a nossa, muito acostumada a dividir e estilhaçar as coisas como meio de controlá-
las, não deixa, às vezes, de ser um tanto chocante lembrar que, para efeitos práticos e
operacionais, o meio é a mensagem” (McLuhan, 1964:21). Mas enfim, qual é esse efeito
prático? Em relação à Internet e os demais meios, qual seria esse efeito? Como vimos,
Baudrillard afirma que a Internet implode com todos os meios. McLuhan antecipa a fala do
francês quando diz que “a aceleração da velocidade da forma mecânica para a forma
elétrica instantânea faz reverter a explosão em implosão” (McLuhan, 1964:53). Essa
implosão pode ser entendida também quando McLuhan fala da fragmentação: “A
reestruturação da associação e do trabalho humanos foi moldada pela técnica de
fragmentação, que constitui a essência tecnológica da máquina” (McLuhan, 1964:21). Os
novos meios eletrônicos, baseados em máquinas computacionais, implodem os demais
meios, levando-os à fragmentação. Estes precisam buscar as suas peculiares formas de
veicular a mensagem como, dentre eles o velho jornal, deixando de se alimentar apenas dos
outros meios, buscando o que seria, como sugere McLuhan em passagem anterior, a sua
“arte”. Ao mesmo tempo, a binarização que advém da Internet e dos novos meios
eletrônicos digitais absorve toda aquela mensagem e a reprocessa; ou seja, a Internet
38
transmite as mensagens que eram do jornal, do rádio e da TV com novas características, as
características próprias do novo meio, a interatividade de um meio comunicacional todos-
todos que, voltando ao nosso exemplo, levaria a um jornalismo mais compartilhado,
comunitário, o jornalismo não mais necessariamente totalizado apenas por grandes
instituições, mas feito também por aqueles que com estas interagem, e também entre si.
Nesse caso, a implosão da comunicação questionada por Baudrillard estaria relacionada ao
fato de as velhas mídias se modificarem em função da Internet, sendo esta uma mídia que
expressa a inteligência coletiva, a universalidade, como bem colocam tanto McLuhan
quanto Lévy, características que aumentam ainda mais as extensões comunicacionais do
homem, estendem o jornalismo a uma parte maior da humanidade, assim como todo o
mundo comunicacional. A Internet, ao mesmo tempo em que fragmenta as demais mídias,
recria a própria mídia a partir desses fragmentos e projeta-os dentro do universal. Não é
preciso fazer um profundo estudo para perceber que a Internet permite inúmeras novas
modalidades de prática jornalística, muitas das quais pretendemos analisar, e tal
maleabilidade do novo meio traz consigo uma ampla gama de novos sites noticiosos,
portais informativos especializados nos mais diversos assuntos e modalidades informativas,
uma fragmentação que pode ser entendida pelo que foi exposto nas palavras de McLuhan,
pela questão da desintermediação e da desterritorialização apontada por Lévy e, finalmente,
pela “implosão” comunicacional denunciada por Baudrillard.
Enfim, McLuhan desvenda parte de sua fórmula: O meio é a mensagem’, porque
é o meio que configura e controla a proporção e a forma das ações e associações humanas”
(McLuhan, 1964:23). A importância do meio, como entendemos, está no fato deste
configurar a mensagem por ele emitida: o impacto e a abrangência da mensagem sobre os
receptores dependerá, assim, do meio utilizado. O meio configura a mensagem entre
emissores e receptores, como intermediadores de ações e associações do Homem. Sendo
assim, percebemos que a Internet com as suas novas características interativas tem a
capacidade de aumentar radicalmente essa extensão comunicativa do Homem, permitindo
novas associações que irão gerar, e já o fazem em diferentes graus, novas ações. Essas
novas ações passam, como vimos, pela nova cultura midiática, a cibercultura, e também
pela extensão de velhas culturas da mídia, como o jornal, o rádio e a TV.
39
McLuhan relaciona a sua própria fórmula com o movimento cubista. Segundo o
autor, é o movimento artístico cubista que delata a existência de sua fórmula:
Ao propiciar a apreensão total instantânea, o cubismo como que de repente anunciou que o
meio é a mensagem. Não se torna, pois, evidente que, a partir do momento que o seqüencial
cede ao simultâneo, ingressamos no mundo da estrutura e da configuração? (...) Os
segmentos especializados da atenção deslocaram-se para o campo total e é por isso que
agora podemos dizer, da maneira a mais natural possível: ‘O meio é a mensagem’
(McLuhan, 1964:27).
Além de delatar o cubismo como uma expressão artística que possui as
características dos novos meios digitais interativos, a passagem acima também delata os
embasamentos das teorias de Lévy. Nesta passagem, McLuhan fala da substituição do
seqüencial pelo simultâneo e do deslocamento das atenções para o total, elementos que
embasam o universal sem totalidade, um dos pontos-chave das teorias de Lévy em relação
à Internet que, podemos dizer, são reveladas por McLuhan nesta associação de sua fórmula
com o cubismo. Neste caso, a Internet seria uma expressão midiática, na forma de um novo
meio, correspondente ao mundo da estrutura e da configuração. E, justamente por sua
estrutura comunicacional ser aberta à comunicação universal sob diferentes configurações,
vai permitir o deslocamento da atenção de seus usuários para o todo, e esse todo seria,
então, o universal não-totalitário comentado por Lévy. Um dos elementos que, segundo a
análise das teorias do francês, poderiam libertar o mundo comunicacional da rigidez dos
antigos meios. Porém o podemos abrir mão do fato desses novos meios se apropriarem
das características dos velhos meios, como vimos, e a ênfase que o próprio McLuhan ao
fato das novas configurações midiáticas estarem abertas tanto às novas expressões da
coletividade, quanto às novas possibilidades de exploração desse novo mundo
universalizado pelas velhas fórmulas do “antigo” mundo midiático (que não é totalmente
antigo, pois ainda coexiste com o novo).
A instantaneidade e simultaneidade mencionadas por McLuhan são fatores que
remetem à mídia do “mundo elétrico” apontado pelo autor, em que a comunicação, ao
eletrificar-se, ganha as características de velocidade da luz, refere-se a toda era
contemporânea da comunicação, quando esta é mediada também por diversos aparatos
eletrificados dos eletrodomésticos até, na atualidade, os computadores o rádio e a TV
em conjunto com várias tecnologias eletrônicas que vão até o satélite e, hoje, também
40
através das redes computacionais, carregando mensagens de forma instantânea e
simultânea. Esses dois fatores que McLuhan relaciona à sua rmula, instantaneidade e
simultaneidade, são característicos da comunicação que ganhou força a partir da era da
rádio-transmissão e que perduram até hoje com uma capacidade maior de conectividade,
ganhando ainda mais força através das redes inteligentes de comunicação que quebram a
seqüencialidade que, dentro de um contexto midiático menos rígido como a Internet, pode
ser entendida como um obstáculo à Comunicação a própria rigidez desses meios antigos.
Esse novo meio é quem ditará as novas expressões, as novas mensagens, com todas as
características midiáticas que possui, englobando, inclusive, as características que
pertencem às mídias tradicionais, dentro da atualidade comunicacional.
McLuhan e a Imprensa
Ainda na obra Os meios de comunicação como extensões do homem, Marshall
McLuhan faz algumas explanações sobre a imprensa. Como as explanações do filósofo
canadense costumam ser paradigmáticas, tanto que embasam diversos estudos
comunicacionais, vamos dar uma olhada e refletir sobre algumas importantes passagens
suas sobre esse peculiar meio midiático.
Numa das primeiras colocações sobre a imprensa, McLuhan diz: “Mas a imprensa
de tipos móveis foi, por si mesma, o maior limite de ruptura na história da leitura fonética,
assim como o alfabeto fonético foi o limite de ruptura entre o tribal e o homem
individualista” (McLuhan, 1969:58). Como vimos, Pierre Lévy fala nesse contexto do
surgimento do “primeiro mundo virtual”, a escrita; McLuhan fala da ruptura causada
pelo tipos móveis. Ora, se a capacidade de aumentar a produção escrita representa uma
ruptura dentro da humanidade, cremos que a adição do hipertexto dentro desse mundo dos
tipos móveis também representa uma ruptura e, além disso, a ampliação dessa capacidade
de ler e escrever. O que representa essa “ruptura” do texto para o hipertexto dentro da
sociedade atual é algo que ainda se faz necessário estudar. A nós vale tentar entender o que
isso representa em relação aos tradicionais jornais diários impressos.
McLuhan fala da fragmentação causada pela imprensa: “A imprensa (...) expandiu a
expressão no sentido da simplificação e da exorcização’ ou decifração do significado. A
41
imprensa acelerou e fez ‘explodir’ o manuscrito condensado em fragmentos mais simples”
(McLuhan, 1969:358). Como vemos, uma das causas da ruptura causada pelo surgimento
dos tipos móveis e do crescimento das empresas que desses se utilizam, a imprensa, acaba
por fragmentar-se. Se a Internet representa uma nova ruptura, a tendência é que esse
processo se intensifique ainda mais, o que se pode observar no plural de iniciativas que
surgem através da web e dos novos serviços e informações dispostos nos sites noticiosos,
inclusive naqueles de grandes empresas jornalísticas tradicionais.
Sobre o impacto dos meios, McLuhan comenta a respeito da invenção do telégrafo:
“Em 1848, o telégrafo, então com apenas quatro anos de idade, obrigou vários dentre os
maiores jornais americanos a se organizarem coletivamente para a criação de notícias. Essa
iniciativa se tornou a base da Associated Press” (McLuhan, 1969:285). Se o telégrafo
obrigou a imprensa a reorganizar-se em torno dele, hoje a Internet faz o mesmo, e
assistimos a esses órgãos de imprensa se engendrando no novo meio, procurando englobar
os novos serviços e recursos que a tecnologia digital oferece. Não podemos esquecer que
essas tecnologias digitais, que formam não a Internet, mas que baseiam também uma
miscelânica variedade de dispositivos (tais como celulares e handhelds), têm como alicerce
a tecnologia binária do computador. Embora nos idos de 1960 o computador fosse apenas
um projeto em desenvolvimento, McLuhan percebia a sua potencialidade; em primeiro
lugar, ele comenta sobre sua capacidade binária de tudo abraçar: “(...) o computador digital
com suas inúmeras seleções de tipo sim-não, tudo isto implica em acariciar os contornos de
todas as coisas pelos múltiplos toques desses pontos” (McLuhan, 1969:279), e
complementa:
Hoje os computadores parecem prometer os meios de se poder traduzir qualquer língua em
qualquer outra, qualquer código em outro código e instantaneamente. Em suma, o
computador, pela tecnologia, anuncia o advento de uma condição pentescostal de
compreensão e unidade universais. O próximo passo lógico seria (...) superar as línguas
através de uma consciência cósmica geral, muito semelhante ao inconsciente coletivo
(McLuhan, 1969:99).
Como vemos, McLuhan preconizava a fala de Pierre Lévy a respeito da
universalidade gerada por tal capacidade maquinária do Homem e, além disso, atribuía a
instantaneidade ao meio que, hoje, através da capacidade comunicacional dos
computadores em rede, assistimos tornar-se uma realidade. Essa capacidade do computador
42
pode ser relacionada com outra afirmação de McLuhan: “A Imprensa forneceu uma
memória enorme e nova para os escritos do passado, tornando a memória pessoal
inadequada” (McLuhan, 1969:199). O que pensar da memória fornecida pelo computador?
Hoje, podemos pesquisar as notícias antigas dentro do site de um jornal com a facilidade do
clique do mouse, o que amplifica de forma imensurável essa capacidade de memória (tanto
que muitas instituições jornalísticas e informativas já utilizam seus acervos como valor de
negócio). Se antigamente a data do jornal era o que o diferenciava as suas edições de
acordo com o que diz McLuhan: “(...) a data é o único princípio organizativo da imagem
jornalística da comunidade. Elimine-se a data e o jornal de um dia se torna igual ao do dia
seguinte” (McLuhan, 1969:240) –, hoje ela representa uma chave-primária de pesquisa
dentro da memória jornalística que se estende através dos dados armazenados nas
informações acessíveis através da Internet.
Outra afirmação de McLuhan suscita reflexões sobre a chegada da Internet, os
serviços que nela hoje se oferecem e o seu impacto dentro do mundo jornalístico. Diz o
canadense: “Os anúncios classificados (e as cotações de mercados e títulos) constituem o
alicerce da Imprensa” (McLuhan, 1969:235). A questão que paira no ar depois de tal
afirmação é: a Internet não estaria solapando esses serviços, dado que nela encontramos
sites especializados nesses recursos e com facilidades que um jornal impresso é incapaz de
fornecer? Mesmo os tradicionais jornais hoje estendem esses serviços para Internet, meio
que oferece maiores facilidades para esse tipo de informação.
Por fim, McLuhan fala sobre os computadores e, em sua afirmação, nos remete ao
temor denunciado por Jean Baudrillard, de que o processo de simulação da consciência
gerada por essa nova capacidade processual se transforme na arma dos publicitários na
contemporaneidade e, além disso, a ferramenta que destruiria de vez o fragmentado
significado dentro do processo comunicacional: “(...) os computadores (...) obviamente,
eles podem chegar a simular o processo da consciência, assim como a rede elétrica global já
começa a simular as condições de nosso sistema nervoso central (...) o sob medida supera o
produto em massa” (McLuhan, 1969:394). Sendo esse processo de simulação a nova arma
dos publicitários e a publicidade uma das vilãs dentro da crise ética por que passa o
jornalismo (como veremos mais adiante), dado que as relações entre jornalismo e
publicidade são cada vez mais estreitas, o temor de Baudrillard pode não ser totalmente
43
injustificado. O que talvez McLuhan tenha previsto erroneamente é a superação do produto
sob medida sobre o produto de massa. Hoje, essa primeira instância tem nome próprio e,
como é tradicional nos jargões publicitários, em inglês: on demand. Está aí algo não
precisamente previsto por McLuhan. Atualmente, escoltados com a inteligência e os dados
binários armazenados, somos capazes de produzir sob medida em massa, desde a
publicidade que chega via e-mail e cumprimenta o usuário pelo nome, passando pelo carro
que podemos encomendar via web com todos os acessórios e modificações que queremos, e
finalmente, chegando a uma infinidade de produtos, serviços e informações impossíveis de
serem quantificadas.
44
A Galáxia da Internet
A expressão “Galáxia da Internet”, título da obra do estudioso espanhol Manuel
Castells, é, na verdade, uma analogia do autor ao título da famosa obra de McLuhan A
Galáxia de Gutenberg. Dessa forma, é a partir do título desse estudo que o espanhol
revela que a Galáxia da Internet nada mais é do que a extensão ou ampliação da Galáxia de
Gutenberg, agora não mais somente através da impressão tipográfica, mas também pelos
“tipos binários”, ou seja, de toda informação digital que hoje se espalha através da Internet.
Em poucas palavras, o autor reafirma muito do que estudamos com base nos estudos de
Lévy e McLuhan, sobre o que a chegada e a expansão da Internet significam para o mundo
comunicacional:
As redes eram fundamentalmente o domínio da vida privada; as hierarquias centralizadas
eram o feudo do poder e da produção. Agora, no entanto, a introdução da informação e das
tecnologias de comunicação baseadas no computador, e particularmente a Internet, permite
às redes exercer sua flexibilidade e adaptalidade, e afirmar assim a sua natureza
revolucionária (Castells, 2001:7-8).
A passagem acima é parte da introdução de sua obra. Já nas considerações finais,
o autor expõe:
A Galáxia da Internet é um novo ambiente de comunicação. Como a comunicação é a
essência da atividade humana, todos os domínios da vida social estão sendo modificados
pelos usos disseminados da Internet (...). Uma nova forma social, a sociedade em rede, está
se constituindo em torno do planeta (...) sob uma diversidade de formas e com
consideráveis diferenças em suas conseqüências para a vida das pessoas, dependendo de
história, cultura e instituições (Castells, 2001:225).
Como vemos, o mundo da comunicação está sendo “revolucionado” pela Internet
e, dentro dele, as empresas jornalísticas, que séculos estão inseridas no palco
comunicacional, integram e são parte dessa revolução. Ou, até, em alguns casos (como
veremos), sofrem para se adaptar ou mesmo se colocar dentro dessa revolução.
Enquanto os autores que mencionamos anteriormente fazem uma análise mais
filosófica sobre a Internet, Castells procura embasar suas teorias em fatos que se dão
através da grande rede e na própria história do meio.
45
Quando Pierre Lévy fala em “projetos de seus criadores”, em passagem que
associa a Internet ao meio da universalidade, refere-se às tecnoelites que participaram do
desenvolvimento inicial da grande rede, que inclui hackers
15
, comunidades de
desenvolvedores e, inclusive, empresários. Castells define essas tecnoelites como
primordiais no desenvolvimento da cultura da Internet, uma cultura que ele define como
tecnomeritocrática: “Trata-se de uma cultura da crença no bem inerente ao
desenvolvimento científico e tecnológico (...) numa relação de continuidade direta com o
Iluminismo e a Modernidade” (Castells, 2001:36). Foi a cultura explorada por essas elites
no desenvolvimento inicial da grande rede que nela enraizaram suas características até hoje
fundamentais para o sucesso e o desenvolvimento da Internet, onde “A pedra angular de
todo processo é a comunicação aberta do software” (Castells, 2001:37). Se Lévy nos fala da
Internet como meio da universalidade, em parte isso segue os anseios das comunidades
hackers que participaram dos primeiros estágios de criação da rede, uma “cultura de
convergência entre seres humanos e suas máquinas num processo de interação liberta. É
uma cultura de criatividade intelectual fundada na liberdade, na cooperação, na
reciprocidade e na informalidade” (Castells, 2001:45). Assim, fica entendido que, dentro da
universalidade não totalitária, como explica Lévy, os valores mencionados acima são
características fundamentais da Internet: liberdade, cooperação, reciprocidade e
informalidade.
Se para McLuhan o “meio é a mensagem”, para Castells “a rede é a mensagem”
(Castells, 2001:65). É assim que o espanhol define a nova economia baseada nos negócios
eletrônicos. Como vimos com Lévy, a Internet está alterando o mundo dos negócios e,
seguindo a lógica da frase acima, Castells expõe que o novo modelo de negócio nela
baseado “(...) permite escalabilidade, interatividade, administração da flexibilidade, uso de
marca e customização num mundo empresarial em rede (Castells, 2001:56). Em
referência aos grandes portais, um dos objetos deste estudo, o espanhol afirma que eles
“(...) valem-se ainda mais (...) da possibilidade de organizar a administração, a produção e a
distribuição na Internet (citando Anthony Vlamis e Bob Smith. Do you: Business the
Yahoo! Way. Milford: CT: Capstone, 2001). Na verdade, uma mudança na cadeia de
15
Entendemos hackers como uma comunidade ou cultura de programadores e desenvolvedores tecnológicos,
em oposição ao que é normalmente associado a esta classe, que são os crackers, estes sim, aqueles que
utilizam seu conhecimento tecnológico com o objetivo de derrubar sistemas, criar vírus etc..
46
valor da indústria do comércio eletrônico para os sistemas de distribuição de informação
em detrimento do valor da própria informação” (Castells, 2001:65). Essa afirmação,
paradigmática, explica em parte a presença de grandes empresas comunicacionais, como os
tradicionais meios impressos, dentro da grande rede em associação a grandes portais
informativos ou no comando de seus próprios portais, pois, como colocou o ibérico, estão
atreladas ao novo modelo de negócio através da Internet. O importante é fornecer
informação, e quanto mais, melhor, independente da qualidade e do valor dessas
informações, numa forma de abraçar os novos públicos que hoje buscam conteúdo,
entretenimento e serviços via web. Essa última frase também pode ser entendida através da
interpretação da famosa frase de McLuhan por Castells (“a rede é a mensagem”), segundo
uma menção à mesma por parte do professor doutor em Ciências da Comunicação Caio
Túlio Costa (ECA/USP), que diz: “Se o meio é a mensagem, então a rede também passa a
ser a mensagem. Estar em rede seria mais determinante do que usar a rede para essa ou
aquela causa” (Costa, 2008:282). Isso demonstra a importância, em primeiro lugar, de estar
na Internet, independentemente de como, e, uma maneira de estar presente, é tentar estar
onipresente em tudo que a web oferece, ou seja, abraçando tudo que for possível. Daí a
fome de conteúdo que vários portais e sites informativos demonstram na sua inserção no
novo meio.
Outra palavra-chave neste novo modelo de negócios dentro da Internet é a
inovação que, segundo Castells “(...) é uma função de trabalho altamente especializado e da
existência de organizações de criação de conhecimento” (Castells, 2001:85). A inovação
confere vantagem competitiva a quem a implanta e a adota: “Uma vez gerada a inovação
(...) sua aplicação confere uma vantagem competitiva aos que participaram no processo (...)
eles são os primeiros a adotar (...) aprender (...) sabem melhor que tipos de produtos e
processos podem ser desenvolvidos a partir desse caminho de inovação” (Castells,
2001:86). Essa colocação também explica o fato de os portais informativos objetivarem
estar sempre sincronizados com as novidades do mercado, oferecendo produtos e serviços
atrelados às novas tecnologias que vão surgindo, tanto na área de softwares como, por
exemplo, um grande portal que disponibiliza servidores aos seus assinantes para que eles
possam jogar em rede a última versão do mais novo e sensacional game tri-dimensional,
quanto na área de hardwares onde, por exemplo, o usuário pode baixar skins, trilhas
47
sonoras, ou atualizar a informação, via web, de seu handheld ou smartphone, ou então,
simplesmente mandar um torpedo para um celular qualquer através do site. Essa lógica,
segundo Castells:
(...) permeia toda a indústria de serviços on-line, uma vez que os portais dão acesso a
informações e serviços, como uma maneira de vender publicidade e obter informação que
possa ser reutilizada para fins de marketing. Nesse lógica, os compradores são produtores,
que podem fornecer informação crítica por seu comportamento, e por suas demandas,
ajudando constantemente as companhias eletrônicas a modificar seus produtos e serviços
(Castells, 2001:86).
Assim, fica claro como a participação do público é fundamental dentro da nova
era da informação, e entende-se a importância da afirmação de Lévy quando ele afirma que
o “usuário é coprodutor da informação dentro do ciberespaço”. Em termos de valor de
negócio, segundo Castells, é mesmo. Assim, entende-se que as empresas que buscam
prosperar dentro da Internet devem entender e observar os gostos de seus blicos e, como
se explicita pela citação acima, a Internet e a tecnologia computacional são ótimas
ferramentas para o monitoramento dos hábitos dos usuários, dos consumidores. Para o
jornalismo, permite uma melhor sintonia entre editorias e jornalistas com os seus públicos e
se coloca como um meio, tanto de atingir mais públicos, como de melhor satisfazer às
necessidades dos seus já conquistados públicos, além de servir como amparo dinamizador à
profissão (como veremos com mais profundidade no Capítulo II). Quem também expõe
esse fato é a comunicóloga Beth Saad, que relaciona o papel do usuário com o valor da
informação jornalística através da Internet. Saad afirma que “também emerge com destaque
o papel do usuário, ou seja, o conhecido leitor, agora equipado com seu arsenal particular
de informática e telecomunicações que tem o poder (...) de selecionar conteúdos, as
informações, os serviços, as notícias que lhe interessam” (Saad, 2003:60). E complementa:
“(...) quanto mais próxima dos interesses pessoais do usuário, mais valor tem essa
informação” (Saad, 2003:61). Além do valor da informação estar diretamente atrelado ao
usuário, o processo comunicacional outrora monopolizado pelas empresas de mídia agora
sofre com a interferência desse novo ator, o que fica claro quando Saad expõe que “o
domínio do processo produtivo fica mais fragilizado com a interferência ativa e muito
próxima do usuário” (Saad, 2003:60). Daí podermos extrair a compreensão desse novo
48
momento comunicacional como um movimento de ruptura que leva à crise alguns dos
meios mais tradicionais, como o jornal impresso, como veremos mais adiante.
Uma das características desta nova “Galáxia da Internet” está no crescimento da
inteligência em diversos níveis, desde a eficiência dos novos sistemas interconectados, dos
computadores, até a contribuição das pessoas individualmente, ou estas se organizando de
diversas novas formas a própria inteligência coletiva. Nicholas Negroponte faz diversas
considerações sobre a inteligência do novo mundo conectado, que descreve na obra A vida
digital, e as relaciona também com os jornais. A primeira pergunta que o estudioso se faz é
se “a peculiaridade de um veículo pode ser transportada para outro” (Negroponte, 1995:25).
E, sobre a questão das diferenças físicas e interativas dos meios, afirma:
Um jornal também é produzido tendo toda inteligência do lado do transmissor. Mas, como
veículo, o papel em formato grande propicia algum alívio ante à “mesmice” da informação,
uma vez que o jornal pode ser consumido em diferentes momentos e de diferentes formas.
Nós folheamos, dobramos suas páginas guiados por manchetes e fotos, cada um tratando de
um modo bastante diverso os bits idênticos enviados a centenas de milhares de pessoas. Os
bits são os mesmos, mas a experiência da leitura é diferente (Negroponte, 1995:25)
16
.
Embora a Internet não tenha a portabilidade de um jornal impresso, percebe-se
que o ponto mencionado por Negroponte, a experiência de leitura, se assemelha e vai além
do que já nos propiciava o jornal em relação a outras mídias (o rádio e a TV), sobretudo no
momento atual, quando a informação, cada vez mais, se espalha por diferentes meios e
modos de interação proporcionados pelas novas tecnologias que nos abraçam dia-a-dia e
que vão além da web. Dentro deste novo contexto tecnológico, as reflexões de Negroponte
seguem a mesma direção das ponderações de Lévy, Castells e até mesmo McLuhan, onde a
informação se fragmenta e se personaliza:
A resposta está na criação de computadores que filtrem, classifiquem, estabeleçam
prioridades e gerenciem os múltiplos veículos, a multimídia, para nós computadores que
leiam jornais, assistam à televisão e que ajam como editores quando solicitados. Esse tipo
de inteligência pode alojar-se em dois lugares distintos.
Ela pode estar do lado do transmissor e comportar-se como se você tivesse seu próprio time
de redatores como se o New York Times estivesse publicando um jornal único, feito sob
medida para seus interesses. Nesse primeiro exemplo, um pequeno subconjunto de bits foi
selecionado especialmente para você. Esses bits são filtrados, preparados para você, talvez
16
No contexto da obra de Nicholas Negroponte, bit é uma referência a informações e conteúdos digitais.
49
para serem impressos na sua casa, ou para serem vistos de modo mais interativo, com
auxílio de um aparelho eletrônico.
Num segundo exemplo, seu sistema editor de notícias está no receptor, e o New York Times
transmite uma quantidade enorme de bits (...) dentre as quais seu aparelho seleciona umas
poucas, dependendo dos seus interesses, hábitos ou planos para o dia em questão. Nesse
caso, a inteligência está no receptor, e o idiota do transmissor está enviando os bits todos
para todo mundo, indiscriminadamente (Negroponte, 1995:25-26).
Enfim, Negroponte conclui que ambas as fórmulas deverão ser encontradas na
vida digital. Mas a inteligência do transmissor/receptor e a fragmentação não são os únicos
pontos que alteram o cenário da informação que concerne também aos jornais impressos. A
sua profundidade é algo que cresce com as redes e novas tecnologias, como evidencia a
seguinte afirmação:
No mundo digital, o problema do volume versus profundidade desaparece, de modo que
leitores e autores podem mover-se com maior liberdade entre o geral e o específico. Na
verdade, a idéia de “querer saber mais sobre o assunto” é parte integrante da multimídia, e
está na base da hipermídia (Negroponte, 1995:71).
A maior profundidade proporcionada pela informação em rede, além do que
escreve o norte-americano, é algo notório na Internet, meio que permite a conectividade de
diversas empresas de dias, inclusive com seus usuários e de todos entre si. Hoje, é fácil
notar isso em qualquer meio, seja na TV, no rádio, em jornais ou revistas, que convidam o
público para “saber mais sobre o assunto” através de informações adicionais que dispõem
em seus sites. Isto, somado ao que o público pode encontrar por conta própria navegando
na web, nos permite afirmar que a Internet é o meio atual de maior profundidade
informativa.
50
2. A Internet e a Esfera Pública
By freedom shall he imprison many
– Talking in the Devil
17
Antes de analisarmos quais são os novos impactos da Internet sobre a esfera
pública, precisamos entender melhor o que vem a ser uma esfera pública. Para tal,
buscamos a definição da mesma através dos estudos do alemão Jürgen Habermas em sua
clássica obra, Mudança estrutural na esfera pública, uma das maiores referências sobre o
tema. Para definir o que vem a ser uma esfera pública, em primeiro lugar, Habermas faz
algumas definições dos principais termos ligados ao assunto, onde temos: público, publicar,
publicidade, opinião pública e esfera pública
18
. Habermas então, antes de chegar na esfera
pública, busca a definição do que vem a ser “público”, e coloca: “Chamamos de ‘públicos’
certos eventos quando eles, em contraposição às sociedades, são acessíveis a qualquer um
assim como falamos de locais públicos ou de casas públicas” (Habermas, 1984:14). Em
suma, quando nos referimos a qualquer termo como ele sendo público, significa que tal
termo, que pode ser uma praça, um estádio, ou um jornal, é acessível a todos (mesmo que
mediante o pagamento de algum valor, como a compra de um ingresso para assistir a uma
partida de futebol, por exemplo).
Uma vez esclarecido o que vem a ser público, Habermas passa a trabalhar o
conceito de opinião blica e outros termos. Embora opinião blica e esfera pública
tenham significados distintos, os dois possuem uma relação direta, como explica Habermas:
“(...) no sentido de opinião pública, de uma esfera pública revoltada, ou bem informada,
significados estes correlatos a público, publicidade, publicar. O sujeito dessa esfera pública
é o público enquanto portador da opinião pública” (Habermas, 1984:14). Fica claro que
opinião pública vem a ser a opinião das pessoas que compõem uma esfera pública, pessoas
que são, portanto, o público. Os termos publicidade e publicar referem-se ao “caráter
público” (Habermas, 1984:14) de algo, do espaço público inclusive algo público é algo
17
Em Omen III – The Final Conflict (1981). “Pela liberdade muitos ele emprisionará” (T.A.).
18
Vale colocar que os termos “esfera pública” e “espaço público” referem-se à mesma coisa. Habermas
trabalhava com o termo espaço público, o termo “esfera pública” é mais utilizado por estudiosos norte-
americanos.
51
dotado de publicidade
19
e, verbalmente (publicar), é tornar algo público. Em comum,
todos os termos têm o caráter de se referirem ao primeiro termo acima colocado, o público.
Depois que define os termos, Habermas, por fim, trabalha em cima do conceito de
esfera pública:
A própria “esfera pública” se apresenta como uma esfera: o âmbito do que é setor público
contrapõe-se ao privado. Muitas vezes ele aparece simplesmente como a esfera da opinião
pública que se contrapõe ao poder público. Conforme o caso, incluem-se entre os órgãos
estatais ou então os mídias que, como a imprensa, servem para que o público se comunique
(Habermas, 1984:14).
Vimos até aqui que Habermas coloca duas funções fundamentais, relacionadas aos
termos de esfera pública e opinião pública: a necessidade de termos um público informado,
e a função da imprensa em serviência à comunicação pública. A importância da imprensa
na construção da opinião pública dentro do espaço público é um fato relevante neste estudo
e, também, um objeto de grande destaque dentro dos estudos de Habermas, no que ele
denomina como esfera pública. Habermas também coloca a importância da esfera pública
na construção de uma crítica ao poder, outro fator de suma importância em seus estudos.
As primeiras esferas públicas mencionadas por Habermas em seus estudos surgiram
na Grécia Antiga e no Império Romano, porém com características distintas das esferas
públicas modernas mediatizadas pela mídia, no caso a imprensa, que surgiram a partir da
emergência dos Estados modernos e da sociedade burguesa. As próprias características
dessas esferas públicas antigas contrapõem o conceito de públicas, pois não eram de
alcance de todos os cidadãos dessas sociedades e, sendo assim, nos permitem um “salto na
história”, levando-nos diretamente à Idade Moderna. A importância da esfera pública
dentro de um Estado moderno é o que nos coloca Habermas: (...) a esfera pública (...)
passam a ter novamente uma efetiva aplicação processual jurídica com o surgimento do
Estado moderno e com aquela esfera da sociedade civil separada dele: servem para a
evidência política” (Habermas, 1984:17).
Mais uma vez, o alemão ressalta a importância da esfera pública na discussão
política, evidenciando a importância dessa sua peculiar característica. Outra característica
19
Habermas utilizava a palavra Öffentlichkeit ao referir-se à esfera pública, cuja tradução literal do alemão
seria “publicidade”.
52
do Estado moderno relacionada com a esfera pública da emergente sociedade burguesa é o
capitalismo:
(...) para fazer aflorar a esfera da “boa sociedade”, tão singularmente suspensa ao longo do
século XVIII, mas nitidamente destacada depois dos Estados nacionais e territoriais, à base
da economia do capitalismo comercial, terem aparecido após destruírem os fundamentos do
poder feudal. A última configuração da representatividade pública, ao mesmo tempo
reunida e tornada mais nítida na corte dos monarcas, já é uma espécie de reservado, em
meio a uma sociedade que ia se separando do Estado. Só então é que, num sentido
especificamente moderno, separam-se esfera pública e esfera privada (Habermas, 1984:23).
O Estado moderno surge a partir da necessidade capitalista de regulamentação do
mercado. O mercado capitalista separa o púbico do poder, mesmo que o poder servisse para
mediar os interesses de instituições capitalistas, com isso surge uma nova “casta” social que
se amolda em torno desse mercado capitalista, a sociedade burguesa. É nesse momento que
temos nitidamente uma esfera pública separada de uma esfera privada.
Habermas destaca iniciativas anteriores à imprensa, o uso do correio e das cartas
privadas, como uma necessidade da nova sociedade comercial capitalista em receber
informações comerciais. Essa troca de informações vai ganhando novas dimensões
informativas que cumpriam os papéis típicos da imprensa, porém não poderiam se
caracterizar como públicas por se tratarem de mensagens privadas, característica
fundamental que condiciona a mídia como fator construtor da esfera pública. Assim, o
germânico destaca a importância da imprensa na construção do espaço público a partir do
momento em que ela se torna acessível ao público: “(...) só existe uma imprensa em sentido
estrito a partir do momento em que a transmissão de informações regularmente torna-se
pública, ou seja, torna-se por sua vez acessível ao público em geral” (Habermas, 1984:30).
Esta emergente burguesia que surgia, composta de capitalistas e prestadores de
serviços, veio a compor o público, elemento primordial sem o qual não existe a esfera
pública. A partir de divergências entre o Estado e esse público, deflagra-se um antagonismo
entre esses dois setores da sociedade, como narra Habermas:
As autoridades provocam uma tal repercussão nessa camada atingida e apelada pela política
mercantilista que o publicum, o correlato abstrato do poder público, acaba por revelar-se
conscientemente como um antagonista, como o público da esfera pública burguesa que
então nascia (Habermas, 1984:38).
53
O público burguês entra em atrito com o poder em função de questões políticas
mercantilistas, e assim passa a desenvolver uma consciência crítica em relação às políticas
deste poder, como evidencia Habermas:
(...) em função das intervenções públicas na economia doméstica privatizada é que se
constitui, finalmente, uma esfera crítica (...) a referida zona de contato administrativo
contínuo torna-se uma zona “crítica” também no sentido de que exige a crítica de um
público pensante. O público pode aceitar esta exigência tanto mais porque precisa apenas
trocar a função do instrumento com cuja ajuda a administração já tinha tornado a sociedade
uma coisa pública em sentido estrito: a imprensa (Habermas, 1984:39).
Nessa construção do pensamento crítico burguês, Habermas mostra que um fator
primordial está em cena, a imprensa. A imprensa então, é o elemento fundamental que
transforma a consciência crítica e política burguesa em uma crítica pública. O público agora
tem acesso à consciência crítica política.
54
A Esfera Pública de Jürgen Habermas
Uma vez definidos os termos e o contexto da sociedade burguesa capitalista, Jürgen
Habermas passa então, a trabalhar o conceito de esfera pública propriamente dito, e coloca:
A esfera pública burguesa pode ser entendida inicialmente como a esfera das pessoas
privadas reunidas em um público; elas reivindicam esta esfera pública regulamentada pela
autoridade, mas diretamente contra a própria autoridade, a fim de discutir com ela as leis
gerais da troca na esfera fundamentalmente privada, mas publicamente relevante, as leis do
intercâmbio de mercadorias e do trabalho social (Habermas, 1984:42).
Na frase acima, estranha-nos o fato de uma esfera pública ser composta por sujeitos
inseridos em uma esfera privada, e sobre esse fato singular, Habermas explica:
Os burgueses o pessoas privadas; como tais, não “governam”. Por isso, as suas
reivindicações de poderio contra o poder público não se dirigem contra a concentração do
poder que deveria ser “compartilhado”; muito mais eles atacam o próprio princípio de
dominação vigente. O princípio de controle que o público burguês contrapõe a esta
dominação, ou seja, a esfera pública, quer modificar a dominação enquanto tal (Habermas,
1984:43).
Assim, fica claro que, embora os burgueses componham uma esfera pública
privada, eles se organizam como público, pois estão separados do poder, separados do
Estado e da aristocracia da Corte.
Em um diagrama, Habermas faz uma condensação do cenário onde estão o setor
privado, a esfera do poder público, a esfera pública política e a esfera pública literária
(Habermas, 1984:45). Do lado do setor privado encontram-se a sociedade civil composta do
mercado e dos trabalhadores sociais e o espaço íntimo da pequena-família, espaço este de
suma importância para o crescimento da intelectualidade burguesa: “A compreensão que o
tirocínio público tem de si mesmo é dirigido especificamente por tais experiências privadas
que se originam da subjetividade, em relação ao público, na esfera íntima da pequena-
família” (Habermas, 1984:43), diz o alemão. Para compreendermos melhor a importância
da pequena-família, ela está no fato de a vida pública burguesa começar dentro da própria
casa, como expõe Habermas:
55
As pessoas privadas que se constituem num público não aparecem “na sociedade”; toda vez
elas, por assim dizer, destacam-se primeiro em relação ao pano de fundo de uma vida
privada que ganhou forma institucional no espaço fechado da pequena-família patriarcal.
Este é o local de uma emancipação psicológica que corresponde à emancipação político-
econômica (Habermas, 1984:62).
Do lado da esfera do poder público, como colocamos, estão o Estado, que inclui a
polícia e a Corte, e a sociedade da aristocracia. No meio desses dois setores, público e
privado, estão a dita esfera pública política e a esfera pública literária, composta por clubes,
imprensa e o mercado de bens culturais.
Assim como a esfera íntima da pequena-família burguesa tem papel importante no
desenvolvimento da intelectualidade burguesa, o mercado de bens culturais também assume
papel importante em tal desenvolvimento, como evidencia Habermas: Interesses
psicológicos também dirigem o raciocínio que se inflama nos espaços culturais tornados
públicos: na sala de leitura ou no teatro, em museus e concertos. À medida que a cultura
assume forma de mercadoria, (...) pretende-se ver nela o objeto próprio de discussão e com
qual a subjetividade ligada ao público entende a si mesma (Habermas, 1984:44). Por
ironia do destino, esse mesmo mercado de bens culturais que fomentou o surgimento da
esfera pública iria, no futuro, ser responsável pelo fim da esfera pública, como veremos a
seguir.
E, como vimos na descrição do diagrama de Habermas, entre os setores público e
privado temos também a esfera pública literária, que o alemão destaca ser de suma
importância para a construção do pensamento crítico burguês:
A “cidade” o é apenas economicamente o centro vital da sociedade burguesa; (...) ela
caracteriza, (...) uma primeira esfera pública literária que encontra as suas instituições nos
coffee-houses, nos salons e nas comunidades de comensais. Os herdeiros daquela sociedade
de aristocratas humanistas, em contato com os intelectuais burgueses que logo passam a
transformar as suas conversações sociais em aberta crítica (Habermas, 1984:45).
A importância dessa esfera pública literária é fundamental, pois são nesses espaços
que, como vimos nessa citação, se desenvolve a crítica burguesa. Esse espaço é, então, o
mesmo espaço, ou a esfera pública política, como deixa claro Habermas: A esfera pública
política provém da literária; ela intermedia, através da opinião pública, o Estado e as
necessidades da sociedade” (Habermas, 1984:46). É nesse espaço literário que a imprensa
56
vai ter uma atuação fundamental, tornando-o um espaço ou esfera pública de debates que
questiona os rumos da sociedade.
Fica claro que, na medida que a burguesia desenvolvia uma consciência de seu
papel na sociedade, utilizando-se desses espaços tanto em esferas públicas como privadas
fomentada por uma imprensa de opinião e em contato com uma aristocracia que também
se afastava do poder do Estado
20
, surgia uma crítica em relação ao poder, e esta burguesia
passaria, então, a reivindicar o seu papel dentro da sociedade.
Até aqui nós temos todos os elementos constituintes de uma esfera pública: o
mercado capitalista, o Estado moderno, a sociedade burguesa, as esferas públicas política,
literária e íntima, a mídia (que no caso da emergente sociedade burguesa, era a também
emergente imprensa escrita) e o desenvolvimento de uma consciência política e crítica
dentro das esferas públicas. Esse enorme palco tinha diferentes esferas blicas, muitas
delas dentro do conceito estrutural (ou temporárias) e, a que nos interessa mais, as esferas
públicas conjunturais (ou permanentes)
21
, como muitas que surgiam na Europa durante os
séculos XVI, XVII e XVIII, onde sempre se destacava o uso da prensa gráfica fomentando
intensos debates públicos como, por exemplo, na iconoclastia calvinista
22
, na
institucionalização da imprensa na Holanda
23
, no aparecimento dos jornais oficiais e não-
oficiais na França pré-revolucionária do século XVII
24
, e os exemplos clássicos da história:
a própria Revolução Francesa (1789), a Revolução Gloriosa Inglesa (1685) e, no novo
mundo, a Revolução Norte-Americana (1776).
Vemos que a imprensa escrita aparece como um vetor importantíssimo na
construção da crítica burguesa e, como esclarecemos, tal fato é de concordância de vários
estudiosos
25
, porém creditar somente a ela a construção desse pensamento seria falta de
bom senso. Mencionamos, inclusive, que, antes do surgimento da esfera blica burguesa,
20
Sobre isto Habermas escreve: “Enquanto a burguesia, por assim dizer excluída dos postos de comando no
Estado e na Igreja, assumia pouco a pouco todas as posições-chave na economia, enquanto a aristocracia
compensava esta superioridade material por meio de privilégios da realeza e uma ênfase proporcionalmente
rigorosa dos banqueiros e dos burocratas que assimilava a ela e se encontravam com a ‘intelectualidade’ como
que em pé de igualdade” (Habermas, 1984:49).
21
Ver Briggs e Burke, 2006:107.
22
Ver Briggs e Burke, 2006:91.
23
Ver Briggs e Burke, 2006:93.
24
Ver Briggs e Burke, 2006:94.
25
Tais como Peter Burke e Asa Briggs que abordam com profundidade a questão da Esfera Pública no livro
Uma história social da mídia, citando diversos outros estudiosos do tema, além do próprio Habermas.
57
os comerciantes europeus utilizavam-se de outras formas de comunicação e mantinham
uma grande tradição na transmissão de informações e conhecimentos de forma oral. A
influência do jornal vai ganhar dimensões com o advento da tipografia, que surge em
meados do século XV, como vemos na passagem a seguir:
A impressão tipográfica foi uma das maneiras de se produzir jornal, mas não a única. (...) o
jornal impresso somente surgiu por volta do ano 1600, um século e meio após o advento da
máquina tipográfica, inventada na Europa em meados do século XV. Todavia, neste período
de cento e cinqüenta anos durante o qual a tipografia esteve imprimindo somente livros,
houve jornais, que feitos a mão, as chamadas “gazetas manuscritas”. É bem verdade que
o jornalismo multiplicou enormemente sua influência depois que se tornou tipográfico
(Costella, 2001:15).
Como vemos, o jornal impresso vai ter a sua atuação marcada na Europa do século
XVII, justamente quando temos o surgimento dos Estados modernos, do capitalismo e da
burguesia. Porém, antes do advento da imprensa, já havia outras formas de transmitir
notícias, informações e opiniões, como vimos, as “gazetas manuscritas” e, como
mencionamos, a comunicação oral. A importância da comunicação oral é fundamental pois,
introduzindo-se nela a imprensa, obtemos um cenário onde os jornais vão fomentar as
discussões políticas dentro dos espaços públicos, como se explicitou nos estudos de
Habermas, e esta, a imprensa, foi o elo fundamental que fez emergir a esfera publica.
58
O Fim da Esfera Pública
O jornalista e pesquisador livre-docente Mauro Wilton de Sousa (ECA/USP), em
palestra para estudantes de jornalismo no Espaço Cultural CPFL (São Paulo)
26
, discorreu
sobre “as quatro idades da imprensa” e o papel do jornalista e da esfera pública. Referindo-
se aos estudos de Habermas e outros teóricos (entre os quais Baudrillad, Adorno e
Horkheimer) contou como uma imprensa que nasceu opinativa, fomentadora da esfera
pública, acabou se modificando e “matando” essa esfera pública. Sua palestra é
fundamental para entendermos a evolução da imprensa, um pouco de sua história, e de
como ela se relaciona com o presente assunto, dessa forma, iluminando um entendimento
mais profundo sobre o papel da imprensa e, na atualidade, da Internet dentro desse
contexto.
A-) 1ª Idade da Imprensa – Imprensa de Opinião
É justamente a impressa à qual nos referimos no tópico anterior. Data do surgimento
da prensa gráfica até o crepúsculo do culo XVIII e início do século XIX, ou seja, esta
fase termina pouco depois da Revolução Francesa. A imprensa, nesta época, é caracterizada
por não possuir interesses econômicos e ser livre de qualquer tipo de coação. É a imprensa
da troca de opiniões nos cafés literários, de argumentação política, que intermediava a
esfera pública coletiva, fomentando a discussão política e a troca de opiniões.
B-) 2ª Idade da Imprensa – Fase Comercial
Datada do início do século XIX, a chamada de Fase Comercial da imprensa marca a
entrada do interesse econômico na produção dos jornais, sendo a imprensa que evolui junto
à Revolução Industrial. O interesse então passa a ser a obtenção de lucro com a venda de
jornais. Dessa forma, a imprensa perde a sua característica de isenção total e começa não
mais a propagar idéias, e sim a vender idéias. Vender idéias e interesses com o intuito de
angariar leitores, de manter um público leitor. O comprometimento político não existe
26
Em “Jornalismo Sitiado”; Módulo: “Dos meios de comunicação de massa às gerações públicas
generalizadas”.
59
mais, embora a política sempre fazer parte do noticiário; porém, agora ela o faz
objetivando (e objetivamente) o lucro com a venda do jornal. Essa fase marca a entrada do
folhetim nos jornais, que eram obras literárias (ficção, romances) publicados em capítulos a
cada edição como uma forma de prender o leitor ao jornal. Esta fase marca também o início
da entrada da publicidade nos jornais. Essa mudança de uma imprensa de opinião sem
interesses econômicos para a fase comercial marca o início do fim esfera pública.
C-) 3ª Idade da Imprensa – Interesse Ideológico
Se a fase comercial da imprensa marcou o início do fim da esfera pública, a terceira
idade da imprensa, que começa a partir do alvorecer do século XX, acaba de vez com
qualquer resquício de esfera pública nos moldes que trabalhamos até agora. A imprensa
não é mais local, ela agora atinge as massas, é uma imprensa que produz jornais em escala
de massa, em ritmo industrial (evoluindo e ampliando fronteiras com novas tecnologias que
iam surgindo: telégrafo, cabo submarino intercontinental, fotografia e radiotransmissão
entre outras). O interesse da imprensa, então, passa a ser as massas, é uma imprensa que
media a criação da indústria cultural. O século XX marca a entrada de várias mídias de
massa no grande palco da mídia, surge o mainstream media: o cinema, rádio e a televisão
(além da já tradicional imprensa escrita). Com isso temos um grande crescimento na
indústria que produz e reproduz os bens culturais. A imprensa, então, trabalha num conceito
de ideologização das massas sob o interesse comercial de difundir e expandir essa indústria
cultural
27
. Os meios de comunicação, incluindo a imprensa, passam a ser intérpretes dos
interesses privados, é uma imprensa guiada pelo interesse do marketing e o capital da
publicidade. Acaba o espaço da argumentação na imprensa e entra a informação, a
imprensa passa também a ser um veículo de entretenimento. A imprensa, que antes era um
espaço de argumentação política, de opinião, se torna um espaço de troca de interesses
econômicos sobre questões político-ideológicas. É o fim da esfera pública dentro dos
conceitos que trabalhamos.
27
Este é o teor do famoso livro de Theodor Adorno e Max Horkheimmer intitulado Dialética do
esclarecimento (Rio de Janeiro: Zahar, 1985).
60
D-) 4ª Idade da Imprensa – Gerações Públicas Generalizadas
A quarta idade da imprensa se inicia a partir da metade do século XX. É quando
diversas instituições, Estado, empresas, organizações, igrejas etc., passam também a buscar
o seu espaço dentro da mídia (imprensa, rádio e TV), de forma a se colocarem
generalizadamente na sociedade. É quando surgem as acessorias de imprensa e as relações
públicas, evidenciando a importância que as instituições têm de se colocar na mídia, em
mostrar suas idéias e defender seus interesses. A imprensa mostra, assim, uma pluralidade
de interesses, a argumentação fica dispersa dentro dessa pluralidade. Este cenário de
pluralidade montado por Wilton Sousa, somado ao que já averiguamos sobre as novas
características midiáticas que tomam o palco da comunicação na atualidade com o advento
da Internet, poderíamos, apenas para uma rápida compreensão desse contexto, intitulá-lo de
fase das “Gerações Públicas Binárias, Conectivas e Massivamente Generalizadas”, ou algo
parecido, apenas para compreendermos um pouco da dimensão de como a evolução
tecnológica atual que permeia toda sociedade, mais e mais instituições e até indivíduos, têm
como se colocarem de forma generalizada dentro do cenário midiático em diferentes graus.
E ainda, com o passar dos anos, a imprensa passa a conviver com o fenômeno da
globalização, que a afeta diretamente. O capital da imprensa agora é globalizado, seja
através dos grandes conglomerados de dia, os global players, seja na própria
comunicação veiculada, que passa a ser mista, ao mesmo tempo local e global. Outro
fenômeno antagônico acontece com a imprensa, como coloca Wilton Sousa: “O processo
de globalização fez com que o processo de informação esteja ao mesmo tempo
generalizado e centralizado”. Ou seja, ao mesmo tempo em que vários setores da sociedade
buscam seu espaço na mídia de forma generalizada, o mass media é centralizado, com
poucos emissores falando para milhões de receptores. A imprensa deixa de ser um espaço
de argumentação e passa a ser o espaço da visibilidade da informação e, neste contexto, a
liberdade é limitada. A esfera pública, então, desaparece completamente da imprensa e
passa a buscar o seu espaço fora da mídia.
Outra característica de dualidade da mídia na atualidade, que se intensifica com a
expansão da Internet e do mundo interconectado, é apontada por Nicholas Negroponte. O
autor afirma que a mídia tornou-se maior e menor ao mesmo tempo, o que, entendemos
61
como mais amplas (alcançando mais públicos) e mais fragmentadas (cada vez se
especializando em assuntos mais específicos e direcionados para públicos menores, o
narrowcasting):
Na era da informação, os meios de comunicação de massa tornaram-se simultaneamente
maiores e menores. Novas formas de transmissão televisiva como a CNN e USA Today
atingiram públicos maiores, ampliando ainda mais a difusão. Revistas especializadas,
videocassetes e serviços por cabo deram-nos exemplos de narrowcasting, atendendo a
grupos demográficos pequenos. Assim, os meios de comunicação se tornaram maiores e
menores a um só tempo (Negroponte, 1995:157).
Voltando à palestra de Mauro Wilton Sousa, no seu fim, o pesquisador discute o
papel da imprensa hoje, onde esta está inserida dentro de um contexto de uma sociedade
pós-moderna capitalista e economicamente globalizada, dentro de um mercado que não é
apenas local ou nacional, é mundial. A imprensa hoje é o espaço do conflito, que reflete os
conflitos típicos de uma sociedade globalizada, os conflitos raciais, étnicos, sociais e
econômicos. E Wilton Sousa fala sobre o surgimento de duas novas esferas públicas: a
esfera pública do conflito, que reflete e debate esses conflitos; e a esfera pública midiática,
onde o “estar junto na sociedade” passa pela mídia
28
, é a esfera que reúne o público em
grandes eventos, tais como futebol, carnaval, cinema, shows, supertragédias
29
, etc.. Esses
espaços, entretanto, não são mais de argumentação e discussão política, são espaços de
discussão da esfera privada. E, para finalizar e ilustrar esse novo contexto da imprensa,
Wilton Sousa diz: “A opinião pública hoje se sustenta através da mídia, como espaço de
circulação e não mais como espaço da argumentação”. Em suma, não há mais esfera
pública como na conceituação que vimos nos estudos de Jürgen Habermas. O foco político,
fundamental nos conceitos do alemão, não dentro do contexto da Idade Moderna, de
outros mais remotos, como nas antigas Roma e Grécia, se perderam no cenário acima
descrito. Porém, no novo paradigma que se molda dentro da cena midiática atual e sua nova
vedete, a Internet, vale investigar se tais mudanças afetam este palco revelado por Wilton
Sousa. Poderia a Internet alterar de forma radical este contexto e até, quem sabe, resgatar a
esfera pública? Nos referimos à esfera do debate político, que rumo ao destino das
28
Nada pode expressar melhor essa afirmação do que a música do carnaval da rede Globo, cujo refrão diz:
Na tela da TV no meio desse povo, a gente vai se ver na Globo”.
29
Como, por exemplo, no Tsunami gerado no Oceano Índico que atingiu as costas da Indonésia, Tailândia,
Índia, Mianmá e Malásia em 26 de Dezembro de 2004.
62
sociedades, como bem mencionamos anteriormente. As reflexões no tópico a seguir
buscam encontrar uma luz no fim do túnel para essa obscura questão.
63
A Esfera Pública na Internet
Antes de lançarmos uma luz sobre a questão, se a Internet resgata a esfera pública
ou não, vamos voltar ao diagrama de Habermas e analisar se os termos ali colocados estão
presentes nos dias atuais. Habermas falava em dois setores: o privado e a esfera do poder
público. Dentro do setor privado se destacavam a sociedade civil, com o seu setor de troca
de mercadorias, e o trabalho social, setor esse que ainda existe, porém com um mercado
agora globalizado. Ainda no setor privado existia o espaço íntimo da pequena-família que,
naturalmente, ainda existe nos dias atuais. Vale frisar que esse setor era composto
basicamente da burguesia que de fato ainda existe hoje, embora essa burguesia não se
autodenomine mais como burguesia. Na esfera do poder público, onde se destacavam o
Estado e seus aparelhos repressivos, estes não só perduram até os dias atuais como ainda
têm seus poderes e seus aparelhos replicados em diversas instituições que o compõem. Não
temos mais a Corte e nem uma aristocracia como a conhecíamos nos tempos das Cortes
Reais, mas, com ampliação do Estado e seus aparelhos, estes suplantam a existência dessa
Corte aristocrática como era nos tempos da realeza. De qualquer forma, ainda temos
atualmente, um setor blico e um setor privado visivelmente separados entre si, e uma
sociedade civil que se organiza como público. Entre esses setores, Habermas colocava as
esferas públicas política e literária, esta composta de clubes e a imprensa, e também, do
mercado de bens culturais. No papel creditado por Habermas aos clubes, hoje temos
diversas outras formas de agrupamentos de pessoas onde debates, políticos ou não,
acontecem, de forma que espaços públicos (físicos) existem em abundância, locais onde a
sociedade poderia estar discutindo o seu destino. O mercado de bens culturais existe e está
mais forte do que nunca, é, inclusive, globalizado também. Se transplantarmos as teorias de
Habermas sobre o mercado de bens de consumo onde ele dizia que este, uma vez público,
ajudou a criar a autoconsciência burguesa, podemos pensar o mesmo da Internet. A Internet
é uma mídia que traz junto de si toda uma onda consumista de bens culturais e, junto desta
onda, novas formas de interatividade que levam os cidadãos, conectados, a terem mais
conhecimentos sobre si mesmos. Sobre esse tema em particular é o que nos fala Pierre
Lévy:
64
A cibercultura é propagada por um movimento social muito amplo que anuncia e acarreta
uma evolução profunda na civilização. O papel do pensamento crítico é o de intervir em sua
orientação e suas modalidades de desenvolvimento. Em particular, a crítica progressista
pode esforçar-se para trazer à tona os aspectos originais das evoluções em andamento
(Lévy, 1999:229).
Lévy aponta para um movimento social amplo, liderado pela cibercultura, que é a
cultura que provém das peculiaridades interativas do ciberespaço. A questão então é: essa
nova forma de consumo cultural que nos traz a Internet, não teria o mesmo papel que o
incipiente mercado de bens culturais nos primórdios da imprensa? Nem Lévy nos responde
essa questão, pois ele mesmo diz que esse movimento social “anuncia” uma evolução na
civilização, e invoca o pensamento crítico como guia para esse desenvolvimento. Ele não
nos fala que de fato isto está ocorrendo, mas, passados nove anos desta afirmação de Lévy,
estaria ocorrendo? Uma coisa apenas é certa: o crescimento da Internet traz consigo um
mundo informativo exponencial e incomensuravelmente maior em comparação ao que
tínhamos até então. Toda essa informação, esse conteúdo a “avalanche”, o “boom” as
novas formas de interação e tudo que levantamos neste estudo, de alguma forma está
mudando as pessoas que partilham desse novo mundo comunicativo.
Mas, nessa explanação, acabamos deixando de lado a questão de que a Internet, e
sua peculiar forma de expressão cultural, realmente colabora para a criação de uma
consciência crítica maior dos seus usuários conectados entre si. Vimos nos estudos de
Habermas que a autoconsciência burguesa era uma consciência de seu papel dentro de um
mercado de bens de consumo na sociedade capitalista. Transplantando esse aspecto para o
mundo atual em seu mercado globalizado e interligado pela Internet, fica claro que o
consumidor, sendo coprodutor da informação, evolui com ela, e isso pode levar a crer que,
neste processo, ele criar uma autoconsciência de seu papel na sociedade e,
potencialmente, criar uma consciência crítica a respeito disso, o que poderá levá-lo a querer
fazer parte da discussão dos rumos da sociedade na qual está inserido. Ao menos em si
mesma, como meio, podemos dizer que, nesse sentido, a Internet é uma mídia mais
democrática que as demais, apesar de problemas como a exclusão digital, o que atribuímos
ao fato de ela permitir a comunicação todos-todos e os demais meios não.
Outro fator que Habermas trouxe à luz sobre a imprensa na Idade Moderna é:
“Quando, 1709, Steele e Addison publicaram os primeiros números do Tatler, os cafés
65
eram tão numerosos, os círculos dos freqüentadores dos cafés eram tão amplos que a
coesão desse círculo multiforme podia ser mantida através de um jornal” (Habermas,
1984:58). Entendemos que, nos dias atuais, com uma sociedade globalizada, onde o
mercado é local e global, assim como a imprensa e os tradicionais meios do mass media,
como vimos anteriormente, a única mídia capaz de trazer uma coesão a esta dispersão seria
a Internet, pois ela é ao mesmo tempo local e global, e também é a única mídia que conecta
todos seus usuários e as diversas redes dispersas por todo mundo, o que inclui até mesmo as
redes de radiotransmissão e os tradicionais jornais diários, que hoje registram seus
endereços na web e assumem a forma de portais de notícia.
Sobre a hipótese que se lança aqui, Pierre Lévy, sem dúvida, dá diversas pistas
sobre as mudanças na sociedade com a criação de um novo espaço comunicacional
interativo, pistas que nos levam à busca do elemento que nos falta para completar o
diagrama de Habermas no mundo globalizado: a esfera pública. Sem dúvida, uma esfera
pública que discute os destinos da sociedade pode ser chamada de democrática, e, sobre a
democracia no ciberespaço, Lévy nos diz:
Para cortar pela raiz imediatamente os mal-entendidos sobre a “democracia eletrônica”,
vamos esclarecer novamente que não se trata de fazer votar instantaneamente uma massa de
pessoas separadas quanto a proposições simples que lhes seriam submetidas por algum
demagogo telegênico, mas sim de incitar a colaboração coletiva e contínua dos problemas e
sua solução cooperativa, concreta, o mais próximo possível dos grupos envolvidos. (...)
Articular os espaços (...) visa antes compensar, no que for possível a lentidão, a inércia, a
rigidez indelével do território por sua exposição em tempo real no ciberespaço. Visa
também permitir a solução e, sobretudo, a elaboração dos problemas da cidade por meio da
colaboração em competências, dos recursos e das idéias (Lévy, 1999:195).
Aqui Lévy revela que a Internet, sendo uma mídia interativa, poderia ser um espaço
de discussão dos rumos da sociedade, de forma que, potencialmente, poderíamos afirmar
que a Internet é a forma comunicacional que traz em si uma “tecnologia” que se permite
usá-la como uma esfera pública. É um espaço que poderia servir como a esfera literária do
século XVIII, um espaço onde as pessoas poderiam buscar informações e argumentar
politicamente mesmo que separadas fisicamente. Se de fato a Internet se dá a esse espaço é
outra questão que merece uma resposta satisfatória.
66
Esses espaços virtuais de debates poderiam ser as chamadas comunidades
virtuais”. Lévy aponta essa questão, contrapondo a Internet aos mass media que acabaram
com o espaço público, como vimos no tópico anterior:
A maioria das comunidades virtuais estrutura a expressão assinada de seus membros frente
a leitores atentos e capazes de responder a outros leitores atentos. Assim (...) longe de
encorajar a irresponsabilidade ligada ao anonimato, as comunidades virtuais exploram
novas formas de opinião pública. Sabemos que o destino da opinião pública encontra-se
intimamente ligado ao da democracia moderna. A esfera do debate político emergiu na
Europa durante o século XVIII, graças ao apoio técnico da imprensa e dos jornais. No
século XX, o rádio (...) e a televisão (...) ao mesmo tempo deslocaram, amplificaram e
confiscaram o exercício da opinião pública. Não seria permitido, então, entrever hoje uma
nova metamorfose, uma nova complicação da própria noção de “público”, já que as
comunidades virtuais do ciberespaço oferecem, para debate coletivo, um campo de prática
mais aberto, mais participativo, mais distribuído que aquele das mídias clássicas? (Lévy,
1999:129).
Apesar de Lévy terminar essa colocação com uma interrogação, ela tem implícita
uma resposta positiva. Sem dúvida, pelas suas peculiaridades interativas, a Internet, bem
como a imprensa no século XVIII, serve como aparato técnico para o resgate da esfera
pública em alternativa aos mass media que, como vimos no capítulo anterior, irradiam a
informação de poucos para muitos, afinal, em contraposição a isso, o ciberespaço é uma via
comunicacional de mão dupla.
Como mencionamos no exemplo da Revolução Francesa, o Iluminismo teve um
papel fundamental na criação de uma esfera pública. Os ideais iluministas e seus filósofos
foram de imensa valia para a construção da consciência crítica burguesa que precederam à
revolução. Lévy defende a teoria de que a cibercultura é, de certa forma, um resgate dos
ideais iluministas e, portanto, subentende-se, um resgate da esfera pública (ao menos no
que poderia se assemelhar com o cenário daquela época):
Em contraste com a idéia pós-moderna do declínio das idéias das luzes, defendo que a
cibercultura pode ser considerada como herdeira legítima (ainda que longínqua) do projeto
progressista dos filósofos do século XVIII. De fato, ela valoriza a participação em
comunidades de debate e de argumentação. Na linha direta das morais igualitárias, encoraja
uma forma de reciprocidade essencial nas relações humanas. Desenvolveu-se a partir de
uma prática assídua das trocas de informações e de conhecimentos, que os filósofos das
luzes consideravam como sendo o principal motor do progresso (Lévy, 1999:245).
67
Assim, podemos afirmar que a Internet, a mídia do palco cuja peça é a cibercultura,
ao menos de forma potencial, resgata a esfera blica, que é um veículo que tem dentro
de si, espaços para argumentação e o debate.
Como vimos anteriormente, o estágio atual da mídia é o espaço do conflito. Surge,
assim, a esfera pública do conflito. Na mesma medida em que Lévy abre a possibilidade
para a Internet ser o palco que resgata a esfera pública, ele aponta que a cibercultura,
embora resgate os ideais da idade das luzes, também, de certa forma, recai dentro dessa
esfera, pois é uma expressão de conflito:
A cibercultura surge como a solução parcial para os problemas da época anterior, mas
constitui em si mesma um imenso campo de problemas e conflitos para os quais nenhuma
perspectiva de solução global pode ser traçada claramente. As relações com o saber, o
trabalho, o emprego, a moeda, a democracia e o Estado devem ser reinventadas, para citar
apenas algumas formas sociais mais brutalmente atingidas (Lévy, 1999:246).
Em suma, mesmo que a Internet tenha consigo a tecnologia e os fundamentos
ideológicos que resgatam a esfera pública, até mesmo Lévy levanta a necessidade de se
reinventar as relações que citou, somente assim, constituindo-se como uma forma para
solucionar os problemas advindos de uma época que marcou o fim da esfera pública.
Pierre Lévy não é o único teórico que partilha da idéia de que a Internet é o caminho
para o resgate da esfera pública, mesmo sem afirmar isso diretamente. O jornalista e
especialista em ética jornalística Eugênio Bucci, referindo-se à Paris revolucionária do
século XVIII
30
, traça um paralelo daquela época com a Internet. Ele revela que Paris, pouco
antes da Revolução, contava com centenas de diferentes tulos de periódicos distribuídos
gratuitamente para a população, e assim se faziam os debates políticos. Os jornais eram,
naquele momento, os condutores que oxigenavam a formação da opinião pública. Tal
processo, de efervescência de idéias, era baseado numa idéia central que surgia na época:
todo poder emana do povo, portanto o povo precisa ter informação para poder delegar
poder, portanto a informação é um direito fundamental do cidadão. Tendo essa idéia como
paradigma, tal efervescência de idéias é o que acontece nos dias atuais através dos meios
digitais. Tais meios são, segundo Bucci, formadores de opinião pública que de alguma
forma interferirão nos negócios públicos e, dentro deste contexto, a mediação do jornalista
30
Em “Jornalismo Sitiado”; Módulo: “O papel da mídia na sociedade digital”.
68
é muito importante e vem ao encontro do que está acontecendo com a Internet. Em suma, o
fundamento da idéia nascida no século XVIII, que aponta a informação como um direito
fundamental do cidadão, reaparece com força através da Internet e, para ilustrar melhor
essa idéia, Bucci diz: “Na era do digital, o cidadão tem mais condição de chegar à
informação, ou ao obstáculo que o separa da informação”.
Vemos então que a informação, sendo parte fundamental na construção da esfera
pública, é muito mais acessível através da Internet. Portanto a Internet tem, neste aspecto,
mais condições de resgatar a esfera pública.
Existem diversos estudiosos que percebem a potencialização da Internet como novo
amparo à esfera pública. Tal debate é considerado por uma instituição de direitos humanos
na Internet (DHnet)
31
em seu site, onde um texto não assinado expõe: “Pode-se dizer que a
Internet é uma organização e materialização comunicativa da esfera pública, como
teorizada, por exemplo, por Jürgen Habermas”. Apesar desse texto não chegar à conclusão
nenhuma, ele faz uma análise muito parecida com a nossa em diversos aspectos. Expõe a
“culpabilidade” dos interesses comerciais no “assassínio” da esfera pública e analisa até
que ponto as características da Internet e a formação de comunidades virtuais pode resgatar
o diálogo através da mídia e, dessa forma, contribuir para o resgate da esfera pública. O que
fica evidente na seguinte passagem: “A constituição de uma esfera blica ‘saudável’,
capaz de abrigar diferentes opiniões e qualidades de interação, pode ser considerada um dos
fundamentos de uma sociedade democrática e participativa. Daí a importância que a
Internet assume nesse processo de organização da esfera pública, da ordem social e política
atual”. Cremos que, em concordância com essa afirmação, a característica de inserção do
indivíduo na mídia, somente possível através da Internet e suas peculiaridades conectivas, é
fundamental para recuperar o que foi perdido dentro do processo de formação da opinião
pública como característica básica da esfera pública. Tal fato ganha relevância quando,
como destacamos, hoje as sociedades estão imersas num mundo globalizado. Sendo assim,
somente as características de uma rede global, como tem a Internet, teria a capacidade de
ampliar qualquer debate, ou filtrá-lo, do nível local para o global e vice-versa.
Como vimos até agora, a Internet, pelo menos de forma cultural, técnica, ideológica
e informativa, é um caminho que, potencialmente, pode resgatar a esfera pública.
31
Em http://www.dhnet.org.br/direitos/brasil/textos/textosbrasil/esferapublica.html, 07/07/2008.
69
Encontramos na Internet e na atual sociedade, os elementos que Habermas dispôs em seu
diagrama, atualizados dentro de um mundo globalizado e palco de uma nova mídia
interativa. Porém, se isto de fato está acontecendo a volta da esfera pública mesmo que
num estágio inicial, uma ampla e efetiva pesquisa de campo seria necessária para tentar
oferecer uma luz a essa questão. Mas, podemos buscar iniciativas dentro da Internet que
nos levem a, ao menos, elucidar parte dessa questão, novas iniciativas que de alguma forma
estão, se não mudando a sociedade por completo, estão mudando um importante setor
que, como vimos, sempre teve um papel de extrema importância na sociedade moderno-
contemporânea, o jornalismo. Ainda neste estudo, veremos acontecimentos que podemos
atribuir a um renascimento da esfera pública através da Internet, exemplos que nos mostram
como isso já está acontecendo pelo mundo afora.
O pesquisador e doutor em Ciências da Comunicação Rovilson Robbi Britto
(ECA/USP), num longo estudo dissertativo onde aborda a questão da esfera pública no
ciberespaço, chega a duas conclusões que envolvem o espaço real e o midiático, duas
esferas que, na sua visão, são distintas, mas que interagem e se alteram: a nova realidade
conterá diversos espaços, a Internet terá um amplo papel na reconfiguração dos espaços
existentes e na criação de novas esferas. Sobre o espaço público na Internet, o que ele
chama de “ciberespaço público”, diz que “essa nova dimensão causa impacto (...) e começa
a gestar a possibilidade real de uma democracia mais direta sobre as questões decisivas para
a sociedade (...) ganha crescente importância e passa ser um lugar social de importantes
encontros de processos que vão alterar de sobre-maneira a forma de estruturação do social”
(Britto, 2001:180-181). Em poucas palavras, Britto aponta para uma nova dimensão que se
abre para a esfera pública a partir da introdução da Internet como novo meio midiático por
onde o debate de questões fundamentais para os rumos da sociedade está acontecendo.
70
3. A Crise dos Jornais Impressos
No problem, we have a few reporters in
the pocket, they’ll plant a story and
destroy his credibility” – Devil’s
whisperson
32
Em artigo intitulado “Modernidade Líquida, Comunicação Concentrada”
33
, o
professor de ética jornalística Dr. Caio Túlio Costa (ECA/USP) escreve sobre convergência
midiática e a sinergia dos grandes conglomerados de mídia que, a partir do advento das
novas mídias e da Internet, estão colocando em risco o tão rentável e secular negócio
mantido pela imprensa escrita, leia-se os grandes jornais impressos. Embora todos setores
da mídia estejam sofrendo com a globalização e a Internet, Túlio Costa destaca que os
jornais impressos são os que mais sofrem com as mudanças que vêm ocorrendo no palco da
mídia.
Túlio Costa demonstra através dos números o declínio da mídia impressa ao redor
do mundo. Analisando dados da UNESCO em quarenta países no período entre os anos de
1965 e 2000, o professor faz algumas constatações:
A circulação de jornais estagnou-se em três países, cresceu em somente cinco e caiu em 32
do total de 40 países;
Entre os cinco países que revelam crescimento no consumo de jornal dois são de primeiro
mundo (Noruega e Japão), dois podem ser considerados em desenvolvimento (Portugal e
Paquistão) e um é comunista (China);
A maior queda se deu na Argentina, a circulação média caiu 65%;
Nos EUA, o estrago foi de 37% em 35 anos, uma queda anual de 1,3%. Mas ali se lêem 196
exemplares de jornais diários para cada grupo de mil habitantes;
No Brasil o baque foi de 15% em 35 anos, uma queda média de quase 0,5% ao ano. Só que
no Brasil se consomem apenas 45 jornais para cada grupo de mil habitantes (Costa,
2005:84-185).
Um olhar mais atento aos mesmos dados demonstra que a circulação dos jornais
vem caindo a partir de 1997 dois anos após a chegada da World Wide Web embora em
alguns países tenha-se obtido um ganho entre 1997 e 2003. Mesmo dentre os cinco países
32
Em The Devil’s Advocate (1997). “Não tem problema, nós temos alguns jornalistas na mão, eles vão plantar
uma estória e destruir sua credibilidade” (T.A.).
33
Publicado na Revista da USP 66 (de setembro de 2005), também disponível em
http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=351IPB012, 24/05/2008.
71
mencionados por Túlio Costa (Noruega, Japão, Portugal, Paquistão e China), que
apresentaram um aumento de circulação tendo como base o ano de 1965, os dois mais
desenvolvidos também apresentam queda na circulação após 1997. Apesar desses números
apontarem um declínio da circulação dos jornais após o surgimento da Internet, Túlio Costa
não enxerga a nova mídia como o bode expiatório para essa crise:
O fato novo também lembrado pelo trio
34
é que empresas cuja tradição não se encontra
na indústria da comunicação (nem na indústria da distribuição e, muito menos, na indústria
do conteúdo) começam a dominar um sistema tradicionalmente tocado por famílias ou
empresas cujas marcas impuseram-se, principalmente, pela construção de conteúdos,
mesmo quando dominavam toda a cadeia, da produção à distribuição (Costa, 2005:182).
Sobre o exposto acima, podemos acrescer as novas empresas que surgiram no
mundo virtual, tais como a Google, que não precisam de toda essa parafernália para
inserirem-se no novo contexto midiático e, igualmente, apresentam-se como novos
concorrentes na disputa pelo mercado informativo. Além disso, com a quebra das fronteiras
comunicacionais a partir dos portais informativos dispostos na rede mundial e a crescente
globalização econômica, “empresas egressas de outras indústrias que não a de conteúdos
em comunicação entraram firme neste mercado” (Costa, 2005:182), e, assim, estariam
pulverizando diversos negócios solidamente construídos desde o grande impulso da
indústria cultural a partir do início do culo passado. Os jornais sempre foram
acostumados com altas margens de lucros e, com a pulverização
35
dos negócios entre
diversos novos atores, ávidos na busca de novos mercados globais, essa lucratividade
baixou. Um jornal com baixa lucratividade torna-se um negócio pouco interessante para um
possível comprador (como veremos mais adiante no estudo de Philip Meyer) e, como o
jornal depende de uma larga base de leitores para se manter rentável, a concorrência
informativa advinda da Internet (e suas novas formas de interação), à medida que se
desenvolve, contribui para a diminuição dessa base, o que, no pior cenário imaginável,
poderia levar esses veículos à falência.
34
Referindo-se ao estudo do trio Burch, Leon e Tamayo do Centro Internacional de Investigações para o
Desenvolvimento (Canadá).
35
Ou “liquefação”, conforme o conceito de “Modernidade Líquida” cunhado pelo sociólogo polonês,
Zygmunt Bauman, onde a “sociedade moderna, como os líquidos, se caracteriza por uma incapacidade de
manter a forma” (http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=351IPB012, 24/05/2008).
72
Existe saída? Sim, a própria Internet. Porém, tudo indica que o negócio
desenvolvido secularmente pelos impressos jamais volte a ter a mesma rentabilidade e terão
de conviver com novos atores que, além das novas empresas que entram nesse setor, inclui
o internauta. Como coloca Rupert Murdoch
36
, dono de um dos maiores conglomerados de
mídia do globo (News Corporation), “dê às pessoas o controle da mídia, elas o usarão; não
às pessoas o controle da mídia, você as perderá” (em Costa, 2005:192). Essas sábias
palavras mostram que o monopólio secular informativo dos jornais (e também dos veículos
que compõem o mainstream media TV, rádio e impressos no século XX) acabou, mas
essas grandes marcas da comunicação mundial conseguirão manter seus negócios se
souberem utilizar as novas tecnologias para fomentar o acesso à informação entre o
público. Como vimos nas palavras de Pierre Lévy e Manuel Castells, hoje o leitor é parte
do negócio da informação, não mais apenas como consumidor, mas como produtor
também.
A edição de Agosto de 2006 da revista The Economist, publicação inglesa, destacou
a seguinte manchete em sua capa: Who Killed the Newspaper?(Quem matou o jornal?),
onde uma matéria comenta sobre o estudo de Philip Meyer, Os jornais podem
desaparecer?. Meyer prevê o fim do jornal impresso nos Estados Unidos dentro dos
próximos 35 anos, como comentamos na introdução desse trabalho e ainda abordaremos
com mais profundidade logo adiante.
Em matéria publicada em O Estado de S. Paulo em 24 de agosto de 2006
37
, o
jornalista Renato Cruz responde à pergunta da manchete de capa da revista The Economist
com a simples colocação: “A Internet”. E depois acrescenta o seguinte dado: na Inglaterra,
leitores de 15 a 24 anos dizem que gastam 30% menos tempo com jornais desde que
começaram a usar a Internet
38
.
36
O próprio Murdoch posiciona suas peças para “invadir” a grande rede. Segundo a Revista Veja de 7 de
maio de 2008, em uma matéria sobre o magnata intitulada Ele quer dominar a rede”, a News Corp entrou na
concorrência que envolve Microsoft e Google pela compra do Yahoo! A mesma notícia diz que: “Em sua
mesa, Murdoch tem planilhas nas quais a circulação dos maiores jornais americanos só cai – 3,6%, apenas nos
últimos seis meses e a publicidade na Internet aumenta. Trata-se de um mercado de 20 bilhões de dólares
por ano”.
37
http://blog.estadao.com.br/blog/cruz/?title=a_morte_do_jornal_impresso&more=1&c=1&tb=1&pb=1,
20/03/2007.
38
No Brasil, um artigo de Pedro Celso Campos (2002) publicado no Observatório da Imprensa, trouxe à tona
os seguintes dados referentes ao público nacional: “A pesquisa Datafolha divulgada no Congresso de
Jornais (2001), no Rio, mostrou que 80% dos consumidores de notícias via Internet m menos de 40 anos de
idade e 33% não passam dos 24 anos. Enquanto isto, 43% dos leitores de jornais de papel têm mais de 41
73
Sobre esta mesma matéria da revista The Economist, os jornalistas Filippo Cecílio e
Rodrigo Delfim escreveram uma longa matéria no jornal laboratório Contra Ponto, do
curso de Jornalismo e Filosofia da PUC-SP, em setembro de 2006. O título da matéria
questiona: “Onde seria o velório?”. No texto, os dois jornalistas expõem opiniões de
especialistas e outros jornalistas, dentre eles Renato Pompeu, da revista Caros Amigos, que
diz: “Não sou capaz de prever o futuro, mas assim como o cinema e a TV não acabaram
com o teatro e a literatura, e a fotografia não acabou com a pintura, também acho que a
Internet não vai acabar com a mídia impressa, que deverá procurar os seus nichos, tal como
fizeram o teatro e a literatura e pintura”. O doutor em Ciências da Comunicação José
Salvador Faro (PUC-SP
), alerta para o fato de as notícias transmitidas pela Internet serem
mais quentes”, ou seja, veiculadas logo após os fatos concretos decorridos enquanto os
meios impressos precisam esperar a próxima edição um dos nichos para evitar a “morte
do jornal impresso seriam eles “tornaram-se cada vez mais veículos analíticos do que
simplesmente informativos”. Podemos observar, em ambas opiniões acima, que a solução
apontada para evitar a “morte” do jornal impresso seria a sua segmentação, mas, nesse
caso, eles não estariam então fazendo o mesmo papel das revistas, ou mesmo os impressos,
conhecidos como tablóides? Nesse caso, os jornais impressos teriam de virar revistas ou
pequenos tablóides e, de qualquer maneira, estariam morrendo, pelo menos da forma como
são concebidos atualmente. A matéria não pára por aí, ela questiona o fato de a revista The
Economist referir-se aos cenários europeu e norte-americano, e tal discussão no cenário
brasileiro tem de levar em conta outros fatores, dentre eles está o fato de que, ao contrário
das sociedades européias, onde a maior parte da população é consumidora de jornais, no
Brasil grande parte das pessoas sequer sabem ler e os públicos dos jornais são apenas das
classes A, B e C, os mesmo consumidores que têm acesso à grande rede. Por outro lado, os
planos de inclusão digital para as classes baixas, que passam também pelo aprendizado e o
hábito da leitura, poderiam fomentar o aumento da demanda tanto de jornais quanto de
revistas, contrariando as previsões negativistas em relação à falência dos jornais. A matéria
anos. Em média, são mais velhos que a população brasileira (...). Por que o público jovem prefere a internet
para se informar? A pesquisa Datafolha também responde a essa questão: em média 65% dos internautas
lêem notícias na rede. Talvez porque 33% dos que se converteram ao jornalismo virtual e mesmo 30% dos
que não largam o papel de cada dia acham que na Internet o noticiário é mais confiável. Ao mesmo tempo,
77% dos internautas e 68% dos leitores de jornais afirmam, na pesquisa, que encontram mais rapidamente na
internet as notícias que procuram”. Isso demonstra que essa tendência observada no público inglês também se
verifica por aqui.
74
também aponta o fato de os novos tablóides que surgem no país, que fomentam o aumento
da mídia impressa, e de o Brasil também consumir jornais estrangeiros, o que demonstraria
a importância do jornal impresso por aqui e a sua força. Outro destaque importante da
matéria foi a menção ao 6º Congresso Brasileiro de Jornais (29/08/2006), que coloca uma
notícia alarmante. A AJN Associação Brasileira de Jornais – através da voz de seu
presidente, expõe: “A AJN não visa uma maior integração com os meios eletrônicos, como
os blogs, e sim cobrar dos sites de notícias uma parte dos lucros e possivelmente processá-
los por quebra de direitos autorais”. Tal declaração foi feita em função da gradativa perda
de receita publicitária dos jornais impressos frente aos seus rivais digitais e, como veremos
mais adiante em comentário de artigo de Caio Túlio Costa, demonstra um total despreparo
e desconhecimento das potencialidades das novas dias, sobretudo a Internet e a sua
capacidade de veiculação da notícia. Um pensamento negativo como esse demonstra
claramente a falta de visão que está fazendo as mídias tradicionais perderem seu espaço
frente às digitais. É sobre o que comenta o jornalista Alberto Dines através do site
Observatório da Imprensa: “Todas as soluções para salvar a imprensa mencionadas na
reportagem são sopradas por consultores e analistas que jamais meteram a mão na massa,
não aparece um jornalista eletrônico explicando as vantagens da Internet sobre os jornais
impressos” e, vamos além, não aparece também a figura mais importante desse complexo
sistema, o leitor, seja ele do impresso, do digital ou de ambos. Apesar de a matéria da
revista The Economist anunciar o fim do jornal impresso, não podemos concluir se isso irá
mesmo ocorrer, porém tal notícia e sua repercussão demonstram claramente que algo está
acontecendo, algo está mudando, daí tanto debate, tantas discussões e opiniões diversas.
Mas no meio de tanta discussão, de tantas informações e questionamentos sobre o
futuro dos jornais, uma notícia veiculada na Folha de S.Paulo
39
traz um dado interessante
de uma pesquisa divulgada nos Estados Unidos em 2007. Enquanto os dados demonstram a
queda de circulação dos jornais impressos, o estudo mencionado aponta para um aumento
de 8% na leitura dos jornais, computando-se os impressos e os digitais, e a leitura dos sites
dos jornais teria aumentado 200% entre 2001 e 2005. Estes dados mostram que, se existe
uma crise que afeta os jornais impressos, não existe crise para o jornalismo. Aliás, é o que
39
Matéria intitulada “Jornal passa por transformação ‘histórica’”, que aborda o estudo “Estado da Mídia”
(The State of New Media 2007, Project of Excellence in Journalism, USA), publicada em 8 de abril de 2007.
Em http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mais/fs2503200711.htm, 09/11/2008.
75
aponta a própria Folha em pesquisa dentro de sua redação, onde 89% dos ouvidos são
otimistas em relação ao futuro do jornalismo, embora muitos (35%) acreditem que a web
nunca superará o impresso como principal veículo informativo. Essa pesquisa mostra que a
crise dos impressos é algo muito relativo, mas que a chegada da Internet aponta para novas
tendências, tanto para os impressos quanto aos novos espaços viabilizados pela web. Isso é
fato
40
.
Um exemplo de uma nova tendência para os jornais impressos poderia estar em um
novo jornal que cresce enquanto os tradicionais sofrem com queda de tiragem, o Metro.
A publicação é originária da Suécia e alcança países na Europa, Ásia e América, com cerca
de 80 edições diárias em 20 línguas
41
, totalizando cerca de 22 milhões de leitores mundo
afora. O veículo é um tablóide diário que trata de generalidades e é distribuído
gratuitamente em locais públicos, como nas estações de metrô, e tem grande aceitação entre
o público jovem cosmopolita. Trata-se de uma iniciativa privada custeada pela propaganda
veiculada no jornal (através de contratos com grandes marcas mundiais). Em São Paulo,
duas publicações utilizam-se da mesma estratégia, o Destak e o Metrô News, somando
tiragens que ultrapassam 300 mil unidades. Ainda existem diversas outras publicações
gratuitas semelhantes que vêm registrando um aumento vertiginoso de tiragens em grandes
cidades mundo afora. Mas existe uma grande diferença entre receber um pequeno tablóide
de graça no metrô e receber um O Estado de S. Paulo ou um The New York Times. Indicar
esse tipo de iniciativa, como caminho à crise que afeta os grandes jornais impressos, é
apontar para o abismo e falar “pule”. Esses tradicionais jornais seculares são muito mais
que veículos de informação e publicidade, abrangem uma dimensão muito mais ampla,
possuem história, têm peso na formação da opinião pública, se colocam ideologicamente
dentro da sociedade, algo que não pode ser substituído apenas por uma fórmula que traz
tiragens volumosas e retorno financeiro. No entanto, grandes jornais (como os dos grupos
Folha e Estado) podem considerar a hipótese de lançar esse tipo de publicação como um
novo meio para aumentarem a renda de suas empresas, como uma nova publicação. Mas
40
Uma outra notícia, veiculada pelo Portal Imprensa em 28/01/2008, diz que “Acesso aos sites de jornais nos
EUA atinge recorde”, e aponta que cerca de 40% dos internautas acessam sites noticiosos, com isso, a matéria
aponta para a viabilidade da extinção dos jornais impressos, absorvidos totalmente pelas plataformas digitais.
41
Conforme dados publicados em:
http://www.fcsh.unl.pt/cadeiras/plataforma/foralinha/cyber/www/view.asp?edicao=00&artigo=1068,
24/05/2008.
76
imaginar que esse tipo de publicação possa substituir seus principais veículos, torna-se uma
hipótese cujos fundamentos nem precisam sequer ser considerados, representaria o fim dos
jornais como os conhecemos.
Tiago Bugarin, diretor-geral do Metro de Portugal, falando sobre o fenômeno dos
jornais gratuitos, destaca que “em termos editoriais é feito de maneira diferente da imprensa
diária, é muito objectivo, escrito de forma concisa, factual e muito independente. A
informação é feita para quem tem muito pouco tempo a perder. E nós tentamos dar uma
resposta eficaz a essa necessidade”. Bugarin ainda dá ênfase ao fato de esse tipo de
publicação, tanto não ser um caminho alternativo à crise dos impressos, quanto o se
constitui como uma ameaça aos mesmos, onde expõe:
Os jornais pagos terão sempre lugar no mercado, têm uma audiência própria. Pelo tipo de
artigos que têm, pelo desenvolvimento das notícias que fazem, pela quantidade de crónicas
de opinião. Coisas que o Metro não tem. Tem outra forma de ser construído, outra filosofia
editorial e dirige-se a outro público.
(...) um é gratuito outro é pago. Tem a ver com a densidade e com a complexidade de
informação que é encontrada num e noutro título. Um jornal pago da imprensa tradicional
não pode ser lido da mesma forma. As peças jornalísticas são de investigação, procuram
aprofundar muito os temas e obrigam a uma leitura muito mais densa
42
.
Percebemos, dentro de todas essas colocações, que são várias as peças que se
posicionam em torno dessa relação entre o jornal e as novas mídias. Enquanto algumas
movem-se em favor da tradicional mídia impressa, outras a cercam e a ameaçam de
cheque-mate. Como se não bastasse, o jogo ainda ganha novas peças. Da mesma forma que
as novas mídias se posicionam de forma ameaçadora frente ao jornal impresso, elas se
colocam como a válvula de escape: o jornal continuaria existindo, seu suporte apenas é que
deixaria de ser impresso, tornando-se digital. Nesse caso, o principal canal de comunicação
dos jornais, até então impressos, passaria a ser a Internet, e os impressos seriam apenas um
complemento, um luxo para carregar para qualquer lugar, sem bateria, que não “pifa” e que
pode ser dobrado, amassado, rabiscado, virar material de limpeza e que nenhum ladrão tem
interesse em roubar.
42
Do original em Português de Portugal.
77
Em entrevista para Robert Cauthorn um dos pioneiros na informação online no
Brasil – publicada no jornal Folha de S.Paulo em 25 de Março de 2007
43
, o jornalista Laure
Belot P. Santi, do jornal francês Le Monde, afirma que “o barateamento da banda larga e
telas portáteis de alta qualidade modificarão profundamente os jornais impressos, que em
breve deverão sair apenas nos fins de semana”. O jornalista destaca que importantes diários
norte-americanos correm o risco de serem extintos em apenas uma geração, que tal
mudança é uma questão de os preços do papel eletrônico’
44
e das conexões sem fio
chegarem a um nível acessível”. Em sua entrevista ao citado repórter, Cauthorn também
destaca que tal revolução, em curso, dizimará o jornal impresso quando, além do papel
eletrônico (que ele se refere como telas flexíveis), outros meios físicos se tornarem
acessíveis em grande escala, dentre eles a tinta digital. Cauthorn também destaca que a
cadeia de produção e distribuição dos jornais impressos é hoje obsoleta em relação à
necessidade de rapidez na informação jornalística, e que, nesse quadro, os meios digitais
suplantarão totalmente os diários impressos. O jornalista também destaca o avanço dos
blogs, e comenta que alguns blogueiros, sobretudo nos Estados Unidos, gozam da mesma
notoriedade quanto alguns dos maiores editores, mas adverte que, em questões mais
profundas, principalmente as ligadas ao jornalismo investigativo, sempre será necessária a
retaguarda de uma grande editoria.
Dentro desse raciocínio, fica evidente que a Internet, ao mesmo tempo em que põe
em cheque o velho modelo de jornalismo impresso, apresenta-se como um novo suporte
que poderá representar uma grande economia de custo dentro de toda cadeia produtiva
(incluindo a produção de informação) e distributiva inerente a tal negócio, vindo, assim, a
beneficiá-lo.
Outra notícia que surpreendeu muitos, e que demonstra como a Internet está
realmente mudando os hábitos de consumo do cidadão moderno e “matando” o jornal
impresso, e que se encaixa no raciocínio acima, foi o anúncio da Time Warner
45
que
43
Em http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mais/fs2503200711.htm, 25/03/2007.
44
Existem ainda outros tipos de suportes digitais semelhantes ao papel eletrônico que podem também
alavancar essa mudança, como exemplifica o jornalista Fernando Villela, os Tablet PCs (Pranchas): “Os
Tablet PCs são pranchas eletrônicas para, através de acesso sem fio, serem utilizadas principalmente para
navegação na Internet (...) têm o objetivo de trazer conforto no dia-a-dia para utilização da tecnologia,
simplificando o uso da Internet como mídia o que irá viabilizar, também, o velho sonho de se ler o jornal
on-line no banheiro de casa” (em Caldas, 2002:175).
45
Em http://www.wbibrasil.com.br/boletim.php?id_boletim=325, 10/04/2007.
78
divulgou estar retirando de circulação a tradicional revista fotográfica norte-americana Life,
cuja última edição foi a de 20 de abril de 2007. Porém o acervo fotográfico e novas
publicações da Life continuarão acontecendo, mas agora apenas através da Internet. A
editora chefa da revista, Ann Moore, por ocasião do anúncio do fechamento da revista,
afirmou: “O mercado mudou de maneira dramática desde outubro de 2004, e hoje não é
apropriado continuar a publicar a Life como suplemento de jornal”. Esse fato, apesar do
tom tristonho da notícia, mostra como uma publicação que perde seu valor para
comercialização de forma impressa tem espaço na Internet, mesmo que com menor, pouco
ou, até, nenhum valor comercial, mas que de qualquer forma está lá, seja como marca e/ou
conteúdo.
A crise dos jornais impressos também é sentida e debatida em diversos países da
América Latina. O editorial de abril de 2007 da revista Chasqui
46
, debate as mudanças que
afetam os periódicos impressos como el cambio más importante de su historia en el que
afirma el profesor Ramón Salaverría – no está en juego su supervivencia pero sí su
hegemonia
47
. A crise deixa de ser vista apenas como uma queda de venda ou faturamento,
mas sim, como uma ruptura hegemônica: o império dos jornais impressos está ruindo. O
editorial também aponta para uma das tendências vistas como a saída para essa crise por
parte dos jornais: las dificultades que enfrentan los diarios y sostiene que, si quieren
mantenerse vivos, ya no podrán continuar siendo órganos puramente noticiosos sino optar
por ejemplo por la interactividad, entendida como la posibilidad que tienen los
ciudadanos de escribir en los diarios por propia iniciativa, manifestando opiniones que no
necesariamente coincidan con la página editorial del médio
48
. Essa tendência inclui
usufruir as novas características do novo meio (que analisaremos no próximo capítulo),
fazendo da interatividade um caminho para a pratica de um jornalismo mais pessoal e livre
de coerções.
46
Revista Latinoamericana de Comunicación del Centro Internacional de Estudios Superiores de
Comunicación para América Latina (Ciespal) 27, com sede em Quito, Ecuador. Em:
http://chasqui.comunica.org/, 25/02/2008.
47
“A mudança mais importante de sua história em que – afirma o professor Ramón Salaverria – não está em
jogo sua sobrevivência mas sim sua hegemonia” (T.A.).
48
“As dificuldades que enfrentam os diários sustenta que, se querem manter-se vivos, eles não podem
continuar sendo órgãos puramente noticiosos sem optar – por exemplo – pela interatividade, sendo esta a
possibilidade que têm os cidadãos de escrever em diários por iniciativa própria, manifestando opiniões que
não necessariamente coincidem com as páginas editorias do meio” (T.A.).
79
Enquanto alguns estudiosos enxergam a ruptura de uma hegemonia, outros
enxergam essa mudança não como uma ruptura, mas como o fim da profissão de jornalista,
como insinua o professor de ética jornalística Álvaro Caldas: “O que se coloca em
discussão diante desse quadro de rápidas transformações é não só o futuro do jornal
impresso na era da informação eletrônica como também do jornalismo como profissão”
(Caldas, 2002:38). O fim do jornalista é algo que vai além da crise dos jornais impressos na
atualidade, inclui um amplo debate que chega até as raízes epistemológicas da
Comunicação, onde uns crêem que o jornalismo é um campo de estudo à parte, aquém
dessa área de conhecimento, outros enxergam essa profissão apenas como o domínio de um
conjunto de técnicas, que não demandaria o status acadêmico que detém. Como vemos,
essa crise extrapola as questões que hoje afetam a hegemonia dos jornais impressos. A
relação da Internet dentro deste debate do jornalismo ganha urgência quando, com as novas
mídias, a desintermediação e a introdução do indivíduo neste terreno cibernético, surgem
pessoas sem vínculo com essa tradicional instituição com a mesma capacidade, no mínimo
técnica, para essa prática profissional. O blogueiro, como ainda analisaremos no decorrer
desta dissertação, talvez seja o grande exemplo desse novo profissional que aparece após o
advento da grande rede.
No cenário nacional, uma matéria da Folha de S.Paulo, “Tem futuro?”
49
, aponta
números da queda das tiragens dos três maiores jornais do país (Folha de S.Paulo, O Globo
e O Estado de S. Paulo). Os dados mostram uma queda de 30% na circulação dos três
grandes entre os anos de 2000 a 2005, “é como se um dos três tivesse deixado de circular”,
diz a matéria, que depois se pergunta: O que está acontecendo com os jornais?”. Na
tentativa de responder, algumas hipóteses são traçadas: “a concorrência com as novas
mídias, o crescimento ininterrupto da Internet e o fluxo livre de informações, a chegada dos
blogs de notícia, as mudanças de comportamento”, fatores que são citados por diversos
outros jornalistas e estudiosos que percebem as mudanças que vêm afetando os jornais
impressos. Uma das perguntas que a matéria da Folha faz dentro desse cenário de crise é:
“E a credibilidade?que, segundo uma única pesquisa do Ibope (2006), os jornais estariam
bem, mas, “os leitores estão cada vez mais críticos, e questionadores. E irritados também”.
49
Publicado no jornal Folha de S.Paulo, 05/03/2006. Em
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ombudsma/om0503200602.htm, 09/11/2008.
80
No final, a matéria ainda traz um texto do jornalista Matias Molina (do jornal Valor
Econômico), que pode ser relacionada com essa mudança de postura do leitor, agora mais
crítico. Molina diz: “Há um consenso entre os observadores do mundo da comunicação que
o futuro dos jornais depende em parte da qualidade de informação que conseguirem colocar
à disposição do leitor” (o que analisaremos através do estudo de Philip Meyer no tópico a
seguir). Neste consenso, entendemos que a qualidade de informação que um jornal deverá
fornecer independe da sua plataforma, impressa ou digital. Sendo assim, a Internet não
pode ser apontada como vilã na crise que afeta os jornais impressos.
Um artigo
apresentado no XXX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação,
de autoria do especialista em Jornalismo Científico Sabine Righetti e do pesquisador livre-
docente Ruy Quadros (UNICAMP), analisa a inovação tecnológica dos dois grandes jornais
paulistanos, a Folha de S.Paulo e O Estado de S. Paulo (Righetti e Quadros, 2007).
Algumas informações desse estudo mostram como essas empresas estão lidando com a
crise de seus jornais diários, chegando a desmistificar alguns dos contornos de sua relação
com a Internet. Eles apontam um estudo de Manta (1997) onde a Internet não estaria
roubando verbas publicitárias dos jornais, pelo contrário, “pode se tornar alvo do mercado
publicitário, pois oferece formas vantajosas de publicidade, como a interatividade, a
redução dos custos de produção e de distribuição” (em Righetti e Quadros, 2007:4). Assim,
eles verificam que a questão da verba publicitária não teve peso na queda de circulação dos
jornais que veio em paralelo à ascensão da Internet. Eles mostram que em relação à Folha
de S.Paulo:
Apesar de ter praticamente mantido sua renda publicitária, o jornal observou uma redução
de 44,6% na sua circulação, tendo caído de uma média de 518 mil exemplares por dia (em
1996) para 287 mil exemplares diários (em 2006). Também o número de assinantes sofreu
uma redução significativa de 33,1%, tendo passado de 405 mil assinantes para 272 mil, no
mesmo período (Righetti e Quadros, 2007:10).
Através de declarações de Sandro Vaia, diretor do Estadão em 2006, Righetti e
Quadros entendem que a crise dos impressos vem de antes do advento da Internet, os dados
relativos à publicidade seriam mais um demonstrativo dessa tendência. Aliás, as vendas
vinham declinando antes, levando também abaixo, o valor publicitário do veículo. Apesar
do baque descrito durante o decênio 96-06, os jornais conseguiram manter-se graças à “uma
81
movimentação com objetivo de aumentar a circulação dos jornais para atrair novos
mercados anunciantes, a partir dos chamados ‘anabolizantes de vendas’ (fascículos
acompanhados do jornal, como enciclopédias e livros) e da criação de novos títulos, em
especial jornais populares” (Righetti e Quadros, 2007:4). Ainda esclarecem que:
Vaia dialoga com a literatura ao afirmar que a crise do jornalismo impresso teve início antes
da Internet, mas acredita que a web pode ter acelerado o processo. Para o ex-diretor do O
Estado de S.Paulo, um dos problemas do jornalismo impresso que acaba repudiando (ao
invés de atrair) os leitores é a queda de qualidade do produto. Tal processo é provocado
principalmente pela falta de recursos humanos necessários para manter um bom jornalismo,
devido ao enxugamento das redações e à sobrecarga dos profissionais atuais (Righetti e
Quadros, 2007:14).
Para o Grupo Estado, a crise trouxe conseqüências além da perda de leitores, o
grupo não se estruturou rapidamente na Internet como a Folha fez através do UOL, e não
“conseguiu manter seu mercado leitor e, tampouco, aumentou seu mercado anunciante no
jornalismo impresso” (Righetti e Quadros, 2007:14). E se a Folha perdeu cerca de 44% de
leitores e 33% de assinantes até 2006, hoje, ela ainda se gaba por ter mais de 84 mil leitores
que o concorrente (Estadão) na cidade de São Paulo.
Em outro artigo de Caio Túlio Costa, intitulado “Por que a Nova dia é
Revolucionária” (2006), o professor faz um ensaio demonstrando a dificuldade das
empresas tradicionais de comunicação ao lidar com a emergência das novas mídias, em
especial a Internet, onde afirma:
O desenvolvimento das novas tecnologias (...) exige que se compartilhe o poder da
comunicação com o consumidor (...) A Internet é rica porque pode misturar texto, foto,
áudio, vídeo na tela do computador à sua maneira exigindo a interação. Permite (...) a
intervenção direta do consumidor, de uma forma difícil para os mais velhos entenderem,
mas que qualquer criança intui (Costa, 2006:21).
Com tal declaração, fica fácil compreender o porquê dos jovens, segundo os dados
apontados anteriormente, desenvolverem o hábito de se informarem através da Internet,
relegando à segunda mão os veículos impressos, confirmando, assim, os prognósticos de
que a próxima geração será “digital”, onde os tradicionais meios impressos serão relegados
a um segundo plano, muitos tendendo até mesmo a desaparecer.
82
O professor, porém, não é tão pessimista. Ele acredita que o jornal impresso não irá
“morrer”, mas ratifica a tendência de que esses veículos se tornarão pouco rentáveis:
Ninguém vai matar o jornal [...] Desde a década de 90, [...] essa indústria necessita voltar
sua atenção total às margens decrescentes de lucro, e tornou-se imperativo cortar custos
seja de mão-de-obra seja de matéria-prima. Ela não está condenada a morrer, mas está
destinada a parar de crescer da maneira como sempre cresceu, a não ser que domine a
plataforma da nova mídia, caso contrário, alguém lhe toma o lugar (Costa, 2006:21-22).
Em seu artigo, o professor exemplifica com um simples dado comparativo, como o
valor da comunicação mudou com a chegada da Internet: o valor de mercado da Google é
quase o dobro da Time Warner, uma das mais tradicionais empresas comunicacionais norte-
americanas e detentora de inúmeras revistas, canais de TV, empresas cinematográficas e até
mesmo um portal de acesso à Internet, a AOL
50
. E a coisa não pára por aí, como veremos, o
movimento da Google em torno das empresas jornalísticas, inclusive as brasileiras, já se faz
presente na Internet. Esta referência a Google mostra como uma companhia que sabe
usufruir as novas peculiaridades interativas da web ganha espaço e valor dentro dessa nova
era digital.
Para Túlio Costa, a chave dessa “revolução” da Internet está na quebra do alicerce
em que a mídia sempre se apoiou, onde um emissor construía e enviava o conteúdo para
receptores passivos, até o surgimento da web. Como enfatizamos, agora o receptor quer
também fazer parte da emissão, participar ativamente do processo comunicacional, quer
ouvir e ser ouvido está a grande mudança de paradigma advinda da Internet. Além
disso, com a magnitude de informações disponíveis na grande rede e o receptor, agora
ativo, este tem mais chances de se esquivar da publicidade
51
imposta pelos meios
tradicionais e escolher os conteúdos que melhor lhe convêm, o que é mais difícil nos
tradicionais meios estanques do mainstream media. Talvez esteja a chave da crise dos
antigos meios e dos jornais impressos.
50
Nessa parceria, um fato precisa ser bem explicitado: “Lembremos de quem comprou quem: a AOL
comprou a Time Warner”, pois expõe como a Internet está mudando o valor da informação e aponta, no nosso
entender, para o mesmo lado onde as verbas publicitárias passam a convergir à medida que a rede se expande.
Também não custa lembrar que tal fusão não foi bem sucedida e “a AOL declarou prejuízos de mais de um
bilhão de dólares para 2000” (Castells, 2003:160).
51
E, esse fato, também é um vetor que faz a publicidade se voltar para o indíviduo, ou seja, o indivíduo passa
a ser o melhor “garoto propaganda” na Internet.
83
Diversas outras notícias perambulam pela mídia
52
e evocam a crise que os jornais
impressos atravessam. Nos falam das diversas mudanças que, tanto a Internet como as
novas tecnologias computacionais, vêm impondo ao jornalismo. Escreveríamos parágrafos
e mais parágrafos analisando tudo que se diz nessas diferentes matérias, sendo que muitas
delas têm como base o profético estudo de Philip Meyer que, devido a sua forte
repercussão, iremos analisar no próximo tópico.
52
Em http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz2611200603.htm, 09/11/2008.
84
A Profecia de Meyer
Até aqui vimos colocações diversas sobre a relação das novas mídias e as
dificuldades por que passam os jornais impressos. Fica claro que o novo “alicerce” da
mídia digital altera todo panorama dos negócios comunicativos, uma mudança que afeta a
mídia como um todo, inclusive o jornalismo. Mas qual seria o claro fator que explicaria o
fato de apenas os jornais impressos estarem sofrendo com essas mudanças? O estudo de
Philip Meyer, Os Jornais podem desaparecer?, é muito preciso ao apontar os fatores que
levam à crise dos impressos e, segundo o autor, poderão levá-lo à extinção antes da metade
deste século.
Logo na introdução de seu estudo, Meyer expõe qual é a peça-chave que faz a
Internet levar os impressos à crise: a segmentação. Citando os estudos do sociólogo Richard
Meisel
53
, ele mostra que a segmentação da dia, que envolve todos seus setores, é uma
tendência que vem de muito tempo e, cada vez mais, se intensifica. Dessa forma, Meyer
afirma que “a Internet é apenas a mais recente de uma série de avanços que contribuíram
para a ‘segmentação’ da mídia” (Meyer, 2007:12). E depois complementa: “Ao atender de
modo cada vez mais eficiente quem busca informação segmentada, a Internet acelera essa
tendência em direção a públicos menores” (Meyer, 2007:12). Ao mesmo tempo em que a
segmentação é um fator que está diluindo os leitores por novos meios, quadro que, com a
Internet se agrava, essa tendência explica a busca ávida por “conteúdo” vista nos portais
informativos da web, incluindo os jornais impressos que se encontram, tanto em
parcerias com grandes provedores, como provendo acesso e diversos novos canais
comunicacionais, numa mostra que, nesse novo terreno, é preciso se expandir para englobar
os novos e, cada vez menores, públicos.
Mas como se explica o fato de a Internet agravar a crise dos jornais impressos?
Meyer responde a esta questão com o que chama de “o modelo de influência”. Segundo ele,
“os jornais estão no ramo de expor leitores aos anunciantes”. Neste ramo, o negócio ganha
valor quando o jornal consegue exercer influência sobre o público leitor, quanto maior a
influência, maior o valor do veículo. Meyer aponta que “um jornal produz dois tipos de
influência: influência social (...) e influência comercial” (Meyer, 2007:17), e relaciona essas
53
Richard Meisel, The decline of mass media. Massachusetts: Public Opinion Quaterly, 1973.
85
instâncias com o valor do jornal: “A influência de um meio de comunicação pode aumentar
sua influência comercial. Se o modelo funcionar, um jornal influente terá leitores que
confiam nele e (...) mais valor para os anunciantes” (Meyer, 2007:18). A Internet está
mudando o quadro sólido por onde esse modelo se estruturou no decorrer do século XX,
pois “as novas tecnologias (...) mudam a natureza do público” (Meyer, 2007:18-19), além
de outros fatores que alteraram o caminho por onde a publicidade se espalha: “A impressão
mais barata e de melhor qualidade também tornou a publicidade de malas-diretas mais
atraente e contribuiu para a segmentação da mídia muito antes de existir a Internet" (Meyer,
2007:19). Nesse último quesito, é evidente que as tecnologias de rede, com seu alto poder
de contabilização e análise de dados, dentro da lógica da customização da informação (e
também da propaganda), tende a agravar esse quadro.
No seu estudo, Meyer aponta para um fato inexistente antes da era “pós-Internet”: a
escassez de atenção (Meyer, 2007:19-20). Com a diluição da atenção do público diante das
novas opções oferecidas pela web, os jornais impressos, que durante o desenvolver do seu
negócio sempre se preocuparam mais em maximizar o lucro, estariam cometendo um erro:
“os jornais deveriam estar mais interessados em conquistar uma percentagem relevante [de
atenção na Internet] do que em maximizar a lucratividade a curto prazo” (Meyer, 2007:26),
ou seja, os jornais deveriam reverter seu lucro em investimento em inovação. O fato se
agrava quando pensamos que os grandes jornais deixam de ser comandados por famílias e
passam a responder à sede de lucro dos acionistas, “Uma visão ainda mais abrangente (...)
a pressão dos investidores corroer o profissionalismo em diversas áreas (...). A corrosão
dos valores de profissionais liberais pode ser uma estrutura útil para examinar o que está
acontecendo com os jornais” (Meyer, 2007:25). A questão da “corrosão dos valores” é algo
que ainda abordaremos adiante, no capítulo sobre a crise ética do jornalismo.
Dentro do seu modelo de influência, Meyer passa a medir valores de confiança nos
jornais, comparando-os com dados de leitura dos mesmos, durante o período de 1967 a
2002. O gráfico destas medições mostra que:
A linha de tendência cai a uma taxa média de 0,6 ponto percentual por ano, o que levaria a
zero em 2015. Mas (...) o declínio deu sinais de nivelamento após uma quebra brusca entre
1991 e 1993. Agora vamos ver o que aconteceu com o hábito de leitura diária dos jornais no
mesmo período.
Esta é uma linha íngrime, e menos variação ano a ano. A declividade é um pouco
superior a 0,95 ponto percentual por ano. Tente prolongar essa linha com uma régua e ela
86
mostrará que não haverá mais leitores de jornais no primeiro trimestre de 2043 (Meyer,
2007:27).
Eis a “profecia” do estudioso. Porém, o próprio Meyer questiona a validade de sua
projeção: “O fato de que tanto a confiança quanto o número de leitores m diminuindo a
uma taxa semelhante no mesmo período não significa que uma coisa seja causa da outra”
(Meyer, 2007:27). Em outro gráfico, Meyer mostra que a baixa no número de leitores
também se relaciona com o hábito de leitura das novas gerações que, cada vez mais, lêem
menos jornais: “Desde que a geração dos baby boomers [nascidos no pós-guerras]
envelheceu, sabemos que os jovens lêem menos jornais (...). Durante anos, nos consolamos
achando que eles se tornariam parecidos conosco e adotariam o hábito de ler jornais quando
fossem mais velhos. Isso nunca aconteceu” (Meyer, 2007:28). Quanto à questão da
diminuição da influência do jornal, expõe: “(...) precisamos de um projeto experimental que
compare o uso dos jornais em comunidades com diversos níveis de credibilidade durante
um longo intervalo de tempo” (Meyer: 2007, 29), ou seja, um longo estudo sobre
credibilidade
54
, item que, como vimos, pode ser chave para a sobrevivência, ou o fim (caso
mal trabalhada), para os jornais impressos dentro da nova era comunicacional
interconectada.
Embora o estudo de Meyer aponte para o fim dos impressos, em parte pela perda de
sua influência perante o público, entendemos que essas instituições têm chances de reverter
esse quadro, a credibilidade pode ser reconstruída, re-trabalhada e, até, valorizada como
marca, inclusive através dos novos meios. Se o público jovem é desabituado à leitura de
jornais e, cada vez mais, tende a migrar para os novos meios interativos, tudo leva a crer
que os jornais tentarão migrar para essa nova esfera onde poderão, inclusive, conquistar a
confiança de novos públicos e, quem sabe, reverter esse quadro relacionado a sua
influência. E mais, o estudo de Meyer aponta a influência dos impressos em grande parte
54
Além de um estudo sobre credibilidade ser muito amplo, como este de Meyer, trata-se de um objeto muito
complexo e com múltiplos pontos de difícil análise. Já mencionamos anteriormente que no Brasil só existe um
estudo de credibilidade feito pelo Ibope e alguns poucos outros que analisam a questão sobre diferentes focos,
o que dificulta a compreensão maior desse objeto dentro do cenário midiático nacional. Uma das facetas
subjetivas desse objeto aparece num estudo do economista norte-americano Matthew Gentzkow intitulado
What Drives Media Slant (O que leva a imprensa a ser tendenciosa). O estudo mostra que os interesses
econômicos pesam mais nas distorções do noticiário que a ideologia, e vai além, afirma que tais distorções
seguem o gosto do público, como uma forma de manter a credibilidade do veículo. Duas matérias veiculadas
no Observatório da Imprensa abordam essa questão. Este fato também demonstra como é possível se
trabalhar a credibilidade.
87
relacionada com a cidade (condado) de sua origem e, sendo a Internet uma mídia global,
um grande jornal poderia utilizar o seu valor de marca para conquistar públicos mais
amplos, além do seu condado de origem. Mas como medir isso? Essa é uma dúvida que
ainda põe em cheque os modelos de negócio na Internet, e foram as exatas palavras do
diretor do Ibope Inteligência Marcelo Oliveira Coutinho Lima
55
ao se referir às novas
iniciativas provenientes do usuário na web que ganham a atenção de milhares de
internautas (como um simples vídeo no Youtube), em contrapartida à escassez de atenção
típica do novo meio sofrida por grandes órgãos de mídia que investem milhões em
publicidade.
O próprio Meyer aponta a Internet como uma saída para os jornais impressos dentro
dessa tendência, dentre outras alternativas, expõe: “Entre na indústria substituta” ou “Trate
de exaurir a posição do mercado” (Meyer, 2007:42), esta última seria uma tática de
“espremer a laranja ao máximo”, extraindo todo lucro possível antes do fim do negócio,
estratégia que Meyer também chama de “pegue-o-dinheiro-e-corra”. Em seguida, ele
discorre sobre esses dois cenários táticos que as empresas podem adotar num momento de
crise como este.
1-) Pegue o dinheiro e corra
Neste cenário
56
“os donos aumentam os preços e simultaneamente tentam manter a
sua rota de lucratividade com as técnicas usuais: diminuir espaço editorial, cortar pessoal,
reduzir a circulação em áreas remotas (...) manter baixos salários” (Meyer, 2007:49). Essa
seria uma maneira de resolver o problema financeiro, mas que não se sustentaria em longo
prazo, pois “cobrar mais e entregar menos não é uma estratégia que possa ser mantida por
tempo indefinido” (Meyer, 2007:48)
57
. Ainda cremos que, nessa estratégia, a credibilidade
55
Em palestra na Faculdade Cásper Líbero em 23/05/2008.
56
Cenários apresentados pelo estrategista empresarial Michael E. Porter (em Meyer, 2007:49-50).
57
Uma notícia veiculada no jornal Folha de S.Paulo em 19/07/2006, intitulada “New York Times corta 250
empregos e diminui tamanho”, exemplifica bem esse cenário descrito por Meyer (Em
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/dinheiro/fi1907200629.htm, 09/11/2008). um estudo dissertativo de Ruth
Penha Alves Vianna (1992), doutora em Ciências da Comunicação pela Universidade Autônoma de
Barcelona (Espanha), constata que a prática de “espremer a laranja” é algo não praticado em função da
perda de receita de um determinado veículo. Antes mesmo da chegada da Internet, a própria Folha de
S.Paulo, em seu processo de automatização (implantação de computadores na redação), demitiu toda a sua
equipe de revisores (Monteiro, 2002:139 citando Vianna, R. P. Alves. Informatização da imprensa brasileira.
88
do jornal acaba sendo colocada em segundo plano e, como vimos, a credibilidade é parte
fundamental dentro do “modelo de influência” proposto por Meyer. Portanto, deixar a
credibilidade em segundo plano significa, em longo prazo, diminuição na influência do
jornal sobre a comunidade e, portanto, sua desvalorização perante o público e,
conseqüentemente, perante os anunciantes. Ainda, neste cenário, podemos perceber que a
Internet e os novos aparatos digitais vêm servindo como uma maneira de diminuir custos,
neste sentido, ela se mostra como uma ferramenta que não engrandece a antiga mídia e,
embora possa dar fôlego financeiro para empresas com a automatização de tarefas e
redução de pessoal, no longo prazo é uma tática que não colabora para o fortalecimento da
credibilidade perante a comunidade.
Sobre o valor da credibilidade, Meyer expõe que ela “explica 19% da variação
residual nos preços dos anúncios publicados. Seu efeito é estatisticamente significante”
(Meyer, 2007:63), e complementa: “(...) um ponto percentual de melhora da credibilidade
vale um aumento de 2,5% no preço de tabela do espaço publicitário de um jornal” (Meyer,
2007:64). Fica claro que apostar em táticas que levem à diminuição da credibilidade do
jornal não pode ser uma estratégia duradoura, por mais que se mantenham altas as taxas de
lucro dentro do curto prazo.
2-) Insira-se no novo ambiente
Este cenário é assim descrito por Meyer: Os donos atuais ou seu sucessores
aceitarão a realidade da nova competição, investirão no aprimoramento de produtos que
explorem totalmente o poder da mídia impressa e transformarão os jornais em grandes
players num mercado de informação que inclui a mídia digital”, que depois aponta: “No
segundo cenário, as empresas jornalísticas aprimorariam, em vez de degradar, seus
produtos editoriais” (Meyer, 2007:50). Assim entendemos que, nessa tática, as
possibilidades de manutenção e fortificação da credibilidade são maiores, que não
degradação no produto, ao contrário, ele se renova.
São Paulo: Loyola, 1992). Pode-se constatar que as duas estratégias apontadas por Meyer, inserir-se na nova
mídia e “espremer a laranja”, podem ser adotadas em conjunto.
89
As empresas jornalísticas que hesitam em explorar os novos ambientes podem
realmente falir, pois dificilmente conseguirão vender o seu negócio. Segundo Meyer,
durante muito tempo os jornais foram um negócio com altas taxas de lucro. No novo
cenário midiático atual, essas margens caíram drasticamente, “(...) não existe uma transição
simples de uma indústria acostumada a margens de 20% a 40% para uma que se contente
com 6% ou 7%” (Meyer, 2007:48). Os jornais são um bom negócio quando apresentam alta
lucratividade, uma vez esta em baixa, tornam-se um “mau negócio”. Para ilustrar essa
situação, Meyer faz a seguinte reflexão:
Se eu lhe vender uma galinha que bota um ovo de ouro por dia, você me pagará um preço
baseado na sua expectativa de retorno sobre o investimento (ROI, na sigla em inglês), que
deve ser maior do que o banco pagaria num certificado de depósito, mas não muito maior.
Ao negociarmos o preço que você quer pagar (e que eu quero vender), ambos estaremos
buscando um ROI favorável (...). E partiremos do princípio de que a galinha continuará a
botar ovos à mesma taxa.
Avance um pouco no tempo. A galinha (...) passa a botar um ovo de ouro por semana. Isso
faz de você um grande perdedor.
Veja, a galinha continua sendo ótima. Você pode resignar-se à diminuição de receita ou
vendê-la para um terceiro (...) que ficará orgulhoso (...) simplesmente porque pagou um
sétimo do valor gasto por você (Meyer, 2007:49).
Independente da “profecia” que demonstra através de seu modelo, seu estudo aponta
para dois fatores que levam à queda da circulação dos jornais: a mudança dos hábitos de
leitura das novas gerações de leitores e a queda da influência dos jornais, instância esta que
se relaciona, inclusive, com a credibilidade. Além disso, o estudo aponta para uma
desvalorização do negócio. A relação da Internet nisso tudo está na quebra do monopólio
da informação, hoje o jornal tem um novo concorrente que, aos poucos, vai lhe sugando
público e verbas publicitárias, baixando sua lucratividade. Afora os dados que apontam
para o fim do jornal impresso em 2043, a verdadeira profecia de Meyer, aquela que parece
melhor definir o novo cenário do jornal impresso dentro da era digital, talvez esteja na
seguinte frase: “No futuro, haverá espaço para os jornais num ambiente sem monopólio.
Eles não serão tão lucrativos, e isso será um problema para seus donos sejam
proprietários privados ou acionistas –, mas não para a sociedade” (Meyer, 2007:48).
90
O Jornalismo é uma “bobagem”
Em palestra acadêmica realizada na Faculdade Cásper Líbero (São Paulo), em 21
de maio de 2008, o coordenador do programa de s-graduação de Mestrado e Doutorado
da Universidade Metodista de São Paulo, Prof. Dr. Sebastião Squirra, comentou sobre
algumas questões que envolvem o jornalismo na atualidade. Suas afirmações foram duras,
contundentes e nos remetem à crise que essa instituição atravessa. Sem meias palavras,
Squirra afirmou que o modelo de jornalismo atual, institucionalizado e de bases sindicais,
praticado por empresas como a Folha de S.Paulo e instituições de ensino como a
ECA/USP, é algo que “já morreu”. Comentou que o jornalismo impresso no Brasil “é uma
bobagem” e colocou que a “Folha pasteurizou o jornalismo”, hoje, não haveria mais
diferença entre os jornais e as assessorias de imprensa e, com relação às fontes, deixou
claro que apenas se compõem de “ricos e poderosos, o sistema estabelecido”, enfatizando
que “é o sistema que pauta o jornal”. Ainda sobre a Folha, esclareceu que o novo projeto
do jornal nada mais é do que uma cópia do USA Today, onde os jornalistas ficam apenas na
redação sentados à frente do computador, o trabalho de reportagem é praticamente
inexistente.
Todas essas argumentações de Squirra podem ser entendidas como um desabafo
de alguém que, dentro de sua grande experiência como comunicólogo, percebe a falência
de valores que afetam não as empresas jornalísticas, mas também as instituições de
ensino de jornalismo. Essas afirmações podem ser, inclusive, compreendidas como a
expressão da crise ética que vive o jornalismo, e que perpassam pelo que abordaremos no
tópico “A Crise Ética”, adiante neste capítulo. Pode-se também observar nas entrelinhas de
suas afirmações que, hoje, estamos vivendo um novo paradigma comunicacional, apesar de
algumas instituições continuarem a se basear em modelos ultrapassados. Isso fica claro
quando ele se refere aos modelos de jornalismo praticados que já estariam “mortos”.
Squirra findou sua palestra afirmando que “o novo jornalismo é o de autor”.
Assim, fica evidente que, sendo o jornalismo de autor uma nova tendência para essa
habilitação comunicacional, a Internet se oferece como a plataforma perfeita para essa
prática, que nela o espaço está sempre aberto para qualquer um que queira se engendrar
nesta prática, independente dos modelos de jornalismo praticados pelas instituições mais
91
tradicionais. O blog, inclusive, pode ser apontado como uma plataforma utilizada por
diversos jornalistas, englobando toda uma gama de recém-formados, além do próprio
cidadão conectado, por onde pode-se observar essa tendência ao jornalismo de autor, seja
ele individual, seja ele coletivo (como um produtor colaborativo).
92
A Questão da Convergência
A convergência pode ser entendida de várias formas. A primeira delas seria como
uma evolução tecnológica, onde antigos meios comunicacionais convergem para um novo
sistema, melhor, mais dinâmico e, até, mais econômico. Tal prisma de entendimento passa
pela obra do professor de História e Legislação dos Meios de Comunicação Antonio F.
Costella (USP), Comunicação: do grito ao satélite. No livro, Costella demonstra que toda
evolução comunicacional do Homem o leva à criação de uma rede informativa que, hoje,
corresponderia à Internet. Antes mesmo do advento da grande rede, quando do lançamento
da primeira edição de seu livro, o autor previa:
(...) essa evolução toda, segundo se supõe, levará à dissolução das fronteiras entre as formas
de comunicação hoje compartimentadas. Talvez se perca, no futuro, a noção de divisa entre
jornais, rádio, televisão, atualmente entidades estanques. A eletronização total da
comunicação conduzirá à criação de sistemas multimeios, onde a notícia, a instrução e o
entretenimento se integrem no mesmo vídeo e respectivo amplificador de som. Por um
mesmo caminho eletrônico nos chegarão todas as informações que agora são trazidas por
meio de livros, jornais e revistas, discos e fitas, telefone e rádio, cinema e televisão. E mais,
essa avalanche de informações nos será disponível a todo instante pois estarão arquivadas
em computadores (Costella, 2001:217).
Esse trecho foi extraído do último capítulo do citado livro, cujo título é “O futuro da
comunicação”, publicado em 1984. Em 2001, já em sua 4ª edição, no mesmo capítulo (com
um novo tulo, O futuro da comunicação... chegou”), o autor expõe: “(...) tudo aquilo
que, em 1984, apresentamos como hipótese futura, aconteceu. E foi tão rápido!”
(Costella, 2001:218). Sim, aconteceu e está acontecendo, as entidades estanques citadas
pelo autor, os diferentes meios de comunicação existentes, agora convergem para a Internet
ancorados pela linguagem binária dos computadores. Esse tipo de convergência deixa claro
tratar-se de uma evolução comunicacional. Dessa forma, os meios antigos passam a buscar
o seu espaço através do meio novo, mais avançado, e assim, evoluem. É também uma
forma de entender que a Internet veio para ficar, não se trata apenas de mais um meio que
se soma aos antigos, e sim da própria evolução dos meios, a própria evolução
comunicacional. E o que a Internet traz de novo e leva a uma evolução comunicacional? O
que a Internet traz de novo é o que mencionamos, a mudança do paradigma
comunicacional de um-para-muitos para o paradigma muitos-para-muitos, está aí o alicerce
93
da revolução que muitos pregam. Neste contexto, fica evidente que o futuro da mídia está
nesse novo parâmetro comunicacional e, como veremos, esse parâmetro, onde muitos agora
têm acesso à mídia, é também um parâmetro por onde se pode observar a convergência
midiática.
Para o professor Caio Túlio Costa, em citação aos estudos de Burch, Leon e
Tamayo
58
, a convergência seria um fator que “dissipa as barreiras antes existentes entre os
diferentes meios (rádio, televisão e imprensa) e, inclusive, entre setores diferentes
(telecomunicações, informática e comunicação de massas), reduzindo textos, imagens e
som a somente um único suporte digital: o bit” (Costa, 2005:182). Além de remeter à
afirmação anterior de Antonio Costella, esta colocação ilustra um dos movimentos da
convergência que tomam ação dentro da atualidade midiática, a concentração dos sistemas
de mídia que inclui as comunicações, os sistemas de telecomunicações e as empresas de
tecnologia na mão dos mesmos atores (ou de poucos atores), sejam estes advindos de
qualquer um desses setores (o que, como vimos, traz novos atores não comunicacionais
para o palco da grande mídia). Hoje, no despertar do século XXI, o mundo da comunicação
estaria concentrado em menos de dez grandes conglomerados mundiais e, nesses
conglomerados, aparecem empresas desses três setores que, aos poucos, vão se fundindo
em algumas poucas. Um dos exemplos que citamos e ilustra essa situação é a compra da
Time Warner pela AOL. Tal exemplo mostra que, como previra Costella, os meios
midiáticos antigos convergem para a nova mídia digital e, se, no desenvolver do seu
negócio, este não incluía a nova plataforma digital, hoje eles buscam o seu espaço nela
através de compras, vendas e fusões com empresas de tecnologia e de infraestrutura de rede
e comunicação (as teles), o que demonstra a necessidade de os antigos meios se colocarem
no novo. Essa questão dos grandes conglomerados de mídia é o que ainda abordaremos no
tópico a “A Sinergia da Mídia”.
Outra maneira de se entender a convergência é como um novo hábito, uma nova
maneira de como as pessoas, os usuários das diversas mídias, interagem com ela e, neste
momento em especial, com a nova mídia, que, nesta, o usuário também é coprodutor da
informação. Neste cenário, a evolução midiática não vai só ao encontro das novas
58
Se caió el Systema enredos de la sociedad de la informacion. Quito: Agencia Latino Americana de
Información, 2003.
94
tecnologias comunicacionais disponíveis, vai também ao encontro do uso que as pessoas
estão fazendo delas. Muitas vezes é o próprio uso que as pessoas fazem dos meios que dita
quais serão as formas de interação entre os mesmos e as próprias pessoas, é um conceito
que se relaciona com a peer production, a produção dos indivíduos conectados em rede. O
conceito de peer production é diretamente relacionado com o novo paradigma
comunicacional, é uma maneira de os indivíduos conectados compartilharem informações e
recursos sem qualquer tipo de intermediação. Nesse caso, novas maneiras de interação
surgem de acordo com a própria criatividade dos usuários. Até mesmo o blog que foi
colocado como uma ferramenta de jornalismo “subversiva”, pois a discussão, a pauta, parte
da base e não de uma editoria –, pode ser entendido como uma expressão de peer
production do jornalismo na Internet. Alguns exemplos de como pode funcionar essa peer
production relacionada aos blogs ainda serão apresentados neste estudo.
Talvez o maior exemplo que temos dessa nova lógica do peer production esteja na
criação do Napster
59
, como destaca Manuel Castells:
O caso da Napster, em 2000, foi um momento decisivo. Diante das possibilidades de uma
tecnologia (MP3) que permite às pessoas (particularmente aos jovens) compartilhar e trocar
suas músicas em escala global, sem pagar nada, companhias fonográficas mobilizam tanto
os tribunais quanto os corpos legislativos para restaurar seus direitos de propriedade.
Editorias e companhias de mídia em geral enfrentam uma ameaça semelhante (Castells,
2001:149).
Esse é um exemplo claro de como a peer production pode derrubar o monopólio do
acesso à informação que, durante séculos, vem sendo controlado por poucas instituições. E,
como enfatizou Castells, é uma ameaça não à indústria fonográfica, mas a toda mídia.
Nesse exemplo da Napster, o passo seguinte das gravadoras, além de reivindicar os direitos
autorais de suas publicações fonográficas o que passa por uma longa discussão sobre os
direitos autorais em rede, talvez a maior discussão sobre os rumos da comunicação dentro
dessa nova era foi o de melhorar seus serviços de distribuição de música online, mesmo
que eles ainda não atendam aos anseios de muitos internautas, que é o livre acesso e
59
Nickname (apelido virtual) do jovem universitário norte-americano Shawn Fanning que deu nome ao
software que revolucionou a distribuição de música digital compartilhada pela Internet. Alguns chegam a
dizer que a criação de Fanning deu origem ao conceito de rede social aplicado a web, pois, mais do que
compartilhar músicas, com o Napster, os usuários passaram a partilhar seus gostos e a criar suas comunidades
virtuais de compartilhamento para diversos fins.
95
compartilhamento de músicas. De qualquer modo, isso mostra como os novos hábitos do
usuário em rede podem gerar novas formas de acesso à informação que forçam os antigos
meios a convergir, mesmo que a contragosto.
Enquanto Castells aponta para o maior exemplo de como a peer production pode
abalar os alicerces da mídia “pré-internet”, o tecnocrata e doutor em Ciências Políticas
Sérgio Amadeu da Silveira (USP), define de forma clara as bases de tal conceito. Para
aqueles que possam questionar a idéia colaborativa, exclamando que produção em grupo é
algo que já existe há muito tempo, Silveira esclarece:
Apesar de os processos colaborativos já existirem muito tempo no cenário dos negócios
e das empresas, o fenômeno atual é diferente. A diferença está no fato de a atual
colaboração massiva articular agentes individuais livres, que o operam e reúnem-se para
resolver problemas que são do seu interesse. Não colaboram por obrigação, nem estão
submetidos a instituições ou companhias (Silveira, 2008:50).
Tal conceito relaciona-se com a compreensão do fenômeno da peer production do
professor norte-americano da Escola de Direito de Harvard Yochai Benkler, cuja definição
do termo é simplesmente brilhante:
For decades our understanding of economic production has been that individuals order their
productive activities in one of two ways: either as employees in firms, following the
directions of managers, or as individuals in markets, following price signals. (...) In the past
three or four years, public attention has focused on a fifteenyear-old social-economic
phenomenon in the software development world. (...) I suggest that we are seeing is the
broad and deep emergence of a new, third mode of production in the digitally networked
environment. I call this mode commons-based peer-production”, to distinguish it from the
property and contract-based models of firms and markets. Its central characteristic is that
groups of individuals successfully collaborate on large-scale projects following a diverse
cluster of motivational drives and social signals, rather than either market prices or
managerial commands (Silveira, 2008:51 citando Benkler, 2002:3)
60
.
60
“Durante décadas a nossa compreensão de como os indivíduos organizam suas atividades produtivas tem
sido realizada em uma de duas formas: quer como empregados em empresas, seguindo as instruções dos
gerentes, ou, como indivíduos nos mercados, acompanhando os sinais dos preços. (...) Nos últimos três ou
quatro anos, a atenção do público tem se concentrado em um recente fenômeno econômico-social de
desenvolvimento mundial de software que ocorre há quinze anos. (...) Sugiro que estamos assistindo a
emergência de um novo, amplo e profundo terceiro modo de produção no ambiente das redes digitais. Eu
chamo este novo modo de ‘produção coletiva e comum entre pares’ [esta expressão não tem tradução literal
em português, por isso sugiro seu uso em inglês ‘commons-based peer-production’], para distingui-la dos
modelos de empresas e mercados baseados em contratos e em propriedade. Sua característica central é que
grupos de indivíduos colaboram com sucesso em projetos de grande escala seguindo um conjunto de diversas
motivações e sinais sociais, ao invés dos preços do mercado ou dos comandos gerenciais”. (Tradução de
Sérgio Amadeu da Silveira).
96
Sobre essa “queda de braço” entre os meios mais antigos de produção e os novos
meios colaborativos, uma reflexão do professor Caio Túlio Costa sobre as posições de
Benkler que aparecem em sua tese de doutorado (2008) através da análise de diversos
estudiosos, enfatiza a exposição de Castells de como isso se torna uma ameaça ao meio
produtivo e distributivo até então instituído:
O crescimento da força de produção e de circulação da informação e da cultura, pelo
indivíduo e de maneira colaborativa, fora da economia de mercado, ameaça aqueles que se
beneficiam com a economia informacional de caráter industrial. Nos próximos dez anos [até
2016] será decidido qual dos dois modelos prevalecerá, tendo uma implicação de como
ficaremos sabendo do que acontece no mundo e de qual maneira poderemos influenciar
como vemos o mundo hoje e como ele pode ser no futuro (Costa, 2008:330 citando Spyer,
2007:118-119).
Como vemos, o conceito de peer production pode ser diretamente relacionado como
sendo uma das unidades fundamentais que compõem o novo paradigma da mídia dentro do
novo ambiente interconectado. Também pode ser entendido como uma expressão tanto da
convergência, quanto da cibercultura de Pierre Lévy, ou até mesmo como um novo
paradigma de produção intelectual livre de propriedade, o commons (Silveira, 2008:49-59),
que se opõe ao copyright. O caso da Napster é um exemplo claro dessa lógica, como vimos
na citação de Castells.
Castells analisa os grandes setores da dia em sua convergência à plataforma
digital e as formas de distribuição de conteúdo online. Além do que destacou do potencial
sobre a distribuição de produtos fonográficos, em relação aos impressos, ele enfatiza que “o
processo de concepção, produção e publicação de material impresso está sendo
inteiramente transformado pela Internet, mas o produto em si (...) não mudará de maneira
substancial no futuro previsível” (Castells, 2001:163). Nem a presença de grandes jornais
na Internet pode indicar uma convergência dos mesmos para a nova mídia, segundo
Castells: “(...) jornais estabelecidos têm de estar on-line para estar sempre lá, prontos para
seus leitores, para mantê-los sob o mantra de sua autoridade” (Castells, 2001:163). Se a
presença de grandes jornais na Internet não pode ser o indicativo real de que eles estejam
convergindo à nova plataforma, para entender como a convergência está mudando as
formas de acesso e compartilhamento da informação, é necessário entender como o usuário
97
está interagindo com a rede e o que ele tem trazido de novo para o ambiente
comunicacional, e não apenas olhar para a reprodução digital dos meios analógicos agora
presentes na web.
Aliás, é o próprio Castells que depois de refletir sobre a dimensão “sinergética” da
convergência, faz uma afirmação que deixa em aberto qualquer projeção do que pode vir a
ser a integração total dos diversos meios e suas respectivas corporações que se fundem. O
espanhol aponta o olhar em direção aos exemplos positivos de interação que surgem na
Internet como uma maneira de entender o novo meio, como expõe: “O meio para
compreender a relação potencial entre Internet e o mundo da mídia é refletir sobre as
poucas histórias de sucesso de sua interação”. Em seguida, o autor expõe aquilo que cremos
ser de extrema relevância para entender a convergência: “O que a tecnologia tem de
maravilhoso é que as pessoas acabam fazendo com ela algo diferente daquilo para que
foram originalmente criadas. (...) a Internet é o resultado da apropriação social de sua
tecnologia por seus usuários/produtores” (Castells, 2001:160).
Caio Túlio Costa também vê na questão do bit, além do que já mencionamos
parágrafos acima, um ponto de convergência do usuário sobre as novas mídias quando diz
que “hoje se sabe que a convergência chega via chip, com o poder de unir diversos
aparelhos em um ponto de distribuição, seja no lar, no escritório ou na rua, mas quem
converge mesmo é o indivíduo, em um novo processo de comunicação (Costa, 2008:335).
Mais uma vez, as colocações que levantamos logo no início deste estudo se
mostram pertinentes para a compreensão do papel do jornalismo na atualidade. Entender
como o usuário interage jornalisticamente dentro da nova mídia ou, ao contrário, entender
como novas formas de interação surgidas podem ser consideradas uma nova forma de
jornalismo e, também, tentar entender como os velhos jornais poderiam se inserir nessa
convergência, talvez essa seja a única maneira de compreender o contexto do jornalismo
dentro da nova era da informação.
98
A Crise Ética do Jornalismo
Diversas questões éticas concernem o papel da comunicação na sociedade atual, e
dentro desse contexto está o jornalismo. Para o estudioso da Escola de Frankfurt, Theodor
Adorno (1903-1969), a questão ética comunicacional enraíza-se com a própria criação da
indústria cultural que, como vimos, foi um dos vetores que transformou a imprensa ao
longo dos séculos
61
da imprensa de opinião para a fase comercial e chegando à fase do
interesse ideológico, quando a esfera pública desaparece da mídia. O frankfurtiano coloca
que a ética está ficando subserviente a outros fatores:
A questão atual é (...) saber se (...) os homens se sentem em condições de agir
individualmente, isto é, agir moralmente. A massificação, a indústria cultural, a ditadura
dos meios de comunicação e mesmo as ditaduras políticas são fenômenos que têm de ser
analisados também nessa perspectiva, para sabermos até que ponto o homem de hoje ainda
pode escolher entre o bem e o mal (Adorno citando Valls, 1996:69).
O professor e doutor em Filosofia Álvaro L. M. Valls (Universitat Heidelberg
Alemanha) ratifica Adorno, atrelando a liberdade com a questão econômica e citando-o:
“'Liberdade da economia nada mais é do que a liberdade econômica', ou, mais
simplesmente: só não depende do dinheiro quem o tem de sobra" (Valls, 1996:69). E
seguindo essa linha frankfurtiana, uma das questões da ética atual que põe em cheque o
papel da comunicação é:
(...) na massificação atual, a maioria hoje talvez não se comporte mais eticamente, pois não
vive imoral, mas amoralmente. Os meios de comunicação de massa, as ideologias, os
aparatos econômicos e do Estado, não permitem mais a existência de sujeitos livres, de
cidadãos conscientes e participantes, de consciências com capacidade julgadora. Seria o fim
do indivíduo? (Valls, 1996:47).
Adorno ainda “(...) chama a atenção para o fato de que hoje a ética foi reduzida a
algo privado. (...) E se hoje a ética ficou reduzida ao particular, ao privado, isto é um mau
sinal" (Adorno citando Valls, 1996:70). Os questionamentos éticos levantados, dos mais
gerais chegando aos mais específicos, chega onde figura o jornalismo (que é mantido por
empresas privadas na maioria dos casos). Esta instância específica tem os seus específicos
códigos de ética. Valls então, questiona o próprio valor do noticiário:
61
No tópico “O Fim da Esfera Pública”.
99
(...) valeria a pena analisar a ótica e a sintaxe da comunicação que aparecem (...) nos
noticiários atuais (...) a lógica simples do 'e', da adição pura e simples (...) este tipo
de comunicação (...) não favorece o despertar de uma consciência eticamente mais
crítica (...) reforça a indiferença e o sentimento de impotência do espectador (Valls,
1996:77).
Essa sintaxe do jornalismo atual (informativa) teria mudado muito em relação aos
primórdios da imprensa (de opinião), teria atrofiado a capacidade analítica das massas, as
questões éticas assim, teriam desaparecido (mas parecem estar de volta à tona com o
advento da web que traz consigo novas questões a serem discutidas além de expor as mais
antigas, num meio aberto à crítica aos próprios meios). Tal advento relaciona-se
diretamente com os estudos do alemão Jürgen Habermas, que questiona o desaparecimento
do espaço público na sociedade atual, fato vinculado ao papel dos meios de comunicação
atualmente, e que vão além da imprensa:
Assim, o rádio e a televisão podem ser muito mais ditatoriais do que o telefone, o
qual, como as antigas cartas, possui uma forma mais dialogal. Isto não significa que
aqueles, como meios de comunicação, não podem ser postos a serviço da
democracia (...) na medida em que a informação também é uma forma de poder e
como tal, se bem distribuído, de favorecer as relações éticas entre os homens (Valls,
1996:77).
Habermas coloca muito claramente que a informação é uma peça chave para a
conscientização ética. Dessa forma, o jornalismo tem papel crucial nas questões que
concernem à ética na sociedade atual, e que passam pelo noticiário, a informação e
cobertura dos fatos, a escolha de pautas e fontes, e pelos próprios jornalistas. Ao
jornalismo, talvez uma das grandes questões éticas seja a levantada por Valls: até onde a
construção de linguagem informativa e imparcial da imprensa pode ser ou não considerada
ética? Cremos que até o ponto onde a sabedoria nos indica que tal jargão
informativo/imparcial não passa de um instrumento para angariar mais leitores e aumentar a
venda dos jornais (Costa, 2008:320-344).
Outra resposta poderia estar dentre as novidades que surgem na Internet, onde
diversas novas formas de interação e veiculação da notícia permitem o aparecimento de
novas vozes que se fazem ouvir ao lado das mídias tradicionais. Como veremos mais
adiante, os blogs representam uma nova forma de expressão jornalística que traz de volta o
jornalismo de opinião (entre uma miscelânea de gêneros narrativos, como veremos no
100
próximo capítulo), o que pode, com o desenvolver da grande rede, vir a contrabalancear a
“sintaxe da passividade” atual denunciada por Valls.
Espetáculo e Jornalismo
Guy Debord é o principal filósofo de referência teórica da Sociedade do Espetáculo,
uma unanimidade em tais estudos. Sem meias palavras, o estudioso francês inicia a sua
obra clássica denunciando e definindo o que é a “Sociedade do Espetáculo”: “Toda vida
das sociedades (...) se anuncia como uma imensa acumulação de espetáculos. Tudo o que
era directamente vivido se afastou numa representação” (Debord, 2003:9). Aqui
conseguimos entender a relação da questão do espetáculo com o capital, a relação entre as
teorias de Debord com as teorias de Karl Marx: o espetáculo cresce e, portanto, se acumula
como o próprio capital, “o espetáculo é o capital a um tal grau de acumulação que se torna
imagem” (Debord, 2003:23).
O livro Comunicação e sociedade do espetáculo (Coelho e Castro, 2006) traz textos
que são fundamentais para entendermos as relações das teorias de Debord com a questão do
jornalismo dentro da Sociedade do Espetáculo e, como veremos, é fundamental para
entendermos como as colocações de Adorno sobre a questão da ética e da indústria cultural
ganham novos contornos na contemporaneidade. Uma das palavras-chave que expressa a
relação entre espetáculo e o jornalismo é entretenimento, como nos aponta o professor
doutor em Sociologia Cláudio Novaes Pinto Coelho (USP): “Vivemos numa sociedade do
espetáculo (...) A lógica do entretenimento está por toda parte: nos shopping centers, nas
campanhas políticas, nas obras de arte, nas salas de aula, nos meios de transporte e,
obviamente, nos veículos de comunicação (jornais, revistas, cinema, televisão)” (em
Coelho e Castro, 2006:9). existe uma expressão em inglês, um trocadilho que até virou
termo comunicacional, que designa essa relação entre o espetáculo e o jornalismo, entre o
entretenimento e a informação, é o infotainment, junção das palavras information e
entertainment em inglês, informação e entretenimento em português, é o infotenimento
62
,
62
Termo que, conforme o que diz a seguinte chamada do Observatório da Imprensa de 20/03/2006: “Existe
também o conceito de infotenimento em português. O conceito foi defendido em tese de doutorado junto à
Escola de Comunicação e Artes da Universidade (...)”, é oficialmente reconhecido. Em:
http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=373SAI001, 12/01/2008.
101
palavra que escancara a atual lógica do jornalismo como parte da sociedade do espetáculo.
Hoje, o leitor/navegador/ouvinte/telespectador não quer mais apenas se informar, ele quer
ser entretido com informações. Assim, como veremos, o jornalismo na atualidade,
principalmente aquele ligado ao mainstream media, vai priorizar o entretenimento em
detrimento da informação e prestação de serviço, que deveriam ser a sua função primordial
e, mesmo essas funções, estariam seguindo a lógica do infotenimento e aos interesses
comerciais dos veículos.
O professor e mestre em Comunicação e Mercado Fábio Cardoso Marques
(Faculdade Cásper Líbero), em artigo em que reflete sobre a espetacularização da
imprensa
63
, aponta como é essa lógica dentro do jornalismo contemporâneo: “Os assuntos
de interesse público (...) cederam espaço, na chamada grande imprensa, a temas pessoais,
sobre figuras públicas e matérias sensacionalistas” (em Coelho e Castro, 2006:33). Dentro
dessa lógica voltada para o entretenimento, o jornalismo faz uso daquele item mágico
imagético que tanto Debord quanto Baudrillard apontam como ferramentas do espetáculo
hiperreal, o uso de imagens: “(...) os jornais e revistas continuam defendendo (...) o trabalho
com as imagens e outros elementos gráficos” (em Coelho e Castro, 2006:34). Em outras
palavras, a lógica do entretenimento dentro do jornalismo se apropria de valores
publicitários ao trabalhar com o seu público. O jornalismo também produz signos como o
espetáculo, ou melhor, produz signos que também são os signos do espetáculo, como nos
dizia Debord: “A produção da mercadoria-notícia (...) pode revelar uma articulação de
níveis simbólicos que produz mitos e preconceitos sobre algumas personalidades ou
movimentos sociais. Para isso, podem ser utilizados alguns elementos gráficos” (em Coelho
e Castro, 2006:37-38). Citando Ciro Marcondes Filho
64
, Marques também relaciona a
produção de símbolos do jornalismo com teorias de Barthes e Baudrillard: “A política de
produção de notícias tem, assim, o caráter de cultivar a passividade. O tratamento que ela
aos fatos, quer como mitos (Barthes, 1982) ou signos (Baudrillard, s.d., pp. 99 e ss.;
Prokop, 1986 e ss) conduz, em qualquer caso, à despolitização do real” (em Coelho e
Castro, 2006:38).
63
“Uma reflexão sobre a espetacularização da imprensa” in Coelho e Castro, 2006.
64
Em Ciro Marcondes Filho. O Capital da Notícia. São Paulo: Ática, 1989 (pp. 15). Ver também: Roland
Barthes. Mitologias. Rio de Janeiro: Bertrand, 1989; Jean Baudrillard. Para uma Crítica da Economia
Política do Signo. São Paulo: Martins Fontes, s.d (pp. 99) e D. Prokop. Sociologia. São Paulo: Ática, 1986
(pp. 75).
102
Para Marques, as bases do espetáculo dentro do jornalismo estão nos alicerces da
indústria cultural. O jornalismo de massa estaria, então, em conluio com essa indústria,
servindo como um propulsor da mesma: “A atividade jornalística da grande imprensa (...)
pertence à esfera da indústria cultural, segundo a conceituação de Theodor Adorno e Max
Horkheimer (1985). Desde o modo como produzem as notícias até o conteúdo do discurso
jornalístico, esses grandes jornais e revistas passam a ser importantes difusores
ideológicos” (em Coelho e Castro, 2006:34). A questão é como a produção e a construção
do discurso jornalístico faz isso. Baseado nas teorias frankfurtianas e no pensamento de
Marx, Marques nos dá algumas pistas, tais como a criação de manuais de redação, o manual
da “lavagem cerebral” que padroniza o discurso jornalístico à linha diretriz dos donos dos
veículos de mídia e os seus interesses comerciais, e o uso de pesquisas que direcionam a
produção de notícias de acordo com o gosto do público, além de outros recursos, tais como
o controle da produção jornalística da mesma forma como são os controles na produção de
qualquer mercadoria, é a “notícia enlatada”:
(...) a centralização da produção das notícias pelas agências nacionais e internacionais;
padronização do discurso jornalístico com manuais de redação e estilo; a reestruturação dos
projetos editoriais; sistemas internos de controle individual da produção de matérias;
racionalização (...) sobre o processo produtivo (...) e as informações dos institutos de
pesquisa (em Coelho e Castro, 2006:36).
A lógica do “jornalismo-surveytambém aponta para outro aspecto que pertence à
lógica maior do infotenimento, o jornalismo de prestação de serviço que, segundo Marques,
“(...) com o qual o jornal busca criar ou atender interesses ou necessidades de consumo no
publico-leitor, quando a informação política, por exemplo, não tem o mesmo valor (...)
como teve em outros tempos” (em Coelho e Castro, 2006:37). A noção comercial por trás
dessa lógica nos diz que, apesar de atender ao interesse do público, também atende a
manutenção da imagem da entidade jornalística perante esse público, como uma guardiã do
cidadão, além de ser um meio de mantê-lo preso ao veículo. Esta lógica pode ser apontada,
inclusive, como detentora do mesmo propósito que tinham os folhetins no passado, com o
objetivo de “novelizar” a notícia e prender o leitor ao veículo.
Karl Marx denuncia a alienação no trabalho, Guy Debord revela a alienação no
espetáculo, dentro do jornalismo a alienação se revela, segundo Marques, da seguinte
103
forma: “Os grandes veículos de comunicação preferem, na maioria das vezes, utilizar um
jargão jornalístico formado por uma conceituação funcional ou operacional, desvalorizando
o pensamento não funcional ou crítico” (Coelho e Castro: 2006, 44). Em outras palavras, o
jargão jornalístico que predomina no mainstream media é informativo, desvalorizando o
jornalismo de opinião, como colocamos. Esse tipo de linguagem, mesmo que possa
transparecer neutra, pode ser utilizada como “clichês ou preconceitos, repetindo-os até se
tornarem verdade” (em Coelho e Castro, 2006:44), de forma que pode ser utilizada para
“induzir mentes” como no próprio jornalismo de tribuna
65
, porém de forma maquiada,
mascarada de neutralidade. Essa é também uma questão que concerne à ética do jornalismo,
como vimos em citação do professor de ética Álvaro Valls.
Esse é um assunto que precisa de atenção no debate das questões que envolvem o
jornalismo dentro do seu importante papel na sociedade atual. O que comentamos, refere-se
à alienação do discurso jornalístico. Quanto à produção do trabalho jornalístico, essa segue
a mesma gica da alienação do trabalho de Marx. Assim, segundo Marques: “(...) na
grande imprensa também (...) o fenômeno do afastamento do trabalhador do domínio do
seu processo de trabalho, dificultando ao jornalista o exercício de sua consciência crítica e
da autonomia para exercer sua atividade” (em Coelho e Castro, 2006:56). Essa é outra
questão que além de estar dentro da lógica da alienação do espetáculo de Debord, concerne
à ética jornalística, sendo a autonomia, um desses padrões éticos comprometidos dentro
dessa lógica atual e que assim colaboram para alienação maior do espetáculo.
Marques também apresenta suas reflexões sobre as teorias de Debord, na clássica
citação do autor definindo a Sociedade do Espetáculo o primeiro parágrafo de sua obra
que também citamos logo no início deste tópico. Relacionando-a com o jornalismo, ele a
interpreta da seguinte maneira: “Como uma forma de representação do mundo e de seus
fatos, a imprensa pode se aproximar mais das verdades que explicam o funcionamento das
sociedades modernas ou se afastar através de uma representação ideológica da realidade”
(em Coelho e Castro, 2006:52). Pelo que vimos até aqui, a grande imprensa parece ter se
65
Nesta passagem, fazemos uma alusão à tese defendida por diversos historiadores e estudiosos da mídia.
Alguns afirmam que a atuação da imprensa de opinião durante a Revolução Francesa não teve nada de
democrática, foi apenas um instrumento ideológico capaz de “induzir mentes” e de influenciar multidões. O
jornalismo de tribuna é uma forma conhecida do jornalismo de opinião que tem como base a perversão da
informação em opinião, segundo os estudos e as classificações de neros jornalísticos do catedrático José
Marques de Melo na sua obra Jornalismo opinativo (Campos do Jordão-SP: Mantiqueira, 2003).
104
afastado da realidade numa representação ideológica que serve de pano de fundo para a
indústria cultural, indústria esta que nos parece ser o carro-chefe na condução do
espetáculo. Isso fica claro na passagem onde Marques comenta o pensamento de Debord
sobre a imprensa, “(...) deixa de aprofundar os assuntos estratégicos que podem demonstrar
contradições essenciais entre as forças fundamentais que compõem as sociedades
capitalistas, ou seja, o capital e o trabalho” (em Coelho e Castro, 2006:54), em outras
palavras, ela se afasta da realidade dos assuntos estratégicos e fundamentais das sociedades,
e mergulha no mundo hiperreal do mass media e da indústria cultural.
Por fim, Marques faz uma afirmação que põe em cheque o papel da imprensa na
sociedade atual, relacionando-a com a questão da Indústria Cultural e da Sociedade do
Espetáculo de Debord:
A imprensa acaba se constituindo num significativo meio de reprodução de discursos
ideológicos, que tentam explicar o que não pode mais ser visualizado e vivido como
experiência direta por grande parte dos cidadãos (...) Essa forma de divulgação ideológica
(...) procura legitimar e transportar, para a sociedade como um todo, as preocupações
específicas de setores dominantes da sociedade (em Coelho e Castro, 2006:53).
Em outras palavras, a imprensa é também uma ferramenta ideológica de dominação
que, entre outros interesses, atende aos ideais de um desses setores dominantes da
sociedade que é a indústria cultural, onde temos, como conta Marques, os grandes
conglomerados de mídia, “(...) estamos vivendo uma época de hegemonia dos grandes
conglomerados de comunicação” (em Coelho e Castro, 2006:52), que divulgam e
legitimam as suas idéias, que veiculam o espetáculo também através do jornalismo. Na
matéria do Observatório da Imprensa que mencionamos ao nos referirmos ao termo
infotenimento, o jornalista Luciano Martins Costa comenta sobre a relação dos
conglomerados de mídia e a questão do espetáculo que permeia o jornalismo: “Os grandes
conglomerados de mídia, que nos últimos dez anos se revelaram autênticos predadores,
engolindo redes inteiras de jornais, cadeias de rádio e TV, portais e tudo que parecia
apetecível ao capital, estão se defrontando com a dura realidade”, e complementa:
Nesse rumo, o capital se desinteressa daquilo que costumamos chamar de jornalismo. é
muito claro que os grandes conglomerados praticam com mais gosto aquilo que em inglês
se chama infotainment a mistura de informação e entretenimento que usa jargões do
105
jornalismo para se revestir de certa seriedade. Em escalas variáveis, encaixam-se nesse
padrão o Programa do Jô, o Programa do Ratinho, a revista Veja, os programas de
“debates” sobre futebol, as publicações voltadas para o consumo de luxo. Sem a presença
das tradicionais famílias, que aos poucos perdem espaço nesse ambiente, e com as gigantes
do setor se desinteressando do jornalismo de qualidade, onde ele irá acontecer?
(http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=373SAI001, 12/01/2007).
Para quem pensar no fenômeno dos blogs, na blogosfera, o jornalista adverte: “Os
blogs, salvo algumas exceções, ainda são território para autolustração de egos mais ou
menos bem equipados de conteúdo”. De forma que a pergunta colocada na citação acima
ainda é uma questão que merece a nossa atenção, concerne ao jornalismo e às novas mídias
como partes da Sociedade do Espetáculo. De qualquer modo, a plataforma aberta da web
nos indica um caminho viável para a prática de todas as formas de jornalismo, incluindo
aquele tido como de qualidade.
Em artigo que analisa a questão da informação-mercadoria do jornalismo e as
novas formas de trocas culturais na sociedade globalizada
66
, o jornalista e mestre em
Integração da América Latina Carlos Sandano (USP
) ressalta dois problemas que afetam o
jornalismo atual, da notícia-mercadoria e do infotenimento, e os liga ao espetáculo, quando
afirma que: “(...) ressalta-se não apenas a queda do muro que separava (idealmente)
publicidade e jornalismo, mas também da barreira que separa(va) a mídia dita séria do
sensacionalismo” (em Coelho e Castro, 2006:63). Essa também é uma preocupação do
professor de ética jornalística Caio Túlio Costa, que a estende ao contexto das novas mídias
e, segundo as reflexões do professor, se agravam dentro da Internet: “Há em muitas delas a
enunciada ‘muralha’ destinada a separar os departamentos editoriais dos comerciais. Esta
separação enunciada normativamente em muitas empresas tende a se relativizar nas
novas empresas multimídias” (Costa, 2008:338). Assim, além de conectar o jornalismo
com as questões da publicidade que alicerçam a Sociedade do Espetáculo, Carlos Sandano
revela outra palavra-chave ligada ao jornalismo dentro dessa sociedade, o sensacionalismo.
Sobre o sensacionalismo, o estudioso de Filosofia e mestre em Comunicação
Jaime Carlos Patias (Faculdade Cásper Líbero), no artigo que analista o espetáculo no
telejornal sensacionalista
67
, diz o seguinte: “Além disso, pelo estilo e forma como os
programas são apresentados, eles se inserem no contexto da sociedade do espetáculo
66
“A informação mercadoria do jornalismo e as novas formas de trocas culturais” in Coelho e Castro, 2006.
67
“O espetáculo no telejornal sensacionalista” in Coelho e Castro, 2006.
106
descrita por Debord, onde o sensacionalismo sugere que informa enquanto faz espetáculo”
(em Coelho e Castro, 2006:103). Assim, mais essa faceta do jornalismo, o sensacionalismo,
é outro mecanismo de alienação do espetáculo, como Debord nos revelou. A quebra do
“muro” que separava o jornalismo da publicidade se em função dos interesses
ideológicos, como identificávamos e, agora, nos confirma Patias, da indústria cultural:
“Na indústria cultural, publicidade e noticiário estão fundidos, intensificando-se a fusão
entre aquilo que é noticiado e os bens de consumo apresentados nas publicidades e mesmo
inseridos nas matérias que financiam o telejornal” (em Coelho e Castro, 2006:96). Como
enfatizamos, por trás dessa indústria cultural estão os conglomerados de mídia que vão
acabar por influir na pauta jornalística, priorizando o espetáculo, um fato também destacado
por Sandano: “As sinergias dos conglomerados de mídia comprometem a independência da
produção, e a concorrência no campo jornalístico (...) altera suas práticas em nome de uma
eficiência técnica e econômica, espetacularizando a notícia” (em Coelho e Castro,
2006:67). Essa alteração de práticas, para Sandano, são mecanismos vetores do espetáculo,
da alienação e da serviência aos interesses da indústria cultural, utilizados para fins de
manipulação ideológica: “(...) assistimos hoje (...) uma simbiose de processos técnicos e
diluição das fronteiras entre publicidade e o jornalismo, assim como a manipulação
(consciente ou inconsciente) da informação” (em Coelho e Castro, 2006:67). Assim seria
então o jornalismo de massa atual: alinhado aos interesses da indústria cultural, alienador e
manipulador. Realmente é preciso se repensar o papel do jornalismo como um todo dentro
da sociedade contemporânea e mais, com o surgimento de uma nova esfera comunicacional
através da web, até onde ela poderia influenciar neste cenário, seja positivamente ou
negativamente?
Enfim, Sandano atribui todo esse cenário a uma crise geral da instituição
Jornalismo:
É uma crise econômica: o jornalismo perde leitores para a Internet e outras forma de
‘entretenimento’. É uma crise de identidade: a tendência dos grandes grupos de
comunicação em transformar tudo em espetáculo descaracteriza o conteúdo jornalístico. É
uma crise profissional: assiste-se à diluição das fronteiras entre a publicidade e o
jornalismo, assim como à manipulação (...) da informação (em Coelho e Castro, 2006:66).
107
Dentro dessa lógica, Sandano aponta uma única alternativa para “afrontar a idéia de
informação como mercadoria”, que seria “respeitando a diversidade e a complexidade de
um planeta globalizado que se constitui com base em condições assimétricas e cuja
perversidade não pode ser enfrentada sem que haja um direito de informação e
comunicação livre” (em Coelho e Castro, 2006:77). Em relação à definição de Sociedade
do Espetáculo de Debord, poderíamos dizer que a alternativa seria o direito ao acesso a
informações que não se afastem do mundo real em uma encenação.
Para finalizar esta reflexão, destacamos uma afirmação de Jaime Patias que nos
mostra como os conglomerados de mídia trabalham seus veículos em prol da
espetacularização da sociedade, fundindo todas áreas comunicacionais, o jornalismo e a
publicidade (a lógica do infotenimento), além de outros, como as relações públicas, a
editoração eletrônica e cada um dos meios disponíveis em massa nos dias atuais, o rádio, a
televisão, o cinema, a Internet etc., tudo isso à luz do conceito de Sociedade do Espetáculo
de Debord que trabalhamos até aqui. Em outras palavras, Patias seleciona varias “farinhas”
do espetáculo e as põe todas “no mesmo saco”:
Desde que a sociedade do espetáculo foi definida por Debord, a cultura do espetáculo se
expandiu em todas as áreas da vida. Surgiu a economia do espetáculo numa fusão entre
negócios e diversão, onde o entretenimento se torna rapidamente um dos principais aspectos
geradores dos negócios. Por meio da ‘entretenimização’ da economia, as corporações e
empresas fazem circular na TV, nos filmes, na Internet, nos videogames, nos cassinos, nos
esportes etc.., suas imagens e marcas para que os negócios e a publicidade se combinem,
tudo sob a forma de espetáculo. Eis o paradigma da atualidade: a transformação da própria
vida em uma forma de entretenimento. (Coelho e Castro, 2006:92-93).
Assim, estaríamos, como nos diria Frederick Jameson (1996:268-284), vivendo na
“sociedade do prazer”, que seria algo muito próximo disso mesmo: a própria vida
transformada em entretenimento, e pior, num entretenimento condicionado ao consumo,
confirmando assim as palavras de Debord, “uma evidente degradação do ser em ter (...) do
ter em parecer(Debord, 2003:15). Dentro dessa perspectiva, se no decorrer do século XX
o jornalismo evoluiu ao pano de fundo da indústria cultural, hoje ele se recria a partir da
realidade afastada que ajudou a criar dentro da Sociedade do Espetáculo.
108
A Galáxia do Espetáculo
Muitos, como comentamos, podem apontar para as novas mídias, onde se destaca
a Internet, como uma nova estrada que possui caminhos alternativos ao espetáculo
associado ao mainstream media, embora ainda haja muitas objeções sobre essa alternativa.
Carlos Sandano ainda tece algumas observações sobre a nova sociedade em rede, onde o
livre acesso à informação estaria colocando em risco a lógica do infotenimento, a
informação-mercadoria estaria assim diante de um novo concorrente de potencial
ameaçador, com capacidade de remar contra a maré da alienação dessa lógica instituída.
Assim, ele diz que “(...) uma observação crítica implica a capacidade de abarcar idéias
contraditórias em todo complexo. Isso é algo que o formato industrial da transmissão de
informação não permite, mas pode potencialmente ser encontrado na navegação não
determinada e aberta e na interação que esse novo meio permite” (em Coelho e Castro,
2006, 73:74). Embora para Sandano os novos meios ainda tenham algumas limitações, o
seu formato, entretanto, traz consigo um fator que sai da lógica contemporânea intrínseca
do espetáculo, a quebra do monopólio da narrativa, algo importante quando buscamos um
“ponto de partida para a observação crítica da realidade” (em Coelho e Castro, 2006:74),
como afirma nas palavras: “Evidentemente que estamos ainda limitados às possibilidades
críticas que um navegador/leitor empiricamente determinado é capaz de fazer. Mas já
temos aqui uma reformulação de um aspecto importante da lógica jornalística: a quebra do
monopólio da narratividade contemporânea” (em Coelho e Castro, 2006:74). Com a quebra
desse “monopólio”, Sandano aponta algumas vantagens que o leitor/usuário da Internet vai
encontrar em alternativa ao jornalismo espetacular do mass media, “(...) hoje ele pode
encontrar outros discursos no universo digital” e, acrescenta, “(...) também saber dos fatos
por meio de blogs não-jornalísticos ou acessando o site de um grupo midiático que possui
outra Weltanschauung” (em Coelho e Castro, 2006:74). Assim como Sandano, são diversos
os filósofos e estudiosos que enxergam na estrutura comunicacional das novas redes
computacionais um caminho mais aberto à informação do que aquele construído pela mídia
tradicional, dentre os quais Manuel Castells.
Castells afirma que a própria mídia (a velha mídia), ao se deparar com a Internet,
traça uma série de boatos e mentiras sobre o novo meio, que o autor passa a desmistificar
109
no decorrer de sua obra, mas através dessas críticas infundadas da mídia, ele fala sobre um
fato que nos é familiar pelo que estudamos até aqui, a questão do sensacionalismo do
jornalismo atual: “A mídia (...) carecendo da capacidade autônoma de avaliar tendências
técnicas sociais com rigor oscila entre noticiar o espantoso futuro que se oferece a seguir o
princípio básico do jornalismo: notícia ruim é notícia” (Castells, 2003:9). Mas quando
Castells denuncia essa característica espetacular do jornalismo numa menção crítica à
Internet, ele, implicitamente, a aponta como um novo caminho, caminho esse que pode ser,
assim, oposto ao espetacular.
Em tópico que analisa a questão da democracia e da política informacional na
Internet, Castells faz colocações que nos dizem se existe esse caminho alternativo ao mass
media pela web, e faz uma importante ressalva: “A Internet não pode fornecer um conserto
tecnológico para a crise da democracia” (Castells, 2003:129). Mas, em seguida, faz uma
explanação que nos mostra algumas das iniciativas que são possíveis pela grande rede e
que afetam o modelo vigente de comunicação, inclusive o jornalismo:
A Internet fornece, em princípio, um canal de comunicação horizontal, não controlado e
relativamente barato, tanto de um-para-um, quanto de um-para-muitos (...) Há, contudo, um
uso crescente da Internet por jornalistas rebeldes, ativistas políticos e pessoas de todo tipo
como um canal para difundir informação e rumores políticos (...) há também casos de
informação política relevante difundida através da Internet que não teria podido ter sido tão
ampla, nem tão rápida, se tivesse circulado através da mídia convencional (Castells,
2003:129-130).
Se fôssemos fazer uma quantificação numérica de exemplos e iniciativas ligadas ao
jornalismo que aparecem a cada dia na Internet, e que da mesma forma como Castells,
sempre fazendo ressalvas em relação à potencialidade da web –, estão construindo uma
nova esfera no mundo da informação, este estudo não mais findaria. Um exemplo relevante,
porém, podemos citar para ilustrar algumas coisas que fazem parte desse novo contexto:
a blogosfera, ou seja, o conjunto de blogs atuantes, sejam ou não de jornalistas, mas que
consegue veicular “informação política relevante”, chamando a atenção do público para
fatos que não encontram espaço nos mass media, ou até mesmo quando não existe interesse
dentro dos mass media em dar espaço para certos fatos e informações. Apesar de ainda não
se saber se, como os próprios blogs, as novas iniciativas interativas da Internet irão se
efetivar como um contrapoder ao que está instituído, podemos entender que algumas
110
novidades surgiram com a web como sendo parte e tendo peso na atuação dentro do
contexto geral maior da mídia. Castells também adverte que esse novo espaço, além de
servir para dar vazão a informações relevantes que não são veiculadas na grande mídia,
serve para a boataria: “A fronteira entre o mexerico, fantasia e informação política valiosa
fica cada mais difusa, complicando assim ainda mais o uso da informação” (Castells,
2003:130). De certa forma, quando as barreiras da comunicação são quebradas,
possibilitando essas novas peculiaridades conectivas da grande rede, elas também
favorecem a diluição de outras fronteiras, como citou Castells, entre fantasia e informação,
e entre publicidade e jornalismo, como vimos. Assim, se existia um mundo que se afastava
da realidade nos veículos embordeirados nos limites de suas próprias fronteiras totalitárias,
no mundo virtual sem fronteiras e limites
68
, ele também pode alcançar horizontes nunca
dantes imaginados, de forma que a Galáxia da Internet também é a Galáxia do Espetáculo.
Castells traz dois dados relevantes que mostram que, de fato, a Internet está se
tornando um meio alternativo de mídia: “(...) os jovens norte-americanos estão vendo
menos televisão (...) Essa tendência foi atribuída em parte a um maior tempo dedicado
pelos jovens para surfar na Internet (The Economist, 2001, p. 60)
69
(Castells, 2003:157).
Porém, embora tal dado demonstre que de fato o público jovem tenha mais disposição de
estar na Internet do que assistindo TV, não sabemos exatamente o que ele tem procurado na
Internet, e nem se o faz em alternativa ao que os mass media lhe oferecem, ou mesmo, se
busca outro tipo de conteúdo específico da grande rede
70
. Um outro dado que Castells traz à
tona demonstra uma característica pica desse público jovem, que cresceu habituado a não
precisar tirar a carteira do bolso para pegar uma folha de papel com informações, que não
tem o costume de pagar por informações: “Um terço dos americanos lê notícias on-line pelo
menos uma vez por semana. Não se dispõem, contudo, a pagar por isso. O único jornal com
um serviço bem-sucedido de assinaturas pagas on-line é o Wall Street Journal(Castells:
68
Desterritorializado e desintermedializado.
69
THE Economist (2001) “Television takes a tumble”, 20 de janeiro.
70
Dados revelados pelo Ibobe em janeiro de 2008 mostram que a TV perde espaço para a Internet entre as
classes A e B (as que têm mais acesso a web). A pesquisa revela que os telespectadores entre 25 a 49 anos
foram os que assistiram menos à TV durante o ano passado (2007). Respectivamente, os índices caíram
5min09s e 5min31s (em relação a 2006). Entretanto, a pesquisa vai à contramão dos dados de Castells, aponta
que o número cresceu bastante em análise entre jovens com idade entre 18 a 24 anos: mais 17min35s.
111
2003, 162-163). Dessa forma, os tradicionais jornais impressos têm na Internet um forte
concorrente capaz de quebrar o velho modelo do jornal pago pelo leitor na banca
71
.
O fato de o jornalismo estar sofrendo os maiores impactos com o crescimento da
Internet, vai desde a produção da notícia, que se reestrutura em função da nova mídia: “As
salas da redação em toda a mídia estão sendo reequipadas em torno da Internet. Trabalham
num fluxo contínuo de processamento da informação, no tempo da Internet, segundo
modelo adotado pioneiramente pelo The Chicago Tribune/Los Angeles Times em 2000”
(Castells, 2003:157), até o impacto através de sua forte ligação com a Internet, “(...) a
Internet mantinha-se separada da televisão e (...) separada da maior parte do mundo da
mídia – com exceção talvez do noticiário” (Castells, 2003:158), que acrescenta: “E a
relação com o mundo da mídia é limitada à leitura de jornais diários” (Castells, 2003:159).
A presença da informação na Internet é um fato incontestável, em um volume muito maior
que a totalidade dos jornais impressos poderia absorver (e outros veículos jornalísticos
também). Embora a Internet não tenha ainda capacidade técnica para transmitir imagem em
tempo real com a mesma qualidade da TV, ela tem capacidade de transmitir informação
na forma de texto e imagens estáticas, ou até em pequenos vídeos e animações, capaz de
suprir as necessidades, ao menos informativa, de seus usuários.
Pensando-se na capacidade da Internet em trabalhar apenas com texto e fotos,
somada à abundância da informação, podemos entender por que os jornais impressos (que
trabalham com texto e imagens estáticas apenas) são os primeiros a sofrer com a introdução
da Internet. A Internet permite iniciativas relativas ao jornalismo na rede que ainda não
estão disponíveis para o mundo da imagem, como a TV e o cinema. Somente o jornalismo
pode ser feito com qualidade e em tempo-real através da Internet, a TV e o cinema ainda
não (trabalham mais on demand). Porém, Castells nos fala de um trunfo que as velhas
empresas jornalísticas ainda têm: “Os jornais não estão sendo solapados pela Internet
porque, num mundo de informação infinita, a credibilidade é um ingrediente essencial para
os que a buscam” (Castells, 2003:163). Essa passagem também demonstra que, mesmo a
Internet sendo uma concorrente ao seu modelo de negócio, a presença dessas empresas
jornalísticas na web é uma maneira ainda de manter o seu leitor preso a elas, de cercá-lo
71
O que poderia explicar, também, a necessidade maior da entrada da publicidade no noticiário, a fim de
financiá-lo.
112
pela nova mídia (como vimos em passagem anterior onde Castells afirma que os jornais na
web objetivam manter o leitor/usuário sob o mantra de sua autoridade dentro do novo
espaço midiático digital que, aliás, é uma continuação da frase citada acima). Como nem
tudo são pétalas, Castells traz à luz aquele que talvez seja o único trunfo que essas
empresas têm para sobreviver no novo ambiente, a credibilidade, algo que, embora a
Internet possibilite a entrada de novos atores no mundo da notícia e novas fórmulas de
práticas comunicacionais, é difícil de se conquistar e manter – no entanto, fácil de perder –,
é uma carta na manga que os velhos jornais têm para sobreviver em meio a esses novos
concorrentes do mundo virtual.
Por fim, Castells atribui a toda essa reformulação que a Internet está causando nas
demais mídias
72
, em especial no jornalismo, em função da sinergia dos grandes
conglomerados de mídia que estão mudando os negócios do mundo da mídia, embora ainda
busquem na Internet um meio de ganhar dinheiro sem a estrutura totalitária que construíram
até a chegada do novo meio: “Essa profunda reestruturação está associada a fusões e
consolidações entre grandes companhias, de modo que sete megagrupos de multimídia
controlam a maior parte da mídia global, e em cada país um pequeno número de
corporações (...) determina o que é publicado e transmitido” (Castells, 2003:157). Como
vimos, esses grandes conglomerados compõem a indústria cultural, responsável pela
criação do hiperrealismo da mídia e da transformação da notícia em mercadoria, do
jornalismo em instrumento ideológico que serve para movimentar a indústria do espetáculo.
Resta-nos saber como essa sinergia absorverá o novo mundo multimídia da Internet, e
como isso afetará ou não, reforçará ou não, os pilares da atual “Sociedade do Espetáculo”
em que hoje estamos inseridos.
72
Em relação as demais mídias, Castells demonstra em sua obra que muitas estão se beneficiando com a
chegada da Internet, o jornalismo impresso, como analisamos, é que parece ser a primeira das velhas mídias
que está em declínio frente ao novo meio.
113
A Sinergia da Mídia
Como vimos anteriormente, alguns estudiosos da Comunicação colocam por trás da
crise ética do jornalismo na atualidade, que passa pela questão da análise da Sociedade do
Espetáculo, a pressão cada vez maior que as empresas jornalísticas têm em responder aos
ganhos lucrativos. Essa situação se agrava dentro do cenário atual onde grandes
corporações de mídia e outras advindas de outros setores (teles e tecnologia), passam a
atuar no mundo da informação, o que chamamos de sinergia midiática ou sinergia da mídia.
Vimos também que a sinergia pode ser entendida como uma convergência de diversos
setores da própria mídia para um único setor, para a mesma cadeia produtiva, tendo como
plataforma comum a tecnologia digital e as redes de comunicação, daí a seqüência de
fusões e a proximidade cada vez maior entre corporações desses três setores: o setor da
mídia, que passa a produzir ou reproduzir todo seu conteúdo também de forma binária; da
tecnologia, que cria hardware e software que serve de plataforma para esse mundo de
informação binária; e das teles, responsável por toda infraestrutura de comunicação que
inclui telecomunicações, satélites e redes digitais entre outras, que interliga todo esse
mundo binário.
Mas afinal, por que isso ocorre? Para respondermos a essa questão, precisamos
entender o que vem a ser o conceito de sinergia. Quem explica de forma clara esse conceito
é o estudioso e pesquisador de mídia e política Venício Lima (Universidade de Brasília):
Esse inédito processo de oligopolização e emergência de novos e poderosos global players
no cenário econômico e político mundial tem sido explicado pelos executivos (CEOs) do
setor como correspondendo ao processo biológico da sinergia. Argumentam eles que,
considerado o nível elevado dos investimentos necessários, a integração horizontal, vertical
e cruzada da indústria de comunicações, isto é, a ação coordenada de várias empresas no
mesmo grupo, torna-se inevitável e é mais eficiente do que a de empresas isoladas (Lima,
2004:92).
O conceito de sinergia associado à busca da eficácia dentro das Comunicações
73
,
expressa pela convergência de grandes empresas para o mundo da informação binária pode
ser associada à Internet como o novo meio comunicacional evoluído, para onde os outros
73
Para Venício Lima, Comunicações é o setor que resulta da fusão entre as empresas de mídia,
telecomunicações e tecnologia. .
114
setores, tanto da mídia, quanto da infraestrutura de comunicação e da tecnologia, acabam
convergindo. Ora, se a Internet e a comunicação binária representam de fato a evolução dos
meios como vimos na colocação de Costella
74
, essa sinergia que se forma em torno do bit,
como bem colocou Túlio Costa, também aponta para o mesmo sentido, ou seja, a evolução
dos meios, deixando-se de lado, é claro, as implicações que advém da formação desses
imensos oligopólios que, como vimos, acabam sobrepujando a ética jornalística. Sem entrar
num estudo à parte sobre a evolução tecnológica advinda do mar informacional da Internet,
é evidente que a própria eficácia dos meios comunicacionais hoje em dia, inclusive na parte
gerencial dos negócios do mundo das Comunicações, passa pela inteligência conectiva da
própria Internet. Nada mais natural, então, que o rumo a esta eficácia seja o rumo a binário-
eletronização total dos meios.
Beth Saad apóia-se em diversos estudos para relacionar o conceito de sinergia com
as estratégias que os grupos de mídia devem adotar, ou estão adotando, para inserir-se
dentro do novo contexto midiático. Além de entender a sinergia como um movimento rumo
à eficácia empresarial, ela afirma que “tal sinergia é fator essencial para a transformação
dos velhos jornais, por exemplo, numa empresa pós-jornalística, com estrutura não mais
baseada em meios, mas, sim, em mercados informativos
75
. Esse posicionamento embasa a
estratégia de vários grupos midiáticos numa forma de ampliar seus públicos tendo como
base, também, a nova plataforma digital, somando-se novos públicos aos antigos dentro do
mercado informacional
76
.
74
Ver tópico “A questão da convergência”.
75
Saad, 2003:90. Em citação a Juan Antonio Ginder, citando Júlio Moreno, A mensagem multimídia: rumo à
civilização massificada (São Paulo: Agência Estado, 1991).
76
Base do modelo informativo conhecido como “turbina” (em Saad, 2003:91). Nesse modelo, “a informação
produzida deve ser distribuída por qualquer meio disponível na empresa, desde que seja o mais conveniente, o
mais rápido e o mais barato para o público focado” (Saad, 2003:92).
115
Sinergia Brasileira
Uma vez explicado o conceito de sinergia, Venício Lima passa a descrever o
cenário nacional dentro deste movimento. Primeiro ele nos fala a respeito da relação entre
os conglomerados mundiais com as empresas brasileiras: “Estudiosos do setor (...) já
constataram que o mercado global de mídia é hoje controlado, num primeiro nível, por
cerca de dez enormes conglomerados, num segundo nível, por outras 40 empresas, direta e
indiretamente associadas às primeiras” (Lima, 2004:92). Os braços desses grupos
internacionais se estendem ao Brasil através desse segundo nível de associações
mencionadas por Lima, como, por exemplo, citam os jornalistas e estudiosos da mídia
Antonio Biondi e Cristina Charão em artigo em que analisam a situação dos grupos
brasileiros de mídia
77
, a associação entre Sky do grupo de Rupert Murdoch (News Corp) e a
DirecTV da família Marinho (Organizações Globo) no ramo da TV a cabo. Quem a
conta final do número total e atual de corporações globais de mídia é Caio Túlio Costa, que
expõe: “(...) nos anos 80 existiam cerca de 50 empresas globais de comunicação. Essa
quantia caiu para 27 no começo dos anos 90 e reduziu-se a apenas sete no começo do
século XXI. Com a emergência da Google, a conta fechou em oito
78
empresas globais de
comunicação” (Costa, 2008:332).
No Brasil, segundo a mesma matéria de Biondi e Charão, são oito os grandes
grupos comunicacionais: Bandeirantes, Globo, Sílvio Santos, Abril, Record, RBS, Estado e
Folha, sendo que a configuração do capital estrangeiro pode ser vista explicitamente em
pelo menos cinco desses grupos (Globo, Sílvio Santos, Abril, Folha e Bandeirantes),
através de diversas participações em variados setores. Existem, ainda, parcerias inúmeras
entre os variados negócios dentre esses grupos, o que demonstra que o seu conjunto forma
um grande oligopólio. Em outras palavras, temos oito grandes grupos nacionais de mídia,
nos quais se observa a participação societária de empresas de tecnologia e de
telecomunicações internacionais, que é por onde os braços dos grandes conglomerados de
mídia internacionais se estendem ao nosso país. Vale lembrar que essa análise e esses dados
77
Artigo “Terra de Gigantes”, publicado na Revista Adusp 42 de janeiro de 2008.
78
Grifo nosso.
116
referem-se à composição do capital das empresas, e não engloba as parcerias comerciais
(que são incontáveis).
Uma das conseqüências dessa concentração de empresas está nas implicações
éticas, como ressaltamos. A matéria de Biondi e Charão exemplifica isso através da própria
pesquisa que fizeram ao elaborá-la, e expõem: “A edição 2007 de ‘Valor Grandes Grupos’,
anuário do jornal Valor Econômico, lista os grupos Sílvio Santos (...), Abril (...), RBS (...) e
Estado (...). Outros dois gigantes, Organizações Globo e Grupo Folha exatamente os que
partilham a propriedade de Valor Econômico não são citados no anuário” (Biondi e
Charão, janeiro de 2008:7). Ou seja, isso mostra como esses conglomerados pautam a seu
favor as informações dos veículos que detêm, colocando os seus próprios interesses acima
da função informativa e da ética jornalística, criando barreiras e manipulando informações
segundo seus próprios interesses. Com essa simples análise, algo já se pode afirmar com os
dados até aqui expostos: a sinergia mundial da mídia já é um fato que também toma forma
no território brasileiro.
117
CAPÍTULO II – A NOVA FACE DA NOTÍCIA: O WEBJORNALISMO
You were right about one thing: I have
been watching; I couldn’t behave my
self, watching, waiting… Hold the vibe
breathes…” – Devil’s talking
79
Neste capítulo buscaremos analisar o novo advento do jornalismo que é a sua
“fusão” com a Internet, o webjornalismo. Procuramos entender o que a nova plataforma
digital está agregando à velha prática do jornalismo na criação e veiculação da notícia.
Vamos esmiuçar ao máximo a nova prática comunicacional jornalística através da Internet
e analisar quais foram as inovações que os meios digitais trouxeram ao bom e velho jornal.
Iremos também estudar os novos fenômenos e práticas do jornalismo que surgiram
com a nova mídia, dentre as quais temos o weblog, blog ou diário virtual, que deu origem a
uma nova esfera comunicacional, a blogosfera. Verificaremos que novas tecnologias vêm
se amoldando em torno do jornalismo e como os jornalistas, os editores e as empresas de
mídia estão fazendo uso desses novos recursos. Nesse contexto, iremos também analisar a
convergência do usuário dentro desse novo cenário. Como vimos no capítulo anterior, o
usuário é, dentro da grande rede, um coprodutor da informação, sendo assim, vamos tentar
analisar o papel desse novo ator e como ele também está se engendrando no mundo da
notícia e, indo além, como os tradicionais jornalistas e empresas de mídia enxergam esse
novo ator.
Para avançarmos nessas questões, iremos nos valer de estudos de experientes
jornalistas e também de diversos estudos acadêmicos que, assim como o nosso, vêm
tentando compreender a nova plataforma digital como amparo ao jornalismo.
79
Em The Devil’s Advocate (1997). “Você estava certo sobre um detalhe: eu estive observando. Eu não pude
me comportar; espionando, esperando... Conter a respiração...” (T.A.).
118
1. As Novidades do Jornalismo na Internet
It’s your time now. Our time” –
Devil’s talking
80
O professor doutor em Ciências de Comunicação J. B. Pinho (ECA/USP) publicou,
em 2003, o livro Jornalismo na Internet: planejamento e prática da informação on-line,
onde discute os novos e ampliados recursos tecnológicos advindos da grande rede que
facilitam inúmeras atividades da prática jornalística, e cita alguns deles (Pinho, 2003:9-10):
a comunicação rápida e ágil entre jornalista, fonte e leitor;
a busca de idéias que possam se transformar em notícia;
a ajuda ao repórter para encontrar fontes autorizadas e levantar o contexto dos fatos e
acontecimentos a serem cobertos;
o monitoramento da discussão de diversos assuntos em áreas específicas;
o acesso a arquivos em todo o mundo para a busca de documentos que auxiliem o
jornalista no levantamento de informações prévias sobre o assunto de uma matéria
pautada pelo editor; e
a consulta a grandes bases de dados e bibliotecas que são repositórios de vasta gama de
informações.
Vemos que a grande rede aparece como uma ferramenta capaz de agilizar o trabalho
do jornalista. Dentro dessa lista, podemos destacar duas capacidades que aproximam o
jornalista do seu público. A rede facilita o contato entre o jornalista e o leitor, e permite um
melhor monitoramento do que o leitor discute em diversas áreas, inclusive sobre a
repercussão de matérias e notícias veiculadas.
Pinho discorre sobre as diferenças entre a nova mídia em relação às demais dias,
o que se mostra importante para entendermos com mais profundidade o que ela agrega à
comunicação e ao jornalismo:
A Internet é uma ferramenta bastante distinta dos meios de comunicação tradicionais
televisão, rádio, cinema, jornal e revista. Cada um dos aspectos críticos que diferenciam a
rede mundial dessas mídias – não linearidade, fisiologia, instantaneidade, dirigibilidade,
qualificação, custos de produção e de veiculação, interatividade, pessoalidade,
acessibilidade e receptor ativo
81
deve ser mais bem conhecido e corretamente
80
Em The Devil’s Advocate (1997). “É a sua vez agora. Nossa vez” (T.A.).
81
Grifos nossos.
119
considerado para o uso adequado da Internet como instrumento de informação (Pinho,
2003:49).
O professor atribui uma série de características à nova mídia. Em seguida, passa a
discorrer sobre cada uma delas, analisando como elas se relacionam com a prática do
jornalismo.
Não lineariedade
Comparando com a maneira tradicional de leitura oferecida pelos antigos meios
impressos a de um jornal que se inicia pelas manchetes de primeira página e segue o
caminho de chamadas e submanchetes; a leitura de um memorando que se inicia a partir do
topo superior esquerdo de uma folha de papel –, e, comparando com os antigos meios
eletrônicos, o rádio e a TV – onde a informação segue uma seqüência pré-determinada, não
podendo ser alterada pelo ouvinte/telespectador , a Internet é completamente “randômica”
neste aspecto. Pinho apóia-se num estudo da Sun Microsystems (1997) para apontar que, na
web, não existe uma seqüência pré-determinada na busca de informações. Segundo Pinho,
“o hipertexto permite que o usuário se movimente mediante as estruturas de informação do
site sem uma seqüência pré-determinada, mas sim saltando entre os diversos tipos de dados
que necessita” (Pinho, 2003:50). O mesmo estudo da Sun, sob o foco da fisiologia do meio
digital, revela que o usuário mais devagar na tela do computador, e recomenda um texto
50% menor do que normalmente se publica num material impresso
82
. Mas, se na Internet os
textos jornalísticos são mais enxutos muitos poderiam dizer, mais superficiais a não-
lineariedade permite um aprofundamento maior nos assuntos através de uma navegação
livre; assim, “o internauta que navega em páginas de hipertexto vai acumulando
conhecimento, segundo o seu interesse e até se satisfazer” (Pinho, 2003:50).
O jornalista e pesquisador Mike Ward (University of Central Lancashire. Preston,
Lancashire, Inglaterra), no livro Jornalismo online, demonstra que a lineariedade torna-se
abstrata no novo meio, pois, na verdade “as aplicações online, como navegar na web,
envolvem consumo não-linear de produtos principalmente lineares” (Ward, 2007:128). A
82
Este estudo mostra que o olho humano pisca menos durante a leitura na tela de um micro. A posição fixa do
monitor também prejudica o ajuste da distância leitor/texto correta para a leitura. Esses fatores geram um
aumento da fadiga visual. (em Pinho, 2003:51).
120
não-lineariedade da web, dessa forma, estaria ligada à maneira que o net-surfista navega
pelo mar de informações da Internet, não pelas informações em si. Estas teriam a mesma
lineariedade dos produtos das demais mídias. É o acesso à informação que é não-linear.
Instantaneidade
Essa é uma das características mais marcantes dos mais abrangentes meios
eletrônicos, o rádio e a TV. É a capacidade de veicular informação instantaneamente, ao
vivo. Aliás, a mensagem da TV e do rádio existe no instante em que é veicula, depois
desaparece “no ar”. Se alguém, por exemplo, perdeu a hora de sua novela favorita e não
havia programado o seu videocassete ou DVD recorder para gravá-la, essa pessoa perdeu o
capítulo, e terá de se contentar com o resumo que sairá no jornal do dia seguinte (ou antes,
na web), ou com a boa memória de sua vizinha para se inteirar dos fatos decorridos naquele
episódio. Nesse ponto, a Internet se avantaja sobre os velhos meios, pois, além de poder
veicular informações instantaneamente, tem a capacidade de armazenar tudo aquilo que
veicula para consulta a posteriori. No entanto, na cobertura de fatos ao vivo, o rádio e a TV
ainda possuem uma agilidade maior que a Internet. A TV, principalmente, pois não existe
ainda uma capacidade de veiculação de imagem ao vivo pela Internet (o que na web se
conhece por live stream) com a mesma rapidez e qualidade da TV. Mas se a Internet não
rivaliza com a TV, ela pode transmitir som com a mesma qualidade do rádio: hoje
qualquer estação de rádio pode ser acessada e ouvida através da Internet no mundo inteiro.
Tal entendimento fica claro através da seguinte passagem de Bruno Rodrigues, autor do
livro Webwritting: pensando o texto para mídia digital
83
:
Traz perenidade à notícia. A noticia da TV, do rádio ou impresso são voláteis, se esvaem no
ar. Você viu e ouviu mas passou, ou então virou embrulho de pão. Na Internet ela
permanece, e se expande, novos aspectos são agregados e criam-se células de informação,
como minúsculas agências de notícias específicas sobre um determinado assunto. Eternas,
se necessário (em Pinho, 2003:52).
Se a instantaneidade da Internet ainda não é páreo para a TV e o rádio, ela
rivaliza com o jornal inclusive em termos de penetração. O jornal é, em comparação com
83
São Paulo: Berkeley Brasil, 2000.
121
a rede, “ainda mais lento” (Pinho, 2003:51). Segundo Pinho, a velocidade das informações
na web é algo que havia sido alcançada pelo telefone e o fax, pelos quais informações
são transmitidas “quase instantaneamente” (Pinho, 2003:51). Toda essa velocidade leva o
autor a dizer, “na mídia on-line, a instantaneidade da informação modificou até mesmo o
sentido de furo de reportagem” (Pinho, 2003:51). Hoje, muitos sites informativos até se
gabam por transmitir informação em “tempo real”, o que, afirma Pinho, não é uma
conquista da Internet, e sim do rádio e da TV. Fica claro, então, que a instantaneidade é
uma característica também da web, mas, nesse ambiente, a sua graça está no fato de ela,
além de veicular a notícia com praticamente a mesma rapidez do rádio e da TV, vir
acompanhada de uma série de informações e recursos adicionais que complementam essa
instantaneidade.
Relacionado à instantaneidade está o imediatismo, como aponta Mike Ward. Como
o rádio e a TV, a Internet vem dotada de uma multiplicidade de canais que podem ser
atualizados constantemente nunca é preciso interromper qualquer informação em prol de
outra. Ele diz: “Um único site de notícias pode divulgar inúmeras atualizações sobre
reportagens a cada poucos minutos” (Ward, 2007:22). Esse imediatismo, aliado do poder de
arquivamento da web, chama a atenção de Ward para o fato de um website conter “centenas
de páginas separadas, ligadas entre si, mas capazes de serem lidas e reconhecidas de forma
isolada. Isso amplia a quantidade e o alcance tanto da cobertura como do público potencial”
(Ward, 2007:22). Nesse sentido, um único website é capaz de atender a diferentes
demandas separadamente e simultaneamente (outra característica dualística do novo meio).
Dirigibilidade
Como nenhuma outra mídia, a Internet é capaz de atingir os públicos mais
específicos, mais segmentados. Essa vantagem da web, segundo Pinho, chega até mesmo a
se caracterizar como um caminho para se driblar os gatekeepers da velha mídia. O
professor expõe: “Os veículos de mídia impressa e de mídia eletrônica sofrem severas
restrições de espaço e de tempo. Além disso, um editor determina (...) o que vai ou não ser
publicado. Na Internet (...) a informação pode ser instantaneamente dirigida para a
audiência sem nenhum filtro” (Pinho, 2003:52). Essa característica, aliada da interatividade
122
(que discutiremos a seguir) e da capacidade de monitoramento dos hábitos do internauta
através da inteligência digital, vai permitir o aproveitamento maior das informações que
perpassam por qualquer empresa informativa. Não motivo fisiológico, em termos de
capacidade de armazenamento e disponibilização de dados, que leve à filtragem de notícias,
na Internet um espaço praticamente infinito para se publicar. O interessante é que,
também pela fisiologia
84
da rede digital, não há um custo adicional àquele inerente para se
manter a estrutura de um site ou portal informativo para se disponibilizar as informações
que não teriam apelo para um público maior, como os dos meios impressos e eletrônicos
tradicionais. É uma característica que permite ampliar o público total de uma empresa
informativa através de audiências menores.
Segundo a doutora em Ciências da Comunicação Pollyana Ferrari (ECA/USP), o
conceito de dirigibilidade relaciona-se com outro comentado anteriormente. Ela lembra
que “nos Estados Unidos, convencionou-se chamar o novo jornalismo decorrente da mídia
digital de narrowcasting o específico, o personalizado, enfim, a informação dirigida ao
indivíduo” (Ferrari, 2003:53).
A capacidade de dirigibilidade da Internet é, dentro deste entendimento, um vetor
que vai acelerar de forma imensurável a segmentação da mídia. É o vetor que conduz
àquela tendência de crise para os jornais impressos, que já os afetava desde antes da
chegada da Internet, como vimos no estudo de Philip Meyer. Como mídia, a Internet é
segmentada por natureza.
Qualificação
Embora os dados atuais relativos à inclusão digital no Brasil não sejam ainda o ideal
se comparados aos países do primeiro mundo, eles apontam para um incremento das classes
mais baixas no acesso à Internet. Segundo o professor de Ciências Políticas e diretor
executivo do Ibope Inteligência Marcelo Oliveira Coutinho Lima (USP), as classes C e D
são as que mais têm contribuído para o aumento de usuários no Brasil. Hoje, 20% da
população de nosso país tem acesso à Internet, seja em casa, no trabalho ou numa lan
84
Afinal, o custo de distribuição da informação pela web é zero. É o usuário quem vai até o servidor e
requisita o download de uma informação lá armazenada para o seu computador através de um link.
123
house
85
. O percentual é pequeno em relação aos países do primeiro mundo e a outros
meios, o rádio e a TV principalmente. De qualquer forma, a postura diante do meio é
diferente na Internet, o internauta é ativo na busca e disseminação de informações. E, nesse
sentido, J. B. Pinho aponta que “a Internet apresenta um público jovem e qualificado, com
alto vel de escolaridade, elevado poder aquisitivo e um perfil profissional em que
predominam as posições de empresários, executivos e autônomos. Por essas características,
a Internet deve merecer a atenção também como importante formadora de opinião” (Pinho,
2003:53).
As questões sobre a esfera pública na Internet vistas no capítulo anterior, mostram
que realmente a Internet tem características que favorecem o diálogo formador de opinião
pública. A qualificação do usuário na Internet e sua postura mais ativa e participativa é
outra característica que se soma a tudo discutido anteriormente. Também é algo que está
intrínseco aos exemplos da “esfera pública conectada” que veremos mais adiante neste
capítulo.
Um exemplo, porém, de como a Internet pode ser um importante vetor na formação
da opinião pública, e um espaço onde o usuário ativo pode encontrar informações de
relevância que o auxiliem a, por exemplo, escolher o candidato à presidência de seu país,
está na vitória de Barak Obama nas primárias norte-americanas de 2008. Enquanto alguns
eufóricos dizem que isto foi possível através do uso que o candidato fez da Internet
como canal de diálogo com seus eleitores, os mais ponderados a vêem como uma
importante ferramenta utilizada pelo presidenciável, mas não a única e decisiva nesta
vitória parcial. De qualquer forma, percebe-se que, sendo decisiva ou não, a Internet foi um
caminho por onde a discussão formadora de opinião esteve presente. Ainda mais, quando
pensamos que as primárias estadunidenses contam com a participação de um público mais
qualificado nessa fase do processo eleitoral. Enquanto muitos estudiosos vêm tentando
compreender a ascensão do príncipe eletrônico aquela figura cujo poder político advém,
numa definição simplória, do uso que faz da mídia –, seria Obama uma metamorfose desse
príncipe sob o aparato digital, uma espécie de “príncipe binário”? um amplo estudo de
85
Uma matéria de Marcelo Gripa veiculada pela Adnews em 05/03/2008, traz dados do Interactive
Advertising Bureau que revelam a composição de classes no acesso à Internet: Classes A e B (50%), C (37%
e D e E (13%). Embora as classes baixas tenham crescido em números no acesso à grande rede, vemos que
ela ainda é elitizada, pois a metade dela é composta por indivíduos das classes mais altas.
124
toda a sua campanha poderia dizer como e quanto a Internet foi, ou não, decisiva para o
engajar de sua campanha.
Custos de produção e de veiculação
Os custos de veiculação na Internet são menores, pois podem partir de baixos
investimentos. Hoje, com um laptop no colo, uma conexão telefônica à disposição e alguns
aparatos tecnológicos à mão um celular, uma câmera digital, uma webcam etc. –, e, mais,
com o amparo do fluxo informativo e colaborativo da própria web, é possível se montar um
site que gere conteúdo de relevância dentro da audiência ciberespacial. Um grande exemplo
aqui por perto é o Blog do Noblat
86
que, como conta o professor Marcelo Oliveira Coutinho
Lima, “iniciou-se com o próprio Noblat e, atualmente, com apenas cinco ou seis jornalistas
munidos de notebooks –, tem mais audiência que sites de grandes jornais brasileiros na
Internet”. Referindo-se ao mesmo blog, o professor e jornalista criador do JB Online, um
dos primeiros jornais brasileiros na Internet, Rosental Calmon Alves esclarece que este “já
conta com mais de setecentos mil usuários únicos por mês. Trata-se de um número
impressionante num país onde a circulação diária dos maiores jornais chega perto deste
número nos domingos” (Alves, 2006:100). Isso exemplifica o quanto mais acessível a
Internet é para qualquer um que queira veicular informações.
J. B. Pinho enfatiza que “depois dos investimentos iniciais em hardware e software,
o uso da rede tem um custo pequeno” (Pinho, 2003:53). É claro que uma empresa de grande
porte que queira entrar na web com uma larga capacidade de provimento de informações
terá um investimento que, embora seja menor se comparado às demais mídias, é também
alto. A grande vantagem é que, uma vez implantada a infraestrutura, seja ela um laptop,
seja ela uma centena de provedores e roteadores de Internet, ela capacita de forma
inesgotável a veiculação e o armazenamento de informações, e em qualquer formato.
86
http://www.blogdonoblat.com.br, 15/07/2008. Ricardo Noblat ficou famoso na época do escândalo político
nacional noticiado pela imprensa sob o título de “Mensalão” por furar o muro do jornalismo impresso com
seu site através de uma cobertura em tempo-real de fatos que aconteciam no palco do poder legislativo
nacional na cidade de Brasília.
125
Interatividade
Essa é uma das palavras-chave do novo meio. É a característica do meio digital que
o coloca muito à frente dos mais tradicionais meios. Mesmo a TV digital, que agora
começa a se desenvolver mundo afora, chega com uma capacidade interativa que é
ínfima se comparada à Internet. A diferença básica da interatividade nesse caso nem é o
fato de a Internet ter uma capacidade tecnológica de software muito maior que a TV Digital
e os demais meios eletrônicos. A diferença está em como o diálogo se forma nesses
diferentes meios. Segundo J. B. Pinho, “na Internet a organização não está falando para
uma pessoa, mas sim conversando com ela” (Pinho, 2003:54).
Em outras palavras, a frase de Pinho mostra como o diálogo na Internet se relaciona
como o novo paradigma comunicacional proveniente da Internet. É uma característica que,
na pior das hipóteses, modificou completamente as possibilidades que as pessoas têm para
se relacionar midiáticamente, além de ampliar as capacidades interativas – ínfimas se
comparadas às possibilidades do mundo digital – que já existiam nos demais meios.
Outra diferença é que a interatividade do novo meio proporciona uma maior
pessoalidade nessa relação do indivíduo com a mídia. Segundo Pinho, “o que faz a Internet
interativa, também faz a comunicação ser muito pessoal” (Pinho, 2003:54). Sendo mais
pessoal, a comunicação se aproxima mais do indivíduo, seus interesses, seus hábitos e,
assim, pode proporcionar informações e recursos mais satisfatórios para o internauta uma
porta aberta à dirigibilidade e a segmentação da informação, como analisamos. Mas não
podemos nos esquecer que a Internet é um canal de comunicação que conecta não o
indivíduo com as instituições, ela também conecta os indivíduos entre si, e assim estende
todas essas portas abertas para a produção resultante das relações entre os próprios
indivíduos – a peer production.
A fisiologia do meio digital também é mais favorável à pessoalidade, no
ciberespaço a relação do indivíduo com a mídia é mais íntima. Sob o foco de quem fornece
a informação, um estudo de Sherwin & Avila
87
explica que:
87
Connecting online: creating a succesfull image on the internet. Oregon (USA): Oasis, 1999.
126
Em primeiro lugar, você está (...) fisicamente mais próxima do computador do que da tela
de TV e, provavelmente, ainda estará sozinha. Em segundo lugar, aquela pessoa procura
uma informação que você oferece. Em terceiro lugar, ele ou ela podem escrever diretamente
para uma pessoa em sua empresa e receber uma resposta pessoal (...). Agora tente fazer isso
com a televisão (em Pinho, 2003:54).
A interatividade do meio proporciona um canal comunicativo aberto a todos nele
inseridos, onde a comunicação também é feita de muitos-para-muitos, é a chave que abre
para diversas outras características que ampliam a capacidade comunicacional de todos e,
ao mesmo largo que ela se abre para a coletividade, ela se estreita para a intimidade do
indivíduo – a pessoalidade do meio.
Outra característica que pode quase ser confundida com a pessoalidade da Internet é
a personalização. De acordo com Pollyana Ferrari, “a personalização de conteúdos Web
tornou-se um dos elementos mais importantes para garantir a sobrevivência de uma
empresa na Internet” e, ainda, “o usuário (...) migrará para sites que oferecem produtos e
serviços customizados às suas necessidades” (Ferrari, 2003:35). Abrindo o espaço para o
diálogo e interação do usuário, ou seja, um canal aberto para as características pessoais de
cada um, o que Ferrari elucida baseia-se em três palavras, os três “is” interest,
interaction and involvement
88
(Ferrari, 2003:35). São três palavras-chave que se
relacionam diretamente com todas as características da Internet que discutimos aqui.
Mike Ward analisa a interatividade diferenciando o foco unilateral das demais
mídias do foco bilateral da Internet, onde “esse modelo não apenas permite ao jornalista
enviar algo, mas também permite que algo retorne do usuário” (Ward, 2007:149). Ward
ainda identifica dois níveis de interatividade do usuário dentro desse modelo. Num primeiro
nível, “são as escolhas que os usuários fazem a respeito de o que querem ver e ouvir, com
base no modelo de consumo não-linear”, ou seja, os usuários têm mais controle sobre os
conteúdos que querem consumir, cabe ao fornecedor de informações identificar o que o
internauta procura para, desta forma, tentar melhor atender às suas demandas. No segundo
nível, os usuários começam a contribuir e consumir (...) o usuário torna-se fornecedor
além de consumidor” (Ward, 2007:149). Neste nível, “feedback é a palavra-chave na
relação com o internauta, diz Ward. Hoje, através dos e-mails e celulares, muitas notícias
são simplesmente enviadas para os jornalistas, os sites informativos precisam filtrá-las e
88
Interesse, interação e envolvimento.
127
checá-las (Ward, 2007:150 citando Bob Eggington). Num certo grau, podemos afirmar que
a produção do internauta, ou sua coprodução como mencionamos ao longo deste trabalho,
ganha mais relevância que as informações levantadas pelos jornalistas. Em certos fatos,
algumas “coberturas”, o cidadão conectado pode compor o melhor contingente de
repórteres espalhado pelo mundo. Já é algo que está se tornando usual na cobertura de
grandes acidentes e catástrofes, como no 11 de Setembro, no atentado em Madri ou na
tragédia do vôo 3054 em São Paulo.
Ward vai além, mostra que na Internet ainda existe o modelo tri-lateral de
conversação/interatividade, quando “os usuários colaboram com outros usuários e com o
jornalista” (Ward, 2007:150). Em outras palavras, quando o jornalista produz em
colaboração com seus pares na web, ele abandona a sua condição de autor individual e
passa para a produção colaborativa, a peer production. De certo modo, é quando o
jornalista deixa um pouco de lado a sua condição de jornalista e vira um internauta,
deixando-se levar e contaminar pela onda cibernética. É o que muitos jornalistas ainda hoje
teimam em não perceber, ignorando que, na web, ele também é um internauta, um surfista
digital, para Ward, “é o modelo que deixa alguns jornalistas nervosos” (Ward, 2007:150).
Esse terceiro grau de interatividade pode ser expresso quando um jornalista participa do
Orkut, por exemplo, onde, numa condição de igualdade com os demais participantes da
comunidade, utiliza sua malha de relacionamentos para pesquisar e debater assuntos
diversos, levantar informações, etc.. Através de uma citação de Slashdot, Ward expõe que,
no meio digital, “isso se parece com uma assustadora perda de controle. Porém, você nunca
realmente teve esse controle. Você apenas acreditava tê-lo” (em Ward, 2007:152). A
interatividade dentro do fluxo de informações da grande rede, capaz de abraçar todos,
expõe a força do todo em relação às formas mais centralizadas de criação e veiculação da
informação.
128
Receptor ativo
comentamos, nos itens anteriores, que a postura do indivíduo é diferente diante
do novo meio digital, ela é ativa. Além disso, o meio é mais dialogal, pessoal e interativo,
abrindo espaço para as ações dos indivíduos, dando-lhes ouvidos. Voltando a refletir sobre
essa característica do novo meio, J. B. Pinho lembra que:
(...) com milhares de sites da Web disponíveis na rede mundial, a audiência tem de buscar a
informação de maneira mais ativa. Daí se dizer que a Web é uma mídia pull, que deve
puxar o interesse e a atenção do internauta, enquanto a TV e o rádio são mídias push, nas
quais a mensagem é empurrada diretamente para o telespectador ou ouvinte, sem que ele
tenha solicitado (Pinho, 2003:55).
Quando o indivíduo aparece também como um produtor de informação, um receptor
ativo que dialoga com outros indivíduos e instituições através da rede, sendo que dentre
essas instituições estão as empresas de dia, os jornais, os portais, etc.. Também, quando
o indivíduo é quem deve ir ao encontro da informação, e não o oposto. Então, esse
indivíduo não pode ser visto como um novo concorrente, e sim como um aliado. Em
relação ao jornalismo praticado na web, Pinho chama atenção para todas essas
características sobre as quais refletimos acima, como novas ferramentas em que se pode
tirar proveito para uma prática jornalística online de qualidade: “o jornalismo digital deve
considerar e explorar a seu favor cada uma das características que diferenciam a rede
mundial desses veículos [televisão, rádio, cinema, jornal e revista]” (Pinho, 2003:58). E,
dentre todas estas características, enfatiza que “o jornalismo digital diferencia-se do
jornalismo praticado nos meios de comunicação tradicionais pela forma de tratamento dos
dados e pelas relações que são articuladas com os usuários” (Pinho, 2003:58). Mais uma
vez, vemos que, mais do que nunca, a coprodução do usuário é fundamental dentro do novo
ambiente. Não basta mais, a qualquer instituição, apenas a sua inserção jornalística na nova
mídia, ela deve e tem que considerar o agir jornalístico dos indivíduos a ela conectados.
De todas as características que mencionamos acima, muitas eram características
de outras mídias, outras são próprias do novo meio e, ainda, algumas ganham maior
relevância a partir da junção de todas essas características num único meio. Pinho aponta
129
um estudo de Manta (1997), que demonstra a vantagem que o jornalismo tem dentro do
novo meio:
pouco tempo, a dissociação entre massivo e interativo era clara no âmbito da
comunicação. Uma coisa ou outra. O telefone é interativo, mas não massivo, na medida que
é apenas uma extensão tecnológica do diálogo entre dois interlocutores; a televisão, o rádio
e as mídias impressas são massivas, porém não interativas. O jornalismo na Internet é, no
entanto, massivo e interativo (em Pinho, 2003:141).
Uma consideração de ser feita: embora a Internet possa hoje ser apontada como
um veículo de comunicação de massa, ela ainda está longe do patamar alcançado pela TV e
até mesmo pelo rádio ao analisarmos esses meios sob o foco da simultaneidade. Não
existe nenhum canal ou site na web capaz de chamar a atenção para um público de um país
inteiro simultaneamente, como é possível através da TV e do rádio como, por exemplo,
em um informe oficial do governo (Ward, 2007:139). E não precisamos pensar em
extremos, não é preciso recorrer a números para ter a certeza de que o Jornal Nacional tem
um alcance simultâneo muito mais amplo que qualquer site noticioso que faça cobertura em
“tempo real”. Talvez a simultaneidade seja uma das características dos meios eletrônicos
mais carecidas pela Internet, e não sabemos se um dia ela a terá dentro dessas dimensões.
Entretanto, se a audiência na web não consegue tal magnitude simultânea, ela pode
ultrapassar as fronteiras de um país, pois qualquer site pode ser acessado em qualquer parte
do globo terrestre. A acessibilidade da web é inigualável, como expõe Pinho: “Um site
Web (...) está disponível ao acesso dos usuários 24 horas por dia, sete dias por semana e
365 dias ao ano” (Pinho, 2003:54). A Internet é incomparavelmente superior às demais
mídias também em relação ao seu alcance global, como aponta Mike Ward: “O alcance
global é o mais automático de todos os poderes distintos da mídia online (Ward,
2007:139), mas não simultaneamente. Os sites na web funcionam como um banco, têm
dinheiro para todos, mas se todos resolverem sacar todo seu dinheiro ao mesmo tempo, o
banco vai à falência.
Sobre a eloqüente frase da citação acima, que expõe a conectividade do telefone na
contramão de sua massividade, basta refletirmos que, uma vez conectada à interatividade
do telefone a inteligência binária dos computadores que, dentre uma vasta amplitude de
possibilidades, permite a interação não apenas entre dois indivíduos, mas sim de inúmeros
130
indivíduos, este tipo de rede de conversação comutativa se torna de fato uma mídia de
massa. A junção desses dois itens telefone e computador também confere à Internet a
sua característica comunicacional que é síncrona e assíncrona ao mesmo tempo. O
telefone e o computador separados são apenas devices, gadgets, juntos, se tornam uma
mídia.
O conceito de mídia de massa ganha um outro viés na Internet. Nos tradicionais
meios eletrônicos e impressos, tal conceito refere-se a um meio capaz de propagar suas
mensagens a enormes contingentes humanos, as ditas massas. Com o crescimento da
grande rede, hoje uma grande massa humana tem acesso às informações dispostas na
Internet, mas de um modo diferente: as massas se compõem de inúmeros pequenos
contingentes ou mesmo indivíduos que acessam uma massa diversificada de informações
na rede, e não simultaneamente, como comentamos. A rede também se torna massiva,
não em relação ao seu alcance por diversas populações, mas pela quantidade massiva de
conteúdo que disponibiliza (Ward, 2007:137). A diferença da Internet para os demais meios
de massa, nesta análise, estaria na massa de indivíduos se dispersar pela massa de
conteúdos disponíveis, e não gravitando em torno de poucas mensagens.
Usabilidade
Este tópico, embora não apareça na lista que mencionamos através de J. B. Pinho,
apresenta importantes considerações em relação aos novos meios digitais. Segundo Pinho,
“a usabilidade diz respeito a técnicas e processos que ajudam os seres humanos a realizar
tarefas em um computador no ambiente gráfico da Web” (Pinho, 2003:141). Pollyana
Ferrari entende essas técnicas como algo focado na interatividade. Neste sentido, a
usabilidade “é um conjunto de características de um produto que definem seu grau de
interação com o usuário” (Ferrari, 2003:60). Pinho traça uma série de considerações sobre a
construção da mensagem na Internet e quais são os aspectos-chave que devem ser levados
em conta para se obter o melhor resultado através da positiva exploração das características
do novo meio discutidas aqui. O professor expõe: “Os valores e aspectos funcionais da
usabilidade são (...) a navegação, a interatividade, a estruturação das páginas, o uso correto
da tecnologia e o estudo da audiência” (Pinho, 2003:142).
131
É claro que a usabilidade do meio digital é muito diferente da dos outros meios.
Diferentemente de apertar botões e selecionar canais e/ou freqüências, ou o simples abrir e
trocar de páginas de um maço de papéis, onde a informação tem uma seqüencialidade
praticamente padronizada, na Internet é o usuário quem tem de ir ao encontro das
informações, o que, como destacamos, o coloca numa postura pró-ativa diante deste
meio. Além disso, a Internet exige uma qualificação maior dos seus usuários; afinal, este
precisa, no mínimo, saber ler e possuir algum grau de ambiência tecnológica para usufruir o
novo meio. Sendo assim, trata-se de um leitor diferenciado em relação às audiências dos
meios tradicionais. Como na web temos mais informação à disposição, é mais fácil para o
internauta encontrar opções de sites que possam satisfazer suas necessidades, o que torna
suas demandas algo de muito maior importância na hora de se pensar o que veicular, como
veicular e, é claro, para quem veicular. Facilitar o acesso à informação é outra demanda que
figura aqui e, pode-se dizer, explica o sucesso de algumas empresas (como a Google), que
se utilizam deste conceito.
Dentro dessa e das demais perspectivas, vemos que o fator de maior relevância para
a usabilidade é o papel do usuário. Fatores como a navegação, a estrutura das informações e
a escolha da tecnologia ideal, devem se dar em função da necessidade do internauta, do uso
que este faz da tecnologia/informação, observando-se como, quando e onde ele interage. É
o que enfatiza Pinho em algumas de suas conclusões sobre a usabilidade: “Os responsáveis
pelo site devem explorar ao máximo as possibilidades que a Internet oferece, em tempo
real, para o levantamento e análise e o controle de dados relacionados com o acesso do
leitor e o seu comportamento enquanto navega pelas páginas” (Pinho, 2003:152). É também
a usabilidade um demonstrativo de que a Internet é a mídia do navegador.
Ferrari vai mais fundo na questão da usabilidade. Segundo a estudiosa, o bom uso
desta seria uma relação de cumplicidade entre a empresa e o cliente”, no qual “o
consumidor se sente capaz de interferir na qualidade do produto(Ferrari, 2003:61). Para
enfatizar esse pensamento, Ferrari aponta os estudos conduzidos por empresas de software,
que disponibilizam seus produtos para teste dos usuários antes de serem lançados em suas
versões finais e depois continuam nesse processo constante de aprimoramento junto ao
usuário final do produto. Enquanto Pinho diz que é importante observar-se o usuário,
Ferrari é mais contundente, afirma ser este o único caminho para a efetiva criação de uma
132
interface com boa usabilidade: “Atingir um alto nível de usabilidade requer que os
designers concentrem esforços no usuário final” (Ferrari, 2003:62). O mais importante é a
clarividência da relação da usabilidade com a própria confiabilidade da relação entre uma
empresa e seu cliente, inclusive como um meio de fidelizá-lo, numa relação cuja palavra-
chave é, mais uma vez, feedback”. Uma pergunta cabe aqui: seria o feedback mais
importante do que a mensagem original do emissor? Na Internet, a relação estaria mais
presentemente ao lado do internauta do que em qualquer outra instância, site, empresa,
provedor, etc.? São questões essas que tentaremos analisar com mais profundidade adiante
neste capítulo. Mas fica claro que, mais do que nunca, o receptor está próximo do emissor e
vice-versa.
Além desses aspectos, Ferrari traz à tona os conhecimentos que adquiriu
trabalhando em diversos projetos de websites informativos durante sua carreira. Ela chama
a atenção para uma questão comum para quem veicula informação e conteúdo pela web, e a
sua relação com a usabilidade: cobrar ou não pelos serviços? Conteúdo pago ou gratuito?
No caso dos portais de conteúdo pago (...) primeiro os usuários pagam e só depois começam
a testá-lo, sem ter para quem reclamar ou sugerir mudanças. Se tentarem algo nesse sentido,
serão no máximo atendidos pelo técnico do setor de atendimento ao cliente, capaz de
resolver falhas do serviço, mas não interferir no design do portal ou em questões de
usabilidade. No caso dos conteúdos gratuitos, o usuário primeiro tem uma experiência
particular de usabilidade. Depois, com a confiança do internauta conquistada, o site pode
faturar com outros serviços, como os de e-commerce (Ferrari, 2003:61).
Ferrari ainda se apóia num estudo de Jakob Nielsen
89
para enfatizar o erro que
muitas empresas cometem ao analisar a vontade do usuário baseando-se apenas nos dados
de pageviews de suas páginas. Essa técnica nada mais seria que a replicação das técnicas de
medição de audiência dos meios antigos, especialmente os eletrônicos, utilizada para
valorização de venda publicitária. Nielsen diz que:
Se um site for bem construído e fácil de ser usado, então os usuários vão clicar menos para
achar o que procuram (...). Essa regra, muitas vezes, é propositalmente ignorada nos portais,
já que a page view (...) é referência para a medição de audiência e, por conseqüência, moeda
de troca na venda de espaços publicitários (em Ferrari, 2003:64).
89
Designing web usability. Los Angeles: New Riders, 1999.
133
Nestas duas passagens, vemos que a usabilidade da Internet tem forte peso na
relação entre emissor e receptor, e de um modo diferente, o peso do indivíduo é maior do
que nas outras mídias. Os meios tradicionais que existem para medir essa relação e
compreendê-la melhor não são os únicos e nem são suficientes para qualquer tipo de
conclusão. Entretanto, evidencia-se aquilo que discutimos desde o início do presente
estudo, a coprodução do usuário dentro do ambiente digital informativo, o seu valor e o seu
peso nas relações oriundas do ciberespaço.
Inovação
Esta é outra palavra-chave ligada ao novo meio, a Internet. Manuel Castells e Beth
Saad, por exemplo, conferem o status de vantagem econômica para aquele que inova dentro
do mundo digital, tanto para as empresas de tecnologia quanto para as de infraestrutura e,
inclusive, as de mídia ou, segundo análise de Venício Lima, às Comunicações de um
modo geral. E quanto ao jornalismo, o que foi inovado a partir do advento da Internet?
J. B. Pinho, Pollyana Ferrari e Mike Ward, ao longo de seus estudos, discorrem
sobre rias e novas ferramentas que a Internet e as linguagens binárias oferecem à pratica
jornalística. Todos os devices, programas, códigos, elementos multimídia e a própria
Internet uma nova rede comunicacional –, são elementos que representam inovações que
podem ser utilizadas, tanto sozinhas como em seu conjunto, para se inovar a arte do
jornalismo. E, pensando que essas ferramentas, essas novas facilidades que conectam o
indivíduo à mídia digital, estão disponíveis a quaisquer pessoas que porventura queiram se
adentrar nessa prática, concluímos que, hoje, o jornalismo ultrapassa as fronteiras do
próprio jornalismo. Assim, vemos que um novo e amplo suporte, quase que mágico, se
oferece como uma plataforma para a inovação na prática do jornalismo, tanto para
jornalistas como para qualquer um.
Mas não podemos esquecer que as inovações tecnológicas advindas do chip
começaram ainda na era pré-Internet, e desde então passam a inovar a pratica do
jornalismo, como expõe a mestre em Comunicação Midiática Fernanda Maria Cicillini
(UNESP) num estudo que faz sobre informatização na imprensa paulista: “Nesse contexto,
os novos desafiantes da ‘mídia antiga’, incluem, (...) discos laser, (...) os aparelhos de fac-
134
símile de última geração, banco de dados portáteis, livros eletrônicos, redes de videotexto,
telefones inteligentes, satélites de transmissão direta” (Cicillini, 2007:8). Se continuarmos
nessa regressão, vemos que uma série de invenções humanas foram, ao longo da história do
jornalismo, sendo apropriadas e usadas para aprimorar essa técnica comunicacional, desde
a prensa gráfica de Gutenberg, passando pelo cabo oceânico sub-marino, o telégrafo, a
radiotransmissão, o satélite, finalmente chegando até o computador e sua linguagem
binária.
Voltando à contemporaneidade, além da própria rede computacional, inovaram a
prática do jornalismo uma série de softwares, protocolos e siglas diversas, muitas até nem
estão em uso mais, outras vão surgindo incessantemente. São: e-mail, usenet (newsgroup),
chat, telnet, bbs, ftp, web, html, dhtml, recursos que praticamente nasceram com a Internet
que, não podemos nos esquecer, além desse ferramental todo mencionado acima, também
trouxe consigo a linguagem de hiperlinks, a hipermídia o link poderia figurar nessa lista
também, assim como outros dispositivos de armazenamento de informação em hipermídia
que ganharam espaço junto com a ascensão da web, o CD-Rom e o DVD-Rom entre outros.
E foram surgindo outras inovações que vão ganhando a atualidade: o weblog ou blog, rss,
feed, atom, podcast/videocast, tag, twitter, xml, web 2.0.
Outras siglas, ou extensões, apontam para as inovações que permitem a troca e
veiculação de conteúdo multimídia através da web, que permitem ouvir rádio, som, música,
assistir vídeos, imagens ao vivo, fotografias, e compartilhar de todo o mar de conteúdos da
Internet; são os formatos mais comuns de arquivos diversos: gif, jpg, midi, mpeg, mp3,
mp4, avi, divx, pdf, rtf, ascii, stream, zip, swf etc.. Poderíamos citar, inclusive, uma série
de softwares, protocolos, linguagens de programação, tecnologias de armazenamento e
pesquisa de dados, plug-ins, mecanismos de busca e browsers, que surgiram através das
redes computacionais, como grandes inovações que vêm impulsionando todo esse mundo
cibernético e o próprio jornalismo.
Existem também as inovações que refletem o conceito de peer production, como
exemplificamos através do surgimento da Napster, as rede BitTorrent, a blogosfera, os
mundos virtuais como o SecondLife, os MMORPG e a Wikipedia, assim como o
OpenSource e o software livre. A peer production em si implica uma inovação
conceitual de produção intelectual: o Commons. Assim como a cibercultura e a inteligência
135
coletiva que também podem ser apontadas, por um certo prisma, como inovações advindas
dos meios digitais interconectados. Podemos citar ainda aquelas inovações que muitos
apontam como ruins, como efeitos colaterais da evolução tecnológica, e outros as utilizam
mesmo assim: spam, worm, trojan-horse, pop-up, a comunicação viral.
Enfim, os gadgets que tanto citamos ao longo deste trabalho, não seriam inovações
tecnológicas que também modificam o cenário comunicacional como um todo? Sim: o
notebook ou laptop, câmera digital, scanner, telefone celular, webcam, mini-DV, handheld
ou palmtop, ipod, smartphone, usb, memory-key e muitos outros pequenos aparelhos
baseados em chips que vêm revolucionando o dia-a-dia comunicacional das pessoas. Tudo
isso seria inútil se não tivessem surgido uma série de inovações na própria infraestrutura
comunicacional: a broadband (banda-larga), isdn, webtv, lan, wan, wap, fibra-óptica, 3g.
Existem os aparatos que também estão por vir, e que muito se especula como
revolucionarão, ou, ao menos, inovarão no acesso à informação: o papel e a tinta digital, o
documento eletrônico, a mesa digital e também uma série de devices e sistemas citados por
inúmeros futurólogos, cujos contornos se é possível vislumbrar: a superestrada da
informação, os agentes inteligentes, os robôs domésticos, a realidade virtual. Todos esses
nomes, aplicações, siglas, etc., são apenas algumas dentre o mar de novidades, de pequenas
inovações que vão modificando as formas de veiculação da informação, a interação e o
relacionamento das pessoas na sociedade dentro e fora da mídia. Precisaríamos de um
extenso glossário para citar uma série de outras siglas que ficaram de fora dessa lista, mas
não precisamos nos preocupar tanto com essas letras/conceitos/inovações/etc., pois, como
enfatizamos, não importa a tecnologia em si, e sim o uso que as pessoas fazem dela.
Dessa forma, ainda mencionaremos muitas dessas siglas ao longo deste estudo, algumas
foram exaustivamente citadas e ainda o serão, mas sempre se levando em conta a
convergência dos indivíduos/instituições sobre essas inovações.
Sem dúvida o melhor e mais atual exemplo de inovação aliada ao sucesso
empresarial está na Google e seu famoso algoritmo uma fórmula matemático-binária tão
misteriosa e valiosa quanto a da Coca-Cola. O algoritmo da Google nada mais é do que um
mecanismo de busca e relacionamento de dados. A grande inovação está em como ele faz
isso, quais as regras e operações ele realiza para relacionar esses dados, o que ninguém sabe
ao certo. O que se sabe é que, de uma série de regras utilizadas para listar dados na web,
136
leia-se, páginas web, a Google introduziu o critério de classificação de links
90
, além de uma
série de outros, dentro de seu mecanismo. O que a Google fez, de certo modo, foi adicionar
novos critérios e filtros (subalgoritmos, muitos configuráveis pelo usuário) à busca de
páginas web, possibilitando resultados mais inteligentes em comparação ao que se tinha
disponível na Internet até seu surgimento. Muitos entendem o algoritmo da Google como
uma fórmula matemática baseada no conceito de recomendações personalizadas e
automáticas dos usuários, desenvolvido pelo site de vendas online Amazon, e aplicado ao
link. Assim, de certa forma, o algoritmo da Google funciona como um sistema que aponta
para os sites mais indicados pelo internauta
91
. Essa “pequena” inovação conferiu à empresa
uma vantagem competitiva no mercado ciberespacial que a transformou, em poucos anos,
num dos maiores global players da atualidade, aliás, a única empresa pure play que figura
entre os maiores players do mundo. Voltando às siglas e nomes, dentro dessas incessantes
inovações ligadas à busca na web, temos: diretórios, meta, Boole, spiders, clustering,
metabusca e adsense.
Beth Saad aponta em seu livro qual é a grande inovação ao jornalismo sob o amparo
da Internet e das tecnologias binárias. Apoiando-se num estudo de Clark Gilbert
92
, as
inovações para os jornais que se aventuraram na Internet, foram (Saad, 2003:129):
Um ganho na velocidade de transmissão da informação: “o site poderia ‘furar’ a
versão impressa, quando oportuno”;
As coberturas dos jornais impressos foram complementadas pelas informações
online.
Não parece muito, mas houve inovações. O mesmo estudo demonstra pouco avanço
no uso da interatividade e a falta de criatividade dos jornais em utilizar o novo canal. Por
exemplo, não se verificou o aparecimento de novas fórmulas para a geração de receitas com
exceção da venda de espaço publicitário nas páginas web dos jornais nesse aspecto, a
grande inovação volta a ser, ainda, o algoritmo da Google aplicado à publicidade, de uma
90
Mike Ward explica essa característica do mecanismo do Google da seguinte forma: “O Google classifica os
resultados de pesquisa calculando quantas vezes as páginas apresentam links que levam a outros sites de
grande visitação, em vez de apenas apresentar quantas vezes aparece a palavra ou expressão-chave nas
páginas em questão” (Ward, 2007:78).
91
Na atualidade, além desse conceito, a Google também trabalha com a venda de espaço publicitário ou
“links patrocinados”, que aparecem em destaque nos resultados das buscas em suas páginas.
92
“The Internet and Newspapers: a Dilema in Response” in The Edge Unplugged, Vol. 4. Cambridge, 2001,
p.1-6.
137
empresa que não é da mídia. Rosental Calmon Alves, em artigo que analisa a última década
do jornalismo (até 2006), também aponta para o desperdício cometido pelas empresas
tradicionais de mídia no aproveitamento da Internet. Ele expõe:
Mas é justamente isto que tem havido de sobra no jornalismo digital desta primeira década:
preguiça das empresas de apostar na Internet como um novo meio capaz de garantir sua
sobrevivência numa era que se impõe de forma avassaladora. No fundo, o jornalismo digital
tem sido muito tímido no que se refere à criatividade e à inovação. O medo de canibalizar o
meio tradicional e a preocupação em obter lucros imediatos limitaram bastante o ímpeto
inovador, mesmo quando os problemas iniciais de acesso (velocidade das conexões, por
exemplo) foram sendo eliminados (Alves, 2006:94).
Em contrapartida, o estudo de Gilbert demonstra que as empresas que estruturaram
as suas operações web separadamente da operação do jornal tiveram mais inovações e um
melhor desempenho, conseguindo aumentar os seus públicos (em Saad, 2003:129). Não
seria este o caso do melhor desempenho do Grupo Folha, que estruturou suas operações
web através do UOL, em relação ao Grupo Estado? Mas, para Saad, a grande inovação no
jornalismo, com o advento da web e sua capacidade de armazenar, relacionar e
disponibilizar dados, foi o enriquecimento imensurável de informações e serviços,
principalmente os ligados às atividades financeiras, que as empresas de mídia passaram a
dispor na web. Ou seja, a grande inovação foi a adição da inteligência computacional à
simples veiculação de informações sob a plataforma de rede da web.
Pollyana Ferrari atenta para as formas de interação e provimento de informações
pela web como uma grande inovação, não para a mídia, mas para a própria vida em
sociedade. Nesse sentido, as comunidades virtuais, os portais informativos, o e-commerce,
B2B e a própria personalização da informação e das relações na Internet representam uma
grande inovação. Já Mike Ward, como vimos, acredita que a grande inovação para o
jornalismo é a cobertura exclusiva online, ou seja, o jornalismo que é concebido e realizado
para o novo meio, o próprio jornalismo online.
138
Blog
Muitos afirmam que uma inovação na prática do jornalismo através da Internet é o
blog ele até aparece entre as diversas siglas relativas às inovações que listamos no tópico
anterior. O blog é uma ferramenta que passou a ser utilizada para disseminar informação
pela Internet, tanto por jornalistas como por internautas. Através do seu conjunto, ou seja,
uma infinidade de blogs que trazem informações e debatem diversos assuntos da sociedade,
formam uma nova esfera de comunicação dentro da web, formam a blogosfera. um
debate onde muitos apontam o blog como uma inovação que não pertence ao jornalismo,
outros afirmam que é uma inovação do jornalismo online. Essa discussão e o fenômeno dos
blogs é algo que analisaremos em tópico logo adiante neste capítulo.
O blog e a blogosfera podem ser vistos como inovações, mas sob diferentes
perspectivas. O blog é uma ferramenta de publicação, nada mais que isso. Segundo o que
apuramos
93
, tal ferramenta foi criada pelo hacker norte-americano Jorn Barger
94
em 1997.
Barger possuía um site, o Robot Wisdom Weblog
95
, onde disponibilizava entradas, ou seja,
links para diversas informações interessantes que encontrava pela Internet criar links para
páginas interessantes, na verdade, sempre fora um hábito no desenvolver de páginas para a
web desde os seus primórdios. Essas entradas (o que atualmente se chama de post
postagem), eram conhecidas como registros, ou logs
96
(do termo em inglês), e continham a
data e o horário de sua publicação. Em outras palavras, o blog é uma pagina web com
registros datados, nada mais que isso. Se lembrarmos das eloqüentes palavras de McLuhan
sobre a data ser o único princípio organizativo da linguagem jornalística, vemos aqui o
primeiro laço do blog com o velho jornal. Entre 1997 e 1999, diversos internautas passaram
a usar esse formato para publicar informações, e logar’ os logs de outros weblogs
inclusive adicionando comentários, um bito que sempre esteve ao lado da prática de
logar’. O crescente número de internautas que passou a se comunicar através desse recurso
criou uma malha de links entre os weblogs, formando uma nova comunidade virtual (que
93
Em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Weblog, 24/07/2008.
94
Especialista em desenvolvimento de softwares ligados à inteligência artificial. Vivia em Chicago nessa
época em que criou o blog (Araújo, 2006:40-41).
95
http://robotwisdom.com/, 24/07/2008.
96
No jargão dos profissionais de Tecnologia da Informação, log “é o nome que se ao arquivo digital que
contém o registro da quantidade e do tipo de acessos feitos a um determinado servidor” (Araújo, 2006:39).
139
chegava a 50 mil em 1999)
97
, esta malha era o primeiro estágio, embrionário, da blogosfera.
Segundo Paquet
98
, nessa época “tais serviços eram utilizados por designers e engenheiros
de software cientes das potencialidades desta nova tecnologia” (em Escobar, 2007:10)
99
. O
autor considera que blogs estão na raiz do que chama de personal knowledge publishing
100
(Escobar, 2007:10). Essa parece ser a palavra-chave que caracteriza essa ferramenta, que
identifica tal espaço virtual como um blog: a pessoalidade da informação, do espaço, ou
seja, a relação direta do publisher com o que é veiculado e o contato que ele, em diferentes
graus, mantém com seus leitores/contatos.
O blog ganhou impulso e passou dos mil para os milhares com o surgimento das
ferramentas gratuitas e automatizadas de publicação. O recurso deixava a mão dos hackers
e se estendia aos leigos em programação e scripts web ainda em 1999 com o
aparecimento de vários desses serviços
101
. As novas plataformas de blogs trouxeram uma
inovação: o post passou a possuir link, e a possibilidade de se compartilhar as informações
diretamente. Junto com a explosão dos blogs, vieram novos recursos para se partilhar fotos
(flog), som e vídeo (vlog), apareceram os serviços de indexação e medição de blogs, de
modo que esse crescimento manteve o conceito de interconectividade comunitária formada
pelo conjunto dos blogs. Inclusive, vale esclarecer que os links criados pelos blogueiros
acabam por organizar o fluxo de informações dos blogs segundo os temas e interesses que
costumam abordar, são os blogrolls
102
as rodas de blogs. Novos recursos vieram a se
somar dentro desse conceito, permitindo um foco melhor dos assuntos abordados nos
diversos blogs, tais como os meta-tags e as ferramentas de microblogging. Um estudo
dissertativo sobre blogs, do mestre em Ciências da Comunicação Artur Vasconcellos
Araújo (ECA/USP), aponta que, dentre o surgimento de rias plataformas gratuitas para a
97
Um estudo aponta que o primeiro blog brasileiro surgiu nessa época, o Blue Bues, em janeiro de 1997
(Araújo, 2006:37-38). O mesmo estudo aponta que o primeiro blog de um veículo de imprensa foi do jornal
Florida Today (EUA), surgido em 2003, quando fez cobertura da missão da nave espacial Columbia.
98
Sébastien Paquet. Personal knowledge publishing and its uses in research. 2002. Em
http://radio.weblogs.com/0110772/stories/2002/10/03/personalKnowledgePublishingAndItsUsesInResearch.h
tml, 29/07/2008.
99
Um estudo de Pedro Dória (Blog, blog, blog. 2001, ver Barbosa, 2005:63), aponta que a primeira
comunidade de blogs, ou seja, o primeiro grupo de blogs conectados, o que também é conhecido como
webring, se deu a partir de páginas pessoais de um grupo de pesquisadores do Vale do Silício nos Estados
Unidos.
100
Publicação de conhecimento pessoal.
101
Dentre estes estavam: Pitas, LiveJournal, Pyra Labs'Blogger, Groksoup e Userland's Editthispage (em
Escobar, 2007:10). O Blogger foi posteriormente comprado pela Google em 2003.
102
Saiba maiores detalhes em: http://www.commoncraft.com/archives/000427.html, 24/07/2008.
140
publicação de blogs, algumas características são comuns de todas. O espaço do blog, além
da data/hora da publicação, é composto “com títulos e textos publicados em ordem
cronológica inversa com espaço para comentários” (Araujo, 2007:32). Essas seriam
algumas das características comuns e intrínsecas dos blogs.
Talvez essa seja a grande inovação do blog, o seu caráter aberto a qualquer um que
queira utilizar essa ferramenta, inclusive devido a sua simplicidade e, ao mesmo tempo,
estar inserido dentro de uma comunidade interconectada capaz de fazer ressoar assuntos
que ganham relevância dentro do amplo contexto midiático ciberespacial. É daí que se
entende o blog como uma nova esfera de debate, a blogosfera. Nessa explanação, fica claro
que a grande inovação do blog é o uso que as pessoas passaram a fazer desse simples
recurso – logar informações –, a convergência das pessoas sobre esse recurso. A blogosfera
é o resultado dessa convergência e pode ser entendida como uma verdadeira esfera devido à
unidade que manteve, em diferentes níveis, durante a sua expansão. Esse crescimento, que
partiu de um movimento dos internautas se interconectando, também pode ser um exemplo
de como a peer production se mobiliza pelo terreno cibernético. Como os pares
interconectados convergem sobre algumas tecnologias disponíveis na atualidade.
Poderíamos dizer que o blog é, inclusive, uma manifestação jornalística da peer production.
Web 2.0
A história da Internet reserva um capítulo especial para a figura do Sir Timothy
John Berners-Lee, o feito desse cidadão londrino lhe confere tal honra: a criação da World
Wide Web. A idéia trabalhada por Lee junto a sua equipe de engenheiros foi simples:
adicionar o conceito de hipermídia para troca de informações na Internet. Assim
desenvolveu um novo protocolo de comunicação, o HTTP, o protocolo de hipertexto (em
1990). Daí para a invenção do HTML a linguagem de hipertexto e do primeiro browser
foi um pequeno passo para Lee, mas que para muitos foi muito maior para a humanidade do
aquele dado por Neil Armstrong em 1969 no solo lunar. O ato heróico de Lee, no entanto,
não está em sua invenção, e sim no fato de abdicar de sua patente, tornando-a de domínio
público.
141
A Web 2.0, ou seja, o segundo capítulo dessa novela, é a extensão do HTML no
código XML Extensible Markup Language –, linguagem que segue os mesmos padrões
do HTML, mas permite uma infinita gama de programações que vai muito além de seu
estático predecessor e, dessa forma, amplia e facilita a exploração de todos os recursos
interativos da web. Hoje, muitos se deram conta de como essa extensão do código HTML
vem beneficiando o diálogo na Internet, muitos usufruem o XML sem ao menos se dar
conta. Um estudo do mestre em Comunicação em Semiótica José Renato Salatiel (PUC-
SP), revela onde está essa inovação:
Exemplos de mídias em web 2.0 são os blogs, em que o usuário produz, edita e publica seu
próprio conteúdo; a Wikipedia, enciclopédia virtual em que os verbetes são escritos e
reescritos de forma colaborativa; o YouTube, que mudou a forma do usuário se relacionar
com o vídeo; redes P2P (...); comunidades virtuais, como o Orkut, Second Life, games e
comunidades de portais; além do site do Google, Mashups, softwares Open Source, o site
Del.icio.us, podcasts, RSS e sites de jornalismo cidadão como o “Overmundo” e o
“OhMyNews” (Salatiel, 2007:2).
Como alertamos, algumas das siglas e nomes que listamos como inovações
anteriormente se repetem nessa citação, além de outras que são adicionadas. Apenas não se
sabia que por trás de várias dessas inovações, estava a linguagem XML, a Web 2.0. Mas,
aquém dos nomes, sites, serviços etc. listados acima, o fator de maior relevância é entender
a Web 2.0 como uma inovação que beneficia a convergência do usuário sobre a mídia
digital e, acima de tudo, serve de patamar para produção colaborativa, constituindo-se em
um vetor impulsionador da inteligência coletiva. Além do mais, tendo o XML como base
da inovação, as demais inovações listadas são exemplos da convergência dos usuários sobre
essa nova linguagem, de como eles se apropriaram desse recurso para criar novas formas de
relacionamento e distribuição de informação e conteúdo pela grande rede. É por isso que se
aponta a Web 2.0 como uma nova revolução para a comunicação uma revolução dentro
da revolução da Internet –, pois foi uma inovação que alavancou diversas outras no novo
meio.
Em um estudo no qual o doutor em Letras Mauro de Souza Ventura (USP) analisa
as potencialidades interativas do hipertexto, ele conclui que limitações, “já que o
142
usuário, como observa Aquino
103
, ‘não interage totalmente nas ginas, porque não possui
total liberdade e flexibilidade de se manifestar’” (Ventura, 2007:6 citando Aquino, 2007).
“na Web 2.0 a participação do usuário na escrita hipertextual é ‘levada ao limite’”
(Ventura, 2007:6 citando Primo
104
, 2006:84). O limite da Web 2.0 é a transposição dos
limites da sua predecessora. Isso ilustra a mudança no patamar interativo trazido pela Web
2.0, pois a Internet ganha uma nova magnitude a partir dessa inovação.
Enquanto vivemos a revolução da Web 2.0, a mídia veicula o termo Web 3.0
105
,
que seria o terceiro grande estágio evolutivo da Internet, na verdade, uma coevolução, pois
se trata da mesma rede rodando sobre os mesmos protocolos. O primeiro estágio foi a
própria criação da World Wide Web; o segundo, a Web 2.0, é, como comentamos, a
flexibilização do código que permitiu uma maior convergência do usuário sobre a rede. O
terceiro estágio, a Web 3.0, seria a convergência de uma série de sistemas que visam
organizar o fluxo de informações da Internet que, além de integrar diversos mecanismos e
plataformas (inclusive as móveis), trará serviços de classificação e busca de informações
altamente sofisticados. A Web 3.0 seria conhecida como World Wide Database, pois toda a
sua informação seria relacionada como dado e não como documento (página web). Após
uma estruturação e classificação da imensidão de dados disponíveis nessa Database
106
mundial, nós atingiríamos um patamar que abre para a “Web 4.0”, que seria o
desenvolvimento de sistemas capazes de relacionar esses dados de forma inteligente, os
agentes inteligentes – tecnologia de ponta capaz de analisar e relacionar dados e “aprender”
com eles, hábil em trazer à tona informações valiosas para seus usuários indo muito além
do que inicialmente se requisita, enriquecendo infinitamente qualquer pesquisa ou
levantamento de dados. Esse seria o patamar apontado por vários estudiosos das redes de
informação e futurólogos, como Nicholas Negroponte e Pierre Lévy, apenas para ficar
naqueles que citamos neste estudo. Nesse estágio, colheremos os benefícios da inteligência
coletiva. Hoje, nós apenas estaríamos construindo a base para essa inteligência e nos
beneficiando com o novo patamar comunicativo atingido durante esse processo. E, se a
103
Maria Clara Aquino. Um resgate histórico do hipertexto. Em: http://www.compos.com.br/e-compos,
21/02/2007.
104
Alex Fernando Teixeira Primo. A terceira geração da hipertextualidade: cooperação e conflito na escrita
coletiva de hipertextos com links multidirecionais, Revista Líbero. Ano IX, Nº.17, junho 2006, pp. 83-93.
105
O termo foi cunhado por um jornalista do The New York Times. Em 2008, a empresa IBM veicula uma
propaganda mundial referenciando a Web 3.0, mas sem explicar o significado do mesmo.
106
Base de dados.
143
“revolução” da Web 2.0 é baseada no código XML, a Web Database é baseada no conceito
de “semântica na rede”, ou “Web semântica”, proposto por Tim Berners-Lee
107
e seus
colegas
108
.
Em palestra à Faculdade Cásper Líbero
109
, o professor Luis Joyanes (Universidade
de Salamanca Espanha), abordou o tema da convergência digital. Parodiando os jargões
publicitários, ele se perguntou se o próximo estágio coevolutivo da web seria a web 2.5 ou
web 3.0, o qual ele prefere chamar, mais corretamente, de web semântica. Joyanes entende
essa coevolução como a própria convergência digital, e que perpassa por duas palavras-
chave: a mobilidade e a interatividade. Dessa forma, a web semântica trará uma coevolução
onde a web apresentaria um grau de conectividade e interatividade jamais sonhado, e estará
disponível aos usuários em todos lugares, este sim, seria o significado maior do que ele
entende como sendo a convergência digital.
107
Que depois da criação do protocolo HTTP, fundou, o qual ainda preside, W3CWorld Wide Web
Consortium (em 1994), comitê internacional que discute padrões de comunicação para a Internet.
108
James Hendler e Ora Lassila. Publicaram, em 2001, um artigo na revista Scientifc American: a web
Semântica seria um novo formato de aplicações para web que visam categorizar informação e aumentar a
qualidade do resultado das ferramentas de busca através de resolução de ambigüidade e contextualização da
informação. Em http://pt.wikipedia.org/wiki/Web_sem%C3%A2ntica, 06/08/2008.
109
Palestra que integrou o seminário “Cidadania digital latino-americana”, realizada em 12/09/2008.
144
O Jornalista no Ciberespaço
Ressaltamos no início deste capítulo algumas das vantagens que o jornalista pode
obter no exercício de sua profissão com o uso da Internet. Mas as mudanças que a Internet
implica na função do jornalista vão além. Para muitos estudiosos, o tratamento e a
veiculação de informações pela web reformulam completamente a função até então
exercida pelo jornalista. Como analisamos, ele deixa de ser um mediador da informação
e passa a ser um incentivador, um fomentador ao acesso à informação, seja esta de qualquer
natureza. Pollyana Ferrari esclarece em seu livro que a informação jornalística ganha um
novo sentido dentro da web, é o “conteúdo”. O conteúdo engloba tudo que pode ser
veiculado pela grande rede, textos, fotos, vídeos, som gráficos etc. Tudo na web é
conteúdo. Assim, apontando para alguns estudos sobre esse “novo jornalista” e os novos
currículos acadêmicos de jornalismo relativos ao novo meio, Ferrari conclui que “a
capacidade de adaptação será uma característica muito valorizada nesse novo meio
(Ferrari, 2003:40), adaptação necessária para que este profissional consiga usufruir todos os
recursos e formatos de “empacotamento” da informação que a web permite, ou seja, saber
lidar e disponibilizar os conteúdos da melhor maneira possível para o seu público,
utilizando-se de toda tecnologia e interatividade disponível, e de todos os meios, antigos e
novos.
Para Eugênio Bucci
110
, a diversidade de informações disponíveis na grande rede não
é uma ameaça à profissão do jornalista, pelo contrário, representam novas oportunidades
para que os jornalistas possam exercer seu intermédio no sentido de facilitar o acesso aos
diversos tipos de conteúdo que a web oferece, seja qual for a natureza destes conteúdos.
Independentemente de como o jornalista deve exercer sua função tendo como pano
de fundo os novos meios, Ferrari, com base na sua experiência, aponta para algumas
mudanças que já vêm ocorrendo. A principal estaria no caminho que a notícia percorre até
ser publicada que, na web, é muito curto. Uma reunião de pauta que antigamente demorava
horas é feita em minutos; em contrapartida, o “fechamento nunca acaba” (Ferrari, 2003:56).
Por ser um meio acessível 24 horas, a produção de notícias é contínua na web. Outro fato,
ligado à reportagem, evidencia que o acesso às fontes e à notícia fica mais próximo ao
110
Em “Jornalismo Sitiado”; Módulo: “O papel da mídia na sociedade digital”.
145
jornalista, “raramente o repórter Web sai à rua em busca de um fato. O fato vem até ele pela
própria net” (Ferrari, 2003:54). Ferrari diz que somente algumas coberturas muito
específicas são feitas com a presença física do jornalista/repórter. Ela enfatiza que o
“empacotamento de notícias”
111
virou padrão no jornalismo digital, e o jornalismo na web
não pode se restringir a “o trabalho de produzir e colocar reportagens na Internet” (Ferrari,
2003:45), ele deve levar em conta as questões que já destacamos, o foco no usuário
(narrowcasting) e a sua usabilidade. Citando outros estudos
112
, Ferrari chama a atenção
para a questão da autoria da notícia que, cada vez mais, se afasta do editor. Alguns chegam
ao extremo de afirmar que a hipermídia representa o fim da era da autoria individual
(em Ferrari, 2003:43). Hoje, não haveria mais espaço para a produção informativa sem a
presença do internauta.
Segundo Ferrari, definitivamente o narrowcasting é o caminho para a prática do
jornalismo com qualidade na Internet. A preocupação em disponibilizar cada vez mais
conteúdos para o internauta não está aliada às suas necessidades, afinal, nenhum deles é
capaz de absorver tanta informação (como vemos em diversos portais informativos).
Igualmente, a preocupação com o furo, com a necessidade de oferecer as “últimas notícias
o mais rápido possível é um grande equívoco do meio” (Ferrari, 2003:49). Segundo nossa
análise em relação às características do novo meio, a instantaneidade da Internet é rica
porque vem adicionada das informações que complementam esta instantaneidade, não pela
simples capacidade de disponibilizar informações em tempo real. Nesse sentido, Ferrari diz
que “uma notícia superficial, incompleta ou descontextualizada causa péssima impressão. É
sempre melhor colocá-la no ar com qualidade, ainda que dez minutos depois dos
concorrentes” (Ferrari, 2003:49).
As mudanças na didática jornalística diante do novo meio também compõem o foco
do estudo de Mike Ward, que se apóia nos conhecimentos de jornalistas e webdesigners
para analisar a prática ideal dessa habilitação no mundo digital. Ward entende que a grande
dificuldade dentro do novo meio é ser ouvido. Assim traça uma série de considerações às
quais os jornalistas devem atentar no sentido de não cair na maior armadilha da web: ser
111
Este “empacotamento”, Ferrari define como: “(...) receber um material produzido, na maioria das vezes,
por uma agência de notícias, e mudar o título (...) transformar alguns parágrafos (...) para ser usada como link
correlato, adicionar foto ou vídeo, e por aí afora” (Ferrari, 2003:44).
112
Lúcia Leão. O labirinto da hipermídia. São Paulo: Ática, 1999, p. 42.
146
completamente ignorado. Os conhecimentos oriundos de webdesigners e jornalistas
mostram uma das peculiaridades que surgem diante do novo meio, o aparecimento do
profissional que mescla essas duas funções, o webwritter, ou webjornalista, que seria um
jornalista preparado para lidar com a publicação dos conteúdos multimidiáticos da web
mas que não vai além de uma nova exigência técnica ao perfil desse antigo profissional. Os
detalhes de sua obra seguem dentro desta linha, focados no novo meio de produção da
notícia, e podem ser também apontados como um guia para se tirar o melhor proveito da
usabilidade da Internet. Ward reafirma em seu estudo muito do que concluímos sobre as
características do novo meio, sua instantaneidade e rapidez na produção e veiculação da
notícia, inclusive seguindo a mesma linha dos estudiosos que mencionamos até aqui (Pinho
e Ferrari). Duas tendências que identificamos também são destacadas como premissas
básicas da Internet para Ward; o foco no usuário: Online é um meio de comunicação
diferenciado porque é controlado pelo usuário multifacetado”; e a questão do conteúdo:
“Todos os elementos do meio de comunicação devem apoiar a oferta de conteúdo” (Ward,
2007:6). Além do papel do usuário, Ward reafirma a função do jornalista como um
produtor de conteúdo, sendo este composto de uma variedade de categorias e preferências,
como uma “igreja liberal”, que aceita tudo (Ward, 2007:6), outro aspecto que vai ao
encontro daquilo que discutimos sobre a dirigibilidade e fragmentação do meio.
O estudo de Ward também parte da premissa de que a web não é apenas mais um
meio de disseminação de informação e conteúdo. Ele entende o novo meio dentro de um
foco mais atual
113
, um meio possuidor de peculiaridades que devem ser entendidas e
utilizadas como um novo canal para novos conteúdos, e não apenas como um novo canal
para os mesmos conteúdos. Ward enfatiza que “a aplicação dos princípios e processos
jornalísticos básicos deve orientar todas as etapas de criação e apresentação do conteúdo
online, desde a idéia original até a página ou site pronto” (Ward, 20077:6). Em suma, Ward
chama a atenção para o fato de o verdadeiro jornalismo online ser aquele feito e pensado
para ser veiculado sob a plataforma digital, levando-se em consideração tudo aquilo que
refletimos a respeito até o presente momento as características e peculiaridades do novo
meio.
113
O terceiro estágio da produção jornalística em sua evolução no novo meio: a produção de conteúdo
exclusivo para a Internet e os diversos meios digitais (em Monteiro, 2002:78).
147
Ética
Apesar de estarmos falando das mudanças do jornalismo resultantes dos novos
suportes digitais, todos os estudiosos chamam a atenção para algo que não mudou e não
deve mudar no exercício da prática jornalística: as regras do bom jornalismo. Outro detalhe
que não muda, segundo estudiosos como Eugênio Bucci e Caio Túlio Costa, é a ética
jornalística. Esses pontos parecem ser os únicos que obtém unanimidade quando se estuda o
curso das mudanças que vêm ocorrendo nesta específica habilitação – o surgimento da web
onde nenhuma monocausalidade pode apontar com precisão onde tudo irá parar, ou
mesmo se vai parar. A essa unanimidade, faz coro a professora e pesquisadora Beth Saad:
“Tudo isso sem deixar de lado os valores intrínsecos do jornalismo que não têm vinculação
com sua forma de distribuição, mas sim, com a postura social e ética de quem o faz,
independentemente da tecnologia adotada” (Saad, 2003:65).
A Internet não muda as regras para o exercício de um jornalismo ético e de
qualidade, porém, devido às peculiaridades do meio e às novas formas de interação que
proporciona, “há algumas exigências adicionais” (Ward, 2007:57). Essas “exigências
adicionais” implicariam num amplo estudo que não cabe aqui, mas que, com certeza,
merecem considerações no que tange à prática do jornalismo dentro do ambiente digital. De
qualquer forma, muitos que enxergam as novas exigências surgirem através da mudança
de hábitos que acontece em paralelo às novas possibilidades conectivas da grande rede,
como expõem, respectivamente, o diretor e o professor do Departamento de Comunicação
da PUC/RJ Miguel Pereira e Fernando Ferreira, em artigo que analisam os desafios da ética
jornalística na nova era digital: “(...) basta lembrar a extraordinária revolução que a Internet
está promovendo tanto na democratização da informação como no seu controle. São
poderes em disputa que certamente darão uma nova face aos costumes que vigoram, e,
portanto, tendentes à mudança” (em Caldas, 2002:96). Dessa forma, não seriam também as
questões éticas relacionadas à Internet, sendo esta uma plataforma mais democrática, o
repensar de certos valores éticos que ficavam escondidos sob o manto dos antigos meios
não tão democráticos, agora mais expostos devido ao surgimento do novo canal midiático?
O despertar de uma dia mais democrática não expõe o autoritarismo que não tanto
transparecia nas demais mídias? Todas as ponderações que fizemos a respeito da crise ética
148
no capítulo anterior ainda pairam no ar, e na rede também a Internet acelera certos
movimentos que punham a ética em xeque. Existindo qualquer debate ético relativo à
mídia tradicional, é claro que ele se estende às novas mídias, e ganha novas dimensões em
função da maior amplitude informativa erguida por esses novos meios. São os relativismos
das velhas e das novas mídias analisados em profundidade pelo professor Caio Túlio Costa
em sua tese de doutorado (2008:320-350). Enfim, a Internet é mais democrática ou os
outros meios é que não são democráticos? O canal em si pode ser mais democrático, mas
ele não resolve os problemas das democracias (ou ditaduras), como vimos nas análises de
Pierre Lévy e Manuel Castells (Capítulo I). Compreende-se que, antes de analisar a ética
num ou noutro meio, o novo expõe as cicatrizes dos seus predecessores.
Num estudo sobre novos paradigmas de produção, emissão e recepção do discurso
do jornalismo frente à chegada da Internet
114
, o mestre em Jornalismo Comunitário Pedro
Campos (UNESP) se pergunta como ficam alguns valores diante das mudanças que vêm
ocorrendo:
E quanto à Ética? Num mundo em que os meios têm tanta influência, será que o respeito às
minorias, aos direitos inalienáveis do cidadão, à verdade, à transparência, à dignidade
humana...são respeitados? Ou ainda achamos que o “furo” vale qualquer sacrifício? Diante
do menor baleado na rua, queremos a foto dele ou levá-lo para o hospital mais próximo? O
que vale mais: a notícia ou a vida? Será que os jornalistas não estão tão confusos como os
próprios consumidores de notícias neste estonteante início de novo milênio?
Vemos que entender as questões éticas relativas ao novo meio passa pelo
entendimento e o questionamento de valores que perduram através dos meios mais
tradicionais. Dessa forma, pode-se dizer que a Internet está também modificando certos
valores éticos que antes se tinha como consumados na mesma medida em que traz novas
questões para serem avaliadas.
114
Publicado no Observatório da Imprensa, em
http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos/da311020014.htm, 05/08/2008.
149
2. A Mídia do “Eu”
You build egos on the size of
cathedrals, fiber-optic connect the world
with every ego impulse, until every
human aspire emperor and become his
own God” – Devil’s talking
115
Em praticamente todos tópicos que estudamos relativos às novas características da
Internet e da prática jornalística dentro desse novo meio, sempre se destacaram as
referências à figura do leitor, do usuário, do internauta, e a importância deste na produção
da informação. Hoje, à prática jornalística soma-se esse novo elemento, o internauta como
coprodutor da informação. Mas não é isso, o internauta não é um elemento que as
empresas devem levar em consideração quando planejam distribuir informação via web, ele
também é um produtor individual de informação. O internauta ganha relevância produzindo
informações por conta própria na Internet e também colaborando junto com outros
internautas. Além disso, o internauta apresenta-se como um caminho que também faz ecoar
as informações pelo espaço cibernético, as informações também navegam junto do
navegador, elas surfam com o surfista.
Em sua tese de doutorado, Caio Túlio Costa chama a atenção para o novo usuário
produtor de informações: o cidadão conectado e equipado com os novos aparatos digitais
que lhe permitem ser um publisher, um criador e disseminador de conteúdos diversos
através da Internet. Este, ao lado do jornalista, se apresenta como produtor de
informação/conteúdo na web, e atua de duas maneiras básicas:
A-) Cidadão-repórter. Conforme a definição dada por Shayne Bowman e Chris Willis num
relatório sobre a nova mídia, escrito em 2003, o cidadão-repórter é aquele que “joga um
papel ativo no processo de coletar, reportar, analisar e disseminar notícias e informações”.
(...) a intenção (...) é de “prover informações independente, confiável, acurada, abrangente e
relevante conforme requer a democracia”. Não deve ser confundido com o jornalista
profissional (Costa, 2008:341 citando Bowman/Willis, 2003).
O cidadão-repórter é aquele que utiliza os novos meios que lhe permitem disseminar
informações em prol da cidadania. Ele exerce seu direito de cidadão através de uma atuação
115
Em The Devil’s Advocate (1997). “Você cria egos do tamanho de catedrais, conecta cada impulso
egomaníaco através de fibra-óptica pelo mundo inteiro, até que cada indivíduo aspire o seu próprio império,
tornando-se o seu próprio Deus” (T.A.).
150
que pode ser chamada de jornalística, embora não seja um profissional. Ele é um
importante ator capaz de atrair a atenção para assuntos diversos, ou ser um especialista de
alguma área que divulga informações específicas que não teriam espaço em outras mídias,
pode ser o defensor de uma causa qualquer que não desperdiça os meios digitais para
veicular suas idéias. O cidadão-repórter também é conhecido por diversos estudiosos como
netizen, junção das palavras internet e citizen
116
, trata-se do “cidadão da Internet, a pessoa
que participa da Internet. Esse conceito inclui atributos de cidadania, responsabilidade
social e participação” (Pinho, 2003:254).
B-) Indivíduo-repórter. Trata-se de qualquer pessoa que se aventure na rede com tio
próprio, blog ou mesmo participação em portais e empresas que agregam conteúdos
colaborativos na rede, mas que atua sem nenhuma “preocupação social”, ao contrário do
cidadão-repórter. (...) Pode aparecer sempre ou de vez em quando. Usa a rede porque ela
está à sua disposição (Costa, 2008:341).
O indivíduo-repórter é aquele que interage descompromissadamente na Internet,
mas que eventualmente pode trazer alguma informação de relevância e chamar a atenção de
muitas pessoas. Todos os estudiosos da nova mídia são unânimes em afirmar que, neste
novo ambiente, um simples e-mail pode criar um grande movimento na web, mover uma
causa, ser o estopim de uma revolução, uma bola de neve que vai crescendo e navegando
pelas caixas-postais digitais mundo afora, propagandeando informações diversas. O
indivíduo-repórter é aquele que, eventualmente, pode disparar esse e-mail. De qualquer
modo, é um indivíduo que, num certo grau, utiliza-se e interage com sites informativos,
sempre em busca daqueles que lhe permitam usufruir ao máximo da interatividade que
demanda. O indivíduo-repórter é aquele que faz da Internet a sua mídia, de forma que a sua
individualidade se reflete no seu agir cibernético e, vez ou outra, o seu agir pode
contaminar outros usuários, ou mesmo, refletir um contágio que recebeu. A personalidade
desse indivíduo é algo que buscamos analisar nos parágrafos a seguir, quando refletiremos
sobre o indivíduo “eu-cêntrico”.
E o blogueiro? Tecnicamente, o blogueiro nada mais é do que o indivíduo que
utiliza um blog, que mantém um diário virtual na Internet que sequer precisa ser
atualizado diariamente. Hoje, qualquer um pode criar gratuitamente um blog e compartilhar
116
Cidadão.
151
todo tipo de conteúdo midiático, inclusive o cidadão-repórter, o netizen. Quando apontamos
o blogueiro como um novo jornalista, trata-se na verdade, do netizen, que pode ser ou não
um jornalista, e pode ou não utilizar um blog, o blog é uma ferramenta, existem outras.
Hoje existem blogs tão notórios, com tal dimensão informativa, que tornam-se pequenos
portais. Antes de mais nada, o blog é apenas uma página web com conteúdo multimidiático,
e pode ser utilizada tanto para compartilhar poucos posts, como se abrir para um gigantesco
receptáculo de informações, tanto de outros blogs quanto de portais informativos, além da
produção interativa do dono do blog (ou donos).
Dentre os blogueiros netizen, às vezes, figura o próprio jornalista. Mas de se
considerar uma diferença entre aquele jornalista que tem um blog, daquele jornalista que é
blogueiro. Quem faz essa distinção é a jornalista e blogueira Lucia Freitas
117
. Primeiro ela
define quem é o blogueiro: “ele é um cara antenado, que está a par dos sistemas de métricas
digitais, que está familiarizado com o Alexia, que está no Technorati, no BlogBlogs, no
Analitics
118
, sempre buscando um destaque, buscando atingir determinadas metas. Ele tem
um domínio de software, de como usar a Internet que nenhum jornalista tradicional tem”.
Em outras palavras, além de ser um cidadão que dissemina informações utilizando-se das
novas mídias digitais, o blogueiro tem uma postura muito parecida com a dos hackers que
criaram o weblog: é alguém que usa e entende a tecnologia como um caminho inerente à
própria evolução humana, que tem ligação com os ideais que nortearam a criação da
Internet, onde a construção do conhecimento é colaborativa, e a rede é o canal que permite
essa colaboração e compartilhamento. É dessa característica que emerge a própria unidade
dos blogs, a blogosfera, que, segundo Freitas, “é a roda dos blogs, a roda digital, qualquer
blog faz parte da blogosfera. Não existe um caráter único de temas ou estilos, não existe
uma blogosfera disso e uma blogosfera daquilo, ela é uma coisa só. É a esfera dos blogs ou
o conjunto dos blogs. Já o blog nada mais é que uma ferramenta de comunicação”. Em uma
analogia ao exemplo de Mike Ward em relação ao webjornalismo com a definição de
Freitas mencionada acima, também poderíamos afirmar que a blogosfera é uma grande
“igreja liberal”, que aceita de tudo, mais liberal que os próprios portais noticiosos e
117
Jornalista formada pela PUC-SP, em entrevista exclusiva. Veja anexo “Entrevista: Lucia Freitas”.
118
Sistemas de métrica e indexação de páginas web e blogs.
152
webjornais inclusive, pois é tão plural quanto a massa de internautas hoje incluídos na
mídia através da Internet.
O blogueiro, na acepção da palavra, é mais do que o netizen, é também um hacker,
ou um nerd tecnológico, como muitos dizem. Exatamente por isso, muitos jornalistas que
possuem blogs não podem ser considerados blogueiros, pois não possuem essa relação com
a tecnologia típica do blogueiro. Freitas expõe que “tem jornalista que vai pro blog, mas
mantém a mesma postura que tinha na redação, mantendo-se isolado” e, como vimos, um
blog é mais que uma ferramenta de publicação, é uma nova maneira de relacionar-se
partilhando informações, que só ganha relevância com interatividade, com feedback. O blog
ganha força através do conjunto, da blogosfera, sozinho não representa nada além de
uma página web. Esse é o grande diferencial, “aliás, essa é uma característica dos
blogueiros, a capacidade de compartilhar conhecimentos, todos se ajudam”, diz Freitas.
Todos talvez seja exagero, mas sempre existe alguém disposto a compartilhar. Nesse
universo margeado pelo jornalista que possui blog, mas não interage, e o jornalista que
mantém um blog e é um nerd tecnológico, existe uma série de jornalistas-blogueiros que
atuam em diferentes graus de interatividade, tanto com leitores quanto com outros
blogueiros. Nota-se que esse universo é aberto, de forma que, cada vez mais, jovens
jornalistas, mais familiarizados com o mundo high-tech, encontrarão nele um espaço para
desempenhar sua profissão. Dessa forma, mesmo que muitos vejam o blog como uma
inovação que não pertence ao jornalismo, cada vez mais teremos jornalistas que atuarão
dessa maneira.
O conceito de mídia do “eu” é debatido pelo professor Rosental Calmon Alves.
Seus estudos remetem ao fim dos impressos e da forma atual de se fazer jornalismo. Na
Internet, teríamos um jornalismo mais voltado para o indivíduo e mais democrático,
conforme citado pelo próprio autor em palestra em Londres, e comentado em artigo
intitulado Como se preparar para a mídia do ‘eu’
119
, do doutor em Ciências da
Comunicação Cláudio Tognolli (ECA/USP):
Estamos entrando numa era de mídias “eu-cêntricas” (I-centric): o que importa é que
tragam o conteúdo que eu quero, quando eu quero, no formato que eu quero, mas apenas
quando eu o quiser (...).
119
Em www.observatoriodaimprensa.com.br, 25/07/2008.
153
Em “Abandoning the news”, da Carnegie Corporation, divulgado no primeiro semestre
deste ano, Rosental mostrou que 39% dos jovens americanos entre 18 e 34 anos vêem a
Internet como a fonte de informações mais importante, seguida de notícias locais de TV
(14%), das notícias de TV a cabo (10%), vindo em seguida os jornais (8%) (...).
Enquanto o jornalismo tal como o conhecemos está morrendo, novas formas de jornalismo
estão sendo construídas. Nos próximos anos essas versões vão se erigir na Internet, nos
celulares, nos aparelhos de MP3, na TV interativa, nas novas plataformas a serem
lançadas”, vaticinou Rosental. “O leitor quer editar, não quer apenas ser editado por
alguém”.
Mike Ward é outro estudioso que aponta para essa característica “eu-cêntrica” da
Internet. Referindo-se ao internauta que navega em busca de informações, ele coloca que
“cada vez mais, há também uma atitude indefensável ‘Eu sei o quero e quero agora’ no
mercado da notícia (Ward, 2007:28). Uma atitude que remete a essa característica
intrínseca do novo meio, a sua relação mais individualizada, mais íntima do usuário para
com o meio. Tal postura do usuário também reflete as características fisiológicas da grande
rede que já analisamos – uma mídia on demand, e essa demanda nada mais é que a
imposição do usuário sobre a mídia.
Na mesma trilha segue o editor de blogs da BBC de Londres
120
, Giles Wilson. Ele
afirma que “o jornalismo mudou, está virando uma conversação. Não é mais uma via de
mão única”, dessa forma, Wilson acredita que o blog é um instrumento que serve para o
jornalista “conversar” com seu leitor. Tal conversa inclui a participação do publico na
notícia, e deve ser explorada não só pelos blogs independentes, mas também por grandes
veículos, de modo que se possa criar “uma verdadeira interação entre o público e a
redação”. Wilson destaca que, além do blog, a BBC objetiva explorar mais os recursos de
microblogging, hoje, um consenso no meio jornalístico de que a empresa informativa
não deve focar a sua energia na centralização da informação, mas sim de explorar os meios
de disseminá-las através de diversas plataformas, do blog ao microblogging, as redes
sociais e outras formas de interação disponíveis que surgem incessantemente pela web.
Wilson enfatiza que a centralização não funciona mais diante das novas gerações que não
se preocupam em correr atrás da notícia, eles acham que, se os acontecimentos forem
importantes, chegarão até eles de qualquer jeito na Internet, principalmente por indicação
dos amigos”, diz o inglês.
120
Na matéria do caderno Link do Jornal da Tarde, “Acabou o monólogo jornalístico” de 18/09/2008.
154
Nos estudos que destacamos no tópico anterior, evidenciou-se o importante papel do
internauta na construção e veiculação da notícia no ciberespaço. As afirmações acima são
mais contundentes, elas remetem à dúvida que colocamos anteriormente, cuja resposta
coloca a Internet não como uma mídia onde se deve entender melhor o receptor, a fim de
conquistá-lo, de chamar a sua atenção. As afirmações acima remetem ao fato de a Internet
ser a mídia do usuário; assim, são as instituições que são coprodutoras da informação, pois
o verdadeiro produtor é o internauta. Será? Este entendimento é possível quando
interpretamos uma afirmação de Ward que expõe a quebra da hierarquia relativa à produção
e veiculação da notícia: “Não lugar para uma falsa hierarquia entre notícias e
informações imposta pelo jornalista, quando é o usuário quem define o que é notícia para
ele” (Ward, 2007:41). Na Internet, a informação seria, dessa forma, pautada pelo usuário e
não mais pelo editor. Este produz em função das regras dos internautas, portanto seria um
coprodutor deste e não o contrário.
A reflexão sobre o que é essa nova expressão do sujeito dentro da mídia, ou melhor,
dentro da Internet, pois esta possui uma série de características que colocam o internauta
dentro do palco midiático, extrapola a simples análise relativa ao meio e abraça campos da
Sociologia e da Psicologia, entre outros. Caio Túlio Costa aborda essa questão em sua tese
de doutorado: é o individualismo que impera dentro da atual sociedade capitalista, que ele
expõe através de um conceito com o qual esbarramos ao longo deste trabalho, a
“Modernidade Líquida”:
Pois quem talvez melhor explicou a desagregação do espaço público e desenhou a pós-
modernidade, não no sentido de aceitá-la nem de negá-la, mas de criticá-la para desbravar
caminhos alternativos, foi exatamente o polonês Zygmunt Bauman. Integralmente ligado à
questão ética, exatamente porque a pós-modernidade se funda no individualismo, o resumo
que se segue de uma obra capital de Bauman, Modernidade Líquida, é feito como uma
espécie de vacina para iluminar o espaço no qual se insere o trabalho do comunicador. Não
importa qual comunicador. Pode ser um comunicador tradicional formado nas inúmeras
escolas de comunicação, pode ser um comunicador formado nas escolas tradicionais de
ensino humanista ou técnico, pode ser um comunicador formado na escola do mundo, pode
ser uma fonte qualquer ou seu preposto, pode ser um cidadão-repórter ou mesmo um
indivíduo-repórter (aquele para o qual o culto a si mesmo se sobrepõe à noção de cidadania)
e cujo poder de comunicação lhe foi dado pelas novas mídias porque ele é parte da
dispersão que alimenta a mídia e ajuda na sua ubiqüidade (Costa, 2008:279).
155
A cultura atual seria fundada no individualismo, e a expressão desse individualismo
na nova dia seria a centralidade do indivíduo em si mesmo, daí estarmos numa nova era
de mídias eu-cêntricas. Na Internet, o indivíduo se torna a centro de si mesmo, onde a sua
demanda é irrefutável. Essas duas características que se somam, o individualismo com
pessoalidade do novo meio, mostram o seu potencial diante do establishment, pois a
Internet é a dia que possui as portas abertas para o indivíduo reivindicar o seu espaço
dentro dela, ou exigir o que ele quer dela, muito além do que ela lhe oferece.
Apesar da Internet ser uma mídia que reflete essa característica do mundo pós-
moderno, a Modernidade Líquida, ela também pode refletir outras características muito
diferentes, sendo que uma delas seria o seu sentido imediatamente oposto. Se o eu-
centrismo da mídia reflete o individualismo que impera no mundo atual, a mídia
universalizada através da Internet também reflete o sentido de coletividade (não seria a peer
production um reflexo dessa nova coletividade digital?). Um estudo do mestre em
Comunicação na Contemporaneidade, professor Luis Fernando Câmara Vitral, no qual ele
analisa o nascimento, a vida e a morte do suplemento Seu Bairro publicado pelo jornal O
Estado de S. Paulo, no qual trabalhou em todo seu período de existência. Ele destaca que
um dos grandes pontos fortes da publicação estava nas narrativas que se afastavam das
grandes coberturas típicas de um grande veículo como o Estadão, e voltavam-se para
reportagens de cunho humanitário e com aspectos de solidariedade, cooperação e respeito
social, que refletem o sentido de coletividade através das expressões peculiares de diversos
bairros da cidade de São Paulo: “existe um espaço vivo dentro da sociedade onde pode-se
observar a cidade pelo seu sentido mais humano”, diz Vitral. Seu estudo mostra que, ao
menos em São Paulo, pode-se observar as pessoas além de sua individualidade, de modo
que o conceito da Modernidade Líquida não pode ser entendido como uma lógica
generalizada, mesmo que seja majoritária. E, se, após oito anos de publicação, o
suplemento Seu Bairro perdeu o seu espaço dentro do Estadão e deixou de ser veiculado, a
Internet é um canal aberto a uma série de iniciativas e diversas formas de narrativas,
inclusive, valendo-se da commons-based peer production, que refletem esses conceitos
destacados por Vitral, podem, inclusive, suprir essa carência narrativa que é pouco
interessante para um grande veículo acostumado a grandes repercussões. No jornalismo,
existe uma série de novas iniciativas baseadas na plataforma digital que refletem isso, tais
156
como jornalismo participativo, open source e também os blogs, que possuem múltiplas
formas de narrativa e interação.
Outra relação do conceito da Modernidade Líquida com a contemporaneidade está
no próprio esfacelamento da esfera pública, o indivíduo voltado a si mesmo esquece-se do
seu papel dentro da coletividade, dessa forma, abdica de sua participação na definição dos
rumos da humanidade, na vida política da sociedade
121
, onde, no intermédio entre sujeito e
a sociedade está a mídia que, também, volta-se para questões mais ligadas à vida privada,
inclusive, como grande vetora desse individualismo. Como analisamos, a Internet tem
características abertas e inclusivas que podem, técnica e potencialmente, resgatar a esfera
pública, mas para que isso aconteça, ou se isto vier a acontecer, pois este é ainda um
ambiente que está sendo construído, esse resgate passa por um movimento que vai de
encontro e choca-se diretamente contra o conceito da Modernidade Líquida, de forma que,
poderíamos dizer, para voltarmos a ter uma esfera pública atuante dentro da sociedade, é
preciso que a modernidade se solidifique. Podemos dizer que essas duas idéias, o resgate da
esfera pública e a “Modernidade Sólida”, estão diretamente relacionadas, como uma sendo
a medida e a expressão da outra. Com isso, entende-se que não basta a Internet, como
aparato tecnológico e meio multimidiático, para que esse cenário da esfera pública se altere,
é preciso o engajamento dentro de um amplo movimento social
122
.
Vemos que a Internet demonstra várias características e lógicas antagônicas, lógico,
toda característica que ela toca, nos parece, carrega outra que lhe é imediatamente oposta;
tecnologicamente, como o próprio bit, composto de dois estados opostos e, filosoficamente,
como Yin e Yang. A própria modernidade é expressa através dessa forma dual, mesmo que
o equilíbrio que se busca através da filosofia de Yin e Yang ainda seja algo totalmente
utópico. Assim, apesar de líquida, podemos dizer que ela possui partes sólidas (e talvez
outras que sejam vapor ou estejam se vaporizando).
Se a mídia que reflete a Modernidade Líquida, reflete a esfera privada e, nos meios
digitais, reflete o eu-centrismo, da mesma forma, os grandes veículos passam a refletir tal
121
Um estudo que explora muito bem esse problema é a obra Bowling Alone: America’s declining social
capital de Robert Putnam (New York: Simon & Schuster, 2000).
122
O conceito de capital social pode ser uma das maneiras de se medir essa tendência, inclusive, hoje, alguns
estudos demonstram como a Internet vem sendo uma plataforma de grande valia para a valoração do capital
social. Um dos estudos que serve de referência para esse entendimento é a pesquisa “Capital social,
engajamento cívico e Tecnologias da Informação e Comunicação”, da Drª. Heloísa Matos (pesquisadora
associada ao Gresec, Université Stendhal – França).
157
característica. Calmon Alves também analisa a questão da centralidade no indivíduo como
um fator que poderia ser entendido como contagioso, como uma onda cibernética que
acabará por levar as empresas jornalísticas a tornarem-se “webcêntricas”, canalizando suas
produções para a Internet, onde estarão lado a lado com o leitor. Para Calmon Alves, a
atuação dos blogs ao lado dos jornais é o grande exemplo dessa tendência. Ele mesmo
evidencia como isto ocorre:
(...) a proliferação dos blogs abriu o caminho para a criação de milhões de sítios que contém
links para notícias e comentários sobre os mais variados temas. Os blogs se espalham em
uma forma viral, criando comunidades e audiências até mesmo em ambientes fora do
alcance dos meios de comunicação de massa, onde é difícil imaginar como uma pessoa
poderia arregimentar tantas outras (Alves, 2006:100).
Parafraseando um colega (Dan Gillmor), Calmon Alves diz que “o jornalismo
costumava ser uma leitura, agora é uma conversação”, que é muito comum nos blogs,
enraizados no feedback, mas nem tanto em grandes portais informativos e jornais online.
Pollyana Ferrari
123
lembra que essa conversação não é uma exclusividade dos blogs, ela
pode ser vista também nas revistas online e diversos canais de jornalismo que são
encontrados em várias comunidades, como o Orkut e no site Youtube, por exemplo. É claro
que a Internet também se abre para o individualismo do jornalista, hoje vemos diversos
sites ou blogs de grandes jornalistas que, além dos espaços em outros veículos, se colocam
em contato com o internauta, explorando a interatividade do novo meio. Dentre os
indivíduos que partilham do poder informativo que mencionamos até aqui, o jornalista, o
cidadão-repórter (ou netizen), o indivíduo-repórter, o nerd tecnológico, o eu-cêntrico, existe
aquele que é a mistura de tudo isso.
Quanto o internauta se coloca como um canal midiático, um vetor que faz circular a
informação segundo sua própria demanda junto aos demais internautas, ele tem a
capacidade de atrair parte do fluxo informativo que flui na grande rede. Basta imaginar que
a multidão de navegantes é muito maior que o número de instituições para enxergar o
potencial informativo que os indivíduos agora dispõem. É de se imaginar que o centro
dessa mídia se desloque em sua direção. Não sabemos, ainda, se o internauta é o centro de
123
Em análise a esta dissertação por ocasião da banca de qualificação realizada na Faculdade Cásper Líbero
(São Paulo), em 08/09/2008.
158
sua mídia, mas vários pesquisadores são unânimes ao afirmar que a Internet não possui um
centro, como a doutora em Comunicação e Semiótica Lúcia Leão (PUC-SP): “Pode-se
dizer que, na Internet, o centro está em toda parte e em lugar nenhum, o que nos leva à
definição de um sistema acentrado” (Leão, 2001:71). Ou mesmo o mestre em Comunicação
e Semiótica Wilson Roberto Bekesas (PUC-SP), em dissertação que discorre sobre as novas
interfaces da notícia através da web, onde afirma: “Lembremos que uma das características
presentes no mundo digital diz respeito justamente a ausência de centros” (Bekesas,
2006:83). Calmon Alves também vê, nas características eu-cêntricas da web, esse
deslocamento, o que representaria a reestruturação completa do que até hoje entendemos
por mídia: “Neste início da segunda década do jornalismo digital, estamos percebendo com
mais claridade essa extraordinária transferência de controle do emissor para o receptor”
(Alves, 2006:96). Resta saber até que ponto as massas são capazes de produzir para as
próprias massas, mas, cremos que, dentro dessa dispersão toda, sempre será necessário o
trabalho apurativo do jornalista. Afinal, todo o know-how que este possui em trabalhar
informações não se perde no ciberespaço, pelo contrário, ele ganha muita importância, e tal
conhecimento, sem dúvida, lhe dá até uma certa vantagem em relação a muitos. Talvez essa
seja a grande mudança imposta pela mídia eu-cêntrica, pois o jornalista e as instituições
perdem a centralidade inerente do meio, e inserem-se no novo, onde, até um certo nível,
estão em de igualdade com o indivíduo. Sendo a própria sociedade centrada no
indivíduo, este se impõe no novo meio. Se a sociedade moderna é líquida devido a sua
incapacidade de manter sua forma, as peculiaridades da Internet e seu fluxo não
centralizado de informações, criam uma mídia que, igualmente, é incapaz de manter uma
forma. O que é ruim para as instituições, afinal elas não podem mudar tão rapidamente
quanto os indivíduos. Enquanto as instituições têm que estar sempre inovando para
sobreviver no novo meio, o que lhes demanda um grande esforço, neste ponto o indivíduo é
soberano, suas ações é que representam a inovação. Aqui poderíamos evocar as colocações
de Pierre Lévy sobre o processo de virtualização/atualização que analisamos no início deste
estudo, entendendo que a capacidade de virtualizar do usuário é muito mais rápida e
dinâmica do que a das empresas. Este também é o entedimento de Lucia Freitas, alguém
que já atuou como jornalista em grandes veículos (Estadão, Abril) e hoje atua como
blogueira: “O problema é que essas grandes corporações de mídia, que lidam com dez ou
159
vinte mil funcionários, têm dificuldades em se adaptar num cenário que muda
constantemente. Quem lida com um blog não tem esse problema, você muda de um dia
para o outro”. O blog, como um espaço que atende jornalisticamente ao indivíduo, ilustra
bem a diferença do poder de adaptação do usuário em relação às empresas dentro do
terreno cibernético.
A análise da dia eu-cêntrica é, em última instância, esse reflexo do
individualismo através da grande rede, que também esbarra nas teorias de Jean Baudrillard
que mencionamos no capítulo anterior. A expressão midiática de cada indivíduo na mídia
representaria o fim do significado, pois, estando ausentes de instâncias mediadoras, o
significado teria sentido para o emissor. Ao contrário, talvez essa dispersão toda reforce
a necessidade do papel do jornalista, filtrando e selecionando aquilo que é de importância
para diversos públicos, como sempre se espera deste profissional. São duas características
antagônicas da Internet debatidas por Yochai Benkler, que analisa os aspectos positivos e
negativos, tanto da centralidade típica dos veículos de mass media que também se reproduz
na web, como da dispersão do diálogo, o que ele chama de “Torre de Babel”, questões que
analisaremos com mais profundidade adiante neste capítulo. Essa dispersão do diálogo
pode ser relacionada com o eu-centrismo, pois temos a inclusão de uma infinidade de novos
atores impondo diversos pontos de vista dentro do novo palco digital da mídia. Do
indivíduo ao jornalista, todos, ou muitos, participam da mídia individualmente, ainda que
seja de forma colaborativa, em rede.
Em uma análise mais objetiva, a mídia do “eu” está ligada ao que vimos no tópico
anterior sobre as características da Internet, a não-lineariedade, dirigibilidade e
pessoalidade do meio. Calmon Alves diz que “isso abre caminho para uma comunicação
que poderíamos chamar de eu-cêntrica, pois está baseada nas decisões individuais do
receptor, diante do enorme leque de opções que a Internet lhe abre” (Alves, 2006:97). O
que entende-se agora é que essas características são estabelecidas pelo emissor, num peso
maior do que talvez se possa mensurar. Essa mudança faz com que as empresas
jornalísticas tenham de se reestruturar completamente diz Calmon Alves:
Ao transferir-se para a Internet, o velho jornalismo-produto se transforma num jornalismo-
serviço, um fluxo contínuo de informação que se acumula, indexada, no sítio web,
colocando-se à disposição dos usuários que queiram consumi-la. Esse processo significa a
160
desconstrução dos produtos jornalísticos que foram criados ou tiveram o seu auge no século
XX (Alves, 2006:97).
O jornalismo-serviço pode ser visto na forma que, tanto jornais quanto qualquer
grande veículo de mídia, adquiriram desde a sua inserção na Internet: grandes portais de
informação e serviço. A cada vez mais ampla necessidade de conteúdo desses portais
demonstra o esforço maior para atrair a atenção do usuário, totalmente dispersa no
ciberespaço.
161
3. Os Blogs como Novo Meio de Expressão Jornalística
Don’t get too cocky, no matters how
good job you’ve done. Keep your self
small, innocuous: be a little guy, the
nerd, the leper, cheap chicken surfer” –
Devil’s talking
124
Segundo o professor Rosental Calmon Alves, o blog é a mais nova modalidade de
jornalismo online, embora ainda existam muitos jornalistas e acadêmicos que relutem em
aceitar essa idéia. Calmon Alves revela o porquê dessa relutância e expõe a sua análise
sobre a questão:
Os jornalistas inicialmente viam com desdém os blogs, mas foram aos poucos entendendo
que se tratava de um fenômeno importante, estreitamente ligado às transformações impostas
pelo jornalismo digital. Jornalistas e empresas jornalísticas precisam entender que o blog é
apenas um instrumento. Com essa ferramenta nasceu, de baixo para cima, a partir dos
cidadãos comuns, uma nova linguagem, uma formatação narrativa que pode muito bem
servir para o jornalismo. Assim, em vez de ficarem empacados na inútil discussão para
determinar se blog é ou não é jornalismo, muitos jornalistas e jornais adotaram seus
próprios blogs, levando para eles os mesmos valores que aplicam nas formas tradicionais de
jornalismo. Uma das vantagens que encontraram neste novo formato foi o diálogo com os
leitores (Alves, 2006:100).
Se entendermos as iniciativas que surgem do lado do internauta, como os blogs, e
que ganham relevância para o jornalismo, vemos que as inovações dessa habilitação estão
surgindo de fora das instituições, portanto não são inovações do jornalismo, e sim dos
internautas (e/ou empresas de tecnologia). Sendo ou não inovações do jornalismo, sem
dúvida, o blog e outras ferramentas são inovações para o jornalismo assim como a
invenção da prensa gráfica possibilitou novas práticas para o incipiente jornalismo em sua
época. “Os blogs e todos esses sistemas novos podem parecer frágeis, pouco confiáveis e
pouco sérios. Mas eles são uma demonstração de criatividade e inovação que está
acontecendo fora do âmbito do jornalismo tradicional” (Alves, 2007:101). Para Calmon
Alves, a lição dos blogs tem que ser entendida como a prática de um jornalismo mais
comunitário, mais participativo, e cita vários exemplos de sites e comunidades
124
Em The Devil’s Advocate (1997). “Não fique muito convencido, não importa quão bom tenha sido o seu
trabalho. Mantenha-se pequeno, inócuo: seja um carinha qualquer, o CDF, o leproso, surfistinha barato
(T.A.).
162
informativas
125
que estão inovando dentro deste conceito. E mais, estão ganhando uma
relevância cada vez maior dentro da opinião pública.
Essa nova prática estaria ligada ao conceito de virtual settlement
126
, que, de
acordo com a mestra em Comunicação e Novas Tecnologias Juliana Lúcia Escobar (UERJ):
É entendido como um lugar simbólico situado no ciberespaço que teria a função de
territorialidade necessária para a constituição de laços comunitários entre os indivíduos. É
um delimitador de fronteiras simbólicas e não concretas. Funciona como o suporte para a
verdadeira comunidade virtual e é imprescindível para que esta se forme. No entanto, a
mera existência de um virtual settlement não garante o estabelecimento de uma comunidade
virtual. Uma sala de bate-papo, por exemplo, é um virtual settlement mas somente da
origem a uma verdadeira comunidade virtual se as pessoas de fato utilizarem este lugar no
ciberespaço para a criação e manutenção de laços e relações sociais. Comunidades virtuais
surgem a partir dos usos que as pessoas fazem de um determinado virtual settlement
(Escobar, 2007:11 citando Quentin Jones).
Dessa forma, a Internet ambiente altamente conectivo facilita esse tipo
engajamento comunitário onde poderíamos encaixar o fenômeno dos blogs. O blog é a
ferramenta comum dos indivíduos; a blogosfera, é a comunidade dos blogs, composta de
laços simbólicos cujas conexões vão além das simples ferramentas disponíveis que
facilitam a interatividade/conectividade. Existem laços que vão sendo construídos pelos
indivíduos, incluindo o jornalista, que dão um novo fluxo para a informação dentro do
ciberespaço, seja qual for a natureza dessas informações. Nesse sentido, poderíamos
afirmar que o jornalismo na web palco do indivíduo se relaciona com este através de
um tipo de virtual settlement expresso pelo surgimento da blogosfera (entre outras formas
de agrupamento virtual). Entendemos que essa comunidade, a blogosfera, é um espaço
virtual altamente interconectado que também conecta diversos outros virtual settlements,
ela não tem um ponto de encontro, uma única URL (ou poucas), ela representa os laços que
vão se formando entre diversas comunidades, instituições e indivíduos, entre blogs,
blogrolls e diversas formas interconectivas. Esses laços, que compõem o fluxo informativo
dos blogs, é algo que se apresenta de forma pouco compreensível, de difícil mensura.
Dentro daquela idéia da igreja liberal, poderíamos dizer que o fluxo dos blogs e blogrolls
seguem a pregação que diz que “Deus escreve certo por linhas tortas”, onde podemos
125
Entre os quais destacam-se o site sul-coreano OhMyNews, o Wikinews.org e a própria blogosfera.
126
Estabelecimento/ assentamento/ engajamento/ criação de lacres, acordo.
163
entender que eles nunca apontam para os mesmos caminhos, caminhos esses que, além de
divinamente liberais, também podem levar aos mais traiçoeiros precipícios como na
mitológica descrição do Inferno de Dante Alighieri.
Quem entende o blog como a melhor solução, até então surgida, para a prática do
jornalismo online é a professora e mestra em Jornalismo Mariana Della Dea Tavernari
(USP), que afirma: “A remediação do conteúdo jornalístico atinge sua potencialidade
ótima com o surgimento dos diários virtuais, que favorece a troca de informações de modo
bilateral e interativo” (Tavernari, 2007:5). Embora aponte o blog como a melhor
remediação para o tratamento de conteúdo jornalístico dentro da interatividade da web, ela
não o enxerga como a cura, pois a grande massa de conteúdo jornalístico que circula nessa
esfera “é proveniente de sites, agências de notícias e portais. Por outro lado, muitos jornais
sofrem influência das características dos diários virtuais jornalísticos, que se tornam uma
rica fonte de pautas para os jornalistas” (Tavernari, 2007:5). Dessa forma, a blogosfera
pode ser vista como uma nova esfera por onde se distribui o jornalismo, que faz ecoar uma
série de informações por suas associações, mas que não concorre com os grandes portais e
jornais online na produção de informações (ou conteúdo), além de servi-lo com pautas e
fontes. Mas é claro que a informação que corre nesta esfera sofre modificações que são
inerentes às características hipermidiáticas desse novo espaço virtual.
Tavernari discorre sobre algumas das características da informação que perpassa por
essa nova esfera comunicativa. Ela diz que “um dos principais elementos da mídia
tradicional que não se mantiveram nos diários virtuais é a figura do gatekeeper (...).
Durante anos, o gatekeeper tem sido uma das figuras mais poderosas dos meios de
comunicação, delineando tendências e controlando o fluxo de informação” (Tavernari,
2007:8). Uma das características do blog é a sua pessoalidade, a sua relação direta com o
publisher, este não está hierarquicamente abaixo de ninguém, de forma que pode publicar,
linkar e comentar aquilo que quer, ou não quer. Mas como um blogueiro também não pode
falar de tudo, nem ser um índice para tudo, ele acaba sendo o seu próprio gatekeeper,
escolhendo os assuntos que aborda em seu blog, estabelecendo conexões com um ou com
outro, automediando suas relações. Com a Internet e seus mecanismos, como o blog, as
barreiras à informação se dissolvem; assim, os gatekeepers se afastam das instituições e
convergem para o indivíduo; este seleciona as informações e os serviços que quer, e as
164
conexões que deseja estabelecer. Tavernari afirma que as funções do gatekeeper são as
funções do blogueiro: “A etapa de filtragem de informações e captações e a figura do
gatekeeper, especializado na função, inexistem no diário virtual, pois estas tarefas são
exercidas diretamente pelo seu autor” (Tavernari, 2007:9). Muitas das funções do
jornalismo são, assim, funções do indivíduo dentro da nova mídia.
O interessante desse processo desempenhado pelo blogueiro é o novo trato que ele
adiciona à informação, fazendo-a fluir pelo espaço cibernético com um proveito mais
atrelado às características do novo meio. Tavernari aponta que “o diário virtual é uma das
maneiras para diferenciar-se da reprodução não criativa da mídia impressa e aproveitar o
máximo que a interconexão geral possibilita aos internautas e uma forma de impedir a
dominação do fluxo de informação que controla a opinião pública” (Tavernari, 2007:9). Ou
seja, as características do blog são mais eficazes para a dispersão de informação dentro do
meio digital, pois são fomentadoras das características dialogais do meio, além de se
colocarem como um novo canal não centralizado, que escapa ao controle do establishment,
mais uma vez remetendo à relevância que isso ganha dentro da formação da opinião
pública.
Apesar de todas essas colocações, Tavernari volta para a discussão se essa nova
forma de comunicação, o blog, poderia, de fato, ser considerado uma nova forma de
jornalismo. Ela aponta alguns estudos e discorre, se, o cidadão-repórter, que entende como
“jornalista-cidadão”
127
, embora exerça algumas das mesmas funções de um jornalista
diplomado, possa ser considerado um. Ela aponta um estudo de Rebecca Blood
128
, que
expõe: “Os diários virtuais não são, como dizem alguns, um novo tipo de jornalismo. Mais
127
Para nós, jornalista-cidadão é um jornalista que pratica jornalismo-cidadão, prática reconhecida pelo
jornalismo e que independe do meio. Prática em que o cidadão tem papel ativo na construção da notícia junto
ao jornalista. É evidente que a Internet e o blog são ferramentas que também vêm sendo usadas para a prática
do jornalismo-cidadão, tanto por jornalistas como pelo “cidadão-repórter” (conforme a definição de Caio
Túlio Costa que abordamos no tópico anterior). O cidadão-repórter, no nosso entendimento, pode ser um
jornalista, engenheiro, médico, estudante, ou qualquer um que utilize os novos meios em prol da cidadania.
Também para nós, parece inútil a discussão do fato do blogueiro ser considerado ou não jornalista. Jornalista
é aquele portador de carteira profissional de jornalista, reconhecida pelos órgãos responsáveis, o que não
impede o indivíduo não portador da carteira profissional de jornalista atuar da mesma forma que aquele que
detém tal carteira. Segundo a jornalista e blogueira Lucia Freitas, ex-funcionária do Estadão, esses grandes
veículos atrelam essa questão justamente a este registro, o Mtb: “Os grandes jornais ainda enxergam a questão
do jornalista como sendo este o portador do Mtb, como se o blogueiro não checasse as suas informações, eles
ainda não aprenderam a dinâmica da Internet, mesmo com seus grandes jornalistas usando os blogs, incluindo
muitos que fazem blogs há mais de 10 anos” (veja anexo “Entrevista Lucia Freitas”).
128
The Weblog Handbook: Practical Advice on Creating and Maintaining Your Blog. Perseus Publishing:
2002.
165
propriamente, eles suplementam o jornalismo tradicional com avaliações, comentários e,
acima de tudo, filtragem da informação produzida mecanicamente pela imprensa”
(Tavernari, 2007:12 citando Blood, 2002:23). Como já mencionamos, o blog estaria à
margem da produção jornalística, consistindo-se apenas num meio de sugá-la e
complementá-la
129
. O problema é que ao complementar e comentar as informações, o blog
não leva em conta as regras do bom jornalismo, pelo simples fato de não ser praticado, pelo
menos na grande maioria, por jornalistas. O problema então seria que:
(...) o chamado jornalista-cidadão conta a sua versão dos fatos, de modo subjetivo, sem se
ater aos princípios de objetividade pelos quais clamam os jornalistas. Não se compromete
com a imparcialidade tida como necessária à ética jornalística (...) este novo jornalismo é
visto como um jornalismo opinativo e parcial (Tavernari, 2007:13).
mencionamos no decorrer deste estudo que o blog estaria dando uma nova força
para o jornalismo opinativo. Basta se refletir sobre a pessoalidade do novo meio e a relação
direta do blogueiro com a mídia, para evidenciar que um fato está diretamente ligado ao
outro. Uma informação que navega pela esfera cibernética ganha a autoria de todos que
porventura a encontrem, de forma que vai apresentar essas características descritas:
subjetividade, parcialidade e também a falta de objetividade. A ausência desses princípios é
que faz a esfera do blog ganhar uma nova relevância dentro da opinião pública, pois é um
canal aberto a tudo e a todos. Nesse sentido, a Internet e a própria blogosfera se apresentam
como um novo e múltiplo meio capaz de exercer sobre a própria mídia o mesmo papel que
a mídia desempenha em relação à sociedade: vigília. Um exemplo claro dessa nova
característica democratizante da dia pode ser vista através da atuação do jornalista Luis
Nassif. Demitido da revista Veja, montou seu blog na Internet e entrou numa “guerra”
contra a revista passando a denunciar os abusos da mesma. Somente em uma rede de
plataforma aberta e inclusiva como a Internet, Nassif poderia encontrar espaço para as
129
Para quantificar essa marginalidade” do blog, Tavernari aponta um “estudo publicado no jornal The
Guardian, em julho de 2006, segundo o qual de cada cem usuários, apenas um quer produzir algo, dez irão
interagir com este conteúdo, comentando-o e outros 89 irão apenas visualizá-lo (tradução da autora). Esses
dados provam a importância da audiência na Internet e ilustram a dinâmica da produção noticiosa em diários
virtuais: poucos são os que realmente se propõem a desenvolver mecanismos jornalísticos de criação da
notícia” (Tavernari, 2007:14). resta saber o que esse “um” produzia antes do advento da web e com quem
os outros dez interagiam.
166
denúncias que passou a fazer
130
. Vale lembrar que alguns estudiosos questionam a
imparcialidade e a objetividade jornalística típica dos mass media. Nesse sentido, a Internet
estaria suprindo essa carência da mídia como um todo e, mais uma vez, modificando as
estruturas da esfera pública através de um canal aberto a todas as formas de diálogo: do
jornalismo balizado em princípios éticos ao discurso radicalizado espaço para o bom e o
mau escritor, do Vossa Excelência, passando pelo você, tu e chegando ao vc e ao u ,
incluindo novas formas que precisarão ser estudadas e entendidas (como a próprio fluxo
comunicacional dos blogs).
O jornalismo opinativo é uma das expressões dos blogs na atualidade, tanto que
muitos jornais online transformaram os espaços de seus colunistas em blogs, embora em
muitos a única mudança tenha sido apenas no nome do espaço. Tavernari lembra que hoje
“jornalistas são contratados por grandes conglomerados jornalísticos para publicar
conteúdo em diários virtuais próprios” (Tavernari, 2007:10). Também hoje, instituições e
empresas diversas contratam jornalistas/blogueiros para montar e gerenciar blogs oficiais.
Muitos blogueiros são patrocinados por portais e jornais online, e um grande número de
jornalistas de renome têm site próprio e/ou blog. Devido às características do diálogo
dentro desse espaço ser mais pessoal e interativa, vemos que não é a blogosfera que se
abre para a prática de um jornalismo mais opinativo; jornais, portais e instituições diversas
também o fazem. Embora a prática do jornalismo opinativo seja comum nos blogs,
Tavernari não vê essa modalidade narrativa como a expressão maior dessa esfera, que seria,
na verdade, um “elemento introdutor de uma nova narrativa, pessoal e próxima do
jornalismo literário” (Tavernari, 2007:14). Independentemente do gênero predominante
ou da ausência de gênero(s) –, a característica maior do blog é a pessoalidade do espaço,
talvez o melhor para se comunicar jornalisticamente na web, daí o seu uso cada vez mais
crescente, tanto por indivíduos, quanto por jornalistas e instituições. Para o jornalismo na
web, “o weblog é a mensagem”.
130
Aqui vale mencionar um estudo de Noam Chomsky e Edward S. Herman sobre “os filtros da mídia”, onde
eles demonstram que a mídia crítica a própria mídia até um certo limite, o que inclui veículos que são
concorrentes entre si. Inclusive, tal crítica da mídia sobre a própria mídia obedece a mecanismos que visam
manter a credibilidade e a imagem de imparcialidade dos meios. Veja: “The Propaganda Model”, em
http://en.wikipedia.org/wiki/Propaganda_model, 16/09/2008. As denúncias de Luis Nassif demonstram que
tais limites e filtros vistos nos veículos do mainstream media são inexistentes ou extremamente tênues no
ciberespaço.
167
Enquanto alguns enxergam os novos tipos de narrativa que aparecem nos blogs
como uma afronta às regras do bom jornalismo, onde o pilar sustentador seria a
objetividade e a imparcialidade, um estudo dissertativo da mestra em Comunicação Diana
Barbosa (Univ. Federal de Pernambuco) analisa a questão sob um outro foco. Ela entende
que as narrativas do blog, embora sejam carregadas pela intervenção do blogueiro na
manipulação das informações, atendem uma lacuna deixada pela grande mídia. Na verdade,
a narrativa pessoal dos blogs está mais próxima da realidade cotidiana dos internautas do
que a da grande mídia, cujo foco está no espetáculo. Apoiando-se num estudo de Muniz
Sodré
131
, ela questiona que “talvez se deva refletir que não é apenas o blog que se aproxima
do jornalismo, mas o jornalismo que adere cada vez mais ao formato que tende para o
show, perdendo seu status de interseção entre o fato e a informação ‘pura’” (Barbosa,
2005:45). Dessa forma, a linguagem do blog relaciona-se com o próprio fenômeno de sua
popularização, mas não no preenchimento de uma lacuna deixada pelo estilo de narrativa
jornalística, mas sim pela visão que se obtém através da narrativa do mundo que perpassa
pela mídia. No blog, essa narrativa não estaria tão afastada da realidade quanto nos
tradicionais veículos dos mass media em muitos casos, o indivíduo se projeta na dia
por não se enxergar dentro dos clichês que ela veicula, assim ele adiciona os seus próprios,
ou, ao contrário, ao deparar-se com o fantasioso mundo do mass media, o usuário, despido
de táticas lingüísticas, marketeiras e persuasivas, descreve a realidade através de uma
percepção muito mais fiel ao que ela é
132
. Levando em conta essa análise, Barbosa conclui
que “apesar dos textos dos blogs (...) optarem por um padrão mais opinativo (...), essas
características de sua escrita não os distanciaram, por si só, da produção jornalística”
(Barbosa, 2005:42). o estudo do professor Artur Vasconcellos Araujo entra nesse mérito
expondo que o “discurso da imprensa se afasta da marca do sujeito, e o autor que
acrescenta a sua meta-narrativa legitima o discurso jornalístico. O blog faz mesmo que o
jornalismo, mas volta-se para as narrativas e os fatos íntimos dos sujeitos” (Araujo,
2006:73). E, depois de uma longa análise do discurso tendo como objeto dois notórios
131
Reinventando a cultura: a comunicação e seus produtos. Petrópolis-RJ: Vozes, 1996.
132
Barbosa exemplifica isso através do intelectual bahiano e seu blog. Na grande mídia o bahiano tem
espaço se o assunto for “as relações etno-musicais” ou o “clima excessivamente festivo da Bahia” (Barbosa,
2005:24-25).
168
blogs brasileiros
133
, ele conclui que “o discurso dos blogs analisados os validam como
ferramenta jornalística” (Araujo, 2006:225). Não é a questão do discurso ou do gênero
narrativo que inviabiliza a prática de blogging (blogar, criar e manter um blog) como uma
prática jornalística.
Enquanto muitos argumentam contra ou em prol à tese do blog ser ou não
jornalismo, existe também o ponto de vista dos blogueiros. Muitos não aceitam a prática de
blogging por parte dos jornalistas, entendendo que blogueiro por natureza não pode possuir
vínculos com quaisquer órgãos de mídia ou instituições. Muitos entendem que blogs
vinculados a jornais online ou grandes portais compõem um veículo híbrido do jornal
impresso com o próprio webjornalismo, numa apropriação da plataforma do blog para a
mesma e velha prática jornalística e seus conhecidos vícios. Um blogueiro empregado
sofreria os efeitos coercitivos de seus empregadores, o que seria um atentado à liberdade de
expressão pretendida por muitos blogueiros. Barbosa entende que “a mais visível mudança
significativa proporcionada pelos blogs (...) é que o jornalismo deixa de ser praticado por
quem ‘escreve’ e passa a ser recriado por quem lê. (...) que reflete não mais o que um grupo
de profissionais do jornalismo acredita que as pessoas querem ler, mas o que os próprios
leitores gostariam de ter escrito” (Barbosa, 2005:68). Dessa forma, a arte de blogar teria
sentido se praticada por quem não é jornalista profissional, pois ela é a arte que reflete o
que o leitor quer escrever, e o jornalista seria incapaz de escrever aquilo que o leitor quer
escrever, ele escreve aquilo que acha que o leitor quer ler. Já o blogueiro, despreocupado
em fazer da notícia o seu ganha-pão, não tem a necessidade de escrever para ser lido, e sim
para se expressar através da mídia. Essa análise perde o sentido se levarmos em conta que,
na atualidade, muitos blogueiros passam a trabalhar profissionalmente com seus blogs e
canalizam suas tarefas baseados em metas de audiência, especialização em assuntos,
obtenção de patrocínios
134
e venda de espaço publicitário, assim, da mesma forma que os
133
No Mínimo Weblog e Bloi - o blog do Observatório da Imprensa.
134
Como, por exemplo, o blog Garotas que Dizem Ni (http://garotasquedizemni.ig.com.br, 29/09/2008) que,
segundo uma das três autoras (que se apresentam através dos codinomes Clara McFly, Flá Wonka e Vivi
Griswold), não tem “a pretensão de fazer um site noticioso”. Porém, o sucesso de audiência do blog valeu um
contrato de ganho fixo com o portal iG, conforme noticiado pela revista Imprensa 238 na matéria “Igual,
mas diferente” de setembro de 2008. A matéria indica que os blogs são, hoje, uma excelente ferramenta de
marketing não mais ignorada pelas relações públicas e assessorias de imprensa, tanto das empresas de mídia
quanto de qualquer corporação, é o post institucionalizado”, conhecido como Blog Corporativo. É um novo
canal que se mostra eficiente em detrimento dos canais mais tradicionais de comunicação entre as empresas e
seus clientes e a mídia e seus interlocutores.
169
jornalistas profissionais, passam a pautar suas informações em funções de seus ganhos. É
por isso que muitos blogueiros acreditam que, quando um “colega” passa a atuar dessa
forma, na verdade, deixa de ser blogueiro. O blogueiro de verdade não teria a intenção
deliberada de atuar como um veículo de mídia (Barbosa, 2005:71), quando o faz, deixa de
ser blogueiro, e se ele não é jornalista, então não se sabe o que é. Para a blogueira Bruna
Calheiros, do blog Smelly Cat
135
, a questão jornalística que esbarra em códigos de ética e
conduta contrariam a própria essência do blog, e que se define uma das claras diferenças
entre blogueiros e jornalistas (ou entre o blog e os veículos tradicionais de jornalismo), pois
qualquer tipo regra limitaria o que o blog tem de melhor: a sua liberdade.
Sem entrar no mérito dessa posição em prol de jornalistas ou blogueiros, ela pode
ser entendida através da forma como são produzidas e veiculadas as informações por ambos
os “lados”. No capítulo anterior, fizemos uma reflexão de como a notícia vem sendo
transformada num produto mercantil, levando o jornalismo a entrar numa lógica de
produção de espetáculos e ideologização de massas. Contra essa lógica instituída, está a
emergência dos blogs proveniente dos cidadãos interconectados que passam a produzir
dentro de uma forma cuja base está no compartilhamento, na colaboração e na
reciprocidade, que produzem sem compromisso com a indústria do espetáculo e o objetivo
de atingir e ideologizar as massas. Sendo assim, um blog deixa de ser blog,
independentemente se for de um jornalista ou de um cidadão qualquer, quando sai da esfera
da peer production, e passa a atender os velhos interesses das mídias de massa tradicionais,
transformando-se num vetor cibernético do espetáculo.
Na verdade, não é possível se afirmar que o blog seja libertário ou apenas mais um
mecanismo para a prática jornalística espetacular. O blog é apenas uma plataforma de
publicação, o seu uso pode atender a diversos tipos de demandas, sendo estas jornalísticas
ou quaisquer que sejam. Temos, nos extremos dessa nova esfera comunicativa, diversas
iniciativas que nos mostram isso. A blogueira Lucia Freitas nos um exemplo de uma
colega que utiliza a plataforma blog para manter um diálogo intercontinental de cunho
beneficente/humanitário que nos uma noção dessa dimensão libertária do blog (e da
própria Internet): “Tenho uma colega que mora em Seattle e monta cursos de educação à
135
http://smellycat.com.br, 27/09/2008. Conforme noticiado pela revista Imprensa 238 na matéria “Igual,
mas diferente” de setembro de 2008.
170
distância para uma ONG na Holanda, para treinar médicos a lidar com a AIDS em
Moçambique, e ela utiliza software livre”, conta Freitas. Outro extremo está no exemplo
que Araujo cita em seu estudo dissertativo numa referência a uma matéria publicada pelo
Observatório da Imprensa
136
que conta como um jornalista inglês chamado Nick Denton
(Financial Times), utiliza sua fama, alguns blogs patrocinados e um pequeno investimento
em publicidade online (via links patrocinados do Google), para transformar a prática de
blogging numa máquina que rende “vários milhares de dólares por mês” (Araujo,
2006:146). Um exemplo de como e o quanto o blog pode ser utilizado para “a mesma e
velha prática jornalística e seus conhecidos vícios” como colocamos dois parágrafos acima.
Barbosa atenta para outra questão que também pode ser relacionada com a questão
da ética e das regras ligadas a pratica jornalística e/ou blogging, confrontando o que os
jornalistas entendem por neutralidade e objetividade, o que não seria algo ausente na
blogosfera. Essa, assim como as empresas de mídia, também debate questões éticas, elabora
seus próprios códigos
137
de conduta e traça regras para produção de informações com a
mesma qualidade e preocupações que os jornalistas levam em conta em seu trabalho.
Barbosa aponta que, dentro da produção dos blogs, a neutralidade transpareceria dentro das
milhares de opiniões e comentários onde, dos mais radicais aos mais liberais, passando
pelos pontos-de-vista mais moderados (a maioria), o próprio internauta é capaz de chegar
na informação neutra, imparcial e objetiva. Ou seja, enquanto o jornalista precisa trabalhar
a informação para deixá-la “neutra”, na blogosfera (e na Internet como um todo), a
imparcialidade e a objetividade são obtidas pelo internauta através de seus próprios filtros
da realidade. A objetividade, clamada pelos jornalistas como uma de suas funções ao narrar
o cotidiano, equivaleria a uma percepção coletiva dos fatos que, na Internet, seriam
narrados pela coletividade e abrangendo os mais diferentes prismas de visão (Barbosa,
136
Em http://query.nytimes.com/gst/fullpage.html?res=9F04E1D91138F934A25752C1A9659C8B63,
09/10/2008.
137
Dois exemplos relacionados a códigos de ética e aos ideais, não de blogueiros, mas de hackers e
internautas de um modo geral, está no Manifesto Cluertrain (http://www.cluetrain.com/portuguese/,
20/09/2008), que é assinado por diversos autores, incluindo vários membros da, assim chamada, “elite
tecnocrática” das novas mídias, e propõe 95 teses sobre as novas relações, inclusive comerciais, dentro do
ciberespaço. Outro exemplo é destaque na matéria “Igual, mas diferente” da revista Imprensa 238 (Agosto
de 2008), que indica um outro manifesto, Freelando pro Diabo (http://freelandoprodiabo.com, 24/09/2008),
onde blogueiros brasileiros discutem códigos de ética e condutas para o exercício da arte de blogar, o texto
expõe o slogan do site, “Não sou blogueiro de aluguel” e afirma que os ideais do manifesto giram em torno da
idéia que: “antes de ser mídia ou veículo, blog é opinião registrada de quem tem voz ativa e diz o que pensa”.
171
2005:43-44). Nesse sentido, os blogs fazem uma apropriação da linguagem jornalística que
tem pouco ou nenhum espaço na grande mídia, de forma que os blogueiros atuam como
colunistas, críticos e comentaristas dos assuntos do dia-a-dia (Barbosa, 2005:27-28).
Barbosa mostra que esse movimento de apropriação jornalística por parte dos blogs vem de
uma sociedade que consome as informações de todo um complexo de mídia e que passa a
atuar ao lado dela, complementando a realidade “que na TV” com suas próprias
experiências. Dessa forma, se a sociedade se apropria do jornalismo, o jornalismo passa a
se apropriar dos blogs como um novo meio de distribuição da informação e inserção na
comunidade (Barbosa, 2005:34).
Um dos problemas dos blogs profissionais, ou seja, com fins lucrativos para seus
donos e/ou patrocinadores, que negociam espaços publicitários de suas páginas. Nesses
blogs, o blogueiro passa diretamente a lidar com as questões ligadas à propaganda. De
modo que a crítica sobre a quebra do muro que separava a publicidade do jornalismo como
um vetor que compromete a ética do meio, na esfera dos blogs, se torna em algo muito
tênue, tal “muro” se torna praticamente inexistente. Talvez, especula-se se ela tenha
existido em tal ambiente. O jornalista ou blogueiro, não habituado com os fundamentos da
propaganda e do marketing, é capaz de cometer deslizes imperdoáveis, como, por exemplo,
um visto no Blog do Noblat
138
, um dos mais notórios do país. Nos dias subseqüentes à
maior tragédia da aviação brasileira, o vôo JJ3054 para Congonhas (que espatifou-se
durante o pouso no aeroporto paulistano em julho de 2007), o blog veiculava um post com
uma frase de um parente de uma das vítimas do fatal acidente, enquanto na coluna ao lado,
um banner rotativo anunciava uma promoção de venda de passagens aéreas
139
. Para o
mestre em Comunicação e especialista em Marketing Roberto Jimenes (FIAMFAAM), tal
caso trata-se de uma aberração publicitária, o que ele nos explica através do seguinte
exemplo:
A Pepsi adiou seis meses a veiculação de um filme publicitário mundial que deveria ser
lançado após o natal de 2004 em função do Tsunami que atingiu os países no oceano Índico
naquela ocasião. O filme continha cenas de craques do futebol jogando bola na areia e
surfistas profissionais se divertindo nas ondas de uma bela praia tropical. Com a tragédia, a
Pepsi não podia associar o seu produto à água e, principalmente, ao mar e as ondas.
138
http://oglobo.globo.com/pais/noblat/, 24/07/2007.
139
Veja anexo 1.
172
Esse é um exemplo de como a tal fronteira entre o interesse econômico advindo do
lucro com publicidade e arte de blogar se torna algo muito difuso, fica difícil saber se o
blogueiro, principalmente aquele que possui um blog atrelado a um grande veículo, tem
controle total sobre o seu espaço. Caberia ao próprio Noblat retirar tal anúncio de seu site?
Ou tal erro foi apenas uma distração que assim evidencia o desconhecimento dos princípios
de marketing por parte dos responsáveis por este blog? Tal tipo de aberração publicitária,
não é exclusividade de um ou de outro, o mecanismo AdSense da Google faz isso por conta
própria, como explica Caio Túlio Costa, é o marketing contextual: “Quem introduziu no
mercado foi o Google, com um mecanismo chamado AdSense (...). Esse mecanismo
permite a inserção de anúncios elaborados unicamente com frases e palavras que
diretamente se referem a conteúdos das páginas existentes na Internet (Costa, 2008:339). E,
através dessa lógica, podem perfeitamente cometer o mesmo erro que Noblat, associando
uma notícia de um acidente aéreo com venda de passagens aéreas, por exemplo. O caso do
Noblat se torna mais grave pois tal erro foi cometido manualmente, e não por um
sistema automatizado cuja semântica é incapaz de diferenciar o joio do trigo. A questão que
fica aqui é: o blogueiro, seja jornalista ou um cidadão qualquer, está preparado para
trabalhar com os fundamentos da publicidade em seu site?
Enquanto jornalistas e blogueiros debatem sobre o que é noticiar ou o que é blogar,
o doutor em Comunicação e Cultura Contemporânea Carlos Eduardo Franciscato (UFBA),
traz à tona uma consideração que põe uma pedra sobre o assunto. Citando Paul Bradshaw
(2007), ele expõe:
A televisão é uma forma de jornalismo? As palavras em uma página são uma forma de
jornalismo? Os sons são uma forma de jornalismo? Blogs são uma plataforma. Eles podem
conter jornalismo, assim como TV, rádio e publicações impressas podem. Muitos ‘bloggers’
praticam jornalismo, muitos não. Perguntar se o blog é uma forma de jornalismo é
confundir forma e conteúdo (em Frasciscato, 2007:9).
Franciscato questiona em seu estudo se o blog e as diversas novas práticas de
jornalismo participativo e comunitário que surgem através da Internet onde ele inclui o
open source e a web 2.0 –, “implica em pensar a relação entre jornalismo e cotidiano. As
rotinas da vida cotidiana estão repletas de marcadores do tempo presente” (Frasciscato,
2007:10). O fluxo da informação que se constrói na esfera digital, perpassando pelos blogs,
173
trazem um novo incremento para o jornalismo, abrindo um espaço maior e de mais
qualidade para o debate cotidiano das informações que se veiculam por toda a mídia, o que
é extremamente positivo para todos, segundo pode-se concluir através das seguintes
citações de Franciscato:
A incorporação de usuários gera uma melhoria automática no sistema. Dois grandes
modelos desta nova plataforma web: os sites de compartilhamento de conteúdo e os blogs
(2007:6).
Este modelo de jornalismo participativo permite à grande mídia incorporar uma parte do
universo de questões que geram familiaridade ao leitor, as quais estão ficando descobertas
pela estruturas jornalísticas cada vez mais reduzidas das redações das empresas
(Frasciscato, 2007:10).
A importância dessa nova esfera digital está exatamente na sua forma dialogal;
assim, o debate volta sobre a questão dos gêneros narrativos dos blogs. Já ressaltamos que a
Internet se abre para qualquer tipo de gênero, mas esse tipo de classificação parece não se
aplicar nessa nova esfera, pois sua importância estaria na repercussão das informações, no
feedback e no debate.
Nestas formas de jornalismo, o principal bem simbólico de troca que os leitores oferecem é
a produção de um discurso (na forma de texto, fotografia, áudio ou vídeo) sobre o cotidiano
em que vivem com pretensão de verdade do real. O discurso pode ser factual (ao enviar
contribuições a setores informativos dos sites) ou opinativo (ao comentar matérias
jornalísticas dos sites), (Frasciscato: 2007,12).
O jornalista e blogueiro Tiago Dória
140
é alguém que entende muito bem essa
característica dos blogs, a de repercutir informações originárias de outros veículos ou de
outros blogueiros, o que é conhecido como “reblogar”: “um dos principais papéis do blog é
justamente repercutir o que o blogueiro vê na Internet”. Doria não problema no
indivíduo gostar de reblogar, mas complementa dizendo que raramente alguém rebloga”
uma informação sem acrescentar nada a ela, um comentário, uma crítica, ou associá-la a
outras informações que estão dispersas pela web. Dessa forma, podemos entender o verbo
reblogar como um dos mecanismos que o usuário possui no mundo virtual para agir como
um coprodutor da informação que consome. Doria crê que a essência do blog, ou do
blogueiro que atua como um vetor da informação dentro do espaço cibernético, está na sua
140
Em matéria publicada no caderno Link do Jornal da Tarde, intitulada “Os blogs estão saturados”, de
10/07/2008.
174
capacidade de exercer influência sobre o seu público, “de que adianta ficar se gabando com
números? Isso é uma tremenda besteira (...) o The New York Times (...) não é o maior jornal
do mundo, mas é o que mais repercute, influencia”. O estudo de Philip Meyer que
analisamos no capítulo anterior expõe que o verdadeiro e único bem que um jornal possui é
a sua influência sobre a sociedade, sobre o seu blico, da mesma forma que Doria nos diz
ser este o maior bem que um blogueiro pode possuir. Sendo assim, se um blog se sustenta
por sua influência, ele se apresenta como um concorrente aos tradicionais veículos de
mídia, sobretudo os jornais impressos, caso eles consigam desempenhar esse papel que
antes era cumprido apenas por outros veículos, é mais um motivo que explica, hoje, essa
súbita onda de blogs que surgem nos grandes sites e portais informativos e os blogs
corporativos. Além de um novo meio para se obter a atenção do internauta, o blog também
é uma ferramenta útil para exercer influência sobre ele. A explosão de blogs em portais de
impressa além de uma infinidade de blogs corporativos que surgem sem parar, se
apresentam como a própria Internet que teve o seu “boom” a famosa “bolha” da web –,
Doria acredita que essa nova “bolha” irá explodir, e dela sobreviverão os blogs mais
fortes, ou seja, aqueles que realmente possuem alguma influência sobre os seus usuários,
segundo ele, os blogs atingiram a sua fase de saturação e é preciso um refino, vai ficar
quem realmente tem relevância”. Se a influência é o maior bem do blog assim como do
próprio jornalismo, então se confirma a expressão de que o “blog é a mensagem”,
principalmente quando percebemos que existem blogs mais influentes, que repercutem
mais que grandes veículos e portais, pelo menos dentro dos limites da audiência
ciberespacial.
Não somente a reflexão acima nos leva a crer que, dentro do mundo informativo
digital, o “blog é a mensagem”, um estudo dissertativo no qual a Relações Públicas
Carolina Frazon Terra (ECA/USP) analisa a questão dos blogs corporativos, traz um quadro
comparativo entre os meios digitais, eletrônicos, impressos e o blog, por onde pode-se
observar que este último se apresenta como o meio ideal para a mensagem dentro da
atualidade midiática, e que, não podemos afirmar que extrapola a Internet e ganha a
mídia como um todo, devido ao problema da exclusão digital. Como se pode observar no
quadro a seguir, o blog detém praticamente todas as características das demais mídias,
algumas em menor escala, outras em maior, potencializadas, e algumas que lhe são
175
praticamente exclusivas. O mais importante, porém, é que, no compito geral, as
características do blog favorecem uma relação mais dialogal e interativa dos indivíduos e
da coletividade (incluindo corporações e empresas diversas que hoje participam da Internet)
com a mídia.
Quadro comparativo dos meios tradicionais (eletrônicos e impressos), digitais e blogs
Meios
eletrônicos
Meios impressos Meios
digitais
Blogs (meio
digital
bidirecional)
Autoral
Não Depende. As
colunas dos
jornais e revistas
são autorais.
Não Sim. Os blogs
representam a
opinião e
identificam
quem escreve.
Interatividade
Monodirecional Bidirecional com
resposta lenta
Bidirecional
com resposta
rápida
Bidirecional
com resposta
rápida
Segmentação
Massificado Grandes segmentos limitados em
funcionalidades, padronizados e
formais
Audiência
específica,
autêntico e
informal
Acesso
Alta penetração Média
penetração
Baixa penetração (atualmente no
Brasil cerca de 18% da população
tem acesso à Internet)
Personalização
Média Alta Alta Alta
Velocidade da
informação
Rápida Lenta Instantânea Instantânea
Variedade de
temas
Diversos canais
com a chegada da
TV paga
Diversas
publicações com
o advento da
segmentação e
personalização
do conteúdo
Enorme Enorme
Participação e
colaboração do
público-alvo
Difícil e rara Difícil e rara Possível e mais
freqüente que os
dois tipos
anteriores.
Possibilidade de
traçar a própria
programação.
Possível e mais
freqüente que
os dois tipos
anteriores.
Possibilidade
de traçar a
própria
programação.
(Em Terra, 2006:103)
176
Franciscato apóia-se em um estudo de Deuze (2003)
141
e identifica quatro tipos
básicos de jornalismo online, para, assim, analisar em qual o blog se encaixa:
1) principais sites noticiosos, das grandes corporações, que produzem o denominado
“jornalismo de referência”
142
;
2) sites de indexação e categoria, que auxiliam no estabelecimento de links com outros
conteúdos
143
;
3) sites de comentários e meta-sites, destinados a atuar na avaliação e acompanhamento da
produção jornalística, podendo produzir crítica de mídia
144
; e
4) sites de partilha e discussão, em que os sites jornalísticos facilitariam plataformas para
troca de idéias e relatos
145
(em Franciscato, 2007:5).
Os blogs seriam “um tipo de ‘jornalismo individual’ que se localizaria na fronteira
entre os sites de indexação e os de comentário (em Franciscato, 2007:5). Mas o que
assistimos hoje é o blog avançando sobre esses quatro tipos de modalidades de jornalismo
online, ou sendo um instrumento utilizado por todas, inclusive na produção de conteúdo de
internautas dentro de grandes portais e sites noticiosos, e também no uso cada vez maior de
blogs por jornalistas dentro desses sites. O que se evidencia é que, cada vez mais, a
presença do indivíduo se coloca próxima dos veículos noticiosos através da Internet. Essa
convergência do usuário sobre a mídia, e do blog sobre o jornalismo é, para Franciscato,
uma nova dimensão para a experiência temporal cotidiana do jornalismo, que reforça a
mensagem dentro da opinião pública. Utilizando-se de uma plataforma que tem por
característica a pessoalidade o blog –, as instituições também tentam se colocar como um
indivíduo, ou através de indivíduos (jornalistas), para, assim, dialogar com o internauta
dentro da, conforme refletimos, mídia do “eu”. É um caminho para as empresas
jornalísticas inserirem-se dentro da esfera dos indivíduos, aprendendo com eles e criando
novos laços dentro do ciberespaço.
Enquanto Franciscato busca entender o blog dentro das categorias de
webjornalismo, Araujo busca definir quais são as características fundamentais do
jornalismo e, assim, analisar se o blog pode ser entendido como um novo meio jornalístico.
141
Mark Deuze. The web and its journalisms: considering the consequences of different types of newsmedia
online. New media & society. Vol 5(2). London: Sage, 2003, p. 203-230.
142
Aqui se encaixariam os sites da Folha Online e Estadão.com.br por exemplo.
143
Aqui poderiam figurar o portal UOL ou mesmo mecanismos como o Google News e iGoogle.
144
Para este tipo de classificação de site noticioso, poderíamos citar os blogs e o site Observatório da
Imprensa.
145
Aqui poderíamos exemplificar com o site Limão do Grupo Estado e o site sul-coreano OhMyNews.
177
Baseando-se num estudo do alemão Otto Groth
146
, ele aponta seis características inerentes
ao jornal: periodicidade, publicidade (aparição blica), diversidade de conteúdo, interesse
geral, atualidade e produção profissional (Araujo, 2006:29). Depois ele conclui que “se um
blog contemplar as características supracitadas, ele poderá ser considerado jornalístico”
(Araujo, 2006:31). Em seu estudo, Araujo analisa diversos blogs e, embora encontre essas
características mencionadas em alguns deles, são raros os que possuem todas elas. Das seis
características, a falta de diversidade de conteúdo é a lacuna mais comum dos blogs. Dessa
forma o “blog não é jornal porque é especializado, e o jornal precisa ter vários assuntos”.
Mas cabe aqui uma ressalva. Se, dentro de uma análise individual, a maioria dos blogs não
apresenta diversidade de conteúdo, o conjunto deles pode apresentar. A diversidade dos
blogs se faz na navegação pelas informações que compõem a blogosfera, nos blogrolls e no
próprio fluxo informativo dos blogs. Nessa análise, se fossemos pensar em diversidade
levando em conta toda produção e informação que é veiculada na blogosfera, teríamos de
repensar o próprio conceito de diversidade aplicado ao jornalismo.
Outro atributo intrínseco do jornalismo típico do mass media que também pode ser
encontrado nos blogs, lembra o professor de jornalismo digital Dr. Walter Teixeira Lima
Junior (ECA/USP), é a relevância social
147
. Aqui mais uma vez a pluralidade dos blogs é
quem faz às vezes para este atributo, que, se um único ou poucos blogs podem não
possuir tal relevância, seu conjunto, a blogosfera, pode.
Além de possuir uma ampla diversidade, a blogosfera pode exemplificar como as
diversas individualidades conectadas à mídia podem contribuir para a construção de novas
e importantes mensagens coletivas, ela “marca tanto uma dimensão de laços de comunidade
entre os participantes quanto uma construção coletiva de referências cruzadas. uma
visível experiência temporal de enunciação pública nos blogs” (Franciscato, 2007:12).
Tanto nos parece que, de fato, existe essa enunciação pública quanto para as mais diversas
instituições, midiáticas ou não, que, cada vez mais, estão entrando para o mundo dos blogs.
Mais do que mensagens coletivas, a blogosfera seria uma nova camada comunicativa onde
“cada blog apresenta links para outros diários formando, assim, uma imensa rede de
pessoas publicando idéias”. (Terra: 2006, 156 citando Pinto, José Marcos. Blogs! Seja um
146
Die Zeitung. V. I. Berlin: J. Bensheimer, 1928.
147
Em análise a este estudo durante banca qualificatória realizada em 08/09/2008.
178
editor na era digital. São Paulo: Érica, 2002:15). Ou seja, a relevância do blog não pode ser
entendida através de sua expressão individual, e sim coletiva, nesse sentido, podemos
entender a importância do blog por este ser um vetor para a inteligência coletiva, e não
apenas como um instrumento simples e individual de publicação online.
Um estudo da doutoranda em Ciência da Informação Joana Ziller (UFMG) aponta
para o número crescente de blogs dentro dos portais brasileiros. Entre 2005 e 2006, ela
observou que:
Enquanto nas análises de 2005 praticamente não foram encontrados blogs, o
aproveitamento do recurso foi detectado com freqüência em 2006. No G1 (da Globo), 4,5%
das páginas ligadas ao portal eram blogs. O recurso tamm foi detectado no Uol (do Grupo
Folha) em 0,4% das notícias com link no portal. Não foram apurados blogs ligados ao
portal Terra (Ziller, 2007:12).
Para Zinner, tal crescimento é um reflexo da expressão jornalística do indivíduo na
web que “remete à multiplicidade específica da hipermídia. Multiplicidade de emissores, de
trajetos, de opiniões. Sob o formato, cabe tanto ao ‘proprietário do blog publicar
informações e opiniões quanto ao visitante concordar, discordar, reclamar, rebater o que foi
publicado” (Zinner, 2007:12). Citando o estudo de Artur Vasconcellos Araújo (2006),
Zinner ressalta que:
(...) a gratuidade e acessibilidade do serviço e a facilidade do uso terminaram por fazer do
blog uma metáfora no ciberespaço, do Hyde Park londrino, jardim público especialmente
famoso por seu speaker corner, tribuna onde anônimos e famosos, dos mais diferentes
credos, tomam a palavra e ressaltam suas idéias (Araújo, 2006:43).
Mais do que evocar novamente o blog como um espaço para o jornalismo opinativo,
enfatizando uma de suas facetas mais radicais, o jornalismo de tribuna, evidenciando o
diálogo aberto do meio, é interessante a associação do blog a uma metáfora. O nome blog
ou weblog, dessa forma, remete a todas essas características do meio, a facilidade, o acesso,
a liberdade de expressão e exposição à mídia, a conectividade. Talvez o que estivesse em
falta era um nome menos burocrático para um espaço informativo com essas características,
que são as características da própria Internet. Assim, a palavra weblog veio identificar esse
local peculiar no ciberespaço. Se se fala em jornalismo comunitário, participativo,
inclusivo, open source, ou qualquer outra prática de nomenclatura instituto-acadêmica,
179
poucas pessoas fazem idéia do que se trata. Blog, no entanto, todos já sabem identificar o
que é, pois muitas dessas pessoas já tiveram contato ou mesmo possuem um.
Zinner enfatiza que a frase acima também evidencia o caráter jornalístico do blog,
pois este “não é apenas feito por adolescentes ávidos por tornar pública sua intimidade. Os
blogs se transformaram em espaço privilegiado para os jornalistas, mediadores
profissionais de informação” (Zinner, 2007:12), e que tal espaço também deve ser
considerado como produtor de conteúdo e informações de extrema importância.
Maria Barbosa, em seu estudo sobre blogs e jornalismo, além de vários outros
estudiosos desse fenômeno, enxerga a utilização cada vez maior dessa plataforma por parte
das instituições como uma “tentativa de usar uma linguagem mais descontraída e coloquial,
quebrando um pouco a formalidade jornalística” (Barbosa, 2005:46) e, dessa forma, se
aproximar e reforçar os seus laços com os leitores, os internautas, inclusive numa forma de
alcançar novos públicos. Em outras palavras, se o internauta está se comunicando via blog,
as instituições correm atrás dele com o mesmo mecanismo, utilizando a mesma forma de
linguagem utilizada por ele. A questão é: será isso mesmo? Alguns fatos percebidos em
nossa análise nos levam a esse questionamento, e todos se relacionam com uma palavra:
link. Vimos que o blog nasceu e cresceu dentro de uma comunidade hacker que estabelecia
vínculos entre si e entre informações que partilhavam. Vimos também, que com o
surgimento das plataformas gratuitas e automatizadas, os blogs ganharam um novo recurso,
a possibilidade de se partilhar posts através de links. Também vimos ainda que o Google,
maior mecanismo de busca da atualidade, baseia seus critérios de busca no link, não só
classificando-os em seus bancos de dados e diretórios, mas classificando os sites pelos links
que levam até eles. Assim, um site cuja URL aparece em vários outros sites, conforme o
número de links que apontem para esse sites, acarretará num destaque maior para tal URL
numa busca através do seu mecanismo, entenda-se: aparecerá mais próximo do topo da lista
dos sites encontrados – e fala-se que se não se aparece até a décima página de resultados do
Google, não se existe no ciberespaço
148
. Muitos dizem que a blogosfera ganha destaque na
Internet justamente por esse fator, como Lucia Freitas: “Os blogs aparecem em destaque no
Google não porque são bons, mas sim porque fazem parte de uma rede de blogs linkados,
148
Segundo palavras do tecnocrata e sociólogo Sérgio Amadeu da Silveira em palestra na Faculdade Cásper
Líbero realizada em 03/05/2007.
180
links que vêm de diversos lugares”. Por se tratar de uma comunidade altamente conectada,
muitos blogs acabam se destacando nas buscas através de sistemas baseados em links. Esse
aspecto seria até desleal, pois grandes sites provedores de conteúdo não conseguiriam
competir com uma esfera altamente conectada como a dos blogs. Assim, chegamos ao
nosso questionamento: a inserção de empresas na blogosfera, sejam elas de mídia ou não,
tem como intenção uma proximidade maior com o internauta e suas produção na web, ou
estaria atrelada ao interesse de se inserir dentro dessa malha de links numa forma de
valorizar o seu produto, dando-lhe maior visibilidade no espaço cibernético? Freitas expõe
que, em contrapartida ao valor da informação aferido pelos mass media, na Internet “o
segredo está em compartilhar as informações e produções através do link, o valor está no
indivíduo conectado”. Ela mesma clarifica que a “mídia está de olho no blog”, sendo assim,
ela estaria de olho no valor que o link às informações como uma forma de destacar os
seus próprios produtos. Isso explicaria por que, apesar de tantos questionamentos a respeito
do uso jornalístico dos blogs, a mídia estaria se inserindo dentro dessa esfera. Segundo
análise de Diana Barbosa sobre vários blogs ligados a portais informativos de grandes
jornais brasileiros (2005:46-54), o uso dos blogs por estas instituições vai fomentar os
assuntos pautados pela própria empresa e, segundo nossa análise, essa valorização trazida
pelo blog continua através do link com outros blogs. Aqui caberia o ditado “fale bem ou
fale mal, mas fale de mim”, mas com uma diferença, “fale bem ou fale mal, mas crie um
link pra mim”. Independentemente de qualquer conclusão, lembremos que Philip Meyer e
Mike Ward chamam a atenção para a escassez de atenção que os grandes veículos sofrem
na Internet, especialmente os jornais online. A tática de inserção dentro de uma esfera que
vem ganhando notoriedade no ciberespaço, a blogosfera, pode ser vista como busca de um
novo caminho para chamar a atenção do internauta.
.
181
Os Blogs e o Resgate da Esfera Pública
A questão do blog como um vetor que pode trazer novos horizontes para o
jornalismo, na perspectiva de influenciar a opinião pública sob um prisma alheio ao
espetáculo, pode ser entendida através da argumentação de diversos estudiosos da mídia e
jornalistas, que envereda num debate sobre as velhas e novas mídias, sendo o fenômeno dos
blogs o objeto em foco.
Apesar de ser utilizado por inúmeros jornalistas mundo a fora, o jornalista Wagner
Barreira
149
entende o blog como uma ferramenta muito distinta do tradicional jornalismo,
ou até mesmo do webjornalismo sob a forma dos grandes portais de notícias e/ou dos
tradicionais jornais impressos em suas versões online. A grande diferença dos blogs para as
instituições mais tradicionais do jornalismo está, segundo Barreira, na ausência de uma
instância mediadora das informações veiculadas, na falta de comprometimento com a
verificação das informações, na preocupação em ouvir todos os lados envolvidos na notícia
de forma equilibrada e isenta, fatores que são fundamentais para um jornalismo de
qualidade.
Tudo isto é fato, porém se fizermos um estudo, encontraremos a ausência de tais
instâncias em jornais tradicionais e de renome, de modo que o reverso da moeda também
pode ser verdadeiro. Esta, porém, é uma discussão que não cabe aqui. Aqui nos interessa
justamente isto, o fato de os blogs serem espaços virtuais que servem para o discurso
jornalístico isento de mediações, isento de coações. É um espaço onde o jornalista e até
mesmo qualquer cidadão pode escrever sem atender a interesses comerciais ou a linhas
editoriais, o que, de certa forma, os torna um espaço muito parecido com os jornais que
datam da primeira fase da imprensa. Os blogs são, de fato, um espaço onde se pode opinar e
argumentar com liberdade e, assim como nas esferas literárias do século XVIII, sempre
oferecem espaços para réplicas e tréplicas, de forma que também se constituem num espaço
de debate, uma de suas características intrínsecas
150
.
Quanto a esta colocação, podemos citar a opinião de Barreira, que acredita que “os
blogs subvertem a ordem do jornalismo tradicional”. Ele também enfatiza que o jornalismo
149
Em “Jornalismo Sitiado”; Módulo: “Blogs e jornalismo on-line”.
150
Esta questão é, ainda, abordada no Capítulo III em diversos tópicos, onde questionamos com mais
profundidade a existência do debate/diálogo nos blogs.
182
tradicional (referindo-se aos impressos) ainda é o palco da discussão política que pauta os
rumos do país, o palco por onde passa a discussão pública. Os blogs, por sua vez,
subvertem esta ordem e fazem a discussão partir da base.
Na contramão do pensamento de Barreira está o estudioso Venício Lima
151
. Este
concorda que a dia, através da televisão e da mídia impressa (e ele exemplifica isso se
referindo ao Jornal Nacional e à revista Veja), é quem media as discussões políticas. A
questão é se tal mediação vai ao encontro do interesse público ou ao interesse da própria
mídia. Apesar de colocar essa questão, através de seus estudos, Lima deixa claro que
isenção e defesa do interesse público através da mídia tradicional é algo muito
questionável, sobretudo no Brasil, que apresenta uma concentração de mídia sob a forma de
monopólios horizontais
152
, verticais
153
e cruzados
154
.
Outro jornalista que se refere aos blogs como um caminho de disseminação de
informação e opinião para a sociedade é Nelson Blecher
155
, que enfatiza que os blogs
permitem a troca de opiniões numa relação jornalista/leitor mais igualitária. Os blogs são
ferramentas que mudam a relação de absorção da informação, democratizando-a. Ele
acredita que o "fenômeno" dos blogs ainda tende a se expandir.
Sobre a questão da Internet como “veículo democratizante” da informação, Lima
discorda de Blecher, pois crê que o alcance de tal mídia ainda é muito pequeno no Brasil,
mas enfatiza que este é um problema geral do país, onde ainda as mídias tradicionais
também têm uma penetração menor do que potencialmente teriam caso o Brasil fosse mais
desenvolvido, com exceção talvez do rádio e da TV aberta. O analfabetismo ainda é outro
fator que agrava essa situação. Porém, vale frisar que este estudo não se refere somente ao
Brasil e acreditamos que a Internet é de fato mais democrática como veículo em si, e não
em relação a sua penetração na sociedade, pois permite a interação de seus usuários e
possui custos baixos para se publicar um site. Neste aspecto, as colocações de Blecher vão
ao encontro da hipótese da Internet resgatar a esfera pública.
151
Em “Jornalismo Sitiado”; Módulo: “A lógica do espetáculo sobre a lógica de imprensa”.
152
Monopólio horizontal refere-se à concentração de veículos de mídia dentro de um mesmo setor (ver
LIMA, 2004:96).
153
Monopólio vertical refere-se à integração de diferentes etapas da cadeia de produção e distribuição (ver
LIMA, 2004:99).
154
Monopólio cruzado refere-se à concentração de diferentes tipos de mídia do setor de comunicações (ver
LIMA, 2004:101).
155
Em “Jornalismo Sitiado”; Módulo: “A lógica do espetáculo sobre a lógica de imprensa”.
183
o jornalista Eugênio Bucci
156
acredita que os blogs “são novas vozes sobre os
fatos que são apurados e debatidos”, e isto é outro fator que remete a uma esfera blica
mediatizada por uma imprensa de opinião, como era nos primórdios da imprensa.
O Poder dos Blogs
Embora o título deste tópico refira-se aos blogs, na verdade, o “poder” ao qual nos
referimos entrelaça-se com o conceito de peer production que refletimos anteriormente. Os
blogs são uma parte dentro dessa esfera de produção colaborativa por onde esse “poder”
também perpassa. O professor Sérgio Amadeu da Silveira, em palestra na Faculdade Cásper
Líbero
157
, fez uma excelente explanação sobre os estudos do norte-americano Yochai
Benkler (2006:212-272), que aponta para o surgimento de uma nova esfera pública através
da Internet, a qual ele chama de “esfera pública conectada”.
Benkler parte do paradigma de que o ambiente de redes interativas, ou seja, a
Internet, gera uma economia baseada em fluxos organizacionais e isso caracteriza a
comunicação da própria rede. Essa característica das redes, diz Benkler, alteram a esfera
pública. Benkler defende que a rede é usada para se construir uma esfera blica com
praticas radicalmente diferentes das encontradas nos mass media. Existe um potencial
maior de criação de esfera pública na Internet do que nos tradicionais veículos que
compõem os mass media (rádio, TV e jornais), pois a Internet tem um potencial mais
democrático devido ao fato de ela ser compartilhada e, assim, gera a peer production.
Diferentes camadas em diversos níveis de conversações e conexões podem gerar diferentes
graus de eficiência e efeitos, que por sua vez trazem novos horizontes para uma esfera
pública através da Internet. Sobre os elementos fundamentais da diferença entre a
informação econômica em rede e os meios de comunicação de massa, o professor Caio
Túlio Costa faz uma explanação, em referência ao estudo de Benkler, demonstrando quais
são as bases da economia de fluxos organizacionais em rede, que se compõe de dois
elementos:
156
Em “Jornalismo Sitiado”; Módulo: “O papel da mídia na sociedade digital”.
157
Palestra que fez parte do I Seminário do grupo de pesquisa “Comunicação, Tecnologia e Cultura de Rede”,
cujo tema era: “Benkler e Lessig: Esfera pública conectada e a produção dos Commons”, ocorrida em
14/06/2007.
184
O primeiro elemento é a mudança da comunicação unidirecional, voltada ao sujeito final,
para uma arquitetura de conexões multidirecionais distribuída entre os inúmeros nós no
ambiente da informação em rede. O segundo elemento é praticamente a abolição dos custos
como barreira para se comunicar, ultrapassando fronteiras. Juntas essas duas características
teriam alterado fundamentalmente a capacidade dos indivíduos no sentido de atuarem
sozinhos ou com outros, de serem participantes da esfera pública (...) em oposição aos
passivos leitores, ouvintes ou telespectadores (Costa, 2008:290-291).
Ou seja, a peer production é resultado da democratização da mídia, com a abertura
de canais múltiplos de comunicação de fácil inserção para os indivíduos. Para exemplificar
sua teoria, Benkler mostra como isso ocorre através de dois cases.
A-) Boicote a Sinclair
Em 2004, durante o processo eleitoral norte-americano, quando George W. Bush foi
reeleito presidente da nação, o dono da Sinclair uma rede de televisão estadodunidense
juntou os seus editores para fazer um documentário sobre o adversário de Bush na
campanha, o senador democrata John Kerry. O documentário visava enfocar de forma
pejorativa e prejudicial a participação do candidato na Guerra do Vietnã, com o intuito
óbvio de manchar sua imagem e favorecer Bush. A informação de tal documentário vazou
da redação da televisão e causou indignação entre diversas pessoas, dentre elas alguns
jovens e blogueiros. Esses blogueiros, de forma não articulada, fizeram a notícia circular
pela Internet e também criaram um site, o Boycott Sinclair
158
. Esta iniciativa se voltou para
os anunciantes de rede Sinclair, pedindo que esses retirassem seus anúncios. Tal articulação
gerou uma queda de receita da rede televisiva e a sua conseqüente desvalorização na bolsa
de valores. Foi pedida também a cassação da concessão de transmissão da Sinclair. Em
função disso a Sinclair teve que retroagir e não veicular o documentário ante os prejuízos
que teve e o furor do público. O caso mostra como o uso da Internet, através da
disseminação de uma informação, gerou uma ação reativa do público e o conseqüente
estrangulamento econômico de uma empresa. Esse exemplo também mostra como o novo
meio serve, inclusive, como um mediador dos demais meios.
158
Em http://boycottsinclair.blogspot.com/, 24/06/2008.
185
B-) O Sistema Eletrônico da Diebold
A Diebold
159
é uma empresa de softwares embarcados em máquinas (ATM
machines) que cuidava das urnas eletrônicas nas eleições californianas. Uma blogueira
defensora da transparência na condução de negócios públicos, o que incluía eleições,
conseguiu, através da Internet, baixar documentos da Diebold. A massa de documentos
continha muitas informações, incluindo diversos documentos criptografados. A blogueira,
então, distribuiu os documentos por e-mail para diversas pessoas, pedindo que elas a
ajudassem a descobrir do que se tratavam, que ela não conseguiria sozinha fazer tal
análise. A análise dos documentos por diversas pessoas levou à montagem de provas que
colocavam em cheque o sistema eletrônico da Diebold. Além disso, um hacker conseguiu
baixar dos servidores da Diebold um conjunto de e-mails da empresa com diversos fatos
comprometedores e os publicou num site. A Diebold, baseando-se na lei de proteção ao
copyright, reivindicou a posse de tais e-mails e conseguiu a retirada do site da web. Porém
o hacker distribuiu os e-mails da Diebold por diversos computadores através da Internet,
utilizando-se de uma plataforma Bit Torrent. As pessoas tiveram acesso a tais e-mails e,
isto somado com as provas montadas através dos documentos obtidos, descredenciou a
empresa e suas urnas nas eleições da Califórnia. Aqui temos um exemplo de
compartilhamento do conhecimento e da informação, fruto de uma ação investigativa com
conseqüências diretas sobre uma empresa privada, com reflexos dentro de um processo
eleitoral, que foi possível pela existência de uma rede interativa e compartilhada como é
a Internet. É um exemplo claro de como se a atuação da inteligência coletiva, como
contou Pierre Lévy (capítulo I), num contexto político dentro da web.
Nesses dois casos, vemos que o público desvenda uma manipulação política e vai
em busca das providências cabíveis. O público é quem acessa a informação e a dissemina
ao próprio público, não um jornal ou qualquer outro tipo de veículo de mídia, um fato novo
dentro do contexto de esfera pública e que demonstra a potencialidade, a força da peer
production e da própria inteligência coletiva. Demonstra também como se constrói a força
dos indivíduos na rede, onde, mesmo separados fisicamente, podem atuar em conjunto.
159
O site oficial da Diebold está hospedado no endereço http://www.diebold.com/, 24/06/2008.
186
Na sua análise da Internet dentro deste conceito de esfera pública, Benkler destaca
alguns fatos relevantes. Em primeiro lugar, ele diz que o poder dos proprietários dos
veículos de mass media é realmente um fato; em relação a isso, a Internet é um veículo que
pode exercer um contrapoder. Em suma, dentro do que vimos no capítulo sobre o fim da
esfera pública, os mass media têm relação direta com o fim da esfera pública. Nessa relação
de poder e contrapoder fica claro que, enquanto os mass media matam a esfera pública, a
Internet a resgata. Outro fato que Benkler destaca em relação à Internet e a esfera pública é
que a esfera conectada é diversa do conceito que até então temos de esfera pública, ela
permite diversos modos de articulação por grupos distintos e separados geograficamente
em processos não coordenados. A Internet, em oposição aos mass media, trabalha com o
conceito do see for youself
160
, fundamental para a criação de uma opinião pública não
manipulada, capaz assim de decidir os seus rumos com informações confiáveis e
verificáveis, o que leva diretamente ao conceito que trouxe Eugênio Bucci
161
, segundo o
qual na Internet é mais fácil se chegar na informação ou ao obstáculo que nos separa dela
(e, neste caso, um bom hacker pode transpor esse obstáculo, como vimos). A Internet
aproxima o usuário das fontes e permite a interação e o compartilhamento das informações
entre eles. Esse também é um aspecto que o professor Caio Túlio Costa enxerga em sua
análise sob o foco ético das questões relativas às novas mídias; com amparo nas teorias de
Benkler, expõe: “A nova condição do indivíduo pode ser uma plataforma para cultivar uma
cultura mais crítica e autoreflexiva, aprofundar a participação democrática e trazer
melhoras no desenvolvimento humano em nível mundial” (Costa, 2008:330).
Por fim, Benkler fala sobre os efeitos da esfera pública conectada nas sociedades
neoliberais. Em primeiro lugar, tal esfera, que se forma a partir da Internet, permite a
emergência de novos atores não-comercias dentro do cenário da dia (como a blogosfera
nesse exemplo), e o engajamento nas atividades mediatizadas pela Internet é muito maior
em relação ao do observador passivo dos veículos de mass media, fatos que, como vimos,
vão ao encontro das reflexões de Caio Túlio Costa.
Costa vai além, dentro das questões que concernem à esfera pública conectada, ele
tece reflexões e traz exemplos de como a convergência muda o contexto dessa esfera. E
160
“Veja você mesmo”, conceito oposto ao dos mass media que é “trust me”, ou seja, acredite em mim.
161
Ver tópico “A Esfera Pública na Internet”.
187
mais, expande o poder mediático da Internet através dos gadgets que também compõem a
grande rede como, por exemplo, os aparelhos celulares: “Nova mídia não significa apenas
Internet, evidentemente. E sim, todas as novas formas atuais e futuras de comunicação
baseadas em desenvolvimento tecnológico” (Costa, 2008:335), e enfatiza a capacidade
comunicacional desse singelo aparelho, “(...) o celular alimenta informações na rede,
recebe-as, emite-as, fotografa, grava vídeo, é emissor e receptor de informações de toda a
espécie” (Costa, 2008:336). Enfim, faz considerações sobre esse novo aparato tecnológico e
cita dois grandes exemplos de como ele pode disseminar informações relevantes dentro da
esfera pública:
A questão tecnológica é para ser levada a sério. Ela permitiu (...) a movimentação dos
espanhóis no sentido de mudar os rumos de uma eleição usando aparelhos celulares, e-mails
e mensageiros instantâneos, para convocar os compatriotas a ir às urnas e derrotar o
governo que havia distribuído informação falsa sobre os responsáveis pelo atentado aos
trens em Madri em 2005 que matou 191 pessoas (Costa, 2008:291).
Como vemos, a somatória dos gadgets e da Internet trouxe uma nova luz à esfera
pública no exemplo citado acima. Além do caso madrileno, Costa também lembra de como
os celulares foram fundamentais para a instalação do terror quando, em 2006, o PCC
Primeiro Comando da Capital –, uma organização criminosa, parou a cidade que não pára,
a “zettalópole” de São Paulo. Esse caso, embora tenha outras implicações que extrapolam a
questão da esfera pública, é um exemplo de como as novas dias são capazes de trazer
informação relevante para os usuários, sejam estas idôneas ou não (que é o teor da reflexão
de Costa). O caso do PCC é, para o professor Marcelo Oliveira Coutinho Lima
162
, um
grande exemplo do valor das informações que circulam através das novas mídias para os
seus usuários. Nesse caso, a população de São Paulo confiou no que circulou pela Internet,
pelo e-mail e pelo celular, e não nos informes oficiais veiculados no mainstream media.
O outro exemplo de Caio Túlio Costa sobre a atuação das novas mídias na esfera
pública, em nova referência aos aparelhos celulares, é o seguinte:
No limite, ajudou a depor um chefe de Estado nas Filipinas, em 2001. Howard Rheingold
conta como Joseph Estrada, presidente das Filipinas, foi o primeiro chefe de Estado em toda
162
Em palestra que fez parte do “I Seminário de Comunicação na Contemporaneidade” realizada na
Faculdade Cásper Líbero em 21/05/2008.
188
a história a perder o poder por conta das manifestações organizadas por meio desse novo
meio de comunicação. Na ocasião, mais de um milhão de moradores da capital Manila,
mobilizados e coordenados por uma onda de mensagens de texto, afrontaram o regime com
manifestações pacíficas. Dezenas de milhares de filipinos convergiram para a avenida
Epifanio de Los Santos, conhecida como “Edsa”, uma hora após a primeira mensagem de
texto ter sido lançada: GO 2 EDSA WEAR BLACK, ou “VÁ PARA EDSA USE PRETO”.
Durante quatro dias, milhares de cidadãos apareceram vestidos de preto na avenida. O
presidente caiu (Costa, 2008:226 citando Rheingold, 2002:157-158).
Mais uma vez, temos um exemplo de uma esfera pública amparada em novas
tecnologias, capaz de, não veiculares informações, mas de trazer coesão suficiente aos
seus usuários de forma a conduzir um movimento forte o suficiente para alterar a cena
política de uma determinada comunidade.
Objeções
As primeiras objeções que colocamos relacionam-se aos exemplos de esfera pública
dentro dos conceitos que estudamos com Jürgen Habermas. Vimos que um dos exemplos
clássicos de esfera pública se formou dentro do contexto histórico da Revolução Francesa.
Diversos estudiosos vão contra a tese de Habermas e afirmam que não existia esfera pública
em torno da Revolução Francesa, e sim uma manipulação da opinião pública” ou uma
“propaganda política”. Dentre os estudiosos que defendem essa idéia, está a jornalista
revolucionária francesa Camille Desmoulins (1760-1794) que, segundo colocações na obra
de Briggs e Burke (2006), introduziu tal idéia ainda naquela época: “(...) Camille
Desmoulins (...), por exemplo, comparou ‘a propagação do patriotismo’ com a do
cristianismo, enquanto os monarquistas no exílio denunciavam a ‘propaganda’ da
Revolução” (Briggs e Burke, 2006:105). E, segundo Briggs e Burke, tal colocação se refere
a “(...) mobilização consciente da mídia com objetivo de mudar atitudes pode ser descrita
como propaganda” (Briggs e Burke, 2006:105).
Outro estudioso que vai contra a idéia de imprensa de opinião que fez parte da
esfera pública francesa no século XVIII, é o jornalista Eugênio Bucci
163
. Embora não fale
em “manipulação da opinião pública”, Bucci contraria o conceito de jornalismo de opinião
e exemplifica sua idéia através da Revolução Francesa. Ele afirma que o modelo
163
Ver “Jornalismo Sitiado”; Módulo: “O papel da mídia na sociedade digital”.
189
jornalístico praticado no início do século XVIII era um veículo de propaganda das idéias
iluministas, e o jornalismo deve ser um veículo isento de informação para que o público
chegue às suas próprias conclusões.
Já o estudioso Venício Lima
164
expõe que o próprio Habermas admite que o modelo
de esfera pública que ele estudou pode ser aplicado dentro do contexto da sociedade
inglesa do século XVIII, e não pode ser aplicado para o atual contexto da mídia. Segundo
Lima, nada do que ocorria no século XVIII pode ser aplicado no papel atual da imprensa,
sobretudo no Brasil. Tal colocação vai diretamente contra parte deste estudo, quando
tentamos buscar na Internet uma esfera pública dentro dos moldes traçados por Habermas.
Apesar disso, nada nos impede de ousar e tentar contrariar tais figuras notórias. Além do
mais, pelo que vimos nos estudos da esfera pública conectada de Yochai Benkler, a Internet
é uma mídia que tem características muito distintas dos mass media, e por isso ela tem
capacidade de resgatar a esfera pública, e se o o faz dentro do modelo de Habermas,
poderá fazê-lo ao menos dentro dos ideais. Porém, concordamos com Lima que o modelo
de Habermas não poderia ser aplicado à mídia no Brasil, e nem mesmo as colocações de
Benkler sobre a esfera pública conectada pois, como vimos, tais estudos do estadunidense
se fizeram em cima do cenário da sociedade norte-americana, que possui um modelo de
mídia diferente do nosso, onde a liberdade de expressão é o pilar mais forte que a sustenta.
Hoje Habermas baseia-se em outro modelo para estudar o entrono da esfera pública,
modelo que não é seu, e sim do estudioso Bernhard Peters, citado em artigo da professora
doutora em Comunicação Social Ângela Cristina Salgueiro Marques (UFMG), que analisa
os meios de comunicação e a esfera pública no contexto contemporâneo. Assim descreve
Marques o modelo utilizado por Habermas:
(...) o qual organiza os atores políticos e sociais em um eixo composto de um centro e
vários anéis periféricos. No centro estariam os complexos institutos formais, como
parlamentos, cortes, agências administrativas responsáveis pelas decisões legislativas e
judiciárias (...) etc. (...). Próximas ao núcleo administrativo estariam esferas autonomamente
organizadas, mas intrinsecamente ligadas ao governo (universidades, câmaras, associações
beneficentes, fundações etc.). E, em um terceiro nível, estariam as associações sociais
politicamente orientadas para a formação da opinião (...) grupos de interesses, instituições
culturais, grupos de ativistas ambientais, igrejas etc. (Marques, 2008:25).
164
Ver “Jornalismo Sitiado”; Módulo: “A lógica do espetáculo sobre a lógica de imprensa”.
190
Apesar disso, Marques demonstra em seu artigo que, mesmo enxergando-se a esfera
pública a partir de um diferente modelo, os questionamentos a respeito do fim da mesma
como espaço donde erige a opinião pública, como vimos através das explanações de Mauro
Wilton Sousa no capítulo anterior
165
, ainda são pertinentes no contexto atual, apesar da
sociedade organizar-se de forma diferente neste momento. Ela diz que: “Não obstante, é
preciso ressaltar que suas críticas feitas permanecem atuais no que diz respeito ao modo
como a produção da informação jornalística é limitada por diversos tipos de
constrangimentos externos e internos” (Marques, 2008:24). Esses “constrangimentos”
passam por todas as implicações éticas que levantamos no tópico “A Crise Ética”, além de
questões as quais, tanto Habermas (2008:9-22) quanto Marques, destacam em seus estudos
atuais relativos à esfera pública. Questões que falam de uma opinião pública que não é
exatamente pública, pois esta opinião, dentro do modelo acima descrito, parte
majoritariamente do centro à periferia, ao passo que o correto seria o inverso.
O historiador e Ph.D Mark Poster (New York University) também entende que o
conceito de esfera pública de Habermas não seria aplicável à Internet. Ele expõe
166
:
Para Habermas, a esfera pública é um espaço homogêneo de sujeitos personificados em
relações simétricas, perseguindo consenso através da crítica de argumentos e a apresentação
de afirmações válidas. Esse modelo, eu afirmo, é sistematicamente negado nas arenas da
política eletrônica. Nós estamos aconselhando então que o conceito de esfera pública de
Habermas, que classifica a Internet como um domínio político, seja abandonado.
O estudo de Poster diz que aqueles espaços blicos de antigamente que usamos
como referência de esfera pública, da ágora grega aos inflamados salons franceses da
Revolução, foram todos tomados pela mídia, iniciando-se pelos jornais impressos e
chegando às mídias eletrônicas de massa, o rádio e a TV. Da mesma forma, a Internet e
toda a sua tecnologia viriam a continuar esse processo. E, se nesse processo a mídia
transformada em espaço público tornou-se o espaço da vida privada, a Internet o amplia,
pois ela permite a transposição da vida privada do indivíduo para o espaço público
cibernético. A Internet beneficiaria uma democratização em relação à vida privada, mas não
165
“O fim da esfera pública”, 4ª Idade da Imprensa: As gerações públicas generalizadas.
166
“Ciberdemocracy: The Internet and The Public Sphere” in Mark Poster (Ed), Internet Cultura. 1997 (pp.
201-218). New York and London: Routledge, 1997. Disponível em
http://members.fortunecity.com/cibercultura/vol13/vol13_markposter.htm, 05/08/2008.
191
modificaria substancialmente o cenário público. Ele afirma que “alguém precisa admitir
que o mero fato de comunicar, sob as condições da nova tecnologia, não cancela as marcas
das relações de poder constituídas sob as condições face-a-face, impressas e intercambiadas
por meios eletrônicos de transmissão”. A objeção é válida, tanto que os meios eletrônicos
tradicionais se fazem ecoar também na Internet, além de manterem seu peso fora dela, mas
o estudo de Poster não leva em consideração uma série de fatos e novas iniciativas que vêm
ocorrendo através da web, como analisamos durante este estudo. Portanto, se não podemos
afirmar que de fato existe uma esfera pública na Internet, talvez se possa conjecturar a
mudança que acontece no espaço público quando, além da mídia, o indivíduo têm o seu
espaço privado tornado público através dos novos meios. A publicização do indivíduo
poderia, em algum momento ou de alguma forma, contaminar o espaço público. Alguns dos
exemplos vistos levam a esse entendimento.
Outras objeções sobre este estudo recaem sobre o conceito de esfera pública
conectada de Yochai Benkler, e é o próprio quem traz à tona tais objeções. São basicamente
cinco obstáculos que ele faz em relação à Internet e à esfera pública conectada. Vejamos
quais são.
1-) A Torre de Babel
Benkler parte do fato de a esfera pública conectada ser mais democrática, ou seja, a
Internet é uma mídia que, ao contrário dos veículos dos mass media, de onde a mensagem é
irradiada de um (ou poucos) para todos (ou muitos), na grande rede a comunicação é de
todos para todos. Se temos uma mídia onde todos são emissores e receptores, como a
Internet o é, esta pode criar um efeito que Benkler, assim, intitula de “A Torre de Babel”:
onde existe muita gente falando, ninguém consegue se ouvir. Muitos sites, muitos blogs
etc., geram uma dispersão na informação, o que vai contra a idéia de esfera pública, pois
esta precisa de “locais de encontro”, caso contrário ninguém se entende. Nesse caso, fica
claro que quem tem mais capital é quem vai ter mais capacidade de ser ouvido, o que
confirmaria as afirmações de Mark Poster que vimos anteriormente. Além disso, vários
grupos falando e trocando idéias entre si criam uma tendência extremista e não um diálogo
saudável e ponderável, o que mataria a esfera pública o que nos leva às afirmações de
192
Pierre Lévy, que expõe a Internet como a esfera do conflito. Por outro lado, a Torre de
Babel pode gerar debates via Internet que jamais ocorreriam em outro lugar, um simples e-
mail, por exemplo, pode mobilizar milhões de pessoas (e com custos ínfimos).
2-) Centralização e Concentração – Monopólio dos Códigos
Outro obstáculo que pode acabar com a esfera pública conectada é, por ironia, um
fator que está na contramão do efeito da Torre de Babel: a centralização e a concentração
das atenções na Internet por meio de “pontos comuns de encontro”. Milhares de pessoas
utilizam os mesmos serviços, sites e ferramentas de comunicação, tais como Google,
Youtube, MSN etc., que se tornam, assim, locais de concentração. Nesse caso, quem
controla tais ferramentas/sites, controla a comunicação. Isso se agrava quando as pessoas
passam a dar atenção aos top sites”; dessa forma estaríamos replicando na Internet o
mesmo modelo dos mass media. Tal fato é uma característica da própria Internet
167
, onde as
pessoas querem participar dos espaços que têm mais pessoas conectadas e que permitem
maior troca de informações, pois têm entre si protocolos comuns de comunicação. Nesse
caso, quem controla tais protocolos, pode controlar a Internet exercendo monopólio sobre
esses protocolos. Existe também o risco de surgirem monopólios sobre a própria
infraestrutura da rede e, sob esse tipo de monopolização, o preço de acesso e provimento de
informação na Internet pode subir e inviabilizar a Internet como rede de acesso de baixo
custo e democrática.
Quem chama a atenção com veemência para a questão dos códigos é o estudioso
Lawrence Lessig
168
. Ele parte do conceito habermasiano de que a esfera pública surge das
relações entre as pessoas privadas e da premissa de que a Internet será o principal veículo
de mídia no futuro. Lessig afirma que, neste caso, serão os intermediários da rede que irão
mediatizar o diálogo na Internet. Esses intermediários serão as pessoas/empresas que terão
o domínio técnico dos protocolos, códigos e softwares utilizados na rede. Lessig enfatiza
que as pessoas comuns não sabem nada a respeito e nem têm interesse em conhecer tais
167
A Internet, quando surgiu, era uma entre outras redes computacionais que existiam, e acabou prevalecendo
justamente pelo fato de ser a que acabou crescendo mais, ou seja, quanto mais pessoas ela tinha, mais pessoas
ela atraía.
168
Lawrence Lessig é defensor da “cultura livre”, é fundador da Creative Commons, uma licença de produção
cultural e intelectual que se baseia no livre compartilhamento do conhecimento.
193
protocolos e, sem conhecer tais protocolos, ficam de fora de qualquer discussão que
englobe o próprio veículo de comunicação, ou seja, as pessoas não sabem lidar com os
problemas técnicos e de infraestrutura de rede que podem atrapalhar o diálogo e a própria
esfera pública conectada. No futuro, então, a discussão da esfera pública não partidas
relações na esfera privada, e sim de uma esfera à qual as pessoas comuns não têm acesso, a
esfera dos técnicos e programadores da grande rede e das grandes empresas/corporações de
tecnologia.
O escritor Nicholas Carr
169
é um estudioso das novas mídias que teme esse
movimento centralizador da Internet, ele expõe que “enquanto a net pode ser um sistema de
comunicação descentralizado, sua operação realmente promove a centralização do poder”.
Carr exemplifica sua posição através da hegemonia da empresa Google e referindo-se às
palavras de executivos da Sun Microsystens e Yahoo!, que prevêem que a infra-estrutura da
Internet estará centralizada na mão de meia-dúzia de corporações dentro dos próximos
anos. O problema da centralização não pára por aí, a situação se agrava quando pensamos
que ele está diretamente relacionado à concentração das empresas de mídia que analisamos
no tópico sob o rótulo de “Sinergia da Mídia” (Capitulo I), de forma que esses dois
movimentos centralizadores estão diretamente relacionados. Questiona-se se estas poucas
corporações as quais Carr se refere, serão aquelas mesmas as quais nós estávamos nos
referindo anteriormente. E se assim for, então se vislumbra o mundo das Comunicações
como um único “monstro” de cinco ou seis cabeças diferentes, talvez sete, como uma
espécie de “Prostituta da Babilônia
170
binário-midiática”?
Maria Fernanda Cicillini lembra que essa também é uma das preocupações de Pierre
Lévy. Ela “explica que a configuração de uma sociedade e cultura e suas relações com as
técnicas não podem ser pautadas como uma oposição maniqueísta, cujas técnicas seriam
agentes externos, estranhos a toda significação humana” (Cicillini, 2007:3). Em relação aos
códigos, eles também não podem se tornar uma técnica dominada apenas por empresas,
aquém do controle dos usuários, pois isto acabaria interferindo na própria liberdade do
usuário em usar o código para se comunicar.
169
Em matéria do encarte Tecnomundo da revista Veja de Setembro de 2008, matéria intitulada “10 novas
idéias que mudarão o mundo”. Veja também o blog de Nichollas Carr: Rough Type:
http://www.roughtype.com/, 25/09/2008.
170
Apocalipse, 17:3. “E levou-me em espírito a um deserto, e vi uma mulher assentada sobre uma besta de cor
de escarlata, que estava cheia de nomes de blasfêmia, e tinha sete cabeças e dez chifres”.
194
Um grande exemplo desse tipo de controle/monopólio está num movimento das
teles norte-americanas que tentam, com o amparo de novas leis, modificar o protocolo de
comunicação da Internet, a fim de controlar o que os usuários enviam uns para os outros e,
com esse controle, filtrar o que pode ou não pode ser compartilhado
171
. O paradigma, então,
para efetivamente termos uma esfera pública conectada através da Internet, é não permitir
monopólios e controles sobre a sua infraestrutura e seus protocolos, de modo que essa
intermediação não interfira no diálogo e nos debates através da grande rede. Mais uma vez,
o uso de software livre se mostra um dos poucos caminhos para a sociedade se livrar desse
tipo de controle.
3-) Função “Cão de Guarda”
Outro problema, segundo Benkler, diz respeito à função que ele chama de "cão de
guarda". Sob o paradigma da liberdade de imprensa, os veículos de mass media exercem
uma função de vigília sobre o que concerne ao interesse público (como, por exemplo, a
revista Veja, o jornal Folha de S.Paulo, o telejornal Jornal Nacional etc.). Na Internet, tal
função estaria dispersa, fragmentada. Mas, neste caso, enfatiza Benkler, se é possível
termos, na Internet, pessoas trabalhando cooperativamente (como, por exemplo, na
enciclopédia global Wikipedia e o jornalismo open source), essa função, então, ao invés de
ser exercida por poucos veículos do mass media, pode ser cumprida por milhões de
usuários espalhados pela rede, com milhares de “cães de guarda”. Os próprios cases
levantados por Benkler exemplificam isso.
171
Veja maiores detalhes no site Save the Internet”, http://www.savetheinternet.com/, 24/06/2008.
195
4-) Controle e Filtragem da Internet
As objeções finais que Benkler faz dizem respeito ao fato de a Internet poder ser
filtrada (como é na China, por exemplo). Nesse caso, países autoritários poderiam censurar
conteúdos da rede ou até mesmo espionar as pessoas através da Internet. No Brasil temos
um exemplo disso quando, em 2006, a justiça bloqueou o site Youtube. Hoje, no nosso país
vive-se esse drama: um projeto do Senado
172
visa dar maiores poderes de policiamento para
a justiça sobre os sites de conteúdo, além de outros detalhes que podem, até mesmo, levar à
prisão jovens que baixam vídeos, músicas e conteúdos diversos através de redes de
compartilhamento. Outro projeto, o PLC 89/03, visa acabar com anonimato na rede o
usuário seria obrigado a se identificar toda vez que se conectar na web. Iniciativas como
essas são exemplos de como a liberdade e, conseqüentemente, a esfera pública conectada,
podem ser limitadas mesmo dentro do ambiente que nasceu sob o paradigma de não possuir
instâncias mediadoras centralizadas.
Sobre o controle da Internet, Caio Túlio Costa faz um questionamento: “Quem a
controla? (...) os Estados Unidos” (Costa, 2008:331). Todos os sites da Internet em todo o
mundo são administrados primariamente pelo Internet Corporation for Assigned Names
and Number (ICANN). “Na realidade (...) o acesso à rede está tanto nas mãos dos Estados
Unidos quanto de instituições, empresas e governos” (Costa, 2008:332). Hoje existe um
grande debate que visa, entre outros detalhes, tirar o controle da ICANN sobre o fluxo
informacional da Internet. Embora Costa não cite nenhum exemplo de como esse controle
tenha sido usado para limitar a liberdade na Internet, se é que o foi e não é o objetivo
deste trabalho se aprofundar nesta questão –, é evidente que deixá-lo na mão de uma única
nação é algo que se torna maior do que a simples discussão sobre o controle da Internet,
torna-se um problema de segurança nacional para as nações que utilizam os fluxos
informativos da grande rede. Se no passado temia-se o poder que os Estados Unidos tinha
através do botão que, uma vez apertado, poderia destruir o mundo com um holocausto
nuclear, hoje, teme-se o poder que emana da “chave” capaz de desligar a Internet.
172
Para maiores detalhes sobre esses projetos de lei veja o blog do Prof. Sérgio Amadeu da Silveira.
http://samadeu.blogspot.com, 30/06/2008, e matéria de Carlos Castilho publicada no Observatório da
Imprensa, “Senador insiste no controle da Web indo na contramão do processo de inovação tecnológica”.
196
5-) Exclusão Digital
Por fim, o problema final da Internet seria a exclusão digital, devido ao qual pessoas
excluídas da Internet inviabilizariam uma esfera pública conectada numa amplitude mais
democrática. Para o Brasil, este é um problema de extrema relevância. Até hoje existem
pessoas que sequer têm acesso à língua portuguesa. O analfabetismo ainda é um problema
que precisamos resolver, um problema que não só afeta o acesso à Internet, mas todas as
mídias que têm como base o texto. Segundo dados expostos na tese de doutorado do
professor Caio Túlio Costa, a situação relativa à escolaridade brasileira, em 2008, é a
seguinte: “9% é analfabeta, 25% tem até a quarta série, 23% cursou da quinta até a oitava
série, 31% fez o ensino médio e 12% tem um curso superior ou mais” (Costa, 2008:287-
288).
Se muitas pessoas não têm acesso ao texto, também não têm ao hipertexto, portanto
ficam de fora da esfera pública conectada. Ainda temos outra barreira que é a língua
inglesa, a língua universal, a principal língua da Internet. Se no Brasil muitas pessoas ainda
precisam aprender Português, o que dizer do Inglês? O problema do analfabetismo vem em
dose dupla para a nossa pobre realidade. Essa barreira da língua inglesa não é um obstáculo
somente à população brasileira, é uma barreira que se estende mundo afora. É fato que a
Internet é uma mídia cujas conexões a tornam de acesso mundial. Mas, se a Internet não
apresenta fronteiras como o mapa geopolítico mundial, ela apresenta fronteiras em relação
às línguas. Hoje é comum se medir a penetração de muitos sites e serviços pela web em
termos da língua nativa, mapeando a rede pelas línguas que são mais “faladas”. Por
exemplo, o UOL foi apontado como o maior site do mundo em língua portuguesa em 2006,
de não inglesa em 1998. Muitas empresas vêm tentando transpor essa barreira, criando
serviços de tradução instantânea de sites, utilizando mecanismos para identificar a língua
nativa do usuário e redirecionando-o para a página respectiva, e assim por diante. Existem
limitações para a universalidade atribuída à Internet, a diversidade de línguas que existe no
mundo é uma delas. Como dizia McLuhan, essa é a última barreira a ser transposta nesse
estágio final da evolução das extensões comunicacionais do Homem.
197
CONSIDERAÇÕES FINAIS – CAPÍTULOS I E II
“You buy future; you sell future;
when there is no future” – Devil’s
talking
173
O Paradigma da Internet
Iniciamos o capítulo nos referenciando à mudança de paradigma advinda da
inclusão da Internet dentro do palco midiático. Assim, vamos ressaltar quais foram as
palavras e conceitos-chave que embasaram esta mudança de paradigma que é, como
expusemos várias vezes: a introdução do indivíduo dentro da cena midiática através de uma
rede que permite a comunicação de todos com todos, e não mais somente de um (ou
poucos) para muitos, uma nova hierarquia comunicacional, ou seria melhor dizer: o fim das
hierarquias comunicacionais. Fazem parte dessa mudança de paradigma a cibercultura, a
inteligência coletiva e a nova forma de produção de conhecimento livre de propriedade
entendida como Commons, a base da produção dos pares (ou usuários) interconectados, a
peer production, que também perpassa por novas formas de conexão dentro de um mundo
desintermediado e desterritorializado. A extensão da escrita através do hipertexto
também nos mostra o novo degrau alcançado dentro da produção e do acesso ao
conhecimento nas novas mídias, muito aquém do patamar que antes era delimitado em
textos sobre suportes estáticos ou em imagens e sons que desaparecem no ar após o exato
instante em que são veiculadas. Até aqui, descrevemos o palco de um mundo midiático que
pode ser entendido como universal sem totalidade, que abrange todo o planeta e todas as
mídias, sem possuir qualquer tipo de instância centralizada de mediação, o que faz desse
novo palco, a Internet, uma mídia mais democrática que as demais. A universalidade,
também entendida pelo alcance global da Internet, transforma a somatória de uma série de
pequenos teatros em espaços que englobam o todo; a mídia, além de local, agora é mundial;
mais do que isso, o local se torna de acesso mundial a mídia de alcance global. Sendo
assim, a mídia, hoje, tem uma capacidade muito maior, tanto de filtrar as informações do
global para o local, quanto de projetar a informação local para o global, de modo que a
173
Em The Devil’s Advocate (1997). “Compra-se futuro, vendê-se futuro; quando não existe futuro” (T.A.).
198
profundidade informativa hoje disponível é infinitamente maior do que se tinha disponível
antes do surgimento da web. Isso também pode ser expresso através do paradigma
jornalístico no qual a informação é um direito fundamental do povo e, hoje, o povo nunca
esteve tão próximo da informação ou dos obstáculos que o separam dela. De forma que, se
a informação representa um quesito fundamental para que o povo possa delegar o poder
dentro das sociedades representativas, hoje ele tem condições de fazê-lo com muito mais
sabedoria.
O paradigma da Internet talvez seja único se comparado com as demais mídias, pois
ela é uma mídia que, de certa forma e em diferentes graus, reflete o que seus criadores
procuraram designar ao inventá-la, o que se verifica nos conceitos acima listados e através
das palavras liberdade, cooperação, reciprocidade e informalidade. A informalidade
reflete a relação indivíduo-indivíduo que não segue regras estabelecidas, da mesma forma
que a mídia perde as suas instâncias mediadoras.
Existem ainda certos movimentos que aceleram algumas tendências que vinham em
curso antes do surgimento da Internet, tais como a fragmentação e a segmentação da
mídia. A fragmentação pode ser, inclusive, entendida como a quebra da seqüencialidade
típica das dias tradicionais, não pela não-linearidade do novo meio, mas pelas
possibilidades que o cidadão hoje possui em acessar diversos conteúdos midiáticos de
diversas formas e em diferentes momentos, inclusive burlando as ditatoriais formas de
distribuição da informação como até então existiam (e que ainda coexistem com as novas).
Além disso, a mídia passa a refletir uma série de características da sociedade, na atualidade
muito centrada no individualismo e no narcisismo; assim, o centro da mídia se desloca para
o indivíduo e a mídia se torna eu-cêntrica.
Ruptura é outra palavra-chave dentro do novo paradigma comunicacional que se
inicia com a quebra do monopólio informativo antes detido pelas corporações de mídia que
hoje têm, ao seu lado, quase que em de igualdade, o indivíduo. Assim, todo o processo
produtivo (e também distributivo) da informação sofre uma fragilização com a presença do
usuário. O caso da Napster, que exemplificamos neste estudo, demonstra claramente esta
situação, assim como a compra da Time-Warner pela AOL, quando este conglomerado
apostava numa nova e lucrativa forma de distribuição de conteúdo via Internet, sem os
199
custos logísticos de toda uma cadeia produtiva e distributiva inerente a produtos midiáticos
analógicos, mas que não foi assimilada pelos usuários.
Outra palavra-chave do meio reflete o que o próprio meio é: uma inovação.
Enquanto muitos tentam entender se, de fato, a Internet é o vetor para uma grande
revolução que deve abalar os alicerces da sociedade como um todo, uma coisa apenas é
certa: ela representa uma grande inovação na forma como as pessoas se relacionam
midiaticamente, e isto, direta ou indiretamente, acaba refletindo na vida da sociedade. Mas,
o que enxergamos no dia-a-dia é uma constante evolução, que não pára, a cada inovação
segue-se outra ou se formam as bases para uma nova e mais ampla inovação, típica de um
meio que ainda não atingiu seu patamar máximo de evolução, que ainda está sendo
construido. De forma que a inovação de hoje representa o obsoleto de amanhã, e tal
palavra-chave se mantém sempre em atividade, construindo novas formas de comunicação
que ainda precisarão ser entendidas e absorvidas pela coletividade trata-se de um
movimento de virtualização e atualização crônico. Essas inovações tecnológicas também
nos levam a um novo mundo comunicacional; estaríamos, assim, entrando na era da
estrutura e da configuração de forma em que o próprio campo comunicacional é hoje
atravessado por uma série de devices, hardwares, códigos, protocolos e softwares que
colocam em cheque as suas próprias bases epistemológicas que, se eram frágeis dentro
do entendimento de vários estudiosos
174
, hoje se fragilizam ainda mais.
Com esse suprassumo de palavras-chave e conceitos ligados ao novo paradigma
comunicacional e, dentro dos entendimentos que apresentamos de ruptura de paradigma
através das citações ao estudo do português Boaventura Sousa Santos, chegamos a mais
uma característica de dualidade das novas mídias. Podemos afirmar que o novo paradigma
comunicacional é de crescimento e de degenerescência ao mesmo tempo. É de crescimento,
pois estamos construindo um novo mundo midiático muito superior e muito mais evoluído
em relação ao “velho mundo” da comunicação, que carrega consigo também alguns dos
valores positivos (e, infelizmente, os negativos também) que já existiam nas demais mídias,
assim como cria novos valores e fortalece/enfraquece outros. É de degenerescência porque
essas novas mudanças implicam uma revisão completa e de base epistemológica para
readequar o campo comunicacional dentro desses novos paradigmas. O jornalismo, que foi
174
Ver Martino, 2001 e Ruellan, 2006.
200
a âncora desse estudo dentro do campo comunicacional, é o grande exemplo disso, pois
hoje existe um profundo debate onde muitos se questionam se o jornalismo é uma
habilitação comunicacional ou um campo único do conhecimento, outros crêem que o
jornalismo não forma um campo de estudo próprio e sequer deveria ser agraciado com uma
formação universitária, tal habilitação não passaria de uma coletânea de conhecimentos
técnicos e, no mundo da estrutura e da configuração, a formação cnica chega mesmo a
sobrepujar a acadêmica: o jornalista sozinho não é capaz de se manter na nova mídia, sendo
refém de uma série de conhecimentos que estão fora do campo comunicacional. Se já se
questionava se o conhecimento comunicacional flutuava por outras áreas do conhecimento,
tais como a Filosofia, a Sociologia e as Ciências Políticas, hoje ele perpassa campos da
Informática e da Tecnologia da Informação, entre outros. E mais, a Internet coloca em
cheque a profissão do jornalista e muitos acreditam que não é mais necessário passar pela
universidade para exercer essa profissão em toda sua plenitude.
Tendências para o Jornalismo
A nova grande tendência para o jornalismo praticado através das novas mídias está
intimamente ligada com o novo paradigma comunicacional que tende a uma simplificação
da informação e no acesso à mesma, o que acarreta numa democratização para os
cidadãos que consomem as mais diversas formas de informação, notícia e conteúdo. Isso
leva a crer que esse novo mar de informações agora acessíveis criará indivíduos mais
conscientes de seu papel dentro da sociedade. Um exemplo da beneficie no acesso à
informação é a maneira como a Internet facilitou e democratizou o acesso às informações
de cotações da bolsa de valores e nos serviços de classificados, que são as bases
fundamentais do jornalismo (como diz Marshall McLuhan
175
). Esse tipo de melhora no
acesso à informação e a conteúdos diversos evoluirá constantemente, inclusive porque
agora a mídia tem agregada em si os benefícios da inteligência coletiva (que também
beneficiam o surgimento de cidadãos mais conscientes). Outra tendência deverá se tornar
realidade quando alcançarmos o novo patamar coevolutivo da Internet através da web
semântica, que agregará o conceito de agentes inteligentes em serviência a um acesso mais
175
Veja Capítulo I: “McLuhan e a Imprensa”.
201
dinâmico, esperto e personalizado à informação (como diz Nicholas Negroponte
176
), outro
vetor que beneficiará, mais do que nunca, o aumento e o acesso à inteligência coletiva.
Outro fator, inevitável, ligado ao jornalismo, se deve ao constante processo de
virtualização inerente das novas tecnologias que surgem incessantemente, tende-se a
repensar as bases epistemológicas dos estudos de jornalismo a fim de acompanhar as
novas peculiaridades informativas advindas das relações interativas dos meios digitais (mas
que nada tem a ver com a discussão de o jornalismo ser ou não uma área do saber
acadêmico ou não pertencer à Comunicação).
Outra mudança de base epistemológica está na própria plataforma aberta das novas
mídias que, cada vez mais, serão o palco por onde toda uma nova geração de jornalistas
exercerá a sua profissão sem precisar se preocupar com os velhos gatekeepers da velha
mídia, sendo, eles mesmos, os seus próprios gatekeepers. O jornalismo de autor, baseado
em narrativas mais próximas da opinativa e literária, passará a ser uma tendência à qual os
cursos de jornalismo se verão obrigados a convergir e, assim, educar os seus estudantes
para esta nova prática. Porém, uma outra figura característica do Jornalismo, o editor e/ou
publisher, como veremos no decorrer do próximo capítulo com alguns exemplos práticos
mas vale adiantar aqui, não desaparece na Internet. Ele se modifica, pois não pode mais agir
como o grande gatekeeper que era, mas continua existindo e sua importância é, e ao que
tudo indica, sempre será vital para a prática jornalística dentro da esfera ciberal.
O eu-centrismo que se verifica nas novas mídias tende a se intensificar, de modo
que teremos um aumento da interatividade e do papel do usuário nas pautas editorais,
defendendo seus próprios pontos de vista e sustentando opiniões e visões diferente das dos
meios de massa, onde poderemos ter uma completa subversão de valores, com o usuário
pautando a mídia e não mais o inverso.
176
Veja Capítulo I: “A Galáxia da Internet”.
202
CAPÍTULO III - O WEBJORNALISMO NA ATUALIDADE
Free will, it is a bitch” – Devil’s
talking
177
Neste capítulo vamos analisar o que está surgindo de novo na Internet em relação ao
jornalismo, observando alguns exemplos de como diversas instituições estão utilizando a
Internet e a tecnologia digital para se comunicar e disseminar a informação e o conteúdo.
Mais que os exemplos de instituições, onde examinaremos com mais atenção os sites dos
grupos Folha e Estado, analisaremos as novas iniciativas do indivíduo interconectado e
como ele está contribuindo para disseminar a informação de novas maneiras diante das
inúmeras possibilidades e novidades tecnológicas que vão surgindo no dia-a-dia.
Neste capítulo, sobretudo, examinaremos os exemplos da convergência das pessoas
diante as novas possibilidades interativas e comunicativas através das novas mídias digitais.
Nesse sentido, seremos obrigados a observar algumas empresas que vêm contribuindo para
a criação de novas formas de disseminação da informação, onde destacamos a Google, um
dos grandes players comunicativos da era digital.
Além de observarmos esses novos exemplos de convergência à nova mídia,
finalizaremos este capítulo com um debate colhido através das entrevistas que realizamos
com profissionais, estudiosos da comunicação e diversos blogueiros, quando abordamos
diversos temas pertinentes a todo esse trabalho, o que inclui, evidentemente, o fenômeno
dos blogs e o surgimento da blogosfera.
177
Em The Devil’s Advocate (1997). “Livre-arbítrio, isto é uma merda” (T.A.).
203
1. Iniciativas Mundo Afora
I’m the hand under the Mona Lisa’s
skirt… I’m a surprise, they don’t see
me come” – Devil’s talking
178
Google Dominando a Rede
Um vídeo publicado no Youtube, intitulado Epic 2015
179
, narra uma estória que,
apesar de fictícia, causa terror para muitos, dentre estes muitos, as empresas de mídia e, é
claro, os jornais impressos de que tanto falamos ao longo deste estudo. Para as empresas de
mídia, o vídeo pode ser tudo, menos épico, pois monta um cenário futuro para a
comunicação que não inclui nenhuma empresa do tradicional mainstream media. O futuro
da comunicação seria totalmente controlado pelo usuário e por empresas que produzem a
tecnologia que permite aos usuários se conectarem e serem os senhores da informação na
Internet. O marco de tal mudança teria sido a criação do sistema de recomendações da
Amazon que a Google transformou em algoritmo e, a partir deste (lidando com o link como
uma recomendação), estaria, ou podemos até dizer que está, dominando o ciberespaço com
diversas soluções que beneficiam a interatividade do usuário, inclusive, na partilha das
verbas publicitárias. Seria a segmentação e a fragmentação total da mídia, onde o valor da
informação estaria atrelado diretamente ao indivíduo e não mais a qualquer grande empresa
como temos hoje; estas atenderiam aos resquícios de um velho mundo cujas gerações
caminham para o fim, estando à margem do novo e grande complexo midiático digital
conectivo e inclusivo da Internet.
Embora tal cenário seja fictício, vários de seus elementos se encontram presentes na
atualidade midiática, a começar pela própria Google, que hoje se apresenta como uma das
oito maiores corporações de mídia globais. O medo da Google também é algo que se faz
sentir em vários cantos do mundo; a agência Reuters
180
, por exemplo, veiculou uma notícia
revelando que executivos europeus dos setores de mídia, tecnologia e telecomunicações
178
Em The Devil’s Advocate (1997). “Eu sou a mão embaixo da saia da Mona Lisa. Eu sou uma surpresa, eles
não me vêm chegar” (T.A.).
179
http://br.youtube.com/watch?v=U2LcBmoE6Ws, 29/09/2008. Vídeo produzido por Robin Sloan e Matt
Thompson para o museu de História da Mídia de São Francisco (Ferrari, 2007:54).
180
http://www.adnewstv.com.br/internet.php?id=69959, 26/05/2008.
204
temem que a Google roube-lhe os negócios. Já nos Estados Unidos, até empresas de outros
setores passam a temer a Google, e já estudam maneiras de não terem seus negócios
afetados pela revolução que ela vem fazendo dentro do mercado ciberespacial. O problema
é que a Google, que começou apenas com um sistema de busca inteligente na web, hoje
avança para diversos outros setores, tais como softwares para celulares e soluções para
diversas áreas, dentre as quais, medicina, agricultura e, inclusive, implementação de cabos
submarinos de fibra-óptica e compra de freqüências de TV (que deixarão de ser utilizadas
pelas redes televisivas convencionais que agora migram para o formato HD). Com as
diversas soluções que a Google cria, ou compra, ela vai aumentado os seus mercados, e à
medida que a Internet cresce e se desenvolve, a Google vai ficando mais forte. A própria
ascensão da Google é algo assustador, foram dois anos que separaram o surgimento da
empresa a o domínio do mercado de busca na web (entre 1998 e 2000). Hoje, até o
lendário Gordon Moore
181
se demonstra impressionado com a empresa, “nesse universo, o
Google é o que existe de mais impressionante”, diz o sapiente da informática.
Mas nem todas as notícias remetem a este cenário de completa hegemonia das
empresas digitais, enquanto alguns temem a Google, outros tentam derrubá-la, buscam
fazer frente a este novo gigante da mídia. Uma matéria de capa da revista Newsweek
182
se
pergunta se o está chegando a hora do Takedown?
183
da nova gigante, e aponta os
esforços de diversas empresas em atacarem o coração da Google, o seu sistema de busca. A
matéria foca as principais alternativas de sistemas de busca que estão sendo desenvolvidas,
tais como o Quintura (tecnologia russa e norte-americana), o portal sul-coreano de busca
Naver (que é o principal sistema utilizado no país), o alemão Mister Wong (que realiza
busca através dos bookmarks dos seus usuários), o sistema russo Yandex (), o
comitê do governo japonês conhecido como Great Voyage Information Project
(Information Grand Voyage
󱁷󰒐
), além dos sistemas da Microsoft,
Yahoo e outras novidades desta área. A matéria chama atenção para dois fatos interessantes:
é consenso que um limite para o que uma única empresa possa fazer dentro do mundo
181
Gordon Moore foi o autor da conhecida “Lei de Moore” que diz que a capacidade de processamento dos
chips dobraria a cada ano enquanto o preço se manteria (em 1975). Hoje, Moore afirma que “em dez anos, os
computadores atingirão a sua capacidade máxima, (...) pois estamos nos aproximando das dimensões atômicas
de processamento”, em entrevista ao especial Tecnologia da revista Veja de setembro de 2008, “A lenda
chamada Moore”.
182
Serching for the Best Engine”, de 05/11/2007.
183
Queda.
205
informativo, de modo que imaginar a Google controlando sozinha todo o mercado de busca
na Internet (ou uma única corporação qualquer) é algo inviável, inimaginável. O
desenvolvimento desses novos grandes sistemas, inclusive, deve suprir as carências e as
lacunas deixadas pelo Google, de modo que é mais fácil se imaginar um cenário futuro
onde diversas empresas oferecerão variadas soluções para a busca de igualmente variados
tipos de conteúdos que os usuários procuram pela grande rede, do que um cenário
dominado majoritariamente pela Google. Uma das falhas mais evidentes do sistema da
Google é que ele se baseia nos sites que são mais vinculados, ou seja, assumindo que, se,
uma página possui muitos links que apontam para ela, ela deve possuir alguma
importância
184
. Sim, faz sentido, mas nem sempre o usuário está em busca do que é mais
relevante. Essa falha tem sido o hiato que outras empresas buscam explorar dentro deste
mercado. O problema é que, enquanto isso, a Google se expande cada vez mais para outras
áreas, de modo que outro consenso atual é que, se, não podemos afirmar que a hegemonia
da Google será total dentro do ciberespaço, como aponta o vídeo que mencionamos,
também é consenso se imaginar o cenário futuro da comunicação sem uma forte
participação da Google é impossível.
Uma rápida navegação pelo site do Google
185
nos mostra as soluções oferecidas
pela empresa além da busca na web. Na página inicial, ao centro da página, um campo de
busca com três opções (pesquisar a web, ginas em português ou ginas do Brasil),
convida o usuário a digitar algo que esteja procurando. Há, ainda, ao lado do campo de
busca, três links para outras opções oferecidas pelo site: pesquisa avançada, preferências e
ferramentas de idiomas. No canto superior esquerdo da gina são exibidas outras
ferramentas da Google: pesquisa de imagens, mapas, notícias e links para os sites da
comunidade virtual Orkut e para o serviço de e-mail G-mail. ainda, outro link para
184
O mecanismo da Google é entendido como sendo a segunda-geração da busca na Internet. A primeira-
geração foi marcada pelos sistemas de busca que encontravam páginas que continham as palavras-chaves que
os usuários procuravam, como os mecanismos AltaVista e Yahoo. Hoje, a Yahoo virou um joguete na mão de
corporações como a Microsoft, News Corp e a própria Google, que entraram numa disputa pelo controle da
mesma. A matéria aponta que os sistemas da Yahoo e da Microsoft são os que mais satisfazem os usuários,
porém o Google é o sistema de busca mais utilizado da atualidade: The biggest hurdle for Yahoo and
Microsoft is that people don’t try their engines as often as Google’s”, diz a matéria (“O maior obstáculo para
a Yahoo e a Microsoft é que as pessoas não tentam os seus sistemas de busca tão freqüentemente quanto o da
Google”). Uma matéria veiculada pela WBI Brasil aponta que a Google detém 61% do mercado de busca
norte-americano, supremacia tal que nem a fusão Microsoft com a Yahoo poderia fazer frente (Veja:
http://www.wbibrasil.com.br/boletim.php?id_boletim=479, 14/08/2008).
185
http://www.google.com.br, 03/10/2008.
206
maisopções, sobre o qual discorreremos adiante. No canto superior direito um link
para outro serviço relacionado a noticias oferecido pela Google, o iGoogle (com um campo
para login para este serviço que requer cadastro).
Abaixo do campo de busca da página inicial do Google ainda cinco links mais.
Em Soluções para publicidade, o usuário fica a par e pode encomendar os dois pacotes
básicos de marketing contextual do Google: o AdWords (links patrocinados), que é voltado
para anunciantes em geral, um mecanismo que cobra pelos anúncios quando os usuários
clicam sobre eles, uma máquina que movimenta cerca de quinze bilhões de dólares por ano,
dos quais, quatro bilhões vão para o cofre da empresa
186
; e o AdSense, que é voltado para
proprietários de sites, mecanismo que oferece uma compensação financeira ao proprietário
do site caso algum usuário efetue uma compra de um produto a partir de um anúncio que
este dispõe. Há, ainda, outro link para contato com a empresa para aqueles anunciantes que
procuram outros tipos de soluções personalizadas em propaganda na web, o que inclui um
mecanismo chamado MOB (otimização do site em mecanismos de busca). Este serviço
possui um tipo personalizado de monitoramento, e é otimizado ao site conforme as
palavras-chave do cliente, fazendo com que o site fique posicionado nas primeiras
colocações da busca orgânica
187
.
Fechando essa pequena análise da página inicial do site da Google nós temos, além
do campo de busca e suas respectivas opções, um menu superior com sete links, e mais
cinco links com outros serviços e informações da empresa, num total de doze links. No
entanto, o destaque maior da página é para o serviço principal da empresa, a busca. O
logotipo da empresa e o campo de busca junto ao centro da página servem como um ponto
de fuga de onde o olhar do navegante não consegue escapar, não há como um usuário entrar
na página do Google e não encontrar o sistema de busca. Ele pode até demorar para
encontrar outras informações, mas a principal, aquela que se inicia a partir da busca, não
nenhuma dificuldade ou obstáculo que o separam dela. O webdesigner Luli Radfahrer
188
,
baseando seu estudo na teoria da Gestalt, demonstra que qualquer usuário que se depare
186
Segundo estimativas publicadas pela revista Newsweek de Novembro de 2007.
187
A busca orgânica refere-se à busca nornal do Google. Tal mecanismo, incluindo a busca normal, possui
uma ferramenta que “limpa” as palavras-chaves mais usadas, pois são todas ligadas à pornografia. Assim,
quem anuncia no Google ao menos não corre o risco de associar seu produto a itens pornográficos, entretanto,
outros tipos inescrúpulos de associação podem acontecer, como analisamos.
188
Web / Design / Web. São Paulo: Market Press, s/d.
207
com uma página com mais de sete links tende a perder-se e, em muitos casos, desiste de
procurar a informação que busca. Embora a gina inicial do Google ofereça mais do que
sete links, isso não ocorre em relação à busca, que o único grande destaque da página é
para o sistema de busca. Destacamos tal fato, pois, como vimos no capítulo anterior,
usabilidade é um conceito fundamental para qualquer um que queira dispor informações na
web, e cremos que o site da Google é um exemplo perfeito de usabilidade, tanto que, como
destaca Mike Ward, muitos usuários preferem buscar notícias através de sites de busca ou
outros mecanismos, ao invés de navegar no confuso mar de opções oferecidas pelos portais
de notícias ou sites de empresas jornalísticas. Googlar é simplesmente mais fácil e, se não
bastasse isso, a Google ainda oferece diferentes opções para o usuário encontrar e
personalizar notícias de que queira se inteirar, como veremos adiante. E mais, como se a
simplicidade e a usabilidade que destacamos até aqui fossem insuficientes, a Google ainda
possui uma opção de página de busca configurável pelo usuário chamada Google mini, cuja
página inicial se compõe apenas do logotipo da empresa e do campo de busca, nada mais
(nem as opções de busca que listamos acima), inclusive, até o logotipo da empresa pode ser
editado pelo usuário. Sem dúvida, a Google demonstra que entende muito bem o que o
termo usabilidade significa e, antes de tudo, este relaciona-se com a simplicidade.
Outro link, Tudo sobre o Google, traz mais informações sobre a empresa, perfil da
Google, arquivos de ajuda e links para alguns dos serviços que estamos listando. Além
deste, outro link que leva o usuário para uma página de ajuda sobre questões
relacionadas à Privacidade, um dos calcanhares-de-aquiles da empresa, que sofre com
diversos processos judiciais relativos a problemas ligados a esta questão. Por fim, mais dois
links abaixo do campo de busca da página inicial do Google trazem a opção do usuário
configurar o Google como sua gina inicial de navegação e outro que o leva à página
original do site norte-americano da Google. Clicando no link para o site original da Google
nos Estados Unidos, a página se mantém igual, apenas o link para o Orkut é substituído
pelo link Shopping, e não há o link para configurar o Google como página inicial.
No link para “mais” opções do Google, destaque para os principais serviços
oferecidos pela empresa e um link para outra opção intitulada “e muito mais”, onde são
listados os seguintes serviços:
208
Soluções relacionadas à busca na Internet: Acadêmico, Barra de Ferramentas,
Bloco de Notas, Google Chrome (browser), Desktop, Diretório, Earth, iGoogle,
Imagens, Mapas, Pesquisa de Blogs, Pesquisa de Livros e Pesquisa na Web.
Outros serviços: Agenda, Blooger, G-mail, Grupos, Orkut, Picasa, Talk, Docs,
Youtube e Pack.
Estes são os serviços oferecidos pela Google que são visíveis aos usuários, mas
existem diversos outros, alguns ainda, tais como o Froogle; busca de produtos ainda não
disponível em nosso país, e o Google Watch; cookie que armazena informações sobre as
buscas realizadas pelos usuários, também entendido como o sistema de espionagem da
empresa, que tanto é capaz de usar as informações para melhorar e direcionar os seus
serviços/produtos como é capaz de vendê-las para terceiros, entre os quais a CIA – Central
Intelligence Agency (EUA) – seria um dos clientes (Araujo, 2006:488). Existem também os
serviços e soluções voltados para empresas, tais como venda de sistemas para blogs
corporativos, soluções para streaming de vídeo, licenciamento de tecnologia de busca e
diversos outros
189
. Como vimos na lista acima, existem dois serviços relacionados ao
mundo da notícia, a pesquisa de blogs e o iGoogle, mas outros: o Google Notícias, o
Google Reader e a plataforma de blogs Blogger. Outro site da Google que vem sendo muito
utilizado pelos blogueiros é o Analytics, sobre o qual discorreremos no penúltimo tópico
deste capítulo.
O Google notícias é um serviço personalizável onde o algoritmo da empresa é
utilizado para listar as principais notícias nos países onde este serviço é disponível (em 59
países, segundo disposto na página inicial do site), a página é divida em editorias (Últimas
notícias, Internacional, Brasil, Negócios, Ciências, Esportes, Entretenimento e Saúde), mas
limita-se a fontes parceiras da empresa naquele país (são duzentas no Brasil, segundo
informação disposta no site). Há ainda uma opção específica para busca de notícias na web.
O interessante do serviço é que além das notícias em manchete, o usuário pode acessar as
demais notícias que se relacionam com as que aparecem em destaque. Assim, seguindo a
lógica do algoritmo da empresa, as noticias de destaque são sempre aquelas que possuem
189
Segundo informações expostas no site IDG Now!, a Google detém cerca de 75% do mercado de busca
paga mundial. Veja: http://idgnow.uol.com.br/mercado/2008/02/04/google-ataca-compra-do-yahoo-pela-
microsoft-ballmer-defende-negocio/, 28/10/2008.
209
mais notícias que se relacionam a mesma. Wilson Roberto Bekesas quando discorre sobre
as novas interfaces da notícia através da web, inclui a análise do sistema de notícias da
Google, e expõe:
O Google News e os agregadores de notícias servem-se da tecnologia do que ficou
conhecido como semantic web, que opera com metadados semânticos dentro da web, isto é,
informações que descrevem o conteúdo, o significado e a relação entre todos eles de uma
maneira que podem ser reconhecidos e agrupados pelos mecanismos de busca dos diversos
banco de dados presentes na rede. O RSS faz parte desses metadados (Bekesas, 2006:76).
O iGoogle é um serviço de RSS da Google, onde o usuário, através de um cadastro,
pode personalizar as notícias que quer dispor em uma página configurável. A jornalista e
blogueira Lucia Freitas diz que o iGoogle “é um sistema diferenciado de RSS, que não
utiliza a dinâmica do código limpo (XML), e serve para compartilhar as informações que
são dispostas num blog, por exemplo. O iGoogle (e o Google News) é conteúdo, não
mexe com o formato”. Na verdade, os serviços Google News e iGoogle se confundem, o
segundo é um adicional ao primeiro, onde o usuário, mediante cadastro, pode configurar
com mais precisão as notícias que queira acessar, inclusive, adicionando os seus próprios
feeds e integrando informações de outros serviços da Google, como o G-mail e o Orkut, por
exemplo.
Pelo iGoogle é possível se identificar quais são as empresas parceiras da Google
dentro do mundo da informação em nosso país, quais são os parceiros que oferecem
conteúdo para tal serviço. O site oferece a personalização de notícias e informações de
incontáveis empresas e sites do mundo, que seriam impossíveis de serem listados, são os
gadgets e feeds que o usuário pode adicionar à sua gina do iGoogle. Além das opções
que a Google oferece, o usuário pode configurar os feeds de qualquer site que ofereça este
recurso. Uma busca por novos gadgets e feeds nos retornou mais de duas mil opções, até o
momento em que desistimos de continuar a busca. Basicamente, os gadgets e feeds são
organizados em oito categorias: notícias, ferramentas, comunicação, diversão e jogos,
finanças, esportes, estilo de vida e tecnologia.
Dentre as opções oferecidas pela Google na categoria notícias, destacam-se as
seguintes de empresas brasileiras:
210
Estadao.com.br, Meio & Mensagem, PCI Concursos, Folha Online, IstoÉ
Dinheiro, Revista INFO Online, Clube do Hardware, UOL, Band Jornalismo,
Terra, Google News Brasil, iG Último Segundo, Viva o Linux, Dicas-L, Geek,
No Mínimo, Valor Online, Jornal do Comércio Online, IDG Now, Horóscopo
Virtual, Baboo, Blue Bus, Info Money, BBC Brasil, Mundo Virtual, Portal do
Desenvolvimento, Últimas Notícias FIAM-FAAM-FISP e Jus Naviganti.
Vale frisar que algumas dessas empresas listadas acima oferecem diversos feeds e
gadgets. No total, encontramos cerca de setenta opções ligadas a notícias no Brasil, mas
existem inúmeras outras.
Há, ainda, os feeds e gadgets mais populares, aqui listaremos as empresas
brasileiras que não aparecem na lista anterior. São as cem (100) opções mais populares
segundo o Google, o que corresponde às dez primeiras páginas de resultados da busca por
novos feeds e gadgets, que, como foi colocado anteriormente, são poucos os que se
aventuram além da décima página de resultados de busca do Google, essa listagem
apresentou apenas três resultados:
O Globo, G1 e Blog dos Blogs.
Também, adicionamos os feeds e gadgets de empresas brasileiras que aparecem
entre os cem (100) mais listados numa busca em todas as categorias:
iG, Charges.com.br, Frasear.com, Climatempo, Globo.com e Cotações
BOVESPA.
A mesma busca com o filtro BR (sites brasileiros), retorna as seguintes empresas
nacionais ligadas à notícia:
SBCWeb.com.br, Macrofotografia, Tableless.com.br, Motorclube.com.br,
Rasta.com.br, Just Lia, CavZodiaco.com.br, HotSurfers.com.br, iftk.com.br,
211
eupodo.com.br, Três Minutos para o Sucesso, Inovação Tecnológica e Portal
Exame.
De todos esses serviços listados, existem aqueles que são oferecidos logo na página
inicial do iGoogle, que pertencem às empresas diretamente parceiras da Google no Brasil.
Além dos serviços da própria Google, aparecem serviços de grandes empresas noticiosas,
tais como: Globo, iG, UOL e Folha Online, entre outras de dimensões menores listadas
acima
190
.
Como se pode observar, as principais empresas de comunicação do país oferecem
diversos serviços e feeds que podem ser acessados pelo iGoogle. As que não aparecem nas
listas acima podem ser encontradas através de buscas específicas, de forma que nenhuma
fica de fora. Dos oito grandes grupos comunicacionais brasileiros que listamos no primeiro
capítulo, apenas o grupo Silvio Santos não retornou nenhum resultado dentro desta busca
que empreendemos.
O fato interessante que se pode observar nesta busca é que não hierarquia entre
os resultados, qualquer site que ofereça esse tipo de serviço pode aparecer na busca, seja ele
de um grande grupo noticioso, de um grande portal, um serviço oferecido por um site
qualquer ou um simples blog. De fato, podemos observar que, na web, nome e tradição são
fatores de pouca relevância, o que se destaca, como esta pequena pesquisa revela, é o
conteúdo dos sites, onde os mais interessantes para os usuários são aqueles que mais se
destacam, não importando, inclusive, a sua relevância. Sendo assim, conclui-se que há um
certo grau de veracidade na afirmação de que, na Internet, as empresas se encontram
praticamente em pé de igualdade com o indivíduo e suas produções.
Por fim, os outros serviços relacionados à notícia oferecidos pela Google são o
Blogger, plataforma gratuita para a criação de blogs, e o Reader, um programa leitor de
RSS que, assim como diversos outros similares (Bloglines, News Gator News Alloy, Bandit,
Feedreader, Tristana, Active Web Reader etc.), permite a organização e leitura de feeds
RSS através de um programa muito parecido com os gerenciadores de e-mail (tanto que o
Yahoo mail oferece esse serviço integrado ao seu programa), de forma que, uma vez
atualizados os feeds, o leitor pode lê-los off-line. A diferença básica entre o Google Reader
190
Veja anexo 2.
212
e o iGoogle é que o segundo pode ser lido online (além de não trabalhar com o código
XML limpo como mencionamos, uma característica dos leitores RSS em geral).
Como vemos, a Google através de seus mecanismos e tecnologias vem trazendo
novas soluções para o mundo informativo, que incluem uma nova gama de possibilidades
pela qual os usuários podem se informar através das novas mídias. Mesmo sem precisar
produzir conteúdo, valendo-se dos conteúdos de outras empresas, a Google se apresenta
hoje não mais apenas como uma empresa de tecnologia, mas também de mídia, e dadas as
dimensões que a empresa vem ganhando, entende-se o porquê de muitos terem medo dela,
ou outros que a incluem dentro de um novo cenário comunicacional sem a participação das
empresas de mídia tradicionais, como preconizado no vídeo por onde iniciamos o presente
tópico. Por essa análise, cremos que tal cenário não se desenha, pois como vimos, o que a
Google faz é facilitar o acesso e servir de plataforma para que empresas e usuários
desfrutem de suas produções, informações e conteúdos diversos. A totalidade dos
conteúdos acessíveis pelos mecanismos da Google advém de grandes empresas
informativas e terceiros, o que se faz por meio de diversas parcerias inclusive. Apesar de
não acreditarmos em mundo comunicativo que venha a ser dominado apenas por empresas
de tecnologia (além do próprio usuário), uma coisa é fato: a Google controla a informação
centrada no usuário, algo que está fora do alcance das tradicionais empresas de mídia, trata-
se de um novo negócio, um novo mundo informativo totalmente fora da lógica com a qual
as grandes corporações de mídia tradicionais montaram os seus impérios, daí muitos
entenderem que estes venham a ruir ou estejam sofrendo para se adaptar dentro desse novo
contexto midiático.
213
2. Iniciativas Brasileiras
“Despite all his imperfections, I’m a
fan of men! I’m a humanist, maybe the
last humanist” – Devil’s talking
191
Os Jornais Brasileiros na Internet
Antes de analisarmos os dois grandes jornais paulistanos, vale traçar um pequeno
histórico da inserção das empresas brasileiras de mídia na Internet. Em sua tese de
doutorado (2002), o professor Gilson Vieira Monteiro analisa o posicionamento das
empresas jornalísticas de Manaus na Internet. No decorrer de sua análise, ele destaca que “a
ida dos jornais brasileiros para a Internet segue a trilha dos jornais norte-americanos, como
tem sido prática recorrente na imprensa brasileira” (Monteiro, 2002:83). Monteiro revela
que, desde a decisão de entrar na web até o modelo de negócio das empresas nacionais,
segue-se os modelos adotados nos Estados Unidos, espera-se para ver o que eles fazem para
depois fazer igual.
Monteiro destaca quais foram os passos adotados pela mídia brasileira em sua
empreitada na nova mídia, que se iniciou em 1995 seguindo a trilha do jornal San José
Mercury News
192
(2002:83-86):
1995:
o Jornal do Brasil (Rio de Janeiro) disponibiliza o conteúdo do seu
impresso em uma versão online, o JB Online;
o O Grupo Estado entra na Internet através do site NetEstado, da
Agencia Estado (que incluía o conteúdo do jornal O Estado de S.
Paulo);
o Revista IstoÉ (Editora Três) também entra na Internet.
1996:
o Revista Veja (Editora Abril) entra na Internet através do lançamento
de um portal de serviços, o BOL (Brasil On-Line);
191
Em The Devil’s Advocate (1997). “Apesar de todas suas imperfeições, eu sou do Homem! Eu sou um
humanista, talvez o último humanista” (T.A.).
192
Segundo o professor de jornalismo Walter Teixeira Lima Junior, em análise a este estudo por ocasião da
banca qualificatória realizada em 08/09/2008, os primeiros jornais brasileiros a se aventurarem na web foram
A Tribuna (de Santos) e o Diário do Grande ABC (da Grande São Paulo), a análise a seguir, contudo, leva em
consideração apenas os maiores veículos do país.
214
o Grupo Folha lança o portal UOL (Universo On-Line), que passa a
veicular, inclusive, conteúdos dos jornais do grupo;
o Cerca de seis meses após o lançamento dos dois portais acima
mencionados, o UOL absorve o BOL. O UOL transforma-se em
provedor de acesso;
o A RBS (Rede Brasil Sul) entra na Internet através do provedor de
acesso Nuctecnet;
o Diversos jornais lançam suas versões online, O Globo e O Dia (Rio
de Janeiro), O Estado de S. Paulo e o Zero Hora (Rio Grande do
Sul).
1997:
o A RBS lança o provedor de conteúdo ZAZ, de forma que o
ZAZ/Nectecnet se transforma no maior concorrente do UOL;
o Revista Veja é disponibilizada via web pelo portal UOL, assim como
o conteúdo integral do jornal Folha de S.Paulo (somente para
assinantes).
1998:
o O UOL torna-se o maior provedor de acesso brasileiro e o maior site
mundial de língua não-inglesa, com cerca de dois milhões de páginas
e beirando dez milhões de page views/dia (Monteiro citando Freitas,
1999).
O estudo de Monteiro destaca o fato de a tendência mundial de sinergia midiática
ser algo que, dentro do processo de inserção das empresas brasileiras na nova mídia,
ocorreu de forma avassaladora no Brasil. Ele exemplifica isso com a seguinte constatação:
A tendência de fusões e aquisições e parcerias, que parece ser regra no Mercado da
Informação atual, foi antecipada no Brasil. Os dois concorrentes, lançados com três dias de
diferença, no mês de abril de 1996, estavam fundidos em novembro do mesmo ano, com o
segundo ‘engolindo’ o primeiro (...).
A velocidade com que o UOL absorveu o BOL é digna dos tempos de Internet (Monteiro,
2002:84).
Com essa constatação, vemos que a Internet é uma plataforma onde se pode
observar a convergência dos meios, também como um movimento da sinergia midiática.
Observamos que as fusões de grandes sites e portais são inúmeras e se sucedem
rapidamente. Além dessas grandes fusões, existe também um movimento numa escala
menor que, para um rápido entendimento, chamaremos de “microssinergia”, onde os
grandes portais absorvem inúmeros sites com conteúdo e serviços diversos. Quem nunca
observou um pequeno site qualquer que, de um momento para outro, passa a ser veiculado
sob a barra de navegação de um grande portal? Se fossemos quantificar essa
215
“microssinergia”, um estudo à parte seria necessário para mapeá-la. De qualquer modo,
serve para ilustrar a necessidade incessante que os grandes grupos de mídia têm em dispor
conteúdos diversos e atingir públicos cada vez mais segmentados.
Esse histórico que apresentamos até aqui é referente ao primeiro estágio da inserção
das empresas brasileiras de mídia na Internet. O estudo de Gilson Vieira Monteiro aponta
que a entrada do conteúdo noticioso na Internet seguiu três etapas:
A primeira delas foi aquela em que os jornais on-line ofereciam, basicamente, o mesmo
conteúdo dos jornais impressos. A segunda, de acordo com PAVLIK (John V. Pavlik. The
future of online journalism: a guide to who’s doing. USA: 1997), ‘caracteriza a maioria dos
melhores sites de noticias’. É quando o conteúdo noticioso amplia-se através dos hiperlinks
e apresenta ‘características interativas como a dos sites de busca, que procuram material em
tópicos específicos; e um grau de customização (customization) – a habilidade para escolher
que categorias de notícias e informações que você quer receber’. A última seria a criação,
pelos jornais, de material exclusivamente para WEB (Monteiro, 2002:78).
O segundo estágio tem seu marco com o estouro da bolha da Internet, quando, após
quatro anos de crescentes investimentos (1996 a 2000), o retorno não veio da forma como
se esperava
193
. Essa “quebra” no patamar de investimentos na nova mídia varreu do
mercado ciberespacial uma série de empresas pure play, sobrevivendo somente as mais
estruturadas, sendo a maioria delas com negócios estruturados fora da Internet. Foi o
momento em que surgiu a Globo.com., portal das organizações Globo que passou a prover
acesso à Internet aliado do conteúdo exclusivo gerado por todos os veículos do grupo.
Nesse segundo momento, não foi só a Globo que mudara sua postura diante do novo
meio, mas todas as grandes empresas de mídia nacionais. Os grandes jornais passaram a
reformular sites e portais informativos na Internet, como aponta a professora e jornalista
Pollyana Ferrari: “O mercado passou a preocupar-se mais seriamente com a integração
entre conteúdo de qualidade, design acessível e viabilidade financeira a ser obtida (...)
com a obtenção de receita por publicidade” (Ferrari, 2003:28). O patamar agora não estava
mais somente ligado ao fornecimento de conteúdo e/ou acesso, mas também no retorno do
investimento em publicidade.
193
Muitos estudiosos, dentre eles Manuel Castells e Pollyana Ferrari, esclarecem que o “estouro da bolha” se
deu em função de uma aposta feita, na forma de investimentos em bolsas de futuro, na distribuição e venda de
conteúdo pela Internet, o que não aconteceu da forma e com a rapidez que se esperava na época. A compra da
Time Warner pela AOL talvez seja o maior exemplo nessa aposta feita e que depois não se confirmou,
entretanto, a AOL Time Warner sobreviveu, apesar dos prejuízos.
216
De 2000 em diante, as empresas informativas vêm evoluindo constantemente,
pulando do primeiro estágio, passando rapidamente pelo segundo e chegando ao terceiro
estágio, quando aparecem diversas empresas produzindo conteúdo exclusivo para a
Internet. Esse estágio também conta com o surgimento e a ampliação das conexões de
banda larga e, nesse cenário, aparece a empresa espanhola Telefonica que, através da
compra do ZAZ, lança o portal Terra, e passa a concorrer no provimento de acesso e
conteúdo exclusivo ao lado do UOL e da Globo.com, como um dos maiores provedores de
acesso nacional. Outras empresas também passam a produzir conteúdo exclusivo,
destacam-se o iG Último Segundo, e os próprios sites de diversos grandes jornais
brasileiros, como O Globo e o Estadão.
Grupo Folha
O Grupo Folha, de propriedade da família do patrono Octávio Frias de Oliveira, é a
quarta maior empresa de mídia em faturamento do Brasil
194
. Além do jornal Folha de
S.Paulo, o grupo possui outros dois: Agora São Paulo e Valor Econômico (em sociedade
com a Globo). Na Internet, possui três portais, o Folha Online, BOL e UOL (em sociedade
com a Portugal Telecom), sendo os dois últimos também provedores de acesso. O grupo
ainda possui o instituto de pesquisa Datafolha e, completando a cadeia produtiva e
distributiva de seus produtos, possui editoras, gráficas e transportadoras. O principal
veículo do grupo ainda é o tradicional jornal Folha, o maior do país que, em 2006,
registrava uma média de 309 mil exemplares vendidos diariamente.
A entrada do grupo na Internet se fez através da parceria com o grupo Abril com o
portal e provedor de acesso UOL, em 1996. Beth Saad destaca em seu estudo que “a
construção de uma identidade para o UOL teve, desde o seu lançamento, uma clara ênfase
no aspecto mercadológico” (Saad, 2003:179). A estratégia seguiu o modelo das empresas
norte-americanas Compuserve e América Online, como aponta um estudo dissertativo de
Hélio Freitas (1999), que analisa a entrada do Grupo Folha na Internet. Freitas destaca o
fato do UOL basear-se no provimento de conteúdo exclusivo (somente acessível a
194
Dados publicados na Revista Adusp 42, de janeiro de 2008.
217
assinantes). O diferencial do UOL foi não utilizar softwares exclusivos de acesso como o
caso dessas empresas (o browser exclusivo).
A entrada do jornal Folha de S.Paulo na web, segundo o estudo de Righetti e
Quadros (2007), aconteceu com a criação do FolhaWeb, em 1995. Mais tarde o FolhaWeb
tornou-se Folha Online, com uma redação própria, responsável por aproximadamente 60%
do conteúdo os 40% restantes são extraídos da versão impressa” (Righetti e Quadros,
2007:8-9)
A Abril deixou a sociedade com o Folha e entrou a Portugal Telecom (que detém
27% do negócio). O negócio cresceu, abriu seu capital à bolsa e hoje o site beira um milhão
de assinantes. É o quarto no ranking de acesso domiciliar do país (atrás do Google, Orkut e
MSN). Righetti e Quadros apontam o UOL (em 2006) como “o maior provedor de conteúdo
de Internet do mundo. A atual holding Folha-UOL S.A. foi criada em 2005 com a fusão do
UniversoOnline” (Righetti e Quadros, 2007:8-9). O mesmo estudo esclarece que, com esse
crescimento todo, “o UOL dialoga com um público muito maior do que o do jornal Folha
de S.Paulo: são aproximadamente 35 milhões de pessoas que visitam o UOL diariamente,
em contrapartida a menos de 2 milhões de pessoas que têm acesso ao jornal” (Righetti e
Quadros, 2007:9). Hoje, o UOL, muitos poderiam dizer, é o veículo carro-chefe do grupo,
pois, além de dialogar com um público maior, traz mais receita para o grupo.
Como vemos, o Grupo Folha está presente na Internet através de dois portais de
acesso e o site de seu principal jornal. As parcerias e sociedades ligadas ao grupo, tanto
nacionais quanto internacionais, o colocam em convergência com a plataforma binária
dentro da sinergia da mídia do modo como vimos no primeiro capítulo. O seu
posicionamento na web, através de um grande portal, é a chave do sucesso do grupo dentro
da nova mídia. Porém, em relação ao jornal, veículo que até o surgimento da Internet
sempre fora o carro-chefe dos negócios do grupo, a mesma lógica não pode ser aplicada,
pois, como destaca Saad, “uma outra característica definida nessa etapa para o UOL foi a
sua estruturação separada da redação do jornal Folha de S.Paulo, constituindo-se numa
pessoa jurídica independente e com seus espaços físicos também separados”. Em outras
palavras, o sucesso, tanto do Grupo Folha quando do portal UOL, não pode ser atribuído à
inserção do jornal Folha de S.Paulo na Internet.
218
Uma das explicações para o sucesso do Grupo Folha com seu novo “produto”, o
portal UOL, pode ser entendida pois este “tinha parte de sua sustentação financeira
ancorada nas assinaturas de acesso à Internet” (Saad, 2003:196). Mas existem diversos
serviços de assinatura de acesso à web; assim, o fato do UOL se manter no topo como
maior provedor nacional pode ser entendido pela estratégia adotada pelo grupo que
“promoveu a introdução contínua de inovações tecnológicas em seus serviços (...) surgiram
a TV UOL, a Rádio UOL, o UOL News (...) programação on-demand em vídeo, imagens
ao vivo e música” (Saad, 2003:196). A relação desse sucesso com o jornal, o carro-chefe do
grupo até então, pode ser entendida pela seguinte colocação de Saad: “A condução do
negócio sempre teve à frente executivos do Grupo Folha, imprimindo a cultura Folha
(Saad, 2003:197). Righetti e Quadros enxergam a constante inovação do UOL que
“continua seguindo sua definição de estratégias por meio de acompanhamento de mercado
e por meio de tentativa-erro” (Righetti e Quadros, 2007:11), e também se referem à criação
da TV UOL como um exemplo dessa estratégia.
Como vemos, a partir do momento em que o Grupo Folha deixou a condução de
seus negócios na mão de profissionais, seu negócio deslanchou, o que se refletiu inclusive
na sua inserção na web através do portal UOL. A sua colocação frente ao capital aberto e
internacional também pode ser entendida como um caminho que lhe conferiu larga
vantagem em seu posicionamento na nova mídia. Tal fato fica evidente quando
comparamos os dados atuais do grupo com o seu maior concorrente, o Grupo Estado que,
com a manutenção de seu negócio sob o jugo familiar, hoje está muito aquém de seu
concorrente.
Porém, como enfatizamos, o sucesso do grupo não pode ser conferido ao seu
principal veículo (ou pelo menos, o seu mais tradicional veículo), o jornal Folha de
S.Paulo. Quando Saad analisa as ações do Grupo Folha que, partindo de uma parceria com
a Abril na criação do UOL, passando ao domínio majoritário do mesmo, transformando-o
numa nova pessoa jurídica e, inclusive, expandindo-o para outros países através da abertura
de filiais e fusões com outras empresas (a PT Telecom através do portal ZipNet), ela revela
que:
(...) o conjunto de ações (...) reflete uma visão de longo prazo por parte do UOL. Uma vez
consolidada a audiência e a captação de conteúdo, o foco principal esteve na organização do
219
negócio para a expansão. Nesse sentido, verifica-se que as questões editoriais e o caráter de
empresa informativa ficam cada vez mais distantes (Saad, 2003:198).
Essa é a grande diferença do posicionamento do Grupo Folha para o seu
concorrente que, como veremos adiante, procurou focar seu posicionamento em relação à
Internet no seu know-how secular de produção informativa.
Folha Online
O site da Folha Online
195
tem no topo da janela um slogan que destaca a cobertura
em tempo-real do site: “Primeiro jornal em tempo-real em língua-portuguesa”, uma
pequena frase que remete às análises que fizemos sobre as características da Internet, a
instantaneidade e suas fronteiras delimitadas pelas línguas faladas, neste caso, a língua
portuguesa. Ao contrário da simplicidade que destacamos através da análise da página
inicial do site da Google, o usuário que entra na página inicial da Folha Online é golpeado,
quase nocauteado, por inúmeras informações e links que a gina oferece. O ponto de fuga
leva os olhos do leitor para um espaço onde algumas fotos se alternam com destaque para
diferentes manchetes, sendo uma delas a capa do veículo impresso Folha de S.Paulo e a
manchete maior do jornal daquele dia. Ao lado, encontram-se as principais manchetes do
site que se alteram conforme os fatos de maior importância vão se desenrolando durante o
dia; inclusive, a página se auto-recarrega em intervalos de poucos minutos para que as
notícias “em tempo-real” possam ser atualizadas. Fora deste espaço, o usuário é obrigado a
percorrer o olhar por um mar de opções, links, thumbnails etc., inclusive distinguindo o que
é propaganda do que é notícia, que alguns anúncios são inseridos em meio às notícias e
chamadas diversas.
Um menu de links para os principais espaços do site, encontrado tanto no topo
quanto no rodapé da página, remete às seguintes editorias/serviços/opções: Notícias,
Especial, Serviços, Erramos, Colunas, Fale Conosco, Atendimento ao Assinante, Grupo
Folha e Assine Folha, além de um ícone ( ) para a ferramenta RSS, onde lê-se: O que é
isso?”. Como nós comentamos sobre essa ferramenta em mais de uma oportunidade
neste estudo, vale a pena destacar qual é explicação da Folha para este recurso:
195
http://www.folha.uol.com.br/, 24/09/2008.
220
Aquele botãozinho laranja que muitos sites exibem no canto das páginas pode se tornar um
importante aliado na busca pelas notícias que lhe interessam.
Ele é a porta de entrada para um sistema que envia alertas para o seu computador sobre as
últimas novidades publicadas na rede – mas só aquelas novidades que você quer saber.
O sistema é conhecido como RSS. Ele permite acompanhar simultaneamente as novidades
de um grande número de sites sem precisar visitá-los um a um.
Em seguida, um tutorial passo-a-passo ensina o usuário a utilizar tal recurso. A cada
link que mencionamos existir no menu principal do site seguem-se incontáveis sub-opções
de links, de modo que a usabilidade do site fica comprometida para o navegante que se
aventura atrás de notícias e informações da Folha Online através de seus menus. O termo
usabilidade aqui pode ser entendido como uma maneira de diminuir a confusão
generalizada deste pequeno mar de informações. É comum o usuário, de um clique para
outro, acabar passando do site da Folha para o site do UOL, como se houvesse uma dupla
identidade agora atrelada a Folha. A Folha fica, de certa forma, submissa a marca UOL
dentro do seu espaço virtual e, quanto a este fato, parece claro que a marca UOL é muito
mais forte que a da Folha no ciberespaço.
A opção de busca interna que o site oferece pode ser uma saída para quem não tem
paciência para peneirar as informações dispostas na home do site ou no seu confuso menu
de links, porém, a eficácia desse sistema sequer chega perto da limitada semântica do
Google, de modo que os resultados podem ser extremamente frustrantes, algumas
informações que sabe-se terem sido veiculadas pela Folha muitas vezes não são
encontradas através deste recurso. Lucia Freitas, inclusive, expõe sua crítica ao sistema
afirmando que “o sistema de busca do site é medíocre, não oferece busca booleana. (...) eu
não entendo por que essas empresas não fazem uma parceria com a Google”. Essa frase de
Freitas, na verdade, foi dita cerca de três meses antes da presente análise e, ao que tudo
indica, nesse ínterim, as preces da blogueira foram atendidas
196
e agora o site da Folha
Online dispõe de um sistema de busca que segue os mesmos moldes do Google (inclusive
apresentando links patrocinados da gigante americana), onde pode-se efetuar busca
196
E, podemos acrescentar, foram literalmente atendidas, pois, sobre tais críticas ao sistema de busca, tanto
no site da Folha como no site do Estadão, ela expõe que “as fiz para o pessoal do portal também... Acho
muito injusto encontrar um defeito e não comunicar, rsrsrs... Que bom que melhorou!”.
221
booleana (de notícias da Folha Online e do jornal Folha de S.Paulo) e filtrá-las pelas
editorias do site e/ou data de publicação.
A confusão aumenta na busca de notícias quando o usuário clica sobre uma
manchete ou sub-manchete qualquer; o resultado de um clique pode ser diverso, uma
matéria em forma de texto simples, um texto acompanhado de fotos, áudio/videocast ou, até
mesmo, uma página com novas manchetes para diversas matérias e conteúdos relacionados
à manchete da página inicial (links para coberturas completas), o que obriga o usuário a
novos cliques para achar a informação que deseja. Nesse caso, o webdesigner Luli
Radfahrer aponta um número máximo de cliques para que o usuário chegue à informação
que procura: quatro, e o quanto menos, melhor, menor a possibilidade de ele desistir de
encontrar a informação. Vale destacar que, apesar da confusão inerente à quantidade de
informação que o site oferece, na maioria dos casos o usuário chega à informação com
quatro ou menos cliques, a busca por notícias arquivadas é que, na maioria dos casos,
extrapola esse limite.
Entramos na sessão Colunas e encontramos catorze diferentes colunistas e seus
respectivos espaços de publicação e temas. São eles: Eduardo Ohata (esportes), Eduardo
Vieira da Costa (esportes), Eliane Cantanhéde (política interna e externa, geral e
comportamento), Fabíola Reipert (fofocas), Fernando Canzian (política norte-americana),
Gilberto Dimenstein (política e geral), Hélio Schwartsman (filosofia), Humberto Luiz
Perón (futebol), João Pereira Coutinho (política e geral), Kennedy Alencar (Brasília), Luiz
Caversan (cultura), Luiz Rivoiro (crônicas), rgio Malbergier (finanças) e Valdo Cruz
(Brasília). Dentre essas colunas, algumas dispõem, além de texto, de podcast. As colunas
oferecem o e-mail do colunista como única opção de interatividade para o leitor; além
disso, opções para se imprimir a notícia/coluna, enviá-la por e-mail para um destinatário
qualquer e comunicar erros, opções que são padrão no site, disponíveis não somente nas
colunas, mas em qualquer notícia veiculada. Mas existem algumas exceções. Na matéria de
maior destaque da Folha Online, um espaço para comentário dos internautas que podem
ser avaliados pelos próprios, mas somente para usuários cadastrados no site; nem mesmo os
usuários do UOL, ou assinantes da Folha de S.Paulo têm acesso aos comentários sem um
cadastro prévio. Os comentários também são mediados segundo um conjunto de regras e
termos de condições de uso disposto no site que diz respeito a violações de direitos autorais
222
e do bom-senso. Não entendemos qual o critério para que algumas coberturas tenham
espaços para comentários e outras não. Ao que foi possível se perceber, somente as notícias
provenientes das coberturas em tempo real, disponíveis na sessão Em cima da Hora (sub-
sessão de Notícias), possuem tal recurso.
Outras opções de interatividade leitor/site oferecida pela Folha é o contato com o
Ombudsman, os chats com entrevistados especiais, enquetes e um mecanismo para o leitor
enviar suas notícias. Além de tudo isso, existe uma incontável gama de opções de serviços
que tanto a Folha quanto o UOL oferecem e que extrapolam o simples mundo da notícia.
Além das colunas e outras sessões noticiosas e informativas, um espaço ao lado do
logotipo da Folha Online, que encontramos quando efetuamos uma busca pela palavra
“blog” através do recurso de buscar nesta gina” oferecido pelo nosso browser
197
,
destaque para os blogs da Folha e outros recursos interativos: vídeo, áudio, além dos
próprios blogs e das comentadas colunas, sendo possível se navegar pelos títulos dos
mais recentes posts de cada blog/coluna da Folha através de um minúsculo controle.
Os Blogs da Folha
Basicamente a única diferença entre os blogs da Folha e as Colunas é que os
primeiros oferecem um espaço para comentários dos internautas em cada post, além das
opções padrões do site. Outra diferença é que, ao lado do texto dentro das colunas, um
espaço para propagandas que nos blogs é substituído por uma barra de funcionalidades e
opções que comentaremos adiante. No total, a Folha possui 24 blogs
198
. São eles:
197
Microsoft Internet Explorer 6.0.
198
Numa análise prévia que fizemos sobre os blogs da Folha em 24/07/2007, tal espaço contava com um total
de onze blogs.
223
Blogs da Folha Online
199
:
Blog Autor(es) Tema
Assim Como Você
Jornalista Jairo Marques Histórias de gente
Cacilda
Jornalista Nelson de Sá e
Repórter fotográfica Lenise Pinheiro
Teatro e fotografia
Campanha no Ar
Equipe de Brasil, sucursais de Brasília e do Rio
de Janeiro e Agência Folha
Eleições municipais
Circuito Integrado
Editor Rodolfo Lucena e pelos repórteres
Gustavo Villas Boas, Daniela Arrais e Rafael
Capanema além de diversos colaboradores
Tecnologia e Internet
Blog do Duilio
Arquiteto e Designer Duilio Cotidiano
Blog do Vinicius
Jornalista Vinicius Torres Freire Economia
Fábio Seixas
Fábio Seixas Automobilismo
Folha na Sucessão de
Bush
Repórteres Sérgio Dávila, Fernando Rodrigues,
Daniel Bergamasco e Andrea Murta em campo e
as editoras Claudia Antunes e Luciana Coelho
Cobertura da eleição
presidencial norte-
americana de 2008
Blog da Folhinha
Editora Patrícia Trudes da Veiga e repórteres
Gabriela Romeu e Clarice Cardoso, além de
outros colaboradores
Suplemento Folhinha do
jornal Folha de S.Paulo
Blog do Frederico
Vasconcelos
Repórter especial Frederico Vasconcelos Jornalismo político
investigativo
Ilustrada no Cinema
Coordenado pelo editor-assistente da Ilustrada,
Leonardo Cruz, e com os críticos Cássio Starling
Carlos e Sérgio Rizzo
Cinema
Ilustrada no pop
Não assinado Suplemento Ilustrada do
jornal Folha de S.Paulo
Josias de Souza
Jornalista Josias de Souza Política
Marcelo Coelho
Membro do Conselho Editorial da Folha
Marcelo Coelho
Cultura e crítica
Marcelo Katsuki
Editor de Arte da Folha Online Marcelo Katsuki Culinária
Marcelo Leite
Jornalista Marcelo Leite Ciência, biologia e política
Maria Inês Dolci
Advogada Maria Inês Dolci Defesa do consumidor
Novo em Folha
Editora de Treinamento Ana Estela de Sousa
Pinto
Programa de treinamento
da Folha
Pé na África
Repórter Fábio Zanini Viagens e Aventura pela
África
Raul na China
Jornalista Raul Juste Lores China
Rodolfo Lucena
Jornalista Rodolfo Lucena Maratona
Sonia Francine Gaspar
Marmo
Vereadora e jornalista Sonia Francine Futebol, Generalidades e
Politica
Tangos e Tragédias
Repórter da Folha em Buenos Aires, Adriana
Küchler
Notícias argentinas
Toda Mídia
Nelson de Sá Mídia
As particularidades dos blogs são os blogrolls dos colunistas/blogueiros, as sub-
sessões do blog e, também, a barra de tulo do blog que possui um design personalizado
199
Em http://www1.folha.uol.com.br/folha/blogs/, 15/10/2008.
224
para cada um. Enfim, as sessões comuns dos blogs são: Perfil, Sessões do Blog, Sites
Relacionados (blogroll do blogueiro), Blogs da Folha (blogroll da Folha), Folha Online
Em Cima da Hora (com as últimas notícias da Folha Online), Busca no Blog e Arquivo. Ao
final da coluna com as opções do blog, um ícone ( ) permite ao usuário configurar o
seu receptor de feed RSS para receber atualizações do blog em seu feedburner, e apresenta a
página correspondente com o código XML (nem todos os blogs ou colunas oferecem esse
recurso, veja abaixo). Outro link permite ao usuário configurar a página para ser vista
através de um celular, o que leva o internauta a uma página do UOL com as instruções
correspondentes para o uso de tal recurso. Esses recursos, além dos blogs, são encontrados
em diversas outras sessões do site, como as Colunas e as coberturas do Em Cima da Hora.
Em suma, a interatividade do site da Folha Online pode ser resumida através de seis
palavras-chave: RSS, podcast (vídeo e áudio), e-mail, comentários, formulário e chat. No
total, o site oferece uma lista com 49 opções de feeds, além de podcast e videocast. São
elas:
Editorias: Ambiente, Bichos, Brasil, Ciência e Saúde, Cotidiano, Dinheiro,
Educação, Em Cima da Hora, Equilibrio, Esporte, Ilustrada, Informática,
Mundo, Painel do Leitor, Publifolha e Turismo;
Blogs: Bali 40 Graus, Cacilda, Circuito Integrado, Maria Inês Dolci, Soninha,
Blog do Fred, Duilio, Fábio Seixas, Josias de Souza, Marcelo Coelho, Marcelo
Katsuki, Rodolfo Lucena, Ilustrada no Cinema, Novo em Folha, Ilustrada no
Pop, Toda Mídia, Tangos e Tragédias, Assim Como Você e Ciência em Dia;
Colunas: Brasília Online, Futebol na Rede, Regra 10 e Zapping;
Pensatas: Eduardo Ohata, Kennedy Alencar, Eliane Cantanhêde, Fernando
Canzian, Gilberto Dimenstein, Hélio Schwartsman, João Pereira Coutinho, Luiz
Caversan, Sérgio Malbergier e Valdo Cruz.
De um modo geral, podemos dizer que a interatividade do site da Folha Online é
baixa, os recursos interativos são escassos, e o sítio tem pouca usabilidade para o usuário.
Os blogs são espaços muito parecidos com as colunas tradicionais do veículo, porém
acrescidos de algumas opções e recursos interativos. Apesar disso, pode-se dizer que,
225
dentro do site da Folha, são os blogs os espaços que contam com todos os recursos
interativos de que o site dispõe, de modo que pode-se afirmar que “para a Folha Online, o
blog é a mensagem”, pelo menos, talvez, a mais provida de interatividade.
O Site da Folha de S.Paulo
Além do site analisado acima, a Folha possui outro, o da própria Folha de
S.Paulo
200
, que é a reprodução do jornal impresso que vai às bancas em uma versão digital.
Neste site encontramos as notícias que foram veiculadas na versão impressa do jornal, que
ficam dentro de um menu de opções que remetem e correspondem a todas as editorias e
coberturas do jornal. Todas as sessões do site são de acesso restrito para assinantes UOL ou
do jornal impresso. Como assinante UOL, tivemos acesso a tais sessões e comprovamos
que nenhuma delas oferece a mínima interatividade, sequer um e-mail para contato. Apenas
a sessão Painel do Leitor oferece espaço para contato via e-mail, fone/fax ou endereço para
envio de cartas, mas pelo número pequeno de inserções do leitor que encontramos em tal
sessão, não dá para saber se todas as cartas/e-mails são efetivamente publicadas neste
espaço ou se são, de fato, poucas pessoas que interagem dessa maneira. De qualquer forma,
nos parece que a interatividade desse espaço é, eufemisticamente, extremamente limitada.
Entramos na sessão Tendências/Debates na busca de, por fim, encontrar um espaço
de trocas de idéias entre jornalistas e internautas. Tal espaço refere-se a colunas de cidadãos
notórios que expõem sua opinião sobre variados temas (uma coluna para cada edição do
jornal) e, como o próprio site descreve, tem o intuito de “estimular o debate dos problemas
brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo,
porém não há espaço para comentários dos internautas, um e-mail de contato ao UOL e não
à Folha de S.Paulo é máximo de interatividade que tal espaço oferece. O que transparece é
que a Folha de S.Paulo, através de seu site, tem mesmo o objetivo de estreitar laços com a
comunidade e fomentar o debate público, porém, parece não saber como fazê-lo através
deste específico espaço.
200
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/, 25/09/2008.
226
Grupo Estado
Principal concorrente da Folha, embora exiba um faturamento bem inferior ao
grupo dos Frias o no G8 da mídia brasileira
201
), o Grupo Estado não se rendeu às
sociedades nem à Bolsa de Valores, permanecendo como o negócio da tradicional família
Mesquita. O grupo detém dois jornais, o Estadão, que é o quarto maior do país em números
de exemplares/dia (cerca de 230 mil em 2006), e o Jornal da Tarde (com cerca de 55 mil
exemplares/dia em 2006). O grupo ainda detém uma agência de notícias (Agência Estado),
duas rádios (Eldorado AM e FM SP), além de outras empresas de diferentes atividades,
incluindo marketing direto, TV Aberta (TV Eldorado, Santa Inês MA), gficas e
transportadoras. Na Internet detém o portal Estadao.com.br, o classificados ZAP e o site de
busca (ligado à OESP Mídia pertencente ao grupo), o iLocal.
O Grupo Estado se diferencia do Folha por deter todos seus negócios (com exceção
de uma parceria com a Folha no setor de logística e distribuição), ausentar-se do capital
estrangeiro e, mais, todos seus negócios são concentrados numa única sede na capital de
São Paulo. Em compensação, a presença do grupo na Internet ainda é muito pequena em
comparação ao rival, embora seja pioneiro na web através da Agência Estado, o primeiro
grande site informativo nacional. Seu portal na Internet abre para os diversos sítios das
empresas do grupo, é produtor de conteúdo exclusivo (assim como a Folha através da
parceria com UOL), mas não provê acesso e sequer figura entre os mais visitados do país.
Segundo o estudo de Righetti e Quadros, o Grupo Estado sempre foi pioneiro no
uso de tecnologia ligada a dados financeiros, que começou num amplo processo ligado a
sua agência de notícias, “que envia a seus clientes indicadores econômicos em tempo real.
Tal atividade foi aprimorada em 1991 com a criação da BroadCast, um serviço de
informações econômicas que oferece notícias de economia e cotações, além de outras
ferramentas” (Righetti e Quadros, 2007:12). Isso explica por que as estratégias e a entrada
do grupo na Internet foram sempre lideradas pela Agência Estado, pois tal empresa
implementava a tecnologia a seus serviços informativos bem antes da chegada da web.
201
Dados publicados na Revista Adusp 42, de janeiro de 2008.
227
Beth Saad, que fez um estudo sobre o posicionamento do Grupo Estado em relação
à Internet, destaca que a construção da identidade web do grupo “resultou na criação de
sites individualizados para cada produto informativo do Grupo” (Saad, 2003:174). O que se
mantém até hoje, como pode ser observado navegando-se no site do grupo. Saad destaca o
pioneirismo do grupo que “no final de 1988, o carro-chefe era a página da Agência Estado,
conhecida pelos internautas como ‘Agestado’ (...) e alcançava a marca de 13 milhões de
page views mensais, posicionando-se no segundo lugar da audiência web brasileira” (Saad,
2003:175). Hoje, os sites do grupo sequer aparecem na lista dos “dez mais”. Saad mostra
que a entrada do grupo na Internet se fez através da Agestado, com a criação de um comitê
que guiaria essa nova empreitada: “O Comitê New Media, um grupo de orientação e
estratégia composto por representantes de cada unidade de negócios da empresa e
gerenciado pela Agência Estado” (Saad, 2003:176-177). Assim, com esse comitê, “toda a
infraestrutura de captação e transmissão de dados, e de manutenção das páginas do Grupo
Estado, ficou concentrada na Agência Estado” (Saad, 2003:178-179).
Baseando-se em declarações de Rodrigo Mesquita, diretor da Agência Estado (na
época), Saad destaca qual a estratégia adotada pelo grupo em seu posicionamento na web:
“A criação da identidade digital do Grupo Estado sempre teve como critério, até os dias
atuais, o reforço do conteúdo gerado por uma empresa de credibilidade jornalística
centenária, e que na web manteria os padrões” (Saad, 2003:177). Tal estratégia pode ter
sido funcional para a entrada do grupo na nova mídia, mas não foi suficiente para mantê-lo
no topo. Ao que parece, somente a credibilidade e a marca centenária não são garantias de
sucesso no novo ambiente. Esse aparente “fracasso” pode se dar em função de um fato
destacado por Saad, que compara o posicionamento do Grupo Estado com o Grupo Folha,
que possui o portal UOL. Ela diz que “o Grupo Estado era considerado lento nas inovações
e pouco voltado para o usuário” (Saad, 2003:177). Righetti e Quadros também apontam na
mesma direção:
O Portal Estadão foi desenvolvido dentro da própria Agência Estado, utilizando
competências internas para a sua construção, mas sem possuir um rumo estratégico e sem
explorar os potenciais da internet por exemplo no oferecimento de serviços. O Portal não
possui ainda uma redação exclusiva (Righetti e Quadros, 2007:12).
228
O sociólogo e ex-diretor do instituto de pesquisa Datafolha, Prof. Dr. Gustavo
Venturi Junior (USP), também na questão patronal essa letargia do Grupo Estado em
sua inserção na Internet. Comparando o Estadão com o seu concorrente, ele demonstra que
a ingerência familiar é típica como forma de retardo às inovações, inclusive, se torna um
obstáculo ao capital:
O Estadão sempre foi mais familiar. Quando eu trabalhava na Folha, agente costumava
dizer que, pro bem ou pro mal, a Folhatinha dois herdeiros. O Frias só tinha dois filhos,
enquanto no Estadão, que era de uma família mais antiga e tradicional, você tinha vários
Mesquitas, uns 10 ou 15 que iam chegando na empresa e que sempre a mantiveram bem
familiar, em todas as áreas tem um Mesquita atuando. Isso deve ter retardado essa tendência
de mudança mais moderna de gestão, de abrir o capital em relação às empresas familiares,
de ter menos ingerência do dono original, ser menos pessoal. Outras empresas também
passaram por isso. Aliás, é muito difícil para uma empresa familiar, com esse tipo de
gestão, de ela abrir o capital, ela não encontra acionistas dispostos a lidar com as vontades
pessoais, com os eventuais caprichos dos donos. Enquanto que se você tem uma
previdência que não é, mesmo que acionista, mas não majoritária, mais aberta ao capital,
isso favorece, em tese, à uma modernização, as relações no trabalho etc
202
.
Apesar de ser considerado lento e retrógrado em sua inserção na Internet, o grupo
sempre se preocupou com a inovação e de como tirar proveito dela, buscando parcerias que
lhe pudessem garantir alguma vantagem no novo meio. Saad destaca que “o Grupo Estado
aproveitou parcerias estabelecidas, como o patrocínio de pesquisas com o MediaLab, o
laboratório de mídia do MIT
203
”.
A criação do mencionado comitê foi responsável pelas inovações do grupo em seu
posicionamento num segundo estágio. Conforme Saad explica, o Grupo Estado “lançou em
meados de 2000 o portal Estadao.com, priorizando o aspecto conteúdo. O portal foi fruto
do Comitê New Media implantado na etapa anterior” (Saad, 2003:193). Apesar de lançar
um novo site mais moderno, o posicionamento continuou praticamente o mesmo, sendo
“oferecer conteúdo de qualidade para um público interessado nisso. (...) seu diferencial (...)
era o know-how de geração e distribuição de conteúdos (...) por produtos segmentados e de
acesso pago” (Saad, 2003:192). Essa segunda etapa voltou-se para a integração produtiva
dos conteúdos a serem todos dispostos através de um único endereço web. Porém, mesmo
dentro dessa nova filosofia, Saad revela que “a idéia de convergência de redações, a criação
202
Em entrevista exclusiva, veja anexo “Entrevista Gustavo Venturi Junior”.
203
Dirigido por Nicholas Negroponte, que foi um dos cofundadores do Media Lab em 1980. Atualmente ele
está deixando o MIT.
229
do portal não concentrou verdadeiramente as operações web do Grupo. Os jornais O Estado
de S. Paulo e Jornal da Tarde, além da Rádio Eldorado, mantiveram suas páginas,
fornecendo parte de seu conteúdo para o portal” (Saad, 2003:194).
Apesar da mudança e a centralização de informações e produção de conteúdos
através de um portal, Saad discorda do formato adotado pelo grupo como um verdadeiro
conceito de portal. Ela diz: “Se aplicarmos o conceito de portal, o Estadao.com não
apresenta aquelas características diferenciadoras do formato, que privilegiam a
interatividade e a permanência do usuário nas páginas em função disso” (Saad, 2003:195).
Talvez esteja aqui o diferencial que hoje se reflete no pouco apelo do site do grupo que, em
comparação com o portal UOL do Grupo Folha seu concorrente histórico –, possui uma
audiência ciberespacial bem inferior. Pior, segundo dados da AJN, o jornal O Estado de S.
Paulo perde mil leitores por mês, leitores que não renovam as suas assinaturas do jornal.
Como vemos, o famoso Estadão está atravessando uma forte crise e, para piorar ainda mais
o cenário, se não consegue manter seus leitores da versão impressa, tampouco conseguiu
criar uma audiência de relevância (ao menos em comparação com seus concorrentes),
dentro do ciberespaço.
Estadao.com.br
Como mencionamos, o site do Estadão
204
é mais do que a “versão online do jornal
O Estado de S. Paulo como está anunciado no tulo da janela do site; trata-se de um
pequeno portal que abre para os diversos “produtos” do Grupo Estado. Assim, uma barra
de navegação logo abaixo dos banners publicitários dispostos no topo da página acesso
para os sites do Jornal da Tarde, AE Investimentos, Rádio Eldorado, iLocal, ZAP e Limão.
O site possui um layout mais clean, mais dinâmico do que o da Folha Online, possui
diversos recursos multimídia, interatividade e um portal de serviços que oferece variados
recursos interativos/informativos ao internauta. Os mesmos problemas que descrevemos em
relação à quantidade de informação disposta na primeira página do site da Folha Online se
repetem no site do Estadão, mas de maneira mais suave, enquanto o layout do site da Folha
possui diversos elementos separados por barras e linhas, no site do Estadão o layout é
204
http://www.estadao.com.br/, 25/09/2008.
230
definido pelos espaços entre manchetes, textos e elementos multimídia, daí o site ser mais
limpo. Também ausência de publicidade em meio aos conteúdos da página, o espaço
para propaganda é muito bem delineado na página (no topo e na coluna à direita somente),
de forma que o usuário não precisa filtrar o que é notícia do que é propaganda. São menos
propagandas no “espaço nobre
205
da página inicial do site do Estadão (4), do que em
relação ao mesmo espaço do site da Folha (6). menos links no site do Estadão (68) do
que em relação ao site do rival (86) dentro desse mesmo espaço.
Assim como o site da Folha, o site do Estadão possui diversas editorias que
remetem ao conteúdo noticioso da empresa. São elas: Primeira Página, Opinião, Nacional,
Internacional, Cidades, Esportes, Arte & Lazer, Economia, Tecnologia, Vida &,
Suplementos e Meu Estadão. Logo abaixo desse menu de opções, à direita, há links para
alguns dos recursos interativos/multimiádicos do site:
Fotos: arquivo de fotos do Estadão;
TV Estadão: que traz coberturas em vídeo;
Podcasts: dá acesso aos arquivos de áudio do Estadão;
Blogs: página de acesso aos blogs do Estadão, num total de 24 blogs;
Especiais: dá acesso aos “infograficos digitais” de coberturas diversas, são
esquemas, tabelas, simulações e outros tipos de gráficos informativos;
Webmail: e-mail do Estadão;
Widget
206
: é um mini-leitor de RSS exclusivo do Estadão, que explica o serviço
da seguinte forma: Widgets são pequenas janelas que ficam visíveis na área de
trabalho com o intuito de trazer informações e serviços de forma rápida a
internautas. (...) o aplicativo agiliza o contato com as informações de que o
usuário necessita. Cada canal de notícias (...) é alimentado pelos feeds do portal
e são atualizados automaticamente”;

SMS: área para assinatura do serviço que entrega notícias no aparelho celular.
205
Espaço que ocupa a janela maximizada por completo, descontando-se as barras do navegador (no caso, o
Windows Explorer 6.0) em um computador com resolução de tela de 1024x768 pixels per inch.
206
Segundo a enciclopédia Wikipedia, a definição de Widget para esse tipo de aplicação seria a de “pequenos
aplicativos que flutuam pela área de trabalho e fornecem funcionalidades específicas ao utilizador”
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Widgets, 25/09/2008.
231
Há também, dentro de cada editoria, em cada página, um quadro que traz as últimas
notícias ao lado da opção de se navegar por meio de uma nuvem de tags nome mais
comum atribuído a tal recurso. E, vinculado às editorias, o recurso é disposto em todas as
notícias do site. Os tags são palavras-chave que remetem a assuntos específicos; se, por
exemplo, o usuário clicar no tag “crise no Vasco”, será redirecionado a uma página com
inúmeras notícias relacionadas ao tag clicado. O mesmo quadro possui um link que
apresenta a explicação do Estadão para esse recurso:
Neste campo, chamado de “nuvem de tags” (...) Além de navegar pelas listas de matérias
nas editorias, o leitor pode simplesmente clicar em uma tag e ver todas as matérias
relacionadas com aquele assunto. Por meio destas tags, ou palavras-chave, os jornalistas do
portal classificam as matérias segundo temas específicos. E é a partir delas que o sistema do
novo portal compõe a chamada nuvem de tags, fazendo com que assuntos mais freqüentes
sejam destacados, aparecendo com um tamanho de texto ou mesmo com cores diferentes. É
um jeito simples e intuitivo de saber quais são os assuntos quentes do dia com apenas uma
passada de olhos. Além disso, é por meio das tags que o usuário pode encontrar outros
materiais disponibilizados pelo portal sobre aquele assunto de seu interesse.
É um recurso interessante, mas que, além de facilitar, pode tornar confusa a
navegação, um tag que relacione uma matéria a temas que também se conectam a outras
editorias pode fazer o usuário se perder no meio deles, tanto dos tags quanto das próprias
editorias, que os tags são organizadas de acordo com estas. De qualquer modo, esse
recurso possibilita uma nova forma de interação e navegação do usuário com as notícias.
Ao final de cada matéria/notícia, o usuário encontra quais são as palavras-chave a ela
relacionadas, são as tags individuais de cada matéria, e remetem a outras
matérias/coberturas que por meio delas se relacionam.
Todas as matérias e notícias do site do Estadão funcionam como um mini-blog, pois
apresentam espaço para comentários dos usuários, além de outros recursos padronizados
em todo espaço informativo do veículo. Além dos comentários, da nuvem de tags e dos
tags relacionados, as possibilidades interativas oferecidas são: enviar a notícia por e-mail,
imprimir, falar com a redação, incluir no arquivo virtual e também a opção para se avaliar
a notícia entre cinco graduações (de ruim à excelente). O usuário também dispõe de uma
opção para ajustar o tamanho da fonte de texto para facilitar a leitura. Além disso, dois
quadros que oferecem links para notícias relacionadas e últimas notícias da editoria em
232
questão. Com exceção dos recursos de navegação citados, entretanto, para usufruir os
demais recursos interativos do site, é necessário um cadastro prévio com CPF válido.
Feito o cadastro, o usuário pode desfrutar dos vários recursos interativos do site,
como o espaço Meu Estadão que funciona como um mini-Google News, porém limitado às
editorias do Estadão. Nesta página, o usuário pode escolher entre sete editorias para dispor
diferentes destaques hierarquizados numa página personalizável, além de uma manchete de
um dos blogs do Estadão. Neste espaço o usuário também tem acesso ao seu Arquivo
Virtual, onde pode acessar as notícias do site armazenadas através do link “incluir no
arquivo virtual” que mencionamos acima.
Ao longo de todas as páginas do site, incluindo os blogs, um ícone ( ) direciona o
usuário para a gina que contém os feeds RSS do Estadão. O site oferece os códigos XML
para que o usuário configure os feeds em seu leitor RSS, ou, conforme um pequeno menu de
ajuda explica, através de dois ícones, +Google e +Yahoo, onde pode-se configurar
automaticamente os feeds do Estadão para serem lidos através dos mecanismos dessas duas
empresas. Entretanto, seguimos as instruções do site e não encontramos tais ícones. Nem
todas as editorias e blogs oferecem o recurso RSS; são dez editorias e dezenove blogs que
dispõem desse recurso, somando um total de 29 feeds.
Não é preciso ser um especialista em análise de sistemas para perceber que o site do
Estadão é organizado em torno das editorias, e tais funcionam como uma espécie de chave-
primária que conduz a navegação do site ao lado dos tags que mencionamos. É em torno
desse princípio organizativo que funciona o sistema de busca interno do site, que também
oferece o recurso de busca booleana e a possibilidade de se filtrar os resultados da busca
pelas editorias; no entanto, não é possível se filtrar notícias por data de publicação, num
abandono ao princípio fundamental organizativo do jornal, conforme vimos nos estudos de
Marshall McLuhan.
233
Os Blogs do Estadão
A gina index dos blogs do Estadão apresenta 24 blogs
207
, dentre estes, vinte o
assinados pelo jornalista/blogueiro responsável, outros quatro são ligados a coberturas
específicas e/ou editorias do jornal. Veja abaixo a tabela com todos os blogs do Estadão e
seus respectivos donos e temas abordados:
Blogs do Estadao.com.br
208
:
Blog Autor Tema
Pelo Mundo
Jornalista Adriana Carranca Política social
Advogado de Defesa
Diversos autores Direito do consumidor
Bate-Pronto
Editoria de esportes Esportes
Blog da Revista
Diversos autores Blog da Revista do
Estadão
O Tao da China
Correspondente na China Cláudia Trevisan China
Teleguiados
Cristina Padiglione TV
Daniel Piza
Colunista Daniel Piza Futebol, Cultura e política
Palavra de Homem
Jornalista Felipe Machado Mulher, comportamento
Jornal do Carro
Diversos autores Blog do Jornal do Carro
Livio Oricchio
Livio Oricchio Automobilismo,
tecnologia e viagens
Luiz Carlos Merten
Luiz Carlos Merten Cinema e geral
Luiz Zanin
Colunista crítico Luiz Zanin Cinema e cultura
Entre a gente
Jornalista Marina Forte Fofoca
Histórias Globais
Correspondente de Washington Patrícia Campos
Mello
Economia, Estados Unidos
A boa (e a má) educação
Jornalista Renata Cafardo Educação
O negócio é passar bem
Jornalista Saul Galvão Culinária
Informações sobre
tecnologia
Repórter Renato Cruz Tecnologia
Má notícia é a maior
diversão
Jornalista Tutty Vasques Humor
Nós
Jornalista David Moisés Família, comunidade e
rede
Sustentabilidade
Jornalista Andréa Vialli Sustentabilidade
Ping Pong
Felipe Machado Olimpíada de Pequim
Diário do Oriente Médio
Jornalista correspondente no Oriente Médio
Gustavo Chacra
Oriente Médio
Para inglês ler
Repórter correspondente de Londres Flávia
Guerra
Europa e cultura
Marcos Guterman
Jornalista Marcos Guterman Política internacional,
história e direito
207
Numa pré-análise que fizemos sobre os blogs do Estadão em 24/07/2007, o site contava com quinze blogs
na ocasião.
208
Em http://www.estadao.com.br/blogs/, 15/10/2008.
234
Os blogs do Estadão são todos idênticos, seguem um único padrão gráfico (o
mesmo do restante do site) e dispõem dos mesmos recursos. O site do Estadão não possui
colunas, de modo que os blogs cumprem essa função para o jornal. Os recursos e
informações comuns a todos os blogs são:
Perfil do jornalista/blogueiro;
Arquivo;
Sessões do Blog: que funciona como uma espécie de filtro para os posts do blog
segundo uma série de sub-temas abordados pelo mesmo;
RSS (disponível na maioria dos blogs, mas não todos);
Busca no blog;
Blogroll do Estadão: com links para todos os blogs do site.
O conteúdo multimídia de cada blog varia conforme o uso dos responsáveis; em
alguns, além de fotos, vídeos e áudio, pequenas enquetes. Existe também um link que
leva para uma gina com códigos de ética e conduta que são adotados pelo Estadão em
relação às publicações, tanto para os blogs como para outras áreas do site. Ao final da
coluna à esquerda, que dispõe os recursos do blog, uma seqüência com uma dúzia de
pequenos ícones que remetem a diferentes funcionalidades, na verdade, são links para
alguns sites da web relacionados a novas práticas jornalísticas e comunidades virtuais
diversas: Deli.cio.us, Blinklist, Digg!, Reddit, Newsvine, Furl, Blogmarks, REC6, Linkk, Eu
curti, Yahoo e Technorati. Não nenhuma explicação para cada uma dessas
ferramentas/sites (só clicando e investigando para descobrir) e nem o porquê de elas se
encontram ali, o que é, aliás, uma crítica de Lucia Freitas quando defrontada com esse
menu de ícones:
Você observa um monte de novas ferramentas que aparecem dentro dos sites, como este
aqui (Estadao.com.br), e percebe que elas estão só para constarem, muitas ningm usa
aqui no Brasil, umas ninguém nunca ouviu falar, outras são ruins. E mais, não uma
explicação sequer de como utilizá-las. É uma coisa bacaninha, mas que não faz nenhuma
diferença dentro do contexto do jornal. Eles colocam essas ferramentas porque está na
onda.
235
Mais do que estarem “apenas para constar”, ou para transparecer que o site está
conectado com as novas tendências que surgem na web, não observamos o mínimo critério
para a presença de tais links dentro dos blogs do Estadão, ou o porquê de aparecem
somente nos blogs. Não entendemos por que, por exemplo, não há um ícone/link para o site
do Limão, comunidade do próprio Grupo Estado, e há para outras comunidades no mundo
afora. A única dedução possível para a presença de tais ícones da forma como eles se
apresentam é tratarem-se de uma forma sutil de propaganda.
O Estadão de Hoje e o Jornal Digital
No período de um ano que precedeu a presente investigação no site do Estadão, o
Grupo Estado retirou do ar uma antiga página que correspondia à transposição do jornal
impresso O Estado de S. Paulo em uma versão digital online. Atualmente, o usuário do site
do Estadão pode acessar as principais manchetes dos cadernos do veículo impresso por
meio de um link intitulado O Estadão de Hoje. Com essa atualização, o usuário pode
usufruir todos os recursos que mencionamos do site do Estadão, para a leitura das notícias
da versão impressa do jornal. uma restrição para o acesso às notícias do jornal, elas
são liberadas no decorrer do dia quando ficam “velhas”, não dando oportunidade do usuário
“furar” a cobertura do jornal impresso via site antes que este chegue às bancas
209
.
Além da reprodução das notícias do impresso dentro do jornal online, há mais duas
maneiras de se ler o jornal impresso do Estadão, via download de arquivo PDF (recurso
restrito a assinantes do jornal impresso ou digital) ou através do Jornal Digital
210
. O Jornal
Digital oferece o recurso de se navegar por uma reprodução digital do jornal impresso,
clicando-se sobre as manchetes e matérias dentro das páginas virtuais do jornal
211
. Um
controle permite ao usuário virar as páginas como se estivesse folheando o jornal em mãos;
ao clicar sobre qualquer manchete ou matéria, ela é ampliada para que o usuário possa lê-la,
depois, o usuário pode navegar pela página ampliada (que, evidentemente, não cabe por
209
Não foi possível entender qual é a dinâmica ou quais os critérios que norteiam a publicação das notícias do
Estadão de Hoje. As tentativas de contato com o portal o foram retornadas e uma atendente do SAC da
empresa não soube explicar os detalhes de funcionamento desta área do site.
210
http://www.estado.com.br, 25/10/2008.
211
Um modelo semelhante ao adotado pelo jornal norte-americano San Jose Mercury News. Em
http://sanjosemercurynews.ca.newsmemory.com/demo.php, 04/11/2008.
236
inteiro dentro da tela do computador), através de um recurso drag and drop
212
. O Jornal
Digital não é uma simples transposição do conteúdo da versão impressa para o site, e sim a
reprodução fiel do jornal através de uma simulação digital, o que proporciona uma diferente
forma de se navegar pelo veículo através do computador. Como alternativa à navegação via
mouse, também um controle que oferece diferentes formas para se navegar e encontrar
os conteúdos do jornal, de modo que o usuário não fica totalmente refém da simulação
digital para a leitura do impresso, podendo contar com diferentes maneiras de interagir.
Enfim, após essa análise e tendo como parâmetros as análises que fizemos sobre os
sites da Folha Online e da Google, fica evidente que a usabilidade e os recursos do site
Estadao.com.br são limitados, porém muito melhores que os do site da Folha. Neste
sentido, uma colocação de Lucia Freitas se encaixa perfeitamente dentro dessas
constatações: “A Folha não faz Internet, o Estadão tenta”, diz a blogueira, e nós assinamos
embaixo. Embora o Grupo Folha esteja à frente de seu concorrente dentro das fronteiras
ciberespaciais onde, neste novo espaço midiático, o carro-chefe do grupo é o portal UOL, o
site da Folha Online está muito aquém do seu concorrente e, nesse sentido, vale a
lembrança de uma frase do blogueiro Tiago Dória, onde ele afirma que, no mundo da
notícia, a audiência não é o bem maior de qualquer veículo, e sim a influência. Sendo
assim, no quesito qualidade, o site do Estadão está na dianteira em relação ao site da
Folha. nós resta saber se essa qualidade se reverterá em influência do jornal sobre o
público dentro do novo contexto midiático digital da atualidade. Outra constatação que se
encaixa aqui está na seguinte frase de Wilson Roberto Bekesas: “A Internet flerta com um
layout hierarquizado como se fosse obrigada a respeitar as limitações do papel e das tintas”
(Bekesas, 2006:84). Como vimos, o site da Folha é totalmente hierarquizado dentro das
estruturas informativas ali dispostas; o site do Estadão, nesse aspecto, oferece algumas
possibilidades surfáveis que ao menos tentam fugir dessa lógica identificada por Bekesas.
Apesar de tudo, se voltarmos mais atrás em nosso estudo, veremos que esses espaços
analisados evoluíram muito, basta lembrar que, em seus primórdios, as restrições ao acesso
às informações eram muitos maiores e, hoje, ambos oferecem gratuitamente praticamente
todo o seu conteúdo noticioso além de uma nova gama de recursos e facilidades.
212
Arrastar e soltar.
237
Para encerrar essa pequena análise comparativa entre os sites dessas marcas
historicamente rivais da notícia paulistana, longe do entendimento dos especialistas
faremos uma comparação à frase que muitos técnicos de futebol de grandes times
costumam dizer por ocasião de um clássico: “Em um clássico equilibrado, são os detalhes
que decidem o jogo”. Com isso em mente e da mesma forma, entendemos que são uma
série de pequenos detalhes que nos fazem afirmar que, ao menos esse jogo, o Estadão está
vencendo.
O Portal Limão
O portal Limão foi lançado no final de 2007, e marca a experiência do Estadão com
a plataforma de jornalismo open source (com base em ferramentas Web 2.0), onde todos
usuários do portal podem interferir no conteúdo disposto no site, que funciona como um
grande wiki. André Bianchi, diretor de estratégias digitais do Grupo Estado, aponta que o
lançamento do Limão vem quebrar a falta de investimentos do grupo dentro da nova
plataforma, em especial no desenvolvimento de canais de comunicação com o público
jovem. A idéia segue o forte apelo dos grupos sociais de relacionamento virtual, tais como
Facebook e Orkut, mas com um apelo maior ao conteúdo jornalístico. O surgimento do
portal vem atender à forte demanda que esses serviços possuem entre os internautas
brasileiros, cujas comunidades, formadas em redes sociais, estão entre as maiores do
mundo, refletindo a personalidade tupiniquim, que é cheia de calor humano. A diferença do
Limão para as outras redes sociais está no conteúdo trabalhado no portal, que procura
estimular produções de internautas que tenham relevância, dentro do aspecto jornalístico,
para os demais usuários. Para a garantia de que os conteúdos gerados deixem as
banalidades de lado, o serviço é monitorado 24 horas, mediadores interagem com os
usuários sempre em busca de um denominador comum entre o interesse coletivo e/ou
individual no que tange aos conteúdos gerados
213
. Para manter o nível das publicações, o
213
Este é um exemplo da importância da existência de uma editoria ou de editor(es) quando se objetiva
organizar algum fluxo informativo jornalístico na web. É mais um exemplo do relevante papel do editor nesse
novo contexto midiático, mas de uma nova maneira, fomentando a produção e o acesso à informação e a
notícia, coproduzindo com o internauta, inserido em um ambiente colaborativo. Dentro dessa lógica de
produção o trabalho jornalístico não está ameaçado de extinsão no ciberespaço, pelo contrário, ele é
extremamente importante para que a web não vire uma “Torre de Babel”, conforme o entendimento do termo
238
site estimula a produção de conteúdo baseado em temas as editorias –, dentre as quais,
destacam-se Meu Bairro
214
, Bandas (de música), Esportes e Minha Causa. Um dos
estímulos para a qualidade está em premiações oferecidas pelo portal às melhores matérias
publicadas ou, até mesmo, à publicação em outros veículos, no caso de algum furo vir à
tona.
O Limão começou baseando-se no modelo do Orkut, no qual somente usuários
convidados poderiam se cadastrar no site, mas, devido ao alto número de convites, essa
exigência foi deixada de lado e agora o cadastro é livre para qualquer um. Para efetuá-lo,
entretanto, é necessário fornecer um registro de CPF válido. Uma vez cadastrado, o usuário
cria o seu perfil customizado e tem acesso à área das comunidades, formada por diversos
wikisites. Na área do wiki, qualquer tipo de conteúdo pode ser trabalhado, fotos, vídeo,
áudio, texto e blogs (que eles chamam de blorum, mistura de blog e fórum). A aceitação do
público ao novo espaço foi muito boa, em cerca de três meses na rede o site já chegava a
cinquenta mil usuários cadastrados, embora essa avalanche inicial possa ser entendida
como o resultado da forte campanha publicitária, que incluiu todas as mídias e eventos
promocionais com apelo ao público jovem, encampada pelo Grupo Estado para o
lançamento desse novo produto digital.
A idéia do Limão é manter a interatividade, sempre fornecendo novas ferramentas e
recursos que favoreçam a conectividade e a iniciativa do usuário, inclusive trabalhando
dentro do conceito de open source, ou seja, permitindo aos internautas mais assíduos por
tecnologia desenvolverem ferramentas para o site. Bianchi enfatiza que o foco está na
inovação constante e no objetivo em se levar ao limite os recursos da Web 2.0. A meta do
site é apresentar, pelo menos, uma grande novidade a cada mês. Também são exploradas
outras publicações do Grupo Estado através de áreas específicas dentro do Limão,
incluindo os jornais do grupo, área de investimento e a rádio Eldorado. Segundo Bianchi, o
Limão não é o resultado de uma boa idéia, mas sim de uma “usina de idéias” que
demonstram as novas estratégias do Estadão em relação às mídias digitais na atualidade.
dentro da percepção de Yochai Benkler (veja Capitulo II: “Os Blogs como Novo Meio de Expressão
Jornalística: Objeções”). Podemos dizer que na web, o gatekeeper desaparece, mas o editor não.
214
Esta editoria pode ser apontada como a sobrevivência, ou o ressurgimento do suplemento Seu Bairro que
acompanhava o Estadão (versão impressa), agora inserido dentro de uma rede social e sendo produzido pelo
internauta.
239
Política na Folha Online e no Estadao.com.br
Como vimos no primeiro capítulo deste estudo, os jornais nascidos opinativos hoje
seguem a lógica da imprensa comercial ideológica, que sustenta a indústria cultural e, neste
contexto, são veículos de entretenimento e vetores do espetáculo. A palavra de ordem dos
jornais é a informação e tal imprensa, antes opinativa, hoje é informativa. Embora os
jornais sejam veículos que priorizem a informação, ainda existem espaços opinativos dentro
destes veículos, como coloca o jornalista Eugênio Bucci
215
ao enfatizar que, nos idos do
jornalismo, os jornais eram exclusivamente opinativos e, hoje, tais espaços ficam relegados
aos editoriais e algumas colunas de jornalistas.
Entendemos que o novo contexto da comunicação com o advento da Internet, como
já destacamos ao longo desse estudo, dá um novo espaço, uma nova força para as formas de
expressão mais opinativas e, ainda dentro deste novo contexto, outros aspectos ainda
permanecem intactos, tais como a relevância social da discussão política, o que, dentro do
que estudamos nas questões ligadas à esfera pública, ganha nova dimensão no novo cenário
midiático contemporâneo. Como a imprensa de opinião é feita através de editoriais e
colunas (e atualmente através dos blogs também), focaremos a análise a seguir em cima dos
espaços opinativos desses jornais online, dentro das editorias políticas dos mesmos, de
forma a tentarmos entender se eles, de fato, podem ser associados a essa nova tendência
comunicativa de cunho opinativo e, ao mesmo tempo, se são fomentadores do debate
político, debate que entendemos ser o mais importante na esfera pública midiática que,
neste caso, volta-se para a Internet.
No portal da Folha Online
216
não encontramos nenhum editorial e nenhum link
intitulado “política”, a política fica inserida em dois links, em duas editorias, intituladas
Brasil e Mundo, sendo que este último engloba a política internacional. No link Brasil, não
encontramos nenhum editorial, apenas um espaço para colunistas. No link dos colunistas
encontramos cinco colunas; em tais colunas, além da palavra dos jornalistas, a máxima
interatividade oferecida pelo site é um e-mail de contato. As demais colunas seguem todas
esse mesmo padrão. Apesar das opções de colunistas políticos indicados dentro desta
215
Ver “Jornalismo Sitiado”; Módulo: “Dos meios de comunicação de massa às gerações públicas
generalizadas”.
216
http://www.folhaonline.com.br, 25/07/2007.
240
editoria, os espaços opinativos que abordam a política dentro do site da Folha são os dos
colunistas Eliane Cantanhéde, Sérgio Malbergier, Fernando Canzian, Josias de Souza e
Fred Vasconcelos, o que inclui também os blogs, já que colunas e blogs são os espaços que,
além dos editoriais, cumprem a função opinativa deste veículo jornalístico.
O portal do Estadão
217
na Internet, assim como o site da Folha, possui links que
remetem às editorias de assuntos nacionais e internacionais, que por sua vez levam às
páginas com as principais manchetes de tais editorias e um sublink que remete diretamente
a uma página de política, entre opções de outros assuntos relacionados à esfera nacional. A
editoria internacional é dividida em assuntos por regiões do planeta. Não encontramos
colunas dentro das editorias, mas existem manchetes que destacam os blogs dos jornalistas
que comentam a editoria em questão. Em todas as notícias da editoria, existem espaços para
comentários, porém pouquíssimos foram encontrados, talvez pelo fato de ser necessário se
cadastrar no site para fazer uso de tais recursos. Não encontramos sessões editoriais dentro
do portal Estadao.com.br, portando, jornalismo opinativo parece ficar por conta apenas dos
blogs que cumprem as funções das colunas dos jornalistas. De forma sucinta, o site do
Estadao.com.br parece ser a transposição das editorias do jornal impresso, acrescida dos
recursos interativos e multimidiáticos da Internet.
Não podemos atribuir o resgate ao jargão opinativo ou à esfera pública tanto no site
da Folha Online quanto no site do Estadao.com.br, porém fica claro que este último
oferece mais recursos e facilita o acesso à informação. Em ambos os sites a ausência de
debates ficou clara, além de colunas opinativas, apenas alguns blogs cumprem tal papel. E
também temos o fato de ambos os sites estarem inseridos dentro do contexto atual da mídia,
o qual comentamos anteriormente neste estudo, de forma que, de maneira geral, o jargão
desses sites ainda é majoritariamente informativo, frio, neutro, objetivo e sem vida, o que
os opõe a um dos pilares das novas mídias que, como destacamos, é a informalidade.
217
http://www.estadao.com.br, 25/10/2008.
241
E nos Blogs da Folha e do Estadão
No site da Folha Online
218
, um pequeno espaço ao lado do logo dá acesso aos blogs.
Em tal link encontram-se 24 opções de blogs, cada um remete a um tema específico, tais
como cultura, tecnologia, vida cotidiana, cinema, esportes etc.. Apenas cinco blogs fazem
referência à política, e apenas dois são exclusivos de política, que são os blogs dos
jornalistas Josias de Sousa e Fred Vasconcelos. Nem mesmo o blog da jornalista e
vereadora de São Paulo, Soninha Francine, pode ser atribuído à política, que este é um
assunto de menor destaque do espaço. Encontramos também aqueles blogs referentes às
coberturas políticas de momento, que incluem as eleições municipais brasileiras e a
sucessão presidencial norte-americana (ambas de 2008) que, por se tratarem de espaços
temporários, deixamos de fora dessa análise.
No blog do jornalista Josias de Sousa, Nos Bastidores do Poder, encontramos um
espaço para o jornalismo opinativo de cunho político, coluna do próprio jornalista com
diferenciados temas relativos à política, principalmente da esfera federal nacional. O blog
apresenta, além de texto, imagens, vídeos, charges e qualquer tipo de multimídia como é
peculiar da Internet. Cada inserção do blog é acompanhada de diversos comentários dos
internautas, porém a liberdade de expressão é limitada, pois ao enviar um comentário, este
é publicado após a aprovação do proprietário do blog. Há, também, uma limitação no
número de caracteres dentro dos comentários a serem publicados. Ao publicar um
comentário, o internauta tem a opção de colocar seu e-mail e endereço de seu site/blog, ou
até mesmo qualquer link que queira, de modo que o blog favorece a interatividade entre
seus usuários. Assim como os demais blogs vinculados à Folha Online, o blog do Josias
não restringe o acesso às publicações mais antigas do site. A restrição fica no fato do
jornalista não responder aos comentários dos internautas, o debate jornalista/internauta é
então, inexistente. Os recursos interativos e típicos dos blogs encontrados neste espaço são
RSS e o blogroll de Josias de Souza, que dispõe apenas de um link para um site externo à
Folha/UOL.
O Blog do Fred Vasconcelos é um espaço que segue o mesmo padrão descrito do
blog do Josias, nem o que acrescentar. A única diferença é que o blogroll do Fred não
218
http://www.folha.uol.com.br/, 24/10/2008.
242
apresenta nenhum link para qualquer outro site externo. O espaço também é carente de
conteúdo multimídia; além do texto, a única opção oferecida que o blog oferece são fotos.
No Blog da Soninha, apesar desta ser vereadora de São Paulo e recente candidata a
prefeitura municipal (na sucessão municipal de 2008), raros são os posts que se referem à
política, o maior enfoque do blog é o esporte, em especial o futebol; isso se deve pelo fato
óbvio da vereadora ser uma jornalista esportiva e apresentadora televisiva do canal ESPN
Brasil. O formato do blog, da publicação dos comentários e tudo mais, segue o padrão que
descrevemos acima no blog do Josias, portanto a liberdade de expressão é também limitada.
A única diferença que encontramos foi o fato da vereadora comentar algumas respostas dos
usuários dentro do espaço dedicado à publicação de posts, que se transforma, assim, num
espaço de réplicas e tréplicas. Apesar dos recursos da Internet, o Blog da Soninha se
ressente de conteúdo multimídia. Embora seja um blog de uma vereadora, teríamos de ser
muito otimistas para atribuir tal espaço a um resgate da esfera pública, pois a vereadora
utiliza seu blog mais para comentários sobre futebol do que para a política. O que poderia
ser um espaço de contato e troca de idéias entre a vereadora e suas bases é apenas um
espaço de escassos comentários políticos, muito mais voltado para o mundo da bola” e
outros assuntos sem a menor relevância, dado o cargo público que a jornalista ocupa. No
blogroll da Soninha, além dos links internos para sites da Folha/UOL, apenas o
adicional de um link: para o site da Soninha.
Nos links para os colunistas relacionados à editoria Mundo encontramos três
colunas: Lucas Mendes, Laura Smith-Spark e Paul Reynolds, todos ligados ao blog da
sucessão presidencial norte-americana que, como já dissemos, ficam de fora dessa análise.
O portal do Estado de S. Paulo
219
na Internet possui uma barra de menu no topo de
onde se pode acessar os blogs. O site oferece 24 blogs, onde se destacam diversos temas.
Dentre esses blogs, três deles falam sobre política, os dos jornalistas Daniel Piza, José
Marcio Mendonça e Marcos Guterman.
No blog do jornalista Daniel Piza, o destaque principal não é a política, e sim
cultura e futebol (o subject do blog diz: “cultura, futebol e, lá, política”), de modo que
podemos descartar tal espaço como um espaço de debate político, inclusive pelo fato de não
encontrarmos nenhuma notícia política em destaque nas primeiras páginas do blog na
219
http://www.estadao.com.br/, 25/10/2008.
243
ocasião desta análise. Usaremos tal blog apenas para analisar a estrutura dos blogs do
Estadao.com.br. Os blogs do Estadão não apresentam restrições de publicações de
mensagens e nem de números de caracteres, o blog apenas avisa que mensagens que
infringirem a lei ou tiverem conteúdos obscenos, ofensivos ou fora do escopo do blog serão
apagadas, mas isto depois de terem sido publicadas, de forma que a liberdade de
expressão não é limitada como na Folha. A própria disposição dos comentários favorece a
leitura, é possível também se publicar o e-mail e uma URL junto ao comentário, facilitando
a interatividade. Também não restrições de acesso às notícias mais antigas do blog. Um
adicional que os blogs do Estadão têm em relação aos blogs da Folha Online é que estes
oferecem um sistema de busca dentro do blog, outro fator que facilita a navegação interna.
O blog do jornalista Marcos Guterman aborda política internacional. Se pensarmos
no contexto do mercado da sociedade burguesa dos séculos XVII e XVIII, e o contexto do
mercado atual globalizado, este é o blog que mais se aproxima de uma esfera blica de
debates nos moldes de Habermas, dentre os blogs que analisamos até aqui, pois aborda a
política internacional. A restrição fica no fato de que, assim como no blog anterior, o
jornalista não responder aos comentários dos internautas.
Através dessa análise dos blogs até aqui, podemos concluir que os blogs no Estadão
têm, potencialmente, mais possibilidades fomentadoras de debate, além de possuir mais
blogs voltados à política do que os blogs da Folha Online. Existem outros blogs no Estadão
que concernem aos rumos da sociedade, que abordam assuntos de maior relevância, tais
como educação, desenvolvimento sustentável, política social e globalização. Aos blogs,
porém, tanto no Estadao.com.br como na Folha Online, falta o debate, desconfia-se que as
tais ferramentas são utilizadas apenas a título de manter o site em consonância com as
novas tecnologias, de maneira que não são utilizados da forma como poderiam ser:
fomentadores do debate e da criação de uma consciência crítica dentro dos assuntos a que
estão vinculados, estimulando um debate maior.
Como vimos através dos blogs que analisamos, eles possuem a tecnologia que
permite o debate jornalista/internauta, porém isso raramente acontece. Nesse sentido, tais
espaços são espaços de colocação de opiniões e de exposição à mídia, não espaços de
debates. Portanto, concluímos que muito se precisa evoluir em termos de uso em tais
espaços para que eles ganhem relevância e se transformem de fato numa esfera de
244
discussão pública, pois, até onde pudemos analisar, eles não se dão ao debate como
poderiam se dar e alguns oferecem uma liberdade de expressão limitada. Veremos ainda
neste estudo se o mesmo ocorre em outros blogs notórios nacionais. Da mesma forma, a
questão do diálogo nos blogs será alvo de novas reflexões e questionamentos até o término
deste estudo.
E na Blogosfera Também
A mesma análise que fizemos nos sites e nos blogs da Folha e do Estadão,
estendemos a outros blogs que encontramos na web, blogs que são independentes, ou seja,
não possuem nenhum vínculo com grandes veículos de mídia. Para chegarmos aos blogs
independentes, utilizamos o site de busca Google
220
e, através da busca avançada que o site
oferece, colocamos as palavras: blogs, blog e política
221
. O resultado nos levou aos
seguintes blogs e respectivas descrições:
Alto Volta: O carioca David Butter faz excelentes e ácidas análises políticas do
cenário brasileiro e internacional;
FYI: Paulo Mo é brasileiro, mora na Virgínia e é liberal até a última raiz do
cabelo. Sempre uma alternativa saudável ao pensamento único da imprensa brasileira;
Yabbai: Rafael Caetano comenta, com muito humor e fotos a granel, a política
mundial;
O Barnabé
222
: Um funcionário público de Brasília nos brinda com sua visão única e
sagaz dos círculos internos do funcionalismo público federal;
Política Pura
223
: Blog de debate político;
Blog do José Dirceu
224
: Um espaço para a discussão do Brasil.
220
Vale destacar que utilizamos tal sistema de busca, pois imaginamos ser este o caminho mais comum
utilizado pelos internautas, afinal, é o principal sistema de busca da atualidade e o site de maior tráfego do
Brasil.
221
Utilizamos a buscablogs OR política”,blogs política” e “blogs AND política”, o mesmo para as
palavras “blog” e “política”. Os resultados que mais apareceram na primeira página de resultados na ocasião
são os que estão da dispostos na lista abaixo.
222
http://obarnabe.blogspot.com, 24/07/2007.
223
http://politicapura.blogspot.com, 24/07/2007.
224
http://www.zedirceu.com.br/index.php?option=com_content&task=blogsection&id=11&Itemid=37,
24/07/2007.
245
Uma navegação prévia em tal lista nos fez escolher os seguintes blogs para análise:
O Barnabé, Política Pura e o Blog do José Dirceu. O critério de tal escolha foi o cunho
político de tais blogs. Os blogs que abordam assuntos genéricos, onde a política não é o
único destaque, foram descartados. Descartamos nesta busca também os blogs que estavam
vinculados a qualquer veículo de mídia, sendo alguns deles, aqueles que analisamos nos
tópicos anteriores.
O blog O Barnabé apresenta um cunho de crítica política, possui espaços para
comentários e feedbacks, porém não encontramos sequer um único comentário em qualquer
uma das notícias do blog, o que o descarta como um blog onde o debate político estaria
acontecendo.
O blog Política Pura também apresenta um cunho de crítica política, mantido por
um português, as críticas do site giram em torno de questões relativas ao cenário europeu e
à política de Portugal. Assim como no blog anterior, não encontramos comentários sobre as
notícias publicadas, demonstrando ausência de debate no site.
O blog do petista José Dirceu, na verdade, é apenas mais uma área específica dentro
do website do político. O blog apresenta várias matérias colocadas pelo político e diversos
comentários dos internautas. Com a opção de se publicar e-mails e enviar as notícias a
outros internautas, o blog facilita o contato entre os seus usuários. Não encontramos
réplicas do político em relação aos comentários, mas, se o blog não se ao debate, pelo
menos serve de contato entre o político e suas bases. Não podemos colocar esse blog como
um exemplo do diálogo que existe nesta esfera, mas fica claro que esse tipo de iniciativa
um canal de comunicação entre um político e o blico é muito importante dentro de um
país democrático.
Ao analisar todos esses blogs, incluindo os da Folha e do Estadão, em nenhum dos
casos pudemos bater o martelo na mesa e afirmar com todas as letras que qualquer um deles
seja um exemplo claro do debate que estaria acontecendo na esfera dos blogs. Mesmo que
encontrássemos um blog com notícias opinativas e fervorosos debates políticos, não
poderíamos atribuir a apenas um, ou mesmo a uma dúzia deles, o surgimento de uma
grande e nova esfera dialogal e de debate, ou até mesmo ao resgate da esfera pública
vinculado à Internet em que viemos refletindo ao longo desse estudo. Embora os blogs que
246
acessamos não demonstrem essa “força” política, o conjunto da totalidade dos blogs pode
ter tal conjunto, hoje, possui nome próprio: blogosfera como mencionamos inúmeras
vezes.
Com essa análise, observa-se que os blogs independentes mostram ausência de
debates e os blogs vinculados a grandes veículos de mídia impressos, que são de suma
relevância como meios informativos e que poderiam concentrar mais as atenções dos
internautas focando-a em direção ao debate político, não o fazem, mais se parecem com
uma coluna jornalística inserida dentro de um jornal que, mesmo com os recursos
interativos da Internet, mais se assemelham com seus irmãos impressos. Exceto pelos
comentários dos usuários, nada de especial a que poderíamos atribuir o resgate da esfera
pública foi encontrado. Apesar de serem espaços basicamente de opinião, também não nos
foi possível perceber que eles estejam formando uma nova esfera de jornalismo de cunho
opinativo. Em relação a esses blogs mencionados, eles não se assemelham, numa primeira
vista, aos espaços de debates típicos das esferas públicas européias nos idos do jornalismo
da Idade Moderna.
Vale dizer que esse tipo de leitura que fizemos nos blogs acima foram realizadas em
todos os blogs que são citados no decorrer deste trabalho. Podemos dizer que, com exceção
de alguns pontos que ainda serão discutidos, não nenhum blog que fuja muito das
características descritas aqui. Por mais notório e navegado que seja qualquer um dos blogs
que acessamos durante este trabalho, em nenhum deles pudemos atribuir aquilo que
corresponderia a um possível “resgate da esfera pública”. Nos parece que tal resgate só
pode ser atribuído, caso ele esteja de fato acontecendo, à Internet como um todo, não a uma
única de suas “instâncias”, um de seus virtual settlements
225
, como o blog e muito menos
em um blog individualmente analisado.
225
Ver Capítulo II: “Os Blogs como Novo Meio de Expressão Jornalística”, ou em Escobar, 2007:11.
247
Outras Iniciativas
Globo.com
Uma notícia que impacta no cenário brasileiro das mídias digitais e que ganhou
destaque em 12/04/2007
226
, foi o prêmio recebido pelo Globo Online por sua aposta na Web
2.0 – o título de “case do ano” ofertado ao portal InfoGlobo. O destaque do portal, e que lhe
valeu tal premiação, é o fato de permitir ao usuário interagir com todas as matérias
publicadas, enviando comentários, vídeos e fotos através de uma ferramenta chamada Eu-
Repórter. O site também utiliza funcionalidades tais como alerta de notícias, RSS e podcast.
Vale citar que tal portal coincide com a teoria do I-centricque vimos nos estudos de
Rosental Calmon, inclusive pela similaridade do nome da ferramenta (Eu-Repórter
227
), e
por suas funcionalidades que vêm ao encontro das idéias do mesmo, idéias essas que
vieram a público em agosto de 2005, exatamente um ano antes do lançamento do portal
InfoGlobo (agosto de 2006), que registrou um crescimento de 60%, da sua abertura até abril
de 2007, nove meses após seu lançamento. Esta notícia mostra como a Globo, maior
empresa comunicacional do Brasil, está alinhada com as novas tendências dos meios
digitais, sobretudo a Internet. As ferramentas utilizadas pelo site (alerta de notícias, RSS e
podcast) também esbarram nas teorias de Nicholas Negroponte em sua obra A vida digital.
Essas ferramentas são, até aqui, as únicas tecnologias disponíveis em massa na atualidade
que poderíamos comparar com o conceito de agentes inteligentes de Negroponte. Neste
caso, entretanto, a inteligência, ou melhor, o agente inteligente é o usuário, e o seu próprio
grau de inteligência no uso desses e diversos recursos e que avalizará os benefícios, ou as
dores de cabeça, que obterá delas.
Além do Infoglobo, a Globo possui o portal G1 que, segundo Lucia Freitas, é o
grande exemplo de como fazer Internet por parte das grandes e tradicionais corporações de
mídia. Quando perguntada se os jornais brasileiros, na forma dessas grandes marcas
nacionais, estão preparados para uma completa e total transição para o mundo digital, ela
expõe: “Somente a Globo, pelo seu portal G1, é que realmente está fazendo algo bacana na
226
Em http://www.wbibrasil.com.br/boletim.php?id_boletim=331, 12/04/2007.
227
Assim como o mecanismo iGoogle que vimos anteriormente. São marcas que rementem às características
eu-centricas da nova mídia.
248
Internet. Ela tem feito muito e com toda a sua cadeia produtiva, na TV, na rádio, na editora,
nos jornais e no portal. A Globo está fazendo Internet”. Ela também expõe qual é a grande
chave para o sucesso da Globo dentro de sua empreitada pela grande rede: “A Globo.com, o
portal G1, é um portal bacana, usa tudo, da melhor forma possível, eles realmente estão na
ponta, eles, inclusive, não estão ligados ao jornal O Globo e nem à TV Globo, esses sim
estão fazendo Internet”. E mais, segundo Freitas, um dos sucessos do Globo.com está no
fato da empresa ser a mais antenada com as novas tendências digitais: “A Globo é a única
empresa a, por exemplo, ouvir os blogueiros, que faz estudo de usabilidade, que sabe olhar
para as novas tendências e incorporá-las de alguma forma”, expõe a blogueira. Para Freitas,
dentre as grandes empresas comunicativas brasileiras, a Globo é a mais “volátil” às
mudanças, ou melhor, não tem medo de mudar, de ousar, e isso resulta na liderança que se
estende das velhas mídias para as novas.
Quem achava que a revolução da Internet” iria pôr fim ao império da Globo no
Brasil terá de encontrar outra saída para esta situação. A inserção da Globo na web
demonstra o porquê da empresa ser a número um do Brasil. É o novo default Globo de
qualidade”.
ESPN Brasil
Durante a elaboração deste trabalho, sentado ao microcomputador e com a televisão
ligada ao fundo no canal a cabo ESPN Brasil, em meio a devaneios dissertativos, ouvíamos
os apresentadores e comentaristas desta rede televisiva bradando incessantemente: “Entre
no novo site da ESPN Brasil, confira o novo sistema de navegação que traz uma
revolucionária maneira de se interagir com o site. Entre nos blogs de nossos jornalistas,
sua opinião, participe dos blogs de nossos programas, escreva para nós, participe também
do nosso mural”. De tanto ouvir chamadas iguais a estas, nos rendemos a tal publicização e
entramos no site da emissora
228
.
Quando falávamos da questão da usabilidade relacionada ao sistema de busca da
Google, ou mesmo à nuvem de tags do site do Estadão, a ESPN adotou uma solução que
incorpora esses dois mecanismos. No topo da página do site, com destaque maior que o
228
http://espnbrasil.terra.com.br/agora, 26/10/2008.
249
próprio logotipo da empresa, encontra-se um largo campo de busca onde lê-se em letras
garrafais:
/digite aqui o que procura
. É um sistema de busca que incorpora o
conceito de palavras-chave (como a nuvem de tags), busca e navegação. Quando o usuário
digita algo nesse campo como, por exemplo, “futebol”, uma cortina se abre abaixo dele
com links para as áreas relacionadas. Se o usuário não selecionar nenhuma das opções
dispostas e clicar no botão para efetuar a busca, o site retorna com resultados e tags
relacionadas (de uma forma muito semelhante ao sistema de busca Quintura). Os tags que
o sistema retorna são as sessões do site, de modo que o usuário, à medida que se familiariza
com esse sistema e seus tags, pode navegar pelo site somente através desse recurso. Mais
do que facilitar o acesso às informações, o sistema facilita a navegação, pois, além dos
resultados típicos de uma busca na web, dispõe a estrutura do site.
Com certeza, esse é um grande exemplo de como a busca, aliada a outros
elementos, compõe um fator-chave na criação de uma interface informativa baseada no
conceito de usabilidade. Sem dúvida, o site da ESPN Brasil é um grande exemplo de
usabilidade para o acesso à notícia e à informação. Sendo o slogan do canal “informação é
o nosso esporte”, em relação ao próprio site, ele poderia ser: “usabilidade é o nosso
esporte”.
250
3. Um Chat com Especialistas
“I want you to be yourself” – Devil’s
talking
229
Blogs, Blogueiros, Blogosfera e Mídia
No decorrer desta pesquisa, navegamos por inúmeros blogs, mantivemos contato
com diversos blogueiros e fizemos muitas perguntas relacionadas às questões que
levantamos desde o início deste estudo. A análise a seguir leva em conta as respostas de
dois pequenos questionários, enviados em duas diferentes oportunidades, num contato com
um total de 32 blogueiros, dentro os quais dezoito acenaram positivamente para responder
uma pesquisa via e-mail com cinco ou seis questões abertas sobre blogs, jornalismo e
Internet. Desses dezoito que se disponibilizaram a nos atender, apenas oito responderam de
fato a pesquisa, dentre os quais, dois, ou melhor, duas, as blogueiras Lucia Freitas
(www.ladybugbrasil.com) e Carolina Terra (rpalavreando.blogspot.com) nos concederam a
honra de responder questões com mais profundidade. Além disso, algumas questões que
fizemos aos blogueiros concernem a outras questões que fizemos ao sociólogo e ex-diretor
do instituto de pesquisa Datafolha, Prof. Dr. Gustavo Venturi Junior (USP)
230
, que
gentilmente nos elucidou questões ligadas às grandes empresas jornalísticas que
observamos neste estudo, o Estadão e, com mais propriedade, a Folha, além do próprio
contexto atual geral da mídia no Brasil.
O primeiro contato que mantivemos com os blogueiros foi durante a Campus Party
Brasil
231
, realizada de 11 a 17 de fevereiro de 2008 no museu da Bienal de Artes de São
Paulo. Na ocasião, abordamos pessoalmente treze blogueiros, explicamos o escopo de
nossa pesquisa e pedimos um e-mail para o envio posterior de cinco questões abertas
232
. A
nossa idéia era enviar poucas questões e, conforme as respostas que obtivéssemos, iríamos
mantendo o diálogo com novos questionamentos até que as respostas nos satisfizessem.
Apesar de todos os blogueiros terem se prontificado a responder nosso questionário, apenas
229
Em The Devil’s Advocate (1997). “Eu quero você para ser você mesmo” (T.A.).
230
Veja anexo “Entrevista Gustavo Venturi”.
231
Saiba mais em http://www.campus-party.com.br/index.php/cp-brasil-2008.html, 27/10/2008.
232
Veja anexo “Entrevistas Campus Party”.
251
cinco de fato o fizeram e, dentre estes, conseguimos manter um diálogo apenas com a
blogueira Lucia Freitas que era, inclusive, a responsável pelo espaço Campus Blog dentro
da Campus Party. Após uma série de trocas de e-mails, Freitas se dispôs a gravar uma
entrevista em profundidade para nós
233
, e assim o fez.
O segundo contato que mantivemos foi por ocasião da banca qualificatória deste
estudo, realizada em 08/09/2008 na Faculdade Cásper Líbero, quando os membros da banca
nos indicaram uma matéria da revista Imprensa
234
que passava pela questão dos blogs,
inclusive, nos pedindo para tentar um contato com os blogueiros mencionados na matéria.
Foi o que fizemos, tentamos estabelecer contato com os dezessete blogueiros citados na
matéria através de seus blogs. Desses dezessete, não conseguimos contatar quatro, aos
demais enviamos mensagens
235
via e-mail ou, quando não encontramos um, via comentário
no blog, e obtivemos o retorno de apenas três blogueiros, dentre os quais, estava Carolina
Terra que, além de blogueira e profissional de Relações Públicas, é mestra em Interfaces
Sociais da Comunicação (ECA/USP). Terra foi a única dentre os blogueiros citados na
matéria com quem conseguimos manter um diálogo; assim, além das questões prévias
236
que havíamos enviado, tanto para ela quanto para os demais, conseguimos obter mais
informações com esta atenciosa professora.
Além desses, tentamos contato com mais alguns blogueiros que nos interessava
questionar, dentre os quais, o único que nos atendeu, o blogueiro Tiago Dória, é formado
em jornalismo (Universidade Católica de Santos) e especialista em tecnologia. O contato
com Dória se deu em função de algumas informações que havíamos obtido através de
uma matéria em que ele fala ao caderno Link do Jornal da Tarde
237
, e pelo fato de termos
nos encontrado em um seminário sobre tecnologia e cidadania ocorrido na Faculdade
Cásper Líbero em setembro de 2008
238
. Dória respondeu ao mesmo questionário enviado
aos demais blogueiros citados na matéria da revista Imprensa e mais algumas questões que
enviamos em réplica às primeiras.
233
Veja anexo “Entrevista Lucia Freitas”.
234
“Igual, mas diferente”, revista Imprensa 238, setembro de 2008. Matéria de Igor Ribeiro e Fabrício
Teixeira.
235
Veja anexo 3.
236
Veja anexo “Entrevistas Revista Imprensa”.
237
Vida Digital: “Os blogs já estão saturados”, caderno Link, Jornal da Tarde, 10/07/2008.
238
“Cidadania digital latino-americana”, realizada em 12/09/2008.
252
Veja abaixo o quadro completo com os blogueiros, blogs, tipo de contato e a
receptividade que obtivemos nessa pequena empreitada investigativa:
Tabela Blog
253
Tabela Blog
254
Antes de analisarmos com mais profundidade os blogs que contatamos e as
informações que obtivemos, algo precisa ser esclarecido. Na ocasião em que estivemos na
Campus Party, os nossos estudos ainda não tinham apontado para a questão dos blogs
como algo que merecesse a mais meticulosa atenção, como ficou evidenciado no seu
decorrer. Sendo assim, o proveito que poderíamos obter, as informações e uma série de
outros fatos ligados às atividades dos blogueiros durante a Campus Party não recebeu a
devida atenção de nossa parte na ocasião. Se soubéssemos que o nosso estudo iria mirar
para os blogs como o foi, teríamos feito mais entrevistas e participado de mais eventos
ligados ao Campus Blog durante a Campus Party, tanto que nós estabelecemos contato
pessoal com diversos blogueiros mas optamos por fazer apenas algumas perguntas via e-
mail, desperdiçando uma preciosa oportunidade de manter um contato em maior
profundidade e com mais riqueza, embora tenhamos obtido algumas informações
significantes mesmo neste do caminho optado.
Os questionários que enviamos a treze blogueiros que conhecemos durante a
Campus Party não surtiram todo o efeito desejado. Embora todos os blogueiros, quando
abordados face-a-face por este entrevistador, tenham se prontificado a responder, apenas
cinco o fizeram. Entretanto, dentre os contatos que deram a devida resposta ao nosso
pedido, destaca-se Lucia Freitas, que nos cedeu diversas informações, entrevistas e nos
foram muito úteis, cujas informações enriqueceram de forma imensurável a nossa pesquisa.
Assim, como pontificação final, a seqüência de entrevistas e contatos que fizemos para essa
pesquisa foi:
Entrevista via e-mail com cinco blogueiros da Campus Party (fevereiro de
2008);
Entrevista em profundidade com a blogueira Lucia Freitas (12/06/2008);
Entrevista em profundidade com o sociólogo Gustavo Venturi Junior
(29/07/2008);
Entrevista com três blogueiros contatados por meio de matéria da revista
Imprensa (de 26/09/2008 a 24/10/2008);
255
Como expusemos no quadro anterior, do total de contatos que fizemos, a
receptividade foi baixa, apenas um quarto dos blogueiros que contatamos responderam a
nossa pesquisa. Assim, o primeiro item que questionamos a respeito dos blogueiros é a
receptividade, a reciprocidade, ela não nos pareceu ser grande coisa. Essa reciprocidade
que obtivemos pode ser explicada pela dinâmica comum das relações entre blogueiros,
segundo Lucia Freitas talvez a blogueira mais experiente entre todos os que
entrevistamos. Falando sobre a relação do trabalho dos seus pares com a peer production, a
produção entre blogueiros, ela esclarece:
Aliás, essa é uma característica dos blogueiros, a capacidade de compartilhar
conhecimentos, todos se ajudam. Por exemplo, se você precisa de plug-in para uma
determinada função que você precisa para o seu blog/site, você consegue rapidinho com os
seus peers. Porém, os blogueiros têm muitas dificuldades de compartilhar conhecimentos
que não sejam técnicos. Se voprecisar de um blogueiro para te ajudar a pensar numa
temática para o seu blog, você terá dificuldades em obter qualquer tipo de ajuda, nesse
sentido, a produção do blog ainda é muito individualizada.
Segundo Freitas, a produção do blog está em algum grau ligada à questão da rede
como meio midiático que reflete o individualismo, o egocentrismo ou eu-centrismo que
campeia a sociedade contemporânea (ou, ao menos, o mundo ocidental). Os outros fatos
descritos se encaixam perfeitamente no resultado dos contatos que obtivemos. Dentre as
perguntas que fizemos aos blogueiros, algumas se ligavam a questões mais ideológicas,
como as ligadas à questão da esfera pública, outras foram mais de cunho técnico, quando
buscamos informações sobre alguns mecanismos, softwares etc., esclarecimentos de foro
tecnológico. E, seguindo a gica apontada por Freitas, o resultado demonstrou que o
segundo escopo de questões nos trouxe informações muito mais importantes e relevantes
para esta pesquisa do que o primeiro.
Apesar da pouca reciprocidade obtida através dos contatos através da Campus
Party, como dissemos, não era essa a nossa expectativa; porém, na ocasião em que
contatamos os dezessete blogueiros citados na matéria da revista Imprensa, desta feita, de
fato, nós nos decepcionamos com o retorno obtido. Nós partimos do pressuposto que, se
tais blogueiros atenderam à reportagem da revista, atenderiam a nós que estamos fazendo
um estudo científico sobre blogs, cujo contato parte da matéria de qual participaram. O
exemplo maior dessa “decepção” fica por conta do blog da Folha Online, Ilustrada no
256
Cinema, que contatamos via comentário no blog. O jornalista que atendeu a matéria da
revista Imprensa respondeu ao nosso contato alegando não poder responder por “não ser o
responsável pelo blog”, e nos encaminhou a mensagem para um terceiro. Ficamos
desapontados com o pouco interesse e descartamos a possibilidade de enviar as questões
para este blog, assim como desistimos dos blogs que apresentavam algum obstáculo ao
contato, como o requerimento de um cadastro para a liberação de comentários ou envio de
mensagens, entendendo que isto é uma solução que não atende ao princípio da usabilidade,
e sim ao da “espionagem”, o cadastro é primeiro dos mecanismos de serventia àqueles que
querem monitorar os gostos e hábitos do seu público. Também os blogs que não possuíam
espaços para contato foram igualmente descartados.
Após essa frustração com a reciprocidade obtida, optamos por seguir essa trilha de
estreitar os laços mais firmes, na busca de mais calor humano. Para isto, a mesma pesquisa
que enviáramos aos blogueiros, enviamos para alguns contatos (aqueles que possuíam blog)
dentro do nosso espaço na rede social Orkut
239
. A reciprocidade no Orkut foi menor ainda,
nem sequer deveria ser mencionada aqui, somente a nossa frustração é que foi maior, pois
mesmo entre quem contávamos como certa a participação em nossa pesquisa, não
obtivemos praticamente nenhum retorno, à excessão do blogueiro André “Dedo” Salles,
que não fazia parte de nossos contatos e, por livre iniciativa, encontrou a comunidade e
respondeu uma das questões
240
. Vale dizer que nós não publicizamos tal fórum além dos
nossos contatos dentro da comunidade. A reciprocidade nula do Orkut nos fez questionar,
até mesmo, se o problema ocorrido em tais contatos não esteja no carisma do pesquisador,
ou melhor, na falta de carisma do pesquisador, hipótese que não pode ser descartada. A
tentativa do Orkut, nesse sentido, foi duplamente frustrante.
Enfim, como diria Manuel Castells, o importante é olhar para o que de positivo
dentro dessa nova miscelânea digital, o que vale também para os nossos contatos. Vamos,
então, relacionar os blogs e blogueiros que atenderam aos nossos pedidos:
239
Através de contato via scrap, e entrevistas acessíveis em comunidade criada para este fim, veja:
http://www.orkut.com.br/Main?cmm=71468785#Community.aspx?cmm=71468785, 04/10/2008.
240
Veja anexo “Entrevistas Revista Imprensa” ou acesse o fórum da comunidade através do link disposto na
nota anterior.
257
Profissão/ Nome Idade Residência Blog Temática
Empresário Pedro
Villalobos
22 Belo Horizonte –
MG
Isso Mesmo! Lifehacking
Empresário Marcelo
e Designer Gráfica
Lyanne
38 e 37 Florianópolis – SC Vida de Viajante Viagens, Turismo
Responsável, Consumo
Consciente e Meio
Ambiente
Jornalista Lucia
Freitas
42 São Paulo – SP Ladybug Brasil Tecnologia e
comportamento
Analista de Sistemas
Marcelo Andrade
27 Belém – PA Cotidiano, Tecnologia e
Algo Mais
Cotidiano e tecnologia
Designer Gráfico
Willians de Abreu
25 São Paulo – SP Will Publi Desabafos
Jornalistas Flávia
Pegorin, Clarissa
Passos e Viviana
Agostinho
33, 30 e
31
São Paulo – SP e
São Francisco
EUA (Viviana)
Garotas que Dizem Ni Generalidades, Mídia,
dia-a-dia e fofoca
Relações Públicas
Carolina Terra
28 São Paulo – SP RPalavreando Relações Públicas
Jornalista Tiago
Dória
28 Santos – SP Tiago Dória Weblog Tecnologia
André “Dedo” Salles 29 Brasil Digital Poiesis Poesia
Apesar de pequena, essa amostra reflete um pouco da pluralidade de temáticas que
existe na blogosfera. Enquanto os blogs dos grandes veículos jornalísticos que analisamos
através da Folha e do Estadão giram em torno de temáticas que esbarram com as próprias
editorias dos veículos
241
, fora do âmbito dessas grandes empresas o horizonte é mais amplo,
intangível. Apesar disso, algumas temáticas são comuns e, como decorrência, aparecem
nesta amostra: tecnologia, cotidiano/comportamento, meio ambiente e fofoca. Dentre esses
assuntos, temos um de extrema relevância social, que é o meio ambiente. Lucia Freitas
chama a atenção para esse fato, inclusive atrelando-o a um dos fatores de maior
importância dentro dessa nova esfera digital, o poder atribuído à grande rede como vetora
de um pensamento mais crítico:
A discussão sobre a questão ambiental, do aquecimento global, é algo que tem sido
amplamente debatido dentro da blogosfera, é um assunto que tem encontrado mais espaço
nas novas mídias do que no jornal. Existem diversas ONGs atuando na Internet, utilizando-
a como meio não para o debate, mas no engajamento de ações e a blogosfera se mostra
também atuante nesses casos. Ecologia e Internet têm tudo haver uma com a outra, a
começar pelo próprio impacto ambiental dessa mídia que é muito menor do que a impressa,
apesar da sucata que gera e do consumo de energia. O fluxo de informações da web também
241
O que, além da nossa análise, é a opinião de Lucia Freitas: “Apesar de qualquer jornalista também estar
inserido dentro de enormes fluxos de informações, eles são mais direcionados, sempre mais focados dentro de
determinados assuntos e/ou editorias”, diz a blogueira.
258
se mostra positivo para disseminar esse tipo de debate, onde as audiências se somam. A
Internet, tanto para qualquer assunto ligado à mudança de comportamento, quanto para a
educação, é fabulosa. O simples fato de você ter as pessoas na rede escrevendo, ainda que
sejam aqueles scraps horrorosos do Orkut, já representa um imenso ganho.
Porém, quanto inquirida diretamente se, em sua visão, a Internet tem de fato esse
poder “conscientizador”, Freitas expõe:
Em relação ao fato da Internet aumentar o pensamento crítico, eu acho que sim e não. Acho
que quem é crítico é crítico, não porque passou a usar a web. Eu acho que a maioria dos
blogueiros não tem capacidade crítica. Essa é também uma das críticas dos empresários a
blogosfera. Existem alguns pontos, alguns blogs onde aparece a crítica, mas não é essa a
regra geral. O Brasil, como país, não é um país crítico. Você não pode desconsiderar essa
bagagem histórica e psico-social do nosso povo. Aqui as pessoas têm o costume de
criticar pelas costas, são incapazes de sustentar uma crítica olho-no-olho. As pessoas aqui
não são capazes de cobrar seus políticos, seus deputados. Inclusive, eu acho que o brasileiro
tem razão de não reclamar, afinal, ele nunca é ouvido. Mesmo no serviço de telemarketing
de qualquer empresa, você liga para reclamar e eles fingem que te escutam. E quem esde
fora dessa lógica, acaba com os nervos a flor da pele, vendo-se incapaz de fazer qualquer
coisa. Isso também gera uma aversão à política que se torna algo natural.
Talvez essa seja a grande característica da Internet: pela sua fisiologia acêntrica, se
torna praticamente impossível encontrar uma única explicação ou um único ponto de vista
para quaisquer que sejam as suas características e potencialidades. O meio não muda por si
as pessoas a sua volta, mas ele muda e molda a mensagem e, se, a nova mídia é mais
positiva para gerar ações como as descritas por Freitas na primeira manifestação acima,
podemos dizer que sim, que a nova mídia favorece um diálogo mais crítico, mesmo que
seja no meio de toda uma dispersão advinda da pluralidade informativa do novo meio. a
segunda manifestação de Freitas nos parece denunciar uma certa frustração comum entre as
pessoas que entendem as novas potencialidades das novas mídias, que inclui alguns dos
filósofos que usamos para embasar este estudo, e não as tomando forma dentro dessas
mesmas potencialidades na atualidade social. Assim, afirmações como as de Pierre Lévy e
Manuel Castells se encaixam aqui para descrever a Internet, tanto como novo meio capaz
de discutir assuntos vitais à sociedade, quanto como vetora de novos comportamentos, da
mesma forma que as ponderações de Jean Baudrillard nos alertam para os possíveis
resultados, frustrantes, que essas mesmas novas mídias podem oferecer: a manutenção do
status quo.
259
Essa questão realmente suscita uma certa polêmica entre blogueiros e estudiosos
diversos, por um lado muitos enxergam esse potencial libertário das novas mídias, por
outro, poucos acham que isto de fato irá acontecer. Quando inquirimos diversos blogueiros
sobre essa questão da consciência crítica, foi praticamente unânime a negativa de que os
blogs favorecem esse tipo de despertar. “Acho que isso é atribuir um poder grande demais
aos blogs”, diz Flávia Pegorin; ela crê que os blogs não têm esse objetivo, e sim o de
informar imparcialmente, objetivamente, dentro dos mesmos moldes do jornalismo em
geral: “E o papel do jornalista é, na verdade, informar com precisão a verdade plena, não
despertar nada. Isso, quem decide, é o leitor”, diz a jornalista. Outros blogueiros seguem a
esteira de Lucia Freitas, e não enxergam essa possibilidade nos meios, como Carolina
Terra, que entende que “não são os meios que despertam a consciência crítica nos
cidadãos”. Tiago Dória também concorda com essa afirmação, mas vislumbra algum
potencial dentro da nova amplitude informativa da grande rede: “O que acontece é que,
potencialmente e teoricamente, os blogs abrem espaço para que outras pessoas fora do
mainstream possam publicar sua visão de mundo”. Mas em relação ao próprio jornalismo
na web, incluindo os blogs, ele crê que “ele é o mesmo praticado no mainstream, só mudam
os meios”.
O detalhe dentro desta questão pode não estar no fato de a Internet e a blogosfera
despertarem, ou não, uma consciência crítica na população de um modo geral, pois isto não
depende dos meios, mas de outros fatores: “Isso demora (...) passa por inclusão digital e
muita, muita educação”, diz Lucia Freitas. E ela aponta qual é o grande ganho da web em
relação a este ponto:
Hoje o leitor não é mais tão passivo como antigamente, ele mudou. Hoje ele tem uma nova
e ampla gama de informações que não vem mais apenas do jornal, têm novas leis de defesa
do consumidor, institutos etc. No novo milênio, além dos meios tradicionais de
comunicação, você tem a Internet como novo meio informativo. E através da web, as
pessoas que lêem inglês e têm consciência crítica, puderam começar a exercer uma
influência dentro de uma instância privada, ele pode construir uma rede própria de contatos,
como no próprio MSN (que hoje tem cerca de 30 milhões de usuários no Brasil dados da
Microsoft), e exercer uma influência sobre essas pessoas que estão na sua rede, e sobre o
que for, desde qual é o chaveiro mais confiável aquestões políticas/ambientais, isto é, se
você tem credibilidade com as pessoas que se relaciona. Se você usa a rede só para
bagunçar, aí não funciona.
260
Se a rede não é o meio que desperta a consciência crítica, ao menos é o meio onde
se pode exercer essa consciência, mesmo que ela esteja mais conectada a uma instância
privada. Se entendermos que a Internet ou qualquer outro meio seja vetor para o despertar
de uma consciência crítica, subentende-se que tal consciência esteja adormecida, ou não
exista. Tal adormecimento passa pelas questões que discutimos a respeito da indústria
cultural e da sociedade do espetáculo, de modo que qualquer nova iniciativa que venha
contrariar essa gica, pode ser entendida como uma forma de contrapoder ao que se tem
instituído. Seriam os blogs uma forma de contra-poder? Freitas expõe a sua opinião sobre
este fato:
Eu não sei o que é contrapoder. Na verdade, eu acho que a Internet pulveriza o poder, o
diálogo. Os blogs podem servir aos dois lados, ele pode ser uma forma de protesto e
também uma forma de conversão ao estabelecido. Tem muito blogueiro que de uma postura
de militância política passa a defender posturas puramente comerciais. Mas, no meu
entender, o blog é o espaço da crítica, da militância, do protesto, mas isso ainda é uma
opinião minha e muito em função do feedback que eu recebo dos leitores do meu blog que,
na grande maioria, acredita nesse tipo de postura.
Mais uma vez, o grande poder atribuído à grande rede está na pulverização do
diálogo e do discurso. Nesse sentido, podemos entender o poder democratizador da web em
torno de suas características inclusivas, que são abertas a todas as formas de expressão,
incluindo aquelas que o tinham espaço dentro dos tradicionais veículos de mídia (e ainda
não têm). É lógico que tais portas não se abrem somente para o novo ou para os excluídos,
mas para os tradicionais também.
261
Influência e Credibilidade
As ponderações expostas nos parágrafos anteriores podem ser relacionadas com
outro fator-chave abordado durante este estudo, a questão da influência dos jornais e dos
blogs sobre o seu público. Os blogueiros foram unânimes em creditar o seu poder de
influência sobre os seus públicos, mesmo que essa influência seja a replicagem daquela que
pertencia aos grandes veículos, onde os blogs seriam novas bocas que ampliam a voz do
mainstream media sob um novo tom. “A blogosfera jornalística raramente cria sua própria
pauta, simplesmente replica e opina a de outros meios”, diz o empresário Pedro Villalobos.
Tal afirmação vai ao encontro dos estudos de Mariana Della Dea Tavernari
242
, que percebe
a blogosfera como um espaço de discussão e replicagem dos conteúdos do mass media.
Fato de concordância de Lucia Freitas, ela credita o poder influente da blogosfera no
âmbito da discussão, e não da produção: “Sim, no sentido em que se produzem ondas de
reação a determinados fatos, como o bloqueio do Youtube. Não no sentido em que se
produzem ondas de conteúdo próprio...”. Inclusive, a maioria dos blogueiros crê que o blog,
hoje, é mais um dos instrumentos que compõem o mainstream media, independentemente
de gerar conteúdo ou não.
Tiago Dória entende que os blogs representam um novo caminho para os indivíduos
“construírem a sua marca na rede”, a Internet representa o meio onde se “pode construir a
sua reputação e credibilidade fora do ambiente de uma redação”. Ele próprio é o grande
exemplo disso, nunca trabalhou em um grande veículo e construiu sua influência através da
rede até chegar a ponto de possuir cerca de seis mil unique visitors em seu blog por dia.
Sendo assim, ele também é o grande exemplo do quão inclusiva a Internet pode ser para
aquele que tem algo a compartilhar. Como dissemos, a grande rede representa um palco
aberto para as novas gerações de jornalistas que se formam a cada ano. Essa massa de
profissionais que é abraçada ano a ano pela Internet poderá deslocar o centro da influência
para fora dos grandes veículos com o passar do tempo. Dória, inclusive, afirma que, em
breve, “a Internet vai passar a sustentar os impressos”. Ele acredita que a pluralidade da
web representa o fim das formas autoritárias de distribuição da informação: “as pessoas não
estão cansadas do jornal, mas de ler a mesma notícia duas vezes”, e isso pode ser um fator
242
Capítulo II: “Os Blogs como Novo Meio de Espressão Jornalística”.
262
que venha a deslocar o centro maior da influência dos meios para longe das
“totalitariedades” que, como vimos, são vetores do sensacionalismo e do consumismo no
que tange ao mundo da notícia.
Segundo Freitas:
A questão da credibilidade é muito importante e tem vários níveis na Internet, que se
somam e são contribuintes ao mesmo tempo, não é linear. A questão da tradição não entra
aqui, um site que tem cinco anos aparece na frente do site do O Globo que tem quase cem
anos. Na Internet a credibilidade se faz pelo círculo de relações, pelo conteúdo, pela
apuração bem feita, por link que você vai ganhando, pelas suas ações. A credibilidade na
web é construída dia a dia.
(...) na web uma informação se replica por caminhos que são imprevisíveis, que não podem
ser mapeados, que é por onde a credibilidade se constrói. Um post num blog pode gerar
milhões de cópias e comentários, uma matéria no site de um grande jornal pode ficar lá para
os poucos usuários que acessam determinadas áreas do site.
Este último fator, apesar da crítica de Freitas, representa, na verdade, um ganho para
o jornalismo, o fato de o jornal poder manter, na rede, um espaço para poucos usuários que
não seria viável nos meios analógicos. Por outro lado, Freitas reafirma aquilo que já
desconfiávamos, na Internet a tradição é algo muito relativo. Não adianta possuir uma
grande marca se as ações dessa marca não forem ao encontro dos anseios dos internautas,
afinal, a rede é a mídia dele. Ela exemplifica isso através de uma marca que não é
centenária, uma marca que surgiu com o advento dos computadores, a Microsoft:
Como que a Microsoft a grande inovadora da web passou a ser a grande vi da
Internet? Destruindo as ões positivas que tivera num primeiro momento através de suas
ações negativas, quando passou a impor o seu sistema operacional, destruindo o Netscape,
acusando seus usuários de pirataria. Em pequenas ações, devagarzinho, eles foram
construindo uma péssima imagem. Hoje, apesar da Microsoft ter uma série de ferramentas
muito legais, ela tem uma péssima imagem global. Mas para reverter, como eles estão
fazendo através de suas efetivas campanhas de inclusão digital, aderindo ao OpenSource e
outras ações.
Em relação aos grandes jornais, Freitas entende que eles “estão perdendo uma
excelente oportunidade de se reinventarem na Internet. Você tem hoje, cerca de 50 milhões
de pessoas acessando a Internet diariamente, e essas empresas estão perdendo esse
público”. Ela aponta o exemplo do jornal The New York Times, que perdeu milhares de
leitores do dia para noite quando passou a cobrar pelo acesso das notícias em seu site.
263
Enquanto isso, algumas iniciativas advindas dos usuários vão ganhando dimensões
superiores a essas grandes marcas, onde temos os blogs
243
. Na mesma esteira de Dória,
Freitas percebe o potencial dos blogueiros em exercer influência sobre seu público, pelo
simples fato de estarem mais próximos de suas audiências. “O usuário que se informa
através de blogs confia mais na informação que obtém dessa rede do que em qualquer
veículo tradicional”. Tal afirmação reflete o conceito de rede social, o usuário é mais
propenso a acreditar nas informações advindas de seus pares, e não de terceiros; isso reflete
o próprio conceito da peer production
244
. Este fator também pode explicar a súbita adesão
dessas grandes marcas, tanto dentro da esfera dos blogs, quanto nas redes sociais da
Internet (como o portal Limão do Grupo Estado), como uma maneira de competir e incutir
a sua influência no ciberespaço junto ao internauta. Mas não basta se inserir, é preciso
interagir. Esse hiato pode explicar em parte o sucesso maior dos blogs independentes em
relação aos blogs de grandes veículos: “Uma diferença significante do jornalista [de
grandes veículos] e do blogueiro neste sentido é que o primeiro não responde a seu público;
o blogueiro, através dos feeds, do e-mail, sim, e o tempo todo, muitas vezes tendo que lidar
com os disparates de seus leitores existe uma conversa nos blogs e o jornalista, na
maioria dos casos, sequer sabe o que os seus leitores estão pensando”. Esse fator apontado
por Freitas é questionável, pois, como vimos, nós tivemos dificuldades de estabelecer um
diálogo com os blogueiros
245
e, mais adiante, iremos nos aprofundar sobre essa questão no
tópico “O Diálogo nos Blogs”. Apesar disso, cremos que o diálogo nos blogs é mais
receptivo em relação aos grandes veículos devido ao fato do blog ser uma instância mais
próxima do indivíduo, como já foi exaustivamente enfatizado.
O sociólogo Gustavo Venturi Junior analisa a questão da credibilidade dos meios
pelo prisma das grandes empresas; ele a relaciona com o conteúdo jornalístico:
243
Lúcia Freitas exemplifica isso comparando a audiência de alguns blogs com o site do Estadão: “(...) blogs
mais influentes que, por exemplo, têm muito mais acesso que o próprio Estadao.com.br. Não que um
determinado blog seja mais influente que o Estadão, mas tem mais audiência. A diferença é que o Estadão é
conhecido por uma certa fatia de pessoas, já determinados blogs atingem outras pessoas que não são leitoras
do Estadão”.
244
Lucia Freitas enxerga essa relação (blog/peer production) da seguinte forma: “Ela relaciona-se com a
própria genética e o ambiente onde o ser humano está inserido. O ser humano não é um individuo fechado em
si mesmo, ele é conectado. Ele é resultado da interação de sua genética com seu ambiente. Para mim, este
conceito é a própria inteligência coletiva, é a construção do ambiente, é um lugar biológico”.
245
Vale colocar que durante as análises que fizemos nos sites da Folha Online e do Estadao.com.br, nós
tentamos estabelecer contato com essas empresas via e-mail e não obtivemos resposta.
264
Quando você tinha somente o jornal impresso, as regras eram baseadas no fato da
informação ir “ao ar” uma vez por dia, o jornal diário. Ou uma vez por semana se fosse uma
revista semanal. Supõe-se que você tinha um tempo muito maior para a apuração das
notícias e de preparo delas. Hoje, o noticiário da Internet fica em meio a uma disputa dentre
os diferentes veículos, em que o que vale é você dar a notícia o mais rápido possível, até
porque a possibilidade de correção depois é muito rápida. Isso acaba tornando o veículo
menos confiável, pois volta e meia você vê saindo muita bobagem, que depois de uma hora
ou duas vem o desmentido dizendo que não era bem aquilo.
Venturi Junior reafirma as palavras de Pollyana Ferrari
246
, demonstrando o erro
típico das coberturas “em tempo real” online de grandes veículos, e entendendo como isto
pode minar a credibilidade dos meios. “Ninguém quer levar furo” e, “isso é algo que tira
um pouco da confiabilidade das notícias”. Philip Meyer aponta em seus estudos que, se, um
determinado veículo chega a um certo grau de baixa confiabilidade, automaticamente se
abre a porta para que um outro veículo ocupe este espaço (e ele fala disso em termos de
viabilidade econômica para se criar um novo jornal). Na web, um meio muito mais
inclusivo, esse é outro fator que pode deslocar a credibilidade de certos veículos para outras
novas iniciativas e instâncias, mas não sabemos se os blogs serão capazes de absorver esse
espaço caso ele venha a se abrir, ou, até mesmo, como se daria essa dinâmica identificada
por Meyer dentro das características do ciberespaço. De qualquer modo, é mais barato se
abrir um novo jornal na web, isto é fato.
Outro fator relacionado à credibilidade/influência que Venturi Junior aponta como
um vetor que poderá deslocar a influência dos meios impressos para a esfera digital jaz na
baixa penetração desses veículos no Brasil. Ele expõe:
Você tem que levar em conta que a leitura dos jornais no Brasil nunca foi muito ampla. Na
Argentina os jornais têm uma tiragem muito maior em um país com uma população muito
menor, isso por conta de perfil de escolaridade, perfil cultural da população.
(...) Eu tenho a impressão que pode crescer a base de leitores e consumidores de notícias no
país, mas que isso não passe mais pelo impresso. Como em lugares que o celular chegou e o
telefone fixo não, e não vai chegar nunca mais.
Com o deslocamento da base maior de leitores do terreno impresso para o digital e,
relacionando isso com as posturas autoritárias dos grandes veículos, inclusive no
246
Capítulo II: “As Novidades do Jornalismo na Internet”.
265
ciberespaço, temos mais um fator que, potencialmente, poderá levar a um segundo plano a
influência desses veículos com o desenvolver da grande rede.
Mas este é um problema cujo cenário ainda não se desenha por aqui. Citando um
exemplo ocorrido dentro da Folha de S.Paulo, quando após um acordo comercial com uma
grande empreiteira, ela, subitamente, parou de ser referenciada pelo jornal como
empreiteira passando a ser chamada de construtora, Venturi Junior neste tipo de atitude
uma falta de bom senso por parte dos veículos:
Então esse é um problema que está ligado com a perda, vamos dizer, do risco de perda da
capacidade crítica dos jornais em se manterem independentes quando de fato eles dependem
do poder econômico. Ao mesmo tempo eu acho que ainda está longe [a perda da
credibilidade], a credibilidade dos meios de comunicação ainda é muito alta, inclusive da
televisão. Embora tenha essas crises pontuais, eu vejo que a população de forma geral ainda
não tem uma formação critica, uma educação critica suficiente para questionar os meios, e
tende a achar que se saiu na televisão ou deu no jornal é verdade.
Esse é um problema que, embora Venturi Junior enfatize não afetar os meios devido
à falta de capacidade crítica do público, uma vez a mídia deslocada para o terreno
cibernético, poderá afetá-la. Porém, na atualidade, nada indica que isso irá ocorrer.
Ademais a credibilidade pode ser reconstruída, inclusive no âmbito das novas mídias como
refletimos. Venturi Junior, que além de ex-diretor do Datafolha é diretor do instituto de
pesquisa Criterium, é cético nesse ponto: “eu acho mais fácil os jornais perderem público
pela questão da mudança dos meios do que pela perda de credibilidade”. O que Venturi
Junior nos diz é que esta falta de capacidade auto-critíca não chegar a recair sobre a opinião
pública de forma a abalar a credibilidade do meio, mas se isso não atrapalha a empresa
publicamente pode atrapalhar privadamente, ou seja, minar a credibilidade dos próprios
jornalistas do veículo. Aqui cabe, mais uma vez, o exemplo de Luis Nassif que saiu da Veja
contando histórias constrangedoras a respeito desse seu antigo veículo empregador. Ainda
sobre essa mudança dos meios mencionada por Venturi Junior, o que entendemos como a
convergência midiática em torno do bit, é assunto que abordaremos no tópico “O Fim dos
Jornais Impressos”, adiante neste capítulo.
266
O Jargão dos Blogs
Como vimos no capítulo anterior através de pesquisas acadêmicas, a linguagem
associada aos blogs é majoritariamente opinativa, narrativa, literária, informal e
pessoalizada. Lucia Freitas entende a expressão dos blogs como um espaço opinativo, mas
acha que não se pode taxar a linguagem dos blogs de uma maneira qualquer, pois diz que
ela ainda está se consolidando:
A linguagem dos blogs é mais opinativa, é mais pessoal. Nos blogs existe um espaço de
argumentação que antes era possível através dos livros, ou num zine. Mesmo os
editoriais dos grandes jornais não são pessoalizados, sempre tem uma questão política em
relevância. Mas a própria linguagem dos blogs ainda é algo que está se consolidando, esse
fenômeno ainda é muito novo.
Apesar de possuir um cunho opinativo, o blog nada tem a ver com as colunas ou os
editoriais, espaços onde aparece a opinião dentro dos jornais, pois tais espaços carecem da
pessoalidade que é uma das características da web, de modo que não como comparar
essas duas instâncias. Freitas acredita ainda que a linguagem dos blogs e da web está
influenciando o jornal
247
, mas não crê que a liberdade de expressão atribuída aos blogs é
algo que seja muito diferente do que acontece dentro dos jornais, a tal coerção que os
jornalistas sofrem dentro de uma redação é algo muito relativo: Em relação aos blogs
serem mais livres de coerção do que os jornalistas de grandes jornais, eu não acredito nisso.
Todo jornalista que trabalha para um grande veículo tem as restrições naturais de trabalhar
numa grande redação e os limites das linhas editoriais”, diz a blogueira. Se se questiona a
liberdade de expressão dentro dos grandes jornais, ela também pode ser questionada nos
blogs, sobretudo naqueles que possuem contratos publicitários, patrocinadores ou estão
inseridos em grandes veículos através de seus portais na web. De forma que não é somente
o gatekeeper que se desloca para o usuário, mas sim todos aqueles fatores que são
entendidos como coercitivos ou inibidores da liberdade de expressão. O questionamento
247
Opinião compartilhada por Marcelo e Lyanne, do blog Viajante Consciente, que acreditam que a
linguagem mais pessoal e coloquial do blog e da própria web contagiará a mídia como um todo, eles expõem:
“Acho que os jornais, enquanto linguagens, vão se adaptar aos novos tempos (...) mas ainda vão manter a
característica de instituição”.
267
que fizemos sobre uma propaganda de passagens aéreas disposta no Blog do Noblat
248
na
ocasião do último grande acidente aéreo paulistano serve para ilustrar esse fato.
Freitas, que hoje trabalha com consultoria e implementação de blogs, também fala
de outro fator que está se deslocando dos jornais para a web, o sentido de coletividade,
apesar de todas as características eu-cêntricas da nova mídia:
Hoje, o jornalista trabalha sozinho na redação, não existe mais grupo de trabalho, hoje
muitos veículos sequer fazem reuniões de pauta com o seu corpo jornalístico o que, quando
eu trabalhei no Jornal da Tarde e outras revistas, era algo de praxe e fundamental para o
exercício do trabalho da redação. Não existe mais equipe, time. Mas existem exceções,
como a revista Veja e a Época. No trabalho que exerço em consultoria e montagem de blogs
para diversos clientes, a gente sempre faz reunião de pauta. A reunião de pauta é um
exemplo de peer production, de inteligência coletiva, que é realidade nos blogs, mas está
desaparecendo das redações, um conceito básico de qualquer produção em grupo.
Estas palavras corroboram as denúncias do Prof. Dr. Sebastião Squirra
249
, quando
ele nos disse que o jornalista nada mais faz na redação do que ficar à frente do micro, o que
inclui, segundo Freitas, a exclusão da pauta. Ao que parece, o eu-centrismo não é uma
exclusividade do internauta ou do blogueiro, ele também contagia o jornalista que trabalha
conectado à web dentro das redações. Dessa forma, não seria somente o jornalismo que está
se transformando em uma conversa, o jornalista também está se tornando um internauta.
Inovação
discutimos longamente neste estudo a questão da inovação advinda das novas
tecnologias binárias interconectivas, incluindo o advento dos blogs
250
. Mas, e na opinião
dos próprios blogueiros, qual seria a grande inovação para a prática comunicacional
jornalística relacionada aos blogs e ao próprio webjornalismo?
A blogueira Carolina Terra entende que o ganho obtido pelo jornalismo da era pós-
Internet esteja no seu aspecto inclusivo e pelo avanço tecnológico obtido, que permite uma
amplitude maior e mais rápida no acesso à informação: “as novas mídias agregam em muito
ao jornalismo, pelo caráter de imediatismo, facilidade de publicação, de compartilhamento
248
Capítulo II: “Os Blogs como Novo Meio de Expressão Jornalística”.
249
Capítulo I: “O Jornalismo é uma ‘Bobagem’”.
250
Capítulo II: “As Novidades do Jornalismo na Internet”.
268
e de difusão”, diz a blogueira. Tal característica da web é também o que destaca Tiago
Dória, que não defende essa idéia, mas a representa em carne e osso: “o principal efeito
do uso da plataforma blog para o jornalismo foi trazer para o mercado novos nomes e atores
sociais”, expõe – sendo ele próprio um desses novos atores sociais. Ao caráter inclusivo das
novas mídias, conecta-se a opinião da jornalista Flávia Pegorin, do blog Garotas que Dizem
Ni, que percebe o surgimento de uma nova camada informativa jornalística através dos
blogs, mas que, em relação ao jornalismo como um todo, agrega muito pouco. “À prática
do jornalismo, em si, acho que agrega pouca coisa (...) acredito que a maioria dos blogs
ditos ‘jornalísticos’ acabam se tornando mais sites de crônicas e de opinião, onde o autor dá
sua idéia sobre os fatos”, afirma a garota “ni”.
O imediatismo mencionado por Terra é descrito por Marcelo e Lyanne, do blog
Viajante Consciente, da seguinte forma: “A notícia agora é como ‘fofoca’, espalha rápido
porque não precisa passar pelo ‘editor chefe’ para ver se ‘a imagem do jornal’ ou ‘linha
editorial da revista’ pode ser ‘prejudicada’ com a tal notícia. Aconteceu, postou. Simples
assim”. O casal percebe o deslocamento do gatekeeper para o usuário web como a grande
inovação dos blogs e da Internet.
Em relação ao aspecto tecnológico, o blogueiro Pedro Villalobos crê que, hoje, a
inovação esteja no uso racional das ferramentas e tecnologias por parte dos blogueiros
(RSS, vídeo/podcast, microblog); as grandes empresas e portais não sabem inovar com o
uso dessas ferramentas, beneficiam-se apenas parcialmente com elas. O uso disseminado de
vários devices, como meras digitais e telefones celulares, é outra inovação que permitiu
ao cidadão comum ser incluído como repórter na grande mídia, o que aumentou
icomensuravelmente o alcance comunicativo dessas empresas e da sociedade em geral. A
cobertura do povo nas ruas sobre os eventos ocorridos em Nova York em 11 de setembro
de 2001 foi o marco para essa “revolução”, segundo Villalobos. Willians de Abreu é outro
blogueiro que faz coro a Villalobos no que tange ao uso ideal das ferramentas e gadgets por
parte dos blogueiros, inclusive enfatiza que muitos são vistos “com maus olhos” pelos
jornalistas ligados ao mainstream media pelo uso que fazem de tais recursos. Por isso,
adverte: “use a coisa a seu favor” e, ainda, manda um recado para os grandes da mídia: “Ou
respeitam os blogs os vendo de maneira sadia e utilizando-os a seu favor, ou continuarão
sofrendo, como já estão, com a sua influência na rede”.
269
O blogueiro AndSalles, detentor de um blog de poesias, entende a nova prática
jornalística da web e dos blogs como uma evolução que relaciona-se com a própria origem
da grande rede, uma plataforma de compartilhamento de conhecimento:
Acho que são a nova prática do jornalismo na atualidade. Agregam conhecimento de forma
quantitativa e, por consequência, qualitativa. A fronteira entre o profissional e o amador
torna-se cada vez mais nue, de forma que a produção de conhecimento está agora na mão
da população média. Temos com isso o surgimento de muito conhecimento não
verificado/referenciado e de baixa qualidade, mas temos também muito mais conhecimento
específico e embasado sendo produzido.
Lucia Freitas, um dos grandes nomes da blogosfera brasileira, não acredita que o
blog seja uma inovação para o jornalismo, ela entende o fenômeno dos blogs como o
resultado da convergência do usuário sobre essa nova plataforma, o que, de fato, seria a
grande inovação. Isto no âmbito da blogosfera, no âmbito das grandes empresas
jornalísticas, ela crê que o blog em nada inovou: “O blog pode ser enxergado como uma
inovação no uso que os blogueiros passaram a fazer dele, dentro dos jornais ele continua
sendo utilizado de uma forma extremamente burocrática”. Inclusive, ela lembra que o
tempo para se falar em inovação do blog passou, afinal a ferramenta tem mais de dez
anos de existência. Apesar de não perceber muitos avanços, Freitas a inclusão de novas
vozes na mídia como uma inovação dentro deste cenário: “a Internet se apresenta como
uma ameaça ao status quo, pois esses meios [mass media] perderam o poder de dizer o que
é que vale” – é o adeus ao gatekeeper.
Freitas critica ainda o uso das ferramentas comuns dos blogueiros por parte das
grandes empresas de mídia, pois entende que o uso maior e inovativo delas advindo está no
usuário e, vale frisar, especialmente nos blogueiros, que são usuários consumidores de
tecnologia, são nerds, hackers, possuem facilidade de implementação e uso criativo das
novidades que surgem – já o usuário dos grandes portais, majoritariamente, não possui esse
perfil. Sendo assim, Freitas questiona o seu uso por essas empresas: “Tem um monte de
jeito e um monte de ferramentas para voinovar dentro do jornalismo, mas, a questão é:
elas são utilizadas? Como elas são utilizadas? Na Internet são muitas as inovações. Para
mim, a grande inovação é que o ponto central delas está na mão dos usuários”. Com essas
declarações, fica evidente que, apesar de existir uma série de tecnologias e ferramentas que
vêm sendo utilizadas pelos blogs e pelos portais noticiosos, ainda é difícil se saber até que
270
ponto elas têm efetivamente beneficiado os usuários consumidores de
informação/conteúdo, e não somente os blogueiros ou jornalistas. Por outro lado, o número
de novidades que surgem, confrontado com o pouco ânimo dos blogueiros em relação ao
ganho obtido, em relação ao que foi agregado à prática jornalística com tantas inovações,
nos mostra que ainda existe um largo potencial para evolução do jornalismo dentro da
esfera virtual a “revolução” está apenas começando. Para este potencial ser revertido em
cinética, entende-se que outras inovações devem tomar lugar ao lado da inovação
tecnológica, ou seja, ela passa por educação, programas de inclusão digital (e social) e o
firmamento de novos hábitos ligados ao uso da grande rede e da mídia de um modo geral e
massivo.
Além dessas colocações diversas, pedimos a alguns blogueiros abordados pela
pesquisa que nos dissessem quais são as palavras-chave que eles associam ao sucesso do
blog. As palavras destacadas pelos blogueiros foram: espontaneidade, instantaneidade,
simplicidade, abrangência, colaboração, produção coletiva de conteúdo, participação,
democratização e “faça você mesmo”. Sem delongas, vemos que são palavras que nos
remetem às características da própria Internet, não somente dos blogs. Vale dizer apenas
que tais palavras expressam o novo patamar comunicativo delineado pela web, da mesma
forma como descrevem a nova dimensão inclusiva da grande rede e dos blogs. Também
expressam, na mesma medida, tanto a característica eu-cêntrica quanto a colaborativa da
rede das redes.
O Fim dos Jornais Impressos
“Essa questão gera ainda uma incógnita extremamente absurda”, diz o blogueiro
Willians de Abreu. Apesar da incógnita, a opinião entre todos que entrevistamos para este
estudo é quase unânime em acreditar na manutenção do jornal impresso. Abreu acredita que
“existe espaço para todas elas [mídias]”, porém, outros blogueiros entendem que, em algum
momento, a Internet será a principal plataforma de mídia e jornalismo: “eu desejaria (...)
que as revistas e jornais impressos passassem a ser a alternativa, sendo o produto original
uma página virtual”, expressa Flávia Pegorin. A mesma opinião é compartilhada por Tiago
Dória, quanto ao desaparecimento do jornal impresso, ele é contundente em afirmar que
271
“não vai acabar”. Outros blogueiros preferem observar a lógica do mercado onde o jornal e
a Internet teriam os seus nichos específicos: “os jornais perderão um pouco da fatia de
mercado e muitos se restringirão à Internet (...) vão se complementar e encontrar os seus
nichos de atuação”, prevê Carolina Terra.
Terra expressa a opinião mais comum dos blogueiros, eles acreditam na co-
existência das mídias impressas e digitais, remetendo essa questão às teorias de Roger
Fidler, que fala da mídiamorfose, com os meios se fundindo, se complementando e criando
um novo contexto midiático, mas sem que alguma mídia específica tenha que de fato
desaparecer. Lucia Freitas é uma das partidárias dessa idéia. “Está provado historicamente
que os meios anteriores não desaparecem (...) a Internet e as novas tecnologias aumentam
as possibilidades de acesso a conteúdos; criam novos usos, mas não invalidam os demais”,
diz a blogueira. Praticamente com as mesmas palavras, o blogueiro Marcelo Andrade faz
coro a Freitas: “o surgimento de novas tecnologias não significa, necessariamente, o fim de
outras”, afirma com veemência.
Freitas acredita que o jornal impresso não desaparecerá, e sim que a concorrência da
Internet acarretará mudanças no formato do jornal:
O que eu acho que vai acontecer com o jornal é isso, uma mudança de formato, chegando
quase ao formato de uma revista. O jornal standart é bom de ler na mesa do café da manhã,
onde você pode apoiá-lo, dobrá-lo etc.. Novos formatos e tipos de diagramação são o futuro
do jornal impresso, se esse formato vai ser tablóide, eu não sei, mas acho que o formato
tende a mudar. A usabilidade (termo que usamos muito na Internet) do tablóide e dos
formatos menores é muito maior que a do standart. Eu acho que no impresso, o grande
caminho é a mudança de formato, entretanto duvido que os jornais brasileiros mudem de
formato antes de qualquer outro país, porque aqui todo mundo é muito temeroso com
qualquer tipo de mudança. Aqui tem-se muito medo de se bancar uma mudança dessas, que
implica em investimento na mudança do parque gráfico, mesmo que no longo prazo isso
signifique uma economia e um ganho para o jornal. Eles não sabem observar uma
tendência, testá-la e aplicá-la. Essa é uma das características típica das empresas brasileiras
que são empresas de família, mesmo que elas estejam hoje profissionalizadas. Com exceção
da Globo, que é mais volátil às mudanças, afinal não é a toa que eles têm esse domínio
todo.
A usabilidade mencionada por Freitas é um fator também considerado por Pedro
Villalobos dentro dessa “polêmica”, ele acredita na substituição do jornal impresso por uma
página eletrônica, o e-paper: “O papel nunca vai deixar de existir, mas o jornal mesmo de
papel talvez possa dar lugar a uma versão eletrônica que se atualize no decorrer do dia.
272
Acessibilidade é tudo”. o casal Marcelo e Lyanne entende a questão da acessibilidade às
avessas, eles consideram a usabilidade do papel: “o jornal físico (papel): não acho que vai
acabar por causa da Internet. Você não leva seu note ou palm pra praia pra ler as noticias
que gosta. Leva o jornal”. Depende, quem prefira levar uma prancha de surfe para a
praia ao invés de qualquer tipo de leitura.
Como esclarecemos no início deste tópico, as nossas entrevistas com os blogueiros
foram realizadas em dois rounds, o primeiro deles na Campus Party em fevereiro de 2008,
e o segundo por intermédio da revista Imprensa de setembro de 2008. Apesar de nada
mencionarmos nas questões que fizemos aos blogueiros no primeiro round, nós
esperávamos que eles, de livre e espontânea vontade, atrelassem a questão do fim do jornal
impresso (ou, ao menos, o fim da plataforma impressa), com o problema ambiental da
atualidade. Achávamos que os blogueiros iriam ser os primeiros a defender a idéia de que a
Internet é uma mídia mais ecológica do que o jornal impresso, porém, nenhum deles sequer
chegou próximo a este entendimento. Sendo assim, no segundo round de entrevistas, nós
induzimos os blogueiros a vincularem suas opiniões sobre o fim do impresso com a questão
do aquecimento global. Entretanto, dos blogueiros entrevistados, apenas um manifestou a
sua opinião levando em conta este problema, os demais simplesmente ignoraram a questão.
Carolina Terra foi a única a relacionar a problemática ambiental em relação ao fim dos
impressos, porém, em contrapartida, ela questionou o problema da sucata eletrônica gerada
pelos dispositivos eletro-binários, considerando que além do “famigerado lixo cibernético”,
como expôs, há muitos pontos que devem ser debatidos em todo esse imbróglio.
Entretanto, dentre as vozes a que demos ouvidos para esta pesquisa, está naquela
que possui mais peso a percepção de que o jornal impresso desaparecerá, sendo
gradualmente substituído pela Internet e os novos dispositivos eletrônicos móveis: a voz do
sociólogo e ex-diretor do Datafolha Gustavo Venturi Junior. Além de, por livre e
espontâneo manifesto, acreditar que o fim dos impressos seja algo positivo para o meio
ambiente, Venturi Junior crê que o jornal está conseguindo sobreviver mais do que se
esperava:
Não está muito claro o quanto que os veículos impressos vão sobreviver. Eu acho que seja
uma questão de tempo, talvez a sobrevida deles seja maior do que se imaginou num
primeiro momento, mas eu acho que dentro de duas décadas exista muito pouco em termos
273
de jornal e outros materiais impressos, o que vale para os livros também. A tendência é
essa, você agride menos o ambiente, você não precisa de uma produção tão grande de papel.
Além do problema ambiental, Venturi Junior enxerga nos hábitos das novas
gerações um indicativo para o fim da plataforma impressa:
E, mais do que isso, estão surgindo gerações para as quais o meio digital é muito familiar,
que não vão ter as dificuldades de adaptação que as gerações anteriores ainda m. Eu
lembro que teve uma época em que lançaram um software que você lia o jornal no micro e
quando você virava a página ele fazia um barulhinho de página virando, para que as pessoas
tivessem a sensação de que estavam manuseando o jornal impresso. Mas isso é uma
necessidade de quem cresceu lendo o jornal no papel.
Apesar dessas declarações, Venturi Junior entende que, mesmo relegado a um
segundo plano, o impresso continuará existindo, pois é um produto que possui muito apelo
para as velhas gerações: “É claro que existem setores da população, principalmente setores
mais velhos, em que o jornal impresso continue sendo uma referência importante e cultural
por muito tempo, pelo menos até que as novas gerações cresçam e se tornem os principais
consumidores”.
O medo de mudanças mencionado por Freitas como um obstáculo ao fim do
impresso não é uma questão que, no entendimento de Venturi Junior, irá alterar esse
cenário. Ele se apóia no exemplo de grandes marcas do jornalismo mundial para elucidar
esse ponto de vista:
Você tinha o New York Times nos Estados Unidos que resistiu muito para fazer mudanças,
para ter uma edição online, mas agora tem, torna-se inevitável. Acho que vai ser uma
mudança gradual, vai chegar um momento que, talvez por tradição, ainda se mantenha, em
respeito a alguns consumidores mais antigos, a versão papel. Mas isso vai diminuir ao longo
do tempo e a outra vai crescer. Vai chegar um momento que, operacionalmente, não vai
mais compensar ter uma gráfica e manter todo aquele operacional que o jornal impresso
demanda. É uma produção industrial que era a única alternativa, na medida que surge a
Internet que é mais barata, ela tende a se tornar a opção.
Mencionando o cenário norte-americano, onde atribuímos a maior penetração da
web no país como um dos principais vetores para a queda das tiragens dos jornais que se vê
por lá, Venturi Junior acredita que o mesmo poderá acontecer por aqui, na medida em que a
Internet for se desenvolvendo e alcançando públicos mais amplos.
274
Isso é curioso, de fato a crise foi maior, talvez por causa disso. A penetração da Internet
é muito maior e o crescimento foi mais rápido. Aqui no Brasil está crescendo muito, na
América Latina é o primeiro ou está entre os primeiros, mas comparado com os Estados
Unidos creio que isso fez diminuir a queda de vendas dos jornais por aqui. Acho que houve
até um ganho, se recuperou um pouco das tiragens que vinham despencando. Mas creio que
isso foi um soluço no meio de uma tendência que é de queda, vai ser difícil os jornais se
manterem como estão. No médio prazo a tendência é cair.
Outra mudança significativa apontada por Venturi Junior, e que deve alterar o
cenário da mídia brasileira como um todo, inclusive podendo se reverter num fator de
extrema influência dentro da questão do desenvolvimento e crescimento da web e, por
conseqüência, levar ao fim da plataforma impressa é a convergência. Venturi Junior
comenta a legislação brasileira do setor, e entende que ela tende a mudar de forma a abraçar
o capital estrangeiro:
Você tem dois movimentos muitos fortes, recentes. Um é a fusão de empresas de um modo
geral, a gente tem assistido a grandes fusões nos últimos tempos, e isso vai desde
siderúrgicas até empresas aéreas, de cerveja, do que você quiser, de qualquer área, todos os
ramos estão passando por isso. O Brasil tem uma legislação restritiva ainda, que diz que
empresas de comunicação se limitam a cerca de 20% de capital estrangeiro. Isso vem sido
discutido, é um limitador que vem segurando muito as companhias desse setor.
Aparentemente é um movimento que é difícil de segurar, vai ter muita pressão para se
mudar essa legislação no curto prazo, abrindo portas para o capital estrangeiro. O capital
circula livremente e vai a busca das melhores alternativas em qualquer parte do mundo, o
Brasil é um mercado atraente, e esse capital vai querer entrar aqui. Tem conseqüências
evidentemente, essa legislação, não tenho certeza se ela é de origem ainda da época da
ditadura militar, mas ela é nacionalista, ela refere-se um pouco aos conteúdos, que vai fazer
a cabeça das pessoas e coisa e tal, de certa forma é uma defesa aos valores culturais, da
nacionalidade. Mas o mundo está cada vez mais globalizado, a Internet tem muito a ver
com tudo isso. (...) Dessa forma, creio que essa legislação dentro em breve deve ser
considerada obsoleta e vai se abrir o capital para outras coisas, isso em termos gerais.
E, por fim, Venturi Junior percebe que a convergência não é um fator ligado
somente ao capital. A questão do capital está, também, atrelada com a própria mídia em si,
que hoje gravita em torno do bit. Ele expõe:
Outro detalhe, que se relaciona com os meios de comunicação e a produção de conteúdo, é
aquela questão da fusão, da convergência dos meios, aquela idéia de que em muito pouco
tempo a gente não vai ter uma televisão aqui e um computador ali, vai ser tudo um aparelho
só. O celular que vai ser ao mesmo tempo computador e TV, isso gera, para os meios de
comunicação, uma disputa muito grande. Quem está na área de telefonia quer entrar na
275
produção de conteúdo, e quem está na produção de conteúdo, quer entrar dentro dessa área
dos meios diversos. É uma aposta que muita gente está fazendo, e vai ter muita mudança
nesse sentido, com fusões, e o capital vai buscar essas oportunidades, quanto a isso eu não
tenho a menor dúvida.
A fusão do capital aliada à fusão dos meios é um indicativo de que novas formas de
acesso à informação e à notícia comecem a tomar o palco geral da mídia. Dessas fusões,
surge o ramo das Comunicações, sendo tal ramo o resultado da fusão dos setores da mídia,
das teles e das empresas de tecnologia. Pode-se entender que tal movimento favoreça novas
formas de interação com o mundo da comunicação que, majoritariamente, tenham como
base as redes computacionais e as novas tecnologias binárias. Tal movimento também é um
indicativo de que o jornal impresso, embora ainda não tenha desaparecido, está na berlinda
– sem cadeira para sentar –, à mercê das Comunicações, aquela que deliberará o seu
veredicto final.
A Grande “Sacanagem” do Mainstream Media
Além de blogueira, Lucia Freitas possui uma extensa folha corrida de serviços
prestados para empresas jornalísticas ligadas aos maiores conglomerados comunicacionais
nacionais
251
, dentre eles, um que é objeto deste estudo, o jornal O Estado de S. Paulo
pertencente ao Grupo Estado. Ela explica, sem meias palavras, qual é o grande absurdo
praticado por essas empresas que lidam com a informação como uma simples mercadoria: o
laço contratual com seus funcionários que produzem o seu conteúdo
jornalístico/informativo:
Para mim, a grande “sacanagem” da grande mídia é o laço contratual, onde tudo que você
produz não é seu, é deles, queiram eles publicar ou não. Eles podem fazer o que quiser com
o seu material, vender para qualquer outra instância sem te dar um centavo a mais por isso
além do que está expresso em seu contrato, que é um mísero salário. E ai de você se você
publica um texto “deles” no seu blog, eles te matam. O problema nem é você tomar um
processo nas costas, é que “eles” vão te perseguir pela web, te difamar em toda blogosfera,
te atolar de e-mails, vão te amolar até você tirar o texto da rede. Mas tem os casos em que
você pode mesmo acabar recebendo uma notificação judicial por determinado post.
251
Veja o perfil completo de Lucia Freitas no anexo “Entrevista Lucia Freitas”.
276
Ou seja, a grande “sacanagem” do mainstream media está na apropriação intelectual
desses veículos sobre a produção de seus funcionários, sobre aqueles que produzem o
conteúdo dessas corporações. Basicamente, funciona como uma grande chantagem, ou o
autor aceita ceder a sua produção sob as condições impostas pelos publishers ou fica sem
espaço para produzi-la, algo que é possível dentro de meios estanques e monopolizados
por poucos. Este é um ponto no qual a Internet, como plataforma midiática, se apresenta
como desmoronalizadora. A based-common peer production é a nova forma de produção
de conteúdo intelectual que se apresenta como um parâmetro revolucionário dentro desse
totalitarismo descrito por Freitas. Baseado na interconectividade da grande rede, trata-se de
um conceito diretamente relacionado à inteligência coletiva
252
. Ao jornalismo,
expusemos que ele, entre diversas novas facetas e mídias, se apresenta na atualidade de
uma nova maneira através da web: o jornalismo de autor, seja ele um único indivíduo ou
vários. Alguns dos blogueiros que entrevistamos para esta pesquisa são exemplos de como
a autoria ganha força dentro deste novo contexto comunicacional, dentre os quais, Flávia
Pegorin, Clarissa Passos e Viviana Agostinho, as autoras do blog Garotas que Dizem Ni.
Elas trabalham com conteúdo jornalístico em seus blogs e são patrocinadas pelo iG, um
grande portal brasileiro, ou seja, possuem uma compensação financeira sobre o conteúdo
que geram sem precisar abdicar de seus direitos autorais. Enfim, o blog também serve de
exemplo de como a Internet é um meio de produção que apresenta diversas alternativas à
maneira totalitária pela qual os tradicionais meios de comunicação de massa se apoderaram
da produção intelectual até então, não só para os usuários que buscam conteúdo, mas
também para aqueles que querem produzir. Porém, nem tudo são flores, o mesmo portal
mantém com o blogueiro Tiago Dória um contrato de licenciamento de conteúdo pagando-
lhe uma taxa mensal por sua produção, ou seja, se apropria de sua produção intelectual
um mesmo portal oferece novas formas mais justas de incentivo à produção, bem como
pratica as mesmas velhas “sacanagens” de sempre.
Sobre a apropriação intelectual da produção, Freitas continua o seu desabafo,
inclusive se apoiando nas teorias de Karl Marx:
252
E temos a Creative Commons, uma nova forma de licenciamento de produção intelecto-cultural baseada no
livre compartilhamento da informação e da cultura, uma nova alternativa a esta “sacanagem”.
277
Um dos grandes problemas dos portais e dos grandes jornais na rede é que eles ainda
continuam funcionando dentro de uma lógica que se baseia no copyright, eles não pagam
pela produção de seus funcionários, ao mesmo tempo em que se apropriam dela, vendendo-
a e lucrando com ela. Eles pagam um salário mísero por uma produção que vai para
diversos veículos, incluindo a Internet, a mais-valia virou tri-valia, poli-valia. Até um leitor
que manda uma foto pro jornal, eles pagam uma miséria e depois usam e abusam dela do
jeito que quiser (...) Enquanto não se modificar esse cenário relativo ao copyright, nada
mudará na lógica dessas empresas, e eles não querem discutir isso, nem qualquer sindicato
do setor. A ANJ sequer sabe o que é Internet, eles nem querer ouvir falar no assunto.
Como vemos nessas palavras de Freitas, muito se fala da “revolução” que a Internet
impõe ao mundo da comunicação, entretanto percebemos que tal revolução está
diretamente atrelada a essa questão. Enquanto os grandes conglomerados de mídia
continuarem cercando a mídia através do exercício do copyright, não poderemos atribuir
grandes mudanças a Internet dentro do novo contexto midiático. Na mesma medida em que
empresas fecham o cerco sobre a mídia com base na lei do copyright, elas correm o risco
de, talvez um dia, ficarem de fora do negócio, quando, como observamos, o centro da
esfera comunicacional não estiver mais no alcance delas, e sim, com o usuário. No Brasil,
onde a dia se apresenta como um grande oligopólio, o problema não pára por aí, Lucia
ainda comenta sobre outras questões, outros tentáculos da dia que cerceiam a própria
mídia de diferentes formas, sobretudo, tentáculos daquela velha mídia enraizada nos
negócios oriundos de uma época onde os meios eram ainda analógicos, a questão da
distribuição
253
.
A Pequena Roda
Apesar de toda liberdade creditada à blogosfera brasileira, um porém pode ser
citado. Lucia Freitas afirma que, sempre que existe qualquer debate sobre blogs, ou no
lançamento de um novo produto tecnológico qualquer, muitos patrocinados por grandes
empresas, como o Terra, por exemplo, ou mesmo como se viu na Campus Party no início
de 2008, são chamados sempre os mesmos blogueiros para participar (sendo a própria um
desses membros assíduos).
Na Campus Party, como organizadora do Campus Blog, Freitas procurou mudar
esse cenário chamando pessoas que estão fora dessa pequena roda, numa tentativa de abrir
253
Veja em anexo “Entrevista Lucia Freitas”.
278
esse círculo. Foi uma maneira de ampliar e aumentar a diversidade da blogosfera nacional.
Tal iniciativa de Freitas é fundamental, pois, se a blogosfera se fecha em poucos nomes, ela
acaba fechando esse novo espaço comunicacional interconectado, o que o seria saudável
quando se entende a Internet como um novo canal, de ampla capacidade comunicacional
em duas vias, que é como ela se apresenta.
Uma blogosfera fechada seria o mesmo que o fechado grupo midiático brasileiro
que, hoje, além de poucas empresas (são oito grandes conglomerados de mídia nacionais),
se constituem como um grande oligopólio. Uma blogosfera fechada também representaria
um grande obstáculo ao diálogo, instância que é diretamente associada a esta ferramenta.
Mas o que adianta existir diálogo se ele toma lugar apenas entre poucos nomes da
blogosfera? Ademais, existe mesmo esse “diálogo” nos blogs? O blog é uma ferramenta de
diálogo? É sobre isso que refletiremos a seguir.
O Diálogo nos Blogs
O blog, como ferramenta de publicação de itens datados com recurso que permite
aos usuários comentar tais itens, não se apresenta como um recurso de diálogo. Neste
quesito, podemos dizer que, no máximo, o blog favorece o diálogo, favorece a repercussão
de fatos, mas não é uma ferramenta pela qual se possa dialogar. Quanto aos comentários,
trata-se de comentários, e comentário não é sinônimo de diálogo. Dentre os inúmeros blogs
que navegamos durante as análises do presente estudo, sempre procuramos observar onde
estaria o tão proferido diálogo que os blogueiros atrelam a esta instância. Excluindo-se
algumas raras exceções, não encontramos respostas por parte do blogueiros aos
comentários de seus respectivos públicos, muito menos réplicas e tréplicas. A nossa busca
encontrou blogs que apresentaram posts altamente comentados e outros com posts sem um
único comentário. De qualquer modo, não encontramos diálogo na maioria dos blogs, dessa
forma, podemos reafirmar aquilo que já havíamos detectado: os blogs são espaços de
exposição à mídia, de publicização de fatos e pontos de vista, de colocação de opiniões, não
são espaços de diálogo.
Não é preciso citar o filósofo grego Sócrates para darmos a exata dimensão da
importância que o diálogo possui, inclusive como meio para o despertar de uma consciência
279
crítica, algo que buscávamos encontrar na web, sobretudo nos blogs. Porém, ficou claro que
o blog por si não favorece esse despertar, inclusive, por não favorecer o diálogo. Dessa
forma, a tal conversa entre jornalista e leitor à qual o jornalismo estaria se convertendo é
inexistente em tais espaços. Vale lembrar o quão difícil foi para nós estabelecermos um
diálogo com os blogueiros que contatamos para este estudo, e quando conseguimos
estabelecer o diálogo, ele se deu por outros caminhos que não passaram pelo blog. O
diálogo se deu via e-mail, via instant messenger que são ferramentas de diálogo, assim
como outras que foram designadas para este fim, como os fóruns e os chats, por exemplo.
O máximo de diálogo que encontramos nos blogs foi entre blogs. Blogueiro
comentando (via post) os posts de outros blogs, blogueiros que comentam e são
comentados por outros blogueiros numa dinâmica que pode ser entendida como uma forma
de diálogo. Uma notícia ou post qualquer que ganha repercussão em diversos sites/blogs
que, no seu conjunto, formam uma espécie de malha dialogal sobre determinadas
notícias/fatos. Mas se o diálogo se restringe aos blogueiros, o ganho para a sociedade, ou
para os internautas, não representa um grande avanço, o avanço fica restrito à “pequena
roda” que comentamos anteriormente. Mas também não podemos cobrar dos blogueiros,
especialmente aqueles mais notórios que contatamos, por eles não dialogarem com o seu
público (ou conosco), e nem a totalidade do público está interessada em interagir com o
blogueiro. Como vimos, a audiência ativa dos blogs não chega a 10% e, dependendo do
total de audiência do blog, 10% pode representar uma pequena massa de internautas à qual
um blogueiro ou uma dúzia deles seria incapaz de dar conta, de dialogar ou interagir, por
uma simples questão numérica. Basta pensarmos no blogueiro Tiago Dória, que possui seis
mil visitantes diários: se 1% desses visitantes quiser estabelecer um diálogo com ria, ele
teria sessenta pessoas para dialogar por dia, haja fôlego é algo inviável, teríamos, em
apenas um blog, uma “mini-Torre de Babel”, o que dizer da blogosfera por completo?
Talvez, se exista um diálogo nos blogs, ele exista mais fortemente nos blogs sem
repercussão, nos blogs de baixa audiência, ou de audiência desprezível, pois nestes, a
possibilidade do blogueiro interagir com seus “fãs” é maior, ao menos ele pode dar conta
do diálogo. Tentar interagir com um blog notório, de alta audiência é tão difícil quanto
interagir com um jornal nos tempos quando o único meio de contato eram as cartas postais.
Para o usuário comum, como nós, o ganho que os blogs trouxeram neste sentido é
280
praticamente nulo. Não existe nada mais comum ao usuário dos blogs do que comentar e
ser completamente ignorado. Aqui, vale citar os estudos de Jürgen Habermas, ele revela
que as esferas públicas políticas fomentadas pela imprensa nos idos do modernismo
europeu eram espaços onde, dos nobres aos comensais, todos possuíam voz, mas para
algumas vozes os demais ouvidos se abriam mais, possuíam mais peso, maior poder de
persuasão que outras. O mesmo pode se dizer desse novo palco midiático que engloba
blogs, blogueiros e internautas, mas com um detalhe que se amolda dentro das
características duais da nova mídia: nos blogs o espaço para as vozes é maior e menor ao
mesmo tempo. É maior porque o espaço para os argumentadores e para a argumentação é
praticamente infinito, e é menor, pois no terreno virtual é mais fácil ignorar qualquer um, é
mais fácil uma voz se perder no meio de tantas outras.
Existe nos blogs também algo que podemos dizer estar mais próximo do diálogo,
algo que encontramos mais comumentemente em grandes sites informativos, sobretudo na
Folha e no Estadão
254
, aqueles que analisamos anteriormente: os comentários sobre
comentários inseridos, tanto nos blogs como em qualquer espaço noticioso que permite
comentários dos internautas. São internautas que não se contentam em comentar o que está
sendo noticiado, comentam também os comentários dos outros internautas, as vezes, com
direito a réplicas e tréplicas tanto em discussões saudáveis, como em calorosas disputas
retóricas e, as vezes, chegando a trocas de ofensas (dentro dos limites que as políticas
desses sites permitem, geralmente sem o uso de palavras de baixo calão). Embora não
pudemos atribuir esse tipo de debate ao resgate do diálogo em si, muitas vezes, eles
formam, de fato, um pequeno diálogo que ajuda a multiplicar os pontos-de-vista sobre uma
publicização qualquer, o que engandrece o uso desse tipo de recurso. Enfim, fica claro que
apesar de existir um diálogo limitado nos blogs, ele é mais comum entre blogs e entre
usuários, o diálogo entre blogueiros/jornalistas e internautas é que parece ser o mais carente
dentro dessa nova esfera. Outro detalhe: esse limitado diálogo que encontramos nos blogs
se de forma assíncrona, o diálogo síncrono, por sua vez, é completamente inexistente, o
que limita ainda mais o blog como uma ferramenta dialogal.
Como expomos, o blog é uma ferramenta que favorece o diálogo, mas as suas
características intrínsecas não foram designadas para se dialogar. Estabelecer um diálogo
254
E principalmente, nas noticias mais “sensacionais”, tais como tragédias e assassinatos.
281
unicamente com os recursos que são comuns aos blogs não está em congruência com a
usabilidade de tais recursos/ferramentas, o blog não foi designado para este fim. Mas existe
um diálogo que caminha ao lado dos blogs, que pode ser observado, inclusive, através de
outros meios que utilizam a plataforma blog para estabelecer diálogo entre
jornalistas/blogueiros e seu público; entretanto, o diálogo em si ocorre através de outras
instâncias. Para exemplificarmos isso, vamos voltar ao site da emissora de TV a cabo ESPN
Brasil.
Como mostramos, o site da ESPN Brasil possui diversas ferramentas que os
jornalistas, comentaristas e/ou apresentadores da emissora se apóiam no intuito de dialogar
com o “fã do esporte”
255
onde, entre outros recursos, aparecem os blogs. Alguns jornalistas
vinculados ao canal (e a outros grandes veículos impressos também), utilizam o blog como
meio de diálogo, mas o diálogo se dá nos programas televisivos, quando o jornalista
responde as opiniões de seus leitores. Nesse sentido, o uso dos blogs é positivo para o
jornalista monitorar o seu público, sentir a sua repercussão e dialogar com ela. E o diálogo
ganha mais força quando se estende pela televisão, de forma que o próprio canal estimula
essa via interativa através dos blogs de seus jornalistas. Mas existe uma consideração
dentro dessa característica de diálogo, que não é exclusiva da ESPN Brasil e sim de vários
blogs, mesmo aqueles que não contam com o apoio de em canal televisivo. Entre aquele
jornalista/blogueiro que faz esse uso dialogal do blog para aquele que monitora a sua
repercussão com outros fins que, entre outros, poderia ser o de vender um produto qualquer
e, em função disso, molda o seu discurso centrado na objetividade de “agradar gregos e
troianos” (público e anunciantes/patrocinadores), existe uma fronteira tênue e de difícil
percepção para o usuário desses meios. Basta dizer que, entre os blogs que visitamos para
esta pesquisa, existem alguns que nós questionamos tratarem-se mesmo de um blog, alguns
mais se parecem com uma página de classificados, a usabilidade advinda da simplicidade
dos blogs no acesso à informação fica submissa e perdida no meio de tantos anúncios. Um
blog sobre política mais se parecia com um diretório político virtual (pró MCcain). Alguns
dos blogs mais notórios são os que mais possuem publicidade, de forma que é difícil saber
até que ponto não é a publicidade que molda o discurso desses espaços e não a informação,
a opinião e o próprio diálogo.
255
Expressão utilizada pela emissora para se referir aos seus telespectadores.
282
Voltando ao site da ESPN Brasil, temos também o mural e os blogs dos
programas e das transmissões, como partidas de futebol, por exemplo. Nesse caso, as
pautas, os assuntos do dia ou os lances do jogo são postados e comentados pelos
internautas. Em tempo real, os apresentadores/narradores/comentaristas vão destacando e
respondendo aos comentários dos fãs num diálogo entre emissora e público. É claro que
aqui, também, os comentários que são destacados ou respondidos representam uma
pequena parcela do total, pois esse número extrapola qualquer possibilidade de se
responder a todos
256
. Este exemplo, como inúmeros outros, inclusive fora da esfera dos
blogs, demonstra que o diálogo na web depende de outras ferramentas ou da integração de
várias delas. Sendo assim, um instrumento único de publicação por si não estabelece
diálogo ou, ao menos, não se apresenta como uma interface cuja usabilidade favoreça o
diálogo. Este depende de outros mecanismos, seja um canal televisivo, seja um chatroom
ou um programa de mensagens instantâneas e, até mesmo, o e-mail entre algumas
possibilidades.
Embora a ferramenta blog não seja a mais adequada ao diálogo, existem alguns
recursos associados aos blogs que vêm sendo utilizados pelos blogueiros como uma forma
de se manter um diálogo, ou de se estender o diálogo, dentre os quais um que vem
ganhando destaque na blogosfera, o microblogging.
Microblogging
Existem várias ferramentas que vêm sendo associadas aos blogs e que analisamos
através de outras iniciativas, como o site do Google, a Folha Online, o Estadao.com.br e o
site ESPN Brasil. Dentre elas, destacam-se: nuvem de tags, blogroll, RSS e outros feeds e a
256
Os posts nos blogs dos programas da ESPN Brasil apresentam uma média que supera trezentos (300)
comentários (26/10/2008). E, segundo palavras de José Trajano, jornalista e diretor executivo da emissora, o
recorde de comentários por post da ESPN Brasil chega a quase 2000. Para administrar tantos contatos,
existem moderadores que ajudam os jornalistas filtrar as mensagens mais relevantes e manter o nível do
debate saudável. O moderador é, neste exemplo e em diversos outros, uma espécie de editor virtual,
demonstrando assim, mais uma vez, a sua importância dentro do contexto cibernético. Esse exemplo também
corrobora a tese de Yochai Benkler que diz que quem tem mais capital, como uma emissora de TV, tem mais
capacidade de ser ouvido, de forma que tanto os blogs da ESPN Brasil e de seus jornalistas quanto os blogs
que são atrelados a grandes veículos informativos e/ou portais, possuem uma grande vantagem dentro da
disputa pela audiência ciberespacial (veja Capítulo II: “Os Blogs como Novo Meio de Expressão Jornalísica:
Objeções”.
283
busca. Entretanto, essas são ferramentas de navegação, de acesso à informação e de
organização da mesma, portanto, são ferramentas que estão ligadas ao conceito de
usabilidade, que possuem um intuito facilitador e não dialogal. Já o microblog é uma
ferramenta de diálogo cujo uso vem ganhando força entre os blogueiros, embora não seja
uma ferramenta de uso exclusivo dos blogs.
Qualquer adolescente de classe média sabe como é ser convidado para uma festa de
um amigo que faz aniversário e, chegando lá, excluindo o seu anfitrião, não conhece mais
ninguém. Deslocado, acanhado, o adolescente passa a seguir o seu amigo durante toda festa
até começar a interagir com outros que igualmente o estão fazendo e, então, consegue se
socializar com os demais. A experiência que o usuário iniciante dos sistemas de
microblogging tem é semelhante a esta, a diferença é que ela ocorre dentro do mundo
virtual.
O que você está fazendo agora? Pergunta o sistema Twitter
257
, o mais popular entre
os blogueiros brasileiros, logo abaixo da pergunta, um campo para o usuário responder a
essa simples questão com, no máximo, 140 caracteres. Na partilha dessa informação, os
usuários desse sistema ou de outros semelhantes, tais como Pownce, Plurk, Jaiku,
FriendFeed
258
e Hello.txt, se dá o diálogo entre os usuários. Estes ficam conectados uns aos
outros através do recurso de se seguir alguém e, com uns seguindo outros, se monta uma
rede de relacionamento. O microblog é mais que uma ferramenta de diálogo, é também uma
nova forma de se montar uma rede social através da web. Vale dizer que essas ferramentas
não se apresentam como microblog, e sim como uma nova maneira de se formar redes
sociais. O microblog pode também ser entendido como uma espécie de chat sem chatroom,
com a diferença que, neste caso, é o usuário que monta o seu chatroom, através da escolha
de quem seguir. O pequeno campo de texto das ferramentas de microblogging permite mais
do que simplesmente compartilhar informações, permite compartilhar arquivos e links. E,
no que tange aos blogs, podem ser associados a ele como um recurso de publicação cuja
usabilidade está na mobilidade, como nos explica Tiago Dória, um dos primeiros
blogueiros a fazer uso dessa ferramenta no Brasil: “Utilizo o Twitter (...) porque é uma
ferramenta mobile que me permite comunicar e publicar conteúdo de qualquer lugar.
257
http://twitter.com, 27/10/2008.
258
Sistema evangelizado por Steven Reubel, http://friendfeed.com/steverubel, 27/10/2008.
284
Acredito que essas ferramentas [microblog, RSS e outros feeds] criam camadas a mais de
informação. Nenhuma substitui a outra. Cada uma tem suas vantagens e desvantagens”.
Uma das desvantagens do Twitter é a instabilidade do sistema que, volta e meia, fica
fora da rede. Mas este é um problema comum a qualquer plataforma que esteja em
desenvolvimento, que esteja crescendo
259
. Lucia Freitas é outra blogueira que vem se
beneficiando com o uso do Twitter. Ela explica qual a chave para o sucesso dessa
ferramenta dentre os blogueiros brasileiros
260
:
O Twitter, na verdade, é um jeito de criar conversas em rede (...) em outro formato. Estamos
no Twitter, no Pownce, no Plurk, no Jaiku, no Hello.txt e no que mais aparecer. O Twitter
sai na frente pela facilidade de uso: a gente pode se comunicar por múltiplas ferramentas,
literalmente em qualquer lugar. Tudo pode ser taggeado (com #) o que facilita as buscas – e
MUITOS mecanismos de busca para a ferramenta. Mais que isso: ele permite que a
gente use também como um IM (Instant Messenger).
(...) O Twitter é uma mega-fonte de informação para blogs, é onde a gente compartilha
links, notícias, idéias, é onde buscamos ajuda para determinados problemas que podem ser
expressos em 140 caracteres.
O Twitter e outras ferramentas semelhantes são centralizadoras de informações,
funcionam de forma ncrona e assíncrona baseadas em tags. Permitem partilhar os
comentários de posts dos blogs (que estejam formando uma rede dentro de um serviço de
indexação de blogs), d dizer que tal mecanismo virou um microblog, o que era
inicialmente uma ferramenta apenas para o usuário dizer o que estava fazendo acabou
sendo apropriada pelos blogueiros dessa maneira, utilizada para marcar encontro, trocar
links, criar tags. Funciona em qualquer tecnologia, desde o celular
261
até o MSN, o que lhe
confere um alto grau de usabilidade e mobilidade. Freitas é contundente em afirmar que tal
recurso, microblogging, é resultado da apropriação dos blogueiros sobre essa ferramenta:
“Entenda: a ferramenta serve ao USO que a gente faz dela. Não é a única, não é nem
mesmo central. É mais um lugar onde a gente se encontra todo dia como grupos de
259
Assim como a famosa mensagem de erro do Orkut no seu início: no donuts for you”. Ou o novo site do
Estadão que apresenta bugs diversos durante a navegação.
260
De acordo com o blog da empresa Vivo (http://www.vivoblog.com.br/as-tres-bombas-atomicas.html,
27/10/2008), o Twitter possui mais de três milhões de usuários no Brasil. Dentre esses milhões de usuários,
destacam-se empresas tais como Rede Globo através do programa Big Brother Brasil, a Funerária Leito de
Morte e, fora do país, o presidenciável norte-americano Barak Obama. Além de facilitar o diálogo nos blogs,
tal ferramenta também vem sendo utilizada como uma forma de comunicação viral, inclusive, com fins
comerciais.
261
A prática de se enviar mensagens para posts de blogs via celular é também conhecida como
mobileblogging.
285
discussão, IM’s
262
, bares etc.”. Ou seja, da mesma forma como se pode dizer que o blog
jornalístico é resultado da apropriação que os usuários fizeram dessa plataforma
263
, o
microblog é, igualmente, fruto desse mesmo tipo de apropriação, é resultado da
convergência midiática do usuário sobre as novas tecnologias a ele disponíveis.
BBB – Big Brother Blog
“Eu percebo que a grande mídia está de olho nos blogs”, diz Lucia Freitas. os
blogueiros, estão de olho em você. Independentemente de com qual intuito, uma prática
comum aos blogueiros é monitorar o seu público. Para fazê-lo, são utilizadas várias táticas,
a primeira delas, como mencionamos, é o cadastro. Alguns blogs, sobretudo aqueles
vinculados a grandes portais, exigem um cadastro prévio para que o usuário possa interagir.
O cadastro vai permitir ao dono do blog, do portal ou qualquer que seja o site, medir o
perfil de seus usuários. Essa medida vai variar de acordo com as informações requisitadas,
mas, normalmente, vão elucidar as dúvidas mais básicas sobre o usuário: quem é, onde
vive, de onde veio e como chegou até aqui. O cadastro é feito através de um formulário
eletrônico; os formulários, na verdade, podem ser utilizados para vários fins além do
cadastro, podem ser utilizados como espaço de contato para envio de mensagens, envio de
arquivos e imagens, confirmar um termo de uso, enviar um comentário ou para se montar
uma enquete, entre inúmeros outros usos. Porém, quando o usuário de um blog ou outro
site qualquer envia um formulário, as informações que são enviadas nem sempre se
restringem àquelas que foram explicitamente solicitadas. Dentre as informações não
requisitadas que podem ser enviadas está o número de I.P., o número que identifica a
conexão do usuário. De forma que, enquanto uns clamam pelo direito ao anonimato na
rede, outros se colocam acima dessa questão, pois possuem os mecanismos para identificar
exatamente quem é o seu usuário. Um exemplo: se você fez um comentário anônimo em
um blog da plataforma Blogger, a CIA tem condições de saber exatamente quem você é
caso ela se interesse. Mas a Google (dona da Blogger), vale esclarecer, não é a única
262
Instant Messenger. “Mensageiros instantâneos”, tais como ICQ, AIM e MSN.
263
Neste ponto, controvérsias, o entendimento pode ser exatamente o oposto: o uso não-jornalístico dos
blogs é que resulta da apropriação desta ferramenta para outros fins, dado que, quando surgiram as grandes
plataformas gratuitas de blogs, tal movimento foi publicizado como uma nova maneira de se fazer jornalismo,
inclusive, uma das plataformas que surgiram nessa época, se chama LiveJournal (jornal ao vivo).
286
empresa a manter esse tipo de “negócio” com a CIA. Segundo palavras do diretor de um
outro serviço de inteligência, o Ibope Inteligência, o Dr. Marcelo Oliveira Coutinho
Lima
264
expõe que tempos Bill Gates, dono da Microsoft, possui uma “parceria” com a
CIA que permite à agência acessar qualquer computador conectado à rede que esteja
rodando sob o sistema operacional Windows. Sendo assim, da mesma forma que dissemos,
por exemplo, que a Internet possui características tecnológicas que resgatam o debate e o
diálogo através da dia, não dúvidas de que ela tem embutida em si, também, todo um
ferramental que pode ser utilizado para a espionagem. As questões levantadas por George
Orwell na lendária obra 1984 são inerentes ao novo meio. É preciso que a idéia do Big
Brother não seja exclusividade de um ou de outro, é preciso que ela seja utilizada em prol
da coletividade, pois tal característica jamais poderá ser desvinculada da Internet. E não é
preciso ir tão longe na imaginação, Yochai Benkler ponderava sobre esse fato dentro de
suas objeções ao resgate da esfera pública na Internet
265
.
Outra prática dos blogueiros é medir a sua repercussão dentro da blogosfera e
perante o seu público; para isso, utilizam-se de variados sistemas de métrica. O mais básico
de todos é o sistema de métricas de audiência internacional de sites Alexa, que exibe o
tráfego dos sites. Como existem muitos sites, esse sistema não serve para destacar o peso
do blog na blogosfera, para isto existem os sistemas de indexação de blogs, que medem a
audiência entre os blogs cadastrados. Internacionalmente, o mais utilizado é o Technorati,
mas existe um brasileiro, o Blogblogs. Vale destacar que no Technorati encontra-se a
central do Blogger, maior plataforma de blogs mundial. O site também publica um estudo
sobre blogs, “O Estado da Blogosfera 2008”, que, entre outras informações, registra 133
milhões de blogs cadastrados no sistema. Porém, até onde pudemos perceber, tal estudo não
serve de referência para o público e os blogueiros brasileiros, um quadro que apresenta a
demografia dos blogueiros simplesmente ignora a existência do Brasil e outras partes do
mundo, por exemplo.
Para o blogueiro brasileiro, a maior referência é o Blogblogs, site que a medida
da blogosfera nacional. O site rankeia os blogs pelo “sistema Google de métrica”, ou seja,
baseado no link. O site mede a quantidade de blogs que linkam outros blogs, o que
264
Em sala de aula, 22/03/2007, na disciplina Mídia, Opinião blica e Processo Político que ministra para
as turmas de Mestrado da Faculdade Cásper Líbero.
265
Capítulo I: “Os Blogs como Novo Meio de Expressão Jornalística: Objeções”.
287
corresponde à quantidade de referências que um determinado blog possui nos blogrolls de
outros blogs, e também o número de links que apontam para um determinado blog. Existe
também o Netrattings do instituto Ibope (em parceria com o instituto Nielsen), que
apresenta métricas baseadas em tráfego. Com essas diferentes formas de medida,
controvérsias quando se quer apontar o blog mais popular. Por exemplo, enquanto o
Blogblogs coloca o Interney no topo do ranking da blogosfera nacional, o Ibope diz que o
blog do Josias de Sousa da Folha Online é o maior do país. Enfim, o que vale mais? Ter
mais links e repercussão na blogosfera ou possuir uma média de tráfego maior? O preço da
propaganda talvez seja a única maneira de se responder a esta questão.
Outro serviço utilizado pelos blogueiros para monitorar o seu público e buscar
novas soluções que visem melhorar o seu desempenho e a sua audiência, inclusive com o
objetivo de aumentar os benefícios obtidos com marketing, é o Google Analytics
266
. É um
serviço que apresenta uma ampla gama de sistemas de monitoramento e soluções para
“testar e aumentar o número de conversações” dos blogs, como está descrito na página
inicial do site. Nada mais interessante para a Googlea maior plataforma de webmarketing
do mundo do que incentivar e ensinar os seus usuários a aumentarem os seus benefícios
que, a tira-colo, aumentam os benefícios dela mesma, em algo que pode ser entendido
como uma espécie de novo “Baú da Felicidade” da era digital.
Carolina Terra expõe quais são as informações que os blogueiros costumam
monitorar em seu blog: “Para você obter análises do blog, basta criar um blog no
Wordpress e extrair relatórios de pageviews, hits, comentários, posts mais visitados, ping
backs etc.”. Vale dizer que tais relatórios são fornecidos por outros provedores e plataforma
de blogs também. Terra esclarece o que significam estes itens do relatório que descreve.
Ping backs são todos os links que direcionam ao site/blog, e hits são os textos ou posts mais
acessados, mais visitados. Em outras palavras, o ping back a medida do blog em meio à
blogosfera, e os hits indicam a repercussão dos conteúdos veiculados pelos blogs. Vemos
que os blogueiros, no fundo, não são muito diferentes dos jornalistas, eles se preocupam, de
um modo geral, tanto com sua imagem perante o público quanto perante os seus pares, da
mesma forma que os jornalistas. Quando se critica os jornalistas por eles escreverem ou se
266
http://www.google.com/analytics/pt-BR/, 29/10/2008.
288
preocuparem com questões que concernem somente a eles, o mesmo pode se dizer dos
blogueiros, pelo menos dentre aqueles blogueiros de maior renome.
Futurologia
“É muito difícil fazer previsões de futuro em se tratando de tecnologia no mundo
atual, por isso eu prefiro me abster de falar sobre os rumos do jornalismo dentro dessa nova
era da informação”, afirmam reticentemente os blogueiros Marcelo e Lyanne. “No
mestrado não se faz jogo de adivinhações. Aqui não se estuda futurologia”, diz o Dr. Laan
Mendes de Barros, coordenador da pós-graduação da Faculdade Cásper Líbero. Nós
concordamos com todos, mas o que custa perguntar? Depois de tanto refletir sobre a
contemporaneidade, não é demais tentar estender o pensamento para um pouco além: o
futuro. Dessa forma, para encerrarmos o presente estudo, vamos ouvir o que os blogueiros
nos disseram sobre o futuro – afinal, como cantaria um filósofo da música, ele está “alí logo
em frente a esperar pela gente”.
Algumas pessoas, quando falam do futuro, o falam do que acham que irá
acontecer, e sim do que esperam que aconteça ou, talvez, do que deveria acontecer. É dessa
maneira que se manifesta Pedro Villalobos: “A apuração jornalística tem que permanecer,
mas a forma de lidar com essa informação vai ter que mudar drasticamente ou as pessoas
simplesmente vão abandonar esses meios. Ninguém aguenta mais pautas de jornal baseadas
em miséria e crimes”.
Apesar de achar que “isso é um exercício de adivinhação” em função de o cenário
atual estar em processo de constante mutação, Lucia Freitas espera que o jornalismo possa
“abrir espaço para o leitorado e novos canais de comunicação com o seu público. E seguir
apurando notícias, criando conteúdo e informação relevante”, o que, em outras palavras, é
dizer que o jornalismo continue o seu curso atual, ganhando novos públicos com o
surgimento de novos canais midiáticos, sobretudo neste mundo que “cada vez mais, flui
através de linhas conectivas de banda larga, linguagem digital-binária e dispositivos
computadorizados miscelâneos”, como dissemos num passado não muito distante.
289
ÚLTIMAS CONSIDERAÇÕES
“You can choose a ready guide in some celestial voice
if you choose not to decide, you still have made a choice.
You can choose from phantom fears and kindness that can kill
I will choose a path that’s clear – I will choose free will”
– Neil Elwood Peart (Rush rock band)
267
Blogs e Webjornalismo
Os blogs são novos vasos oxigenadores que disseminam a mensagem numa
amplitude maior através da ramificação do acesso à informação, podemos dizer numa
associação a uma frase de Eugênio Bucci citada neste estudo. Os blogs, somados a
inúmeros recursos de navegação e interação, são como novos alvéolos que pulmificam o
jornalismo, responsáveis por dar um novo e maior fôlego ao mundo da informação. Esse
novo fôlego do jornalismo engloba e é também resultado da atuação das grandes e
tradicionais marcas da notícia/informação no âmbito das novas mídias. Continuando nessa
associação com o sistema cardio-respiratório humano, poderíamos dizer que os grandes
portais de notícia são como novos e mais potentes corações que bombeiam intensos fluxos
de conteúdo para o complexo corpo social. Sendo assim, dizer que tal instância esteja em
crise só pode ser resultado de uma observação parcial do cenário total.
A melhor descrição para o cenário atual está em uma frase de Gustavo Venturi
Junior, “Como [grandes] empresas que trabalham com informação, todas estão passando
por uma crise de adaptação”, diz o sociólogo. Uma crise de adaptação de um contexto
midiático que também está se adaptando a este novo e imprevisivel mundo comunicativo
digital interconectado. A crise possui várias facetas, muitas das quais refletimos durante
este estudo. Todas possuem algum grau de ligação com a mudança do paradigma
comunicacional que analisamos no primeiro capítulo desta dissertação. Algumas instâncias
sofrem mais do que outras nessa fase de transição. O jornal impresso, berço das maiores
marcas mundiais, é o primeiro da fila a pleitear a transição total ao novo meio. E, também,
267
“Free will” (canção) em Permanent waves (álbum) 1980. “Você pode escolher um guia de prontidão em
uma voz celestial qualquer. Se você preferir não escolher, é porque já fez a sua escolha. Você pode escolher
entre temores assombrosos e gentilezas assassinas. Eu vou escolher o caminho mais livre eu vou escolher o
livre-arbítrio” (T.A.).
290
o que mais se beneficiará e já vem se beneficiando com essa transição, desde que saiba tirar
o devido proveito que as novas mídias proporcionam. De modo que culpar a Internet pelas
diminuídas tiragens dos jornais é um grande erro. A grande rede tem à somar a
comunicação de um modo geral, é o objetivo e o resultado da busca do Homem em se
comunicar melhor, é a evolução comunicacional ainda em curso. Uma grande empresa de
comunicação que porventura não consiga sobreviver dentro desse novo cenário
comunicacional evoluído, poderá ser em função da manutenção de práticas que fogem
desse novo contexto. As empresas que focarem os seus objetivos em informar irão
sobreviver, as que já o fazem estão sobrevivendo e crescendo.
Infotenimento
O acesso à tecnologia subitamente erigido pelo advento dos computadores e da
Internet passa pela liderança daquela que é maior de todas as indústrias da mídia, os games.
Da mesma forma como destacamos a importância da figura de Tim Berners-Lee dentro da
história da Internet, a história da animação gráfica computadorizada, principalmente a tri-
dimensional, passa pelo nome de John Carmack, programador e co-fundador da iD
Software, uma das maiores empresas produtoras de [tecnologia de] games da história dos
computadores. Alguns dos conceitos que mencionamos durante este trabalho, tais como
open source e software livre, ganharam força através do mundo dos computadores e da
Internet graças às iniciativas, oriundas do mundo dos games, deste cidadão norte-
americano.
Na Campus Party, feira que exibe as últimas novidades do mundo high tech, e que
também reúne centenas de aficionados por computador, Internet e tecnologia de um modo
geral: nerds, hackers, tecnólogos, empresários, estudiosos etc., todos contando com uma
grande lan para compartilhamento de informações e acesso à web. No meio de tudo isso, de
toda essa gente, dentre as diversas áreas temáticas da feira, Blog, Robótica, Inclusão
Digital, Software Livre, Games e Modding entre outras, sem dúvida, percebemos que a área
de Games foi a mais ativa e que mais movimentou a feira. O que nós queremos dizer é
simples: a indústria carro-chefe do mundo cibernético é representada pelos games, de forma
que a vocação maior da rede está no entretenimento. O jornalismo inserido numa
291
plataforma de entretenimento tende a seguir essa vocação, de modo que, se fora da web o
infotenimento é uma lógica que vem ganhando força na atualidade, na Internet isto é lei. O
conceito de infotenimento associado às mídias digitais precisa ser revisto e muito bem
estudado, para que se identifiquem os seus benefícios. Não se pode mais enxergar a lógica
do entretenimento apenas como algo negativo; hoje, ela se apresenta como uma fórmula
não mais descartável. É preciso encontrar soluções para o jornalismo na atualidade, para
que ele possa exercer o seu papel de suma importância para a sociedade, ao lado da
diversão e do entretenimento. O infotenimento também tem o seu lado positivo e
construtivo, é preciso entendê-lo melhor. O jeito informal e divertido pelo qual os blogs
interagem com a informação é um grande exemplo de como o infotenimento pode compor
um excelente caminho para o jornalismo.
As Redes Sociais
Dizer que a Internet é só uma grande plataforma de jogos e diversão seria ignorar
uma outra característica intrínseca sua de vital importância. Seria ignorar o próprio conceito
de rede. Essa característica é aquela de onde a própria rede nasceu, uma plataforma que foi
sendo construída com base no compartilhamento do conhecimento. O que antes compunha
uma rede que conectava estudiosos e universidades, hoje se replica através de redes sociais,
como o Orkut, MySpace e Facebook, entre diversas outras. Na atualidade, o conceito de
rede social abraça o jornalismo na web de uma forma totalmente inovadora. Quando
olhamos para o blog como uma nova inovação ao jornalismo, nós olhamos para, não o alvo
errado, mas sim, para uma parte periférica dele, o centro desse alvo, talvez, seja composto
pelas redes sociais, o alvo por completo é, como não poderia deixar de ser, a web como um
todo. O blog é, como vimos, uma ferramenta que replica, que repercute o jornalismo na
Internet, talvez seja um dos meios mais dinâmicos para se disseminar a mensagem
jornalística na rede, mas não representa uma inovação para o jornalismo dentro da web;
esta, sim, é quem representa a grande inovação, o seu caráter inclusivo, descentralizado e
coletivo. O blog também se apresenta como uma plataforma na qual, tanto os cidadãos
como os jornalistas, podem exercer o seu narcisismo no palco multimidiático, ele permite o
exercício individual do jornalista, o que, apesar disso, o torna um meio inclusivo e
292
democrático. Mas hoje a sociedade busca e precisa de alternativas para o individualismo,
opções que nos levem além do eu-centrismo e, nesse sentido, as redes sociais é que se
apresentam, da mesma forma que a web dentro de sua característica primária, como o meio
de socialização cujas características são muito mais inovadoras e propensas ao diálogo e a
novas formas de disseminação e interação com a notícia e a informação do que os blogs ou
os portais noticiosos, ou até mesmo, qualquer outra instância de forma isolada.
Se, como ferramenta o blog é de uso do indivíduo, em conjunto com outros blogs,
e/ou outros recursos, ele pode ser muito útil também como veículo de socialização, tanto a
blogosfera quanto as redes de microblog também se compõem como redes sociais. A
linguagem RSS e os diversos mecanismos de feedback utilizados pelas diversas plataformas
de blog, pelas redes sociais, portais e sites diversos, favorecem a integração dessas
ferramentas, permitindo variadas formas de sociabilização virtual. Mais uma vez, a
convergência dos indivíduos sobre a mídia é que resulta na criação dessas redes. No Brasil,
nos lembra Lucia Freitas, a rede que “pegou” foi o Orkut:
O diferencial da web não está, muitas vezes, nas ferramentas criadas para fins jornalísticos,
mas em outras que foram criadas para outros fins e vão sendo utilizadas para disseminar
informação, por exemplo, tem uma comunidade do Orkut que é utilizada para fazer
entrevistas, e ao vivo. São estas ões que interferem no jornalismo como um todo. (...) O
Orkut é um grande exemplo, ele tem de longe mais usuários que a totalidade dos blogs, e é
utilizado para os mais inimagináveis fins. (...) O Orkut é uma inovação muito maior que os
blogs. O blog é uma página na Internet como outra qualquer.
Cremos que, dentre alguns dos assuntos que discutimos ao longo deste estudo: o
resgate da esfera pública e o despertar de uma consciência crítica maior estejam mais
próximos das redes sociais do que do blog ou outras instâncias. Não é à toa que o
jornalismo-cidadão e open source esteja mais atrelado a essas redes e ao próprio conceito
de inteligência coletiva do que aos blogs; neste caso, os blogs colaboram da mesma forma
que na web como um todo, onde a inovação fica por conta das novas formas de relação que
permitem aos usuários criarem os seus vínculos, as suas redes, compartilharem seus
conteúdos e seus conhecimentos, desenvolver a sua própria interatividade e criatividade.
293
Google Dominando o Brasil
Como vimos na análise sobre a Google, ela não está dominando o mundo, mas o
Brasil, sim. Uma consulta ao site de métrica Alexa
268
mostra o site da Google em segundo
lugar logo atrás do Yahoo! na liderança da web-audiência global. Mais dois sites
pertencentes a Google também figuram entre os top 10 mundiais, o Youtube (3º) e a
plataforma de blogs Blogger (9º)
269
. O Google Brasil também é líder em audiência entre os
sites de língua portuguesa, seguido pelo UOL (2º), Globo.com (3º), Terra (4º) e iG (5º); o
Google Portugal ainda figura entre os top 10, na sétima posição
270
.
Já entre os top 10 brasileiros, a Google possui quatro sites, com direito a dobradinha
no topo do ranking com o Google Brasil (1º) e o Orkut (2º), e, os demais, Youtube (5º) e
Google.com (8º)
271
. A plataforma Blogger aparece em 11º lugar do ranking. A empresa
brasileira mais bem rankeada é o UOL, em lugar (61ª mundial) o Brasil, nessa disputa,
não vai ao podium e fica sem medalha. Os outros sites brasileiros que figuram entre os top
10 são: Globo.com (6º) e Terra (9º), num total de apenas três entre dez sites, as demais sete
posições são todas ocupadas por empresas norte-americanas. Dentre os demais sites
brasileiros que analisamos, o Estadão figura na 112ª posição
272
, o Limão na 622ª e o
Overmundo na 896ª. Vale lembrar que a audiência do site da ESPN Brasil é contabilizada
para o portal Terra
273
e a Folha Online para portal UOL. Outros sites ligados à informação
e ao jornalismo que figuram entre os top 100 brasileiros são: iG (12º), a plataforma de
blogs Wordpress (20º), Abril (24º), Fotolog (27º), Kboing (51º), ClickRBS (53º) e Gazeta
Esportiva (78º).
268
http://www.alexa.com, 28/10/2008.
269
Sites top 10 mundiais: : Yahoo!; : Google; : Youtube; :Windows Live Search; 5º: Facebook; :
MSN; 7º: MySpace; 8º: Wikipedia; 9º: Blogger; 10º: Yahoo! Japão.
270
Sites top 10 em língua portuguesa: : Google Brasil; : UOL; : Globo.com; :Terra; : iG; :
Mercado Livre; 7º: Google Portugal; 8º: Sapo; 9º: Lojas Americanas; 10º: MSN.
271
Sites top 10 brasileiros: : Google Brasil; : Orkut; : Windows Live Search; 4º:UOL; : Youtube; :
Globo.com; 7º: Yahoo!; 8º: Google.com; 9º: Terra; 10º: BuscaPé.
272
O site do outro jornal do Grupo Estado, o Jornal da Tarde, figura na posição número 6.797 (do Brasil).
Em relação ao posicionamento global, o site do Estadão está na posição número 4.306, em termos de tráfego
(média trimestral), detém 0,0222% da audiência mundial, enquanto o site da Folha Online (que tem uma
média de tráfego equivalente a 3% da média do UOL), possui uma média aproximada de 0,0315%. A sessão
de blogs do Estadão detém 7% do tráfego do portal (terceira sessão mais acessada). Não foi possível verificar
qual é a média de tráfego dos blogs da Folha Online e/ou do UOL.
273
Este é um exemplo da importância da desenfreada “microsinergia” da web que mencionamos no tópico “A
Sinergia da Mídia” (Capítulo I).
294
A nossa análise da Google advertiu o fato de as grandes inovações para o jornalismo
estarem surgindo fora do âmbito dessas empresas, sendo a própria Google, uma das que
vem criando soluções para o mundo da notícia através de variados sistemas e tecnologias.
Para o Brasil, o cenário é ainda mais “perigoso”, pois as novidades não estão surgindo
fora do âmbito das empresas de comunicação, mas também de fora do País. E, ao contrário
de outros países que, como vimos, apresentam empresas ou mesmo iniciativas
governamentais que visam fazer frente à Google, por aqui não se vislumbra nada capaz de
frear o seu avanço. Inclusive, os dois portais noticiosos que analisamos, da Folha e do
Estadão, são usuários de sistemas Google e, também, clientes, ou seja, utilizam tecnologia
licenciada frente à líder do ciberespaço. Nesse sentido, a web expressa aquilo que o país
sempre foi: submisso aos seus conquistadores, um prestativo e gentil servo pela rede, os
Estados Unidos estendem, através da tecnologia, a sua supremacia sobre o Brasil. Como se
isto não bastasse, em um evento voltado para webmasters brasileiros, o evangelizador dos
sistemas de busca da Google Adam Lasnik afirmou estar insatisfeito com a web brasileira,
pois “encontrou muitos sites feitos em Flash e sem integração com as ferramentas
Google
274
. Talvez a Google possa comprar a Adobe
275
para resolver esse problema. A
fome da Google por mais audiência tupiniquim, pelo visto, parece não estar saciada.
Em relação aos blogs nacionais, o sistema de indexação, busca e rankeamento
BlogBlogs
276
apresenta quais são os blogs de maior destaque do País ou, ao menos, os mais
linkados entre aqueles que estão cadastrados neste sistema, que é o mais popular entre os
blogueiros brasileiros. O sistema classifica os blogs através do número de ping-back, ou
seja, pelos blogs que são mais linkados. Abaixo a tabela com os blogs top 10 do Brasil:
274
Segundo matéria publicada no site UnderGoogle (http://www.undergoogle.com, 28/10/2008). Veja:
http://www.undergoogle.com/blog/2008/09/sobre-o-google-search-masters-2008.html.
275
Empresa produtora de fontes de texto e softwares gráficos que é dona do Flash.
276
http://blogblogs.com.br, 28/10/2008.
295
Posição
Blog Total de Links Links de outros blogs
Interney 7794 867
Sedentário Hiperativo 1408 725
Bobagento 1974 724
Usuário Compulsivo 1285 704
Dicas Blogger 1028 619
(( Treta )) 1022 489
Marketing de Busca 498 429
Contraditorium 892 406
BlogUtils 409 406
10º Uhull S.A. 985 405
A posição de liderança entre os blogs brasileiros do Interney corresponde, no
sistema de web-audiência Alexa, à 34do ranking brasileiro. Dessa forma, aquela suposta
liderança que os blogs possuem frente aos grandes portais noticiosos nacionais pode ser
creditada a algumas coberturas ou repercussões específicas; na média de acessos, os portais
estão muito a frente dos blogs. É claro que esses portais largam na frente, pois oferecem
muito mais do que notícias, englobam variados serviços e sub-sites cujas audiências lhe
garantem essa liderança frente aos blogs, dentre eles os chats que, segundo o especialista
em webmarketing Paulo Kendzerski (WBI Brasil
277
), são as ferramentas que garantem a
liderança desses portais. Se, no decorrer deste estudo, nós enfatizamos que os blogs levam
vantagem nos sistemas de busca baseados em links, da mesma forma os portais que
possuem salas de chat levam vantagem na audiência cuja métrica é embasada no tráfego de
usuários
278
. De forma que este número não é absoluto para afirmarmos de forma pontual
que os portais brasileiros são os líderes da audiência jornalística na web, porém demonstra
a sua liderança como grandes plataformas de conteúdo para a web-audiência nacional.
Nesse sentido, dentre as empresas que detém os maiores jornais brasileiros (Folha de
S.Paulo, O Globo, Extra e O Estado de S. Paulo
279
), duas são líderes de audiência por aqui,
o Grupo Folha através do portal UOL e a Globo através do seu portal, embora, neste caso,
o alicerce da empresa seja a TV e não seus jornais impressos (O Globo e Extra). Isto
277
Aliás, a WBI Brasil é uma empresa de marketing digital que possui certificado de qualificação Google
Adwords, ou seja, é uma “evangelizadora” dos sistemas de marketing da Google no Brasil.
278
Este é o caso do UOL, o chat UOL é a gina de maior tráfego dentro do portal, o que corresponde a 11%
do total.
279
Segundo dados publicados na revista Adusp nº 42, de janeiro de 2008.
296
demonstra a grande vantagem que esses conglomerados possuem na sua aventura de
inserção no mundo da World Wide Web.
Mas é preciso destacar que existem diversos blogs e plataformas de blogs dentro
desses portais que lhes conferem um aumento de tráfego. Também não podemos nos
esquecer que a plataforma Blogger da Google figura na posição da audiência mundial e
11ª brasileira, de modo que esses números delatam que “o weblog é a mensagem” ou, ao
menos, uma das mais fortes mensagens vistas no “cyberspace”. Talvez, se um dia tais
sistemas alcançarem as primeiras posições de liderança de tráfego, próximos aos sistemas
de busca líderes da audiência na atualidade –, a gente possa, sim, de forma contundente,
declarar que o “weblog é a mensagem”, não somente ao jornalismo como revelamos neste
estudo, mas à web como um todo.
Existe também uma outra forma de olhar para os números revelados acima que
apontam para a veracidade da frase “o weblog é a mensagem”, mesmo que esta seja uma
mensagem “fabricada”, manipulada pela própria dinâmica dos sistemas de métrica.
Enquanto o sistema BlogBlogs se baseia no número de links que apontam para os blogs, o
Alexa baseia-se no tráfego
280
. Aqui se revela a vantagem que os blogs possuem no meio de
tantas formas de mensura: o site de maior tráfego no Brasil (e segundo do mundo) é aquele
que busca páginas com base no número de links. Ao lado deste fato, existe outro que
mostra o sucesso dos blogs atrelado a uma grande plataforma pertencente à mesma
empresa, de modo que, dentro da frase citada acima, questiona-se até que ponto não poderia
se dizer que “o Google é a mensagem”, tanto dos blogs como da completa atualidade
ciberespacial.
As análises que fizemos nos sites da Google, Folha e Estadão também demonstram
o porquê do sucesso da Google. É uma empresa totalmente centrada no usuário, entre estes,
indivíduos, empresas e sites de um modo geral. De certo modo, ela a medida do nível,
muito próximo, em que tanto indivíduos quanto empresas e instituições compartilham o
cyberspace. A grande vantagem da Google sobre os webjornais citados é que ela não
precisa produzir conteúdo para obter audiência/valor publicitário
281
, ela simplesmente
oferece uma bandeja para que seus clientes possam compartilhar e usufruir qualquer que
280
Média trimestral de pageviews por número total de usuários da Internet.
281
E ela possui valor publicitário pelo grande trafego que possui e pela tecnologia única de marketing
contextual que detém e a coloca na posição de maior plataforma publicitária da grande rede na atualidade.
297
seja o conteúdo. A Google, como dizia o slogan de um produto masculino: “não precisa
fazer força para agradar”. O grande sucesso da empresa talvez seja esse, algo que vai além
da tecnologia de seu algoritmo, ela sempre se posiciona de maneira a facilitar o uso da web
em diversos sentidos para os seus “clientes”. A Google, por exemplo, não precisa se
preocupar com questões de copyright; ao mesmo tempo em que cria mecanismos para
aqueles que querem reivindicar esse direito, cria outros para que os usuários possam
compartilhar conteúdo, inclusive, burlando o copyright. Na atualidade, pode-se mesmo
afirmar que a Google está fazendo algo que históricamente ninguém conseguiu fazer,
agradar gregos e troianos.
As Objeções de Yochai Benkler
A Google também se mostra como o perfeito exemplo para o entendimento das
objeções levantadas por Yochai Benkler
282
. A empresa se apresenta na atualidade como a
grande centralizadora de atenções no espaço ciberal. O seu sistema de busca e a plataforma
de blogs Blogger são dois grandes exemplos dessa centralização, sem mencionar a
tecnologia. Aliás, alguns dos top sites que listamos acima e, em especial aqueles que
analisamos ao longo deste estudo, sobretudo o portal UOL, a Globo.com e o Terra, os
maiores portais brasileiros (e que figuram entre os top 100 mundiais), são grandes
concentradores de atenção. A sua disputa pela liderança da audiência no ciberespaço nada
mais é que uma disputa pela concentração das atenções, e quem concentra mais, lidera
mais. A Google lidera dentro dessa lógica, sendo que ela concentra em suas mãos algo que
pode ser considerado como “ouro puro” na nova era digital, ela concentra a propaganda.
Enquanto muitos se perguntam como ganhar dinheiro na Internet, ela responde como:
ganhando dinheiro fazendo os outros ganharem dinheiro.
A Google também pode ser considerada uma grande Torre de Babel, ela possui
diversos mecanismos que ajudam a incluir o cidadão na nova mídia. Ao mesmo tempo que
ela inclui diversas novas vozes na mídia, ela provê os mecanismos para a filtragem do
diálogo, começando pelo seu sistema de busca e englobando diversos outros. A empresa em
si apresenta e usa a seu favor essas duas características antagônicas, possíveis obstáculos a
282
Capítulo II: “Os Blogs como Resgate da Esfera Pública: Objeções”.
298
“democratização” da web: ela é uma Torre de Babel que concentra as atenções no âmbito
das novas mídias.
Outras duas objeções apontadas por Benkler que podemos observar na Google
referem-se à questão da espionagem, que destacamos através da “parceriaque a empresa
detém com a CIA, e a questão da exclusão digital. Essas característicam remetem a outra
característica antagônica da empresa. Ao passo que ela trabalha com a CIA, ela cria
tecnologias e mecanismos para vencer a barreira da exclusão, como os seus mecanismos de
tradução instantânea de sites e outros que visam vencer a fronteira das nguas na Internet.
Se, no decorrer deste estudo, nós dissemos que a Internet é uma dia que possui
características dualísticas, o mesmo pode se dizer da Google, e ela sabe como usar muitas
dessas características a seu favor. Favorecendo os usuários ela favore a si mesma.
Se Gordon Moore referenciou o Google como o que existe de mais impressionante
no ciberespaço, para nós brasileiros o UOL é o que existe de mais impressionante na
Internet tupiniquim e, para os mais otimistas, para a audiência global de língua portuguesa.
O UOL consegue a façanha de bater a Globo no ciberespaço, prova de que o grupo de Frias
aprendeu a fazer Internet aprendeu a centralizar atenções –, se não pelo site da Folha
Online, como analisamos, mas através do portal que lidera a audiência nacional, e,
teoricamente, como menos dinheiro. Embora esse tipo de liderança em geral se deva à
maior capacidade de investimento dessas megacorporações, neste caso, a disputa pela
audiência ciberespacial, o Grupo Folha está a frente da Globo, uma empresa com
faturamento bruto cerca de quatro vezes maior que o da Folha o pioneirismo do UOL
ainda se reflete nessa liderança. Mas há que se destacar o trunfo que as empresas brasileiras
líderes de audiência na web possuem: são provedoras de acesso que se beneficiam de uma
lei que obriga os usuários de serviços pagos de acesso à web, o que inclui a banda-larga, a
assinarem um provedor de conteúdo. Não seria este um dos exemplos de Benkler de como
algumas empresas podem exercer o seu monopólio sobre a rede?
299
A Internet e a Esfera Pública
Anos atrás, o turista que passeasse por uma região badalada da cidade do Guarujá,
litoral paulista, notaria um novo bar instalado em uma esquina movimentada. O bar era
grande, com amplos espaços que ocupavam dois andares, contando com um imenso terraço
na parte superior. De fora seria possível observar várias mesas, um grande palco para
shows, com pista de dança, um vasto balcão e um batalhão de garçons prontos para servir
os clientes. No entanto, o bar estava vazio, poucas mesas estavam ocupadas. Nos dias que
se seguiram, toda vez que se passava pelo bar, a cena se repetia, o bar estava, a todo o
momento, praticamente vazio, a banda que tocava para poucos clientes, com o passar dos
dias, sequer se apresentava mais. No verão do ano seguinte, aquele que, porventura, passou
novamente pela mesma esquina, notou que o bar já não existia mais.
A Internet como resgate da esfera pública se apresenta da mesma forma que o bar
descrito, tem todas as condições, como meio comunicacional, para resgatar a esfera pública
e ser o palco de debates onde os cidadãos conectados poderão discutir os rumos da
sociedade, assim como o bar descrito possuía perfeitas condições de atender aos seus
clientes. Como vimos nos exemplos da esfera pública conectada e outros, alguns fatos
demonstram esse potencial. Mas para que essa esfera pública cresça e se torne de fato uma
instituição (como, num dos mais perfeitos exemplos da história moderna, a esfera pública
inglesa e a sua atuação sobre o Parlamento britânico), muita coisa ainda precisa ser feita.
Não basta apenas termos o espaço se as pessoas não o utilizarem para fins diferentes do que
muitos o utilizam, é preciso que as pessoas explorem o potencial comunicacional da
Internet de forma que ela, de fato, se torne uma esfera pública permanente em nossa
sociedade. Sobre o exemplo descrito acima, poderíamos dizer que é preciso que as pessoas
entrem no bar, sentem-se à mesa e desfrutem do ambiente. Além disso, é preciso que a
sociedade não permita que os abutres da mídia, as hienas das telecomunicações, os tubarões
da tecnologia ou mesmo os chacais do governo exerçam monopólio sobre a rede, inclusive,
alterando os protocolos comunicacionais que hoje beneficiam a comunicação
desintermediada e as iniciativas de diversas pessoas que utilizam a grande rede. É preciso
também que a Internet cresça mais e inclua o ximo de pessoas possível, quiçá todos os
300
cidadãos do planeta possam ter acesso a ela, de modo que a exclusão digital seja algo que
não faça mais parte das sociedades.
Feito isso, temos certeza, a Internet, que hoje apresenta essa potencialidade, é o
meio comunicacional que resgatará e trará novas dimensões, de foro global até, para a
esfera pública. A Internet é um meio que, como vimos neste estudo, apresenta diferentes
possibilidades além daquelas que levam ao espetáculo que tomou o grande palco da mídia
na atualidade.
A Eleição de Barak Obama
Esse estudo foi desenvolvido em paralelo ao processo de sucessão presidencial
ocorrido nos Estados Unidos, havíamos feito uma menção ao sucesso da campanha do
candidato Barak Obama
283
durante as primárias. Por coincidência, chegamos ao final desse
estudo na mesma ocasião em que os Estados Unidos chegaram ao final do seu processo
eletivo com a vitória de Obama, o primeiro presidente negro da história dos Estados
Unidos. A eleição de Obama recai fortemente sobre os estudos que fizemos a respeito da
esfera pública e permite-nos afirmar que existe de fato uma nova esfera publica, estrutural e
de alcance global, através da Internet. Dessa forma, a frase que colocamos no final do
último parágrafo se mostra verdadeira na contemporaneidade: a Internet resgata a esfera
pública.
O fenômeno Obama, chamado popularmente de obamização, ganhou o mundo
através da Internet, pode-se afirmar que houve uma opinião pública mundial favorável ao
democrata, embora esse público globalizado não vote, portanto, não pode ser
responsabilizado pelo sucesso do novo presidente. Enquanto o mundo enxerga no
democrata as soluções para problemas como a guerra do Iraque, as tropas no Afeganistão e
o aquecimento global, internamente nos Estados Unidos, os eleitores se preocupavam mais
com a crise econômica vivida pelo país após oito anos de conservacionismo, sendo este,
talvez, o factóide que tenha levado o povo americano a votar no seu opositor, ou seja,
Obama. Esse é um dos fatores que pode ser atribuído ao recorde de eleitores registrado
nesta eleição e na estrondosa vitória de Obama nas urnas.
283
Capítulo II: “As Novidades do Jornalismo através da Internet: Qualificação”.
301
Quanto à pergunta que fizemos a respeito de Obama ser um novo “príncipe
binário”, a resposta mais correta seria, ele é um príncipe “eletro-binário”, ou seja, ele
conseguiu construir a sua imagem através dos meios eletrônicos e digitais. Não se trata de
dizer que o Obama fez melhor uso das ferramentas da web que o seu rival (John McCain), o
fato é que sua imagem “pegou” na Internet, a obamização é a chave que explica este fato. O
número de jovens que participaram da votação também indica a importância que a web teve
nesse processo eleitoral, pois sabemos que a Internet tem um grande apelo sobre esse
público, especialmente em uma série de ferramentas e sites por onde a obamização se
espalhou, tais como blogs, redes sociais e o Youtube, entre outros.
Sem dúvida, a eleição de Obama indica a força da opinião pública que se formou
através da Internet, mesmo que essa esfera se dissipe logo após, inclusive pelas
peculiaridades do processo eletivo norte-americano (voto facultativo), como mencionamos.
Entretanto, nos parece evidente que uma esfera pública “digital” temporária se formou
durante esse processo. Se um dia ela irá se tornar conjuntural, o tempo dirá. Outro fator
que mencionamos durante este estudo, que parece se relacionar com essa nova esfera, foi
quando mencionamos nos parecer que a Internet que se apresenta, antes de tudo, como
uma nova esfera da vida privada e cultural –, da mesma forma que a vida privada dos
burgueses nos séculos XVII e XVIII acabou influenciando a esfera pública, acabou, de
alguma forma, contaminando a esfera pública de modo decisivo na vitória de Obama.
Por fim, os estudos atuais que citamos de Jürgen Habermas e Mark Poster
284
, assim
se mostram, parecem não contemplar a nova dimensão da Internet e a mudança estrutural
na esfera pública que surge inerente aos novos meios e todas suas peculiaridades que
analisamos neste estudo alguns estudiosos parecem estar subestimando o poder da
opinião pública que toma as novas mídias. Quem sabe não seja esse o início da revolução
da Internet que tanto se fala? A pergunta para o sucesso do fenômeno Obama talvez não
seja mais aquela que fizemos anteriormente, a questão agora talvez seja: seria possível a
eleição de Obama, um afro-descendente, para a Casa Branca sem o advento da Internet?
284
Capítulo II: “Os Blogs e o Resgate da Esfera Pública: Objeções”.
302
Ética
No que concerne à ética no jornalismo de um modo geral, após as diversas questões
e exemplos analisados neste estudo, a melhor maneira de definir esta relação talvez esteja
na seguinte frase da analista junguiana e de filosofia Adriana Nogueira (PUC-SP), quando
ela nos fala da ética no mundo atual, que incluí também o jornalismo e as corporações de
mídia: “Talvez sejamos ainda platônicos: contemplamos e mobiliamos o nosso mundo ideal
enquanto o real não tem quem o compreenda” (Nogueira, 2000:44). Pelo que vimos na
análise da crise ética do jornalismo, podemos afirmar que existe uma distância platônica
entre os ideais éticos mais fundamentais e a prática real da “arte de fazer jornal”.
Um fator que se evidencia neste estudo é que, na Internet e, principalmente, nos
blogs, e aqui falamos da totalidade destes, objeto que refletimos com profundidade durante
este estudo, é que o usuário torna-se o seu próprio gatekeeper; sendo assim, pouco valem os
códigos de ética, as regras de conduta, sejam elas as seguidas por profissionais e pessoas
ligadas às velhas mídias, ou o usuário do ciberespaço e seus manifestos. A questão ética
fica atrelada, praticamente ou quase que somente, ao indivíduo e, assim, à mercê do seu eu-
centrismo (o que, aquém do trocadilho, pode mesmo até se manifestar de uma forma
excêntrica, o que engloba a pluralidade de significados desta palavra). Em uma referência
ao estudo de Zygmunt Bauman, poderíamos dizer que a ética está em completo processo de
ebulição/liquefação no âmbito das novas dias, inclusive em função desta ser uma esfera
comunicacional que ainda está se desenvolvendo.
Outra questão ética atual está ligada a um dos problemas mais contemporâneos: o
esgotamento natural do planeta, que traz junto de sua problemática, uma nova idéia: o
direito das gerações futuras herdarem um mundo em que possam viver. Esse problema
global coloca em cheque o sistema capitalista em que vivemos e atinge toda a humanidade.
Mais do que nunca, os ideais éticos fundamentais terão de ser praticados em ordem da
sobrevivência da espécie humana. Neste caminho, o jornalismo e os meios de comunicação
terão um precioso papel a cumprir, conscientizando, informando, discutindo e trazendo
soluções que concernem aos rumos da sociedade, ao destino do Homem. O direito
fundamental ao acesso à informação também é outro ideal cuja prática se clama necessária.
Será que a Comunicação e o Jornalismo estão preparados?
303
Independentemente de a Comunicação e o Jornalismo estarem ou não preparados, e
nós acreditamos que não estão, a própria sociedade como um todo não nos parece
preparada para encarar a sua sina. Não podemos afirmar, apesar das amplas discussões que
concernem à ética e à própria epistemologia dessas áreas do conhecimento, que elas
estejam completamente erradas. Não, pelo contrário, cremos que todas as discussões são
importantes e devem engrandecer essas áreas da atividade humana, de modo que elas
cumpram o papel que delas esperamos e necessitamos. Mas, com o advento das novas
mídias e do “fim do mundo”, muita coisa precisa mudar, e rápido. Será que os catedráticos
estão preparados e conscientes dessa urgente necessidade?
De Volta para o Futuro
Á guisa de conclusão, as reflexões a seguir partem do pressuposto de que a
sociedade realmente lutará para resolver os problemas ambientais que hoje colocam em
cheque o destino da humanidade, o aquecimento e o escurecimento global. Também
partimos do pressuposto que as novas mídias continuem embasadas nos alicerces
fundamentais sobre os quais foram criadas, ou seja, a liberdade, a reciprocidade, a
cooperação e a informalidade.
Vários estudiosos apontam para o aumento incessante do consumo de informação
online, de forma que, com o tempo, a Internet deve se tornar a principal plataforma de
consumo de informações e notícias. A ascensão da web semântica e o aumento da
mobilidade, inclusive com o surgimento de novas plataformas, dentre as quais o e-paper e,
adicionando-se o custo ambiental que deverá recair sobre a produção do papel, nos faz crer
que o jornal impresso desaparecerá, sendo totalmente absorvido pelas novas formas de
mídia. Inclusive, as novas gerações, não habituadas a pagar para consumir informação,
também ratificam o desaparecimento dos impressos de um modo geral, que tenderão a ser
um objeto de luxo devido ao seu alto custo, principalmente quando aquela tida como
geração nativa
285
da Internet crescer e se tornar majoritária dentre a população
economicamente ativa. Outro fator que também indica o desaparecimento dos impressos
está no alto custo de sua cadeia produtiva e distributiva, de modo que a convergência das
285
Geração que já nasceu em meio ao mundo digital.
304
empresas de mídia, tecnologia e infraestrutura comunicacional em torno do bit, as
Comunicações, deverão optar pelos meios digitais como forma de valorização do negócio
advinda da economia de custos que as redes informativas proporcionam. Assim, pode-se
vislumbrar que o problema de hoje (aquecimento global) será o slogan de amanhã, quando
as empresas transformarão a crise do ecossistema terrestre em valor de negócio no que
tange à produção e distribuição de informação (algo que pode ser observado em outras
áreas da atividade humana).
Com essas novas possibilidades de consumo de informação através da plataforma
binária, assistiremos a um aumento dos conteúdos on demand e da possibilidade crescente
do usuário se esquivar da publicidade. A própria publicidade deverá se deslocar em direção
aos navegantes, de forma que o público terá uma participação cada vez maior dentro do
bolo publicitário geral da mídia. A segmentação da publicidade via mala-direta, que é
fato nos dias atuais, tende a ser uma lógica que cada vez mais se institucionalizará em
função das possibilidades que o mundo digital oferece em termos de personalização da
informação e da propaganda, inclusive utilizando as mais revolucionárias tecnologias de
ponta, quando teremos os agentes inteligentes, que serão atrelados não só ao acesso à
informação, mas também à publicidade. Essa é uma lógica cujos pilares agora estão sendo
construídos e cujas palavras-chave nós mencionamos: segmentação e fragmentação. O
mecanismo AdSense da Google representa, na atualidade, a primeira inovação dentro dessa
lógica que tende a se tornar majoritária dentro do ciberespaço e da mídia em geral.
Ainda sobre a morte dos jornais impressos que, na verdade, não ocorrerá, pois ele
apenas mudará de suporte (do impresso para o chip), nós descartamos complemente o
argumento em que muitos se apóiam para justificar a sua sobrevivência. Muitos dizem que
o jornal sobreviveu ao rádio e à TV, por isso sobreviverá também à Internet. Tal argumento
não possui nenhuma base científica, seria o mesmo que dizer que um sujeito que não
morreu após ser baleado duas vezes sobreviveria se baleado uma terceira vez depende de
onde o terceiro tiro venha a atingir nesse sentido, a Internet é um headshot. Cremos que
outros fatores, como os mencionados acima, se sobrepujarão a esta crença e o jornal
impresso desaparecerá completamente, passando aos meios digitais onde, aí sim, continuará
existindo. Em suma, o impresso morrerá, o jornalismo não, assim como qualquer outra
forma de comunicação que se valha dos suportes impressos na atualidade. E, vamos além, a
305
questão não é se os impressos devem ou não ser extintos, o destino do planeta Terra urge
que eles desapareçam, e o quanto antes, melhor.
Enquanto os jornais impressos não morrem, verificaremos uma série de mudanças
que visarão à manutenção desse negócio que foi extremamente rentável durante séculos
(numa menção ao estudo de Philip Meyer, poderíamos dizer que o jornal impresso não
desaparecerá sem que antes a laranja seja espremida até soltar a última gota de suco). Aqui
vale apontar apenas aquelas tendências que identificamos durante este estudo. A primeira
delas é que, em função do deslocamento da mídia para o usuário, os grandes veículos
foquem suas energias no que eles tem de melhor; como filosofava McLuhan, eles tenderão
a refletir o suprassumo da “arte de fazer jornal”. Assim, as editorias mais fortes, em
especial as investigativas, deverão se tornar o filet mignon do jornal; estes tenderão a
tornarem-se cada vez mais analíticos do que puramente informativos. Mas, se a tendência
do jornal é buscar o seu “estado da arte”, também poderemos assistir à disseminação dos
pequenos tablóides gratuitos, cujo alicerce fundamental está nas parcerias com a
publicidade e as agências de notícias, que o jornal, como vimos, está no ramo de expor o
leitor aos anunciantes. Fato que já está acontecendo nas ruas de São Paulo, inclusive.
A busca de novos formatos para o jornal, inclusive o tablóide, também poderá ser
uma opção das empresas jornalísticas no intuito de manter o público leitor, procurando
servir-lhe com um produto melhor, inclusive se valendo da segmentação com novas
publicações especializadas e diversos novos conceitos de design aplicados em reformas
editorias gráficas. Para o cenário brasileiro, entretanto, não se espera nenhuma mudança
pioneira, qualquer mudança que venha a acontecer aqui deverá seguir os novos modelos
que surjam nos Estados Unidos e na Europa, pois este tipo de estratégia (copiar os modelos
do primeiro mundo) vem sendo uma praxe das empresas jornalísticas nacionais ao longo da
história.
Por fim, antes do desaparecimento completo dos impressos, algo tem que acontecer:
a Internet ser acessível ao maior número de pessoas possível, o que passa pela introdução
de uma gigantesca massa da população mundial dentro do ambiente cibernético. O caminho
para essa introdução massiva ao novo meio poderá, em princípio, fomentar novos hábitos
de leitura que venham trazer um incremento no consumo de jornais, revistas e outras
plataformas tradicionais de mídia. Dessa forma, antes de seu desaparecimento, é bem
306
possível que se veja um “boom” no consumo de materiais impressos que precederá o
próprio fim das mídias impressas, num grande suspiro “pré-mortis”.
Ousando um pouco mais dentro desse exercício de futurologia, poderíamos dizer
que estamos vivendo esse “boom”, pois enquanto o jornal perde leitores, outras formas
de mídia impressa vivem um momento de esplendor. Enquanto vivemos uma explosão no
consumo de impressos, o mais antigo desse representante (excluindo-se o livro), agoniza
em seus estágios finais de vida, ao mesmo tempo em que se prepara para uma nova vida: a
vida após a morte, a Internet.
307
GLOSSÁRIO
Termos técnicos, siglas, jargões, estrangeirismos e neologismos
3g abreviação de “terceira geração”, a mais recente geração de celulares e dispositivos
móveis que possuem acesso a Internet; telefonia móvel de banda-larga.
A posteriori – posteriormente, depois.
Adsense – mecanismo de publicidade da Google voltando para proprietários de sites,
permite que o dono de um site receba uma compensação financeira se algum usuário
comprar um produto partindo do anúncio inserido em seu site.
Agentes inteligentes tecnologia de ponta de análise e pesquisa de dados. É um sistema
hábil em relacionar dados com pesquisas prévias de dados e capacidade de extrair
informações de inúmeras bases de forma agregada, indo além do que é inicialmente
requisitado, é um mecanismo que "aprende" com os dados analisados, possibilitando
precisar e refinar qualquer pesquisa de forma muito mais inteligente.
Agregador programa que feeds e recebe alerta de novidades de diversas fontes da
Internet. Funciona de modo semelhante a uma caixa de e-mails.
AIM abreviação para AOL Instant Messenger. Programa de mensagens instantâneas da
empresa norte-americana America On-Line (do grupo AOL-Time Warner).
Algorítimo conjunto de funções matemáticas capazes de executar diversas operações em
forma seqüencial.
Alvéolos células localizadas nos pulmões responsáveis por levar o oxigênio para a
corrente sanguínea.
Árvores de conhecimentoum modelo para a gestão curricular baseada em competências
defendido pelo estudioso francês Pierre Lévy. Tem como base o conceito de Inteligência
Coletiva estudado pelo autor.
ASCII sigla de American Standart Code for Information Interchange (Código padrão
americano para intercâmbio de informações); padrão binário dos caracteres básicos do
computador (letras, sinais e números).
Assíncrona – sem sincronia.
ATM machine – máquina eletrônica, caixa de banco, urna eletrônica, quiosque.
308
Atom – um tipo de programação baseada no código XML utilizada para feeds como o RSS.
AVI – extensão de arquivo Audio Vídeo Interleave; arquivo de vídeo e áudio da Microsoft.
B2B sigla de Business to Business, um conceito de e-business; conceito de negócios entre
empresas via rede/Internet; atacado via Internet.
Baby boomers – geração que nasceu após a II Guerra Mundial.
Backbone (espinha dorsal); principal raiz de servidores da Internet; principais servidores
de grandes redes (wan), grandes regiões e países.
Banner rotativo imagem publicitária encontrada em sites, geralmente feita em formato
GIF animado e/ou animação em Flash. Por ser passível de animação, o mesmo espaço de
um banner pode conter diversas mensagens publicitárias. Um banner rotativo é aquele que
possui diversas mensagens publicitárias dentro de um mesmo espaço em uma mesma
seqüência de imagens.
BBS sigla de Bulletin Border System. Uma BBS é um site inserido dentro de uma rede
acessível por modem através de linha telefônica convencional e que se restringe a sua
própria capacidade conectiva, não possuindo contato com outras redes. As BBS foram as
grandes redes computacionais que ofereciam informações e serviços diversos antes da
Internet se tornar comercial. Hoje existem sites na web que emulam as antigas BBS via
telnet e outros sistemas. As BSS possuiam um sistema gráfico muito inferior ao padrão
atual dos computadores e trabalhavam com informação em forma de texto.
Binarização – converter/traduzir para linguagem binária; adotar tecnologia binária/digital.
Bit abreviação de Binary Digit (digito binário), representa a unidade nima de
informação e armazenamento de dados do computador.
Bitmap abreviação de "mapa de bits"; mapa de bytes; imagem formada por pixels
(pontos) mapeados em um plano cartesiano.
Bit torrrent (torrente de bit); é um protocolo que permite aos usuários de tal serviço
fazerem download de arquivos indexados em websites.
Blog, weblog (diário virtual); página datada de publicação de conteúdo multimídia que
dispõe espaço para comentários.
Blogger(blogueiro); palavra adotada como título da plataforma de blogs hoje pertencente
a Google.
Blogging – criar e manter um blog; publicar ou comentar informações através de um blog.
309
Blogosfera conjunto de todos os blogs; o mundo ou esfera dos blogs; roda de todos os
blogs.
Blogroll lista de links de blogs em um blogueiro; blogs indicados ou relacionados em um
blog.
Blogueiro – aquele que cria e mantém um ou mais blogs.
Blorum mistura de blog e fórum, página na web que mescla características de blog e
fórum.
Bookmark – agendar, marcar na agenda; salvar um link em um lista de links; lista de links.
Boole sobrenome de George Boole (1814-1864) matemático criador da lógica booleana
que hoje é utilizada para busca avançada na Internet, sendo conhecida como "busca
booleana". Utiliza operadores diversos para filtrar resultados de busca por meio de
palavras-chave.
Boom termo utilizado dentro do âmbito das novas mídias quando alguma novidade ou
iniciativa subitamente torna-se de conhecimento e/ou uso massivo.
Broadband – banda larga
Broadcast – radiotransmissão.
Browser – (buscador); programa que busca páginas e arquivos pela Internet.
Bug (inseto); quando um computador apresenta algum tipo de mau funcionamento, seus
componentes ou softwares apresentam algum tipo de erro de execução. A expressão
atrelada a este tipo de erro se deve ao fato de uma mariposa ter queimado o circuito interno
do computador Mark II, um dos primeiros grandes computadores desenvolvidos no final da
década de 1940 (Un. Harvard, EUA), quando estes eram construídos com válvulas e
ocupavam salas enormes.
Byte – circuito elétrico que contém um número múltiplo de oito bits; conjunto de bits.
CD – sigla de Compact Disc (Disco Compacto).
CD-Rom sigla de Compact Disc Read-only Memory (disco compacto de memória
somente para leitura). Disco compacto com informações binárias armazenadas para serem
lidas através de um computador. Existe também o modelo CD-RW (Re-writeable), que pode
gravar e regravar informações (mas não pode trabalhar de forma virtual, em processo
aleatório).
310
CEO – sigla de Chief Executive Officer; sigla que designa o profissional empresarial
Diretor-Executivo.
Chat, chatroom – bate-papo, sala de bato-papo virtual.
Chave-primária variável utilizada para busca/filtragem de informações dentro de bancos
de dados relacionais.
Chip, microchip semicondutor elétrico feito à base de silício capaz de organizar uma
váriavel fixa de circuitos elétricos passíveis de serem organizados de forma binária.
Ciberal neologismo que se refere ao universo ciberespacial, assim como o universo das
estrelas e das galáxias compõem o espaço sideral, o universo dos computadores e da
Internet compõem o espaço ciberal.
Cibercultura movimento artístico, filosófico e comportamental que se inicia após o
advento dos computadores e da Internet.
Ciberespacial – algo que estejo contido ou inserido dentro do ciberespaço.
Ciberespaço, Cyberespaço, Cyberspace, Ciberspace espaço comunicacional
computacional interconectado; Internet; mundo virtual ou espaço virtual. Termo cunhado
pelo escritor canadense William Gibson no livro Neuromancer de 1984.
Cibernética ciência que estuda a relação de vários mecanismos incluindo seres-vivos e
máquinas.
Clean – (limpar, limpo); leve, livre de obstáculos.
Clustering (aglomeração, aglomerando); recurso capaz de organizar dados por
semelhança.
Commonsprodução compartilhada sem vínculos autorais de uma única pessoa ou grupos
de pessoas; produção compartilhada via Internet.
Comunicação viral forma de comunicação que se irradia por meio dos internautas,
normalmente via e-mail.
Consciência coletiva – saber comum.
Cookie – (bolinho); pequenos arquivos gerados por sites que armazenam informações
sobre o usuário em sua própria máquina e ou que armazenam informações específicas
necessárias para execução de diversas funções em websites.
Copyright – (direito de cópia); direito autoral.
CPF – sigla de Cadastro de Pessoa Física.
311
Cracker indivíduo que utiliza seu conhecimento tecnológico computacional com o
objetivo de invadir e derrubar sistemas, criar vírus etc, que "quebra" sistemas
computacionais e/ou redes.
Default (padrão); configuração pré-estabelecida; configuração que vem de fábrica;
programação inicial ou básica de um sistema.
Design – (desenho); estilo de desenho, traço, diagramação ou arte.
Device (dispositivo); pode ser um dispositivo físico (hardware) ou um virtual (software)
que executa uma determinada função.
DHTML sigla de Dynamic Hyper-text Markup Language (linguagem de marcação de
hipertexto dinâmica). É a combinação do código HTML com outras linguagens que facilita
a interação do código com recursos dos browsers.
Diário virtual – o mesmo que blog ou weblog.
Diretório, folder, pasta espaço endereçado de armazenamento de arquivos digitais
dentro de um dispositivo de armazenamento de dados, como um hard-disc (disco gido ou
HD), por exemplo. O diretório é como uma pasta dentro de um arquivo, utilizado para
armazenar e classificar informações dentro de um computador da mesma forma que se faz
num arquivo de pastas real de qualquer escritório.
Disco laser Disco compacto predecessor do CD-Rom e do DVD que também utiliza um
mecanismo de leitura óptica para armazenamento de vídeos. Concorrente dos vídeos VHS e
Betamax, o formato nunca ganhou força no mercado de vídeos domésticos.
DivX Decodificador de imagem de vídeo muito utilizado para comprimir vídeos de DVD
para serem inseridos em um CD-Rom, ou para serem compartilhados através da Internet.
Drag and drop – (arrastar e soltar); recurso para agarrar, arrastar e soltar elementos
virtuais gráficos em um monitor de computador através do mouse.
DVD sigla de Digital Vídeo Disc (disco de vídeo digital). É um compact-disc com alta
capacidade de armazenamento de imagens ou informações digitais.
DVD recorder – dispositivo que grava informações em um DVD.
DVD-RomDVD que contém informações gravadas em forma binária.
E-business – Negócios pela Internet.
E-commerce – Compra e venda pela Internet; comércio pela Internet.
Engine – (motor); mecanismo; tecnologia de software.
312
E-paper – papel digital/eletrônico passível de conexão com a Internet.
Establishment – (estabelecimento); que está estabelecido, institucionalizado, no poder.
Fac-símile, Fax tecnologia para envio de documentos via rede telefônica muito utilizada
em escritórios.
Fashionable – na moda.
Feedarquivos que alimentam os leitores de RSS. Corresponde a um determinado canal de
informações de interesse do internauta, onde ele seleciona quais informações quer receber.
Veja também feedback.
Feedback (gabarito); resposta; vista a uma avaliação; avaliação de desempenho;
provimento de uma informação perante requisição prévia.
Fibra-óptica tipo de fibra que transmite informações em forma de luz através de um
feixe de fibra de vidro, capaz de transmitir grandes quantidades de informações sendo a
base conectiva dos backbones da Internet.
Flash software utilizado para criação de animações com recursos programáveis hoje de
propriedade da empresa Adobe.
Flog – abreviação de fotolog; blog dedicado à publicação de fotos.
Fonte – tipo de formato de letra.
Fórum eletrônico – página de Internet que possui recurso para conversa/discussão de
forma assíncrona.
Frisson – (excitação); polêmica.
FTP sigla de File Transfer Protocol (Protocolo de Transferência de Arquivo); protocolo
utilizado para o envio de arquivos para um servidor na Internet.
Gadget (dispositivo); refere-se a um equipamento que tem uma função específica;
palavra muito utilizada nos jargões tecnológicos para referir-se a dispositivos como
celulares, câmeras digitais, smartphones, hand helds e diversos outros.
Game (jogo); estrangeirismo utilizado no Brasil como referência aos jogos digitais de
consoles (tais como Nitendo, PlayStation etc), ou de computador.
Gatekeeper (guardião do portão); termo utilizado no meio jornalístico que se refere à
filtragem de informações a serem publicadas.
Gestalt teoria da psicologia relacionada com a percepção que possui aplicações para a
arte, design, layout e diagramação de peças editoriais de diversas naturezas.
313
GIF – extensão de arquivo Graphics Interchange Format (formato de intercâmbio de
gráficos); formato de arquivo de imagens bitmap (mapa de bits) que contém até 256 cores,
transparência e pode ser animada.
Global player – megacorporação que atua em diversos países e em diversos ramos.
Googlar – efetuar uma busca na Internet através do mecanismo de busca Google.
Gramatura – medida da espessura do papel.
Grid(grade); conceito de análise de dados compartilhada em rede; programa de rede que
partilha o processamento de grandes quantidades de dados por diversos computadores.
Groupware – programa que possui funções para trabalho em grupo.
Hacker comunidade ou cultura de programadores e desenvolvedores tecnológicos que
acredita na evolução humana inerente das novas tecnologias; indivíduo que possui vasto
domínio de programação computacional, habilidade no manuseio de hardware e
configuração de redes computacionais.
Handheld, palmtop mão, na palma da mão) - computador de mão; palmtop refere-se
aos computadores de mão da empresa Palm.
Hardware (ferragem); refere-se às placas, componentes e dispositivos físicos do
computador; parte do computador que você pode “chutar” quando ele pára de funcionar ou
apresenta algum defeito.
Headshot (tiro na cabeça); expressão que se popularizou entre os fãs de jogos de tiroteio
virtual online tais como Half-Life e Counter-Strike.
High-tech (alta-tecnologia); tecnologia de ponta; última tecnologia; tecnologia mais
avançada.
Hiperespaço expressão que vem da Astronomia que faz parte da Teoria da Relatividade
de Albert Einstein (1879-1955): no hiperespaço as relações do espaço-tempo obedecem a
complexas regras relacionadas ao próprio movimento conjunto das galáxias e do universo
como um todo, assim, será possível se atravessar o universo instantaneamente quando se
for possível entender essa dinâmica; quarta dimensão do espaço (espaço tetra-dimensional);
expressão que se refere à troca de informação quase instantânea propiciada pela Internet,
onde pode-se navegar através de computadores e informações por todo o globo terrestre
praticamente instantaneamente.
314
Hiperlink, link conexão virtual entre informações/arquivos que se encontram em
diferentes sites ou páginas da Internet; endereço de localização de um arquivo armazenado
em uma rede de computadores.
Hipermídia mídia capaz de dispor hipertextos e diversos conteúdos de mídia, como a
própria World Wide Web que é, assim, uma hipermídia. Segundo Bob Cotton e Richard
Oliver, no estudo Understanding Hipermídia 2000 (Londres: Phaidon Press, 1997), p. 5:
hipermídia é “uma mídia com suporte em computador, que disponibiliza texto, imagem,
som, animação e vídeo numa variedade de combinações”.
Hipertexto texto inserido dentro de um dispositivo de hipermídia que pode conter
ligações com outros textos por meio de links relacionados, dessa forma, a partir de um texto
inicial pode-se acessar diversos e incontáveis outros textos.
Home – (lar); a página inicial de um site.
HTML sigla de Hyper-Text Markup Language (linguagem de marcação de hipertexto);
linguagem de programação de hipertexto utilizada para criação de ginas web acessíveis
pelo protocolo HTTP e visualizáveis por meio de browsers compatíveis com esta
linguagem. É a linguagem básica de programação dos sites da Internet.
HTTP sigla de Hyper-Text Trasfer Protocol (protocolo de transferência de hiper-texto),
protocolo que permite a troca de informações no formato de hipermídia; protocolo de
hipertexto.
ICQ sigla acrônica de I Seek You (eu procuro você); programa de mensagens
instantâneas.
Iluminismo também conhecido como o século ou idade das luzes; movimento intelectual
e filosófico que teve como palco a Europa do século XVII/XVIII cujo fundamento principal
baseia-se no pensamento racional e que se opôs ao pensamento religioso da Idade Média.
Implodida – que explodiu ou estourou para dentro.
Index (índice); página inicial de um site (também conhecida como Home) e/ou que
contém um indíce para outras páginas ou conteúdos diversos.
Infotainment junção das palavras inglesas information e entertainment (informação e
entretenimento); jargão que identifica o tipo de notícia que transforma a informação em
diversão, ou diverte informando.
Infotenimento – veja infotainment.
315
Instant Messenger (mensageiro instantâneo); programa de troca de mensagens de forma
síncrona, tais como ICQ, AIM e MSN.
Inteligência Coletiva inteligência que advém do acumulo e somatória da inteligência de
todos ou de muitos indivíduos; patamar de inteligência somente acessível pela somatória de
diferentes conhecimentos e da somatória da inteligência de inúmeros indíviduos dotados de
inteligência; a inteligência propiciada pela conectividade da Internet como um todo
(conceito estudado e defendido por Pierre Lévy).
Interface (relação); a forma ou face como algum dispositivo e/ou software se apresenta
ao seu usuário; mecanismo que serve de meio interativo.
IP sigla de Internet Protocol (protocolo da Internet); protocolo que permite a conexão e
troca de dados entre computadores na Internet; código padrão de comunicação da Internet.
iPod pequeno gadget portátil da empresa norte-americana Apple que armazena e toca
música digital. O dispositivo foi incorporando uma série de funções e conexões wireless
(sem fio), permitindo troca de dados diversos, inclusive via web, dando origem à
disseminação de arquivos de gravação de voz em áudio conhecidos como podcast.
ISDN sigla de Integrated Service Digital Network (rede integrada de serviços digitais);
padrão de comunicação via rede que permite a troca de informações através de uma rede
telefônica. É um padrão de conexão telefônica que possui um canal dedicado a transmissão
de pacotes de dados binários, possibilitando uma conexão mais veloz que as linhas
telefônicas convencionais, porém ainda muito aquém das conexões de fibra-óptica.
Javascript – linguagem de script que permite executar funções típicas de um browser.
Jornalismo-survey jornalismo baseado em pesquisas de opinião pública, que procura
abordar assuntos conforme o gosto da opinião pública ou com o objetivo de agradar e
manter um público leitor.
JPG, JPEG extensão de arquivo de imagem bitmap; sigla de Joint Photographic Experts
Group; formato de imagem bitmap compatível com a web que contém qualidade muito
próxima da fotográfica, contém milhões de cores e pode ser compactada para rápido
download através da Internet.
Know-how (saber-como); expertise, domínio de um determinado conhecimento,
profissão, serviço ou função.
Lan – rede de computadores local (em um escritório, prédio)
316
Lan-house – uma casa ou empreendimento comercial que oferece uma rede local de
computadores (lan) e geralmente também com acesso à Internet.
Laptop, notebook(no colo, caderno ou livro de notas); computador de colo; computador
portátil.
Layout (leiaute); disposição gráfica de um conjunto de imagens e fontes gráficas em uma
página impressa e/ou virtual.
Lifehacking produção de programadores computacionais que visa organizar informações
de forma espontânea e não comercial; vida de hacker.
Link – veja hiperlink.
Live stream exibição/audição de vídeo/áudio ao vivo (ou em tempo-real) através da
Internet.
Log nome que se ao arquivo digital que contém o registro da quantidade e do tipo de
acessos feitos a um determinado servidor, ou o registro de alguma rotina de hardware ou
software, relatório de programa antivírus; diário.
Logar, login, logon conectar-se a um servidor ou site da web por meio de uma senha de
acesso; registrar a entrada.
Mainstream media (caminho principal da mídia); refere-se aos veículos de mídia que
possuem maior influência sobre a opinião pública; refere-se aos grandes meios midiáticos,
o rádio, a TV e as mídias impressas (jornais e revistas).
Mass media – mídia de massa.
Memory-key (chave de memória); dispositivo de armazenamento de dados portátil da
dimensão de um chaveiro.
Menuno âmbito da Internet refere-se a um conjunto de links de um determinado site para
as páginas/serviços/informações nele contidas; índice de links de um site.
Metabusca sistema de busca que compila as informações por meio de outros sistemas de
busca; busca dentro de sistemas de busca.
Metadado – dado que contém informações sobre outros dados.
Meta-tag é um tag HTML (comando HTML) que contém a descrição e palavras-chave de
uma gina ou site da web; informação utilizada pelos sistemas de busca para se encontrar
a página/site em questão; autodescrição de um site ou página web inserida dentro do código
HTML utilizada por mecanismos de busca.
317
Microblogging – arte de postar informações na web através de uma rede de microblog, que
permite atualizar um blog com posts curtos e possui alta compatibilidade com diversos
outros sistemas de informação, plataformas de blog, redes sociais e dispositivos móveis.
Microchip – veja chip.
MIDI, MID extensão de arquivo Musical Instrument Digital Interface (interface digital
para instrumentos musicais); protocolo padronizado de comunicação baseado em
instrumentos musicais; partitura digital.
Mini-DV fita magnética que armazena imagens em formato digital; câmera filmadora
digital com dispositivo de armazenamento magnético (fita mini-DV).
MMO sigla de Multiple Massive Online ou Massively Multiplayer Online; plataforma
online capaz de conectar múltiplos usuários (em grandes números, massivo) em tempo real.
MMORPG sigla de Massively Multiplayer Online Rolling Player Game, ou seja, é um
jogo online que conecta múltiplos e massivos jogadores em rede. RPG (cuja sigla não tem
uma tradução no Brasil) é um jogo imaginativo (com o apoio de regras próprias e
maleáveis) praticado em grupo de forma construtiva, evolutiva e cooperativa. O MMORPG
é praticado por milhares de usuários conectados mundo afora dentro de uma realidade
virtual.
Mobile – (móvel); portátil.
Mobileblogging – arte de blogar através de um dispositivo móvel, geralmente com o
amparo de uma rede de microblog.
Modding (modificando); prática de modificar um programa, geralmente um game; arte
de criar e modificar gabinetes de computadores de forma criativa.
Modernidade Líquida conceito cunhado pelo sociólogo polonês Zygmunt Bauman que
afirma que a sociedade moderna, como os líquidos, se caracteriza por uma incapacidade
de manter a forma”.
MP3 – extensão de arquivo compactado de áudio digital; música digital.
MP4 – extensão de arquivo compactado de vídeo e áudio; videoclipe digital.
MPG, MPEG sigla de Moving Picture Experts Group; formato de arquivo de vídeo
digital.
MSN – sigla de Microsoft Network; programa de mensagens instantâneas da Microsoft.
MTB – registro/carteira de jornalista.
318
Narrowcasting (difusão/transmissão estreita); transmissão ou narração para um grupo
pequeno de pessoas; assunto específico de interesse de poucas pessoas; audiência pequena;
micro-transmissão.
Nativa, Geração Nativa geração que nasceu após o surgimento da Internet; geração que
nasceu em meio a “era virtual”.
Nerd (lerdo); indivíduo que gosta de estudar, que possui afinidade com o aprendizado;
indivíduo que não gosta de aventuras, que tem dificuldades para encontrar um parceiro
sexual e/ou expressar seus sentimentos; vulgo: CDF (que gosta de ficar muito tempo
sentado estudando ou usando o computador).
Netizen junção das palavras inglesas Internet e citizen (cidadão), é o “cidadão da
Internet”; individuo que utiliza os recursos da Internet para exercer seu direito de cidadania.
Netsurfista, Netsurfer também conhecido como navegante (pessoa que trafega por
vários sites); indivíduo que interage com a Internet; usuário da Internet.
Newsgroup (grupo de notícias); sistema primário de notícias e trocas de informações na
Internet que permite organizar fluxos de mensagens por assuntos diversos, funcionando de
uma forma muito parecida com o e-mail e que também pode ser usada como um pequeno
fórum. Pode-se dizer que é um mecanismo predecessor dos atuais agregadores de feeds,
mas que trabalhava basicamente com texto.
Nickname – apelido virtual.
Notebook – veja laptop.
Novas Mídias refere-se à Internet e todos os dispositivos comunicacionais digitais
conectivos capazes de interligar diversas redes, telefônicas, de celulares, satélites etc.
Ombudsman Jornalista que vigia e reporta, com o auxilio da opinião pública, questões
relativas ao próprio veículo em que trabalha.
On demand (sob demanda); item multimídia ou conteúdo web de qualquer natureza que
pode ser consumido a bel prazer pelo usuário, ou seja, a qualquer momento e conforme sua
necessidade; novo patamar de produção/comercialização de produtos diversos que evita
perdas financeiras por excesso de produção proporcionado por diversos conceitos de
tecnologia da informação.
Online – (na linha); conectado na Internet.
319
Open Source – (fonte aberta); refere-se a softwares cujo código-fonte, ou seja, a sua
programação pode ser acessada livremente para que se crie novas funções/programações no
próprio software. Tal expressão pode ser aplicada para qualquer produto desenvolvido de
forma espontânea, colaborativa e cooperativa.
P2P abreviação de peer to peer; (entre pares; de par para par; de par em par); capacidade
de se criar fluxos de informação entre os usuários da rede; capacidade de se conectar
diretamente computadores em diferentes redes/servidores de forma sincronizada; troca de
informações por meio de servidor virtual criado pela somatória de diversos computadores
conectados entre si; software/protocolo que permite a troca de conteúdo entre usuários; grid
(grade) de usuários; produção coletiva do internauta livre de propriedade; iniciativas
espontâneas dos internautas oriundas de suas ações ao lado de outros internautas; produção
ou ação conectiva desintermediada; uso criativo dos meios digitais por parte dos usuários.
Pageviewcontagem/medida de quantas vezes uma determinada página ou arquivo da web
é requisitada para download.
Papel eletrônico – veja e-paper.
PDF extensão de arquivo Partable Document Format (formato de documento portável)
da empresa Adobe útil para a troca de arquivos de texto e impressos digitalizados, possui
compatibilidade com a Internet e browsers diversos.
Peer production produção dos usuários desintermediada; produção que resulta do
conceito conectivo de peer to peer (veja P2P).
Pixel (ponto); ponto de uma imagem; unidade mínima de uma imagem ou monitor;
conjunto binário que representa um ponto em uma imagem; informações binárias de um
ponto de uma imagem (cor/coordenadas); unidade de medida de imagem digital.
Pixels per inch (pontos por polegada); medida de resolução de imagem digital, quantos
mais pontos uma polegada contiver, melhor será a qualidade da imagem.
Player – (jogador); veja global player.
Plug-in software ou gadget que adiciona uma função ao computador ou a um
determinado software; instrução ou gadget adicional.
Podcast ferramenta que permite compartilhar arquivos de áudio pela Internet, muito
usada por sites de notícias, webrádios e blogs ; arquivo de áudio digital.
320
Pop-up pequena janela de navegador que se abre através de uma ação do browser ou do
usuário. Tal recurso é normalmente usado como meio publicitário que abre uma janela de
propaganda em uma ação de carregamento da página.
Post (postar, postagem); publicar um conteúdo em um blog ou página web que contenha
recursos de publicação.
Prensa – impressora gráfica, impressora de tipos móveis/fontes.
Protocolo programa que tem como objetivo estabelecer regras comuns para que
diferentes outros programas possam interagir e/ou se comunicar; convenção; conjunto de
regras; código ou regra padrão.
Provedor – empresa e/ou computador que provê acesso à Internet.
Publisher – (publicador); editor; dono de veículo de comunicação.
Pulmificar, pulmificam – figura de linguagem (prosopopéia); expressão que significa
“melhorar o desempenho dos pulmões”, “dar novos pulmões”, “fornecer mais oxigênio aos
pulmões”.
Pure play empresa que fornece serviços somente no mundo virtual; empresas criadas e
enraizadas na Internet.
Realidade virtual realidade criada ou recriada em ambiente virtual; simulação de
experiência real por meio de tecnologias digitais; ambiente digital tri-dimensional;
simulação interativa da realidade por meio de tecnologia computacional; simulação dos
sentidos humanos através de ambientes virtuais computadorizados.
Reblogar arte de publicar ou comentar em um blog o conteúdo de outros blogs ou de
outros meios.
Robótica ciência que estuda o desenvolvimento de robôs; ciência de criação de
dispositivos capazes de automatizar tarefas executadas por homens.
ROI – sigla de Return Over the Investment (retorno sobre o investimento).
Roteador dispositivo que faz a conexão entre vários computadores em uma rede e entre
redes.
Round (redondo, volta); expressão que faz uma alusão às voltas do ponteiro de um
relógio, serve para determinar um período de tempo para execução de uma tarefa, como o
assalto de uma luta de boxe, por exemplo.
321
RSS sigla de Really Simple Syndication (gerenciamento verdadeiramente simples), um
hiperlink especial muito utilizado em blogs, podcasts, vídeocasts e sites de notícias, que
permite se saber quando ele foi atualizado (enviando um feedback), permite também ver
todas as manchetes de todas as páginas que se selecione previamente. Existem também
outros formatos com a mesma função, tais como Atom e feeds; ferramenta que permite
buscar notícias de vários sites que disponibilizam esse serviço, sob-demanda e atualizadas
em tempo-real.
RTFextensão de arquivo Rich Text Format, um tipo de arquivo de texto utilizado para se
cambiar textos com formatação entre diferentes programas editores de texto.
Scanner – dispositivo que mapeia imagens (fotografias, filmes, películas, slides) ou objetos
tridimensionais em linguagem binária.
Script – um tipo de programação integrada ou inserida em outra programação.
Semântica estudo do significado; conceito high-tech de análise de dados inteligente;
quando um determinado sistema de analise adquiri a capacidade de relacionar dados por si
mesmo; sistema computacional capaz de interagir num patamar de inteligência mais
próximo do humano.
Semantic web, Web Semântica um novo formato de aplicações para Web que visa
relacionar informações e aumentar a qualidade do resultado das ferramentas de busca;
conceito base para um novo patamar coevolutivo da Internet conhecido sob o jargão
publicitário Web 3.0.
Síncrona – em sincronia; em tempo real; ao mesmo tempo.
Sinergia conceito biológico que descreve o fato de diversos sistemas unirem esforços
com o intuito de realizar uma tarefa complexa de comum benefício; conceito teórico ligado
a convergência de diversos sistemas em prol de uma mesma ação ou fim; conceito de
eficácia gerencial; integração eficaz de sistemas.
Site(sítio); local na world wide web que dispõe arquivos/informações; página na web que
acesso a outras páginas/arquivos com ela relacionada; conjunto de páginas e conteúdo
web; página de um indivíduo ou empresa na web.
Sitio – o mesmo que site; local.
Skin (pele); um tipo de design, geralmente cambiável e personalizável, aplicado a um
software ou dispositivo qualquer.
322
Slogan – chamada publicitária; frase de propaganda; reclame.
Smartphone (telefone esperto); telefone celular que contém acesso à Internet e funções
de um hand held.
Software (programa); conjunto de instruções binárias que permitem operar um
computador; seqüência de códigos binários que realizam cálculos matemáticos em um
computador; parte funcional virtual de um computador; parte do computador que você pode
apenas “praguejar” quando ele pára de funcionar ou apresenta algum defeito.
Spam comando HTML que expande as funções de outros comandos HTML; tipo de e-
mail recebido de forma invasiva, não solicitado e que normalmente contém propaganda.
Speaker corner área localizada no Hyde Park de Londres (Inglaterra) onde pessoas
anônimas fazem discursos em público e debatem assuntos diversos.
Spider (aranha); programa que percorre a Internet compilando páginas em banco de
dados de sites de busca.
Status quo conceito relacionado ao poder estabelecido, poder vigente, configuração de
forças atuais; establishment.
Stream – fio, córrego, caminho.
Subject – assunto.
Super-estrada da informação grande rede mundial de alta-velocidade feita com fibra-
óptica.
SWFextensão de arquivo Shockwave Flash; formato de arquivo de animação compatível
com a web gerado pelo programa Flash da empresa Adobe.
Tablet PC prancha eletrônicas para, através de acesso sem fio, ser utilizada
principalmente para navegação na Internet (e que segue o padrão dos computadores PC-
IBM).
Tag comando HTML; palavra-chave usada para identificar uma página web ou posts em
blogs e redes sociais.
Telas flexíveis tecnologia ou hardware básico do papel digital ou e-paper.
Telnet antigo protocolo de comunicação que permite rodar aplicações (geralmente
programas do antigo sistema operacional MS-DOS) em computadores conectados em rede.
Thumbnail – miniaturas de imagens utilizadas para a visualização de publicações de várias
páginas ou catálogos diversos; cópia em tamanho reduzido.
323
Timoneiro indivíduo que comanda o leme de uma embarcação; manipulador de
marionetes.
Tinta digital fonte com codificação criptografada de existência teorética; tinta capaz de
criar assinaturas digitais.
Top sites – sites mais visitados.
Torpedo – mensagem enviada de/para um telefone celular.
Trojan-horse(cavalo de Tróia); uma espécie de vírus de computador que vem disfarçado
em um programa qualquer, mas que, uma vez instalado, passa a enviar informações para
outros computadores quando conectado à Internet, desde simples propagandas à
informações confidenciais do próprio usuário da máquina, os sites que acessou, as teclas
que digitou etc.
TV peer to peer – é uma forma de se fazer televisão compartilhada pela Internet.
U – abreviação da palavra you (você) utilizada em mensagens na Internet.
Unique visitor (visitante único); também conhecido como “alcance” (reach), é um tipo
de medição de tráfego de usuários de sites que leva em conta apenas a conexão de números
de IP de um determinado servidor em um espaço de tempo pré-estabelecido (geralmente
um dia).
URL sigla de Uniform Resourse Locator (localizador de recursos uniforme); endereço
que permite a localizar qualquer conteúdo ou recurso através dos protocolos de conexão da
Internet.
USB sigla de Universal Serial Bus; tomada universal para conectar diversos tipos de
periféricos no computador que segue a filosofia mercadológica do plug and play (plugar e
tocar).
Usenet abreviação de User Network; protocolo de rede que permite formar grupos de
notícias (veja newsgroup).
Vc – abreviação da palavra você utilizada em mensagens na Internet
Vídeocast assim como podcast, é uma forma de publicação e compartilhamento de
programas de deo, áudio e/ou fotos pela Internet, sendo sua principal característica a
atualização constante; transmissão de vídeo (online e on-demand).
Videotexto antigo sistema que permitia o acesso e compartilhamento de informações
através da rede telefônica com o aparato de uma televisão e um teclado.
324
Virtual settlement (assentamento virtual); assentamento, engajamento, criação de lacres,
acordo através da Internet; lugar simbólico situado no ciberespaço que teria a função de
territorialidade necessária para a constituição de laços comunitários entre os indivíduos. É
um delimitador de fronteiras simbólicas e não concretas, funciona como o suporte para a
verdadeira comunidade virtual e é imprescindível para que esta se forme (conceito
abordado por Quentin Jones).
Vlog – abreviação de vídeolog; um blog feito para postar/publicar vídeos.
WAN sigla de Wide Area Network (rede de área ampla); uma rede que conecta uma
grande área, uma cidade, país ou o mundo, como a Intenet.
WAP sigla de Wireless Aplication Protocol (protocolo para aplicações sem fio);
protocolo de comunicação da Internet para aplicações móveis tais como hand helds e
telefones celulares.
Web – veja World Wide Web.
Web 2.0 jargão publicitário que identifica sites que usam linguagem de programação
XML.
Web 3.0 jargão publicitário que descreve o terceiro patamar coevolutivo da Internet,
cujas bases estão no conceito de Web semântica.
Webcam – pequena câmera utilizada para filmar e transmitir imagens pela Internet.
Webcêntrica entidade que é centrada na web; que possui laços fortes com a web; que
existe em função ou em torno da web.
Webdesigner – desenhista e diagramador de páginas web; programador HTML.
Webjornal – jornal veiculado pela Internet.
Webjornalismo – jornalismo praticado através da Internet.
Weblog – veja blog.
Webmaster (mestre da web); profissional que reúne várias qualidades ligadas ao mundo
da Internet, possui know-how em instalação e configuração de servidores e redes, instalação
e manutenção de computadores, programação HTML e outros softwares, protocolos e
sistemas operacionais utilizados em rede.
Webrádio – estação de rádio veiculada pela Internet.
Webring anel, círculo ou roda de blogs de um determinado blogueiro; o mesmo que
blogroll.
325
Website – (site da web); o mesmo que site ou sitio.
Webtv sistema que permite acessar a Internet através de um aparelho de televisão;
televisão veiculada pela Internet.
Webwritter (escritor da web); jornalista, escritor, publicitário especializado em escrever
para sites da web; profissional que escreve para sites da web.
Webwritting – escrever para publicação na web; especialidade de escrever para a web.
Weltanschauung – expressão em alemão que significa "visão de mundo".
Whisperson trocadilho em inglês com as palavras whisper (sussurrar) e person (pessoa),
que significa “pessoa que sussurra, que conspira”; conspirador.
Widget software agregador de feeds que roda em uma pequena janela na área de trabalho
do computador; interface gráfica em forma de janela; pequena janela que apresenta
funcionalidades especificas; janela de atalhos de um determinado programa.
Wiki site ou página web cujo conteúdo é construído e passível de alterações por todos
seus usuários. Os usuários podem interferir na criação de qualquer conteúdo,
independentemente de quem o publicou.
Wikisite – um site que é um Wiki, site cujo conteúdo pode ser editado e re-editado por seus
usuários.
World Wide Database (base de dados do mundo afora); patamar coevolutivo da Internet
que visa organizar as informações na rede em forma de dado (ao invés de arquivo como é
na atualidade).
World Wide Web (teia do mundo afora); refere-se à parte comercial da Internet, esta é,
mais propriamente, um conjunto de protocolos comuns que permite a conexão mundial de
diversas redes computacionais e comunicacionais pelo mundo todo. É muito comum,
pessoas se referirem à Internet usando o simples termo web, ou outros como “rede”,
“grande rede”, “rede das redes”, “mundo digital ou virtual”, “ciberespaço”, ou
simplesmente “net”.
Worm (verme); vírus de computador que tem a capacidade de se replicar e infectar
diversas máquinas através de redes computacionais, inclusive, com capacidade de afetar o
tráfego de dados das redes.
XML sigla de Extensive Markup Language (linguagem de marcação extensiva);
linguagem que segue os mesmos padrões da linguagem HTML, mas permite uma infinita
326
nova gama de programações; código de marcação que permite criar e programar novas
marcações, capaz, inclusive, de utilizar o código como banco de dado; coecolução da
linguagem HTML; extensão de arquivo de página XML.
Zettalópole (figura de linguagem); uma cidade que figura entre as maiores do mundo;
uma cidade que avançou acima do patamar de megalópole.
ZIP – extensão de arquivo compactado.
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http://www.facom.ufba.br/pesq/cyber/manta/guia/index.htm, 18/07/2008.
332
MIRANDA, Ruy. Algoritmos dos mecanismos de busca: visão geral. http://www.otimizacao-sites-
busca.com/art-misc/algoritmo-visaogeral.htm, 23/07/2008.
POSTER, Mark. Ciberdemocracia: A Internet e a Esfera Pública.
http://members.fortunecity.com/cibercultura/vol13/vol13_markposter.htm, 14/03/2008
Revista Life deixará de ser publicada em versão impressa. WBI Brasil:
http://www.wbibrasil.com.br/boletim.php?id_boletim=325, 10/04/2007.
SANTI, Laure Belot Pascale. O papel das elites, Folha On-Line:
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mais/fs2503200711.htm, 25/03/2007.
Sites
http://www.adnews.com.br – ADNEWS.
http://www.capes.gov.br, CAPES – Coordenação e aperfeiçoamento de pessoal de nível superior.
http://www.cnpq.br, CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.
http://www.creativecommons.org.br – Creative Commons (em português).
http://michaelis.uol.com.br – Dicionário Michaelis.
http://www.eca.usp.br/ – ECA/USP.
http://scholar.google.com.br/schhp?hl=pt-BR – Google Acadêmico.
http://www.facom.ufba.br/jol/index.htm – Grupo de pesquisa de Jornalismo On-line da UFBA.
http://www.intercom.org.br, INTERCOM – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares de
Comunicação.
http://www.observatoriodaimprensa.com.br – Observatório da Imprensa.
http://www.overmundo.com.br – Overmundo.
http://opac.porbase.org, PORBASE – Base nacional de dados bibliográficos.
http://www.scielo.org, SCIELO – Seientifie Electronic Library Online.
http://www.wbibrasil.com.br; WBI Brasil – Consultoria em web marketing.
http://pt.wikipedia.org, WIKIPEDIA – A Enciclopédia Livre.
333
ANEXOS
Anexo 1
334
Anexo 2
335
Anexo 3
E-mail (para os blogueiros mencionados na matéria da Revista Imprensa):
Olá,
Meu nome é Pedro, sou mestrando em Comunicação pela Faculdade Cásper Líbero e estou
desenvolvendo uma pesquisa dissertativa sobre Internet e Blogs. Chequei até o seu blog através da
matéria "Blogueiro não é jornalista" da última edição da revista Imprensa e, também, por
recomendação da banca de qualificação através da Profª. Drª. Pollyana Ferrari.
Gostaria de saber se você se dispõe a fornecer informações para a minha pesquisa e, se possível, nos
ceder uma entrevista.
Aguardo resposta.
Atenciosamente,
Pedro Luiz O. Costa Bisneto
http://pedroom.blogspot.com
E-mail para blogs norte-americanos:
Hi,
I'm a brazilian student (on Masters), and I'm doing a reserch about Internet and blogs. I've gotten to
your blog by an article published on "Imprensa" Magazine, and by my adviser's PhD professors
(from Cásper Líbero University - São Paulo). I wonder if you can answers some questions by e-mail
for me. If you can, be sure I'll give you the apropriate credits on my final dissertation work and you
will count with my eternal thanks.
Thanks in advance.
Pedro Luiz
http://pedroom.blogspot.com
336
Scrap (para os blogueiros contatados via Orkut):
Olá,
Eu vi que você tem um blog, e eu estou fazendo uma pesquisa dissertativa sobre BLOGS no meu
mestrado. Será que você não pode responder a cinco questões sobre blogs para a minha pesquisa?
Aqui mesmo pelo Orkut, eu criei uma comunidade para tal pesquisa, basta você acessar o link
abaixo:
http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=71468785
PS: Se você estiver com medo de que tal link seja um vírus, mande um scrap para mim para que eu
te confirme.
Obrigado
337
Entrevistas Campus Party
Fevereiro de 2008
Dados:
Nome: Pedro Villalobos;
Profissão: Empresário, Blogueiro;
Idade: 22;
Residência: Belo Horizonte;
Blog: issomesmo.com / pvilla.com;
Temática do Blog: lifehacking.
Questões:
1-) Você acha que no Brasil existe uma blogosfera, no sentido em que tal blogosfera componha
uma força dentro do contexto geral do mass media?
R: A geração de conteúdo existe e em grande escala, mas raramente ele é jornalístico. O mais
comum são artigos de interesses diversos. A blogosfera jornalística raramente cria sua propria
pauta, simplesmente replica e opina a de outros meios.
2-) Você acha que as novas mídias, devices e iniciativas, tais como os próprios blogs, poadcast,
videocast, RSS e outras, irão revolucionar (ou já o estão fazendo) o mundo da notícia?
R: O 11 de setembro foi um marco para a criação de conteúdo pelo usuário. Redes de TV e Web-
sites estavam congestionados, enquanto as pessoas fotografavam, filmavam e noticiavam o evento.
Acho que a revolução até mesmo acabou, o que vemos hoje é um uso mais racional de todas as
ferramentas (excluindo o feito por portais e grandes jornais, que normalmente fogem do uso ideal
das ferramentas).
3-) Você acha que as velhas mídias, em especial o jornal impresso, irá desaparecer ou ser relegado
à um segundo plano frente à essas novas iniciativas provenientes da Internet?
R: O papel nunca vai deixar de existir, mas o jornal mesmo de papel talvez possa dar lugar à uma
versão eletronica que se atualize no decorrer do dia. Acessibilidade é tudo!
338
4-) Você acha que algum blogueiro tem condições de desenvolver um público, estabelecer uma
“opinião pública” sem estar ligado a grandes veículos de mídia?
R: Não só acho, como isso tem sido feito por vários blogs como por exemplo o Interney.net, que se
tornou referência no Brasil.
5-) Na sua opinião, qual o futuro do jornalismo dentro dessa nova era da informação?
R: A apuração jornalistica tem que permanecer, mas a forma de lidar com essa informação vai ter
que mudar drasticamente ou as pessoas simplesmente vão abandonar esses meios. Ninguém aguenta
mais pautas de jornal baseadas em miséria e crimes.
_________________________________________________________________________
Dados:
Nome: Marcelo e Lyanne;
Profissões: Empresário e designer gráfica;
Idades: 38, 37 (respectivamente);
Residência: Florianópolis;
Blog: viajanteconsciente.com.br;
Temática do Blog: Viagens, Turismo Responsável, Consumo Consciente, Meio Ambiente e
tudo aquilo que contribua para uma vida mais sustentável.
Questões:
1-) Você acha que no Brasil existe uma blogosfera, no sentido em que tal blogosfera componha
uma força dentro do contexto geral do mass media?
R: Acho que o a blogosfera tem sim uma voz na comunicação em massa e que essa voz tende a
crescer.
2-) Você acha que as novas mídias, devices e iniciativas, tais como os próprios blogs, poadcast,
videocast, RSS e outras, irão revolucionar (ou já o estão fazendo) o mundo da notícia?
R: Elas estão revolucionando. A notícia agora é como “fofoca”, espalha rápido pq não precisa
passar pelo "editor chefe" para ver se "a imagem do jornal" ou "revista pode ser prejudicada" com a
tal notícia. Aconteceu, postou. Simples assim.
339
3-) Você acha que as velhas mídias, em especial o jornal impresso, irá desaparecer ou ser relegado
à um segundo plano frente à essas novas iniciativas provenientes da Internet?
R: Acho que os jornais, enquanto linguagens, vão se adaptar aos novos tempo. o jornal físico
(papel) não acho que vai acabar por causa da internet. Vc não leva seu note ou palm pra praia pra
ler as noticias que gosta. Leva o jornal.
4-) Você acha que algum blogueiro tem condições de desenvolver um público, estabelecer uma
“opinião pública” sem estar ligado a grandes veículos de mídia?
R: Sim, sem dúvida! E eles já existem.
5-) Na sua opinião, qual o futuro do jornalismo dentro dessa nova era da informação?
R: Como disse, acho que eles vão se adaptar as novas linguagens, mas ainda vão manter a
característica de instituição.
_________________________________________________________________________
Dados:
Nome: Lucia Teixeira de Freitas;
Profissão: jornalista;
Idade: 42;
Residência: São Paulo;
Blog: ladybugbrazil.com;
Temática do Blog: temas variados (+7 blogs)
Questões:
1-) Você acha que no Brasil existe uma blogosfera, no sentido em que tal blogosfera componha
uma força dentro do contexto geral do mass media?
R: Sim, no sentido em que se produzem ondas de reação a determinados fatos, como o bloqueio do
YouTube. Não no sentido em que se produz ondas de conteúdo próprio... Talvez agora, depois do
Campus Blog, isso aconteça, já que foi apontado por várias vozes.
340
2-) Você acha que as novas mídias, devices e iniciativas, tais como os próprios blogs, poadcast,
videocast, RSS e outras, irão revolucionar (ou já o estão fazendo) o mundo da notícia?
R: Sim. Mas ainda demora, que a grande maioria dos internautas não sabe usar tais ferramentas.
Isso passa por inclusão digital e muita, muita educação.
3-) Você acha que as velhas mídias, em especial o jornal impresso, irá desaparecer ou ser relegado
à um segundo plano frente à essas novas iniciativas provenientes da Internet?
R: Não. Está provado historicamente, que os meios anteriores não desaparecem. O CD convive com
o MP3, até o Vinil sobrevive de certa forma, o livro continua vivo; etc etc. A internet e as novas
tecnologias aumentam as possibilidades de acesso a conteúdos; criam novos usos mas não
invalidam os demais.
4-) Você acha que algum blogueiro tem condições de desenvolver um público, estabelecer uma
“opinião pública” sem estar ligado a grandes veículos de mídia?
R: Claro que sim. Estão aí pra provar isso o Verbeats, o Insanus e tantos outros coletivos - e alguns
individuais, como a Fal, a Cora, etc...
5-) Na sua opinião, qual o futuro do jornalismo dentro dessa nova era da informação?
R: Abrir espaço para o leitorado, novos canais de comunicação com o seu público. E seguir
apurando notícias, criando conteúdo e informação relevante. mas isso é um exercício de
adivinhação, pq a gente nunca sabe qual a nova tecnologia revolucionária que virá depois de
amanhã...
_________________________________________________________________________
Dados:
Nome: Marcelo Andrade;
Profissão: Desenvolvedor / Analista de Sistemas;
Idade: 27;
Residência: Belém-PA;
Blog: tictactec.blogspot.com;
Temática do Blog: Tecnologia e afins.
341
Questões:
1-) Você acha que no Brasil existe uma blogosfera, no sentido em que tal blogosfera componha
uma força dentro do contexto geral do mass media?
R: Sim.
2-) Você acha que as novas mídias, devices e iniciativas, tais como os próprios blogs, poadcast,
videocast, RSS e outras irão revolucionar (ou já o estão fazendo) o mundo da notícia?
R: Não. Primeiro porque eles já surgiram e já deram seu impacto. Segundo porque “revolucionar” é
uma palavra muito forte. Mudanças aconteceram em virtude da maior facilidade de utilização da
internet como meio de divulgação de notícias pelo usuário comum.
3-) Você acha que as velhas mídias, em especial o jornal impresso, irá desaparecer ou ser relegado
à um segundo plano frente à essas novas iniciativas provenientes da Internet?
R: Não. Dado que apenas uma pequeníssima parcela da população brasileira tem acesso à internet.
Mesmo assim, o surgimento de novas tecnologias não significa, necessariamente, o fim de outras (a
tevê não acabou com o rádio, etc.).
4-) Você acha que algum blogueiro tem condições de desenvolver um público, estabelecer uma
"opinião pública” sem estar ligado a grandes veículos de mídia?
R: Sim.
5-) Na sua opinião, qual o futuro do jornalismo dentro dessa nova era da informação?
R: Prefiro me abster, pois é muito difícil fazer previsões de futuro em se tratando de tecnologia no
mundo atual.
_________________________________________________________________________
Dados:
Nome: Willians de Abreu;
Profissão: designer gráfico;
Idade: 25;
Residência: São Paulo;
Blog: willpubli.blogspot.com;
Temática do Blog: Desabafos.
342
Questões:
1-) Você acha que no Brasil existe uma blogosfera, no sentido em que tal blogosfera componha
uma força dentro do contexto geral do mass media?
R: Sim, a meu ver o blogs se tornaram grandes meios de mídia e porque não 'ferramentas de mass
media'.. Sejam eles textual, videoblogs ou outros formatos, podcastings, imagens + textos. Enfim,
independente da maneira como são atribuídos, sem dúvida nenhuma, geram e fazem parte dos
meios de mass media
2-) Você acha que as novas mídias, devices e iniciativas, tais como os próprios blogs, poadcast,
videocast, RSS e outras, irão revolucionar (ou já o estão fazendo) o mundo da notícia?
R: Sim, claro! Tanto estão como já as incomodam e muito. Não é a toa que estamos vendo
inúmeras discussões sobre esta polêmica. O que a meu ver, deveria ser tratado com 'bons olhos' e
visto de maneira positiva. Sendo usado este critério para o próprio bem dos meios, caindo no que eu
acredito de ''use a coisa a seu favor''.
3-) Você acha que as velhas mídias, em especial o jornal impresso, irá desaparecer ou ser relegado
à um segundo plano frente à essas novas iniciativas provenientes da Internet?
R: Essa questão gera ainda uma incógnita extremamente absurda, ou seja, não me sinto a vontade
nem competente para dizer se esta mídia ou outra irá de fato morrer. Aja visto que muitos ainda são
fiéis a determinadas mídias, eu, por exemplo, não deixo de ler um jornal pelo menos aos domingos,
e outros meio impressos quando estou no metrô. Volto a dizer, existe espaço para todas elas,
devemos ser racionais e saber desfrutar do que há de melhor em cada uma de maneira específica.
4-) Você acha que algum blogueiro tem condições de desenvolver um público, estabelecer uma
“opinião pública” sem estar ligado a grandes veículos de mídia?
R: Sim, claro! Eu particularmente não sei se me encaixo nessa ocasião, mas acredito sim, que
existam blogueiros que em diversas partes do mundo que estão levantando nichos específicos, se
tornando frente a eles e em nenhum momento estão ligados a veículos de notoriedade na media.
Mas, passam a ser notáveis e cobiçados a partir de então.
5-) Na sua opinião, qual o futuro do jornalismo dentro dessa nova era da informação?
R: Acredito fielmente na seguinte opinião. Ou respeitam os blogs os vendo de maneira sadia e
utilizando-os a seu favor. Ou continuarão sofrendo como já estão a influência deles na rede.
_________________________________________________________________________
343
Entrevista Lucia Freitas
Jornalista Blogueira – 12/06/2008
Dados:
1-) Nome: Lucia Teixeira de Freitas
Endereço: Al. Tietê, 488/03 – Jd. Paulista
Fones: (11) 3082-5765 / 8187-2244
2-) Profissão: jornalista
3-) Idade: 42
4-) Residência: São Paulo – SP
5-) Blog: http://www.ladybugbrazil.com
6-) Temática do Blog: tecnologia e comportamento além de outros sete blogs com temas variados e
pessoais.
1-) Fale da sua
carreira
como jornalista, escritora e blogueira.
Lucia Freitas virou jornalista por acaso, pensava em ser médica, queria trabalhar com
genética. Quis o destino que dentre uma das últimas opções de campos de estudo que prestou por
ocasião do vestibular, constasse a comunicação, sendo este o curso que ingressou (pela
Universidade Metodista de São Paulo), na habilitação de jornalismo. no segundo semestre de
curso, começou a trabalhar numa pequena editora como revisora da revista Guia de Camping.
Tratando-se de uma publicação anual, Lucia, sob a indicação de seus colegas de editora, passou a
fazer diversos contatos e cobrir vários trabalhos como free-lancer para inúmeras outras editoras e
publicações.
Em 1986, chegou à rádio Cultura. Começou como estagiária, trabalhando com atendimento
ao público e na produção do Guia do Ouvinte. Foi também produtora dos programas de jazz da
Cultura FM. Em 1990, foi trabalhar na acessoria de imprensa Voice, em seguida foi para o Jornal
da Tarde, como jornalista free-lancer. Saiu num corte de custos e, também como free-lancer, atuou
para diversas revistas: Trip, Marie Claire, Nova, Capricho e Planeta entre outras. Desenvolveu um
gosto por temas ligados a comportamento e a tecnologia.
Em 1995, Lucia cobrira campanhas políticas e escrevera bastante, além de ter convivido
com todas as mídias: rádio, TV, jornal e revista. Foi chamada para cobrir um free-lance na revista
Mãe, numa época em que o mercado editorial iniciava um forte processo de segmentação e diversas
novas publicações dos mais variados temas começavam a surgir. Em cinco meses tornou-se editora-
chefe, sendo publisher de diversas revistas da editora (Trama/MHS Editorial). A experiência na
revista Mãe foi marcante para Lucia, além de ganhar boa experiência como publisher, voltou a ter
contato com antigos temas de seu interesse, a biologia e a medicina, que tornaram-se uma terceira
área de sua especialidade, a saúde. Nesse percurso, publicou um livro (Esquadrilha da Fumaça
Agência Estado, 1993) e um conto (in Contra Lamúria Casa Pyndahyba,1994), enquanto convivia
com grandes escritores, tais como Inácio Loyola Brandão e Mario Chamie.
Saiu da revista Mãe em 1999, foi quando passou a explorar a web com maior profundidade
(viveu a "bolha" e seu estouro), embora já estivesse na Internet – uma paixão de sua carreira – desde
1993. Depois da Mãe, Lúcia ainda teve passagens pelo Estadão, trabalhando no suplemento
feminino do jornal, pela revista Veja São Paulo e o portal Investnews.
Em 2003, passou a trabalhar em uma acessoria para a área de moda. A experiência foi ruim
e, após essa decepção, Lucia montou a sua própria empresa, utilizando-se da sua então larga agenda
344
de contatos e longa experiência como free-lancer e publisher. Fez um coaching
286
, a fim de
encontrar um caminho para sua empresa e para a sua carreira.
Foi no decorrer do ano de 2005 que Lucia começou a blogar, embora já possuísse sua conta
no Blogger
287
desde 2001. Iniciou publicando pensamentos e experiências pessoais. Descobriu
também que poderia publicar suas matérias da forma como desejava, uma maneira de driblar seus
gatekeepers. Passou a se inteirar da produção de velhos blogueiros e de tudo que perpassava pela
Internet (o que ela chama de "roda digital") e assim abriu o ladybugbrazil, seu principal blog até
hoje.
Na atualidade, Lucia utiliza seu blog e se ampara no fluxo informacional da web para
investigar a transmissão de informação, o que foi sempre o que mais lhe instigou dentro do
jornalismo. Nesse processo, Lucia participa em vários projetos em diferentes áreas, entre os quais
aparecem temas como ecologia e educação, além de comportamento e tecnologia. Crê na liberdade
de expressão e produção pela Internet, e afirma que o copyright não funciona no meio digital.
Venda de conteúdo, como vemos em grandes portais como o UOL e o Terra nada mais seria que a
replicação do copyright na web e, está fora da lógica e dos princípios que nortearam a criação da
rede – liberdade é a palavra-chave que fundamenta a lógica maior da Internet, diz Lucia. Na grande
rede, o princípio seria outro, o segredo está em compartilhar as informações e produções através do
link, o valor está no indivíduo conectado e suas ações interativas com os seus pares.
2-) Como você explicaria para um leigo o que é
Blogosfera
.
Blogosfera é a roda dos blogs, a roda digital, qualquer blog faz parte da blogosfera. Não
existe um caráter único de temas ou estilos, o existe uma blogosfera disso e uma blogosfera
daquilo, ela é uma coisa só. É a esfera dos blogs ou o conjunto dos blogs. Já o blog nada mais é que
uma ferramenta de comunicação. Hoje, no Technorati existem 180 milhões de blogs cadastrados,
mas ainda existem aqueles que não se cadastraram, o número total é imapeável. No BlogBlogs são
180 mil blogs brasileiros cadastros
288
. Em língua portuguesa estimasse um total de 2,3 milhões de
blogs.
Em relação ao blogueiro, ele é um cara antenado, que esa par dos sistemas de métricas
digitais, que está familiarizado com o Alexia, que está no Technorati, no BlogBlogs, no Analitics,
sempre buscando um destaque, buscando atingir determinadas metas. Ele tem um domínio de
software, de como usar a Internet que nenhum jornalista tradicional tem. Um garoto que joga
Counter-Strike sabe usar melhor e conhece mais os recursos da Internet do que qualquer jornalista.
3-) Você já disse que a blogosfera têm peso dentro da opinião pública dentro do mass media embora
não produza conteúdo, mas você acha que ela, no Brasil, têm força de uma esfera pública no
sentido da discussão política? (exemplos).
A briga do Luis Nassif com a Revista Veja que a blogosfera “comprou” – e Lucia
exemplifica isso através de uma busca no Google, onde o blog do Luis Nassif aparece antes do site
da Veja os blogs quando escrevem sobre a revista Veja, fazem link com o blog do Nassif. três
meses atrás o site do Nassif aparecia em lugar na busca do Google, hoje ele está em , a frente
da própria Veja.
Mas sim, eu acredito que a blogosfera tenha um peso dentro da opinião pública no que se
refere à esfera da discussão política.
A discussão sobre a questão ambiental, do aquecimento global, é algo que tem sido
amplamente debatido dentro da blogosfera, é um assunto que tem encontrado mais espaço nas
286
Treinamento vocacional personalizado.
287
http://blogger.com
288
Dados de fevereiro de 2008.
345
novas mídias do que no jornal. Existem diversas ONGs atuando na Internet, utilizando-a como meio
não só para o debate, mas no engajamento de ações e a blogosfera se mostra também atuante nesses
casos. Ecologia e Internet tem tudo haver uma com a outra, a começar pelo próprio impacto
ambiental dessa mídia que é muito menor do que a impressa, apesar da sucata que gera e do
consumo de energia. O fluxo de informações da web também se mostra positivo para disseminar
esse tipo de debate, onde as audiências se somam. A Internet, tanto para qualquer assunto ligado a
mudança de comportamento, quanto para a educação, é fabulosa. O simples fato de você ter as
pessoas na rede escrevendo, ainda que sejam aqueles scraps horrorosos do Orkut, representa um
imenso ganho. A Internet fez nascer o movimento das sacolas de supermercado retornáveis e que
hoje tem muita gente aderindo. Foi um movimento que nasceu na web, mais de três e que agora
está ganhando relevância e, inclusive, ganhando destaque nas demais mídias. A web tem uma
capacidade de mudança de comportamento gigantesca, e isso acontece em várias áreas, não da
ecologia.
Temos o exemplo da Birmânia também, o movimento global que se fez em torno da
violência contra os monges que foi denunciado por blogueiros, e que gerou uma grande mobilização
que efetivamente gerou ações positivas.
Você tem o exemplo do ambientalista Jill, que mora na Amazônia e faz um trabalho de
educação ambiental dentro dos garimpos, e divulga isso via blog. Isso mostra o poder de
conscientização da web, e como ela tem credibilidade, o Estadão não vai deslocar um jornalista
para cobrir esse trabalho do Jill, isso não vira nem uma nota em qualquer grande jornal ou mesmo
na TV, já no blog, isso é ouro puro.
Hoje o leitor não é mais tão passivo como antigamente, ele mudou. Hoje ele tem uma nova
e ampla gama de informações que não vem mais apenas do jornal, tem novas leis de defesa do
consumidor, institutos etc. No novo milênio, além dos meios tradicionais de comunicação, você tem
a Internet como novo meio informativo. E através da web, as pessoas que lêem inglês e têm
consciência crítica, puderam começar a exercer uma influência dentro de uma instância privada, ele
pode construir uma rede própria de contatos, como no próprio MSN (que hoje tem cerca de 30
milhões de usuários no Brasil
289
), e exercer uma influência sobre essas pessoas que estão na sua
rede, e sobre o que for, desde qual é o chaveiro mais confiável até questões políticas/ambientais,
isto é, se você tem credibilidade com as pessoas que se relaciona. Se você usa a rede só para
bagunçar, aí não funciona.
4-) Você acha que a blogosfera
compete
com outras esferas, outras mídias ou ela ocupa um
espaço novo. A blogosfera não
seria uma forma de contrapoder
ao que já estava
instituído?
Eu não sei o que é contra-poder. Na verdade, eu acho que a Internet pulveriza o poder, o
diálogo. Os blogs podem servir aos dois lados, ele pode ser uma forma de protesto e também uma
forma de conversão ao estabelecido. Tem muito blogueiro que de uma postura de militância política
passa a defender posturas puramente comerciais. Mas, no meu entender, o blog é o espaço da
crítica, da militância, do protesto, mas isso ainda é uma opinião minha e muito em função do
feedback que eu recebo dos leitores do meu blog que, na grande maioria, acredita nesse tipo de
postura.
289
Dados da Microsoft.
346
5-)
Como voenxerga a atuação
dos grandes jornais e portais de notícia e a dos blogs
dentro da Internet?
Eu sinto que os grandes jornais e empresas de comunicação, alguns vêm este fenômeno de
uma forma bacana de estar na Internet e dar a voz ao leitor, para incluir pessoas mas, o fato é: os
blogs estão chegando para dividir receita publicitária, e as grandes empresas não gostam disso. Se
você observar na grande imprensa as citações sobre a Internet, verá que todas elas são negativas,
com exceção dos cadernos de informática. A Internet sempre é citada como negativa, como fonte de
roubo, lugar de pedófilo, lugar de ladrão. Não acho que isso seja coordenado, mas acho que existe
uma micro-campanha permanente contra a Internet. O engraçado é que, enquanto ao longo do jornal
você encontra várias citações negativas da Internet em vários cadernos, chega no caderno de
informática, a Internet passa a ser bacana e existe um incentivo ao uso das novas tecnologias.
Não é de interesse das elites desse país e nem das telecom que se use a Internet. Como as
pessoas vão querer usar a Internet se primeiro elas sentem medo dela? Os jornais não estão
interessados no que os seus leitores estão falando, eles não têm esse interesse, nunca.
6-) Como você entende a atuação dos grandes portais e jornais que, através de seus sites, se utilizam
de ferramentas típicas de blogs, é esse o caminho que essas empresas têm de percorrer?
Todos os grandes jornais, O Globo, Folha, Zero Hora, Estadão, entraram no RSS assim que
ele começou a estourar na web. O problema é que o brasileiro não sabe usar RSS. Os usuários dessa
ferramenta no Brasil são muito poucos, são profissionais de informática, são blogueiros, pessoas
que estão numa roda de uso de tecnologia e quem fome de informática, mas o brasileiro em geral
não tem fome de informática. Brasileiro gosta do Faustão, adora a Veja, gosta do Fantástico.
Infelizmente, o brasileiro não tem uma capacidade intelectual para muito mais do que isso, e não é
incentivado a sair disso. É um problema educacional grave, que vai até a incapacidade dos
professores que, por mais que se esforcem, eles não tem ainda acesso às últimas tecnologias.
Os portais, eles usam essas novas ferramentas, eles sempre usaram, mas não é esse o foco
deles. O Estadao.com, por exemplo, o foco dele não é a Internet, ele apenas está na Internet. Eles
produzem conteúdo para vários fins, a Internet é apenas um desses lugares. O Globo.com, o
portal G1, é um portal bacana, usa tudo, da melhor forma possível, eles realmente estão na ponta,
eles, inclusive, não estão ligados ao jornal O Globo e nem à TV Globo, esses sim estão fazendo
Internet, o Estadão não está, está apenas tentando. O UOL está, apesar de ser um portal
desorganizado, tem uma mega-audiência. Aliás, a sistema de portal é a única ferramenta que o
brasileiro está acostumado a lidar, o RSS não. As pessoas sabem usar certas ferramentas (como o
Orkut), outras não (como o MySpace ou Facebook).
Um dos grandes problemas dos portais e dos grandes jornais na rede é que eles ainda
continuam funcionando dentro de uma gica que se baseia no copyright, eles não pagam pela
produção de seus funcionários ao mesmo tempo que se apropriam dela, vendendo-a e lucrando com
ela. Eles pagam um salário mísero por uma produção que vai para diversos veículos, incluindo a
Internet, a mais-valia virou tri-valia, poli-valia. Até um leitor que manda uma foto pro jornal, eles
pagam uma miséria e depois usam e abusam dela do jeito que quiser.
Enquanto não se modificar esse cenário relativo ao copyright, nada mudará na lógica dessas
empresas, e eles não querem discutir isso, nem qualquer sindicato do setor. A ANJ sequer sabe o
que é Internet, eles nem querer ouvir falar no assunto. O próprio profissional de comunicação que
hoje sai de um curso de graduação não tem a mínima formação para o uso da Internet. Você tem um
meio novo que não está sendo pensado, os cursos ainda trabalham para formar jornalistas dentro dos
conceitos dos antigos jornais, não dentro desse novo contexto atual. O máximo que você tem são
dois ou três cursos (O Link da PUC, o IDEC da USP, na UFRGS e UFSC), o Sérgio Amadeu, a
Polyanna Ferrari, Ana Brandilla, a Ana Carmen e mais um ou dois profissionais da comunicação
que efetivamente são ligados ao jornalismo, e mais nada.
347
Os grandes jornais ainda enxergam a questão do jornalista como sendo este o portador do
Mtb, como se o blogueiro não checasse as suas informações, eles ainda não aprenderam a dinâmica
da Internet, mesmo com seus grandes jornalistas usando os blogs, incluindo muitos que fazem blogs
mais de 10 anos. Eles ainda, por exemplo, não aprenderam a dinâmica do RSS, o que talvez leve
tempo, aliás, muitos blogueiros também demoraram para absorver esse novo recurso.
O problema é que essas grandes corporações de mídia, que lidam com 10 ou 20 mil
funcionários, têm dificuldades em se adaptar num cenário que muda constantemente. Quem lida
com um blog não tem esse problema, você muda de um dia para o outro.
7-) Na sua visão, como fica a questão da
credibilidade
(influência) nos blogs e nos jornais?
Os
blogs exercem influência
sobre os usuários? (citar estudo de
Meyer
).
Para mim essa questão pode ser dividida em duas partes, na questão do jornal físico, e na
questão da credibilidade. Na questão do jornal físico, eu posso de te dizer a respeito da minha
felicidade ao pegar um ônibus pela manhã e ver que es todo mundo com um jornal na mão
(Destak/ Metrô). Esses jornaizinhos são ótimos, são rapidinhos de ler e você chega no trabalho com
um mínimo de informação. O que eu acho que vai acontecer com o jornal é isso, uma mudança de
formato, chegando quase ao formato de uma revista. O jornal standart é bom de ler na mesa do café
da manhã, onde você pode apoiá-lo, dobrá-lo etc. Novos formatos e tipos de diagramação são o
futuro do jornal impresso, se esse formato vai ser tablóide, eu não sei, mas acho que o formato
tende a mudar. A usabilidade (termo que usamos muito na Internet), do tablóide e dos formatos
menores é muito maior que a do standart. Eu acho que no impresso, o grande caminho é a mudança
de formato, entretanto duvido que os jornais brasileiros mudem de formato antes de qualquer outro
país, porque aqui todo mundo é muito temeroso com qualquer tipo de mudança. Aqui têm-se muito
medo de se bancar uma mudança dessas, que implica em investimento na mudança do parque
gráfico, mesmo que no longo prazo isso signifique uma economia e um ganho para o jornal. Eles
não sabem observar uma tendência, testá-la e aplicá-la. Essa é uma características típica das
empresas brasileiras que são empresas de família, mesmo que elas estejam hoje profissionalizadas.
Com exceção da Globo, que é mais volátil às mudanças, afinal não é a toa que eles tem esse
domínio todo. A Globo é a única empresa a, por exemplo, ouvir os blogueiros, que faz estudo de
usabilidade, que sabe olhar para as novas tendências e incorporá-las de alguma forma. Já a Abril,
por exemplo, só vai se dirigir a nós ou qualquer outro, não para dar ouvidos, mas para dizer que vai
implantar a nova técnica adotada pela empresa X ou Y de fora, eles não olham para o próprio
mercado.
Na questão da credibilidade, vamos pensar: ela é fundamentada no que (fora da Internet)?
No nome, na tradição. Se eu vejo uma matéria no Jornal Nacional ou no SPTV, RJTV, na Band, na
Record, na Cultura ou onde quer que seja, é uma matéria que tem mais importância do que uma
matéria que eu vejo solta na Internet teoricamente. Mas quando eu bato uma busca no Google,
que tem uma ferramenta que limpa as palavras-chave mais usadas, pois estas são todas ligadas à
pornografia, esse tipo de coisa (nome, tradição), não entra, aparecem os sites mais linkados que,
na maioria dos casos não são esses das grandes instituições. Além disso, na web uma informação se
replica por caminhos que são impresíveis, que não podem ser mapeados, que é por onde a
credibilidade se constrói. Um post num blog pode gerar milhões de cópias e comentários, uma
matéria no site de um grande jornal pode ficar lá para os poucos usuários que acessam determinadas
áreas do site.
A questão da credibilidade é muito importante e tem vários níveis na Internet, que se
somam e são contribuintes ao mesmo tempo, não é linear. A questão da tradição não entra aqui, um
site que tem cinco anos aparece na frente do site do O Globo que tem quase cem anos. Na Internet a
credibilidade se faz pelo círculo de relações, pelo conteúdo, pela apuração bem feita, por link que
você vai ganhando, pelas suas ações. A credibilidade na web é construída dia a dia. Como que a
348
Microsoft – a grande inovadora da web – passou a ser a grande vilã da Internet? Destruindo as ações
positivas que tivera num primeiro momento através de suas ações negativas, quando passou a impor
o seu sistema operacional, destruindo o Netscape, acusando seus usuários de pirataria. Em pequenas
ações, devagarzinho, eles foram construindo uma ssima imagem. Hoje, apesar da Microsoft ter
uma série de ferramentas muito legais, ela tem uma péssima imagem global. Mas para reverter,
como eles estão fazendo através de suas efetivas campanhas de inclusão digital, aderindo ao
OpenSource e outras ações.
Veja a BBC, ela tem uma imagem positiva na Internet pois investe continuamente em
inovação, o mesmo acontece com o New York Times, apesar do abalo que tiveram quando
resolveram cobrar pelo acesso às matérias do site. Eles perderam inúmeros usuários com essa
mudança, e para reconquistar esses usuários requer um mega-investimento depois do vínculo
perdido. Você pode até conquistar novos leitores, mas perdeu outros que poderiam estar ajudando a
te divulgar.
O usuário que se informa através de blogs, confia mais na informação que obtém dessa rede
do que em qualquer veículo tradicional. Mas, além da gama de pessoas que não tem acesso à
Internet, você tem aquelas que usam a rede para outros fins, e tem muita gente que entra em sites
com recursos jornalísticos e os ignoram, como acontece no próprio Orkut. O Orkut agora tem uma
ferramenta de feed, mas tem muita gente que sequer se apercebeu disso, isso ainda é uma questão de
costume. O diferencial da web não está, muitas vezes, nas ferramentas criadas para fins
jornalísticos, mas em outras que foram criadas para outros fins e vão sendo utilizadas para
disseminar informação, por exemplo, tem uma comunidade do Orkut que é utilizada para fazer
entrevistas. São estas ações que interferem no jornalismo como um todo. O grande barato da
Internet é esse, o uso que se fazem de ferramenta que, a princípio, foram criadas para outros fins. O
Orkut é um grande exemplo, ele tem de longe mais usuários que a totalidade dos blogs, e é utilizado
para os mais inimagináveis fins.
8-) Como você relaciona o conceito de
peer production
com os
blogs
e a mídia na Internet?
Para mim o que define melhor esta questão baseia-se num pensamento de Colleman. Ela
relaciona-se com a própria genética e o ambiente onde o ser humano está inserido. O ser humano
não é um individuo fechado em si mesmo, ele é conectado. Ele é resultado da interação de sua
genética com seu ambiente. Para mim, este conceito é a própria inteligência coletiva, é a construção
do ambiente, é um lugar biológico.
9-) Em relação aos grandes jornais que agora vemos também na Internet, você acha que
eles
estão preparados para um transição
completa para a web?
Não. Somente a Globo, pelo seu portal G1, é que realmente está fazendo algo bacana na
Internet. Ela tem feito muito e com toda a sua cadeia produtiva, na TV, na rádio, na editora, nos
jornais e no portal. A Globo está fazendo Internet. A Folha não faz Internet, o Estadão tenta. O
UOL faz Internet, mas ele é separado da Folha, ela apenas reproduz o seu conteúdo na web e de
uma forma absolutamente ineficiente: não tem uma foto, o índice dos cadernos é confuso, o sistema
de busca do site é medíocre, não oferece busca booleana. No Estadão também, a busca é péssima,
eu não entendo porque essas empresas não fazem uma parceria com a Google.
Eu acho que os jornais estão perdendo uma excelente oportunidade de se reinventarem na
Internet. Você tem hoje, cerca de 50 milhões de pessoas acessando a Internet diariamente, e essas
empresas estão perdendo esse público. Você houve lamúrias de que as vendas dos jornais estão
caindo, eles percebem as boas iniciativas, como os blogs, que aparecem em destaque no Google.
Mas os blogs aparecem em destaque no Google não porque são bons, mas sim porque fazem parte
de uma rede de blogs linkados, links que vêm de diversos lugares. Então você tem alguns excelentes
349
jornalistas, como o Roberto Cruz, que tem o seu blog alí (no Estadao.com), mas que não tem a
mínima repercussão dentro da blogosfera. Outro dia ele tentou colocar um assunto em debate para
os blogueiros e ninguém nem reparou, se tal assunto parte de um blogueiro bem rankeado, bomba.
O problema é esse, o blog desses caras não tão inseridos na rede, de nenhum grande veículo. Os
blogs da Veja, por exemplo, não tem apelo nenhum, somente o do Reinaldo Azevedo é que tem
destaque, mas ele tinha esse apelo antes de ir para a Veja. Um blogueiro que se atrela a um
grande jornal, comete a pior bobagem que ele pode fazer. O Azevedo poderia ser patrocinado pela
Veja, mas continuar com seu blog (fora do site da revista), ele ia ter liberdade para falar de
política e estaria inserido dentro da blogosfera, dentro da revista ele, além de ficar de fora da roda,
não pode falar nada de política devido às novas regras do TSE.
10-) A questão do diálogo dos blogs (mais
opinativo
), você acha que é essa a tendência pro
jornalismo em geral?
A linguagem mais neutra e informativa combina com os
blogs?
A Internet pode ser associada a um aumento do
pensamento crítico
dos cidadãos?
Ao menos àqueles que estão “conectados”?
A linguagem dos blogs é mais opinativa, é mais pessoal. Nos blogs existe um espaço de
argumentação que antes era possível através dos livros, ou num zine. Mesmo os editoriais dos
grandes jornais não são pessoalizados, sempre tem uma questão política em relevância. Mas a
própria linguagem dos blogs ainda é algo que está se consolidando, esse fenômeno ainda é muito
novo, os blogs só existem há dez anos.
Mas essa linguagem dos blogs já está influenciando e mudando a linguagem dos jornais, é
possível se perceber isso através dos blogs mais influentes que, por exemplo, têm muito mais acesso
que o próprio Estadão.com. Não que um determinado blog seja mais influente que o Estadão, mas
tem mais audiência. A diferença é que o Estadão é conhecido por uma certa fatia de pessoas,
determinados blogs atingem outras pessoas que não são leitoras do Estadão. Basta você fazer uma
pesquisa no Google, onde determinados blogs aparecem e o Estadão, não.
Por exemplo, se você bate uma busca no Google: “camelôs 25 de março”, onde hoje houve
outra manifestação popular. Entre os primeiros resultados, todos são de blogs, só o portal G1 (portal
ligado a Globo.com) parece entre os 10 primeiros resultados, mesmo assim atrás de vários blogs. A
Folha e o UOL só aparecem embaixo.
Aliás, o peso dos blogs é tal que, falando-se em Estadão, temos uma variedade de blogs.
Em relação aos blogs serem mais livres de coerção do que os jornalistas de grandes jornais, eu não
acredito nisso. Todo jornalista que trabalha para um grande veículo tem as restrições naturais de
trabalhar numa grande redação e os limites das linhas editoriais que sempre, segue a vontade dos
publishers e/ou dos donos do veículo, que determina o que vai ou não ser publicado. Mas existe
uma visível diferença nos blogs desses grandes veículos, para aqueles inseridos na blogosfera,
muitos não tem sequer um comentário dos usuários, não tem feedback, eles não estão indexados no
Technorati ou BlogBlogs, o fazem parte de roda nenhuma. Isso é uma questão jornalística, tem
jornalista que vai pro blog mas mantém a mesma postura que tinha na redação, mantendo-se
isolado. Hoje, o jornalista trabalha sozinho na redação, não existe mais grupo de trabalho, hoje
muitos veículos sequer fazem reuniões de pauta com o seu corpo jornalístico o que, quando eu
trabalhei no Jornal da Tarde e outras revistas, era algo de praxe e fundamental para o exercício do
trabalho da redação. Não existe mais equipe, time. Mas existem exceções, como a revista Veja e a
Época. No trabalho que exerço em consultoria e montagem de blogs para diversos clientes, agente
sempre faz reunião de pauta. A reunião de pauta é um exemplo de peer production, de inteligência
coletiva, que é realidade nos blogs, mas está desaparecendo das redações, um conceito básico de
qualquer produção em grupo. Aliás, essa é uma característica dos blogueiros, a capacidade de
compartilhar conhecimentos, todos se ajudam. Por exemplo, se você precisa de plug-in para uma
determinada função que você precisa para o seu blog/site, você consegue rapidinho com os seus
350
peers. Porém, os blogueiros têm muitas dificuldades de compartilhar conhecimentos que não sejam
técnicos. Se você precisar de um blogueiro para te ajudar a pensar numa temática para o seu blog, aí
você terá dificuldades em obter qualquer tipo de ajuda, nesse sentido, a produção do blog ainda é
muito individualizada. O blogueiro escreve, opina e responde posts, ele é obrigado a lidar com um
fluxo muito grande e permanente de informações, muito maior e mais amplo que o que qualquer
jornalista está acostumado a lidar. Apesar de qualquer jornalista também estar inserido dentro de
enormes fluxos de informações, eles são mais direcionados, sempre mais focados dentro de
determinados assuntos e/ou editorias. Uma diferença significante do jornalista e do blogueiro neste
sentido é que o primeiro não responde a seu público, o blogueiro, através dos feeds, do e-mail, sim,
e o tempo todo, muitas vezes tendo que lidar com os disparates de seus leitores existe uma
conversa nos blogs –, o jornalista, na maioria dos casos, sequer sabe o que os seus leitores estão
pensando.
Para mim, a grande “sacanagem” da grande mídia é o laço contratual, onde tudo que você
produz não é seu, é deles, queiram eles publicar ou não. Eles podem fazer o que quiser com o seu
material, vender para qualquer outra instância sem te dar um centavo a mais por isso além do que
está expresso em seu contrato, que é um mísero salário. E aí de você se você publica um texto
“deles” no seu blog, eles te matam. O problema nem é você tomar um processo nas costas, é que
“eles” vão te perseguir pela web, te difamar em toda blogosfera, te atolar de e-mails, vão te amolar
até você tirar o texto da rede. Mas tem os casos em que você pode mesmo acabar recebendo uma
notificação judicial por determinado post.
Em relação ao fato da Internet aumentar o pensamento crítico, eu acho que sim e não. Acho
que quem é crítico é crítico, não porque passou a usar a web. Eu acho que a maioria dos blogueiros
não tem capacidade crítica. Essa é também uma das críticas dos empresários à blogosfera. Existem
alguns pontos, alguns blogs onde aparece a crítica, mas não é essa a regra geral. O Brasil, como
país, não é um país crítico. Você não pode desconsiderar essa bagagem histórica e psico-social do
nosso povo. Aqui as pessoas só tem o costume de criticar pelas costas, são incapazes de sustentar
uma crítica olho-no-olho. As pessoas aqui não são capazes de cobrar seus políticos, seus deputados.
Inclusive, eu acho que o brasileiro tem razão de não reclamar, afinal, ele nunca é ouvido. Mesmo no
serviço de telemarketing de qualquer empresa, você liga para reclamar e eles fingem que te
escutam. E quem esde fora dessa lógica, acaba com os nervos a flor da pele, vendo-se incapaz de
fazer qualquer coisa. Isso tamm gera uma aversão à política que se torna algo natural.
11-) O blog é uma
inovação
dentro do jornalismo? Qual sua opinião?
Eu percebo que a grande mídia está de olho nos blogs, embora existam outras ferramentas
que de longe são mais acessadas que a grande maioria dos blogs, o Orkut, como mencionei, é a
maior delas no Brasil. O stablishment do jornalismo não percebe isso, ele não tem uma visão focal.
O blog pode ser enxergado como uma inovação no uso que os blogueiros passaram a fazer dele,
dentro dos jornais ele continua sendo utilizado de uma forma extremamente burocrática.
O blog não é uma inovação do jornalismo, até porque hoje o blog já é uma coisa velha, tem
mais de 10 anos. Para mim, o Orkut é uma inovação muito maior que os blogs, vide o exemplo da
garota que faz entrevista dentro do Orkut, e ao vivo. O blog é uma gina na Internet como outra
qualquer. Também não enxergo a nova combinação de informações dispostas nos sites noticiosos
(que englobam textos, hipertexto, fotos, vídeos, som etc) como uma inovação.
Você observa um monte de novas ferramentas que aparecem dentro dos sites, como este
aqui (Estadao.com), e percebe que elas estão para constarem, muitas ninguém usa aqui no
Brasil, umas ninguém nunca ouviu falar, outras são ruins. E mais, não uma explicação sequer de
como utilizá-las. É uma coisa bacaninha mas que não faz nenhuma diferença dentro do contexto do
jornal. Eles colocam essas ferramentas só porque está na onda.
Tem um monte de jeito e um monte de ferramentas para você inovar dentro do jornalismo,
mas, a questão é: elas são utilizadas? Como elas são utilizadas? Na Internet são muitas as
351
inovações. Para mim, a grande inovão é o que ponto central delas está na mão dos usuários.
Apesar de se fazer jornal para o leitor, esse fazer é atravessado por um monte de interesses,
questões ideológicas, os gatekeepers da vida, questões financeiras, a publicidade. Na Internet, um
monte de coisas podem existir aquém dessas questões, pode existir uma publicação para um publico
mínimo, o que seria inviável em qualquer grande veículo que só enxerga a massa.
A inovação é a convergência para o usuário e a desintermediação. Os meios de
comunicação se acostumaram ao longo do tempo em ser os grandes intermediários, que dizem que é
isso ou aquilo que vale. Por isso que a Internet se apresenta como uma ameaça ao status quo, pois
esses meios perderam o poder de dizer o que é que vale.
12-) Qual a mensagem mais forte da sua rede de blogs (a Rede da Joaninha)?
A rede da Joaninha é a roda dos blogs que Lucia está mais integrada, mas não existe uma
única mensagem, os temas são os mais variados possíveis. Ela foi construída aos poucos somando-
se os blogs que a interessara, por onde ela navega. Alguns são blogs de parceiros, e outros de
amigos.
13-) Como o
Twitter
tem auxiliado a comunicação na blogosfera? Ele pode ser considerado uma
espécie de chat sem chatroom?
O Twitter, na verdade, é um jeito de criar conversas em rede todas as ferramentas de
microblogging fazem isso em outro formato. Estamos no Twitter, no Pownce, no Plurk, no Jaiku,
no Hello.txt e no que mais aparecer. O Twitter sai na frente pela facilidade de uso: a gente pode se
comunicar por múltiplas ferramentas, literalmente em qualquer lugar. Tudo pode ser taggeado (com
#) o que facilita as buscas – e MUITOS mecanismos de busca para a ferramenta. Mais que isso:
ele permite que a gente use também como um IM (Instant Messenger) portanto, a sua noção de
que é um chat sem chatroom não é de todo bobabem. Vira bobagem sim, porque o usuário constrói
seu chatroom quando escolhe quem segue... O Twitter é uma mega-fonte de informação para blogs,
é onde a gente compartilha links, notícias, idéias, busca ajuda para determinados problemas que
podem ser expressos em 140 caracteres.
Acabei de ver alguém procurando designer/programador, por exemplo, tem de tudo.
nos EUA, eles usam muito mais o FriendFeed (cujo evangelizador é o Steven Reubel,
http://friendfeed.com/steverubel). Este tipo de colonização, perceba, se de acordo com a cultura
de cada lugar. Apesar das "baleiadas" (períodos fora do ar) do Twitter desde maio, nós continuamos
a ser usuários do bichinho. Entenda: a ferramenta serve ao USO que a gente faz dela. Não é a única,
não é nem mesmo central. É mais um lugar onde a gente se encontra todo dia - como grupos de
discussão, IM's, bares.
14-) Outras colocações de Lucia Freitas:
A questão da distribuição
Lúcia Freitas chama a atenção para a questão da mediocridade das tiragens das publicações
no Brasil: um país de mais de 180 milhões de habitantes, onde a maior revista (Veja, Época)
alcança, quando muito, dois milhões de exemplares vendidos e, o maior jornal, fica na casa dos 300
mil exemplares/dia (Folha de S. Paulo). Segundo Freitas, isso se em função de uma questão
pouco debatida e pouco estudada, a distribuição. A distribuição de todas as revistas e publicações
no país ficam a cargo de uma empresa mantida pela Abril, um monopólio de tal grupo midiático.
Tal monopólio afasta a entrada de novos publishers no mercado editorial, sejam nacionais ou
internacionais, embora o país apresente um fortíssimo potencial para o aumento de seu mercado
editorial.
352
os jornais (como a Folha e o Estadão que possuem a sua própria distribuição), possuem
uma outra logística baseada na localidade, fazendo a sua própria distribuição, mas esta também vai
se limitar a poucos lugares, inviabilizando uma maior escalonamento do negócio. São várias as
novas publicações que surgem e desaparecem em função das limitações do setor distributivo, o que
fica comprovado através do fato que, se um determinado veículo impresso não atinge uma certa
base de leitores assinantes, ele não sobrevive. Essa é a lógica que afeta o mercado de livros. Estes,
sem uma base de assinantes e as limitações distributivas, acabam tornando-se caros e um luxo de
acesso a poucos privilegiados.
Para Freitas, aquela máxima que muitos acreditam e outros pregam como o pilar da
comunicação impressa onde “o leitor o é o rei”, não passa de um jargão publicitário, este é um
ser passivo que tem acesso ao que querem que ele tenha acesso. Nesse processo, até os anunciantes
responsáveis pelo grosso da verba que banca os veículos comunicativos (todos) também saem
perdendo, pois seus produtos ficam limitados a um espectro de leitores muito inferior ao potencial
do mercado que não é explorado.
Em outras palavras, com medo de ampliar o mercado, o que abriria a porta para novos
publishers, os monopolizadores do mercado editorial preferem fechá-lo e assim, controlá-lo dentro
de seus ínfimos limites. “É melhor reinar no inferno do que servir no céu”, poderia dizer um padre
católico sobre essa absurda situação do mercado editorial brasileiro.
Ainda, segundo Freitas, a ausência de estudos acadêmicos que apontem para essa situação
demonstra um forte indício de que elas, ou estejam em conluio com esta lógica, ou sejam tão
submissas aos grupos midiáticos que preferem não tocar o dedo nesta ferida. O assunto distribuição
é um taboo, tanto no meio jornalístico, como no meio acadêmico.
Enquanto isso, novos jornalistas e editores vão se formando e inundando o mercado a cada
ano, e são obrigados a se degladiar dentro do, cada vez mais, limitado espaço editorial nacional.
Neste sentido, as novas mídias se oferecem como um prato cheio para as novas gerações que se
formam e, com o decorrer dos anos, poderá representar uma forte concorrência para esses antigos
meios. O que hoje se apresenta como um espaço alternativo, uma vez mantida essa totalitariedade,
poderá se tornar o novo e mais amplo caminho editorial por onde a maioria dos novos publishers e
jornalistas encontrarão espaço para dar vazão a sua produção. Outro fato que demonstra essa
tendência, é que todo jornalista demitido de um grande veículo, acaba montando o seu blog, um
grande exemplo nacional atual é Luis Nassif que saiu da grande mídia e está fazendo um
estardalhaço através da rede, denunciando os abusos de poder dos seus antigos empregadores. E
ainda, sendo a Internet uma mídia sem fronteiras, ela poderá se apresentar como um caminho para
novos publishers estrangeiros que aqui queiram entrar e, observando-se bem, isto está
acontecendo. A questão é: até quando os grandes conglomerados de mídia nacionais irão suportar e
bancar essa situação?
A pequena “roda”
Apesar de toda liberdade que existe na blogosfera brasileira, um porém pode ser citado.
Lucia Freitas afirma que sempre que existe qualquer debate sobre blogs, ou no lançamento de um
novo produto tecnológico qualquer, muitos patrocinados por grandes empresas como o Terra por
exemplo, ou mesmo como se viu na Campus Party no início de 2008, são chamados sempre os
mesmos blogueiros para participar (sendo a própria um desses membros assíduos).
Na Campus Party, como organizadora do Campus Blog, Lucia procurou mudar esse cenário
chamando pessoas que estão fora dessa pequena roda, numa tentativa de abrir esse círculo. Foi uma
maneira de ampliar e aumentar a diversidade da blogosfera nacional.
Tal iniciativa de Freitas é fundamental pois, se a blogosfera se fecha em poucos nomes, ela
acabaria fechando esse novo espaço comunicacional inter-conectado, o que não seria saudável
quando se entende a Internet como um novo canal, de ampla capacidade comunicacional em duas
vias, que é como ela se apresenta.
353
Uma blogosfera fechada seria o mesmo que o fechado grupo midiático brasileiro que, hoje,
além de poucas empresas (são oito grandes conglomerados de mídia nacionais), se constituem como
um grande oligopólio.
Problemas com a Justiça
Dentre os vários problemas que os blogueiros enfrentam na Internet, um se destaca, quando
um oficial de justiça bate à porta de sua casa: alguém o está processando. Esse é um fato comum
hoje em dia e que acontece com diversos jornalistas e inúmeros órgãos de mídia. O blogueiro, assim
como um grande jornal que possui o seu corpo jurídico, precisa de advogado. O problema maior
está no fato da justiça brasileira o entender o que é Internet, haja visto o caso do bloqueio do
Youtube em função do vídeo da Daniela Cicarelli que, foi a inauguração de uma série de erros que a
justiça vem cometendo ao julgar causas ligadas à grande rede. O caso da Cicarelli, além de
evidenciar a falta de preparo do sistema judiciário em analisar os “causos” ligados a web, também
deixou os blogueiros na berlinda, pois evidenciou que ninguém pode recorrer à justiça pelo simples
despreparo da mesma em lidar com causas dessa natureza.
Do caso Cicarelli em diante, a justiça comete um erro atrás do outro e, se não bastasse,
aparece o senador Azeredo com seu projeto visando controlar a Internet. Essa é a grande graça para
o sistema brasileiro: controlar. Eles não perceberam uma coisa, o fato de que não dá para
controlar a Internet, a grande rede o funciona com controle, com qualquer tipo de mediação
centralizada. A Internet é descontrolada por natureza. A não ser que você transforme a Internet
numa intranet, como é na China, não como controlá-la. Mas vale explicar que a China se
conectou a rede mundial já com suas barreiras criadas, o que não foi feito no Brasil e na maior parte
do mundo. Ou se reconstrói a rede em diferentes modos (o que é inviável a essa altura), ou esse tipo
de controle se torna impossível, isso ficou claro no caso da Cicarelli. Uma vez bloqueado o Youtube
no Brasil, vários sites pelo mundo afora caíram, é o efeito e-borboleta, pois esse tipo de bloqueio
afeta todo um fluxo de informação que vai além do que se queira bloquear.
Diante de tal despreparo e da impossibilidade de se bloquear a rede, o sistema agora tenta
dar a sua resposta através desses novos projetos (do Azeredo e o PLC 89/03), tentando controlar a
rede, inclusive tentando acabar com o anonimato. Mas, se o sistema tenta dar uma resposta ao
“descontrole” da Internet, nos resta também dar uma réplica ao sistema: dizer NÃO a esses
absurdos projetos e, ainda assim, entender que, caso o SIM vença, isso apenas servirá para refinar as
técnicas daqueles que se utilizam da Internet para atividades criminosas e fazem mal uso do
anonimato. Além de tudo isso, aquele blogueiro que já vivia a sombra do oficial de justiça que pode
a qualquer momento bater na sua porta, ficará mais temeroso sabendo que, essa mesma justiça, além
de despreparada para defendê-lo, terá novos aparatos para policiá-lo e também processá-lo.
Publicidade
A publicidade está na vanguarda junto com os movimentos que surgem na web. Ela foi a
primeira a entrar na Internet. Jornalista não sabe de fazer jornal interativo, a publicidade sabe. O
Google hoje é o grande sistema de publicidade na Internet, foram eles que descobriram como fazer
publicidade na web, e ela é compartilhada a todos, muito diferente de quando ela era centralizada
pelo mass media.
Frases
- Em relação à postura da Globo em relação as novas mídias (e da ausência dessa postura
nas demais empresas de mídia):
“Quando você se deixa contaminar pelas pessoas que estão fora do seu círculo, você as
conquista, você aprende. Se você não se deixa, você perde uma oportunidade de ouro”.
354
- Sobre as mudanças no jornal:
“Não acredito que vai desaparecer, anunciaram o fim do rádio, o fim do livro, o fim da
revista, agora é o fim do jornal, não é assim que funciona, as mídias não se sobrepujam umas as
outras, elas se somam”.
“A mudança de formato do jornal, tornando-se muito parecido com uma revista é algo que
está sendo amplamente debatido mundo afora. Para mim a única característica que o jornal tem e
que o caracteriza é o fato de ser publicado diariamente, o formato não importa”.
“O grande problema no Brasil é que as elites ficam cristalizadas numa posição de status,
que faz o que ela quer fazer dentro de uma democracia para a forma. Nesse contexto, as
mudanças não acontecem, só quando vem de fora”.
- Globalização e Internet:
“Tenho uma colega que mora em Seattle que monta cursos de educação a distância para
uma ONG na Holanda, para treinar médicos à lidar com a AIDS em Moçambique, e ela utiliza
software livre”.
Pedro:
Colocações pessoais que tiveram a concordância de Lucia Freitas.
- Convergência:
“O próprio jornalismo nasceu de um ato de convergência, Gutenberg não inventou a prensa
pensando em criar o jornalismo. O jornalismo foi uma apropriação da prensa de tipos móveis pelas
pessoas da época”.
- Credibilidade dos jornais (em relação ao estudo de Philip Meyer que aponta para a
influência dos jornais sobre o seu condado de origem):
No dia seguinte ao maior congestionamento automobilístico vivido na cidade de São Paulo,
o Jornal da Tarde apresentava (como de costume) na sua primeira página, como maior destaque, a
chamada para as ofertas do caderno Jornal do Carro, enquanto uma pequena manchete, em uma
coluna à direita, noticiava o fato que parou a cidade no dia anterior. Esse é um grande exemplo de
como a credibilidade dos jornais podem ser minadas com o tempo.
_________________________________________________________________________
355
Entrevista Gustavo Venturi Junior:
Sociólogo – 29/07/2008
Gustavo Venturi Junior é mestre em Sociologia e doutor em Ciência Política pela USP.
Trabalhou 11 anos no Instituto de Pesquisas Datafolha (1985/96), dirigindo-o por 4 anos, onde
participou da elaboração e análise de cerca de 1.100 surveys de opinião pública e de 400 estudos de
mercado. Estruturou e coordenou o Núcleo de Opinião Pública da Fundação Perseu Abramo
(1997/08), onde desenvolveu pesquisas sociais e publicou sobre diversos temas (cultura política,
gênero, racismo, juventude e velhice), com ênfase em desafios metodológicos. Foi diretor
operacional da Criterium Assessoria em Pesquisas (2001/08), voltada para estudos de opinião e
avaliação de políticas públicas, atendendo governos e campanhas eleitorais. É pesquisador do
Centro de Estudos de Opinião Pública (CESOP- UNICAMP), membro do seu Conselho Orientador
desde sua criação, e pesquisador do Núcleo de Estudos para Prevenção da Aids (NEPAIDS- USP).
1-) Para você, como pesquisador da Datafolha da era “pré-internet”, e agora, trabalhando num
instituto na era “pós-internet”,
o que mudou
?
Eu peguei essa mudança no Datafolha bem no seu início, quando agente começou a usar e-
mail, o nosso era, na época: [email protected]. Isso foi antes do UOL, agente estava numa fase
experimental, e logo depois eu saí, em 1996 – eu vivi apenas um ano de Internet lá dentro. De lá pra
cá, nessa última década, muita coisa avançou. A Internet cresceu muito, com o avanço da banda-
larga. Começou com os modems de 8kbps, depois 16, 28 e 56 que já era feroz, algo impressionante
para voplugar na linha telefônica. Eu acabei não pegando muito a mudança mais atual, mas o
surgimento do UOL e o surgimento das versões on-line dos jornais certamente causou uma
mudança grande, com redações próprias. Eu não acompanhei isso de dentro, e sim como usuário. A
Internet já existia há algum tempo, mas essa última década foi significativa em termos de mudança.
O acesso público passou a se ampliar nos anos 90 e hoje é algo inimaginável. Tivemos esse
apagão
290
de 36 horas dois dias que parou tudo, as pessoas não conseguem conceber mais o dia-
a-dia sem o uso da Internet, não no trabalho, mas nos negócios, nas relações pessoais e tudo
mais.
2-) Como você enxerga as empresas
Folha/Estado
dentro dessa nova era? Você acha que
elas
ficam de fora do negócio
?
Como empresas que trabalham com informação, todas estão passando por uma crise de
adaptação. Não está muito claro o quanto que os veículos impressos vão sobreviver. Eu acho que
seja uma questão de tempo, talvez a sobrevida deles seja maior do que se imaginou num primeiro
momento, mas eu acho que dentro de duas décadas exista muito pouco em termos de jornal e outros
materiais impressos, o que vale para os livros também. A tendência é essa, você agride menos o
ambiente, você não precisa de uma produção tão grande de papel. E, mais do que isso, estão
surgindo gerações que em que o meio digital é muito familiar, que não vão ter as dificuldades de
adaptação que as gerações anteriores ainda têm. Eu lembro que teve uma época em que lançaram
um software que você lia o jornal no micro e quando você virava a página ele fazia um barulhinho
de página virando, para que as pessoas tivessem a sensação de que estavam manuseando o jornal
impresso. Mas isso é uma necessidade de quem cresceu lendo o jornal no papel. Isso tudo, até aqui,
é relativo ao meio, de como ele se apresenta, mas tem outra questão que está colocada nesta
mudança, que é a questão do conteúdo. Quando você tinha somente o jornal impresso, as regras
290
O serviço de banda-larga da Telefônica, Speedy, ficou indisponível na maioria dos municípios do estado de
São Paulo entre os dias 2 e 3 julho de 2008.
356
eram baseadas no fato da informação ir “ao ar” uma vez por dia, o jornal diário. Ou uma vez por
semana se fosse uma revista semanal. Supõe-se que você tinha um tempo muito maior para a
apuração das notícias e de preparo delas. Hoje, o noticiário da Internet fica meio a uma disputa
dentre os diferentes veículos em que o que vale é vodar a notícia o mais rápido possível, até
porque a possibilidade de correção depois é muito rápida. Isso acaba tornando o veículo menos
confiável, pois volta e meia você vê saindo muita bobagem, que depois de uma hora ou duas vem o
desmentido dizendo que não era bem aquilo. Outro dia saiu uma notícia que tinha caído um
helicóptero e não era nada disso. A notícia aparece num veículo e todo mundo replica, mesmo sem
apurar, porque ninguém quer levar furo. Isso é algo que tem acontecido com muita freqüência,
principalmente em casos como esse, de acidentes e coisa e tal. Isso é algo que tira um pouco da
confiabilidade das notícias, e é uma mudança que não diz respeito de como a notícia chega, mas da
maneira de como ela é produzida. Isso também mudou muito.
Quanto a estas empresas ficarem de fora do mercado de informação, é uma questão de
tempo. No curto prazo acho que não, acho que o jornal vai continuar a ser o carro-chefe dessas
empresas. No caso da Folha de S.Paulo. Eu não sei, hoje, em termos de receita, o quanto que o
UOL traz para o jornal e quanto que o jornal traz, imagino que a receita do jornal ainda seja maior.
O Estado é um grupo que tem rádio, tem outros veículos. Você tinha o New York Times nos
Estados Unidos que resistiu muito para fazer mudanças, para ter uma edição on-line, mas agora
tem, torna-se inevitável. Acho que vai ser uma mudança gradual, vai chegar um momento que,
talvez por tradição, ainda se mantenha, em respeito a alguns consumidores mais antigos, a versão
papel. Mas isso vai diminuir ao longo do tempo e a outra vai crescer. Vai chegar um momento que,
operacionalmente, não vai mais compensar ter uma gráfica e manter todo aquele operacional que o
jornal impresso demanda. É uma produção industrial que era a única alternativa, na medida que
surge a Internet que é mais barata, ela tende a se tornar a opção, mas isso não muda a questão de
produção de notícias, apenas a maneira de distribuí-las.
3-) Nós sabemos que muita coisa mudou dentro desses jornais nos últimos anos, a começar pela
mudança patronal e pela injeção de capital estrangeiro em
parcerias/fusões
. Você acha que
essa é uma tendência (sinergia)? A
“sinergia” da Folha
pode explicar o seu melhor
desempenho atual frente ao Estado?
Você tem dois movimentos muitos fortes, recentes. Um é a fusão de empresas de um modo
geral, agente tem assistido a grandes fusões nos últimos tempos, e isso vai desde siderúrgicas até
empresas aéreas, de cerveja, do que você quiser, de qualquer área, todos os ramos estão passando
por isso. O Brasil tem uma legislação restritiva ainda, que diz que empresas de comunicação se
limitam à cerca de 20% de capital estrangeiro. Isso vem sido discutido, é um limitador que vem
segurando muito as companhias desse setor. Aparentemente é um movimento que é difícil de
segurar, vai ter muita pressão para se mudar essa legislação no curto prazo, abrindo portas para o
capital estrangeiro. O capital circula livremente e vai em busca das melhores alternativas em
qualquer parte do mundo, o Brasil é um mercado atraente, e esse capital vai querer entrar aqui. Tem
conseqüências evidentemente, essa legislação, não tenho certeza se ela é de origem ainda da época
da ditadura militar, mas ela é nacionalista, ela refere-se um pouco aos conteúdos, que vai fazer a
cabeça das pessoas e coisa e tal, de certa forma é uma defesa aos valores culturais, da
nacionalidade. Mas o mundo está cada vez mais globalizado, a Internet tem muito haver com tudo
isso. Você a dificuldade de países que têm censura sobre a Internet, isso porque qualquer um,
com um aparelho muito simples acaba acessando notícias no mundo todo, e isso é inevitável. Dessa
forma, creio que essa legislação dentro em breve deve ser considerada obsoleta e vai se abrir o
capital para outras coisas, isso em termos gerais.
Outro detalhe, que se relaciona com os meios de comunicação e a produção de conteúdo, é
aquela questão da fusão, da convergência dos meios, aquela idéia de que em muito pouco tempo
357
agente não vai ter uma televisão aqui e um computador ali, vai ser tudo um aparelho só. O celular
que vai ser ao mesmo tempo computador e TV, isso gera, para os meios de comunicação, uma
disputa muito grande. Quem está na área de telefonia quer entrar na produção de conteúdo, e quem
está na produção de conteúdo, quer entrar dentro dessa área dos meios diversos. É uma aposta que
muita gente está fazendo, e vai ter muita mudança nesse sentido, com fusões, e o capital vai buscar
essas oportunidades, quanto a isso eu não tenho a menor dúvida.
Quanto ao fato da mudança patronal e da postura mais profissional da Folha em relação ao
Estado como um indicador do desempenho dessas empresas, eu posso dizer o seguinte. O Estadão
sempre foi mais familiar. Quando eu trabalhava na Folha, agente costumava dizer que, pro bem ou
pro mal, a Folha tinha dois herdeiros. O Frias só tinha dois filhos, enquanto no Estadão, que era
de uma família mais antiga e tradicional, você tinha vários Mesquitas, uns 10 ou 15 que iam
chegando na empresa e que sempre a mantiveram bem familiar, em todas as áreas tem um Mesquita
atuando. Isso deve ter retardado essa tendência de mudança mais moderna de gestão, de abrir o
capital em relação às empresas familiares, de ter menos ingerência do dono original, ser menos
pessoal. Outras empresas também passaram por isso. Aliás, é muito difícil para uma empresa
familiar, com esse tipo de gestão, de ela abrir o capital, ela não encontra acionistas dispostos a lidar
com as vontades pessoais, com os eventuais caprichos dos donos. Enquanto que se você tem uma
previdência que não é, mesmo que acionista, mas não majoritária, mais aberta ao capital, isso
favorece, em tese, à uma modernização, as relações no trabalho etc.
4-) Poderia ser uma saída para os jornais que perdem seus leitores, deixarem-se levar pela
sinergia globalizada
, mas ainda sobrevivendo como
marcas locais
?
Em teoria a marca é muito forte. Você tem que levar em conta que a leitura dos jornais no
Brasil nunca foi muito ampla. Na Argentina os jornais têm uma tiragem muito maior em um país
com uma população muito menor, isso por conta de perfil de escolaridade, perfil cultural da
população. Aqui você ainda tem uma taxa razoável de analfabetos e outros problemas, então, o
jornal, mesmo aqueles mais populares, m tiragens pequenas. Com a entrada dos veículos digitais
nessa história, pode ser que ocorra algo muito semelhante ao que aconteceu com os celulares em
alguns lugares onde o telefone fixo não tinha chegado, queima-se uma etapa. Eu tenho a impressão
que pode crescer a base de leitores e consumidores de notícias no país, mas que isso não passe mais
pelo impresso. Como em lugares que o celular chegou e o telefone fixo não, e não vai chegar nunca
mais. Ninguém vai investir na construção de uma rede fixa que é custosa enquanto as pessoas
foram atendidas, a demanda foi suprida. É possível que no Brasil, mesmo com um avanço na
escolarização, se queime essa etapa. É claro que existem setores da população, principalmente
setores velhos em que o jornal impresso continue sendo uma referência importante e cultural por
muito tempo, pelo menos até que as novas gerações cresçam e se tornem os principais
consumidores. E quanto à marca, ela pode ser trabalhada e pode fazer essa transição, poderemos ter
os jornais Folha de S.Paulo e O Estado de S. Paulo, que tem as suas versões on-line, eu não sei
como eles têm trabalhado isso, não acho que isso vá fazer desaparecer a marca do grupo [o eventual
fim das versões impressas].
5-) O cenário
da crise dos impressos
nos EUA e alguns países da Europa é muito mais
intenso e preocupante se o comparados com o brasileiro.
Qual fator
, na sua visão,
influi
para essa diferença
?
A maior inclusão digital americana, a exclusão digital e o analfabetismo no Brasil, não são fatores
que influem nessa diferença?
Isso é curioso, de fato a crise foi maior, talvez por causa disso. A penetração da Internet
é muito maior e o crescimento foi mais rápido. Aqui no Brasil está crescendo muito, na América
358
Latina é o primeiro ou está entre os primeiros, mas comparado com os Estados Unidos creio que
isso fez diminuir a queda de vendas dos jornais por aqui. Acho que houve até um ganho, se
recuperou um pouco das tiragens que vinham despencando. Mas creio que isso foi um soluço no
meio de uma tendência que é de queda, vai ser difícil os jornais se manterem como estão. No médio
prazo a tendência é cair.
6-) (Em referência ao estudo de Philip Meyer). Como você a questão da
credibilidade
dos
jornais na atualidade?
Eu acho que a credibilidade é um fator que está sempre presente. Os veículos costumam
afirmar a sua independência, a sua credibilidade. Mas no Brasil temos o exemplo de que, em 2006,
todos os veículos impressos, principalmente a Folha, o Estadão e a Veja pegaram pesado contra a
reeleição e se deram mal porque a população ignorou. Isso tem haver com a baixa penetração deles
também, e tem a questão comercial. Eu lembro que a Folha que tratava as empreiteiras como
empreiteiras, no dia em que ela fez um acordo com a Odebrech, que passou a ter um acordo com o
jornal impresso agora não me lembro dos detalhes, mas foi um socorro que ela deu ao jornal nos
anos 90 –, no dia seguinte ela deixou de ser chamada de empreiteira e passou a ser construtora.
Então esse é um problema que está ligado com a perda, vamos dizer, do risco de perda da
capacidade crítica dos jornais em se manterem independentes quando de fato eles dependem do
poder econômico. Ao mesmo tempo eu acho que ainda está longe [a perda da credibilidade], a
credibilidade dos meios de comunicação ainda é muito alta, inclusive da televisão. Embora tenha
essas crises pontuais, eu vejo que a população de forma geral ainda não tem uma formação critica,
uma educação critica suficiente para questionar os meios, e tende a achar que se saiu na televisão ou
deu no jornal é verdade. Essa é a postura básica da maioria. Isso muda com o tempo também e
depende de como os veículos se comportem, nem sempre eles ajudam. Mas eu acho que a
credibilidade deles é maior em relação a tudo o que fizeram. Nesse ponto eu sou um pouco
cético, eu acho mais fácil os jornais perderem público pela questão da mudança dos meios do que
pela perda de credibilidade.
_________________________________________________________________________
359
Entrevistas Revista Imprensa
De 26/09/2008 a 24/10/2008
Dados:
Nomes: Flávia Pegorin, Clarissa Passos, Viviana Agostinho;
Profissões: Jornalistas;
Idades: 33, 30 e 31 respectivamente;
Residências: São Paulo e São Francisco – EUA (Viviana);
Blog: garotasquedizemni.ig.com.br;
Temática do Blog: Generalidades, mídia, dia-a-dia, fofoca.
Perfis:
Flávia Pegorin, 33 anos, formada em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade
Metodista em São Bernardo do Campo/SP, tendo feito o curso entre janeiro de 1993 e dezembro de
1996.
Clarissa Passos, 30 anos, formada em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade
Metodista em São Bernardo do Campo/SP, tendo feito o curso entre janeiro de 1996 e dezembro de
1999.
Viviana Agostinho, 31 anos, formada em Jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo, tendo feito o curso entre janeiro de 1995 e dezembro de 1998.
Questões:
1-) No compito geral, no que você acha que as novas mídias, em especial a plataforma blog,
agregam à prática do jornalismo na atualidade?
R: À prática do jornalismo, em si, acho que pouca coisa, se formos analisar direito. No máximo,
jornalistas que mantêm blogs acabam, ali, tendo espaço sem fim para colocar suas notícias e
crônicas. Bom, muitos acabam fazendo dos blogs um palanque para essa ou aquela idéia, mas aí não
é muito "jornalismo", não é? Na verdade, acredito que a maioria dos blogs ditos "jornalísticos"
acabam se tornando mais sites de crônicas e de opinião, onde o autor dá sua idéia sobre os fatos.
2-) Você acha que o jornalismo na Internet e/ou os blogs favorecem o despertar de uma
consciência crítica mais apurada em relação à vida em sociedade do que nos tradicionais veículos
do mainstream media?
R: Acho que isso é atribuir um poder grande demais aos blogs. Por um lado, a internet acaba tendo
essa aparência muito libertária, onde todos dizem o que querem, mas isso é relativo, porque nem
tudo é apurado de verdade. Além disso, blogs jornalísticos também pertencem a uma empresa, que
360
paga aquele profissional assim como jornais ou revistas. É apenas uma mídia diferente - e ainda
nova, o que atrai muita gente. Despertar uma consciência crítica, porém, é mais complexo. E o
papel do jornalista é, na verdade, informar com precisão a verdade plena, não despertar nada. Isso,
quem decide, é o leitor.
3-) Você acha que a Internet e as novas mídias relevarão à inexistência ou à um plano mínimo as
atuais mídias impressas, em especial o jornal impresso? E o aquecimento global, não recai sobre
esse problema?
R: Acredito que a internet podetirar muita força desses meios "mais tradicionais". Acabar... não
sei. Talvez sim, mas levará muitos e muitos anos ainda. O fato é que muitos não verão (e não
vêem) motivos em comprar uma revista por R$ 10 se podem ler sobre turismo, moda, eletrônica ou
qualquer outro assunto na internet. O que eu desejaria, porém, seria um outro cenário: que as
revistas e jornais impressos passassem a ser a alternativa, sendo o produto original, uma página
virtual. Assim: a revista em papel existiria, mas para poucos compradores; a revista sairia, de fato,
na internet, bancada pelos anunciantes ou por assinantes. Acho que isso até já acontece por
impulsão do cotidiano. Revistas que em 1998 tiravam 300.000 cópias, hoje saem com 60.000. O
consumidor está fazendo a sua escolha. O mercado que trate de se organizar nessa realidade! (No
caso do aquecimento global, ele seria reduzido com menos impressão de papel? Sim. Mas os
computadores também geram o famigerado lixo cibernético... Isso é assunto pra mais de um dia,
hein?!).
4-) Você trabalha com metas de audiência, públicos segmentados e/ou com que tipo maior de
objetivo? É possível você nos fornecer uma cópia dos relatórios de trica (ou quaisquer outros
que você se utilize) do seu blog para a nossa análise?
R: Temos esses dados todos, mas não "trabalhamos com eles". No nosso caso, não metas a
cumprir. Somos, acima de tudo, um blog de entretenimento, não de jornalismo (apesar de sermos
jornalistas na nossa vida civil). Para citar um dado de audiência, nossos pageviews hoje ficam em
torno de 25.000 visitas diárias e temos 8.000 unique visitors. Muito bom para um site de textos.
5-) Como você ganha dinheiro com seu blog?
R: Temos uma parceria de valor fixo mensal, como uma "ajuda de custo", com um grande portal de
internet. O IG!
361
6-) Quais palavras-chave você atribuiria ao uso e ao sucesso da plataforma blog?
R: O blog nasceu da espontaneidade de gente jovem que gostava de escrever sobre seu modesto
dia a dia, desde o que comeu no café da manhã até o gatinho que estava pegando na balada. Disso,
uma coisa muito maior surgiu: a possibilidade de atingir muitas pessoas instantaneamente. Blogs
em forma de diário seguem existindo, mas o leque se abriu - e daí saiu muita gente que tinha muito
a dizer em temas específicos, de forma embasada, com bom texto e boas idéias. A ferramenta é
simples de usar, é abrangente, é uma plataforma de lançamento para aqueles que adoram dividir
informação. E quem não adora isso hoje em dia?
_________________________________________________________________________
Dados:
Nome: Carolina Frazon Terra;
Profissão: Jornalista/ Relações Públicas;
Idade: 28;
Residência: São Paulo;
Blog: rpalavreando.blogspot.com;
Temática do Blog: Relações Públicas.
Perfil:
Formada em Relações Públicas pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho”
(Unesp Bauru), especialista em Gestão Estratégica de Comunicação Organizacional e Relações
Públicas, e mestra em Interfaces Sociais da Comunicação, ambas pela Escola de Comunicação e
Artes da Universidade de o Paulo (ECA/USP). Iniciou a carreira em Bauru trabalhando em
empresas como a FIAT e Associação Hospitalar de Bauru. Atuou quatro anos e meio como relações
públicas da Vivo e atualmente é coordenadora de Comunicação Corporativa do site “Mercado
Livre”. Além disso, é docente nos cursos de Relações blicas da Universidade de Santo Amaro
(Unisa) e da Fundação Escola de Comércio “Álvares Penteado” (Fecap), em São Paulo, e editora do
blog “RPalavreando” (Terra, 2008:5).
Questões:
1-) No compito geral, no que você acha que as novas mídias, em especial a plataforma blog,
agregam à prática do jornalismo na atualidade?
R: Com certeza, as novas mídias agregam em muito ao jornalismo, pelo caráter de imediatismo,
facilidade de publicação, de compartilhamento e de difusão.
2-) Você acha que o jornalismo na Internet e/ou os blogs favorecem o despertar de uma
consciência crítica mais apurada em relação à vida em sociedade do que nos tradicionais veículos
do mainstream media?
362
R: Não gosto desse dualismo: ou os blogs ou as mídias tradicionais. Sendo bem curta e grossa: um
complementa o outro e não são os meios que despertam a consciência crítica nos cidadãos.
3-) Você acha que a Internet e as novas mídias relevarão à inexistência ou à um plano mínimo as
atuais mídias impressas, em especial o jornal impresso? E o aquecimento global, não recai sobre
esse problema?
R: As mídias tradicionais estão em processo de transição. As novas mídias idem. Estão todos se
acomodando e achando o seu lugar ao sol. Obviamente, os jornais perderão um pouco da fatia de
mercado e muitos se restringirão à internet. Mas, haverá espaço para mais capacidade de análise e
qualidade gráfica nas mídias impressas. Não tenho dúvidas.
R: Quando a televisão foi lançada, dizia-se que era o fim do cinema. Sabemos hoje que não foi
assim. O mesmo deve acontecer com os meios digitais e os impressos. Vão se complementar e
encontrar os seus nichos de atuação.
4-) Você trabalha com metas de audiência, públicos segmentados e/ou com que tipo maior de
objetivo? É possível você nos fornecer uma cópia dos relatórios de trica (ou quaisquer outros
que você se utilize) do seu blog para a nossa análise?
R: Não trabalho com metas de audiência. Trabalho com conteúdo relevante a fim de atingir uma
parcela cada vez mais afim à temática do blog. Públicos segmentados são realmente a vantagem das
mídias digitais.
Para vc obter análises de blog, basta criar um blog no wordpress e extrair relatórios de Page views,
hits, comentários, posts mais visitados, ping backs, etc. Infelizmente, não posso fornecer o meu.
5-) Como você ganha dinheiro com seu blog?
R: O meu blog é informativo, sem caráter comercial.
6-) Quais palavras-chave você atribuiria ao uso e ao sucesso da plataforma blog?
R: Colaboração, produção coletiva de conteúdo, participação, democratização.
Réplica:
1-) O que são PING BACKs e HITs?
R: Ping backs são todos os links que direcionam ao seu site.
Hits – são os textos ou posts mais acessados, mais visitados.
2-) Você não acha que os meios digitais são mais ecologicamente corretos do que os impressos e,
em função disso, a sociedade deveria optar por eles? Em outras palavras, o fim dos impressos não
deveria ser uma meta a ser atingida?
R: Sim, acredito que os meios digitais sejam ecologicamente corretos, sim, mas não acredito no fim
dos impressos e sim, em uma evolução, com menos gastos e mais economia da natureza.
Não acredito no fim total dos impressos. Em uma diminuição, sim!
363
Tréplica:
1-) Através das minhas análises sobre os blogs, eu cheguei a seguinte frase: "para o jornalismo na
internet: o weblog é a mensagem". Como a construção dessa frase passou pela análise do seu
trabalho entre diversas outras fontes, eu gostaria de saber, se possível, qual a sua opinião sobre ela.
R: Conceito difícil e emprestado do nosso McLuhan esse, hein?
Eu acredito que nos dias de hoje os weblogs sejam o meio e a mensagem! São veículos de
expressão dos indivíduos e como preconizou McLuhan são extensões do homem.
_________________________________________________________________________
Dados:
Nome: Tiago Dória;
Profissão: Jornalista e tecnólogo;
Idade: 28;
Residência: Santos;
Blog: www.tiagodoria.com;
Temática do Blog: tecnologia.
Perfil:
Sou formado em Comunicação Social/Jornalismo pela Católica de Santos. Tenho cursos na área de
Gestão de Negócios em Informática pela Faculdade de Tecnologia do Estado de São Paulo (Fatec).
Em relação à formação profissional, sou jornalista, desde 2003 tenho um blog sobre mídia e
tecnologia, fui editor de Economia e Mundo Virtual do Último Segundo e atualmente atuo
também como consultor de mídia.
Questões:
1-) No compito geral, no que você acha que as novas mídias, em especial a plataforma blog,
agregam à prática do jornalismo na atualidade?
R: Acredito que o principal efeito do uso da plataforma blog para o jornalismo foi trazer para o
mercado novos nomes e atores sociais. Antes para fazer nome no jornalismo, você precisava bater
na porta de um grande veículo de comunicação. Hoje você pode construir a sua marca na rede.
Você pode construir a sua reputação e credibilidade fora do ambiente de uma redação.
2-) Você acha que o jornalismo na Internet e/ou os blogs favorecem o despertar de uma
consciência crítica mais apurada em relação à vida em sociedade do que nos tradicionais veículos
do mainstream media?
R: Ambos podem fornecer uma visão crítica. O que acontece é que potencialmente e teoricamente
os blogs abrem espaço para que outras pessoas fora do mainstream possam publicar sua visão de
364
mundo. Em relação ao jornalismo na internet, em geral, ele é o mesmo praticado no mainstream, só
mudam os meios.
3-) Você acha que a Internet e as novas mídias relevarão à inexistência ou à um plano mínimo as
atuais mídias impressas, em especial o jornal impresso? E o aquecimento global, não recai sobre
esse problema?
R: Os jornais impressos não vão acabar. A meu ver, o que vai acontecer é que a internet vai passar a
sustentar os impressos. Da mesma forma que durante muito tempo, os impressos sustentaram a TV.
Acredito que está acabando não um formato [jornais impressos], mas um modo de produzir e
apresentar conteúdo baseado no autoritarismo, no "eu falo e vocês escutam", e na sustentação
apenas por "grifes jornalísticas". Acredito que as pessoas não estão cansadas do jornal, mas de ler a
mesma notícias duas vezes.
R: Realmente, existe uma preocupação com o uso de tecnologias verdes e do papel, mas, a meu ver,
isso ainda não é o ponto crucial no questionamento atual do meio impresso.
4-) Você trabalha com metas de audiência, públicos segmentados e/ou com que tipo maior de
objetivo? É possível você nos fornecer uma cópia dos relatórios de trica (ou quaisquer outros
que você se utilize) do seu blog para a nossa análise?
R: Eu procuro ter não o maior, mas o melhor público. O mais interessante dos blogs é falar para um
pequeno, mas qualificado público. o posso fornecer os relatórios, mas tenho, em média, 6 mil
visitantes únicos por dia.
5-) Como você ganha dinheiro com seu blog?
R: Eu tenho uma parceria de conteúdo com um portal de internet. Recebo um fee mensal pelo
licenciamento de conteúdo.
6-) Quais palavras-chave você atribuiria ao uso e ao sucesso da plataforma blog?
R: Simplicidade e faça-você-mesmo.
Réplica:
1-) Na sua visão, como as ferramentas de RSS (e feeds em geral), e o microblogging vêm
contribuindo tanto para a comunicação embasada em blogs, como ao jornalismo na web de um
modo geral? Você utiliza alguma (inclusive outras além destas)? Quais? Porque? E quais os
benefícios que você obtém com elas?
R: Utilizo o Twitter. Fui um dos primeiros usuários no Brasil. Utilizo por que é uma ferramenta
mobile que me permite comunicar e publicar conteúdo de qualquer lugar. Acredito que essas
ferramentas criam camadas a mais de informação. Nenhuma substitui a outra. Cada uma tem suas
vantagens e desvantagens.
_________________________________________________________________________
365
Dados:
Nome: André “Dedo”;
Blog: digitalpoiesis.blogspot.com;
Temática do Blog: Poesia.
Contato: via comunidade do Orkut “Pesquisa sobre Blogs” (de Pedro Luiz de O. C. Bisneto, criada
em 04/10/2008).
Endereço: http://www.orkut.com.br/Main?cmm=71468785#Community.aspx?cmm=71468785
Questão:
No compito geral, no que você acha que as novas mídias, em especial a plataforma blog, agregam
à prática do jornalismo na atualidade?
R: Acho que são a nova prática do jornalismo na atualidade. Agregam conhecimento de forma
quantitativa e, por consequência, qualitativa. A fronteira entre o profissional e o amador torna-se
cada vez mais tênue, de forma que a produção de conhecimento está agora na mão da população
média.
Temos com isso o surgimento de muito conhecimento não verificado/referenciado e de baixa
qualidade, mas temos também muito mais conhecimento específico e embasado sendo produzido.
_________________________________________________________________________
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