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5-)
Como você enxerga a atuação
dos grandes jornais e portais de notícia e a dos blogs
dentro da Internet?
Eu sinto que os grandes jornais e empresas de comunicação, alguns vêm este fenômeno de
uma forma bacana de estar na Internet e dar a voz ao leitor, para incluir pessoas mas, o fato é: os
blogs estão chegando para dividir receita publicitária, e as grandes empresas não gostam disso. Se
você observar na grande imprensa as citações sobre a Internet, verá que todas elas são negativas,
com exceção dos cadernos de informática. A Internet sempre é citada como negativa, como fonte de
roubo, lugar de pedófilo, lugar de ladrão. Não acho que isso seja coordenado, mas acho que existe
uma micro-campanha permanente contra a Internet. O engraçado é que, enquanto ao longo do jornal
você encontra várias citações negativas da Internet – em vários cadernos, chega no caderno de
informática, a Internet passa a ser bacana e existe um incentivo ao uso das novas tecnologias.
Não é de interesse das elites desse país e nem das telecom que se use a Internet. Como as
pessoas vão querer usar a Internet se primeiro elas sentem medo dela? Os jornais não estão
interessados no que os seus leitores estão falando, eles não têm esse interesse, nunca.
6-) Como você entende a atuação dos grandes portais e jornais que, através de seus sites, se utilizam
de ferramentas típicas de blogs, é esse o caminho que essas empresas têm de percorrer?
Todos os grandes jornais, O Globo, Folha, Zero Hora, Estadão, entraram no RSS assim que
ele começou a estourar na web. O problema é que o brasileiro não sabe usar RSS. Os usuários dessa
ferramenta no Brasil são muito poucos, são profissionais de informática, são blogueiros, pessoas
que estão numa roda de uso de tecnologia e quem fome de informática, mas o brasileiro em geral
não tem fome de informática. Brasileiro gosta do Faustão, adora a Veja, gosta do Fantástico.
Infelizmente, o brasileiro não tem uma capacidade intelectual para muito mais do que isso, e não é
incentivado a sair disso. É um problema educacional grave, que vai até a incapacidade dos
professores que, por mais que se esforcem, eles não tem ainda acesso às últimas tecnologias.
Os portais, eles usam essas novas ferramentas, eles sempre usaram, mas não é esse o foco
deles. O Estadao.com, por exemplo, o foco dele não é a Internet, ele apenas está na Internet. Eles
produzem conteúdo para vários fins, a Internet é só apenas um desses lugares. O Globo.com, o
portal G1, é um portal bacana, usa tudo, da melhor forma possível, eles realmente estão na ponta,
eles, inclusive, não estão ligados ao jornal O Globo e nem à TV Globo, esses sim estão fazendo
Internet, o Estadão não está, está apenas tentando. O UOL está, apesar de ser um portal
desorganizado, tem uma mega-audiência. Aliás, a sistema de portal é a única ferramenta que o
brasileiro está acostumado a lidar, já o RSS não. As pessoas sabem usar certas ferramentas (como o
Orkut), outras não (como o MySpace ou Facebook).
Um dos grandes problemas dos portais e dos grandes jornais na rede é que eles ainda
continuam funcionando dentro de uma lógica que se baseia no copyright, eles não pagam pela
produção de seus funcionários ao mesmo tempo que se apropriam dela, vendendo-a e lucrando com
ela. Eles pagam um salário mísero por uma produção que vai para diversos veículos, incluindo a
Internet, a mais-valia virou tri-valia, poli-valia. Até um leitor que manda uma foto pro jornal, eles
pagam uma miséria e depois usam e abusam dela do jeito que quiser.
Enquanto não se modificar esse cenário relativo ao copyright, nada mudará na lógica dessas
empresas, e eles não querem discutir isso, nem qualquer sindicato do setor. A ANJ sequer sabe o
que é Internet, eles nem querer ouvir falar no assunto. O próprio profissional de comunicação que
hoje sai de um curso de graduação não tem a mínima formação para o uso da Internet. Você tem um
meio novo que não está sendo pensado, os cursos ainda trabalham para formar jornalistas dentro dos
conceitos dos antigos jornais, não dentro desse novo contexto atual. O máximo que você tem são
dois ou três cursos (O Link da PUC, o IDEC da USP, na UFRGS e UFSC), o Sérgio Amadeu, a
Polyanna Ferrari, Ana Brandilla, a Ana Carmen e mais um ou dois profissionais da comunicação
que efetivamente são ligados ao jornalismo, e mais nada.