Atualmente a soja é considerada pela ABIOVE
5
“a principal cultura agrícola do Brasil em
volume e em geração de renda”, “uma das principais fontes de divisas do país (cerca de 10% das
exportações totais)” sendo “fundamental para a produção de carne no Brasil e no mundo”. Além
disso, consideram que “a soja exerce um papel importante no desenvolvimento social e
econômico nos países em desenvolvimento”, sendo “a fonte de proteína mais barata do mundo
6
”
(Documento Abiove, 2006).
De acordo com o Relatório FBOMS
7
, uma das conseqüências do processo de expansão da
fronteira agrícola na região Centro Oeste e Norte seria a reprodução do modelo da concentração
fundiária, de renda e dos sistemas produtivos – grandes fazendas de gado e monoculturas
mecanizadas (no caso da soja) – com a subordinação dos padrões culturais e produtivos das
comunidades locais e regionais ao padrão conduzido pelos novos atores sociais, de modo geral
imigrantes de outras regiões, com acesso a capital e tecnologia
8
. Este processo tem levado ao
aumento de deslocamentos de pequenos colonos
9
, em razão dos conflitos sociais ou da compra de
lotes, resultando em novas fronteiras locais e crescente desmatamento.
È possível observar ainda através desses dados recentes divulgados sobre o desmatamento
na região da expansão da fronteira agrícola no Mato Grosso, a estreita relação entre a
monocultura de soja (e de outros gêneros agrícolas como o algodão) e a destruição ambiental
10
.
5
Estudo “Sustentabilidade na Amazônia Legal”, 2006 – Abiove - Associação Brasileira das indústrias de óleos
vegetais (www.abiobe.com.br).
6
Segundo Schlesinger (2006) a produção mundial de soja que 2005 foi superior a 215 milhões de toneladas,
absorveu cerca de 90% do volume colhido para a transformação do grão em óleo de soja bruto e em farelo. Apesar
da grande importância do óleo de soja, que responde por mais de 30% de todo o óleo vegetal produzido no mundo, o
farelo, usado na alimentação de animais “é o fator determinante do volume da demanda pela soja” (2006).
7
Relatório “Relação entre o cultivo da soja e o desmatamento – compreendendo a dinâmica”, realizado por iniciativa
do Grupo de Trabalho de Florestas, do Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais e Desenvolvimento
(FBOMS), 2004.
8
O resultado das eleições para o governo do estado de MT em 2002, em que venceu o empresário agrícola Blairo
Borges Maggi (até então do PPS), demonstra a nova face do estado: a de uma agricultura moderna desenvolvida nos
últimos 20 anos. A saga da família se iniciou nos anos 80 quando o pai do atual governador veio do Paraná para o
norte do estado e começou a plantar em terras onde remanescia o cerrado virgem. Hoje, o governador planta soja em
cerca de 100 mil hectares, entre terras próprias e arrendadas, ganhando o título de maior produtor individual de soja
do mundo (Dados retirados da reportagem do Estado de São Paulo, do dia 07/10/2002). Sobre a migração da região
sul para o Mato Grosso ver a dissertação de Rocha, Betty Nogueira (2006) “Em qualquer chão sempre gaúcho – a
multiterritorialidade do migrante gaúcho no Mato Grosso”.
9
O professor de Geografia Agrária da USP, Ariovaldo Umbelino de Oliveira, afirma que o problema fundiário no
MT não só continua em aberto como também segue influenciando de forma decisiva a dinâmica do desmatamento no
Estado - campeão nacional no corte indiscriminado da floresta. Além disso, Umbelino aponta que cerca de 90% dos
títulos de terra na região não resistiriam a uma investigação jurídica mais aprofundada (ver artigo “Grilagem
também é fator de desmatamento no Mato Grosso”, no site de notícias “Adital” – www.adital.org.br em
16/06/2005).
10
Ver entre outros, o relatório FBOMS, 2004.
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