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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO – UFRRJ
INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO, AGRICULTURA E
SOCIEDADE (CPDA)
TESE
AGRUPAMENTO DE EMPRESAS COMO FATOR DE
COMPETITIVIDADE E VETOR PARA O DESENVOLVIMENTO LOCAL:
Uma análise comparativa entre a fruticultura no Pólo Petrolina/Juazeiro, no
Brasil e a Sexta Região, no Chile
Hilbernon Fernandes Coelho
2008
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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO – UFRRJ
INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO, AGRICULTURA E
SOCIEDADE (CPDA)
AGRUPAMENTO DE EMPRESAS COMO FATOR DE
COMPETITIVIDADE E VETOR PARA O DESENVOLVIMENTO LOCAL:
Uma análise comparativa entre a fruticultura no Pólo Petrolina/Juazeiro, no
Brasil e a Sexta Região, no Chile
Hilbernon Fernandes Coelho
Sob a Orientação do Professor
Dr. Sérgio Pereira Leite
Tese submetida como requisito parcial para
obtenção do grau de Doutor em Ciências, no
Curso de Pós-Graduação em
Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade,
Área de Concentração Instituições, Mercados e
Regulação.
Rio de Janeiro, RJ
Setembro de 2008
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338.981
C672a
T
Coelho, Hilbernon Fernandes.
Agrupamento de empresas como
fator de competitividade e vetor
para o desenvolvimento local: uma
análise comparativa entre a
fruticultura no Pólo
Petrolina/Juazeiro, no Brasil e a
sexta região, no Chile. / Hilbernon
Fernandes Coelho.
328 f.
Orientador: Sérgio Pereira Leite
Tese (doutorado) Universidade
Federal Rural do Rio de Janeiro,
Instituto de Ciências Humanas e
Sociais.
Bibliografia: f. 293-313.
1. Sistemas produtivos -
crescimento econômico Teses. 2.
Sistemas produtivos
desenvolvimento - Teses 3. Efeitos
de transbordamentos Teses. I.
Leite, Sergio Pereira. II.
Universidade Federal Rural do Rio
de Janeiro. Instituto de Ciências
Humanas e Sociais. III. Título.
À Marta, Carolina e Daniel
AGRADECIMENTOS
Várias foram as pessoas de diversas instituições que tiveram participação na realização deste
trabalho. A todas elas estendo os meus sinceros agradecimentos.
Ao Professor Sergio Pereira Leite que acompanhou e orientou minha carreira acadêmica desde o
mestrado, sempre com intervenções precisas e fundamentais, que foram decisivas para a
elaboração da tese.
Agradeço a todos os demais professores do CPDA com os quais pude obter valiosos
conhecimentos, em particular, à Professora Ana Célia Castro, uma verdadeira “parteira de teses”,
ao professor Renato Maluf, que nos apresentou Amartya Sen e “eis que tudo se fez novo”, ao
Professor John Wilkinson, que, ainda no mestrado, aproximou-nos dos temas relacionados aos
“agrupamentos de empresas”, ao Prof. Georges Flexor, que trouxe grandes contribuições para o
trabalho na disciplina “Temas do Sistema Agroalimentar e ao Professor Nelson Delgado, que
trouxe novas abordagens sobre a “Economia mundo”.
À Profª. Lia Hasenclever, que apresentou-me o CPDA, quando fui seu aluno no curso de
Especialização em Comércio Exterior da UFRJ, em 1997.
À Embrapa Semi-Árido, na pessoa do Dr. Pedro Gama, Dr. Elias Reis e do Agrônomo Mathias,
que durante a pesquisa de campo disponibilizou toda a sua estrutura técnica e de logística.
Aos técnicos Codevasf (da 3
a
e 6
a
SR) que viabilizaram a aproximação com diversos produtores
do pólo.
Na Sexta Região, no Chile, pude contar com apoio incondicional da ODEPA e do INDAP, em
especial ao Eng.º Agrônomo Carlos Callardo, do INDAP, que me acompanhou durante todo o
período da pesquisa de campo.
Ao apoio institucional do Banco do Brasil, sem o qual este trabalho não teria sido realizado.
Por fim, não poderia deixar de agradecer aos funcionários do CPDA, em especial à Diva de Faria,
pela presteza e organização que conduz a agenda do Prof. Sérgio Leite.
RESUMO
COELHO, Hilbernon Fernandes. Agrupamento de empresas como fator de competitividade e
vetor para o desenvolvimento local: Uma análise comparativa entre a fruticultura no Pólo
Petrolina/Juazeiro, no Brasil e a Sexta Região, no Chile. 2008. 311p. Tese (Doutorado em
Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade). Curso de Pós-Graduação em
Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Rio de
janeiro, RJ, 2008.
O objetivo principal da tese é verificar se o crescimento econômico gerado nos dois sistemas
produtivos, em Petrolina/Juazeiro, no Brasil e na Sexta Região, no Chile, no período
compreendido entre 1990 e 2005, foi suficiente para gerar efeitos de transbordamentos para
promover o desenvolvimento das localidades. Parte-se do pressuposto que o crescimento
econômico se traduzirá em benefícios para a população se houver intervenção e regulação do
Estado, viabilizando investimentos em outras áreas como, por exemplo, educação e saúde, como
forma de diminuir as tensões sociais no setor exportador de frutas dos dois agrupamentos
produtivos em questão. A metodologia aborda uma revisão na literatura, objetivando verificar o
estado da arte dos estudos sobre a aglomeração de empresas e a sua interação com o local; uma
análise qualitativa sobre a competitividade da cadeia global da fruta, enfatizando a importância
dos vínculos e impactos locais com os atores globais; comparação da fruticultura brasileira com a
chilena, observando-se a historiografia de cada país e suas respectivas trajetórias; caracterização
econômico-produtiva dos dois sistemas produtivos, sob o ponto de vista da competitividade,
através de entrevistas e aplicação de questionário; É feita também uma breve análise sobre as
relações de trabalho nos dois agrupamentos produtivos. Os aspectos econômicos foram
analisados por meio de dois indicadores: a) produtividade física do trabalho e b) grau de abertura
para o exterior. Para verificar se o crescimento econômico gerou transbordamentos suficientes
para promover o desenvolvimento humano nas áreas de estudo, utilizaram-se as premissas do
IDH/PNUD. Os resultados mostram que, mesmo em lugares distantes, há similaridades nos
processos produtivos dos dois sistemas, principalmente, no que se refere à disponibilidade de
recursos e ao papel do Estado, privilegiando alguns segmentos sociais em detrimento de outros.
Quanto à inserção nos mercados nacionais e globais de frutas frescas, as duas localidades se
inserem de forma diferenciada conforme as características institucionais, sociais e históricas de
cada região. O estudo permitiu confirmar a hipótese de que é impossível verificar efeito de
transbordamento com a mentalidade empresarial vigente nos sistemas produtivos estudados.
Tendo em vista a atuação marcante de grandes empresas nacionais e estrangeiras, voltadas para o
suprimento da cadeia global de frutas, se não houver a intervenção direta do Estado como o
principal indutor do desenvolvimento, por meio de políticas públicas eficazes, a discussão sobre
agrupamentos de empresas e desenvolvimento das pessoas será vazia, visto que,
comprovadamente, o mercado não é suficiente para promover o desenvolvimento humano.
Palavras-chave: efeitos de transbordamentos; desenvolvimento; sistemas produtivos
ABSTRACT
COELHO, Hilbernon Fernandes. Cluster of companies as a factor for competitiveness and
vector for a local development: a comparative analysis of the fruit-growing in the pole
Petrolina/Juazeiro, Brazil end Sixth Region in Chile. 2008. 311p. Thesis (Dr. in Social
Sciences, Development, Agriculture and Society). Curso de Pós-Graduação em
Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Rio de
janeiro, RJ, 2008.
The objective of this thesis is to verify whether the economic growth generated in two productive
systems, in Petrolina/Juazeiro, Brazil, and the one in the Sixth Region, in Chile, from 1990 to
2005, was sufficiently able to generate overflowing effects in order to promote local
development. It is postulated in this paper that the economic growth will render benefits to the
population only with the intervention and regulation on the part of the State, which will make
investments in other areas feasible. For example, investments in areas as education and the health
system, as a mean to diminish social conflicts or tensions within the fruit export sector of the two
mentioned productive systems. In order that such objective is fulfilled, with a view to confirm or
not the postulate, this work was divided into five chapters, introduction and the conclusion
paragraphs not included. In the first chapter, literature on the subject is revised, which aims to
verify the state of the art of studies about enterprise clusterings and their interaction with the
environment they are established in. The second chapter presents a qualitative analysis about the
competitiveness of the global fruit chain market, emphasizing the importance of ties and local
impact with global actors. The third chapter compares the Brazilian and the Chilean fruit
production, taking into account each country’s history and trajectory. The fourth, comprehends
the empirical phase of the thesis, based on the application of the research tools, which is
contained in the economical-productive characterization of the two productive systems with a
competitiveness point of view. A brief analysis about work relationship in the two productive
clusters has also been done. In the fifth chapter, the idea of development as a socioeconomic
process is defended, which will fully verify whether the wellbeing of the local population has
been met. The economical aspects were analyzed by means of two indicators: a) physical
productivity of work and b) level of openness to foreign affairs. The IDH/PNUD premises were
used in order to verify whether economic growth has provoked sufficient overflowing to promote
human development in the studied areas. At last, it is concluded that even in other, distant lands,
there are similarities between the productive processes of the two systems, mainly in what
accounts for the availability of resources and the role that the State plays, bestowing privileges to
some social segments to the detriment of other segments. In respect to the kind of insertion in the
national and global fresh fruit markets, the two localities have different styles as to institutional,
social and historical characteristics in each of their regions. This study made it possible to
confirm the hypothesis that it is possible to verify the spillover effect under the current
entrepreneurial view in respect to the productive system studied. With a view to the remarkable
actuation of large national and foreign companies in the global fruit supply chain, and if there is
no direct intervention of the State as the main driver of development, through efficient public
policies, this discussion about clustering of enterprises and people development may remain
empty, considering that the market has not been sufficiently able to promote human development.
Key Words: spillover effects; development; productive systems
RELAÇÃO DE SIGLAS
ASOFRUCEN - Associação dos Produtores do Centro
ACP - África, Caribe e Pacífico
AFRUCOOP. - Cooperativa Frutícola de Aconcágua
APL - Arranjos Produtivos Locais
ASOEX - Associação de Exportadores do Chile
BCB - Banco Central do Brasil
BNB - Banco do Nordeste
BNT - Barreiras não-tarifárias
BPA - Boas Práticas Agropecuárias
CASEN - Encuesta de Caracterización Socioeconómica
CCC - Crédito de Contrato e Consignação
CEFET - Centro Federal de Educação Tecnológica
CEPAL - Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe
CFSA - Companhia Frutera Sudamericana
CIREN - Centro de Información de Recursos Naturales
CODEVASF - Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba
CONDEPE - Agência Estadual de Planejamento e Pesquisa de Pernambuco
COOPERFRUT - Cooperativa de Produtores Frutícolas de Curicó
COOPEUMO Cooperativa Agrícola de Peumo
CORFO - Corporação de Fomento à Produção
CPG - Cadeias Produtivas Globais
CVSF - Comissão do Vale do São Francisco
DNOCS - Departamento de Obras Contra as Secas
ECA - Empresa de Comércio Agrícola
EMATER - Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural
EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
EU - União Européia
EUREPGAP - Euro Retailer Produce Working Group – Eurep - e Good Agricultural Practice –
GAP
FAO - Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação
FAOSTAT - Estatísticas da FAO
FEDEFRUTA - Federação dos Produtores de Frutas do Chile
FINOR - Fundo de Investimento do Nordeste
FIPE - Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas
FOB - Free on Board
FONASA - Fondo Nacional de Salud
FUNCEX - Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior
GATT - Acordo Geral de Tarifas e Comércio
GREMI - Groupe de Recherche Européen sur les Milieux Innovateurs
GTDN - Grupo Técnico para o Desenvolvimento do Nordeste
HVF - High Value Foods
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IDE - Índice de Desenvolvimento Econômico
IDH - Índice de Desenvolvimento Humano
IDHM - Índice de Desenvolvimento Humano Municipal
IDSÍ - Índice de Desenvolvimento Social
INDAP - Instituto de Desarrollo Agropecuario de Chile
INEP - Instituto Nacional de Ensino e Pesquisa
IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
IPECE - Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará
IRER - Institut de Recherches Économiques et Régionales
IRPAA - Instituto Regional da Pequena Agricultura Apropriada
ISAPRE - Instituições de Saúde Previdenciária Privadas
LEADER - Ligação entre Ações de Desenvolvimento da Economia Rural
MDIC - Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio
MERCOSUL - Mercado Comum do Sul
Mideplan - Ministério de Desenvolvimento e Planejamento do Chile
MINSAL - Ministerio de Salud de Chile
MPME - Micro, Pequena e Média Empresa
NAFTA - Tratado Norte-Americano de Livre Comércio
NCM - Nomencatura Comum do Mercosul
NEC - Norte, Este e Centro
OCDE - Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico
ODEPA - Oficina de Estudios y Politicas Agrarias
OMC - Organização Mundial do Comércio
PADFIN - Programa de Apoio e Desenvolvimento da Fruticultura Irrigada do Nordeste
PEA - População Economicamente Ativa
PIB - Produto Interno Bruto
PIF - Produção Integrada de Frutas
PNAD - Pesquisa Nacional por Amostragem Domiciliar
PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
PPC - Paridade do Poder de Compra
PROCHILE - Programa de Fomento a las Exportaciones Chilenas
RABOBANK - Cooperatieve Raiffeisen Boerenleenbank
SECEX - Secretaria de Comércio Exterior
SEI - Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia
SERNAM - Serviço Nacional da Mulher
SGP - Sistema Geral de Preferências
SH - Sistema Harmonizado
SINIM - Sistema Nacional de Indicadores Municipais
SPL - Sistemas Produtivos Locais
SUDENE - Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste
SUS - Sistema Único de Saúde
SUVALE - Superintendência do Vale do São Francisco
TEC - Tarifa Externa Comum
UNCTAD - Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento
UNIVASF - Universidade Federal do Vale do São Francisco
USDA - Departamento de Agricultura dos Estados Unidos
VALEXPORT - Associação dos Produtores e Exportadores de Hortigranjeiros e Derivados do Vale
do São Francisco
ÍNDICES DE DIAGRAMAS, FIGURAS, GRÁFICOS, QUADROS E TABELAS
ÍNDICE DE DIAGRAMAS
Diagrama 1: Componentes das variações na atividade econômica 30
Diagrama 2: Modelos de desenvolvimento local 33
Diagrama 3: Condicionantes do desenvolvimento local 38
Diagrama 4: Agentes do processo de desenvolvimento local 46
Diagrama 5: Inovação e desenvolvimento local: principais teorias 58
Diagrama 6: Principais elementos integrantes do conceito de desenvolvimento territorial integrado
60
Diagrama 7: Principais forças das cadeias produtivas de frutas 96
Diagrama 8: Dinâmica da cadeia de frutas no mercado doméstico 102
Diagrama 9: Dinâmica da cadeia de frutas no mercado internacional 105
Diagrama 10: Fluxo da rede de relações comerciais 203
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1: Formas de concentração empresarial 55
Figura 2: Localização do Pólo Petrolina/Juazeiro 175
Figura 3: Principais mercados compradores 177
Figura 4: Níveis de inovação da fruticultura de exportação no Pólo Petrolina/Juazeiro 190
Figura5: Mapa do Chile com detalhes da Sexta Região 194
ÍNDICE DE GRÁFICOS
Gráfico 1: Exportação de fruta fresca chilena – 1997 a 2005 (US$ milhões correntes) 147
Gráfico 2: Evolução de frigoríficos e câmaras no Chile 163
Gráfico 3: Evolução dos produtores certificados pelo PIF 189
Gráfico 4: Pólo Petrolina/Juazeiro – indicadores econômicos 231
Gráfico 5: Sexta Região – indicadores econômicos 231
Gráfico 6:
Evolução
da produtividade do trabalho no dois sistemas produtivos (US$ mil)
232
Gráfico 7: Evolução do grau de abertura (1995-2005) 234
Gráfico 8: Evolução do IDHM-Renda dos municípios do Pólo Petrolina/Juazeiro 247
Gráfico 9: Evolução do IDHM-Renda dos municípios da Sexta Região 250
ÍNDICE DE QUADROS
Quadro 1: Formas de concentração industrial 24
Quadro 2: Tipologia das infra-estruturas que impactam no desenvolvimento econômico local
41
Quadro 3:Comparação das vantagens da fruticultura irrigada no Nordeste e da Califórnia 86
Quadro 4: Classificação das frutas de acordo com a Tarifa Externa Comum - TEC 122
Quadro 5: Principais Pólos Irrigados do Nordeste 133
Quadro 6: Divisão do trabalho entre homens e mulheres no cultivo da uva 136
Quadro 7: Emprego agrícola de temporada 158
Quadro 8: Tecnologias nas fases produtivas da fruta 168
Quadro 9: Principais empresas exportadoras de fruta no Chile e na Sexta Região 202
Quadro 10: Alguns elementos básicos que conformam os dois sistemas produtivos 221
Quadro 11: Produtividade do trabalho – Pólo Petrolina/Juazeiro e Sexta Região 230
Quadro 12: Matriz de competitividade de Petrolina/Juazeiro e da Sexta Região 266
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 1: Principais países produtores de frutas – em toneladas – 1990 a 2004 87
Tabela 2: Produção por tipo de fruta dos principais países – tonelada mil – 2005 89
Tabela 3: Valor das exportações dos principais países – 2005 (US$ mil) 92
Tabela 4: Comparativo da performance entre Brasil e Chile – 2005 (US$ mil) 94
Tabela 5: Taxação na entrada dos principais insumos e equipamentos 110
Tabela 6: Canadá – barreiras comerciais 113
Tabela 7: Evolução das exportações de frutas para os EUA (2004-2006) 113
Tabela 8: Estados Unidos: barreiras comerciais 115
Tabela 9: Evolução das exportações de frutas na União Européia (2004-2006) 115
Tabela 10: União Européia: barreiras comerciais 117
Tabela 11: Participação das exportações brasileiras de frutas no mercado norte-americano e
na União Européia
117
Tabela 12: Evolução das exportações de frutas in natura brasileiras - 1995-2006 (US$
milhão)
123
Tabela 13: Exportações dos principais derivados de frutas (US$ milhão) 126
Tabela 14: Distribuição das áreas irrigadas nos Projetos Públicos dos Pólos do Norte de
Minas Gerais e Petrolina/Juazeiro
130
Tabela 15: Custos para implantação de 01(um) hectare de uva de mesa. (Preço de
nov./2006)
139
Tabela 16: Evolução das exportações de frutas in natura brasileiras - 1995-2006 (US$
milhão)
148
Tabela 17: Nível médio de endividamento – 2007 154
Tabela 18: Delimitação do tamanho das propriedades na Sexta Região 154
Tabela 19: Chile - Exportação de frutas frescas (mil caixas) 165
Tabela 20: Evolução da exportação de uva e manga no Pólo Petrolina/Juazeiro (1996-2006)
179
Tabela 21: Evolução do PIB no eixo Petrolina/Juazeiro 1999-2004 (US$ 1.000) 180
Tabela 22: Total da área irrigada e cultivada por SR da Codevasf (posição 2005) 181
Tabela 23: Valor bruto da produção por SR da Codevesf (posição 2005) 181
Tabela 24: Resultados da introdução de inovações na propriedade 188
Tabela 25: Principais dificuldades para operar no sistema produtivo – Petrolina/Juazeiro 191
Tabela 26: Exportação de frutas de países do Hemisfério Sul (mil toneladas) 195
Tabela 27: Superfície cultivada por espécie de 1970 a 2003 (1.000 ha) 197
Tabela 28: Principais frutas exportadas pela Sexta Região (US$ mil) 200
Tabela 29: Principais dificuldade para operar no sistema produtivo – Sexta Região 206
Tabela 30: Resultados da introdução de inovação na propriedade 215
Tabela 31: Sistema de irrigação empregados no Chile (em hectare) 216
Tabela 32: Evolução do PIB per capita e da população (1995-2005) – US$ 1.000 227
Tabela 33: Grau de abertura dos dois sistemas produtivos no período 1995-2005 (US$ mil) 233
Tabela 34: Índice de Desenvolvimento Humano no Brasil e no Chile (1999-2005) 240
Tabela 35: Evolução do IDHM no lo Petrolina/Juazeiro (1991-2000) e na Sexta Região
(1992-2001)
241
Tabela 36: Número de trabalhadores por vínculo empregatício – 2005 243
Tabela 37: Percentual de pessoas com renda per capita abaixo de ½ Salário Mínimo -
Microrregião Juazeiro - BA (1991-2000)
244
Tabela 38: Evolução da renda per capita na Microrregião Juazeiro (1991-2000) R$ 245
Tabela 39: Percentual de pessoas com renda per capita abaixo de ½ Salário Mínimo -
245
Microrregião Petrolina - PE (1991-2000)
Tabela 40: Evolução da renda per capita na Microrregião Petrolina (1991-2000) R$ 246
Tabela 41: Evolução percentual da renda proveniente do trabalho (1991-2000) R$ 246
Tabela 42: Evolução dos níveis de indigência e pobreza da população da Sexta Região 248
Tabela 43: Evolução da renda per capita na Sexta Região (1992-2001) US$ 249
Tabela 44: Evolução do IDHM-Longevidade de Petrolina/Juazeiro (1991-2000) e da Sexta
Região (1992-2001)
251
Tabela 45: Evolução da esperança de vida em Petrolina/Juazeiro e na Sexta Região 252
Tabela 46: Taxa de mortalidade infantil em Petrolina/Juazeiro e na Sexta Região, em cada
1.000 nascidos
253
Tabela 47: Alguns indicadores, em percentuais, que contribuem para a manutenção da
saúde
255
Tabela 48: Evolução do IDHM-Educação em Petrolina/Juazeiro e na Sexta Região 256
Tabela 49: Média dos anos de estudo e percentual de analfabetos acima de 25 anos 261
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
1
CAPÍTULO I INTEGRANDO O CONCEITO DE AGRUPAMENTO DE
EMPRESAS ÀS CONCEPÇÕES DE DESENVOLVIMENTO
14
1.1 Conceitos de desenvolvimento
16
1.2 Desenvolvimento econômico local em uma visão integrada
22
1.2.1 A questão da concentração e da difusão 22
1.2.2 Aspectos da industrialização difusa 28
1.3 O modelo de desenvolvimento local e a descentralização
30
1.3.1 Os estudos sobre desenvolvimento a partir dos recursos locais 31
1.3.2 Aspectos comuns para os processos de desenvolvimento local 36
1.3.3 Condicionantes do desenvolvimento local 37
1.3.3.1 Recursos humanos 38
1.3.3.2 Recursos materiais 39
1.3.3.3 Recursos técnicos 43
1.3.3.4 Presença e estrutura cultural própria 44
1.3.3.5 Organização e poder a nível local 45
1.3.4 Os aspectos produtivos típicos do modelo de desenvolvimento local 47
1.3.4.1 O conceito sócio-econômico do distrito industrial marshalliano 48
1.3.4.2 A formação dos sistemas produtivos locais 50
1.3.4.3 Definindo os termos dos agrupamentos (concentração) de empresas 52
1.3.4.4 Inovação e desenvolvimento local: debates teóricos recentes 56
A evolução das teorias relativas à inovação e o desenvolvimento local 56
Caracterização das áreas inovadoras 59
1.3.5 Limites e possibilidades do desenvolvimento local 61
1.4 Desenvolvimento e o efeito transbordamento
65
1.4.1 Efeito transbordamento e o desenvolvimento rural 66
CAPÍTULO II A COMPETITIVIDADE DA CADEIA GLOBAL DE FRUTAS E
OS IMPACTOS SOBRE O LOCAL
70
2.1 Cadeias globais e sistemas produtivos: a importância dos vínculos locais com os
atores globais
71
2.1.1 As cadeias globais como dimensão funcional do desenvolvimento 72
2.1.2 Os clusters e a localização do desenvolvimento 74
2.1.3 O avanço econômico (upgrading) como categoria de análise para o
desenvolvimento
75
2.2 O mercado de frutas no cenário da agricultura global
76
2.3 As relações de poder globais e as exportações agrícolas não tradicionais na
América Latina
79
2.4 A evolução da globalização do complexo de frutas frescas
81
2.4.1 O sistema produtivo de frutas frescas pré-Segunda Segunda Guerra Mundial 81
2.4.2 O sistema produtivo de frutas frescas pós-Segunda Segunda Guerra Mundial 82
2.4.3 O padrão de interação geográfica do comércio global de fruta 83
2.5 O cenário internacional do comércio de fruta
84
2.5.1 A dimensão produtiva e comercial da cadeia de frutas 86
2.5.2 Distribuição da produção mundial de frutas 87
2.5.3 Evolução das exportações de frutas no mundo 91
2.5.4 As tendências do mercado de frutas 94
2.5.5. As especificidades da organização da cadeia de frutas 98
2.5.6 A dinâmica da cadeia de frutas no mercado doméstico 99
2.5.7 A dinâmica da cadeia de frutas no mercado internacional 103
2.6 Evolução institucional do comércio internacional de frutas
107
2.6.1 O sistema mundial de comércio e os produtos tropicais 108
2.6.2 Impactos das barreiras internacionais sobre a fruticultura 111
Análise dos maiores mercados compradores/consumidores 112
CAPÍTULO III A FRUTICULTURA NO BRASIL E NO CHILE
TRAJETÓRIAS DIFRENTES
119
3.1 A fruticultura brasileira como um modelo exportador em construção
119
3.1.1 A balança comercial brasileira de frutas frescas 121
3.1.2 O desenvolvimento da fruticultura no Brasil 127
3.1.2.1 Breve histórico da política de irrigação no Brasil 128
3.1.2.2 Possibilidades abertas para a fruticultura irrigada 132
3.1.3 Os impactos da fruticultura irrigada sobre a expansão do trabalho 135
3.2 A tradição da fruticultura chilena: origens e desenvolvimento
141
3.2.1 A história de um êxito macroeconômico 146
3.2.2 A fruta chilena na cadeia de produção global e as empresas multinacionais 149
3.2.3 A reestruturação do setor exportador frente à crise da década de 1990 151
3.2.4 O desenvolvimento desigual no Chile frente à expansão da fruticultura 154
3.2.5 Impactos da inovação tecnológica na fruticultura chilena 160
CAPÍTULO IV
ECONÔMICOS, PRODUTIVOS E SOCIAIS DO PÓLO
PETROLINA/JUAZEIRO E DA SEXTA REGIÃO
170
4.1 Caracterização econômico-produtiva do Pólo de Fruticultura
Petrolina/Juazeiro
171
4.1.1 Especificidades históricas do Pólo Petrolina/Juazeiro 176
4.1.1.1 Questões histórico-políticas do Pólo Petrolina/Juazeiro 177
4.1.1.2 O impacto das exportações de frutas sobre as condições de trabalho no Pólo
Petrolina/Juazeiro
182
4.1.2 Principais protagonistas que possibilitaram a inserção no mercado externo e o
impacto sobre os pequenos produtores
184
4.1.3 Introdução de inovações no Pólo Petrolina/Juazeiro 187
4.2 Características econômico-produtivas da Sexta Região
192
4.2.1 Especificidades históricas da oferta de frutas na Sexta Região 195
4.2.2 Os impactos da transnacionalização sobre o setor na Sexta Região 200
4.2.2.1 As relações comerciais em redes na Sexta Região 203
4.2.2.2 O papel dos produtores na cadeia de comercialização 204
4.2.3 O impacto das exportações de frutas sobre as condições de trabalho na Sexta
Região
209
4.2.4 Introdução de inovações na Sexta Região 214
4.2.4.1 Característica do sistema de irrigação na Sexta Região 216
4.3 Análise comparativa entre os dois sistemas produtivos
218
CAPÍTULO V - IMPACTOS SOCIOECONÔMICOS SOBRE OS SISTEMAS
PRODUTIVOS DE FRUTAS DE PETROLINA/JUAZEIRO E DA SEXTA
REGIÃO
224
5.1 A fragilidade do Produto Interno Bruto (PIB) per capita como indicador de
desenvolvimento local
224
5.2 Indicadores do desenvolvimento econômico
228
5.2.1 Produtividade física do trabalho 229
5.2.2 Grau de abertura para o exterior 232
5.3 O Bem-estar como categoria de análise
235
5.3.1 Análise do IDHM - Renda 242
5.3.1.1 Análise do indicador “renda” no Pólo Petrolina/Juazeiro 244
5.3.1.2 Análise do indicador “renda” no sistema produtivo da Sexta Região 247
5.3.2 Análise do IDHM – Saúde (longevidade) 250
5.3.3 Análise do IDHM – educação 256
5.3.4 Considerações sobre a utilização do IDH como análise comparativa 259
CONCLUSÃO
263
BIBLIOGRAFIA
275
ANEXOS
295
ANEXO I – ROTEIRO DE ENTREVISTA
296
ANEXO II – ENTREVISTADOS DA PESQUISA
299
ANEXO III - QUESTIONÁRIO
301
ANEXO IV PLANILHA PEA, PIB E PRODUTIVIDADE
PETROLINA/JUAZEIRO
309
ANEXO V - PLANILHA PEA, PIB E PRODUTIVIDADE – SEXTA REGIÃO
310
1
INTRODUÇÃO
O conceito de desenvolvimento regional/local não é exclusivamente representado por
uma fonte de riqueza material, mas também um conjunto de conotações distintas que
transcendem o fator puramente econômico, tais como: a identidade, os sentimentos
compartilhados, as relações interpessoais, os modos de vida ou a capacidade de controle e
liderança do próprio processo de desenvolvimento.
Assim, o interesse pelos estudos dos espaços produtivos reside na evidência empírica
fornecida por um grupo de regiões/locais que, por conta da utilização do seu potencial, tem
permitido enfrentar as conseqüências da crise econômica e ocupar um lugar, possibilitando a
melhoria no nível de vida de suas respectivas populações e despertando a esperança de outras
áreas, principalmente, rurais e periféricas.
Nesse sentido, o objetivo central desta tese é verificar se o crescimento econômico
gerado nos dois sistemas produtivos, em Petrolina/Juazeiro, no Brasil e na Sexta Região, no
Chile, no período compreendido entre 1990 e 2005, foi suficiente para gerar efeitos de
transbordamentos para promover o desenvolvimento nas localidades. Parte-se da hipótese de que
tal crescimento se traduzirá em benefícios para a população se houver intervenção e regulação
do Estado viabilizando investimentos em outras áreas como, por exemplo, educação e saúde,
como forma de diminuir as tensões sociais no setor exportador de frutas das duas localidades em
análise.
A estratégia utilizada com base no desenvolvimento de agrupamentos ou aglomerações
de empresas, não importando qual seja sua nomenclatura (cluster, distrito industrial, entorno
inovador, arranjos produtivos locais ou sistemas produtivos), vem ganhando uma notória
preferência pelas políticas públicas de desenvolvimento local, com mais vigor nos países
desenvolvidos e mais paulatinamente nos países em desenvolvimento.
Historicamente, a preocupação com os agrupamentos de empresas sempre esteve
presente no processo de planejamento de políticas de desenvolvimento no pós- Segunda Guerra.
A ênfase era dada na concentração local de empresas sem distinção de porte, como mecanismo de
promoção de desenvolvimento das regiões e localidades.
No caso do Brasil, os Planos Nacionais de Desenvolvimento (PND) das décadas de 1960
e 1970 davam particular importância a dois tipos de agrupamentos produtivos: os pólos de
2
desenvolvimento
1
e os complexos industriais. Os conceitos de desenvolvimento regional
polarizado estavam vinculados ao nome de François Perroux, para quem as indústrias motrizes
são atores econômicos dominantes no crescimento econômico de regiões e localidades,
exercendo efeitos que se distinguem pela capacidade de induzir transformações na sua área de
influência que são denominados “efeitos de arrasto”, gerados por tais indústrias motrizes que não
estão presentes em outros tipos de aglomerações, conforme menciona Haddad (1999).
Vale também destacar a importância dos encadeamentos para trás e para frente de
Hirschman (1958 e 1981), que procuravam demonstrar como e quando a produção de um setor
era suficiente para satisfazer uma quantidade mínima ou uma escala mínima necessária para
tornar atrativo o investimento em outro setor que este abastece (encadeamento para trás) ou
processa (para frente).
As políticas industriais e de desenvolvimento, a partir da década de 1990, passaram a dar
atenção à formação de sistemas produtivos locais, onde há agrupamento de empresas com
transações entre seus atores e a presença de instituições de pesquisa e desenvolvimento, o que
possibilitava a criação de externalidades, aliado ao fato de que os referidos agrupamentos ou
concentração de empresas teriam papel central na estratégia para a competitividade e eficiência
coletiva.
Na visão de Castells (1999), o motivo de tantas mudanças, principalmente a partir da
década de 1980, foi o questionamento de uma série de paradigmas sob diversos aspectos, tendo a
revolução informacional exigido das empresas e governos novas atitudes e valores. A
organização privada que pretende “sobreviver” precisa estar atenta às modificações e exigências
dos seus consumidores. Quanto às instituições públicas, também precisam reinventar-se para
atender às demandas sociais e evitar o descrédito.
No caso específico das organizações, essa quebra de paradigmas vem representando uma
reinvenção do modelo de estrutura organizacional que prevaleceu durante grande parte do século
XX. No mesmo esquema interpretativo, Piore e Sabel (1984) assinalam que a complexidade das
novas tecnologias implica em que a firma tradicional não consiga reunir em seus limites a
variedade de capacitações e conhecimentos para gerir com êxito tais tecnologias e demandas do
1
De acordo com as linhas de ação do II PND, o Vale do São Francisco, dada a sua alta potencialidade de recursos
naturais e situação geográfica, apresentava uma importância estratégica no esforço governamental de
desenvolvimento regional e integração nacional, ensejando a criação do Pólo Irrigado de Fruticultura (PIF) de
Petrolina (PE) e Juazeiro (BA), no período de 1975-1979.
3
mercado, tendo em vista que a empresa hierárquica e verticalmente organizada é cada vez mais
ineficiente e incapaz de superar as novas dificuldades com rapidez necessária. Assim,
acrescentam os autores, “o modelo de empresa weberiana mostra sinais de exaustão e
incompatibilidade com as novas exigências do mercado”.
Neste cenário é que emergem estruturas organizacionais, como clusters, redes, cadeias de
suprimento, aglomerados, arranjos produtivos locais, sistemas locais de produção etc, visando
constituir estratégias eficazes para as novas organizações. Em todos esses casos a competição e a
colaboração convivem simultaneamente, sendo que a cooperação passa a fazer parte do modelo
competitivo. Esse paradoxo faz parte da substituição gradativa de uma visão cartesiana por uma
visão sistêmica em que as partes estão interligadas e interdependentes. Nesse sentido, a empresa
deixa de ser um elemento isolado no ambiente. Assim, conforme defende Castells (1999), torna-
se fundamental às organizações manterem e ampliarem seus relacionamentos com o meio onde
estão instaladas.
Resgatando o conceito de sinergia proposto por Evans (1996), a competitividade deixou
de ser um conceito associado a uma só empresa, mas sim um conceito de competitividade
sistêmica, tendo em vista que a força do conjunto e das relações é mais forte que a soma das
peças isoladas,
Sob este enfoque, ao se resgatar o conceito marshaliano de distrito industrial, as novas
formas de organização empresarial baseiam-se enfaticamente na busca de uma eficiência e
competitividade coletiva, como suporte ao sucesso das empresas individuais. Nesse sentido, antes
de qualquer definição conceitual sobre clusters, aglomerados, agrupamentos de empresas,
arranjos produtivos locais, sistemas locais de produção etc, duas situações fundamentais devem
ser consideradas: a) as novas estruturas organizacionais emergem a partir da transição dos
modelos vinculados à era industrial para um desenho de produção mais flexível; e b) os novos
modelos baseiam-se na visão sistêmica, na eficiência coletiva e na convivência necessária entre
colaboração e competição.
Por outro lado, esse crescente interesse pela investigação dos sistemas localizados trouxe
algumas dificuldades que não podem deixar de ser apontadas. A primeira delas diz respeito à
extensa variedade de termos que são utilizados para fazer referência a esses arranjos locais.
Alguns autores, tais como Belussi e Arcangeli (1998), Scott (1998), Lastres et al. (1997),
Markusen (1995), entre outros, já se ocuparam em apontar as diferenças, ainda que bastante
4
tênues, encontradas entre as diversas formas de organização das aglomerações de produtores.
Dessa forma, o principal pressuposto é que, dependendo do grau de intervenção do Estado, os
agrupamentos de empresas são capazes de produzir vantagens competitivas aos produtores que
não estariam disponíveis se estes estivessem atuando isoladamente, trazendo desenvolvimento
para a região.
Torna-se importante ressaltar que a simples aglomeração de empresas não é condição
suficiente para que a concentração gere vantagens competitivas diferenciais às firmas locais.
Um dos elementos determinantes dessas vantagens são as interações mantidas entre os atores.
Na visão de Porter (1999), tais vantagens competitivas são, basicamente, de duas naturezas.
Primeiro, em virtude do processo de divisão do trabalho e da especialização dos produtores
verificados nas aglomerações, a concentração geográfica é capaz de proporcionar economias
externas à firma que são apropriadas pelo conjunto dos produtores, mesmo que de forma
assimétrica. O autor, neste caso, reconhece que os aglomerados podem assumir diversas
formas e estágios de evolução, dependendo de sua profundidade e sofisticação, incluindo
empresas de setores a jusante e a montante e organizações relacionadas
Essas externalidades são o que Marshall (1920), em sua análise dos distritos industriais
na Inglaterra no final do século XIX, chamou de retornos crescentes de escala que são externos à
firma, mas internos ao sistema local. Tais economias externas podem se manifestar seja por meio
da presença concentrada de mão-de-obra qualificada, seja pela presença de fornecedores e
prestadores de serviços especializados, seja ainda pela ocorrência de transbordamentos
(spillovers) de conhecimento e de tecnologia.
O segundo, apontado ainda por Porter (1999), é que por meio de ões conjuntas
deliberadas, os agentes são capazes de resolver de modo coletivo problemas comuns,
contribuindo para o processo de geração de vantagens competitivas. Além do mais, as ações
conjuntas representam um elemento importante para o fomento do processo de aprendizado de
caráter local, que a aglomeração dos produtores facilita e estimula a manutenção de interações
freqüentes entre os agentes. A proximidade geográfica faz com que as interações entre eles
ocorram com maior facilidade entre os produtores aglomerados, agilizando o processo de
circulação das informações e reprodução dos conhecimentos, de forma a permitir um processo
local de aprendizado pela interação.
5
A presença desses elementos nos sistemas produtivos localizados é capaz de proporcionar
o que diversos autores chamaram de “eficiência coletiva” (ver Nadvi e Schmitz, 1994; Rabelloti,
1995,1997 e 1999;, Nadvi, 1999; e Knorringa, 1999). Segundo estes autores, a eficiência coletiva
é definida como as vantagens competitivas, apropriadas coletivamente pelos agentes participantes
do processo, advindas da concentração geográfica e setorial das firmas. A eficiência coletiva é,
portanto, resultado das externalidades positivas incidentais verificadas nos sistemas produtivos
locais e do maior escopo para a ação conjunta dos agentes locais, dado que a proximidade
permite e estimula o estabelecimento de relações de confiança entre eles.
Quanto à aproximação com o objeto de estudo, se a partir da percepção de que, no
pólo de fruticultura irrigada de Petrolina/Juazeiro, necessidade de se delimitar a concepção
fundamental de um processo de desenvolvimento regional e distingui-la do mero processo de
crescimento econômico. Verifica-se que os valores per capita do produto e da renda regional se
expandiram, denotando que a região está vivendo uma fase favorável na sua trajetória de
crescimento econômico e que, em média, está havendo um aumento na quantidade de bens e
serviços à disposição dos seus habitantes. Percebe-se naquela região que a implantação de novas
atividades econômicas elevou os seus níveis de produção, sem que ocorresse um processo de
desenvolvimento humano.
No Pólo Petrolina/Juazeiro, a fruticultura irrigada promoveu um grande dinamismo na
economia e na estrutura urbana, tornando-se o aglomerado urbano mais próspero do Vale do São
Francisco. Por este motivo, o pólo é local de atração tanto de investidores do exterior, de outras
regiões do país, como de migrantes das áreas secas do Nordeste. As grandes mudanças dos
sistemas produtivos de culturas anuais para fruteiras perenes, de exportação, desencadearam no
pólo demanda de outros investimentos de apoio para a comercialização de frutas, motivando o
Governo Federal a financiar pesquisas, principalmente no âmbito da Embrapa, priorizando
aquelas relacionadas com culturas de exportação.
Mesmo diante de um contexto macroeconômico instável que marcou as décadas de 1980
e 1990, por meio da desarticulação das políticas públicas, principalmente daquelas instituições
que deram o suporte à agricultura irrigada, a fruticultura vem se firmando no Pólo Petrolina/
Juazeiro. Podem ser destacados dois fatores para essa escalada: a capacidade da iniciativa privada
em apostar no mercado de frutas frescas para exportação e a capacidade de organização dos
6
interesses empresariais para se articular com os poderes públicos constituídos e influenciar nas
decisões de políticas públicas voltadas para o setor.
Por outro lado, essa expansão protagonizou um processo de reestruturação da agricultura
irrigada com impactos econômicos, sociais e políticos importantes na região. As mudanças que
daí decorreram provocaram alterações significativas na composição dos produtos cultivados, na
base técnica de produção, na estrutura de posse da terra, nos encadeamentos anteriores e
posteriores ao processo de produção agrícola e na oferta de emprego da região, provocando uma
significativa mudança na estrutura do pólo agroindustrial que estava em formação.
A expansão da fruticultura foi acompanhada por um processo de exclusão dos pequenos
agricultores, colonos dos perímetros públicos irrigados, que foram substituídos pela inclusão de
pequenos fruticultores profissionalizados, mais capitalizados, aparentemente, com melhor
capacidade técnica e de inserção nos mercados.
Assim, esse processo de reestruturação produtiva produziu algumas implicações na
organização da produção e do trabalho. Além da redução do nível de empregos na atividade, as
exigências de uma produção voltada para o mercado de produtos de qualidade requerem, cada
vez mais, mão-de-obra qualificada e serviços especializados tanto no processo produtivo quanto
nas atividades pós-colheita (embalagem, empacotamento e classificação), em detrimento da mão-
de-obra menos especializada.
Outro fator importante a ser questionado é o fato de o processo de flexibilização, por
meio de terceirização, trazer consigo a precarização das condições de trabalho, na medida em que
leva um grande contingente de trabalhadores ao desamparo da proteção social e trabalhista. Tal
informalidade cria um contingente de serviçais na fruticultura, encobertos sob o discurso de
geração de empregos. Dessa forma, verifica-se em todas as fases do processo de produção a
transformação paulatina do pólo Petrolina/Juazeiro em um “pólo de serviços”, em vez de um pólo
agroindustrial, conforme preconizavam os planos de desenvolvimento regionais.
Na Sexta Região, do Chile, a produção de frutas de mesa segue a mesma configuração
adotada para o país, na qual se verifica trajetória diferenciada na comparação entre os dois países.
Conforme diagnóstico de Faveret Filho et al (1999), o modelo chileno foi desenhado”
na expectativa de conquistar o mercado e internacional, uma vez que, diferentemente do Brasil,
não tinha um mercado interno suficientemente capaz de consumir sua produção de frutas. Dessa
forma, auxiliado por instituições norte-americanas, o país construiu um sistema de exportação
7
apoiado em grandes tradings que faziam a operacionalização da comercialização. Com isso,
afirma-se que a fruticultura chilena “já nasceu exportadora” (p.32), orientada especificamente
para o mercado mundial.
O Brasil é um modelo que começa a se construir a partir da década de 1990. Mesmo
tendo uma grande variedade de frutas, algumas com mais de uma safra ao ano, o seu consumo
está voltado para o mercado interno. Ainda que seja o terceiro maior produtor de frutas do
mundo, a exportação de frutas brasileira é pouco representativa e a sua comercialização está
concentrada em um reduzido número de empresas.
Assim, conforme pôde ser observado nesta introdução, o estudo requer a análise do
ponto de vista da competitividade, como fator de inserção internacional da fruticultura brasileira,
e dos impactos desse esforço em conquistar o mercado externo sobre o desenvolvimento das
localidades onde os sistemas produtivos estão inseridos. Pelo fato de estarmos tratando de dois
agrupamentos em países diferentes, adotamos o estudo de caso comparativo como estratégia de
pesquisa. Entendemos oportuno tal procedimento, uma vez que, concordando com Yin (2005,
p.164), “a preferência por estudos de caso deve ser dada quando é possível fazer observação
direta sobre os fenômenos”. Dessa forma, tal abordagem utiliza estratégia de investigação
qualitativa para mapear, descrever e analisar o contexto, as relações e as percepções a respeito da
situação, fenômeno ou episódio em questão.
Chamou-nos a atenção o fato de que o estudo de caso é útil para gerar conhecimento
sobre características significativas de eventos vivenciados, que podem ser compreendidos por
meio de entrevistas e observações, possibilitando com isso ligações causais com determinadas
situações da vida real; o contexto em que uma ação ocorre ou ocorreu; o rumo de um processo
em curso e maneiras de interpretá-lo; o sentido e a relevância da algumas situações-chave. Seus
objetivos podem ser resumidos em: i) compreender os esquemas de referência e as estruturas de
relevância relacionadas a um evento ou fenômeno por parte de um grupo especifico; ii) permitir
um exame detalhado de processos organizacionais ou relacionais; iii) esclarecer os fatores que
interferem em determinados processos; iv) apresentar modelos de análise replicáveis em
situações semelhantes e possibilitar comparações.
O estudo foi estruturado combinando-se a abordagem quantitativa com a qualitativa,
com mais peso para esta última. Esta metodologia além de permitir desvelar processos sociais
ainda poucos conhecidos referentes a grupos particulares, propicia a construção de novas
8
abordagens, revisão e criação de novos conceitos e categorias durante a investigação. No entanto,
na comparação com a abordagem quantitativa, entendemos que cada uma tem seu papel, seu
lugar e sua adequação.
Dessa forma, concordamos com Malinowski (1984), que diante das contradições na
combinação entre métodos quantitativos e qualitativos, propõe um consenso entre ambos,
afirmando, resumidamente, que é preciso: i) documentar estatisticamente, mediante evidência
concreta, tudo o que pode ser mensurado no arcabouço da sociedade; ii) complementar os
registros quantitativos pela observação da “maneira como determinados costumes, regras ou
exceções são vividos no cotidiano pelos habitantes, pois esses são fenômenos sociológicos”; iii)
estar atento ao “corpo e sangue da vida real, pois eles compõem o esqueleto das construções
abstratas. [...] compreender os imponderáveis da vida real”; iv) ouvir e buscar compreender o
“ponto de vista, as opiniões e as expressões”, isto é, ter em conta as maneiras típicas do pensar e
sentir que correspondem às instituições da comunidade.
Dessa forma, chamou-nos a atenção a proposta de Malinowski, uma vez que na maioria
dos estudos realizados, principalmente, no Pólo Petrolina/Juazeiro, a abordagem é sempre sobre o
ponto de vista da pujança do sistema produtivo, dos aspectos tecnológicos, econômicos,
comerciais e de inserção no mercado internacional e pouca ênfase é dada para as questões do
bem-estar das pessoas que ali vivem. Geralmente, os pesquisadores interagem com grandes
empresas, negligenciando as de menor porte. Assim, a análise é procedida utilizando-se
informações tendenciosas, com incongruências entre o que foi dito ao pesquisador e o que
realmente foi feito principalmente no que se refere à geração de emprego e renda. Conforme
menciona Malinowski, é “um excelente esqueleto ao qual faltam corpo e sangue”.
Quanto à construção dos instrumentos de pesquisa e exploração de campo, optou-se
pela utilização de dois levantamentos de percepção: 1) roteiro de entrevista (ANEXO 1), no
sentido de reunir elementos preliminares necessários para formar uma idéia geral das
potencialidades e obstáculos que cada sistema produtivo de frutas apresenta para ativar o
processo de desenvolvimento local. Assim, as perguntas foram direcionadas de forma a permitir
conhecer a capacidade de desenvolvimento, as oportunidades e os recursos disponíveis para
tanto. As entrevistas foram realizadas com técnicos e especialistas de instituições públicas e
privadas, vinculadas ao processo de desenvolvimento local (ver no Anexo 2 as instituições,
entrevistados e data das entrevistas); 2) como recurso subsidiário, utilizou-se levantamento
9
complementar de percepção do tipo survey com auxílio de questionário estruturado (ANEXO 3),
contendo perguntas, na maioria fechadas, que foram respondidas por 48 (quarenta e oito)
produtores de cada sistema produtivo, que exportam ou já exportaram frutas de mesa.
De acordo com informações da e da 6ª Superintendência Regional da Codevasf
(outubro de 2006), de Petrolina e Juazeiro, respectivamente, era de 467 o número de
estabelecimentos dos municípios estudados que direcionavam sua produção, ou parte dela, para o
mercado internacional. Na Sexta Região, conforme informações do ProChile (fevereiro de 2007),
o número de estabelecimentos era de 523.
É relevante ressaltar que o questionário possibilitou a aproximação mais direta com
produtores de diversos portes, muitos dos quais (principalmente pequenos) quando terminavam o
preenchimento tinham a necessidade de revelar situações até então desconhecidas. Tal condição
tornou o trabalho sobremaneira interacional, traduzindo-se em um instrumento privilegiado de
coleta de informações por meio da “fala”, que se constituiu em uma possibilidade reveladora para
entender melhor os “imponderáveis da vida real” da população pesquisada.
Essa tendência permitiu-nos realizar uma entrevista que se deu na Associação das
Trabalhadoras Agrícolas do Município de Machalí, na Sexta Região, com 11 trabalhadoras
temporárias, ao mesmo tempo (grupo focal). Ressalte-se que tal entrevista não estava prevista em
nosso roteiro, mas, pela riqueza de informações, entendemos ter sido oportuna para análise que
fizemos sobre condições de trabalho dos(as) operários(as) da fruticultura, cujo tema está afeto às
questões do bem-estar das pessoas entrevistadas.
Dessa forma, do questionário aplicado extraímos alguns dados, ao nosso juízo, mais
importantes, dispostos no texto em forma de tabelas, que, à medida que foram se tornando
necessários, foram incluídos no relatório. Quanto à análise da competitividade dos sistemas
produtivos de frutas, utilizamos a metodologia proposta por Porter (1999), que se encontra em
forma de matriz, na conclusão da tese.
É importante realçar que também utilizamos o diário de campo como mais um elemento
de interação da pesquisa, registrando-se observações, entrevistas e conversas informais. Tal
procedimento nos permitiu comparar e cruzar elementos que deram respostas para algumas
dúvidas e revelou aspectos até então desconhecidos e confirmou outros. Com tais apontamentos,
a pesquisa tornou-se equilibrada, uma vez que foi possível comparar o “fazer (observado) com
o “dizer” (conversação e entrevistas).
10
O universo da pesquisa foi o de produtores de frutas de mesa, sediados no Pólo
Petrolina/Juazeiro, no Brasil e na Sexta Região, no Chile. O Submédio São Francisco está
localizado na região fisiográfica do Vale do São Francisco que abrange áreas dos estados de
Pernambuco e da Bahia. Portanto, é neste espaço geográfico que es inserido o sistema
produtivo de frutas, em cuja territorialidade estão incluídos, também, os municípios baianos,
objeto do estudo que fazem parte dos perímetros públicos de irrigação, de Casa Nova, Curaçá, e
Sobradinho. No lado pernambucano estão localizados os municípios de Lagoa Grande, Orocó e
Santa Maria da Boa Vista. De forma geral, o lo é sobremaneira voltado para a instalação de
empresas produtoras de frutas in natura para a exportação. Assim, a região é marcada como um
eixo econômico de produção de frutas e não como um pólo agroindustrial como pretendiam os
órgãos de desenvolvimento regional das décadas de 1970 e 1980.
A Sexta Região, conhecida também como Região do Libertador Bernardo O’Higgins,
corresponde a 2,2% do território nacional chileno. Está dividida pelas províncias de Cachapoal
(com 17 municípios), Colchagua (com 10 municípios) e Cardenal Caro (com 6 municípios),
somando um total de 33 municípios. De acordo com o ultimo cadastro de fruticultura chilena
elaborado pelo CIREN (2005), o Chile conta com mais de 221 mil hectares plantados com
espécies frutícolas, distribuídas entre a Primeira e a Décima Região. A escolha da Sexta Região
justifica-se por ser a maior superfície do país, chegando a quase 60 mil hectares de frutas, seguida
pela Região Metropolitana de Santiago com mais de 48 mil hectares. Segundo o mesmo
relatório, na Sexta Região, a província de Cachapoal concentra 73,7% de toda a produção de
frutas frescas, seguida pela província de Colchagua, com 25,3% e Cardenal Caro, com 1%.
Assim, os oito municípios selecionados para o estudo na Sexta Região foram:
Rancagua, Graneros, Codegua, Rengo, Peumo, San Vicente, Machalí e San Fernando. Os sete
primeiros pertencem à província de Cachapoal e San Fernando à província de Colchagua. No
entanto, são municípios contíguos que estão localizados no entorno da estrada Panamericana Sur
(Rota 5) e outras rotas como a estrada da fruta (Rota 66), que o interligadas. De acordo com
informações da ODEPA (2007), estes municípios foram os que apresentaram maior quociente
locacional do sistema produtivo de frutas de mesa da Sexta Região
2
.
2
De acordo com o estudo realizado por Puga (2003), no sentido identificar a existência de concentração de empresas
em determinada localidade, mais especificamente APL, no Brasil, o autor utiliza o quociente locacional como
indicador de especialização regional. No referido estudo, o Pólo Petrolina/Juazeiro foi indicado como um APL com
especialização produtiva na fruticultura. Para melhor entendimento sobre metodologias de identificação de
11
A pesquisa de campo foi realizada entre os meses de outubro, novembro e dezembro, de
2006, no Pólo Petrolina/Juazeiro e nos meses de janeiro, fevereiro e março, de 2007, na Sexta
Região. As primeiras aproximações com o sistema produtivo, do lado brasileiro, aconteceram por
ocasião da dissertação do mestrado, no segundo semestre de 2002. No decorrer do doutorado,
realizamos algumas viagens de campo (quatro, no total) de forma a colher algumas informações
preliminares sobre o desempenho e a dinâmica do pólo. Quanto à Sexta Região, o primeiro
contato foi realizado no segundo semestre de 2003, ocasião em que estávamos exercendo
atividades profissionais em Santiago, que fica a 80 Km de Rancagua, capital da região em estudo
e município que faz parte do sistema produtivo chileno.
O trabalho foi desenvolvido em cinco capítulos, além desta introdução. No Capítulo I é
feita uma aproximação com os conceitos de desenvolvimento e de agrupamento de empresas.
Neste sentido, primeiramente, realizou-se uma pesquisa bibliográfica com vistas a encontrar na
literatura material que desse suporte para o fundamento dos temas relacionados ao conceito de
desenvolvimento; economia da concentração e difusão; modelo de desenvolvimento a partir dos
recursos locais; conceitos relativos aos tipos de agrupamentos de empresas: distrito industrial
marshaliano, sistema produtivo local, cluster e arranjo produtivo (inovativo) local; e, finalmente,
sobre os efeitos transbordamento.
No Capítulo II foi feita uma análise do mercado de frutas frescas sob a ótica das cadeias
produtivas globais e seus impactos sobre os sistemas produtivos locais, definindo como problema
central o vinculo existente entre produtores locais e os atores globais em um cenário de redes
produtivas transnacionais. Assim, trata-se da observação sobre o paradoxo “local-global” a partir
da perspectiva do funcionamento das estruturas produtivas envolvidas nos processos de inserção
internacional que, supostamente, puderam conduzir os países em direção ao desenvolvimento. No
mesmo capítulo, é feita uma reflexão do complexo agrícola em geral, com o objetivo de oferecer
algumas informações sobre os impactos da globalização da agricultura em termos da perpetuação
do desenvolvimento desigual nos países do Terceiro Mundo e das localidades que os constituem.
Em seguida, analisa-se a dimensão produtiva e comercial da cadeia de frutas, sob a ótica da
evolução das exportações, da distribuição mundial, da dinâmica da cadeia no mercado doméstico
concentração produtiva, por meio de quociente locacional, ver os trabalhos de Suzigan et al. (2003), Crocco et al
(2006) e Hasenclever e Zissimos (2006).
12
e internacional, da evolução institucional do comércio internacional e, por fim, dos impactos das
barreiras internacionais sobre a produção de frutas in natura.
No Capítulo III, foi feita uma comparação entre e fruticultura brasileira e a
chilena, de forma a verificar as trajetórias dos dois países, destacando-se a tradição de produção
de frutas chilenas, que remonta os anos 1930 e desde 1950 o Estado vem fomentando as
organizações de produtores, introduzindo ações de estruturação de cooperativas e associações e
na criação de instituições públicas voltadas exclusivamente para o desenvolvimento da
fruticultura de exportação. Dessa forma, o Chile acompanhou as mudanças ocorridas no setor,
principalmente no que diz respeito ao hábito de consumo de alimentos frescos dos países do
hemisfério norte e ao surgimento de novas tecnologias. Por outro lado, analisa-se o fato de as
exportações de frutas estarem produzindo muitas tensões no âmbito social, econômico e
ambiental no Chile, tendo em vista a incapacidade de o Estado regulamentar os impactos das
forças econômicas globais, gerando, assim, desenvolvimento sócio-econômico diferenciado,
principalmente, na área rural. Já o Brasil, ainda que seja o terceiro maior produtor mundial de
fruta, é um modelo que começa a se construir a partir da década de 1990. Mesmo tendo uma
grande variedade de frutas, algumas com mais de uma safra ao ano, o seu consumo está voltado
para o mercado interno. A exportação de frutas está concentrada em um reduzido número de
empresas exportadoras.
No Capítulo IV é feita uma análise comparativa e empírica entre os dois sistemas
produtivos de Petrolina/Juazeiro e a Sexta Região, por meio dos dados originados pelos
instrumentos da pesquisa de campo. Em principio é realizada a caracterização econômico-
produtiva das duas localidades, no sentido de se verificar as potencialidades e obstáculos que
cada localidade produtora de frutas apresenta para ativar um processo sustentável de
desenvolvimento. São verificados quais os impactos que as exportações de frutas vêm exercendo
sobre as condições de trabalho, principalmente na contratação de mão-de-obra temporária, visto
que a flexibilização da legislação trabalhista nas duas localidades provocou precarização no setor.
No Capítulo V analisa-se se o crescimento econômico verificado nos dois sistemas
produtivos foi traduzido em desenvolvimento suficiente para promover o bem-estar das pessoas
que vivem nas localidades. Partiu-se da premissa de que PIB per capita é um indicador
insuficiente para quantificar o desenvolvimento local. De forma a facilitar a análise comparativa,
aplicou-se a metodologia do IDH/PNUD, uma vez que se trata de um índice de divulgação
13
internacional que objetiva a comparação entre paises. Assim, para medir o crescimento
econômico utilizaram-se os indicadores produtividade do trabalho e o grau de abertura da
economia para o exterior. Para verificar se houve efeito transbordamento que se traduzisse em
bem-estar para a população dos dois sistemas, foi utilizado o Índice de Desenvolvimento
Humano Municipal – IDHM e seus respectivos componentes: Renda, Educação e Saúde.
Por fim, na conclusão são apresentadas algumas considerações e propostas a partir do
referencial teórico consultado e da pesquisa de campo realizada. Foi construída, também, uma
matriz de análise comparativa, com o objetivo de dar melhor entendimento sobre a
competitividade entre os sistemas produtivos.
14
CAPÍTULO I
INTEGRANDO O CONCEITO DE AGRUPAMENTOS DE EMPRESAS ÀS
CONCEPÇÕES DE DESENVOLVIMENTO
O interesse que apresentam os estudos efetuados a respeito dos espaços produtivos não se
prende unicamente no fato de constituir um ponto de confluência do saber interdisciplinar de
economistas, sociólogos, geógrafos e políticos, uma vez que não se trata de uma fórmula nova. O
verdadeiro atrativo dessa alternativa de desenvolvimento reside na evidência empírica fornecida
por um grupo de regiões/locais que, por conta da utilização do seu potencial, tem permitido
enfrentar as conseqüências da crise econômica e ocupar um lugar, possibilitando a melhoria no
nível de vida de suas respectivas populações e despertando a esperança de outras áreas,
principalmente, rurais e periféricas.
Nesse sentido, em meio às dificuldades referentes aos processos de reestruturação
generalizada, destaca-se, particularmente, o notável êxito alcançado por numerosas localidades,
principalmente na Europa, mediante a uma espessa rede de estabelecimentos manufatureiros
especializados, geralmente de pequenas e médias dimensões.
São os chamados Sistemas Produtivos Locais - SPL, que, com a experiência italiana dos
distritos industriais como vanguarda, têm demonstrado que os enfoques do desenvolvimento
baseado na dinâmica setorial podem encontrar uma contrapartida no micro-cosmos do local. Isso
tem sido possível mediante a incorporação de variáveis extra-econômicas capazes de produzir
rendimentos em forma de economias externas à indústria, tais como: a sedimentação e difusão de
conhecimentos e informação, os esquemas socializados de valores e idéias (forjados ao longo das
trajetórias históricas e culturais comuns), os recursos do meio ambiente, o aparato institucional e
os laços de confiança como pedra de esquina das relações.
Atualmente, tal triunfo se manifesta, na maioria dos casos, para além dos mercados
nacionais, desafiando assim os requerimentos competitivos impostos pelo processo de
globalização econômica e financeira. Como exemplo, podemos citar os estudos sobre o
conhecido distrito têxtil toscano de Prato e os bem-sucedidos distritos industriais emilianos (em
referência à Região da Emillia Romagna) de Carpi e Sassuolo, na Itália e os realizados sobre uma
ampla relação de iniciativas em outras nações (França, Alemanha, Holanda, Portugal, Espanha,
entre outras), chegando em países em vias de desenvolvimento, como Taiwan, Peru e Brasil.
15
Dessa forma, vê-se o interesse das autoridades públicas nesse âmbito. Organizações
supranacionais como a OCDE, com as Iniciativas Locais de Emprego, ou a União Européia, com
o estabelecimento de Programas para o Desenvolvimento Local e Rural (citamos o programa
LEADER, como exemplo), vêm mostrando uma apreciável sensibilidade sobre a necessidade de
se valorizar adequadamente os recursos locais e a conveniência de mudar a orientação das
políticas regionais e de emprego praticadas pelos Estados, explorando as possibilidades da
trajetória da industrialização difusa. Nesta linha, como conseqüência da perda do protagonismo
das autoridades nacionais (paralela à tendência de um processo generalizado de descentralização
política administrativa), os governos regionais e locais desempenham um papel comprometido
com a prosperidade dos seus respectivos territórios.
Assim, o conceito de desenvolvimento regional/local não nos remete unicamente a uma
fonte de riqueza material, mas também leva, paralelamente, a um conjunto de conotações
distintas que transcendem o puramente econômico, tais como: a identidade, os sentimentos
compartilhados, as relações interpessoais, os modos de vida ou a capacidade de controle e
liderança do próprio processo de desenvolvimento. No entanto, no nosso entendimento, esses
elementos estão sujeitos a dinâmicas de mudanças, na medida em que o desenvolvimento local
não pressupõe uma autarquia, muito menos um localismo.
Por se tratar de um modelo que, ainda contando com seu próprio potencial, não deve
ignorar os recursos exógenos, mas sim permanecer aberto à interação com o resto do mundo, não
é tarefa fácil predizer como evoluirão as tendências ao longo do século XXI, com o processo de
globalização crescente (acelerado pelas empresas transnacionais) e os fortes movimentos
demográficos previstos pelos estudiosos.
Dessa forma, o Brasil não se coloca alheio a essa realidade. As investigações efetuadas
em tal sentido vêm colocando em evidência a pujança internacional de alguns
agrupamentos/sistemas produtivos locais do País
3
. É importante ressaltar que, no Brasil, tais
agrupamentos também são estudados sob o enfoque de Arranjos Produtivos Locais (APL).
Um estudo realizado pelo IPEA (2003), no sentido de mapear as concentrações
geográficas de empresas, identificou 193 APL, em 152 microrregiões, com um total de 77 mil
estabelecimentos pertencentes aos setores desses arranjos. Entre os 193 encontrados, 105
3
Um dos casos mais expressivos, estudado por Meyer-Stamer (1999), é o sistema produtivo cerâmico de Criciúma (SC). Outros agrupamentos
também têm recebido atenção privilegiada, principalmente os localizados no Rio Grande do Sul (coureiro-calçadista do Vale dos Sinos, moveleiro
do entorno de Bento Gonçalves, fumageiro de Santa Cruz e vitivinícola).
16
exportaram em 2002. Foram identificados APL em todas as regiões do País, sendo a Região
Sudeste aquela com maior número de concentração de empresas, cuja distribuição está
concentrada nos estados de São Paulo e Minas Gerais. Por outro lado, os que se mostraram mais
dinâmicos estão localizados na Região Sul do País, cujas exportações foram duas vezes maiores
do que no Sudeste.
No Nordeste, a maior parte dos APL pertence ao setor agropecuário, destacando-se, em
particular, o pólo de Petrolina (PE) e Juazeiro (BA), voltado para o cultivo de uvas e de outras
frutas, cujo agrupamento é objeto de estudo do presente trabalho.
Na perspectiva espacial regional e local é o nível onde é possível observar com maior
nitidez a face das desigualdades e, portanto, o lugar comum onde é necessário buscar respostas
concretas para a superação da pobreza, para o empreendimento de novas atividades produtivas
que incorporem os avanços tecnológicos mais recentes, para a geração de emprego, para a
potencialização de novos estilos de desenvolvimento originados a partir da base.
Sendo assim, tratando-se da Região Nordeste do Brasil, existem boas razões para pensar
que no local e mais especificamente no impulso a processos de desenvolvimento econômico
local, seria possível encontrar fortes conexões entre crescimento e eqüidade, desenvolvimento
econômico e desenvolvimento social, em concreto, uma resposta efetiva para a identificação de
políticas destinadas a superar a pobreza das comunidades da região em apreço.
1.1 Conceitos de Desenvolvimento
As causas do desenvolvimento econômico de um país ou região constituem-se em um tema que
vem sendo debatido desde séculos anteriores. Conforme considerações de Pavarina (2003), tal
discussão origina-se de autores que não tinham como meta em seus estudos uma análise
específica sobre a questão. Assim, estudos como os de François Quesnay, David Ricardo e Adam
Smith, sem referirem-se diretamente ao problema do desenvolvimento, lançavam seus
questionamentos iniciais. Neste sentido, é importante citar a observação de Sen (1995, p. 10),
considerando a obra mais importante de Adam Smith, que “[...] um tratado sobre a natureza e as
causas da riqueza das nações era, de fato, também um questionamento sobre os assuntos básicos
do desenvolvimento econômico”.
17
Verifica-se um esforço, desde então, no sentido de definir o termo “desenvolvimento
econômico”, ensejando, assim, certa negligência no que diz respeito à compreensão exata de seus
condicionantes. Ainda que sejam várias as definições encontradas na literatura, todas são
unânimes em concordar, pelo menos, que o desenvolvimento econômico está relacionado à
melhoria nas condições de vida ou no bem-estar das pessoas.
Nas décadas de 1950 e 1960, do século XX, a evolução teórica sobre o desenvolvimento
ficou limitada à análise das causas do aumento do produto ou da renda nacional per capita, como
elementos representativos desta “melhoria na condição de vida”. Antes da incorporação de novos
elementos e os avanços tecnológicos, os determinantes do crescimento com os do
desenvolvimento econômico eram considerados sinônimos.
Sen (2000, p. 17), entretanto, propõe uma ampliação da definição. Para o autor “o
desenvolvimento é como um processo de expansão das liberdades reais que as pessoas
desfrutam”, sendo que o Produto Nacional ou a Renda per capita deve-se restringir como um
“[...] meio de expandir as liberdades desfrutadas pelos membros da sociedade” e tais liberdades
não devem limitar-se à acumulação de riqueza ou ao crescimento das demais variáveis
relacionadas à renda, mas dependem igualmente dos direitos civis, políticos e sociais, incluindo
capacidades elementares como, por exemplo, “[...] ter condição de evitar privações como a fome,
a subnutrição, a morbidez evitável e a morte prematura, bem como as liberdades associadas a
saber ler e fazer cálculos aritméticos, ter participação política e liberdade de expressão” (SEN,
2000, p. 52). Desta forma, o crescimento econômico torna-se um meio relevante para o
desenvolvimento econômico, mas não um fim em si mesmo.
Conforme assinala Pavarina (2003), uma das discussões clássicas a respeito deste tópico
vincula o aumento no Produto Nacional, coeteris paribus, à melhora das condições de vida dos
indivíduos, notadamente a esperança de vida. Na ótica de Sen (1995), esta relação encerra uma
problemática substancial: a esperança de vida pode ser considerada uma medida de quantidade e
não de qualidade de vida das pessoas, ao mesmo tempo em que o crescimento do Produto
Nacional tomado como uma variável relacionada com o aumento dio, não significa, portanto,
apropriação homogênea por toda a população.
Outro aspecto analisado por Sen (1995), diz respeito ao fato de que o Produto Nacional
elenca somente bens transacionados no mercado, imputando-lhes determinado preço. São
excluídos elementos aos quais a atribuição de um preço é impossível, tais como o ambiente
18
natural, social e físico, que podem influenciar ou mesmo determinar as condições de
sobrevivência da população. Uma vez que dezenas de variáveis podem estar relacionadas à
melhoria das condições de vida dos indivíduos, um conceito amplo de desenvolvimento não pode
ignorá-las, conforme aponta Sen (1995):
[...] o processo de desenvolvimento econômico não pode abstrair da expansão da
oferta de comida, vestuário, moradia, serviços dicos, educacionais etc. e da
transformação da estrutura produtiva e essas mudanças importantes e cruciais
são sem dúvida questões de crescimento econômico. (SEN, 1995, p. 12).
Da mesma forma, Dasgupta (1990) considera que o desenvolvimento não pode limitar-
se à posse de bens físicos ou outros incluídos na análise tradicional. A garantia de liberdades
individuais precisa ser levada em consideração, apesar de a teoria econômica dispensar pouco
interesse a essas questões, quer seja por processos metodológicos ou simples irrelevância ou
menosprezo (PAVARINA, 2003).
Assim, de forma que possamos continuar esta análise bibliográfica dos conceitos de
desenvolvimento, principalmente na América Latina, é importante considerar que o tema abrange
um amplo escopo analítico, notadamente no que diz respeito aos aspectos metodológicos, tendo-
se em mente que o crescimento econômico é apenas um dentre os múltiplos aspectos do
desenvolvimento econômico.
Neste contexto, lembramos de Albert O. Hirschman, que apresentou uma grande
contribuição para as teorias do desenvolvimento econômico e para a economia. A própria
trajetória de vida do autor contribuiu no sentido de entender as direções da sua produção
científica. Dentre a vasta bibliografia, encontramos “Estratégia do Desenvolvimento
Econômico”, cuja obra foi publicada em 1958 e analisava o tema do desenvolvimento econômico
dos países subdesenvolvidos e de como colocá-lo efetivamente em prática.
O referido livro é sobremaneira citado, principalmente, pela abordagem conceitual
conhecida como “encadeamentos para frente e para trás”. Tal conceito seria a grande
contribuição de Hirschman para a economia em geral e para as teorias do desenvolvimento,
especificamente. Em outro trabalho, cujo título é “A estratégia do desenvolvimento revisitado”,
ele destaca a sua experiência profissional no Federal Reserve, na ocasião da reconstrução da
Europa Ocidental, que o fez descrente a respeitos dos benefícios de uma intervenção estrangeira
em países em crise, fazendo alusão à intervenção americana imposta aos países europeus.
Foi nesse ambiente de discordância que Hirschman parte para a Colômbia, prestando
serviços para o Banco Mundial. Nessa ocasião, preferiu participar e aprofundar os estudos sobre
desenvolvimento que estavam em curso naquele país a aplicar alguma receita estrangeira, com
19
dados pouco confiáveis, oriundos dos EUA e do Banco Mundial. Dessa forma, adotou uma
metodologia específica para resolver os problemas colombianos, que o autor denominou de
procura por possíveis “racionalidades ocultas”. Tais estudos levaram-no a concluir que o
desenvolvimento econômico dos países periféricos seria fruto de mecanismos de pressão, haja
vista que foram identificados gargalos na economia colombiana, excessos de oferta e demanda e
o crescimento não-equilibrado, como indutores do desenvolvimento econômico daquela nação.
Assim, verifica-se que as sua trajetória teórica está bastante relacionada com a sua história
de vida e que a construção do conceito de “encadeamentos para frente e para trás” está
diretamente ligada à idéia dos ditos “mecanismos de pressão”.
Uma das conclusões a que chega Hirschman é a de que nos países subdesenvolvidos não
havia escassez de fatores de produção. Ou seja, não faltava capital, trabalho, recursos naturais ou
qualquer outro fator, mas sim uma escassez disfarçada, uma oferta sub-utilizada, de tais fatores.
Em sua análise, argumenta que a vantagem desse tipo de abordagem seria a de poupar tempo, ao
cessar a busca inútil pelos inúmeros pré-requisitos necessários ao desenvolvimento e de
concentrar a atenção em uma questão apenas. Isso diferencia a sua pesquisa das outras teorias do
desenvolvimento econômico até então existentes. A questão passa a ser a seguinte: como utilizar
os fatores de produção sub-utilizados nessas economias?
No entanto, o próprio Hirschman reconhece que este caminho não é tão fácil, uma vez que
lidaria com questões desconhecidas, inexploradas, e, por isso mesmo, complicadas à primeira
vista.
Outra abordagem interessante é a que o autor analisa sob a ótica da transformação social
das sociedades “estacionárias”, dos países subdesenvolvidos. Neste caso, Hirschman propõe a
conciliação entre a atividade empreendedora individual e a capacidade de cooperação e inclusão
social no processo de desenvolvimento, de forma que as pessoas percebam os benefícios mútuos
de tal cooperação para o bem de toda a sociedade. No entanto, ele mesmo destaca que tal visão de
transformação só poderia ser adquirida durante o próprio processo de desenvolvimento.
O diagnóstico do subdesenvolvimento feito por Hirschman apontava para a incapacidade
de tomar decisões nessas sociedades. Ou seja, todos os fatores de produção necessários para
promover o desenvolvimento seriam reduzidos a apenas um, que condicionaria os outros,
conforme já foi dito: a capacidade de tomar decisões.
20
Outra concepção de desenvolvimento, numa visão mais espacial/local, foi desenvolvida
por Barquero (1988), que define desenvolvimento econômico local como um processo de
crescimento e mudança estrutural que, mediante a utilização do potencial de desenvolvimento
existente no território, conduz à melhoria do bem-estar das pessoas de uma localidade ou região.
Quando a comunidade local é capaz de liderar o processo de mudança estrutural, fica
caracterizado o desenvolvimento local endógeno.
A hipótese de partida é que as localidades e territórios têm um conjunto de recursos
(econômicos, humanos, institucionais e culturais) e de economias de escala não exploradas que
constituem seu potencial de desenvolvimento. Cada localidade ou território se caracteriza, por
exemplo, por uma determinada estrutura produtiva, um mercado de trabalho, um sistema
produtivo, uma capacidade empresarial e conhecimento tecnológico, uma dotação de recursos
naturais e infra-estruturas, um sistema social e político, uma tradição e cultura, sobre os quais se
articulam os processos de crescimento econômico local.
Este conceito de desenvolvimento reúne um conjunto de traços e características que lhes
dão uma configuração específica. Neste sentido, Barquero (1988) observa que o desenvolvimento
local faz referência a processos de acumulação de capital nas localidades. A disponibilidade da
oferta de mão-de-obra suficientemente qualificada para as tarefas que realiza, unida à capacidade
empresarial e organizacional, fortemente articulada à tradição produtiva local e a uma cultura
atenta para as inovações, favorecem a acumulação de capital nos sistemas produtivos locais.
Trata-se de processo de desenvolvimento econômico que se caracteriza pela organização
sistêmica das unidades de produção, favorecendo a competitividade das empresas locais nos
mercados nacionais e internacionais. A organização do sistema produtivo local formando redes
de empresas propicia a geração de economias de escala e a redução dos custos de transação e,
portanto, rendimentos crescentes e crescimento econômico.
Barquero (1988) ainda informa que os processos de desenvolvimento se produzem graças
à utilização eficiente do potencial econômico local que se vê facilitado pelo funcionamento
adequado das instituições e mecanismos de regulação do território. A forma de organização
produtiva, as estruturas familiares e tradições locais, a estrutura social e cultural e os códigos de
conduta da população condicionam os processos de desenvolvimento local.
Assim, o desenvolvimento local obedece a uma visão territorial (e não funcional) dos
processos de crescimento (FRIEDMAN e WEABER, 1979), que parte das hipóteses de que o
21
território não é um mero suporte físico dos objetos, atividades e processos econômicos, mas um
agente de transformação social. Os autores lembram que cada região se vincula ao sistema de
relações econômicas do país em função da sua especificidade territorial e de sua identidade
econômica, política, social e cultural
4
.
Autores como Stöhr (1985), entendem que o conceito de desenvolvimento local concede
um papel predominante para as empresas, organizações, instituições locais e à sociedade civil nos
processos de crescimento e mudança estrutural, onde os atores locais, públicos e privados, são os
responsáveis pelas ações de investimento e de controle dos processos.
Nesta perspectiva do desenvolvimento, Arocena (1995) indica que o social se integra com
o econômico. A distribuição da renda e da riqueza e o crescimento econômico não são dois
processos que surgem e tomam forma de maneira paralela, mas adquirem uma dinâmica comum
pelo fato de os atores públicos e privados assumirem decisões de investimentos orientadas para
resolver os problemas locais, afetando as empresas e a economia local, fazendo com que este seja
um espaço em que as iniciativas dos diversos atores da sociedade organizada se fazem realidade.
Barquero (1988) conclui sua análise informando que o desenvolvimento econômico é um
processo de crescimento e mudança estrutural da economia de uma região, em que se pode
identificar, pelo menos, três dimensões: uma econômica, caracterizada por um sistema de
produção que permite aos empresários locais usar, eficientemente, os fatores produtivos, gerar
economias de escala e aumentar a produtividade a níveis que permitem melhorar a
competitividade nos mercados; outra sociocultural, em que o sistema de relações econômicas e
sociais, as instituições locais e os valores servem de base para o desenvolvimento; e outra,
política e administrativa, em que as iniciativas locais criam um entorno local favorável à
produção e impulsionam o desenvolvimento sustentável.
Barquero (1997b) vai mais além quando informa que:
Esta conceitualização do desenvolvimento local constitui um modelo alternativo
ao proposto pelo paradigma do desenvolvimento exógeno, dominante durante os
anos 50 e 60, segundo o qual o crescimento se apoiaria nos processos de
industrialização e na concentração da atividade produtiva, através de grandes
plantas, em um número reduzido de grandes centros urbanos, a partir dos quais
4
É importante ressaltar as contribuições de Amaral Filho (2002), que oferece, em seu artigo “Desenvolvimento Regional Endógeno em um
Ambiente Federalista”, uma proposta de reconstrução do conceito e da política de desenvolvimento regional, numa perspectiva endógena,
objetivando forjar um conceito mais agregado e, para isso, procurando aproximar as abordagens regional (ou local) e macroeconômica, ao mesmo
tempo em que introduz o ambiente federalista como elemento de coordenação das iniciativas locais.
22
os mecanismos de mercado o difundiriam, favorecendo o desenvolvimento das
cidades e regiões periféricas. (BARQUERO, 1997b, p. 51).
Por um lado, verifica-se que o modelo de desenvolvimento local se produz como
conseqüência da geração de economias externas, devido a três fatores: as economias de escala na
produção, a introdução de inovações por parte das empresas líderes e o fluxo de mão-de-obra
excedente das atividades tradicionais às mais modernas.
No entanto, diferencia-se dele, pelo menos, em quatro aspectos: o desenvolvimento pode
ser também difuso (e não concentrado nas grandes cidades); os sistemas locais de empresas
podem liderar os processos de crescimento e mudança estrutural ao gerar economias de escala e
reduzir os custos de transação como as grandes empresas; as formas de organização social e o
sistema de valores locais flexibilizam os mercados de trabalho e permitem às empresas locais
trabalhar com baixos custos de produção e, em particular, com salários relativamente baixos e;
por último, a sociedade civil exerce um controle crescente dos processos de desenvolvimento das
localidades e regiões. (BARQUERO, 1997b).
1.2 Desenvolvimento econômico local em uma visão integrada
De fato, o fenômeno do desenvolvimento econômico local tem sido objeto de intenso
debate que vem originando múltiplas interpretações acerca da sua natureza como fonte de
prosperidade. Neste sentido, um dos conceitos que mais se encontra na abundante literatura é
aquele vinculado ao caráter ativo do próprio território que, com sua diversidade de recursos,
desempenha nas decisões de localização de empresas e indústrias, principalmente com o
protagonismo que a micro, pequena e média empresas MPME vêm adquirindo como motores
de expansão econômica nos mercados interno e externo.
1.2.1 A questão da concentração e da difusão
A conjunção das decisões empresariais e dos fatores de localização industrial cristaliza em
dois tipos básicos de atividades, que repercutam de maneira variável e intensa no modelo de
desenvolvimento de um território: a indústria concentrada e a dispersa. Dessa forma, procurar-se-
á mostrar as linhas gerais mais evidentes de ambos os padrões de organização espacial, à luz dos
principais aportes teóricos que os vêm sustentando.
23
Conforme assinalam Pracedo e Villarino (1992), a partir de 1850, nos países
desenvolvidos, a crescente concentração do capital, os avanços nos sistemas de transportes e a
exploração massiva de matérias primas com fins industriais, produziram uma dinâmica
espontânea de concentração espacial simples em localidades e regiões privilegiadas (o Quadro 1
demonstra suas formas mais representativas), que romperam com a tradicional dispersão do setor
secundário, gerando importantes divergências territoriais, no que diz respeito ao progresso e bem-
estar, induzindo muitos pesquisadores a indagar sobre os fatores explicativos da industrialização,
do crescimento econômico e do desenvolvimento desigual.
Um primeiro enfoque teórico sobre o fenômeno da concentração espacial da indústria
compõe uma série de interpretações de inspiração neoclássica. Tal corpo doutrinal viu limitada
sua influência no âmbito acadêmico, encontrando seu máximo expoente na denominada Teoria
das vantagens comparativas (fundamentada no teorema Heckser-Ohlin), caracterizada pelas
seguintes hipóteses: a concentração da industrialização e do crescimento econômico, baseados na
grande empresa, em um número reduzido de centros metropolitanos; a relação direta entre a
dotação qualitativa e quantitativa dos recursos produtivos internos de um país ou uma região
(naturais, humanos, de capital e tecnológicos) e sua expansão econômica potencial e real; o
caráter linear e evolutivo dos processos de crescimento; e a idéia de convergência territorial de
longo prazo, derivada dos mecanismos de ação-reação próprios do mercado, e redutora da
importância decisiva das políticas públicas de reequilíbrio espacial. Esta última idéia de
convergência está também presente na chamada Teoria das etapas de crescimento de Rostow
(1960)
5
, utilizada entre neoclássicos e estruturalistas e facilmente adaptável, segundo Benko e
Lipietz (1992), ao modelo do ciclo de vida do produto de Vernon (1966).
5
Segundo Rostow, os territórios avançados atravessaram uma rie de etapas de diferentes durações e com uma peculiar estrutura econômica,
aglutinando no presente os conhecimentos organizativos e técnicos necessários para um maior grau de eficiência econômica e de bem-estar social.
A modernização agrária (via melhorias técnicas e mudanças nas formas de propriedade), a redução da mortalidade (pela melhor alimentação) e
uma legislação favorável à liberdade da empresa, constituem, a seu juízo, os fatores fundamentais do seu avanço industrial. Para as sociedades
mais atrasadas, ficará a esperança de utilizar a experiência das mais prósperas, atravessando as mesmas etapas (aí, precisamente, é onde cabe a
aplicação da tese de Vernon).
24
Quadro 1: Formas de concentração industrial
ESPONTÂNEAS PLANEJADAS
SIMPLES
Portos
Nós rodoviários
Aeroportos
Focos industriais (P)
o Distritos industriais
o Sistemas produtivos locais
o Meios inovadores
Pólos de desenvolvimento
Pólos tecnológicos (P)
o Parques científicos
o Parques tecnológicos
Tecnópolis (P)
COMPOSTAS
Conurbação
Eixos industriais
o Fluviais
o Litorais
Eixos de desenvolvimento (P)
COMPLEXOS
INDUSTRIAIS
Geográficos
Econômicos
Combinados
Complexos territoriais
Fonte: Adaptado de Mendez (1997) e Precedo e Villarino (1992).
(P) Forma de concentração característica do pós-fordismo.
Por conta da insatisfação produzida pelo escasso valor explicativo do enfoque
marginalista, foi se perfilando uma concepção do desenvolvimento econômico regional, contrária
à ortodoxia neoclássica. Ainda que também baseada na concentração da atividade produtiva em
um reduzido número de centros urbanos e a grande empresa como principal veículo de progresso
material, tal visão chamava a atenção para a responsabilidade da administração pública na
correção dos desequilíbrios inter-territoriais inerentes à lógica capitalista. Seu principal suporte
teórico se constitui em uma série de interpretações de corte estruturalista que teve muita
repercussão internacional, não acadêmica, mas também política (o que, particularmente, o
qualifica de keynesiana, tendo em vista a sua defesa da permanência da intervenção pública).
Entre tais contribuições, destacam-se as seguintes: a Teoria dos pólos de crescimento,
elaborada por Perroux (1955)
6
, a Teoria da causalidade circular acumulativa, enunciada por
Myrdal (1957) e Hirschman (1958)
7
e a Teoria do centro-periferia, na qual cabe identificar duas
perspectivas geralmente reconhecidas: o modelo de Friedmann (1972) e as propostas da
6
Esta formulação foi apresentada como uma teoria de crescimento desequilibrado tanto a nível setorial como regional, e mostra como os efeitos
do crescimento se propagam de modo desigual, beneficiando especialmente setores e locais ligados às atividades que protagonizam o impulsos
iniciais. O crescimento se concentra nos pontos onde se instalam as atividades motrizes, geralmente industriais, e geradoras de efeitos
multiplicadores em seu entorno. Assim, Perroux e Hirschman, mais tarde, observaram a conveniência de consolidar tais pontos ou pólos de
crescimento através de políticas de planejamento territorial, no entendimento de que o crescimento deveria ser necessariamente desequilibrado, no
sentido de exercer um verdadeiro motor de desenvolvimento. Por outro lado, autores como Rallet (1991) e Furió (1996) apontam que a análise de
Perroux não é territorial, mas sim um conceito econômico que remete a um espaço setorial estruturado por relações assimétricas, uma vez que sua
noção de região motriz é uma extensão da noção de empresa motriz dominante. Assim, a relação com o plano territorial dessas idéias é posterior e
deve ser creditada a Boudeville (1968). Em outro momento, Aydalot (1985) confirma que, para ser completa, a teoria dos pólos deveria ser
vinculada a uma teoria de localização da grande empresa, dependendo o crescimento de uma região da sua aptidão para suscitar a criação ou
instalação de grandes firmas e indústrias motoras.
7
Tal teoria, partindo da idéia do círculo vicioso da pobreza, descreve a existência de um processo cíclico que tende a reforçá-lo, em virtude do
qual as forças do desenvolvimento, uma vez iniciadas, apontam para o aumento das diferenças regionais, mais que sua diminuição.
25
Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) que, enquadradas na teoria da
dependência ou das relações desiguais (iniciada por Prebisch (1949) e ampliada por outros
autores latino-americanos, como Furtado
8
(1974) e Samir Amin (1973)), vêm sendo utilizadas
habitualmente em Economia Regional, apesar de formar parte da Economia do
Desenvolvimento
9
.
Essas teorias, que conformam a base sobre a qual se construiu a Teoria do
desenvolvimento polarizado, atingiram uma posição hegemônica na época do fordismo, onde a
favorável conjuntura permitia o desenvolvimento, mais ou menos harmônico, de outros
elementos considerados relevantes: um ambiente de relativa paz social e benefícios fiscais, que,
como resultado da ação do Estado, se traduziu, principalmente na área da OCDE, na constituição
de uma multiplicidade de concentrações industriais planejadas, em forma de pólos de
desenvolvimento. Como conseqüência, incentivos financeiros e fiscais, custos e rentabilidade
esperados do negócio, economias de aglomeração, emergiam como principais fatores explicativos
nas decisões de instalação de determinada planta.
Por outro lado, no que pese suas diferenças, todas essas teses partem da consideração da
transcendência dos agentes econômicos externos no processo de desenvolvimento e da idéia de
que a evolução do capitalismo tem suposto uma crescente interdependência e integração entre
territórios, que obriga a adotar um enfoque sistêmico na hora de interpretar as desigualdades no
desenvolvimento inerentes à dinâmica econômica.
Ambos os enfoques, neoclássico e estruturalista, não descartaram a possibilidade da
difusão industrial, como mecanismo de propagação dos benefícios do crescimento econômico, a
partir da grande cidade ou do centro para seu entorno menos desenvolvido, expandindo-se
posteriormente por diversos canais com intensidade variável, ao resto da economia e a mais
afastada periferia. Esta circunstância levou a cunhar a expressão desenvolvimento a partir de
cima, para designar o paradigma de desenvolvimento territorial dominante na era do fordismo: o
modelo de concentração/difusão urbano-industrial (BARQUERO, 1993).
Até recentemente, tal modelo, baseado em um conceito de espaço econômico
simplesmente funcional, constituía o eixo central das políticas e programas de desenvolvimento
no mundo industrializado. Dessa perspectiva, o território era contemplado como um mero suporte
8
É importante citar contribuição estruturalista de Prebisch e Furtado, que analisavam o subdesenvolvimento da periferia latino-americana como
processo evolutivo específico de estruturas produtivas e sociais heterogêneas.
26
físico para o sistema produtivo, susceptível de ser explorado mediante a atividade econômica e
organizado em função das relações sociais e técnicas de produção vigentes.
Assim, a difusão industrial, como via natural de extensão do bem-estar induzido pelo
crescimento e as economias de escala geradas nas grandes aglomerações urbanas industriais,
toleravam uma transferência de capital, tecnologia e mão-de-obra qualificada, de regiões mais
avançadas para espaços periféricos mais atrasados, no qual o território fazia um papel meramente
passivo da ótica econômica. Tal processo difusor, apesar de reunir aspectos positivos, não era
mais do que uma das peças-chave de uma engrenagem (o desenvolvimento a partir de cima) onde
todo o aparato de melhoria material obedece a impulsos externos.
Conforme análise de Orgando et al. (1989) e de Velasco (1986), com as crises e as
mudanças subjacentes, toma corpo um processo acelerado de descentralização produtiva na
indústria, caracterizado pela paulatina decomposição da estrutura produtiva e organizativa das
grandes empresas industriais urbanas, protagonistas de um êxodo deslocalizador e
desconcentrador de segmentos da atividade e até de processos produtivos inteiros, através da
dispersão de múltiplos estabelecimentos, com o objetivo de diminuir custos e flexibilizar as
condições de oferta. Cumulativamente, a transformação das pautas empresariais de localização
das MPME (mediante a uma progressiva instalação de unidades nas periferias, especialmente em
detrimento dos grandes centros) e o aumento da natalidade empresarial nos ditos espaços
periféricos (em princípio, sem uma reconhecida tradição industrial), não deixavam dúvidas acerca
da grande envergadura do fenômeno da difusão.
Ante a evidência da profunda renovação da geografia industrial que ia se perfilando,
muitos economistas e geógrafos se apressaram em tentar explicar, fazendo uma releitura das
interpretações antecipadas por neoclássicos e estruturalistas sobre esse fenômeno. A teorização
da difusão industrial passou então a desempenhar um papel de vanguarda na doutrina econômica,
conforme assinalava Barquero (1988).
Assim, a teoria da difusão, em sua visão neoclássica
10
, assume a possibilidade de que a
atividade produtiva e a industrialização se difundiam, favorecendo o desenvolvimento
regional/local e rural, reduzindo as diferenças espaciais por conta dos incrementos nos custos dos
9
O enfoque Centro-periferia constitui uma versão ampliada da tese da causalidade circular acumulativa, que ressalta que a criação dos centros de
crescimento localizados absorvem as energias dos espaços periféricos.
10
No enfoque neoclássico, a idéia de convergência territorial a longo prazo remete a um processo de paulatina redução de disparidades. De
concreto, se confiava nos efeitos dos benefícios da especialização produtiva dos territórios em função de suas vantagens comparativas como via de
propagação do crescimento e, por conseguinte, de reequilíbrio.
27
fatores de produção, deseconomias externas de aglomeração, informação e comunicação.
Fenômenos como a falta de espaço para a expansão empresarial, transporte dos produtos
(congestionamento do tráfego), alto custo de mão-de-obra, saturação do mercado, obsolescência
de certos equipamentos (devido à industrialização) e o encarecimento dos impostos e preço do
solo e dos imóveis, levaram as empresas a introduzir novas tecnologias e a buscarem locais com
condições mais vantajosas, pelo lado dos custos, que lhes permitissem manter os benefícios e
sobreviver nos mercados cada vez mais competitivos. Em termos geográficos, isso se traduzia em
uma perda de atrativo pelas áreas centrais, revalorizando-se outras áreas periféricas, menos
onerosas e crescentemente acessíveis (graças aos avanços em transportes e comunicações) e com
mais favorável clima social.
A visão estruturalista
11
oferece uma explicação alternativa dos processos de difusão que,
em geral, destaca os elementos históricos e espaciais do processo de acumulação de capital que
estão por trás das decisões de localização e investimento em toda empresa. Scott (1985)
destacava os aspectos mais relevantes dessa corrente: a transformação da organização empresarial
e a mudança tecnológica. Ambos determinam as pautas de instalação, a dimensão dos processos
espaciais, a urbanização e, em última instância, o desenvolvimento de um território, com o que as
vantagens e desvantagens locacionais de uma área não são dadas antecipadamente, mas aparecem
como conseqüência da própria dinâmica do processo produtivo e da organização interna da
empresa.
Por conseguinte, são as mudanças na estratégia locacional das grandes firmas inovadoras
e sua estrutura organizativa que promovem a segregação espacial e desintegração funcional
12
das
atividades produtivas, buscando instalação em zonas periféricas, onde é possível encontrar mão-
de-obra barata e flexível, deixando as funções de direção e controle nas áreas metropolitanas,
convertidas, dessa forma, em centros de poder decisório.
11
Foi Myrdal (1957) quem cunhou o conceito spread effects (efeitos de propagação-difusão), para assinalar a presença de tais tendências
difusoras, cuja entrada em cena se produziria uma vez alcançado um elevado grau de desenvolvimento nos principais pólos de crescimento,
afetando de maneira preferencial os espaços mais acessíveis que ocupam a categoria imediatamente inferior na hierarquia territorial (regiões
intermediárias, cidades médias etc). Em idêntico sentido, a teoria dos pólos de crescimento supunha, a partir de certo estágio evolutivo, a
existência de efeitos difusores sobre a região circundante ao pólo, em forma de ondas concêntricas. Este fato, junto com a idéia da eficiência do
crescimento concentrado em determinados núcleos, serviu de estímulo para a implantação de tais figuras em regiões atrasadas de muitos países
ocidentais, impulsionadas mediante a concessão de subvenções para a instalação de empresas e a localização de grandes empresas públicas em
setores industriais de ponta como siderurgia, petroquímica etc, representativos do conceito de industria motriz de Perroux (Na região Nordeste do
Brasil, por exemplo, foram instalados alguns complexos industriais e integrados como o petroquímico de Camaçari (BA); pólo cloroquímico de
Alagoas; complexo industrial integrado de base do Sergipe; complexo químico-metalúrgico do Rio Grande do Norte; pólo irrigado do Vale do São
Francisco etc).
12
Scott (1985) oborda alguns fatores que distinguem tal desintegração, geralmente associadas à proliferação de vínculos inter-planta próprios dos
complexos industriais: a) Atividades produtivas multitarefa, nas quais se realiza a prática de trabalho normal, facilmente divisível; b) Atividades
nas quais verifica-se certa desqualificação de mão-de-obra e standartização dos processos de trabalho mediante a fragmentação das tarefas; e c)
Atividades enfrentadas com mercados incertos e voláteis.
28
Assim, de acordo com a visão de Stöhr (1985), a mudança tecnológica atuará como
elemento catalizador, reduzindo os custos de transporte e das comunicações favorecendo a
standartização dos processos produtivos e dos produtos em escala internacional. Dessa forma, tal
mudança impulsionará as firmas a adotar novas tecnologias para poder competir em melhores
condições em um mundo econômico crescentemente internacionalizado, a mercê da superação
progressiva dos obstáculos aos intercâmbios e à integração dos mercados de bens e de capitais,
onde nasce uma incipiente divisão espacial e técnica do trabalho (aberta à competência de novos
países industrializados e fortemente competitivos) e onde impera o crescente domínio das
multinacionais. Os incentivos das administrações públicas nacionais, regionais e locais à presença
das ditas corporações, lhes permitirão mobilizar uma grande reserva de mão-de-obra em quase
todas as regiões industrializadas do mundo, uma vez que verão incrementada sua capacidade de
eleger a localização ótima para cada uma de suas funções específicas.
A versão estruturalista, conforme estudos do próprio Stöhr (1985),oferece, em
conseqüência, uma explicação da descentralização produtiva e da difusão espacial compatível
com os esquemas da teoria do ciclo de vida do produto, tanto nos âmbitos nacional e
internacional como no regional. Nesse sentido, são as grandes metrópoles quem englobam os
novos centros de criação de tecnologia e de produtos industriais modernos, difundindo o
desenvolvimento através de mudanças tecnológicas e organizativas que motivam a consolidação
de novos espaços econômicos anteriormente marginalizados.
1.2.2 Aspectos da industrialização difusa
Nas teorias da difusão industrial, apesar das evidências de alguns acertos, muitos
acontecimentos ocorridos antes da recessão dos anos 1970 (descentralização produtiva, acelerada
mudança tecnológica etc.), apresentaram rias limitações para interpretar alguns processos de
desenvolvimento territorial típicos de economias de industrialização tardia, conforme assinalam
Garofoli (1991) e Barquero (1993). Assim, ficou patente que a descentralização produtiva
dependente e as novas tecnologias promoveram o aparecimento de novas atividades na periferia
urbana e nas áreas rurais. No entanto, anteriormente à “diáspora” industrial promovida pela crise
e a posterior reestruturação, já existia em muitos países do ocidente um emaranhado de
29
empreendimentos manufatureiros dispersos, vinculado a uma tradição industrial rural que não
pode ser explicada através do fenômeno da difusão.
Essa tradição industrial de caráter local apresenta uma diversidade incompatível com o
caráter uniforme e hierárquico típico dos processos de desconcentração alimentados a partir dos
grandes centros. Nesse caso, a dispersão no território de indústrias e de serviços, ainda que igual
ao fenômeno da difusão, contribuiu para diminuir a efetividade da hierarquia urbana anterior, não
responde aos parâmetros do modelo de desenvolvimento a partir de cima, mas sim a uma gica
que, sem ser nova, vem adquirindo força desde os anos 1980, tendo em vista os rumos marcados
pelas mudanças induzidas pela crise e que impregnaram os terrenos técnico-produtivo,
institucional e espacial. Trata-se de um modelo de desenvolvimento a partir de baixo, onde se
encontram os processos de industrialização em cidades médias, na periferia urbana e nas zonas
rurais, baseados nos sistema de produção em escala municipal e protagonizados por empresas
locais, freqüentemente de reduzida dimensão, com grande capacidade de adaptação e
aproveitamento do potencial do próprio local.
Tal modelo de desenvolvimento constitui o núcleo da teoria do desenvolvimento difuso,
onde o território não se concebe como um simples suporte físico, mas como uma plataforma
ativa para as relações funcionais e sociais, susceptível a adaptar-se às transformações do processo
de acumulação de capital e emoldurar-se na divisão internacional do trabalho em função da sua
própria história, isto é, da sua identidade econômica, política, social e cultural. Esta fórmula
flexível de acumulação, identificada na literatura econômica como industrialização endógena ou
desenvolvimento local endógeno, se opõe abertamente ao desenvolvimento promovido pela teoria
da difusão, em que a divisão vertical do trabalho e o intercâmbio desigual prejudicam
sobremaneira as áreas menos desenvolvidas, debilitando progressivamente suas aptidões
inovadoras e adaptação ao novo marco competitivo (STÖHR, 1987).
Sendo assim, o que significa exatamente desenvolvimento local? Que fundamentos
teóricos vêm respaldando esse modelo no senso da Economia Regional e da Economia Industrial?
Sob que formas de organização espacial se manifesta? Que margem de manobra apresenta na era
da globalização? Constitui uma variável paradigmática da especialização flexível suficiente para
destronar os esquemas fordistas precedentes? Estas são algumas das diversas questões que, desde
a década de 1980, vêm açambarcando a atenção de um grande grupo de economistas, geógrafos,
sociólogos e outros profissionais. Tendo em vista a sua complexidade e de sua transcendência
30
nesta pesquisa, encontrar alguma resposta para as mesmas constitui o propósito principal do
restante do presente capítulo.
1.3 O modelo de desenvolvimento local e a descentralização
O aumento de emprego e da renda e a mudança estrutural da economia estão
intimamente ligados ao surgimento de novas empresas. Segundo Taylor e Twomey (1988),
podem-se distinguir basicamente dois tipos de novos estabelecimentos (Diagrama 1): os que
aparecem como conseqüência da relocalização de plantas procedentes de empresas de outras
áreas e as que nascem pela criação de novas unidades produtivas.
Diagrama 1 : Componentes das variações na atividade econômica
Fonte: Adaptado de Taylor e Twomey (1988).
Mas, as novas firmas se instalam sempre em um local, sendo, pois, de vital importância,
numa análise minimamente séria do fenômeno da natalidade empresarial, ter em conta a dinâmica
espacial. Alguns estudos apontam que a tal efeito responde a introdução da noção de localidade
na teoria do desenvolvimento. Por outro lado, os recursos dos quais o local é detentor (potencial
Variação líquida na atividade econômica
Incremento bruto na atividade econômica Decréscimo bruto na atividade econômica
Abertura de
novas empres
as
Nascimento de
empresas
Empresas de
outras áreas
Crescimento
endógeno de
empresas
Afluência de
empresas de outras
áreas
Novas plantas
(investimento
interno)
Fechamento de
empresas
Saída de empresas
Transferências de
empresas
Diminuição de
empresas
endógenas
Abertura de novas
empresas
Investimento
externo
31
endógeno) não é um elemento privativo das regiões
13
, quando responder também pelo processo
de criação de riqueza em outros micro-espaços produtivos.
1.3.1 Os estudos sobre desenvolvimento a partir dos recursos locais
Tradicionalmente, no planejamento, no sentido de impulsionar o desenvolvimento de
uma determinada área, os pesquisadores e políticos colocam seu foco na natalidade empresarial
associada à possibilidade de investimento privado externo ou na ação de instituições públicas. No
entanto, desde os anos 1980, o reconhecimento da grande incidência do território nos processos
de reestruturação, tem levado a considerar a importância que apresenta a inclusão da dimensão
local nos âmbitos do sistema produtivo, do mercado de trabalho, da vida comunitária e da forma
de administração e gestão dos recursos.
Assim, no mundo acadêmico, o desenvolvimento local tem se convertido em objeto de
estudo de primeira ordem, a partir de uma variada gama de enfoques visivelmente inter-
relacionados. Nesse sentido, Benko (1995) identifica duas grandes categorias:
a) As aproximações de corte puramente territorial, onde emergem três enfoques diferentes:
os trabalhos sobre distritos industriais e sistemas produtivos locais, fundamentalmente
estudados por pesquisadores italianos (Becattini, Bagnasco, Brusco, Bellandi, Dei Ottati,
Sforzi, Garofoli, Trigilia, entre outros), franceses (Courlet, Pecqueur, Soulage, Gilly,
entre outros) e espanhóis (Vasquez Barquero, Costa, Ybarra); os estudos dedicados aos
chamados milieux innovateurs (ou meios inovadores), ligadas a Aydalot e aos estudiosos
vinculados ao Groupe de recherche européen sur les milieux innovateurs (GREMI) e ao
Institut de recherches économiques et régionales (IRER) da Universidade Suíça de
Neuchátel (Camagni, Quévit, Senn, Perrin, Maillat, Crevoisier, entre outros) e os estudos
13
O enfoque do potencial de desenvolvimento regional parte dos estudos de Biehl (1988) em torno da presença de uma região determinada de
recursos, fundamentalmente públicos (infra-estruturas, situação geográfica, vantagens de aglomeração e estrutura setorial), que determinam a
renda, a produtividade e o emprego potenciais. Tais recursos apresentam quatro características básicas: indivisibilidade, insubstitutibilidade,
imobilidade e polivalência, nas quais poderia acrescentar a durabilidade, existência de um suporte mínimo de eficiência, complementaridade e
interdependência entre si. Conforme Castillo Hermosa (1994), uma interpretação equivocada tem levado muitos a considerar este enfoque como
uma mera teoria do papel das infra-estruturas no desenvolvimento regional. No entanto, o autor enfatiza a ascensão das fontes de crescimento
endógeno sobre as do tipo exógeno, em matéria de desenvolvimento regional, ao considerar, junto às infra-estruturas de transporte, comunicações
e urbanas, a vitalidade das vantagens associadas a outros ingredientes de variado valor, tais como: o dinamismo das empresas (marcado por
empresários com iniciativa e informação e por pessoas aptas para tarefas de gestão e direção); a oferta de mercado de trabalho; a rede de serviços
(informativos, educativos, sanitários etc) disponíveis ou com relatividade proximidade; e a própria estrutura espacial, isto é, o meio ambiente
natural e urbano.
32
sobre a dinâmica territorial de metrópole
14
(com Scott, Storper, Walker, Benko, Castells,
Hall, entre outros)
15
.
b) Os trabalhos de inspiração regulacionista, bastante influenciados pelos estudiosos dos
distritos industriais. São identificadas três linhas de pesquisa: a centrada nas relações
locais entre trabalho e capital (representada por autores como Leborgne e Lipietz); a
referente à dinâmica das redes inter-empresariais de escala territorial (com Veltz e
Castells como destacados expoentes); e a que se ocupa da análise dos diferentes
mecanismos locais de regulação das relações econômicas (vinculada aos aportes do
francês Salais e dos norte-americanos Storper e Harrison).
Assim, dos aportes identificados, os que têm obtido maior repercussão correspondem
àqueles do primeiro grupo. Junto com os trabalhos dos defensores da tese da especialização
flexível (Piore, Sabel, Storper, Coriat etc.) têm sido essas as que romperam com o padrão único e
homogêneo de desenvolvimento (baseado na grande empresa verticalmente integrada e
concentrada, em geral, no âmbito urbano ou próximo a ele), abrindo caminho para uma discussão
mais profunda das relações entre desenvolvimento e território. É nesse contexto onde cabe situar
um conjunto de reflexões em torno da diversidade de padrões de desenvolvimento local
existentes na geografia espacial resultante da crise, cujos modelos, centrados atualmente em
fenômenos da descentralização e dispersão industrial, respondem a uma dupla tipologia: modelos
de desenvolvimento local endógeno e modelos de desenvolvimento local exógeno (GAROFOLI e
MAZZONI, 1994).
Dentro de ambas as tipologias é possível identificar uma ampla variedade de modelos,
processos ou novos espaços industriais (Diagrama 2), todos eles caracterizados por um elevado
dinamismo, na medida em que, devido à contínua interação de elementos econômicos, sociais e
culturais, estão sujeitos a um processo de crescimento e mudança contínuos.
Assim, poderia se considerar como modelo de desenvolvimento local exógeno,
principalmente, os processos de industrialização dominados pela grande empresa, pouco inter-
14
Alguns desses trabalhos, como o de Scott (1985;1988) ou o de Storper e Walker (1989), foram inspirados na teoria dos custo de transação de
Coase (1937) e do institucionalista Williamson (1985), no sentido de encontrar evidências da existência de economias de aglomeração, de
acmulação flexível e de desintegração vertical nas concentrações urbanas e nos pólos de crescimento californianos que emergiram praticamente do
nada.
15
Entre a bibliografia básica correspondente ao estudo dos distritos industriais, sistemas produtivos locais e meios inovadores cabe destacar
Becattini (1975; 1979; 1987; 1989); Brusco (1982); Garofoli (1983; 1989; 1991); Pyke, Becattini e Sengenberger (1990); Sengenberger, Loveman
e Piore (1990); Benko e Lipietz (1992); Pyke e Sengenberg (1992); Vázquez Barquero (1988; 1993; 1999); Costa (1988; 1992); Ybarra (1991);
33
relacionada com as firmas e o entorno locais. Este é ocaso das áreas de desconcentração
produtiva, resultantes da descentralização funcional e da relocalização de grandes companhias
externas, das zonas de promoção industrial, sustentadas pelos gastos realizados pela
administração do Estado, dos tradicionais pólos de crescimento e tecnológicos.
Nessas experiências, as decisões determinantes do processo de desenvolvimento (com
suas repercussões em termos de ocupação e de alteração da estrutura social) são protagonizadas
por agentes econômicos externos, correspondendo ao território um papel eminentemente
passivo
16
. Fatores como baixos salários, custo reduzido da terra, deseconomias de urbanização
em localização prévia, incentivos financeiros e fiscais, são de crucial importância nas pautas de
localização das unidades produtivas, mais do que a existência de potenciais sinergias no ambiente
local.
Diagrama 2: Modelos de desenvolvimento local
Fonte: Barquero (1999)
Garofoli e Mazzoni (1994); Camagni e Quévit (1992); Maillat, Quévit e Senn (1993); Dei Ottati (1995); Vázquez Barquero e Garofoli (1995) e
Vázquez Barquero, Garofoli e Gilly (1997).
16
Contudo, conforme assinala Barquero (1999), apesar de que o processo de desenvolvimento seja submetido ao controle externo, no âmbito dos
pólos tecnológicos cabe ressaltar que, nos últimos anos, os vínculos com os seus territórios tendem a experimentar um certo fortalecimento. O
autor cita os casos da indústria aeronáutica de Toulouse, da indústria de circuitos integrados localizada em Minneapolis-St. Paul, de software e
SISTEMAS LOCAIS
DE EMPRESAS
MODELOS DE
EXCELÊNCIA
PÓLOS DE
CRESCIMENTO
PÓLOS
TECNOLÓGICOS
Recursos locais
Recursos externos
Fronteira tecnológica Alta tecnologia
34
Por outro lado, na categoria de desenvolvimento local endógeno, destacam-se como
exemplos mais representativos os sistemas locais de empresas, com tecnologia moderna próxima
à fronteira tecnológica (baseada na inovação do tipo incremental), alguns modelos de
excelência
17
e as áreas de industrialização difusa. Segundo Garofoli (1991), nestes casos, os
territórios desempenham um papel ativo, como autêntico agente de transformação social, com
incidência em todo tecido sócio-econômico local. Nesse sentido, apresenta, pelo menos, três
elementos diferenciais: descentralização produtiva independente, integração social e equilíbrio
territorial. Verifica-se que não são fatores estritamente econômicos (de custos) ou vinculados às
economias de aglomeração do entorno físico, constata-se uma revalorização dos aspectos
qualitativos que implicam, conforme assinala Becattini (1990), uma profunda e contínua
interação entre os entornos econômico, social, tecnológico, urbanístico, político, histórico-
cultural e ambiental.
De acordo com o que foi comentado até aqui, verifica-se que falar de desenvolvimento
local/regional supõe utilizar um termo tão difuso como é a realidade industrial que trata de
designar. Certamente, mais do que um modelo homogêneo refere-se a estratégias e projetos
diferenciados por local, isto é, a modelos, no plural. Assim, a enorme diversidade de experiências
que, sob dita denominação, vem sendo identificada, principalmente na área da OCDE, junto com
uma infinita gama de vocábulos tão díspares
18
como desenvolvimento endógeno, industrialização
local, desenvolvimento rural integrado, dentre muitos outros, tem contribuído para gerar uma
notável confusão no terreno conceitual.
A maior parte dos estudos sobre desenvolvimento local tem levado um grande número
de autores a estabelecer uma analogia entre os conceitos de desenvolvimento local e
desenvolvimento endógeno. Ainda que, apresentando certa falta de rigor, pode-se visualizar um
paralelismo entre as duas noções, na medida em que constituem adjetivos referidos a distintos
aspectos de um mesmo processo de desenvolvimento. Em idêntico sentido, é importante admitir a
equivalência entre os conceitos de desenvolvimento local endógeno e desenvolvimento rural
bioquímica de Seattle, entre outros. Nos seus estudos, Barquero afirma que em todos esses territórios os recursos existentes vêm exercendo um
considerado atrativo sobre as empresas líderes dos setores assinalados.
17
Tais modelos de alta tecnologia podem estar baseados tanto na presença de grandes empresas usuárias das vantagens do ambiente local, como
em aglomerações de MPME inovadoras (cujo paradigma é o caso do Sillicon Valley).
18
É importante citar o artigo de Veiga (2002, p.5), sob o título “A face territorial do desenvolvimento”, no qual o autor investiga as motivações do
emprego da expressão “desenvolvimento territorial” e “desenvolvimento espacial”. Na referida alise, Veiga centra seu objetivo em saber se “[...]
tal tendência indica uma revalorização da dimensão espacial da economia, ou se, ao contrário, não passa de mais um prolongamento da infindável
mania de acrescentar adjetivos ao substantivo ‘desenvolvimento’”. A resposta foi de natureza geográfica. “[...] Ou seja, parece estar havendo, de
fato, uma revalorização da dimensão espacial da economia; mas tudo indica que tal evolução está longe de permitir que se considere a expressão
“desenvolvimento territorial” como um conceito propriamente dito, além de ser muito cedo para conhecer seus efeitos práticos.”
35
integrado, quando os territórios analisados conformam áreas não urbanas, dando base para se
falar de desenvolvimento rural com enfoque local.
Dessa forma, estabelecidas tais equivalências e para não cair em digressões conceituais
demasiadamente complexas alheias aos objetivos do presente trabalho, parece plausível tentar
oferecer alguma definição, mais ou menos correta, do que pode ser entendido como
desenvolvimento local endógeno. Assim, para Allende Landa (1987) desenvolvimento local
endógeno seria essencialmente:
Aquele processo pelo qual o governo local estabelece iniciativas, promove atividades
econômicas e sociais e conecta com o setor privado em projetos conjuntos ou
incentivando-os, com o objetivo de criar novos empregos e gerar a estrutura sócio-
econômica da região/local. (Grifo nosso).
Numa definição mais exaustiva, Barquero (1988) enfatizando as experiências espanhola
e italiana, ressalta o paralelismo entre o desenvolvimento local endógeno e os processos
industrialização local. Segundo o autor, tal modelo de desenvolvimento se constitui em:
Um processo de crescimento econômico e mudança estrutural que conduz a uma
melhoria do nível de vida, no que se podem identificar, pelo menos, duas dimensões:
uma econômica, na qual os empresários locais usam sua capacidade para organizar os
fatores produtivos locais com níveis de produtividade suficiente para ser competitivos
nos mercados; outra sócio-cultural, na qual os valores e as instituições locais servem de
base para o processo de desenvolvimento. A estratégia de desenvolvimento local, não
obstante, deve considerar uma dimensão adicional, a político-administrativa, em que as
políticas territoriais permitem criar um entorno econômico local favorável, protegê-lo
das interferências externas e favorecer e impulsionar o desenvolvimento do potencial
local.
À luz da definição anterior, os processos de desenvolvimento local apresentam três
objetivos gerais: a transformação do tecido econômico local, o crescimento da produção e a
melhoria do nível de vida e de emprego das pessoas. Dessa forma, conforme assinala Blakely
(1989), a promoção da atividade empresarial, a criação de postos de trabalho qualificados para a
população local, o sucesso da atividade econômica e a diversificação do aparato produtivo da
região, são os elementos que compõem o fim último de toda estratégia do desenvolvimento local.
Seu perfil concreto será determinado pelo estabelecimento de metas complementares mais
específicas, de acordo com o diagnóstico de cada território (o que requer uma metodologia
adequada para a elaboração de estratégias de desenvolvimento local).
36
1.3.2 Aspectos comuns para os processos de desenvolvimento local
A grande variedade de problemas que as regiões vêm enfrentando requer uma resposta,
no sentido de colocar em ão aquelas estratégias locais de longo prazo específicas para cada
agrupamento produtivo. A enorme amplitude e complexidade dos objetivos perseguidos e a
heterogeneidade das experiências de desenvolvimento local dificultam sobremaneira toda a
intenção de sistematização de tais iniciativas. Não obstante, no caso concreto das estratégias de
desenvolvimento que contam com o setor produtivo como eixo vertebrador do crescimento
19
, é
possível detectar, em linhas gerais, as seguintes características sócio-econômicas:
1) Tendência para certa especialização produtiva, geralmente em uma atividade ou em uma gama
concreta de produtos, normalmente destinados ao consumo final. Essa escassa diversidade não
significa que sejam poucos os ramos para gerar um processo de desenvolvimento local (são
comuns agrupamentos produtivos dos seguintes ramos: agro-alimentação, têxtil, calçado,
madeira, couro, maquinaria etc.).
2) Os processos de industrialização local têm sido, geralmente, promovidos pela ação da
administração pública, baseados, principalmente, na atividade das MPME. Contudo, ainda que
sua maior parte se desenvolva sem uma política direta do Estado, os investimentos em infra-
estruturas sócio-econômicas (comunicações, educação, transporte e energia) os tem favorecido e
em outros momentos a administração pública é imprescindível para a consolidação do processo.
A paulatina descentralização administrativa (fruto da perda de eficiência do Estado frente às
crises) em favor das instituições públicas de menor porte (regionais e locais) reforça este
argumento.
3) Os processos de desenvolvimento local surgem como resposta à perda do dinamismo do
sistema produtivo tradicional local, fixando-se principalmente em áreas rurais e pequenos núcleos
urbanos não metropolitanos, com certa tradição empresarial (com uma base econômica sólida,
fundamentada em atividades artesanais e/ou atividades e estruturas agrárias capazes de gerar
excedentes, sem grandes concentrações na propriedade da terra).
4) Apóiam-se na utilização de recursos próprios da área (materiais e humanos).
19
Os processos de desenvolvimento local mais relevantes identificados nos diversos estudos de experiências concretas, vêm destacando o papel
central do setor secundário. Contudo, nos últimos anos, verifica-se uma espécie de terceirização nos processos de desenvolvimento local, na
medida em que um número crescente de experiências no setor de serviços está aumentando o seu protagonismo. Um dos casos mais notáveis
corresponde àquelas estratégias locais aplicadas no meio rural, nas quais o turismo figura como grande responsável pelo crescimento econômico.
37
5) As relações de trabalho são fundamentalmente paternalistas, existindo pouca representação
sindical, o que redunda em diminuição do custo da mão-de-obra, pelo menos a priori
20
. Além
disso, as estruturas familiares são, freqüentemente, grandes e desempenham um papel relevante,
dada a existência de fortes vínculos inter-pessoais.
6) A transmissão da informação é efetivada de forma rápida e eficaz, tanto por canais formais
como informais, o que coopera para a geração de um ambiente apropriado para o controle tanto
do ritmo da inovação, como, em geral, do processo de acumulação de capital.
7) Contam com a capacidade de reagir frente aos desafios provenientes de fora (principalmente,
da globalização dos mercados), assim como introduzir formas específicas de regulação social, no
sentido de modelar o tecido sócio-econômico local. Isto, junto com as múltiplas inter-
dependências intra e inter-setoriais que se dão no território, prova que o apelativo endógeno não
significa necessariamente um hermetismo frente ao exterior.
1.3.3. Condicionantes do desenvolvimento local
Referindo-nos ao panorama da geografia industrial pós-fordista, o relativo êxito frente à
crise econômica, de um bom número de iniciativas de desenvolvimento local, tem levado muitos
estudiosos perguntarem-se acerca das premissas de partida que possibilitam o nascimento e
consolidação desses tipos de experiências. Com o convencimento de que as mesmas não surgem
em qualquer parte, as diferentes pesquisas realizadas têm atribuído uma grande importância a
uma série de recursos de diversificada natureza (econômicos, sociais, políticos, culturais,
institucionais, técnicos, ecológicos, etc), que, na essência, correspondem aos indicados no
Diagrama 3.
20
Barquero (1999) faz uma importante análise sobre isto, quando afirma que devido à segmentação contínua dos mercados de trabalho (que afeta
inclusive as próprias áreas metropolitanas), as diferenças de salários entre áreas geográficas o se percebem tão claramente, ou, pelo menos,
não são tão importantes.
38
Diagrama 3: Condicionantes do desenvolvimento local
Fonte: Adaptado de Castillo Hermosa (1994)
Conforme assinala Castillo Hermosa (1994), ainda que a existência de tais elementos
não seja uma condição por si suficiente, para que se origine um processo de desenvolvimento
local, no entanto, são pré-requisitos indispensáveis, chegando-se a uma solução satisfatória
mediante o emprego adequado das próprias capacidades no marco de uma estratégia global de
desenvolvimento.
Dessa forma, tentaremos expor os aspectos fundamentais de cada um desses fatores.
1.3.3.1 Recursos humanos
De acordo com o pensamento de Barquero (1988), se algum fator determinante em
todo o processo de desenvolvimento local esse é o perfil dos recursos humanos. Dado que a sua
disponibilidade é essencial como elemento diferencial catalisador do surgimento e reforço de
múltiplas iniciativas, haja vista que “a presença de certa entidade demográfica aparece como um
dos principais ativos com que se pode contar na região, em um mundo onde flexibilidade e
competitividade constituem requisitos obrigatórios.” (p. 138).
Recursos Humanos
POTENCIAL DE
DESENVOLVIMENTO
LOCAL
Recursos
Materiais
Recursos
Técnicos
Recursos Sócio-
culturais
Capacidade de
Organização Local
39
Ao falar-se de base demográfica como recurso, estamos aludindo necessariamente à
esfera do mercado de trabalho. Nesse sentido, os níveis de atividade, o volume e composição da
oferta de mão-de-obra, sua flexibilidade, seu grau de formação e qualificação, configuram-se
como a essência do patrimônio local. De fato, pode-se constatar que na maioria das regiões cujos
projetos de desenvolvimento local são exitosos, existe uma pirâmide populacional relativamente
jovem, com acesso à educação e capacitação técnica, o que favorece o desenvolvimento e
potencialização dos processos colocados em prática.
Todavia, a quantidade e qualidade do capital humano real dependem em boa medida da
capacidade para sua mobilização e valorização (otimização). Por conseguinte, na prática, um dos
recursos humanos mais importantes, neste contexto, é a presença da aptidão empresarial, capaz
de gerar empregos, recolocar os postos de trabalho perdidos e de renovar e diversificar
rapidamente o tecido econômico
21
.
1.3.3.2 Recursos materiais
É lugar comum o fato de que tais soluções, em uma determinada região, podem ver-se
favorecidas pela abundância de recursos materiais de diversificada ordem: naturais, equipamentos
e infra-estruturas e recursos econômico-financeiros. Assim, não é importante analisar apenas
quem (ou a quem) será mobilizado, mas também saber que outros recursos materiais serão objeto
de mobilização.
Os recursos naturais (agrários, matérias-primas e fontes de energia) e a situação
geográfica, têm desempenhado, historicamente, um papel essencial no nascimento de iniciativas
de industrialização local, marcando, mais que as pautas concretas de localização industrial
22
, o
rumo da especialização produtiva em diversos territórios, sobretudo, naqueles com fragilidades
de acesso. Não obstante, a dependência do patrimônio natural local, ainda que seja importante
21
É importante ressaltar que a procedência dos empresários, neste processo, são multivariadas. Conforme estudos de Méndez (2001), geralmente,
estão conectados com as atividades locais no momento de realizar seus investimentos: umas vezes, são comerciantes ou profissionais que mantêm
contatos prévios com a atividade em que se iniciam; outras são antigos trabalhadores dependentes que vêm acumulado conhecimentos com sua
experiências (Know how); e outras ocasiões, procedem de famílias de agricultores, que, mediante à economia familiar, fruto do excedente obtido
no campo, iniciam o seu caminho no mundo dos negócios. Também é com freqüência que os empresários tenham uma limitada capacidade de
gestão e organização. Na maior parte dos casos, sua preparação técnica e empresarial são adquiridas à medida que desenvolve suas atividades
(learning by doing).
22
As empresas locais não vêm seguindo, normalmente, os padrões tradicionais de localização industrial (baseados na redução de custos de
transportes e economias de aglomeração), mas sim atendendo a critérios relacionados com as circunstâncias do momento o caso de novos
empresários que tomam coletivamente o controle das empresas em crise, para o perder os postos de trabalho), com a satisfação pessoal de um
bom número de pequenos empresários em busca de oportunidades de negócio, ou, em ocasiões, com as diferenças territoriais nos mercados de
trabalho e nos preços da terra (BARQUERO, 1988).
40
para algumas regiões, tem sido substituída, em muitos casos, primeiramente, pela notável
ampliação dos pontos de aprovisionamento e do número de provedores, induzida pelos avanços
nas técnicas de produção e nos transportes e comunicações, e, em segundo lugar, pela densa rede
de relações inter-empresariais estimulada pela progressiva internacionalização econômica
(MENDEZ, 2001).
Na visão de Villaverde (1991), as infra-estruturas podem incidir consideravelmente no
aproveitamento do potencial de recursos locais, na atração de investimentos externos à área, e,
por conseguinte, na geração de maiores níveis de produtividade e emprego a longo prazo.
Contudo, Castillo Hermosa (1994, p. 33) faz uma importante observação, quando afirma que as
infra-estruturas tanto técnicas como sociais (apontadas no Quadro 2), “ainda que estimulem o
desenvolvimento de uma região, não existe, pois, um vínculo causa-efeito automático entre infra-
estruturas e prosperidade”
23
.
Contudo, a proximidade com mercados mais desenvolvidos e, em geral, as infra-
estruturas cnicas, m contribuído para a emergência de inúmeras iniciativas nesse tipo de
especialização produtiva, sobretudo no caso de “nós” viários importantes com um sistema de
transportes e comunicações desenvolvido
24
.
Por outro lado, uma suficiente dotação de equipamentos sociais contribui no sentido de
dar maior coesão no processo de desenvolvimento, sendo relevante, inclusive, a presença de
estabelecimentos sanitários e educativos, e de determinados serviços coletivos (justiça, proteção
civil, etc.), sócio-culturais, ambientais, etc., que facilitem a solução dos problemas de gestão da
empresas, através de uma maior formação e bem-estar dos trabalhadores e empresários.
23
Uma manifestação desse caráter subsidiário das infra-estruturas é a tradicional escassez financeira dos municípios e suas limitações de
competência, que tem motivado, freqüentemente, os administradores públicos locais darem pouca relevância para a dinamização das estratégias de
desenvolvimento local (principalmente no meio rural), haja vista a sua total dependência da intervenção de instituições públicas de caráter mais
elevado.
24
Muitos autores advogam hoje pela necessidade de uma dotação mínima de infra-estrutura de comunicações para o desenvolvimento local, em
relativa sintonia com a progressiva substituição das economias de localização tradicionais pelas economias de comunicação e informação
alimentada por uma mudança tecnológica. (BARQUERO, 1999).
41
Quadro 2: Tipologia das infra-estruturas que impactam no Desenvolvimento Econômico Local
Infra-estruturas Técnicas/Econômicas Infra-estruturas Sociais
Transportes
Rede viária
Rede ferroviária
Aeroportos
Portos
Transporte urbano
Saúde
Hospitais
Rede de assistência
Centros de
reabilitação
Telecomunicações
Telefones
Serviços de
telecomunicações
Centros de
informática
Serviços Urbanos
Coletivos
Proteção civil
Conservação do
patrimônio cultural
Parques
Serviços de justiça e
segurança da
cidadania
Abastecimento de
energia
Eletricidade (redes
elétricas, estações
transformadoras
Gasodutos e
oleodutos
Centrais térmicas e
nucleares
Outras fontes de
energia
Esporte e Turismo
Equipamento
desportivo e de
turismo em geral
Abastecimento de água
Rios e canais
Distribuição de água
(diques e represas)
Irrigação e sistema de
drenagem
Serviços Sociais
Habitações de
proteção oficial
Serviços de bem-estar
social
Centros de proteção à
infância
Centros para a
terceira idade
Serviços prisionais
Industriais
Planta industrial
Cultura
Museus
Teatros
Cinemas
Bibliotecas
Centros de
conferência
Centros de culturas
Meio ambiente
Depurador e serviços
de tratamento de água
Proteção do solo
Serviços de coleta e
reciclagem de dejetos
Meio ambiente natural
Parques naturais
Praias
Bosques e
reflorestamento
Educação
Escolas e institutos
Universidades
Centros de pesquisa
Centros de formação
profissional
Fonte: Castillo Hermosa (1994)
No que se refere aos recursos econômico-financeiros, é importante destacar a
importância da empresa, como agente econômico gerador de emprego e de riqueza e da
existência de um tecido empresarial denso em uma área concreta (em razão do número de
estabelecimentos e ramos produtivos implicados) como importante sinal de maturidade e
potencial econômicos.
42
De fato, no epicentro de todo processo de desenvolvimento local se situa a empresa
privada (nos estudos efetuados em agrupamentos de empresas na Europa, constatou-se que é
nesse âmbito que se encontra a maior parte do capital disponível para os negócios
25
), tendo as
MPME um protagonismo singular, de acordo com a maioria das experiências analisadas. De
acordo com Becattini (1990), tal relevância se deve tanto ao seu maior enraizamento no território
(que, a priori, lhe atribui uma maior sensibilidade, com respeito aos problemas do entorno
local
26
), como a decisiva influência que sua flexibilidade, em termos de criação de emprego, de
inovação e de diversificação e modernização do aparato produtivo local, exerce sobre a densidade
industrial e a estrutura e dinâmica econômicas de determinada região.
Por outro lado, dado que a natalidade empresarial, nas experiências de industrialização
localizada, não responde, na essência, à atração de novos investimentos externos inerentes à ótica
da difusão, o entorno local estará particularmente mais inclinado à emergência de um número de
iniciativas que possibilitem o desenvolvimento auto-centrado. Assim, adquirem grande
importância, junto a alguns fatores imateriais (condicionamentos sociais, culturais e
psicológicos), elementos puramente financeiros, dentro dos quais se reveste de especial
importância a existência de mecanismos de poupança local. De fato, sendo o financiamento da
empresa local uma das dificuldades que mais tem limitado a expansão dos processos de
desenvolvimento (devido ao aumento do custo das atividades produtivas, ao precário acesso das
empresas nos mercados financeiros e a inadequação das políticas públicas), as comunidades onde
se tem produzido os processos de industrialização em nível local se correspondem, comumente,
com enclaves que contam com um nível de renda relativamente alto e com uma significativa
capacidade de poupança e investimento, que têm permitido o autofinanciamento das iniciativas
empresariais (BARQUERO, 1999)
27
.
25
Conforme informes da OCDE (2000), tradicionalmente, as experiências de desenvolvimento local vêm efetuando seus primeiros passos
espontaneamente, sem um apoio blico apreciável. É importante ressaltar que isso não significa dizer que a participação da administração
pública na promoção e crescimento das iniciativas não seja importante. Assim, na atualidade, a configuração de projetos conjuntos e de empresas
mistas (joint ventures), resultantes da colaboração entre entes blicos regionais e locais e agentes econômicos privados, e da formação de redes
(formais e/ou informais) de atores públicos e privados, aparece como um elemento competitivo necessário para o êxito de toda a experiência de
desenvolvimento local, tendo em vista a osmose entre as economias locais e os marcos nacional e internacional, que se traduz em um ambiente de
crescente competência inter-territorial.
26
Segundo Becattini (1990), a abertura e sensibilidade frente aos requerimentos do entorno é um dos fatores mais importantes na empresa atual,
tendo em vista seu caráter de sistema aberto em contínua interação com seu meio social, econômico, político e cultural. Tal interação apresenta,
pelo menos, três vertentes: i) é nesse entorno onde a empresa colocará seus produtos (principalmente as MPME); ii) é desse mercado do qual irá
extrair a informação precisa para adequar-se permanentemente aos seus requerimentos; e iii) é em tal entorno onde se situam os agentes, entidades
e indivíduos com os quais a empresa se relaciona habitualmente.
27
Conforme assinala Barquero (1999), o nascimento e consolidação dos processos de desenvolvimento local tem obedecido, em diversos casos, à
utilização produtiva dos excedentes acumulados em atividades agrícolas e comerciais e, às vezes, industriais. Em todo caso, nas primeiras etapas
do processo de industrialização local o empresário-proprietário tende a utilizar ao máximo a sua capacidade de recursos. À medida que a empresa
cresce, muitos se vêm com a necessidade de lançar mão de recursos externos e ao sistema financeiro, ainda que a propensão ao auto-
financiamento seja elevada.
43
Contudo, o recurso contínuo do autofinanciamento apresenta-se, geralmente, pouco
factível no contexto econômico atual, sendo vital a presença de serviços financeiros privados
(crescentemente imbricados nos processos de desenvolvimento local) que facilitem o acesso aos
fundos necessários para o investimento, o desenho de instrumentos financeiros flexíveis (capital
de risco, leasing, empréstimos de curto e médio prazos e mecanismos de garantias menos
severos), assim como a imprescindível participação dos poderes públicos (favorecendo, pelas vias
legais ou financeiras, iniciativas públicas, privadas e mistas –, de acordo com os problemas de
gestão das empresas e com a realidade local).
1.3.3.3 Recursos técnicos
Conforme assinala Ciciotti (1995), a velocidade com que se sucedem os avanços
tecnológicos implica uma necessidade permanente de inovação e de adaptação a tais mudanças e,
por conseguinte, de informação (técnicas e de mercados) e investigação, por parte do tecido
econômico local. O diferente grau de penetração das novas tecnologias na região e no entorno
sócio-cultural; na atividade; gestão e organização empresariais (com mudanças na qualidade e
adequação dos produtos e na articulação e eficiência dos processos); no mercado de trabalho
(com modificações no emprego
28
e nos requisitos de qualificação); e no território (com incidência
nas pautas de localização das firmas e no grau de integração dos espaços produtivos
29
),
condicionam consideravelmente a flexibilidade produtiva e a competitividade da base econômica
de uma área de desenvolvimento local e, definitivamente, sua sobrevivência.
Não obstante, como é o caso da infra-estrutura, a tecnologia não é por si só uma
condição suficiente para o desenvolvimento. Maynard (1993) radicaliza quando afirma que
“confiar às atividades de alta tecnologia um papel crucial nesta linha pode ser um erro”, na
medida em que as pautas locais de tais atividades apresentam uma elevada predileção pelas
economias de aglomeração derivadas da concentração do aparato tecnológico em um número
muito restrito de áreas especializadas, que são os chamados sistemas territoriais de inovação.
28
Na visão de Pedroza Sanz (1997), a incidência das novas tecnologias sobre o emprego é “ambivalente”, haja vista que, por um lado, contribui
para a destruição de empregos em curto prazo, por outro lado, torna-se importante na geração de postos de trabalho de qualidade e relativamente
estável a longo prazo.
29
Segundo Castells (1990), o desenvolvimento de sistemas automatizados flexíveis tende a reduzir as necessidades de emprego pouco qualificado,
diminuindo sua participação nos custos totais de produção. Com isto, perde certa pujança o incentivo que muitas empresas (sobretudo para as mais
inovadoras) poderiam ter com a mudança das unidades de produção para áreas periféricas com abundante e barata mão-de-obra desqualificada.
Para Barquero (1993), a articulação territorial que o desenvolvimento tecnológico fomenta, tem contribuído para inibir a tradicional concentração
44
Dessa forma, a tecnologia deve ser acompanhada de políticas de fomento do potencial local e
acomodar-se às necessidades reais de cada entorno concreto, pois nem todos os territórios partem
das mesmas condições nem atravessam as mesmas problemáticas.
Diante de tais colocações, verifica-se que são indispensáveis a atitude e a aptidão dos
agentes econômicos locais frente à necessidade de renovação tecnológica. De fato, a
receptividade às mudanças, variável estreitamente vinculada ao nível de formação, não
condiciona a cultura industrial e a capacidade de estimular técnicas usadas em outras experiências
exitosas (nem sempre possíveis de serem transportadas de um local para o outro), como pode
chegar atrair a atenção das autoridades públicas, traduzindo-se na obtenção de incentivos à
inovação individualizados e, inclusive, é o que é mais importante, na criação de infra-estruturas
(que poderiam ser o embrião de futuros parques tecnológicos científicos) e de serviços de
assistência técnica às empresas (como são os centros tecnológicos).
Em qualquer caso, a presença de tal receptividade é absolutamente fundamental, tanto
para o acesso empresarial (particularmente para a MPME) à informação e à inovação, como para
sua posterior difusão por todo e tecido produtivo da região
30
.
1.3.3.4 Presença de estrutura cultural própria
Os valores culturais e sociais podem contribuir de maneira considerável para a
aceleração ou desaceleração das transformações econômicas e da inovação. Dessa forma, fatores
como o nível de articulação e organização do corpo social, a estrutura familiar, o grau e a forma
de apego à tradição, a capacidade de assumir o risco econômico, a facilidade ou dificuldade da
convivência social, a existência de líderes e elites (culturais, econômicos e políticos), o grau de
violência, a aceitação ou recusa de novos produtos e novas tecnologias, o nível de formação, a
aceitação do binômio trabalho-descanso, a percepção ética da autoridade, da propriedade ou da
solidariedade, etc., constituem elementos importantes e reativos ao desenvolvimento econômico
local.
da atividade industrial nos núcleos urbanos, oferecendo oportunidades aos sistemas produtivos fixados em numerosas cidades médias e áreas
rurais.
30
De acordo com Evans (1996), a presença de infra-estruturas tecnológicas possibilita a geração de redes territoriais de tecnologia com uma
dimensão que transcende o âmbito meramente local, com as conseqüentes sinergias derivadas da captação de um maior acúmulo de informação e
conhecimentos técnicos.
45
Ainda que tais fatores sejam de lenta evolução e de difícil modificação, essa
circunstância tem convertido a uma ampla bateria de instrumentos dirigidos a incidir sobre os
mesmos (meios de comunicação, técnicas publicitárias, aparato educativo, influência institucional
etc.) em ingredientes fundamentais dos programas de desenvolvimento (CASTILLO HERMOSA,
1994).
Neste contexto, conforme analisa Becattini (1990), as experiências de desenvolvimento
local remetem, em geral, a comunidades nas quais a diferença entre o econômico e o sócio-
cultural se diluem, onde cada faceta da vida cotidiana se encontra impregnada de conotações
produtivas. Tratam-se de sociedades nas quais, via de regra, se premia o esforço e a ética do
trabalho; a capacidade empreendedora é um valor coletivo, com o qual se potencializa a
mobilidade social (o que facilita sobremaneira a conversão de trabalhadores em empresários). A
existência de fortes vínculos converte a família em unidade de renda e produção por excelência
(BARQUERO, 1986).
Godard (1987) vai mais adiante em sua análise, quando informa que não se trata apenas
de uma relação entre cultura e território, mas um sentimento de identidade social; de pertencer a
uma comunidade local diferenciada. Por conseguinte, como expoente dessa consciência de
cultura local, o resultado é uma elevada participação cidadã no processo de desenvolvimento.
1.3.3.5 Organização e poder a nível local
Essa participação cidadã (como meio de expressão dos desejos e necessidades da
coletividade e como veículo mobilizador do potencial criativo, da iniciativa, da cooperação e da
inovação), se concretiza no concurso simultâneo das instituições públicas locais, das formas
sociais e econômicas de solidariedade e integração social (cooperativismo, famílias ampliadas),
das estruturas de animação, de informação, de programação ou de ação coletiva (onde entram em
jogo os agentes de desenvolvimento local) e das políticas de apoio adotadas por instituições de
categoria superior.
Sendo o desenvolvimento local um padrão de desenvolvimento territorial integrado, as
ações em determinadas áreas terão um caráter pluridimensional, conectando os projetos dos
empresários locais com as atuações dos organismos blicos e dos demais agentes privados
(sindicatos, câmaras de comércio, etc.). Segundo Godard (1987), cada um desses atores (ver
46
Diagrama 4) desempenha um papel próprio, com o qual o grau de coordenação e harmonização
das ações e interesses dos mesmos (fortemente dependentes do poder e capacidade de
organização em escala local) vai aparecer como um fator chave na consolidação dos processos
de desenvolvimento. É precisamente nesta linha que o autor se situa, quando menciona a
importância que, para tais processos, tem a presença de centros sociais onde se materializam, por
um lado, um ambiente de harmonia e coesão entre as diversas iniciativas e gestões locais e, por
outro, a articulação da esfera local com outros níveis econômicos e administrativos.
Diagrama 4: Agentes do processo de desenvolvimento local
Fonte: Adaptado de Godard (1987) e Castillo Hermosa (1994).
ORGANISMOS PÚBLICOS
Administração local
Administração regional
Administração central
Organismos supranacionais
ORGANISMOS PRIVADOS
Empresas
Sindicatos
Câmaras de comércio
Entidades financeiras
Associações e movimentos de
cidadania
Famílias
OUTRAS INSTITUIÇÕES
Agências de desenvolvimento
Universidades e Centros de
pesquisa
47
1.3.4 Os espaços produtivos típicos do modelo de desenvolvimento local
O interesse pelos espaços típicos do modelo de desenvolvimento local parte, em boa
medida, da constatação, em localidades e municípios italianos, capazes de competir com êxito
nos mercados internacionais (tais municípios e localidades integram a chamada Terceira Itália ou
modelo NEC
31
), de um dinamismo permanente, estreitamente vinculado às interações entre um
tecido empresarial baseado em empresas de pequeno e médio porte, fortemente especializadas em
determinadas atividades manufatureiras e um singular ambiente sócio-institucional (com uma
cultura produtiva solidamente ancorada na idiossincrasia da coletividade, praticamente
onipresente em todos os âmbitos da vida cotidiana).
Essa circunstância conduziu Becattini (1979) a recuperar o conceito de distrito
industrial, cunhado anteriormente por Alfred Marshall, que, com o tempo, vem recebendo outras
denominações afins como sistema produtivo local, meio inovador, etc., nos quais o território
assume, como o próprio distrito, o papel de milieu (entorno). Ou seja, um rol eminentemente
ativo na recomposição da atividade produtiva e no processo de desenvolvimento econômico,
fundamentado na dimensão sócio-cultural local.
31
Terceira Itália é um termo cunhado por Bagnasco (1977), para designar aquelas regiões do Norte, Leste e Centro (NEC) da Itália, com um novo
padrão de organização industrial emergente, fundamentado nas pequenas e médias empresas e na produção descentralizada e flexível,
distinguindo-se do modelo de grande empresa típica do Triângulo do Ouro (Regiões de Piamonte, Lombardia e Ligúria) e do Mezzogiorno
(tradicional centro de atenção da política regional italiana, com inúmeros pólos de desenvolvimento beneficiários de amplos subsídios estatais). A
este autor, juntamente com Becattini (1975), correspondem os primeiros escritos que ressaltam a importância do espaço local e dos modelos de
organização territorial da economia como fatores de desenvolvimento. Através desse debate, os aportes que se sucederam na mesma linha, por
parte de economistas, geógrafos e sociólogos, como Brusco (1982), Garofoli (1981), Trigilia (1986) e Sforzi (1987), ampliaram e enriqueceram-
no ainda mais. À época, com todas essas discussões, um fato era marcante: a configuração e consolidação, durante a crise do modelo NEC, com
base na proliferação dos distritos industriais, em diversas áreas urbanas e rurais das regiões da Terceira Itália. Assim, enquanto as grandes
empresas do Norte perdiam postos de trabalho, em Trentino, Veneza, Veneto, Toscana, Emilia-Romana, Úmbria e Marcas, experimentava-se um
auge industrial protagonizado por MPME altamente especializadas em ramos diversificados, flexíveis e de acordo com o padrão de
industrialização difusa. Essa multiplicidade de empresas e a integração de variáveis sociais, demográficas, industriais e territoriais, típicas dos
distritos, permitiram grande estabilidade naquelas áreas (BECATTINI, 1990). Boa prova disso é que todas essas regiões vêm apresentando
sistematicamente um tamanho empresarial e uma taxa de desemprego sensivelmente inferiores à média italiana. Ainda que, conforme assinala
Bianchi (1992), não cabe atribuir todo o êxito ao fenômeno da industrialização local, mas sim uma boa parte, tendo em vista que a geografia
espacial da Terceira Itália está impregnada de iniciativas de desenvolvimento local ajustadas ao modelo NEC, cujo surgimento e consolidação se
deve, conforme interpretação de Bagnasco, a fatores como os seguintes: a existência de formas peculiares de posse da terra (sobretudo a parceria);
fornecimento de terra a baixo custo para investimento em infra-estruturas e de mão-de-obra formada e semi-autônoma; a presença de sistemas
cooperativistas e de agricultura familiar (favorecedores da acumulação de excedentes susceptíveis a dirigirem-se a outros setores); a abundância
de mão-de-obra industrial especializada, mercê da rica tradição artesanal de cidades pequenas e médias; níveis salariais relativamente baixos (dada
a combinação entre trabalho familiar, domicílio e dupla jornada de trabalho e a ausência de normas trabalhistas rígidas com relação à economia
submergida); ao processo das comunicações e transportes; a adaptação da mudança tecnológica e; à particular atmosfera industrial característica
dos distritos industriais. É importante mencionar algumas experiências emblemáticas como Prato (têxtil), Sassuolo (cerâmica), Empoli
(confecção), Monsummano (calçado), etc., cujo êxito e dinamismo tem levado a inundar os mercados internacionais com produtos Made in Italy,
contribuindo para uma mitificação da imagem do país
48
1.3.4.1 O conceito sócio-econômico do distrito industrial marshalliano
De acordo com Becattini (1990), o distrito industrial
32
pode ser definido, grosso modo,
como: [...] aquela entidade sócio-territorial que se caracteriza pela presença ativa tanto de uma
comunidade aberta de pessoas, como de um conjunto de pequenas e médias empresas, em uma
zona natural e historicamente determinada, na qual comunidade e empresas tendem a se fundir”.
Assim, conforme discutido anteriormente, com o resgate deste conceito, rompe-se com
a ampla tradição acadêmica baseada no desenvolvimento polarizado, a partir de cima, do tipo
funcional. Afora a consideração do ativo papel que o espaço local representa em todo o processo
de desenvolvimento, outro mérito desta reformulação consiste em unir e situar dentro de um
discurso mais ou menos homogêneo, os estudos sobre territórios e regiões e os trabalhos sobre
Organização Industrial.
A partir de então, todos os esforços têm sido envidados no sentido de definir com
nitidez a noção de distrito (por conseguinte, no caso brasileiro, busca-se responder por que, como
e onde as empresas se agrupam)
e, atualmente, a busca da evidência empírica ainda não cessou,
tanto na Itália como em outros países, entre eles o Brasil
33
.
Em todo caso, da extensa bibliografia existente sobre o tema, a análise de Ybarra (1996)
torna-se interessante, quando o autor menciona que “[...] cabe entender o distrito industrial como
um espaço modelar de industrialização descentralizada ou difusa, no qual convergem
flexibilidade produtiva, diferenciação da oferta e competitividade”. Tal padrão de especialização
flexível e de desenvolvimento apresenta uma série de aspectos primordiais (BECATTINI, 1990;
MÉNDEZ, 1994):
A concentração de um número considerado de MPME, surgidas prioritariamente por
iniciativa local (o que não exclui a eventual presença de investimento externo),
pertencentes basicamente ao mesmo ramo industrial e que conformam o principal núcleo
de especialização produtiva da área. Como frutos da contigüidade territorial e da
conseguinte acumulação de experiência profissional, surgem as economias externas à
empresa e internas ao distrito, que neutralizam as economias de escala associadas à
32
Conceito aplicado por Marshall (1890) em Principles of Economics, para designar a elevada concentração de MPME especializadas da área
metalúrgica de Sheffield e do núcleo têxtil de Lancashire, no final do século XIX.
33
Nesse sentido, é importante mencionar a análise de Piore e Sabel (1990), quando os autores afirmam que “[...] em nenhum país da OCDE as
experiências de desenvolvimento local foram tão exemplificadoras, nas últimas três décadas, como na Itália”. No entanto, os autores também
reconhecem que, a partir da década de 1980, multiplicaram-se as experiências de desenvolvimento local em outros países, tanto desenvolvidos
quanto em desenvolvimento, como o Brasil.
49
grande dimensão, uma vez que determinam a expansão do distrito nos mercados local,
nacional e internacional, permitindo a manutenção duradoura do controle local do próprio
processo de desenvolvimento.
Uma intensa divisão do trabalho inter-firmas, produzida pela alta especialização das
MPME, em uma fase ou em poucas do processo produtivo típico que identifica a
imagem de marca da área. Isso favorece no sentido de gerar densas redes de
relacionamento, formais e informais, que fomentam a flexibilidade produtiva e
organizativa fornecedoras de economias de variedade, uma vez que facilita o fluxo de
informação, a difusão de idéias e a inovação.
A coexistência entre relações de competência inter-empresarial (nos mercados de insumos
e produtos) e de cooperação/solidariedade (nas fases de fabricação, distribuição e
comercialização). Tal fato traz um vigor no processo de desenvolvimento local, na
medida em que a concorrência estimula a economia dos recursos, a rápida e personalizada
atenção ao cliente, um melhor trato com os provedores, a busca de novos mercados e as
inovações, ao mesmo tempo em que a cooperação (sob diversas fórmulas) facilita o
acesso à informação, a determinados serviços empresariais e ao mercado, redundando em
um maior rendimento econômico
34
.
Um mercado de trabalho altamente flexível e pouco regulado, com uma importante
dotação de empresários criativos e de trabalhadores com um elevado grau de qualificação
e de mobilidade trabalhista e social.
Uma determinada tradição empresarial, na qual se funde a vida familiar, política, social e
trabalhista. Esta cultura produtiva, carregada de fortes vínculos informais dentro e fora da
empresa entre empresários e trabalhadores (chave no intercâmbio de conhecimentos e
experiência acumulada), e impregnada de particulares aspectos institucionais (associações
locais de empresários e sindicatos de trabalhadores), junto com a mencionada
flexibilidade do mercado de trabalho, devem contemplar-se como parte indissolúvel de
um sistema mais ou menos homogêneo de valores e idéias que imperam na comunidade
34
O bimio concorrência-cooperação inter-firmas, típico dos distritos, encontram-se em consonância com os postulados da teoria dos custos de
transação enunciados por Coase (1937) e Williamson (1985).
50
local, que constitui, dessa forma, o selo particular de sua atmosfera industrial
35
e que
reforça consideravelmente o sentimento de identidade e de pertencimento à mesma.
1.3.4.2 A formação dos sistemas produtivos locais
As tentativas de identificação de realidades industriais concretas, susceptíveis de serem
explicadas através do distrito industrial como sistema local e unidade de análise (em particular
para processos de desenvolvimento local), têm propiciado o reconhecimento de uma
multiplicidade de casos nesse sentido. Dado o caráter restritivo inerente à categoria de distrito e
para dar coerência na análise da cada vez mais ampla e heterogênea gama de experiências de
industrialização local que reúne os traços verificados nos distritos industriais marshallianos, a
necessária atualização conceitual tem propiciado o uso generalizado do termo sistemas
produtivos locais ou sistemas industriais localizados, conforme relatam Granados e Segui
(1988).
Segundo Garofoli (1995), a introdução do conceito de sistema produtivo local (SPL)
serviu inicialmente para evidenciar tanto a estrita inter-relação entre dinâmicas produtivas e
industriais, como entre sistema produtivo e sistema sócio-institucional em um determinado
território, para aqueles casos de aglomeração produtiva baseados em MPME. Dessa forma, como
sinônimo de sistema territorial de pequena e médias empresas, o SPL denotava a emergência de
uma identidade sócio-econômica local, a existência de interesses afins para as empresas e para a
coletividade local, bem como a identificação de problemas comuns que faziam oportuna a
introdução de formas específicas de regulação social para a área
36
.
35
O conceito de atmosfera industrial, citado por Marshall (1891) em sua obra Industry and Trade, remete à presença de uma série de fatores que
possuem uma forte incidência na geração de vantagens competitivas de aglomeração (economias de aglomeração) e que estão na base da própria
eficiência do distrito.
36
O próprio Garofoli (1995) classifica os SPL com predomínio de MPME em três categorias: a) Áreas de especialização produtiva, caracterizadas
pela predominância de um setor produtivo que não gera uma consistente inter-relação produtiva entre as empresas. A estrutura do sistema
produtivo é horizontal, concorrendo todas as empresas sobre o mesmo mercado efetuando o mesmo produto, ou a mesma fase de produção; b)
Sistemas produtivos locais, caracterizados pela predominância de pequenas e médias empresas em um mesmo setor e, com freqüência, produzindo
a mesma mercadoria. A área é basicamente mono-setorial, com certa concorrência horizontal. É praticamente inexistente a integração produtiva
inter-setorial, mas as relações do tipo intra-setoriais são bastante dinâmicas. Têm características semelhantes à anterior, sua insuficiente
articulação lhes impede de guiar seu próprio processo de transformação, ainda que, neste caso, existe uma identidade sócio-cultural que possibilita
a aplicação de medidas de política econômica local; e c) Áreas sistema. Constituem o tipo de áreas de especialização produtiva mais evoluída e
que mais se aproxima à idéia de distrito industrial multi-setorial. Seu perfil fundamental à a acentuada divisão do trabalho entre as empresas, que
contribui para diversificar o sistema local. As inter-relações entre empresas são tanto intra como inter-setoriais, podendo permitir, em ocasiões, a
complexidade do sistema local, a formação de um setor provedor de bens instrumentais para a produção de mercadorias que tipificam a área.
Neste caso, o processo de desenvolvimento da área pode chegar a ser auto-centrado, fundado sobre a utilização de recursos locais, possibilitando
ao sistema local conduzir sua própria evolução.
51
Assim, de acordo com o aporte a aqui consultado, verifica-se que as investigações
realizadas sobre a dinâmica produtiva local têm possibilitado o aparecimento de novos conceitos
que permitem identificar os fundamentos teóricos das transformações e ajustes da economia e da
região. A reelaboração do conceito de “distrito industrial” de Marshall, realizada por Becattini
(1979), a noção de entorno inovador, promovida pelas equipes de investigação que compõem o
Grupo de Investigação Européia sobre Entornos Inovadores (GREMI), a conceitualização da
estratégia de especialização flexível, desenvolvida por Piore e Sabel (1984) e a discussão sobre os
clusters realizada por Porter (1990), são alguns dos ingredientes que nos permitem estudar o
desenvolvimento econômico, a partir de uma perspectiva local.
A aglomeração em um território de pequenas e médias empresas, especializadas na
produção de determinado produto e formando um sistema de empresas, favorece os intercâmbios
em múltiplos mercados, permitindo o surgimento de economias de escala externas às empresas,
mas, internas ao sistema produtivo local, o que se traduz em redução nos custos de transação
(BARQUERO, 1996a). As externalidades a que lugar o sistema de empresas geram
rendimentos crescentes e, portanto, o crescimento da economia local.
A capacidade empresarial e organizacional fortemente articulada à tradição produtiva de
cada região propicia uma forte rivalidade no mercado local, o que é um fator determinante da
competitividade interna e externa das empresas locais. Por ele, segundo Barquero (1996a), os
sistemas produtivos locais têm mostrado, historicamente, uma disposição especial para a
introdução e adoção de inovações e, sobretudo, para a adaptação das tecnologias através de
pequenas mudanças e transformações, que permitem às empresas melhorar sua posição
competitiva nos mercados.
De acordo com Becattini (1997), o centro do processo de acumulação de capital dos
sistemas produtivos locais constitui a organização do sistema produtivo e facilita a formação de
externalidades através de uma multiplicidade de mercados internos, nos quais se estabelecem as
relações entre as empresas, os fornecedores e os clientes. Desta maneira, a configuração do
modelo de produção, mediante uma rede de empresas industriais, é, em última análise, a coluna
vertebral dos sistemas produtivos locais.
Para Ottati (1994), as relações dentro da rede permitem o intercâmbio não de
produtos e serviços entre os atores, mas também de conhecimentos tecnológicos. Nos sistemas
produtivos locais as relações se baseiam no conhecimento que uns atores têm em relação aos
52
outros, na confiança mútua que vai se criando paulatinamente, assim como o benefício que o
comércio e intercâmbio produzem.
É importante destacar a indicação de Piore e Sabel (1984), cujos autores entendem que
os sistemas produtivos locais se compõem de redes internas, nas quais se dão relações de
cooperação e de competitividade entre as empresas. Neste sentido, a cooperação no sistema
produtivo local se baseia no benefício que proporciona a cada uma das empresas, na combinação
de esforços para obter as economias de escala e reduzir os custos de transação.
Para Maillat (1996), o sistema produtivo local é um milieu (entorno) que “integra e
domina um conhecimento, regras, normas, valores e um sistema de relações”. Assim, as
empresas, as organizações e as instituições locais formam parte dos entornos (milieux) que têm
capacidade de conhecer, de aprender e de atuar, o que os converte em uma espécie de “cérebro”
da dinâmica de uma economia local.
O conceito de milieu amplia a noção de distrito industrial no sentido em que amplia à rede
industrial o sistema de relações entre os atores de um território, fazendo aparecer a importância
da dimensão cognitiva dos atores e lhes caracteriza com a capacidade de tomar decisões
estratégicas para a região. Amplia também a capacidade de produção e de organização das
empresas; a dinâmica de aprendizagem e a capacidade de intervir nos processos de crescimento e;
a mudança estrutural das economias locais (BARQUERO, 1996a).
Como sustenta Boisier (1993), o desenvolvimento econômico não se apóia apenas na
capacidade de adquirir tecnologia, mas sim na capacidade inovadora do sistema produtivo de
cada localidade. As empresas criam e introduzem inovações no sistema como resposta às
necessidades e desafios do entorno, o que gera modificações qualitativas no próprio sistema e
propicia a dinâmica do distrito.
1.3.4.3 Definindo os termos dos agrupamentos (concentração) de empresas
A discussão acerca da importância da eficiência coletiva e da concentração empresarial,
embora não sendo um tema recente, vêm ganhando espaço nos estudos brasileiros devido aos
benefícios que podem apresentar às empresas de um segmento
37
. Sendo assim, serão
apresentados os principais conceitos relacionados a aglomerados, clusters, arranjos produtivos
37
Ver Amaral Filho (2001); Cassiolato e Lastres (2003); Paiva (2002); Wittmann (2000).
53
locais de produção e suas diferenciações. Nesse sentido, o aspecto interessante na evolução das
pesquisas recentes sobre o desenvolvimento regional é o fato de existir, numa certa época, uma
convergência de preocupações entre os teóricos. Conforme assinala Amaral Filho (2001, p. 281),
“[...] por vias metodológicas diferentes todos tentaram chegar ao mesmo objetivo, qual seja, o de
endogeneizar as fontes de crescimento e de desenvolvimento”.
Porter (1999, p. 211) conceitua cluster ou aglomerado como “[...] um agrupamento
geograficamente concentrado de empresas inter-relacionadas e instituições correlatas numa
determinada área, vinculadas por elementos comuns e complementares”. Porter, neste caso,
reconhece que os aglomerados assumem diversos estágios de evolução, dependendo de sua
sofisticação, incluindo empresas de toda a cadeia a jusante e a montante e organizações
relacionadas.
Paiva (2002), no entanto, entende que os aglomerados representam o modelo mais simples
de concentração de empresas, caracterizados como a especialização de uma determinada região
em uma determinada atividade, seja esta região uma rua, um bairro, uma cidade ou uma região de
um estado, ao contrário de Porter (1999) que denomina todas as concentrações industriais de
aglomerados, independente de seu grau de sofisticação. Paiva (2002) acredita que a evolução dos
aglomerados para níveis mais complexos acaba formando arranjos produtivos locais e, depois,
sistemas locais de produção.
É importante ressaltar que a literatura refere-se aos clusters e aglomerados como
sinônimos. Isto ocorre porque em sua definição, esses dois conceitos são muito semelhantes, pois
ambos remetem a um conjunto de empresas que atuam em um mesmo setor e que estão
proximamente localizadas. Amato Neto (2000) torna o conceito de cluster mais simples,
definindo-o como uma concentração geográfica e setorial de empresas.
Um outro conceito é o Arranjo Produtivo Local (APL) que, segundo Puga (2003), são
concentrações geográficas de instituições e empresas que se relacionam em um setor específico.
Segundo esse conceito, um APL inclui desde universidades, fornecedores especializados,
instituições governamentais e associações de classe, além de outras organizações que oferecem
informação, educação, apoio técnico e conhecimento às empresas locais. Para este autor, uma
característica relevante de qualquer arranjo produtivo local é a existência de um alto grau de
confiança e cooperação entre as empresas e as instituições que o integram.
54
Lastres e Cassiolato (2003, p. 38) conceituam os APL como aglomerações de agentes
econômicos e territoriais, sociais e políticos, com foco em um conjunto de atividades
econômicas, apresentando vínculos ainda que incipientes. Para esses autores, os APL envolvem a
interação e participação de empresas, desde produtores de bens e serviços finais, fornecedoras de
equipamentos e insumos, além de prestadores de serviços e consultoria, entre outros.
Paiva (2002) faz uma distinção entre os conceitos, afirmando que na medida em que uma
simples aglomeração de empresas se desenvolve, automaticamente são atraídos para ela
fornecedores de insumos e matérias-primas. Em seguida, novos produtos se incorporam e inicia-
se um círculo virtuoso que sustentabilidade ao aglomerado. O APL é formado quando o
conjunto de elementos agregados modifica qualitativamente o aglomerado com atividades de
apoio especializado e serviços. A consolidação sustentável do APL pode conferir-lhe o status de
em um sistema local de produção (SLP) maduro, ao longo do tempo.
Lastres e Cassiolato (2003), complementam que na conversão de um APL para um SLP
existe um acúmulo de capital social, criado as bases para a inserção de um sistema próprio de
governança, de forma que instituições e indivíduos gerenciem seus problemas comuns, resolvam
seus conflitos e realizem ações cooperativas, por meio de regimes e instituições informais e
formais de coordenação.
A Figura 1 apresenta as características e a evolução das formas de concentração
empresarial.
55
Figura 1: Formas de concentração empresarial
Fonte: Wittmann e outros (2003)
É importante remarcar que todos os conceitos ou estratégias partem, ainda que
minimamente, dos conceitos das “economias externas marshallianas”, que têm na aglomeração
produtiva sua fonte principal. Marshall indicava as vantagens da concentração geográfica de
empresas concorrentes. Vantagem essa advinda da concentração convergente de atividades
produtivas, de um fluxo de informações, da notoriedade e da reputação alcançadas pelo local ou
região, pela localização concentrada de fornecedores e de clientes; pela circulação do
conhecimento científico e tecnológico. Para complementar esse raciocínio é interessante notar
que, como diz Porter (1990), o agrupamento ou aglomeração de empresas, de indústrias ou de
setores rivais sobre uma determinada região gera condições propícias para a criação e a
multiplicação de fatores, além daqueles tradicionais.
AGRUPAMENTO APL SLP
Empresas de determinado segmento de atividade
Fornecedores especializados
Universidades, centros de educação e apoio técnico
Órgãos governamentais de apoio
Sindicatos, associações de classe
56
1.3.4.4 Inovação e Desenvolvimento local: debates teóricos recentes
A inovação tem se convertido em um conceito de uso cada vez mais freqüente em todos
os âmbitos. Assim, o tema vem se consolidando entre um grande número de profissionais
relacionados com a economia, gestão empresarial, sociologia e a geografia, os quais entendem
que um esforço de inovação sustentado entendido como a capacidade de gerar e incorporar
conhecimentos para dar respostas criativas aos problemas do presente resulta num fator chave
para melhorar a competitividade das empresas e favorecer um desenvolvimento no território, não
em termos de crescimento econômico, mas também numa perspectiva mais integrada
(MÉNDEZ, 2002).
Em conseqüência, os estudos que incluem entre seus objetivos prioritários descrever e
interpretar os processos de inovação e seus impactos (econômicos, trabalhistas, socioculturais,
ambientais, etc.) têm se convertido em uma das linhas de investigação mais relevantes dos
últimos tempos em ciências sociais, com especial destaque para o âmbito geográfico das
propostas teóricas e dos estudos empíricos que se realizam a partir da geografia econômica e
industrial (FELDMAN, 1994; MALECKI, 1997 e MÉNDEZ, 1998). Desde seus inícios,
essas visões pluridisciplinares foram delineadas a partir de uma dupla perspectiva que
condicionavam tanto as explicações oferecidas como os próprios temas de pesquisa elegidos.
Nesse sentido, é conveniente dedicar atenção para o assunto, objetivando situar com maior
precisão o marco conceitual em que se enquadram os estudos.
A evolução das teorias relativas à inovação e o desenvolvimento local
Por um lado, as visões econômicas de corte neoschumpeteriano (PÉREZ e CARILLO,
2000) centraram a atenção desde inícios dos anos 1970 na empresa inovadora, tanto porque
era seu objeto de atenção específico, como consideravam que a inovação devia ser interpretada a
partir de fatores internos da própria firma e relacionada com a sua organização. O aparecimento
dos ciclos de inovação como fator chave na interpretação dos ciclos econômicos, é entendido
como resultado do surgimento de inovações radicais em algumas empresas pioneiras que logo se
difunde no tecido econômico, o que supõe o predomínio de uma visão microeconômica que pode
ver-se complementada por fatores adicionais de impulso, sobretudo em forma de políticas
57
públicas tecnológicas. Segundo Méndez (2002), nesta perspectiva, o território vem a ser um
sujeito passivo, onde se produz uma taxa de inovação mais ou menos elevada.
Mais tarde, também no âmbito da economia espacial, aparece uma outra categoria de
análise, incorporada de forma rápida a um número crescente de estudos geográficos, sustentando
que a inovação nas empresas é, em grande medida, resultado da existência de um entorno
territorial (social, econômico, cultural, etc.) com características específicas. É importante a
indicação de Méndez (2002), quando afirma que:
Sem nenhuma pretensão de dar origem a uma nova forma de determinismo ambiental,
[...] os cada vez mais numerosos estudos que, desde começos de 1980, se incorporaram a
esta visão partem de um feito evidente, como é a própria concentração espacial que
registram as empresas inovadoras. A partir dessa evidência, a atenção prioritária se
dirige a analisar e tentar compreender o ambiente em que nascem e operam essas
empresas, tentando detectar a possível existência de algumas chaves externas à empresa,
mas internas aos locais onde têm lugar os processos inovativos. (MENDEZ, 2002, p.
84).
A teoria do distrito industrial (SFORZI, 1999), a referência aos sistemas produtivos
localizados (BENKO e LIPIETZ, 2000) ou as primeiras propostas sobre o desenvolvimento local
(FRIEDMAN, 1992), já apontavam para esta direção. Outras posteriores, como a teoria das
vantagens competitivas de nações e regiões, ou a do meio inovador e as redes de inovação
(MAILLAT e GROSJEAN, 1999 e MAILLAT e KEBIR, 1998), centraram sua atenção nesses
objetivos (ver Diagrama 5).
Conforme assinalam Alonso e Méndez (2000), o marco teórico utilizado empregou, em
boa medida, as propostas sobre o milieu existente na abundante bibliografia do GREMI, cujo
grupo incorporou algumas propostas próprias, tanto em sua caracterização como na transposição
do conceito para as regiões periféricas e setores de atividades tradicionais.
58
Diagrama 5: Inovação e desenvolvimento local: principais teorias
Fonte: Adaptado de Méndez (2002)
Como se vê, nos últimos anos se acelera o aparecimento de novos referenciais teóricos
que situam também a inovação e suas relações com o território como centro de atenção. No
entanto, este tipo de trabalho avançou com estudos empíricos, ainda que claramente insuficientes
e realizados com metodologias tão dispares que se torna quase impossível sua constatação
(MÉNDEZ, 2002). A proposta surgida na chamada Economia do Conhecimento e adaptada no
plano territorial com conceitos como região inteligente, learning region ou territórios que
aprendem (FLORIDA, 1995; ANTONELLI E FERRÂO, 2001 e JAMBES, 2001), todos eles
ligados ao atual protagonismo do conhecimento e da aprendizagem coletiva como recursos
específicos, é a que parece ter alcançado uma melhor difusão.
Dinâmicas de
proximidade
(Rallet, Torre, Gilly,
Pecqueur, Bellet,
Grosetti)
Vantagens competitivas
de nações e regiões
(Porter, Dunning,
Albuquerque)
Distritos industriais e
sistemas produtivos
locais
(Becattini, Garofoli,
Pyke, Ybarra, Bagnasco,
Piore e Sabel)
Economia do
conhecimento e
learning regions
(Mansell, Machlup,
Florida, Antonelli,
Ferrão)
Sistemas nacionais e
regionais de inovação
(Lundvall, Cooke, Silva)
Meios inovadores e
redes de inovação
(Aydalot, Maillat,
Camagni, Stoper,
Crevoisier)
Desenvolvimento local e
territorial
(Stöhr, Friedman,
Boisier, Vázquez
Barquero)
Teoria econômica da
inovação e ciclos de
inovação
(Freeman, Dosi, )
INOVAÇÃO E
DESENVOLVIMENTO
TERRITORIAL
2002
1995
1985
1975
OUTROS CONCEITOS RELACIONADOS
:
- Regiões ganhadoras (Benko e Lipietz);
- Mundos de produção (Salais e Storper);
- Economia, sociedade e espaço de redes (Castells, Veltz e Pumain)
59
O grupo francês sobre Dinâmicas de Proximidade (GILLY e TORRE, 2000), centra sua
atenção na importância exercida pela proximidade física além da funcional e cultural –, na
criação de redes capazes de transmitir saberes tácitos, não formalizados e dificilmente
codificados, mas que são essenciais para a geração e difusão de inovações.
Finalmente, os estudos sobre Sistemas Nacionais e Regionais de Inovação
(LUNDVALL e JOHNSON, 1994 e COOKE e MORGAN, 1998) propõem uma visão integrada
dos processos inovadores, nos quais participam autores diversos, desde os que produzem
conhecimentos e os transmitem a quem os utilizam, junto a uma série de instituições e infra-
estruturas que regulam esse fluxo, o que permite a elaboração de diagnóstico sobre a estrutura do
sistema de inovação existente em cada território, identificando as características de seus
componentes e a existência ou não de relações entre eles e com o exterior.
Caracterização das áreas inovadoras
Surgida no âmbito dos estudos geoeconômicos, a teoria do meio ou entorno inovador
centrou sua argumentação nos aspectos relativos à organização empresarial e sua capacidade para
alcançar certo grau de desenvolvimento econômico, entendido como a combinação de
crescimento e geração de vantagens competitivas dinâmicas, deixando em segundo plano outras
considerações extra-econômicas que em anos recentes tinham adquirido certo protagonismo,
conforme mencionamos nos picos acima. o obstante, a própria evolução do conceito de
desenvolvimento local exige um breve apontamento sobre as múltiplas dimensões que
incorporam essa noção e, em conseqüência, uma revisão sobre as características que deveriam
definir um território inovador para considerá-lo uma forma de organização idônea no impulso de
tais processos.
Assim, resumindo as idéias de Méndez (2002), tal como recorda a abundante
bibliografia disponível, ainda que possam citar-se precedentes genéricos mais ou menos remotos
vinculados à idéia moderna de progresso, a origem do conceito de desenvolvimento situa-se no
período posterior à Segunda Guerra Mundial, em plena fase de expansão econômica e nascimento
das políticas keynesianas destinadas a resolver as fases recessivas dos ciclos econômicos e, de
forma complementar, a reduzir alguns desequilíbrios derivados da estrita lógica do mercado.
60
Desde então, esse conceito de desenvolvimento reducionista durante décadas ao
confundir-se com o simples crescimento econômico e mensurável mediante indicadores
quantitativos – tem sido enriquecido com novos aportes que têm transformado seu conteúdo, com
teorias que tentam explicá-lo e as estratégias ou políticas destinadas a impulsioná-lo. Ao longo
desta trajetória, que se acelera nas duas últimas décadas, m surgido novas formas de entendê-lo
que destacam seus componentes sociais (bem-estar), ambientais (sustentabilidade), políticos
(governabilidade e participação local), culturais (defesa da identidade e do patrimônio) e
geográficos (ordenação do território), com o objetivo de elevar os níveis de qualidade de vida das
pessoas.
A busca de um desenvolvimento regional integrado pode estar representada nos
diversos conceitos apontados no Diagrama 6, que podem ajudar a entender a complexidade que
sistematicamente envolve os estudos e propostas sobre desenvolvimento.
Diagrama 6: Principais elementos integrantes do conceito de desenvolvimento territorial integrado
Fonte: Méndez (2002)
Através do aporte teórico apresentado, pode-se dizer que a análise de agrupamento de
empresas, para verificar os seus efeitos para o desenvolvimento social das localidades, deve
contemplar para além da caracterização detalhada do ambiente econômico, da organização das
empresas e de seu desempenho econômico e vel de competitividade. A ênfase deve ser dada,
principalmente, no ambiente institucional e as suas implicações sobre o desenvolvimento social e
econômico das pessoas.
ECONOMIA
Competitividade
econômica
SOCIOLOGIA
Bem-estar
social/humano
DESENVOLVIMENTO
TERRITORIAL
INTEGRADO
GEOGRAFIA
Ordenação
territorial
ECOLOGIA
Sustentabilidade
ambiental
CIÊNCIA POLÍTICA E ÉTICA
Governabilidade e participação
ANTROPOLOGIA CULTURAL
Identidade cultural
61
1.3.5 Limites e possibilidades do desenvolvimento local
A proliferação de tentativas de identificação dos modelos de distritos industriais em
locais/regiões muito distintos, ainda com a denominação genérica de sistemas produtivos locais,
tem propiciado uma utilização abusiva do conceito, com a sua utilização para áreas de pequenas
empresas mais ou menos especializadas, de dimensão muito variável, cujos traços sócio-culturais
e escassa ou nula integração inter-empresarial apresentam-se pouco compatíveis com a definição
originária.
A inclinação de agrupar processos e áreas adversas em uma categoria, para em seguida
tratá-la como expoente de um novo regime de acumulação, tem sido apontada por um bom
número de autores, como Benko (1996) e Amin (1990). Sob essa perspectiva, a evidência
empírica é insuficiente para justificar a excessiva ênfase colocada na relevância de tal modelo,
como paradigma tecnológico e padrão de acumulação e regulação econômica.
Segundo Amin (1994), sendo a globalização entendida como um elemento transgressor
das barreiras espaciais e temporais traz consigo uma crescente abertura econômica que redefine e
fragmenta os territórios, regiões e localidades. Dessa forma, restringem as possibilidades de
controle da dinâmica do sistema local, por parte dos agentes que operam no seu interior e acentua
a instabilidade, fazendo cada vez mais o desenvolvimento local dependente de fatores externos, o
que poderia acarretar mais vulnerabilidade e uma maior limitação das probabilidades de êxito e
inclusive de sobrevivência do sistema produtivo local.
De fato, em alguns sistemas produtivos locais a crescente exploração da força de
trabalho, em condições de precariedade, se distancia consideravelmente do papel essencial que a
mão-de-obra desempenha nos processos produtivos inerentes aos mais emblemáticos distritos
industriais, o que se constitui num entrave ao impulso de formas produtivas mais avançadas, de
acordo com a idéia de geração de riqueza e bem-estar coletivos que impregnam o espírito dos
modelos de desenvolvimento local bem-sucedidos.
Tais circunstâncias obrigam um desenho de estratégias que primem pelo
aproveitamento ótimo e justo dos ativos específicos locais, os quais são portadores de vantagens
comparativas. Por outro lado, impulsionam o estabelecimento de redes de cooperação fora do
âmbito do sistema produtivo local, que ajudem a conectar apropriadamente com a globalidade,
62
com o conseguinte perigo de ingerência externa e da ruptura da coerência produtiva local. Diante
desta dialética coesão/fragmentação, a questão chave que se coloca é se tais estratégias podem
assegurar suficientemente a prosperidade sustentável dos SPL, isto é, se oferecem as suficientes
garantias a cidades médias, áreas rurais e regiões atrasadas, para ocupar um lugar no mundo, sem
perder sua identidade (AMIN, 1994).
Além da condicionante externa “globalização”, que coloca em dúvida o próprio
conceito de endogeneidade, é importante identificar uma série de fatores de ordem interna que
limitam o modelo de desenvolvimento local e sua possível difusão geográfica. Assim, Ybarra
(1996) relata a existência de limitações tecnológicas, sociais e institucionais à industrialização
difusa e à especialização flexível.
As limitações tecnológicas estão associadas ao freio que, para a descentralização
produtiva, supõem o diferente grau de parcelamento das atividades produtivas e a avidez pelo
controle direto, por parte das firmas, das fases ligadas à comercialização. As limitações sociais
dependem dos condicionamentos trabalhistas (nível de treinamento, alternativas de trabalho, etc.)
e sócio-culturais (mobilidade social, abertura para o exterior, ética mercantil e trabalhista, etc.).
As limitações institucionais se referem aos compromissos e normas estabelecidas e à capacidade
de fazê-las cumprir em um marco de consenso social.
Nesta linha, Barquero (2000) assinala que nem a Terceira Itália pode ser concebida
como modelo explicativo para analisar o comportamento de outras regiões de países de
industrialização tardia, já que, junto aos fatores estritamente econômicos, os condicionantes
históricos, políticos e espaciais não se repetem e, por conseguinte, são dificilmente transportáveis
para outros lugares
38
.
Outras limitações importantes de se ter em conta, sobretudo nas áreas rurais, como é o
caso do nosso estudo, seriam as seguintes:
a) As debilidades das MPME
39
. As dificuldades financeiras e creditícias; a falta de
capacidade diretiva empresarial; os problemas organizativos e de gestão, associados à
38
O autor vai mais além, quando afirma que não cabe qualificar a Terceira Itália como o paradigma do desenvolvimento local futuro, capaz de por
fim ao centralismo e ao fordismo, quando se começam a constatar fissuras em seu funcionamento, provocada por uma progressiva desintegração
social e cultural, que acarretam perdas de produtividade, flexibilidade e depreciação da mão-de-obra.
39
No que pese o fato de as MPME mostrarem um comportamento bastante favorável nos últimos anos, sua capacidade para influenciar o entorno é
limitada, haja vista que não contam com as vantagens do oligopólio em que se movem as grandes organizações; não desfrutam de economias de
escala tecnológicas (dada sua escassa capacidade financeira); nem tampouco contam com economias de poder que permitam obter vantagens
63
carência de visão e planejamento de longo prazo; a insuficiente vocação exportadora; os
elevados custos relativos ligados à burocracia e à adaptação às mudanças da legislação; as
dificuldades na promoção dos produtos e de contratação de quadros qualificados; a
desinformação; a morosidade e o atraso nos pagamentos por parte dos clientes; a
descontinuidade da qualidade, etc., conforma um mosaico de inconvenientes que
corresponde a um panorama menos idílico do que, em princípio, caberia pensar, quando
se exalta a capacidade reativa das empresas de pequeno porte;
b) As limitações vinculadas às estratégias institucionais nos processos de desenvolvimento
local. Primeiramente, é importante apontar os problemas derivados da indefinição dos
objetivos do planejamento estratégico e a freqüente falta de coordenação e conflito de
competências entre as administrações. Em seguida, é necessário ter presente um conjunto
de inconvenientes que recai sobre a atuação de cada ator social. Assim, conforme relata
Castillo Hermosa (1994), como obstáculos que dificultam a atuação das autoridades
locais, figuram: a falta de experiência; a insuficiência de recursos humanos, técnicos e
financeiros; o desinteresse pelos problemas locais; a deficiente capacidade de mobilização
e a convivência com enfoques incompletos e obsoletos do local
40
. Como inconvenientes
que afetam as administrações regionais, destacamos a escassa autonomia financeira e a
tendência de reproduzir a estrutura burocrática e hierarquizada do Estado. Por fim, no que
concerne às autoridades nacionais, deve-se ter presente, principalmente num País de
dimensões continentais como o Brasil, seu relativo distanciamento dos problemas e
necessidades locais. Assim, alguns organismos supranacionais, no seu papel de meros
observadores, apontam para uma falta de esforços na esfera da alta tecnologia (fora de
alcance da maioria das áreas rurais) e o reduzido efeito de suas diretrizes sobre a política
territorial dos Estados.
c) Limitações ambientais. O desenvolvimento sustentável, nos dias atuais, deve
necessariamente estar embutido na filosofia dos modelos de desenvolvimento local. Um
padrão de desenvolvimento que se fundamenta na utilização de seus próprios recursos
normativas ou capacidade de negociação em seus contratos. Nestas condições, sua principal base é a flexibilidade, isto é, sua capacidade para
antecipar-se e adaptar-se ao entorno (YBARRA, 1996).
40
Nesse sentido, é importante a observação de Barquero (1988), quando alerta do perigo de que o desenvolvimento local e a promoção das
iniciativas locais sejam percebidos como um apêndice da política regional, vislumbrando uma concepção redistributiva do desenvolvimento
regional baseada no tradicional modelo de concentração/difusão. Assim, com freqüência, o desenvolvimento ainda é contemplado como um
fenômeno do emprego e crescimento da produção e renda nas regiões pobres e não como progresso do território ou como solução dos problemas
de uma área concreta.
64
reais e potenciais (entre eles os naturais e ecológicos) deve conter os mecanismos que
evitem seu desperdício e esgotamento, conjugando harmoniosamente os objetivos de
eficiência, de eqüidade e ambiental. A construção de tal harmonia, contudo, não
corresponde unicamente às empresas e instituições locais (que, em regime de cooperação,
atuarão de acordo com as normas vigentes e as diretrizes de política regional e nacional
correspondentes); também a comunidade local, em geral, deve configurar-se como artífice
através de uma maior tomada de consciência e da constituição de associações municipais,
como podem ser, por um lado, as ONG com o objetivo de sanar as assimetrias na
informação e ineficiências no mercado e na provisão pública de bens e serviços, assim
como denunciar os efeitos negativos da atividade econômica sobre o patrimônio natural
ou, por outro lado, em uma maior escala, os chamados Grupos de Ação Local (onde
confluem responsabilidades políticas, sindicais, empresariais, cooperativas, entidades
financeiras, associações culturais, ONG, etc.), concebidos como sociedades com
capacidade financeira e comercial orientadas a reforçar, em um clima de consenso, o
dinamismo e sustentabilidade do processo de desenvolvimento local. É importante ter em
mente que a globalização da problemática ambiental leva a considerar a possibilidade de
que o meio-ambiente se converta em uma importante fonte de vantagens competitivas,
capaz de atuar como aparato restritivo de muitas atividades econômicas (particularmente
do turismo e do setor agro-alimentar).
Todas estas considerações colocam em destaque que o desenvolvimento local não é uma
panacéia milagrosa, capaz de resolver todos os problemas, em qualquer momento e lugar. Não
obstante, estas observações não devem ser interpretadas como uma condenação antecipada de
toda iniciativa de desenvolvimento local. Ao contrário, o conhecimento de tais limitações servirá
de estímulo para a conversão de empresas de pequeno porte e dos SPL em instrumentos
essenciais para uma nova política industrial, com vocação micro-territorial e para o estímulo da
cooperação interempresarial e interinstitucional a nível local, como estratégia competitiva. Do
mesmo modo que as grandes empresas têm deixado algumas brechas, no sentido de permitir
oportunidades de êxitos para as MPME, não podemos negar a possibilidade de alguns espaços
produtivos periféricos temerem os efeitos perniciosos das mudanças e das inovações.
Por outro lado, a situação de bem-estar que uma série de experiências de
desenvolvimento local tem proporcionado para as pessoas, justifica, por si só, os estudos dos
65
agrupamentos produtivos, a possível emergência de um novo modelo de especialização flexível, a
determinação e a análise de iniciativas de política industrial e uma ampla quantidade de questões
colaterais, que seguirão constituindo, com toda segurança e por longo tempo, o centro a atenção
de muitos pesquisadores (economistas ou não).
Assim, parte-se da afirmação de que o desenvolvimento local está condicionado pelo
entorno externo, que pode ser, em parte, favorável ao mesmo. Trata-se de um marco de referência
necessário para analisar suas restrições e potencialidades. Além disso, existe o convencimento de
que as possibilidades de desenvolvimento local estão baseadas na facilidade de exploração do
potencial dos recursos internos de um determinado espaço territorial. Por conta disso, as
questões-chave a trabalhar são: como detectar, utilizar e ativar tais recursos que, genericamente
apontados, podem redundar em criação de empresas e empregos, inovação tecnológica, redes de
cooperação, formação de recursos humanos, desenvolvimento social, entre outros.
De acordo com vários especialistas, do conjunto dos recursos existentes, o capital social
vem recebendo destaque considerável, haja vista que, de acordo com o entendimento, tal recurso
é fundamental na forma de entender e aspirar aos processos de desenvolvimento locais bem
sucedidos, tendo em vista que, segundo Putnam (1994), está associado ao grau de confiança
existente entre os atores sociais de uma localidade. Estima-se que boa parte da diferença existente
entre as regiões, cujos planos de desenvolvimento lograram êxito e os que não, pode ser
explicada pelo surgimento e potencialização desse capital intangível.
Os agentes encarregados de impulsionar esse processo são tanto públicos como privados,
resumindo-se basicamente nas autoridades locais, universidades, câmaras empresariais, centros
de formação, agências de desenvolvimento local, entre outras que são importantes no processo de
geração de confiança.
1.4 Desenvolvimento e o efeito de transbordamento
Como havíamos mencionado anteriormente, o conceito de desenvolvimento deve ser
considerado para além da presença do crescimento econômico, sem, no entanto, desconsiderar a
importância deste. Em um estudo sobre a distribuição de renda no Brasil, Cacciamali (2005, p.
406), faz uma distinção importante entre o crescimento e o desenvolvimento econômico e
humano. Segundo a autora, o crescimento econômico é o processo onde se verifica que a renda
66
per capita de uma determinada sociedade se eleva persistentemente, acompanhado de
transformações estruturais quantitativas e qualitativas, destacando-se: i) alteração da estrutura
etária da população e da força de trabalho, através da diminuição das taxas brutas de natalidade e
de mortalidade; ii) mudanças significativas no sistemas escolar e de saúde; iii) ampliação do
acesso aos meios de transportes, comunicação e cultura; iv) maior urbanização das atividades e
da força de trabalho em detrimento do setor primário e a favor das atividades de serviços; v)
maior integração com a economia mundial; e vi) incremento da produtividade nos diferentes
setores da atividade econômica.
Por outro lado, o desenvolvimento, tanto econômico quanto humano, ocorreria
paralelamente ao processo de crescimento, onde a maior parte das pessoas dessa sociedade seja a
principal beneficiária das mudanças em curso. Assim, ao longo do tempo, devem ocorrer
melhorias no padrão de vida material, nas condições de saúde, maior tempo de vida, ampliação
no exercício da cidadania e melhores oportunidades de aperfeiçoamento pessoal.
Daí, a importância do presente estudo, no sentido de verificar a evolução de alguns
indicadores sócio-econômicos para detectar se de fato o crescimento econômico está atingindo
esses objetivos, ou seja, se está efetivamente gerando transbordamentos econômicos e sociais em
favor do bem-estar das pessoas nas localidades em análise
41
.
1.4.1 Efeito de transbordamento e o desenvolvimento rural
A questão do desenvolvimento rural vem ganhando cada vez mais destaque, na medida
em que a sociedade também se transforma a passos acelerados, no que diz respeito às mudanças
significativas na demanda de bens e serviços e, especialmente, nos hábitos e preferências dos
consumidores. Tais mudanças m criado nichos crescentes de mercado para frutas exóticas,
plantas aromáticas e medicinais, frutas e hortaliças orgânicas e matérias primas naturais, entre
outros. No entanto, pelo que se observa, os produtores e empresários de pequena escala
enfrentam numerosas barreiras para o aproveitamento destas novas oportunidades de mercado.
Geralmente, têm pouca experiência de negócio e organização empresarial, falta informação sobre
novas tecnologias, mercados e preços. Além disso, os serviços de apoio para o desenvolvimento
41
Podemos dizer que, após a década de 1950, no Brasil, bem como em outros países considerados em desenvolvimento, aconteceram tais
mudanças devido ao processo de crescimento econômico acelerado. No entanto, no caso brasileiro, ao contrário de outros países como, por
67
de agro-empresas rurais são oferecidos de forma descoordenada e são pouco efetivos ou
incipientes.
No que diz respeito ao efeito transbordamento na área rural, é importante entender o que
seja efetivamente o desenvolvimento rural. Fazendo-se uma interseção dos conceitos até então
vistos, tem lugar comum o fato de ser um processo localizado de mudança social e
desenvolvimento econômico sustentável, que tem por finalidade o progresso permanente da
comunidade rural e de cada pessoa a ela integrada. O transbordamento seria entendido, em um
sentido básico, como a melhoria das condições de vida dos habitantes dos espaços rurais,
implicando no incremento dos níveis de renda, da melhoria nas condições de trabalho e na
conservação do meio ambiente (GÓMEZ OREA, 2004).
Assim, verifica-se que certa dificuldade em se conceituar o que seja verdadeiramente
desenvolvimento rural. No entanto, quando o desenvolvimento realmente existe, torna-se fácil a
sua identificação. Conforme menciona Gómez Orea (2004), acredita-se que o conceito de
desenvolvimento rural surgiu na França em torno do ano de 1965 e se baseava nos conceitos de
capacidade de aprendizagem e organização, sem desconsiderar os antecedentes norte-americanos.
Nesta década, o desenvolvimento convencional, que relegava à população uma condição passiva
ou de mera espectadora, se via tomado por uma nova concepção de desenvolvimento: o
desenvolvimento comunitário.
A referência mais remota ao desenvolvimento comunitário teve sua origem no programa
de promoção do Vale do Tennessee (EUA), iniciado no ano de 1934, conforme proposta do
T.V.A (Autoridade do Vale do Tennessee), organismo público criado pelo congresso dos EUA.
Com a mediação da T.V.A e, ao longo de dez anos, o Vale alcançou um elevado nível de
desenvolvimento. O mais interessante desta iniciativa não se constituiu tanto nos resultados, mas
no fato de a população do Vale ter tomado a seu cargo uma parte considerável das ações de
desenvolvimento.
Dessa forma, o desenvolvimento rural implica múltiplas dimensões: por um lado
potencializar a própria condição humana, crescimento em formação cultural, técnica e
organizacional dos agricultores e, por outro, atingir melhorias produtivas, aumento de
rendimentos e obtenção de recursos em um mesmo espaço com menores esforços, fixando-se na
exemplo, do leste asiático, que também cresceram de forma acelerada, a evolão dos indicadores sócio-econômicos apresentou resultados
bastante tímidos.
68
conservação do entorno e não uso de técnicas e sistema de produção que respeitem o legado
histórico e a própria condição do meio natural (SANCHO COMINS, 2002).
Para efeito da análise dos transbordamentos, os conteúdos de tais dimensões deveriam
apresentar os seguintes aspectos:
Qualidade de vida: deve realizar-se sob uma tríplice perspectiva: dotar o mundo rural
das infra-estruturas e serviços necessários; dar a coesão econômica e social e procurar
a recuperação do prestígio social e dos valores do meio rural ante uma sociedade
eminentemente urbana;
Criação de empregos: promover o emprego de jovens, desenvolver uma verdadeira
política de ajuda à mulher e desenvolver planos de formação permanentes;
Diversificação econômica: buscar a plurifuncionalidade dos territórios, gerando
diversas ofertas tais como a produção agrária, o turismo, a agroindústria, o artesanato,
a valorização ambiental, entre outros;
Sustentabilidade: o desenvolvimento não deve colocar em perigo os recursos para
gerações futuras;
Pesquisa e desenvolvimento: de novos produtos, assim como a adaptação do mundo
agrário às novas tecnologias é fundamental para não gerar uma brecha com os
entornos urbanos e impedir a marginalização do espaço rural.
Educação: com finalidade de ajudar a crescer como pessoa, a cada um dos indivíduos
que integra a comunidade para que seja um elemento ativo, capaz de participar,
organizadamente com outros no que todos consideram um bem comum.
Assim, a ativação de um processo com essas características pode ser alcançado através
do plano estratégico de desenvolvimento que, em última instância, deve se traduzir na
identificação de ações concretas que implementem os objetivos propostos. Dessa forma,
acreditamos que uma análise comparada entre os dois sistemas produtivos de frutas, Petrolina e
Juazeiro, no Brasil e a Sexta Região, no Chile, possa contribuir para verificar o nível de
desempenho econômico e social e o grau de competitividade dos dois agrupamentos produtivos.
Ainda que não se trate de um novo paradigma, desfeita a concepção unidirecional do
desenvolvimento econômico e a existência de qualquer direção hegemônica a respeito, os
modelos de desenvolvimento local, conforme analisado neste capítulo, apresentam-se como uma
69
possibilidade a mais para as localidades das regiões brasileiras menos desenvolvidas,
principalmente as do Nordeste, que, como Petrolina e Juazeiro, tentam abrir caminhos no sentido
de possibilitar uma melhor qualidade de vida para as pessoas.
70
CAPÍTULO II
A COMPETITIVIDADE DA CADEIA GLOBAL DE FRUTAS E OS IMPACTOS SOBRE
O LOCAL
O contato com as forças globais produtivas tem induzido a uma rápida mudança em escala
local e nacional dos países produtores de frutas, mediado por empreses frutícolas, em grande
parte multinacional, que vêm alterando fundamentalmente a natureza das relações sociais e
econômicas da produção no campo, principalmente no Brasil e em outros países da América
Latina. Assim, é oportuno ilustrar como as políticas recentes têm levado a um desenvolvimento
rural desigual e, mais especificamente, quão úteis poderiam ser a efetiva intervenção e regulação
do Estado no sentido de contribuir para aliviar as tensões existentes nesse setor.
Dessa forma, sem desconsiderar a sua importância e os aspectos técnicos, no que diz
respeito à competitividade e à inserção deste segmento no mercado internacional, é importante
adotar uma posição até certo ponto crítica do consenso de abertura vigente, no que diz respeito ao
paradoxo “global e local”. Reconhecidamente, a teoria econômica, bem como o resto das
disciplinas das ciências sociais e um importante mero de especialidades de outras ciências,
dedicam uma especial atenção para o problema do desenvolvimento. No entanto, apesar dos
esforços intelectuais empreendidos, em geral, o tema se mantém como um processo relativamente
pouco compreendido
42
.
42
Muitas interrogações derivam-se desta situação: algumas de caráter metodológico e teórico, outras colocadas no
plano da prática. Finalmente, muitas dúvidas se reduzem à questão da existência de uma possível carência
fundamental do conhecimento social acumulado para entender as causas do caráter relativamente estacionário da
maioria das sociedades contemporâneas. Dessa forma, dentro da proposta deste capítulo (paradoxo local X global),
os temas selecionados apresentam uma tentativa de chamar a atenção para a necessidade de se adotar um enfoque
transdisciplinário nos estudos sobre desenvolvimento, uma vez que a conjunção do local, nacional e o global tem
gerado novos fenômenos e problemas econômicos que são extremamente difíceis de conceitualizar a partir de uma só
disciplina, como a economia ou sociologia, por exemplo.
71
2.1 Cadeias globais e sistemas produtivos: a importância dos vínculos locais com os atores
globais
O paradoxo “local-global” também deve ser avaliado a partir da perspectiva do
funcionamento das estruturas produtivas envolvidas nos processos de inserção internacional que
puderam, supostamente, conduzir os paises para o desenvolvimento. Em particular, torna-se
conveniente examinar a forma como as ciências sociais contemporâneas têm tratado de resolver o
desafio que propõe a análise do nexo entre o global e o local no nível das estruturas produtivas,
tomando como base o desenvolvimento recente de um esquema analítico que combina as teorias
das “Cadeias Produtivas Globais” (CPG) com os estudos sobre clusters e que, de maneira
significativa, demonstra ser um claro exemplo de pesquisa que transcende a simples avaliação
econômica.
Dessa forma, esta análise definirá como problema central o vínculo que existe entre os
produtores locais e os atores globais no contexto de redes produtivas transnacionais. Parte-se da
premissa de que a análise da dinâmica e da estrutura das indústrias globais é uma forma útil de
entender as conseqüências locais da globalização para as empresas e trabalhadores.
A hipótese chave consiste no fato de que o tipo de firma líder de uma cadeia e que, em
conseqüência, define e controla as estruturas de regulação da cadeia, contribui de maneira
decisiva para modelar socialmente as regiões onde a cadeia se localiza, a partir do
estabelecimento de nexos com os produtores locais. Seria, em síntese, uma forma de avaliar a
evidência empírica acerca da relação entre o “funcional” (a cadeia produtiva que representa uma
estrutura voltada exclusivamente para a acumulação) e o territorial”, que pode representar
xdistintos níveis na medida em que o cluster em questão, além de suas implicações locais diretas,
também pode assumir conseqüências de alcance nacional ou regional.
No entendimento de Gereffi (1998), esse esquema analítico facilita o estudo da relação
entre os esquemas de inserção internacional e o padrão de desenvolvimento, uma vez que os
agrupamentos produtivos orientados para a exportação podem oferecer resultados positivos para
o desenvolvimento, dependendo, portanto, da modalidade específica de incorporação das
empresas locais do sistema produtivo às cadeias globais, do equilíbrio de poder nessas cadeias e
da maneira em que esse poder é exercido.
72
Pelo que demonstra, tal categoria de análise sugere uma nova proposta para as estratégias
de desenvolvimento. Se anteriormente a unidade de análise privilegiada era do tipo territorial
(Estado-nação), agora adota-se um esquema analítico mais complexo que inclui, pelo menos,
duas unidades de análise: uma primordialmente do tipo funcional (a cadeia produtiva global) e
outra que combinam qualidades funcionais e territoriais (os sistemas produtivos locais ou
clusters). O corolário dessa nova proposta é que o caráter “nacional” das estratégias de
desenvolvimento não estaria definido na atualidade pela escala da unidade de análise. Ou seja, as
estratégias nacionais seriam viáveis se considerassem o problema do desenvolvimento a partir
de uma perspectiva que incluísse as unidades de análises diferenciadas que, hoje, definem as
lógicas funcionais e territoriais do desenvolvimento.
Gereffi (1998) identifica três aspectos úteis para se compreender melhor as gicas
apontadas no parágrafo anterior. Primeiro, a questão das cadeias globais em sua dimensão da
unidade funcional do desenvolvimento contemporâneo; em seguida a noção de sistemas
produtivos ou clusters como dimensão que combina o funcional e o territorial e, por último, a
consideração da qualidade dos nexos entre tais sistemas produtivos e a cadeia, particularmente o
tipo de efeito denominado “avanço econômico” (upgrading) que define a possibilidade de os
atores domésticos ascenderem através de trajetórias tecnológicas e organizacionais
43
.
2.1.1 As cadeias globais como dimensão funcional do desenvolvimento
Conforme descrito no capítulo anterior, uma das principais características das
transformações econômicas das últimas décadas tem sido a integração funcional através dos
complexos sistemas produtivos (ou clusters) de atividades econômicas dispersas a nível
43
Fazemos referência também aos estudos sobre Catching-up, que, no Brasil, aplicado ao sistema agroalimentar,
vem sendo estudado por Castro (2008). Segundo a autora, a processo de catching-up do sistema agroalimentar
brasileiro tem suas origens na metade da cada de 1930 e está dividido em duas fases: a primeira inicia-se no final
da década de 1940 e vai até final dos anos 1980, enquanto a segunda, data de fins dos anos 1990 até o presente e
ainda se encontra em pleno curso. Castro menciona que catch-up é o emparelhamento” ou equiparação tecnológica
ao “estado das artes” internacional e que tende a ocorrer de forma concentrada, em determinado período de tempo,
acompanhado de expressivas taxas de crescimento na economia, elevando-se a produtividade e a competitividade
internacional de empresas e setores. Dessa forma, o estudo sugere que predominaram, na primeira fase, as
instituições da chamada “revolução verde, e na segunda, seriam os requisitos de qualidade e desenvolvimento
sustentável que organizaram os mercados de commodities agrícolas. Os estudos de Castro (2008) revelam que,
referentemente à segunda fase, a implantação da Lei de Cultivares, em contraposição ao modelo de sementes
híbridas, contribuiu, por um lado, para a elevação verificada no rendimento médio das principais lavouras; e por
73
internacional. Gereffi (1998, p.23) sintetiza tal movimento como: “Seria precisamente essa
capacidade de integração funcional, e não somente a dispersão planetária das atividades, o que
identificaria o aspecto definitivo do capitalismo global”.
Embora o debate sobre esse problema não esteja concluído, é relevante considerar duas
correntes analíticas que tratam de explicar o fenômeno: a “teoria dos sistemas produtivos”
(Commodity Systems Theory) e a “teoria das cadeias globais de produtos” (Global Commodity
Chains Theory).
Autores como Schmitz e Nadvi (2002) fazem uma interpretação importante sobre a teoria
dos sistemas produtivos. Segundo os autores, os estudos sobre o tema surgiram no início dos anos
1990 como uma reação à irrelevância de outros modelos teóricos que não podiam explicar
satisfatoriamente a omissão de vastas áreas da economia internacional como parte do processo de
reestruturação global. Essa teoria dá principal ênfase para os estudos da globalização da produção
agropecuária, em particular para a formação e tendências de quatro sistemas globais para a
produção e a distribuição: o complexo cerealista (principalmente soja); de produtos agrícolas
duráveis; o complexo pecuarista e o complexo de distribuição de frutas e vegetais frescos.
Na visão dos autores, se a perspectiva dos sistemas produtivos torna-se importante para
analisar o local e o potencial que possam ter, dentro das estratégias de desenvolvimento, uma
série de setores econômicos existentes nos países em desenvolvimento (principalmente aqueles
que contam com a presença de recursos naturais para a atividade agropecuária), a teoria das
cadeias globais de produtos, por outro lado, poderia facilitar a análise de outros setores, em
particular das atividades industriais, geralmente consideradas como um elemento chave das
transformações econômicas que conduzem para o desenvolvimento. Nesse caso, o ponto de
partida da teoria reside na consideração de que as indústrias contemporâneas mais dinâmicas
estão organizadas como sistemas de produção e de distribuição de alcance global. Por esta razão
é imprescindível utilizar modelos analíticos que incorporem de maneira sistemática a dimensão
internacional nas análises sobre a dinâmica dessas indústrias.
A partir dessa perspectiva, o êxito do processo de desenvolvimento dependeria de como
as entidades locais (países, governos e empresas) pudessem ocupar determinadas posições.
Assim, conforme assinalam Schmitz e Nadvi (2002),
outro os novos requerimentos de qualidade e de outros atributos extramercado (saúde, sustentabilidade, comércio
justo etc.) revelaram as novas fronteiras do agronegócio brasileiro.
74
As firmas e as redes econômicas que as conectam são as peças fundamentais dos
sistemas transnacionais de produção nos quais os países desempenham uma variedade de
funções especializadas que podem ser modificadas através do tempo. Certamente, as
firmas não existem num vazio. Seu comportamento está condicionado por diversos
fatores que operam em distintos níveis: condições econômicas globais e geopolíticas;
esquemas de integração regional; políticas econômicas dos governos nacionais; o
impacto das instituições e das normas culturais nacionais sobre a atividade econômica;
as taxas de salário, qualificação, produtividade e grau de organização da força de
trabalho. Por outro lado, os Estados-nação tampouco são atores que transitam
livremente. O enfoque das cadeias globais de produtos considera que as perspectivas de
desenvolvimento dos países estão condicionadas, em grande medida, pela forma como
os países são incorporados às indústrias globais. (p.42).
Gereffi (1998) classifica as cadeias globais de produtos em dois grandes grupos: o
primeiro, as chamadas cadeias impulsionadas pelo produtor (producer-driven) e o outro são as
cadeias impulsionadas pelo comprador (buyer-driven). As primeiras são picas de indústrias que
fazem uma utilização intensa de capital e tecnologia (por exemplo, a indústria automotiva), em
cujo segmento as empresas transnacionais desempenam um papel central na coordenação das
redes de produção. No segundo caso, trata-se de cadeias produtivas com uma utilização intensiva
de força de trabalho (por exemplo, a cadeia de frutas frescas). Em termos comparativos, as
cadeias do segundo tipo são um fenômeno mais recente, menos estudado e menos compreendido
(GEREFFI, 1998).
É importante ressaltar que os estudos sobre o tema enfatizam que o processo de
aprendizagem é imprescindível para poder chegar a competir com êxito nos mercados mundiais,
sendo este um procedimento relativamente contínuo que pode levar à inclusão nas cadeias
globais. No entanto, é importante frisar que o êxito atingido em uma fase não garantirá por si
mesmo o avanço para a fase seguinte.
2.1.2 Os clusters e a localização do desenvolvimento
Conforme mencionamos anteriormente, outra categoria de análise que faz aproximação
com os estudos das cadeias globais de produção são os clusters. Os estudos mais recentes que
abordam o tema, a partir da perspectiva do desenvolvimento, representam uma evolução
relativamente acelerada da investigação social, tendo em vista que tem seus antecedentes no
entusiasmo que o modelo dos distritos industriais gerou nas décadas de 1980 e 1990 aos estudos
75
sobre desenvolvimento. Inicialmente, a análise se concentrou em indagar se era possível aplicar,
nos programas de desenvolvimento em geral, a experiência dos referidos distritos, amplamente
estudados em regiões como a Emilia-Romagna, que explicavam o êxito de estruturas econômicas
exportadoras especializadas, geograficamente concentradas, sob o enfoque das economias de
aglomeração.
Os estudos avançaram e na segunda metade dos anos 1990 a terminologia e as
especificidades das pesquisas sobre os distritos industriais foram mais aperfeiçoadas com a
introdução do conceito mais flexível e abrangente de cluster. Esta segunda fase das análises se
concentrou nas chamadas relações externas do sistema produtivo, sobretudo porque os estudos
empíricos, realizados em países subdesenvolvidos, indicaram com clareza que a maneira
específica como as firmas de um cluster se relacionam com os atores externos – particularmente a
qualidade dessas relações têm implicações decisivas para o seu desempenho e para o
desenvolvimento local (SHCMITZ e NADVI, 2002).
Dessa forma, chegou-se a um ponto em que tem sido possível avançar na proposta de
novos esquemas analíticos que combinam o estudo dos clusters com a teoria das cadeias
produtivas, com a característica particular de que estes novos esquemas aplicam a referida teoria
ao sistema como um todo e não a firmas individualmente. São estudos orientados para a
formulação de políticas que, sobretudo, buscam identificar as mudanças qualitativas que se
produzem nas redes de um sistema produtivo, como conseqüência da inserção em cadeias
produtivas globais. Assim, a utilização do conceito de clusters tem se convertido em um
instrumento descritivo que facilita a análise das complexas relações econômicas que caracterizam
a produção contemporânea. Por outro lado, utiliza-se também para o estudo da economia das
regiões dentro de um país, levando-se em conta que a dinâmica econômica de muitas regiões e
localidades não pode ser explicada adequadamente com o aparato tradicional da teoria
econômica. Em particular, maior importância tem sido dedicada aos clusters exportadores.
2.1.3 O avanço econômico (upgrading) como categoria de análise para o desenvolvimento
O conceito de upgrading tem sido utilizado entre os analistas interessados na identificação
de novas fontes de crescimento e de desenvolvimento econômico em um cenário globalizado.
Autores como Gareffi e Tam (1998) caracterizam tal conceito como um instrumento analítico
76
para enfocar com maior precisão as possíveis fontes de crescimento econômico. Em particular,
sua aplicação faz parte dos modelos explicativos que tratam de estabelecer uma relação entre a
inovação, a especialização e os encadeamentos produtivos estudados por Hirschman, assim como
suas possíveis conseqüências para promover crescimento econômico a partir de melhorias
induzidas na produtividade.
Segundo alguns autores (BAIR e GEREFFI, 2002; GEREFFI e TAM, 1998), o conceito
de upgrading envolve distintos níveis de análise; todos eles com estreita relação mútua:
características do produto; tipo de atividade econômica; mudanças intra-setoriais; e mudanças
inter-setoriais. Dessa maneira, o avanço econômico deveria implicar no nível de produto um
deslocamento da produção de bens simples a produtos mais complexos. No nível de atividade
econômica, estaria associado a uma evolução, por exemplo, para produção de produtos de marca
e de desenho original. Como fator intra-setorial, o avanço econômico consistiria no
estabelecimento dos chamados encadeamentos “para trás” e “para frente” e inter-setorial, deveria
ocorrer uma perda do peso relativo da utilização intensiva da força de trabalho para setores que
são intensivos na utilização de capital, tecnologia e conhecimentos.
Resumidamente, as possibilidades de upgrading, nos marcos das “redes produtivas
globais” se encontram condicionadas pelos seguintes fatores que operam no nível dessas redes: i)
localização das atividades; ii) os processos de especialização produtiva; e iii) as estruturas de
regulação (governance) das redes.
2.2 O mercado de frutas no cenário da agricultura global
Os mecanismos intercontinentais que constituem o sistema global agrícola estão se
aprofundando e ampliando. Conforme indicação de Friedland (2002), dos vários setores dentro da
agricultura, o sistema frutícola é o mais visivelmente globalizado. Os padrões de comércio e
investimentos dentro deste setor formam “cadeias globais de produtos” ou, mais precisamente,
“complexos” que unem todos os rincões do mundo. As mudanças cultural e econômica trazidas
pela globalização têm aberto algumas “janelas” de oportunidades de exportação para uma série de
países em desenvolvimento. Cada vez mais os países do Hemisfério Sul, por exemplo, estão
penetrando em importantes mercados como Japão, Estados Unidos e a União Européia, de acordo
com as estações do ano (inverno no Hemisfério Norte).
77
Destacamos o estudo realizado por Flexor (2006), quando analisou o processo de
globalização do sistema agroalimentar brasileiro. Embora reconheça que a inserção internacional
do Brasil não seja fenômeno recente, o autor conclui que
“[...] desde meados dos anos 1990 tem-se a participação crescente de grandes empresas
transnacionais nos mercados de alimentos e no setor da distribuição, que até
recentemente eram predominantemente controladas por capitais brasileiros. As
mudanças em curso modificam não somente as janelas de oportunidades das empresas
do sistema agroalimentar brasileiro e suas configurações de mercado, como têm
impactos sociais e políticos importantes, colocando novos desafios para a estratégia de
desenvolvimento do Brasil”.
Nesse contexto, o Chile
44
é apontado como o exemplo bem-sucedido de um país em
desenvolvimento exportador de frutas não tradicionais. Tal desempenho é resultado das reformas
levadas a efeito nas décadas de 1970 e 1980, que incluíam a abertura das economias aos
investimentos estrangeiros, a liberalização dos mercados e as medidas para elevar a
competitividade das exportações.
Verifica-se, então, que a globalização da agricultura, em especial da fruta, oferece
potenciais benefícios aos países latino-americanos que não podem ser desprezados. No entanto,
conforme indica Shepherd (1998), tal processo de otimização requer um olhar para além das
convenções puramente mercadológicas, de forma a evoluir na direção de um paradigma que
amplie o conceito de desenvolvimento geral como também rural. Dessa forma, antes de analisar a
natureza do complexo de globalização da fruta fresca, é necessário resumir algumas idéias em
evolução sobre a natureza do complexo agrícola global em geral, objetivando oferecer algumas
reflexões preliminares sobre os impactos da globalização da agricultura em termos da
perpetuação do desenvolvimento desigual nos países do Terceiro Mundo e as localidades que os
constituem.
A natureza do cultivo agrícola e a produção de alimentos têm se movido a partir de um
modelo tradicional, baseado na produção familiar, para mercados locais e nacionais, ao que
Whatmore (1995) denomina como um “complexo agro-alimentar” com alcance global. Tal
complexo é definido como “um set de atividades e relações que interagem para determinar
quanto, por qual método e para quem se produzem e distribuem os alimentos” (p.37). A autora
conceitualiza o sistema em quatro partes inter-relacionadas: A) a indústria da agrotecnologia; B)
44
De acordo com os estudos de Graziano da Silva (1999), sobre a globalização e sustentabilidade da agricultura, o Chile é o paradigma da cadeia
de produtos frescos, os quais se estendem para além da produção (agrícola ou agroindustrial), em direção ao consumo. O autor entende que os
novos serviços e novos agentes são agregados, reduzindo o peso dos elos tradicionais, de modo que a logística da distribuição passa a responder
78
a indústria dos cultivos agrícolas; C) a indústria alimentícia e D) o consumidor de alimentos.
Entre estes grupos, existem rios corpos reguladores: entre A e B se conceitualizam várias
sucursais de extensão (comércio minorista, consultoria e crédito). Estas atividades são realizadas
por uma combinação de agentes comerciais, estatais e reguladores. Entre B e C, corpos
principalmente estatais regulam a qualidade e comercialização, além de desempenhar outras
atividades de intervenção. Finalmente, C e D entidades, principalmente estatais, que
desempenham trabalhos reguladores tais como a qualidade e segurança dos alimentos e as
medidas de nutrição e saúde.
É importante ressaltar que as relações interativas e mutuamente determinantes que
existem entre as várias partes do complexo de Whatmore, não dão ascendência de nenhum setor
sobre o outro, pelo contrário, a nova disposição projeta luz nos limites conceituais tradicionais
entre os setores primários, secundários e terciários da economia que têm caracterizado a análise
na geografia econômica em geral.
Verifica-se que, no passado, os assuntos relacionados à produção alimentícia e da
atribuição dos recursos agrícolas se resolviam em nível de espaços produtivos locais; hoje em dia
se tratam a uma escala global. Assim, evidencia-se que esta mudança tem sido impulsionada, em
grande parte, pelo aumento da agroindústria e sua busca pelo lucro. O campo do jogo desses
aspectos se por meio de uma combinação de integração vertical direta (baseada na
propriedade) e indireta (baseada no contrato), que tem se globalizado cada vez mais. Portanto, as
diferentes partes do complexo agro-alimentar estão inseridas em distintas localizações
internacionais.
O período anterior à Primeira Guerra Mundial é indicado como “o primeiro regime
alimentício” associado aos padrões de comércio e investimentos estabelecidos durante o período
colonial e a persistência das relações neo-coloniais. Seguindo à crise estimulada pela Grande
Depressão e a segunda Guerra Mundial, inicia-se um segundo regime alimentício, que se
caracterizou pela reestruturação do setor agro-alimentar, principalmente através do capital
transnacional. Segundo Whatmore (1995), um dos maiores impactos tem sido a criação de uma
nova divisão internacional do trabalho na agricultura, que respalda a globalização recente
45
.
pelo maior valor agregado da cadeia produtiva. Isso se confirma, haja vista que em frutas, verduras e produtos frescos, estima-se que mais de 50%
do valor agregado se deve a: transporte, armazenamento, mobilidade, custos de informação, etc.
45
Uma discussão ampla e completa do conceito dos regimes alimentares não será possível neste trabalho. No entanto, é importante verificar o
artigo de Storel Júnior (2003), quando o autor faz uma análise dos regimes alimentares da humanidade, dando ênfase à origem do conceito
proposto por Friedmann e McMichael (1989), cujos autores, baseados na teoria regulacionista, procuram ressaltar as relações sistêmicas entre as
dietas alimentares e os fenômenos econômicos e políticos, no nível global, que resultaram na formação dos Estados Nacionais no século XIX e na
79
2.3 As relações de poder globais e as exportações agrícolas não tradicionais na América
Latina
Seguindo a crise do endividamento de princípios dos anos 1980, muitos países latino-
americanos voltaram-se para a promoção de exportações agrícolas não tradicionais
46
como uma
solução para seus “males econômicos”. Este processo formou parte de um modelo de
desenvolvimento orientado para o exterior que seguiu ao que foi percebido como fracasso do
modelo da industrialização para substituição das importações. Para tais países, a globalização da
agricultura ofereceu uma “janela” de oportunidades para as exortações, permitindo-lhes explorar
suas vantagens comparativas na produção de itens de contra-estações no mercado global.
Lembramos que no modelo de análise do agro-complexo proposto por Whatmore, a
autora não assinala um poder determinante ou dominante a nenhum dos elementos em especial
dentro do complexo agro-alimentar (ainda que a mesma implica, em suas análises, nas
repercussões do novo sistema para os países em desenvolvimento). No entanto, no contexto dos
países em desenvolvimento, a assimetria de poder entre os diferentes elementos do complexo é
cada vez mais clara e significativa no aprofundamento do desenvolvimento desigual. Sendo
assim, nesse contexto, as principais perguntas de partida que fazemos são as seguintes: Quais são
as principais repercussões da globalização da agricultura para os países latino-americanos que
estão envolvidos neste novo complexo? Como pode a participação criar uma situação em que as
estruturas globais dominem, levando a um aprofundamento do desenvolvimento desigual e não
sustentável? Na tentativa de esboçar algumas respostas a estes questionamentos, citamos as
interpretações de alguns autores que tratam do assunto:
1) a globalização da agricultura tem se caracterizado pela dedicação da parte extrativa do
complexo, nos países da América Latina. A maioria das empresas que dominam a
tecnologia química e industrial, a biotecnologia, o marketing, a distribuição, o processo e
expansão mundial das relações capitalistas, com a conseqüente construção de um sistema agro-alimentar mundial. Dessa forma, tal conceito visa
especificar a história política do capitalismo, entendida a partir da perspectiva da alimentação. Os estudos têm apontado para três períodos que
correspondem a diferentes regimes: a) o primeiro regime alimentar, constituído no período final da hegemonia britânica (1870 1914); b) o
segundo regime alimentar, correspondendo ao período fordista centrado na hegemonia americana do pós Segunda Guerra (1947 1973) e c) o
terceiro regime alimentar que Friedmann (2000) chama de período do modelo “liberal-produtivista” correspondendo ao momento atual da
globalização financeira, a partir do final da década de 1980. É prudente destacar que os conceitos de regime alimentar e do regime de acumulação
em geral têm sido criticados por outros autores como demasiadamente generalizadores e excessivamente deterministas. No entanto, entendemos
que o enfoque oferece um marco de organização útil para a análise da globalização da agricultura. Outro ponto importante a se destacar é a
incapacidade da OMC/GATT para resolver os problemas mais cruciais no comércio agrícola.
46
Barham et al. (1992) definem as exportações agrícolas não tradicionais como aquelas exportações que cabem dentro de pelo menos uma das três
categorias seguintes: a) um produto de exportação que não tenha sido produzido antes em um dado país; b) um produto que era tradicionalmente
produzido para o consumo doméstico que agora é comercializado internacionalmente e c) um produto de exportação tradicional enviado a um
novo mercado.
80
a venda de produtos encontra-se nas economias avançadas. Tais corporações captam
grande parte do valor agregado que é gerado dentro do complexo (GWYNNE, 1998);
2) a situação da produção de alimentos, para a exportação, tem levado os países latino-
americanos para a insegurança alimentar, o que tem conduzido para o aumento dos
alimentos importados na maioria dos países (KAY, 1995);
3) ainda que a diminuição dos impactos mais danosos da exposição às forças globais seja, na
teoria, possível através da ação estatal, a adoção das políticas neoliberais nas economias
latino-americanas (o que tem sido necessário para competir nos mercados globais)
significa que a regulação é mínima, o que conduz os países defrontarem-se com
problemas sociais, econômicos e ambientais;
4) os países latino-americanos têm se envolvido em um sistema de comércio global
extremamente injusto, que se caracteriza por altos níveis de protecionismo dos países
desenvolvidos;
5) as políticas de certificação de qualidade são extremamente discriminatórias, tendo em
vista que são elas que determinarão quem pode ou não produzir determinado produto. São
políticas que criam barreiras adicionais à entrada em determinados mercados. De acordo
com a análise de Graziano da Silva (1999), o que as certificações de qualidade fazem é
reintroduzir barreiras
47
, “às vezes altamente excludentes e que podem ser altamente
desestruturadoras dos padrões vigentes” (p.40);
Dessa forma, verifica-se que ao incentivar a inserção dos setores agrícolas nos mercados
internacionais, os governos colocam suas localidades à disposição de forças globais imprevisíveis
e voláteis, as quais estão, sistematicamente, para além do seu controle. Via de regra, em tais
localidades, desenvolvem-se monoculturas que são estimuladas pelas empresas exportadoras,
gerando, assim, vulnerabilidade econômica e ambiental. Essas companhias, geralmente
multinacionais não reguladas, exercem um grande poder nos mercados locais, os quais são
compostos por agricultores politicamente não organizados, quando estes não estão instalados em
sistemas produtivos locais com fortes laços de cooperação e organização civil. Dessa forma, as
mudanças globais (econômicas e estruturais), que também afetam as políticas das multinacionais,
47
Graziano da Silva (1999) faz menção à “briga” pela exportação da uva chilena com a uva californiana, como um bom paradigma dessa luta pelo
domínio de um nicho de mercado. “Vira e mexe, acham cianureto em uma caixa de uva e o Chile vai à bancarrota. O quanto de cianureto
81
provocam impactos que condicionam os indivíduos em âmbito local, projetando, principalmente,
sobre os pequenos produtores.
2.4 A evolução da globalização do complexo de frutas frescas
É importante separar o desenvolvimento do sistema produtivo global de fruta em dois
períodos diferentes: pré e s Segunda Guerra Mundial. Estas divisões se unem
convenientemente (e não por coincidência) àquelas concebidas para os “regimes alimentares”
discutidos anteriormente.
2.4.1 O sistema produtivo de frutas frescas pré-Segunda Guerra Mundial
Até fins da Segunda Guerra Mundial, em geral, o sistema produtivo de fruta fresca
operava dentro de uma escala de resolução local e nacional. Esta situação estava em parte
determinada tecnologicamente, tendo em vista que a infra-estrutura e as técnicas de transporte
internacional de produtos perecíveis em larga escala não estavam bem desenvolvidas. Por outro
lado, fatores econômicos e sociais dificultavam o desenvolvimento de um sistema globalizado.
No entanto, uma notável exceção ao padrão geral de fornecimento de fruta foi a economia da
banana, relativamente não perecível, resistindo a um maior período sendo transportada
naturalmente. Esse comércio de exportação tem origem no século XIX, com a exportação da
então “exótica” banana das colônias (Sudeste da Ásia, América Central e Caribe) para os
principais países colonizadores da Europa. Posteriormente, um número de empresas
multinacionais (notadamente Dole, Chiquita e Del Monte) começaram a participar da
comercialização de bananas, proporcionando um aumento considerável das exportações para os
EUA (FRIEDLAND, 2002).
O sistema de fornecimento de produtos frescos de grande escala foi inaugurado pelos
EUA, onde o desenvolvimento das linhas férreas e, em seguida a tecnologia de refrigeração,
facilitaram o comércio inter-regional. A provisão de vegetais, tais como alface e tomates,
representa os primeiros exemplos da distribuição in natura a longa distância. Este processo se
aplicou à fruta dos EUA na década de 1930 (FRIEDLAND et al., 1981).
mesmo, ou quanto isso é posto ou introduzido, não se sabe. É um processo permanente de luta por um nicho de mercado e da exclusão social que
82
2.4.2 O sistema produtivo de frutas frescas pós-Segunda Guerra Mundial
O sistema de produção e distribuição fruta do pós-guerra é caracterizado pelo aumento
dos complexos agroindustriais e agro-alimentícios dentro do contexto da industrialização da
agricultura. Para tanto, a mobilidade das empresas multinacionais tem sido fundamental no
processo de desenvolvimento do sistema. Seus principais alvos, além da comercialização, são: a)
busca de mão-de-obra barata; b) infra-estrutura de transporte relativamente desenvolvida e c)
climas onde são possíveis colheitas da “contra-estação”.
Nas décadas de 1970 e 1980, o processo de globalização foi facilitado e acelerado com a
adoção de políticas econômicas, geralmente como meio de ajuste estrutural “recomendado”,
numa grande parte dos países em desenvolvimento. A adoção de tais medidas, entre outros
impactos, abriu as economias aos investimentos estrangeiros, manteve os baixos custos de mão-
de-obra, como também permitiu uma orientação exportadora. Essas condições têm se mostrado
ideais para as grandes empresas multinacionais.
Concomitantemente, existe uma carga de mudanças sociais, econômicas e tecnológicas,
relacionadas com o sistema frutícola, que tem possibilitado ainda mais a sua globalização.
Destacamos duas tendências sociais: o crescimento da classe média dos países desenvolvidos,
depois da Segunda Guerra Mundial, conduziu a um desenvolvimento material variado e
importante como, por exemplo, salários notavelmente altos. As mudanças nos estilos de vida da
classe média, especialmente aqueles dedicados ao turismo internacional, contribuíram no sentido
de aproximar as pessoas a novos tipos de alimentos, aliado ao fato de que nesse setor da
sociedade começa-se a tomar consciência de uma dieta saudável. Num segundo plano, o
envelhecimento da população proporciona o aumento da demanda por fruta, visto que as pessoas
mais velhas m tempo, especialmente depois de aposentarem-se, de se informar sobre temas
concernentes à saúde e à longevidade; via de regra, m acesso a recursos e viajam gastando boa
parte dos seus rendimentos em alimentos (WATMORE, 1995). Dessa forma, o aumento das
rendas pessoais no pós-Guerra exerceu uma influência no crescente gasto proporcional com o
consumo de frutas.
daí resulta, o que vale para outras atividades”. (p. 41).
83
A mudança tecnológica também tem sido instrumento primordial para o
desenvolvimento global da fruticultura. Destacamos o desenvolvimento das cadeias de
refrigeração integradas ou “cadeias frias”, em grande parte adaptadas do setor de vegetais frescos
dos EUA e aplicadas à fruta na década de 1960, permitindo o transporte de grandes distâncias dos
produtos frescos perecíveis (CARTER e TURNER, 1988). Num segundo movimento, o processo
de transferência de tecnologia tem exercido um papel fundamental no desenvolvimento do
sistema de distribuição de frutas. Nos países cujas rendas são elevadas este aspecto é sempre
regulado pelo Estado ou por uma combinação de empresas estatais e privadas. Os países
financeiramente limitados se apóiam em empresas multinacionais para a investigação e o
desenvolvimento tecnológico, juntamente com a transferência da tecnologia; tal processo tem
sido fortalecido pela mobilidade do capital (FRIEDLAND, 2002).
2.4.3 O padrão de interação geográfica do comércio global de fruta
A combinação dos fatores anteriormente mencionados tem criado uma massa de
mercado no mundo capitalista avançado, para uma crescente variedade de produtos frutícolas, a
qual conta com um sistema global de distribuição capaz de ser relativamente confiável ao longo
de todo o ano. Tal circunstância tem dado origem a um padrão de interação geográfica complexo
e cada vez mais volumoso entre “Norte e Sul”, existindo uma divisão internacional de funções
relativamente claras dentro do sistema de produção de frutas global.
Dessa forma, a maioria da fruta comercializada é consumida na América do Norte,
Europa Ocidental e no Japão. Esse padrão tem sido respaldado por um aumento significativo na
demanda por frutas frescas nessas sociedades. Como exemplo, nos EUA, entre 1976 e 2003, o
consumo de fruta per capita aumentou em 21,6 %, observando-se a mesma tendência para o
Reino Unido (FAO, 2006).
A quantidade de países exportadores de frutas é bem mais ampla do que a dos
importadores. Os EUA, Holanda, Itália, Espanha, África do Sul e Nova Zelândia fazem parte de
um rol importante na distribuição de frutas. No entanto, conforme mencionado anteriormente, o
sistema global tem se caracterizado pelas crescentes exportações dos países em desenvolvimento,
especificamente do Hemisfério Sul. Nota-se que o Chile, México e Argentina desempenham um
papel importante neste contexto. A variedade de países exportadores de frutas se amplia
84
constantemente, especialmente na América Latina e, em menor escala, África e os países do
Pacífico Sul. Também no Hemisfério Norte – principalmente da Ásia vêm merecendo destaque
(Israel, Turquia, China, Índia). No entanto, o crescimento da exportação nestes países não tem
sido tão rápido quanto no Hemisfério Sul. Isto se deve ao fato de os produtores do Norte
competirem diretamente nos mercados estacionais com produtores locais nos mercados maiores,
os quais estão bem protegidos por um muro de barreiras tarifárias e não tarifárias. Em geral, pelo
fato das políticas voltadas para a exportação nos países em desenvolvimento, é possível que o
aumento no abastecimento do produto ultrapasse a demanda em um futuro próximo, o que
implica um aumento nos níveis de qualidade e possível ajuste nos preços para baixo.
2.5 O cenário internacional do comércio de fruta
O comércio internacional de frutas tem crescido a taxas bastante expressivas, apontando
para possibilidades de inserção para países com vasta dimensão territorial, como é o caso do
Brasil, principalmente, da região Nordeste. Percebe-se naquela região uma articulação de
políticas públicas regionais objetivando incrementar esforços produtivos e comerciais, na
tentativa de ampliar sua inserção no mercado internacional. Por outro lado, verifica-se que esta
não é uma tarefa fácil. Apesar de ser o terceiro maior produtor mundial de frutas, o Brasil tem
uma inserção inexpressiva no comércio internacional. Embora apresentando grandes
potencialidades locacional e climática, “menos de 1% da produção brasileira de frutas é destinada
ao exterior e menos de 0,5% das exportações são de origem brasileira” (MARTINELLI e
CAMARGO, 2000).
Conforme relata Gama da Silva (2001), o comportamento diferenciado do Brasil e do
Chile frente às exportações de frutas, apresenta trajetórias distintas, refletindo características
próprias de cada país ligadas a fatores sociais, históricos, ecológicos, envolvendo pesquisa
agrícola, políticas econômicas e desenvolvimento tecnológico, estímulos para investimentos e
participação dos agentes privados, incentivos e prioridades às exportações, entre outros fatores
que foram decisivos para a evolução da fruticultura nesses dois países. Dessa forma, o Chile é
considerado o principal exportador de frutas frescas do Hemisfério Sul (HS).
Ainda assim, aliado às mudanças significativas que vêm ocorrendo nos aspectos
produtivos, logísticos e comerciais, o mercado de fruta está longe de ser de fácil domínio, tendo
85
em vista as importantes barreiras econômicas. De acordo com Gayet (1999), a disseminação de
um padrão competitivo globalizado tem afetado a cadeia de frutas, tendo em vista que, numa
análise preliminar, as grandes empresas de frutas e as redes varejistas, visando ao fortalecimento
das suas posições competitivas, têm ampliado as suas estratégias de fusões e aquisições, levando
a uma maior concentração do mercado e à configuração mais complexa dessa cadeia produtiva
em escala global. Nesta direção, conforme estudos de Martinelli e Camargo (2000), os papéis dos
atores estão mudando no sentido de ampliar as assimetrias existentes no poder de comando. As
grandes empresas comerciais, ao concentrar poder de comando nos elos mais importantes,
influenciam as formas e as magnitudes de apropriação do valor agregado ao longo da cadeia.
Como conseqüência, as vantagens advindas de aspectos edafo-climáticos e/ou da extensão
produtiva da base natural são relativizadas enquanto vantagens dinâmicas da atividade frutícola.
Dessa forma, parece-nos apropriado fazer uma comparação entre os conceitos de
vantagens comparativas e competitivas, quando se trata do desenvolvimento de uma região. De
forma simplificada, as primeiras estão baseadas na dotação regional de recursos, enquanto as
segundas na forma como os recursos são utilizados. As vantagens comparativas são mais
estáticas, prevalecendo as condições naturais. As vantagens competitivas têm caráter dinâmico
(geralmente transitórias e mutáveis) e fruto da ação humana – por conseguinte, podem ser
construídas.
Em geral, é na linha das vantagens comparativas que ouvimos falar sobre o potencial do
Brasil, em particular, para a fruticultura. Resumindo a análise de Evangelista (1998), os
argumentos listados sobre o Nordeste são os seguintes:
a) terras disponíveis e água de boa qualidade e em quantidade suficiente;
b) disponibilidade de mão-de-obra;
c) condições climáticas privilegiadas;
d) possibilidade de duas safras por ano e antecipação do produto.
Outros argumentos ligados à infra-estrutura, aos investimentos públicos realizados,
principalmente nos perímetros de irrigação e a possibilidade de exportação de frutas no
Hemisfério Norte, durante o período de inverno, uma vez que nesta fase há ociosidade da
infra-estrutura atacadista, são vantagens competitivas que exigem um trabalho contínuo de
ampliação e manutenção.
86
É importante citar a matéria publicada pelo jornal cearense Diário do Nordeste
(02/05/94), que dava conta de como os fatores listados acima, no Nordeste, superavam outras
regiões dedicadas à fruticultura e de como o conhecimento a respeito desses fatores já faziam
parte do senso comum, conforme Quadro 3 abaixo.
Quadro 3: Comparação das vantagens da fruticultura irrigada do Nordeste e da Califórnia
FATOR DE
COMPETITIVIDADE
NORDESTE CALIFÓRNIA
Insolação
3000 h/ano 2200 h/ano
Mão-de-obra
US$ 0,75/h US$ 5 a 10/h
Preço da terra para irrigação
US$ 200/há US$ 37.500/há
Custo do há irrigado
US$ 7 a 10 mil US$ 50 mil
Produtividade da terra
Até 2,5 safras/ano 1 a 1,5 safra/ano
Rentabilidade máxima por cultura
Melão: US$ 25 mil/há Tâmaras: US$ 12 mil/há
Melancia: US$ 12 mil/há
Atuação no mercado
EUA, Europa, Japão EUA
Fonte: Diário do Nordeste (02/05/1994).
Assim, as vantagens comparativas são efetivamente fatores relevantes para a viabilidade
econômica, em função de uma estrutura de custos primários compensadores. No entanto, a
inserção nos mercados internacionais de frutas depende do cumprimento de quesitos técnicos que
estão estreitamente vinculados e, em geral, sob o comando das empresas produtoras e/ou
comerciais da cadeia em termos globais.
2.5.1 A dimensão produtiva e comercial da cadeia de frutas
48
A produção de fruta no mundo cresceu a uma taxa de aproximadamente 3% ao ano entre
1990 e 2004, alcançando um volume de 503,2 milhões de toneladas em 2004, contra uma
produção de 352,8 milhões de toneladas no início da década de 1990, representando uma
expansão de 42,6 % nesse período. Entre os maiores produtores, destaca-se a China, que
praticamente quadruplicou a sua produção. Com mais de 80,6 milhões de toneladas produzidas
em 2004, a China representa 16 % da produção total de frutas nesse ano, assim como mais que
48
No sentido de evitar eventuais inconsistências, quando são usados dados de diferentes fontes, optou-se aqui pelos
dados do sistema FAOSTAT Statistics Database.
87
dobrou a sua participação no total geral. Por ordem de grandeza, seguem a Índia, Brasil e os
Estados Unidos que, somados, representam 38,45% da produção mundial de frutas. Os dez
maiores produtores eram responsáveis por mais da metade do total produzido em 2004, indicando
uma relativa concentração da produção entre os países (cf. Tabela 1).
Considerando os maiores países produtores, os que apresentaram uma evolução mais
favorável foram, além da China, o Irã, com um aumento de 83,5% da produção entre 1990 e
2004, Chile (crescimento de 73,6% no período), Paquistão (53%) e Colômbia (43%). Nota-se que
o comportamento dos países em desenvolvimento foi mais positivo do que o dos países centrais,
no que concerne aos volumes produzidos. Esses últimos não apresentaram uma redução de
suas participações relativas no total mundial produzido, como, nos casos de países como França,
Itália e Espanha, queda de seus volumes produzidos em determinados períodos.
Tabela 1: Principais países produtores de frutas – em toneladas – 1990 a 2004
PAÍS
1990 % 1995 % 2000 % 2004 %
BRASIL
29.824.091
8,45
33.883.762
8,27
36.300.083
7,71
35.996.238
7,15
CHILE
2.637.695
0,75
3.536.460
0,86
3.882.593
0,82
4.580.350
0,91
CHINA
20.95
2.150
5,94
44.422.751
10,84
64.490.800
13,70
80.645.975
16,02
ESPANHA
14.358.618
4,07
11.562.686
2,82
16.083.762
3,42
17.054.959
3,39
EUA
24.154.770
6,85
29.287.985
7,15
32.804.731
6,97
29.912.640
5,94
FRANÇA
11.944.124
3,39
11.253.030
2,75
11.266.569
2,39
11.034.170
2,19
ÍNDIA
27.358.959
7,75
36.045.491
8,80
42.136.920
8,95
47.031.300
9,34
IRÃ
7.163.554
2,03
10.296.997
2,51
12.287.001
2,61
13.143.110
2,61
ITÁLIA
17.112.418
4,85
16.261.178
3,97
17.989.487
3,82
17.672.632
3,51
MÉXICO
9.371.189
2,66
11.658.236
2,84
13.314.026
2,83
14.758.654
2,93
TURQUIA
9.016.925
2,56
9.593.025
2,34
10.858.550
2,31
10.850.870
2,16
MUNDO
352.850.093
100,00
409.824.151
100,00
470.632.351
100,00
503.278.149
100,00
Fonte: Montado a partir dos dados da FAOSTAT - Statistics Database (consultado em abr/2007)
2.5.2 Distribuição da produção mundial de frutas
Em estudo realizado pela FIPE
49
, objetivando realizar um levantamento sobre os
mercados de frutas no Brasil e no mundo, uma das metodologias utilizadas para melhorar o nível
das análises foi a divisão em três grupos de frutas com características próprias. Tal forma de
agrupamento considerou a similaridade entre seus componentes, resultando na seguinte divisão:
49
O referido estudo foi realizado em 1998 para o IICA Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura. De acordo com alguns
críticos, o estudo apresentou algumas inconsistências no levantamento dos dados, daí a nossa preocupação em utilizar a base de dados da FAO.
88
- Grupo I – Frutas tropicais tradicionais – abacaxi, banana, manga, melão, papaia e uva;
- Grupo II – Outras frutas tropicais – figo, laranja, de mesa, limão e melancia;
- Grupo III – Frutas de clima temperado – maçã, pêra e pêssego.
Para facilitar a nossa breve análise, utilizaremos a mesma forma de agrupamento, haja
vista que o Brasil é grande produtor das frutas incluídas no Grupo I e mostra-se capaz de ampliar
sua participação na oferta global de frutas do Grupo II.
89
Tabela 2: Produção por tipo de fruta dos principais países – Tonelada (mil) - 2005
GRUPO I GRUPO II GRUPO III
PAÍS ABACAXI BANANA MANGA MELÃO PAPAIA UVA FIGO LARANJA LIMÃO MELANCIA MAÇÃ PÊRA PÊSSEGO
TOTAL
POSIÇÃO
China
1.460 6.709 3.673 15.138 161 6.616
6 2.412 635 9.315
24.018 11.537 6.030
87.710 1
Índia
1.300 16.820 10.800 645 700 1.200
10 3.100 1.420 255
1.470 200 150
38.070
2
Brasil
2.292 6.803 1.000 190 1.700 1.247
26 17.864 1.000 1.850
846 21 240
35.079
3
EUA
192 10 3 1.207 15 7.099
46 8.393 789 1.719
4.428 747 1.266
25.914
4
Itália
612 8.554
20 2.201 579 519
2.192 927 1.698
17.302
5
Turquia
135 1.700 3.650
280 1.250 600 3.800
2.550 450 485
14.900
6
Espanha
356 1.118 6.067
38 2.295 897 723
770 671 1.198
14.133
7
México
552 2.250 1.679 580 709 323
5 4.113 1.807 866
584 35 208
13.711
8
Irã
25 13 1.230 2.800
90 1.900 1.100 2.150
2.400 220 390
12.318
9
França
295 6.793
3 1 1 7
2.246 228 430
10.004
10
Filipinas
1.788 6.282 985 19 132
29 52 105
9.392
11
Indonésia
673 4.503 1.478 647
1.312
8.613
12
Egito
880 380 565 1.300
170 1.789 338 1.500
550 39 360
7.871
13
Argentina
3 180 2 79 2 2.708
1 770 1.300 126
1.262 535 272
7.240
14
Tailândia
2.183 2.200 1.800 131 45
350 82 432
7.223
15
Equador
66 6.118 154 15 43 1
79 14 32
17 11 7
6.557
16
África do
Sul
172 322 91 29 19 1.683
2 993 234 70
779 343 185
4.922
17
Paquistão
164 1.674 236 9 49
1 1.580 90 353
351 28 70
4.605
18
Chile
70 8 2.250
142 167 85
1.350 212 315
4.599
19
Colômbia
420 1.765 149 26 138 20
2 96 125 92
8 16 8
2.865
20
Alemanha
1.015
853 36 1
1.905
21
Fonte: Montado a partir dos dados da FAOSTAT - Statistics Database (consultado em abr/2007)
90
Com base na Tabela 2, é possível fazer uma análise mais detalhada da produção de fruta
mundial, tomando-se por base o ano de 2005. As frutas estão divididas nos seus respectivos
grupos, de acordo com os principais produtores mundiais.
Verifica-se que no Grupo I, a China e a Índia aparecem como grandes produtores das seis
frutas analisadas. A primeira destaca-se pelo volume de banana, manga e uva, além de apresentar
a maior safra de melão no ano de 2005. A Índia tem grande produção de abacaxi, mas é com a
banana e a manga que aparece como maior produtora mundial.
No caso do Brasil, o país figura em cinco das seis listas de grandes produtores, a
exemplo do que ocorre com o México, sendo verificada a sua ausência no melão. No entanto, em
2005, o país aparece como o maior produtor de papaia, o segundo maior de banana e o terceiro de
abacaxi.
É importante destacar que, além da participação marcante dos países acima citados, a
Ásia apresenta outros países, com maior destaque para Filipinas, Indonésia e Tailândia, que se
revezam na qualidade de grandes produtoras das frutas do Grupo I. Embora não constem na
Tabela 4, para não torná-la tão extensa, é importante ressaltar também a existência de alguns
países africanos, como a Nigéria, com boa produção de abacaxi, manga e papaia.
A uva foi a fruta mais produzida no mundo naquele ano. Os cinco maiores produtores
(China, Espanha, EUA, França e Itália) participaram com 51,57% do total produzido.
Dos quatro itens constantes do Grupo II (figo, laranja, limão e melancia), a laranja teve,
em 2004, um dos maiores volumes, em toneladas, das frutas analisadas. Neste caso, o Brasil
aparece em posição extremamente privilegiada: tem a maior tonelagem mundial da fruta para o
ano de 2004, representando quase um terço (29,1%) da quantidade mundial produzida. No
entanto, uma parcela expressiva da safra destina-se à produção de suco.
O Grupo III é composto pelas frutas consideradas do clima temperado, tendo como
componentes a maçã, seu principal item, a pêra e o pêssego. Verifica-se nesse grupo a presença
de uma série de continentes especializados na produção dessas frutas. No entanto, é a Ásia,
através da China, que demonstra o grande potencial produtor, tendo alcançado 35,8% da
produção mundial de maçã, no ano de 2005. Verifica-se uma participação bastante discreta do
Brasil na lista dos principais produtores desse grupo.
91
2.5.3 Evolução das exportações de frutas no mundo
A evolução recente vem apontando para uma elevação expressiva dos volumes e dos
valores transacionados no mercado internacional de frutas. Entre 1990 e 2005, observou-se um
crescimento de 61% nas quantidades de frutas frescas exportadas e de 71% do valor em dólares
(taxa média de crescimento próxima de 5% ao ano). No período em análise, verificou-se um
movimento médio de US$ 17,8 bilhões anuais, alcançando em 2005 um valor US$ 21,98 bilhões,
das frutas analisadas. (Tabela 3).
92
Tabela 3: Valor das exportações dos principais países (US$ mil) – 2005
GRUPO I GRUPO II GRUPO III
PAÍS
ABACAXI
BANANA
MANGA
MELÃO
PAPAIA
UVA
FIGO
LARANJA
LIMÃO
MELANCIA
MAÇÃ
PÊRA
PÊSSEGO
TOTAL
POSIÇÃO
África do Sul
3.045
45
13.339
-
38
211.545
232.683
41.987
348
158.780
52.816
9.205
723.831
8
Alemanha
20.900
164.994
5.926
-
1.013
22.380
693
11.367
6.038
2.105
57.864
12.528
6.354
312.163
14
Argentina
-
-
38.777
79
24.505
145.180
45
91.006
161.947
6.849
468.387
9
Brasil
3.573
32.714
85.591
25.305
32.428
68.930
1.808
14.549
18.813
3.994
41.996
15
329.715
13
Chile
21
216
-
-
814.617
312
4.881
11.997
72
294.298
74.124
103.174
1.303.713
4
China
2.620
28.735
4.175
-
977
7.346
77
9.429
20
4.150
232.848
87.272
4.943
382.591
12
Colômbia
578
424.716
713
-
310
45
241
378
1.060
1
30
428.072
11
Equador
23.790
1.181.744
18.459
-
1.167
2
1
8
645
140
-
1.225.956
5
Egito
29
112
422
17
3.370
52
42.712
2.717
358
7
246
50.041
17
Espanha
10.079
28.293
6.417
256.018
578
166.246
4.220
1.056.005
355.741
186.842
43.534
93.642
522.119
2.729.733
1
EUA
60.558
217.742
-
79.940
15.810
592.743
390.42
9
97.205
64.714
404.512
119.933
133.949
2.177.535
2
Filipinas
42.668
362.970
50.850
-
2.412
40
76
3
77
122
-
-
459.219
10
França
84.562
105.682
19.487
56.455
1.333
23.421
1.504
23.392
14.599
7.245
679.246
31.493
147.166
1.195.585
6
Índia
485
2.
744
96.397
-
1.098
25.612
12.240
2.001
497
3.141
17
5
144.236
16
Indonésia
2.593
9
521
-
256
239
55
236
9
70
8
53
4.049
21
Irã
1
435
-
-
1.975
1.199
2.034
-
22.027
286
323
28.279
18
Itália
17.065
101.856
327
12.836
57
611.764
2.152
56.067
24.640
38.960
519.932
131.606
392.915
1.910.176
3
México
8.907
14.797
132.436
120.276
48.975
170.121
37
1.772
130.031
112.717
46
28
225
740.369
7
Paquistão
-
779
20.348
-
273
31
86
14
76
88
10
21.705
19
Tailândia
1.424
1.936
5.142
-
936
9
46
396
41
108
10.037
20
Turquia
10
117
-
-
3
58.676
12.284
63.758
85.340
8.050
10.966
7.554
27.384
274.143
15
TOTAL
282.878
2.670.552
460.238
551.252
107.407
2.818.131
23.491
1.945.638
940.698
430.442
2.560.611
773.285
1.354.908
14.919.533
MUNDO
924.268
5.255.298
615.277
712.591
178.168
3.441.912
42.100
2.711.962
1.062.622
591.305
3.749.816
1.279.760
1.417.428
21.982.507
%
31
51
75
77
60
82
56
72
89
73
68
60
96
68
Fonte: Montado a partir dos dados da FAOSTAT - Statistics Database (consultado em abr/2007)
93
Conforme estudo de Gayet (1999), grande parte do comércio mundial de frutas
restringe-se aos países do Hemisfério Norte, predominando as frutas de clima temperado.
Giram em torno de 95% as compras feitas por esses países de clima temperado, com hábitos
alimentares centrados nas frutas produzidas localmente. Entre as frutas mais transacionadas
internacionalmente, apenas banana e abacaxi, classificados como frutas não temperadas, têm
uma participação mais relevante no total do comércio internacional.
Nesta análise, pode-se perceber que, ao contrário do observado na produção, as
transações internacionais são controladas por países centrais. também uma tendência de
concentração das exportações em poucos países, conforme os dados da Tabela 3 demonstram.
Alguns países (que não constam na Tabela 3), como Bélgica-Luxemburgo e Holanda,
sobressaem-se como centros de distribuição para outros países. Nota-se que, de acordo com
dados da FAO, esses países não figuram como produtores de qualquer fruta mencionada neste
trabalho. No entanto, possuem uma posição bastante dinâmica em suas pautas de exportação.
Países de dimensões menores também constam da lista, como o Equador, ocupando
posições de destaque entre os maiores exportadores, mas com uma pauta de exportação
centrada em um único produto (banana). O Equador é o quarto maior produtor e o primeiro
exportador mundial do produto, com participação de 44,25% do total exportado no ano de
2005.
Ampliando os dados, verificamos que os seis maiores exportadores eram responsáveis
por mais de dois terços do total das frutas comercializadas internacionalmente em 2005, dos
quais, quatro são países desenvolvidos, com destaque para a Espanha, maior exportadora
mundial, representando 18,30% do total das exportações das frutas analisadas, Estados
Unidos (14,60%) e Itália (12,80%).
Torna-se possível compreender mais claramente o predomínio ainda largamente
majoritário das frutas de clima temperado e dos países centrais nas trocas internacionais, em
função também de determinadas características estruturais do mercado mundial, apontadas
por Gayet (1999). Segundo esse autor, o comércio de frutas é dominado pelos mercados de
proximidade, ou seja, aqueles cujas distâncias entre as regiões produtoras e consumidoras são
relativamente curtas, o que significa custos menores de transporte e armazenagem. Nessa
categoria, encaixam-se os exemplos das exportações espanholas para o restante da Europa, as
do México para os Estados Unidos e Canadá, do Chile e da Argentina para o Brasil.
Por outro lado, conforme descreve Faveret Filho (1999), o crescimento econômico
acentuado dos países desenvolvidos no Pós-Guerra, associado aos avanços importantes nas
áreas de transportes e armazenagem, criaram demanda por frutas de clima temperado ao longo
94
do ano todo. Assim, a partir dos anos 1960, países do Hemisfério Sul, como a África do Sul,
Nova Zelândia, Chile e Argentina, passaram a abastecer crescentemente os países do Norte,
durante suas entressafras, entre outubro/novembro e abril, diminuindo as chamadas janelas de
mercado e criando uma demanda de exportações de longo curso.
Tendo em vista tratarem-se de países objeto da nossa pesquisa, é importante verificar a
posição do Brasil e do Chile, no sentido de identificar a tímida inserção brasileira no mercado
mundial de frutas. A título de facilitar o entendimento dos dados constantes das Tabelas 2 e 3,
é apresentado na Tabela 4 um resumo da produção (em toneladas mil) e do valor exportado
(em US$ mil) dos dois países.
Tabela 4: Comparativo da performance entre Brasil e Chile -2005
País
Produção
(Ton. mil) %
Valor exportado
(US$ mil) %
Brasil
35.079
88,4
329.715
20,2
Chile
4.599
11,6
1.303.713
79,8
TOTAL
39.678 100 1.633.428 100
Fonte: Montado a partir dos dados da FAOSTAT - Statistics Database (consultado em abr/2007)
Verifica-se que, no total de frutas produzidas nos dois países no ano de 2005, o Brasil
participou com 88,4%, no entanto, este país exportou no mesmo ano (em US$) 79,8% do total
exportado.
Desta forma, o Brasil é caracterizado como um grande mercado consumidor de frutas,
absorvendo a quase totalidade de sua produção e figurando como um mercado dos itens do
Grupo III e da uva, disposta no Grupo I.
2.5.4 As tendências do mercado de frutas
Somando-se às questões mais quantitativas apontadas até este ponto, mister se faz
notar que o mercado de frutas tem passado por importantes mudanças nas suas configurações
comerciais, produtivas, institucionais e logísticas. De forma esquemática, o Diagrama 7
representa, de modo amplo, as principais forças e tendências que afetam e reconfiguram as
cadeias de frutas.
Conforme relatam Martinelli e Camargo (2002), embora as forças que ensejam essas
mudanças estejam interrelacionadas, percebe-se que é o processo de globalização que provoca
os maiores impactos nesse tipo de estrutura. Segundo os autores, com a globalização, as
empresas presentes na atividade de frutas frescas sejam produtoras stricto sensu, ou redes
95
comerciais e varejistas passam a utilizar, crescentemente, o conjunto de seus instrumentos e
recursos para atuarem globalmente na produção, nas políticas de compra e venda, nos
recursos de estocagem e transporte nas principais regiões produtoras, garantindo com isso um
produto mais adequado aos quesitos de saúde e qualidade exigidos nos mercados
internacionais, e numa escala comercial adequada, agregar e construir vantagens produtivas e
comerciais.
Essas vantagens podem ser, por exemplo, originadas das estratégias de
posicionamento, ensejando a combinação de diferentes períodos de produção das variedades
das frutas (clima tropical e temperado, grosso modo), com a possível sazonalidade de preços
no mercado internacional. Ao comandar geograficamente/espacialmente os fluxos
econômicos, logísticos e comerciais, possibilita às empresas o acúmulo de maior parte da
agregação de valor ao longo da cadeia e restringe as possibilidades de inserção econômica
mais efetiva das regiões produtoras. Algumas delas podem se limitar a funções de simples
“locais de coletas de frutas”, no âmbito da configuração do comércio global (MARTINELLI e
CAMARGO, 2002).
96
Diagrama 7: Principais forças das cadeias produtivas de frutas
Fonte:
Martinelli e Camargo (2002)
No plano das regulamentações
50
, no que diz respeito aos aspectos sanitários e
fitossanitários da produção, importação, distribuição e comércio de frutas, percebe-se o maior
rigor às exigências desses quesitos. No que diz respeito ao plano externo, as barreiras
tarifárias e não tarifárias utilizadas pelos países centrais continuam representando uma
limitação ao crescimento das exportações de frutas, principalmente dos países não
desenvolvidos. Uma rie de artifícios continua a ser usada pelos países desenvolvidos para
levantar barreiras e dificultar o acesso a esses mercados, como medidas antidumping, licenças
prévias de importação, de salvaguardas, preferências comerciais, quotas etc.
Como exemplo, poderíamos citar a proibição americana da exportação de certos
produtos brasileiros, como a laranja, em razão da incidência da mosca mediterrânea ou do
Mercados locais: maiores
quesitos sanitários e fito-
sanitários
Canais de vendas:
concentração nas redes
varejistas
Globalização:
acirramento da
concorrência
Comércio internacional:
barreiras tarifárias e não
tarifárias
Tecnologia: novas
variedades de frutas
Transporte e logística:
maior rigor nos prazos e
condições
Empresas de frutas:
concentração e maior
seletividade e rigor
contratual
Produção/Comércio
de Frutas
97
cancro cítrico, assim como o figo, abacate, caqui, mamão, carambola e melão. O Canadá, por
sua vez, proíbe a entrada de frutas e vegetais não embalados. Em países como Japão e Estados
Unidos, além das autorizações de importação serem um processo custoso e demorado, as
frutas e vegetais ainda passam por uma inspeção rigorosa tanto nos países exportadores, como
nos portos de entrada (ACCARINI, 2000).
No plano institucional e contratual entre as empresas de frutas e seus fornecedores,
constata-se a elevação das exigências das grandes redes varejistas de frutas no que tange ao
aspecto produtivo; ou seja, nas especificações da produção da fruta em relação aos insumos
tecnológicos, químicos, como também nas condições do comércio internacional, isto é,
exigências quanto ao tipo de armazenagem, transporte etc.
Nota-se também, resumindo Martinelli e Camargo (2002), um processo de seleção
crescente das redes varejistas, em relação aos seus fornecedores, tornando-os aptos a
participar da nova dinâmica comercial e logística apenas se puderem cumprir as exigências
das grandes redes no que diz respeito: a) à oferta adequada ao longo do ano de diversos tipos
de frutas e numa escala de aparência, qualidade, e sabor padronizada; b) à oferta de serviços
adequados de empacotamento, câmaras de amadurecimento, diferenciação de embalagens etc;
c) à capacidade de gerir sistemas de transportes e de logística adequados às necessidades das
políticas de estocagem e de pedidos das redes varejistas.
Uma forma mais difundida de coordenação é a Produção Integrada de Frutas (PIF),
cujo objetivo principal é o monitoramento da fruta desde a sua produção até o final da cadeia
que é a rede de varejo. Essa prática busca a associação entre a qualidade do fruto e os ganhos
econômicos e intangíveis (marca e valores como preocupação com seus produtos e cliente,
segurança etc) que isso pode proporcionar para a empresa que comanda essa coordenação.
Ocorre também a utilização de contratos entre os principais agentes da cadeia.
Embora mais simples que a PIF, os contratos em geral visam integrar produtores,
atacadistas/distribuidores e redes de varejo às novas regras mercadológicas, aumentando a
eficiência técnica geral da cadeia e reduzindo os graus de risco que cada agente assume e/ou a
que está sujeito.
50
Trataremos mais especificamente sobre este tema no tópico 2.6 abaixo (Evolução institucional do comércio
internacional de frutas).
98
2.5.5 As especificidades da organização da cadeia de fruta
É importante resgatar o estudo realizado pelo RABOBANK (1997), denominado The
world of fresh fruit trade, cujo conteúdo aborda com muita propriedade o fato da cadeia de
frutas apresentar características e especificidades, quando comparada com outras cadeias das
atividades agroindustriais. O referido estudo destaca alguns aspectos diferenciadores
importantes que podem tanto ser fontes de sinergias e de competitividade dessa atividade,
como podem promover vazamentos de esforços econômicos. Resumidamente, os aspectos
destacados são:
A presença de um grande número de produtores baseados no trabalho familiar e com alta
relação trabalho/capital;
Existência de associações de produtores em torno de cooperativas;
Por serem produtos altamente perecíveis e o desenvolvimento tecnológico em
estocagem não ser amplamente difundido e eficiente o fator tempo, o empacotamento e
a logística serem decisivos nos fluxos econômicos;
Relacionado ao anterior, a oferta de frutas obedece a um critério sazonal (de origem de
clima temperado, semitemperado, tropical) entre o hemisfério Norte e o Sul, fator que
dificulta a formação de preços estáveis ao longo do ano;
Dada a amplitude do comércio de frutas, em termos de países, existe um grande número
de países exportadores, importadores, bem como da quantidade de empresas envolvidas
no comércio internacional;
Existência de um amplo leque de tipo de mercado final (desde quitandas até grandes redes
varejistas);
Diante da impossibilidade de agregar valor ao longo da cadeia, as marcas comerciais de
frutas são ainda pouco difundidas e de baixo retorno em termos de fidelidade do
consumidor. Isto permite que um comprador alterne o fornecedor com maior facilidade. A
fidelidade do consumidor é muito mais em função do serviço (sabor, qualidade, confiança
e aparência do produto etc) do que da marca comercial.
A partir desses aspectos, a cadeia de frutas pode ser analisada partindo-se de três
blocos de agentes: i) o bloco de agentes produtores, que identifica os diferentes tipos de
produção, considerando as assimetrias tecnológicas e produtivas (tais como a escala de
produção e o nível de incorporação de insumos modernos), bem como os aspectos
99
organizacionais e comerciais, isto é, as formas diferenciadas com que se relacionam com o
capital comercial na venda de seus produtos; ii) o bloco dos agentes de intermediação
(atacadistas, brokers, associações comerciais de frutas etc), que identifica as características
organizacionais e a lógica da intermediação comercial no mercado de frutas, tanto no mercado
doméstico como no internacional; e iii) o bloco dos agentes do varejo, reunindo as principais
formas de mercado final de frutas.
O referido estudo ainda considera a existência de dois outros aspectos
complementares para compreensão organizacional da cadeia de frutas: o primeiro diz respeito
às múltiplas etapas para a elaboração das frutas na pós-colheita, que depende dos recursos dos
produtores e da escala de produção. Quanto maior o domínio e a internalização dessas
atividades, maior é a retenção do valor agregado nas mãos dos produtores. O segundo refere-
se aos determinantes produtivos, comerciais e logísticos do tipo de mercado relevante:
mercado interno (doméstico) ou mercado internacional. Neste aspecto, é difícil separar esses
dois tipos de organização, pois os papéis e os relacionamentos comerciais entre os agentes
podem se confundir, dependendo da situação e das oportunidades do mercado de frutas.
Nesse sentido, é importante fazer uma análise separada entre a dinâmica da cadeia de
frutas no mercado doméstico e no mercado internacional.
2.5.6 A dinâmica da cadeia de frutas no mercado doméstico
51
O Diagrama 8 mostra o fluxo representado no mercado doméstico, tendo como
referência o caso brasileiro, cuja produção é agrupada em quatro categorias diferentes: i) os
pequenos produtores que não são integrados, com baixa especialização cuja oferta do produto
resulta de sobras do autoconsumo; ii) pequenos produtores que apresentam integração e que
são organizados institucionalmente em cooperativas ou associações de produtores,
objetivando obter escala, tendo em vista a incapacidade de produção individualmente. Nesse
caso, essas instituições se encarregam da tarefa de padronizar, selecionar e alcançar as
exigências mercadológicas. Aliado a isso, juntam forças no enfrentamento das negociações e
imposições contratuais das grandes redes de varejo, tanto nacionais quanto internacionais; iii)
grandes produtores com alto grau de especialização, em termos de quesitos comerciais e
técnicos, apresentando, inclusive, formas de consolidação de marcas próprias para suas frutas.
51
O aporte teórico que fundamentação para esta análise (tanto no mercado doméstico, quanto no internacional) está em Gareffi et al
(1994), cujo ponto central constitui na identificação das funções existentes, das competências mais relevantes de cada agente, e dos centros
de comando na cadeia. Essa metodologia também deu subsídios para os trabalhos do RABOBANK (1997) e Martinelli & Camargo (2002),
aos quais nos reportamos nessa análise.
100
Nesta categoria encontram-se grandes produtores integrados às associações/cooperativas.
Ressalte-se que esta fase responde pelas relações comerciais e contratuais diretamente com os
compradores que, geralmente, são grandes atacadistas internacionais. Em geral, as marcas
comerciais das frutas são de propriedade desses atacadistas; e iv) a grande produção
verticalizada, representando as grandes redes de varejo que produzem frutas para suprir suas
necessidades comerciais. Um exemplo desse procedimento seria a produção de uvas da rede
francesa Carrefour no Nordeste brasileiro (Pólo de Petrolina/Juazeiro), para abastecimento de
suas lojas nacionais e internacionais com a marca e o selo de origem Carrefour
52
.
É importante a complementação feita por Martinelli e Camargo (2002), identificando
um segundo bloco de agentes intermediários e atacadistas, que gerou o Diagrama 8. Segundo
esses autores, os agentes são identificados da seguinte maneira:
a) os intermediários e atacadistas que se relacionam com os pequenos produtores não
especializados. Os agentes trabalham em geral com frutas menos selecionadas em termos
de tamanho, aparência etc, cujo destino principal são os mercados menos exigentes, tais
como: feiras-livres, quitandas, sacolões, varejões, e ao denominado mercado institucional,
constituído da demanda de hospitais, forças armadas, universidades, empresas etc;
b) os agentes e intermediários atacadistas, cujas relações comerciais, a montante, mais
importantes são com os produtores de frutas (pequenos e grandes) especializados e, a
jusante, com as redes de varejo e com os canais do mercado internacional, cujas
exigências em termos de qualidade e condições mercadológicas e logísticas são maiores,
e, por isso mesmo, é freqüente a inspeção direta de empresas importadoras.
No terceiro bloco, do Diagrama 8, podem ser identificados três canais de
comercialização: o canal de varejo e do mercado institucional, que são menos exigentes em
termos de qualidade e seleção de frutas; o canal das redes de super e hipermercados; e o canal
do mercado internacional. Os dois últimos bastante exigentes nos aspectos e quesitos
mercadológicos.
Quanto aos pólos de rivalidade, ou seja, nos elos comerciais e produtivos em que
ocorre a disputa pela retenção de maior parcela relativa ao valor agregado entre os diferentes
agentes, verifica-se essa disputa com maior intensidade, por um lado, nas relações comerciais
entre as redes de super e hipermercados e seus principais fornecedores (os grandes
52
Sobre este assunto, citamos o importante trabalho de Wilkinson (2003), quando o autor, referindo-se à
pequena produção e sua relação com os sistemas de produção, faz uma análise sobre a hegemonia e a revolução
provocada pelos supermercados a partir da reestruturação dos sistemas de distribuição, chamando a atenção para
a redefinição da dinâmica do sistema agroalimentar e da participação de todos os outros atores na cadeia, a partir
do varejo.
101
atacadistas/distribuidores e as associações dos produtores). Por outro lado, entre essas
associações de produtores e os grandes atacadistas/distribuidores, que podem por sua vez estar
numa posição subordinada, seja em relação às grandes redes varejistas, ou mesmo em relação
aos agentes importadores do mercado internacional (MARTINELLI E CAMARGO, 2002).
102
Diagrama 8: Dinâmica da cadeia de frutas no mercado doméstico
Intermediários/Pacings
houses
(sem marca)
Atacadista
(sem marca)
Varejo
Mercado
Institucional
Redes
Super/Hiper
Mercados
Pequenos
produtores
Pequenos
produtores
interligados
Grandes
produtores
especializados
(com e sem
Produção
verticalizada
Cooperativa/associ
ação
(
com e sem marca
)
Grandes
atacadistas
(com marcas)
Mercado
internacional
Rivalidade comercial
Sentido do poder comercial principal
Relações comerciais neutras
Fonte: Adaptado de RABOBANK (1997) e Martinelli & Camargo (2002)
103
2.5.7 A dinâmica da cadeia de frutas no mercado internacional
No mercado internacional de frutas a estrutura organizacional apresenta algumas
diferenças significativas, quando comparada ao mercado doméstico. Mesmo sendo composta
pelos mesmos três blocos básicos de agentes econômicos existentes no mercado doméstico
(produção, intermediários e canais de comercialização final), seus poderes comerciais mudam,
configurando novas relações e quesitos comerciais, e assim uma nova dinâmica nas etapas de
agregação e retenção de valor adicionado. A ntese pode ser verificada no Diagrama 9, que
demonstra o fluxo da cadeia de fruta no mercado internacional.
Primeiramente, nota-se uma ausência dos pequenos produtores não-integrados. O fato
é que, no mercado internacional, não existe espaço para produtores de frutas não
especializados e incapazes de ofertar produtos na escala, na freqüência de safras requeridas e
com todas as especificações associadas ao padrão de consumo de frutas do mercado
consumidor dos países desenvolvidos. A importância desse ponto é que denota uma
característica forte da produção de frutas: o caráter subordinado dos produtores em relação a
essas exigências dos mercados consumidores. Todos os quesitos mercadológicos e os da
própria fruta são impostos aos produtores (pequenos ou grandes) sob a forma contratual e
vistoriado in loco por agentes das empresas ou órgãos do governo dos países importadores.
Este fato enseja a prática muito freqüente da proibição de importações de alguns tipos de
frutas por razões não-tarifárias.
Nesse sentido, na análise do RABOBANK (1997) e mais tarde refinada por Martinelli
e Camargo (2002), são identificados três tipos de estruturas produtivas de frutas frescas mais
importantes (desconsiderando a banana): os pequenos produtores integrados e especializados,
as grandes produções especializadas e a estrutura da produção verticalizada. Nesta última, é
verificado algum tipo de investimento das grandes redes de varejo, no entanto, parece
consenso que esse tipo de estrutura produtiva é importante somente para as empresas
multinacionais de frutas, cujo core business é a produção de bananas, que é um mercado
diferenciado por diversas características.
No estudo evidencia-se que a produção dos pequenos produtores integrados somente
pode chegar ao mercado internacional em duas etapas. Primeiramente sua produção deve
passar pela cooperativa/associação de produtores ou pelo atacadista exportador, que fazem as
tarefas de gerar escala de produção e a realização de serviços de packing house (lavagem,
seleção, empacotamento, transporte e logística). Essas condições são fundamentais para o
104
acesso à segunda etapa, que ocorre nas relações comerciais com os atacadistas/distribuidores
importadores nos mercados internacionais.
Quando as vendas internacionais são realizadas pelos atacadistas exportadores, em
geral as frutas são exportadas sem marcas comerciais, ficando essa tarefa para os
importadores, que, por sua vez, podem tanto colocar suas marcas (nesse caso, os agentes mais
importantes são as empresas distribuidoras preocupadas em divulgar suas marcas comerciais
junto ao público), ou não colocar marcas (produtos destinados ao mercado em que a marca
comercial não tem relevância). Quando as exportações são realizadas pela cooperativa de
produtores, existe uma preocupação maior com a difusão e consolidação de marcas
comerciais, junto aos distribuidores e consumidores finais, no sentido de maior identificação
com a origem comum das frutas: podem ser citadas como exemplos as marcas Brazilian
Grapes e GMV para uvas e mangas da Valexport (Associação dos Produtores e Exportadores
de Hortigranjeiros e Derivados do Vale do São Francisco).
No caso dos grandes produtores especializados existe uma diferença básica em
relação às suas práticas no mercado doméstico. Dadas as maiores facilidades comerciais e as
menores exigências mercadológicas, muitas dessas empresas não se aparelham em packing
house e se servem dos serviços da cooperativa para seus negócios. No comércio internacional,
não se permite essa lacuna produtiva dos grandes produtores e exportadores de frutas. As
empresas devem possuir seus próprios serviços, bem como estar capacitadas
administrativamente para realizar suas vendas internacionais diretamente com os compradores
no exterior. Com isso, podem saltar a etapa de intermediação doméstica, o que lhes permite
apropriar parte do valor agregado correspondente.
Em relação às redes varejistas, embora elas possam eventualmente importar frutas
diretamente de grandes produtores, não é a prática mais comum, uma vez que é uma tarefa
difícil e dispendiosa encontrar produtores individuais ofertando produtos em escala, em
qualidade, e em prazos e condições de entrega rigorosamente cumpridas, dada a sazonalidade
e perecibilidade dos produtos. Assim, é prática comum a venda sob consignação por
intermédio de brokers que abastecem os mercados internacionais. A venda direta, por
exemplo, para supermercados europeus e americanos é praticamente impossível para um
produtor isolado.
105
Diagrama 9: Dinâmica da cadeia de frutas no mercado internacional
Verifica-se que o pólo de rivalidade mais importante ocorre nas relações comerciais
entre as grandes redes e seus fornecedores locais. Esta rivalidade manifesta-se principalmente
nos aspectos econômicos e comerciais mais comuns, tais como a busca de vantagens na forma
de fixação dos preços, nos prazos e nas condições de pagamento etc.
No que diz respeito às relações comerciais entre os grandes atacadistas e as empresas
multinacionais com os produtores-exportadores de frutas de economias periféricas, sem uma
sólida estrutura produtiva-comercial e logística, pode-se afirmar que a marca comum é a
assimetria de poder. Em geral, esses últimos são “recebedores de condições” impostas pelos
mercadores internacionais. Na gica de comando da cadeia, tornam-se agentes passivos e
subordinados aos fluxos de poder comercial estabelecido pelos agentes mais importantes, não
Pequenos
Produtores
integrados
Grandes produtores
Especializados
(com e sem marcas)
Produção
verticalizada
Atacadista
Exportad
or
(sem marcas)
Cooperativa
exportadora
(com e sem
marcas)
Atacadista
importador
(sem marcas)
Grande
atacadista
importador
(com marcas)
Empresas
multinacionais
Varejo
Mercado
institucion
al
Redes
Super/Hip
er
Mercados
(Marcas
privadas)
106
agregando força econômica e político-institucional suficientes para dar maior soberania na
disputa do valor agregado ao longo da cadeia produtiva; são, portanto, tomadores de preços e
de outras condições produtivas, tecnológicas e comerciais, impostos por via contratual
(MARTINELLI e CAMARGO, 2002).
Diante do apresentado, evidencia-se que a competitividade do segmento de frutas,
sopesando o fato de ser mercadoria perecível, exige a capacidade de criar e manter estruturas
de produção e logística que permitam satisfazer os pré-requisitos de um mercado
internacional extremamente seletivo. Assim, a conquista de novos mercados implica a
existência de estruturas que tenham uma grande eficiência operacional, que possibilitem
garantir a manutenção da regularidade e a busca pela qualidade de produtos com
características compatíveis com a demanda e preferência dos consumidores. Para tanto, é
requerido uma montagem de logística sofisticada de tratamento pós-colheita, de transporte e
de distribuição, além da produção de frutas com determinados padrões de qualidade, como
tamanho, cor, aparência e uniformidade (NEVES, 1997).
No Brasil, dada a grande importância do mercado doméstico, verifica-se uma baixa
especialização do sistema frutícola. Na análise de Faveret Filho (1999), o fato é que dispomos
de um mercado interno relativamente expressivo, com baixo grau de exigência, em função do
reduzido poder aquisitivo de boa parte dos consumidores locais e marcado por um alto grau
de informalidade, fazendo com que os esforços produtivos, comerciais e logísticos tenham
pouca sinergia ao longo da cadeia. Os mercados mais sofisticados, representados pelas frutas
de alta qualidade e diferenciadas, ainda são poucos, de pequena escala e geograficamente
concentrados.
Sendo assim, a busca de competitividade e eficiência do sistema frutícola deve ser
pensada como um todo, de forma a complementar e integrar dinamicamente os aspectos
relevantes aos mercados domésticos e internacionais, gerando sinergias produtivas,
comerciais e logística. Ou seja, o País necessita adotar uma política diferente daquela centrada
no simples aumento das exportações, que não evita o poder de comando dos grandes agentes
internacionais nas relações produtivas e comerciais. Para evitar a posição subordinada no
plano internacional, é cada vez mais relevante gerar políticas públicas no sentido de centrar
esforços (financiamento, produção, marketing, logística e comercialização) visando ao
posicionamento soberano nos principais elos da cadeia de frutas.
107
2.6 Evolução institucional do comércio internacional de frutas
O comércio internacional é uma das atividades mais dinâmicas que se desenvolve na
economia da maioria dos países. Após a 2ª Guerra Mundial, sob a tutela americana, o
comércio exterior passou a ser informalmente organizado pelo GATT, que foi substituído
desde 1994 pela OMC. A Organização tem poderes para coordenar o comércio e aplicar
sanções aos países membros que exerçam práticas desleais no intercâmbio internacional. O
Brasil ratificou o tratado de criação da Organização e desde 1994 está submetido às suas
recomendações e decisões, decorrentes das negociações multilaterais iniciadas com a Rodada
do Uruguai em 1986. A OMC não assume o papel de “polícia” do comércio internacional,
regulando o problema da harmonização de políticas e promovendo a liberalização das trocas
entre os países, mas também é uma garantia institucional que os países economicamente mais
vulneráveis e dependentes têm para se proteger de práticas desleais ou medidas protecionistas
que alguns países vêm aplicando, sobretudo no setor agrícola.
A Rodada Uruguai, além de ter representado negociação das mais complexas,
envolveu setores do comércio mundial jamais discutidos antes, como serviços, propriedade
intelectual, agricultura etc. Enfocou ainda, com grandes resultados, um setor que interessava à
grande maioria dos países em desenvolvimento – os produtos tropicais. Porém, com relação às
bebidas tropicais (chá, cacau e café), especiarias, flores e plantas, algumas oleaginosas e óleos
vegetais (rícino, palma, coco etc.), tabaco e derivados, arroz, mandioca e outras féculas
tropicais, madeira tropical e derivados, juta e outras fibras, e frutas como banana, abacaxi,
goiaba, manga etc., os países industrializados ainda apresentam certa resistência em ampliar
concessões. Além disso, mesmo o estabelecimento de quais frutas e legumes são tropicais e
quais são de clima temperado é discutível, sobretudo quando se trata dos produtos
mediterrâneos como pêssego, abricó e frutas cítricas.
De fato, o que caracteriza ou qualifica o comércio internacional como livre não é
apenas o nível de proteção tarifária expressa por um maior ou menor nível de alíquotas
comerciais dos países. Sem dúvida, as alíquotas representam o instrumento mais eficaz de
restrição ou ampliação do comércio entre países, e os governos as enxergam como o
instrumento de afeito quase imediato de retração ou aumento de seu comércio conforme a
necessidade e profundidade dos problemas na balança comercial. Esta prática era condenada
pelo GATT, que vinha acompanhando e recriminando, mesmo que sem poderes de imposição,
seu uso indiscriminado, sustentando uma visão livre-cambista e promovendo,
consequentemente, a redução do protecionismo. A OMC, pela sua própria característica
108
formal institucionalizada, é que assume o papel exercido pelo GATT, com poderes de sanção
para condenar as nações que praticam atividades inibidoras das trocas mundiais.
Assim, dentro desse panorama de aplicação de instrumentos que reduzem o comércio,
as barreiras não-tarifárias (BNT) vão desde a imposição de impostos variáveis, que capacita
um país a evitar que a importação ameace o nível de seus preços internos, às restrições
quantitativas, usadas por um grande elenco de nações, aos subsídios à exportação, política
muito conhecida pelo Brasil na década de 1970, e até mesmo às exigências fitossanitárias, que
se tornaram a arma mais eficaz de obstrução dos mercados dos países desenvolvidos aos
países do Hemisfério Sul.
As BNT são difíceis de interpretar, pois podem ter um caráter genuinamente não-
discriminatório e ser usadas por um país em nome de uma “defesa dos interesses de seus
consumidores”. Repousam aqui os mecanismos que os países desenvolvidos têm utilizado
para impedir a exportação de várias categorias de produtos dos países periféricos e será aqui
que estes deverão encontrar uma solução, pela reestruturação de seu setor exportador ou por
recursos junto à OMC, ou por meio de ambos. No que se refere aos produtos tropicais, as
restrições aplicadas podem ser das mais variadas e envolvem desde a questão ambiental,com
o chamado dumping ecológico, à questão social, com o dumping social, e até mesmo
especificações mais técnicas que estão ao alcance dos produtores, como a questão da
fitossanidade
53
.
2.6.1 O sistema mundial de comércio e os produtos tropicais
As discussões nos foros multilaterais de comércio, sobre produtos tropicais, têm
apresentado uma certa continuidade. Desde a Rodada de Tóquio (1973-1979), o Comitê de
Comércio e Desenvolvimento vem lidando com pedidos e concessões sobre alguns casos, na
sua maioria relacionados a itens como especiarias, juta, castanhas e frutas tropicais. Essas
concessões foram feitas ao longo de três rodadas. Ainda assim, a despeito dos sucessivos
ganhos neste setor, segundo estudos da UNCTAD, num mercado de dez países
industrializados e num espectro de 27 produtos tropicais, 12 deles não sofreram qualquer
mudança nas tarifas de importação, cinco obtiveram redução e dez tiveram suas alíquotas
53
Grosso modo, o dumping é uma prática de comércio condenada que representa a venda em um mercado estrangeiro de um produto a preço
abaixo de seu valor justo, preço considerado geralmente como menor do que o que se cobra pelo produto dentro do país exportador.
Fazendo-se uma analogia ao termo “social”, entender-se-ia que os países em desenvolvimento se tornam competitivos apenas porque seus
produtos têm preços artificialmente mais baixos pela exploração de sua mão-de-obra barata decorrente da distribuição de renda de seu
país. A mesma coisa para o dumping ecológico, que implica na exportação de bens agrícolas ou até industrializados à custa de desmatamento
ou agressão à natureza.
109
aumentadas, onde encontramos as frutas semi-processadas e processadas. O estudo conclui
que, de maneira geral, à medida que um produto avança no seu estágio de processamento, o
protecionismo nas fronteiras aumenta.
Apesar de alguns ganhos relativos e de atividade comercial dinâmica com o mundo, os
países em desenvolvimento sempre tiveram dificuldades em vender seus produtos aos países
industrializados. Além de estes exercerem o comércio mais intensamente entre si, há o
problema da deterioração dos termos de intercâmbio, que está intimamente ligado à
elasticidade da demanda dos produtos primários. A Cláusula da Nação-Mais-Favorecida do
GATT coloca todos os países, pequenos, grandes, industrializados ou não, em de
igualdade. Consequentemente, todos estão obrigados a conceder as mesmas vantagens dadas a
um país para todos os outros, sem discriminação. A idéia é perfeita e seria mais se todos os
países gozassem das mesmas condições, o que não é o caso daqueles que têm suas
exportações dependentes do setor primário. Estes não só vêm sofrendo uma retração de
mercado, mas concorrem também com os dos países desenvolvidos que lançam bens
primários no mercado mundial com preços subsidiados
54
.
Portanto, os países periféricos buscaram auxílio e apoio à sua condição e, após muita
negociação, criou-se o Sistema Geral de Preferências (SGP), no âmbito da UNCTAD. É um
mecanismo através do qual os países em desenvolvimento gozam de preferência tarifária e/ou
quotas para importação a tarifa zero, junto aos mercados de países industrializados, quando se
trata de exportação de um grande número de produtos semi-manufaturados ou manufaturados.
Neste esquema preferencial os produtos tropicais frescos têm pouca ou quase nenhuma
aplicação, com exceção daqueles que sofrem agregação de valor num processo agroindustrial.
Ainda nos acertos preferenciais que limitam o escopo para a liberalização do comércio
dos produtos tropicais, tem-se o Acordo de Cotonu
55
, estabelecido entre a União Européia e
os países da África, Caribe e Pacífico (Países ACP) que provêm assistência financeira e
técnica a seus membros, bem como preferências tarifárias para muitos de seus produtos nos
mercados europeus. Os países ACP são, na sua maioria, ex-colônias, aos quais é concedido
54
Referimo-nos especificamente à Política Agrícola Comum da União Européia que subsidia não apenas a produção agrícola nas suas
fronteiras, mas coloca seus excedentes a preços artificialmente mais baixos no mercado internacional em nome da manutenção do nível de
renda de sua população rural. Esta política foi o maior foco de conflito entre os principais países produtores e exportadores de bens agrícolas
(formalizado no âmbito do GATT pelo Grupo Cairns, do qual fazia parte o Brasil) e a União Européia durante a Rodada do Uruguai e quase
provocou um fracasso nos mais de seis anos de negociações.
55
O Acordo de Cotonu, assinado em 23 de Junho de 2000 em Cotonu, no Benim, por um período de 20 anos, tem por objetivo criar um
novo quadro para a cooperação entre os membros do grupo de Estados da África, Caribe e do Pacífico (ACP) e a Comunidade Européia. O
Acordo de Parceria constitui uma nova fase na cooperação entre os países ACP e a União Européia, iniciada com a assinatura da primeira
convenção de cooperação (Convenção de Yaoundé) em 1964 e prosseguida com as quatro Convenções de Lomé, tendo a vigência de última
vencido em 29 de Fevereiro de 2000.
110
quase que um acesso livre de impostos, ou sua redução significativa, para os produtos
sustentados pela Política Agrícola Comum da União Européia.
Naturalmente, esses países concorrem, em muito, com as frutas tropicais oriundas do
Brasil e não têm qualquer interesse que a União Européia liberalize seus mercados, tanto no
nível da OMC, como junto à UNCTAD. Se a União Européia estender esses benefícios a
todos os países, os contemplados pelo Acordo de Cotonu perderiam as grandes vantagens que
gozam naquele mercado.
Porém, no que se refere ao Brasil, o SGP pouco afeta o setor exportador de frutas
frescas, que são, na sua maioria, exportadas in natura, o que consequentemente não se
enquadra nos produtos manufaturados ou semi-manufaturados do Sistema.
Outra questão importante, sopesadas as questões concernentes à proteção da indústria
nacional, são os preços dos insumos importados comumente utilizados na atividade frutícola,
devido às altas taxas de impostos de importação. Considerando-se os países do Hemisfério
Sul, o Brasil possui os níveis mais elevados de proteção, conforme dados da Tabela 5.
Tabela 5: Taxação na entrada dos principais insumos e equipamentos (%) - 2007
Item Argentina Austrália Chile Brasil N. Zelândia África do Sul
Maquinaria
Tratores 13,0
5,0
7,0
35,0
1,7
41,0
Outros equipamentos (média) 14,0
3,8
7,0
18,0
0,0
2,5
Fertilizantes
Uréia 9,0
0,0
7,0
9,0
0,0
0,0
Sulfato de amônia 7,0
0,0
7,0
5,0
0,0
0,0
Nitrato de amônia 3,0
0,0
7,0
3,0
0,0
0,0
Mescla de uréia 7,0
0,0
7,0
7,0
0,0
0,0
Super-fosfatos 9,0
0,0
7,0
9,0
0,0
0,0
Sulfato de potássio 3,0
0,0
7,0
3,0
0,0
0,0
Inseticidas
16,3
2,5
7,0
16,3
0,0
0,0
Fungicidas
16,1
5,0
7.0
16,1
0,0
5,0
Herbicidas
15,5
5,0
7,0
15,6
0,0
9,4
Desinfetantes
15,5
5,0
7,0
15,5
0,0
8,0
Fonte: UNCTAD (2007)
111
2.6.2 Impactos das barreiras internacionais sobre a fruticultura
Tendo em vista a exigüidade de tempo, no sentido de pesquisar os impactos das
barreiras comerciais tarifárias, quantitativas e sanitárias sobre os dois países, uma vez que as
análises dessa natureza requerem constante atualização, nos dedicaremos apenas ao caso
brasileiro, visto que tais barreiras têm repercutido diretamente na competitividade e inserção
de frutas de mesa brasileiras no mercado internacional. Dessa forma, boa parte do fraco
desempenho exportador de fruta brasileiro é atribuído a tais expedientes que dificultam
sobremaneira a melhor inserção do Brasil nesse cenário.
Apresentaremos um breve levantamento sobre as barreiras tarifárias e não-tarifárias
aplicadas na exportação brasileira de frutas em três importantes mercados externos: Canadá,
Estados Unidos e União Européia. As informações foram colhidas junto ao Departamento de
Promoção Comercial do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, bem como nas
representações diplomáticas no Brasil dos países considerados. Outra fonte importante foi o
documento sobre barreiras externas às exportações brasileiras elaborado pela Funcex.
A análise será processada por país individualmente, dividida em três partes: i) uma
breve apreciação das exportações brasileiras (de acordo com a pauta, segundo dados da
SECEX/MDIC- Alice web - para cada país, limitando-se aos produtos constantes do capítulo
08 (frutas) da Nomenclatura Comum do Mercosul/Sistema Harmonizado (SH); ii) tratamento
tarifário dispensado; e iii) medidas não-tarifárias que restringem as exportações.
Conforme relatado pela Funcex (2006), os estudos sobre barreiras à exportação,
principalmente as não-tarifárias, requerem monitoramento quase que constante das decisões
nacionais e das condições de implementação em diversas áreas, dada a multiplicidade de
formas que tais barreiras podem assumir. Assim, a análise oferece um panorama inicial da
condição de acesso das frutas brasileiras no mercado selecionado.
A inserção da fruta brasileira no mercado internacional enfrenta desafio tanto de
barreiras tarifárias - tendo em vista o amplo espectro tarifário que é aplicado e a imposição de
alíquotas internas que, mesmo não sendo discriminatórias, incidem nos preços e na
competitividade dos produtos como não-tarifárias, principalmente a crescente exigência de
ordem fitossanitária nos mercados ora em estudo. Em geral, as exportações brasileiras de
frutas são concentradas em um ou dois produtos por país, com exceção da União Européia e
Argentina (mesmo nesses casos, a diversidade ocorre em veis quantitativos reduzidos de
cada produto).
112
O estudo permite observar a diversidade quanto ao tratamento tarifário no conjunto
dos países considerados, pela tarificação de medidas não-tarifárias acordada na OMC. Os
efeitos, contudo, são diluídos pela concessão de tratamento preferencial por meio do Sistema
Geral de Preferências ou de acordos de integração comercial regional. Por outro lado, a
imposição de tarifas específicas afeta precisamente os mercados mais importantes para as
exportações brasileiras, principalmente os Estados Unidos e a União Européia.
Quanto às restrições não-tarifárias, observa-se que algumas formas tradicionais, como
as quotas, estão decrescendo em sua incidência, refletindo uma gradual implementação de
compromissos acordados na OMC. A licença prévia de importação também está deixando de
ser uma medida amplamente utilizada à medida que se consolida o regime de livre importação
na maioria dos países. No entanto, os Estados Unidos continuam aplicando tal mecanismo
com grande freqüência. Medidas de salvaguarda e antidumping, apesar de pouco difundidas,
são utilizadas, sendo os Estados Unidos e a União Européia os principais perpetrantes desses
recursos, o que representa potencial ameaça para as exportações brasileiras naqueles
mercados.
Outras exigências que se fortalecem são as de caráter fitossanitário, constituindo-se
um dos mais importantes desafios para as exportações brasileiras de frutas frescas. Nesse
sentido, os produtos são sujeitos ao regime de quarentena, inspeção na origem e destino,
certificação sanitária e de qualidade, tratamento especial, além de outras exigências relativas à
embalagem e características específicas dos produtos.
Análise dos maiores mercados compradores/consumidores
Canadá
As exportações brasileiras de frutas para o Canadá registraram em 2005 e 2006 US$
21,0 milhões e US$ 18,4 milhões, respectivamente, com forte concentração em castanha de
caju, respondendo por 48,7% do total, seguidas por mangas (15,22%), uvas (11,41%) e
tangerinas e mandarinas (10,43%).
Quanto ao tratamento tarifário, as importações das frutas não produzidas no país estão
livres de imposto de importação por beneficiarem-se do SGP. No entanto, como qualquer
outro produto importado, a incidência do imposto de mercadoria e serviços (GST) com
alíquota de 7,0%, calculado sobre o valor Free on Board (FOB) mais a alíquota aduaneira.
No que diz respeito às medidas não-tarifárias, durante a Rodada Uruguai, o Canadá
introduziu as barreiras não-tarifárias à sua estrutura tarifária e substituiu as quotas de
113
importação por quotas tarifárias. Por outro lado, existe regulamento relativo às condições de
fitossanitárias e de embalagens, embora não configurando barreiras comerciais, colocam
exigências para o acesso ao mercado canadense. Dessa forma, é proibida, por exemplo, a
importação de frutas não embaladas, sem uma autorização ministerial específica isentando-a
do cumprimento de regulamentos sobre embalagens. Proibi-se a importação de frutas para
venda sob consignação caso o comprador não esteja previamente definido. Exige-se que as
frutas estejam livres de doenças e de resíduos de terra, sendo que as autoridades fitossanitárias
reservam-se o direito de inspecionar quaisquer frutas importadas.
Tabela 6 - Canadá – Barreiras comerciais
Produto
NCM
Tarifa de Importação
GST (*)
(%)
Não-Tarifárias
Abacaxi 0804.30.00
7 Certificado Fitossanitário; estar livre de resíduos de terra.
Banana 0803.00.00
7 Idem
Laranja 0805.10.00
7 Idem
Limão 0805.30.00
7 Idem
Manga 0804.50.00
7 Idem
Maracujá
0810.90.10
7 Idem
Melão 0807.1
7 Idem
Papaia 0807.20.00
7 Idem
Uva 0806.10.00
7 Idem
Fontes:MRE, SECEX/MDIC- Alice web e Funcex (2006)
(*)GST: Imposto sobre mercadorias e serviços. A base de aplicação do referido imposto é o valor FOB.
Estados Unidos
As exportações brasileiras de frutas para os Estados Unidos caracterizam-se pela
concentração em três produtos principais: castanha de caju
56
, manga e uva. Em 2004, 2005 e
2006 as exportações totais de frutas para o mercado norte-americano somaram US$ 174,7
milhões, 181,5 milhões e 200,6 milhões, respectivamente. Desses valores, para o ano de 2006,
67% correspondem a castanha de caju, 9% a manga e 14% a uvas, conforme dados da tabela
7.
Tabela 7: Evolução das exportações de frutas para os Estados Unidos (2004-2006)
TOTAL FRUTAS CASTANHA DE CAJU MANGA UVAS
ANO US$ (FOB) US$ (FOB) % US$ (FOB) % US$ (FOB) %
2004 174.693.441
138.412.102
79,2
12.410.837
7,1
3.906.535
2,2
2005 181.470.581
124.811.312
68,8
14.637.981
8,1
12.989.605
7,2
2006 200.608.747
135.390.412
67,5
17.324.304
8,6
27.736.281
13,8
Fonte: SECEX/MDIC- Alice web
56
Embora não seja objeto de nossa pesquisa, a castanha de caju está enquadrada como fruta, com NCM 08.01.32.00.
114
Frutas como acerola, laranja, limão, manga, maracujá, melão, papaia e uva, a alíquota
ad valorem é de 55%. Por outro lado, as importações de acerola, manga, maracujá, melão e
papaia aplicam-se alíquota 0%, tendo em vista usufruírem do tratamento especial do SGP.
Especificamente no caso da uva, uma variação de taxação de acordo com a época do ano
em que ocorra a importação (US$ 1.32/m³ entre 15/02 e 31/03 e US$ 2.01/m³ entre 01/07 e
14/02, sendo livre de taxação entre 01/04 e 30/06).
Quanto às medidas não tarifárias, os Estados Unidos, em razão de compromissos
assumidos na OMC, procederam à tarificação de suas barreiras (principalmente quotas)
aplicáveis aos produtos agrícolas em geral. Mesmo assim, conforme podemos ver, algumas
medidas não-tarifárias dificultam o acesso das frutas brasileiras no mercado norte-americano.
1) Restrições por razões fitossanitárias: são proibidas as importações de abacate, caqui,
carambola, figo, mamão, maracujá e melão. Um tratamento especial é dado para
mamão e melão, quando procedentes de áreas certificadas em Linhares (ES) e do Rio
Grande do Norte, respectivamente, mediante licença prévia de importação;
2) Licenciamento prévio de importação: as importações de frutas e outros vegetais
brasileiros estão sujeitos à licença prévia. Tal tratamento tem como exigência a
obtenção de certificado de inspeção na origem realizada nas instalações certificadas
pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos;
3) Vistorias na origem e no desembarque: todas as frutas estão sujeitas às inspeções
nos países exportadores e nos portos de entrada. As inspeções são de responsabilidade
do Departamento de Agricultura americano, traduzindo-se em elevados custos por
ocasião da inspeção, onerando-se ainda mais as exportações;
4) Medidas de salvaguarda: são adotadas medidas de salvaguarda, amparadas pelo
Acordo Agrícola da OMC, no sentido de assegurar máxima proteção aos produtores
locais em caso de baixa dos preços no mercado mundial ou de elevação substancial no
volume de importações. No caso das frutas brasileiras, a salvaguarda afeta diretamente
as exportações de maçãs e uvas, ao longo de todo o ano.
115
Tabela 8: Estados Unidos – Barreiras comerciais
Produto NCM OMC SGP (%) Tarifa de
importação
TMP* Não-tarifárias
Abacaxi 0804.30.20 0,6/Kg 55 0,125 Com licença de
importação
Banana 0803.00.00 0 0 55 0,125 Sem licença de
importação
Limão 0805.30.00 0,26/Kg 55 0,125 Proibido: Cancro
cítrico
Manga 0804.50.00 0,77/Kg 0 55 0,125 Com licença de
importação
Maracujá 0810.90.40 3% 0 55 0,125 Proibido: mosca
da fruta
Melão 0807.19.10 17,6% 55 0,125 Comprovação de
origem (Mossoró-
RN e Linhares-
ES)
Uva 0806.10.60 2,01/m
3
32 0,125 Com licença de
importação e
sistema de
refrigeração
Fontes:MRE, SECEX/MDIC- Alice web e Funcex (2006)
(*) TMP: Taxa de Manutenção Portuária
Obs.: O Brasil é beneficiário do SGP para as frutas relacionadas com tarifa 0%; para as demais aplica-se a tarifa da OMC.
União Européia
A pauta de exportação de frutas para a União Européia é diversificada. Verifica-se que
nos anos de 2004,2005 e 2006 os valores exportados foram de US$ 337,0 milhões, US$ 408,4
milhões e US$ 420,1, respectivamente, com um incremento de 24,7% no período considerado.
Os principais produtos e suas participações, com base no ano de 2006, foram melões (20,6%),
uvas (20,2%), mangas (15,0%), maçãs (7,2%), bananas (6,8%), mamões (6,0%) e castanha de
caju (5,4%).
Tabela 9:
Evolução das exportações de frutas para a União Européia (2004-2006)
TOTAL GERAL CAST. DE CAJU BANANAS MAMGAS UVAS MELÕES MAMÕES MAÇÃS
ANO
US$ (FOB) US$ (FOB) % US$ (FOB) % US$ (FOB) % US$ (FOB) % US$ (FOB) % US$ (FOB) % US$ (FOB) %
2004
337.071.749 15.547.175 4,6 14.934.766 4,4 44.401.920 13,2 46.286.321 13,7 62.813.313 18,6 20.743.201 6,2 67.848.721 20,1
2005
408.494.750 23.793.060 5,8 19.679.787 4,8 53.624.493 13,1 90.158.125 22,1 90.359.720 22,1 24.738.249 6,1 42.708.205 10,5
2006
420.187.406 22.486.379 5,4 28.604.640 6,8 62.920.005 15,0 84.983.783 20,2 86.579.699 20,6 25.048.364 6,0 30.240.284 7,2
Fonte: SECEX/MDIC- Alice web
Para a União Européia, as frutas brasileiras são amparadas pelo SGP comunitário
57
,
não incidindo cobrança de direitos aduaneiros para a maioria dos produtos da pauta de
57
No que diz respeito às frutas, no SGP comunitário há abatimento dos direitos aduaneiros conforme o tipo e sua origem e com o regime das
variedades em geral, de acordo com as categorias abaixo:
i) produtos muito sensíveis: redução de 85% do direito aduaneiro (banana, abacaxi e melão)
ii) produtos sensíveis: redução de 70% (limão galego)
iii) produtos semi-sensíveis: redução de 35% (abacate)
iv) produtos não sensíveis: sem redução (goiaba, manga e papaia)
116
exportações frutícolas. No entanto, a UE opta por aplicar tarifas específicas, no caso das
exportações brasileiras, que afetam sobremaneira as frutas não beneficiadas pelo SGP.
Por outro lado, as exportações de frutas brasileiras sofrem significativas barreiras não-
tarifárias na UE, conforme veremos a seguir:
1) Licença de importação: utilizada para efeito de controle de quotas. O regime de
quotas causou impacto negativo nas importações procedentes da América Latina (AL),
que privilegiava países contemplados pelo Acordo de Cotonu e empresas européias.
Embora tal medida tenha sido condenada em painel da OMC, a UE não acatou o seu
resultado, originando assim diversos processos impondo modificações das quotas
originais de forma a não discriminar os países produtores da AL. Tais processos,
geralmente, são movidos por iniciativa de empresas multinacionais, principalmente
norte-americanas, que estão instaladas nos países da AL.
2) Medidas de salvaguardas: a UE utiliza medidas amparadas no Acordo de
Salvaguardas da OMC e outras inseridas no Acordo Agrícola, nos moldes dos Estados
Unidos. Argumenta-se que o acordo agrícola visa garantir um nível mínimo de
proteção, adicionando-se tarifas quando alterações relevantes nos preços praticados
no mercado mundial e no aumento substancial das importações. Em alguns períodos
do ano, adota-se salvaguarda especial sobre as importações de frutas, no sentido de
proteger a produção comunitária nos períodos de comercialização das safras.
3) Aspectos fitossanitários: todas as frutas são submetidas a rigoroso controle de
higiene e sanitário, exigindo-se documentação específica na exportação. Existe um
controle sanitário ainda mais rigoroso que afeta diretamente o acesso das mangas e
papaias;
4) Impactos de acordos preferenciais: conforme já tínhamos nos referido
anteriormente, alguns acordos, como o de Cotonu, por exemplo, fragilizam as
exportações brasileiras, colocando o País em posição desfavorável junto ao mercado
europeu com relação aos outros fornecedores.
117
Tabela 10: União Européia – Barreiras comerciais
Direitos convencionais (%) Produto NCM
01/01 a 30/06 01/07 a 31/12
Não-tarifárias
Abacaxi 0804.30.00 6,9 6,7 Licença de importação (quotas) e
certificado fitossanitário
Acerola 0805.90 13,9 13,3 Idem
Banana 0803.00.11 17,3 16,7 Idem
0803.00.19 737€/1000Kg 708€/1000Kg Idem
Limão 0805.30.10 9,73 Idem
Manga 0804.50.00 2 1 Licença de importação (quotas=
10.000t) e certificado
fitossanitário
Melão 0807.1 9,5 9,2 Licença de importação (quotas) e
certificado fitossanitário
Papaia 0808.20.00 2 1 Idem
Uva 0806.10.10 Idem
01/01 a 14/07 15,6 15
15/07 a 31/10 18,3
01/11 a 31/12 15
Fontes:MRE, SECEX/MDIC- Alice web e Funcex (2006)
De acordo com os dados da tabela 11, verifica-se que a participação das exportações
brasileiras de frutas nos dois mercados em análise é bastante reduzida. Como exemplo, para o
ano de 2005, do total importado pelos EUA (18,2 milhões de toneladas) e pela EU (35,8
milhões de toneladas), o Brasil participou com apenas 0,40% e 1,7%, respectivamente.
Dessa forma, além das transformações decorrentes da abertura econômica e da
globalização, o modelo exportador brasileiro de produtos agrícolas tem enfrentado alguns
desafios, como, por exemplo, a saturação de commodities no mercado internacional;
diminuição das margens de lucro por produto; integração da produção agrícola às cadeias
produtivas globais; maior dependência do aparato tecnológico na atividade produtiva;
exigências a padrões cada vez mais sofisticados de qualidade do produto; e adequados
padrões de gestão.
Tabela 11: Participação das exportações brasileiras de frutas nos mercados norte-americano e
na União Européia (1000 ton.) 2003-2005
EXPORTAÇÕES DO
BRASIL
IMPORTAÇÃO TOTAL DOS
PAÍSES
AN
O
USA % UE % USA EU
2003
82,4 0,44 554,1 1,73 18.741,3 32.030,4
2004
74,9 0,41 626,4 1,87 18.278,8 33.498,8
2005
71,8 0,40 612,1 1,71 17.958,9 35.800,3
Fonte: Montado a partir dos dados da FAOSTAT - Statistics Database (consultado em abr/2007)
Somado a tudo isto, as barreiras comerciais impostas aos produtos, as fragilidades na
organização e comercialização da produção, traduzem-se no fraco desempenho do Brasil no
comércio exterior de frutas. Conforme pudemos verificar na análise, as barreiras tarifárias e
não-tarifárias aplicadas pelos países desenvolvidos, representam ainda uma grande limitação
118
para as exportações brasileiras. É importante ressaltar que Faveret Filho (1999) já tinha
diagnosticado que tal desempenho deve-se também ao lucrativo e pouco exigente mercado
interno.
119
CAPÍTULO III
A FRUTICULTURA NO BRASIL E NO CHILE – TRAJETÓRIAS DIFERENTES
O comportamento diferenciado do Brasil e do Chile, frente às exportações de frutas,
revela experiências e trajetórias diferentes. Faveret Filho et al. (1999) haviam
diagnosticado que o modelo chileno foi desenhado” na expectativa de conquistar o mercado
e internacional, uma vez que, diferentemente do Brasil, não tinha um mercado interno capaz
de consumir sua produção de frutas. Dessa forma, auxiliado por instituições norte-americanas,
o país construiu um sistema de exportação envolvido com grandes tradings que faziam a
operacionalização da comercialização. Com isso, afirma-se que a fruticultura chilena “
nasceu exportadora” (p.32), orientada especificamente para o mercado mundial.
o Brasil, é um modelo que começa a se construir a partir da década de 1990.
Mesmo tendo uma grande variedade de frutas, algumas com mais de uma safra ao ano, o seu
consumo está voltado para o mercado interno. A exportação de frutas está concentrada em um
reduzido número de empresas exportadoras.
É importante ressaltar que neste Capítulo III aparecem alguns resultados da
pesquisa de campo em Petrolina/Juazeiro, principalmente, no que diz respeito às entrevistas,
visto que a fruticultura brasileira está dividida em dois universos temporais: o primeiro, antes
da implantação dos perímetros irrigados do semi-árido e o segundo, após a implantação dos
ditos perímetros, que culminou com a inserção do Brasil no mercado internacional de frutas
frescas. Dessa forma, houve necessidade da antecipação de algumas observações de campo
que realizamos, uma vez que a fruticultura irrigada trouxe significativos impactos sobre a
expansão trabalho, com a transição do cultivo da olericultura pela fruticultura.
3.1 A fruticultura brasileira como um modelo exportador em construção
Faveret Filho et al. (1999) em seus estudos sobre a fruticultura concluem que, além
do aumento da demanda por produtos naturais, a comercialização da fruta no mercado
internacional expandiu-se na década de 1990 pela conjugação de diversos fatores, dentre os
quais destacamos, resumidamente:
Esforço dos países em desenvolvimento em aumentar o valor das exportações
com o declínio dos preços das commodities, principalmente as tropicais, nos anos
1980 levou à diversificação como forma de equilibrar a renda dos países produtores;
120
Movimento de liberalização do comércio acordos regionais e bilaterais, como o
Mercosul, por exemplo, têm contribuído para minimizar as barreiras no comércio
internacional, ainda que tais barreiras estejam longe de ser eliminadas;
Progressos na logística (transporte e armazenagem) – os recursos como métodos de
controle de temperatura possibilitam o aumento do tempo de armazenagem, reduzindo
os custos pela menor exigência de tratamento na pós-colheita.
Nesse cenário, o Brasil se coloca numa posição privilegiada por contar com uma
série de vantagens, como o clima favorável e o tamanho do seu território. Junta-se a isso o
fato de as frutas brasileiras, principalmente as exóticas, terem considerável aceitação junto aos
consumidores internacionais.
Mesmo assim, a inserção brasileira ainda é pequena no mercado global de frutas in
natura, adquirindo alguma importância quando se inclui alguns derivados como o suco de
laranja e a castanha de caju. Contudo, o Brasil tem plenas condições de desenvolver uma
produção diversificada de frutas voltada para a comercialização in natura. Nesse mister,
fazemos menção para as vantagens que apresentam o clima do semi-árido, cuja região é
bastante favorável para o desenvolvimento da fruticultura, tendo em vista a forte insolação,
que proporciona alto índice de produtividade e redução no tempo da colheita. Outro fator
importante é a baixa umidade, que diminui a incidência de pragas, diminuindo assim a
utilização de agrotóxicos.
Nesse cenário, a soma de fatores como tecnologia de irrigação, calor, luz e umidade
possibilitaria a produção de frutas durante o ano inteiro, transformando, assim, o Brasil
altamente atrativo para os países do hemisfério norte, durante o período de entressafra. Os
projetos de irrigação do Rio São Francisco, com principal destaque para Petrolina (PE) e
Juazeiro (BA), ou nas regiões de Fraiburgo (SC) e u-Mossoró (RN), foram decisivos pela
evolução da produção de frutas a partir da década de 1990.
Alguns estudos (FAVERET FILHO, 1999; PRESSER e MIRANDA, 2007) apontam
que, para ampliar a inserção das frutas brasileiras no mercado internacional, não basta apenas
a mera ampliação da produção. Outros obstáculos que dificultam as exportações brasileiras
também devem ser superados. Tais obstáculos estão relacionados, especialmente, à adaptação
das frutas brasileiras aos padrões internacionais de qualidade, principalmente, às barreiras
tarifárias e não-tarifárias (destacando-se as fitossanitárias), impostas pelos importadores.
Dessa forma, tais dificuldades colocam o Brasil numa posição marginal na comercialização
mundial de frutas in natura, mesmo sendo o terceiro maior produtor mundial.
121
Conforme já nhamos relatado no início deste capítulo, as trajetórias do fluxo de
exportação de frutas do Brasil e do Chile são sobremaneira diferentes. Conforme
diagnosticado por Faveret Filho et al. (1999), percebe-se um crescimento rápido no mercado
mundial de frutas de mesa, no entanto, tal desempenho é fortemente influenciado por políticas
públicas dos países importadores, além da intensa concorrência. O desempenho exportador
depende de sistemas sofisticados de comercialização, resultantes de ações públicas e privadas.
No caso do Brasil, o país ainda não conseguiu estruturar os referidos sistemas, contribuindo
para o seu mau desempenho como exportador.
Sopesados estes fatos, é incontestável a potencialidade da exportação de frutas
brasileiras, principalmente nas áreas irrigadas. No entanto, apesar de detectados, existem
alguns pontos de estrangulamento em cada uma das fases da produção à comercialização.
Dessa forma, este tópico traça uma visão do setor, apontando os principais entraves e a
repercussão sobre a vida das pessoas que, direta ou indiretamente, estão envolvidas na
produção e exportação de frutas frescas.
3.1.1 A balança comercial brasileira de frutas frescas
O fluxo de comércio exterior brasileiro de frutas frescas é caracterizado pela
exportação de frutas de clima tipicamente tropical e da importação de clima temperado, cuja
produção é inexpressiva no país, sendo a maçã uma exceção que, além de apresentar uma
considerável produção, tem encontrado espaço para a inserção internacional
58
.
No que diz respeito à exportação, os dados estatísticos sobre o comércio de frutas no
Brasil serão baseados numa cesta com 11 tipos de frutas, que são as mais importantes em
termos de comercialização, são elas: abacaxi, banana, castanha de caju, castanha do Pará,
figos, laranja, maçã, mamão, manga, melão e uva. No entanto, de acordo com o Capítulo 08,
da Tarifa Externa Comum TEC, os frutos comestíveis representam uma quantidade bem
maior do que a descrita na cesta acima, conforme pode ser visto no Quadro 4.
58
É importante esclarecer que os dados estatísticos deste tópico foram extraídos do Sistema Aliceweb, do MDIC, diferentemente do capítulo
anterior, cujos dados foram gerados da FAOSTAT - Statistics Database, podendo, assim, haver algumas divergências, por se tratarem de
bases diferentes.
122
Quadro 4: Classificação das frutas de acordo com a Tarifa Externa Comum - TEC
NCM* DESCRIÇÃO
08.01
Cocos, castanha-do-pará e castanha de caju, frescos ou secos, mesmo sem casca ou pelados.
08.02
Outras frutas de casca rija, frescas ou secas, mesmo sem casca ou peladas.
0803.00.00
Bananas, incluídas as pacovas ("plantains"), frescas ou secas.
08.04
Tâmaras, figos, abacaxis (ananases), abacates, goiabas, mangas e mangostões, frescos ou secos.
08.05
Cítricos, frescos ou secos.
08.06
Uvas frescas ou secas (passas).
08.07
Melões, melancias e mamões (papaias), frescos.
08.08
Maçãs, pêras e marmelos, frescos.
08.09
Damascos, cerejas, pêssegos (incluídos os “brugnons” e as nectarinas), ameixas e abrunhos, frescos.
08.10
Outras frutas frescas.
08.11
Frutas, não cozidas ou cozidas em água ou vapor, congeladas, mesmo adicionadas de açúcar ou de
outros edulcorantes.
08.12
Frutas conservadas transitoriamente (por exemplo, com gás sulfuroso ou água salgada, sulfurada ou
adicionada de outras substâncias destinadas a assegurar transitoriamente a sua conservação), mas
impróprias para alimentação nesse estado.
08.13
Frutas secas, exceto as das posições 08.01 a 08.06; misturas de frutas secas ou de frutas de casca rija do
presente Capítulo.
0814.00.00
Cascas de cítricos, de melões ou de melancias, frescas, secas, congeladas ou apresentadas em água
salgada, sulfurada ou adicionada de outras substâncias destinadas a assegurar transitoriamente a sua
conservação.
Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio – MDIC (jun./ 2007)
NCM: Nomencatura Comum do Mercosul
Para enfatizar a pujança dessas 11 frutas, a Tabela 12 caracteriza a evolução das
exportações brasileiras no segmento in natura. Verifica-se que essa cesta (com exceção da
castanha de caju e castanha do Pará, que ganham importância na comercialização quando
descascada), no ano de 2006, respondeu por 70,41% das exportações de frutas in natura.
Verifica-se que, atualmente, uma tendência à diversificação de exportação de
frutas, visto que, em 2006, no item “outras frutas”, o valor foi de US$ 68,37 milhões. O item é
representado por frutas como: morangos, abacates, limões, limas, goiabas, melancias,
framboesas, amoras etc. Nas décadas de 1960, 1979 e metade da de 1980, a pauta de
exportação de frutas do Brasil era representada, praticamente, por banana, laranja e abacaxi.
Nesse período, a banana era a fruta mais exportada, seguido pela laranja e o abacaxi com
valores mais modestos. A partir de meados da década de 1980, outras frutas começam a ser
comercializadas no mercado internacional, a exemplo do melão, mamão, manga e uva.
123
Tabela 12: Evolução das exportações de frutas in natura brasileiras - 1995-2006 (US$ milhão)
FRUTAS 1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
%(1995-
2006)
Abacaxi
3,78 4,05 3,94 3,85 4,29 4,10 3,41 1,80 2,88 6,07 6,10 7,26 91,91
Bananas
3,91 6,23 8,38 11,63 12,52 12,39 16,40 34,01 30,10 27,00 33,06 38,56 886,81
Castanha de Caju
147,24 167,51 156,92 156,92 142,12 165,06 112,25 105,14 143,77 186,38 187,13 187,54 27,37
Castanha do Pará
24,83 11,20 16,11 12,34 11,09 27,69 11,15 12,60 10,87 21,71 34,51 18,99 (23,55)
Figos
1,25 1,74 1,60 1,44 1,55 1,36 1,49 1,77 2,28 3,15 3,57 4,68 273,36
Laranja
29,09 20,41 23,09 14,36 21,11 15,25 27,54 8,13 13,35 21,50 8,96 16,48 (43,36)
Maça
6,19 1,79 11,30 5,67 30,15 30,76 18,14 31,40 37,84 72,55 45,77 31,92 415,64
Mamão
4,02 4,72 7,28 9,45 13,58 17,91 20,11 23,54 30,43 28,92 31,27 30,33 654,46
Manga
22,14 28,95 20,18 32,52 32,04 36,05 51,31 51,61 73,73 65,39 73,87 87,16 293,77
Melão
16,48 25,33 20,91 28,32 28,73 25,00 39,33 37,78 58,32 63,25 91,48 88,24 435,61
Uvas
10,12 6,30 4,78 5,82 8,61 14,61 21,60 33,84 60,00 52,81 107,28 118,54 1.070,94
Outras Frutas *
8,74 18,12 26,51 10,71 17,81 19,46 25,28 25,50 36,15 41,75 56,71 68,37 682,03
TOTAL 277,79 296,34 301,01 293,03 323,61 369,63 348,01 367,13 499,72 590,48 679,73 698,06 151,29
%**
38,06
39,70
42,52
42,24
52,65
47,85
64,54
67,93
69,05
64,76
67,39
70,41
Fonte: MDIC/SECEX – Sistema AliceWeb (consulta em junho/2007).
(*) Outras frutas in natura.
(**) Percentual de exportação de frutas in natura menos castanha de caju e castanha do Pará.
É importante que se diga que essa diversificação na pauta das exportações brasileiras
aconteceu ao mesmo tempo em que as frutas como banana e abacaxi perdiam espaço, e a
venda externa de laranjas permaneceu praticamente estagnada. Assim, o surgimento de novos
tipos de fruta não foi suficiente para compensar o declínio das frutas até então dominantes.
A partir da década de 1990, com a nova demanda mundial por produtos de alto
valor, a fruticultura mundial e, especificamente, a brasileira ganha novo fôlego. Os projetos de
irrigação que existiam e os avanços tecnológicos ensejaram a ampliação da produção de
frutas no semi-árido nordestino. Nesse novo cenário, verifica-se a consolidação da uva,
melão, manga, mamão e maçã no comércio internacional, significando, assim, um salto
importante nas exportações de frutas de mesa brasileiras. Tal desempenho foi possibilitado
pela excelente aceitação da fruta brasileira, principalmente aquelas consideradas exóticas, que
alcançaram os mercados europeu e norte-americano. Um exemplo é a manga, que teve um
incremento nas exportações de 293,77%, no período de 1995 a 2006, passando de US$ 22,14
milhões para US$ 87,16 milhões, respectivamente, em decorrência da aceitação no mercado
europeu.
Dessa forma, no período em análise (1995-2006), as exportações brasileiras de frutas
cresceram em média 12,61% a.a. (incluindo castanha de caju, que cresceu apenas 27,37%),
passando de US$ 277,79 milhões para US$ 698,06 milhões.
Contudo, mesmo sendo o maior produtor de frutas do mundo e tendo aumentado
em mais de uma vez e meia a sua produção no período (151,29%), a Brasil ainda figura com
124
uma participação tímida no mercado internacional de frutas in natura. Assim, no decorrer da
década de 1990 até 2005, cujo período foi-nos possível avaliar, essa participação representou,
em média, apenas 0,31% do total das exportações brasileiras, diferentemente de outros
produtos mais dinâmicos que tiveram participações bem mais significativas, a exemplo do
café (com 4,07%), soja (2,8%) e do açúcar (2,77%).
Outro ponto merece destaque: apenas uma pequena parcela da produção brasileira de
frutas é exportada, tendo em vista a magnitude do mercado interno. Conforme mapeado por
Faveret Filho et al. (1999) e Tomich (1999), e confirmado por nós durante a pesquisa de
campo, diversas são as causas que justificam esse fraco desempenho, conforme resumo
abaixo:
Requisitos de qualidade as exigências de qualidade pressupõem padronizações cada
vez mais rigorosas, ultrapassando os limites nacionais, tendo em vista a globalização dos
mercados. Dessa forma, fatores como coloração, aspecto, sabor e uniformidade de formato
e tamanho do fruto, são algumas exigências dos consumidores externos. Para atender a
tais exincias e para lidar com o alto nível de perecibilidade, a fruta requer uma
complexa atividade de plantio, colheita, armazenagem e logística, tornando um sistema,
muitas vezes, inacessível para os produtores brasileiros;
Aspectos fitossanitários conforme havíamos mencionado no capítulo anterior, os
produtos alimentares são fortemente impactados por mecanismos de regulação
fitossanitária que, muitas vezes, extrapolam as razões técnicas. Os países com regras e
instituições de controle mais rigorosos são os grandes importadores (Japão, Estados
Unidos e União Européia), demonstrando com isso uma preocupação em proteger as suas
regiões produtoras, quando impõem inúmeras restrições ao trânsito de alimento.
Barreiras protecionistas – a fruticultura enfrenta barreiras tarifárias e não-tarifárias
impostas, também, pelos maiores importadores. Os instrumentos mais utilizados são:
quantidade limitada de importação durante o período da safra local; qualidade mínima;
imposição de preços mínimos; licença prévia obrigatória, entre outras;
Assimetria de informações o desconhecimento das características principais do
mercado externo, pelos produtores, é extremamente prejudicial para a inserção
internacional da fruticultura brasileira. A pouca informação acumulada pelos agentes não
são disseminadas entre os elos das cadeias. Pelo contrário, torna-se um instrumento de
competição entre os negociadores, enfraquecendo as relações dentro do segmento, além de
dificultar a coordenação, que é necessária para o setor que transaciona bens perecíveis,
125
como a fruta. Assim, como o custo para obtenção de tais informações está acima da
capacidade financeira do produtor, a sua produção fica restrita ao mercado interno, com o
qual já tem alguma familiaridade;
Fragilidade na coordenação pelos produtores o tópico anterior remete para a
problemática da ineficiência de coordenação dos produtores. No entanto, esse problema
torna-se ainda mais crucial de outra forma: a produção de fruta fica reduzida à
comercialização interna pela inadequação dos serviços de comercialização e transporte
que são, por conseguinte, caros. Tais serviços não se desenvolvem, também, porque não
existe escala suficiente. Dessa forma, fecha-se o ciclo do problema da coordenação, uma
vez que o volume por produtor, individualmente, é reduzido. Por outro lado, se os serviços
fossem utilizados de forma conjunta, contribuiria para a racionalização do seu uso,
diminuiria o custo e aumentaria o poder de barganha;
Falta de apoio governamental no decorrer deste estudo, não verificamos ação
específica e organizada do Estado brasileiro para nenhum dos problemas referidos
anteriormente. Tal realidade está vinculada ao fato de que, no Brasil, a intervenção
governamental concentrou-se basicamente nos grãos, deixando-se de lado os
hortifrutigranjeiros.
Assim, essas fragilidades têm tornado extremamente seletiva a inserção em novos
mercados importadores, principalmente ao norte-americano e europeu, que são os maiores
compradores internacionais.
Destacamos que, quando se inclui na pauta de exportação de frutas brasileiras a
castanha de caju descascada e o suco de laranja concentrado (seus principais derivados), a
pujança brasileira é incontestável no cenário internacional. De acordo com dados da FAO
(2006), o Brasil é o maior exportador de castanha de caju, sendo superado apenas pelo
Vietnã e é o maior exportador se suco de laranja do mundo, chegando a responder em 2006,
por 82,13% das exportações mundiais. Verifica-se que o valor exportado desse último
produto foi mais do que o dobro das exportações brasileiras de todas as frutas in natura, no
mesmo ano. (ver Tabela 13).
126
Tabela 13: Exportações dos principais derivados de frutas (US$ milhão)
Castanha de Caju descascada Suco de Laranja Concentrado
ANO
Exportações
brasileiras
Participação nas
exportações
brasileiras (%)
* Participação
nas exportações
mundiais (%)
Exportações
brasileiras
Participação
nas
exportações
brasileiras
(%)
*Participação
nas
exportações
mundiais (%)
1995
147,2
0,32
24,41
1.192
2,38
73,71
1996
167,5
0,35
27,93
1.464
2,92
79,23
1997
157,0
0,30
27,37
1.050
1,89
74,95
1998
157,0
0,28
18,67
1.333
2,47
80,50
1999
142,1
0,30
15,05
1.281
2,57
81,18
2000
165,1
0,30
19,03
1.033
1,85
76,22
2001
112,2
0,26
18,12
845
1,62
72,24
2002
105,0
0,26
17,76
1.040
1,86
74,61
2003
143,8
0,29
22,12
1.193
2,28
80,89
2004
186,4
0,32
26,21
1.058
1,81
75,12
2005
187,1
0,31
26,41
1.110
2,19
79,32
2006
187,5
0,31
25,91
1.468
2,89
82,13
Fonte: MDIC/SECEX – Sistema AliceWeb (consulta em junho/2007).
(*) Tendo em vista a falta de dados consolidados no Brasil, o comparativo com as exportações mundiais dos produtos foi construído com
dados sistema FAO (jun./2007).
Quanto às exportações de castanha de caju, a participação do Brasil, no período
analisado, foi de 22,41% das exportações mundiais. Observa-se que o produto sofre um
quadro de oscilação constante no valor e quantidade exportados, no entanto, nos últimos três
anos os valores ficaram estagnados em torno de US$ 180 milhões. Considerando-se o
comércio exterior brasileiro, esses números expressam pouca representatividade. Todavia, e
setor desempenha um papel fundamental para a economia nordestina e, principalmente, a
cearense. Atualmente, o Ceará é responsável por mais de 72% da exportação de castanha
brasileira.
Ressalte-se que a proximidade com o mais importante importador de castanha de
caju, os Estados Unidos, constitui-se na principal vantagem que a Região Nordeste tem em
relação aos seus concorrentes. A Índia, que é grande exportador, tem direcionado suas
exportações para mercados mais próximos, como o asiático e o europeu. Isso representa um
fator-chave para a manutenção da castanha de caju, como principal produto de exportação
agrícola do Nordeste.
Quanto ao suco de laranja, fazendo-se uma análise mais elástica, o Brasil lidera o
mercado mundial desde 1972 (FAO, 2006). Ainda que tenha passado por muitas adversidades
na década de 1990, o setor é um dos mais rentáveis agronegócios do País. Conforme dados do
IBGE (2006), o setor emprega no estado de São Paulo (principal estado produtor e
exportador) cerca de 400 mil pessoas, sendo atividade essencial para 208 municípios, gerando
127
faturamento bruto em torno de US$ 1.4 bilhões por ano. Este estado e alguns municípios do
Triângulo Mineiro responderam por 73% (ALICE WEB, 2007) do suco de laranja que
transitou pelo mercado externo.
À guisa de considerações finais deste tópico, compreende-se que a fruticultura
brasileira representa um enorme potencial no contexto das exportações agrícolas brasileiras,
tendo em vista tratar-se de um setor em expansão no mundo, no qual o Brasil tem plenas
condições de se tornar um grande exportador, principalmente, pela sua grande produção.
Ademais, o clima é extremamente favorável para o cultivo de frutas, como, por exemplo, o
semi-árido brasileiro, cujo potencial só começou a ser explorado recentemente.
3.1.2 O desenvolvimento da fruticultura no Brasil
Conforme verificamos nos tópicos anteriores, a atividade frutícola brasileira tem
papel de destaque no cenário econômico interno e externo. O segmento se desenvolveu na
Região Nordeste a partir da década de 1970, como um reflexo da intervenção estatal, com
vistas a desenvolver o semi-árido brasileiro, incorporando novas tecnologias no meio rural,
como a irrigação.
Assim, atualmente, a produção de fruta irrigada no semi-árido tem se revelado como
uma atividade competitiva no cenário econômico nordestino. Cujo desenvolvimento da
agricultura apresenta-se sob condições climáticas privilegiadas, combinando o constante calor
e insolação, cujas características são próprias dos trópicos, com baixa umidade relativa do ar.
Dessa forma, a produção agrícola fundada nessas condições naturais e em bases irrigadas
pode proporcionar melhores condições de sanidade, possibilitando, em determinadas culturas,
mais de duas colheitas por ano, como é o caso atual da uva, que, em média, permite 2,5
colheitas anuais.
Essas condições, apoiadas pelos investimentos governamentais no desenvolvimento
de infra-estrutura hídrica, proporcionaram uma considerável expansão da área cultivada e do
volume da produção de frutas no semi-árido, conferindo-lhe qualidade e rendimento
superiores às demais regiões do Brasil.
No entanto, a insignificante participação do País no comércio internacional de frutas,
conforme relatamos no tópico anterior, torna-se ainda mais surpreendente quando
constatamos que o Chile, um país que possui uma área irrigável de apenas 220.000 ha, tornou-
se um dos maiores exportadores de frutas no mundo.
128
Embora seja contrastante a posição dos dois países, a fruticultura é uma atividade
que requer ação coordenada e conjunta dos setores privado e público, no sentido de superar os
obstáculos interpostos à expansão e à inserção no mercado externo. Tais obstáculos dizem
respeito às fragilidades de planejamento global da atividade, desenvolvimento tecnológico,
organização da cadeia agroindustrial etc. Dessa forma, fazemos alusão ao estudo de Faveret
Filho et al. (1999), quando os autores concluem que “[...] O Chile montou um sistema
exportador ajudado por instituições norte-americanas, com uma cesta restrita, e entregou às
grande tradings a operacionalização do processo de comercialização. A fruticultura do Chile
nasceu exportadora, pois desde o início orientou-se para o mercado mundial” (Grifo nosso, p.
38).
3.1.2.1 Breve histórico da política de irrigação no Brasil
59
Acima de tudo, a história da produção de frutas irrigadas do semi-árido é resultado
da consolidação dos conhecimentos sobre as práticas de irrigação, adquiridas por três décadas
de investimentos públicos e privados nos projetos de irrigação no Nordeste. Dessa forma, a
irrigação agrícola na região não é uma atividade nova. O que tem de novo é a forma que ela
assumiu com a implantação de importantes projetos públicos de irrigação, sob a administração
da CODEVASF. Configurou-se assim, um padrão “moderno” entre o rural e o urbano, entre a
agricultura e a indústria.
As intervenções estatais que visavam a promoção da modernização do semi-árido
nordestino preconizavam as mais diversas iniciativas, principalmente as localizadas no Pólo
Petrolina/Juazeiro. Entre tais iniciativas, podemos citar:
implementação de infra-estrutura especializada em irrigação;
desenvolvimento de pesquisas voltadas para lavouras irrigadas, tendo como principal
interveniente a EMBRAPA;
implantação de assistência técnica, por meio da EMATER;
oferecimento de recursos subsidiados e administrados pela SUDENE, que estimulavam
pessoas físicas e jurídicas a investirem nos projetos de irrigação e industrialização;
estabelecimento de uma estrutura de crédito visando o financiamento da agricultura
irrigada, através do Banco do Nordeste e do Banco do Brasil, com linhas subsidiadas,
59
Para evitar repetição de citações, ressaltamos que parte deste tópico deriva de pesquisas documentais realizadas na CODEVASF
(Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba) Sede (Brasília), 3
a
Região (Petrolina -PE) e 6
a
Região (Juazeiro-
BA), além de entrevistas com funcionários da instituição.
129
vinculadas aos Programas Especiais de Desenvolvimento Regional, tais como Prohidro,
Provárzea, Proterra e Proine;
regularização da vazão do Rio São Francisco, com a construção da Barragem de
Sobradinho;
criação de escolas técnicas e de curso superior, como a Escola de Administração de
Petrolina e a Escola de Agronomia de Juazeiro, com vistas a especializar a mão-de-obra
regional.
Com isso, a introdução da irrigação trouxe impactos profundos, que modificaram o
ambiente sócio-econômico das regiões beneficiadas, destacando-se os municípios de Juazeiro
(BA) e Petrolina (PE), onde as transformações foram mais abrangentes. O aspecto mais
evidente desta transformação foi a inserção de culturas não-tradicionais, com potencial
exportador e com alto valor comercial. Tais culturas exigem a utilização de técnicas
sofisticadas de irrigação, adubação, correção de solo etc. Tudo isso contribui para um cenário
espacial, no semi-árido nordestino, com um perfil agrícola modernizado.
Por conseguinte, tais transformações ensejaram mudanças nas relações de trabalho
60
,
através da criação de sindicatos de classes, possibilitando um maior debate sobre as questões
salariais da região. Outro evento importante foi o incremento do mercado de terra, que foi
seguido por ações de desapropriação de áreas que, até então, tinham pouco valor venal.
Como pudemos verificar, a atual configuração da área irrigada do semi-árido faz
parte de um quadro que não condiz com a realidade nordestina, visto que se instalaram ali
profundas transformações no que diz respeito à formação de padrão agrário moderno.
Certamente, tal padrão de produção capitalista o incorporou os métodos tradicionais, pelo
contrário, contribuiu sobremaneira para a sua destruição a partir da implementação dos
projetos de irrigação.
Quanto às políticas públicas, a irrigação tinha lugar comum nos discursos, até
mesmo antes da fundação da SUDENE. No entanto, as iniciativas eram de caráter paliativo,
uma vez que as ações estatais eram voltadas exclusivamente para o combate à seca, através da
60
Destaque-se o trabalho realizado por Cavalcanti (1997), cuja autora faz uma análise das relações entre a globalização, trabalho e meio
ambiente, visando compreender os processos sociais que se localizaram em regiões produtoras de frutas para exportação, principalmente nos
perímetros irrigados do Vale do São Francisco. A importância deste estudo está na análise que a autora faz no sentido de “[...] compreender o
dinamismo dos processos atuais de constituição e reconversão de áreas agrícolas orientadas predominantemente à exportação, de acordo com
padrões de qualidade definidos externamente”. A especialização dessas regiões transformou a estrutura social local, uma vez que a
“coexistência de pequenos e médios produtores com grandes empresas integradas, algumas multinacionais, manifestam uma base produtiva
heterogênea e uma variedade de formas de inserção nas cadeias globais. Os trabalhadores permanentes ou temporários são igualmente
diferenciados quanto ao tipo de qualificação ou especialização requerida para a atividade, assim como de acordo com as perspectiva que
orientam a divisão sexual do trabalho”. Dessa forma, resumindo as palavras da autora, estabelece-se como ponto de partida a necessidade de
desvendar as ambigüidades existentes entre os aspectos locais e globais do desenvolvimento agrícola, partindo-se da hipótese de que os
130
construção de açudes para armazenar água. Mesmo após a criação da SUDENE as ações
foram muito tímidas, uma vez que a estrutura fundiária na bacia da área de irrigação era
predominantemente latifundiária, traduzindo-se em uma intransponível barreira.
Em seguida, verificou-se a necessidade de se reorientar a forma de abordagem da
agricultura nordestina, instituindo-se um rápido processo de desapropriação de grandes áreas
para a implantação dos perímetros de irrigação pública e instalação dos projetos de ocupação,
dando preferência para os colonos identificados por critérios específicos, coordenados pelo
Departamento de Obras Contra as Secas (DNOCS) e pela CODEVASF (ver Tabela 14).
Tabela 14: Distribuição das áreas irrigadas nos Projetos Públicos dos Pólos do Norte de
Minas Gerais e Petrolina/Juazeiro (2006)
Produtores-Colonos Produtores-Empresas
Projetos de Irrigação
Número de
Estabelecimentos
Hectares
Irrigados
Número de
Estabelecimentos
Hectares
Irrigados
Pólo Petrolina/Juazeiro
Bebedouro 129
1494
5
924
Curaçá 268
1964
15
2490
Mandacaru 53
370
1
66
Maniçoba 235
1808
53
2463
Maria Tereza 445
2604
38
2054
Nilo Coelho 1444
9280
131
6412
Tourão 34
182
14
11958
Total 2608
17702
257
26367
Norte de Minas Gerais
Gorutuba 390
2528
44
2290
Jaíba 1284
9303
0
O
Lagoa Grande 0
0
55
1660
Total 1674
11831
99
3950
Fonte: CODEVASF (2006)
Dessa forma, os perímetros irrigados no Nordeste foram consideravelmente
aumentados. Na década de 1970 o Nordeste contava apenas com 116 mil hectares irrigados.
Na década seguinte, chagava a 261 mil hectares e no final da cada de 1990 saltava para
732 mil hectares. Nesta última, o Vale do Rio São Francisco representava quase 32% dos
perímetros irrigados do Nordeste. No período compreendido entre as décadas de 1970 e 1990,
a área irrigada no Brasil cresceu 266%, correspondendo a 105,8 mil hectares por ano. No
Nordeste, no mesmo período, esse crescimento foi de 530%, representando um incremento de
30,8 mil hectares por ano de áreas irrigadas. No Vale do São Francisco, o crescimento foi de
286%, representando 8,6 mil hectares por ano.
Em síntese, a política que implantou o grande projeto de irrigação pública
apresentava objetivos distintos com relação aos outros programas para a região, os quais
aspectos globais e locais estão presentes na construção de regiões e atividades agrícolas particulares, sendo que esse contexto requer, dos
atores sociais envolvidos, pensar e agir global e localmente (CAVALCANTI, 1997).
131
eram, geralmente, voltados para expansão da pecuária via recursos subsidiados.
Primeiramente, porque nessa configuração havia elementos que possibilitavam uma
reestruturação agrária, como, por exemplo, a desapropriação das áreas passíveis de irrigação
para a instituição de projetos de colonização. É importante ressaltar que, embora os projetos
de irrigação atualmente passem por um processo de privatização, o Estado contribuiu para a
modernização de pequenos produtores, o que não se verificou nos demais programas de
desenvolvimento regional.
No segundo plano, a ação estatal possuía característica integrada, visto que, além de
promover uma irrigação apropriada o que conferia um alto valor comercial para os produtos
buscava construir condições para o escoamento da produção para mercados de
transformação industrial ou para consumo. Dessa forma, percebe-se que as regiões então
polarizadas proporcionavam efeitos para frente e para trás, repercutindo significativamente
sobre os setores de serviços e manufatureiros da região onde os perímetros de irrigação foram
implantados.
Outro destaque deve ser dado para o perfil do mercado consumidor. Pela
desarticulação e isolamento na pequena irrigação a ênfase era dada para a produção de
produtos tradicionais, como feijão, milho, cenoura etc. Em consonância com o novo padrão
agrícola, a grande irrigação buscava principalmente um conjunto de produtos que atendiam ao
padrão de consumo urbano e da classe média e que se voltava para o mercado externo, como a
fruticultura.
Finalmente, a CODEVASF, como representante do Estado, desempenha papel
fundamental na mediação dos conflitos entre os pequenos produtores e as agroindústrias,
promovendo as questões contratuais e de classificação de produtos. Assim, a função
desempenhada pela CODEVASF, na administração de tais conflitos, envolvendo o
agronegócio irrigado, é maior do que era previsto anteriormente.
Dessa forma, o histórico da irrigação no Brasil e principalmente no Nordeste, se
confundiu com o início da produção de frutas brasileiras para a exportação. Atualmente, o
Pólo Petrolina/Juazeiro produz 30% da produção nacional e é responsável por 50% do total
das exportações de frutas de mesa do País. A produção nordestina com maior valor e inserção
internacional é a de laranja, manga, melão e uva.
Gonçalves e Souza (1998), em estudos sobre a fruticultura do Nordeste,
diagnosticavam que a logística de comercialização com o exterior representa um fator
decisivo na dinâmica da fruticultura de exportação, uma vez que está controlada por grandes
empresas multinacionais, que criam superestruturas na fase de pós-colheita, organizando e
132
definindo os mercados regionais onde lhes ofereçam melhores rentabilidades. Para esse fato,
fazemos menção à estratégia do Chile de inserção no mercado de frutas frescas internacional,
cujo país adotou articulações importantes com as trading companies, que organizaram a
logística e produção local objetivando atender uma demanda exigente de importantes centros
consumidores como os Estados Unidos e União Européia.
3.1.2.2 Possibilidades abertas para a fruticultura irrigada
Temos enfatizado que a produção de frutas no Nordeste foi consolidada através das
práticas especializadas de irrigação, que foi possibilitada pelos significativos investimentos
estatais que impactaram sobremaneira a região do semi-árido, tanto no aspecto econômico
quanto social. No entanto, a continuidade irá depender do papel estatal como agente indutor e
de apoio frente às possibilidades de investimentos empresariais. Nos estudos realizados pela
CODEVASF (2001), até o ano de 1997, os investimentos privados na fruticultura do Vale do
São Francisco foram estimados em US$ 700 milhões. Certamente esses investimentos foram
materializados por conta da implantação do grande projeto de irrigação estatal, juntamene
com as excelentes condições climáticas e o baixo custo de empreendimentos privados.
No que se refere à logística, será imprescindível a articulação com empresas que
controlam o comércio internacional. No entanto, todo cuidado deve ser tomado no sentido de
se evitar que os produtores nordestinos fiquem com a menor fatia dos resultados, daí a
necessidade de se manterem integrados e articulados. Assim, mesmo que a produção de frutas
dos perímetros irrigados do Nordeste apresente evidências de sucesso no que diz respeito à
inserção no mercado internacional, existe ainda um caminho de afirmação da qualidade dos
produtos a ser trilhado.
No decorrer da pesquisa de campo, tanto nas entrevistas quanto nas respostas aos
questionários, ficou claro que é necessário ativar mecanismos de cooperação através da
pesquisa e desenvolvimento, no sentido de assumir uma posição competitiva, incorporando
um esforço inovativo através das instituições governamentais, universidades, escolas técnicas
e estruturas de ciência e tecnologia. A estratégia sustentável de desenvolvimento da
agricultura será possível com um claro aporte de recursos para superar as desvantagens
relacionadas aos recursos naturais (empobrecimento do solo, eventuais pragas etc.) e da pouca
especialização dos trabalhadores.
É importante destacar que, ainda apresentando tais dificuldades, a fruticultura
irrigada do Nordeste apresenta atualmente uma expressiva e diversificada área de produtos.
133
Mesmo que haja algumas fragilidades para a sua inserção internacional, conforme realçado
anteriormente, os ajustes necessários para se lograr avanços significativos serão realizados
sobre uma base produtiva já existente e, por conseguinte, com reais perspectivas de expansão.
Para uma melhor avaliação, destacaremos os principais pólos de fruticultura do
Nordeste (Quadro 5). Os pólos de desenvolvimento descritos na caracterização abaixo foram
estudados pelo Banco do Nordeste (1998), cujo objetivo era potencializar o desenvolvimento
sócio-econômico em distintas áreas. Para tanto foram selecionados sete los: Alto Piranhas;
Açu/Mossoró; Baixo Jaguaribe; Norte de Minas; Oeste Baiano; Petrolina/Juazeiro; e Sul de
Sergipe. O importante nesta análise é que em alguns pólos é evidente a maior vocação na
fruticultura de irrigação.
Quadro 5: Principais Pólos Irrigados do Nordeste
PÓLOS LOCALIZAÇÃO POTENCIALIDADES
1) Com grande dinamismo na
fruticultura
Açu/Mossoró
Localizado no semi-árido do Rio G. do Norte e
abrange 11 municípios, com atividade econômica
baseada na agricultura irrigada.. Está entre o
centros consumidores de Fortaleza, João Pessoa,
Natal e Recife.
O lo tornou-se no maior produtor de melão do
Brasil e um dos maiores produtores de frutas em
geral . Conta com boa infra-estrutura de transporte e
aeroportuária, podendo exportar através dos portos
de Mucuripe, Natal, Pacém e Suape. O potencial
hídrico é representado pela barragem no rio
Piranhas, ofertando 2,4 bilhões de m
3
.
Norte de Minas
Localizado no semi-árido de Minas Grais, com
atividade produtiva fortemente baseada na
irrigação. O pólo é composto por sete municípios
entre eles o de Jaíba e Janaúba, com área de 12607
Km
2
.
A fruticultura é a principal base produtiva, com forte
ênfase no cultivo da banana, cuja produção
representa 90% da área total. é evidente a
diversificação da produção, com a introdução de
outras frutas/culturas, destacando-se o coco, limão,
goiaba, mamão, manga e uva. Possui vantagem
comparativa pela proximidade aos centros
consumidores do Brasil e Mercosul. Entre outros
projetos, o que mais se destaca é o Jaíba, entre os
rios São Francisco e Verde Grande, contando com
uma área irrigável de 100 mil hectares, dos quais
somente 25 mil são utilizados.
Petrolina/Juazeiro
O pólo está situado no Sub Médio São Francisco.
Abrange oito municípios baianos e
pernambucanos, com uma população de 518 mil
habitantes.
A atividade econômica está fortemente centrada na
produção nos perímetros irrigados. É a principal
região produtora de frutas frescas para a exportação
do País, principalmente uva e manga, contando com
boa infra-estrutura de serviços e comercialização. O
pólo oferece disponibilidade de terra e água de
excelente qualidade, como atrativo para novos
investimentos, além da importante infra-estrutura de
irrigação que está em expansão. A área irrigada
conta com 100 mil hectares e potencial para 220 mil
hectares.
2) Pólos com potencial para
expansão
Alto Piranhas
Localizada no semi-árido paraibano, a região é
cortada pelos rios Piranhas, Piancó e Peixe. O pólo
é composto por 12 municípios. Os principais são:
Souza, Cajazeiras e Pombal.
Em 1997 foi inaugurada importante obra de infra-
estrutura hídrica que capta água do açude Mãe
d’água/Coremas, por meio de túneis e canais, num
percurso de 58 Km, até Souza, irrigando cinco mil
hectares. A partir de então a região tornou-se
importante produtor de frutas (uva e manga),
atendendo o mercado interno e externo. O pólo
conta com uma malha ferroviária e estradas
pavimentadas que interliga a região a todas as
cidades nordestinas.
Baixo Jaguaribe
Localizado próximo aos centros consumidores e
dos portos de Suape (PE), Mucuripe e Pacém (CE)
A produção agraopecuária é diversificada
predominando o cultivo de frutas, arroz e pecuária
134
e Natal (RN). O escoamento da produção é feito
pela BR-116. O lo é composto por oito
municípios no Ceará. Os principais são: Aracati,
Russas, Morada Nova e Limoeiro do Norte.
de leite. Os principais projetos de irrigação são o
Jaguaribe/Apode, que predomina o cultivo de
tomate, melão e mamão e o projeto Morada Nova,
que especializou-se na produção de acerola, manga
e uva. Verifica-se a instalação de empresas
processadoras de polpas de frutas e de doces.
Oeste Baiano
Região de fronteira agrícola, especializada na
produção de grãos em áreas de sequeiro. Abrange
cinco municípios baianos, destacando-se o de
Barreiras e Santa Maria da Vitória.
É caracterizada pela atratividade aos investimentos
privados de empresas estrangeiras e brasileiras, que
são aplicados em soja e frutas. Principal destaque é
a produção de uvas de mesa e a produção de vinho
para exportação.
Sul de Sergipe
O pólo está localizado parte no Agreste e parte na
Zona da Mata. Abrange 15 municípios,
destacando-se Boquim, Estância e Lagarto.
É o maior produtor de laranja do Nordeste. Forte
presença de agroindústrias processadoras de frutas
para exportação de sucos concentrados para o
Canadá, Estados Unidos e Europa.
Fonte: Elaboração própria a partir de dados do BNB (2006).
Dessa forma, verifica-se que os pólos irrigados com maior dinamismo na fruticultura
são os de Açu/Mossoró, Norte de Minas Gerais e Petrolina/Juazeiro. Nesses projetos de
irrigação, a fruticultura apresenta bases sólidas, no entanto ainda depende de vários
instrumentos de apoio público. Assim, a expansão e continuidade da atividade exigirão uma
participação governamental de caráter mais indutivo para o sistema produtivo. Por outro lado,
o cenário de economias globalizadas impõe maiores investimentos da iniciativa privada.
Em termos gerais, a fruticultura brasileira, principalmente nos pólos irrigados em
análise, apresenta uma configuração favorável nas perspectivas produtiva e de mercado, com
relativo nível tecnológico e plena capacidade de promover sistemas produtivos locais. Em
alguns casos, verifica-se um ambiente propício à cooperação através da troca de experiências
entre produtores. No entanto, nos pólos de produção de frutas para exportação, como a uva,
por exemplo, o nível de capacitação entre os colonos e trabalhadores é reduzido aliado ao fato
de terem dificuldades de se integrar em cooperativas e associações.
Assim, pela rentabilidade apresentada, esses pólos irrigados do Nordeste m se
desenvolvendo com muita rapidez. Geralmente ligados à agroindústria processadora, os
produtos têm ultrapassado as fronteiras, incorporando-se ao seleto mercado internacional da
produção agrícola capitalista. No entanto, o que ainda permanece no auge da discussão é a
questão dos retornos ou transbordamentos sócio-econômicos derivados desse
empreendimento privado, sob os auspiciosos recursos estatais.
De acordo com entrevista realizada com o Coordenador do Instituto Regional da
Pequena Agricultura Apropriada IRPAA, o principal gargalo da introdução da produção
irrigada está na relação de trabalho. A figura do colono pequeno produtor foi substituída
pelo trabalhador assalariado na agroindústria de processamento, o que lhe confere mais uma
identidade de trabalhador urbano do que rural.
135
3.1.3 Os impactos da fruticultura irrigada sobre a expansão do trabalho
Sem dúvida, as condições relatadas acima contribuíram para o estabelecimento de uma
atividade agrícola contínua nas áreas irrigadas, em áreas consideradas, anteriormente,
improdutivas, principalmente no semi-árido nordestino. De certa forma, conforme relata
Cavalcanti (1997), o processo contribuiu para mudanças relacionadas com a forma de
apropriação e gestão dos recursos naturais, bem como nas formas de controle do trabalho e
dos trabalhadores. Como conseqüência, permitiu também a expansão da produção e na
oportunidade de trabalho, como fruto do apoio governamental, através dos investimentos
públicos e privados, estes nos últimos anos.
Por outro lado, o crescimento da produção, que não podia ser totalmente absorvido
pelas empresas processadoras, provocou uma mudança radical nas regras dos preços e dos
contratos. O impacto foi diretamente sofrido pelos pequenos produtores que, em muitos casos,
foram obrigados a abandonar a safra, uma vez que os preços pagos pelas agroindústrias
processadoras não eram suficientes para pagar sequer as despesas com a colheita. Dessa
forma, muitos colonos perderam suas terras para grandes produtores e até empresas
internacionais.
Conforme relatado pelo Gerente de Irrigação do Distrito de Nilo Coelho Petrolina
(PE), “a configuração da propriedade de terra hoje no Distrito não tem qualquer semelhança
com o a configuração original”. Ou seja, a maioria dos primeiros colonos não está no
perímetro irrigado, como proprietário.
Dessa forma, a década de 1980 foi marcada pela transição do cultivo da olericultura
pela fruticultura, como alternativa de desenvolvimento das regiões irrigadas. A produção de
hortaliças e leguminosas deixou de ser a principal atividade da região. Na visão institucional,
a produção de frutas poderia oferecer novas oportunidades para trabalhadores, produtores e
agroindústrias.
Nesta nova configuração, o “local” passa a ter que conviver com exigências de
compradores internacionais, que requerem um aparato rigoroso de regras fitossanitárias e de
qualidade, obrigando os produtores adotarem estratégias de enquadramento em questões
ambientais e de sofisticados padrões tecnológicos.
Segundo Cavalcanti (1997), a internacionalização da produção de frutas ofereceu mais
oportunidade de empregos, não somente na agricultura, mas na área urbana também. Por
outro lado, verificam-se impactos sobre a relação de trabalho, configurando-se como
dificuldade na articulação de políticas agrícolas voltadas para a exportação e a adaptação dos
136
produtores à nova situação. Nesta análise, a autora aponta como mudança nessa relação a
inserção da mulher no mercado de trabalho
61
, principalmente no que diz respeito à produção
de uvas, em cuja cultura são consideradas mais aptas do que a mão-de-obra masculina. O
investimento em novas tecnologias também requer novas especializações para o trabalho, com
forte tendência de redução da mão-de-obra.
Chama a atenção da caracterização elaborada por Cavalcanti (1997), enfatizando que o
maior ou menor grau de utilização de novas tecnologias pode modificar o uso do trabalho de
mulheres e homens, conforme Quadro 6.
Quadro 6: Divisão do trabalho entre homens e mulheres no cultivo da uva
TÉCNICAS E PRÁTICAS USUAIS TÉCNICAS E PRÁTICAS ATUAIS
Irrigação por sulco
Trabalho de homem
Irrigação por micro-aspersão
Trabalho de homem
Adubação
Trabalho de homem
Fertirrigação (adubo dissolvido na irrigação)
Trabalho de homem
Pulverizador de costas
Trabalho de homem
Arbus: (tanque pulverizador)
Trabalho de homem
Uva sem sementes: diminui o trabalho de
raleio
Trabalho de mulher
Uso de tesoura para o raleio da uva
Trabalho de mulher
Raleio químico na uva com semente
Trabalho de mulher
Uso da enxada
Trabalho de homem
Uso do trator
Trabalho de homem
Fase pós-colheita: a lavagem, seleção e
embalagem é feita manualmente
Trabalho de mulher
A lavagem, secagem e classificação é feita
com o computador
Trabalho de homem
Fonte: adaptado de Cavalcanti (1997)
É importante destacar que em algumas fazendas, no pólo Petrolina/Juazeiro, já é
comum o manejo de tratores pelas mulheres. Um dos entrevistados, proprietário de 16
hectares irrigados, 11 de uvas e 5 de mangas, fez a seguinte análise sobre o trabalho feminino:
[...] aqui quem manda é (sic) as mulheres. As minhas duas filhas (uma de 22 anos
e outra de 25) é que administram o negócio. Até a burocracia da exportação são
elas quem resolvem. Às vezes vou ao banco quando tem que assinar alguma coisa.
[...] elas dirigem o trator na colheita e ensinam as meninas que trabalham com nós
(sic) dirigir também. São elas que contratam a mão-de-obra. (grifo nosso)
61
Chamamos a atenção para o trabalho de Oliveira (1998), quanto ao papel da mulher na produção rural brasileira, segundo a qual a
importância da mulher nas sociedades rurais está relacionado com o seu desempenho nas atividades produtivas. Segundo a autora, “[...] esse
fato traz à tona a crueldade da invisibilidade do trabalho feminino realizado na esfera doméstica, que por não resultar em valor de troca não é
remunerado e, por não ser remunerado, deixa de ser considerado importante no contexto da própria família, colocando injustamente a mulher
numa posição de inferioridade diante do principal grupo social a que pertence”. (p. 43).
137
Verifica-se que um trabalho eminentemente executado pelo homem, começa a ser
realizado também pelas mulheres. O diagnóstico feito pela filha do proprietário da fazenda foi
o seguinte:
[...] os pés das fruteiras são muito próximos uns dos outros e isso ocasionava alguns
acidentes. Embora o trator seja de pequeno porte, mais ainda assim danificavam as
fruteiras. Então achamos que era a forma de dirigir. [...] então colocamos duas
meninas para dirigir os tratores e nunca mais tivemos problemas.
Assim, conforme observa Cavalcanti (1997), as novas tecnologias m provocando
mudanças em todo o segmento, mais especificamente no que diz respeito à inserção da
mulher. No entanto, esta inserção também começa a ser ameaçada, uma vez que, com a
descoberta de novas variedades, como a uva sem sementes, por exemplo, essa espécie de fruto
não requer raleio intensivo. A irrigação por micro-aspersão pode ser controlada por
computador, o que requer apenas um homem para realizar o trabalho de quatro homens,
quando estes utilizavam equipamentos tradicionais. Cumulativamente, a micro-aspersão
possibilita a fertirrigação, através da colocação de adubo diretamente na água, eliminando a
mão-de-obra que faria a adubação diretamente. O momento é oportuno para destacar que,
nesse mister, o Brasil é tecnologicamente mais avançado do que o Chile, visto que a irrigação
naquele país é realizada através de sulcos. Por outro lado, mais intensiva em mão-de-obra.
Embora tenhamos enfatizado a importância que a fruticultura vem exercendo nos
perímetros irrigados da Região Nordeste, não podemos perder de vista que o desenvolvimento
dessa atividade não foi suficiente para eliminar os problemas sociais existentes, uma vez que a
riqueza gerada não é capaz de se traduzir, na mesma proporção, emprego e renda para atender
uma população acostumada à seca e à miséria, conforme já observou Cavalcanti (1997).
Ademais, a produção de frutas para atender ao mercado internacional é intensiva em
tecnologia, por conseguinte excludente, uma vez que nem todos os agricultores do lugar estão
aptos para lidar com tais inovações e, muito menos, com o mercado. Atualmente, são poucos
os pequenos empresários que resistem às pressões de um mercado tão globalizado como é o
da cadeia global de produção de frutas. Somado a isto, o custo para formar um hectare da
primeira lavoura de uva, por exemplo, fica entre R$ 40 e R$ 50 mil, dependendo da situação
do solo. Dessa forma, a considerar o custo, qualquer estratégia de desenvolvimento através da
implantação de perímetros irrigados, certamente não beneficiará aos pequenos produtores que
estão instalados nas áreas de sequeiro.
138
O exemplo mais categórico desse modelo é o Projeto de Irrigação de Salitre, no
município de Juazeiro, na Bahia. A primeira etapa do projeto irrigará 5.084 hectares pela
margem direita do Rio o Francisco, dos quais, 1.710 seriam destinados para os pequenos
produtores e 3.374 para empresários, para produção de frutas para exportação. No entanto,
sob o argumento da parceria público/privado, essa distribuição ainda não foi consumada pela
CODEVASF.
Destacamos a fala do coordenador do IRPAA, quando lhe foi perguntado se existia um
número suficiente de pequenos e médios produtores de frutas que permitisse um processo de
criação de riqueza e criação de emprego sustentável no pólo Perolina/Juazeiro :
Existem dois tipos de pequenos produtores na região: os que trabalham nos
perímetros irrigados, organizados pelo governo (CODEVASF) que têm certo apoio
de infra-estrutura, mais acesso a crédito e você tem também os outros que são
chamados de beradeiros, que já moram na beira do rio. Esses estão muito atrasados
na utilização das técnicas de irrigação e de cultivo; quase não têm apoio nenhum.
Eles vivem por conta própria. Então, potencial tem sim. Mas ainda tem uma
quantidade enorme de pequenos agricultores na fila esperando uma oportunidade.
No começo deste ano (2006) começou a ocupação do perímetro do Salitre, que, no
início, era para pequenos agricultores, depois passou para pequenos e médios
empresários e, no início deste ano, foi trabalhado na ótica da parceria
público/privado, o governo passou toda a área para grandes empresas nacionais e
internacionais e descartou totalmente a participação dos pequenos, cabendo a eles
só a opção de trabalharem de empregados. (IRPAA- grifo nosso).
Na entrevista que fizemos com o Superintendente da Regional da CODEVASF, de
Juazeiro (BA), condutora de todo o processo de implantação do perímetro irrigado de Salitre,
inclusive da distribuição dos lotes, perguntamos por que só as grandes empresas foram
beneficiadas, a resposta foi a seguinte:
[...] o objetivo principal do projeto é produzir frutas para exportação,
principalmente uvas de mesa. Sendo assim, o investimento inicial para produzir é
muito alto. Muito rapidamente os pequenos produtores iriam repassar esses lotes
para outras empresas. antecipamos esse processo”. (Superintendente da
Regional da CODEVASF).
A propósito, depois de muita insistência, conseguimos ter acesso à planilha de cálculo
de custo de 01 (um) hectare de uva com e sem semente, na sua primeira fase. (ver Tabela 15).
139
Tabela 15: Custos para implantação de 01(um) hectare de uva de mesa. (Preço de nov./2006)
Atividade Com semente-Valor R$/ha
Sem semente-Valor R$/ha
Materiais
1
24.326,30
23.232,23
Insumos
2
15.238,26
15.238,26
Preparo do solo
3
3.234,18
3.234,18
Instalação das parreiras
4
3.126,31
2.425,92
Total 45.925,05
44.130,59
Fonte: CODEVASF (2006)
1- Envolve custo com: arame galvanizado; estacas de madeira (mourões); estacas de
concreto; esticadores; parafusos etc.
2- Envolve custo com: mudas; fosfato, uréia; adubo orgânico; cal; cloreto de potássio etc.
3- Envolve custo com: limpeza; aração; distribuição de calcário; adubação etc.
4- Envolve custo com: demarcação da área; plantio; tratamentos fitossanitários, raleio
etc.
Assim, considerando-se que o tamanho dos lotes seja, em média, de seis hectares, o
investimento de partida para produzir uvas exportáveis seria de aproximadamente R$ 270 mil,
o que, para um pequeno produtor, sem recursos próprios e com sérias dificuldades de inserção
no sistema de financiamento bancário tradicional, significaria deixá-lo na mesma posição
anterior. Com isso, os projetos de irrigação tornam-se cada vez mais privados, em cujas
regiões a estrutura de produção encontra-se visivelmente alterada, com forte presença de
grandes grupos empresariais.
Outra questão que assume grande relevância é o mercado de terra. Verificamos a
constituição de um grande aparato de assessoramento de agentes imobiliários especializados,
geralmente de outras praças. Na área do Projeto Salitre, por exemplo, antes da construção do
sistema de irrigação, “não havia venda de terra por aqui”, afirmaram alguns produtores.
Conseqüentemente, os preços das terras tornaram-se elevados se constituindo no negócio mais
rentável do pólo, em detrimento da produção de uvas. Um produtor que vendeu sua parcela
chegou a declarar:
[...] as ofertas pela terra eram tentadoras; os preços estavam muito elevados. Vendi
os meus seis hectares por R$ 80 mil cada um para uma empresa que o dono é
chileno, no início de 2006. Hoje, o preço de um hectare por aqui deve está uns R$
120 mil” (Aposentado e vive na cidade de Juazeiro-BA).
Numa análise mais depurada de todo esse processo tecnológico de irrigação, verifica-
se, então, evidente processo de exclusão (quiçá, marginalização; porque excluídos já estavam)
de trabalhadores rurais e de pequenos produtores. Grosso modo, a inserção desses atores no
sistema produtivo local fica prejudicada pela sofisticação das tecnologias e dos produtos,
considerados nobres, que passam a compor a pauta de exportação, uma vez que são
trabalhadores voltados para a produção de olerícolas, que requer menos especialização. De
140
fato, fica evidente que o Estado permitiu a apropriação privada de todos os investimentos
públicos até então realizados e pouco se verificam os impactos desses empreendimentos sobre
a vida das pessoas, o que significa dizer que não há transbordamento social.
Nesse sentido, resgatamos o conceito de Barquero (1988), citado no primeiro capítulo,
que conclui sua análise informando que o desenvolvimento é um processo de crescimento e
mudança estrutural da economia de uma região, em que se pode identificar, pelo menos, três
dimensões: uma econômica, caracterizada por um sistema de produção que permite aos
empresários locais usar, eficientemente, os fatores produtivos, gerar economias de escala e
aumentar a produtividade a níveis que permitem melhorar a competitividade nos mercados;
outra sociocultural, em que o sistema de relações econômicas e sociais, as instituições locais e
os valores servem de base para o desenvolvimento; e outra, política e administrativa, em que
as iniciativas locais criam um entorno local favorável à produção e impulsionam o
desenvolvimento sustentável.
Sem dúvida, a produção de frutas irrigadas tem representado um dinamismo
diferenciado no cenário da economia regional do Nordeste, cuja região responde por quase
80% das exportações brasileiras. No entanto, alguns fatores precisam ser levados em
consideração, quando analisamos sob o prisma do desenvolvimento local. Podemos listar: i) o
interesse da iniciativa privada pela isenção fiscal, deixando de recolher vultosos impostos para
o município; ii) não se verificam benefícios socioeconômicos derivados de tais isenções; iii)
pouca preocupação com a degradação ambiental, tendo em vista a utilização intensa do solo
(processo de salinização); iv) ainda que sob a alegação de que a implantação dos perímetros
públicos irrigados traria desenvolvimento e, por conseguinte, melhorias na condição de vida
das pessoas, verificam-se índices elevados de indigência, de acordo com estudos do IPEA
(2006); v) os grupos empresariais que exploram a produção de frutas para exportação não têm
identidade com o local.
Assim, com a atual conjuntura dos perímetros irrigados, abre-se uma grande
possibilidade de debate, no sentido de interferir nos sistemas produtivos de frutas do
Nordeste, com o objetivo de se reverterem os ganhos econômicos em benefício das
necessidades sociais da população, principalmente no que diz respeito à classe trabalhadora,
historicamente à margem da riqueza por ela mesma gerada.
141
3.2 A tradição da fruticultura chilena: origens e desenvolvimento
Uma série de fatores possibilitou o desenvolvimento da fruticultura chilena em direção
ao mercado externo. Além das condições naturais, que sempre existiram (clima, localização
geográfica, etc.), existe um conjunto de fatores que explicam a situação atual, tais como os
antecedentes da atividade frutícola; a participação dos setores público e privado; as condições
políticas; mudanças de hábito de consumo; experiência acumulada e novas tecnologias entre
outros.
Quanto aos antecedentes da atividade frutícola, esta remonta aos anos 1930 e chega até
o golpe militar de 1973. Neste período, deve ser destacada uma série de fatos que conduzem a
uma situação em que se generalizam as bases para o desenvolvimento e crescimento da
atividade, sem que ela possa, efetivamente, ser difundida.
É importante estabelecer uma explicação mediatizada sobre os motivos que explicam o
surgimento do desenvolvimento da fruticultura no Chile. Nesse sentido, os estudos
estabeleciam duas posições extremas. Alguns sustentavam que esse desenvolvimento somente
foi possível em virtude de dois fatos: a segurança que a propriedade privada concede e a
implementação de um modelo de abertura econômica. Outros defendiam que este
desenvolvimento somente foi possibilitado pela reforma agrária, que desarticulou uma
estrutura agrária rígida e arcaica e que terminou criando as condições para um funcionamento
fluido do mercado de terras.
Segundo Gómez (1999), ambas as argumentações não têm capacidade para explicar o
conjunto de fenômenos, que não podem ser colocados como exclusivos e contêm elementos
que ajudam a explicar, sendo insuficientes isoladamente. O autor destaca a existência de um
“fato óbvio” que, exatamente por isso, não se reconhece a importância que possui, que são as
condições naturais e tais condições estão diretamente relacionadas com o plantio da uva. “O
que ocorre é que o ‘Gran Valle Central’ da Califórnia possui condições idênticas de produção
encontradas no ‘Valle Central’ do Chile, quanto às variedades de uva, irrigação, fertilização,
manejo, no período pós-colheira, etc.”. (GÓMEZ, 1999, p. 200). Entende-se que se poderia
expandir a produção de uva de maneira bastante significativa, que o mercado era bem
conhecido e apenas foi preciso transferir tecnologia de produção, sem a necessidade de
nenhum ajuste ou adaptação.
Assim, quando são analisados os esforços para estabelecer-se a fruticultura de
exportação no Chile, é importante mencionar a atuação do setor privado e também do Estado.
142
Desde a década de 1950, o Estado fomentou as organizações de produtores frutícolas,
introduzindo uma ação bem sucedida com a estruturação da Cooperativa de Produtores
Frutícolas de Curicó (COOPERFRUT), formada em 1955, a Associação dos Produtores do
Centro (ASOFRUCEN), que por sua vez deu origem à Cooperativa Agrícola de Fruticultores
da zona central e a Cooperativa Frutícola de Aconcágua (AFRUCOOP).
Outras políticas de incentivo também foram criadas, no sentido de buscar a
modernização do setor mediante planos de fomento, investimentos de infra-estrutura,
estímulos a culturas específicas, entre outras. Por outro lado, e de maneira simultânea, através
de uma política de reforma agrária buscavam a modernização dos segmentos mais atrasados,
afetando os latifúndios tradicionais.
Dentro desta linha, pode-se destacar o estabelecimento da Corporação de Fomento à
Produção (CORFO), no final da década de 1930, a criação do Banco do Estado em 1953, a
constituição da Empresa de Comércio Agrícola (ECA) em 1960 e a formulação do Plano
Nacional de Desenvolvimento Frutícola de 1968. Todas estas atividades são determinantes na
criação das bases para o desenvolvimento da fruticultura chilena.
O papel da CORFO, uma instituição pública, foi a implementação do modelo de
crescimento para dentro, que pode ser entendido como um facilitador da implementação do
modelo de abertura, detectando os setores chave, transferindo tecnologia, modelos de gestão
etc. A ECA, uma empresa filiada à CORFO, já em 1960, desenvolveu um sistema de rede de
refrigeração para frutas que foi fundamental para o seu desenvolvimento. A criação do Banco
do Estado do Chile em 1953 significou o estabelecimento de uma instituição
fundamentalmente dedicada a financiar projetos destinados à modernização do setor agrícola,
entre outros, a fruticultura.
Dentre as situações internas descritas, todas favoráveis a uma expansão da atividade
frutícola, existia um entrave evidente, na visão de Gómez (1999, p. 213): “(...) a realização de
uma reforma agrária e a rigidez imperante no mercado de terras”. É evidente que o clima
social e político existente no país no início da década de 1960, até o Golpe de Estado em
1973, não era atrativo para a realização de investimentos produtivos, pelo menos no campo.
Neste setor, as mobilizações e a ampliação da reforma agrária, congelaram os investimentos
do setor privado. Aliado a isto, outro elemento ausente neste período é uma demanda vigorosa
de fruta fresca fora da estação no hemisfério norte.
Por outro lado, reconhece-se que a antecipação no tempo de atitudes realizadas por um
conjunto de empresários foi determinante para o início da atividade frutícola no Chile. É
importante ressaltar que até a década de 1950, um conjunto de famílias de imigrantes se
143
estabelece no principal mercado de produtos agropecuários do Gran Santiago, como
comerciantes.
Assim, o surgimento de empresas constituídas por tais comerciantes de produtos
agropecuários, genericamente conhecidos nos mercados do país por segmento de “frutas do
país”, exerce um papel destacado, entre elas, a principal, a Companhia Frutera Sudamericana
(CFSA), constituída em 1930. Os que haviam fundado esta empresa iniciaram no negócio de
exportação de frutas nos primeiros anos da década de 1920 como ambulantes. Sua atividade
consistia em transportar frutas em cestas aos armazéns dos navios da Companhia
Sudamericana de Vapores, tampando-as com folhas de bananeiras nas horas de maior calor,
quando cruzavam a zona tropical e vendiam os produtos em portos até chegar ao Panamá,
onde terminavam as viagens. Em seguida, estabeleceram-se no Equador, de onde exportavam
as bananas a diferentes lugares, entre outros o Chile, onde eles mesmos atuavam como
importadores.
A CFSA dominou o comércio exterior de frutas chilenas até os anos 1950,
especializando-se na exportação de maçã e em menor escala de pêra. Posteriormente,
começou crescer a exportação de uvas, quando apareceram os navios que ofereciam serviços
de linhas regulares aos Estados Unidos, reduzindo significativamente o tempo de viagem (30
dias) e o surgimento de transporte refrigerado. É importante ressaltar a influência de outros
comerciantes de “frutas do país”, também imigrantes, que são pioneiros, como são os casos de
David del Curto e da família Pruzzo.
Na década de 1960 foram observadas experiências de integração entre exportadores
comerciantes e dos produtores exportadores. Assim, por exemplo, tanto Pruzzo como Del
Curto, especializaram-se na exportação de maçãs, comercializando grande parte da produção
da CFSA, que por sua vez, passou a formar parte da AFRUCOOP, exportando também uvas e
pêssegos.
Dessa forma, todas as empresas exportadoras estabeleceram redes de recebedores,
integrados pelas principais cadeias mundiais de produção e distribuição de frutas e por
recebedores locais. Estas empresas chegaram ao Chile mais tarde.
Assim, a situação acima analisada foi mantida latente esperando a possibilidade da
decolagem da atividade frutícola, que somente pôde ser materializada quando ocorreu um
conjunto de três condições, cujos elementos permitiram o desenvolvimento vertiginoso da
fruticultura chilena no período 1974-1981. Na visão de Gómez (1999), tais condições foram
as seguintes:
144
a) Surgimento de nova demanda
O primeiro fator é a nova demanda que surge para este tipo de produto. As mudanças
de hábito de consumo que se observa na população de médio e alto poder aquisitivo dos
países do hemisfério norte, consiste numa procura por alimentos frescos, entre outros, as
frutas, que passam a ser fundamentais. Valores que condicionam a dieta, determinam a
eleição de alimentos que caracterizam-se por sua frescura, por serem naturais e saudáveis.
Esta nova demanda é diferente das que tradicionalmente existiam sobre o consumo de
produtos exóticos, como podem ser os tropicais, sendo agora voltada para o consumo winter
fruit e as frutas consumidas na safra são as mesmas demandadas durante o resto do ano, como
é o caso das uvas, maçãs, pêras etc. O Chile, por localizar-se no hemisfério sul, possui as
condições para realizar este abastecimento.
b) Surgimento de novas tecnologias e a experiência acumulada
Verificou-se uma rápida resposta tecnológica e o aproveitamento da experiência que
havia acumulado o país. O melhoramento da cadeia de refrigeração, a disponibilidade de
navios frigoríficos que levavam 15 dias de viagem aos Estados Unidos, os distribuidores
anidro-sulfurosa, que retardam a decomposição da fruta, o acesso às técnicas de irrigação por
gotejamento a preços razoáveis, etc., permitem transportar imensos volumes de frutas frescas
de qualidade. Para gerar esta produção, contava-se no começo com uma capacidade instalada
de plantações e de infra-estrutura. Entretanto, além disso, havia sido gerada uma capacidade
empresarial e qualificação da força de trabalho na zona frutícola tradicional, ou seja, desde
Aconcágua até Curicó (GÓMEZ, 1999).
Outro fator importante foi a crise que sofreu a agricultura tradicional no período 1974-
1982, onde existiam poucos segmentos destinados ao mercado interno que possuem adequada
rentabilidade. Então, a possibilidade de exportar chegou a ser uma das poucas alternativas de
produção agrícola rentável.
c) A importância do pioneirismo na atividade
Um dado importante é o fato de o Chile, juntamente com a Argentina, terem sido os
primeiros países a iniciar uma atividade tão robusta naquele momento (meados da cada de
1970). Isso significava chegar a mercados onde produtos selecionados eram uma novidade, e,
145
portanto, obtinham preços elevados. Além disso, na medida em que a fruticultura acabava de
se massificar, havia abundante força de trabalho disponível.
Assim, estas três condições, na visão de Gómez (1999) e dos estudos da CEPAL,
exerceram um papel fundamental no auge alcançado pela atividade neste período. Entretanto,
o importante a considerar é que todas estas condições aconteceram simultaneamente.
Desde meados dos anos 1970 até finais de 1980 a fruticultura foi um setor líder no
crescimento da economia chilena, com taxas da ordem de 20% ao ano. Foi possível o
crescimento nestas condições, na medida em que se avançava na conquista de mercados
desconhecidos, preços elevados, baixos custos de produção, graças à disponibilidade de uma
força de trabalho abundante e barata e moeda nacional valorizada em relação ao dólar.
Quando estas condições são alteradas, o setor precisa ajustar-se às novas demandas e rios
elos da cadeia enfrentam sérias dificuldades.
Atualmente, muitos vêem o Chile como um exemplo de êxito de um país em
desenvolvimento que exporta frutas não tradicionais. As reformas das décadas de 1970 e 1980
ajudaram a precipitar esse grande destaque. Atualmente, o país é o maior exportador de frutas
do Hemisfério Sul em volume financeiro.
Ainda que a estrutura da produção de frutas chilenas tenha sido construída no molde
dos agrupamentos produtivos (clusters), inevitavelmente o contato com as forças globais tem
induzido a uma rápida mudança em escala local e nacional, mediada por empresas frutícolas,
em grande parte multinacionais, o que tem alterado sobremaneira a natureza das relações
sociais e econômicas da produção no campo chileno.
De certa forma, a “janela” da globalização se abriu de forma quase fortuita para o
Chile. Quando a Junta Militar tomou o poder em setembro de 1973, a economia chilena
passava por profundos problemas. Com o intuito de estabilizá-la, o regime militar utilizou de
um austero, rápido e drástico processo de reforma baseado nos princípios do modelo de
abertura econômica, vigente na época. Baixaram-se nos insumos importados e reduziu-se o
custo de mão-de-obra através do desmantelamento da atividade organizada. Por outro lado,
incentivou-se o investimento estrangeiro e os procedimentos de exportação foram
simplificados.
As reformas radicais de comércio e de mercado permitiram que as vantagens
competitivas que o Chile possuía, na produção de fruta, funcionassem no espaço global
(BOSWORTH, 1994). Nas ditas vantagens, incluem-se características climáticas, qualidade
do solo e a possibilidade de atendimento do mercado global na contra-estação. Ademais,
através dessas reformas, permitiu que se operassem várias vantagens comparativas induzidas
146
institucionalmente. Destaquem-se três fatores. Primeiro, o investimento no setor frutícola
encabeçado pelo Estado e centrado no Plano de Desenvolvimento da Fruticultura de Frei, em
1968, havia determinado os avanços tecnológicos dentro do setor (MURRAY),
1998b).Segundo, os diversos programas de reforma agrária que começaram com a presidência
de Frei (1964-70), que continuaram com Allende, terminaram um ineficiente sistema de
propriedade da terra, possibilitando o desenvolvimento de um mercado de terra competitivo e
eficiente (MURRAY, 1998a). Finalmente, os custos de o-de-obra reduziram-se
significativamente pelas reformas trabalhistas do pós-golpe, com o desmantelamento das
atividades organizadas, conforme dito anteriormente. Tendo em vista uma tendência de
demanda favorável nos países desenvolvidos, o setor exportador de fruta chilena se expandiu
rapidamente.
3.2.1 A história de um êxito macroeconômico
No período compreendido entre 1974 e 2005, o valor nominal das exportações de
fruta chilena aumentou de US$ 30 milhões para quase US$ 2.100 milhões. O gráfico 1 mostra
que entre 1973 e 1982, dentro do contexto de uma forte abertura da economia, registraram-se
aumentos relativamente graduais no valor nominal das exportações. Entre 1982 e 1983, as
conseqüências da sobrevalorização do peso frente ao dólar, juntamente com a crítica situação
econômica global, corroboraram para a diminuição desses valores (Universidad Católica de
Chile, 1993).
Entre 1983 e 1988, com o objetivo de tirar o Chile da profunda recessão, o regime
militar aprofundou ainda mais as reformas, para um modelo de desenvolvimento mais
pragmático. Dentro desta política que impactava principalmente o câmbio, uma série de
desvalorizações do peso chileno, juntamente com diversos incentivos tributários, foi de
grande relevância para o setor de exportação frutícola. Com essas políticas, as exportações
prosperaram vigorosamente até que o crescimento foi interrompido pelas perdas no mercado
consumidor dos Estados Unidos, com o episódio das “uvas envenenadas” em 1989
62
.
62
Esta crise constituiu-se na proibição da entrada de fruta chilena no mercado dos Estados Unidos, em março de 1989, quando foi encontrado
cianureto em uma uva que passava por inspeção na Filadélfia.
147
Mesmo após a crise do cianureto, nos dois anos seguintes, verificou-se crescimento
acelerado, elevando o valor nominal das exportações de frutas chilenas para US$ 1.100
milhões em 1991. Nos anos seguintes, até 1996, estes valores permaneceram, em média,
constantes, tendo em vista a imposição de cotas físicas no principal mercado importador de
maçãs chilenas, qual seja, a União Européia. Nos últimos anos verifica-se uma elevada alta
nos valores das exportações devido, em grande parte, ao crescimento dos mercados de frutas
“não –tradicionais”, tais como o da América Latina. Dentro desse mercado em evolução, as
maçãs e, em especial, a uva, têm sido de grande importância proporcional. Ainda que tal
concentração tenha declinado, em 2005 estas espécies foram responsáveis por 60% do volume
de frutas exportado (uva 44% e maçã 16%), conforme Tabela 16.
210
630
30
510
1.100
1.256
1.359
1.358
1.329
1.280
1.525
1.772
2.001
2.088
0
500
1000
1500
2000
2500
US$ milhões)
1977
1983
1988
1989
1991
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
Fonte: Elaboração própria, a partir dos dados da ODEPA
Gráfico 1
: - Exportação de fruta fresca chilena - 1977 - 2005 (US$ Milhões
Correntes)
148
Tabela 16: Principais frutas da pauta de exportação do Chile - Evolução de 1997 à 2005 (US$ Mil
correntes)
FRUTA 1997
Participação
(%)1997
2005
Participação
(%)2005
VARIAÇÃO (%)
1997-2005
Abacate 32.002,70
2,55
166.745,40
8,00
421,04
Albaricoques frescos 3.423,60
0,27
4.495,40
0,22
31,31
Almendras con cáscara 298,8
0,02
2.144,50
0,10
617,70
Arandanos 10.347,30
0,82
103.533,20
4,97
900,58
Bananas 22,8
0,00
149,4
0,01
555,26
Castanhas 40,1
0,00
145,9
0,01
263,84
Cerejas. 14.937,90
1,19
76.326,50
3,66
410,96
Ciruelas 72.236,90
5,75
86.312,20
4,14
19,48
Clementinas 0
0,00
18.191,20
0,87
Frambuesas 18.894,90
1,50
28.039,20
1,34
48,40
Kiwis 78.323,00
6,24
110.694,50
5,31
41,33
Limões 10.022,90
0,80
19.795,30
0,95
97,50
Mandarinas 1.682,50
0,13
19.037,80
0,91
1.031,52
Maças 211.137,00
16,81
333.806,70
16,01
58,10
Pêssego 29.131,20
2,32
41.586,50
1,99
42,76
Laranja 110,6
0,01
10.700,20
0,51
9.574,68
Nectarinas 49.331,00
3,93
55.019,60
2,64
11,53
Nozes 9.346,80
0,74
13.084,20
0,63
39,99
Peras 84.680,80
6,74
73.844,40
3,54
(12,80)
Uvas frescas 627.796,60
49,98
915.736,60
43,93
45,87
Demais frutas 2.216,60
0,18
5.341,60
0,26
140,98
TOTAL 1.255.984,00
100,00
2.084.730,30
100,00
65,98
Fonte: Elaboração própria, a partir de dados da ODEPA
Assim, de acordo com os dados da Tabela 16, verifica-se que a partir de 1997 a
pauta de exportação de frutas chilenas tornou-se amplamente diversificada. Principal destaque
deve ser dado para a participação dos aguacates/paltas (abacates), cuja fruta representou 8%
do total exportado em 2005, passando de US$ 32 milhões em 1997 para US$ 166,7 milhões
em 2005, o que representou uma evolução de 421% no período analisado.
Com relação às exportações agrícolas, a fruticultura exerce um papel preponderante
no cenário do comércio exterior. Do total dos 11% das exportações de produtos
agropecuários, em 2005, a fruticultura participou com 9%. De forma geral, o setor de
exportação frutícola teve um papel crucial na economia chilena na década de 1970 e de 1980,
contribuindo com a construção de uma sólida base para os altos níveis de crescimento, que
foram relativamente constantes em ambas as épocas. Os resultados do setor contribuíram para
diversificar a economia.
Até 1971, a indústria do minério foi responsável por 85% dos resultados totais da
exportação; devido ao crescimento das exportações industriais e agrícolas não tradicionais, a
cifra diminuiu para 44% (ODEPA, 2005). No cenário mundial, o Chile é o líder na exportação
de frutas no Hemisfério Sul. É o maior exportador de uvas de mesas no mundo e um dos
maiores exportadores de maçãs. Ou seja, numa escala de análise macroeconômica, o
149
desenvolvimento do setor exportador frutícola chileno representa o êxito mais representativo
do modelo de reestruturação econômica, na época chamado de “modelo neoliberal” (APEY,
1995).
3.2.2 A fruta chilena na cadeia de produção global e as empresas multinacionais
Utilizando-se o referencial teórico proposto por Gereffi (1994), a cadeia de fruta
global, impulsionada pelo comprador, pode ser dividida em quatro partes: o consumo; o
marketing e a venda minorista; a distribuição, incluindo o transporte e o armazenamento
frigorificado; e a produção. Os laços entre essas quatro funções não se confundem como uma
propriedade direta, mas se baseiam em uma “rede” de acordos contratuais. Esses acordos
incluem: o contrato informal entre os consumidores e a sua cadeia se supermercados
preferidos; os contratos formais que existem entre as cadeias de supermercados e os maiores
importadores, por uma parte, e os diferentes tipos de companhias exportadoras de frutas (as
transnacionais e os consórcios de agricultores individuais), por outro lado; por último, os
contratos entre as empresas exportadoras e os produtores.
Nesse sentido, podemos fazer uma análise objetivando conceitualizar o modelo
chileno, a partir de uma perspectiva de comércio minorista e marketing, proposto por Gwynne
(1994), no Reino Unido.
Naquele país, os supermercados representam os principais agentes do comércio
minorista da cadeia, recebendo cerca de 60% da fruta chilena importada. Os supermercados e
os minoristas m contratos com quatro diferentes tipos de agentes de distribuição
responsáveis pelo marketing da fruta chilena. Esses agentes são: empresas frutícolas de maior
ou média escala, como Dole, Chiquita, United Trading Company, Unifrutti e Zeus; empresas
exportadoras chilenas que incluem David del Curto, Copefrut, Rio Blanco e Frusan; grandes
consórcios de agricultores, que usualmente sub-contratam serviços entre o agricultor e o setor
de comércio minorista; um grande número de pequenas e médias companhias exportadoras
que participam no abastecimento dos mercados especializados (mercados de nicho).
Os laços que existem entre os distribuidores e os produtores (atualmente, em torno
de 8.000, trabalhando em 10.000 propriedades, conforme dados da ODEPA, 2005) são de
grande importância para o marketing internacional da fruta chilena. É fundamental o fato de
que, dados os baixos níveis de regulamentação no setor, as companhias exportadoras
provocam significativos impactos nas localidades. A natureza do conjunto dessas empresas
150
tem três faces: o marketing, adaptação e transferência de tecnologia e a provisão de
financiamento para os agricultores.
a) O marketing: as companhias exportadoras são cruciais para a promoção dos produtos
frutícolas chilenos de duas maneiras principais. Na primeira, elas provêem os serviços
necessários para a preparação, embalagem e armazenamento frigorificado da fruta.
Num segundo plano, as empresas reúnem quantidades suficientes de mercadorias para
justificar o investimento em tais serviços, obter economias de escala de transporte e
gerar um poder negociador de preços nos países recebedores. Isto é de particular
importância para os pequenos produtores, os quais não têm que enfrentar barreiras
consideráveis ao comercializarem seus produtos independentemente;
b) Adaptação e transferência de tecnologia: conforme nos referimos anteriormente, o
Plano de Desenvolvimento Frutícola de Frei, em 1968, formou uma base importante
para os avanços tecnológicos no mercado de frutas. No entanto, conforme assinala
Jarvis (1992), nos anos pós-golpe, especialmente na década de 1970, o setor ficou a
cargo de seus próprios recursos. Assim, as empresas exportadoras tiveram um papel
fundamental na identificação, adaptação e na transferência de rias tecnologias
frutícolas. Alguns exemplos incluem a adoção, adaptação e transferência da variedade
de uva “Californian Thomson Seedlees”, que a companhia chilena exportadora líder,
David del Curto, levou para o Chile. No mesmo período, inclui-se também o
desenvolvimento de técnicas de armazenamento e controle de qualidade da pós-
colheita por uma série de empresas;
c) Provisão de financiamento para os agricultores: pode ser que a tarefa mais importante
das empresas de marketing tenha sido a de desenvolver um sistema de financiamento
para os agricultores. A empresa David del Curto foi fundamental em estabelecer este
modelo de provisão de crédito, no qual as empresas efetivamente atuaram como
bancos. Esse sistema foi crucial para o desenvolvimento no setor da pequena
agricultura já que muitos bancos não estavam dispostos a financiar os pequenos
agricultores. Nesse sistema, o abastecimento da uva de exportação se assegurava por
meio de acordos contratuais. No passado, esses acordos eram incluídos através de
preços mínimos. No entanto, a forma mais freqüente continua sendo o acordo de
consignação de um ano.
Conforme o que se pôde observar, por ocasião da pesquisa de campo, atualmente,
oferece-se ao agricultor um crédito com taxa entre 8-12%. Esta antecipação é utilizada,
normalmente, para cobrir todos os custos de produção e também para a sua própria
151
manutenção. Nesse sentido, o financiador espera que o produtor siga um rigoroso programa
de aplicação de insumos ao longo da temporada produtiva. Em muitos casos, esses insumos só
podem ser fornecidos pela empresa, que envia um profissional, geralmente um agrônomo,
para monitorar a operação. Uma vez coletado o produto, o agricultor envia para o serviço de
embalagem, em data exigida pela empresa.
A fruta deve cumprir com os requisitos estipulados no contrato, sob pena de não ser
aceita. Uma vez embalada, segue para a câmara refrigerada e em seguida é transportada. O
pagamento ao produtor é realizado através do sistema de preços em consignação. Assim, o
retorno líquido para o agricultor será o equivalente ao preço total recebido pela fruta, menos o
total da antecipação mais as taxas, junto com os custos dos insumos e/ou a maquinaria
fornecida pela empresa (que, em algumas vezes, inclui a mão-de-obra), mais os encargos
pelos serviços do agrônomo. Quando o agricultor se encontrar endividado, nesta transação,
também serão incluídas outras taxas sobre o montante da dívida (usualmente, 10%). Isto
acontece quando o retorno bruto do produtor não é suficiente para cobrir as suas despesas com
a empresa contratada. Normalmente, existe uma cláusula sobre dívidas que estipula que o
agricultor deverá entregar toda a sua produção exclusivamente à empresa até que haja pago
todos os seus débitos.
Assim, nos anos 1980, todas as companhias exportadoras utilizavam o sistema de
Crédito de Contrato e Consignação (CCC). Dessa forma, nos anos do boom, em meados
daquela década, houve uma explosão nos níveis de crédito disponíveis para os produtores.
Neste período, muitos pequenos agricultores se incorporaram também ao sistema.
3.2.3 A reestruturação do setor exportador frente à crise da década de 1990
Em 1989, 1992 e 1993 o valor nominal das exportações de frutas chilenas foi
reduzido. Assim, de acordo com as entrevistas realizadas no Chile, esta situação se deveu a
três fatores fundamentais: i) o rápido aumento do valor do peso com relação ao dólar durante
esse período; ii) a entrada de novas empresas competidoras nos mercados globais de frutas
(especialmente da África do Sul); e iii) um crescente protecionismo das economias
desenvolvidas, especialmente nos mercados da maçã da União Européia, onde a
competitividade com os produtores locais é acirrada.
Essa tendência deu origem a uma significativa reestruturação das companhias
exportadoras, gerando também um impacto negativo (devastador na visão dos entrevistados)
152
para muitos produtores de frutas, principalmente os de menor escala. Assim, o mercado se
estruturou de seguinte forma:
Num primeiro plano, as pressões do mercado têm propiciado a formação de
companhias exportadoras sem responsabilidades com o sistema produtivo local.
Estas empresas não participam do complexo sistema CCC. O seu papel é de
atuarem como simples intermediários comprando e vendendo os produtos,
geralmente contratando os serviços e a infra-estrutura das empresas maiores para
sua atividade de pós-colheita. Desta forma, tais companhias m reduzido seus
riscos podendo explorar mais facilmente os mercados de nichos e retirar-se se
necessário. Tendo em vista o fato de que essas empresas requerem produtores
independentes em termos de capacidade financeira e tecnológica, os pequenos
produtores geralmente não participam do sistema;
Uma segunda mudança recente, dada a evolução das relações de contrato mais
estritas com muitas empresas exportadoras, tem sido o aumento de associações
exportadoras de grandes produtores. Segundo um grande produtor e presidente
de uma associação de produtores/exportadores de Rancágua, a escala mínima de
eficiência deste tipo de empresa é de cerca de 100.000 caixas por ano (cada
caixa com 8 Kg, aproximadamente). Este requisito, juntamente com a
necessidade dos investimentos pertinentes, tem sido o fator que impede a
formação de associações de pequenos produtores;
Em terceiro lugar, algumas empresas participam na compra de terras que
pertenciam a produtores que abandonaram a sua produção após malogro na sua
comercialização.
É importante frisar que esses movimentos então ocorrendo com mais freqüência na
periferia do mercado. Na maioria dos casos, o modelo organizacional CCC persiste. Um
número de empresas que anteriormente ofereciam preços garantidos tem se voltado para este
sistema depois de sofrer severas perdas devido aos erros de cálculos, principalmente após a
crise econômica de 1989 e 1992-93, conforme relata Gómez (1996). Não obstante, esta
modalidade, e em particular a natureza da negociação e acordos sobre os contratos, tem
evoluído consideravelmente. Em uma análise realizada pela CORFO (2005) em 40 contratos
de consignação, 20 de 1994 e 20 de 2004, mostra um significativo aumento no rigor das
condições contratuais, incluindo-se também pagamentos com altas taxas de juros, comissões e
153
introdução de várias cláusulas adicionais. Um destaque maior deve ser dado para três
cláusulas adicionais:
Na cláusula “arbitrária” a empresa pré-seleciona um advogado que arbitra
em caso de uma disputa entre as partes. Em muitos casos, a empresa
predispõe seriamente o resultado dos procedimentos legais ao selecionar
um advogado oficial da companhia;
Na cláusula “área de jurisdição” a empresa indica em que lugar físico
devem-se resolver as disputas. As empresas que funcionam em áreas
periféricas do país, via de regra, selecionaram Santiago, uma vez que,
assim, a possibilidade de que as reclamações se tornem públicas é muito
menor;
Em terceiro lugar, como uma reação direta do episódio das “uvas
envenenadas”, os contratos incluíram uma cláusula de “catástrofe
externa”. Assim, devido a um bloqueio inesperado por guerra, seqüestro
ou outro fator, a fruta é devolvida ao produtor, com a obrigação de
recolhê-la onde estiver naquele momento. Desta forma, a empresa ao
liberar-se da responsabilidade em um momento de crise, pode evitar
qualquer pedido de compensação.
No Chile, a natureza deste tipo de contrato é conhecida nos círculos legais como “o
contrato leão”. O termo se refere aos contratos desenhados para funcionar quase que
exclusivamente em vantagem da parte dominante. Assim, os agricultores que operam sob este
sistema estão cada vez mais inseridos em um sistema global onde seus rendimentos são
determinados por fatores globais que estão para além do seu controle.
Dessa forma, uma considerável proporção de pequenos produtores de frutas está
endividada com as companhias. Cada vez mais os agricultores estão entregando suas terras
em pagamento de tais vidas. Assim, os produtores que ficam sem suas terras, geralmente,
recorrem aos empregos de temporada mal pagos ou direcionam-se para atividades informais;
muitos deles migram para as cidades. Como conseqüência, verifica-se no setor frutícola
chileno a reconcentração de terra, uma vez que as empresas e os maiores produtores obtêm
cada vez mais acesso às propriedades que antes pertenciam aos parceleiros. Na tabela 17,
verificam-se os níveis médios de endividamento de 10 pequenos agricultores, por município
pesquisado da Região (Codégua, Graneros e Rancágua), entrevistados em janeiro/2007,
cuja propriedade da terra já está ameaçada.
154
Tabela 17: Nível médio de endividamento – 2007
Município Endividamento médio por agricultor (US$) Ano início da dívida
Codégua 32.231 A partir de 2002
Graneros 41.233 A partir de 2000
Rancágua 38.337 A partir de 1999
Fonte: Dados da pesquisa de campo.
A tabela 18 mostra o impacto do endividamento, em termos de concentração de
terras, das mesmas localidades citadas anteriormente. De acordo com os entrevistados, outras
pesquisas similares realizadas com pequenos produtores de maçã e uva têm revelado que
processos parecidos estão acontecendo em outras localidades, principalmente no Vale Central
do Chile, cuja região é tradicional exportadora de frutas frescas daquele país. Assim, nas
áreas estudadas, a terra tem sido absorvida pelos maiores produtores e empresas exportadoras
como forma de pagamento das dívidas dos pequenos.
Tabela 18: Delimitação do tamanho das propriedades na Sexta Região
Tamanho 1983 (%)
2004 (%)
< 10 ha
26 10
10 – 20 ha
7 8
20 - 60 ha
4 9
> 60 ha
63 73
Fonte: Ministério da Agricultura do Chile/INDAP, 2007.
3.2.4 O desenvolvimento desigual no Chile frente à expansão da fruticultura
Apesar do êxito do setor exportador de fruta chileno, na ótica de Murray (2002), o
aumento nas exportações de frutas não tradicionais está produzindo muitas tensões sociais,
econômicas e ambientais no Chile. Argumenta-se que essas tensões têm evoluído, em grande
parte, devido à incapacidade do Estado de regulamentar o impacto das forças econômicas
globais. Isto se deve a uma contínua adesão a uma política econômica e social de abertura dos
mercados no setor rural e na economia em geral. Ironicamente, argumenta-se que “se tais
tensões não forem controladas, impossibilitará a sustentabilidade do setor no longo prazo” (p.
10).
155
Dessa forma, diversos estudos (CRUZ, 1987; GÓMEZ, 1996; GWYNNE e ORTIZ,
1997) apontam que a desigualdade espacial tem se exacerbado devido a tal desempenho.
Assim, conforme pudemos verificar em visita ao Chile, muitas localidades rurais e, em alguns
casos, até regiões, têm sido marginalizadas dentro desse sistema dinâmico de comércio
internacional. Os estudos acima referenciados dão conta de que a ideologia de livre mercado
tem impedido o desenvolvimento de uma política regional coerente desenhada para corrigir os
desequilíbrios espaciais.
Em seus estudos, Murray (2002) faz distinção entre a questão inter-regional e intra-
regional do desenvolvimento da fruticultura chilena. Na questão inter-regional, os pomares
de fruta estão localizados entre a III Região, no Norte (Atacama), e a IX Região (La
Araucanía). No entanto, até 1999, mais de 155.000 hectares, de um total de 178.000 com
frutas, concentravam-se nas cinco regiões: entre a IV e a VII (incluindo a Região
Metropolitana). Mais de 50% do total da terra utilizada para cultivos frutícolas se
encontravam na VI Região e na Região Metropolitana. O aumento da produção nestas regiões,
bem como a crescente renda per capita, têm sido alguns dos benefícios para as regiões
especializadas na exportação de fruta.
Por outro lado, tendo em vista razões climáticas e de localização (próximo a serviços
portuários, temporada de colheita, nível de infra-estrutura), nas regiões mais periféricas, a
agricultura tradicional (usualmente a de consumo local que inclui trigo, milho, beterraba e
produtos lácteos) domina as economias rurais regionais. É importante ressaltar que, nesse
momento, dada a variedade de acordos de livre comércio que evoluíram na região (Mercosul e
NAFTA), junto com uma continuada reticência por parte do Governo em interferir no
mercado, parece quase impossível que a relativa posição do setor não exportador possa
melhorar.
No que diz respeito às diferenças intra-regionais, dentro das regiões que cultivam
frutas, a distribuição dos benefícios também tem se concentrado espacialmente. Certas
localidades, onde existem vantagens comparativas e competitivas na produção de cultivos
para a exportação, têm desfrutado de uma quantidade de benefícios. Por exemplo, na Sexta
Região tem havido uma significativa diferenciação espacial entre os municípios (comunas).
Em Rancágua, as exportações têm prosperado com muita força. Aqui convergem
consideráveis variáveis climáticas que permitem a colheita no momento perfeito para o
mercado da época do Natal na América do Norte. A existência de um sistema de irrigação
público juntamente com outras formas de abastecimento de água permanente tem contribuído
para o crescimento e desenvolvimento local.
156
No município localizado ao sul de Rancágua, Codegua, por exemplo, que fica a 52
Km, a temporada da colheita é mais tardia para se beneficiar dos melhores preços de contra-
estação dos EUA, tendo em vista que o sistema de irrigação é menos tecnificado. Como
conseqüência, um município de crescimento mais acelerado é vizinho de outro que traz
consigo características de locais subdesenvolvidos.
Em Monte Pátria, na Sexta Região, por exemplo, pudemos observar a existência de
um micro-clima particularmente favorável, recebendo água de maneira permanente em uma
terra fértil e plana e que tem uma história exitosa de reforma agrária. Por conseguinte,
verifica-se um reconhecido crescimento na exportação de uva de mesa (centrada em um
pequeno povoado rural chamado El Palqui). Bem próximo, no vale Rio Grande, tem havido
muitos problemas que têm impedido o desenvolvimento da agricultura para a exportação.
problemas de abastecimento de água, por exemplo, fazendo do povoado uma área seca e com
alta incidência de pobreza rural no vale. Esses produtores deixam suas terras para trabalharem
de empregados temporários, em épocas de colheitas, para os produtores de El Palqui, a 35
Km.
Não desconsiderando a importância do Chile como principal exportador de frutas de
mesa do Hemisfério Sul, no entanto, tais evidências sugerem que o boom das exportações de
frutas vem caracterizando um desenvolvimento espacial desigual no país.
Verificamos também que tal desempenho tem favorecido uma inclinação urbana.
Por exemplo, alguns centros urbanos regionais, tais como Rancágua (VI Região) e Santiago
(Região Metropolitana), têm cultivado consideráveis benefícios multiplicativos através do
desenvolvimento do setor de serviços, principalmente, financeiros, informação e assistência,
entretenimento e transporte, insumos e maquinarias. Por outro lado, a baixa qualidade dos
níveis de suprimento e outras atividades, seguem caracterizando as áreas de produção e seus
pequenos povoados e assentamentos.
Assim, fazendo uma análise pormenorizada, o crescimento das exportações de frutas
de mesa no Chile tem proporcionado um desenvolvimento sócio-econômico diferenciado na
área rural. De acordo com os municípios visitados, dentro das localidades que participam do
sistema, as diferenças entre os grupos sócio-econômicos têm se tornado ainda mais intensas.
Por exemplo, as pessoas que não possuem terras, os trabalhadores temporários e os pequenos
agricultores estão em relativa desvantagem dentro da sociedade rural.
De acordo com as observações no campo e com entrevistas realizadas, tais
diferenças são mais visíveis no que se refere ao mercado de trabalho. Dessa forma, fazendo
uso dos instrumentos da pesquisa, podemos caracterizar da seguinte forma:
157
a) O mercado de trabalho diferenciado Em todas as regiões e localidades que se
especializaram na exportação de frutas de mesa, o emprego rural aumentou devido a uma
crescente demanda por trabalho agrícola e de embalagem. Destaque principal deve ser dado
para o alcance que se tem dado para a mão-de-obra feminina, na poda e na embalagem da
fruta, que, via de regra, é considerada positiva. Em muitos casos, isso tem levado as mulheres
a empregarem-se pela primeira vez, o que, de certa forma, lhes confere certo nível de
independência econômica e que, segundo alguns entrevistados, é um passo importante para
compensar a tradicional estrutura social patriarcal que existe na área rural chilena.
Não obstante, a recompensa pelo trabalho no mercado de fruta é diferenciada de
acordo com o status do trabalho (temporário e não temporário) e ao gênero. No caso do
primeiro, uma proporção significativa da crescente demanda é de natureza temporária. Isto
gera insegurança econômica para a mão-de-obra durante o período de entressafra, bem como
sérios problemas associados à afluência migratória em busca de trabalho para a safra. Além
disso, os salários nesta modalidade são menores do que no trabalho permanente. Esse é o caso
em particular da mão-de-obra feminina para a embalagem, que, geralmente, recebe menos que
a masculina por um dia de trabalho. Conversando com algumas dessas trabalhadoras
temporárias rurais, a maioria se queixa do trauma de trabalhar “jornada dupla”, uma vez que
também m que cuidar das suas casas. Tem lugar comum, no rol de entrevistas realizadas,
que têm havido poucos avanços no aspecto de sindicalização que a ditadura militar eliminou e
que os governos democráticos ainda não conseguiram resolver.
b) A marginalização e a proletarização dos pequenos agricultores Conforme temos
observado, a posição relativa de muitos agricultores tradicionais, sem acesso ao mercado
externo, tem piorado, principalmente dos pequenos agricultores, os quais estão severamente
limitados, no sentido de obter o crédito necessário para iniciar a produção de fruta, tendo vista
o alto custo para se formar o primeiro cultivo. Por exemplo, em Rancagua, para cultivar
apenas um hectare de uva de mesa pode custar até US$ 28.000, atualmente. Podemos
considerar que nessa região o abastecimento de água para irrigação é abundante, o custo é
consideravelmente menor, mas ainda assim é impossível aos pequenos agricultores
trabalharem com tal cultura.
É importante registrar a inexistência de estatísticas específicas sobre a força de
trabalho agrícola e agroindustrial temporária. Tal fato é devido às dificuldades inerentes a
uma medição deste tipo in loco. Uma segunda dificuldade identificada é que nem todos os
trabalhadores agrícolas de temporada constituem população rural; o desenvolvimento da agro-
exportação nas últimas décadas tem provocado uma ruptura com a tradicional relação entre o
158
emprego agropecuário e o rural. A tendência de instalação das plantas de processamento e de
embalagens em áreas consideradas urbanas, porém próximas às rurais, tem contribuído para
que a mão-de-obra que ali trabalha seja de origem urbana, ou que contingentes de
trabalhadores de cidades e povoados se desloquem para trabalhar nas plantações do campo.
De acordo com os dados do Ministério de Desenvolvimento e Planejamento do Chile –
Mideplan (2004), estima-se que 30% do total dos temporários são residentes urbanos, outros
20% residem em localidades “rurbanas” e a metade seriam residentes de áreas rurais.
A literatura sobre o tema também faz referência a outro problema recorrente: as
dificuldades na medição do trabalho feminino. Na mesma pesquisa, realizada pelo Mideplan
(2004), encontraram-se 873.514 mulheres que trabalharam em algum período de anos
anteriores e, dentre elas, 21,3% o fizeram na atividade agrícola. Mesmo assim, a
informalidade das relações trabalhistas no setor também contribui para as dificuldades de seu
registro.
O Quadro 7, abaixo, demonstra instabilidade das informações, no que diz respeito
ao trabalho de caráter temporário, considerando-se como fonte as diversas instituições que
realizaram estudos nesse sentido.
Quadro 7: Emprego agrícola de temporada
Fontes Emprego agrícola de
temporada total
Emprego agrícola de
temporada feminino
Mideplan (2004) 249.464 assalariados não
permanentes
57.000 assalariadas não
permanentes
VI Censo Nacional
Agropecuário, 2001
280.662 força de trabalho
agrícola temporário
70.093 mulheres na força
agrícola temporária
Pesquisa Nacional do
Emprego, INE – 1999
457.880 total de assalariados
na agricultura
60.780 total de assalariadas na
agricultura
Sociedade Nacional de
Agricultura, SNA – 2005
399.000 trabalhadores
temporários
S/I
Confederação Nacional
Campesina
400.000 trabalhadores
temporários
S/I
Fonte: Elaboração própria a partir das fontes mencionadas
Nos diversos órgãos com os quais mantivemos contato, o debate está centralizado,
principalmente, na reconversão dos pequenos agricultores como uma estratégia de
sobrevivência. O objetivo é motivá-los a converter sua produção em cultivos que sejam
competitivos no mercado global, tal como é a fruta. No entanto, também existe o consenso de
que os pequenos agricultores, em particular, enfrentam uma serie de restrições que podem
dificultar tais esforços, uma vez que teriam impedimentos pela falta de financiamento,
159
informação, poder de negociação e a necessidade de assegurar os recursos para a
sobrevivência e também de minimizar os riscos. Dado esse consenso, verifica-se que as
políticas públicas têm se voltado mais para os agricultores viáveis”, colocando à sua
disposição fundos mais generosos através da CORFO.
O que se observa na atualidade é que a reconversão à produção de fruta não é
suficiente para garantir a sobrevivência dos pequenos agricultores. Os grandes agricultores
(com mais de 50 ha) estão se beneficiando claramente com o desenvolvimento da exportação
de frutas. No entanto, os pequenos e médios enfrentam grandes dificuldades dentro do
contexto de livre mercado. Em geral, tais agricultores foram incorporados através de contratos
com empresas exportadoras, via de regra multinacionais, como falamos anteriormente. Tais
contratos têm sido elaborados explorando assimetrias no poder econômico e político existente
entre as firmas e os agricultores, onde se estabelece um sistema de contrato que funciona
claramente a favor das empresas. Dado o baixo poder de negociação, os pequenos produtores
ficam sem alternativas ao aceitar as condições dos documentos contratuais.
Tais problemas se agravam ainda mais pelo fato de os agricultores serem quase
obrigados à prática de monoculturas em suas terras para obter economias de escala, o que os
torna ainda mais vulneráveis.
Dessa forma, conforme diagnóstico da pesquisa de campo, uma grande proporção de
parceleiros está endividada com as companhias. Cada vez mais os produtores estão
entregando suas terras como forma de pagamento de tais vidas. Por conseguinte, como
tínhamos apontado anteriormente, têm que recorrer a empregos de temporadas mal pagos ou a
atividades informais; muitos deles estão migrando para as cidades, conforme pudemos
observar nas falas dos entrevistados.
Como conseqüência, pode-se ver claramente, no setor produtor frutícola chileno, a
reconcentração de terras, uma vez que as empresas e os maiores produtores obtêm cada vez
mais, por meio do seu poder econômico, acesso às propriedades que antes pertenciam aos
parceleiros.
Atualmente, na Sexta Região, está sendo construída uma represa com o objetivo de
irrigar 20.000 ha., sendo que 80% da área irrigada são de pequenos produtores. No entanto,
conforme informação de uma entrevistada do Ministério da Agricultura do Chile existe a
preocupação de que, após a conclusão da obra, as grandes empresas e grandes produtores
venham comprar os referidos lotes. Tal preocupação reside no fato de a obra ser realizada
também com recursos privados de grandes empresas exportadoras de frutas.
160
Por outro lado, é possível verificar que nos agrupamentos de pequenos produtores bem
organizados, no que diz respeito ao associativismo e ao cooperativismo, ainda que as forças
globais lhes pressionem, os resultados também têm sido interessantes. Em Peumo, pequeno
povoado a 40 Km de Rancágua, cerca de 30 pequenos produtores de cerejas e uvas de mesa,
com propriedades entre 1 e 13 ha, constituíram uma cooperativa (Coopeumo) em 1996 com o
objetivo de inserir seus produtos no mercado internacional e vêm adquirindo grande êxito. O
ponto de destaque nesse empreendimento, conforme pudemos observar numa reunião que nos
permitiram participar, é a capacidade de fazer seus ajustes/acertos através de experiências
negativas de outras cooperativas. Tal procedimento requer informações atualizadas quase que
em tempo real, através dos recursos tecnológicos dos quais dispõem.
Existe também uma preocupação premente entre os cooperados com a educação dos
filhos dos produtores. Nesse período, alguns jovens já se formaram em curso superior,
principalmente em agronomia, especializaram-se e retornaram para trabalhar na propriedade
ou na administração da cooperativa. Ou seja, toda mão-de-obra utilizada tem vínculo com o
local, dispensando-se assim a contratação de especialistas que não tenham sinergia com o
sistema produtivo.
Assim, sem subestimar a pujança do comercio internacional de frutas chilenas,
estamos apontando as fragilidades que tal desempenho vem desencadeando no
desenvolvimento rural desigual do país e, ao mesmo tempo, registrando que a efetiva
intervenção e regulação do Estado poderia ser útil para contribuir no sentido de diminuir as
tensões e o caráter excludente que o segmento traz para os mais desprovidos de capital. Em
geral, naqueles agrupamentos onde não se verificam a organização dos produtores em
associações ou cooperativas, também não se verificam os efeitos de transbordamentos que a
atividade comercial possa proporcionar.
3.2.5 Impactos da inovação tecnológica na fruticultura chilena
Sopesadas as questões analisadas no tópico anterior, podemos dizer que a evolução
das exportações agrícolas chilenas nos últimos tempos, especialmente as frutícolas, não se
pode explicar, conforme apontam diversas análises, somente em função das vantagens
comparativas dos países ou da existência de um marco institucional adequado ou de condições
internas e externas favoráveis. A história recente indica que estes fatores puderam ser
aproveitados à medida que se foram incorporando inovações tecnológicas importantes que
abriram novas perspectivas à produção e exportação agropecuárias. Assim, conforme
161
menciona Méndez (2002), a tecnologia representa um fator importante que objetiva melhorar
a competitividade das empresas, redundando em crescimento econômico.
Conforme entrevistas realizadas com atores-chave e observações in loco, tanto no
Brasil como no Chile, percebe-se que a tecnologia é um dos elementos essenciais para o
crescimento da atividade, para a qual não se tem dado a importância que merece na hora de
interpretar o processo exportador recente e extrair conclusões pertinentes. Dessa forma,
enquanto não se produziram esses avanços, a fruticultura esteve distanciada dos sistemas de
comercialização dos mercados externos, e os problemas de qualidade impediram seu acesso a
melhores canais de distribuição.
Dessa forma, na análise abaixo, sustenta-se que a incorporação de novas tecnologias
tem transformado o processo de produção, processamento, distribuição e comercialização no
setor frutícola daquele país, que, por sua vez, tem transformado por completo a história do
próprio setor agropecuário. Além disso, deduzimos que os produtos frescos ainda possuem
um futuro bastante promissor, considerando-se que estão dadas as condições para que a
produção futura siga incorporando tecnologias cada vez mais sofisticadas. Vale
ressaltar que os avanços tecnológicos verificados na produção de frutas chilena tem nexo com
os aportes teóricos sobre inovação do Capítulo I , visto que a teoria do “meio/entorno
inovador” centrou a sua argumentação nos aspectos relativos à organização empresarial e sua
capacidade para alcançar o melhor grau de desenvolvimento econômico, entendido aqui como
a combinação de crescimento e geração de vantagens competitivas. Fazemos referência aos
estudos sobre os sistemas produtivos localizados de Benko e Lipietz(2000) e de Benko e
Pecqueur (2001), cujos autores dão ênfase ao protagonismo dos atores locais e a sua
identificação, como fonte de introdução de inovações por meio do conhecimento e como
forma de renovação das políticas públicas de promoção econômica e desenvolvimento local.
Sustenta-se aqui que a experiência chilena tem transitado com algum êxito pelas
primeiras etapas da seqüência inovativa da fruticultura. No entanto, será necessário recorrer a
novas etapas para que tal posição perdure. Assim, consideramos que, tanto para o Brasil
quanto para o Chile, conhecer o que se tem feito é um passo para essa direção, visto que, para
a fruticultura, o desenvolvimento tecnológico foi decisivo no passado, segue sendo no
presente e com certeza o será também no futuro.
No que diz respeito à produção, o conhecimento das melhores condições para obter
as diversas espécies e variedades, unido à existência de dados confiáveis sobre as distintas
áreas agro-climáticas, m levado a produzir cada produto nas localidades que são mais
propícias. Em muitos casos, a localização dos pomares se realiza, na atualidade, de acordo
162
com critérios mais técnicos e não tendo em conta a intuição do agricultor. No desenho das
hortas, são aplicados padrões de alta densidade, o que tem possibilitado plantar maior número
de árvores por hectare. Por outro lado, o sistema de irrigação também tem sofrido grandes
transformações, em especial nas localidades onde a água é escassa. Além das modalidades
tradicionais de irrigação por gravidade, estão sendo utilizados sistemas de gotejamento, com
micro-aspersores.
Na atualidade estão aplicando toda a tecnologia disponível a nível internacional,
como por exemplo, os reguladores de crescimento hormonal, raleadores químicos e novos
sistemas de controle de doenças, de poda e de fertilização. O maior conhecimento dos
aspectos fitossanitários, assim como a determinação da origem de certos transtornos
fisiológicos, traduzem-se na criação de novos sistemas de controle de pragas e enfermidades e
no desenvolvimento de técnicas de prevenção destes problemas. A colheita se realizada de
acordo com os índices de maturação, o que tem melhorado sobremaneira a qualidade do
produto. No que diz respeito ao material genético, também se observa inovações dignas de
destaque, tais como a importação de material certificado e livre de vírus e a introdução de
métodos de manejos de viveiros e controle químico, assim como modernas técnicas de
reprodução.
Como conseqüência destas transformações, verifica-se a incorporação de novas
áreas geográficas no negócio da fruticultura, inclusive localidades de baixa atividade
agropecuária no passado, como é o caso de regiões semi-áridas do norte do país, que têm
potencializado suas vantagens climáticas para incorporar linhas muito específicas de produção
frutícola.
Como resultados do conjunto destas transformações, obtiveram-se maiores
rendimentos por hectare e aumentaram-se a porcentagem de produtos exportáveis em relação
à produção total.
No que diz respeito à etapa de processamento (seleção, classificação e embalagem),
com o tempo, os desenhos e tamanhos das centrais frutícolas também se modificaram. As
novas plantas são construídas com vistas a obter maior funcionalidade, mediante o emprego
de novos materiais e a instalação de novos equipamentos e linhas de produção. Verifica-se a
incorporação maciça das linhas de seleção mecanizadas e eletrônicas, assim como o controle
computadorizado dos processos, introdução de sistemas de resfriamento rápido, que
empregam ar e pressão permitindo baixar a temperatura da fruta a veis bem próximos de
zero grau em poucas horas, bem como câmaras de atmosfera controlada e modificada, nas
quais se podem conservar melhor os produtos em estado fresco.
163
Uma inovação de grande importância é a que se refere às mudanças no sistema de
embalagens para exportação. Primeiro, se introduziu o sistema de pallets e depois começaram
a utilizar caixas de madeira e de papelão de alta qualidade. Desta forma, são alcançados níveis
de eficiência antes desconhecidos na distribuição, especialmente na que se realiza por via
marítima, o que tem melhorado de forma apreciável a qualidade do produto final.
No tocante à distribuição e comercialização, os avanços tecnológicos incorporados
apontam para uma melhoria a cadeia de frios em todas as etapas da distribuição, em geral,
entre a colheita e o consumo dos produtos frutícolas verificam-se perdas em quantidade e
qualidade e o êxito da sua comercialização dependerá dos procedimentos utilizados para
evitar a deterioração dos produtos, ou seja, do esfriamento rápido e o armazenamento em
condições adequadas. Estima-se que a magnitude das perdas de pós-colheita em frutas frescas
oscilem entre 5 e 25% nos países desenvolvidos e entre 20 e 50% nos países em
desenvolvimento, dependendo do produto.
2311
504
2715
558
3041
612
3338
661
3608
692
1995 1998 2001 2004 2006
GRÁFICO 2: EVOLUÇÃO DE FRIGORÍFICOS E CÂMARAS NO CHILE
CÂMARAS
FRIGORÍFICOS
Fonte: Centro de Información de Recursos Naturales (Ciren) e Corporación de Fomento de la Producción (Corfo), 2006.
Conforme pudemos verificar no gráfico 2, o Chile possui um alto nível de
desenvolvimento, no que diz respeito à capacidade frigorífica para o manejo posterior à
colheita de frutas, alcançando 3 milhões de m
3
, distribuídos nas principais áreas frutícolas do
país.
No transporte das frutas, desde os pomares até as centrais frutícolas e destas para os
portos, por exemplo, utilizam-se caminhões frigoríficos com sistemas de proteção, como
cobertores de lonas e capas térmicas.
Nos portos chilenos, principalmente no de Santiago, que foi o mais observado no
decorrer da pesquisa de campo, foram implementadas algumas inovações que têm permitido
164
aumentar de forma bastante considerável os rendimentos de carga dos navios e diminuir o
tempo de permanência da fruta no porto. Com o objetivo de agilizar os movimentos nos
portos americanos, as inspeções do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA)
são realizadas nos portos de embarque do Chile. Atualmente, no sentido de agilizar ainda
mais todo o processo e descongestionar os portos chilenos, as inspeções, gradualmente, estão
se deslocando para as centrais frutícolas.
Talvez as transformações de maior transcendência tenham ocorrido no transporte
marítimo. Uma foi a unificação e normalização das caixas de exportação em pallets, que
modificaram por completo os sistemas de distribuição de frutas e, também, modificaram
consideravelmente sua comercialização nos mercados externos.
Outra importante inovação foi a substituição dos navios de linha por navios
arrendados, o que fez diminuir os custos do transporte e o tempo de navegação, aliado ao fato
de o exportador poder eleger os portos de desembarque. De fato, tal inovação foi significativa,
haja vista que a distribuição começou a realizar-se em função da comercialização e não como
ocorria antes, em que a comercialização se fazia em função dos itinerários dos navios.
Por outro lado, a modernização do transporte marítimo tem permitido a exportação
de frutas ainda mais sensíveis às mudanças de temperatura. Sendo assim, ao diminuir de
forma considerável o custo e o tempo de viagem, a exportação desses tipos de produtos se
converteu em uma atividade rentável.
Com o objetivo de melhorar a eficiência da distribuição e comercialização nos
mercados externos, alguns grupos de exportadores arrendaram terminais portuários nos EUA
e em seguida concentraram suas exportações em tais terminais de forma a alcançar volumes
suficientes para a sua especialização. A adaptação dos galpões para receber a fruta, assim
como o controle do descarregamento, constitui tão somente alguns dos benefícios desta
prática. Outra vantagem deste sistema é que se o terminal estiver bem localizado, fica mais
fácil o contato com as redes de distribuidores locais de grande extensão e baixo custo.
É importante ressaltar a diferença entre o Chile e os outros países do Hemisfério Sul,
principalmente Nova Zelândia e África do Sul, que têm preferido centralizar suas vendas em
grandes consórcios ou juntas de comercialização estatais ou semi-estatais (marketing boards).
Verifica-se que cada exportador chileno tem a responsabilidade de vender seus produtos.
Como conseqüência, para aqueles que atingem tal desempenho, estabelece-se uma ampla rede
de relações comerciais entre os exportadores e os importadores nos mercados de destino. O
comprador, por sua vez, tem uma equipe de vendedores que é responsável pela colocação dos
produtos. Esta estratégia tem permitido a inserção de volumes crescentes sem maiores
165
esforços de venda e sem incorrer em gastos excessivos e aproveitar as oportunidades na
medida em que se apresentam. Resumindo, utiliza-se um sistema de comercialização flexível,
dinâmico, atomizado e bem distribuído nos distintos mercados, que vem contribuindo cada
vez mais para sua inserção no mercado internacional, conforme dados da tabela 19.
Tabela 19: Chile - Exportação de frutas frescas (mil caixas)
PRODUTOS
1994/95 2003/04 2004/05 Var. % 2004/05 2005/06 Var. % 2005/06
Uva de mesa
62.867
91.776
98.075
6,9
105.581
7,7
Kiwis
33.586
14.359
14.527
1,2
15.747
8,4
Maçã vermelha
15.296
33.883
29.162
-13,9
34.329
17,7
Maçã verde
7.275
7.654
7.481
-2,3
7.081
-5,3
Peras
8.665
7.979
7.870
-1,4
7.824
-0,6
Ciruelas
7.820
14.382
13.695
-4,8
11.320
-17,3
Nectarinas
7.243
7.239
8.074
11,5
5.557
-31,2
Duraznos
4.877
6.511
7.065
8,5
5.937
-16
Abacate
1.559
8.999
14.139
57,1
10.043
-29
Peras asiáticas
907
1.412
1.478
4,7
1.294
-12,5
Frambuesas
1.296
2.220
2.487
12
2.200
-11,6
Arándanos
350
5.334
6.305
18,2
8.244
30,7
Limões
395
1.998
2.076
3,9
1.793
-13,7
Clementinas-mandarinas
79
2.097
4.789
128,4
5.614
17,2
Cerejas
940
1.911
2.709
41,8
4.413
62,9
Damascos
421
607
512
-15,7
464
-9,4
Demais
585
1.726
1.942
12,5
2.025
4,3
Total
154.161
210.087
222.386
6,1
229.466
3
Fonte: Oficina de Estudios y Politicas Agrarias – ODEPA, 2007.
Assim, esta reflexão sobre as mudanças tecnológicas nos permite concluir que na
experiência chilena há impactos de diferentes níveis. O primeiro, em nível de produção,
registros de mudanças significativas na localização geográfica dos cultivos, na diversidade
dos produtos e na variedade de um mesmo produto, assim como melhorias nos rendimentos.
Segundo, em nível de processamento e distribuição, como resultado do aperfeiçoamento dos
procedimentos de conservação dos produtos; a redução dos tempos entre as etapas anteriores e
posteriores à colheita; a maior eficácia dos sistemas de carga que facilitam o manejo de
grandes volumes; a modificação completa das modalidades de distribuição nos mercados
externos, dando prioridade à ordenação do negócio em função da comercialização
propriamente dita e não dos itinerários do transporte, principalmente o marítimo, e a revisão e
fiscalização da qualidade e sanidade dos produtos.
166
Visivelmente, nesta atividade, o produtor toma um conjunto de decisões que afetam
suas rendas. Assim, é possível diferenciar estas decisões tendo em conta o seguinte: na etapa
de produção das frutas concentra-se a maior capacidade de gerar qualidade nos produtos, uma
vez que os esforços que se realizam posteriormente estão mais relacionados com tarefas
destinadas a conservar e manter os níveis de qualidade alcançados ou diminuir a aceleração da
sua deterioração, visto que o preço é um reflexo dos resultados obtidos em tal sentido.
A partir desta perspectiva e revendo as distintas fases desse processo, ou seja, nas
etapas de pré-colheita, colheita e pós-colheita se tem, em primeiro lugar, que o papel do
material vegetal empregado, a propriedade da terra e a mão-de-obra marcam uma primeira
diferença importante (considerando-se a pré-colheita). Efetivamente, a eleição do clima e dos
solos mais apropriados, juntamente com a preparação que se realizam destes últimos, é
determinante para se obter os rendimentos esperados. Como a época de plantação pode ser
realizada em função do clima e do produto que se deseja obter, torna-se possível antecipar ou
lograr uma produção de média estação. Ao mesmo tempo, o uso de variedades mais
produtivas e resistentes aos fatores adversos, permitirá aumentar a produtividade e o número
de colheitas em um mesmo período de tempo e, por conseguinte, reduzir os custos unitários
de produção.
Fator importante, dentro da etapa de pré-colheita, são as atividades denominadas
‘culturais’, como o tipo de irrigação, a preparação e limpeza para manter a terra solta com
vistas a controlar as doenças. Nesse sentido, é importante mencionar as tarefas de fertilização,
que estão intimamente ligadas à obtenção de bons rendimentos e qualidade, seguindo com
outras atividades anuais, como o controle de pragas e enfermidades, que não são as mesmas
para todos os produtos e requerem, em muitos casos, a participação de algumas habilidades
especiais para a sua boa execução.
As atividades posteriores à colheita estão caracterizadas pelo grau de maturação que
os produtos podem alcançar e por suas condições fitossanitárias, assim que são separados da
planta.
fatores conexos às características do produto que dependem da experiência e
qualificação da mão-de-obra empregada na etapa posterior à colheita, quando o objetivo é
obter resultados de qualidade. São eles: i) a eliminação de impurezas e materiais estranhos; ii)
a ausência de danos provocados por insetos ou danos físicos; iii) a eliminação de
enfermidades e pragas, e iv) o cuidado nas formas de apresentação do produto.
167
No caso da uva, por exemplo, implica em obter uma determinada forma de cacho,
um determinado tamanho dos frutos, ausência de cores indesejáveis, etc. Em seguida, o
trabalho é vinculado à conservação e armazenagem em condições especiais, em particular, as
relacionadas com o esfriamento e o tratamento em atmosferas controladas, cujo objetivo é a
conservação dos frutos durante todo o processo. Assim, um eficiente manejo nesta etapa
permitirá aumentar a vida útil do produto, conservando suas características físico-químicas e
fisiológicas, possibilitando a sua inserção com melhores preços.
Além disso, existe uma relação muito estreita entre a decisão de colheita e s-
colheita, tendo em vista que o fator determinante em tal decisão é o grau de maturação do
fruto, já que o objetivo é assegurar a expressão máxima dos atributos de qualidade do produto.
Através de indicadores como a cor, firmeza, facilidade de desprendimento do fruto, se
procede a colheita. Dessa forma é que o conhecimento da atividade e a experiência acumulada
tornam-se essenciais para encontrar finalmente a combinação ótima das atividades de colheita
e pós-colheita.
Uma vez cumpridas as etapas anteriores se tem a opção de incorporar valor agregado
ao produto, mediante a seleção e limpeza, classificação, embalagem, etc. Via de regra, nas
localidades estudadas, essas tarefas são realizadas a nível familiar ou comunitário, com o que
se diminui o número de intermediários e aumenta a participação do produtor no preço de
venda.
Ao assegurar-se que o produto cumpre com os parâmetros de qualidade adequados, a
preocupação se centra nos processos de comercialização propriamente ditos, como os de
estabelecer os fluxos de abastecimento aos mercados, em aspectos como os volumes e a
periodicidade da recepção. Previamente ao processo de comercialização, os produtores
conhecem as normas de qualidade que se impõem nos mercados internacionais e a que o
produto deve ajustar-se para ascender com facilidade nesses mercados. Essas normas põem à
prova todo o esforço realizado nas etapas anteriores do processo, cujos produtores são os
principais protagonistas. Todavia, seu resultado não depende exclusivamente deles, mas
também dos agentes econômicos que intervêm na comercialização final.
Assim, fica evidente que a geração de qualidade nos produtos frutícolas esta
associada à incorporação minuciosa de tecnologias muito diversas que se aplicam em cada
fase do processo produtivo. São tecnologias, até certo ponto, “simples”; no entanto, cruciais.
Curiosamente, a diferença dos investimentos em máquinas e equipamentos, que incorporam
tecnologias pesadas e que, por isso mesmo, limitada pelo financiamento, as tecnologias ditas
“simples” nem sempre estão associadas a um grande volume de recursos financeiros para sua
168
implementação, mas sim com o desenvolvimento de capacidades e à acumulação de
experiência de produção e gestão (Quadro 8).
Quadro 8: Tecnologias nas fases produtivas da fruta
Pré-colheita
Variedades mais produtivas
Variedades precoces e resistentes
Aumento do número de colheitas
Redução dos custos unitários
Melhor manejo cultural (pragas, fertilização, irrigação etc.)
Colheita
Manejo do grau de maturação do produto (grau de qualidade e tempo
de armazenagem)
Pós-colheita
Trabalho de apresentação do produto (eliminação de impurezas e
produtos danificados; aperfeiçoamento da forma)
Valor agregado a nível da propriedade (secagem, embalagem etc.)
Comercializaç
ão
Ajuste às normas e graus de tolerância preestabelecidos para que os
produtos atinja uma qualificação determinada de qualidade
Fonte: elaboração própria
Em síntese, no contexto das experiências analisadas, o impacto da tecnologia é o
resultado de um esforço sistêmico que tem permitido ao Chile obter produtos frutícolas
competitivos, cuja presença nos mercados internacionais tem sido estável.
À guisa de conclusão deste capítulo, verificamos que, realmente, Brasil e Chile
apresentam trajetórias distintas, na comercialização internacional de frutas de mesa. Todo
cuidado deve ser tomado, uma vez que a exaustiva comparação entre os dois países,
obviamente, fazendo alusão ao sucesso das exportações chilenas, não deve ser confundida
com a possibilidade de transpor aquele modelo para o Brasil. O modelo exportador chileno foi
projetado para atender diretamente o mercado internacional, conforme tinham observado
Faveret Filho et al (1999). Por outro lado, não tem um mercado interno capaz de consumir sua
produção e muito menos as variedades frutículas aqui existentes.
Ainda assim, são inquestionáveis as vantagens comparativas existentes na fruticultura
brasileira, principalmente nos perímetros irrigados, com destaque para os pólos
Petrolina/Juazeiro, Norte de Minas e Açu/Mossoró, onde a exportação de frutas tomou
impulso nos últimos anos.
No que diz respeito aos efeitos transbordamentos gerados pela exportação de frutas,
tanto no Brasil como no Chile, no contexto dos temas de desenvolvimento rural, pode-se
claramente apontar para a ausência de políticas que apóiem os pequenos produtores.
Poderíamos arriscar um prognóstico, baseado na incapacidade de o Estado enfrentar o setor
169
das empresas exportadoras e desenhar métodos de incentivos para que estas não atuem de
maneira míope. Na ausência de tais medidas, as políticas das grandes empresas exportadoras
são decisivas para as localidades, criando grande dependência determinada, em grande parte,
pelos interesses criados por elas mesmas, uma vez que esses são os sintomas da exposição
local a poderosas forças globais de poder.
Nos dois países, verifica-se que a globalização da fruta de mesa está ampliando
significativamente os benefícios, pelo menos em uma macro-escala. No entanto, tal
globalização é desigual e contraditória, conforme tínhamos analisado no tópico referente ao
Chile. Por meio da criação de uma rede interconectada, o fenômeno marginaliza aqueles
locais e grupos que não participam no processo. Entre aquelas instituições que participam, a
distribuição dos benefícios não é eqüitativa devido às assimetrias subjacentes ao poder global.
No Brasil, essas possibilidades se manifestam espacial, socialmente, uma vez que o
crescimento é excludente pela falta de terra entre os pequenos produtores com uma taxa de
desemprego rural em ascensão.
Por fim, parafraseando Cavalcanti (1997), as opções de desenvolvimento local devem
ser vistas e revistas visando a atender aos objetivos de gerar renda e emprego, reduzir a
pobreza e melhorar a condição de vida da população. Assim, conclui a autora: são escolhas
que cabem à sociedade, às organizações sociais e, fundamentalmente, ao Estado, que é
requerido para garantir desenvolvimento com eqüidade” (p.287).
170
CAPÍTULO IV
CARACTERIZAÇÃO E ANÁLISE DOS ASPECTOS ECONÔMICOS, PRODUTIVOS
E SOCIAIS DO PÓLO PETROLINA/JUAZEIRO E DA SEXTA REGIÃO
Este capítulo trata da análise empírica da tese onde são analisados os resultados
originados dos instrumentos de pesquisa aplicados nos dois sistemas produtivos. Dessa forma,
conforme havíamos anunciado na metodologia, os dados levantados por meio da fala dos
entrevistados foram decisivos para o melhor entendimento da dinâmica da produção de frutas
de mesa nas duas localidades o que torna esta parte da tese um tanto descritiva.
A fruticultura no Pólo Petrolina/Juazeiro é palco de um crescimento sem precedentes
nas últimas décadas. Emerge naquela região um sistema de produção de frutas de mesa,
imbricado em estruturas de comércio internacional voltadas para o suprimento de alimentos
de alto valor (High Value Foods – HVF). Ressalta-se que essa nova configuração acontece em
meio ao contexto econômico de instabilidade da década de 1980, quando a agricultura
irrigada no pólo passava por um momento de crise. Dessa forma, a fruticultura emergia como
uma possibilidade/alternativa para enfrentar dita crise, provocando alterações importantes nos
tipos de produtos cultivados, na estrutura de posse da terra, nas cnicas de produção e na
estrutura de emprego. Conforme reconhecido no estudo de Gama da Silva(2001), a ascensão
da fruticultura na região coincide com o período de negligência do Estado nas políticas
voltadas para a agricultura naquela década, proporcionando assim a criação de um novo
cenário de regulação ocupado por grandes empresas.
Na Sexta Região, a produção de frutas de mesa segue a mesma configuração adotada
para o Chile, na qual se verifica trajetória diferenciada na comparação com o Brasil.
Conforme havíamos mencionada anteriormente, a expectativa do modelo chileno era a de
conquistar o mercado e internacional, uma vez que, diferentemente do Brasil, não tinha um
mercado interno suficientemente capaz de consumir sua produção de frutas. O Brasil, é um
modelo que começa a se construir a partir da década de 1990. Mesmo tendo uma grande
variedade de frutas, algumas com mais de uma safra ao ano, o seu consumo está voltado para
o mercado interno. A exportação de frutas está concentrada em um reduzido número de
empresas exportadoras.
171
4.1 Caracterização econômico-produtiva do Pólo de Fruticultura Petrolina/Juazeiro
Dadas as peculiaridades da região nordestina brasileira e pela própria localização do
pólo em estudo, torna-se imprescindível uma análise espacial da zona semi-árida do Nordeste
brasileiro. Em princípio, é uma região importante porque ali convive uma população de quase
17 milhões de habitantes. Quanto às características, possui os seguintes traços que a definem
(IBGE, 2006):
Irregular e baixa pluviosidade, em média 800 mm/ano, concentrada em uma estação
de 4 meses, com longos períodos de estiagem e precipitação pluviométrica em torno
de 500mm/ano;
Altas temperaturas e elevadas taxas de evaporação;
Intensa insolação e baixa umidade relativa;
Solo composto de rochas cristalinas e rasos, com pouca permeabilidade e de
fertilidade natural, embora sujeito a erosão.
A análise do desempenho sócio-econômico da Região Nordeste do Brasil tem sido
objeto de muitas ações de diversas instituições, pesquisadores e governo ao longo de muitas
décadas
63
. A região passou por diversas transformações durante os cinco séculos de existência
do país, registrando-se movimentos de deslocamento de geração de riqueza, em função das
atividades produtivas que foram sendo postas em prática.
A região Nordeste, porta de entrada para colonização e exploração européias, abrigou
por muito tempo uma dinâmica do sistema produtivo tanto nas primeiras explorações
silvícolas da mata atlântica, quanto no processo de produção açucareira, a atividade de maior
êxito no período colonial, antes da mineração. Com a descoberta de jazidas minerais na região
Centro-sul, o deslocamento da dinâmica do Nordeste para aquela região foi inevitável, assim
como do poder político, outrora centrado na Bahia, mesmo porque com a concorrência
açucareira antilhana, a atividade canavieira entrou em crise: em fins do século XVII os preços
caíram à metade e as exportações ficaram em torno de 50% dos melhores saldos exportados
naquela época (FURTADO, 1979).
A contribuição dada pelo setor primário à economia brasileira foi fundamental ao
longo de todos esses anos. As culturas canavieira e cafeeira foram decisivas para a
colonização e ascensão econômica do país, desde os séculos XVI, a primeira, e o XIX, a
63
Damos destaque para o recente trabalho elaborado por Leite, Cintrão e Lasa (2007), cujos autores fazem uma
análise sobre o meio rural baiano sob o ponto de vista institucional, da localização dos programas rurais na
172
segunda, assim como são destaques as culturas do algodão, do cacau, ou mesmo da pecuária e
da extração da borracha, no processo de interiorização do território, no intervalo de tempo
entre esses dois séculos, mesmo contando com a perversidade do sistema escravista.
Ao longo do culo XX, a economia brasileira mudou, sobretudo passando a contar
com uma estrutura produtiva diferente, com a instalação de um parque industrial, fruto das
ações governamentais e dos investimentos privados no âmbito do processo de substituição das
importações da Era Vargas. A nova orientação econômica visava a redução da dependência
externa, o aproveitamento dos recursos e matérias-primas locais e o estímulo à indústria e à
modernização (BRUM, 2005).
Em contraponto, a região Nordeste, nessa época, não participou diretamente do
processo de modernização do sistema econômico brasileiro, onde prevalecia a produção
decorrente do setor primário, notadamente o açúcar, nas regiões da zona da mata, do cacau, no
sul da Bahia, e outras atividades agropastoris espalhadas pelo seu vasto território.
Na segunda metade do século XX verificou-se a aceleração industrial brasileira,
notadamente a partir dos investimentos realizados no Sudeste, em decorrência das ações do
governo Juscelino Kubitschek, o que favoreceu o crescimento da economia de São Paulo,
assim como a expansão demográfica das regiões Sudeste e Centro-Oeste, em função da nova
capital federal. Dessa forma, o desequilíbrio das regiões passava a ser cada vez mais evidente,
com o deslocamento do Nordeste do ritmo de crescimento econômico do Brasil, muito
embora apresentasse grande população.
Conforme assinala Araújo (1995), para enfrentar tais distorções foram postas em
prática, na década de 1950, ações como, a criação do Grupo Técnico para o Desenvolvimento
do Nordeste (GTDN), a SUDENE, o Fundo de Investimento do Nordeste (FINOR) e o Bando
do Nordeste (BNB), entre outras, as quais foram de relevante importância para a retomada do
crescimento econômico da região. Nas décadas de 1960, 1970 e 1980 a economia nordestina
cresceu consideravelmente, registrando-se taxas elevadas, suplantando a dia de
crescimento do país em cerca de 10%. No entanto, a importância relativa do Nordeste
registrou queda, saindo de 22,5% do total da produção nacional, em 1970, para 19%, em 1990
(ARAÚJO, 1995). Essa queda é explicada pela evolução dos setores secundário e terciário na
região Nordeste ao longo do terceiro quartil do século XX, num processo de acompanhamento
do desempenho industrial brasileiro, o que decorreu em queda da importância relativa do setor
primário e as suas atividades. As culturas tradicionais como, algodão, mamona, mandioca e
estratégia de planejamento e desenvolvimento regional e dos mecanismos de financiamento que amparam a
execução dos mesmos.
173
sisal, perderam importância, ao passo que se registrou expansão da produção de cana-de-
açúcar, milho, feijão e frutas tropicais, mas os segmentos da indústria, do turismo, do
comércio e da prestação de serviços suplantaram aquelas atividades.
Nas décadas de 1960 e 1970, em pleno “milagre econômico”, os investimentos
cresceram a taxas anuais bastante elevadas, 14% no Brasil e 12,5% no Nordeste, mas o
crescimento médio anual do PIB do Nordeste (7,2%) foi inferior ao nacional (10,9%).
Ressalta-se que nesse período foram executadas as primeiras experiências de agricultura
irrigada no Nordeste, mais precisamente no Vale do Rio São Francisco, no eixo
Petrolina/Juazeiro.
De acordo com entrevista realizada com o ex-chefe geral da Embrapa semi-árido
64
,
[...] quanto ao Pólo de Fruticultura de Petrolina/Juazeiro, o marco decisivo para a
transformação da região foi a expansão dos projetos públicos de irrigação. Com a
criação da Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf),
em 1974, e o Programa de Ação do Governo para o Vale do São Francisco, no
período 1975-1979, como parte do II Plano de Desenvolvimento Nacional (II PND)
foram decisivos. As linhas de ação do II PND impactaram sobremaneira as áreas de
influência do Vale do São Francisco, dada a alta potencialidade por sua situação
geográfica e aos recursos naturais, tornando-se uma área de importância estratégica
para o governo, como vetor para o desenvolvimento regional e integração nacional.
Dessa forma, a Codevasf, de posse dos abundantes recursos do Tesouro Nacional, foi
a condutora de todas as fases da implantação dos projetos públicos de irrigação.
De acordo com Gomes e Vergulino (1995), na década de 1980, com o processo de
aceleração inflacionária e a crise da dívida, a taxa anual de investimento caiu para menos de
2%, o que fez interromper o ciclo de crescimento que a região vinha experimentando.
Ao longo da década de 1990, apesar da conjuntura econômica não muito favorável,
novos espaços passaram a figurar no cenário da economia regional brasileira, particularmente,
a nordestina, com a configuração de novas sub-regiões de expressivo crescimento econômico,
os casos das cidades de porte médio, como Barreiras, na Bahia, Mossoró, no Rio Grande do
Norte, o pólo Petrolina/Juazeiro, no Vale do São Francisco, na divisa dos Estados da Bahia e
Pernambuco.
Em contraponto ao expressivo crescimento econômico dessas sub-regiões, ainda nos
anos 1990 registrou-se significativa expansão da pobreza, tanto nesses novos espaços
identificados, quanto nas regiões como um todo. Segundo Andrade e Serra (2001), as cidades
médias do Norte e Nordeste, que apresentavam 31% do total da população pobre brasileira,
passaram a concentrar 40%, em 1991.
64
Chefe Geral/Fundador da Embrapa Semi-árido, em 1974. É funcionário aposentado da Embrapa e Professor titular da Universidade
Estadual da Bahia – UNEB, Campus III – Juazeiro.
174
Quanto ao semi-árido, a área é composta de 900 municípios que correspondem a
47,9% do total da Região Nordeste, predominando a agricultura de sequeiro de baixa
produtividade, instável e de alto risco. Semelhantemente à geografia nordestina onde uma
configuração heterogênea de regiões distintas, o semi-árido segue a mesma tendência, não
existindo qualquer homogeneidade, com mudanças bruscas de solo, vegetação e clima, que
influenciam sobremaneira as atividades econômicas locais.
O semi-árido é dividido em áreas naturais conhecidas por: Caatinga, Carrasco, Cariri
Velho, Curimataú, Sertão, Seridó e parte do Norte de Minas. No entanto, conta ainda outras
áreas denominadas enclaves, por possuírem características peculiares propícias para a
agricultura. Nessas áreas são encontrados vales de rios intermitentes que são perenizados por
águas de açude (p.e. rios Piranhas-Assu, Jaguaribi, Acarú etc.). Em outras áreas, encontram-se
vales de rios perenes como o São Francisco e o Parnaíba.
Nessas áreas localizam-se os los de produção agrícola do semi-árido. São áreas de
pleno potencial, com elevados recursos hídricos (subsolo com água, água armazenada, rio
perene, etc.) que são densamente utilizados com irrigação tecnificada e aptas à produção de
frutas e olerículas.
Dentro do contexto regional acima descrito, encontramos o Pólo Petrolina/Juazeiro
(ver Figura 2) que dispõe dos recursos naturais e cumpre as seguintes funções econômicas: i)
é um pólo de olericultura e fruticultura irrigada, com diversificado potencial de produção de
frutas para os mercados externo e interno; ii) produtor de grãos para indústria e consumo
humano além de ser tradicional produtor de arroz, feijão, milho e algodão; e iii) intensivo na
pecuária, mantendo integração das áreas irrigadas para produção de alimentos para o rebanho
e utilização do esterco para recuperação orgânica do solo.
175
Figura 2: Localização do Pólo Petrolina/Juazeiro
Fonte: IBGE (2006)
Em geral, verifica-se que existe uma ação sistêmica com perfil agroindustrial que gera
como conseqüência, competitividade e permite incremento no nível de emprego
especializado, contribuindo para o crescimento econômico da região.
176
4.1.1 Especificidades históricas do Pólo Petrolina/Juazeiro
O Pólo é formado pelos seguintes municípios:
Pólo Petrolina/Juazeiro
Situado no sub-médio do Vale do Rio São Francisco, no semi-árido nordestino, o pólo
vem apresentando acelerado crescimento na produção irrigada. A região começou a passar por
grande transformação a partir da década de 1970 e, na década de 1980, acelerou-se ainda
mais, por meio das ações do Governo Federal, via Codevasf, intensificando-se a implantação
dos perímetros irrigados. A intervenção estatal promoveu condição favorável para uma
intensa exploração agrícola que foi logo traduzida em vantagens comparativas, do tipo: i)
disponibilidade de água e terra; ii) mão-de-obra abundante; iii) condições climáticas
favoráveis, permitindo até 2,5 safras por ano, em algumas culturas (uva, por exemplo); iv)
infra-estrutura de exploração, decorrente do elevado valor dos investimentos aplicados nas
obras de irrigação; v) relação de proximidade com os mercados norte-americano e europeu,
com vantagem de 06 dias de transporte, em relação aos portos da região Sudeste (ver Figura
3); e vi) maiores níveis de produtividade, com ciclos mais precoces.
Pernambuco
-Petrolina
- Lagoa Grande
- Santa Maria da Boa Vista
- Orocó
Bahia
-Juazeiro
- Sobradinho
- Casa Nova
- Curaçá
177
Figura 3: Principais mercados compradores
Fonte: IBGE (2006)
4.1.1.1 Questões histórico-políticas do Pólo Petrolina/Juazeiro
Este pico trata da revisão do histórico das ações governamentais na região e, por
conseguinte, das informações disponíveis sobre o tema. Para tanto, foi necessária, além do
trabalho de campo, o acesso aos mais variados tipos de informações, principalmente artigos
publicados e relatórios dos órgãos governamentais. Dessa forma, verificamos que até o final
da década de 1960 a economia do pólo era baseada na agropecuária de pouca produtividade,
com predomínio da concentração de terras, por grandes latifundiários que se dedicavam à
criação de animais domésticos em regime de baixa produtividade. Por outro lado, os
lavradores – via de regra, meeiros com sérias limitações sócio-econômicas – plantavam
algodão e alimentos para a subsistência, pagando ao proprietário da terra com a metade da sua
produção.
Já em 1948, com a criação da Comissão do Vale do São Francisco (CVSF), começava-
se um movimento de investimentos federais que afetaria sobremaneira o sistema até então
existente. Em 1967, a CVSF é transformada na Superintendência do Vale do São Francisco
(Suvale) e, em 1974, é criada a Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco
(Codevasf). Conforme citamos em capítulo anterior, essas instituições além de construírem
toda a infra-estrutura de irrigação, eram também encarregadas de promover as
178
desapropriações das terras mais propícias para a irrigação, criando dessa forma os conhecidos
“perímetros irrigados”, com áreas de 3.000 a 20.000 ha, que eram divididos em lotes,
geralmente de 6,5 ha, com infra-estrutura local de irrigação (aquedutos, bombeamento interno
e sistemas de drenagem), condições sociais (postos de saúde e escolas) e moradias. Tais lotes
eram entregues pela Codevasf em forma de arrendamento, que controlava a distribuição da
água, cobrando taxas de consumo. Assim, em 1996 contavam sete perímetros irrigados em
Petrolina/Juazeiro, num total de 44.069 ha, distribuídos entre 257 lotes empresariais e cerca
de 2.608 para pequenos produtores (Tabela 7, do CAPÍTULO III).
Conforme havia diagnosticado Damiani (2003), as explicações sobre as
transformações verificadas no eixo Petrolina/Juazeiro são bastante díspares: uns atribuem ao
Estado o sucesso do pólo, outros creditam à iniciativa privada. Muitos estudos são categóricos
em afirmar que a transformação ocorrida foi resultado de generosos recursos federais
aplicados na infra-estrutura como: irrigação, rede elétrica e estradas (BNB, 1990;
Carvalho,1988; Ramos de Souza, 1990). Outros vêem o papel da intervenção estatal como um
fator negativo, atribuindo à iniciativa privada todo êxito do projeto. O próprio Banco Mundial
(1993), em suas avaliações, afirma que as instituições públicas foram sobremaneira
paternalistas e lentas, quando da transferência da estrutura de irrigação para os usuários. Por
outro lado, diversos autores (Noronha, 1980; Barros, 1987; Assirati, 1994, entre outros)
comentam em seus estudos que os projetos foram muito caros e que pouco impactou na
melhoria de vida das populações rurais, dando principal destaque à incompetência
administrativa e à insistência nos cultivos tradicionais, como feijão e milho e ignorando os
produtos de alto valor.
Nesse sentido, destacamos a fala do ex chefe geral da Embrapa, entrevistado da
pesquisa, quando perguntamos se no sistema produtivo do Pólo Petrolina/Juazeiro existia um
número suficiente de pequenos e médios produtores que permitisse um processo de criação de
riquezas e criação de emprego sustentável na região:
Aqui nós temos pequenos, médios e grandes produtores. Apesar de o governo não
ter dado um apoio decisivo nessa linha, quando a Codevasf fez os projetos de
assentamentos iniciais, ela direcionou uma parte para os pequenos produtores. Eu
diria que o problema aconteceu na hora de capacitar esses agricultores para que eles
assumissem a posição. Essa alocação, em muitos momentos, foi até política, sem
maiores preocupações com as novas metodologias de trabalho num ambiente de
irrigação tecnificada e, por isso, muitos agricultores venderam seus lotes para
médios e pequenos produtores. No entanto, ainda temos no pólo pequenos
agricultores que ainda permanecem desde a sua concepção que conseguem
sobreviver e trabalhar sem maiores problemas.
179
Os estudos de Loiola e Uderman (1998) demonstraram que as medidas
governamentais colocadas em prática a partir de 1994 baixaram os custos para as empresas no
Pólo Petrolina/Juazeiro, melhorando as condições de competitividade no mercado externo,
uma vez que as políticas foram orientadas para o mercado, criando-se um ambiente propício
para novos investimentos da iniciativa privada.
Citamos o exemplo do proprietário da Fazenda Marupiara (entrevistado da pesquisa),
em Petrolina (PE):
[...] Começamos nossa atividade aqui em 1997. Tínhamos duas concessionárias de
automóveis em Picos (município do Pia). Trabalhávamos com margem muito
apertada de lucros. A minha filha se formou em Agronomia e começou a estudar o
cultivo da uva. Fez estágio de 01 (um) ano na Itália e quando voltou me convenceu a
mudar de ramo. Fizemos uma visita em Petrolina para verificar o preço da terra e os
incentivos públicos, que pareciam muito favoráveis, uma vez que os pequenos
produtores estavam com dificuldades financeiras para tocar a lavoura. [...]
Vendemos uma concessionária e compramos 19 hectares de terras irrigadas e em
1997 implantamos 12 hectares uva. [...] Em 2001, encerramos todas as atividades em
Picos e direcionamos todos os negócios para a fruticultura de exportação em
Petrolina. (Grifo nosso).
A interpretação da fala do entrevistado pode ser reduzida a duas questões básicas que
ainda são sentidas no pólo: a fruticultura na região, na década de 1990, produziu riquezas e
desigualdades. Destacamos também a análise de Gama da Silva (2001), atribuindo tal situação
à capacidade de as grandes empresas adquirirem a maioria das terras dos colonos. Isso se
confirma ainda hoje, visto que, de acordo com os dados da Codevasf (2007), concentração
de terras nos perímetros irrigados. Dos 44.069 hectares, onde deveriam constar 2.608 lotes
para colonos e 257 para empresas, estas já concentram quase 73% da área.
Tabela 20: Evolução da exportação de uva e manga no Pólo Petrolina/Juazeiro – 1996-2006 (US$)
(A)-Pernambuco (B) – Bahia Total do Pólo (A+B) São Paulo
Manga Uva Manga Uva Manga Uva Manga Uva
1996 11.019.898
2.476.971
14.046.659
2.357.337
25.066.557
4.834.308
2.112.845
1.409.193
1998 9.820.724
2.526.047
11.546.864
1.364.272
21.367.588
3.890.319
4.383.221
1.334.853
2000 15.310.458
4.294.022
16.188.051
7.621.613
31.498.509
11.915.635
1.571.638
806.880
2001 17.483.256
8.835.895
28.685.663
10.486.812
46.168.919
19.322.707
1.437.168
1.185.543
2002 22.703.777
13.787.604
25.717.281
19.657.634
48.421.058
33.445.238
1.234.869
311.767
2003 33.274.250
27.638.970
36.790.157
31.672.067
70.064.407
59.311.037
1.462.994
505.957
2004 26.793.888
20.632.974
28.747.035
50.570.523
55.540.923
71.203.497
2.511.905
299.275
2005 26.997.373
56.411.311
38.670.737
50.570.523
65.668.110
106.981.834
2.784.257
286.561
2006 31.249.328
66.560.727
46.173.133
51.704.076
77.422.461
118.264.803
2.925.190
171.295
Fonte: MEDIC/SECEX/ Sistema Aliceweb (2007).
Conforme dados da Tabela 20, uma comparação com o Estado de São Paulo,
verifica-se que a partir de 1996 já havia um volume financeiro considerável nas exportações
180
dos principais produtos (uva e manga). No entanto, é a partir de 2000 que acontece o boom do
mercado de frutas no Brasil e, especificamente, no eixo Petrolina/Juazeiro. Nota-se que houve
um arrefecimento na produção de uva no estado de São Paulo. Durante a pesquisa de campo,
pudemos verificar muitas propriedades em poder de empresários paulistas, produtores de uva.
É dessa forma que, a partir do reconhecimento de que era economicamente viável produzir
frutas de mesa às margens do Rio São Francisco, se configura uma nova estrutura espacial na
região.
Tabela 21: Evolução do PIB no eixo Petrolina/Juazeiro 1999-2004 (R$ 1.000 correntes)
Municípios 1999 (A) 2000 2001 2002 2003 2004 (B)
Var. (B/A) %
Juazeiro 520.838
611.152
668.562
849.072
837.439
957.677
83,87
Petrolina 698.234
855.868
958.234
1.178.260
1.366.004
1.344.566
92,57
Total 1.219.072
1.467.020
1.626.796
2.027.332
2.203.443
2.302.243
88,85
Fonte: IBGE (2007)
Os dados da Tabela 21 confirmam que, com a maior inserção da fruticultura no
mercado internacional, houve também um salto do PIB de 88,85% (1999-2004) no Pólo
Petrolina/Juazeiro, sendo que o município de Petrolina (PE) apresentou melhor desempenho
(92,57%). Este melhor desempenho está relacionado ao fato de que no município
pernambucano está localizado o perímetro irrigado Senador Nilo Coelho
65
, que é uma das
obras mais importantes construídas pela Codevasf, com um investimento de US$ 200 milhões
(CODEVASF, 2006).
Ademais, é importante frisar que os três perímetros (Bebedouro, Nilo Coelho e Maria
Tereza), localizados em Petrolina, estão entre os mais importantes de todos os projetos da
Codevasf nos Estados de Bahia, Minas Gerais, Pernambuco e Alagoas, visto que, dos mais de
105 mil hectares da área total irrigável, a
66
SR responde por quase 21 mil hectares. Dos
87,7 (2005) mil hectares cultivados, 23,9% estão no âmbito da 3ª SR (ver Tabela 22).
65
Até 2003 os pequenos produtores instalados no perímetro Senador Nilo Coelho recebiam assistência técnica diretamente da sua
administração, cujos recursos financeiros necessários ao programa eram repassados pela Codevasf. No entanto, numa experiência inédita, a
partir de novembro/2005, os produtores começaram a ser assistidos através de empresa privada – PLANTEC – que foi vencedora de licitação
promovida pela Codevasf.
66
A Codevasf tem sete Superintendências Regionais (SR): em Montes Claros (MG); 2ª em Bom Jesus da Lapa (BA); 3ª em Petrolina; 4ª
em Aracaju (SE); 5ª em Penedo (AL); 6ª em Juazeiro (BA) e; 7ª em Teresina (PI).
181
Tabela 22: Total da área irrigável e cultivada por SR da Codevasf (posição 2005)
Superintendência Total da área
irrigável (ha)
Total da área
cultivada (ha)
Total da área
colhida (ha)
Percentual do total da
área cultivada (%)
Posição-área
cultivada
1ª SR 27.140,00
15.572,12
10.435,81
17,75
2ª SR 25.990,00
12.504,01
10.310,00
14,26
3ª SR 20.949,00
20.995,17
15.710,30
23,94
4ª SR 6.279,00
10.086,59
7.786,54
11,50
5ª SR 4.228,00
5.396,88
3.322,52
6,15
6ª SR 20.510,00
23.153,80
18.029,23
26,40
Total 105.096,00
87.708,57
65.594,40
100
Fonte: Codevasf (2006)
Verifica-se que a SR (Juazeiro-BA) apresenta a maior área cultivada dentre as
superintendências, com mais de 23 mil hectares, em função da unidade de produção de cana-
de-açúcar, que está instalada em mais de 15 mil hectares, enquanto que a SR registra um
total de 20,99 mil hectares cultivados. No entanto, analisando-se sob a ótica do valor bruto da
produção , a pujança da SR é incontestável, visto que a SR sofre influência da produção
de cana-de-açúcar, que não tem o mesmo valor agregado da fruticultura, sendo o que
prevalece nos perímetros de Petrolina (PE), principalmente manga e uva.
Tabela 23: Valor bruto da produção por Superintendência da Codevasf (posição 2005)
Superintendência Produção agrícola
(t)
Valor bruto da
produção (R$ mil)
Percentual do valor
bruto da produção
(%)
Valor da tonelada
produzida
Posição-valor bruto
da produção
1ª SR 119.501,35
51.117,55
11,07
427,76
2ª SR 130.440,22
39.674,45
8,60
304,16
3ª SR 389.607,92
211.383,62
45,79
542,55
4ª SR 36.213,97
17.752,44
3,85
490,21
5ª SR 89.152,21
8.157,20
1,77
91,50
6º SR 1.343.332,70
133.503,13
28,92
99,38
Total 2.108.248,37
461.588,39
100,00
218,94
Fonte: Codevasf (2006)
Analisando-se a Tabela 23, verifica-se que o valor da tonelada produzida nos
perímetros da SR é o maior dentre os demais (R$ 542,55 mil), enquanto que a de menor
valor é a tonelada produzida nos perímetros da SR (R$ 91,50 mil). Conforme justificativa
do Superintendente da SR, “os perímetros de Petrolina/Juazeiro e especialmente de
Petrolina, apresentam alto valor agregado proporcionado pela sua principal atividade: a
fruticultura”.
Assim, essa nova configuração proporcionou a criação de novas empresas,
principalmente aquelas provedoras de insumos. Conforme relato do Superintendente da
Codevasf em Petrolina (entrevitado da pesquisa), quando perguntado sobre o assunto:
[...] Dentro do município de Petrolina existem inúmeras empresas prestadoras de
serviços, voltadas para o agronegócio e para a cadeia produtiva de frutas. Nós temos
ainda empresas do setor de informática, do setor de comércio varejista. Quando
182
temos algum problema que afeta a atividade na fruticultura, a cidade toda pára,
demonstrando que a economia local vive em função desse setor.
Ressaltamos que esta análise corrobora os estudos de Damiani (2003), quando o
autor ressaltou que a intervenção do governo em Petrolina/Juazeiro foi diferente do seu
envolvimento nas outras regiões de agricultura irrigada, como no Baixo São Francisco
(Alagoas e Sergipe) e no Norte de Minas Gerais, uma vez que os investimentos por si não
justificam a êxito de Petrolina/Juazeiro sobre os demais perímetros, mas sim as ações
realizadas pela Codevasf no pólo, a ponto de tornar os produtores, muitos sem experiência em
agricultura irrigada, em exportadores de produtos de cultivos dinâmicos e de alto valor. Dessa
forma, os resultados obtidos no pólo redundaram da intensa intervenção estatal,
implementando práticas inovadoras em todos os segmentos, possibilitando o aperfeiçoamento
nas formas de cultivo, na capacidade de inserção em novos mercados e na relação de trabalho
e dinâmica do mercado de mão-de-obra.
4.1.1.2 O impacto das exportações de frutas sobre as condições de trabalho no Pólo
Petrolina Juazeiro
Para a questão do mercado de mão-de-obra, temos algumas ressalvas. Conforme
relatamos no capítulo anterior, os vínculos entre as relações de trabalho e a produção de frutas
são tensos. Muitos estudos realizados no Pólo Petrolina/Juazeiro (DAMIANI, 2003; LOCKE,
2001, por exemplo)
67
dão conta de que a atividade frutícola de alto valor (manga e uva) gerou
empregos, aumentou salários, melhorou as condições de trabalho, segurança e da saúde
ocupacional etc. Tais assertivas têm que ser tratadas com todo o cuidado que o assunto requer.
À primeira vista, os estudos a que nos referimos apresentam fragilidades, no que diz respeito
ao tipo de abordagem metodológica da pesquisa de campo. Fazendo uma análise dos
artigos/pesquisas realizados, verifica-se que os autores direcionam suas
67
Fazemos alusão ao trabalho sobre confiança realizado por Locke (2001), quando o autor afirma que esse tipo de comportamento
(estabelecimento da confiança) pode ser construído através de um processo seqüencial que combina interesses privados e políticas publicas.
Richard Locke ilustrou o seu argumento com a análise de duas regiões supostamente desprovidas da mesma: o Sul da Itália (produtores de
mozzarella de búfala em Mezzogiorno) e produtores de manga do Nordeste brasileiro (fruticultores de Petrolina e Juazeiro). No nosso
entendimento, ainda que tal confiança tenha sido construída, deixamos aqui um ponto de discordância com Locke, quando afirma que “[...] é
interessante notar que as relações entre empregados e empregadores em Petrolina e Juazeiro são boas”. Nesse mister é importante frisar que o
processo de reestruturação produtiva produziu algumas implicações na organização da produção e do trabalho. Além da redução do nível de
empregos na atividade, as exigências de uma produção voltada para o mercado de produtos de qualidade exigem, cada vez mais, mão-de-
obra qualificada e serviços especializados tanto no processo produtivo quanto nas atividades pós-colheita (embalagem, empacotamento e
classificação), em detrimento da mão-de-obra menos especializada. Outro fator importante a ser questionado é o fato de o processo de
flexibilização, através de terceirização, trazer consigo certa precarização das condições de trabalho, na medida em que leva um grande
contingente de trabalhadores ao desamparo de proteção social e trabalhista. Tal informalidade cria um contingente de serviçais na
fruticultura, encobertos sob o discurso de geração de empregos. Dessa forma, verifica-se em todas as fases do processo de produção a
transformação paulatina do pólo Petrolina/Juazeiro em um “pólo de serviços”, em vez de um pólo agroindustrial, conforme preconizavam os
planos de desenvolvimento regionais (GAMA DA SILVA, 2001). Ademais, Locke parece não ter conhecimento da precarização e
183
entrevistas/questionários para grandes produtores que, geralmente, relatam aquilo que mais
lhes convém. Ou seja, é a “história dos vencidos contada pelos vencedores”.
Como ilustração, citamos as visitas que fizemos a diversos pequenos proprietários de
terras nas áreas de sequeiro dos dois municípios, quando pudemos verificar que a maioria da
mão-de-obra, principalmente feminina, utilizada para o cultivo de uva para exportação é de
familiares dos tais proprietários. Dessa forma, essas visitas, quase sempre informais,
aproximaram-nos da realidade trabalhista a que é submetido o trabalho feminino na região.
Num primeiro contato, em conversas também informais, verificamos que os empresários têm
preferência por trabalhadoras mais jovens, com idade entre 14 e 16 anos, por serem quase
sempre solteiras e sem filhos, com excelente saúde e desconhecerem a legislação trabalhista.
Conforme relatado por uma dessas menores trabalhadoras, fica evidenciada a forma de
apropriação dessa mão-de-obra pelos empresários, quando perguntamos se tinha a carteira
assinada: “ainda não sou fichada porque tenho 16 anos. trabalho há um ano e o patrão
pode assinar a carteira quando eu tiver 18 anos”. Na época que a entrevistamos, esta
trabalhadora recebia menos de um salário mínimo por mês, sob a alegação de que era menor
de idade.
Dessa forma, essa aproximação permitiu-nos constatar que a qualidade de vida e do
trabalho da maioria dos(as) trabalhadores(as) no pólo Petrolina/Juazeiro que atuam na
produção de manga e uva de mesa para exportação é ruim. Por mais contraditório que possa
parecer, a entrevistada acima citada é trabalhadora temporária de uma grande fazenda de
produção de uvas para exportação que é certificada pelo EurepGap e faz parte do Sistema de
Produção Integrada de Frutas (PIF), cujas certificações são concedidas após constatações de
que o produtor está em conformidade cm as melhores práticas, incluindo requerimentos
sociais e ambientais. É importante ressaltar que visitamos a referida fazenda e entrevistamos
seu proprietário e na ocasião não percebemos qualquer iniciativa que colidisse com as “boas
práticas” que o empreendimento deveria seguir.
desregulamentação do trabalho na região, uma vez que não faz qualquer comentário sobre as condições de trabalho a que são submetidos os
trabalhadores temporários.
184
4.1.2 Principais protagonistas que possibilitaram a inserção no mercado externo e o
impacto sobre os pequenos produtores
O boom na exportação de uvas sem semente, no inicio da década de 2000, teve dois
protagonistas que foram decisivos para alterar a posição até então incipiente dessa variedade
na produção da uva
68
: a Brazilian Grapes Marketing Board (BGMB) e o Grupo Carrefour.
Este último chegou na região no final da década de 1980, adquirindo a Fazenda Labrunier e
posteriormente incorporando outras propriedades de grande porte, formando o atual Grupo
Labrunier, com 535 ha de uvas em plena produção
69
.
Iniciativa dos dois grupos acabou envolvendo consultores privados e pesquisadores
da Embrapa, na tentativa de descobrir as técnicas adequadas para produção de uva sem
semente. No final da década de 1990 financiou a viagem de técnicos à Índia, em cujo país o
cultivo da espécie fora bem-sucedido trazendo excelentes resultados, visto que a região
apresentava algumas similaridades climatológicas com o pólo Petrolina/Juazeiro. A partir de
2000 começaram as exportações de uvas sem semente.
Do volume exportado, estima-se que 51% (VALEXPORT, 2006) sejam de uvas sem
semente, cujas variedades (Festival e Crimson) foram adaptadas com grande sucesso em
2000. Tal êxito tem sido denominado no pólo Petrolina/Juazeiro como a “corrida do ouro”,
uma vez que, conforme relatamos anteriormente, observa-se um considerável incremento na
área cultivada e no número de novos produtores.
Dessa forma, a uva tornou-se uma mercadoria sobremaneira rentável fazendo com
que a pequena propriedade, sem recursos próprios, venha sendo substituída por profissionais e
empresas frutícolas, geralmente oriundos de outras regiões e até mesmo de outros países, que
detêm capital próprio, necessitando muito pouco do sistema de crédito local.
Ressalte-se que este é um obstáculo que tem contribuído para a exclusão dos
pequenos produtores: a inadequação do sistema provedor de crédito. Em entrevista com
especialistas de crédito do Banco do Nordeste (BNB) e do Banco do Brasil, verifica-se que
grande liquidez no mercado local. No entanto, na década de 1990, o crédito foi
disponibilizado sem acompanhamento técnico da sua aplicação no interior da lavoura,
culminando com o endividamento no segmento de pequenos produtores. Conforme assinala
68
De certa forma, se comparados ao Chile, ainda somos incipientes, uma vez que temos exportado cerca de 6 milhões de caixas , contra 180
milhões de caixas daquele país, sendo 60% sem semente.
69
Conforme informações do Gerente de Produção da Fazenda Labrunier, em Casa Nova (BA), o Grupo é proprietário de 1.380 hectares no
pólo, sendo que 20% (276 ha) das terras são reservadas para atender legislação do IBAMA, restando, por conseguinte, 569 ha de matas
nativas para a expansão dos negócios (o grupo também produz uvas com semente, manga e goiaba e produtos orgânicos para o mercado
interno – principalmente para abastecer sua rede de lojas e também seus concorrentes).
185
Gama da Silva (2001), “[...] Muitos daqueles que conseguiram se engajar no ramo da
fruticultura, valendo-se do crédito bancário, atualmente, amargam dívidas impagáveis
(p.107)”.
Citamos a resposta do engenheiro agrônomo e especialista técnico do BNB,
trabalhando há 24 anos no pólo, quando perguntado se havia iniciativas para impulsionar o
acesso à informação sobre linhas de crédito, principalmente para pequenos e médios
produtores:
Eu acho que o problema maior não é a questão da divulgação. É bem divulgado;
quem está no meio sabe as linhas de crédito que tem. O que acontece é que muitas
vezes eles não têm o acesso pleno devido a fatores relacionados com os seus
passivos que não lhes permitem avançar mais. Eu não tenho dados precisos da
inadimplência, mas é muito grande. A atividade, para os pequenos, vem passando
por séria crise. Atualmente, a forma de concessão de crédito exige garantia real.
Então, você vai plantar uva, não consegue fazer com menos de R$ 50 mil para um
simples hectare e, em muitas vezes, este é um valor maior do que a propriedade.
Sem crédito, ficam em posição vulnerável, no que diz respeito aos grandes
produtores que, em seguida, compram-lhes os lotes.
No que diz respeito às ações responsáveis pelo crescimento econômico da região, faz
parte do senso comum de que tal posição foi possibilitada por uma liderança “local
progressista”, fazendo-se referência à família Coelho, cujos membros ocupavam posições-
chave em nível municipal, estadual e federal, o que permitia a entrada de importantes
investimentos federais em irrigação e a atração de empresas particulares para o pólo.
Uma outra vertente de analistas atribui o êxito da região ao processo natural da
globalização, simultaneamente com as mudanças no padrão de consumo dos países do
primeiro mundo, dando preferência para alimentos como verduras e frutas. Adicionamos
ainda o fato de o país ter capacidade de produzir tais alimentos nos períodos de entressafra
nos Estados Unidos e na Europa, o que teria sido o principal motor para a transformação
econômica do eixo Petrolina/ Juazeiro.
No nosso entendimento, os resultados significativos do pólo foram originados pelo
conjunto de todas essas considerações. A título de ilustração, parafraseando Damiani (2003),
que fez um estudo comparando os perímetros irrigados no Vare do São Francisco, ainda que
os investimentos governamentais em infra-estrutura tenham sido representativos nas áreas
analisadas, a transformação não foi tão expressiva quanto a verificada em Petrolina/Juazeiro.
Embora encontremos algumas fragilidades na forma de distribuição dos lotes, o que
explica satisfatoriamente o bom êxito do pólo Petrolina/Juazeiro é a forma como a Codevasf
administrou tais investimentos, trazendo inovações que não foram aplicadas em outros
perímetros públicos de irrigação. A principal delas foi a mesclagem de empresas de porte
186
médio com pequenos agricultores, alguns destes últimos, sem terra. Para os pequenos
agricultores, obedecendo-se critérios específicos, receberam lotes irrigados de 6 a 12 ha e
moradia. Para estes também foi disponibilizado serviço gratuito de extensão agrícola e
treinamento para o cultivo de irrigação tecnificada de produtos tradicionais.
As empresas foram beneficiadas com lotes de 50 a 100 ha. Tais empresas também
podiam participar de licitações para a utilização de lotes adicionais, sendo que ficaria por sua
conta a realização das obras de infra-estrutura de irrigação. A contribuição dessas empresas
está no fato de terem introduzido novas cultivares, principalmente aquelas destinadas ao
mercado externo como a uva de mesa e a manga. Simultaneamente implantaram sofisticados
métodos de cultivo e de pós-colheita, com a utilização de produtos químicos para a indução
da produção da manga, por exemplo, no sentido de controlar a época da colheita.
Outro fator importante foi a abertura dos mercados, tanto nacional quanto
internacional, para esses novos produtos, por meio dos contatos comerciais que essas
empresas mantinham com o exterior, disseminando uma cultura exportadora local. De forma a
atender um mercado internacional exigente, foi necessário adotar uma política de qualificação
dos trabalhadores, visando um melhor gerenciamento da infra-estrutura de irrigação e de poda
de videiras, mangueiras e outros cultivos.
A Cooperativa Agrícola de Cotia (CAC) foi uma das pioneiras a se instalar no pólo
Petrolina/Juazeiro. Era uma cooperativa estabelecida por imigrantes japoneses na década de
1950, que tinha o objetivo de comercializar coletivamente produtos agrícolas. Foi essa
cooperativa que introduziu o cultivo de uva para exportação em Petrolina/Juazeiro, no projeto
de Curuçá. Inicialmente, estabeleceu-se na região para cultivar melão e tomate e, em 1980,
uva de mesa para o mercado externo. A Cotia fez o papel de uma empresa motriz, tendo em
vista que desempenhou o papel de disseminador da cultura exportadora no pólo, visto que
tinha longa experiência na exportação de café, maçã e soja. Além disso, conforme assinala
Damiani (2003), contribuiu sobremaneira para a constituição da Associação dos Produtores
Exportadores de Hortigranjeiros e Derivados do Vale do São Francisco (Valexport)
70
,
oferecendo todo o know-how para o bom desempenho exportador de produtos frescos.
Em 1994 a Cotia passou por um processo de solução de continuidade. No sentido de
conservar a prática cooperativista iniciada, alguns cooperados fundaram a Cooperativa
Agrícola de Juazeiro (CAJ), que hoje representa o maior associado, em volume de produção,
do board formado entre o Grupo Labrunier e o BGMB. Atualmente a CAJ tem 77
cooperados, a maioria remanescente da Cotia.
187
4.1.3 Introdução de inovações no Pólo Petrolina/Juazeiro
A inserção de grandes empresas no Vale do São Francisco serviu como uma força
motriz para que os pequenos produtores também revissem seus sistemas produtivos. Dessa
forma, questões como cooperação entre produtores e as instituições de apoio tecnológico,
foram decisivas para a expansão da fruticultura, uma vez que atuavam sinergicamente a partir
de um marco tecnológico.
Tal marco tecnológico, pressionado pela globalização do consumo de frutas, foi uma
exigência de qualidade ditada pelos grandes mercados consumidores. Dessa forma, as frutas
precisavam se adequar ao gosto dos consumidores (aparência, sabor, consistência etc.). Por
conseguinte, tais exigências requeriam também apresentar um padrão cultural e de logística de
pós-colheita, além de aperfeiçoamentos requeridos pela cadeia de comercialização, como
armazenagem, embalagem, resfriamento, transporte etc.
A produção de frutas para exportação requer alguns cuidados relacionados com a
cultura, como: controle de pragas, doenças e resíduos tóxicos; adubação, variedades e
irrigação. No entanto, a eles se agregam valores de um mercado cada vez mais exigente e
competitivo: tipos de embalagens, marca, apresentação etc. Por outro lado, a aproximação
com o desenvolvimento tecnológico, como a biotecnologia, conservação de produtos,
gerenciamento de processos, aspectos fitossanitários, entre outros, define a competitividade
dos produtos de uma região, uma vez que, para serem atrativas competitivamente no mercado
globalizado, necessitam implantar padrões de condutas, principalmente de gestão e
produtivos, requeridos pelos maiores mercados consumidores.
Assim, dentro do marco tecnológico, a logística de pós-colheita assume papel
estratégico fundamental, uma vez que representa até 71% do valor final do produto. Dessa
forma, quanto mais aperfeiçoados tecnologicamente forem os serviços de armazenagem,
transporte e distribuição, mais competitiva será a cadeia. A Tabela 24 destaca a opinião dos
respondentes quando perguntados sobre a importância do impacto resultante da introdução de
inovações na propriedade.
70
Para uma melhor compreensão sobre a constituição da Valexport, ver Gama da Silva (2001).
188
Tabela 24: Resultados da introdução de inovações na propriedade
Alta importância
(%)
Média
importância (%)
Baixa
importância (%)
Sem
importân
cia (%)
Total
%
Aumento da produtividade da propriedade/empresa 51 49 100
Ampliação da gama de produtos ofertados 56 44 100
Aumento da qualidade dos produtos 79 21 100
Permitiu que a empresa/produto mantivesse a sua
participação nos mercados de atuação
75 25 100
Aumento da participação no mercado interno 36 41 23 100
Aumento da participação no mercado externo 63 37 100
Permitiu a abertura de novos mercados 53 47 100
Permitiu a redução de custos de insumos 13 26 20 41 100
Permitiu a redução do consumo de energia 31 29 100
Permitiu o enquadramento em regulações e normas
padrão relativas ao Mercado Interno
45 42 13 100
Permitiu o enquadramento em regulações e normas
padrão relativas ao Mercado Externo
81 19 100
Permitiu reduzir o impacto sobre o meio ambiente 68 32 100
Fonte: elaboração própria, a partir dos dados da pesquisa de campo.
Verificam-se algumas convergências positivas nas respostas no que diz respeito aos
impactos das inovações no sistema produtivo. No entanto, o principal destaque deve ser dado
ao fato de que 81% dos produtores concordam que as inovações permitiram o enquadramento
nas regulações e normas relativas ao mercado externo, diferentemente dos impactos para o
mercado interno (45%), demonstrando assim que as novas práticas produtivas são voltadas
para o mercado externo.
Geralmente, tais inovações são incorporadas para atender exigências do mercado
internacional, por meio de certificações. No caso de Petrolina/Juazeiro, por serem produtos
importantes na pauta de exportação, a manga e a uva são os produtos mais visados pelos
importadores. Dos 48 produtores entrevistados, 27 são certificados pelo EurepGap (Euro
Retailer Produce Working Group – Eurep - e Good Agricultural Practice – GAP), 21 pela PIF
(Produção Integrada de Frutas) e 17 têm os dois selos.
Sob o ponto de vista da comercialização, Eurepgap é considerado uma barreira
técnica imposta pela União Européia, cujo bloco importa 61% das mangas e 89% das uvas
brasileiras (ALICEWEB, 2007). Desde 2003 o bloco econômico vem exigindo o selo, como
forma de controlar a qualidade dos alimentos. O programa de certificação foi criado em 1999
por um grupo de empresas varejistas, visando atender os padrões das conhecidas “boas
práticas agrícolas”, dando ênfase à segurança do alimento, preservação do direito dos
trabalhadores e do meio ambiente.
Assim, a importância da certificação está no incentivo para atingir a excelência na
produção, com um produto de qualidade. No entanto, a barreira está nos custos adicionais que
o programa representa, principalmente para os pequenos e médios produtores, uma vez que
requer completa reestruturação do sistema produtivo e contratação de consultorias
189
especializadas. De acordo com entrevista concedida por pesquisador da Embrapa, [...] este
problema está sendo resolvido com a união dos produtores juntamente com as agências
governamentais para a adoção da Produção Integrada de Frutas (PIF), com apoio da Valexport
e da Embrapa”.
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da Embrapa.
O PIF foi uma iniciativa do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
(MAPA), objetivando a melhoria da qualidade da fruta brasileira, para consolidar sua
participação no comércio exterior. O principal diferencial da certificação é a possibilidade de
rastreamento da produção. Os produtores certificados recebem um selo que representa a
garantia para a sua inserção no mercado internacional, dispensando-os das certificações
internacionais, visto que os importadores também fazem parte do comitê certificador.
Verifica-se no Gráfico 3 que em 2004 o número de produtores certificados aumentou
substancialmente, tendo em vista a exigência da União Européia do selo EurepGap, a partir do
final de 2003. Quanto aos custos envolvidos para a certificação, a manga é menos onerosa do
que a uva, daí a maior quantidade de produtores de manga certificados.
Vale ressaltar que mesmo aqueles produtores que ainda não possuem os referidos
certificados, buscam padrões de competitividade internacionais, consolidando dessa forma a
compreensão de que é importante a pesquisa e a descoberta de novas variedades que sejam
adequadas aos hábitos alimentares dos grandes mercados consumidores, principalmente o
europeu e o americano. Tais produtores, em ação integrada com a Codevasf, promovem a
difusão das informações para o mercado e criam marcas para os seus principais produtos
(manga e uva). De acordo com a Figura 4, verifica-se que para alcançar a certificação plena
da PIF, o produtor deverá passar por diversos níveis. No entanto, a sua atividade começa a
entrar em conformidade com as exigências internacionais quando implanta as “boas práticas
2
8
20
43
82
166
243
256
2
4
7
40
50
141
162
169
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
UVA
MANGA
Gráfico 3: Evolução dos produtores certificados pela PIF
190
agropecuárias - BPA” no processo produtivo, o que também é reconhecido pelos
consumidores.
Figura 4: Níveis de inovação da fruticultura de exportação no Pólo Petrolina/Juazeiro
Fonte: Embrapa (2007)
BPA - Boas Práticas Agropecuárias; PPHO – Procedimentos Padrões de Higiene Operacional;
APPCC – Análise de Perigo e Pontos Críticos de Controle
Em que pese a importância dos avanços apontados, existem ainda sérios obstáculos
para a afirmação do Pólo Petrolina/Juazeiro como um sistema produtivo exportador,
principalmente quando consideradas as atividades de pós-colheita e as deficiências da infra-
estrutura de transporte. O funcionamento de um sistema de transporte eficiente é crucial para
o complexo, uma vez que as frutas são altamente perecíveis, necessitando chegar ao mercado
consumidor com urgência.
Conforme pudemos verificar nos portos visitados em Recife (Suape) e Fortaleza
(Pacém), a infra-estrutura portuária é inadequada, com elevados custos. As estradas que dão
acesso aos portos são mal-conservadas e os caminhões frigorificados são adaptados e não
planejados para transportar frutas, causando danos às mercadorias. É importante destacar que
em 2000 houve ampliação do aeroporto de Petrolina com a instalação de câmaras de
armazenagem e resfriamento, permitindo o transporte internacional das frutas por meio de
aviões de grande porte. No entanto, conforme opinião dos entrevistados, a iniciativa ainda é
insuficiente para atender todo o processo de logística da região.
Por outro lado, comparativamente ao Chile, também insuficiência de pesquisa
para acompanhar a concorrência no setor, no que diz respeito à busca de novas variedades que
se adaptem aos parâmetros internacionais de consumo e à forma de promoção de marketing
nos mercados consumidores mais sofisticados. Conforme nos referimos anteriormente, existe
191
também carência de novas formas e políticas de crédito que sejam adaptadas às reais
necessidades do setor, uma vez que a atual estrutura creditícia contribui para o endividamento
dos produtores. Nesse sentido, verificamos que existe grande disparidade entre os juros pagos
no Brasil e no Chile, tornando os produtos brasileiros menos competitivos. A Tabela 25
resume a visão dos 48 entrevistados, no que diz respeito às fragilidades acima descritas.
Tabela 25: Principais dificuldades para operar no sistema produtivo – Petrolina/Juazeiro
Alta importância
(%)
Média
importância (%)
Baixa
importância (%)
Sem
importân
cia (%)
Total
%
Contratar trabalhadores qualificados 62 30 8 100
Produzir com qualidade 23 40 37 100
Vender a produção 56 44 100
Custo ou falta de capital de giro 68 32 100
Custo ou falta de capital para aquisição de máquinas e
equipamentos
53 32 15 100
Custo ou falta de capital para aquisição de instalações 56 34 10 100
Pagamento de juros de empréstimos 71 22 7 100
Fonte: elaboração própria, a partir dos dados da pesquisa de campo.
Verifica-se que, na visão dos produtores, a contratação de trabalhadores é um fator
que dificulta o processo de produção. Em conversas informais, os entrevistados concordam
que mão-de-obra abundante na região, no entanto, reclamam da carência de trabalhadores
qualificados. De acordo com entrevista com um produtor de uva e manga, em 11 hectares,
“[...] dos trabalhadores temporários, são poucos aqueles que contratamos definitivamente,
porque eles não se destacam para produzir frutas com qualidade”. É importante frisar que os
trabalhadores identificados como especializados, principalmente no cultivo da uva, são
disputados num tipo de cooptação pelos grandes produtores, que podem lhes oferecer
melhores salários. Ou seja, os pequenos produtores treinam, mas não conseguem reter essa
mão-de-obra.
Ressalte-se os produtores não m dificuldades em vender sua produção, no entanto,
o maior entrave está na obtenção de crédito de curto prazo, conforme nhamos analisado
anteriormente.
À guisa de considerações finais do tópico, podemos concluir que a produção de fruta
no pólo Petrolina/Juazeiro está se impondo como um segmento dinâmico para a economia da
região Nordeste, principalmente no semi-árido. A sua origem é fruto de significativos aportes
financeiros governamentais, traduzidos na administração e montagem de perímetros irrigados
altamente tecnificados. A economia local foi desenvolvida a partir do envolvimento de
diversos atores (públicos e privados) que possibilitou a criação de um ambiente propício às
inovações, dando condições para identificar as tendências do mercado e de tecnologia.
192
Embora contando com um amplo mercado interno, a comercialização está
direcionada para o mercado externo. Na visão geral do conjunto, o balanço no pólo é positivo.
No entanto, alguns desafios deverão ser superados no sentido de garantir a continuidade do
sistema produtivo. Um dos principais enfrentamentos é o atendimento aos grandes
importadores no quesito qualidade. Os produtores cada vez mais terão que se enquadrar nas
exigências dos consumidores da Europa e da América Norte, que impõem restrições pesadas
quanto aos cuidados sanitários, acondicionamento de embalagens e seleção das espécies. Para
tanto, será necessário o envolvimento das instituições de apoio para a extensão e pesquisa.
A organização da comercialização também apresenta traços de incipiência, no que
diz respeito aos colonos e pequenos produtores, uma vez que muito que se fazer para
estimular a cultura associativista e/ou cooperativista, tendo em vista a pouca confiança
existente entre os produtores, originada por experiências malogradas.
Quanto à Sexta Região, no que diz respeito à competitividade, as trajetórias são
também diferenciadas. No entanto, quanto às relações sociais, parece existir bastante
similaridade entre as duas localidades, principalmente no tocante às relações de trabalho,
conforme verificaremos no tópico seguinte.
4.2 Características econômico-produtivas da Sexta Região
A Sexta Região de Libertador Bernardo O’Higgins está localizada em uma superfície
de 16,4 mil km
2
, correspondendo a 2,2% de todo o território nacional do Chile. A região está
dividida em três províncias: Cachapoal, Colchagua e Cerdenal Caro, somando um total de 33
municípios.
De acordo com informações do Mideplan (2005), a Sexta Região registrou uma
população de 780.648 habitantes, dos quais 70,3% urbana, apesar de um número considerável
viver em pequenas localidades (municípios), com muitas características rurais. A densidade
populacional é de 46,6 habitantes por km
2
, sendo a província de Cachapoal a que concentra a
maior parte da população regional (65,9%), o que se deve, fundamentalmente, ao fato de a
capital regional (Rancagua) está localizada nesta província.
O clima predominante nessa região é o quente-temperado, com oscilações térmicas
moderadas, tendo as estações do ano claramente definidas. As precipitações anuais são de
823,5 mm e a temperatura média anual alcança 12,6
0
C. Dessa forma, a relação entre clima e
relevo possibilita quantidade de chuva e alta umidade, em algumas épocas do ano, que
propiciam solos mais aptos para a agricultura e pecuária.
193
A base hidrográfica da Sexta Região é constituído, principalmente, pelo sistema do rio
Rapel, formado pela confluência do Cachapoal e o Tinguiririca, que nascem na Cordilheira
dos Andes. Os rios Cachapoal e Claro são os mais importantes em termos de aproveitamento
para a irrigação dos cultivos. O rio Rapel e o Estero Alhué, dão origem à represa Rapel, que
possui uma capacidade de armazenamento de 438 milhões de m
3
, além de permitir o
desenvolvimento de ma intensa atividade turística de balneários e esportes náuticos.
A produção de fruta fresca é uma atividade antiga na Sexta Região. Segundo alguns
produtores e entrevistados, podem-se encontrar referências à produção de uvas, pêssegos,
figos, maçãs e outras frutas desde o período colonial
71
. De certa forma, é essa tradição que
confirma as vantagens comparativas que desde então possui o Chile, na atividade econômica
da fruticultura. Por outro lado, a posição geográfica chilena (a metade das suas fronteiras é
com o Oceano Pacífico) permite ao país a possibilidade de se manter livre de pestes, pragas e
enfermidades agrícolas.
O clima da Sexta Região é perfeitamente apto para a fruticultura, uma vez que “[...]
nas épocas das colheitas não chove, altas diferenças de temperatura entre o dia e a noite e
baixa umidade relativa do ar. Além disso, a proximidade com os portos de embarque constitui
uma notável vantagem” (Agrônoma do Ministério da Agricultura do Chile entrevistada da
pesquisa).
71
O período colonial chileno compreende o início do século XVI até 1810, quando foi formada a
Primeira Junta de Governo.
194
Figura 5: Mapa do Chile com detalhes da Sexta Região
Sexta Região: Libertador Bernardo O’Higgins
195
4.2.1 Especificidades históricas da oferta de frutas na Sexta Região
72
Seguindo uma tendência nacional até a cada de 1970, a fruticultura na Sexta Região
era orientada para o mercado interno, com pouca vantagem competitiva para os mercados
externos. Em que pese os primeiros movimentos em direção ao mercado internacional na
década de 1930, conforme analisado no Capítulo 3, a iniciativa privada representava um papel
pouco importante em comparação com o Estado, de forma que a maior parte das iniciativas
referidas ao setor foi implementada pelo último.
O desenvolvimento da fruticultura na Sexta Região aconteceu efetivamente a partir de
1974, concomitantemente ao desenvolvimento da indústria frutícola no Chile.
Comparativamente aos outros países exportadores do Hemisfério Sul (Argentina, Austrália,
Nova Zelândia e África do Sul), até aquele ano o país era o que menos exportava. A Tabela
26 mostra o período em que o setor deu a virada em relação aos seus principais concorrentes.
Tabela 26: Exportação de frutas de países do Hemisfério Sul (mil toneladas)
PAÍS 1970
1974
1980
1988
1992
ARGENTINA
Uva de mesa
Maças
Peras
Total
5,0
208,9
39,3
253,2
2,5
239,1
35,5
277.1
1,0
238,5
49,7
289,2
6,5
195,0
116,0
317,5
12,0
270,0
151,0
433,0
AUSTRÁLIA
Uva de mesa
Maças
Peras
Total
-
150,5
33,0
183,5
-
80,0
34,7
114,7
2,0
46,5
30,7
79,2
-
25,0
38,0
63,0
8,8
25,9
26,0
60,7
CHILE
Uva de mesa
Maças
Peras
Total
9,4
17,6
-
27,0
24,1
51,3
10,1
85,5
82,7
183,9
24,5
291,1
340,0
348,0
62,0
750,0
419,5
392,0
113,7
925,2
NOVA ZELÂNDIA
Uva de mesa
Maças
Peras
Total
-
41,0
2,3
43,3
-
76,8
2,3
79,1
-
96,1
2,1
98,2
-
194,4
2,1
196,5
0,2
206,0
3,8
210,0
ÁFRICA DO SUL
Uva de mesa
Maças
Peras
Total
30,8
112,9
29,8
173,5
28,0
170,7
29,3
228,0
31,9
189,0
45,1
266,0
45,5
220,9
80,1
346,5
55,9
197,6
82,3
335,8
Fonte: Montado a partir dos dados da FAOSTAT - Statistics Database (consultado em
set./2007)
72
Conforme anunciamos na metodologia, Para efeito deste estudo, selecionamos oito áreas que apresentaram
maior quociente locacional no que diz respeito à produção de frutas, sendo selecionados os seguintes municípios
da Sexta Região: Rancagua, Graneros, Codegua, Rengo, Peumo, San Vicente, Machalí e San Fernando.
196
Em entrevista com o Presidente da Federação de Agricultura da Sexta Região,
perguntamos por que a indústria frutícola naquela região se desenvolveu a partir de 1974,
uma vez que em anos anteriores o setor já apresentava condições favoráveis para competir
com o mercado externo:
A nossa hipótese principal é que nesse ano a iniciativa privada pode identificar as
oportunidades de negócios com as frutas, dando-se simultaneamente certas
condições favoráveis nos meios externo e interno, confluindo ambos os fatores para
a materialização de tais condições em atividades econômicas de êxito. O novo
modelo econômico implantado no país em 1974 trouxe consigo profundas
transformações na fruticultura nacional e, principalmente, na 6ª Região, uma vez que
esta é a que tem maior área cultivada. A abertura da economia ao comércio
internacional, a liberdade dos agentes econômicos para tomar decisões de
investimento, o papel subsidiário do Estado na atividade econômica e a livre
concorrência, contribuíram para criar as condições para que exportadores e
produtores aproveitassem as oportunidades que nesse momento ofereciam os
mercados internacionais às frutas fora da temporada - são as frutas vendidas no
Hemisfério Norte a partir de dezembro até final de maio -. (Grifo nosso).
Na visão do entrevistado , as políticas de maior incidência no setor foram as reformas
aduaneiras, de cobrança de impostos e políticas de câmbio. Ressaltou também a modificação
na regulamentação portuária e a introdução de mudanças na lei da marinha mercante,
eliminando-se a exigência de que os produtos fossem transportados em navios de bandeira
chilena.
Dessa forma, com as regras do jogo relativamente claras e estáveis, as condições para
a expansão da fruticultura chilena estavam dadas. A superfície plantada passou de 27 mil ha
em 1970 para mais de 209 mil em 2003 (CORFO, 2007). A Tabela 27 mostra a evolução
das superfícies plantadas, por espécie das principais frutas, em alguns anos e a participação da
6ª Região.
Ressaltamos a importância da Sexta Região, no que diz respeito à produção de frutas,
uma vez que o Chile tem 15 regiões e a menor participação daquela região foi de 22,4%, no
período analisado. Verifica-se que, entre o ano de 1974 e 1982, o número de culturas
aumentou substancialmente e a área plantada passou de 34,6 mil para 95,7 mil hectares,
correspondendo a um crescimento real de 176,6%. É interessante observar que o mesmo
movimento ocorreu também na Sexta Região, onde a uva de mesa é a principal fruta
cultivada, numa área de 12,7 mil hectares, o que representa 26,6% do total nacional, em 2003.
No mesmo ano, a área de frutas cultivada no país era de 209,7 mil hectares, dos quais 59,6 mil
hectares estavam localizados na região em estudo, representando 28,4% do total cultivado no
Chile (ver Tabela 27).
197
Tabela 27: Superfície cultivada por espécie – 1970 – 2003 (1.000 ha)
FRUTA 1970 1974 1982 1986 1990 1995 2000 2003
CH VI CH VI CH VI CH VI CH VI CH VI CH VI CH VI
PARTICIPAÇÃO
DA VI REGIÃO
EM 2003
Abacate
- - 6,4 1,5 7,6 1,7 7,6 1,8 9,1 2,3 9,5 2,5 21,9 2,0 9,1
Amêndoas
- - 2,8 0,6 3,2 0,7 3,7 0,9 4,4 1,1 4,6 1,2 5,4 2,0 37,0
Cereja
- - 2,2 0,5 3,1 0,7 2,8 0,7 3,3 0,9 3,5 0,9 6,9 2,5 36,2
Ciruela Européia
1,7 0,4 1,3 0,3 2,9 0,7 2,5 0,6 2,6 0,6 3,1 0,8 3,2 0,9 5,6 3,0 53,6
Ciruela Japonesa
1,2 0,3 0,4 0,1 2,2 0,5 5,8 1,3 5,7 1,3 6,8 1,7 7,1 1,9 8,3 3,9 47,0
Damasco
- - 1,5 0,3 1,7 0,4 1,9 0,4 2,3 0,6 2,4 0,6 2,0 0,3 15,0
Frambuesa
- - 0,1 0,0 0,8 0,2 2,6 0,6 3,1 0,8 3,2 0,9 4,6 0,1 2,2
Kiwi
- - 0,1 0,0 2,8 0,6 11,7 2,7 14,0 3,6 14,6 3,9 6,9 1,9 27,5
Laranja
- - 5,8 1,3 6,3 1,4 6,0 1,4 7,2 1,8 7,5 2,0 7,1 4,0 56,3
Limão
- - 5,6 1,3 5,2 1,2 5,7 1,3 6,8 1,7 7,1 1,9 6,6 1,0 15,2
Maça verde
6,0 1,4 5,5 1,3 5,7 1,3 6,9 1,5 8,2 1,9 9,8 2,5 10,2 2,7 6,6 3,3 50,0
Maça vermelha
- 5,8 1,4 11,6 2,6 14,5 3,2 14,8 3,5 17,7 4,5 18,4 5,0 28,4 6,8 23,9
Nectarina
2,0 0,5 4,0 1,0 7,1 1,6 7,6 1,7 6,6 1,5 7,9 2,0 8,2 2,2 7,3 4,1 56,2
Nogal
- - 7,6 1,7 7,2 1,6 7,0 1,6 8,4 2,1 8,7 2,3 7,8 1,4 17,9
Oliveira
- - 3,1 0,7 2,1 0,5 2,1 0,5 2,5 0,6 2,6 0,7 3,6 0,6 16,7
Pêra
2,8 0,7 2,6 0,6 3,9 0,9 7,5 1,7 13,5 3,2 16,1 4,1 16,8 4,5 7,3 3,3 45,2
Pêssego fresco
4,4 1,0 4,4 1,1 2,2 0,5 3,7 0,8 5,7 1,3 6,8 1,7 7,1 1,9 4,9 2,5 51,0
Pêssego para conserva
3,3 0,8 6,4 1,5 4,5 1,0 3,7 0,8 4,3 1,0 5,1 1,3 5,4 1,4 7,5 3,4 45,3
Uva
5,4 1,3 4,2 1,0 17,8 4,1 39,5 8,8 46,5 10,9 55,6 14,2 57,9 15,6 47,7 12,7 26,6
Outras espécies
- - 2,6 0,6 3,8 0,9 3,0 0,7 3,6 0,9 3,7 1,0 13,3 0,8 6,0
TOTAL 26,8 6,4 34,6 8,3 95,7 21,8 135,5 30,4 162,0 37,9 193,8 49,4 201,7 54,3 209,7 59,6
Particip. - VI Reg. (%) 23,8 24,1 22,8 22,4 23,4 25,5 26,9 28,4
Fonte: Corporación de Fomento de la Produción – CORFO (2007).
CH: Chile
VI: VI Região
198
Dessa forma, a estratégia de comercialização da fruta na Sexta Região nos mercados
internacionais também teve grande êxito. Os exportadores tomaram a decisão de se inserir nos
sistemas de comercialização de cada país. De acordo com entrevista concedida pelo
Presidente da Associação de Exportadores de Frutas, da Comuna de Rengo,
[...] a forte competência entre os exportadores da Sexta Região permitiu aproveitar
as oportunidades que se apresentavam a cada dia nos mercados. Desde meados da
década de 1970, foram introduzidas e difundidas diversas inovações tecnológicas na
produçãoa embalagem e a distribuição - pelo setor privado. No que diz respeito à
produção, as novidades mais importantes se concentraram na localização, desenho,
manejo dos cultivos, sistemas de irrigação, colheita e na incorporação de material
genético certificado.
No que diz respeito à embalagem, os dois fatos mais relevantes para a incipiente
indústria frutícola da região foi a introdução de pallets início da década de 1970 e a
normalização das caixas de exportação. Quanto às inovações na distribuição, por sua vez,
melhoraram a cadeia de frio da fruta, encurtaram o tempo de chegada ao destino e, em geral,
diminuíram os custos. Segundo o entrevistado, “o passo dos navios de linha para os navios
arrendados teve um grande impacto, que permitiu, também, diversificar os portos de destino
das exportações da região e de todo o país”.
De acordo com informações de técnica da ODEPA/Sexta Região, entrevistada da
pesquisa,
[...] o desenvolvimento da fruticultura na Sexta Região foi conseqüência do grande
êxito da uva tipo Thompson Seedless no mercado norte-americano, que permitiu aos
exportadores diversificar sua atividade para outras espécies e variedades, como
também para outros mercados. Como no restante do país, durante o período 1974-
1990, a exportação de frutas se manteve como uma atividade muito rentável para os
diversos agentes econômicos.
A entrevistada delimitou o período, tendo em vista uma sucessão de tempos difíceis
que afetaram profundamente o setor. A partir da década de 1990 a fruticultura promissora da
região se converteu em grande problema para a economia. A percepção dos agentes
econômicos a respeito do negócio da fruta variou rapidamente, em conseqüência dos
resultados obtidos em relação à cada passada, da redução dos preços de venda nos
principais mercados de destino e da elevação dos custos, entre outras razões.
Devido à sua pujança na exportação de frutas, a Sexta Região foi sobremaneira afetada
pelas mudanças internas por que passava o país a partir de 1990, deslocando-se para uma
199
situação claramente desfavorável para a atividade exportadora. Estava posto um novo desafio
para o setor: “[...] para que a indústria frutícola saísse fortalecida da complexa situação por
que passava deveria encarar profundas transformações internas, de alguma forma comparável
às que promoveram o auge exportador” (entrevista concedida pela técnica da ODEPA/Sexta
Região).
Resumindo a opinião do Sr. Cláudio Valverde, os produtores enfrentaram desafios
diferentes das épocas anteriores. As soluções que tiveram êxito no passado não
necessariamente surtiriam os mesmos efeitos na década de 1990, quando a natureza das
dificuldades era outra. Os grandes problemas estavam centrados, por um lado, no
estancamento da gestão em relação às maiores exigências da atividade e, por outro, na falta de
visão estratégica dos negócios por parte das empresas. A eficiência empresarial, que até então
se media em função da capacidade de adaptação do produtor ou do exportador para incorporar
novas tecnologias, passou a ser medida em função da sua capacidade para enfrentar as crises,
o risco e a complexidade do negócio.
Conforme já havíamos detectado no Capítulo III, essas novas dimensões alteraram os
atores chaves do êxito no negócio frutícola na região, adquirindo grande significado o nível de
endividamento, os custos de produção e a qualidade da fruta nos mercados compradores. A
carteira de produtos e a diversificação passaram a ser fatores determinantes para o êxito em
mercados caracterizados como maduros e de consumidores exigentes.
A partir desse momento a fruticultura na Sexta Região é sobremaneira afetada, visto
que a conjuntura nacional impactou diretamente os sistemas produtivos locais e aquela região
detinha quase 25% da área cultivada de fruta. Naquele momento era necessária uma nova
forma de gestão que desse sustentabilidade para o setor.
Inicia-se, então, na década de 1990 (especificamente a partir de 1992) a
intensificação da transnacionalização da atividade, grande movimentação no mercado de
terras vinculado com as empresas exportadoras. Ou seja, praticamente o esgotamento da fase
relatada anteriormente e a entrada de um novo modelo de comercialização sob todos os
ângulos.
200
4.2.2 Os impactos da transnacionalização sobre o setor na Sexta Região
As mudanças mencionadas permitiram a chegada de investimentos estrangeiros
diretos na região, visto que aproveitaram os benefícios das novas regulações e da nova
institucionalidade. De acordo com De acordo com entrevista concedida pelo Presidente da
Associação de Exportadores de Frutas, da Comuna de Rengo
73
,
[...] desde o final da cada de 1980, as empresas estrangeiras que iniciavam suas
operações no Chile, utilizando o mecanismo de conversão da dívida externa, além de
dinamizar a atividade, assumiram uma posição de liderança na atividade exportadora
de fruta fresca, ajudando a consolidar suas redes globais. Por conta disso, dentro dos
distintos setores dentro da agricultura, o sistema frutícola é o mais visivelmente
globalizado.
Dessa forma, dado que o mercado de fruta da Sexta Região se encontra fortemente
integrado e globalizado, as grandes exportadoras, na sua maioria nas mãos de grandes
investidores estrangeiros, têm sido agentes muito importantes no momento de articular a
colocação e comercialização dos produtos frutícolas da região no exterior. Os dados da Tabela
28 comprovam a recuperação do desempenho exportador do sistema produtivo de frutas.
Tabela 28: Principais frutas exportadas pela Sexta Região (US$ 1.000)
FRUTA 1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
Var. %
1995-
2005
UVA
54.098
73.820
71.246
62.003
63.388
73.101
83.241
103.619
181.061
174.067
147.416
172,5
MAÇA
80.526
86.209
53.859
76.333
93.831
74.508
76.543
101.760
137.802
159.152
128.148
59,1
KIWI
13.601
18.951
15.404
27.545
20.275
16.820
13.261
26.209
35.202
37.320
42.337
211,3
PERA
22.619
32.126
25.959
30.544
35.540
26.991
29.876
33.661
34.635
37.549
40.699
79,9
CIRUELA
12.758
16.928
19.010
17.568
20.496
13.819
15.304
32.221
31.894
34.488
34.478
170,2
CEREJA
4.828
9.044
4.595
7.610
9.763
9.942
13.299
20.256
24.877
23.825
29.528
511,6
NECTARINA
8.452
10.948
10.877
10.405
11.477
11.496
14.772
22.022
23.155
28.551
25.952
207,1
PÊSSEGO
5.985
6.654
5.968
6.735
8.033
8.197
9.273
14.994
19.608
19.251
16.919
182,7
TOTAL
202.867
254.680
206.918
238.743
262.803
234.874
255.569
354.742
488.234
514.203
465.477
129,4
Fonte: ODEPA (2006)
73
Esse mecanismo esteve em vigência entre 1985 e 1990 e gerou cerca de 80% do total de investimentos
estrangeiros diretos no país. Os investimentos que o utilizaram foram beneficiados por um subsídio implícito
através de descontos, estimados em 46% do valor dos investimentos. A ampla difusão internacional qua foi dada
a esse programa de conversão da vida contribuiu para criar um clima favorável entre os investidores
estrangeiros e despertar seu interesse pelo setor. No entanto, a progressiva e rápida recuperação da economia
chilena fez subir os preços do papel e diminuir a rentabilidade do mecanismo, a partir de 1992, não se
realizavam novas operações (MURRAY, 2002).
201
Ressaltamos que, no caso específico dos produtores da Sexta Região, principalmente
os pequenos, as grandes empresas m prestando um serviço de agente financeiro, visto que
antecipam o capital para suas operações
74
, oferecem recursos necessários para a preparação,
embalagem e o armazenamento em frio da fruta. Por outro lado, mais do que o Estado, as
empresas exportadoras cumpriram um papel fundamental na identificação, adaptação e
transferência de tecnologia ao setor. O conjunto dessas iniciativas proporcionou a reunião de
volumes suficientes para gerar economias de escala, de transportes e poder negociador de
preços nos países de destino (Resumo da entrevista concedida pelo Presidente da Associação
de Exportadores de Frutas, da Comuna de Rengo).
Verifica-se com isso que o trabalho realizado com os produtores da Sexta Região foi
uma forma de as grandes exportadoras otimizarem seus investimentos. No caso da região em
estudo, as companhias internacionais ingressaram no negócio exportador, especialmente a
partir de 1985, quando foi detectada a crise dos grandes exportadores nacionais. Algumas
formaram joint ventures com produtores e exportadores chilenos; outras compraram os ativos
de empresas que haviam falido e contrataram profissionais e técnicos; e outras simplesmente
construíram suas próprias instalações e capacitaram seu pessoal
75
.
A transnacionalização do setor não foi produzida apenas com a chegada de empresas
internacionais, mas também pela integração vertical de exportadores locais, que tinham
centros de operação nos mercados de destino e que, da mesma forma de muitas
multinacionais, se estabeleciam como importadoras. Verificamos que essa integração vertical
não é linear, visto que alguns agentes cumprem mais de uma função. As atividades produtivas
são desenvolvidas fundamentalmente por agricultores locais, enquanto que as exportações são
compartilhadas por empresas nacionais e estrangeiras, com forte predomínio econômico das
últimas. Existem também produtores locais que têm suas próprias exportadoras,
individualmente ou associados. É também notável a presença de exportadoras, inclusive
transnacionais, que m comprado terras e desenvolvem suas próprias plantações e
transacionam parte importante dos seus volumes com produtores locais.
No setor frutícola da Sexta Região, quatro das cinco maiores empresas são filiais das
maiores transnacionais do mundo: Chiquita, Dole e Del Monte Fresh, todas elas com suas
74
Ver no Capítulo III os impactos dessa relação para os pequenos produtores.
75
Não tivemos acesso aos dados condensados sobre este tema, visto que tal possibilidade requer uma análise
mais pormenorizada no interior das empresas. No entanto, retomando os estudos de Gómez (1997), o autor
enfatiza que o movimento de transnacionalização das empresas exportadoras se deu como conseqüência das
oportunidades criadas pelas dificuldades que a atividade frutícola chilena atravessava no final da década de
1980, quando se incorporou naquele mercado de frutas frescas a empresa transnacional americana Chiquita.
202
sedes nos Estados Unidos. A Unifrutti é uma empresa ítalo-árabe controlada pela família De
Nadai. A quinta empresa na região é a chilena David del Curto (ODEPA, 2006).
Na temporada 2005-2006, por exemplo, as quatro primeiras empresas estrangeiras
foram responsáveis por 24,51% das exportações de frutas frescas da região. No entanto,
mercados que tais empresas são mais eficientes, aumentando ainda mais a sua participação
relativa. É o caso do mercado norte-americano, cuja participação das quatro companhias, na
mesma temporada, foi de 46,3% das vendas totais (PROCHILE, 2007).
A empresa Dole Chile é a maior exportadora de frutas frescas da região e do país. Na
safra 2005/06, embarcou 16,3 milhões de caixas, das quais 5,46 milhões saíram da Sexta
Região. O Quadro 9 indica o total exportado por essas empresas no Chile e na Sexta Região.
Quadro 9: Principais empresas exportadoras de frutas no Chile e na VI Região
Valor da exportação (US$ milhão)
2005 2006
Empresa e país de origem
Chile
VI Região
%
Chile
VI Região
%
1
Dole Food Company (EUA)
120,3
30,8
25,6
131,1
36,05
27,5
2
UnifruttiTraders
(Itália)
87,8
20,3
23,1
96,1
22,5
23,4
3
Del Monte Fresh (EUA)
53,5
11,3
21,2
57,9
11,41
19,7
4
Chiquita Frupac (EUA)
37,0
8,95
24,2
41,1
10,0
24,3
TOTAL
298,6
71,35
23,89
326,2
79,96
24,51
Fonte: ProChile (2007)
1) Iniciou suas operações no Chile e na região em 1981, com o nome de Standard Trading. Além de ser
produtor de frutas tem muitas terras (não foi possível verificar a quantidade) e fábrica de embalagens;
2) Faz parte do Grupo DNG (De Nadai Group) da Itália. Sua relação com o Chile começou em 1975, como
comprador de frutas na VI Região. Em 1983 comprou terras e fundou a Unifrutti. Atualmente, é produtora
de frutas e tem fábrica de embalagens. Além do Chile, atua na Arábia Saudita, Turquia, China. Estados
Unidos, Espanha, Japão e África do Sul;
3) Antes de 1999 atuou como UTC, patrimônio da família Aboughazaleh, de origem árabe;
4) Foi formada por meio de uma joint venture em 1998 entre as empresas Chiquita Brands Intl e The New
Zealand Apple & Pear.
Verifica-se que a fruticultura na região é caracterizada por uma posição dominante
das grandes empresas exportadoras em forma de oligopólio. Todas elas são grandes
conglomerados, altamente competitivas, intensivas de capital e conectadas com os mercados
internacionais. De acordo com entrevista concedida pelo Diretor Comercial da Del Monte,
A maioria tem uma integração vertical completa, que inclui produção,
processamento, distribuição e comercialização. Manejam economias de escala e têm
know how em tecnologias avançadas em matéria de produção, marketing e
203
distribuição, que garantem um melhor manejo operacional e maior controle da
cadeia. Seu acesso aos mercados globais e a localização da matriz em países de
economia avançada, de onde são originados os capitais que as constituem, lhes
outorgam as possibilidades de exercer amplo poder sobre os mercados e agricultores
locais, estes últimos dedicados, principalmente, à atividade produtivo-extrativa do
processo.
Um bom exemplo dessa verticalização foi a aquisição que a Del Monte efetuou,
comprando 100% da empresa de capitais árabes United Trading Company, com filial na Sexta
Região, no valor de US$ 269 milhões. Outra evidência da integração vertical é o fato de as
grandes empresas exportadoras também serem as importadoras nos mercados de destino, por
meio de suas matrizes.
4.2.2.1 As relações comerciais em redes na Sexta Região
Evidentemente o trajeto entre a produção de frutas e o consumidor é uma cadeia
complexa que necessariamente está entrelaçada por propriedade direta, mas que se baseia em
uma série de acordos contratuais (entre produtores e exportadores; entre exportadores e
receptores no país de destino; entre receptores e distribuidores; e, de maneira informal, entre
consumidores e suas cadeias de supermercados prediletas). Essa percepção ficou mais nítida
quando fizemos a pesquisa de campo na Sexta Região, do que em Petrolina/Juazeiro, visto
que no Chile a cadeia produtiva está mais organizada. Neste momento é oportuno frisar que o
acesso às grandes empresas foi bem mais tranqüilo no Chile do que no Brasil. Tal inserção no
cenário das multinacionais proporcionou uma melhor compreensão do funcionamento da
cadeia.
Grosso modo, a rede de relações comerciais tem a estrutura do diagrama abaixo:
Diagrama 10: Fluxo da rede de relações comerciais
a) Pequenos, médios e grandes produtores. Inclui também multinacionais que têm
plantações;
b) Pequenas empresas, médias e grandes, nacionais ou estrangeiras. Inclui associações de
produtores;
c) Empresas chilenas instaladas nos mercados de destino e estrangeiras (locais e
multinacionais);
Produtores
a
Exportadores
b
Recebedores
c
Distribuidores
d
Consumidores
204
d) Atacadistas, pequenos distribuidores, cadeias de supermercados, brokers,
reempacotadores etc.
De acordo com o representante da Del Monte, a fruticultura na região representa um
sistema de comercialização flexível, dinâmico, atomizado e bem distribuído nos distintos
mercados. Acrescenta que “[...] a participação das empresas multinacionais no negócio
exportador fortaleceu o seu crescimento, aportando novos mercados, novas tecnologias,
capacidade empresarial e novos capitais, como também aproveitaram a experiência
acumulada no país” (Diretor Comercial da Del Monte).
Em conversas com outros representantes das grandes empresas exportadoras,
ouvimos as seguintes colocações: “[...] a fruticultura da Sexta Região opera no livre mercado
de forma exemplar. Existe liberdade de negociar: se um exportador ou produtor não se agrada
dos termos contratuais, considerando que estase expondo a muitos riscos, podem buscar
uma nova parceria” (Presidente da Associação de Exportadores de Frutas da VI Região); “[...]
havendo poucas barreiras de entrada e saída no negócio, existe uma forte concorrência, os
competitivos são os que têm êxito” (Diretor do ProChile).
4.2.2.2 O papel dos produtores na cadeia de comercialização
De acordo com dados elaborados pela Oficina de Estudio y Politica Agraria (Odepa),
em 2004 havia mais de 2.500 produtores de frutas na Sexta Região, dois quais, 25,9% do total
da superfície cultivada (ha) pertenciam a pequenos empresários; 20,6 % a médios e 49,9% a
grandes empresários; e 3,6% foram codificados como outros”. Não obstante, os pequenos e
médios produtores são quantitativamente predominantes.
Verificamos que as instituições oficiais utilizam diferentes critérios para classificar
ou tipificar os produtores (superfície plantada, hectares com irrigação básica, faturamento
anual, etc.). No entanto, para os exportadores, o que mais conta é o volume de caixas
produzidas e transacionadas. Os produtores capazes de exportar até 20 mil caixas (com 4
quilos) são considerados pequenos; médio produtor, de 20 a 60 mil caixas; grande produtor,
acima de 60 mil caixas.
Dessa forma, verifica-se que o espectro de produtores é bastante heterogêneo. A
inserção na cadeia global de cada um será realizada de acordo com a sua relação com as
exportadoras, que, efetivamente, são as que ofertam e vendem seus produtos.
205
Na produção de fruta para exportação da região, os agricultores com maior extensão
de terras (especialmente aqueles com mais de 200 hectares) têm atingido maior domínio
econômico na atividade, tendo em vista que são eles que têm maiores possibilidades de acesso
ao crédito e capital em diversas fontes. Isto lhes dá maior independência e maior flexibilidade
e permite ampliar e diversificar seus cultivos e incorporar novas tecnologias de plantio. Por
conseguinte, têm maior acesso à informação, o que lhes permite planejar ações de longo
prazo, assim como negociar com os exportadores contratos com preços favoráveis. Os
pequenos produtores, conforme relatado no Capítulo III, enfrentam um conjunto de
dificuldades que condicionam seriamente a sua sobrevivência.
Durante a pesquisa no Chile, mantivemos contatos com todos os tipos de atores da
cadeia produtiva de frutas. Tal como havíamos observado no Capítulo III, é comum que as
empresas exportadoras operem de alguma forma como provedoras, por meio de
adiantamentos e assinatura de notas-promissórias, para cobrir custos de produção; em muitos
casos adiantam também insumos e dão assessoria técnica para o monitoramento das operações
produtivas. De acordo com entrevista concedida pelo Agrônomo da empresa David del
Curto
76
,
[...] o monitoramento é ponto central, porque por meio de um estreito
acompanhamento dos produtores se garante atingir o volume, a qualidade e as
especificações de espécie e variedade demandada pelo mercado. Além do mais, as
grandes exportadoras provêem os serviços necessários para a preparação da fruta,
sua embalagem, armazenamento em câmaras frias e controle de qualidade (tarefas
de pós-colheita), e reúnem quantidades suficientes de mercadorias para justificar o
investimento, obter economias de escala e gerar um poder negociador de preços nos
países compradores. Isto é importante, sobretudo, porque os pequenos produtores
teriam que enfrentar barreiras consideráveis ao comercializar seus produtos de
maneira independente. (Grifo nosso).
Dessa forma, como assinalamos anteriormente neste trabalho, o que pode ser visto
como um efeito virtuoso, pode também ter impactos negativos para a sobrevivência dos
produtores. De forma geral, os produtores entrevistados, principalmente os pequenos, estão
endividados e se tornam cada vez mais dependentes das exportadoras; suas alternativas de
acesso ao crédito são praticamente inexistentes e seus volumes de produção, escassos. Como
conseqüência, suas possibilidades de negociar condições contratuais e preços com as grandes
exportadoras são débeis. A tabela 29 resume as dificuldades que os 48 entrevistados
76
No início da expansão da fruticultura de exportação, na década de 1980, a provisão de financiamento das
exportadoras aos pequenos produtores da VI Região, através do sistema conhecido por Crédito de Contrato e
Consignação - CCC (ver Cap. III), foi decisiva, uma vez que os bancos não estavam dispostos a emprestar
dinheiro. A exportadora David del Curto foi uma das empresas líderes neste ponto.
206
apontaram como entraves para operar no sistema produtivo. Verifica-se que os itens
relacionados à falta de capital são os mais indicados como fatores negativos para a atuação no
setor.
Tabela 29: Principais dificuldades para operar no sistema produtivo
Alta importância
(%)
Média
importância (%)
Baixa
importância (%)
Sem
importân
cia (%)
Total
%
Contratar trabalhadores qualificados 32 38 22 8 100
Produzir com qualidade 36 24 40 100
Vender a produção 63 37 100
Custo ou falta de capital de giro 69 31 100
Custo ou falta de capital para aquisição de máquinas e
equipamentos
71 20 9 100
Custo ou falta de capital para aquisição de instalações 66 21 13 100
Pagamento de juros de empréstimos 56 20 15 9 100
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da pesquisa
Em que pese o fato de vários agricultores terem nos indicado do perigo real que
significam tais operações, os representantes das exportadoras também foram unânimes em
afirmar que as exportadoras em geral também tomam medidas para preservar os seus ativos,
pactuando com os produtores antecipações que realmente podem ser pagas com a produção
estimada. De acordo com o representante da David del Curto,
[...] o produtor que está endividado, além das suas possibilidades reais, têm sérios
problemas para funcionar com normalidade e sua posição competitiva fica
debilitada. Esta situação introduz um fator de risco adicional à operação do produtor
e lhe maior vulnerabilidade. Dificulta seu eventual acesso a financiamentos de
longo prazo, destinados às novas plantações e infra-estrutura, tendo em vista não
contar mais com as garantias requeridas.
Dessa forma, verifica-se que no negócio de fruta opera um sistema de financiamento
em cadeia. Os recebedores entregam as antecipações aos exportadores e estes aos produtores,
ocorrendo as liquidações ao final de cada safra. Esta situação introduz um fator de
instabilidade que se torna mais vulnerável, especialmente para o produtor menos capitalizado,
uma vez que cria as condições para fragilidades em algum elo da cadeia que poderá rebater
nas demais fases do processo.
Confirmando a análise do Capítulo III, ao longo do tempo, a negociação dos
contratos tem evoluído a favor das exportadoras. Há considerável aumento no rigor das
condições contratuais, com a inclusão de altas taxas de juros, comissões e introdução de
cláusulas adicionais. Seus impactos sobre muitos agricultores implicam em uma maior
dependência das empresas exportadoras e a obrigação de aceitar um crescente desdobramento
dos riscos que ocorre na operação de um sistema global, nos quais confluem fatores também
207
globais que escapam ao seu controle e que determinam, inclusive, suas possibilidades de obter
maiores ou menores lucros e de diminuir suas dívidas.
De acordo com o entrevista concedida pelo Presidente da Associação de Produtores
de Frutas do Município de Graneros
77
,
[...] o cenário do jeito que se encontra demanda produtores independentes em termo
do capital financeiro e tecnológico, capazes de diluir os riscos com o exportador e
pelo distribuidor, sem o que não conseguirão seguir operando com os níveis atuais
de riscos. A distância dos mercados de destino também tem facilitado confusões e
distorções. O temor ao estrangeiro, como conseqüência da carência de uma cultura
exportadora, tem contribuído para que os pequenos produtores e com menos
conhecimento se sintam prejudicados. A informalidade e a falta de transparência de
como funciona o mercado da fruta é outro elemento que deve ser considerado, pois
permite aos agentes que estão mais próximos ao consumidor se beneficiem
transpassando os riscos para os que estão mais distantes.
Dessa forma, percebe-se que uma das áreas que existem mais problemas é a do
acesso, confiabilidade e oportunidade de informação. Notoriamente, existe assimetria de
informações e falta de coordenação em seu manejo, o qual, sem dúvida, favorece ao agente
que está mais próximo do mercado consumidor, pois as assimetrias reduzem o poder de
negociação de quem está à distância. Evidentemente, os pequenos produtores são os que estão
em situação mais crítica.
O Gerente de Marketing da Associação de Exportadores do Chile Asoex,
entrevistado da pesquisa, cita como exemplo, em relação às informações sobre preços nos
mercados de destino (mercado atacadista),
[...] ainda que seja conhecido, nenhum preço pode ser considerado como referência,
o que dificulta a obtenção de informação confiável. É o caso da publicação do
Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). Sua informação provém
dos próprios recebedores das mercadorias, e a experiência mostra que os preços que
se comentam no mercado não o correspondentes aos publicados pelo USDA. Por
outro lado, durante a safra muitos produtores recebem informações defasadas que
lhes impedem de tomar decisões que possam alterar os resultados a seu favor.
(GRIFO NOSSO).
Atualmente, pelo que pudemos abstrair da pesquisa de campo, existe a preocupação de
os produtores locais romperem com a atomização do setor frutícola e com o círculo vicioso de
absorver os riscos dos outros agentes da cadeia, para poder negociar com as empresas globais
com certo grau de autonomia. Para tanto, as instituições, principalmente as estatais, m
incentivado os processos de associatividade. As experiências têm demonstrado que a
negociação em grupo de produtores tem proporcionado melhores condições contratuais. Por
exemplo, em Doñihue, pequeno município da Sexta Região, produtores que individualmente
77
Esta Associação é composta por 16 pequenos produtores de uvas, que têm em média 6 há. No ano de 2006 os
produtores associados produziram 480 mil caixas de uvas, com 4 kg.
208
produziam 10 mil caixas, por meio da associação de produtores, somavam 500 mil caixas em
uma safra, dando-lhes poder de negociação frente às exportadoras.
Uma das instituições mais importantes, no sentido de garantir a inserção dos
produtores da Sexta Região no mercado internacional é a Federação dos Produtores de Frutas
do Chile Fedefruta, que foi fundada em 1985. Sua missão é salvaguardar os interesses dos
seus membros, através da representação e defesa dos seus direitos diante da indústria frutícola
e das autoridades do governo. Vem exercendo um papel de assessoramento aos agricultores
associados na constituição dos contratos com as exportadoras e na clarificação do negócio.
Conforme entrevista concedida pela Diretor da Instituição na Sexta Região,
A Fedefruta atualmente tem o objetivo de apoiar a inovação do pequeno produtor,
através da sua área de difusão e transferência de tecnologia, objetivando desenvolver
um novo instrumento que busca criar uma rede de instituições que entregue serviços,
informação e assessorias aos pequenos produtores de frutas - orientados para a
exportação para que possam incorporar inovação tecnológica em seus processos
produtivos.
Dessa forma, verifica-se na região uma relação de interesses contrapostos entre os
exportadores e produtores, fazendo com que estes últimos se sintam explorados. A falta de
informações transparentes sobre preços, o destino dos seus produtos, a maneira como se
constrói o preço final, sobre a porcentagem que cada agente desconta, o prazo de entrega das
liquidações finais e a falta de detalhes gerais das contas, são para os produtores aspectos
questionáveis.
A Fedefruta criou um sistema informatizado com o objetivo de entregar uma visão da
gestão realizada pelas diferentes exportadoras. Em função disso, o produtor obtém como
resultado um ranking de empresas, onde também aparece aquela com quem exportou sua
fruta. Isto lhe permite comparar qual resultado teria se efetuasse a operação com outra
empresa e, assim, tomar decisões orientadas para buscar, na safra seguinte, outra exportadora
que lhe ofereça melhores condições.
Em síntese, a produção de fruta requer terras aptas, uso intensivo de tecnologia,
importante investimento de capital e mão-de-obra qualificada. Quando se trata de grande
produtor, existe a possibilidade de articular-se com autosuficiência e estabelecer relações
horizontais com as exportadoras, no sentido de negociar preços e condições de venda dos
produtos. Por outro lado, não ocorre o mesmo com pequenos produtores, os quais, pelos seus
recursos econômicos limitados, devem aceitar condições menos favoráveis que os levam a um
progressivo endividamento.
209
De qualquer maneira, sendo grande ou pequeno produtor, para ser competitivo no
mercado da fruta e obter um produto com qualidade e com melhores preços, de forma a
propiciar rentabilidade a seu favor, deve reduzir seus custos ao máximo possível. No entanto,
a mão-de-obra é o componente de custo que mais se flexibiliza na região em estudo, embora
seja considerado de fundamental importância para o sistema produtivo da fruta. Segundo
alguns entrevistados, a externalização de atividades, contratando empresas prestadoras de
serviços, contribui para diminuir os custos administrativos e dos riscos relacionados à
segurança do trabalho e de demandas trabalhistas coletivas. Outra alternativa de redução de
custos é a contratação de pessoas sem cumprimento de exigências trabalhistas, criando
vulnerabilidades nos direitos dos trabalhadores.
Tal como pudemos observar no Pólo Petrolina/Juazeiro, na Sexta Região do Chile
existe uma ideologia produtivista que tende a considerar os trabalhadores como fator de
produção, privando-lhes da condição de sujeitos de direito. Esta visão tem relação com a
concepção de desenvolvimento como objeto de rentabilidade do capital, negando a premissa
de que o fim último do desenvolvimento é o bem-estar das pessoas. Dessa forma, a lógica do
funcionamento da cadeia e a ideologia empresarial que se encontra na base da forma de
produção de frutas na região tem fortes impactos sobre os trabalhadores, que pagam e
subsidiam parte da competitividade que a produção de frutas para exportação deve alcançar.
4.2.3 O impacto das exportações de frutas sobre as condições de trabalho na Sexta
Região
78
O desenho do mercado de trabalho na produção de frutas na Sexta Rego coincide
com as políticas econômicas de abertura comercial adotadas no Chile a partir de 1978, para
promover a inserção internacional da economia nacional. Na indústria da fruta, se
desenvolveu um emprego caracterizado pela contratação temporária, com uma duração anual
média não superior a cinco meses, com ciclos ocupacionais intermitentes e um significativo
incremento nos meses de verão, coincidente com a colheita. Tal situação configurou uma
forma de emprego determinada pelo tempo, significando um intenso esforço enquanto duram
as atividades, em deficientes condições de trabalho.
78
É importante ressaltar que a análise sobre o tema “trabalho” foi mais intensa na Sexta Região do que no Pólo
Petrolina/Juazeiro, visto que naquele país existe uma ampla quantidade de estudos sobre o assunto, aplicado à
fruticultura. Os referidos estudos (GAMONAL, 2004; RIQUELME, 2002; LEÓN, 2002; LÓPEZ, 1999; LÓPEZ,
2005, dentre outros) atestam que se trata efetivamente de uma atividade econômica que tem gerado emprego. No
210
Os trabalhadores temporários vivem de ocupações informais e esporádicas o resto do
ano. De acordo com informações da Diretora do Instituto Nacional de Desarrollo
Agropecuário – INDAP, da Sexta Região,
[...] no geral, exposição a riscos ambientais severos e um índice de acidente de
trabalho bem acima da média nacional; trabalha-se sem acesso a instalações
sanitárias e de alojamento e não há alimentação adequada. Trabalham sob uma
preocupante longa jornada de trabalho diário, baixos salários e sem nenhuma
cobertura previdenciária. Essa condição de trabalhoo tem melhorado com a
introdução de capitais estrangeiros provenientes de empresas transnacionais, de forte
presença no setor frutícola da região.
Conforme tínhamos antecipado, o desenvolvimento da atividade exportadora na
região, mediante a criação de empregos dessa natureza, também foi possível graças à abertura
e flexibilização da legislação trabalhista, permitindo reduzir ao máximo a incidência dos
custos e dando amplas facilidades para contratação e dispensa. Essas políticas afetaram
seriamente o emprego, particularmente o feminino, tanto em termos quantitativos (incremento
de desemprego) como qualitativos (precarização do emprego), conforme assinala López
(2005).
Originalmente, a legislação trabalhista não previa disposições especiais para o
trabalho agrícola de temporada. A expansão industrial da exportação, especialmente a
frutícola, incrementou o uso intensivo da o-de-obra no setor, gerando grandes migrações
da população pobre da área urbana para as regiões produtoras de frutas, na época das
colheitas. De acordo com Sofia Martinez, do INDAP, “[...] até hoje direitos trabalhistas de
primeiríssima relevância como são a limitação da jornada de trabalho, liberdade sindical e a
negociação coletiva, não estão reconhecidos para os trabalhos na agro-exportação, na nossa
região”.
Conforme tinha diagnosticado Cavalcanti (1997), é importante frisar que a
evolução do emprego nos setores exportadores depende diretamente do poder de compra dos
países destinatários dos embarques ou, mais precisamente, de quão ativos ou deprimidos
estejam tais mercados. Ademais, nos países em vias de desenvolvimento as vantagens estão
dadas pela exploração de recursos naturais ou de baixos custos de mão-de-obra, o que
determina condições de competitividade específicas e impede ascensão de outros setores que,
por serem competitivos, devem receber consideráveis fluxos de capital e tecnologia. Assim,
entanto, evidenciam que ainda persistem muitas deficiências no que diz respeito à qualidade das condições de
trabalho, principalmente, para mulheres e os jovens, com contrato de trabalho temporário.
211
este estudo permite interpretar que o comércio exterior de frutas se apresenta como um
fenômeno de dupla direção: cria emprego e o destrói
79
.
O êxito econômico do setor exportador de frutas na região contrasta com a precária
situação de trabalho, principalmente, das assalariadas agrícolas, especificamente no que
concerne à falta de proteção contratual que caracteriza as relações trabalhistas do setor.
Durante as entrevistas que realizamos com técnicos das instituições públicas, verificamos que
unanimidade no que diz respeito à preocupação com a qualidade de vida das trabalhadoras
temporárias na Sexta Região.
Assim, segundo estimativas do Mideplan
80
(2006), o total de trabalhadores da
fruticultura de exportação na Sexta Região é de 134.034, dos quais 53,5% correspondem aos
permanentes e 46,5% aos temporários, num total de 62.326 não permanentes. As mulheres
representam 74,5% dos trabalhadores sem contrato de trabalho permanente. De acordo com
informações da Diretora do Serviço Nacional da Mulher, na Sexta Região (Sernam), Sra. Aixa
Cataldo, no período de maior intensidade este percentual chegaria a 82,3%. Ou seja, 51.294
mulheres trabalhando na fruticultura sem qualquer proteção contratual.
Outro dado importante é o fato de a residência das trabalhadoras temporárias ser
tanto rural como urbana. Estudos da Sernam (2006) estimam que cerca de 30% dos
trabalhadores temporários são residentes urbanos, 20% em povoados rurais com
características urbanas e a metade corresponderia a residentes em áreas rurais. Segundo a Sra.
Aixa Cataldo, “[...] em torno de 32% do total dos temporários, homens e mulheres,
encontram-se em situação de pobreza, fração que para os urbanos representa 55%”.
No que diz respeito à saúde ocupacional, a entrevistada declara que,
[...] desde a década de 1980 que denunciamos os efeitos nocivos do uso de
agrotóxicos sobre a saúde humana, especialmente em regiões de atividade agrícola
intensiva, como é a fruticultura. Este aspecto adquire especial relevância, uma vez
que a importação de defensivos agrícolas triplicou desde 1984. Os nossos estudos
mais recentes m evidenciado um aumento das intoxicações agudas na região. Em
2002 fizemos um estudo, quando advertíamos que 21% das frutas e verduras da
Sexta Região estavam contaminadas por praguicidas proibidos”.
79
Ressaltamos a importância do estudo realizado por Riquelme (2002), fazendo uma análise comparativa sobre a
exportação de produtos naturais dos países da América do Sul, em que a autora conclui que os governos
nacionais, o Fundo Monetário Internacional, Banco Mundial, os acordos regionais de comércio e as políticas de
atuação da empresas transnacionais têm contribuído para debilitar as legislações trabalhistas nacionais e que,
especificamente, as trabalhadoras temporárias enfrentam condições de trabalho precárias, dentro da cadeia de
valor global, pagando elevado custo social. Aponta que, na fase inicial, as leis e políticas nacionais sobre
assuntos trabalhistas têm sido debilitadas para atrair investimentos e criar empregos. A autora reconhece que, no
caso específico da fruticultura de exportação, na primeira etapa criou-se realmente emprego, haja vista tratar-se
de setor intensivo de força de trabalho, mas evidências de que, atualmente, já não se cria postos de trabalho,
apesar do aumento das exportações. Dessa forma, o que parece como criação de emprego sob o ponto de vista
empresarial, sob o ponto de vista social e dos próprios trabalhadores e trabalhadoras envolvidos, é um posto de
trabalho alternado com desemprego.
80
Ministerio de Planificación.
212
É oportuno destacar que, em visita a pequenos produtores, no município de Machali,
pudemos nos aproximar de algumas trabalhadoras temporárias da fruticultura, das quais
extraímos alguns dados interessantes
81
. O ingresso das mulheres no mercado de trabalho se dá
de forma bem similar à verificada no Pólo Petrolina/Juazeiro. As entrevistadas de mais de 50
anos começaram a trabalhar aos 12 anos, como empregadas domésticas. As mais jovens
(menos de trinta e cinco anos), iniciaram sua trajetória geralmente como temporárias com
idade entre 12 e 14 anos, no final da década de 1980, quando começa a expandir a fruticultura
de exportação na Sexta Região. Estas últimas, freqüentemente, acompanhavam suas mães e
trabalhavam para comprar materiais e uniformes escolares.
De acordo com o grupo entrevistado, na atualidade as temporárias são consideradas
mão-de-obra versátil, que podem estar na lavoura ou no packing house, tarefas de semeadura,
raleio, colheita e irrigação. No entanto, são atividades não qualificadas que tendem à ruptura
com o antigo padrão de divisão sexual do trabalho agrícola. Algumas testemunharam que são
contratadas para atividades que originalmente eram destinadas aos homens, nas quais
demonstram desempenho igual ou superior.
As razões que levam as mulheres permanecerem nos trabalhos de temporada são
fundamentalmente econômicas, uma vez que, gerando renda própria contribui para o
desenvolvimento da sua autonomia: “A mulher pode ganhar um salário e tornar-se
independente; o trabalho em todas as formas é digno e faz com que a mulher não seja sempre
um objeto” (temporária de 28 anos).
Na visão dos empresários, expressa pela fala de um produtor de Machali, com 16 ha
de uvas e pêssegos, “os trabalhos de temporada são adequados porque não exigem das
trabalhadoras o abandono dos seus papéis ‘naturais’ da casa e, portanto, não se sentem
demissionárias uma vez terminada a safra, voltando para suas condições habituais,
permanente e principal: ser dona de casa”. No contraponto, quando se perguntou para as
trabalhadoras sobre a instabilidade gerada pelo trabalho temporário, o sentimento era de que
estavam sempre demissionárias, dando uma indicação de que se consideravam mais
trabalhadoras do que donas de casa
82
.
81
A entrevista se deu na Associação das Trabalhadoras Agrícolas do Município de Machalí, com 11
trabalhadoras temporárias, ao mesmo tempo (grupo focal). Ressalte-se que esta entrevista não estava prevista em
nosso roteiro, mas, pela riqueza de informações, entendemos ter sido oportuna para análise que ora fazemos
sobre condições de trabalho dos(as) operários(as) da fruticultura.
82
Não entramos no mérito da visão reducionista de que as donas de casa não são trabalhadoras.
213
As trabalhadoras temporárias reconhecem que as mulheres estão sendo cada vez mais
contratadas na fruticultura para exportação na Sexta Região.
A mulher tem a mão mais leve, cuidadosa e trabalha muito rápido. O homem é
brusco; tudo o que toca com as mãos, destrói. Inclusive, no trabalho de
selecionadora e embaladora, os homens não cabem mais. Em princípio, a fruticultura
começou com muitos homens que selecionava e embalava, mas agora nenhuma
empresa recebe homens nesse trabalho, somente mulheres (temporária participante
do grupo focal).
Por outro lado, pelos testemunhos, as mulheres são eloqüentes quando descrevem a
dureza do trabalho na fruticultura e as “marcas” que deixam em seus corpos. Num plano mais
subjetivo, mas de muita relevância, assinalam que esse tipo de trabalho representa impactos
negativos na sua auto-imagem, especificamente nos aspectos vinculados ao estereótipo
feminino de “beleza”. Isto se confirma quando uma das entrevistadas declara:
Desde que chegaram aos pomares, a mulher teve que deixar sua feminilidade de
lado... Como mulher, sacrifica sua vida, sua saúde, juventude (a entrevistada, à
época, era solteira e tinha 28 anos). Trabalha na terra, não tem higiene, então
começa a se embrutecer, não só fisicamente, mas também mentalmente... Por melhor
que esteja vestida, o odor de enxofre (referindo-se aos pesticidas) te condena e as
pessoas falam: ‘aí vai uma temporária uma parroneira’. (Grifo nosso).
Dessa forma, pudemos apontar alguns contrastes com a pujança da fruticultura de
exportação da Sexta Região do Chile que, certamente, terão as mesmas características no
restante do país. Especificamente, quanto às temporárias, todas têm direito a um contrato de
trabalho escrito, ainda que trabalhem poucos dias. No entanto, conforme pudemos verificar
nos estudos elaborados pela Senam (2006), somente 48,6% têm contrato de trabalho assinado
o restante encontra-se à margem das normas trabalhistas vigentes. Das onze trabalhadoras que
participaram do grupo focal, apenas três tiveram contrato na última temporada, mesmo assim
não receberam cópias dos referidos contratos. Em síntese, o contrato é estabelecido pela
vontade unilateral do empregador. As mulheres sabem que estariam mais protegidas se
tivessem contrato de trabalho, no entanto, dada a situação de submissão e ameaças, não se
posicionam quanto ao tema.
Para melhor ilustrar a situação, reproduzimos a fala de uma trabalhadora do grupo:
“No trabalho a trato, um dia estive até às quatro da manhã, não é hora fixa. [...]às vezes dizem
que o trabalho no dia de domingo será pago em dobro e não sai em dobro; horas extras
tampouco”.
Na prática, as jornadas de trabalho superam o estabelecido por lei (não pode
ultrapassar 48 horas por semana). No entanto, de acordo com as entrevistadas, “[...] existem
214
packing em que se trabalham sábados, domingos e feriados, sem que se pague por essas horas
extras e sem descanso mínimo em uma semana”.
Dessa forma, a tendência de reduzir o tamanho e as funções do estado tem sido
particularmente agressiva no campo do trabalho. A recolocação dos trabalhadores
permanentes por trabalhadores temporários introduz um fator de incertezas entre os mesmos,
ajuda a manter elevados índices de informalidade, sub-contratação e outras formas de trabalho
precário ou irregular.
4.2.4 Introdução de inovações na Sexta Região
Assim como todo o país, a Sexta Região, a partir da década de 1990, viveu um
processo ativo de incorporação de novas tecnologias na fruticultura, mediante a transferência
de tecnologias desenvolvidas no exterior, que foi adaptada às condições locais. De acordo
com o entrevistado, Presidente da Associação de Exportadores de Frutas da Sexta Região,
[...] nos anos 1970, o grande desafio consistia em chegar a produzir e exportar
volumes que permitiam obter economias de escala nas diversas fases do processo.
Parte importante da tecnologia importada naqueles anos contribuiu precisamente
para resolver os problemas que impediam alcançar ditas economias de escala. Os
maiores volumes exportados e o melhoramento da qualidade da fruta chilena a
colocaram no mercado norte-americano em um novo sistema de comercialização: as
grandes cadeias de supermercados. No entanto, esse avanço veio acompanhado de
novas exigências de qualidade, de modo que nos anos seguintes criou-se entre os
produtores e os exportadores uma grande demanda por inovações tecnológicas que
permitiram melhorar a qualidade das frutas. Até hoje, a rentabilidade com a
incorporação de novas tecnologias continua sendo elevada, porque permite a
colocação de maiores volumes de frutas com melhores preços.
Isso confirma a análise de mez (1996), segundo o qual a demanda por inovação
tecnológica foi suprida a um baixo custo no exterior e foi incorporada por produtores e
exportadores em condições vantajosas. A existência de um mercado da tecnologia contribuiu
para que a indústria frutícola chilena crescesse.
Gómez (1996) interpreta em seus estudos que as inovações tecnológicas na indústria
frutícola não podem ser consideradas como genuinamente chilenas. A tecnologia existente
vem, em sua maior parte, dos Estados Unidos, cujo país, na visão do autor, é líder na pesquisa
e desenvolvimento, neste campo. No entanto, atualmente, é com a Europa que o Chile, por
215
meio do ChileGap
83
, faz o seu benchmarhing, aplicando, praticamente, os mesmos parâmetros
do EurepGap.
Tais iniciativas estão em consonância com as Boas Práticas Agrícolas (BPA), as quais
se referem às práticas de manejo recomendadas para a produção vegetal a partir da atividade
primária até o transporte e embalagem, que tendem a assegurar a inocuidade e alcançar uma
determinada qualidade no produto. Ressaltamos que todos os produtores da Sexta Região que
entrevistamos por meio de questionário, fizeram algum tipo de abordagem sobre a
importância das BPA. De acordo com a visão de um produtor de 10 ha de uvas de mesa e
nectarinas, do município de Machalí, com o qual mantivemos conversa informal,
[...] a importância na implementação das BPA não só garante que os alimentos
sejam aptos para o consumo humano, mas também permite ascender aos distintos
mercados com legislações que as incluem. O agricultor que aplica BPA pode colocar
seus produtos em mercados externos cada vez mais exigentes e competitivos, assim
como também diferenciar o produto no mercado interno.
A Tabela 30 descreve a opinião dos 48 produtores entrevistados sobre a introdução de
inovação no sistema produtivo.
Tabela 30: Resultados da introdução de inovações na propriedade
Alta importância
(%)
Média
importância (%)
Baixa
importância (%)
Sem
importân
cia (%)
Total
%
Aumento da produtividade da propriedade/empresa 48 52 100
Ampliação da gama de produtos ofertados 49 41 10 100
Aumento da qualidade dos produtos 79 21 100
Permitiu que a empresa/produto mantivesse a sua
participação nos mercados de atuação
62 29 9 100
Aumento da participação no mercado interno 28 32 23 17 100
Aumento da participação no mercado externo 71 29 100
Permitiu a abertura de novos mercados 62 38 100
Permitiu a redução de custos de insumos 23 31 22 24 100
Permitiu a redução do consumo de energia 31 29 100
Permitiu o enquadramento em regulações e normas
padrão relativas ao Mercado Interno
32 39 22 7 100
Permitiu o enquadramento em regulações e normas
padrão relativas ao Mercado Externo
78 22 100
Permitiu reduzir o impacto sobre o meio ambiente 76 24 100
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da pesquisa
Verifica-se que, pelas respostas do questionário de entrevista, a maioria dos produtores
considera de alta importância a introdução de inovações, principalmente aquelas relacionadas
83
ChileGap é uma norma similar ao EurepGap, que incorpora os requerimentos dos dois principais mercados
para o Chile: Estados Unidos e União Européia. Dessa forma, os produtores inscritos no Programa ChileGap
estão preparados adequadamente para ascender aos mercados mais exigentes e as certificações demandadas pelos
mesmos. Dentre as diversas exigências para se adquirir a certificação, as mais importantes são: manejo do solo;
fertilização; técnicas de irrigação; manejo de produtos fitossanitários; serviços básicos para os trabalhadores;
condições das colheitas; gestão de resíduos e agentes contaminadores; e bem-estar e condições legais e
segurança no trabalho. De acordo com informações da Assoex (2007), em 2006 já havia 153 produtores
certificados, dos quais 23 localizados na Sexta Região (15 %).
216
com a qualidade dos produtos (79%), visto que a inserção no mercado externo (71%)
depende, principalmente, deste quesito. Ressaltamos que nem todos os entrevistados são
certificados pelo ChileGap, no entanto, todos já implementaram alguma ação que é pré-
requisito para obtê-lo.
4.2.4.1 Característica do sistema de irrigação na Sexta Região
Para o Chile, a irrigação é uma ferramenta central para incrementar os rendimentos por
hectare e garantir que os investimentos dos agricultores tenham um maior grau de
estabilidade. No entanto, segundo dados da Comissão Nacional de Irrigação do Chile (2007),
o tipo de irrigação superficial ainda é marcante sobre a superfície irrigada do país. Na prática,
esse tipo de irrigação aproveita a energia da gravidade e a água é conduzida por dutos abertos
e apresenta índices de eficiência bem abaixo dos métodos de pressurização, mesmo que estes
requeiram aporte de energia externa, uma vez que a água é conduzida por pressão, em dutos
fechados.
Geralmente, a irrigação por gravidade alcança eficiência máxima de 60%. Quando se
utiliza a forma de sulcos, esse rendimento cai para 45%. Conforme a Comissão Nacional de
Irrigação do Chile (2007), as formas de pressurização, como gotejamento e aspersão, atingem
eficiência entre 90 e 95%. A Tabela 31 traça o perfil das formas de irrigação utilizadas no
Chile e permite fazer uma comparação com a Sexta Região.
Tabela 31: Sistemas de irrigação empregados no Chile (Superfície em hectares)
SUPERFÍCIE TOTAL GRAVIDADE ASPERSÃO GOTEJAMENTO REGIÃO
SUPERFÍCIE (%) SUPERFÍCIE
(%) SUPERFÍCIE
(%) SUPERFÍCIE
(%)
I
8.035,3 0,76
6.904,4 0,7
7,8 0,0
1.560,1 0,1
II
2.960,6 0,28
2.911,2 0,3
- - 49,4 0,0
III
14.185,5 1,34
6.776,9 0,6
66,1 0,0
7.342,5 0,7
IV
49.459,2 4,67
34.962,5 3,3
445,6 0,0
14.051,1 1,5
V
68.807,5 6,50
49.757,4 4,7
3.528,4 0,3
15.521,7 1,6
VI 206.976,0 19,56
197.382,4 18,8
3.020,9 0,3
6.572,7 0,6
VII
319.826,1 30,22
312.790,3 29,6
3.319,8 0,3
3.716,0 0,4
VIII
180.252,8 17,03
177.274,0 16,7
2.296,7 0,2
682,1 0,1
IX
50.723,9 4,79
42.960,8 4,1
6.215,4 0,6
557,7 0,1
X
7.007,4 0,66
516,4 0,0
5.637,9 0,5
853,1 0,1
XI
3.484,6 0,33
- - - - - -
XII
1.792,5 0,17
- - - - - -
METROPOLITANA
144.844,5 13,69
127.613,7 12,1
5.983,9 0,6
11.246,9 1,1
TOTAL PAÍS 1.058.355,9 100,0
959.850,0 90,9
30.522,5 2,9
62.153,3 6,2
Fonte: Comissão Nacional de Irrigação do Chile (2007)
Obs.: Nos 206, 9 mil hectares irrigados estão incluídos os plantios de uva para vinho, milho e outros cultivos que
representam aproximadamente 66% deste total (Conforme dados da Tabela 8, as frutas para exportação são
cultivadas em 59,6 mil hectares).
Observa-se na Tabela 31 a massiva utilização do sistema de irrigação gravitacional,
representando 90,9% do total da superfície irrigada. No total do país, a Sexta Região participa
217
com 18,8% e na região, dos 206,9 mil hectares irrigados, 197,3 mil são por gravidade,
representando 95,36%. Este sistema, baseado em uma rede de canais que se distribui pela
superfície e ser irrigada é um sistema tecnologicamente simples e requer menos investimento
inicial e manutenção. Por conseguinte, é considerado menos eficiente no aproveitamento dos
recursos hídricos, pela grande quantidade de água que este sistema emprega. No que se refere
aos sistemas de irrigação modernos (aspersão e gotejamento), sua utilização é muito menor,
abarcando uma superfície modesta.
Por outro lado, em alguns municípios, a Sexta Região tem se beneficiado com a Lei de
Fomento ao Investimento Privado em Obras de Irrigação e Drenagem, n
0
18.450, de
30/10/1985, que serve de estímulo para pequenas obras hidráulicas de uso agrícola. Esta Lei
vem contribuindo com um melhor abastecimento de água, objetivando incentivar uma forma
mais eficiente de aplicação na exploração agrícola. De acordo com informações da Comissão
Nacional de Irrigação (2007), está em curso um projeto na Sexta Região, no âmbito da
referida Lei, que irá disponibilizar 12 mil hectares de sistema de irrigação tecnificado, com
aspersão e gotejamento, que beneficiará a produção de frutas para exportação. Tomando-se
como referência os dados da Tabela 8, que indicava um total de 59,6 mil hectares de cultivo
de frutas para exportação na região, este incremento representa 20,1%.
Pesquisando documentos no escritório da Comissão Nacional de Irrigação do Chile,
em Rancagua, a história recente da irrigação na Sexta Região apresenta algumas nuances que
merecem destaque. Em 1968 houve uma grande seca que açoitou todo o país. Naquele
momento, a Alemanha ofereceu ao Chile ajuda técnica e econômica para desenvolver um
projeto de irrigação em qualquer área eleita pela antiga “Dirección de Riego”, aproveitando
águas subterrâneas. Sobre a base dos fundos disponíveis pelo governo alemão e considerando
as dificuldades de abastecimento de água para irrigação porque passava o Vale do Rio Claro,
em Rengo, o governo chileno optou por desenvolver a área daquele vale que cobriria uma
área em torno de 14 mil hectares cultiváveis.
O projeto consistia em envolver o desenvolvimento do setor de forma integral, para o
qual foi necessário contar, primeiramente, com as obras de infra-estrutura que deram
segurança de irrigação às superfícies passíveis de produção de frutas e posteriormente estudar
e solucionar problemas agrícolas e de desenvolvimento social. Dessa forma, foi executado em
duas etapas. A primeira, entre novembro de 1969 e abril de 1970, em cujo período perfurou-se
32 poços de observação de nível freático. Na segunda etapa, desenvolvida entre maio de 1970
e abril de 1973, foram perfurados poços profundos, instalaram-se bombas e equipamentos de
energia elétrica que abastecia a Barragem “La Laguna de Los Cristales”, situada a 45 km da
218
cidade de Rengo, na nascente do Rio Claro, afluente do Cachapoal. A partir desta barragem, a
água era distribuída por gravidade.
Por fim, a Cordilheira dos Andes representa um importante reservatório natural de
água para a Sexta Região, proporcionando uma invejável vantagem comparativa por meio de
um recurso natural estratégico, com baixos custos. Poderia ser mais competitivo se fosse
utilizado de forma múltipla e sustentável, empregando técnicas inovadoras de irrigação e
utilização da disponibilidade de água subterrânea.
4.3 Análise comparativa entre os dois sistemas produtivos
Os argumentos a seguir encontram-se estruturados de acordo com os eixos temáticos
de cada tópico da análise empírica anterior. Embora apareçam alguns lampejos de análise
quantitativa, com a apresentação de tabelas, gráficos, quadros e figuras, a pesquisa anterior
tem maior peso qualitativo, visto que a experiência de conviver com os produtores acaba
sendo reveladora e apresenta facetas que os números não explicam, conforme descrito na
metodologia. Dessa forma, abordaremos as diferenças e similaridades existentes entre os dois
sistemas produtivos, enfatizando as questões relacionadas com a competitividade, no campo
da produção, comercialização, trabalho e inovação. No capítulo seguinte, examinaremos o
desenvolvimento das duas localidades sob o ponto de vista dos transbordamentos sociais, por
meio de indicadores cio-econômicos, visando diagnosticar se o crescimento econômico
verificado nos dois pólos é apropriado pelas pessoas que neles habitam.
Conforme pudemos diagnosticar na conclusão, pautados nos estudos de Porter (1999),
nenhum dos dois sistemas produtivos pode ser classificado como cluster. No entanto, verifica-
se que a fruticultura na Sexta Região, por estar totalmente voltada para o comércio
internacional, apresenta condições mais favoráveis de demanda e um ambiente propício para a
estratégia e rivalidade das empresas, enquanto o Pólo Petrolina/Juazeiro se destaca pela
presença de setores correlatos e de apoio e pelas condições de fatores, conforme vertente
teórica procedente da teoria de agupamentos produtivos, representada por Porter (1999),
Garofoli (1995), Becattini (1997), Piore e Sabel (1984) entre outros citados no Capítulo I,
deste trabalho.
Na Sexta Região, acompanhando a tendência do país, os produtores construíram suas
estratégias de comercialização e produção voltadas inteiramente para o mercado internacional,
tornando o sistema produtivo fortemente integrado e globalizado, com as grandes empresas
estrangeiras desempenhando o papel de articuladores na colocação e comercialização dos
219
produtos da região no exterior. Tais empresas possibilitam o desenvolvimento de padrões de
qualidade em conformidade com o grau de exigência dos países desenvolvidos e se situam em
um alto patamar tecnológico, empregando técnicas produtivas de ponta, como a irrigação por
fertirrigação e gotejamento, no caso da uva de mesa, que representou, em 2005, 31,67% do
total de frutas exportadas pela região. Além disso, adotaram padrões de certificação
internacional e criaram sua própria marca de certificação: o ChileGap.
O sistema produtivo de Petrolina/Juazeiro, por sua vez, se constitui em um ator que
chegou atrasado no mercado internacional de frutas frescas. Contudo, graças à grande
intervenção do Estado, é visível a incorporação de novas tecnologias para o incremento da
produção e comercialização. No que diz respeito às inovações, comparando-se com a Sexta
Região, apresenta maior especialização nos processos de irrigação. Atualmente, a irrigação
por gotejamento e microaspersão é utilizada por quase 93% das propriedades rurais que têm
sua produção direcionada para o mercado internacional. No entanto, a adequação e a inserção
internacional vêm acontecendo de forma lenta, tendo como principais produtos de exportação
a uva de mesa e a manga, em menor escala. É importante ressaltar que a uva do Pólo
Petrolina/Juazeiro vem melhorando em produtividade e qualidade com a implantação do
sistema de Produção Integrada de Frutas (PIF).
A posição dos dois sistemas produtivos se inverte, quando a análise da vantagem
competitiva é feita pelas condições de oferta de fatores. No Pólo Petrolina/Juazeiro a mão-de-
obra tem melhor qualificação, uma vez que os dois principais municípios do sistema
produtivo (Petrolina- PE e Juazeiro-BA) são dotados de 03 (três) escolas técnicas, destacando-
se a o Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet) de Petrolina, que oferece cursos
técnicos, com habilitação em agroindústria, zootecnia, agricultura e fruticultura irrigada. É
importantes enfatizar que os filhos de agricultores assentados em terras irrigadas têm
prioridade nas ofertas dos cursos. No Município de Juazeiro foi implantada a Universidade
Federal do Vale do São Francisco (Univasf), oferecendo cursos de Engenharia Agrícola, de
Produção e Administração, com ênfase em Comércio Exterior e Agronegócio.
Quanto aos setores correlatos, a importância da Embrapa Semi-árido é incontestável
no desenvolvimento no pólo, que realiza desde pesquisas para o melhoramento genético, até o
seu envolvimento direto com empresas e produtores rurais nos projetos de irrigação.
Na Sexta Região, por outro lado, nem em Rancagua (capital regional) existe
instituição especializada de pesquisa. Quando necessidade de algum estudo mais intenso,
geralmente, convocam-se especialistas das universidades de Santiago, tornando a pesquisa, às
vezes, onerosa para os pequenos produtores. Da mesma forma, o sistema de ensino técnico
220
especializado concentra-se em Santiago, tendo em vista a proximidade com aquela capital
federal, o que dificulta sobremaneira o deslocamento dos estudantes.
Vale ressaltar que nos dois sistemas produtivos a questão do trabalho temporário gera
muitos problemas sociais, principalmente considerando-se a utilização intensa da mão-de-
obra feminina. Sob o ponto de vista da competitividade, acontecem alguns movimentos
distintos que é importante citar. No pólo Petrolina/Juazeiro a mão-de-obra temporária está
localizada nos próprios municípios que fazem parte do entorno, visto que os processos
migratórios diminuíram sobre maneira na região. na Sexta Região, existe um rodízio de
mão-de-obra que se desloca por todo o país, que envolve todas as regiões produtoras de frutas,
gerando um intenso fator de desagregação familiar, tendo em vista a marcante presença da
mulher, principalmente na época da colheita da uva.
Sob o ponto de vista macroeconômico os dois países apresentam trajetórias distintas,
conforme já havíamos apontado. Os dois pólos em análise não fogem à regra. Mesmo no
regime militar chileno, as iniciativas eram sempre na direção de buscar a estabilidade dos
preços e taxas de câmbio competitivas. No Brasil, tais condições foram alcançadas por
volta da metade da década de 1990
84
. O Quadro 10 sintetiza a configuração do
desenvolvimento no negócio da fruta nos dois sistemas produtivos.
84
De acordo com informações do Banco Mundial, num período de 10 anos, compreendido entra 1985 e 1995, a
inflação no Brasil foi de 875% e no Chile foi de 18%.
221
Quadro 10: Alguns elementos básicos que conformam os dois sistemas produtivos
Elementos Petrolina/Juazeiro Sexta Região
Condições naturais (Clima,
solo e hidrografia)
Pluviosidade baixa e irregular, em média 800
mm/ano, concentrada em uma estação de 4
meses, com longos períodos de estiagem e
precipitação pluviométrica em torno de 500
mm/ano.
Altas temperaturas e elevadas taxas de
evaporação.
Intensa insolação e baixa umidade relativa.
Solo de rochas cristalinas e rasos, sujeito a
erosão.
Banhado pelo Rio São Francisco, na divisa
dos estados da Bahia e Pernambuco.
Clima predominante é o quente-temperado,
com oscilações térmicas moderadas, com
estações claramente definidas.
Precipitação anual em torno de 823,5 mm/ano,
com temperatura média anual de 12,6
0
C.
A relação entre clima e relevo possibilita
quantidade de chuva e alta umidade,
oferecendo solo mais apto para a agricultura.
Sistema hidrográfico constituído elo sistema do
rio Rapel, formado pela confluência do
Cachapoal e Tinguiririca, que nascem na
Cordilheira dos Andes.
Origem das empresas
Até o final da década de 1960 a economia do
pólo era baseada na agropecuária de pouca
produtividade, com predomínio de grandes
latifundiários. Com a criação da Suvale, em
1967 e da Codevasf, em 1974, começa-se a
construir toda a infra-estrutura de irrigação,
que estimula a inserção de empresários
agrícolas, destacando-se a cultura do tomate
para a indústria.
Em 1980 a Cotia introduziu o cultivo de uva
para exportação. Na década de 1990 a
BGMB e o Grupo Carrefour eram os
principais protagonistas na produção e
exportação de uvas.
Atualmente, somam-se aos dois anteriores a
CAJ e a Valexport, como principais
articuladores para a exportação de manga e
uva do pólo.
O desenvolvimento da fruticultura de
exportação aconteceu a partir de 1974, com a
inserção de empresas nacionais e
internacionais na comercialização. A partir de
1985, as companhias estrangeiras ingressaram
também na produção. Algumas formaram joint
ventures com produtores e exportadores
nacionais. Outras compraram os ativos de
empresas falidas.
Atualmente, quatro das cinco maiores
empresas são filiais das maiores transnacionais
do mundo: Chiquita, Dole, Del Monte e
Unifrutti. A quinta maior empresa é a chilena
David del Curto.
Acesso ao crédito
A assistência financeira é efetuada pelo
Banco do Nordeste – BNB (82%) e Banco do
Brasil.
A concessão de financiamento de forma
indiscriminada e sem assistência técnica para
os produtores, realizada pelo BNB na década
de 1990, produziu um quadro de
inadimplemento que perdura até os dias
atuais.
Os produtores, principalmente pequenos e
médios, sem acesso ao crédito, vendem suas
terras para grandes empresas, a preço abaixo
do mercado.
Presença de diversas instituições de fomento:
Banco do Estado; Instituto de Desarrollo
Agropecuario (INDAP), que atende produtores
até 12 hectares; Corporación de Fomento de la
Producción (CORFO), para grandes
empreendimentos; Servício de Cooperación
Técnica Sercotec, apoiando iniciativas de
melhoramento da competitividade
internacional de micro e pequenos
empreendimentos; dentre outras.
Embora haja muitas institu
ições de fomento, a
concessão de crédito é muito seletiva, deixando
os produtores descapitalizados nas mãos das
grandes exportadoras, que lhes concedem
créditos consignados.
Infra-estrutura
Tem o maior terminal frigorificado de cargas
em aeroportos do Brasil, operando com
aviões cargueiros com capacidade de mais de
100 toneladas, com vôos diários para
Luxemburgo e de lá para toda a Europa.
Para serem competitivos, os eixos de
transportes necessitam de ajustes na
logística: a) dotar de packing houses os
locais próximos da colheita das frutas;
b) maior numero de câmaras frias para
conservação das frutas e; c) estradas vivinais.
Carência do sistema multimodal,
necessitando de investimentos significativos
para recuperar a malha viária e modernizar a
hidrovia do rio São Francisco.
Por estar a 80 Km da capital Santiago, conta
com excelente estrutura de logística, tanto
portuária quanto aeroportuária.
O principal corredor das frutas para exportação
é feito pela “Carretera de la Fruta”. com
conexão para o porto e aeroporto de Santiago.
Todo o sistema produtivo, inclusive o entorno,
conta com estrutura viária para escoamento da
produção.
A Sexta Região conta com uma ampla
disponibilidade de câmaras firas e packing
house próximos aos locais das colheitas.
222
Inovação tecnológica
85
Embora haja intervenção direta da Embrapa
Semi-árido na introdução de novas
tecnologias, o pólo, atualmente, só exporta
uva e manga.
Sistema de irrigação eficiente por meio de
gotejamento ou microaspersão no cultivo de
todas as frutas.
Sistema automatizado do processo de
produção apenas em grandes propriedades.
Custos elevados para a Introdução de Boas
Práticas Agrícolas.
Perdas acentuadas com as falhas no processo
de embalagem.
Quanto à produção, o conhecimento das
melhores condições para obter as diversas
espécies e variedades, tem levado a produzir
cada produto em áreas que são mais propícias
(ver Tabela 8: em 2003 a Sexta Região
exportou 19 espécies de frutas).
O sistema de irrigação apresenta algumas
defasagens, visto que, exceto no caso da uva,
as modalidade mais utilizada é por gravidade.
Presença maciça de equipamentos de seleção
mecanizados e eletrônicos, assim como
controle computadorizado dos processos.
Mudanças nos sistemas de embalagem, com a
introdução de caixas de madeira e de cartão
normalizadas, o que proporciona níveis de
eficiência na distribuição, especialmente no
transporte marítimo, que é mais econômico.
Introdução das Boas Práticas Agrícolas BPA,
que culminou com a instituição do ChileGap,
que é uma certificação desenvolvida pela
próprio país, com reconhecimento
internacional.
Comercialização e
promoção
Pouca organização dos produtores para
acessar os mercados potenciais de forma
segura e contínua.
Falta de avaliações precisas como forma de
sinalizar e orientar os investimentos para
cultura que deve ser implementada.
Pouca divulgação dos produtos nos mercados
nacionais e internacionais.
Comercialização centralizada em instituições
como a Cooperativa Agrícola de Juazeiro
CAJ e a Valeexport que, apesar de serem
especializadas em exportação, não têm
potencial de ação de marketing no mercado
internacional.
Apresenta diversidade de estudos prospectivos,
de fácil acesso para os produtores, para
inserção no mercado internacional.
Ampla divulgação dos produtos nos mercados
europeu, norte-americano e asiático, por meio
das empresas exportadoras estrangeiras.
Relações de trabalho
Utilização maciça de mão-de-obra
temporária, em substituição à permanente.
Desregulamentação e precarização do
trabalho, em ambiente insalubre.
Utilização maciça de mão-de-obra temporária,
em substituição à permanente.
Desregulamentação e precarização do trabalho,
em ambiente razoável de salubridade.
Fonte: Elaboração própria, a partir de dados das pesquisas de campo e bibliográfica.
O Quadro 10 revela, em síntese do que foi anteriormente analisado, as condicionantes
que impactam no desempenho insatisfatório da fruticultura no Pólo Petrolina/Juazeiro,
85
Quanto ao nível tecnológico em agrupamentos produtivo de frutas, citamos o trabalho de Santos(2004),
quando a autora faz uma análise comparativa na viticultura dos município de Petrolina/Brasil e de Tierra
Amarilla/Chile, utilizando metodologia de tratamento estatístico de analise fatorial com correspondência
múltipla, com a qual identificou cinco grupamentos qua compõem a tipologia dos sistemas produtivos de frutas
nos referidos municípios, dentre os quais o nível de inovação existente. No que diz respeito à irrigação, o estudo
de Santos concluiu que o nível tecnológico de irrigação, na produção de uva de mesa, em Petrolina é menor que
o verificado em Tierra Amarilla, visto que 100% dos produtores do município chileno utilizam o método de
microasperção ou gotejamento, enquanto que Petrolina 78% das unidades amostradas se enquadram na mesma
modalidade e 16,2% estariam em transição. Ressalte-se que o levantamento de campo da referida pesquisa foi
realizado em janeiro (Petrolina) e julho (Tierra Amarilla) de 2003. Enfatizamos que, no Chile, é comum dar
maior atenção ao cultivo da uva, visto que, conforme pudemos comprovar, as outras culturas de frutas utilizam,
de forma intensiva, o método de infiltração em sulcos e de aspersão natural por gravidade, considerado
tradicional pela sua pouca eficiência que, além de aumentar os custos de produção, provocam acentuada
sanilização do solo.
223
restringindo a comercialização em, praticamente, duas espécies para exportação, mesmo
sendo o Brasil o terceiro maior produtor de frutas do mundo. Tal configuração é uma prova de
que produzir frutas para exportação é mais do que simplesmente plantar pomares, tendo em
vista que, além da produção, é necessário construir sofisticado sistema de logística para
entregar qualidade e quantidade para o importador.
Assim, verificou-se que o negócio de fruta para exportação é controlado/dominado
pelas principais trading companies que construíram estruturas eficientes de pós-colheita,
distribuição e armazenagem, provocando redução de custos e melhoria na qualidade para
atender consumidores de países desenvolvidos que exigem excelência dos produtos. Na Sexta
Região, essas grandes empresas estrangeiras levaram à modelagem de um moderno sistema de
logística compatível com a exigência desses mercados. Dizemos com isso que as
multinacionais além de serem as responsáveis pela organização da produção e da logística
local, também incorporaram a fruticultura da região como supridora para os seus mercados.
Para a fruticultura de Petrolina/Juazeiro essa estrutura ainda não existe amplamente, a
não ser no caso da uva que o modelo apresenta-se em fase embrionária. Frente aos padrões
internacionais essa estrutura mostra-se ainda incipiente, visto não se encontrar na região os
sofisticados equipamentos especializados para suprimento dos supermercados, de forma a
garantir regularidade no fornecimento. Assim, ainda que apresente qualidade, sem o
enquadramento nesse padrão de logística internacional a fruticultura do Pólo
Petrolina/Juazeiro perde em custo, não se mostrando competitiva.
Sob o ponto de vista das relações de trabalho, a fruticultura para exportação tem
gerado empregos nos dois sistemas produtivos, no entanto, o êxito do setor não se reflete na
dignidade dos trabalhadores(as) que sustentam a atividade. Esta é a prova evidente que a
tendência de reduzir o tamanho e as funções do Estado tem sido particularmente agressiva no
campo do trabalho. O reenguadramento de trabalhadores permanentes como temporários ou
vinculados por contratos de serviços introduz um fator de incerteza e mantém um elevado
índice de informalidade, subcontratação e outras formas de trabalho precário ou irregular.
Dessa forma, advertimos que as mudanças ocorridas na fruticultura dos dois sistemas
produtivos não permitem concluir que se encontram em ótima situação, como querem fazer
crer alguns estudos a que nos referimos nesta análise. Persistem ainda situações de
descumprimento da legislação trabalhista, falta de atenção aos problemas de saúde no
trabalho, pouco compromisso das empresas para garantir melhor bem-estar dos trabalhadores
e suas famílias, conforme verificaremos no próximo capítulo.
224
CAPÍTULO V
IMPACTOS SOCIOECONÔMICOS SOBRE OS SISTEMAS PRODUTIVOS DE
FRUTAS DE PETROLINA/JUAZEIRO E DA SEXTA REGIÃO
No Capítulo I fizemos algumas aproximações teóricas no sentido de conceituar o
“desenvolvimento”. Chegamos ao final deste trabalho e a pergunta ainda persiste: afinal, o
que é o desenvolvimento? A resposta a esta pergunta tem sido tratada a partir de diversos
pontos de vista e durante muito tempo sua mensuração foi realizada em termos puramente
econômicos. No entanto, conforme descrevemos anteriormente, fica claro que o
desenvolvimento é algo além da produção de bens e serviços.
Neste capítulo, defende-se a idéia do desenvolvimento como um processo sócio-
econômico, que será definido por meio de dois componentes: progresso (sob a ótica
tecnológica e econômica)
86
e do bem-estar. A partir dos indicadores relacionados a tais
componentes, verificar-se-á se o crescimento econômico nos dois sistemas produtivos gerou
transbordamentos suficientes para promover o desenvolvimento humano nas localidades
analisadas
87
. Destacamos que, para facilitar a análise comparativa, utilizaremos as premissas
do IDH/PNUD, visto que se trata de um índice de divulgação internacional que objetiva a
comparação entre os países. Ao mesmo tempo, abordaremos as fragilidades e potencialidades
na utilização desse índice, uma vez que a sua aplicação na forma original gerou polêmica e
descontentamento.
5.1 A fragilidade do Produto Interno Bruto (PIB) per capita como indicador de
desenvolvimento local
Geralmente, considera-se o PIB como o melhor indicador sintético da atividade
econômica de uma sociedade. Para facilitar as comparações, seja em uma mesma economia
em distintos momentos do tempo ou de distintas economias em um mesmo momento,
relativiza-se o volume do PIB dividindo-se pela população correspondente, obtendo-se assim
o PIB per capita. No entanto, tal metodologia tem sido sobremaneira questionada como um
86
Destacamos que o termo “progresso” nesta análise está colocado no sentido de designar algum acréscimo qualitativo/quantitativo na forma
de produção e, por conseguinte, na melhoria da capacidade produtiva da economia, não tendo, portanto, qualquer relação com o termo
“progresso”, na visão do positivismo de Auguste Comte.
87
Tendo em vista tratar-se de uma análise comparativa envolvendo dois países, portanto, com base de dados primários diferentes, houve a
necessidade de, em alguns momentos, alternar os períodos de verificação, de forma a tornar as variáveis comparáveis. Assim, o período em
estudo compreendeu os anos de 1990 a 2005. Isso ocorreu porque algumas variáveis que encontramos nas bases de dados institucionais no
Brasil, o tinham a rubrica correspondente no mesmo período no Chile e vice-versa. No entanto, pela qualidade dos dados primários nos
dois países, emanados dos censos demográficos que culminaram com o cálculo Índice de Desenvolvimento Humano Municipal,
concentramos maior parte da nossa análise na década de 1990.
225
“bom” indicador de desenvolvimento (e tem sido severamente criticado quando é utilizado
como medida de “êxito”), uma vez que não reflete as seguintes realidades, por exemplo:
A distribuição desigual da renda. Este é um equívoco comum a todos os indicadores-
média, visto que um aumento no PIB per capita não significa maior desenvolvimento se o
crescimento impactar somente as classes de maiores rendas;
A atividade do setor informal da economia. Nos casos em estudo, no Brasil e no Chile,
verificou-se nos centros urbanos uma forte tendência à economia informal, sendo que tais
informalidades não são incluídas no cálculo do PIB;
O PIB per capita nada diz sobre os declínios e avanços nos aspectos básicos da existência
humana, como: educação, saúde, esperança de vida, etc.
Poderíamos estender ainda mais as argumentações, no entanto, as acima apontadas
são suficientes para problematizar o tema: se este indicador tradicional não proporciona uma
medida de desenvolvimento adequada, o que buscamos afinal? De maneira resumida,
pretende-se obter indicadores envolvendo os componentes do desenvolvimento que, segundo
Barquero (1999), compreende os aspectos produtivos e as dimensões sociais que afetam o
bem-estar da sociedade.
Dessa forma, ainda que a própria definição do desenvolvimento não esteja isenta de
controvérsias, o termo é um dos mais utilizados pelos especialistas de diversas áreas que com
ele têm relações. Durante muito tempo a visão do desenvolvimento esteve ligada a elementos
puramente econômicos. Em síntese, o desenvolvimento era definido como um processo em
que a renda nacional real de uma economia aumenta dentro de um longo período. Nesse caso,
a taxa de desenvolvimento é obtida pela divisão da taxa de crescimento do PIB real pela taxa
de crescimento da população:
PIB real/População (1)
Por outro lado, Kaldor (1966) identificava em seus estudos três características do
desenvolvimento, as quais aparecem de maneira simultânea: a) o crescimento da população;
b) o progresso da tecnologia (Produção/Emprego); e c) a acumulação do capital.
No entanto, com freqüência cada vez maior, reconhece-se que o desenvolvimento é
algo mais do que um processo meramente econômico, permitindo uma nova formulação da
226
sua dimensão. De tal forma, encontram-se conceitos como o de Barquero (1999), quem por
desenvolvimento entende que seja “um processo de melhoramento da qualidade de vida de
todas as pessoas de determinada localidade ou região” e ainda acrescenta que:
[...] O progresso econômico é um componente essencial do desenvolvimento, mas
não é o único. Isto é assim porque o desenvolvimento não é um fenômeno
puramente econômico. [...] Este deve alcançar algo mais que o aspecto material e
financeiro da vida dos indivíduos. Portanto, o desenvolvimento deve ser percebido
como um processo multidimensional que envolve a reorganização e reorientação dos
sistemas econômicos e sociais inteiros. (Grifo nosso).
Assim, podemos identificar três importantes aspectos do desenvolvimento:
A elevação dos níveis de vida das pessoas, tais como: renda, consumo, alimentação,
saúde, educação etc., concomitante aos processos de crescimento econômico;
Criação de condições próprias para o aumento da auto-estima dos indivíduos,
mediante o estabelecimento de sistemas de instituições sociais, políticas e econômicas
que promovam a dignidade e respeito humano;
Aumento da liberdade de escolha de bens e serviços.
Conforme pode ser verificado, tais aspectos estão vinculados a um cenário de
crescimento econômico. É importante ressaltar que os dois sistemas produtivos de fruta em
estudo são protagonistas de tal crescimento, conforme pode ser verificado nos dados da
Tabela 32
88
. No entanto, é visível a pujança da Sexta Região em relação a Petrolina/Juazeiro,
principalmente se compararmos a evolução do PIB nas duas regiões.
88
Para efeito de comparação entre os dois países, transformamos os valores das respectivas moedas em Dólar americano, com atualizações
anuais.
227
Tabela 32: Evolução do PIB
89
, PIB per capita e população - 1995-2005 (Valores correntes em
US$ 1.000*)
BRASIL - Pólo Petrolina/Juazeiro
POPULAÇÃO PIB
(1)
PIB P.CAPITA
1995 2005
1995
2005 1995
2005
Petrolina
224.512
253.686
368.253
662.119 1,64
2,61
Lagoa Grande
19.368
21.885
26.852
49.274 1,39 2,25
Santa Maria da Boa Vista
38.024
39.626
38.393
78.552 1,01 1,98
Orocó
9.632
10.884
10.439
22.266 1,08 2,05
Juazeiro
179.886
203.261
317.835
495.505 1,77 2,44
Sobradinho
18.937
21.315
72.259
122.190 3,82 5,73
Casa Nova
54.251
61.301
39.597
68.543 0,73 1,12
Curaçá
27.712
32.449
21.374
41.294 0,77 1,27
TOTAL 572.323 644.407
895.002
1.539.743 1,53 2,43
CHILE – Sexta Região
POPULAÇÃO PIB PIB P.CAPITA
1995 2005
1995
2005 1995
2005
Rancagua
199.543
234.75
7
1.303.272
2.035.075
6,531
8,669
Graneros
25.925
28.806
166.375
254.384
6,417
8,831
Codegua
10.109
11.893
55.458
84.795
5,486
7
,130
Rengo
45.472
56.840
297.440
508.769
6,541
8,951
Peumo
12.978
14.917
83.188
127.192
6,410
8,527
San vicente
39.987
44.430
249.5
63
381.576
6,241
8,588
Machalí
27.391
32.608
166.375
296.782
6,074
9,101
San Fernando
62.513
69.459
415.938
593.563
6,654
8,546
TOTAL
423.919
493.710
2.737.608
4.282.136
6,46
8,67
Fontes: BRASIL – IBGE/PNAD (diversas), Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia – SEI, Agência estadual de
planejamento e pesquisa de Pernambuco - CONDEPE e Banco Central do Brasil.
CHILE – Sistema Nacional de Indicadores Municipais – SINIM e Banco Central do Chile.
(*) A conversão para o dólar foi realizada com base na cotação e volume do último dia útil de cada ano.
Os números da Tabela 32 revelam que no período analisado (1995 2005) houve
incremento do PIB nos dois sistemas produtivos (72,04% em Petrolina/Juazeiro e 56,42% na
Sexta Região), bem como do PIB per capita. No entanto, em 2005, verifica-se que a
distribuição na Sexta Região foi mais homogênea, visto que o menor PIB per capita foi de
US$ 7,13 mil (Codegua) e o maior US$ 9,10 mil (Machalí), ao passo que no Pólo
Petrolina/Juazeiro o menor é US$ 1,12 mil (Casa Nova - BA) e o maior US$ 5,73 mil
(Sobradinho BA), caracterizando assim um desenvolvimento desequilibrado no entorno do
sistema produtivo de frutas no Pólo Petrolina/Juazeiro. Ainda assim, se a população se
apropriasse do PIB per capita de Casa Nova (BA), por exemplo, cujo município tem o menor
indicador, a situação sócio-econômica local teria configuração diferente da atual, no que diz
respeito ao efeito transbordamento.
Por outro lado, alem da produção de frutas de mesa, os municípios em estudo da
Sexta Região desenvolveram uma agroindústria mais sofisticada do que a de
Petrolina/Juazeiro
90
, uma vez que o PIB daquela localidade é composto, também, pela
comercialização do vinho e da produção de frutas em conservas, tanto para o mercado interno,
quanto para o externo. Verifica-se que, em 1995, o PIB da área de estudo da Sexta Região era
89
Trata-se de PIB municipal e o somente da fruticultura. No entanto, a principal atividade dos oito municípios selecionados, no Brasil e
no Chile, tem origem no cultivo da fruta. Dessa forma, nos referidos PIB estão embutidas rubricas como comércio, serviços, indústrias de
processamento, por exemplo, que são originadas da produção frutícola.
228
de aproximadamente US$ 2,7 bilhões, enquanto o Pólo Petrolina/Juazeiro era de apenas US$
895,0 milhões. Por conseguinte, aliado ao fato de a população ser menor naquela localidade, o
PIB per capita dos municípios chilenos é sobremaneira maior.
Sendo assim, o objetivo desta análise será verificar se o crescimento econômico
evidenciado nos indicadores da Tabela 32 se traduz em benefícios para a população das duas
regiões em estudo. Para mensurar, comparar, analisar a dinâmica e o vel de
desenvolvimento foi necessário medir os fatores que o configuram. Dessa forma, utilizaremos
dois indicadores econômicos, que revelam a expansão da produtividade nos dois sistemas
produtivos, quais sejam: a) a produtividade do trabalho; e b) grau de abertura da economia
para o exterior.
5.2 Indicadores do desenvolvimento econômico
Após a identificação dos componentes do desenvolvimento econômico, recorreu-se à
literatura no sentido de buscar as principais definições de tais componentes. Quanto ao
progresso, Ander-Egg (1992) o define como um “[...] movimento e mudança da sociedade e
das instituições sociais, políticas e econômicas em uma direção reconhecida como a melhor
ou mais desejável”. Neste caso, o autor se refere ao progresso social. Quanto ao progresso
técnico, o autor identifica como uma “[...] aplicação da ciência e da tecnologia aos processos
produtivos, que permite incrementar a eficiência na utilização dos recursos escassos e um
crescente domínio do homem sobre a natureza”. De tal assertiva podemos abstrair que se trata
do desenvolvimento e aperfeiçoamento técnico e tecnológico do processo de produção,
implicando na utilização de métodos e procedimentos avançados nos distintos ramos da
produção com o propósito de obter maior e melhor produtividade do trabalho.
As definições culminam com o conceito de Barquero (1999), sobre o progresso
econômico, quando em uma localidade se verifica que a tendência de incremento, em
porcentagem, do PIB é maior do que o incremento da população (podemos dizer a população
economicamente ativa – PEA) e este seria o indicador da produtividade do trabalho. Ainda, na
perspectiva do progresso econômico, o autor enfatiza o fator competitividade sob o ângulo do
peso das exportações no PIB, visto que esse indicador mede o grau de abertura da economia
para o exterior e, ao longo do tempo, nos informa se o tecido empresarial se adapta
adequadamente ao mercado global.
90
Ver na conclusão a caracterização dos dois sistemas produtivos, sob o ponto de vista do conceito de cluster de Porter.
229
Dessa forma, conforme havíamos indicado anteriormente, teríamos dois
indicadores: a) Produtividade do trabalho e b) Grau de abertura da economia para o exterior.
5.2.1 Produtividade física do trabalho
Define-se como o rendimento produtivo da população ativa da localidade, a partir da
aplicação da equação:
Produtividade = P/L (2)
Onde:
P é a produção (PIB)
L é o emprego (PEA)
Para os fins deste trabalho, utilizaremos o PIB municipal como indicador da
produção e a População Economicamente Ativa (PEA), como indicador de emprego. Nesse
contexto, é importante citar o trabalho de Guerreiro (2007), sob o título “Produtividade do
trabalho no Brasil”, quando o autor aponta dificuldade de como quantificar o trabalho, tendo
em vista que a quantidade da população economicamente ativa (PEA) não é uma “boa”
medida, uma vez que desconsidera, por exemplo, os trabalhadores em tempo parcial ou
mesmo aqueles que trabalham sob regime de hora extra etc. Por conseguinte, defende que a
melhor forma de medição seria pelo total de horas efetivamente trabalhadas, no entanto, não
existem bases de dados com tais informações
91
.
Outro argumento que guarda nexo com os dois sistemas produtivos em análise é que
uma “[...] medida de produtividade pode confundir melhorias no uso de determinada técnica,
mudança técnica e também na qualidade do trabalho”, visto que houve grande introdução de
inovações, principalmente no diz respeito às novas variedades, sistemas de irrigação,
aperfeiçoamento da logística e comercialização. Considere-se também que, no período
analisado (1995-2005), a fruticultura tornou-se um setor altamente rentável, ensejando, por
conseguinte, a entrada de vultosos capitais, repercutindo sobremaneira na composição do PIB
das duas regiões e, conseqüentemente, na produtividade do trabalho, conforme podemos ver
no Quadro 11, abaixo.
91
Para uma melhor compreensão sobre a Produtividade do trabalho no Brasil”, verificar os estudos de Feijó e
Carvalho, 1998; Cacciamali e Bezerra, 1997; Considera e Silva, 1993; Pastore e Pinotti, 1995; Bonelli e Fonseca,
1988; entre outros.
230
Quadro 11: Produtividade do Trabalho - Pólo Petrolina/Juazeiro e Sexta Região (US$
mil)
Produtividade = PIBij/PEAij (*) Taxa de Incremento (%)
1995 2000
2005
1995-2000 2000-2005 1995-2005
Brasil - Pólo Petrolina/Juazeiro
Petrolina
5,46 5,71
8,20
4,48
43,59
50,02
Lagoa Grande
5,33 4,72
6,96
(11,47)
47,46
30,55
Santa Maria da Boa Vista
3,26 3,45
5,57
5,97
61,31
70,93
Orocó
3,49 2,98
5,14
(14,64)
72,35
47,12
Juazeiro
5,52 6,03
7,35
9,29
21,80
33,12
Sobradinho
13,63 13,57
17,74
(0,45)
30,80
30,21
Casa Nova
2,52 2,19
3,07
(13,11)
40,53
22,11
Curaçá
2,34 2,35
3,57
0,72
51,81
52,
91
Média dos municípios 5,19 5,13
7,20
(1,31)
40,35 38,73
Chile - Sexta Região
Rancagua
16,63
19,50
22,07
17,26
13,18
32,71
Graneros
16,33
19,45
22,50
19,13
15,68
37,82
Codégua
13,99
15,90
18,14
13,64
14,09
29,65
Rengo
16,65
20,17
22,79
21,18
12,97
36,89
Peúmo
16,33
19,19
21,72
17,52
13,19
33,02
San vicente
15,89
18,91
21,86
18,98
15,61
37,56
Machali
15,47
19,39
23,19
25,35
19,60
49,92
San Fernando
16,93
19,33
21,75
14,13
12,53
28,44
Média dos municípios 16,02 18,98
21,75
18,42
14,61 35,72
Fontes: BRASIL IBGE/PNAD (diversas), Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia SEI, Agência estadual de
planejamento e pesquisa de Pernambuco - CONDEPE e Banco Central do Brasil.
CHILE – Sistema Nacional de Indicadores Municipais – SINIM e Banco Central do Chile.
(*) A conversão para o dólar foi realizada com base na cotação e volume do último dia útil de cada ano.
O Quadro 11 permite analisar a evolução da produtividade nos dois sistemas
produtivos e nos seus respectivos entornos. Verifica-se que na Sexta Região, desde 1995,
configura-se uma situação de homogeneidade entre os municípios, visto que a fruticultura já
se consolidara na década anterior. No período compreendido entre 1995-2005, o Pólo
Petrolina/Juazeiro apresentou índices de produtividade inferiores aos da Sexta Região e, entre
1995-2000, o indicador involuiu em 1,31%, na média. No entanto, devido ao desempenho
exportador de frutas frescas a partir do início da década de 2000, o indicador evoluiu em
38,73%. Neste mesmo período, a produtividade na Sexta Região foi incrementada em
35,72%.
De acordo com os dados das tabelas dos Anexos 1 e 2, no período em análise, o PIB
municipal nas duas localidades superou expressivamente a PEA, principal destaque deve ser
dado para o Pólo Petrolina/Juazeiro, cujo PIB cresceu 72,04% e a PEA 22,33%. Ressalte-se
que as atividades tecnológicas foram elementos importantes na produtividade e
competitividade das empresas e variável chave para o crescimento econômico, concordando,
dessa forma, com o conceito de Ander-Egg (1992), quanto ao progresso tecnológico.
231
Obviamente, este cenário, puramente econômico, suscita diversas discussões no
plano de geração de trabalho e renda, uma vez que esse ambiente rico em tecnologia reduz o
número de empregos e requer mão-de-obra altamente qualificada. Tanto é assim que, naquele
período, o PIB aumentou mais de 3 (três) vezes em relação a PEA. Assim, pela sua própria
natureza, a melhor produtividade do trabalho significa “produzir mais, com menos”. Tal
configuração confirma a análise de Castells (1990), quando o autor afirma que o
desenvolvimento de sistemas automatizados flexíveis tende a reduzir as necessidades de
emprego pouco qualificado, diminuindo sua participação nos custos totais de produção.
Gráfico 4: Pólo Petrolina/Juazeiro – Indicadores econômicos
22,33
7,31
13,99
46,21
17,66
72,04
(1,31)
40,49
38,65
-10
0
10
20
30
40
50
60
70
80
VAR. 1995-2000 VAR 2000-2005 VAR 1995-2005
(%)
PEA
PIB
PRODUTIVIDADE
Fonte: Elaboração própria a partir das planilhas dos Anexos 1 e 2
Gráfico 5: Sexta Região – Indicadores econômicos
16,46
14,61
35,72
7,04
8,80
56,42
26,22
23,92
18,42
-
10
20
30
40
50
60
VAR. 1995-2000 VAR 2000-2005 VAR 1995-2005
PEA
PIB
PRODUTIVIDADE
Fonte: Elaboração própria a partir das planilhas dos Anexos 1 e 2
Conforme pode ser verificado nos gráficos 4 e 5, houve incremento de todos os
indicadores no período em análise (1995-2005), configurando-se assim crescimento
econômico nos dois sistemas produtivos. Nota-se que, no Pólo Petrolina/Juazeiro, no período
2000-2005, houve grande incremento no PIB (46,21%) e diminuição da PEA (7,31%),
repercutindo diretamente no aumento da produtividade do trabalho, que foi de 40,49%. Esta
configuração coincide com a introdução inovações, no inicio da década de 2000, como: novas
variedades de frutas, principalmente a uva; aperfeiçoamento do sistema de irrigação, com a
232
implantação da fertirrigação, controlada por computador; técnicas de refrigeração e
armazenamento; logística e comercialização.
Na Sexta Região, analisando-se ponta-a-ponta, todos os indicadores tiveram menor
incremento. No entanto, em todos os períodos analisados, a produtividade do trabalho foi
superior à do Pólo Petrolina/Juazeiro, conforme pode ser verificado no Gráfico 2,
demonstrando-se com isso que o sistema produtivo de frutas chileno está consolidado e
Petrolina/Juazeiro, em consolidação, com exceção das técnicas de irrigação, que na Sexta
Região ainda é utilizado o método natural, por meio de sulcos.
O Gráfico 6 descreve a evolução da produtividade do trabalho nos dois sistemas
produtivos, nos anos compreendidos entre 1995-2005.
Gráfico 6: Evolução da produtividade do trabalho nos dois sistemas produtivos (US$ mil)
7,20
6,77
6,35
5,90
5,54
5,13
5,015,05
5,09
5,135,19
21,7521,64
20,86
20,23
19,59
18,98
18,33
17,74
17,14
16,61
16,03
-
5,00
10,00
15,00
20,00
25,00
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
Petrolina/Juazeiro Sexta Região
Fonte: Elaboração própria a partir das planilhas dos Anexos 1 e 2
O Gráfico 6 revela uma situação mais harmonizada e eficiente na evolução da
produtividade do trabalho na Sexta Região e, por conseguinte, mais competitiva, visto que,
em 2005, um trabalhador produziu um PIB de US$ 21,75 mil, ao passo que no Pólo
Peterolina/Juazeiro produziu apenas US$ 7,2 mil.
5.2.2 Grau de abertura para o exterior
Entende-se por grau de abertura a participação do volume de exportações sobre a
produção de determinado país, região ou localidade. De forma geral, podemos dizer que são
países que direcionam grande parte da sua produção para o mercado externo, caracterizando
um alto grau de especialização comercial em determinado produto ou segmento.
233
O peso das exportações no PIB é um indicador clássico e comumente aceito para
avaliar a competitividade e o grau de abertura da economia para o exterior. Em um período de
tempo relativamente longo nos informa se o tecido empresarial se adapta adequadamente às
condições do mercado global.
A Tabela 33 e o Gráfico 7 demonstram a evolução desse índice nos dois sistemas
produtivos.
Tabela 33: Grau de abertura dos dois sistemas produtivos no período 1995-2005 (Valores
correntes - US$ 1.000)
Fonte: Elaboração própria, a partir de dados do SISCOMEX/Sistema Alice (Brasil) e do ProChile.
(1) Trata-se de exportação de frutas de mesa
(2) Trata-se do PIB total dos municípios que compõem os pólos.
De acordo com os dados acima, verifica-se que a produção da Sexta Região é
direcionada para o mercado exterior. Ressaltamos que a manga e a uva são os principais
produtos de exportação do Pólo Petrolina/Juazeiro e grande parte da produção foi direcionada
para o mercado interno. Por outro lado, na Sexta Região, a fruta representa 28,4% das
exportações locais, a carne de porco representa 19% e o vinho 11% (PROCHILE, 2008). Se
fossem considerados tais produtos para o cálculo do grau de abertura na região, os percentuais
seriam ainda maiores.
PÓLO PETROLINA/JUAZEIRO
SEXTA REGIÃO
ANO EXPORTAÇÃO
1
PIB
2
EXP./PI
B EXPORTAÇÃO
1
PIB
2
EXP./PIB
1995
29.770
895.003
3,33
202.867
2.737.608
7,41
1996
29.900 915.588
3,27
254.680
2.877.717
8,85
1997
30.122 936.646
3,22
206.918
3.005.562
6,88
1998
25.257 958.189
2,64
238.743
3.162.017
7,55
1999
32.252 980.228
3,29
262.803
3.310.141
7,94
2000
43.414 1.053.104
4,12
234.874
3.455.506
6,80
2001
65.491 1.156.308
5,66
255.569
3.607.228
7
,08
2002
81.866 1.248.581
6,56
354.742
3.770.953
9,41
2003
129.375 1.359.705
9,51
488.234
3.954.410
12,35
2004
126.744 1.468.209
8,63
514.203
4.143.470
12,41
2005
172.649 1.539.744
11,21
465.477
4.282.136
10,87
234
Gráfico 7: Evolução do Grau de Abertura (1995-2005)
7,41
9,41
11,21
8,63
9,51
6,56
5,66
4,12
3,29
2,64
3,22
3,27
3,33
10,87
12,41
12,35
7,08
6,80
7,94
7,55
6,88
8,85
-
2,00
4,00
6,00
8,00
10,00
12,00
14,00
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
(%)
PET/JUAZ. S. REGIÃO
Fonte: Elaboração própria.
Alguns fatores podem explicar a melhor inserção da fruticultura da Sexta Região
comparativamente ao Pólo Petrolina/Juazeiro. Uma delas, que suscita Faveret Filho et al.
(1999), é que o mercado interno brasileiro é altamente consumidor e pouco exigente em
qualidade, com isso, dedica-se muito pouco em produzir mercadorias com padrões
internacionais de consumo. Acrescente-se a isto o fato de a população brasileira ser de 200
milhões de habitantes e a chilena de apenas 16 milhões.
Embora o grau de abertura ao mercado externo seja menor no Pólo
Petrolina/Juazeiro, houve acentuado incremento, principalmente a partir do ano 1998, em cujo
ano as exportações correspondiam apenas 2,64% do PIB da região, chegando a 11,21% em
2005. Tal desempenho está relacionado à expansão das exportações do Pólo que passou de
US$ 25,2 milhões, em 1998, para US$ 172,6 milhões em 2005, representando um incremento
de 297,7%. Em contrapartida, o PIB em 1998 era de US$ 958,1 milhões e em 2005 atingiu
US$ 1,5 bilhão, indicando uma evolução de 60,6%. Outras culturas voltadas essencialmente
para o mercado nacional, como a goiaba, o coco e a banana
92
apresentaram grande expansão
nas décadas de 1990 e 2000, contribuindo para uma expansão do PIB em US$ 1,2 bilhão.
Dessa forma, baseado nos dois indicadores, Produtividade do Trabalho e Grau de
Abertura, verificamos que os dois agrupamentos produtivos passam por um processo de
crescimento ascendente, com o sistema produtivo de frutas da Sexta Região apresentando
melhor desempenho. Configura-se então um ambiente de especialização produtiva,
proporcionado pelo progresso tecnológico e econômico, causando impactos positivos na
produção e comercialização e, por conseguinte, na competitividade.
A experiência vivida nas duas localidades, no Brasil e no Chile, durante a pesquisa
de campo, nos habilita interpretar que o crescimento econômico verificado na analise anterior
235
não tem sido aproveitado para minimizar os problemas urbanos e sociais. Verificamos, por
exemplo, que as cidades de Petrolina e Juazeiro são centros urbanos repletos de problemas de
natureza metropolitana. Trata-se de um pólo que atrai migrantes, principalmente dos
municípios vizinhos, cujas cidades convivem com altos níveis de subemprego, desocupação e
criminalidade. Na Sexta Região, verificam-se tais fragilidades na cidade de Rancagua, capital
regional, sendo que os impactos sociais e urbanos são mitigados com a possibilidade de
trabalhos de temporada em outras regiões. No entanto, tais temporadas correspondem a quatro
meses de trabalho.
Sendo assim, os passos seguintes serão uma tentativa de mensurar o bem-estar da
população das duas localidades, por meio de indicadores, visando confirmar que nem sempre
um cenário de crescimento econômico será convertido, obrigatoriamente, em
transbordamentos sociais para sua população.
5.3 O Bem-estar como categoria de análise
O conceito de bem-estar é evolutivo e gradual. Atribuir “mais ou menos” bem-estar a
uma pessoa é dar-lhe um valor “mais ou menos” positivo à sua vida. Suscitando Sen (2000) e
resgatando os conceitos de desenvolvimento citados no Capítulo I, a elucidação do conceito
de bem-estar supõe levantar os seguintes questionamentos: a) em virtude de que
circunstâncias, aspectos ou características da vida de uma pessoa haveremos de atribuir bem-
estar a essa pessoa? b) Como medir o bem-estar das pessoas de maneira a fazerem possíveis
as comparações inter-pessoais de bem-estar?
O conceito de bem-estar parece ser misto, uma vez que combina características de
dois tipos diferentes: por um lado, apresenta fatores que aludem às circunstâncias exteriores
da pessoa, tais como acesso a certos bens materiais, como: riqueza, poder, acesso a serviços
de saúde e educação etc. Por outro lado, características que aludem aos estados internos da
pessoa, como: prazer, felicidade, sentimento de dignidade, esperança de vida e, em geral, tudo
aquilo que resulta na realização de desejos e plano de vida pessoal (SEN, 2000). Parece-nos
que, dependendo da maneira como esses fatores são combinados, teremos concepções
92
A cultura desses produtos está concentrada em pequenos produtores, nos perímetros públicos de
irrigação, que não tiveram acesso ao crédito para formar lavoura de uva, tendo em vista o elevado custo da
primeira safra.
236
diferentes do bem-estar humano, visto que, na medida em que algum de seus aspectos se
encontra ausente, tais concepções se tornam inadequadas
93
.
Nesse modelo, o principal obstáculo é a utilização critérios subjetivos ou
psicológicos para caracterizar e medir o bem-estar de uma pessoa, que estão vinculados à
obtenção de bens externos que satisfaçam os desejos ou as aspirações individuais. Este é
exatamente o caso do utilitarismo
94
, que responde pelas versões da chamada “economia do
bem-estar” (Welfare Economics). Segundo essa concepção, a situação de uma pessoa será
tanto melhor quanto menor seja o número de desejos insatisfeitos. Isto é, a menor frustração
corresponderá a um maior bem-estar. Por conseguinte, o bem-estar de uma sociedade será
concebido em função das utilidades individuais das pessoas que a conformam.
A questão que nos interessa examinar aqui é, em primeiro lugar, a relativização do
bem-estar resultante dessa vertente utilitarista e, secundariamente, verificar de que maneira
este conceito relativizado pode ser utilizado para justificar a exclusão e a desigualdade entre
as pessoas.
Sen (1992) faz uma explanação importante sobre a relativização do bem-estar,
derivada da tese utilitarista, que tentaremos, de forma simplificada, interpretar. Para uma
pessoa A que tem um conjunto X de desejos pessoais, o bem-estar consistirá na realização da
situação em que se satisfaçam os desejos dentro de X; para uma pessoa B que tem um
conjunto Y, diferente de X, de desejos pessoais, seu bem-estar consistirá na realização dessa
outra situação. Os conjuntos X e Y podem diferir tanto como se queira, de acordo com os
desejos de A e B.
Assim, essa noção relativizada de bem-estar pode ser utilizada para justificar que se
tomem medidas de forma a satisfazer as demandas de grupos mais privilegiados e não em
diminuir a desigualdade em oportunidades, comodidades e bens externos em geral para todos
os grupos. Isto é, o conceito relativizado de bem-estar pode ser usado para manter a
desigualdade e a injustiça, assinalando que a métrica da utilidade, como pôde ser verificada
no exemplo anterior, pode dar-nos uma idéia deformada das privações ou carências reais de
uma pessoa ou localidade. Alguém que tenha vivido com limitações, desempenhando
93
É importante frisar que a concepção de Amartya Sen tem aderência com as concepções aristotélicas de
bem-estar. Sem a pretensão de nos aprofundar nos estudos de Aristóteles, em sua obra “Ética a Nicômaco”
afirma que “os bens se classificam em três tipos: externos, do corpo e os bens da alma ou psíquicos”. Acrescenta
que esses três tipos de bens parecem contribuir de diferentes maneiras para o bem-estar total de uma pessoa.
94
Conforme assinala Cox (2003), as bases originais das prescrições econômicas na teoria clássica estão
dadas pelos conceitos filosóficos utilitários. É a partir deles que se podem derivar todas as regras de decisão
coletiva que ainda hoje legitimam tais prescrições. Estas se baseiam no conceito individualista de sociedade,
onde o bem-estar social está representado pela soma das utilidades dos indivíduos que compõem a sociedade e,
portanto, se maximiza o bem-estar social, maximizando esta soma.
237
trabalhos pesados, sem esperança de mudanças, com poucas oportunidades na esfera
educacional, pode aceitar as privações mais facilmente do que outra que vive em meio às
comodidades. Conforme assinala Sen (1992) “[...] O excluído social aprende a levar tão bem a
sua carga que nem sequer a percebe”.
Dessa forma, conforme analisam Cobo e Sabóia (2006), a discussão sobre o bem-
estar social e padrão de vida, diante do subjetivismo e complexidade que os envolvem, acabou
por demandar grande parte dos estudos dessa área na busca de análises mais objetivas, por
meio de indicadores e medidas estatísticas que resumissem os principais aspectos das
condições de vida das pessoas. Tais indicadores permitem avaliar as mudanças que acontecem
na sociedade e quais políticas seriam prioritárias, visto que o conjunto dos indicadores pode
envolver diversos aspectos, tais como saúde, demografia, educação, trabalho, rendimento,
pobreza, moradia etc.
Várias têm sido as tentativas de resumir as informações dos indicadores sob a
denominação de indicador sintético e o mais conhecido deles, que tem suscitado o debate
internacional sobre o tema é o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), publicado e
calculado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) a partir de
1990 e um dos seus principais idealizadores foi Amartya Sen. O indicador vai além da
dimensão econômica, levando em conta também as dimensões sociais consideradas desejáveis
para o processo de desenvolvimento humano. Dessa forma, o IDH mede a longevidade
(considera a expectativa de vida de uma criança ao nascer), o grau de escolaridade (taxa de
alfabetização de adultos e matrícula na educação básica) e a renda per capita (indicador de
renda). As três dimensões têm o mesmo peso na composição do IDH sintético, variando de
zero a um e vem servindo de análise comparativa entre os diferentes países.
Ainda assim, o IDH vem recebendo severas críticas por se tratar de um índice com
um número reduzido de dimensões, uma vez que teria a capacidade natural de crescer sem
grandes intervenções dos governos. A partir de então, vários índices sintéticos passaram a ser
elaborados e divulgados pelas diversas instituições de pesquisa, seguindo a mesma
metodologia proposta pelo IDH, com um número maior de dimensões. Dessa forma é que foi
criado entre o PNUD e o IPEA, em 1998, o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal
(IDHM). Mais recentemente, em 2007, o BNDES lançou o Índice de Desenvolvimento Social
(IDS-BNDES)
95
. No caso do Chile, o Ministério do Planejamento (MIDEPLAN), em
conjunto com o PNUD, publicou o primeiro estudo para verificar o Índice de
238
Desenvolvimento Humano para todos os municípios do país, tendo como referência o ano de
1998. Recentemente, em 2006, outro relatório foi apresentado com dados mais atualizados, de
2003, comparado com o ano de 1994.
O IDH é mais um indicador que, de certa forma, serve para avaliar a qualidade de
vida, como tantos outros índices. No entanto, deve ser utilizado com outros indicadores de
forma a verificar o estágio em que se encontra o bem-estar das pessoas. Por outro lado, podem
até não revelar a realidade de uma população, mas, são válidos para ampliar os debates,
discussões e diálogos dos resultados gerados por eles.
Para efeito de comparação entre os dois sistemas produtivos, começaremos a análise
sob o ponto de vista dos índices dos indicadores esperança de vida, educação e renda,
propostos pelo PNUD. As categorias de países, segundo seus IDH são:
a) Baixo - IDH menor ou igual a 0,5;
b) dio – IDH entre 0,5 e 0,8;
c) Alto – IDH maior ou igual a 0,8.
De forma genérica, para a obtenção dos índices, utiliza-se a seguinte fórmula:
Índice do componente = (Valor real – Valor mínimo)/(Valor máximo- Valor mínimo) (3)
Dessa forma, na aferição do IDH de municípios, no Brasil e no Chile, as dimensões
são as mesmas: educação, longevidade e renda. No entanto, alguns indicadores são diferentes,
tendo em vista serem mais adequados para verificar e avaliar as condições de localidades
menores. Como exemplo, para avaliar a dimensão educação no Brasil, o cálculo do indicador
municipal considera dois sub-indicadores, com pesos diferentes: taxa de alfabetização de
pessoas acima de 15 anos de idade (peso dois) e a taxa bruta de freqüência escolar (peso um).
O segundo indicador é o resultado do somatório que freqüentam a educação básica e superior
(independente de idade), dividido pela população na faixa etária entre 07 e 22 anos na
localidade (IPEA/PNUD, 2003). Como as taxas de freqüência e alfabetização variam entre
0 e 1 (0% e 100%), é desnecessário convertê-las em um índice, como nas dimensões renda e
saúde, bastando, tão somente, atribuir os pesos de cada indicador.
No Chile, o indicador “educação” recebe tratamento diferente, considerando a
alfabetização de adultos acima de vinte e cinco anos (peso 2), cobertura educacional na pré-
95
Embora o IDS-BNDES seja de periodicidade anual, com apuração a partir da PNAD, o índice não acrescenta muita novidade, uma vez que
utiliza a mesma metodologia do IDH convencional e os dados são apresentados por Regiões, Estados e Regiões Metropolitanas, ficando de
239
escola, básica e superior (peso um) e média de escolaridade acima de vinte e cinco anos. No
entanto, a premissa de cálculo é a mesma.
Como exemplo do Brasil, podemos citar um município ou localidade cuja taxa bruta
de freqüência à escola seja igual a 71% e a taxa de alfabetização 85%, o cálculo seria:
IDHM – Educação = Freqüência + 2Alfabetização/3 (4)
IDHM – Educação = 0,71 + (2 x 0,85)/3 (5)
Logo, o IDHM do município será 0,803.
Quanto à longevidade e a renda, as metodologias nos dois países são similares.
Segundo o PNUD, na dimensão longevidade dos municípios, as estatísticas de registro civil
são insuficientes e inadequadas. Sugere-se, então, verificar o número de filhos nascidos e o
número dos filhos ainda vivos na data da coleta dos dados, aplicando-se, em seguida, as
proporções em probabilidade de morte, de onde se extrai a esperança de vida ao nascer. Para
os países da América do Sul, o PNUD usa 85 anos, como parâmetro máximo de longevidade e
25 anos, como parâmetro mínimo. Assim, aplicando-se a rmula (3), em uma localidade
onde a esperança de vida seja de 69 anos, teremos o seguinte índice:
Índice de esperança de vida = (69- 25)/(85-25) (6)
Logo, o IDHM-L do município será 0,733.
Na dimensão renda, houve a necessidade de se obter todos os tipos de renda dos
moradores do município (salários, aposentadorias, transferências governamentais, pensões
etc.) e a somatória dividida pelos habitantes da localidade resulta na renda per capita
municipal. A peculiaridade deste indicador está na forma de transformá-lo em um índice por
meio de uma rie de cálculos. Um deles é a conversão dos valores anuais mínimo e máximo
em dólar pela Paridade do Poder de Compra (PPC), indicados pelos relatórios internacionais
do PNUD (respectivamente, US$ PPC 40.000,00 e US$ PPC 100,00), que, em valores
mensais em reais são: R$ 1.560,17 e R$ 3,90.
fora a principal unidade de análise, que é o município.
240
É importante destacar que em 1997 Amartya Sen reformulou a metodologia para
calculo deste índice
96
, introduzindo uma progressão logarítmica de forma a reduzir os
impactos entre as rendas mínimas e máximas. Dessa forma, para se obter o índice de renda
dos municípios aplica-se a seguinte fórmula, considerando-se uma renda per capita municipal
de R$ 734,34, teremos o seguinte IDHM – Renda:
IDHM – Renda = log(734,34) – log (3,90) / log (1.560,17) – log (3,90) (7)
Logo, IDHM – Renda será igual a 0,874.
Tabela 34 : O Índice de Desenvolvimento Humano no Brasil e no Chile (1999 – 2005)
BRASIL CHILE
ANO
IDH IDH LONG IDH EDUC
IDH RENDA
IDH IDH LONG IDH EDUC IDH RENDA
1999
0,750
0,710
0,830
0,710
0,825
0,840
0,900
0,740
2000
0,757
0,710
0,830
0,720
0,831
0,840
0,900
0,760
2001
0,777
0,711
0,900
0,720
0,831
0,850
0,890
0,750
2002
0,777
0,720
0,880
0,730
0,839
0,850
0,900
0,770
2003
0,792
0,760
0,890
0,730
0,854
0,881
0,910
0,770
2004
0,792
0,760
0,880
0,740
0,859
0,890
0,910
0,780
2005
0,800
0,779
0,883
0,740
0,867
0,889
0,914
0,799
Fonte: PNUD – Relatório do Desenvolvimento Humano – Diversos anos.
A Tabela 34 tem um caráter ilustrativo/pedagógico, que visa reforçar os argumentos
anteriormente descritos, quanto às fragilidades de se considerar os IDH como uma ferramenta
eficiente para o direcionamento de políticas públicas. O caso mais emblemático é o do Brasil,
que em 2005 atingiu o índice que coloca o País no patamar dos países desenvolvidos, cujos
índices são iguais ou maiores do 0,800. Pelos dados da Tabela 34, percebe-se que a boa marca
foi atingida em função do desempenho da educação, cujo índice atingiu 0,883.
Ressalte-se que o quesito educação vem apresentando importante desempenho desde
a década de 1990, tendo em vista a instituição de programas que concediam uma renda
mínima vinculada à educação, como o Programa Nacional de Renda Mínima que foi, em
seguida, incorporado ao Programa Bolsa Família. Neste Programa, considera-se como uma
das condicionalidades a participação efetiva das famílias no processo educacional, exigindo-
se dos participantes a freqüência mínima de oitenta e cinco por cento da carga horária escolar
mensal, em estabelecimentos de ensino regular, de crianças e adolescentes de seis a quinze
anos. Assim, conclui-se que o desempenho brasileiro no último ano de apuração (2005) ainda
não foi fruto do crescimento econômico verificado no país, mas, de iniciativas de
transferências de renda do Governo Federal.
96
Para o cálculo do IDH para países, estados e regiões, o indicador de renda utilizado é o PIB per capita, com
ponderação logarítmica.
241
No Chile, a configuração é diferente no que diz respeito à evolução dos índices, uma
vez que o país vem adotando medidas sócio-econômicas desde a década de 1980. No entanto,
no que concerne ao IDH-renda, apresenta características bastante similares as do Brasil.
Verifica-se que, na avaliação de 2005, o referido índice ainda não havia chegado a 0,800,
diferentemente dos outros indicadores que, muito anos, superaram a marca.
A Tabela 35 apresenta o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal nos dois
sistemas produtivos estudados, no Brasil e no Chile. No caso do Brasil, selecionamos os
municípios que fazem parte do entorno produtivo, que forma o Pólo Petrolina/Juazeiro. Os
indicadores com os seus respectivos índices foram selecionados a partir de base de dados
oficiais, referente a estudo realizado pelo IPEA, PNUD e a Fundação João Pinheiro,
publicado em 2003, sob o título “Atlas do desenvolvimento Humano”, contendo uma análise
comparativa entre os anos de 1991 e 2000.
Tabela 35:
Evolução do IDHM no Pólo Petrolina/Juazeiro (1991 – 2000) e na Sexta Região (1992 – 2001)
PETROLINA/JUAZEIRO
1991 2000
Município
Renda
Longevidade
Educação
IDH
Renda
Longevidade
Educação
IDH
VAR.IDH
1991/2000
Petrolina 0,609
0,659
0,735
0,668
0,658
0,756
0,828
0,747
11,932
Lagoa Grande 0,485
0,520
0,504
0,503
0,546
0,645
0,689
0,627
24,586
Santa Maria da Boa Vista 0,530
0,672
0,559
0,587
0,548
0,708
0,751
0,669
13,969
Orocó 0,497
0,691
0,527
0,572
0,540
0,757
0,703
0,667
16,618
Juazeiro 0,558
0,521
0,688
0,589
0,635
0,612
0,802
0,683
15,959
Sobradinho 0,576
0,575
0,699
0,617
0,592
0,638
0,821
0,684
10,865
Casa Nova 0,500
0,552
0,480
0,511
0,522
0,612
0,699
0,611
19,648
Curaçá 0,482
0,552
0,530
0,521
0,533
0,612
0,732
0,626
20,013
Tot. Entorno 0,530
0,593
0,590
0,571
0,572
0,668
0,753
0,664
16,335
Tot. Sub-Médio S.F. 0,557
0,583
0,600
0,580
0,610
0,664
0,754
0,676
16,476
Tot. País 0,548
0,641
0,644
0,611
0,604
0,712
0,781
0,699
14,475
SEXTA REGIÃO
1992 2001
Município
Renda
Longevidade
Educação
IDH
Renda
Longevidade
Educação
IDH
VAR.IDH
1992/2001
Rancagua 0,653
0,700
0,707
0,687
0,674
0,754
0,769
0,732
6,650
Graneros 0,569
0,668
0,653
0,630
0,606
0,765
0,702
0,691
9,683
Codegua 0,517
0,732
0,601
0,617
0,592
0,858
0,668
0,706
14,486
Rengo 0,583
0,598
0,632
0,604
0,606
0,726
0,707
0,680
12,466
Peumo 0,547
0,710
0,633
0,630
0,592
0,752
0,677
0,674
6,931
San vicente 0,547
0,706
0,633
0,629
0,626
0,743
0,715
0,695
10,498
Machalí 0,569
0,704
0,663
0,645
0,667
0,783
0,739
0,730
13,068
San Fernando 0,622
0,691
0,686
0,666
0,646
0,754
0,775
0,725
8,804
Tot. Entorno 0,576
0,689
0,651
0,639
0,626
0,767
0,719
0,704
10,258
Tot.Sexta Região 0,548
0,688
0,644
0,627
0,597
0,756
0,714
0,689
9,947
Tot. País 0,607
0,682
0,688
0,659
0,650
0,776
0,748
0,725
9,965
Fonte: Petrolina/Juazeiro (Brasil) – Atlas do Desenvolvimento Humano– PNUD/IPEA/Fundação João Pinheiro (2003)
Sexta Região (Chile) – As trajetórias do desenvolvimento humano nos municípios chilenos (1992-2001) – Mideplan/PNUD
(2002).
Os dados dos municípios chilenos, que fazem parte da área de estudo, foram
extraídos do relatório “Índice de Desenvolvimento Humano Municipal dos Municípios do
Chile (1992 2001)”, elaborado pelo PNUD e pelo Ministério do Planejamento
(MIDEPLAN), com o objetivo de corrigir as distorções apresentadas nos relatórios
242
anteriores
97
. Verificamos que tais distorções são visíveis, quando extraímos o IDH do país
pelas médias dos IDHM. Como exemplo, em 2001 o IDH do Chile calculado pelo PNUD
(Tabela 34), tendo a renda como o PIB per capita, foi 0,831, colocando o país entre os países
com alto índice de desenvolvimento. No entanto, pela metodologia aplicada nos dados da
Tabela 35, pela média de todos os municípios chilenos, esse índice cai para 0,725 (nível de
desenvolvimento intermediário). Com o Brasil não é diferente. No ano de 2000 o IDH do país
foi 0,757 e, pela média do IDHM, foi de 0,699.
Dessa forma, comparando-se as Tabelas 34 e 35 , verifica-se que há grande diferença
entre os índices apurados. Tal diferença tem acirrado o debate sobre a conveniência ou não da
utilização do IDH-país como um indicador balizador para a promoção de políticas públicas. O
IDHM parece aproximar-se mais da realidade, no entanto, a grande restrição, para o Brasil,
refere-se a sua periodicidade, uma vez que se utiliza o censo para sua verificação, ou seja, só é
apurado a cada 10 anos. Atualmente, os dados mais atualizados por municípios são de 2000.
No entanto, algumas agências locais, como a Superintendência de Estudos Econômicos e
Sociais da Bahia (SEI) e a Agência Estadual de Planejamento e Pesquisa de Pernambuco
(PE), no Brasil e o Sistema de Indicadores Municipais (SINIM), no Chile, dedicam grande
parte de suas atividades na elaboração de indicadores que caracterizam os municípios. No
entanto, os índices provenientes de tais indicadores, via de regra, são constituídos por meio de
estimativas.
Na elaboração deste estudo, percebeu-se que as informações dos relatórios do IDHM,
nos dois países, foram de grande relevância para suscitar o debate público, visto que diversas
entidades públicas têm incorporado este instrumento para o direcionamento de recursos. Por
sua vez, os atores públicos, em nível local, têm utilizado estrategicamente para reforçar sua
intenção de obter maior visibilidade pública e capacidade de interlocução nos distintos níveis
e instâncias da administração pública.
5.3.1 Análise do IDHM - Renda
Verifica-se que nos dois casos o pior indicador é o da renda. No Pólo
Petrolina/Juazeiro o IDHM Renda foi 0,572 em 2000, enquanto no agrupamento da Sexta
Região atingiu 0,626. Lembremos que esse índice é calculado sobre os diversos tipos de
97
Ressaltamos que um descasamento nos períodos em análise, (Brasil, 1991-2000 e Chile 1992-2001), uma vez que, no Brasil, o único
IDHM foi baseado nos censos demográficos de 1990 e 2000. No Chile, a partir da primeira publicação (1992-2001), outros IDHM foram
elaborados (1994-2003 e 1999-2005), procedendo-se levantamento de dados município a município. Lembramos que, comparativamente às
243
rendas da população da localidade. Sendo municípios eminentemente produtores de frutas,
interpretamos que a atividade do setor remunera mal aos seus trabalhadores. Essa premissa
confirma a análise do capítulo anterior sobre as fragilidades nas relações de trabalho e renda
nos dois sistemas produtivos. Os índices dão pistas para o entendimento de que a tendência de
reduzir o tamanho e as funções do Estado tem sido particularmente agressiva no campo do
trabalho. A flexibilização das normas trabalhistas, promovendo a substituição dos
trabalhadores permanentes por temporários, introduz o fator de incerteza e mantém elevados
os índices de informalidade, sub-contratação e outras formas de trabalhos precários ou
irregulares. Considera-se também a utilização intensiva da mão-de-obra feminina na atividade
e a histórica má remuneração das trabalhadoras na produção de frutas para exportação.
A Tabela 36 é o resultado do questionário aplicado para os 96 produtores, 48 no
Brasil e 48 no Chile, que expressa com nitidez como a mão-de-obra temporária é explorada
nos dois sistemas produtivos.
Tabela 36: Número de trabalhadores, por vínculo empregatício – posição 2005
Pólo Petrolina/Juazeiro
Porte
*
Familiares
*
*
%
Fixos
%
Temporário
s
%
Micro
41
45,05
16
0,60
98
0,74
Pequeno
26
28,57
52
1,95
226
1,71
Médio
21
23,08
443
16,64
3282
24,79
Grande
3
3,30
2152
80,81
9632
72,76
Total
91
100,0
2.663
100,0
13.238
100,0
Sexta Região
Micro
52
45,61
32
1,23
121
0,79
Pequeno
36
31,58
33
1,26
241
1,57
Médio
24
21,05
456
17,47
4123
26,94
Grande
2
1,75
2089
80,04
10820
70,70
Total
114
100,0
2610
100,0
15305
100,0
Fonte: elaboração própria de acordo com dados da pesquisa.
* Convencionou-se utilizar, para os dois sistemas produtivos, o conceito de porte utilizado pela Codevasf: a)
Colono (micro), de 1 a 7 ha; b) Pequeno, de 08 a 20 ha; c) Médio, de 21 a 50 ha e; d) Grande, superior a 50 ha.
** Familiares são os membros das famílias que efetivamente trabalham na produção. Verifica-se que, nas
propriedades até 7 ha, não existe uma forma de remuneração fixa entre os familiares, procedendo-se à
distribuição eqüitativa entre os membros. A partir de 20 há, dependendo dos valores comercializados, existe a
tendência de estipular um salário para os membros da família.
Verifica-se na Tabela 36 que a mão-de-obra temporária é explorada com muita
intensidade. No caso de Petrolina/Juazeiro, o número de trabalhadores por temporada é quase
5 vezes maior do que os fixos. Na Sexta Região, esta relação é de quase 6. Ressalte-se que a
pesquisa foi concentrada na produção de uva (Brasil e Chile), manga (Brasil) e pêssego
dimensões territoriais, esta tarefa apresenta grande complexidade para o Brasil, visto que o País tem mais de 5.500 municípios, enquanto o
244
(Chile) e que a viticultura é intensiva na utilização de trabalhadores temporários. O período
médio de temporada é de cinco meses, sendo que, na Sexta Região, as pessoas voltam para as
suas respectivas localidades que, via de regra, o regiões ou províncias distantes do local de
trabalho.
5.3.1.1 Análise do indicador “renda” no Pólo Petrolina/Juazeiro
No Pólo Petrolina/Juazeiro, este fluxo é diferente. Fora da época de temporada, esta
população de trabalhadores fica concentrada nas principais cidades (Petrolina-PE e Juazeiro
BA). São migrantes que vêm de outros estados nordestinos e não retornam para os locais de
origem, culminando em graves problemas sociais e recrudescimento da pobreza, conforme
pode ser verificado nas Tabelas de 37 a 40, abaixo.
Tabela 37: Percentual de pessoas com renda per capita abaixo de ½ Salário Mínimo
Microrregião Juazeiro – BA (1991 – 2000)
Município 1991 2000 Variação %
Campo Alegre de Lourdes 90,27
77,58
(14,1)
Casa Nova 82,17
66,76
(18,8)
Curaçá 74,02
64,35
(13,1)
Juazeiro 61,32
49,08
(20,0)
Pilão Arcado 94,0
83,07
(11,6)
Remanso 82,7
65,23
(21,1)
Sento 85,57
75,74
(11,5)
Sobradinho 65,49
53,67
(18,0)
Média da Microrregião 79,4
66,9
(15,7)
Fonte: Adaptado do Atlas do Desenvolvimento Humano (2003)
No que concerne à Microrregião Juazeiro, na Bahia, verifica-se que o nível de
pobreza foi reduzido, principalmente, nos municípios que fazem parte do sistema produtivo
Petrolina/Juazeiro (grifados). No entanto, os níveis de indigência continuam altos, visto que,
na média da microrregião, no ano de 2000, 66,9% da população auferiam renda per capita
abaixo de meio salário mínimo, caracterizando com isso que o entorno do sistema produtivo
não foi beneficiado pela comercialização de frutas no exterior.
Chile tem apenas 341.
245
Tabela 38: Evolução da renda per capita na Microrregião de Juazeiro (1991 – 2000) – R$*
Município Renda per Capita, 1991 Renda per Capita, 2000
Campo Alegre de Lourdes (BA) 57,1
62,98
Casa Nova (BA) 78,01
88,76
Curaçá (BA) 70,13
95,15
Juazeiro (BA) 110,05
175,15
Pilão Arcado (BA) 30,22
46,38
Remanso (BA) 61,65
96,92
Sento Sé (BA) 75,89
71,78
Sobradinho (BA) 123,15
135,52
Média da Microrregião (A) 75,77
96,58
Média dos municípios em estudo (B) 95,33
123,64
Variação % (A/B) 25,81
28,02
Fonte: Adaptado do Atlas do Desenvolvimento Humano (2003)
* Salário Mínimo em 2000: R$ 151,00. De acordo com informações da Fundação João Pinheiro (2008), para chegar aos valores em reais, em
1991, foram utilizados métodos estatísticos de regressão, levando-se em conta a inflação e correção monetária no período. O parâmetro
utilizado para efeito de cálculo foi o preço da cesta básica, considerado pelo IPEA.
De acordo com os dados acima, verifica-se que apenas o município de Juazeiro
apresentou renda per capita acima do salário mínimo vigente em 2000 (R$ 151,00). Verifica-
se que, mesmo com a especialização da produção, por meio das novas técnicas de irrigação,
durante a década em estudo, não se verifica efeitos transbordamentos na microrregião.
Lembramos que, dos municípios acima listados, quatro deles fazem parte do sistema público
de irrigação: Casa Nova, Curaçá, Juazeiro e Sobradinho. Em que pese o baixo índice de renda
per capita na microrregião, são estes municípios que apresentam a maior renda, conforme
pode ser verificado na relação A/B, da Tabela 38, onde a média da renda dos quatro
municípios que fazem parte do perímetro de irrigação é maior que a média dos municípios de
toda a microrregião (25,81% maior, em 1991 e 28,02, em 2000).
Tabela 39: Percentual de pessoas com renda per capita abaixo de ½ Salário Mínimo
Microrregião Petrolina – PE (1991 – 2000)
Município 1999 2000
Variação
Afrânio 84,62
73,12
(13,6)
Cabrobó 71,99
61,91
(14,0)
Dormentes 88,28
75,28
(14,7)
Lagoa Grande 72,02
64,88
(9,9)
Orocó 66,95
63,36
(5,4)
Petrolina 54,53
44,52
(18,4)
Santa Maria da Boa Vista 60,69
64,06
5,6
Terra Nova 66,89
61,49
(8,1)
Média dos municípios 70,7
63,5
(9,8)
Fonte: Adaptado do Atlas do Desenvolvimento Humano (2003)
Verifica-se que a microrregião Petrolina apresenta melhor renda com relação a
Juazeiro. No entanto, são realidades bastante similares, visto que 63,5% da população, em
2000, viviam com rendimentos inferiores a meio salário mínimo, caracterizando-se com isso
246
que os efeitos transbordamento acontece de forma muito tímida, com relação à pujança do
comércio de frutas para o mercado externo.
Tabela 40: Evolução da renda per capita na Microrregião de Petrolina (1991 – 2000) – R$
Município Renda per Capita, 1991 Renda per Capita, 2000
Afrânio 50,77
71,18
Cabrobó 85,37
112,54
Dormentes 42,85
65,67
Lagoa Grande 71,18
102,82
Orocó 76,40
98,86
Petrolina 149,60
201,23
Santa Maria da Boa Vista 93,31
104,22
Terra Nova 82,85
98,74
Média da Microrregião (A) 81,54
106,90
Média dos municípios em estudo (B) 97,62
126,78
Variação % (A/B) 19,72
18,60
Fonte: Adaptado do Atlas do desenvolvimento Humano (2003)
Verifica-se na Tabela 40 que a renda da microrregião de Petrolina é superior em
relação à de Juazeiro e as disparidades entre os municípios são menos evidentes, embora fique
caracterizado também que nos municípios que fazem parte dos perímetros públicos de
irrigação a renda é maior. Conforme havíamos comentado no capítulo anterior, a Codevasf
foi mais pródiga com os perímetros irrigados de Pernambuco, ensejando assim um melhor
desempenho nas áreas de estudo daquele estado. Isto pode ser evidenciado pela renda e
também pelo próprio índice de desenvolvimento humano municipal, conforme descrito na
Tabela 40. No ano de 2000, a renda per capita em Petrolina superou o salário mínimo vigente
em 34,15%, enquanto Juazeiro superou em 16,77%.
Outros dados importantes estão expressos na Tabela 41, que informam quais são os
percentuais de renda provenientes do trabalho, visto que nos municípios da área de estudo são
verificados aportes governamentais que incidem sobre a renda que faz a composição para o
cálculo do IDHM.
Tabela 41: Evolução percentual da renda proveniente do trabalho (1991 – 2000) – R$
Município 1991 2000
Petrolina 86,45
66,11
Lagoa Grande 88,70
63,38
Santa Maria da Boa Vista 71,71
37,93
Orocó 72,94
45,81
Juazeiro 83,81
69,31
Sobradinho 82,63
59,08
Casa Nova 75,02
54,35
Curaçá 67,53
47,11
Fonte: Adaptado do Atlas do Desenvolvimento Humano (2003)
247
Em que pese o vel de renda ser inferior em 1991, no entanto aquela renda era
resultado do trabalho das pessoas. em 2000, a renda dos municípios em estudo era
composta, em grande parte, pelas transferências governamentais, por meio de programas de
inclusão e aposentadorias e benefícios. Ressalta-se que essa é uma peculiaridade dos
municípios do interior da Região Nordeste.
Gráfico 8:
Evolução do IDHM – Renda dos municípios do Pólo Petrolina/Juazeiro (1991-2000)
0,658
0,546
0,548
0,635
0,592
0,522
0,533
0,482
0,500
0,576
0,558
0,497
0,530
0,485
0,609
0,540
-
0,100
0,200
0,300
0,400
0,500
0,600
0,700
Petrolina Lagoa Grande Santa Maria da
Boa Vista
Oro Juazeiro Sobradinho Casa Nova Curaçá
1991
2000
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do Atlas do Desenvolvimento Humano– PNUD/IPEA/Fundação João Pinheiro (2003).
(
1
) Os valores percentuais nas escalas representam o incremento de 1991 para 2000.
O Gráfico 8 sintetiza com clareza que as desigualdades sociais locais são
conseqüência da deficiente distribuição da renda, visto que, de todos os indicadores, este foi o
que cresceu com menor intensidade.
5.3.1.2 Análise do indicador “renda” no sistema produtivo da Sexta Região
É importante destacar que a economia chilena pode ser considerada um caso peculiar
na América Latina, em termos de crescimento das atividades econômicas. Foi a economia que
mais cresceu comparada com outras economias latino-americanas. Também foi o país que
mais absorveu, em termos relativos, investimentos estrangeiros diretos. A abertura econômica
e financeira, a estabilidade macroeconômica, a taxa de câmbio real competitiva, foram alguns
dos fatores que propiciaram uma expansão significativa do setor externo da economia.
Parece existir uma correlação positiva entre crescimento econômico e distribuição de
renda, que redundou no crescimento absoluto da renda per capita e salários reais mais
elevados. Por outro lado, em termos relativos, a distribuição da renda no âmbito nacional
8,05%
1
12,58%
3,40%
8,65%
13,80%
2,78% 4,40%
10,58%
248
permaneceu com os mesmos níveis, caracterizando elevada concentração de renda. No âmbito
regional, mostra que houve uma melhora na distribuição da renda em algumas regiões, em
especial naquelas que apresentaram intenso ritmo de crescimento, impulsionado pelas
exportações, como é o caso da Sexta Região.
Com relação à incidência da pobreza, conforme dados da Tabela 42, constata-se que,
no geral, houve redução da pobreza no período analisado, sendo que se verifica um
remanejamento das pessoas que viviam em situação de indigência para a situação de pobreza,
cujos índices, no ano 2001, ainda continuavam elevados, em torno de 16,4% total da
população. O que contribuiu para esta redução foram as políticas compensatórios do Estado,
em especial os subsídios monetários que eram repassados para as populações pobres, fazendo-
se, assim, um mecanismo eficaz que ajudou a diminuir os níveis de pobreza na Sexta Região.
Dessa forma, pode-se asseverar que o crescimento econômico, gerado pela
exportação de frutas, não foi suficiente para reduzir os veis de pobreza e indigência na área
de estudo. Ou seja, o mercado, isoladamente, o é suficiente para resolver o problema da
concentração de renda, exigindo políticas ativas de distribuição, de forma a garantir melhor os
benefícios originados pelo processo de expansão econômica.
Tabela 42: Evolução dos níveis de indincia e pobreza da população na Sexta Região
1992 2001
Município
INDIGENTE POBRE NÃO POBRE TOTAL INDIGENTE POBRE NÃO POBRE TOTAL
Rancagua
13.068
45.964
134.847
193.879
8.077
26.879
189.407
224.363
Graneros
1.806
5.898
17.641
25.344
1.363
4.336
19.732
25.431
Codegua
764
2.203
7.042
10.009
666
1.598
8.702
10.965
Rengo
2.777
10.584
30.499
43.861
600
8.927
45.006
54.533
Peumo
915
2.865
8.858
12.638
555
2.208
10.773
13.535
San vicente
2.391
9.388
26.836
38.615
2.036
5.470
30.479
37.985
Machalí
1.924
6.381
18.388
26.692
1.151
6.112
21.008
28.271
San Fernando
3.945
14.516
42.057
60.518
2.444
12.192
50.527
65.163
TOTAL 27.591
97.798
286.168
411.557
16.891
67.721
375.634
460.246
%
Rancagua
6,74
23,71
69,55
100,00
3,60
11,98
84,42
100,00
Graneros
7,13
23,27
69,60
100,00
5,36
17,05
77,59
100,00
Codegua
7,64
22,01
70,36
100,00
6,07
14,57
79,36
100,00
Rengo
6,33
24,13
69,54
100,00
1,10
16,37
82,53
100,00
Peumo
7,24
22,67
70,09
100,00
4,10
16,31
79,59
100,00
San vicente
6,19
24,31
69,50
100,00
5,36
14,40
80,24
100,00
Machalí
7,21
23,90
68,89
100,00
4,07
21,62
74,31
100,00
San Fernando
6,52
23,99
69,50
100,00
3,75
18,71
77,54
100,00
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do SINIM e do MIDPLAN/Casen
*
Conforme informações do MIDEPLAN/Casen, a linha de indigência é definida pelo custo da cesta alimentária mensal per capita e se
definem como indigentes as pessoas cuja renda seja inferior a este valor. São estimadas duas linhas de indigência; uma que corresponde às
áreas urbanas e outra às áreas rurais. Assim, a preços de dez./2000, o valor da linha de indigência foi de: zona urbana: US$ 42,49; zona rural:
US$ 32,74. O valor da linha de pobreza, para a s zonas urbanas, obtém-se duplicando o valor da linha de indigência. Para as zonas rurais,
incrementa-se em 75% sobre o valor da linha de indigência rural. Assim, temos: valor da linha de pobreza na zona urbana: US$ 84,98 e, da
zona rural US$ 57,29.
249
A Tabela 43 evidencia com precisão que realmente existe concentração de renda na
área de estudo da Sexta região, uma vez que, comparando-se com Petrolina/Juazeiro, a renda
per capita é bastante superior. É importante ressaltar, mais uma vez, que na Sexta Região a
agroindústria é um segmento importante no sistema produtivo, principalmente aquela voltada
para a fabricação de vinho e produção de frutas em conservas. Tais atividades requerem mão-
de-obra especializada, com melhor remuneração, ao contrário da produção de frutas de mesa.
Tabela 43: Evolução da renda per capita na Sexta Região (1992-2001) US$
1992 2001
MUNICÍPIO
TRABALHO TRANSFERENCIAS TOTAL TRABALHO TRANSFERENCIAS TOTAL
Rancagua
768,56
4,80
773,4
1.003,83
6,77
1.010,60
Graneros
570,38
6,63
577,0
675,30
9,01
684,31
Codegua
356,70
13,17
369,9
548,44
11,18
559,62
Rengo
460,30
7,02
467,3
729,10
9,86
738,95
Peumo
358,54
8,65
367,2
387,98
17,58
405,57
San vicente
649,71
6,83
656,5
535,61
11,88
547,50
Machalí
559,96
3,93
563,9
694,53
8,79
703,33
San Fernando
576,66
6,68
583,3
777,27
10,59
787,86
Fonte:
Elaboração própria a partir dos dados do SINIM e do MIDEPLAN/Casen
Conforme dados da Tabela 43, verifica-se que a maior renda está localizada em
Rancagua, capital da Sexta Região. Destacamos que a mina de cobre “El Teniente” exerce
importante influência na composição da renda da área de estudo, uma vez que está localizada
no município de Machalí. Segundo informações de funcionário da empresa que administra a
mina (Codelco División El Teniente)
98
, a instituição emprega 4.500 funcionários próprios e
5.500 contratados, tendo uma média salarial de US$ 1.950,00. É importante ressaltar que, pela
proximidade entre os municípios da região, a maioria dos trabalhadores reside em outras
localidades e, muitas vezes, até em outras regiões. Assim, num contraponto resumido com o
sistema produtivo de Petrolina/Juazeiro, cujos municípios envolvidos no estudo dedicam-se,
praticamente, à produção agrícola, a Sexta Região tem sua produtividade diversificada, com a
presença significativa de pequenas agroindústrias de processamento de frutas em conserva,
sucos e vinhos.
Ainda que a renda per capita dos municípios da Sexta Região sejam superiores à de
Petrolina/Juazeiro, os próprios índices dão conta disto, a sua população não se apropriou de
forma plena desse crescimento, conforme pode ser verificado no Gráfico 9.
98
A Corporación Nacional del Cobre de Chile (CODELCO), é uma empresa de propriedade do Estado do Chile, cujas operações financeiras
e de comercialização estão centralizadas na “Casa Matriz”, localizada na Capital do Chile, Santiago. Assim, 100% das exportações de cobre
do Chile ocorrem pelo município de Santiago.
250
Gráfico 9:
Evolução do IDHM – Renda dos municípios da Sexta Região (1992-2001)
0,592
0,626
0,667
0,653
0,569
0,517
0,583
0,547 0,547
0,569
0,622
0,646
0,606
0,592
0,606
0,674
-
0,100
0,200
0,300
0,400
0,500
0,600
0,700
0,800
Rancagua Graneros Codegua Rengo Peumo San vicente Machalí San
Fernando
1991 2002
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do Mideplan/PNUD (2003).
(
1
) Os valores percentuais nas escalas representam o incremento de 1992 para 2001.
Os municípios de Rancágua e San Fernando obtiveram os menores incrementos no
período analisado. O município de Machalí obteve maior incremento, induzido, também, pela
mina de cobre ali instalada, passando de um índice de 0,569, para 0,667, representando um
incremento de 17,22%.
5.3.2 Análise do IDHM – Saúde (longevidade)
É bastante interessante a forma como o PNUD vem abordando a questão da
esperança de vida no mundo. No relatório de 2005, a instituição chega a questionar se estamos
vivendo “o fim da convergência”, no que diz respeito à longevidade. De forma geral, segundo
os relatórios, a maioria das capacidades humanas tem convergido de forma gradual nos
últimos 40 anos. Partindo de uma base relativamente baixa, os países em desenvolvimento
têm encurtado a distância em relação aos países ricos, em termos de esperança de vida,
mortalidade infantil e alfabetismo. No entanto, o relatório em referência (2005) faz a seguinte
declaração: “[...] Um aspecto preocupante da atual tendência no desenvolvimento humano é
que a taxa global de convergência está diminuindo seu ritmo e, para um grupo grande de
países, a divergência está se transformando em norma”.
Conforme assinala Amartya Sen (1992), viver uma vida longa e saudável é um
indicador básico das capacidades humanas e as desigualdades nesta área têm uma enorme
incidência no bem-estar das pessoas. Os últimos relatórios do Desenvolvimento Humano
indicam um grande retrocesso a partir do início dos anos 1990, quando começou a diminuir o
3,22%
1
3,22%
1
6,50%
14,51%
3,95% 8,23% 14,44%
17,22%
3,86%
251
ritmo do avanço da convergência na esperança de vida entre ricos e pobres, devido à
divergência entre regiões associadas com o HIV/SIDA, entre outros retrocessos (PNUD -
RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO, 2001;2002 e; 2005).
Atualmente, a diferença média de esperança de vida entre países de renda baixa e alta
é de 19 anos. Analisando os últimos relatórios, podemos afirmar que alguém que tenha
nascido em Botswana pode esperar viver 42 anos menos do que alguém que tenha nascido no
Japão, ou, quem nasceu na França tem a expectativa de viver mais de 37 anos do que quem
tenha nascido na Zâmbia, por exemplo.
As grandes desigualdades implícitas nestes números foram definidas por Amartya
Sen como “lei de atenção inversa”, isto é, a disponibilidade de atenção médica é inversamente
proporcional às necessidades. Assim, os países da OCDE, cujas rendas são elevadas e os
riscos com a saúde menores, o gasto médio per capita em saúde é superior a US$ 3.000,00,
enquanto que nos países com menor renda, com riscos mais elevados, o gasto com saúde é em
torno de US$ 78,00.
Tabela 44: Evolução do IDHM-longevidade de Petrolina/Juazeiro (1991-2000) e da Sexta
Região (1992-2001)
Petrolina/Juazeiro
Sexta Região
Longevidade Longevidade
Município
1991
2000
Var (%)
Município
1992
2001
Var (%)
Petrolina 0,659
0,756
14,72
Rancagua
0,700
0,754
7,71
Lagoa Grande 0,520
0,645
24,04
Graneros
0,668
0,765
14,52
Santa Maria da Boa Vista 0,672
0,708
5,36
Codegua
0,732
0,858
17,21
Orocó 0,691
0,757
9,55
Rengo
0,598
0,726
21,40
Juazeiro 0,521
0,612
17,47
Peumo
0,710
0,752
5,92
Sobradinho 0,575
0,638
10,96
San vicente
0,706
0,743
5,24
Casa Nova 0,552
0,612
10,87
Machalí
0,704
0,783
11,22
Curaçá 0,552
0,612
10,87
San Fernando
0,691
0,754
9,12
Média dos municípios 0,593
0,668
12,61
0,69
0,77
11,36
Fonte: Elaboração própria a partir dos relatórios de desenvolvimento do Brasil e do Chile
Pelos dados da Tabela 44, verifica-se que os índices dos municípios da Sexta Região
superaram os índices de Petrolina/Juazeiro. No entanto, este último evoluiu mais em termos
percentuais. A Tabela 45, abaixo, apresenta a evolução da esperança de vida nos dois sistemas
produtivos.
252
Tabela 45: Evolução da esperança de vida em Petrolina/Juazeiro e na Sexta Região
Petrolina/Juazeiro
Sexta Região
Esperança de Vida Esperança de Vida
Município
1991
2000
Var (%)
Município
1992
2001
Var (%)
Petrolina 64,52
70,36
9,05
Rancagua 71,23
75,12
5,46
Lagoa Grande 56,22
63,70
13,30
Graneros 72,45
74,28
2,53
Santa Maria da Boa Vista 65,33
67,46
3,26
Codegua 72,14
75,43
4,56
Orocó 66,45
70,45
6,02
Rengo 71,38
74,36
4,17
Juazeiro 56,29
61,71
9,63
Peumo 72,15
75,63
4,82
Sobradinho 59,53
63,31
6,35
San vicente 73.67
75,89
3,01
Casa Nova 58,15
61,71
6,12
Machalí 72,07
74,67
3,61
Curaçá 58,15
61,71
6,12
San Fernando 72,08,
75,23
4,37
Média dos municípios 60,58
65,05
7,38
72,15
75,08
4,06
Fonte: Elaboração própria a partir dos relatórios de desenvolvimento do Brasil e do Chile
No quesito longevidade, a Tabela 45 caracteriza o avanço da Sexta Região em
relação a Petrolina/Juazeiro. No entanto, esta tendência já era verificada no inicio dos anos 90,
do século passado, quando as pessoas daquela região tinham uma expectativa de vida, em
média, 11,57 anos superior à de Petrolina/Juazeiro. É importante reforçar que tal desempenho
tem relação direta com as políticas de saúde introduzidas pelo governo chileno, a partir de
1980. No Brasil, naquela década, os contribuintes da previdência social tinham acesso ao
sistema de saúde pública, para atendimento hospitalar. Na área rural, por sua vez, o
atendimento era praticamente nulo, daí a baixa esperança de vida apurada no ano de 1991,
cuja média dos municípios foi de 60,58 anos, contra 72,12, na Sexta Região. No início da
década de 2000, a diferença ainda era bastante significativa. Mesmo tendo incremento
superior ao da Sexta Região, a diferença entre os dois sistemas produtivos era de
aproximadamente 10 anos.
Com a instituição do Sistema Único de Saúde (SUS), em 1990, ampliando o
atendimento, também, para a área rural, promoveu-se assim o acesso universal à assistência à
saúde. Com isso, no período em avaliação, a expectativa de vida foi elevada em 4,47 anos,
correspondendo a um incremento de 7,38%. Na Sexta Região, houve aumento de 2,93 anos,
uma vez que vinha com um histórico de melhor esperança de vida, chegando ao final de
2001 a 75,08 anos.
253
Tabela 46: Taxa de Mortalidade Infantil em Petrolina/Juazeiro e na Sexta Região em cada
1.000 nascidos
Petrolina/Juazeiro
Sexta Região
Taxa de Mortalidade Taxa de Mortalidade
Município
1991
2000
Var (%)
Município
1992
2001
Var (%)
Petrolina 51,42
35,89
(30,20)
Rancagua 12,03
9,72
(19,20)
Lagoa Grande 89,58
64,15
(28,39)
Graneros 12,23
10,12
(17,25)
Santa Maria da Boa Vista 48,29
47,22
(2,22)
Codegua 11,98
10,30
(14,02)
Orocó 44,15
35,60
(19,37)
Rengo 12,28
9,98
(18,73)
Juazeiro 88,46
54,50
(38,39)
Peumo 11,26
9,48
(15,81)
Sobradinho 70,92
48,34
(31,84)
San vicente 12,64
10,59
(16,22)
Casa Nova 78,12
54,50
(30,24)
Machalí 11,87
9,98
(15,92)
Curaçá 78,11
54,50
(30,23)
San Fernando 12,06
11,26
(6,63)
Média dos municípios 68,63
49,34
(28,11)
12,04
10,18
(15,48)
Fonte: Elaboração própria a partir dos relatórios de desenvolvimento do Brasil e dos Anuários Estatísticos Vitais
do Chile – Instituto Nacional de Estatísticas (diversas séries).
A taxa de mortalidade infantil é um bom indicador para verificar o desempenho das
políticas públicas voltadas para a saúde. De acordo com os índices da tabela acima, verifica-se
que houve uma considerável redução da mortalidade nos dois sistemas produtivos de
Petrolina/Juazeiro e da Sexta Região, de 28,11% e 15,48%, respectivamente. No entanto, na
média, a taxa de mortalidade, do lado do Brasil, é 4,85 vezes maior do que no Chile. Em
2000, enquanto morriam 49,34 crianças com idade até um ano, no Pólo Petrolina/Juazeiro, na
Sexta Região, em 2001, esta taxa era de 10,18.
Em que pese a instituição do SUS, conforme nos referimos anteriormente, cuja
concepção baseava-se em um modelo de saúde direcionado para as necessidades da
população, resgatando o compromisso do estado com o bem-estar das pessoas, principalmente
no que diz respeito à saúde coletiva, a sua implantação não tem sido uniforme nos estados e
municípios brasileiros, sendo marcada por fortes desequilíbrios sócio-econômicos regionais,
visto que para viabilizar o sistema seria necessário grande aporte de recursos financeiros,
pessoas qualificadas e efetiva atuação do governo federal, estadual e municipal. Destacamos
que a Lei 8.080, de 1990, que regulamentou o SUS, previa que os repasses de recursos fossem
transferidos aos municípios, baseados em critérios, como: perfil epidemiológico; perfil
demográfico; rede de serviços instalada; desempenho técnico, entre outros, e os recursos
seriam provenientes do Orçamento da Seguridade Social.
No entanto, o SUS durante a sua existência vem sofrendo com a instabilidade
institucional e a desarticulação organizacional, no que diz respeito ao poder decisório da
esfera federal, que alega escassez de financiamento. Apesar das fragilidades enfrentadas pode-
se reconhecer na atenção básica que o SUS apresentou importantes progressos no setor
público, mas enfrenta sérios problemas no setor privado, o qual detém a maior parte dos
254
serviços de complexidade, uma vez que as remunerações pagas pelos procedimentos à rede
privada não interessam ao setor, prejudicando assim a proposta de hierarquização dos
serviços. Talvez, seja este o gargalo que ainda coloca municípios, como estes que estamos
estudando, com uma taxa tão alta de mortalidade infantil e em outras faixas etárias, também.
O sistema de serviços de saúde no Chile é um sistema misto, tanto no financiamento
como na prestação de serviços. No financiamento, combina um esquema de Seguridade Social
com um sistema de seguros de “caráter competitivo” (MINISTERIO DE SALUD, 2007). No
entanto, os dois componentes compartilham da mesma fonte de financiamento que é aportado
obrigatoriamente pelos trabalhadores assalariados (7% da sua renda). A Constituição do país
outorga a liberdade de escolha entre as duas modalidades mencionadas. Ressalte-se que a
primeira é de natureza pública, cuja gestão está sobre a responsabilidade do Fondo Nacional
de Salud (FONASA). Este fundo recebe, também, transferências do Governo Federal para a
atenção aos indigentes e para os programas de saúde pública, além dos aportes dos
assalariados que optam por esta modalidade de seguridade.
A segunda é constituída por instituições de saúde previdenciária privadas (ISAPRE)
que administram as cotas obrigatórias de quem opta por elas. Ressalte-se que o trabalhador
optando por esta modalidade de previdência e assistência a sua contribuição é repassada para
a instituição escolhida. Nota-se que, neste caso, a previdência social é privatizada.
Conforme dados do Ministério da Saúde do Chile (MINSAL, 2005), naquele ano o
FONASA foi responsável por 62% da cobertura populacional, as ISAPRE 22% e os 16%
restantes correspondem aos grupos com sistemas particulares ou não pertencem a nenhum
sistema. É importante ressaltar que esses números têm sido contestados, uma vez que a
flexibilização da mão-de-obra, principalmente na fruticultura para exportação, faz com que a
grande maioria dos trabalhadores não tenha qualquer registro de trabalho, não contribuindo
para os fundos e, por conseguinte, se não forem atendidos como indigentes, também estão
excluídos do sistema de saúde.
255
Tabela 47: Alguns indicadores, em percentuais, que contribuem para a manutenção da saúde
Petrolina/Juazeiro
Domicílios com água encanada
Domicílios com banheiro com
esgotamento sanitário
Municípios
1991 2000 1991 2000
Petrolina
68,72
78,88
63,51
76,79
Lagoa Grande
30,56
43,77
26,02
33,91
Santa Maria da Boa Vista
51,01
50,52
45,49
44,22
Orocó
52,07
42,91
45,46
41,26
Juazeiro
65,88
72,49
60,31
68,66
Sobradinho
41,71
76,30
41,58
73,46
Casa Nova
23,52
40,42
21,39
36,29
Curaçá
25,55
50,30
23,16
44,50
Media dos municípios 44,88
56,95
40,87
52,39
Sexta Região
Domicílios com água encanada
Domicílios com banheiro com
esgotamento sanitário
Municípios
1992 2001 1992 2001
Rancagua 100,00
99,80
94,60
98,60
Graneros 91,23
97,20
95,60
96,50
Codegua 81,50
88,50
93,80
95,70
Rengo 85,40
95,90
94,90
97,40
Peumo 82,47
88,50
95,70
96,70
San Vicente 89,89
98,50
94,40
98,40
Machalí 88,76
97,00
95,60
96,70
San Fernando 84,68
93,70
07,60
98,50
Media dos municípios 87,99
94,89
84,03
97,31
Fonte: Petrolina/Juazeiro (Brasil) – Atlas do Desenvolvimento Humano– PNUD/IPEA/Fundação João Pinheiro (2003)
Sexta Região (Chile) As trajetórias do desenvolvimento humano nos municípios chilenos (1992-2001) Mideplan/PNUD
(2002).
A tabela 47 revela o distanciamento existente entre a área de estudo no Pólo
Petrolina/Juazeiro e a Sexta região. Verifica-se que no início da década de 1990 os índices
de domicílios com água encanada e esgotamento sanitário, nos municípios da Sexta Região,
eram 87,99% e 84,03%, respectivamente. Em 2001, esses índices sobem para 94,89% e
97,31%. Nos municípios, integrantes da área de estudo de Petrolina/Juazeiro, praticamente,
metade da população, no inicio da década de 2000, não contava com os serviços básicos de
fornecimento de água e banheiro com esgotamento sanitário. É importante ressaltar que
durante a pesquisa de campo, nesta localidade, presenciamos diversas residências, cujos
banheiros foram construídos apartados da casa e sobre sumidouros, caracterizando um
ambiente insalubre às pessoas. Encontramos, também, poços de pequena profundidade
perfurados próximos a tais sumidouros, sem que houvesse qualquer exame laboratorial que
atestasse a qualidade da água consumida na localidade.
Neste contexto, é importante citar o trabalho de Simonassi e Cândido nior (2006),
quando os autores, utilizando métodos econométricos para investigar a relação entre a
esperança de vida ao nascer e as condições sócio-econômicas dos municípios nordestinos a
partir de variáveis como renda per capita, proporção de domicílios com água canalizada e
proporção de domicílios com rede de esgoto, concluíram que essas variáveis apresentam uma
256
relação positiva com o incremento da expectativa de vida e que os benefícios sociais são mais
elevados nos municípios menos desenvolvidos. Dessa forma, propõem que as políticas
públicas devem de fato ter foco diferenciado para os grupos de municípios com renda per
capita diferentes, quando se tratar de elevar a esperança de vida ao nascer.
5.3.3 Análise do IDHM – educação
No que diz respeito à educação, este foi o único indicador que no início da década de
2000 apresentou melhor desempenho do que os municípios em estudo da Sexta Região.
Verifica-se que em 1991 este índice era de 0,590 nos municípios brasileiros, contra 0,651 nos
municípios chilenos, correspondendo uma diferença de 10,34%. No entanto, ao longo da
década, os municípios do Pólo Petrolina/Juazeiro superaram, na média, os municípios da
Sexta região. É importante destacar que nesta última área nenhum município atingiu índice
igual ou superior a 0,800, enquanto três municípios do Nordeste superaram essa marca
99
.
Tabela 48: Evolução do IDHM-educação em Petrolina/Juazeiro e na Sexta Região
Petrolina/Juazeiro
Sexta Região
IDHM – Educação IDHM - Educação
Município
1991
2000
Var (%)
Município
1992
2001
Var (%)
Petrolina 0,735
0.828
12,65
Rancagua 0,707
0,769
8,77
Lagoa Grande 0,504
0,689
36,71
Graneros 0,653
0,702
7,50
Santa Maria da Boa Vista 0,559
0,751
34,35
Codegua 0,601
0,668
11,15
Orocó 0,527
0,703
33,40
Rengo 0,632
0,707
11,87
Juazeiro 0,688
0,802
16,57
Peumo 0,633
0,677
6,95
Sobradinho 0,699
0,821
17,45
San vicente 0,633
0,715
12,95
Casa Nova 0,480
0,699
45,63
Machalí 0,663
0,739
11,46
Curaçá 0,530
0,732
38,11
San Fernando 0,686
0,775
12,97
Média dos municípios 0,590
0,753
27,59
0.651
0,719
10,45
Fonte: Petrolina/Juazeiro (Brasil) – Atlas do Desenvolvimento Humano– PNUD/IPEA/Fundação João Pinheiro (2003)
Sexta Região (Chile) – As trajetórias do desenvolvimento humano nos municípios chilenos (1992-2001) – Mideplan/PNUD
(2002).
Destaca-se que a partir do ano de 1982 o sistema educacional chileno foi objeto de
uma das maiores reformas estruturais do país. Com o objetivo de diminuir a participação
fiscal e incentivar a inserção e novos provedores, o Estado começou um processo de
99
É importante fazer uma comparação com os índices da Tabela 3, principalmente no indicador educação, visto que existe uma diferença
substancial entre o IDH-país e o IDH-município. Tal distorção é provocada pela qualidade da amostra utilizada no período de apuração.
Tanto no Brasil como no Chile, os índices anuais são obtidos nas capitais das principais regiões, que, via de regra, são melhor assistidas pelas
políticas públicas, em contraposição aos municípios mais interioranos. Os dados da Tabela 3 revelam que o IDH educação do Chile em
2001 foi de 0,890 e do Brasil, em 2000, foi de 0,830 (altos índices), enquanto que, pelo IDH dos municípios da Sexta Região e de
Petrolina/Juazeiro, foi de 0,719 (2001) e 0,753 (2000), respectivamente. Isto prova que utilizar o IDH-país para direcionar a políticas
públicas pode ter um efeito temerário. Isto é facilmente identificável pelo IDH de 0,800 verificado no Brasil para o ano de 2005, quando o
257
privatização e descentralização que respondiam fortemente aos paradigmas do mercado. De
acordo com Marcel (2004), as “personalidades do regime militar tinham a plena convicção de
que a qualidade e cobertura se produziriam graças aos mecanismos de informação e
competência”. No entanto, segundo o mesmo autor, essas medidas trouxeram conseqüências
diretas e indiretas sobre a qualidade da educação e as condições de trabalho dos docentes.
Dessa forma, os contratos dos professores passaram a ser privados e sem as garantias antes
asseguradas. Os currículos foram flexibilizados sem uma uniformidade clara e as instituições
locais não foram suficientemente eficientes na prestação e administração dos serviços
educacionais.
Naquela época, as antigas escolas públicas, dependentes do Ministério da Educação,
foram transferidas aos governos locais, dando origem ao setor municipalizado da educação.
Ao mesmo tempo, foi autorizado às escolas privadas operarem com financiamento público,
sob a condição de não cobrar os referidos valores dos estudantes. Tal setor passou a ser
denominado “educação privada subvencionada”. Neste caso, os administradores das escolas
recebiam do Estado uma subvenção ou um valor correspondente por aluno, provocando, dessa
forma, uma competitividade sem precedentes entre as unidades escolares, uma vez que aquela
que prestava “melhores serviços” era mais requisitada.
De acordo com Aedo e Sapelli (2001), esta reforma teve um efeito sobremaneira
favorável sobre a participação do setor particular subvencionado, cujo mero de matrículas
aumentou em 538.000 estudantes entre 1981 e 1987. Por outro lado, a educação pública foi
reduzida em 418.000 estudantes, no mesmo período e os 120.000 restantes foram novos
alunos que entraram no sistema. Reforçamos que essas medidas ocorreram em um contexto
do governo autoritário que se instalou no Chile entre 1973 e 1989.
A partir de 1990, com o retorno à democracia, é dado um novo direcionamento
para a política educacional chilena, sob o diagnóstico que os problemas de qualidade e
eqüidade da educação não foram resolvidos pelos mecanismos de mercado. Sob este contexto,
a subvenção segue operando como um instrumento de financiamento do setor. No entanto, foi
introduzido um conjunto de políticas que buscava criar um vetor de qualidade e equidade, a
partir do nível central. Assim, nesta década, produziu-se uma importante recuperação no
incremento do gasto público em educação. Por outro lado, conforme assinala Hanushek
(2004), “apenas agregar mais recursos ao sistema educacional não tem apresentado impactos
significativos na qualidade da educação”.
País atinge, pela primeira vez, o mesmo índice dos países desenvolvidos. A pergunta de partida que fazemos é a seguinte: este índice tem
aderência com o nível de bem-estar das pessoas de todos os municípios brasileiros?
258
Dessa forma, o novo governo identificou um grande segmento de alunos e escolas
em condições precárias de funcionamento, principalmente aquelas pertencentes aos
municípios mais afastados das capitais regionais, o que ensejou a criação de uma série de
programas localizados, como forma de intervenção sistemática sobre os processos e condições
dos trabalhos educativos. No entanto, pelos dados da Tabela 17, verifica-se que, em nível
municipal, os impactos das reformas da década de 1990 foram ainda muito tímidos, se
comparado ao desempenho dos municípios brasileiros, em estudo.
No Brasil, as políticas para a educação na década de 1990 basearam-se em
procedimentos de transferência de renda em forma monetária. Substituíram-se, até certo
ponto, as intervenções por meio de doações de cestas de produtos, tornando mais eficiente a
política distributiva com vistas a aumentar o bem-estar das pessoas, conforme nos
referenciamos anteriormente, sobre o Programa Bolsa Família. Tal programa obteve resposta
mais rápida, no que diz respeito ao incremento do número de matrículas na educação básica,
principalmente na Região Nordeste do Brasil.
Ainda assim, de acordo com estudo do IPEA (2002), quando o Instituto realizou um
diagnóstico das relações entre desigualdade e educação, ainda necessidade de definir uma
política de expansão acelerada da educação de forma a garantir a sustentabilidade do
desenvolvimento dos municípios brasileiros. No que diz respeito à renda, o trabalho
identificou a heterogeneidade da escolaridade da força de trabalho como principal causa da
desigualdade salarial observada no Brasil. Na Região Nordeste, o processo de
desenvolvimento dos municípios e da própria região, reforça as conseqüências da
heterogeneidade da educação brasileira.
Na análise de diversos IDHM de outros países, a comparação da realidade do Brasil
com a experiência internacional, confirma o fraco desempenho do sistema educacional que,
de acordo com o IPEA (2002), apresenta um atraso, em termos de educação, de cerca de uma
década com relação a um país com o padrão de desenvolvimento similar ao Brasil.
Dessa forma, podemos afirmar que a sustentabilidade do desenvolvimento
socioeconômico de um país está intrinsecamente associada à continuidade e velocidade do
processo de expansão educacional. No que diz respeito aos municípios em análise, embora
tenhamos verificado melhor desempenho do Brasil, na década de 1990, em relação aos
municípios do Chile, os valores atribuídos aos anos de escolaridade adicionais representam os
principais determinantes das diferenças salariais. Assim, o incremento do IDHM, nos
municípios do sistema produtivo de Petrolina/Juazeiro, pode ter ainda um longo período
amargando baixos salários, uma vez que a média de anos de escolaridade das pessoas com
259
idade acima de 15 anos é de 4,2 anos, de acordo com o Atlas de Desenvolvimento Humano
Municipal (2003). No Chile, a média dos anos estudados dos adultos a partir de quinze anos
foi de 9,6 anos.
Dentro do contexto do semi-árido nordestino, que é banhado pelo dio São
Francisco, essa análise se confirma nos municípios de Petrolina (PE) e Juazeiro, uma vez que,
no período analisado, foram as localidades que tiveram IDHM educação acima de 0,800,
conforme mostra a Tabela 48. Por conseguinte, são os municípios que apresentaram maior
nível de renda per capita em 2000. Conforme abordamos anteriormente, as forças produtivas
levaram o setor público a abrir novas escolas e universidades, para formação específica na
agricultura, como faculdade de agronomia e técnicos agrícolas.
No entanto, não podemos perder de vista que a distribuição de renda seria bem mais
imediata e equânime se houvesse maior participação da iniciativa privada, pagando melhores
salários, como forma até de devolver os benefícios ficais que os governos municipais
oferecem às grandes empresas que se instalam, sob a alegação de geração de emprego e renda.
5.3.4 Considerações sobre a utilização do IDH como análise comparativa
Os diversos relatórios sobre o desenvolvimento humano têm sido categóricos na
afirmação de que a busca, nos diferentes estudos, é pela criação de “[...] um ambiente no qual
as pessoas possam desenvolver o seu potencial e ter vidas criativas e produtivas conforme
seus interesses e necessidades. Tem a ver muito mais de que o crescimento econômico, que é
um meio importante, de alargar as escolhas pessoais (PNUD, 2001).
Retornando ao primeiro parágrafo deste capítulo, quando mencionávamos a
dificuldade de se conceituar as diversas facetas do desenvolvimento, essa nova concepção do
debate do que possa ser realmente o desenvolvimento, vem realmente ocorrendo com mais
vigor a partir da publicação do primeiro Relatório do Desenvolvimento Humano, em 1991. A
partir de então, sucederam-se vários relatórios que atualizaram os índices e os tornaram
públicos, bem como propuseram outros indicadores e estudos que enfocavam diversos
requerimentos da problemática do desenvolvimento, como desigualdades entre mulheres e
homens, localidades de um mesmo país, segmentos sociais, etc.; questões relacionadas a
direitos humanos, infra-estrutura, liberdades, políticas públicas e vários componentes da área
financeira, social e econômica das nações.
Conforme já havíamos mencionado, além de uma síntese, o IDH é uma ferramenta
simples, que se fundamenta em algumas premissas, a saber: definitivamente o
260
desenvolvimento não corresponde necessariamente ao crescimento econômico, ainda sendo
este muito importante, e não pode ser medido pelo PIB e nem pela renda per capita (a Tabela
1 reflete essa condição com muita propriedade, uma vez que o incremento do PIB nas duas
áreas de estudo não se traduziu em substanciais melhorias, conforme verificamos nos diversos
indicadores); acima de tudo, o desenvolvimento está atrelado às ampliações das capacidades
das pessoas.
De forma mais prática, tais afirmações são fruto da trajetória de debates sobre o
desenvolvimento, com indiscutível contribuição de Amartya Sen, que associou o conceito à
ampliação das liberdades, escolhas e das capacidades. Assim, sendo tais premissas difíceis de
serem demonstradas, encontrou-se um caminho na criação do IDH, que se converteu em uma
ferramenta universal de aferição de algumas destas capacidades elementares que possibilitam
às pessoas participarem da esfera pública, do confronto e da “coabitação dos valores”. Dessa
forma, o IDH foi a primeira tentativa de mensuração do conceito de desenvolvimento.
Conforme relata Prates (2003), num primeiro momento, Sen foi resistente, no entanto
acabou por aceitar o IDH, sob a alegação de que seria um importante “catalisador” na difusão
dos trabalhos da ONU e poderia ser debatido para além da clássica dimensão econômica.
Assim, podemos verificar nas análises deste capítulo que o IDHM sintetizou em uma média
de três sub-índices, três dimensões básicas e universais da vida, representando as condições
para que as oportunidades das pessoas possam ser ampliadas: o direito a um padrão de vida
digna (renda), direito a uma vida saudável e longa (longevidade) e o acesso ao conhecimento
(educação).
Nota-se que o IDHM, por sua simplicidade, não aprofunda cada uma dessas
dimensões, mas nos permitiu comparar o nível geral alcançado pelos dois sistemas produtivos
no atendimento dessas necessidades básicas. Ainda assim, mesmo sendo um índice inovador,
o IDH e, por conseguinte o IDHM, apresenta algumas limitações que merecem explicações.
Uma das principais limitações, que é também reconhecida nos próprios relatórios do PNUD
(2004), diz respeito à abrangência do índice, visto que se “limita a poucas dimensões”
(variáveis). Argumenta-se da necessidade de incluir dimensões como segurança, acesso a
cultura, liberdade política, habitação, dentre outras, porém, a dificuldade e a indisponibilidade
de dados fidedignos e a periodicidade sistemática e regular para caracterizar tais dimensões se
converte na principal barreira para se avançar no aperfeiçoamento da metodologia.
Destacamos, no caso do Brasil, exemplos bem definidos de superação dessa
limitação como o caso do Índice de Desenvolvimento Econômico (IDE), elaborado pela
Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI) e pelo Índice de
261
Desenvolvimento Social (IDS), desenvolvido pelo Instituto de Pesquisa e Estratégia
Econômica do Ceará (IPECE). No Chile, o Ministério do Planejamento, por meio da Encuesta
de Caracterización Socioeconómica (CASEN), trabalha com uma ampla quantidade de
indicadores sociais em nível nacional, regional e municipal. Tais índices são utilizados para a
composição do IDHM, com periodicidade bienal.
Outra crítica/limitação apontada diz respeito aos pesos atribuídos para os sub-índices
que compõem o IDH, uma vez que pode haver localidade em que o peso de uma dimensão é
menos importante do que da outra, na explicação do desenvolvimento humano, exigindo
dessa forma, pesos diferenciados para cada região ou situação.
Não obstante a tais limitações, os índices, via de regra, não captam o total da
complexidade que envolve o conceito de desenvolvimento humano. Contudo, a análise do
IDHM dos dois sistemas produtivos, no Brasil e no Chile, permitiu gerar uma fotografia das
condições básicas de vida das suas populações que pode suscitar um aprofundamento nos
debates e orientar as políticas públicas, na busca do bem-estar das pessoas e, por conseguinte,
incrementar o desenvolvimento humano, econômico e social das duas localidades.
A análise e exposição das informações deste capítulo permitem observar que o Índice
de Desenvolvimento Humano Municipal apresentou evolução no período considerado (1991-
2000, no Brasil e 1992- 2001, no Chile) nos dois sistemas produtivos, indicando melhoria nas
condições de vida das pessoas. Contudo, dada a limitação do IDHM, é importante verificar
uma série de outros indicadores, disponíveis tanto no relatório do Brasil quanto do Chile,
como os de educação, mortalidade infantil, pobreza, renda, vulnerabilidade familiar, entre
outros, que ajudam constatar que a realidade dos dois sistemas produtivos não parece tão
satisfatória como aparenta a análise do IDHM. A Tabela 49 é um exemplo para o caso dos
municípios do Pólo Petrolina Juazeiro.
Tabela 49: Média dos anos de estudo e percentual de analfabetos acima de 25 anos
Município
Média de anos de
estudo das pessoas
de 25 anos ou mais
de idade, 1991
Média de anos de
estudo das pessoas
de 25 anos ou mais
de idade, 2000
% 25 anos ou mais
analfabetas, 1991
% 25 anos ou mais
analfabetas, 2000
Lagoa Grande (PE) 1,79
3,03
51,59
39,93
Orocó (PE) 1,94
3,32
56,34
41,26
Petrolina (PE) 4,4
5,49
30,29
21,08
Santa Maria da Boa Vista (PE) 2,32
3,43
50,06
37,74
Casa Nova (BA) 1,75
2,76
51,96
38,44
Curaçá (BA) 1,83
2,9
48,98
37,64
Juazeiro (BA) 3,94
5,11
33,81
22,98
Sobradinho (BA) 3,47
4,6
35,26
25,88
Fonte: Petrolina/Juazeiro (Brasil) – Atlas do Desenvolvimento Humano– PNUD/IPEA/Fundação João Pinheiro (2003)
262
Confrontando as Tabela 48 e 49, verificamos que houve uma significativa melhoria
no IDHM-Educação em todos os municípios, chegando a superar, na dia, a Sexta Região,
apresentando índices superiores a 0,800. No entanto, analisando a média de anos de estudo
das pessoas e o percentual de analfabetos acima de 25 anos de idade (Tabela 49), constatamos
que existe pouca aderência entre os índices, uma vez que o ciclo completo para cursar a
educação básica é de 12 anos (INEP, 2008) e o melhor desempenho nesse quesito foi
verificado em Petrolina, que alcançou 5,49 anos, sendo, portanto, menos da metade do
necessário para fechar o ciclo da educação básica. Ainda que tenha havido incrementos nos
anos de estudo, os níveis ainda estão muito aquém dos países desenvolvidos, que, segundo o
Relatório de Desenvolvimento Humano (2007), é de 10,2 anos.
Chama a atenção o percentual de analfabeto ainda existente nos municípios do Pólo
Petrolina/Juazeiro. Esta é uma faixa etária que tem relação muito estreita com a
disponibilidade de mão-de-obra e, por conseguinte, com a renda. Verifica-se que na cidade
mais importante do pólo, Petrolina, 21,08% da população era de analfabetos no ano de 2000.
De acordo com os diversos Relatórios do Desenvolvimento Humano, o índice ideal é que esse
percentual seja muito próximo de zero. Sendo assim, muito ainda precisa ser feito para a
educação das pessoas que vivem no Pólo Petrolina/Juazeiro, principalmente no que diz
respeito à Educação de Jovens e Adultos.
À guisa de conclusão do capítulo, ainda que se constatem significativas melhorias
nas condições de vida das pessoas, nos dois sistemas produtivos em estudo, são muitos os
desafios a serem enfrentados, principalmente no que diz respeito às questões de concentração
de renda, saúde, pobreza e indigência em que vive considerável parcela da população dos
municípios selecionados, no Brasil e no Chile.
Nesse sentido, o estudo aponta para a recomendação de que são urgentes as ações
para redução das diferenças sócio-econômicas verificadas no estudo em que a criação de
postos de trabalho, a expansão de serviços públicos e a geração de renda sejam metas
constantes, uma vez que o crescimento econômico gerado pela comercialização de frutas
para exportação não tem sido suficiente para gerar transbordamento nos sistemas produtivos
analisados, como querem fazer alguns estudos, como, por exemplo, de Damiani (1999) e
Locke (2001), no Brasil e Contreras e Escobar (2003), no Chile. Tomando a reflexão de
Hojman (2001), quando comparava o governo autoritário anterior com governos democráticos
de Ayiwin (1990-1994) e Frei (1994-1999), tais estudos apontam para um “neoliberalismo
com um rosto humano” ou a uma “mudança produtiva com igualdade social”. No entanto, as
políticas permanecem atendendo ao paradigma de livre mercado.
263
CONCLUSÃO
As questões conclusivas deste trabalho seguirão dois eixos distintos, que no final se
complementarão. No primeiro, abordaremos os aspectos relacionados à competitividade do
setor nos dois sistemas produtivos de Petrolina/Juazeiro e da Sexta Região. Buscando o
referencial teórico do primeiro capítulo desta tese e à luz das formulações propostas por
Michael Porter e outros autores que estudaram o tema, faremos alguns contrapontos sobre a
inadequação de se referir ao Pólo Petrolina/Juazeiro como um cluster. No segundo, faremos
referência à pujança econômica dos dois sistemas produtivos e os seus rebatimentos sobre o
desenvolvimento sócio-econômico nas duas localidades.
Conforme já havíamos diagnosticado em capítulo anterior, a trajetória da fruticultura
no Brasil e do Chile é distinta. Em que pese tratar-se de uma análise comparativa entre dois
países, as evidências empíricas têm demonstrado que as tentativas de transpor modelos
produtivos de um país para outro estão fadadas ao fracasso. No entanto, tais comparações
podem contribuir para a formulação de novas políticas para o setor.
Os dois sistemas produtivos apresentam problemas cruciais. O primeiro diz respeito
à Região Nordeste do Brasil, cujas fragilidades não se restringem apenas a questões
exclusivamente climáticas de secas. Outras variáveis contribuem para a deformação da
realidade do semi-árido, como a existência de estruturas produtivas ultrapassadas e a elevada
concentração fundiária, dentre outras questões de caráter político (principalmente, político-
eleitoral). No Chile, em geral, na Sexta Região, especificamente, o problema está mais
relacionado com a relação dos pequenos produtores com as empresas multinacionais locais e
estrangeiras, uma vez que estas exercem total supremacia sobre aqueles, colocando-os, quase
sempre, em situação de “seus devedores”. Dessa forma, como acontece no Brasil, deparamos-
nos com a questão fundiária também, uma vez que, não pagando suas dívidas, tomam-lhes a
terra.
Em que pese tais fragilidades, reconhece-se que os dois sistemas produtivos em
estudo são protagonistas de um modelo exitoso de exportação de frutas. A Sexta Região, com
aproximadamente 19 variedades, apresenta um grau de maturidade produtiva sobremaneira
superior a de Petrolina/Juazeiro, que envia ao exterior apenas dois tipos de frutas: uva e
manga.
A competitividade dos dois sistemas poderia ser avaliada por diversos métodos. No
entanto, para ser coerente, uma vez que estamos tratando de agrupamentos produtivos, seria
de boa medida utilizar os argumentos de Michael Porter, uma vez que na maioria dos estudos
264
da espécie o autor é sistematicamente citado. Assim, utilizaremos tais argumentos de forma a
deduzir se os dois sistemas produtivos são ou não realmente clusters. Ressalte-se que diversos
autores, como Haddad (1999), por exemplo, referem-se ao Pólo Petrolina/Juazeiro como um
“exitoso cluster de fruticultura”.
Dessa forma, para concluir sobre a existência ou não de um cluster exportador de
frutas nas localidades em análise foram utilizadas informações diversas sobre a realidade
econômico-produtiva dos dois sistemas produtivos. Tais informações foram geradas por meio
de fontes secundárias existentes, observações de campo e partir das entrevistas realizadas com
diferentes atores, tanto do âmbito publico como no privado.
Uma das definições mais clássicas de cluster a que Porter (1998) se refere, indica
que:
[...] as vantagens competitivas das empresas surgem de um conjunto de fatores que
são classificados em quatro grupos, os quais se conformam a um diamante. Estes
grupos de fatores de competitividade se reforçam uns aos outros e constituem um
sistema competitivo. Este caráter sistêmico faz com as empresas beneficiadas
constituam um cluster, no qual as empresas se relacionam por meio de vínculos
verticais (comprador-vendedor), horizontais (clientes, tecnologias e serviços) e
tendem a se agrupar regionalmente. As indústrias participantes se apóiam
reciprocamente, porque as vantagens competitivas que desenvolveram umas são
transmitidas para as outras. (PORTER, 1998, p. 17).
É importante também ressaltar a definição de Visser (2004), que fez uma análise do
cluster da cadeia de vinho do Chile. Resumidamente, o autor define o cluster a partir de
alguns conceitos prévios como a cadeia de valor, que se refere às empresas que agregam valor
sucessivamente por meio da manufatura, marketing, distribuição e transporte de produtos.
Dessa forma, o cluster é um agrupamento de vários sistemas, os quais têm vínculos territoriais
e institucionais e geram redes de cooperação cruzadas entre distintas cadeias. Segundo o
autor, “o fundamental do cluster é que seus atores compartilham modelos mentais, enfrentam
riscos comuns, trocam informações de interesse comum e enfrentam problemas de
governabilidade no interior do cluster”.
Retornando a Porter (1998), o autor assinala que o cluster desenvolve economias de
aglomeração e externalidades, como também aprendizagens tecnológicas e organizacionais,
sendo, portanto, um produto do desenvolvimento empresarial através do mercado, mas pode
ver-se fortalecido por uma rede de apoios institucionais que potencializam sua capacidade
competitiva (especialmente centros tecnológicos e de capacitação, de financiamento,
transmissão de informação, acesso a mercados etc.).
Porter ainda destaca, com muita freqüência, que em um cluster deve existir um setor
predominante que dinamize de maneira sistêmica o entorno e, acima de tudo, por se tratar de
265
um cluster exportador, esse setor deve ter uma importância crescente e relevante na atividade
exportadora da região.
Dessa forma, tomando por base a literatura acima citada e os apontamentos dos
capítulos anteriores, podemos estabelecer alguns critérios que nos permitem identificar se
estamos diante de dois clusters nos sistemas produtivos de Petrolina/Juazeiro e da Sexta
Região. Tais critérios são:
1- A existência de setores ou produtos que sejam relevantes na oferta exportadora das
duas localidades. Tal critério é importante porque estamos diante de dois sistemas
produtivos exportadores de frutas frescas;
2- Existência de concentração de empresas de diferentes tamanhos em torno de um setor
ou produto relevante;
3- Existe relação de competitividade e cooperação entre as empresas concentradas nos
dois sistemas produtivos, de forma que proporcione uma maior participação no
mercado, cooperação para a troca de informação, aprendizagem conjunta e ação
coletiva;
4- Produção de economia de escala que diminua os custos do processo produtivo e de
gestão, da inovação e da aprendizagem tecnológica;
5- Existência de bens, produtos, serviços e insumos que se inserem na cadeia de valor
que efetivamente possibilite a inter-relação vertical e horizontal de caráter estratégico
das empresas concentradas nas localidades;
6- Existência de relações público-privadas que potencializem a capacidade competitiva
do setor;
7- Existência de produto diferenciado, que se potencializa a partir da existência de
condições naturais exclusivas.
Dessa forma, o Quadro 12 abaixo sintetiza a matriz de análise realizada nos dois
sistemas produtivos, que dão pistas de que faltam ainda alguns ingredientes que possam
induzir os dois sistemas produtivos na busca de uma competitividade plena.
266
Quadro 12: Matriz de competitividade de Petrolina/Juazeiro e da Sexta Região
CRITÉRIOS BÁSICOS
PARA FORMAÇÃO DE UM CLUSTER
PÓLO PETROLINA/JUAZEIRO SEXTA REGIAO
1 Existência de setores ou
produtos que sejam relevantes
na oferta exportadora das duas
localidades
ANÁLISE
Constata-se que a fruta fresca constitui um
segmento claro de exportação na atualidade
nos dois sistemas produtivos, enquanto que
os derivados industriais mostram potencial
exportador, principalmente na Sexta Região,
no entanto, ainda devem se desenvolver para
se converter em um produto importante para
exportação nas localidades, principalmente
em Petrolina/Juazeiro.
Em que pese o Brasil ser o terceiro maior
produtor de frutas do mundo, conforme
dados da FAO, no ano de 2006 as
exportações de frutas de mesa brasileiras
representaram apenas 0,51% do total das
exportações do país.
No mesmo ano, do total das exportações
brasileiras de frutas, o Pólo
Petrolina/Juazeiro exportou 27,86%.
Do total das exportações gerais do estado da
Bahia e de Pernambuco (US$ 7,4 bilhões),
em cujos estados se insere o pólo em estudo,
as exportações de fruta representam 2,64%,
com relação às exportações do estado de
Pernambuco, onde se encontram os mais
importantes perímetros públicos irrigados,
essa participação é de 27,86%,
acompanhando exatamente a mesma
participação do pólo com relação ao Brasil,
nas exportações de frutas.
Em 2006, iniciou-se, com recursos do
BNDES, o processo de implantação de uma
fábrica de frutas desidratadas (liofilizadas),
para exportação, sendo este o primeiro
projeto de médio porte para processamento
de frutas para exportação.
Conforme dados da Tabela 8, do Capítulo 4,
em 2003 a Sexta Região exportou 28,4% de
toda a exportação de frutas frescas do país.
Comparando-se com outros produtos
exportados na região, como minério de cobre
e seus derivados, vinhos e carnes, a fruta
fresca representou 17,21% do total
exportado.
Existe uma indústria processadora de frutas
na região que produz sucos concentrados,
representando 2,28% das exportações da
região, em 2005, conforme dados do
ProChile (2006).
De acordo com a mesma fonte, oito dos vinte
produtos de exportação regional mais
importantes correspondem à fruta fresca
(40%).
A produção de uvas para a vinicultura não
está contemplada nesta análise, uma vez que
a produção de vinho no Chile requer um
estudo separado.
2- Concentração de empresas em
torno de um setor ou produto
relevante
ANÁLISE
Na Sexta Região, o processo de
transnacionalização da produção de frutas
parece consolidado. No Pólo
Petrolina/Juazeiro, entende-se que o modelo
de coordenação conduzido pelas redes de
supermercados constitui ameaça à forma de
governança de caráter local, uma vez que as
mesmas utilizam dispositivos regulatórios
globais que se traduzem em conseqüências
drásticas para os agentes sociais locais. Este
processo acontece na Sexta Região,
também, principalmente na área trabalhista.
Nos dois sistemas produtivos existe uma alta
concentração de empresas associadas de
frutas frescas, no entanto, o número de
produtores e exportadores industriais ainda é
bastante limitado. Em Petrolina/Juazeiro é
quase inexistente o processamento de frutas
para exportação. No entanto, no sentido de
atingir especificamente o mercado nacional,
encontram-se instaladas cinco pequenas
empresas de processamento de polpa (goiaba
e manga) e quatro de doces de banana,
manga e goiaba, sendo sete no município de
Petrolina (PE) e duas em Juazeiro (BA).
Ainda assim, segundo informações de
técnico da Valexport, o processamento
agroindustrial é pouco significativo, que não
chega atingir 2% da produção de uva do vale.
No Pólo Petrolina/Juazeiro a exportação de
frutas é reduzida a poucas instituições. Papel
principal caba às cooperativas como a CAJ
Cooperativa Agrícola de Juazeiro, que adota
marca própria “Copacabana Gold” tendo
uma importante inserção no mercado
nacional e internacional e a sua vinculação
com a Valexport a credencia.
tendência de entrada de empresas
transnacionais no pólo, no entanto, é
marcante a presença de grandes empresas do
varejo das redes de supermercados
internacionais, investindo na produção e na
montagem da estrutura de comercialização de
frutas, como o Carrefour (Fazenda
Labrunier) e a rede Bompreço, adquirida pelo
grupo holandês Royal Ahold (o Wall Mart
tem parte nesta sociedade
)
, objetivando o
abastecimentos das suas lojas nacionais e
internacionais.
Assim, verifica-se um movimento
diferenciado entre a Sexta Região e
Petrolina/Juazeiro, visto que a
transnacionalização exerce o controle
naquela região. Aqui, a coordenação é
exercida por grandes redes de
supermercados.
São poucas as indústrias de processamento
de frutas no pólo e menos ainda aquelas que
exportam.
De acordo com dados do ProChile (2006), 21
empresas exportaram frutas na região. Tais
empresas, na maioria multinacionais, se
apropriam de toda a produção da localidade.
São grandes empresas que exportaram em
2005 entre US$ 10,6 milhões e US$ 285,0
milhões.
Segundo dados da ODEPA (Cadastro
Frutícola,2003), naquele ano existiam 3.218
produtores de frutas na região.
Assim, existem diferentes modalidades de
empresas : aquelas que geram o produto para
exportação; exportadoras que se
encarregam da comercialização e distribuição
no exterior; e aquelas que ambas as etapas.
Com relação aos sucos concentrados, em
2006 seis empresas exportaram o produto.
Quanto aos produto desidratados, apenas
quatro empresas efetuaram exportações em
pequenos volumes.
3 Relação de competitividade e
cooperação entre as empresas
ANÁLISE
Nas duas localidades existe a preocupação de
produtores, empresas e profissionais
entrevistados para o caráter mais
representativo do que estratégico ou
operativo de algumas associações
constituídas nos sistemas produtivos em
análise.
De forma geral, existe uma forma de gestão
No pólo, a Valexport exerce papel principal
na representação dos interesses dos
produtores da região e nos mecanismos de
governança para o enfrentamento frente aos
maiores agentes internacionais que regulam a
cadeia de frutas.
Não uma competitividade acirrada no
pólo, uma vez que o sistema produtivo é
padronizado, tendo em vista serem poucas
empresas que exportam. O produtor que não
atingir padrão de qualidade condizente com
as exigências dos consumidores
As empresas que se relacionam com a
exportação de frutas frescas apresentam uma
forte competitividade entre elas, dado o
grande número de produtores e exportadores
na região e no país, necessitando assim de
permanentes melhorias em seus produtos e
sua relação qualidade-preço. Por outro lado,
estão surgindo outros produtores a nível
mundial que aproveitam a situação de
contra-estação, como a África do Sul, Nova
Zelândia.
No caso da indústria de processamento da
267
individualizada nas áreas estudadas. As
empresas de médio e grande tamanho
sustentam-se por si só, contratando
profissionais qualificados. Quanto aos
pequenos, por não terem a capacidade de se
associarem, ficam à mercê das anteriores.
Assim, tais fragilidades na incapacidade de
cooperação constituem elementos a ter em
conta, dado o efeito negativo que podem
gerar para o desenvolvimento de uma
atividade que quer ser denominada cluster
.
internacionais, não vende sua produção para
as grandes exportadoras/distribuidoras. Dessa
forma, são estas últimas que ditam tal padrão.
Com o processo de solução de continuidade
da Cooperativa Agrícola de Cotia, em 1994,
seus cooperados sentiram-se decepcionados
com o sistema cooperativista, instituindo-se
assim uma crise no que diz respeito à
legitimidade.
Foi dessa forma, com alguns associados
remanescentes da Cotia, que foi criada a
Cooperativa Agrícola de Juazeiro, que hoje
atua como uma trade, comprando a produção
dos pequenos e médios produtores.
fruta, a competitividade regional é menor,
tendo em vista o número reduzido de
empresas existentes no local .
Em termos de cooperação entre empresas
relacionadas com a exportação de fruta e
produtos processados, fazemos referência às
associações de produtores e exportadores
como: a Federação de Produtores de frutas da
Sexta Região e a Associação gremial de
produtores e exportadores da Região de
O’Higgins (ASPROEX). Nesta ultima tem se
construído um espaço de cooperação que une
médio e grandes empresários, com o objetivo
de desenvolver diversas ações de pesquisa,
difusão e capacitação dos seus associados.
4 Geração de economia de escala
ANÁLISE
Em que pese o Pólo Petrolina/Juazeiro
alcançar até duas safras por ano em
determinados produtos, principalmente a uva,
a escassa geração de economias de escala nos
dois sistemas produtivos tem relação com o
perfil individualista dos empresários.
É importante destacar que existem algumas
iniciativas que poderão, de médio para longo
prazo, reverter tal situação nas duas
localidades. Citamos o Programa de
Desenvolvimento de Provedores da
Corporación de Fomento de la Producción da
(CORFO), cujo financiamento tem o objetivo
de aumentar a competitividade das cadeias
produtivas e fortalecer as relações entre a
grande empresa e seus provedores menores.
Neste caso, as grandes empresas são as
demandantes dos financiamentos e repassam
às pequenas empresas. Atualmente, as
empresas demandantes comprovam vendas
ao exterior superiores US$ 4,3 milhões e
deverão estar relacionadas com, no mínimo,
20 provedores que, juntos, as vendas não
ultrapassem a US$ 4,3 milhões
100
.
No Pólo Petrolina/Juazeiro, o BNB e o
Banco do Brasil articulam ação conjunta,
similar à da CORFO, no sentido de revigorar
o ACC Rural Indireto, que são linhas de
crédito de custo reduzido, especialmente
direcionada para fornecedores de grandes
empresas exportadoras, as quais se tornam
avalistas dos pequenos produtores,
oferecendo como garantia o valor que irá
exportar.
o Banco do Brasil também disponibiliza a
linha de crédito BB CONVIR (Convênios de
Integração Rural), com vistas a fechar o ciclo
da cadeia produtiva, incluindo o
aperfeiçoamento tecnológico e
profissionalização de produtores rurais.
Este tópico relaciona-se com o anterior, uma
vez que, para o melhor dinamismo do setor,
existe a necessidade de repasse de
informações entre as empresas produtoras,
uma vez que gestão futura dependerá de uma
forte demanda tecnológica, não para gerar
produtos de melhor qualidade-preço, mas
também para a produção de novas variedades
e espécies, que lhes permitam a manutenção
e inserção em outros mercados.
Na Sexta Região a situação é similar à do
Pólo Petrolina/Juazeiro. No entanto, este
último apresenta uma ligeira vantagem, no
que diz respeito às inovações relacionadas ao
sistema de irrigação.
5 Bens, produtos, serviços e
insumos que se inserem na
cadeia de valor
ANÁLISE
A fruta de mesa é uma cadeia de valor
limitada, tendo em vista tratar-se de produto
Em Petrolina/Juazeiro, tendo em vista a
pequena variedade de frutas exportadas
(manga e uva), os vínculos externos são
pouco expressivos. Os insumos estão
relacionados com materiais para irrigação,
embalagem e defensivos agrícolas. Com
frutas destinadas ao mercado nacional
Na Sexta Região a configuração da cadeia de
valor é diferente, uma vez que a localidade
exporta em torno de 20 variedades diferente e
o seu principal consumidor é o mercado
internacional que é sobremaneira exigente.
Isto obriga o sistema produtivo buscar
qualidade em todos os elos da cadeia,
100
De acordo com informações do especialista da CORFO, em jan./2007 havia apenas duas grandes empresas que optaram pelo Programa.
Geralmente, as grandes empresas exportadoras, com recursos próprios, realizam este tipo de assistência para os seus provedores. No
entanto, conforme havíamos informado no Capítulo III, o contrato estabelecido entre as parte tem uma conotação de subserviência dos
pequenos produtores. Este Programa da CORFO recebeu severas críticas, uma vez que os analistas e os próprios produtores/provedores
alegavam que a relação contratual continuaria a mesma, sendo que desta vez as grandes empresas utilizariam recursos públicos para exercer a
superioridade.
268
primário, que tem pouco espaço para a
agregação de valor e de interação com outras
empresas. A cadeia de valor principal inclui,
como principais atores, produtores e
exportadores. A maior parte dos provedores
de insumos e serviços, como empresas de
apoio ou suporte, encontra-se na mesma
região. Analogamente à produção de vinho
na Sexta Região, a produção de sucos e
polpas para exportação em Petrolina/Juazeiro
poderia proporcionar maior integração da
cadeia, assim como a produção de vinho.
(goiaba, coco, manga, uva, acerola, melão,
melancia) pela pouca exigência do
consumidor brasileiro, onde é comum
encontrar produtos podres nas gôndolas dos
supermercados, não preocupação em
agregar valor aos produtos em busca de uma
melhor qualidade, diminuindo ainda mais os
elos com a cadeia de valor.
principalmente no que diz respeito às
embalagens, visto que cada fruta requer um
sistema de acondicionamento diferente.
Afora as observações acima, a produção de
frutas de mesa na região tem pouco valor
agregado.
Alguns entrevistados da Sexta Região
ressaltaram que o dinamismo do mercado de
vinho chileno produz um efeito positivo na
comercialização da fruta, uma vez que
muitos produtores de uvas de mesa são
também produtores para a vinicultura, cuja
cadeia requer a superação de diversas etapas
do processo produtivo, desde o
estabelecimento das vinhas para a produção
de vinho até a implementação de sistemas
pós-venda para o produto no exterior,
ensejando a sua inserção em um sistema de
agregação de valor permanente, que permite
a integração com diversos tipos de empresas
nas perspectivas horizontal e vertical.
6 Relações púbico-privadas
ANÁLISE
Verifica-se uma atuação mais efetiva na
relação público-privada na Sexta Região, por
meio do ProChile. Existe uma política
específica para a fruticultura no país,
diferentemente do Brasil, cujas ações são de
caráter localizado. No Pólo
Petrolina/Juazeiro, esta função é exercida
pela Valexport, cuja instituição é responsável
pela representação dos interesses dos
empresários, exercendo um importante papel
na coordenação da cadeia de valor de frutas
no sistema produtivo, principalmente aquelas
destinadas ao mercado externo. Dessa forma,
a Valexport desempenha uma função pública,
delegada pelo estado.
No Pólo Petrolina, desde o começo da
implantação dos perímetros irrigados, os
esforços para tornar a região produtiva foram
integralmente públicos. Os lotes foram
distribuídos para pequena agricultura e para
empresas, as quais foram contempladas
gratuitamente com lotes que variavam de 50
a 100ha, recebendo subsídios via BNB
(Banco do Nordeste) para se estabelecer. Os
principais agentes públicos do pólo são a
Codevesf e a Embrapa, com intervenções da
Emater. O Banco do Nordeste (BNB) é
principal agente financeiro, seguido pelo
Banco do Brasil.
A principal intervenção privada começou
com a criação da Valexport em 1988, por um
reduzido número de empresários locais, que
tinha o objetivo de solucionar os entraves que
prejudicavam as exportações de melão,
manga e uva das grandes empresas a partir de
1996. Destaca-se que a Codevasf teve papel
decisivo na criação da Valexport,
principalmente disponibilizando recursos
financeiros nos primeiros anos da sua
existência.
Na Sexta Região, verifica-se a existência de
algumas instâncias de trabalho público-
privado voltadas para a promoção dos
produtos e do setor, no sentido de estreitar as
relações entre empresários e as instituições
públicas de apoio, tais como a CORFO,
ProChile, Ministério da Agricultura (INDAP,
INIA, SAG) e as Subsecretarias Regionais
dos Ministérios (SEREMIS), cujos
subsecretários representam os ministros nas
respectivas regiões.
Principal destaque deve ser dado para o
ProChile, instituição criada pelo Ministério
das Relações Exteriores, que realiza
diferentes ações, com a participação dos
empresários, como por exemplo nas missões
comerciais internacionais.
7 Existência de produto
diferenciado
ANÁLISE
Tanto na Sexta Região, como em
Petrolina/Juazeiro, é imprescindível o
desenvolvimento de ações que busquem a
diferenciação dos produtos locais de acordo
com as necessidades específicas dos
consumidores, incorporando novas
tecnologias para a busca de novos produtos,
espécies e variedades.
Não um produto claramente diferenciado
e com potencial de vinculação com o local (e
que potencializa, portanto, sua imagem). A
fruta fresca, geralmente, não se associa a uma
localidade determinada, que a faça
representar com características particulares a
partir de condições naturais exclusivas. A
uva, por exemplo, pode ser produzida em
diversos países, com as mesmas
características. A manga, poderíamos
considerá-la um caso a parte, que se
classifica na categoria de produtos exóticos.
No entanto, outros países também
produzem e exportam em grande quantidade,
como a Índia e o México, por exemplo.
Na Sexta Região, ainda que se exporte uma
variedade de frutas bem superior à de
Petrolina/Juazeiro, ditas frutas são também
produzidas em outros países, principalmente
na Califórnia (EUA). Por outro lado, as frutas
chilenas, geralmente, são identificadas pelas
marcas da empresas transnacionais que
controlam a cadeia de distribuição e
comercialização.
Fonte: Elaboração própria
De acordo com o Quadro 12, verifica-se que o setor frutícola, nos dois sistemas
produtivos, poderiam apresentar características de um cluster, na medida em que se
verificassem várias cadeias produtivas integradas, como as de fruta fresca, sucos
concentrados, polpas e frutas desidratadas, com potencialidade de gerar uma rede de empresas
da cadeia e entre estas e as empresas de suporte e instituições de apoio. Embora as duas
269
localidades em análise não apresentem de forma plena tais condições, a Sexta Região
apresenta melhor desempenho em relação ao Pólo Petrolina/Juazeiro, que, sob o ponto de
vista da competitividade em Porter, configura-se como um agrupamento de empresas
incipiente, até mesmo pelas variedades de frutas exportadas (manga e uva). Dessa forma, à luz
da teoria de Porter, os dois sistemas produtivos em análise não são clusters.
O limitado mero de empresas de processamento de frutas na Sexta Região não
permite desenvolver uma concentração territorial significativa, mesmo sendo a localidade a
principal produtora e exportadora de frutas frescas do país. No entanto, a variedade de frutas
que produz torna-se uma oportunidade a mais, uma vez que se verifica uma demanda
internacional crescente para produtos diversificados. Aliado a isto, os principais mercados de
destino das exportações da região são os mais promissores em termos de demanda atual, como
União Européia e EUA, facilitando dessa forma a sua expansão.
Quanto a Petrolina/Juazeiro, a competitividade em termos de “agrupamentos de
empresas” poderia se consolidar a partir da identificação de mecanismos de integração entre
indústria de processamento e produtores rurais, ou seja, indústria/agricultura, de forma que os
pequenos produtores rurais tivessem acesso aos programas de financiamento, com garantias e
avais lastreados nas grandes indústrias processadoras dessa produção. Tal indústria faria o
papel de empresa âncora, estabelecendo vínculos financeiros, comerciais e técnicos com os
fornecedores.
Os problemas de competitividade verificados no Pólo Petrolina/Juazeiro têm fortes
relações com as dificuldades que o pequeno produtor rural tem de acesso ao crédito e às novas
tecnologias de produção. Dessa forma, conforme indicado no Quadro 1, o fortalecimento do
sistema produtivo depende da qualidade das relações entre produtores rurais e a agroindústria,
de forma a garantir a geração de economia de escala, proporcionada pela integração, mais
uma opção de mercado (produtos processados). Atualmente, a principal atividade do pólo é a
comercialização de frutas in natura, tanto para o mercado externo como para o interno,
inexistindo, praticamente, indústrias de processamento na região do tipo fabricantes de
polpas, doces cristalizados, sucos, compotas etc, de forma a agregar maior valor à produção.
O principal argumento para o estabelecimento da relação entre as empresas de
beneficiamento e processamento de frutas seria a eliminação ou redução de custos relativos ao
plantio próprio, uma vez que a empresa deixaria de imobilizar capitais em equipamentos e
máquinas, transferindo o risco da produção agrícola para terceiros. Para os médios e pequenos
270
produtores, o benefício seria a expansão dos negócios para um mercado externo e estável com
geração de emprego e renda.
Tal configuração poderia corrigir uma distorção verificada na fruticultura em
Petrolina/Juazeiro (na Sexta Região, em menor escala), uma vez que os pequenos produtores
atualmente vendem parte da sua produção antecipadamente para os proprietários de packing
houses, com a finalidade de financiar as despesas de custeio, fechando, na maioria das vezes,
operações comerciais ou sob consignação, cujos encargos são sobremaneira elevados.
Conforme indicamos no Quadro 1, uma das possibilidades financeiras de suprimento
dessas necessidades, seria a ampliação na utilização do BB Convir Convênio de Integração
Rural do Banco do Brasil que opera com linhas de crédito rural, de forma a estimular a
realização de convênios entre pequenos produtores e empresas processadoras de forma
integrada, as quais oferecem garantias que dão cobertura a toda a cadeia de produção. Além
disso, pelo programa, o produtor recebe, gratuitamente, assistência técnica e tem garantia de
comercialização de toda a produção comprometida no convênio.
Outra possibilidade, que foi objeto de estudo que realizamos (COELHO, 2003),
voltada especificamente para o mercado internacional, é a instituição efetiva dos
Adiantamentos sobre Contratos de Câmbio Indiretos (ACC Indireto), que são financiamentos
aos fornecedores nacionais de insumos utilizados na produção exportada. Neste caso, o
exportador (empresa âncora) seria o avalista dos créditos concedidos aos pequenos
produtores/fornecedores, com base nas exportações programadas. Vale ressaltar que essas
linhas de crédito são muito pouco utilizadas por empresas de pequeno porte, quer pelo
desconhecimento quer pela dificuldade em razão das exigências de garantias reais e de
reciprocidades feitas pelos agentes financeiros. No entanto, são recursos captados pelos
bancos no exterior, cujos custos para as instituições são considerados baixos (Libor “seca”,
que em maio/2008 representava uma taxa de 2,73% a.a.).
Por fim, a matriz proposta pela teoria de Porter para a identificação de agrupamentos
produtivos (clusters), é eminentemente econômico-produtiva, com foco na competitividade,
referindo-se, principalmente, às formas de aproveitamento do potencial produtivo e se as
vantagens competitivas vêm gerando resultados econômicos. Os transbordamentos que daí
possam ser gerados e distribuídos, para as pessoas que vivem nas localidades, têm caráter
puramente utilitário. Daí, a necessidade de se expandir esta conclusão com outro enfoque que
não estava previsto nas formulações de Porter, que diz respeito ao bem-estar da população que
vive nos ditos clusters.
271
O estudo permitiu verificar que a concentração de grandes empresas ou grupos
empresariais, nacionais ou estrangeiros, está orientada essencialmente para os mercados
globais, não assumindo com isso os compromissos de regulação políticos e sociais que o local
requer. Dessa forma, ainda que a busca de investimentos estrangeiros ou a confiança em um
mercado externo favorável para a inserção dos produtos sejam decisivos para a
competitividade, não constituem aspectos de base sólida como estratégia de desenvolvimento
e muito menos como fator de superação de pobreza nas localidades que, como no Pólo
Petrolina/Juazeiro e na Sexta Região, produzem frutas de alto valor e com total garantia de
venda para o mercado internacional.
Dessa forma, o estudo permitiu concluir que o declínio da desigualdade entre as
pessoas não se produz automaticamente à medida que o PIB ou a renda aumenta, sendo
necessária a adoção de políticas distributivas adequadas. A aproximação com a metodologia
de cálculo do IDH permitiu verificar, nos diversos relatórios, que os países que se dedicaram a
investir nos setores sociais, como educação e saúde, por exemplo, têm sido capazes de
combinar o crescimento econômico com o desenvolvimento social e este, por conseguinte,
não ocorre sem a presença de uma participação estatal direta. Além disso, as políticas
orientadas para os objetivos sociais podem contribuir diretamente para o crescimento
econômico.
A análise do desenvolvimento sob o enfoque da metodologia do IDH, representada
no Capítulo V, permitiu comprovar a desigualdade de renda existente nos dois sistemas
produtivos pesquisados, com mais rigidez no Pólo Petrolina/Juazeiro, uma vez que as
políticas sociais ali implementadas tem um caráter meramente moderador, exigindo, com isso,
contínuos e grandes desafios que deverão ser enfrentados pelas políticas públicas locais,
emanadas dos municípios envolvidos.
No que diz respeito à renda, os postos de trabalho, com remuneração digna, devem
ser ampliados, implementando-se regimes tributários distributivos e mais justos, uma vez que,
no caso específico de Petrolina/Juazeiro, as grandes empresas instalaram-se nos municípios
do pólo sob condições vantajosas de incentivos fiscais. Tal configuração inibe as
responsabilidades municipais na melhoria das condições de educação, habitação e saúde,
ampliando a desigualdade de escolhas e oportunidades que afeta sobremaneira o
desenvolvimento das localidades em estudo.
Por outro lado, a produção de frutas requer terras aptas para o cultivo, de uso
tecnológico intensivo, consideráveis investimentos de capital, de mão-de-obra qualificada ou
com experiência, exigindo dos produtores disponibilidade de capital de trabalho. Pela
272
experiência adquirida em campo, quando se trata de grande produtor, este tem possibilidades
de manejar-se com autosuficiência e estabelecer relações horizontais com as grandes
exportadoras, para negociar preços e condições de vendas dos produtos; o ocorre da mesma
forma com os produtores menores, os quais, dados seus recursos econômicos limitados,
devem aceitar condições menos favoráveis que se traduzem em endividamento. A exemplo de
algumas iniciativas bem sucedidas, verificadas no Brasil e no Chile, a saída para a
comercialização seria o estabelecimento de associações de pequenos produtores com a
contratação de profissionais especializados.
Outro problema crucial diz respeito às relações com o mercado de trabalho que,
segundo Cavalcanti (1997), começou a ocorrer a partir dos anos 1990 com uma intensa
modernização da agricultura e nova configuração técnico-produtiva fortemente ligada a
reestruturação do sistema agroalimentar no mundo e que está sendo protagonizada por
empresas transnacionais vinculadas às empresas locais. Tais aspectos promovem
significativas mudanças nas sociedades locais, implicando na desestruturação na forma
tradicional de produção, bem como em nova configuração do mercado de trabalho.
Verificamos nos dois sistemas produtivos uma necessidade de mão-de-obra com grau de
qualificação diferenciado e aumento de trabalhadores assalariados (temporários e
permanentes), concomitante à redução da mão-de-obra familiar, até então de primordial
importância na atividade agrícola, vinculada à produção tradicional, no caso de
Petrolina/Juazeiro, de tomate, cebola, coco, melancia etc.
Por outro lado, de forma a reduzir o custo de produção, o peso da mão-de-obra
temporária aumenta de importância em relação aos trabalhadores permanentes, uma vez que,
na visão empresarial, há subutilização do trabalho no decorrer do ciclo de produção no
campo, tornando necessário o ajuste na demanda de o-de-obra por conta da flutuação das
atividades agrícolas, introduzindo-se, assim, maior flexibilização (capacidade de despedir e
contratar trabalhadores) nos processos de trabalho. Verificamos na Sexta Região que nos
picos das colheitas as grandes empresas contratam serviços das cooperativas de trabalho que
operam sem qualquer observância das leis trabalhistas. Tais organizações são vistas como
pseudo cooperativas, uma vez que representam um dos aspectos mais extremos da
flexibilização, a absoluta precarização da relação contratual, visto que transforma o
trabalhador em autônomo pagando-lhe baixo salário, sem qualquer estabilidade ou benefícios
assistenciais que a legislação trabalhista lhe garante. Ressalte-se que esta modalidade de
contratação de mão-de-obra, por cooperativas de trabalho, ainda não ocorre no Pólo
273
Petrolina/Juazeiro, visto que existe a instituição dos vínculos de amizade e familiar, que
indicam parentes ou conhecidos para ocupar os postos de trabalho.
Como questões centrais do estudo, ainda que em lugares distantes, podemos dizer
que similaridades nos processos produtivos dos dois sistemas, principalmente, no que se
refere à disponibilidade de recursos e ao papel do Estado, privilegiando alguns segmentos
sociais em detrimento de outros. Quanto à inserção nos mercados nacionais e globais de frutas
frescas, as duas localidades se inserem de forma diferenciada conforme as características
institucionais, sociais e históricas de cada região. Os espaços rurais são (re)configurados e
valorizados com orientação para a fruticultura, a partir de grande aporte de capital nacional e
transnacional, mesclado com o papel facilitador do Estado, como é o caso de
Petrolina/Juazeiro, por meio de financiamento da infra-estrutura de irrigação.
Nos dois sistemas produtivos estudados, verifica-se que a expansão da produção de
frutas para exportação segue uma lógica empresarial voltada para a deterioração das
dimensões sociais do trabalho, o que aumenta a precarização, a vulnerabilidade e o risco
ocupacional dos trabalhadores. O lema é que o custo com mão-de-obra deve ser o mais barato
e o mais produtivo possível, sem importar as condições de quem trabalha.
O parágrafo anterior confirma que é impossível verificar efeito transbordamento
com o procedimento empresarial vigente nos sistemas produtivos estudados. Tendo em vista a
atuação marcante de grandes empresas nacionais e estrangeiras, voltadas para o suprimento da
cadeia global de frutas, se não houver a intervenção direta do Estado como o principal indutor
do desenvolvimento, por meio de políticas públicas eficazes, a discussão sobre agrupamentos
de empresas e desenvolvimento das pessoas será vazia, visto que, comprovadamente, o
mercado não é suficiente para promover o desenvolvimento humano.
Esclarecemos que as fragilidades acima apontadas, não invalidam a nossa afirmação
do Capítulo I, quando dizíamos que o verdadeiro atrativo dessa alternativa de
desenvolvimento (sistemas produtivos locais) reside na evidência empírica fornecida por um
grupo de regiões/locais que, por conta da utilização do seu potencial, tem permitido enfrentar
as conseqüências da crise econômica e ocupar um lugar, possibilitando a melhoria no nível de
vida de suas respectivas populações e despertando a esperança de outras áreas,
principalmente, rurais e periféricas. No entanto, todos os casos exitosos, que culminaram com
o fortalecimento das relações sociais, foram acompanhados de eficientes e eficazes políticas
públicas.
Quanto ao Pólo Peterolina/Juazeiro, especificamente, sugerimos algumas ações que
poderiam contribuir para a consolidação do pólo como vetor para o seu desenvolvimento: i)
274
intensificar a participação dos pequenos produtores no processo de difusão e absorção de
novas tecnologias; ii) analisar a possibilidade de disseminar a experiência do pólo
Petrolina/Juazeiro para outras regiões do semi-árido; iii) garantir o fortalecimento e
sustentabilidade do sistema produtivo atual para competir com o mercado global; e iv)
consolidar o modelo atual visando a garantia do padrão de vida da sua população, num
cenário de crescente integração de economias locais e globais.
Por fim, o estágio conquistado pela produção de fruta no Pólo Petrolina/Juazeiro,
sem dúvida, coloca-o na posição de um sistema produtivo dinâmico da economia da Região
Nordeste, em geral, e dos estados da Bahia e Pernambuco, em particular. Esta posição pode
ser sintetizada pela destacada condição nacional de produtor de manga e uva, sendo o pólo
responsável por mais de 92% da produção nacional das referidas frutas para exportação.
No entanto, como recomendação de políticas para o sistema produtivo e também
como questões de pesquisa futuras, alguns pontos dessa realidade precisam ser avaliados,
como: por que, à revelia de tanto e tão moderno crescimento econômico, as populações dos
municípios, principalmente rurais, amargam tão elevados índices de pobreza? Que
transformações poderiam ser observadas pelos tipos de ocupações urbanas/rurais? Qual seria
o volume de impostos não recolhidos aos cofres públicos pelas empresas do sistema produtivo
desde a sua isenção? Quais, efetivamente, foram os benefícios sociais da isenção, visto que o
seu alcance seria a justificativa para tal concessão fiscal?
Por meio de tais questionamentos, abre-se grande possibilidade para um debate
ampliado que vai para além das questões puramente econômicas, uma vez que as opções de
desenvolvimento do pólo e da região devem ser revistas de forma a gerar emprego e renda,
reduzir a pobreza e melhorar as condições de vida da população, no atual contexto, quando a
necessidade assegurar as condições de sua competitividade nos mercados internacionais tende
a minimizá-los. São escolhas que cabem às organizações sociais, à sociedade e,
principalmente, ao Estado, de forma a garantir desenvolvimento com eqüidade.
275
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295
ANEXOS
296
ANEXO 1
ROTEIRO GERAL DE ENTREVISTA
OBJETIVO CENTRAL DA ENTREVISTA
Reunir elementos preliminares necessários para formar uma idéia geral das
potencialidades e obstáculos que cada localidade produtora de frutas (que comportam os
respectivos Sistemas Produtivos Locais SPL) apresenta para ativar um processo sustentável
de desenvolvimento econômico local. Assim, as perguntas devem ser direcionadas no sentido
de permitir conhecer a capacidade de desenvolvimento, as oportunidades, assim como os
recursos disponíveis para tanto.
297
ROTEIRO DE ENTREVISTA COM ATORES-CHAVE ENVOLVIDOS NO PROCESSO
PRODUTIVO DE FRUTAS
Áreas temáticas/Ênfase Perguntas que identificam as potencialidades,
limitações e problemas dos agrupamentos frutícolas
Instituição:CODEVASF DISTRITO FEDERAL
Entrevistado:UBIRAJARA
Cargo/Função: PESQUISADOR
1 Recursos econômicos-produtivos*
Sistemas de produção e organização empresarial
Grau de organização produtiva
Existência de redes entre empresas
Associação de empresas
Cooperação entre empresas
Nível tecnológico das empresas
Acesso ás formas de financiamento
Recursos turísticos
Recursos tecnológicos
(*) Trata-se de explorar a estrutura econômica básica
da área analisada, sua situação de partida, sua resposta
à evolução econômica internacional, assim como os
fatores capazes de influenciar a sua vitalidade, tanto
de forma positiva como negativa.
Características dos sistemas produtivos
a) Em sua opinião, a fruticultura é um setor
competitivo e com futuro?
Sim, ainda continua sendo o principal setor. No entanto, o
panorama atual tem de ser reformulado.
b) Qual é a importância da atividade do setor no
conjunto da economia da região?
c) Em sua opinião, a fruticultura está criando ou
diminuindo postos de trabalho?
d) Existe um número suficiente de pequenos e
médios produtores frutas que permita um processo
de criação de riqueza e criação de emprego
sustentável?
e) O sistema produtivo local tem proporcionado a
criação de novas empresas provedoras de serviços
requeridos pelo mercado?
f) Qual é o grau de tecnologia na atividade
econômica?
g) Há uma infra-estrutura adequada para desenvolver
nova(s) atividade(s) diferente(s) da tradicional
como o turismo, por exemplo?
h) Existem iniciativas para impulsionar o acesso à
informação sobre linhas de crédito,
principalmente para os pequenos e médios
produtores?
2 Mercado de trabalho e dinâmica populacional*
Mercado de trabalho
Desemprego e subemprego
Disponibilidade de mão-de-obra
Perfis que caracterizam a mão-de-obra
Nível educacional e experiência da mão-de-obra
Demografia e dinâmica populacional
(*) Uma questão crucial para o desenvolvimento local é
conhecer a estrutura e evolução da população, o perfil do
mercado de trabalho, assim como os principais problemas
de emprego na localidade. Assim, é necessário efetuar uma
análise da população local, das tendências demográficas,
nível de emprego e desemprego, nível de renda, distribuição
geográfica da população, etc.
a) Quais são as principais tendências demográficas?
b) Quais o os fatores determinantes desta evolução
demográfica?
c) Que perfis caracterizam a oferta de trabalho?
d) A mão-de-obra disponível está de acordo com as
necessidades do sistema produtivo?
e) Seria necessário incentivar programas de
capacitação especial? Quais?
f) A população ativa encontra trabalho na
localidade, ou existem movimentos migratórios
relevantes?
g) Qual é a demanda de trabalho por gênero dentro
do sistema produtivo?
3 infra-estrutura econômica, social e serviços*
Transportes
Telecomunicações
Fontes e usos de energia
Abastecimento de água
Saneamento básico
Moradia
Informação sobre processos produtivos
Serviços especializados para empresas
a) Existe espaço suficiente para incrementar o
desenvolvimento através da produção de frutas,
principalmente aquelas que têm maior inserção
internacional, como a uva e a manga?
b) Existe um nível suficiente de infra-estruturas para
promover o desenvolvimento local?
c) Existem aspectos ambientais que inibem o
desenvolvimento?
d) Observa-se uma disposição por parte do setor
298
Informação tecnológica sobre produtos
Serviços de consultoria
(*) Estes aspectos permitem uma identificação das
vantagens e desvantagens locais a partir da
valorização da infra-estrutura disponível, da existência
de meios que facilitem acesso à tecnologia e dos
serviços que os atores econômicos precisam no
desempenho de suas atividades.
privado incrementar seus investimentos na
atividade?
e) Que fontes de recursos existem?
4 Capacidade de desenvolvimento e nível de
organização institucional
Funcionamento do governo municipal
O estado do planejamento local
Formas de organização comunitária
Instituições privadas
Universidades e instituições de educação superior
Instituições políticas, sindicatos e religiosas
a) No seu entendimento, a nível de políticas
públicas, existe plano de desenvolvimento para o
sistema produtivo?
b) Qual é o nível de poder ou de influência que a sua
instituição pode ter referente ao tipo de uso do
solo e utilização dos recursos hídricos?
c) As instituições de ensino superior assumem um
rol de identificação com o território e estão
capacitadas para realizar pesquisas tecnológicas
para potencializar os processos produtivos?
d) Existem instituições sólidas com base na
comunidade, como associações de voluntários,
organizações religiosas, etc.?
e) Como os representantes se colocam diante dos
conflitos de interesses dos grupos locais? E dos
grupos políticos? E das pressões das grandes
instituições?
299
ANEXO 2
ENTREVISTADOS DA PESQUISA
BRASIL
Empresa/Instituição Entrevistado/cargo Data
Assentamento Mansueto de Lavor Manoel Inácio – Presidente da associação de
produtores do assentamento
07/11/2006
Banco do Brasil – Ag. Petrolina Maria do Socorro Souza – Agrônoma – Analista
Técnica Rural
16/11/2006
Banco do Nordeste – Ag. Juazeiro Pedro da Rocha – Agrônomo – Especialista
Técnico
17/11/2006
CAJ – Cooperativa agrícola de
Juazeiro
Manoel Cintra - Diretor 25/11/2006
Codevasf – Petrolina (3ª SR) Luiz Manoel – Superintendente 16/11/2006
Codevasf – Juazeiro (6ª SR) Ana Angélica Almeida – Superintendente 05/12/2006
Distrito de Irrigação senador Nilo
Coelho
Noronha – Gerente do Distrito 13/12/2006
Embrapa semi-árido Elias Reis – Pesquisador (transferência de
tecnologia)
22/11/2006
Embrapa semi-árido Maria Auxiliadora – Pesquisadora (pós-
colheita)
22/11/2006
Embrapa semi-árido Pedro Gama da Sila – Chefe Geral 22/11/2006
Fazenda Marupiara Roberto - Proprietário
IRPAA José Moacir - Coordenador 12/12/2006
Plantec – Assistência técnica Isnar José/ Agrônomo Extensionista rural 20/12/2006
Plantec - Assintencia técnica José Francisco (Chicão) – Coordenador geral 20/12/2006
Secretaria de Desenvolvimento
Rural, Reforma Agrária e
Abastecimento de Petrolina
Érico Cavalcanti – Secretário 21/11/2006
Secretaria de Desenvolvimento
Rural de Juazeiro
Denes Medrado – Secretário 14/12/2006
Univasf Lúcia Marisy – Professora/Socióloga 09/12/2006
Uneb – Campus Juazeiro Manoel Abílio – Professor/ex Chefe da
Embrapa
09/12/2006
Valexport Alberto Sabino – Superintendente 24/10/2006
CHILE
Asoex - Associação de
Exportadores do Chile
Gustavo Yentzen – Diretor 05/02/2007
Associação das trabalhadoras
agrícolas do município de Machalí
Maria Ignez - Presidante 09/02/2007
Associação de produtores de frutas
de Graneros
Juan Gonzáles - Presidente 26/02/2007
Associação dos exportadores de
frutas do município de Rengo
Francisco Duboy - Presidente 09/01/2007
COOPEUMO _ Cooperativa
Campesina Intercomunal Peumo
LTDA
Hernan Jovalquinto – Diretor Comercial 17/01/2007
CORFO - Corporação de Fomento Cristián Palma – Diretor regional 26/02/2007
300
à Produção (Sexta Região)
David del Curto S.A. Edmundo Béjares – Gerente Comercial 28/02/2007
Del Monte S.A Ignacio Suazo - Diretor 28/02/2007
Fedefruta – Federação dos
produtores de frutas do Chile
Carlos Quezada – Diretor da Sexta Região 05/02/2007
Federação de agricultores da Sexta
Região
Cláudio Valverde 18/01/2007
INDAP - Instituto de Desarrollo
Agropecuario de Chile (Sexta
Região)
Sofia Martinez – Chefe de fomento 12/02/2007
INIA – Instituto de investigaciones
agropecuarias (Sexta Região)
Pamela Herrera – Agrônoma/ Chefe de estudos 01/02/2007
Ministério da Agricultura – Sexta
Região
Hector Cusman – Representante do Ministro 11/01/2007
Ministério da Agricultura – Sexta
Região
Lucia Piñon – Agrônoma - especialista 11/01/2007
ODEPA- Oficina de Estudios y
Politicas Agrarias
Lizete Escobar - Pesquisadora 23/02/2007
PROCHILE - Programa de
fomento a las exportaciones
chilenas (Sexta Região)
Sergio Castro – Chefe regional 06/02/2007
Sernam - Serviço Nacional da
Mulher (Sexta Região)
Aixa Cataldo - Diretora 06/02/2007
301
ANEXO 3
QUESTIONÁRIO SOBRE A COMPETITIVIDADE DA FRUTICULTURA DOS
SISTEMAS PRODUTIVOS DE PETROLINA/JUAZEIRO E DA SEXTA RECIÃO
I – Identificação e características gerais do Produtor/Empresa
1) Nome do Produtor/Empresa:_________________________________________
2) Município de Localização: __________________________________________
3) Ano de fundação: _____________
4) O faturamento médio anual é: ___________________
5) Quantos hectares tem a propriedade? ______________
6) A natureza da sua Propriedade/Empresa é:
Empresa individual 1. ( )
Empresa familiar 2. ( )
Sociedade anônima 3. ( )
Sociedade limitada 4. ( )
Filial de empresa nacional 5. ( )
Filial de empresa estrangeira 6. ( )
Outra. Citar 7. ( )
7) Estrutura do capital do Produtor/Empresa:
Estrutura do capital da empresa Participação (%) - 1º ano Participação (%) - 2006
Dos sócios
Empréstimos de parentes e amigos
Empréstimos de instituições financeiras
Instituições de apoio às MPME
Adiantamento de materiais por fornecedores
Adiantamento de recursos por clientes
Outras: citar
Total
8) Evolução do número de trabalhadores, inclusive familiares:
Período de tempo Número de trabalhadores
Familiares Fixos Terceirizados
Ao primeiro ano de atividade
Ao final do ano de 2005
9) De onde procede o pessoal assalariado da propriedade/empresa:
Procedência
Do próprio município da empresa/propriedade 1. ( )
De outros municípios do estado 2. ( )
De outros estados 3. ( )
10) De onde procede o proprietário ou sócios:
Procedência
302
Do próprio município da empresa/propriedade 1. ( )
De outros municípios do estado 2. ( )
De outros estados 3. ( )
Outros. Especificar. 4. ( )
11) Indique a média de idade predominante dos trabalhadores:
( ) Menos de 25 anos ( ) Entre 25 e 35 anos ( ) Entre 35 e 45 anos
( ) Entre 45 e 55 anos ( ) Mais de 55 anos.
12) Identifique as principais dificuldades na operação da empresa/propriedade. Indicar a
dificuldade utilizando a escala, onde (0) é nulo, (1) é baixa dificuldade, (2) é média
dificuldade e (3) alta dificuldade:
Principais dificuldades No primeiro ano de vida Em 2005
Contratar trabalhadores qualificados (0) (1) (2) (3) (0) (1) (2) (3)
Produzir com qualidade (0) (1) (2) (3) (0) (1) (2) (3)
Vender a produção (0) (1) (2) (3) (0) (1) (2) (3)
Custo ou falta de capital de giro (0) (1) (2) (3) (0) (1) (2) (3)
Custo ou falta de capital para aquisição de máquinas
e equipamentos
(0) (1) (2) (3) (0) (1) (2) (3)
Custo ou falta de capital para aquisição/alocação de
instalações
(0) (1) (2) (3) (0) (1) (2) (3)
Pagamento de juros de empréstimos (0) (1) (2) (3) (0) (1) (2) (3)
Outras. Especificar. (0) (1) (2) (3) (0) (1) (2) (3)
II – Formação do pessoal
13) O empresário/produtor ou os sócios atuais têm experiência anterior no mesmo ramo de
atividade?
( ) Sim ( ) Não
14) Escolaridade do proprietário e dos trabalhadores:
Titulação Sócio (marcar com “X”) Trabalhadores (Quantidade)
Analfabeto
Ensino fundamental incompleto
Ensino fundamental completo
Ensino médio incompleto
Ensino médio completo
Superior incompleto
Superior completo
Pós-graduação
Total
15) Assinale quais são os principais procedimentos utilizados para a aprendizagem e
treinamento dos trabalhadores (Assinalar no máximo dois procedimentos).
1. ( ) Treinamento mediante a experiência do trabalho diário;
2. ( ) Cursos de capacitação organizados fora da empresa;
3. ( ) Cursos de especialização organizados na própria empresa;
4. ( ) Cursos de capacitação organizados fora do SPL;
5. ( ) Participação em congressos;
6. ( ) Absorção de formandos dos cursos técnicos localizados no SPL;
7. ( ) Os trabalhadores não participaram de qualquer tipo de treinamento
303
16) Caso tenha havido cursos de capacitação, assinale quais são os temas principais
desenvolvidos em tais cursos:
1. ( ) Informática e gestão administrativa;
2. ( ) Acesso aos mercados;
3. ( ) Qualidade dos produtos;
4. ( ) Tecnologia de processo;
5. ( ) Inovação do produto;
6. Outros:_____________________
III – Produção, inovação tecnológica, cooperação e aprendizado
17) Assinalar como vem se comportando a demanda de seus produtos nos últimos anos:
1. ( ) Vem se mantendo mais ou menos constante
2. ( ) Com tendência a diminuir
3. ( ) Com tendência a aumentar
4. ( ) Sofre oscilações temporárias
5. ( ) Outros. Especificar:_____________
18) Indicar os fatores determinantes para manter a capacidade competitiva na principal
linha de produto. Gentileza de utilizar a seguinte escala: (1) é baixa importância; (2) é
média importância e (3) alta importância. Coloque (0) se não for relevante.
FATORES GRAU DE IMPORTÂNCIA ÍNDICE
Qualidade da matéria-prima e outros insumos (0) (1) (2) (3)
Qualidade da mão-de-obra (0) (1) (2) (3)
Nível tecnológico dos equipamentos (0) (1) (2) (3)
Capacidade de introdução de novos produtos/processos (0) (1) (2) (3)
Desenho e estilo nos produtos (0) (1) (2) (3)
Estratégias de comercialização (0) (1) (2) (3)
Qualidade do produto (0) (1) (2) (3)
Capacidade de atendimento (volume e prazo) (0) (1) (2) (3)
Outros. Especificar. (0) (1) (2) (3)
19) Indicar as principais vantagens de estar localizado(a) no agrupamento. Gentileza de
utilizar a seguinte escala: (1) é baixa importância; (2) é média importância e (3) alta
importância. Coloque (0) se não for relevante.
EXTERNALIDADES GRAU DE IMPORTÂNCIA
ÍNDICE
Disponibilidade de mão-de-obra (0) (1) (2) (3)
Baixo custo de mão-de-obra (0) (1) (2) (3)
Proximidade com fornecedores de insumos e matérias primas (0) (1) (2) (3)
Proximidade com os clientes/consumidores (0) (1) (2) (3)
Infra-estrutura física(energia, transporte, comunicações) (0) (1) (2) (3)
Proximidade com produtores de equipamentos (0) (1) (2) (3)
Disponibilidade de serviços técnicos especializados (0) (1) (2) (3)
Existência de programas de apoio e promoção (0) (1) (2) (3)
Proximidade com universidades e centros de pesquisa (0) (1) (2) (3)
Outras. Especificar: (0) (1) (2) (3)
20) Indicar a ação inovativa no período entre 2000 e 2005:
DESCRIÇÃO 1. SIM 2. NÃO
Inovações de produtos
Produto novo para a sua propriedade/empresa, mas já existente no mercado? (1) (2)
Produto novo para o mercado nacional? (1) (2)
Produto novo para o mercado internacional? (1) (2)
Inovações de processo
Processos tecnológicos novos para a sua propriedade/empresa, mas já existentes
no setor?
(1) (2)
Processos tecnológicos novos para o setor de atuação? (1) (2)
304
Outros tipos de inovação
Criação ou melhoria substancial, do ponto de vista tecnológico, do modo de
acondicionamento de produtos (embalagem)?
(1) (2)
Inovações no desenho de produtos? (1) (2)
Inovações no processo de irrigação? (1) (2)
Realização de mudanças organizacionais (inovações organizacionais)
Implementação de técnicas avançadas de gestão? (1) (2)
Implementação de significativas mudanças na estrutura organizacional? (1) (2)
Mudanças significativas nos conceitos e/ou práticas de marketing ? (1) (2)
Mudanças significativas nos conceitos e/ou práticas de comercialização ? (1) (2)
Implementação de novos métodos e gerenciamento, visando a atender normas
de certificação (ISO 9000, ISSO 14000, etc.)?
(1) (2)
Outras. Especificar. (1) (2)
21) Indique a importância do impacto resultante da introdução das inovações. Gentileza de
utilizar a seguinte escala: (1) é baixa importância; (2) é média importância e (3) alta
importância. Coloque (0) se não for relevante.
DESCRIÇÃO GRAU DE IMPORTÂNCIA
Aumento da produtividade da propriedade/empresa (0) (1) (2) (3) Índice
Ampliação da gama de produtos ofertados (0) (1) (2) (3)
Aumento da qualidade dos produtos (0) (1) (2) (3)
Permitiu que a empresa/produto mantivesse a sua participação nos
mercados de atuação
(0) (1) (2) (3)
Aumento da participação no mercado interno (0) (1) (2) (3)
Aumento da participação no mercado externo (0) (1) (2) (3)
Permitiu a abertura de novos mercados (0) (1) (2) (3)
Permitiu a redução de custos de insumos (0) (1) (2) (3)
Permitiu a redução do consumo de energia (0) (1) (2) (3)
Permitiu o enquadramento em regulações e normas padrão relativas
ao Mercado Interno
(0) (1) (2) (3)
. Permitiu o enquadramento em regulações e normas padrão
relativas ao Mercado Externo
(0) (1) (2) (3)
Permitiu reduzir o impacto sobre o meio ambiente (0) (1) (2) (3)
Outras. Especificar. (0) (1) (2) (3)
22) Indique quais dos itens desempenharam um papel relevante como fonte de informação
para o aprendizado. (1) é baixa importância; (2) é média importância e (3) alta
importância. Coloque (0) se não for relevante.
FONTES GRAU DE IMPORTÂNCIA
Fontes internas
Departamento de P & D (0) (1) (2) (3)
Área de produção (0) (1) (2) (3)
Áreas de vendas e marketing (0) (1) (2) (3)
Serviços de atendimento ao cliente (0) (1) (2) (3)
Outras (0) (1) (2) (3)
Fontes externas
Outras empresas dentro do grupo (0) (1) (2) (3)
Empresas associadas (joint venture) (0) (1) (2) (3)
Fornecedores de insumos (equipamentos,
materiais)
(0) (1) (2) (3)
Clientes (0) (1) (2) (3)
Concorrentes (0) (1) (2) (3)
Outras empresas do Setor (0) (1) (2) (3)
Empresas de consultoria (0) (1) (2) (3)
Universidades e outros institutos de pesquisa
Universidades (0) (1) (2) (3)
Institutos de pesquisa (0) (1) (2) (3)
Centros de capacitação profissional, de assistência
técnica e de manutenção
(0) (1) (2) (3)
Instituições de testes, ensaios e certificações (0) (1) (2) (3)
Outras fontes de informação
Licenças, patentes e “know-how” (0) (1) (2) (3)
Conferências, Seminários, Cursos e Publicações
Especializadas
(0) (1) (2) (3)
Feiras, Exibições e Lojas (0) (1) (2) (3)
Encontros de Lazer (Clubes, Restaurantes, etc.) (0) (1) (2) (3)
305
Associações empresariais locais (inclusive
consórcios de exportações)
(0) (1) (2) (3)
Informações de rede baseadas na internet ou
computador
(0) (1) (2) (3)
Outras. Especificar. (0) (1) (2) (3)
23) Indicar as formas de cooperação realizadas nos últimos anos. (1) é baixa importância;
(2) é média importância e (3) alta importância. Coloque (0) se não for relevante.
DESCRIÇÃO GRAU DE IMPORTÂNCIA
Compra de insumos e equipamentos (0) (1) (2) (3)
Venda conjunta de produtos (0) (1) (2) (3)
Desenvolvimento de Produtos e processos (0) (1) (2) (3)
Design e estilo de Produtos (0) (1) (2) (3)
Capacitação dos trabalhadores (0) (1) (2) (3)
Obtenção de financiamento (0) (1) (2) (3)
Reivindicações (0) (1) (2) (3)
Participação conjunta em feiras, etc. (0) (1) (2) (3)
Outras. Especificar (0) (1) (2) (3)
24) Como é avaliada a contribuição de sindicatos, associações, cooperativas locais no
tocante às atividades abaixo: ((1) é baixa importância; (2) é média importância e (3)
alta importância. Coloque (0) se não for relevante).
TIPO DE CONTRIBUIÇÃO GRAU DE IMPORTÂNCIA
Auxílio na definição de objetivos comuns para o arranjo produtivo (0) (1) (2) (3)
Estímulo na percepção de visões de futuro para ação estratégica (0) (1) (2) (3)
Disponibilização de informações sobre matérias-primas,
equipamento, assistência técnica, consultoria, etc
(0) (1) (2) (3)
Identificação de fontes e formas de financiamento (0) (1) (2) (3)
Promoção de ações cooperativas (0) (1) (2) (3)
Apresentação de reivindicações comuns (0) (1) (2) (3)
Criação de fóruns e ambientes para discussão (0) (1) (2) (3)
Promoção de ações dirigidas a capacitação tecnológica dos
produtores
(0) (1) (2) (3)
Estímulo ao desenvolvimento do sistema de ensino e pesquisa local (0) (1) (2) (3)
Organização de eventos técnicos e comerciais (0) (1) (2) (3)
Outras. Especificar. (0) (1) (2) (3)
IV – Comercialização e competitividade
25) Onde estão localizados os principais clientes dos seus produtos. Indicar o percentual,
de acordo com o faturamento atual.
Percentual
1. No próprio município _________
2. Na própria região _________
3. Em outros estados do Brasil _________
4. No exterior _________
26) Sua empresa exporta?
( )Sim => Qual o percentual de exportação com relação à produção total? ____%.
( ) Não. Por que não exporta? _______________________________________
306
27) Dos problemas abaixo, quais os mais prejudiciais para aumentar a competitividade nos
mercados. Gentileza de indicar o grau de importância utilizando a seguinte escala: (1)
é baixa importância; (2) é média importância e (3) alta importância. Coloque (0) se
não for relevante.
DESCRIÇÃO DOS PROBLEMAS
GRAU DE IMPORTÂNCIA
Problemas com fornecedores: custo de matérias primas, atraso nas entregas etc. (0) (1) (2) (3)
Problemas internos da empresa: defasagem tecnológica, organização etc. (0) (1) (2) (3)
Problemas com os clientes: atraso nos pagamentos etc. (0) (1) (2) (3)
Problemas comerciais: desconhecimento dos mercados, carência de rede própria de
vendas etc.
(0) (1) (2) (3)
Custos elevados de energia e transporte (0) (1) (2) (3)
Custos elevados de encargos financeiros (0) (1) (2) (3)
Falta de apoio financeiro por parte das administrações publicas (0) (1) (2) (3)
Outros. Especificar. (0) (1) (2) (3)
28) Tendo em conta a realidade do município, indicar os aspectos que mais influenciam na
comercialização dos seus produtos. Gentileza de indicar o grau de importância
utilizando a seguinte escala: (1) é baixa importância; (2) é média importância e (3) alta
importância. Coloque (0) se não for relevante.
DESCRIÇÃO GRAU DE IMPORTÂNCIA
A proximidade geográfica dos clientes (0) (1) (2) (3)
A proximidade com os fornecedores (0) (1) (2) (3)
A proximidade com outros produtores (0) (1) (2) (3)
Serviços financeiros, de assessoria e manutenção (0) (1) (2) (3)
Qualidade das infra-estruturas (estradas,comunicações etc.) (0) (1) (2) (3)
Abundância de mão-de-obra qualificada (0) (1) (2) (3)
Centros de pesquisa e inovação públicos e privados (0) (1) (2) (3)
Cooperação entre as empresas do agrupamento (0) (1) (2) (3)
Instituições, serviços públicos e coesão social (0) (1) (2) (3)
Terra abundante e barata (0) (1) (2) (3)
Outros. Especificar. (0) (1) (2) (3)
V – Políticas públicas e financiamento
29) A empresa participa ou tem conhecimento sobre algum tipo de programa ou ações
específicas para o segmento onde atua, promovido pelos diferentes âmbitos de
governo e/ou instituições abaixo relacionados:
INSTITUIÇÃO/ESFERA
GOVERNAMENTAL
1. Não tem
conhecimento
2. Conhece, mas não
participa
3. Conhece e
participa
Governo federal (1) (2) (3)
Governo estadual (1) (2) (3)
Governo local/municipal (1) (2) (3)
Sistema bancário local (1) (2) (3)
Sebrae/Prochile (1) (2) (3)
Outras instituições (1) (2) (3)
307
30) Qual a sua avaliação dos programas ou ações específicas para o segmento onde atua,
promovido pelos diferentes âmbitos de governo e/ou instituições relacionados:
INSTITUIÇÃO/ESFERA
GOVERNAMENTAL
1. Avaliação
positiva
2. Avaliação negativa 3. Sem elementos
para avaliação
Governo federal (1) (2) (3)
Governo estadual (1) (2) (3)
Governo local/municipal (1) (2) (3)
Sistema bancário local (1) (2) (3)
Sebrae/ProChile (1) (2) (3)
Outras instituições (1) (2) (3)
31) Quais políticas públicas poderiam contribuir para o aumento da eficiência competitiva
dos produtores do agrupamento? Gentileza de indicar o grau de importância utilizando
a seguinte escala: (1) é baixa importância; (2) é média importância e (3) alta
importância. Coloque (0) se não for relevante.
AÇÕES DE POLÍTICAS GRAU DE IMPORTÂNCIA
Programas de capacitação profissional e treinamento técnico (0) (1) (2) (3)
Melhoria na educação básica (0) (1) (2) (3)
Programas de apoio a consultoria técnica (0) (1) (2) (3)
Estimulo à oferta de serviços tecnológicos (0) (1) (2) (3)
Programas de acesso à informação (produção, tecnologia, mercados, etc.) (0) (1) (2) (3)
Linhas de crédito e outras formas de financiamento (0) (1) (2) (3)
Incentivos fiscais (0) (1) (2) (3)
Políticas de fundo de aval (0) (1) (2) (3)
Programas de estímulo ao investimento (0) (1) (2) (3)
Outras. Especificar. (0) (1) (2) (3)
32) Indique os principais obstáculos que limitam o acesso às fontes externas de
financiamento. Gentileza de indicar o grau de importância utilizando a seguinte escala:
(1) é baixa importância; (2) é média importância e (3) alta importância. Coloque (0) se
não for relevante.
LIMITAÇÕES
GRAU DE IMPORTÂNCIA
Inexistência de linhas de crédito adequadas às necessidades do produtor (0) (1) (2) (3)
Dificuldades ou entraves burocráticos para se utilizar as fontes de financiamento existentes (0) (1) (2) (3)
Exigência de aval/garantias por parte das instituições de financiamento (0) (1) (2) (3)
Entraves fiscais que impedem o acesso às fontes oficiais de financiamento (0) (1) (2) (3)
Outras. Especificar. (0) (1) (2) (3)
VI Responsabilidade sócio-ambiental como conseqüência dos efeitos de
transbordamentos
33)Na sua visão, qual a importância do seu empreendimento no processo de
desenvolvimento, de forma sustentável, da localidade onde está instalado. Gentileza de
indicar o grau de importância utilizando a seguinte escala: (1) é baixa importância; (2)
é média importância e (3) alta importância. Coloque (0) se não for relevante.
AÇÕES DE POLÍTICAS GRAU DE IMPORTÂNCIA
Uso criterioso da terra (0) (1) (2) (3)
Desenvolve uma cultura associativa para enfrentar o desenvolvimento (0) (1) (2) (3)
Preocupa-se com o sistema de educação da localidade (0) (1) (2) (3)
Preocupa-se com o sistema de saúde da localidade (0) (1) (2) (3)
Preocupa-se com a criação de emprego e renda na localidade (0) (1) (2) (3)
Participa programa que vise o apoio à produção local (0) (1) (2) (3)
Utiliza as instituições e agências de desenvolvimento para melhoramento (0) (1) (2) (3)
308
do produto
Outros. Especificar. (0) (1) (2) (3)
34 A rentabilidade do empreendimento permite participar como patrocinador de
programas sociais na localidade?
( ) Sim ( ) Não
Em caso afirmativo, que tipos de programas sociais?
309
310
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