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Pode-se, contudo, ir além. Não somente o hábito cria associações que
suportam o símbolo, mas também códigos intencionalmente estabelecidos
pelo autor ou pela sociedade, e utilizados pelo arquiteto. Cores e texturas
podem possuir valores culturalmente associados. Algumas culturas ocidentais
associam a cor preta ao luto, enquanto que em determinadas tradições
orientais, por exemplo, a cor que simboliza o luto é o branco. Significados
como estes podem ser utilizados na arquitetura de maneira consciente e
planejada, e não estão limitados às qualidades de cor, textura e forma dos
elementos e espaços arquitetônicos. Dimensões e relações proporcionais
também podem simbolizar conceitos, como é o caso de sistemas de
correspondência numérica (chamados de gematria) que relacionam a letras e,
conseqüentemente, a palavras, valores numéricos que podem ser utilizados
como dimensões na arquitetura. Um exemplo característico do uso de um
símbolo semelhante será detalhado na segunda parte desta pesquisa, e
envolve a tradução numérica de nomes de tradições religiosas no
dimensionamento de templos.
O número com valor simbólico não se limita ao dimensionamento de
elementos. A quantidade de elementos também pode traduzir conceitos
associados a determinados valores. Não raro templos cristãos possuem
repetições de elementos construtivos e de decoração múltiplas ou em número
de três, cinco, sete, oito, dez ou doze, que estão relacionados a importantes
conceitos teológicos na tradição cristã.
Crawford Manor, Arq. Paul Rudolph
(Fonte: VENTURI; BROWN; IZENOUR, 2003, p. 124)
"A estrutura de Crawford Manor, que é de concreto moldado in loco e
blocos de concreto canelados, é do mesmo modo uma estrutura
convencional que sustenta paredes de alvenaria. Mas não aparenta
isso. Ela dá a impressão de ser tecnologicamente mais avançada e
espacialmente mais progressista. É como se seus suportes fossem
eixos espaciais, que talvez abrigassem instalações mecânicas, feitos
de um material plástico contínuo que lembra o béton brut com as
marcas estriadas de seu processo de construção violentamente
heróico gravadas em sua forma"
(VENTURI; BROWN; IZENOUR, 2003, p. 122)
"O simbolismo da Guild House envolve ornamento e é mais ou
menos dependente de associações explícitas; ela se parece com o
que é não somente devido ao que é, mas também devido ao que nos
lembra. Mas os elementos arquitetônicos de Crawford Manor
abundam em associações de outro tipo, menos explícito. Implícito
em suas formas arquitetônicas puras encontra-se um simbolismo
diferente do ornamento aplicado da Guild House, com suas
associações explícitas, quase heráldicas. Lemos o simbolismo
implícito de Crawford Manor na fisionomia sem decoração do
edifício, por meio de associações e da experiência passada; ele
oferece camadas de significação para além da mensagem
'expressionista abstrata' derivada das características fisionômicas
inerentes às formas – o tamanho, a textura, a cor e assim por diante.
Esses significados vêm de nosso conhecimento de tecnologia, da
obra e dos escritos dos criadores modernos, do vocabulário da
arquitetura industrial e de outras fontes"
(VENTURI; BROWN; IZENOUR, 2003, pp. 126-127)