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Fenômeno de Muitas-Faces como Observado na Esquizofrenia
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Christiane Delúsia de Oliveira Rocha
Fenômeno de Muitas-Faces como Observado na Esquizofrenia
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Psicologia da
Universidade Federal de Pernambuco,
como requisito parcial para a obtenção do
grau de Mestre em Psicologia.
Orientadora: Profª Drª Maria Lúcia de Bustamante Simas
Recife
2008
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Rocha, Christiane Delúsia de Oliveira
Fenômeno de muitas-
faces como observado na
esquizofrenia / Christiane Delúsia de Oliveira Rocha .
Recife : O Autor, 2008.
70 folhas., gráf., tab.
Dissertação (mestrado)
Universidade Federal de
Pernambuco. CFCH. Psicologia, 2008.
Inclui: bibliografia e anexos.
1. Psicologia. 2. Esquizofrenia. . I. Título.
159.9
150
CDU (2. ed.)
CDD (22. ed.)
BCFCH2008/40
AGRADECIMENTOS
_____________________________________________
À Deus que com seu infinito amor me guiou em todos os momentos de minha vida.
À minha família, principalmente minha mãe e meus irmãos por serem meu porto
seguro e por me apoiarem durante todo o meu percurso acadêmico.
À minha orientadora Profª. Drª. Maria Lúcia, pelo conhecimento compartilhado,
orientação durante todo desenvolvimento da pesquisa, paciência e principalmente
pelas horas de dedicação.
Aos voluntários que participaram da pesquisa pela sua disponibilidade,
principalmente os portadores de esquizofrenia, mesmo alguns possuindo limitações
se prontificaram a participar da pesquisa.
Aos técnicos dos CAPS pela sua disponibilidade e acolhimento.
À Biu Fernandes, Francisco Perigo e George Henriques por sempre me ajudarem
nas horas que precisei.
Aos amigos LabVis Rafael, Schuler, Geórgia, Ana Cristina, Vivi e Gisele pelo apoio,
incentivo e disponibilidade sempre que eu necessitava .
Aos amigos que conheci durante o decorrer do mestrado, e fora dele, que sempre
torceram por mim, me incentivaram, se preocuparam junto comigo e se tornaram
muito importantes em minha vida: Melissa, Lidiane, Azenildo, Gláucia, Tásia, Indira,
Marta e Flávia.
25
À Bruno e Letícia, funcionários do Departamento de Psicologia, principalmente à
Alda pela competência e disponibilidade.
A todas as pessoas que me ajudaram direta ou indiretamente, seja na discussão de
assuntos relacionados à dissertação, na troca de idéias, na presteza que sempre
demonstravam e elas meu muito obrigado.
“Cada um de nós compõe a sua história,
e cada ser em si, carrega o dom de ser capaz, e ser feliz”
Renato Teixeira
LISTA DE TABELAS E GRÁFICOS
_____________________________________________
TABELA 1 Principais sintomas positivos e negativos da esquizofrenia 30
TABELA 2 Porcentagem de respostas grupo x gênero 52
TABELA 3 Porcentagem de respostas quanto ao gênero x grupo a
que pertencem
52
TABELA 4 Porcentagens totais 53
GRÁFICO 1 Porcentagens de Voluntários que Relataram "Muitas-
Faces" em EMF com a visão do Olho Direito
44
GRÁFICO 2 Porcentagens de Voluntários que Relataram "Muitas-
Faces" em EMF com a visão do Olho Esquerdo
45
GRÁFICO 3 Porcentagens de Voluntários que Relataram "Muitas-
Faces" em MF com a visão do Olho Direito
46
GRÁFICO 4. Porcentagens de Voluntários que Relataram "Muitas-
Faces" em MF com a visão do Olho Esquerdo
47
GRÁFICO 5. Porcentagens de Voluntários que Relataram "Muitas-
Faces" em EMF e MF com a visão do Olho Direito
48
GRÁFICO 6. Porcentagens de Voluntários que Relataram "Muitas-
Faces" em EMF e MF com a visão do Olho Esquerdo
49
GRÁFICO 7. Porcentagem de Voluntários que Relatam Surgimento de
COR com a visão do Olho Direito
50
GRÁFICO 8. Porcentagem de Voluntários que Relatam Surgimento de
COR com a visão do Olho Esquerdo
51
LISTA DE ABREVIATURAS
_____________________________________________
CID10 (CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE DOENÇAS)
CAPS – CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL
DSM- MANUAL DIAGNÓSTICO ESTATÍSTICO DE TRANSTORNOS MENTAIS
EMF – MUDANÇA DE EXPRESSÃO OU MOVIMENTO FACIAL
ERPs – POTENCIAL EVENTO-RELACIONADO
EZ - ESQUIZOFRENIA
FFA – AREA FUSIFORME DA FACE
fMRI – RESSONÂNCIA MAGNÉTICA FUNCIONAL (?)
GC – GRUPO CONTROLE
GE – GRUPO EXPERIMENTAL
LabVis - LABORATÓRIO DE PERCPEÇÃO VISUAL
LMF – FUSIFORME LATERAL MÉDIA
MEG – MAGNETOENCEFALOGRAMA
MF – MUITAS-FACES
RM - RESSONÂNCIA MAGNÉTICA
RMN- RESSONANCIA MAGNÉTICA NUCLEAR
SNC – SISTEMA NERVOSO CENTRAL
SPO – SINTOMA DE PRIMEIRA ORDEM
TC- TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA
SUMÁRIO
_____________________________________________
LISTA DE TABELAS E GRÁFICOS
LISTA DE ABREVIATURAS
1.0 PERCEPÇÃO E PROCESSAMENTO DE FACES 14
1.1 PERCEPÇÃO DE FACES COM MÉTODOS PSICOFÍSICOS 15
1.2 PERCEPÇÃO DE FACES COM MÉTODOS
ELETROFISIOLÓGICOS
16
1.2.1 Método com fMRI e potenciais evocados
16
1.3 PROCESSAMENTO DE FACES 18
2.0 ESQUIZOFRENIA 20
2.1 EVOLUÇÃO DO CONCEITO 20
2.2 EPIDEMIOLOGIA 22
2.3 ETIOLOGIA 23
2.3.1 Hipótese Genética 23
2.3.2 Hipótese Dopaminérgica ou Hipótese Neuroquímica 24
2.3.3 Hipótese Neuropatológica 25
2.3.4 Hipótese de Neurodesenvolvimento 26
2.3.5 Anormalidades nos Circuitos Cerebrais 27
2.4 QUADRO CLÍNICO 27
2.4.1 Sintomatologia 28
2.5 CLASSIFICAÇÃO EM SUBTIPOS 30
2.6 CURSO, PROGNÓSTICO E TRATAMENTO 31
3.0 MUITAS-FACES
33
4.0 PERCEPÇÃO DE FACES E MUITAS-FACES NA
ESQUIZOFRENIA
35
4.1 PERCEPÇÃO DE FACES NA ESQUIZOFRENIA 35
4.2 MUITAS-FACES NA ESQUIZOFRENIA 37
5.0 OBJETIVOS 38
6.0 METODOLOGIA 39
7.0 RESULTADOS 44
8.0 DISCUSSÃO 54
9.0 REFERÊNCIAS 56
ANEXOS
61
Anexo 1 - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 62
Anexo 2 - Solicitação da Carta de Anuência 63
Anexo 3 – Carta de Anuência 64
Anexo 4 – Questionário 65
Anexo 5 – Estímulos 66
RESUMO
_____________________________________________
O fenômeno de Muitas-Faces, foi descoberto no LabVis-UFPE quando estavam
sendo feitas pesquisas sobre a detecção do contraste de freqüências espaciais,
radiais e angulares na região do ponto cego no sistema visual humano. O fenômeno
ocorre quando se observa uma face na periferia do campo visual e é caracterizado
pela percepção de movimento/mudança de expressão facial nos olhos, boca, face,
sobrancelha e 3D; e pelo surgimento de características diferentes ou outras faces
(cabeça para baixo, a si mesmo, mais jovem ou mais velho, surgimento de
dentes, bigode/barba, mudança de cabelo, perfil de outras faces). No presente
estudo, o fenômeno foi estudado em portadores de esquizofrenia (EZ). Esta última é
uma desordem que ocorre em cerca de 1 % da população mundial e afeta a
percepção e a cognição. Baseado no conhecimento já relatado na literatura em
estudos com métodos psicofísicos e fisiológicos, e nos critérios diagnósticos da
esquizofrenia, a presente investigação teve como objetivo verificar a ocorrência da
observação do Muitas-Faces em indivíduos portadores desta patologia. O estudo foi
feito com voluntários não ingênuos (que observaram o fenômeno) com idade
variada, divididos em 2 grupos de 20 voluntários: um grupo formado por portadores
de EZ (experimental) e outro com pessoas sem o diagnóstico (controle). Foi
utilizada uma face feminina como face-estímulo medindo 21 graus de ângulo visual,
sempre apresentada na periferia. O resultado mostrou diferença significante entre
os grupos e gênero dos voluntários. Mais mulheres do grupo experimental relataram
a observação do Muitas-Faces com o olho esquerdo, o que sugere uma preferência
pelo hemisfério cerebral direito no processamento do Muitas-Faces, quando o córtex
está afetado por esta patologia.
Palavras-chave: esquizofrenia, percepção de faces, fenômeno de muitas-faces.
ABSTRACT
_____________________________________________
The Multiple-Faces phenomenon was discovered in 1995, while human contrast
sensitivity to spatial, radial and angular frequencies at the blind spot was
investigated. The phenomenon occurs when a face is presented at the periphery of
the visual field. It is characterized by the perception of movement / change of facial
expression in the eyes, mouth, face, eyebrow and 3D, and the emergence of different
features or other faces (upside down, see yourself, see younger or older, emergence
of teeth, mustache / beard, changing hair, see profile of other faces). The present
study involved observation of this phenomenon by individuals suffering from
schizophrenia. This is a disorder that occurs in about 1% of the world's population
and affects perception and cognition. The study was carried with not naive volunteers
(who had previously observed the phenomenon) varying in age and divided into 2
groups of 20 volunteers each. Formed by individuals with EZ (experimental) and
another without diagnostic (control). A female face was the face-stimulus measuring
21 degrees of visual angle and always presented at the periphery. The result
showed a significant difference between groups and gender of the volunteers. More
women in the experimental group reported the observation of the Multiple-Faces
when seen through the left eye. This suggests a preference for the right hemisphere
while processing the Multiple-Faces when affected by this disease.
Keywords: schizophrenia, faces perception, multiple faces phenomenon.
14
1. PERCEPÇÃO E PROCESSAMENTO DE FACES
_____________________________________________
A face humana está entre os estímulos visuais mais importantes, pois informa
a identidade aproximada de uma pessoa, seu humor, sexo, idade, entre outros.
Estas informações são de grande importância para a interação social e identificação
de pessoas, por essa razão processo neuropsicológicos envolvendo percepção de
faces engloba várias áreas do rebro e estão presentes desde o nascimento. Uma
das evidências mais relevantes encontradas para a detecção de face é que crianças
recém nascidas respondem preferencialmente a faces. Isto sugere a possibilidade
de que regiões específicas para faces, identificadas no córtex de adultos,
funcionam desde nascença (D´HAAN; PASCALIS; JOHNSON, 2002).
A hipótese de que existe um mecanismo neural especializado em processar
faces foi proposta inicialmente por Bodamer (1947) quando percebeu que alguns
pacientes possuem um prejuízo maior na percepção de faces à de objetos. Em
estudos realizados em adultos humanos utilizando técnicas de neuroimagem, áreas
particulares do córtex occipital ventral e lateral foram ativadas preferencialmente
para faces (KANWISHER; MCDERMOT; CHUN, 1997,; PUCe, et al., 1995,; PUCE et
al., 1996). Se ocorresse algum prejuízo nestas áreas ou elas fossem
experimentalmente estimuladas, as funções atribuídas a elas também eram
alteradas. Estudos posteriores também apontaram a FFA rea fusifome da face),
principalmente nos aspectos medianos e posteriores do giro fusiforme, como
responsáveis pelo processamento de faces (D´HAAN; PASCALIS; JOHNSON,
2002).
O reconhecimento de faces representa um desafio para o sistema visual
humano, pois todas as faces apresentam uma forma similar dos olhos, nariz e boca,
dentro de um contorno oval. Dentro desta estrutura global homogênea, a perícia
humana em identificar faces deve envolver um mecanismo neural ajustado para
analisar as características da face de indivíduos dentro desta categoria (ANAKI;
ZION-GOLUMBIC; BENTIN, 2007). Também se argumenta que a percepção de
faces deve representar aspectos imutáveis como características do rosto que
15
especificam a identidade e seus aspectos mutáveis que são responsáveis pela
facilitação da comunicação social (ANDREWS; EWBANK, 2004).
Como foi observado em alguns estudos, entre as várias técnicas utilizadas
para a pesquisa em percepção de faces, as mais utilizadas atualmente são as
realizadas através de todos psicofísicos e eletrofisiológicos, incluindo
procedimentos envolvendo ressonância magnética funcional, fMRI.
1.1 PERCEPÇÃO DE FACES COM MÉTODOS PSICOFÍSICOS
O método psicofísico enfatiza o que ocorre sensorialmente no processamento
de informações a nível cortical, isto é, investiga o processo no qual a informação é
decomposta na retina e projetada no córtex onde é analisada e interpretada
(SANTOS; SIMAS, 2001).
Pesquisas recentes forneceram informações importantes sobre a
compreensão do desenvolvimento e da base neural do processamento de faces.
Scherf e colaboradores (2007) realizaram pesquisas utilizando métodos psicofísicos
com três grupos de faixas etárias distintas: (a) 5-8 anos, (b) 11-14 anos e (c) adultos,
apresentando imagens de pessoas e objetos. A conclusão que chegaram foi de que
apesar do reconhecimento de faces estar presente desde o nascimento, existe uma
expansão de ativação da área específica de categoria FFA durante o
desenvolvimento. Este estudo apresentou resultado semelhante ao realizado por
Golarai et al. (2007). O FFA e áreas relacionadas, tais como o sulco temporal
superior, estabeleceram conexão e polarizações suficientes, mostrando estar ativado
pela presença de faces no campo visual das crianças. Porém, a arquitetura neural
destas regiões se torna ajustada para o estímulo de faces após anos de
exposição a estas (KADOSH; JOHNSON, 2007).
16
1.2 PERCEPÇÃO DE FACES COM MÉTODOS ELETROFISIOLÓGICOS
1.2.1 Método com fMRI e potenciais evocados
“Um dos maiores desafios no campo das ciências cognitivas é identificar os
substratos neurais dos comportamentos” (ARCURI; McGUIRE, 2001).
Entre as diversas técnicas utilizadas para estes estudos, uma das mais
utilizadas é a Ressonância Magnética Funcional (fMRI), que é definida como uma
técnica de avaliação cerebral de grande precisão com relação a localização espacial,
trazendo melhora na precisão temporal e no tempo de duração do evento a ser
estudado. Outro aspecto importante é a possível identificação de circuitos envolvidos
na fisiopatologia dos sintomas psiquiátricos, gerando avanço do conhecimento das
funções cerebrais (ARCURI; McGUIRE, 2001).
Percepção, processamento e reconhecimento de faces foram examinados
utilizando imagens geradas por ressonância magnética funcional (fMRI) e potenciais
eventos-relacionados (ERPs). Durante estes estudos foi identificado um componente
sensível aos estímulos de face em humanos, denominado N170, “este componente
parece refletir uma fase do processo visual ao qual são categorizados objetos”
(ROUSSELET; MACÉ; FABRE, 2004).
O N170 é um potencial elétrico negativo no cérebro, localizado no córtex
occipito-temporal e que tem seu pico máximo entre 140 e 170 milissegundos (ms)
após o início da apresentação do estímulo. É através dele que o processamento
visual de objetos é categorizado (HENSON et al., 2003; D´HAAN; PASCALIS;
JOHNSON, 2002).
D´Haan, Pascalis, Johnson (2002) realizaram um estudo para comparar o
tempo de resposta do N170 e verificar o desenvolvimento e especialização cortical
do processamento de face, utilizando como sujeitos adultos e crianças com idades
variadas. Eles investigavam se a região específica para detecção de face no córtex
do adulto estava ativada desde seu nascimento. Desta forma, procuraram avaliar
suas hipóteses analisando e comparando respostas eletrocorticais de ambos,
crianças e adultos, apresentando faces humanas, de macacos e faces humanas
17
invertidas. As respostas encontradas indicam a existência de um processo de
especialização gradual durante o desenvolvimento humano, pois a amplitude do
N170 era menor e a latência mais curta para faces humanas apresentadas na
posição normal do que para faces humanas invertidas ou faces de macacos
(D´HAAN; PASCALIS; JOHNSON, 2002).
Andrews e Ewbank (2004), utilizaram a fMRI em um experimento em que a
mesma imagem era apresentada de maneira repetida. Com o objetivo de verificar
diferentes aspectos do processamento de faces representados no córtex visual. Os
resultados sugeriam que as regiões envolvidas no reconhecimento de faces dentro
do lóbulo temporal inferior estão envolvidas na percepção e reconhecimento de
faces, e possivelmente em outras categorias de objeto. Como o processamento
neural subjacente a outros aspectos do processamento facial, especialmente os
envolvidos na cognição social, inclui a seleção de face na região temporal superior,
a falta de adaptação da fMRI para não-faces em regiões seletivas do córtex visual
sugere que nem todas as áreas do occipito-temporal ventral contribuem para o
processamento e percepção de face (ANDREWS; EWBANK, 2004).
Outro método utilizado em estudos foi o ERP, com o componente N170
isolado. No estudo feito por Rousselet, Macé; Fabre (2004), os autores investigaram
o N170 a respeitos de faces humanas e animais envolvendo cenas naturais, nas
quais foram apresentadas várias fotografias de pessoas e animais, em posição
normal e invertida. Entre os resultados encontrados, o de que o componente
N170 é ativado não para faces humanas, mas também para animais. O que é
especifico para faces humanas é o efeito da inversão (ROUSSELET; MACÉ;
FABRE, 2004).
Uma evidência da especialização de processamento de faces em humanos
vem de uma lesão do córtex occipitotemporal inferior causando a prosopagnosia
(distúrbio no reconhecimento de faces) (HENSON et al., 2003).
De acordo com os estudos de (DAMASIO; DAMASIO; VAN HOESEN, 1982;
McNEIL; WARRINGTON, 1993) se ocorrer alguma lesão no cérebro,
especificamente no lobo temporal, pode ocasionar déficit em reconhecer, como
também, identificar e nomear faces (ANDREWS; EWBANK, 2004).
Dentro da área de pesquisa em percepção de faces, mais precisamente,
processamento de face, uma das hipóteses de Simas (2000) após a descoberta do
Muitas -Faces, seria que, ao se observar o fenômeno, áreas específicas do cérebro
18
seriam ativadas e, possivelmente não sofreriam o efeito de adaptação, inclusive as
áreas especializadas em perceber faces. Porém esta hipótese ainda está sendo
estudada com métodos psicofísicos e fMRI.
1.3 PROCESSAMENTO DE FACES
Diversos estudos foram realizados utilizando fMRI. Estes estudos propuseram
a existência de um modelo estrutural para o processamento de faces que está
dividido em duas partes, um sistema central e outro estendido. O sistema central
está composto por três regiões bilaterais do córtex visual estriado occipitotemporal.
O giro occipital inferior responsável pela percepção inicial das características faciais,
giro fusiforme lateral processa aspectos invariantes da face e o sulco superior
temporal que processa o aspecto mutável da face, como a fixação do olhar,
expressão facial e movimento dos lábios (HAXBY ; HOFFMAN; GOBBINI, 2000).
estudos utilizando fMRI para analisar a atividade cerebral relacionada à
percepção de expressão e identidade em categorias ambíguas de faces moduladas
por adaptações prévias mostraram que os efeitos de adaptação não foram evidentes
em áreas como giro occipital ou fusiforme, embora a atividade nessas regiões tenha
sido reduzida por repetição de faces, sugerindo que “a adaptação induzida por
percepção é mediada pela atividade em regiões que mostram redução devido à
repetição do estimulo” (FURL et al., 2007).
A adaptação de faces ocorre quando existe uma pré-exposição à face, que
apresenta características e percepções particulares ligadas à mesma. Jiang et al.
(2007) realizaram estudos sobre adaptação de faces para investigar se o grau de
adaptação ocorre pela experiência anterior com a mesma e seus achados apóiam a
idéia que os efeitos de transferência da adaptação variam em função da experiência
(JIAN et al, 2007).
Com a utilização de magnetoencefalograma (MEG), Liu, Harris, Kanwinsher
(2002) investigaram o processamento de faces em humanos e encontraram a
ocorrência de respostas em apenas 100 ms após o início do estímulo, isto é, 70 ms
antes de relatos de outros estudos, esta resposta foi correlacionada com o êxito da
categorização de estímulos como faces, mas não com o seu reconhecimento
19
individual, como ocorre com o N 170 que é correlacionado com ambos os processos.
Estes dados sugerem que o processamento de faces ocorre em duas fases: a de
categorização e, posteriormente, a em que a identidade do individuo é reconhecida
(LIU, HARRIS, KANWINSHER, 2002).
O processo de adaptação visual em humanos é sensível ao tempo de
exposição ao estímulo adaptador. A partir desta afirmativa investigou-se o efeito de
adaptação facial com uma maior duração de exposição do estímulo. Foi verificado
que após um período de 5s a adaptação de face induz um efeito facial posterior
constituído por uma posição constante, já, quando o tempo de adaptação foi
reduzido para 500 ms, nenhuma posição específica de adaptação foi observada
(KOVÁCS et al., 2007).
20
2. ESQUIZOFRENIA
_____________________________________________
2.1 – EVOLUÇÃO DO CONCEITO
Os relatos de insanidade são descritos há muito tempo na história da
humanidade. Entre estes, estão incluídos os transtornos psicóticos, destacadamente
a esquizofrenia (EZ). Os sintomas esquizofrênicos são descritos desde o século XV
A.C. Características como deterioração das funções cognitivas e de personalidade
observadas atualmente em portadores de esquizofrenia, assim como delírio de
grandeza e paranóia são descritas por médicos gregos desde o primeiro e segundo
séculos da era cristã (CARPENTER; BUCHANAN, 1999).
O que se entende por EZ hoje é fruto de um conceito que sofreu muitas
modificações. O psiquiatra francês Benedict A. Morel (1809-1873), empregou pela
primeira vez o termo démense precoce” para pacientes deteriorados cujas doenças
eram iniciadas na adolescência. Os sintomas catatônicos foram descritos por Karl
Ludwing Kahlbaum (1828-1899), e Ewold Hecker (1843-1909) descreveu o
comportamento bizarro da hebefrenia (KAPLAN, 1997).
Posteriormente o termo démense precoce” foi latinizado por Emil Kraeplin
para dementia praecox” (demência de início precoce), quando observou que
pacientes jovens após um período psicótico sofriam um “enfraquecimento psíquico”
mas não tornavam-se necessariamente dementes. O termo “esquizofrenia” (divisão
da mente) foi descrito pela primeira vez por Eugen Bleuler em 1911. Para ele não
havia necessidade do curso deteriorante, e sim desintegração de vários aspectos do
pensamento, emoção e comportamento nos pacientes afetados (KAPLAN, 1997;
ELKIS, 2000).
No ano de 1948, Kurt Schneider descreveu pela primeira vez os sintomas
denominados “Sintomas de Primeira Ordem” (SPO) que incluíam sonorização do
pensamento; ouvir vozes argumentando ou contra-argumentando; escutar
comentários de vozes sobre suas atividades; ter roubo ou outras formas de
21
influência sobre o pensamento; vivência de influência corporal; sentir que os
sentimentos, pulsões e vontade são influenciados por outros (ELKIS, 2000).
No Manual Diagnóstico Estatístico de Transtornos Mentais DSM em sua
primeira e segunda edições (DSM-I, 1952 e DSM-II, 1968), a EZ foi descrita por uma
perspectiva ampla e os sintomas descritos de maneira pouco elaborada. Já na
década de 70 foram publicados os primeiros critérios diagnósticos estruturados
restringindo os sintomas para EZ, incluindo os sintomas descritos por Bleuler e
Schneider no critério A; a noção Kraepeliniana de “deterioração a partir de um nível
prévio”, critério B; e um período mínimo de doença de 6 meses, critério C. Estes
critérios foram inseridos no DSM –III e permaneceram inalterados nas edições
posteriores do DSM, incluindo DSM-III (DSM-III-R) no ano de 1978 e o DSM-IV em
1994 (ELKIS, 2000).
A edição do DSM IV diagnostica a EZ a partir dos seguintes critérios:
- Sintomatologia característica durante pelo menos um mês;
- Disfunção social ou ocupacional por um tempo significativo;
- Duração de sinais contínuos da perturbação por pelo menos 6 meses.
- Exclusão de Transtorno Esquizoafetivo e Transtorno do Humor;
- Exclusão do uso de substâncias psicoativas;
A sintomatologia específica da EZ afeta a cognição, a emoção, a percepção,
o pensamento inferencial, a linguagem e comunicação, o monitoramento
comportamental, o afeto, a fluência e produtividade do pensamento e do discurso, a
capacidade hedônica, a volição, o impulso e a atenção (DSM IV, 1994).
a CID-10 (Classificação Internacional de Doenças) caracteriza a EZ
através de distorções fundamentais na percepção, pensamento e afetos
inapropriados ou embotados. As características psicopatológicas mais importantes
são o eco, a imposição ou roubo do pensamento, percepção delirante, vozes
alucinatórias que comentam ou discutem com o paciente na terceira pessoa,
22
transtornos do pensamento e sintomas negativos. Normalmente a consciência e a
capacidade intelectual permanecem claras embora déficits cognitivos possam evoluir
com o tempo. “A evolução pode ser contínua, episódica (com ocorrência de um
déficit progressivo estável) ou comportar um ou vários episódios seguidos de uma
remissão completa (CID-10, 1997).
2.2 EPIDEMIOLOGIA
Atualmente a EZ é considerada uma questão de saúde pública, acometendo
cerca de 1 % da população mundial, com a taxa de internação chegando à cerca de
dois terços das pessoas diagnosticadas, porém, estima-se que apenas a metade
destes pacientes recebe tratamento (KAPLAN, 1997).
A psicose se manifesta no início da adolescência e início da idade adulta,
geralmente entre os 15 e 54 anos, porém nas mulheres o início geralmente ocorre
entre os 15 e 25 anos de idade, enquanto nos homens é de 25 a 35 anos. O
aparecimento da patologia antes dos 10 anos é extremamente raro (BRANDÃO,
1993).
A EZ é caracterizada por três tipos principais de sintomas: (a) psicose
clinicamente identificada pela presença de delírios (crenças fixas em idéias irreais),
alucinações (ocorrência de percepção sensorial na ausência de estímulo externo
que possa causá-la) e comportamento bizarro (comportamento impróprio ou mesmo
absurdo para padrões socialmente observados, comportamento de caráter estranho,
fantástico); (b) disfunção cognitiva, isto é, problemas relacionados à capacidade de
atenção, aprendizado, memória, concentração, pensamento abstrato e solução de
problemas; e (c) sintomas negativos, assim denominados por apresentarem apatia
(falta de motivação), anedonia (quando o indivíduo não demonstra afeto ou prazer
em realizar atividades das quais ele geralmente gostava), pobreza no diálogo e
embotamento afetivo (ausência de resposta emocional ou afetiva apropriada ao
conteúdo do pensamento ou assunto abordado) (AUSTIN, 2005).
No Brasil cerca de 30% dos leitos psiquiátricos são ocupados por portadores
de EZ. Nas consultas psiquiátricas ela representa cerca de 14% das primeiras
consultas, sendo a segunda doença mais diagnosticada e responsável pelo lugar
23
na manutenção do auxílio doença no Brasil. Na sociedade americana ela representa
um custo anual de 30-40 bilhões de dólares (LARA; ABREUL, 2000).
2.3 ETIOLOGIA
O diagnóstico da EZ ainda é bastante discutido quanto a sua etiologia, pois
ela engloba uma variedade de transtornos de causas heterogêneas e pode
apresentar curso e resposta ao tratamento de forma variada. Um modelo apontado
como de integração dos fatores etiológicos é o de estresse-diátese, segundo o qual
afirma que “o indivíduo pode ter uma vulnerabilidade específica (diátese) que,
quando influenciada por fatores ambientais estressantes, permite o desenvolvimento
de sintomas da EZ” (KAPLAN, 1997).
Entre as teorias sobre a etiologia da EZ, as principais são:
2.3.1 Hipótese Genética
As doenças psiquiátricas, assim como outras doenças importantes da
atualidade, são de origem complexa o podem ser explicadas apenas por um fator
genético ou ambiental (SAWA; SNYDER, 2002).
Estudos envolvendo gêmeos e familiares de portadores de EZ sugerem um
forte envolvimento de componentes genéticos, apontando-a como uma desordem
que envolve complexos mecanismos de herança genética (CARDNO et al., 2002;
LAWRIE et al., 2001).
Apesar de uma proporção substancial de indivíduos diagnosticados com EZ
não possuir histórico familiar de psicose, o fator de risco mais importante para o
desenvolvimento de doença mental é o histórico familiar positivo (MERIKANGAS;
RICH, 2003).
A taxa de desenvolvimento da doença é aumentada no caso de gêmeos
monozigóticos, que possuem um dote genético idêntico e uma taxa de concordância
de 48% em dia e esta taxa diminui para 17% no caso de gêmeos dizigóticos e
24
outros parentes de primeiro grau. Porém os modos de transmissão ainda são
desconhecidos e as pessoas geneticamente vulneráveis o se tornam
necessariamente esquizofrênicas, fatores ambientais podem influir no seu
desenvolvimento, tais como: estresse, complicações obstétricas, histórico de trauma,
entre outros (CHOWDARI; NIMGAONKAR, 1999; GOTTESMAN, 1991; SULLIVAN,
2005).
Estudos genéticos epidemiológicos sugerem a existência de um modelo de
herança poligênica no qual diversos genes de pequeno efeito (cada gene é
responsável provavelmente por um risco menor que 3 x de um indivíduo desenvolver
a doença) contribuem para aumento na suscetibilidade à doença (OWEN, 2005).
2.3.2 Hipótese Dopamínérgica ou Hipótese Neuroquímica
Existem vários neurotransmissores cerebrais envolvidos em interações
complexas, portanto, havendo funcionamento anormal de um destes pode ocorrer
alterações em qualquer substância neurotransmissora isolada (KAPLAN, 1997).
Uma das teorias mais influentes sobre fisiopatologia da EZ é a
dopaminérgica. Muitos componentes da neurotransmissão dopaminérgica são
causados pela hiperatividade dopaminérgica, síntese de dopamina, muitos
receptores de dopamina, hipersensibilidade dos receptores de dopamina e/ou
combinação destes fatores (MAcGOWAN et al., 2004).
Apesar de ser uma teoria bastante aceita, ela porém, isoladamente não
consegue explicar questões referentes ao porquê do início dos sintomas ocorrer
usualmente na adolescência e início da idade adulta; como ocorrem as alterações
cerebrais; os prejuízos cognitivos; e por que os antipsicóticos não serem eficazes
nos sintomas negativos (NETO; BRESSAN; BUSATO, 2007).
25
2.3.3 Hipótese Neuropatológica
Algumas pesquisas tentaram descobrir causas estruturais cerebrais
envolvidas no aparecimento da EZ. A princípio estes estudos eram realizados pos
mortem, porém com o desenvolvimento tecnológico estes passaram a ser feitos
através de procedimentos mais modernos e menos invasivos, podendo ser feitos em
sujeitos in vivo (NETO; BRESSAN; BUSATO, 2007).
Com a utilização de técnicas mais modernas como a tomografia
computadorizada (TC) e a ressonância magnética (RM), foi confirmada a existência
alterações anatômicas cerebrais específicas associadas ao diagnóstico da EZ. Tais
achados incluem o aumento de ventrículos laterais, e alargamento de sulcos
corticais na maioria dos casos (ELKIS et al., 1995).
Outro achado utilizando a ressonância magnética nuclear (RMN) em
pacientes esquizofrênicos constatou evidências de diminuição da substância cortical
cinzenta, em especial no córtex temporal; um volume aumentado nos núcleos dos
gânglios basais; e diminuição de volume das estruturas do sistema límbico, tais
como amígdala, hipocampo e para-hipocampo. Como o sistema límbico está
associado à percepção, motivação, gratificação, memória, pensamento e outras
funções que estão associadas com freqüência à EZ, uma lesão associada a esta
área pode causar prejuízo nos impulsos, funcionamento social e emocional,
lembrando os sintomas positivos. Por outro lado, lesão no córtex pré-frontal resulta
em apatia, perda de iniciativa, diminuição da expressão emocional, que também
lembram os sintomas negativos (CARPENTER; BUCHANAN, 1999).
Os gânglios basais constituem outra área relacionada à EZ, pois estão
associada, entre outros, a movimentos estranhos e/ou bizarros que incluem a
marcha instável, trejeitos faciais e estereotipias, assim como, os transtornos de
movimento. Os gânglios basais são os mais frequentemente associados à psicoses
(KAPLAN, 1997).
Ao investigar a freqüência da sincronização neural com a percepção de
formas visuais em portadores de EZ, Spencer et al. (2003) encontraram resultados
que comprovam a existência de fases em que elas ocorrem de maneira anormal,
particularmente nos estímulos ligados aos mecanismos de sincronização. Estes
26
resultados apóiam a hipótese que afirma que a sincronização neural é anormal na
EZ (SPENCER et al., 2003).
2.3.4 Hipótese de Neurodesenvolvimento
Esta hipótese é baseada em estudos recentes utilizando técnicas avançadas
de tomografia computacional e Ressonância Magnética Funcional (fMRI) que
apontam a esquizofrenia como uma desordem de desenvolvimento do sistema
nervoso central (SAWA, SNYDER, 2002).
Um modelo mais consistente e específico da hipótese de
neurodesenvolvimento afirma que a patologia se origina nos estágios intermediários
da vida intra-uterina, nas quais interações entre alterações genéticas e ambientais
influenciariam negativa e sutilmente a forma como as células nervosas se
posicionam e diferenciam (MURRAY, 1994).
Outros estudos epidemiológicos também mostraram uma forte correlação
entre complicações durante a gravidez ou parto, ou fatores de risco como agentes
infecciosos, em estágios precoces da vida, com uma maior suscetibilidade è EZ
(McGRATH et al. 2004).
Clinicamente estes pequenos distúrbios de desenvolvimento aparecem no
início da idade adulta quando processos de maturação do SNC (Sistema Nervoso
Central) poderiam desencadear o surgimento dos sintomas da EZ (McGRATH et al.,
2003).
Além disso, existem evidências que de que cérebros de pacientes com EZ 5-
8% mais leves e 4% menores do que pessoas sem o diagnóstico. Algumas das
regiões afetadas têm o desenvolvimento associado ao primeiro trimestre de
gestação, o que leva a hipótese de que é nesse estágio do desenvolvimento que a
doença se origina (HARRISON; WEINBERGER, 2005).
Estudos neuropatológicos mostram que também existem anomalias
morfológicas, atrofia e perda neuronal, além de compactação celular em várias
regiões límbicas, especificamente as localizadas no lobo temporal, tais como giro
parahipocampal, a formação hipocampal e a amígdala. Estas alterações têm seu
predomínio no hemisfério esquerdo dos pacientes com esquizofrenia, o que leva a
27
acreditar que a esquizofrenia possa ser um resultado anormal da função cerebral
(CROW, 2000).
2.3.5 Anormalidades nos Circuitos Cerebrais
Os modelos neuroanatômicos recentes afirmam que o cérebro é organizado
por circuitos neurais, portanto, uma lesão estrutural ou funcional em determinado
ponto do circuito compromete a integridade de todo circuito (CARPENTER;
BUCHANAN, 1999). Devido a essas evidências, acredita-se que alterações na
transmissão sináptica e conectividade neural estejam entre um dos fatores que
causam EZ (FRANKLE; LERMA; LARUELLE, 2003).
A relevância de pesquisas de circuito neural se concentra na filtragem de
informações importantes para que sejam distribuídas nas demais áreas do cérebro
para que sejam executadas funções determinadas. Caso haja defeito neste circuito
pode ocorrer um excesso de informações ocasionando sintomas positivos ou
negativos (GAZZANIGA, IVRY; MANGUN, 2006).
Estudos realizados com fMRI revelaram padrões anormais de ativação, e
mais recentemente alterações na transmissão sináptica em cérebro de pessoas com
EZ (KEGELES; HUMARAN; MANN, 1998).
2.4 QUADRO CLÍNICO
Quando se fala em EZ, é importante levar em consideração os sinais e
sintomas encontrados, pois os mesmos também podem ser encontrados em outras
doenças psiquiátricas e neurológicas. Sendo assim, a história do paciente é de
fundamental importância para o diagnóstico. Os sintomas podem mudar com o
tempo, no entanto é importante levar em conta o nível educacional, a capacidade
intelectual, bem como sua cultura (KAPLAN, 1997).
28
2.4.1 Sintomatologia
Os primeiros sintomas aparecem geralmente no final da adolescência ou
inicio da idade adulta. Apesar de poder surgir de forma abrupta, é mais comum
surgir de forma insidiosa. Sintomas prodrômicos pouco específicos, incluindo perda
de energia, perda de iniciativa e interesse, humor depressivo, isolamento,
comportamento inadequado, negligência com a aparência pessoal e higiene, entre
outros. Estes podem aparecer por algumas semanas ou meses antes do surgimento
dos sintomas mais característicos da doença (CARPENTER; BUCHANAN, 1999).
Sintomas agudos
Entre os sintomas característicos da fase aguda estão os delírios que, apesar
de ocorrerem em outras síndromes psiquiátricas, têm sua expressão mais completa
na EZ. Conteúdos delirantes variados (de referência, hipocondríaco, grandiosos,
persecutórios) podem ocorrer de maneira sistematizada com incoerência interna ou
de forma frouxa e polifórmica (KAPLAN, 1997).
As alucinações associadas ou não a delírios, o freqüentes, sobretudo as
auditivas, presentes em 60 a 70 % dos casos. Estas podem ocorrer de forma mais
complexas como descritas por Schneider (uma ou mais vozes dirigindo-se ao sujeito,
conversando entre si ou fazendo comentários a respeito dele na terceira pessoa). Os
conteúdos podem variar, ocorrendo de forma neutra ou agradável até a forma crítica
ou violenta. Assim como os delírios, as alucinações podem ocupar quase que
integralmente a atenção do individuo; levando o sujeito a agir em função dessas
vozes, obedecendo às ordens e podendo colocar em risco sua vida ou de outras
pessoas. Também podem estar presentes alucinações visuais (ocorrem com menos
freqüência), táteis, olfatórias, gustativas e corporais (CARPENTER; BUCHANAN,
1999).
Entre os distúrbios do pensamento, o que ocorre com mais freqüência é o da
incoerência do pensamento, neste, o pensamento se torna incoerente e em alguns
casos incompreensível. Pode ocorrer também desagregação do pensamento
(mudança de tópico sem motivo) e uso idiossincrático de palavras (palavras
29
gramaticalmente corretas são usadas com sentido errôneo e bizarro) (CARPENTER;
BUCHANAN, 1999).
Nos distúrbios afetivos o mais típico é a incongruência afetiva, na qual as
idéias são acompanhadas de conteúdos afetivos incompatíveis e muitas vezes
antagônicos. Os sintomas catatônicos também estão entre os mais importantes
ligados à atividade psicomotora, estes podem incluir o mutismo, negativismo,
ecolalia, entre outros. Estes distúrbios podem causar episódios de agitação
psicomotora e agressividade bastante intensos. O esteriotipismo e maneirismo
também são distúrbios da atividade motora, porém não relacionados à síndrome
catatônica (KAPLAN, 1997).
Sintomas crônicos
No estágio crônico, o sintoma residual mais característico é o embotamento
afetivo no qual a expressão de afetos é ausente ou diminuída. Também podem
ocorrer sintomas residuais na esfera do pensamento, incluindo: pobreza de discurso
ou de seu conteúdo (KAPLAN, 1997).
Os sintomas residuais podem surgir desde o inicio da doença, porém por
estarem encobertos pelos sintomas positivos podem não ser identificados. Porém os
sintomas típicos da fase aguda podem permanecer cronicamente ativos em muitos
casos (CARPENTER; BUCHANAN, 1999).
SINTOMAS POSITIVOS E NEGATIVOS
No fim da década de 1930, Kurt Schneider descreveu os sintomas de e
ordens. Os sintomas descritos como de primeira ordem, não deveriam ser
específicos da doença, e os de segunda ordem juntamente com o quadro clínico
poderiam diagnosticar a doença (CARPENTER; BUCHANAN, 1999).
no ano de 1974 os sintomas da EZ foram divididos em dois grandes
grupos: os positivos, também denominados psicóticos (delírios e alucinações) e os
negativos (embotamento afetivo, avolição). Os sintomas positivos e negativos
30
influenciaram de maneira significativa o conceito de esquizofrenia, a partir do ano de
1980. Com base nestes sintomas. Crow introduziu a idéia de dimensões positivas e
negativas pelo conceito de duas “síndromes de esquizofrenia” (ELKIS, 2000).
Ainda segundo Crow, a dimensão positiva (Tipo I) caracteriza-se por quadro
agudo, reversível, ausência de alterações nas estruturas cerebrais, provável
aumento de receptores dopaminérgicos e boa resposta ao tratamento. a
dimensão negativa (Tipo II) caracteriza-se por quadro crônico, alterações nas
estruturas cerebrais, provável redução de receptores dopaminérgicos e má reposta
ao tratamento (ELKIS, 2000).
Tabela 1: Principais sintomas positivos e negativos
Sintomas Positivos Sintomas Negativos
Delírios
Alucinações
Comportamento bizarro
Pensamento Incoerente
Agitação Psicomotora
Afeto incongruente
Embotamento afetivo
Pobreza da fala
Anedonia
Retraimento social
Deficiência cognitiva
Déficit de atenção
2.5 CLASSIFICAÇÃO EM SUBTIPOS
Devido à heterogeneidade dos sintomas, na tentativa de gerar grupos com
sintomas, respostas ao tratamento, prognóstico e tratamento distintos, diversos
estudiosos têm tentado subclassificar a esquizofrenia. Porém estes subtipos estão
classificados de acordo com os sintomas clínicos. A divisão mais conhecida é a
proposta por Kraeplin (1986).
31
Paranóide: tem como uma das características principais delírios de
perseguição ou de grandeza, são tensos, desconfiados e reservados e
freqüentemente hostis e agressivos.
Desorganizado: anteriormente denominado hebefrênico caracteriza-se por
incoerência do afeto e pensamento, desinibição e puerilidade, respostas emocionais
inadequadas. Possuem comportamento desorganizado e seu contato com outras
pessoas e com a realidade é pobre e inadequado.
Catatônico: é caracterizado principalmente por acentuada perturbação
psicomotora, podendo envolver estupor, negativismo, rigidez ou excitação. As
características associadas incluem esteriotipias, maneirismo, e flexibilidade cérea.
Residual é aplicável em casos que o individuo não apresenta mais
sintomas agudos, porém, estão presentes os sinais negativos da doença.
Indiferenciada: é diagnosticado o indivíduo que apresenta características
de mais de um subtipo de esquizofrenia.
2.6 CURSO, PROGNÓSTICO E TRATAMENTO
Curso
A primeira evidência da doença é o padrão sintomático pré-mórbido, e ocorre
geralmente durante a adolescência, podendo os sintomas deflagrantes ocorrer por
conta de uma mudança social ou ambiental. Seu curso ocorre em períodos de
exacerbação e emissões (KAPLAN, 1997).
Prognóstico
Mais de 50% das pessoas internadas podem ter uma evolução desfavorável
da doença, chegando a serem internadas outras vezes. O índice de recuperação
descrito na literatura é de 10 a 60%, cerca de 20 a 30% conseguem levar uma vida
32
razoavelmente normal, e este mesmo índice de pacientes continuam apresentando
sintomas moderados. Porém um número relativamente alto, de 40 a 60% continua
prejudicado durante toda a vida (KAPLAN, 1997).
Tratamento
A EZ é uma doença crônica por isso o tratamento é realizado apenas para
aliviar os sintomas e melhorar as condições de vida do paciente. Sendo uma doença
complexa, existem vários recursos terapêuticos para seu tratamento que é apoiado
em dois pilares: o tratamento medicamentoso e o psicossocial. Apesar do uso de
psicofármacos ser indispensável ao controle dos sintomas psicóticos, sabe-se que a
utilização de estratégias que combinam medicação e tratamento psicossocial
aumenta a possibilidade de recuperação e podem otimizar os resultados (ZANINI,
CABRAL, 2001; DURÃO; SOUZA, 2006).
Sendo assim, na década de 50 , a utilização de drogas antipsicóticas
constituiu o passo inicial para a desinstitucionalização da doença. O tratamento
medicamentoso, comprovadamente, melhora os sintomas psicóticos , mantém a
estabilidade clínica, diminui a suscetibilidade da doença, e possivelmente previne a
deteriorização em curto e médio prazo (VORUGANTI, 1999).
Apesar do uso de psicofármaco ser indispensável no controle dos sintomas
psicóticos na EZ a utilização de estratégias que combinam medicação com
tratamento psicossocial, isto é, psicoterapia, pode otimizar os resultados e aumenta
a possibilidade de recuperação (ZANINI; CABRAL, 2001).
33
3. MUITAS-FACES
_____________________________________________
O fenômeno de Muitas-Faces foi descoberto por Simas em 1995, quando
estavam sendo feitas pesquisas sobre filtros de freqüências espaciais, radiais e
angulares, e está inserido nos estudos de percepção de faces. O fenômeno ocorre
quando faces são observadas na periferia do campo visual. Os sujeitos que
observam o Muitas-Faces narram eventos que variam desde mudanças sutis na
expressão facial a o surgimento de faces diferentes se sobrepondo à face
impressa. Este fenômeno ainda é pouco difundido na literatura nacional e
internacional (SIMAS, 2000).
O fenômeno Muitas-Faces é caracterizado: 1) pela percepção de movimento
ou mudança de expressão facial, que pode ocorrer nos olhos, boca, sobrancelha, na
face inteira ou em 3D; e 2) pelo surgimento de características diferentes ou outras
faces, de cabeça para baixo, a si mesmo, mais jovem, mais velho,
surgimento de dentes, bigode ou barba, mudança de cabelo ou faces de outras
identidades (SIMAS, 2000).
Após a descoberta do fenômeno, Simas realizou um estudo piloto com 25
voluntários (homens e mulheres) com faixa etária variando entre 7-77 anos, dos
quais 85% relataram alterações que variavam desde mudanças nas expressões
faciais até surgimento de outras faces, o que caracterizava o fenômeno (SIMAS,
2000).
Com o decorrer dos experimentos algumas características relacionadas ao
fenômeno foram observadas para que ele ocorresse mais facilmente. Segundo
Simas e Santos (2005), estas características seriam a reunião de características tal
como faces familiares centrada no ponto cego, estímulo acromático, faces variando
entre 15-25 graus de ângulo visual e níveis de contraste médios, porém estas
características ainda estão sendo investigadas. O fenômeno ainda pode ocorrer de
forma muito rápida (em “trens de flashes”), com um grande número de faces
desconhecidas e incluir expressão emocional. O tempo para observação ocorre
geralmente após um período de 20-210s em participantes que observam pela
primeira vez (SIMAS; SANTOS, 2005).
34
O fenômeno foi testado com a imagem centrada no ponto cego ou na região
contralateral ao ponto cego e em ambos foi observado da mesma forma (SIMAS,
2000).
Quanto ao gênero, não foi observada nenhuma diferença na ocorrência do
fenômeno, como também não foi observada diferença em lateralidade (preferência
pelo hemisfério direito ou esquerdo) (SIMAS; SANTOS, 2005).
Para Simas e Santos (2005) o fenômeno Muitas-Faces “parece estar
relacionado mais especificamente a uma adaptação à faces familiares e, à medida
que o efeito de adaptação ocorre, outras faces relacionadas ao mesmo mecanismo
de memória são percebidas (se sobrepondo a face indutora do efeito)”.
Com os resultados obtidos foram levantadas duas hipóteses principais: (i) a
que o organismo desde a infância vai se especializando em detectar faces; (ii) e que,
à medida que a criança vai se desenvolvendo, outras faces são percebidas e
armazenadas em sua memória. Esta hipótese é confirmada, em parte, pelo estudo
de D´Haan, Pascalis e Johnson (2002) que realizaram um estudo buscando
caracterizar a especificidade de respostas eletrocorticais de crianças para faces. Os
resultados indicaram um N170 em crianças com sensibilidade para faces. Uma outra
hipótese afirma que quando ocorre adaptação à face-estímulo o organismo começa
a perceber outras faces (SIMAS, 2000).
35
4. PERCEPÇÃO DE FACES E MUITAS FACES NA ESQUIZOFRENIA
4.1 PERCEPÇÃO DE FACES NA ESQUIZOFRENIA
O reconhecimento de faces é de suma importância para a comunicação
interpessoal e o comportamento. Havendo déficit na identificação da expressão
facial ou em sua identificação podem ocorrer efeitos dramáticos em um individuo ou
em suas interações sociais (SCHWARTZ et a., 2002).
Com a detecção de sistema neural especializado em percepção e
processamento de faces em pessoas normais (KANWISHER; YOVEL, 2006),
estudos relacionados foram realizados em portadores de esquizofrenia (YOON et al.,
2006). Atualmente existe muita literatura sugerindo que pacientes com esquizofrenia
sofrem déficits na percepção e processamento de faces (SCHWARTZ et a., 2002;
BILDER et al, 2000), porém a especificidade destes déficits e a deficiência neural
ligada à patologia ainda não foram completamente elucidados. Partindo de
resultados de pesquisas anteriores, foi realizada uma pesquisa utilizando fMRI para
avaliar o estado funcional do FFA em sujeitos com esquizofrenia e pessoas normais.
Os resultados obtidos indicaram não haver diferença na ativação do FFA entre os
dois grupos, ao contrário dos estudos anteriores, confirmando que áreas
responsáveis pela percepção neural de faces em esquizofrênicos estão preservadas
(YOON; ESPOSITO; CARTER, 2006).
Baseados nas informações de estudos que afirmam o prejuízo na
categorização de estímulos faciais, Guillaume et al. (2007) desenvolveram uma
pesquisa com o objetivo de investigar o efeito do contexto no reconhecimento de
faces (intrínseco/extrinseco), e contexto da tarefa (inclusão/exclusão) manipulando
alguns experimentos, em sujeitos com ou sem esquizofrenia. Os resultados obtidos
enfatizam que a heterogeneidade da lembrança e o prejuízo da memória refletem o
desequilíbrio entre dois mecanismos, um déficit na “lembrança associativa” e um
aumento da “lembrança discriminativa” impedindo sua capacidade de processar
informações separadamente do contexto perceptual (GUILLAME et al., 2007).
Outros estudiosos argumentam que pessoas com esquizofrenia percebem
36
objetos ou cenas de uma forma fragmentada, emergindo tarefas que exigem
transformação gestalt ou holística formando um déficit perceptual. Esta mesma linha
afirma que existe dificuldade nos processos top-down para organizar
perceptualmente ou integrar informações visuais. Diante dessas informações estes
estudiosos afirmaram que pessoas com esquizofrenia poderiam ser incapazes de
integrar funcionalidades de faces de forma coesa. A análise visual poderia ser
dirigida a características faciais discretas em detrimento da percepção do rosto como
um todo. Estas informações são apoiadas por vários achados na literatura
(SCHWARTZ et a., 2002).
Em uma série de quatro experimentos, inclusive com inversão de face e
reconhecimento de faces verticais, realizados com sujeitos com e sem o diagnóstico
de esquizofrenia, os dados mostraram que pacientes com esquizofrenia foram
sensíveis a mudanças na configuração do rosto. Em cada experimento, o padrão de
reconhecimento de rosto dos pacientes com esquizofrenia não difere das pessoas
normais. Identificação facial e de expressão de faces invertidas foram mais difíceis
de detectar do que identificar expressões de rostos na vertical. Memória de
reconhecimento para faces invertidas também foi mais fraca do que o
reconhecimento de rostos na posição vertical. Tal como acontece com muitas
conclusões anteriores, esta orientação para o efeito foi maior do que para outros
rostos ou objetos. O reconhecimento de identidade facial foi interrompido em um
compósito de rosto onde a metade superior da face de uma pessoa foi fundida com
a metade inferior do rosto de outra. O reconhecimento facial de identidade na cara-
metade interferiu na configuração de um novo rosto (SCHWARTZ et a., 2002).
A afirmativa da possibilidade de pacientes com esquizofrenia terem uma
sensibilidade normal para configuração e mudanças de faces é possível pois, a
configuração para faces é uma habilidade do processamento visual automático e
ocorre no início do desenvolvimento. Outra possível razão para o “porquê” de
pacientes com esquizofrenia mostrarem processamento intacto de Informação
configuracional é a de que eles tenham adquirido conhecimentos básicos sobre a
face precoce através de padrões e extensiva exposição a rostos visualizados numa
orientação normal vertical. Assim como em voluntários normais, pessoas com
esquizofrenia desenvolvem conhecimentos na posição vertical para reconhecer
rostos. Sua dificuldade em reconhecimento de faces invertidas, ou partes de
37
composição de faces, podem simplesmente refletir a sensibilidade a mudanças em
uma posição familiar (SCHWARTZ et a., 2002).
4.2 MUITAS-FACES NA ESQUIZOFRENIA
Desde o seu descobrimento, o Muitas-Faces foi estudado sob vários
aspectos, de forma cada vez mais controlada, porém até os dias atuais apenas
pessoas sem diagnóstico psiquiátrico participaram dos experimentos. Estudos
relacionados ao Muitas-Faces e esquizofrenia são ainda inéditos na literatura
mundial.
38
5. OBJETIVOS
_____________________________________________
Objetivo Geral:
Baseado em estudos fisiológicos e nos critérios diagnósticos da EZ que
afirmam que a cognição e percepção estão afetadas, o presente estudo tem como
objetivo verificar a ocorrência da observação do Muitas-Faces em esquizofrênicos
assim como seu efeito quanto à patologia.
Objetivos Específicos:
- Verificar a ocorrência da observação de Muitas-Faces em esquizofrênicos.
- Verificar a ocorrência da observação de Muitas-Faces em pessoas sem o
diagnóstico de patologias neuropsiquiátricas.
- Verificar em que grupo de voluntários o Muitas-Faces é mais freqüentemente visto.
- Verificar se há peculiaridades entre os dois grupos na observação do Muitas-
Faces.
39
6. METODOLOGIA
_____________________________________________
Considerações sobre os voluntários
Voluntários diagnosticados como esquizofrênicos segundo o CID 10 que
freqüentam Centros de Atenção Psicossocial, CAPS, na cidade de Recife/ PE
participaram deste experimento.
Os CAPS são unidades de atendimento para portadores de sofrimento
psíquico. Estes centros são distribuídos de acordo com a divisão territorial e cada
centro possui uma equipe profissional multidisciplinar, composta por assistente
social, enfermeiro, auxiliar de enfermagem, terapeuta ocupacional, psicólogo,
psiquiatra e nutricionista.
Foram obedecidos todos os parâmetros éticos e a pesquisa foi enviada para
prévia aprovação no Comitê de Ética. Os participantes fizeram parte da pesquisa
após lerem e assinarem o termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Os participantes do GE (grupo experimental) eram usuários de um de dois
CAPS da cidade de Recife, denominados “Esperança” e “Espaço Vida”. Antes de ser
realizada a pesquisa passou por prévia aprovação do Distrito Sanitário à que cada
um pertencia.
Após participarem do pré-teste (descrição abaixo) foram selecionados 20
sujeitos. Destes 17 eram freqüentadores do CAPS “Esperança”, sendo 10 homens e
7 mulheres. Apenas 3 sujeitos deste grupo eram usuários do CAPS “Espaço Vida”,
sendo 2 mulheres e 1 homem. Esta diferença se deve ao número maior de usuários
que freqüentam o CAPS “Esperança”.
A faixa etária média dos participantes deste grupo foi de 35 anos e a
escolaridade da maioria deles variou entre ensino fundamental completo e ensino
médio incompleto, 2 participantes eram analfabetos e apenas 1 possuía o nível
técnico.
O grupo controle (GC), formado por pessoas de ambos os sexos e sem
diagnóstico psiquiátrico, foi composto por acompanhantes de pessoas que estavam
40
espera de atendimento no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de
Pernambuco (HC-UFPE) e estavam em áreas adjacentes ao mesmo.
Os participantes deste grupo têm escolaridade compatível com o GE, no
entanto, devido à relevância da escolaridade, os sujeitos que atendiam a este critério
possuíam a média de idade de 40 anos, um pouco acima do GE.
Sobre o procedimento originalmente planejado
A princípio foi realizado um estudo piloto com 3 sujeitos do GE, no qual foi
dada toda a instrução do procedimento, que incluía fixar o olhar no ponto localizado
ao lado da face e mover a figura até atingir o ponto cego, foi pedido também que o
sujeito marcasse em um contador manual a quantidade de vezes que visse
alterações na figura.
Os sujeitos narraram dificuldade em encontrar o ponto cego ou quando
encontravam não conseguiam permanecer nele. Outra dificuldade encontrada foi
quanto ao contador manual, os sujeitos não conseguiam observar o fenômeno e
marcar o contador ao mesmo tempo. Devido a estas dificuldades a estratégia de
aplicação foi modificada, o experimento passou a ser feito a uma distância de
aproximadamente 20 cm, e foi retirado o uso do contador. Após estas adaptações foi
solicitado que o voluntário narrasse tudo o que estava vendo e quantidade de vezes
que isso ocorria para que fosse anotado.
Após os ajustes na aplicação do experimento foi realizado o pré-teste para
verificar quem dos voluntários conseguia ver o fenômeno e então eles fariam o
teste propriamente dito. O experimento foi realizado primeiro no GE e posteriormente
no GC.
41
1. O método para o pré-teste
1.1 Voluntários
Participaram do estudo, voluntários ingênuos (que nunca viram o Muitas-
Faces) de ambos os sexos, divididos em dois grupos, com diagnóstico de
esquizofrenia (GE) e sem o diagnóstico (GC), com visão normal ou corrigida por
óculos.
Em relação à quantidade de voluntários do sexo masculino e feminino, tanto a
amostra do GE quanto a do GC apresentaram equilíbrio, esse fator se deu por
acaso pois, como o critério para participar do experimento era conseguir ver o
fenômeno no pré-teste, isto restringiu bastante a quantidade de voluntários que
poderiam participar.
No GE participaram 11 homens e 9 mulheres, a faixa etária dos homens
variou entre 23 e 52 anos e a das mulheres entre 33 e 68 anos. No CG a quantidade
de homens e mulheres foi a mesma que no GE, 11 e 9, respectivamente, com a
faixa etária dos homens variando entre 19 e 62 anos e as mulheres entre 21 e 52
anos.
1.2. Material
Uma face feminina foi apresentada em uma folha de papel branco A4. A face
estava à esquerda ou à direita para mensuração da ocorrência do fenômeno de
muitas-faces com o olho esquerdo ou direito, respectivamente. Também foi utilizada
uma estante de partitura para colocar a folha de papel (estímulo).
42
1.3. Procedimento
Foi apresentada uma face com um círculo preto no nariz e um ponto de
fixação à direita ou à esquerda da face. O participante deveria fixar o olhar no ponto
indicado (cada olho separadamente), e relatar quando estivesse percebendo
qualquer alteração na imagem.
2. Método para o experimento:
2.1 Voluntários:
Após passar pelo pré-teste, participaram deste experimento os 40 voluntários
não ingênuos (que viram o fenômeno): 20 com diagnóstico de esquizofrenia e 20
sem o diagnóstico.
2.2. Material:
Uma face feminina foi apresentada em uma folha de papel branco A4, com o
tamanho (i.e. de 21 graus de ângulo visual). A face apresentada estava à esquerda
ou à direita para mensuração da ocorrência do fenômeno de Muitas-Faces com o
olho esquerdo ou direito. Também foram utilizados uma estante de partitura para
colocar a folha com o estímulo, um gravador de áudio (caso o voluntário aceitasse)
para que ele relatasse o que observou durante o experimento e um questionário
padrão (anexo III) que o voluntário responderia após o experimento.
43
2.3. Procedimento:
O experimento foi aplicado nos dois grupos de sujeitos. A face estímulo foi
colocada na estante e ficou a uma distância de aproximadamente 20 cm. O
procedimento consistia em apresentar uma face com um rculo preto no nariz e
marcar um ponto de fixação à direita ou à esquerda da face. O participante deveria
fixar o olhar no ponto indicado (cada olho separadamente). Ao início do experimento,
foram dadas as instruções para que o sujeito relatasse quando estivesse
percebendo outras faces (de outras identidades) ou mudanças de expressão ou
movimentos na face, respectivamente. O período de observação para cada olho foi
de um minuto e meio, 90 s.
Foi observado que os sujeitos do grupo experimental, em sua maioria,
apresentaram dificuldade de concentração durante o tempo que o voluntário deveria
fixar olhar no estímulo, assim como na narração do que estavam vendo e na
quantidade de vezes que viam alguma mudança. Foi pedido, então, que eles
falassem tudo o que estivessem vendo para que fosse anotado. Já no grupo controle
não foi observada qualquer dificuldade.
Após o experimento, foi solicitado que os voluntários respondessem a um
questionário (anexo III), contendo algumas perguntas padrão. Este questionário foi
utilizado apenas para verificar a natureza e o conteúdo das observações relatadas
por eles.
44
7. RESULTADOS
_____________________________________________
Tanto voluntários do GE quanto do GC observaram a ocorrência das duas
categorias. Os dados obtidos foram organizados em comparações entre os grupos
de voluntários que narraram eventos relacionados às categorias EMF e MF (1) e os
que não (0). O tratamento estatístico foi feito com o teste de proporções ajustado
para o N de cada grupo. Este teste avalia a probabilidade de que as proporções
observadas para cada grupo tenham ocorrido ao acaso ou não. Pra isso foi utilizado
o programa Statistica. Abaixo estão as proporções encontradas, resumidas em
histogramas.
Gráfico 1: Porcentagem de Voluntários que Relataram “” Muitas-Faces em EMF com
a visão do Olho Direito
O gráfico 1 mostra que 65% dos voluntários do GE e 50% do GC não viram
características relacionadas à categoria EMF e 35% do GE e 50 do GC viram. Não
houve significância na visão do OD para o EMF relatada por cada grupo.
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
Número de Voluntários (em
cada grupo)
Voluntários que Observaram o Fenômeno
Porcentagem de Volunrios que Relataram
"Muitas-Faces" em EMF com o Olho Direito
EMF OD EXP
EMF OD CONT
35 %
50 %
45
Gráfico 2:
Porcentagem de Voluntários que Relataram “Muitas-Faces” em EMF com
a Visão do Olho Esquerdo
O gráfico 2 mostra que 50% do GE e 40% do GC não narraram eventos
relacionados categoria EMF e, 50% do GE e 60% do CG sim. A narração do EMF
entre os grupos, com o OE, também não deu significante.
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
Número de Voluntários (em
cada grupo)
Voluntários que Observaram o Fenômeno
Porcentagem de Volunrios que Relataram
"Muitas-Faces" em EMF com o Olho
Esquerdo
EMF OE EXP
EMF OE CONT
50
%
60 %
46
Gráfico 3:
Porcentagens de Voluntários que Relataram “Muitas-Faces em MF” com
a visão do Olho Direito
De acordo com os resultados apresentados no gráfico 3, 30% do GE e 50%
Do GC não viram eventos relacionados à MF, enquanto 70% do GE e 50% do GC
relataram que viram. Os resultados não apresentaram diferença significante entre os
grupos na visão do MF com o OD.
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
Número de Voluntários (em
cada grupo)
Voluntários que Observaram o Fenômeno
Porcentagem de Volunrios que Relataram
"Muitas-Faces" em MF com o Olho Direito
MF OD EXP
MF OD CONT
70 %
50 %
47
Gráfico 4:
Porcentagem de Voluntários que Relataram “Muitas-Faces” em MF com
a visão do Olho Esquerdo
O gráfico 4 indica que 20% dos voluntários do GE e 55% do GC não viram
eventos relacionados à categoria MF, enquanto 80% do GE e 45% do GC viram.
Mais voluntários do GE relataram eventos relacionados a MF com o olho OE,
p=0,05.
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
Número de Voluntários (em
cada grupo)
Voluntários que Observaram o Fenômeno
Porcentagem de Volunrios que Relataram
"Muitas-Faces" em MF com o Olho Esquerdo
MF OE EXP
MF OE CONT
80 %
45 %
48
Gráfico 5:
Porcentagem de Voluntários que Relataram o “Muitas-Faces” em EMF e
MF com o Olho Direito
No gráfico 5 percebe-se que a grande maioria dos voluntários narraram a
observação das duas categorias do Muitas-Face com o OD, no total 85% dos
voluntários do GE e 75% do GC. Não houve significância entre os grupos.
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
Número de Voluntários (em
cada grupo)
Voluntários que Observaram o
Fenômeno
Porcentagem de Voluntários que Relataram
"Muitas-Faces" em EMF e MF com o Olho Direito
UNIÃO EMF+ MF OD EXP
UNIÃO EMF+ MF OD CONT
85 %
75 %
49
Gráfico 6:
Porcentagem dos Voluntários que Relataram o “Muitas- Face” em EMF e
MF com o Olho Esquerdo
No gráfico verifica-se que a maioria dos voluntários observaram as categorias
EMF+MF com o OE, 90% GE e 70% GC, a diferença entre os grupos não foi
significante.
Quando o experimento estava sendo aplicado no GE uma nova característica
narrada por vários sujeitos chamou a atenção. Ao aplicar o experimento em alguns
deles foi relatada a visão de cor. Esta visão ocorria na face toda ou em parte dela,
como também, em partes específicas, como boca, olho e cabelo.
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
Número de Voluntários (em
cada grupo)
Voluntários que Observaram o
Fenômeno
Porcentagem de Volunrios que Relataram
"Muitas-Faces" em EMF e MF com o Olho
Esquerdo
UNIÃO EMF+ MF OE EXP
UNIÃO EMF+ MF OE CONT
90 %
70 %
50
Gráfico 7
: Porcentagem de Voluntários que Relataram Surgimento de COR o Olho
DIreito
O gráfico 7 mostra a incidência de respostas referentes à visão de COR com
o OD, relatada pelos voluntários. Esta nova característica foi relatada tanto pelo GE
(45%) quanto pelo GC (25%), mas não houve diferença significante entre ambos.
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
Número de Voluntários (em
cada grupo)
Voluntários que Observaram o Fenômeno
Porcentagem de Volunrios que Relataram
Surgimento de COR com o Olho Direito
COR OD EXP
COR OD CONT
45 %
25 %
51
Gráfico 8:
Porcentagem de Voluntários que Relataram Surgimento de COR com o
Olho Esquerdo
O gráfico 8 indica a visão de COR com o OE, o resultado mostra que 40% dos
voluntários do GE e 25% do CG conseguem ver esta característica, mas estes
dados também demonstram que não diferença significante entre os grupos de
voluntários.
Os resultados também passaram por um teste de proporção para verificar se
existiam diferenças na percepção do fenômeno entre os voluntários do sexo
masculino e feminino pertencentes ao mesmo grupo e/ou a grupos diferentes.
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
Número de Voluntários (em
cada grupo)
Voluntários que Observaram o Fenômeno
Porcentagem de Volunrios que Relataram
Surgimento de COR com o Olho Esquerdo
COR OE EXP
COR OE CONT
40 %
25 %
52
TABELA 2
Porcentagem de respostas grupo x gênero
TESTE DE PROPORÇÃO
CATEGORIA
EMF
CATEGORIA
MF
CATEGORIA
EMF+MF
COR
OD OE OD OE OD OE OD OE
PORCENTAGEM
FEMININA
N=9
33% 33%
67
%
100% 67%
100
%
56% 56%
GE
PORCENTAGEM
MASCULINA
N=11
36% 64%
73
%
64% 100% 82% 36% 27%
P=0,0298 P=0,0268
PORCENTEGEM
FEMININA
N=9
56% 44%
56
%
44% 78% 56% 22% 11%
GC
PORCENTAGEM
MASCULINA
N=11
45% 73%
45
%
45% 73% 82% 27% 36%
P>0,05 P>0,05
O teste de proporção entre e intra grupos revelou que mais voluntárias do GE
relatam eventos relacionados à categoria MF com OE do que os homens do mesmo
grupo (GE), p= 0,0298, e das mulheres do GC, p=0,0088 .
A percepção do Muitas-Faces na união das categorias EMF e MF na condição
OD foi relatada por mais voluntários masculinos do GE, em relação a ambos:
homens do GC, p=0,0393, e mulheres do GE, p=0,0268.
TABELA 3:
Porcentagem de respostas quanto ao gênero x grupo a que pertencem
TESTE DE PROPORÇÃO
CATEGORIA
EMF
CATEGORIA
MF
CATEGORIA
EMF+MF
COR
OD OE OD OE OD OE OD OE
GE
33% 33% 67% 100% 67% 100% 56% 56%
FEMININO
N=9
GC
56% 44% 56% 44% 78% 56% 22% 11%
P=0,0088
P=0,0193
P=0,0301
GE
36% 64% 73% 64% 100% 82% 36% 27%
MASCULINO
N=11
GC
45% 73% 45% 45% 73% 82% 36% 27%
P=0,0393
A percepção de COR com o OE também deu significante. Ela foi maior nas
mulheres do GE do que nas mulheres do GC, com p=0,0301.
53
TABELA 4: Porcentagens totais
TESTE DE PROPORÇÃO
CATEGORIA
EMF
CATEGORIA
MF
CATEGORIA
EMF+MF
COR
OD OE OD OE OD OE OD OE
PORCENTAGEM
TOTAL
GE
N=20
35% 50% 70% 80% 85% 90% 45% 40%
PORCENTAGEM
TOTAL
GC
N=20
50% 60% 50% 45% 75% 70% 25% 25%
P=0,0140
Quanto às porcentagens totais do GE e GC, o resultado indicou significância
quanto a visão do MF com o OE, onde 80% dos sujeitos do GE e apenas 45% do
GC relataram ter visto, p=0,0140.
54
8. DISCUSSÃO
_____________________________________________
Desde o seu descobrimento, os estudos envolvendo o Muitas-Faces estão sendo
realizados sob diversos aspectos e de maneira cada vez mais controlada. No
entanto, todos eles foram realizados apenas com sujeitos sem diagnóstico
psiquiátrico.
O presente estudo foi realizado com o objetivo de observar o Muitas-Face em
portadores de doença psiquiátrica, mais especificamente, na esquizofrenia, a fim de
verificar se existe ou não diferenças significantes entre estes e as pessoas sem o
diagnóstico.
De acordo com a análise geral dos resultados, a situação em que ocorreu
significância diferenciando os grupos controle e experimental foi o da visão do
“Muitas-Faces” na condição experimental MF com o OE. Esta preferência da visão
no OE implicaria na preferência pelo hemisfério direito.
Na literatura especializada constam estudos que indicam o hemisfério direito
como coordenando funções importantes relacionadas à aprendizagem de categorias
de estímulos que têm em comum a necessidade de tratamento rápido e global de
informações. O reconhecimento de faces, e a memória espacial ou topológica
estariam entre as funções envolvidas (HABIB, 2000).
Ao contrário do que ocorreu na presente pesquisa, em estudos anteriores
envolvendo o “Muitas-faces” houve maior ocorrência de narrativas do fenômeno na
condição de visão com o OD, sugerindo preferência pelo hemisfério esquerdo,
principalmente na face estímulo de 21 graus de ângulo visual. Porém estes estudos
foram realizados em pessoas sem patologias psiquiátricas.
Além deste resultado, ainda ocorreu diferença significante entre grupos
referente à questão de gênero. Os resultados apontaram diferença significante na
união das categorias EMF e MF com o OD quando narrados pelos voluntários
masculinos do GE:a e a observação do MF pelas voluntárias femininas, tanto do GE
com o OE, como na união das categorias EMF e MF no GE com OE.
55
Outro aspecto ainda inédito do “Muitas-faces” é a narração da visão de cor or
alguns voluntários. Neste achado verificou-se diferença nos resultados das
voluntárias do GE com o OE.
De acordo com o objetivo proposto pelo presente estudo, e comparando estes
resultados aos obtidos em estudos realizados anteriormente, constatou-se uma
diferença entre as preferências dos hemisférios cerebrais para os portadores de
esquizofrenia e os que o apresentam a doença. Esta diferença de resultados, até
então inédita, nos leva a buscar mais informações através de estudos posteriores
mais aprofundados.
56
9. REFERÊNCIAS
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61
ANEXOS
62
ANEXO I:
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO PARA MAIORES DE 18 ANOS.
Título: Fenômeno Muitas-Faces: Efeito de Tamanho na Região do Ponto Cego.
Investigador: Christiane Delúsia de Oliveira Rocha (Fone: 8752 - 8018)
Forma de Contato: telefone: 8752-8018; e-mail: christiane_jp@hotmail.com
Local do Estudo: Centro de Atenção Psicossocial
Introdução e Objetivo: O nosso laboratório estuda a percepção visual da forma em humanos. A
percepção visual da forma investiga como o sistema visual detecta e reconhece objetos ou imagens.
Descrição do Estudo: Serão realizados testes visuais, usando um método comportamental onde
será apresentada uma foto-estímulo. O experimento dura cerca de 10 minutos. Analisando os
resultados saberemos a quantidade de participantes, seja do grupo controle ou do grupo com
diagnóstico de esquizofrenia, que vê o fenômeno e qual o tamanho do estímulo em que estes
participantes mais o vêem.
Riscos e Desconforto: Este estudo não traz nenhum risco nem desconforto as pessoas. O
participante tem apenas que dizer se viu alguma alteração na imagem.
Benefícios: Investigar e conhecer o funcionamento da percepção visual de faces na periferia por
portadores ou não portadores de esquizofrenia. Como se pode medi-lo com diversas faces-estímulo,
esperamos encontrar suas características principais que podem vir também a servir de teste de
memória visual.
Confidencialidade: A pessoa será identificada pelas suas iniciais e somente ela (ou seu
responsável), assim como os pesquisadores, terão acessos aos termos de consentimento e aos
resultados.
Formas de Ressarcimento e de Indenização: O teste será realizado na própria instituição, não
havendo despesas com transporte ou outros. Por não haver nenhum risco na realização dos
experimentos, não lhe será fornecido nenhum tipo de indenização.
Participação Voluntária: A participação é voluntária, isto implica que a pessoa não receberá nenhum
tipo de pagamento para participar da pesquisa. Mesmo depois de ler, entender e assinar o Termo de
Consentimento você poderá se recusar e/ou deixar de participar da pesquisa a qualquer momento
sem nenhum ônus.
Eu, ____________________________________________, RG _____________, concordo em
participar de testes visuais do Laboratório de Percepção Visual-UFPE, localizado no Departamento de
Psicologia no Centro de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Pernambuco
(UFPE).
Recife, ___/____/200___
Assinaturas:
_______________________________________________
Voluntário:
____________________________________________________
Pesquisador:
___________________________________ __________________________________
1º Testemunha 2º Testemunha
63
ANEXO II:
SOLICITAÇÃO CARTA DE ANUÊNCIA
Profª. Drª. Maria Lúcia de Bustamante Simas
LABORATÓRIO DE PERCEPÇÃO VISUAL, LabVis-UFPE
_______________________________________________________________________________________________________________________________________
_______________
Departamento de Psicologia
Centro de Filosofia e Ciências Humanas, CFCH
FONE: (081)3441-7547
Universidade Federal de Pernambuco, UFPE
FONE (Deptº): (081) 2126--8270
CEP 50.670-900, Recife, PE, Brasil
e-mail:mari[email protected]m.br
Recife, __ de _____________ de 2007
Ilmª Srª
Dra.
Gerente de Distrito
Referente:
Autorização para conduzir experimentos no
CAPS
Prezados Senhores,
Gostaríamos de solicitar que seja autorizada a realização de uma pesquisa
conduzida pela equipe do Laboratório de Percepção Visual da Universidade Federal
de Pernambuco.
A descrição da pesquisa está apresentada no Termo de Consentimento Livre
e Esclarecido que se encontra em anexo.
Agradecendo o apoio à pesquisa do LabVis-UFPE, coloco-me à disposição
para quaisquer esclarecimentos.
Atenciosamente,
Maria Lúcia de Bustamante Simas
64
ANEXO III:
Carta de Anuência
Eu, ________________________________________________________________,
CPF _______________, RG ________________ gerente do CAPS (Centro de
Atenção Psicossocial) ____________________, situado no endereço:
__________________________, CNPJ __________________________, autorizo
Christiane Delúsia de Oliveira Rocha, CPF ______________________ e RG
______________ a realizar a pesquisa da dissertação do mestrado de Psicologia da
Universidade Federal de Pernambuco – UFPE, sobre Fenômeno Muitas-Faces como
Observado na Esquizofrenia..
Estou ciente que as informações colhidas através desta investigação serão
estritamente confidenciais, porém, estou de acordo de que os dados científicos,
desde que não sejam identificados, poderão ser usados em congressos e
publicações, pois só assim serão compartilhados com outros centros de estudo.
Recife, ___ de ______________ de 2007.
________________________________
Gerente do CAPS
65
66
ANEXO IV -
QUESTIONÁRIO:
1. O que você viu acontecer na imagem?
2. Você observou mudança lenta ou rápida?
3. Você viu sempre o mesmo rosto?
4. Você viu movimento?
5. Você viu o rosto mudar para alegre, triste, zangado, feliz, etc?
6. Você viu mudar muito? Quantas vezes?
67
ANEXO V:
OLHO DIREITO
68
ANEXO V:
OLHO ESQUERDO
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