contato. Quem foram seus mestres? Infelizmente, essa pergunta só pode ser
respondida de forma indireta, pois, Ramon não tinha o hábito de citar suas fontes.
114
Dentre as obras e os mestres de sua educação autodidata, estão a Bíblia, o Alcorão,
o Talmude,
115
Calila e Dimna,
116
e textos de mística árabe, o sufismo;
117
entre os
114 Llull era um autodidata em grande parte de sua formação. Percebe-se em seu conhecimento
influências do espírito cisterciense, o que explicaria sua oposição ao averroísmo. Há em sua obra
uma predileção pelo agostianismo e pela exaltação mística. Assim, seu pensamento estaria mais
próximo às correntes de pensamento e à mística do século XII, sendo considerado por isso, um
homem fora do seu tempo. LLINARÈS, A. op. cit., p. 67, 68-69, nota 42.
115 CARRERAS I ARTAU, op. cit., p. 262-263, nota 1. O Talmude é o livro do Judaísmo. Enquanto o
Chumash (Pentateuco ou os cinco livros de Moisés) fazem referência aos Mandamentos, o
Talmude os explica, discute e esclarece. É considerado pelos judeus uma forma de compilação
da Lei Oral, transmitida por Deus a Moisés, no Monte Sinai. Tem dois componentes principais: a
Mishná, livro sobre a lei judaica, escrito em hebraico, e a Guemará, comentário e elucidação do
primeiro, escrito em hebraico-aramaico. O Talmude cobre uma ampla variedade de assuntos,
seguindo, no entanto, um plano coerente e muito bem estruturado, a Mishná, pilar central da Lei
Oral. Comparada à Guemará, é concisa e objetiva. Compõe-se de uma série de declarações,
organizadas por assunto e tópico, que ensinam as leis, a tradição e a história judaica. Em
hebraico, a palavra Talmud significa “estudo” ou “aprendizado”. O objetivo primordial do Talmude
é a busca da verdade. A obra está praticamente toda estruturada em perguntas e respostas.
DJMAL, Tev. O que é o Talmud? (trad. Lilia Wachsmann). In: Revista Marashá, Edição 43,
dezembro de 2003. Disponível em: www.morasha.com.br/edicoes/ed43/talmud.asp. Acesso: 27
de julho de 2007.
116 Calila e Dimna foi a versão de Afonso X, o Sábio (1252-1284) do clássico Kalila wa Dimna. Trata-
se de uma coletânea de contos e fábulas de caráter político e moral. A origem do Calila remonta,
em parte, ao livro indiano, redigido em sânscrito, chamado Panchatantra. Abdallah Ibn Al-
Muqaffa’, por volta de 750, foi o responsável pela versão ao árabe do antigo manuscrito em
pehlavi, intitulando-a Kalila wa Dimna, versão que originou traduções em várias outras línguas,
como o castelhano El Libro de Calila e Digna, traduzido em 1251 diretamente do original árabe
de Ibn Al-Muqaffa’. O Panchatantra pertence ao gênero de livros chamado niti-shastra (“ciência
ou trabalho sobre ética política ou moral”), ou seja, é um “livro de niti: uma maneira prudente e
sábia de se viver (...)”. Niti é um modo prático que conduz a um modo de se viver seguro e
proveitoso. FUJIKURA, Ana Lúcia Carvalho. Os Provérbios no Livro de Calila e Digna. In:
Collatio. Ano II nº 4 julio-deciembre 1999. Disponível em:
http://www.hottopos.com/collat4/os_proverbios_no_libro_de_calila.htm. Acesso: 25 de julho 2007.
Ramon Llull provavelmente conheceu várias obras de influências arábicas, dentre elas estaria
o conto Kalila e Dimna. COSTA, Ricardo da. A novela na Idade Média: o Livro das Maravilhas
(1288-1289) de Ramon Llull. Artigo publicado no MiniWeb Educação. Disponível em:
www.ricardocosta.com/univ/novela.htm. Acesso: 25 de julho de 2006. Cf. também IBN AL-
MUKAFA. Calila e Dimna (trad. e apres. de Mansour Challita). Rio de Janeiro: Associação
Cultural Internacional Gibran, s/d.
117 O sufismo (ou tasawwuf) é um campo da mística muçulmana. No século XIII era a principal
forma de mística islâmica na Península Ibérica. Seu maior difusor nessa região foi Abenarabi (Ibn
al-Arabí, 1165-1240). O sufismo conceitua a concepção islâmica para as perfeições divinas
(hadras), que podem ter inspirado o conceito de dignidades divinas em Ramon Llull. MATA, op.
cit., p. 67-68, nota 12. Para ter uma visão mais aprofundada do sufismo consultar PAREJA, op.
cit., p. 289-345, nota 19.
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