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Alves e Galeão-Silva (2000) afirmam que as empresas, atuando globalmente, passaram a
dominar as relações na sociedade, dependendo cada vez menos dos Estados-Nação. Nesse
sentido, ocorreu a desregulamentação que mantinha salários e empregos protegidos, levando à
precarização das condições de trabalho. A relação trabalhador-empresa não comporta mais
nenhum tipo de fidelidade, e este trabalhador deve se capacitar, a fim de enfrentar os desafios
e manter sua empregabilidade. Abaixo, seguem visões contraditórias das condições atuais de
trabalho nas organizações contemporâneas:
Há algum tempo atrás, você falava muito em estabilidade no emprego, em
segurança no emprego. E isso mudou muito. Na verdade, o que se espera hoje é, eu
acho que tanto o profissional tem que esperar da empresa quanto a empresa tem que
esperar do profissional, é uma lealdade, uma fidelidade. Então você ser fiel, você
acreditar naquilo que você está fazendo, naquela empresa que você está nela, no
colega de trabalho, você ter confiança que... o que o outro está fazendo? Eu estou
entregando aquilo, o meu, e o outro está entregando, trabalhando o todo junto. Então
eu acho que são pontos interessantes que vale a pena a gente estar tentando pensar
neles (Entrevistada 11, Empresa TI, Gestora).
[...] a empresa não é leal na hora com você, você também não é com ela (...) No
sentido de que eu estou aqui hoje, amanhã pode aparecer uma outra oportunidade e
me pagar mais. Se for um lugar que for me satisfazer, por que não? Então em
relação à lealdade é nesse sentido que eu penso. Porque também, você está lá no
emprego. Na hora que tiver que mandar embora, você pode ser branco, preto e tal,
se você estiver ali, na hora, você é que vai (Entrevistado 14, Empresa TI, analista).
Naquela época era bom, não é, o pessoal procurava pela gente
[...] porque hoje é engraçado, as pessoas não ficam muito tempo no emprego [...] Eu
sou da velha guarda [...] eu fui pra Industrial I, e saí da Industrial I para a Empresa
TI, então não foi uma saída, foi uma primeira rescisão contratual que eu tive, me
deu uma dor no coração [...] Então, a questão simplesmente de emprego, o fato de
você estar empregado, os tempos estão mudando. Hoje não é assim mesmo. [...]
Você tem que conseguir um trabalho. E aquele trabalho tem que render pra você,
com certeza. Mas não necessariamente você estar só empregado. Você ter o seu
salário no final do mês, isso é bastante importante, mas hoje as características
mudam, a pessoa não tem aquela perspectiva daquela parte fixa” (Entrevistado 21,
Empresa TI, consultor).
Observa-se, nos depoimentos acima, que permanece e se estabelece um clima de insegurança
e certa desorientação. A empresa é referência, mas não apresenta mais os elementos para uma
ancoragem tradicional. Com base em Benjamim (1972), Pimenta (1996, p.11) acentua que