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estatal do petróleo), criado em 4 de fevereiro de 1948
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e demonstravam
disposição para a defesa dos interesses nacionais em detrimento dos norte-
americanos, que faziam pressão desde a Segunda Guerra Mundial em realizar
acordos comerciais e estratégicos que garantissem o apoio do Brasil aos
Estados Unidos no seu papel de potência mundial, em troca da supremacia
brasileira na América do Sul.
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Embora a conjuntura internacional sofresse alterações, o governo JK
não assinalava nenhuma alteração substancial em matéria de política
externa
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e a orientação básica da diplomacia brasileira, herdada em maior ou
152
Na verdade meses antes da deposição de Vargas, em 1945, o presidente do Conselho Nacional do
Petróleo (CNP), coronel João Carlos Barreto, assinou uma exposição de motivos que, contrariando a
Constituição outorgada em 1937, admitia a participação de capitais privados estrangeiros na indústria do
petróleo, desde que integrados em empresas constituídas no Brasil. Tal medida não teve conseqüências
práticas, mas na elaboração da Constituição de 1946 foi esse o critério adotado ao se tratar da matéria.
Mas se isso preocupava as forças nacionalistas - das mais diversas colorações, indo de um extremo a
outro do espectro, de Bernardes aos comunistas -, não atendia à expectativa das empresas estrangeiras,
porque a legislação ordinária tornava desinteressante o ingresso delas na pesquisa e na lavra do petróleo.
Em 1947 o presidente Dutra nomeou uma comissão para elaborar o Estatuto do Petróleo, de modo a
definir a maneira como o país, cujo consumo do produto crescia rapidamente, iria equacionar o problema.
Antes mesmo de chegar ao Congresso o anteprojeto do estatuto, houve uma vigorosa reação nacionalista,
que se transformou na Campanha do Petróleo. Um dos centros aglutinadores da campanha foi o Clube
Militar, onde atuavam muitos militares nacionalistas.
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Em ocasiões diversas Osvaldo Aranha, Ministro das Relações Exteriores de 1938 a 1944, repetiu que a
política externa brasileira se resumia na seguinte orientação: apoiar os Estados Unidos em seu papel de
potência mundial, em troca do apoio destes a supremacia do Brasil na América do Sul. Conforme a
prática na condução da política externa brasileira, essa orientação era descrita por Aranha como uma
tradição, legada principalmente pela chancelaria do Barão do Rio Branco. Inserida no governo Vargas, tal
política devia auxiliar os projetos do governo que buscavam centralizar e modernizar o Estado e
industrializar o país. Supunha-se, portanto, que uma aliança com os norte-americanos renderia frutos
neste sentido. Rev. Bras. Polít. Int. 48 (1): 151-177 [2005]
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Na segunda metade da década de 1950, o cenário internacional, marcado pela “Guerra Fria” desde o
fim da Segunda Guerra Mundial, começou a passar por importantes transformações. A competição entre
EUA e URSS pelo controle de áreas de influência em todo o planeta permanecia, mas começou a adquirir
nova feição, entrando numa fase que ficou conhecida como de "coexistência pacífica". A "coexistência
pacífica" se originou, principalmente, de mudanças internas na própria URSS, com a morte do autocrático
Joseph Stalin, em 1953, e a ascensão de Nikita Kruschev. Além de promover um início de liberalização
interna – a chamada "desestalinização" –, Kruschev procurou deslocar o conflito entre as superpotências
do plano puramente militar para as áreas econômica e tecnológica. O lançamento do satélite soviético
Sputnik, em 1958 – que maravilhou o mundo e demonstrou a superioridade inicial da URSS em matéria
de tecnologia espacial – foi o ápice dessa nova política.
Mas a idéia de uma "coexistência pacífica" se originou também do reconhecimento, por ambas as
superpotências, de que o conflito aparentemente irreconciliável que as separava dificilmente poderia ser
resolvido apenas pela via militar, tendo em vista o potencial letal, para toda a humanidade, do arsenal
nuclear detido por ambas. Uma outra alteração no sistema internacional que contribuiu para a
flexibilização da Guerra Fria foi o aprofundamento da descolonização afro-asiática. O nascimento de
dezenas de novos Estados independentes na Ásia e na África implicou o surgimento de uma nova
categoria de nações. Daí a expressão "Terceiro Mundo", que passou, então, a designar esse grupo distinto
de "países em desenvolvimento", em sua esmagadora maioria composto de ex-colônias e que, por sua
evolução histórica e patamar de desenvolvimento econômico, social e político específico se sentia
distante tanto dos países capitalistas desenvolvidos – o "Primeiro Mundo" –, quanto dos países socialistas
– o "Segundo Mundo". É importante notar que a América Latina – aí incluído o Brasil, naturalmente –