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CENTRALIZAÇÃO DA DISTRIBUIÇÃO E CUSTOS DE TRANSPORTE:
ESTUDO DE CASO DA AMBEV
Erik Novaes de Almeida Silva
DISSERTAÇÃO SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DA COORDENAÇÃO DOS
PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE
FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS
NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM CIÊNCIAS
EM ENGENHARIA DE TRANSPORTES.
Aprovada por:
Prof. Hostilio Xavier Ratton Neto, Dr
Prof. ª Milena Bodmer, D.Sc
Prof. Newton Rabello de Castro Junior, D. Sc
RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL
JUNHO DE 2006
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SILVA, ERIK NOVAES DE ALMEIDA
Centralização da Distribuição e Custos de
Transportes: Estudo de Caso da Ambev.
Brasil [Rio de Janeiro] 2006
IX, 85 p.29,7 cm (COPPE/UFRJ,
M.Sc., Engenharia de Transportes, 2006)
Dissertação – Universidade Federal do
Rio de Janeiro, COPPE
1. Custos de Distribuição no transporte de Carga
2. Distribuição Urbana
I. COPPE/UFRJ II. Título ( série )
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DEDICATÓRIA
À minha vó.
À minha família.
iv
AGRADECIMENTOS
A meu grande amigo Nei, por toda ajuda e apoio.
A meus pais pelo incentivo e cobrança nas horas certas.
Ao professor Hostilio, pela orientação e todos os comentários.
À AmBev, por permitir estudar a empresa e me ausentar sempre que necessário.
À Jane e Helena, que sempre me apoiaram.
A todos os funcionários do PET, que me ajudaram muito durante todo o período.
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Resumo da Dissertação apresentada à COPPE/ UFRJ como parte dos requisitos necessários
para a obtenção do grau de Mestre em Ciências (M.Sc.)
AVALIAÇÃO DE PROCESSOS PARA A DISTRIBUIÇÃO URBANA DE BEBIDAS:
UM ESTUDO DE CASO
Erik Novaes de Almeida Silva
Março / 2006
Orientador: Hostílio Xavier Ratton Neto
Programa: Engenharia de Transportes
Esta dissertação tem, como tema principal, a análise da gestão de transportes adotados na
distribuição urbana de bebidas. A cadeia de distribuição de bebidas pode ser dividida em
cinco diferentes fases: produção, armazenagem na unidade produtora, transporte da unidade
produtora ao centro de distribuição, armazenagem no centro e distribuição aos clientes. O
foco desse trabalho está na análise logística a partir da saída do produto da fábrica até sua
chegada ao centro de distribuição. Trata-se de analisar a evolução das estratégias logísticas
empregadas nesse setor e os resultados obtidos. Inicialmente terceirizada, aos poucos a
distribuição dos produtos da empresa analisada passou a ser realizada por centros de
distribuição próprios. O modelo de distribuição própria foi acompanhado à centralização
operacional, tática e estratégica da atividade.
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Abstract of Dissertation presented to COPPE/UFRJ as partial fulfillment of the
requirements for the degree of Master of Science
EVALUATION OF BEVERAGE´S URBAN DISTRIBUTION PROCESSES: A CASE
STUDY
Erik Novaes de Almeida Silva
March / 2006
Advisor: Hostílio Xavier Ratton Neto
Program: Engenharia de Transportes
Abstract
This dissertation presents, as main subject, the transportation management system apllied
on beverages’s urban distribution. This process can be divided into five phases: production,
wharehousing, transportation from plants to distribution centers, wharehousing at
distribution centers, distribution to consumers. The focus of this assignment is to study and
discuss the logistics processes developed after the product leaves the factory untill it gets to
the distribution centers. The analisys refers to the evolution of the logistic model in the
beverage sector and the results obtained. The urban distribution, once performed
exclusivelly for third parts - at the analised company -, began to be performed by own
ways. This logistic model brought the centralized control of operational, tactical and
strategic activities.
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SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO .............................................................................................................1
1.1. Objetivo do Estudo .......................................................................................2
1.2. Importância do Tema ...................................................................................3
1.3. Metodologia de Pesquisa .............................................................................3
1.4. Delimitação do Estudo .................................................................................5
1.5. Estrutura .......................................................................................................5
2. SISTEMAS DE DISTRIBUIÇÃO FÍSICA URBANA .............................................7
2.1. Gerenciamento da Cadeia de Distribuição ...................................................7
2.1.1 Canais de Distribuição em Áreas Urbanas ......................................10
2.2. Centros de Distribuição ..................................... .........................................12
2.2.1 Caracterização de Centros de Distribuição ......................................12
2.2.2. Atividades do Centro de Distribuição ..............................................14
2.2.3. Estratégias de Localização de Centros de Distribuição ...................16
2.2.4. Classificação dos Problemas de Localização ...................................20
2.3. Estratégias de Roteirização ..........................................................................21
3. CUSTOS ASSOCIADOS À DISTRIBUIÇÃO FÍSICA ...........................................27
3.1. Conceito de Custos, Despesas e Gastos .......................................................27
3.1.1. Custos Diretos e Indiretos .................................................................28
3.1.2. Custos Fixos e Variáveis ..................................................................28
3.2. Custos do Transporte Rodoviário de Cargas ...............................................29
3.2.1. Custos Diretos e Indiretos de Transportes ........................................31
3.2.2. Custos Fixos e Variáveis no Transporte ...........................................32
3.2.3. Planilha de Custos de Transporte Rodoviário ..................................33
3.3 Custos do Sistema de Estocagem .................................................................38
3.3.1. Manutenção de Estoques ..................................................................39
3.3.2. Movimentação e Armazenagem .......................................................41
viii
3.3.2.1. Custos de Movimentação ................................................41
3.3.2.2. Custos de Armazenagem ................................................42
4. EVOLUÇÃO DO MODELO DE DISTRIBUIÇÃO ...............................................45
4.1 Histórico da Companhia AmBev..................................................................45
4.2 Processo de Distribuição das Companhias Brahma e Antarctica ................45
4.2.1 Modalidades de Atendimento ao Mercado Varejista...........................45
4.2.2 Evolução Histórica dos Sistemas de Distribuição................................47
4.3 Perfil da Distribuição da AmBev ................................................................50
4.3.1 Características dos Centros de Distribuição Direta AmBev ..........55
5. ESTUDO DE CASO: ESTRATÉGIAS ADOTADAS PARA REDUÇÃO DOS
CUSTOS DE TRANSPORTE .........................................................................................59
5.1 Introdução ..................................................................................................59
5.2 Custos de Transportes em Revendas...........................................................59
5.3 Composição dos Custos de Distribuição Direta ........................................ 60
5.3.1 Estratificação dos Custos Totais de Distribuição ...........................60
5.4 Custos de Transporte ..................................................................................63
5.5 Transporte de Produto Acabado entre Fábricas e CDDs ...........................68
5.5.1. Racionalização de Processos e Atividades......................................69
5.5.1.1. Características da Transferência Descentralizada........................69
5.5.1.2. Característica da Transferência Centralizada...............................71
5.5.2. Otimização da Capacidade de Carga.............. ................................72
5.5.3. Aumento da Produtividade da Frota................................................75
5.6 Variação de Índice de Inflação e Custos de Transporte AmBev................79
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................81
6.1. Conclusões ................................................................................................81
6.2. Recomendações de Pesquisa .....................................................................82
ix
Lista de Quadros
Quadro 1: Comparação entre centros de distribuição particular e público...........................13
Quadro 2: Evolução da Quantidade de Revendas em Atividade .........................................51
Quadro 3: Composição do Custo Total de Distribuição.......................................................62
Quadro 4: Comparativo
dos Custos de Distribuição entre CDDs..........................................63
Quadro 5: Estratificação de Custos Fixos e Variáveis..........................................................65
Quadro 6: Abertura de Custos Fixos e Variáveis de Transporte ..........................................67
Quadro 7: Capacidade de Transporte da Frota Dedicada.................................................
....72
Lista de Gráficos
Gráfico 1: Revendas por
Bandeira........................................................................................52
Gráfico 2: Divisão de Revendas entre Mono, Bi e Tri Marcas.............................................53
Gráfico 3: Percentual de Volume por Tipo de Revenda.......................................................54
Gráfico 4: Volume de Distribuição de Revendas..................................................................54
Gráfico 5:Evolução do Número de Revendas em Operação.................................................55
Gráfico 6: Volume de Distribuição de CDDs.......................................................................56
Gráfico 7: Percentual de Volume Distribuído por Revendas e CDDs..................................56
Gráfico 8: Comparação entre Custos Fixos e Variáveis.......................................................64
Gráfico 9: Média Ponderada de Tempos de Carregamento e Descarga da Frota Dedicada.77
Gráfico 10: Produtividade de Circuitos Fábrica-CDD.........................................................78
Gráfico 11: : Índices de Inflação x Custos de Transporte AmBev.......................................79
Lista de Figuras
Figura1: Paralelismo entre Distribuição Física e Canais de Distribuição ............................8
1
1. INTRODUÇÃO
Devido à sua complexidade operacional e impacto direto nos resultados das grandes
empresas - sejam estes financeiros, de vendas ou marketing – a logística tem recebido
continuamente maior importância no âmbito do planejamento estratégico destas
corporações. O aumento das particularidades e dificuldades dos mercado, conseqüência de
uma maior gama de produtos ofertados, maior freqüência de entregas, alto custo da
manutenção de estoque entre outras exigências de melhoria de nível de serviço, torna
imprescindível às corporações aprimorar seus sistemas logísticos de forma a corresponder
às exigências dos consumidores sem, contudo, incorrer em custos elevados (adaptado de
Fleury et al, 2000).
Sob qualquer perspectiva - custos, valor aos clientes ou importância estratégica para
a missão da empresa - a logística é vital. No entanto, apenas nos últimos anos as empresas
se empenharam, de maneira contundente, em administrar as atividades da cadeia de
suprimentos de forma integrada, ou seja, a analisar produtos e serviços como um fluxo
ininterrupto das fontes de matérias-primas aos consumidores finais (Ballou, 2001). Ao
tratar de planejamento estratégico voltado para a gestão logística, três vértices mostram-se
fundamentais e interdependentes, a saber:
Localização das Instalações
Política de Estoque
Gestão de Transportes
De acordo com Ching (1999), a cadeia logística é uma forma integrada de planejar e
controlar o fluxo de mercadorias, informações e recursos, desde os fornecedores até o
cliente final. A gestão da cadeia logística pode ser defina como esforços envolvidos nos
diferentes processos e atividades empresariais com a finalidade de criar valor na forma de
produtos e serviços para o consumidor final. Com a gestão integrada da logística, procura-
se administrar as relações na cadeia logística de forma cooperativa e benéfica para todos os
2
envolvidos oferecendo aos clientes produtos de boa qualidade, entregues no prazo
acordado, na forma estabelecida e dentro da quantidade desejada e proporcionando à
empresa a satisfação do cliente, sua fidelização e a rentabilidade que esta relação
pressupõe.
Ching (1999) estrutura a cadeia logística integrada em três grandes blocos:
Logística de suprimentos. Gerencia as relações entre a empresa e seus fornecedores.
Seus principais objetivos são desenvolver produtos e garantir a qualidade das matérias-
primas, componentes e embalagens que atendam aos requisitos de fabricação, de forma
a obter o menor custo total possível dentro da cadeia logística.
Logística de produção. Objetiva sincronizar a produção com as demandas. Cabe à
logística de produção transformar os materiais em produtos finais ou acabados, dentro
de prazos pré-definidos.
Logística de distribuição. Gerencia a relação empresa/consumidor. Responsável pela
distribuição física dos produtos acabados, a logística de distribuição deve maximizar o
atendimento ao cliente, proporcionando o nível de serviço adequado, sem incorrer em
custos desnecessários.
O sucesso e a eficiência da cadeia logística e, mais especificamente, da cadeia de
distribuição, dependem de um alto grau de cooperação entre as empresas participantes. O
fluxo constante e confiável de informações é fator determinante no gerenciamento da
cadeia de distribuição e essencial para que bons resultados de satisfação das exigências dos
clientes finais sejam atingidos.
3
1.1. Objetivos do Estudo
O objetivo principal desta dissertação é estudar os impactos na gestão de transportes
oriundos da concentração/ centralização da atividade de distribuição física da AmBev,
maior empresa de bebidas do Brasil.
Para o desenvolvimento da análise do caso foi realizado o mapeamento dos
processos e atividades do sistema de distribuição física da empresa e sua estrutura/ abertura
de custos. Dessa forma foi possível entender e avaliar os resultados obtidos nas três
dimensões priorizadas pela Companhia na redução dos custos de transportes: otimização da
capacidade de carga, produtividade de ativos, racionalização de processos e atividades.
1.2. Importância do Tema
Para que as empresas atinjam os níveis de serviço exigidos pelos clientes, é
essencial que toda a cadeia logística esteja integrada e opere na busca de objetivos em
comum. Dentro dessa estrutura, a logística de distribuição é o elo entre toda a cadeia
(incluídos a empresa, seus fornecedores e prestadores de serviço) e o cliente final e,
consequentemente, parte de fundamental importância.
No mercado de bebidas, no qual são exigidas entregas porta a porta, com pequenos
volumes e alta freqüência, equívocos no sistema de gestão ou no planejamento estratégico
das operações de distribuição acarretam prejuízos financeiros e de imagem às empresas.
Garantir a presença de seus produtos no mercado consumidor (local), no momento exigido
(tempo) e com o menor custo possível (custo) é o grande papel da distribuição.
Nesse contexto, a atividade de transporte, além de representar a parcela mais
relevante dos custos logísticos na maior parte das organizações, gerando, em média, 60%
das despesas logísticas, influencia diretamente diversas dimensões de nível de serviço ao
cliente (Fleury et all, 2000).
4
1.3. Metodologia de Pesquisa
Yin (1994) afirma que o estudo de caso é uma forma de pesquisa que busca
investigar um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto de vida real, especialmente
quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos. Estudos
de caso representam a estratégia preferida quando se colocam questões do tipo “como” e
“por que”, quando o pesquisador tem pouco controle sobre os eventos e quando o foco se
encontra em fenômenos contemporâneos inseridos em algum contexto da vida real. Para
melhor compreensão e apresentação do tema pesquisado, o estudo de caso explanatório
pode ser complementado por dois outros tipos – estudos exploratórios e descritivos. Dessa
forma, o estudo de caso representa uma maneira de se investigar um tópico empírico
seguindo-se um conjunto de procedimentos pré-estabelecidos.
A dissertação apresentada baseia-se em um estudo de caso da empresa AmBev,
respaldado por uma ampla revisão bibliográfica a respeito de sistemas de distribuição física
de mercadorias e custos de transportes, referencial teórico onde se buscou identificar e
apresentar o estado da arte do tema estudado.
O processo de evolução e centralização do sistema de distribuição da AmBev foi
analisado com base em material disponível em livros, periódicos, jornais, revistas e sites.
Assim foi possível estabelecer uma linha temporal na qual são entendidos os diversos
estágios desse processo.
Buscou-se entender os custos de distribuição e seus reflexos em Centros de
Distribuição Direta (CDD) localizados a diferentes distâncias da principal fábrica
abastecedora. Dessa forma, baseado na distância fábrica-CDD, o estudo estabelece três
gupos: inferiores a 150 km, entre 150 e 400 km e superiores a 400 km. Essa classificação
facilita o entendimento e análise da representatividade dos custos de distribuição nos
diversos casos e auxilia na determinação de priorizações.
5
Para a análise da gestão de transporte foram estudados os pilares de otimização da
capacidade de carga, produtividade de ativos e racionalização de processos e atividades.
Entre os principais indicadores de desempenho abordados, encontram-se: produtividade de
frota (%), tempos internos de atendimento de fábricas e CDDs (min) e capacidade de carga
da frota (paletes/ veículo).
No fim do tabalho, de forma a verificar a eficácia do modelo de gestão de
transportes e das estratégias adotadas pela empresa serão comparados os principais índices
gerais de inflação, os índices específicos relacionados a transportes e a variação dos custos
de transportes da AmBev, de 2002 a 2005.
1.4. Delimitação do Estudo
O estudo apresentado foi realizado considerando como base a operação brasileira
de distribuição física rodoviária de bebidas da companhia estudada. Portanto, não abrange
os centros de distribuição localizados em outros países, nem os casos isolados, e ainda
incipientes, em que o abastecimento desses centros, sejam eles nacionais ou internacionais,
são realizados por modo de transporte diferente do rodoviário, a saber, cabotagem ou
ferroviário.
Apesar de mencionar ao longo do texto todos os processos de distribuição física da
empresa estudada (transporte, armazenagem e entrega), a dissertação estabelece como foco
do estudo e das análises as operações de transporte de mercadorias entre fábricas e Centros
de Distribuição Direta. Dessa forma, não se buscou abordar em detalhes os temas de
armazenagem, entrega aos clientes finais (seja por revendas ou CDDs) e transporte entre
fábricas e revendas.
6
1.5. Estrutura
O estudo realizado está dividido em 6 capítulos. O primeiro deles apresentou a
introdução do trabalho, explicando seu objetivo, a importância do tema, a metodologia de
pesquisa empregada e suas delimitações.
O segundo capítulo apresenta detalhes sobre a atividade de distribuição física
urbana, localização de facilidades e roteirização de veículos, estratégias fundamentais para
a eficiência da cadeia de distribuição. Os Centros de Distribuição Direta estudados, por
localizar-se em áreas urbanas, são diretamente afetados pelas implicações e conseqüências
oriundas das decisões estratégicas tomadas no momento de escolha de sua região
geográfica de construção e das característica da roteirização empregada.
No terceiro capítulo são explorados os conceitos de custos. Progressivamente o
texto deixa de tratar o assunto de forma geral, e aprofunda-se nas particularidades dos
custos de distribuição, com abordagem detalhada sobre àqueles relativos à atividade de
transporte, objeto principal de estudo desse trabalho.
O quarto capítulo 4 apresenta a evolução do modelo de distribuição da companhia
analisada, desde o momento em que as companhias Brahma e Antarctica atuavam como
concorrentes pelo mercado brasileiro de bebidas e utilizavam-se de sistemas de distribuição
exclusivamente terceirizados, até o momento atual, em que é empregado um sistema
baseado na combinação entre distribuição terceirizada e própria.
O quinto capítulo apresenta a importância da gestão de transporte na AmBev.
Nessa parte da dissertação são estratificados os custos totais de distribuição e de transporte
e descritas e analisadas as soluções adotadas para redução da parcela referente aos custos de
transporte.
O último capítulo, com base nas informações apresentadas nos capítulos
anteriores, estabelece as principais conclusões e recomendações para estudos futuros.
7
2. SISTEMAS DE DISTRIBUIÇÃO FÍSICA URBANA
2.1. Gerenciamento da Cadeia de Distribuição
Para que as redes de distribuição se tornem mais eficientes na satisfação das
exigências do usuário final, um alto nível de cooperação entre as organizações participantes
e o reconhecimento da necessidade de tornar os relacionamentos mutuamente benéficos são
requeridos. A troca de informações entre os integrantes da rede de distribuição assegura que
a manufatura e o fornecimento de produtos sejam orientados pela demanda real, e não por
previsões equivocadas, e, conseqüentemente, permite que todos os membros do canal de
distribuição operem melhor.
Segundo Bowersox (2001), o canal de distribuição pode ser definido como um
grupo de entidades interessadas que assume a propriedade de produtos ou viabiliza a sua
troca durante o processo de comercialização, do fornecedor até o comprador final. Para que
se caracterize um canal de distribuição é necessário que os membros que atuam nesse
sistema mantenham uma relação de interdependência.
Complementando esta definição, a American Marketing Association (2005) define
um canal de distribuição como uma estrutura de unidades organizacionais da empresa e
agentes e firmas comerciais fora dela, por meio das quais mercadorias, produtos ou serviços
são comercializados.
Para Novaes (2001), há uma correlação estreita entre as atividades que constituem a
distribuição física de produtos e os canais de distribuição (figura 1). As atividades logísticas
relacionadas à distribuição física são então definidas a partir da estrutura planejada para
seus canais.
8
Figura1: Paralelismo entre Distribuição Física e Canais de Distribuição
Fonte: Novaes (2001)
Uma vez definidos os canais de distribuição, podem ser identificados os
deslocamentos físico-espaciais a que os produtos serão submetidos, detalhando-se, a partir
dessa análise, a rede logística e o sistema de distribuição decorrentes. A rede de distribuição
é composta por depósitos, centros de distribuição, estocagem, mecanismos de transportes e
estrutura auxiliar.
Ainda segundo Novaes, outro aspecto importante a ser considerado é a dificuldade
de alteração dos canais de distribuição selecionados para uma empresa, que se mantêm
fixos por muito tempo, pois envolvem outras empresas, intermediários, contratos, etc.
As principais funções de um canal de distribuição são:
Depósito da
Fábrica
Varejista
Atacadista
Fabricante
Depósito
Varejista
Trans
p
orte
Centro de
Distribuição
Trans
p
orte
CONSUMIDOR FINAL
Distribuição Física Canal de Distribuição
9
Adaptação. Modelar e adaptar o produto (montagem e embalagem) às
necessidades do comprador;
Negociação. Fechar acordos que possibilitem a troca de posse do produto ou
do serviço;
Nível de Serviço. Garantir o nível de serviço pré-estabelecido pelos
parceiros da cadeia de distribuição;
Informação. Garantir um fluxo de informações rápido e preciso entre os
elementos participantes e, ainda, coletar e distribuir informações
proporcionadas por pesquisas de mercado e inteligência de marketing;
Distribuição física. Garantir a rápida disponibilidade do produto nos
segmentos do mercado identificados como prioritários. Podem ser
consideradas ainda as atividades de estocagem e armazenagem de produtos;
Promoção e venda. Intensificar o potencial de venda do produto, buscando
parcerias entre fabricantes e varejistas que permitam a exposição adequada
dos mesmos nas lojas; definir arranjo e disponibilização de mercadoria no
fabricante ou no varejo; analisar a necessidade de promoções especiais do
produto e desenvolver e distribuir comunicações sobre ofertas;
Financiamento. Obter e alocar recursos que cubram os custos do trabalho no
canal;
Redução de custos. Buscar de forma integrada e permanente a redução de
custos, analisando a cadeia de valor como um todo.
10
2.1.1 Canais de Distribuição em Áreas Urbanas
O aumento do número de grandes cidades e de suas populações (United Nations
Center for Human Settlements apud Carvalho et al., 2000), agravado por planejamentos
urbanos ineficientes, exige adequações nos procedimentos das organizações logísticas
inseridas em ambientes urbanos. Tais modificações atingem os níveis estratégico, tático e
operacional, e visam alcançar um desempenho satisfatório da distribuição física.
Em busca da otimização da distribuição física de bens e serviços, análises
complementares são exigidas quando o sistema ou a organização logística se encontra em
áreas urbanas. Como área urbana entende-se aquela compreendida dentro do perímetro
urbano definido por lei (Santos e Aguiar, 2001). Cada uma dessas áreas possui
especificidades e particularidades que devem ser consideradas no momento de
operacionalização das atividades logísticas.
Ainda segundo Santos e Aguiar (2001) as particularidades das áreas urbanas
influenciam diretamente as decisões de localização de centros de distribuição e as
estratégias de roteirização de veículos a partir desses pontos.
No que se refere à localização de centros de distribuição em áreas urbanas, a
importância do uso e ocupação do solo é ampliada por dois motivos, a saber:
Devido ao alto valor da terra, no curto prazo, muitas vezes proporcionado por
atividades e movimentos especulativos (Resende, 2002);
Pela dinâmica urbana, no longo prazo, visto que determinadas áreas podem ser
preteridas ou agraciadas em relação a serviços complementares, benefícios fiscais,
etc.
No que tange á roteirização de veículos, os impactos e suas respectivas causas são
de fácil determinação (Reymão, 2002):
11
Congestionamento
O conceito de congestionamento está vinculado ao de capacidade da via e de
nível de serviço. Os principais itens mensuráveis deste último são: a freqüência de
paradas, velocidade de operação, tempo de viagem, densidade de tráfego e os custos
operacionais do veículo. As medidas mais utilizadas são: a velocidade operacional para
um fluxo ininterrupto e a quantidade de tempo de atraso para um fluxo interrompido,
uma relação volume/capacidade do trecho.
Segurança Operacional
As características do espaço viário, principalmente nas áreas comerciais e nos
centros históricos, dificultam as operações com veículos de carga, uma vez que
obstáculos aéreos, capacidade e disposição das vias acabam comprometendo a
segurança operacional. Os acessos e as instalações, quando inadequados, incorrem em
operações de carga e descarga nas ruas e calçadas. Mesmo dentro das instalações de
destino, no receptor, as limitações do uso da área de recebimento, a falta de
equipamento especializado para manipulação da carga e o aumento no volume de
remessas pequenas contribuem para a redução das condições de segurança.
Base legal
É constituída por corredores com restrições para operação de carga e descarga
em áreas urbanas, além das legislações específicas sobre estacionamentos, autorizações
especiais de trânsito e fiscalização de pesos e dimensões dos veículos. Para Ratton Neto
(2000) existe uma tendência de recrudescimento das restrições e de tratamento mais
específico à diversidade de situações, o que pode trazer mais dificuldades para a
circulação de cargas, mas, por outro lado, pode propiciar maior transparência nas
relações entre autoridades e operadores.
12
2.2. Centros de Distribuição
Uma questão básica do gerenciamento logístico diz respeito à estruturação de
sistemas de distribuição capazes de atender, de maneira econômica, os mercados
geograficamente distantes das fontes de produção, oferecendo níveis de serviço cada vez
mais altos em termos de disponibilidade de estoque, aplicação de técnicas de distribuição,
sistemas de informação e tempo de atendimento. Com esse intuito, nota-se o crescente
interesse das grandes corporações em investir em centros de distribuição (Relatório Gazeta
Mercantil, 2001). Esses centros são responsáveis pela armazenagem e movimentação dos
bens entre os pontos de origem e consumo, e por outras atividades que venham a agregar
valor aos produtos.
O transporte, armazenagem e o manuseio das cargas representam um valor
expressivo na cadeia total de custos logísticos. Em épocas de melhoria contínua de
processos, onde as empresas buscam incessantemente reduzir custos, almejando resultados
financeiros mais favoráveis, torna-se importante analisar as vantagens e desvantagens das
diversas estratégias definidas na utilização de centros de distribuição.
2.2.1 Caracterização de Centros de Distribuição
La Londe et all (1972) classificaram os depósitos de distribuição como centros
facilitadores especializados, incluídos no sistema de distribuição física, com o objetivo de
prover o nível de qualidade de serviço desejado pelo cliente ao menor preço possível.
Cavinato (1989) restringe o conceito de centro de distribuição, caracterizando-o
como um armazém de produtos acabados, para onde são enviados os pedidos de compra de
atacadistas e varejistas.
Para Lambert e Stock (1992), os centros de distribuição são a parte do sistema
logístico da empresa responsável pela armazenagem entre os pontos de origem e consumo –
13
podendo, inclusive, localizar-se nos próprios - e pela provisão de informações sobre os
produtos armazenados, sua condição e disposição.
Perreault e McCarthy (1997) definem os depósitos como sendo locais onde as
empresas podem estocar seus produtos, reduzindo custos e atendendo aos clientes de uma
melhor forma. De acordo com os autores, centro de distribuição é um modelo especial de
depósito, concebido para aumentar a velocidade de circulação de bens e permitir a
realização de atividades como consolidação e desconsolidação da carga.
Nos centros de distribuição, que surgiram como uma evolução dos depósitos
tradicionais, a ênfase se dá no fluxo dos produtos, em contraste com os depósitos
convencionais, que servem como unidades fixas, nas quais a estocagem predomina, sem
preocupação com administração interna ou ganhos de produtividade a partir da agregação
de valor e circulação constante das mercadorias.
Os centros de distribuição podem ser, principalmente, próprios ou contratados,
implicando em diferentes características, de acordo com o quadro 1:
Centro de Distribuição
Características
Particular Contratados
Investimento Fixo Alto Sem investimento fixo
Custo Unitário
Alto, se o volume for baixo. Muito
baixo, se o volume for alto
Baixo; Paga-se apenas pelo espaço
utilizado.
Conhecimento de Custos Complexo Simples
Controle Administrativo Alto Baixo
Adequação à Linha de Produto Altíssima Pode não ser conveniente
Flexibilidade
Baixa: custos fixos já foram
alocados
Alta: fácil mudança de contrato
Pessoal Especializado Não especializado
Quadro 1: Comparação entre centros de distribuição próprios e contratados.
Fonte: Ballou (1999).
14
2.2.2. Atividades do Centro de Distribuição
Lambert e Stock (1992) estabelecem três funções básicas para um Centro de
Distribuição: movimentação, armazenagem e transferência de informação.
A função de movimentação subdivide-se em quatro atividades: receber, transferir,
selecionar e enviar. A fase de recebimento inclui o descarregamento dos produtos, a
conferência de avarias ou diferenças entre as quantidades demandadas e recebidas, e a
entrada do material no sistema de controle de estoque. O processo de transferência envolve
a movimentação do material para as áreas de armazenagem, de serviços especiais, tais
como beneficiamento e consolidação/desconsolidação, e de picking (área para onde os
produtos armazenados são transferidos em lotes menores, visando agilizar a seleção de
pequenas quantidades para expedição). A seleção do pedido do cliente consiste das
atividades de picking e packing (empacotamento e formação de novos lotes de
distribuição). O envio é caracterizado pela checagem das ordens de expedição, alocação do
pedido no equipamento de transporte e ajustes no sistema de controle de estoques.
A armazenagem pode ser temporária - quando a quantidade armazenada é
rapidamente utilizada - ou semi-permanente - quando armazena-se quantidade superior à
necessária, em decorrência de demandas sazonais ou desconhecidas, especulação e
negócios vantajosos, tais como descontos por quantidade.
A transferência de informações ocorre simultaneamente às outras duas atividades do
CD, fornecendo um fluxo constante e confiável de dados que sirva de base para a tomada
de decisões administrativas por parte dos gestores do centro de distribuição. Estas
informações podem referir-se aos controles de níveis de estoque, de localização do
material, de chegadas e expedições, de espaço disponível e de dados do cliente.
Ballou (1993) separa os serviços prestados por um centro de distribuição em quatro
categorias:
15
Abrigo do Produto. Pode ser caracterizado, principalmente, pela atividade de
armazenagem, com serviços de manutenção de registros, rotação de estoques e
reparos.
Consolidação. Consiste em utilizar o centro de distribuição como ponto de
concentração de bens, aumentando o controle e diminuindo gastos com transportes.
Transferência e Transbordo. A transferência é caracterizada pela distribuição de
pequenos lotes para clientes, podendo haver breve estocagem para sincronização
das entradas (suprimento) e das saídas do armazém (demanda). No transbordo, o
depósito serve como ponto de troca modal, sem intenção de manutenção de estoque,
onde os grandes lotes são fracionados e distribuídos.
Agrupamento. Consiste em produzir itens em diversas plantas industriais e utilizar o
armazém para agrupá-los, uma vez que os clientes geralmente adquirem a linha
inteira.
Lacerda (2000) cita novas funções recentemente incorporadas aos centros de
distribuição:
Cross Docking. Múltiplos fornecedores utilizam o centro de distribuição para
atender clientes comuns. Nos centros, as cargas são fracionadas, os pedidos de
vários fornecedores são agrupados e, em seguida, expedidos em cargas cheias.
Nessa modalidade, a mercadoria em trânsito pode ser armazenada por períodos
curtos.
Transit Point (Ponto de Apoio). O centro de distribuição é visto como uma
instalação de passagem, próxima ao mercado consumidor, onde os carregamentos
consolidados são fracionados e distribuídos aos clientes, sem que haja manutenção
de estoque.
16
Merge in Transit. É uma extensão dos conceitos de cross-docking, associado ao
sistema Just-in-Time. Aplica-se, basicamente, à distribuição de produtos de alto
valor agregado, onde as partes são produzidas em diferentes plantas industriais,
sendo consolidadas no centro de distribuição, próximo ao mercado consumidor, no
momento de sua necessidade, extinguindo os estoques intermediários.
Segundo a Associação Americana dos Profissionais de Armazenagem (apud Ballou,
1993), os modernos centros de distribuição devem oferecer os serviços de manuseio,
estocagem em trânsito, armazenagem alfandegada, ambiente com temperatura e umidade
controladas, consolidação de carregamentos, serviços portuários, facilidade de transmissão
de dados, planos de consolidação de fretes, empacotamento e embalagem, consertos e
pequenas montagens.
2.2.3. Estratégias de Localização de Centros de Distribuição
Um dos pontos fundamentais para o sucesso de um sistema logístico é a eficácia na
determinação da quantidade e localização dos centros de distribuição envolvidos. A escolha
equivocada do número e posicionamento dessas estruturas acarreta desperdícios e custos
que podem inviabilizar toda a operação.
A localização dos centros de distribuição (Bowersox, 2001), determinada em função
de sua finalidade, é fator fundamental para o sucesso do empreendimento. De acordo com
esse critério, os centros de distribuição podem ser:
Orientados para a Produção
Estabelecidos próximos à planta industrial, funcionam como concentradores da
produção dos fornecedores, pontos de montagem e consolidação de produtos
fabricados. Permitem o envio de cargas de produtos variados a diversos clientes
a um custo de transporte de carga consolidada. Sua principal finalidade é
facilitar a expedição dos produtos aos clientes.
17
Orientados para o Mercado
Depósitos localizados próximos aos grandes mercados consumidores, dedicam-
se ao ressuprimento do estoque dos clientes, permitindo máxima consolidação
de cargas para o transporte de longas distâncias, da fábrica ao depósito, com
transporte secundário de curta distância, do armazém ao cliente. Servem,
também, como locais para a montagem de produtos de diferentes origens e de
vários fornecedores. Nas questões relativas ao ressuprimento de estoques, esta
modalidade apresenta-se como a alternativa de menor custo.
Intermediários
São centros híbridos, funcionando entre a área industrial e o mercado
consumidor. Semelhantes aos depósitos localizados em atenção à produção,
oferecem cargas únicas de uma ampla variedade de produtos a um custo
logístico reduzido. Buscam equalizar as vantagens dos centros de distribuição
orientados para a produção e orientados para o mercado, priorizando o menor
custo.
São diversos os fatores que devem ser considerados durante a análise de potenciais
áreas para a construção desses centros. Entre os principais, podem ser citados:
Posicionamento dos fornecedores e clientes. A proximidade facilita o transporte, a
comunicação e a resolução de problemas.
Previsão de demanda e características do produto. Fatores essenciais para
dimensionamento do armazém e da quantidade de funcionários.
Disponibilidade e capacidade de veículos. Regiões concentradoras de veículos têm
maior apelo para o estabelecimento de centros de distribuição.
18
Restrições legais de circulação de veículos. Em determinados locais, principalmente
em áreas de grande movimentação, e horários não é permitida a circulação de
veículos de carga de grande porte.
Custos de terrenos. Determinadas áreas podem mostrar-se estratégica e
operacionalmente perfeitas, no entanto inviáveis economicamente.
Periculosidade da área. Um dos fatores de grande peso e motivador do surgimento e
rápido crescimento dos condomínios de carga.
Infra-estrutura e geografia. Quanto maior a acessibilidade e outras facilidades
geográficas e de infra-estrutura, maior a atratibilidade da região.
Impostos e subsídios fiscais. Incentivos fiscais podem ser determinantes na escolha
do local.
Quantidade de períodos analisados. Diferentes resultados são conseguidos a partir
da análise de diferentes períodos. Estratégias de curto, médio ou longo prazos
podem indicar decisões divergentes.
Mão-de-obra disponível. Toda a construção e operação do armazém depende
diretamente da mão-de-obra envolvida, daí a importância da instalação em áreas de
grande oferta de trabalhadores.
Impacto urbano. O centro de distribuição deve ser projetado e instalado de forma a
minimizar os impactos urbanos advindos de sua construção e operação.
Larson e Odoni (1981) classificam os problemas de localização de instalações em
três categorias principais:
19
Problema da Mediana. Refere-se à localização de um número pré-estabelecido de
instalações de forma a minimizar as distâncias, tempos ou custos médios das
viagens entre estes e o mercado alvo. Este tipo de problema é bastante comum para
representação de modelos que tratam de serviços e bens não-emergenciais.
Problema de Centro ou Minimax. A localização de um número pré-estabelecido de
instalações deve ser definida de forma a minimizar as distâncias, tempos ou custos
máximos de viagens entre estes e quaisquer de seus clientes. Este tipo de problema
é utilizado no planejamento da localização de instalações de serviços emergências -
tais como bombeiros, hospitais, delegacias, etc, nos quais a eficiência do serviço
depende explicitamente, entre outros fatores, da minimização do tempo de
atendimento.
Problema de Nível de Performance. Nesse caso, o nível de serviço mínimo esperado
é estabelecido antes da definição da quantidade e localização de instalações a serem
construídas. Esse tipo de problema engloba tanto os serviços e produtos
emergenciais como os não-emergenciais.
Estudos mais recentes, entre os quais pode ser citado o de Turnquist e Nozick
(1998), incluem elementos mais específicos da armazenagem e distribuição de materiais a
esses problemas, de forma a torná-los mais representativos da realidade. Dessa forma, os
custos de manutenção de estoque e processamento de pedidos, entre outros, são incluídos
na análise das soluções. Já de acordo com Sheu (2003), os melhores resultados na
determinação da localização tanto de fábricas quanto de centros de distribuição são obtidos
a partir de uma abordagem de interação no espaço da cadeia de suprimento integrada.
É a partir da agregação de novas restrições, fatores de análise e abordagens que os
modelos de localização de centros de distribuição têm se tornado cada vez mais específicos
e precisos, abrangendo uma grande gama de situações (Goldbarg e Luna, 2000).
Segundo Wanke (2001), o paradigma da presença local - explicado pela manutenção
de estoques em cada mercado, próximo ao consumidor final, suprindo dessa forma
20
deficiências em transporte e processamentos de pedidos – tem sido reavaliado pelas
empresas devido a duas grandes transformações na logística: a informática e a melhoria dos
transportes.
O alto custo de manutenção de estoques elevados, principalmente de produtos
acabados, incentiva as empresas a investir na concepção de uma cadeia logística integrada e
de maior dinamismo. Um sistema de transportes mais eficaz e confiável apoiado pelo
processamento eletrônico de informações em alta velocidade tem sido percebido como pilar
para a redução da quantidade de estoque necessária ao longo da cadeia de suprimentos.
2.2.4. Classificação dos Problemas de Localização
Os problemas de localização de centros de distribuição podem ser classificados
através da utilização das diferentes abordagens empregadas na obtenção de soluções.
Ballou (1999) destaca cinco critérios:
Por força direcionadora
A localização das instalações é determinada por um fator de maior criticidade. Para
a localização de plantas e armazéns, os fatores econômicos são geralmente
dominantes. Nas questões relativas ao varejo, o rendimento gerado usualmente é o
fator determinante.
Por número de instalações
Existe grande diferença entre os problemas de localização de uma única instalação
ou de instalações múltiplas. A localização de mais de um centro de distribuição
implica na necessidade de consideração das forças competitivas de demanda entre
os centros, dos efeitos de estoque e dos custos das instalações.
21
Por escolhas discretas
Estes métodos definem a localização da instalação a partir de um número pré-
determinado de possibilidades, ao contrário dos métodos contínuos, que exploram
cada possibilidade na busca da melhor opção.
Por grau de agregação de dados
Quanto maior o grau de agregação dos dados utilizados na avaliação dos problemas
de localização menor a acurácia das soluções, que podem indicar como resposta
desde um ponto específico até toda uma região.
Por horizonte de tempo
Nesses casos, os métodos estáticos selecionam localizações baseados em dados de
um único período de tempo. Entretanto, podem cobrir um período maior de uma só
vez, especialmente se as instalações representam um investimento fixo e os custos
de movimentação de um local para outro são altos. Os métodos que manuseiam
planos de localização para multiperíodos são chamados de dinâmicos.
2.3 Estratégias de Roteirização
O gerenciamento eficiente e eficaz da distribuição física recebe cada vez mais
relevância dentro dos setores público e privado. Segundo Solomon e Desrosiers (1988),
uma grande parcela dos custos associados aos sistemas de transportes e distribuição está
relacionada com o problema de roteirização e programação de veículos.
De acordo com Partyka e Hall (2000) um problema real de roteirização pode ser
definido por três fatores: decisões, objetivos e restrições. As decisões envolvem a
determinação de quais clientes (demandas) serão atendidos por cada veículo e quais as rotas
e programações a serem cumpridas em serviço. Os principais objetivos devem ser reduzir
os custos de operação e de investimento, sem que seja comprometido o nível de serviço
22
acordado/ exigido pelo cliente. As rotas devem satisfazer às restrições que dizem respeito
ao tempo máximo de viagem permitido, à capacidade de carga do veículo, às
regulamentações, aos recursos disponíveis, ao número máximo de paradas, etc.
Portanto, para o planejamento de um sistema de distribuição em área urbana,
procura-se levantar as características dos problemas de roteirização nessa região, de modo a
elaborar um método de solução apropriado para o seu caso sem, no entanto, desconsiderar
as implicações desse no contexto institucional. Ao considerar as características e as
restrições associadas, diferentes categorias de problemas são identificadas e cada uma delas
requer um tratamento diferenciado (Bodin et al., 1983).
Abaixo seguem as características gerais do problema de roteirização (Schrage,
1981; Bodin et al., 1983; Partyka e Hall, 2000) que norteiam o planejamento da
distribuição física em áreas urbanas:
Tipo de operação. Uma empresa pode operar serviços de entrega, coleta ou o mix
dos dois. Um exemplo de serviços de entrega são aqueles prestados pelas livrarias
on-line, cujo livro é comprado via internet e entregue no local solicitado pelo
cliente. A operação de coleta, por exemplo, é aquela executada pelas empresas
públicas de coleta de lixo (Bodin, 1990). Quando a operação envolve tanto entrega
quanto coleta, o desenvolvimento de soluções torna-se mais complexo. Isso se deve
ao fato de que entre essas operações existem relações de precedência que as
norteiam e, portanto, devem ser respeitadas.
Local da demanda. A demanda pode ocorrer em pontos específicos das redes de
transporte, os nós, ou em trechos entre esses nós, os arcos, ou em ambos. Para o
primeiro caso, empresas que entregam seus produtos em pontos de revenda servem
como exemplo. A coleta de lixo nas estruturas viárias de áreas urbanas é exemplo
de demanda nos arcos e/ ou em nós e arcos.
23
Número de facilidades. Uma empresa pode trabalhar com um ou mais depósitos,
armazéns e plantas industriais. De acordo com essa característica o problema pode
ser modelado para atender a uma única facilidade ou para englobar inúmeras.
Freqüência de viagens. Alguns problemas reais exigem que nós e/ ou arcos sejam
cobertos com uma determinada freqüência de viagens. Um típico exemplo é o
reabastecimento de postos de combustível onde não pode haver falta do produto
(Avella et al., 2003).
Janelas de tempo. As janelas de tempo ocorrem quando a demanda só pode ser
atendida dentro de um determinado período de tempo. Dentre os problemas com
janelas de tempo, podemos citar como exemplos as entregas bancárias e os serviços
de correio (Solomon, 1987).
Tempo de viagem. Em sistemas urbanos, onde o tempo de viagem altera-se
significativamente durante o dia, refletindo as mudanças no volume de tráfego, este
pode afetar drasticamente a atividade de roteirização. Esse problema ocorre
principalmente em locais onde existem túneis, pontes e viadutos - gargalos
notoriamente reconhecidos.
Capacidade multidimensional. Essa característica diz respeito às restrições de
capacidade do problema. De acordo com o sistema em análise, as restrições podem
envolver as dimensões de quantidade do produto, de peso, de distância e/ ou
limitações pelo tempo. Por exemplo, em problemas envolvendo carregamento aéreo
as principais dimensões a serem consideradas são o volume e a quantidade do
produto.
Tipos de veículos. Trata das características da frota, ou seja, um único tipo de
veículo - frota homogênea - ou mais de um tipo - frota heterogênea. Os veículos
podem ser caracterizados pela capacidade de carga e/ ou volume, e pelos custos
fixos e variáveis. A escolha do tipo de veículo a compor a frota depende do serviço
24
a ser prestado. No caso da entrega domiciliar de pizza, é necessário um tipo de
veículo, motocicleta. Em coletas seletivas de lixo urbano, são necessários vários
tipos, pois cada um deve atender a um seleto grupo de produtos descartados.
Tamanho da frota. O tamanho da frota pode ser determinado antes da roteirização
ou ser um resultado do planejamento. A alternativa entre um e outro vai depender
da política da empresa, das condições de investimentos em novos veículos ou
mesmo na terceirização dos serviços.
Terceirização da frota. As empresas diversas vezes encaram esse tipo de problema,
a escolha entre frota própria, terceirizada ou mista. Essa escolha depende
novamente da estratégia da corporação e afeta diretamente a roteirização de
veículos. De forma geral, quando as frotas são próprias, os veículos ao final do
serviço retornam para o local de saída, caracterizando a roteirização fechada. No
outro caso, roteirização aberta, os veículos destinam-se às suas respectivas
garagens.
Cargas separadas. Quando um cliente possui uma carga relativamente grande em
relação à capacidade do veículo, pode ser benéfica a separação em dois ou mais
veículos que atendam a rotas distintas. Esse procedimento pode levar a redução do
caminho total percorrido e do tamanho da frota (Ballou, 1999).
Valor da mercadoria. Em função do aumento do roubo de cargas, empresas passam
a dividir cargas de valor elevado em mais de um veículo, de acordo com as
determinações das empresas seguradoras. O objetivo é reduzir a possibilidade de
sinistro.
Características físicas da rede viária. Aqui o significado de rede viária abrange o
próprio sistema viário, os depósitos e terminais associados a ele. Elas afetam
praticamente todas as outras características, pois para respeitar as normas de
segurança de tráfego e garantir a segurança de seus usuários e a integridade física
25
dos componentes viários, existem diversas restrições de circulação impostas ao
transporte de carga em áreas urbanas (Santos e Aguiar, 2001). Dependendo dos
objetivos e do tipo de carga transportada, essas restrições podem inviabilizar
totalmente uma rota ou tornar seu custo de operação proibitivo.
Aleatoriedade. Em muitos casos o problema da roteirização pode estar inserido
dentro de um contexto aleatório. Exemplos comuns são demandas e tempos de
viagem estocásticos. Também pode ocorrer do cliente ser estocástico, ou seja, nem
sempre ele concretizará algum pedido (Gendreau et al., 1996).
Tempo-Real. A roteirização em tempo-real está relacionada com o avanço das
tecnologias de informação, TI (Ghiani et al., 2003). A TI permite que a operação
seja acompanhada no mesmo momento em que ocorre. Portanto, seja por uma nova
demanda ou por problemas na operação, quaisquer necessidades de alteração podem
ser executadas em tempo real. Como exemplo estão os serviços de emergência e os
couriers.
Custo. O custo variável pode ser uma função do total da distância percorrida ou do
tempo de viagem. Os custos fixos podem considerar apenas a frota que está sendo
utilizada, ou também a tripulação e toda a estrutura usada para manter os veículos.
Em alguns modelos as funções de custos são compostas por penalidades que são
aplicadas quando algumas restrições são violadas. Elas tentam capturar o impacto
causado pelo não cumprimento dessas restrições no sistema.
Função objetivo. Normalmente os objetivos são representados pelas funções de
custos acima descritas. Porém, os problemas reais em áreas urbanas possuem
objetivos distintos e podem considerar mais de um destes simultaneamente. Os
objetivos podem ser: reduzir o custo total, reduzir os custos variáveis, reduzir o
número de veículos, maximizar o lucro, maximizar a função utilidade baseada nas
prioridades do cliente ou uma combinação de dois ou mais desses objetivos.
26
No entanto, o desenvolvimento de um ótimo sistema de roteirização e programação
que esteja desalinhado com as questões institucionais da empresa não otimizará sua cadeia
de distribuição. Portanto, entender a relação da roteirização com os outros sistemas da
empresa é vital para o sucesso de sua implantação (Bodin, 1990).
O sucesso do sistema de roteirização depende, entre outros, da metodologia adotada
no momento da escolha da localização do centro de distribuição. Devido à heterogeneidade
das cidades e de suas regiões, diferentes alternativas e estratégias devem ser estudadas e
analisadas antes da escolha do local definitivo de estabelecimento das unidades.
Apesar de não ser objetivo específico do trabalho a análise das estratégias de
localização de facilidades e roteirização da AmBev, é essencial destacar relevância e
importância destas nos resultados de custos de distribuição das empresas em geral. O
correto dimensionamento do porte e local de construção dos Centros de Distribuição são
fatores essenciais na otimização dos custos de distribuição da AmBev, assim como a
roteirização adequada dos veículos.
Conforme comentado anteriormente, erros na determinação do local para instalação
dos CDDs podem acarretar custos de transporte e entrega acima do esperado, assim como
complicações operacionais resultantes de áreas com restrições de horários de circulação e
congestionamento. Por outro lado, a incorreta roteirização dos veículos implica em maiores
custos de entrega, entre outros, por exigir jornadas de trabalho mais elevadas e maior
quantidade de veículos.
27
3. CUSTOS ASSOCIADOS À DISTRIBUIÇÃO FÍSICA
3.1. Conceito de Custos, Despesas e Gastos
O conceito de custo, segundo Martins (2000), está diretamente atrelado à fabricação
de um produto ou realização de um serviço, diferentemente dos conceitos de gasto -
entendido como sacrifício financeiro arcado pela empresa na obtenção de um produto ou
serviço - e despesa, porcentagem para cobrir gastos diretamente relacionados com as
atividades de venda, representação e intermediação, entre outras.
Samuel Cogan (Cogan apud Martins, 1999) define como custo todo gasto incorrido
até que o produto esteja pronto para venda, onde, a partir desse momento, os gastos serão
despesas.
A definição de custos, segundo Iudicibius (1993), pode ser interpretada através das
linguagens técnico-comercial e contábil. No sentido comercial, custo significa gasto,
sacrifício financeiro para aquisição de determinado bem ou serviço. Contabilmente, custo
refere-se ao gasto relativo a bens e serviços utilizados na produção de outros bens e
serviços, enquanto despesa é o gasto relativo a bens ou serviços consumidos, seja direta ou
indiretamente, na obtenção de receita.
De acordo com o Chartered Institute of Management Accountant’s Official
Terminology (Tanaka et al, 1993), custo é o montante empregado ou atribuído a uma coisa
ou atividade específica. Já Atkinson et al (2000) definem custo como o valor monetário de
bens e serviços gastos para se obter benefícios reais ou futuros, estando dividido, para
empresas industriais, entre custos de produção (podendo ser diretos ou indiretos) e os
custos de não produção (como distribuição, vendas, divulgação, pesquisa e
desenvolvimento e de administração).
Aos conceitos apresentados anteriormente, os economistas acrescentam o de custo
de oportunidade de capital, que representa a rentabilidade do investimento obtida através do
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emprego do capital, ou da força de trabalho, em outra aplicação ou atividade. (Brealey,
1996). Usualmente, toma-se como base para determinação do custo de oportunidade a taxa
básica da economia, ou o investimento em títulos.
3.1.1. Custos Diretos e Indiretos
Para Atkinsons et al (2000), os custos diretos são aqueles aplicados diretamente na
fabricação do produto, incluindo mão-de-obra direta e material direto. Já os custos
indiretos, também chamados de custos de apoio à produção ou custos indiretos de
fabricação, são todos os outros custos do processo produtivo, incluindo as atividades de
compra e recebimento de material; movimentação e estocagem; setup de máquinas; e
manutenção, entre outros.
O Conselho Regional de Contabilidade do Estado de São Paulo (1995) explica que a
divisão de custos em diretos e indiretos refere-se ao relacionamento entre o custo e o
produto acabado. O Conselho define os custos diretos como objetivos, fáceis e diretamente
apropriáveis ao produto acabado, sem que seja necessário fazer rateios e sem oferecer
dúvidas quanto a que itens da produção pertencem. Já os custos indiretos são aqueles
incorridos dentro do processo de produção, mas que necessitam de algum sistema de rateio
para serem alocados aos produtos, pois não se percebe facilmente a que produtos estão
relacionados.
Cogan (2002) não se preocupa em estabelecer diferenças entre os conceitos de
custos e despesas, e determina que os custos diretos são aqueles aplicados diretamente no
produto, enquanto os custos indiretos são todos os outros.
3.1.2. Custos Fixos e Variáveis
Os custos também podem ser classificados entre fixos e variáveis. De acordo com
Novaes (2001), custo fixo é aquele que independe da quantidade de serviço realizada,
29
estando pré-determinado, enquanto o custo variável altera-se de acordo com a quantidade
de serviço ofertada, variando em função de fatores básicos do processo.
Tanaka et al (1993) define custos fixos como aqueles que não se alteram com o
volume produzido, enquanto os custos variáveis variam linearmente com a quantidade
produzida.
O Conselho Regional de Contabilidade do Estado de São Paulo (1995) estabelece
que a divisão de custos entre fixos e variáveis não leva em consideração o produto, mas a
relação entre o total do custo no período e o volume de produção. Segundo o Conselho,
“custos fixos são os que num período têm seu montante fixado não em função de oscilações
na atividade, e independem do aumento ou diminuição da produção”. Enquanto “custos
variáveis são os que têm seu valor determinado em função de oscilações na atividade da
empresa”, ou seja, quanto maior a quantidade produzida, maior será seu valor.
Lima (2001) classifica os itens de custos fixos como independentes do nível de
atividade e os itens de custos variáveis como aqueles que aumentam de acordo com o
crescimento do nível de atividade. Lembra, ainda, que o conceito de custos fixos e variáveis
só faz sentido se empregado no curto prazo, pois, a longo prazo, a capacidade pode ser
variável (podem ser adquiridos ou vendidos ativos, contratado ou demitido pessoal),
tornando todos os custos variáveis. Lima ressalta que um custo variável pode tornar-se fixo
à medida que determinado nível de serviço ou produção é comprometido a priori (uma
empresa que fixe o total mensal de produção estará transformando as despesas de matéria-
prima em custo fixo).
3.2. Custos do Transporte Rodoviário de Cargas
Em um mercado no qual, a cada dia, novas alternativas e formas de prestação de
serviço são ofertados aos consumidores, as empresas, de maneira geral, vêem-se obrigadas
30
a uma adequação constante de sua estrutura funcional buscando, garantir sua permanência
de forma competitiva no mercado. Segundo Araujo et al (1999), a racionalização na
utilização dos recursos disponíveis, sobretudo financeiros, passa a ser questão prioritária
dentro de uma visão estratégica de planejamento. Planejar estrategicamente significa
adaptar a empresa ao ambiente externo na qual ela está inserida, conciliando a realidade do
mercado às limitações financeiras, às restrições orçamentárias e ao equilíbrio do binômio
custo/produtividade. As ações programadas devem ser rotineiramente avaliadas em uma
constante adequação das metas e objetivos a serem atingidos.
O conhecimento dos custos no transporte rodoviário de carga é fundamental para a
definição da política de preços e do nível de serviço a ser ofertado. É, também, referencial
para o monitoramento da saúde financeira das empresas, além de ser indispensável para
qualquer sistema de apoio à decisão. É necessário poder mensurar os impactos das decisões
organizacionais sobre a política de custos e, ainda, converter as informações provenientes
dos mesmos em subsídios que propiciem decisões acertadas.
Como conseqüência do aumento da concorrência, as grandes empresas passaram a
enxergar a área de transportes, normalmente inserida no departamento de logística, como
uma oportunidade de redução de custos. Para alcançar esse objetivo, estas são obrigadas a
priorizar seus sistemas de aferição e cálculo dos custos de transporte (Cogan, 2002).
Incentivadas pelo desenvolvimento do conceito de gestão estratégica de custos, passaram a
fazer uso de metodologias que garantam a remuneração adequada do serviço prestado,
compatibilizando as necessidades da empresa às exigências impostas pelo mercado, e
buscando um crescimento uniforme baseado na relação receitas x custos. Para que tal
premissa possa ser alcançada, o compromisso com a fiabilidade dos índices passa a ser uma
exigência primordial.
A importância de métodos reais de aferição é confirmada por Araújo et al (1999),
que afirmam que a ausência ou ineficiência de uma rotina de apuração de custos não
permite uma previsão adequada dos mesmos no médio e longo prazos, criando uma cultura
imediatista, onde os gastos são realizados de acordo com as necessidades quotidianas. O
31
risco de se obter apenas estimativas de custos acaba impondo sérias restrições ao serviço,
comprometendo o desenvolvimento profissional e as práticas competitivas.
A necessidade de uma alocação mais precisa e confiável dos custos requer, em
contrapartida, uma maior sofisticação e complexidade contábil. Isto sinaliza a necessidade
do estabelecimento de critérios no momento de decisão sobre o nível de detalhamento/
sofisticação do sistema de custeio. Simplificações podem e devem ser feitas a fim de que o
sistema de custeio não se torne demasiadamente caro e trabalhoso. No entanto, uma maior
atenção deve ser dada na escolha dos critérios de alocação e nas suas revisões periódicas,
que podem trazer benefícios significativos com pouco ônus para a empresa (Lima 2001).
As informações a seguir têm como objetivos contextualizar os conceitos de custo no
setor de transporte e explicar a metodologia utilizada na confecção da planilha de cálculo
de custos do transporte rodoviário de carga.
Os custos de transportes podem ser definidos como os insumos (mão-de-obra,
materiais, equipamentos, instalações fixas, etc.) necessários para realizar determinado
serviço de transporte ou sua operação, avaliados monetariamente (Alvarenga e Novaes,
1994).
A classificação utilizada para o sistema de custos em geral não difere da utilizada para
o segmento de transporte rodoviário. A seguir, é classificado, segundo Alvarenga e Novaes
(1994), o sistema de custos, utilizando elementos do setor de transporte rodoviário.
3.2.1. Custos Diretos e Indiretos de Transportes
Os custos diretos correspondem aos itens diretamente alocáveis à produção do
serviço de transportes, sendo o somatório dos custos fixos e variáveis. Os custos com
motoristas de veículos de distribuição, ajudantes, combustível e o custo de capital dos
próprios caminhões são exemplos de custos diretos.
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Os custos indiretos ou administrativos são aqueles necessários para manter o
sistema de transporte da empresa. São classificados como custos indiretos:
Custos com contabilidade;
Custos com o departamento de recursos humanos;
Pessoal de armazéns, escritórios e respectivos encargos sociais;
Impressos;
Publicidade;
Aluguéis de armazéns e escritórios;
Impostos e taxas legais;
Construção, conservação e limpeza;
Viagens e hospedagem;
Despesas financeiras;
3.2.2. Custos Fixos e Variáveis no Transporte
Os custos fixos englobam o conjunto de gastos, cujo valor, dentro de limites
razoáveis de produção, não variam em função do nível de atividade da empresa ou grau
de utilização do equipamento. Como exemplos de custos que não variam em função da
quilometragem percorrida podem ser citados:
Depreciação: corresponde à redução do valor do veículo com o decorrer do
tempo;
Remuneração do Capital: qualquer investimento de capital pressupõe uma
taxa de retorno ou remuneração do montante aplicado. Portanto, a cada
serviço realizado pela área de transportes devem ser contabilizados os custos
de remuneração do capital empregado;
Salário da Tripulação: corresponde ao pagamento de motoristas, cobradores,
ajudantes, e respectivos encargos sociais.
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Licenciamento dos Veículos;
Seguros.
Os custos variáveis são proporcionais à utilização dos equipamentos. No caso do
transporte rodoviário de carga variam diretamente com a quilometragem:
Combustível;
Óleo lubrificante do motor;
Óleo lubrificante da transmissão;
Lavagem e lubrificação;
Material rodante: pneus, câmaras, recapagens e protetores;
Peças, acessórios e material da oficina;
Mão-de-obra para manutenção dos veículos.
3.2.3. Planilha de Custos de Transporte Rodoviário
A utilização de planilhas de custos permite, através da compreensão dos fatores
geradores de custos, avaliar os valores despendidos na atividade de transporte de cargas,
descartar serviços deficitários e planejar de forma mais adequada as operações de
transporte, evitando custos excessivos e desperdícios. A compreensão dos métodos e
parâmetros utilizados na confecção de planilhas de cálculo dos custos do transporte
rodoviário torna-se condição necessária para a geração de maiores benefícios financeiros
por parte das empresas.
A Associação Nacional de Transporte de Carga (NTC) e a Fundação Instituto de
Pesquisa Econômica (FIPE) desenvolveram, em 1999, uma planilha que compreende os
índices de todas as operações de transporte, acrescidos dos índices da variação do custo de
coleta e entrega de mercadorias. A estruturação da planilha considera os gastos com
gerenciamento de risco, pedágios, seguros e desvio da carga, despesas de administração de
34
terminais e novos impostos. A amplitude dos itens utilizados nesta metodologia possibilita
apurar de forma fidedigna os custos de prestação do serviço de transporte rodoviário de
carga. O desenvolvimento de métodos de cálculo de custos do transporte rodoviário cada
vez mais apurados indica a preocupação com a compatibilização de custos e nível de
serviço.
Fórmula de cálculo do percurso rodoviário – $/ton (FIPE/NTC, 1999):
+
+++=
100
L
1
TEXP
Pd
DI)XB(AF
R
Em que:
F
R
= frete-peso rodoviário (R$/ton)
X = distância da viagem (km)
L = lucro operacional (%)
A = custo do tempo de espera durante a carga e descarga (R$/ton)
B = custo de transferência (R$/TKM)
DI = despesas indiretas (R$/ton)
Pd = montante total pago em pedágios
TEXP = tonelagem expedida
Pela observação da fórmula de cálculo de frete, é percebida a alocação de um
percentual de lucro operacional aos custos. Quando excluída da equação de cálculo de frete
rodoviário a parte que trata do lucro operacional, e mantida a parte inicial da equação,
obtém-se a fórmula do Custo do Transporte Rodoviário de Carga (R$/ton):
CTRC= [ A + (B.X) + DI + Pd/ TEXP ]
Custo do Tempo de Espera Durante a Carga/Descarga (R$/Ton):
35
Conforme explicado anteriormente, o custo fixo independe da quantidade de serviço
realizado. Portanto, mesmo durante os momentos de carga e descarga dos veículos, em que
estes permanecem imóveis, os custos fixos devem ser apropriados.
Dividindo-se o custo fixo mensal (CF) pelo total de horas trabalhadas no mês (H),
obtém-se o valor do custo fixo por hora trabalhada. De acordo com a metodologia utilizada,
multiplicando-se o custo fixo por hora trabalhada pelo total de horas gastas durante a carga
e descarga (TCD), e dividindo-se pela capacidade média efetiva do veículo, obtém-se o
custo do tempo de espera durante a carga e descarga:
=
CAP
T
H
CF
A
CD
Em que:
A = custo do tempo de espera durante a carga/descarga (R$/ton)
CF = custo fixo (R$/mês)
H = número de horas trabalhadas por mês
T
CD
= tempo de carga e descarga (horas)
CAP = capacidade efetiva média do veículo (ton)
Custo de Transferência (R$/Tkm)
+
=
CAP
CV
VH
CF
B
Em que:
B = custo de transferência (R$/TKM)
CF = custo fixo (R$/mês)
36
CAP = capacidade efetiva média do veículo (ton)
V = velocidade média do veículo (Km/h)
H = número de horas trabalhadas por mês
CV = custo variável (R$/Km)
Despesas Indiretas (R$/Ton)
As despesas indiretas têm recebido cada vez maior importância na matriz de custos
de transporte rodoviário de cargas. Inseridos nas despesas de gerenciamento de risco, estão
as despesas com sistemas de monitoramento remoto de veículos, atualmente em fase de
expansão como ferramenta na prevenção a roubos de carga e desvios de rotas.
+=
TEXP
GRIS
C
TEXP
DAT
DI
Em que:
DI = despesas indiretas (R$/ton)
DAT = despesas administrativas e de terminais por mês (R$/mês)
TEXP = tonelagem expedida por mês (ton/mês)
C = coeficiente de uso dos terminais
GRIS = despesas com gerenciamento de riscos (R$/mês)
Pedágios (R$/Ton)
A partir da década de 90, com o aumento significativo do número total de rodovias
pedagiadas e dos valores de pedágios, os custos de pedágios tornaram-se significativos para
o cálculo dos custos rodoviários de transporte (adaptado de Castro, 2002). Segundo a NTC
(1999 e 2002), os custos com pedágio, na Via Dutra, por exemplo, estariam trazendo um
ônus de cerca de 18% para o transportador. A NTC (1999) complementa, explicando que o
37
Brasil é o segundo país do mundo em concessões de rodovia por quilômetro, com 9.191
quilômetros, sendo superado apenas pela Argentina, com 9.400 quilômetros de concessão.
No entanto, deve haver cautela ao apropriar-se os custos de pedágios. Ao utilizar o
modelo proposto, esse custo é calculado em função da tonelagem expedida, sem evidenciar
que, enquanto algumas rotas possuem vários postos de pedágio, outras podem não ser
pedagiadas. Dessa forma, as empresas estariam utilizando o frete cobrado em algumas de
suas rotas para subsidiar os percursos pedagiados.
TEXP
Pd
pedágios =
Em que:
PD = montante mensal pago em pedágios (R$)
TEXP = tonelagem expedida por mês (ton/mês)
Custos Fixos (R$/Mês)
Estes custos independem da quantidade de quilômetros percorridos ou do total de
tonelagem expedida.
CF = RC+SM+SO+RV+RE+LC+RCF+SV+SE
Em que:
CF = custo fixo (R$/mês)
RC = remuneração do capital
SM = salário do motorista
SO = salário do pessoal de oficina
RV = reposição do veículo
RE = reposição do equipamento
LC = licenciamento
38
RCF = seguro de responsabilidade civil facultativa
SV = seguro do veículo
SE = seguro do equipamento
Custos Variáveis (R$/km):
Os custos variáveis crescem à medida que uma maior quantidade de serviço é
oferecida, ou seja, alteram-se de acordo com o total de quilômetros percorridos ou de
tonelagem expedida. Portanto, são expressos pela razão unidade monetária/distância
percorrida (R$/ km).
CV=PM+DC+LB+LG+PR
Em que:
CV = custos variáveis (R$/km)
PM = peças, acessórios e material de manutenção
DC = combustível
LB = lubrificantes
LG = lavagens e graxas
PR = pneus e recauchutagens
3.3. Custos do Sistema de Estocagem
Em contraste com o transporte, o manuseio e a armazenagem dos produtos ocorre,
primeiramente, nos pontos nodais da rede da cadeia de suprimentos.
Segundo Ballou (1999), o sistema de estocagem pode ser separado em duas funções
importantes: manutenção de estoques e manuseio de materiais. O manuseio de materiais
39
refere-se às atividades de carregamento e descarregamento, movimentações internas dos
produtos no armazém e separação de pedidos, enquanto a estocagem é, simplesmente, o
acúmulo de estoque por um período de tempo.
Embora façam parte do mesmo processo de estocagem, de acordo com Pinto (2002),
os custos de movimentação e armazenagem diferem do custo de manutenção de estoques.
Enquanto o custo de manutenção de estoques é de natureza financeira, os custos de
movimentação e armazenagem referem-se à gestão física e estão relacionados à infra-
estrutura necessária para sua manutenção.
3.3.1 Manutenção de Estoques
A estocagem transforma-se em uma conveniência econômica, mais do que uma
necessidade, a partir do momento em que os custos de armazenagem, manuseio de
materiais e de manutenção de estoques podem ser justificados pela redução dos custos de
transportes e de produção.
São quatro as razões básicas, segundo Ballou (2002), que justificam a manutenção
de estoques:
a)
Redução dos custos de transportes e produção
A armazenagem pode conduzir a custos de transportes mais baixos, através
do embarque de quantidades maiores e mais econômicas. Pode, também, reduzir os
custos de produção, através da produção de lotes econômicos em tamanho e em
freqüência.
b)
Coordenação da oferta e demanda
A armazenagem pode evitar as conseqüências das flutuações de demanda
devido às incertezas e as variações nos padrões de consumo. As considerações dos
preços das mercadorias também podem gerar a necessidade de armazenagem, pois
produtos que apresentam grandes oscilações de preços podem incentivar uma
40
compra antecipada. Nesses casos, a necessidade de armazenagem pode ter seu custo
contrabalançado pelo preço obtido na compra da mercadoria.
c)
Apoio à produção
Os aspectos econômicos da produção podem justificar a aquisição de
grandes lotes de fabricação de partes, peças e componentes. A armazenagem de
apoio à produção proporciona fluxos contínuos de componentes e outros materiais
para setores de montagem. Para os estoques de segurança, a manutenção dos itens
pode ser justificada através de longos ciclos de produção.
d)
Auxílio no composto mercadológico
O marketing está freqüentemente preocupado com a velocidade de
disponibilização dos produtos no mercado. Dessa forma, a manutenção de estoques
próximos aos centros de consumo, permite agregar valor ao produto, através da
redução do tempo de suprimento.
O custo de manutenção de estoques pode ser definido como o custo do capital
empregado nessa atividade. Conseqüentemente, esse custo varia em função dos níveis de
estoques mantidos - fator determinante do montante de capital empregado - e da taxa de
remuneração desse capital. No processo de aferição dessa despesa financeira, a
determinação da taxa de custo mais apropriada a ser aplicada ao capital investido é um dos
fatores de maior complicação. Uma das alternativas utilizadas na solução desse problema é
a adoção da taxa básica de juros como referencial.
O capital investido em estoques não está disponível para outras utilizações e, por
isso, representa o custo de uma oportunidade perdida. O custo mínimo desse capital deve
ser considerado como os juros perdidos por não se investir esse montante às taxas vigentes,
que poderiam ser mais altas, dependendo das oportunidades de investimento disponíveis
para a empresa.
41
3.3.2. Movimentação e Armazenagem
A manutenção de estoques gera a necessidade de armazenagem e,
conseqüentemente, do manuseio de materiais. O principal objetivo dessas atividades é
garantir o fluxo de produtos, de maneira ordenada e eficiente, em uma cadeia de
suprimentos, otimizando os custos em cada etapa processo.
3.3.2.1. Custos de Movimentação
As atividades de movimentação, por serem preponderantemente manuais e estarem
diretamente vinculadas à produtividade da mão-de-obra, são, geralmente, as mais sensíveis
dentro de todo o sistema logístico.
A mão-de-obra necessária à separação e manuseio de produtos representa um dos
componentes de custo de pessoal mais altos de toda a cadeia logística. Para Bowersox e
Closs (2001), a oportunidade para reduzir os custos com mão-de-obra e aumentar sua
produtividade reside no uso de novas tecnologias de movimentação e manuseio.
A atividade de movimentação engloba os seguintes processos:
Recebimento de produtos
A primeira atividade de movimentação de materiais é a descarga de
veículos, seja ela manual ou mecanizada.
Transporte interno e endereçamento dos estoques
Inclui toda movimentação dentro do armazém, desde a transferência interna
para armazenar ou separar os produtos após seu recebimento até a movimentação
necessária para retirá-los da área de armazenagem, após o recebimento dos pedidos.
Os gastos com empilhadeiras, paleteiras, veículos de reboque, esteira e outros
equipamentos ajudam a compor o custo total de transporte interno.
42
Embalagem
A forma mais comum de embalagem é a unitização – o acondicionamento da
carga em embalagens padrão, que podem ser transportadas com maior facilidade.
As formas mais utilizadas de unitização são os paletes e os conteineres.
Separação e expedição de pedidos.
A atividade de separação agrupa materiais, peças e produtos em função dos
pedidos dos clientes. Já o processo de expedição consiste na verificação e no
carregamento das mercadorias nos veículos. As conferências do conteúdo são feitas
no ato da expedição, momento em que acontece a troca de responsabilidades. Estas
consistem geralmente na contagem dos volumes, mas, em alguns casos, são
necessárias verificações mais minuciosas, em peças, marcas, tamanhos, etc.
Os custos decorrentes dessas atividades, incluindo-se os custos de aquisição,
operação, manutenção e depreciação de máquinas e equipamentos, resultam no custo total
de movimentação.
3.3.2.2. Custos de Armazenagem
Os custos de armazenagem podem ser considerados como todos aqueles
relacionados à infra-estrutura, como custo de aquisição ou aluguel de área, impostos e
seguros prediais, equipamentos de armazenagem, iluminação, climatização e segurança.
Estas despesas variam de acordo com o tamanho, projeto e
layout do armazém. Segundo
Moura (1997) esses custos não variam em relação a quantidade armazenada e representam
a parcela fixa dos custos de armazenagem.
Ballou (2002) classifica os armazéns em função do tempo de permanência dos
produtos em estoque. Um armazém de manutenção destina a maior parte do espaço é à
estocagem semi-permanente ou de longo prazo. O armazém de distribuição, em
43
contrapartida, tem a maioria de seu espaço alocado à estocagem temporária, e prioriza a
velocidade e a facilidade do fluxo de produto. Analogamente a essa definição, entende-se
que os custos em ambos os sistemas comportam-se de forma diferente, em função da
temporalidade média de permanência dos produtos no armazém.
Bowersox e Closs (2001) fornecem uma visão geral dos vários custos do sistema de
armazenagem. Para isso, classificam os armazéns em três diferentes categorias:
a)
Depósitos Próprios
São aqueles operados pela empresa proprietária das mercadorias. Possuir o
armazém e o equipamento adiciona um nível substancial de custos fixos na
composição dos custos totais, já que a empresa passa a arcar com todas as despesas
de infra-estrutura. No entanto, nessa modalidade de armazém não são computadas
margens de lucro. Entre suas principais vantagens, estão a flexibilidade, o controle e
a presença e fortalecimento da imagem da empresa no mercado, através da
divulgação da marca.
b)
Depósitos Públicos
Proporcionam flexibilidade financeira, vantagens de economia de escala e
maior especialização no que diz respeito a habilidades operacionais e de
gerenciamento. Podem apresentar custos variáveis mais baixos, decorrentes de
salários menores, maior produtividade e economias de escala. Uma vez que não há
investimentos em ativos fixos, esse tipo de armazém oferece grande flexibilidade
operacional, como mudança de local, de tamanho e de quantidade de depósitos.
c)
Depósitos Terceirizados
Combinam características dos depósitos públicos e próprios. Por tratar-se de
parceria de longo prazo, tendem a gerar custos menores do que os depósitos
públicos, apesar de eventualmente exigirem a participação da empresa cliente na
divisão dos custos de infra-estrutura. Entre as principais vantagens estão a
especialização, a flexibilidade e economias de escala, por compartilhar recursos de
gerenciamento, mão-de-obra, equipamento e informação com muitos clientes.
44
Os conceitos de custos apresentados nesse capítulo servirão de base para o
desenvolvimento do estudo de caso da AmBev apresentado no trabalho. Durante o capítulo
5, em que a atividade de transporte da referida empresa será analisadá, serão amplamente
empregados os conceitos de custos de distribuição, com a abertura adotada pela empresa
em cinco distintos grupos: transportes, entrega, administrativos, armazenagem e vendas.
O próximo capítulo, Evolução do Sistema de Distribuição da AmBev, tem como
principal objetivo explicitar como evoluiu o sistema de distribuição da AmBev. O capítulo
apresentará desde o primeiro momento, em que as companhias Brahma e Antarctica
encontravam-se como concorrentes na disputa pelo mercado brasileiro de bebidas e
utilizavam unicamente revendedores terceirizados para a distribuição de seus produtos, até
o momento atual, em que a AmBev passou a adotar um sistema de distribuição que
combina distribuidores terceiros com uma rede própria de distribuição.
45
4. EVOLUÇÃO DO SISTEMA DE DISTRIBUIÇÃO DA AMBEV
4.1. Histórico da Companhia AmBev
Anunciada em 1° de julho de 1999, a criação da AmBev, Companhia de Bebidas
das Américas, foi resultado da fusão da Companhia Antarctica Paulista e da Companhia
Brahma de Bebidas (CBB). A nova empresa, aprovada pelo Conselho Administrativo de
Defesa Econômica (Cade) no ano seguinte, surgiu como a terceira maior indústria
cervejeira e a quinta maior produtora de bebidas do mundo.
Com posição dominante no mercado brasileiro de cervejas, a preocupação da
AmBev passou a ser a manutenção de sua fatia de mercado interno e estabelecer-se de
forma competitiva em toda a América Latina. Dessa forma, a partir de 2000, a empresa
passou a realizar aquisições e construções de novas fábricas em todo o continente
americano, passando a atuar em praticamente todos os países da América do Sul e Central.
Em 2004, ocorreu a fusão da AmBev com a cervejaria belga Interbrew, dando
origem a Inbev. A nova companhia resultou na maior cervejaria mundial em volume de
produção e com atuação direta nos cinco continentes.
O histórico de evolução das companhias Brahma, Antarctica e da própria AmBev
mostra um fenômeno de expansão baseado tanto na construção de novas unidades
produtoras, percebido com mais freqüência no Brasil, quanto na aquisição de concorrentes,
percebida nos mercados nacional e internacional.
4.2. Processo de Distribuição das Companhias Brahma e Antarctica
4.2.1. Modalidades de Atendimento ao Mercado Varejista
46
Marques (2000) explica que a distribuição no mercado de bebidas é, essencialmente,
realiza por duas formas diferentes: distribuição terceirizada (revendas) e centros de
distribuição direta (CDDs).
Na modalidade de distribuição terceirizada a comercialização e distribuição dos
produtos para o varejo é realizada através de uma rede de revendedores que possui estrutura
própria de distribuição: frota e equipe de entregas e vendas. Estes revendedores se
encarregam da venda, distribuição e
merchandising nos pontos de venda. Ainda segundo
Marques (2000), a relação comercial entre as revendas e a companhia produtora é regida
por um contrato de exclusividade, com vigência variável e renovável, que estabelece o
escopo de atuação das revendas, incluindo as marcas de comercialização e a área geográfica
delimitada em que esta possui exclusividade de atuação, além de premissas e modelos
gerenciais a serem seguidos, de acordo com os objetivos estratégicos do fabricante.
Na modalidade de distribuição própria, através de CDDs, o mercado varejista é
atendido por centros de distribuição que funcionam como uma extensão das fábricas, já
que, além de alguns destes localizarem-se dentro da área física das mesmas, a grande
maioria opera como uma filial da fábrica mais próxima, utilizando-se, inclusive, do mesmo
CNPJ.
Nesses centros, a equipe de vendas é própria e o armazém é gerenciado pela própria
empresa fabricante. No entanto, a frota e as equipes de distribuição e movimentação
interna, mesmo nesse sistema, podem ser terceirizados, operando sob coordenação e
controle do pessoal próprio. As principais vantagens dessa terceirização são a redução dos
níveis de capital empregado e de ativos (empilhadeiras, caminhões, etc) em poder das
companhias e o foco da empresa na finalidade de seu negócio, já que a terceirização
simplifica uma série de processos e atividades, através da utilização do
know how do
operador logístico contratado.
47
4.2.2. Evolução Histórica dos Sistemas de Distribuão
Até a década de 90, as companhias Brahma e Antarctica, principais concorrentes no
mercado nacional de cerveja, optaram pela descentralização da distribuição de seus
produtos, de forma a fortalecer suas marcas regionalmente e facilitar o abastecimento dos
mercados consumidores. Ambas as empresas utilizaram o maior número possível de
distribuidores terceirizados em suas redes, numa estratégia apelidada de “pulverização do
atendimento”. A intenção era, em última instância, possuir, ao menos, uma revenda em
cada município do país.
Esse processo de particionamento da distribuição, tanto da Cia. Antarctica quanto
da CBB teve, entre seus objetivos, a aproximação entre os estoques e seus consumidores
finais, a fim de evitar a falta de produtos no mercado e minimizar os possíveis problemas
logísticos decorrentes de estoques centralizados e menor quantidade de centros
distribuidores.
O controle exercido pelo governo sobre os preços de vendas das mercadorias tornou
limitado o leque de estratégias a ser adotado pelas empresas na disputa por
market share. A
opção das empresas foi utilizar a distribuição e a atuação local do revendedor como uma
vantagem competitiva e um diferencial na disputa por participação de mercado de cada
marca através do aumento do nível de serviço ofertado e da utilização e aproveitamento dos
conhecimentos do revendedor sobre o mercado
.
O surgimento de um número elevado de revendas levou ao desenvolvimento de
redes heterogêneas, onde os distribuidores da marca Skol, por exemplo, eram mais bem
estruturados, tanto em termos organizacionais e empresariais, quanto na adoção de
processos e tecnologias mais modernas, como sistemas de gerenciamento administrativo e
de vendas.
O aumento do número de distribuidores limitou as áreas de atuação de cada
revenda, tornando pequena a parcela de cada uma destas no total de venda das marcas. Esse
48
processo, apesar de fortalecer os fabricantes, levou ao enfraquecimento econômico e
operacional de grande parte dos distribuidores.
A dependência das revendas em relação às marcas passou a ser um problema para
os fabricantes, a partir do momento em que a margem obtida pelas pequenas revendas teve
de ser aumentada de forma a tornar sua equação financeira sustentável e impedir a falência
das mesmas. Esse percentual chegou a representar 35% do valor final de venda dos
produtos, tornando-os mais caros para o consumidor final e reduzindo a margem de lucro
do fabricante. Em revendas maiores, o total obtido não ultrapassava 18% do valor dos
produtos vendidos (www.ambev.com.br
, 2005).
Deficiências operacionais, dentre as quais vale ressaltar a baixa produtividade e
ocupação das frotas de transporte e distribuição, foram compensadas pelos ganhos
provenientes de uma elevada movimentação financeira em períodos de inflação exagerada.
A estabilidade econômica e o controle inflacionário, no entanto, expuseram essas
debilidades e, em meados de 1996, algumas revendas apresentaram problemas financeiros
que impactaram diretamente na continuidade do negócio (Marques, 2002).
Paralelamente à distribuição terceirizada, a Cia. Brahma praticava também a
distribuição própria em um pequeno número de regiões, através das CRAs (Cerveja,
Refrigerante e Água), nome dado aos centros de distribuição próprios, que funcionavam
como empresas independentes.
Na década de 90 ocorreram mudanças no sistema de distribuição adotado pela Cia.
Brahma. Essas modificações buscavam o aprimoramento da distribuição e a padronização
desse preocesso. Entre as principais inovações, destacam-se:
Criação do Programa de Excelência. Através da adoção e cumprimento de uma série
de itens exigidos pelo fabricante, as revendas passaram a ser ranqueadas e a receber
certificados de excelência, de acordo com seu desempenho no programa. Dessa
49
forma, estimulou-se a modernização e adequação dos distribuidores aos padrões
exigidos pela Companhia.
Criação do Programa de Produtividade. Também desenvolvido na década de 90,
visava, após o mapeamento das atividades desenvolvidas pelas revendas,
estabelecer critérios de produtividade que garantissem a saúde financeira das
mesmas.
Utilização de softwares de roteamento de veículos, que permitiram, a partir da
definição das principais premissas (capacidade, dimensões, número de veículos, tipo
de carga, etc.), estabelecer a melhor rota a ser percorrida por cada veículo de
entrega. A adoção dessa ferramenta gerou ganhos operacionais através do melhor
aproveitamento da frota utilizada na entrega das mercadorias. Os principais ganhos
foram provenientes da maior ocupação, menor quantidade de veículos em uso e
redução dos tempos e distâncias médias percorridas por viagem.
Desenvolvimento de projetos de adequação das revendas e áreas de atuação. Foram
realizados os primeiros projetos de adequação das revendas ao mercado, com seu
redimensionamento e reposicionamento. Apesar da obtenção de resultados
considerados satisfatórios, algumas variáveis essenciais nesse processo não foram
levadas em consideração, distorcendo os resultados e afastando-os do ponto ótimo.
Entre essas variáveis, encontravam-se as informações a respeito de
drop size (média
de volumes entregues por cliente), distância média de rota, valor médio de venda
por cliente, freqüência de visitas do veículo ao cliente e capital de giro das revendas.
Nesse período, os centros de distribuição próprios da Cia. Brahma passaram a se
chamar
Eagles e eram conceitualmente diferentes de seus antecessores CRAs (Cerveja,
Refrigerante e Água). As
Eagles funcionavam como estoques avançados das fábricas e
operavam com o mesmo CNPJ de sua fábrica-mãe. Dessa forma, não se efetuava a venda
dos produtos da fábrica para as
Eagles, e sim, sua transferência, o que garantia ganhos
fiscais pelo não recolhimento de PIS/ COFINS, além de se evitar também a incidência de
50
CPMF nas transferências de numerário entre CDDs e fábricas. Posteriormente, através do
Projeto Forró, as
Eagles dariam lugar aos Centros de Distribuição Direta (CDD), sendo o
primeiro destes inaugurado em Recife, em 1996.
4.3. Perfil da Distribuição da AmBev
Em 1999, com a fusão das companhias Brahma e Antarctica, houve significativas
mudanças nas características do sistema de distribuição anteriormente adotado. A
incorporação das revendas Antarctica às revendas Brahma e Skol fez com que praticamente
duplicasse o número de distribuidores da nova companhia.
A quantidade e as características das revendas atuantes demonstraram que a forma
de distribuição da AmBev não proporcionava os resultados de custo e produtividade
esperados pela direção da companhia. A rede de revendas mostrou-se estabelecida de forma
improdutiva, resultado da estratégia das companhias no desenvolvimento de ações locais e
da mudança do cenário do mercado, inicialmente de competição entre as companhias
Brahma e a Antarctica e, posteriormente, de cooperação/ unificação.
No ano 2000, existia um grande número de revendas com dificuldades financeiras, -
conseqüência da má gestão de seus processos e dos baixos volume de distribuição, em
função do excessivo particionamento do mercado adotado como estratégia nos anos
anteriores - fato que colocou em risco o atendimento a mercados menores e mais distantes.
Essas condicionantes, aliadas aos interesses da companhia de aumentar seus lucros através
da distribuição própria de seus produtos, impulsionaram a criação de novos Centros de
Distribuição Direta, modalidade de distribuição que havia sido inaugurada, em caráter
experimental, pela Brahma, em 1996.
A Companhia optou, então, por buscar de um modelo de distribuição que garantisse
a confiabilidade, modernização e continuidade da operação de distribuição de seus
produtos, além do seu lucro próprio e o das revendas. O objetivo foi adotar uma estratégia
51
de distribuição que racionalizasse a rede implantada em termos de volumes distribuídos,
níveis de serviço exigidos, área de atendimento e custos operacionais.
Nesse período, percebe-se cada vez mais presente e acelerado o processo de distrato
de revendas, que representa o encerramento das atividades de um revendedor terceirizado,
com a incorporação de sua área de atuação por CDDs ou outras revendas. Com a
eliminação dessas revendas e absorção de seus clientes por outras unidades,
progressivamente percebe-se o aumento da área de atendimento e dos volumes médios
distribuídos.
O quadro a seguir apresenta a evolução do número total de revendas
:
2000 2001 2002 2003 2004 2005
Revendas
665 555 447 336 317 271
Quadro 2: Evolução da Quantidade de Revendas em Atividade
Fonte: Gerência Nacional de Transporte/ Logística AmBev, 2006
As informações contidas no quadro 2 mostram a intensificação do processo de
distrato de revendas após a união das companhias. De 2000 a 2005, o número total de
revendas sofreu um decréscimo de 60%, período em que 394 foram distratadas.
Como o direcionamento da nova empresa ficou a cargo dos antigos gestores da
Brahma, os revendedores da marca Antarctica foram mais afetados pelo processo de
distrato que os revendedores da Brahma e, principalmente, da Skol. Entre 1999 e 2003, o
número de revendas Antarctica foi reduzido em 78%, de 405 para 88; o número de
representantes da marca Brahma foi reduzido em 44%, de 210 para 118; enquanto apenas
18% dos revendedores Skol foram excluídos do processo de distribuição: dos 159 originais,
130 permaneciam em atividade em dezembro de 2003.
Comparando-se a distribuição de revendas por marca, em junho de 1999, a
Antarctica representava 52% dos revendedores, enquanto a Brahma 27%, e a Skol, 21%. Já
no final de 2003, as revendas Skol representavam 39% de todas as revendas da AmBev, a
52
Brahma, 35% e a Antarctica, apenas 26% desse total, conforme demonstrado nos gráficos a
seguir.
Distribuição das Revendas por Marca
Junho 1999
52%
27%
21%
Antarctica Brahma Skol
Distribuição das Revendas por Marca
Dezembro 2003
26%
35%
39%
Antarctica Brahma Skol
Gráfico 1: Revendas por Bandeira
Fonte: Gerência Nacional de Transporte/ Logística AmBev, 2005
Após a fusão, a empresa optou por estruturar sua área de distribuição através de
uma combinação de Centros de Distribuição Direta e Revendas. Dentre as revendas
remanescentes, a AmBev desenvolveu e expandiu o conceito de revendas bi e trimarca, ou
seja, revendas que distribuem os produtos de duas ou três das principais marcas da
comercializadas (Brahma, Antarctica e Skol). A distribuição de mais de uma das três
marcas de cerveja da AmBev por um mesmo revendedor possibilita, entre outros
resultados:
53
Maior ocupação dos veículos de entrega – a maioria dos pontos de venda atendidos
pela companhia comercializa produtos Brahma, Antarctica e Skol. Pelo sistema
original, o atendimento seria efetuado por três diferentes veículos de entrega, de
revendas distintas. A partir da distribuição conjunta, um mesmo veículo pode
entregar os produtos das três diferentes marcas.
Aumento do drop size (número de volumes entregues por ponto de venda) – pelo
mesmo motivo apresentado no item anterior.
Rotas mais curtas e velozes – conseqüência da maior ocupação dos veículos e do
aumento do
drop size.
Estes fatores possibilitam economias de custos através da diminuição da frota e da
equipe necessária para a realização das entregas, assim como da redução dos custos
variáveis relevantes nas operações de entrega das mercadorias.
Visando readequar sua estratégia de vendas e distribuição, a partir do ano 2000,
houve uma significativa migração de revendas monomarcas para trimarcas - que
comercializam o portifólio completo da companhia – e bimarcas – que comercializam o
mix de produtos de duas das marcas. Os gráficos a seguir mostram a evolução da divisão
das revendas em monomarcas, bimarcas e trimarcas, em 2000 e 2005 e os percentuais de
fornecimento de cada uma delas.
Gráfico 2: Divisão de Revendas entre Mono, Bi e Trimarcas
Fonte: www.ambev.com.br
Percentual de Fornecimento por Tipo de Revenda
100,0%
42,5%
17,0%
40,5%
0,0%
20,0%
40,0%
60,0%
80,0%
100,0%
Ano 2000 Ano 2005
Monomarca Bimarca Trimarca
54
Percentual de Volume por Tipo de Revenda
37%
53%
72%
80%
22%
20%
13%
10%
41%
28%
15%
10%
0%
20%
40%
60%
80%
100%
120%
2002 2003 2004 2005
Ano
Percentual
Monomarca
Bimarca
Trimarca
Gráfico 3: Percentual de Volume por Tipo de Revenda
Fonte: www.ambev.com.br
Como conseqüência dessa estratégia, percebe-se o aumento de 69% nos volumes
médios distribuídos pelas revendas, conforme o gráfico a seguir:
Volume de Distribuição de Revendas
100%
108%
127%
169%
148%
151%
0%
20%
40%
60%
80%
100%
120%
140%
160%
180%
2000 2001 2002 2003 2004 2005
Ano
Volume Percentual
Gráfico 4: Volume de Distribuição de Revendas
Fonte: Gerência Nacional de Transporte/ Logística AmBev, 2006
55
4.3.1 Características dos Centros de Distribuição Direta AmBev
A diminuição do número de revendas operantes foi acompanhada, em um primeiro
momento, por movimento oposto em relação ao número de Centros de Distribuição Direta.
Desde o surgimento do primeiro CDD, em 1996, seu crescimento anual foi acentuado até o
ano 2000, quando havia 48 destes em operação. Com a reestruturação das áreas de
atendimento e aumento do volume médio distribuído, também a estrutura de distribuição
direta sofreu reduções, havendo a eliminação de 16 CDDs até 2003. A partir desse ano,
percebe-se novamente o aumento do número de CDDs que, em 2005 passam a ser 41.
Total de Revendas e CDDs
48
41
34 32
39 41
665
336
317
271
447
555
0
100
200
300
400
500
600
700
2000 2001 2002 2003 2004 2005
Ano
Total de Unidades
CDD
Revenda
Gráfico 5: Evolução do Número de Revendas e CDDs
Fonte: www.ambev.com.br
.
Marques (2000) explica que com a migração da distribuição terceirizada para a
distribuição própria, através dos CDDs, tem-se, em média, um incremento de 5% no
volume vendido, considerando-se a mesma área de atendimento, além de 9% no valor final
de venda dos produtos. Esses ganhos ocorrem devido a utilização da
expertise e das
ferramentas de vendas da Companhia, além da maior cobrança por resultados. O gráfico a
seguir apresenta a evolução no volume médio distribuído pelos CDDs:
56
Volume de Distribuição de CDDs
100%
219%
221%
254%
193%
151%
0%
50%
100%
150%
200%
250%
300%
2000 2001 2002 2003 2004 2005
Ano
Volume Percentual
Gráfico 6: Volume de Distribuição de CDDs
Fonte: Gerência Nacional de Transporte/ Logística AmBev, 2006
Em conseqüência da estratégia adotada, o volume médio distribuído pela rede de
distribuição AmBev (revendas e CDDs) aumentou 137% quando comparados os anos 2005
e 2000. No entanto, nota-se que enquanto o volume distribuído pela rede própria passou a
representar 49% do total vendido pela companhia, o volume das revendas foi
consideravelmente reduzido para 51% do total, já que em 2000 respondia por 77%.
Volume Percentual de Fornecimento - Revendas e CDDs
23%
30%
33%
37%
44%
49%
77%
70%
67%
63%
56%
51%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
2000 2001 2002 2003 2004 2005
Ano
Percentual
Revenda
CDD
Gráfico 7: Percentual de Volume Distribuído por Revendas e CDDs
Fonte: Gerência Nacional de Transporte/ Logística AmBev, 2006
57
No início das operações dos Centros de Distribuição Direta, as áreas de atendimento
localizavam-se geograficamente próximas das fontes de produção. Isso explica o fato de
que de que 25% dos CDDs em operação são “internos” a uma fábrica, ou seja, utilizam a
estrutura e área da fábrica para se estabelecer. Além disso, essa modalidade de CDD incorre
em custos de transportes reduzidos, pois apenas realiza a transferência daqueles itens não
produzidos em sua fábrica-mãe. Esses CDDs são denominados CDDs Internos, enquanto
aqueles que possuem área própria e independente de uma fábrica são denominados CDDs
Externos.
No entanto, o aumento dos volumes distribuídos e das áreas atendidas, tornou a
proximidade com a unidade produtora menos viável e a estratégia de localização dos CDDs
buscou estabelecê-los próximos aos mercados consumidores. É interessante voltar a
destacar que os CDDs internos estão localizados em fábricas próximas do mercado
consumidor, frequentemente localizadas em grandes centros urbanos, o que fortalece a
proposta de centros de distribuição orientados para o mercado.
O crescimento do número de CDDs Externos tornou necessário o desenvolvimento
de novas estratégias operacionais de distribuição que buscaram, principalmente, reduzir os
custos de transportes e armazenagem decorrentes de operações de abastecimento dos
CDDs. Uma das estratégias adotadas foia a de Pontos de Apoio, que combinou a estrutura
de distribuição direta (CDDs), onde os produtos são expedidos diretamente do armazém
para o mercado consumidor, com a distribuição através de depósitos intermediários. Os
depósitos intermediários, permitem um rápido fluxo de produtos, com a manutenção de
estoques em níveis reduzidos. Esta alternativa possibilitou a minimização dos problemas
causados nos casos em que um CDD atende mercados distantes.
Nos CDDs Externos, um nível pré-determinado de cada um dos produtos
comercializados é mantido em seu estoque e, sempre que as quantidades armazenadas
atingem o ponto de ressuprimento, novas transferências de mercadoria são realizadas. O
transporte de mercadorias para reabastecimento, usualmente denominado “transferência”
ou “puxada”, é realizado através de caminhões pesados, o que permite a movimentação de
58
grandes quantidades, normalmente entre 20 e 28 paletes por veículo. A partir do CDD, a
entrega é realizada aos clientes finais em pequenos carros de distribuição, que possuem
capacidade média de 10 paletes - todos esses veículos abastecidos com produtos a partir do
estoque do CDD.
Na modalidade de Ponto de Apoio, são encontradas duas formas distintas de
operação. Na primeira, veículos de grande porte levam as cargas consolidadas até o PA,
onde estas são divididas entre os veículos de distribuição. Na segunda, menos comum, os
veículos de entrega são carregados na fábrica, de forma a aproveitar a estrutura de
movimentação/carregamento fabril. Da fábrica, estes veículos se dirigem ao PA, onde
aguardam o momento de partida para entrega. Em ambas as alternativas, apenas uma
pequena quantidade de produtos é mantida no PA, a fim de solucionar problemas de avarias
durante o transporte ou movimentação das mercadorias.
Por meio da utilização de um modelo de distribuição híbrido, combinação de CDDs
Internos, CDDs Externos, Pontos de Apoio e Revendas Terceirizadas, a empresa buscou
alavancar sua rentabilidade e aumentar a margem de contribuição de seus produtos, seja
através do aumento do volume de vendas, de seu poder de negociação ou da redução
constante dos custos logísticos e de distribuição, além de atender às necessidades de nível
de serviço exigidas pelo mercado.
Entender a relevância dos custos de transportes na composição geral dos custos de
distribuição e implantar novas soluções de acompanhamento e gestão de forma a minimizar
seu impacto foi ponto crucial da estratégia adotada pela empresa. O próximo capítulo
explicita e analisa as medidas adotadas pela AmBev e seus impactos nos resultados de
custo de transporte da empresa.
59
5. ESTRATÉGIAS ADOTADAS PARA REDUÇÃO DOS CUSTOS DE
TRANSPORTE
5.1. Introdução
Após explicadas as mudanças na configuração do sistema de distribuição da
AmBev, este capítulo tem como objetivo analisar e avaliar as características da operação de
transporte de produto acabado entre unidades produtoras e centros de distribuição, e as
mudanças desenvolvidas de forma a tornar esse processo menos oneroso para o resultado
dos custos totais de distribuição.
Para tanto, será explicitada a importância dos custos de transporte para a AmBev,
através da análise da composição geral dos custos de distribuição dos CDDs Externos e,
posteriormente, estudadas as características das movimentações de produtos entre fábricas e
centros de distribuição da Companhia, abordando, inclusive, as modificações no sistema de
gestão de transportes oriundas da implementação de um controle centralizado das
atividades de programação de transferência de produtos entre fábricas e CDDs.
5.2. Custos de Transportes nas Revendas
De acordo com o regulamento que rege a relação comercial entre a empresa e sua
rede de distribuição terceirizada, os custos de transportes entre fábricas e revendas são
ressarcidos aos revendedores de acordo com a distância percorrida, a região onde cada um
destes se localiza, o tipo de produto transportado (produtos descartáveis, como lata e long
neck, ou retornáveis, como cerveja e refrigerante em garrafa) e o volume distribuído por
cada um deles.
Nessa equação, quanto maior o volume distribuído por cada revendedor, menos
representativos passam a ser os custos de transporte. Essa característica é mais um fator que
impulsiona a concentração de volume, gerando revendas com cada vez maiores áreas de
atendimento.
60
Dessa forma, a Companhia estabelece valores compensatórios para os
revendedores que vigoram enquanto durarem os contratos, independentes de pequenas
flutuações nas cotações de frete de mercado. Devido a essa estabilidade dos custos de
transportes das revendas, o trabalho tem como principal área de análise os custos de
transporte das unidades que realizam a distribuição própria da Companhia.
5.3. Composição dos Custos de Distribuição Direta
Entre as funções mais complexas das grandes empresas está o correto entendimento
dos componentes de custos. A adequada mensuração e alocação dos custos permite que as
organizações atuem especificamente nas atividades mais dispendiosas ou com maior grau
de ineficiência, evitando desperdícios de recursos e de tempo. O desenvolvimento de
trabalhos focados nos principais problemas que se constituem em gargalos operacionais da
companhia proporciona resultados melhores e mais rapidamente.
Uma das preocupações primordiais da empresa, principalmente após a ampliação e
multiplicação dos centros de distribuição direta, é a correta determinação dos custos de
distribuição de seus produtos. No mercado de bebidas (cerveja e refrigerante), cujos
produtos usualmente são de baixo valor agregado, custos de distribuição inadequados
podem tornar negativa a margem de contribuição dos produtos.
5.3.1. Estratificação dos Custos de Distribuição Direta
Antes de analisar os custos de distribuição da Ambev, faz-se necessário explicitar os
conceitos empregados para os componentes dos custos de distribuição e entendimento da
forma como estes foram divididos no trabalho em questão:
1.
Custos de Transporte:
61
Referem-se a todos os custos de transferência de produtos desde as fábricas
até os centros de distribuição direta.
2.
Custos de Entrega
São os custos provenientes da atividade de entrega dos produtos, ou seja, do
transporte do CDD até o cliente.
3.
Custos de Armazenagem
São os custos envolvidos na operação do armazém, como equipamentos,
pessoal, utilidades, aluguel, etc.
4.
Custos de Vendas
Custos oriundos no processo de vendas, como pessoal de vendas, frota e
combustível disponível para vendedores, custos de incentivos de vendas, etc.
5.
Custos Administrativos
São os custos alocados em pessoal e área administrativos, telefones, material
de escritório, despesas jurídicas e etc.
De forma a facilitar a análise e entendimento da importância da estratificação dos
custos de distribuição, e, em particular, dos custos de transportes, foram estabelecidos três
grupos representativos dos centros de distribuição direta da Ambev, de acordo com a
distância entre estes CDDs externos (incluindo antigos CDDs Brahma e CDDs originados
no período pós-fusão) e suas principais fábricas de abastecimento. A divisão por distância
entre os CDDs e as fábricas se deu devido ao papel fundamental que a distância percorrida
pelos veículos de transferência tem sobre o impacto nos custos de transportes e,
consequentemente, em relação aos custos totais de distribuição. Dessa forma, os CDDs
ficaram subdivididos nos seguintes grupos:
Próximo: centros de distribuição cuja distância para a principal fábrica de onde recebe
seus produtos não ultrapassa 150 km.
62
Intermediário: centros cuja distância para a principal fábrica varia entre 150 e 400 km.
Distante: centros de distribuição localizados a mais de 400 km de sua fábrica de
abastecimento.
Para composição dos grupos estudados, buscou-se escolher CDDs de volume anual
de fornecimento similares (em torno de um milhão de hectolitros) e que possuíssem frota
dedicada de transporte (veículos dedicados em tempo integral à operação de transporte do
CDD), portanto, que não operassem exclusivamente através da contratação de freteiros
autônomos. É fundamental destacar que as características de gestão de cada CDD, seja de
estrutura administrativa ou operacional, são as mesmas, independentemente da distância
entre estes e suas fábricas abastecedoras.
Os quadros 3 e 4 apresentam a configuração dos custos totais de distribuição por
CDD no ano de 2005, de acordo com os critérios de agrupamento estabelecidos acima.
Enquanto o quadro 3 esclarece a composição dos custos de distribuição em cada um dos
grupos estudados, o quadro 4 apresenta uma comparação de custos entre os mesmos.
Para elaboração do quadro 4 foi utilizado o custo relativo - custo em reais (R$)
dividido por hectolitro vendido- , de forma a eliminar diferenças absolutas originadas por
variações de volumes entre Centros. Todos os resultado obtidos foram multiplicados por
um mesmo fator, de forma a não comprometer informações confidenciais da companhia.
Transporte Entrega Armazenagem Vendas Administrativos
Distante 37,9% 23,4% 8,5% 16,3% 14,0%
Intermediário 8,8% 32,8% 13,0% 29,3% 16,1%
Próximo 6,0% 38,5% 13,6% 27,0% 15,0%
Quadro 3: Composição do Custo Total de Distribuição
Fonte: Gerência Nacional de Transportes/ Diretoria de Logística AmBev, 2005
63
Transporte Entrega Armazenagem Vendas Administrativos TOTAL
Distante 9,5 5,8 2,1 4,1 3,5 25,0
Intermediário 1,7 6,5 2,6 5,8 3,2 19,8
Próximo 1,0 6,5 2,3 4,5 2,5 16,8
Quadro 4: Comparativo dos Custos de Distribuição entre CDDs
Fonte: Gerência Nacional de Transportes/ Diretoria de Logística AmBev, 2005
A análise dos quadros permite perceber a diferente influência dos custos de acordo
com a distância percorrida por sua frota. A variação da distância percorrida se mostra como
a variável que mais influencia os diferentes custos de distribuição dos CDDs, como
apresenta o quadro 4. Em valores absolutos, na comparação com os CDDs mais próximos,
os custos de transporte são 1,7 vezes maiores nos CDDs intermediários, e 8,5 vezes maiores
quando comparados com os CDDs distantes. Todos os demais componentes do custo de
distribuição variaram em menores proporções, conforme o levantamento realizado.
Considerando-se o impacto causado pelo aumento dos custos de transporte em cada
grupo estudado, dentre as variações percentuais destacadas pelo quadro 3, merecem
destaque:
Custos de armazenagem, que variam entre 8,5% para os CDDs mais
afastados e 13,6 % para os CDDs mais próximos.
Entrega, ou seja, os custos envolvidos no gerenciamento do transporte dos
produtos para os clientes, a partir dos CDDs. De acordo com o
levantamento, esses custos variam de forma inversa aos custos de transporte,
sendo mais expressivos em CDDs próximos às fábricas, representando
37,8% do total, e menos relevantes para os CDDs mais afastados, para os
quais representam a 23,4% dos seus custos totais.
Pecebe-se um aumento na importância relativa dos custos de transporte
quando são analisados os centros de distribuição mais distantes de suas
fábricas principais. Esses custos, que representam apenas 7,0% dos custos
totais de distribuição para CDDs localizados próximos às fábricas, chegam a
64
representar 37,9% para os CDDs mais afastados de suas fábricas
abastecedoras.
5.4 Custos de Transporte
Como um dos principais componentes do custo de distribuição, o custo de
transporte pode ser estratificado de acordo com sua natureza fixa ou variável, conforme
explicado no capítulo três (3.1.2. Custos Fixos e Variáveis). O gráfico a seguir apresenta o
percentual de participação dos custos fixos e variáveis na composição dos custos de
transporte, de acordo com a distância entre os CDDs e suas fábricas abastecedoras.
Custos de Transportes
0%
20%
40%
60%
80%
100%
Próximo Intermediário Distante
Custos Variáveis
Custos Fixos
Gráfico 8: Comparação entre Custos Fixos e Variáveis
Fonte: Gerência Nacional de Transportes/ Diretoria de Logística AmBev, 2005
De acordo com o gráfico, os custos variáveis são responsáveis por 73% dos custos
de transporte referentes a um CDD localizado próximo à sua fábrica principal, 77% para
um centro localizado entre 150 e 400 km, e 81% dos custos totais de transporte para um
CDD localizado a mais de 400 km. Esses dados comprovam exemplificam a teoria
explicada nos capítulos anteriores, pois quanto maior a distância percorrida, maior o
impacto dos custos variáveis, como combustível, pneus, lubrificantes, etc, sobre o total de
custos de transporte.
65
O quadro 5 apresenta a abertura dos custos fixos e variáveis. Percebe-se que, para os
CDDs que percorrem curtas distâncias para se abastecer, os custos fixos representam 27,3%
dos custos de transportes, enquanto, para os CDDs que percorrem longas distâncias, estes
representam 19,0%, variação equivalente a 44%.
Próximo Intermediário Distante
Custos Fixos 27,3% 23,3% 19,0%
Frota Fixa Ativa 25,6% 22,0% 18,0%
Frota Fixa Parada 0,1% 0,3% 0,0%
Transporte Despesa Fixa 1,6% 1,0% 1,0%
Custos Variáveis 72,7% 76,8% 81,0%
Frota Fixa Variável 42,5% 58,8% 65,0%
Freteiros Total 27,8% 18,0% 15,1%
Incentivos de Produtividade 0,1% 0,0% 0,0%
Sinistros 2,2% 0,0% 0,9%
Quadro 5: Estratificação de Custos Fixos e Variáveis
Fonte: Gerência Nacional de Transportes/ Diretoria de Logística AmBev, 2005
No quadro 4, os custos fixos estão divididos em:
Frota fixa ativa: custo dos equipamentos (cavalos mecânicos e carretas) em operação.
Frota fixa parada: refere-se aos custos dos equipamentos que permanecem ociosos
durante parte do ano, devido a sazonalidade da demanda, mas cujo custo fixo deve ser
ressarcido à transportadora.
Puxada despesa fixa: refere-se aos custos de administração/estrutura da transportadora
absorvidos pela empresa.
Por sua vez, os custos variáveis estão divididos em:
Frota Fixa Variável: somatório dos custos variáveis decorrentes da utilização das
carretas dedidacas.
66
Freteiros Total: custos decorrentes da utilização de freteiros (caminhoneiros
autônomos) na transferência de mercadorias.
Incentivo Produtividade: prêmio pago aos motoristas que atingem a meta de viagens por
mês estabelecida pela empresa e pela transportadora.
Sinistros: representam as perdas com roubos e avarias. Determinados CDDs, de acordo
com o histórico de sua operação de transferência, optam por assumir o risco do
transporte de mercadorias. Dessa forma, em caso de sinistro, não há ressarcimento por
parte da transportadora ou seguradora. Nos casos dos CDDs que optam por realizar o
seguro da mercadoria, esse custo está incluído na linha “Frota Fixa Variável”, por ser
pago a cada viagem.
O quadro 6 apresenta a estratificação detalhada dos custos fixos e variáveis,
analisados por equipamento (cavalo mecânico e carreta), das operações de transportes,
tomando como exemplo um caminhão com média de 20.000 km rodados por mês. Nesse
quadro, os custo com salários e encargos aparecem como custos fixos
CUSTO FIXO 27,4%
Composição do
Custo Fixo
Salários e Encargos 17,2% 62,7%
Retorno sobre Investimento 4,3% 15,8%
Depreciação Cavalo Mecânico 2,1% 7,7%
Rastreamento 1,2% 4,3%
Depreciação Carreta 1,2% 4,3%
Seguro 1,0% 3,7%
Taxas Anuais 0,4% 1,5%
CUSTO VARIÁVEL 72,6%
Composição do
Custo Variável
Combustível 46,4% 63,9%
Pneus 12,2% 16,8%
Manutenção 6,9% 9,4%
Lucro Variável 5,3% 7,2%
Lubrificantes 1,0% 1,3%
Limpeza 0,9% 1,3%
Quadro 6: Abertura de Custos Fixos e Variáveis de Transporte
Fonte: Gerência Nacional de Transportes/ Diretoria de Logística AmBev, 2005
67
Pelo quadro, evidencia-se a importância dos custos variáveis, com grande destaque
para os custos com combustíveis, que representam 46,4% do custo total e 63,9% do custo
variável. O desgaste de pneus aparece também em como componente relevante na matriz de
custos de transporte, representando 12,2% de seu total. No tocante aos custos fixos,
salários e encargos destaca-se como o mais importante e responde por 17,2% dos custos de
transporte.
Após analisados os custos de distribuição e explicitada a importância dos custos de
transporte em sua composição, serão comentadas algumas inovações implantadas no
modelo de gestão de transportes da Ambev com a finalidade de redução dos custos de
transportes de bebidas entre suas fábricas e CDDs.
5.5. Transporte de Produto Acabado entre Fábricas e CDDs
Desde o início das atividades dos CDDs Brahma, em 1996, todo o processo de
transferência de mercadorias oriundas das unidades produtoras foi gerenciado de forma
descentralizada, pela equipe de logística de cada um destes centros de distribuição.
No entanto, o aumento do número de CDDs e dos volumes por eles distribuídos
tornaram o processo de reabastecimento desses centros complexo e, conseqüentemente,
dispendioso. Os custos de transferência passaram então a ter maior representatividade no
resultado da companhia.
Nesse contexto, destacam-se três vertentes priorizadas pela AmBev na busca pela
redução dos custos de transportes:
1)
Racionalização de processos e atividades;
2)
Otimização da capacidade de carga;
3)
Aumento da produtividade da frota.
68
5.5.1 Racionalização de Processos e Atividades
A reestruturação de processos e atividades envolvidas na transferência de
mercadorias entre fábricas e CDDs ocasionou mudanças, principalmente, na forma de
gestão desse processo. A programação de reabastecimento, o acompanhamento das cargas e
a negociação e cobrança sobre transportadores deixaram de ser realizados por cada centro
de distribuição e para ser executado pela área de transporte, centralizadamente.
5.5.1.1 Características da Transferência Descentralizada
O modelo de gestão descentralizado da transferência de produtos, que vigorou a
março de 2005, tinha entre suas principais características:
Definição local dos prestadores de serviço de transporte. A seleção e contratação das
empresas transportadoras cabia aos gerentes de cada centro.
Definição local do tipo de equipamento designado para cada operação/ percurso (marca
do cavalo-mecânico e implementos, potência do cavalo-mecânico, capacidade de carga
da carreta, idade do equipamento, etc.).
Controle local dos custos de transporte.
Dimensionamento descentralizado da quantidade de veículos em cada CDD. Cada
gerente de logística era responsável pelo dimensionamento da frota atuante em sua
unidade de distribuição.
Acompanhamento mensal da produtividade dos equipamentos. No modelo
descentralizado, a definição de metas de produtividade é realizada pela área corporativa
de transportes, mas somente o resultado de fechamento mensal de produtividade é
69
acompanhado pela área corporativa, enquanto os resultados diários são acompanhados
por cada unidade de distribuição.
Controle local dos níveis de estoque de produto acabado, da necessidade de
ressuprimento e dos produtos a serem reabastecidos.
A determinação local da quantidade e do tipo de equipamento em cada operação
resultou na despadronização da frota da empresa e no super dimensionamento da mesma,
causado pela falta de sinergia entre as operações. No modelo descentralizado, cada CDD
dimensionava sua frota de forma a atender à sua necessidade integral de transporte. Como
cada célula gerencial buscava o melhor apenas para sua operação, não se comprometendo
com a obtenção de melhores resultados a níveis nacionais, qualquer ociosidade dos
veículos, muitas vezes gerada pela sazonalidade da demanda, não era aproveitada como
sinergia em outras atividades.
O acompanhamento descentralizado da transferência implicou também na
necessidade de contratação de, ao menos, um funcionário em cada CDD. Esse empregado
tinha entre suas obrigações, o monitoramento das carretas e dos níveis de estoque de
produtos acabados, além do acompanhamento da produtividade dos circuitos fábricas-
CDDs. Esse modelo não permitia o acompanhamento constante das operações dos CDDs e
de seus resultados de produtividade pela área corporativa de transportes da companhia, a
fim de possibilitar medidas corretivas imediatas que contribuíssem para atingir as metas
estabelecidas.
O conjunto de todas essas características resultou em um sistema de transporte mal
dimensionado, que não atingia a eficiência esperada pela Companhia. Como forma de
reduzir os custos envolvidos no transporte de produtos entre fábricas e CDDs, a companhia
implantou um sistema de gestão baseado na centralização das atividades estratégicas e
táticas dos CDDs.
70
5.5.1.2. Características da Transferência Centralizada
A partir de março de 2005, entrou em atividade o Projeto de Centralização da
Transferência, que passou a gerir centralizadamente as funções estratégicas e táticas
envolvidas na transferência de produtos, em negociação com parceiros e no
acompanhamento da produtividade dos ativos. Seus principais objetivos eram:
Redução dos custos de transporte, a partir de negociações centralizadas e padronizadas.
Redução da necessidade de veículos por CDD, conseqüência da racionalização da
progrmação de transferência e do aumento da produtividade dos circuitos entre fábricas
e centros de distribuição.
Ganhos de escala com a redução no número de operadores logísticos/ transportadoras e
aumento da participação daqueles selecionados.
Redução do número de funcionários próprios envolvidos na atividade de programação e
acompanhamento das transferências.
Padronização da frota própria, fator gerador de poder de negociação com montadoras,
fabricantes de implementos e fornecedores de serviços de manutenção preventiva e
corretiva.
De forma a minimizar os riscos operacionais de centralização do processo de
transferência, o projeto foi desenhado em duas etapas principais. A primeira fase consistiu
na centralização parcial da transferência, através da formação de nove centros regionais de
programação de transferência. Cada uma destas células passou a ser responsável pelo
controle e acompanhamento de três a cinco CDDs e suas respectivas fábricas
abastecedoras. Estas centrais de programação estavam fisicamente localizadas em um dos
principais CDDs da regional, de forma a facilitar a interação com os demais.
71
O resultado operacional positivo da primeira etapa, que durou aproximadamente
dois meses, levou ao início da centralização definitiva da atividade, quando os centros
regionais de programação foram centralizados nacionalmente.
Com a centralização da gestão da transferência, o número de funcionários
envolvidos na atividade de programação e acompanhamento de cargas foi reduzido de 32
para 20. Essa redução foi possível devido à padronização das atividades realizadas, entre
elas principalmente os acompanhamentos da política de estoque e necessidade de
ressuprimento dos CDD, por cada um dos funcionários. No novo modelo de
acompanhamento, cada funcionário passou a ser responsável por cerca de três CDDs e
foram criados cargos específicos de coordenador, contratante de fretes e analista de
produtividade. A redução do número de funcionários envolvidos nessa atividade gerou
economias anualizadas de aproximadamente R$ 466.000 (quatrocentos e sessenta e seis mil
reais).
Os indicadores de nível de serviço da programação de produção, dentre os quais
destaca-se o percentual de s
tock out dos CDDs, que mede o percentual de produtos que
deixou de ser vendido por indisponibilidade de estoque, permaneceram estáveis após as
alterações no modelo de gestão.
5.5.2. Otimização da Capacidade de Carga
Uma das principais alavancas na redução dos custos rodoviários de transporte é a
otimização da capacidade de carga dos implementos rodoviários. Respeitando as restrições
legais de dimensões e peso, desde meados de 2003 a empresa passou a utilizar carretas com
capacidade de transporte de 26 paletes, ao invés de 20, anteriormente utilizados.
O quadro 6 apresenta a capacidade (paletes) e o número de carretas atuantes em
cada CDD, em 2005. A capacidade média ponderada da frota, de 22,6 paletes por veículo,
pode ser considerada reduzida e ineficiente, já que a legislação de transporte rodoviário e o
72
know-how da empresa e de suas transportadoras permitem a utilização de semi-reboques
capazes de transportar 26 paletes, bi-trens com capacidade de 28 paletes e tri-trens com
capacidade de 42 paletes por viagem – esta última sujeita à autorizações especiais de
circulação.
22 24 26 28 42
CDD1 x 38
CDD2 x x 6
CDD3 x 12
CDD4 x 14
CDD5 x 4
CDD6 x 5
CDD7 x x 10
CDD8 x 5
CDD9 x 2
CDD10 x 6
CDD11 x 7
CDD12 x 10
CDD13
CDD14 x x 3
CDD15
CDD16 x 10
CDD17 x 3
CDD18 x 2
CDD19 x 2
CDD20 x 6
CDD21 x x 4
CDD22 x 3
CDD23 x 2
CDD24 x 3
CDD25 x x 2
CDD26 x x 1
CDD27 x 1
CDD28 x 1
CDD29
CDD30
CDD31 x 3
165
Número de
Equipamentos
TOTAL DE EQUIPAMENTOS
Capacidade (paletes)
Quadro 7: Capacidade de Transporte da Frota Dedicada
Fonte: Gerência Nacional de Transportes/ Diretoria de Logística AmBev, 2005
O super-dimensionamento da frota foi, também, motivado pela necessidade de
evitar o custo de desabastecimento/ falta de produto (venda perdida), que é considerado
altamente prejudicial. Além da perda de margem originada pela não-venda, a
competitividade do mercado nacional de cerveja e refrigerantes e os baixos níveis de
73
estoques dos pontos de venda fazem com que a falta de um produto leve à sua substituição
por um concorrente, já que o desabastecimento é uma condição inviável para bares e
restaurantes.
Transportando prioritariamente paletes PBR2, com dimensões de 1, 25 m de largura
por 1,05 de comprimento e com cerca de 1.250 kg quando carregados com produto
acabado, foram necessárias diversas adaptações no implemento de forma que os
equipamentos permanecessem dentro dos requisitos legais quando carregados com 26
paletes. Para atender aos padrões de comprimento das carretas veículos, foi necessário
inverter a posição dos paletes na carreta, carregando-os com o lado menor virado para a
lateral do implemento, e utilizar cavalos-mecânicos do tipo “cara-chata”, mais curtos. Para
atender às exigências legais de largura, a espinha central das carretas asa-delta e seu ângulo
de inclinação tiveram de ser reduzidos. Finalmente, visando atender aos requisitos de peso,
o implemento sofreu diversas modificações, incluindo a substituição de peças de ferro e aço
por alumínio, redução dos tanques de combustível e retirada de materiais não-essenciais.
O aumento de 18% na capacidade de transporte, gerou, uma redução de custos da
ordem de 9%. Porém, devido à fragilização do equipamento e ao maior custo de fabricação,
tanto pela diferenciação/ customização do projeto, como pela substituição do aço e ferro
pelo alumínio, os custos de manutenção e fabricação sofreram aumentos, fatos que
absorveram parte do ganho, sem, no entanto, comprometer o sucesso do projeto. Os custos
variáveis não foram significativamente impactados, uma vez que o peso total da
composição carregada permaneceu similar ao peso das carretas comuns.
Quanto aos tempos de carregamento e descarga nas fábricas e CDDs, foi percebido
um incremento médio de 15 minutos; a média de 29 minutos obtida pelos veículos de 20
paletes passou para 44 nos veículos de 26. Esse incremento ocorreu, principalmente, devido
à necessidade do operador de empilhadeira inverter a posição do palete, ao retirá-lo do
estoque e antes de carregá-lo no veículo. No entanto, o incremento do volume transportado,
74
além da redução de outros fatores componentes dos tempos internos, como tempo de espera
e atendimento, compensaram a perda de tempo apurada no carregamento.
5.5.3. Aumento da Produtividade da Frota
Um dos principais indicadores da eficiência da gestão de transportes adotados pela
AmBev, a produtividade da frota dedicada, mede, em percentuais, o número de viagens
realizadas pela frota de acordo com metas pré-estabelecidas. A fórmula de cálculo dessa
equação é:
Produtividade de Frota = Viagnes Realizadas / Meta de Viagens
A determinação do número de viagens (meta) que cada um dos veículos dedicados
deve realizar é estabelecida com base nas variáveis descritas a seguir:
Distâncias entre o CDD e as fábricas abastecedoras;
Condições de manutenção das rodovias;
Tipo de percurso (urbano/ rodoviário)
Topografia
Número de turnos em operação (fábrica e CDD);
Tempos de carga e descarga (fábrica e CDD);
Quantidade de motoristas por veículo;
Potência do cavalo-mecânico;
Capacidade de carga do equipamento.
De forma a exemplificar a variação causada pela adequação desses parâmetros de
acordo com as características de cada circuito, pode-se mencionar o exemplo dos CDDs
Belém e Miranda Correa. Em dezembro de 2004, o número de viagens por veículo variava
de 1 viagem completa a cada 3 dias (CDD Belém, localizado a 816 km de distância da
75
fábrica de São Luis, no Maranhão) a 6 viagens por dia por - CDD Miranda Correa,
localizado a 6km da fábrica de Manaus.
Com base na meta de viagens por dia e no total de dias úteis de cada mês,
estabelece-se o número de viagens que deve ser realizado pela frota dedicada no mês. Para
o cálculo da produtividade dos circuitos, esse número representa o resultado de 100%. O
resultado de produtividade será então o percentual de atingimento da meta, podendo,
inclusive, ser superior a 100% em alguns casos.
Dentre as componentes que influenciam os resultados de produtividade de circuitos,
destacam-se o: disponibilidade de veículos, tempos de trânsito e tempos internos (fábricas e
CDDs).
A disponibilidade de veículos representa a quantidade de dias nos mês em que a
frota dedicada esteve disponível para operar. Os problemas mais comuns no que se refere à
indisponibilidade de veículos são paradas para manutenção (corretiva e preventiva) e falta
de motoristas. Como os circuitos estão projetados para rodar durante toda a semana, com
exceção dos domingos, qualquer parada imprevista de um dos veículos pode comprometer
o abastecimento do CDD.
De acordo com as negociações estabelecidas com os prestadores de serviço de
transporte, o tempo de trânsito é tratado pela companhia como de responsabilidade destes
parceiros, e é mensurado a partir do momento em que os veículos encontram-se disponíveis
para deixar as unidades de origem e até que se apresentem no destino.
A baixa eficiência de fábricas e CDDs nas atividades de carregamento/ descarga
também torna-se fator onerante no custo de transporte à medida que impede que cada ciclo,
ou viagem, seja completado dentro do tempo pré-estabelecido. Devido ao inadequado
acompanhamento da produtividade dos veículos, com pouca visibilidade de informação e
atenção por parte da companhia, o tempo de carregamento/ descarga nas fábricas e CDDs,
superior a 80 minutos até maio de 2005, mantinha-se distante da meta de 60 minutos. A
76
ineficiência das atividades de carga e descarga de veículos aumentava o tempo de ciclo e,
consequentemente, gerava a necessidade de uma frota ainda maior e a utilização de
caminhoneiros autônomos.
De forma a alcançar melhores resultados de produtividade de circuitos, foram
identificados e tratados os pontos críticos de cada circuito, com destaque para:
Tempos médios de carregamento de produto e descarga de ativos de giro
(paletes, garrafeiras e garrafas vazias, chapatex) nas fábricas e CDDs. Foi
definida a prioridade de carga e descarga, tanto em fábricas quanto em CDDs,
de equipamentos de frota fixa dedicada, de forma que estes caminhões
passassem o menor tempo possível aguardando atendimento. Anteriormente,
todos os veículos, fossem estes de revendas, transferência entre fábricas, de
atendimento a supermercados, freteiros ou veículos dedicados de CDDs, eram
atendidos de acordo com seus horários de marcação (janelas de atendimento).
Caso algum destes veículos descumprisse seu agendamento, chegando antes do
horário, aguardaria até o momento programado para sua entrada. Caso
descumprisse sua programação chegando após o horário, deveria aguardar, na
ordem de chegada dos carros, a possibilidade de inserção na próxima lacuna.
Tal fato fazia com que algumas viagens da frota dedicada fossem perdidas
devido ao tempo aguardando atendimento ou reagendamento. O efeito dessa
priorização nos tempos de atendimento gerou reduções médias de 42 minutos
em fábricas e 16 minutos nos CDDs, de janeiro a dezembro de 2005.
77
Tempo Médio de Atendimento
00:00
00:14
00:28
00:43
00:57
01:12
01:26
01:40
01:55
s
tempol (h)
CDD
brica
dia
CDD
01:03 00:58 01:02 00:58 0:57 0:48 0:48 0:49 0:50 0:50 0:45 0:47
brica
1:42 1:35 1:34 1:28 1:30 1:20 1:16 1:16 1:05 1:01 1:10 1:00
Média
1:22 1:16 1:18 1:13 1:13 1:04 1:02 1:02 0:58 0:56 0:57 0:54
JA N FEV MA R ABR MA I JUN JUL A GO SET OUT NOV DEZ
Gráfico 9: Média Ponderada de Tempos de Carregamento e Descarga da Frota Dedicada
Fonte: Gerência Nacional de Transportes/ Diretoria de Logística AmBev, 2005
Disponibilidade de carretas por circuitos. Definição, junto às transportadoras, da
quantidade de equipamentos por CDD, das datas de manutenção preventiva e do
nível de serviço esperado por operação. Toda a negociação de quantidade e
disponibilidade de carretas por operação passou a ser realizada por uma única
equipe responsável por definir a quantidade de veículos operantes e sua datas de
manutenção preventiva junto a transportadoras, de forma a garantir o máximo de
disponibilidade de veículos.
Redefinição das metas de tempo de viagem, tempo total de circuito (tempo de
viagem acrescido de tempo de carregamento e descarga em CDDs e fábricas) e
número de viagens por dia de cada carreta. Para tal, houve uma revisão nas
distâncias percorridas e a velocidade média de cada um dos trechos percorridos
pelas frotas dedicadas. A atualização desses valores mostrou ser possível
reduzir o tempo de ciclo em alguns trajetos, principalmente com a utilização de
três motoristas alternando-se na direção dos veículos e com o estabelecimento
de pontos de apoio para paradas programadas e troca de motoristas. CoEm
conseqüência dessas mudanças de procedimentos, para trechos superiores a
1.000 km, houve uma redução média de 23% nas metas de tempo de trânsito.
78
Como resultado da redução dos tempos de ciclo, a produtividade dos circuitos
Fábrica-CDD, cresceu 37 pontos percentuais de janeiro a dezembro de 2005, conforme o
gráfico a seguir.
Produtividade dos Circuitos
67%
87%
85%
96%
91%
96%
98%
101%
102%
100%
103%
104%
60%
70%
80%
90%
100%
110%
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
Real
Meta
Gráfico 10: Produtividade de Circuitos Fábrica-CDD
Fonte: Gerência Nacional de Transportes/ Diretoria de Logística AmBev, 2005
O aumento percebido na produtividade dos circuitos impacta diretamente no custo
de transporte da empresa, à medida que o maior número de viagens realizadas pela frota
permite a redução imediata da necessidade de contratação de freteiros/ caminhoneiros
autônomos (cujo custo por viagem é significativamente superior ao da frota fixa) e também
a diminuição gradativa do número de caminhões de frota fixa por operação, além de diluir
possibilitar a diluição dos custos fixos da operação. O aumento constatado na produtividade
da frota fixa significou economias anualizadas da ordem de 2,5 milhões de reais, em 2005.
5.6. Variação de Índices de Inflação e Custos de Transporte AmBev
O gráfico 8 apresenta a variação dos principais índices de inflação, IGPM (Índice
Geral de Preços de Mercado), da Fundação Getúlio Vargas (FGV), e IPCA (Índice
Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), e dos custos de transporte da AmBev, considerando os custos de
79
transporte por hectolitro distribuído, desde o ano 2002. Foi também incluído no gráfico a
variação do IPCA – Óleo Diesel, já que este insumo é o de maior impacto entre os custos
variáveis.
ÍNDICE 2002 2003 2004 2005 ACUMULADO
IPCA - Índice geral
12,53% 9,30% 7,60% 5,69% 39,87%
IPCA - Óleo diesel
51,26% 2,73% 19,91% 11,38% 107,53%
IGPM 24,86% 6,24% 11,43% 0,81% 49,01%
AmBev - Custos de Transportes -0,84% 6,44% 2,67% 2,09% 10,62%
Índices de Inflação x Custos de Transportes
-20%
0%
20%
40%
60%
80%
100%
120%
2002 2003 2004 2005 ACUMULADO
IPCA - Índice geral IPCA - Óleo diesel IGPM AmBev - Custos de Transportes
Gráfico 11: Índices de Inflação x Custos de Transporte AmBev
Fontes: IBGE, FGV, AmBev
A análise do gráfico constata que o aumento dos custos de transportes na AmBev se
mostra muito menor que a a variação de qualquer dos índices utilizados como comparativo.
No período acumulado de 2002 a 2005, os custos de transporte sofreram aumentos de
10,62%, contra 39,87% do IPCA transportes, uma das principais referências nacionais em
índices de inflação em transportes.
80
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
6.1 Conclusões
Desde a fusão das companhias Brahma e Antarctica, concluída no ano 2000, a
AmBev tem adotado uma estratégia de centralização e concentração da distribuição de seus
produtos. Baseada na redução do número de revendedores terceiros e no aumento do
volume distribuído pela rede própria e pelos revendedores remanescentes, essa estratégia
tornou evidente a importância de aprimorar a gestão de transportes e reduzir os custos
advindos dessa atividade.
De forma a otimizar a gestão de transportes, a empresa buscou identificar e atuar
nas lacunas do processo de transferência de mercadorias entre fábricas e CDDs, através da
identificação e análise dos principais fatores geradores de custos. Foram definidas as áreas-
foco de atuação: racionalização das atividades e processos; maximização da capacidade de
carga dos veículos; aumento da produtividade de circuitos.
O incremento da eficiência operacional, resultado das ações implementadas,
resultaram em economias superiores a três milhões de reais em 2005. Como resultado dos
esforços envolvidos em cada uma dessas vertentes, destacam-se:
Redução de 30% do número de funcionários próprios envolvidos na atividade de
programação e acompanhamento das transferências, resultado da centralização dessas
atividades;
Aumento da capacidade de transporte em 18%, a partir da utilização de carretas e
cavalos-mecânicos específicamente desenvolvidos para as operações de transporte de
bebidas;
Padronização da frota própria - fator gerador de poder de negociação com montadoras,
fabricantes de implementos e fornecedores de serviços de manutenção;
81
Aumento da produtividade dos circuitos entre fábricas e centros de distribuição, com
ganhos de R$ 2,5 milhões em 2005.
Finalmente, a eficácia da estratégia de concentração/ centralização da distribuição
implantada pela AmBev é reforçada quando comparado o aumento dos seus custos de
transportes com os principais indicadores inflacionários. Enquanto, no período de 2002 a
2005, o IGPM variou 49,01 %, o IPCA, 39,87 % e o IPCA Óleo Diesel, 107,53 %, os
custos de transporte da companhia variaram 10,62%, muito abaixo de qualquer dos
indicadores.
6.2 Recomendações de Pesquisa
A pesquisa realizada buscou estudar as implicações da concentração/centralização
da distribuição física na transferência de mercadorias entre fábricas e CDDs. Portanto,
como sugestão de complementação desse trabalho, podem ser bordadas as conseqüências
desse mesmo processo na estruturação/adequação nas atividades de armazenagem de
mercadorias e transporte dos CDDs aos consumidores finais.
Outra recomendação de estudo é a análise dos principais impactos da centralização
da distribuição na rede de revendas da AmBev: a nova dinâmica de poder estabelecida entre
estas e a Companhia, os critérios de decisão na seleção de que revendedores permanecerão
no negócio, a estrutura geográfica de atendimento das revendas e a troca de melhores
práticas de distribuição entre revendas e CDDs.
Por fim, outro campo ainda a ser explorado é a comparação entre os sistemas de
distribuição das maiores empresas brasileiras de bebidas, suas estruturas operacionais e
administrativas e seus indicadores de desempenho, visando identificar os
benchmarks do
mercado brasileiro.
82
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