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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
MARIA AUGUSTA NOGUEIRA MACHADO DIB
“A AGATHOTOPIA DE CHARLES SANDERS PEIRCE
DOUTORADO
EM FILOSOFIA
SÃO PAULO
2008
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA
DE SÃO PAULO PUC/SP
PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUADOS EM FILOSOFIA - POSFIL
“A A
GATHOTOPIA DE CHARLES SANDERS PEIRCE
Tese apresentada como exigência parcial para a
obtenção do grau de Doutora em Filosofia à Comissão
Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo, sob a orientação do Professor Dr. I
VO ASSAD IBRI.
MARIA AUGUSTA NOGUEIRA MACHADO DIB
2008
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RESUMO
Se não pela via das crenças subjetivas psicológica e religiosa, como uma crença filosófica
lógica objetiva pode atribuir ao amor, a função de lei sob a qual se o continnum
desenvolvimento evolucionário da vida? Não afeita a imperativos categóricos ideológicos
quer de ordem filosófico-moral e psicológica (como o kantiano), quer de ordem religiosa
(como o cristão), a crença pragmaticista de Charles Sanders Peirce na ação instintiva para a
vida em relação a tudo no Universo, estende este instinto para uma atração ao crescimento e
desenvolvimento não individualista em direção ao summum bonum desde o organismo
microscópico até o macro, passando pelos homens: “o progresso vem de todo individuo que
funda a sua individualidade na sintonia (affect) com os seus próximos” (CP 6.294). A
arquitetura filosófica lógica metafísica de Peirce postula o amor – ágape como condição de lei
cósmica evolutiva, onde o cosmos é mente e dotado de vida (CP 6.289). Segundo o
Diccionario de Filosofia de Nicola Abbagnano, na página 27, o Agapismo é um termo
adotado por Peirce para designar a “lei do amor evolutivo”, em virtude do qual a evolução
cósmica tenderia a incrementar o amor fraterno entre os homens; e seguidamente, o mesmo
Diccionário define Agatologia que, raramente utilizado, designa a doutrina do Bem como
parte da ética. Se o pragmatista William James, contemporâneo e amigo de Peirce, conservou-
se na crença da ação como fim último, e então talvez para ele houvesse a possibilidade de
uma ação ética como fim último, Charles Sanders Peirce dele se diferenciará, preferirá ser
considerado um pragmaticista (CP 5.414) bem como preferirá se dedicar à investigação do
processo evolucionário que leva ao summum bonum, onde Estética, Ética e Lógica convergem
para um mesmo fim, o Bem. (EP 2.27). Agathotopia, termo utilizado pelo premiado Nobel de
Economia (1977) James Edward Meade, aparece no universo da economia política como um
modelo alternativo (uma combinação do que há de melhor no sistema capitalista com o que há
de melhor no sistema socialista) e possível para construção de uma boa sociedade para se
viver, tal qual o lugar ideal tanto buscado pela Utopia de Thomas More (1516) e outras
Utopias mais ao longo do pensamento filosófico, desde a República de Platão. Em Peirce, o
que aqui lhe atribuímos Agathotopia diferente e originalmente, não se reduzirá a um bom
lugar geográfico específico e ideal para se viver como querem as Utopias, não um lugar pós -
morte como postulam as religiões, e tampouco um modelo sócio-político-econômico que
promova o bem-estar coletivo na realidade do universo existencial. A Agathotopia de Charles
Sanders Peirce está proposta ao todo de sua arquitetura metafísica científica, na sua filosofia
lógica realista de seu idealismo objetivo, no seu Sinequismo, que se pela contínua semiose
entre signo objeto- interpretante, no processo mesmo de crescimento da razoabilidade, um
continuado movimento teleológico autocorretivo em direção ao aperfeiçoamento evolutivo, e
que credita ao amor agápico, a função de lei mental como um hábito do universo, criador e
mantenedor deste processo evolucionário. Se Peirce crê nesta ação dinâmica mental amorosa
que tende para o fim Admirável, Justo e Verdadeiro, então talvez ele esteja propondo não uma
Utopia a mais na história da Filosofia, mas sim, e pela primeira vez, uma Agathotopia, um
tópos para o Summum Bonum.
]
ABSTRACT
If not through the means of psychological subjective belief, nor through the path of religious
belief, how can a philosophical, logical and objective belief attribute to love the role of law
under which continuous evolutionary development of life occurs? Unacquainted with the
ideological categorical imperatives such as moral, philosophical, and psychological order (i.e.
Kantian) or the religious orders (such as Christian), Peirce’s pragmaticist belief in the
universal instinctive action to live, extends this instinct to a propensity for the non-individual
growth and development toward the summum bonum from micro to macroscopic organism,
through mankind itself: «progress comes from every individual who grounds his individuality
on the affection towards his neighbors» (CP 6.294). Peirce’s philosophical architecture which
is both objective and logical postulates love - agape as a condition of evolutionary cosmic
law, where the cosmos is mind and endowed with life (CP 6.289). According to Nicola
Abbagnano’s Dictionary of Philosophy, page 27, Agapism is a term adopted by Peirce to
designate the "law of evolutionary love", since the cosmic evolution tend to boost brotherly
love among mankind. The same Dictionary defines Agathology to mean the doctrine of Good
as part of Ethics. If the pragmatist William James, a contemporary and friend of Peirce, had
held onto the belief of action as the ultimate purpose, then there would be a possibility of
ethical action as an ultimate purpose for him. Charles Sanders Peirce differs from him,
preferring to be considered a pragmaticist (CP 5.414) and focusing on the research of the
evolutionary process which leads to the summum bonum, where Aesthetics, Ethics and Logics
converge into the same purpose, the Wellness (EP 2.27). The Agathotopia, term used by
James E. Meade, Nobel Prize award in Economics (1977), appears in the universe of the
political economy as an alternative model (a combination of the best in the capitalist system
with the best in the socialist system). It would possibly be a model for the construction of a
good society to live in, such as an ideal place depicted by Thomas Moore’s Utopia (1516) and
other utopias throughout philosophical thought since the Republic of Plato . According to
Peirce, the so-called - Agathotopia - different and original, will not be reduced to a specific
and ideal geographical place to live as sought by the utopias, and even less a post-death base
as the religions postulate. It would be neither a socio-political nor an economic model to
promote the collective welfare in the reality of the existential universe.
Charles Sanders Peirce’s Agathotopia has been proposed in all his scientific metaphysical
architecture, in his realistic philosophy and logic of his objective idealism, in his Synechism.
It develops into the ongoing semioses between sign-object-interpretant, and the evolving
process of reasonability, a continuous teleological self-corrective movement toward the
evolutionary enhancement. It gives credit to agapic love, the function of mental law as a
creative and supportive habit of the universe in this evolutionary process. If Peirce believes in
that dynamic mental loving action that tends to the Admirable, Fair and True Purpose then he
might not be proposing just one more utopia in the history of Philosophy, but Agathotopia for
the first time. An tópos to the Summum Bonum.
CARINHOSO RECONHECIMENTO E GRATIDÃO.
Ao Amor da Trindade que ao mundo arquitetou e se revelou por intermédio de Maria.
Aos meus pais Toninho e Flavinha que me trouxeram a este mundo assim arquitetado, sem os
quais jamais a relação entre ser e conhecer entre este mundo e minha pessoa teria acontecido.
Através de meus pais o agradecimento aos nossos antepassados familiares, às minhas
professoras e meus professores ao longo de minha vida de estudante, e ainda às minhas
madrinhas Paula e Elza e ao meu padrinho Tata Ruy.
Ao Programa de Estudos Pós Graduados em Filosofia, da Pontifícia Universidade Católica e
ao Coordenador Professor Dr. Edelcio Gonçalves de Souza, através dele aos demais
coordenadores, aos professores e aos colegas, às professores e às colegas, aos funcionários da
Biblioteca, da secretaria da Filosofia e Geral, dos serviços gerais, e ainda, à equipe de serviços
de cópias do Sr. Floriano, o cantinho da filosofia.
Ao meu orientador, Professor Dr. Ivo Assad Ibri que me apresentando Charles Sanders Peirce,
introduziu-me neste encantador universo semiótico que me mostrou à luz da religiosa
lógica científica o que eu vira e ouvira à luz e ao som da religiosa teológica cristã.
Quando o mistério é muito, a gente busca de alguma forma entendê-lo.
Ao meu marido, filhos, noras, netos e neta que estiveram comigo de todas as formas possíveis
contribuindo no meu percurso de doutorado. Ao Jorge com sua fiel e paciente cumplicidade
em cada etapa. A Gi e Tom com o livro da Agathotopia de Meade e a chegada de Marina no
dia 13 de maio de Nossa Senhora. Ao Lipe com suas Ilustrações que deram o toque artístico
em nossa tese. Ao Joca e Fernanda, Lucas e Vinicius com a comprovação da ”Lógica do
Cisne Negro”, evidenciando que até no mais altamente improvável evento, o amor pode estar
presente. Juntos todos nós da família Dib, na Cidade Maravilhosa que tem o Cristo como
símbolo, somos acolhidos em momentos de prazer e alegria. Que seja eterno!
À mana Kiki sempre pronta para o que der e vier, pelo CD de Peirce e pelo volume da tese de
doutorado de Pfeifer sobre o Summum Bonum em Peirce. E às minhas funcionárias e amigas
Conceição e Cirlene, testemunhas das horas de dores e de prazeres, tristezas e alegrias, perdas
e ganhos, que foram tantas durante os últimos anos de minha vida.
Ao Professor Ivo e à Profa. Dra. Santaella, pelos Encontros Internacionais e Jornadas sobre
Pragmatismo e Semiótica, aos palestrantes nacionais e internacionais, aos colegas
organizadores destes eventos e comunicadores de seus trabalhos, à Cognitio Revista de
Filosofia e à equipe peirceana de Marília, o toque de mel dos eventos referidos.
Por último e não menos importante, às colegas, amigas, irmãs de fé e de trabalho, co-
confeccionadoras desta tese Marthinha e Amélia. E às colegas e aos colegas dos grupos de
Estudo de Peirce, aqui representadas e representados por Maria de Lourdes Bacha, Ana Maria
Guimarães Jorge, Heloisa Helena Carneiro Leão, Edith Frankenthal, Érica Gonçalves, Sofia
Isabel M. Lucas, Lia Tomás, Marília Batista Costa Pacheco, Cassiano Terra Rodrigues, Tiago
Costa, Jobst Niemeyer e Basílio João Sá Ramalho Antonio
DEDICATÓRIA
Ao Tempo Futuro, que o tempo da Agathotopia não demore muito a se realizar.
Para minha neta Marina, meus netos Lucas e Vinicius, e tantas e tantos que ainda vierem.
Para minha afilhada Luciana e meus afilhados João Pedro e Sandrinho,
Para a filha e os filhos de minhas afilhadas e afilhado, Rafaela, Pedro, Felipe, David, Miguel e
Arthur.
Para Maria Laura, a primeira menina que chegou no amoroso ninho da casa da vovó Flavinha
e vovô Toninho, depois de tantos meninos.
Para Marcos Vinicius, a comprovação de que onde há amor há evolução.
Ao Tempo Presente.
Às Irmãs Pastora e Elizabeth, ao Padre Adolfo, à Carminha e André - do Nasrudin, à Monique
das “mulheres escolhidas”, provas vivas da “máxima pragmática”.
À Pastoral da Mulher Marginalizada que vive no amor, com amor, pelo amor.
À “minha gente” de Fortaleza, um tempo que se fez presente eterno.
Ao senador brasileiro Prof. Dr. Eduardo Suplicy, um símbolo da Política ao quê esta Ciência
Estética, Ética e Lógica se justifica. Através dele conheci a Agathotopia de Meade.
Às minhas clientes e meus clientes que me lembram cotidianamente que a Alma pede para ser
cuidada. E através dos presentes, a dedicatória aos que já se foram e aos que ainda virão.
Ao Tempo Passado que ainda se faz presente na memória do coração.
Minha mãe Maria Flávia que acreditou no amor e por ele viveu.
Meu irmão Pio e tio Ruy, pelas nossas horas de amorosa cumplicidade no prazer de viver,
intensamente.
Que seja Eterna a Terna presença destes que pela minha passaram e tanto me ofereceram.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ................................................................................................................................... 1
CONSIDERAÇÕES INICIAIS: AGATHOTOPIA;SUMMUM BONUM;EROS;ÁGAPE........10
CAPÍTULO I : DA ÉTICA DA TERMINOLOGIA.......................................................................21
CAPÍTULO II : DO SISTEMA FILOSÓFICO LÓGICO METAFÍSICO................................. 66
CONSIDERAÇÕES FINAIS .
1.OS TRÊS TEMPOS DE PEIRCE................................................97
2.O GRITO DA ALMA....................................................................103
BIBLIOGRAF1A...............................................................................................................................108
ANEXO SOBRE ASSOCIACIONISMO.........................................................................................131
ILUSTRAÇÕES:
1. A ALMA
2. MENTE: FEIXE DE HÁBITOS - SIGNCREATORY
3. PEIRCE E A ESFINGE
4. A RESPOSTA DE PEIRCE
5. AS RELIGIÕES MONOTEÍSTAS
6. ESCOLA DE ATENAS
7. A PALAVRA SEMEADA
8. AGATHOTOPIA
9. SS. TRINDADE
10. JESUS
11. MARIA
12. MADONA MENDIGA
13. O MISTÉRIO DO FENÔMENO DO SOL
empeiría/Experiência
Pensamento
Do mesmo modo como dizemos que um
corpo está em movimento
, e não que o
movimento está num corpo
, devemos dizer
que estamos em pensamento e não que
pensamentos estão em nós
.
(CP 5.289)
Feixe de Hábitos
Mente
Razoabilidade
como um bem em si mesmo, o bem último
que reside de algum modo no processo evolucionário
.
A
lgo geral e continuo (CP 5.4). ... o realista pode sustentar
haver na própria experiência um elemento de razoabilidade
.
A razoabilidade concreta pode ir se atualizando atravéz do
nosso empenho ético resoluto para favorecer seu
crescimento
... razoabilidade é sinônimo de potencialidade da
idéia
, ao dinámico, sempre em processo de materialização em
signos internos e externos
.
4
O summum
bonum
estético,
coincidente com o
ideal pragmatista
último: o
crescimento da
razoabilidade
razoabilidade
concreta
.
4
Waal(2007) Sobre pragmatismo. Pág. 47
Psykhé/Sôma
P
síquico/Físico
Pragma
inflncia sobre a
conduta possível
Anima/Alma
Signcreatory
1
1. Colapietro(2007) Em Prol de um Reconhecimento Pragmatista do Iinconsciente Freudiano
4. Santaella(1994) Estética de Platão a Peirce.Págs.138-139-141
Summum Bonum
2
2. Pfeifer(1971) The Summum Bonum in the Philosophy of C.S.Peirce
A concretização do admirável no Agathón pelo
Ágape, no ponto o mais aproximado possível de
encontro do
Belo, Bom e o Verdadeiro (tríade do
summum bonum), porque a bondade estética, ética e
lógica são os fins procurados pelos fenômenos
.
(CP 2.151).
3
3. Silveira(2007) Curso de Semiótica Geral. Pág. 214
Agathotopia
Lógos
Noûs
Razão
Espírito
Eîdos
Idéia, Essência
O Semeador, Vincent Van Gogh, 1888,
www.articp.tripod.com
Eu sou o teu espírito, jugo companheiro
de teu olho eu sou a luz
Esfinge, segundo Emerson
Que criatura pela manhã tem quatro pés, ao meio-dia
tem dois
, e à tarde tem ts?
Clássico Enigma da Esfinge
DELFOS
Cidade do oráculo
dos
Deuses
Cidade das artes
da poesia e da
criatividade
ATENAS
T
e
b
a
s
Conhece-te a ti
mesmo
Oráculo
Se a Lei é a
Lógica, o caminho
é a evolução
natural
, e o
pensamento cresce
continuamente
, de que
forma então esta lei
lógica operará no
pensamento que cresce
,
garantindo-lhe o caminho
evolucionário
O
enigma da Esfinge
para
Peirce
Moser(2001: 3ªedição). O enigma da esfinge: a sexualidade. pág.25
CORINTO
Cidade dos dois portos
de fácil diálogo
e comunicação com
o mundo
Esfinge, www.greciantiga.org
C.S. Peirce, www.cbtonline.com.br
t
e
r
c
e
i
r
i
d
a
d
e
segundidade
Dedução/Indução
Abdução/Dedução
Na ciência, há três espécies fundamentalmente diferentes de
raciocínio
: Deducão (chamada por Aristóteles {synag’’g,} or
{anag’’g,}, Indução (para aristóteles e Platão {epag’’g,}) e
Retrodução (para Aristóteles {apag’’g,}, porém mal interpretada
em virtude de uma deturpação em seu texto e geralmente
traduzida nesta forma errônea por abdução
. (CP 1.65 de 1896)
bacha(2004) . A Abdução e retrodução na Lógica da Investigação de Peirce. págs. 65-74bacha(2004) . A Abdução e retrodução na Lógica da Investigação de Peirce. págs. 65-74
S
ilveira(2007) . Curso de semiótica geral. cap. 5: os três tipos de argumentos, págs.
130-179
Imagem C.S.Peirce, www.cbtonline.com.br
Formais
Dedutivos
Conceptuais ou semânticos
Previsões
Indutivos
Argumentos Generalizações
Argumentos de autoridade
Argumentos por analogia
Não-dedutivos Argumentos causais
Abduções
Branquinho. Enciclopédia de termos lógico-filosóficos.Pág. 475
signo
ground
Indução/Retrodução
Ética
Estética
Lógica
objeto
interpretante
Símbolos
gramática pura especulativa
Lógica crítica
Retórica pura especulativa
Ícones
Indíce
Signo:
amplo significado
(palavra, ação,
pensamento)
qualquer coisa que
admita um
Interpretante,Interpretante,
e capaz de dar
origem a outros
signos
Mota e Hegenberg.
S
emiótica Filósofia.
pags. 27-28
primeiridade
www.articp.tripod.com
O Semeador, Vincente Van Gogh, 1888
As três religiões monoteístas
A palavra é a sombra da ação
Demócrito
A palavra
semeada
Cristianismo
Jesus se declara a própria mensagem
de
Deus
Não vim mudar a lei, vim confirmá-la
Jesus Cristo
Islamismo
O anjo Gabriel entregou
a mensagem divina
ao profeta
Maomé
Alcorão
Judaísmo
Deus entrega
as táboas das leis
a
Moisés
Torá
PLatão Aristóteles
www.cartaforense.com.br
Raphael Sanzio(1509)
Escola de Atenas
O teor intelectual inteiro
de qualquer símbolo consiste
no total de todos os modos gerais
de conduta racional
,
condicionalmente sob todas
as possíveis condutas e
desejos diferentes que se
seguiriam da aceitação do
símbolo
(EP 2, 346)
Waal 2007:151
Jesus
Essse método não é em si mesmo mais do que a
aplicação da velha regra lógica
:
C
onhecê-lo-emos pelos seus frutos
P
eirce: Um esboço do pragmatismo,
1907
Caminheiro, o caminho se faz ao caminhar
Antônio Machado, poeta espanhol
O Semeador, de Vincent van Gogh, 1888,
www.articp.tripod.com
Lucas 6, 44-45-47
Toda árvore é reconhecida pelo seus
frutos
. Não se colhem figos de espinheiros,
nem uvas de plantas espinhosas.
O
homem bom tira coisas boas do bom
tesouro do seu coração
. Mas o homem mal
tira coisas más do seu mal tesouro
, pois sua
boca fala do que o coração está cheio
...
V
ou mostrar-vos com que se parece todoVou mostrar-vos com que se parece todo
aquele que vem a mim
, ouve as minhas palavras
e as põe em prática
.
Peirce
Sócrates
Por isso se o
caminho a ser
percorrido é longo
...
para poder alcançar
grandes coisas
, é preciso
percorré
-lo.
Fedro, Platão
www.ecclesia.com.br
www.members.wri.com
www.vgp.com
L.F.M. Dib(2002)
M
adona Mendiga
O sol vibrou e realizou movimentos subitos totalmente fora das leis cósmicas, o sol bailou, segunda a
típica expressão dos camponeses
. O astro por instantes parecia uma placa de prata fosca e era
possível fitar
-lhe o disco sem o mínimo esforço. Não queimava e nem segava.
Avelino de Almeida, jornalista redator-chefe do jornal português O Século. Outubro de 1917
Acontecimentos classificados como paranormais são aqueles que não podem ser explicados de forma
natural por contrariarem as leis físicas
. Acreditar neles é, portanto, uma questão de .
1.em Cláudio Suenaga, edição especial revista abril Todas as Nossas Senhoras. Maio de 2005, págs. 8-9
foto: Walter Hodges/Stock Photos
A dança do sol
O movimento do Sol na forma descrita é realmente impossível de um ponto de vista físico e, caso
tivesse acontecido
, seus efeitos seriam facilmente observavéis e provavelmente a catástroficos
para a
Terra.
Gustavo de Medina Tanco, astrónomo do Instituto Astrónomico e Geofísico da USP
Considerando-se o grande número de testemunhas, o formidável milagre de 13 de outubro não pode
ser explicado como alucinação de massa ou produto de histeria
. Foi uma ocorrência genuinamente
paranormal
.
1
Miraculoso é um fenômeno coletivo que se recusa a desaparecer ou a ser desmacarado com êxito
pelos céticos
.
Rogo(1994) Milagres: uma exploração científica dos fenômenos paranormais.Pág.22
S
cott Rogo, parapsicológo norte-americano.
F
aculdade de Estudos sobre a Consciência . Universidade John F. Kennedy.
1
1. INTRODUÇÃO
Os Lógicos imaginam que uma idéia tem que estar conectada a um cérebro,
ou tem que inerir numa alma. Isto é despropositado. A idéia não pertence a uma
alma; é a alma que pertence à idéia.
A alma faz para a idéia exatamente o que a celulose faz para a beleza da
rosa; isto quer dizer, ela lhe oportunidade. [...] As idéias não são meras criações
desta ou daquela mente, mas, ao contrário, têm o poder de encontrar e criar seus
veículos, e os tendo encontrado, de conferir a eles o poder de modificar a face da
terra. (PEIRCE. CP 1.216-217 1902)
1
A Tese agora apresentada como exigência parcial para a obtenção do grau de
Doutorado em Filosofia, também poderia se chamar Do Enigma da Alma, acreditado o
Filósofo norte-americano do século XIX, Charles Sanders Peirce, ter resolvido.
O Homem é essencialmente uma alma, mas a essência não é toda a alma do
homem: é apenas seu âmago que carrega consigo toda a informação que constitui o
desenvolvimento do homem, seus sentimentos totais, intenções, pensamentos.
Quando eu, isto é, quando meus pensamentos, entro em outro homem, não
levo comigo necessariamente todo o meu ser, mas o que levo de fato é a semente da
parte que não estou levando – e se carrego a semente de toda a essência, carrego a de
todo o meu ser concreto e potencial. (PEIRCE)
2
Vivendo em tempos onde o mecanicismo e o materialismo imperam, a Alma está
sufocada, não agüenta mais, ela sofre, ela quer respirar e então pedindo Socorro, ela grita!:
Deixe-me crescer! Grita meu instinto! Deixe-me crescer, assim pede minha ontologia. Trago
em mim uma tendência natural ao crescimento através da aquisição de hábitos, pela
aprendizagem na experiência concreta da existência.
Este é o meu propósito, a causação final de meu movimento teleológico de
razoabilidade
3
que insiste em se manifestar. Ofereça-me apenas um continente espacial e
temporal (de preferência com afeto) suficientes para que minhas idéias potenciais possam se
materializar e se realizar.

1
Jorge (2006) Topologia da Ação Mental: Introdução à Teoria da Mente. P216.
2
Peirce (1995) Semiótica. PP 304-310
3
Razoabilidade: como um bem em si mesmo, o bem último que reside de algum modo no processo
evolucionário. Algo geral e contínuo (CP 5.4). “[...] o realista pode sustentar haver na própria experiência um
elemento de razoabilidade”. (Waal. Sobre Pragmatismo. 2007: 24)
2
E assim então, eu poderei ser, e você poderá me conhecer, e no seu reconhecimento do
meu ser, eu também me conhecerei e poderei continuar crescendo, e juntos estaremos
contribuindo para a continuada criação e evolução do universo.
Porque se idéias gerais são realidades vivas tanto quanto são vivos os sentimentos a
partir dos quais elas se concretizam, é preciso que nós nos relacionemos e nos influenciemos
reciprocamente, sem, porém perdermos nossa especificidade e espontaneidade para que não
nos autodestruamos. A vida do universo está intimamente associada à vida das comunidades
que dele fazem parte.
“Se a gente grande soubesse (quanta paz) que recebe a voz mansa (o bem
que faz) como ela cai como prece (viva flor) no coração de criança... Se a gente
grande que tira (sem pensar) o meu brinquedo da mão (já faz chorar) tirou do músico
a lira (sem saber) interrompeu a canção...”
4
Assim dita A Lei Suprema Geral Universal, a qual é a Harmoniosa e Vital Lei do
Amor Evolucionário!
Aquela Lei do Amor que falou Jesus, o mesmo que proclamou a Regra Lógica
Fundamental que inspirou a Máxima Pragmática do Pragmaticismo formulada pelo Filósofo,
pai da Semiótica, Charles Sanders Peirce.
Aquela Sinequista Lei Universal do Amor Evolucionário que está no instinto do
universo desde sua criação e que lhe concede o movimento ininterrupto de crescimento e
desenvolvimento teleológico através do processo de Razoabilidade, conduzindo os fenômenos
do universo ao Belo, Bom e Verdadeiro (tríade do Summum Bonum), o infinito eterno
construído no terno finito.
5
Noam Chomsky
6
declarou que nossa ignorância pode ser dividida em problemas e
mistérios. Diante de um problema, podemos não saber a solução, mas temos insights,
acumulamos um conhecimento crescente sobre ele e temos uma vaga idéia do que buscamos.
Diante de um mistério, ficamos entre maravilhados e perplexos, sem ao mesmo termos uma
idéia de como seria a explicação.

4
Música Hino da Escola Nova (Rio de Janeiro/Brasil) cantada na formatura das turmas da Pré-Escola.
5
Parker (2003) Reconstructing the Normative Sciences. Cognitio. Revista de Filosofia. V. 4. N. 2. PP 227-231;
Silveira (2003) Três Espécies de Bem. Cognitio. Revista de Filosofia. V. 4. N.1. PP 60-89; Silveira (2007)
Curso de Semiótica Geral. Capitulo 7.
6
Pinker (1998) Como a Mente Funciona. P 9.
3
O Universo é um grande enigma! E na imensidão deste enigma, certo dia um pequeno
príncipe encontrou a serpente que assim lhe perguntou: Se as estrelas são todas iluminadas,
não será para que cada um possa um dia encontrar a sua?
E o menino como que encantado, espantado e admirado por aquela serpente que lhe
aparecia e desaparecia à frente de seus olhos, perguntou-lhe: Mas porque você fala assim
sempre por enigmas? Ao que a serpente então lhe respondeu: Eu os resolvo todos.
O pequeno menino achando estranha a resposta da serpente, concluiu: Quando o
mistério é muito impressionante, a gente não ousa desobedecer!
7
E certo dia, outro pequeno príncipe agora percorrendo o labirinto deste imenso,
misterioso e enigmático universo, buscando chegar ao centro, encontrou uma esfinge que
assim lhe perguntou: Se a lei é a lógica, o caminho é a evolução natural, e o pensamento
cresce continuamente, de que forma então esta lei lógica operará no pensamento que cresce,
garantindo-lhe o caminho evolucionário?
Ao que o pequeno menino lógico, Peirce, depois de crescido, respondeu com sua
original Arquitetura Filosófica Metafísica Semiótica
8
.
A possibilidade da transposição do termo – Agathotopia – introduzido no universo da
ciência social econômica política pelo economista inglês James Edward Meade,
9
para o
universo da ciência filosófica do norte-americano Charles Sanders Peirce, nasceu de uma
pesquisa sobre os caminhos dentro da própria doutrina do filósofo Peirce, buscando o
entendimento das possíveis razões que o teriam conduzido ao conceito de Agapismo,
conforme ele o concebeu.

7
Saint-Exupéry. O Pequeno Príncipe.
8
Ibri (1992) Kósmos Noetós: a arquitetura metafísica de Charles S. Peirce; Santaella (1992) A Assinatura das
Coisas: Peirce e a literatura; Santaella (1995) A Teoria Geral dos Signos: Semiose e Autogeração; Silveira
(2007) Curso de Semiótica Geral; Waal (2007) Sobre Pragmatismo.
9
Meade (1993) Liberty, Equality and Efficiency: Apologia pro Agathotopia Mea.
4
Agapismo – Termo introduzido no universo da Filosofia pelo filósofo Charles Sanders
Peirce, em 1893, no seu artigo Evolutionary Love, publicado no The Monist (January, 3.
1893: 176-200), significa a doutrina na qual a lei do amor é operativa no mundo,
relacionando-a ao que ele chamou de terceiro tipo de evolução pelo amor criativo, e o mais
fundamental (depois do primeiro pela variação fortuita e do segundo pela necessidade
mecânica) e que, segundo Peirce incrementa o amor fraterno entre os homens deste mesmo
mundo.
10
Agathotopia Termo introduzido no universo da Economia pelo economista James
Edward Meade, em 1989, no seu artigo Agathotopia: The Economics of Partnership: A Tract
for the Times Addressed to All Capitalist and Socialist who Seek to Make the Best of Both
Worlds - Hume Paper No. 16 publicado pela Aberdeen University Press for The David
Hume Institute, significa um Bom Lugar. Pensado originariamente como uma ilha
experimental de um novo regime sócio-político-econômico, aos moldes da Utopia de Thomas
More, porém com uma diferença significativa, os agathotopianos (Agathotopians) não são
perfeitos e não buscam uma sociedade perfeita, como na ilha Utopia, mas são imperfeitos, em
uma sociedade imperfeita, e, portanto necessitam encontrar um modelo sócio econômico
político possível de ser concretizado e suficiente à correção e aperfeiçoamento de suas
imperfeições, de forma a lhes construir um Bom Lugar para viverem em uma comunidade de
parcerias consideradas as características específicas de cada parte. Posteriormente este modelo
arquitetado para a ilha chamada Agathotopia, adentrou o universo da economia política como
um original modelo de economia onde se procura juntar o que de melhor do modelo
capitalista com o que há de melhor do modelo socialista.
Ambos pensadores criativos cunharam termos para suas respectivas ciências e que se
tornaram de importância central em suas próprias doutrinas. Originários de duas próximas
idéias concebidas por duas mentes individuais separadas, no espaço-tempo histórico, será a
correlação entre os dois conceitos Agapismo e Agathotopia, a condição que permitirá a
transposição do termo concebido por Meade na sua doutrina econômica do século XX, para a
doutrina filosófica do século XIX de Peirce. O termo de um para aquele que acreditou no
outro.
Agathón = Bem Tópos = Lugar

10
Antonio (2006) O Todo e as Partes: subsídios para a Leitura do Ensaio Evolucionário de Charles Sanders
Peirce. DM.; Ibri (1994) Kósmos Poiétikos: Criação e Descoberta na Filosofia de Charles S. Peirce. TD.; Ibri
(2005) O Amor Criativo como Heurístico na Filosofia de Peirce. Cognitio. Revista de Filosofia. V. 6. PP 187-
200.
5
A Agathotopia de Meade aparece no universo da economia política do século XX
como um modelo de um Bom Lugar para se viver construído a partir das parcerias efetivadas
entre as instituições. Um Bom Lugar para se viver, arquitetado ao longo da história da
humanidade por Utopias diversas, e não alcançado exatamente porque buscavam o perfeito
tão somente idealizado. Utopias são construções imaginárias e não possíveis de serem testadas
na experiência concreta da vida cotidiana.
A tese de que é possível uma transposição do termo Agathotopia ao sistema de Peirce
sustenta-se exatamente na diferença entre os conceitos Utopia e Agathotopia, e na diferença
da conotação deste último em Meade, e em Peirce. A doutrina peirciana, original e única, não
se reduz a uma ficção filosófica ou literária, nem tampouco a uma idealização de um bom
lugar para se viver, ou um sistema político econômico para um Estado de Bem Esta Social, ou
ainda um modelo para uma conduta de vida para a felicidade, mesmo que se colocada à prova
como o modelo do economista Meade.
O foco realista do filósofo do século XIX nos seus princípios universais do mundo
fenomenológico (doutrina das categorias), epistemológico e ontológico, conferiu-lhe uma
prioridade que não esteve colocado em modelos éticos de conduta de sociedades particulares
para a conquista de um bem geral, mas exatamente em uma lei operativa de conduta ética
universal com reflexos individuais, que geral e particular fazem parte de um mesmo todo
naturalmente.
Com as categorias da fenomenologia primeiridade, segundidade e terceiridade;
fundamento das demais e muitas tríades da filosofia lógica-semiótica metafísica de Charles
Sanders Peirce, ele rompe com todo tipo de dicotomia até então imperante na filosofia, o que
foi possível porque ele observou uma mesma lei operando na mente universal e nas mentes
individuais (CP 7.46), em continnum movimento evolucionário, A Lei do Amor Agápico
Criativo.
6
Não nos sendo possível reproduzir todo o percurso por nós identificado ao longo da
pesquisa de muitos textos dos estudiosos do filósofo Peirce, e dos seus próprios aos quais
tivemos acesso, e que escreveu mais do que podemos lê-lo na totalidade, mas que sua
escritura quase que em cada parte fala de seu todo, selecionamos em dois capítulos centrais
aqueles pontuais que nos conduziram ao centro de seu labirinto com nossos mapas nas mãos,
como que brincando de “seguir o mestre”. Iniciado no seu Agapismo e por ele conduzido ao
que se nos apresentou como o que estamos defendendo como sua Agathotopia, passando pelo
seu Pragmaticismo e seu Sistema Realista Sinequista Evolucionário.
A presente Tese A Agathotopia de Charles Sanders Peirce está composta de dois
capítulos centrais, entre dois consideracionais, dos quais o segundo está composto de duas
partes.
Considerações Iniciais Dos termos chave para o tema: Agathotopia; Sommum
Bonum; Eros; Ágape.
I - Capítulo primeiro Da Ética da Terminologia: Alma; Espírito; Mente - Matéria;
Associação de Idéias Físico-Psíquicas; Continnum; Hábito.
II - Capítulo segundo Do Sistema Filosófico Lógico Metafísico de Charles Sanders
Peirce, centralizado dentro dos pontos fundamentais ao nosso tema.
Considerações Finais – este em dois subcapítulos:
1. Os Três Tempos do Universo de Peirce.
2. O Grito da Alma.
Bibliografia, e ainda um Anexo sobre o Percurso da Doutrina da Associação, na
confluência entre filosofia e psicologia, culminada à época do filósofo Charles Sanders Peirce
e que muito lhe foi significativa para a arquitetura de sua Doutrina Filosófica.
7
I – 1. Justificativa.
Ao adentrarmos o universo teórico filosófico do lógico Charles Sanders Peirce e
principalmente, ao nos depararmos com alguns de seus textos pós 1890, tais como A Lei da
Mente (1892) e Amor Evolucionário (1893), quando ele apresenta os conceitos de
Sinequismo, de Agapismo, e de Continuidade como base para uma concepção de mundo;
como a e a das oito Conferências de Cambridge (1989) Filosofia e Conduta de Vida, e
Hábito, respectivamente, sobre o que a especialmente, foi nomeada tópicos de vital
importância quanto às questões da teoria e da prática na filosofia e das relações das ciências
normativas e práxis da ciência e conduta de vida; como os dirigidos às Divisões da Filosofia,
Classificação das Ciências, Ciências Normativas (1902) com os Três Tipos de Bem; e
finalmente como aos dedicados ao Pragmatismo O que é o Pragmatismo (1905) quando ele
reforça sua máxima pragmática e introduz seu particular Pragmaticismo, e ainda; quando o
relaciona às Ciências Normativas – A Base do Pragmatismo nas Ciências Normativas (1906),
pareceu-nos possível identificar neste universo de Peirce um caráter de Agathotopia O
Lugar do Bem, uma conquista do Agathós pela Ágape
11
, no ponto o mais aproximado possível
do Belo, Bom e Verdadeiro, “porque a bondade estética, ética e lógica são os fins procurados
pelos fenômenos (CP 2.151)”.
12
O pragmaticista não faz com que o summum bonum consista na ação, mas faz com que
consista naquele processo de evolução pelo qual o existente chega cada vez mais a
corporificar aqueles gerais a cujo respeito ainda pouco se disse estavam destinados, que é
aquilo que tentamos exprimir ao chamá-los de razoáveis. Em seus estágios mais elevados, a
evolução verifica-se, de um modo cada vez mais amplo, através do autocontrole, e isto ao
pragmaticismo uma espécie de justificativa da colocação que faz do propósito racional como
sendo geral.
13

11
Conforme acabamos de ver na Introdução.
12
Silveira (2007) Curso de Semiótica Geral. Capítulo 7.
13
Peirce. Semiótica (1995). O que é o Pragmatismo. P. 370.
8
“Para as relações reais que na natureza podemos treinar nossa razão para que se
conforme a elas mais e mais” (EP II 212)
14
enquanto evoluem em direção ao Summum
Bonum.
15
, para o qual acreditamos que a Agathotopia é o tópos do Summum Bonum.
Segundo ABBAGNANO (1996:27) Agatologia é um nome raramente utilizado para
designar a doutrina do bem como parte da ética. O termo Agathotopia não foi encontrado em
nenhum dos Dicionários de Filosofia e de Termos Gregos aos quais tivemos acesso.
Agathotopia O Lugar do Bem - foi um termo introduzido pelo economista inglês
do século XX, James Edward Meade, com base na Utopia de Thomas More, propondo um
modelo político econômico a partir do que há de melhor no modelo capitalista junto ao que há
de melhor no modelo socialista, sendo operacionalizado através de parcerias entre as
Instituições de forma a ser concretizado em um mundo imperfeito, e não idealizado como
tradicionalmente se encontra nas Utopias.
Peirce dialoga em formato bastante particular com sistemas gregos, medievais,
modernos franceses e ingleses, e outros mais próximos a ele no tempo e na história da
filosofia, especialmente alemães, quer todos eles porque também contemplaram a cosmologia
e a antropologia nos seus princípios fenomenológicos, epistemológicos e ontológicos, quer
porque buscaram a harmonia ou questionaram a relação entre o universal e o individual, o
ideal e o real, o geral e o particular, quer porque trataram de metafísica, matemática e lógica,
quer porque e especialmente, privilegiaram um lugar para o Belo, Bom, e Verdadeiro, a
clássica relação triádica do Summum Bonum.
Se A Agathotopia de James E. Meade apareceu no século XX construindo um modelo
político econômico alternativo para que uma sociedade encontre condições de possibilidade
mais adequadas e de concretização destas de forma à conquista da experiência de viver em um
Bom Lugar, o caráter de Agathotopia que aqui defendemos para a doutrina de Charles
Sanders Peirce, surgida no século XIX, diferente e originalmente, não se reduz a uma ficção
filosófica, uma idealização de um bom lugar para se viver, um sistema político econômico
para um Estado de Bem Estar Social, ou ainda um modelo para uma conduta de vida para a
felicidade.

14
Grifos aqui acrescentados porque substituindo as palavras de Peirce – “as quais”.
15
Pfeifer (1971) The Summum Bonum in the Philosophy of C. S. Peirce. Thesis of Doctorate in Philosophy.
9
A doutrina de Peirce é uma ciência filosófica lógica (Semiótica) metafísica de cunho
realista e sob princípios universais do mundo fenomenológico (doutrina das categorias:
primeiridade, segundidade, terceiridade), epistemológico e ontológico.
Defendemos seu caráter de Agathotopia ao processo continuo de crescimento
evolucionário das semioses signicas, conduzido pela lei da associação do amor evolucionário
Agapismo através da qual a razoabilidade se em direção ao Summum Bonum.
Agathotopia, o Tópos do Summum Bonum.
OBS: dado que nesta tese nos utilizamos de muitos termos gregos e diversas vezes,
para que não resulte em uma profusão de palavras em itálico, tomamos a liberdade de não nos
utilizarmos deste recurso de escrita normalmente utilizado a termos estrangeiros.
I – 2. Objetivos.
O objetivo geral é transpor o termo Agathotopia (Agathón
16
+ tópos
17
) introduzido no
universo da ciência social econômica e política pelo economista inglês do século XX, James
Edward Meade, para o universo da ciência filosófica do norte-americano do século XIX,
Charles Sanders Peirce.
O objetivo específico é correlacionar este conceito acima referido e pretendido à
transposição para Peirce, com o conceito de Agapismo que se encontra no seu universo
teórico, e se refere ao terceiro modo de evolução do universo, pela lei do amor evolucionário.

16
Agathón = Bem. No Latim Bonum. Gobry (2007) Vocabulário grego da filosofia. P.10.
17
Tópos = Lugar. Gobry (2007) Vocabulário grego da filosofia. P. 152.
10
CONSIDERAÇÕES INICIAIS – Termos Chave para o Tema.
1. AGATHOTOPIA
2. SUMMUM BONUM
3. EROS
4. ÁGAPE
1 - AGATHOTOPIA -
Agathotopia, termo de origem grega que congrega duas palavras Agathón Bem (em
latim Bonun) e Tópos Lugar, está relacionado à Agathotology (de origem inglesa).
Agatologia, e que é o nome usado, mesmo que raramente, para designar a doutrina do Bem
como parte da Ética (ciência da conduta)
18
.
Agathotopia, palavra de origem grega composta por outras duas, a saber:
1. Agathón – Bem. Neutro substantivo do adjetivo agathós – bom.
Na filosofia grega, o Bem é o obejtivo que se oferece à vida de todo homem. O bem é
a fonte de felicidade, que é buscada incessantemente pela alma. Segundo os gregos da Grécia
antiga, somente os sábios poderiam alcançá-lo.
Foi usado pelo economista do século XX, James Edward Meade
19
, nos seus livros
Agathotopia: A Economia dos Parceiros e Liberdade, Igualdade e Eficiência: Apologia pró
Agathotopia, quando ele, após muitas contribuições na área da teoria macroeconômica
internacional, passou a refletir sobre um modelo ideal de economia
Agathotopia Termo introduzido no universo da Economia pelo economista inglês
James Edward Meade, em 1989, no seu artigo Agathotopia: The Economics of Partnership: A
Tract for the Times Addressed to All Capitalist and Socialist who Seek to Make the Best of
Both Worlds - Hume Paper No. 16 publicado pela Aberdeen University Press for The
David Hume Institute, 1898. Depois publicado em livro, no mesmo ano e pela mesma editora.
James E. Meade recebeu o Prêmio Nobel de Economia de 1977.

18
Gobry (2007). Vocabulário Grego da Filosofia. P. 10 e 152. Abbagnano (1996). Diccionario de filosofia. P.
27.
19
James E. Meade. Economista inglês laureado com o Nobel de Economia em 1977. Apresentado pelo
Professor Doutor Eduardo Suplicy, na sua publicação pelo Senado Federal da República do Brasil (Brasília
1998) - Programa de Garantia de Renda Mínima – P. 19 e 20.
11
O Termo - Agathotopia que, segundo seu introdutor no universo das ciências, e da
ciência econômica, significa Bom Lugar, e em sua obra um Bom Lugar para se viver, foi por
ele primeiramente pensado como uma ilha experimental de um novo regime sócio-político-
econômico, aos moldes da Utopia de Thomas More, porém como uma diferença significativa,
os agathotopianos (Agathotopians) não são perfeitos e não buscam uma sociedade perfeita,
como na ilha Utopia, mas são imperfeitos, em uma sociedade imperfeita, como imperfeitos
são os seres humanos, para então posteriormente adentrar o universo da economia política
como um original modelo de economia onde se procura juntar o que de melhor no modelo
capitalista com o que há de melhor no modelo socialista.
[…] the Agathotopians have tried only produce good institutions for imperfect
people. My study of Agathotopia suggests a very important connection between
institutions and behaviour. The typical Agathotopian has a more cooperative and
compassionate attitude in his or her social behaviour (…) This suggests that there is
some positive feedback between social institutions and social attitudes (MEADE,
1977)
Este termo - Agathotopia - de James Edward Mead encontra-se em referência citada
pelo Professor Dr. Eduardo Suplicy, no seu Programa de Garantia de Renda Mínima (Brasília,
1998. Caderno Programa de Garantia de Renda Mínima, do Gabinete do Senador Eduardo
Suplicy, do Senado Federal brasileiro, nas páginas 19-20), através da qual tomamos
conhecimento de sua existência. Tal termo nos chamou a atenção. Pesquisado em dicionários,
e não encontrado, investigamos seu significado através do exemplar de Meade (1993) na
Biblioteca da USP/ FEA, São Paulo, SP.
No Brasil, pesquisas se utilizando da Agathotopia, de Meade, podem ser
encontrados igualmente, na área econômica social e de forma especial relacionados ao tema
do Senador brasileiro. Não encontramos o termo Agathotopia - ou a aplicação dele em
outros campos do conhecimento que não em obras do próprio Meade, ou em comentadores de
sua obra, ou ainda pesquisas em economia relativas à renda mínima, ao dividendo social, a
parcerias político-social-econômicas.
12
x Agathotopia títulos publicados pelo próprio James Edward Meade.
x Meade, J. E. (1989) Agathotopia: The Economics of Partnership. Aberdeen:
Aberdeen University Press.
x Meade, J. E. (James Edward). (1993) Liberty, Equality and Efficiency: Apologia pro
Agathotopia Mea. New York University Press. Washington Square, New York.
x Meade, J. E. (1993 b) Liberty, Equality and Efficiency. London: Macmillan.
x Meade, J. E. (1995) Full Employment Regained! An Agathotopian Dream.
Cambridge: Cambridge University Press.
2. SUMMUM BONUM
Palavra latina que nomina a “noção introduzida por Aristóteles para indicar o desejado
por si mesmo e não em vista de um Bem ulterior.
Os Escolásticos aplicaram a expressão a Deus mesmo (Santo Tomás, Suma Teológica,
I, q.6, a. 1).
Kant estima que o adjetivo Sumo é equívoco e que pode significar “supremo” ou “perfeito”.
O Bem Supremo é a condição primeira, originária de todo Bem, e, em conseqüência, é a
virtude. Mas o Bem perfeito é o que não é parte de um Bem maior da mesma espécie, e em
tal sentido a virtude pode não ser o Bem perfeito que é, ao contrário, a união da virtude e da
felicidade (Crítica da Razão Prática, Dialética, capítulo II).
Em Abbagnano (1996: 133)
Em Gobry (2007:10-13)
A busca da natureza do Bem é relativamente tardia.
Pitágoras, o primeiro a colocar o Bem no ápice da hierarquia, identificando-o com Deus,
Espírito, Mônada. Geradores dos seres (Aécio, I, VII, 18)
Estabelece-se uma tradição filosófica que faz do Bem um princípio não moral ou
econômico, mas essencialmente metafísico.
Sem duvida o Bem inclui um valor moral, mas também a Beleza, a Verdade, e a
Felicidade.
Platão: “A essência do Bem é o objeto da ciência mais elevada”. (Rep., Vi, 505)
“No Mundo Sensível ele criou a luz e o senhor da luz”. (o Sol) “É ele que preside a verdade
e a inteligência.” (Rep. Vi, 508-509)
Ele é absolutamente perfeito, muito além da Essência”. (Rep. Vi, 509)
“É em vista do Bem que se fazem todas as ações.” (Górgias, 468b), “e sem ele tudo é
inútil.” (Rep. Vi, 505)
Aristóteles: Na Metafísica: “O Bem identifica-se com o Primeiro Motor” , com o Ser
necessário, com o Princípio, com o Pensamento autônomo, com o Ato subsistente que é
Deus.”. “Para o homem, o objeto primeiro da vontade racional é o Bem”.
Em Ética a Nicômaco. “Todas as artes, todas as ciências são dirigidas ao Bem”.
Áriston: Soberano Bem é o fim último tanto do indivíduo, quanto do Estado.
O S. B. chama-se Deus e Espírito, como qualidade, virtude, como quantidade, justa medida.
O S. B. é o fim último, finalidade última e perfeita, que possuída traz a felicidade.
13
O Soberano Bem é enfim o Bem e a Felicidade, o bem próximo ao homem é a Atividade
da Alma em conformidade com a Virtude.
O SUMMUM BONUM em Peirce não está associado a um resultado de ação ética
individual, tal possibilidade não está prevista na doutrina do filósofo, tanto quanto o
correspondente para as outras duas categorias. Poderíamos entendê-lo como um mix do
conceito em Platão e em Aristóteles.
x O Belo – Admirável fim último da Estética.
x O Bom – Justiça, fim último da Ética.
x O Verdadeiro - Verdade, fim último da Lógica.
O Summum Bonum em Peirce se encontra relacionado às Ciências Normativas. O
resultado da semiose entre estes três, que estão nas Ciências Normativas, aparece como o
resultado da continuidade da evolução da razoabilidade dado que os fenômenos caminham
para o Bem. Conforme Peirce nos traz mais diretamente nos seus textos: Da relação do
Pragmatismo e as Ciência Normativas. Da relação da Filosofia e Conduta de Vida. Da
relação Dos Três Tipos de Bem.
Três foram os trabalhos encontrados que diretamente tratam deste tema, em Peirce:
x A Tese de Doutorado em Filosofia de David Elmer Pfeifer. (1971) “The Summum
Bonum in the Philosophy of C. S. Peirce” University of Illinois at Urbana
Champaign.
x O artigo de Kelly A. Parker. Reconstructing the Normative Sciences” publicado na
Revista de Filosofia – Cognitio – V. 4, n. 1 – 2006 – PP 27-45.
x O artigo de Lauro Frederico Barbosa Silveira. Três Espécies de Bempublicado na
Revista de Filosofia – Cognitio – V. 4, - 2003 – PP 60-89.
Obs: Encontra-se com regularidade nos artigos do Professor Dr. Lauro Barbosa da
Silveira relativos à cosmologia de Peirce, a referência aos Três Tipos De Bem ou de Bondade,
bem como referência à correlação entre as três Ciências Normativas, no sentido de estas
caminharem evolutivamente e teleologicamente através dos fenômenos que buscam os três
tipos de bondade: o Belo, o Bem e o Verdadeiro, para o Summum Bonum.
14
3. EROS: Deus do Amor.
Desde sua origem, na civilização ocidental, filosofar era manter relações eróticas ou
apaixonadas, relações de amor consigo mesmo, com os outros, e com o exercício da busca do
saber.
O Philoi a amigo da Shopia da Sabedoria se identificava plenamente com um
estilo de vida, todo um jogo de mestria, rivalidade e liberdade neste exercício “jogos de
linguagem” cujos procuravam também se defender dos falsos pretendentes à verdade do
conhecimento. (RAJCHMAN: 1993)
A capacidade humana de amar (princípio do amor individual Psique humana que
assume conscientemente a decisão e a responsabilidade pelo próprio destino) e a força do
amor contida na alma são divinas, e o caminho da transformação através do amor é um
mistério que diviniza. (NEUMANN: 1990)
Sob a crença de que os fenômenos psíquicos e somáticos não são mutuamente
excludentes, observa-se na prática terapêutica que o processo das pessoas no seu caminho de
individuação, reapresenta os trânsitos de ligação entre corpo e psique, não raro aparecendo
doenças cujo significado precisará ser compreendido pelo sujeito, para poder transformarem
as suas energias psíquicas. (WHITMONT: 1989)
x Eros/Ágape Moser, Antônio. O Enigma da esfinge. Edição. Petrópolis, RJ: Vozes,
2002.
x Eros: Abel-Hirsch, Nicola. Eros. Tradução Carlos Mendes Rosa. Rio de Janeiro:
(Amor sexuado) Relume Dumará: Ediouro; São Paulo: Segmento-Duetto, 2005.
x Autonomia (Psicanálise): Castoriadis, Cornelius. Psicoanálisis y autonomia. Lectura
de La institución imaginaria de la sociedad.
Eros: “Princípio de Atração”. Eros: “Instinto de Vida”. A Analogia dos nossos
instintos básicos vai do âmbito dos seres vivos ao par de forças opostas – atração e repulsão
que governa o mundo inorgânico Sigmund Freud. Esboço da Psicanálise. Obras Completas
15
Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud. Vol. XXIII, Rio de
Janeiro: Imago, 1986.
Antes de Freud incluir Eros em sua teoria da sexualidade, ele atribuía a esta como
fonte de motivação e energia em muitas atividades, fosse ou não claramente sexuais. Depois
de introduzir o conceito de Eros na sua teoria, ele inseriu em Eros a sexualidade, e também
inclui com ele o princípio de atração. Segundo Freud, Eros será o elemento de ligação, de
união entre os elementos, e de tal forma que poderá originar algo novo.
Em ensaio especulativo de 1920 Além do princípio do prazer Freud conceitua a
Pulsão de Vida Eros e a Pulsão de Morte- Tânatos. Eros Pulsão de Vida, “mantém unidos
os seres vivos”, “transforma a substância viva em unidades ainda maiores, de modo que a vida
possa se prolongar e ter desenvolvimento superior”, “pode também dificultar a vida e ao
mesmo tempo, procurar conservá-la” . Ob. Ct. 6-7.
“Pesquisas biológicas com células que se unem e dispersam, e se
rejuvenescem. E nesta união e separação há uma tensão. Eros é uma tensão no
organismo. Para que a cópula de fato ocorra a necessidade de uma abertura, uma
procura e uma entrega a esta relação. Um corpo precisa doar e um outro precisa
receber. Um será hospedeiro do outro. A mulher recebe o esperma do homem, para
então sendo hospedeira do esperma, desenvolver o embrião. E mesmo que para o
sistema imunológico um corpo estranho seja uma ameaça à vida, para a cópula da
relação sexual, a abertura para a recepção do corpo estranho, é fundamental. Na vida
mental/ emocional dá-se o mesmo. Como o sistema imunológico, podemos rejeitar
uma nova Idea ou uma nova experiência, ou podemos mesmo depois de reconhecer
as diferenças, aceitar receber a idéia do outro. Portanto, passa pelo reconhecimento
de que o outro tem algo a me oferecer que eu ainda não tenho. A diferença contém
em si a promessa e a possibilidade de trazer o novo, e o que é a condição necessária
para que a cópula entre partes diferentes ocorra, quer da ordem sexual, quer da
ordem emocional ou intelectual” ( 8-9-10).
“O que Freud iniciou para a psicanálise quando introduziu o conceito Eros na sua
teoria, foi criar condições para a existência de uma teoria unificada do sexo e do amor, em que
nenhum deles seja secundário e ambos sejam formas de “ligação” ou “cópula” entre
elementos diferentes. E o que foi continuado e aprimorado na psicanálise, por continuadores
de Freud tais como Melanie Klein na questão do amor, e Wilfred Bion na questão da
imaginação.” S. Freud: teoria das pulsões; M. Klein: teoria das relações de objeto; W. Bion:
teoria do pensamento.
16
Segundo a psicanálise, a conquista da autonomia passa pelo auto-reconhecimento, que
por sua vez passa pelo reconhecimento do outro, e para tal que se perceber e se apropriar
da identificação das diferenças, das inclusões e das exclusões. Reconhecidas estas, então
surge a possibilidade da cópula, tanto a sexual, quanto a emocional, como a
intelectual/inventiva, todos os veículos primordiais de Eros. Desde a procriação biológica que
preserva a espécie dos organismos vivos, como a procriação psicológica dos afetos e a
espiritual das idéias. Assim confirmando a cópula que é a interação entre dois elementos
“estranhos” (pessoas, idéias) e que pode ocasionar o novo, o Terceiro.
O brasileiro psicanalista Roberto Freire introduz o conceito “Tesão” como uma
forma de acentuar a necessidade de ambos amor erótico e amor afetivo. Roberto Freire Sem
Tesão não há Solução – Editora Francis, 2004.
Eros: Abel-Hirsch (2005:5).
Idéia de uma força que promove a ligação (associação) entre os elementos da
existência humana: fisicamente pelo sexo; emocionalmente pelo amor; mentalmente pela
imaginação.
Não pode haver cópula (ligação, associação) nos níveis sexual, emocional, mental, se
não for através de alguma forma de amor. Uma penetração qualquer sexual sem amor, até
pode haver, mas não é a mesma coisa que uma relação sexual. Para que uma cópula de fato
ocorra, o que quer dizer “dois” se ligando numa cópula, necessita-se de dois elementos
distintos, do reconhecimento mútuo da diferença do outro separado de si próprio,
consideração e escolha mútua (Respeito mútuo) Abel-Hirsch (2005:6).
Eros: Moser (2002:7) “A Sexualidade, nas suas mais diversas facetas, é uma das energias
que movimentam a vida humana”.
4. - CONCEITO AGAPISMO
Agapismo foi o termo nomeado e utilizado por Charles Sanders Peirce para se referir
ao terceiro modo de evolução do cosmos, cosmos este que, segundo ele é possibilitado,
assegurado na atualização da realidade, e continuado, através da lei mental universal, à qual
por ele também nomeada, a lei do amor evolutivo”, e segundo a qual a evolução cósmica se
dá naturalmente através desta lei enquanto também incrementa o amor fraterno entre os
homens, já que estes são parte deste cosmos.
17
x O primeiro modo de evolução é o Tiquismo, pelo acaso.
x O segundo modo de evolução é o Anancismo, pela necessidade.
Este termo foi citado por ele no seu artigo Evolutionary Love, escrito e publicado em
janeiro de 1893, seu 5º e último artigo para o The Monist 3 (págs.176-20)
Charles Sanders Peirce - Evolutionary Love (1893).
O Evolutionary Love está no CP 6.267-317 e no EP I 352-371.
Agapismo – Em Peirce: terceiro modo de evolução propiciado pela lei do amor
evolucionário - Peirce acreditou ter resolvido uma antiga e complexa questão em filosofia a
desconexão entre a alma e o corpo (CP 6.61).
A relação contínua, evolucionária e infinita entre mente e matéria, mediada pelo fluxo
ininterrupto do pensamento, aparecendo na experiência vivida de uma realidade espaço-
temporal finita lhe parecia ter sido finalmente elucidada.
Sobre o tema Agapismo, ou Amor Agápico, Amor Evolucionário.
Encontramos mais trabalhos relativos a Peirce com esses conceitos do que quanto ao
SUMMUM BONUM.
Obs: rios dos quais encontramos eram artigos da Ciência da Religião, e não serão
aqui citados, pois não estavam relacionados diretamente ao conceito tal qual em Peirce.
Somente um deles questionava sobre a possibilidade de o Amor Agápico ser universalizado
ou não, mas não fazia referência a Peirce.
Deixaremos aqui registrados os textos que tivemos acesso e que apresentaram relação
com o Agapismo de Peirce.
x De Basílio João Ramalho Antonio “O Todo e as Partes: subsídios para a Leitura do
Ensaio Evolucionário de Charles Sanders Peirce” DM. PUC/SP. 2006.
x O Professor Dr. Ivo Assad Ibri vem se dedicando mais a este conceito associado ao amor
criativo e princípio heurístico.
18
x “O Amor Criativo como Princípio Heurístico na Filosofia de Peirce” Publicado na
Revista de Filosofia Cognitio. V. ¨. N. 2. PP 187-199.
STEPHENS, G. Lynn. Cognition and Emotion in Peirce´s Theory of Mental Activity.
Págs. 131-140. University of Alabama in Birmingham.
ZEMAN, J. Jay. Peirce´s Philosophy of Logic. Págs. 1-22. University of Florida.
TURLEY, Peter T. Peirce on Chance. Págs. 244-254. Georgetown University.
JACKSON, Timothy P. The Disconsolation of Theology: Irony, Cruelty, and Putting Charity
First. The Journal of Religious Ethics. Págs 1-35.
SISK, Ronald D. Contextual Principled-Agapism. From Perspectives in Religious Studies.
Págs. 17-30.
Textos pela Internet, todos acessados no ano de 2008.
De Michael Ventimiglia. “Peirce, Lamark e Evolutionary LovInternet, Global Espiral
http://www.metanexus.net/Maga
De Jaime Nubiola. “A Lei da Razão e da lei do Amor”. Internet, G. Debrock.
http://www.unav.es/users/LawOf
De Carl R. Hausman “Eros e Ágape na Evolução Criativa” Internet, A Peircean Insight
http://religion-online.org/s
Ágape: termo como tal não encontrado em nenhum dos quatro dicionários por nós
consultados e aqui citados anteriormente, sua significação associada ao conceito de Ágape, foi
encontrada em Amor, como amor cristão: em Abbagnano (Págs. 47 a 62), e em Lalande
(págs. 53 a 56) mais precisamente como Cáritas ou caridade o amor cristão divulgado por
Paulo apóstolo entre as primeiras comunidades cristãs; e em outros dois autores consultados,
Moser (2002). O enigma da Esfinge: A sexualidade, e Nygren (1969). Agape and Eros: A
Study of the Christian Idea of Love (Part I) and The History of the Christian Idea of Love
(Part II), encontramos explicitação detalhada das correlações do conceito de Eros, Philia,
Caridade, Ágape, sob perspectiva da filosofia e da teologia cristãs, e onde Eros e Ágape não
precisam estar separados. As quatro modalidades, ou três, quando as duas centrais Philia e
Caridade se condensam em um só, são necessárias desde a origem da vida do universo e das
relações humanas, até suas manutenções e perpetuações.
19
A definição mais direta do que é o Amor Ágape, encontra-se em - “amor ágape”:
Caridade - proclamado por Paulo apóstolo, na sua mais conhecida Epístola, no Novo
Testamento da Bíblia.
A hierarquia dos carismas. Hino à Caridade. I Coríntios 13 1-13
20
Ainda que eu falasse línguas, as dos homens e as dos anjos, se eu não tivesse a
caridade, seria como um bronze que soa ou como um címbalo que tine.
Ainda que eu tivesse o dom da profecia, e conhecimento de todos os mistérios e de
toda a ciência, ainda que tivesse toda fé, a ponto de transportar montanhas, se eu
não tivesse a caridade, eu nada seria.
Ainda que eu distribuísse todos os bens aos famintos, ainda que eu entregasse o meu
corpo às chamas, se não tivesse a caridade isso nada me adiantaria.
A caridade é paciente, a caridade é prestativa, não é invejosa, não se ostenta, não
se incha de orgulho. Nada faz de inconveniente, não procura o seu próprio
interesse, não se irrita, não guarda rancor.
Não se alegra com a injustiça, mas se regozija com a verdade. Tudo desculpa, tudo
crê, tudo espera e suporta .A caridade jamais passará.
Quanto às profecias, desaparecerão. Quanto às línguas, cessarão. Quanto à ciência
também desaparecerá.
Pois o nosso conhecimento é limitado, e limitada é a nossa profecia. Mas, quando
vier a perfeição, o que é limitado desaparecerá.
Quando eu era criança falava como criança, pensava como criança, raciocinava
como criança. Depois que me tornei homem, fiz desaparecer o que era próprio da
criança.
Agora vemos em espelho e de maneira confusa, mas, depois, veremos face a face.
Agora o meu conhecimento é limitado, mas, depois, conhecerei como sou
conhecido.
Agora, portanto, permanecem fé, esperança e caridade, estas três coisas. A maior
delas, porém, é a caridade
.
O Amor Ágape a Terceira e maior de todas as Virtudes, ela é a Alma de todas as
Virtudes. (Fanzaga 2007: 151-154)
x Caridade (amor ágape) – a Terceira das Virtudes Teologais.
x Fé – a Primeira das Virtudes Teologais.
x Esperança – a Segunda das Virtudes Teologais.

20
A Bíblia de Jerusalém. Edições Paulinas. Nova edição revista. 1985. PP 2164-2166.
20
Ilustrando a vinculação entre amor erótico, amor cristão (caridade), e amor agápico,
que, se no Novo Testamento fica mais difícil ser identificado se não pela via da experiência
vivida, no Livro do Antigo Testamento da Bíblia, encontramos inúmeras passagens que a
exemplificam:
Cântico dos Cânticos 1, 2-4. Prólogo. O mais belo cântico de Salomão
21
.
“Que me beije com beijos de sua boca!
Teus amores são melhores do que o vinho,
O odor dos teus perfumes é suave,
Teu nome é como um óleo escorrendo,
E as donzelas se enamoram de ti...
Arrasta-me contigo, corramos!
Leva-me, ó rei, aos teus aposentos
E exultem-nos! Alegremo-nos em ti!
Mais que ao vinho, celebremos teus amores!
Com razão se enamoram em ti...”
Livro do Profeta Jeremias 20, 7-9
22
“Seduziste-me Senhor, e deixei-me seduzir; foste mais forte, tiveste mais poder.
Tornei-me alvo de irrisão o dia inteiro, todos zombam de mim. Todas as vezes que
falo, levanto a voz clamando contra a maldade e invocando calamidades; a palavra
do Senhor tornou-se para mim fonte de vergonha e de chacota o dia inteiro. Disse
comigo: “Não quero mais lembrar-me disso, nem falar mais em nome dele”. Senti,
então, dentro de mim um fogo ardente a penetrar-me o corpo todo: desfaleci, sem
forças para suportar”.

21
A Bíblia de Jerusalém. 1987. Pág. 1185.
22
Ob. Cit.
21
CAPÍTULO I – Da Ética da Terminologia: Alma – Espírito – Mente – Matéria –
Associação das Idéias Psíquico-Físicas – Continuum - Hábito.
“Pode ter-se afeto pelos amigos e pela verdade: mas, a moralidade obriga-
nos a dar preferência à verdade”. (ARISTÓTELES)
A afirmação acima, de Aristóteles, bem como este capítulo que agora iniciamos foram
especialmente pensados e escritos para atender ao filósofo norte-americano do século XIX por
nós investigado, Charles Sanders Peirce (1839-1914), também como um gesto de
reconhecimento ao como ele se conduziu no exercício de sua religiosa atividade e atitude
científicas sempre cuidando das palavras, das idéias, dos conceitos, exigente consigo próprio e
com os tantos pensadores aos quais ele recorreu durante os 40 anos de investigação,
elaboração e escritura de suas próprias idéias, conceitos, sua doutrina, pelo Professor Doutor
Ivo Assad Ibri (1992) nomeada Kósmos Noetós: a arquitetura metafísica de Charles S.
Peirce.
E diante tal reconhecimento, sentimo-nos na necessidade, quase que como impositiva
ao cumprimento de uma postura ética correspondente ao que este filósofo deixa estabelecido
através de sua teoria da investigação científica
23
, e mais especificamente explicitado no seu
texto a Ética da Terminologia (1903), de, como ele, “revisitar” os filósofos por ele visitados
para neles compreender o fogo que forjou a forma de seus conceitos contextualizados nos
seus tempos históricos, e entender a evolução destes conceitos até o tempo de Peirce
24
, com as
devidas transformações por ele percebidas e também operadas em alguns dos conceitos da
ciência filosófica, e o que resultou em seu grande, coeso e coerente sistema, fruto colhido
após longo e exaustivo período de tempo por ele dedicado ao cuidado da semente plantada em
sua semiótica mente, de forma que não morresse. Á frente de seu tempo histórico, Charles
Sanders Peirce antecipou o que hoje recebe o nome de Ética do Cuidado
25
.

23
Bacha (1998). A Teoria da Investigação de C. S Peirce. P. 156.
24
Bacha e Dib (2007). O Conceito de Continuidade em Peirce revisitado. Comunicação na 10ª Jornada do
Centro Internacional de Estudos Peirceanos. PUC/SP. Caderno Jornada P. 66-70.
25
Furrow (2007) Ética: conceitos chave em filosofia. O particularismo moral e a ética do cuidado resolvem
algumas dificuldades das abordagens kantianas e utilitaristas ao focalizar os aspectos singulares, as reais
habilidades e motivos entre as pessoas, ao considerar o relacionamento moral entre os seres humanos.
22
Possibilidade difícil de ser cumprida, mesmo que se necessária como fidelidade ao seu
devido rigor
26
em se tratando de um filósofo lógico metafísico científico que procurando ser
minucioso em suas investigações
27
na busca da verdade da ciência, “ao morrer, deixou escrita
uma obra de 90 mil páginas de manuscritos não publicados”.
28
Não é ignorado pela comunidade de pesquisadores em Peirce, ao longo dos estudos de
seus escritos, que ele próprio estudou detalhadamente todos os filósofos os quais ele teve
contato, lendo-os cuidadosamente, utilizando deles os pontos com os quais ele concordava
quando estavam afins com sua criativa arquitetura teórica, e a eles fazendo críticas
contundentes naquilo que com eles discordava. E Peirce não se portou assim somente em
relação aos filósofos, tantos quantos cientistas das áreas por ele sentida a necessidade de
investigar, foram-lhe objeto de profundo estudo.
Repassar os passos
29
de Charles Sanders Peirce procurando segui-lo no curso do seu
pensamento enquanto seus conceitos e sua doutrina estavam sendo forjados, poderia ser o
necessário para quem está defendendo atribuir um termo a um possível caráter ao seu sistema
tão cuidadosamente elaborado, e por nós identificado – Agathotopia.
Um empreendimento para um longo período de tempo e que exigiria um rastreamento
por uma sucessão de “gigantes sobre ombros de gigantes” da filosofia ocidental nascida na
Grécia, e semeada no Egito, até os dias de Peirce, passando ainda pela filosofia de tradição
oriental de Avicena
30
, bem como recorrendo às tantas outras ciências por ele dominadas ou
investigadas tais como matemática, lógica, geometria, química, biologia, psicologia, física,
sociologia; e não desconsiderando ainda a importância de se olhar os fenômenos como ele
sugere, com olhar atento em postura de investigadora ciente de seu falibilismo
31
e olhos
abertos para a descoberta infindável.

26
Silveira (2007) Curso de Semiótica Geral.
27
Dib (2004). A Gradiva de Jensen, de Freud e de Peirce. Comunicação no Encontro Internacional sobre o
Pragmatismo. PUC/SP.
28
Santaella (1992) A Assinatura das Coisas: Peirce e a Literatura.
29
Brent (2000). A Brief Introduction to the Life and Thought. P. 1-15. In Peirce, Semiotics, and Psychoanalysis.
30
Engel-Tiercelin (1993). Peirce´s Realistic Approach to Mathematics: Or, Can One Be a Realist without Being
a Platonic?
31
Falibilismo. Doutrina fundamental a ser admitida pelo buscador da verdade, regra número um em lógica:
admitir que nosso conhecimento não é absoluto, que sempre temos a aprender e a aperfeiçoar, buscando no
sabido o que ainda não sabemos, e ficarmos em aberto para novos conhecimentos que estão disponíveis no
universo que muito tem a nos ensinar, segundo Peirce.
23
Não repassamos todas as pegadas de Peirce, não esgotamos a pesquisa necessária,
certamente, este é um empreendimento que pede uma confecção coletiva transdisciplinar, e
dentro das limitadas condições de tempo e espaço, contentamo-nos com alguns filósofos e
conceitos que estiveram presentes em Peirce de maneira mais enfática na nossa pesquisa.
Desta forma, passamos por alguns pensadores gregos, especialmente Platão e
Aristóteles, o árabe Avicena, alguns escolásticos da idade média, idade moderna, saltando
para o idealismo alemão e chegando até comentadores de Peirce mais próximos aos nossos
dias. Fortes e influentes presenças, aqueles que abriram a nomeada idade moderna, Bacon e
Descartes, só os citamos em alguns poucos momentos específicos que se impuseram, e
deixamos aqui registrado que a Professora Doutora Lucia Santaella quanto à relação de Peirce
com Descartes dedicou uma obra à sua análise - O método anticartesiano de C. S. Peirce
(2004).
O perfil deste capítulo, pois, está assim delineado, como que nos preparando para
seguirmos à frente. Trata-se de uma porta de entrada no “labirinto” do mosaico, ou na
constelação
32
do sistema de Charles Sanders Peirce, procurando segui-lo com seu mapa nas
mãos, sem dele soltarmos, um convite a um sério jogo
33
, o brincar de “seguir o mestre”, dado
que se trata de um complexo e grande sistema construído de muitas partes que se encaixam
plenamente como se o todo dentro estivesse em cada parte.
Exatidão dos conceitos andando em paralelo à exatidão do pensamento é uma das
primeiras correlações entre as tantas que Peirce nos apresenta na sua teoria, enquanto nos
chama a atenção para esta regra, segundo ele, regra primeira de bom gosto ao escrevermos, e
regra particularmente verdadeira em lógica, sua ciência base, para fundamentar um método de
investigação científica suficiente a todas as ciências.

32
Beckenkamp (2004) Entre Kant e Hegel. P 8. Ética das Constelações: procedimento de apresentação de mais
de um autor ao mesmo tempo, de forma a evitar um achatamento de seus projetos filosóficos. Movem-se mais
livre e espontaneamente, sem necessidade de uma historiografia rigorosa. Aqui transportado para os vários temas
e conceitos que compõem o sistema de Peirce.
33
Gonçalves (2006) ”Um Tratamento dos Grafos Existenciais na obra de Charles Sanders Peirce. DM.
PUC/SP. Cap. I. Citando Peirce: “Quando eu era menino, meu pendor para lógica fazia-me sentir prazer no ato
de seguir um mapa de um labirinto imaginário, passo a passo, na esperança de descobrir o caminho que me
levaria ao compartimento central”, explica-nos que “para Peirce o exercício lógico constituía um intrigante jogo
lógico, significativo ao desenvolvimento da arte de raciocinar”.
24
Segundo BACHA (1998:79) A Teoria da Investigação de C. S. Peirce será mesma
“esta relação vincular entre conceito, conduta e pensamento, a espinha dorsal do pragmatismo
de Peirce porque se condensam o compromisso entre a razão prática e a razão teórica”, isto
é, Charles Sanders Peirce, o filósofo do pragmaticismo, pensando a arquitetura de sua
filosofia metafísica, dentro da qual o centro vital se encontra na sua lógica ou semiótica, veio
encerrar e definitivamente, o que há muito imperava na filosofia, a aparente incompatibilidade
dialética entre o humano e o divino, entre o particular e o geral, o individual e o universal, “a
cisão entre o prático e o teórico,
34
ou seja, o senso comum da conduta humana é tomado como
objeto filosófico e a filosofia deixa de ser mera especulação teórica”.
Mas, até que a filosofia chegasse a Peirce, longa caminhada já percorrera, e no retorno
que agora fazemos ao omphalos “umbigo do mundo”
35
, percebe-se a dimensão da distância
alcançada pelo filósofo que, parece não ter deixado passar nada sem que ele tivesse recorrido,
e, como já explicitado, não poderemos repetí-lo na totalidade, mas alcançarmos algumas
partes significantes, procurando atende-lo no rigor do pensamento e do conceito.
Todas as tradições de sabedoria nos lembram que trabalhar no sentido de
contribuir e de servir é essencial para o bem-estar da alma. Na budista tibetana
afirma-se: “Você tem esse precioso corpo humano para servir a outros seres vivos”.
A alma desperta quando nosso trabalho é direcionado no sentido de contribuir para
algo mais amplo do que as nossas necessidades pessoais imediatas. A alma deseja
um propósito. (KLEIN; IZZO 2000:18-73/4)
E o que é esta Alma
36
que deseja um propósito? Que desperta quando o precioso corpo
humano trabalha direcionado no sentido de contribuir para algo mais amplo do que as
necessidades pessoais imediatas deste ser vivo que serve a outros seres vivos?

34
Ibri (2000) As conseqüências de Conseqüências Práticas no Pragmatismo de Peirce. Cognitio. N.1. PP 30-45.
35
Taplin (1990) Fogo Grego. P 11. Do pensamento europeu ocidental de tradição grega. Retornaremos a este
tema em capítulo posterior.
36
Psykhé: alma (latim: anima) Princípio da natureza vital ou espiritual; mas habitualmente, das duas ao mesmo
tempo, princípio que anima o corpo. Esse corpo pode ser o universo; a alma é então a alma do mundo: psykhé
t kósmou ou tôu pantós. Para o pré-socrático Heráclito (fr. 36,77) a alma nasce da água; ou a alma seca (fr.
122); ou ainda, ela contém Lógos, ou seja, a Razão Universal (fr. 45). Para o estóico Marco Aurélio, por um
lado, a alma é espiritual noerá e por outro, ela é uma parte da Substância universal (XII, 30, 32). Para os
principais autores, a alma é composta de várias partes: uma material e mortal fonte do conhecimento sensível;
outra espiritual e imortal fonte do conhecimento intelectual. Alma do Mundo: É um conceito universal na
antiguidade: “Pitágoras acreditava que existe um alma contida por inteiro na Natureza, [...] da quais nossas
próprias almas são fragmentos” (Cícero, De nat. deor., I, 11) . è ao governo interno dessa alma que Filolau
atribui eternidade ao mundo (Estobeu, Écl., XX, 2). (Gobry 2007: 123-128-9).
25
Alma Autor
“A qualidade comum a toda alma é o fato de crescer”. Heráclito
“Só resta, creio eu, concluir que o homem não é nada, ou que, se é alguma coisa,
não é nada além da alma”
Platão, Alcibíades
Maior
“Muitas vezes, ao despertar meu verdadeiro ser de meu sonho corpóreo... em meu
íntimo contemplo uma beleza maravilhosa, acredito, então, pertencer a um destino
maior”.
Plotino. “Enéadas”. IV
“Quando, então, a alma encontra a verdade? Vimos que enquanto a procura com o
corpo é enganada por ele, que a induz ao erro”.
Platão, Sócrates,
“Fédon”
“A Percepção da alma racional é superior àquela dos sentidos porque a percepção
da inteligência é certa, necessária, universal, e eterna, enquanto aquela dos sentidos
é superficial, parcial e efêmera”.
Avicena. “Epistola
Sulla Vita Futura”)
‘‘A Alma não consegue se encontrar na matemática; o Espírito Humano reside nas
Instituições Humanas”
Giovanni Batista Vico
Finamente em Peirce:
“Em que consiste a identidade do homem e onde é o sítio de sua alma?
Todo homem tem uma identidade que transcende em muito o mero animal uma
essência um significado, por mais sutil que possa ser. Ele não pode conhecer sua
própria significação essencial: de seu olho é o olhar. Mas o fato de que ele tem
verdadeiramente essa identidade projetada tal como uma palavra é verdadeira e
exata expressão do fato da simpatia, sentimento e camaradagem junto com todos
os interesses não egoístas e tudo aquilo que nos faz sentir que ele tem um valor
absoluto” (PEIRCE)
“O Homem é essencialmente uma alma, mas a essência não é toda a alma
do homem: é apenas seu âmago que carrega consigo toda a informação que constitui
o desenvolvimento do homem, seus sentimentos totais, intenções, pensamentos.
Quando eu, isto é, meus pensamentos, entro em outro homem, não levo comigo
necessariamente todo o meu ser, mas o que levo de fato é a semente da parte que não
estou levando e se carrego a semente de toda minha essência, carrego a de todo o
meu ser concreto e potencial” (PEIRCE)
37
Desde que mulheres e homens encantados, admirados ou espantados com o que se
apresentava à sua frente e lhes provocava o exercício de questionamento e reflexão, sentiram-
se curiosos quanto ao mundo (cosmos, universo), à natureza, à vida, a si próprios, e à origem
de tudo o que viam e ouviam da natureza.
38
Desta forma surgiram os temas recorrentes de
suas perguntas, e suas especulações e conjecturas em torno às possíveis respostas ou possíveis
significados dos enigmas encontrados impostos por esta natureza, tais como: Alma, Amor,
Amizade, Bem, Felicidade, Beleza, Verdade, Morte, Vida, Vida pós Morte, Natureza, Deus,
Homem.

37
Peirce. Semiótica 1995: 309-310-304. Obs. esta nota de rodapé continua próxima folha.
16- Cont. 12 - Ob. Cit. P 304 Peirce “Filosofia é a tentativa de formar uma concepção geral informada do Todo.
Como está implícito na própria palavra a Filosofia é e deve ser imperfeita. Pessoa alguma está liberta de sua
ascendência como o próprio metafísico. Desta forma, uma vez que todos devem ter concepções das coisas em
geral, é muito importante que estas sejam bem elaboradas.” P 303.
26
E o que é a alma, esta primeira que provocou e convocou o pensamento humano,
desde aos chineses, indianos e aos gregos pré-socráticos à compreensão?
39
Seguindo pela
trilha percorrida pelos gregos, Heráclito, sem defini-la falou de sua qualidade de crescimento.
Platão com Alcibíades e Sócrates chega ao extremo de dizer que se o homem é alguma coisa,
esta coisa é a alma, e a única que pode atingir a verdade, tendo o corpo como seu obstáculo a
esta verdade possível de ser conhecida pela alma. Plotino fala de uma alma que dorme e sonha
no corpo. Avicena, o filósofo oriental árabe, verbaliza a qualidade da inteligência da alma e
suas faculdades de perceber e racionar, seguindo a linha de Sócrates, e a avaliando como
superior à instância que acolhe os sentidos - o corpo. Vico
40
introduz novidades ao seu nome e
à conjectura para uma resposta do enigma que ela sempre representou e que a estas alturas,
segundo ele, ela parece perdida e confusa diante tantos atributos e tarefas que se lhe
impuseram agora, sob o nome de Espírito Humano, Vico nos diz que este não pode ser
encontrado pela via da Matemática, e sim, pela via das Instituições Humanas.
Mas Peirce, pós Vico, no século XIX nos diz de um Homem que é essencialmente
uma alma, mesmo que a essência não seja toda a alma de um Homem, esta que é apenas seu
âmago
41
. “A Alma de todo Homem é uma determinação especial da alma genérica da família,
da classe, da nação a que ele pertence” (Peirce. Semiótica 1995: 310)
Desde muito cedo que a alma estivera acompanhada do Sôma
42
,o Corpo, e, no
entanto, por muito tempo vistas e entendidas como dicotômicas, como dicotômica estava a
relação entre os mortais e os imortais quando alma e corpo passaram a ser objetos de reflexão.
Snell
43
chamará de o “Despertar da Individualidade”, o ponto de entrecruzamento da
diferenciação entre o coração espiritual e o coração físico, entre os seres divinos imortais e os
seres não divinos mortais, entre o amor que fortalece e o amor que enfraquece. Nas palavras
de Anacreonte, Arquíloco e de Safo, em longa, porém, ilustrativa e pertinente citação com
comentários, por Snell.

39
Snell (2001) A Cultura Grega e as Origens do Pensamento Europeu. Cap. 17. Teoria e Prática.
40
Davis & Hersh (1988) O Sonho de Descartes.
41
Short (2006) Fallibilism is Omega-Inconsistent. Cognitio. V. 7. N. 2. PP 293-301.
42
Sôma: corpo (latim: corpus) Realidade sensível (aisthetón) oposta à realidade inteligível (noetón). Deve-se
distinguir o corpo humano (habitualmente no singular), o corpo do mundo (tomado no seu Todo) e os corpos do
mundo sensível (habitualmente no plural), entre estes: os corpos simples - haplâ, que são os primeiros prôta, e
os corpos compostos – sýntheta ou miktá, que são segundos. (Gobry 2007: 131)
43
Snell (2001). Ob. Cit. Cap. 4. O Despertar da Individualidade na Lírica Grega Arcaica. PP 55-79.
27
“Lembra-te – diz Anacreonte – de que tudo pode mudar: “Aquela que agora
te foge, um dia te seguirá”, dissera Afrodite a Safo; “conhece o ritmo que mantém o
homem”, dissera Arquíloco a seu coração (...). O coração “rosna-lhe” no peito, mas
ele disse ao coração: “Agüenta coração; mal mais grave sofrestes quando o Ciclope
devorou seus companheiros.” (p.69)
(...) de fato, Odisseu se acalma quando Atena lhe fala de modo amável e
cordial, exatamente Afrodite o fizera com Safo. Em Homero não existe mais do que
a lembrança de um único acontecimento passado que pode ser comparado ao
presente, e Odisseu não alude às vicissitudes da vida nem ao “ritmo” que mantém os
homens. Se seu coração rosna ou seu thymós [coração tem sede no peito e preside a
vida afetiva]
44
se agita em se peito, tudo ocorre de modo bem diferente de quando
Arquíloco se volta para seu thymós. Para Homero, tanto o thymós como o coração
são órgãos dos movimentos espirituais que não se diferenciam substancialmente dos
órgãos físicos. (pp. 69-70)
Já está minha pele enrugada pelos anos, (...). Não mais posso mover-me em
passos de dança entre as donzelas (...) mas o que fazer? Um homem mortal não pode
gozar eternamente da juventude. Teve de aprendê-lo, diz uma canção, que também a
Aurora conduziu furtiva, o jovem Titã até os confins do mundo. Mas também até ele
chegou à triste velhice. E agora que não mais pode se aproximar à noite da doce
consorte pensa ele ter perdido toda a felicidade. E implora a Zeus que o mais rápido
possível lhe conceda a morte. Eu, porém, sigo atraída pela graça e pela plenitude
dourada. Desse esplendor sigo cercada, porque eu amo o sol. (p. 73)
A alma, primeiro integrada ao corpo, depois entendida instalada no corpo, porém, a ele
estranha, foi sendo vista, escutada, falada, examinada e explorada como alma, como espírito,
como psique, até chegar a também ser pensada e refletida como mente - o mesmo que
espírito, porém como conjunto das funções superiores da alma: entendimento e vontade.
(ABBAGNANO 1996: 792). Tamanha a complexidade da natureza e manifestação de tal
fenômeno ou misteriosa entidade, a alma necessitou de muitos nomes e de muitas maneiras de
ser considerada ao longo da história da religião e da filosofia, disciplinas que por primeiro
dela falaram.
Ultrapassando as possíveis imprecisões entre os universos da religião, da filosofia, e
da psicologia, estas especialmente, que se outorgaram a função primeira de cuidarem da vida
espiritual dos seres e suas almas, o cientista lógico filósofo realista pragmaticista metafísico
sinequista evolucionário,
45
Charles Sanders Peirce, buscará resolver estas questões de
impropriedades entre conceitos, e objetos de estudo das ciências, chamando-nos a atenção
para a primeira regra lógica de bom gosto para escrever – admitir que não se conheça

44
Grifos nossos.
45
Obs.: ao longo dos capítulos da tese as predicações serão explicitadas pelo próprio texto.
28
profundamente os conceitos, quando se não os conhece, e procurar precisá-los antes de
utilizá-los, “dizer na exatidão do pensamento” - A Ética da Terminologia (1903)
46
.
Não afeito a ditar regras, o que para ele não era papel da filosofia (Filosofia e Conduta
de Vida 1898), apenas sugerirá algumas (Peirce estava nesse momento também se dirigindo
àqueles que ele considerava como “raptores de idéias e conceitos alheios”, como ele julgava
ter ocorrido com o seu – Pragmatismo, por exemplo):
x Precisar a terminologia filosófica;
x Ater-se aos termos técnicos da filosofia;
x Os conceitos filosóficos no sentido que lhes são próprios, correspondem à sua época
histórica quanto às escolas do pensamento.
Tais regras deveriam ser caras a todos os amantes das ciências, da filosofia, e da
verdade. Segundo Peirce seria bom que esta classe de pensadores fosse tocada pelo mesmo
amor científico pela verdade no mesmo grau que os doutores escolásticos teriam sido tocados.
“Quando um homem [e/ou uma mulher] introduz um conceito em ciência,
torna-se naturalmente tanto seu privilégio como seu dever atribuir a esse conceito as
expressões científicas adequadas, e que quando um nome foi atribuído a um
conceito por aquele a quem a ciência deve esse mesmo conceito, torna-se dever de
todos dever para o descobridor, e dever para a ciência aceitar o nome dado, a
menos que este seja de uma natureza tal que sua adoção seria prejudicial para a
ciência”.
47
(Semiótica 1995: 41 parágrafos 224)
O termo Alma muito sofreu no processo de seu entendimento e de sua definição,
como vimos acima, primeiro um mix de possibilidades para sua natureza etérea e imaterial e
incorpórea, e segundo, uma dupla entrada, resultando numa dupla possibilidade: ora na ordem
do psíquico, ora na ordem do espiritual, em muitas ocasiões, estes próprios termos psique

46
Syllabus of Certain Topics of Logic. Em Semiótica (1995) pp. 39-43.
47
Palavras de Peirce, grifos por nós acrescentados.
29
(mente) e espírito (mente) - encontrando-se mesclados, e ambos tradicionalmente
pressupondo um lócus físico, material e corpóreo, que os acolhe para suas manifestações.
48
O que em Peirce, ele entenderá a ação física e a ação psíquica ocorrendo
concomitantemente, segundo está em seu texto Hábito (1898).
Depara-se com um mix que dificulta a delimitação precisa do termo alma, quando se
pesquisa a história deste, e sua relação com o termo psique e o termo espírito, ou mente, e
suas correlações com: substância incorpórea, pneuma ou “sopro animador” ou “respiração de
vida”, matéria sutil, fantasma, força animadora das coisas, disposição, princípio de
movimento, princípio de percepção, sensação, pensamento, atitude interna, função anímica,
instância consciente e inconsciente, princípio vital. (Abbagnano 1996:33-42, 442-446, 971;
Peters s/data: 160-167 196-211; Pieri 2002:27/8, 37-39, 182/3, 414)
49
Entre as muitas explicações na tentativa de definições disponíveis nos três autores
acima citados, deixamos aqui somente alguns exemplos de seus registros:
Em ABBAGNANO: Alma, em geral é o princípio da vida, da sensibilidade e das
atitudes espirituais, enquanto constitui uma substância. O uso da noção de alma se acha
condicionado pelo reconhecimento de que certo conjunto de operações, precisamente os
denominados “psíquicos” ou “espirituais” são as manifestações de um princípio autônomo,
irredutível a outras realidades por sua originalidade, se bem que estão em reação com elas.
Psiqué é a alma ou consciência. Espíritu se podem distinguir 5 significados, dos quais o 1.
Alma racional ou entendimento é predominante na filosofia moderna, contemporânea e na
linguagem comum; o 2. Pneuma ou sopro animador significado originário do termo e do
qual surgiram todos os outros e admitido pela física estóica e dessa forma passado a doutrinas
antigas e modernas. DESCARTES introduziu e fez valer o significado “eu não sou mais do

48
Dib (2004) “Aprendendo a Conhecer a Alma da Organização.” Treinamento realizado nas Organizações
Monteiro de Barros (Barretos) e adaptado para a Comunicação no XI Simpósio Interdisciplinar de Estudos
Greco-Romanos (tema geral: Sobre a Alma). Maio. PUC/SP.
49
Abbagnano (1996) Diccionário de Filosofia; Peters (s/d) Léxico histórico de termos filosóficos gregos; Pieri
(2002) Dicionário Junguiano.
30
que uma coisa que pensa”, ou seja, um espírito, um intelecto, uma razão, que são termos “cujo
significado antes me era desconhecido”.
Em PETERS: Psyché é alma anima. 1. Uma das incursões mais pormenorizadas de
Aristóteles na história da filosofia ocorre no Livro I De Anima onde faz um levantamento
crítico dos especuladores anteriores a ele sobre o a natureza da alma, concluindo que estes
partiram de dois ângulos que tenderam a se unir: Kinesis – princípio de movimento e Aisthesis
princípio da percepção. O que talvez Aristóteles tenha deixado passar: 1.1 o uso pré-
filosófico do termo e a Psyche como fenômeno religioso; 1.2 a falta de obviedade em Homero
que designa duas entidades separadas para explicar vida e consciência, não havendo conexão
entre a vida e o movimento e a consciência: Psyché é a “respiração de vida”, e Thimos é o
espírito, localizado no diafragma (phrenes) onde um homem pensa e sente (kardia), ou ainda
Psyché vista como um “fantasma” individualizado que continua a viver após a morte, que se
escapa normalmente da boca do herói moribundo (tal conexão com a cabeça pode ter sido a
sugestão para posteriores teorias que localizaram a sede da alma no cérebro). A Psyché
homérica estava ligada ao movimento pelo fato de ao partir, transformar o corpo do herói, no
Soma ou cadáver sem movimento; 1.3 uma conexão entre Psyche e a respiração que é
intermitente entre os pré-socráticos. 2. Por volta do século VI a Psyche absorveu as funções
do Thimos homérico e passou a ser usado o termo para descrever a totalidade psíquica do
homem, enquanto ao mesmo tempo o agregado físico dos membros e das partes corpóreas
lugar ao Soma, não mais como cadáver, mas como unidade que tem a Psyche como o seu
correlato psíquico. 3. Liberta assim das suas imediatas associações pneumáticas, a Psyche
encontra, conforme Aristóteles já falara o seu lugar dentro dos quadros mais vastos do
movimento e da percepção.
Em PIERI: Alma é o mesmo que Psique. A personificação da mente, às vezes o
mesmo que Mente... Uma unidade ou um específico complexo funcional da psique que põe a
consciência em relação com o inconsciente, diversamente denominada função anímica. Termo
grego que etimologicamente indica sopro que torna vivo um corpo e o anima. Aristóteles
falou de Psyche como Bios, isto é, o mesmo que vida. Depois, os Latinos, mantendo o
dualismo que por meio de Platão tinha veiculado um princípio de algum modo distinto do
corpo, traduziram o termo Alma, que levará o dualismo entre psiquismo e físico, de algum
modo depois teorizado por Descartes, com distinção entre res cogitans e res extensa. Com a
psicologia científica do século XIX o termo Alma, pelas implicações metafísicas e morais, foi
31
por sua vez abandonado a favor da Psique, considerado mais neutro e técnico. Espírito será o
mesmo que Psique e enquanto tal é posto em relação complementar com o corpo. Em sentido
estrito, o fator inconsciente derivado do conjunto das características normativas e educativas
hereditárias. Neste sentido é traduzida em realidade psíquica a que era acepção iluminista da
alma racional, intelecto ou razão. Como vimos acima explicitado, desde o clássico
Homero, passando pelos pré-socráticos, socráticos e pós-socráticos, até chegar à idade
medieval e à moderna, alma, psique, espírito, e mente muitas vezes se confundiram nos
limites de suas conceituações. Entre esses, Peirce fará sua escolha, conforme veremos a
seguir.
Em 400 d. C. o teólogo filósofo AGOSTINHO se referindo à mens
50
: “Nenhum se
apercebeu de que a mens se conhece a si própria, até mesmo quando se busca a si própria”
(...) Portanto a mens sabe que existe e vive do modo como o entendimento (intellegentia)
existe e vive. ”(Da Trindade, X. 10. 16. e 10. 13). E se Aristóteles a ela se referira como
Anima substância do corpo, à entelequia - ato final e primeiro de um corpo que tem a vida em
potência, no seu De anima, Agostinho em outra
51
passagem a ela se referirá como animus: “E
no que se refere a animus, dizemos não inadequadamente, porque também temos um animus
(Da Trindade, VIII. 6. 9.)
Segundo MATTHEUS (2007: 89) Agostinho “passará a falar sobre mens quando se
concentrar na autoconsciência”. Mas no início ele pensava a mente como um animador
racional de um corpo humano, e por isto, o animus. Em Agostinho observamos uma mudança
de modo de entender a relação alma–mente/corpo. associa alma racional com mente
humana, e introduz a relação da mente humana com a mente de Deus que é superior, porque é
Verdade, e de onde adquirimos a sabedoria (Do livre arbítrio).
Para MATTHEWS
52
no Livro VIII, 6.9. o filósofo medieval oferece uma explicação
que pode ser considerada o primeiro enunciado do que passou a ser chamado “o argumento
por analogia para outras mentes” na medida em que Agostinho buscava estudar e identificar
uma estrutura lógica para as três pessoas distintas em um Deus, segundo o dogma cristão-
católico da Trindade, e por analogia pensar as outras mentes:

50
Andrade (2007) O autoconhecimento da mens do livro X do De Trinitate de Santo Agostinho”. DM. Posfil.
PUC / SP. Dissertação que analisa detalhadamente sobre este conceito em Agostinho.
51
Matthews (2007) Santo Agostinho: a vida e as idéias de um filósofo adiante de seu tempo.
52
Ob. Cit. Cap. 7. O problema de outras mentes.
32
A maior parte dos últimos oito livros está dedicada a identificar e estudar
trindades mentais ou psicológicas, tais como recordar, entender e querer, como
analogias da Trindade Divina. A mente recorda algo, a mente entende algo, a mente
quer algo, são cada uma delas, distintas das outras, mas todas são uma só substância, a
saber, a mente. (MATTHEWS 87)
A Agostinho também são atribuídas algumas características marcantes, para sua época,
no âmbito da filosofia, retomadas posteriormente por outros filósofos: o mundo externo como
o mundo que é independente de como me pareça ser; verdades matemáticas como exemplos
de coisas que podemos conhecer; a tese de que toda palavra é um signo e todo signo significa
alguma coisa; a lógica da correlação palavra coisa; sobre o tempo, espaço e criação; o
filósofo também nos falou: o “Eu existo, eu sei que existo” como afirmações de conhecimento
paradigmático; apresentou a tríade do raciocínio do Trivium. E ainda, questões sobre a
identidade pessoal e relativas ao amor.
Na Conferência N. 1 de Cambridge (1898) Philosophy and the Conduct of Life, em
CP 1.625, PEIRCE se referirá aos três tipos de raciocínio: The first is necessary... The
second dependes upon probabilities... The third kind of reasoning tries what il lume naturale,
which lit the footsteps of Galileo, can do. It is really an appeal to instinct.”
Esta citação de Peirce nos remete à consideração de Agostinho ao il lume naturale, e
especialmente ao modelo triádico de raciocínio agostiniano que será transposto em Peirce, e
de grande significância para a construção de seu sistema metafísico sinequista; bem como nos
levará ao próprio Peirce em seu Issues of Pragmatism The Monist 15, outubro de 1905 (CP
5.438-63; EP 2,25) onde ele aborda sobre o espírito científico e cita os três tipos de raciocínio
de Agostinho, deste se aproximando quanto ao exercício da ciência como uma operação da
razão, e suas correlações com os conceitos de inteligência, mente, experiência, vida,
contemplados pelo medieval de Hipona (Argélia).
“Não devemos começar conversando sobre idéias puras – pensamentos
vagabundos que vagueiam pelas vias públicas sem nenhuma habitação humana -,
mas devemos começar com os homens e suas conversações” (CP 8.112)
33
Olhar com os olhos da razão (e sentimento
53
) o mundo, os fenômenos
54
, porque os
fenômenos são os seres que aparecem na íntima relação ser - aparecer e se oferecerem ao
conhecimento
55
.
Não basta olhar, que se olhar com olhos de ver, que segundo Agostinho serão
iluminados pela razão, e do encontro entre o que olha e o que é olhado um terceiro elemento
surgirá resultante do encontro especular. A investigação de Agostinho se deu em diálogo entre
ele e a razão (o que ele entenderá a razão como iluminação divina).
Ainda em Peirce, e por ele declarado enfaticamente, tanto quanto o seu modelo de
classificação das ciências
56
, e, principalmente seu realismo
57
, seguiram os padrões medievais
do Trivium, e o realismo de Duns Scot
, um escolástico medieval.
Respondendo às perguntas 1. Que agente ou agentes causaram o início do tempo; e 2.
Que condições eram necessárias e suficientes para existir o tempo, Agostinho responderá à
primeira – foi Deus; e à segunda – foram mudança e movimento.
Agostinho complexificará sua explicação sobre tempo, quando no Livro XII de A
cidade de Deus ele introduz a distinção entre tempo ordenado ou medição e tempo não
ordenado ou não-medido. Onde ordenação estará relacionada ao próprio tempo e medida
estará relacionada ao espaço. Medições de espaços temporais, sucessão de antes e depois.
Para Agostinho, a medida do tempo de Deus não é a medida do tempo dos homens, conforme
se encontra na Sagrada Escritura, livro de onde partiam os estudos dos padres da Igreja.
58
... não pode haver dúvida de que o mundo não foi criado em tempo, mas com
tempo. Um evento em tempo acontece depois de um tempo e antes de um outro,
depois de passado e antes do futuro. Mas no momento da criação não podia ter havido
passado porque nada havia sido criado para fornecer a mudança e o movimento que
são a condição do tempo. (A cidade de Deus, II.6)

53
Peirce (1893) Evolutionary Love.
54
Silveira (2004) Observe-se o fenômeno: Forma e Realidade na Semiótica de Peirce. Cognitio. V. 5. N. 2. 194-
199.
55
Andrade (2001) Uma abordagem sobre o ser e aparecer no estoicismo antigo. Cognitio. N II. PP 9-17.
Ibri (2001) Ser e Aparecer na filosofia de Peirce: o estatuto da fenomenologia. Cognitio. N II. PP 67-75.
56
Retomaremos a classificação de ciências de Peirce no capitulo posterior.
57
Retomaremos o realismo de Peirce e Duns Scot
no capítulo posterior.
58
Nascimento (2003) Santo Tomás de Aquino: o Boi Mudo da Sicília.
34
Aqui podemos perceber um - presente, conseqüência de um - passado, e
antecedente de um 3º - futuro.
Agostinho faz reflexões a respeito do tempo, e aqui algumas de suas conclusões tais
como: 1- concentração no presente, que ele considera ser o único tempo que existe, porque o
futuro ainda não o é e o passado não é mais. o presente realmente existe, e servirá de
referência para seu antecedente passado, e seu conseqüente futuro; 2 seu “presente” que
servirá para qualquer período de tempo, não importando quão breve possa ser, parte dele
será passado e parte ainda será futuro, o que fará parecer que o agora seria um instante sem
qualquer duração por si, ou tampouco poderia ser uma parada no tempo, ao contrário, os três
tempos estão de tal forma inter-relacionados e interdependentes, que os três juntos formam e
processam o movimento contínuo de um tempo, mais do que não parando, faz-se tempo no
próprio movimento.
Mudança e Movimento, os ingredientes necessários para que o tempo se faça, e
permaneça, mas permanecer não provocaria a parada do tempo? Que tempo é esse? O tempo
que permanece é o tempo que não para. E parecendo mesmo se identificarem, quer pela
complexidade como fenômeno, quer pelo aparente paradoxo contido na alma e no tempo, pela
própria natureza destes, remetem-nos novamente a um passado histórico na filosofia, quando
Aristóteles (385-322 a. C.), de Estagira (Macedônia), a partir dos três elementos tempo,
movimento, mudança, encontrará a explicação para a geração, crescimento e desenvolvimento
das espécies vivas como um instinto da natureza e impulso à vida.
59
Em Aristóteles, porém,
haverá um antes do tempo, e, portanto, uma causa inicial para este, o que Peirce não
concordará, muito embora adote o instinto da natureza e impulso à vida, crescimento e
desenvolvimento.
uma lógica relacional em Agostinho que pode ser aproveitada por outros
pensadores, e possivelmente Peirce o fez, porém, sem preocupações de uma metafísica
teológica como o medieval. Para sua metafísica lógica científica, através da semiose entre
suas três categorias, primeiro ele recorre ao il lume naturale como o instinto natural de acordo
com o previsto por Aristóteles, e depois ele o estende para a lei do amor evolucionário
Agapismo, de forma que se cumpra a realidade sinequista evolucionária do cosmos (universo,

59
Anzaldo (1997) La Complejidad y La Forma.
Obs. Aristóteles fala de causa primeira, um primeiro princípio na origem do tempo, na Física, então se houve
um princípio para o tempo, não poderia ter advindo de uma série infinita, colocando uma diferença entre
movimento e mudança. Peirce não acata esta causa primeira de Aristóteles.
35
e tudo a que ele pertence) desde a origem até o destino, e não por um determinismo
mecanicista como dos modelos evolutivos surgidos à sua época, ao gosto de Darwin, mas sim,
muito mais próximo ao modelo de Lamarck que contemplou a formação de hábito como lei, e
o que Peirce também nos declara no seu Evolutionary Love (1983).
O filósofo norte-americano do século XIX, Charles Sanders Peirce, considerará o
instinto natural para a criação, crescimento e desenvolvimento da vida, segundo Aristóteles,
conforme como ele se referiu “a chave” a idéia de crescimento de um Universo que é
um Enigma para nós. (The Basic of Pragmatism in The Normative Sciences -1906; On
Phenomenology -1903)
Em ANZALDO (1997) La Complejidad y La Forma, um livro de Embriologia, após
minuciosa análise das relações entre filosofia, ciências, física, metafísica ao longo do tempo, e
das diferentes concepções a respeito da origem, crescimento e desenvolvimento dos seres
vivos, dando ênfase às idéias de Aristóteles pela morfogênese, e seus desdobramentos até a
atualidade do século XX, conclui que os pensamentos do antigo filósofo estão reatualizados, o
velho adágio aristotélico a forma outorga o ser à coisa é central para as teorias
morfológicas (pág. 140), a matéria aspira tomar forma e a forma não está separada da matéria,
não é externa à matéria como considerava a filosofia de Platão. Os fenômenos
termodinâmicos de transição de fase e um fenômeno econômico de colapso da bolsa de
valores podem ser modelados matematicamente sob uma mesma forma, por meio de um
mesmo conceito ou lógos que é um arquétipo geométrico algébrico. O fundamento da
analogia é a relação de vários fenômenos ou objetos com uma forma única. (Remete-nos a
Peirce, capítulo à frente).
Também o tema aristotélico na atualidade reintroduz pelas teorias morfológicas a
distinção entre potencialidade e ato. Assim o ser provém do que é ato, e do que pode ser
porque é potência. E assim o movimento, propicia a troca, a transformação e a atualização
daquilo que é ou existe em potência. A singularidade possui a propriedade e concentra uma
forma global em um ponto localizado da globalidade. (Também nos remete a Peirce, capítulo
à frente).
Uma estreita relação da física e da biologia. Sistemas abertos morfogênicos, dentro da
mais genuína concepção de natureza de Aristóteles, e próxima a Peirce, com ênfase no
direcionamento a um fim, o telos, e não sem causa, que é determinada por um princípio,
36
porque em Aristóteles (Anzaldo) toda causa é um princípio, mesmo que nem todo princípio
seja uma causa. Uma continuada relação entre matéria e forma que estão relacionadas entre si
como potência e ato, a matéria tem o potencial de ser o receptor da forma. “Todos os
fenômenos vitais obedecem a causas naturais” e fazem parte de um sistema dinâmico de
organização hierárquica que flutua entre integração e individualidade. O sistema é o
organizador, como um demiurgo, mas não externo ao próprio sistema, como o demiurgo de
Platão. Trata-se da noção grega holon todo, e como veremos a seguir, mais próximo de
Peirce, até, do que de Aristóteles.
Estudos de uma atualidade pós Peirce que parecem de suas crenças científicas falarem,
um sistema organizador se impondo tal qual a verdade do real, e não pela vontade subjetiva
das individualidades. Uma mente organizadora, dentro de um continuum de desenvolvimento
que se dá em campos morfológicos, processos espaço-temporais, que acolhe a forma do
organismo, O espaço epigenético é um espaço constituído essencialmente pelos creodas
junção da palavra grega crê = destinado ou necessário + hodos = caminho, que absorvem e
são definidas pelas instruções genéticas do espaço genotípico e, assim conduzem o
desenvolvimento do organismo sobre o espaço fenotípico.
Por isto, aconteça o que acontecer, as águas do rio caminharão em direção do mar. O
caminho poderá ser diverso por contingências variadas, mas os fios da água inevitavelmente,
procurarão aquele que é o fim de sua direção. um espaço para liberdade e o acaso, muito
embora mínimos. “A crescente complexidade dos processos epigênicos, por meio dos quais o
genótipo se desenvolve em fenótipo, diminui o efeito casual das mutações” (ANZALDO:
págs. 86/7), e o necessário é o está destinado para. Adiantemos que Peirce retira a Metafísica
de ciência primeira, como estava em Aristóteles e a coloca depois da Fenomenologia e das
Ciências Normativas, antes das Ciências Especiais.
Peirce é um grande pensador, conhecia, respeitava e usava a grande tradição
do pensamento, em particular os escritos dos grandes doutores escolásticos. Ele tinha
um sentido de continuidade em meio às dramáticas mudanças na cultura ocidental e
naquele sentido livrou-se de se tornar meramente contemporâneo
60
. (POTTER
Sentido de continuidade este que será a marca do seu pensamento e da arquitetura de
seu sistema filosófico, fundamento para sua semiótica. O que apareceu na concepção de

60
Potter, citado por Bacha (2002) A Indução de Aristóteles a Peirce. Ob. Cit. P 9.
37
alma de Peirce, o que o levou a reconhecer e beber na fonte dos grandes doutores escolásticos,
como falou Potter, o que o faz escolher o idealismo objetivo do alemão Schelling, de forma a
dar à mente a continuidade na matéria, percebendo-as fundidas numa unidade, o que o
conduziu a escolher as três categorias de Kant, não mais do que três, para sua doutrina das
categorias fenomenológicas primeiridade, segundidade e terceiridade, e em movimento
dialógico triádico contínuo evolucionário, o que permite formular sua máxima pragmática
onde “conceito e conduta não se estranharão”. (expressão utilizada por IBRI em suas aulas de
Peirce)
Estas características lhe asseguram o ser sempre atual ou à frente do seu tempo, tal
qual Aristóteles, o físico que escreveu uma doutrina que ainda continua atravessando os
séculos. Embora com diferenças entre os dois, algumas afinidades os aproximaram mais do
que a questão do instinto para o crescimento e a visão da continuidade. Se Aristóteles introduz
as investigações quanto à alma De Anima e desta forma foi considerado o precursor da
Psicologia, veremos em Peirce um precursor de uma Psicologia Lógica tomando como objeto
de estudo, a mente. Se os estudos sobre associação de idéias também tem como seu precursor
Aristóteles, veremos em Peirce a fundamental grande lei da mente da associação que o conduz
ao seu Sinequismo e Agapismo.
Em Peirce os conceitos se encaixam, cada atributo de seu pensamento e que é
projetado na sua doutrina, vai se ligando um ao outro, como que num fio lógico, e o veremos
ao longo deste e do capítulo posterior o movimento encadeado de suas idéias que não
aprisiona, mas lhe confere coerência e fundamento suficientes para atravessar os séculos,
como o estagirita, ou para além dele. É preciso o tempo para comprová-lo.
PENNA (2006)
61
elege alguns filósofos que ele considera os que foram psicólogos
profundos da condição da realidade humana, de grande empreendimento hermenêutico:
Rousseau (1712-1778), Hume (1711-1776), Nietzsche (1844-1900) e Kierkegaard (1813-
1855), ao lado de escritores literários igualmente psicólogos profundos: Shakespeare (1564-
1616) e Dostoievski (1821-1881), assim como Freud (1856-1939), médico neurologista (pai
da psicanálise com Estudos sobre a Histeria/1895, Interpretação dos Sonhos/1900) à época
de Peirce.

61
Penna (2006) Os filósofos e a psicologia. Cap. Nietzsche e a Psicologia.
38
Incluímos na lista de Penna, Peirce. Um psicólogo profundo de grande
empreendimento hermenêutico, e no seu caso específico, para além da condição da realidade
humana, porque se estendendo aos fenômenos da vida mental da natureza no seu todo, sob
lentes de sua lógica (ou semiótica) metafísica, e o que ele propôs para a psicologia como
ciência - a mente como seu objeto de estudo.
O critério utilizado por Penna para eleger aqueles pensadores e escritores cujos ele
considerou psicólogos profundos de grande empreendimento hermenêutico foi suas
habilidades de observadores, “mestres na capacidade de perceber o comportamento humano,
aprenderam a ver, a pensar, a falar e a escrever, dirigindo os olhos com calma, com paciência,
deixando vir a si as coisas, diferindo o juízo, rodeando o caso particular por todos os lados, e
aprendendo a compreender a totalidade”.
Exatamente como parece ter feito Peirce em relação ao cosmos, às leis da natureza, e,
portanto, estão os homens incluídos, na exata medida do que ele pronunciou a respeito de a
metafísica estar a todo tempo tão presente e de tal forma no universo que um olhar cuidadoso
sobre ela se faz necessário para ser notada. Conforme ainda observou Penna
62
, “Foram todos
notáveis psicólogos empíricos, valendo acrescentar ainda que, foram todos notáveis cultores
da psicologia profunda. Por isso interpretaram”.
Por psicologia profunda entendeu Penna não a psicologia fisiologista e funcionalista
que imperava no século XIX, mas uma psicologia como a de Franz Brentano (1838-1917)
segundo quem a percepção imediata revela a mente como ativa. Brentano, catedrático na
Universidade de Viena (Freud foi um de seus ouvintes) é citado por Penna como um
percussor da fenomenologia - O múltiplo significado do ser segundo Aristóteles”, a
Psicologia do ponto de vista empírico”, Matéria e Memória- de onde foram excluídas as
referências aos determinantes fisiológicos e de onde surgiram influências para o “método
fenomenológico” de Edmund Husserl (1859-1938) em função do qual Husserl objetivou
detectar o eidos ou essências das diversas modalidades expressivas da consciência, e
descartou qualquer preocupação em subordinar a natureza da consciência a determinantes
neuronais. Segundo Penna, a partir de Brentano e Husserl a aplicação do método
fenomenológico facilitou os estudos produzidos pelos adeptos da corrente “gestaltista” no
domínio da percepção, Escola que explicou a relação “figura e fundo”, a relação parte e todo.

62
Pena (Ob. Cit.)
39
A proximidade cronológica e de idéias entre Peirce (1839-1914), Brentano (1838-
1917), Husserl (1859-1938) e Freud (1856-1939) nos permite inferir sobre uma proximidade
de suas doutrinas, mesmo que com significativas diferenças entre elas. Uma manifestação
denominada Zeitgeist” ou Geist der Zeit” (Espírito do tempo ou da época, pronunciados
por Kant e Hegel respectivamente), um fenômeno que evidencia a associação por
contigüidade e por semelhança entre idéias na mente do universo aparecendo através de
mentes humanas, porque a lei da associação é a grande lei do universo, dirá Peirce no Hábito
(1898).
A inseparável relação entre a ação psíquica e a ação sica que Peirce insiste no seu
Hábito, também está relacionada ao seu monismo ontológico que o diferencia de muitos
pensadores da filosofia pós - cartesiana de seu tempo, e de tantos ligados ao nascimento da
psicologia como ciência na passagem do século XIX para o século XX, conforme nos
mostram Penna
63
e Porta
64
em longos, porém necessários parágrafos abaixo sobre o espírito do
pensamento científico filosófico neste período histórico, nas palavras de PEIRCE “como
assunto de história, a filosofia sempre deve ser interessante, ela é a melhor representante do
desenvolvimento mental de cada época”
65
PENNA: Preferimos o desenho do quadro da filosofia tal como ele se
mostra no final do século XIX. Efetivamente nele, não se registra a presença
marcante de Hegel ou de Schopenhauer (...) e, por igual, não se percebe a presença
de Nietzsche ou a de Marx, ambos não acolhidos na área restrita da filosofia dessa
época. A presença marcante no domínio do pensamento filosófico é a de Kant,
através do neokantismo, representado pela Escola de Marburgo.
PORTA: O neokantismo se concorrente tanto do idealismo como do
materialismo (e variantes do naturalismo). Trata-se, por um lado (contra o
idealismo), de restituir à filosofia sua relação positiva com a ciência; por outro, de
mostrar (contra o materialismo) que a ciência não não contradiz o idealismo em
seus resultados, mas que, inclusive, o pressupõe nos princípios nos quais se sustenta.
O neokantismo, ao mesmo tempo em que se opõe ao idealismo alemão, compartilha
sua cosmovisão básica e sua idéia de objetividade como espontaneidade, marcando
assim, ao mesmo tempo, a sua superação e o seu ressurgimento. O neokantismo é a
reformulação do programa kantiano frente ao estado da ciência que sofreu
mudanças. Uma vez que o desenvolvimento da matemática e da física no século
XIX colocou a filosofia diante de um novo Faktum (que deveria ser refletido como
tal), os neokantianos não podiam ser simplesmente kantianos.
O idealismo alemão surge em diálogo crítico com Kant, entendendo a si
próprio como o desenvolvimento sistemático conseqüente do criticismo. Se em Kant
tínhamos, a partir da “inversão copernicana” a denominação metafórica de Kant
que disse que assim como Copérnico inverteu a relação do pressuposto de que a

63
Penna (2001) Introdução à Psicologia Fenomenológica. PP 11-57.
64
Porta (2002) A Filosofia a partir de seus problemas. PP 129-144.
65
Peirce. Semiótica 1995: 316.
40
terra estaria no centro e o sol girando em torno dela, para o sol no centro e a terra
girando em torno dele; ele, Kant, centrou no próprio sujeito cognoscente a
possibilidade do conhecimento a priori teórico um sujeito ativo, que exercia sua
atividade no transcurso de algo dado, então sua espontaneidade nada mais era do que
o reverso de sua passividade.
O kantismo mantinha, pois, o esquema cartesiano básico da contraposição
de um sujeito a um objeto como ponto de partida legítima da reflexão filosófica e,
com isso, uma série de dualismo: matéria-forma, sensibilidade-entendimento,
intuição-conceito, fenômeno-coisa em si.
O idealismo pós-kantiano entenderá este pressuposto como ilegítimo e,
mais ainda, como contraditório com um idealismo conseqüente. A idéia central e
dominante passa a ser a da “espontaneidade” do espírito (Geist) que se autoconstrói .
Por um lado, o idealismo alemão tende a dissolver todos os dualismos kantianos,
considerando-os pré-críticos e exigindo totalidade e sistema. A idéia da unidade da
Razão passa a ser decisiva. Por outro lado, a ciência, ao invés de ser o ponto de
partida da reflexão, deve mostrar-se como momento de um processo que a
transcende. A aspiração totalizadora acaba por levar a filosofia a um conflito com a
ciência, que segue seu caminho sem importar-se com o que a filosofia tem a dizer a
seu respeito.
Em seu desenvolvimento autônomo, a ciência obtém êxitos inegáveis, e não
resiste a ser submetida à filosofia, como também exige uma cosmovisão oposta à
do idealismo. A física funda o “materialismo” ou, de modo mais genérico, o
“naturalismo”. Uma importante derivação do naturalismo será o “psicologismo”. Se
no idealismo o pensamento criava uma realidade e o proceder da filosofia era
totalmente a priori, trata-se agora de corrigir esta “deformidade” partindo do que o
pensamento realmente é. A conseqüência será uma variante do relativismo
antropológico.
Segundo PENNA (2001 ob cit.) ainda e citando Husserl “a filosofia hegeliana teve por
efeito enfraquecer o impulso filosófico-científico, com sua doutrina da legitimidade relativa
de toda e qualquer filosofia, para respectiva época” Contra esta postura hegeliana
relativismo - foram os neokantistas que resistiram significantemente:
O quadro marcado pelo historicismo e pelo relativismo, obviamente
agravava-se com o predomínio do psicologismo e do naturalismo; o primeiro
totalmente dominante no final do século XIX e do qual participavam Brentano,
tirada suas raízes de Hume e de Berkeley.
No levantamento do quadro em que se praticava a psicologia no final do
século XIX, vale que se ponha em destaque, em primeiro lugar, a preocupação com
a medida dos processos sensoriais, efetuada por Ernst Heinrich Weber (A lei de
Weber 1834; O sentido de tato e a sensibilidade comum - 1846; Os círculos
sensoriais e a percepção cutânea do espaço 1852) e Gustav Theodor Fechner (A
lei de Fechner 1860); em segundo lugar, o entusiasmo com que foi acolhido o
método experimental, na verdade decorrente do processo de conceituação da
psicologia como ciência natural; em terceiro lugar, desqualificação da consciência,
apenas definida como um epifenômeno e, em decorrência, a negação de toda a
subjetividade que, já no século XX, consagra-se com o behaviorismo. Bem avaliado,
este último aspecto consagra o fechamento de um silogismo histórico, cuja premissa
maior foi enunciada por Descartes, quando afirmou que os animais seriam
autômatos; a premissa menor, com Darwin, afirmando que o homem é um animal e,
logo, emitindo-se a conclusão com Watson, ao declarar que, em decorrência lógica,
o homem é um autômato, criando-se a partir daí, a ciência do comportamento a
Psicologia.
41
Igualmente longa e pertinente citação abaixo de O erro de Descartes (Antônio
DAMÀSIO)
66
nos auxiliará no entendimento deste fértil terreno onde Peirce plantou sua
original semente e que bem cuidada por ele resultou na sua igualmente original doutrina.
A preocupação é dirigida tanto à noção dualista com a qual Descartes separa
mente do cérebro e do corpo como às variantes modernas dessa noção: por exemplo, a
idéia de que mente e cérebro estão relacionados mas apenas no sentido de a mente ser
o programa de software que corre numa parte do hardware chamado cérebro; ou que
cérebro e corpo estão relacionados, mas apenas no sentido de o primeiro não
conseguir sobreviver sem a manutenção que o segundo lhe oferece.
Qual foi então o erro de Descartes? Ou, melhor ainda, a que erro de Descartes
me refiro com ingratidão? Poderíamos começar com um protesto e censurá-lo por ter
convencido os biólogos a adotarem, até hoje, uma mecânica de relojoeiro como
modelo dos processos vitais. Ma talvez isso não fosse tão justo, e comecemos, então,
pelo “penso, logo existo”... A afirmação sugere que pensar e ter a consciência de
pensar são os verdadeiros substratos da existência.
E, como sabemos que Descartes via o ato de pensar como uma atividade
separada do corpo, essa afirmação celebra a separação da mente, a “coisa pensante”
(res cogitans), do corpo não pensante, o qual tem extensão e partes mecânicas (res
extensa).
No entanto, antes do aparecimento da humanidade, os seres eram seres.
Num dado ponto da evolução, surgiu uma consciência elementar. Com essa
consciência elementar apareceu uma consciência simples; com uma maior
complexidade da mente veio a possibilidade de pensar e, mais tarde ainda, de usar
linguagens para comunicar e melhor organizar os pensamentos.
Para nós, portanto, no princípio foi a existência e mais tarde chegou o
pensamento... Existimos e depois pensamos e pensamos na medida em que
existimos, visto o pensamento ser, na verdade, causado por estruturas e operações do
ser.
Descartes procurava uma fundação lógica para a filosofia, e a afirmação não
se afastava muito da se Santo Agostinho Fallor ergo sum(“sou enganado, logo
existo”). “... e reparando que esta verdade, “Penso, logo existo”, era tão certa e tão
segura que nem sequer as suposições mais extravagantes dos céticos a conseguiam
abalar, cheguei à conclusão de que a receberia sem hesitação como o primeiro
princípio da filosofia que procurava” (Descartes 1637).
É esse o erro de Descartes: a separação abissal entre o corpo e a mente, entre
a substância corporal, infinitamente divisível, com volume, com dimensões e com um
funcionamento mecânico, de um lado, e a substância mental, indivisível, sem volume,
sem dimensões e intangível, de outro; a sugestão de que o raciocínio, o juízo moral e o
sofrimento adveniente da dor física ou agitação emocional poderiam existir
independentemente do corpo.
Especificamente: a separação das operações mais refinadas da mente, para
um lado, e da estrutura e funcionamento do organismo biológico, para o outro.
Exatamente neste momento histórico e produtivo da ciência Peirce veio contribuir com
uma virada do modelo proposto por Descartes e tão fortemente instalado no pensamento
científico tanto quanto muitos dos princípios propostos por Aristóteles, e que o estagnavam

66
Damásio (1996) Obra citada. PP. 278-283.
42
tais como eram interpretados. Além de estar se desligando de influências passadas quando não
mais entendia significado nas suas permanências, o que vimos era um hábito de Peirce, em
consonância ao hábito da mente do universo, ele veio chamar a atenção para uma Psicologia
do Futuro, uma Psicologia fundamentada na Lógica, como poderemos verificar nas palavras
de Fernanda de Lourdes Almeida LEAL, quando da conclusão de sua dissertação de Mestrado
em Comunicação e Semiótica O Conceito de Psicologia na Filosofia de Charles S. Peirce
(PUC/SP, 1999):
Focalizando especificamente a questão mente-matéria e a associação de
Idéias como problemas inicialmente tratados na Filosofia Antiga e reconsiderada na
Filosofia Moderna, encontramos a pertinência dessas questões tanto no âmbito da
Psicologia quanto relativas ao pensamento de Peirce no que tange a essa ciência.
No que diz respeito à Psicologia, a relação mente-matéria, tomada sob o
prisma mente-corpo, foi enxergada a partir do Paralelismo Psicofísico (como, por
exemplo, as concepções de Wundt e de alguns funcionalistas), ou simplesmente
negada, a partir da concepção de que a mente deveria ser retirada da Psicologia, na
posição adotada por Watson, que apontou o comportamento observável como o
verdadeiro objeto da Psicologia.
Aqui a influência da filosofia cartesiana, que concebe mente e corpo como
distintos, sem uma relação geneticamente comum. Ao adotar essa compreensão da
mente e da matéria, a Psicologia se estabeleceu em alguns sistemas, como uma
ciência cartesiana. Ao nosso ver, ou porque separou as instâncias do corpo e a
mente, ou porque, quando tratou apenas do comportamento, retirou do seu escopo de
pesquisa a instância que mais lhe diz respeito a mente limitando o seu objeto ao
nível meramente físico.
Peirce não nega a mente e o corpo como instância próprias à Psicologia,
mas mostra-se avesso à forma como essa questão é encarada pelos psicólogos.
Questiona o Paralelismo Psicofísico, enxergando nele uma forma cartesiana de
encarar o problema, e propõe um monismo mente e corpo (matéria), no qual a mente
é primordial e a matéria derivada. Não deixa, contudo, de reconhecer a importância
da manifestação física como “apoio” às manifestações mentais.
Concluirá LEAL: para Peirce, a mente é o verdadeiro objeto da Psicologia. A mente
como fenômeno geral, deve ser investigada com o objetivo de encontrar suas leis. Peirce tem
uma compreensão ampla da mente, não apenas restrita ao ser humana, nem significativamente
atrelada a um cérebro. E o citando
“À Psicologia pode-se dizer que cabe a compreensão das manifestações
mentais específicas ao ser humano, com o objetivo de compreender como se o
fenômeno mental e quais são as leis que operam quando esse fenômeno diz respeito
ao ser humano. A Lógica tem um importante papel a cumprir, não para
“aprisionar” o fenômeno às suas regras, mas para auxiliar a condução do psicólogo,
em relação ao seu objeto, no caminho da verdade.”
43
Se o dualismo e o foco dedutivo de Descartes levaram à máxima “Penso, logo existo”
(na seção de O discurso do método 1637 Je pense, donc je suise na parte de
Princípios da filosofia 1644 Gogito ergo sum”), com o monismo e o foco indutivo de
Peirce poderíamos também entender que esta máxima se inverteu “Existo (experimento a
existência), logo penso”. Na realidade peirceana, realidade existencial e pensamento se
fundem - somos e estamos em pensamento pensamento este que possibilitará a dialética
triádica de Peirce conforme veremos à frente, o pensamento fazendo a mediação entre mente e
matéria.
A opção de Peirce pelo paradigma monádico, o que lhe é de fundamental importância,
pede que a este paradigma nos dediquemos:
Mônada
67
: Termo muito antigo, de origem pitagórica, aplicado por Platão às Idéias
(Filebo), empregado por autores cristãos, tendo servido em Giordano Bruno, Van Helmont, o
jovem, Henry More para designar os elementos físicos ou psíquicos simples de que o
Universo é constituído.
Termo que se tornou célebre graças a Leibniz, que definiu a mônada como “uma
substância simples, que dizer, sem partes, que entra nos compostos”. Em Monadologia, I:
“Estas mônadas são os verdadeiros átomos da Natureza e, numa palavra, os elementos das
coisas” (...) “Elas são impenetráveis a qualquer ação exterior, cada uma delas diferentes um
da outra, sujeitas a uma mudança contínua que provém de seu próprio fundo e são todas
dotadas de Apetição e de Percepção, sem prejuízo das faculdades mais elevadas que algumas
delas possuam”
Monadismo é o sistema que admite que o Universo é formado por mônadas, por
unidades individuais bem definidas que possuam um princípio de unidade interior, de ordem
espiritual (por oposição aos átomos mecânicos).
Monismo diz-se de todo sistema filosófico que considera que o conjunto das coisas
seja redutível à unidade, quer do ponto de vista da substância, quer do ponto de vista das leis
lógicas ou das leis físicas, pelas quais são regidas, quer, enfim, do ponto de vista moral.

67
Lalande (1999) Vocabulário Técnico e Crítico da Filosofia. PP 697-700.
44
Palavra criada por Wolff, que a aplicava à doutrina ontológica que reduz todas as
coisas quer à matéria, quer ao espírito. Segundo Wolff a partir desta doutrina se tem dois tipos
de dogmatismo (que ele opõe ao ceticismo) e que para ele serão: “monismo”, subdividido em
“monismo materialista” e “monismo idealista”, e este monismo idealista ainda está
subdividido em “monismo idealista egoísta” e “monismo idealista pluralista”.
De um ponto de vista lógico e metafísico diz-se da concepção hegeliana do universo,
e de todas aquelas que apresentam o mesmo caráter. O monismo do pensamento puro,
fundada por Hegel.
De um ponto de vista simultaneamente científico, filosófico e moral diz-se segundo
o próprio representante Haeckel, se opondo ao dualismo, “unidade do universo sem antítese
entre o espírito e a matéria; identidade de Deus e do mundo, que não foi criado, mas que
evolui segundo leis eternas; negação de uma força vital independente das forças física e
químicas; mortalidade da alma; rejeição da oposição estabelecida pelo cristianismo entre os
fins da carne e os fins do espírito; racionalismo, religião da ciência, do bem e da beleza. Sua
obra “Os enigmas do mundo”. Não deixa de ser um monismo materialista.
De um sentido muito mais amplo, dado que designa uma tendência e não um
sistema acabado, diz-se do Monismo encontrado nas obras de Paul Carus, e na revista The
Monist, fundada por Hegeler, para defender a doutrina segundo a qual: 1) existe sobre todos
os temas uma única verdade, virtualmente determinada à partida, intemporal, independente de
todo desejo e de toda ação individual; 2) todas as verdades, qualquer que seja o seu domínio e
a sua origem, estão de acordo entre si; 3) o conhecimento científico e a fé religiosa podem ser
conciliados integralmente sem nada perder do seu conteúdo essencial.
A revista The Monist acolhe todas as espécies de doutrinas “monistas”. Mas a
doutrina de Paul Carus não se constitui um monismo materialista como o de Haeckel.
Quanto à sua proximidade com o monismo de Hegel, existem ligações históricas entre ambos,
porém não sem diferenças: CARUS considerou, ele próprio, a sua filosofia como uma
doutrina da unidade: “Contrariamente ao nosso monismo, como concepção unitária do
mundo, existem outros monismos que procuram a unidade do mundo não na unidade da
45
verdade, mas na unidade de uma subsunção lógica das idéias”. Não concordantes totalmente
com Hegel, sugerimos a possibilidade de o monismo de Peirce estar bem próximo ao de
Paul Carus, de quem, aliás, em capítulo à frente, Peirce adotará a máxima: “o
pensamento cresce continuamente”.
Na palestra da série das Cambridge Conferences pronunciada por Peirce em
fevereiro e março de 1898, com publicação no volume, livro III, capítulo dos seus
Escritos Coligidos (Collected Papers of Charles Sanders Peirce. Cambridge, Massachusetts,
Harvard University Press, 1931-1935)
68
encontramos sobre a tendência do universo para a
aquisição de hábitos pela ocorrência repetida de uma idéia geral e a experiência de sua
utilidade. O resultado da ocorrência repetida de uma idéia geral, isto é, o resultado da
coocorrência de uma idéia e de outras que são trazidas à consciência e a experiência da
utilidade da idéia geral contribuem para a formação e fortalecimento do hábito. Não a
reiterada coocorrência ajuda a consolidar uma associação de idéias por contigüidade, a
experiência de que a combinação das idéias tem conseqüências importantes é outro fator que
exerce papel importante na realização da associação e fortalecimento da concepção e do
hábito.
uma lei de ação das idéias. Uma grande lei da mente, a tendência generalizante, a
lei de associação, a lei de aquisição de hábito, da formação do conceito. dois tipos de
associação: por semelhança, por contigüidade. O primeiro tipo de associação se por uma
disposição natural da mente, uma vez que a semelhança causa a associação e a mente humana
atribui valor particular e dá mais ênfase a algumas semelhanças porque quando uma qualidade
é trazida vividamente à consciência, outras terão imediatamente sua vivacidade aumentada.
Da leitura e estudo do texto - Hábito de Peirce, que segundo ele próprio a pesquisa
para escrevê-lo se estendeu por um período de quinze anos - pode nos levar a entender o que
ele observou da seqüência contínua entre ação e pensamento e entre pensamento e ação
porque o fim do pensamento é a ação na medida em que o fim da ação é outro pensamento,
sob o impulso lógico evolucionário das leis da natureza, cuja possui um elemento de acaso, e

68
Banti (1996) “Hábito: um texto de Charles Sanders Peirce”. DM. PUC/SP. Utilizamo-nos desta tradução.
46
leis essas que não são convenções ou “ficções de contabilidade”, mas sim parte constituinte da
realidade.
Tanto em Leal (Ob.Cit.1999), quanto no seu próprio Hábito (1898) Peirce, como os
psicólogos, reconhece na Associação de Idéias o princípio básico para o estabelecimento do
conhecimento e como lei de toda ação psíquica.
A partir dos conceitos de Associação por Contigüidade e por Semelhança, como
princípios de associação, ele reconhece a experiência e a mente como aptas à associação de
idéias, e para ele, psíquicas e físicas, porque se diferencia do reconhecimento apenas empírico
da associação entre as idéias, uma concepção unilateral do processo, uma concepção de que o
homem é uma tabula rasa.
Peirce não concorda com esta posição unilateral da Associação, porque compreende
toda a experiência como propiciadora de elemento para a associação, tanto quanto à própria
mente que é dotada de uma disposição natural para fazê-la.
“A experiência é a nossa única mestra. Longe de mim está enunciar
qualquer doutrina de uma tabula rasa. Pois... não existe, manifestamente, uma gota
de princípio em todo o vasto reservatório da teoria científica socialmente aceita que
tenha surgido de qualquer outra fonte que não o poder da mente humana de originar
idéias verdadeiras. Mas este poder, por tudo o que ele tem realizado, é tão débil que,
uma vez que suas idéias fluem de suas nascentes na alma, as verdades são quase
afogadas em um oceano de falsas noções; e o que a experiência gradualmente faz, é
por uma espécie de fracionamento, precipitar e filtrar as falsas idéias, eliminando-as
e deixando a verdade verter em sua corrente vigorosa” (CP 5.50)
69
E como alternativa a esta posição unilateral, Peirce estabelece
Uma continuidade (Doutrina do Sinequismo) entre as leis da natureza e as
leis descobertas e utilizadas pelo ser humano, atribuindo as primeiras a capacidade de
nos educar para descobri-las. Assim, a experiência, se assim podemos dizer, “educou”
nosso pensamento a reunir as idéias, tornando a mente capaz de, naturalmente associá-
las. De um modo geral, podemos ratificar que Peirce concebe a Associação como lei
de toda ação psíquica, como lei da mente, proposta como um esboço para a Psicologia
do Futuro. Ele amplia o princípio de associação invariavelmente aceito por todos os
psicólogos, fugindo do reducionismo que fatalmente cairia se conferisse apenas à
mente ou à experiência o fornecimento de elementos para a associação entre as idéias.
70
“Não tenho sido bem-sucedido em persuadir meus contemporâneos a crer que
a Natureza também efetua induções e retroduções. Eles parecem pensar que sua mente

69
Leal. Ob. Cit. 1999.
70
Leal. Ob. Cit. 1999.
47
está no estágio infantil dos filósofos aristotélicos e estóicos. Assinalo que a Evolução,
onde quer que ela ocorra, é uma vasta sucessão de generalizações, pela qual a matéria
está sujeita a leis cada vez mais elevadas; e aponto para a infinita variedade da
natureza como testemunho de sua Originalidade ou poder de Retrodução. Por
enquanto, contudo, as velhas idéias estão extremamente arraigadas. Pouco aceitam
minha mensagem” ( NEM P 344, citado por Leal)
A novidade da mensagem do filósofo norte-americano do século XIX, Charles Sanders
Peirce, que em 1898 está configurada em harmoniosa composição entre sua Filosofia e sua
Semiótica talvez pouco entendida por ocasião de seu surgimento, e quem sabe ainda até os
dias de hoje, esteve por um lado relacionada a princípios propostos pela filosofia, lógica
matemática, especialmente dos relativos, química, física (Newtoniana em sua época, e ao que
Peirce fez restrições), e por outro lado a princípios propostos pela psicologia especialmente
das escolas da Associação, e da Gestalt e da Fenomenologia, mesmo que uma Fenomenologia
teorizada diferentemente da sua própria. E aqui novamente nos deparamos com mais uma
característica do Geist der Zeit de seu século além dos modelos triádicos
71
, a compreensão
da relação todo-partes, estes intimamente relacionados.
A compreensão fidedigna de como Peirce arquitetou a unidade da sua doutrina
filosófica pragmaticista advinda da lente realista de um idealismo objetivo e da lógica
metafísica sinequista evolucionária
72
um grande e harmônico sistema semiótico - na
confluência das ações físicas e psíquicas e o que lhe possibilitaram chegar às conclusões que
chegou e que nos apresenta no conjunto das Conferências de Cambridge, de 1898,
publicadas no que ficou conhecido sob a notação RLT
73
requer um adentramento em todas as
áreas do conhecimento que neste processo intervieram, em Peirce. Uma atividade para a
comunidade de investigadores de Peirce.
Nestas The Cambridge Conferences Lectures of 1898, Peirce expõe detalhado
percurso por ele trilhado enquanto arquitetava sua doutrina, trazendo as influências de
pensadores anteriores a ele da forma como ele as acolheu, interpretou, modificou, e fechou a
Gestalt de sua própria concepção sistêmica e seu juízo sobre o que é a Filosofia. Não

71
Sebbeok e Eco (1991) O Signo de Três: Dupin, Holmes, Peirce.
Dib (2006) “o Geist da Fenomenologia do Espírito aparecendo em Hegel, Freud e Peirce” Comunicação no
Encontro de comemoração aos 200 anos da obra de Hegel. UFC/Fortaleza/Ceará.
72
No capítulo seguinte voltaremos a estas predicações neste presente capítulo por muitas vezes citadas.
73
Reasoning and the Logic of Things: The Cambridge Conferences Lectures of 1898. Edited by Kenneth
Laine Ketner. 1992.
48
repassamos todas as trilhas, mas, porém, até onde fomos, permitiu-nos identificar o caráter
de uma Agathotopia em sua doutrina, depois confirmado pelo conjunto de suas Harvard
Lectures on Pragmatism of 1903,
74
e da série sobre o Pragmaticism of 1905-7.
75
Como consideramos um empreendimento possível para ser realizado com os
mesmos cuidados e minuciosidade que este mestre adotava, por uma comunidade de
pesquisadores de suas obras.
O resultado da pesquisa que fizemos sobre a doutrina da Associação como subsídio
para a leitura e estudo do texto Hábito, de Peirce, para além do que neste capítulo está
exposto, deixaremos ao final dos capítulos, um Anexo onde incluímos sobre esta doutrina tal
como surgiu na confluência da filosofia, psicologia, e com os dois físicos citados por Peirce
no seu texto Hábito (1898)
Feita a longa e necessária digressão acima, desde que tratamos dos termos
relacionados à Mônada, que Peirce fez a opção pelo monismo, e o que foi de vital
importância como condição de possibilidade à edificação de sua doutrina, retornemos ao
nosso texto no ponto em que paramos - a inserção de Peirce no nascedouro da Psicologia,
apontando para uma Psicologia do Futuro, com a mente como seu objeto, e a lógica como
auxílio à condução do psicólogo em relação ao seu objeto no caminho da verdade”.
O paper do Professor Dr. Vincent COLAPIETRO (2007) para o Encontro
Internacional do Pragmatismo - Em Prol de um Reconhecimento Pragmatista do Inconsciente
Freudiano nos traz:
Peirce talvez prove ser um psicólogo melhor do que James, do mesmo modo
que ele provou ser inquestionavelmente um filósofo melhor, e ele talvez faça isso
precisamente porque sua avaliação da mente incorpora em si um reconhecimento do
inconsciente... Não nada de profundamente misterioso e cientificamente suspeito
sobre o inconsciente, pelo menos quando a mente é concebida como um feixe de
hábitos e, por sua vez, se crê que estes hábitos incluem aquelas cujas operações não
apenas resistem à nossa consciência comum, mas também frustram amiúde nossos
propósitos confessos. O que poderia ser mais pragmático do que forçar o falibilismo
penitente até ao reconhecimento insofismável das disposições desregradas que
perfazem uma porção tão significativa da mente inconsciente?

74
Harvard Lectures on Pragmatism. 1903. Em The Essential Peirce. V. 2. Edited by the Peirce Edition Project.
PP 133-241.
75
Pragmaticism. 1905-07. Em The Essential Peirce. V. 2. Edited by the Peirce Edition Project. PP 331-433.
49
E SANTAELLA (1994) salientará a particular concepção de Peirce sobre a mente: “a
Mente, em Peirce, aparece num amplo sentido que não se restringe à realidade humana, mas
se estende para qualquer forma de vida.”
76
Peirce foi um homem “polivalente”, quase um “enciclopédico” como Aristóteles o foi,
quanto ao domínio de tantas disciplinas, tendo sido especialmente um químico e um lógico, e
tão somente desejoso de ser um físico à moda de Aristóteles. Conduziu-se como um filósofo
lógico metafísico e se portou também como um psicólogo lógico da mente do universo, e dos
homens, portanto, que estes são parte do mesmo universo, à medida que observou
cuidadosa e profundamente as formas e os comportamentos das leis da natureza na unidade
das suas ações físicas e psíquicas, “tendo diferenciado radicalmente ou distinguido a mente da
consciência sem não as separar absolutamente”
77
, concluiu COLAPIETRO citando Peirce:
“Nós naturalmente tornamos todas as nossas distinções absolutas demais (CP
7.438). Pensadores dualistas ou “anti-sinequistas” envolvem-se em um emaranhado
artificial ao falsificar os fenômenos ao representar a consciência como sendo... uma
pele, um tecido separado, sobrepondo-se a uma região da natureza oculta, mente,
alma, ou base fisiológica (CP 5.440)
”.
Consciência – Peirce
Um Homem tem Consciência, uma Palavra não. A Palavra depende da posse de um corpo animal, e a
Consciência depende da Vida Espiritual deste Corpo Animal. (Peirce 1995: 306/07)
“A Consciência é usada para significar o conhecimento que temos daquilo que está em nossas mentes; o
fato de que nosso pensamento é um índice de si mesmo na base de uma completa identidade consigo
mesmo” (Peirce 1995: 307)
“A Continuidade é um elemento indispensável da realidade, a continuidade é simplesmente aquilo em
que se transforma a generalidade na lógica dos relativos e, assim, tal como a generalidade, e mais do
que a generalidade, é um caso de pensamento, e é a essência do pensamento.” (Peirce 1995: 298)
consideramos que as produções de Peirce, após 1890 o caracterizaram
definitivamente como um filósofo lógico metafísico e absolutamente inovador como tal,
marcadamente após suas publicações no The Monist, tal como destacadamente em The Law of
the Mind.
78
Em A Lei da Mente
i
(1892), Peirce se refere à lei da associação como a grande lei,
e apresentou ao universo da ciência, sua tese da continuidade como base para uma concepção
de mundo. E a partir desta sua concepção sua doutrina filosófica e semiótica se caracterizaram

76
Santaella (1994) Amplo conceito de mente, de Peirce. Jornal Europeu de Estudos Semióticos. Vol. 6.3,4
77
Colapietro (2007) Toward a Pragmatist Acknowledgment of the Freudian Unconscious. Paper apresentado
no Encontro Internacional do Pragmatismo. PUC/SP.
78
Dib (2004) Peirce, um lógico metafísico. Comunicação 8 Jornada do Centro de Estudos Peirceanos. PP 88-95.
PUC/SP.
50
definitivamente por esta visão metafísica realista sinequista evolucionária. O Sinequismo
passa a ser a “abóbada do arco” (CP 8.255-257), ou nas palavras de SANTAELLA, “o arco de
sua filosofia”
79
e que segundo a vontade de Charles Sanders Peirce, sua metafísica seria
denominada Sinequismo porque ela está apoiada no estudo de continuidade (RLT 37).
Na das oito Conferências de Cambridge, de 1898 Philosophy and the Conduct of
Life (RLT 105-22) Peirce se refere a dois pontos de grande importância para o seu conceito
continuidade
80
:
x - ao diálogo Crátilo, de Platão, onde ele trata de um erro heraclitiano que ainda
infectaria a filosofia, a noção que continuidade implicaria transitoriedade.
81
E PEIRCE
diz: “The really continuous things, Space, and Time, and Laws, are eternal”.
x o diálogo Sofistas, de Platão, onde ele trata da troca de Idéias por Números (o que
Aristóteles fará posteriormente
82
) Idéias Platônicas se transformam em Essências
Matemáticas, na medida em que entre as Essências Eternas contínuas uma ordem
de afinidade tanto quanto entre os Números.
83
E PEIRCE diz: “Thus, at last, the
Platonic Ideas became Mathemathical Essences, not possessed of Actual Existence but
only of a Potential Being quite as Real, and his maturest philosophy became welded
into mathematics”.
As citações de Peirce relativas às suas duas pontuações para o conceito de
continuidade nos remetem a questões de extrema significância tanto no decorrer do percurso
da filosofia no seu todo quanto no percurso da filosofia de Peirce mais diretamente ligadas à
questão do fluxo, mudança, movimento (que remonta a Zenon, Parmênides, o paradoxo
tratado através de Aquiles e a tartaruga, a Heráclito, Platão e Aristóteles quanto aos números –
entes matemáticos e infinitos enumeráveis) e para Peirce caros para seu conceito de
continuidade, como nos mostram Sfendoni-Mentzou (2007) e Moraes, e Silva (2007) nos seus

79
Santaella (2002) Os significados pragmáticos da mente e o Sinequismo em Peirce. PP 97-106.
80
Bacha e Dib (2007) Comunicação citada. O Conceito de Continuum e, Peirce, revisitado.
81
Barros (2002) Do fluxo ao movimento heraclitiano. DM. Uma dissertação que analisa cuidadosamente,
através do diálogo Crátilo, de Platão, as posições de Heráclito em relação aos conceitos fluxo, mudança,
movimento.
82
Estudos mais recentes de especialistas de Platão e Aristóteles os aproximam Cattanei (2005) Ob. Cit.
83
Sfendoni-Mentzou (2007) Peirce e Aristóteles sobre o Tempo. Paper apresentado no Encontro Internacional
do Pragmatismo. Novembro. PUC/SP.
Moraes e Silva (2007) Alguns Conceitos Matemáticos e sua Aplicação em outras áreas do Conhecimento.
Comunicação ao Grupo de Estudos de Filosofia da Mente. PUC/SP.
51
papers ambos tratando da questão do movimento, tempo e continuidade em Aristóteles e
Peirce.
Tanto para Peirce quanto para Aristóteles, o tempo real é uma possibilidade
sem fim, com as características da continuidade real e potencialidade infinita, nunca
existindo na realidade em sua totalidade, “está sempre em curso e nunca concluída”
(Aristóteles). De caráter dinâmico, entrelaçado com o movimento perpétuo e a
mudança, a essência mesma da qual é a passagem de uma potência a um estado atual,
“seu modo de ser é um esse in futuro” (Peirce).
(SFENDONI-MENTZOU)
Mais próximo da concepção de continuidade de Cantor e Dedekind, do que
de Aristóteles (vale considerar que naquela época os gregos não pensavam o
universo como finito), Peirce questiona a noção de Kant e diz que “um verdadeiro
continnum é alguma coisa cujas possibilidades de determinação nenhuma multidão
de indivíduos pode exaurir” (Peirce). E por isto, o Infinito e a Continuidade em
Geral no texto a Lei da Mente de Peirce. (MORAES, e SILVA)
84
Quanto a estas significantes concepções para Peirce, limitaremos nossa apresentação
ao que está mais diretamente ligado ao escopo do tema proposto nesta tese: a Agathotopia de
Peirce e sua relação com o Agapismo, mesmo que o Agapismo esteja também diretamente
associado ao continuum, segundo o telos de nosso percurso é o suficiente focar a dialética,
que é possibilitada por este continnum. Método de argumentação surgido com o propósito de
resolver os embates dicotômicos impostos ao intelecto raciocinante, e em similitude ao
movimento continnum, não mais foi interrompido, mesmo se modificado. A Dialética foi
provocada quando o logos se viu no ponto de entrecruzamento da diferenciação entre o
coração físico e o coração espiritual, o que Snell chamou de “despertar da individualidade”
85
e
o que Peirce chamará abrindo o Evolutionary Love (1893) “a filosofia tão logo se
desvencilhou de seu casulo dourado de crisálida, a mitologia”.
Das duas questões acima colocadas por Peirce, recolhemos como que uma terceira que
aponta para a grande novidade introduzida por Peirce na filosofia e possibilitada pela sua
semiótica. Uma modificação provocada em Aristóteles, e concluída em Peirce. Partindo
ambos de uma definição comum: a dialética como método, técnica geral de argumentação,
intencionando ambos uma dialética como uma propedêutica às ciências “filosóficas” em
geral, como um método que conduz, mediante um raciocínio (diaporemático Aristóteles e
semiótico Peirce) à apreensão dos princípios científicos. “Tão elevada missão concebe-a o

84
Ob. Cit. Chamam a atenção para a afirmação “ao longo do desenvolvimento humano, alguns conceitos
matemáticos sempre estiveram presentes em diversas áreas do conhecimento humano”, encontrada em C. S.
Peirce (CP 6: 202-293) e em Ana M. G. Jorge (2006: 54 e segs.) Topologia da Ação Mental.
85
Esta passagem está no início deste capítulo, sétima página.
52
filósofo fundamentalmente, porque todas as disciplinas e ciências utilizam elementos
“comuns”, ao lado das proposições que lhes são próprias, através dos quais todas as ciências
umas com as outras se comunicam. ”
86
O Dialético argumenta como o sofístico, o que os diferencia é a intenção que
anima a argumentação, e é também pela motivação que anima a sua vida que o
filósofo se distingue do sofista. Uma vez que dos estados ou hábitos concernentes ao
pensamento com os quais aprendemos a verdade, outros comportam a falsidade,
nenhum outro gênero é mais exato que a ciência senão a inteligência (...) ela será
princípio do princípio, enquanto a ciência inteira guarda uma relação semelhante com
a totalidade do objeto
87
“Há princípios, portanto, dos quais parte o silogismo, dos quais o silogismo: há,
portanto, indução”. Aqueles dos princípios universais de que partem os silogismos da ciência,
conforme ensina Aristóteles na Ética a Nicômacos
88
.
Um pensador sistemático e sistêmico rigoroso e apaixonado pelo conhecimento e pelo
processo da vida, tanto quanto Aristóteles, Peirce viveu em meio ao clima intelectual
científico de uma época por ele considerada o período mais produtivo em toda a história da
ciência (CP 6.297) no que ele preferiu arquitetar sua teoria dentro de um modelo único, um
monismo idealista objetivo (declarado por ele aos moldes de Schelling) realista (declarado
por ele aos moldes de Duns Scot), distinguindo-se dos puros idealistas alemães, especialmente
do idealismo subjetivo absoluto de Hegel, este que sobre Aristóteles falou: “é um dos mais
ricos e universais (profundos) gênios científicos que jamais existiram, um homem ao qual
nenhuma época pode pôr ao lado um igual.”
89
A Filosofia do Espírito histórico hegeliano (que teve início em Kant) negou de forma
consciente a separação entre sujeito e objeto proposta pelo cientificismo de seu tempo
(próximo a Peirce), e encontrou uma saída para esta questão pela dialética.
90
Uma dialética do
processo histórico se constituindo realidade, o que Peirce não partilhará na mesma medida,
ainda que também ele não participe da separação sujeito e objeto, assim como não participa
da separação entre mente e matéria.

86
Pereira (2001) Ciência e Dialética em Aristóteles. P. 359. Palavras de Aristóteles.
87
Ob. Cit. PP 351-360. Palavras de Aristóteles.
88
Ob. Cit. P. 349. Entre aspas, palavras de Aristóteles.
89
Citação encontrada na abertura dos 3 volumes da Metafísica, editada pela Loyola, 2001. Tradução do
Professor Doutor Marcelo Perine.
90
Apel (2000) Transformação da Filosofia. Vol.II P 282.
53
Peirce, também não foi adepto do paralelismo psicofísico imperante no nascedouro da
psicologia em sua época, uma vez que em sua doutrina encontramos um continuo entre
psíquico e físico, entre mente e matéria, entre idéia e conduta, entre pensamento e
experiência, entre teoria e práxis, entre belo e bem, na original dialética possibilitada pelo seu
entendimento de uma lógica dos relativos (grafos existenciais),
91
espaço morfológico
92
, de sua
semiótica triádica, onde os binômios não apresentarão a mesma dinâmica do idealismo
alemão “Um continuum é alguma coisa cujas partes têm um limite comum” (CP 4.126)
93
A fenomenologia do espírito, em Peirce, dar-se-á segundo a dinâmica dos escolásticos.
Ou seja, entre as categorias a correlação não será através do ou, mas sim, do e. Porque agora,
como em Aristóteles, o ato virá de uma potência que já o viabiliza diretamente, sem a
necessidade de uma negação entre eles, e o que nem sequer caberia. Um ainda-não que pode
ser. Não como pares em oposição, mas como pares em continuidade.
Em Peirce não a passagem de um sim para um não, que provocaria uma subsunção
lógica, a fim de resolver a oposição anterior. Para Peirce esta lógica não tinha sentido, não
sendo lógica, portanto, sua forte crítica a Hegel.
Em Peirce trata-se de um ainda-não-ser que traz em si a possibilidade de ser,
independente mesmo se será ou não. Em sendo, a semiose se dá, em não sendo, a semiose não
se dá. E entre as semioses que se dão, estas se darão continuamente e em evolução.
A originalidade da fenomenologia de Charles Sanders Peirce nesta sua modelagem,
que esteve em função de seu entendimento da evolução do conceito de continuidade, seu
Sinequismo, colocou termo às diversas dicotomias presentes até então no universo da
filosofia, e possibilitou sua Semiótica.
Na fenomenologia do sistema filosófico do lógico metafísico Charles Sanders Peirce,
cujo contemplou sua Semiótica, e contemplará seu Pragmaticismo
94
, parece ter encontrado
também solução para duas clássicas “querelas” consideradas pelos estudiosos da história da
filosofia: 1. A querela medieval dos Universais, entre nominalistas e realistas; 2. A querela

91
Gonçalves (2006) DM. Citada.
92
Jorge (2006) Topologia da Ação Mental: Introdução à Teoria da Mente.
93
Moraes, e Silva (2007). Paper citado.
94
Este que será retomado no capítulo posterior.
54
moderna do Panteísmo iniciada à época de Kant, não provocada por ele, certamente, mas por
intérpretes de Espinosa.
95
Quanto à querela dos Universais, Peirce se posicionou através de seu realismo do
idealismo objetivo, em um mix de Duns Scot
e Schelling. Quanto à querela do Panteísmo,
Peirce não preocupado com questões relativas ao panteísmo, nem ao monoteísmo, posicionou-
se através de um monismo e sua crença na evolução através de um processo lógico/semiótico
triádico operando pelo crescimento infinito dos signos.
96
O modelo cosmológico dialógico triádico estabelecido por Peirce para assegurar a
continuidade entre mente e matéria (onde o continnum do pensamento faz a mediação)
97
aparece já na sua fenomenologia, a doutrina das três categorias em semiose primeiridade,
segundidade e terceiridade (ontológicas, epistemológicas e metafísicas) e, mesmo que
cotejando modelos outros por mais semelhantes que sejam, é distinto de todos eles.
Uma vez que para Peirce, a fórmula lógica por excelência é a dedução ou
ilação/ilática, esta também será a relação semiótica primária e fundamental. CP 2.444: “a
relação de dedução é a relação semiótica primária e fundamental”, este também será o
princípio semiótico fundamental - princípio da interpretação dos signos, cujo enunciado mais
simples e mais geral pode assumir a forma de uma regra de inferência
98
.
Em SANTAELLA (1995:117)
O interpretante é um terceiro; fundamento do signo, um primeiro; e seu
objeto, um segundo. Sendo da ordem da terceiridade, espera-se que o interpretante
tenha a natureza de uma lei, regra ou hábito, por intermédio dos quais um signo é
transformado em outro signo, no processo de autogeração... Isso é válido para a
tríade genuína, na qual tanto o signo quanto o objeto, assim como o interpretante,

95
Beckenkamp. Entree Kant e Hegel. 2004. PP 11-39.
96
Retomaremos a este ao final da presente tese.
97
Peirce (1995: 306/7/8/9/10/11) Consciência e Linguagem “Filosofia do Espírito”. Conferência X, Xi do
Lowell Institute 1866-7; Fragmentos também misturados à série de Harvard de 1865-8. Nota rodapé p303.
98
Parágrafo formulado a partir das reflexões junto a colegas dos grupos de estudos de Peirce, coordenados por
Maria de Lourdes Bacha e Ana Maria Guimarães Jorge, e das aulas do Professor Dr. Edélcio G. de Souza,
organizado pela iniciativa de Heloisa Helena da Fonseca Carneiro Leão, por ela coordenado, e posteriormente,
por Tiago da Costa e Silva; Engel-Tiercelin (1993). Ob. Cit.
55
pertencem à ordem da terceiridade, fonte lógica da continuidade, crescimento,
infinitude.
Em SILVEIRA (2007:34) “O signo é um representamen cujo interpretante é um
espírito” (CP 2.274). E com esta definição de Peirce retornamos à originária questão
filosófica, para a qual Peirce postulou solução, também originária solução filosófica que
precisou atravessar a história do espírito da filosofia desde os gregos até o tempo de Peirce, e
principalmente até ele, para que se materializasse na sua Semiótica.
Platão
99
nos conta no Timeu que aquele que formou o universo e desejando que tudo
fosse bom e belo, ordenou ao demiurgo que arquitetasse uma cópia do mundo real (o ideal das
formas perfeitas) em um mundo sensível, sendo assim semelhante a ele, porém semelhante
não quer dizer igual, numa relação de a imagem e seu modelo.
No Timeu Platão antecipa três planos em sua filosofia, quando então o demiurgo
construiu um mundo com elementos da natureza se apresentando em estados diferentes, que
também sofrerão transformações até mesmo de uma espécie em outra, compostos por
elementos de forma triangulares, como a alma se compondo em natureza da mesma + outro +
essência intermediária. e o que aparecerá em Peirce de forma ampliada na sua Tabela
Periódica das Classes de Signos, na atualidade apresentadas por Romanini
100
, as 66 possíveis
classes de signos da tabela de Peirce, derivadas matematicamente por implicação material.
Peirce afirma que os dois mundos em que vivemos, o material e o formal,
aparecem bipartides apenas porque nosso aparato perceptivo é incapaz de captar o
contínuo indivisível do fenômeno, em que mente e matéria se fundem numa mesma e
única coisa (...) há um mesmo esquema regrando o mundo físico exterior quanto nosso
mundo psíquico interior (...) a junção da doutrina das categorias fenomenológicas com
a do contínuo nos permite afirmar que a Semiose assenta-se sobre a recursividade
infinita do fenômeno. (ROMANINI 45-46)
Neste ponto caberia mais uma entrada para nos dedicarmos a outro conceito, também
de vital importância na doutrina de Peirce, e presente na filosofia desde também Platão as
categorias ( o que aqui não o faremos) declarado por Peirce ter se inspirado nas categorias
de Kant para deste diálogo conceber suas tricotomias, Romanini por sua vez, parte do ponto

99
Moraes, e Silva (2007) Paper Cit. No Teeteto, Platão traz os 3 momentos da dialética do conhecimento:
percepção, crença verdadeira, crença justificada.
100
Romanini, Vinicius. De Classes de Signos, Juízos Sintéticos e Esquema Transcendental. TD. USP/SP.
Encontrada no Caderno da 4 Jornada do CEPE. PUC/SP. PP 45-60.
56
aonde chegou Peirce provocado por tal diálogo e apresenta a tabela com todas as possíveis 66
classes de signos, derivadas matematicamente por implicação material
101
.
Para não interromper mais uma vez nosso percurso, seguiremos à frente e deixamos ao
final dos capítulos no anexo glossário citado, após a sintética exposição sobre a relação
filosofia e psicologia na doutrina da associação, uma também sintética exposição sobre as
categorias.
E se Peirce prefere o demiurgo de Aristóteles, em relação à de Platão (o que na análise
de Engel-Tiercelin
102
Peirce fará a composição dos dois quanto aos entes matemáticos reais),
mesmo que não de acordo em todos os pontos da doutrina aristotélica, sua marcada afinidade
com Aristóteles estará também quanto à causa final que aponta para o telos e diz respeito ao
continuo do movimento impulsionado pela força instintiva para a geração e crescimento, o
que será primordial para Peirce e o que ficará evidente na sua máxima pragmática.
103
“Mas no que consiste o caráter intelectual da conduta? Claramente na sua
harmonia aos olhos da razão, isto é, no fato de que a mente ao contemplá-la nela
encontrará harmonia de propósitos. Em outras palavras, ela deve ser capaz de
interpretação racional para um pensamento futuro. Assim, o pensamento é racional
somente na medida em que ele se recomenda para um futuro pensamento. Ou, em
outras palavras, a racionalidade de um pensamento reside em sua referência a um
futuro possível” (CP 7.361).
Entre as duas causas platônicas: a essencial e a material; e as quatro aristotélicas:
inicial (principio material e princípio imaterial), formal, eficiente e final; Peirce prefere as de
Aristóteles, mas, como de hábito, também faz modificações e das quatro ele acaba ficando
com duas: causa eficiente (material, formal) e causa final:
O coração, a idéia central do conceito de mente de Peirce, aproxima razão e
causação final. “Não processos dos signos sem a causação final estar ativamente
envolvida”(Pape:1994) Causa final, mente, pensamento, podem aparecer em outros
tipos de processos além dos biológicos humanos. Para Peirce, a mente tem seu modo
de ação universal chamada causa final. Ele identifica a natureza da lei com a natureza
da causa final
104
. (SANTAELLA)
Sobre esta questão PEIRCE nos fala:
“A causa final não determina a forma particular das coisas ocorrerem, mas
somente o que deverá resultar quanto ao caráter geral” (CP 1.211) “A compulsão
determinada pela condição particular das coisas, a ação compulsiva, faz a situação

101
Romanini. Ob. Cit.
102
1993: Ob. Cit. Voltaremos a esta análise à frente, capítulo posterior.
103
Retornaremos ao Pragmatismo de Peirce e sua máxima pragmática no capitulo seguinte.
104
Santaella (1994) Ob. Cit.
57
ocorrer de determinada maneira causa eficiente” (CP 1.212) “Contudo, o papel
real que a substância material tem a representar é explicar (ou formular) a conexão
entre os acidentes (...). Parece que na natureza, todas as regularidades são
diretamente racionais, todas as causas, causas finais: ou parece que as regularidades
estendem-se além dos requisitos de um propósito racional, e são produzidas por
causas mecânicas. Ora, a ciência, como sabemos todos, é hostil às causas finais, cuja
operação ela restringiria a certas esferas, e ela encontra no universo, decididamente,
uma regularidade diversa da diretamente intelectual” (PEIRCE: Semiótica 1995:
332).
Segundo especialistas Platão e Aristóteles podem estar mais próximos do que têm sido
interpretados ao longo da história da filosofia
105
:
Tem precedentes filosóficos a escolha de Aristóteles? alguém, antes
dele que, refletindo acerca do estado em que estava a pesquisa matemática, decide
adequar à sua praxe o modo de ser dos entes matemáticos? Se a “teoria dos
intermediários” for de Platão, esse alguém poderá ser Platão. Atento conhecedor do
trabalho dos matemáticos hóspedes em sua escola, Platão compreende que a
matemática não é uma ciência que pode fundar-se sozinha. Compreende que muitas
de suas operações e demonstrações requerem um objeto que se comporte, de um
lado, como aquilo que é Inteligível, de outro, como aquilo que é sensível. Todavia,
convencido da cientificidade da matemática e de seu poder de orientar os ânimos ao
Bem lhe reserva como objeto uma região do mundo inteligível.
(CATTANEI 2005: 467)
106
Na Grécia (notemos que antes dela houve alguém
107
) Tales de Mileto foi o antes do
antes em relação aos dois clássicos gregos anteriores, ele por primeiro desenvolveu
proposições geométricas baseado na agrimensura exclusivamente prática dos egípcios; foi ele
tornou a astronomia dos babilônios independente de seus fins religiosos e utilizá-los para
conclusões puramente teóricas; foi Tales, enfim, que transformou as especulações míticas
sobre a origem do mundo na primeira afirmação filosófica, a de que a água é a substância
primeira e a origem de todas as coisas.
108
E foi desta insistente especulação em torno à arché do universo, que se deu a
passagem da mítica para a filosófica, segundo os mais diversos compêndios de história da
filosofia ou do pensamento filosófico, e desta arché as especulações em torno à alma e
espírito, conforme vimos no início deste capítulo.

105
Pereira (2001) Ob.Cit. Numa filosofia como a de Platão depois dos modernos estudos que se lhe têm
consagrado, a interpretação realista parece irrecusável: o platonismo é um realismo das Formas ou das essências.
P 50.
106
Cattanei (2005) Entes Matemáticos e Metafísica.
107
Snell (2001) A Cultura Grega e as Origens do Pensamento Europeu. Traz pertinente observação no cap. 17
“um dos fatos mais singulares e misteriosos da história espiritual do mundo é o de terem aparecido por volta de
500 a. C., pela primeira vez, independente um do outro, em três países diferentes e muito distantes entre si,
pensadores que chamamos com o nome grego de filósofos – na China, na índia e na Grécia.
108
Cattanei (2005) Ob. Cit.; Kirk. Raven. Schofield (1994) Os Filósofos Pré-socráticos; Snell (2001: Ob. Cit)
58
Retornando dos antecedentes de Peirce, neste contínuo movimento evolucionário da
semiose do “signo que é um representamen cujo interpretante é um espírito” (CP 2.274),
voltemos ao filósofo que é tradicionalmente conhecido como o filósofo da fenomenologia do
espírito, dado que se celebrizou por uma obra sob este título.
109
Na Filosofia de Georg W. F. Hegel (1770-1831) o espírito Geist também é mente,
e pensa. A terceira categoria em Hegel é a do pensamento, e o que deve ser considerado no
sistema hegeliano dialético é que ele não é apenas como método, mas sim como uma
concepção do real a contradição constituindo a própria essência das coisas. Uma dialética
interna aos conceitos e categorias, também três.
110
Anteriormente vimos que em Peirce não cabe uma categoria que afirma, outra que
nega ou que cotra-afirma, provocando a contradição, e exigindo uma terceira para colocar em
ordem a contradição estabelecida; como uma solução para a suposta dicotomia anterior.
Em Peirce, jamais encontraremos dicotomias, suas três categorias estão em
continuidade evolucionária, nenhuma nega a outra, nenhuma supera a outra, nenhuma se
coloca em subsunção
111
em relação à outra.
Suas três categorias estão em continuum movimento dialético (dialógico) triádico e
não apresentam dicotomia, não pedem superação, ou subsunção, ou síntese, possuem uma
correlação de interdependência entre elas para que constituam na totalidade da semiose. Mais
aos moldes de Agostinho e Tomás de Aquino, porém, também deles se diferenciando porque
em Peirce não o propósito metafísico ontológico teológico para uma epistemologia, seu
propósito é fenomenológico lógico metafísico para uma epistemologia.
Mas Peirce, conforme um hábito seu, o fato de não estar em acordo totalmente com
outros pensadores com os quais até dialoga e deles algo de suas teorias pode considerar e
reconhecer dentro de seu próprio sistema, ele não os anula na totalidade. Ele pode se
apresentar sendo severo às vezes irônico até, provocativo, e quando acha que suas críticas
merecem ser revistas o faz, reconsidera.

109
Hegel (2002) Fenomenologia do Espírito.
110
Hösle (2007) O sistema de Hegel e o idealismo da subjetividade e o problema da intersubjetividade.
Inwood (1997) Dicionário Hegel.
111
Especialistas em Hegel explicam que a tríade tese, antítese e síntese, não foi de Hegel. Trata-se de um
procedimento triádico de Ficthe, que se influenciou Hegel, certamente, ele só usou esses termos em uma
exposição de Kant. “Um aspecto da dialética de Kant impressionou Hegel a derivação de antinomias, de duas
respostas incompatíveis a uma questão”. Inwood (1997). Ob. Cit.
59
Exemplo desta atitude do filósofo Peirce encontramos na sua relação com o sistema de
Hegel, sempre citado em seus escritos, ora criticando duramente, ora reconhecendo a
influência dele recebida ou a grandiosidade de seu sistema. Ao decorrer de nossos estudos da
obra de Peirce, até onde pudemos alacançar, pareceu-nos Peirce trazer o filósofo alemão
Hegel ao seu lado durante sua caminhada, e o que o artigo de Silveira (2004: 84-99)
112
O
Hegelianismo visto por Peirce nos explica pontualmente.
Se em Hegel
113
sua fenomenologia do espírito ocorre através do movimento da história
humana, em Peirce, a evolução da semiose das classes de signos ocorre dentro do movimento
da história do mesmo universo dentro do qual a história humana se dá.
E até os dias atuais, a mente humana tem se mostrado mais apta a contribuir com a
semiótica e continuada evolução das semioses, mesmo que imperfeita, falibilista, necessitando
autocorreção, conforme previsto na doutrina de Peirce para o caminho da razoabilidade. Tanto
em Peirce quanto Hegel, mesmo sob estruturas e dinâmica dialética diferentes, parece ocorrer
um movimento semelhante teleológico evolutivo autocorretivo da razoabilidade
114
.
Como as águas de rios diferentes, mesmo que sob cursos diferenciados, caminharão
em direção ao mar, estejam os rios e este mar onde estiverem. Por mais acidentes que
enfrentem as águas do rio durante seu curso, seu telos está sempre voltado para o mar.
115
Parece ainda haver em ambos, um topos lógico se dando pelo movimento da
dialética entre tempo e espaço. Da cópula destes, erótica e agapicamente, um logos é gerado e
a ele caberá percorrer o caminho da razoabilidade; onde passados (futuros potenciais) vão se
presentificando enquanto se apresentando, atualizando e se projetando para o futuro, em
contínuo movimento instintual evolucionário, quer cosmológico, quer antropológico,
buscando um entendimento harmonioso
116
, um telos que conduza em Hegel ao Espírito

112
Em Cognitio. Revista de Filosofia. Vol. 5, n. 1.
113
Hösle (2007) Ob. Cit.
114
Razoabilidade: como um bem em si mesmo, o bem último que reside de algum modo no processo
evolucionário. Algo geral e contínuo (CP 5.4) “... o realista pode sustentar haver na própria experiência um
elemento de razoabilidade”. Waal 2007:47.
115
Anzaldo (1997) Ob. Cit. p 86.
116
Colapietro (2004) The Routes of Significance: Reflections on Peirce´s Theory of Interpretants.
Silveira (2006) Caráter Sinfônico das Representações Semióticas.
60
Absoluto, em Peirce, ao Summum Bonum, a clássica tríade da filosofia, o Belo, Bom e
Verdadeiro, ou o Supremo Bem
117
.
Duas versões semelhantes, porém não iguais, para a sempre originária questão assim
conjecturada à época de Platão e Aristóteles.
Em Platão: Universal é das formas perfeitas, e o individual será no máximo uma
cópia daquele perfeito. no máximo uma semelhança por participação, o individual
participa do universal que foi materializado (sem forma) como cópia da Idéia. As Idéias
todos os tipos de objetos possíveis, matemáticos, naturais realizados e realizáveis, objetos
possíveis de serem organizados pelo engenho humano. Platão explicava assim a semelhança
existente entre os objetos individuais devido pela “participação” desses objetos num mesmo
tipo, numa mesma idéia.
Pitágoras considerava as idéias enquanto relações numéricas e que eram a própria
essência das coisas.
Em Aristóteles: rejeitava semelhante forma de pensar de Platão. Para ele o Universal
não é um modelo perfeito, como uma relação de similitude, mais do que semelhança,
entre o Universal e o Individual. Os particulares estão agrupados segundo uma regra que lhes
garante a “parecença” ao longo do Tempo. Universal é a essência que está na natureza
mesma do ser (coisa), e se atualiza no particular. Pela Forma que é a regra da espécie, é a Lei
da espécie, é a Morfe (matéria i/enformada) que garante a Universalidade da espécie e não o
Mundo das Idéias, do plano Metafísico de Platão.
Diferente de Platão que a essência está fora da natureza primeira do ser (coisa), está
no mundo das Idéias.
118
Sugere dois mundos separados
Em Peirce: De acordo com sua três categorias, há a direção da primeira para a
segunda e desta para terceira, portanto, do indefinido para o definido, do indeterminado para o
determinado. Da potencialidade para a atualidade, como em Aristóteles que sugere dois
mundos fundidos em um mesmo ser, quando muito, em estados de Ser diferentes. (como a
água que pode estar em mais de um estado e ser a mesma água), porque assim se a
natureza.

117
Retomaremos ao Summum Bonum no capítulo posterior.
118
Parágrafos a partir de Cresson (s/d) Aristóteles.
61
A Lei como um hábito, porque desde a natureza observa-se a tendência de
adquirir hábitos. O que Aristóteles, Lamarck (evolucionista) e Peirce estão de acordo.
A natureza da lei é da ordem da causa final. A causa final não determina a
forma particular das coisas ocorrerem, mas conferem-lhe o que deverá resultar quanto
ao caráter geral (CP 1.211) É a compulsão determinada pela condição particular das
coisas, é a ação compulsiva que faz a situação ocorrer determinada forma , e é a causa
eficiente (CP 1.212). A idéia central do conceito de mente de Peirce aproxima a razão
da causação final. Não processos de semiose sem a causa final estar ativamente
envolvida. Onde há movimento, há inteligência, há propósito.
(SANTAELLA 1994)
119
Metafísica como ciência primeira em Aristóteles um determinismo ontológico,
mundo da causalidade. A Causa Formal e a Causa Final, passando pela Causa Inicial
(Material ou Imaterial) e Causa Eficiente. Não há o acidental. O acaso, previsto em Peirce.
120
Peirce retira a Metafísica de lugar de ciência primeira e a coloca após as Ciências
Normativas, antes das Ciências Especiais, substituindo-a pela Fenomenologia, a doutrina das
três categorias: primeiridade, segundidade, terceiridade.
Uma primeiridade que tende para uma segundidade e esta que tende para uma
terceiridade cuja traz em si uma primeiridade, num crescente semiótico onde o individual
não tem lugar. Uma correlação lógica em continuidade e em comunidade.
121
Isento da preocupação ou propósito de provar dogmas de qualquer instituição
religiosa, que não seja provar seu próprio pragmaticismo, uma estrutura lógica que
perpassa a estrutura da trindade: pai, filho, espírito santo (dogma da tradição cristão-católica),
cuja parece ser análoga à estrutura lógica que perpassa a estrutura tricotômica das categorias
primeiridade, segundidade, terceiridade, identificadas por Peirce, e à tríade onde o
representamen signo tem no espírito seu interpretante, parte de uma tríade genuína, onde
signo, objeto e interpretante são da ordem da terceiridade, “fonte lógica da continuidade,
crescimento, infinitude”.
Assim tendo se conduzido este legítimo pensador do século XIX, e uma vez que a
lógica foi a semente de sua plantação, dela colheu seus frutos, mesmo que para isto tenha sido

119
Jornal Europeu de Estudos Semióticos Vol. 6 pp3-4.
120
Segundo Anzaldo (Ob. Cit) as teorias científicas que hoje retomam Aristóteles, como é o caso da
Embriologia, entendem que sim a possibilidade do acaso, porque uma liberdade no procedimento dos
genótipos enquanto se organizam na constituição do fenótipo.
121
A gênese do Socialismo Lógico” de Peirce, e que conduz à ética mínima do “socialismo lógico” de Peirce.
Apel (2000) Transformação da Filosofia II. A Comunidade de Comunicação. P 260.
62
preciso tantos anos, conforme declarou. Desde o final do século XX verificamos que não
Peirce colheu seus frutos, como também posterior à sua morte (1914) tem realizado seu
sonho.
122
Suas idéias, seus escritos, seus princípios filosóficos lógicos finalmente têm sido
reconhecidos por uma comunidade científica que os lê, estuda, pesquisa, edita, publica e
multiplica para uma comunidade científica mais ampla. O Sistema Filosófico Pragmaticista e
a Semiótica Metafísica do norte-americano Charles Sanders Peirce são uma realidade
fenomênica dentro do universo científico disponível a tantos quanto queiram conhecê-la, por
ela se conduzir na ciência e partilhá-la em comunidade.
Peirce acreditou na grande Lei da Mente, da Associação e no princípio da
Continuidade, o qual quando se tornar claro mostrará que o individualismo e a falsidade são
um e o mesmo. (CP 5.403) entendendo ele que o homem não está completo enquanto ele
está só, que é essencialmente um membro possível da sociedade.
Especialmente, a experiência de um homem não é nada, se permanecer sozinha. “Se
ele o que os outros não vêem, nós chamamos isto de alucinação. Não é minha”
experiência, mas a “nossa” experiência que precisa ser pensada”. “O mundo e o homem m
a mesma natureza” (CP 5.353). Provável aqui Peirce estar se referindo à sua “experiência
mística”, à qual nos referiremos posteriormente.
Da leitura minuciosa do capítulo 6. – Pragmatismo e Lógica Objetiva, do livro Kósmos
e Noetós: a arquitetura metafísica de Charles S. Peirce de Ivo Assad IBRI
123
podemos
entender o quanto em Peirce: 1. O Hábito está relacionado à generalização, a uma lei fruto de
uma historicidade de associações, a uma regra, a uma descrição de uma tendência de conduta.
2. Que toda ação é pensamento feito concreto que envolve um propósito racional que é meio
através do qual a unidade do pensamento se definiu e se existencializou, sendo esse
pensamento um fenômeno universal mediatizado pela experiência e necessitado de um mundo
sob princípios de ordem como condição de possibilidade. 3. O que não é matéria de
experiência não é nada, não existe, pois a lógica metafísica peirceana aponta para a relação
necessária entre geral e particular onde o geral e o universal aparecem na experiência
particular, individual. Até mesmo “a dúvida genuína não pode ser criada por um mero esforço
de vontade, mas deve estar circunscrita pela experiência” (CP 5.498).

122
Santaella (1992). A Assinatura das Coisas: Peirce e a Literatura.
123
Ibri (1992) Ob. Cit. Nota de rodapé n. 1. Deste capítulo.
63
“Vivemos num mundo de forças que atuam sobre nós, sendo essas forças, e não as
transformações lógicas do nosso próprio pensamento que determinam, dentre elas, a Vontade
que exerce força sobre a Matéria”. (PEIRCE 1995: Filosofia do Espírito).
“Peirce tomou os princípios da flecha do tempo como paradigmáticos de
qualquer processo evolutivo, tanto na natureza quanto na mente. O que ele buscava
era a definição de um processo irreversível que fosse suficientemente abstrato e capaz
de englobar o mental e o físico. No contexto metafísico do Sinequismo, mente é
sinônimo de continuidade, é a tendência do universo para a aquisição de hábitos. No
contexto lógico da semiótica, mente é sinônimo de semiose. Mente, portanto, é
continuidade e semiose. Neste conceito, encontramos o mais fundamental ponto de
intersecção da metafísica com a lógica ou semiótica.
124
(SANTAELLA)
Citando Peirce em The Architecture of Theories
125
BACHA salienta a importante
afirmação de Peirce de que sobre a aplicação entre princípios da lógica - semiótica que tem
aplicação na filosofia “estão as concepções de Primeiro, Segundo e Terceiro. Acaso é
Primeiro, lei é Segundo, e tendência a adquirir hábitos é Terceiro. Mente é Primeiro, Matéria
é Segundo, Evolução é Terceiro. Mas estas concepções também podem ser aplicadas as outras
ciências, como por exemplo: na Psicologia - sentimento é Primeiro, sentido de reação é
Segundo e concepção geral é Terceiro ou, na Biologia a idéia de probabilidade (Sporting) é
Primeiro, hereditariedade é Segundo, e o processo no qual os caracteres se tornam fixos é
Terceiro” E BACHA continua citando Peirce:
“Tais são os materiais dos quais uma teoria filosófica deveria ser
constituída principalmente de modo a representar o estado de conhecimento que o
século XIX nos trouxe. Sem entrar em outras questões filosóficas arquitetônicas,
podemos prontamente prever que tipo de metafísica seria apropriadamente
construída a partir dessas concepções. Seria uma Filosofia Cosmogônica como
algumas das mais antigas e como algumas das mais recentes especulações. Ela iria
supor que no início infinitamente remoto havia um caos de feeling não
personalizado, que não tendo conexão ou regularidade, seria apropriadamente sem
existência. Este feeling diversificando-se aqui e ali, em pura aleatoriedade teria
iniciado o germe de uma tendência generalizadora. Suas outras variações teriam sido
evanescentes, mas esta teria uma virtude de crescimento. Assim, a tendência para o
hábito estaria iniciada, e desta com outros princípios de evolução todas as
regularidades do universo teriam evoluído. A qualquer momento, entretanto, um
elemento de puro acaso sobrevive e ainda permanece até que o mundo se torne
absolutamente perfeito, racional e um sistema simétrico, no qual a mente é por fim
cristalizada no infinito futuro distante”. (CP 6.33 de 1891)
A relação mente matéria, de foco peirceano, diferente do cartesiano, possibilita-lhe
afirmar: “A única teoria inteligível do universo é aquela do idealismo objetivo que mente é

124
Santaella. Ob. Cit. 2002. Pág. 103.
125
Bacha (2002) Ob. Cit. CP 6.7-6.32 de 1891.
64
matéria exaurida, hábitos inveterados se tornando leis físicas” (CP 6.25), está explicitada na
obra acima indicada, de BACHA, nas ginas 294/5/6, que por sua vez se utilizou da obra
igualmente citada de IBRI (1992) à página 58 quando ele nos mostra: “a chave da relação
entre mente e matéria está na admissão de que o universo material é provido de hábitos de
conduta na forma de leis naturais, há que o conceber como uma forma de mente.”
“Mas tendo a matéria a mesma natureza da mente, ela também é mente, ela
é uma mente cristalizada por hábitos, apresentando um comportamento repetitivo. A
matéria é mente quase morta, constituída fundamentalmente por hábitos arraigados,
resultado da primeira e fundamental lei da ação mental, que consiste na tendência à
generalização (CP 6.21)”.
126
“O Idealismo Objetivo configura-se, assim, como uma
doutrina que remove uma descontinuidade entre mente e matéria, preparando um
espaço de reflexão sobre um conceito também chave na Metafísica peirceana o de
continuidade (CP 6.272-286). Peirce, em Mind and Matter, propõe: Em obediência
ao princípio, ou máxima de continuidade, segundo o qual devemos imaginar as
coisas continuas na medida em que o possam, realce-se que devemos supor uma
continuidade entre os caracteres da mente e da matéria, tal que a matéria nada seria
senão mente que teve seus hábitos cristalizados, fazendo- a agir com um alto e
peculiar grau de regularidade (CP 6.277)”.
127
A relação entre o monismo, o hábito e o pragmaticismo é de grande significado na
doutrina filosófica lógica metafísica de Charles Sanders Peirce e seus corolários.
Peirce é considerado pelos estudiosos de sua doutrina como um filósofo sistemático e,
principalmente um metafísico. Seu pragmatismo é um meio e não um fim de sua metafísica.
Não como a totalidade de sua doutrina, mas como método de clarificação conceitual porque
dentro de uma filosofia de rigor científico, baseada numa metafísica também científica e
realista. Uma metodologia lógica filosófica – metafísica sem bloqueios ao caminho de
acesso à realidade, da investigação do sentido do conceito, o mais próximo possível da
verdade, sem reduzir o pensamento a seus efeitos experimentais, sensíveis ou práticos, mas
esclarecendo a íntima relação entre pensamento e experiência, assim como o caráter
intelectual e finalista da ação (não necessariamente utilitarista) ou, como ele preferia nominar,
da conduta (conduct).
128

126
Bacha, Maria de Lourdes. A Indução de Aristóteles a Peirce. Dá ênfase à citação peirceana. Págs. 195/6.
127
Ibri. 1992. Dá ênfase à citação peirceana. Pág. 62.
128
Ibri (1992) Kósmos Noetós: a arquitetura metafísica de C. S. Peirce.
65
“Mas no que consiste o caráter intelectual da conduta? Claramente na sua harmonia
aos olhos da razão, isto é, no fato de que a mente ao contemplá-la nela encontrará harmonia
de propósitos. Em outras palavras, ela deve ser capaz de interpretação racional para um
pensamento futuro. Assim, o pensamento é racional somente na medida em que ele se
recomenda para um futuro pensamento. Ou, em outras palavras, a racionalidade de um
pensamento reside em sua referência a um futuro possível” (CP 7.361).
Em Peirce, pois, o filósofo da continuidade, todo o propósito do universo, desde a
alma, passando por cada conceito, cada elemento da natureza se concentra em três termos
fundamentais: aparecer, crescer, evoluir.
x Aparecer como que por instinto, surgir, nascer, advindo de uma seqüência geracional.
x Crescer como que por uma compulsão, por necessidade.
x Evoluir como que para não perecer, para se eternizar, por amor, que já poderia estar no
primeiro.
Na doutrina filosófica lógica (semiótica) metafísica de Charles Sanders Peirce a ordem
é viver! Cultivar a vida como o jardineiro cultiva a flor. Cuidar da terra para que ela não fique
estéril, o filósofo prepara a terra para o cultivo da semente do saber. O movimento interno e
natural da mente, desde a parasitária até a humana, é o de cumprir seu destino de crescer até a
mais pura ciência. Assim é a relação da filosofia com a conduta de vida, a relação da arte com
a ciência, e todos com a arte de viver.
Marca da filosofia de Peirce, a continuidade do movimento de aperfeiçoamento
autocorretivo da razoabilidade em direção ao Summum Bonum.
Na classificação das faculdades humanas, a sétima e última delas é respeitar e amar.
(Peirce, Private Thoughts, XLIX, 1859)
66
CAPÍTULO - II - DO SISTEMA FILÓSOFICO LÓGICO METAFÍSICO
“Minha filosofia pode ser descrita como sendo o esforço de um físico para
fazer conjecturas sobre a constituição do universo tal como os métodos da ciência
possam permitir, com ajuda de tudo o que tem sido feito pelos filósofos anteriores.
(...) A obra que este volume inaugura é fazer uma filosofia como aquela de
Aristóteles, isto é, delinear uma teoria tão compreensiva que por um longo período
de tempo, todo o trabalho da razão humana, na filosofia, e toda a escola, na
matemática, na psicologia, na ciência física, na história, na sociologia, e em
qualquer outro departamento que possa existir, possa parecer como o
preenchimento o preenchimento de seus detalhes.”
As palavras agora escolhidas para abrir este capítulo, vindas do próprio filósofo a
quem nos dedicamos o filósofo semiótico norte americano do século XIX, Charles Sanders
Peirce, nos mostram por quais propósitos sua alma o conduziu através de sua vida de
cientista.
O filósofo “que veio resgatar um espaço perdido pela Filosofia: o espaço de pensar o
mundo na sua realidade, e de um modo que promova, novamente, a aproximação com o
universo das ciências”
129
– um lógico que “ao predicar sua Metafísica de científica,
pretendeu, tão somente conferir-lhe um caráter de ciência especial, fazendo da Lógica e do
universo fenomênico as pedras de toque para a construção de suas teorias”.
O pensamento deste singular homem participou do Zeitgeist
130
ou Geist der Zeit do
século XIX, enquanto ao mesmo tempo dele se diferenciou de muitos modos.
Uma das afinidades de Peirce com o pensamento de sua época, século XIX, foi
recorrer ao modus operandi mental grego clássico, depois de um tempo considerável de
conhecimento destes clássicos pela medida dos romanos e do filtro dos escolásticos,
escolásticos estes aos quais ele recorrerá, e de forma significativa, declarando ter construído
seu realismo a partir do realismo do escolástico Duns Scot. Mas, como consideramos no
capítulo anterior, Peirce, o “filósofo da continuidade” não se prendia às lentes daqueles aos
quais recorria. Se aos “gigantes sobre ombros de gigantes” se voltou, e minuciosamente, de

129
Ibri (1992) Ob. Cit. P 122. Rodrigues (2005). TD. Estudo sobre o Conceito de Ciência na Filosofia de
Charles Sanders Peirce. PUC/SP. Introdução: Resgatar as Origens.
130
Termos alemães já vistos no capítulo anterior..
Dib (2003) “Considerações sobre Peirce e Freud, dois legítimos representantes do “Geist der Zeit” nascendo
como eles, na segunda metade do século XIX”. Comunicação no Encontro Internacional do Pragmatismo.
PUC/SP.
Dib (2006) Ob. Cit.
67
seus ombros descia, e seguia olhando à frente pela trilha do seu próprio mapa procurando
alcançar o centro do seu labirinto imaginário, “jogo lógico” aprendido em tenra idade.
A coerência entre seu pensamento, sua palavra e sua conduta, manifestada através de
seu arquitetado sistema, poderia ser entendida como um “iluminado fio condutor
131
doado
por ele à filosofia e à lógica, por amor à verdade e à cientificidade de ambas, através da ação
semiótica que é tornada inteligível pela ação dos efeitos práticos concebíveis por ela (ação
semiótica) determinados. “o pragmático tem em vista um propósito definido ao investigar as
questões lógicas. Ele deseja determinar as condições gerais da verdade”. (CP 2.379)
132
Peirce foi um livre e autônomo pensador. Não desprezando a comunidade de
buscadores da verdade, a eles também não se filiava por qualquer outro motivo que não fosse
o pela própria busca da verdade. O que lhe custou muito caro, como é de hábito àqueles que
fazem tal escolha em suas vidas.
Segundo Taplin
133
, três homens podem ser considerados fundadores do pensamento
moderno e representantes deste retorno ao beber das fontes gregas no século XIX:
Karl Marx, que escreveu sua tese de doutorado em 1841 Demócrito e Epicuro,
filósofos materialistas e antimetafísicos.
Friedrich Nietzsche que em 1869, antes dos 30 anos de idade ministrava aulas sobre
os clássicos gregos.
Sigmund Freud que fascinado pela cultura grega, já pesquisava sobre o amor platônico
e a catarse bem antes de sua descoberta do “complexo de Édipo”.
Se Charles Peirce não participou da lista de Taplin, façamo-lo agora enquanto
verificamos quão longe ele foi neste “retorno nostálgico da volta ao lar”, como queria Ulisses
chegar a Ítaca, como poetizou Eliot, como entendeu o psicólogo James Hillman:
“regressar à Grécia para redescobrir os arquétipos de nossa mente ocidental e de nossa
cultura
134
.

131
Brandão (1987) Mitologia Grega. V. III. PP 162/3.
132
Bernardo (1993) Tradução de Textos de Charles Sanders Peirce: Alguns Aspectos sobre a Questão da
Verdade. Parte I. DM. PUC/SP. p 227.
133
Taplin, Oliver. O Fogo Grego. P 24.
68
Ou ainda, regressar ao omphalos o umbigo do mundo para os gregos, Delfos, no
oráculo de onde Sócrates retirou sua máxima “Conhece-te a ti próprio”, de onde, no
entroncamento de Tebas, entre Atenas, Corinto e Delfos, Laio foi assassinado por Édipo, de
onde a Esfinge desafiou tantos quantos por ali passaram, ou tantos quantos pelos seus
enigmas se sentiram atraídos a conjecturar possíveis respostas.
x - “que criatura pela manhã tem quatro pés, ao meio-dia tem dois, e à tarde tem
três?”. O clássico enigma da esfinge.
x - “eu sou o teu espírito, jugo companheiro de teu olho eu sou a luz”. O enigma
da esfinge segundo Emerson.
x - “sabes que és mortal, sabes que não és um deus, quem és?”. Um
desdobramento do primeiro.
Peirce não ficou imune aos enigmas da Esfinge de Tebas, e conjecturou possíveis
respostas ao enigma a ele proposto, que retomaremos um pouco mais à frente.
Por enquanto adiantamos que ao fazê-lo, conduziu-se sob sua na possibilidade do
conhecimento, sob seu contrito falibilismo
135
e sob seu incansável exercício de investigação
científica de homem de laboratório, seguindo passo a passo
136
as pistas deixadas pelos seus
antecessores neste complexo empreendimento, sem, porém se sentir aprisionado a essas
pistas. Mais do que tão somente repassar os passos dos inúmeros “gigantes sobre ombros de
gigantes” que antes dele percorreram o labirinto das reflexões filosóficas conjecturando
respostas aos enigmas da Esfinge, Peirce não abriu mão do seu próprio mapa mental que ele
acreditava aberto o suficiente para não bloquear o movimento contínuo de seu próprio
pensamento.

134
Taplin Ibid. P 10.
135
Ibri (1992) p 52 e Santaella (1992) p 155, em obras citadas, utilizam-se do CP 1.171 para a definição de
Falibilismo, de Peirce. “é a doutrina de que nosso conhecimento nunca é absoluto”. Santaella: “... através do
Falibilismo, Peirce postula que não podemos ter certeza absoluta, mas é como se sempre flutuasse em um
continuum de incerteza e indeterminação” e igualmente ambos salientam para a importância desse conceito que
aponta para um conceito chave, na doutrina de Peirce, o de Continuidade “algo continuo deve perpassar a
potencialidade do futuro, como o faz o vetor da evolução” (Ibri) e “o princípio de continuidade diz que todas as
coisas também navegam in continua” (Santaella).
136
Brent (2000) The Life and Thought of Charles Sanders Peirce. Pages 5-6-7. In Peirce, Semiotcs, and
Psychoanalysis.
Dib (2004) A Gradiva de Jensen, Freud e Peirce”. Comunicação no Encontro Internacional do
Pragmatismo. Novembro de 2004. PUC/SP.
69
Charles Peirce iniciou sua obsessão pela lógica, e o que o acompanhou
durante toda sua vida, quando aos 12 anos de idade deparou-se com um livro de lógica
de seu irmão mais velho, e o leu – Archbishop Richard Whately´s Logic.
137
Como um determinado e apaixonado buscador da verdade pela verdade, e nada mais,
Peirce não se poupou de recorrer desde aos primeiros filósofos gregos, passando pelos
medievais (também pelo árabe Avicena)
138
, renascentistas, modernos, até chegar aos seus
contemporâneos. E a filosofia não foi seu único campo de investigação científica. Sobre o que
consideramos com destaque no capítulo anterior.
No centro do “realismo scotístico” advogado por Peirce, está uma nova
concepção de “realidade”. O caráter real dos conceitos universais e da não-
identidade formal. E aqui a tese de que a possibilidade real scotista constitui um
elemento profícuo para o entendimento da base metafísica do conhecimento na
categoria peirciana de Terceiridade. (NASCIMENTO 2005:67)
Como o pré-socrático Pitágoras, Peirce também foi considerado um polímata
139
, ambos
dominaram muitas disciplinas das diversas áreas do conhecimento. Peirce se dedicou mais de
quarenta anos aos seus estudos e escrituras, é possível que tenha alcançado a realização de seu
desejo de ter sua obra atravessando os tempos, tanto quanto a de Aristóteles - diferente do
estagirita, porém, as descobertas de Peirce ou as modificações que ele fez em relação a seus
antecessores, inclusive quanto ao próprio Aristóteles, como na distribuição dialética dos tipos
de argumentos, bem como na classificação das categorias fenomênicas, e das ciências, até
mesmo retirando a metafísica do lugar primeiro na classificação das ciências e suas
modificações e inovações não foram tão facilmente acolhidas e conservadas como as de
Aristóteles.

137
Brent. Ob. Cit. P 4.
138
A relação de Peirce quanto aos medievais, especialmente Duns Scot, Tomás de Aquino e Avicena,
principalmente para a construção do caráter realista de sua doutrina filosófica, encontra-se minuciosamente
debatida na Revista de Filosofia Cognitio, volume 6. 1. 2005. Especialmente em Nascimento (PP 56-59)
Avicena, Tomás de Aquino e Duns Scot; Boler (PP 13-22) Peirce on the Medievais: Realism, Power, and Form;
Pich (pp. 61-79) Scotus e Peirce sobre Realidade e Possibilidade. E ainda em Tiecerlin (1993) Peirce´s
Realistic Approach to Mathematics: Or, Can One Be a Realist without Being a Platonist?
139
Gonçalves (2006) citando Santaella. Ob. Cit.
Mattéi (2000)Ob. Cit.
Santaella (1992)Ob. Cit.
70
Até mesmo nos dias atuais
140
, entrada do século XXI, quando agora parece ser o tempo
fértil para a divulgação, entendimento e acolhida definitiva de sua doutrina, não o
encontramos com muita facilidade nos compêndios e ou nos dicionários de vocábulos afins à
filosofia e à lógica. Mas recorrendo ao que está em seu próprio pensamento explícito no seu
texto Hábito (7ª Conferência de Cambridge, de 1898), tal resistência aos seus inovadores
conceitos e criação de uma ciência lógica - semiótica (e acrescentamos tanto quanto a
resistência aos conceitos de seu quase contemporâneo pensador científico, e também criador
de uma ciência, na passagem do século XIX para o século XX, Sigmund Freud), deve-se ao
fato que “hábitos cristalizados de pensamento e conduta são mesmo quase impossíveis de
serem quebrados”.
Rejeição da sociedade, ausência de compreensão de suas idéias, vida “quase solitária”,
rompimento de amizades: experiências compartilhadas entre inovadores de idéias, criadores
de doutrinas, vivenciadores de fenômenos estranhos à maioria das pessoas, como o “ouvir o
Lógos
141
, por exemplo, e segundo o que, conjecturando, poderia ser outro ponto de
identidade entre Pitágoras e Peirce, e o que resultou em também pontos comuns à suas teorias,
como a percepção, o entendimento e a construção de um sistema fundamentado em uma
estrutura tricotômica (o que Pitágoras não teorizou como Peirce, mas já deu ênfase ao
tradicional e clássico “teorema do triângulo retângulo”) e suas crenças em torno à comunidade
de buscadores da verdade.
As comunidades
142
de buscadores da verdade nasceram em uma época em que “ouvir o
Lógosnão era tão raro. E aos pitagóricos é atribuída a primeira koinonía
143
= comunidade =
sociedade.

140
Santaella (1992) Ob. Cit. PP 66-67. A autora comenta da insistente incompreensão da real significância de
Peirce para a Lógica da Ciência, parecendo que ele ainda está presente pela enormidade do seu
empreendimento.
141
Abdounur (2002) Matemática e Música: o pensamento analógico na construção de significados. Introdução;
Cap. 1: Da matemática à música: um passeio numérico através dos sons; Cap. 2: Conhecimento, Inteligência e o
Pensamento Analógico.
Jacquemard (2007) Pitágoras e a harmonia das esferas. Obs: a autora explora a relação pitagórica entre som,
palavra, número e música, ao longo do livro, bem como a significância da vida em comunidade para Pitágoras e
os pitagóricos, sempre me meio à música.
Tomás (2002) Ouvir o lógos: música e filosofia. Cap. I: Bajo Nombres Muy Diversos... Cap. 3: O que existe
de mais antigo... Cap. 4: Pensar é se limitar a uma única idéia...
142
Jacquemard (2007). Ob. Cit. Capítulos: A descoberta dos lugares em que a Comunidade vai se enraizar;
Levar uma vida exemplar; Os companheiros em ação; A Comunidade pitagórica considerada como modelo ideal.
143
Gobry (2007) Vocabulário grego da filosofia. P 88.
71
Com a escola jônica, o nascimento da filosofia e também o começo do
pensamento científico ou “poder-se-ia dizer simplesmente do pensamento”
marcam a mudança da atitude intelectual, pois uma construção mais abstrata e laica
começa a se impor, afastando gradativamente as crenças e justificativas dos fatos do
mundo enraizadas no pensamento mítico.
Essa mudança de pensamento apresenta como objeto a busca de algo
permanente e estável, em face das constantes mudanças, pluralidades e instabilidade
do mundo, percebidas pelos sentidos: “a filosofia começou pela crença de que por
detrás do caos aparente existe uma permanência oculta e uma unidade, discernível
pela mente e não pelos sentidos”
144
.
Em MATTÉI (2000:29) “Hegel reconhecendo em Pitágoras “o primeiro mestre
universal”, confessa sua admiração perante esta comunidade viva que encarnava ao modo
ainda menor da “representação”, a comunidade universal do Espírito absoluto, isto é, em
termos hegelianos, o modo totalizador da “especulação”, que é a Razão enquanto pensa em si
mesma.”
145
·. Foi Pitágoras que em primeiro lugar estabeleceu - “entre amigos tudo é comum”
– e que afirmou “um amigo é outro eu”.
146
Além de “ouvir o Lógosoutro fenômeno marcou o nascimento das comunidades de
buscadores da verdade, ou o que é possível, ambas as causas estiveram juntas: o
discernimento da mente quanto ao desenvolvimento da alma pela ascese do conhecimento
provocado pela flecha do deus do amor Eros.
147
Tradicionalmente, a história do curso do pensamento humano dentro do percurso da
história da filosofia, esta que por sua vez apresenta uma linha seqüencial de abordagens
conjecturais relativas às questões também seqüenciais em torno à vida e aos seres da vida, o
que Mario Ariel González PORTA (2002) chamou de A Filosofia a partir de seus problemas,
aponta para a íntima correlação entre Amor e Conhecimento ou entre Eros e Lógos, assim
como aponta também para a íntima correlação entre o Bem e a Justiça, correlações estas que
tradicional e respectivamente são atribuídas aos diálogos de Platão: Banquete e Fedro, e à

144
Tomás. Ob. Cit. P 53.
145
Mattéi (2000) Ob. Cit. PP 29-30. Cita Hegel (Leçons) “Pitágoras reportou incontestavelmente do Egito a
imagem de uma ordem (orden), de uma vida estável votada à cultura científica e moral e que durou a vida
inteira”. P. 29.
146
Ob Cit. P 39.
147
Botelho (2005) “Eros: a outra face da Dialética de Platão”. DM. PUC/SP.
72
Ética a Nicômaco, de Aristóteles, e desde os primeiros gregos também, a correlação entre
conquista do saber e conquista do Bem, o que veremos à frente.
os clássicos filósofos gregos socráticos Platão (427-347 a. C.) e Aristóteles (385-
322 a. C.) e posteriores ao pré-socrático Pitágoras (século VI a. C., estima-se que tenha
nascido por volta de 530 a. C.), a quem se atribui a introdução da noção do conceito de
filosofia amor e amizade à sabedoria - e de cujo pensamento Jean-François Mattéi (2000:5)
se refere como sendo a arché, o “começo” e o “mandamento” de pelo menos a metade do
pensamento ocidental que se identificou com a universalidade, ou “talvez seja mesmo a
totalidade desse pensamento que se mantenha sob o impacto do começo, embora Pitágoras
não tenha ousado transpor tal limite e, assim, aborrecer os deuses”.
“O começo é a metade do Todo”: tal é uma das mais surpreendentes
sentenças que os pitagóricos chamavam de hómoia, “similitudes”, e nas quais
condensavam sua visão de existência de uma forma simbólica e freqüentemente
enigmática (Timeu, citado por Jâmblico; Platão, Leis; e Hesíodo, Os trabalhos e os
dias) (...) Se é verdade que a filosofia constitui de Platão a Heidegger, e de Spinoza a
Hegel, esse campo único onde o pensamento se confronta com a totalidade do ser,
então o conjunto desta reflexão se inscreve necessariamente sob o signo daquele que
foi o primeiro a portar o título de filósofo,
148
Pitágoras.
E assim como tradicionalmente se atribui a Pitágoras e aos pitagóricos o início da
correlação de filosofia com a busca amorosa do saber pelo amigo e amante da sabedoria,
atribui-se igualmente as correlações de Platão com a filosofia do mundo das Idéias
149
(mundo
das formas; eîdos) e de Aristóteles com a filosofia do mundo Real (mundo da forma e da
matéria; eîdos e morphé). O que foi expresso na também clássica pintura do italiano Raphael
Sanzio, em 1509.
150
·. (Ils. Rafael 10)

148
Mattéi (2000) Pitágoras e os pitagóricos. Págs. 5-6.
149
Conforme vimos no capítulo anterior, intérpretes de Platão que consideram suas Idéias como Formas
Reais, não mais Ideais. (Ou Ideais Reais que talvez sejam possíveis, naquele estado do ainda-não, mas pode ser)
150
Tradicional diferença entre Platão e Aristóteles muito encontrada nos compêndios de história da filosofia e
que costumam se fazer acompanhar desta reprodução da pintura da Escola de Atenas, não é compartilhada por
estudiosos de Platão. “Não se deve dizer idealismo platônico”, pretextando-se que a filosofia de Platão é
doutrina das Idéias. O idealismo é uma teoria que o pensamento como única existência ou como fundamento
da realidade; ora, as Idéias platônicas, único fundamento da realidade, existem realmente fora do pensamento:
portanto, é um realismo e até um hiper-realismo”. Gobry (2007). Ob. Cit. p 51.
73
Mas, mesmo se diferenças são encontradas entre Pitágoras, Platão e Aristóteles, não
estão separados na intenção de suas atividades filosóficas: questionar sobre aqueles primeiros
temas que provocaram a curiosidade do conhecimento (trazidos no início do capítulo
anterior), buscar a inteligibilidade do mundo, através do estabelecimento das condições de um
conhecimento racional que fosse além das aparências ou do contato imediato com as coisas.
Como mesmo uma curiosidade natural provocada pelo encanto, pelo espanto ou pela
admiração diante da realidade da natureza, dos seres, de si própria, da vida e da ação de viver
e de morrer, enfim, espontaneamente estes primeiros filósofos buscaram a sabedoria pela
própria ação da busca. O Buscar pelo Buscar, tanto quanto o Viver pelo Viver, o Filosofar
pelo Filosofar. Já pensavam os primeiros filósofos gregos que se a busca fosse provocada pela
imposição de uma necessidade outra que não a própria busca, poderia levá-los à condição de
escravos deste exercício, mas se fosse a nome do encanto, do espanto e da admiração diante o
não sabido, e amor pelo caminho
151
da investigação e a conquista do saber, então poderiam até
mesmo transpor a condição de humanos e acessarem a via de um saber divino. “Todos os
homens, por natureza, tendem ao saber” assim iniciou Aristóteles seu livro primeiro daquela
que ele chamou a ciência primeira – a Metafísica.
E desta tendência natural apareciam as perguntas, as dúvidas, o sentimento de, como
dizia Sócratesquanto mais sabiam mais sabiam que não sabiam e que mais ainda tinha a ser
sabido, e assim sucessivamente. Nascia o exercício dialógico, o exercício do Logos através
dos diálogos entre os filósofos, o que está bem explicitado na obra e Platão, em seus tantos
Diálogos, entre os quais dois especialmente trataram da referida correlação - Amor e Busca do
Saber, conforme nos referimos anteriormente. O amor-prazer (Eros) pelas sensações e pelas
percepções que se dão através da experiência, e amor-sublimado (Ágape) pelo raciocínio
através da própria experiência.
Através dos diálogos se exercia a prática da filosofia entre os amantes e amigos da
sabedoria que, por intermédio de seu Soma (corpo) com seus sentidos, a Psykhé (psíquico)
aprendia-conhecia, e a Anima (alma) ascendia da Doxa (opinião) até a Epistéme (ciência) ao
mesmo tempo em que se aproximava do Bem inteligível. Portanto, o sentido inicial da
dialética “está em Platão que a entendeu se realizando em quatro etapas, descritas no livro VII

151
Snell (2001) Ob. Cit. Cap. 13. O Símbolo do Caminho.
74
da República (532a-534c), e preparadas pela exposição dos modos de conhecimento no livro
VI (509 d-511e).
Epistéme
Ciência
Nóesis
Diánois
Razão Intuitiva
Razão Discursiva
Princípios (inteligível).
Hipóteses (noções).
Dôxa
Opinião
Pístis
Eikasía
Crença
Conjectura
Realidades sensíveis
Imagem do sensível.
Esses modos de conhecimento apresentam analogias dois a dois: o visível (objeto da
opinião) é a imagem do inteligível (objeto da ciência); as imagens (objeto da conjectura) são
imitações das realidades sensíveis; e as noções (objeto da diánoia) são imitações das
Essências eternas. ”
152
A referida ascese da alma a caminho da sabedoria, indo da doxa à episteme, marcou o
inicio da filosofia, e não mais a largou. (Ils. Forq. Vang. 3.)
Muitos anos se passaram após os primeiros filósofos gregos, e ainda a filosofia é o
exercício da ascese da razão.
Em Peirce, que acreditou no acúmulo da herança que a alma traz consigo, tal crença
lhe possibilitou o reconhecimento e o respeito aos antepassados e ao conceito de
continuidade. Ele advertia que nenhum pensador ou investigador poderia partir de uma mente
vazia, e para quem falava como fazia, ou fazia como falava, esta era sua atitude de um
cientista que assumia o paradoxo do falibilismo: porque sabemos que não sabemos
procuramos saber mais, e quanto mais sabemos, mais podemos perceber que nada sabemos e
mais procuramos saber, e assim indefinitamente. O Viver como o exercício do eterno (e terno)
aprender de tudo aquilo que se oferece ao conhecimento.
Charles Sanders Peirce, não ignorando que existe uma ampla e profunda realidade
disponível ao conhecimento, buscou uma filosofia, uma lógica e uma metafísica científicas.
Sua consciência de um estado natural de falibilismo e de Sinequismo contidos na
realidade da vida dos seres, sua curiosidade e desejo de saber, sua paixão pela lógica serão os
elementos necessários para se constituir como o pensador, inquiridor e teorizador que foi.

152
Gobry (2007) Ob. Cit. P. 40.
75
A Lógica, um precoce amor de Peirce, um amor crescendo como ele e com ele, desde
Eros, passando pela Philia, até chegar à Ágape.
Uma definição que poderíamos atribuir a Charles Sanders Peirce é de um
polímata cientista filósofo. Toda vez em que Peirce era convidado para realizar
cursos, aulas e conferências, em universidades e institutos, sempre abordava sobre
“lógica” (SANTAELLA 1992: 69)
Se as palavras de Lao Tsé se confirmam: “O rio atinge seus objetivos porque aprendeu
a contornar seus obstáculos”, e se, a partir desta verdade perguntássemos ao filósofo norte-
americano do século XIX Charles Sanders Peirce - quais as condições de possibilidades para
que de fato ocorra esta aprendizagem que garantirá ao rio contornar obstáculos e atingir seus
objetivos?
É bem possível que o encontrássemos respondendo que o rio aprendeu a contornar
obstáculos de forma que atingisse seus objetivos pelo telos natural, da razoabilidade de uma
Razão (Lógos = pensamento, logikón = a alma racional = Noûs = espírito = inteligência)
que, como que por instinto se sente atraída para fatos vivos que lhe convocam a mente a
pensar sem cessar, uma experiência geral processual e evolucionária ocorrida em movimento
continnum e conduzida por uma lei do amor evolutivo (Agapismo), desde o primeiro
momento de organização do cosmos.
Lembremo-nos que no capítulo anterior nos referimos ao fato de que as águas do rio
correm para o mar, independente mesmo de como e do que possa lhe ocorrer durante seu
percurso. (ANZALDO 1997: 86).
Palavras de Peirce em 1879, reproduzidas por Silveira (2002:34), mostram a relação
do filósofo com a lógica, bem como a correlação feita por Peirce entre
Inteligência/Consciência (Alma) Sistema Nervoso/Cérebro/Complexo de Nervos
Pensamento/Leis Gerais da Ação Nervosa:
“O pensamento é feito com o cérebro, e o cérebro é um complexo de
nervos; de tal modo que o pensamento está necessariamente sujeito às leis gerais da
ação nervosa” (...) “não encontramos indicações seguras da existência de uma
consciência não conectada a um organismo nervoso; e quanto mais complicado é um
organismo, mais alta é sua consciência. Se a alma existe como uma substância
independente ou não, certo é que a inteligência, tal como nós a conhecemos, reside
no sistema nervoso; de modo que as leis da primeira necessariamente correspondem
às deste último. Rastear com cuidado científico esta correspondência aonde quer que
76
se encontre, neste momento não seria possível; mas o esboço grosseiro que podemos
fazer, embora não esteja livre de erros, não deixará de lançar uma forte luz sobre a
teoria da lógica”.
Ao longo do tempo da criação das doutrinas filosóficas seus pensadores conjecturaram
sobre a correspondência acima referida por Peirce. Alguns a tomando pela medida dos deuses
(fase mitológica, início do pensamento filosófico de tradição grega, por exemplo), outros a
tomando pela medida do homem (os gregos sofistas, por exemplo)
153
, e Charles Sanders
Peirce, originalmente não a tomando nem pela medida do divino e nem pela medida do
humano, a proporá pela medida sígnica semiótica, única e exclusivamente como um recurso
advindo da lógica:
“... ganhamos espaço para inserir a mente em nosso esquema, e colocá-la
no lugar onde seja necessária... e fazendo assim resolvemos o problema da conexão
da alma e do corpo”.
154
Com exceção à de Peirce, as duas possibilidades de medida acima citadas fizeram com
que a religião e a filosofia caminhassem em paralelo durante muitos anos da história do
pensamento humano, e ao que esta relação e à relação entre teoria e prática ele dirá que não se
serve a dois senhores ao mesmo tempo – já vimos que Peirce não é adepto de dicotomias e de
paralelismos - a não ser que se encontre a saída por ele encontrada, ou seja, a estrutura
triádica, onde um terceiro virá ao mesmo tempo ser o mediador entre os dois pólos, e lhes
possibilitar uma convivência compatível. Os três pólos então, sem perderem cada um sua
especificidade, poderão conviver em unidade. A comunidade entendida por Peirce entre suas
três categorias fenomênicas: primeiridade, segundidade e terceiridade, e a partir delas todas as
demais tricotomias contempladas na sua doutrina filosófica lógica metafísica, sua semiótica.
A considerada “verdadeira orgia de lógica e de simbolismo trinitário” por Panofsky
em relação à Suma de teologia de Tomás de Aquino, e citado pelo Professor Doutor Carlos
Arthur R. Nascimento em Santo Tomás de Aquino: o Boi Mudo da Sicília (2003: 70). A
considerada Ética mínima do “socialismo lógico” de Peirce.
155
A relação do três em um.
Escolásticos teólogos filósofos acreditavam na presença de uma iluminação divina no
interior da razão humana (ao modelo do que vimos em Agostinho no capítulo anterior), como

153
Snell (2001: cap.14). A Cultura Grega e as Origens do Pensamento Europeu.
154
CP 6.61.
155
Apel (2000) Transformação da Filosofia II: o a priori da comunidade de comunicação. P 260.
77
uma espécie mesmo de instinto advindo do infinito amor agápico do Lógos Espírito de
Deus, ou a inspiração do il lume naturale.
Peirce, um lógico filósofo que, admirador da lógica escolástica e adepto do realismo
de Duns Scot (o escolástico que separou a teologia da filosofia)
156
, preferiu acreditar na
presença de uma iluminação natural no interior do Lógos - Razão, como uma espécie mesmo
de instinto advindo do infinito amor agápico de uma lei evolucionária por ele nomeada
Agapismo e contida na natureza mesma da Razão que, portanto, igualmente será evolutiva.
A escolha pela lógica filosófica em lugar da teologia filosófica, dado que Peirce
acreditou estar animado pelo Eros (deus do amor na mitologia grega) científico verdadeiro da
lógica, desde sua tenra idade
157
, conduziu este pensador a também escolher a ciência como
prática lógica religiosa. E religioso no sentido de atenção cuidadosa, uma busca da verdade
centrada no reto caminho da investigação científica, caminho este que para ele jamais deveria
ser bloqueado - Olhos atentos para uma observação minuciosa, com mente aberta deixando o
fluxo natural para a descoberta passar, sem interromper o movimento da razoabilidade, seria a
postura ideal para o cientista na direção do encontro da verdade, sugere Peirce.
Como Charles Darwin (1809-1882), considerado o pai da teoria da evolução pela
seleção natural, mesmo que não sendo o primeiro desta contemplar, escreveu no seu diário de
pesquisa: “é preciso que se tenha um objetivo, que esse objetivo seja um estudo a ser
completado, uma verdade a ser descoberta; em resumo, que esse objetivo o sustente e o
encoraje”.
158
Desde muito cedo na vida de Peirce, seu objetivo ou propósito de sua alma, fora
provocado pela flecha do amor de Eros, o deus alado da mitologia grega que, um dia lhe
oferecendo um Livro de Lógica, provocou-lhe semelhante efeito como as Tábuas da Lei da
Torá um dia entregues por Deus Pai a Moisés, ou como o livro do Alcorão um dia entregue
pelo Anjo Gabriel a Maomé; e se então deles nasceram respectivamente as religiões
monoteístas Judaísmo/Cristianismo e o Islamismo; das Tábuas da Lógica e Peirce, resultaram

156
Duns Scot (1989) Escritos Filosóficos. Tradução e notas de Carlos Arthur Nascimento e Raimundo Vier.
157
Gonçalves (2006). DM. Um Tratamento dos Grafos Existenciais na obra de Charles Sanders Peirce.
Capítulo I. Citando Peirce “Quando eu era menino, meu pendor para a lógica fazia-me sentir prazer no ato de
seguir um mapa de um labirinto imaginário, passo a passo, na esperança de descobrir o caminho que me levaria
ao compartimento central”, explica-nos que “para Peirce o exercício lógico constituía um intrigante jogo lógico,
significativo ao desenvolvimento da arte de raciocinar”. Vimos já no capítulo anterior.
158
Darwin, Diário de Pesquisa (1845). Em Tort (2004). Darwin e a ciência da evolução. P 27.
78
não mais uma religião, mas a filosofia lógica/semiótica metafísica (e até mesmo uma
psicologia lógica, conforme vimos no capítulo anterior), bem como seu método de
investigação das ciências, o Pragmaticismo. (Ils. forq.vg.6.)
Nas palavras de Pilar Castrillo Criado (1968:12) que fez uma seleção organizada dos
Escritos Lógicos de Peirce (traduzida para a língua espanhola) “Charles S. Peirce,
possivelmente uma das mentes lógicas mais lúcidas e originais de todos os tempos”.
Ao que acrescentamos Charles S. Peirce, além de olhar atentamente a metafísica
disponível no universo para ser apreendida, possivelmente sua mente lógica, tal qual a de
Pitágoras “ouviu o lógos” universal, conferindo-lhes algumas aproximações de visão e
concepção cósmica, ao que retomaremos posteriormente, ou como o músico russo
Tchaikovsky (Swan Lake, Act II No. 10), e o escritor libanês Taleb (The Black Swan)
159
percebeu o “Cisne Negro”, fenômeno este associado à idéia “baseada na estrutura da
aleatoriedade na realidade empírica”.
O que chamo de platonismo, em função das idéias (e da personalidade) do filósofo
Platão, é nossa tendência a confundirmos o mapa com o território, a concentrarmos em
“formas” puras e bem definidas, sejam elas objetos, como triângulos, ou noções sociais, como
utopias (sociedades construídas a partir de um plano do que “faz sentido”, até mesmo
nacionalidade (...). A dobra platônica é a fronteira explosiva em contato com a realidade
confusa, onde o vão entre o que se sabe e o que acha que sabe torna-se perigosamente amplo. É
aqui que o Cisne Negro é gerado.TALEB (2007: xxv)
Com o desejo pela lógica objetivado, como se esta um mapa fosse às mãos de Peirce o
auxiliando a perseguir o labirinto até o centro, e força de uma intenção atribuída pelo fogo do
amor erótico à sua mente precoce, forjou-se o menino cientista, e mais velho, tendo adotado a
máxima advinda do Dr. Paul Carus
160
(1852-1919), um matemático com o qual manteve
profícuo debate sobre a Teoria da Probabilidade, teoria dos Conjuntos, e outras questões mais
de Matemática Moderna, Peirce chegou até a Lógica dos Relativos, semente que copulando
sua fértil mente lógica, gerou sua Semiótica.

159
Taleb (2007). The Black Swan: The Impact of the Highly Improbable. (2008. A Lógica do Cisne Negro: o
impacto do altamente improvável).
160
Gonçalves e Bernardo (1993). DM. Parte I. Tradução de Textos de Charles Sanders Peirce: Alguns
Aspectos sobre a Questão da Verdade. P 216.
79
A máxima do Dr. Carus afirmava: “É da natureza do pensamento crescer” (CP 2.32).
O que então, a este ponto em que chegamos poderíamos imaginar Peirce como que diante da
Esfinge no entroncamento de Tebas, entre Atenas, Corinto e Delfos, sendo por ela assim
desafiado: (Ils.P/Esf. 5.)
Se a Lei é a Lógica, o caminho é a evolução natural, e o pensamento cresce
continuamente, de que forma então esta lei lógica operará neste pensamento que cresce,
garantindo-lhe o caminho evolucionário?
Ao que Peirce por sua vez conjecturou sua resposta arquitetando seu grande sistema e
cunhando sua doutrina Filosófica Lógica Realista Metafísica Pragmaticista Sinequista
Evolucionária, dentro da qual o coração é a Semiótica. (Ils. fq. tríade 7.)
Um Lógico dos Correlatos Triádicos [aos moldes de Tomás de Aquino (1225-1274),
o teólogo filosofante da Sicília, e Agostinho]
161
, observou os fenômenos segundo as categorias
: primeiridade, segundidade e terceiridade [segundo ele mesmo, aos moldes de Immanuel
Kant (1724-1804)], e entendeu que a medida de todas as coisas do universo está na relação
triádica signa: signo-objeto-interpretante em contínua semiose e crescimento, tendendo ao
Summum Bonum, a clássica relação triádica entre o Belo, Bom e Verdadeiro (desde os gregos,
reconsiderado pelos escolásticos medievais, e retomado por Kant)
162
, e em Peirce o Admirável
da Estética, o Justo da Ética e o Verdadeiro da Lógica, em movimento evolucionário da
razoabilidade, algo geral e contínuo ocorrendo na experiência cósmica (CP 5.4).
Realista, de “sofisticada” doutrina de tradição do realismo escolástico do teólogo
filósofo escocês da Idade Média, João Duns Scot (1266-1308)
163
, este por sua vez advindo de
Aristóteles, acrescido em Peirce do idealismo objetivo da filosofia da identidade e da natureza
do alemão Friedrich Wilhelm Joseph Schelling (1775-1854)
164
, e se opondo Peirce ao

161
O recorrer aos escolásticos, em Peirce, está relacionado aos universais reais (influência de Scot, que vem de
Aristóteles), à adoção da lógica docens (princípio condutor da inferência, que também vem de Aristóteles) e à
estrutura uma e trina que está inclusa na dinâmica da Trindade: uma categoria primeira que se faz existência na
realidade da experiência da segunda categoria, e se faz permanentemente continuando na terceira categoria. E à
Trindade se dedicaram especialmente Agostino e Tomás de Aquino. Engel-Tiercelin (1993) analisa o realismo
de Peirce apontando a presença de dois pólos que eram interpretados como dicotômicos, mas estudos mais
recentes já não os vêm assim. Tiercelin considera no realismo de Peirce
162
Também Summum Bonum está presente no sintético glossário anexado ao final dos capítulos.
163
Engel-Tiercelin (1993) chama de sofisticado realismo de Peirce advindo da tradição de Avicena e Scot (que
vêm de Aristóteles) e que tratam da herança metafísica das regras de dedução e hábito; e ao mesmo tempo da
tradição platônica do domínio das entidades reais do universo da matemática.
164
Ibri (1994). Ob.Cit. Peirce cita no A Lei da Mente que ele era adepto da idéia schellinguiana de continuidade
entre mente e matéria.
80
realismo metafísico de Platão e às várias formas de nominalismo, também retira a Metafísica
de lugar primeiro na classificação das ciências, como estava em Aristóteles, para deixá-la, na
sua própria classificação das ciências, mais ao final, entre as Ciências Normativas e as
Ciências Especiais.
Na arquitetura de seu sistema filosófico lógico-semiótico realista classificou as
ciências em seguinte ordem: I - Matemática; II - Ciências Positivas: II – 1. Fenomenologia
(três categorias numa correlação tal que a terceira depende da segunda, e a segunda depende
da primeira), II – 2. Ciências Normativas Estética, Ética e Lógica ou Semiótica (aos
moldes do trivium medieval Gramática Especulativa ou Gramática Pura, Lógica Propriamente
dita ou Lógica Crítica, Retórica Especulativa ou Metodêutica; II 3. Metafísica ontológica
científica (diferenciando-se das metafísicas ontológicas anteriores de cunho religioso dos
teólogos filósofos e de cunho psicológico, de Kant e de Hegel); III - Ciências Especiais.
Uma Filosofia Lógica-Semiótica Metafísica Realista Pragmaticista porque centrada
na íntima relação da significância real de um conceito com o comportamento geral que ele
implica, uma conduta deliberada e autocontrolada, induzida pelo conceito que busca efeitos
práticos que contribuam com a razoabilidade concreta do universo.
165
Sinequista, conceito de Sinequismo advindo do conceito de continnum
166
de
Aristóteles, Dedekind e Cantor e dos puros matemáticos típicos do tipo Platônico, porém,
daqueles que corrigiram o erro do filósofo pré-socrático Heráclito de Éfeso (540-480 a. C.)
que pensava um eterno não contínuo (CP 4.646). “Fundação do arco de sua filosofia”, “base
para uma concepção de mundo”, princípio de continuidade de sua cosmologia, generalidade
de uma lei de relação.
Evolucionária, conseqüência direta do Sinequismo, centrada, pois no continnum,
movimento ininterrupto evolutivo operado pelo hábito adquirido da mente do universo de se
materializar através da lei da mente de associação (ação psíquica e ação física), e por Peirce

165
Bortolotti (1994) “O Realismo de Charles S. Peirce” DM. PUC/SP; Ibri (1992) Ob. Cit.; Silveira (2007)
Ob. Cit.
166
Conforme exposto no capítulo anterior e citados especificamente para o conceito de continuum: Moraes, e
Silva (2007); Sfendoni-Mentzou (2007).
81
atribuída no terceiro modo de evolução Agapismo - a lei da mente do amor evolucionário.
Uma hipótese filosófica para explicar o contínuo processo de aperfeiçoamento da Razão
(lógos) cósmica como um instinto de atração para o crescimento do caos tendendo à ordem,
do acaso tendendo à lei, um Hábito do universo – a grande lei da evolução.
A doutrina de Peirce, pois como um sistema filosófico centrado no fluxo continuum
presente entre mente e matéria, e entre as três categorias: primeiridade, segundidade e
terceiridade, fazem-no liberto de dualismos ou dicotomias, confirmando neste, o que vimos no
capitulo anterior.
A resposta conjectural de Charles Sanders Peirce ao enigma a ele proposto pela
Esfinge no entroncamento entre Atenas, Corinto e Delfos, resposta esta através de sua
Semiótica, suas inúmeras tricotomias tríades em semiose na sua Arquitetura das Teorias
(1891), e no seu A Guess at the Riddle (1887-8), a Semiótica se instalou no centro vital da
filosofia lógica metafísica de Peirce, e no seu método de investigação científica, um método
para determinação dos significados dos conceitos o Pragmaticismo (também trazido no
capítulo anterior, e agora mais um pouco à frente), e apontando para um cosmos que é mente
se materializando por intermédio de tríades signicas que crescem infinita e continuamente,
porque evolucionárias, e, portanto, todos os conceitos intelectuais que formam o pensamento
que se darão nesta dinâmica.
Engel-Tiercelin (1993) além do que expusemos sobre sua minuciosa análise do
realismo de Peirce, na nota de rodapé 160 apontando sua tradição platônia-aristotélica em
uníssono, faz considerações sobre o segredo da arte de raciocinar estar no pensar, sobre dois
procedimentos essenciais na determinação do significado: abstração e generalização, e a
demonstração, e ainda, sobre a diferença entre pensar por imagens (iconicamente) e
experimentar por imagens (esquema abstrativo). Tiercelin nos traz ainda sobre a riqueza do
pensamento de Peirce como conseqüência desta influência em uníssono de Platão e
Aristóteles que o liga à tradição medieval escolástica de Scot e do árabe Avicena relativa à
hispótase: a união hipostática do verbo divino e a natureza humana numa mesma pessoa.
Forma de pensar de tradição pitagórica, passando por Platão e Aristóteles e culminando nos
escolásticos, estes todos podem ter contribuído à percepção e interpretação de Peirce a um
universo em estruturas triádicas ou tricotômicas. (Ilus. Trindade 12)
82
A máxima pragmática de Charles Sanders Peirce, que mesmo tendo sido apresentada
em sua vasta obra, em dois momentos distintos, suas duas clássicas versões, porém, não
diferiram entre si quanto à significância central.
No célebre artigo quase que como um marco inaugural da divulgação de seus
pensamentos científicos - How to make our ideas clear publicado no Popular Science
Montly, em janeiro de 1878, encontramos:
“Considerem-se quais efeitos – efeitos que possam concebivelmente ter
conseqüências práticas imaginamos possua o objeto de nossa concepção. Nesse
caso, nossa concepção de tais efeitos constitui a totalidade de nossa concepção do
objeto”.
Já em outro artigo – What Pragmatism Is - agora publicado no The Monist, em abril de
1905, encontramos:
“Todo o propósito intelectual de qualquer símbolo consiste na totalidade dos
modos gerais de conduta racional que, na dependência de todas as possíveis e diversas
circunstâncias e desejos, assegurariam a aceitação do símbolo”.
167
Não se diferindo, portanto, quanto à significância central, Peirce deslocou a tônica
entre as versões de 1878 e 1905. Observação esta que nas palavras de MOTA e
HEGENBERG (1975:18):
Peirce passa dos conceitos para a categoria mais geral dos símbolos, ou
sinais, que abrangem sentenças, idéias e conceitos. A ênfase antes dada “às
conseqüências práticas” se transforma, para recair, agora, “na conduta racional”.
Peirce aceita, sem objeções, o fato de que as “normas” de conduta são essenciais
para a pesquisa. O significado, em decorrência disso, ganha uma dimensão social: o
significado não é uma “idéia” que o símbolo evoca na mente, mas conseqüência da
conduta que gera nos homens (racionais).
E nas palavras de WAAL (2007:149-150), em longo trecho aqui abaixo reproduzido,
porém, necessário:
Peirce agora insere orações curtas para exprimir o que tinha em mente com
essas “conseqüências práticas concebíveis”. Elas são “conseqüências para a conduta
autocontrolada, deliberada” (CP 8, 191), ou, numa carta a F. W. Frankland,
“conseqüências para a conduta racional”
ii
. Num esboço de uma carta à Schiller,
datada de 10 de setembro de 1906, Peirce elaborou, de maneira semelhante, uma
explicação para sua escolha de “práticos”, explicando: “Com prático” quero dizer
apto a afetar a conduta; isto é, controlada por deliberação adequada (CP 8, 322).
Poucos anos mais tarde, Peirce escreveu a Howes Norris Jr. que quando ele batizara
o pragmatismo derivara seu nome de pragma (comportamento), para mostrar que o

167
Mota e Hegenberg (1975). Semiótica e Filosofia. PP 17-18. Respectivamente as duas citações.
83
pragmatismo se refere à visão segundo a qual a única significância real de um
termo geral está no comportamento geral que ele implica
iii
.
Para Peirce, o que constitui a significação, assim não são os “efeitos”
enquanto impressões sensórias, nem o ato singular de produzir efeitos, mas a
conduta deliberada, autocontrolada, induzida pelo conceito. Fazer com que a
significação consista exclusivamente em atos concretos que a concepção produz
faria da força bruta o summum bonum do pragmatismo (R 284, 3).
E WAAL (2007:150-151), ainda no propósito de marcar bem a real significância dada
por Peirce à máxima pragmática do pragmaticismo que é uma máxima lógica (porque pela
lógica se conduziu Peirce deliberadamente e nela sustentou toda sua doutrina, dado que a
ciência normativa lógica estuda como devemos nos conduzir) e chamando a atenção que se
trata para Peirce de um modelo geral do experimentador ou do homem de laboratório,
apresenta duas analogias feitas pelo próprio filósofo explicitando seu próprio conceito de
pragmaticismo, e mais algumas passagens de Peirce na sua árdua e incansável tarefa de
precisar e proteger o conceito de pragmatismo conforme ele o concebera diferente do conceito
de pragmatismo de raptores
iv
da raiz original de sua original idéia:
“Ninguém concebe que os poucos compassos no fim de um movimento
musical são o propósito do movimento” (CP 5, 402, n3). “a arte vida do pintor-
artista é aplicada em tocar a tela levemente com o pincel cheio de tinta, e [...] que a
vida-arte consiste em colocar um pouquinho de tinta, ou que sua meta última é
pintar a tela de leve.” (CP 5, 402, n3)
Do experimento: “Quando você encontra, ou constrói idealmente sobre uma
base de observação, o típico experimentalista, você descobrirá que qualquer asserção
que se possa fazer a ele, ele o entenderá como significando que se uma dada
prescrição para um experimento puder ser feita alguma vez e for alguma vez
efetivada em ato resultará uma experiência de uma dada descrição, ou então ele não
verá sentido algum no que você diz” (EP 2, 332)
Do significado de um experimento “Certamente, não é um experimento,
mas em fenômenos experimentais que se diz que consiste o significado racional.
Quando um experimentalista fala de um fenômeno, assim como “fenômeno de Hall”,
“fenômeno de Zeeman” e sua modificação, “fenômeno de Michelson” ou “fenômeno
do tabuleiro de xadrez”, ele não quer dizer nenhum fenômeno particular que
aconteceu a alguém no passado morto, mas o que seguramente acontecerá a qualquer
futuro vivo que satisfaça certas condições”. (EP 2, 340)
Da significação de uma proposição: “aquela forma em que a proposição se
torna aplicável à conduta humana, não nessas ou naquelas circunstâncias específicas,
nem quando se cogita este ou aquele desígnio específico, mas aquela forma que é
mais diretamente aplicável ao autocontrole sob toda situação, e para qualquer
propósito”. (EP 2, 340)
Após apresentar detalhada e cuidadosa explicitação sobre o conceito de pragmatismo
de Peirce, acima exposto, WAALS (2007:152) conclui que a máxima se aplica a qualquer
84
coisa que possa se tornar um mbolo, que símbolo é signo. Segundo Walls, Peirce foi
fundo em assegurar uma leitura da máxima que fosse não-sensacionalista porque a
significação de um símbolo não é colocada em termos de sensações a ser esperadas; não-
emotiva porque foca explicitamente no teor intelectual do símbolo e liga significação à
conduta racional; e finalmente, é realista porque situa a significação não nos particulares, mas
em algo geral, impedindo todas as tentativas de reduzir o geral ao particular, que nenhum
conjunto de particulares poderia possivelmente cobrir “todas as possíveis condutas e desejos
diferentes”.
Peirce considerou de fundamental importância insistir na conceituação de sua máxima
de 1878 e repetí-la em 1905, como proposição, com o devido deslocamento da tônica, porque
também sentiu a necessidade de enfatizar a correlação de dependência entre as três categorias,
o que quer dizer que a terceira categoria é um componente essencial da realidade que governa
a ação do pensamento, mas ação esta que pode surgir na primeira categoria que governa a
ação do sentimento. E será esta relação de dependência entre terceiridade, segundidade e
primeiridade, as três categorias do sistema de Peirce, que distinguirá sua filosofia lógica
metafísica pragmaticista realista evolucionária, do idealismo absoluto de Hegel
168
, mesmo
que este o filósofo tenha contemplado no seu sistema três estágios do espírito teórico:
intuição, representação e pensamento, reservando para a terceira categoria, o lugar do
pensamento.
Peirce acreditava na importância primordial da metafísica para a filosofia e base para
todas as ciências, e esta sua crença somada à sua habilidade de um demiurgo demasiadamente
humano o levaram a converter a metafísica ontológica e a metafísica religiosa em uma
metafísica científica.
169
MAYORGA (2005) diz Peirce se equipara a Aristóteles na definição de metafísica:
parte da filosofia do ser enquanto ser (CP 6.214-1848, CP 6.526-1901), ele se diferenciará do
clássico grego na sua definição de lógica: ciência da análise do pensamento, dos princípios do
raciocínio, ciência das leis para estabelecer crenças estáveis (CP 3.429-1896), e aproximará
metafísica e lógica: “a maneira adequada de responder às questões da metafísica é começar

168
Hösle (2007) Ob. Cit. P 436.
169
Mayorga, Rosa. Peirce y la Metafísica. 2005.
85
pela lógica, pois a única maneira racional seria estabelecer primeiro os princípios de
raciocínio (CP 2.166-1902)”.
170
O que nos leva a observar que Peirce se utilizou da lógica como base para a metafísica
como recurso para libertá-la da ontologia e da teologia até então a ela intimamente
relacionadas. Em Peirce uma íntima ligação entre lógica, princípios de raciocínio, método
e investigação científicos, relacionados e oferecendo fundamento à sua metafísica.
Mayorga nos traz a relação feita por Peirce entre o método científico e a metafísica
dado que ambos buscarão a verdade e colocarão suas crenças à prova usando três classes de
raciocínio: 1- abdução ou hipóteses; 2- dedução; 3- indução; e a ciência normativa, que
indicará “como, dados os meios, persegue-se um fim necessário” (CP 4.240-1902), fim este
que é o estabelecimento de crenças que conformam nossas ações.
Peirce não aproximou a metafísica da teologia e adepto do realismo escolástico de
Duns Scot contra o nominalismo, reconheceu que este filósofo medieval considerava a
metafísica independente da questão religiosa. (CP 1.659-1898). Como vimos, ele foi
considerado o filósofo medieval escolástico que separou a filosofia da teologia.
Tampouco Peirce quis permanecer na metafísica ontológica de seu influente mentor
Kant. Crítico do que ele chamou de metafísica “a priori” que, como a religiosa poderia levar
as demonstrações dos metafísicos a fantasias (CP 1.7), e cujas conclusões poderiam ser
apenas “futilidade metafísica” (CP 8.191), apontou para uma metafísica científica que “está
comprometida com a investigação de assuntos de fato, e o único caminho para assuntos de
fato é o caminho da experiência” (CP 8.110)
IBRI
171
nos traz a relação fundamental feita por Peirce entre a experiência e o conceito,
“A limitação dos conceitos à experiência possível é o pragmatismo no seu sentido geral” (CP
5.525) e mais do que a importância desta relação, ele nos chama a atenção para a necessidade
de que ambos convirjam para um estatuto de verdade... Esse ponto também é quesito que se
exige de teorias metafísicas, além de sua passagem obrigatória pelas ciências normativas. Este
aspecto de confronto entre teorias verdadeiras e falsas sob a ótica do Pragmatismo enseja que
se discuta um tema de importância inegável no interior do pensamento do autor, qual seja o
estatuto da crença e sua diferença pragmática com respeito à dúvida”.

170
Mayorga. Ibid.
171
Ibri (2003) Pragmatismo e a Possibilidade da Metafísica. Cognitio. V. 4. N. 1. PP 9-14.
86
Nossas crenças guiam nossos objetivos e moldam nossas ações (...) O
sentimento de crença é uma indicação mais ou menos certa de que se estabeleceu em
nossa natureza algum hábito que irá determinar nossas ações. A dúvida nunca
produz tal efeito. (CP 5.371)
Assim tanto a dúvida quanto a crença produzem efeitos positivos sobre nós
embora acentuadamente diferentes. A crença não nos faz agir de imediato, mas nos
coloca em uma condição de nos comportarmos de um certo modo quando surgir a
ocasião. A dúvida não produz, sequer minimamente, tal efeito ativo, mas estimula-
nos a investigar até que seja destruída. (CP 5.373)
172
A íntima relação pragmatismo peirceano e metafísica é salientada por IBRI
173
em
“cognoscibilidade e ser não são apenas a mesma coisa metafisicamente, mas são termos
sinônimos” (CP 5.257); e por ROSENTHAL
174
em “a filosofia pragmatista está intimamente
entrelaçada com um novo paradigma para empreendimentos metafísicos especulativos, que
oferece senão um retrocesso para tempos passados, mas um novo caminho para o futuro.”
Rosenthal nos chama a atenção ainda para:
[...] e pragmatista da existência humana concreta que fornece não apenas o
foco para uma concepção das categorias como fenomenológicas e então metafísicas,
mas também fornece a direção para a compreensão da natureza do empreendimento
metafísico que as utiliza. Como todo sistema de significados, o sistema categorial de
significados que constitui uma interpretação metafísica conforma-se à concepção
pragmatista do conhecimento ligada à dinâmica do método experimental. Ele surge
da riqueza da experiência, fornece uma perspectiva organizadora que dirige o modo
como abordamos a experiência, e pode ser verificado pela inteligibilidade que
introduz no curso contínuo da experiência.
Em DELANEY
175
encontramos que “a habilidade de Peirce para se movimentar entre
os extremos de um empirismo e de um cientificismo está em sua abordagem da formação de
conceitos, que abrange tanto a percepção quanto teorias científicas”. “a metafísica seria bem
diferente das ciências especiais tanto quanto à generalidade de suas reivindicações quanto aos
tipos de experiências, das quais extrai, para sustentá-las”. “a única diferença essencial entre
metafísica e metereologia, a lingüística e a química, é que ela o se vale de microscópios,
telescópios, viagens ou outros meios de adquirir experiências recônditas, mas contenta-se em
assegurar tudo o que pode ser assegurado de uma experiência tal como a que cada homem
passa em cada dia e hora de sua vida” (CP 8.110)... Observação ordinária é a noção axial.
Ao passo que as observações invocadas nas ciências especiais são minuciosas, aquelas
que guiam a especulação metafísica são “observações tais como um homem que nunca tira

172
Ibri (1992) Ob. Cit. e Ibri (2003) Ob. Cit.
173
Ibri. Ibid. Pág. 11.
174
Rosenthal. (2003) Metafísica Pragmática: um Caminho para o Futuro. Cognitio. V. 4. N.1. PP 46-59.
175
Delaney (2002) Peirce sobre ciência e metafísica: visão geral de uma visão sinóptica. N. 3. PP 11-27.
87
seus óculos azuis logo cessa de ver a matiz azul” (CP 1.241). “as coisas que a ciência
descobre estão além do alcance da observação direta; são apenas as premissas da ciência, não
as suas conclusões, que são diretamente observadas” (CP6. 2)...” Sua demarcação do método
científico relativamente a outros métodos de fixar a crença depende crucialmente de juízos
perceptivos ordinários monitorando o mecanismo de retroalimentação que guia a autocorreção
da ciência... De fato, a metafísica de Peirce desempenha uma variedade de papéis fornecendo
uma base sólida e estendendo sua imagem científica global do mundo”.
As produções de Peirce após 1890, caracterizando-o definitivamente como um filósofo
lógico metafísico e absolutamente inovador, como vimos anteriormente, farão com que
Peirce, chame a atenção, no A Lei da Mente, para o fato que se ele já falara sobre “o Tichismo
ou acaso absoluto como uma espécie de idéias ou forma de pensar que deveriam contornar um
sistema de filosofia, agora iria chamar a atenção dos sérios estudantes de filosofia para o que
estaria entre as principais vias que o pensamento especulativo pode assumir, uma vez que virá
originar uma cosmologia evolucionária, na qual todas as regularidades da natureza e da mente
são vistas como produtos de crescimento - o Sinequismo.
O período no The Monist, pós 1980, parece ter coincidido com o que BRENT (2000:
6) se referiu ao que teria sido uma experiência mística na vida de Peirce (1892) que mudou a
sua vida. Peirce contou que depois de “muitos anos de ausência da Igreja e da comunhão, em
meio a uma grande crise pessoal sentiu-se motivado a participar e uma manhã, depois de
perambular sem objetivo, entrou na Igreja Episcopal de São Tomás, na cidade de New York”.
Eu parecia receber o consentimento direto do Senhor para vir
comunhão]… quando veio o instante em que me descobri conduzido até o balaústre
do altar, quase sem a minha própria vontade. Eu tinha absoluta certeza de que estava
certo. De qualquer maneira, eu não podia impedir isto. Posso mencionar como uma
razão por que não me ofereço para colocar o meu agradecimento pela graça a mim
concedida em alguma forma de trabalho da igreja, a qual parecia chamar-me hoje
parecia prometer-me que eu deveria suportar a cruz como a morte pelo bem/amor ao
Senhor (the Master = Jesus Cristo), e ele dar-me-ia força para suportar isso. Tenho
certeza que isto acontecerá. A minha parte é esperar. Cabe a mim esperar. (ML 483)
E Peirce termina seu relato dizendo “Eu nunca fui místico antes, mas agora sou”
Para Peirce, a experiência foi tão importante que ele disse sobre isto:
Se… um homem não teve nenhuma experiência religiosa, então qualquer
religião não uma simulação é até agora impossível para ele, e a única trajetória digna é
aguardar calmamente até que essa experiência venha. Nenhuma especulação
significativa pode tomar o lugar da experiência. (CP 1.654).
88
BRENT continua comentando sobre a experiência e Peirce, considerando que
para o místico o real não é perceptível por ele mesmo, ele é representado por
meio do sentido, da mesma maneira como a idéia é representada através da palavra, do
signo. A palavra é ouvida com o ouvido, mas o sentido que esta palavra representa (o
significado que ela expressa) não tem mais propriedades físicas do que um
personagem em Sonho de uma Noite de Verão.
A partir da publicação do seu primeiro trabalho publicado em 1867, Peirce
defendeu a sua doutrina dos signos que ele denominou de semiótica,
“Não temos nenhuma capacidade de pensar sem os signos todo pensamento seja qual
for é um signo, e é em grande parte da natureza da linguagem.” (CP 5.285)
BRENT cita novamente Peirce:
Após sua experiência mística, cada vez mais ele tratou a semiótica como uma
interpretação do logos, a idéia do mundo compreendida como expressão de Deus/
Divina, a ação dos signos, ou semioses, em cinco artigos do Monista, em 1891 - 93
(CP 6,7 -34, 35-65, 102-63, 238-71, 287-317), que agrupa a sua experiência religiosa,
aquelas publicadas antes e depois disso mostram muito claramente nas suas diferenças
o efeito da experiência sobre o seu pensamento.
Para continuar comentando sobre as conseqüências da experiência mística de Peirce:
Em 1908, Peirce reinterpretou o seu pragmatismo como "Argumento
Negligenciado para a Realidade de Deus" (CP 6.452-93). O místico, muitas vezes
falará do "Senhor (O Mestre = Jesus)” ou um ser reverenciado de forma semelhante
como o guia para o real. No caso de Peirce, a "cruz como a morte" foi o dever de ferro
que "o Mestre" obrigou-o a fazer - a conclusão desta filosofia arquitetônica.
E assim concluiu BRENT:
Depois de sua experiência mística de 1892, Peirce, pobre, isolado, cada vez
mais doente, e muitas vezes profundamente deprimido e suicida, escreveu mais de
80,000 manuscritos de difícil, muitas vezes brilhante e, por vezes, soberbo
pensamento filosófico. Ele morreu, em 1914, praticamente com a caneta na mão.
Se Brent assim nos relata e assim correlaciona o que se passou com Peirce após sua
experiência mística, mesmo o próprio Peirce ou seus escritos (quando outros mais sobre os
relatos de Peirce de suas impressões e conclusões de sua experiência mística) poderiam nos
89
assegurar das conseqüências desta em sua vida. Mesmo que os sinais apontem para o que o
biógrafo e conhecedor de Peirce, apoiado nos escritos do filósofo possa ter se sentido
autorizado ao que concluiu.
Deixemos que o curso da doutrina de Peirce após 1892, diga por si mesmo, quais os
efeitos de sua mística experiência.
Agora, lançando novo olhar em relação aos metafísicos anteriores a ele, por
alguns até mesmo ele admitindo ter sido influenciado, introduz na sua cosmologia o
Sinechismo ou princípio de continuidade, por ele conceituado e definido como a base
para uma concepção de mundo em cujo, as coisas navegam in continua.
176
SANTAELLA
177
nos remete a esta fundamental questão: “Em uma carta a James em
25 de novembro de 1902, quando falava de seu sistema completamente desenvolvido, no qual
tudo se mantém integrado, não podendo receber nenhuma apresentação apropriada em
fragmentos, Peirce afirmou que o Sinequismo se constituía na fundação do arco de sua
filosofia (CP 8255-257)
O Sinequismo é definido como aquela tendência no pensamento filosófico
que insiste na idéia de continuidade como de importância primordial para a filosofia.
O contínuo, por seu lado é definido como algo cujas possibilidades de determinação
nenhuma quantidade de indivíduos pode exaurir (CP 6.160-170). Uma forma
rudimentar de continuidade é a generalidade, visto que a continuidade não é outra
coisa senão a generalidade de uma lei de relação (CP 6.172).
E SANTAELLA, concluirá “o Sinequismo envolve vários aspectos, a saber,
ontológico, metafísico e metodológico”
Retomando Mayorga
178
que ainda nos mostra que pelo seu Sinequismo, Peirce se
considerou mais realista do que o realismo escolástico de Duns Scot. Colocando-se entre os
dois extremos, de um lado Platão com seus universais que existem, mas apenas se manifestam

176
Santaella, Lucia. Os significados pragmáticos da mente e do Sinequismo em Peirce. 2002. P155.
177
Santaella. Ibid. PP 98-9. Citando Porter e Shields 1997:20.
178
Mayorga. Obra citada.
90
fenomenicamente como cópias imperfeitas e particulares, e de outro lado os nominalistas com
seus universais inexistentes como reais, dado que só existem os individuais, Peirce dirá que os
universais são reais.
Os universais sendo reais não bloquearão a vida da investigação (CP 6.10) e
permitirão a sensibilidade conhecer o geral, não se limitando à existência das coisas
individuais, bem como permitindo a compreensão do real “como aquele que não é o que dele
pensamos, mas aquele que não é afetado pelo que possamos dele pensar” (CP 8.12) ou
tampouco dele discursar.
Segundo MAYORGA ainda, o antinominalismo ou antiindividualismo de Peirce o
levará a acreditar que o pensamento humano em geral (apesar dos erros individuais) tende à
verdade; e o real não depende de algum pensamento particular, mas depende sim do
pensamento geral. “Será real tudo o que se pensa que existe na opinião final, e nada mais”.
(CP 8.212).
No artigo Uma visão realista da Semiótica, no qual Ivo Assad IBRI apresenta como a
teoria semiótica de Charles Sanders Peirce pode ser entendida como uma teoria dos signos
que abrange todo o campo de significação, até mesmo independente da linguagem humana,
ele dirá que a possibilidade desta visão realista em Peirce é facilitada pelo fato de:
Sua filosofia não ser antropocêntrica
Seu realismo requerer e implicar uma simetria categorial, imposta pela
primeiridade, segundidade e terceiridade, descartando caminhos:
o Em que a linguagem seja fundacionista ou doadora de sentido/significado (mas
apenas seu representante),
o Em que o sujeito seja pólo constituidor,
o E impondo uma indiferença formal entre sujeito e objeto.
E segundo o texto de Ibri acima referido, será o realismo dos continua de Peirce que
permitirá que a linguagem não atribua significado a seus objetos, não os fundamente e apenas
os represente. Será este não fundacionismo que garantirá os objetos de representação como
91
significativos por si e independente do signo. No realismo do idealismo objetivo de Peirce
teoria do objeto - será a simetria lógica entre signo e objeto que comprometerá a Semiótica
(outro nome que Peirce à Lógica) com uma lógica ontológica de formas reais (como
defendia Aristóteles).
E ainda, Ibri concluirá seu texto citando Peirce “a essência da opinião do realista é que
uma coisa é ser e outra coisa é ser representado” e por isto a semiótica peirceana não está
limitada ao universo signico intersubjetivo. No olhar realista diante à fenomenologia e a
semiótica se faz na presença fenomenológica do mundo Peirce reconhece a alteridade não
apenas dos objetos particulares com respeito às representações, mas principalmente reconhece
a alteridade das formas gerais sob as quais objetos se tornam matéria de experiência não tão
somente sensível, mas essencialmente cognitiva.
na Fenomenologia a simetria categorial entre o sujeito e o objeto, entre modos de
aparecer e modos de ser o Realismo de Peirce estava em germe face das categorias
permearem indiferenciadamente os mundos externo e interno, mediante uma amplificação do
conceito de experiência, estendendo-se a estes dois mundos.
Portanto, a amplificação do conceito de experiência em Peirce não se restringe à
indiferenciação categorial entre mundo interno e externo, mas também, vincula-se aos objetos
mediatos, aqueles que só exibem seu ser fenomenológico no tempo.
Também em IBRI, em outro de seus artigos, agora no - Verdade e Continuum
179
ele
cita Peirce para nos dizer que a “Verdade é a conformidade de um representamen (signo) com
seu objeto” (CP 5.554), apontando para o conceito entendido como verdade por
correspondência, o que mais coaduna com a perspectiva realista de Peirce e seu esforço
teórico de erradicar pressupostos conducentes a qualquer forma de estranhamento entre
sujeito e objeto, propondo hipóteses que entretecem o continuum de nossa consciência e de
nossas representações com um continuum objetivo que, neste caso, se fundamenta na
evolucionária conversão infinitamente tendencial do Acaso em Lei.
E o próprio PEIRCE nos diz de seu grande princípio da Continuidade, o qual quando
se tornar claro mostrará que o individualismo e a falsidade o um e o mesmo. (CP 5.403)

179
Ibri (1999) Verdade e Continuum. Todas as citações de Peirce desta página foram retiradas de Ibri.
92
entendendo ele que o homem não está completo enquanto ele está só, que é essencialmente
um membro possível da sociedade.
“Especialmente, a experiência de um homem não é nada, se permanecer
sozinha. Se ele o que os outros não vêem, nós chamamos isto de alucinação. Não
é “minha” experiência, mas a “nossa” experiência que precisa ser pensada”.
Pela citação acima de Peirce, considera-se sua arquitetura metafísica científica não
teológica, não psicológica - “a priori”, mas um “socialismo lógico” que se relaciona
igualmente não com uma Ética pela religião teológica e não também com uma Ética pela
moral psicológica, mas uma Ética mínima, pela própria lógica metafísica pragmaticista
evolucionária realista.
“O mundo e o homem têm a mesma natureza” (CP 5.353)
“Vivemos num mundo de forças que atuam sobre nós, sendo essas forças, e não as
transformações lógicas do nosso próprio pensamento que determinam em que devemos
acreditar” (CP 5.405). Até porque, o pensamento não é um algo que o homem tem em sua
consciência, nem mesmo o pensamento está em nós, mas ao contrário, nós é que estamos nele.
(CP 8.256)
“O homem é essencialmente um animal social, mas ser social é uma coisa,
ser gregário é outra” (CP 1.11). “Neste mundo, somos meras células em um
organismo social”. (CP 1.647) “O fim último não pode estar no particular, no
individual, no pessoal” (CP 5.130). E Peirce chamará de vaidade, de ignorância, de
erro, de orgulho, o homem individual, aparte de seus companheiros. (CP 7. 570; CP
5. 317)
180
Peirce está convicto no movimento de continuidade entre o particular e o geral, o
individual e o social, de tal forma que esta sua convicção baseada na sua lógica metafísica o
leva a ver que esta é uma a tendência de toda a natureza viva.
Retomando SANTAELLA
181
... o evolucionismo tout court implica que nada escapa no princípio guia
da aquisição de hábitos ou terceiridade. À luz do Sinequismo, terceiridade significa
continuidade, isto é, terceiridade relacional que implica a inter-relação das três
categorias e sua coexistência dentro da terceiridade... a continuidade é isto sim, um
estado disposicional que infinitamente tende a se espalhar. Isto é possível porque a

180
Citações retiradas de Ibri (1992) Ob. Cit.
181
Santaella. Obra Citada. 2002. Pág. 101.
93
continuidade possui, dentro de si, o princípio de descontinuidade, visto que a
originalidade do acaso viola a conformidade de um evento ao governo estrito da lei.
Por isto mesmo leis são aproximações que retêm uma propensão ou disposição para
adquirir hábitos ou continuidade.
O ponto axial da metafísica de Peirce, por SANTAELLA
182
denominado “a metafísica
antidualista radical” (de origem) de Peirce: Pierce rejeitava veemente qualquer separação
dualista entre consciência e matéria, pois isto seria trair seu Sinequismo que prescrevia um
evolucionismo tout court e, conseqüentemente um antidualismo radical... Se a matéria é
mente congelada, e as leis da sica são derivadas das psíquicas, apenas uma espécie de
substância no universo, que é a substância da mente. A grande lei do universo é a lei da
Mente:
Peirce tomou os princípios da flecha do tempo como paradigmáticos de
qualquer processo evolutivo, tanto na natureza quanto na mente. O que ele buscava
era a definição de um processo irreversível que fosse suficientemente abstrato e
capaz de englobar o mental e o físico. No contexto metafísico do Sinequismo, mente
é sinônimo de continuidade, é a tendência do universo para a aquisição de hábitos.
No contexto lógico da semiótica, mente é sinônimo de semiose. Mente, portanto, é
continuidade e semiose. Neste conceito, encontramos o mais fundamental ponto de
intersecção da metafísica com a lógica ou semiótica.
183
Diferenciou-se, pois de modelos outros de dialética, de modelos nominalista e do
idealismo alemão, desenvolvendo seu original e particular modelo, e não contendo
antinomias, mas um modelo triádico de uma relação semiótica contínua entre as três
categorias por ele identificadas e nominadas: primeiridade, segundidade e terceiridade, Peirce
assim as entendeu e trocou o elemento de relação entre essas instâncias de “ou” para “e”, em
uma relação tal que na terceiridade estão contidas a segundidade e a primeiridade, e na
segundidade está contida a primeiridade e já antecipada a terceira.
Sua visão primeira e original interpretação advieram de sua atenção à química que
observou a relação de associação entre os elementos da natureza, à filosofia que se dedicou
aos princípios de associação das idéias, assim como à física newtoniana quanto à atração dos
corpos, bem como ainda à lógica dos relativos.

182
Ibid. Págs. 101/102.
183
Santaella. Obra citada. 2002. Pág. 103.
94
Em Peirce sempre um movimento de continuidade, uma semiose contínua entre os
signos, possibilitada pela terceiridade no denominado Sinequismo, como consideramos neste
e no capítulo anterior, dado que se trata de fundamental condição de possibilidade para seu
sistema.
Uma doutrina evolucionária teleológica da razoabilidade tendendo à causação final
Summum Bonum, cuja ele deixou explicitado na relação entre as Ciências Normativas
Estética, Ética e Lógica. Um hábito adquirido pelo universo impulsionado pela lei geral da
mente smica do amor evolucionário. Como se uma força mesmo instintual conectasse uma
possível causa inicial, até mesmo quer seja o acaso, à causa final enquanto experimenta a
causa material e eficiente.
Esta marca de Peirce de não aceitar dicotomias e antinomias, levando-o ao
entendimento do Sinequismo, e seu modelo triádico de cosmovisão, enquanto também
dissolveu o embate entre a “via da verdade” que conduz a razão e a “via da opinião” que
conduz a sensação, prenunciado por antigos filósofos gregos, anunciado pela doutrina
cartesiana, e consolidado pela doutrina do positivismo comtiano do século XIX, já foi parte de
sua coerência e rigor, conseqüência da postura ética de quem buscou pela própria busca, uma
filosofia, uma lógica e uma metafísica científicas. Este foi seu propósito, e neste propósito
procurava um método de investigação científica que pudesse ser utilizado por todas as
ciências.
Aproximar as ciências o mais possível, da verdade disponível ao conhecimento. Por
isto o recurso de uma ciência mais objetiva possível, através da análise lógica por ele
perseguida destes seus 12 anos de idade. Com a lógica ele acreditava que chegaria ao centro
do que procurava, e podemos afirmar que com sua Semiótica ele chegou neste método que ele
pretendia. A Semiótica de Peirce está diretamente associada ao seu Pragmaticismo.
“O pragmatismo, então, é uma teoria de análise lógica ou de definição
verdadeira; e seus maiores méritos estão em suas aplicações às mais elevadas
concepções metafísicas” (CP 6.490, CP 5.423);
“O pragmatismo não tem ou não deve ter pretensões de iluminar
positivamente qualquer problema. Ele é apenas uma máxima lógica para exorcizar
pseudoproblemas e, assim, capacitar-nos a discernir que fatos pertinentes podem
apresentar os fenômenos. Mas isto é uma boa metade da tarefa da Filosofia” (CP
8.186);
95
“O pragmatismo não é um sistema de Filosofia. É apenas um método de
pensamento” (CP 8.206); “... o pragmatismo não resolve qualquer problema real. Ele
simplesmente mostra que supostos problemas reais não são problemas reais... O
efeito do pragmatismo aqui é somente abrir nossas mentes para receber qualquer
evidência, e não para fornecer evidência (CP 8.259).
E ao nos determos na máxima pragmática de Peirce e seus corolários, conforme ele a
propôs: “Considere quais efeitos, que concebivelmente poderiam ter conseqüências práticas,
concebemos ter o objeto de nossa concepção. Então, a concepção destes efeitos é o todo de
nossa concepção do objeto” (CP 5.402; 5.2; 5.438; 8.201). “Observe que nestas três linhas
encontram-se “concebivelmente”, “conceber”, “concepção”, “concepção”, “concepção”...
Chama-nos a atenção o Professor Ivo Assad IBRI, no seu Kósmos Noetós: a
arquitetura metafísica de Charles S. Peirce (1992), fonte de referência para a confecção do
final deste capítulo, este emprego por cinco vezes das derivações de concipere deve, então ter
tido algum propósito. Em verdade ele teve dois:
“Um deles foi de que eu estava falando de significado em nenhum outro
sentido senão o de significado intelectual. O outro foi evitar todo o risco de ser
entendido como tentando explicar um conceito por perceptos, imagens, esquemas,
ou por qualquer outra coisa senão conceitos. Portanto, não quero dizer que atos, que
são mais estritamente singulares que qualquer outra coisa, poderiam constituir o
propósito ou a própria e adequada interpretação de qualquer símbolo” (CP 5.402).
“... Admitindo-se, ao contrário, que a ação requer um fim, e que este fim
deveria ser algo similar a uma descrição geral, então o espírito da máxima, de que
devemos olhar para os resultados finais de nossos conceitos a fim de apreendê-los
corretamente, direcionar-nos-ia para alguma coisa diferente dos fatos práticos, a
saber, para idéias gerais, como as verdadeiras intérpretes de nosso pensamento” (CP
5.3).
“Pois dizer que vivemos para o mero objetivo da ação, enquanto ação,
desconsiderando o pensamento que ela veicula, seria o mesmo que dizer que não
algo com o propósito racional” (CP 5.429).
“O pragmatismo é uma doutrina correta apenas na medida em que se
reconhece que a ação material é o mero aspecto exterior das idéias... Mas o fim do
pensamento é a ação na medida em que o fim da ação é outro pensamento” (CP
8.272).
“... Por “prático” quero dizer apto a afetar a conduta; e por “conduta”, ação
voluntária que é autocontrolada por deliberação adequada” (CP 8.322).
“Objetivando determinar significado de uma concepção intelectual, considerar-se-
iam que conseqüências práticas poderiam concebivelmente resultar, por necessidade,
por verdade daquela concepção; e a soma destas conseqüências constituirá o
significado da concepção” (CP 5.9).
“Mas no que consiste o caráter intelectual da conduta? Claramente na sua
harmonia aos olhos da razão, isto é, no fato de que a mente ao contemplá-la nela
96
encontrará harmonia de propósitos. Em outras palavras, ela deve ser capaz de
interpretação racional para um pensamento futuro. Assim, o pensamento é racional
somente na medida em que ele se recomenda para um futuro pensamento. Ou, em
outras palavras, a racionalidade de um pensamento reside em sua referência a um
futuro possível” (CP 7.361).
“... nossas crenças guiam nossos objetivos e moldam nossas ões... O
sentimento de crença é uma indicação mais ou menos certa de que se estabeleceu em
nossa natureza algum hábito que irá determinar nossas ações. A dúvida nunca
produz tal efeito” (CP 5.370-371). “... A crença não nos faz agir de imediato, mas
nos coloca em condições de nos comportarmos de um certo modo quando surge a
ocasião. A dúvida não produz, sequer minimamente tal efeito ativo, mas estimula-
nos a investigar até que ela seja destruída” (CP 5.373). “A essência de uma crença é
o estabelecimento de um hábito; e crenças diferentes são distinguidas pelos
diferentes modos de ação a que dão origem” (CP 5.398).
“Ao nível de uma Lógica dos argumentos, a redutibilidade da máxima do
Pragmatismo a uma relação necessária entre o particular e o geral traduz,
implicitamente, a condição de possibilidade do argumento indutivo. O transcurso
temporal da experiência, na sua singularidade, induz à generalidade do conceito; a
pluralidade dos atos induz à cognição da potência. Este tem sido o âmago da
doutrina do Pragmatismo. Explicitamente, não é outra coisa que está presente na
seguinte passagem da obra do autor: “... a validade da indução depende da relação
necessária entre o geral e o singular. É precisamente isto que é a base do
Pragmatismo” (CP. 5.170), concluiu Ibri.”
184
Neste ponto concluímos nosso Capitulo I – II Do sistema Filosófico Lógico Metafísico
de Charles Sanders Peirce, e seguimos para as Considerações Finais que estão subdivididas
em duas partes: 1. Os Três Tempos de Peirce.
2 O Grito da Alma..

184
Ibri. Obra Citada. 1992. Pág.112.
97
1. CONSIDERAÇÕES FINAIS – Os Três Tempos de Peirce
Há um momento para tudo e um tempo para todo propósito debaixo do céu
Tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar a planta
[...] Tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e tempo de paz. Que proveito
o trabalhador tira de sua fadiga? Observe a tarefa que Deus deu aos homens para que
dela se ocupem: tudo o que ele fez é apropriado ao seu tempo.
Também colocou no coração do homem o conjunto do tempo, sem que o
homem possa atinar coma obra que Deus realiza desde o princípio até o fim.
E compreendi que não há felicidade para o homem a não ser a de alegrar-se e
fazer o bem durante a sua vida. E, que o homem coma e beba, desfrutando do produto
de todo o seu trabalho, é dom de Deus.
Compreendi que tudo o que Deus faz é para sempre”. (Eclesiastes 3, 1-14)
185
1º- The ChanceA Fé de Peirce na vida da ciência e na ciência da vida.
A Cosmogonia de Peirce:
No princípio era o Amor, e o Amor “vendo” que a Natureza era Bela,
Boa e Verdadeira, acreditou na possibilidade de sua Verdade, e se fez Hábito, o
hábito amoroso de experimentar, conhecer e ser a vida eternamente.
2º- The Love A Esperança de Peirce na Comunidade de Investigadores. Na evolução do
conhecimento e assim na evolução da vida.
The Logic – O Amor Agápico, a lei fundamental para dar continuidade à vida. A Lei da
Evolução, a Lei da Criação, a Lei que incrementará a fraternidade entre os homens.
As associações possíveis com termos e simbologia entre a doutrina da Peirce e a doutrina
Cristã, são muitas. Vejamos desde a sua preocupação com o termo Concepção
186
, a relação
que faz com a cópula da semente com o terreno que deve ser preparado, a sua máxima
pragmática que nos remete ao primeiro capítulo e nos faz ter por confirmado que o termo
Agapismo vem mesmo do amor ágape cristão.

185
A Bíblia de Jerusalém (1985) PP 1169-1170.
186
Poderíamos até mesmo aqui pensar que Peirce estivesse se referindo ao que na doutrina religiosa teológica
cristã está associado a esta palavra: a concepção de Jesus, aquele de quem ele se inspira para sua máxima lógica.
A base desta doutrina. Ao mistério da Trindade está diretamente correlacionado o mistério da encarnação deste
Jesus, segundo a História. Independente de crenças pessoais, assim se conta, assim está posto como palavra
registrada, desde que instituída. Maria, a mulher, a mãe, o terreno morfológico que foi oferecido à epigênese de
Jesus. EPIGÊNESE: teoria da formação dos seres por gerações graduais. ANZALDO (1997: 35- em diante, até o
final do livro) a relação da epigênese com o instinto para a vida, crescimento e desenvolvimento, desde
Aristóteles até as mais atualizadas teorias da complexidade, as teorias da autonomia das formas, as teorias
holísticas. PP 80-91: dos campos morfológicos, processos espaço-temporais mantém a forma e a ficção do
organismo. Pag. 86: o caminho do rio que corre para o mar. P 80: a mulher como espaço morfológico
Demócrito: século V a. C. o sentido de que o ventre materno é o fator que modela o embrião. Ils. Maria/Jesus.
98
Isto não nos oferece condições para inferirmos que Peirce fosse um adepto desta
crença, e mesmo que o fosse, ele fez questão de fazer da ciência filosófica lógica metafísica,
sua religião. O propósito de Peirce priorizou a ciência lógica e partir dela sua doutrina
filosófica pragmaticista, sua semiótica. Peirce quis ser um cientista e deste tópos partiram suas
idéias, mesmo que delas fazendo parte as conseqüências de sua experiência mística que,
segundo ele mesmo marcaram sua vida para sempre.
Poderíamos quando muito inferir que se ele abraçou esta crença, então por ela mesma
ele se posicionou e se fixou como cientista. Escolhendo inclusive o realismo de um filósofo
teólogo que separou a filosofia da teologia porque então ambos sabiam que se faz necessário
conhecer o mais possível da realidade da segunda categoria, espaço morfológico onde a vida
dos organismos naturais se dá, e onde segundo a história da crença cristã, Jesus se encarnou [o
Deus Pai, primeira categoria, encarnou-se em Deus Filho (através de um espaço morfogênico
materno), segunda categoria, para então só depois, permanecer eternamente como Deus
Espírito Santo, terceira categoria]. TEPE (1988: Nós Somos Um) (Ils. Trindade.)
Pela sua experiência mística em 1892, citada por Brent na biografia de Peirce, com
declarações de Peirce de que teria lhe mudado a vida, acreditamos que o que fica explícito é
que esta experiência pode ter contribuído para uma abertura de consciência, conferindo-lhe
uma percepção triádica das relações universais, que não é incomum naqueles que ‘’escutam o
lógos”.
187

187
Estudos em Teorias Psicológicas que adentram a área Transpessoal explicam sobre as “experiências de
pico”, “experiências místicas”, quando acontece uma abertura de consciência e o entendimento da relação parte-
todo na constituição da vida universal. Não está associado a um possível panteísmo, mas uma profunda
experiência sensória e intelectual do processo histórico, geracional, criativo e evolutivo pelo amor, exatamente
como explica a doutrina cristã, porém, independente de se optar ou não por esta crença. Trata-se de uma regra
geral da experiência. A sensação de “extravasar” o espaço, de transpassar o tempo”, a consciência profunda de
ser uma individualidade fazendo parte de uma totalidade sem, porém, perder a especificidade ou se misturar no
todo e nele se perdendo como em uma estrutura mental psicótica. A Teoria de Maslow e a Teoria Junguiana
explicam estas experiências, e especialmente em Jung, há o profundo entendimento teórico e trazido à prática de
uma análise psicológica quanto ao “esgotamento” até se faz possível das conseqüências que trazem à
personalidade que vive tais experiências. Muito embora também a teoria psicanalítica de Lacan (continuador de
Freud) contemple uma teoria e técnica analítica dentro de uma perspectiva semiótica (interpretante sígnica de
signos em estrutura triádica), nem sempre alcança o que se passa na realidade de uma “experiência mística” ou
uma “experiência de pico”. Exatamente pela diferença referencial. Na psicanálise a tensão entre Eros e
Tánatos, na Psicologia Analítica Junguiana, ou nas abordagens transpessoais, há uma evolução de Eros á Ágape,
conforme previsto na doutrina de Peirce, estas, porém, não negando a morte e a Finitude na dimensão da segunda
categoria. A monografia “Motivação e Espiritualidade na Empresa: a importância dos valores nas
Instituições Empresariais”, apresentada por uma equipe de estudantes de Psicologia, da Universidade
Presbiteriana Mackenzie, para a disciplina Psicologia Organizacional, no segundo semestre de 2000, traz sobre
o tema de forma cuidados, minuciosa e objetiva. Assim como à época de Peirce, hoje também vivemos entre o
99
Nossa defesa de um caráter da Agathotopia na doutrina de Peirce, não está
absolutamente relacionada com esta possível interferência de “experiência de pico”, ou
“experiência mística”, ou ainda, um desequilíbrio mental, ou uma alucinação, como talvez
Peirce possa ter pensado ao seu respeito quando desta sua experiência.
E se assim poderíamos relacionar, é exatamente pela consciência de uma realidade
universal triádica, reservada à segunda categoria, o tópos morfológico da realidade dos
organismos vivos e dos signos em semiose, autogeração, crescimento e desenvolvimento
infinito, ambos inclusive identificados. Em Peirce tudo é signo, até mesmo o homem.
Portanto, o tópos da mulher, como em Demócrito, quem primeiro falou que “A
Palavra é a sombra da Ação”, é o primeiro espaço morfológico que o ser encontra para vir à
vida. (Ils. Palavra/Ação 3)
Se o homem (o masculino) oferece a semente para a cópula, será a mulher (o
feminino) que oferecerá o primeiro espaço morfológico para que a epigênese aconteça. Neste
espaço se dá o primeiro momento do crescimento e desenvolvimento do ser concebido.
(Ils. Madona Mendiga 9)
E aqui chegamos no ponto central de nossa tese, a Agathotopia que atribuímos ao
caráter da doutrina de Peirce está relaciona à ênfase científica lógica metafísica, e não à
ênfase metafísica teológica, o que estaria dentro do âmbito da considerada Utopia cristã.
Muito embora o universo triádico de Peirce se preste a uma íntima relação com o
universo triádico do dogma cristão - católico da Trindade e que passa por Maria para se
concretizar na história da humanidade, e, portanto os símbolos do universo icônico de tradição
religiosa cristã possam ser interpretados pela ótica da semiótica de Peirce
188
,o que lhe
atribuímos quanto à Agathotopia, está tão somente associada à palavra que faz parte do
vocabulário grego de origem da filosofia, e nos parece pertinente ao universo de Peirce,
especialmente por que não se trata de uma Utopia, mas uma Agathotopia, um tópos em

“Evangelho da Ganância” e o “Evangelho do Amor”, com o predomínio do primeiro. “A Alma está gritando” há
anos, e pouco está sendo ouvida. O que Peirce entendeu muito bem, e por isto seu Evolutionary Love.
188
Leloup (2006) O Ícone: uma escola do olhar. Sciadini (2008) Beleza e Oração.
100
constante evolução pelo processo da razoabilidade que, admitindo o falibilismo, cuida de se
autocorrigir e se aperfeiçoar evolutivamente.
O lugar do bem, pela própria evolução que se por um lado pela razoabilidade que
traz em si o bem último como destino evolucionário, e por outro, pela lei do amor
evolucionário que é a que possibilita o movimento continuado ao infinito, da evolução.
Peirce ao contemplar o universo, ele viu: A tríade categorial das Ciências Normativas
Estética, Ética e Lógica lhe apontando que o Bem é o fim último procurado pelos fenômenos
(CP 2.151). (Ils. 1. Tópos SB.)
Ao atribuirmos o termo Agathotopia ao conjunto do pensamento filosófico de Charles
Sanders Peirce aparecendo no seu sistema, expressamos nossa intenção em reconhecer o
profundo significado ético universal e humano de seu pensamento na história das ciências, e a
profunda significância dos efeitos práticos para a conduta de sua doutrina na história das
ciências, da filosofia, da lógica, da psicologia, e até mesmo da teologia. Ao longo de um
caminho evolucionário de uma longa história sem fim do universo e da humanidade, o
sistema de Peirce surge no cosmos como mais uma esperança, apontando para a máxima da
lei do amor agápico que pode ser conhecida pelos seus frutos, incluindo nestes o próprio
filósofo e sua doutrina
189
.
“Relações perceptíveis entre fatos possíveis”, “relação vincular entre conceito,
conduta e pensamento”, neste ponto retornamos à Ética do Cuidado de Peirce, manifesta na
sua preocupação quanto à terminologia, e que está por sua vez relacionada ao que citamos
como a espinha dorsal do seu pragmatismo, ou como ele preferiu – pragmaticismo
190
.
Quanto aos termos Agathón e Tópos, que formam o conceito proposto pela presente
tese ao sistema filosófico de Charles Sanders Peirce Agathotopia o Lugar do Bem ,
assim como Agapismo terceira modalidade de evolução e advinda da lei mental do amor
evolucionário, segundo Peirce, já os desenvolvemos, desde a Introdução deste trabalho.
(Ils. fq. Vg. 2 )

189
Bloch (2005). O princípio Esperança;. Moltmann (2007) No Fim, o Início.
190
E ao que retornaremos no capítulo primeiro desta Tese.
101
o Repassado o conjunto das teorias sobre o Amor, feito por Abbagnano, ele concluirá
que entre elas estão duas noções fundamentais: 1. O amor como uma relação
que não anula a realidade individual e a autonomia dos seres implicados nesta
relação amorosa, e sim tende a reforçá-las mediante um intercâmbio recíproco
emotivamente controlado através dos serviços e dos cuidados a todo o gênero,
intercambio em que um busca o bem do outro como se fosse seu próprio bem.
o Um amor que tende à reciprocidade, e assim sendo tende também ao domínio
resultante de uma união de interesses, intenções, propósitos, necessidades e
todas suas emoções correlatas. E aqui, o sentido de unidade estará em um amor
construído numa relação finita experimentado por entes finitos, suscetível de
grande variedade de modos de expressão, conformes aos interesses, propósitos,
necessidades, relativas às funções emotivas que podem constituir sua base
objetiva. “Relação finita” significando a relação não determinada por forças
conflituosas, mas condicionada por elementos situacionais capazes de serem
Se em Freud Eros de contrapõe a Tánatos, em Peirce, Eros evolui até Ágape.
Se em Freud há a contraposição entre Vida e Morte, em Peirce só há uma norma,
uma regra, uma lei - “To Live”.
Ainda uma outra versão possível à cosmogonia de Peirce:
Se não é o pensamento que está em nós, mas nós é que estamos em pensamento, se
não é a mente que está em nós, mas nós é que estamos na mente, sem largar o mapa de Peirce,
bem apertado em nossas mãos no “jogo de seguir o mestre” para quem sabe juntos com ele
chegarmos ao centro e escutarmos a música cósmica, talvez aquela ouvida por Pitágoras, e
que parecia assim melodiar:
No princípio era um “ainda-não” ou “quase-ser”, um “ainda-não” ou
“quase-ser” que fez Amor, e o Amor “vendo” que sua Natureza era Bela, Boa e
Verdadeira, acreditou na possibilidade de sua Verdade, e se fez Hábito, um hábito
amoroso de sentir, perceber, experimentar, conhecer e ser vida, eternamente.
Certamente encontrarmos o menino, o jovem e o adulto Peirce, no centro por ele
encontrado, para onde ele nos levou e se, com ele “escutamos o lógospoderemos entender
102
mais uma versão de sua máxima Pragmaticista, agora uma versão para uma máxima “ética”
fundamental - “never say die”.
191
Cuidemos das flores dos nossos jardins, cuidemos de nossas idéias, cuidemos de
nossas crianças, cuidemos da natureza, cuidemos de nossa alma.

191
O fechamento deste parágrafo foi retirado do final da introdução do capítulo 13 do The Essencial Peirce
The Sevens Systems of Metaphysics – Pág. 179.
103
O GRITO DA ALMA
“Se a gente grande soubesse (quanta paz)
que recebe a voz mansa (o bem que faz)
como ela cai feito prece (viva flor)
no coração de criança...
Se a gente grande que tira (sem pensar)
o meu brinquedo da mão (já faz chorar)
tirou do músico a lira (sem saber)
interrompeu a canção...”
(Hino de formatura da Escola Nova – Rio de Janeiro)
Deixe-me crescer! Grita meu instinto!
Deixe-me crescer, assim pede minha ontologia.
Trago em mim uma tendência natural ao crescimento através da aquisição
de novos hábitos, pela aprendizagem na experiência existencial.
Este é o meu propósito, a causação final de meu movimento teleológico de
razoabilidade que insiste em se manifestar.
Ofereça-me apenas um continente espacial e temporal suficientes para que
minhas idéias potenciais possam se materializar e se realizar.
E assim então, eu poderei ser, e você poderá me conhecer, e no seu
reconhecimento do meu ser, eu também me conhecerei e poderei continuar
crescendo...
Porque se idéias gerais são realidades vivas tanto quanto são vivos os
sentimentos a partir dos quais elas se concretizam, é preciso que nós nos
relacionemos e nos influenciemos reciprocamente, sem, porém perdermos nossa
especificidade e espontaneidade para que não nos autodestruamos...
Porque se idéias particulares se associam pela contigüidade e pela
semelhança, sempre em torno da lei geral, permitindo que um estado mental possa
ser pensado a partir de um outro, é preciso que os sentimentos instantâneos fluam
em conjunto num continnum de sentimento, o qual adquirirá generalidade e grau
modificado de vivacidade peculiar ao sentimento.
Porque se através das idéias gerais ou continua de sentimento, as
dificuldades acerca da semelhança e sugestão entre as idéias particulares, assim
como da referência ao externo, deixam de ter qualquer força, é preciso que essas
sejam penetradas e que se submetam à idéia viva deste continuum consciente do
sentimento.
Assim dita a lei suprema geral universal, a qual é a harmonia viva e
celestial, mesmo que regras particulares possam determinar até que ponto essa
unificação operará (sem que saibamos até onde ela chegará), ou mesmo que haja
uma quantidade aparente (não insignificante, nem predominante) de arbitrariedade
nos fenômenos mentais – (CP 6.150/1/2/3 – 13. Restatement of The Law).
104
O Universo é um grande enigma!
“É preciso que eu tolere duas ou três lagartas se quiser conhecer as borboletas”
E se ainda não cheguei ao ponto de minha realização, é porque algo em mim ainda não chegou ao seu
final...
Por favor, insisto, persisto, eu preciso de tempo e espaço para me corrigir e me aperfeiçoar...
Não me interrompa... Não grite comigo... Não tire meu brinquedo... Não tire a lira do músico... Não tire
a imaginação do poeta... Não tire o pincel do pintor... Não tire o barro do escultor...
“Se as estrelas são todas iluminadas, não será para que cada um possa um dia encontrar a sua?”
“Mas por que falas sempre por enigmas?
- Eu os resolvo todos, disse a serpente”.
“Quando o mistério é muito impressionante, a gente não ousa desobedecer...”
(SAINT-EXUPÉRY: O Pequeno Príncipe)
Noam Chomsky declarou que nossa ignorância pode ser dividida em problemas e
mistérios. Diante de um problema, podemos não saber a solução, mas temos insights,
acumulamos um conhecimento crescente sobre ele e temos uma vaga idéia do que buscamos.
Diante de um mistério, ficamos entre maravilhados e perplexos, sem ao mesmo termos uma
idéia de como seria a explicação. – (PINKER, 1998) (Ils. Sol 11)
Peirce declara que sua filosofia poderia ser descrita como sendo o esforço de um físico
para fazer conjecturas sobre a constituição do universo tal como os métodos das ciências
pudessem lhe permitir e com a ajuda de tudo o que já havia sido feito pelos filósofos
anteriores a ele.
Não encontrando dicotomia entre filosofia e ciência, considerou a doutrina da
associação das idéias a peça mais refinada do trabalho filosófico das eras pré-científicas.
Aberto ao novo, acolhedor e crítico do antigo e contemporâneo, afinado ao seu tempo
histórico (ponto descontínuo dentro de um continuum) bem como à extensão espacial dos
sentimentos científicos do século XIX, Peirce o reconhecerá como o período da história das
ciências dos mais fecundos e produtivos, especialmente entre os anos de 1847 a 1859.
Em clima intelectual dominado pela filosofia mecânica, medida estatística, e
materialismo, Peirce preferiu as descobertas da teoria cinética, da conservação de energia, da
mecânica do calor, da distribuição dos gases, das novidades associadas à teoria do
evolucionismo, e, sobretudo preferiu a aplicação da teoria das probabilidades nas ciências e o
avanço da compreensão do acaso dando experiência à ordem.
105
Mesmo não adepto à recepção calorosa e generalista da teoria evolucionista de Darwin
por parte da comunidade científica e filosófica, Peirce a reconheceu de grande valor.
Embora Peirce tenha baseado sua hipótese filosófica de um evolucionismo
cosmológico no evolucionismo biológico (da espécie orgânica), ele não adotou a hipótese
científica do evolucionismo darwiniano na sua totalidade.
Sendo sim um evolucionista radical, Peirce adverte para o fato de que toda adaptação
filosófica de teorias cientificas é algo arriscado. Faz-se necessário uma lógica e segura que
capacite a um julgar com precisão e exatidão o que a ciência estabelece.
E mesmo que Peirce não separe filosofia e ciência, ele as entendia como distintas e
dependentes de um método lógico para a verificação clara de onde a ciência termina e a
especulação filosófica começa.
Desta perspectiva Peirce se utilizou dos conhecimentos da fisiologia nas suas
descrições sobre a extensão espacial dos sentimentos, o que permitiu a continuidade, o que
por sua vez permitiu a conexão das idéias. – (POTTER, 1967)
Partindo de uma porção do protoplasma, ou uma ameba, tanto quanto uma célula
nervosa, ele nos chama a atenção para o fato de que todos estes sentem desde que em
condições de excitação.
Mas para o olhar peirceano, mais do que a relação estabelecida entre estímulo e
resposta do arco reflexo, a difusão de um movimento ativo entre uma parte e outra daquilo
que fora inicialmente excitado, única e exclusivamente como um continnum de sentimento é o
que ele quer nos chamar a atenção.
“Visto o espaço ser contínuo, segue-se que existe uma comunidade de sentimento
entre partes da mente infinitamente próximas umas das outras. Se assim não sucedesse, penso
que seria impossível que mentes exteriores umas às outras se pudessem coordenar, sendo
igualmente impossível que se estabelecesse uma coordenação na ação da matéria nervosa do
cérebro.” - (CP 6.134 – 8. That Feelings have Spacial Extension)
106
“Definitivamente, penso termos de afirmar que sempre que as idéias vêm em conjunto
elas tendem a fundir-se em idéias gerais; e quando elas se encontram geralmente conectadas
são idéias gerais que governam a conexão; e essas últimas idéias são sentimentos vivos
difundidos.
Não concebo que alguém possa negar que a diversidade infinita do universo, a que
chamamos acaso, possa colocar idéias em proximidade umas das outras que não associadas
numa idéia geral. Isso pode suceder muitas vezes. A lei da difusão contínua produzirá uma
associação mental; e suponho que isto é uma enunciação resumida de como o universo tem
evoluído.” (CP 6.143 – 10. Ideas cannot be Connected except By Continuity)
E se “uma conexão de idéias é ela própria um idéia geral, e uma idéia geral é um
sentimento vivo” então podemos entender que “ a personalidade é uma certa espécie de
coordenação ou conexão de idéias. Tal como qualquer idéia geral não é apreensível num
instante, tem que ser vivida no tempo, e nem pode qualquer tempo finito abarcá-la na sua
totalidade. No entanto ela está presente e viva em cada intervalo infinitesimal, embora
especificadamente colorida pelos sentimentos imediatos desse momento.
Enquanto apreendida num momento, a personalidade é auto-consciência imediata.
Mas a coordenação implica mais do que isso: implica uma harmonia teleológica nas
idéias, e no caso da personalidade trata-se de algo mais do que simplesmente procurara
realizar voluntariamente um fim predeterminado; trata-se de uma teologia em evolução.
É isso o caráter pessoal. Uma idéia geral, viva, e atualmente consciente, que determina
atos no futuro, num âmbito de que ela não está atualmente consciente. E essa referência ao
futuro é um elemento essencial da personalidade.
Uma filosofia evolucionista genuína é uma filosofia que faz do princípio do
crescimento o elemento primordial do universo.” (CP 6.155/6/7 – 14. Personality)
“’Três termos são de fundamental importância na doutrina peirceana: instinto,
crescimento, evolução”. (COLAPIETRO, 2006)
107
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Anexo sobre associacionismo
Todos os trechos abaixo sobre os principais pensadores e suas idéias centrais a
respeito da doutrina da associação foram retirados da obra citada de Herrnstein e Boring,
com tradução de Dante Moreira Leite. São Paulo: Editora Herder colaboração da
Universidade de São Paulo, 1971. E estão aqui colocados porque apresentando como que um
histórico sobre a doutrina da associação, mecanismo este presente de forma significativa em
Peirce, especialmente na A Lei da Mente e no Hábito.
A doutrina da associação apareceu inicialmente na Antiguidade, como um aspecto
secundário de uma teoria do conhecimento, mas atingiu desenvolvimento completo cerca
de dois mil anos mais tarde, no século XIX, quando foi assimilada pela ciência da psicologia,
que então surgia.
A primeira apresentação sistemática da doutrina da associação foi feita na descrição,
por Aristóteles, do ato de lembrar. Segundo dizia, na memória uma idéia acompanha outra
porque são semelhantes, contratantes ou, freqüentemente, contíguas. Nos dois mil anos entre
Aristóteles (350 a. C.) e Hobbes (1651), a noção de associação foi perpetuada por filósofos,
quando discutiam a memória: por exemplo, por Santo Agostinho (400 d. C.). No entanto,
somente no culo XVII o clima filosófico, formado principalmente por autores ingleses,
tornou-se adequado ao desenvolvimento dessa noção numa regra de importância fundamental
para a filosofia e a psicologia.
Essa doutrina da associação sempre se combinou com uma teoria do conhecimento
segundo a qual a única fonte de informação a respeito do mundo é a experiência sensorial. À
medida que a teoria foi formada pela escola de filósofos ingleses chamados “empiricistas”, a
idéia de associação gradualmente tornou-se mais importante. Dessa forma, a história da
associação acompanha a história da teoria empiricista do conhecimento. Thomas Hobbes
(1651) é o primeiro nessa linhagem, embora nuca tenha desenvolvido extensivamente, o
empiricismo ou o associacionismo. Seu sucessor filosófico, John Lock (1700), ampliou muito
a interpretação empiricista, mas adiantou da associação apenas pela criação da frase
“associação das idéias”, e não por qualquer desenvolvimento significativo de seus princípios.
Mais tarde, George Berkeley, depois de aceitar tacitamente a associação em sua primeira obra
importante (1709), tornou-se explícito (1733) ao aplicar os princípios empiricistas e
associacionistas a um problema psicológico básico a percepção do espaço. Sustentava que a
132
consciência do espaço surge de associações entre sensações de visão e de tato. Embora
Hobbes, Locke e Berkeley possam ser chamados associacionistas, foi apenas com David
Hume (1739) que a doutrina da associação foi vista, pela primeira vez, como um princípio
central da mente humana.
Foi David Hartley (1749), contemporâneo de Hume, quem também reconheceu a
importância da associação e apresentou a primeira tentativa de uma teoria minuciosa e ampla
de pensamento e ação, baseada nessa doutrina. Durante pelo menos 70 anos, o trabalho de
Hartley foi considerado o trabalho autorizado sobre o tema da associação.
Nos trabalhos de James Mill (1829), a doutrina da associação começou a aproximar-se
de seu apogeu como especulação filosófica. Mais do que qualquer um de seus predecessores,
James Mill aplicou mecanicamente o associacionismo à análise da mente, e apresentou todo o
conteúdo da mente consciente como analisável em elementos sensoriais simples (criou uma
reductio ad absurdum). Seu filho, John Stuart Mill (1843) foi um dos primeiros a se afastar-se
dessa aplicação puramente rotineira de ligações associativas a processos mentais. Sustentava
que novas propriedades podem surgir em idéias complexas, além e acima da soma das idéias
simples de que, basicamente, se compõem. Herbert Spencer (1855), foi autor de outras
modificações, aceitou a doutrina, mas sugeria a possibilidade de que certas associações se
imprimam no plasma germinativo, e passem de geração em geração como dote hereditário.
Tanto Stuart Mill como Spencer estavam convencidos de que a associação é apenas uma
parte, e não toda a psicologia do processo mental.
William James (1890) também via na mente outros processos, além da composição
associacionista simples. Defendia a existência de funções mentais e modos de perceber inatos,
e se opunha à opinião de Spencer, segundo a qual nesses casos havia apenas associações
herdadas. Quando na segunda metade do século XIX a psicologia surgiu da filosofia e da
fisiologia como uma disciplina separada, a doutrina da associação era uma parte importante
de sua estrutura conceitual. Wilhelm Wundt (1896), que pode ser chamado, com justiça, o
primeiro psicólogo profissional, usou, e assim divulgou, uma versão da doutrina que se
baseava nas interpretações de John Stuart Mill.
Aristóteles (384-322 a. C.): A Natureza Associativa da Memória (350 a. C.). Antes de
Aristóteles, Platão tinha proposto uma teoria da associação, mas é raramente recordada, pois
não é facilmente compatível com sua doutrina muito mais famosa de idéias inatas. Portanto,
133
Aristóteles é considerado como o autor da mais antiga teoria não-restritiva. Descreveu uma
memória como uma seqüência ordenada de pensamentos (denominados “movimentos” neste
seu texto) que recapitula uma seqüência de acontecimentos experimentados na vida da pessoa.
Se essa seqüência foi experimentada freqüentemente e com pouca variação, os pensamentos a
ela correspondentes estão firmemente ligados. Se, ao contrário, a seqüência foi experimentada
pouco freqüentemente ou com variação significativa, os pensamentos terão ligação incerta. Os
pensamentos que se tornaram ligados pela experiência da pessoa são exemplos do que mais
tarde seria denominada associação por contigüidade. Aristóteles também disse que os
pensamentos são ligados por sua semelhança ou seu contraste. Segundo se verifica, entre
esses três princípios o da associação por contigüidade foi o mais estável, pois os outros
entraram e saíram da moda muitas vezes, nos dois mil anos seguintes. No entanto a doutrina
de Aristóteles pouco mais era do que uma teoria da memória. Não uma teoria filosófica do
conhecimento nem um sistema de psicologia, como viria a ser na Grã-Bretanha do século
XIX.
Thomas Hobbes (1588-1679): A Seqüência de Pensamento (1651). Hobbes era,
fundamentalmente, um teórico da política. Seu “Leviathan” é o estado todo poderoso –
exemplificado por suas aspirações para a monarquia inglesa – que os homens precisam aceitar
para que não se destruam mutuamente. Segundo dizia, a necessidade desse estado decorre da
natureza do homem e, em sua tentativa de descrever essa natureza, Hobbes fez sua
contribuição à doutrina da associação. Batia-se contra a crença do conhecimento inato do
mundo, sustentando que esse conhecimento é obtido apenas através dos sentidos, e que os
pensamentos, que são apenas cópias de sensações passadas, se tornam ligados porque foram
experimentados juntamente. Assim Hobbes reafirma o princípio aristotélico de associação por
contigüidade. O curso do pensamento pode ser casual ou até ostensivamente fortuito, ou pode
ser guiado por alguma emoção ou por algum objetivo, mas em qualquer caso e, em última
análise, um reflexo da experiência pessoal. “Por conseqüência, ou seqüência de pensamento
entendo essa sucessão de um pensamento por outro, que é chamada (para distingui-la do
discurso em palavras) discurso mental”.
John Locke (1632-1704): As Perturbações da mente (1700). Locke é freqüentemente
considerado como o fundador moderno da doutrina da associação, pois foi o primeiro a usar a
134
expressão “associação de idéias”. Mas em toda sua discussão do assunto mostra, no entanto,
que a via a associação como a exceção, e não como a regra. No pensamento comum, segundo
dizia, as idéias se sucedem por ligações naturais ou racionais, mas ocasionalmente duas idéias
tornam-se fortuitamente associadas por sua contigüidade, quando sua ligação natural está
ausente. Locke não reconheceu que a associação por contigüidade poderia também explicar as
chamadas ligações naturais. Usou a noção de associação apenas para explicar como é que até
pessoas razoáveis podem aceitar crenças absurdas.
George Berkeley (1685-1753): Ligações arbitrárias entre idéias (1733). A New Theory
of Vision (1709) de Berkeley foi um marco no desenvolvimento da descrição empiricista da
percepção e da relação com o objeto porque foi uma demonstração convincente da maneira
pela qual a percepção do espaço resulta de um composto das sensações elementares de visão e
tato. No entanto, não descrevia a maneira pela qual essas sensações se tornam compósitas.
Berkeley era um empirista explícito e apenas tacitamente associacionista, mas quando escreve
refutando a uma crítica anônima à sua Nova Teoria, seu associacionismo se torna explícito. Aí
ele diz que as idéias são associadas, ou se ‘sugerem” mutuamente, porque estão ligadas na
experiência. Assim, o seu associacionismo, como o de Locke se baseia na contigüidade, mas
ultrapassa o de Locke pela sua maior amplitude. Para Locke, a associação por contigüidade
explicava apenas as ligações fortuitas ou arbitrárias, e não as ligações naturais entre idéias.
Para Berkeley, mesmo as ligações naturais podem ser arbitrárias, e devem, por inferência, ser
atribuídas à associação, por contigüidade.
David Hume (1711-1776): Um análogo psicológico da gravitação (1739). A teoria de
conhecimento de Hume foi a primeira em que a doutrina da associação ocupou uma posição
de proeminência. No entanto, Hume tinha uma visão um pouco exagerada de sua
originalidade, pois nos Philosophical Essays diz que “Embora o fato de as idéias diferentes se
reunirem seja muito óbvio para não ser observado, não encontro qualquer filósofo que tenha
tentado enumerar ou classificar todos os princípios de associação, embora esse assunto pareça
merecedor de atenção.” Hume não encontrou predecessores apenas porque não procurou nos
lugares certos, mas sua comparação entre associação e atração da gravitação, mostra que
realmente foi o primeiro a ver a importância da associação como um princípio psicológico.
Hume começou por apresentar sua versão do empiricismo. A mente, segundo dizia, contém
impressões e idéias. As impressões são o que denominaríamos sensações e emoções, e as
135
idéias, são apenas as reproduções exatas das impressões, e destas diferem apenas quanto ao
grau de vivacidade ou intensidade. Assim, nada pode haver na mente que não tenha aparecido
antes na experiência. As idéias são ligadas por associação, que ocorre, segundo ele, de acordo
com três princípios: semelhança, contigüidade e causa e efeito. Assim, Hume redescobriu
dois dos três princípios de Aristóteles (contigüidade, semelhança, contraste), mas pensava que
o mais importante era o de causa e efeito, que era o acrescentado por ele. Para Hume, a
associação era apenas uma “força suave”, que quase sempre orienta a mente, mas não a
controla rigidamente.
David Hartley (1705-1757): A Associação sucessiva e simultânea, simples e complexa
(1749). Hume reconheceu o potencial da doutrina da associação; Hartley, seu contemporâneo,
tentou demonstrá-la numa descrição exaustiva. Também ele tentou dar uma base física
plausível para a formação de associações o que refletia, talvez, sua educação de médico.
Segundo dizia, as sensações se baseiam em vibrações no interior do sistema nervoso, tal como
as idéias – e os dois tipos de vibrações se distinguem apenas quanto à amplitude, não quanto à
freqüência, plano de oscilação ou localização. A associação, baseada apenas na contigüidade,
ocorre entre sensações e idéias, idéias e idéias, e sensações ou idéias e movimentos. Hartley
falou de contigüidade, tanto no sentido de sucessão imediata quanto de simultaneidade. As
associações baseadas em sucessão produzem tanto idéias complexas, pela combinação de
idéias simples, quanto idéias “duplamente complexas” pela combinação das complexas.
Embora os autores anteriores tenham considerado principalmente associações sucessivas, as
associações simultâneas tinham sido pelo menos supostas por alguns, sobretudo por Berkeley
em seu tratamento da percepção do espaço. Hartley, no entanto, com sua teoria minuciosa,
cuidadosa e semifisiológica, devia tornar-se por oitenta anos, a autoridade na associação até
que James Mill estabeleceu o modelo para o século XIX.
De Hartley (1749), oitenta anos depois, “James Mill (1773-1836): A Mecânica Mental
(1829). James Mill foi discípulo de Jeremias Bentham, um utilitarista, e, como Bentham,
acreditava que a moralidade é a que maior felicidade ao maior número. Bentham e os Mill
(pai e filho) estavam convencidos, quanto à filosofia política e ética, de que as únicas medidas
de bem e de mal, no governo e na vida pessoal, são o prazer e a dor. Como Hobbes, James
Mill, o pai, sustentava que a teoria política deveria basear-se numa compreensão da natureza
136
humana. Como Hartley, acreditava que o modo primário de atuação da mente é a associação
que atua apenas de acordo com o princípio da contigüidade. Oitenta anos antes, Hartley tinha
admitido a possibilidade de que certas seqüencias de pensamento, orientadas pela vontade,
estejam além do controle da simples associação e Hume tinha falado da associação como uma
“força suave”; mas James Mill acreditava que as ligações entre as idéias ocorrem de maneira
rígida e inexorável, de acordo com as leis da associação.
John Stuart Mill (1806-1873): A Química Mental (1843). James Mill acreditava que a
contigüidade fosse o único princípio primário de associação e que, qualquer idéia, por mais
complexa que fosse, seria apenas a soma das idéias simples que a constituem. Seu filho, John
Stuart Mill, discordou dele em dois aspectos. Acrescentou o princípio da semelhança
associativa, por analogia com a união da química, que as idéias complexas podem ter
propriedades que não podem ser previstas a partir de um conhecimento de simples
componentes. O último desacordo não é um simples jogo de palavras, pois a interpretação de
J. S. Mill supõe que cada idéia complexa deva ser estudada por si mesma e que a doutrina da
associação, embora possa dizer como se originam as idéias, não apresenta a sua história
completa. A concepção de Wilhelm Wundt de síntese criadora na percepção e idéia derivou
dessa interpretação de J. S. Mill. Para este último o objeto da Psicologia é constituído pelas
uniformidades de sucessão, as leis, finais ou derivadas, de acordo com as quais um estado
mental sucede a outro; é causado por outro, ou, pelo menos, causado a seguir outro.
Herbert Spencer (1820-1903): A Inteligência (1855). O princípio da associação entra
no sistema de psicologia de Spencer como “a lei da sucessão de mudanças psíquicas”. As
ordens de acontecimentos no ambiente variam do persistente ao fortuito, e o individuo, animal
ou humano, adapta-se a essa sucessões externas através do estabelecimento de sucessões
internas correspondentes de estados conscientes, que variam, em sua força, de acordo com a
persistência das mudanças externas. Quanto mais inteligente o organismo, mais
adequadamente sua consciência corresponde às uniformidades ambientais, dando-lhe
informações corretas a respeito de seu mundo. Assim, a ordenação da vida mental, que é o
sinal da inteligência, surge através da aprendizagem pela experiência. Spencer também
acreditava que essas sucessões aprendidas de estados conscientes podem ser herdadas como
instintos. Depois da Origin of Species, de Darwin (1859), muitas pessoas, entre as quais
137
Spencer, viram nessa teoria, segundo a qual a interação de uma espécie com seu ambiente
gradualmente modificaria sua forma, a antecipação do importante papel da teoria da evolução
de Darwin. Depois, o conceito de evolução tornou-se um tema central da filosofia de Spencer.
William James (1842-1910): As limitações do associacionismo (1890). Escreveu suas
idéias sobre estas limitações no The Principles of Psychology. W. James pensava que o
associacionismo tinha sido adequadamente descrito por David Hartley, mas via nessa doutrina
clássica uma significação limitada para uma compreensão da mente humana. Acima e além de
suas associações, a mente possui uma capacidade inata para perceber certas relações e
categorias, uma dotação genética que não pode ser explicada, nos termos de Spencer como
associações herdadas. James, que pensava que essas capacidades inatas devem ter sido
desenvolvidas por seleção natural, utilizava uma versão mais moderna da teoria evolucionista
do que a conhecida por Spencer, pois escrevia depois de Darwin (1859) e depois da teoria de
Weismann (1875) sobre a continuidade do plasma germinativo e de sua hereditariedade de
caracteres adquiridos. Por sua crença nesse tipo de função mental inata, James discutia uma
qualidade do associacionismo que o tornara tão atraente durante tanto tempo sua amplitude
extraordinária. W. James opunha-se a um sistema de psicologia que era excessivamente
simples e mecânico, exatamente como seu contemporâneo na filosofia norte-americana, John
Dewey, deveria fazer seis anos depois, ao discutir o valor do reflexo na teoria psicológica.
Wilhelm Wundt (1832-1920): Análise Psicológica e Síntese Criadora (1896). O curso
histórico do associacionismo se divide depois de John Stuart Mill. Uma linha contínua através
de Spencer e James e vai até Dewey, a psicologia funcional norte-americana e a psicologia da
Gestalt, embora estes dois últimos movimentos continuem e reforcem o protesto de James
contra o associacionismo. A outra linha passa por Wundt e vai a Kulpe, no início de sua
carreira (1893) e Titchener, depois de quem desapareceu como uma questão sistemática. A
linha de Locke, que passa por Hume, James Mill e J. S. Mill e chega a Wundt, é clara. Wundt
era o elementarista par excellence. Para ele, a psicologia estuda os elementos mentais
(sensações, imagens, sentimentos) e suas combinações em Vorstellungen (percepções, idéias).
Segundo ele há princípios associativos de combinação e Wundt preferia limitar o termo
associação à associação sucessiva, tal como a que ocorre em aprendizagem, memória e
reprodução. Segundo pensava, tais acontecimentos formam associações frouxas. Os
138
compostos simultâneos, no entanto, são fortemente unidos. São fusões, como a união de tons
num acorde, ou assimilações espaciais, como os padrões visuais que constituem ilusões
geométricas, ou complicações, como a combinação de elementos visuais, táteis e auditivos
quando seguramos uma criança que grita. Essas combinações atuam por síntese criadora ao
determinar nova Vorstellungen, os resultados psíquicos de processos associativos. A
psicologia de Wundt é uma espécie de química mental e foi reforçada pelo desenvolvimento
contemporâneo da química atômica e pela formulação, por Mendelev (que atraiu a atenção
de Peirce. Leal (1999) citando Eisele: 1985), da lei periódica de elementos químicos (1871),
apenas três anos antes de Wundt ter publicado a primeira edição de sua química mental
clássica – Grundzuge der physiologischen Psychologie.
Alexandre Bain (1818-1903). Mind and Body. Londres, 1873. Este pensador que não
está incluído entre os nomes de destaque do associacionismo, “dele se utilizou enquanto
realizou significativo trabalho em meio aos associacionistas na Grã-Bretanha, e muito antes
mesmo de as universidades terem criado suas cátedras de psicologia. Por isso, ocupou a
cátedra de lógica na Universidade de Aberdeen, onde fez importantes contribuições à
psicologia. Seus dois livros The Senses and The Intellect (1855) e The Emotions and the Will
(1859), foram manuais definitivos na Grã-Bretanha durante quase meio século. Mostram a
influência de seu grande amigo John Stuart Mill, que era doze anos mais velho que ele, e cuja
maneira de ver a psicologia aceitou. Pode-se dizer com segurança que, com Bain, o
empirismo e o associacionismo inglês se tornaram mais uma escola de psicologia que de
filosofia. Em sua obra Mind and Body (1873), que foi tentativa de Bain para decidir o
problema do dualismo, sua solução não era diferente de Fechner, pois também sustentava que
a mente e o corpo são metafisicamente inseparáveis. Foi chamado de paralelista psicofísico,
mas seria incorreto igualar suas opiniões às de Leibniz ou Hartley, os paralelistas do século
anterior. Bain não defendia a opinião pouco plausível de a mente e o corpo estão de acordo
por causa do desejo arbitrário de uma harmonia preestabelecida. Ao contrário,acreditava que
os cursos paralelos da mente e do corpo são realmente apenas uma corrente, uma corrente que
pode ser observada objetivamente, como matéria, ou subjetivamente, como mente. Portanto,
como Fechner, era um monista metafísico e um dualista epistemológico, o que é uma forma
de dizer que acreditavam na teoria do duplo aspecto de mente e cérebro. E talvez por esta sua
proximidade de pensamento com Gustav Theodor Fechner (1801-1887), foi também chamado
de paralelista. Fechner, nome fora da lista dos associacionista e um interacionista e paralelista
139
psicofísico, combateu o materialismo do século XIX e acreditava que, ao estabelecer a lei da
interrelação entre sensação e processos cerebrais, poderia demonstrar a mutualidade dos dois
e confirmar, segundo esperava, não o fato de a mente depender do cérebro, mas um
panpsiquismo, o fato de que os acontecimentos físicos estão indissoluvelmente identificados
com os acontecimentos mentais. Na verdade a fórmula para a relação entre mente e corpo
apresentava uma confirmação tão boa para o paralelismo psicofísico quanto para a
interpretação do duplo aspecto. Interessante notar que Fechner defendia sua crença metafísica
quando dizia que a diferença entre mente e matéria, o suposto dualismo, é apenas uma
diferença no ponto de vista a partir do qual se observa a entidade psicofísica. Assim como
também Wundt e Ernst Mach sustentaram que a diferença entre psicologia e sica é uma
diferença dada por ponto de vista.
Para os pesquisadores e estudiosos de Peirce, alguns dos nomes acima elencados, bem
como algumas de suas idéias notado se fez que parece não terem sido estranhos a ele, e em
muitos momentos até pudemos identificar algumas idéias em afinidade às do filósofo
pragmaticista. O que vem confirmar o que vimos sobre a atitude de Peirce em relação aos
tantos filósofos e cientistas por ele estudados. Veremos agora mais dois pensadores que
também fizeram parte deste período da psicologia nascente, e citados no Hábito, de Peirce, o
texto referência neste subcapítulo desta pesquisa: Ernst Mach (acima referido) e Isaac
Newton.
Ernst Mach (1838-1916) interessou-se, fundamentalmente, em mostrar que todas as
ciências, como seus dados, estão apenas na experiência, têm o mesmo objetivo, e que a física,
como a psicologia, começa com observação sensorial. Acentuou essa afirmação ao denominar
experiência o que costumamos denominar sensações. O interesse básico de Mach, em seu
famoso livro Contribuições à Análise das Sensações (1886) foi convencer seus leitores de que
a psicologia e a física derivam de sensações, e não mencionou a diferença entre os dois
campos como dependente de ponto de vista da “direção da pesquisa”; enquanto que a
Psicologia clássica a Psicologia clássica considerava a experiência como dependente do corpo
que é mediador.
Isaac Newton (1642-1727).
140
Penna (2006) nos apresenta em Os Filósofos e a Psicologia, nas páginas 61 a 70 que
“Duas perspectivas serão adotadas para a influência das idéias de Newton na Psicologia: 1. a
primeira considera a influência exercida pelo estilo de pensamento que Kurt Lewin
denominou galileano, 2. a segunda o que se apresenta pela influência que exerceu na
implantação do primeiro grande sistema psicológico no âmbito do pensamento moderno. A
referência aqui é ao “Associacionismo”. E mais uma vez nos utilizando de longa citação,
porém aqui necessária pela sua significância, veremos:
1. No que se refere ao texto de Lewin, basicamente o que nele se propõe é uma
comparação entre o modo de pensar aristotélico no domínio da Física, e o que se
inaugurou com Galileu. Seu propósito não é o de “deduzir da história das ciências
físicas a linha de conduta da psicologia”. De qualquer modo, sua tese propõe
essencialmente um isomorfismo entre a maneira como se percebe a evolução da Física
e o modo como se processou e vem se processando a evolução da Psicologia. Insista-
se, contudo, que fica excluída qualquer idéia de se subordinar a Psicologia à Física.
Lewin assinala como traço do pensamento aristotélico e sob sua influência, o
que dominou a Idade Média, “o caráter antropomórfico e impreciso dos conceitos por
oposição aos da Física moderna, caracterizada pela sua precisão quantitativa, pela
substituição das explicações antropomórficas por relações funcionais puramente
matemáticas, fato que concede à Física esta aparência abstrata de que os físicos
contemporâneos se orgulham particularmente. Também Lewin destaca o caráter
normativo dos conceitos aristotélicos que, na verdade, “se situam na fronteira dos
julgamentos de valor e dos julgamentos de realidade”. Também Lewin salientará a
oposição entre o céu e a terra, o movimento terrestre, o dos fenômenos celestes, do
mundo sublunar, que marcará essencialmente o pensamento chamado aristotélico; mas
por igual, definido como expressão de uma perspectiva centrada na noção de classe.
Esta, para Aristóteles, é definida como a totalidade dos caracteres comuns a um grupo
de objetos. Constitui a essência mesma desses objetos e nessa condição explica o
comportamento deles. Está na raiz do conceito de lei e de acaso. Para Aristóteles,
pertence ao domínio da lei, e nessa condição se define como inteligível tudo quanto se
produz, sem exceção. Também nela se inclui o que se realiza com freqüência. De
qualquer modo, excluem-se da classe dos inteligíveis os eventos particulares, não
repetíveis. Como observa Lewin, “é o empirismo de Aristóteles que o faz insistir sobre
a freqüência e, ao mesmo tempo, sobre a regularidade como fundamento do
141
determinado. Evidentemente, isto não faz mais do que esclarecer a antítese entre a
individualidade e a lei, o fenômeno particular permanecendo, assim, indeterminado e,
portanto, em certo sentido, estranho à ciência. O domínio do determinado permanece
limitado aos fenômenos que se repetem e as classes, no sentido abstrato de Aristóteles,
revelam sua natureza essencial. Assim, quer em Física, quer em outras ciências, tais
como a Economia ou a Biologia, pode-se constatar nos seus começos uma tendência
ao empirismo, ao colecionismo e à classificação que leva em si mesma uma outra
tendência que consiste na elaboração de conceitos históricos e na valorização
excessiva do aspecto histórico dos fenômenos”.
Com a física galileana e nela se inclui obviamente Newton não é a
utilização da matemática e o esforço na direção da precisão que irão caracterizá-la. Na
verdade, o que lhe dará sentido é a mudança de conteúdo mais do que os aspectos
formais. Conforme escreveLewin: “A perspectiva de Bruno, de Kleper ou de Galileu é
determinada pela idéia de uma compreensão unitária da totalidade do Universo. A
mesma lei deve governar o curso das estrelas, a queda dos corpos e o vôo das aves.
Esta homogeneização do mundo físico ao nível da lei suprime a divisão dos objetos
físicos em classes rígidas, definidas abstratamente. Estas tinham tido um significado
estratégico na Física de Aristóteles, que considerava que a participação em uma classe
abstrata determinava a natureza concreta do objeto.” Exclui-se, assim, a antiga
oposição entre o mundo celeste e o mundo sublunar. Além do mais, introduzem-se,
por igual, com a Física galileana, os conceitos genéticos ou genético-condicionados,
por oposição aos conceitos descritivos. Opera-se com a distinção entre o fenótipo e o
genótipo, e se valoriza não o primeiro nível, o nível da aparência, mas o segundo que
se revela encoberto. Como escreve Lewin: “A órbita dos planetas, a queda livre de
uma pedra, o movimento de um corpo sobre um plano inclinado, a oscilação do
pêndulo seriam situados em classes diferentes, de fato, antitéticos, se nós os
distinguimos em termos fenótipos, enquanto são simplesmente manifestações da
mesma lei”. Na verdade, a ciência começa a se construir aqui em função de uma
negação do dado percebido, optando-se por produzi-la em termos não visíveis.
Como percebeu Lewin e citou Penna, “de modo extremamente paradoxal, na
perspectiva da Física Moderna, houve uma superação do empírico”
142
E nesta atitude que implica numa negação do empirismo, atingiu-se o que
aparentemente, havia sido a grande arma do modo aristotélico de pensar a
subordinação ao empírico. Lewin escreve: “A lei se refere unicamente aos casos que
não são jamais realizados ou muito aproximadamente realizados no desenvolvimento
dos eventos concretos. É somente nos experimentos, isto é, em condições
artificialmente construídas, que se produzem os casos que se aproximam do fenômeno
expresso pela lei. As proposições da Física moderna, que nós consideramos
freqüentemente como antiespeculativas e empíricas, apresentam indiscutivelmente, em
relação ao empirismo e Aristóteles, um caráter menos empírico e muito mais
construído que os conceitos aristotélicos diretamente fundados sobre a realidade
histórica.”
O comentário de Lewin converge com a afirmação de Koyré de que Galileu
produziu essencialmente experimentos imaginários e não experimentos concretos, tese
que se mostra paralela com a de Husserl quando afirma que Galileu operou, sem se ter
dado conta disso, com o método fenomenológico, ou seja, com a técnica das variações
imaginárias. Esta comparação feita por Lewin entre o que se passou na Física e o que
passou na Psicologia pode ser considerada um paralelismo e, essencialmente, põe em
relevo o fato de que a oposição entre o céu e a terra replicou-se na Psicologia através
da distinção, por exemplo, entre o normal e o patológico. Também na Medicina a
sobrevivência do pensamento aristotélico chega até o século XX. De qualquer modo, o
esforço na direção do processo de homogeneização foi realizado, entre outros e isso
constitui um de seus méritos por Freud. Na verdade, a interpretação dos sonhos e a
psicopatologia da vida cotidiana marcam a presença do nível da normalidade, do que
se definiu antes como integrado à categoria da normalidade. O que se propõe então é
uma lei explicativa com um nível de aplicação que desconhece os limites categoriais.
Esta homogeneização se registrará nos trabalhos empreendidos pelos
gestaltistas quando propõem o nivelamento entre o ilusório e o real no domínio da
percepção. O foco da contribuição da topologia, a relevância do conceito de campo por
oposição ao de classe mostra-se central no movimento gestáltico. Kofka, inclusive,
com este conceito, opera nodomínio do social, assinalando que o comportamento dos
indivíduos, na realidade, é fundamentalmente atribuído do contexto e não de atributos
nele discrimináveis.
143
2. No que se refere às influências diretas de Newton quanto à natureza do
movimento associacionista, percebe-se na produção mesmo do “Associacionismo”,
semnenhuma dúvida, a grande concepção produzida pela influência de Hume, no
domínio da Psicologia, no decurso do século XVIII. Por certo, o conceito de
“associação” é bastante antigo e também já está presente em Aristóteles. Não obstante,
a tentativa de se sustentar a totalidade das operações intelectuais em cima da idéia de
“associação” surge a partir de Hume e se consolida com Hartley, de resto, considerado
o verdadeiro criador do sistema.
Herdeiro do empirismo inglês, iniciado com Locke, este distingue, no que
concerne aos objetos do mundo físico, as qualidades primárias e as secundárias, estas
se revelando como subjetivas. Berkeley generaliza a argumentação de Locke e propõe
a tese de que tanto as qualidades primárias como as secundárias são subjetivas e, logo,
procede à eliminação da substância extensa. Proclama-se então o imaterialismo, pois o
que Hume fez foi transpor para o domínio do espírito a argumentação de Berkeley,
afirmando a inexistência de uma substância pensante. Por lógica, a eliminação do
conceito de substância exclui a de sujeito, sobrando apenas as idéias a se associarem
em função das leis da semelhança, de contigüidade espacial e temporal e causalidade.
Da atração exercida entre os corpos celestes observada por Newton, Hume tirará proveito para
seu Tratado da Natureza Humana: “Existe aqui um gênero de atração que como se verá,
possui no mundo mental efeitos tão extraordinários como no mundo natural e que se revela
em formas tão numerosas como variadas. Seus efeitos, são, em todas as partes, notáveis,
porém, no que concerne à suas causas, são, as mais das vezes, desconhecidas e devem reduzir-
se às qualidades originais da natureza humana que eu não pretendo
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