RESUMO
Uma das característica comuns à classe Chondrichthyes, a qual abrange
tubarões, raias e quimeras, é a maturação sexual tardia e baixa fecundidade,
que os torna sensíveis à mortalidade causada pela pesca. A raia-preta,
Pteroplatytrygon violacea Bonaparte, 1832, é uma espécie de raia epipelágica,
que pertence à família Dasyatidae é considerada cosmopolita É uma espécie
vivípara aplacentária, onde o embrião se alimenta através do saco vitelínico e
de trofonematas. Estudos envolvendo a espécie são escassos, e a espécie é
freqüentemente capturada incidentalmente pela frota atuneira de espinhel
pelágico e descartadas por não apresentarem interesse comercial, estando
presente na Lista Vermelha da UICN. Foram levantados alguns aspectos
relacionados à biologia-pesqueira da raia-preta com o objetivo de subsidiar
órgãos governamentais e não governamentais para auxiliar na criação de
medidas de conservação, devido à captura incidental freqüente. No período de
agosto de 2006 a março de 2008 foram obtidos 223 espécimes de raia-preta,
solicitadas aos pescadores da frota de espinhel pelágico de São Paulo, que
atuam no sudeste e sul do Brasil. Foram realizados a biometria, pesagem,
análise de estômagos através da freqüência de ocorrência, e de gônadas
através dos índices gonadossomáticos e hepatossomáticos e entrevistas com
os pescadores para a obtenção de dados pesqueiros. A captura incidental da
espécie aumentou desde o final dos anos 1990 devido à re-implementação de
um estropo metálico no petrecho de pesca, próximo ao anzol, onde espécies
de cações podem ser capturadas, bem como as raias, pois anteriormente à
utilização desse estropo, os cações e demais peixes com dentes cortantes se
livravam da linha do anzol facilmente. Os dados biométricos dos espécimes
mostraram-se equivalentes quando comparados com outros trabalhos, assim
como a relação peso-comprimento, que apresentou forte correlação para
ambos os sexos. As classes de comprimento mais freqüentes foram de 50 a 54
centímetros para as fêmeas e de 40 a 44 cm para os machos. O grupo de
presas mais freqüente na dieta da espécie foi o Mollusca, e o item mais
freqüente foi Loligo sp., presente em 32% dos estômagos com algum conteúdo.
As fêmeas capturadas mais próximas da costa alimentaram-se
predominantemente de crustáceos, e em áreas oceânicas de moluscos,
enquanto os machos apresentaram uma dieta mais heterogênea em ambas as
áreas, sendo Mollusca predominante. Tais diferenças podem estar
relacionadas à profundidade onde os espécimes se encontraram, sendo que os
machos se encontraram em maiores e fêmeas em menores profundidades.
Foram observadas anomalias em 1,3% do total de espécimes amostrados. O
período de cópula foi observado entre setembro e novembro, com o início do
desenvolvimento das gônadas nas fêmeas e marcas de mordidas, e a época
de nascimento entre janeiro e abril, onde foram observados aumentos nos
índices gonadossomático e hepatossomático, além da captura de uma fêmea
prenhe com sete embriões em março de 2008. A captura incidental da espécie
pode estar afetando sua população, pois áreas de pesca coincidem com áreas
de cópula e nascimento, sendo necessário estudar medidas que visem diminuir
a pressão pesqueira nessas áreas, como novas técnicas de pesca.
Palavras-chave: Dasyatidae, Pteroplatytrygon violacea, captura incidental.
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