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TRAUDI HEISLER
A INDÚSTRIA DE VENÂNCIO AIRES – RS: UM ESTUDO GEOECONÔMICO.
Florianópolis
2008
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2
Universidade Federal de Santa Catarina
Centro de Filosofia e Ciências Humanas
Curso de Pós-Graduação em Geografia
Traudi Heisler
A Indústria de Venâncio Aires – RS: Um Estudo Geoecônomico.
Marcos Aurélio da Silva
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
Área de Concentração: Desenvolvimento Regional e Urbano
Florianópolis/SC, setembro de 2008.
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3
A INDÚSTRIA DE VENÂN CIO AIRES – RS: UM ESTUDO GEOECONÔMICO.
TRAUDI HEISLER
Coordenador: Dr. Carlos José Espíndola
Dissertação submetida ao Programa de Pós -Graduação em
Geografia, área de concentração Desenvolvimento Regional e
Urbano, do Centro de Filosofia e Ciências Humanas da
Universidade Federal de Santa Catarina, em cumprimento aos
requisitos necessários á obtenção do grau acadêmico de Mestre
em Geografia.
Presidente:_______________________________________________
Prof.Dr. Marcos Aurélio da Silva – UFSC
Membro: _________________________________________________
Prof. Dr. Carlos José Espíndola – UFSC
Membro: _________________________________________________
Prof. Dr. Fábio Napoleão – UDESC
Membro: _________________________________________________
Prof. Dr. José Messias Bastos – UFSC
Florianópolis, 26 de setembro de 2008.
4
AGRADECIMENTOS
São tantas pessoas que de alguma ou outra forma me ajudaram que se
necessitaria de várias pàginas para agradecer. Mas algumas foram especiais por
acreditar em mim e colab oraram para enriquecer não somente a minha dissertação,
mas a vida acadêmica e pessoal.
Para começar o professor Marcos Aurélio da Silva, meu orientador que se
dispôs a me orientar e mesmo sem conhecê -lo, acabei ganhando um grande amigo.
que não sou cat arinense, agradeço aos bons momentos e as pessoas com as
quais pude contar durante a pós -graduação.
No Rio Grande do Sul começo agradecendo a Prefeitura Municipal de
Venâncio Aires, em especial a secretaria de indústria e comércio, pelas informações
que foram fornecidas. As onze indústrias que foram visitadas e que acreditam na
pesquisa para melhorar a atividade. Ainda por confiarem na ética da pesquisa e da
pesquisadora.
Meus amigos de Santa Maria, no interior do estado, entre eles o Francisco, a
Elenir, a Mara (que me ajudou a organizar os mapas) e a professora Lílian, que
apesar de não ter nada a ganhar com a minha pesquisa, me deu várias orientações.
Deixei para o final, a minha família por que ela foi a mais importante nessa
minha jornada.
5
RESUMO
O presente trabalho busca caracterizar as atividades industriais do município de
Venâncio Aires, estado do Rio Grande do Sul. Esta área faz parte de uma
importante região conhecida internacionalmente por abrigar o Complexo
Agroindustrial do Tabaco, dessa forma atraindo diferentes formas de investimentos
de capital. Além deste, se destacam também o ramo da refrigeração comercial e
confecções que tem tomado a frente na produção e nos investimentos em tecnologia
e infra-estrutura. Diante das visitas feitas á onze indústrias e estas respondendo á
questões diversas sobre suas atividades foram traçadas as principais características
da atividade industrial local. A principal consideração que podemos inferir diz
respeito a grande dinâmica desses est abelecimentos e o seu grande potencial
produtivo e criativo, principalmente no desenvolvimento de novos produtos. O reflexo
de tudo isso está na organização do espaço local, um espaço urbano em transição,
onde o antigo e o novo fazem parte do cotidiano da sociedade local.
Venâncio Aires é parte importante no desenvolvimento econômico regional quanto
nacional. Durante o período analisado, observou -se que a formação do espaço e da
sociedade se fez através de um conjunto de variáveis de distintas escalas
geográficas, articuladas entre si e que configuraram a organização e o uso desse
espaço.
Palavras-chave: indústria, organização espacial, Venâncio Aires, formação
sócioespacial.
6
ABSTRACT
The dissertation searches characteristic of the industrial activity in the country of
Venâncio Aires, Rio Grande do Sul estate. The area make important part region
international know for the tobacco complex agriculture industrial, this attraction
different forms of capital investment.
Besides, also detail the commercial refrigeration live and garment making having
take the technology investment and infrastructure. Ahead the visits done of eleven
industrial and these answer several questions of his activity.
This consider main can respect say of big dy namic industrial and creative e
productive potential, main devolvement of new products. The reflection everything in
the space organization, one urban space in transition, where the old and the new part
make to daily the place society.
This datum show on c onsiderable growth, when population dynamic and territorial
divisions of the work. The economic growth and social is visible, no only us
numbers and ecstatics, but visible in the city.
Keywords: Spatial organization, territorial formation, region, Venâncio Aires,
industrial.
7
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1: Mapa dos COREDEs do Rio Grande do Sul, localizando o Vale do Rio
Pardo................................................................................................................................. . 39
FIGURA 2: Mapa de localização da área de estudo. .................................................... 42
FIGURA 3: Centro da Vila de Venâncio Aires em 1932. ............................................... 46
FIGURA 4: Mapa de migrações no Rio Grande do Sul. ............................................... 47
FIGURA 5: Gráfico da população por sexo de Venâncio Aires/RS. ........................... 48
FIGURA 6: Gráfico da evolução da população, quanto ao local de moradia de
Venâncio Aires/RS, no período de 1920 a 2006. ........................................................... 49
FIGURA 7: Renda da população trabalhadora empregada em Venâncio Aires/RS. .51
FIGURA 8: Número de indústrias em Venâncio Aires/RS, no período de 1940 a
2006................................................................................................................................. ... 55
FIGURA 9: Mapa de localização das indústria s amostradas de Venâncio Aires/RS. 63
FIGURA 10: Processo de destala na indústria fumageira. ................................ ........... 65
FIGURA 11: Montagem de tratores agrícolas................................. ............................... 70
FIGURA 12: Origem das matérias -primas nas indústrias visitadas em Venâncio
Aires/RS. ................................ ............................................................................................ 71
FIGURA 13: Mapa de fluxogr ama dos destinos da produção das indústrias
amostradas de Venâncio Aires - RS................................. .............................................. 75
FIGURA 14: Recepção de fumo "in natura" na indústria Companhia Brasileira de
Fumo em Folha, em Santa Cruz do S ul. ................................ ........................................ 80
FIGURA 15: Igreja Matriz São Sebastião Martir, na área central da cidade. ............. 90
FIGURA 16 - Mapa de Zoneamento do espaço urb ano de Venâncio Aires/RS. ........ 91
FIGURA 17: Imagem da Zona residencial e comercial de Venâncio Aires. ................ 92
FIGURA 18: Indústria instal ada no Distrito Industrial. ................................ ................... 94
FIGURA 19 - Planta da cidade de Santa Cruz do Sul/ RS. ................................ .......... 95
FIGURA 20: Mapa de expansão do perímetr o urbano de Venâncio Aires/RS. .......... 97
FIGURA 21 - Local de moradia dos trabalhadores das indústrias amostradas de
Venâncio Aires/RS. ................................ ................................................................ ........... 99
FIGURA 22 - Sazonalidade da produção e contratação de funcionários das
indústrias amostradas em Venâncio Aires/RS. ................................ ............................ 100
8
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 - Número de indústrias e pessoas ocupadas em ralação à população total
entre 1940 e 2000 em Venâncio Aires/RS. ................................ ................................ .... 99
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1: Quadro de de snacionalização da indústria fumageira de Venâncio
Aires/RS. ................................ ............................................................................................ 83
9
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ................................ ................................ ................................ ..........10
1. O PROCESSO DE IND USTRIALIZAÇÃO NACION AL E REGIONAL:
CONSIDERAÇÕES SOBRE O RIO GRANDE DO SUL ................................ ...........16
1.1 BRASIL: INDUSTRIALIZAÇÃO, DUALIDADES E A QUESTÃO REGIONAL ...16
1.2 O PROCESSO DE FORMAÇÃO DAS DUALIDADES NO RIO GRANDE DO
SUL: A CONSTITUIÇÃO DA PROPRIEDADE RURAL ................................ ..........27
1.2.1 O início das atividades industriais e m áreas coloniais de origem alemã no
Rio Grande do Sul ................................ ................................ .............................. 33
2. VENÂNCIO AIRES, D ESCRIÇÕES GEOGRÁFICA S E HISTÓRICAS ................ 38
2.1 O VALE DO RIO PARDO ................................ ................................ .................38
2.1.1 Formação histórica de Venâncio Aires ................................ ...................... 41
2.2 POPULAÇÃO................................ ................................ ................................ ...47
2.3 DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO ................................ .............................. 51
2.4 AS INDÚSTRIAS E O INÍCIO DAS SUAS ATIVIDADES................................ ...56
3. CARACTERÍSTICAS G EOGRÁFICO-ECONÔMICAS DA INDÚST RIA DE
VENÂNCIO AIRES ................................ ................................ ................................ ...62
3.1 ESTRUTURA INDUSTRIAL, MAQUINARIA, MÃO-DE-OBRA ......................... 62
3.2 MATÉRIAS-PRIMAS UTILIZADAS NA INDÚSTRIA LOCALIZADA.................. 71
3.3 O MERCADO CONSUMIDOR E A PRODUÇÃO LOCAL ................................ .73
3.4 QUESTÃO AMBIENTAL E INDÚSTRIA LOCAL................................. ..............85
4. ORGANIZAÇÃO ESPAC IAL DE VENÂNCIO AIRE S ................................ ..........88
4.1 CARACTERÍSTICAS DA MÃO – DE – OBRA NAS INDÚSTRIAS DE
VENÂNCIO AIRES/RS................................. ................................ .......................... 98
5. CONSIDERAÇÕES FIN AIS................................ ................................ ................102
6. REFERÊNCIAS BIBLI OGRÁFICAS................................ ................................ ...106
ANEXOS ................................ ................................ ............................... 110
INTRODUÇÃO
Para a geografia é importante estudar as transformações ocorridas nas
diferentes sociedades: desde seus processos culturais, as técnicas por elas
desenvolvidas e, principalmente, a industrialização. De modo que a his tória de um
espaço geográfico se constrói e está marcada pela sucessão de transformações
culturais, econômicas e sociais ocorridas ao longo do tempo.
Para entender a história da sociedade é preciso compreender sua evolução,
conquistada a partir da aquisiç ão de novos conhecimentos e do desenvolvimento de
suas condições materiais. A discussão em torno do materialismo histórico parece ser
uma teoria que se ajusta aos estudos sobre a formação de um pequeno modo de
produção colonial no sul do Brasil.
O materialismo histórico tem como objet ivo conhecer a sociedade . O homem
é quem faz a história, a partir da produção das condições materiais. Isso baseado no
trabalho que é condição de alienação do homem, incluindo seu conhecimento, sua
mente, que unidas, se complet am.
No materialismo histórico a totalidade é indicada pelo movimento do Modo de
Produção e sua efetivação sob diferentes formações sócio espaciais. Esse processo
é parte da história da humanidade. É como Gramsci se refere á “filosofia da práxis”,
isto é, às relações que são próprias da sociedade entre sua infra -estrutura
(econômica) e supra-estrutura (jurídico – político).
1
Aliado ao materialismo histórico, o estudo de compreender a sociedade é
completado pela dialética. Esta pressupõe que o conhecimento dos homens
acontece em movimento e reconhece a necessidade de se adicionar o novo na
realidade humana. “Estudar a história através da dialética é o modo de pensarmos
as contradições da realidade como essencialmente contraditória e em permanente
transformação”.
2
Nessa concepção o os objetos reais e científicos ocupam o espaço e se
relacionam e nas diferentes dimensões da totalidade. Durante a existência humana
1
Vieira, M.G.E. de D. Formação social brasileira e geografia: reflexões sobre um debate interrompido.
Dissertação de mestrado. UF SC, Florianópolis. 1992, p.34.
2
Konder, L. O que é dialética. São Paulo: Brasiliense, 1990,p.08.
11
e a partir da constituição da sociedade moderna, os homens estabelecem
determinadas relações muit o além de suas necessidades. E, ainda, relações de
produção que determinam o grau de desenvolvimento das forças produtivas e que
estão incluídas numa estrutura econômica , que aliada a uma superestrutura jurídica
e política é que forma o modo de produção.
3
A passagem de um modo para outro se quando o certo estágio de
desenvolvimento da sociedade e de sua produção material entra em contradição
com relações existentes, que moviam até então a sociedade.
Os modos de produção mostram uma seqüência do desenvol vimento da
humanidade, sua evolução, através de fatos e elementos concretos. Em seus
aspectos fundamentais relações de produção, forças produtivas, formas de
propriedade - é a expressão do estágio histórico da relação homem/natureza (da
produção) que se explica nas relações entre os próprios homens, a sociedade
4
.
Marx foi um dos maiores defensores desse conceito, em parte por explicar as
relações capitalistas, as relações de poder e a condição ideológica. Também coloca
que existe a combinação de relações de produção numa realidade dada, ou seja,
numa formação social concreta. E para se ter uma melhor compreensão dessa
realidade, recorre ao conceito de “modo de produção”.
Um Modo de Produção engloba diversas instâncias em combinação, que
possuem dinâmica e autonomia próprias, ligadas em unidade dialética: a econômica,
a político-jurídica e a ideológica. Dobb coloca “que um modo de produção implica em
relações de produção, os quais, por sua vez, pressupõem classes com diferentes
posições sociais”.
5
O Pequeno Modo de Produção está baseado na exploração de pequenas
propriedades da época da transição do feudalismo para o capitalismo. Através de
um processo de expropriação dentro da própria classe de pequenos proprietários de
3
Suertegaray, D.M. Notas sobre epistemologia da geografia. In Cadernos Geográficos,UFSC, 1999.
p.23.
4
Vieira, M.G.E. de D. op.cit. p.43.
5
Procacci, G. Uma sinopse do debate. In: Sweezy, P. M. A transição do feudalismo para o
capitalismo, 4 ed., trad. Didonet, I. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977.p. 136.
12
terra, houve acumulação de capital. A ssim se lançaram as bases para alguma
acumulação de capital no interior do próprio Pequeno Modo de Produção.
6
Os fatos históricos mostram que essa situação foi presente nas colônias de
imigração alemã e na área em estudo. Houve a ascensão de alguns produ tores que
começaram a trabalhar com o comércio e que através da expropriação da
comercialização da produção excedente destas pequenas propriedades,
acumularam capitais suficientes para investir nas indústrias de banha, erva -mate e
fumo.
A manifestação concreta de um determinado modo de produção está no
estudo de sua formação sócio -espacial, revelando suas principais características. É
uma particularidade do espaço –temporal do modo dominante, é a base da formação
sócio-econômica de uma região. “Daí a categ oria de Formação Econômica e Social
perecer-nos a mais adequada para auxiliar a formação de uma teoria válida para o
espaço”.
7
O conceito de formação econômico -social, depois aperfeiçoado para
formação sócio-espacial, estudado por Milton Santos, é de cruc ial importância para a
análise geográfica. Este expressa a idéia de movimento histórico da sociedade,
permitindo que, a partir dele, reconheça -se o espaço geográfico como a expressão
material da forma como os homens se organizam socialmente para produzirem e
reproduzirem suas vidas no e com o espaço. De acordo com as suas palavras, a
geografia sempre esteve mais preocupada com a forma do que a formação das
coisas.
Representa a evolução diferencial de cada lugar e as relações de forças
externas que muitas v ezes provocam impulsos para a evolução. Baseada na
capacidade do homem de transformar o espaço com seu trabalho, esta categoria
parece esclarecer a linha do tempo e a dinâmica do espaço, dando definição a cada
estágio histórico da humanidade.
O interesse nos estudos sobre as formações sócio -espaciais está na
possibilidade de oferecerem o conhecimento de uma sociedade em sua totalidade e
6
Ibidem, p.135.
7
Santos, M. Espaço e sociedade: ensaios. 2 ed. Petrópolis:vozes, 1982, p.10.
13
em suas frações, mas sempre um conhecimento peculiar, apreendido num dado
momento.
8
Para realizar comparações, é necessár io deixar claramente definidas as
especificidades para poder distinguir esta de outras formações.
A formação sócio-espacial permite que se considerem processos, estrutura,
funções e formas em suas concretizações espaços -temporais diferenciadas, ao
mesmo tempo integradas. Corrêa o exemplo da internacionalização, o estágio
mais avançado da espacialidade capitalista, mostrando diferenças espaciais antigas
e novas.
9
A apreensão do modo de produção e da formação social, ou do
conhecimento do geral e do espe cífico, apresenta a materialização da sociedade. O
resultado é dado pela formação sócio -espacial de um determinado espaço.
O desenvolvimento da indústria brasileira, especialmente o das atividades
iniciadas por imigrantes, deu -se em pequenas unidades de fu ndo de quintal. Elas
apresentavam significativos avanços técnicos, se as compararmos com o momento
da chegada das indústrias multinacionais. Assim, a evolução da indústria alia -se a
fatores como a massificação do consumo e a conseqüente distribuição esp acial.
O uso cada vez maior dos meios de comunicação e de transporte fez com
que ocorresse a modernização das indústrias. Sua localização não ficou
condicionada, então, somente aos grandes centros urbanos. E lá se processou
como a atividade mais dinâmica, com lucros mais visíveis, na qual a modernização
foi sempre fator de sucesso.
Em Venâncio Aires, município do interior do Rio Grande do Sul, esta dinâmica
é bastante visível, pois o setor industrial é o principal gerador de renda e trabalho. E
isto se reflete na organização do espaço desta cidade. Propusemos -nos, assim
revelar como se iniciou o processo de industrialização, a acumulação dos capitais
para dinamizar esse processo e a organização espacial da área urbana do referido
município.
Desta forma, a história e a geografia do lugar precisam ser estudadas para
que se possa compreender qual é a vocação do município. A falta de estudos mais
8
Ibidem. p.12.
9
Côrrea, L.R. Reflexões sobre a dinâmica recente da rede urbana brasileira. ANAIS - ANPUR (IX
encontro), v.3,2001, p.123.
14
aprofundados e específicos faz com que a área em estudo careça de conhecer sua
própria dinâmica e seu valor perante a região e a própria nação. Vê -se suma
importância no entendimento de seu processo de industrialização, pois esse é
essencial na formação regional, que está voltada para exportação de seus produtos.
Dentro da formação do Brasil e do Rio Grande do Sul, Ven âncio Aires
desempenha um papel relevante em sua história e economia. Em parte, pelo fato de
ter sido uma das primeiras regiões colonizadas pela imigração germânica do Rio
Grande do Sul, pois esta etnia se caracterizou pelo desenvolvimento prematuro com
o comércio e a industrialização.
O desenvolvimento econômico do município, atualmente, é superior, se
comparado com o de outras cidades do Estado, especialmente as da região sul.
Possui um setor industrial diversificado, com indústrias de diferentes tamanho s e
produção para mercados internacionais.
Fazer o estudo de uma área específica como Venâncio Aires, ajudaria na
compreensão do processo de organização do próprio país, pois o entendimento das
partes e suas inter-relações permite com que se consiga recom por a formação
completa do Brasil.
O objeto de estudo foi o município de Venâncio Aires e seu processo de
industrialização, desde sua gênese aos dias atuais. A utilização de informações
foi tanto de ordem primária, quanto de leituras especializadas na G eografia industrial
e econômica. O uso de dados e informações primárias adquiridos nos mais diversos
órgãos públicos e privados foi de suma importância para suprir as necessidades da
pesquisa.
É claro que, além de mostrar o desenvolvimento das indústrias, foram
realizados estudos complementares sobre a colonização, os princípios do comércio,
que segundo estudiosos fomentaram o início de algumas atividades industriais, a
organização espacial do município e do meio urbano, as tecnologias utilizadas nas
indústrias e a sua estrutura, as potencialidades ainda não exploradas.
As visitas dirigidas foram realizadas nas indústrias dos ramos mais
expressivos, onde se aplicaram questionários previamente elaborados, de acordo
15
com os objetivos da pesquisa. Além de visit as ao interior da fábrica e às demais
dependências da indústria. Essas informações foram agrupadas para análise e
descrição da realidade encontrada.
A organização estrutural do trabalho foi baseada, primeiramente, na
discussão teórica sobre a formação do território do Rio Grande do Sul e da região do
Vale do Rio Pardo, onde se insere a área de estudo. Também sobre como ocorreu a
estruturação da indústria gaúcha e a colonial. E, por último, sobre a importância da
estrutura fundiária responsável por muitas c aracterísticas do Estado.
No segundo capítulo se concentra a caracterização da área de estudo e a sua
região, suas principais características históricas -geográficas, a economia local ,
incluindo o desenvolvimento do comércio e do perímetro urbano e por fim o
estabelecimento das atividades industriais existentes atualmente.
O terceiro capítulo contém todas as informações levantadas na pesquisas de
campo, desde aquelas obtidas nas entrevistas feitas às indústrias do município e
outras levantadas em órgãos púb licos de pesquisa. Essas informações mostram a
realidade encontrada e quais são as características das atividades industriais.
O final da dissertação está pautado na atual organização do espaço de
Venâncio Aires, localizando assim as áreas funcionais e as estagnadas,
especialmente as da área urbana. Apresenta, também, principais considerações
sobre o setor industrial, sua produção e a divisão do trabalho.
16
1. O PROCESSO DE INDUSTRIALIZAÇÃO NACIONAL E REGIONAL:
CONSIDERAÇÕES SOBRE O RIO GRANDE DO SUL
A atividade industrial no mundo moderno, dominado pela sociedade de
consumo, tornou-se um dos mais importantes setores da economia mundial. Por
desenvolver atividades que lhes são complementares, fornece empregos, estimula o
desenvolvimento do comércio, dos tra nsportes e dos serviços. O outro lado da
atividade tende a acumular capital em poucas mãos provocando a proletarização da
massa de trabalhadores, principalmente nos países subdesenvolvidos.
Estudar o processo de industrialização do Brasil não se restringe apenas à
indústria propriamente dita. Conteúdos, como formação do espaço e da sociedade,
propriedade fundiária e comércio mundial também entram na discussão. Esses são
de suma importância para a compreensão dos caminhos que foram percorridos
durante todo o processo de consolidação das atividades industriais.
Destacando a industrialização nacional, podemos inferir que o processo de
substituição das importações teve dinamismos diferentes e regionalizados. No caso
do sul do Brasil, onde houve a imigração de eu ropeus para formar economias de
pequena produção, os resultados foram pequenas indústrias advindas das
atividades artesanais e comerciais.
Concentrando os estudos no Rio Grande do Sul, tornam -se evidentes, com
grande clareza, as contradições que o latifúnd io e a pequena propriedade
provocaram no desenvolvimento econômico regional. O modo de produção vigente
da metade do século XIX conserva e reproduz o latifúndio, de um lado, enquanto
multiplica o minifúndio, de outro. O tempo transcorrido não fez mudar mui to esse
panorama, pois essa contradição persiste nos correntes dias, deixando praticamente
metade do território do Estado com desenvolvimento restrito.
1.1 BRASIL: INDUSTRIALIZAÇÃO, DUALIDADES E A QUESTÃO REGIONAL
O processo de industrialização do Bras il teve início na segunda metade do
século XIX. Ocorreu de forma bastante diferenciada, muito dependente do local e da
17
época histórica. A partir desse momento, inúmeras modificações econômicas,
sociais, e populacionais foram promovidas.
Podemos afirmar que “foi com a abertura dos Portos (1808) que se inicia no
Brasil o processo em que nas suas etapas mais avançadas, força a iniciativa
industrial”.
10
Surge, dentro do País, um aparelho de intermediação mercantil
11
, este,
por sua vez, é que vai realizar uma no va integração da economia com a sociedade
brasileira. A iniciativa das primeiras atividades industriais foi de particulares e de
governantes, que a partir de fatores existentes, como mercado consumidor e
financiamentos, se dedicaram à nova atividade.
Uma forma mais facilitada de compreender a industrialização do Brasil é
através da Tese da Dualidade, desenvolvida por Ignácio Rangel. Este tem uma
interpretação da dinâmica econômica do país e explica o processo de
industrialização e a natureza das crises do capitalismo através de ciclos longos e
médios.
12
Rangel considerou que a economia brasileira, é fruto das mesmas formas de
produção do mundo antigo. Aqui o período foi de quinhentos anos para se processar
diferentes formas de produção. No mundo antigo is so levou milhares de anos para
acontecer. Outra consideraç ão importante diz respeito à dinâmica histórica, aqui
diferenciada do mundo antigo por considerar a evolução das relações que este
mantém com economias centrais.
13
A Dualidade pode ser associada à t eoria dos ciclos longos ou de Krondratiev,
na intenção de tornar mais completo o entendimento do processo de industrialização
nacional. O Brasil sempre fez parte da periferia mundial subdesenvolvida, onde
precisou se ajustar, de acordo com as condições imp ostas pelo centro do capital
mundial.
10
Tejo, L. Ensaios FEE. Contribuição á crítica da economia Rio Grandense. POA, 3(1), 79 -108, 1982,
p.92.
11
Pesavento, S.J. Histó ria do Rio Grande do Sul. 8ª ed. POA: Mercado Aberto, 1983. p. 143
12
Egler, C. A. G. As escalas da economia. Uma introdução a dimensão territorial da crise. RBG 1991,
v 53 p. 234.
13
Pereira, L. C. B. & Rêgo, J. M. Um mestre da economia brasileira: Ignácio Rangel. Revista de
Economia política, v.13, n. 2 (50), abril -junho de 1993.p. 102.
18
Rangel foi o primeiro a fazer relação entre a estrutura e a evolução social
brasileira. Os momentos de maior tensão ocorreram nos períodos depressivos dos
ciclos longos de Kondratieff. A troca de poder entre classes d ominantes também se
processou nas fases recessivas.
14
É uma teoria que abarca também outras esferas da realidade social, concebida
como uma totalidade histórico -estrutural, que tenta dar conta da especificidade da
economia e da sociedade brasileira. Segundo Rangel, existe uma combinação de
modos de produção dominantes. Um aparelho econômico dividido em dois pólos.
Cada pólo representa uma classe econômica que está no comando ou, então, que
pretende alcançar o domínio político.
A dualidade aparece na existên cia de dois pólos, um interno e um externo.
Além deste, aparece tanto no pólo interno e externo, um lado externo que
corresponde ás relações de produção vigentes nos países centrais.
O pólo interno da Dualidade brasileira era baseado na estrutura das
fazendas de escravos e os laços com as fazendas de escravos eram de suserania -
vassalagem. o pólo externo compreendia o capital mercantil através da Coroa
Portuguesa. Essa estrutura nacional interna permaneceria até 1888 -1889, tendo
como ponto final a abol ição da escravidão.
15
No Rio Grande do Sul desse período, as disputas pelo território o intensas e
incessantes, principalmente pelos portugueses e espanhóis. E é nesse clima que
teremos algo próximo de uma primeira dualidade. Tendo como atores do pólo
interno a classe dominante do sul (os donatários das sesmarias) e os pecuaristas da
região norte do Estado, que ali se estabeleceram em função dos corredores de gado
para Sorocaba.
16
Durante o período da dualidade brasileira , a indústria do charque gaúch o
adquire grandes proporções devido à impossibilidade da indústria platina de carne
14
Mamigonian, A. Teorias sobre a industrialização. Cadernos Geográficos. UFSC. 1.maio 1999,
Florianópolis; 1999. p. 28.
15
Mamigonian, A. & Rego, M. (org). Pensamento de Ignácio Rangel. São Paulo: editora 34, 2000,
p.152 e 153.
16
Vieira, op.cit, p.123.
19
seca atender ao mercado consumidor.
17
São esses charquedores -pecuaristas que
terão domínio político no Rio Grande do Sul.
Em relação ao Brasil, e mais precisamente às fazen das de escravos, “a
primeira dualidade” devia provar a sua eficácia, resolvendo o problema de assegurar
o crescimento da economia. Acreditava -se que era de fundamental importância essa
substituição, pois sem ela não seria possível haver crescimento na econ omia
nacional. Não obstante o estancamento prolongado do comércio exterior, tudo
esteve subordinado à capacidade que a economia nacional teria para promover uma
forma de substituição de importações.
18
As mudanças que aconteceram ao cabo da primeira dualida de dizem respeito
às alterações no pólo interno de nossa sociedade. No interior das fazendas ocorre a
substituição do escravismo pela servidão de gleba. Enquanto que nas relações
externas das mesmas, os laços feudais são substituídos por um capitalismo
mercantil.
19
Chegando à segunda dualidade e que condiz com a fase “b” do 2° Kondratiev,
o Brasil tinha de promover uma forma qualquer de substituição de importações.
20
Caberia, dessa forma, ao capital mercantil promovê -lo, basicamente incentivando a
diversificação da produção interna, por processos artesanais e manufatureiros.
21
No cenário do Rio Grande do Sul, os senhores feudais pecuaristas da
campanha (maragatos) e os senhores feudais do Planalto (chimangos), começaram
a travar a Revolução Federalista, um a das guerras mais sangrentas do Brasil. O
primeiro grupo estava interessado em manter o comércio de carne, o que garantia a
hegemonia da classe. o segundo estava interessado em diversificar a economia,
incluindo as áreas concretizadas pela colonização dos imigrantes alemães.
22
No sul do Brasil e principalmente no Rio Grande do Sul, o desenvolvimento
industrial foi beneficiado diretamente pela incorporação de grandes massas de
17
Antonacci, M. A. et al. RS: Economia e Política. Porto Alegre:Mercado Aberto, 1979 p.59.
18
Mamigonian, A. & Rego, M. (org). 2000, p.155 .
19
Ibid, p.157.
20
Ibid, p.159.
21
Ibid, p.159.
22
Vieira, op. cit. p.124.
20
trabalhadores europeus.
23
Essas indústrias permaneceram por muito tempo
artesanais e a distribuição da produção realizada em nível regional, não
conseguindo alcançar regiões como o Sudeste brasileiro.
O centro de maior expressão para o Rio Grande do Sul era Pelotas, por ser
centro das charqueadas, e Rio Grande, que nessa época, tendo porto, realizava
as exportações de charque. Esses fatores levaram à instalação das primeiras
indústrias têxteis que aproveitavam o porto para exportar seus produtos.
24
Do período fabril compreendido entre 1874/1930 e 1930/1969 houve a
instalação de mais de 30 empresas têxteis fabris de médio e grande porte. Um
desses casos é a antiga fábrica Rheingantz de tecidos de algodão e de lã. São
43.000 m² de área construída na área urbana da cidade de Rio Grande.
25
Direcionando para a área de estudo, no interi or do Rio Grande do Sul, temos
como exemplo o ano de 1873, quando na freguesia de São Sebastião, atual
Venâncio Aires, o artesão Frederico Closs passa a trabalhar com curtimento de
couro. Futuramente viria a ser o Curtume Closs, uma importante indústria re gional.
26
No findar do século XIX, ainda não havia condições para que a atividade
industrial riograndense, em sua maior parte, perdesse seu caráter regionalista.
27
Isso devido à falta de uma infra -estrutura viária na época, quando a navegação de
cabotagem era restrita e esporádica. Isso foi fator importante para as colônias de
imigração terem desenvolvido indústrias de pequeno porte especializadas na
produção de bens, que satisfizessem as necessidades mais urgentes e
substituíssem as importações. Nesse mom ento, as famílias estavam carentes de
rendas, o que não permitia as importações.
No restante do Brasil, e principalmente em Salvador, as primeiras iniciativas
industriais foram tomadas pelos grandes comerciantes portugueses, com a produção
de tecidos. Essa atividade, no início, era muito artesanal e criada no interior das
23
Tejo op.cit, p.94.
24
Gros, D. B. Burguesia industrial gaúcha e o estado nacional, 1964 -1978. Série teses FEE, Porto
Alegre, 1987, p. 40.
25
Martins, S. F. Friches industrielles no extremo sul do Brasil: uma análise so bre o caso da cidade de
Rio Grande/RS. http://www.ub.es/geocrit/9porto/solismar.htm . Acesso em 01 abril de 2008.
26
Vogt, op. cit. p. 274.
27
Gros, op. cit. p.100.
21
fazendas de café e açúcar para vestir os escravos. Com o passar do tempo, essas
primeiras fábricas de tecidos de algodão da Bahia se tornaram as maiores do país,
representaram 11 dos 30 es tabelecimentos existentes no país.
28
Para São Paulo, o processo de industrialização se faz a partir do
entendimento da economia e da própria sociedade paulistana. Como não poderia
deixar de ser, a aristocracia rural tomou as primeiras iniciativas com criaç ão de
tecelagens, assim como os do café. Os equipamentos e os técnicos foram
importados da Europa.
29
A indústria de São Paulo passou a ter um desenvolvimento maior a partir da
Guerra Mundial, conquistando mercados regionais. Grande parte deste
desenvolvimento vem da rede ferroviária e de transportes terrestres. A partir do
século XX, os grandes empresários paulistas tinham suas origens na imigração. Mas
a maior mudança na industrialização aconteceu com a entrada de empresas
estrangeiras.
As iniciativas estavam intimamente ligadas à expansão da economia cafeeira,
isto é, faziam parte do seu mundo especializado de negócios e exportação de
gêneros tropicais. A tentativa de mudança do sistema colonial -latifundiário para
industrial não foi bem sucedida. Um dos primeiros ramos industriais a se destacar
foi o têxtil, fundado por essa aristocracia rural, tão ávida pela modernidade.
30
O Brasil vem desenvolvendo, ao longo de sua existência como Estado, ciclos,
que na sua passagem fazem a troca do poder, através d a formação de classes
ligadas aos setores econômicos em ascensão, que estão experimentando os
progressos e a concentração de capitais.
Ou melhor, o poder do Estado brasileiro sempre esteve ligado à coalizão de
duas classes. Estas, por sua vez, são reflexo do desenvolvimento das forças
produtivas. Na medida em que são substituídos os modos de produção e a própria
28
Mamigonian op. cit p. 41 .
29
Mamigonian op. cit p. 42.
30
Ibid, op. Cit. p.86.
22
dualidade, as mudanças também acontecem nas classes que dominam o poder
político.
31
Com a Primeira Grande Guerra Mundial, mudanças aconteceram
principalmente nas regiões onde a monocultura era de exportação, como São Paulo.
As exportações de café caíram em curto espaço de tempo, fazendo com que
grandes fazendeiros fossem assolados pela crise. De outro lado, a produção feita
pelos imigrantes e colonos do café sofreu aumento nas exportações de produtos
como feijão e arroz.
32
Assim sendo, as duas primeiras décadas do século XX marcaram em São
Paulo a aceleração do crescimento industrial, pela multiplicação gigantesca das
iniciativas empresariais, graças à dinâmica e numerosa pequena produção mercantil
regida pela imigração.
33
Com o advento da terceira dualidade, inaugura -se no Brasil um período de
expansão econômica com dinamismo próprio, tentando, desta forma, acelerar as
substituições das importações. O fato de maior expressão foi a crise de 1929 e a
revolução de 30. O Brasil criou mecanismos que fizeram aumentar a capacidade das
indústrias existentes e de outras que passaram a existir. O pacto de poder, criado
em 1930, acelerou o processo de substituiçã o das importações, através do uso
seletivo dos recursos cambiais, da retirada das barreiras fiscais internas, do
financiamento da produção e da instituição de reservas de mercado. Como
resultado, houve contração de importações e as indústrias viram suas pr oduções
aumentarem e o comércio regional se desenvolver.
Para a economia gaúcha, a década de 1930 e os anos que se seguem com a
Segunda Grande Guerra foram certamente inusitados para a indústria regional, no
que se refere às possibilidades de substituições de importações. As oportunidades
se criaram principalmente para os produtos importados, que passassem a ser
produzidos no país ou, então, já eram feitos e tinham sua comercialização restrita.
34
31
Rangel, I. Economia: milagre e anti -milagre. RJ:Jorge Zahar; ed. 1985., op.cit. p. 25.
32
Mamigonian, op. cit.p.33.
33
Ibid. p.43.
34
Silva, M. A. O processo de industrialização no Sul do Brasil. Cadernos Geogr áficos, Florianópolis,
n. 15, maio de 2006, p. 31.
23
O território gaúcho acumulou riqueza através de um modelo do sul do Brasil,
tendo a agropecuária ligada à pequena produção mercantil, oposta à economia da
campanha, importante motor da acumulação. Com isso, o mercado e as atividades
econômicas regionais se fortaleceram, permitindo enfrentar a concorrência com o
resto do país.
A oligarquia gaúcha, que liderava a aliança, era de formação ideológica
positivista. Conduziu um processo de modernização pelo alto, a chamada via
prussiana, como havia acontecido na segunda metade do século XIX na
Alemanha, Itália e Japão.
35
“O modelo histórico gaúcho pode ser assim designado
pelo fato de compor uma economia regional com linhas próprias, cujo centro
nevrálgico repousava nas atividades agropecuárias conectas às atividades fabris e
exportadoras”.
36
Com o avanço da industrializa ção, se acelerou a integração das economias
até então fortemente concentradas em torno de São Paulo.
37
Isto fez com que
muitos autores assinalassem que o Rio Grande do Sul sempre desempenhou um
papel periférico na economia e na política brasileira, e depen dente das mesmas.
38
Deve-se, todavia, tomar cuidado com a tese do papel periférico do Rio
Grande do Sul, pois nem todos os setores produtivos entram em crise ou não
conseguiram exportar seus produtos. É o caso, nos anos 50, da indústria de
calçados e a farmacêutica. Houve, sim, crise agrária ligada a ramos de produção de
produtos primários, mas ainda assim essa crise foi determinada por fatores
externos.
39
No período que vai de 1930 a 50, a burguesia industrial do Rio Grande do Sul
se mobilizou para defende r seus interesses, mantendo uma série de canais de
articulação com as instâncias decisórias do Estado brasileiro. Chega a criar
35
Mamigonian, op.cit, p.47 .
36
Antoniacci et al. op.cit p.362 .
37
Mamigonian, op.cit., p.49.
38
Antoniacci et al.op.cit, p. 362 .
39
Silva, M. A. op.cit. p.44 – 45.
24
associações extra-oficiais, para ter acesso às instâncias decisórias, assim como
adota uma posição diferente das associações tr adicionais.
40
O Rio Grande do Sul, entre os anos de 1930 e 1937, teve um aumento na
quantidade e no valor dos produtos manufaturados exportados para outros estados,
o que, para a economia gaúcha, foi fixando a indústria como principal atrativo de
produção, pois desempenhou um crescimento interessante. A industrialização de
grande porte assumiu contornos mais nítidos e definitivos no período de 1957 -61,
quando, então, as bases técnicas da indústria estavam compostas e em
funcionamento, e a economia brasileira como um todo passou a girar,
fundamentalmente, em torno da produção industrial.
41
As maiores mudanças acontecidas na industrialização foram mesmo após a II
Grande Guerra Mundial, quando definitivamente houve consolidação da produção
industrial. Alguns mecanismos, principalmente políticos, foram fundamentais para o
aumento da produção, como do número de indústrias.
No período de 1957-61, as bases ainda não estavam completas em todas as
regiões do país. A partir da década de 60, o Estado desempenhou um papel de
promotor, quando associou os interesses multinacionais e os órgãos públicos. Estas
bases o se completar na década de 1970, com o Segundo Plano Nacional de
Metas do Governo Federal, incluindo a substituição das importações.
Os exemplos de mecanismo s utilizados e de maior impacto foram a instrução
70 da SUMOC (Superintendência da Moeda e Crédito), que estabelecia
numerosas categorias para as exportações e, principalmente, para as importações.
42
Juntamente foi criada a Instrução 113 da SUMOC, que daria uma série de
vantagens ao capital estrangeiro, buscando atrair investimentos externos diretos.
43
Essas duas instruções vieram de fato a dar impulso na industrialização. O
encarecimento dos bens de capital importados, ditado pela Instrução 70 d a
SUMOC, trazia-nos um novo impulso no sentido da industrialização dos bens de
40
Gros, 1990, p.42.
41
Antoniacci et al. op.ci t p.359.
42
Rangel, op.cit. p.36.
43
Silva, M. A. op.cit. p.38 .
25
capital, o qual começava a perder seu primitivo caráter artesanal.
44
E em relação à
Instrução nº113 da SUMOC, as empresas estrangeiras foram forçadas a elevar os
índices de nacionalização das partes e peças.
45
O Rio Grande do Sul, nesse período, foi influenciado por um pensamento
mais local e regional . O pensamento da aristocracia rural estava voltado para
interesses políticos e a economia colocada em segundo plano. Eram os imigr antes e
os judeus que deveriam se ocupara com estas questões.
46
O crescimento das indústrias de bens de capital se deu em função do
aumento dos ramos da mecânica e do material de transporte, de 3% em 1959 para
4,2% em 1962
47
, sendo o segmento de máquinas e implementos agrícolas,
carrocerias para veículos automotores, o de maior expansão no período. A indústria
de bens intermediários teve crescimento de 26% em 1959, taxa essa maior do que a
produção nacional.
48
A década de 1960 não foi de grande impulso no crescimento, que se manteve
em ritmo mais fraco. A produção de bens de capital tomou a frente da produção
industrial, sendo 6,7% em 1968 para 10,7% em 1973
49
, reagindo, dessa forma, ao
crescimento nacional. Os bens de capital tiveram maior desempenho devid o à
produção de máquinas agrícolas e aos estímulos recebidos do setor agrícola,
através do aumento da demanda, com a modernização das lavouras e toda a
política governamental de apoio a essas atividades, conhecida como “revolução
verde”.
50
Nessa fase, o Rio grande do Sul já possuia uma integração maior com o resto
do país. No caso das carrocerias, este setor estava vinculado ao desempenho das
fábricas do pólo industrial do centro do país, ou seja, São Paulo, por fornecer o
produto acabado.
51
Na produção de bens intermediários, o maior destaque é a de
combustíveis e lubrificantes, que se deu em função da instalação da Refinaria
44
Rangel, op.cit. p. 35.
45
Silva, M. A. op.cit. p.39 .
46
Gros, 1990, p.89.
47
Silva, M. A. p.12.
48
Silva, M. A. op.cit. p. 12.
49
Ibidem, p. 12.
50
Ibidem, p. 15.
51
Ibidem, p. 15.
26
Alberto Pasqualini no ano de 1968. Também influenciaram a produção de insumos
agrícolas, como fertilizantes ligados à política de des envolvimento da agricultura.
Na Região Sul a ação de estatais iniciou em 1960. Liderada por diferentes
governos estaduais do período, insatisfeitos com a política econômica do governo
federal. Argumentava -se que esse tipo de política estava gerando enorme
desigualdade, pois teria concentrado o desenvolvimento.
No caso do país, o desenvolvimento do Departamento I ou bens de capital
foi bastante importante para o sistema econômico, pois causou grandes alterações e
houve um notável aumento da produção dos in sumos agrícolas modernos
produzidos pela indústria química e pela mecânica de produção de tratores durante
a década de 1970.
No começo dos anos 70, houve o surgimento de um grande número de novas
empresas e todas beneficiadas pelos investimentos do II PND. Mas no ano de 1976,
como um todo, ocorre uma queda real nos investimentos realizados para todos os
setores industriais. Essa queda de crescimento no período ocorre também para a
indústria do Rio Grande do Sul.
52
Isto não significou uma estagnação dos
investimentos, que progridem de acordo com o programa de substituição de
importações do período, encerrado por volta de 1984.
53
Acompanhando a evolução da indústria regional e nacional, podemos
perceber a nítida diferença na origem e na estrutura das indústria s do Rio Grande do
Sul e São Paulo. No primeiro, a industrialização ocorreu a partir de setores menos
desenvolvido e dimensões reduzidas: a agropecuária colonial e a pecuária
tradicional. No segundo, houve o aproveitamento da acumulação de capitais e da
infra-estrutura do café, embora os agentes que gerassem o processo não tivessem
sempre origem nestes setores.
54
As atividades industriais chegaram a ponto de o Estado intervir e criar áreas
especiais para as instalações das indústrias. São os chamados “distr itos industriais”.
A criação e a localização dos distritos industriais em áreas periféricas são
52
Silva M. A. p. 49.
53
Silva, M. A da. p.49.
54
Mamigonian, A. 1974.
27
resultantes da ação do Estado e do governo Municipal, visando, através de vários
fatores como terrenos preparados, infra -estrutura básica como energia e água, a lém
de incentivos fiscais, levar as indústrias a optarem por estabelecer suas plantas
nessas áreas.
1.2 O PROCESSO DE FORMAÇÃO DAS DUALIDADES NO RIO GRANDE DO
SUL: A CONSTITUIÇÃO DA PROPRIEDADE RURAL
O processo histórico de formação do Rio Grande do Sul se fez tardiamente,
se compararmos com a colonização do litoral brasileiro. O ponto de partida de sua
ocupação, assim como sua colonização, ocorreu com o estabelecimento das
reduções jesuíticas no século XVII, período em que o domínio Espanhol se fazia
presente no sul do Brasil.
Durante a ocupação lusitana, as cidades de Rio Grande e de Porto Alegre
foram fundadas. Em 1777, os limites do Estado foram traçados, através do Tratado
de Idelfonso, o que marcaria o fim das disputas entre Portugal e Espanha. A
incorporação das Missões Jesuítas, em 1801, finaliza a integração definitiva do
território.
55
Como forma de diversificar a produção agrícola, o governo imperial passou a
promover a colonização em diversos estados do Brasil. Para os gaúchos, a
imigração européia constitui a base da ocupação e da formação do Estado.
Através do processo de renovação da economia colonial do Brasil, com a
mineração tomando a frente no lugar do engenho ucareiro, o Rio Grande do Sul
entra como subsidiário dessa nova economia. Sua função é ser fornecedor de gado.
Este havia se reproduzido rapidamente, após ter sido abandonado pelos jesuítas na
região conhecida como “Vacaria do Mar”.
Além da criação de gado, o Rio Grande do Sul foi corredor de transporte de
muares vindos da Argentin a e que então tinham fundamental importância para a
55
Silveira, R. L. L. da. Complexo agroindustrial do fumo e território: A formação do espaço urbano e regional no Vale do Rio
Pardo  RS,Tese de doutorado, UFSC Florianópolis, 2007.p. 76.
28
atividade mineradora. Os currais utilizados para reter o gado xucro, deixado pelos
jesuítas, passam a ser utilizados para comercializar este gado.
A região do Vale do Rio Pardo foi uma das que participaram do
desenvolvimento inicial da pecria, enquanto espaço de apresamento, de
localização de currais e invernadas e também de criação de gado. Com isso, há
o surgimento de um novo modo de apropriação e de uso do território regional.
As terras localizadas ma is ao sul de Venâncio Aires se incluíram nesse período.
56
A localização da campanha gaúcha se a partir da formação de um espaço
latifundiário, criado para defender as fronteiras brasileiras da Coroa Espanhola.
Devido ao Tratado de Tordesilhas, a Coroa P ortuguesa fez a distribuição de
sesmarias na região que faz fronteira com Uruguai e Argentina.
A região da Campanha é composta por campos abertos, com características
de terra de ninguém, uma região escassamente povoada, baseada na criação de
gado. Apesar desta ser uma atividade muito antiga no Rio Grande do Sul, é
interessante observar em que época e de que forma a estância, como unidade de
produção, passa a ter importância efetiva no conjunto da economia sulina.
57
Também conhecidas como sesmarias, as estân cias eram lotes de terras doados
pela Coroa, que em outras regiões eram sinônimos de fazendas.
A concessão das sesmarias no Rio Grande do Sul é bem diferenciada da
região nordeste do Brasil. Aqui, a concessão das sesmarias se dava em função de
serviços militares prestados na defesa da parte do território português contra
espanhóis. Para a região nordeste, a capitalização era condição primeira para ter o
privilégio da propriedade de terras.
Foi a partir de 1750, com a assinatura do Tratado de Madri, que as terras
apropriadas pelos portugueses e lusobrasileiros não militares, na bacia
hidrográfica do rio Jacuí, incluídas aquelas localizadas no Vale do Rio Pardo,
começaram a ser legalizadas pela Coroa Portuguesa. Essas estâncias foram
56
Silveira, R. L. L. da. 2007. p.70.
57
Lando, A. M. & Barros, E. C. A colonização alemã no Rio Grande do Sul, uma interpretação
sociológica. Porto Alegre: Movimento,1981, p.47.
29
ocupadas por comerciantes e peões que faziam a retenção do gado xucro.
58
A atividade pecuarista, iniciada pelos espanhóis e posteriormente ampliada
por um contingente luso -brasileiro, é responsável pela formação da base
fundamental dessa organização econômico -social, na qual áreas como o litoral e a
campanha gaúcha adquiriram importância na evolução da organização histórica e
econômica do Rio Grande do Sul.
59
O levante dos índios missioneiros em 1753 deu origem à Guerra
Guaranítica, a1756, e fez com que a estratégia de ocupação e povoamento a
partir da pecuária fosse revista. O que acabou prevalecendo foi a instalação dos
casais açorianos, especialmente ao longo do litoral (sul) e na faixa da
depressão central, em inúmeros núcleos ou povoados.
60
Foi a chegada de açorianos, a partir de 1742, que permitiu aos portugueses
garantir a posse das fronteiras meridionais e criar um povoamento mais
concentrado, sob a égide da agricultura.
61
Na região do Rio Pardo, os casais foram
assentados em Taquari, Santo Amaro, Rio Pardo e em Encruzilhada, onde
receberam datas de terra, ferramentas e sementes que lhes pudessem prover os
meios indispensáveis a sua fixação eexistência material.
62
Devido ao calote dado pelas autoridades oficiais, e com a sedução da vid a
mais fácil com a pecuária, estes açorianos, geração após geração, foram igualmente
se tornando criadores de gado. O que aconteceu foi que eles acabaram
abandonando a agricultura.
Nesse período, as práticas agrícolas sofriam resistência pelos pecuaristas e a
atividade agrícola dos orianos entrava em decadência. A partir disso houve, o
incentivo da imigração européia não portuguesa, inaugurando as pequenas
propriedades. Aas primeiras décadas do século 19, a pecuária especificamente
o charque e a carne dominava a economia gaúcha.
58
Silveira, op. cit. p.71.
59
Rocha, L. H. M. da. O papel de Santa Maria como centro de drenagem fu ndiária. Dissertação de
mestrado, Florianópolis, UFSC, 1993.
60
Silveira, op. cit. p. 74.
61
Rocha, L. H. M. da. A importância da terra na organização espacial: A formação econômico social
do espaço sul-rio-grandense. Revista Ensino & Pesquisa. Santa Maria, n. 3, dez 1989.
62
Silveira, 2007, p.80.
30
O Brasil precisava de um novo tipo de colonos, pequenos proprietários livres,
que cultivassem as terras de mata com o auxilio das respectivas famílias e que o
estivessem interessados nem no trabalho escravo, nem na criação de gado.
63
A opção pela colonização buscava também desenvolver a agricultura,
diante da crise do trigo e da insuficiência da produção agrícola dos imigrantes
açorianos. Esses deveriam ef etivamente suprir a demanda do mercado interno da
província, com o aumento da prodão agrícola, para reduzir a carestia e
garantir a regularidade da oferta de alimentos.
64
As diferenças entre a campanha gaúcha e as áreas coloniais do Rio Grande
do Sul podem ser entendidas como:
“...nas áreas que eram outro ra florestais,
encontramos hoje em dia uma população de
pequenos agricultores brancos que juntamente
com suas esposas e filhos têm lavrado a terra e
estabelecido lares do tipo europeu. Nos campos
vizinhos vive o fazendeiro, de origem luso
brasileira, que cria bovinos e cavalos em grandes
propriedades e tem como empregados negros e
mulatos, descendentes de antigos escravos”.
65
Essas duas regiões evoluíram de maneiras diferentes e apesar de seu início
ter sido pela agricultura e agropecuária, hoje elas possue m funções distintas.
Enquanto que a Campanha continua com a criação de gado, baixa densidade
demográfica, a região de Venâncio Aires e as demais colônias de imigração o
açorianas possuem o setor industrial solidamente estabelecido, com densidade
demográfica muito superior a da Campanha.
A colonização do território regional iniciou em 1849, com a chegada dos
primeiros colonos alemães à conia oficial de Santa Cruz, na área central do
Vale do Rio Pardo. Após, foram surgindo no entorno de Santa Cruz as colônias
particulares de Rincão del Rey (no atual município de Rio Pardo), em 185
de Mariante (no atual município de Vencio Aires), em 1856; de RioPardense
(no atual município de Vale do Sol), em 1862; de Germânia (no atual munipio
63
Ibidem, p.166.
64
Silveira,op. cit. p.151.
65
Weibel, L. Princípios de colonização Européia no sul do Brasil. RBG, ano XI, abr -jun,1949, p.165
31
de Candelária), em 1863; de Sinimbu (no atual munipio de Sinimbu), em
1866; e de Venâncio Aires (no atual munipio de Venâncio Aires), em 1891.
66
A região do Vale do Rio Pardo, dando destaque aáSanta Cruz do Sul e
Venâncio Aires, possui uma conotaçã o oposta a da Campanha. A intenção de
colonizar um vazio existente, que foi um dos principais motivos, fez com que se
estabelecesse uma região produtora de alimentos, que pudessem servir a outras
regiões do Rio Grande do Sul.
A região de Venâncio Aires, at é 1850, era uma enorme selva, onde havia
alguns invasores luso-brasileiros em busca de erva -mate. “Flanqueadas de ambos
os lados por prósperas colônias oficiais européias, estas florestas atraíram então o
interesse de especuladores e capitalistas”.
67
Essa região foi criada numa época em que a Europa estava em conflito,
produto de tensão social gerada pelo excedente populacional, sem terra e sem
trabalho, decorrente do processo de desenvolvimento de economia européia. D
certa facilidade para a vinda e o es tabelecimento dos imigrantes no sul do Brasil.
No Brasil, quase não houve colonização espontânea. Logo, desde o principio,
até hoje, a colonização no país tem sido sempre organizada, planejada,
subvencionada e dirigida por alguém: pelo governo federal das províncias ou
Estados e dos municípios, companhias particulares ou proprietários de terras
individualmente.
68
O processo de colonização do espaço regional, bem como os novos usos do
território introduzidos e desenvolvidos pelos imigrantes europeus, foram orientados
e regulados por um conjunto de normas instituídas pelos governos imperial e
provincial. Esse arcabouço normativo foi responvel pela lógica e pela dinâmica
da organização inicial do espaço nas áreas coloniais no Vale do Rio Pardo, o que
mais tarde se refletiria na configuração e no desenvolvimento do seu território
atual
69
.
66
Roche apud Silveira, 2007, p.124.
67
Ibidem, 1949, p.169.
68
Ibidem, op.cit. p.168.
69
Silveira, op. cit. p.125.
32
A pequena propriedade rural tem como característica: ser um lote estreito e
longo, a partir de estradas construídas por ordem provincial e acompanhando os
leitos de rios. O trabalho escravo era proibido, pois a intenção do governo era que ali
não se reproduzisse o latifúndio, que fazia a utilização da servidão.
A produção era primordialmente voltada para a satisfação de necessidades
de primeira ordem. Assim que houve os primeiros excedentes, estes, por escambo,
foram trocados por bens que não tinham condições de serem produzidos, como sal,
açúcar, café.
A sesmaria foi o latifúndio onde se desenvolveu a pecuária, ouro do Rio
Grande do Sul e, mais do que isso, ela conse guiu ser o centro de irradiação social e
político, o núcleo formador do patriarcado rural.
70
A doação de sesmarias e a
expansão da pecuária são marcos originais da formação da estrutura latifundiária, a
qual se reflete também na organização e na divisão po lítica do Estado.
71
Desde o início, nas colônias alemãs, por uma questão de necessidade, a
policultura foi adotada pelos colonos. Isso se deu devido à pobreza dos pioneiros
na sua chegada ao Brasil. O cultivo da terra destinava-se basicamente a suprir as
necessidades de consumo familiar. Portanto, o ritmo e a quantidade de trabalho
bem como a vida social e cultural são definidos pela relação com a terra e por
esse caráter da prodão.
No caso da Campanha, é somente na segunda metade do século XIX que a
estância gaúcha toma suas características básicas. Mas a introdução da cultura de
arroz foi se consolidando com o passar dos anos e, hoje, o Rio Grande do Sul é um
dos maiores produtores do grão no país. Na pecuária, começam a ser introduzidas
raças européias, por iniciativa do governo.
As mudanças que se sucederam no final do século XIX e durante as primeiras
décadas do século XX, transformaram o Rio Grande do Sul. Este, tentando se
adequar ao modo de produção capitalista. Não o Estado, mas o Brasil passav a
por esse processo.
70
Laytano. D. de. A origem da propriedade privada. Porto Alegre:Martins Livreiro, 1983. p. 55
71
Rocha, op. cit. p. 30
33
A agricultura colonial estava tendo sucessivos aumentos de produção e o
comércio estava se solidificando pela comercialização do excedente no mercado
interno. A colônia, juntamente com a Campanha, passou a figurar como uma
economia exportadora regional, limitada aos produtos primários da época.
Os núcleos urbanos coloniais alemães tiveram uma organização espacial
distinta, na medida em que, além de serem criados em áreas
prédeterminadas pelo projeto colonial, também apresentaram um traçado e
o plano urbano com forte influência do urbanismo administrativo luso, como foram
os casos das colônias de Santa Cruz, Germânia e Venâncio Aires.
72
A ão potica e normativa do Estado, promovendo a colonização com base
na pequena propriedade agrícola, acabou criando uma organização espacial
característica e inteiramente diferente da existente nas áreas de campo.
73
Na
organização espacial do Rio Grande do Sul, coexistem, lado a lado, a grande e a
pequena propriedade, que têm como ponto comum a importância dada à terra
como meio de produção principal e caracterizam -se por um sistema econômico de
relações sociais de produção singular
74
.
1.2.1 O início das atividades industriais em áreas coloniais de origem alemã no
Rio Grande do Sul
A imigração alemã, associada à posterior vinda de italianos para o Rio
Grande do Sul, é hoje resultado de uma formação sócio -espacial totalmente
heterogenia a da Campanha Gaúcha. No início do século XX, as atividades
econômicas industriais eram basicament e as charqueadas, as indústrias têxteis e de
fumo, atividades fundadas no beneficiamento e na transformação de matérias -
primas obtidas localmente.
75
Para o Rio Grande do Sul, podemos dizer que não houve apenas uma forma
de surgir a indústria, porque as rea lidades existentes eram diferentes nas diversas
regiões. Com isso, a própria indústria se tornou regionalizada. A abolição da
escravatura, o reinício da imigração, os progressos da navegação de cabotagem e a
72
Silveira e Hermann apud Silveira, 2007,p.131.
73
Silveira, op. cit. p. 127.
74
Rocha, op. cit. p.33.
75
Lagemann, E. RS: imigração e industrialização. Lando, A. L. et al (org), 2ed.Porto Alegre: Mercado
Aberto, 1992, p.116.
34
política protecionista da República foram import antes para que o desenvolvimento
da indústria tomasse impulso.
Para tanto, a imigração teve papel social importante a cumprir: o desempenho
de atividades agrícolas com base na pequena propriedade, em regime de trabalho
livre e por conta própria, sem escrav idão.
76
De acordo com Roche, a indústria esteve até 1875 fracamente representada.
Os ramos mais florescentes foram as chapelarias e a tipografia, mas a mais
representativa das indústrias de origem alemã foi a fiação Rheingantz.
77
Foi com ela
que realmente se inicia a industrialização no Rio Grande do Sul. Na época, foram
fundadas também empresas como Neugebauer (1989), Gerdau (1990), Wallig
(1904) e A. J. Renner (1920).
Esses ramos industriais eram satisfatórios para os produtores da Campanha.
Os colonos supriram as necessidades da fazenda, com o fornecimento de alimentos
de subsistência, e não entrariam em concorrência com a compra e venda de
escravos e na agropecuária.
Entre as literaturas pesquisadas, a discussão sobre as indústrias no Rio
Grande do Sul é grande. Algumas defendendo o artesanato e outras, a atividade
comercial como promotora do desenvolvimento industrial. Mas como se formaram as
primeiras indústrias no Rio Grande do Sul? Quem esteve à frente, o artesanato ou a
atividade comercial com seus lu cros?
A origem da indústria gaúcha, a partir do artesanato colonial, é defendida por
alguns pesquisadores. Considerando -se como característica da indústria o fato de
ser dominada por um grande número de pequenas e médias unidades, essa
associa-se à pirâmide etária de um país subdesenvolvido, para tirar a conclusão do
crescimento. Quer dizer, uma indústria grande, um dia foi pequena. Essa seria uma
interpretação sobre o artesanato como origem das indústrias.
76
Langemann, op.cit. p.119 .
77
Roche, J. A colonização alemã e o Rio Grande do Sul. POA; ed. Globo, 1969 , p.505. No período
colocado acima eram realizadas exposições organizadas pela Sociedade de Geografia, no intuito do
promover e mostrar a economia do Rio Grande do Sul.
35
Para esses pesquisadores e em especial Limeira Te jo, as indústrias
progrediram, transformando a oficina original, de geração em geração, na indústria
atual. Uma visão harmônica de decorrência lógica, resultante da pressão da
demanda.
O artesanato rural dividiu -se em dois grandes ramos: o fornecimento dos
artigos necessários à vida local e a transformação dos produtos agrícolas para
torná-los exportáveis.
78
Mas devemos deixar claro, como argumenta Roche, que a maior parte das
indústrias surgiu de citadinos e não de artesanatos rurais. Esse último não gerou a
indústria e sim os artesanatos urbanos. O exemplo disso está na atividade coureira
desenvolvida por Reinaldo Closs em Venâncio Aires no ano de 1873. Este começou
a trabalhar artesanalmente, com o curtimento de couro, utilizados para a fabricação
de tamancos, bainhas e selas para cavalo.
O equívoco dessa teoria está nas generalizações feitas para a indústria
gaúcha, assim como as distorções. Mas a existência de indústria a partir do
artesanato é verdadeira. Para que haja certeza sobre a origem da indústr ia devemos
considerar quando e em que condições houve o crescimento.
Os ramos artesanais especializados na transformação de produtos agrícolas
ocuparam importante lugar na economia das colônias.
79
As mais prósperas
produções artesanais foram as que permit iram exportar os produtos, valorizando -os,
graças a sua preparação e a sua transformação.
80
Para dar exemplo de indústria que surgiu do artesanato, tome -se o caso da
metalúrgica Abramo Eberle S.A, de Caxias do Sul, tida como paradigma da indústria
oriunda do artesanato. A funilaria comprada por Abramo Eberle a seu pai, em 1896,
deu um passo decisivo em 1904, pois ela associou -se a uma ourivesaria, adquirida
em sociedade com Luiz Gasparetto.
81
78
Roche, J. 1969, p.481.
79
Ibidem p.482.
80
Ibidem, p.483.
81
Lagemann, op. cit. p.126.
36
Já a teoria explicativa do surgimento da indústria no Rio Grande do Sul
através do capital comercial, ou do comércio que investiu na indústria para gerar
maiores lucros, se sustenta no contato do comerciante (o vendista) com a economia
de subsistência dos colonos.
82
O comércio estruturou -se no Rio Grande do Sul por volt a de 1860. Surgiu
pela necessidade de comercializar o excedente das pequenas propriedades. Estas,
sozinhas, não teriam condições de vender em escalas maiores. É quando a rede
comercial se estabeleceu e mais tarde se tornaria a principal fonte de investimen tos
no setor industrial do Rio Grande do Sul.
O comerciante rural desempenhava a função de intermediário entre os
produtos agrícolas e os centros consumidores.
83
Esses comerciantes utilizavam -se
de mecanismos como contas correntes, um caderno especial de anotações em que
o crédito e débito se alternavam, colaborando para fixar o colono a sua casa
comercial. Processo característico do poder do monopólio do intermediário.
84
A
partir daí, começaram a se acumular os capitais através da apropriação de juros e
excedentes e, assim, diversificando e aplicando a instalação de matadouros,
destilarias de banha, etc.
85
Temos, como exemplo disso, a fábrica de banha de Emilio Selbach e Cia.
Este tinha uma das mais importantes e acreditadas casas comerciais da vila de
Venâncio Aires, mas começou a processar banha de porco. Sua produção era cerca
de um milhão de quilos por ano, que eram exportados para os mercados do centro e
norte do país.
86
O comerciante concentrou empiricamente três funções distintas: a do capital
comercial, em sentido estrito, e do capital financeiro, ambas improdutivas (por não
gerarem os maiores lucros), bem como a do transporte de mercadorias
87
,
(produtiva, por permitir uma extração de capitais através de taxas cobradas para
realizar o transporte das mercadorias para outras localidades).
82
Silva, M. A. op.cit. p.09.
83
Ibidem, p. 35.
84
Langemann, op. cit. p.129.
85
Ibidem, p.129.
86
Vogt, O. op. cit. p.274 .
87
Montalli, L.T. Do cleo colonial ao capitalismo monopolista. Produção de fumo em Santa Cruz do
Sul. Dissertação de mestrado USP, SP. 1979. p. 36.
37
Além da iniciativa dos comerciantes nas atividades industriais, muitas destas
se associaram à sociedades com técnicos, e estes, por sua vez, tiveram êxito nos
seus empreendimentos.
Podemos dizer resumidamente que o ca pital comercial exerceu função
fundamental na constituição da indústria regional e passou pela fase mais negra
durante os anos 50 e 60 do século passado. Isso se deu em função das atitudes
políticas praticadas no Brasil, dando maiores privilégios às empres as de grande
porte.
Defrontando algumas considerações quanto à implantação da indústria
gaúcha, esta foi diversificada e expandida pelos imigrantes alemães e italianos. O
surgimento das indústrias de origem imigrante tem dois caminhos: um pela
exploração das atividades artesanais e, o outro pelo uso de capitais comerciais.
Deve-se estudar a história da indústria para se saber sua origem.
Sendo do artesanato ou sendo do comércio, os estabelecimentos industriais
foram gerados dentro de uma economia de pequena produção mercantil. Uma
formação sócio-espacial específica, que não é desconhecia na história dos povos.
Ocorre um desenvolvimento de acumulação de capitais no interior do próprio
pequeno modo de produção (exemplo do que aconteceu no Rio Grande do Sul, co m
as atividades comerciais das regiões das colônias).
88
Este foi um processo conhecido em várias épocas e em diferentes lugares do
mundo, que deu formação a uma classe de agricultores com maiores capitais. A
conseqüência disso foi uma diferenciação de clas ses no interior dos pequenos
produtores. O resultado foi a produção assalariada e as relações burguesas de
produção.
88
Silva.M. A. da. 2006, op. cit.p. 10 e 11.
2. VENÂNCIO AIRES, DESCRIÇÕES GEOGRÁFICAS E HISTÓRICAS
A influência do modo de vida europeu, migrado para o Sul do Brasil, deu a
esta parte do país características próprias. A história do Rio Grande do Sul pode
ser entendida se considerarmos o processo de ocupação européia e suas
sociedades formadas nesse processo.
Os motivos pelos quais milhares de pessoas vieram se estabelecer aqui no
Brasil não parecem ser mais importante do que seu estabelecimento e sua evolução
social e econômica. Foi o que proporcionou o desenvolvimento local e a conquista
do reconhecimento do trabalho empregado nas atividades industriais e agrícolas
geradoras de renda.
A área em estudo pertence a esse espaço ocupado pelos europeus, que
vieram tentar a sorte numa terra que prometia oportunidades de progresso. Entender
as características locais, seus mecanismos sociais e econômicos, nos fornece os
fundamentos para a compreensão do desenvolvimento local e regional. Conhecer as
características históricas e geográficas da área em estudo é de fundamental
importância para se compreender o processo de formação do setor econômico
industrial.
2.1 O VALE DO RIO PARDO
Venâncio Aires pertence à região do Vale do Rio Pardo, conforme figura 1,
dentro da divisão regional feita para o Rio Grande do Sul, considerando o sistema de
COREDEs (Conselhos Regionais de Desenvolvimento). Com uma população de 394
mil habitantes (4,8% do Estado), distribuída em 22 municípios, o setor secundário é
dominante, pois gera 47,4% do PIB do Vale, sendo seguido pelo setor de serviços,
com 28,3%, e pela agropecuária, com 20,1%. O subsetor industrial dominante é o
39
fumo manufaturado, responsável po r mais de 4/5 do produto industrial da região e
por quase a totalidade da produção gaúcha.
89
FIGURA 1: Mapa dos COREDEs do Rio Grande do Sul, localizando o Vale do
Rio Pardo.
Fonte: Atlas sócio-econômico do RS. Em www.spg.rs.gov.br. Acesso em março de 2008.
Org: Heisler, Traudi
A região tem esse nome em função do rio Pardo, que percorre metade dos
munipios que a constituem. O território compreendido pelos municípios que
configuram a região do Vale do Rio Pardo caracteriza-se por ambientes com
diferentes zonas geomorfológicas e ambientais.
90
O espaço regional abrange, ao Norte, áreas de Estepe (campos e matas
89
Rumos 2015: estudo sobre desenvolvimento regional e lostica de transportes no Rio Grande do Sul
/ SCP-DEPLAN. Porto Alegre: SCP,2006. 5 v.
90
Silveira, R. L. L. da. Op. cit. p.31.
40
ciliares) do Planalto Arenito Basáltico, com altitudes entre 600 e 800 m, onde
nascem os rios Pardo, Pardinho e Castelhano. No Centro, ao longo da encosta
do planalto, na Depressão Periférica Gaúcha, a drenagem principal forma relevos
bastante dissecados. E no Sul, a drenagem atravessa áreas de relevo cada vez
mais aplainadas, onde se passa da ocorrência de morros, para o domínio dos
campos herbáceos e das áreas alagadiças.
Apenas no extremo Sul da região, vamos ter um relevo intensamente
dissecado em forma de colinas e algumas cristas, no Escudo SulRiograndense,
em cotas de até 350 m, coberto por campos e matas ciliares.
91
A região do Vale do Rio Pardo teve o princípio de sua colonização
com o desenvolvimento inicial da pecria, com a localização de currais e
invernadas, e também de criação de gado. Esse processo acabou significando
a promoção de um novo modo de apropriação e de uso do território regional.
Diante da necessidade de organização administrativa da Capitania do
Rio Grande de São Pedro do Sul atual estado do Rio Grande do Sul - em 1809
a Coroa eleva a então freguesia de Nossa Senhora do Rosário de Rio Pardo
à condição de sede municipal. Efetivada em 1811 como cidade, Rio Pardo,
juntamente com Porto Alegre, Rio Grande e Santo Antônio da Patrulha,
integravam então, a primeira divisão administrativa da Capitania.
92
Atualmente, o Vale do Rio Pardo tem o fumo manufaturado como responsável
por mais de 80% do produto industrial e por quase a totalidade da produção gaúcha.
Como reflexo, as cidades de Santa Cruz do Sul, Venâncio Aires e Vera Cruz, co m
diferente intensidade, são as com maior dinamismo, por concentrarem as unidades
de processamento. E, diante da inexistência de emprego pleno, e má distribuição de
renda e crescente especulação imobiliária, têm experimentado processos de
urbanização diferenciados.
93
O processo recente de urbanização dos núcleos populacionais da região vem
se intensificando, mas de modo diferenciado. Enquanto que a população total da
91
Collischonn apud Silveira, 2007 p.50.
92
Silveira, R. L.L da. op.cit. p. 93.
93
Ibid, p. 232.
41
região cresceu aproximadamente 7,88% entre 1991 e 2000, a população urbana
regional, no mesmo período, ampliou 26,66%.
94
Na agropecuária, a participação no PIB regional ampliou -se de 15% em 1990
para aproximadamente 20% em 2002. No setor, destaca -se o fumo, responsável por
cerca de 50% do valor da produção agrícola regional em 2002, tendo apres entado
alto crescimento desde 1990 (18,2% a.a.) e estendendo -se para 88% dos
municípios. Destacam-se, além dele, o milho e a mandioca, disseminados em todos
os municípios. O arroz, em porção menor ao sul, e a soja que, juntos, representam
cerca de 90% do valor da produção agrícola regional.
95
Assim, o território do Vale do Rio Pardo mantém grandes desigualdades
internas, quando se considera o dinamismo das cidades industriais ligadas ao setor
dominante de processamento de fumo e ás pequenas propriedades rur ais. Essas,
relativamente isoladas, realizando um comércio não especializado, dominado por
alguns comerciantes nos principais centros coloniais. A policultura foi a base da
riqueza econômica regional, quando pensamos nas pequenas propriedades rurais. E
na parte sul da região, persiste um cenário de estagnação decorrente do modo de
colonização e utilização do território pela pecuária desde o século XVIII, evidente
nos dias atuais.
2.1.1 Formação histórica de Venâncio Aires
O município de Venâncio Aires foi politicamente emancipado em 30 de abril
de 1891, praticamente não alterando o território (728 Km²) até os dias de hoje,
conforme figura 2. A ocupação da parte sul do município foi com os lusos, que se
dedicaram à pecuária. A parte norte foi ocupada pelos alemães, pequenos
agricultores.
94
Silveira, R. L. L da. op. cit. p.466.
95
Rumos 2015, op.cit.
43
A história do município de Venâncio Aires efetivamente se inicia com a
doação de sesmarias, a partir de 1762. Essas se estabeleceram esparsamente ao
longo dos arroios Castelhano, Sampaio e Taquari -mirim, afluentes do Rio Taquari.
As atividades desenvolvidas na região pelos sesmeiros eram a pecuária extensiva
nas várzeas e o extrativismo (madeira e erva -mate) na área de floresta, além de
alimentos para sua subsistência.
Os habitantes nativos ou índios, na sua maioria, pertenciam a tribos Tupi -
Guarani. Costumavam se estabelecer ao longo dos rios e arroios e se
caracterizavam pela confecção de cerâmicas e de machados de pedra polida. Além
destes, havia indígenas da tradição Humaitá, também caçadorcoletores, aqui
conhecidos como kaigangues e que se localizavam nas partes mais altas do
planalto, e charruas, que habitavam os campos.
96
Como foi referido anteriormente, a distribuição de terras na região também
incluiu o atual território de Venâncio Aires. A primeira sesmaria oficialmente
concedida foi a um capitão de tropas aquarteladas em Rio Pardo. Anos depois, sua
neta fez a doação de parte de suas terras para a construção de uma capela, que
mais tarde se tornaria a área urbana do município. Mas a maioria das concessões
era dada a pessoas que exploravam essas terras. O trabalho, nessas sesmarias,
era realizado por escravos e mestiços.
Com o início do processo de imigração para o Rio Grande do Sul, promovido
pelo Governo Imperial, e a institucionalização da Lei de Terras (1850), os donos de
muitas sesmarias passaram a lotear suas terras, transformando -as em colônias
particulares, principalmente as áreas florestais, assim como as várzeas. O motivo
para que os sesmeiros criassem colônias particulares foi principalmente a terra de
floresta, que era imprópria para a criação extensiva de gado, principal atividade de
renda do Estado na época.
97
Foi a partir de 1824, com a chegada dos alemães no Rio Grande do Sul com
a fundação de São Leopoldo e das colônias da região, -se inicio à colonização
96
Vogt, op. cit. p.55
97
Roche, J. op.cit. p.101
44
dirigida e organizada pelo Governo Imperial no intuito de desenvolver o Rio Grande
do Sul.
98
Na primeira fase da colonização dirigida da Coroa Imperial (1824 1847), os
colonos viajaram da Alemanha para o Brasil, através do Governo Brasileiro, que
custeou as despesas com a viagem. Chegando aqui, seriam imediatamente
naturalizados, ainda teriam direito à liberdade de culto e receberiam uma
propriedade com 77 hectares, por família, além de animais domésticos como bois,
cavalos, vacas e etc..., e seriam isentos de impostos e prestação de serviço. E com
uma ajuda de custo pelos dois primeiros anos, sendo que a única condição que lhes
foi imposta era de não negociar as suas terras por dez anos.
99
A segunda fase da colonização germânica dirigida pelo Governo Provincial
(1848 1874) transformava todos os imigrantes germânicos em agricultores,
conforme a legislação vigente, mesmo estes tendo outras profissões, como
artesãos. Houve, nesse período, a redução da propriedade recebida para 48
hectares.
Além das colônias oficiais criadas pelo Governo da época, foram criadas
colônias particulares, que eram de r esponsabilidade dos donos da terra. Estes
arcavam com a medição dos lotes e abertura das principais vias. O objetivo da
empreitada era ganhar dinheiro e acumular capital, através da venda dos prazos
coloniais localizados nas florestas.
100
Essas colônias particulares geralmente tinham sua localização próxima das
colônias oficiais, pois estas terras acabavam tendo uma valorização extraordinária.
As colônias da região são Santa Emilia, fundada em 1865, sesmaria Ubatuba, em
1858 e sesmaria Desterro de 1860 e atu al área urbana, que no início possuía a
denominação de Freguesia de São Sebastião, criada em 1864. Algumas delas
faziam parte da Colônia Monte Alverne, mas com a emancipação de Santa Cruz do
Sul e Venâncio Aires, esta colônia foi dividida.
101
98
Roche, op. cit. p.94.
99
Roche, op.cit. p.113
100
Roche, op. cit. p .120.
84
Vogt, op.cit. p.270.
45
Esses migrantes não tiveram opção de escolher outra profissão ou atuar na
sua antiga, pois, ao chegar, foram notificados de que não poderiam se desfazer de
suas terras no caso das colônias oficiais. Nas privadas, a maioria não possuía
capital para saldar suas divídas. Portanto, tiveram que permanecer e trabalhar na
lavoura.
Os relatos sobre a vida na nova colônia dão conta das inúmeras dificuldades
e surpresas que ali se encontravam:
A escura floresta virgem com suas árvores colossais
e a impenetrável vegetação rasteir a que tínhamos de
conquistar palmo a palmo, abrindo caminho com o facão,
exigia de nós um serviço árduo e não habituado. (...) A maioria,
apenas começando, quer desanimar quando as os estão
feridas e cheias de bolhas. Mesmo assim, é preciso continuar o
trabalho, por mais que aperte a dor. Não outra alternativa
para o pobre colono senão reprimir o sofrimento e trabalhar,
trabalhar e novamente trabalhar, até que a primeira roça esteja
queimada e plantada e a primeira choupana provisória erguida,
de maneira que se possa pela primeira vez dormir sob telhado
próprio.
102
Saldadas as principais dívidas, alguns substituíram ou concomitantemente
desempenharam uma série de atividades artesanais nas colônias, Eram ferreiros,
serralheiros, funileiros, costureiras, entre outros. Além de moinhos de milho e erva -
mate, que processavam as primeiras colheitas.
Dessa forma, a agricultura passou a ser a atividade mais expressiva de boa
parte das colônias. Mais tarde, se tornaria fonte de renda e de progresso para uma
camada de comerciantes, que também desempenhavam o papel de banqueiro e
transportador.
A formação do núcleo urbano aconteceu em 1874 com a construção de
diversos prédios, no intuito de tornar válida a doação das terras para a construção
da Igreja Católica Matri z. Em 1884, foi elevado à condição de freguesia de São
Sebastião Mártir, traduzindo o aumento de sua população e a sua importância
econômica, na medida em que era para lá que se destinava a produção das colônias
mais próximas.
103
102
Umann apud Silveira, 2007, p.133 .
103
Vogt e Rosa; Flores apud Silveira, 2007, p.193.
46
Em pouco tempo se instal aram, nessa freguesia, comerciantes - que eram
alimentados por produtos como o milho, a banha de porco, o fumo e a erva mate -,
artesãos e prestadores de serviços , visualizado na figura 3 . Em alguns anos, a
pequena freguesia havia se tornado uma próspera v ila, com luz elétrica produzida
com geradores de querosene.
FIGURA 3: Centro da Vila de Venâncio Aires em 1932.
Fonte: Programa Google Hearth, acesso em agosto de 2008.
O aumento da produção colonial e o crescimento do comércio animavam o
desenvolvimento econômico da freguesia. Em 1891, ocorreu a emancipação do
município de Santo Amaro que passa à condição de vila do novo município de
Venâncio Aires. A imediata instalação da Câmara Municipal e a construção da nova
igreja, em 1895, ampliavam as funções urbanas do núcleo.
104
Algumas características e até traços culturais contribuíram para a formação
da sociedade atual e o desenvolvimento econômico. Entre os mais importantes
estão a criação de sociedades culturais e recreativas, coope rativas e sociedades
com fins econômicos e profissionais. Todos esses não serviam apenas para reunir
as pessoas, mas para discutir a região e promover o seu desenvolvimento.
Todas as questões ligadas à educação, religião, saúde e segurança foram
instaladas e gerenciadas pelos próprios migrantes, pelo fato de a cidade mais
próxima, que contava com esse tipo de serviço, ficar distante. Esses serviços eram
104
Silveira, op. cit. p.193.
47
particulares ou, então, em forma de associações comunitárias, importando -se da
Alemanha professores e médicos, principalmente.
2.2 POPULAÇÃO
A população de Venâncio Aires é constituída por diferentes etnias de
colonização, como alemães, lusos e negros, frutos de diferentes épocas. A figura 4
mostra os principais destinos dos imigrantes chegados ao Rio Grande do Sul.
Diferentes regiões do Estado receberam população migrante, sempre com a
promoção do Governo Federal, para diferentes funções, seja a proteção do território
ou o desenvolvimento de regiões.
FIGURA 4: Mapa de migrações no Rio Grande do Sul.
48
Fonte: www.spc.rs.gov.br. Org: Heisler, Traudi.
No relato do processo de colonização, vimos que os lusos foram os primeiros
a se estabelecer. Com eles também chegaram os negros. A população negra, e m
Venâncio Aires, alcança um número expressivo. Utilizados como escravos, estes
trabalhavam com criação de gado, além da plantação de subsistência. Após a
assinatura da abolição do regime escravista, os negros se estabeleceram próximos
à área urbana, para que através do trabalho remunerado pudessem sobreviver.
Os alemães, que chegaram para ocupar uma parte do município pouco
utilizada na pecuária, conseguiram, com muito trabalho, uma região próspera e
desenvolveram diferentes culturas na sua propriedade.
Analisando a figura 5, sobre população, podemos ver que o crescimento da
mesma se deu de forma homogênea. Não havendo grandes disparidades entre
homens e mulheres. No período em que houve a chegada do maior número de
migrantes, estes vinham com a família. É importante considerar que, durante o
período analisado, houve pouca emigração da população local, não sendo
necessário um membro da família sair em busca de trabalho.
População por sexo
0
5000
10000
15000
20000
25000
30000
35000
40000
1940 1950 1960 1970 1980 1991 2000 2006
habitantes
mulheres
homens
FIGURA 5: Gráfico da população por sexo de Venâncio Aires/RS .
Fonte: Censos IBGE, 1940 a 2006. Org: Heisler, Traudi.
Os períodos de maior incremento populacional foram as décadas de 1950 e
1960, quando o maior crescimento se deu em função da natalidade. De 1980 a
1991, período em que houve uma grande migração por conta do aumento da
49
industrialização, completa desnacionalização na indústria fumageira e pesados
investimentos no setor. E, mais recentemente, de 2000 a 2006, também pelo
desenvolvimento de novos ramos de industrialização criados, como a refrigeração
comercial.
O crescimento populacional de Venâncio Aires, quanto ao local de moradia (rural x
urbano), segue a maioria das cidades industriais. O processo de inversão do número
de habitantes começou a se tornar mais visível a partir da década de 1990,
conforme a figura 6.
A mudança começa a se processar em 1970, quando 74,35% da
população total moravam na zona rural do Município, enquanto que a zona urbana
contava com 25,65% da população total. Em 1991, a população rural era de 53,25%
e a população urbana contava com 46,75% da população total. Entre os anos de
1991 e 2000 aconteceu a inversão da população no local de moradia. Segundo o
Censo 2000, do IBGE, no ano de 2000 a população rural era de 40,90% e a
população da zona urbana era de 59,10% da populaçã o total de Venâncio Aires.
0
5000
10000
15000
20000
25000
30000
35000
40000
45000
número de
habitantes
1920 1940 1950 1960 1970 1980 1991 2000 2006
anos
População rural e urbana do munícipio de Venâncio Aires, no
período de 1920 a 2006.
rural
urbana
FIGURA 6: Gráfico da evolução da população, quanto ao local de moradia de
Venâncio Aires/RS, no período de 1920 a 2006.
Fonte: Censo IBGE de 1920 a 2006. Organização: Heisler, Traudi.
Quanto á população da freguesia nesse período, os dados referentes à
dinâmica de crescimento da população total, incluindo a população da zona rural,
servem como pista importante para pensarmos o ritmo de crescimento dos
moradores do núcleo urbano. Em 1890, a população era de 7.000 habitantes; em
50
1900, passou a 11.000 habitantes ; alcançou 15.000 habitantes em 1915; e atingia,
em 1920, cerca de 20.000 habitantes.
105
Foi um crescimento rápido para uma região que teve seu início poucos
anos atrás. A intenção do Governo Imperi al de tornar economicamente viável a
região teve seu êxito. Em Venâncio Aires, a intensidade do crescimento da
população urbana foi maior entre 1980 e 2000.
A população urbana foi acrescida de 19.567 novos habitantes, representando,
no mesmo período, um a créscimo populacional da ordem de 118%. Nesta cidade,
16,53% dos novos moradores imigraram entre 1991 e 1996 de outros municípios no
estado e no país, evidenciando a sua crescente importância na economia regional.
106
Esta inversão da situação de domicílio da população de Venâncio Aires, do
meio rural para o meio urbano, em parte deve -se ao fato de ter ocorrido no período
de maior processamento da indústria do tabaco, que passou a ofertar mão -de-obra.
Essas indústrias não exigem mão -de-obra necessariamente qualificada.
A figura 7 mostra a renda da população trabalhadora. A maioria dos
trabalhadores ganha de 1 a 3 salários mínimos. Assim podemos inferir vários
comentários sobre os dados colocados na figura. O aumento do número de salários
é mais visível entre as décadas de 1970 e 1980. O crescimento menor ficou entre as
décadas de 1990 e 2000, sendo uma media de salário pago aos trabalhadores das
principais indústrias.
Observamos a elevação do número de mulheres que trabalham e ganham de
1 a 3 salários. A indús tria fumageira tem preferência pelo trabalho feminino,
principalmente em setores onde a atividade é manual e exige maior delicadeza.
Outro setor industrial absorvedor de mão -de-obra feminina é o de confecções. Esse
ramo é bastante forte na indústria local e ainda num período anterior à indústria de
calçados, hoje encolhida.
105
Verband Deutscher Verein, 1999, p.5 80.
106
Censos 1980 a 2000. www.ibge.gov.br/sidra. Acesso em dezembro de 2007.
51
0
2000
4000
6000
8000
10000
12000
14000
16000
habitantes
Homem Mulher Homem Mulher Homem Mulher
1980 1991 2000
Renda da população empregada.
de 1 á 3 salários
3 á 5
5 á 10
10 +
FIGURA 7: Renda da população trabalhadora empregada em Venâncio
Aires/RS.
Fonte: Censo IBGE de 1980 a 2000. Organização: Heisler, Traudi.
Outra consideração é o aumento do número de trabalhadores que ganham
mais de 3 salários mínimos. Assim como há o aumento de trabalhadores nas
indústrias, algumas especializações se tornaram necessárias, refletindo, dessa
maneira, na renda dos trabalhadores.
Também devemos ob servar o aumento considerável do número de mulheres
que ganham acima de 3 salários. O maior índice ficou para o ano de 2000, um
número 2 vezes maior que na década anterior. Ao mostrar esses dados e essas
informações, a intenção é expor uma das partes mais importantes e responsáveis
pelo crescimento do espaço urbano, no caso do município.
2.3 DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
O início do desenvolvimento econômico de Venâncio Aires como um todo e
peculiarmente nas colônias alemães se deu pela produção e venda de ex cedentes
agrícolas, assim como para atender as necessidades da população local. A
combinação da atividade mercantil com a agrícola foi muito comum nos primeiros
anos após a fundação das colônias.
O que aconteceu nessas colônias foi praticamente uma simbios e entre o
comércio e a agricultura, possível através de trocas, uma influência decisiva na
52
economia. Com o passar do tempo, esse sistema passou para “contas -correntes” ou
uma conta para cada um dos fregueses das casas comerciais.
Os exemplos de casas co merciais estabelecidas no povoado de o
Sebastião mostram que os principais produtos vendidos eram tecidos, farinha, café,
arroz e sal, além de ferragens, louças e calçados. os produtos mais exportados
por essas casas de comércio eram fumo em folha e e rva-mate. Esses dois produtos
provavelmente foram os mais rápidos em produção para a venda. O primeiro, por ser
rentável e de pouco uso entre os colonos, e o segundo, por ser uma árvore,
podendo produzir por várias dezenas de anos, além do fato de na regiã o essa planta
se encontrar com facilidade na floresta.
Na colônia, os agricultores passaram a adquirir produtos manufaturados do
exterior, principalmente aqueles que tinham reconhecimento de qualidade ou
lembravam da terra natal. Com isso, o artesanato, q ue havia nascido para alguns
produtos, passou a entrar em decadência. Não havia restrições quanto a
importações feitas no Sul do Brasil.
No início das colônias, quem tinha algum conhecimento em marcenaria,
ferraria e outros ofícios se dedicou a construi r os implementos e movéis necessários
para o início das atividades. Futuramente, estas atividades entrariam em
decadência, sendo asfixiadas pela importação.
O comércio teve uma vida maior do que o artesanato rural, mas também foi
sendo derrotado com a mode rnização dos meios de transporte e comunicação. O
desenvolvimento das áreas urbanas e sua especialização em diferentes comércios e
prestação de serviços tornaram o interior um espaço apenas de produção
agropecuária.
O aumento do número de casas comerciais se processou de maneira
diferente nas antigas colônias oficiais e nas novas. Entre 1900 e 1950, os
comerciantes triplicaram em São Leopoldo e quadruplicaram em Santa Cruz do Sul.
Isso se deve ao fato de nessas cidades terem se estabelecido pequenas
manufaturas, que se multiplicaram no período entre Guerras.
107
107
Roche, 1969, p. 426.
53
Exemplo disso é a atividade comercial em Venâncio Aires, que crescia
progressivamente. Em 1900, o número de comerciantes era de 32. Em 1913, esse
número subiu para 40 e passou para 217 em 1920. A i nformação detalhada do
Jornal Kolonie , de que, em 1922, o município ... contava com 229 empreendimentos
comerciais, sendo: 102 casas de comércio, 6 lojas de sapatos, 5 hotéis, 6 grandes
armazéns, 5 armazéns no porto (Mariante), 7 agências, 3 farmácias, 18
restaurantes, 2 cinemas, 6 grandes armazéns de tábuas, 2 locais específicos para
compra de tabaco, 22 bares.
108
A configuração e as atividades realizadas pelos comerciantes do povoado não
se diferenciavam muito do interior. Alguns desses comércios tinham em anexo
moinhos, engenhos e refinarias para processar e dar uma qualidade maior aos
produtos vendidos nos mercados maiores, a maioria em Santa Cruz do Sul e Porto
Alegre.
Essa foi uma verdadeira revolução nas colônias, da passagem de uma quase
auto-suficiência e uma policultura para a produção comercial, que condicionava a
agricultura a uma dependência com economias externas. Por volta de 1900, o
escambo não mais configurava na relação agricultor e comerciante.vigorava a lei
da oferta da procura.
Nas colônias novas, o aumento foi menos sensível. O número de
comerciantes cresceu irregularmente, por estarem ainda em fase pioneira. O
comerciante rural foi de essencial importância por trazer veres, roupas e
ferramentas necessários aos agricultores.
Essa economia colonial, baseada na pequena propriedade rural, deixou
marcas importantes na evolução do mercado gaúcho, pois toda essa parcela da
população migrada e seus descendentes passaram a ter um médio poder aquisitivo.
E também fomentaram muitas das ativid ades industriais, que mais tarde viriam a se
instalar no Rio Grande do Sul e também em Venâncio Aires.
Quanto às fábricas e aos estabelecimentos industriais, o município de
Venâncio Aires tinha em 1922: 2 fábricas de banha (Selbach e Cia. na Vila e I.D.
Schuler na Linha Brasil), 21 serrarias, 2 alambiques, 11 moinhos de erva -mate, 6
108
Roche 1969, p.425.
54
arrozeiras, 5 fábricas de açúcar e rapadura, 2 cervejarias, 5 fábricas de gasosas e
água mineral, 15 olarias, 2 fábricas de telhas, 3 moinhos de farinha, 1 instalação
para aplainar tábuas, 1 usina elétrica, 3 marcenarias com funcionamento a vapor. No
total, são quase 89 estabelecimentos, quase todos com funcionamento a vapor.
109
As colônias que formam o município de Venâncio Aires sempre foram muito
prósperas, apesar de todas as d ificuldades enfrentadas pelos imigrantes. Exemplo
disso é o número de estabelecimentos comerciais ou conhecidos como vendas: em
1900, havia 32 vendas espalhadas pelo interior das colônias, mais ou menos
quarenta anos depois de iniciar as atividades nas pro priedades.
110
Como havia dificuldade nos meios de transportes e nas estradas, poucos
recursos financeiros, dificilmente um colono se deslocava até alguma cidade por
mais próxima que fosse, para comprar objetos que não podiam ser feitos na
propriedade. Isso fez com que alguns colonos, não tão aptos ao trabalho da lavoura
se dedicassem a atividades comerciais.
Outros optaram pelo artesanato de produtos necessários para a propriedade
como ferrarias, marcenarias, moinhos, etc. Mas a maior prosperidade foi mesm o o
comércio do interior. Em 1929, existiam 24 ferrarias, 28 engenhos de erva -mate, 57
compradores de produtos coloniais e 142 casas comerciais, além de 18
marcenarias, que se dedicavam a explorar a madeira e vender para os colonos
construírem suas casa e seus galpões.
O dinamismo das atividades econômicas e do crescimento da população na
Vila se fez acompanhado pela demanda de inovações tecnológicas no âmbito da
infra-estrutura urbana. Assim, a partir de 1898, as principais ruas da Vila passaram a
ser iluminadas com lampiões a gás. Em 1904, é implantado o telégrafo e em 1908
iniciam os serviços telefônicos. Em 1912, a Vila passa a contar com o sistema de
coleta de lixo, de esgoto e de distribuição de água e, em 1916, iniciam os serviços
de iluminação elétrica.
111
109
Jornal Kolonie apud Vogt e Rosa, 2004, p.276.
110
Vogt, 2004, p.271.
111
Vogt e Rosa, 2004. p.194.
55
No total, existiam cerca de 208 casas comerciais em 1950, espalhadas pelo
município, incluindo o centro da cidade. Numa comparação feita por Roche, no que
diz respeito à exploração feita pelos comerciantes, no auge da atividade comercial,
em relação aos produtores, estes possuíam um patrimônio muito superior ao resto
da colônia.
Os comerciantes de varejo tinham, em média, um patrimônio superior em
160%, se comparado com o pequeno produtor. Não tendo muita alternativa para
vender o excedente da produç ão, este era vendido para o comerciante, muitas
vezes em troca de produtos que não podiam ser fabricados na propriedade.
Todavia, nas colônias nunca houve mercado nem feiras: é a loja que faz parte
integrante de sua paisagem. Por isso, o comerciante, único agente de trocas, tornou -
se muito poderoso no seu feudo
112
.
A figura 8 mostra o crescimento do número de estabelecimentos industriais na
área de estudo. Os maiores picos de indústrias foram nos anos de 1960, devido aos
estímulos dados pelas iniciativas gov ernamental nacional e regional. E nos correntes
dias, em que o número de estabelecimentos é o maior do período considerado.
mero de estabelecimentos industriais em
Venâncio Aires-RS
0
50
100
150
200
250
1920 1940 1960 1980 2000 2020
anos
n. de
estabelecimentos
estab.
FIGURA 8: Número de indústrias em Venâncio Aires/RS, no período de 1940 a
2006.
Fonte: Secretaria da Indú stria, Comércio e Turismo e IBGE. Org: Heisler, Traudi.
A década de 1980 registra uma queda no número de estabelecimentos
industriais, assim como em nível nacional. A famosa “década perdida”, aqui também
112
Roche, op.cit.p.403.
56
é possível de se perceber. Devido às crises ocorrida s no plano econômico nacional
e estadual, houve uma diminuição das atividades econômicas em todos os ramos.
No ano de 2006, foram registradas pela Secretária de Indústria e Comércio do
município 235 indústrias de diferentes ramos, em sua grande maioria na atividade de
transformação. A localização da maior parte delas está na área urbana e algumas
ocupando o Distrito Industrial local.
Desse total de indústrias, 21,6% trabalham no ramo da indústria metal -
mecânica, fabricando produtos para supermercado, produt os refrigerados para
restaurantes e eletrodomésticos. E ainda produtos como microtratores, geradores de
energia e estruturas metálicas para construções.
O segundo ramo em número de indústrias é o de alimentos e bebidas, que
corresponde a 15,7% do total, da ndo-se destaque às indústrias de erva -mate e aos
frigoríficos, que são em maior número e mais representativos em vendas.
O setor têxtil vem logo após, com 11,8%. estão colocadas fábricas de
costura de roupas em geral, desde artigos esportivos até roupas com tecidos mais
nobres. Grande parte delas são pequenas confecções, com poucas costureiras. Em
seguida, vem a fabricação de móveis em madeira. Este possui cerca de 9% do total
de indústrias, dando-se destaque às atividades na fabricação de móveis para
escritório.
E por fim, o setor que possui o menor número de indústria, mas tem a maior
arrecadação em termos de impostos para o município. São as empresas fumageiras,
que possuem 5,7% do total de indústrias. As maiores empresas do município o
desse ramo, tanto em tamanho, quanto em produtividade e utilização de mão -de-
obra e geração de impostos.
2.4 AS INDÚSTRIAS E O INÍCIO DAS SUAS ATIVIDADES
Nesta parte do trabalho, abordaremos o início das atividades industriais das
fábricas visitadas em Venâncio Aire s. Foram 11 indústrias de diferentes ramos
visitadas e indagadas sobre seu histórico e seu desenvolvimento.
57
A Alliance One Brasil Exportadora de Tabacos Ltda. foi fundada em 13 de
maio de 2005, resultado da fusão dos grupos DIMON Incorporadet e Standart
Commercial Corporation, representados no Brasil pelas empresas DIMON do Brasil
Tabacos Ltda e Meridional de Tabacos Ltda.
A DIMON do Brasil surgiu em janeiro de 1996, com a fusão dos grupos
estadunidenses Dibrell Brothers Inc.e Monk Austin Inc., representa dos no Brasil
pela Dibrell do Brasil Tabacos Ltda e Tabra Exportadora de Tabacos do Brasil
Ltda. No entanto, sua origem no país foi no ano de 1933, quando foi criada, no
município de Venâncio Aires RS, a Loewenhaupt & Cia. Ltda., um pequeno
comércio de fumo. Esta empresa foi vendida em 1955 para a fábrica de Cigarros
Flórida S.A., que mais tarde, em 1973, foi adquirida pela Ligett & Myers do Brasil
Cigarros Ldta. Esta foi comprada, em 1985, pelo grupo Dibrell, que repassou 70%
das ações para a Companhia Souza Cruz e 30% para a Verafumos Ldta., formando
a Tabasa Tabacos S.A.. Em outubro de 1991, o Grupo Dibrell Brothers readquiriu os
70% das ações da Tabasa, e em 1992, houve a unificação da Verafumos Ltda.,
Tabasa Tabacos S.A. e Sudam Tabacos Ltda., dando origem à Dibrell do Brasil
Tabacos Ltda.
Em 1997, o Grupo Dimon adquiriu a Intabex Worldwide S.A., que tinha uma
subsidiária no Brasil, a Intabex Processors do Brasil Ltda., com sede em Venâncio
Aires – RS. Essa passou a se chamar, a partir de abril de 1 997, DIMON Exportadora
de Fumos Ltda., mantendo domínio ainda sobre a Fumex Tabacaleira Ltda.,
empresa produtora de fumos para charuto, localizada no nordeste brasileiro,
atualmente em negociação para venda.
A DIMON do Brasil, juntamente com o Grupo Standa rt Corporation, no Brasil
proprietária da Meridional de Tabacos, fizeram uma fusão de empresas, surgindo a
Allince One Exportadora, em 13 de maio de 2005. Atualmente a empresa é a maior
exportadora de fumo em folha do Rio Grande do Sul.
A Tramontini Implem entos agrícolas Ldta surgiu em 1984, por uma cisão
parcial, na época na cidade de Encantado RS. Anterior a isso, existia a
Retificadora Tramontini, que atuava no conserto de veículos. Com o surgimento da
58
indústria, o objetivo era fabricar veículos de pe queno porte para atender a pequenos
agricultores.
Em 1994, houve o lançamento de microtratores e motores a diesel, que
levaram a empresa a ampliar suas instalações e a realizar sua transferência, em
1997 para o distrito industrial de Venâncio Aires. Todos os anos são desenvolvidos e
lançados novos produtos que atendem às necessidades dos pequenos produtores
rurais.
A empresa e marca Venax são conhecidas vários anos pela produção e
qualidade de seus produtos. A metalúrgica Venax fechou suas portas na déc ada de
80 por problemas financeiros. Depois de enfrentar muitas dificuldades, no início da
década de 80, a Metalúrgica Venax, de Venâncio Aires (RS), fabricante de fogões a
gás, acabou falindo.
No dia de maio de 1985, Walter Bergamaschi adquiriu a marca Venax e
reabriu a nova empresa. A Venax é considerada uma das maiores empresas do
ramo metalúrgico a única no ramo de eletrodomésticos de linha branca do Estado do
Rio Grande do Sul.
A partir de maio do ano de 2003, a razão social da empresa foi alterada de
Metalúrgica Venan Ltda para Venax Eletrodomésticos Ltda, reforçando sua marca.
Juntamente, foi criado um novo logotipo para marcar esta mudança, uma identidade
para a empresa, apontando a 3ª geração da logomarca.
O início das atividades da Refrimate Eng enharia do Frio Ldta se deu em
função do fechamento de outra indústria metal -mecânica. Três funcionários antigos
da indústria fundaram a Refrimate e passaram a fabricar produtos para
supermercados.
A KLIMA surgiu no mercado em maio de 1995, para suprir a f alta de uma
empresa no ramo de refrigeração, que produzisse equipamentos especiais, sob
medida, visando atender a área de alimentação. A idéia inicial era apenas vender ao
consumidor, atendendo suas necessidades com produtos de qualidade. Mas, com o
passar dos anos, a empresa ficou conhecida nacionalmente. Houve a ampliação da
59
linha de produtos e passou a fornecer para revendas, através de representantes em
vários estados do Brasil.
Para crescer e desenvolver o empreendimento, teve -se a preocupação
especial com a qualidade dos produtos e serviços. Em 2003, a empresa iniciou as
melhorias, com a aplicação do programa 5S's, implantando o GQT (Gestão Pela
Qualidade Total) e, em 2005, realizou o termo de adesão no PGQP (Programa
Gaúcho de Qualidade de Produtos). O Meio Ambiente é uma questão primordial
para a indústria, que possui uma estação de efluentes, para tratar seus resíduos
químicos. Separa e realiza o destino correto dos resíduos (para aterros autorizados)
e, devido ao projeto da UNIDO (United Developmen t Organization), a empresa
somente utiliza, em seu processo e nos seus produtos, gases ecológicos, que não
prejudicam a camada de ozônio.
Em 2006, a KLIMA completou 11 anos com muito desenvolvimento e
expansão, se preocupando cada vez mais com os Programas de Qualidade, Ações
Sociais e com o Meio Ambiente. Investindo em design inovador, novas tecnologias e
em melhorias contínuas em seus produtos e serviços.
A Biovale surge a partir do desenvolvimento de um produto novo. O
proprietário iniciou suas pesquis as numa empresa encubada na UFRGS
(Bioagrolan), durante a Pós -graduação na área agronômica. Nessa empresa, foram
realizadas pesquisas para produção fumageira orgânica, com o desenvolvimento de
insumos e compostos orgânicos utilizados para combater pragas e doenças.
Com a finalização da dissertação, houve o início das atividades da indústria
Biovale propriamente dito. Os primeiros clientes foram do setor fumageiro por terem
conhecimento dos produtos. Com isso, as pesquisas avançaram para outras áreas,
como monoculturas e hortifrutigranjeiros.
A Celtis confecção iniciou na garagem de uma casa, confeccionando
agasalhos para escolas da cidade. Permaneceu durante 3 anos. Após, passou para
um prédio alugado. Durante o período de 3 anos e meio, mantendo uma estrut ura
pequena de produção e confeccionando também agasalhos esportivos. Após esse
tempo, a empresa passou a funcionar em prédio próprio com uma capacidade maior
de produção.
60
As atividades da Família Kroth Comércio de Carnes iniciaram na década de
1960, com o abate de 1 a 2 bovinos na sexta -feira, para a comercialização em 3
estabelecimentos próximos (vendas). Esse abate era realizado nos fundos da
residência e os cortes, no porão da casa. A entrega era feita de carroça.
Em 1972, aconteceu a primeira aquisição de caminhão para o transporte de
bovinos até o abatedouro. No início dos anos 80 do século passado, houve a
necessidade de inspeção estadual e novas instalações para atender as exigências.
As entregas, então, atendiam a área urbana do município e também S anta Cruz do
Sul.
A P Projeto foi fundada em 08 de maio de 1961 na cidade de Santa Cruz do
Sul, pelos irmãos João Hickmann e Alberto Hickmann. A empresa, nos primeiros
anos, funcionava apenas como uma marcenaria na fabricação de móveis sob
medida. A razão social da empresa era Hickmann Ind. De Móveis Ldta.
Em 1981, a empresa começou a direcionar o seu trabalho na fabricação de
móveis e cadeiras para escritório, vindo, no mesmo ano, para a cidade de Venâncio
Aires, com incentivos da Prefeitura Municipal, a q ual cedeu um prédio para a
empresa na Rua Voluntários da Pátria, destinado para a fabricação de móveis, e
outro prédio na rodovia RST 453, na saída da cidade, destinado ao setor da
metalúrgica da empresa.
Com o aumento nas vendas e a necessidade de diversi ficação dos produtos,
o espaço cedido pela prefeitura acabou se tornando pequeno. Então, em 1985, foi
adquirido um terreno e construído o prédio para aumentar o espaço da empresa.
Mesmo com a construção desse novo prédio, os setores de metalúrgia e cadeira s
continuaram em prédios separados, que a empresa começou a exportar seus
produtos para todo o Brasil e o volume de produção aumentava gradativamente
nesse período.
Por volta de 1998, a empresa deu mais um grande salto, pois começou a
exportar seus produtos para o Uruguai, Chile e Argentina, tornando seu nome e sua
marca destacada no setor moveleiro no país. Durante os anos 1998 a 2001, a
empresa teve sua ascensão no mercado.
61
Em 2005, com a entrada de novos sócios, a empresa começou a se
estabilizar financeiramente, mudando para a atual razão social. Depois de uma
crise, a empresa, atualmente está procurando recuperar os mercados perdidos.
A Plásticos Venâncio Aires teve como o início de suas atividades a fabricação
de sacolas plásticas para supermercados . Há mais ou menos cinco anos, mudou a
produção para rótulos de diferentes tipos de embalagens.
A Plásticos Venâncio Aires Ltda., fundada em 1990, é uma empresa
industrial, de cunho familiar, voltada para a produção de rótulos tipo Slevee (Manga
e PVC termo encolhível), Bopp Contiroll, Bopp Magazine, Bobinas Técnicas e
produtos especiais como bandôs, banners, faixas e outros produtos promocionais.
É uma fábrica que exerce uma política contínua de qualidade,
desenvolvimento e modernização das suas atividades . para satisfazer as exigências
dos clientes aos produtos e serviços que oferece. Vários estudos e
desenvolvimentos estão sendo feitos, visando sempre melhorar a qualidade dos
produtos, para atender cada vez melhor e com mais capacidade.
62
3. CARACTERÍSTICAS GEOGRÁFICO-ECONÔMICAS DA
INDÚSTRIA DE VENÂNCIO AIRES
O termo indústria está caracterizado por diversos significados, desde uma
empresa de pequeno porte, até uma fábrica de qualquer tamanho de um parque
industrial, que trabalhe com atividade de transfor mação e/ou beneficiamento e
que use maquinarias e tenha como objetivo criar um terceiro produto. A indústria
não está somente na cidade, também está no campo. A sua localização é regida
por inúmeros fatores, entre eles fonte de matéria -prima, mercado consumidor,
etc.
Com o setor industrial de transformação e/ou beneficiamento, a economia
diversifica-se. As indústrias mais modernas têm se baseado em intensa divisão do
trabalho, que segmentou a produção em múltiplos setores de atividade. Atualmente,
a atividade industrial representa o elemento -chave do dinamismo econômico
nacional e regional. Em diferentes contextos territoriais (municípios, estados ou
regiões), a ausência da atividade industrial pode representar um obstáculo ao
desenvolvimento, ou a estagnaçã o.
3.1 ESTRUTURA INDUSTRIAL, MAQUINARIA, MÃO -DE-OBRA
O progresso tecnológico está relacionado com os melhoramentos nas
técnicas, conseguidos pelo uso do trabalho e do capital, resultando, dessa maneira,
em ganhos tecnológicos.
Na área de estudo, os ramo s industriais instalados são diversificados e
iniciaremos por um dos setores mais antigos da região. As 11 indústrias
entrevistadas têm tamanhos diferenciados, desde pequenas fábricas até grandes
plantas industriais.
A indústria de beneficiamento do fumo, que teve seu surgimento na década
de 1930. A empresa do ramo fumageiro entrevistada é uma multinacional de capital
estadunidense e possui plantas em Venâncio Aires, Santa Cruz do Sul, além de
Santa Catarina e Paraná. Exporta a maior quantidade de fumo be neficiado do Rio
Grande do Sul.
63
FIGURA 9: Mapa de localização das indústrias amostradas de Venâncio Aires/RS.
Fonte: Prefeitura Municipal de Venâncio Aires. Org: Heisler, Traudi.
64
A unidade da Alliance One Venâncio Aires possui três linhas de produção em
operação, de três turnos durante a safra. Essa safra de beneficiamento vai de
fevereiro a junho e, no restante do ano, a empresa passa com a maior parte das
máquinas paradas. Apenas uma ou duas linhas de produção em operação, de
acordo com a necessidade.
Com relação aos equipamentos utilizados no processamento da folha do
fumo, estes são em parte de produção nacional, por exemplo, esteiras e outros.
Uma outra parte é fabricada na própria empresa, com utilização de tecnologia no rte
americana (pagamento de patente). O restante do maquinário utilizado é importado
dos Estados Unidos.
A manutenção de máquinas é feita permanentemente, de acordo com o seu
funcionamento. A durabilidade das máquinas é grande, pois a estrutura pode dura r
até 30 anos. Mas as peças são constantemente revisadas e trocadas. As estruturas
foram planejadas no intuito de receber várias reformas, substituição de peças e
motores, sem alterar a capacidade de produção ou melhorar a mesma.
a produção de equipam entos pela própria empresa, que são adaptados
aos existentes, tentando otimizar a produção. São feitas manutenções
permanentes e desmontagem completa das estruturas e equipamentos durante a
entre-safra. A empresa possui a destala das folhas de fumo auto matizadas, sem o
uso de força de trabalho humano. Mas esse tipo de tecnologia é próprio da empresa
e não está implantado nas empresas concorrentes.
Quanto á questão da mão -de-obra utilizada na indústria, o número total de
funcionários na unidade de Venânci o Aires é de 2.000, incluindo fixos e temporários
(figura 10). A recontratação dos empregados temporários é de 75% na próxima
safra. Nesse período, a maioria procura outros serviços, principalmente as mulheres,
que têm preferência na contratação, por sere m mais cuidadosas com o manuseio do
fumo.
Quanto à pesquisa e ao desenvolvimento, eles são feitos na área de
melhoramento genético das plantas e sua adaptabilidade aos diferentes solos.
Também é realizada a pesquisa nos insumos utilizados na cultura para p otencializar
65
a produção. A indústria possui laboratórios, que fazem testes na matéria -prima, além
de empresas contratados para fazer testes de qualidade no fumo.
FIGURA 10: Processo de destala na indústria fumageira.
Fonte: Anuário do Fumo da AFUBRA, 2006.
Contrastando com a empresa acima, temos a indústria orgânica de produção
de insumos agrícolas Biovale. Está localizada na área rural de Venâncio Aires. Ela é
uma indústria recente, surgida a partir de pesquisas realizadas pelo proprietário.
Possui duas linhas de produção, que fabricam mais de 140 mil litros por ano de
diferentes produtos para a agricultura orgânica.
O maquinário utilizado na preparação consiste em misturadores, câmaras de
crescimento, peneiras e moinhos. Por se r um tipo de indústria em desenvolvimento
inédito, o maquinário ideal foi cuidadosamente elaborado para manter as
propriedades da matéria -prima utilizada.
A maior parte dos equipamentos foi desenvolvida pela própria empresa e
constituída por empresas da c idade. No caso das peneiras, estas foram importadas
da França. Outros equipamentos vieram de São Paulo. A idade dia dos
66
equipamentos e sua durabilidade ainda não podem ser ditos, pois a empresa ainda
não teve a necessidade de substituí -los.
A indústria possui laboratórios de diagnose, que atendem aos agricultores
em geral e que também são usados para testar os próprios insumos, além de
desenvolver novos produtos. São equipados com microscópio digital e demais
equipamentos utilizados para estes fins. Tam bém realizam testes de qualidade
internos na elaboração dos insumos. Os testes finais são realizados pelos
laboratórios de uma universidade regional credenciada.
Por possuir certificação internacional, a indústria segue normas e regras da
produção orgânica internacional. Assim, o nível de alfabetização dos 10 empregados
é o ensino médio. São estimulados continuamente a se aprimorarem com cursos
técnicos e de formação, geralmente pagos pela indústria. A flexibilidade de postos
não é muito utilizada. Cada um é instruído para realizar atividades específicas.
Todos os empregados são enquadrados nas leis de trabalho existentes no
Brasil, com critério para certificação orgânica nacional e internacional. Todos são
dos arredores da indústria, se deslocam por conta p rópria e são agricultores ou
filhos, que se dividem entre a indústria e a agricultura.
Dentro da classe de indústrias alimentícias, foi entrevistado o frigorífico
Família Kroth, também localizado na área rural do município. O Rio Grande do Sul
sempre foi reconhecido pela produção pecuária e a industrialização da carne. Sendo
assim, não poderíamos deixar de incluir esse tipo de indústria. O abate é de 150
cabeças ao dia, sendo que ele está na sua capacidade máxima de produção.
Os equipamentos utilizados no abatimento e beneficiamento são simples,
como câmaras frigoríficas, túneis de metal e serras para corte de carne. Possui uma
frota de 12 caminhões de entrega e 4 de recolhimento do gado vivo. Essa indústria
tem muitos anos de atividades. Conta com tem prop riedade própria para a criação
do gado, mas não é o suficiente, sendo a outra parte adquirida de outros criadouros
do Rio Grande do Sul.
Os equipamentos utilizados são substituídos antes de apresentarem
problemas. Como o manuseio é feito manualmente, exist e perigo de acidentes,
67
principalmente com as serras e facas. a frota de caminhões, indispensável nesse
tipo de indústria, é revisada periodicamente.
A indústria possui 78 funcionários contratados de forma permanente. São
pessoas da região e que se deslo cam por conta própria. O nível de alfabetização é a
educação fundamental.
Umas das atividades industriais com maior crescimento no município é a
indústria de confecções. Foram realizadas entrevistas em duas indústrias: uma
empresa maior, que trabalha para outras marcas, e uma menor, que tem marca
própria e comercialização regional. Em ambas, o equipamento utilizado não difere
muito, apenas a quantidade e maior tecnologia entre elas.
A Celtis confecções é uma pequena indústria e tem 4 funcionários. Faz a cos tura
de roupas esportivas de diferentes tecidos. Têm equipamentos, como máquinas de
costura, de corte, além do setor de estamparia, todos de origem nacional. Seu
maquinário tem uma idade média de 7 a 8 anos, sendo substituídos por novos. A
indústria possui um estilista contratado para desenvolver as coleções.
A Crisport confecções possui dois turnos de funcionamento, sendo o
segundo, somente de bordado. A indústria de confecções costura artigos esportivos
de tecido de microfibra.
São 110 máquinas de cost ura, cada uma com função específica. Possuem de
duas à quatro agulhas. O sistema de corte é informatizado e a estamparia foi
incorporada recentemente na planta industrial. Anteriormente era terceirizada. A
empresa possui outras filiais em municípios próxim os.
As máquinas de costura são importadas da Ásia (Taiwan) e têm vida útil de
15 a 20 anos. Esse país tem tecnologia de ponta na fabricação desse tipo de
equipamento. A máquina de bordado, recentemente adquirida da China, é
totalmente digital. A modernizaç ão dos equipamentos é feita anualmente. Tem -se
uma oficina mecânica interna, que atende as costureiras.
A criação das coleções é feita com a pesquisa de novas modelagens e dispõe
de modelista na indústria, para a confecção de marca própria e também para a
marca de uma grande loja de departamentos. A organização é feita por setores no
68
interior da fábrica, com fileiras de costureiras, setor de corte, setor de bordados,
estamparia, toper (passadeira) e expedição. Esse último, deixa as peças prontas
para serem colocadas nos expositores da loja de departamentos.
Outra indústria visitada foi a de móveis para escritório P Projeto, um ramo á
parte da produção de móveis. Um dos setores de maior produção no Rio Grande do
Sul. Os equipamentos utilizados são máquin as de corte de madeira, furadeira e
prensas de colagem. São equipamentos nacionais na sua maioria e importados da
Alemanha. Têm uma durabilidade em torno de 13 anos (as mais antigas), mas são
substituídas de acordo com a necessidade.
São 165 empregados de ambos os sexos, com escolaridade mínima do
ensino fundamental. Recebem vale transporte da indústria e residem próximos da
mesma.
O setor de plásticos também foi entrevistado. A indústria Plásticos Venâncio
Aires produz rótulos e embalagens plásticas e term os encolhível. São 3 setores
(filme, impressão, acabamento). Os equipamentos utilizados para a produção são
máquinas extrusoras, que derretem o polipropileno e o transformam em filme,
impressoras para imprimir rótulos e outros produtos promocionais. Além d e
máquinas de corte e solda. A maioria das máquinas é nacional e as mais modernas
são italianas.
A empresa atua na pesquisa e no desenvolvimento de algumas embalagens,
mas a maioria vem com o “layout” do rótulo pronto. São 63 colaboradores de
ambos os sexos. A empresa possui um pico de produção, que inicia em outubro e se
estende até março.
O setor com maior número de indústrias é o metal -mecânico. Está sendo
reconhecido como um pólo, principalmente na atividade de refrigeração comercial.
Foram entrevistadas duas indústrias, que têm como principal produção a
refrigeração comercial. Uma de eletrodomésticos de linha branca e uma montadora
de máquinas agrícolas.
A primeira indústria é a Klima Refrigeração, de montagem de refrigeradores
comerciais e equipame ntos para cozinhas profissionais. A indústria é dividida por
69
setores, com uma linha de montagem manual, por haver diferentes tipos de produtos
feitos sob encomenda. Tem como carro chefe os balcões tipo ilhas refrigeradas para
supermercados. Os equipamentos utilizados na indústria são os mais variados
possíveis, sendo os mais antigos de origem nacional e os mais modernos
importados. Os últimos, através de projetos realizados com a ONU, para redução do
uso de CFC’s (clorofluorcarbonos).
A empresa tem o desenvolvimento de idéias próprias e está em fase de
implantação um laboratório autorizado pelo INMETRO, para realizar os testes de
qualidade e consumo de energia dos produtos na própria empresa. São 90
empregados, com acréscimo na época de safra, que vai de outub ro a dezembro. A
escolaridade vai desde o ensino fundamental até técnico.
A segunda indústria de refrigeração comercial entrevistada é a Refrimate
Engenharia do Frio, muito parecida com a relatada acima. É uma indústria recente e
que também trabalha com re frigeradores e balcões expositores, além de gôndolas
para supermercado.
A planta industrial foi adquirida recentemente e passa por adequação. O
maquinário utilizado em parte é nacional, em parte, italiano. Aqui pode se perceber
que o maquinário é origin ário da Itália, um país especializado na fabricação destes
equipamentos. A empresa possui 330 funcionários, mais contratações na época de
maior produção, de setembro a dezembro. A escolaridade vai desde o ensino
fundamental até o técnico. O deslocamento do s trabalhadores é realizado pelos
mesmos.
O desenvolvimento de novos produtos, bem como o aperfeiçoamento dos já
existentes, é realizado na própria empresa. Esta não possui laboratório para testes,
sendo que os mesmos são executados em laboratórios partic ulares.
A indústria Venax Eletrodomésticos é de produtos de linha branca, tendo por
carro chefe a produção de fogões a gás. Ainda tem a produção de refrigeradores,
adegas, geladeiras e fogões à lenha. A empresa está dividida em três setores, de
acordo com o produto fabricado. A indústria faz a fabricação da maioria das peças
dentro da própria planta industrial, além de possuir uma fundição. Os maquinários da
empresa são variados e alguns importados da Itália. São atualizados de acordo com
70
a necessidade de produção e atualização, segundo as novas tecnologias surgidas. A
aquisição de peças para a montagem é reduzida, apenas motores e vidros.
Pelo grande potencial produtivo e sendo a única do ramo no Rio Grande do
Sul, esta possui um laboratório para realizar o s testes de cocção e de refrigeração
autorizados pelo INMETRO. Os testes de segurança com os fogões a gás são
realizados em laboratórios próprios do INMETRO.
A última indústria do ramo metal -mecânico é a Tramontini Implementos
Agrícolas (figura 11). Produz microtratores, tratores e geradores de energia,
utilizados pela agricultura familiar. São 4 linhas de produção e uma linha mestre de
montagem de motores. Durante o ano de 2007, foi lançado o primeiro modelo de
trator. A empresa, na maior parte do seu func ionamento, faz apenas a montagem
dos produtos.
FIGURA 11: Montagem de tratores agrícolas.
Fonte: www.tramontini.com.br. Acesso em maio de 2007.
Os equipamentos utilizados na montagem são chaves de diversos tipos,
máquinas pneumáticas para o aparafusamento de peças. A origem dos mesmos é
nacional, não havendo a necessidade de equipamentos de tecnologia avançada.
Esse é outro fator para que a durabilidade das ferramentas seja imprecisa.
O desenvolvimento e a adaptação dos novos pr odutos são realizados dentro
da própria empresa, incluindo a substituição de peças. Essa produção de peças é
realizada em indústrias especializadas locais.
São 65 empregados de diferentes especializações, incluindo técnicos e
engenheiros, além dos montado res que possuem ensino médio para trabalhar na
71
indústria. O deslocamento até a empresa é feito por conta dos próprios empregados,
mas são estimulados a virem vários no mesmo carro.
3.2 MATÉRIAS-PRIMAS UTILIZADAS NA INDÚSTRIA LOCALIZADA
Para que o produto final chegue ao mercado consumidor, a indústria
necessita da matéria-prima. O que se observa nas unidades industriais visitadas de
Venâncio Aires é uma divisão entre produtos in natura e pré -industrializados, de
acordo com a figura 12. A principal característica está na sua localização. A primeira,
está situada próxima da indústria e a segunda, tem uma procedência, em geral, de
lugares distantes.
O Rio Grande do Sul é o maior fornecedor de matérias -primas para a indústria
local, seguido de São Paulo, que tem o maior número de indústria de pré -
industrialização e que são utilizadas para a montagem e re -industrialização nas
unidades industriais da área em estudo.
Origem da Matéria-prima das indústrias da amostra
45%
9%
14%
9%
23%
RS
SC
PR
China
SP
FIGURA 12: Origem das matérias-primas nas indústrias visitadas em
Venâncio Aires/RS.
Fonte: Dados da amostra.Org: Traudi Heisler.
A importação de matéria -prima da China aqui é visível. As principais
justificativas dadas pelas indústrias mostram que o valor pago por ela é inferior ao
do produto nacional. As indústrias dão pr ioridade à redução de custos. Dessa
maneira, o valor do produto acabado se torna competitivo em relação aos seus
concorrentes.
72
No caso do fumo em folha, este chega à indústria apenas seco e pré -
classificado na propriedade rural. Até acontecer o processame nto, não utilização
de refrigeração para conservação do fumo em folha. Durante o processamento, é
feito a destala, retirada da nervura principal das lâminas de fumo por máquinas, sem
utilização do trabalho manual.
O acondicionamento do fumo processado, ou seja, limpo e picado, é feito em
caixas de papelão e durar por até 5 anos. Muitos clientes dessas fumageiras
mantêm pavilhões alugados na região, deslocando o fumo somente próximo à
fabricação dos cigarros, principal produto feito com folha. A matéria-prima da
indústria do tabaco é proveniente dos três Estados da região sul do Brasil. Santa
Catarina é o maior produtor de fumo do sul, mas as maiores áreas individuais se
concentram na região em estudo.
A produção de insumos orgânicos da Biovale para a ag ricultura orgânica tem
como principais matérias -primas o arroz e o melado de cana -de-açúcar. Como são
produtos naturais, estes provêm da região, de áreas produtoras de arroz e também
de outros Estados, como São Paulo. Esse tipo de atividade industrial é re cente e as
pesquisas ainda estão sendo realizadas. Mas a eficiência comprovada dos produtos
está sendo reconhecida pelos produtores.
O gado utilizado para o abate do frigorífico, em parte, é de pequenos
produtores rurais das proximidades, sendo o restante oriundo da região sul do
Estado. Ainda há a compra de carne do centro do país, para atender aos pedidos de
cortes mais consumidos no sul, por exemplo, a costela.
Na fabricação dos móveis para escritório da P Projeto, o couro é comprado no
Rio Grande do Sul e a madeira é originária de São Paulo, Santa Catarina e Paraná.
Os materiais utilizados na montagem das cadeiras são adquiridos de São Paulo,
Caxias do Sul e Bento Gonçalves e os tecidos, vindos de Porto Alegre.
Na indústria de materiais plásticos, toda a matéria-prima provém do Pólo
Petroquímico de Triunfo, no Rio Grande do Sul. Como se necessita de poucos
materiais para a produção, somente polipropileno e tintas, estes são encontrados
regionalmente.
73
Os materiais para a montagem dos produtos de refrig eração comercial da
indústria Refrimate são originários de diferentes regiões do Brasil, como São Paulo,
Paraná, Rio Grande do Sul. As lâminas de aço e outros materiais são importados da
China. Indagado porquê dessa importação, a empresa confirmou o custo menor do
produto em relação ao nacional. -se destaque à produção dos vidros curvos
localmente.
A indústria de eletrodomésticos Venax mantém uma forma peculiar de
produção. A maior parte das peças e dos componentes de seus produtos são
fabricados na própria empresa. Em torno de 90% dos materiais são de São Paulo e
10%, do Rio Grande do Sul. Como esta empresa possui também uma fundição,
complementa principalmente a fabricação de fogões à lenha.
A montagem de tratores e a fabricação dos geradores de energia e de
microtratores da Tramontini seguem muito próximo à refrigeração comercial. Os
tratores vêm parcialmente importados da China e a montagem acontece aqui. As
outras peças são de diversas regiões do Estado, além da fabricação de algumas
peças por outras empresas do município.
3.3 O MERCADO CONSUMIDOR E A PRODUÇÃO LOCAL
Um dos principais fatores de produção é o mercado em que os produtos são
comercializados. Na atualidade, com todas as facilidades de transportes e de
comunicação, a localização de uma indú stria não se restringe somente a esses
fatores.
As interações entre diferentes regiões acontecem constantemente. Uma
região especializada na produção de determinado produto exporta para inúmeras
regiões distantes ou próximas. Por isso, um produto de Venânc io Aires pode ser
encontrado no norte do Brasil ou, então, em alguma região da Europa.
A figura 13 mostra o destino dos produtos das empresas amostradas nesse
trabalho. Dentro das onze indústrias visitadas, o destino da maior parte da produção
é o Brasil, nas suas diferentes regiões. Sendo superior à metade da produção.
74
Os exemplos das indústrias que vedem seus produtos exclusivamente para o
país são as de implementos agrícolas. A produção do último ano foi em torno de
1800 produtos. Grande parte fica para a Região Sul, por possuir número relevante
de pequenos produtores que utilizam esses produtos.
As indústrias têxteis vendem sua produção nacionalmente. A primeira é
subcontratada para outras marcas, principalmente lojas de departamentos. Essa
indústria conta com uma produção de 2 mil peças por dia. A segunda tem uma
produção menor, faz a comercialização somente no Estado e não tem interesse na
venda para outros Estados. As indústrias gaúchas de vestuário, reconhecidas pelo
uso da tecnologia e da inovação, tiveram nessas características fatores
fundamentais para a sobrevivência do ramo nos últimos anos, tendo em vista que o
trinômio carga tributária, pirataria e concorrência asiática dizimaram boa parte das
fábricas do segmento no Rio Grande do Sul.
Esse último fator fez com que essas indústrias se tornassem competitivas,
inclusive importando equipamentos chineses. O Oriente possui o que há de mais
moderno em equipamentos para o setor têxtil. Como a mão -de-obra é barata e com
redução de impostos, o Oriente s e transformou num verdadeiro vilão para o produto
nacional.
A indústria gaúcha de plástico também tem inovado em negociações políticas
para aumentar a competitividade. O setor negociou com o Governo Estadual a
redução do Imposto sobre Circulação de Mercado rias e Serviços (ICMS),
comprometendo-se a ampliar a arrecadação, com o incremento das vendas. O
resultado foi extremamente positivo e serviu de exemplo para outros segmentos.
A Plásticos Venâncio Aires, que possui uma produção de 40 milhões de
rótulos por mês, comercializa no Brasil para diferentes tipos de indústrias, como
refrigerantes, laticínios, etc.
A venda de carne bovina e seus derivados se restringe somente ao Rio
Grande do Sul, sendo que o frigorífico está em busca da liberação e da autorização
para a comercialização além do Estado. A produção é de 130 cabeças de gado
abatidas por dia.
75
FIGURA 13: Mapa de fluxograma dos destinos da produção das indústrias amostradas de Venâncio Aires - RS.
Fonte: www.reference-guides.com/ Acesso em março 2008. Org:Heisler, T.
76
Devido às novas exigências do mercado consumidor, acredita -se que em
pouco tempo toda a carne será em cortes sem ossos, embalada a vácuo,
conservando, dessa maneira, por mais tempo o produto.
A carne é um dos prod utos mais tradicionais do Rio Grande do Sul. O
território das antigas charqueadas possui cerca de 700 abatedouros de gado
inspecionados, mantém o oitavo maior rebanho do país. É no Rio Grande do Sul
também que se registra o maior consumo per capita de carne do Brasil. Fato esse
que justifica a importação, principalmente, da costela, uma das partes mais
consumidas no Estado. E a venda de outras partes para frigoríficos da região, que
são autorizados a vender carne para outros Estados. É realizada a reinspeçã o, para
depois fazer a comercialização.
A América Central e os Estados Unidos são a segunda área a receber a
produção local, dando destaque aos países de fronteira com o Brasil. A Venezuela
adquire uma grande parte dos eletrodomésticos produzidos em Venânc io Aires. Os
fogões a gás são fabricados e enviados à Venezuela, onde são montados e
comercializados. Na realidade, a indústria local é subcontratada das empresas
venezuelanas, argentinas e uruguaias. Ainda há a exportação da marca própria para
esses países, não só de fogões, mas de outros eletrodomésticos.
São, no total, 26.000 mil peças, entre refrigeradores e fogões a gás por mês.
E 30.000 mil fogões à lenha por ano, muito utilizados na região sul do Brasil para
aquecer as casas.
A produção e distribuição de alimentos não poderia existir sem a refrigeração
comercial. É um segmento que vem se desenvolvendo rapidamente e de recente
incorporação no mercado da refrigeração. Com a introdução de novos componentes
e sistemas, as câmaras de resfriamento e f rigoríficas, balcões, expositoras de
bebidas e os demais equipamentos que contribuem para o bem -estar do consumidor
são parte do ramo metal -mecânico.
Um dos melhores exemplos de utilização da refrigeração comercial é a dos
alimentos pré-preparados ou congelados, que vêm ganhando cada vez mais espaço
na vida moderna. E a indústria local é um pólo reconhecido em outras regiões do
país nessa produção.
77
A Klima produz em torno de 400 peças por mês de produtos refrigerados e
cozinhas industriais sob encomenda. De ssa forma, tendo a necessidade de um
espaço maior para estocar a produção. A exportação para os Estados Unidos é de
produtos para a refrigeração comercial. Além deste, ainda exporta produtos para a
América Latina.
O fato de haver uma sazonalidade na produ ção diz respeito à venda para
regiões litorâneas do Brasil. Questionando as indústrias sobre o porquê das vendas
serem maiores no período que antecede o verão, estas responderam que os
estabelecimentos comerciais realizam a troca para receber os turistas q ue
costumam freqüentar o litoral brasileiro durante esta época do ano.
O crescimento expressivo da participação da agricultura orgânica no mercado
nacional e internacional e a exigência do cumprimento de padrões mínimos de
produção têm pressionado os produ tores na busca de alternativas para o manejo da
agricultura orgânica. Diante disso e de incentivos governamentais, o surgimento da
indústria de insumos orgânicos se fez de maneira quase natural.
A Biovale conquistou os mercados latinos para os defensivos o rgânicos. Os
países como Uruguai e Argentina recebem também as caldas orgânicas para
produção sem o uso de defensivos químicos. Alguns países da Europa estão
utilizando experimentalmente os produtos. No último ano foram produzidos mais de
140 mil litros de caldas orgânicas.
O Estado do Rio Grande do Sul é o segundo maior produtor de móveis no
Brasil e responde por cerca de 26% da produção nacional. É também o segundo
maior Estado exportador de móveis do país, responsável, em 2005, por 26,7% das
exportações do setor (MICT, 2006). Além disso, o Estado conta com três principais
regiões produtoras de móveis: Bento Gonçalves e arredores, Lagoa Vermelha e
arredores e Região das Hortênsias, sendo que o Município de Bento Gonçalves se
destaca como o principal produt or.
A maioria das empresas moveleiras do Estado fabrica móveis com base em
madeiras processadas medium density fiberboard (MDF), aglomerados e
compensados —, sendo muito poucas as que produzem móveis de madeira maciça
em larga escala.
78
A indústria de móveis para escritório P Projeto possui produção média, feita
em valores, em torno de R$ 100.000 por dia. Os produtos fabricados são móveis e
cadeiras para escritório, pré –montados ou sob medida. Os mesmos são produzidos
sob encomenda.
E por último, a Europa, que recebe somente um produto exportado,
perfazendo 95% da produção da unidade da Alliance One. O tabaco é beneficiado e
exportado para a fabricação de cigarros. Foi visitada somente uma indústria de
tabaco, mas não existem muitas diferenças em relação a outras unidades do mesmo
produto. O restante da produção é comercializado para países do Oriente. Esses,
não somente adquirem o produto, como também a tecnologia de produção. A
capacidade de produção de cada linha é de 14 mil quilos por hora, num total de 1
milhão de quilos por dia, 230 milhões de quilos por ano na Unidade de Venâncio
Aires.
O fato do tabaco não ser exportado para os Estados Unidos, que são donos
das indústrias estabelecidas na região, se porque aquelas que possuem
unidades de fabricação de cigarros, o fazem aqui no Brasil, por exemplo, Souza
Cruz e Philip Morris, conhecidas mundialmente (mas não possuem unidades em
Venâncio Aires). Na indústria local não existe fabricante de cigarros, apenas o
processamento do fumo.
A imigração alemã iniciou por volta de 1824, pela colônia de São Leopoldo,
próxima a capital do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. O fumo foi cultivado pelos
colonos desde a chegada destes e muito além de suas próprias necessidades. Em
1832, se instalaram pequenas fábricas d e charutos em São Leopoldo e Porto
Alegre.
113
Mas a maior expansão da cultura se deu em torno de Santa Cruz do Sul,
Venâncio Aires e Vera Cruz que acabou se tornando um pólo de produção em
escala mundial.
O maior interesse da produção do tabaco foi do Gove rno Imperial, visando à
exportação, pelo lucro do mesmo, e também o consumo interno. Houve grande
empenho com a distribuição de folhetos explicativos sobre o cultivo e a doação de
sementes.
113
Roche op.cit, p. 251
79
A cultura do fumo foi introduzida no Rio Grande do Sul com a fina lidade de
desenvolver as colônias de imigração e torná -la comercialmente viável. A produção
do fumo se no interior da pequena propriedade rural através da utilização da
força-trabalho familiar, tal como as demais culturas coloniais.
114
Tal situação se
mostra atraente até hoje, apesar da evolução e mudanças ocorridas nesse período.
Mas existem fatores que o próprios da região para promover o
desenvolvimento da cultura e beneficiamento durante o século XX. Cita -se, o
tamanho da propriedade (pequena propr iedade rural), uma mão -de-obra até certo
ponto especializada e implantação de infra -estrutura de beneficiamento. Tudo foi
determinante para que essa atividade agrícola se desenvolvesse.
A cultura do tabaco sempre foi associada a outros gêneros alimentícios utilizados
para consumo próprio e o excedente destinado á comercialização. Diante desse
aumento de produção, houve a necessidade de se certificar o tabaco, A indústria
fumageira do final do século XIX, além de incrementar o beneficiamento do fumo,
que até 1919 era exportado de forma bruta, passou a fazê -lo de modo mais
qualificado, através do emprego de processos mais modernos.
115
Uma das primeiras indústrias de grande porte a se instalar em Santa Cruz do Sul
foi a Souza Cruz, pertencente ao Grupo da Britis h Americam Tobacco. Ela veio para
Santa Cruz em 1918, A lém desta outras indústrias de capital local se constituírem na
região. A British Tobacco, nos anos 20, a impôs um padrão de beneficiamento para
as demais empresas e uma orientação para a agricultura d o fumo na direção
preferencial de determinadas espécies.
Com isso as outras empresas locais com vistas de participar da concorrência,
tiveram que adotar medidas parecidas, bem como novas técnicas para assim terem
oportunidade de competir, caso contrário e stes estavam sob ameaça de eliminação
do mercado.
O processo de industrialização da região do tabaco esteve e continua a estar
intimamente ligada a agricultura, esse sucesso possibilitou a exportação e o
estímulo ao desenvolvimento das atividades de benefi ciamento de produtos
114
Pesavento, 1988 p.194
115
Silveira, op.cit. p.67
80
primários, permitindo dessa forma o acúmulo de capital realizado pelos
comerciantes. As atividades de “exportação” do fumo possibilitaram a acumulação
de um excedente de capital nas mãos dos intermediários (comerciantes), a qual
proporcionou subseqüentemente as atividades industriais.
No nesse momento da chegada da BAT, havia uma corrida pelo domínio do
mercado, assim como a formação de um monopólio mundial. O truste do tabaco,
desde o dia de sua fundação, consagrou todos os esforços n o sentido de substituir,
em largas proporções o trabalho manual pelo trabalho mecânico. Nesse sentido,
comprou todas as patentes que tivessem qualquer relação com a preparação do
tabaco tendo, para tal fim, despendido somas enormes.
116
FIGURA 14: Recepção de fumo "in natura" na indústria Companhia
Brasileira de Fumo em Folha, em Santa Cruz do Sul.
Fonte: Anuário Brasileiro do Fumo 2007, AFUBRA.
Tudo isso dita um novo modelo a ser seguido não pela indústria, mas pelos
produtores que fizeram as devidas adaptações na produção do tabaco. Essa
situação permaneceu até as décadas de 20 e 30 do século XX. Havia poucas
empresas manufatureiras que estavam concentradas nas áreas produtivas da
cultura do tabaco e em grandes centros urbano s, como Rio Grande e Porto
Alegre,no estado do Rio Grande do Sul .
116
Lënin, V.I. O imperialismo: fase sup erior do capitalismo. Ed.4, São Paulo:Global, 1987
81
Até a década de 60 do século passado, se manteve esse panorama colocado
acima, a partir daí teve o início á crise na cultura do tabaco e na indústria, como
conseqüência das políticas de cré dito adotadas pelo governo, restringindo o mesmo.
A crise da indústria do fumo enraiza -se na política antiinflacionária do governo
federal, posta em prática desde 1962 e acentuada após 1964 com conhecidos
efeitos negativos sobre a indústria nacional.
117
Através dessas políticas houve um
processo de desnacionalização da indústria do tabaco, gerando uma nova
conformação do ramo agrícola, bem como uma estrutura do capital, vindo de outras
partes do mundo.
O processo de desnacionalização da indústria do fumo em Santa Cruz do Sul foi
por um lado, possibilitado pela crise da indústria fumageira, e por outro, pelas
condições favoráveis á entrada de capital internacional oferecidas pela política
econômica do governo, que ocorreram em períodos coincidentes.Com essa en trada
de capital estrangeiro, trouxe uma garantia de fornecimento de tecnologia, aumento
de produtividade e comercialização garantida.
118
Devido à existência dessa zona produtora consolidado, a atividade industrial do
tabaco, foi tomando o posto principal a tividade, onde a presença do capital
estrangeiro e as relações de produção se tornaram profundas. Com a entrada das
agrofumageiras multinacionais, alterou -se, substancialmente, o comportamento da
produção e do beneficiamento industrial do fumo... O resulta do imediato dessas
transformações foi um crescimento acelerado da produção e uma melhora
substancial do produto local.
119
A dominação também se processa com a comercialização da produção, retirando
o vendeiro, ou comerciante presente no inicio . E agora com a indústria comprando
diretamente do produtor e vendendo para compradores internacionais.
Foi a partir da internacionalização do setor e da chegada de empresas
multinacionais, na década de 1970 e com aumento significativo da produção e do
beneficiamento industrial do fumo, amplia ndo também a demanda de trabalho, que a
117
Montalli, op. cit. p. 64
118
Silveira, op. cit.
119
Ibidem, p. 82
82
atividade temporária teve acrescida a sua importância no processo de produção.
120
Isso tem gerado periferias com trabalhadores quase exclusivos da indústria, sendo
que o período em que não es tão na indústria sobrevivem de pequenos serviços
(biscates) até recomeçar a safra na indústria.
O processo de desnacionalização da indústria do fumo em Venâncio Aires,
como mostrado no Quadro 1, foi, por um lado, possibilitado pela crise da indústria
fumageira, e por outro, pelas condições favoráveis à entrada de capital internacional,
oferecidas pela política econômica do governo, que ocorreram em períodos
coincidentes.
Essa entrada do capital estrangeiro trouxe a garantia de fornecimento de
tecnologia, aumento de produtividade e comercialização. Devido à existência dessa
zona produtora consolidada a atividade industrial do tabaco foi se tornando a
principal, na qual presença do capital estrangeiro e as relações de produção se
tornaram profundas. A atividad e industrial acelerou o crescimento da produção. As
multinacionais aperfeiçoaram o processo produtivo, almejando mais qualidade e
principalmente, aumento da produtividade.
121
Destacam-se como principais características, a sazonalidade e a divisão
territorial do trabalho. Enquanto a produção rural (plantio, adubação, tratos culturais,
combate ás pragas, colheita e cura) é basicamente, realizada no segundo semestre
do ano. O beneficiamento industrial é realizado nos primeiros seis meses do ano
seguinte. A agroindústria fumageira, estrategicamente, combina assim a
expropriação do sobre trabalho da mão -de-obra familiar dos pequenos produtores,
quando da comercialização da safra com extração da mais -valia junto aos
trabalhadores safristas no beneficiamento industr ial.
122
Mas vale destacar que apesar de haver vínculo permanente, para o pequeno
produtor essa cultura oferece os maiores lucros se comparado com outros produtos
agrícolas, de forma que enfrentam o poder público para a permanência da produção
e comercialização. Ainda lembrando que as indústrias se concentram no
beneficiamento do fumo e na fabricação de produtos, como o cigarro.
120
Ibidem, p.147
121
Montalli, op. cit. p.75.
122
Ibidem, p.149
83
QUADRO 1: Quadro de desnacionalização da indústria fumageira de Venâncio Aires/RS.
Fonte: Silveira, op. cit. p.239. Org: Heisler, Traudi.
84
As exportações vêm mantendo um ritmo contínuo de crescimento, tornando cada
vez mais sólida a posição do Brasil de maior fornecedor mundial desse produto. Em
2004, foram exportadas 588 mil toneladas, que geraram receita d e US$ 1,49 bilhão;
em 2003, chegaram a 465 mil toneladas, com receita de US$ 1,13 bilhão.
123
A reconhecida qualidade do tabaco brasileiro tem permitido uma gradativa
ampliação do mercado, tan to em relação a clientes tradicionais como nos novos.
Atualmente, o Brasil exporta cerca de 85% da sua produção para mais de 100
países. Entre os principais compradores estão União Européia (40% do total),
Extremo Oriente (23%), Leste Europeu (13%), A rica do Norte (13%) e, ainda,
África, Oriente Médio e América Latin a. Individualmente, os Estados Unidos são o
maior cliente, embora fixem cota de 80.200 to neladas para o Brasil
124
.
Para as nações da União Européia, o aumento das exportações entre 2003 e
2004 ficou em 21,5%. Entre os principais clientes estão Alemanha, In glaterra,
Bélgica e Holanda. Para o Extremo Oriente, as vendas subiram, com crescimento de
61,5%, destacando-se China e Japão. Com países da África e do Oriente Médio, os
negócios aumentaram 47%, enquanto na América Latina com elevação de 32,7%.
Diante deste cenário, evidencia -se que houve incremento das exportações
brasileiras de fumo para todos os mercados.
125
O posicionamento do Brasil como segundo maior produtor de fumo e maior
exportador dessa matéria-prima gera conseqüências positivas para o País, em
especial à região Sul, que concentra a quase totalidade da produção nacional.
De acordo com a Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra), dos 1.188
municípios da região Sul, 759 ou 64% plantam tabaco. A maior participação
ocorre em Santa Catarina , onde 86% das 293 localidades estão envolvidas com a
atividade.
123
Anuário Brasileiro do Fumo, Santa Cruz do Sul:Editora Gazeta, 2005.
124
Ibidem
125
Ibidem
85
3.4 QUESTÃO AMBIENTAL E INDÚSTRIA LOCAL.
O resíduo industrial é um dos maiores responsáveis pelas agressões ao
ambiente. Alguns deles, como produtos químicos (cianureto, pesticidas, solvent es),
metais (mercúrio, cádmio, chumbo) e solventes químicos, ameaçam os ciclos
naturais onde são despejados. Na grande maioria das vezes, os resíduos sólidos
são amontoados e enterrados; os líquidos, são despejados em rios próximos. Os
gases são lançados sem tratamento no ar. Assim o ambiente e, conseqüentemente,
os seres que nele vivem sofrerão as conseqüências.
Predomina, em muitas áreas urbanas, a disposição final inadequada de
resíduos industriais. Por exemplo, o lançamento dos resíduos industriais perigosos
em lixões, nas margens das estradas ou em terrenos baldios, o que compromete a
qualidade ambiental e de vida da população.
Na área em estudo, a preservação do meio ambiente é levada a sério por um
grupo de empresários locais. A falta de um lugar para depositar os resíduos
industriais sólidos produzidos por algumas empresas do município motivou, em
1997, a criação da Fundação Ambiental de Venâncio Aires (Favan).
A iniciativa foi pioneira no Vale do Rio Pardo. A idéia de criar uma entidade
direcionada à preservação ambiental no município foi apresentada, primeiramente,
por dois empresários que possuem consciência ambiental, o que foi fundamental
para a concretização do projeto. A Favan é integrada pelas fumageiras Continental
Tobaccos Alliance (CTA ), Universal Leaf Tabacos, Alliance One do Brasil e
Brasfumo, pelas metalúrgicas Venax e Venâncio Aires, Móveis Projeto, Umbro e
Fundição Venâncio Aires (Faires).
Dessas, três foram entrevistadas para o trabalho. A fundação dispõe de uma
área de 18,5 hectares em que foram construídos dois pavilhões de 600 metros
quadrados cada um para armazenar os resíduos industriais sólidos das empresas
associadas. Na área da Favan, ainda foram plantadas 10 mil mudas de árvores
nativas.
A fundação mantém todo um trabalh o de análises periódicas no lençol
freático para verificar a qualidade da água. O serviço é realizado por técnicos de
86
uma universidade da região. Todo esse trabalho desenvolvido pela Favan pode ser
conferido pela sociedade local.
126
Os resíduos do abate (sa ngue, vísceras, sobras de gorduras e carcaças
condenados pela vigilância sanitária) dos bovinos do frigorífico entrevistado são
recolhidos por uma empresa da região, especializada no processamento e na
fabricação da farinha de osso. O recolhimento é feito diariamente, após terminado o
abate. O couro é vendido separadamente para empresas que fazem seu curtimento.
Quanto menos furos e cortes houver maior é o valor pago. um cuidado grande
em toda cadeia produtiva da carne na preservação do couro, desde a c riação até o
abate, além de ser um ramo industrial antigo, como vimos nos capítulos anteriores, e
ter alto valor “in natura”.
A Klima refrigeração faz o encaminhamento de seus resíduos, como o líquido
dos tanques de imersão, para outras empresas especializ adas em resíduos
industriais, autorizadas por órgãos ambientais. o produtos altamente poluentes,
com metais pesados utilizados para impermeabilizar carcaças de refrigeradores.
O reaproveitamento da água acontece através de tanques com filtros e também
da água da chuva. A indústria está localizada no perímetro urbano, não tendo um
espaço maior para acondicionar mais sistemas de tratamento. Com a contemplação
do projeto da ONU para redução de usos de CFC’s, a indústria passou a utilizar
somente gases ecológicos e materiais expansivos recicláveis.
Todo material reciclável é vendido para sucateiros devidamente autorizados a
fazer a coleta e a compra. Isto foi necessário para que a contemplação do projeto da
ONU fosse possível. Aqui são seguidas as regras int ernacionais de produção
industrial, assim como na produção orgânica (Biovale).
A Refrimate ainda não possui um sistema efetivo de gestão de resíduos. O
recolhimento do lixo reciclável é feito por catadores próximos à empresa. A mesma
está implantando uma forma de gestão de resíduos eficiente, devido à recente troca
da planta industrial.
126
Jornal Gazeta do Sul. Guia Socioeconômico 2004, p.60.
87
As indústrias de confecções têm poucos resíduos. Ambas fazem a doação dos
rejeitos de tecidos a entidades filantrópicas, como a Associação de Pais e Amigos
dos Excepcionais (APAE) local, para confecção de tapetes e outro artesanatos, e
que são comercializados pela entidade. Fios e demais resíduos são recolhidos pelo
serviço municipal de lixo.
88
4. ORGANIZAÇÃO ESPACIAL DE VENÂNCIO AIRES
A partir da revolução industrial no século XVIII, as cidades começaram a
adquirir os aspectos que apresentam atualmente, resultado, em parte, da
consolidação da produção industrial. Desde essa época, os lugares dominados ou
influenciados por esse sistema de org anização do trabalho humano passaram a
apresentar, como característica principal, a concentração de pessoas com o
desenvolvimento das fábricas.
A cidade, que anteriormente concentrava apenas atividades comerciais ou era
o lugar de concentração de poder pol ítico e militar, tornou-se também um espaço de
produção, transformando inclusive as formas de se organizar o trabalho no campo,
que teve de se reestruturar para abastecer as crescentes necessidades de alimentos
e matérias primas das cidades.
O crescimento físico da cidade, resultante do aumento econômico e
demográfico, se traduz em sua expansão, através de diversos equipamentos
urbanos. Muitas vezes, resultando em renovações urbanas, quando construções
existentes são substituídas por outras, mais adequadas às novas atividades
pretendidas, em locais dos quais são expulsas as atividades anteriores.
A industrialização permitiu que houvesse o alargamento econômico das
cidades, devido às economias de escala, que permitiram que a produção chegasse
aos mais diversos e longínquos lugares. As evoluções das técnicas, em conjunto
com a cultura do consumo, se tornaram fatores de grande importância no processo
de distribuição espacial da indústria.
A concentração das atividades industriais provocou uma reconcentração
espacial. A partir do momento em que a classe trabalhadora procura habitar regiões
próximas as fábricas, visando, dessa maneira, encurtar distâncias entre a indústria e
a casa.
A partir de 1970, os padrões de localização das indústrias começaram a se
alterar fortemente. Nos países de industrialização recente, após um histórico
processo de concentração industrial em um número limitado de cidades ou
89
metrópoles dominantes, vem ocorrendo, nas últimas décadas, o enfraquecimento
dos processos de polarização, com a em ergência de áreas industriais e rápido
crescimento em cidades de porte médio e pequeno.
127
No Brasil, o surgimento de novas áreas industriais foi em parte promovido
pelo crescimento da infra -estrutura econômica, dos transportes e das
telecomunicações, resu ltando na unificação do mercado nacional. Esse processo foi
determinante para que houvesse a descentralização industrial. Nesse sentido, se faz
urgente promover o entendimento da organização espacial.
Os estudos sobre a organização espacial mostram que ela é materialidade
social. Termo este utilizado por Corrêa e que, segundo ele, é uma dimensão da
totalidade social construída pelo homem. Isso faz parte da construção histórica local,
através da transformação do espaço e da sociedade.
128
Fazendo uma análise da organização do espaço urbano de Venâncio Aires,
podemos perceber que este ainda mantém muitos traço s de seu surgimento. A
figura 16 apresenta um zoneamento feito pelo poder público municipal. Juntamente
com o zoneamento, temos a figura 2 0, que mostra o crescimento do perímetro
urbano. Através da análise conjunta dessas figuras, teremos informações mais
detalhadas da organização espacial local.
O mapa utilizado foi adaptado para o presente trabalho, havendo o
aproveitamento do zoneamento realizado pelo poder público municipal. Esse
zoneamento coincide muito com a configuração empírica da cidade e a localização
dos equipamentos urbanos.
A área central ou Zona Comercial 1 concentra as atividades comerciais mais
relevantes, como agencias bancárias, lojas d e departamento, supermercados,
móveis e eletrodomésticos. É a parte mais antiga da cidade, onde começou a se
formar o núcleo urbano. Desde o princípio da colonização até os dias atuais, a área
central continua com a mesma função, a de ser referência para o comércio e a
prestação de serviços (figura 15).
127
Diniz, C. C. & Crocco, M. A. Reestrutração econômica e impacto regional: o novo mapa da
indústria brasileira. Nova Economia, v.6, n.1, Belo Horizonte, julho de 1996. p.78.
128
Corrêa, R. L. Organização espacial e região. SP: Atíca, 1987, p. 53.
90
Nos últimos anos, alguns pontos da área central m sofrendo
modernizações. Os prédios mais antigos estão sendo substituídos por novos,
surgindo a verticalização no intuito de promover a valorização imobili ária dessa parte
da cidade. A expansão dos serviços urbanos, localizados nessa área acontece de
forma lenta e esparsa para as demais regiões da cidade.
FIGURA 15: Igreja Matriz São Sebastião Martir, na área central da cidade.
Fonte: Programa Google hearth; acesso em maio de 2008.
A zona comercial 2 ou “ZC2” representa as áreas de comércio recentemente
surgidas, ao longo de ruas que servem de ligação para áreas residenciais de
trabalhadores (figura 16). Estão localizadas nos bairr os mais povoados e que nos
últimos anos tiveram um grande número de novos imóveis. Estão próximas de áreas
industriais. O tipo de comércio é de lojas de confecções, supermercados, vídeo
locadora, etc.
A Zona Residencial Comercial “ZRC” se localiza em torno da área central. É
onde estão as residências de alto padrão e o comércio dos mais variados tipos. É
uma área que se formou a partir de 1960, quando as residências eram de grandes
comerciantes, empresários e prestadores de serviços, como médicos e advogado s.
Nessa zona, encontramos uma distinção acentuada do poder aquisitivo dos
proprietários, revelando, dessa forma, uma segregação residencial, se a
compararmos com as zonas criadas recentemente e que estão localizadas aos
92
redores das antigas indústrias. Aqui foi onde a atividade industrial se iniciou e os
seus resquícios ainda se encontram pres ervados. Alguns prédios ainda são
utilizados por pequenas indústrias.
FIGURA 17: Imagem da Zona residencial e comercial de Venâncio Aires.
Org: Heisler, Traudi.
A Zona Mista ou ZM concentra a localização de indústria dentro de ár eas
residenciais. Estas surgiram numa época em que as residências eram poucas e não
havia uma definição clara das áreas especiais para determinada atividade. São
indústrias que surgiram nos anos de 1970 e que hoje ocupam partes consideráveis
da área urbana. Com o tempo, a população trabalhadora foi se instalando nos
redores dessas indústrias. Uma delas é a Alliance One, que se localiza na área
urbana residencial. A mudança da planta industrial para outra área é inviável pelo
tamanho da mesma. No mapa, ela e stá localizada no bairro Macedo.
Na zona Residencial 3 ou ZR3, se encontra a área de residências de alto
padrão, surgida nos últimos dez anos. É uma área adicional da ZRC, que foi se
valorizando. É onde os novos empresários e prestadores de serviços escolh eram
para fixar residências. Consultando num jornal local o valor de alguns dos imóveis
dessa zona, estes vão de R$ 250 a R$ 500 mil reais.
A Zona Residencial 1 ou Zr1 corresponde a áreas adjacentes à ZRC. São
espaços de ocupação residencial, pequenas ofi cinas e indústrias, além do campus
93
da Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC). E, futuramente, haverá ali a
instalação de uma escola técnica federal.
A área da Unisc foi incorporada em 1996 e localiza -se ao longo da RS 287. O
avanço na ocupação desse esp aço deve-se à instalação do campus da
Universidade de Santa Cruz do Sul. A partir dessa zona de expansão é que o
perímetro urbano está se concentrando, devido às atividades de prestação de
serviços e às educacionais de nível superior e técnico estarem se i nstalando, pois
existe uma demanda considerável para esse tipo de serviço.
A Zona Residencial 2 ou ZR2 concentra as áreas residências de menor valor.
Além de serem lugares periféricos de trabalhadores das indústrias locais.
Concentram-se os loteamentos de moradias populares promovidos pelo poder
público, bairros próximos às maiores indústrias, a fumageiras que contratam um
número grande trabalhadores durante a safra.
Este setor se caracteriza por uma área concentradora da população menos
favorecida financeiramente, devido ao preço dos terrenos. Incluem -se algumas áreas
loteadas clandestinamente e que não possuem infra -estrutura completa. Além de
serem áreas afastadas do centro urbano de Venâncio Aires.
A Zona Industrial ou ZI está localizada ao longo da RS T 453, onde está
incluído o Distrito Industrial (conforme figura 11) e outras indústrias. Esta zona da
área urbana possui alta concentração industrial e também loteamentos residenciais
no seu entorno. O Distrito Industrial está infra -estruturado com todos os serviços
necessários, principalmente no que diz respeito ao escoamento e a entrada de
matérias-primas nas indústrias.
As indústrias que se localizam no Distrito Industrial são de médio e pequeno
porte. Uma definição para este tipo de empreendimento mos tra que este é
caracterizado como um agrupamento de empresas, geralmente pequenas, no qual
os recursos compartilhados são de vários tipos, entre diversos agentes econômicos
locais, favorecendo a produção local e a prática da inovação. Estão concentradas
em torno do Distrito Industrial fábricas metal -mecânicas (figura18), de alimentos, de
bebidas e as fumageiras, que são as maiores plantas industriais do município. As
94
novas indústrias estão aproveitando esta área para instalar suas plantas no intuito
de aproveitar principalmente a localização.
FIGURA 18: Indústria instalada no Distrito Industrial.
Fonte: www.venax.com.br; acesso em maio de 2008.
E, por último, a Zona Especial ou ZE, onde s e localiza o aeroclube da
cidade. Atualmente utilizado para cursos de pilotagem, pouso e decolagem de
pequenas aeronaves .
Aliada à figura 16 sobre o zoneamento, tem -se a figura 20, que mostra a
expansão do perímetro urbano, o surgimento da vila e o adicio namento de novas
áreas ocupadas na formação do espaço urbano de Venâncio Aires. A formação do
mesmo é regulamentada por lei municipal, sendo que foi nas leis de criação do
perímetro urbano que o mapa foi realizado.
O primeiro núcleo urbano e sub -urbano foi regulamentado em 1952. É onde
hoje se localizada a parte mais central e antiga da cidade. A forma da malha urbana
das cidades de colonização alemã foi idealizada pelo Governo Nacional, que utilizou
técnicos lusos que fizeram os desenhos de acordo com nor mas das colônias de
Portugal. Este tipo de planejamento urbano ocorreu em várias cidades do Rio
Grande do Sul, como São Leopoldo, Santa Cruz do Sul e Venâncio Aires.
129
129
Roche, J. op. cit. p.218.
95
A planta dessas cidades possui características próprias de cidades pequenas,
com ruas retilíneas que se cortam paralelamente em ângulos retos, observando a
figura 05. O lugar para se estabelecer a cidade ou a sede era alguns lotes rurais
reservados, delimitados geometricamente e divididos em quadrados iguais e
contíguos de 100 metros de lado. Juntamente com as medições das quadras da
cidade, também eram medidas as quadras menores, reservadas para as praças, que
tinham 20 x 50 metros.
130
Toda essa rigidez na demarcação e construção das cidades fez com que elas
tivessem pouca expressão própria ou Germânica, devido às normas oficiais e aos
códigos oficiais, que condicionavam a forma da cidade. A figura 05 mostra uma
parte da planta urbana do município de Santa Cruz do Sul, que como Venâncio Aires
também possui um traço semelhante, no qual se destac am algumas características,
como o alinhamento rígido das casas, que favorecia o surgimento de grandes jardins
e também a arborização das ruas.
131
FIGURA 19 - Planta da cidade de Santa Cruz do Sul/ RS.
Fonte: Günter Weimer (org.), Urbanismo no Rio Grande do Sul.
Organização: Traudi Heisler
130
Roche, J. op. cit. p. 218 .
131
Weimer, G. Urbanismo no Rio Grande do Sul, Porto Alegre: Ed.UFRGS, 1992.
96
As manchas de 1970 são compostas por quatro áreas alongadas que se
constituirem de ocupações ao longo de vias importantes da cidade, uma continuação
da área suburbana realizada nas principais saí das da cidade.
As áreas localizadas a oeste se constituem de ligações feitas entre a zona
rural e a zona urbana do Município. Essas são vias de acesso e saídas da cidade,
muito utilizadas para o escoamento dos produtos agrícolas, principalmente erva -
mate e o fumo, que são levados para as indústrias de beneficiamento na cidade.
Devido aos grandes fluxos dessas vias, esses trechos começaram a ser valorizados,
acelerando a ocupação.
Atualmente as funções dessas vias de trânsito rodoviárias começaram a
mudar. Além de serem usadas como ligação entre o meio rural e meio urbano,
servem de conexão para bairros surgidos recentemente. Os arredores já foram
tomados pela ocupação e foram incorporados ao perímetro urbano e servem de
ligação intra-urbana.
A mancha urbana, que corresponde ao ano de 1991, está composta por
várias áreas. A mais importante corresponde à área onde atualmente está instalado
o Distrito industrial, localizado ao sul da cidade, ao longo da RST 453. O Distrito
Industrial está infra-estruturado com todos os serviços necessários, principalmente
no que diz respeito ao escoamento e à entrada de matérias -primas nas indústrias.
Por estar localizado próximo a um entroncamento de duas rodovias estaduais, as RS
453 e 270, o acesso é fácil e evita maiores tr anstornos.
As outras manchas de 1991, conforme mostra o mapa da figura 13,
correspondem a uma ocupação contínua exercida pelos migrantes que a cidade de
Venâncio Aires atrai. Devido à especulação imobiliária, essas áreas novas possuem
grande interesse pelo seu baixo preço, quase sempre acessível a trabalhadores de
pouca remuneração.
98
A mancha de 1998 faz parte das últimas áreas incorporadas ao perímetro
urbano da cidade de Venâncio Aires. Este setor surge em função de loteamentos
particulares feitos para valorizar o solo urbano. Essa área é de característica rural,
pois se localiza numa faixa de transição do urbano para o rural e está próxima à
área industrial 2.
E a última mancha incorporada corresponde ao ano 2000. Este setor se
caracteriza por uma área concentradora da população menos favorecida
financeiramente, devido ao preço dos terrenos. Está localizado nas proximidades do
Distrito Industrial.
4.1 CARACTERÍSTICAS DA MÃO DE OBRA NAS INDÚSTRIAS DE
VENÂNCIO AIRES/RS.
Os novos requisitos exigidos para a contratação da mão -de-obra têm em vista
os processos produtivos e organizacionais, b em como os impactos da situação de
aumento da competitividade e de mundialização das economias. Verifica -se, dessa
forma, que as tecnologias da informação e das comunicações têm conduzido à
industrialização dos serviços, à inovação organizacional e a novas formas de
comercialização de bens e serviços.
O emprego nas indústrias manufatureiras está declinando devido a certas
formas de reorganização da produção, que afetam os níveis de emprego. A
intensificação do trabalho, a racionalização da produção e do in vestimento e a
mudança técnica são visíveis nas indústrias de Venâncio Aires.
Venâncio Aires e Santa Cruz do Sul, as duas maiores cidades do Vale do Rio
Pardo, foram responsáveis por 56% das empresas e por 59% dos empregos
industriais criados na região, en tre 1996 e 2003. Em Venâncio Aires, o desempenho
foi respectivamente de 55,13% e 11,29%. Devido à economia diversificada,
estruturada não apenas no setor fumageiro, mas também no setor metal -mecânico e
metalúrgico, que se manteve em 2003 como o segundo ma is importante,
respondendo por 18,69% das empresas e por 25,81% dos empregos industriais na
região.
132
132
Silveira, R. L., op. cit. p. 478 e 479.
99
A tabela 1 mostra o número total de indústrias durante seis décadas e o
número de empregados nessas indústrias. O aumento é considerável de 1980 até
1990, quando houve um grande incremento de postos de trabalho em função da
indústria internacional do tabaco.
Tabela 1 - Número de indústrias e pessoas ocupadas em ralação à população
total entre 1940 e 2000 em Venâncio Aires/RS.
ano
número de indústrias
número de empregados
população total
1940
80
309
28.205
1950
161
759
31.405
1960
212
1.053
39.612
1970
170
2.374
43.734
1980
128
4.390
48.274
1990
211
12.252
55.482
2000
235
27.637
61.234
Fonte: Censos IBGE, 1940 a 2000.
Durante a década de 1980 aconteceu a instalação do distrito industrial, a
reativação da indústria de eletrodomésticos e de outras. Na amostra do presente
trabalho, o maior mero de criação de indústrias ocorreu na década de 1990. As
mais recentes, em sua maiori a, são menores e possuem um número menor de
empregados.
4,4
4,6
4,8
5
5,2
5,4
5,6
5,8
6
mero de indústrias
Local de moradia dos trabalhadores.
na região
próximo a indústria
FIGURA 21 - Local de moradia dos trabalhadores das indústrias amostradas de
Venâncio Aires/RS.
Fonte: Dados da pesquisa de campo. Org: Heisler, Traudi.
Utilizando os dados fornecidos pelas onze indústrias amostradas neste
trabalho, tem-se a figura 14, que mostra o local de moradia dos trabalhadores. As
100
mesmas não possuem precisamente o número de funcionários moradores de cada
bairro. A maior parte das indústrias confirmou qu e seus trabalhadores residem
próximos, não sendo necessário a utilização de transporte público para chegar ao
trabalho. As que utilizam mão –de–obra da região são as indústria com maior número
de empregados e que fornecem vale transporte ou contratam empres as para fazer o
deslocamento de seus empregados.
Algumas indústrias menores argumentaram que seus empregados não
utilizam transporte público, pois os horários disponibilizados pelas empresas não
condizem com o horário das indústrias. Sendo que, dessa form a, se vêem sem
muitas alternativas. Muitos dos horários de linhas são adaptados ao funcionamento
das indústrias do tabaco; os horários das mesmas são diferentes das outras
indústrias.
Os bairros dos trabalhadores são aqueles que foram referidos
anteriormente, quando analisada a organização da cidade. São as zonas
residenciais 1 e 2, onde se localizam a maior parte das habitações de rendas
inferiores.
A figura 15 diz respeito à sazonalidade da produção. As indústrias de tabaco
e de refrigeração comerci al possuem períodos em que são contratados funcionários
temporários. Em relação ao fumo, esse não deve ficar muito tempo exposto às
intempéries climáticas, precisando ser acondicionado corretamente para não perder
suas características.
0
1
2
3
4
5
6
7
8
mero de indústrias
Sazonalidade da produção industrial.
sim
não
FIGURA 22 - Sazonalidade da produção e contratação de funcionários das
indústrias amostradas em Venâncio Aires/RS.
Fonte: Dados da pesquisa de campo. Org: Heisler, Traudi.
101
As indústrias de refrigeração comercial têm uma produção acentuada no
período que antecede o verão. Por não possuírem estoque e realizarem a produção
de acordo com as vendas esse período têm um aumento considerável na
contratação de mão–de–obra. Os eletrodomésticos de linha branca são produzidos e
estocados, inclusive por serem exportados. Os fogões à lenha tem um período maior
de vendas antes e na entrada do inverno.
Estas indústrias fazem a produção contínua durante o ano, sendo que a
necessidade de contratar funcionários temporários acontece sem muita freqüência.
As indústrias têxteis fazem as entregas sempre antes de iniciar uma nova estação.
Durante a estação, fazem a confecção da próxima estação.
102
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nos propusemos aqui a realizar um estudo da sociedade local, partindo de
sua formação sócio-espacial colonial. De acordo com as informações históricas
levantadas, a primeira consideração diz respeito à colonização alemã de grande
parte do município, que deu características peculiares ao desenvolvimento local.
A formação histórica e ma terialista da área em estudo se insere no processo
de colonização da região sul do Brasil. Num Estado onde a atividade econômica
principal era a agropecuária, o surgimento de uma nova forma de produzir e
abastecer as grandes propriedades, através de pequen as porções de terras, parecia
não se concretizar.
Passados muitos anos, o que vemos são áreas altamente industrializadas,
com concentração populacional e economicamente desenvolvidas. No primeiro
momento, os alemães trouxeram na bagagem um cenário de fo rmação feudal, a
partir de suas relações.
No segundo momento, a partir da instalação de inúmeras indústrias,
fomentadas pelo capital comercial, passamos a uma economia baseada na
capitalização industrial. O desenvolvimento de todo esse processo faz com que
Venâncio Aires, atualmente, integre o pólo mundialmente reconhecido das indústrias
fumageiras.
A rede de comércio, posteriormente formada e que serviu para fomentar o
desenvolvimento das atividades industriais, foi que impulsionou não a indústria
regional como estadual. As áreas de maior concentração industrial estão nas zonas
colonizadas por alemães e italianos.
Não podemos negar que a cultura do fumo foi de suma importância para o
atual panorama da indústria local. Além deste, outros tipos de indústria s, instaladas
no passado e que acabaram sendo substituídas pela modernização dos produtos, a
erva-mate e a banha de porco, também tiveram sua importância.
Atualmente, as indústrias do tabaco são as maiores geradoras de divisas
fiscais e movimentam intensam ente o comércio local. A maior geração de empregos
103
se concentra na indústria, ainda que sazonalmente. A principal consideração a fazer
é sobre a população rural. Em torno de 25 % da população total se concentra no
meio rural. Sem a cultura do tabaco, este percentual seria bastante reduzido.
Fazendo a comparação com outras culturas, esta é a mais lucrativa, pois não a
necessidade de grandes porções de terras e a mão de obra utilizada é a familiar.
O processo de desnacionalização, que ocorreu por um períod o na indústria do
tabaco, extinguiu a indústria de capital nacional e/ou local. A partir de 2000, novas
unidades de processamento de capital misto ou nacional surgiram. Adquirem o fumo
através de compradores independentes e fazem a venda para grandes indús trias.
São pequenas indústrias. Têm um número pequeno de funcionários e atendem
somente na região.
Mas as indústrias fumageiras do Rio Grande do Sul estão enfrentado
dificuldades em relação à desvalorização do cambio, pois elas exportam quase que
totalmente sua produção. O não ressarcimento de créditos de exportação pelo
governo do Estado está provocando a transferência das mesmas para Santa
Catarina.
A metalúrgia, outro ramo de atividade muito presente na área em estudo, não
surgiu recentemente. As primei ras indústrias do ramo foram de fogões à lenha.
Iniciaram suas atividades na metade do século XX e o enfraquecimento do mercado
deste produto fez com que houvesse o fechamento de unidades industriais e a
criação de novos produtos e ramos, como a refrigera ção comercial.
A especialização do ramo de refrigeração comercial fez com que fosse
reconhecido um pólo regional de produção e tecnologia na área. A união de
empresários, em busca de novos resultados, foi fator fundamental para o sucesso
dos produtos. Aqui, vale incluir que o início se deveu à necessidade de fornecer
equipamentos às indústrias do fumo, na década de 1990.
Nas atividades metal -mecânicas pode-se observar sua inserção no comércio
mundial, através da compra da matéria -prima de outros países. Uma estratégia de
competitividade entre elas, pela redução do custo de produção e o aproveitamento
de ramos ainda pouco desenvolvidos no Brasil.
104
O reflexo da implantação da refrigeração comercial está agora numa fase em
que necessidade de empregado e da cr iação de cursos técnicos. Um primeiro
passo está sendo dado com a escola técnica federal, que possui cursos de formação
para áreas de metalurgia e refrigeração. Em função de trabalhadores com
experiência ou especializados, se fez necessário a implantação d esse tipo ensino
técnico.
As áreas recentemente incorporadas ao espaço urbano de Venâncio Aires.
Resultam de sua atual condição econômica, diante da consolidação da agroindústria
fumageira, metalúrgia e de confecções. A valorização de imóveis está tornando a
cidade cada vez mais segregada, principalmente por trabalhadores com formação
superior, que possuem rendimentos maiores e que têm privilégios na localização de
suas casas. São áreas próximas à região central de comércio e prestação de
serviços.
O crescimento da população, principalmente na área urbana, não se deveu
somente à migração rural urbana, mas às migrações feitas em busca do trabalho
nas indústrias da cidade. Primeiro pela indústria fumageira, que tem necessidade de
um grande número de colaborado res, sem especialização ou experiência. E pelas
indústrias metal-mecânica e de confecções, que têm necessidade, principalmente,
de especialização.
Existem muitas indústrias únicas, que se instalaram como fornecedores para
outras indústrias. Exemplos são a fabricação de vidros curvos para a refrigeração
comercial, a usinagem de precisão para a indústria mecânica, as fibras de carbono e
vidro para a metalurgia. Todas essas e mais outras formam um quadro diversificado
da pequena indústria local.
No âmbito político, os incentivos para a instalação de novas unidades
industriais no município são maciços. Das mais variadas formas, por projetos de lei e
obras de infra-estrutura e créditos para o financiamento.
A localização das indústrias em Venâncio Aires, as sim como na maioria das
cidades industriais, contribuiu para organização espacial local. Os bairros de
trabalhadores estão próximos das mesmas ou, então, nos redores do perímetro
urbano.
105
A configuração da cidade é muito parecida com as de estudos feitos p or
vários pesquisadores em geografia urbana, mostrando as diferentes localizações
dos serviços, bairros residenciais de distintos padrões econômicos, possíveis áreas
de crescimento e localização das zonas industriais.
Desta forma Venâncio Aires é parte im portante no desenvolvimento
econômico regional quanto nacional. Durante o período analisado, observou -se que
a formação do espaço e da sociedade se fez através de um conjunto de variáveis de
distintas escalas geográficas, articuladas entre si e que configu raram a organização
e o uso desse espaço.
Ao longo desse processo da formação sócio -espacial, estavam lado a lado o
antigo e o novo, em constante adaptação. Esse movimento é responsável, em
parte, pela continua mudança da sociedade de Venâncio Aires, resul tando, dessa
maneira, na sua atual organização espacial.
106
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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110
ANEXOS
111
QUESTIONÁRIO 01
Direcionado para a administração/gerencia das indústrias visitadas:
1) Razão social da empresa. Filiais e empresas que compõem o grupo
empresarial.
- Data de fundação
- Ramos de atividades
2) Breve histórico da indústria.
3) Capital inicial emprega do
- Sociedade %
- Empréstimos
4) Tipo de mão-de-obra empregado no início das atividades.
- Técnicos especializados
- Familiar
5) Quais eram os primeiros equipamentos utilizados na empresa.
6) Quais os produtos inicialmente produzidos?
- Houve pioneirismo do pro duto
7) Alterações na produção (produto) desde sua fundação?
8) Houve incorporação de outras empresas (fusões e aquisições)
- Características (se houve)
9) Sobre a mão-de-obra
- Quantos postos existem
- È emprego sazonal ou permanente
- Demais características (d e onde vem e como se desloca)
10)Principais fatos da evolução da empresa.
- Conquistas (mercado, prêmios de qualidade)
- Investimentos
112
QUESTIONÁRIO 02
Entrevista direcionada á visita ao chão de fábrica:
01)LINHA DE PRODUÇÃO:
- Quantidade.
- Produção.
- Origem da matéria-prima.
- Destino da produção
02)EQUIPAMENTOS
- Tipo.
- Origem.
- Idade média dos equipamentos/ durabilidade
- Utilização de energia.
03)PESQUISA E DESENVOLVIMENTO
- Gastos.
- Laboratórios.
- Publicação.
04)MERCADO
- Lançamento de novos produtos (perspectiva)
- Qual a posição dos produtos perante os concorrentes.
- Estratégia de comercialização.
- Relações com os clientes e fornecedores de matéria -prima.
05)RECURSOS HUMANOS
- Nível de alfabetização
- Representação sindical
- Flexibilidade de postos (polivalência)
- Estabilidade de mão-de-obra.
06)ESTRATÉGIAS
- Gestão de produção.
- Modernização das instalações e equipamentos.
- Técnicas organizacionais.
- Quais os resultados obtidos pelas técnicas organizacionais.
- Competitividade dos produtos (preços, entrega,devolução)
07)Participa como subcontratada de clientes:
- Em quais produtos.
- Desde quando:
Livros Grátis
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Milhares de Livros para Download:
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