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Capa: O homem vitruviano, ícone utilizado geralmente para
simbolizar a simetria matemática e o conhecimento, está sendo
utilizado neste desenho para representar a busca do conhecimento no
âmbito da geografia, que sofre influências do ambiente e consegue
interferir na qualidade do mesmo a depender da forma como foi
desenvolvido. Esse conhecimento geográfico almejado sofre vários
tipos de influência fazendo com que o ser humano, neste caso, o
agente de saúde, tenha condições de observar melhor alguns
elementos da paisagem do que outros, além de fornecer condições
mais favoráveis para desenvolver determinadas ações no território
em detrimento de outras que nunca serão efetivadas. Desta forma,
esse conhecimento desenvolvido pode ser visualizado de maneiras
completamente diferentes a partir do agente de saúde pesquisado e
do ambiente em que este trabalha, sendo por isso escolhida também a
representação do caleidoscópio para demonstrar essa variedade de
pontos de vista sobre temas semelhantes. A junção do Vitrúvios
(busca do conhecimento geográfico) e da representação do
caleidoscópio (que mostra a variedade de conhecimentos) geram
alguns espaços desconexos, representado pelos estilhaços do vitral
que compõe a imagem do Vitrúvius e que faz parte do caleidoscópio,
o qual, demonstra que tais conhecimentos podem se tornar frágeis a
partir das inter-relações existentes.
Idéia da capa e texto: PEREIRA, MPB; Desenho: SOUZA JÚNIOR, XSS.
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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
FACULDADE DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA
Campus de Presidente Prudente
CONHECIMENTO GEOGRÁFICO DO AGENTE DE
SAÚDE:
COMPETÊNCIAS E PRÁTICAS SOCIAIS DE PROMOÇÃO E
VIGILÂNCIA À SAÚDE NA CIDADE DO RECIFE - PE
Martha Priscila Bezerra Pereira
Orientador: Prof. Dr. Raul Borges Guimarães
Tese apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Geografia da Faculdade de
Ciências e Tecnologia da UNESP – Presidente
Prudente -, na área de concentração Produção
do espaço geográfico como requisito parcial
para obtenção do título de Doutor em
Geografia, sob a orientação do Prof. Dr. Raul
Borges Guimarães.
Presidente Prudente
2008
Pereira, Martha Priscila Bezerra
P493c Conhecimento geográfico do agente de saúde: competências e
práticas sociais de promoção e vigilância à saúde na cidade do Recife -
PE / Martha Priscila Bezerra Pereira. - Presidente Prudente : [s.n], 2008
vii, 255 f.
Tese (doutorado) - Universidade Estadual Paulista, Faculdade de
Ciências e Tecnologia
Orientador: Raul Borges Guimarães
Inclui bibliografia
1. Competências e habilidades sociais. 2. Conhecimento geográfico.
3. Geografia da Saúde. I. Autor. II. Título. III. Presidente Prudente -
Faculdade de Ciências e Tecnologia.
CDD(18.ed.) 910
Ficha catalográfica elaborada pela Seção Técnica de Aquisição e Tratamento da Informação –
Serviço Técnico de Biblioteca e Documentação - UNESP, Câmpus de Presidente Prudente.
.
Todo ponto de vista é a vista de um ponto
...Cada um lê com os olhos que tem. E
interpreta a partir de onde os pés pisam.
Todo ponto de vista é a vista de um ponto.
Para entender como alguém lê, é necessário
saber como são seus olhos e qual é a sua
visão de mundo. (...).
A cabeça pensa a partir de onde os pés
pisam. Para compreender, é essencial
conhecer o lugar social de quem olha. Vale
dizer: como alguém vive, com quem convive,
que experiências tem, em que trabalha, que
desejos alimenta, como assume os dramas da
vida e da morte e que esperanças o animam.
Isso faz da compreensão sempre uma
interpretação....
(Leornardo Boff)
.
À Xisto, meu namorado, amigo, colega
de profissão e marido, pelo apoio que tem me
oferecido nesses últimos 9 anos.
E aos agentes de saúde que têm
contribuído tanto pela saúde da sociedade, e
que, muitas vezes, nem são percebidos pela
maioria dos munícipes.
AGRADECIMENTOS
Leonardo Boff em seu livro “A águia e a galinha” fala sobre a necessidade de
conhecer o lugar social de quem olha para compreender e interpretar como esse
alguém lê; como são seus olhos; e qual a sua visão de mundo. Diante dessa afirmação,
gostaria de apresentar uma faceta do meu olhar e da minha visão de mundo a partir das
pessoas com quem convivi; das experiências que vivenciei; e de como consegui
superar algumas etapas desse período do doutorado.
Dessa forma, gostaria inicialmente de agradecer a Deus, por ter sido fonte de
inspiração, na medida em que “dá a sabedoria (e) da sua boca vem o conhecimento e o
entendimento”; por ter me auxiliado nos momentos de ansiedade, estando presente
através de sua palavra, pois segundo ele mesmo “a ansiedade no coração do homem o
abate, mas a boa palavra o alegra” e por ter me auxiliado a vencer cada desafio durante
o doutorado (Prov. 2:6; 12:25). Com base nisso, acredito fielmente que as minhas
conquistas, especialmente a relacionada a este momento, são frutos dessas
providências. Acredito então que esse mesmo Deus foi o responsável por ter me
aproximado de pessoas e de oportunidades; fornecendo a inspiração e a motivação
necessária para realizar um trabalho capaz de trazer alguma contribuição à sociedade e
por ter me dado condições para terminar, quando parecia que não havia mais fôlego
para realizar tal intento.
Em um contexto mais amplo, no que se refere às pessoas e às instituições,
gostaria de agradecer aos que desde 2002 têm me dado forças para retomar uma
história que parecia terminada aos olhos de alguns profissionais e até amigos, seja
através do apoio na elaboração do projeto inicial; seja durante o doutorado, estando
presentes e, de alguma forma, fornecendo suas opiniões e apoio afetivo e profissional.
Amplio os agradecimentos aos que me acolheram e me ouviram durante este período,
fazendo algo simples se tornar essencial assim como aos que através de sua instituição
forneceram informações importantes à concretização da pesquisa.
Agora, de forma mais específica, gostaria de agradecer ao meu orientador, Raul
Borges Guimarães por ter aceitado, mesmo ainda sem me conhecer, durante uma
conversa informal realizada no XII ENG em João Pessoa, ser meu orientador, caso eu
chegasse a ingressar no programa de pós-graduação em Geografia na UNESP em
Presidente Prudente – SP. A ele, sou grata então por ter acreditado e ter tido a
paciência necessária para orientar-me nessa empreitada que é fazer uma tese de
doutorado e, em especial, pelas conversas que me reanimaram e me ajudaram a
concluir esta pesquisa assim como por sua personalidade criativa que tanto influenciou
em diversas decisões tomadas acerca da estrutura do trabalho.
Agradeço também ao apoio financeiro da CAPES, o qual foi imprescindível para
que eu pudesse fixar residência em Presidente Prudente, participar de diversos eventos
fundamentais à pesquisa e, principalmente, realizar as diversas idas à cidade do Recife
para realização da atividade de campo. Desta forma, a minha gratidão aos que
acreditam e lutam por essa política de auxílio aos pós-graduandos através dos diversos
Órgãos que apóiam o desenvolvimento científico auxiliando em algo tão importante
para o pesquisador: fornecimento das condições para se realizar a pesquisa.
Agradeço igualmente pela oportunidade de ter participado do GAsPERR, nos
primeiros dois anos do doutorado, e do CEMESPP na fase final do curso. A
participação nesses grupos proporcionou diversos momentos de aprendizado e
crescimento profissional decorrente da troca de experiências com profissionais e
alunos de diferentes cursos intercalados com momentos agradáveis de descontração,
nos quais foram firmados laços de amizades. Acrescento ainda um agradecimento
especial pela oportunidade de participar da comissão editorial da revista Formação,
cuja experiência irá, com certeza, ser fundamental em um futuro próximo.
Gostaria também de ressaltar a importante convivência com os professores do
programa de pós-graduação em Geografia, os quais, em vários momentos, me
auxiliaram na pesquisa assim como na realização de atividades paralelas dentro do
programa ou mesmo pelo apoio amigo em vários momentos. Ao professor Bernardo e
família, pela atenção fornecida desde o início, além das conversas amigas e
esclarecedoras. Aos professores Arthur, Eda e João Lima agradeço pelo carinho,
amizade e pelas diversas oportunidades fornecidas durante o curso. Amplio este
agradecimento aos professores Carminha, Claudemira, Eliseu, Jairo, João Osvaldo,
Renata Libório e Thomaz pelas conversas encorajadoras e experiências transmitidas. O
convívio com esses professores foram reflexo dos bons momentos vividos na Pós-
graduação.
O meu agradecimento também se remete aos avaliadores formais, seja no
colóquio, na qualificação e na defesa da tese. Obrigada pelo aceite do convite, por
terem deixado seus compromissos e, por alguns momentos, focalizado a atenção na
leitura do que estava sendo produzido. Obrigada também pelos encaminhamentos
propostos e os que serão apresentados após a defesa.
Não poderia deixar de agradecer também o apoio dos funcionários, sejam os
ligados à PPGG, à coordenação da Geografia ou à biblioteca, que estiveram sempre
resolvendo muitas pendências, problemas burocráticos, assim como aos que estão
sempre apoiando os alunos no que diz respeito às questões técnicas e de condições
infra-estruturais.
Em outras instituições também houve apoio de vários professores para que se
efetivasse esta pesquisa. Gostaria de agradecer a Fernando Andrade (UFPB) e Pedro
Viana (UFPB) por terem ajudado na elaboração inicial do projeto de doutorado. A Jan
Bitoun (UFPE) agradeço tanto pela ajuda na elaboração do projeto de doutorado
quanto pela atenção e apoio fornecido durante o trabalho de campo, ao conseguir a
sala e disponibilizar os equipamentos no âmbito do Programa de Pós-graduação na
UFPE para a realização de uma das etapas desta atividade. Aos professores
Christovam Barcelos (Fiocruz – RJ) e Valéria de Marcos (USP) pelo carinho e atenção
dispensada, os quais foram fundamentais ao meu crescimento profissional, antes
mesmo de me vincular à UNESP enquanto doutoranda, e por ainda continuarem
fornecendo esse apoio e amizade. Aos professores Samuel Lima (UFU), Jorge
Pickennhayn (Universidade de San Juan), Rogério Haesbaert (UFF), Suzana Curto
(Universidade de Buenos Aires), Edvânia Gomes (UFPE), Tereza Kulesza (NESC –
UFPB) e Marcos Saquet (UNIOESTE – Francisco Beltrão) por terem me auxiliado a
superar diversos desafios durante o processo de definição e redação da base teórico-
metodológica da tese. Estendo os agradecimentos às professoras Ana Madruga,
Doralice Maia e Emília Moreira (UFPB) por estarem sempre interessadas e atentas
durante este processo.
Deixo também meus agradecimentos à Prefeitura da Cidade do Recife por todo
apoio institucional. Inserido neste contexto, inicio os agradecimentos pelo gabinete da
Secretaria de Saúde, no qual sou grata ao trabalho da Tarsila por ter me encaminhado
aos setores e às pessoas adequadas para que o projeto fosse aprovado junto ao comitê
de ética.
Com relação ao trabalho de campo exploratório, agradeço aos enfermeiros e
supervisores em toda a cidade do Recife pela paciência dispensada e pelas informações
fornecidas sobre os agentes de saúde, assim como aos gerentes de território e de
Vigilância Ambiental em cada distrito e à direção do CVA por terem feito o trabalho
de interlocutores junto aos enfermeiros e supervisores, seja através de telefone, contato
direto no distrito ou mesmo nas unidades e pontos de apoio com transporte da
instituição.
Ainda com relação a essa etapa do trabalho de campo exploratório, deixo minha
gratidão ao pessoal da Vigilância Epidemiológica (Odaléa e Eugênio), Gerência de
Atenção Básica (Nilson e Clarissa) e ao CVA, representados por Alecsandra Serrano,
Aura Gonzalez, Everaldo e Sinara, por fornecerem dados e terem indicado pessoas
para que fosse possível a efetivação das várias etapas deste trabalho de campo.
Com relação ao trabalho de campo em si, quero agradecer inicialmente aos
agentes de saúde que participaram diretamente da pesquisa os quais, por motivos de
opção metodológica que estão justificados na tese, são apresentados em seus nomes
fictícios: Regina, Alecsandra, Estrelas, Larissa, Nâna, Vitória, Tinhão, ACS em ação,
Lampião, Josué de Castro, Pedro, Germano, Sarah, Poeta, Severino Silva e Max. Fico
grata pelo interesse em ajudar, em fornecer várias informações importantes e mesmo
por algumas amizades que surgiram desta convivência. Além destes também foi
importante a ajuda de alguns integrantes destes programas como os enfermeiros e
supervisores das USF e Pontos de apoio em que foi realizada a visita a campo, e de
agentes e supervisores que espontaneamente forneceram informações diversas e
materiais com relação a experiências que deram certo. A todos, deixo o meu muito
obrigada por terem me auxiliado na materialização dessa tese.
Ainda no que diz respeito ao trabalho de campo, gostaria de agradecer ao apoio
da UFPE, através do Programa de Pós-Graduação em Geografia e do Departamento de
Ciências Geográficas, pela disponibilização da sala e materiais necessários para a
realização do trabalho. Acrescento os agradecimentos a ONG ETAPAS pelo material
disponibilizado e à FUNASA-CE, através de José Antônio pelo material
disponibilizado.
Fica também o agradecimento aos colegas da graduação e pós-graduação, tanto
da Geografia como dos outros cursos pela convivência e aprendizado. A Adriano
Amaro, Ana Cristina (Ana Goiana), Avelino, Camila, Cláudia Montessoro, Eraldo,
Érica Ferreira, Érica Vanessa, Fabiane, Fernando Ávila, Guttierre, Hélio Hirao, Jânio,
Jean Carlos, Karla Leão, Kedma, Laís, Leandro, Letícia, Luciano Furini (e família),
Márcio Catelan, María Garcia, Marquiana, Oscar Sobarzo, Sampaio, Sérgio (duas
unha), Sílvia Correa, Sílvia Pereira, Umberto, Valéria Pereira e Vítor, pelo convívio e
as tantas conversas que ajudaram a passar esse período de forma mais agradável. Aos
amigos Ana Lúcia, Atamis, Caio Reina, Carlos Loboda, Elias, Fernanda Ikuta,
Floripes, Igor, Jorge Montenegro, Karla, Lucilene, Márcia Obici, Nathália, Oscar
Gonzalez (e família), Paula Lindo, Raquel, Rosiane, seja pelo apoio logístico no início
do doutorado, pelo trabalho em conjunto no qual houve uma troca mútua de
conhecimento; ou pelos momentos compartilhados, conselhos, enfim, pela amizade
que foi construída de várias maneiras e que me fizeram muito bem e que eu espero ter
feito algo de bom para vocês também.
Fora da UNESP, também gostaria de agradecer à Liliana Acosta (Universidade
Nacional de San Juan) e Maria Luísa Kede (Fiocruz – RJ) pela amizade, carinho,
confiança e pelas tentativas em viabilizarmos um trabalho juntas, e a Anselmo César e
Priscila Félix (UFPE) pela amizade que foi construída na base da confiança e ajuda
mútua, e em especial pelo auxílio enquanto observadores externos durante o trabalho
de campo.
Aos amigos Adriana Márcia, Carla Andréa, Edinilza, Eldinê, Fabiana, Joãozinho,
Manoel, Milena pelo apoio incondicional que tanto tem auxiliado no meu crescimento
enquanto pessoa, assim como pela paciência, especialmente quando estive ausente em
alguns dos momentos importantes da vida de vocês, e por estarmos sempre unidos,
independente da região geográfica que estamos. Aos amigos mais recentes, porém não
menos importantes, D. Dirce, Jacira, D. Leonor, Eunice e Thais, pelas conversas, apoio
e pela amizade que está se firmando cada vez mais.
Às pessoas da minha igreja (Igreja Batista), seja em João Pessoa (Mangabeira),
Presidente Prudente ou Recife (Forte e Cidade Universitária), em especial a André
Scandelai, Adriana, Adriano, Aline Scandelai, Amélia, Angélica, Armando, Pr.
Armando, Alvina, Carlos Rosa, Célia Sanchez, Edmilson, Edilene, Erasmo, Pr. Edson,
Pr. Fernando, Gláucia, Graça, Grace Kelly, Guilherme Rosa, Heloísa Rosa, Hilca,
Joana Paula, Joseneide, Kamila, Larissa, Marcos Júnior, Marisa, Paula, Pr. Ricardo,
Roberta, Roberto, Roberto Kitagawa, Salete, Severina, Virgínia e Wilson Fácio, pela
amizade, paciência em me ouvir nos momentos difíceis e, especialmente, pelas
orações. Dentre estes gostaria de agradecer ao casal Armando e Alvina em Presidente
Prudente, que além de tudo isto, estiveram ainda mais de perto, acompanhando todos
os avanços e retrocessos durante o doutorado, sendo amigos e também agindo como
pais em uma cidade estranha.
Aos meus pais, Ruy (em memória) e Lúcia, pelo apoio para que eu fizesse o
doutorado, ainda que mais uma vez precisasse estar distante deles. Em especial
agradeço à minha mãe pelo apoio emocional, espiritual e, quando necessário,
financeiro. Aos meus irmãos (Eduardo e Michele), cunhados (Sheila e Vinícius) e
sobrinha (Nayara) agradeço também pelos momentos tão legais que me
proporcionaram nos breves períodos em que pude estar em João Pessoa. Em especial
gostaria de agradecer a Michele pelo apoio na área da informática e de transcrição de
algumas entrevistas, me ajudando a ter um pouco mais de tempo para todos os
familiares, além dos diversos momentos de descontração que foram importantes para
reavivar o ânimo e seguir em frente.
Aos familiares de meu marido: os meus sogros (Xisto e Mariluce), aos meus
cunhados Gúbio, Patrícia, André (e sua esposa Daniele) e a Leide, Marcelo e Yuri,
pelo carinho e apoio durante este período, e em especial por terem me acolhido
durante todo o trabalho de campo.
Deixo igualmente os meus agradecimentos ao meu marido Xisto, por tudo que
tem feito. Fica difícil dizer o quanto sou grata, mas para simplificar, agradeço por ter
aceitado minha opção em fazer o doutorado e ter me acompanhado no desejo e na ação
em fazer a seleção aqui na UNESP. Depois em ter tido a iniciativa em vir comigo
ainda sabendo o quanto era difícil para ele ficar longe dos familiares. Além disso,
agradeço por ter continuado a mesma pessoa que conheci quando éramos namorados,
acrescido apenas das partes boas que as experiências de vida nos proporcionaram.
Finalmente, por conta da diversidade de vínculos, contatos e experiências com
diversas pessoas, ou ainda em decorrência de um possível lapso de memória,
reconheço que posso ter omitido algum nome. A estes, ficam as minhas desculpas na
esperança de ter outra oportunidade para redimir-me.
RESUMO
A Estratégia de Saúde da Família e o Programa de Saúde Ambiental, políticas públicas
implantadas na cidade do Recife – PE, implicam em práticas sociais, e que tanto produzem
quanto resultam em espaços educativos, como são resultados desses espaços. Enquanto
práticas sociais, são desenvolvidas competências e habilidades sociais capazes de fazer com
que os integrantes dessas políticas, em especial os agentes de saúde, desenvolvam um
conhecimento geográfico capaz de promover a materialização dessas políticas na medida em
que percebem elementos na paisagem e apropriam-se do território. Neste contexto, esta
pesquisa analisa o conhecimento geográfico dos agentes envolvidos nesses programas
implantados na cidade do Recife a partir das competências e habilidades desenvolvidas no
processo de trabalho na política de saúde local. Para viabilizar a pesquisa optou-se pelo
método qualitativo cujos procedimentos possibilitaram o uso de uma diversidade de
metodologias e instrumentos de coleta de informação, assim como o uso da triangulação de
métodos para analisar o conteúdo obtido. De acordo com as análises procedidas, percebeu-se
que os agentes de saúde desenvolvem competências e habilidades sociais e quanto mais
complexo o nível de desenvolvimento, melhor se expressa o conhecimento geográfico do
ACS e do ASA.
Palavras chave: Competências e habilidades sociais, conhecimento geográfico, Geografia da
Saúde, paisagem, território, escala geográfica.
ABSTRACT
The Health Family Strategy and enviromental Health Program, Public Politics implanted in
Recife City - PE, imply in social practices and product as a result of educative spaces, as a
result of these places. As social practices, competences and social habilities are developed in
order to make the participants of these politics, specially the Health Agents, grow in
geographical knowledge, turning them able to promote the materialization of these politics,
observing the scenery elements and taking the territory as their own. In this context, this
research analyses the geographical knowledge of the agents involved in these programs
implanted in Recife City, from the competences and habilities developed in the work process
and local health politic. To make this research viable a qualitative method was used, whose
procedures made possible the use of several methodologies and instruments of information
collect, as well as, the use of triangulation of methods to analyse the obtained contents.
According to the proceeded analysis, it was realized that the Agents develop competences and
social habilities and the more complex the level of development, better is the geographical
knowledge by the ACS and ASA.
Key-words: Competences and Social Habilities, Geographical Knowledge, Health Geography,
Scenery, Territory, Scale Geographical
RIASSUNTO
La strateggia di Salute della Famiglia e il programma di Salute Ambientale, Politiche
Publiche implantate nella città di Recife-PE, implicano in pratiche sociali e que tanto
producono quanto risultano in spazzi educativi, come sono risultati di questi spazzi. Inquanto
pratiche sociali,sono disinvolte competenze e abilità sociali capaci di fare con che gli
integranti di queste politiche, particolarmente gli agenti di salute, sviluppano una conoscenza
geografica capace di promuovere la materializazione di queste politiche nella misura in che
percepiscono elementi nel paesaggio e appropriarno del territorio. In questo contesto, questa
ricerca analisa la conoscenza geografica degli agenti coinvolti in questi programmi implantati
nella città di Recife, partendo delle competenze e abilità disinvolte nel processo di lavoro
nella politica locale. Per tornare possibile questa ricerca il metodo qualitativo fu scelto, cui
procedimenti hanno possibilitato l’uso di una varietà di metodologie e istrumenti di racolta di
informazioni, talmente l’uso della triangulazione di metodi per analisare il contenuto
acquitatto. Di accordo con le analise precedute, abbiamo perceputo che gli agenti di salute
svolgono competenze e habilità sociali e tanto più complesse il livelo di svolgimento, meglio
è la conoscenza geografica dei ACS e ASA.
PAROLE CHIAVI : Competenze e Abilità Sociali – Conoscenza Geografiche – Goegrafia
della Salute – Paesaggio –Territorio - Scalla geografica.
i
SUMÁRIO
Índice.............................................................................................................................. ii
Esquemas........................................................................................................................ iii
Lista de figuras............................................................................................................... iii
Lista de fotografias......................................................................................................... iii
Lista de mapas................................................................................................................ iv
Lista de quadros............................................................................................................. v
Lista de siglas................................................................................................................. vi
Modelos explicativos..................................................................................................... vii
Introdução....................................................................................................................... 1
Capítulo 1....................................................................................................................... 6
Capítulo 2....................................................................................................................... 40
Capítulo 3....................................................................................................................... 59
Capítulo 4....................................................................................................................... 90
Capítulo 5....................................................................................................................... 149
Capítulo 6....................................................................................................................... 216
Considerações finais....................................................................................................... 232
Referências..................................................................................................................... 239
Apêndices....................................................................................................................... 250
ii
ÍNDICE P
Introdução......................................................................................................................
1
1 Atenção à Saúde na cidade do Recife..........................................................................
6
1.1. Recife e o acúmulo desigual de tempos da assistência à saúde...............................
7
1.2. Os agentes de saúde no contexto da cidade do Recife.............................................
19
2 Conhecimento geográfico e a prática em Vigilância em saúde.................................
40
2.1. Competências e habilidades sociais do sujeito........................................................
41
2.2. A matriz de competências e habilidades dos agentes de saúde................................
51
3 De arruar por Recife ao percurso da pesquisa...........................................................
59
3.1. O trabalho de campo nas áreas de estudo................................................................
65
3.2. O grupo focal...........................................................................................................
75
3.3. Um olhar sobre as experiências exitosas..................................................................
81
3.4. Análise das informações..........................................................................................
82
4 Recife: ambiente, qualidade dos serviços e resiliências.............................................
90
4.1. Recife: o serviço de saúde em meio ao contraste sócio-econômico e ambiental.....
92
4.2. Resiliência em meio às multiterritorialidades no Recife.........................................
115
4.3. Os componentes da ESF e PSA e os seus Recifes...................................................
144
5
Competências e habilidades dos agentes de saúde da ESF e PSA na cidade do
Recife: enfoque no sujeito.............................................................................................
149
5.1. Motivação dos agentes de saúde e sua influência nas outras
competências...........................................................................................................
150
5.2. Competências desenvolvidas enquanto agente de saúde.........................................
167
5.3. Origens e nuanças das competências sociais e suas influências para o
desenvolvimento do conhecimento geográfico........................................................
203
6 Em busca de uma Geografia da Promoção da Saúde..................................................
216
6.1. Contextualização da Geografia da Saúde para estudar a Geografia da Atenção à
Saúde.................................................................................................................................
217
6.2. Da Geografia da Atenção à Saúde a Geografia das Competências Sociais dos
agentes da ESF e do PSA na cidade do Recife...............................................................
220
Considerações finais........................................................................................................
232
Referências.......................................................................................................................
239
Apêndices.........................................................................................................................
250
iii
ID ESQUEMAS P
1
Representação sobre o lixo reciclável na microárea de Larissa, do ponto de vista da
própria ACS, em abril de 2007, na localidade Poço da Panela, Recife – PE......................
207
ID LISTA DE FIGURAS P
80 A
Agente de saúde no ambiente de trabalho...........................................................................
165
B
Agente de saúde no ambiente de trabalho...........................................................................
165
C
Agente de saúde no ambiente de trabalho...........................................................................
165
D
Agente de saúde em atividade externa.................................................................................
165
E/
F
Observações quanto ao domínio da linguagem cartográfica com relação à projeção,
proporção e diversidade de elementos no mapa mental das áreas de Larissa e Nana.........
196
G/
H
Observações quanto ao domínio da linguagem cartográfica com relação à projeção,
proporção e diversidade de elementos no mapa mental das áreas de Germano e Severino
Silva.....................................................................................................................................
197
ID LISTA DE FOTOGRAFIAS P
1
Campanha de imunização anti-rábica de cães e gatos com o título: “Dia Nacional de
vacinação anti-rábica” (Modelo assistencial sanitarista).....................................................
12
2
Divulgação comercial do Hospital Esperança – conglomerado hospitalar geral, de alta
complexidade (Modelo médico-assistencial privatista).......................................................
12
3
Sede do Distrito Sanitário I (modelo alternativo – Vigilância em Saúde)...........................
12
4
Paralisação dos ACS e ASA................................................................................................
116
5
Paralisação dos ACS e ASA................................................................................................
116
6
Carnaval multicultural – Bloco carnavalesco Galo da Madrugada.....................................
119
7
Carnaval multicultural – Escola de Frevo Nascimento do Passo........................................
119
8
Passeio de Catamarã no rio Capibaribe...............................................................................
119
9
Pontes do Recife – PE..........................................................................................................
119
10
Praia de Boa Viagem...........................................................................................................
119
11
Oficina de Cerâmica Francisco Brennand...........................................................................
119
12
Catadores de caranguejo......................................................................................................
125
13
Precárias condições de assistência aos pacientes.................................................................
125
14
Construção em área de maré................................................................................................
125
15
Construção em área de morro..............................................................................................
125
16
Assassinato enquanto homem dirigia..................................................................................
125
17
Mobilização da PCR sobre o “Dia Mundial da Água”........................................................
125
18
Praça construída pela EMLURB..........................................................................................
134
19
Igreja Nossa Senhora da Saúde............................................................................................
134
20
Local onde separam o lixo reciclável..................................................................................
134
21
Praça onde se localiza a árvore Gameleira..........................................................................
134
22
USF Poço da Panela.............................................................................................................
134
23
Casa muito próxima da barreira...........................................................................................
136
24
Local propício à proliferação de escorpião..........................................................................
136
iv
ID LISTA DE FOTOGRAFIAS (cont.) P
25
Muro de arrimo em área inclinada.......................................................................................
136
26
Muro de arrimo em área inclinada.......................................................................................
136
27
Pedreira................................................................................................................................
139
28
Vila Canal............................................................................................................................
139
29
Atividade de Educação em Saúde........................................................................................
139
30
Prédios em que há dificuldade para entrar...........................................................................
141
31
Casa abandonada e piscina sem tratamento.........................................................................
141
32
Canal que emite mau cheiro e incomoda os ASAS no ponto de apoio...............................
141
33
Palafitas................................................................................................................................
141
34
Estádio do Sport Futebol Clube...........................................................................................
141
35
Quintal limpo e garrafas com abertura para baixo...............................................................
174
36
Biblioteca que funciona na USF..........................................................................................
174
37
Esgoto no quintal.................................................................................................................
199
38
Lixo acumulado próximo ao teto.........................................................................................
199
ID LISTA DE MAPAS P
1
Distritos Sanitários e localização dos bairros......................................................................
14
2
Localização dos agentes de saúde nos distritos sanitários e nos bairros onde trabalham....
20
3
Localização dos bairros onde trabalham os agentes de saúde em que foi realizado o
trabalho de campo na área...................................................................................................
67
4
Localização dos bairros onde trabalham os agentes de saúde que participaram da
entrevista com grupo focal...................................................................................................
76
5
Percepção do Recife pela direção do Distrito e dirigentes de áreas (enfermeiros e
supervisores) na categoria “localização/situação”...............................................................
97
6
Percepção do Recife pela direção do Distrito e dirigentes de áreas (enfermeiros e
supervisores) na categoria “características gerais e perfil”.................................................
99
7
Percepção do Recife pela direção do Distrito e dirigentes de áreas (enfermeiros e
supervisores) na categoria “condições sócio-econômicas”.................................................
102
8
Percepção do Recife pela direção do Distrito e dirigentes de áreas (enfermeiros e
supervisores) na categoria “ações no ambiente e condições de saneamento”.....................
105
9
Percepção do Recife pela direção do Distrito e dirigentes de áreas (enfermeiros e
supervisores) na categoria “serviços de saúde”...................................................................
107
10
Percepção do Recife pela direção do Distrito e dirigentes de áreas (enfermeiros e
supervisores) na categoria “ações articuladas ou desarticuladas”.......................................
111
11
Localização dos agentes cujas áreas foram visitadas...........................................................
128
12
Localização, representação cartográfica e referenciais da área de Larissa..........................
134
13
Localização, representação cartográfica e elementos da área de Germano.........................
136
14
Localização, representação cartográfica e referenciais da área de Nâna.............................
139
15
Localização, representação cartográfica e elementos da área de Severino..........................
141
16
Percepção dos elementos relacionados à paisagem do risco – Larissa................................
179
17
Percepção dos elementos relacionados à paisagem do risco – Nâna...................................
180
18
Percepção dos elementos relacionados à paisagem do risco – Germano............................
183
19
Percepção dos elementos relacionados à paisagem do risco – Severino.............................
184
20
Distribuição da representação das competências “domínio conceitual” e “autonomia”
dos agentes da ESF e PSA...................................................................................................
214
v
ID LISTA DE QUADROS P
1
Matriz das “competências” e “habilidades” sociais dos agentes da ESF e do
PSA........................
53
2
Matriz das características por agentes e por distrito – distrito sanitário II – referente à
ESF.......................................................................................................................................
61
3
Representatividade da competência social “autonomia” na cidade do Recife - PE, por
características e por distrito sanitário – ESF........................................................................
62
4
Representatividade da competência social “autonomia” na cidade do Recife - PE, por
características e por distrito sanitário – PSA.......................................................................
62
5
Agentes de saúde da ESF que possuem as características e os distritos mais
representativos com relação à competência “autonomia” na cidade do Recife – PE..........
63
6
Agentes de saúde do PSA que possuem as características e os distritos mais
representativos com relação à competência “autonomia” na cidade do Recife – PE..........
63
7
Características predominantes dos agentes da ESF e PSA por “competência” social na
cidade do Recife – PE..........................................................................................................
64
8
Quantidade de agentes de saúde da ESF e PSA que estão de acordo com os critérios da
pesquisa para a escolha das áreas – por distrito sanitário....................................................
66
9
Roteiro-base de entrevista com os agentes de saúde...........................................................
69
10
Roteiro-base dos itens da observação participante..............................................................
72
11
Questionário aplicado aos agentes de saúde da ESF e do PSA que participaram da
entrevista com grupo focal...................................................................................................
77
12
Roteiro-base de entrevista com grupo focal........................................................................
78
13
Roteiro-base de entrevista com agentes que participaram de alguma experiência exitosa.
81
14
Tipos de informações coletadas para pesquisa por escala geográfica.................................
89
15
Categorias que definem a área de atuação por Distrito Sanitário para os trabalhadores da
direção do distrito................................................................................................................
93
16
Categorias que definem a área de atuação dos enfermeiros e supervisores por programa e
por distrito sanitário..........................................................................................................
94
17
Categorias que definem a área de atuação por distrito sanitário para os trabalhadores da
direção do distrito e os dirigentes de áreas (enfermeiros e supervisores)............................
95
18
Experiências em que as características pessoais ajudaram no desempenho de alguma
atividade no trabalho............................................................................................................
153
19
Características que interferem positivamente e negativamente/questionáveis no trabalho
dos agentes da ESF e PSA, segundo os próprios agentes de saúde.....................................
155
20
Características que interferem positivamente e negativamente e são comuns aos dois
programas por ordem de importância..................................................................................
156
21
Razão aparente para prestar concurso..................................................................................
158
22
Razões do não acesso ou do acesso limitado à jornal, revista, livro e internet....................
159
23
Temas recorrentes no âmbito do trabalho............................................................................
161
24
Situações a serem resolvidas por ordem de prioridade........................................................
163
25
Figuras da tarefa individual sobre a motivação...................................................................
166
26
Níveis escalares de percepção da paisagem da promoção da saúde das áreas atendidas
por parte dos agentes de saúde da ESF e PSA na cidade do Recife – PE............................
172
27
Níveis escalares de percepção da paisagem de risco para a população atendida por parte
dos agentes de saúde da ESF e PSA na cidade do Recife – PE...........................................
175
28
Elementos observados pelos agentes de saúde da ESF por temas e por níveis...................
181
29
Elementos observados pelos agentes de saúde do PSA por temas e por níveis...................
182
30
Tarefa para o grupo sobre autonomia..................................................................................
201
31
Relação entre escala e autonomia........................................................................................
202
32
Comparação das informações de campo de cada agente de saúde com a matriz................
211
33
Agentes de saúde da ESF e PSA por distrito sanitário, por programa e por competência
social.....................................................................................................................................
213
vi
ABREV. LISTA DE SIGLAS
ACE..............
Agente de Combate à Endemias
ACS..............
Agente Comunitário de Saúde
AESA...........
Adolescentes Educadores em Saúde
AOA.............
Agente Operacional de Apoio
ASA..............
Agente de Saúde Ambiental
CAPS............
Centro de Apoio Psico-social
CEFET..........
Centro Federal de Educação Tecnológica
CODECIR....
Coordenadoria de Defesa Civil do Recife
COMPESA...
Companhia Pernambucana de Saneamento
CVA.............
Centro de Vigilância Ambiental
DEAB...........
Departamento de Atenção Básica
DS.................
Distrito Sanitário
EMLURB.....
Empresa de Manutenção de Limpeza Urbana
ESAM...........
Educadoras em Saúde da Mulher
ESF...............
Estratégia de Saúde da Família
FCAP............
Faculdade de Administração e Engenharia da Universidade de Pernambuco
FUNASA......
Fundação Nacional de Saúde
IES................
Instituição de Ensino Superior
IESA.............
Idosos Educadores em Saúde
MOPS...........
Movimento Popular de Saúde
IMIP.............
Instituto Materno-Infantil de Pernambuco
NOB.............
Norma Operacional Básica
ONG.............
Organização Não-Governamental
OSCIP..........
Organização da Sociedade Civil de Interesse Público
PACS............
Programa de Agentes Comunitários de Saúde
PAM.............
Posto de Atendimento Médico
PCR..............
Prefeitura da Cidade do Recife
PEC..............
Projeto de Emenda Constitucional
PETI.............
Programa de Erradicação do Trabalho Infantil
PREZEIS......
Plano de Regularização das Zonas Especiais de Interesse Social
PSA..............
Programa de Saúde Ambiental
PSF...............
Programa de Saúde da Família
RPA..............
Região Político Administrativa
SANBRA......
Sociedade Algodoeira do Nordeste Brasileiro
SANEAR......
Autarquia de Saneamento do Recife
SINDACS.....
Sindicato dos Agentes Comunitários de Saúde do Estado de Pernambuco
SUS...............
Sistema Único de Saúde
SUDS............
Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde
UFPE............
Universidade Federal de Pernambuco
USF...............
Unidade de Saúde da Família
ZUM.............
Zona de Urbanização de Morros
ZUR..............
Zona de Urbanização Restrita
vii
ID MODELOS EXPLICATIVOS P
1
Relação entre competências e conceitos da geografia através de suas características........
58
2
Influência da ação do ACS enquanto profissional no espaço geográfico............................
187
3
Influência da ação do ASA enquanto profissional no espaço geográfico............................
189
4
Influência da ação do ACS enquanto cidadão no espaço geográfico..................................
190
5
Influência da ação do ASA enquanto cidadão no espaço geográfico..................................
191
6
Percepção da paisagem e apropriação do território dos agentes de saúde da ESF e PSA...
230
7
Síntese das ações implementadas pelo agente de saúde segundo a influência de outras
escalas geográficas...............................................................................................................
236
1
INTRODUÇÃO
O interesse em trabalhar com agentes de saúde vinculados respectivamente à
Estratégia de Saúde da Família (ESF) e Programa de Saúde Ambiental (PSA) na
cidade do Recife, capital do estado de Pernambuco, foi despertado ainda no mestrado,
quando nesta cidade buscou-se verificar se a interação das ações do governo e práticas
cotidianas da comunidade viabilizaria uma melhoria das condições de saúde dos
moradores. Foi observado nesse estudo que, de fato, através das ações do Programa de
Agentes Comunitários de Saúde (PACS) e do Programa de Saúde da Família (PSF),
hoje denominado Estratégia de Saúde da Família (ESF), existiu uma melhoria das
condições de saúde dos moradores das comunidades pobres urbanas, apesar de sua
ação ser limitada tanto pelas precárias condições de urbanização como de algumas
atitudes dos próprios moradores que interferem no seu processo saúde-doença
(PEREIRA, 2001).
Ao final do trabalho surgiram, então, algumas inquietações: o nível de
conhecimento do agente de saúde sobre meio ambiente e sobre sua área de atuação no
trabalho poderia também influenciar nas condições de saúde da população? Até que
ponto o agente de saúde pode interferir no ambiente em que trabalha para melhorar as
condições de saúde da comunidade?
Essas reflexões foram alimentadas a partir da experiência de trabalho na
Secretaria Municipal de Saúde e Meio Ambiente, no município de Santa Rita – PB
(2002 – 2004), na qual se percebeu a necessidade de elaborar um plano de ação com o
objetivo de melhorar a atuação desses profissionais na área da educação ambiental,
sanitária e para a saúde. Concomitantemente, buscaram-se respostas às perguntas
apresentadas no parágrafo anterior.
Inicialmente, foi elaborada a idéia do trabalho baseada em leituras sobre
educação ambiental, sendo coletadas as informações necessárias à fundamentação de
uma tese. Posteriormente, no decorrer do curso de doutorado, foi possível perceber que
nos dados coletados em momento anterior já estavam inclusos alguns dos elementos a
serem trabalhados nos procedimentos teórico-metodológicos selecionados para serem
2
desenvolvidos na pesquisa de doutorado. Assim sendo, o plano de ação no município
de Santa Rita - PB apresentou-se como uma experiência-piloto que se prestou a
consolidar a teoria, a gerar novos questionamentos, testar e aprimorar o uso de alguns
procedimentos e a obter perspectivas que servissem como fundamentos das hipóteses
para a pesquisa atual. Desta forma, a partir da análise de questionários (PEREIRA &
GUIMARÃES, 2006a) e da representação cartográfica da área de trabalho (PEREIRA
& GUIMARÃES, 2006b), puderam-se encontrar alguns resultados que apontaram
pistas para o trabalho atual, como se verá nos próximos parágrafos.
Um dos resultados da pesquisa realizada em Santa Rita – PB foi que o
conhecimento do agente de saúde, tanto da ESF quanto da Vigilância Ambiental está
apenas relacionado aos temas que têm a ver com o trabalho cotidiano de cada
programa, e que exatamente nos temas em que apresentam contradições entre o dito e
o feito, evidenciaram-se problemas junto à comunidade, a exemplo do desperdício de
água, destino do esgoto, desinfecção de alimentos e acondicionamento do lixo.
Da mesma forma, os agentes da ESF se destacam no sentido de participarem mais
ativamente de organizações que apontam para a possibilidade de parcerias e mudanças
da realidade local, além de serem os agentes que melhor representam no mapa os
elementos relacionados à possibilidade de parcerias, destacando-se a praça e a escola.
Enquanto isso, os agentes da Vigilância Ambiental se destacam pela não participação e
não representação, no mapa, dos elementos relacionados ao tema.
Assim, observa-se que a área de trabalho representada pelos agentes da ESF foi
mais condizente com a realidade existente na localidade, além de terem conseguido
apresentar, de maneira mais coerente, os problemas relacionados ao ambiente e às
pessoas, mesmo tendo afirmado não terem experiência e possuírem um grau de
dificuldade maior em relação aos agentes da Vigilância Ambiental. O grau de
escolaridade e a experiência com mapas foram os fatores que mais influenciaram na
qualidade dos mapas mentais com relação à perspectiva, proporcionalidade/
localização e diversidade de elementos no caso da ESF. Enquanto na Vigilância
Ambiental, o tempo de serviço foi o fator mais evidente quando considerados os
critérios da projeção e proporcionalidade.
3
Observando esses resultados, percebe-se que, de fato, o domínio conceitual sobre
questões específicas da atividade e o engajamento com organizações da sociedade
civil, que gera uma certa autonomia e um maior conhecimento da área de trabalho, que
podem influenciar nas condições de saúde da população. Restava, então, saber se esses
resultados também ocorreriam em uma cidade cujas relações socioespaciais se
apresentariam mais complexas, demandando, portanto, novas estratégias e táticas dos
agentes.
Ainda com relação à Santa Rita, houve um dado curioso que serviu para reflexão
acerca dos níveis de conhecimento geográfico. Mesmo os agentes da ESF afirmando
não terem experiência de trabalho com mapas, souberam representar muito melhor sua
área de trabalho do que os agentes da Vigilância Ambiental. Desses resultados,
surgiram outras indagações: no que diz respeito ao domínio de conceitos relacionados
à saúde individual e ambiental na comunidade: Estariam os agentes da ESF mais
preparados do que os agentes da Vigilância Ambiental? Esse suposto domínio mais
apurado dos conceitos por parte dos agentes da ESF seria decorrente de uma
capacitação de melhor qualidade e/ou de uma experiência que permite desenvolver, no
processo de trabalho, determinadas habilidades? O engajamento com organizações da
sociedade civil influencia mais na qualidade da representação espacial do que o
contato com as técnicas cartográficas de elaboração de mapas? A praça e a escola,
elementos mais representados, seriam os espaços mais adequados para despertar o
desejo de mudança? Até que ponto a experiência de trabalho com mapas, grau de
escolaridade e o tempo de serviço podem interferir na representação espacial da área
de trabalho? Seria essa uma tendência ou um fato isolado? Ou seja, poderíamos
identificar diferenças significativas em termos do domínio do conhecimento
geográfico no desenvolvimento das atividades dos agentes em outras localidades?
Recife foi escolhido, assim como ocorrera no mestrado, como área empírica de
estudo tendo em vista o fato de que, no contexto de uma área metropolitana, apresenta
o grau de complexidade que se intencionava abarcar, como a presença de diferentes
modelos de atenção à saúde predominantes na atualidade e características físicas,
históricas e sociais inerentes à sua formação sócio-espacial. Contudo, diferente do
mestrado, o foco passou a ser dado à análise da ação dos agentes ESF e do PSA e,
4
diferente do estudo em Santa Rita – PB, ao invés de basear-se em leituras relacionadas
à educação ambiental para entender o conhecimento geográfico, utilizou-se como
estratégia a busca desse conhecimento geográfico através da observação das
competências e habilidades sociais desenvolvidas por esses sujeitos.
Neste estudo, as competências sociais podem ser compreendidas como
capacidades mais gerais de operar com os conhecimentos, as quais são demonstradas
por meio de habilidades e comportamentos (ALLES, 2006a). Assim, a partir da tese de
que o desenvolvimento das competências sociais influencia no grau de conhecimento
geográfico dos agentes de saúde inseridos na ESF e no PSA, busca-se analisar o
conhecimento geográfico dos agentes envolvidos nesses programas na cidade do
Recife a partir das competências e habilidades desenvolvidas no processo de trabalho
exercido na política de saúde local.
É importante salientar que os agentes de saúde representam a principal fonte de
informações desta pesquisa, e que durante a coleta de informações estes se
encontravam num contexto de instabilidade no emprego e numa busca constante pela
efetivação a qual ocorreu em 11 de outubro de 2007 (após a realização do trabalho de
campo com os agentes) através da resolução n. 1 da Comissão Especial criada pela lei
municipal n. 17.233/ 2006. Esta comissão foi criada em função da aprovação da lei
federal n. 11.350/06, do ano anterior, que efetivou os agentes de saúde, porém deixou
a cargo de cada município implantar a lei. Esse contexto pode ter influenciado na
forma como foram expostas as idéias sobre si mesmos, o poder público, e sobre as
capacitações realizadas.
Com relação aos capítulos deste trabalho, a tese ficou dividida em seis partes.
No primeiro capítulo, resgata-se um pouco das características dos modelos
hegemônicos de saúde que persistem na atualidade no contexto brasileiro (assistencial
sanitarista, médico assistencial-privatista e alternativos) para mostrar como eles estão
presentes na cidade do Recife, influenciando na paisagem e nas ações dentro da
cidade. A partir daí apresenta-se ao leitor essa cidade fruto dessas ações e os agentes
de saúde que participaram da pesquisa e ao mesmo tempo são co-partícipes dessas
ações.
5
O segundo capítulo tem como objetivo mostrar as estratégias teóricas utilizadas
para desvendar o conhecimento geográfico dos agentes de saúde na cidade do Recife.
Nesta parte foram apresentados alguns dos conceitos utilizados inicialmente, dentre
eles o conceito de competência, que serviu de base metodológica para estudar esse
conhecimento geográfico.
O terceiro capítulo busca explicar que a metodologia surgiu no trabalho de campo
exploratório em Recife, a partir das dificuldades e novas oportunidades que surgiram,
o mesmo ocorrendo com a escolha dos procedimentos metodológicos citados.
O quarto capítulo tem como objetivo apresentar o Recife a partir de alguns
sujeitos que participaram diretamente da pesquisa (agentes de saúde) ou indiretamente
(pessoas com cargo de confiança, enfermeiros, supervisores).
O quinto capítulo apresenta ao leitor as competências e habilidades sociais
desenvolvidas pelos agentes de saúde, a partir de fatores que auxiliaram e impediram
esse desenvolvimento.
O sexto capítulo pretende sintetizar os resultados a partir de um olhar mais
teórico, porém, sem esquecer-se de Recife como objeto empírico. Por fim, têm-se as
considerações finais, as referências e os apêndices.
Capítulo 1...
Atenção à Saúde na cidade do Recife
Observa-se, no caso da Gestão da
Prefeitura do Recife, que, a princípio:
há vontade política para alcançar a
mudança na ordem governativa da
cidade (...) Porém, (falta) a
intersetorialidade como estratégia
principal, (...) pois ninguém defende
uma causa quando não a conhece o
bastante
(SANTOS, 2004, p. 134)
7
1. ATENÇÃO À SAÚDE NA CIDADE DO RECIFE
Neste capítulo, a cidade do Recife é apresentada a partir dos modelos
assistenciais de saúde nela implementados, em combinação com as especificidades de
cada localidade em que o agente de saúde está trabalhando. Desta forma, a primeira
parte busca mostrar como os vários modelos assistenciais de saúde implantados
influenciaram na produção da paisagem urbana atual. Já a segunda parte tem por meta
contextualizar o agente de saúde na porção da cidade em que ele está inserido, bem
como o seu olhar sobre esta paisagem urbana.
1.1.
RECIFE E O ACÚMULO DESIGUAL DE TEMPOS DA ASSISTÊNCIA À SAÚDE
Historicamente, a situação de saúde da população tem demandado ações que
influenciam em mudanças na rotina e até mesmo na estrutura urbana da cidade
(GUIMARÃES, 2000). Dessa forma, ao longo do tempo, têm-se buscado formas de
enfrentamento dos problemas de saúde de várias maneiras.
No Brasil, desde o final do século XIX têm sido desenvolvidas algumas formas
de enfrentamento dos problemas de saúde que ocorreram através da implantação de
modelos assistenciais, os quais, de acordo com Paim (1999, p. 476) são constituídos
por “combinações tecnológicas estruturadas para o enfrentamento de problemas de
saúde individuais e coletivos em determinados espaços-populações, incluindo ações
sobre o ambiente, grupos populacionais, equipamentos e usuários de serviços de
saúde”.
Tais modelos surgiram em variados contextos e alguns deles ainda coexistem,
embora de forma diferenciada. De acordo com Teixeira, Paim e Vilasbôas (2002), há
na atualidade a disputa de vários modelos assistenciais, sendo hegemônicos os
seguintes: a) assistencial sanitarista; b) médico-assistencial privatista e; c) alternativos.
O modelo assistencial sanitarista teve suas idéias desenvolvidas na Europa, na
primeira metade do século XIX, a partir da observação das conseqüências à saúde
proveniente das mudanças no espaço geográfico da cidade industrial, inicialmente na
Inglaterra (ROSEN, 1994). No Brasil esse modelo passou a ser importante a partir do
8
final do século XIX, momento em que o controle e a necessidade de uma polícia
sanitária foi defendida no sentido de assegurar a correta higienização dos recursos
produzidos, sendo esta de fato implementada apenas no início do século XX (ABREU,
1997; BRASIL, 2004).
Nesse modelo, o sanitarista age enquanto sujeito e os seus objetos de trabalho são
“os modos de transmissão e fatores de risco das diversas doenças em uma perspectiva
epidemiológica, utilizando um conjunto de meios que compõem a tecnologia sanitária
(educação em saúde, saneamento, controle de vetores, imunização etc.)” (TEIXEIRA,
PAIM, VILASBÔAS, 2002, p. 39). Para enfrentar os problemas de saúde sua
estratégia está pautada nas campanhas temporárias, nos programas especiais e nas
ações de vigilância epidemiológica e sanitária. Dessa forma, os elementos presentes no
espaço geográfico são as unidades de saúde nas quais se executam as campanhas,
programas e ações de vigilância epidemiológica e sanitária. Além disso, a presença de
outros elementos também são freqüentes, a exemplo dos visitadores sanitários
(fiscalização e operacionalização das ações de educação em saúde, controle de vetores
e imunização através dos programas especiais), faixas, cartazes e profissionais de
saúde entregando folheto nas campanhas temporárias (anunciando eventos como
vacinação, verificação de pressão, de colesterol etc, num dia ou período específico do
ano).
Neste modelo, o poder é centralizado no serviço de saúde, mobilizando grande
quantidade de recursos financeiros e humanos para implementar, temporariamente, as
campanhas sanitárias ou, em caráter mais permanente, direcionar recursos financeiros
para os programas especiais de combate aos agravos à saúde. Apesar das campanhas
temporárias desestruturarem por um período a administração normal dos serviços, ao
mobilizarem todas as pessoas e recursos financeiros possíveis, elas têm obtido
resultados positivos no enfrentamento dos agravos que são objeto (PAIM, 1999).
O modelo médico-assistencial privatista começa a se consolidar tanto nos Estados
Unidos quanto no Brasil a partir da segunda metade do século XX (VILARINHO,
2003). No que diz respeito ao Brasil, suas origens remontam ao aparecimento da
assistência médica da previdência social na mesma época em que se deu início a
expansão da industrialização no país durante a primeira gestão de Getúlio Vargas. Esse
9
processo teve condições favoráveis de se desenvolver principalmente no período do
governo militar, que teve como marco de sua consolidação a aprovação da lei 6.229
em 1975, que institucionalizou o modelo médico-assistencial privatista. Essa lei
consolidou a divisão dos espaços institucionais, fato que já vinha delineando-se. O
setor privado ficou responsável pelas ações de atenção médica (rentável) e o setor
público ficou responsabilizado pelas ações de saúde pública (não rentável) e sua
intermediação era realizada através da Previdência Social (MENDES, 1993).
Nesse modelo, o médico age a partir de sua especialização, tendo uma ação
complementar com médicos de outras especialidades ou paramédicos. A partir desse
pensamento são trabalhadas as doenças (nas suas mais variadas manifestações) e os
doentes (através do atendimento clínico, laboratorial e cirúrgico). As estratégias de
enfrentamento estão baseadas em descobertas científicas sobre as doenças e sobre as
formas de combatê-las individualmente, permitindo, respectivamente, um diagnóstico
mais preciso e uma terapêutica eficiente (TEIXEIRA, PAIM, VILASBÔAS, 2002).
Os elementos presentes na paisagem que demonstram, atualmente, a recorrência
desse modelo são serviços de saúde, como clínicas médicas especializadas,
laboratórios de diagnóstico, escritórios de representação de planos de saúde e
representantes com seguros de saúde e os hospitais. Apesar do modelo ser chamado
‘privatista’ o mesmo não é exclusivo do setor privado uma vez que esta forma de
atender ao paciente também está presente no setor público através dos centros de saúde
(os quais dispõe de médicos especializados), laboratórios públicos e hospitais (PAIM,
1999).
O modelo médico-assistencial privatista tem seu poder centrado no médico, que
detém o conhecimento e o poder sobre a vida ou morte do paciente, seja na prescrição
de medicamentos ou em uma sala de cirurgia. Ainda que este tenha grande prestígio
junto à população, há várias críticas sobre a eficiência do mesmo. Em primeiro lugar,
contempla apenas parte do conjunto dos problemas de saúde da população, uma vez
que faltam especialistas para todos os problemas que ocorrem no corpo do paciente.
Não bastasse isto, tem pouquíssimos efeitos positivos sobre os níveis de saúde, assim
como a demanda de pacientes é espontânea, isto é, o indivíduo só se aproxima do
sistema de saúde quando percebe que está doente. Desta forma, o enfrentamento dos
10
problemas de saúde depende do grau de conhecimento dos indivíduos sobre
determinada doença e de seu sofrimento para que este tenha seu problema de saúde
resolvido (PAIM, 1999; TEIXEIRA, PAIM, VILASBÔAS, 2002).
Os modelos assistenciais alternativos têm como referência a carta de Otawa
(Canadá) na ocasião em que foi realizada a I Conferência Internacional sobre
Promoção da Saúde no ano de 1986. O marco institucional deste processo no Brasil foi
a implantação do Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde (SUDS) em 1987, em
alguns estados (Bahia, São Paulo e Rio Grande do Norte) através da organização e
implantação dos distritos sanitários, que surgiram da necessidade de elaborar propostas
que buscassem resolver os problemas de saúde de acordo com a necessidade e a
vontade política local. Dentre essas propostas, surgiram, por exemplo, a
distritalização
1
e a municipalização
2
(PAIM, 1999).
Uma de suas características fortes é a permanente elaboração, experimentação e
difusão. Com o SUS essas propostas foram reunidas e passaram a ser denominadas
como ações relacionadas à Vigilância à Saúde. De acordo com Teixeira, Paim e
Vilasbôas (2002), a Vigilância à Saúde busca construir um modelo assistencial que
articula conhecimentos e técnicas provenientes da epidemiologia, planejamento e
ciências sociais em saúde. Neste modelo há a extrapolação do envolvimento apenas
dos trabalhadores da saúde, e seus conhecimentos intrínsecos incluem tecnologias de
comunicação social, estimulando a mobilização, organização e atuação dos diversos
grupos na promoção e na defesa das condições de vida e saúde.
Assim sendo, o enfrentamento dos problemas de saúde busca superar a dicotomia
entre as denominadas práticas coletivas e as práticas individuais buscando as
contribuições
da nova geografia, do planejamento urbano, da epidemiologia, da administração
estratégica e das ciências sociais em saúde, tendo como suporte político-institucional o processo
de descentralização e de reorganização dos serviços e das práticas de saúde ao nível local.
(TEIXEIRA, PAIM, VILASBÔAS, 2002, p. 41).
1
De acordo com Paim (1999), a distritalização é uma forma de reorganizar os serviços de saúde já existentes em
serviços de nível primário (porta de entrada, atendimento ambulatorial simples), secundário (atendimento
ambulatorial especializado e pequenos hospitais) e terciário (grandes hospitais gerais e especializados que
concentram tecnologia).
2
Municipalização= Implica na desconcentração e descentralização da gestão para os municípios (PAIM, 1999).
11
A observação desse modelo no espaço geográfico ocorre de várias maneiras, a
exemplo da visualização de locais próprios para reuniões entre técnicos e a população,
facilitando o diálogo entre vários segmentos do conhecimento e da sociedade ou pelos
vários tipos de propaganda de sensibilização em outdoors, ônibus, etc., enfatizando a
questão da educação em saúde e; as ações intersetoriais em locais entendidos como
mais críticos, promovidas por vários setores da Secretaria da Saúde, assim como de
outros setores da própria prefeitura, havendo possibilidade do engajamento de
segmentos da sociedade, como Organizações não-governamentais (ONGs),
Organização da sociedade civil de interesse público (OSCIPS), empresas, dentre
outros.
Dessa forma, nesse modelo o poder é descentralizado, envolvendo uma trama
complexa de entidades representativas dos mais variados interesses e de diferentes
grupos sociais. Assim, a adoção da concepção ampliada de Vigilância da Saúde
implica em
avançar no processo de municipalização da gestão do sistema e da gerência das unidades
de saúde localizadas no território dos municípios. (...) implica investir na articulação
intersetorial, na reorganização da atenção primária (oferta organizada e ações de promoção da
saúde e prevenção dos riscos e agravos, partindo dos territórios da ‘saúde da família’, aos
territórios distrital e municipal) e no fortalecimento do controle social sobre a gestão do sistema
de saúde (TEIXEIRA, PAIM, VILASBÔAS, 2002, p. 42)
Estas práticas que materializam os diferentes modelos de atenção apresentam na
paisagem diversos marcos, reflexos de múltiplas temporalidades. É o tempo das filas
para os exames de apoio diagnóstico; das movimentações dos agentes sanitários no
combate aos vetores; da circulação das ambulâncias entre os hospitais, centros de
saúde, conselhos, dentre outros.
Assim, a paisagem urbana, no contexto da espacialização dos modelos
assistenciais, pode ser vista como um acúmulo desigual de tempos e a cidade de Recife
é ímpar neste caso, uma vez que, ao longo de sua formação sócio-espacial, teve, em
sua organização territorial, a superposição desses diferentes modelos.
Do tempo do higienismo restaram algumas edificações como o atual Cemitério de
Santo Amaro, que até 1831 funcionava como local de quarentena dos escravos quando
chegavam em Pernambuco e o Hospital Oswaldo Cruz, instalado em 1884 para
12
funcionar como área de isolamento. Ambos têm em comum o fato de terem sido
criados como objetos para controle epidemiológico (BRAGA, 2007). Na atualidade,
também é possível visualizar na paisagem resquícios desse modelo através de ações,
como, por exemplo, nas campanhas de vacinação anti-rábica (foto 1).
Com relação ao modelo médico assistencial privatista, Braga (2007) aponta que
na área em torno da Avenida Agamenon Magalhães, próximo ao viaduto Joana
Bezerra, vem se formando um pólo de prestação de serviços médicos desde a segunda
metade do século XIX, com a instalação do Hospital Português em 1855. Atualmente
são vários os estabelecimentos que prestam serviços ambulatoriais e hospitalares,
dentre eles o Hospital Esperança (foto 2).
No que diz respeito ao modelo mais atual, a Vigilância em Saúde, há também
várias edificações, novas ou reutilizadas, como é o caso do prédio onde funcionava até
2007 o Distrito Sanitário I (foto 3). De modo especial, a Vigilância em Saúde já tem
um acúmulo histórico em Recife, tornando relevante o estudo da realidade local para a
reflexão de seus impactos nas cidades brasileiras.
2. Divulgação comercial do Hospital Esperança –
conglomerado hospitalar geral, de alta complexidade.
(Modelo médico - assistencial privatista)
Local: Ilha do Leite (às margens do rio Capibaribe),
Recife – PE.
Data: não encontrada (acesso em 27/02/2008)
Foto: Não divulgado.
Fonte: www.ho
p
e-es
eran
a.com.b
1. Campanha de imunização anti-rábica de cães
e gatos com o título: “Dia Nacional de
Vacinação anti-rábica.” (Modelo assistencial
sanitarista)
Local: Praça Souto Maior, Jaqueira (Recife –
PE)
Data: 26/10/2007 (acesso em 27/02/2008)
Foto: Não divulgado.
Fonte: www.saude.pe.gov.br/noticias.php
3. Sede do Distrito Sanitário I (modelo
alternativo – Vigilância em Saúde)
Local: Av. Guararapes, Recife – PE.
Data: 23/06/2006 (acesso em 27/02/2008)
Foto: Raul Kawamura.
Fonte: foto.raulkw.com.br/index.php?x=browse
13
Com o processo de municipalização, que ocorreu a partir de 1993 para obedecer
aos princípios do SUS (lei 8.080/90 e 8146/90) e a norma operacional básica/ 1993,
aproveitou-se a divisão do município já existente, em seis Regiões Político
Administrativas (RPA), dividindo o espaço urbano em seis Distritos Sanitários (mapa
1). O objetivo dos Distritos Sanitários (DS) é o desenvolvimento de ações de saúde,
em interação com outros órgãos da Prefeitura, dentre eles: Secretaria de Planejamento
Urbano Ambiental, Secretaria de Educação, Secretaria de Políticas Sociais e Empresa
de Limpeza Urbana (RECIFE, 1997).
Dessa forma, dispõe-se de uma cidade que já passou pelo processo de
municipalização, e que apresenta condições políticas para estabelecer uma
distritalização. Além disso, houve a preocupação também de executar na esfera
municipal programas recém implantados na esfera nacional. Dentre esses programas,
destacam-se aqueles que são objeto de estudo nessa pesquisa, o Programa de Saúde da
Família (no ano de 1995) e o Programa de Saúde Ambiental (no ano de 2001).
Isto não quer dizer que tal processo de implantação não seja marcado por
movimentos contraditórios, uma vez que setores de outras temporalidades também
estão presentes. Assim, as demandas por hospitais modernos e serviços de apoio
diagnóstico também fazem parte da agenda política.
Contudo, o pioneirismo de Recife no desenvolvimento do modelo de Vigilância
Sanitária pode ser verificado com a implantação do PACS, desde 1993 em Recife.
Para isto, foram capacitados 510 agentes distribuídos nas seis RPAs, que foram
escolhidos pela liderança da comunidade, e dentre os quais deveriam estar pessoas
mais carentes, os integrantes da pastoral da criança e da saúde. Depois da capacitação
passaram por um processo seletivo no qual apenas parte desse contingente foi
aproveitado. Desta forma, em 1994 o PACS foi efetivado na cidade do Recife
(PEREIRA, 2001) constituindo-se em uma experiência modelo para o país.
14
15
O PSF
3
, por sua vez, foi implantado em 1995, sendo colocado em prática de
imediato em dez (10) comunidades que já dispunham de PACS anteriormente, uma
vez que tinha como pré-requisito a implementação em locais que já estavam
funcionando o PACS (PEREIRA, 2001).
A partir da aprovação da publicação por parte do governo federal da Norma
Operacional Básica no ano de 1996 – NOB/96 (BRASIL, 1996), parte do custeio com
a assistência hospitalar e ambulatorial foi destinada exclusivamente ao PACS/PSF,
sendo o valor proporcional à quantidade de habitantes atendidos. Essa medida
incentivou prefeituras a aumentar a quantidade de equipes de PACS/PSF. Mais uma
vez, Recife foi uma das cidades pioneiras e que soube aproveitar os recursos federais
para avançar suas políticas de saúde local.
Na segunda metade da década de 1990, o PSF sofreu uma ampliação significativa
tanto no âmbito qualitativo como no âmbito espacial. Os agentes comunitários de
saúde (ACS) tornaram-se veículo de divulgação e auxiliares de todos os programas da
Secretaria de Saúde que são de interesse coletivo (RECIFE, 1997). Até o ano de 2000,
o PSF havia implantado 27 equipes. Na gestão 2001-2004 do governo municipal foi
atingido o patamar de 154 equipes (RECIFE, 2004). A equipe do PSF inicial foi
acrescentada por outros profissionais especialistas como o assistente social,
ginecologista, psicólogo etc. (PEREIRA, 2001).
Inicialmente, a contratação foi realizada com base na indicação das comunidades,
através das Associações Comunitárias Locais. A partir de 2001, a contratação passou a
ocorrer por seleção pública (BEZERRA, BASTOS, BITOUN, 2007). A
regulamentação da profissão ocorreu com a aprovação da lei 10.507/2002, sendo
revogada e novamente regulamentada através da lei 11.350/2006. Sua efetivação,
através da prefeitura da cidade do Recife, foi conquistada em outubro de 2007
(RECIFE, 2007).
Com relação à Vigilância Ambiental, a Prefeitura da Cidade do Recife (PCR)
elaborou o Programa de Saúde Ambiental (PSA), um projeto de iniciativa local que
está em consonância com as idéias da Vigilância Ambiental. A proposta elaborada foi
3
Conforme mencionado anteriormente, o PSF é denominado na atualidade ESF. Contudo, para ser fiel ao tempo
no qual está sendo contextualizado o surgimento desse programa, será utilizado PSF.
16
implantada a partir do dia 13 de dezembro de 2001 com mais de 700 agentes de saúde
ambiental (ASA) (PEREIRA, 2001; OPPPPSA, 2003).
A proposta do PSA baseou-se, inicialmente, na caracterização dos condicionantes
ambientais que influem no processo saúde-doença da população, resultando na escolha
de quatro fatores de risco a serem trabalhados de forma prioritária: fauna, qualidade da
água para o consumo humano, contaminantes do solo e acidentes naturais. Para definir
os graus de risco ambiental em cada bairro, os mentores do PSA utilizaram
informações sobre o perfil epidemiológico, em que foram priorizadas observações de
agravos relacionados ao meio ambiente, alguns conceitos da epidemiologia como área
produtiva e receptiva e a classificação dos bairros de acordo com as condições de vida,
segundo os critérios da tese de Guimarães (2003).
Já no que diz respeito aos componentes do PSA, podem-se destacar os parceiros,
o supervisor, o agente operacional de apoio (AOA) e o agente de saúde ambiental
(ASA).
Os parceiros são os componentes de outras secretarias do município que devem
resolver problemas ocorridos na área do ASA, mas que não é necessariamente da
competência da Secretaria Municipal de Saúde. O supervisor age como elo entre o
distrito sanitário e os agentes (ASA e AOA), e entre estes e os parceiros. O AOA
resolve os problemas que é de responsabilidade da Secretaria de Saúde, mas que não
podem ser resolvidos diretamente pelo ASA. E o ASA identifica no imóvel os fatores
de risco presentes e busca soluções, seja através dele ou repassando ao supervisor, que
se comunica com os parceiros, AOA etc. (NASCIMENTO JÚNIOR, 2004).
O agente de saúde ambiental exerce atividades voltadas para o setor da saúde,
como alimentar o banco de dados nacional sobre ações relacionadas ao combate à
dengue, e sobre atividades relacionadas à detalhes na visitação do domicílio sobre
presença de ratos, qualidade da água, risco de movimentos de massas, etc., além de
ações voltadas para a comunidade no sentido de realizar a educação sanitária e para a
saúde nos domicílios e em espaços coletivos como associações e escolas.
A contratação dos ASAs foi realizada a partir de uma seleção pública que
garantiu a contratação por tempo determinado, sendo renovada periodicamente até a
efetivação dos mesmos no mês de outubro de 2007 (RECIFE, 2007).
17
Nesses dois programas (ESF e PSA), além dessas ações de saúde pode-se
observar também que os profissionais inseridos desenvolvem conhecimentos
específicos que são fruto tanto de seu conhecimento apreendido na formação
profissional, como de suas experiências na vida urbana e no cotidiano de trabalho. É a
partir daí que passa a ser importante considerar os fatores inerentes à própria cidade, o
que instiga ainda mais a investigação. Afinal, a organização e os aspectos paisagísticos
característicos da cidade do Recife, assim como seu processo de produção espacial,
são marcados por conflitos e embates sócio-econômicos, que resultaram na
estruturação do espaço urbano no qual se quer intervir.
Do ponto de vista de sua morfologia, a cidade cresceu em meio a contrastes de
ordem físico-natural representados por seus alagados e morros (BERNARDES, 1996).
A primeira composição paisagística é formada por um ambiente de planícies (com
possibilidade de alagamentos constantes) cortada pelos rios no seu baixo curso, e cujas
moradias mais precárias são em geral irregulares e sofrem com as enchentes; a
segunda, o ambiente de morros, é cortada por vales, tem suas encostas ocupadas
desordenadamente e na época das chuvas, devido a constituição geológica ter presente
a formação barreiras, ocorrem movimentos de massa podendo causar mortes
(ALHEIROS, 1996 op cit SOUZA, 2000).
A problemática que mais preocupa na cidade é a questão da “insalubridade dos
espaços residenciais da população pobre” que inclui, dentre outras coisas, o problema
da falta de saneamento básico (SOUZA, 2000). Sobre isso, o então diretor do Centro
de Vigilância Ambiental (CVA) em 2004 afirmou que “apenas 40% da cidade é
saneada”. Isto quer dizer que 60% da população “tem que buscar formas alternativas
de escoar seus dejetos, uma cidade basicamente no nível do mar... com lençóis
freáticos muito superficiais e some-se a isso... apesar de praticamente 80% dos
domicílios terem água encanada”, ter problemas com “a intermitência de água”
(NASCIMENTO JÚNIOR, 2004).
A intermitência da água provoca problemas tanto com relação à saúde quanto ao
ambiente. Quando a população junta água em casa, em tonéis, baldes, jarras, nem
sempre acondiciona essa água corretamente, o que pode possibilitar a existência de
criadouros do Aedes Aegypti, causando surtos de dengue, aumento de mosquitos,
18
doenças relacionadas à ingestão de água contaminada, devido ao seu manuseio
inadequado, etc. Um outro caminho utilizado para resolver o problema da
intermitência de água é a perfuração de poços, que no caso da população mais pobre,
utiliza a primeira água que encontrar. Devido o lençol freático ser superficial e a
cidade não ter um esgotamento adequado, pode haver contaminação de poços, fazendo
com que a população se contamine com a água e fique doente (PEREIRA, 2001;
NASCIMENTO JÚNIOR, 2004). Além desses problemas, ligados à infra-estrutura e
ao ambiente, também há inúmeros ligados a fatores culturais e sociais como a questão
do mau acondicionamento do lixo, criação de animais em local ou de forma
inapropriada, dentre outros.
Diante deste quadro de referência, os agentes da ESF e PSA têm a possibilidade
de desenvolver um tipo de conhecimento que está muito relacionado ao relevo, às
condições de vida e ao ambiente como um todo, já que são temas freqüentes em
noticiários locais, assim como nas manifestações artístico-culturais na cidade do
Recife. A partir daí é possível inferir que além dos conhecimentos relacionados à
saúde e ao ambiente em que pode se proliferar doenças, também está sendo
desenvolvido um conhecimento geográfico, observação esta que converge com o
objetivo desta pesquisa; avaliar o conhecimento geográfico dos agentes envolvidos na
ESF e PSA.
Dentre os diversos procedimentos metodológicos presentes nesta pesquisa, optou-
se por iniciar a contextualização desse conhecimento geográfico do agente a partir de
sua própria expressão enquanto sujeito social. Sendo seguido por uma
contextualização desse conhecimento a partir de outras escalas superiores à intra-
urbana.
De acordo com Morin (2002), o sujeito tem uma dimensão lógica, ontológica,
ética e etológica. Hall (2003), por sua vez, apresenta um sujeito que age consciente ou
inconscientemente de acordo com regras superiores a ele, sejam condições históricas
(Marx), o inconsciente (Freud), o uso do idioma entendido enquanto sistema social
(Saussure), um poder disciplinar agindo em várias escalas da vida (Michel Foucault)
ou o envolvimento em grupos de movimentos sociais iniciados na década de 1960.
Lefèvre e Lefèvre (2003) afirmam que o sujeito é alguém que faz a coletividade falar
19
diretamente. Já Touraine (1994) defende que o sujeito surge quando o indivíduo se
insere nas relações sociais e consegue transformá-las.
Com base nessas afirmações, pode-se iniciar um entendimento do que seria esse
sujeito. Inicialmente ele tem várias dimensões, porém é fortemente influenciado por
regras superiores, fato que é refletido no momento da fala. A partir do momento em
que o sujeito reflete essa coletividade e é ouvido por alguém que pode projetá-lo diante
de outros grupos, dessa forma, pode estar contribuindo para transformar algumas
relações sociais em que vive.
Assim sendo, o sujeito é capaz de representar o pensamento de uma coletividade,
pois tem dentro de si vivência semelhante a de outros do mesmo grupo social a que
pertence. No caso do agente de saúde, pode-se afirmar que ele é um sujeito porque tem
experiências semelhantes à de outros agentes de saúde, uma vez que, estando sob o
mesmo regime de trabalho, tem dificuldades parecidas na aplicação da teoria à prática,
além de passarem por problemas práticos semelhantes no dia-a-dia de trabalho.
Dessa forma, torna-se importante a apresentação dos sujeitos que fizeram parte
dessa pesquisa de forma mais direta. É uma forma de perceber a produção da cidade a
partir das práticas dos sujeitos que atuam no desenvolvimento da política de saúde
local. Ainda com relação à descrição dos sujeitos, ela é fruto do destaque de seus
enfermeiros (no caso dos agentes da ESF), dos supervisores (quando se tratar dos
agentes do PSA), de sua própria fala em meio ao trabalho de campo e de observações
sobre o agente durante este contato.
1.2.
OS AGENTES DE SAÚDE NO CONTEXTO DA CIDADE DO RECIFE
Os agentes de saúde que fizeram parte desta pesquisa são pertencentes à ESF (8
ACS) e ao PSA (8 ASAs), distribuídos nos seis distritos sanitários como se pode ver a
seguir (mapa 2).
No distrito sanitário I os agentes estudados trabalham nos bairros de Santo
Amaro e Ilha Joana Bezerra.
20
21
Fala-se do bairro de Santo Amaro desde o século XVI, quando na área onde
funciona o atual Cemitério de Santo Amaro serviu para abrigar escravos para se
estabelecerem durante a quarentena. Este espaço foi utilizado desta forma entre 1531 e
1831. Atualmente há vários prédios que marcam variados tempos históricos, como o
próprio Cemitério (construído no local desse espaço para quarentena dos escravos,
sendo inaugurado em 1851), o Hospital de Santo Amaro (1872), o Cemitério dos
Ingleses (1814), Parque 13 de Maio (primeiro parque urbano histórico do Recife -
1939), Biblioteca Pública Estadual, Câmara dos Vereadores, entre outros (BRAGA,
2007; FUNDAJ, 2006).
Em um espaço com tantos marcos históricos e edificações que contam muito da
história da cidade, há também áreas que foram ocupadas pelos mais pobres, e dentre
eles está a comunidade de Santo Amaro, na qual trabalha Regina
4
, uma das
fundadoras desta localidade. Ela é uma pessoa que está sempre inteirada do que
acontece ao redor e busca ajudar a todos de acordo com a sua necessidade. Sua
inserção na saúde teve início de forma voluntária quando foi agente comunitária de
saúde do IMIP (Instituto Materno-Infantil de Pernambuco). Afirma gostar de trabalhar
com a comunidade. Durante a pesquisa mostrou-se uma pessoa calada e muito
observadora. Atualmente sua área de trabalho é descrita pela equipe como muito
carente, na qual há muitas pessoas que se envolveram com drogas e álcool e é
percebida como uma área violenta.
A área onde está hoje o bairro Ilha Joana Bezerra tem esse nome devido à esposa
de um dos proprietários, Belchior Alves Camelo, que se casou com D. Joana Bezerra,
de importante família colonial no século XVII (BARBOSA, 2007). Com relação à
intervenções no bairro, Braga (2007) aponta que se tentou aproveitar os espaços vazios
para dinamizar a área e uma das coisas que tem dado certo é a implantação de
instituições públicas e hospitais. Houve investimento num nível básico de urbanização
e na melhoria das habitações, porém este autor afirma que, mesmo assim, a situação
em geral é precária, pois há favelas tanto em baixo de viadutos como nas áreas de
influência das marés, a exemplo da Vila do Coque (nome derivado de uma antiga
4
Para preservar a privacidade dos sujeitos pesquisados, foram escolhidos por eles próprios nomes fictícios.
22
usina termelétrica que utilizava carvão). É exatamente nesta localidade que o agente de
saúde Lampião trabalha.
Lampião veio do interior pernambucano ainda adolescente e conseguiu terminar
o ensino superior após passar no concurso para agente de saúde ambiental. Formou-se
em Pedagogia. Aproveitando sua facilidade de lidar com pessoas e ensinar, passou a
trabalhar com alfabetização de adultos através de um programa do governo federal em
sua própria área de trabalho enquanto ASA, trabalhava como educador à noite. Na
comunidade do Coque também utiliza suas habilidades artísticas para confeccionar
bonecos mamulengos e fantoches. Com esses instrumentos, trabalha com a educação
ambiental, dentre outras coisas. Trata bem os idosos e já trabalhou com o serviço
social da prefeitura. Parece ser uma pessoa paciente, sensível e espontânea. Durante a
pesquisa foi possível perceber que é uma pessoa muito bem humorada, extrovertida e
que gosta muito de ter contato com pessoas. Com relação à sua localidade, a equipe
descreveu que há problemas com a infra-estrutura, violência e desemprego.
No Distrito Sanitário II, os agentes estudados trabalham nos bairros
Encruzilhada, Ponto de Parada e Campina do Barreto. Os dois primeiros, vizinhos
geograficamente, podem ser identificados como sendo áreas dinâmicas, onde o
encontro e a troca estão presentes historicamente. No século XIX, a área onde hoje se
encontra o bairro Encruzilhada era o ponto de encontro de três linhas férreas, uma
proveniente do Recife (distante 3 quilômetros da parte central), outra de Beberibe (no
qual uma importante estação é onde está o bairro de Ponto de Parada na atualidade) e a
terceira de Olinda (local que na época foi valorizado para o veraneio). Esses trens
urbanos eram denominados maxambombas (CAVALCANTI, 1998; VAINSENCHER,
2003; RECIFE, 1989). Esse encontro das redes de transporte possibilitou uma maior
troca interpessoal e de mercadorias.
No que diz respeito às trocas interpessoais, Cavalcanti (1998) ressalta a descrição
de Mário Sette no seu livro Maxambombas e Maracatus:
Vinham apitando de longe os trens do Recife, Olinda e Beberibe e ali cruzavam-se. Era
um espetáculo curioso e agradável o encontro dessas três composições. Paravam um perto do
outro de vagões e vagões, olhares, comprimentos, perguntas, frases... – ‘Hoje não. Domingo irei
passar o dia’. ‘-Pois não. Teremos uma cavala gorda’ (SETTE, 1981, p. 208)
23
A partir desse novo transporte, era possível encontrar os amigos com mais
facilidade e trocar idéias. Entretanto, além das trocas interpessoais, também foi um
local propício a trocar mercadorias.
Com relação às trocas comerciais, de acordo com Vainsencher (2003), no início
do século XX havia, nas proximidades, um curral onde os animais passavam um
tempo para engorda e depois eram enviados para o Matadouro de Peixinhos (onde
atualmente funciona o Centro de Vigilância Ambiental, local que gerencia o PSA em
Recife).
A consolidação desse espaço de troca ocorreu em 1923 com a inauguração da
praça “Largo da Encruzilhada”, do Mercado Público, em 1924, e no final da década de
1940 com a presença de uma Biblioteca Popular administrada pela prefeitura, na qual
havia elevado número de usuários (CAVALCANTI, 1998; VAINSENCHER, 2003).
Com relação a essas trocas, têm-se como marcos edificados na atualidade o Largo
da Encruzilhada, localizado no cruzamento de importantes avenidas como João de
Barros e Beberibe, a Estrada de Belém e as ruas José Maria e Castro Alves, assim
como o Mercado da Encruzilhada, que se constitui como um dos locais mais
freqüentados do bairro (VAINSENCHER, 2003). E neste contexto é que trabalham os
agentes Alecsandra e Josué de Castro.
Alecsandra é uma auxiliar de enfermagem que conhece bem o bairro Ponto de
Parada. Na entrevista, disse gostar do que faz e que seu pensamento é que sempre tem
alguém que está precisando dela. Pareceu ser uma pessoa muito sincera, objetiva
quando fala e decidida quando age. Com relação à sua área de trabalho, a equipe
ressaltou a facilidade de lidar com a população mais pobre devido à sua localização em
uma única rua, facilitando a concentração de esforços neste setor. Como aspectos ruins
foi ressaltada a necessidade da médica dispor de mais tempo para a USF, pois, além de
trabalhar na equipe também está vinculada a dois CAPS (Centro de Apoio Psico-
social); também foi reclamada a necessidade de ter um espaço físico onde funcione um
Centro Social e a Unidade de Saúde da Família, assim como, dentro da própria
unidade, ter um espaço para formar grupos de educação em saúde. Enfim, estão
sentindo falta de espaços físicos para o encontro e de tempo para o aprofundamento de
ações na área junto com a médica da unidade.
24
Josué de Castro atualmente está estudando pedagogia. Aparenta gostar do curso
e, inclusive, busca fazer conexões entre as teorias que lê e a realidade em que vive e
trabalha. Ele é um dos agentes que trabalha no bairro da Encruzilhada. De acordo com
os colegas, Josué de Castro consegue diagnosticar todos os problemas em seu local de
trabalho e tenta proceder alguma ação, seja junto à ESF ou em outras secretarias,
sempre buscando soluções. Afirmam também que ele percebe com facilidade pessoas
em situação de risco ambiental e social. Sua maior preocupação é com as crianças
carentes. Contudo, ele extrapola o que é pedido, pois observa os problemas da área e
quer resolvê-los, ultrapassando a saúde ambiental e sua área de trabalho. Quando está
a caminho do trabalho e vê algo que pode fazer, ele faz. Durante o contato com esse
agente foi percebido que ele é muito observador, cooperador e conciliador, porém um
pouco tímido para falar em público. O que mais o destaca é sua vontade de ajudar,
uma vez que está extraordinariamente disponível para ajudar o próximo.
Com relação à área de trabalho de Josué de Castro, sua equipe afirmou que a
parte nobre do bairro da Encruzilhada é saneada, porém há problema com os
moradores relacionados às várias recusas de visitas, a extensão das casas e ao risco de
violência urbana (grande quantidade de assaltos), o que talvez explique em parte as
recusas da entrada do ASA no interior do domicílio. Já na área mais carente,
predomina a falta de saneamento, a presença expressiva de lixo, a intermitência de
água e a moradia precária, além da predominância do comércio informal. Neste caso, a
questão do vínculo, do encontro, parece ter sido perdida.
Ainda no Distrito Sanitário II há uma agente comunitária de saúde que trabalha
no bairro Campina do Barreto, na localidade denominada Chão de Estrelas. Campina
do Barreto surgiu em terras que inicialmente pertenciam a um comerciante português
chamado Manuel Barreto (PERNAMBUCO DE AZ, 2---). A localidade denominada
Chão de Estrelas teve início com uma ocupação em 1983. Foi uma história de luta no
qual houve negociação em vários momentos, inicialmente pela desapropriação do
terreno, depois para construção de casas e instalação de uma infra-estrutura básica para
a sobrevivência, incluindo a iluminação pública, que influenciou no nome dessa
localidade, pois, como disse a então diretora do Centro de Organização Comunitária da
25
localidade: “o chão simboliza a nossa luta árdua e as estrelas eram nossa única fonte
de iluminação” (CAVALCANTI, 1998, p. 154).
Neste local trabalha Estrelas, uma pessoa muito articulada para resolver os
problemas da população de Chão de Estrelas. É líder inata e busca usar essa liderança
em benefício da comunidade, devido sua ligação emocional com o lugar. Um dos
indícios dessa articulação é sua inserção em uma ONG patrocinada pela Visão
Mundial, com o objetivo de proporcionar apoio à comunidade de várias maneiras,
dentre elas o esporte, aperfeiçoamento profissional e cuidados com a saúde individual
e coletiva. O foco está nas crianças e adolescentes, porém a família também recebe
apoio para que as crianças possam ter um melhor desenvolvimento. Com relação à
área, a equipe destacou tanto a ONG Visão Mundial, uma ONG evangélica, quanto o
trabalho dos evangélicos das igrejas locais no sentido de melhorar a vida das pessoas.
Entretanto, há também problema com pessoas usuárias de álcool e drogas em geral.
Neste caso, há a possibilidade do encontro e do desenvolvimento local através de
ações comunitárias.
No Distrito Sanitário III, houve contato com agentes de saúde que vivenciam seu
cotidiano de trabalho nos bairros Poço, Monteiro e Passarinho.
Destes três, os bairros Poço e Monteiro, além de serem contíguos, têm algumas
semelhanças históricas por fazerem parte dos denominados arrabaldes ribeirinhos. De
acordo com Bitoun (2000b, p. 44), os arrabaldes eram assim denominados “aos
assentamentos de habitat concentrado a partir dos quais se estende o ‘subúrbio’”, e que
tinham algum tipo de ligação com a cidade.
No século XVI essas áreas à margem do rio Capibaribe já eram ocupadas e seu
rio era utilizado para escoamento dos produtos dos engenhos que ali proliferavam, já
existia o Engenho Monteiro (que deu origem ao bairro Monteiro), e o Engenho Ana
Paes, na área atual do bairro Poço. Nessa época a produção do açúcar dava o sentido
econômico à cidade e era a responsável pela organização espacial das áreas de
abrangência a partir da sede de cada engenho (BRAGA, 2007; RECIFE, 1989).
No século XVIII os arrabaldes ribeirinhos continuaram também a ter importância
devido aos banhos de rio, especificamente na área onde está atualmente o bairro do
26
Poço, local em que os médicos receitaram banhos de rio para combater uma “febre
maligna epidêmica” que ocorreu por volta de 1746 (BRAGA, 2007).
Nesse período essa área começou a ser povoada e também visitada com mais
intensidade, porém a falta d’água potável dificultava a vivência local até que foi
descoberto um poço que tinha água de boa qualidade. Para preservar o poço colocou-
se uma grande panela de barro, esse poço deu o nome à localidade e depois ao bairro
(CAVALCANTI, 1998).
Apenas no século XIX é que a área do atual bairro do Monteiro teve seu apogeu a
partir dos banhos de rio, que fez com que a área fosse freqüentada pelas famílias de
classe média que iam “veranear” (BRAGA, 2007; CAVALCANTI, 1998).
Com relação à capela de Nossa Senhora da Saúde, localizada no Poço da Panela,
esta foi transformada em igreja matriz do Poço da Panela em 1830, sendo reformada
em 1840 (CAVALCANTI, 1998). Nesse século a igreja teve importância também por
servir de esconderijo de escravos que dali partiam de barco pelo Rio Capibaribe em
direção ao interior até poder fugir por terra para o Ceará, estado que já tinha abolido a
escravidão na época. Essas ações eram apoiadas pelo Clube do Cupim, entidade
liderada por José Mariano Carneiro da Cunha e sua esposa, Olegarinha Cunha, que
residiam vizinhos à igreja (BRAGA, 2007).
No século XX esses bairros exibem algumas edificações ou ruínas de séculos
anteriores, como é o caso do bairro Poço ou Poço da Panela (denominação da
comunidade), no qual se pode visualizar a Igreja de Nossa Senhora da Saúde, que fica
vizinha à antiga casa de José Mariano, herói local, ao qual fizeram uma homenagem
com a instalação de um busto. Já com relação ao bairro Monteiro, Braga (2007) afirma
que ainda existe a Capela Nossa Senhora das Dores, localizada na área do antigo
Engenho Monteiro e uma parte da senzala que funcionava no local.
É em meio a essas histórias e marcos edificados que trabalham os agentes de
saúde Larissa e Germano. A primeira em uma comunidade pobre urbana e pequena em
número de moradores, encravada no bairro Poço que se apresenta como histórico, com
marcos importantes para a história do Recife e com moradores considerados ilustres,
como é o caso de Ariano Suassuna. Enquanto Germano, no bairro Monteiro, trabalha
27
em uma área mista do ponto de vista da situação econômica do morador, visitando
casas situadas em comunidades pobres e outras em locais extremamente valorizados.
Larissa, para seus colegas de trabalho, é uma pessoa única. É vista como
“ajudadora”, dinâmica e que está sempre atualizada de tudo o que ocorre na área de
Poço da Panela. Ela é técnica de enfermagem e começou como agente na pastoral da
saúde, sendo depois agente do IMIP (Instituto Materno Infantil de Pernambuco) e, por
fim, agente da ESF. Durante o contato feito com ela, Larissa pareceu dinâmica e com
uma extraordinária boa vontade para resolver qualquer tipo de problema que haja na
comunidade. Possivelmente por já ter sido líder comunitária, é forte a vontade de estar
presente para ajudar a todos. Seu engajamento político está tão presente que
atualmente tem participado ativamente das decisões efetivadas através do orçamento
participativo, coordenado pela prefeitura para decidir sobre ações a serem realizadas
na localidade. Com relação à sua área de trabalho, foi afirmado que a presença da USF
e a interação entre os colegas de trabalho têm se configurado como aspectos positivos.
Entretanto, o fato da USF ter microáreas muito distantes e descontínuas
geograficamente, dificulta o acesso dos moradores à unidade e o acesso dos agentes e
da equipe em geral às comunidades, com exceção à comunidade onde está localizado a
USF, o Poço da Panela.
Germano viveu quase toda sua vida no bairro Casa Amarela, muito próximo ao
bairro onde trabalha. Esse fato fez com que ele tivesse afinidade com os bairros da
localidade e com sua história. Apesar de afirmar que parou no ensino médio, é assíduo
leitor e tem orgulho de ter um parente que foi pesquisador. Tem engajamento político,
sendo inclusive filiado ao Partido dos Trabalhadores (PT), apesar de nunca ter tido a
intenção de se candidatar. Interessa-se pelas ações políticas e está sempre pronto a
fazer uma intervenção crítica sobre o que foi realizado. Com relação à sua área de
trabalho, foi mencionado, como destaque, a falta d’água, a presença de lixo, os morros
próximos em contraposição ao rio Capibaribe e a moradia precária.
Ainda no Distrito Sanitário III, porém com uma história de ocupação e dinâmica
populacional mais recente, está o bairro Passarinho. Devido uma origem mais recente,
ou talvez de menor importância para o conjunto da história da cidade, não foi possível
encontrar na bibliografia consultada informações sobre sua origem ou eventos mais
28
marcantes de forma específica. Entretanto, pode-se inferir que pela sua localização, a
ocupação, ainda que incipiente, tenha ocorrido a partir da década de 1940 sendo,
justamente, esta área o local em que se deu uma grande expansão da ocupação
irregular (construção de mocambos).
Apesar de ter existido interesse em retirar os mocambos da parte central da
cidade do Recife em governos anteriores, essa vontade política teve condições
propícias de se efetivar de maneira mais contundente apenas a partir de 12 de julho de
1939, com a fundação da “Liga Social Contra o Mocambo” que teve como objetivo
extinguir esse tipo de habitação e incentivar a construção de casas populares acessíveis
economicamente e com condições higiênicas de moradia (GOMINHO, 1998).
Apesar das promessas de que o morador do mocambo só seria desalojado quando
fosse se mudar para a nova casa, Gominho (1998) ressalta que, na prática, houve
notícias de muitos mocambos que foram destruídos enquanto o morador estava
trabalhando e outros tinham seu mocambo incendiado de forma inexplicável, ficando
sem moradia.
Uma das conseqüências desses atos foi que muitas famílias ficaram sem o
mocambo e apenas com a promessa da tão divulgada casa acessível e higiênica. Sem
poder esperar por muito tempo, parte desse contingente populacional foi para a região
sudeste e norte, outra parte voltou para o interior, e a terceira parte insistiu em ficar na
cidade, porém passou a povoar os morros dos arredores da cidade. Esse movimento
teve início na primeira metade da década de 1940 (GOMINHO, 1998).
Como já pôde ser inferido nos parágrafos anteriores, esta área do bairro
Passarinho está inserida num ambiente de morros, os quais, fisiograficamente falando,
têm a presença de colinas e seu solo está propício a deslizamentos na época de chuva
devido ao desmatamento e do corte inadequado das barreiras (RECIFE, 2001a). Tem
uma baixa ocupação populacional (apesar de seu crescimento ter sido acelerado na
década de 1990). Isso é explicado, em parte, pela presença de áreas de reserva
ambiental no perímetro da área do bairro.
Na década de 1990 há notícias de Passarinho como fazendo parte da legislação
urbanística (Lei n. 16.176/96), cuja parte de sua área está inserida na Zona de
Urbanização de Morros (ZUM), que exige legalmente que o uso e a ocupação do solo
29
ocorram em condições especiais, em que a densidade demográfica e construtiva deva
ser baixa. E a outra parte desse bairro está inserida na Zona de Urbanização Restrita
(ZUR), ou seja, tem-se ciência da carência, ou mesmo da ausência de infra-estrutura
básica no local, de que a ocupação é rarefeita e que se deve manter essa pouca
intensidade de uso e ocupação do solo (RECIFE, 2001a).
Neste bairro está trabalhando o agente de saúde Pedro. Este agente do PSA
admira pessoas de personalidade forte. É uma pessoa sensível e isso talvez seja um de
seus trunfos para ser admirado pelos colegas como um ótimo artista plástico, a partir
das peças que são feitas por ele. Ao misturar sua profissão de artista plástico com a de
agente de saúde, Pedro passou a se envolver com atividades de arte, reciclagem e meio
ambiente. Essa admiração dos colegas e também de seus superiores faz com que ele
seja uma exceção em relação a outros ASAs, pois ele consegue todo o material que
precisa para o seu trabalho de educação popular. Faz oficinas principalmente com
crianças, adolescentes e idosos, entre as quais se destacam as oficinas de máscaras e
material reciclado, que tem tido grande repercussão no local. Ele começou a trabalhar
como voluntário com grupos de idosos e adolescentes em projetos de aproveitamento
de lixo reciclável para fazer objetos artísticos. Com relação à sua área de trabalho foi
informado, como aspecto positivo, a boa receptividade da população e a presença do
verde, dos sítios e granjas. Como aspectos negativos, foi mencionado o fato da área ser
acidentada e, no que diz respeito ao serviço, a dificuldade de prestar uma assistência
adequada. Não se está conseguindo, por exemplo, desratizar e detetizar as áreas de
maior risco e com isso a população tem reclamado com o agente.
No Distrito Sanitário IV o contato foi realizado com agentes de saúde dos bairros
Ilha do Retiro, Engenho do Meio e Várzea.
Antes mesmo de existir o denominado bairro Ilha do Retiro, em 1872 foi
inaugurada uma ponte de madeira que ligava a parte central de Recife a esta área, mas
que servia apenas de passagem para chegar à Madalena, um dos engenhos próximos à
cidade (CAVALCANTI, 1998). Talvez devido à construção desta ponte é que tenha
sido possível a ocupação mais intensa da área denominada atualmente como o bairro
de Ilha do Retiro, já no início do século XX.
30
Uma das edificações que passou a ter importância no conjunto do atual bairro foi
a construção do Núcleo Esportivo Sport Clube do Recife. Inaugurado em 13 de maio
de 1905, foi a concretização da idéia de Guilherme de Aquino Fonseca, que depois de
praticar “foot-ball” na Inglaterra, chegou a Recife e juntamente com amigos se
empenharam para fundar este clube (CAVALCANTI, 1998).
Por volta de 1910, de acordo com depoimentos dos primeiros moradores da
porção mais pobre (Caranguejo e Tabaiares), a área onde está hoje a comunidade de
Caranguejo e Tabaiares era em parte mangue e em parte terra seca. Na parte do
mangue já havia um viveiro e essa área foi paulatinamente aterrada para a construção
dos mocambos. Quando a maré enchia dava para passar no local de bote e quando
secava as casas ficavam cheias de caranguejo. Na porção seca havia um campo de
futebol denominado Campo Tabaiares, a fábrica Delícia (que fabricava vinagre, café e
álcool) e uma área de matagal, em cujo mato, quando retirado, foram encontrados
vários documentos, deixando a entender que seria uma área onde os ladrões da cidade
deixavam os documentos das vítimas anteriormente assaltadas ou roubadas (ETAPAS,
1998).
Desta maneira, desde o início, o bairro cresceu com uma população e com
equipamentos urbanos referentes a um público misto do ponto de vista do poder
aquisitivo.
Com relação à parte mais abastada, foi construída uma infra-estrutura que facilita
a circulação de automóveis, além de possuir equipamentos como a Faculdade de
Administração e Engenharia da Universidade de Pernambuco (FCAP), empresas de
comércio e serviços no qual se destacam as de automóveis, e nas proximidades (Ilha
do Leite) está localizado o Pólo Médico da rede privada de saúde (ETAPAS, 2005).
Pode-se igualmente inferir, ainda, que as vias que dão acesso a várias partes da
cidade também facilitam o escoamento da rede de transporte pública, por meio da qual
o morador da porção mais pobre tem acesso a várias localidades gastando muitas vezes
apenas uma passagem. Por outro lado, devido à proximidade, também pode chegar ao
centro da cidade a pé, possibilitando a economia com transporte urbano e o acesso
mais fácil às possibilidades de geração de renda. É neste contexto que trabalham os
agentes Nâna, Sarah e Severino Silva.
31
Nâna terminou o ensino médio no ano de 2007. Sua vida profissional teve início
trabalhando como metalúrgica em São Paulo. Logo depois que voltou à Recife
começou a trabalhar como agente de saúde dentro da comunidade onde nasceu,
Caranguejo e Tabaiares, começou como agente da pastoral da saúde, depois foi agente
de saúde do IMIP e posteriormente agente da ESF. Afirma gostar de atuar como
agente de saúde. Pareceu ser uma pessoa um pouco desconfiada no início, mas depois
parecia estar bem à vontade e tranqüila, sendo uma pessoa que passa muita confiança.
Com relação aos aspectos positivos da área, foi lembrado da presença e funcionamento
da escola municipal, da ONG Adolescer e do Programa de Erradicação do Trabalho
Infantil (PETI). Como aspectos negativos, foram mencionados a péssima estrutura em
que se encontram as moradias, a presença de esgoto a céu aberto e, devido ao
desemprego, a presença de muitos catadores de lixo e, conseqüentemente, uma grande
quantidade de lixo reciclável. Outros aspectos negativos são: o uso de drogas, o alto
índice de alcoolismo e de violência.
Os agentes de saúde do PSA, Sarah e Severino Silva, trabalham tanto com a parte
mais rica quanto a mais pobre do bairro, os dois dividem a área denominada Ilha do
Retiro.
Sarah é bióloga e técnica em enfermagem. É habilidosa com as pessoas e passa
bem as informações. Essas características facilitaram seu trabalho de educação
ambiental, a partir do qual já conseguiu a confiança da comunidade. Seus colegas
também afirmam que trabalha com competência e seriedade, facilitando a realização
de um bom trabalho de equipe. Durante o contato na pesquisa pareceu ser alguém que
é muito sensível às necessidades da comunidade, chegando em alguns momentos a
sofrer com isso. Sua impulsividade, característica marcante em sua personalidade, tem
ajudado a tomar atitudes rápidas, quando possível, para amenizar os problemas locais.
Severino Silva é tido pelos colegas como alguém que tem um bom conhecimento
técnico na área de saneamento. É criativo e isso o ajuda a estar sempre elaborando
propostas para melhorar o trabalho. Consegue interagir bem com as ACS, liderança
comunitária, além de se relacionar bem com boa parte das pessoas com quem tem
contato. Quando realiza palestras para crianças e adolescentes sobre educação
ambiental as pessoas o admiram pela simplicidade. Seus colegas o admiram também
32
por ser muito responsável, ter uma visão crítica e conhecer muito bem a área por onde
transita, tanto na porção mais carente, Caranguejo e Tabaiares, quanto na porção mais
abastada da Ilha do Retiro.
Com relação à área desses dois agentes foi colocada em relevância
principalmente a questão do trabalho, em que destacou-se a boa intersetorialidade e os
bons resultados da educação ambiental realizada pelos agentes do PSA.
Os atuais bairros Engenho do Meio e Várzea, localizados à oeste no DS IV,
apesar de não estarem em áreas contíguas, possuem algumas situações históricas
comuns ao longo de sua formação espacial.
Logo no início do século XVI as denominadas Várzeas do Capibaribe começaram
a ser povoadas: os engenhos foram levantados e foi construída uma igreja. No final
deste mesmo século a Várzea do Capibaribe já era considerada um lugar propício à
extração da cana-de-açúcar devido à condição topográfica da área: os engenhos
estavam distribuídos na planície (BRAGA, 2007; RECIFE, 1989).
Entre o fim do século XVI e início do século XVII, assim como ocorreu com os
arrabaldes ribeirinhos dos Engenhos de Monteiro e de Ana Paes (citados
anteriormente), os engenhos situados às margens do Capibaribe neste trecho também
“representavam um papel significativo na organização sócio-econômica e espacial da
cidade” (RECIFE, 1989, p. 212) inclusive porque, até então, as Várzeas do Capibaribe
se estendiam até as freguesias de Afogados, à sudeste, e ao Poço da Panela, à nordeste.
Dessa forma, a área onde hoje se localiza o bairro da Várzea, que na época era uma
freguesia, passou a ter um pequeno povoado, com arruamento e casas ao redor da
pequena igreja de Nossa Senhora do Rosário (RECIFE, 1989).
Em 1633, os holandeses que ocupavam o Recife e região saíram do Forte
Príncipe Guilherme para conquistar uma área do atual bairro do Curado, localizada
próximo aos atuais bairros Várzea e Engenho do Meio. No caminho ocorreram
conflitos que interferiram na dinâmica das Várzeas, de forma que alguns engenhos que
funcionavam foram extintos. Só a partir do século XVIII, é que nos locais desses
antigos engenhos surgiram pequenos aglomerados, dentre eles o denominado Engenho
do Meio (RECIFE, 1989). Após esse período estas áreas passam a ser mais
independentes uma da outra.
33
Com relação à Várzea, no século XIX é aprovada a lei n. 36 de 6 de Maio de
1838 que separou a área da atual Várzea das Freguesias de Afogados e Poço da Panela.
Desde então, a área do bairro passa a ter um núcleo mais definido e as construções
passam a intensificar-se em torno deste núcleo. Logo após 1838 são construídas várias
edificações às margens do canal Cavouco e adjacências, isso tem uma repercussão
posterior com a percepção de que por volta do ano de 1880 as águas do rio já
demonstravam indícios de poluição (BRAGA, 2007; RECIFE, 1989).
No fim do século XIX e início do XX a Várzea passa a ser considerada mais
urbana após a inauguração da Escola Pinto Damaso, em 1896 e o Asilo Magalhães
Bastos, em 1904, assim como em decorrência da implantação de serviços urbanos de
transporte. Esses fatores, dentre outros menores, influenciaram na urbanização de
sítios e na comunicação mais direta com a cidade (RECIFE, 1989). No século XX
alguns dos aspectos que identificam o bairro Várzea são construções antigas e a
família Brennand.
As construções antigas convivem com a cidade atual, dando-lhe um aspecto mais
bucólico e possibilitando o contínuo vivenciar da história das “Várzeas do
Capibaribe”, através, por exemplo, do Asilo Magalhães Bastos que, atualmente, está
sendo utilizado como creche e escola pelos moradores de uma comunidade pobre
denominada Campo do Banco (RECIFE, 1989).
A família Brennand também identifica o bairro por vários aspectos. O primeiro
seria a questão da posse de uma área muito extensa de terras na Várzea, tanto que
Braga (2007) afirma que por muito tempo essas terras eram confundidas com suas
propriedades. O segundo aspecto seria a implantação do complexo industrial com a
fábrica de vidros e azulejos, o qual culminou também com a construção da vila para
funcionários e toda uma estrutura complementar (BRAGA, 2007). O terceiro aspecto
seria pelo lado artístico e excêntrico, no qual se destacam: a oficina, local de visitação
por moradores e turistas; as esculturas presentes na cidade, os prêmios recebidos e o
castelo construído com aspecto medieval, dentre outros elementos que concedem à
família espaços garantidos na mídia local.
É neste bairro, Várzea, que trabalha o agente de saúde do PSA Poeta, uma pessoa
de aspecto calmo e sensível e que se mostra extremamente preocupado com o
34
próximo. Está sempre em busca de realizar ações que motivem e sensibilizem, dentre
elas a elaboração de letras que se adequem a músicas conhecidas (as paródias) para
sensibilizar os moradores quanto aos riscos relacionados ao mosquito da dengue e
formas de diminuir a quantidade de criadouros na sua área de trabalho, que é muito
próxima ao rio no seu baixo curso. Diante desta situação, Poeta elabora peças de teatro
e ações que beneficiem a comunidade na parte social, como a entrega de cestas básicas
em épocas festivas. O trabalho em equipe é muito valorizado nesse grupo, que utiliza
os fins de semana para ensaiar várias atividades relacionadas à educação popular. Com
relação à sua área de trabalho, esta foi descrita apenas como uma área à beira rio, no
baixo curso.
Voltando ao bairro Engenho do Meio, no século XX ele ficou conhecido pela
inauguração do Colégio Militar (1960); pelas Feiras do Comércio e da Indústria do
Nordeste (1966-67) que marcaram época em Pernambuco como a maior feira do
gênero na região nordeste; pela inauguração da Escola Técnica Federal de Pernambuco
e a reativação do Colégio Militar do Recife (década de 1970) (CAVALCANTI, 1998).
Na porção mais pobre trabalha Vitória. Esta é considerada uma pessoa muito
disponível para realizar qualquer atividade na comunidade em Engenho do Meio.
Começou seu trabalho como ACS a partir de um concurso. No início tinha receio de
não se adaptar, mas devido seu dinamismo e vontade de fazer o melhor, passou a
conhecer muito bem sua área. Sua habilidade de lidar com o público conquistou a
todos. Durante a presente pesquisa pareceu ser muito desinibida e uma pessoa que tem
muita vontade de aprender. Com relação à sua área, destaca-se como ponto positivo o
fato das pessoas serem esclarecidas e a comunidade não ser tão carente. Já com relação
aos pontos negativos, foi apontada apenas a falta de uma pessoa específica na
farmácia.
No Distrito Sanitário V, as atividades de campo foram realizadas com agentes de
saúde dos bairros Afogados e Areias.
A construção do Forte Príncipe Guilherme, por volta de 1633, pelos holandeses,
deu origem à povoação de Afogados. Este nome “Afogados” deve-se ao rio local onde
morria muita gente afogada (BRAGA, 2007).
35
No século XVIII duas ações foram tidas como importantes nesta área. A primeira
foi em 1737, com a construção de uma ponte e feito um aterro , a partir do qual se
originou o Aterro dos Afogados. A segunda foi em 1787, com o alargamento do aterro
e a instalação de uma feira (BRAGA, 2007).
No século XIX ocorreu um novo ciclo de conflitos e aterros. Com relação aos
embates, o primeiro ocorreu em 1824, entre forças republicanas e a corte, durante a
Confederação do Equador. O segundo momento foi em 1935, com a Intentona
Comunista. Com relação aos aterros, houve novo aterramento em 1850 para a
construção da Estrada dos Remédios. Entretanto, para quebrar um pouco este ciclo de
aterros e conflitos, outro tipo de evento ocorreu por volta de 1897, a construção da
Igreja Nossa Senhora da Paz, no Largo da Paz (BRAGA, 2007).
No século XX destacou-se a construção do Mercado de Afogados (1934) e sua
reforma em 1994, assim como a construção de um viaduto da rede ferroviária do
Nordeste em 1957 (BRAGA, 2007).
Atualmente o bairro Afogados é muito conhecido por seu comércio dinâmico, a
partir do Mercado de Afogados, e pela intensa circulação de pessoas e de mercadorias,
propiciada pela localização de um ponto de parada da estação do metrô do Recife.
Neste bairro trabalha o agente de saúde do PSA Max.
Max é considerado pelos seus colegas como alguém que tem coragem, capaz de
enfrentar a população no sentido de fazer com que haja mudanças nos costumes. De
acordo com os colegas de trabalho, ele, de fato, conseguiu seu intento de sensibilizar e
conscientizar mudando os costumes da população, conseguindo contribuir com a
diminuição dos casos de dengue. Além do trabalho cotidiano, ele está sempre engajado
com a comunidade para realizar outras atividades relacionadas à preservação do meio
ambiente, à melhoria da saúde da população e das condições econômicas da
comunidade, como, por exemplo, o trabalho com coleta seletiva e de coleta de óleo de
cozinha para fabricação do sabão, gerando renda para a comunidade. Começou o curso
superior de administração, porém não concluiu, mas segundo seus colegas tem uma
capacidade crítica e analítica fantástica da conjuntura social, política e econômica,
além de estar sempre atualizado através da internet. Dentre suas qualidades, destacam
os colegas, está a de sempre trazer sugestões para resolução e encaminhamento dos
36
problemas da área. Gosta muito de fotografia, e utilizou as mesmas para comparar, a
partir da imagem, a situação encontrada quando chegou para trabalhar em uma das
áreas e quando saiu. Não possui mais estas fotografias, mas afirmou que a diferença
foi grande. Costuma recorrer ao uso de fantoches, na área de trabalho, como forma de
promover a educação em saúde, com destaque para a figura do cachorro dentro da
casa, pois geralmente há um cachorro no domicílio. Isso tem grande repercussão junto
à comunidade. No contato durante a pesquisa, após ficar à vontade, todas as qualidades
colocadas pelos colegas tornaram-se presentes, além de ter se mostrado um ótimo
contador de histórias e estórias. Consegue a atenção e ao mesmo tempo contagia a
todos com muitas gargalhadas devido a comicidade com que trata assuntos sérios,
ajudando as pessoas tanto a se sensibilizarem quanto a se divertirem muito.
Pela descrição deste agente de saúde consegue-se enxergar um pouco da história
da localidade marcada por conflitos históricos e sua história de conflitos com a
população no sentido de propor mudanças e melhorias para os próprios moradores, nos
quais teve êxito em algumas de suas lutas. Com relação à sua área de trabalho, a
mesma foi descrita como violenta, com problemas de coleta de lixo e presença de
catadores, assim como o trabalho ser dificultado devido à muitas pendências e
presença de terrenos baldios, o que propicia a grande quantidade de focos existentes.
Com relação ao Bairro Areias, especificamente, foram encontrados apenas alguns
marcos importantes no século XX. Um deles foi ter em sua área o prédio da Sociedade
Algodoeira do Nordeste Brasileiro (SANBRA), criada em 1923. A criação da “Troça
Carnavalesca Mista Lavadeira de Areias”, criada em 1940 e entre 1951/52 a
construção de casas populares no âmbito da “Liga Social contra os Mocambos”,
direcionado ao abrigo das lavadeiras, e denominado de “Vila das Lavadeiras”
(PERNAMBUCO DE AZ, 2---).
Atualmente o bairro é muito conhecido pelo PAM (Posto de Atendimento
Médico) de Areias, pois atrai grande fluxo de pessoas de toda a cidade ao bairro. Neste
contexto trabalha Tinhão.
Tinhão, alguém que valoriza suas raízes étnicas, é visto como uma pessoa muito
dinâmica e que tem um grande potencial de trabalho. Trabalha desde jovem pela
comunidade de Jardim Uchoa. Foi a liderança comunitária que o chamou para
37
trabalhar como ACS. Mas seu dinamismo o fez ser útil não apenas na área da saúde,
mas também através da participação em uma ONG que tem convênio com a PCR.
Apesar disso, seus colegas dizem que ele é pouco explorado diante de seu grande
potencial, e isso pode desestimular um dia. Durante a pesquisa pareceu ser muito
centrado, atualizado e consciente do que faz.
Com relação ao local de trabalho foi dito que é visto como aspecto positivo o fato
de a área ser diversificada e o pessoal em geral ser esclarecido. Entretanto, na parte
mais pobre foi colocada a necessidade de ter saneamento e de alimentação adequada à
população.
No Distrito Sanitário VI foi possível obter a participação de apenas um agente de
saúde, é uma ACS que trabalha no bairro da Imbiribeira.
Este bairro ficou famoso quando houve a execução de marinheiros em 1893, em
decorrência do envolvimento dos mesmos na denominada Revolta Armada. No ano
seguinte esses corpos foram exumados e depositados em um Mausoléu na Igreja
Matriz dos Afogados (CAVALCANTI, 1998). Já no século XX, no fim da década de
1960, passou a funcionar o Ginásio de Esportes Geraldo Magalhães, denominado
Geraldão, o qual, de acordo com Cavalcanti (1998), seria um dos maiores Ginásios de
Esportes do nordeste brasileiro na época.
Um pouco distante destes marcos trabalha a agente de saúde ACS em ação. Esta
é uma agente que, de acordo com os colegas de trabalho, é uma líder inata da
comunidade Dancing Days. Começou a trabalhar pela comunidade como voluntária na
formação de uma escola, já que não existia nenhum equipamento de infra-estrutura
nessa época. Nesse local já fazia o trabalho de educação à saúde e seu interesse nessa
área foi gradativamente crescendo. Quando surgiu a oportunidade de trabalhar como
ACS aceitou com alegria. Como ACS seus colegas afirmam que ela se destaca no
trabalho com os idosos. Em geral ela é uma das que mais conhece as necessidades das
pessoas. No contato com a agente foi possível perceber que ela organiza e expõe as
idéias com muita clareza e em uma velocidade que facilita a apreensão do que ela está
falando. Também parece estar sempre procurando algo para melhorar a situação de sua
comunidade, e esta busca inclui programas do governo federal, estadual, municipal, da
ajuda de alguma ONG ou qualquer outra instituição que esteja disposta a contribuir.
38
Com relação à sua área, foi dito que é uma comunidade de 800 famílias e, mais
ou menos, 3.500 pessoas, sendo o nível sócio-econômico muito baixo. Instalaram-se
em uma área que não havia infra-estrutura e atualmente continua sem saneamento
básico. Isso acarreta em doenças infecto-parasitárias, sendo as crianças as mais
afetadas. Outros problemas de saúde prevalentes, neste caso nos adultos, é a pressão
alta e a diabetes. Com relação ao serviço oferecido falta dentista,
otorrinolaringologista para criança e a marcação de consultas com especialistas é
muito deficiente.
Enfim, os sujeitos que fizeram parte desta pesquisa são pessoas que buscam fazer
a diferença no seu local de trabalho e que apresentam muitos indícios de estarem
desenvolvendo um conhecimento geográfico. Chama a atenção a forte religiosidade de
muitos deles, o que pode estar influenciando na dedicação com que trabalham e com
uma postura mais otimista diante da realidade que se apresenta para eles no dia-a-dia.
Diante disso, como apreender esse conhecimento geográfico do agente de saúde
incluído nesses dois programas? Que técnicas de coleta de informações seriam mais
eficazes para apreender da melhor maneira esse conhecimento? De que serve esse
conhecimento na prática de trabalho deles? Essas e outras perguntas permeiam esse
trabalho que será detalhado nos capítulos seguintes.
Este capítulo mostrou um pouco do contexto em que os agentes de saúde
trabalham. Por um lado, a partir da combinação de modelos assistenciais de saúde que
surgiram em tempos e com paradigmas diferenciados, mas que se relacionam
formando um sistema de saúde que aproveita um pouco das ações e pensamentos de
cada modelo. Por outro lado, esses modelos assistenciais estão agindo em um espaço
geográfico que também é fruto de ações acumuladas ao longo do tempo e que, pelo
menos em alguns casos, têm influenciado no modo de agir desses agentes de saúde nos
bairros onde trabalham.
Comparando-se estes modelos assistenciais aos sistemas técnicos apresentados
por Santos (1997) pode-se também apreender algumas possibilidades de entendimento.
Santos (1997) afirma que há correlação entre a forma como os sistemas técnicos
se combinam e sua conseqüência sobre as formas de vida possíveis naquela área.
39
Assim como quando se verifica que uma técnica predomina sobre a outra, pois é
necessário verificar se os resíduos do passado são obstáculos à difusão do novo, ou, ao
contrário, encontram formas de permitir ações simultâneas.
A implantação de diferentes modelos assistenciais para enfrentar as doenças que
surgem ao longo do tempo tem trazido uma peculiaridade ao espaço geográfico do
Recife, as quais, combinadas à história local, fizeram surgir respostas diferentes na
cidade, bairro ou comunidade em que são implantados os modelos. Foi o que se
percebeu, por exemplo no Distrito Sanitário II no qual, da mesma forma que a história
do bairro onde atuam, que propicia o encontro, esses agentes também buscam espaços
de encontro e aprofundamento de relacionamentos entre a equipe e o usuário, ou
paciente.
Também foi observado que esses resíduos do passado fizeram surgir ações
simultâneas e até mesmo complementares, como é o caso das campanhas de
imunização com ações de educação em saúde e sanitária.
Capítulo 2...
Conhecimento geográfico e a prática da
Vigilância em Saúde
Olhar o território e buscar entendê-lo
é mais do que dominar um conjunto
de técnicas; é assumir uma forma de
raciocínio, adotar uma lógica diferente
para compreensão do processo saúde-
doença
(SILVA, 2004)
41
2. CONHECIMENTO GEOGRÁFICO E A PRÁTICA DA VIGILÂNCIA EM SAÚDE
A presente pesquisa parte de uma compreensão dos sujeitos sociais como
aprendizes em suas práticas cotidianas. De acordo com Larossa (1995), essa
possibilidade de aprendizagem é facilitada na medida em que o sujeito passa a ter
consciência de si e busca gerir suas próprias atitudes. Estando consciente e autônomo,
pode-se considerar que esse sujeito estaria maduro, equilibrado para com as práticas
educativas.
Com relação ao conhecimento geográfico dos agentes de saúde da ESF e do PSA
na cidade do Recife, a consciência de si e a busca pela gerência de suas próprias
atitudes também estão presentes para a implementação dessas práticas educativas.
Uma forma de demonstração do amadurecimento deste conhecimento passa pelo
desenvolvimento de competências e habilidades sociais.
2.1
COMPETÊNCIAS E HABILIDADES SOCIAIS DO SUJEITO
Entende-se por “competências sociais”
5
, as capacidades mais gerais de operar
com os conhecimentos e que são demonstradas por meio de habilidades e
comportamentos. Já as habilidades e comportamentos são os dados que de fato são
visíveis ao pesquisador (ALLES, 2006a).
Aplicados estes conceitos à realidade de trabalho dos agentes de saúde da ESF e
PSA, torna-se possível comparar e distinguir diferentes competências. Contudo, ainda
que aplicadas aos agentes de saúde, essas competências são tratadas de forma
diferenciada a depender do grupo que trata do tema, pois estão inseridos em escalas
geográficas distintas, com ações igualmente variadas.
5
Durante todo o trabalho será considerado que as “competências” são sociais porque serão trabalhadas as
competências do sujeito e seu desenvolvimento no cotidiano de trabalho, essas mesmas competências no
trabalho e as competências diante de um projeto educacional mais amplo, que visa o desenvolvimento de
competências através da capacitação.
42
O debate a respeito do tema teve início na década de 1970, porém ganhou
expressão a partir da década de 1980 no mundo do trabalho no contexto da economia
flexível (ALLES, 2006b; ZARIFIAN, 2001).
De acordo com Fleury & Fleury (2001b), as competências sociais têm sido
discutidas a partir da associação dos níveis de compreensão relacionados à pessoa/
sujeito (competência do indivíduo), em que o desempenho do sujeito é destacado; no
nível das organizações (as core competences), em que é exigido determinado perfil de
trabalhador; e dos países (sistemas educacionais e formação de competências),
situação em que o governo ou instituições de ensino autorizadas pelo governo e
influenciadas pelo empregador, buscam preparar o sujeito, trabalhador de determinado
setor, para estar em condições de se encaixar no perfil exigido.
No âmbito do sujeito, a competência social é visível através das habilidades dos
indivíduos. Neste caso, observa-se o desempenho do indivíduo de várias maneiras para
chegar-se a alguma conclusão sobre as competências desenvolvidas. (FLEURY &
FLEURY, 2001b; HERNANDEZ, 2000; RAMOS, 2006).
De acordo com Fleury & Fleury (2001b) e Alles (2006a), alguns dos principais
autores que se interessam pelo conceito de competência na perspectiva do indivíduo
são David McClelland (década de 1970 nos EUA), Richard Boyatzis, Lyle Spencer e
Signe Spencer (década de 1980 nos EUA) e Claude Levy-Leboyer (década de 1990 na
França). É uma perspectiva voltada para os conhecimentos da psicologia, que tem por
base a motivação como propulsora de todas as competências (ALLES, 2006a).
Apesar do enfoque no indivíduo, Alles (2006b) afirma que essas competências
surgem sempre dentro de um contexto no qual, depois da comunicação com outros
indivíduos nesse mesmo contexto, são geradas competências. Essa afirmação fornece
também o fundamento para que se considerem as competências individuais como
competências do sujeito agente de saúde.
No que diz respeito às organizações, e que há aplicações para o serviço público, a
competência está associada ao modelo de produção atual em que a flexibilização da
economia, segundo Zarifian (apud Fleury & Fleury, 2001a), exige um trabalhador que
esteja pronto a lidar com o imprevisto, entenda as necessidades da empresa e preste
43
um bom serviço ao cliente. De acordo com Fleury & Fleury (2001b), a competência
passa a ser entendida como uma série de ações que visa agregar valor econômico à
organização e valor social ao indivíduo.
Já com relação aos países, o sistema de competências tem sido implantado
principalmente através de reformas no sistema educativo, auxiliando no crescimento e
diversificação da oferta em educação profissional, e, em alguns casos da reorganização
da gestão do trabalho (RAMOS, 2006).
Estes níveis de compreensão apresentados por Fleury & Fleury (2001b)
possibilitam organizar o entendimento das competências de acordo com a escala
geográfica de estudo. Já com relação aos marcos conceituais, o entendimento das
competências segue um rumo um pouco diferenciado.
Segundo Hernandez (apud RAMOS, 2006), os marcos conceituais que têm
ordenado à implantação de sistemas de competência profissional podem ser entendidos
pela acepção do conceito performativo e disposicional ou reflexivo de competência.
De acordo com este autor, o conceito performativo de competência busca
observar a noção de competência a partir do desempenho do indivíduo revelado em
uma situação profissional, segundo padrões de qualidade. Os procedimentos
metodológicos apontados por Hernandez para lidar com esta abordagem é a descrição
dos desempenhos esperados (a partir de investigação já realizada em outro momento
ou com pessoas que estão ligadas ao ramo de trabalho), a formulação de normas de
competência e a realização das avaliações em situações de trabalho ou em condições
equivalentes (RAMOS, 2006).
Já o conceito disposicional ou reflexivo de competência tem por objetivo revelar
o conjunto de saberes e características incorporadas e mobilizadas por uma pessoa em
diversas situações de trabalho e na sua relação com outros trabalhadores. Esses saberes
e características são incorporados através da formação e da experiência que se
integram ao trabalho para solucionar situações distintas que se apresentam no dia a dia.
A partir dessa abordagem pode-se ter elementos suficientes para construir um
referencial que redesenhe e atualize os processos formativos, assim como modifique o
seu alcance.
44
Para descobrir esses saberes e características adotam-se procedimentos
exploratórios em que se buscam interlocutores diversos. O marco inicial é a
institucionalidade existente, a partir da qual se exploram formas de aproximação com
o mundo do trabalho incorporando novos âmbitos de aprendizagem e novas
tecnologias que possam atualizar e flexibilizar a oferta de formação educacional neste
setor de trabalho (RAMOS, 2006).
Hernandez (apud RAMOS, 2006) apresenta inicialmente uma abordagem
sistemática e mais próxima ao cotidiano (performativo) ao qual o sujeito agente de
saúde se relaciona. Enquanto que a segunda (conceito disposicional ou reflexivo)
busca apresentar uma abordagem mais exploratória e mais próxima ao contexto em
que esse trabalhador está inserido, a organização em si.
Com relação às competências gerais para o indivíduo, Lyle Spencer e Signe
Spencer, no livro intitulado Competence at work, models for superior
performance, classificaram os principais tipos de competências em: motivação,
características pessoais, conceito próprio ou conceito uno, conhecimento e habilidades
(ALLES, 2006b).
A partir do entendimento do significado de cada uma dessas competências no
decorrer do trabalho de campo exploratório, propôs-se uma classificação para esta
pesquisa da seguinte maneira: motivação, características pessoais, autonomia (conceito
próprio ou conceito uno), domínio conceitual (conhecimento) e domínio da linguagem
cartográfica (habilidade), competências que serão descritas a seguir.
De acordo com Birch & Veroff (1970) estudar a motivação é buscar explicações
sobre as razões de se realizar determinada ação. De acordo com Angelini (1973) tem-
se como pressuposto que sempre existe um motivo que orienta a pessoa para certos
objetivos, e que eles têm graus de intensidades diferenciados a partir de cada
indivíduo.
Além dos motivos estarem presentes em graus diferenciados, Angelini (1973)
aponta que é importante considerar que vários indivíduos podem realizar uma mesma
atividade animados por motivos diferenciados, embora considere que um mesmo
motivo possa fazer com que os indivíduos ajam de forma totalmente diferente. O autor
também lembra que a motivação é influenciada pela personalidade de cada indivíduo,
45
pelas experiências passadas de cada um, seja no trabalho ou em outro local e, pelos
fatores ambientais (ANGELINI, 1973).
Birch & Veroff (1970) afirmam que há pelo menos três pressupostos que
norteiam as teorias da motivação. O primeiro deles é que a unidade de estudo para a
teoria da motivação é a atividade, ou seja, é através da ação do indivíduo, de seu
direcionamento diante das possibilidades que se pode buscar entender a motivação de
um indivíduo. O segundo pressuposto consiste em que há possibilidade de codificação
fidedigna das atividades de forma científica. Já o terceiro é que as atividades têm
determinantes psicológicos contemporâneos, em outras palavras, as ações são
influenciadas pelo contexto em que se vive.
A atividade, unidade de estudo para a teoria da motivação, também é unidade de
estudo das competências de um indivíduo. Dessa forma, concorda-se com a afirmação
de David McClelland quando coloca que a motivação humana é a base pela qual se
desenvolve a gestão por competências, no qual se pode definir o motivo como
interesse de um logro baseado em incentivos que selecionam comportamentos
(ALLES, 2006a).
De acordo com Alles (2006a), pode-se dizer que alguém está motivado por
alguma coisa quando está sempre fazendo ou pensando sobre determinada atividade,
isto é, deixa de ser um pensamento ou atitude ocasional para ser um pensamento ou
uma atitude recorrente.
Do exposto, surgem várias indagações relacionadas à como estudar a motivação
dos agentes de saúde, assim como surgem indagações sobre quais motivos são
importantes para a realização de atividades relacionadas com outras competências
sociais.
Dessa forma, para entender a motivação dos agentes de saúde, uma das
possibilidades seria responder o que influencia a motivação do sujeito agente de saúde
no âmbito e fora do âmbito de suas atividades. Verificou-se na análise dos resultados
da pesquisa que o que estava fortemente associado ao grau de motivação seriam as
características pessoais.
As características pessoais são características que influenciam no desempenho
das competências e habilidades. De acordo com Spencer & Spencer estas podem ser
46
características físicas ou de comportamento, ou seja, que tem a ver com respostas a
determinadas situações do ambiente no qual a pessoa convive (ALLES, 2006b).
Certamente, a capacidade de resposta a diferentes situações do seu entorno
também pode ser associada ao domínio conceitual, o qual está intrinsecamente
relacionado ao conhecimento.
De acordo com Morin (1999), esse conhecimento passa a existir a partir do
atendimento de alguns princípios. O primeiro refere-se à conjunção de fatores
biológicos instituindo uma computação e ordenação de eventos. O segundo princípio é
o da auto-exo-referência, que permite a auto-computação, ou seja, o ser humano tem
uma auto-referência que confronta com referências externas para gerar novos
conhecimentos. O terceiro é que a apreciação da dualidade entre a objetividade e a
subjetividade humanas forma uma pluralidade complexa do ego-geno/sócio-centrismo,
isto é, considera-se o ser humano complexo a partir da aceitação de sua dualidade
objetiva e subjetiva concomitantemente.
Dessa forma, o conhecimento, para Morin (1999), é ao mesmo tempo cultural,
espiritual, cerebral e computante. Além disso, o autor acrescenta que o conhecimento
agrega algumas características. Uma delas é possuir bases flexíveis, isto é, estar em
permanente construção, em movimento. Outro fator importante é ter ciência de que o
conhecimento não pode ser completamente conhecido. Uma outra característica é
estabelecer diálogo entre a reflexão subjetiva e o conhecimento objetivo. O autor
também lembra que para se estudar o conhecimento (objeto) é necessário conhecer um
pouco a pessoa possuidora desse conhecimento (sujeito). Por fim, o conhecimento se
expressa através da linguagem.
Ainda com relação às características, Maturana (198-) coloca que esse
conhecimento é expresso de acordo com um contexto específico e Morin (2005)
acrescenta que o conhecimento opera por seleção de dados (separa, une, hierarquiza e
centraliza) e se dá por meio da lógica, que é comandada por fatores ‘supralógicos’.
Para se ter condições de saber se o sujeito analisado conhece algo, domina um
determinado conjunto de conceitos, é necessário saber se ele tem consciência de
determinado tema (MORIN, 1999). E, mais uma vez, Maturana (198-) reforça que esta
consciência é dependente das relações entre os sujeitos.
47
De posse do conhecimento e tendo consciência de que ele existe, o que fazer com
ele? Repassar simplesmente? Maturana (198-), ao falar sobre a educação no Chile,
defende que o repasse do conhecimento é repleto de intencionalidade e que depende,
portanto, do contexto em que é apresentado e isso pode ser o causador de ações
completamente diferenciadas. Esse quadro de referência remete ao questionamento
sobre o que influenciou na construção do conhecimento desses agentes? Que tipo de
conhecimento esses agentes desenvolveram em relação ao espaço em que trabalham?
O que eles pensam sobre seu conhecimento? De acordo com a forma como é repassado
o conhecimento dos agentes, que tipo de ações (de moradores/ comerciantes/
industriais) são visualizadas nas áreas de trabalho? O que os agentes de saúde pensam
sobre o conhecimento da população atendida por eles?
Do exposto, entende-se que o conhecimento se expressa pela linguagem, e essa
linguagem, de acordo com Morin (1999), reproduz cultura, solução de problemas,
críticas, desvios, contestação e explicação, enfim, expressa idéias.
Ao discutir sobre linguagem, Chauí (2005) afirma que tanto na concepção
empirista quanto na intelectualista, a linguagem pode ser considerada um instrumento
de representação de coisas ou idéias. Dessa forma, é a partir do termo representação
que se irá congregar o resultado da expressão oral, da escrita, das ações e da produção
de imagens sobre a área. Entenda-se que a representação social está sendo concebida
neste momento como uma forma de expressão de um sujeito em relação ao um objeto
a partir de vários instrumentos (JODELET, 2001).
Quando Castoriadis (1990; 2007) trata do termo autonomia, o mesmo refere-se à
capacidade de auto-gestão, seja inserido num projeto individual ou coletivo. A palavra
autonomia origina-se do grego autós (o próprio), mais nómos, que possui duas
acepções: ‘lei’ e ‘convenção’ (SOUZA, 2006). Dessa forma, a autonomia tem o
sentido de ‘lei própria’ ou ‘convenção própria’.
A autonomia seria, portanto, expressa individualmente e coletivamente
(CASTORIADIS, 2007). Quando se expressa individualmente, significa o domínio do
consciente sobre o inconsciente, isto é, substituir o discurso do outro pelo seu próprio.
Buss (2002) afirma que, neste caso, a pessoa é a lei para si mesma, pode se auto-
governar. Já quando se expressa coletivamente, a autonomia é a elaboração do
48
discurso do outro (seja esse outro uma instituição, indivíduo etc.) e a reunião de um
conjunto de ações que favoreçam a discussão consciente de qualquer tipo de norma a
ser implementada (CASTORIADIS, 2007).
Apesar de Castoriadis (2007) mostrar claramente essas duas dimensões, no livro
de sua autoria El mundo fragmentado (1990), este filósofo afirma que a autonomia
individual e coletiva são inseparáveis uma vez que nada é isolado. Segundo ele, só é
possível haver uma sociedade autônoma se houver indivíduos autônomos, capazes de
instituir ações de forma lúcida e reflexiva, os quais só existem plenamente se
estiverem incluídos em uma sociedade autônoma.
Castoriadis (2007) também afirma que a autonomia, por mais expressiva que seja,
não atinge sua totalidade. Seja a individual, porque não consegue eliminar o
inconsciente, seja a coletiva, porque não consegue se excluir da dimensão social-
histórica a que pertence.
Para Morin (2005), o estabelecimento da autonomia individual, dessa lei e/ou
governo próprio, só é possível quando o sujeito tem consciência de que existem
imposições de atitudes provenientes de algumas regras impostas de poderes verticais,
superiores às suas relações cotidianas, e de poderes horizontais, que fazem parte da
escala geográfica do cotidiano desse indivíduo, cabendo a esse sujeito escolher, dentre
as idéias existentes, como pretende agir. Acrescente-se às idéias, as possibilidades, já
que essa autonomia só é favorecida quando há um conjunto de ações em outras
instâncias que permitem a ação do sujeito.
Coletivamente, Castoriadis (1990) defende que a autonomia surge do imaginário
do instituinte, o qual não é formalizado nem localizável, mas está presente expondo
suas idéias para serem discutidas, postuladas e aceitas coletivamente.
Souza (2006) afirma que, mesmo considerando as afirmações de Cornelius
Castoriadis em várias de suas obras no que diz respeito à autonomia não ser plena em
nenhuma sociedade, existe a possibilidade da presença de uma autonomia forte ou
fraca, fazendo com que se visualizem, na prática, graus de autonomia diferenciados.
Coloca como exemplo prático os casos em que a sociedade consegue, seja diretamente,
ou através de uma delegação, viabilizar determinadas ações.
49
No Brasil, o exemplo mais próximo dessa democracia direta, que demonstra certo
grau de autonomia dentro da sociedade, está representado pelo orçamento participativo
no município, no qual a população tem condições de votar, seja diretamente ou através
de delegados, que ações gostariam que fossem implementadas dentro da cidade
(SOUZA, 2006).
Recife é uma dessas cidades que implementou o orçamento participativo. Dessa
forma, tendo por base a decisão popular, parte do orçamento municipal é destinada a
ações que foram votadas diretamente pela população. Essas ações geram modificações
no espaço geográfico fazendo com que haja uma transformação na organização urbana
da cidade e, por conseqüência, uma certa territorialização por parte de quem decidiu
pela efetivação dessas ações.
No contexto da ESF e do PSA, a autonomia também pode ser exercida no âmbito
coletivo e individual. No projeto coletivo, ela pode ser executada pela própria
Prefeitura no sentido de viabilizar a participação da população e dos profissionais
relacionados às políticas, na tomada de decisões coletivas sobre modificações no
espaço da cidade. Enquanto no projeto individual, a autonomia do agente depende de
como ele age, a partir da combinação das influências impostas ao cargo que exerce
profissionalmente (agente de saúde), de sua relação com a comunidade e de seus
próprios valores. Estes, por sua vez, a partir de um conhecimento mais efetivo da área
e da busca pela transformação da realidade local, podem resultar ou não em
habilidades adquiridas e transformações da realidade local.
O domínio da linguagem cartográfica está vinculado à relação do homem com
o espaço geográfico. Sua representação através de um desenho, conforme mencionado
por Santos (2002), expressa uma visão e um raciocínio sobre o mesmo, assim como
tem relações com o meio cultural, expressando uma experiência vivida. Dessa forma,
percebe-se que está inclusa nessa informação a necessidade de se considerar duas
dimensões nessa competência: a subjetiva e a técnica.
Na dimensão subjetiva, a representação espacial reflete a autonomia do indivíduo
em meio ao seu contexto de vida e/ou trabalho, assim como o seu grau de domínio
conceitual.
50
Quando expressa a autonomia, o agente desenha elementos que são considerados
como locais que aglutinam características passíveis de mudar a realidade local.
Quando expressa o grau de domínio conceitual, o agente desenha elementos que
podem influenciar no processo saúde-doença da população, e que ele só pode observar
pela sua capacidade de aglutinar conceitos.
Dessa forma, a união da possibilidade de mudança (competência autonomia), à
consciência do agente de saúde sobre os riscos no ambiente (domínio conceitual), pode
ser observada quando se analisa o domínio da linguagem cartográfica. Ou seja, o
domínio da linguagem cartográfica pode conter uma espécie de síntese da
demonstração das competências autonomia e domínio conceitual.
Além dos fatores já mencionados na dimensão subjetiva, há outros que podem
influenciar na qualidade do domínio da linguagem cartográfica, porém em uma
dimensão técnica, dentre eles pode-se destacar: redução proporcional, projeção,
simbologia (ALMEIDA, 2001); relações de diversidade, ordem, proporcionalidade
(MARTINELLI, 2006) e; entendimento a partir dos níveis lexical, funcional e
cognitivo (MACEACHRER, 1995).
No contexto do mapa mental, a redução proporcional busca situar os objetos uns
em relação aos outros e estes objetos são reduzidos por comparação. A projeção está
relacionada às diversas perspectivas em que são vistos os objetos, nos quais aparecem
objetos rebatidos, desdobrados e vistos à 90º ou a 45º. A simbologia seria a
representação pictórica de objetos, através de cruzes, estrelas, dentre outros
(ALMEIDA, 2001).
As relações de diversidade estão relacionadas aos elementos diferentes no mapa
como casa, igreja e escola. A questão de ordem tem a ver com um mesmo objeto,
porém em uma posição diferenciada, como uma escola pública e particular. Já a
proporcionalidade está relacionada à intensidade como, por exemplo, a representação
de um criadouro de animais pequeno, médio e grande (MARTINELLI, 2006).
Com relação aos níveis lexical, funcional e cognitivo, estes estão mais
relacionados ao manuseio do mapa, no qual o entendimento a partir do nível lexical
tem a ver com o que significa cada símbolo. O nível funcional seria a interpretação das
51
funções de cada símbolo e no nível cognitivo seria uma avaliação de como o indivíduo
entende o mapa a partir do seu conhecimento anterior (MACEACHRER, 1995).
Dentre essas variáveis, foram utilizadas para este estudo a projeção, a
localização/ proporção e a diversidade de elementos. Além disso, o domínio da
linguagem cartográfica requerida do agente de saúde refere-se tanto à experiência com
a leitura e elaboração de mapas quanto à familiaridade com a problemática local.
A competência domínio da linguagem cartográfica estaria, portanto, relacionada à
representação gráfica de como o agente de saúde age ou sente-se à vontade para agir
num espaço em que ele sabe o que encontrar de influências positivas e negativas para a
saúde do morador. Dessa maneira, temos fatores subjetivos (autonomia, domínio
conceitual), e mais específicos da técnica (projeção, proporcionalidade/ localização e
diversidade de elementos) que contribuem para o domínio da linguagem cartográfica.
2.2
A MATRIZ DE COMPETÊNCIAS E HABILIDADES SOCIAIS DOS AGENTES DE SAÚDE
A partir dessas concepções foi necessário estabelecer uma estratégia de
investigação para poder descrever os desempenhos esperados para o agente de saúde e,
por conseqüência, definir que competências são inerentes aos agentes de saúde da ESF
e do PSA.
Vale relembrar que o objetivo desta pesquisa é analisar o conhecimento
geográfico dos agentes inseridos na ESF e no PSA na cidade do Recife a partir das
competências desenvolvidas no processo de trabalho na política de saúde local.
Compreendendo que a Estratégia de Saúde da Família (ESF) e o Programa de
Saúde Ambiental (PSA) implicam em práticas sociais, as quais, por conseqüência,
produzem e resultam em espaços educativos, de forma que se pode afirmar que estão
em desenvolvimento competências e habilidades sociais. Com base nisso, tanto a
qualificação quanto o processo de trabalho aparecem como impulsionadores de
aprendizados, sendo o processo de trabalho a síntese do encadeamento de
aprendizagens.
Desta forma, a primeira ação prática para pesquisa no trabalho de campo
exploratório foi a indicação, por parte dos enfermeiros da ESF e supervisores do PSA,
52
de agentes de saúde que se destacam por fazer mais do que sua obrigação
6
ou por uma
característica pessoal forte, e a especificação do destaque.
Aproveitou-se a oportunidade também para pedir a esses enfermeiros e
supervisores que indicassem o que caracterizam de bom e de ruim sua área de trabalho
(doenças, problemas sócio-econômicos, aspectos ambientais, etc.) sendo possível um
diagnóstico por parte desses profissionais sobre a área de trabalho. Como não foi
possível visitar todas as Unidades de Saúde da Família (USF) e pontos de apoio, foi
pedido que os mesmos fornecessem o endereço de seus locais de trabalho. E por não
haver uma lista pronta dos agentes mais antigos, também foi perguntado quais os
agentes eram mais antigos e quais destes estavam trabalhando em uma área que possui
também um agente do outro programa. Os resultados desta sondagem serviram de base
para dar prosseguimento à pesquisa.
Na ESF há 615 agentes de saúde que trabalham pelo menos desde de 2001 e, com
exceção das áreas em que há conflito de território (como a divisa entre Recife e
Jaboatão), todos esses ACS trabalham em áreas em que há também um ASA. Devido
ter se conversado com a direção do distrito e os enfermeiros foi possível ter uma
caracterização geral de cada distrito e de cada área da ESF com pelo menos a
localização da USF. Com relação aos destaques, foram apontados 199 ACS e
contabilizadas 53 características.
No PSA há 336 agentes de saúde que estão exercendo o cargo desde 2001 (ano de
implantação), destes, apenas 59 estão trabalhando em uma área em que também há um
ACS contratado desde pelo menos 2001. O contato com a direção de cada distrito e
com os supervisores permitiu a caracterização geral de cada distrito e de cada área do
supervisor com a localização do ponto de apoio. Foram realizados 146 destaques de
agentes do PSA, sendo contabilizadas 54 características.
6
De acordo com a Lei 11.350/2006 a obrigação do agente comunitário de saúde (ACS) consta de: a) elaborar
diagnóstico demográfico e sócio cultural da comunidade; b) promover ações de educação para a saúde individual
e coletiva; c) contabilizar os nascimentos, óbitos, doenças e outros agravos à saúde; d) estimular a participação
da comunidade nas políticas públicas voltadas para a área da saúde e; e) participar em ações que fortaleçam os
elos entre o setor saúde e outras políticas que promovam a qualidade de vida. Já os agentes de combate à
endemias (ACE) (que em Recife são denominados ASAS) têm como obrigação exercer atividades de vigilância,
prevenção e controle de doenças e promoção da saúde, desenvolvidas em conformidade com as diretrizes do
SUS e sob supervisão do gestor de cada ente federado.
53
Essas características ressaltadas, referentes aos comportamentos ou atitudes,
foram agrupadas, associando-se às competências gerais definidas para este estudo no
trabalho de campo exploratório
7
, resultados de pesquisas anteriores com agentes de
saúde (PEREIRA & GUIMARÃES, 2006 a e b) e o trabalho de campo realizado para
esta pesquisa cujos resultados foram parcialmente publicados (PEREIRA &
GUIMARÃES, 2007 a, b, c, d, e). A elaboração dessas informações resultou em uma
matriz de competências e habilidades sociais na qual cada competência possui
habilidades específicas e níveis diferenciados (elementar, de relações e sínteses e de
interações complexas) (quadro 1).
QUADRO 1
MATRIZ DAS COMPETÊNCIAS E HABILIDADES SOCIAIS DOS AGENTES DA ESF E PSA
HABILIDADES
COMPETÊNCIA
NÍVEL ELEMENTAR
NÍVEL DE RELAÇÕES E
SÍNTESES
NÍVEL DE INTERAÇÕES
COMPLEXAS
PODER
Busca articular-se com outras
organizações, além de seu vínculo
como agente de saúde para
melhorar as condições de vida da
população.
Busca articular-se com outras
organizações para obter apoio
político na comunidade e/ou
melhorar as condições de vida da
população.
Articula-se com outras organizações
para obter apoio político e quando
consegue algum benefício para a
comunidade faz grande propaganda
PERTENCIMENTO
Convive bem com a comunidade e
com a equipe de trabalho
Busca articular a comunidade e a
equipe, pensando formas de
integrar a comunidade com o
setor saúde.
Consegue promover eventos nos quais
a comunidade e o setor saúde passam a
ser apenas parte de um todo para
melhorar as condições de vida de
todos.
TRABALHO
Faz o que é solicitado.
Faz o trabalho e percebe a relação
entre seu trabalho e a importância
para a melhoria das condições de
saúde da comunidade
Percebe situações em que possa
relacionar o trabalho e a melhoria das
condições de saúde da comunidade.
ÉTICA
MOTIVAÇÃO (É o
que impulsiona o
sujeito a fazer algo)
Busca cumprir horários e fazer o
que mandam com cuidado. Quer
ser um bom funcionário da
prefeitura.
Busca cumprir as atividades
enquanto funcionário da
prefeitura e, enquanto pessoa quer
uma melhoria das condições de
saúde e ambientais dentro de sua
área de trabalho.
Busca cumprir as atividades enquanto
funcionário da prefeitura e, enquanto
pessoa, quer uma melhoria das
condições de saúde e ambientais em
sua cidade
7
Se houver interesse em saber quais as características apontadas pelos enfermeiros da ESF e supervisores do
PSA, consultar apêndice 1.
54
QUADRO 1 (CONT.)
MATRIZ DAS COMPETÊNCIAS E HABILIDADES SOCIAIS DOS AGENTES DA ESF E PSA
HABILIDADES
COMPETÊNCIA
NÍVEL ELEMENTAR
NÍVEL DE RELAÇÕES E
SÍNTESES
NÍVEL DE INTERAÇÕES
COMPLEXAS
QUE INTERFEREM POSITIVAMENTE
Características que não interferem no
desempenho das habilidades.
Características
complementares que ajudam
no desempenho das
habilidades.
Características que, associadas a
determinadas habilidades, fazem surgir
novas competências.
QUE INTERFEREM NEGATIVAMENTE
CARACTERÍSTI
CAS PESSOAIS
(São características
que influenciam no
desempenho das
competências e
habilidades)
Características que podem interferir
potencialmente no bom desempenho
de alguma habilidade.
Características que interferem
negativamente no desempenho
de alguma habilidade.
Características que interferem de tal
forma em alguma habilidade social que
pode fazer com que o indivíduo não
desenvolva determinada competência.
HABILIDADES
COMPETÊNCIA
NÍVEL ELEMENTAR
NÍVEL DE RELAÇÕES E
SÍNTESES
NÍVEL DE INTERAÇÕES
COMPLEXAS
VOCABULÁRIO
Descreve a área de trabalho utilizando
apenas o vocabulário usado na
capacitação profissional.
Relaciona o vocabulário da
capacitação com outros
apreendidos na família, escola
formal e sociedade quando
descreve sua área.
Relaciona o vocabulário apreendido
durante a vida para uma descrição
crítica da situação encontrada na área
de trabalho, tendo como foco os mais
importantes problemas da
comunidade.
ASSOCIAÇÃO DO CONCEITO COM O AMBIENTE DE TRABALHO
Observa o ambiente de trabalho a
partir dos conceitos apreendidos na
capacitação. Observa apenas os
elementos que o programa direciona.
Analisa o ambiente de trabalho
a partir dos conceitos
apreendidos tanto na
capacitação como outros
provenientes de suas relações
sócio-espaciais.
Promove um diagnóstico crítico das
relações do ambiente com o processo
saúde-doença, aplicando aos conceitos
apreendidos ao longo da vida.
COMUNICAÇÃO
DOMÍNIO
CONCEITUAL (É
fruto de um processo
educativo junto à
família, sociedade,
escola formal e
capacitação
profissional)
Sabe utilizar os conhecimentos
apreendidos na capacitação e os
repassa à população.
Sabe repassar os
conhecimentos apreendidos de
acordo com a situação
encontrada na população.
Sabe repassar os conhecimentos
apreendidos de acordo com a situação
no nível de entendimento da pessoa
que está recebendo a orientação
(idade, grau de instrução, cultura etc.)
HABILIDADES
COMPETÊNCIA
NÍVEL ELEMENTAR
NÍVEL DE RELAÇÕES E
SÍNTESES
NÍVEL DE INTERAÇÕES
COMPLEXAS
INICIATIVA
Procura sempre seu superior e
procura saber o que deve ser feito
e como deve ser feito a cada dia.
Sabe o que deve ser feito; faz seu
planejamento e busca resolver o
que for possível. O que não for
possível tenta esquecer.
Tem consciência do que deve estar
pronto no final de cada período de
trabalho; faz seu planejamento; busca
resolver o que for possível e encaminha
os problemas que não podem ser
resolvidos de imediato para os devidos
setores responsáveis.
ACESSO À ÁREA
Realiza visitas domiciliares e
atividades programáticas na área.
Realiza visitas domiciliares,
atividades programáticas na área
e busca ter boa relação e
interlocução entre o morador e o
serviço de saúde.
Realiza visitas domiciliares e atividades
programáticas na área. Faz interlocução
entre o morador e o serviço de saúde,
contribuindo para maior integração da
experiência individual com a
experiência da localidade ou de outras
áreas.
TRANSFORMAÇÃO DA REALIDADE LOCAL
AUTONOMIA
(Depende de sua
iniciativa e do
envolvimento do
agente com questões
da comunidade onde
trabalha)
Reproduz o discurso dos
programas sem a tentativa de
desenvolver o local.
Reconhece que existem
problemas além do discurso do
programa e influencia quem
convive no seu cotidiano.
Reconhece os problemas da
comunidade; contribui para a
formulação de um plano de ação e
mobiliza a sociedade para proceder a
mudanças na área.
55
QUADRO 1 (CONT.)
MATRIZ DAS COMPETÊNCIAS E HABILIDADES SOCIAIS DOS AGENTES DA ESF E PSA
HABILIDADES
COMPETÊNCIA
NÍVEL ELEMENTAR
NÍVEL DE RELAÇÕES E
SÍNTESES
NÍVEL DE INTERAÇÕES
COMPLEXAS
MANUSEIO DO MAPA
O mapa serve apenas para
identificar a trajetória de trabalho.
Serve também para identificar
elementos relevantes ao processo
saúde-doença dos moradores.
Além da localização de elementos,
observa também a relação entre eles e
formula hipóteses.
ELABORAÇÃO DO MAPA (DESENHO LIVRE)
DOMÍNIO DA
LINGUAGEM
CARTOGRÁFICA
(Está relacionado à
experiência com
leitura de mapas e à
representação
cartográfica da
realidade local)
Desenha bem o mapa a partir de,
pelo menos, um dos parâmetros
técnicos considerados (projeção,
proporção ou diversidade de
elementos).
Desenha bem o mapa a partir de,
pelo menos, dois dos parâmetros
técnicos considerados (projeção,
proporção ou diversidade de
elementos).
Desenha bem o mapa a partir dos três
parâmetros técnicos considerados
(projeção, proporção e diversidade de
elementos).
Elaborado por Martha Priscila Bezerra Pereira com base no trabalho de campo (2007)
Nesta matriz há um conteúdo geográfico que se expressa de variadas formas. Para
exemplificar, imagine que um agente de saúde possui naturalmente algumas
características pessoais como perseverança e capacidade de observar detalhes. Ao
assumir o cargo de agente de saúde percebe que tem algumas situações em que o
conhecimento adquirido na capacitação e na vida pessoal é capaz de resolver algo em
determinada situação.
Estando motivado pelo trabalho, o agente de saúde passa a tentar entender os
problemas e buscar soluções para a problemática da área. Nesta ação de tentar
entender a problemática e buscar agir ele é capaz de encontrar soluções e, juntamente
com a população atendida, modificar a realidade local, mudando o espaço geográfico
concernente à sua área de trabalho ou mesmo além desses limites. Nesse processo,
houve o desenvolvimento de um conhecimento geográfico na medida em que o agente
de saúde buscou formas de modificar a realidade local.
Uma das condições de perceber elementos que possam interferir no processo
saúde-doença é propiciada pela consciência do mesmo. Quanto maior a consciência do
risco ou da possibilidade de promoção à saúde através da presença de determinado
elemento, maior a capacidade de percebê-lo.
A percepção de riscos ambientais é importante quando se considera a
comunicação representada pelo uso da linguagem como veículo para prevenção
(OPAS, 2005). A percepção de elementos relacionados à promoção à saúde é
imprescindível para estimular ações que interfiram positivamente no processo saúde-
doença. Dessa forma, pode-se observar a possibilidade de aglutinação de conceitos e
56
relacionamento entre o mundo concreto e abstrato para que se perceba na paisagem
algo que possa interferir no processo saúde-doença.
Dessa forma, a percepção da paisagem estaria relacionada a essa imagem
percebida pela subjetividade do observador, seja quando observa sua área de trabalho
ou quando se observa dentro dessa mesma área.
Adaptando a problemática abordada por Ianni e Quitério (2005), quanto aos
problemas relatados pelos agentes de saúde da ESF e trabalho de campo realizado,
esse estudo investigou a percepção da paisagem a partir de quatro níveis escalares: a)
regional (abrange problemas relacionados ao município ou ao bairro); b) área de
trabalho (são questões relacionadas à microárea no caso do ACS e à área no caso do
ASA); c) peridomicílio (relacionado ao quintal, aos arredores da casa); d) domicílio
(tem a ver com o que ocorre dentro da casa) e; corpo (questões relacionadas ao
indivíduo). Nestes termos, entende-se uma paisagem que possui vários elementos a
serem analisados na sua dimensão visual.
A percepção dos elementos na paisagem que possam interferir no processo saúde-
doença da população atendida caracteriza-se como um evento prévio da apropriação
territorial, pois é a partir da consciência do que se está observando que se caracteriza a
possibilidade de ação. Essa atitude pode ter uma maior ou menor magnitude, a
depender de sua perseverança e capacidade de articulação, tornando a concepção de
território e suas diferentes formas e expressões como algo fundamental na observação
das práticas cotidianas dos agentes de saúde.
Através da atividade do agente de saúde no seu cotidiano de trabalho há
possibilidade de uma ação que confronta ou entra em acordo com a ação de outras
organizações pertencentes ou não à escala geográfica da comunidade e que, de acordo
com Lefebvre (2001), faz existir a necessidade da convivência de várias
territorialidades. Estas territorialidades podem ser exercidas por uma ONG local,
associação de moradores, alguma pessoa que exerce forte influência sobre os demais,
etc.
Pode-se entender que quando ocorrem ações dessas pessoas, de acordo com o
interesse de cada organização, há uma multiterritorialidade desarticulada, porém,
quando essas organizações resolvem agir em conjunto há uma multiterritorialidade
57
articulada, materializada na perspectiva de uma transformação da realidade local e,
conseqüentemente, do espaço geográfico. Através dessa ação intersetorial, há
possibilidade de um conhecimento da área mais apurado, fato que influencia em uma
maior acessibilidade, representando, portanto, uma apropriação do espaço.
Ao descrever a apropriação do espaço, Lefebvre (1992) apresenta uma
apropriação com laços muito similares com a apropriação do território, sendo esta
última uma forma de apreensão da primeira. Como o objetivo foi analisar a forma de
atuação desses agentes, se faz conveniente (e pertinente) a adoção de apropriação do
território ao invés de apropriação do espaço, uma vez que representa a forma pela qual
o agente acessa, conhece e se apropria do ambiente onde atua. Apropriação do
território é entendida, portanto, como conseqüência das práticas cotidianas dos agentes
em seu processo de trabalho nas quais há possibilidade de agir de forma intersetorial e,
com isso, desenvolver uma multiterritorialidade articulada.
A partir da descrição das características das competências e dos conceitos da
geografia selecionados, percebeu-se que a percepção da paisagem estaria estreitamente
ligada ao domínio conceitual, enquanto a apropriação do território estaria mais
relacionada à autonomia. As outras competências (motivação, domínio da linguagem
cartográfica e características pessoais) perpassam esses dois conceitos, conforme
modelo explicativo 1.
58
MODELO EXPLICATIVO
1
RELAÇÃO ENTRE COMPETÊNCIAS SOCIAIS E CONCEITOS DA GEOGRAFIA ATRAVÉS DE SUAS CARACTERÍSTICAS
Organizado por Martha Priscila Bezerra Pereira (2007).
Visível:
Não visível:
Características/ habilidades
Competências sociais
No caso dos agentes da ESF e do PSA
Motivação Autonomia
Domínio
conceitual
Domínio da
linguagem
cartográfica
Características
de cada
competência
Comparação com
conceitos da
Geografia
Autonomia
Domínio da
linguagem
cartográfica
Motivação
Domínio
conceitual
Apropriação do
território
Percepção da
paisagem
Características
pessoais
Característi
cas
pessoais
(trabalha mais que o normal, facilidade
de acesso, boa comunicação, domínio
da área, dedicação, etc.)
Capítulo 3...
De arruar por Recife ao percurso da pesquisa
O método nada mais é do que o
caminho a ser percorrido para atingir-
se o objetivo proposto (
PARRA
FILHO & SANTOS, 1998, p. 212)
60
3. DE ARRUAR POR RECIFE AO PERCURSO DA PESQUISA
De posse das informações sobre as características dos agentes de cada programa e
da matriz das competências e habilidades dos agentes de saúde, foram estabelecidos
alguns procedimentos para identificar os agentes de saúde na cidade do Recife que,
segundo os destaques dos enfermeiros e supervisores, estão desenvolvendo um maior
conhecimento geográfico.
As opções metodológicas adotadas na pesquisa foram decorrentes de seis meses
de trabalho de campo exploratório o qual se teve a oportunidade de conviver com
pessoas dos setores do Departamento de Atenção Básica (DEAB), responsável pela
ESF, Centro de Vigilância Ambiental (CVA) responsável pelo PSA, vários setores dos
seis distritos sanitários, além dos enfermeiros e supervisores de toda a cidade.
Nesse período, procurou-se, inicialmente, dados e documentos existentes e
aproveitou-se para realizar uma sondagem. O tratamento dessas informações exigiu
uma sistematização que permitiu a categorização das ações e características pessoais
marcantes dos agentes de saúde na cidade do Recife.
O resultado desse trabalho foi a elaboração de uma matriz por distrito sanitário e
por programa, estando as características localizadas nas linhas, e, após a numeração
dos agentes por distritos, estes foram representados por um número correspondente nas
colunas. Como exemplo será mostrada a matriz do distrito sanitário II, referente aos
agentes da ESF, no qual 39 agentes de saúde (dispostos nas colunas) estão
representados pela presença de cada característica (dispostas nas linhas). As linhas de
1 a 16 estão representadas pela motivação; as linhas 17 a 20 pela autonomia; 21 a 28,
domínio conceitual, 29 e 30, domínio da linguagem cartográfica e das linhas 31 a 53 as
características pessoais que interferem na eficiência das competências e habilidades.
Devido a cidade do Recife ser regionalizada por seis distritos sanitários, foram
elaboradas 12 matrizes, seis para a ESF e seis para o PSA (quadro 2)
8
.
8
Essas matrizes foram idealizadas no ano de 2006, em parceria com o professor Jorge Pickennhayn, da
Universidade de San Juan tendo como objetivo evidenciar o relacionamento dos agentes de saúde com as
características e comportamentos para identificar quais desses se evidenciam para o distrito sanitário e
posteriormente para o conjunto da cidade do Recife.
61
QUADRO 2
MATRIZ DAS CARACTERÍSTICAS POR AGENTES E POR DISTRITO
DISTRITO SANITÁRIO II REFERENTE A ESF
Fonte: Relato de técnicos, cargos comissionados e supervisores/ Organizado por PEREIRA, MPB (2007).
LEGENDA:
MOTIVAÇÃO
AUTONOMIA
DOMÍNIO CONCEITUAL
DOMÍNIO DA LINGUAGEM CARTOGRÁFICA
CARACTERÍSTICAS PESSOAIS
Logo após, foi elaborada uma nova matriz que possibilitasse, em um mesmo
quadro, a triangulação dessas informações por características de cada competência
social.
Para cada competência foi possível realizar questionamentos para se definir os
agentes que se destacassem em cada distrito sanitário da cidade do Recife e as
01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39
01 ENGAJADA
02 POLITIZADA
03 INTERAGE BEM
04 MOBILIZA EQUIPE
05 FAZ + QUE O NORMAL
06 TRAB. C. COMUNIC.
07 V
Í
NCULO C. COMUNIC.
08 PERCEBE O RISCO
09 TRAB. C. EDUCAÇ
Ã
O
10 ENV. C. O MORADOR
11 ENV. C. COMUNID.
12 LIDER
13 ENV. ATIV. ART
Í
STICA
14 RESPEIT. PELA COMUN.
15 DISPON
Í
VEL
16 LUTA POR MELHORAS
17 ANTECIPA O PROB.
18 DIN
Â
MICA
19 RESOLVE BEM PROB.
20 CONHECE BEM
Á
REA
21 FORMAÇ
Ã
O
22 LING. ACESS
Í
VEL
23 BOA COMUNICAÇ
Ã
O
24 TEM CONHECIMENTOS
25 EXPERI
Ê
NCIA
26 FALA BEM
27 ATIV. AESA, IESA, ETC
28 TRAB. ED. AMB. SA
Ú
DE
29 VIS
Ã
O CR
Í
TICA
30 DOM
Í
NIO DO LOCAL
31 PERFECCIONISTA
32 RESPONS
Á
VEL
33 TEM COMPROMISSO
34 ZELOSO
35 DISPOSIÇ
Ã
O
36 GOSTA DO QUE FAZ
37 EFICIENTE
38 ATENCIOSA
39 CUMPRE BEM JORNADA
40 DESENVOLVIDA
41 ACOLHEDORA
42 DELICADA
43 DETALHISTA
44 CRIATIVA
45 CONFI
Á
VEL
46 CARINHOSA
47 GENTIL
48 HABILID. C. P
Ú
BLICO
49 INTELIGENTE
50
L
UTA P. RESOLVER PROB.
51 ORGANIZAÇ
Ã
O
52 SE ENVOLVE EMOC.
53 SIMP
Á
TICA
CARACTER
Í
STICAS
DESTACADAS
N.
AGENTES DE SA
Ú
DE (IDENTIFICAÇ
Ã
O POR N
Ú
MEROS)
62
características significativas para o conjunto da cidade em cada competência social.
Tendo como exemplo a competência autonomia, será feita a descrição metodológica
para a escolha final dos agentes da ESF e do PSA.
O primeiro questionamento “Quais as características estão presentes na maioria
dos distritos?” foi realizado para verificar se pelo menos um agente de cada distrito
possuía determinada característica, uma vez que se fazia necessário saber se as
características apontadas eram representativas para o conjunto da cidade (quadros 3 e
4).
QUADRO
3
REPRESENTATIVIDADE DA COMPETÊNCIA SOCIAL AUTONOMIA NA CIDADE DO RECIFE, POR
CARACTERÍSTICAS E POR DISTRITO SANITÁRIO
- ESF
CARACT/
DS
I II III IV V VI TOTAL
17
2
18
6
19
3
20
3
TOTAL
2
3 2 2 3 2
Fonte: Relato de técnicos, cargos comissionados e supervisores/ Organizado por
PEREIRA, MPB (2007).
QUADRO
4
REPRESENTATIVIDADE DA COMPETÊNCIA SOCIAL AUTONOMIA NA CIDADE DO RECIFE, POR
CARACTERÍSTICAS E POR DISTRITO SANITÁRIO
- PSA
CARACT/
DS
I II III IV V VI TOTAL
7
3
8
6
9
1
10
1
11
5
12
2
13
5
14
5
15
3
16
4
17
6
18
3
TOTAL
5
10 8 9 5 7
Fonte: Relato de técnicos, cargos comissionados e supervisores/ Organizado por
PEREIRA, MPB (2007)
No caso da ESF, para a competência autonomia, apenas a característica 18
(Dinamismo/ Iniciativa...) está presente na maioria dos distritos sanitários. Já no PSA,
também para a competência autonomia, são proeminentes as características 8 (boa
interação com a comunidade/ facilidade de acesso), 11 (envolvimento com
63
organização de eventos), 13 (envolvimento com o bem estar do morador), 14
(liderança), 16 (cobra atitudes do serviço público) e 17 (iniciativa, dinâmica).
Em seguida, realizou-se o segundo questionamento: “Que distritos sanitários
possuem mais de 50% das características com relação à essa competência?” Neste
caso, que foram apresentadas 4 características para a ESF, considerou-se os distritos
que possuem a partir de 3 características. Desses, apenas os distritos II e V foram
contemplados. Com relação ao PSA, foram elencadas 12 características, sendo
contemplados os distritos II, III, IV e VI. Essa pergunta foi elaborada com o objetivo
de saber quais os distritos que estavam mais bem representados pelas características
dessas competências (quadros 3 e 4).
O terceiro questionamento (Nos distritos que concentram mais características em
número, quais os agentes que possuem as características que estão presentes na
maioria dos distritos?) teve como objetivo unir as informações das questões 1 e 2
(características e distritos apontados) para saber quais os agentes poderiam ser
escolhidos num primeiro momento. Foram encontrados 153 agentes, considerando os
destaques para os agentes da ESF e PSA, mais uma vez, como um exemplo,
demonstra-se a seguir os quadros dos agentes de saúde relacionados à competência
autonomia (quadros 5 e 6).
QUADRO
5
A
GENTES DE SAÚDE DA ESF QUE POSSUEM AS CARACTERÍSTICAS E OS DISTRITOS MAIS REPRESENTATIVOS
COM RELAÇÃO À COMPETÊNCIA
AUTONOMIA NA CIDADE DO RECIFE
DISTRITO II DISTRITO V
CARACT.
AGENTE AGENTE
18 23, 29, 31, 32, 39 20
Fonte: Relato de técnicos, cargos comissionados e supervisores./
Organizado por PEREIRA, MPB (2007).
QUADRO
6
A
GENTES DE SAÚDE DO PSA QUE POSSUEM AS CARACTERÍSTICAS E OS DISTRITOS MAIS REPRESENTATIVOS
COM RELAÇÃO À COMPETÊNCIA
AUTONOMIA NA CIDADE DO RECIFE
DISTRITO II DISTRITO III DISTRITO IV DISTRITO VI
CARACT.
AGENTE AGENTE AGENTE AGENTE
8
5, 18, 19, 20, 22, 25 11, 13, 14 6, 13, 14, 16, 20, 24
2, 4, 11, 13, 16, 17, 24,
28, 32
11
4, 25, 26 4, 6, 8, 14, 21, 25 2, 7, 23, 24 24
13
9, 21, 25, 26 4, 6, 11, 12, 21 2, 16, 21, 24 -
14
14, 16, 25 10, 15, 16 3, 12, 24
16, 18, 24, 27, 28, 30,
31
16
9, 10 14, 23 24 3
17
1, 25 4, 7, 12, 15, 16 3, 4, 8 23, 24
Fonte: relato de técnicos, cargos comissionados e supervisores/ Organizado por PEREIRA, MPB (2007).
64
Esse mesmo procedimento foi realizado para todas as competências sociais. Em
cada uma, algumas características se destacam para o conjunto dos agentes desses
programas, dentre elas algumas combinam para os agentes dos dois programas, como
pode ser observado no quadro a seguir em itálico (quadro 7).
A partir desses procedimentos, foram estabelecidos critérios diferenciados para
continuar essa seleção: uns para a escolha das áreas de visita a campo e outros para a
escolha dos agentes que integraram a entrevista com grupo focal.
QUADRO
7
CARACTERÍSTICAS PREDOMINANTES DOS AGENTES DA ESF E PSA POR COMPETÊNCIA SOCIAL, NA
CIDADE DO RECIFE
PE.
CARACTERÍSTICA
COMPETÊNCIA
ESF PSA
Politizada Consciente do trabalho
Trabalha mais que o normal Faz mais do que é pedido
Motivação
Bem entrosada -
Boa interação com a comunidade/ facilidade
de acesso
Boa interação com a comunidade/ facilidade
de acesso
Trabalho com educação em geral Envolvimento com organização de eventos
Envolvimento com ONG/ Organizações
comunitárias
Envolvimento com o bem estar do morador
Liderança Liderança
Tem iniciativa/ dinamismo Tem iniciativa/ dinamismo
Autonomia
- Cobra atitudes do serviço público
Formação Formação
Fala bem, explica bem, é expressiva
Faz diagnóstico e resolve/ encaminha o
problema
Atividades da IESA, AESA, etc... Linguagem acessível/ didática
Trabalho com educação ambiental, sanitária e
para a saúde.
Trabalho com educação sanitária, ambiental
e para a saúde
- Trabalho de orientação domiciliar
- Trabalhos manuais para educação ambiental
Domínio
conceitual
- Boa comunicação
Conhece bem a área/ tem domínio da área Conhece bem a área
Domínio da
linguagem
cartográfica
-
Tem boa visão social/ visão crítica da área/
Tem uma visão do todo
65
QUADRO 7 (CONT)
CARACTERÍSTICAS PREDOMINANTES DOS AGENTES DA ESF E PSA POR COMPETÊNCIA SOCIAL, NA
CIDADE DO RECIFE
PE.
CARACTERÍSTICA
COMPETÊNCIA
ESF PSA
Interesse/ Dedicação/ Disposição/ Empenho/
Esforço
Interessado/ Dedicado/ Disposto
Eficiente/ Competente Eficiente
Disponível/ Prestativa/ Atenciosa Disponível/ Prestativa
- Pontualidade
- Detalhista
- Responsável
- Desestimulado/ Revoltado com as dificuldades
- Tem compaixão/ misericórdia
Características
pessoais
- Preocupa-se com a população/ com a área
Fonte: Trabalho de campo nos Distritos Sanitários, Pontos de Apoio e Unidades de Saúde da Família/
Elaborado por PEREIRA, MPB (2007).
OBS: As características que estão presentes nos dois programas estão em itálico.
A partir das características apontadas, foi possível observar que, através do
depoimento dos enfermeiros e supervisores, os agentes de saúde expressam sua
apropriação do território ao interagirem com a comunidade de forma a estabelecer
vínculos entre si; ao possuírem a capacidade de se envolver em ações que melhorem as
condições de vida da comunidade e; ao conhecerem de tal forma a problemática da
área e a situação das pessoas que são capazes de se antecipar aos problemas,
resolvendo-os com facilidade.
Já a percepção da paisagem depende diretamente da formação e da experiência de
trabalho, que influencia na forma de diagnosticar, encaminhar e resolver problemas e
de repassar esse conhecimento através de uma linguagem acessível a todos.
Em vista desses parâmetros estabelecidos, foi planejado o detalhamento do
trabalho de campo, como descrito a seguir.
3.1 O TRABALHO DE CAMPO NAS ÁREAS DE ESTUDO
A primeira etapa deste planejamento diz respeito à definição dos parâmetros para
escolha das áreas que foram visitadas. Foi dada prioridade àquelas áreas que possuem
agentes da ESF e do PSA que se enquadram em mais de uma competência social. Pela
66
experiência obtida, outro parâmetro foi a escolha de agentes que estão trabalhando
pelo menos desde 2001. E com relação a uma possibilidade de comparação, foram
selecionadas áreas que possuíam, simultaneamente, agentes da ESF e do PSA.
Neste universo enquadraram-se 84 microáreas da ESF e 47 áreas do PSA (quadro
8), das quais foram escolhidas duas para estudo. A primeira foi uma área com bairros
contíguos – Poço e Monteiro - através de Larissa e Germano; Já a segunda refere-se ao
bairro da Ilha do Retiro, a partir do trabalho com Nâna e Severino Silva (mapa 3).
QUADRO 8
QUANTIDADE DE AGENTES DE SAÚDE DA ESF E PSA QUE ESTÃO DE ACORDO COM OS CRITÉRIOS DA PESQUISA
PARA A ESCOLHA DAS ÁREAS
POR DISTRITO SANITÁRIO
PROGRAMA
I II III IV V VI TOTAL
ESF
7 16 15 14 16 16
84
PSA
2 5 8 8 1 23
47
Fonte: Trabalho de campo exploratório em janeiro e fevereiro de 2006 e 2007/ Organizado por PEREIRA, MPB (2007).
Definidas as áreas, partiu-se para a definição do que seria realizado. Na etapa de
visita ao campo, os principais objetivos da atividade foram delineados da seguinte
forma: a) conhecer o cotidiano de trabalho de cada agente de saúde; b) identificar a
linguagem mantida com o morador; c) observar como o agente acessa a área; e d)
comparar os elementos na paisagem que ele considera como influenciadores do
processo saúde-doença para os moradores da comunidade.
Dessa forma, seja através da fala ou de modos de proceder desses agentes de
saúde na realização de suas atividades, pôde-se entender a ação desses profissionais no
ambiente de trabalho e analisar o seu conhecimento geográfico expresso nos níveis de
competência e habilidades sociais que possuem.
Entendeu-se que, para compreender a ação dos agentes de saúde, seria necessário
observar as preocupações destes profissionais no processo de trabalho, para depois
analisar sua fala e modos de proceder. Desta forma, foram escolhidas as seguintes
técnicas de coleta de campo para estas necessidades: a) levantamento documental; b)
entrevista; e c) observação participante.
67
68
a) Levantamento documental:
Inicialmente, para entender as preocupações do agente de saúde de cada
programa, foi necessário recorrer ao levantamento documental do material de
capacitação.
A justificativa dessa escolha é que a partir do que está presente no material
utilizado na capacitação, é possível compreender o direcionamento geral pretendido
pelo sistema de saúde para o agente quando este realiza o seu trabalho.
Entretanto, a fala e os modos de proceder só podem ser apreendidos com a
convivência no processo de trabalho, no qual os modos de apreensão serão melhor
explicados nos próximos itens através das técnicas da entrevista e da observação
participante assim como pelos fundamentos teóricos que os sustentam.
b) Entrevista:
No que diz respeito à entrevista, esta pode ser definida como uma interação direta
entre o pesquisador e o interlocutor, através da qual podem-se descobrir novas
perspectivas e pontos de vista (MINAYO, ASSIS, SOUZA, 2005). Gaskell (2002), por
sua vez, lembra que existem alguns problemas a serem observados. Um deles é que a
linguagem local pode ser muito diferente da linguagem formal, não permitindo o pleno
entendimento do que foi verbalizado. Também ocorre a dificuldade de expressar
alguns fatos, fazendo com que o entrevistado omita elementos importantes para
entender o problema estudado. Outro problema é que o entrevistado pode visualizar os
problemas de uma maneira distorcida, fornecendo uma versão enganadora da
realidade.
Para amenizar as falhas, Gaskell (2002) propõe como etapas concretas,
inicialmente, a preparação de um tópico-guia, seguida da seleção do método de
entrevista, que, para esta etapa, optou-se pela entrevista individual. Outro fator
importante apresentado pelo autor diz respeito à seleção dos sujeitos a serem
entrevistados que, neste caso, foram os agentes que trabalham nas áreas escolhidas e
69
dois agentes dos que participaram da entrevista com grupo focal. (segunda etapa do
trabalho de campo). Após essas etapas introdutórias segue-se a realização das
entrevistas, transcrição e análise.
Para atender a esses requisitos foi elaborado um roteiro-base para a entrevista a
partir de dois temas: dados gerais e informações sobre o trabalho enquanto agente e
suas influências (fatores que influenciam o agente de saúde com relação ao modo de
agir no trabalho) (quadro 9). Devido nessa primeira etapa ter-se optado pelo contato
com um agente de saúde de cada vez, sendo dois ACS (agentes comunitários de saúde)
e dois ASA (agentes de saúde ambiental), destacados no levantamento inicial, optou-se
pela entrevista individual. Para dar um retorno ao entrevistado e até mesmo diminuir a
possibilidade de alguma fala que distorça a realidade, como advertido por Gaskell
(2002), foi entregue a entrevista transcrita para o agente de saúde ler e corrigir algum
possível equívoco de entendimento durante sua fala.
No final da entrevista, o desenho dos mapas mentais são itens que atendem à
outra pergunta desta pesquisa, a qual será retomada adiante. É importante deixar
esclarecido que, embora alguns questionamentos tenham aparentemente o caráter de
pergunta objetiva (interesses), no ato da entrevista teve-se como objetivo deixar o
entrevistado com possibilidade de externar os seus respectivos posicionamentos, o que
ocorreu com a maioria dos entrevistados.
QUADRO 9
ROTEIRO-BASE DE ENTREVISTA COM OS AGENTES DE SAÚDE
(TEMPO APROXIMADO: 60MIN)
I. Dados gerais:
Programa:
Nome:
Idade:
Local de nascimento (zona rural ou urbana):
INTERESSES QUAL? TIPO DE INFORMAÇÃO:
JORNAL
REVISTA
LIVROS
TV
INTERNET
70
QUADRO 9 (CONT.)
ROTEIRO-BASE DE ENTREVISTA COM OS AGENTES DE SAÚDE
(TEMPO APROXIMADO: 60MIN)
II. Informações sobre o trabalho como agente e suas influências:
1. Antes de atuar como agente, qual a sua ocupação? Como era o seu trabalho?
2. Por que resolveu fazer concurso para agente e não outra função? Quando exatamente começou a trabalhar como
agente?
3. Quais conhecimentos anteriores você aproveitou para esse serviço como agente?
4. O que você teve que aprender a fazer depois que assumiu essa função? Onde ou com quem você adquiriu esse
conhecimento?
5. Quais suas maiores dificuldades? Por que você acha que teve dificuldades nessas tarefas? O que te fez pensar assim?
6. Que tipo de coisas você teve que aprender e foi fácil de fazer? Na tua opinião, qual o porquê dessa facilidade?
7. Qual a importância do estudo na tua vida? Você estuda atualmente? Qual o grau de instrução? Se não estuda mais,
estudou até que série?
8. Qual a importância do ensino na escola para o teu trabalho como agente?
9. Qual a importância da educação familiar para o teu trabalho como agente?
10. Qual a importância do convívio com a sociedade para o teu trabalho como agente?
11. Teve algo mais que te ajudou nesse trabalho de agente?
12. Teve algum tipo de capacitação? Quais? A capacitação te ajudou na atividade como agente? Em que?
13. Além das funções delimitadas para atuação enquanto agente de saúde, você exerce (exerceu) outra atividade (ou acha
que a comunidade tem necessidade) que tenha como objetivo melhorar a situação da população na área que você trabalha?
Como ocorre? (Como ocorreu?)
14. Antes de trabalhar como agente teve alguma situação em que teve que trabalhar com mapas? Qual o seu grau de
dificuldade ou facilidade de uso?
Para encerrar, gostaria que você elaborasse dois tipos de desenhos: a) desenho da área de trabalho do jeito que lembra; b)
desenho da área de trabalho destacando ruas, número de famílias, domicílios e áreas que considera de risco (indicando a
razão).
Elaborado por PEREIRA, MPB (2006)
c) Observação participante:
Com relação à observação participante, esta pode ser entendida como uma
técnica utilizada para registrar fenômenos vivenciados entre o pesquisador e o
pesquisado, durante o contato entre ambos (MINAYO, 1998).
A necessidade de utilização da observação participante ocorre quando há
necessidade de registrar fenômenos que não podem ser apreendidos na fala ou escrita.
Dentre esses elementos, podemos destacar: “o ambiente, os comportamentos
individuais e grupais, a linguagem não-verbal, a seqüência e a temporalidade em que
ocorrem os eventos” (VÍCTORA, KNAUTH, HASSEN, 2000, p.62), os quais são
fundamentais na interpretação e complementação de informações de outras técnicas
utilizadas.
A observação participante é voltada para a descrição de uma problemática a partir
do contato direto com o exercício das atividades. Por esta razão, devem ser definidos
previamente os itens a serem observados. De acordo ainda com Víctora, Knauth e
71
Hassen, essa técnica está aberta ao conhecimento da realidade de acordo com os
acontecimentos naturais a ela, porém “a definição do objeto, técnicas e análise dos
dados estão centrados no pesquisador” (2000, p. 64).
Como vantagem, Dezin aponta que, quando o pesquisador trabalha com a
observação participante, este trabalha com a fluidez da própria natureza, ou seja, com
os acontecimentos que ocorrem naturalmente (MINAYO, 1998). Por esse mesmo
motivo, Gatti (2005) defende que essa característica é uma desvantagem, pois o
investigador precisa esperar que as coisas aconteçam, sendo necessário um tempo
muito maior em campo.
Minayo (1998) recomenda, por sua vez, que o pesquisador deve definir
claramente o que busca conhecer antes da investigação e deixar explícitas as fontes de
informações. Víctora, Knauth e Hassen (2000) elaboraram até mesmo alguns
elementos a serem observados, os quais, em linhas gerais, são representados pelo
ambiente externo e interno, pelo comportamento das pessoas do grupo, pelas
linguagens, pelos relacionamentos e pelo tempo em que ocorrem os processos
observados.
Para a presente pesquisa utilizou-se a técnica da observação participante com
apenas uma ressalva: o tempo de convivência. Devido à necessidade de visitar quatro
áreas (duas relacionadas à ESF e duas ao PSA), preferiu-se conviver com o agente por
um período de pelo menos cinco turnos (em geral cinco manhãs) sendo o total de
convivência com os agentes o período médio de cinco semanas. No entanto, o tempo
de convivência não comprometeu os resultados da pesquisa na medida em que foram
realizadas atividades complementares e foram consultadas fontes diversas.
Para o acompanhamento de campo foi elaborado um roteiro com dois temas
básicos, o primeiro relacionado às informações a serem observadas na área de
trabalho; e o segundo referente a informações a serem percebidas em ambientes fora
da área de trabalho (quadro 10). Contudo, incluídos nesses dois temas estão também
presentes a observação do comportamento das pessoas do grupo, as linguagens, os
relacionamentos e o tempo em que ocorrem os processos observados.
72
QUADRO 10
ROTEIRO-BASE DOS ITENS DA OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE
I. Dados a serem observados na área de trabalho:
a) fatores que impulsionam o agente a trabalhar;
b) relacionamento com a comunidade e parcerias que possam modificar a realidade local;
c) vocabulário utilizado na sua relação com os grupos sociais e sobre sua área de trabalho (o que se destaca
como problema que influencia no processo saúde-doença/ o que o agente quer destacar quando tira a foto/ o
que ele deixa de fora/ no último dia: quais fotos representam melhor os elementos que podem influenciar no
processo saúde-doença);
d) maneira como o agente utiliza e fala sobre o mapa (leitura, manuseio, maneira de elaborar o mapa);
e) habilidade diferenciada que faz o agente se destacar.
II. Dados a serem observados em ambientes fora da área de trabalho:
a) relacionamento do agente com outros setores da sociedade (comportamento, linguagem etc.);
b) distância/ proximidade entre pessoas do grupo;
c) como as ações dos agentes se relacionam com o que eles dizem e fazem em outros ambientes;
d) fatores que impulsionam o agente a trabalhar;
e) descrição do relacionamento com a comunidade e parcerias;
f) vocabulário utilizado na sua relação com as pessoas no ambiente de trabalho;
g) o que destaca como problema na área;
h) maneira como o agente utiliza e fala sobre o mapa;
i) habilidade diferenciada que destaca o agente.
Elaborado por PEREIRA, MPB (2006)
Entenda-se aqui a área de trabalho como área adscrita do agente de saúde, ou
seja, as ruas e os domicílios, ou local onde qualquer ação está sendo percebida pelo
morador, comerciante ou empresário industrial. Já o ambiente fora da área de trabalho
seria o setor da saúde ao qual está vinculado (Unidade de Saúde da Família ou Ponto
de Apoio) ou outro local onde o agente de saúde não esteja sendo ouvido pelo usuário
dos programas.
Para evitar alguma perda de informação, que depois poderia ser considerada
como importante, optou-se por um relatório diário contendo informações como o
percurso, o relato de campo e o relato da observação participante. Através destas
formas foi possível a obtenção de respostas quanto à primeira indagação: apreensão da
ação dos agentes de saúde. Já no que diz respeito à segunda pergunta, a mesma foi
respondida parcialmente. Então, como apreender o conhecimento geográfico do agente
no que diz respeito à representação de sua área de trabalho? Buscando preencher essa
lacuna, foram escolhidas outras duas técnicas de coleta de campo, o uso do
levantamento fotográfico e a elaboração de mapa mental.
73
d) Levantamento fotográfico:
Penn (2002) defende a integração da análise da imagem fotográfica ao uso de
entrevistas individuais, com grupo focal e até mesmo com a análise de conteúdo,
enquanto procedimento que fornece uma maior validade na análise desse documento
fotográfico. Tais considerações fornecem os fundamentos necessários à escolha das
técnicas de coleta de informações.
A imagem fotográfica deve ser compreendida como resultado de um corte
instantâneo no tempo e no espaço. No dizer de Dubois (1999, p. 161), é “como uma
fatia única e singular de espaço-tempo, literalmente cortada ao vivo”. A partir desse
corte, algo é mostrado e algo retirado, este último é denominado espaço off, no qual,
como afirma Dubois (1999) o que não foi mostrado é tão importante quanto o que foi
mostrado, pois esse ausente está presente num fora-de-campo.
Para viabilizar a análise das fotos, foi utilizado como critério inicial o registro
realizado pelos próprios agentes de saúde, pois, dessa maneira, os elementos da
paisagem foram apreendidos na perspectiva do olhar dos mesmos. Para tentar superar
o problema da interpretação individual, durante o acompanhamento por uma semana
do trabalho do agente no campo, houve momentos em que as fotos foram mostradas ao
agente e ele mesmo interpretou as fotos. Ao final da semana, o agente escolheu duas
fotos que melhor representassem os principais elementos na paisagem que interferem
no processo saúde-doença da população assistida por esses agentes.
e) Elaboração de mapa mental:
Considerando autores como Santos (2002) e MacEacher (1995), os mapas
mentais podem ser também denominados de cartas, desenhos ou simplesmente mapas.
São considerados representações do real envolvendo a cognição em intensos níveis de
representação. Sendo fruto da cognição, o mapa mental tem a capacidade de sintetizar
nesse desenho a visão de mundo, as experiências, valores culturais, nível social, dentre
outros elementos (ALMEIDA, 2001; MACEAHER, 1995; SANTOS, 2002).
74
De acordo com MacEacher (1995), o interesse pelo estudo de símbolos e
desenhos de mapas teve dois marcos impulsionadores: o primeiro foi a publicação da
dissertação The look of maps por Arthur H. Robinson’s, em 1952, em Madison; e o
segundo foi a adoção do paradigma da cartografia como uma ciência da comunicação
na década de 1970. Já no Brasil, o interesse por temas ligados à linguagem cartográfica
surgiu no final da década de 1980 e início dos anos de 1990 (KATUTA, 2002).
Os mapas mentais podem ser utilizados tanto como instrumentos para o ensino da
Geografia quanto como técnicas de pesquisa. No primeiro caso temos, por exemplo, a
publicação de Almeida (2001), que trabalhou com crianças da quarta e quinta séries do
ensino fundamental, buscando observar as mudanças intelectuais na linguagem
cartográfica através do desenvolvimento de equivalentes espaciais seguindo algumas
etapas: a) desenvolvimento da projeção corporal; b) elaboração da maquete da sala de
aula; e c) elaboração do mapa da sala de aula. Dentre outras contribuições, o trabalho
de Almeida (2001) colaborou para a percepção do aluno de que a localização espacial
possui um sistema de referência externo ao corpo e um sistema universal que permite
localizar um objeto no sistema geográfico, assim como possibilitou a organização das
perspectivas frontal e vertical na elaboração de desenhos e maquetes.
Assim sendo, a proposta para esta pesquisa consistiu trabalhar em áreas que
simultaneamente possuam agentes de saúde da ESF e do PSA que se destaquem por
alguma competência, estejam trabalhando nesse cargo pelo menos desde 2001 na
cidade do Recife e com idade acima de 18 anos.
Foram escolhidos quatro agentes de saúde. Apesar dessas áreas possuírem
simultaneamente agentes dos dois programas, os agentes escolhidos exercem suas
atividades em áreas adscritas não coincidentes. Para superar esse problema foram
escolhidos agentes que trabalhassem em áreas próximas. Nos distritos sanitários (DS)
III e IV foram escolhidos respectivamente um ACS e um ASA (Larissa, Germano,
Nâna e Severino Silva), totalizando o número de quatro agentes de saúde.
A análise dos mapas mentais foi complementada pelas informações da entrevista
individual, tais como grau de escolaridade, experiência do indivíduo (origem rural ou
urbana/ interesses/ nível social), a experiência com leitura e/ou manuseio de mapas, a
idade, e as experiências familiares e de trabalho conforme já observado no quadro 9.
75
Com relação ao mapa mental propriamente dito, foram requeridos dois tipos de
desenhos: o da área de trabalho do jeito que se lembra; e da área de trabalho
destacando: as ruas, número de famílias, domicílios e área que considera de risco.
3.2
O GRUPO FOCAL
A entrevista com grupo focal fez parte da segunda etapa do trabalho de campo.
Esta etapa foi possível com a sistematização parcial da primeira fase para a escolha das
fotos e finalização do roteiro da entrevista com grupo focal. Desta forma, as
informações da primeira etapa de trabalho de campo foram definidoras de parâmetros
para a entrevista com grupo focal.
Com relação ao grupo a ser entrevistado, este foi escolhido a partir da lista dos
agentes de saúde da ESF e PSA que exercem essa função independente do tempo de
trabalho, mas estes deveriam ter sido destacados com características que estão
incluídas em mais de uma competência e/ou os que foram indicados por mais de uma
pessoa. Deste grupo buscou-se escolher dois agentes de cada distrito sanitário, no caso,
foram escolhidos seis ACS e seis ASAs. No entanto, estiveram presentes 11 agentes
(mapa 4).
Nesta fase da pesquisa os principais objetivos foram discutir sobre assuntos
como, os fatores que impulsionam o agente a continuar trabalhando (motivação); a
maneira de lidar com as multiterritorialidades, ou seja, com outras pessoas, grupos ou
instituições que exercem relações de poder nessa área (autonomia); os principais
elementos que devem ser observados na área e que podem influenciar no processo
saúde-doença (domínio conceitual); as relações do homem com o espaço geográfico
(domínio da linguagem cartográfica) e; o perfil pessoal essencial para ser um agente de
saúde (características pessoais).
76
77
A realização da entrevista com grupo focal foi efetuada a partir de dois encontros
num mesmo dia. Pela manhã foi realizada uma introdução sobre o tema da pesquisa;
também foi aplicado um questionário no sentido de suprir lacunas e viabilizar a
comparação com um determinado perfil (quadro 11); em seguida, optou-se pela
abordagem das competências características pessoais e motivação. À tarde foram
abordadas as competências autonomia, domínio conceitual e domínio da linguagem
cartográfica.
QUADRO
11
QUESTIONÁRIO APLICADO AOS AGENTES DE SAÚDE DA ESF E DO PSA QUE PARTICIPARAM DA ENTREVISTA COM
GRUPO FOCAL
9
GRUPO: AGENTES DE SAÚDE DA ESF E DO PSA
I. Dados gerais:
Programa: Área: Tempo de serviço:
Nome: Idade:
Município de nascimento (zona rural ou urbana):
Já participou de alguma capacitação nessa função:
Sim
Ensino fundamental incompleto
Ensino fundamental
completo
Ensino médio incompleto Ensino médio completo
Estuda:
Não
Grau de
instrução
Ensino superior incompleto
Ensino superior
completo
INTERESSES QUAL? TIPO DE INFORMAÇÃO QUE INTERESSA:
JORNAL
REVISTA
LIVROS
TV
INTERNET
RÁDIO
II. Informações sobre o trabalho como agente e suas influências:
1. Antes de atuar como agente, qual a sua
ocupação?
6. Que tipo de coisas você teve que aprender no dia-a-
dia do seu trabalho?
2. Por que resolveu fazer concurso para agente e
não outra função? Quando exatamente começou a
trabalhar como agente (ano)?
7. O ambiente em que a pessoa mora, pode influenciar
nas condições de saúde? Por quê?
3. Quais conhecimentos anteriores você aproveitou
para esse serviço como agente?
4. É vinculado a alguma associação comunitária?
ONG? Organização da sociedade civil? Sindicato?
Etc. Qual?
8. O que geralmente é encontrado na área onde você
trabalha a partir dos seguintes critérios: domicílio,
quintal, área de trabalho, a região geral?
5. Já fez algo na comunidade para melhorar a
realidade local? O que? Como ocorreu? Qual o
resultado?
9. Já trabalhou com mapa em campo na função de
agente? Tem dificuldade ou facilidade? Por quê? Qual
a sua opinião sobre a utilização de mapas na sua
função?
Elaborado por PEREIRA, MPB (2006)
9
Este perfil contém algumas perguntas semelhantes à entrevista para permitir comparação posterior.
78
A entrevista com grupo focal teve como objetivo explorar o nível de competência
social de cada agente no que diz respeito à motivação, autonomia, domínio conceitual,
domínio da linguagem cartográfica e características pessoais (quadro 12). Com o apoio
do Programa de Pós-graduação em Geografia, essa etapa do trabalho foi realizada em
um auditório do Departamento de Ciências Geográficas da UFPE, um espaço neutro
para os agentes de saúde, portanto.
QUADRO 12
ROTEIRO-BASE DE ENTREVISTA COM GRUPO FOCAL (TEMPO: DOIS ENCONTROS DE 4H)
GRUPO: AGENTES DE SAÚDE DA ESF E DO PSA
I. Características pessoais:
Objetivo: saber o que os agentes de saúde consideram como características que interferem positivamente e
negativamente no desenvolvimento de suas atividades e quais são as características mais evidentes para eles.
TAREFA COM DIVISÃO EM GRUPOS:
1. Para separar os grupos: Dividir em dois grupos: um com ACS e outro com ASA.
2. Entregar para cada grupo uma caixa contendo tiras com as características apontadas no trabalho de campo
exploratório e primeira etapa do trabalho de campo. Pedir que eles separem quais seriam as que interferem
positivamente ou negativamente e porque. Pedir que isso fique visível para todo o grupo num painel;
3. Juntar todo o grupo e discutir os porquês das escolhas.
TAREFA INDIVIDUAL:
1. Deixar o painel à mostra, pedir que escrevam em média de 3 a 5 minutos sobre alguma experiência que
tenham vivido e que alguma de suas características pessoais ajudou ou atrapalhou em determinada atividade.
Deixar claro quais as características e a atividade efetivadas.
II. Motivação:
Objetivo: saber se esse grupo de agentes de saúde é mais motivado por poder, pertencimento, ética ou
trabalho.
TAREFA COM DIVISÃO EM GRUPOS:
1. Para separar os grupos: pretende-se separar quatro grupos de três pessoas. A divisão será feita pela escolha
de uma cor (vermelho, amarelo, azul, verde);
2. Colocar para o grupo situações vivenciadas na área de trabalho e que misture situações típicas para o ACS
e o ASA e pedir que os mesmos avaliem a situação e apresentem como resolveriam cada situação em ordem
de prioridade, e por que;
3. Juntar todo o grupo e discutir os porquês das escolhas.
TAREFA INDIVIDUAL:
1. Mostrar figuras que sugiram situações de trabalho e ao mesmo tempo pedir que em 5 minutos criem uma
história criativa com base na figura (essas figuras devem mostrar situações típicas de trabalho do agente).
Espera-se que o agente escreva em média de 3 a 5 linhas. Serão mostradas quatro figuras.
III. Autonomia:
Objetivo: Saber como os agentes resolvem os problemas cotidianos de trabalho
TAREFA COM DIVISÃO EM GRUPOS:
1. Para separar os grupos: quatro grupos de três pessoas. A divisão será feita pela escolha de uma temática
(saneamento ambiental; infra-estrutura; meio ambiente; doenças relacionadas ao meio ambiente; doenças
relacionadas aos costumes, doenças relacionadas às condições de vida; vida cotidiana; uso do solo, violência),
restando cinco temáticas;
2. Colocar para o grupo, por escrito, situações vivenciadas na área de trabalho relacionadas à essa temática e
pedir que os mesmos resolvam. O que fazer? Como fazer? Quais os limites? Quais as potencialidades? Quem
faz? Quando? Com que recursos?;
3. Juntar todo o grupo e discutir as respostas. Em que todos concordam? Em quê não há concordância?
TAREFA PARA TODO O GRUPO:
1. Com relação aos temas que não foram trabalhados, perguntar: Por que não escolheu esse tema? (É
irrelevante? É difícil ou impossível de ser trabalhado? Etc.) .
2. Como esses problemas poderiam ser resolvidos?
79
QUADRO 12 (CONT)
ROTEIRO-BASE DE ENTREVISTA COM GRUPO FOCAL (TEMPO: DOIS ENCONTROS DE 4H)
GRUPO: AGENTES DE SAÚDE DA ESF E DO PSA
IV. Domínio conceitual:
Objetivo: Identificar os temas que os agentes mais prestam atenção e sabem comentar
TAREFA COM DIVISÃO EM GRUPOS:
1. Para separar os grupos: pretende-se separar quatro grupos de três pessoas. A divisão será feita pela escolha
de uma foto (as fotos são as escolhidas pelos agentes que foram visitados em sua área de trabalho)
2. Colocar para o grupo os seguintes questionamentos: a) Por que escolheram essa foto?; b) Qual o tema dessa
foto? Do que ela trata?; c) Que impressões causam essa foto?; e d) O que fez vocês não escolherem as outras
fotos? Explicar a razão da não escolha de cada uma das fotos.
3. Juntar todo o grupo para compartilhar as respostas e visualizar as diferenças.
TAREFA PARA TODO O GRUPO:
1. Chuva de palavras: quando observo a foto (1, 2, 3 e 4), que palavras ou frases me vêem à mente? (Anotar
em uma lousa as palavras referentes a cada foto)
2. Discutir as possíveis razões para a escolha dessas palavras.
3. Discutir com todo o grupo que outros temas estão faltando e seriam relevantes para estarem presentes nas
fotos? Por quê?
V. Domínio da linguagem cartográfica:
Objetivo: Saber como o agente de saúde entende uma representação espacial e se os códigos usados são
reconhecíveis por outros (utilizar o mapa direcionado)
TAREFA COM DIVISÃO EM GRUPOS:
1. Para separar os grupos: separação de quatro grupos de três pessoas. A divisão será feita pela escolha de um
mapa mental (os mapas são os elaborados pelos agentes que foram visitados em sua área de trabalho);
2. Colocar para o grupo os seguintes questionamentos: a) Por que escolheram esse mapa? Teriam uma
segunda opção?; b) Que elementos estão representados nesse desenho?; c) Que elementos podem ser
considerados como fatores que interferem no processo saúde-doença? Por que?; d) Quais são os elementos,
presentes no mapa, mais relevantes no que diz respeito à saúde?; e) Que temas estão melhor representados nos
mapas? Especifique; f) Vocês acham que estes temas foram os mais importantes a serem representados? Por
quê? g) Haveria outras coisas importantes que deveriam estar aí? O quê?;
3. Juntar todo o grupo para compartilhar as respostas e visualizar as diferenças.
TAREFA PARA TODO O GRUPO:
1. Chuva de palavras: quando observo o mapa (1, 2, 3 e 4), que palavras ou frases me vêem à mente? (Anotar
em uma lousa as palavras referentes à cada mapa);
2. Discutir as possíveis razões para a escolha dessas palavras;
3. Discutir com todo o grupo que outros temas estão faltando e seriam relevantes para estarem presentes nos
mapas? Por quê?
Elaborado por PEREIRA, MPB (2006)
No que diz respeito às “características pessoais”, a atividade baseou-se na própria
matriz, que foi dividida em características que interferem positivamente e outras que
interferem negativamente. Esta competência foi escolhida para ser avaliada no
primeiro momento porque ela se aproxima mais das atividades da introdução à
entrevista. Dessa forma, houve a intenção de saber o que os agentes de saúde
consideram como características que interferem positivamente e negativamente no
desenvolvimento de suas atividades e quais são as mais evidentes para eles. Essa
atividade esclareceu o que, de fato, eles percebem enquanto características positivas ou
negativas para as atividades realizadas.
80
Com relação à “motivação”, foi elaborada uma adaptação da metodologia de
Angelini (1973), na qual se buscou estimular a demonstração das razões pelas quais se
realiza determinada ação. As situações vivenciadas na área de trabalho foram
caracterizadas a partir da experiência de convivência com os agentes durante o
trabalho de campo na área de trabalho deles. As figuras, segundo Angelini (1973),
devem ter um fundo pouco nítido para favorecer a espontaneidade da imaginação e,
conseqüentemente, a projeção nas histórias, buscando evitar a simples descrição de
gravuras. Para conseguir esse efeito as fotos foram submetidas a um tratamento no
software Photoshop com o filtro carvão da opção croqui. Para exemplificar será
mostrada a figura ‘A’, utilizada durante a atividade.
No que diz respeito à “autonomia”, foi elaborada uma espécie de atividade
presente em oficinas para estimular a imaginação quanto à iniciativa, à capacidade de
articulação e de acesso à área, assim como a forma deles imaginarem como poderiam
fazer para transformar a realidade local para melhor.
Já com relação ao “domínio conceitual” a preocupação girou em torno dos temas
que os agentes de saúde se preocupam mais, têm maior conhecimento e conseguem
expressar a partir de uma imagem ou de palavras.
A. Agente de saúde no ambiente de
trabalho.
Data: Março de 2007.
Registro: PEREIRA, MPB.
81
Por fim, o “domínio da linguagem cartográfica” foi avaliado tendo por base os
mapas direcionados elaborados pelos agentes de saúde na etapa de visita ao campo
(Larissa, Germano, Nâna e Severino Silva). Os agentes de saúde da entrevista tiveram
a oportunidade de manusear e discutir sobre os elementos representados nesses mapas.
Cabe salientar que, antes da entrevista, cada agente pesquisado teve a
oportunidade de conhecer a pesquisa tanto oralmente (apresentação do tema, objetivos,
resultados parciais e objetivos da entrevista com grupo focal) quanto pelo termo de
consentimento livre e esclarecido
10
(Apêndice 2).
3.3 UM OLHAR SOBRE AS EXPERIÊNCIAS EXITOSAS
Esta parte da pesquisa não estava prevista inicialmente, porém durante o trabalho
de campo exploratório e a primeira etapa do trabalho de campo foram entregues
espontaneamente materiais relativos à experiências locais que deram certo. Desta
forma, resolveu-se ouvir, através de entrevista gravada (quadro 13), o depoimento de
pelo menos dois desses agentes, sendo um da ESF (Estrelas) e um do PSA (Poeta).
QUADRO
13
ROTEIRO-BASE DE ENTREVISTA COM AGENTES QUE PARTICIPAM DE ALGUMA EXPERIÊNCIA EXITOSA (TEMPO
PREVISTO
: 30MIN)
GRUPO: UM AGENTE DE SAÚDE DA ESF E UM AGENTE DE SAÚDE DO PSA
Objetivo: Saber como experiências que se tornaram referência foram e são desenvolvidas.
1. Qual o seu nome completo?
2. O que significa Educação Popular para você?
3. E em que a prefeitura está apoiando?
4. A prefeitura exige de vocês a execução de projetos relacionados à Educação Popular?
5. O que você acha que precisa ser feito para realizar um trabalho melhor?
6. O que fez com que vocês começassem a desenvolver o trabalho independente do que a prefeitura oferece?
7. Qual o tempo disponível para vocês desenvolverem esses trabalhos? Até que ponto vocês têm liberdade
para trabalhar?
8. Quais os temas você acha prioritário para trabalhar?
9. Qual o trabalho que você achou mais interessante? E por quê? (Boa repercussão, modificou alguma coisa
na realidade local?)
10. Você percebeu em alguns casos alguma mudança?
11. Na sua opinião, como as pessoas percebem o trabalho de vocês?
12. Com relação à área de vocês, o que você acha que é o maior problema?
13. E com relação às características pessoais, quais seriam as principais características que um agente de
saúde deveria ter para desenvolver da melhor maneira possível o trabalho?
14. Em que você acha que esse programa contribuiu para a melhora dessa situação? O que este programa tem
de diferencial?
Elaborado por PEREIRA, MPB (2007)
10
Esta pesquisa foi aprovada pelo comitê de ética da Prefeitura da Cidade do Recife em janeiro de 2007.
82
3.4 ANÁLISE DAS INFORMAÇÕES
Esses procedimentos foram escolhidos para analisar os tipos de informações
coletadas durante o trabalho de campo. Os procedimentos realizados nesta etapa
estiveram relacionados à análise de conteúdo, análise de discurso, análise semiótica de
imagens paradas, análise da representação espacial e a triangulação de métodos.
a) Análise de conteúdo
Talvez pelo seu histórico, essa estratégia possui como característica básica o
hibridismo no sentido de estar na fronteira entre o método quantitativo e qualitativo.
Como diz Bauer (2002, p. 191) “Ela é uma técnica para produzir inferências de um
texto focal para seu contexto social de maneira objetivada”.
De acordo com Víctora, Knauth, Hassen (2000) e Bauer (2002), a utilização
dessa técnica é vantajosa por diversos motivos, dentre eles o rápido acesso das
informações, uma vez que, na maioria das vezes, os documentos já haviam sido
elaborados para outros fins, também pela possibilidade de lidar com grande quantidade
de dados e ser um procedimento bem documentado e amadurecido. Esses autores
acrescentam que tem boa aplicação para se trabalhar com dados históricos, até mesmo
para construir novas informações históricas.
Segundo Bauer (2002), Víctora, Knauth e Hassen (2000) e Minayo (1994) as
desvantagens seriam a pouca articulação com o contexto do material estudado, já que
geralmente foi elaborado para outros fins. Devido a isso há dúvidas em relação à
validade e representatividade das informações adquiridas. Outra coisa que esses
autores apontam é que é dada ênfase na freqüência do que está presente, deixando de
lado as ausências. Por último ressaltam a dificuldade de uso dessas informações por
parte de outro pesquisador para uma análise secundária, pois é construída pelo
pesquisador e o mesmo analisa.
Como sugestão para atenuar esses problemas os autores apontam a combinação
dessa com outras técnicas. Com relação ao procedimento em si, sugerem a definição
das regras de codificação, incluindo-se o referencial de codificação, que deve ser
ajustado à amplitude teórica e técnica para verificar as ausências relevantes. Para
83
finalizar, afirmam ser importante colocar as fontes utilizadas para a escolha das regras
de codificação. (BAUER, 2002; VÍCTORA; KNAUTH, HASSEN, 2000).
Diante do exposto, buscou-se aproveitar as vantagens e atenuar as desvantagens
mencionadas. Nesta pesquisa, a análise de conteúdo foi utilizada tanto com o objetivo
de verificar temáticas que estão presentes e/ou ausentes nesses documentos, em vários
níveis de análise, como para identificar que tipos de elementos os agentes, através de
sua formação, têm condições de observar.
A origem das informações foram as mais diversas: USF, distrito sanitário, órgão
municipal, estadual ou federal.
Os documentos analisados foram documentos oficiais (leis, decretos, etc.),
material utilizado para treinamento, material explicativo sobre os programas e
relatórios. Esse conjunto de informações foi analisado com base num referencial de
codificação que buscou diferenciar os temas e subtemas presentes e ausentes por
origem e por tipo de documento.
Primeiro foi procedida uma leitura exploratória para identificar os tipos de código
presentes em cada documento. Depois definido os códigos e seus valores, para
posteriormente observar as presenças e ausências em cada documento.
b) Análise de discurso
A análise de discurso foi escolhida para analisar as informações resultantes das
entrevistas devido à possibilidade de identificar a representação social de uma maneira
mais dinâmica e viabilizar a possibilidade de mostrar a fala social de uma maneira
mais natural, no modo como os indivíduos reais pensam no dizer de Lefèvre e Lefèvre
(2003).
A proposta consiste em uma interpretação detalhada, baseada em material verbal
coletado (anotações de campo, entrevista, recortes de jornal, livros literários, técnicos,
etc) no qual se podem obter discursos sobre um dado tema (GILL, 2002; LEFÈVRE e
LEFÈVRE, 2003).
Segundo Lefèvre e Lefèvre (2003), o discurso é o resultado de um sujeito que
representa uma determinada coletividade, sendo este caracterizado como o discurso do
84
sujeito coletivo (DSC). Nessa obra, os autores apresentam uma metodologia de análise
que considera como figuras metodológicas as expressões-chave, idéias centrais e
ancoragem.
As expressões-chave são trechos literais do discurso que devem ser destacados
por revelar a essência do mesmo sobre determinado tema. As idéias centrais podem ser
um nome ou uma expressão lingüística que representa a descrição do sentido de
determinado depoimento ou de um conjunto de depoimentos. A ancoragem remete à
expressão verbal de uma teoria, ideologia ou crença, defendida pelo sujeito que
elabora o discurso. Como resultado da adoção dessa metodologia, tem-se a formação
do discurso do sujeito coletivo sobre um dado tema (LEFÈVRE e LEFÈVRE, 2003).
Buscou-se, portanto, seguir a metodologia de Lefèvre e Lefèvre (2003) para
analisar o discurso proferido pelos agentes de saúde do PSF e do PSA, assim como de
outros sujeitos, nos quais foram feitas anotações de suas falas durante a observação
participante.
Assim sendo, inicialmente foi realizada a transcrição literal de todo o discurso
para realizar uma análise isolada de cada questão para todos os sujeitos. Estando as
questões isoladas, foram identificadas as expressões-chave, idéias centrais e
ancoragens. Depois de identificadas, foram descritas as idéias centrais e da ancoragem
para efetivar o agrupamento de idéias centrais e ancoragens de mesmo sentido,
equivalente ou complementar, através da identificação por letras. Estando agrupados,
foram escolhidas denominações para cada agrupamento criando uma idéia central que
os unisse, e todas as expressões-chaves foram copiadas para uma mesma tabela a partir
de cada idéia central. Depois de realizado este procedimento foi elaborada uma
seqüência dessas expressões-chave, obedecendo a uma esquematização clássica do
tipo começo, meio e fim, ou do mais geral para o particular, colocando conectivos, se
necessário. O resultado dessa seqüência foi o próprio discurso do sujeito coletivo, que
pode ser representado através de tabelas, de trechos, dentre outras formas, a depender
da necessidade do pesquisador.
Com relação à motivação, buscou-se observar algumas situações que
impulsionaram ou não o agente de saúde no processo de trabalho. No que diz respeito
às características pessoais, estas foram utilizadas para observar que características
85
ajudam em quais situações. O domínio conceitual foi obtido a partir de expressões que
remeteram a determinada temática relacionada com o trabalho ou à situação da
localidade. No que diz respeito à autonomia, recorreu-se aos discursos que mostram
alguma atitude do agente que repercutiu em mudança na realidade de sua localidade.
Enquanto o discurso sobre o domínio da linguagem cartográfica foi apreendido a partir
de discursos que se referiram à maneira como lidam com os mapas no seu dia a dia de
trabalho.
c) Análise semiótica de imagens paradas
Propôs-se realizar as imagens fotográficas a partir das considerações de Penn
(2002), que, de forma resumida, estão relacionadas à escolha das imagens a serem
analisadas, a compilação de um inventário denotativo (incluindo as imagens e
possíveis textos presentes) e o exame dos níveis mais altos de significação, como a
conotação, mitos e sistemas referentes. Após essas etapas, a autora propõe a
verificação de pendências (a análise enfocou o problema da pesquisa e todo o seu
índice denotativo?) e a elaboração da exposição dos resultados.
As imagens analisadas foram aquelas que os agentes de saúde da ESF e do PSA
elaboraram durante o trabalho de campo em sua área de atuação. Estes agentes
fotografaram os elementos que para eles poderiam influenciar de alguma maneira no
processo saúde-doença, assim como foram pedidas explicações dos motivos do
registro dessas fotos, o que ocorreu durante os dias em que se estava realizando a visita
a campo com o agente de saúde. No final do trabalho no campo foi pedido ao agente
de saúde que escolhesse uma imagem que seria a mais representativa, ou a mais
importante da sua área de trabalho quanto ao tema proposto, assim como que
localizasse as fotos no mapa.
Após a realização do trabalho de campo, em todas as áreas selecionadas
anteriormente, foi realizada a entrevista com grupo focal, no qual foram apresentadas
essas fotos a outros agentes de saúde da ESF e PSA, os quais realizaram uma análise
superficial a partir das seguintes questões: 1) Por que escolheram essa foto? 2) Qual o
86
tema principal da foto? De que ela trata? 3) Que impressões essa foto lhes causa? e 4)
Qual a razão de não terem escolhido as outras fotos?
Num terceiro momento os subgrupos foram desfeitos e para se realizar uma
discussão sobre as respostas assim como o uso da técnica de chuva de palavras no qual
foi pedido que, ao olhar a foto, o agente falasse as palavras que lhe viessem à mente.
Após esse momento, foi pedido que se fizesse considerações de temas que deveriam
ter sido discutidos como elementos influenciadores do processo saúde-doença e não
foram contemplados a partir dessa foto.
d) Análise da representação espacial livre
Consiste na análise de uma dimensão subjetiva e técnica. A dimensão subjetiva
diz respeito à análise de elementos considerados correlatos com as competências
domínio conceitual e autonomia, as quais foram as que mais se relacionaram ao
conhecimento geográfico.
No que diz respeito ao domínio conceitual foi considerada a representação no
mapa que pudesse ser considerada de risco ou de promoção à saúde humana de acordo
com cada programa.
Com relação à autonomia foram identificados elementos presentes no desenho
que apontam para uma parceria para mudanças na realidade local. Esses são os que
aglutinam pessoas e que têm potencial para ser um local de discussão de soluções para
a comunidade em algum aspecto.
Na dimensão técnica foi considerada a experiência com elaboração de mapas. Os
critérios adotados para análise foram baseados em pistas lançadas nas publicações de
Almeida (2001), MacEachrer (1995) e Martinelli (2006), são eles: a) perspectiva; b)
proporcionalidade/ localização e; c) diversidade dos elementos.
Com relação à perspectiva, os mapas foram classificados como desenhos do
ponto de vista frontal e pouca conexão entre os elementos; desenhos que misturam
pontos de vista; desenhos com pontos de vista vertical, porém localização indefinida e;
desenhos do ponto de vista vertical e localização adequada.
No que diz respeito à proporção e localização, a classificação dos desenhos foi
realizada a partir daqueles que não correspondem ao proposto, daqueles que
87
correspondem regularmente ao proposto e da localização e proporção que estão mais
próximas ao proposto.
Com relação às categorias, os mapas foram classificados pelos elementos que
predominam na representação, tendo sido realizada a descrição e contabilização a
partir das seguintes categorias: saneamento, localização/situação, infra-estrutura,
elementos da natureza e uso do solo.
e) Triangulação de métodos
A triangulação de métodos foi utilizada no sentido de organizar de forma mais
simples os resultados das análises a partir de cada estratégia e da discussão teórico-
metodológica.
De acordo com Minayo, Assis e Souza (2005), a triangulação de métodos busca
combinar métodos e técnicas para adequar-se à necessidade de estudar uma
problemática com fundamentos interdisciplinares. O termo tem origem na publicação
de Denzin, em 1970, denominada ‘The research act’ que o utilizou para defender a
necessidade de compreender a realidade a partir de vários pontos de vista (MINAYO,
ASSIS, SOUZA, 2005, p. 15). Autores como Jick e Samaja também são citados como
importantes nesse processo de desenvolvimento da estratégia da triangulação de
métodos. Jick, em 1979, levou esse tema para as ciências aplicadas e Samaja, em
1992, buscou o diálogo entre áreas do conhecimento a partir das estruturas
hierárquicas das matrizes de dados. (MINAYO, ASSIS, SOUZA, 2005;
CASTELLANOS, 1991)
Castellanos (1991) trabalha o tema quando discute o desenvolvimento de
sistemas nacionais de avaliação e monitoramento das condições de vida e saúde,
propondo partir de um marco teórico que incorpore elementos básicos (condições de
vida, problemas de saúde/doença e respostas sociais de saúde e bem-estar) para
recuperar o conjunto de avanços conceituais a partir de um modelo integrador.
Minayo, Assis e Souza (2005) utilizam essa estratégia para a avaliação de programas e
88
projetos sociais, tendo como exemplo a avaliação do programa Cuidar
11
. Dessa forma,
viabiliza a pesquisa combinando métodos quantitativos e qualitativos.
Tendo por objetivo reduzir a complexidade do tema estudado, Castellanos (1991)
propôs dar uma finalidade prática e produzir conhecimentos que pudessem ser úteis
para as decisões e ações no âmbito das políticas públicas. Além de reduzir a
complexidade, Minayo, Assis e Souza (2005) querem também construir uma visão
crítica que equilibre os números e as significâncias, fornecendo maior confiabilidade.
Ao considerar este tipo de estudo, relacionando o conhecimento geográfico do
agente de saúde com as competências e habilidades sociais, enfrentou-se problemas
relacionados à complexidade e para isso buscou-se ferramentas metodológicas que
pudessem reduzi-los e, ao mesmo tempo, articular unidades de análises, variáveis e
indicadores de diferentes níveis. Neste caso, a triangulação de métodos foi entendida
como uma importante alternativa para unir tantas informações.
No entanto, Castellanos (1991) recomenda que, para aplicar a metodologia da
triangulação de métodos, é necessário escolher um número mínimo de variáveis, mas
que seja suficiente para descrever o contexto, assim como elaborar uma construção
teórica passível de ser permanentemente ajustada com a prática. Já Minayo, Assis e
Souza (2005) acrescentam que se devem analisar os tipos de informações
separadamente, com suas específicas metodologias de análise para se ater às
especificidades, porém ao mesmo tempo combinado para conseguir a informação
desejada; lembram também que não se deve esquecer que cada método e técnica têm
forças e fraquezas peculiares.
A pesquisa tem, portanto, como uma de suas perspectivas compor uma síntese
dessas várias técnicas e/ou métodos utilizados durante o trabalho. Para isso foram
utilizadas estratégias que buscaram abranger cada escala geográfica e ao mesmo tempo
cada tipo de informação disponível na mesma (quadro 14).
11
O Programa Cuidar foi elaborado pelo educador Antônio Carlos Gomes da Costa e viabilizado pela instituição
Modus Faciendi. Tem como objetivo “‘promover, junto às redes públicas e particulares de ensino fundamental e
médio, um projeto de educação para valores’ ” (Modus Faciendi, apud MINAYO, ASSIS, SOUZA, 2005, p. 47)
89
QUADRO 14
TIPOS DE INFORMAÇÕES COLETADAS PARA PESQUISA, POR ESCALA GEOGRÁFICA
ESCALA
GEOGRÁFICA
INFORMAÇÃO GERAÇÃO DE DADOS ANÁLISE DOS DADOS
Internacional
Relatórios finais de Conferências
Internacionais
Levantamento documental Análise de conteúdo
Nacional
Documentos oficiais do programa/
Relatórios dos programas/
Material de capacitação
Levantamento documental Análise de conteúdo
Municipal
Documentos oficiais do programa/
Relatórios dos programas/
Material de capacitação/
Anotações de campo
Levantamento
documental/ Observação
participante
Análise de conteúdo /
Análise de discurso
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Comunidade (área
de trabalho do
agente)
Levantamento documental/
Observação participante/
Entrevista com grupo focal/
Levantamento fotográfico/
Gravação em áudio/ Elaboração de
mapa mental
Análise de conteúdo/
Análise de discurso/
Análise semiótica de
imagens paradas/ Análise
da representação espacial
Triangulação de métodos
Organizado por PEREIRA, MPB (2006)
Capítulo 4...
Recife: ambiente, qualidade dos serviços e
resiliências
A cidade não se revela em todos os
seus segredos, por mais atento que
seja o olhar de quem a observa. (...)
Conseguir reduzir a cidade a um
conceito único é impossível. Temos
que explorar a sua diversidade.
(REZENDE, 2007, p. 11)
91
4. RECIFE: AMBIENTE, QUALIDADE DOS SERVIÇOS E RESILIÊNCIAS
Ao longo de sua formação sócio-espacial, a cidade do Recife vem sendo
denominada a partir de adjetivos que remetem à sua natureza urbano-ambiental. Entre
as principais denominações, Gominho (1998, p. 13) destaca: “Cidade-Veneza, Cidade
Maurícia, Mauristad, Cidade das Águas, Veneza Americana, Cidade Anfíbia, Caeté,
Capital do Açúcar, Cidade dos Mucambos, Mucambópolis...”
Josué de Castro, por exemplo, apresentou-a com várias faces. Ao observar a
conjuntura urbana durante a década de 1950, concebeu-a, por um lado, como a cidade
dos rios, pontes e antigas residências palacianas, e, por outro, como a cidade dos
mocambos, das choças, casebres de barro batido a sopapo, com telhados de capim, de
palha, de folhas de flandres. No entanto, quando buscou uma identidade única à
mesma, o autor afirmou que apenas a paisagem natural é que lhe dá unidade, sendo
esta representada pelo intenso reflexo da luz sobre as águas (CASTRO, 1992b). Esse
posicionamento foi reforçado por Rocha (1992) ao afirmar que, na década de 1970, o
rio Capibaribe se constituía como uma constante na paisagem, e por Bernardes (1996),
num primeiro momento, quando afirmou que o elemento líquido domina a paisagem.
Entretanto, colocando em evidência essa ‘paisagem natural’, há também
controvérsias quanto ao rio, e o conseqüente reflexo da luz sobre as águas como sendo
a unidade da paisagem do Recife, uma vez que na paisagem recifense surge uma outra
característica: a oposição entre os morros e os alagados. Bernardes (1996), na
continuação do seu livro, apresenta a ocupação dos alagados e mangues na planície, e
ao redor (norte, oeste e sul) a ocupação dos morros, formando uma planície rodeada
por um semicírculo de morros.
Essa caracterização inicial de Recife mostra um problema que é inerente a muitas
cidades, o qual depende da escala e da perspectiva que se observa a mesma. Assim, a
sua natureza remonta para a possibilidade de observá-la a partir de um recorte
caleidoscópico, no qual a mudança de ângulo resulta em recortes diferentes no que se
refere à configuração sócio-espacial da cidade.
92
Lefebvre (2001) apresenta algumas faces desse problema quando afirma ser
importante distinguir visões diferenciadas da cidade quando se quer problematizar a
mesma. Inicialmente, o autor apresenta a cidade enquanto globalidade, sendo esta
pertencente à concepção dos filósofos. Depois apresenta a cidade a partir de
conhecimentos parciais. Uma outra cidade seria aquela que mostra aplicações técnicas
dos conhecimentos parciais da cidade. E uma quarta cidade seria a que coloca o
urbanismo enquanto doutrina e ideologia para interpretar os conhecimentos parciais
desta cidade.
Essa visão fragmentada da cidade torna-se um pouco mais proeminente quando a
mesma se torna uma metrópole, como é o caso de Recife. Ainda que seja considerada
por Souza (2000) uma metrópole nacional com uma posição intermediária em relação
a alguns aspectos do desenvolvimento sócio-espacial, quando comparada ao Rio de
Janeiro e São Paulo, concorda-se com Rezende (2007) ao afirmar que Recife é uma
cidade de muitos espelhos, sendo difícil escolher a imagem que mais a identifica.
Esse breve resgate foi necessário para entender algumas das visões fragmentadas
sobre a cidade de acordo com os componentes da ESF e do PSA a partir de escalas
diferenciadas. Inicialmente é mostrada a cidade apreendida pela direção do distrito e
pelos dirigentes de área de cada programa (enfermeiros e supervisores). Neste caso o
Recife está sendo visto de forma fragmentada, mas aponta algumas das principais
preocupações desses profissionais em todo o Recife. Logo após mostra a cidade
visualizada pelos agentes, sendo num primeiro momento a visão como um todo e
depois a partir do resgate dos depoimentos dos agentes Estrelas (Chão de Estrelas),
Larissa (Poço), Germano (Monteiro), Poeta (Várzea), Nâna, Sarah e Severino (Ilha do
Retiro) sobre suas áreas de trabalho.
4.1
RECIFE: O SERVIÇO DE SAÚDE EM MEIO AOS CONTRASTES SÓCIO-ECONÔMICO E
AMBIENTAL
Durante o trabalho de campo exploratório foi iniciado o contato com as pessoas
que ocupam cargo de confiança na secretaria de saúde (sede da PCR), Centro de
93
Vigilância Ambiental (CVA) e Departamento de Atenção Básica (DEAB). Além
destes, também foi estabelecido contato com a direção da ESF e PSA em cada distrito
sanitário e com os enfermeiros (da ESF) e supervisores (PSA) em toda a cidade.
Com relação às pessoas da direção, foi pedido que fosse feita uma caracterização
do distrito em que trabalha, já aos enfermeiros e supervisores, em meio a outras
perguntas
12
, foram questionados sobre o que caracteriza de bom e de ruim sua área de
trabalho. A partir dessa caracterização surgiram nove categorias que definiram o
posicionamento dos agentes sobre sua área de atuação, seja o distrito ou a área de
trabalho (quadro 15 e 16).
QUADRO 15
CATEGORIAS QUE DEFINEM A ÁREA DE ATUAÇÃO, POR DISTRITO SANITÁRIO, PARA OS TRABALHADORES DA
DIREÇÃO DO DISTRITO
I II III IV V VI
CATEGORIAS
ESF PSA ESF PSA ESF PSA ESF PSA ESF PSA ESF
13
PSA
1. LOCALIZAÇÃO/ SITUAÇÃO
2. CARACTERÍSTICAS
GERAIS E PERFIL
3. CONDIÇÃO SÓCIO-
ECONÔMICA
4. AÇÕES NO AMBIENTE E
CONDIÇÕES DE
SANEAMENTO
5. SERVIÇO DE SAÚDE
6. AÇÕES ARTICULADAS
ENTRE A EQUIPE E A
LOCALIDADE
7. SERVIÇOS OFERECIDOS
8. SITUAÇÕES QUE GERAM
SEGURANÇA
/ INSEGURANÇA
SOCIAL
9. CONDIÇÃO REFERIDA
Fonte: Trabalho de campo exploratório em janeiro e fevereiro de 2006 e 2007/ Organizado por
PEREIRA, MPB (2008).
LEGENDA:
ESF
PSA
12
As outras perguntas às quais fez-se referência são: a) identificação de agentes que se destaquem por fazer mais
do que a sua obrigação ou por uma característica pessoal forte, e a especificação deste destaque; b) localização
da USF/ ponto de apoio e; c) identificação dos agentes mais antigos, e destes, quais estão trabalhando em uma
área que possui também um agente do outro programa. Todas estas perguntas influenciaram na escolha das áreas
e das pessoas a fazerem parte desta pesquisa. (Mais detalhes, verificar capítulo 2)
13
Não foi possível obter a caracterização da área pela direção da ESF no Distrito Sanitário VI, sendo contado
apenas o que foi apontado pela direção do PSA.
94
QUADRO
16
CATEGORIAS QUE DEFINEM A ÁREA DE ATUAÇÃO DOS ENFERMEIROS E SUPERVISORES POR PROGRAMA E POR
DISTRITO SANITÁRIO
I II III IV V VI
ESF PSA ESF PSA ESF PSA ESF PSA ESF PSA ESF PSA
CATEGORIAS
B R B R B R B R B R B R B R B R B R B R B R B R
1. LOCALIZAÇÃO/ SITUAÇÃO
2. CARACTERÍSTICAS
GERAIS E PERFIL
3. CONDIÇÃO SÓCIO-
ECONÔMICA
4. AÇÕES NO AMBIENTE E
CONDIÇÕES DE
SANEAMENTO
5. SERVIÇO DE SAÚDE
6. AÇÕES ARTICULADAS
ENTRE A EQUIPE E A
LOCALIDADE
7. SERVIÇOS OFERECIDOS
8. SITUAÇÕES QUE GERAM
SEGURANÇA
/ INSEGURANÇA
SOCIAL
9. CONDIÇÃO REFERIDA
Fonte: Trabalho de campo exploratório em janeiro e fevereiro de 2006 e 2007/ Organizado por PEREIRA, MPB
(2008).
B= destaque bom; R= destaque ruim
LEGENDA:
ESF
PSA
Depois dessa caracterização geral, foi feita uma classificação das categorias que
teriam uma presença mais forte, ou seja, tanto a ESF quanto o PSA, através dos dois
segmentos, (direção do distrito e dos dirigentes das áreas) apontaram a mesma
categoria. A presença média estaria relacionada às categorias que estiveram manifestas
nas falas de um dos segmentos de maneira forte e outro em pelo menos um dos
programas, ou seja, parcial. Por fim, a presença fraca seria aquela que se apresentou
nas falas de pelo menos um dos segmentos, sendo a fala por parte de apenas um
programa ou que em um segmento apresentou-se forte, porém, no outro, não teve
presença (quadro 17). A partir dos resultados, optou-se em apresentar através de mapas
apenas as categorias que apresentaram a presença forte em pelo menos um distrito
sanitário.
95
QUADRO 17
CATEGORIAS QUE DEFINEM A ÁREA DE ATUAÇÃO, POR DISTRITO SANITÁRIO, PARA OS TRABALHADORES DA
DIREÇÃO DO DISTRITO E OS DIRIGENTES DE ÁREAS
(ENFERMEIROS E SUPERVISORES)
I II III IV V VI PRESENÇA
TEMAS
D A D A D A D A D A D A
1. LOCALIZAÇÃO/ SITUAÇÃO
P P P T
T T T T
- T - T
2. CARACTERÍSTICAS
GERAIS E PERFIL
T T
- T
T T
- T - T - T
3. CONDIÇÃO SÓCIO-
ECONÔMICA
P T T T T T P T P T P T
4. AÇÕES NO AMBIENTE E
CONDIÇÕES DE
SANEAMENTO
T T
P T P T P T - T - T
5. SERVIÇO DE SAÚDE
T T T T T T T T T T
P T
6. AÇÕES ARTICULADAS
ENTRE A EQUIPE E A
LOCALIDADE
- P - T
T T
- T T P P T
7. SERVIÇOS OFERECIDOS
- P - P - T - P - T - T
8. SITUAÇÕES QUE GERAM
SEGURANÇA
/ INSEGURANÇA
SOCIAL
P T - T - T P T - T - -
9. CONDIÇÃO REFERIDA
- - P P P P P P P T - P
Fonte: Trabalho de campo exploratório em janeiro e fevereiro de 2006 e 2007/ Organizado por PEREIRA, MPB
(2008).
LEGENDA:
D Direção do Distrito
A Área dos enfermeiros ou dos supervisores
- Não houve relato de nenhum programa sobre esta categoria
P Parcial (pelo menos um programa apontou a categoria)
T Total (tanto a ESF quanto o PSA apontaram a categoria)
Presença forte
Presença média
Presença fraca
Não consta
Vale salientar que, quando se fala na direção do distrito, estão incluídos tantos os
chefes como os funcionários que têm cargo de confiança, e estes falam do distrito
como um todo.
Com relação aos enfermeiros, estes são profissionais que trabalham no local, mas
normalmente não moram na área, têm formação universitária e, em geral, inseriram-se
na equipe através de concurso público municipal. Estes falam de uma cidade, onde em
cada bairro, são observados os moradores com menor poder aquisitivo, porém não
exclusivamente por aglomerados subnormais
14
.
14
Aglomerados subnormais= Conjunto constituído por no mínimo 51 domicílios, ocupando ou tendo ocupado
até período recente, terreno de propriedade alheia – pública ou particular – dispostos, em geral, de forma
desordenada e densa, e carentes, em sua maioria, de serviços públicos essenciais (IBGE, 2000).
96
Os supervisores, em geral, são agentes de saúde ambiental que se destacaram e
passaram a ser responsáveis por uma equipe, ou, com menos freqüência, são
funcionários da FUNASA e em sua maioria não mora na área. O Recife caracterizado
por estes profissionais seria mais condizente com o conjunto da cidade, uma vez que
suas áreas abrangem os bairros como um todo, incluindo todas as classes sociais
existentes.
A primeira categoria refere-se à localização/situação, que tem a ver com as
observações relacionadas ao relevo, à acessibilidade e à sua localização relativa e/ou
absoluta. (mapa 5). O tema localização/situação esteve mais forte na fala dos
profissionais do DS III e IV, no qual tanto a direção do distrito quanto os dirigentes de
área falaram sobre o tema, seja por sua influência positiva e/ou negativa.
No que diz respeito ao relevo, a direção do distrito apresentou problemas
relacionados aos morros e aos alagados (desabamentos e alagamentos), os quais
estiveram presentes de forma mais evidenciada nos distritos II, III e IV. Os
enfermeiros e supervisores apresentaram como um bom destaque em relação ao relevo
a área ser plana, semiplana e de ladeira (neste caso, por ser uma área que não alaga).
Como destaque ruim eles falaram sobre o relevo com relação às barreiras (risco de
deslizamento, ladeiras, escadarias) e vales (córregos).
Com relação à acessibilidade, a direção do distrito afirmou que a mesma tem sido
dificultada pela violência, áreas alagadas e de morros e pela enorme extensão das áreas
de trabalho, isso tem ocorrido principalmente nos distritos II e III. Os enfermeiros e
supervisores colocaram como destaque bom as áreas que são mais fáceis de se
trabalhar, seja por ser facilitado o acesso à USF ou à área. Com relação aos problemas,
estão relacionados às escadarias (que dificultam as visitas domiciliares), falta de
calçamento, buracos na rua que não permitem a passagem, presença de canais e à
grande extensão das áreas de trabalho.
97
98
No que se refere à localização relativa, a direção do distrito destacou como
aspectos relevantes, os pontos de violência, tráfico de drogas, áreas carentes, córregos
e proximidade de matas, aspectos esses observados nos distritos I, II e IV. Os
enfermeiros e supervisores destacaram como características positivas o fato de sua
área de trabalho estar próxima a: escolas, praia e à USF, e esta, por sua vez, estar
próxima à avenida de grande circulação. Estar em uma área má situada em relação a
outros objetos significa que a área para visitar está distante da USF e há como
conseqüência, dificuldades tanto para o profissional atender no domicílio, quanto para
o usuário ir até a USF ou, no caso dos supervisores, o ponto de apoio está longe da
USF.
A localização absoluta foi mencionada apenas pelos enfermeiros e supervisores,
os quais apontaram como um bom destaque as áreas de riqueza e pobreza estarem bem
definidas, a paisagem do lugar ser bonita, ter arborização (facilidade de andar pela área
sem tomar tanto sol), a população atendida ter uma boa condição de sobrevivência,
sendo mais saudável, e estar em uma área turística.
A categoria que trata das características gerais e perfil refere-se a características
históricas, físicas, demográficas, culturais, nível de conhecimento, receptividade da
população e características gerais (mapa 6). Com relação à direção do distrito, foram
mencionadas apenas nos Distritos Sanitários I e III. Já com relação os dirigentes de
áreas, essa categoria esteve presente em todos os Distritos Sanitários. Dessa forma,
esta categoria apresenta-se mais forte nos DS I e III.
Os temas mencionados exclusivamente pela direção do distrito foram as
características históricas, físicas e demográficas. A direção do distrito apontou no
Distrito I as características históricas com vestígios da colonização portuguesa e as
demográficas, com uma população predominantemente de trabalhadores devido ser um
bairro central. Já no DS III foram evidenciadas as características físicas como sendo
este distrito concentrador de todas as características da cidade; foi lembrado que este
distrito é o mais populoso e que concentra maior número de bairros.
99
100
No que concerne aos aspectos culturais, a direção do distrito apontou como forte
a expressão cultural no Distrito Sanitário III, sendo mencionada a presença de “bolsões
de cultura”. Já os enfermeiros e supervisores apresentaram como um bom destaque em
relação à expressão cultural a presença de variados grupos musicais nos bairros como
um todo ou nas áreas mais pobres dos bairros.
Com relação ao nível de conhecimento, mencionado apenas pelos enfermeiros e
supervisores, foi destacado como bom as pessoas que têm boa formação, as que são
esclarecidas e que aderiram a novos hábitos (os hábitos que foram apresentados pelas
políticas de saúde). Como ruim, foi colocada a falta de instrução de outros moradores e
a falta de educação por parte dos usuários que invadem os consultórios médicos.
Os enfermeiros e supervisores se referiram também à receptividade da população.
Nas áreas em que é boa, há respeito, acessibilidade, tranqüilidade para trabalhar,
mudança de hábitos, relação de confiança, acolhimento, os usuários compreendem os
limites e potencialidades do programa, e, por conseqüência, criam vínculo com a
comunidade. Nas áreas em que a receptividade está problemática, têm relação com o
não envolvimento da população com os problemas em seu ambiente de moradia, ao
agravamento da situação após orientação dos agentes de saúde, à falta de participação
da população nas atividades locais promovidas, à falta de entendimento dos limites e
potencialidades do programa e a dificuldade em aceitar o novo.
Com relação às características gerais de suas áreas de atuação, os enfermeiros e
supervisores destacaram como bom a consciência crítica, solidariedade, amabilidade,
humanidade e alegria dos moradores. Como ruim destacaram o descontrole com
relação ao número elevado de filhos por família fazendo com que a população seja
muito jovem, a agressividade, intolerância, falta de solidariedade, grande mobilidade
da população e a carência emocional desses moradores.
Percebe-se que os destaques bons em relação ao nível de conhecimento da
população atendida, o grau de politização/ trabalho comunitário e a receptividade são
influenciadores do domínio conceitual e conseqüente autonomia.
A categoria condições sócio-econômicas está representada pela condição
financeira, condições da habitação, contrastes do ponto de vista sócio-ambientais e
101
econômicos (mapa 7). Considerando os dois segmentos, a presença desse tema é forte
nos Distritos Sanitários II e III.
Para a direção do distrito, a condição financeira tem relação com relatos sobre
pobreza, nível salarial baixo e bolsões de pobreza, foi mencionado nos Distritos I, II,
III, IV e V. Os enfermeiros e supervisores apontaram como boa condição financeira os
locais em que a maioria das pessoas está aposentada, a renda não é tão baixa e a
miserabilidade é baixa. Já os destaques ruins são correlacionados aos altos níveis de
desemprego, muitas pessoas abaixo da linha de pobreza, à presença de muitos
desocupados na rua por falta de trabalho e a uma paisagem que choca ao olhar do
profissional.
As condições de habitação foram apresentadas pela direção do distrito através das
habitações com materiais aproveitados (casa de papelão) e as casas construídas em
área de invasão, estas questões foram colocadas pelo DS IV. Os enfermeiros e
supervisores destacaram como bom a presença de casas com bom padrão de
construção (alvenaria com reboco). Como ruim destacaram as palafitas e habitações
construídas com materiais aproveitados (taipa e lona).
Os contrastes sócio-ambiental e econômico foram apresentados nos distritos III e
VI, segundo os dirigentes dos distritos. Fato que se explica historicamente devido
essas áreas terem sido ocupadas pela população de alta renda, em períodos históricos
diferenciados, e atualmente concomitante à edificações que expressam essa riqueza,
também abrigam a população mais pobre. Em decorrência disso, no distrito VI, foi
citado que esse contraste influencia negativamente no planejamento dos ASAs para
agir com um público alvo tão diverso. Os enfermeiros e supervisores destacaram como
bom os contrastes porque pelo menos demonstra que a população atendida não é tão
pobre, e quando falaram de coisas negativas sobre o contraste sócio-ambiental e
econômico mencionaram a dificuldade para planejar um trabalho em áreas muito
contrastantes.
102
103
A categoria ações no ambiente e condições de saneamento está vinculada às
ações do morador no ambiente, do poder público ou privado no ambiente, da relação
entre o morador e serviços oferecidos, ações do trabalhador no ambiente e a presença
de vetores devido às condições de saneamento. A presença dessa categoria é mais forte
no DS I (mapa 8).
No que diz respeito às ações do morador no ambiente, a direção do distrito
mencionou no DS I o despejo de lixo no canal e a falta de educação e saúde do
morador no sentido de não atender às recomendações feitas pelos agentes de saúde. No
DS II foi destacado o descaso da população quanto ao lixo. Já no DS III foi relatado o
despejo inadequado de lixo nos canais e terrenos baldios. Os enfermeiros e
supervisores destacaram como bom o fato das pessoas acondicionarem o lixo
corretamente e limparem os quintais. Como destaque ruim mencionaram o mau
acondicionamento do lixo em terrenos baldios e canaletas, a criação de animais dentro
de casa (porcos) e no quintal (vacas, piranhas), a soltura de animais na rua (vacas),
mau acondicionamento d’água (reservatório sem tampa e/ou sem vedação), piscinas e
imóveis abandonados, quintal sujo, desvio de tubulação de esgoto para canaletas
(esgoto clandestino) e construção de fossa em local inapropriado.
As ações do poder público ou privado no meio ambiente, segundo a direção do
distrito, correspondem ao investimento de um Banco privado em conjunto com a
prefeitura para implementar esgoto condominial em algumas áreas do DS I e a boa
ação intersetorial da EMLURB, SANEAR e CODECIR junto ao PSA no DS II.
Contudo, também foi evidenciado pelo DS III o abastecimento d’água deficiente,
contaminação da água, problemas na coleta de lixo e infra-estrutura precária, enquanto
no DS IV foram destacadas as condições de saneamento ruins. Os enfermeiros e
supervisores destacaram como bom o calçamento das ruas e parques, as ações de
saneamento básico (fornecimento de água e coleta de esgoto), a construção de
canaletas e drenagens pela EMLURB e a melhora do serviço de desratização e
desescorpianização. Destacaram como ruim as áreas que não têm saneamento básico
ou este é precário, a presença de esgoto a céu aberto, falta de calçamento e escadarias
nas áreas de barreira, a ausência de banheiro na casa de alguns moradores mais pobres,
104
coleta de lixo deficiente ou ausente, intermitência da água, a falta do serviço de
cloração da água e a presença de canais sem manutenção.
A relação entre morador e serviços oferecidos tem sido dificultada, de acordo
com os dirigentes dos distritos, no DS I há embates no que diz respeito à escavação de
poços, isso acarreta no problema de a COMPESA ter dificuldade de cobrar pelo uso da
água devido não ter sido contabilizada, mas recebe o esgoto, ficando este sem a taxa
de serviço adequada. Como reação, a COMPESA tem fechado a saída de esgoto e o
morador tem transferido este esgoto para o esgotamento pluvial. Já no DS III não há
uma atitude por parte do morador para desativar os pontos críticos de lixo. Os
enfermeiros e supervisores destacaram essa relação como boa quando os moradores
atendem às recomendações de uma maneira geral; Como ruim quando, por exemplo,
voltam a jogar lixo nos canais, mesmo quando acabaram de ser limpos, são inflexíveis
em retirar ou melhorar a condição ambiental dos criatórios, formam pontos críticos de
lixo e obstruem o esgoto condominial.
Sobre as ações do trabalhador no ambiente a direção do DS I citou a ação do
catador, que tem depositado resíduos sólidos sem um bom acondicionamento, atraindo
animais peçonhentos. Os enfermeiros e supervisores falaram sobre esse tema apenas
como um destaque ruim, e também comentaram sobre a ação dos catadores, com
depósitos de reciclagem mal acondicionados.
Com relação à presença de vetores, a direção do distrito apontou o mosquito
culex (muriçocas), escorpião e criadouros de Aedes Aegypti. Além desses vetores, os
enfermeiros e supervisores detectaram ainda a presença de ratos.
105
106
Quando falaram sobre o serviço de saúde, houve empolgação em todos os
distritos sanitários
15
(mapa 9). Os temas mencionados incluem o perfil dos
profissionais do programa, como se dá a cobertura dos programas, as condições de
trabalho a que são submetidos esses trabalhadores, a qualidade do serviço oferecido, o
papel educativo dos agentes de saúde, a cobertura de outros tipos de serviços além do
programa e a qualidade desses outros serviços oferecidos.
Com relação ao perfil dos profissionais do programa, os dirigentes dos distritos
sanitários falaram sobre a boa atuação dos agentes e o comprometimento da equipe
com o serviço e a atuação dos funcionários da FUNASA. Também mencionaram o
desestímulo devido muitas dificuldades enfrentadas como: falta de componentes da
equipe para equilibrar a quantidade de tarefas a serem efetivadas por cada um; a
preocupação com os funcionários em fim de carreira, o que dificultará ainda mais o
setor se não houver rápida contratação de novos funcionários e; o desequilíbrio ou
diferença de formação entre os agentes de saúde dos dois programas, gerando
profissionais bem diferenciados uns dos outros. Esse tema foi considerado em todos os
distritos.
Os enfermeiros e supervisores destacaram de bom as USF que dispõem de
dentistas e médicos, assim como o nível acadêmico dos profissionais. De ruim,
mencionaram os médicos que trabalham em muitos lugares ao mesmo tempo e os ACS
que não atendem às expectativas, dificultando a interação na equipe, assim como a
interação entre programas (ESF e PSA), no qual há locais em que a ESF precisa
sempre requisitar a presença do ASA para resolver o que tem a ver com suas
atribuições e no PSA ocorrem casos em que o ASA recebe muitas reclamações do
morador em relação ao serviço dos ACS, acumulando solicitações que não pode
resolver, assim como nos locais em que os pontos de apoio são na USF, ocorre casos
da equipe da ESF usar as fichas do PSA como papel higiênico.
15
Ainda que no DS VI a cor indique que a presença seria média, vale lembrar que não houve depoimento da
direção da ESF no distrito.
107
108
Com relação à cobertura da ESF e do PSA, foi colocado pela direção do distrito
que a maior cobertura tem a ver com a maior pobreza no distrito, que o PSA tem uma
cobertura mais abrangente do que a ESF e que, mesmo assim, há dificuldade de
cobertura total no distrito. Isso foi mencionado nos distritos II, III e V. Os enfermeiros
e supervisores comentaram de bom sobre o assunto não a partir da cobertura, mas a
presença do serviço na localidade, no qual mencionaram que a presença da USF é bom
devido facilitar o trabalho do ASA e auxiliar melhor a população mais carente.
No que diz respeito às condições de trabalho, a direção do distrito reclamou sobre
a falta de material de trabalho, o horário de trabalho ruim devido o sol, defasagem de
recursos humanos, falta de legislação para cumprir o determinado no programa, falta
de verba para material educativo e a existência de muitas equipes em um só espaço
físico, fato que ocorre em muitas unidades. Essas considerações foram realizadas nos
distritos I, II, III, IV e V. Como ponto positivo, foi destacado que há USF que tem uma
ou duas equipes, fator apresentado apenas no DS IV. Os enfermeiros e supervisores
apontaram como bom o fato da existência de equipes que estão procurando uma
maneira de lidar com as tensões dentro do seu grupo de trabalho, melhorando as
condições psicológicas do ambiente. Como fatores ruins, foi apontado que problemas
no serviço de saúde oferecido têm causado tensões entre o agente de saúde e o usuário
do serviço, devido ao não cumprimento do que deveria estar sendo realizado, a
exemplo de: atendimento especializado, ocasionado pela ausência de vagas e; trabalho
de desratização, por não haver veneno específico. A falta de protetor solar também foi
citada como ponto negativo, uma vez que deixa o trabalhador da saúde exposto à
possibilidade de adquirir câncer de pele. Outro fator considerado como ruim diz
respeito à ausência de farda/uniforme que caracterize o agente de saúde, o que acarreta
problemas como dificuldade de acesso do agente aos domicílios, e desgaste de sua
roupa do dia-a-dia, onerando custos individuais. Com relação aos ASAS
acrescentaram a falta de segurança no emprego.
Sobre a qualidade do serviço oferecido, a direção do distrito apontou como
pontos positivos estar sendo controlada a situação da dengue, escorpião e ratos; de
haver em algumas unidades da USF uma co-gestão com o IMIP; o pioneirismo em
implementar ações adaptáveis à realidade do Recife e com criatividade e; o trabalho
109
ser territorializado, pois isso auxilia num conhecimento mais profundo da área em que
se trabalha. São declarações de dirigentes dos DS II, IV, V e VI. Enquanto pontos
negativos foram apontados nos DS V e VI, com relação à ESF, que o serviço do agente
é monótono, pois existem demandas mais importantes a resolver para a comunidade.
Com relação ao PSA, foi dito que, apesar do trabalho territorializado auxiliar num
aprofundamento sobre a área de atuação, não permite ao agente de saúde observar
elementos de realidades diferentes daquela vista na área de trabalho, dificultando uma
boa observação na ocasião de um mutirão ou o agente quando é deslocado de sua área
para outra, com realidade social diferente. Os enfermeiros e supervisores apontaram
como destaque bom a questão melhor acesso à USF, ter bons serviços de vacinação,
coleta de fezes e urina, boa marcação de consultas, acompanhamento de pré-natal, as
equipes da ESF em que o agente de saúde tem condições de passar mais tempo nas
casas mais carentes, a presença de grandes hospitais na proximidade e as equipes de
PSA que conseguem visitar quinzenalmente alguns domicílios considerados de maior
risco, ainda que não sejam os pontos estratégicos pré-determinados, pois há resultados
melhores, tendo como conseqüência a diminuição do número de focos de mosquitos.
Já como destaque ruim mencionaram os casos das localidades próximas não cobertas e
que precisam de cobertura, sendo realizado informalmente e com precariedade, as USF
que funcionam como posto de saúde tradicional, a demanda ser maior do que a
capacidade de atender, marcação de consulta com especialista deficiente, falta de
material para oferecer um bom serviço, infra-estrutura da USF ou ponto de apoio ruim,
falta de intersetorialidade deixando a população sem informação e resolução de
problemas, o fato dos pontos de apoio não estarem nas USF, dificultando a interação e
a resolução de problemas dos moradores e a falta de profissionais, dificultando ainda
mais o bom atendimento à população.
Com relação ao papel educativo foi pela direção do distrito afirmado que, em
geral, o ASA ainda não assumiu o papel de educador, porém alguns já têm esse
posicionamento e se utilizam da dança, teatro e outras atividades para chamar a
atenção do morador da cidade para as questões inerentes à saúde ambiental. Esses
relatos foram realizados nos DS III e V. Os enfermeiros e supervisores destacaram
como bom os trabalhos educativos da ESF relacionados às campanhas, os grupos
110
AESA e IESA, hiperdia (grupos de pessoas que têm hipertensão e/ou diabetes) e a
realização de palestras em geral; com relação aos trabalhos educativos do PSA, foi
destacado como bom o trabalho nas escolas e com grupos da terceira idade. De ruim
eles destacaram a falta de espaço para formar grupos, falta de material educativo e de
apoio financeiro.
Apenas no DS V a direção do distrito mencionou sobre a cobertura de outros
tipos de serviços além da ESF e do PSA, assim como de sua qualidade. Foi relatado
que há uma série de unidades de média complexidade e CAPS que dão suporte à ESF.
Esse tema não foi relatado por enfermeiros e supervisores.
No que diz respeito às ações articuladas ou desarticuladas (mapa 10) foram
mencionados temas como a relação dentro das equipes, a relação entre a equipe e o
usuário, o trabalho conjunto entre ESF e PSA e o poder de articulação da própria
comunidade com outros segmentos. A categoria teve forte presença no DS III.
A relação dentro das equipes foi mencionada pela direção do distrito a partir da
união dentro das equipes, principalmente no que diz respeito às equipes da ESF. Nas
equipes do PSA foi apresentada certa dificuldade devido os agentes terem tido
formações bem diversas, fazendo com que tenham concepções diferenciadas sobre a
área onde atuam. Essas colocações foram relatadas pelos dirigentes nos Distritos III e
V. Os enfermeiros e supervisores informaram que ela é influenciada pelo grau de
compromisso que cada membro tem com a sua equipe.
Quando se fala sobre a relação entre a equipe e o usuário, apenas na direção do
DS V foi relatada uma queixa quanto à falta de dinamicidade no trabalho da ESF, o
que faz com que os agentes migrem para a liderança comunitária e outras atividades
afins. Os enfermeiros e supervisores destacaram como bom a ocasião em que a
população tem consciência sobre o que é o serviço e a importância do mesmo, assim
como dos problemas a eles inerentes. Essa relação é ruim quando falta a consciência,
isso é evidenciado nos momentos em que a população atendida recusa o serviço do
programa alegando que sua situação não seria de risco (quando de acordo com os
programas é considerado de risco), que esse serviço deve ser feito apenas para
miseráveis e aos que habitam em situação de risco máximo.
111
112
O trabalho conjunto entre ESF e PSA apresentado pela direção do distrito foi
mencionado exclusivamente pelo PSA, no qual foi colocada a dificuldade em se
relacionar com as equipes da ESF. De acordo com enfermeiros e supervisores, o
trabalho conjunto tem sido interessante quando há uma busca por troca de informações
e, de acordo com as possibilidades, os problemas podem ser resolvidos entre eles e a
comunidade. Esses dirigentes de área mencionam que tem sido prejudicado nos locais
em que há rivalidades entre os agentes de saúde ou entre as próprias equipes.
O poder de articulação da própria comunidade com outros segmentos foi
mencionado pela direção do DS III devido essa comunidade ter um grau de politização
muito alto. Já os enfermeiros e supervisores falaram sobre o trabalho comunitário
destacando como bom a liderança e os grupos religiosos que ajudam a comunidade, o
grau de organização e politização para conseguir melhorias, enfim, a forte mobilização
social. De ruim foram citados os locais em que a população é muito pacata e não luta
por seus direitos, além de terem dificuldade de trabalhar em grupo.
A categoria serviços oferecidos e uso do solo tem duas subdivisões. A primeira,
“serviços oferecidos”, está relacionada ao lazer, educação, projetos para a comunidade,
rede de transporte, áreas protegidas ambientalmente, redes de energia elétrica, de água
e de monitoramento de barreiras. Já a segunda, “uso do solo”, abarca referências de
locais como áreas pouco povoadas, espaços religiosos, espaços utilizados para fonte de
renda e espaços para controle da segurança pública. Embora sua presença seja fraca,
essa categoria está presente em todos os distritos apenas no segmento dos dirigentes de
área (enfermeiros e supervisores).
A categoria situações que geram segurança/insegurança social foi mencionada
apenas a partir de questões negativas, desta maneira, deixou-se de lado a possibilidade
das situações que geram segurança social. Estas estão relacionadas à violência em
geral (na rua, na USF, impossibilidade de realização de visitas na área), prostituição,
roubos, assaltos, violência armada, drogas e correlacionados (usuários, áreas
dominadas pelo tráfico, influenciando até mesmo a divisão de micro áreas na ESF no
caso do DS I) e a violência contra um grupo específico (contra a mulher, contra a
criança). Esta categoria foi mencionada pelos dois segmentos, teve sua presença média
nos distritos I e IV e fraca nos demais. Fato curioso é que, fora do momento dessa
113
sondagem, a violência é um dos assuntos mais falados entre todos os segmentos,
quando pensam na cidade como um todo; mas, ao falar do distrito ou da área (mudança
de escala) enquanto espaço de trabalho, parece que a insegurança diminui um pouco.
Por fim, a categoria condição referida esteve relacionada às doenças infecciosas
e parasitárias, gravidez precoce ou excessivas vezes, mortalidade infantil, causas
externas de morbidade e mortalidade, doenças da pele e do tecido subcutâneo, do
aparelho respiratório, do aparelho circulatório, transtornos mentais e comportamentais,
doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas, doenças do aparelho digestivo e
tabagismo. Esta categoria foi mais mencionada no DS V, no entanto, sua presença foi
considerada média.
Com relação à direção do distrito, a respeito de doenças infecciosas e parasitárias,
recorrentes nos distritos I, II, III e IV, foram mencionadas as seguintes: filariose,
hanseníase, tuberculose e leptospirose. A gravidez precoce ou excessivas vezes foi
apontada apenas no DS V. Já, no que diz respeito à mortalidade infantil, fala-se em
redução de casos em algumas áreas, e aumento em outras (DS V), fato que despertou
interesse do governo municipal no sentido de aumentar o número de USF.
Já os enfermeiros e supervisores destacaram tantos pontos positivos como
negativos sobre a condição referida. Com relação às doenças infecciosas e parasitárias,
em algumas áreas houve diminuição da hanseníase, pneumonia e diarréia: em outras,
houve aumento da hanseníase, tuberculose, leptospirose, verminoses em geral e
dengue. Em relação às doenças do aparelho respiratório em algumas áreas diminuiu a
IRA (infecção respiratória aguda) e em outras aumentou. Das doenças endócrinas,
nutricionais e metabólicas houve diminuição da desnutrição, mas, por outro lado, ainda
prevalece o diabetes. Quando falaram de causas externas de morbidade e mortalidade,
ressaltaram num grande número de áreas, o problema do alcoolismo. Também houve
casos de doenças de pele e do tecido subcutâneo, principalmente em locais em que o
fornecimento de água é precário ou em que a residência está muito próxima a
depósitos de lixo. A gravidez precoce ou excessivas vezes também foi mencionada em
muitas áreas, principalmente com relação à gravidez na adolescência. Outro problema
apontado foi o de transtornos mentais e comportamentais. No que diz respeito às
doenças do aparelho digestivo foi mencionada a cárie dentária. Por fim, foi também
114
mencionado o tabagismo como um problema para a saúde num futuro próximo nas
localidades.
A imagem que prevalece, a partir da direção dos distritos, é a de um Recife que
precisa de serviços de saúde e que precisa melhorar as condições econômicas, sendo
esses recortes temáticos presentes em todos os distritos sanitários quando se considera
o conjunto. Com relação à primeira temática, esta era esperada devido essas
informações terem sido obtidas no setor saúde. Entretanto, a questão da condição
sócio-econômica deve ser de fato considerada como importante na imagem dessa
cidade, uma vez que foi a segunda temática mais mencionada.
Considerando os enfermeiros e supervisores, estes vêem o Recife principalmente
pela oferta de serviços de saúde, a qual se apresenta melhor para a ESF do que para o
PSA e pelas características gerais da população e seu perfil, sendo predominante uma
boa impressão por parte dos enfermeiros e, predominantemente, uma má impressão
para o PSA.
Ainda observando a opinião dos enfermeiros e supervisores sobre a cidade, agora
a partir da escala dos bairros, apenas oito bairros foram realçados. Como bons
destaques, a ESF considerou os bairros Torrões, Várzea e Areias com 6 das 9
categorias apontadas. Já o PSA evidenciou os bairros Vasco da Gama, Ibura, Boa
Viagem e Imbiribeira com 4 das 9 categorias. Em relação aos maus destaques, a ESF
colocou em evidência o bairro Ibura com 8 das 9 categorias, e o PSA apontou os
bairros Cohab e Ibura com 7 das 9 categorias consideradas. Há uma coincidência e
uma curiosidade em relação ao bairro Ibura no DS VI, no qual tanto a ESF quanto o
PSA destacam-no como o maior concentrador de categorias ruins, e ao mesmo tempo,
para o PSA é um dos bairros que também concentra a maior quantidade de categorias
boas.
Considerando os dois segmentos (direção dos distritos sanitários e dirigentes de
área) o Recife é visto principalmente pelo serviço de saúde, pelas condições sócio-
econômicas e das ações no ambiente e condições de saneamento. Pode-se inferir que,
115
dentro do serviço de saúde, os maiores influenciadores das políticas seriam as
condições econômicas e o ambiente em que a população atendida reside.
No próximo item será observada a opinião dos agentes de saúde da ESF e do PSA
visualizando tanto a cidade como um todo, como a partir de seus locais de trabalho.
Assim, poderá ser observado se a visão da cidade ou porções da cidade percebida
pelos profissionais que estão “na ponta do programa”, ou seja, na localidade, combina
com o visualizado por outros profissionais destes programas.
4.2
RESILIÊNCIA EM MEIO ÀS MULTITERRITORIALIDADES NO RECIFE
O encontro com os agentes de saúde foi em meio a um contexto de instabilidade
no emprego, em que os ACS e ASAs estavam lutando pela efetivação junto à
Prefeitura da Cidade do Recife. Desta forma, ainda na fase de trabalho de campo
exploratório, no qual ainda não estava sendo realizado nenhum tipo de atividade com
os agentes de saúde, foi possível participar enquanto observadora de uma das
manifestações sobre a luta pela efetivação. Trata-se da paralisação realizada no dia 25
de janeiro de 2006 (fotos 4 e 5).
A luta pela efetivação estava sendo realizada através do Sindicato dos Agentes
Comunitários de Saúde do Estado de Pernambuco (SINDACS) para os agentes dos
dois programas, tendo como principal reivindicação a agilização da PEC 007/2003
16
através da votação dos deputados federais que representam o estado de Pernambuco,
pois esta ação auxiliaria no processo de efetivação dos agentes de saúde.
Uma das preocupações dos líderes da paralisação foi realizar manifestações
pacíficas para não serem concebidos como desordeiros por parte dos meios de
comunicação. A motivação para realizar a paralisação foi a necessidade de mostrar que
os agentes estavam acompanhando o processo de regulamentação, que eram muitos e
que estavam organizados. Assim, a mobilização poderia influenciar na votação dessa
16
PEC 007/2003= Corresponde a um Projeto de Emenda Constitucional que alterou o Inciso II do artigo 37 da
Constituição para permitir a contratação pública dos agentes comunitários de saúde (ACS) e dos agentes de
combate a endemias (ACE). Essa alteração visava principalmente evitar a paralisação dos programas e
regulamentar os agentes de saúde, conferindo-lhes direitos trabalhistas. Essa proposta foi aprovada em fevereiro
de 2006 pelo Congresso transformando-se na Emenda Constitucional n. 51/2006.
116
emenda tendo em vista a expressão política que poderia ser obtida através da posição
favorável ao interesse desse grupo.
A concentração ocorreu na Praça Oswaldo Cruz, em frente à Fundação de Saúde
e passou por toda a Av. Conde da Boa Vista, uma das principais avenidas de acesso ao
centro da cidade. No mês de fevereiro a PEC foi votada e transformou-se na Emenda
constitucional n. 51, regularizando o vínculo dos ACS e ACE (agente de combate a
endemias) ou no caso de Recife, os ASAs. Contudo, só com a Lei 11.350/06, votada
em outubro, foi que houve possibilidade da efetivação no município, ocorrida em
Recife apenas um ano depois, em outubro de 2007, a partir da Resolução n. 1 da
Comissão especial criada pela lei municipal n. 17.233/2006, momento em que o
trabalho de campo com os sujeitos pesquisados já havia sido concluído.
Essa instabilidade certamente influenciou em muitas das falas desse trabalhador
durante a pesquisa, uma vez que estes, apesar de saberem de sua importância para a
saúde da população, não se sentiam valorizados enquanto trabalhadores dentro desse
sistema.
4. Paralisação dos ACS e ASA.
Data/ Local: 25/01/2006/ Concentração na
Praça Oswaldo Cruz. Bairro da Boa Vista.
Foto: SOUZA JÚNIOR, XSS.
5. Paralisação dos ACS e ASA.
Data/ Local: 25/01/2006/ Concentração na Praça
Oswaldo Cruz. Bairro da Boa Vista
Foto: SOUZA JÚNIOR, XSS.
117
4.2.1
FESTA NA UTI
A descrição sobre a cidade do Recife como um todo ocorreu na ocasião da
entrevista com grupo focal, quando os participantes foram questionados sobre a
imagem de Recife que possuem, enquanto moradores e enquanto profissionais.
Enquanto morador, foram ressaltados três aspectos sobre a cidade do Recife, que
se denominam aqui enquanto “sentimentos bons sobre Recife”, “sentimentos
negativos” e “sentimentos de que algo deve ser feito pela cidade”. Enquanto
profissionais, as concepções sobre Recife foram relacionadas ao “sentimento de que se
deve fazer alguma coisa”, “aos problemas na área da educação sanitária e para a
saúde” e sobre “problemas na área do saneamento”.
Dessa forma serão apresentados esses posicionamentos da seguinte forma: a)
sentimento bom sobre Recife (morador); b) Sentimento negativo sobre Recife,
problemas na saúde e problemas na área de saneamento (morador e profissional); c)
problemas na área da educação sanitária e para a saúde (profissional) e; d) Sentimento
de que algo deve ser feito pela cidade (morador e profissional).
Uma das primeiras concepções sobre o Recife, apresentada apenas na visão do
agente enquanto morador, é formada a partir de um bom sentimento sobre a cidade.
Recife é maravilhosa, linda, patriota, um modelo de desenvolvimento. Porém o que
seria maravilhoso? De que patriotismo se está falando? Como Recife é um modelo de
desenvolvimento?
Como cidade, em relação a Recife eu acho ele
maravilhoso, eu sou apaixonada pela minha cidade, ela é linda.”
(
Regina e Vitória – Agentes Comunitárias de Saúde da ESF)
Cada um carrega um olhar diferenciado da
cidade. Pra começar eu acho o Recife maravilhoso. Como
cidadão recifense eu só tenho a elogiar a cidade na
questão do patriotismo, gosto muito de Recife. Tenho essa
cidade como modelo também em termos de
desenvolvimento. Enfim, eu gosto da minha cidade.
118
(Lampião, Pedro e Josué de Castro – Agentes de Saúde
Ambiental do PSA
)
O Recife “maravilhoso”, “lindo”, pode ser interpretado como a influência da
mídia sobre a imagem da cidade. Alguns dos exemplos podem ser visualizados a partir
de imagens relacionadas ao turismo da capital pernambucana. Em uma enquete
realizada pela PCR no mês de maio de 2008 (RECIFE, 2008), os principais atrativos
turísticos da cidade refletem um pouco do que está sendo apresentado como o Recife
maravilhoso na atualidade, na ordem em que foram votados até 27 de maio de 2008: o
carnaval multicultural (33,37%); o passeio de Catamarã pelo rio Capibaribe (19,86%);
as pontes do Recife (16,22%); a praia de Boa Viagem (15,97%) e; Oficina Cerâmica
Brennand (14,58%) (fotos 6 a 11).
O “patriotismo”, que na linguagem dos entrevistados pode ser entendido como
bairrismo, já faz parte do imaginário do recifense, basta considerar algumas situações
de luta do pernambucano, especialmente do recifense em alguns momentos históricos.
Um dos exemplos é a Guerra dos Mascates (1709 a 1714). Outro foi a Revolução de
1817 que teve como intenção a implantação de uma república independente; também
deve ser lembrada a Confederação do Equador (1824) que pretendia separar
Pernambuco do Império português e a Revolução Praieira (1848), entre outros
(BERNARDES, 1996; BRAGA, 2007). Esse bairrismo se expressa no cotidiano no
sentido de que antes de ser brasileiro, o cidadão é recifense, e as inserções do recifense
nesses momentos de luta tiveram motivações locais.
119
9. Pontes do Recife - PE
Data/ Local:
27/11/2007/ Pontes: Buarque de Macedo;
Maurício de Nassau e Giratória
.
Foto: SANTOS, Ademar.
Fonte: http://blog.br/blogdedema.blogspot.com/
Acesso em 09/06/2008
6. Carnaval multicultural – Bloco Carnavalesco Galo
da Madrugada.
Data/ Local: 2004/ Ponte Conde da Boa Vista
Foto: CALDAS, Léo; BELÉM, Alexandre.
Fonte. CALDAS & BELÉM, 2004, p. 32.
11. Oficina de Cerâmica Francisco Brennand
Data/ Local:
2004/ Bairro da Várzea.
Foto: CALDAS, Léo; BELÉM, Alexandre.
Fonte:
CALDAS & BELÉM, 2004, p. 24.
10. Praia de Boa Viagem
Data: 2004.
Foto: CALDAS, Léo; BELÉM, Alexandre.
Fonte: CALDAS & BELÉM, 2004, p. 22
.
8. Passeio de Catamarã no rio Capibaribe
Data/ Local:
26/12/2007/ Perspectiva para a R. da Aurora.
Foto: LUCENA, Pierre.
Fonte: http://acertodecontas.blog.br/atualidades/o-passeio-
de-catamar-pelas-pontes-do-recife/ Acesso em 09/06/2008
7. Carnaval multicultural – Escola de Frevo
Nascimento do Passo
Data/ Local: 2004/ Pátio São Pedro.
Foto: CALDAS, Léo; BELÉM, Alexandre.
Fonte: CALDAS & BELÉM, 2004, p. 34.
120
A questão do desenvolvimento pode estar associada à reforma urbanística
implementada no início do século XX (modernização do porto, melhoria do serviço de
transporte, abastecimento d’água, gás de iluminação e posteriormente a energia
elétrica etc), à industrialização, durante o início do século XX (como o parque usineiro
e as indústrias têxteis) e, na segunda metade do século XX, à implementação de idéias
que, durante a sua execução, foram consideradas inovadoras, principalmente
relacionadas às políticas públicas (como Prefeitura nos Bairros - 1984, o PREZEIS,
Plano de Regularização das Zonas Especiais de Interesse Social – 1987 e Programa de
Saúde Ambiental - 2001) (BERNARDES, 1996; PEREIRA, 2001).
O segundo aspecto pode ser denominado como um sentimento negativo sobre a
cidade do Recife, sendo este reforçado tanto pelo agente enquanto morador como pelo
agente enquanto profissional, em que enfatiza-se a questão do saneamento e da falta de
leitos hospitalares.
O que mais predomina é a falta de saneamento, a falta de
infra-estrutura, a questão da urbanização desenfreada. Tudo isso
é o Recife. (
Alecsandra – Agente Comunitária de Saúde da ESF, visão
enquanto moradora – Sentimento ruim sobre Recife
)
Quanto à Recife não tenho essa visão tão
romântica. É uma cidade grande que tem suas mazelas,
seus problemas e principalmente porque vem de governos
que se preocuparam mais em enriquecer os mais ricos e
dar apenas as sobras para os pobres. Por isso a gente
enfrenta até hoje o problema da fome, da falta de leito
nos hospitais, de saneamento na cidade e também a
violência. Mas tudo isso porque houve um descaso nos
governos anteriores.
(Lampião, Josué de Castro, Sarah e Max
– Agentes de Saúde Ambiental do PSA, posicionamento
enquanto moradores – Sentimento ruim sobre Recife)
Como agente de saúde fico muito triste por tudo o que a
gente vem passando, com a dificuldade nos hospitais e nas
unidades. (
Vitória – Agente Comunitária de Saúde da ESF, visão
enquanto profissional – Problemas na saúde)
Como profissional eu vejo Recife como um
paciente terminal e sem assistência. Não tinha UTI
121
botaram numa enfermaria, ta faltando vaga para esse
paciente.
(Max – Agente de Saúde Ambiental do PSA,
posicionamento enquanto profissional – Problemas na saúde
)
... eu vou contar uma estória de um comediante sobre o Recife
pra dizer alguma coisa sobre o Recife, aí esse comediante tava num
show... dizendo... destacando sobre várias cidades do
país...peculiaridades... aí ele falou uma história que ele morou em
Olinda... aí namorava uma morena de Boa Viagem.... que todo cabra
que mora na zona mais pobre é doido pra namorar uma garota da zona
sul... aí ele pegava seu Fiat uno... que era um.... pelo menos.... pelo
menos não tava de ônibus né... Aí ele seguia, né... aí é uma coisa que só
acontece no Recife...todo Brasil ele disse.... só acontece no Recife... ele
pegava aquela Agamenon... e ia com o Fiat dele sem ar né... que não
pode ligar o ar... ou liga o ar ou liga o carro... Se ligar o ar o carro não
anda... aí ele ia com a janela aberta... aquele fedor de merda
acompanhando ele até Boa Viagem...quando chegava lá a mulher fazia:
“-Cagou?” e ele fala “-Por que?” “-Cagou de novo!”... desculpe a
brincadeira aí..
” (Severino Silva – Agente de Saúde Ambiental do PSA,
posicionamento enquanto profissional – Problemas no saneamento
)
Neste caso Recife é vista como uma cidade que abandonou seus pobres durante
vários governos municipais, tendo em decorrência muitas pessoas com fome, falta de
leitos nos hospitais, falta de saneamento, falta de infra-estrutura, uma urbanização
desenfreada e ainda uma cidade que sofre com a violência. Percebe-se que, enquanto
profissionais, pelo menos dois problemas são reforçados: os problemas na área da
saúde e o problema com o saneamento.
Com relação à fome, este tema foi amplamente divulgado pelo recifense Josué de
Castro principalmente durante o período compreendido entre a década 1930 e o final
da década de 1960, seja através de romances ou de pesquisas, dentre eles, um dos mais
famosos é o livro Geografia da Fome, publicado em 1946 (CASTRO, 1992a).
Quando Josué de Castro falou sobre a fome no Recife, uma das imagens que mais
o instigou foi o saciamento desta a partir da relação do homem com o caranguejo, que
vem descrita no romance Homens e Caranguejos, publicado em 1967: Seres anfíbios
– habitantes da terra e da água, meio homens e meio bichos. Alimentados na infância
com caldo de caranguejo: este leite de lama. Seres humanos que se faziam assim
irmãos de leite dos caranguejos. (CASTRO, 2007, p. 10) (foto 12)
122
No cotidiano mais atual, esta fome continua sendo vivenciada nas comunidades
em que os considerados mais pobres precisam de ajuda comunitária para ter o que
comer. Para exemplificar, em trabalho de campo realizado no ano de 2000, na ocasião
do período do mestrado, enquanto conhecia a comunidade de Jardim Uchôa no bairro
Areias (distante dos caranguejos descritos por Josué de Castro), foi relatado pelo ACS
que em algumas das casas visitadas havia pessoas que tinham problemas de saúde
devido passar situações de fome, sendo comum, enquanto conseqüência, a evidência
de casos de subnutrição.
Os problemas na área da saúde foram apresentados através da situação geral nos
hospitais, sendo destacadas a falta de leitos hospitalares e dificuldades nas unidades.
No que diz respeito aos leitos hospitalares, cotidianamente há problemas
relatados sobre a falta de leitos, como é o caso, por exemplo, da situação de assistência
aos pacientes na emergência do Hospital Getúlio Vargas, na cidade do Recife (Jornal
do Comércio, 2008) (foto 13).
Com relação às unidades, considerando o que os agentes de saúde falaram ao
longo dessa pesquisa, os problemas estariam relacionados principalmente à falta de
especialistas, dificuldade para marcar consulta com especialistas de fora da unidade e
dificuldade para levar pacientes que precisam de serviços hospitalares, voltando ao
problema dos leitos.
A urbanização desenfreada descrita está intimamente relacionada à ocupação
ocorrida de forma mais intensa desde o fim do século XIX, principalmente por pessoas
que vinham do interior de Pernambuco buscando melhores condições de vida
(GOMINHO, 1998). O fato dessa ocupação ter ocorrido por uma população menos
favorecida, em lugares impróprios à habitação (inicialmente próximo aos mangues e
depois também nos morros), não houve o devido planejamento da ocupação, muito
menos no que se refere à dotação de uma infra-estrutura adequada, incluindo o
saneamento (foto 14-15). Entretanto, a urbanização desenfreada também ocorreu com
as classes sociais mais abastadas, como, por exemplo, na área do bairro Boa Viagem
(foto 10).
123
Outra grande preocupação ou constatação é a questão da violência. Esta também
está presente nos noticiários diariamente fazendo com que o recifense não se esqueça
desta problemática. Um dos exemplos foi o assassinato de um advogado quando
dirigia pela Av. Agamenon Magalhães, um dos principais eixos viários de Recife (foto
16).
O terceiro aspecto apontado foi com relação aos problemas na área da educação
sanitária e para a saúde, os quais foram destacados apenas pelos agentes de saúde
ambiental quando se vêem enquanto profissionais.
Enquanto ASA estou um pouco decepcionado porque vejo
esse negócio e o processo é muito lento. Como todo processo,
requer muito desgaste, muito debate e muito aperfeiçoamento. A
gente tem que resolver essa problemática e eu acho que é
possível. Agora cada um tem que procurar dar um exemplozinho
dentro de casa e fora no trabalho pois não é tudo culpa do
governo nem tudo é culpa da população. Tem que ter esse
congrassamento pra que as coisas realmente funcionem.
(
Lampião e Sarah – Agentes de Saúde Ambiental do PSA)
Os agentes de saúde ambiental demonstraram querer que o processo da educação
ambiental e sanitária dê realmente certo. Embora afirmem que este processo seja lento
e que demanda desgaste através de debates e aperfeiçoamentos, os agentes
reconhecem-no como urgente. Dessa forma, os próprios agentes propõem, como
solução, que cada um faça sua parte, seja o morador, o agente de saúde, o governo etc.
Esse é um tema em que ainda está em discussão até mesmo nos distritos
sanitários, cujas educadoras de saúde estão muito voltadas para projetos relacionados à
ESF, dentre os quais destacam-se o “Adolescentes Educadores em Saúde” (AESA) e o
“Idosos Educadores em Saúde” (IESA). Entretanto também cobram ações dos agentes
do PSA, em geral, fornecendo pouco apoio. Talvez, por essa razão este tema tenha
sido expressado apenas pelos agentes do PSA.
As ações de educação em saúde mais comuns pelo PSA são aquelas que seguem
a um calendário específico, como, por exemplo, o “Dia Mundial da Água”, em eu há
124
uma mobilização no sentido de chamar atenção sobre o tema (foto 17). Porém, de
acordo com depoimentos de agentes de saúde durante o trabalho de campo, essas ações
têm se configurado como ineficazes, uma vez que a participação e sensibilização da
população não estão sendo alcançadas na proporção do dinheiro investido. Ações mais
localizadas e constantes em escolas, associação de moradores, USF, terminais de
ônibus ou outros, nas quais o agente pudesse ter apoio financeiro e na atividade como
um todo, seriam mais eficazes e gastar-se-ia menos dinheiro.
A partir dessas reclamações surge no agente, seja enquanto morador ou enquanto
profissional, um sentimento de que algo deve ser feito pela cidade. Nesse contexto, os
agentes se expressam da seguinte maneira:
Esta cidade não precisa ser um pouquinho mais olhada,
ela precisa ter um olho de boi olhando Recife, porque eu creio
que tem muito a fazer. E a nós, multiplicadores de informações,
podemos ensinar isso na comunidade, defender os seus direitos,
pressionar para melhorar a qualidade de saúde da população. Só
que isso é um trabalho lento de cidadania. Quantas vezes a gente
pega um saco de papel e coloca na sala de aula? Quando passa
no ônibus, em vez de colocar no bolso, sacode na rua? Isso é
falta de educação da gente, aí depois fica culpando: ‘-Ah! A
culpa é do governo!’ O governo tem sua parcela de culpa, mas
cabe a nós pressionar e fiscalizar. (
Pedro, Sarah e Josué de Castro –
Agentes de Saúde Ambiental do PSA, posicionamento enquanto
moradores – Sentimento de que é preciso fazer algo
)
Como ACS eu acho que fica um pouco a desejar.
E eu quero que se cumpra o slogan: ‘A grande obra é
cuidar das pessoas.’
(Regina e ACS em ação – Agentes
Comunitárias de Saúde da ESF, posicionamento enquanto
profisionais – Sentimento de que é preciso fazer alguma coisa)
Como ASA eu acho que Recife está precisando ser olhada
mais um pouquinho. (
Pedro – Agente de Saúde Ambiental do PSA,
visão enquanto profissional – Sentimento de que é preciso fazer alguma
coisa
)
125
15. Construção em área de morro.
Data/ Local: 199-/ Buriti - Macaxeira.
Foto: Autor desconhecido.
Fonte:
RECIFE. Unidades Ambientais do Recife. Recife:
PCR, 199-. (folder sobre a política de Meio Ambiente da
PCR)
12. Catadores de caranguejo.
Data: 2004.
Foto: CALDAS, Léo; BELÉM, Alexandre.
Fonte: CALDAS & BELÉM, 2004, p. 31
.
17. Mobilização da PCR sobre o “Dia Mundial da
Água”
Data/ Local: 22/03/2007/ Pátio do Carmo
Foto: SOUZA JÚNIOR, Xisto S.S.
16. Assassinato enquanto homem dirigia.
Data/Local: 01/09/2007/ Av. Agamenon Magalhães.
Foto: RABONI, André (Folha de PE)
Fonte: acertodecontas.blog.br/. Acesso em
27/06/2008.
14. Construção em área de maré.
Data/ Local: 2003/ Comunidade de Caranguejo.
Foto: Cedida pelo ASA Severino Silva.
Fonte: pesquisa realizada no local em 2003 por
estudantes do mestrado na UFPE.
13. Precárias condições de assistência aos pacientes.
Data/Local: 18/06/2008/ Hospital Getúlio Vargas
Foto: SPENCER, Renato (JC Imagem).
Fonte: http://jc.uol.com.br
. Acesso em 27/06/2008
126
Enquanto moradores houve apenas o pronunciamento dos ASAs que sugeriram a
defesa dos direitos, luta por uma melhora da qualidade da saúde, mas também a
responsabilidade de um cidadão que faça a sua parte nesse contexto.
Enquanto profissionais, a necessidade de fazer algo é requerida apenas do lado do
governo municipal, tanto pelos ACS quanto pelos ASAs, no qual deve-se cumprir o
slogan da prefeitura: “A grande obra é cuidar das pessoas” fazendo com que a cidade
seja melhor ‘olhada’.
Dessa forma, percebe-se que os agentes de saúde da ESF e PSA têm uma visão
multifacetada da cidade. Se, por um lado, reconhecem sua beleza e encantos, por outro
não conseguem negar que há muito a ser realizado, quanto à melhoria do acesso da
população à melhores condições de vida, com comida de boa qualidade, bom acesso
ao serviço de saúde, boas condições de infra-estrutura e uma sociedade mais pacífica.
Para que esses desejos se tornem realidade, apontam tanto ações a serem executadas
pelo governo, inclusive através deles mesmos, quanto pelos moradores da cidade.
4.2.2
RECIFE: MULTITERRITORIALIDADES NUM AMBIENTE CONTRASTANTE E
CULTURALMENTE VARIADO
:
Neste momento, a visão da cidade é explorada a partir da localidade onde os
agentes de saúde trabalham. Foram realizados dois tipos de contatos com os agentes de
saúde na área de trabalho. O primeiro foi na ocasião do acompanhamento no campo,
no qual foi possível conhecer um pouco do trabalho de Larissa, Nâna, Germano e
Severino Silva. Já o segundo contato foi realizado com os agentes Poeta e Estrelas, a
partir da busca por relatos de experiências que deram certo nas atividades
desempenhadas pelos mesmos.
Neste item suas localidades serão apresentadas através das informações
apontadas pelos próprios agentes, a partir de sua vivência no desenvolvimento de suas
atividades. Esses agentes trabalham nos seguintes bairros: Campina do Barreto (DS
II), Poço e Monteiro (DS III), Ilha do Retiro e Várzea (DS IV) (mapa 11). Para
exposição, foi evidenciado o que o agente de saúde falou sobre sua área de trabalho em
127
seus depoimentos, no qual foi feita uma adaptação, sendo a ordem de exposição por
área e por distrito sanitário.
No distrito sanitário II, onde está localizado o bairro Campina do Barreto e a
localidade Chão de Estrelas, está trabalhando a agente de saúde Estrelas. Ela foi
morar na localidade em 1982. Na época o governo estava construindo as casas e
entregando paulatinamente aos moradores. Quando foi terminada a construção e todos
os novos moradores já estavam em suas casas, perceberam que a falta de infra-
estrutura não permitia a permanência no local, além da falta de equipamentos urbanos
como escola, posto de saúde e uma área apropriada ao comércio. Diante dessa
realidade uma das primeiras iniciativas de sobrevivência foi aproveitar a própria
residência como local de comércio. Esta localidade era composta por quatro
comunidades que se uniram na luta por melhorias nas condições de habitabilidade.
O grupo de moradores que assumiu a liderança era formado, principalmente, por
mulheres, tendo um homem no grupo. Como não havia um local para reunir-se, foram
realizadas várias reuniões, rua por rua, para explicar o objetivo do grupo, o que se
pretendia fazer para melhorar as condições de moradia e as dificuldades existentes.
Logo de início não havia um planejamento definido, mas começaram a procurar
espaços onde pudessem ter informações de como atuar na comunidade a partir dos
problemas existentes.
Nesse ínterim, foi construído um prédio que serviria de posto de saúde. Tal ação
deu a entender, para os moradores, que as coisas tendiam a melhorar, mas a prefeitura
terminou a construção, fechou as portas e o espaço ficou inutilizado.
Por não terem emprego, os moradores não tinham condições de se utilizar de um
transporte público para se locomover e buscar soluções. Foi então tomada a decisão de
sair de madrugada e ir andando até chegar nos lugares que poderiam resolver seus
problemas. Procuraram várias secretarias da prefeitura, órgãos do governo do Estado,
assim como buscaram ajuda de ONGs e Instituições de Ensino Superior (IES).
128
129
As ONGs e IES auxiliaram através de subsídios na elaboração de projetos,
organização de informações sobre a área e, assim, ter uma proposta para mostrar aos
órgãos competentes o que era necessário e urgente a ser feito. Infelizmente isso não
deu resultado.
Nesse período, cada membro do grupo começou a se destacar em alguma área, e
assim se dividiam para buscar soluções. Enquanto não tinham respostas do governo,
criaram, por conta própria, os Grupos da Escolinha, Padaria e Sopa Comunitária, e
dentre outras ações foi criado o grupo da saúde. Porém sem grande expressão por não
haver um local apropriado para esses grupos.
Um primeiro avanço nessa luta teve como base um evento muito triste para a
comunidade. A área onde havia sido construído o posto de saúde, o qual foi
imediatamente fechado pela prefeitura, foi saqueada e o local passou a ter novos usos,
servindo como banheiro, motel improvisado e outras coisas. Entretanto, a ocorrência
de uma violência sexual no local estimulou a mobilização popular, que levou a
ocorrência e à divulgação pela televisão. Foi então feita uma reportagem que teve
como resultado a entrega, por parte do Secretário de Educação, das chaves do prédio
para a comunidade.
Apesar da tristeza com o ocorrido, a comunidade se empolgou com a realidade de
ter um prédio próprio. Através de mutirão, limparam, pintaram e fizeram pequenas
reformas para deixar o local apropriado ao uso. Com relação a isso, um fato curioso foi
a devolução da porta da frente do posto que havia sido levada por um morador. Com o
prédio em condições de uso, buscaram atender as prioridades não apenas da saúde,
mas de várias necessidades. Foi reservada uma sala para a escolinha, outra para fazer a
sopa que era distribuída àa comunidade e uma outra para aulas de artesanato para os
meninos, que faziam quadros para vender em outros locais, tendo como lucro a metade
do preço da venda.
Estrelas fazia parte desse grupo da liderança e se destacou na área da saúde.
Dessa forma, organizou um grupo com pessoas que sabiam fazer xarope, lambedor,
pomadas, tinturas, elixir sanativo, vicky, entre outros produtos. Além disso, também
130
contaram com a ajuda das benzedeiras que, através das rezas, atuavam na cura de mal
olhado, dor de espinhela, olho caído e outras coisas do estilo.
Este grupo surgiu devido aos problemas de saúde existentes na comunidade, os
quais não eram solucionados devido a dificuldade em conseguir uma consulta em
unidades tradicionais e estarem esses locais muito distantes da localidade. Outra forma
de ação foi a criação da sopa comunitária, que tinha dois objetivos: saciar a fome da
comunidade e impedir a venda indiscriminada das casas devido a falta de emprego e
conseqüente fome. Ainda no intuito de melhorar a alimentação foi criado o bônus “A
fome mata sem sangrar”, que serviria para conseguir alimento através de doações
para suprir os moradores mais necessitados.
Para aprimorar esses conhecimentos, os líderes da comunidade uniram-se ao
Movimento Popular de Saúde (MOPS), além de se articularem para participar de
qualquer tipo de treinamento que utilizasse remédios naturais e melhorasse o
conhecimento na área da saúde. Aproveitaram-se também do solo local que era de
terra preta e fértil, favorável ao cultivo de plantas medicinais, pois anteriormente era
de área de mangue e tinha muitas áreas de charco.
Para melhorar o grupo, uma médica recém-formada e que morava em Campina
do Barreto se ofereceu por um tempo para ajudá-lo e, ao mesmo tempo, colocar em
prática sua profissão. Essa parceria trouxe benefícios bilaterais: por um lado, a médica
conseguiu exercer a prática médica e aprendeu a utilizar ervas medicinais, e por outro
lado, o grupo de saúde conseguiu traçar o perfil epidemiológico a partir dos problemas
mais comuns da comunidade, assim como saber o tratamento natural.
Antes de ter o PACS, a partir de 1993, Estrelas já contava com 12 agentes de
saúde que atuavam na área utilizando ervas medicinais para a cura de várias
enfermidades. O PSF (atual ESF) só foi implantado em 2002.
A implantação deste programa foi muito boa, porém a adaptação foi difícil tanto
para os outros componentes da equipe quanto para as ACS. Os recém-concursados
foram avisados que trabalhariam em uma localidade em que havia ACS antes mesmo
do PACS, e que estas já possuíam um conhecimento próprio na área de saúde. No
início, as ACS tiveram dificuldade em se adaptar às exigências burocráticas e
131
hierárquicas, problemas superados com uma boa comunicação e respeito entre as
partes.
Não apenas o grupo de saúde avançou, os outros grupos também trabalharam, e
apesar de Estrelas liderar o grupo da saúde, também participou dos outros. Algumas
dessas ações estiveram relacionadas à escolha do nome da localidade, para a qual foi
realizado um plebiscito com todos os moradores, que passou a ser denominada “Chão
de Estrelas” – o “chão” simbolizando a conquista da terra, e “Estrelas” uma
homenagem aos antigos moradores, através da história segundo a qual “em noite de
lua cheia, o reflexo da luz da lua nos coqueiros formava sombras que pareciam estrelas
no chão”.
Hoje, Chão de Estrelas é, no âmbito fisionômico, uma pequena cidade, porque
dispõe de tudo de que os moradores precisam, até mesmo outras comunidades se
beneficiam de suas conquistas que incluem as principais ruas calçadas, uma linha de
ônibus própria com o nome da comunidade e ter conseguido fazer parceria com uma
ONG internacional (Visão Mundial) que foi a grande impulsionadora do Centro de
Organização Comunitária de Chão de Estrelas. Ainda na década de 1980 construiu
uma área própria para o Centro de Organização, deixando o prédio do posto apenas
para as ações de saúde, além de pagar profissionais especializados para atuar na
melhoria das condições de vida da comunidade como um todo.
No DS III, onde estão localizados os bairros Poço e Monteiro, trabalham Larissa
e Germano, respectivamente
Larissa foi morar no Poço, ou melhor, na comunidade de Poço da Panela, em
1971, com 13 anos de idade. Desde cedo se interessou pela história da localidade, o
que permitiu observar que sua comunidade estava inserida em uma área que possuía
construções antigas, mas apenas a partir da década de 1990 é que foi realmente
procurar saber mais da história de Poço da Panela. Gostou tanto que, à noite, Larissa
junta as crianças da localidade e se torna uma contadora de histórias (mapa 12).
O nome da localidade tem sua origem em meados do século XVIII. Antes mesmo
de ter uma denominação, este local era muito visitado porque continha o trecho do rio
132
mais raso das redondezas, sua utilidade era para banhos medicinais e para o lazer. Os
freqüentadores eram os senhores de engenho de Dois Irmãos, Apipucos e arredores
que vinham com os escravos carregando a água de beber. Como o lugar era muito bom
para passar o dia, eles começaram a cavar poços, até que encontraram um em que a
água era tão gostosa que um dos senhores mandou um de seus escravos fazer uma
panela sem fundo e colocar nesse poço para segurar as paredes do poço, desde então a
localidade passou a chamar-se Poço da Panela.
Ainda no século XVIII foi construída a capela de Nossa Senhora da Saúde
(1770). De acordo com a agente de saúde Larissa isso ocorreu porque a esposa de um
dos senhores de engenho estava muito doente, e após pedir uma graça à Nossa Senhora
da Saúde (santa de origem portuguesa), tomou banho nesse trecho do rio Capibaribe e
ficou curada. Como forma de agradecimento à graça alcançada, ele edificou a capela e
trouxe uma imagem dessa santa. Foi através desta igreja que Larissa se inseriu no
trabalho comunitário, na liderança comunitária e na ESF.
A história do casal José Mariano e D. Olegarinha também é importante para a
localidade, pois no século XIX eles, juntamente com outros abolicionistas,
conseguiram facilitar a fuga e libertar muitos escravos. Também se destaca na história
da localidade as tendas em que as escravas amamentavam os filhos dos senhores de
engenho (casa de Catanda), hoje em ruínas. Foi um local onde as escravas tinham que
dar o primeiro leite de peito aos bebês dos senhores de engenho para só depois poder
amamentar os seus filhos, pois acreditava-se que assim seus filhos iriam engordar,
entretanto, como os bebês dos senhores de engenho não engordavam tanto quanto os
filhos das escravas, elas apanhavam muito
Outra história é sobre a epidemia de febre amarela que matou várias pessoas,
dentre elas escravas que foram enterradas ao lado da igreja Nossa Senhora da Saúde
ainda vivas, para não contaminar outras pessoas.
Ainda com relação à localidade, atualmente é motivo de orgulho para a
comunidade estar morando próxima a referenciais importantes historicamente e a
pessoas tidas como ilustres, dentre elas Ariano Suassuna, advogados e artistas
plásticos famosos na cidade e donos de usinas.
133
Tão importante quanto a história, são as lendas do lugar, tidas como verdadeiras
pela maioria dos moradores. Uma das histórias é sobre o lobisomem. De acordo com
os moradores, à noite ele ataca as moças sozinhas e com isso as pessoas do local
buscam estar em casa mais cedo. Há também uma outra versão, mas pouca gente
acredita, a de que este lobisomem seria um homem que viveu no início do século XX,
estava com tuberculose e devido à doença, sua aparência não agradava às mulheres,
então ele as atacava durante a noite.
Outra lenda importante surgiu na época da escravidão: a lenda da Gameleira,
proveniente da África. Contam que uma escrava negra queria muito ter um filho, mas
não conseguia. Então, ela pediu à Gameleira e prometeu que, se engravidasse, lhe
daria o filho. A criança nasceu, mas como a escrava demorava a cumprir com sua parte
no acordo, a Gameleira reclamou. A mulher doou o filho para a árvore, mas logo se
arrependeu. Depois disso, pediu ajuda aos orixás que vivem embaixo das árvores, que
lhe instruíram a fazer um neném de madeira e colocá-lo no lugar do filho para enganar
a grande árvore. O plano deu certo, de modo que até hoje toda Gameleira tem um dos
galhos que parece um braço e outro que parece uma cabeça de nenê.
Mas nem só de histórias antigas e lendas vive o Poço da Panela. A localidade é
fruto de uma ocupação que ocorreu de forma espontânea e lenta. Por não ter uma boa
infra-estrutura, como ocorre com os arredores desta localidade, a população
mobilizou-se através da forte atuação da Associação Comunitária. Dentre as
conquistas realizadas está a implantação do esgoto condominial, o qual, através do
orçamento participativo, passou por reparos, e o pessoal da prefeitura também fez uma
praça para a comunidade; a USF, cujo trabalho tem sido bem aceito pela comunidade,
sobretudo porque as pessoas têm muita intimidade com a agente de saúde e; o
calçamento de ruas de acesso à comunidade, como é o caso da rua que dá acesso ao
bairro de Santana.
134
135
Existem pelo menos dois problemas que chamam a atenção na área. Um deles é o
lixão, local destinado a colocar lixo reciclável, que tem trazido problemas de saúde, e
o outro é a situação de famílias que têm um ou mais membros com transtornos
mentais. Há inclusive um caso em que uma senhora que, além de cardíaca, tem
problemas locomotores, tem um filho que ficou internado por onze anos devido ter
problemas mentais. Com a implantação do CAPS este rapaz voltou para casa.
Contudo, ela não tem condições de cuidar, tanto pelo fato dos remédios não serem
fornecidos regularmente, estando ele com crises contínuas, quanto pelo fato de não
tem condições físicas e emocionais para isso.
O ASA Germano nunca morou no local onde trabalha atualmente, o conhece
desde meados de 2002. Contudo, viveu a maior parte de sua vida num bairro próximo,
dessa forma conhece as redondezas (mapa 13).
Essa área de trabalho é parecida com outras no sentido de possuir tanto
residências cujos habitantes são mais abastados do ponto de vista econômico e
registra-se uma maior resistência dos moradores em receber visita dos agentes; como
residências em que os moradores têm um poder aquisitivo mais baixo, não oferecendo
dificuldades quanto às visitas dos agentes de saúde, o que facilita a interação e a
realização do trabalho desses profissionais. Com relação ao relevo, Monteiro apresenta
áreas planas e de barreiras.
Um dos problemas que tem trazido conseqüências para a saúde da população é o
despejo de lixo e esgoto nas áreas inclinadas não ocupadas, as “terras de ninguém”. Os
moradores aproveitam que sua ação não será vista facilmente e se livram daquilo que
lhes importuna de imediato. Outro fato que incomoda é o descaso da maioria dos
donos de estabelecimentos com as recomendações dos ASAs. A única coisa que estas
pessoas deveriam fazer seria dar ordens aos seus empregados para fazer o
recomendado (virar as garrafas para não acumular água, deixar os espaços limpos
etc.), no entanto, ouvem e não agem.
136
137
Entretanto, não são apenas os donos de estabelecimentos que não agem, há
também moradores que, independente da classe social, não atendem às
recomendações, sendo fácil de perceber uma piscina sem manutenção, uma fossa no
lugar errado, um tonel aberto, uma caixa d’água sem a devida vedação ou comida no
quintal para servir de alimento à animais.
Apesar da resistência de alguns, há os que simplesmente não se opõem, como é o
caso da liderança local, e os que apóiam, como ocorreu com uma ACS que, em
associação com Germano, planejaram arrecadar brinquedos e outros utensílios para as
crianças.
Uma característica forte dos moradores é a resistência a idéias novas ou em
aceitar a idéia do outro. Por exemplo, pode-se citar a enorme quantidade de pessoas
que ainda espera veneno para ratos, como ocorria anos atrás em que o governo
distribuía, quando simplesmente poderiam retirar a comida do quintal. Outro exemplo
é o caso de uma moradora que joga o lixo na barreira porque acredita que esta atitude é
que tem contido a barreira durante anos.
Com relação ao veneno para o rato, há também o costume de errar na maneira de
falar, surgem então várias expressões como “-Tem remédio pra rato?”, “-Não trouxe
comida pra rato?” Se for interpretar corretamente, remédio é pra ficar bem de saúde,
comida é para alimentar, isso a dona de casa já faz quando deixa restos de comida no
quintal.
No DS IV, estão localizados os bairros Ilha do Retiro, onde trabalham Nâna e
Germano; e Várzea, onde trabalha Poeta.
Nâna viveu a maior parte do tempo de sua vida na Ilha do Retiro, mais
especificamente na comunidade de Caranguejo e Tabaiares. Apesar de ter morado um
tempo em São Paulo, tem larga experiência de vida com a localidade (mapa 14).
Mesmo essa comunidade tendo sido sempre muito pobre, continuamente ela tem
apoio das igrejas tanto evangélicas quanto a católicas. No caso específico da Igreja
Católica, Nâna faz um trabalho através da pastoral da saúde, o qual tem surtido efeito
na melhoria das condições de saúde da comunidade. Este trabalho continua, ainda que
138
esteja funcionando no local o Clube de Mães da Madalena, atendendo crianças de 3 a 6
anos e o PETI, para crianças de 7 a 15 anos.
Foi através do trabalho na pastoral da saúde que Nâna se inseriu no PACS e
depois na ESF. Com a implantação do PACS, um fato positivo a ser destacado diz
respeito à presença constante de uma enfermeira. No que confere à instalação da ESF
houve, inicialmente, certa resistência por parte dos ACS devido a parte burocrática que
envolve esse serviço de saúde, em detrimento do trabalho mais diretamente ligado ao
morador. No entanto, após um período de adaptação, os agentes aprenderam a
conciliar todas as tarefas exigidas pela ESF. Apesar dos avanços, há uma coisa que
ainda incomoda, quando está na época de alguma campanha, o material educativo
sempre chega muito próximo à campanha, não ajudando o planejamento por parte da
equipe dentro da comunidade, isso tem atrapalhado.
Um dos fatos que chama atenção na comunidade é a quantidade de pessoas que
demonstram passar muita necessidade. Sob a liderança de Nâna, os ACS realizaram
uma campanha no intuito de minimizar algumas situações mais críticas. O tempo fez
com que Nâna e os outros ACS percebessem que parte desse grupo de moradores se
mostra mais carente do que realmente é para conseguir benefícios sem esforço.
Também há um grupo de moradores que estão ali apenas para se aproveitar do
morador realmente necessitado. Um desses exemplos foi a ocupação da área das
palafitas, em que a maioria das pessoas a ocupou para depois vendê-la ou ocupá-la.
Alguns desses ocupantes nem moram em Caranguejo/Tabaiares.
139
140
Da mesma forma que há moradores que buscam ter uma aparência de muito
necessitado para conseguir benefícios, há outros que realmente precisam, utilizam,
mas não querem ou não se sentem moradores de uma comunidade pobre. É o exemplo
de mães que conseguem inserir seus filhos no PETI por terem renda compatível para
fazer parte do programa, porém proíbem seus filhos de compartilhar da comida ou da
amizade do colega que também mora na comunidade.
Outro grupo de famílias busca se camuflar dentro da comunidade ao se
denominar, juntamente com toda a família, por apelidos. Não se sabe, assim, o nome
verdadeiro, não sendo possível encontrar essa pessoa pelo nome de registro.
Dentro desses grupos há aqueles que simplesmente não atendem às
recomendações dos ACS por estarem relacionados a costumes diferentes dos costumes
dos mais antigos. Um exemplo disso é o aleitamento materno. As mães ainda hoje têm
resistência porque, apesar da mídia e da Unidade de Saúde da Família estar sempre
falando da importância, vem a mãe e diz que sempre deu farinha à filha e ela
sobreviveu, associado à isso vem a resistência em fazer o pré-natal, vacinar o filho,
dentre outras coisas. Enfim, é uma comunidade que ainda tem muito o que melhorar.
Severino Silva nos apresenta também a Ilha do Retiro, porém inclui tanto a parte
do bairro quanto da comunidade. Ele conhece a área desde dezembro de 2001, quando
começou a trabalhar na localidade (mapa 15).
A Ilha do Retiro é um bairro muito heterogêneo. Devido a isso a forma de lidar
com a população é diferenciada e os problemas encontrados também são
diferenciados.
No caso da população mais abastada, não é possível fazer alguma ação de
educação em saúde de forma coletiva, sendo possível, na maioria das vezes, apenas
falar com a empregada da casa, o jardineiro ou, em alguns casos, com o segurança. Os
problemas relacionados a essas áreas são piscinas abandonadas ou mal cuidadas,
recipientes ou plantas que acumulam água por serem parte de uma decoração que o
morador não quer deixar de lado, dentre outros.
141
142
Já na área mais pobre é possível realizar ações coletivas de educação em saúde,
como a que ocorre no prédio onde funciona, ao mesmo tempo, o PETI e o Clube de
Mães da Madalena. É mais fácil trabalhar com crianças porque aprendem mais rápido,
de modo que o trabalho é mais direcionado a essa faixa etária. Mas a educação dos
adultos também ocorre e tem dado resultado, este é o caso, por exemplo, de catadores
de lixo que passaram a acondicionar o lixo de forma a não acumular água.
Na área mais pobre, há casas que são muito limpas e que, por isso, a família está
mais saudável; e outras que são sujas, onde se deve ter mais cuidado, pois fragiliza a
saúde. Outro perigo é com relação à forma como foi construída a residência, como
exemplo o caso de um prédio em que muitos moradores afirmam que tem risco de
desabamento porque ninguém sabe se foram usados ferro e vigas.
Mais uma das características da comunidade, compartilhada por outras, é a
dificuldade em mapear porque tudo muda muito rápido. No caso da localidade, tudo é
Campo Tabaiares; às vezes é Travessa, outras é rua, mas é tudo quase igual, o
diferencial são os becos que de um dia para o outro são fechados e viram um “correr
de quarto”, isto é, se transforma em uma espécie de cortiço.
Infelizmente a característica mais forte da comunidade Caranguejo e Tabaiares é
a falta de uma articulação entre as lideranças, as quais além de serem muitas, são
sempre umas contra as outras. Os políticos não investem porque cada um tem
pouquíssimos votos dentro da comunidade, as ONGs não conseguem trabalhar porque
sempre há o representante da outra que busca atrapalhar a atividade, e assim a
comunidade fica na mesma situação.
Poeta apresenta sua área no bairro Várzea, na qual trabalha na área desde 2002.
Essa é uma área bonita de se trabalhar porque tem várias construções antigas. Há casas
que, há séculos pertence à mesma família, porém também reclama de costumes, que
podem estar durando há muito tempo e que hoje é difícil modificar.
Um dos casos que muito incomoda é o de uma moradora que deposita seu lixo no
rio. Em vários momentos, foi chamada sua atenção quanto a esse procedimento, mas a
senhora não mudou de atitude. Pelo que se observa, esse não é um caso isolado, e que
143
continuará a acontecer. Outro problema preocupante é que 90% do bairro estão
inseridos na área de influência do rio, em cujas águas os moradores, ao mesmo tempo
que lançam seus dejetos, exercem atividades de lazer e de pesca.
Em geral o morador não se sente co-responsável pela situação em que se encontra
o bairro, compreendendo, assim, que a prefeitura é a grande responsável pelos
problemas.
A reação a essas práticas tem sido o planejamento de ações de educação em
saúde de forma contínua, que procuram congregar os moradores em um local e outras
em que os agentes vão até os moradores em suas residências. Dentre as atividades há
aquelas em que se pega uma música já existente e coloca-se uma letra relacionada ao
meio ambiente, entre outras, contanto que chamem a atenção do morador do bairro da
Várzea. Essas ações, no entanto, enfrentam problemas com a falta de apoio financeiro
e a falta de tempo dos agentes envolvidos, ainda que haja apoio verbal no sentido de
realizá-las.
A descrição da área, a partir da informação dos próprios agentes, variou tanto na
temporalidade quanto nos assuntos tratados. Além disso, o vínculo que o trabalhador
tem com sua área também influenciou com relação ao detalhamento sobre suas
características.
Estrelas e Larissa, por exemplo, destacaram-se com relação ao detalhamento
descritivo sobre a área, mencionando detalhes históricos e da problemática atual, assim
como dos benefícios conseguidos pela comunidade. Isto está relacionado ao tempo de
vivência contínua no local e ao engajamento político na localidade para conseguir
melhorias.
O assunto mais mencionado pelos agentes de saúde foi a infra-estrutura deficiente
como um todo e em especial as condições de saneamento. É uma observação
pertinente uma vez que todas essas áreas apresentam problemas relacionados à infra-
estrutura.
144
Também foram apontados assuntos como, a capacidade de articulação dos
moradores, a descrição das características geográficas da área, as condições sócio-
econômicas e os entraves culturais da localidade.
Com relação à capacidade de articulação dos moradores, foi destacada como forte
as áreas de Estrelas (Chão de Estrelas) e Larissa (Poço da Panela). Já nas áreas de
Germano (Monteiro), Nâna e Severino (Ilha do Retiro) essas ações ocorrem de
maneira fraca, e não foram mencionadas por Poeta, em relação a Várzea.
No que diz respeito às características geográficas da área, pouco foi dito,
enfatizou-se a presença do mangue, do rio e as barreiras. Porém, de forma geral, essa
referência não teve muitos detalhamentos da relação desses elementos paisagísticos
com o risco à saúde da população.
Sobre as condições sócio-econômicas foram mencionados os contrastes
existentes quanto à condição financeira, em que se apontam a presença de catadores de
lixo, habitação precária e falta de dinheiro para comprar remédio e/ou usar o transporte
público.
Com relação aos entraves culturais da comunidade, estes estiveram relacionados
ao não atendimento das recomendações dos agentes de saúde devido a alguma tradição
familiar, como, por exemplo, jogar lixo na barreira para conter o lixo; ou hábito
adquirido, como jogar lixo no rio.
4.3
OS COMPONENTES DA ESF E PSA E OS SEUS RECIFES:
Pelo que foi contextualizado ao longo deste capítulo, os sujeitos estudados
(direção dos distritos sanitários, dirigentes das equipes na área, agente de saúde na
entrevista com grupo focal e agentes de saúde no local de trabalho) descrevem a
cidade em perspectivas diferenciadas quanto à observação dos aspectos bons e ruins de
seu contexto sócio-espacial. Há, de fato, alguns posicionamentos que são mais
homogêneos e outros que refletem vários Recifes convivendo juntos. Assim, essas
visões da cidade podem ser ao mesmo tempo homogêneas e heterogêneas, refletindo
uma cidade de contrastes, pelo menos na perspectiva dos profissionais mencionados.
145
Recife é observada, assim, pela superposição de escalas através das quais,
dependendo da função social (agente de saúde, responsável pela área ou pelo distrito),
se observa, ao mesmo tempo, uma cidade fragmentada (pobres x ricos; rios x morros;
incluídos x excluídos) e uma cidade homogênea que de acordo com a qual todos são,
diretamente ou indiretamente, afetados pelos aspectos bons e ruins que caracterizam a
configuração territorial da cidade, socializada, por exemplo, através do problema de
saneamento e da violência.
Uma das formas de entender o Recife homogêneo foi refletida a partir de
posicionamentos gerais sobre a cidade, em que foram destacados temas que são
visualizados por toda população, seja por conhecê-los ou vivenciá-los. Entretanto, este
mesmo Recife homogêneo pode se mostrar heterogêneo, na medida em que apresenta
características diferentes e até mesmo opostas.
Essa constatação foi possibilitada através da entrevista realizada com grupo focal
(agentes de saúde da ESF e do PSA), que apontou para o entendimento de Recife
como: cidade linda, maravilhosa, desenvolvida e patriota, mas que sofreu com a
urbanização desenfreada, prejudicando a implementação de uma boa infra-estrutura,
principalmente, no que diz respeito às redes de coleta de esgoto, situações factíveis de
se observar ou vivenciar no conjunto da cidade. Além desses problemas, há o
sofrimento da população na dificuldade para conseguir o que comer, e o sofrimento
nas unidades de saúde, na busca por um leito hospitalar.
Ao mesmo tempo, essa homogeneidade pode ser entendida como
heterogeneidade, uma vez que a cidade se mostra multifacetada, devido esses
posicionamentos serem contraditórios em determinados temas, ou seja, é concebida
como uma cidade desenvolvida, mas ao mesmo tempo é considerada uma cidade que
não tem infra-estrutura compatível, principalmente no que diz respeito ao esgotamento
sanitário.
Outra maneira de entender o Recife homogêneo é a partir das temáticas que
perpassaram todas as escalas geográficas de atuação desses profissionais, são elas:
serviço de saúde, condições sócio-econômicas e ações no ambiente e condições de
saneamento. Porém, na medida em que essas temáticas foram mencionadas nas
146
diferentes escalas, esta heterogeneidade se reflete na forma de observar o problema, o
que passa a ser cada vez mais particular, de acordo com a diminuição da extensão de
domínio territorial do ponto de vista jurídico, isto é, a partir da ação exercida enquanto
trabalhador. É importante salientar que essas visões mais particulares ajudam a
entender o problema geral mencionado quando se observa a cidade como um todo.
Tomando como exemplo o serviço de saúde, quando o mesmo foi mencionado
no momento em que se pensava a imagem da cidade, Recife foi visualizada pela falta
de leitos hospitalares, tanto por parte dos ACS como pelos ASAS, e por problemas nas
unidades, mencionados apenas pelos ACS. Neste nível, os problemas ou êxitos não
foram mencionados em relação ao PSA. Eles foram mencionados nos outros níveis,
porém não serão apresentados para se focar no exemplo citado.
Por Distrito Sanitário, os dirigentes do distrito também mencionaram a falta de
leitos hospitalares, mas apenas na situação em que essa cobertura funciona, a exemplo
do que foi afirmado sobre o DS V. Já com relação às unidades da ESF foram
destacados, como problemas, a falta de recursos humanos e o modelo de visita mensal,
os quais não está atendendo as reais necessidades da população na atualidade. Porém,
também houve elogios à atuação dos agentes de saúde. Percebe-se um detalhamento
do problema mencionado na escala anterior, no qual os leitos hospitalares parecem
estar disponibilizando um bom apoio apenas em um distrito. Já com relação às
unidades, é percebido neste nível que há problemas devido às equipes estarem
incompletas.
Com relação ao depoimento dos dirigentes das equipes na área sobre leitos
hospitalares e as unidades, estes se refletem na dificuldade da unidade em conseguir
vagas para hospitais especializados e, nas unidades, pela falta de profissionais,
dificuldade de marcar consultas e falta de material básico.
Ainda com relação a este assunto o ACS, quando está no seu local de trabalho,
fala de coisas semelhantes ao enfermeiro, sobre os leitos hospitalares. Já no que diz
respeito aos problemas nas unidades, o ACS acrescenta a insuficiência na quantidade
de medicamentos a serem distribuídos, além do atraso na chegada do material para
147
realizar ações programáticas, como as campanhas, o que dificulta um planejamento
específico na unidade.
Além das visões homogêneas e heterogêneas, a partir de uma mesma base de
informação, há também resultados contrastantes com relação às categorias observadas,
colocadas como um destaque bom e ruim a partir do depoimento dos dirigentes das
equipes.
Ao falar sobre suas áreas de atuação, ficaram evidenciadas as ações no ambiente
e condições de saneamento, respectivamente como um bom destaque e como um mau
destaque.
Dos 94 (noventa e quatro) bairros do Recife, apenas em 6 (seis), para os
enfermeiros da ESF, e em 12 (doze), de acordo com os supervisores do PSA, houve
coincidência a ressaltar, ao mesmo tempo, aspectos bons e ruins sobre as ações no
ambiente e condições de saneamento. Entretanto, apenas no bairro Areias, onde
trabalha o agente Tinhão, é que os dirigentes das áreas (enfermeiros e supervisores)
apontaram destaques bons e ruins ao mesmo tempo com relação às temáticas que ora
são apresentadas.
Quando os enfermeiros e supervisores descrevem o bairro Areias a partir de uma
boa perspectiva, eles ressaltam que houve grande avanço no saneamento e
pavimentação, faltando apenas uma área que ainda precisa de saneamento. Também
foi evidenciado que o carro de coleta de lixo passa diariamente. Entretanto, quando
esses mesmos profissionais falam sobre os aspectos ruins do saneamento ressaltam sua
precariedade: é afirmado que não há bom saneamento nas ruas, que falta água para o
consumo, que algumas áreas alagam e que há muitos roedores e escorpiões. Fica o
questionamento: esses aspectos ruins não estariam exatamente nessa área mencionada
anteriormente, que era a única parte do bairro que não havia sido saneada, e que por
isso talvez a drenagem não estivesse tão boa na rua e por conseqüência, sofresse com o
alagamento e a presença constante dos vetores mencionados.
Assim, a cidade é observada por suas características boas e ruins segundo a
função (cargo) que o profissional desempenha, e o território onde atua. As
conseqüências desses condicionantes são o nível de apreensão (escala) na qual o
148
profissional realiza suas atividades e a possibilidade, ou não, diante do contexto em
que trabalha, de desenvolver e ter condições de agir de acordo com suas competências
e habilidades sociais.
Essa ação induzida por um contexto diferenciado influencia no desenvolvimento
das competências e habilidades sociais desses profissionais, uma vez que um ambiente
hostil ao trabalho deste profissional inibe a criatividade para elaborar formas de
enfrentamento dos problemas encontrados a partir do conhecimento adquirido ou a
adquirir durante este processo ou ainda a ser obtido ao longo das atividades. Por outro
lado, um ambiente receptivo estimula a criatividade e facilita um trabalho em equipe,
na medida em que se expressa a intenção de se obter um bem comum. Neste caso, um
grupo buscará enfrentar problemas a partir da aplicação deste conhecimento, incluindo
neste grupo o próprio morador.
No próximo capítulo busca-se verificar quais as possíveis origens e as nuanças do
conhecimento geográfico que está sendo desenvolvido pelos agentes de saúde nessa
realidade multifacetada.
Capítulo 5...
Competências e habilidades dos agentes de
saúde da ESF e PSA na cidade do Recife:
enfoque no sujeito
Aprendemos a cada dia...
principalmente porque lidamos com o
povo... e eu acho que o trabalho mais
rico é você lidar com os outros
Severino Silva (ASA)
150
5. COMPETÊNCIAS E HABILIDADES DOS AGENTES DE SAÚDE DA ESF E PSA NA CIDADE
DO RECIFE
: ENFOQUE NO SUJEITO
Ao pensar no agente de saúde enquanto sujeito capaz de desenvolver
competências e habilidades sociais, e consequentemente, desenvolver um
conhecimento geográfico, é factível aceitar a idéia de que esse sujeito é também capaz
de modificar o espaço geográfico em que trabalha.
Neste capítulo há uma necessidade de buscar as competências do sujeito agente
de saúde. Desta forma, inicialmente foram analisadas as competências motivação e
características pessoais. A primeira devido ser considerada por David McClelland
como sendo a competência na qual se desenvolve a gestão por competências (ALLES,
2006a). Já as características pessoais fizeram parte da análise da motivação como um
dos influenciadores da motivação. Posteriormente, examinaram-se as competências
mais relacionadas com o conhecimento geográfico: domínio conceitual, autonomia e
domínio da linguagem cartográfica.
5.1.
MOTIVAÇÃO DOS AGENTES DE SAÚDE E SUA INFLUÊNCIA NAS OUTRAS
COMPETÊNCIAS
Para analisar a motivação dos agentes de saúde da ESF e PSA teve-se como
diretriz os fatores que influenciam a motivação segundo Angelini (1973), que seria a
personalidade do indivíduo, as experiências passadas de cada um e os fatores
ambientais.
5.1.1
PERSONALIDADE COMO INFLUENCIADORA DA MOTIVAÇÃO
O primeiro item colocado por Angelini (1973), quanto ao que influencia a
motivação do agente de saúde, é a sua personalidade. De fato não foi possível fazer um
estudo de personalidade dos agentes estudados uma vez que não se constitui o objetivo
deste trabalho e que ele seria melhor viabilizado num estudo na área da psicologia.
Contudo, um indício da personalidade dos agentes foi buscado a partir de suas
151
características pessoais e da classificação realizada pelos próprios agentes do seu perfil
enquanto trabalhador.
a) Características pessoais:
Com relação às características pessoais, foram observadas aquelas que mais se
destacam nos agentes de saúde com quem se teve contato mais próximo. Dessa forma,
serão descritas sucintamente duas ACS: Larissa e Nâna; e dois ASAs: Germano e
Severino Silva.
Larissa é vista como uma pessoa prestativa, habilidosa para trabalhar com o
público, dinâmica e que tem amor por seu local de trabalho e moradia, assim como
pelas pessoas e pelo serviço que exerce. Por sua vasta articulação com segmentos
dentro e fora da comunidade, demonstra ter muita facilidade em fazer rede de
amizades.
Nâna pareceu ter compromisso, ser confiável, organizada, competente, gostar do
que faz, ser boa ouvinte, se preocupar com o bem-estar das crianças e ter paixão pelo
trabalho com as crianças na comunidade.
Germano é observador, está sempre questionando o óbvio, é criativo. Uma pessoa
humana e que gosta do que faz, tem uma boa interação com as pessoas (habilidade
para trabalhar com o público), tem iniciativa, é extrovertido, faz um bom trabalho de
campo e preocupa-se com a população em vários sentidos, dentre eles a vontade de
que haja uma mudança de consciência ambiental.
Severino Silva tem como características fortes ser detalhista, paciente, curioso,
respeitar ao próximo, ter auto-controle e frieza em situações difíceis, ter auto-
confiança com o trabalho que realiza, tranqüilidade com o tempo para fazer as
atividades e a indignação com o errado.
Ao observar essas características, em que elas contribuem para a motivação por
determinadas tarefas? E quais dessas tarefas estariam relacionadas com outras
competências?
Em uma leitura inicial, percebe-se que as agentes da ESF estão muito voltadas
aos interesses da comunidade e de segmentos da mesma. Por conseqüência disso,
152
teriam muito mais facilidade de acesso à área de trabalho e às pessoas em si. O amor
ao que fazem auxiliaria na motivação por atividades educativas junto à comunidade.
Já os agentes do PSA parecem estar mais envolvidos com a problemática da
saúde coletiva, e essa preocupação com o coletivo talvez seja o propulsor de várias
ações educativas que são desenvolvidas pelos mesmos, além do que pode ser a
explicação de estarem persistindo com os moradores dos bairros de classes mais
abastadas para que aceitem as recomendações do programa, ainda que as recusas
sejam rotineiramente grosseiras e/ou defensivas.
Assim, se por um lado a vivência do cotidiano na comunidade através do acesso
às suas singularidades pode levar as ACS a uma prática maior em termos de autonomia
na formação de territórios ao se deslocarem; por outro lado, o fato dos agentes do PSA
demonstrarem uma maior preocupação com a saúde coletiva evidencia uma tendência
a um melhor domínio conceitual. Essas afirmações constituem uma primeira leitura
que poderão ser confirmadas ou não no decorrer da análise. Por ora, voltemos às
características.
O fato é que, para os agentes dos dois programas, as características podem ser
observadas como marcantes e significativas quando são analisadas as ilustrações da
vivência dessas características pelos agentes em situações no local de trabalho,
conforme pode ser observado no quadro a seguir (quadro 18).
A partir do quadro 19 pode-se observar que os agentes da ESF parecem estar
realizados com os problemas resolvidos no âmbito da comunidade, já os agentes do
PSA parecem se realizar com as vitórias pessoais, com exceção do item A. Uma
possível explicação para isso seria que o agente da ESF já possui intimidade com o
morador enquanto o agente do PSA ainda não obteve um bom grau de intimidade,
estando ainda em processo de conquista.
Observando-se a relação “característica – vivência”, percebe-se, por exemplo,
que o dinamismo impulsionou os ACSs a formarem um grupo de discussão sobre
drogas e seringas compartilhadas; já a persistência/ perseverança, no caso dos ASAs,
fez com que os mesmos não desistissem de realizar uma palestra educativa, ainda que
não tivesse sido disponibilizado material educativo e tivesse tido dificuldade de
conseguir um horário compatível com facilidade. Nesses exemplos específicos as
153
características são diferenciadas, realizaram ações semelhantes e suas motivações
foram também diferenciadas.
QUADRO 18
EXPERIÊNCIAS EM QUE AS CARACTERÍSTICAS PESSOAIS AJUDARAM NO DESEMPENHO DE ALGUMA ATIVIDADE
NO TRABALHO
CARACTERÍSTICA/
RESULTADO
IDÉIAS CENTRAIS AGENTES DA ESF
A. Luta contra as
adversidades - mudança
de comportamento
dentro da família.
Um pai colocou o filho para fora de casa, por ele ser homossexual. Eu consegui fazer com
que ele olhasse o filho como ele era: bom filho, cuidadoso com a família. Hoje ele está em
casa, trabalhando e feliz com a família. Outro caso foi com o idoso que sofria maus tratos
da família e que não tinha bom acesso à casa. Com o passar dos dias, vi que só visita não
resolveria, pedi ajuda à equipe do PSF e DS até que fosse resolvido o caso. Hoje tenho
acesso a essa família e bom relacionamento com a comunidade.
B. Sensível aos agravos
da comunidade –
condução do paciente a
tratamento.
A paciente Maria não queria ir para o hospital, ela tem problemas mentais. Eu tive que
ficar com ela até ela sair, disse que ela iria voltar logo. Ajudei no que pude e hoje ela está
tomando os remédios.
C. Habilidade para
trabalhar com o público,
dinamismo e
sensibilidade aos
agravos da comunidade
– Mudança de
comportamento a partir
de grupos específicos.
Existia um grande grupo de usuários de droga na comunidade, todos eram muito jovens e
ninguém queria trabalhar com eles. Certo dia fui procurado por um membro deles,
pedindo orientação de uso de camisinhas e seringas. Tentei ver com a equipe e elaboramos
uma cartilha, foram xerocadas só para eles, mas infelizmente não gostaram e voltaram a
me procurar. Tive a idéia de reuni-los na ONG e promover uma pipocada com filme, antes
do filme tentei conversar um pouco sobre drogas e seringas compartilhadas, nesta tarde
não houve filme, nem pipoca. Conversamos a tarde toda sobre doenças e relação familiar.
Até hoje o grupo existe, não com os mesmos membros, mas com uma composição nova,
sem usuários de droga.
D. Sensível aos agravos
da comunidade, boa
ouvinte – mudança de
comportamento de um
membro da família.
Certa manhã na visita domiciliar, deparei-me com D. Lurdes chorando desgostosa e
aperreada. Ao entrar, percebi que ela não estava bem. Sentei e me dispus; passei duas
horas ouvindo as queixas e lamentações. Havia perdido o marido há meses e os filhos e os
netos agora dependiam dela. Endividada e quase sem saída ouvi muito mais do que falei,
mas ao cabo da visita já estávamos sorrindo e tomando um cafezinho, isso marcou.
CARACTERÍSTICA/
RESULTADO
IDÉIAS CENTRAIS AGENTES DO PSA
A. Facilidade de
interação, criatividade e
dedicação - Conseguiu
ter mais intimidade com
o morador.
Tenho facilidade de interação com os usuários (moradores), o que sempre facilita a minha
entrada na casa. Além disso, formei grupos de idosos e adolescentes para realizar oficinas
de reciclagem.
B. Paciência, respeito,
gentileza e cordialidade
- Conseguiu ter acesso
ao domicílio.
A apresentação pessoal é a maneira adequada de tratar os diversos tipos de comunidade. O
respeito, a gentileza e a cordialidade fazem com que, num segundo instante de visita aos
imóveis a receptividade seja sempre melhor ao agente profissional no desempenho da
função. Assim, fui conquistando a confiança, e hoje sou recebido.
C. Perseverança,
criatividade, dedicação,
responsabilidade -
Conseguiu passar o
conhecimento proposto
pelo programa.
Após me dispor a dar uma palestra, eu me deparei com dificuldades em adquirir os
materiais (folhetos, etc) e de fechar o horário com o responsável pelo local da palestra.
Porém, não desanimei até cumprir com o que me dispus a fazer, mesmo mudando o local e
elaborando cartazes à mão.
Fonte: Trabalho de campo realizado agosto de 2007. (Entrevista com grupo focal – resposta de 5 ACS e 5
ASAS)/ Organizado por PEREIRA, MPB (2007).
154
b) Perfil profissional na visão do próprio agente:
Com relação ao perfil do profissional agente de saúde, os próprios agentes
categorizaram quais características interferem positivamente e negativamente no
desenvolvimento de atividades. Vale salientar que a lista de características a que eles
tiveram acesso foi elaborada pelos enfermeiros da ESF, supervisores do PSA, agentes
entrevistados quando falaram de si mesmos e pela pesquisadora na observação
participante. As características recorrentes serão apresentadas no quadro a seguir, de
acordo com a ordem como foi disposto no painel elaborado por eles, o que pode
demonstrar uma ordem de importância para os agentes de saúde (quadro 19).
Dentre as características consideradas como sendo positivas quinze foram
apontadas tanto pelos agentes da ESF quanto do PSA, são elas: a) habilidoso para
trabalhar com o público; b) respeita as pessoas; c) bem articulado; d) organização; e)
auto-controle; f) responsabilidade; g) observador; h) coragem; i) criativo; j) iniciativa;
k) meticulosidade/ cuidado/ zelo; l) interesse/ disposição/ dedicação e empenho; m)
preocupação com a população e/ou área; n) faz um bom trabalho de campo e; o)
paciência (quadro 20).
Já com relação às características tidas como negativas ou, pelo menos,
questionáveis, apenas três foram concordantes entre os agentes dos dois programas: a)
desestímulo/ revolta com as dificuldades; b) sensível aos agravos da comunidade/ se
envolve emocionalmente/ e; c) indignação com o errado (quadro 20). Dentre essas
características a letra ‘b’, “ser sensível aos agravos da comunidade/ Se envolve
emocionalmente”, foi alvo de discussão devido os agentes da ESF considerarem que,
apesar de ser uma característica negativa, é impossível não ocorrer. Já os agentes do
PSA consideram essa característica como questionável e possível de ser evitada.
155
QUADRO
19
CARACTERÍSTICAS QUE INTERFEREM POSITIVAMENTE E NEGATIVAMENTE/ QUESTIONÁVEIS NO TRABALHO
DOS AGENTES DA ESF E PSA
, SEGUNDO OS PRÓPRIOS AGENTES DE SAÚDE
CARACTERÍSTICAS QUE INTERFEREM POSITIVAMENTE CARACTERÍSTICAS QUESTIONÁVEIS
ORDEM
PSF PSA PSF PSA
1 Habilidoso para trabalhar
com o público
Faz um bom trabalho de
campo
Desestímulo/ revolta com as
dificuldades
Sensível ao agravo da
comunidade/ se envolve
emocionalmente
2 Trabalha com amor/ gosta do
que faz
Iniciativa Sensível ao agravo da
comunidade/ se envolve
emocionalmente
Acolhedor/ receptivo/ é como
uma mãe
3 Pessoa humana
Respeita as pessoas Indignação com o errado Indignação com o errado
4 Respeita as pessoas Habilidoso para trabalhar
com o público
Medo de acessar à área Frieza em situações difíceis
5 Bem articulado Bem articulado
Questiona o óbvio
Desestímulo/ revolta com as
dificuldades
6 Participação
Preocupação com a
população e/ou área
Perfeccionista
7 pontualidade
Organização
Medo
8 Assiduidade
Interesse/ dedicação/
disposição/ empenho/ esforço
9 Inteligente
Meticulosidade/ cuidado/
zelo
10 Organização Coragem
11 Tem disciplina
Paciência
12 Auto-controle Observador
13 Responsabilidade Responsabilidade
14 Compromisso
Criativo
15
Observador Auto-controle
16 Detalhista/ preocupado/
atento
17 Luta contra as adversidades
18 Frieza em situações difíceis
19 Coragem
20 Criativo
21 Iniciativa
22 Meticulosidade/ cuidado/
zelo
23 Interesse/ dedicação/
disposição/ empenho/ esforço
24 Desenvolvido
25 Eficiente/ competente/
desempenha bem a função/
faz bem sua parte/ o trabalho
é elogiado
26 Cumpre bem a jornada de
trabalho
27 Preocupação com a
população e/ou área
28 Faz um bom trabalho de
campo
29 Eficiente como técnico
30 Confiável
31 Boa ouvinte
32 Paciência
33 Gentil
34 Cordial
35 Carinhoso/ afetivo
36 Simpático/ bacana
37 Compaixão/ misericórdia
38 Acolhedor/ receptivo/ é como
uma mãe
39 Delicado
40 Amigo
41 Disponível/ prestativo/
atencioso
Fonte: Trabalho de campo realizado em agosto de 2007 (Entrevista com grupo focal)/ Organizado por
PEREIRA, MPB (2008).
156
QUADRO
20
CARACTERÍSTICAS QUE INTERFEREM POSITIVAMENTE E NEGATIVAMENTE E SÃO COMUNS AOS DOIS
PROGRAMAS POR ORDEM DE IMPORTÂNCIA
CARACTERÍSTICAS QUE INTERFEREM POSITIVAMENTE CARACTERÍSTICAS QUESTIONÁVEIS
POSIÇÃO POSIÇÃO
DESCRIÇÃO
ESF PSA
DESCRIÇÃO
ESF PSA
Habilidoso para trabalhar com o público
1 4
Desestímulo/ revolta com as dificuldades
1 5
Respeita as pessoas
4 3
Sensível ao agravo da comunidade/ se
envolve emocionalmente
2 1
Bem articulado
5 5
Indignação com o errado
3 3
Organização
10 7
Auto-controle
12 15
Responsabilidade
13 13
Observador
15 12
Coragem
19 10
Criativo
20 14
Iniciativa
21 2
Meticulosidade/ cuidado/ zelo
22 9
Interesse/ dedicação/ disposição/ empenho/
esforço
23 8
Preocupação com a população e/ou área
27 6
Faz um bom trabalho de campo
28 1
Paciência
32 11
TOTAL DE CARACTERÍSTICAS APONTADAS
41 15
TOTAL DE CARACTERÍSTICAS APONTADAS
7 5
Fonte: Trabalho de campo realizado em agosto de 2007 (Entrevista com grupo focal)/ Organizado por
PEREIRA, MPB (2008).
Observando por esse prisma, percebe-se que todos os agentes de saúde estudados
com maior profundidade se encaixam em, pelo menos, uma dessas características
apontadas, estando, portanto, incluídos no parâmetro de qualidade dos próprios
agentes de saúde. Também se observou que as características inerentes a esses agentes
têm papel importante na realização de várias atividades relacionadas ao trabalho dos
mesmos.
5.1.2
EXPERIÊNCIAS VIVENCIADAS COMO INFLUENCIADORAS DA MOTIVAÇÃO
Retornando aos fatores que influenciam na motivação, o segundo item
apresentado por Angelini (1973) foi que as experiências passadas de cada um também
devem ser consideradas. Dessa forma, foram trazidas as experiências obtidas pelos
agentes de saúde antes de exercer a atividade atual, e porque resolveram fazer
concurso para agente de saúde.
Quanto às experiências obtidas antes de exercer a função de agente de saúde,
tanto os agentes da ESF quanto os agentes do PSA estavam exercendo cargos que em
geral a remuneração era baixa, sendo o emprego formal ou informal. Contudo,
157
algumas dessas ocupações guardavam semelhanças com o trabalho de agente de saúde
em algum aspecto.
No caso dos agentes da ESF, por exemplo, dentre os cargos exercidos foram
evidentes ocupações como o trabalho com crianças na catequese, na pastoral da
criança, como auxiliar de pesquisa de campo e como professora comunitária. Já com
os agentes do PSA, destacaram-se ocupações como trabalhos educativos em
comunidades pobres através de uma ONG, serviços como auxiliar de pesquisa de
campo, estagiário enquanto técnico de saneamento e na área da biologia.
Foi possível observar que as experiências de trabalhos anteriores resguardaram
semelhanças com o trabalho atual no sentido de terem um conteúdo próximo ao
proposto pelo programa ao qual está vinculado, assim como a prática de contato com
público com o qual se está trabalhando e com o manuseio de mapas.
Com relação à razão para querer prestar concurso para agente de saúde, as
respostas dos agentes da ESF giraram em torno de: a) desemprego; b) experiência com
trabalho semelhante e; c) afinidade com o trabalho como ACS. Já os agentes do PSA
apresentaram as seguintes respostas: a) desemprego; b) necessidade de estabilidade e;
c) afinidade com o trabalho como ASA (quadro 21).
5.1.3
FATORES AMBIENTAIS COMO INFLUENCIADORES DA MOTIVAÇÃO
O terceiro aspecto que influencia a motivação, de acordo com Angelini (1973),
são os fatores ambientais. Assim sendo, foi realizada uma série de questionamentos
aos agentes sobre o interesse deles fora do âmbito do trabalho (meios de comunicação
e temas de importância), no ambiente de trabalho (o que impulsiona ao trabalho,
assuntos comentados, temas fotografados e desenhados) e em uma situação dirigida
(prioridade de resolução de problemas, temas que estiveram presentes nas estórias a
partir das figuras mostradas).
158
QUADRO
21
RAZÃO APARENTE PARA PRESTAR CONCURSO
DESEMPREGO
EXPERIÊNCIA COM
TRABALHO SEMELHANTE
AFINIDADE COM O
TRABALHO COMO AGENTE
NECESSIDADE DE
ESTABILIDADE
Na época que eu vim de São
Paulo prá cá, eu não tinha
emprego, o que tinha era
esse (Nâna)
Quando fazia o trabalho na
igreja, trabalho com criança
de catequese, surgiu a
oportunidade de ser agente
de saúde (Larissa)
Na verdade, aqui no Recife a
gente tá numa situação de
desemprego muito grande.
Abriu essa vaga pra
concurso de agente de saúde
ambiental, eu estava na
EMLURB, mas era estágio,
estava fazendo saneamento,
tem a ver com a área, pelo
menos motivou um pouco a
voltar a estudar, aí eu fiz
(Severino Silva)
Quando eu trabalhava como
professora, quase que
voluntária, eu fazia também
em relação à saúde, com
orientações, com visitas.
Essa parte, dessa ligação e
desse contato direto com o
pessoal eu já tinha
envolvimento na
comunidade. Então eu me
dispus a participar dessa
seleção e graças à Deus
consegui (ACS em ação)
Acho que foi uma questão de
oportunidade mesmo. Tinha
o gosto de lidar com as
pessoas, contornar arestas, é
a parte que eu adoro, é a
parte que eu tenho
facilidade, mas não foi uma
influência preponderante,
pois se fosse uma coisa que
eu tivesse aversão, talvez me
impedisse, eu dissesse não,
ainda que lidasse com o
público. E no caso eu não
tinha esse bloqueio, mas
poderia ser outra área que
lidasse também com o
público (Germano)
A princípio, a facilidade que
o emprego público dá, a
questão da estabilidade,
ainda que na época o
concurso era temporário. Eu
também estava um pouco
cansado de trabalhar no
comércio, estava entrando na
faculdade e o horário que
largava do comércio pra
chegar na Faculdade era
difícil. Pensei que o caminho
era esse e pelo currículo que
estava sendo exigido eu
acreditava que tinha como
fazer a prova, o tempo de
estudar era pouco, mas eu
consegui ingressar, graças à
Deus (Lampião)
Por condições financeiras, já
tentei outra áreas, no entanto
ainda estou como ACS
(grupo de ACS da entrevista
com grupo focal)
Já tinha contato com a
comunidade, com o público
(grupo de ACS da entrevista
com grupo focal)
Sempre quis trabalhar com a
comunidade para poder atuar
de forma mais direta, além
de gostar de crianças e de
ajudar as pessoas (grupo de
ACS da entrevista com
grupo focal)
Estava desempregado (grupo
de ASA da entrevista com
grupo focal)
-
Por opção, gosto de trabalhar
com o público, de servir ao
público, de atuar junto à
comunidade e desejava atuar
na área (grupo de ASA da
entrevista com grupo focal)
Era a primeira oportunidade
como concursado, queria
estabilidade (grupo de ASA
da entrevista com grupo
focal)
Fonte: Trabalho de campo realizado entre março e agosto de 2007 (Entrevista individual e com grupo focal)/
Organizado por PEREIRA, MPB (2008).
a) Interesses dos agentes fora do âmbito do trabalho:
Com relação aos interesses fora do âmbito do trabalho o desafio proposto foi
saber o que interessa ao agente a partir do acesso a alguns meios de comunicação
como jornal, revista, livro, televisão, internet e rádio
17
.
Considerando os meios de comunicação mais acessados, tanto os agentes da ESF
quanto do PSA utilizam todos os meios de comunicação mencionados de maneira
equilibrada, com exceção da TV e da internet. A TV, porque todos os agentes
utilizam-na com uma freqüência mais alta do que os outros meios de comunicação, e
com relação à internet porque a utilizam com uma freqüência bem inferior aos outros
meios. O que motiva esses agentes a buscar informações, principalmente na televisão,
17
O rádio foi incluído apenas na parte da entrevista com grupo focal, realizada com 11 dos 16 agentes de saúde
estudados.
159
seria a facilidade de acesso? Seria o tipo de informação? Diante dessa situação, que
tipo de informação eles passam a ter a partir da utilização da TV como fonte de
informações?
Uma das razões que explica a motivação da utilização da televisão é que o acesso
a outros meios, como jornal, livro, revista e internet ainda se apresenta com um custo
elevado para a realidade financeira desses agentes ou, como é o caso específico da
internet, o fato da necessidade de aprender e a utilizá-lo (quadro 22).
QUADRO 22
RAZÕES DO NÃO ACESSO OU DO ACESSO LIMITADO À JORNAL, REVISTA, LIVRO E INTERNET
ACESSO À JORNAL E REVISTAS EM
GERAL
ACESSO À LIVROS INTERNET
Às vezes eu pego alguns livros
emprestados (ACS em ação).
Tenho muito pouco acesso, mas na
medida do possível eu tenho
consultado. O tempo é muito pouco, eu
não tenho acesso à internet em casa,
então só quando eu estou aqui no
trabalho com os meninos é que
consigo. Não dá muito tempo
(Lampião).
Não compro, o dinheiro não dá nem pra
comprar, nem jornal, nem revista, fica
difícil (ACS em ação).
Livros, eu não leio muito, até porque
não se compra livros (Germano).
Eu tenho, mas não manipulo. Quem
mexe são meus filhos (Germano).
Fonte: Trabalho de campo realizado entre março e agosto de 2007 (Entrevista individual)/ Organizado por
PEREIRA, MPB (2008).
Devido à predominante utilização da TV, observou-se o tipo de informação
acessada por este meio de comunicação. As respostas dos ACS giraram em torno de:
política, telejornais, filmes e telenovelas. Já os ASAs interessam-se por programas
relacionados à qualidade de vida, história geral, documentários, telejornais,
telenovelas, musicais, filmes e desenho animado.
Quando se confronta essas programações, no caso dos ACS, percebe-se que
nenhum dos temas mais citados faz parte do que mais interessa aos agentes, os temas
mais freqüentes entre os ACS foram: temas gerais e atualidades (presente em quatro
dos seis meios de comunicação) e religião (presente em três dos seis meios de
comunicação). Contudo, pode-se ponderar que esses temas estão inclusos também na
TV de alguma maneira, pois, por exemplo, quando se assiste ao telejornal também se
entra em contato com os temas gerais e atualidades.
No que diz respeito aos ASAs, pelo menos o tema qualidade de vida está entre os
temas mais freqüentemente procurados pelos agentes. No caso, os temas mais
160
recorrentes foram: qualidade de vida (presente em 6 dos 6 meios de comunicação
apresentados), saúde (presente em 5 dos 6 meios de comunicação) e educação
(presente em 4 dos 6 meios de comunicação).
Deduz-se que os agentes da ESF utilizam a televisão, principalmente, para
entretenimento. Entretanto, os agentes do PSA demonstram querer utilizá-la tanto para
entretenimento quanto para estar melhor informado sobre as questões atuais.
Outra observação é com relação a que a maioria das informações procuradas não
é proveniente da televisão, apesar de ser a mais utilizada, dessa forma o acesso à
informação parece estar deficiente fora do âmbito do trabalho.
Outro ponto importante a ser observado diz respeito à qualidade da informação a
que se está tendo acesso via televisão. Uma informação que, geralmente, está fora de
sua área de atuação no trabalho, na maioria das vezes em escalas geográficas muito
distantes da escala da comunidade ou do bairro e aí vem mais um questionamento:
essas informações estão, pelo menos, sendo úteis no âmbito da vida, enquanto pessoa?
E em que essas informações estão servindo de fato para que ele, o sujeito agente de
saúde, pense sua realidade de trabalho e possa promover atitudes que melhorem a
qualidade do trabalho e das condições do ambiente e da saúde da população atendida?
b) Interesses dos agentes no âmbito do trabalho:
Ainda relacionado aos fatores ambientais também foi considerado importante
saber quais os temas recorrentes no âmbito do trabalho (quadro 23). Inicialmente foi
observado por questão e por agente as semelhanças, e depois a observação foi
realizada entre as questões.
Um dos primeiros questionamentos foi a respeito do que impulsiona o agente ao
trabalho. Percebeu-se que a necessidade de emprego e a preocupação em melhorar a
qualidade de vida da comunidade são temas impulsionadores dos agentes das duas
políticas.
161
QUADRO 23
TEMAS RECORRENTES NO ÂMBITO DO TRABALHO
ITEM AGENTES DA ESF AGENTES DO PSA
FATORES QUE
IMPULSIONAM AO
TRABALHO
a) ter controle do território;
b) melhorar a qualidade de vida da comunidade;
c) compaixão com os mais frágeis;
d) necessidade de emprego.
a) necessidade de emprego;
b) melhorar a qualidade de vida da comunidade;
c) aprofundar conhecimento;
d) preocupação com a saúde coletiva;
e) afinidade com o trabalho.
ASSUNTOS
FALADOS
a) ações para beneficiar a estrutura física da
unidade;
b) a comunidade;
c) sobre a autonomia do agente de saúde;
d) dificuldade de aceitar o novo;
e) situações de risco;
f) situação que interfere positivamente na saúde;
g) críticas às regras impostas, a comportamentos
inadequados e às ações políticas;
h) ações cotidianas do agente de saúde;
i) opinião sobre a capacitação.
a) opiniões e experiências pessoais;
b) a comunidade;
c) sobre a autonomia do agente de saúde;
d) críticas na relação ESF/ PSA, às regras impostas
e às ações dos moradores;
e) opinião sobre a capacitação;
f) situações de risco;
g) situações que interferem positivamente na
saúde;
h) ações cotidianas do agente de saúde.
TEMAS
FOTOGRAFADOS
a) lixo;
b) local com possibilidade de contato com vetores;
c) transtorno mental e risco à saúde da família.
a) infra-estrutura;
b) lixo;
c) esgoto;
d) fauna e flora em situação de risco;
e) relevo e risco;
f) ação educativa que surtiu efeito;
g) paisagem – vista aérea;
h) qualidade da água
TEMAS PRESENTES
NO MAPA MENTAL
a) saneamento ambiental;
b) delimitação territorial;
c) elementos da natureza e ações nesse ambiente;
d) uso do solo.
a) saneamento ambiental;
b) infra-estrutura;
c) elementos da natureza;
d) uso do solo.
Fonte: Trabalho de campo realizado entre março e abril de 2007 (Observação participante, registro fotográfico e
elaboração de mapas mentais)/ Organizado por PEREIRA, MPB (2008).
O segundo questionamento foi com relação aos assuntos mais discutidos durante
o trabalho de campo com os agentes. Neste caso os temas abordados foram muito
próximos. Com relação à comunidade, evidenciou-se sua própria dinâmica, situações
de risco, assim como situações que interferem positivamente na saúde. Já com relação
ao trabalho, mencionaram sobre o grau de autonomia que o agente de saúde possui,
críticas às regras impostas, a comportamentos inadequados, às ações políticas e na
relação ESF/PSA, ações cotidianas do agente de saúde e a opinião sobre capacitação.
Com relação às temáticas registradas em foto, apenas o tema lixo emergiu nas
fotos dos agentes dos dois programas. Já com relação ao mapa mental percebe-se que
tanto os agentes da ESF quanto do PSA desenharam todos os temas observados no
conjunto dos mapas, ou seja, elementos relacionados ao saneamento ambiental, à
delimitação territorial, aos elementos da natureza e ações nesse ambiente, assim como
ao uso do solo. Contudo, quando se trata dos agentes do PSA, apenas um agente
162
desenhou um mapa livremente utilizando elementos que se enquadram em todos os
temas.
Com relação aos temas que emergem quando se trata do conjunto das atividades
propostas aos agentes tem-se: a) graus de autonomia (controle sobre o território,
discussão sobre a autonomia do agente de saúde, críticas em geral, infra-estrutura, uso
do solo, localização dos elementos da natureza, busca pela melhoria da qualidade de
vida da comunidade, discussão sobre a problemática da comunidade); b) opiniões ou
temas pessoais (necessidade de emprego, necessidade de aprofundar conhecimento,
afinidade com o trabalho, opiniões e experiências da vida pessoal, dificuldade de
aceitar o novo, contemplação da paisagem, compaixão com os mais frágeis, ações para
beneficiar a estrutura física da unidade); c) questões disciplinares (preocupação com a
saúde coletiva; ações cotidianas dos agentes); d) situações que interferem na saúde
(situações de risco, local com possibilidade de contato com vetores, transtorno mental
e risco à saúde da família, saneamento ambiental, lixo, esgoto, qualidade da água,
fauna e flora em situação de risco, relevo e risco, situação que interfere positivamente
na saúde); e) relação ensino-aprendizagem (opinião sobre a capacitação e ação
educativa que surtiu efeito).
c) Interesses dos agentes em uma situação dirigida:
Voltando à questão dos fatores ambientais como terceiro influenciador da
motivação humana, considerou-se também o interesse dos agentes em uma situação
dirigida de trabalho no âmbito das atividades da entrevista com grupo focal. As
atividades consideradas objetivavam observar a prioridade na resolução de problemas,
quais as razões na ordem de resolução dos problemas e quais os temas presentes nas
estórias criadas a partir de figuras.
Com relação à prioridade na resolução de problemas foi entregue ao grupo de
ACS e ASA uma lista de situações a serem resolvidas em ordem de prioridade (quadro
24) e depois foi pedido aos grupos que explicassem as razões para terem escolhido
determinada ordem.
Os agentes da ESF responderam que as razões para a resolução dos problemas
nessa ordem estiveram relacionadas a reconhecer o problema, logo após, obedecendo a
163
hierarquia, passar o problema para o gerente de território, e só depois dessa ação entrar
em contato com os outros segmentos.
Já os agentes do PSA explicaram que inicialmente buscam reconhecer o
problema, em seguida organizam as prioridades para poder realizar uma reunião com a
liderança e a comunidade e consolidar propostas, e depois desta ação conjunta
apresentar um projeto de ação consolidado junto ao gerente de território e ONGs.
Uma possível explicação para estas ordens de prioridade é a atenção que a
Gerência de Território
18
fornece à ESF e a desconsideração dada ao PSA, que, por
conseqüência, age sem priorizar essa hierarquia dentro do serviço público municipal.
Outra razão seria o fato de o ASA se sentir mais autônomo para decidir junto à
comunidade o que fazer, e buscar apenas apoio nos órgãos competentes.
QUADRO 24
SITUAÇÕES A SEREM RESOLVIDAS POR ORDEM DE PRIORIDADE
PRIORIDADE
DESCRIÇÃO DA SITUAÇÃO
ESF PSA
1. Na comunidade em que trabalho há muitos problemas a resolver, desta forma tenho que estar sempre
atento à possibilidade de conseguir algum benefício para o coletivo. Fiquei sabendo que ontem veio uma
ONG famosa aqui na comunidade, vou entrar em contato com o pessoal da ONG hoje para ver se
conseguimos formar uma boa parceria e conseguir benefícios para esse local.
6 6
2. Enquanto representante do serviço de saúde na comunidade, sinto que minha responsabilidade é
grande, por isso hoje vou reorganizar as prioridades para atender ainda melhor a comunidade. Sei que
faço tudo muito bem, mas quero fazer ainda melhor.
5 2
3. Hoje precisamos nos reunir para elaborar uma programação que possa juntar as pessoas que estão
sendo atendidas pelo programa para mostrar o nosso trabalho e buscar sensibilizar a população de que
essas ações são importantes para a saúde de cada um.
3 4
4. Percebo que há muitos moradores que não querem receber nem as visitas e muito menos as orientações
dos agentes de saúde. Fico muito preocupado com isso porque quero que as pessoas tenham acesso a essa
informação que é importante para a vida deles. Hoje mesmo vou começar a elaborar uma estratégia de
aproximar essas pessoas das idéias que nós do serviço do saúde estamos tentando passar para eles.
1 1
5. Amanhã o gerente de território da minha área vem aqui para nos escutar. Hoje tenho que me articular
com o pessoal da associação, da igreja e do outro programa de saúde que também atua na comunidade
para ver se conseguimos fazer uma lista de coisas que precisamos para melhorar as condições de saúde da
comunidade, quem sabe se, juntando todo mundo, as coisas ficam mais fáceis de serem resolvidas.
2 5
6. Hoje pretendo me reunir com a liderança local para buscar mostrar para eles a importância da
divulgação do nosso trabalho para a melhoria das condições de saúde de todos.
4 3
Fonte: Trabalho de campo realizado em Agosto de 2007 (Entrevista com grupo focal)/ Organizado por
PEREIRA, MPB (2008)
Com relação aos temas presentes nas estórias criadas a partir de figuras, é
importante salientar que as figuras ficaram expostas pelo período de um minuto para
18
Gerência de território: segundo informações de funcionários dos distritos, desde 2007 é que foi implantado de
fato no organograma do Distrito Sanitário o cargo de gerente de território. O Distrito Sanitário é dividido em três
mesoregiões e estas ficam a cargo de três gerentes de territórios. Eles são responsáveis pela intersetorialidade
entre os programas, instituições e devem estar prontos a resolver os problemas mais urgentes de seu território de
ação. Juntos, eles ocupam o segundo cargo de maior importância dentro do Distrito.
164
cada agente, e foi pedido que os mesmos elaborassem uma composição, com o que
lhes viesse à mente (figuras A - D).
A figura A representava uma ACS fazendo uma visita domiciliar, no qual
enquanto estava sentada, preencheu o cartão da criança. A figura B era de um ASA
quando estava verificando indício de larva do mosquito Aedes Aegipty em um tonel
que estava com resto de tinta. A tinta estava no fundo e a água na superfície, na qual
percebeu que de fato havia larvas do mosquito Aedes Aegypti. A figura C foi de um
outro ASA que estava visitando um lote no qual estava sendo construído um prédio e o
mesmo estava passando para os vários funcionários algumas maneiras de evitar que
tanto o mosquito Aedes Aegipty como outros possam encontrar situação ideal para
procriar. A figura D é referente a uma passeata em comemoração ao “Dia da água”,
realizada no dia 22 de março de 2007 no centro da cidade do Recife da qual
participaram agentes da saúde da ESF e do PSA. Com relação à interpretação dessas
figuras, os agentes pensaram em temas variados, como se pode ver no quadro 25.
Percebe-se que além de situações de trabalho do agente de saúde (visita
domiciliar, situações vivenciadas no trabalho, trabalho do ASA, trabalho em equipe e
educação em saúde), essas figuras também remetem a sentimentos (estado de espírito,
dificuldades na vida, desejos), condições de vida (trabalho do catador, miserabilidade,
situação de risco à saúde), situação que interfere positivamente na saúde (descanso
após dia de trabalho) e à reivindicação de direitos (para o trabalhador e para o ser
humano em geral).
Essas duas situações dirigidas (estórias e figuras) refletem um pouco a realidade
de trabalho dos agentes no sentido em que buscaram situações o mais próximas da
realidade possível.
E por ora, como resultados tem-se que a falta da presença mais constante da
gerência de território no cotidiano de trabalho do ASA tem refletido em uma não
consideração de seu poder de coordenação. as composições feitas a partir da figura
mostraram, além do trabalho, situações que permeiam sua realidade de trabalho, as
condições de vida ruins e os sentimentos de esperança a ela inerentes, assim como as
condições de trabalho que remetem à luta por melhorias.
165
A. Agente de saúde no ambiente de
trabalho.
Data: Março de 2007.
Foto: PEREIRA, MPB.
B. Agente de saúde no ambiente de trabalho.
Data: Abril de 2007.
Foto: PEREIRA, MPB.
C. Agente de saúde no ambiente de trabalho.
Data: Abril de 2007.
Foto: PEREIRA, MPB.
D. Agente de saúde em atividade externa.
Data: Março de 2007.
Foto: PEREIRA, MPB.
166
QUADRO
25
FIGURAS DA TAREFA INDIVIDUAL SOBRE A MOTIVAÇÃO
FIGURA A
COMPOSIÇÃO DOS AGENTES DA ESF COMPOSIÇÃO DOS AGENTES DO PSA
A. Visita
domiciliar
Sentada no chão durante uma visita
domiciliar, é uma ACS escrevendo,
mapeando uma área ou vendo o cartão de
vacina da criança, enfim, trabalhando.
A. Situações
vivenciadas
no trabalho
“Uma mulher que lê não é apenas uma mulher
que lê: é uma mulher que pensa”. Vejo uma
ACS no trabalho preenchendo fichas. Porém,
esta imagem me fez relembrar um fato quando
já muito cansado e meio febril e com bastante
chuva sentei-me embaixo de uma árvore e
tentei me proteger da chuva e aproveitei para
preencher o boletim.
B. Estado de
espírito
A pessoa está num momento de solidão,
esforço e vontade de viver, independente das
condições.
B.
Dificuldades
na vida
“Por trás de cada criança abandonada há
vários adultos”, como exemplo podemos citar
a criança estudando numa cadeira nada
confortável.
- - C. Desejos
Observando e anotando em uma prancheta
tudo de bom que gostaria que fosse realidade.
FIGURA B
COMPOSIÇÃO DOS AGENTES DA ESF COMPOSIÇÃO DOS AGENTES DO PSA
A. Trabalho
do ASA
Vigilância: é um ASA olhando um tonel
com larvas do mosquito da dengue, fazendo
busca ativa, está com o olhar voltado para
identificar focos da dengue. Ele está fazendo
inspeção no domicílio, dando todas as
orientações ao morador no combate a
dengue.
A. Trabalho
“O amor ao trabalho é o que dignifica o
homem.” Examinar com cuidado é necessário
para o agente de saúde, procurando larva em
tonel abandonado, pois lá poderia ser um
criadouro e o mesmo tenta sanar o que poderia
ser um mal maior. Mas isso também lembra
um colega AOA (já meio cansado de guerra)
com bastante idade, deveria estar em casa ou
em atividades de recreação. Caiu dentro de um
tanque no momento que foi verificar as larvas
e tratar o ambiente com larvicida biológico.
Nada muito grave. Voltou pra casa todo
molhado e ganhou o dia.
B. Trabalho
do catador
Catadores que sobrevivem catando lixo para
reciclagem, deveria estar devidamente
equipado, luvas, máscaras, etc....
B.
Miserabilida
de
Ver alguém fuçando o lixo como um cão sem
dono é perceber que a pessoa chegou ao fundo
do poço, é como se ela tivesse chegado a
óbito.
FIGURA C
COMPOSIÇÃO DOS AGENTES DA ESF COMPOSIÇÃO DOS AGENTES DO PSA
A. Trabalho
do ASA
É um ASA visitando uma obra de
construção.
A. Descanso
Final de operação. Nós, ASAS, nos reunimos
no terreno de D. Rosinha e chupamos bastante
mangas oferecida pela mesma.
B. Trabalho
em equipe
Fez-me lembrar dos mutirões realizados
contra dengue, tuberculose, filariose quando
nos reunimos para combater as epidemias.
Porém poderia ser um grupo de
trabalhadores em saúde se reunindo,
tentando resolver vários problemas da
comunidade, promovendo saúde ou, para
mobilizar a todos da comunidade, poderia
ser uma reunião entre ACS e ASA na busca
de soluções para a nossa comunidade, que
está com casos de dengue.
B. Educação
em saúde
Com diálogo se consegue milagres. Na figura
tem-se ASA instruindo os funcionários de
uma obra, um agente orientando pessoas sobre
o mosquito transmissor da dengue e como
combatê-lo.
- -
C. Trabalho
em equipe
Ver o homem trabalhando é vê-lo com vida
novamente. O trabalho de equipe incorpora
valores.
167
QUADRO 25 (CONT.)
FIGURAS DA TAREFA INDIVIDUAL SOBRE A MOTIVAÇÃO
FIGURA D
COMPOSIÇÃO DOS AGENTES DA ESF COMPOSIÇÃO DOS AGENTES DO PSA
A.
Reivindicação
de direitos
ACSs e ASAs lutando por seus direitos seja
através de uma passeata de agentes em
greve ou num momento onde todos se
unem em prol da efetivação e reivindicação
pelos direitos garantidos, fazendo valer e
garantir a continuidade de um trabalho
sério voltado para a população
A.
Reivindicação
de direitos
Pessoas em passeata para reivindicar seus
direitos em alguma coisa ou causa, talvez a
respeito da efetivação como a passeata pela
Conde da Boa Vista. Com mobilização
podemos alterar uma realidade cruel. A união
faz a força!
B. Educação
em saúde
Este é o melhor local para divulgar e
panfletar sobre várias informações
promovendo saúde para população.
B. Educação
em saúde
Dia da água. As pessoas carecem de mais
informações.
C. Situação
de risco à
saúde
É um local onde pode haver uma
contaminação de várias doenças
contagiosas.
C.
Reivindicação
de direitos
para o ser
humano
As pessoas carecem de mais verdade por parte
dos órgãos públicos, muito mais que isso, o
homem encontra-se perdendo a crença e a fé
no ser humano. Tomara que ao menos o
planeta resista.
Fonte: Trabalho de campo realizado em agosto de 2007 (Entrevista com grupo focal)/ Organizado por
PEREIRA, MPB (2008).
5.2.
COMPETÊNCIAS DESENVOLVIDAS ENQUANTO AGENTE DE SAÚDE
O agente de saúde em seu trabalho diário (seja na ESF ou no PSA) passa por
situações que os fazem aprender continuamente. Daí esses espaços serem ditos
educativos e, por conseqüência, estarem desenvolvendo-se competências e
habilidades.
Dentre as competências e habilidades desenvolvidas pelos agentes de saúde, que
foram observadas, algumas têm relação mais próxima com o conhecimento geográfico,
são elas: domínio conceitual, autonomia e domínio da linguagem cartográfica.
Para viabilizar a sistematização dos resultados, organizou-se esse item a partir
das competências desenvolvidas no ambiente de trabalho e das competências
demonstradas a partir de uma situação dirigida.
5.2.1
COMPETÊNCIAS DESENVOLVIDAS NO AMBIENTE DE TRABALHO
Para demonstrar como o agente de saúde expressa suas competências e
habilidades sociais, optou-se por apresentar uma síntese de suas atividades no campo.
Com relação ao domínio conceitual, foram analisados os elementos visualizados na
paisagem pelo agente de saúde no campo a partir de várias escalas geográficas. No que
diz respeito à autonomia foram trabalhados os temas em que houve, por parte do
agente de saúde, alguma atitude para melhorar as condições de vida ou de saúde dos
168
moradores. Já com relação ao domínio da linguagem cartográfica, esta foi observada a
partir do discurso sobre a elaboração, manuseio e a representação, neste caso
específico para o grau de conhecimento técnico sobre a elaboração de mapas, pois a
parte subjetiva do domínio da linguagem cartográfica foi incluída na análise das outras
competências.
a) Desenvolvimento do conhecimento no ambiente de trabalho:
Como já apresentado no capítulo dois, a percepção de elementos que possam
interferir no processo saúde-doença é propiciada pela consciência do agente de saúde e
quanto maior essa consciência, maior a capacidade de perceber elementos que possam
trazer benefícios ou malefícios aos moradores. Dessa forma, o domínio conceitual está
estreitamente relacionado à percepção da paisagem.
O domínio conceitual do agente de saúde foi investigado através de sua expressão
sobre a área de trabalho (entrevistas, registro fotográfico e mapa mental) e da
observação de suas atitudes (seja com a equipe, com o morador ou com o próprio
ambiente). O resultado dessas informações foi expresso em uma paisagem construída
por esse agente de saúde.
Diante disso, foi necessário estabelecer os parâmetros de análise desta paisagem.
Assim sendo, inicialmente foram realizadas algumas leituras sobre autores que
analisaram pelo menos três tipos de paisagens na prática.
O primeiro enfoque está relacionado à paisagem que evidencia a relação homem
natureza. Este têm como pontos comuns a inclusão da paisagem natural e antrópica e a
busca por uma geografia aplicada, sendo a primeira (BOULLÓN, 2002) dirigida ao
planejamento da implantação de uma atividade turística e a segunda (PLA Y VILAS,
1992) voltada para corrigir impactos antrópicos sobre a natureza.
O primeiro analisou uma paisagem no qual a estética parece ser o mais
importante, o segundo texto (PLA Y VILAS, 1992) propôs demonstrar os dados e
possibilidades de amenizar danos ambientais. Os dois autores elegeram problemáticas,
elementos a serem analisados e escolheram os métodos de análise. No caso de Boullón
(2002) seria através de critérios, já Pla y Vilas (1992) utilizaram uma metodologia que
inclui etapas de observação e coleta de material para ser analisada em laboratório.
169
O segundo enfoque está relacionado à paisagem estabelecida como fruto da ação
humana. Foram resgatados quatro trabalhos que buscaram mostrar a paisagem
modificada pelo homem a partir de sua funcionalidade urbana e/ou rural. Para este tipo
de paisagem, foram lidos Monbeig (2005), Landim (2004), Bittencourt (2004) e
Niemeyer (2004). Estes textos buscaram observar elementos na paisagem que tivessem
referência aos seguintes temas: mudanças agrárias como resultado do trabalho,
processo de trabalho e vida, resultados da inserção do trabalhador na produção geral da
cidade através do tipo de moradia e conseqüências do planejamento urbano municipal
e/ou de investidores. São temas que relacionam diretamente o indivíduo ao trabalho e
as conseqüências dessa inserção para a qualidade de vida do trabalhador, demonstrada
a partir da forma de moradia e da acessibilidade a locais ou serviços do município.
A forma como esses autores analisaram a paisagem foi diferenciada. Enquanto
Monbeig (2005) e Niemeyer (2004) analisaram a paisagem a partir de temas,
Bitencourt (2004) e Landim (2004), apesar de também tratarem de temas, preferiram
apresentar seus trabalhos a partir de uma série de procedimentos.
O terceiro enfoque diz respeito à paisagem de risco, isto é, uma paisagem
decorrente do medo da doença, da conseqüência da ação humana e do que é percebido
no dia-a-dia. Foram observados três trabalhos: o de Tuan (2005), de Pavlovsky (196-)
e da OPAS (2005).
Percebeu-se que em Pavlovsky (196-) há uma maior preocupação com o
ambiente natural que foi modificado pelo homem e sua relação direta com o
aparecimento de vetores. Os outros (TUAN, 2005 e OPAS, 2005), mais recentes, não
se preocuparam com a paisagem natural modificada, pois isso parece ser algo
superado, entretanto preocuparam-se com eventos naturais ou da conseqüência da ação
humana que possam interferir no cotidiano.
Com relação aos mecanismos de análise, Pavlovsky (196-) trabalhou com coleta
de amostras na paisagem, Tuan (2005) aborda uma série de etapas que tem por meta
aprofundar o máximo possível as características da paisagem do medo da doença; e
quanto a OPAS (2005), este também lida com etapas, porém, tem por objetivo
encontrar uma solução do problema de determinada paisagem.
170
A partir dessas leituras ficou esclarecido que o entendimento da paisagem,
independente do enfoque observado, é fruto de uma série de procedimentos que, para
esta análise, resume-se: na observação de uma problemática, na determinação do que
vai ser analisado, na identificação dos elementos necessários a serem analisados para
atender ao objetivo do que é necessário ser observado, na escolha dos métodos de
análise desta paisagem, na análise da paisagem e, por fim, na apresentação dos
resultados. Diante deste contexto, foi possível estabelecer os parâmetros para se
analisar a paisagem a partir do domínio conceitual dos agentes demonstrados no
momento do trabalho em campo.
Percebe-se de imediato que teríamos dois tipos de paisagem a serem analisadas, a
paisagem da promoção à saúde e a paisagem do risco. Para iniciar esse raciocínio faz-
se necessário explicar como estão sendo entendidos os conceitos de promoção da
saúde e risco.
Tendo por base a discussão de Buss (2003), nesta pesquisa a promoção da saúde
é entendida como uma racionalização de possibilidades ou atitudes concretas que
visam tanto a possibilidade de mudança de comportamentos individuais, quanto do
ambiente em que o indivíduo vivencia, tendo como foco a melhoria das condições de
saúde dos mesmos.
Já o risco será entendido como sendo uma construção social em que uma pessoa
ou grupo percebe um perigo possível, que pode ser previsível a depender de
ocorrências anteriores ou de um conjunto de fatores que indiquem uma possibilidade
de ocorrência de um perigo (VEYRET & RICHEMONT, 2007).
Nesta pesquisa, a pessoa que percebeu os elementos na paisagem foi o agente de
saúde dos programas ESF e PSA. Logo após, definiu-se que a paisagem deveria
considerar a relação homem-natureza, a ação humana e o do processo saúde-doença.
No que diz respeito à relação homem-natureza, o ser humano pode interagir com
o ambiente natural sem degradá-lo ou ocupar de forma desordenada espaços que eram
de domínio de determinadas espécies animais, e aquelas que se adaptaram passaram a
ser um risco à saúde humana, como a barata, o escorpião e o rato.
171
A ação humana é entendida como ações no ambiente que podem culminar no
surgimento de fatores e elementos capazes de trazer benefícios ou malefícios à saúde
humana.
Já o processo saúde-doença seria o resultado da relação homem-natureza e ação
humana no ambiente atual, que pode gerar uma paisagem da promoção da saúde ou
uma paisagem do risco.
Dessa forma, os elementos a serem buscados são quaisquer um que possa
interferir no processo saúde-doença do morador da localidade em que o agente de
saúde trabalha, seja ele um elemento vivo (presença de vetores), inanimado (objetos
que possam se configurar como elementos que interferem na qualidade da saúde do ser
humano) ou fruto das relações humanas (decorrente das ações que podem interferir na
saúde do morador).
A identificação dos elementos necessários para análise foi obtida através de um
conjunto de procedimentos que incluíram entrevista, registro fotográfico, elaboração
de mapa mental, observação participante e acompanhamento do percurso do agente de
saúde em seu ambiente de trabalho.
Os mecanismos de análise desta paisagem estiveram relacionados ao esforço de
determinar que tipos de elementos são mais visualizados, em que nível escalar eles são
mais observados e que tipo de domínio conceitual está sendo demonstrado por esses
agentes de saúde. Os resultados foram organizados em forma de mapas, fotos e
quadros, conforme a necessidade de expressar melhor determinada idéia.
Inicialmente buscou-se a paisagem da promoção da saúde. Os elementos
identificados pelos agentes de saúde como relacionados à possibilidade ou já como
resultado de uma mudança de comportamentos individuais ou relacionados ao
ambiente estiveram evidenciados no uso do solo, saneamento e nas ações articuladas
entre a equipe e a localidade (quadro 26).
172
QUADRO 26
NÍVEIS ESCALARES DE PERCEPÇÃO DA PAISAGEM DA PROMOÇÃO DA SAÚDE DAS ÁREAS ATENDIDAS POR PARTE
DOS AGENTES DE SAÚDE DA ESF E PSA NA CIDADE DO RECIFE
- PE
NÍVEL REGIONAL
TEMA N ELEMENTOS A SEREM OBSERVADOS TIPO DE BENEFÍCIO
Uso do solo 1
Terreno baldio sem lixo com árvore que faz
sombra. Várias pessoas reunidas
conversando e cantando.
Ambiente propício à reunião de pessoas, ambiente
tranqüilo para permanecer.
NÍVEL DA ÁREA DE TRABALHO
TEMA N ELEMENTOS A SEREM OBSERVADOS TIPO DE BENEFÍCIO
2 Ruas limpas
Não obstrui a boca de lobo, nem o esgotamento
pluvial.
Saneamento
3 Ausência de garrafas pet perto das palafitas
Diminuição da possibilidade de criadouro de
animais peçonhentos. Não acumula água que seria
potencial criadouro de mosquitos.
4
Praça construída pela EMLURB às margens
do rio Capibaribe;
Ambiente propício à reunião de pessoas, ambiente
tranqüilo para permanecer.
5
Utilização de um espaço para treinamento
de um time de futebol na comunidade
Ação para afastar as crianças das drogas e
aproximar de um esporte, e talvez, profissão.
Uso do solo
6 Espaços religiosos
Tendo por base a propiciação da esperança e da
ação comunitária que se inicia muitas vezes
através desses espaços.
NÍVEL PERIDOMICILIAR
TEMA N ELEMENTOS A SEREM OBSERVADOS TIPO DE BENEFÍCIO
7
Piscina com uso do cloro periodicamente;
Casa da bomba da piscina sempre limpa
(sem acúmulo de água)
Não há proliferação de mosquitos
8 Sacos com garrafas pet em local coberto
Diminuição da possibilidade de criadouro de
animais peçonhentos. Não acumula água que seria
potencial criadouro de mosquitos.
9
Muro de arrimo na área inclinada entre as
moradias (em cima da barreira) e o prédio
(em baixo).
Diminuição da preocupação com queda de
barreira, menos possibilidade de jogar lixo ou de
despejar esgoto nessa área.
10
Pneus cobertos; retirada das tampas de
garrafas pet e corte do fundo da garrafa
Menos possibilidade de acúmulo de água e servir
de criadouro de mosquito.
Saneamento
11
Quintal limpo e garrafas com a abertura
para baixo.
Não acumula água nem se torna criadouro de
mosquito.
NÍVEL DOMICILIAR/ ESTABELECIMENTO (COMERCIAL OU INDUSTRIAL)
TEMA N ELEMENTOS A SEREM OBSERVADOS TIPO DE BENEFÍCIO
12
Reservatórios de água que são limpos
periodicamente; caixa d’água que está
sendo limpa periodicamente e de acordo
com o recomendado; caixa d’água que
mesmo sem uso está sendo colocado cloro
periodicamente; tonéis limpos, reservatórios
de água limpos
Água com menos risco de contaminação.
13 Utilização do filtro d’água Ter água potável e tratada para beber.
Saneamento
14 Elevação do piso.
Diminui a possibilidade de entrar água na
residência.
15 Reunião com grupo de mulheres na USF.
Possibilidade de discutir problemas inerentes a
cada grupo
Ações
articuladas
entre a equipe
e a localidade
16
Criação de uma biblioteca para os usuários
da USF, na própria unidade.
Difusão do conhecimento
Uso do solo 17
Local em que se reúnem crianças de 3 à 12
anos e adultos inseridos no Clube de Mães
da Madalena, PETI e alfabetização de
adultos
Reforço no aprendizado, na alimentação,
possibilidade de inclusão social.
173
QUADRO 26 (CONT)
NÍVEIS ESCALARES DE PERCEPÇÃO DA PAISAGEM DA PROMOÇÃO DA SAÚDE DAS ÁREAS ATENDIDAS POR PARTE
DOS AGENTES DE SAÚDE DA ESF E PSA NA CIDADE DO RECIFE
- PE
NÍVEL DO CORPO
TEMA N ELEMENTOS A SEREM OBSERVADOS TIPO DE BENEFÍCIO
Relação dentro
da equipe e
entre a equipe
e o usuário.
18 Reunião com grupo de idosos/ hiperdia;
Possibilidade de discutir problemas inerentes à
faixa etária, principalmente doenças.
Fonte: Trabalho de campo realizado entre março e agosto de 2007. Organizado por PEREIRA, MPB. (2008)
Ao observar os elementos apontados pelos agentes como relacionados à
promoção da saúde, observa-se que algumas ações têm como motivação a prevenção
de doenças e outras visam o bem-estar geral. De acordo com Czeresnia (2003), a
prevenção está vinculada a ações capazes de evitar doenças, enquanto a promoção faz
referência a ações que também evitam doenças, mas tem um objetivo mais amplo, de
bem estar geral.
Como exemplo da paisagem da prevenção está a reunião com grupo de idosos no
qual a agente de saúde disse funcionar o hiperdia, isto é, um grupo que discute sobre
formas de evitar e melhorar as condições de saúde de quem já está com hipertensão e
diabetes. Está centrado na doença. Outra paisagem da prevenção seria o atendimento à
recomendação do agente de saúde no que diz respeito a colocar garrafas com a
abertura para baixo.
Com relação à paisagem da promoção pode-se citar a praça construída pela
EMLURB, a qual, além de servir como espaço de descanso, reunião de pessoas e até
pequenas festas, foi construída com material e técnica da EMLURB, mas a mão-de-
obra foram os próprios moradores, que afirmam ter orgulho desta modificação na
comunidade. Outro exemplo é a criação da biblioteca dentro da própria unidade, a qual
se caracteriza por um espaço no qual se tem a possibilidade de melhorar o
conhecimento, mas também o vínculo entre o usuário e a equipe.
174
A foto 35 é da parte de trás do quintal de uma senhora aposentada que tem dois
filhos, passa o dia todo em casa e está sempre preocupada com a limpeza. Pelo
comportamento da moradora, a limpeza parece que já fazia parte de sua vida, mas com
a orientação do agente de saúde seu comportamento passou a estar direcionado à
prevenção de doenças. O fato da moradora atender a recomendação de colocar as
garrafas de vidro com a abertura para baixo, não significa exatamente que ela estaria
modificando ações para atingir um bem estar geral, mas ainda voltada para não
acumular água e ter um criadouro do mosquito aedes em sua residência. E isso se
refletiu na fala da moradora quando ressaltou as ações que havia realizado de acordo
com a recomendação do agente, uma delas foi elevar o piso da casa para que, quando
chover, não entre água misturada com esgoto dentro da casa dela. Outra atitude foi a
colocação de um filtro para tratar a água, além disso, também passou a lavar
periodicamente os recipientes de água, dentre outras atitudes.
A foto 36 corresponde à área de trás da USF Poço da Panela. Nesta área, a equipe
se reúne uma vez por semana e nos outros dias o local pode ser utilizado pelos
35. Quintal limpo e garrafas com abertura
para baixo
Data/ local: 20/03/2007 – Caranguejo e
Tabaiares.
Foto: Severino Silva
36. Biblioteca que funciona na USF
Data/ local: 17/04/2007 – Poço da Panela.
Foto: PEREIRA, MPB.
175
estudantes ou qualquer pessoa que queira utilizar o espaço para leitura. De acordo com
a agente de saúde, está servindo para fazer trabalhos e também para que a equipe
interaja melhor com o usuário, tornando o vínculo entre a equipe e a comunidade ainda
mais forte. Esta seria uma atitude mais relacionada à promoção da saúde no sentido de
promover um bem estar geral.
Ao contrário da paisagem apresentada pelo agente como sendo da promoção da
saúde, também foi apresentada a paisagem do risco. Os elementos visualizados nesta
estiveram relacionados aos temas “ações desarticuladas entre a equipe e a localidade”
(seriam conflitos em graus variados que atrapalham o bom desenvolvimento do
trabalho); “localização/situação” (situações de perigo em determinado território);
“saneamento” (higiene corporal e ambiental, serviços de saneamento, etc); “doenças
referidas”; “elementos da natureza e ações no ambiente”; “fauna destacada” (vetores
que podem prejudicar de alguma forma a saúde, como barata, escorpião, rato, etc);
“ocupação recente” (que pode interferir na saúde da população) e; “habitação”
(condições de habitabilidade) (quadro 27).
QUADRO 27
NÍVEIS ESCALARES DE PERCEPÇÃO DA PAISAGEM DE RISCO PARA A POPULAÇÃO ATENDIDA POR PARTE DOS
AGENTES DE SAÚDE DA ESF E PSA NA CIDADE DO RECIFE
- PE
NÍVEL REGIONAL
LE
TR
A
TEMA N ELEMENTOS A SEREM OBSERVADOS TIPO DE RISCO
1
Esgotamento: presença de esgoto no rio,
nos canais de água pluvial, água do canal
com tonalidade muito escura. (PSA)
Contaminação do rio/ canal, doenças
relacionadas ao contato com esgoto
(doenças de veiculação hídrica).
C
Saneamento
2
Lixo: bueiro (impedindo a passagem de
água), canal (restos de comida, sacos de
lixo, objetos grandes de uso domiciliar,
objetos descartáveis, etc), no rio (PSA)
Doenças relacionadas à presença de
lixo.
3
Rua que ultrapassa os limites da área da
agente, extremamente silenciosa, que não
passa quase ninguém e só tem casas de um
lado da rua, sendo o outro ocupado por
mata e após o rio Capibaribe; há expressão
de medo das pessoas. (ESF)
Estupro, assalto.
B
Localização/ situação
4
Falta de ação intersetorial: boca de lobo
sem tampa há mais de um ano, canal sem
manutenção.
Descrédito da ação do Estado
176
QUADRO 27 (CONT.)
NÍVEIS ESCALARES DE PERCEPÇÃO DA PAISAGEM DE RISCO PARA A POPULAÇÃO ATENDIDA POR PARTE DOS
AGENTES DE SAÚDE DA ESF E PSA NA CIDADE DO RECIFE
- PE
NÍVEL DA ÁREA DE TRABALHO
LE
TR
A
TEMA N ELEMENTOS A SEREM OBSERVADOS TIPO DE RISCO
5
Área que acumula lixo: plásticos, garrafas,
bacia sanitária, garrafas pet, garrafas de vidro,
mesa, cadeira de plástico, carroça de mão,
pneus, cheiro de lixo orgânico.
Doenças decorrentes do contato com o
lixo, presença de vetores.
6 Lajes do Estádio do Sport: acúmulo de água
Proliferação do mosquito Aedes
Aegypti
7
Esgoto a céu aberto, encharcamento da rua
com esgoto impedindo a passagem na rua
Doenças relacionadas ao contato com
o esgoto.
C
Saneamento
8
Fossa aberta; Fossa próxima do muro cheio de
frestas.
Atrai baratas e escorpiões.
A
Ações
desarticuladas entre
a equipe e a
localidade
9
Rostos de agentes de saúde temerosos e
revoltados quando estão com a equipe de
trabalho.
Prejuízo no bom atendimento dos
moradores
G
Ocupação recente 10
Ocupação da margem do Capibaribe:
delimitação das áreas de cada família com
pedaços de madeira, papelão, plástico, lona,
lama, muitas crianças, muita tensão no rosto
das pessoas, martelos, pregos, barulho devido
à agitação das pessoas.
Doenças contagiosas de variados tipos;
possíveis situações de violência.
F
Fauna destacada
pelos agentes
11 Caramujo africano: visto num poste
Se estiver infectado, pode transmitir
doenças.
12
Rua em que há pessoas que vivem do assalto –
há expressão de tensão ao falar com os
moradores, muitas pessoas desocupadas, área
de tráfico de drogas, tensão, olhares
desconfiados
Assalto, violência.
B
Localização/
situação
13
Escadaria de barro escorregadia; buracos na
calçada
Caminho inseguro
NÍVEL PERIDOMICILIAR
LET TEMA N ELEMENTOS A SEREM OBSERVADOS TIPO DE RISCO
E
Elementos na
natureza e ações
nesse ambiente
14
Presença de pedreira, além do barulho que é
intenso.
Poluição sonora, doenças respiratórias,
stress.
15
Lixo: Quintais (restos de comida, entulhos),
terrenos baldios (entulhos, objetos de variados
tamanhos), sucata (mal acondicionamento do
material recebido), entorno da palafita (lixo no
rio)
Criadouro de ratos, baratas e
dependendo do tipo de lixo, escorpião,
dentre outras pragas urbanas.
16
Acúmulo de água em Quintal de casas
ocupadas ou abandonadas, terrenos baldios:
acúmulo de água em objetos de variadas
formas e tamanhos (tonéis, caixas d’água,
estantes velhas, pote de margarina, objetos
grandes de sucata, etc), quintal sujeito a
inundação, piscina sem uso, água em subsolo.
Proliferação do mosquito Aedes
Aegypti
17
Mau acondicionamento d’água (tonéis, caixa
d’água).
Proliferação do mosquito Aedes
Aegypti, contaminação da água,
doenças de veiculação hídrica por
ingestão.
18
Poço de água potável com infiltração de
esgoto; tubulação de água sujeita à infiltração.
Contaminação da água; Doenças de
veiculação hídrica (por ingestão).
19
Fossa obstruída, solo encharcado com esgoto,
esgoto que obstrui a passagem do morador,
esgoto à céu aberto em terreno baldio.
Doenças relacionadas ao contato com
o esgoto; Contaminação do solo.
C
Saneamento
20
Distância entre o limite da casa com o muro
do vizinho pequeno demais para limpar.
Distância entre o limite do banheiro e duas
casas que está pequeno demais para limpar/
Tanque com frestas mal acabado.
Possível criadouro de escorpião e
outras pragas urbanas.
177
QUADRO
27 (CONT.)
NÍVEIS ESCALARES DE PERCEPÇÃO DA PAISAGEM DE RISCO PARA A POPULAÇÃO ATENDIDA POR PARTE DOS
AGENTES DE SAÚDE DA ESF E PSA NA CIDADE DO RECIFE
PE
NÍVEL PERIDOMICILIAR (FIM)
LET TEMA N ELEMENTOS A SEREM OBSERVADOS TIPO DE RISCO
21
Banheiro para 5 casas/ lavatório comum para
um prédio.
Doenças de pele contagiosas etc.
C
Saneamento
22
Construção com material aproveitado
(construção do muro)
Proliferação de pragas urbanas
23
Caramujo africano: visto na calçada da frente de
uma casa, na árvore e em frestas de muros
Se estiver infectado, pode transmitir
doenças
24
Criação de animais (peru, galinha) associado a
restos de comida no quintal.
Doenças transmitidas por esses animais/
atração de ratos
25 Presença do Aedes Aegypti Dengue
F
Fauna destacada
na área pelos
agentes
26 Fezes de animal Verminoses
27 Movimentos de massa (quedas de barreiras)
Diminuição do terreno. Pessoas feridas,
morte.
B
Localização/
situação
28 Roubo (grupo roubando oficina abandonada)
Sensação de que o ambiente está
inseguro.
NÍVEL DOMICILIAR/ ESTABELECIMENTO (COMERCIAL OU INDUSTRIAL)
LET TEMA N ELEMENTOS A SEREM OBSERVADOS TIPO DE RISCO
29
Entulho, restos de alimentos, poeira em
excesso
Presença de vetores dentro do domicílio,
doenças respiratórias
30
Casa sem porta (a entrada está fechada por
uma grade e um lençol)
Presença de vetores dentro do domicílio.
31
Esgoto: palafitas que jogam seu esgoto
diretamente no rio
Mal cheiro dentro da residência
32
Base da casa com tijolos sem reboco e repleto
de pequenos orifícios
Criadouro de escorpião e outras pragas
urbanas
C
Saneamento
33 Laje descoberta Proliferação do mosquito Aedes Aegypti
34
Pessoas desmaiando, passando mal,
incomodadas devido à troca de receita pela
nova médica, discordância de procedimentos
entre a médica e a agente de saúde
Surgimento de outras doenças; no
extremo, casos de mortes.
35
Visita extra no domicílio para cobrar que a
mãe pese e meça a altura do filho
Perda de benefício se a informação não
for dada em tempo (Bolsa família, bolsa
escola, etc.)
A
Ações
desarticuladas
entre a equipe e a
localidade
36
Desentendimento entre o agente de saúde e o
morador/ comerciante
Não atendimento às orientações
37 Presença de vetores: fezes de rato num balde Leptospirose
F
Fauna destacada
na área pelos
agentes
38
Gato: estava próximo aos pães a serem
vendidos na padaria local
Doenças das quais o gato pode ser
transmissor; contaminação de alimentos
H
Habitação 39
Moradia em condições sub-humanas (em
baixo da ponte entre DS III e IV, nas palafitas)
Excesso de umidade, mais perto de
pragas urbanas como ratos, baratas etc.
NÍVEL DO CORPO
LET TEMA ELEMENTOS A SEREM OBSERVADOS TIPO DE RISCO
40
Doenças diarréicas devido parasitas
(verminose): crianças abatidas, fracas e com
baixa de peso
Indicativo de saneamento ou alimentação
inadequados
41 Escabiose: afecções na pele
Indicativo da falta de higiene com o
corpo ou um abastecimento d’água
deficiente
C
Saneamento
42
Feridas nas pernas nas pessoas que moram
próximas à área de acúmulo de lixo e lidam
com o lixo.
Doenças decorrentes do contato direto
com o lixo.
178
QUADRO 1 (CONT.)
NÍVEIS ESCALARES DE PERCEPÇÃO DA PAISAGEM DE RISCO PARA A POPULAÇÃO ATENDIDA POR PARTE DOS
AGENTES DE SAÚDE DA ESF E PSA NA CIDADE DO RECIFE
- PE
NÍVEL DO CORPO (FIM)
LET TEMA ELEMENTOS A SEREM OBSERVADOS TIPO DE RISCO
43
O paciente não tem a posse dos exames que
foram realizados
Não saber o que ocorre no seu corpo
A
Ações
desarticuladas
entre a equipe
e a localidade
44
Recomendações médicas não atendidas (postura,
quantidade de remédios que restam)
Piora do agravo, risco de morte.
45
Transtorno mentais e comportamentais: a) rosto
que expressa sentimentos desconexos com a
realidade; b) objetos desconexos com a realidade
Possíveis situações de violência dentro
da família, insegurança
46
Transtorno mentais e comportamentais devido ao
uso de múltiplas drogas e ao uso de outras
substâncias psicoativas
Possíveis situações de violência dentro
da família, possibilidade de
desaparecimento de objetos dentro de
casa, insegurança.
47
Esquizofrenia: a) rosto que expressa sentimentos
desconexos com a realidade; b) objetos
desconexos com a realidade; c) alucinação; d)
mania de perseguição; e) apatia
Possíveis situações de violência dentro
da família, insegurança familiar,
discussões.
48
Doenças do aparelho circulatório (cansaço,
dificuldade para falar, hipertensão)
Derrame, trombose, etc.
49 IRA: tosse, anorexia, coriza nasal e cianose
Crise alérgica e outros problemas
decorrentes de doenças respiratórias.
50
Alcoolismo: vômitos pela manhã; dores
abdominais; diarréias.
Gastrites; aumento do tamanho do
fígado; pequenos acidentes que
provocam contusões; esquecimentos
mais intensos.
51
Diabetes: a) bebe água excessivamente; b) vai ao
banheiro várias vezes; c) levanta várias vezes à
noite para fazer xixi; d) fadiga; e) feridas e
machucados que não curam, ocorrem
principalmente nos pés e nas mãos.
Perda de membros, cegueira, morte.
52 Gravidez de risco Morte do bebê e/ou da mãe
53
Dengue: a) febre; b) manchas vermelhas na pele;
c) expressão de dor.
Fácil proliferação para a população;
Morte.
D
Doenças
referidas
54
Encefalopatia neonatal (febre, convulsão,
hipertonia de membros superiores e inferiores,
alteração de reflexos, etc.)
Dependência total da família.
Fonte: trabalho de campo realizado entre março e agosto de 2007. Organizado por PEREIRA, MPB. (2008)
Com relação aos agentes da ESF, estes praticamente não saíram de suas áreas de
trabalho durante o percurso, porém observaram uma variedade maior de temas, são
mais atentos aos pontos de referência e contemplam principalmente o tema doenças
referidas (mapas 16 e 17)
19
.
19
Os mapas 16 a 19 são resultado do acompanhamento do trabalho do agente de saúde em sua área de trabalho
(acompanhamento das visitas domiciliares), do que foi apontado no mapa mental, na entrevista individual e no
registro fotográfico.
179
180
181
Os agentes do PSA percorreram tanto sua área de trabalho como a de outros
colegas para tentar observar os problemas mais importantes para o programa. Estão
mais atenciosos com as quadras do que com os pontos de referência, e o tema mais
observado foi saneamento na escala do peridomicílio (mapas 18 e 19).
Percebe-se que alguns fatores influenciaram mais nesse resultado. O primeiro
deles está relacionado à formação, que fornece um perfil profissional característico do
profissional de cada programa. O segundo está interligado ao ambiente em que o
agente de saúde trabalha, fazendo-o observar elementos diferentes, ainda que
relacionados a um mesmo tema. O terceiro faz referência à convivência com outras
territorialidades trazendo para o agente de saúde experiências diferenciadas.
No que diz respeito à formação, percebe-se que esta tem uma influência muito
grande na elaboração do perfil profissional. Um indício forte é a influência do tema e
da escala em que os agentes observam os problemas de forma mais intensa (quadros
28 e 29).
QUADRO 28
ELEMENTOS OBSERVADOS PELOS AGENTES DE SAÚDE DA ESF POR TEMAS E POR NÍVEIS
NÍVEL
TEMA
REGIONAL
ÁREA DE
TRABALHO
PERIDOMICÍLIO DOMICÍLIO CORPO
A. AÇÕES DESARTICULADAS ENTRE A
EQUIPE E A LOCALIDADE
0 1 0 5 2
B. LOCALIZAÇÃO/SITUAÇÃO
1 1 0 0 0
C. SANEAMENTO
0 4 0 2 3
D. DOENÇAS REFERIDAS
0 0 0 0
22
E. ELEMENTOS NA NATUREZA E AÇÕES
NO AMBIENTE
0 0 1 0 0
F. FAUNA DESTACADA PELO AGENTE
0 1 1 2 0
G. OCUPAÇÃO RECENTE
0 1 0 0 0
H. HABITAÇÃO
0 0 0 0 0
TOTAL
1 8 2 9
27
Fonte: Trabalho de campo realizado entre março e abril de 2007 nas localidades Caranguejo/Tabairares e Poço
da Panela/ Organizado por PEREIRA, MPB (2008).
182
QUADRO 29
ELEMENTOS OBSERVADOS PELOS AGENTES DE SAÚDE DO PSA POR TEMAS E POR NÍVEIS
NÍVEL
TEMA
REGIONAL
ÁREA DE
TRABALHO
PERIDOMICÍLIO DOMICÍLIO CORPO
A. AÇÕES DESARTICULADAS ENTRE A
EQUIPE E A LOCALIDADE
0 0 0 2 0
B. LOCALIZAÇÃO/SITUAÇÃO
1 2 2 0 0
C. SANEAMENTO
5 7
40
2 0
D. DOENÇAS REFERIDAS
0 0 0 0 1
E. ELEMENTOS NA NATUREZA E AÇÕES
NO AMBIENTE
0 0 0 0 0
F. FAUNA DESTACADA PELO AGENTE
0 0 6 0 0
G. OCUPAÇÃO RECENTE
0 0 0 0 0
H. HABITAÇÃO
0 0 0 2 0
TOTAL
6 9
48
6 1
Fonte: Trabalho de campo realizado entre março e abril de 2007, nos bairros de Ilha do Retiro e Monteiro/
Organizado por PEREIRA, MPB (2008).
Dentre esses temas, destacaram-se para a ESF a “relação dentro da equipe e entre
a equipe e o usuário” (no nível domiciliar) e as “doenças referidas” (no nível do
corpo). Já para o PSA, os temas mais mencionados foram “saneamento” e “fauna
destacada” (ambos no nível do peridomicílio). Temas e níveis intrinsecamente
relacionados ao que está sendo cobrado na prática de trabalho. Os outros assuntos e em
outros níveis escalares foram pouco mencionados, e quando enfatizados foi geralmente
através de um comentário informal.
Contudo, estes agentes observam também elementos fora dessa escala com menor
freqüência, a exemplo de Larissa que, ao observar determinado tipo de doença,
associou-o ao ambiente em que essa pessoa morava: próximo a um ponto crítico de
acumulação de lixo.
Outro grande influenciador da percepção desta paisagem está relacionado ao
ambiente em que o agente de saúde trabalha. Por exemplo, Nâna e Severino, ao
observarem elementos relacionados ao tema saneamento; destacaram o elemento
“esgoto sanitário” em várias escalas de observação. Germano, devido trabalhar numa
área em que há muitos problemas com relação às edificações e fossas (construções que
atraem e propiciam a proliferação de vetores), assim como às áreas inclinadas
(acúmulo de lixo e despejo de esgoto a céu aberto nesse trecho do terreno), observou
elementos mais relacionados a esses temas. Enquanto Larissa, devido sua área ter
esgoto condominial, o item saneamento é visualizado com relação ao lixo, sujeira no
peridomicílio, domicílio ou falta de asseamento do corpo.
183
184
185
O terceiro e último grande influenciador tem a ver com as ações implementadas
na área por vários grupos de pessoas, seja morador, equipe de programa de saúde,
ONG ou outro. Como exemplo, pode-se citar que na área de Larissa há uma
multiterritorialidade articulada, na qual os agentes de saúde estão engajados com a
associação de moradores, e que, por sua vez, está participando do orçamento
participativo, política pública implementada na cidade, tornando esta comunidade mais
bem dotada de infra-estrutura. Já nas áreas de Nâna e Severino, há um grande número
de líderes, proveniente de ONGs, associação de moradores, outros grupos paralelos,
equipes de programas relacionados à saúde, e estes dificilmente conseguem juntar
forças para exercer uma territorialidade, configurando-se em uma multiterritorialidade
desarticulada e uma comunidade frágil do ponto de vista da estrutura urbana.
Com relação às ações implementadas pelos agentes de saúde nas áreas e suas
conseqüentes territorialidades, será colocada uma análise sobre o assunto a seguir.
b) Desenvolvimento da “autonomia” no ambiente de trabalho:
Resgatando os argumentos apresentados no segundo capítulo, a autonomia é
melhor desenvolvida no ambiente de trabalho quando há um projeto coletivo por parte
do agente de saúde, o qual, a partir deste projeto coletivo, tem condições de assumir
um discurso próprio (auto-gestão) e utilizá-lo para favorecer a discussão e/ou a ação
consciente sobre como aproveitar os vários tipos de normas para benefício coletivo,
viabilizando a formação de uma sociedade mais autônoma.
Da mesma forma, quando se considera alguns autores que estudam a
territorialidade humana, estes buscam demonstrá-la a partir de uma problemática
segundo a qual é colocada em jogo as próprias ações humanas no espaço, seja a partir
de exemplos práticos da vincia no urbano (LEFEBVRE, 2001), da consolidação das
ações em vários momentos históricos (SACK, 1986) ou das várias possibilidades
práticas de territorialidades na atualidade (HAESBAERT, 2004).
O ponto de convergência destes dois conceitos (autonomia e território) está no
fato de que ambos são observados através das ações. Quando essas ações são capazes
de transformar o espaço geográfico de alguma forma pode-se dizer que se estaria
exercendo uma territorialidade.
186
Contudo, como neste caso se considera a territorialidade exercida por pessoas,
essas modificações não são através do domínio (mudança completa de um
determinado território), mas a partir da apropriação (LEFEBVRE, 1992), na qual as
estratégias utilizadas “estabelecem diferentes graus de acesso a pessoas, coisas e
relacionamentos” (SACK, 1986, p. 20).
Pode-se então inferir que o sujeito se apropria do território quando ele conhece,
percorre, tem acesso às pessoas e aos objetos (locais específicos dentro da área de
trabalho), mas também quando realiza parcerias exercendo uma multerritorialidade
articulada. Essas parcerias podem ocorrer na própria escala onde ele exerce influência,
ou se apropriar de idéias presentes em outras escalas geográficas. Essa apropriação é
fraca ou inexistente quando o sujeito tem grandes limitações de acesso à área e às
pessoas e as parcerias são dificultadas por multiterritorialidades desarticuladas.
A territorialização à qual se está fazendo referência é realizada a partir de dois
vieses: o primeiro, pelo poder do Estado, a partir do cargo que o sujeito exerce (o
agente de saúde); o segundo a partir da ação do sujeito, enquanto cidadão, que se
utiliza da liderança exercida (seja através do cargo ou de outra função exercida na
área) para influenciar na ação das pessoas. Assim sendo, a autonomia e, por
conseqüência, a territorialização do agente de saúde são observadas a partir de
algumas ações realizadas pelos mesmos em suas áreas de trabalho com o intuito de
melhorar as condições de vida ou de saúde dos moradores.
Nesse contexto, consideram-se as influências do agente de saúde enquanto
profissional, cujo exercício de sua territorialidade se efetiva com ou sem o apoio da
prefeitura ou equipe de trabalho, porém segundo as normas do poder público
municipal. Em seguida consideraram-se as ações exercidas pelo agente de saúde
enquanto cidadão, o qual se utiliza de uma posição de liderança para agir em prol de
melhorias no local onde trabalha. Tem-se assim a consideração de pelo menos dois
tipos de territorialidades: uma exercida pelo agente de saúde enquanto profissional e
outra exercida pelo agente de saúde enquanto cidadão.
O resgate e a observação dessas práticas sócio-espaciais originaram-se a partir de
entrevistas individuais, elaboração de mapa mental registro fotográfico, observação
187
participante, entrevista com grupo focal e material entregue pelos agentes de saúde
durante o trabalho de campo.
No que diz respeito à apropriação do território pelo profissional considerou-se as
situações reais em que o agente de saúde teve de fato condições de exercer essa
apropriação de alguma maneira.
Considerando os ACS, estes conseguiram resultados positivos diante das
problemáticas relacionadas à qualidade do serviço de saúde, uma vez que
influenciaram positivamente na resolução de problemas que beneficiaram o morador/
paciente e em momentos em que o morador apresentou uma situação de saúde
vulnerável. Já com relação às ações realizadas, estas foram positivas quando o agente
buscou parcerias com a prefeitura (serviços especializados, instituições que fazem
parceria com as USF ou distrito sanitário), assim como a ação de conversar
diretamente com o responsável (morador, médico, direção do distrito, etc) no sentido
de mudar atitudes que possam beneficiar o morador, seu ambiente e,
conseqüentemente, o espaço geográfico. Os únicos recursos disponíveis para o ACS
enquanto profissional estão vinculados a qualquer setor da prefeitura e aos seus
recursos pessoais (modelo explicativo 2).
Sendo os recursos disponíveis extremamente limitados para o ACS enquanto
profissional suas ações são reduzidas à resolução de problemas pontuais dentro dessas
temáticas que também são limitadas quando comparadas com os problemas que os
ASAS lidam no dia-a-dia de trabalho, como se verá a seguir.
MODELO EXPLICATIVO 2
INFLUÊNCIA DA AÇÃO DO ACS ENQUANTO PROFISSIONAL NO ESPAÇO GEOGRÁFICO
Fonte: Trabalho de campo realizado entre março e novembro de 2007. Organizado por PEREIRA, MPB (2008).
Considerando agora os ASAs enquanto profissionais, estes conseguiram
resultados positivos quando observaram problemas relacionados ao ambiente saudável
188
(acúmulo de água, ambiente vulnerável, presença de vetor, qualidade da água para o
consumo), no qual as questões da saúde ambiental e do conhecimento do território de
trabalho passam a ser tema central; situação do morador e as relações entre este e o
agente (educação em saúde, problema econômico do morador) tendo como foco as
relações interpessoais no qual o poder de convencimento e as parcerias são
instrumentos para se chegar ao ambiente saudável e; o método de trabalho (mudança
do formato do relatório), atitude esta que demonstra uma auto-gestão por parte do
agente de saúde que, para potencializar uma informação, é capaz de questionar e
modificar a maneira de apresentar determinada informação, dentro de seu grau de
autonomia no sistema de saúde municipal (modelo explicativo 3).
Neste caso, as limitações estão na falta de cooperação da população com relação
à persistência em atitudes que podem causar algum problema à sua própria saúde; à
falta de apoio do governo municipal no sentido de planejar e realizar ações mais
próximas à realidade de cada distrito, bairro e rua atendida; à intersetorialidade falha,
prejudicando projetos elaborados pelos agentes, projetos esses que precisam da ajuda
de outros setores da prefeitura e a complexidade de problemas que envolvem uma
comunidade.
Partindo agora da perspectiva da atuação do agente enquanto cidadão percebe-se
que há o suprimento de muitas das limitações a eles impostas enquanto profissional.
Quando se trata do ACS como cidadão, este tem possibilidade de recursos mais
variados, dessa forma, suas ações também podem ser ampliadas e serem resolvidos
problemas mais diversificados. Assim sendo, os tipos de problemas que foram
passíveis de solução de acordo com relatos estão relacionados diretamente ao morador
(situação de saúde vulnerável, problemas variados da comunidade, sócio-educacionais
e econômicos), já que em geral é um dos temas que mais motiva o ACS a agir;
situações mais específicas do agente de saúde enquanto uma liderança dentro da
comunidade (necessidade de acúmulo de conhecimentos e de buscar parcerias),
trazendo como trunfo o desenvolvimento de competências e habilidades e; situações
relacionadas a um ambiente vulnerável, para as quais o ACS está sempre buscando
solução para que a situação de saúde do morador seja melhorada (modelo explicativo
4).
189
MODELO EXPLICATIVO 3
INFLUÊNCIA DA AÇÃO DO ASA ENQUANTO PROFISSIONAL NO ESPAÇO GEOGRÁFICO
Fonte: Trabalho de campo realizado entre março e novembro de 2007. Organizado por PEREIRA, MPB (2008)
De acordo com as informações do trabalho de campo, os impedimentos do ACS
enquanto cidadão estão relacionados à falta de recursos da instituição solicitada (seja
prefeitura, ONG, etc), inviabilizando projetos e reivindicações; desentendimentos
entre lideranças, formando-se uma multiterritorialidade desarticulada e tendo por
conseqüência a não efetivação de ações que poderiam ser desenvolvidas no local;
improbidade por parte de alguns moradores que se mostram mais carentes do que são
para conseguir benefícios dos agentes enquanto liderança comunitária; envolvimento
excessivo com os problemas da comunidade, fazendo com que o ACS adoeça,
impedindo a solução ou pelo menos a minoração de problemas.
190
MODELO EXPLICATIVO 4
INFLUÊNCIA DA AÇÃO DO ACS ENQUANTO CIDADÃO NO ESPAÇO GEOGRÁFICO
Fonte: Trabalho de campo realizado entre março e novembro de 2007. Organizado por PEREIRA, MPB (2008).
Quando se considera o ASA como cidadão este também consegue ampliar as
possibilidades de resolução de problemas devido sua maior autonomia para agir. De
acordo com o resultado do trabalho de campo, os tipos de problemas que tiveram
maior grau de resolutividade correspondem a situações relacionadas a um ambiente
vulnerável, uma vez que está diretamente relacionado à sua atividade profissional;
necessidade do ASA conhecer melhor a área de trabalho, uma vez que este geralmente
não reside no local onde trabalha, sendo mais demorado o acesso e controle do
território através da criação de vínculos e do conhecimento dos problemas peculiares
de cada domicílio e rua atendida; necessidade de educação em saúde para o morador,
em que o ASA trabalha de forma criativa através de peças teatrais, músicas e
animações diversas para sensibilizar os componentes dos domicílios quanto à
191
necessidade de um ambiente saudável e; problemas sócio-educacionais, os quais
associados ao conhecimento obtido em curso de graduação, foram possíveis de serem
trabalhados a partir da alfabetização de adultos e com isso ter ainda mais
possibilidades de sensibilizar este grupo específico (modelo explicativo 5).
MODELO EXPLICATIVO 5
INFLUÊNCIA DA AÇÃO DO ASA ENQUANTO CIDADÃO NO ESPAÇO GEOGRÁFICO
Fonte: Trabalho de campo realizado entre março e novembro de 2007. Organizado por PEREIRA, MPB (2008)
As restrições relatadas pelos ASAs quanto à sua atuação como cidadão estão
vinculadas à falta de recursos de órgãos indiretamente ligados à secretaria de saúde
(EMLURB, COMPESA, por exemplo) dificultando ações relacionadas ao saneamento
e manutenção da infra-estrutura em geral, o que resulta na manutenção de um
ambiente vulnerável; à dificuldade de apoio na divulgação e criação de mecanismos
que ao mesmo tempo sensibilize a população em relação à educação em saúde e gere
renda, como é o caso de projetos de reutilização e reciclagem de materiais com vistas a
retirar lixo do ambiente, mas que por falta de divulgação e de feiras itinerantes não tem
uma propagação da idéia na íntegra; à falta de vínculo entre os ACS e ASAs, fazendo
com que haja uma relação de desconfiança e estranhamentos, dificultando ações
conjuntas e; falta de apoio por parte do próprio Distrito Sanitário em projetos de
192
educação em saúde que demandem verba ou tempo disponível para atividades
educativas.
Assim sendo, observando os modelos explicativos relativos à influência da ação
dos agentes de saúde enquanto profissional e cidadão no espaço geográfico, percebe-se
que há diferenças tanto entre os programas quanto com relação à forma de inserção
deste sujeito no espaço geográfico (trabalhador ou cidadão).
O ACS enquanto trabalhador possui pouca autonomia e maior limitação de
recursos disponíveis, resultando em uma apropriação do território extremamente
limitada. Já os ASAs, também exercendo o cargo de agente de saúde, possuem mais
autonomia devido à diversidade de recursos e à maior variedade de problemas
resolvidos.
Como cidadão ocorre o efeito contrário. Devido ao vínculo afetivo com a área de
trabalho (pois o ACS mora onde trabalha) e ao maior engajamento político, os ACS
têm mais autonomia tendo capacidade de resolver uma maior variedade de problemas,
ainda que os recursos disponíveis tanto para o ACS quanto para o ASA sejam
semelhantes.
c) Desenvolvimento da experiência com o espaço geográfico e representação do
ambiente de trabalho:
Na análise do desenvolvimento da competência domínio da linguagem
cartográfica no trabalho, a partir da experiência com o espaço geográfico e sua
representação, considere-se como fator importante tanto o manuseio, devido a
necessidade de se localizar e locar informações no mapa, como a própria elaboração
do mapa, pois se considerando que há modificações no espaço geográfico, as
atualizações são constantemente necessárias. Desta forma, considerou-se
principalmente a dimensão objetiva ou técnica do domínio da linguagem cartográfica.
No que se refere ao manuseio, a análise permitiu observar a opinião do agente
sobre a utilização dos mapas, estando a principal preocupação relacionada a identificar
a maneira como ele utiliza e fala dos mapas.
193
Com relação à utilização dos mapas, durante a entrevista com grupo focal, os
agentes da ESF afirmaram sua importância tanto para o controle do espaço quanto para
localizar pontos de risco, enquanto os agentes do PSA afirmaram que utilizar os mapas
se faz importante para o reconhecimento inicial da área, enfatizando a necessidade de
atualização constante.
No que diz respeito à visita a campo com Larissa, Nâna, Germano e Severino
Silva, foi possível observar que as idéias acima apresentadas estão presentes apenas
parcialmente, pois o controle do território apontado pelos agentes da ESF não ocorre
com o uso dos mapas, mas com a área que está em sua memória. Já com relação aos
agentes do PSA, foi reforçada a idéia inicial de que eles utilizam o mapa para o
reconhecimento inicial da área, no começo da atividade profissional, embora afirmem
que não precisam de tal uso ao justificarem que “já têm o mapa na cabeça”, assim
como os agentes da ESF.
Apesar de não estarem usando os mapas no seu dia-a-dia de trabalho, ao rever o
mapa de suas áreas na ocasião desta pesquisa, os agentes Larissa, Germano e Severino
Silva identificaram erros proporcionais de objetos no mapa. Este fato denota a
capacidade dos mesmos de apropriação do território durante o exercício das atividades,
em formar na mente um domínio ou controle espacial da área onde atuam.
Ainda sobre o desenvolvimento do domínio da linguagem cartográfica no
ambiente de trabalho, os agentes foram questionados sobre a elaboração dos mapas.
Inserido neste tema eles foram observados e inquiridos com relação à maneira como
fala ou elabora o mapa; a classificação dos mapas quanto à projeção, assim como
quanto à proporcionalidade, além da diversidade de elementos, que para o estudo
foram agrupadas em categorias de elementos presentes. Os mapas considerados nesta
etapa foram os desenhados livremente, uma vez que foi solicitado apenas que os
agentes desenhassem sua área do jeito que se lembram.
Apesar de terem sido entrevistados seis agentes de saúde, quatro relacionados à
visita na área e dois dos que participaram na entrevista com grupo focal (ACS em ação
e Lampião) e a todos ter sido pedido o desenho do mapa, considerou-se para esta
análise apenas os agentes com quem foi possível conviver na área de trabalho. Tal
194
escolha se justifica na medida em que a análise dos mapas mentais foi completada com
outros tipos de informações, sendo possível uma análise mais condizente com a
realidade. Para descrever o processo de elaboração dos mapas e seus comentários foi,
portanto, analisado cada agente de saúde visitado em campo.
Larissa, para desenhar sua área de trabalho iniciou pela igreja, sendo este objeto
uma das figuras mais destacadas no desenho. Logo em seguida afirmou que desenhou
inicialmente a igreja porque a religião se constitui a coisa mais importante em sua
vida, mas que não poderia esquecer do lixão, que é a parte mais problemática de sua
micro-área. Também comentou que já havia elaborado um mapa mental da área no
Curso de Técnico de Agentes Comunitários de Saúde. Esse fato contribuiu para que a
elaboração do mapa neste momento fosse facilitada.
Nâna demonstrou uma enorme resistência para desenhar o mapa mental da sua
área, afirmou inclusive que sempre que isso é necessário, se for possível, ela faz o
trabalho em grupo para que um dos membros do grupo possa desenhar para ela.
Durante a elaboração, Nâna reafirmou várias vezes que não sabia representar o que
estava em sua mente.
Germano também demonstrou resistência para desenhar, ficou temeroso com o
que ficaria representado, pois afirmou que não tinha essa habilidade. Disse que
imagina a área, sabe chegar a qualquer lugar de olhos fechados, mas não sabe elaborar.
Por fim, Severino Silva, embora tivesse tido uma resistência inicial, pedindo,
inclusive para fazer o mapa em casa, fez rapidamente o desenho do mesmo. Foi
negada essa possibilidade ao agente devido a metodologia escolhida, segundo a qual
todos os agentes deveriam elaborar no momento em que fosse pedido, sem auxílio do
mapa técnico, e com um tempo médio semelhante para elaboração.
Quanto à projeção, como já mencionado no capítulo 2, foram observadas as
várias perspectivas em que são vistos os objetos. Desta forma, ao observar as figuras,
percebe-se que apenas as ACS desenharam objetos misturando pontos de vista (frontal
e vertical) ao elaborarem seus mapas mentais, (figuras E e F). Já os ASAS desenharam
seus mapas com ponto de vista vertical (figuras G e H) demonstrando maior
familiaridade com o desenho técnico de mapas.
195
No que diz respeito à proporção, verifica-se a redução proporcional, quanto à
situação dos objetos uns em relação aos outros, ou seja, é observada a localização
relativa entre os elementos do mapa. Neste caso pode-se observar que, quanto mais
perpendiculares forem as correspondências entre o mapa técnico e o mapa mental,
mais proporcional será o desenho feito pelos agentes.
As ACS em geral atingiram certa proporcionalidade, tendo como base pontos de
referência da vida cotidiana (figuras E e F). Os ASAs também atingiram a
proporcionalidade, porém seus pontos de referência correspondem às quadras
trabalhadas, e em alguns casos ocorreram distorções, como foi o caso de Germano
quanto às quadras 16 e 17, e Severino na relação entre as quadras 4 e 11, que
prejudicou a localização proporcional das quadras 1, 2 e 3 (figuras G e H). Pode-se
inferir que a falta de pontos de referências da vida cotidiana, a menor familiaridade
com a área de trabalho do que as ACS ou a extensão da área de trabalho tenham
influenciado neste fator.
Com relação aos elementos presentes, os mapas foram classificados segundo os
elementos neles predominantes, tais como saneamento, que agrega elementos como
acúmulo de lixo; situação/ localização, que relaciona, por exemplo, a localização de
quadras, ruas e números de quadras; elementos da natureza e ações no ambiente, em
que se consideram a presença de árvores, rios, dentre outros e; pontos de referência,
estando desta forma demonstrada através de elementos do uso do solo local.
As agentes da ESF elaboraram mapas que continham elementos que se
enquadram em todas essas categorias (figuras E e F). Enquanto que os agentes do PSA
preocuparam-se apenas com os elementos da situação/localização (figuras G e H).
196
197
198
Quanto à projeção, considerando que os desenhos das áreas de trabalho estariam
mais adequados se representados do ponto de vista vertical, os agentes do PSA
elaboraram melhor o mapa segundo a projeção, estando todas as perspectivas do ponto
de vista vertical.
No que diz respeito à redução proporcional, tendo por base que os melhores
mapas seriam os que conseguissem representar as áreas de trabalho com maior
precisão quanto à localização relativa, os mapas elaborados pelas agentes da ESF
estariam mais próximos da realidade.
E com relação à diversidade de elementos, as agentes da ESF obtiveram melhores
resultados uma vez que esse item é o que mais se aproxima das questões subjetivas.
Elas tiveram, assim, um melhor desempenho na representação por terem colocado
elementos pertencentes a todas as categorias destacadas.
Percebe-se que o fato das ACS terem uma maior familiaridade com a área e sua
área de trabalho abranger uma menor extensão que a área de trabalho do ASA traz
como conseqüência a oportunidade de colocar um número maior de detalhes e seu
interesse ser muito mais apurado quando se trata da comunidade em que trabalha.
Sendo assim, a representação cartográfica dos ACS demonstra um maior domínio da
linguagem cartográfica.
Contudo, quando se trata da projeção, o conhecimento adquirido em experiências
anteriores com mapas, tanto no manuseio quanto na elaboração, permitiu ao ASA ter
melhor desempenho quanto a esse item.
5.2.2
COMPETÊNCIAS DEMONSTRADAS EM UMA SITUAÇÃO DIRIGIDA
A experiência da situação dirigida através da entrevista com grupo focal fez
emergir alguns aspectos importantes quanto às competências relacionadas ao
conhecimento geográfico (domínio conceitual, autonomia e domínio da linguagem
cartográfica).
Com relação ao “domínio conceitual” foi relevante a correlação feita pelos
agentes de saúde sobre o ambiente e as condições de saúde. Tanto os agentes da ESF
quanto do PSA associam o ambiente saudável à melhor qualidade de vida e da auto-
estima, enquanto o ambiente insalubre está associado à piora da auto-estima, das
199
condições de saúde, à falta de saneamento e ao surgimento de atritos entre os
moradores.
Contudo, diante da realidade de trabalho, esse ambiente saudável desaparece em
meio a tantas evidências de um ambiente insalubre. Os agentes da ESF descreveram
que visualizam no seu ambiente de trabalho problemas com o saneamento, situações
que podem prejudicar o equilíbrio psicológico do morador, indícios de condições de
vida precária e costumes que podem interferir no processo saúde-doença. A imagem
visualizada pelos agentes do PSA não é tão diferente, eles detectam problemas com
saneamento ambiental, uma paisagem natural sem conservação, indícios de condições
de vida precária, costumes que podem interferir no processo saúde-doença e problemas
que influenciam no equilíbrio psicológico do morador.
Com relação às imagens colocadas à disposição para eles (imagens pré-
escolhidas pelos agentes na primeira etapa do trabalho de campo realizado com
Larissa, Germano, Nâna e Severino Silva), os agentes de saúde já estavam
direcionados a visualizar um ambiente insalubre, mas esta visão foi ainda mais
reforçada com a descrição elaborada por eles, uma vez que, num primeiro momento,
não foi apresentada a descrição das fotos feita pelos agentes de saúde na área de
trabalho (fotos 37 e 38).
No que diz respeito à foto 37, segundo os próprios ACS, eles a escolheram
devido estar associado a um meio ambiente de doenças. As pessoas nele inseridas não
37. Esgoto no quintal.
Local: Caranguejo/Tabaiares
Data: 19/03/2007.
Foto: Severino Silva.
38. Lixo
acumulado
próximo ao teto.
Local:
Caranguejo/Tabaia
res
Data: 29/03/2007.
Foto: Nâna.
200
respeitam o meio ambiente, não têm orientação, não têm perspectiva de mudanças, não
têm consciência em relação à reciclagem e sofrem com a falta de auto-estima.
Já com relação à foto 38, os ASAs escolheram esta imagem porque ela quebra o
ciclo de vida de um produto (uso – destinação – lixo), pois para eles o lixo passou a
servir como sustentação de um telhado. Para os ASAs o tema que permeia a foto seria
a “reciclagem”, tendo como temas principais a sobrevivência e a miséria.
Algo que atrai a atenção dos agentes de saúde em geral é a questão do lixo
reciclável, que nos dois casos não teve a destinação que os agentes entendem como a
certa, sendo, portanto, alvo de crítica.
Depois de apresentadas as descrições de cada foto
20
, que foram elaboradas pelos
próprios agentes de saúde que registraram a imagem, as palavras associadas à foto 37
foram: miséria, doença, poluição, descaso, falta de saneamento, ceticismo, morte,
auto-estima baixa, desumanização, analfabetismo e detritos. Já com relação à foto 38
foram: artístico, polêmica, debate, surreal, impactante, criativo e ilógica.
Percebe-se que em geral eles apresentam como alvo de crítica os próprios
moradores, quando falam sobre a falta de consciência, e o governo, ao falarem sobre o
analfabetismo, a falta de saneamento e a miséria.
Ainda no contexto da situação dirigida, porém agora em relação à competência
autonomia, foi importante perceber que há consciência por parte dos agentes quanto ao
que é possível resolver na condição de um agente de saúde. Desta forma, ao
escolherem o tema e o problema a serem resolvidos, os ACS o fizeram devido ser um
tema de possível resolução pelos agentes de saúde, ser o problema mais comum no
dia-a-dia deles e estar relacionado a condições de vida precária. Os ASAs escolheram
seu tema e problema porque queriam aproveitar uma situação real, pela importância
para o meio ambiente e por estar de acordo com a necessidade do local (quadro 30).
20
FOTO 37= Comentário de Severino Silva: “Esta água (esgoto) deveria escorrer para o rio, mas está obstruído
devido este lixo”.
FOTO 38= Comentário de Nâna: “O menino é deficiente mental, quando está sem remédio ou a medicação não
está mais adequada ele pega coisas na rua e coloca tudo na parede, dentro de casa. Isso traz problema para
família porque traz angústia, o lixo traz rato, barata e aí traz outras doenças”.
201
QUADRO 30
TAREFA PARA O GRUPO SOBRE AUTONOMIA
TEMA DO PSF: 6. Doenças relacionadas às condições de vida
PROBLEMA: Mais comuns são: verminose, micose, diarréia e IRA.
O QUE FAZER?
Orientação nas visitas e palestra
COMO FAZER?
Com cartazes e folhetos, teatros
QUAIS OS
LIMITES?
Poluição do ar, saneamento, etc.
QUAIS AS
POTENCIALIDADES
Associações, ONG, clubes de mães, orçamento participativo e distrito sanitário.
QUEM FAZ?
QUANDO?
ACS nas visitas, palestras e enfermeiras nas visitas e os médicos e outros órgãos públicos.
COM QUE
RECURSOS
Verba pública e conscientização da comunidade.
TEMA DO PSA: 3. Meio Ambiente
PROBLEMA: Contaminação do lençol freático por óleo comestível
O QUE FAZER?
Conscientizar a população a coletar, armazenar o óleo residual
COMO FAZER?
Recolher junto à comunidade o óleo em questão
QUAIS OS
LIMITES?
A consciência ambiental da população e o transporte
QUAIS AS
POTENCIALIDADES
A oferta de matéria-prima.
QUEM FAZ?
QUANDO?
A comunidade coleta e o agente orienta o fabrico uma vez por semana.
COM QUE
RECURSOS
Recursos próprios, ou seja, autogerência.
Fonte: Trabalho de campo realizado em agosto de 2007. Atividades específicas sobre as competências do agente
de saúde da ESF e do PSA, na cidade do Recife. Total de respondentes: 11./ Organizado por PEREIRA, MPB
(2007)
Em termos de viabilidade do projeto, os agentes do PSA conseguiram
dimensionar melhor todos os itens e neste caso teriam uma maior autonomia e
estariam no nível de interação complexa. Além do mais, de acordo com relatos dos
agentes do PSA, esse projeto já está sendo implantado, portanto há um
dimensionamento real nessa construção teórica.
Individualmente, os agentes da ESF escolheram temas variados para buscar uma
resolução (saneamento ambiental, infra-estrutura, doenças relacionadas aos costumes),
já os agentes do PSA escolheram ‘doenças relacionadas ao meio ambiente’ e a
temática ‘violência’.
Dentre os temas tratados, a relação entre escala e autonomia chamou a atenção
devido o agente de saúde, tanto da ESF quanto do PSA, de fato ter demonstrado a
consciência do que é possível realizar no espaço geográfico em que atuam (quadro 31).
202
QUADRO 31
RELAÇÃO ENTRE ESCALA E AUTONOMIA
GRUPO DE AGENTES DA ESF E PSA GRUPO DE AGENTES DO PSA
Enquanto agente de saúde, enquanto indivíduo eu posso
trabalhar com o óleo comestível, mas outras coisas como o
biodiesel, isso passa por uma escala maior, uma escala de uma
empresa.
Tem situação que tem como
desenvolver um trabalho na
comunidade, como é o caso da
fabriqueta de sabão, os outros a gente
fica só no debate porque fica mais
difícil levar adiante. Então essa é a
contribuição do agente de saúde para
um mundo melhor
Tudo o que você puder fazer pra eliminar o impacto no
ambiente ta valendo. Não importa se o pessoal fica pensando
que o planeta vai acabar ou sobre a camada de ozônio. Eu to
com os pés no chão e estou aqui nesse pedacinho, vou trabalhar
com o sabão que é melhor, que eu alcanço, é o que minha mão
dá pra chegar, eu não posso dar um salto maior do que minha
perna alcança.
Fonte: trabalho de campo realizado em agosto de 2007. Entrevista com grupo focal com agentes da ESF e PSA,.
na cidade do Recife. Total de respondentes: 11/ Organizado por PEREIRA, MPB (2008)
Sobre o domínio da linguagem cartográfica foram apresentados aos agentes de
saúde os mapas direcionados, ou seja, os mapas em que foi pedido que os agentes
Larissa, Germano, Nâna e Severino Silva desenhassem todos os elementos da área que
pudessem ser tido como risco, o nome das ruas, número de domicílios atendidos e
informações sobre a área de trabalho. Os mapas escolhidos pelos agentes de saúde
foram aqueles elaborados pelas ACS Nâna e Larissa.
Os ACS escolheram o mapa elaborado por Nâna devido a presença de códigos de
doenças característicos de uma área pertencente a um ACS. Os elementos observados
foram exatamente os nomes de doenças e dentre eles o grupo apontou que os
elementos melhor representados foram a hipertensão, diabetes, alcoolismo e os
usuários de drogas. Com relação aos elementos que faltaram, citaram as crianças
menores de cinco anos, as gestantes, deficientes mentais, hanseníase, número de
idosos e de tuberculosos. Os elementos que podem ser considerados como fatores que
interferem na saúde seriam as condições sócio-econômicas, emocional e educacional.
Os ASAs escolheram o mapa elaborado por Larissa, a justificativa de escolha é
que este mapa estava melhor elaborado. Os elementos visualizados foram as ruas, a
igreja, a praça, a presença de lixo, a árvore, o bar e o rio. Este grupo não mencionou
quais os elementos melhor representados. Como outros elementos que deveriam estar
presentes no mapa mental, apontaram a referência geográfica, um museu e a escola.
Com relação aos elementos que podem ser considerados fatores que interferem na
203
saúde da população eles apontaram o rio poluído pelo lixo, as doenças relacionadas ao
lixo, no caso, as zoonoses e doenças de veiculação hídrica.
Pelo que se percebeu é importante para o ACS a localização, discriminação e
quantificação das doenças em determinada área geográfica. Já os ASAs se preocupam
mais com a organização dos elementos visualmente presentes no território, os pontos
de referência, a orientação norte e sul e a proporção (ao discutirem sobre a importância
ou não da escala e orientação geográfica).
5.3.
ORIGENS E NUANÇAS DAS COMPETÊNCIAS SOCIAIS E SUAS INFLUÊNCIAS PARA O
DESENVOLVIMENTO DO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO
A elaboração deste capítulo fez emergir dois fatores importantes para entender
um pouco da trajetória do desenvolvimento do conhecimento geográfico com base na
observação das competências sociais. Inicialmente foi necessário entender os
principais fatores que influenciaram no desenvolvimento dessas competências a partir
do entendimento das motivações do agente de saúde para o trabalho. O segundo fator
esteve relacionado às nuanças dessas competências com relação a temas específicos e
formas de desenvolvimento de cada competência a partir de caminhos diversos.
5.3.1
DA FAMÍLIA AO TRABALHO: FATORES DE FORMAÇÃO DO SUJEITO AGENTE DE
SAÚDE
Ao mencionar sobre os fatores de formação do sujeito agente de saúde, uma das
primeiras preocupações diz respeito à sua motivação para o trabalho. Recorrendo à
afirmação de Alles (2006a) quanto à motivação, diz-se que o sujeito está motivado por
alguma coisa quando está sempre fazendo ou pensando sobre determinada atividade.
Neste caso, as situações têm relação com os traços de personalidade, experiências
vivenciadas e fatores ambientais.
De acordo com os sujeitos estudados, a origem inicial de características
compatíveis com as situações de trabalho remete aos valores passados pela família,
como o respeito, a paciência e a facilidade de se comunicar, ou, em outras palavras, a
habilidade de lidar com o público. Estas são as qualidades que convergem para os
agentes da ESF e PSA, formadoras das características pessoais dos agentes e
204
valorizadas pelos mesmos quanto ao perfil do bom profissional. Com relação a esses
traços de personalidade, percebe-se que a existência destes auxilia no desenvolvimento
da autonomia, pois facilita o acesso, a negociação de parcerias e a conseqüente
transformação da realidade local.
Com relação às experiências anteriores vivenciadas, há dois pontos de
convergência com a teoria de Birch & Veroff (1970) sobre a motivação. Quando estes
autores fizeram seus estudos com humanos e animais através de pesquisa experimental
colocaram a disponibilidade e o incentivo como determinantes da motivação.
A disponibilidade seria um indicador da possibilidade de uma determinada ação
devido à adoção de um hábito ou a partir de uma situação-estímulo.
No que diz respeito ao incentivo, tem-se como pressuposto que, ao escolher
determinada ação, o indivíduo pensa nas conseqüências desta ação. Desta forma,
quando um indivíduo está livre para escolher, ele tanto busca determinadas
conseqüências, configurando-se num incentivo positivo, quanto evita esta busca, o que
representa um incentivo negativo.
Assim sendo, ao buscar experiências de trabalhos anteriores dos agentes de
saúde, parte deles já havia feito algo semelhante, caracterizando a escolha de realizar a
atividade por já ter atuado em alguma coisa parecida, seja quanto ao contato com
conteúdos temáticos semelhantes ou ao contínuo desenvolvimento de uma mesma
característica pessoal. Isso está relacionado ao hábito.
Quanto à situação-estímulo, ela caracterizou-se pela oportunidade da realização
do concurso no qual o agente de saúde apresentou como razões para a escolha o fato
de estar desempregado, já ter tido uma experiência de trabalho semelhante, ter
afinidade com o trabalho como agente (características pessoais compatíveis) ou
necessidade de estabilidade, intrinsecamente relacionada com a questão do
desemprego.
No que diz respeito ao incentivo, observou-se pelo menos um exemplo de
incentivo positivo, isso ocorreu quando o agente Germano afirmou que a possibilidade
de lidar com o público influenciou na opção pelo concurso, apesar de não ter sido o
fator principal para tal escolha.
205
A partir dos exemplos citados, as experiências anteriores vivenciadas,
demonstradas através da disponibilidade (hábito e situação-estímulo) e do incentivo
demonstram um claro desenvolvimento anterior de um domínio conceitual para
realizar determinada ação. E esta ação desencadeará em novos ciclos de
desenvolvimento do domínio conceitual, seja através da revisão de conteúdos para
concurso, das capacitações ou das possibilidades de reviver situações práticas que
acrescentem uma experiência ainda mais consistente.
Os fatores ambientais que influenciam na motivação estão relacionados ao que
foi vivenciado pelo agente em um determinado momento, fato que se configura em um
interesse recorrente resgatado por uma situação dirigida, ao que está sendo
experimentado fora do ambiente de trabalho ou ainda vivenciado na prática deste
ambiente.
No que diz respeito à situação dirigida, percebeu-se que as situações de trabalho,
os sentimentos, as condições de vida, as circunstâncias que interferem positivamente
na saúde e a reivindicação de direitos faz parte dos interesses recorrentes desses
agentes de saúde.
Com relação aos interesses dos agentes fora do âmbito do trabalho, apesar de
haver concordância com Jameson (2004) ao afirmar que se vive atualmente o
momento da sociedade da imagem, estando a televisão incluída nessa conjuntura, foi
inquietante a contradição entre o tipo de informação que os agentes mais procuram
(temas gerais, atualidades, religião, qualidade de vida, saúde e educação) ser, em geral,
diferente da informação que eles têm mais acesso e mais utilizam através da televisão
(política, telejornal, filmes, telenovela, qualidade de vida, musicais, história,
documentários e desenho animado).
No âmbito do trabalho, os assuntos recorrentes entre os agentes foram os graus de
autonomia no trabalho, as opiniões ou temas pessoais, as questões disciplinares, as
situações que interferem na saúde e a relação ensino-aprendizagem.
Desta forma, os fatores ambientais que influenciam na motivação têm relação
com questões diretamente relacionadas ao trabalho (domínio conceitual e vivência
prática) e sentimentos quanto a determinadas situações vivenciadas, os quais incluem a
necessidade de mais conhecimento, autonomia, melhores condições de vida para a
206
população atendida, dentre outras coisas. Os fatores ambientais influenciam
diretamente tanto na competência domínio conceitual quanto na autonomia, tendo por
conseqüência a capacidade de melhorar o domínio da linguagem cartográfica, tanto
subjetivamente quanto tecnicamente.
A partir desses resultados, percebeu-se que os agentes escolhidos para esta
pesquisa, por se destacarem em pelo menos uma competência social, estão fortemente
motivados, seja por questões pessoais ou de trabalho. Conforme já referido, os agentes
da ESF estão mais motivados por questões pessoais, voltados aos interesses da
comunidade e de segmentos da mesma. Já os agentes do PSA estão mais motivados
em desvendar e contribuir para uma prática da saúde coletiva com melhor qualidade,
ficando o desafio de saber como esta motivação tem sido utilizada quando se trata de
observar diretamente as competências sociais desenvolvidas pelos agentes de saúde
dos dois programas.
5.3.2 A DIVERSIDADE DE APRENDIZADOS A PARTIR DAS COMPETÊNCIAS SOCIAIS
RELACIONADAS À GEOGRAFIA
Ao aceitar a afirmação de que a motivação é impulsionadora das outras
competências sociais e que estas dependem de traços de personalidade, experiências
anteriores vivenciadas e de condicionantes ambientais, de acordo com o que já foi
observado tanto neste como no segundo capítulo, as competências sociais se
expressam a partir de nuanças diferenciadas e influenciadas por estes fatores.
Se for considerado o fator representação, percebe-se que estas se apresentam de
forma diferenciada quando se consideram os agentes de saúde. Dentre os temas
presentes, o tema lixo destacou-se por estar presente tanto no discurso dos agentes da
ESF quanto do PSA. O discurso sobre esse tema sob o ponto de vista dos ACS e ASAs
esteve relacionado tanto à algo que denota risco à saúde quanto à sua capacidade de
reutilização, seja para gerar renda e/ou arte. Os ACS também associaram o lixo a uma
política ausente quando se trata de uma ação efetiva com lixo reciclável, enquanto os
ASAs apenas associaram a problemática do lixo aos hábitos dos moradores.
Entre esses agentes de saúde destacou-se a ACS Larissa, pois representou o tema
em todas as formas de coleta de informações utilizadas com a mesma. Esta apresentou
207
seu posicionamento com relação ao lixo, especialmente sobre o lixo acumulado para
reciclagem dentro de sua microárea (esquema 1).
ESQUEMA
1
REPRESENTAÇÃO SOBRE O LIXO RECICLÁVEL NA MICROÁREA DE LARISSA DO PONTO DE VISTA DA PRÓPRIA
ACS
, EM ABRIL DE 2007, NA LOCALIDADE POÇO DA PANELA, RECIFE PE
20. Acúmulo de lixo para reciclagem.
Local: Poço da Panela
Data: 16/04/2007.
Foto: Larissa.
DISCURSO SOBRE A PRESENÇA DE LIXO
RECICLÁVEL DO PONTO DE VISTA DE LARISSA
:
a) Algo que traz risco à saúde:
É uma área de risco porque tem muito lixo,
e esse lixo invade as casas. No local tem
fedentina, rato, escorpião, mosca à vontade,
tudo. O catador ta lá catando lixo, pegando
tudo com a mão, separando esse lixo com a
mão, não tem luva, não tem bota, não tem
nada. Trabalha com ferida nas pernas, tem
cansaço, escabiose e estomatite. Dá muito
problema. É um desafio pregar saúde ali,
onde as pessoas juntam lixo pra fazer coleta
seletiva, entendeu?
b) É um problema devido à ausência de uma
política efetiva:
Eu estimulo a coleta seletiva apenas
enquanto prefeitura porque eu acho que a
coleta seletiva deixa muito a desejar. Apesar
de a prefeitura fazer essa coleta, ela não faz
uma coisa contínua. Os órgãos insistem
muito na coleta seletiva, mas eles não dão
condição ao catador. É meio complicado
estimular e não apoiar.
MAPA MENTAL DESENHADO
LIVREMENTE NA ÁREA DE
TRABALHO DE ACORDO COM
LARISSA
MAPA MENTAL COM A LOCALIZAÇÃO
DE PROBLEMAS NA ÁREA DE
TRABALHO DE ACORDO COM
LARISSA
208
Desde o primeiro encontro com Larissa, houve preocupação em falar sobre o
tema lixo. Este é entendido como um problema devido tanto fornecer risco à saúde
quanto por precisar de um apoio mais efetivo dos órgãos da prefeitura e este não estar
sendo realizado. Desta forma, a agente toma um posicionamento contra a catação de
lixo reciclável enquanto cidadã, em detrimento do que fala enquanto representante do
poder público municipal. Este posicionamento se expressa na fala, no mapa e através
da imagem fotográfica.
Quando elaborou os mapas, um dos seus comentários foi sobre o lixo. A foto 20
foi uma das escolhidas pela ACS como a que representa um dos maiores problemas do
local de trabalho. Essa foi a primeira imagem fotográfica registrada pela agente de
saúde, demonstrando um pouco da prioridade dada a esse tema. Além do lixo
acumulado, havia no local uma criação de porcos, entulhos, e a rua não tinha
calçamento, mas o tema lixo foi o foco principal da agente de saúde. A segunda
preocupação da ACS foi com relação ao ambiente ser considerado por ela um local
inseguro, tanto que ao perguntarem sobre a presença do estranho (o pesquisador),
Larissa respondeu que se tratava de uma sobrinha que estava fazendo um trabalho para
a escola. Outro indício de ser um ambiente inseguro é que antes de registrar a imagem
fotográfica Larissa explicou sobre a necessidade, e de maneira sutil pediu permissão
para fotografar.
Os outros agentes de saúde de fato não estavam preocupados com esse aspecto do
lixo reciclável. E quando falaram sobre o mesmo, destacaram sua utilidade como fonte
alternativa de renda (ACS Estrelas) e de possibilidade de utilização como matéria-
prima para elaborar algo considerado por eles como artístico, seja uma escultura ou
uma maquete (ASAs Pedro e Severino Silva).
Percebe-se que a capacidade e a maneira de observar o elemento lixo sofrem
mudanças de acordo com a concepção pessoal do agente, das experiências vivenciadas
em que o lixo esteve envolvido e com o ambiente em que o agente de saúde trabalha
atualmente.
209
Outra maneira de perceber as nuanças dessas competências foi observada quando
se fez a descrição sobre o desenvolvimento das competências relacionadas à Geografia
no ambiente de trabalho e na situação dirigida.
Observou-se, em relação ao domínio conceitual, que os principais temas (doenças
referidas e saneamento) e os níveis de observação (corpo e peridomicílio) estiveram
sempre de acordo com o que está sendo cobrado a cada um diretamente, seja ACS ou
ASA.
No que diz respeito à autonomia, percebeu-se que a autonomia intelectual
depende do domínio conceitual no sentido do agente de saúde ter uma maior
oportunidade de perceber um número maior de problemas, de entender como ocorre a
melhor acessibilidade a pessoas, coisas e relacionamentos para o exercício de uma
multiterritorialidade articulada. Essa autonomia intelectual também depende da
iniciativa e capacidade de planejamento para traçar os caminhos a seguir. Contudo, na
prática, a autonomia se revela muito dependente do acesso a recursos, seja através do
poder público ou outras parcerias.
Com relação ao domínio da linguagem cartográfica, foi interessante a diferença
entre os programas no sentido de que os ACS desenham um mapa mais detalhado no
que diz respeito a ressaltar os pontos de referência e elementos da paisagem em geral,
enquanto que os ASAs comumente limitam-se a desenhar as quadras e os números de
quadras. Não obstante, ao participarem da entrevista com grupo focal, os ASAs
presentes criticaram severamente os mapas elaborados por seus colegas de trabalho
devido não haver informações referenciais que permitam ao observador ter uma
localização relativa dos seus elementos.
A prática de trabalho faz emergir não apenas os fatores que auxiliam no
desenvolvimento, mas apontam para algumas possibilidades de entraves, sejam eles na
área do domínio conceitual, na hierarquia, na liberação de recursos e no próprio
ambiente em que eles trabalham.
Uma terceira forma de observar essas nuanças seria através da comparação de
cada agente de saúde pesquisado com a matriz de competências e habilidades sociais
nos seus variados níveis (quadro 32).
210
No que diz respeito à motivação, a maioria dos agentes de saúde é motivada pelo
trabalho num nível de interações complexas. Neste caso apenas Nâna não se apresenta
como fortemente motivada pelo trabalho. Uma das possíveis razões foi apresentada na
fala durante a entrevista e do comportamento desta ACS sobre a dificuldade em se
inserir na concepção da ESF, desta forma, faz o que lhe é solicitado e até percebe
algumas relações, mas esse processo não é natural para ela, requer muito esforço.
Com relação às características pessoais, é importante salientar a respeito das
características que interferem negativamente, pois, ao estar em negro o nível (quadro
32), significa que não foi observada nenhuma característica ruim que pudesse
comprometer no desenvolvimento de competências e habilidades, configurando-se
como uma boa avaliação do agente de saúde.
Neste caso, apenas Severino Silva e Sarah apresentaram um nível intermediário
(nível de relações e sínteses) com relação a essa competência, o que neste caso seria
ruim. Esta situação é possível de ser explicada devido os agentes não serem moradores
da área de trabalho e este ambiente ser considerado por muitos (funcionários do DS IV
e pessoas com cargo de confiança) como um ambiente inseguro e difícil de trabalhar,
fazendo emergir medos, inseguranças e outros sentimentos que não seriam aceitos para
o perfil de um agente.
Com relação ao Domínio conceitual, apenas Pedro e Nâna apresentaram um nível
de relações e sínteses (intermediário) quanto ao vocabulário e à associação do conceito
com o ambiente de trabalho. Essa situação se explica em relação a Pedro devido suas
atividades estarem muito mais voltadas para a arte, no qual inserido nesse contexto o
ASA trabalha a questão ambiental. No que diz respeito a Nâna, a explicação está
relacionada ao seu trabalho na pastoral da criança, no qual exerce uma atividade bem
parecida, mas que lhe dá muito mais prazer do que o trabalho como ACS. Desta forma,
observou-se que devido a um foco maior em outras atividades, essas habilidades não
estariam desenvolvidas em sua plenitude. Ainda inserido no Domínio Conceitual, a
habilidade comunicação se apresentou em um nível intermediário apenas para Josué de
Castro devido sua dificuldade de falar em público e ao seu envolvimento muito forte
com questões teóricas. A combinação destes fatores demonstrou comprometimento na
forma de repassar esse conhecimento que por um lado demonstrou não se adequar a
211
todos os tipos de pessoas atendidas e por outro por não permitir que, apesar de estar
tão envolvido com o conhecimento relacionado ao cargo que exerce, se envolva com
atividades amplas no local de trabalho.
QUADRO
32
COMPARAÇÃO DAS INFORMAÇÕES DE CAMPO DE CADA AGENTE DE SAÚDE COM A MATRIZ
COMPETÊNCIA SOCIAL
MOTIVAÇÃO
CARACTE-
RÍSTICAS
PESSOAIS
DOMÍNIO
CONCEITUAL
AUTONOMIA
DOM. LING.
CARTOGRÁ
FICA
DS
AGENTE DE
SAÚDE
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14
I Regina
I Lampião
II Alecsandra
II Estrelas
II
Josué de
Castro
III Larissa
III Germano
III Pedro
IV Nâna
IV Vitória
IV
Severino
Silva
IV Sarah
IV Poeta
V Tinhão
V Max
VI ACS em ação
OBS.: É necessário reler a matriz (quadro 1) que está apresentada no capítulo dois deste documento para
proceder à comparação/ Elaborado por PEREIRA, MPB (2008).
Legenda:
HABILIDADES DE CADA COMPETÊNCIA SOCIAL
01
Poder
06
Que interfere negativamente
11
Acesso à área
02
Pertencimento
07
Vocabulário
12
Transformação da
realidade local
03
Trabalho
08
Associação do conceito com
o ambiente de trabalho
13
Manuseio do mapa
04
Ética
09
Comunicação
14
Elaboração do mapa
05
Que interfere positivamente
10
Iniciativa
-
-
NÍVEIS OBSERVADOS DE CADA HABILIDADE INSERIDA NA COMPETÊNCIA SOCIAL
Não foi possível observar essa habilidade
Nível elementar
Nível de relações e síntese
Nível de interações complexas
No que diz respeito à autonomia, é importante salientar que ela foi demonstrada
tanto enquanto profissional como enquanto cidadão e neste momento considerou-se a
autonomia enquanto profissional. Dessa maneira, quando se tratou da iniciativa, os
profissionais Nâna e Severino Silva demonstraram respectivamente o nível elementar e
de relações e síntese devido ter-se percebido durante o trabalho de campo uma
212
dependência muito forte das decisões dos seus superiores para agir. Nâna só podia sair
da USF depois que a enfermeira traçava o roteiro de visita do dia, enquanto Severino,
que demonstrou certa autonomia no sentido intelectual (ele pensou todo o roteiro de
forma independente); na prática precisou da concordância total de seu supervisor para
proceder à saída ao campo. Não se estaria esperando uma insubordinação profissional,
mas que houvesse maior independência por parte desses profissionais no sentido de
poderem se planejar e sair a campo para, posteriormente, relatarem, sem problemas
aos superiores hierárquicos mais diretos (enfermeiro e supervisor), o ocorrido em
campo, fato que se fez presente com os outros agentes de saúde.
Do que pode ser percebido na competência Domínio da Linguagem Cartográfica
quanto ao manuseio, todos os agentes demonstraram saber manusear o mapa. Porém,
quando se considerou a elaboração, devido ter-se três parâmetros definidos para a
análise (projeção, redução proporcional e diversidade de elementos) e ser considerado
como o melhor nível os agentes que atendessem esses três requisitos, nenhum
conseguiu atingir o nível de interações complexas, e as ACS atingiram melhor nível
devido conseguirem se sobressair melhor com relação à redução proporcional e à
diversidade de elementos.
Percebe-se que as nuanças emergidas a partir da comparação do desempenho
pessoal com a matriz estão muito relacionadas à motivação. Em geral, os agentes de
saúde que demonstraram forte motivação em todas as suas habilidades (poder,
pertencimento, trabalho e ética) e não tiveram observações com relação às
características pessoais que interferem negativamente, foram os que demonstraram
melhores desempenhos quanto às outras competências (domínio conceitual, autonomia
e domínio da linguagem cartográfica).
Por fim, essas nuanças também podem ser observadas quando se analisa a
representação da distribuição das competências dos agentes de saúde, do ponto de
vista dos enfermeiros e supervisores, para a cidade do Recife por distritos sanitários.
Percebe-se que as várias facetas da cidade tanto no sentido dos objetos quanto das
ações propiciam o desenvolvimento das competências sociais dos agentes de saúde de
forma diferenciada. Considerando os agentes de saúde que se destacam nas
213
competências domínio conceitual e autonomia (competências diretamente relacionadas
ao conhecimento geográfico), de acordo com a opinião de enfermeiros e supervisores,
estes estão distribuídos em três grupos. O primeiro se destaca pela autonomia, nos
distritos I e VI; o segundo grupo se sobressai pelo domínio conceitual, nos distritos II e
III; já o terceiro grupo se evidencia tanto pelo domínio conceitual quanto pela
autonomia, e, por conseqüência, teriam um melhor domínio da linguagem cartográfica
(mapa 20).
A partir da organização dessas informações em dados numéricos por programa de
saúde e por distrito percebe-se que no DS II há correspondência de predominância
para os dois programas dos agentes que foram destacados simultaneamente nas duas
competências sociais (18,52% e 25%). Já no DS III há correspondência de
predominância para os dois programas dos agentes que foram destacados com relação
ao domínio conceitual (41,46% e 27,58%). Em termos de porcentagem, o DS III é o
que detém o maior número de agentes de saúde que desenvolveram o domínio
conceitual (quadro 33).
QUADRO 33
AGENTES DE SAÚDE DA ESF E PSA POR DISTRITO SANITÁRIO, POR PROGRAMA E POR COMPETÊNCIA SOCIAL
21
COMPETÊNCIA AUTONOMIA DOMÍNIO CONCEITUAL OS DOIS
PROGRAMA ESF PSA ESF PSA ESF PSA
DS Q % Q % Q % Q % Q % Q %
I
18 24,65 1 4,35 1 2,44 0 0 1 1,85 3 5,77
II
9 12,33 1 4,35 2 4,88 4 13,79 10 18,52 13 25
III
12 16,43 5 21,74 17
41,46
8 27,58 10 18,52 11 21,15
IV
6 8,22 8 34,78 2 4,88 4 13,79 13 24,07 8 15,38
V
13 17,81 1 4,35 4 9,76 4 13,79 11 20,37 6 11,54
VI
15 20,55 7 30,43 5 12,19 9 31,03 9 16,66 11 21,15
TOTAL
73 100 23 100 41 100 29 100 54 100 52 100
Fonte: Trabalho de campo exploratório realizado entre Janeiro e Fevereiro dos anos de 2006 e 2007/ Elaborado
por PEREIRA, MPB (2007).
Neste caso, as experiências vivenciadas em cada localidade e as características
atuais do ambiente em que vivem e/ou trabalham os agentes de saúde são os fatores
mais influentes para se inferir que tais competências sociais tenham se desenvolvido
de forma predominante.
21
No total foram 199 destaques para os ACS e 146 ASAS evidenciados. Porém, neste caso, foram considerados
apenas os que se destacaram na autonomia, no domínio conceitual ou nessas duas competências
simultaneamente, deixando de lado as competências características pessoais, motivação e domínio da linguagem
cartográfica, ainda que estivessem presentes nas situações acatadas.
214
215
Observa-se que nos DS I e VI a história de ocupação e de lutas vivenciadas
historicamente contribuiu para um maior desenvolvimento da autonomia, e isso é
visualizado quando se observa a história de vida de Regina, Lampião e ACS em ação,
que desenvolveram plenamente essa competência em suas áreas de trabalho e/ou de
moradia.
Os DS II e III se fortaleceram historicamente com os transportes, o encontro e o
diálogo, favorecendo o amor pelo local a partir da valorização de marcos históricos e
da discussão de soluções para os mesmos. A partir dessa característica pode estar uma
explicação mais genérica para o maior desenvolvimento da competência domínio
conceitual. E pelo que foi observado, pelo menos os agentes Larissa e Germano
demonstraram de maneira muito forte essa competência.
Os DS IV e V possuem de forma mais equilibrada as lutas e a valorização da
história e do diálogo, e talvez essa seja a explicação para que essas competências
tenham sido demonstradas de maneira mais uniforme, e isso foi observado mais
plenamente através da agente Vitória, Sarah e Poeta, estando Severino Silva também
muito próximo desse equilíbrio entre essas competências.
Assim sendo, há muitas nuanças a serem observadas nas competências sociais
desenvolvidas pelos agentes de saúde e isso favorece a visualização de uma espécie de
caleidoscópio, no qual a mudança de ponto de vista pode facilitar o entendimento
dessas competências a partir de uma perspectiva diferenciada.
Capítulo 6...
Em busca de uma Geografia da Promoção da
Saúde
A ‘vigilância da saúde’ constitui-se em
um ‘modo tecnológico de intervenção
em saúde’ que tende a incorporar
modelos assistenciais vigentes e
articular-se com as propostas atuais
de promoção da saúde (...)
(PAIM,
2003, p. 170)
217
6. EM BUSCA DE UMA GEOGRAFIA DA PROMOÇÃO DA SAÚDE
Este capítulo busca algumas relações entendidas como importantes para analisar
as competências sociais e o conhecimento geográfico. Inicialmente foi resgatada a
Geografia da Atenção à Saúde como uma das duas principais divisões da Geografia da
Saúde e, posteriormente buscou-se conceber dentro da Geografia da Atenção da Saúde
como se pode entender o desenvolvimento das competências relacionadas à Geografia
e como elas se mostram em diferentes escalas geográficas.
6.1.
CONTEXTUALIZAÇÃO DA GEOGRAFIA DA SAÚDE PARA ESTUDAR A GEOGRAFIA DA
ATENÇÃO À SAÚDE
As relações entre o conhecimento ligado à Geografia e à Saúde, embora
remontem ao período pré-científico, foram estabelecidas de forma mais significativa
com o desenvolvimento da ciência durante o século XIX. Foi, no entanto, no século
XX, com trabalhos elaborados por alguns países da Europa e os Estados Unidos, que
essas relações tornaram-se mais evidenciadas. Na América Latina, ainda que em
menores proporções, essa relação entre a Geografia e a Saúde tem sido significativa
(ROJAS, 1998; 2003).
No caso do Brasil, após a segunda metade do século XX, o pensamento
geográfico tem passado por algumas mudanças teórico-metodológicas que, de acordo
com Guimarães (2001), viabilizaram a discussão do tema. Como exemplo, pode-se
citar a forma como a Geografia passou a conceber o meio ambiente e a saúde, trazendo
possibilidades de trabalho em várias abordagens.
Inseridos no método hipotético-dedutivo, tem-se alguns destaques com relação à
abordagem geossistêmica e o paradigma da análise espacial. A abordagem sistêmica,
que posteriormente considerou a ação antrópica como mais um elemento de análise do
ambiente, teve utilidade no sentido de buscar a gênese dos mecanismos que
desencadeiam a difusão das doenças, contribuindo para ampliar o entendimento da
problemática da saúde na Geografia (GUIMARÃES, 2001; MENDONÇA, 1998).
218
O paradigma da análise espacial através do estudo geométrico do território surgiu
para melhor compreensão dos fenômenos localizáveis no tempo e no espaço que
podem influir no meio ambiente e nas condições de saúde da população. Como
instrumento metodológico, retomou força a partir da ampla difusão das técnicas de
mapeamento digital e geoprocessamento, além do barateamento dos equipamentos e
disponibilidade de dados de saúde que contribuíram para os estudos de análise de
dados espaciais, desenvolvimento de técnicas para o trabalho de campo de saúde e
aplicação de técnicas de estatística espacial (GUIMARÃES, 2001; ROJAS,
BARCELLOS, 2002).
Na abordagem dialética marxista houve a preocupação com o ambiente como
conseqüência da influência da inserção do homem no sistema de produção social. Já a
análise do processo saúde-doença foi realizada principalmente pela Epidemiologia
Social e não diretamente pelos geógrafos, considerando as diferenças de adoecer e
morrer das classes sociais ou das pessoas nos diferentes contextos sócio-espaciais
(GUIMARÃES, 2001; MENDONÇA, 1998).
Em uma aproximação com a fenomenologia, o ambiente passou a ser de interesse
da Geografia da Percepção e do Comportamento, que entende o meio ambiente como
um recurso a ser utilizado, analisado e protegido. A saúde passou a ser de interesse da
Geografia nessa abordagem através de estudos que consideram os fatores culturais e
sociais da doença (GUIMARÃES, 2001).
A ligação entre a Geografia, meio ambiente e saúde passou a ser tão forte que em
1992, através do Congresso da União Geográfica Internacional, em Washington, a
Comissão de Geografia Médica passa a denominar-se “Ambiente, Saúde e
Desenvolvimento” (ROJAS, 1998).
Focalizando a vinculação entre saúde e ambiente, alguns autores concordam que
estudar essa relação implica mergulhar no campo da interdisciplinaridade. Desta
forma, são considerados fatores como a grande quantidade de componentes a serem
analisados, tanto em uma escala coordenada (horizontal) quanto hierarquizada
(vertical), de acordo com as quais o movimento de constituição do objeto ocorre do
nível inferior para o superior e sua regulação no sentido inverso. Também é
219
considerada a interação mútua entre os elementos a serem estudados, o dinamismo da
realidade e dos conhecimentos que estão em constantes mudanças, assim como a
abertura do diálogo entre os saberes científicos e entre estes e outras formas de
conhecimento (ABREU JR, 1996; AUGUSTO, 2002; AUGUSTO ET AL, 2001;
PORTO, 2002; SAMAJA, 1997; SILVA & CONVERSANI, 2002; STROH, 2004).
Essas maneiras de pensar a saúde e o ambiente fornecem possibilidades de
trabalhar Geografia de Saúde de variadas formas e com vários temas, como as velhas e
novas endemias, violência, mortalidade, os sistemas de saúde, dispersão e difusão
epidêmica, mudanças climáticas e transição epidemiológica (CURTO &
PICKENHAYN, 2005; ROJAS, 2003).
Apesar dessa variedade temática, Rojas (2003) afirma que as divisões mais
reconhecidas da Geografia da Saúde são apenas duas: a Geografia Médica, ou
tradicional, e a Geografia da Atenção à Saúde.
A Geografia Médica, também conhecida por Nosogeografia, Geografia das
patologias ou Geografia médico-ecológica, tem como um dos objetivos principais
estudar a distribuição espacial das doenças no contexto em que estão os enfermos. Esta
é norteada por alguns princípios, como a multicausalidade e a diferença entre saúde
individual e coletiva. A partir destas informações busca-se interpretar e planejar ações
concretas (PEITER, 2008; ROJAS, 2003).
A Geografia da Atenção à Saúde busca entender a disponibilidade dos recursos
materiais e humanos (onde está o serviço e em quais escalas), a qualidade dos serviços,
como se está usando este serviço (acessibilidade), como a necessidade do serviço é
determinada, como são decididos os recursos e se a provisão atual afeta no resultado
do serviço (GATRELL, 2002; PEITER, 2008). Rojas (2003) acrescentou que esta
Geografia tem sido construída por autores que buscam consolidar o Sistema Único de
Saúde no Brasil, dentre eles citou Carmen Teixeira, Carmen Unglert e Jairnilson Paim.
Neste quadro de referência, os conceitos mais utilizados no âmbito desta
Geografia da Atenção à Saúde são: o território, a acessibilidade e a escala geográfica
(GATRELL, 2002; PEITER, 2008; ROJAS, 2003).
220
No âmbito da Geografia da Atenção à Saúde, a partir dos parâmetros
apresentados por estes autores, esta pesquisa se aproxima um pouco da busca pelo
entendimento sobre a provisão atual dos recursos humanos. Em outras palavras, há um
esforço para entender o conhecimento geográfico do agente de saúde da ESF e do
PSA, enquanto um aspecto dessa provisão. No próximo item serão apresentados os
conceitos e resultados que surgiram ao longo desta pesquisa.
6.2.
DA GEOGRAFIA DA ATENÇÃO À SAÚDE À GEOGRAFIA DAS COMPETÊNCIAS SOCIAIS
DOS AGENTES DA ESF E DO PSA NA CIDADE DO RECIFE
De acordo com as análises observadas nos capítulos precedentes, a abordagem
qualitativa apresenta-se como uma alternativa ao estudo do nível de conhecimento
geográfico dos agentes de saúde da ESF e do PSA. As principais razões estão baseadas
na necessidade de utilizar critérios qualitativos para definir os agentes de saúde a
serem pesquisados, utilizar estratégias relacionadas à abordagem qualitativa para obter
informações e analisá-las, assim como por se estar trabalhando diretamente com um
sujeito: o agente de saúde.
Enquanto sujeito pesquisado, o agente de saúde age no sentido de fazer a
coletividade falar, estratégia essa próxima à visão metodológica dos autores Lefèvre e
Lefèvre (2003).
Com relação à sua expressão, este sujeito apresenta-se inicialmente enquanto
sujeito aprendiz em suas práticas cotidianas, uma vez que é a partir delas que
desenvolve suas competências e habilidades sociais, aproximando-se da concepção de
Larossa (1995) sobre a tomada de consciência de si e a busca por gerir suas próprias
atitudes. Assim, sendo capaz de tomar atitudes, é igualmente apto a transformar algo
no seu território de atuação, aproximando-se do sujeito entendido por Touraine (1994).
As competências sociais desenvolvidas pelo agente de saúde que estão mais
relacionadas ao conhecimento geográfico são: o domínio conceitual, a autonomia e,
por conseqüência, o domínio da linguagem cartográfica.
Os agentes de saúde demonstram compreender o domínio conceitual como a
capacidade de entendimento da problemática (saúde e ambiente) de forma a conseguir
221
estabelecer relações, fazer prognósticos e repassar esse conhecimento em uma
linguagem acessível aos diferentes grupos sociais. Já a autonomia é a capacidade de
conhecer, planejar e agir sobre o território de maneira a influenciar a ação das pessoas
adscritas no sentido de melhorar suas condições de vida e do ambiente circundante.
O domínio da linguagem cartográfica, por um lado, seria a capacidade de unir seu
domínio conceitual e sua autonomia no sentido de entender as relações espaciais que
se estabelecem no mapa representado e, por outro, utilizar essas competências já
citadas no sentido de representar espacialmente toda essa problemática, porém tendo
por base pontos de referência (localização relativa), uma projeção sem rebatimentos e
uma redução proporcional próxima à realidade.
Esses conceitos, expressos no seu nível de interações complexas, estão presentes
na ação dos agentes de saúde em variados níveis de acordo com a potencialidade de
cada um, a necessidade e as condições propícias para isso. Nesta perspectiva, a
Geografia da Atenção à Saúde é dependente da ação dos sujeitos envolvidos com esses
programas (ESF e PSA).
Dessa forma, essas competências e habilidades sociais podem ser desenvolvidas e
expressas na paisagem, ser desenvolvidas e não necessariamente estar presente na
prática dos moradores, assim como podem ser inibidas de se desenvolverem.
Considerando que elas tiveram condições de se desenvolver e estão presentes nas
práticas cotidianas dos moradores, apreende-se que a partir do desenvolvimento do
domínio conceitual, através das habilidades relacionadas ao domínio do vocabulário,
associação do conceito com o ambiente de trabalho e a forma de comunicar esse
conhecimento sensibiliza o morador de forma que este passa a ter consciência dos
elementos que podem interferir no seu processo saúde-doença, sendo possível utilizar
os que promovem a saúde e modificar (de acordo com as possibilidades reais) os
elementos que representam algum risco. Dessa forma, há uma modificação gradativa
de uma paisagem de risco à doença a uma paisagem da promoção à saúde.
Nesse contexto, se há mudança de algo, o agente de saúde também se utiliza de
sua autonomia, pois tem a iniciativa de falar, tem acesso ao usuário do programa de
saúde e seu território de moradia (área de trabalho e/ou peridomicílio e/ou domicílio) e
222
contribui para a formulação de alguma ação para modificar a área, modificando, dessa
forma o território. E já que essas ações convergem, pode-se dizer que ocorre uma
multiterritorialidade articulada.
Tendo por base que o agente desenvolveu competências e habilidades, mas estas
não são visíveis nas práticas cotidianas, pode-se entender que, em parte, deve-se às
multiterritorialidades existentes no local. Estas podem ser conflituosas devido aos
costumes arraigados e que não estão de acordo com a legislação local, que não estão
de acordo com as orientações do conhecimento científico sobre a saúde, ou mesmo
devido aos interesses pessoais ou de grupos hegemônicos na localidade. Esta situação
é explicada por Heller (1991) quando aborda sobre a disputa na vida cotidiana. E neste
caso em que o exercício das territorialidades não tem um objetivo comum, estaria
ocorrendo uma multiterritorialidade desarticulada.
Além das multiterritorialidades existentes no local, há também o caso em que há
o desenvolvimento dessas competências e habilidades, mas as condições infra-
estruturais e sócio-econômicas não facilitam a ação da população, como demonstrado
em Pereira (2001), com relação ao esgoto a céu aberto no quintal, por falta de
condições de construir uma fossa ou de haver um investimento do poder público em
uma rede de esgotamento sanitário, por exemplo. Neste caso fica evidente a
necessidade de uma intersetorialidade para que haja, de fato, uma promoção da saúde.
Com relação aos fatores que inibem o desenvolvimento das competências e
habilidades, um deles está relacionado à própria resistência ou dificuldade do agente
de saúde em desenvolvê-las, repercutindo na forma de agir dentro da localidade, fator
que pode prejudicar na prática dos moradores.
Uma outra explicação para não serem visíveis na prática cotidiana atitudes
relacionadas à promoção à saúde deve-se à influência de regras superiores aos agentes
de saúde, às quais são relacionadas ao contexto de trabalho no qual está submetido e
que não favorecem o desenvolvimento desse sujeito aprendiz. Os motivos são a falta
de apoio (financeiro, técnico, etc) ou mesmo a inibição do desenvolvimento por uma
carga de trabalho que não propicie tempo e nem condições físicas de desenvolver suas
competências e habilidades. O que remete a um sujeito que está submetido a uma
223
estrutura superior à sua capacidade de autonomia de trabalho, como explicado por Hall
(2003) quando evidencia as condições históricas determinadas como sendo uma das
formas de concepção do sujeito. Obedecendo a regras, este agente de saúde trabalha
em uma área delimitada denominada território.
Submetidos às ordens, os agentes da ESF exercem três tipos de relações de poder
na microárea, que efetivam de três tipos de território de acordo com Bitoun (2000a):
um território de escuta (na fase de coleta de informações para se atingir a eqüidade)
21
,
um território de administração (quando são definidas as articulações com outros
territórios para garantir o acesso a equipamentos e instituições que permitem uma
disponibilidade de recursos mais complexos ou complementares)
22
, e um território de
realizações (quando é materializada a prestação de serviços no espaço vivido)
23
. A
ação é efetivada em torno do entendimento dos conceitos do processo de saúde-doença
e da noção de risco. Contudo, há problemas nos territórios de administração e de
realizações.
Neste programa (ESF) há problemas quanto ao território de administração devido
a dificuldade em marcar consultas para as unidades de média e alta complexidade.
Essa falha na rede do sistema tem refletido, por um lado, na insatisfação do agente de
saúde e do morador, por outro, tem auxiliado na busca de outras parcerias para ter
acesso a essa mesma rede. Essa intersetorialidade passa pelos laços de amizade e de
capacidade de articulação com partidos políticos ou mesmo o próprio político, que
intervém para que o paciente tenha acesso a essas unidades.
Com relação ao território de realizações, quando se considera apenas o agente
comunitário de saúde, ele geralmente se utiliza de parcerias para realizar ações
comunitárias, o que fortalece essa territorialidade. Contudo, quando se considera a
equipe, as ações desses agentes são extremamente relacionadas às normas operacionais
de outras escalas de comando.
21
Levantamento de informações sobre as condições de vida e de saúde, bem como as características sócio-
ambientais do território objeto de investigação
22
É realizado um encaminhamento dos pacientes a unidades de saúde de média e alta complexidade para que os
mesmos tenham acesso a equipamentos mais complexos de acordo com a necessidade individual do morador.
23
São efetuadas ações de educação e promoção a saúde, de controle do meio ambiente e de prestação de
assistência na Unidade e em visitas domiciliares. Nesse item está incluso o incentivo a uma luta por melhores
condições de moradia e de infra-estrutura para elevar as condições de vida da população.
224
Os agentes do PSA também exercem relações de poder dando origem a territórios
de escuta, de administração e de realizações, porém as ações são diferenciadas. O
território de escuta serve para coletar informações, mas a maior parte delas é realizada
a partir da observação. Há um cuidado mais minucioso com as informações
relacionadas à dengue, pois essas irão compor o relatório que será enviado ao governo
federal e que garante parte da verba do programa, e os agentes são muito cobrados
quanto à precisão dessas informações.
Há também um território de administração, mas esta territorialidade é exercida de
maneira frágil, pois muitas das informações do seu relatório denunciam problemas que
não podem ser resolvidos exclusivamente pela secretaria de saúde, os agentes
apresentam aos seus supervisores que passam aos outros órgãos, porém, a maioria
dessas reclamações não tem resposta. E o resultado é uma cobrança do morador em
saber pelo menos uma resposta sobre o andamento, mas o agente do PSA não tem
como atender, frustrando morador e agente. Enfim, a intersetorialidade está frágil,
fragilizando esse tipo de territorialidade.
O território de realizações é melhor exercido no que diz respeito à investigação
da presença de criadouros do mosquito Aedes Aegipty, pois com relação às atividades
de educação em saúde, ainda que sejam incentivadas pelo governo municipal, não há
condições de serem exercidas em sua plenitude. O quantitativo cobrado (visitar entre
20 e 25 imóveis/dia), em muitos locais consome completamente o tempo deste agente.
Em geral também não há financiamento (material para realizar a educação em saúde),
fazendo com que essa territorialidade também seja frágil. Os que conseguem, realizam
essas atividades na maioria das vezes com seus próprios recursos e fora do horário de
trabalho. Há também os que estão em áreas onde não encontram grandes dificuldades
durante a visita, sendo mais fácil reservar tempo para atividades educativas.
Quanto à cobrança de visitar 20 imóveis em áreas consideradas colinosas e 25
imóveis em áreas planas em toda a cidade, se mostra como uma falha do programa,
uma vez que como demonstrado em capítulos anteriores e pode-se ver em Bezerra
(2008), esta cidade, pelo seu histórico e sendo parte de uma metrópole, tem muitas
outras diferenciações além do relevo. Dependendo da escala geográfica em que se
observa, esses fragmentos da cidade vão surgindo de maneira diferenciada, o que
225
remete a algumas visões diferenciadas quando se considera a percepção das pessoas
que trabalham na direção dos distritos, dos supervisores e dos agentes de saúde.
Essa configuração territorial é fragmentada em termos sócio-econômicos, em
termos de uso do solo, pelo seu relevo e em termos de risco ambientais. Há diferenças
entre os distritos, bairros e mesmo na própria área do agente de saúde, demandando
um tempo maior em algumas localidades do que em outras. Isso reflete na forma como
o agente de saúde consegue ou não desenvolver suas competências e habilidades.
As falhas na territorialidade da administração e de realizações ocorrem devido
problemas nas outras instâncias dentro do próprio programa e da prefeitura como um
todo, que em muitos casos dependem de outras escalas para que possam resolver os
problemas que estão visíveis no trabalho dos agentes de saúde tanto da ESF quanto do
PSA.
Com relação à ESF, a territorialidade administrativa é prejudicada devido à
demanda por vagas em unidades de média e alta complexidade ser muito maior do que
a oferta. Com relação ao território de realizações, com relação à ações comunitárias, a
distância entre o agente de saúde (morador da comunidade, pobre e que geralmente
possui conhecimentos básicos de saúde) e o enfermeiro ou médico (pessoas que têm
curso superior, tem uma situação econômica bem diferenciada e são consideradas
detentoras da razão) inibe uma ação comunitária no sentido pleno, sendo observada em
geral uma submissão às ordens sem questionamentos.
Com relação ao PSA, um dos maiores problemas para exercer a territorialidade
das realizações é a submissão em relação à verba. Parte da verba do programa é
proveniente do governo federal, atrelado ao programa de combate à dengue. Devido a
isso, o PSA tem dado prioridade a essa área de atuação, ainda que também exerça
outras funções. Já a territorialidade administrativa está relacionada principalmente à
falta de um instrumento legal que comprometa os outros órgãos ou secretarias da PCR.
Esta submissão a outras escalas ocorre nas relações de imediatice, ou seja, na
cidade, de acordo com a expressão de Lefebvre (2001), onde estão inseridos os chefes
diretos (enfermeiros e supervisores), a diretoria do distrito, o comando do programa e
a própria Secretaria de Saúde da cidade, como também está submetido a normas de
226
outras escalas, seja a unidade da federação, o país, e mesmo de regras de escalas
distantes.
Essas regras de escalas distantes não fazem parte exatamente de uma escala
concreta, como diz Smith (1992), mas uma escala abstrata porque faz parte de um
circuito de discussão num local e que tem poder de difusão continental e mundial.
Dessa forma, também se pode aproveitar o entendimento de Santos (1997) ao dissertar
sobre os eventos. O autor explica que dependendo da força do emissor na escala de
origem, o evento pode repercutir em conseqüências tanto locais quanto em outras
escalas geográficas de maior abrangência. Foi o que ocorreu com a discussão sobre a
Promoção da Saúde.
Remetendo-se a uma história recente, a discussão sobre a Promoção da Saúde
teve início com a publicação de A new perspective on the Health of canadians: a
working document em abril de 1974 por Marc Lalonde, então Ministro da Saúde e
Bem Estar do Canadá (LALONDE, 1974).
Conhecido como “Informe Lalonde” este relatório influenciou a organização de
uma série de eventos em vários países e teve como marco em escala mundial a I
Conferência Internacional sobre promoção da Saúde, ocorrida em Otawa, no Canadá,
que deu origem à “Carta de Otawa”, em 1986 (BUSS, 2003). Este documento teve o
significado de uma carta de esclarecimento conceitual, distribuição de
responsabilidades e de intenções para se atingir “Saúde para Todos no Ano 2000”.
Dentre os temas apresentados estava a necessidade da capacitação enquanto requisito
para se alcançar a equidade (BRASIL, 1996).
Após este evento houve outras conferências internacionais sobre promoção da
saúde, nas quais discutiram sobre: estratégias para implementar políticas públicas
saudáveis (Declaração de Adelaide, Austrália, 1988); condições para se criar
ambientes favoráveis à saúde (Declaração de Sundsvall, Suécia, 1991); possibilidades
de ações para promover a saúde no século XXI (Declaração de Jacarta, Indonésia,
1997); avaliação do que foi feito no século XX e prioridades para o início do século
XXI (Declaração Ministerial do México para a promoção da saúde, México, 2000) e;
proposição de políticas e parcerias que tenham como objetivos empoderar
227
comunidades para aperfeiçoar a saúde de forma igualitária e complementar a
construção de valores, princípios e ações estratégicas de promoção à saúde
estabelecidas na Carta de Otawa (Carta de Bangkok para promoção da saúde no
mundo globalizado, Tailândia, 2005) (BRASIL, 1996b; INDONÉSIA, 1997;
MÉXICO, 2000; TAILÂNDIA, 2005).
As idéias dessas conferências influenciaram o Brasil na forma como se
apropriaram da idéia da promoção da saúde, fazendo com que fossem inseridas na
constituição de 1988, nos artigos de 196 a 200, as bases para a criação do SUS. Sendo
a partir daí elaboradas uma série de leis e normas para que se efetivassem essas idéias,
inclusive com a criação da Estratégia Saúde da Família e o desenvolvimento da
Vigilância Ambiental durante as décadas de 1990 e 2000.
Observando por este ponto de vista, pode-se entender esses fatos como uma
normatização do território (SANTOS, 1997), em que determinadas idéias norteiam as
diretrizes dos países, impondo-lhes idéias, valores, e a tomada de atitudes, através de
leis que viabilizem essas idéias, no caso, a efetivação da promoção da saúde. Outra
maneira de ver este contexto, porém não excluindo a idéia anterior, seria a partir de
Lefebvre (2001), em que se entende esse processo como uma apropriação de idéias
existentes em outros níveis e trazendo para o contexto mais local, neste caso
específico, a apropriação de idéias da OMS com relação à viabilização da Promoção
da Saúde nas Políticas Públicas do Brasil.
Seguindo o raciocínio de Lefebvre (2001), só houve apropriação porque havia um
contexto propício a isso. Enquanto ocorriam as Conferências Internacionais, e de
forma intercalada em vários países, no Brasil havia o movimento da Reforma
Sanitária, que, a partir da participação social ativa, conseguiu influenciar de tal forma
que a constituição de 1988 passou a agregar os princípios da Reforma Sanitária com
relação a um Sistema Único de Saúde (GERSCHMAN, 1996). De acordo com esta
autora, a pressão foi tão forte que os defensores da Reforma Sanitária conseguiram
superar o contexto adverso em que estava ocorrendo a elaboração desta constituição,
no qual o governo estava se adequando a uma política econômica de restrição do gasto
público, principalmente na área social, no qual está inclusa a área da saúde.
228
Devido à maneira como o SUS tem sido implantado desde a década de 1990 e de
práticas que não foram abandonadas de modelos que surgiram em tempos anteriores,
este processo tem feito emergir uma situação em que há um acúmulo desigual de
tempos, sendo possível observar tanto na paisagem quanto nas ações, atividades
relacionadas ao modelo assistencial sanitarista, médico assistencial privatista e da
Vigilância em Saúde.
Utilizando esta mesma lógica da apropriação de Lefebvre (2001), a
municipalização e a obediência a estas leis e normas federais só se adequam
devidamente nas cidades em que há condições favoráveis, este é o caso de Recife no
que diz respeito à Atenção Básica e à Vigilância Ambiental. Contudo, não apenas a
estrutura municipal é favorável, mas também os próprios agentes de saúde.
No que diz respeito aos agentes comunitários de saúde, os mesmos já existiam
antes mesmo da institucionalização do Programa de Agentes Comunitários de Saúde
(PACS) ou da Estratégia de Saúde da Família (ESF), fazendo com que sua experiência
de trabalho autônoma facilitasse na aquisição de novos conhecimentos. Já com relação
aos agentes de saúde ambiental, aprovados no concurso em 2001, muitos deles já
possuíam outros conhecimentos (de trabalhos semelhantes, conhecimento
correlacionados) que, complementados ao de agente de saúde ambiental, foi propício
ao maior desenvolvimento de competências e habilidades.
Na escala da área de trabalho, de fato, devido ao vínculo que o agente
comunitário de saúde (ACS) tem com a localidade, este passa a ter um maior domínio
conceitual e se apropria melhor do território devido a vontade em melhorar a
comunidade onde mora. Neste contexto, segue todas as atividades programáticas,
modificando costumes individuais e coletivos relativos ao conhecimento que tem a ver
com o seu cargo.
Porém, quando se considera a situação-problema e se pensa na possibilidade de
resolvê-la, a experiência do ASA em atividades e conhecimentos anteriores que
complementam esse “novo” conhecimento, faz com que estes sejam capazes de
elaborar projetos independentes do programático no sentido de realmente solucionar o
problema. O domínio conceitual adquirido por esse agente, em combinação com
229
outros conhecimentos, possibilita a autonomia no pensar e muitas vezes no agir para
resolver o problema de determinada localidade, ainda que não esteja diretamente
relacionado às atribuições do seu cargo.
Em suma, a escala em que se observa a competência e habilidade social é que
auxilia na percepção de como cada programa desenvolve melhor seu domínio
conceitual e autonomia. Existe, portanto, uma melhor percepção da paisagem e um
conseqüente estabelecimento de relações de poder que modifiquem o espaço
geográfico dentro dos limites da realidade encontrada.
Observando do ponto de vista geográfico, a partir do que se percebe e como se
percebe, podem-se estabelecer relações de poder de acordo com a necessidade da
população e de sua capacidade de resolução, adequando-se às mudanças nas demandas
e firmando parcerias entre os grupos sociais envolvidos.
A partir da interação entre paisagem e território, pode-se mencionar um esquema
explicativo a ser considerado em duas etapas. Num primeiro momento, o observador
percebe a paisagem e esta pode variar dependendo do domínio conceitual deste agente
de saúde. Por exemplo, esta pode ser uma percepção simples. Pode também ser
analisada num nível intermediário, no qual há o relacionamento desta percepção com
outros tipos de conhecimentos pré-concebidos em treinamentos profissionais, na
prática cotidiana, ou no ensino formal. Em um nível mais avançado, inclui os itens
anteriores e a elaboração de um parecer crítico de modo a viabilizar uma intervenção
local.
Em um segundo momento o observador estabelece suas relações de poder com o
objetivo de intervir na realidade local. Esta intervenção varia de acordo com o que foi
observado na etapa anterior, mas também de outros fatores relacionados ao grau de
autonomia desse observador. Desta forma, há elementos que o agente de saúde não
percebeu, e, desta forma, não há como ser resolvido através dele. Há os elementos que
ele vê, relata, mas não depende dele resolver. Uma terceira situação demonstra que o
agente de saúde vê, relata e pode resolver os problemas a depender das relações que
estabeleceu com a comunidade em geral. Por fim, há os elementos que ele vê e tem
plenas condições de resolver (modelo explicativo 6).
230
É possível perceber que, no primeiro momento, são apontados alguns elementos,
porém os três quadrados vazios apresentam elementos que podem causar problemas ou
já causam, mas por falta de conhecimento sobre o assunto, o observador não teve
condições de perceber, ou se percebeu, não entendeu como algo a ser resolvido.
Na segunda etapa, através do grau de apropriação do território, que no caso do
esquema está representado pelo quadriculado, é possível ao observador resolver alguns
problemas; outros vão depender ou do seu relacionamento com a população local ou
com setores de outras escalas, sendo possível ao mais atento (ou interessado) alertar de
alguma maneira, e ao menos atento apenas conviver com o problema como se ele não
existisse.
MODELO EXPLICATIVO 6
PERCEPÇÃO DA PAISAGEM E APROPRIAÇÃO DO TERRITÓRIO DOS AGENTES DE SAÚDE DA ESF E PSA
Organizado por PEREIRA, MPB (2005).
Aqueles elementos que não foram observados (bolinhas avermelhadas)
continuam fazendo parte da paisagem e a causar algum tipo de problema.
Em outras palavras, pode-se considerar que os elementos existentes são
causadores de algum dano à saúde. Ao ser observado pelo agente de saúde, o problema
Teoria da complexidade
Primeiro momento Segundo momento
Elemento observado com base
em conhecimentos precedentes
Conhecimento não adquirido
Problema não percebido e o
resolvido
Problema percebido mas não
resolvido
Grau de apropriação do território
Grau de apropriação do território
231
pode ser solucionado imediatamente, relatado à equipe de trabalho e ser resolvido ou
relatado e passar para outros setores, seja na Secretaria de Saúde, em outras secretarias
ou outras instituições, podendo o problema ser resolvido ou não. Já os elementos que
não foram observados vão continuar existindo e podendo causar um dano ainda maior
posteriormente.
Quanto a esses elementos que interferem negativamente no processo saúde-
doença e que não foram observados e/ou não foram solucionados, podem causar danos
tanto na escala em que estão inseridos quanto em outras escalas, neste caso pode-se,
mais uma vez, aproveitar o entendimento de Santos (1997) sobre os eventos na sua
escala de origem que podem ter impacto em outras escalas.
Desta forma, dependendo da força desse emissor (elemento que pode causar
algum dano à saúde), este evento pode causar conseqüências tanto locais quanto em
outras escalas geográficas de maior abrangência. Nesse jogo de escalas pode-se
também entender que quando o evento ocorrido em uma escala (escala de origem) tem
sua escala de impacto em várias escalas geográficas simultaneamente, está ocorrendo
uma síntese de múltiplas escalas (GUIMARÃES, 2003b).
Do exposto, pode-se afirmar que os elementos capazes de interferir na saúde da
população, considerados de maior importância para a saúde seriam os que possuem as
maiores escalas de impacto, a exemplo dos criadouros de Aedes Aegipty e dos
problemas relacionados ao alcoolismo.
Para finalizar, percebe-se que o potencial local no sentido de desenvolver
competências e habilidades sociais para agir de maneira criativa no sentido de
promover a saúde da população atendida tem sido influenciador na medida em que
essas experiências são difundidas e chegam a atingir as escalas abstratas de discussão a
nível mundial. Neste caso há um movimento de constituição do objeto do nível inferior
para o superior. No caso do Recife esta difusão tem ocorrido através de premiações
das políticas adotadas.
232
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta pesquisa buscou analisar o conhecimento geográfico dos agentes envolvidos
na ESF e PSA na cidade do Recife a partir das competências e habilidades
desenvolvidas no processo de trabalho no âmbito da política de saúde local.
A escolha dos sujeitos privilegiou o horizonte máximo de desenvolvimento dessa
prática social na cidade de Recife, pois a maioria dos agentes de saúde pesquisados
encontrava-se em um nível de interações complexas. De acordo com os resultados
obtidos, o estudo da prática desses sujeitos sociais na escala local é uma importante
referência para a observação das ações dessas estratégias em âmbito nacional. Fica
também demonstrado que o conhecimento geográfico pode realmente ser observado a
partir de competências sociais (domínio conceitual, autonomia e domínio da
linguagem cartográfica). A análise dessas competências relacionadas à Geografia
possibilitou a identificação do nível de conhecimento geográfico do agente de saúde,
observado pelo grau de percepção da paisagem, apropriação do território e da
capacidade de representação dos elementos no espaço geográfico em que o agente de
saúde trabalha.
Tendo como pressuposto que tais competências sociais são impulsionadas pela
motivação e que esta depende da personalidade, das experiências vivenciadas e do
ambiente em que se insere o sujeito, pode-se inferir que o desenvolvimento do
conhecimento geográfico também depende desta motivação e dos fatores a elas
relacionados. Também se observou que os agentes com melhores resultados no que se
refere ao nível de competência social foram os que apresentaram um maior grau de
complexidade relacionado ao conhecimento geográfico. Essa constatação comprova a
tese defendida de que o desenvolvimento das competências sociais influencia no grau
de conhecimento geográfico dos agentes de saúde na ESF e no PSA, assim como
demonstra a possibilidade da elaboração de uma formação continuada a partir da
matriz de competências e habilidades.
233
Diante dessa afirmação, buscou-se em cada capítulo os argumentos que
possibilitassem a constatação da tese defendida, preocupação esta que serviu de
alicerce para a redação de cada capítulo.
Os capítulos um e quatro tiveram por objetivo mostrar o ambiente em que os
agentes de saúde trabalham no contexto dos modelos assistenciais de saúde, da história
da cidade e do ponto de vista de uma parte dos trabalhadores da saúde vinculados de
alguma forma a ESF e ao PSA. Esses contextos ao mesmo tempo em que se
complementam, fazendo com que eles desenvolvam mais de uma competência,
também influenciam na capacitação de profissionais com características singulares, as
quais tornam os agentes diferentes entre si.
Os capítulos dois e três trouxeram com detalhes a escolha dos procedimentos
teórico-metodológicos que encaminharam a pesquisa, possibilitando ao leitor o
acompanhamento passo a passo de todos os desafios encontrados na aplicação da
metodologia escolhida. Estes foram importantes para entender a relação direta e
indireta entre os conceitos escolhidos, assim como para a escolha de cada
procedimento de acordo com a escala geográfica no qual a informação foi gerada.
Já os capítulos cinco e seis possibilitaram uma aproximação entre os conceitos
relacionados à competência social e à Geografia a partir da implementação simultânea
da teoria e da sistematização de informações obtidas na atividade de campo.
O trabalho abre novas perspectivas de estudo, incorporando-se na análise das
políticas públicas a dimensão escalar. Tal conclusão se baseia nos níveis de
desenvolvimento da competência social dos diferentes agentes. Para os ACS, a área de
trabalho é a melhor escala de observação de suas competências e habilidades sociais,
pois eles têm uma maior preocupação com a comunidade onde moram, sendo sua fonte
maior de motivação. Já para os ASAs a melhor escala seria a da cidade, uma vez que
possibilita observar várias iniciativas que demonstram uma preocupação com uma
melhor condição de saúde para o cidadão, independente da localidade onde esteja
trabalhando.
Quando se consideram os modelos de assistência à saúde, percebe-se que o
domínio conceitual e a autonomia estão relacionados com os antecedentes históricos
de cada programa. A ESF sofreu a influência do Programa Médico da Família
234
implantado em Cuba, em que a base comunitária é a grande propulsora das ações,
sendo também o que ocorre no Brasil com o ACS, no qual tanto o conhecimento
quanto a ação estão fortemente relacionadas à comunidade, à localidade onde moram e
trabalham. Já o PSA, subordinado à Vigilância Ambiental em Saúde, teve como maior
influência as diretrizes da extinta Superintendência de Campanhas de Saúde Pública
(SUCAM). Assim, a visão abrangente sobre a cidade e a maior autonomia no trabalho
proporciona características ao atual ASA.
A história de cada localidade também possibilita impulsionadores e/ou inibidores
do desenvolvimento de capacidades dos agentes de saúde, fazendo com que suas ações
reproduzam ou modifiquem o processo de sua formação sócio-espacial. Como
exemplo tem-se o Poço da Panela, um local em que os moradores se orgulham de seus
antepassados por terem lutado contra o sistema colonial escravista, e na atualidade,
seus moradores estarem permanentemente lutando por uma melhor condição de vida,
apesar de todas as dificuldades por que passam os mais pobres.
Ao se intercalar essas peculiaridades, pode-se dizer que se formou uma cidade de
contrastes, caracterizada por possuir ao mesmo tempo características homogêneas e
heterogêneas, especialmente pelo que foi demonstrado quanto à percepção da cidade a
partir dos trabalhadores vinculados de alguma forma à ESF e ao PSA. Essas
particularidades têm por conseqüência um desenvolvimento desigual das competências
sociais e, havendo interesse em entender essa problemática em outra cidade, há a
necessidade de se realizar um estudo semelhante para comparabilidade.
No que diz respeito aos procedimentos metodológicos, estes se apresentaram
eficientes de forma diferenciada em cada programa. Para os ACS, os resultados são
mais eficientes a partir da utilização do mapa mental, uma vez que conseguem
condensar informações relacionadas ao domínio conceitual, autonomia e domínio da
linguagem cartográfica. Os agentes de saúde ambiental, por sua vez, demonstram
melhor suas competências e habilidades sociais através da imagem fotográfica e das
experiências cotidianas, na medida em que externaram uma maior capacidade de
registrar com mais detalhes a problemática e relatam melhor as ações realizadas por
sua própria iniciativa.
235
Com relação às competências sociais gerais dos agentes de saúde da cidade do
Recife – PE também foram obtidas algumas conclusões importantes. No que diz
respeito à motivação, os traços de personalidade, ou seja, as características pessoais
consideradas pelos agentes de saúde como sendo as mais importantes para exercer o
cargo são: a paciência, o respeito ao próximo e a facilidade de se comunicar. Das
experiências vivenciadas que mais influenciaram na escolha do cargo destacaram-se a
prática anterior em atividades semelhantes à de agente de saúde e o fato de já terem
percebido que possuem características pessoais que combinam com o perfil de
trabalho. Os fatores ambientais que estão influenciando no grau de desenvolvimento
atual do agente de saúde têm relação com o conhecimento adquirido e práticas
relacionadas ao trabalho que despertam a necessidade de mais conhecimento, a
autonomia e as melhores condições de vida para a população atendida.
O domínio conceitual foi demonstrado a partir da diversidade e dos tipos de
elementos que foram observados na paisagem, permitindo a expressão de pelo menos
dois tipos de paisagem (a da promoção à saúde e a do risco) dispostas em cinco níveis:
regional, área de trabalho, peridomícilio, domicílio e na escala do corpo. De acordo
com o nível de observação dos elementos nesta paisagem, foi observada uma melhor
percepção por parte dos agentes de saúde a partir de temas diferentes. Por exemplo, no
nível do corpo os ACSs observaram mais elementos, os quais estão relacionados
principalmente com as doenças referidas; já no nível peridomiciliar, os ASAs
perceberam mais elementos, sendo o saneamento o tema mais observado. Dessa forma
a importância da escala de observação dos agentes deve ser considerada tanto no
sentido de entender como se desenvolve melhor a competência social quanto para
identificar o tema mais observado.
A autonomia foi demonstrada a partir da tentativa ou materialização da ação do
agente de saúde no espaço geográfico. Foi observado que a autonomia é exercida
intelectualmente e na prática, as quais se apresentaram diferenciadas quando se
observou a ação do agente de saúde enquanto cidadão e enquanto profissional.
Enquanto cidadão, o ACS tem mais autonomia, ou seja, tem uma maior capacidade de
resolver problemas devido ao seu vínculo afetivo com a área de trabalho e ao maior
engajamento político, ainda que os recursos disponíveis sejam semelhantes tanto para
236
o ACS quanto para o ASA. Enquanto profissional ocorre o efeito contrário, sendo o
ASA mais autônomo devido à maior diversidade de recursos e, por conseqüência,
capaz de resolver uma maior variedade de problemas.
O domínio da linguagem cartográfica foi observado tanto em sua dimensão
subjetiva como em sua dimensão objetiva. Esta competência pôde demonstrar
sinteticamente como estão se desenvolvendo todas as competências do sujeito agente
de saúde uma vez que este trabalha em um território e localiza no mapa elementos
subjetivos com algum tipo de critério técnico, o que torna, portanto, as duas dimensões
importantes.
Quando se considera as várias escalas em que essas ações dos agentes de saúde
estão envolvidas estão ocorrendo três tipos de direcionamentos simultâneos (modelo
explicativo 7).
MODELO EXPLICATIVO
7
SÍNTESE DAS AÇÕES IMPLEMENTADAS PELO AGENTE DE SAÚDE SEGUNDO INFLUÊNCIA DE OUTRAS ESCALAS
GEOGRÁFICAS
Elaborado por PEREIRA, MPB (2008).
Por um lado, há uma normatização do território, em que a partir de diretrizes
gerais aprovadas em Conferências Internacionais são adotados modelos de políticas
Agente
de saúde
Agente de
saúde
Nível internacional
Prefeitura
Brasil
Prefeitura
Brasil
NORMATIZÃO
DO TERRITÓRIO
APROPRIAÇÃO
DE IDÉIAS
EXISTENTES
APROVEITAMENTO
DE EXPERIÊNCIAS
EXITOSAS
Agente de
saúde
Prefeitura
Brasil
237
públicas que repercutem em várias escalas. A escala superior determina o que a
inferior deve fazer.
Uma segunda diretriz seria o aproveitamento de experiências exitosas. Os agentes
de saúde agem de forma a chamar atenção do poder público e em ocasião pertinente
divulgam novas práticas, recebendo reconhecimento. Essas práticas, em conjunto com
outras que ocorrem em outros lugares, influenciam na decisão de novas diretrizes em
Conferências Internacionais.
Além desses dois direcionamentos, também está ocorrendo a apropriação de
idéias existentes. Uma idéia nova só é implantada em um local se houver condições
políticas e históricas favoráveis.
Poder-se-ia ainda acrescentar que foram muitas as descobertas obtidas a partir
desta pesquisa. Porém, ao longo do estudo outros caminhos também foram observados
e não puderam ser seguidos, pois levariam ao risco de um desvio do principal objetivo
da tese. Essas escolhas também acarretariam em uma grande quantidade de
informação, as quais tiveram de ser deixadas de lado para serem analisadas em outro
momento.
Entre os caminhos deixados para trás, alguns podem ser apontados como
complemento ou mesmo como possibilidades de pesquisas posteriores, a exemplo da
possibilidade de se explorar mais as representações sobre os vários temas tratados
pelos agentes de saúde e como estes refletem ou não os valores familiares, o que
remeteria à busca pelos fundamentos fornecidos pela teoria das representações sociais.
Outra possibilidade seria analisar as capacitações realizadas e as idéias provenientes de
escalas mais distantes desse sujeito. Pode-se ainda acrescentar a possibilidade de ser
elaborado um estudo sobre os riscos que os agentes de saúde estão submetidos no dia-
a-dia de trabalho, sendo o foco desviado da paisagem do risco à saúde da população
para paisagem do risco à saúde do trabalhador; ou ainda o desenvolvimento de um
estudo voltado diretamente para analisar as potencialidades e fragilidades da política
pública de saúde e sua relação com as práticas administrativas das gestões públicas.
Além disso, a escolha da maneira de expor este trabalho se constituiu num
aprendizado, a exemplo do estabelecimento de diversos planos de redação, dentre os
238
quais se espera que o escolhido tenha sido suficientemente esclarecedor para
fundamentar à tese defendida.
Diante do exposto, percebe-se que apesar dos fatores limitantes, os agentes de
saúde estão desenvolvendo competências e habilidades sociais, o que acarreta em
ações capazes de modificar o espaço geográfico em que se localiza o morador e
melhorar suas condições de saúde. Assim, caso continuem a desenvolver suas
competências e habilidades ao ponto de superar os problemas existentes, estarão
contribuindo para a concretização da concepção de uma nova cidade, sendo possível
observar uma Geografia da Promoção da Saúde.
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250
Apêndices...
A. Agrupamento das características apontadas por competência, pelos
enfermeiros da ESF e pelos supervisores do PSA;
B. Termo de consentimento livre e esclarecido;
251
Apêndice A...
QUADRO 1
CARACTERÍSTICAS AGRUPADAS POR COMPETÊNCIA DOS ACS
MOTIVAÇÃO
1
Consciente do trabalho/ Tem vínculo com o posto/ abraça a causa/ engajada/
Comprometimento com o sistema de saúde/ Comunicação sobre melhorias do
posto/ Divulgação tudo o que ocorre de bom/ informa bem o que ocorre na área
2
Politizada
3
Consegue lidar com todos/ Entrosa-se bem/ Política/ Lida bem com as pessoas/ É
bem entrosada, interage com a comunidade
4
Se envolve com o bem estar da equipe/ Se preocupa com o grupo/ Ajuda a todos
da equipe/ dedicada ao grupo/ motiva o grupo/ mobiliza a equipe
5
Trabalha até fora do horário/ Trabalha demais/ Cobre áreas descobertas/ Faz mais
do que o trabalho normal/ Faz de tudo
6
Envolvimento com organização de eventos/ Projetos para melhorar as condições
de vida da comunidade/ Desenvolve trabalhos com a comunidade
7
Boa interação com a comunidade/ Facilidade de acesso/ Vínculo com a
comunidade/ Entrosamento pessoal com a comunidade/ É uma das fundadoras/
Envolvido (a) na área/ Ajudou a formar a comunidade/ Dá satisfação do trabalho
na comunidade/ Abre caminhos para a comunidade
8
Percebe pessoas em situação de risco ambiental e pessoal/ Sabe o paciente que
tem que ter mais cuidado
9
Trabalho com educação em geral
10
Envolvimento com o bem estar do morador/ Traz coisas de fora para a
comunidade
11
Envolvimento com ONG/ Organizações comunitárias/ Conf de mulheres/
Sindicato/ Conselho de saúde municipal
12
É líder/ poder de convencimento/ Mobiliza a comunidade/ motiva as pessoas
13
Envolvimento com atividades artísticas e culturais
14
É respeitado pela comunidade/ É procurado para esclarecer dúvidas/ É aceito/
Consegue adesão, é atendido e entendido
15
Disponibiliza a própria residência
16
Cobra atitudes do serviço público/ briguenta para conseguir melhorias/ luta por
melhorias na comunidade/ luta pelo direito de todos
AUTONOMIA
17
Antecipa o problema/ Se antecipa ao que você vai precisar
18
Atuante/ Tem iniciativa/ É dinâmica/ Ágil/ Ativa/ Disposta/ Jeito jovem
19
Resolve os problemas com facilidade/ Ajuda a resolver problemas mais rápido
20
Sabe tudo o que ocorre na área
252
QUADRO 1 (CONT)
CARACTERÍSTICAS AGRUPADAS POR COMPETÊNCIA DOS ACS
DOMÍNIO CONCEITUAL
21
Formação
22
Linguagem acessível à população/ Didática/ Trabalha com a rádio comunitária
23
Boa comunicação/ Leva a informação de uma maneira dinâmica/ comunicativa
24
Tem conhecimentos/ Faz trabalho científico com a enfermeira
25
Experiência
26
Fala bem/ Explica bem/ É bem expressiva
27
Atividades da AESA, IESA e etc (festas para crianças, roupas, enxovais, atividades
esportivas e visitas a escolas com adolescentes, caminhada com idosos, etc
.)
28
Trabalho com educação ambiental/ sanitária/ saúde.
DOMÍNIO DA LINGUAGEM CARTOGRÁFICA
29
Tem um olhar melhor para a comunidade/ Olhar clínico/ Tem boa visão social/
visão crítica da área
30
Conhece bem a área/ Tem domínio da área.
CARACTERÍSTICAS PESSOAIS QUE INTERFEREM NA EFICIÊNCIA DAS
COMPETÊNCIAS E HABILIDADES
31
Perfeccionista
32
Responsável
33
Tem compromisso
34
Meticulosidade/ cuidado/ zelo
35
Interesse/ dedicação/ disposição/ empenho, esforço
36
Trabalha com amor/ Gosta do que faz
37
Eficiente/ competente/ Desempenha bem a função/ Faz bem a sua parte/ O
trabalho é elogiado
38
Disponível/ Prestativa/ Atenciosa
39
Cumpre bem a jornada de trabalho
40
Desenvolvida
41
Acolhedora/ receptiva/ é como uma mãe
42
Delicada
43
Detalhista/ preocupada/ atenta
44
Criativa
45
Confiável
46
Carinhosa/ afetiva
47
Gentil
48
Habilidosa para trabalhar com o público
49
Inteligente
50
Luta contra as adversidades
51
Organização
52
Sensível aos agravos da comunidade/ se envolve emocionalmente
53
Simpática/ bacana.
Fonte: Trabalho de campo realizado em janeiro e fevereiro de 2007.
253
QUADRO 2
CARACTERÍSTICAS AGRUPADAS POR COMPETÊNCIA DOS ASAS
MOTIVAÇÃO
1
Tem apoio político partidário
2
Consciente do trabalho
3
Integração com o PSF
4
Identificação com a área
5
Motivação
6
Faz mais do que é pedido/ trabalha até fora da área
AUTONOMIA
7
Mora na área
8
Boa interação com a comunidade/ facilidade de acesso
9
Cobra atitudes da população
10
Religiosidade
11
Envolvimento com organização de eventos/ projetos para melhorar as condições
de vida
12
Percebe pessoas em situação de risco ambiental e pessoal
13
Envolvimento com o bem estar do morador
14
Liderança/ poder de convencimento/ mobiliza a comunidade
15
Trabalho em grupo
16
Cobra atitudes do serviço público
17
Tem iniciativa/ dinâmica
18
Resolve os problemas com facilidade
DOMÍNIO CONCEITUAL
19
Formação
20
Faz diagnóstico e resolve/ encaminha o problema
21
Linguagem acessível à população/ didática
22
Tem experiência
23
Trabalho de orientação domiciliar
24
Trabalho com educação ambiental/ sanitária/ saúde
25
Trabalhos manuais para educação ambiental
26
Boa comunicação
DOMÍNIO DA LINGUAGEM CARTOGRÁFICA
27
Observa bem a área
28
Tem boa visão social/ Visão crítica da área/ Tem uma visão do todo
29
Conhece bem a área
CARACTERÍSTICAS PESSOAIS
30
Trabalha com amor/ Gosta do que faz
31
Criatividade
32
Detalhista
33
Eficiente
34
Disciplinada
35
Disponível/ Prestativa
36
Meticulosidade/ cuidado
37
Pontualidade
38
Assiduidade
254
QUADRO 2 (CONT)
CARACTERÍSTICAS AGRUPADAS POR COMPETÊNCIA DOS ASAS
CARACTERÍSTICAS PESSOAIS (CONT.)
39
Interesse/ dedicação/ disposição
40
Responsabilidade
41
Coragem
42
Participação
43
Compromisso
44
Desestímulo/ revolta com as dificuldades
45
Faz um bom trabalho de campo
46
Eficiente como técnico
47
Compaixão/ Misericórdia
48
Preocupação com a população e/ou com a área
49
Pessoa humana
50
Paciência
51
Organização
52
Confiabilidade
53
Simpatia
54
Amizade
Fonte: Trabalho de campo realizado em janeiro e fevereiro de 2006.
255
Apêndice B...
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
FACULDADE DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA
CURSO DE DOUTORADO
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Esta pesquisa fará parte da tese que está sendo realizada sob orientação do prof. Dr. Raul
Borges Guimarães (UNESP/ FCT/ PPGG) intitulada: “Conhecimento Geográfico do agente de saúde
da cidade do Recife: influências na saúde individual e ambiental”. Trata-se de um estudo que tem
por objetivo avaliar o conhecimento geográfico dos agentes envolvidos no Programa Saúde da
Família (PSF) e Programa de Saúde Ambiental (PSA) na cidade do Recife. Para se ter as
informações necessárias, serão realizados os seguintes procedimentos com os agentes desses
programas: visita na área de trabalho de um grupo de agentes, momento em que será realizada uma
entrevista visando saber algumas informações sobre interesses e as influências que ele teve na vida
para desempenhar dessa maneira o trabalho como agente, desenho de mapa mental e se pedirá que o
mesmo fotografe os elementos no local de trabalho que possam causar problemas à saúde; assim
como será realizada uma entrevista com um outro grupo no qual inicialmente será aplicado um
questionário com dados gerais como idade, grau de instrução, etc e serão realizadas algumas
dinâmicas contemplando os seguintes temas: motivação, autonomia, domínio conceitual e domínio
da linguagem cartográfica. Serão usados também documentos dos serviços de saúde, de outros
setores da Prefeitura da Cidade do Recife (PCR), estaduais, nacionais e internacionais para uma
análise dos mesmos.
Será garantido ao participante: direito a qualquer esclarecimento sobre o estudo em qualquer
fase do mesmo; direito de recusar a participar ou retirar seu consentimento em qualquer fase da
pesquisa; confidencialidade e anonimato: as informações serão sigilosas e os participantes não serão
identificados. Os resultados do estudo serão utilizados exclusivamente para publicações e encontros
científicos, tais como: monografias, dissertações, teses, artigos em revistas científicas, congressos e
reuniões científicas.
Qualquer esclarecimento entrar em contato com Martha Priscila Bezerra Pereira, a qualquer
momento pessoalmente no endereço da cidade de Paulista – PE, na R. Ouro Preto, 27. Conjunto
Beira Mar – Janga. CEP: 53.435-640, no telefone 81. 3436 - 6426.
Eu,__________________________________________________________________ declaro
que aceito participar como sujeito da pesquisa acima referida. Data: __/__/__.
Assinatura: __________________________________________________________
Em cumprimento a resolução n
o
196 do Conselho Nacional de Saúde.
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