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Universidade Federal de Santa Catarina
Centro de Filosofia e Ciências Humanas
Programa de Pós-Graduação em Geografia
Karina Martins da Cruz
A CONTRIBUIÇÃO DE ALEMÃES E DESCENDENTES PARA A
FORMAÇÃO SÓCIO-ESPACIAL CATARINENSE: O CASO DA
REGIÃO METROPOLITANA DE FLORIANÓPOLIS (SC)
Orientadora: Profa. Dra. Raquel Maria Fontes do Amaral Pereira
Co-Orientador: Prof. Dr. Marcos Aurélio da Silva
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
Área de Concentração: Desenvolvimento Regional e Urbano
Florianópolis (SC) - 2008
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Dedico este trabalho:
Aos colonos alemães e seus descendentes
tornados produtores rurais e/ou comerciantes,
que têm participado ativamente das
transformações na região.
Aos meus pais e, especialmente, ao Márcio.
4
AGRADECIMENTOS
O trabalho de dissertação é um processo solitário, movido pela curiosidade que, no
entanto, exige um diálogo com muita gente. Sem a interferência solícita de outros, não
há como dar prosseguimento à investigação. Nestes momentos, creio que Deus está
presente, conectando pensamentos e pessoas. Quero aqui registrar o meu sincero
agradecimento à minha orientadora, Profa. Dra. Raquel Maria Fontes do Amaral
Pereira, pela firmeza, paciência e confiança na condução do trabalho. Estendo minha
dívida ao Prof. Dr. Marcos Aurélio da Silva, co-orientador do trabalho que, de forma
significativa, concedeu apoio teórico e sugestões para a melhoria da redação dos
capítulos. Igualmente de suma importância foram os contatos com o Prof. PhD. João
Klug, do Departamento de História da UFSC, na indicação de fontes e me alertando a
para a necessidade de esclarecer alguns fatos. Agradeço também ao Coordenador de
Pós-Graduação em Geografia, Prof. Dr. Carlos José Espíndola e à Secretária, Marli
Terezinha Costa, pelos encaminhamentos e profissionalismo, além dos professores das
disciplinas cursadas (ano de 2006), especialmente ao Prof. Dr. José Messias Bastos,
pelas aulas enriquecedoras, pelos trabalhos publicados e indicações.
Agradeço aos colegas doutorando Márcio R. Teixeira Moreira, a quem sou grata pelo
apoio emocional dispensado quando resolvi mudar de tema, por explicações sobre o
município de Itajaí e no empréstimo de textos; mestrando Mateus Schappo, pela visita a
familiares e vizinhos no município de Angelina, onde estive num antigo “secos e
molhados” que funcionou entre 1920-60, restando ainda preservados o casarão, a
mobília e os livros-caixa; e mestranda Nádia Stürmer, pelos cafés na sua casa para
trocarmos as aflições acadêmicas. Também registro o auxílio da doutoranda Sônia M.
Teixeira Moreira, em disponibilizar acesso a alguns livros.
Devo especiais agradecimentos à bibliotecária voluntária Patrícia Régis, da Biblioteca
do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina (BIHGSC), pela sua dedicação e
presteza em encontrar manualmente algumas obras raras; à funcionária Neusa Maria
Schmitz, do Arquivo Público do Estado de Santa Catarina (APESC), organizadora do
material que demonstrou preocupação em conservar as cartas originais às quais tive
acesso; ao funcionário e historiador Érico H. dos Santos, do Arquivo Público Municipal
5
de Florianópolis, pelas recomendações bibliográficas; e aos funcionários que me
atenderam na Biblioteca Pública do Estado de Santa Catarina (BPESC); Biblioteca
Central da Universidade para o Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina
(UDESC); Biblioteca do Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis (IPUF);
Biblioteca do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE/SC); além da
Biblioteca Universitária, Biblioteca do Colégio Aplicação, Sala de Monografias e
Biblioteca Setorial do Centro Sócio-Econômico (CSE), e Biblioteca Setorial José
Saramago (CFH) na UFSC.
De fundamental importância também foram os serviços de Gabriel Lima e Jordan
Trebien na digitalização de mapas; dos professores de alemão Noêmia e Detlef Brall
que traduziram parte do “Gedenkbuch”; da professora de inglês Liliane M. Furtado que
organizou o Abstract; e do pessoal que lidou com xerografia, encadernação, scanner e
manutenção de informática.
Registro a minha gratidão àqueles que possibilitaram informações sobre comerciantes e
empresas extintas — Hilda, Irma e Teresinha Schappo, Dalvina de Jesus Siqueira,
Leatrice Moellmann, Márcia Pagani, Ervino Stähelin e funcionários da Casa de Cultura
da Prefeitura Municipal de São Pedro de Alcântara.
Meu muito obrigada também aos representantes de empresas, pela disponibilidade de
tempo e em aceitar a gravação de cada entrevista facilitando na análise empírica!
Agradeço a atenção prestada por Dioceles Vieira à frente da Secretaria Municipal da
Receita e ao fotógrafo Pedro Clasen da Assessoria de Imprensa, ambos na Prefeitura
Municipal de São José.
De grande valia ainda foram as demais pessoas com as quais confirmei algumas
informações, pois me ajudaram a consolidar melhor determinados pontos no texto.
Sou grata ao apoio constante da minha mãe, Dayse, separando recortes de jornal,
avisando-me sobre o lançamento de livros e eventos, fornecendo indicações e contatos
sobre algumas famílias ou pessoas na região, acompanhando-me em várias
expedições, etc.
A bolsa do CNPq, por um ano, tornou-se um auxílio fundamental para o custeio de
despesas relacionadas à pesquisa. Agradeço o auxílio federal recebido, bem como ao
Colegiado do Programa!
6
RESUMO
O objetivo deste trabalho é examinar os reflexos da colonização alemã catarinense na
estrutura comercial da Região Metropolitana de Florianópolis, através de um dinâmico e
resistente pequeno modo de produção. As áreas de colonização alemã lindeiras a
Florianópolis, embora tivessem recebido mais apoio financeiro, acolheram um menor
número de colonos para o amanho de um meio natural pouco favorável à agricultura.
Entre estes imigrantes predominaram os que professaram a religião católica, o que
difere das áreas coloniais situadas nos vales atlânticos ao norte. Os colonos alemães
que se estabeleceram na Região Metropolitana de Florianópolis foram encaminhados
inicialmente para as áreas de “boca da mata”, mantendo um contato estreito com o
tropeirismo, responsável pela ocupação de expressiva extensão do território sulino. A
divisão de terras mais diversificada acarretou uma diferenciação social, onde vendistas
e madeireiros conseguiam estágios de acumulação numa estrutura social bastante
horizontalizada, na qual predominavam atravessadores responsáveis pelo
encarecimento das manufaturas agrícolas entre o litoral e a serra. Durante a 2ª
dualidade (1889-1930), estas áreas coloniais permaneceram atreladas ao domínio dos
latifundiários de Lages e dos comerciantes de import-export do litoral catarinense,
inclusive, aqueles que modernizaram o comércio do centro urbano de Florianópolis.
Após a Revolução de 1930, as dificuldades socioeconômicas enfrentadas pelos
descendentes de alemães aumentaram a resistência de determinadas famílias, onde os
hábitos de poupança e negociação exercitados no âmbito familiar promoveram uma
cultura de pequenos empreendedores que se afunilaram após as décadas de 1950-60,
período no qual houve a oportunidade de saída do meio rural antes do boom
demográfico de Florianópolis. Neste intercurso, planos de governo forneceram um
desenvolvimento industrial prioritário a cada década (ciclos juglarianos),
concomitantemente à expansão de determinados bairros continentais de Florianópolis e
São José (Estreito, Campinas e Kobrasol), onde doze conglomerados, empresas ou
famílias de empresários descendentes de alemães ascenderam comercialmente pela
via americana, em sua maioria beneficiados por políticas públicas, as quais foram
aproveitadas nos períodos depressivos para o desenvolvimento dos setores de
materiais de construção, venda de eletrodomésticos, supermercadista, construção civil
e venda de automóveis e combustíveis. Observou-se que entre 1980-2007, cerca de
1/4 das empresas registradas no município de São José apresentaram sobrenome de
origem alemã.
7
ABSTRACT
The objective of this study is to analyze the impact of German colonization of Santa
Catarina State on the commercial structure of the Metropolitan Region of Florianopolis,
through a small, resistant and dynamic mode of production. It appears that the areas of
German colonisation next to Florianopolis however had received more financial support
and a lesser number of settlers on a natural
environment not favourable to agriculture.
Among these imigrants predominated the profess of the Catholic religion, which differs
from the colonial areas in the Atlantic valleys to the nort. The germans settlers
established on Florianópolis Metropolitan Region were leaded to the “mouth of the
jungle” areas mantaining a strong merchant contact with cattle drivers responsible by the
ocupation of expresive extension of Brasilian South territory. The division of land
contributed to a more diverse social differentiation, where the traders and the
woodcutters could reach accumulation stages of a social structure rather horizontal,
where dominated intermediary merchantises responsible by the increase the price of
agricultural manufactures between the coast and the plateau region. During the 2nd
duality (1889-1930), these colonial areas remained assigned to the field for large land
owners of Lages and the import-export traders, on the Santa Catarina coast, including
those that modernize the trading center of Florianopolis. After the Revolution of 1930,
the social and economical difficulties faced by the families of descendants of Germans
increased the resistance of some families, where the habits of savings and negotiation
exercised by the family promoted a culture of entrepreneurs who are diminished to small
numbers after the decades of 1950 –60. At which time there was an opportunity to leave
rural areas, before the population boom of Florianopolis. In this intercourse, the
government plans favour the industrial development priorities of each decade (juglarian
cycles), concomitant with the expansion of certain districts on continental Florianópolis
and São José (Estreito, Campinas and Kobrasol), where twelve businesses
conglomerates or families of descendants of German entrepreneurs ascend
commercially by an American Way, mainly beneficiaries of public policies, which were
used on depressed periods to developing the sectors of building materials, trade of
home appliances, supermarket propriety, civil building and cars and fuels trade.
Obseved that between 1980-2007, approximately 1/4 of companies registered in the
municipality of San Jose has a name of German origin.
8
Se elles possuissem a tenacidade de que se jactam, teriam á fôrça
de fecundidade, allemanisado a Europa; é justamente a
malleabilidade de que são dotados, a facilidade com que se
sujeitam á ordem e á regra, a sympathia innata que teem pelas
cousas extrangeiras e o seu amor pelo estudo das línguas que os
teem diluído e apoucado.
...e os unicos, que teem conservado a sua originalidade entre os
Lusitanos e os Indios, são os colonos estabelecidos nas províncias
meridionaes do Brazil, em S. Paulo, Panamá [sic], Santa
Catharina, S. Pedro do Rio Grande do Sul; mas é insignificante o
número d’elles e o meio “latino” que os suffoca ha de anniquilal-os
dentro de muito pouco tempo.
Onésime Reclus (1837-1916)
9
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
FOTO 1 - O trapiche da Praia Comprida no município de São José (fins do séc. XIX)174
FOTO 2 - O comércio de Felippe Petry em 1922, na Praia Comprida, São José.........174
FOTO 3 - Vista do centro de São José (anos 1920).....................................................175
FOTO 4 - Benjamin Gerlach no seu Café Social (1930), praça central de São José...175
FOTO 5 - Estrada Geral de Coqueiros com a Escola Alemã e Salga do Fett (1926)...176
FOTO 6 - A venda rural de João Schappo em 1930, Garcia, Angelina........................176
FOTO 7 - Cargueiros transportando produtos na estrada até Lages............................177
FOTO 8 - Igreja Evangélica de Confissão Luterana em Palhoça (1906)......................177
FOTO 9 - Rua central de Palhoça com traços arquitetônicos luso-brasileiros e, ao
fundo, a Igreja Evangélica.............................................................................178
FOTO 10 - Vista panorâmica de Anitápolis, então distrito de Palhoça.........................178
FOTO 11 - “Santo Amaro” enquanto principal distrito de Palhoça................................179
FOTO 12 - Estrada entre as localidades de Caldas e Santo Amaro.............................179
FOTO 13 - Visita do governador Adolpho Konder ao comércio de Germano A. Kretzer,
no caminho entre São Pedro de Alcântara e Angelina (1926)....................180
FOTO 14 - Vista do alto da Igreja Matriz de São Pedro de Alcântara (1929)...............180
FOTO 15 - Vista parcial do Alto Biguaçú, margeado pelo rio Biguaçú (1929)..............181
FOTO 16 - Casa no bairro Limeira, no atual município de Antônio Carlos...................182
FOTO 17 - Casa no bairro Santa Filomena, em São Pedro de Alcântara....................182
FOTO 18 - Casa no bairro Garcia, município de Angelina............................................183
FOTO 19 - Casa no bairro Vargem Grande, município de Águas Mornas....................183
FOTO 20 - Casa na rua Alves de Brito, Centro, Florianópolis......................................184
FOTO 21 - Antiga casa da família Bunn, Praia Comprida, São José (demolida)..........184
FOTO 22 - Casa na av. Bocaiúva esq. Othon Gama D’Eça, Centro, Florianópolis......185
FOTO 23 - Casa na av. Santos Saraiva esq. Marechal Câmara, Estreito, Florianó-
polis.............................................................................................................185
FOTO 24 - Sobrado de João Nicolau Born (1892), Centro, Biguaçú............................186
FOTO 25 - Casa que pertenceu a Fernand Hackradt (Século XIX), família Scheele e
ao barão Dietrich Freiherr von Wangenheim, Centro, Florianópolis...........186
FOTO 26 - Casarão Philippi construído em 1907, Vargem Grande, Águas Mornas.....187
FOTO 27 - Casa de Germano Kretzer construída em 1920, Santa Filomena, São
Pedro de Alcântara......................................................................................187
FOTO 28 - Antigo Comércio de Felippe Petry construído em 1908, Praia Comprida,
São José......................................................................................................188
FOTO 29 - Comércio inicial de Eugênio Raulino Koerich (1930), Colônia Santana,
São José......................................................................................................188
FOTO 30 - Antigo prédio de vendeiro, Centro, Rancho Queimado...............................189
FOTO 31 - Antigo “secos e molhados” rural de João Schappo construído em 1920,
Garcia, Angelina...........................................................................................189
FOTO 32 - Antiga casa vendista rural, Santa Filomena, São Pedro de Alcântara........190
FOTO 33 - Casa com aparência de ex-vendista no centro de Antônio Carlos.............190
FOTO 34 - Moinho inicial de Hackradt e Ebel (séc. XIX)..............................................191
10
FOTO 35 - Antiga sede (ao fundo) de Hackradt e posterior de Hoepcke (séc. XIX).....191
FOTO 36 - Seções de Fazendas (esq) e Ferragens (dir) da firma Hoepcke, rua Altino
Corrêa (Conselheiro Mafra) esquinas com a Deodoro................................192
FOTO 37 - A “Fábrica Santa Catarina” da firma Wendhausen, na rua Bocaiúva.........192
FOTO 38 - Interior em funcionamento da “Fábrica Santa Catarina”.............................193
FOTO 39 - Padaria Moritz (lado direito) na esquina da rua Felipe Schmidt (década
1950)...........................................................................................................193
FOTO 40 - Casa Moellmann na rua XV de Novembro, em Blumenau (década 1960).194
FOTO 41 - A Igreja da Comunidade Luterana de Florianópolis....................................195
FOTO 42 - A Escola Alemã da Comunidade Luterana de Florianópolis.......................195
FOTO 43 - Prédio do antigo atacado Hoepcke.............................................................196
FOTO 44 - Prédio na rua Felipe Schmidt esq. com Deodoro........................................196
FOTO 45 - O Centro Comercial ARS, na rua Conselheiro Mafra..................................197
FOTO 46 - Prédio da antiga fábrica de pregos Hoepcke..............................................197
FOTO 47 - Indústria de Bebidas Leonardo Sell, em Rancho Queimado......................201
FOTO 48 - Unidade da “Lojas Koerich”, situada na rua Conselheiro Mafra, Centro,
Florianópolis................................................................................................201
FOTO 49 - Unidade dos supermercados “Imperatriz”, na rua Aniceto Zacchi, Ponte
do Imaruim, no município de Palhoça.........................................................202
FOTO 50 - O Bairro Kobrasol no município de São José.............................................202
FOTO 51 - Protensul com fábrica situada no bairro Ponta de Baixo, em São José.....203
FOTO 52 - Loja Dominik, marginal da rodovia BR-101, no bairro Roçado, São José..203
FOTO 53 - Distribuidora Kretzer, localizada na marginal da BR-101, bairro Praia
Comprida, São José....................................................................................204
FOTO 54 - Posto Nienkötter, no bairro Capoeiras, Florianópolis..................................204
FOTO 55 - Loja da Gerber Móveis, na rua Anita Garibaldi, Centro, Florianópolis........205
FOTO 56 - Loja “A Barateira” na rua João Pinto, Centro, Florianópolis........................205
FOTO 57 - O Beiramar Shopping, Centro, Florianópolis...............................................206
11
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 - A Divisão de Terras nas Colônias...............................................................40
TABELA 2 - Distribuição produtiva dos distritos de Palhoça em 1939............................58
TABELA 3 - Número de fábricas nos municípios catarinenses em 1941......................103
TABELA 4 - Classificação das cidades segundo ordem de valor de vendas (1955)....107
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1 - Estabelecimento das Colônias Alemãs em Santa Catarina......................23
QUADRO 2 - Despesas do Governo Imperial com colônias até 1880............................25
QUADRO 3 - Comércio Geral nas colônias locais (em mil réis).....................................39
QUADRO 4 - Produção Agrícola na Região (década 1940/50)......................................60
QUADRO 5 - Cadastro Econômico de Empresas em São José (1980-2007)..............141
12
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO................................................................................................................13
1. A FORMAÇÃO SOCIAL CATARINENSE NA FACHADA ATLÂNTICA
CATARINENSE E O PAPEL DA COLONIZAÇÃO ALEMÃ...........................................17
1.1 Os alemães na origem da pequena produção mercantil da fachada
atlântica catarinense........................................................................................................17
1.2 O Caso das Colônias Antigas....................................................................................32
1.2.1 A tipologia arquitetônica.........................................................................................52
1.2.2 Dinâmica das áreas rurais no entorno de Florianópolis.........................................55
2. O CAPITAL MERCANTIL E A BURGUESIA COMERCIAL-INDUSTRIAL:
REFLEXOS DA 2ª DUALIDADE NA ILHA.....................................................................68
2.1 Antecedentes da Origem Alemã na Praça Portuária.................................................68
2.2 A Burguesia Comercial-Industrial na 1ª metade do século XX..................................94
2.3 Situação urbano-econômica na década de 1940....................................................100
3. A PRESENÇA DE DESCENDENTES DE IMIGRANTES ALEMÃES NA
ASCENSÃO DE ALGUNS GRUPOS EMPRESARIAIS ...........................................106
3.1 Emersão de capitalistas a partir do meio rural pós-1950........................................106
3.2 Trajetórias de diversificação dos “alto-capitalistas”.................................................118
3.2.1 Padrões gerais obtidos pelas entrevistas.............................................................135
3.3 A cultura de pequenos empreendedores................................................................139
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................................143
REFERÊNCIAS.............................................................................................................148
APÊNDICE....................................................................................................................168
ANEXOS........................................................................................................................173
13
INTRODUÇÃO
Enquanto núcleos pioneiros da colonização alemã em Santa Catarina as
colônias de São Pedro de Alcântara, Vargem Grande, Santa Isabel, Leopoldina,
Piedade e Teresópolis, situadas na área fronteira à cidade de Desterro/Florianópolis,
mesclaram-se às colônias nacionais vizinhas (Angelina e Santa Teresa), estabelecendo
uma pequena produção mercantil diferenciada daquela (a açoriana) existente na Ilha de
Santa Catarina e faixa litorânea próxima.
O foco central da investigação é chamar inicialmente a atenção para o fato de
que, quando se busca analisar a formação sócio-espacial do litoral catarinense, a
presença de imigrantes alemães e seus descendentes é ofuscada pela interpretação
dominante de que seus traços característicos resultam exclusivamente de uma herança
portuguesa, ou mais precisamente, luso-brasileira, reforçada pelos fluxos migratórios
açorianos ocorridos em meados do século XVIII. Daí porque o desenvolvimento deste
trabalho dispõe-se a reconhecer a participação, numa segunda e terceira etapa após o
assentamento colonial estabelecido nas áreas em estudo, dos elementos de origem
alemã que contribuíram de forma decisiva para a evolução da formação
socioeconômica da região em apreço, bem como para o seu desenvolvimento urbano.
É bastante freqüente e comum a interpretação divulgada em inúmeros trabalhos
sobre a colonização do estado de Santa Catarina, segundo a qual, comparadas às
colônias alemãs situadas nos vales do Itajaí-Açú, Itajaí-Mirim e Itapocu, as colônias
próximas à Capital “não prosperaram”. Sobre as últimas, é importante destacar que as
diferenças de desenvolvimento podem ser atribuídas a vários fatores e que a
industrialização bem-sucedida naqueles vales advêm justamente de especificidades
histórico-geográficas. Segundo Willens (1980), não poucos artífices e vendeiros dentre
os descendentes de alemães contribuíram para a formação de um sistema econômico
autônomo nas áreas de colonização homogênea. Constatou-se, então, que a definição
de insucesso atribuída à hibridez étnica na Região Metropolitana de Florianópolis
precisava ser elucidada para que se possa compreender o destacado papel que
determinados grupos empresariais, originários da iniciativa de descendentes de
alemães, ocupam na atualidade.
14
A investigação exigiu uma abordagem interdisciplinar, buscando apreender o
modus operandi na formação de capitais oriundos da pequena produção alemã. A
análise realizada teve, pois, uma preocupação com a totalidade, abarcando, como
recomenda Mamigonian (1991), num primeiro nível, a participação dos fenômenos
naturais na vida humana (de mudanças lentas), sob outro nível, as atuações das
estruturas econômico-sociais combinadas e, num nível mais elevado, os
acontecimentos políticos e eventos em geral.
A periodização utilizada neste estudo baseia-se na proposta de Bastos (2000,
p.127-128) que define uma etapa de desenvolvimento urbano da capital de Santa
Catarina do último quartel do século XIX até as vésperas da década de 1950 — durante
o qual se registra o enfraquecimento econômico ocorrido após a Revolução de 1930 —
e outra que se estende dos anos 1950 aos dias atuais. De acordo com o referido autor,
a cidade de Desterro, atual Florianópolis,
... nos seus mais de dois séculos e meio de existência passou em linhas gerais
por três grandes fases no processo de desenvolvimento urbano. A primeira
urbanização está vinculada à ascensão da pequena produção mercantil
açoriana que na virada do século XVIII para o século XIX tornara-se
exportadora de gêneros alimentícios como a farinha de mandioca, óleo de
peixe, peixe salgado, etc. Essa fase está relacionada também ao
estabelecimento das milícias portuguesas do Brasil meridional e a função
administrativa de capital da Província. A segunda
, iniciada a partir do último
quartel do século passado, quando, então, Florianópolis é promovida à
condição de praça comercial importadora que vai abastecer as emergentes
colônias de alemães [ao norte] e italianos [ao sul] recém instaladas nos vales
atlânticos catarinenses. A última fase
está relacionada ao processo de inserção
da capital catarinense no contexto do capitalismo industrial brasileiro e
catarinense que ocorre com mais vigor a partir da segunda metade dos anos
50 e transforma radicalmente a cidade. Florianópolis, assim, readquire funções
de nível estadual que havia perdido com a decadência da pequena produção
açoriana e após Revolução de 30 quando então as principais empresas
comerciais florianopolitanas teimam em permanecer vinculadas ao esquema
econômico-territorial anterior à referida revolução. (grifo nosso)
Na segunda e na terceira fase, estiveram presentes de maneira atuante no
cenário comercial-portuário e, depois, substituindo aos anteriores no cenário comercial-
rodoviário, algumas dezenas de comerciantes de origem alemã, tornando expressiva a
sua participação na organização do espaço urbano e regional. O capítulo inicial traça
um panorama geral sobre os temas a serem aprofundados nos capítulos dois e três,
entendendo inicialmente a formação social enquanto um processo histórico e
15
geográfico, e levantando os primeiros referenciais comparativos, desde as formas de
adaptação colonizatória dos alemães e descendentes na região estudada, os meios de
ascensão social existentes, a dinâmica das áreas rurais em seus vários estágios e as
possibilidades regidas pelas condições de trabalho na saída do meio rural até as áreas
continentais próximas a Florianópolis.
O capítulo dois é iniciado pelo último quartel do século XIX, período este de
efervescência para o comércio import-export e a navegação de cabotagem quando se
registra a formação de uma burguesia comercial, no seio da qual os descendentes de
alemães tiveram um papel de destaque no comércio florianopolitano até pouco depois
da década de 1930. Esta etapa é balizada pela 2ª dualidade brasileira (1889-1930)
1
,
delimitada pelos eventos da Proclamação da República e a Revolução de 1930, período
marcado por um conjunto de transformações sociais: o processo de industrialização
nacional, a ascensão de Getúlio Vargas
2
e a centralidade econômica das fábricas,
estrutura ferroviária e portuária de São Paulo, em detrimento dos importadores do Rio
de Janeiro. Subordinados a estes últimos — comerciantes do Rio de Janeiro —, os
primeiros comerciantes descendentes de alemães de Florianópolis perderam sua
expressão econômica e política, conforme será tratado ao longo do segundo capítulo.
Somente a partir do início da década de 1950, é que a conjuntura econômica de
Florianópolis e adjacências retoma um novo fôlego econômico salientado pelo
crescimento da estrutura urbana e rodoviarismo na região, além dos investimentos na
ampliação do serviço público estadual. Este é o foco do capítulo 3, que discute a
estrutura comercial em processo de desenvolvimento, paulatino no Centro e em
1
A 2ª dualidade significa a união hegemônica, tanto política quanto economicamente, dos comerciantes
de import-export com os latifundiários ex-escravistas. Cf. Mamigonian (1987) é preciso entender que as
mudanças no Brasil são provocadas pelas classes subalternas através de uma pressão de baixo (das
forças produtivas), porém, que são controladas e postas em prática de cima para baixo, ou seja, o Estado
brasileiro se compõe de duas classes dominantes que revesam o seu poder (cada uma assumindo a
regência de sócio maior e sócio menor na metade do período) a cada 40 anos, aproximadamente. Cf.
Castro (2005), tendo como referencial as idéias e estudos de Ignácio Rangel, a dualidade é exatamente a
teoria que junta o processo econômico e as classes sociais, enquanto objetos de uma análise de
economia política.
2
Cf. Bastos (2002) é necessário chamar a atenção para a conjuntura econômica brasileira do período
Vargas (1930-1945), no qual ocorreu a queda de cerca de 70% no preço do café no mercado
internacional, o seu principal produto de exportação, quando os artigos importados considerados
supérfluos (aqueles que a indústria nacional já possuía capacidade de fabricar), passaram a serem
comprados com dólares sobrevalorizados. Dessa forma, após a Revolução de 1930, o desenvolvimento
do capitalismo industrial brasileiro foi alavancado por meio do processo de substituição de importações
que contou com uma forte intervenção do Estado.
16
determinados bairros periféricos, como Estreito, Campinas e Kobrasol. Os elementos de
origem alemã foram beneficiados por uma estrutura em que ocorreram sucessivos
alavanques sócio-econômicos (ciclos juglarianos)
3
no país, bem como pela
especialização em ofícios e da descentralização dos pontos comerciais. O
comportamento empresarial é também interpretado através da realização de entrevistas
individuais, visando o entendimento de dois processos em curso: a formação de “alto-
capitalistas” e a “cultura de pequenos empreendedores”.
Analisa-se o município de Florianópolis a partir da sua relação com as áreas
continentais próximas (São José, Palhoça e Biguaçú), buscando entender a ilha não
apenas como propagadora do crescimento urbano das suas áreas adjacentes. A
temática assume uma perspectiva voltada ao desenvolvimento comercial da Região
Metropolitana de Florianópolis como um todo, cabendo o entendimento de que a
pequena produção mercantil de origem alemã concebeu, em duas fases, uma
significativa parcela das iniciativas locais de ascensão dentro da formação social em
estudo.
3
Cf. Rangel (1987, p.53-54): “Uma vez induzidas certas mudanças institucionais, capazes de sensibilizar
um grupo de atividades econômicas e de promover o seu desenvolvimento — isto é, a passagem a
moldes industriais, geralmente a partir dos moldes artesanais característicos da 2ª dualidade — elevam-
se as taxas de formação de capital, do ‘setor’ e da economia como um todo.” Quer dizer, os ciclos
juglarianos renovam a economia brasileira através do foco num setor industrial a cada década,
aproximadamente. Este fenômeno é percebido desde a decadência da 2ª dualidade. Portanto, é possível
a aplicação destes referenciais rangelianos na cronologia proposta neste trabalho: capítulo 2 (2ª
dualidade) e capítulo 3 (ciclos juglarianos).
17
1. A FORMAÇÃO SOCIAL NA FACHADA ATLÂNTICA CATARINENSE E
O PAPEL DA COLONIZAÇÃO ALEMÃ
1.1 OS ALEMÃES NA ORIGEM DA PEQUENA PRODUÇÃO MERCANTIL DA
FACHADA ATLÂNTICA CATARINENSE
A dinâmica de um espaço geográfico precisa ser entendida através da análise
dos processos sociais que a engendraram, sem esquecer, contudo, as características
naturais que proporcionaram as condições para o seu desenvolvimento. A categoria de
formação sócio-espacial
4
permite compreender a realidade sem esquecer a dimensão
espacial e tendo presente também, que a história de uma dada sociedade encontra
explicações na história da sociedade mundial, o que significa dizer que o estudo deve
abarcar os fatos situados no plano local, regional, nacional e mundial. Reunidas estas
esferas de análise, a totalidade se expressa no movimento de como a produção se
manifesta no espaço, dotado de “múltiplas determinações” representadas por vários
elementos concretos, histórica e geograficamente localizados.
Mesmo politicamente subordinadas às decisões brasileiras, as formações
coloniais catarinenses puderam constituir dinâmicas específicas, justamente devido às
particularidades naturais e econômicas que foram assumidas por meio da combinação
de um conjunto de elementos físicos, humanos e biológicos (CHOLLEY, 1964).
Enquanto os luso-brasileiros eram herdeiros diretos de uma estrutura mercantilista,
feudal e escravista
5
, as colônias européias aperfeiçoaram a pequena produção
mercantil com os trabalhadores livres, definindo uma outra realidade social distinta dos
modos de produção anteriores. As colônias alemãs localizaram-se em áreas ainda não
4
O artigo balizador no Brasil sobre a formação sócio-espacial, intitulado “Sociedade e Espaço: formação
social como teoria e como método”, lançado inicialmente em 1977, habilita-nos a pensar esta categoria
como um método geográfico, no qual é possível reconhecer a aplicação de um ou sucessivos modos de
produção, manifestado(s) pelas relações sociais assumidoras de uma forma material, como ainda pelos
dados imateriais políticos e ideológicos, enquanto fatores de uma força produtiva (SANTOS, 1979).
5
Esta perspectiva trata os reflexos do desbravamento e ocupação portugueses, realizados através da
pesca baleeira no complexo de armações e portos agroexportadores ao longo do litoral brasileiro, bem
como pelo sistema escravista e feudal dominante no interior das fazendas nos campos gerais.
18
ocupadas por brancos, imprimindo-lhes um ritmo de desenvolvimento que nasceu de
dentro para fora, com uma produção comunitária (sistema colônia-venda), concentrada
e um transporte mais facilitado e barato. Para tanto, a escolha do meio natural no início
da colonização alemã era determinante sobre o modo de organização da sociedade,
através dos elementos físicos e biológicos locais (clima, hidrografia, relevo e solo), com
os quais seria possível a dinamização do sistema colônia-venda, cuja importância
regional assumida viria a cargo da definição das atividades humanas.
Diferentemente da aristocracia originada do latifúndio, a implantação da pequena
propriedade nas áreas de colonização foi responsável pelo surgimento de uma
democracia rural em terras herdadas de antigas sesmarias. Contudo, nem todas as
colônias baseadas no minifúndio tiveram a geografia e os recursos disponíveis como
facilitadores da sua expansão, como foi o caso das colônias de São Pedro de
Alcântara, Vargem Grande, Santa Isabel, Leopoldina, Piedade e Teresópolis, próximas
a Desterro que, emersas num contexto diferente, não se industrializaram, ou seja, não
apresentaram o mesmo dinamismo de outras áreas coloniais catarinenses, como foi,
por exemplo, o que ocorreu na colônia de Blumenau.
A perspectiva igualitária da pequena propriedade, na verdade se revela apenas
uma condição inicial de acesso à terra pelos imigrantes alemães, tendo em vista as
diferenças sociais decorrentes tanto das regiões de onde provinham os imigrantes num
período histórico em que a Alemanha estava em processo de unificação pela via
prussiana
6
como também do desenvolvimento tardio do capitalismo naquele país que,
até então, não passara pela revolução industrial, caracterizando, diversamente as
regiões catarinenses que passaram a ocupar. De 1865 em diante, quando cessa a
chegada de imigrantes alemães a região de Desterro e prossegue a dos que se
destinaram às colônias de Dona Francisca (Joinville), Blumenau e Itajaí-Brusque
(Brusque), predominam as características capitalistas, já que estes últimos puderam
6
Cf. Lênin (1978), o capitalismo pode se desenvolver tanto pela via prussiana quanto pelo tipo norte-
americano (via americana). O primeiro caminho corresponde ao exemplo didático do junker na Alemanha,
o qual ascendia através da expropriação e do jugo dos camponeses. Cf. Silva (2007), a via prussiana
está ligada à tendência das cidades assumirem o efeito de dominação sobre uma hinterlândia rural ligada
aos domínios de um latifúndio agroexportador ou de mercado interno.
19
acompanhar os processos de industrialização na Europa e, sobretudo, na Alemanha
7
,
país que vai assumir a liderança da 2ª Revolução Industrial no continente europeu.
Nas propriedades rurais alemãs, a terra escasseava ao ser, a cada geração,
exercido o direito de herança; o artesão e o comerciante tinham suas atividades
restritas pela concorrência; o processo de industrialização não bastou para a absorção
de toda a mão-de-obra excedente, de modo que o operário na cidade não tinha
oportunidade de ascensão profissional. Neste contexto, é fácil inferir que houve um
diversificado perfil de trabalhadores em relação aos indivíduos atribuídos como
“colonos” para o amanho da terra, e que foram muitas as razões para que dirigissem
interesse pelas vastas extensões escassamente povoadas de ultramar. O caráter tardio
de ocupação das regiões subtropicais, relacionado à dependência econômica dos
gêneros tropicais brasileiros de exportação, determinou o direcionamento dos
imigrantes até o sul, onde ficou estabelecida uma distinção entre as áreas de campo e
de mata que, mais tarde, revelar-se-ia na 2ª dualidade brasileira (1889-1930), pacto de
poder
8
no qual Santa Catarina colocava o latifúndio pastoril serrano ao lado dos
comerciantes/industriais originados da colonização alemã nas áreas de mata faixa
esta entre o litoral e o planalto, por isso fachada atlântica catarinense.
Com características capitalistas no seu berço, os imigrantes alemães realizaram
a tarefa de expandir algumas áreas no Brasil Meridional, cada uma delas assumindo
ritmos e processos localmente diferentes porque tiveram que aprender sobre as
especificidades de um novo meio natural e dar continuidade de outra maneira às
transformações sociais em andamento na Alemanha. A situação de imigrante dependia
dos conhecimentos e experiências anteriores ou determinantes no surgimento do
capitalismo alemão. Os indivíduos chegados até a primeira metade do século XIX,
7
Cf. Klug (1994 apud Richter s.d.) temos as seguintes fases: 1820-1850 – agricultores e artesãos, na
maior parte do sudeste alemão; 1850-1865 – de regiões agrárias mais férteis e dinâmicas em contato
com o nordeste; 1865-1895 – predominam pequenos empresários, assalariados e jornaleiros (profissões
de características urbanas).
8
Cf. Rangel (1987), a elite industrial brasileira, dissidente da burguesia mercantil como sócio maior da
classe latifundiária feudal, revezou o comando supremo político-ecônomico das classes integrantes da
coalizão dominante chegando ao poder na fase “b” do 3º Ciclo Longo, quando concluiu o processo de
industrialização. Em Santa Catarina, destacaram-se os imigrantes alemães e os seus descendentes dos
vales atlânticos nos dois últimos processos de substituição de importações, que culminariam na indústria
associada à ampliação do mercado interno devido ao caráter pioneiro na produção de manufaturas como
substitutivos de importação: 2ª substituição artesanal que aconteceu nos centros urbanos (1873-1896), e
3ª substituição industrial com a ampliação de mercado (1921-1948).
20
relacionam-se mais intensamente ao êxodo rural forçado pela instabilidade das divisas
territoriais e a redução das propriedades frente à ascensão dos junkers, quando a
abertura portuária alemã favoreceu o surgimento de agenciadores de colonização.
Quando mais próximo de 1850, o processo de industrialização tardia se consolida
resultando numa sobra da massa de operários nas cidades, por isso, os imigrantes são
dotados de alguma vivência capitalista, momento em que as empresas colonizadoras
começam a investir os seus capitais em outras regiões, como foi o caso ocorrido nas
áreas do Vale do Rio Itapocu por meio da Sociedade Colonizadora de Hamburgo.
Também a partir daí, a “Lei de Terras”
9
discriminaria as áreas de domínio público em
particular somente por título de compra, o que requeria de seus futuros proprietários, os
imigrantes, a conversão da poupança familiar em terra e trabalho.
No litoral catarinense, os luso-brasileiros ocupavam o litoral até uma faixa de
quatro léguas em função das instalações de apoio aos capitais mercantis portugueses
da pesca da baleia e às exportações agrícolas ao Rio de Janeiro, onde os escravos
participavam das lides mais pesadas na indústria baleeira e na agricultura pastoril de
grandes propriedades, havendo ainda um complexo de pequenos produtores livres sem
especialização, que comercializavam a venda de seus excedentes orientados pela
demanda e controle de preços dos latifundiários. Chamado de pequena produção
mercantil açoriana, este pequeno modo de produção, servindo no abastecimento de
gêneros alimentícios no litoral, embora precoce, não desembocou em relações
capitalistas de produção (VIEIRA & PEREIRA, 1997), pois, baseado na camaradagem
10
,
permitiu a ascensão não duradoura de capitais locais em circunstâncias de uma maior
comercialização de farinha de mandioca, o seu principal gênero exportável.
Iniciada quase cem anos adiante da pequena produção mercantil implantada
pelos colonos alemães, a estrutura social da pequena produção mercantil açoriana não
passou por uma transformação das suas relações de produção, além de nela se
verificar um retardo nos processos de trabalho devido à estagnação dos meios de
9
Nome que ficou conhecido da Lei nº 601, de 18 de setembro de 1850, que dispunha sobre as terras
devolutas no Império. Cf. Rodrigues (1961), entre 1822-1850 a propriedade era adquirida sob o título de
posse. Contudo, a lei não alterou as condições de propriedade e nem realizou uma nova distribuição,
respeitando os direitos adquiridos e legalizando os duvidosos e vacilantes.
10
Cf. Pereira (2003) a camaradagem é uma prática de mentalidade tipicamente pré-capitalista. A
camaradagem é característica principalmente, da pesca artesanal e dos engenhos de farinha.
21
produção, até então emersos na policultura e na pesca com poucos gêneros de
exportação (farinha, óleo de baleia, aguardente, arroz, madeira, tecidos rústicos, etc).
11
A forte dependência com o mercado do Rio de Janeiro e a concorrência com a
produção sul-rio-grandense defasava os preços daquilo que era produzido no litoral
catarinense no último quartel do século XIX (HÜBENER, 1981). Porém, a principal
explicação está, segundo Bastos (2000), no papel concentrador e aristocratizante
exercido pelos capitais comerciais de Desterro e Rio de Janeiro, que promoveram o
retrocesso das áreas de influência direta da região, tanto a pequena produção mercantil
açoriana quanto aquela exercida pelos elementos de origem alemã, através da
importação de produtos similares aos produzidos artesanalmente. Por isso mesmo, a
região ficou se desenvolvendo sob duas realidades paralelas: uma irradiada por um
único núcleo urbano-comercial (a ilha) anexando algumas áreas próximas (São José,
Palhoça e Biguaçú) e as vastas áreas agrícolas incrustadas por pequenos núcleos
coloniais. Esta conjectura rural será novamente abordada a partir do item 1.2 e o papel
exercido pela burguesia comercial-industrial no capítulo 2.
Antes da chegada dos imigrantes alemães não havia condições de incentivo e
assentamento dos luso-brasileiros para o desenvolvimento de manufaturas dotadas de
um maior preço de comercialização.
12
Para isso, seria necessária uma agricultura de
produção comunitária (sistema colônia-venda) ultrapassando a situação de “indústria
caseira”, o que até então não acontecera nas áreas litorâneas catarinenses devido à
própria limitação do mercado população reduzida, baixo poder de compra e falta de
recursos financeiros e técnicos e sob uma moderada relação de troca onde os
ganhos na venda dos excedentes eram investidos em atividades pouco lucrativas,
como a construção de igrejas, fortes e fortins (CUNHA, 1982).
O sistema colônia-venda implantado pelos colonos sustentou uma pequena
produção mercantil baseada na produtividade e distribuição de mercadorias, onde,
assim como a idéia de combinações de Cholley (1964), foram mais bem-sucedidas as
11
Saint-Hilarie (1978) avaliou que entre 1820-40 os produtos exportados na balança catarinense são
quase os mesmos, com a diferença de alguns que deixaram de compor a lista.
12
Como meio de garantir a unidade territorial da “Grande Colônia Brasileira”, a partir do Alvará de 05 de
janeiro de 1758, proibia-se as fábricas e manufaturas de ouro, prata, seda, algodão, linho e lã,
perdurando até 01 de abril de 1808, ano da abertura dos portos que permitiu o ingresso de imigrantes e
de uma outra lei possibilitando a concessão de terras a estrangeiros (DIEGUES JÚNIOR, 1964).
22
colônias instaladas em áreas às margens de rios navegáveis que possuíam ligação
litorânea, povoando a mata derrubada das terras interioranas e desocupadas por
brancos, que apresentavam maior fertilidade para plantio. A abertura de estradas foi
outra preocupação imediata destes colonos alemães. Além disso, a chegada de vários
tipos de artesãos, agricultores e alguns industriais serviu como mão-de-obra
especializada em vários níveis, para todo o tipo de encargo e dificuldades. Este tipo de
assentamento contribuiu na ampliação da hinterlândia próxima aos portos de São
Francisco do Sul e Itajaí, estabelecendo o mercado consumidor local, além de ambiente
ideal na comercialização agroexportadora a partir de cada vale. Outro fator que
deliberou a expansão de tais colônias, foi a continuidade dos princípios da
administração particular de Joinville e do começo de Blumenau, norteando-as para o
lucro num sistema de organização com regras pré-definidas.
13
O contexto das áreas de
colonização alemã próximas a Desterro é totalmente divergente pela combinação dos
elementos naturais, humanos e biológicos que se efetivaram, conforme os
apontamentos em curso.
Em comparação às demais colônias germânicas de Santa Catarina, apenas uma
pequena parcela de imigrantes foram encaminhados às áreas fronteiras a Desterro, que
será chamada de “colônias antigas”, como é possível perceber no quadro 1. O estímulo
a gradativos fluxos direcionados às colônias de Dona Francisca, Blumenau e Itajaí-
Brusque (colônias novas), está diretamente ligado a atividades individuais ou de
companhias particulares de colonização alemã.
14
Mais imigrante significava maior força
de trabalho, característica esta de funcionamento como de uma empresa, daí porque o
crescimento populacional realimentado por novos fluxos se relacionar com as
economias locais. Enquanto na região circunvizinha a Desterro estabeleceram-se 2568
imigrantes, as colônias de Blumenau e Itajaí-Brusque localizadas nos vales do Rio
Itajaí-Açú e Itajaí-Mirim, receberam, respectivamente, 13451 e 8099 imigrantes. Já a
13
Consta em Dias et al (1987), os textos integrais da “Lei Fundamental da Communa de Joinville” e
“Artigos Fundamentaes para o estabelecimento de Colônias de Alemães na Província de Santa Catarina”,
assinado o último por Doutor Hermann Blumenau.
14
Cabe ressaltar que a colônia de Itajaí-Brusque é de iniciativa provincial. Contudo, é marcante o
interesse por parte das companhias de colonização alemã em direcionar, continuamente, o fluxo de
imigrantes até suas terras, mesmo nela havendo uma mistura étnica mais elevada (luso-brasileiros,
italianos, norte-americanos, irlandeses e poloneses) ao longo dos rios Itajaí-Mirim e Tijucas, prova de que
as condições proporcionadas pelo ambiente possuíam importância maior do que o isolamento étnico.
23
colônia Dona Francisca reuniu um total de 10232 colonizadores alemães, demonstrado
no quadro a seguir:
QUADRO 1 – Estabelecimento das Colônias Alemãs em Santa Catarina
15
Estabelecimento Ano População Católicos Protestantes
São Pedro de Alcântara 1829* 635 635 -
Vargem Grande 1836* 44 44 -
Piedade 1847* 150 150 -
Leopoldina 1853* 38¹ 38 -
1847* 412 179 233Santa Isabel
1862 667 270 397 (37 A)²
Teresópolis 1860* 62 106 516
1852 394 10 384
1857 1428 142 1286
1859 2475 446 2029
1860 2885 482 2403
Dona Francisca
1862 3050 613 2437
1850 246 3 243
1862 1531 162 1369
1866 2625 504 2121
1867 2861 581 2280
Blumenau
1870 6188 1128 5060
1862 727 486 241
1865 1121 510 611
1867 1333 931 402
1868 1517 1015 502
1869 1673 1102 571
Itajaí (Brusque)
1870 1728 1148 580
Fonte: Piazza, 1974.
Em itálico, os nomes das colônias próximas a Florianópolis.
*Acréscimos à tabela original de Piazza, com base em Mattos (1917).
¹ Em 1854, resultaram 49 dos fundadores da colônia, além de 63 luso-brasileiros e 14 que
chegaram solteiros em 1849 e 1853 de Hamburgo. Espalharam-se rapidamente sem fixar
residência com as famílias, dando origem ao Alto Biguaçú, este com registros de ocupação
desde 1830. Ali perto, em Três Riachos, havia luso-brasileiros desde 1812 no regime de
latifúndio-escravista.
² A = da religião adventista.
³ Após a chegada de 40 famílias, seguiram-se outras para esta contagem de 1861.
Além de menos numerosas, as colônias marginais a Desterro foram povoadas
numa proporção de 55,37% de católicos, enquanto nas demais houve um predomínio
do protestantismo, exceto pela colônia de Itajaí-Brusque (Brusque), que apresentou
uma margem de 64,10% de católicos. A organização econômica obedeceu à lógica da
15
Em relação ao ingresso de imigrantes alemães em Santa Catarina, temos ainda no litoral-sul a colônia
Grão-Pará, fundada em 1882, considerada de ocupação mista ao receber colonos das etnias alemã,
italiana, polonesa e leta, que, em 1887, totalizava 400 famílias (MATTOS, 1917). Estes colonos
ocuparam uma ampla área, correspondendo aos atuais municípios de Orleans, Grão-Pará, São Ludgero,
Rio Fortuna, Braço do Norte e Lauro Müller.
24
religião predominante na configuração das relações capitalistas de produção, a qual
fortalecia uma coesão cultural e associativa protestante nas áreas de influência das
colônias de Blumenau e Dona Francisca, aí incluindo a de Itajaí-Brusque de predomínio
católico, elemento este que interferiu também na sua diferenciação social em razão de
que boa parte dos católicos tinha a sua origem de cidades rurais alemãs. Esta ideologia
do trabalho, além de que, ao mesmo tempo, havia uma relação desigual entre cidade-
campo ligada à vida material na Alemanha, programava os indivíduos urbanos a
atitudes com tendência a uma maior acumulação de capital.
16
As colônias antigas estavam longe de estabelecerem uma coesão cultural por
causa dos dialetos e regiões de origem diversas, da mistura de indivíduos junto às
colônias Militar de Santa Teresa e Nacional de Angelina
17
, e o reduzido número de
lideranças que exercessem o papel de agentes de mudança, bem como de artesãos
especializados ou pequenos industriais. Porém, o fator limitante ao desenvolvimento
rural de suas terras estava na própria configuração topográfica relevo com alto índice
de declividade, solo pedregoso e rios pouco navegáveis , pois, por conta dessa
paisagem, houve um elevado espraiamento populacional em várias direções.
Os recursos financeiros foram direcionados a contento das melhores condições
de progresso. O quadro 2 demonstra os investimentos do Governo Imperial nas
colônias catarinenses de origem alemã. O volume atribuído a cada uma delas permite
perceber, por exemplo, que a colônia de São Pedro de Alcântara foi a que menos
recebeu apoio, inclusive, em relação à vizinha colônia de Angelina
18
:
16
Cf. Klug (1994), nas cidades urbanas alemãs, os protestantes acumulavam duas vezes mais capital do
que os católicos.
17
Cf. Mattos (1917), a colônia Militar de Santa Teresa (1853), em 1854 possuía 112 pessoas, dentre
soldados e familiares, que pouco expandiram a agricultura em relação às colônias alemãs mesmo
atendidos pelo rio Itajaí do Sul, chegando a 2855 habitantes em 1896, ano de sua emancipação política.
A colônia Nacional de Angelina (1859) foi assentada em meio a um triângulo de rios, proporcionando
terras cultiváveis que produziram até mesmo fumo, trigo e erva-mate, tendo uma população de 187
pessoas em 1862, e 1734 em 1900, emancipada em 1881.
18
Este fato também se deve a uma lei provincial, de 15 de dezembro de 1831, que proibia todas as
despesas com a colonização estrangeira, interrompendo por alguns anos, os primórdios de
assentamento da colônia de São Pedro de Alcântara e arredores (Alto Biguaçú, Vargem Grande e
pequenos núcleos).
25
QUADRO 2 - Despesas do Governo Imperial com colônias até 1880
¹
Colônias Catarinenses Despesas (em mil réis)
São Pedro de Alcântara 28:220$232
Itajahy e D. Pedro (Brusque) 3.920:089$843
Blumenau² 2.338:435$557
Azambuja 542:090$252
Angelina 253:306$938
Luiz Alves 263:465$760
Santa Isabel 229:501$730
Therezopolis 242:601$545
Dona Francisca³ 806:356$414
Total 8.624:068$271
Fonte: Adaptado de Mattos, 1917.
Em itálico, as colônias periféricas de Florianópolis.
¹ Exceto Dona Francisca, quando foram analisados os oito anos antes de 1880 em
soma ao período até 1889.
² De 1887 a 1894 despendeu-se 861:512$839 elevando o total conhecido de
Blumenau para 3.199:948$396. De origem particular, encabeçada por Dr. Hermann
Blumenau, quando patrocinada pelo governo Imperial a partir de 1860, ficando ainda
tutelada pelo fundador, é que se nota a sua expansão (DIAS et al, 1987).
³ Período de 1872 a 1889.
Obs: O autor informa que a Colônia Militar de Santa Theresa não se inclui na relação
por falta de informações do Ministério da Guerra, provedor deste núcleo colonial.
Somados, os gastos com as colônias de Santa Isabel, Teresópolis e Angelina
correspondem a menos do que o governo dispendeu em doação de oito anos à colônia
particular de Dona Francisca. Através dessa comparação de somatório simples,
submetendo um cálculo proporcional entre habitantes
19
e recursos direcionados, chega-
se a população de 18,45% e recursos de 89,96% em relação aos correspondentes da
colônia Dona Francisca. Sabendo das dificuldades de implantação desta última em solo
lodoso de estuário, estes porcentuais apontam para o fato de que se deu um peso
maior à assistência da população mais reduzida das colônias antigas devido à diminuta
infra-estrutura existente nas áreas fronteiras a Desterro.
A depressão do comércio internacional (1873-1896) reforçou a política fiscal
sobre os impostos de importação e o controle de preços com o câmbio desvalorizado
entre 1880-1886, favorecendo a multiplicação de firmas individuais (SILVA, 2006) e no
segundo processo brasileiro de substituição de importações (artesanal). Inicialmente
constituindo um longo aprendizado local de resistência e lenta expansão
(MAMIGONIAN, 1986), as “colônias novas” presenciaram a partir das últimas décadas
19
Para fins de demonstração, utilizou-se os referenciais de habitantes disponíveis da época, encontrados
no quadro 1 e no rodapé 17 Angelina (187), Santa Isabel (1079), Teresópolis (622) e Dona Francisca
(10232).
26
do século XIX a exportação de manufaturas assentada nas bases financeiras do
sistema colônia-venda, dentre vendeiros, atacadistas, artesãos, madeireiros e
fumajeiros, proporcionando as estruturas que permitiram a emersão das indústrias. O
alavanque para a primeira formação de capitais que se direcionariam ao processo de
industrialização veio de uma especialização a partir do beneficiamento da produção
agrícola com a exportação dos excedentes tábuas de madeira em Brusque,
manufaturas de tecido em Blumenau e processamento da erva-mate em Joinville.
20
Cada qual com a sua indústria de base enquanto indutora da dinamização do sistema
produtivo, promovendo artigos têxteis em Blumenau, tecelagem e fios em Brusque, e
transformação de metais por meio das oficinas em Joinville (MAMIGONIAN, 1965;
VIDOR, 1995). Outros fatores contribuíram na formação do operariado, como a
descamponização devido ao desgaste natural do solo nos lotes em sistema
Waldhunfendorf
21
que mediam apenas 25 hectares
22
, gerando a intensificação dos
extremos, ou seja, o surgimento de industriais abastados sob uma estrutura social
verticalizada.
Ao contrário das colônias estabelecidas na extensão dos vales atlânticos, as
colônias alemãs próximas a Desterro ficaram vinculadas, do início em diante, às
margens da estrada que conduziam o tropeirismo.
23
Diante disso, estas colônias podem
ser classificadas como “antigas” porque participaram de um mesmo processo
colonizatório sulino, no qual a ocupação de “bocas da mata”
24
servia à segurança de
um sistema de caminhos de tropa nas distâncias situadas entre Vacaria-Viamão (RS),
Lages-Curitibanos-Mafra (SC), Campos Gerais (PR) e Sorocaba-Itapeva (SP).
25
O
20
Cf. Rocha (1997) a acumulação de capital originária do mate em Joinville não foi aplicada diretamente
em indústrias. A sua gênese está relacionada com os ex-empregados e artesãos que abrem negócio
próprio e eventualmente com o sistema colônia-venda ou import-export.
21
Originário da colonização medieval alemã, possui lotes alongados e enfileirados com no máximo 200
metros de frente, que tomam a direção de um riacho ou caminho, com limites lineares e irregulares.
Formam povoações intercaladas em linhas e não compactas (WAIBEL, 1979; SEYFERTH, 1990).
22
Era o padrão de assentamento compatível às condições de compra. Apenas alguns lotes chegavam a
50 hectares (SEYFERTH, 2003).
23
Vale notar que alguns colonos alemães ainda foram encaminhados às armações de baleia em
Ganchos (fundando a colônia Piedade) e da Lagoinha (sul da ilha), além de dispersos pelo centro de
Desterro, colocando-os também, dessa forma, vivenciando a decadência do antigo modo de produção
litorâneo com base nos capitais mercantis portugueses.
24
Cf. Waibel (1979), áreas situadas às margens dos caminhos de tropa para entrada e saída de gado.
25
Cf. Bernardes (1952), muito ligados ao sistema de caminhos, criaram-se os cinco primeiros núcleos
coloniais no sul, todos com imigrantes alemães: no Rio Grande do Sul, São Leopoldo (1824), São João
27
principal acesso ao oeste era a estrada Desterro-Lages, quando ficou restituído o
planalto serrano ao território catarinense em 1820.
26
Segundo Brüggemann (2004), no
século XVIII, a estrada servia para a administração portuguesa demarcar as suas
fronteiras. As perspectivas das regiões lindeiras ao trajeto mudam no século XIX,
quando se pretendia interiorizar o povoamento abrindo novas alternativas para trocas
comerciais frente ao declínio da pesca baleeira.
27
O termo “colônia” subentendia uma
auto-suficiência que somente se cumpria pela variedade de gêneros agrícolas para
venda de excedentes, necessitando adquirir de fora ferramentas, sal, querosene,
roupas, animais, etc, além de submetidas as localidades às leis do mercado e
intercâmbios com a estrada, dependendo de atividades externas, econômicas ou não.
Além de menos favoráveis à expansão populacional porque de reduzidos volumes, os
colonos se espaçaram por algumas colônias que rapidamente se desintegraram. É o
caso de Vargem Grande, Piedade e Leopoldina.
28
A função principal de salvaguardar os caminhos até Lages através do
estabelecimento das colônias fica evidente quando se percebe as áreas (linhas)
definidas para lotes por parte dos governos Imperial e da Província, lado a lado,
confrontando-se aos acessos da estrada até Lages. Além disso, os governos
dispunham de menos recursos do que pretendiam em relação aos planos de
povoamento. Neste momento, não houve uma qualificação do elemento humano,
misturando-se lavradores-artesãos ou somente lavradores (a maioria) e ex-soldados
alemães sem habilidades no campo, além do assentamento de luso-brasileiros sem-
terra (vindos da ilha) e soldados nas colônias nacionais vizinhas, o que revela a não
prioridade em desenvolver economicamente nenhuma das localidades.
29
A circulação
de mercadorias pela estrada pouco auxiliou na ampliação da produção de manufaturas
das Missões (1825), Três Forquilhas (1826), em Santa Catarina, São Pedro de Alcântara (1829) e, no
Paraná, Rio Negro-Capela da Mata (1829).
26
Pelo Alvará de 09 de setembro de 1820, Lages saiu do domínio paulista de quase cinqüenta anos.
Como meio de garantir a posse das terras, era necessário que o caminho fosse ocupado e melhorado, o
que passou a ser providenciado a partir dos colonos alemães inicialmente chegados nove anos depois.
27
O caminho de Lages continuou a ser relevante economicamente durante o início do século XX, tanto
que havia a idéia da construção de uma ferrovia aproveitando o percurso, em 1902, lançada a pedra
fundamental no centro de São José (LENZI, 1993).
28
Cf. Peluso Júnior (1980) as razões para tais insucessos estariam em função da escolha das áreas e da
má qualidade do solo.
29
Outro fator de desvantagem, era que os diretores das colônias (militares nomeados) não moravam no
local, dessa forma, não possuíam vínculos para realmente orientarem as atividades nas mesmas.
28
alimentares (roscas, pães, queijos, embutidos, farinhas, etc), tendo em vista as
condições de encarecimento, demora e precariedade no transporte em tropas de mula.
Vale considerar o fato de que esta influência dos Campos de Lages também
colocava as colônias lindeiras à Capital sob os mecanismos de funcionamento do
latifúndio pecuarista internamente feudal, área da primeira substituição brasileira de
importações (1815-1848), através dos produtos comercializados pelos tropeiros
repercutindo nos modos de vida dos estratos sociais. As colônias antigas continuaram
ligadas ao modo de produção da primeira substituição artesanal de importações, devido
à combinação com o seu caráter servil de minifúndio, que, por conta disso, geravam um
artesanato diversificado e de baixo preço complementado por outro de maior preço e
circulação direta. O gado representava o retorno de uma parcela importante dos
recursos de compra e venda ao planalto, independentemente de alguma intermediação
por parte dos colonos. Também é possível entender que a pequena produção mercantil
da ilha se subordinava às estruturas comerciais das zonas latifundiárias unidas aos
comerciantes de importação (Rio de Janeiro) que, por estas representadas,
comandavam as transformações brasileiras através de uma via prussiana, ou seja, de
intensa expropriação do pequeno produtor na economia regional em questão. Enquanto
isso, os vales atlânticos transpuseram a venda dos excedentes econômicos na segunda
(artesanal) e terceira (industrial) fase de substituição de importações, extraindo de
outras áreas os recursos naturais necessários.
Os ritmos das duas regiões coloniais tratadas foram cada vez mais se afastando
um do outro, com relações diferenciadas em espaço e tempo. Os meios de transporte
nas áreas continentais próximas a Florianópolis continuaram precários até o início do
século XX, ao contrário dos vales atlânticos onde havia a navegação fluvial a vapor e as
ferrovias, alcançando amplamente novas áreas interioranas em ligação com as zonas
portuárias exportadoras. Enquanto as colônias alemãs situadas nos vales atlânticos ao
norte conseguiram estabelecer uma urbanização vinculada ao processo de
industrialização de base local
30
, as colônias antigas foram regredindo em número de
habitantes, emersas num quadro estritamente rural e sem grandes perspectivas. O
30
Devido à própria coesão cultural, a industrialização independente da região enfrentou barreiras
ideológicas durante a 1ª e 2ª Grande Guerra, sobrevivendo as empresas que se modernizaram entre tal
época ao lançarem diversificações como substitutivos de importação industrializados (DIAS et al, 1987).
29
distanciamento do centro urbano de Florianópolis favoreceu a continuidade de uma
pequena produção mercantil estacionária, com apenas alguns momentos expressivos
de gêneros exportáveis, porém, sem capacitarem a formação de artesãos capitalizados
que se dedicassem à industrialização porque conseguiam estágios de acumulação
apenas os vendeiros e madeireiros. Vale perceber que a base da estrutura social veio a
bordo da própria travessia colonizatória relacionando os ofícios humanos com o relevo
apresentado para a ocupação. Nesse sentido, faltava aos lavradores-artesãos
chegados nas primeiras levas (colônias antigas) e seus primeiros descendentes uma
mentalidade capitalista, assim como uma conjuntura ambiental e econômica favorável.
A compartimentação populacional dos três vales atlânticos (Itapocu, Itajaí-Açú e
Itajaí-Mirim) acabou por incentivar centros comerciais independentes e, com isso, uma
distribuição espacial e econômica em relação ao volume de negócios. Nelas, a relativa
homogeneidade étnica irradiada para outros núcleos veio a formar uma cultura urbana
específica (SEYFERTH, 1990), facilitando na pulverização de um conjunto de pequenas
e médias cidades desenvolvidas através da implantação de indústrias de base local, as
quais atingiram o mercado nacional desvinculadas do processo de industrialização
ocorrido no centro econômico brasileiro (MAMIGONIAN, 1986), daí porque o
reconhecimento de uma formação social pioneira em Santa Catarina (MAMIGONIAN,
1965; WAIBEL, 1979). Para tanto, também serviu à integração das bases industriais o
vínculo permanente com a Alemanha para atualização de profissionais, técnicas e
máquinas (MAMIGONIAN, 1965).
É preciso entender que o elemento étnico, de acordo com Cholley (1964),
assume preponderância sobre os demais da combinação quando o modo de produção
já alcançou o nível de pós-industrialização, por isso, o fato de os operários das fábricas
se constituírem numa coesão cultural de descendentes de alemães é visto como um
uma construção histórica e não enquanto um fator de sucesso às áreas situadas nos
vales atlânticos ao norte. Este tipo de análise será verificado na Região Metropolitana
de Florianópolis durante o terceiro capítulo, com relação a alguns indivíduos
descendentes de alemães que se tornaram comerciantes durante o desencadeamento
30
dos ciclos juglarianos brasileiros
31
, período este muito dinâmico economicamente,
oferecendo oportunidades para a saída das áreas rurais até as cidades urbanas, que
foram alcançadas através de um aprendizado local atravessado por algumas gerações
dentro das condições materiais da pequena produção mercantil para assumirem uma
atitude empresarial.
Pode-se entender que a colonização alemã na fachada atlântica catarinense
apresenta a observação geográfica das “múltiplas determinações” descritas pela visão
marxista, assumindo particularidades em razão de duas combinações regionais
distintas, daí porque a categoria de “combinações” de Cholley (1964) estar entrosada
com o destino tomado pelas áreas coloniais, onde conjuntos constituídos pela
convergência dos elementos (naturais, humanos e biológicos) sob pesos diferentes, em
circunstâncias históricas parecidas ajustaram paralelamente cada simbiose à sua
realidade local. Contudo, é durante a 2ª dualidade que acontece um acirramento de tais
diferenças por causa das diferenças nas balanças regionais de importação-exportação,
por isso, este período estará num aparte especial (segundo capítulo).
A formação econômica neste período é amplamente entendida por Piazza (1974)
como integrante da “modernização brasileira” por meio da contribuição do elemento
humano e o caráter estruturador, até então exercido pelos capitais ingleses em
investimentos diretos (construção de portos, estradas de ferro e trens, fundições,
moinhos, engenhos centrais, etc), pois, os imigrantes alemães ao lado da “sociedade
tradicional” ou seja, aquela de origem luso-brasileira ligada ao modo de produção
latifundiário que estava se transformando em comerciante (MAMIGONIAN, 1987) ,
promoveram uma nova sociedade, cujos valores vão determinar a criação de uma nova
elite, denominada “elite emergente”, que assomou o quadro sócio-econômico e político
dinamizando as atividades empresariais por meio das potencialidades nacionais. Esta
capacidade empresarial criou as bases para a substituição da importação de bens de
capital ao introduzir as inovações em máquinas, por isso também assumindo
31
Os ciclos juglarianos ou médios atuam endógenos na economia e através de mudanças rápidas, por
conta disso são responsáveis pela acumulação capitalista. Vale lembrar que se observam os ciclos
juglarianos na economia brasileira a partir da década de 1920 alcançando o final dos anos 1970, período
no qual a cada 10 anos, aproximadamente, um novo conjunto de setores industriais passa a ser enfocado
como integrante do processo de substituição de importações, para o qual proporciona a introdução de
significativas modificações na estrutura industrial e, por causa desta, as inovações na estrutura comercial.
31
inicialmente um caráter pioneiro, e depois desenvolvimentista através da indústria
consolidada. Foi nesse arranjo de transformações tecnológicas que se conduziu a
população ao processo de nacionalização entre a República I e o governo Vargas. A
“dualidade básica da economia brasileira”
32
através da aliança latifúndio-burguesia,
marca da via prussiana ocorrida no Brasil no século XX, abre a 3ª dualidade com a
expansão do capitalismo brasileiro ainda que em situação desfavorável nas relações
externas, como ficou evidente na década de 1930 (MAMIGONIAN, 2000).
Logo, na formação sócio-espacial da fachada litorânea os meios de domínio do
pequeno modo de produção introduzido pelos imigrantes alemães foram mormente
mais efetivos nos vales atlânticos, estrutura sócio-econômica na qual se assentou o
movimento da 2ª dualidade (1889-1930), alicerçando, economicamente, a
representatividade política de indivíduos originários do comércio ascendidos a militares.
Sob este apoio, nomes como Lauro Müller, Carlos Renaux, Felipe Schmidt, Victor e
Adolpho Konder, prolongaram a importância política catarinense da região, em razão do
aceleramento da substituição de importações no período entre-guerras que afinou a
estabilidade das indústrias situadas nos vales atlânticos ao norte. A partir da década de
1950, ganham destaque na economia catarinense os descendentes de alemães nas
indústrias
33
têxteis, metal-mecânica e em vários segmentos do ramo alimentar inseridas
no mercado brasileiro (CUNHA, 1996), o que somente as faz crescerem.
Cabe-nos entender sobre a maneira como se comportaram os capitais
comerciais-industriais da Capital catarinense durante a 2ª dualidade, em virtude de que
nela também se destacaram elementos de origem alemã, política e economicamente
articulados às classes privilegiadas dos vales atlânticos ao norte. Embora sob uma fase
32
A “dualidade básica da economia brasileira” é tida por Rangel (1999) como a representação pública do
“modo de produção brasileiro”, estrutura na qual se realiza, pela combinação dos modos de produção
fundamentais (comunismo primitivo, escravismo, feudalismo, capitalismo, socialismo), os lados interno
(principal) e externo (secundário) nos vértices nacional e internacional. No momento da 3ª dualidade, o
latifúndio do Norte e Nordeste somado aos pecuaristas do Sul se aliam à burguesia industrial nascente
para comandar a revolução industrial a partir de 1930.
33
Cf. Almeida (1990), as áreas que correspondem a Blumenau, Jaraguá do Sul, Itajaí, Mafra, Joinville e
Pomerode, oferecem subsídios para se observar a industrialização enraizada pelas práticas do
comportamento cultural que contém uma formação empresarial própria, na qual existe a mão-de-obra
especializada nas fábricas, o paternalismo por parte do patrão, uma relativa subserviência do operário, o
pacote de benefícios sociais da empresa, o pensamento econômico inovador por parte dos industriais, a
intermediação das relações trabalhistas (tanto de cima, como de baixo) através das associações de
classe, a alta solidez de indústrias centenárias e familiares, e a concepção ideológica da empresa
coexistindo com as mudanças organizacionais.
32
depressiva onde se aquecia o abastecimento do mercado brasileiro (3ª substituição de
importações), segundo Bastos (2000), estes empresários foram perdendo força a partir
da Revolução de 1930, quando o comércio de importação e exportação havia sido
apeado da dualidade no vértice internacional, ao qual os capitais florianopolitanos
estavam ligados. O mercado da Capital acabou assumindo uma junção de forças
centrífugas incompatível para manter a competitividade das indústrias existentes desde
o início do século XX. Ao mesmo tempo, o setor agrícola estava na maior parte a
atender o consumo da região com poucas chances de ascensão social. A este quadro,
deve-se, entretanto, contextualizar as duas dinâmicas entendendo os reflexos do
processo colonizatório em relação à formação da estrutura econômica regional.
1.2 O CASO DAS COLÔNIAS ANTIGAS
Com o regime de pequena propriedade e trabalho livre, o governo brasileiro
intencionava, através da imigração alemã, mudanças sociais de curto e longo prazo,
como a expansão demográfica em áreas desocupadas por brancos, a moralidade com
a dignificação do trabalho manual, a formação de uma classe média, a defesa de
fronteiras, além da produção de alimentos para os centros urbanos e na assistência das
tropas que conduziam gado. De acordo com Woortmann (2004), povoaram-se as áreas
de entorno para atender às necessidades alimentares dos centros urbanos com
problemas endêmicos de abastecimento. Sob este mecanismo, incluem-se São
Leopoldo nas proximidades de Porto Alegre (RS), Petrópolis e Nova Friburgo perto do
Rio de Janeiro (RJ), Santa Isabel ao lado de Vitória (ES), como também é possível para
São Pedro de Alcântara, Santa Isabel e Teresópolis em relação à Capital catarinense
(JOCHEM, 2002). Outro fator que influiu na distribuição dos imigrantes chegados ao
Brasil foi o encaminhamento dos mesmos às regiões de menor peso do elemento
escravo como base econômica. Dada a população escrava de Desterro na época
34
,
34
Na Ilha de Santa Catarina, havia 3.213 escravos para 12.483 habitantes (27,5%) e, só na Vila de
Desterro, 1.689 para 5.250 (32%) em 1810 (CABRAL, 1972).
33
34
cerca de um terço em relação ao número de brancos, áreas distantes da ilha foram os
principais pontos destinados aos colonos alemães, certamente para que dedicassem
suas atenções apenas ao cultivo dos lotes em torno da estrada. Além disso, perto da
faixa marítima e no interior da ilha estava a pequena produção mercantil açoriana,
coexistindo nos limites das vilas de São José e São Miguel (Biguaçú) uma atuante
classe latifundiária escravista, que também determinaram o afastamento da ocupação
colonial alemã. Assentados, estes colonos alemães realmente contribuíram para uma
maior diversidade nos gêneros de consumo interno da região, mas, os meios de
ascensão social foram escasseados por causa da dependência agrícola
35
, ficando
praticamente sob os mesmos patamares do que correspondiam os pequenos
produtores agropastoris-pesqueiros.
O primeiro assentamento dos colonos em São Pedro de Alcântara era
semelhante ao da pequena produção açoriana, através de “palhoças” no entorno da
fazenda de Silvestre José dos Passos (diretor da colônia), trabalhando no seu engenho
de açúcar e numa policultura de subsistência com a qual permutavam os excedentes
domésticos, realizando ainda serviços auxiliares (corte de árvores e aumento de trilhas).
Este tipo de estabelecimento agrícola não agradou aos colonos que evadiram de lá,
para fundarem outra colônia em menos de um ano (Vargem Grande), devido à falta da
diária de 160 réis prometida, e de perspectivas de mudança de vida (SCHMITT, 1979).
Próximo do local escolhido, mais tarde, instalou-se a Fazenda do Sacramento, do
coronel Joaquim Xavier Neves, sob um sistema de parceria com famílias brasileiras e
escravos (SCHADEN, 1946). A partir daí, as colônias prosseguem com ocupações
comunitárias interdependentes, polinucleando as margens da estrada até Lages, onde
dominou este tipo de ocupação. As localidades manifestaram “poder de atração” sobre
as demais do entorno por conta de algum acréscimo no volume da produção, sendo
que Peluso Júnior (1980) observou o fenômeno em se tratando da “teoria dos lugares
centrais” de Christaller.
Em função da baixa fertilidade do solo e da falta de estruturas que agilizassem o
transporte de excedentes até o litoral, as colônias não conseguiram originar núcleos
35
Cf. Peluso Júnior (1991b) as áreas coloniais atingiram a ilha somente melhorando seu abastecimento.
35
populacionais densos, inclusive, chegando à estagnação ou sob um déficit de
indivíduos que partiam em busca de melhores terras.
36
Por conta disso, as colônias
antigas apresentam o mérito de disseminar os descendentes em todas as direções,
auxiliando na fundação de municípios também situados fora da região: ao norte,
Blumenau, Rio do Sul, Brusque e Itajaí
37
; a oeste até Ituporanga e Bom Retiro; e ao sul,
São Ludgero, Armazém e Forquilhinha (KOCH, 1995; SCHMITT, 1979; PIAZZA, 1982).
Para as novas localizações assumidas, segundo Hatzky (2000), houve influência dos
padres no destino tomado pelos colonos. Ao que tudo indica, os imigrantes possuíam
desde o seu quadro genético na Alemanha, determinados tipos de adaptação ao meio
natural. Por isso, ainda que tenham permanecido as evasões até outras áreas, os
principais núcleos coloniais interioranos (São Pedro de Alcântara, Teresópolis, Santa
Isabel, Alto Biguaçú e Angelina) permaneceram povoados.
O contingente de imigrantes de 1828-9, destinados ao povoamento de São
Pedro de Alcântara, ficando também alguns indivíduos na ilha e Praia Comprida (São
José), veio de regiões pouco férteis de Hunsrüch
38
, Turíngia e Luxemburgo, por isso,
adaptados à topografia acidentada e às baixas condições que o ambiente
proporcionava, misturados aos ex-soldados
39
de procedências não informadas. Para
Santa Isabel, Teresópolis e Piedade, a maioria proveniente das regiões da Westfália-
Renana, bastante férteis em solo de loess e diversas culturalmente, constituídas de
vilas rurais e cidades urbanas livres, daí originando uma maior incidência de
comerciantes e artesãos. Sob uma mistura religiosa (católicos e evangélicos/luteranos),
mas, na maior parte formada por católicos, havia algumas famílias de cidades na
Baviera, Pomerânia, Holstein, Oldemburgo, Birkenfeld e Hamburgo, combinadoras de
36
Merece atenção o fato de que Peter Müller, migrando de São Pedro de Alcântara para Itajaí, de
serrador de madeira torna-se comerciante, sendo o pai de Lauro Severiano Müller, primeiro governador
catarinense. Nesse sentido, os colonos da região tinham suas chances diminuídas pelo elemento natural,
o lento transporte de produtos e uma falta generalizada de inserção como militares.
37
Cf. Schaden (1946) de famílias migradas de Santa Isabel, destacam-se Bornhausen, Konder e Bauer,
cujos descendentes formaram a classe política catarinense a partir de Itajaí no século XX.
38
Representava um quisto católico na Alemanha. A mesma procedência da maior parte dos colonos
chegados a São Leopoldo (RS). Na campanha de laicização do ensino, o professor paroquial assumia
liderança social e religiosa (GERTZ, 1994). Inclusive, nas colônias antigas, o sacerdócio significou uma
possibilidade de ascensão para vários indivíduos, por isso, não constituindo descendência direta.
39
Estes soldados dissidentes dos 27º e 28º batalhões no Rio de Janeiro, eram desertores da Guerra
Cisplatina (1825-1828) que se deu na Bacia do Rio da Prata. Integravam o “Regimento de Estrangeiros”,
fundado em 1823, do qual o Império fez uso para assegurar a integridade nacional em várias instâncias,
principalmente na referida guerra.
36
agricultura, artesanato rural e indústria caseira. A segunda leva até Teresópolis (1860)
é formada por agricultores de Solingen, Münsterland e Holanda. Para Santa Isabel, a
leva de 1862 é formada por ex-trabalhadores nas fazendas cafeeiras do Rio de Janeiro.
Devido a uma incompatibilidade de dialetos e hábitos, apesar de diminutas, as colônias
se polarizaram, em vários casos, sem aglutinar um povoado maior somado ao vizinho.
40
De acordo com Willens (1980), o choque cultural entre alemães católicos e protestantes
originou reagrupamentos, sobretudo, na fase de autocolonização, ou seja, através dos
deslocamentos e permanências em busca de maiores ganhos e produtividade.
O colono aprendera que a partir da serra ou chapada da Boa Vista, sob um clima
mais fresco, a fertilidade do solo nos campos é menor do que na floresta latifoliada, por
isso ultrapassaram a colônia Santa Teresa aqueles que explorariam a madeira.
41
Por
isso, a partir de Bom Retiro, Ituporanga e Alfredo Wagner (ex-Santa Teresa), bordas do
pólo madeireiro dos campos lageanos, é que se distribuíram gradualmente madeireiros
descendentes de alemães. Havia ainda, a limitação ao sul com o morro do Cambirela,
inviabilizando uma ocupação mais aproximada da faixa litorânea. A região apresenta
serras filetadas por rios de baixo curso, quase todos convergentes, e numerosos cursos
d’água que movimentam as áreas de plantio carreando os sedimentos. Como tratado
anteriormente, a hidrografia para viabilizar o transporte apresentou poucos trajetos
navegáveis de comunicação com o litoral: a jusante do rio Maruim a partir da localidade
Colônia Santana (São José), o ribeirão Garcia (Angelina) até as águas do rio Tijucas, o
rio Cubatão entre Caldas do Norte (Águas Mornas) e Sul do Rio (Santo Amaro), e o rio
Biguaçú no percurso do Alto Biguaçú (Antônio Carlos) até a região central de Biguaçú.
42
As bacias dos rios Biguaçú, Serraria, Maruim e Cubatão, drenam terrenos formados por
diversos seixos, dentre granitos, gnaisses e migmatitos (PELUSO JÚNIOR, 1991a),
40
Cf. Schaden (1946) os colonos de Löffelscheidt (Santa Isabel) e Teresópolis, por exemplo, divergiam
em suas características e por conta disso “nunca” se fizeram compatíveis para trocas comerciais.
41
Cf. Baldessar (1991) também foi o limite adotado pelos agrupamentos indígenas que, pela falta de
roupas para viverem no frio, ficaram até esta altura na região ou seguiram em direção ao sul.
42
Este último, foi o principal rio navegável de toda a região. Cf. Reitz (1991) havia um sistema de
pequenos trapiches fluviais, navegado por chatas a verga, ligando Alto Biguaçú com a região central de
Biguaçú até mesmo durante o século XX.
37
dificultando no plantio em declividade. O relevo é caracterizado pela distribuição de
áreas montanhosas, pedregosas e de baixa fertilidade (elevada acidez).
43
A introdução do gado crioulo adquirido com os tropeiros veio a favorecer na
fertilização do solo. Contudo, a inviabilidade do arado
44
e de técnicas mais modernas de
plantio repercutia num retardo das colheitas. A agricultura baseou-se em alguns
gêneros mais comercializáveis — mandioca, nos solos menos férteis; feijão, pelo fácil
cultivo em encostas e chapadas de morro; cana-de-açúcar
45
e milho (para também
tratar os porcos), que ocupavam as áreas estreitas — em razão dos subprodutos
46
processados pelos próprios colonos, para geração de preços de venda. A preocupação
em expandir os volumes reflete o caráter econômico e comunitário dos colonos. O
processamento dos gêneros de maior produção (mandioca, cana-de-açúcar, milho e
arroz) acontecia pelo aperfeiçoamento do engenho tradicional do luso-brasileiro
substituindo a força animal pela roda d’água (REITZ, 1991), ideal em atividade nos
córregos de pouca vazão (SEMLER, 1908), abundantes mesmo nas áreas mais altas.
A pequena propriedade familiar nas localidades de povoamento, até a primeira
metade do século XIX era estabelecida por terras gratuitas, promovendo na região uma
relativa liberalização no tamanho dos assentamentos, pela sua abundância e
espraiamento em pequenos núcleos coloniais estritamente rurais. Mais tarde, o
endividamento compulsório da terra, auxiliado por leis que restringiam o seu acesso ao
colono (Lei de Terras), toma as áreas devolutas a um preço artificial “independente da
oferta e da procura, que force o imigrante a trabalhar por tempo mais longo” (MARX,
1984a, p.301) até se legitimar como proprietário, numa espécie de compensação que
se reverte ao centro urbano próximo (a Capital) por não se tornar assalariado
trabalhando para o capitalista. Uma distribuição relativamente generalizada de
43
Os solos na região apresentam limitação natural de 60% da área com declividade acentuada, impróprio
a culturas temporárias; 25% de solo suave com mediana ondulação, ideal para agricultura não irrigada;
5% de solos úmidos para culturas irrigadas; 4% de solos arenosos; e 4% correspondentes a cursos
d’água (SDR/SC, 2006).
44
Shutel (1988) observou, em 1861, a utilização apenas de machado, foice, aguilhada ou faca, possuindo
as mulheres as mesmas habilidades no manejo do que os homens.
45
Cf. Roche (1960), com relação às culturas produzidas nas áreas coloniais alemãs, somente a cana-de-
açúcar não era uma planta americana.
46
Cana-de-açúcar – melado, garapa, cachaça e açúcar; milho – fubá, pães e doces; mandioca – farinha,
polvilho e broas. A criação de porcos, além da banha, resultaria na produção de salames, lingüiças,
salsichas e morcelas. Também queijos, mel, conservas, manteigas, geléias, etc, como parte da gama de
alimentos, segundo Reitz (1991), dotada de mais de vinte tipos de consumo diário.
38
propriedade e de domínio como a ocorrida na região, desencadeou uma maioria de
elementos de padrão médio. Segundo Smith (1947), este tipo de situação apresenta um
grau consideravelmente alto de mobilidade social, distinções de classe mínimas e
relativa ausência de casta (posição social herdada). Contudo, nas idéias de Lênin
(1985), o camponês médio é o elemento menos desenvolvido da produção mercantil
porque extremamente instável, sobrevivendo pelo trabalho agrícola independente,
contraindo dívidas e procurando rendas suplementares. Para aumentar a renda em
dinheiro, as habilidades caseiras se tornaram ofícios artesanais, mas, atendendo
somente à própria localidade de moradia.
47
Os pequenos produtores enfrentaram a
barreira de não servirem diretamente aos capitalistas nas cidades litorâneas, buscando
a ascensão econômica pelas condições próprias de trabalho. Numa estrutura social
com maioria de indivíduos médios, o pequeno produtor patriarcal poderia se converter,
evoluindo a si mesmo dentro do campo, num vendista sob um desenvolvimento de tipo
norte-americano.
48
Mas, a acumulação de capital estava nas mãos de um reduzido
número de comerciantes no sistema colônia-venda direcionado ao abastecimento da
ilha, que, em razão do próprio relevo e da falta de rios navegáveis até as águas de baía
era mais prolongado na região, aumentando o número de atravessadores e reduzindo
as margens de lucro. No mapa 1, classifica-se a interligação de transporte embarcado
até a ilha de eixo comercial, nos pontos centrais de Biguaçú, São José e Palhoça.
49
47
A estrutura social estabelecida nos relatórios oficiais indicando apenas agricultores e ex-militares, aos
poucos, assumiu outras características. Em 1867, São Pedro de Alcântara contava com 03 empregados
públicos, 18 comerciantes, 31 artistas e 352 lavradores (JOCHEM, 1992). Em Teresópolis e Santa Isabel,
chegaram profissionais como lavrador (a maioria), marceneiro, carpinteiro, sapateiro, ferreiro, tanoeiro,
padeiro e alfaiate (JOCHEM, 2002). Um censo de 1867 apontava outros ofícios e estabelecimentos
constituídos apenas sete anos após a instalação de Teresópolis: 05 carpinteiros, 01 torneiro, 02
tamanqueiros, 01 tijoleiro, 03 ferreiros, 03 alfaiates, 01 barbeiro, 01 construtor de engenhos, 03 casas de
negócios, 04 hospedarias, 01 olaria de louças de barro, 03 fábricas de cerveja, 01 charqueada, 04
marceneiros, 01 tanoeiro, 06 pedreiros, 05 sapateiros, 01 padeiro, 01 funileiro, 01 charqueador, 02
cavouqueiros, 05 tabernas, 01 olaria de telhas e tijolos, 08 moinhos e 01 fábrica de charutos (JOCHEM,
1992). Em 1868, outras profissões em Santa Isabel: 24 engenhos de farinha, 03 engenhos de açúcar,
fábricas de olaria, curtumes, oficinas e casas de negócio (LOPES, 1939).
48
Cf. Lênin (1978), o tipo norte-americano é marcado pela evolução do agricultor sobre si mesmo, a fim
de se tornar um granjeiro capitalista, ou seja, assumindo um quadro de especialização comercial numa
estrutura social de classe média bastante horizontalizada.
49
Vale lembrar que no lado insular das baías, nos pontos de Santo Antônio de Lisboa, Ribeirão da Ilha e
seus arredores, havia outro sistema de trapiches que levavam a produção de origem açoriana ao centro
da Capital. Através do eixo comercial apresentado no mapa, predominou a pequena produção ale
misturada às contribuições das colônias nacionais e do artesanato que circulava por meio dos tropeiros.
39
A Capital possuía as representações bancárias ligadas aos investimentos de
importação, com isso, uma concentração de capitalistas que não se cruzava com a
pequena produção mercantil interiorana a não ser enquanto atacadista dos produtos
industriais necessários à sobrevivência no campo (ferramentas, vidros, tecidos, etc) e
na concessão de empréstimos, pois, segundo Besen (1991), os pequenos produtores
não tinham motivos para se ligarem à sede burocrática e comercial. Ao passo que a ilha
assumia a função, isoladamente, como “centro gerador de mercadorias” (SWEEZY,
1977), ou seja, quando da chegada dos gêneros agrícolas através dos entrepostos
locais abastecidos pelas áreas rurais circunvizinhas, é que se definia o valor da
mercadoria, reforçando o dependitismo econômico. Dessa forma, havia o sistema de
produção para o uso (produção rural) e o sistema de produção para o mercado
(comércio), baseados na circulação de longa distância, porém, inexistindo interesse por
parte dos capitalistas em montarem empresas manufatureiras apoiadas na mão-de-obra
periférica. Afinal, com a chegada dos gêneros agrícolas, drenavam na ilha os maiores
lucros engessando o sistema rural.
O quadro 3 evidencia que o distanciamento das colônias em relação ao centro
urbano forçava a conversão das demandas locais em gastos maiores na importação de
equipamentos e utensílios de primeira necessidade ultrapassando o volume da
produção agrícola. Nos anos iniciais de instalação da colônia, também a importação se
acentuava, como é o caso de Anitápolis. O reduzido volume da colônia militar de Santa
Teresa demonstra a sua função estritamente como posto de fiscalização de tropas e
gado entre serra e litoral. É possível notar ainda, uma situação de mistura étnica nas
colônias até então consideradas nacionais e alemãs:
QUADRO 3 - Comércio Geral nas colônias locais (em mil réis)
Colônias Exportação Importação Saldo
Santa Isabel
1860 (412 colonos) 35:000$000 8:000$000 27:000$000
1865 (1.200 habitantes) 34:783$400 14:916$800 19:866$600
1868 23:000$000 34:000$000 (-) 11:000$000
Colônia Nacional de Angelina
1872 (1.100 habitantes)¹ 35:280$000 25:040$000 10:240$000
Colônia Militar Santa Theresa
1869 (214 colonos) 3:303$300 4:533$540 (-) 1:230$240
1873 (442 colonos) ² 6:182$280 8:578$280 (-) 2:396$000
40
Anitápolis³
1912-1913 67:562$000 329:554$000 (-) 261:992$000
Fonte: Adaptado de Mattos, 1917.
¹ Com 1.041 brasileiros, 01 escravo e 58 alemães (em 12 famílias).
² Sendo 378 brasileiros, 01 português, 02 hamburgueses, 59 prussianos e 02 africanos.
³ Núcleo federal, fundado em 1907, dez anos depois, foi distrito de Palhoça (LOPES, 1939).
Mesmo em condições equilibradas de poder aquisitivo e o cultivo ter sido
baseado no sistema de rotação de terras primitivo
50
, o tamanho e qualidade dos lotes
constituíram impulsos a uma diferenciação social. Ao contrário do ocorrido nos vales
atlânticos ao norte, onde os imigrantes alemães foram assentados em lotes na maior
parte de 25 ha e alguns de 50 ha, as áreas coloniais alemãs fronteiriças à ilha
repercutiram em vários níveis no tamanho dado aos lotes, entre 10 e 96 ha, em faixas
como o sistema Waldhunfendorf, conforme apresenta a tabela 1:
TABELA 1 - A Divisão de Terras nas Colônias
Colônia Tamanho dos Lotes Orientação Total de área
agricultável
30 a 80 braças de frente x
750 de fundos¹ (de 10,89
até 29,04 ha)
Lado a lado, na 1ª estrada de
Lages, a 877,8 metros
contínuos da Fazenda do
primeiro diretor
São Pedro de Alcântara
100 braças de frente x
750 de fundos² (36,3 ha)
Pelo 2º caminho a Lages,
entre rios Biguaçú e Maruim
3 léguas de
comprimento por 200
braças de largura
Alto Biguaçú
40 a 50 ha³
Divisor rios Biguaçú e Maruim
Sem informações
Vargem Grande
Sem informações
4
Rio Cubatão, no salto da
Vargem Grande.
Sem informações
Piedade
2.700x 500 brs
5
(65,34 ha) Vale de Piedade
Sem informações
Leopoldina
14 datas (média 49,58 ha) Acima da foz do Rio Biguaçú
33.595.609
6
braças
quadradas(694,12 ha)
Santa Isabel
100 a 200 braças largura x
1.000 de fundos
7
(48,4 até 96,8 ha)
Rio dos Bugres
65 estabelecimentos
agrícolas
Teresópolis
220 metros de frente x
1.100 de fundos
(24,2 ha)
Confluência dos rios do
Cedro e Cubatão
1.260 ha plantações e
703 ha de pastos.
C.M. Santa Teresa
Sem informações Margens do Rio Itajaí do Sul
798 ha
C. N. Angelina
220 metros x 1.430 fundos
8
(31,46 ha)
Margens do Ribeirão
Mundéus e Rio Garcia
Sem informações
“Burgos Agrícolas”
Sem informações
9
03 distritos às margens da
Estrada de Lages
48.592 ha
Fonte: Maioria dos dados de Mattos (1917).
¹ Em São Pedro de Alcântara e Santa Bárbara.
² Incluída a subcolônia de Santa Filomena.
³ Reitz, 1988.
4
Primeira frente pioneira espontânea dos colonos ao planalto, sob o “regime comum”.
5
Silva, 1992.
6
Reitz, op. cit.
50
Cf. WAIBEL (1979) no sistema de rotação de terras primitivo, caracterizado pelo predomínio de
queimadas e isolamento econômico rompido apenas pelo vendista, enriquece o vendista às custas da
vizinhança.
41
7
Em 1860, eram vendidos lotes de 25.000 a 300.000 braças quadradas (JOCHEM, 2005).
8
O valor de cada braça quadrada era de 0,50 réis.
9
Em 1891, pelo contrato de construção de uma estrada “na margem do rio do sul”, foram dados a Carlos Napoleão
Poeta, 41408 ha e o restante dos 90 mil ha para fundação de “três distritos agrícolas”: 1º) lugares do Quebra Dentes,
Lessa e Rio Adaga, com 411 habitantes; 2º) lugares do Caeté, Águas Frias e Lomba Alta, com 438 habitantes; 3º)
lugares dos rios Jararaca, Engano e Itajaí [do Sul], com 763 habitantes. Na época, pertenciam a São José, tratando-
se das áreas entre os municípios de Alfredo Wagner (colônia militar Santa Teresa) e Bom Retiro (LOPES, 1939).
No final do Império, classificavam-se os lotes coloniais na região sul, de acordo
com a fertilidade e distância em relação ao povoado mais próximo, como de 1ª classe
60 ha; 2ª classe – 30 ha; 3ª classe – 15 ha (SEYFERTH, 2004). Dessa maneira, os
lotes situados nos vales atlânticos, apesar de estarem em áreas mais planas para
utilização do arado, apresentavam níveis médios de ocupação num reduzido tamanho.
As áreas próximas à Capital possuíam condições mais favoráveis de acumulação
individual em razão de um padrão mais diversificado na definição dos lotes e tipos de
solo em meio às áreas montanhosas. Porém, o empobrecimento e a declividade do
solo, mas, principalmente, a queda de preços da mandioca para exportação ao Rio de
Janeiro, trouxe crises ao meio rural que foram enfrentadas com a redução das áreas de
plantio, a policultura como característica da produção agrícola e o abandono de terras.
51
A ascensão social de pequenos produtores na periferia dependeria da obtenção
dos meios de expropriação do trabalho empregados, agregados, arrendando a terra
para agricultura e pastagem, ou ainda realizando empréstimos ao entorno.
52
De acordo
com Dobb (1983), devido à instabilidade da economia de pequena propriedade,
despontam alguns indivíduos como capitalistas através da prática da dívida, do
monopólio e da usura. Citando Marx, o mesmo autor desenvolve a perspectiva de
análise na qual o pequeno produtor ao se tornar mercador e capitalista gera a “via
realmente revolucionária” de ascensão em oposição à economia agrícola natural e ao
artesanato controlado pelas guildas da indústria urbana, assim, não sendo diluído por
nenhum dos dois sistemas campo-cidade. Contudo, segundo Hatzky (2000), havia nos
empréstimos contraídos a juros dos pequenos comerciantes na região, um alto índice
de negócios mal-sucedidos arriscando um número de 95% do povo aplicando calotes.
51
Na virada para o século XX, pequenos produtores ainda possuíam obrigações no pagamento dos lotes
e dificuldades na quitação de dívidas nas ex-colônias de Angelina, Capivari, Teresópolis e Santa Isabel,
tanto que foram criadas várias leis estaduais prevendo redução nos valores. Mais detalhes sobre estas
leis, consultar Câmara (1940).
52
Entre Angelina e São Pedro de Alcântara, por exemplo, havia Kiliano Kretzer trabalhando com
empréstimos e acumulação de casas que formaram uma comunidade isolada em meados de 1920 (Casa
de Cultura de São Pedro de Alcântara. Informação verbal, 2008).
42
Os patamares na formação de capitais não se faziam duradouros, em virtude de
ciclos internos na produção de gêneros exportáveis principalmente farinha, banha,
madeira e cachaça, bastante concentrada em algumas localidades semelhante à
pequena produção mercantil açoriana. Outro agravante era a partilha das terras em
herança de famílias numerosas, que adiante será tratado. Contudo, é preciso entender
a pequena produção mercantil a partir de determinadas relações sociais de produção,
na qual uma igualdade muito grande de pequenos produtores num dado momento criou
diferenciações dentro da aldeia. Estes meios de diferenciação foram obtidos pelas
interfaces da relação econômica com o latifúndio dos campos de Lages através da
passagem de tropas, e de uma pequena produção mercantil destinada ao
abastecimento agrícola da Capital.
A presença de pequenos comerciantes de origem alemã acabou colocando-os
rapidamente como representantes políticos em Palhoça, inclusive, apoiadores de Lauro
Müller, ao contrário de São José, onde a classe latifundiária cobriu a diferença no apoio
estadual articulando a sua retirada (IBGE, 1959). O predomínio das relações pré-
capitalistas tanto na pequena produção açoriana como na de origem alemã (ou mista),
reforçaram a estruturação do capital mercantil na faixa litorânea devido à convergência
dos gêneros agrícolas até a área central da ilha, havendo poucos investimentos em
manufaturas no meio rural que se estabeleceram em específicas e lentas condições
favoráveis de aumento na escala, matéria-prima e criação de produtos durante o século
XX, como mostra os dois exemplos a seguir:
a) Face o distanciamento dos mercados pelas estradas precárias, os agricultores
de São Bonifácio se dedicaram ao ramo da criação e engorda de suínos, depois
adotado e desenvolvido em outras cidades nos vales do Capivari e Braço do Norte. A
primeira refinação de banha de porco era de Heinrich Weber e a segunda de José
Selhorst, promoveram a instalação de “casas de banha” que abasteciam Florianópolis e
Laguna. Nos anos 1930, despontava a fábrica de produtos derivados de suínos Avaí
que, no auge da produção abatia de 50 a 60 porcos de uma vez (LOPES, 1939). A
banha Avaí chegou a ser exportada ao Rio de Janeiro, sob 60% de sua produção
(MÜLLER & RICKEN, 2007).
43
b) A “Fábrica de Bebidas Leonardo Sell” deu início às suas atividades em 1905,
enquanto única produtora de cerveja em Rancho Queimado. O proprietário e três
funcionários beneficiavam a cevada que vinha do planalto serrano. Com
engarrafamento e rotulagem própria desde o início, aprimorando a cerveja surgiu o
guaraná, considerado um dos primeiros no País. Somente após 1927, a
comercialização direta através do transporte em carroças se expandiu entre Bom Retiro
e Florianópolis (ENTRES, 1929). Sob a administração do filho Alfredo Sell, a partir de
1948, além da cerveja Rio Branco e do guaraná Pureza, houve a criação de novos
sabores e produtos: o xarope Groselha e, na década de 1960, os refrigerantes
Framboesa, Limãozinho e Laranjinha, em garrafas de 200, 300 e 600 ml. A
modernização dos equipamentos somente ocorreu entre 1995-6, pela aquisição de uma
rotuladora automática e uma enchedora da marca Holstein-Kappert em “mix”, com a
tecnologia alemã e brasileira à altura das empresas de alta produção (COELHO, 2002).
O mercado hoje atende direcionado às cidades urbanas próximas ao litoral, de
Tubarão, ao sul, até Curitiba (PR), ao norte. Este é um raro caso de indústria soerguida
do artesanato ainda atuante.
O custeio no lento transporte (carroças e cargueiros) e a quantidade de
intermediários (vendistas, tropeiros, boleeiros e pombeiros
53
), colocavam o agricultor
numa situação pouco lucrativa, obrigando-o na criação de seus próprios canais de
distribuição até o litoral ou subindo o planalto quando as estradas estavam melhoradas.
Todavia, a base material de pequena produção se beneficiou pela quantidade de vários
atravessadores, o que proporcionava condições para a renda ser distribuída entre as
localidades. A comercialização ambulante da galinha viva, servindo para aumentar as
rendas dos produtores alcançava 100% de rentabilidade (LOPES, 1939).
De um modo geral, a diferenciação social acontecia quando o pequeno produtor
obtinha condições para construir uma venda
54
numa localidade de intersecção
53
Boleeiro possuía veículo próprio, agenciando o transporte de mercadorias. Pombeiro era o nome
popular para caixeiro-viajante. Cf. Lopes (1939) o município de Palhoça registrava uma forte
concentração desses intermediários, o que podemos deduzir o predomínio de sua atuação com a faixa
litorânea, enquanto os tropeiros dominavam a mediação das distâncias entre serra e litoral.
54
Este tipo de povoamento rural, onde um líder vendista e um pequeno grupo se deslocam até uma
comunidade desabitada, é classificado por Roche (1969) de “enxamagem”.
44
(encruzilhada) e passagem de tropas, sem concorrentes, dominando os preços da
mesma porque detentor dos recursos de estocagem, dinheiro e transporte, na
transformação do valor de troca (escambo) em valor de uso condicionada pelo centro
urbano
55
, isto é, o vendeiro revendia os produtos artesanais possíveis de estocagem
adquiridos pela troca, capitalizando através das demandas ocasionais para ainda
comprar outros artigos.
Em São Pedro de Alcântara, por exemplo, Germano A. Kretzer ultrapassou a
condição de pequeno vendista-rural, tornando-se expressivo comerciante pelo
entreposto no caminho de tropa por meio de um conjunto de atividades: casa de
hospedagem, atacado do artesanato que chegava, cancha de bocha para divertimento
dos viajantes e terras para criação de gado.
56
No então distrito palhocense de “Santo
Amaro”, destacava-se Orlando Becker como um vendista. Conforme Hatzky (2000),
salientaram-se os boleeiros de Palhoça, como Alberto Scheidt, Felix Hatzky e Germano
Berkenbrock, os quais, trabalhando a preços abaixo do custo, intermediavam as
mercadorias dos atacadistas situados na ilha (como Meyer, Hoepcke, Riggenbach) até
Lages e Curitibanos. Nos anos 1930, a melhoria da estrada Santo Amaro-Lages reduziu
o frete de passageiros (colonos), tendo os boleeiros que buscar outros meios de
sustento, período no qual a Ponte Hercílio Luz estimulou a proximidade do colono
ambulante com a ilha, tornando-o a base do comércio regional. Os vendistas mais
expressivos depositavam os seus rendimentos a juros na Casa Hoepcke.
Os indivíduos da religião evangélica ou luterana dominaram mais distantes do
litoral em Santa Isabel
57
e Teresópolis (hoje Águas Mornas, Rancho Queimado,
Anitápolis e São Bonifácio)
58
, que se caracterizaram pelo associativismo em função das
trocas dos excedentes com os tropeiros e numa concentração mais diversificada de
artífices. Dotados dos maiores e mais distantes lotes do sistema colônia-venda
55
Cf. Waibel (1979), o valor de troca dos mantimentos e da madeira é determinado pelo preço
comercializado na cidade.
56
Germano Kretzer é irmão de Kiliano, anteriormente mencionado [Casa de Cultura, Prefeitura Municipal
de São Pedro de Alcântara (Informação verbal, 2008)].
57
Cf. Schaden (1946) são raríssimos os casos de quem preferiu a vida urbana e o trabalho fabril dos
colonos de Santa Isabel. Para Desterro, rumou o comerciante protestante Carl Moellmann.
58
Atualmente, é comum visualizar uma pequena igreja evangélica ou luterana de frente para a católica, e
esta numa posição mais alta, podendo ser vistas nas comunidades de Santa Isabel e Vargem Grande
(Águas Mornas), e nas áreas centrais de São Bonifácio, Santo Amaro da Imperatriz e Palhoça.
45
acumularam pela exploração extensiva, onde, segundo Waibel (1979), o trabalho e o
capital se limitavam em função de preços menores e de produtos que não poderiam se
deteriorar facilmente. Na Capital, também foi organizada uma comunidade luterana
urbana, onde a maioria dos membros se originaram das colônias novas ou daqueles
indivíduos desagregados das levas até as colônias antigas ao ficarem na ilha, entre os
quais alguns ex-soldados alemães.
Os católicos que conseguiram ascender comercialmente predominaram nas
áreas menos íngremes e sáfaras de Biguaçú, Palhoça, São José e imediações
(JOCHEM, 1997). Na faixa litorânea, os vendistas obedeciam a uma “lei de seleção
natural”, na qual as casas fortes funcionariam durante várias décadas e passavam pela
substituição por outras. É o caso de Adão Michels
59
e Johann Nikolaus Schmidt, na
segunda metade do século XIX; e Felipe Petry, Pedro Bunn e José Filomeno & Cia,
durante a primeira metade do século XX, na Praia Comprida, detendo casas comerciais,
trapiches, empregados e embarcações, enquanto destacados intermediários no sistema
colônia-venda.
Em Palhoça, destacava-se a firma Luz & Luz, ocupando a antiga casa Costa &
Cia, que possuía grande estocagem de fazenda, ferragens, armarinho, depósitos de
sal, querosene, açúcar, arroz, etc, no atendimento dos compradores da região serrana.
Além desta casa, outros comerciantes: Nicolau José Rosa – secos e molhados e
sapataria, Frederico Rühl – casa de fazendas e armarinho, Nicolau Simão Sobrinho –
secos e molhados, José Estefano Koerig – fazendas e armarinho, Jacó Schaidt – casa
de hospedagem, secos e molhados e duas lanchas para transporte até a ilha, Gustavo
Fenner – hospedagem, embarcação e ferraria, Martinho Ferreira da Silva – sapataria,
Teodoro Hacming – ferraria de 1ª ordem, Jerônimo Luiz Ávila e Francisco Pereira de
Matos – secos e molhados, Francisco Pereira da Silva – sapataria, João Pedro Oldoff e
João Pedro Rosar, de ramos não informados (IBGE, 1959; LOPES, 1939). Esta
pulverização de pequenos negócios se deve ao polinucleamento populacional exercido
pelas colônias, sabendo que as maiores ainda se faziam distritos palhocenses.
59
Cf. Avé-Lallemant (1953), na Praia Comprida, os agricultores traziam mercadorias de Biguaçú, São
Pedro de Alcântara e Cubatão, tendo como maior comerciante Adão, também dono de uma estalagem. O
filho Adão Júnior, estava em Biguaçú instalado como pequeno vendeiro.
46
Em Biguaçú, João Nicolau Born filho de imigrantes prussianos chegados na
primeira leva a São Pedro de Alcântara, e posteriormente sendo agricultores no Alto
Biguaçú dinamizou o seu capital a partir de um comércio atacadista (o primeiro da
cidade) que monopolizava os preços aproveitando as novidades em manufaturas que
vinham embarcadas da Capital. Aprimorou a venda inicial, transformando-a em duas
maiores e mais sortidas. A mão-de-obra barata de seus escravos alforriados, a
comunicação interior e litoral facilitada pelo rio Biguaçú e a sua atuação política,
enquanto primeiro prefeito e planejador de estradas, proporcionaram uma acumulação
de terras para cana-de-açúcar, e também uma casa de comércio e alguns imóveis na
ilha.
60
O comércio central de Biguaçú foi tocado pelo seu filho Lúcio, mesmo após a
Revolução de 1930.
61
Durante esse movimento, o “casarão dos Born”, como ainda é
conhecido, servindo de local de encontro entre as autoridades e articulações políticas,
foi metralhado e após tudo normalizado o governo estadual pagou 800 mil réis para a
sua recuperação (SIQUEIRA, 1999). O capital comercial formado por esta família
apresentou uma duração maior em relação a outros das áreas lindeiras à ilha devido ao
caráter monopolista de atacado dos produtos importados combinado às atividades
políticas, diversificação de negócios, acumulação de terras, imóveis e força de trabalho,
nivelando-se aos capitalistas existentes na Capital.
A perspectiva endógena da pequena produção mercantil que se instalou a partir
das colônias alemãs e nacionais (vide as ilustrações no anexo 1), em razão do
distanciamento na circulação de mercadorias ocasionado pela falta de vias fluviais
constantes privilegiava os comerciantes intermediários, tanto aqueles comerciantes
situados na faixa litorânea (Praia Comprida, Palhoça e Biguaçú), bem como os
pequeno-vendistas das áreas interioranas que realizavam o transporte de gêneros
agrícolas, ou ainda, em outro sistema, os capitalistas de import-export no porto da
Capital, que intercambiavam as manufaturas chegadas do Rio de Janeiro e litoral
catarinense. Sobre a formação de capitais destes últimos, tratará o segundo capítulo.
Sobre a relativa homogeneidade na base social agrícola, de indivíduos com as
mesmas chances econômicas, é preciso entender que as áreas coloniais antigas
60
Incluindo uma casa baixa na esquina das ruas Araújo de Figueiredo e Saldanha Marinho, que depois
pertenceu à família Brüggemann (SIQUEIRA, 1999).
61
Informações obtidas pela autora com a Sra. Dalvina de Jesus Siqueira. Biguaçú, 10/10/2007.
47
renderam um ambiente mais suscetível ao processo de nacionalização iniciado com a
descentralização do poder de uma hierarquia inflexível (a latifundiária) através da
Constituição Federal de 1894, na qual se presumia a “noção de indivíduo e de sua livre
iniciativa” pela solidariedade social a partir da livre associação (VIANNA, 2004, p.168).
Nos anos 1920, revisitou-se o tema do indivíduo dissociado (antes ligado ao indivíduo
agrário, agora ao urbano) culminando na Revolução de 1930, em razão da tomada do
poder pelos militares aliados aos pecuaristas como sujeição às elites tradicionais. As
idéias liberais geraram um pensamento político que se tornou suporte ideológico do
Estado Novo quando o governo conseguia manter controles sobre o livre mercado, o
que auxiliou no desenvolvimento de diversas empresas neste período, como a
Fundição Tupy (1938), Hansen (1941), Buschle & Lepper (1943), etc. A noção de
“moderno” não aparecia como uma ruptura com a tradição, pois a imposição da
administração pública vedou as burguesias saídas do supercapitalismo ainda
minoritárias no País, mas, que, em Santa Catarina, firmavam grande peso político-
econômico.
Por conta da Revolução de 1930, os Ramos tomariam medidas possíveis para
inviabilizar o retorno dos Konder, manifestadas pela campanha ideológica sobre as
regiões de sustentação do seu poderio (os vales atlânticos de descendência alemã). O
governo Vargas seguiu as características do “Príncipe” de Gramsci (1989) conduzido
pelo partido e não pelo presidente, mas, num regime totalitário porque o partido possuía
um representante para induzir a população a uma vontade coletiva por meio de um
“fanatismo de ação”. Este período marcou a unificação de padrões nas indústrias, as
leis trabalhistas e de sindicalização, e a integração do mercado nacional, tendo em vista
que a modernização exigia tais medidas consolidantes ainda que discriminatórias dos
descendentes de imigrantes. A dependência econômica assumida pelas localidades
originárias das colônias nacionais e alemãs em afinidade com o planalto serrano e a
Capital catarinense leva-se a entender um quadro no qual esta nova ideologia, em seus
três aspectos, enquanto mistura étnica na matriz (luso, índio e negro), baixo índice de
concorrência e também como redenção ao poder centralizado, já estavam incorporados
ao cotidiano do comércio interno e aos matrimônios contraídos.
48
Emersas num contexto de pequena produção mercantil pouco evoluída em
relação às formas superiores de organização econômica, as conseqüências diretas da
implantação do Estado Novo, a partir de 1937, podem ser medidas pela proibição do
idioma alemão e no fechamento das “escolas alemãs” que atendiam as funções da
educação pública básica
62
, mas, que devem ter aumentado o deslocamento dos filhos
de quem pudesse pagar pela continuação dos estudos em internatos de moços e
moças na ilha
63
, dessa forma, aparecendo outros meios de ascensão social
desencadeados pela profissionalização, através de cursos técnicos, faculdades e
serviço público. Além disso, as escolas do governo estadual inicialmente foram
construídas próximas às praças centrais das cidades litorâneas, como, por exemplo, em
São José, o Grupo Escolar Francisco Tolentino, fazendo com que os descendentes de
colonos tivessem que se deslocar a longas distâncias de carroça para concluírem o
ensino normal.
64
A entrada na Segunda Guerra Mundial trouxe outras conseqüências aos
descendentes de alemães localizados nas áreas limítrofes da ilha. O Estado Novo
impôs a ilegalidade dos partidos políticos com a perseguição aos integralistas, pois,
havia um aliciamento de indivíduos de origem alemã e italiana que se deveu à luta
anticomunista de ambos, bem explorada pelos “camisas verdes” ligados ao partido
nazista. Para não serem presos, muitos ex-integralistas noticiavam, em 1942, conforme
as pesquisas de Fáveri (2002), cartas de apoio ao governo estadual e federal em
jornais da época, entre as quais aparecem manifestos vindos dos municípios de
Palhoça, Rodeio, Joinville e São Bento do sul. O salvo-conduto, uma espécie de taxa
cobrada pela circulação do descendente de alemães que se deslocasse até a ilha, fazia
com que tais saídas ficassem caras, o que resumia os contatos comerciais.
65
62
Cf. Prof. João Klug, foram fechadas quinze destas escolas na região (Informação verbal, 2006).
63
Reitz (1963) verificou nas localidades que compreendem hoje o município de Antônio Carlos, que os
descendentes de colonos se caracterizavam pela ausência de analfabetos preferindo o ensino particular.
Contudo, não é possível afirmar que as condições financeiras tenham sido favoráveis a boa parte das
famílias a fim de que seus filhos pudessem apenas estudar sem auxiliarem nas atividades agrícolas.
64
Este episódio foi extraído da entrevista junto a Antônio Obed Koerich. Florianópolis, 27/11/2007.
65
Cf. Fáveri (2002) o salvo-conduto era um documento onde se fixava uma fotografia 3x4, expedido nas
delegacias, mediante pagamento de uma estampilha no valor de mil réis (1$000) e taxa de saúde (não
estipulado o valor) a cada viagem ou deslocamento intermunicipal. Em 1942, só em Florianópolis foram
expedidos 8726 salvo-condutos a nacionais e 481 para estrangeiros. Na época, a fotografia era um
objeto caro e, somada às taxas, essa medida exerceu efetivo controle sobre a população flutuante.
49
É importante entender que a própria situação de dificuldades destes
descendentes menos abastados, fortaleceu as resistências familiares em direção a uma
“cultura de pequenos empreendedores” que se afunilaram numa seleção de
comerciantes “altamente capitalistas” ao rumarem as suas atenções para o centro
urbano, assuntos a serem especificados consecutivamente. Dentre as famílias de
colonos, fazia-se comum várias gerações manterem suas atividades restritas à
produção agrícola, combinando gêneros agrícolas e manufaturas caseiras nas
propriedades sem relações comerciais diretas. Porém, mesmo nestas famílias surgiram
membros que se aventurassem em atividades de transformação efetivadas no setor
terciário, num indício de que a capacidade empreendedora estava ligada às
características comportamentais favorecendo no encontro das oportunidades.
Os pequeno-vendistas (vendistas rurais) realizavam um esforço de circulação de
mercadorias sob várias condições. Com os tropeiros, estabeleciam o escambo de
farinha e açúcar por queijo, charque e marmelo, adquirindo gado e atendendo na
hospedaria de passagem. O vendista buscava de caminhonete, a partir da década de
1930, tecidos e sabonetes em Blumenau, através do caminho entre São João Batista e
Nova Trento. A produção agrícola no quintal da venda, como laranja e batata-inglesa,
do centro de Angelina descia uma vez por semana em carroças até São Pedro de
Alcântara e, de lá, outros vendistas transportavam até a Praia Comprida para enfim
abastecer a ilha. Comprava-se cachaça em Biguaçú, e chapéu, bala, etc, em
Florianópolis, levando-se três dias para alcançar a faixa litorânea. O complexo vendista
resistiu nas áreas mais isoladas até 1960
66
, certamente face ao casamento de seus
canais de distribuição com os caminhos de tropa, sabendo-se que o sistema de
transporte continente-ilha por meio de lanchões
67
perdurou até a década de 1940-50
(PELUSO JÚNIOR, 1991b), coincidindo com a decadência dos “secos e molhados”,
nacionalmente (BASTOS, 2002).
66
Informações obtidas pela autora com as sras. Hilda, Irma e Teresinha Schappo. Angelina, 13/09/2007.
67
Cf. Pereira Filho (1994, p.67): “Na Ilha de Santa Catarina e na parte continental das baías Norte e Sul,
comunidades como Enseada de Brito, Ribeirão da Ilha, São Miguel, Santo Antônio de Lisboa e mesmo
sedes de municípios como Palhoça, São José, Ganchos, Tijucas, Porto Belo e outras, podiam trocar
mercadorias de produção local como cerâmica, farinha, açúcar mascavo, aves e pequenos mamíferos,
peixes, melado e outros produtos agrícolas ou manufaturas utilizando-se da cabotagem de lanchões e
baleeiras a vela [...], meio de transporte que gradativamente foi desaparecendo com a implantação de
rodovias e com o surgimento da indústria automobilística no país.”
50
O relato a seguir, considera que as áreas de pastagem se limitavam com as
áreas de entreposto comercial, associando o abastecimento agrícola com o de carnes.
Nesse sentido, os pontos de compra-venda de gado e de madeira propiciaram o capital
circulante (matéria-prima, eletricidade, etc) dos negócios situados no entorno,
sustentados pelo movimento pendular no transporte de alimentos até a ilha:
O comércio de São José era muito forte, porque não tinha a ponte Hercílio Luz.
Os produtos da colônia vinham até a cidade e, dos trapiches de José Filomeno
& Cia, Pedro Bunn e Gregório Felipe Petry, eram embarcados em lanchões e
levados ao Mercado Público da Capital.
São José abasteceu a Capital por muito tempo com gêneros da lavoura: couro,
mel, cera, banha, queijo, manteiga. Agora o pessoal de São Pedro de
Alcântara é quem compra comida na Capital. Antes, a carne verde consumida
em Florianópolis vinha para a casa Eliseu Di Bernardi e Vaz. O gado descia a
serra e ficava esperando nas pastagens onde hoje estão Campinas e Kobrasol.
De lá, seguia aos poucos para o Estreito, onde existia um matadouro, bem na
frente de onde funcionava a casa André Maikot.
68
Havia uma poupança de créditos concedidos entre tais comerciantes e os
pequeno-vendistas que poderiam favorecer momentaneamente, os negócios nas áreas
agrícolas. Contudo, a pouca margem para existir a acumulação de capital, além de
lucros inesperados ou o incremento nos valores da terra urbana, deixaram o pequeno
modo de produção interiorano como uma base social estanque, porém, não
inteiramente por causa do comércio entre os povoados, para as transformações
lentamente ocorridas no sistema de abastecimento. A falta de capacidade de expansão
dos vendeiros satisfez os capitais mercantis livremente voltados ao dimensionamento
de mercado do planalto serrano através dos comerciantes de tropa, principalmente
devido ao preço mais elevado do gado e da madeira em relação à policultura.
O gado e a tropa desciam até o litoral por um longo percurso, numa duração de
10/15 dias, ficando em pousio e pontos de parada até a década de 1950, depois, vindo
de caminhão do planalto serrano até os anos 1960, quando a decadência das zonas
pecuaristas catarinenses, o fim das serrarias para dar lugar às indústrias de papel e
celulose, as precárias estradas e as migrações crescentes ao litoral, fizeram escassear
até os anos 1970 os capitais serranos que poderiam se converter em frigoríficos e
avícolas de iniciativa local (CAMPOS, 1983). Mas, as terras devolutas de pastagem não
68
Depoimento de Antônio Francisco Machado. In: Machadinho e suas histórias. Jornal Diário
Catarinense. Florianópolis, 19 de março de 1997, p.16.
51
foram povoadas antes da década de 1960, ficando ainda sob o domínio público. Fazem
parte deste roteiro as áreas de Campina - bairro Campinas (São José), Pasto do Gado -
hoje as cabeceiras continentais das pontes até a ilha, Barra do Cubatão - da Ponta do
Tomé até a foz do rio Maruim (Palhoça), entrada de Santa Isabel - Águas Mornas e
localidade de Navalhas - em Taquaras, Rancho Queimado (CAMPOS, 1991; IBGE,
1959). O próprio abatimento na faixa litorânea, por conta do odor produzido,
selecionava nas áreas os arruamentos, as casas de operários, as atividades comerciais
e os trabalhadores dedicados a este serviço, que certamente vinham do meio rural.
Os abatedouros colocavam em atividade novas áreas originando certos bairros,
situação esta de Campinas (São José), Capoeiras e Estreito (Florianópolis), e Ponte do
Imaruim (Palhoça)
69
, porque as mantinha sob uma reserva de terras (nos vazios entre
os núcleos tradicionais) depois direcionada a centros residenciais-comerciais contíguos
pelo efeito de mobilidade nas vias de ligação, bem como organizou-se o bairro Kobrasol
pelas frações do capital de dois madeireiros locais e um comerciante, ambos
descendentes de imigrantes, dois deles de alemães. De acordo com estes referenciais,
é possível entender que o impulso destas concessões e as mudanças nos tipos
ocupacionais das pastagens livres para formarem bairros de classe média ou média
baixa aconteceram rapidamente durante 1960/70, como reflexos do êxodo rural
brasileiro ocorrido a partir dos anos 1950 e da própria estrutura urbana em crescimento.
Importa em saber que estas áreas de expansão serviram na fixação de inúmeras
empresas, das quais seus proprietários partiam em boa parte das áreas rurais
catarinenses, que foram determinantes na formação de empreendedores na região.
Rangel (2005, p.100), aborda que a separação de uma atividade qualquer do complexo
rural (neste ínterim, o gado e a madeira) repercute na criação de unidades de novo tipo,
especializadas numa mesma atividade ou em algumas correlatas, que implica na
dissociação da “unidade produtiva” e da “família” voltada ao aumento no número de
bens (acumulação individual) e no rompimento do “caráter combinado” do próprio
complexo. Este processo interno de redistribuição do trabalho através da
especialização comercial aponta para uma “destruição do complexo rural”. Contudo,
69
Nesta localidade havia um grande curtume, pertencente a Augusto Westphal e ainda, a produção e
transporte de tijolos e telhas abastecedores de Florianópolis (SOARES, 1990; HATZKY, 2000; LOPES,
1939).
52
dado o tamanho que representam as áreas agrícolas e a sua limitada população no
continente, o complexo rural da região não se desintegrou totalmente. Pelo contrário,
veio a acontecer uma evolução lenta no campo a partir do que se pode definir como a
sua reestruturação sistema agrícola (com especializações) e pequenos negócios.
Também se entende que não houve a destruição do complexo rural completamente,
porque ainda não se manifestava a formação do mercado interno. Na verdade, a
constituição do mercado consumidor partiu do núcleo central de Florianópolis atingindo
gradualmente os três municípios de contato (São José, Palhoça e Biguaçú), por isso, o
meio rural influenciado pelas áreas de colonização alemã não se dissolveu já que não
cedeu lugar ao desenvolvimento urbano. Este assunto será retomado no capítulo 3.
Logo à frente, será analisada a dinâmica rural em função do núcleo urbano-
consumidor de Florianópolis (item 1.2.2), relacionando os pequenos modos de
produção existentes (açoriano e alemão), para se começar a entender as brechas
aproveitadas pelos descendentes de colonos nos movimentos campo-cidade. Agora, a
caracterização das edificações introduzidas pelos descendentes de alemães, a fim de
assinalar as formas de inserção nas classes sociais.
1.2.1 A tipologia arquitetônica
A fisionomia dos edifícios personifica os aspectos de uma paisagem, elemento
este que, sem dúvida, provém das forças sociais. Dentre a cultura portuguesa, italiana e
germânica, apresenta-se a última como responsável pela maior variação de
ornamentos, por isso, pela introdução de novos tipos de prédios devido ao
aperfeiçoamento da carpintaria nas regiões catarinenses (PELUSO JÚNIOR, 1991a).
Para o colono nas localidades próximas da Capital, a propriedade se
apresentava como unidade econômica e social de produção da sua realidade. A
propriedade enquanto célula natural do trabalho com os seus pressupostos materiais, é
uma característica das sociedades pré-capitalistas. Uma das preocupações imediatas
de famílias numerosas estava no desenvolvimento da moradia e nas estruturas anexas
de suporte a processos de beneficiamento agrícola. As primeiras casas de madeira
sofreram substituição pelas de alvenaria logo durante a segunda metade do século XIX.
53
Embora de pequenas dimensões, alcançaram uma configuração própria de caráter
regional, inclusive, valendo uma sucessão arquitetônica em menor escala, porém,
divergente da encontrada nas colônias novas.
70
Nas colônias antigas sobressaíram as
edificações em duas águas simples como “chalés”, mas, assumindo diferenças de
acordo com a época de construção, localização e funcionalidade.
71
As construções obedeceram aos materiais disponíveis em cada região. Os
imigrantes vindos de Hunsrück, possuíam na Alemanha casas com paredes e telhados
revestidos por lâminas de ardósia, ostentando tons de preto (REITZ, 1988). Identificou-
se na fixação da colônia São Pedro de Alcântara, devido ao isolamento, um conjunto
único de casas, sendo todas caiadas de branco e janelas azuis (PAIVA, 1929), ou seja,
um padrão totalmente oposto ao adotado anteriormente. O aprendizado de adaptação
ao novo ambiente com os luso-brasileiros outorgou grande semelhança em seu aspecto
construtivo nas pequenas residências situadas no meio rural. Neste primeiro grupo,
aparecem casas com janelas em guilhotina e folhas internas, telhas-de-canal
(portuguesa) com beirado curto ou “sem-beira” orientada para a estrada, diferenciando-
se no aperfeiçoamento da inclinação do telhado (maior) a fim de contemplar um sótão
com janelas para o quarto do filho mais velho, além de molduras quadradas nas
aberturas adornadas por cimalhas decoradas. Outra característica que diverge das
habitações em enxaimel das colônias novas, é que o jardim ficou estabelecido nos
fundos da casa ao lado da horta diária (REITZ, 1991).
O segundo grupo de classificação corresponde às residências nas quais o chalé
é mais alto e o telhado com ângulo mais agudo, onde o sótão, mais amplo do que no
primeiro grupo, funcionaria como o segundo andar, ou, em alguns casos, possuindo
dois pavimentos. Com a empena voltada para a rua, as janelas são mais altas e
envidraçadas se fechando algumas em quatro folhas e com molduras lisas. A porta está
70
Nas colônias novas, caracterizam-se as construções em enxaimel pelo método residencial básico da
angulação de peças em madeira escurecida (horizontais, verticais e inclinadas), ocupando um sistema
rígido, preenchido por materiais de vedação. As paredes externas em tijolo natural, rebocadas
internamente, em contraste com frisos brancos e esquadrias claras. Uma varanda frontal, telhado de
chalé duplo, janelas em simetria com a porta principal, sendo a casa elevada do chão. Um jardim na
entrada, sótão com janelas (para quarto) e chaminés. O enxaimel foi incorporado em construções sob
variadas funcionalidades: casas de comércio, escolas, salões de baile, pequenas instalações industriais,
hotéis e igrejas (ODEBRECHT, 1982a).
71
No anexo 2, consta arquivo de fotos propondo a análise de quatro tipos arquitetônicos básicos de
edificação privada na região.
54
em simetria com as janelas. O beirado é mais alongado, contendo ornamentos de
madeira recortada. Somente nas casas mais sofisticadas havia varanda no andar
superior ou na lateral. Atualmente, restam poucas destas casas, podendo ser
encontradas no centro urbano de Florianópolis, além dos bairros da Agronômica e Saco
dos Limões, e em algumas ruas centrais de Biguaçú, mas, segundo a iconografia de
Soares (1990), havia também no bairro Estreito (ruas Gaspar Dutra e Fúlvio Aducci),
residindo descendentes de alemães. Porém, não há como se afirmar que sejam
moradias exclusivas dos mesmos.
72
Como no campo as casas de telhado perpendicular
à rua são bem raras, estas casas do segundo grupo, com pelo menos oitenta anos,
podem marcar um primeiro movimento de indivíduos médios que se deslocam até a
faixa litorânea, notadamente nas primeiras décadas do século XX. Assomam este fato
as transformações específicas de Florianópolis, as quais a predominância da população
urbana em relação à rural ocorre a partir da década de 1930, ao contrário dos demais
municípios brasileiros onde o marco é 1970 (Prefeitura Municipal de Florianópolis,
1978), em função da inauguração da Ponte Hercílio Luz, no ano de 1926.
Formam o terceiro grupo as casas de comerciantes mais abastados, de função
estritamente residencial, datadas entre o final do século XIX e anos 1920/30, que se
edificam em sótão individualizado, profusa ornamentação de madeira, varanda,
lambrequins e detalhes de influência francesa, suíca ou alemã, destacando-se pela
volumetria eclética. Bastante sofisticadas, a maioria enquanto antigas sedes de chácara
ou dotadas de grandes jardins, situam-se na área central de Florianópolis.
As casas de misto comercial-residencial (quarto grupo) compuseram o complexo
vendeiro em várias localidades. Sob diversos estilos e períodos de construção que
parecem ir até a década de 1950, igualam-se pelo pé direito alto, porão com janelas
72
Cf. Veiga (2000) este estilo arquitetônico de tradição germânica se popularizou em Florianópolis, entre
o final do século XIX e início do XX. O Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis (IPUF) salienta
a influência dos construtores de origem alemã em relação às casas que podem ter sido encomendadas
por “manezinhos” devido ao modo econômico de construção (Informação verbal, 2008). Em Entres
(1929), consta alguns nomes destes arquitetos e engenheiros, como Gründel, Wildi, Ulrich, Hübel,
Schmidt e Göttmann, responsáveis pela maioria das novas construções nos primeiros trinta anos do
século XX. Theodor Grüdel foi o mais importante deles, importando em 1908 a primeira máquina de fazer
telhas de cimento, destacando-se na reforma da Catedral, em construções novas da firma Hoepcke, o
colégio das Freiras (hoje Colégio Coração de Jesus), o Ginásio (hoje Colégio catarinense) e a casa
particular de Max Hoepcke.
55
para estocagem de produtos, portas gêmeas imediatas à calçada e a maioria com nave
do edifício orientada em paralelo com a rua.
Os maiores edifícios comerciais e industriais construídos na virada do século XX,
através da acumulação de capitais em Florianópolis, serão vistos no segundo capítulo.
Cabe ainda destacar que, a região ainda atendeu ao estilo germânico em
construções públicas amplas, como igrejas, hospitais, colégios e conventos, a exemplo
do conjunto arquitetônico da Comunidade Luterana de Florianópolis; do Instituto São
José e o Educandário de Santa Catarina, ambos em São José; e a Congregação das
Irmãs Franciscanas, em Angelina. Algumas destas edificações refletem o caráter de
nacionalização pela via católica intensificada a partir do início do século XX,
aparecendo a linha romanizada
73
com características germânicas sob a influência dos
inúmeros padres descendentes de alemães, a representatividade exercida pelas três
principais congregações (hoje colégios Catarinense, Coração de Jesus e Imaculada da
Conceição) e o próprio Arcebispado de Florianópolis
74
.
1.2.2 Dinâmica das áreas rurais no entorno de Florianópolis
O sistema de abastecimento dos gêneros agrícolas e a sua orientação ao
atendimento do mercado interno dirigido ao centro urbano, correspondendo a um
aproveitamento diferenciado da produção, sob os preceitos da “Lei de Thünen” — em
seis faixas num raio de até 371 Km — segundo Waibel (1979), devido à variação
climática nas regiões serranas em contato com o litoral dos países tropicais, por
conta das diferentes altitudes, promoveu alguns rompimentos e modificações
no mesmo. A Região Metropolitana de Florianópolis está definida em quase a
73
Cf. Werle (2004) a partir de meados do século XIX até a década de 1940, o Brasil atravessou uma
transformação religiosa denominada por muitos autores como a substituição do tradicional catolicismo
luso-brasileiro pelo catolicismo ultramontano, europeizado e romanizado, ou seja, o reconhecimento de
Roma como o centro religioso.
74
Cf. Dallabrida Filho (apud FÁVERI, 2002) a Diocese de Florianópolis, criada em 1908, através da
aliança entre Igreja e Estado, focava-se nas escolas paroquiais devido ao crescimento no número de
paróquias principalmente ligadas aos ex-núcleos coloniais, e mantendo boas relações com a elite política.
Um dos nomes de destaque é o Padre Dom João Becker, alinhado aos auspícios de Vargas. Em 1942, a
Arquidiocese Metropolitana de Florianópolis, num relatório de 44 paróquias da fachada litorânea e sul do
Estado, contava 52 padres com sobrenome alemão (alguns poloneses e ucranianos), 13 de sobrenome
italiano e 8 luso-brasileiros, que teriam que dar conta dos conflitos de Segunda Guerra nas ex-colônias.
56
57
metade deste limite baseado no movimento dos fluxos demográficos
75
e também
justificada nos seus limites topográficos
76
, mas, dotada de mais camadas que
repercutem na aplicação ilustrativa (mapa 2) o fato de que o autoconsumo diversificado
é marcante do seu processo histórico de minifúndio em duas frentes (interior e litoral)
sob oito estágios para combinação de cultivos e criações, de acordo com as condições
de plantio, o quadro de distâncias terrestres e também o tipo humano introduzido.
Através da orientação dos eixos de “gêneros de consumo diário”, algumas localidades
assumiram uma autonomia colocada em convergência com outros núcleos
abastecedores menores, como São José, Palhoça, Biguaçú e Santo Amaro,
direcionadas a Florianópolis; Nova Trento em relação a Tijucas; Anitápolis, São
Bonifácio e Angelina às áreas circunvizinhas.
O ingresso da eletricidade respondia a processos menos rudimentares, dessa
forma, revigorando o artesanato sob uma diversificação distribuída em localidades. A
Usina de Sertão do Maruim, inaugurada em 1907, foi a primeira iniciativa estadual
nesse sentido, atendendo apenas São José, Palhoça e Florianópolis, com potência de
600 Kw, inclusive, por meio de maquinários importados da Alemanha. A tabela 2
demonstra um quadro de especialização voltado às serrarias nas localidades que
possuíam geradores particulares.
A partir da Revolução de 1930, além da intensificação da industrialização
brasileira ocorreu uma aceleração no fim das relações pré-capitalistas, características
estas dos processos de pequena produção mercantil (BASTOS, 2000). A área cultivada
em hectares na região dividia-se nas médias por propriedade em: Biguaçú – 135;
Florianópolis – 5; Garopaba – 10; Nova Trento – 105; Palhoça – 69; São José – 17;
Tijucas – 279.
77
Este mesmo censo registra 42 máquinas de beneficiar café,
correspondendo a 50,58% das existentes no Estado. A heterogeneidade no tamanho
dos lotes se traduz por uma especialização nas atividades manufatureiras nas zonas
75
Cf. IBGE (1996 apud PEREIRA, 1997F), o agregado de municípios limítrofes das regiões
metropolitanas se caracterizam pelo forte fluxo demográfico numa estrutura ocupacional com acentuada
predominância dos setores secundário e terciário, ficando no entorno de capitais brasileiras litorâneas.
76
Cf. Vieira & Pereira (1997, p.460) por causa das dificuldades de articulação terrestre entre litoral-
planalto e a presença dos vales atlânticos ao norte como também no sul se “constituíram características
geográficas definidoras da ausência em Santa Catarina de uma metrópole, que integrasse diferentes
áreas do Estado”.
77
Censo Econômico do MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, INDÚSTRIA E COMÉRCIO (1927).
58
urbanas e das atividades agrícolas policultoras afastadas do centro consumidor,
através de uma economia mercantil interna que se desenvolveu graças ao patamar
homogêneo das unidades econômicas de pequena produção, restringindo o número de
fazendas atuantes sob idêntica função econômica às áreas planas e descampadas da
faixa entre Biguaçú e Tijucas.
78
TABELA 2 - Distribuição produtiva dos distritos de Palhoça em 1939
Situação Urbana Setor agrícola e de transformação Distrito de
Palhoça
Casas Habitantes Engenho de
farinha
Engenho de
açúcar
Produção Agrícola
Santo Amaro
1
2845 12900 347 426 Hortifrutigranjeiros e
serrarias
Teresópolis 164 836 Sem
informação
Sem
informação
Milho, feijão, batata,
farinha, manteiga, etc.
Santa Isabel 425 2336 Sem
informação
Sem
informação
Cereais, produtos
suínos, couros
cortidos, etc.
Enseada do Brito 492 3200 57 29
3 alambiques
Farinha, açúcar,
pescado, vinho,
cachaça, etc.
Anitápolis
2
1695 6000 Engenhos de serrar: 04
Engenhos de fubá: 12
Banha, milho, feijão,
batata, farinha, fubá,
manteiga, mel, cera,
gado em pequena
escala, carvão de
pedra, minas de ferro
e jazida de louças.
São Bonifácio Sem
informação
3875 Sem
informação
Sem
informação
Criação, engorda e
beneficiamento de
suínos, etc.
Garopaba 596 3121 237 Farinha, açúcar,
pescado, etc.
Paulo Lopes 490 3770 Sem
informação
Sem
informação
Sem informação
Fonte: Lopes, 1939.
1
Na época, com três usinas hidrelétricas – Pilões, do governo estadual (500 HP), e particulares: salto da Vargem
Grande de Adolfo Kuenze & Cia (1000 HP), salto do Cubatão (Poço Fundo) de Luiz Damiani (2000 HP).
2
Havia duas hidrelétricas particulares, no salto das Pacas (rio Vermelho) e no salto do rio Povoamento de José
Zummer (20 HP).
As áreas de Tijucas e Biguaçú, consideradas mais fortes na penetração de
mercado, foram submetidas às mesmas alterações do complexo agrícola. No final dos
anos 1930, a política do governo Vargas impunha medidas de regularização no
78
Cf. Gramkow (1983), as áreas rurais situadas no Vale do Rio Tijucas, onde predominou um caráter
exploratório sobre os pequenos produtores de cana-de-açúcar, devendo prestar uma cota de sua
produção aos latifundiários, marcou-se de uma minoria de agricultores descendentes de alemães.
59
comércio do açúcar, dando preferência ao açúcar branco, o que provocou uma baixa na
produção dos engenhos devido às novas exigências, o que enfraqueceu os pequenos
produtores tijucanos por não saberem lidar com livros e registros fiscais (GRAMKOW,
1983).
Adiante, o quadro 4 expõe os níveis de incremento em relação ao período
1940/50, no qual se presencia contenções drásticas na produtividade das áreas em
questão, influindo na distribuição espacial como reflexos da decadência da pequena
produção mercantil subaproveitada ao cultivo do café, onde o município de
Florianópolis liderava nos volumes catarinenses aos quais a região representava
48,93% no censo de 1940, e 49,20% no censo de 1950 (IBGE, 1951 e 1956),
confirmando uma produção até então suficiente ao consumo interno e exportação.
Contribui para este aspecto, a informação de que entre 1938-43 aconteceu um
aumento na área cultivada catarinense de 63%, com pequeno êxodo rural devido à
estabilização da gleba (CÂMARA, 1945). Para os pequenos produtores, o cultivo
do café sombreado
79
(de processo demorado e selecionado) associado a árvores
frutíferas altas, era “esporádico” como integrante de uma pequena lavoura
80
,
destacando-se apenas algumas “chácaras de café” com até 35 hectares, muitas delas
pertencentes aos próprios manufatores. Este aspecto distinguia a camaradagem no
processo de torrefação (pilar o grão) nas menores áreas e os comerciantes que
detinham máquinas de trituração e torrefação. Os pequenos produtores
negociavam o café nas vendas onde eram fregueses para compra de outros
mantimentos (SANTOS, 2004), assim, assumindo o café apenas uma relação de troca.
Outras considerações podem ser adquiridas na observação do quadro 4: O
decréscimo generalizado das culturas de cana-de-açúcar, farinha de mandioca, milho,
feijão, batata inglesa, laranja, bovinos e suínos, equivale à redução gradual no tamanho
das áreas aliada ao início da rodoviarização no transporte, trazendo estes itens
beneficiados de outras regiões. A criação de suínos relativamente estabilizada
79
Cf. Várzea (1985, p.225) o café sombreado (com tamanho elevado das copas) era o gênero agrícola
em ascensão na ilha, até então plantado “com a maior irregularidade”, passando a ser rapidamente
alinhado e mantidas as distâncias entre os pés pelas plantações crescentes entre os pequenos
produtores, marginal às crises do café brasileiras por causa da sua alta qualidade e tamanho de escala
mais reduzido, que favoreceram as exportações internacionais.
80
Plantava-se café nas localidades de Ratones, Canasvieiras, Trindade, Ribeirão da Ilha, Jurerê,
Itacorubi, Santo Antônio de Lisboa e até nas redondezas do Centro (SANTOS, 2004; BRESSAN, 1990).
60
QUADRO 4 - Produção Agrícola na Região (década 1940/50)
%
-66,41
-76,34
26,17
-19,73
-15,72
-56,56
%
-75,92
-80,05
-42,46
-22,34
30,22
-45,16
1950
17694
1387
3029
18438
13995
32531
1950
26
67
145
271
349
210
Cana-de-açúcar (t)
1940
52690
5864
4103
22970
16607
74904
Feijão (t)
1940
108
336
252
349
268
383
%
252,50
42,98
16,81
121,93
123,40
13,52
%
-40,73
-84,10
-62,58
-22,04
11,82
-22,03
1950
141
642
132
344
105
445
1950
243
58
874
3434
2232
1387
Café (t)
1940
40
449
113
155
47
392
Milho (t)
1940
410
365
2336
4405
1996
1779
%
62,72
- 33,33
-34,22
188,52
178,57
-53,49
%
20,67
-41,43
-0,99
97,10
65,29
13,40
1950
454
4
98
176
39
1609
1950
120797
84587
29552
187096
59813
116852
Arroz (t)
1940
279
6
149
61
14
3460
Banana (cacho)
1940
100100
144442
29262
94922
36185
134934
Áreas/Produtos
Década
Biguaçú
Florianópolis
Nova Trento
Palhoça
São José
Tijucas
Áreas/Produtos
Década
Biguaçú
Florianópolis
Nova Trento
Palhoça
São José
Tijucas
61
(continuação)
Fonte: Censos Econômicos - IBGE, 1951; IBGE, 1956.
*Na década de 1920, apenas a contagem de máquinas, e anos 1930, não houve
a realização de censos no País.
%
-96,87
-73,91
206,57
-56,72
95,76
-40,00
%
86,29
231,42
91,45
74,76
113,57
45,23
1950
1
6
466
920
693
63
1950
22057
24469
62503
77851
56558
45789
Batata Inglesa (t)
1940
32
23
152
587
354
105
Nº de Aves
1940
11840
7383
32647
44545
26482
31528
%
-91,89
-80,65
172,62
-44,32
-27,74
-72,18
%
-7,01
-38,99
-60,19
-18,95
186,52
-28,60
1950
3832
6035
8615
12212
8927
7764
1950
3974
557
14474
17418
15163
7062
Laranja (pés em produção)
1940
47305
31195
3160
21933
12355
27914
Nº de Suínos
1940
4274
913
9035
21493
5292
9891
%
206,58
36,09
386,61
948,66
968,98
280,43
%
-81,38
-76,66
-39,27
-74,11
-46,71
-74,76
1950
4657
3058
7528
22043
16612
7894
1950
1197
501
1848
2938
2653
1477
Farinha de Mandioca (t)
1940
1519
2247
1547
2102
1554
2075
Nº de Bovinos
1940
6431
2147
3043
11352
4979
5852
Áreas/Produtos
Década
Biguaçú
Florianópolis
Nova Trento
Palhoça
São José
Tijucas
Áreas/Produtos
Década
Biguaçú
Florianópolis
Nova Trento
Palhoça
São José
Tijucas
62
aumentando apenas em São José, evidencia-se pela produção de banha, embutidos e
processamento de carnes em pequenas fábricas nas áreas hoje pertencentes aos
municípios de São Pedro de Alcântara e São José, a exemplo das “fábricas Stähelin”
81
e das “carnes Koerich”
82
, além de algumas madeireiras e alambiques
83
. Ainda sobre o
quadro 4, o aumento de aves em Florianópolis é proporcional à população crescente
nas camadas mais próximas do núcleo, como indícios da demografia matricial no centro
da região. O plantio do café também aumenta em São José e Biguaçú, como parte dos
efeitos inibidores da pequena propriedade rural na ilha.
É preciso entender que a torrefação do café no interior da ilha e continente
próximo (Biguaçú, São José, Palhoça) era rudimentar até os anos 1950, ficando
algumas destas pequenas indústrias (misto de residência, comércio e beneficiamento),
no centro de Florianópolis. Neste primeiro momento, o café era famoso (símbolo de
modernidade e refinamento na ilha), motivo de suas exportações através de marcas
tradicionais, como Vesúvio, Santo Estevão, Otto, Nunes, [Indiano, Fiorenzano e Tié]
84
(BRESSAN, 1990). Após 1955, ficou proibida a comercialização do café sombreado,
como medida de controle de produção e de preço ou protecionismo às “zonas
cafeeiras” do sudeste brasileiro (BITTENCOURT, 1977). Entre junho/1962 e maio/1967,
81
Entre 1935-72 as fábricas Stähelin atendiam a produção de cachaça, gasosa (refrigerante), vinagre e
banha. O Sr. João Stähelin tinha uma venda, além de produzir farinha de mandioca e tijolos. Dos seus 16
filhos, o mais velho iniciou as fábricas que foram se ampliando num total de 30 funcionários, dentre
irmãos e agregados. Obteve, no auge, cerca de 300 litros/ dia de cachaça, 1000 litros/ semana de
vinagre, comercializando para Florianópolis, Praia Comprida, bem como diretamente a Campos Novos e
Lages (Informações obtidas na entrevista com Ervino Stähelin. São Pedro de Alcântara, 18/04/2008).
82
Na década de 1940, este abatedouro de carnes bovinas, suínas e aves, situado na Colônia Santana
(São José), chegou a 70 funcionários com equipamentos para cozimento e tratamento, vendendo a
produção numa banca do Mercado Público (A trajetória do empresário Eugênio Raulino Koerich, 2001).
83
Por volta de 1956, a madeireira Zimermann teve que se mudar para Santa Teresa, único local no Rio
Maruim com energia elétrica a base de roda d’água, a fim de sustentar as atividades da pequena fábrica
de móveis. Os alambiques geraram algumas fábricas de cachaça ainda existentes em São Pedro de
Alcântara. Informações obtidas em: MARGARIDA, M. Um município de história e tradição. Informe
comercial. Jornal Notícias do Dia. Florianópolis, 16 de abril de 2008, p.3.
84
Estes capitais refletem a diversidade de origens étnicas em relação aos comerciantes locais — o
Vesúvio pertencia a Francisco Nappi, um imigrante italiano tardio, pioneiro em torrar o café na própria
área comercial da cidade; o Santo Estevão iniciou com a torrefação movida a boi e moinho descascador,
no Ribeirão da Ilha; o Otto foi fundado em 1927 por dois filhos de uma Wendhausen, introduzindo a
embalagem padrão de comercialização; o Nunes era de um produtor de Biguaçú; e o Indiano pertencia à
família Filomeno de São José, anteriormente mencionada, através da qual José Filomeno se tornou
presidente da Associação Comercial e Industrial de Florianópolis entre 1936-38. Além disso, a Filomeno
& Cia servia ao atacado por grosso de sal, trigo, farelo, charque, açúcar, cereais, etc, exportadora de
cera de abelha e agente autorizado da Pirelli. (BOLETIM COMERCIAL, jul/1932 e jul/1941). O café
Fiorenzano pertencia a José Fiorenzano, e o Tié, a Jorge Haviaras (SILVA, 1995); este último, de
descendência grega.
63
o Plano de Erradicação das Lavouras Improdutivas visava a redução do parque cafeeiro
e a diversificação de culturas, o que acarretou na ilha em subdivisões das propriedades,
na procura por trabalho fixo e assalariado da pesca embarcada no Rio Grande (RS) e
Santos (SP), mas, sobretudo, na falta de acompanhamento no aumento populacional
onde a pequena produção significava o arcaísmo de uma policultura de menos gêneros
comparada à de origem alemã. A partir daí, a matéria-prima viria do norte do Paraná,
café este de qualidade inferior (não sombreado), através de um beneficiamento com
poucos operários em estrutura industrial apenas de consumo regional, criando várias
marcas (café igual) mesmo sob uma só empresa (SANTOS, 2004; BRESSAN, 1990).
Em toda a região se utilizava a coivara, provocando o desgaste natural do solo,
porém, que se tornou excessivo na faixa marítima onde se plantava mais ingazeiros
para regeneração natural. A queima dos pés de café durante o plano de erradicação, no
qual os pequenos produtores recebiam uma espécie de pagamento ao comprovarem a
derrubada, acentuou a deficiência da terra. O quadro 4 ainda traz a informação de
algum aumento da banana no município de Palhoça, plantada em encostas (áreas não
aproveitáveis), diminuindo em torno da metade nos municípios de Florianópolis e São
José, porque a redução da pequena produção na ilha foi mais acelerada. A decadência
agrícola acarretou num empobrecimento gradativo até praticamente a extinção das
atividades nos engenhos de farinha e açúcar, alambiques, no plantio de laranja, banana
e café, frente à acelerada urbanização brasileira no litoral a partir da segunda metade
do século XX, quando os pequenos produtores ficaram isolados e dirimidos à
subsistência, como ilustra o filme “Seo Chico: um retrato” (2006). Concorreu à fraqueza
da pequena agricultura e o abandono das lavouras no espaço peri-urbano brasileiro, a
força da especulação imobiliária para loteamentos residenciais nas cidades grandes e
médias, como é o caso de Florianópolis (MAMIGONIAN, 1965). Mas, será que somente
esses fatores explicam a concentração da agricultura pendendo, exclusivamente às
áreas continentais interioranas, com isso, aquelas influenciadas pelos ex-núcleos
coloniais alemães?
Entre 1950/60, a acentuação da crise na agricultura leva os descendentes a se
deslocarem das áreas exclusivamente agrícolas, período no qual foram articuladas
onze emancipações municipais, sabendo que, segundo Peluso Júnior (1980), a maioria
64
das localidades não chegava a dois mil habitantes, como meio de segurar os
agricultores no campo. Nessa época, aparece a cisão do “alemão” feirante e
negociante, com o abandono dos intermediários para se aventurar em pequenas feiras
de bairro, ou buscando se inserir nas atividades da construção civil para estabelecer
uma empresa (BESEN, 1991). Este instante é marcado por uma espécie de transição
aos acontecimentos transcorridos pelas vias rodoviárias enquanto condutoras da
urbanização na ilha. A construção da BR-101 (1953-1971) acabou modificando o
anterior eixo viário de Florianópolis, ligado agora ao corredor entre as capitais da
Região Sul. Os fluxos do planalto foram deslocados através da BR-470 ao Porto de
Itajaí. Na BR-282 somente se iniciou o asfaltamento em 1979, prejudicando as áreas
interioranas da Região Metropolitana de Florianópolis. A conversão no sentido da
circulação de mercadorias e pessoas, além de seu aceleramento por vias asfaltadas,
beneficiou apenas o limite urbano-comercial das áreas situadas na faixa litorânea (São
José, Palhoça, Biguaçú), enquanto corredor marginal da BR-101 e áreas de descarga
do crescimento horizontal de Florianópolis. Nesse sentido, o período 1950/60 sucede o
recrudescimento populacional gerador do consumo de alimentos e do número de novas
habitações sob o efeito dos ciclos juglarianos, servindo como brechas à transposição de
indivíduos extraídos do meio rural que, por um tempo, foram predominantes na região
85
.
A iniciativa de manter um abastecimento regionalizado tentava dar conta da
modernização no campo através do acordo básico de cooperação técnica Brasil-
Alemanha, iniciado em 1963 e com fase pós-assessoramento em 1997, no qual ocorreu
a transferência de conhecimentos junto aos agricultores em troca da aquisição de
máquinas alemãs, primeiro diretamente aos pequenos produtores e depois, através da
Empresa de Pesquisa Agropecuária e de Extensão Rural de Santa Catarina S.A.
(EPAGRI).
86
Cabe entender que os processos de urbanização na ilha e os interesses
públicos incumbiram a assessoria às áreas continentais, onde, neste intercurso,
instalou-se, no ano de 1976, a Centrais de Abastecimento do Estado de Santa Catarina
(CEASA), no município de São José (como o núcleo de abastecimento). Porém, até o
85
Entre 1960/70, somente 25,8% da população estava concentrada na sede dos respectivos municípios
da região (Prefeitura Municipal de Florianópolis, 1978).
86
Detalhes sobre o Projeto "Assistência Técnica aos Pequenos Produtores Rurais no Estado de Santa
Catarina", podem ser vistos no endereço eletrônico <http://www2.mre.gov.br/dai/b_rfa_439_4434.htm>.
65
final da década de 1970, 80% dos gêneros agrícolas eram importados, justamente
favorecidos pelas relações de distribuição com a CEASA paulista (Prefeitura Municipal
de Florianópolis, 1978). Mais tarde, as linhas de crédito ao pequeno agricultor
garantiram uma produção regional mais competitiva, resultando em 90% a 50% de
alguns produtos hortículas consumidos na própria região metropolitana (PRATES &
CORRÊA, 1987).
Através da melhoria de técnicas e incentivos, a água abundante pela quantidade
de pequenas vertentes tornou-se ideal na irrigação da horti e fruticultura, com isso,
facilitando na inserção de novas culturas agrícolas com tempo mais curto de produção.
O aumento de demanda nas cidades e outras iniciativas públicas na facilitação dos
canais de abastecimento praticamente sem atravessadores, conduziram a uma
quantidade de produtores rurais com estabilização das áreas cultivadas em mais da
metade no tamanho médio das propriedades: Antônio Carlos – 9,18 ha e área cultivada
5,12 ha; Águas Mornas – 17,65 ha e 9,53 ha; Angelina – 30,95 ha e 14,08 ha; Biguaçú
– 8,0 ha e 5,4 ha; Santo Amaro da Imperatriz – 12,29 ha e 6,64 ha (HENKES, 2006).
Atualmente, dadas as diferenças climáticas entre as regiões e as estações do ano, os
consumos regionais catarinenses realizam intercâmbios onde praticamente alcançam a
auto-suficiência estadual. Sustentadas pelas atividades rurais, as áreas próximas a
Florianópolis apresentam uma hierarquia de crescimento relativo na sua população.
Das onze cidades emancipadas na década de 1960, atualmente apresenta 17 mil
habitantes - São João Batista e Santo Amaro da Imperatriz; pouco mais de 9 mil -
Alfredo Wagner e Canelinha; e 6 mil - Antônio Carlos; tendo as demais cerca de 4 mil
habitantes - Águas Mornas, Anitápolis, Rancho Queimado, São Bonifácio, Leoberto Leal
e Major Gercino (IBGE, 2007). Enquanto São Pedro de Alcântara continua sob a
mesma média desde a emancipação em 1994, que correspondia a um total de 4.024
habitantes (IBGE, 2000).
Diante das situações apresentadas, onde estariam as bases da “cultura de
pequenos empreendedores” já que não houve estímulos locais por parte dos setores
públicos nesse sentido, direcionando tais áreas interioranas da região à permanência
do seu quadro rural?
66
Enquanto ocorreu uma fragmentação excessiva das propriedades na faixa
litorânea por parte dos descendentes de luso-brasileiros (BASTOS, 2000) para
agruparem as residências dos filhos, dessa forma, relacionada às atividades
exclusivistas de camaradagem e dependente dos compradores no centro urbano
(BASTOS, 2002), os descendentes de colonos alemães adotaram uma outra postura
dentro das famílias. Como mencionado anteriormente, o que favorecia a passagem da
produção agrícola dos descendentes de colonos para o estabelecimento comercial
eram também fatores ligados ao arrendamento de terras cultiváveis e pastagens. Em
relação à divisão de terras em herança, segundo Waibel (1979), nas famílias
numerosas era difícil manter o patrimônio. Contudo, em situação vendista, a família de
muitos filhos prosperava normalmente com mais frentes de trabalho e poucos
funcionários somando os lotes adquiridos, por conta disso, em fatias maiores na partilha
dos bens. Mas, o fundamento para a formação de pequenos empreendedores dependia
da margem de capital de giro do pai, ou seja, os recursos livres que se convertiam
diretamente aos filhos, no intuito de alavancar a independência dos mesmos. Esta
transferência poderia vir da venda de uma boa colheita ou de terras acumuladas, ou
ainda sob uma espécie de pequena participação dos filhos nos lucros. Os hábitos de
poupança e negociação parecem ter sido decisivos, traços estes do elemento humano
que foram exercitados dentro de cada família, tanto daquelas dedicadas à agricultura
como estabelecimentos comerciais. Assim formavam-se as características capitalistas
de comportamento.
Sob uma estrutura familiar patriarcal e masculinizada (ou machista), adotou-se o
costume de não divisão dos bens em partilha após o falecimento do pai. Para preservar
e expandir o patrimônio, o pai adiantava uma ajuda financeira ao filho mais velho para
montar o próprio negócio (ou terra), sendo que o filho posterior o auxiliava com trabalho
até que o pai também o ajudasse. Dessa forma, acontecia sucessivamente com os
filhos-homens, até que o último ficava com o restante do pai. As filhas quando se
casavam pertenciam a uma outra família, situação de que talvez tenham recebido uma
espécie de dote ao assumirem matrimônio, ou apenas a festa de casamento, enxoval,
etc, sendo pouco provável a ajuda em dinheiro. De um modo geral, quando acontecia
de o pai falecer antes de contemplar a todos os filhos, esta sistemática garantia aos
67
filhos mais velhos a chefia da família na chance de empreenderem agregando os
irmãos sem herança (semelhante aos junkers na Alemanha) até que assumissem
profissões individuais. Porém, a análise feita entre os doze casos pesquisados
demonstra que na geração de irmãos a partilharem o patrimônio antecipadamente até
os anos 1960 certamente porque, a partir daí, não poderiam mais escapar das leis
brasileiras sobre inventário , foram mais bem-sucedidos os irmãos que não se
submeteram como agregados, lançando-se sozinhos às áreas urbanas de intersecção
no trânsito entre os municípios de São José e Florianópolis, na tentativa de montarem
uma empresa por meio do aprendizado de um ofício ou sob raras parcerias com irmão
e/ou cunhado para abrir um negócio que, na grande maioria das vezes, ficou sob o
âmbito unifamiliar
87
; uma prova de que parte dos ex-agricultores na região ascendeu
socialmente pela via americana, sobretudo, viabilizada na dinamização exercida pelos
ciclos juglarianos brasileiros. É preciso entender que o quadro dos alemães e
descendentes na Capital é totalmente outro, tendo em vista que ocorreu numa fase
anterior à ascensão advinda do meio rural nas ex-colônias alemãs, marcado por
trajetórias comerciais com condicionantes de mercado mais antigas e externalizadas.
87
Considerações iniciais através da análise das entrevistas colhidas pela autora, principalmente apoiadas
nas explicações de Dionísio Deschamps, com a intervenção do seu filho Dionei Deschamps. São José,
06/12/2007.
68
2. O CAPITAL MERCANTIL E A BURGUESIA COMERCIAL-
INDUSTRIAL: REFLEXOS DA 2ª DUALIDADE NA ILHA
2.1 ANTECEDENTES DA ORIGEM ALEMÃ NA PRAÇA PORTUÁRIA
88
No panorama das relações mercantis difundidas na Capital, os alemães ou
descendentes formavam um grupo de cooperação econômica ligado aos capitalistas
situados nos vales atlânticos ao norte, pode-se dizer que representando elos
conectados de uma mesma corrente. Nas áreas portuárias catarinenses Laguna,
Desterro, Itajaí
89
e Joinville os alemães conseguiam muito cedo uma posição de
liderança comercial. Assim como acontece com Itajaí, onde as casas exportadoras de
madeira Malburg, Konder e Asseburg este associado com Willerding criou a primeira
empresa de transportes fluviais até Blumenau que, simultaneamente, operavam com
importação, escritório de comissões, despachos e agentes bancários (HERING, 1987),
no porto fluvial de Joinville (Lepper, Richlin e outros) e no exportador de São Francisco
do Sul, firmou-se uma ligação dos comerciantes germânicos misturados aos luso-
brasileiros instaurando atividades terciárias e urbanas em Desterro. Precocemente,
Johann David Killenberger, um ex-soldado alemão assentado em Piedade (Ganchos),
mudou-se para a ilha, onde implantou uma marcenaria. Também em Desterro, o
alemão Feuerbach possuía uma padaria com venda na localidade da Praia de Fora.
Entre 1844-50, já se estabelecia na praça desterrense Samuel Wells com uma firma de
importação de mercadorias da América do Norte, para a qual exportava café e peles.
No último quartel do século XIX, a vida econômico-financeira de Santa Catarina
girava em torno da praça comercial desterrense. Diante das dificuldades de acesso
terrestre a logística da ilha, em relação às distâncias litorâneas entre São Francisco do
88
Boa parte das informações históricas sobre as firmas contidas nesta seção está em Entres (1929),
complementadas pelas demais fontes citadas.
89
Cf. Moreira (2002) entre as décadas de 1850-70 prevalece a fase da “economia da madeira” ligada ao
extrativismo natural das florestas, especialmente do baixo e médio Vale do Itajaí, repercutindo na
organização portuária da costa catarinense a partir do porto de Itajaí.
69
Sul e Laguna, apresentava uma centralidade na convergência das importações e dos
excedentes provenientes da tributação por ser a capital administrativa da Província de
Santa Catarina. Estas características colocaram o porto de Desterro numa situação de
transbordo a todas as mercadorias chegadas do estrangeiro e entre o porto da União
(RJ), São Paulo e o Rio da Prata. O destaque dos elementos germânicos na praça da
Capital explica-se, em grande parte, devido aos reflexos da política pan-germanista,
primeiramente da Prússia e depois do Reino Alemão (1871). A influência econômica
sobre as áreas portuárias brasileiras fica evidente diante do acirramento da
concorrência anglo-alemã na luta por compradores de maquinário, embarcações,
louças, vidros, cutelaria, ferragens, aço, cimento, etc, também movida pela necessidade
de intercâmbio, apesar de que a Alemanha importava os gêneros agrícolas nacionais
em menor quantidade do que os gêneros africanos, porém, como a porta de entrada
brasileira na Europa Central (WAIBEL, 1955). Uma das maneiras encontradas de aliciar
os mercados sul-americanos, principalmente ao envio de substitutivos em máquinas às
áreas de colonização alemã, estava na expansão da construção naval e empresas
transportadoras que, ao lado da Zollverein
90
e das ferrovias, alicerçaram a
industrialização prussiana. Por conta disso, assumia papel relevante uma grande firma
alemã em cada um dos principais portos Theodor Wille, comerciante importador de
máquinas em Santos com ramos de atividade em São Paulo e Rio de Janeiro; Hermann
Stoltz, dono de uma companhia de navegação no Rio de Janeiro e capitalista industrial
(HOLLANDA & CAMPOS, 2004); Martin Bromberg, comerciante de ampla diversificação
e aplicação de capitais, em Porto Alegre
(PESAVENTO, 1994); e Carl Hoepcke,
semelhante a este último, em Desterro/Florianópolis.
Concentravam-se diversos consulados na Capital e em outras cidades, a
exemplo de Brusque, Blumenau, Joinville e Itajaí, sendo cônsules os membros de
origem alemã mais destacados da burguesia mercantil como lideranças regionais do
comércio, que exerciam subsidiariamente as funções de agentes de imigração e
relatores da situação econômica aos países de sua competência, dando, porém, um
90
Cf. Niveau (1969), o Zollverein foi uma união aduaneira, instituída pelo governo da Prússia em 1834,
permitindo a livre circulação de homens e capitais entre todos os Estados alemães. Dessa forma, a
unidade econômica através de um “mercado comum” surgira antes da unidade política, enquanto um
fator favorável ao estímulo do desenvolvimento industrial.
70
peso maior às questões financeiras do que às diplomáticas.
91
Devido à acumulação dos
encargos portuários, tanto da firma exportadora quanto pela incumbência consular,
estes indivíduos se adiantavam nas informações cambiais e sobre o andamento dos
capitalistas em seus negócios. A nomeação do cargo era tão importante para
determinadas firmas que a passagem do mesmo chegava a ocorrer dentro da própria
família. O contato internacional consolidava decisões tomadas pelo alto sem conflitos
no dimensionamento dos mercados porque a via prussiana, embora mais elitista,
permitia a ascensão de uma classe média rural através de papéis políticos, que
inseridos na pequena produção mercantil assumiam as especificidades regionais.
Em Desterro, os capitais comerciais foram emergindo de iniciativas
implementadas por alguns indivíduos locais (ex-mercenários alemães, ex-militares ou
colonos), no direcionamento de capitais das colônias novas e na instalação de filiais
alemãs. Ulrich Häberle, oficial no Rio de Janeiro, que possuía uma casa de comércio
em Blumenau, de lá, mudou-se para fundar, em 1847, uma loja de fazendas na rua do
Príncipe (atual Conselheiro Mafra), comprada dez anos depois por Fernand Hackradt
92
em sociedade com Karl Andreas Ebel, anteriormente também um ex-mercenário de
guerra.
93
Häberle foi o primeiro a colocar preços fixos em produtos comercializados na
cidade. Era proprietário de escravos e de amplo ponto comercial ao lado do Mercado
Público. Os sócios Hackradt e Ebel investiram na construção de um moinho de vento
para processar arroz
94
e num pequeno negócio de cigarros e charutos entre 1864-68.
91
Tornaram-se cônsules, por exemplo, nos seguintes municípios, com os nomes e respectivos países de
sua atribuição: Itajaí - Guilherme Assemburg, vice-consulado da Alemanha; família Malburg, vice-
consulado da Argentina, consulado do Uruguai e vice-consulado da Alemanha; Desterro/Florianópolis -
Fernand Hackradt, Fernand Hackradt Júnior e Carl Hoepcke, consulado honorário da Prússia e
Alemanha, consulado geral da Alemanha; vice-consulado dos Países Baixos e de Portugal; Ernest Vahl,
cônsul da Áustria-Hungria; Michael Tertschitsch, consulado da Áustria; Carlos Victor Wendhausen, vice-
cônsul da Argentina; Ernest Riggenbach, cônsul da Suíça; Brusque - Carlos Renaux, vice-cônsul da
Alemanha (REIS et al, 1999; ENTRES, 1929; SOARES, 1990; MAMIGONIAN, 1960).
92
A principal origem dos recursos de Fernand Hackradt advém da liquidação de uma firma agrícola e
industrial, da qual detinha 60% do capital em sociedade com Dr. Blumenau, deixando o mesmo sem
dinheiro e com dívidas, já que registrara os lotes no Ribeirão da Velha sob o seu nome e não no da
empresa (RICHTER, 2004; D’AMARAL, 1950). Avé-Lallemant (1953), observou na sua visita a Desterro
em 1858, Hackradt como o mais expressivo representante alemão.
93
Segundo o Diário de Reinoldo Gärtner (escrito a partir de 1851), a transação de venda do negócio de
Häberle custou 74$000. Antes de passar o negócio para frente, Häberle chegou a emprestar dinheiro ao
Dr. Blumenau (ENCICLOPÉDIA SIMPOZIO, s.d.).
94
Consta no anexo 3, uma ilustração deste moinho de arroz, além de outras iniciativas tratadas neste
capítulo.
71
Os negócios foram se desenvolvendo até que Ebel se desligou da firma
95
para fundar
uma loja de artigos têxteis na Capital, com filial em Itajaí, cujo contato era realizado por
meio de um grande veleiro próprio, que providenciava, inclusive o fretamento até o Rio
de Janeiro. Com o seu falecimento em 1888, a firma continuou por meio do nome
“Viúva Ebel & Filho” sob a liderança de Ricardo Ebel (o filho) que, em 1913, fundou a
fábrica de rendas e bordados em sociedade com Carl Hoepcke (REIS et al, 1999). Com
o falecimento da viúva e de seu filho, foi criada pelo herdeiro a firma “Otto Ebel & Cia”,
que continuou a ampliar os negócios, sucedido pela administração de seu genro Fritz
Suchert. Esta firma, por sua vez, tornou-se uma das mais conceituadas casas
comerciais de tecidos, vidros e brinquedos da cidade.
96
De acordo com Hübener (1991), até o início da segunda metade do século XIX, o
centro urbano se dividia em três categorias comerciais:
a) Comércio portuário
atacadistas ou comissários de grandes companhias nacionais e
estrangeiras com firmas situadas na rua Augusta (João Pinto) e Largo
do Palácio (rua Tenente Silveira);
varejistas ou retalhistas, concentrados na rua do Príncipe (Conselheiro
Mafra);
atividades artesanais com comercialização própria (em menor
número);
b) Exportadores de farinha de mandioca
principais firmas: “Barbosa Veiga & Cia”, “Boaventura da Costa
Vinhas”, “Domingos Luiz da Costa”, “Ernesto Vahl & Cia”, “João Prado
Lemos & Cia”, etc;
c) Casas comerciais britânicas
consignatários: “Antônio Joaquim Wanzeller”, “Wellman & Bade”.
95
Cf. Entres (1929) os primeiros balanços de 1857, dão um fundo ativo de 9:647$206. Em 1864, o
patrimônio se indica maior, cerca de 69 contos de réis, do qual uns 8 contos de réis ficou direcionado
para abrir a fábrica têxtil que se constituiu pela saída de Ebel da sociedade.
96
Cf. Boletim Comercial (mar/1920), a “Casa Otto Ebel” vendia uma variedade de artigos têxteis: brim
branco, fustão branco, cassa branca, etamine branca, pongee branco, tecidos drancos, laize branca,
colchas brancas, meias brancas e nanzouck. A loja ficava na rua da República (hoje rua Felipe Schmidt).
72
Nas décadas seguintes, aparecem como armadores aproveitando o fluxo de
pessoas e mercadorias, Antônio Joaquim Wanzeller
97
e Boaventura da Costa Vinhas,
ao lado de João Pinto da Luz
98
(REIS et al, 1999), indicando o desaparecimento dos
exportadores exclusivos de farinha. A farinha de mandioca, maior gênero exportável do
porto, vinha dos engenhos situados nas áreas sul-catarinense e faixa marítima próxima
em menor quantidade. Representava a “economia açoriana” tendo oscilação de acordo
com a demanda nacional. O seu melhor desempenho comercial foi registrado no triênio
1866-1869, quando alcançou 79,23% do total exportado ao Rio de Janeiro, deveu-se a
um momentâneo deslocamento de demanda para o sul devido à alta de preços do
algodão e café do comércio exportador junto à procura elevada no atendimento das
tropas durante a Guerra do Paraguai. Justamente neste período de maior exportação, a
queda no valor da moeda brasileira acabou anulando os efeitos positivos que poderia
ter gerado à Província (HÜBENER, 1981).
A qualidade inferior da farinha condicionou a produção interna a um mercado
restritivo ao Rio de Janeiro, sem o desenvolvimento do comércio interprovincial de
algumas manufaturas (BOSSLE, 1988). No sentido de suprir esta necessidade de
mercado, a praça de Desterro foi se tornando favorável em aumentar a importação de
produtos por causa do aumento da navegação comercial de longo curso sobre
a de
cabotagem. A abertura internacional se intensificou em duas etapas. Em 1870-71,
obteve o despacho de Uruguai (76,81%), Argentina (17,05) e Cidades Hanseáticas
(6,14%), onde a farinha participava com 77% do total exportado; e 1885-86, Inglaterra
(45,95%), Alemanha (32,81%), Estados Unidos (11,94%), Uruguai (5,20%), e somadas,
França, Bélgica e Holanda (4,10%) (HÜBENER, 1981). A exportação de gêneros de
baixa rentabilidade e os altos impostos de importação praticados
99
foram entraves
lentamente amenizados por causa da preferência dada nas colônias novas aos
97
Seu nome verdadeiro era Antônio Joaquim da Costa, Trata-se de um português que inicialmente
trabalhou como caixeiro-viajante em Pernambuco. Negociante e armador em Laguna e, mais tarde em
Desterro, assumiu posições militares e foi deputado provincial, entre 1860 e 1865, em dois mandatos
(PIAZZA, 1994).
98
João Pinto da Luz, de origem coronelista, era negociante e armador, chefe do Partido Cristão, fundado
em 1847 (BOLETIM COMERCIAL set/1922).
99
Cf. Hübener (1981) em carta dirigida ao presidente da Província, em 1883, assinaram pedido de
intercessão contra as taxas definidas pelo governo imperial, os seguintes membros das principais firmas
desterrenses: João do Prado Lemos, Carl Hoepcke, Manoel Ferreira dos Santos Magano, Antônio
Brinhoza, Bittencourt & Rodrigues, Joaquim M. Jacques e outros.
73
produtos e máquinas alemãs e dos acordos firmados diretamente com os portos de
origem (Hamburgo, Liverpool, Nova York e Richmond). Em 1874, a área portuária-
comercial passou a se comunicar por telégrafo com as grandes capitais do mundo,
devido ao fato de que a Western Telegraph Cable Company precisava de estações de
apoio para levar o cabo submarino até Buenos Aires.
É neste momento que os comerciantes luso-brasileiros passam a ser
substituídos por comerciantes de origem alemã. Estes promovem a chegada de uma
ampla variedade de artigos nunca antes vistos e de alto valor agregado, modernizando
as transações mercantis, bem como intensificando as relações comerciais de Desterro
com outras praças catarinenses (BASTOS, 2000). A atuação em atacado e varejo
compartilhada pelas mesmas empresas, veio a facilitar a expansão comercial nos
sentidos vertical e horizontal, conforme as demandas locais e os contatos efetuados no
exterior, graças ao crédito associado com o ramo de exportações no estrangeiro. Neste
intercurso, as casas comerciais de representação britânica foram cedendo lugar às
sociedades teuto-brasileiras, como é o caso da firma “Wellmann & Bade”.
A “Wellmann & Bade” tornou-se a sociedade controladora da Hamburger Firma
na sua filial de importação-exportação, atendendo, por cabotagem, ao Rio Grande do
Sul, Paraná e Santa Catarina.
100
Eduard Wellmann
101
retirou-se da sociedade em 1877,
quando a firma passou a se denominar “Bade, Kirbach & Cia”, com Carl Kirbach como
chefe da filial. Ernest Vahl se tornou procurador da firma. Este, por sua vez, juntamente
a Franz Sallenthien (importante colonizador em Itajaí e dono de serraria em Brusque),
assumem a empresa em 1882, passando a denominá-la “Ernesto Vahl & Cia”. Em
1898, entrou como sócio Reinold Sallenthien, ocasião em que o nome da empresa é
alterado para “Ernesto Vahl & Sallenthien”. Na contratação de dois especialistas na
Alemanha, em 1904 – Ernest Stodieck, um comerciante ferragista, e Hermann Beck, um
técnico têxtil (HERING, 1987) – ocorre uma nova mudança de procuradores e
proprietários dando origem, então, a “Ernesto Beck & Cia”. Funcionando desde 1859, a
100
Cf. Entres (1929) antes de possuir a terceira parte da sociedade, a firma dispunha de um significativo
capital comercial que, em 1864, já estava em 255 contos de réis, liderando as movimentações comerciais
até que a firma Hoepcke (sucessora de Hackradt) estivesse em vantagem.
101
Nesse momento, Wellmann prestou auxílio financeiro e técnico a Fernand Hackradt. Hering (1987)
acredita que, devido ao estímulo dado a empresa, Hackradt resolveu trazer da Alemanha a sua irmã e
sobrinhos, assentando-os em Blumenau. Três anos depois, em 1866, Carl Franz Albert Hoepcke começa
a trabalhar com o seu tio em Desterro.
74
firma atuou como exportadora de farinha de mandioca, tapioca, couros e do “café da
ilha” para a França. Nos anos 1930, atua também no comércio de fazendas e
ferragens
102
, como a segunda maior atacadista de importação até 1941.
103
Fernand Hackradt formou um expressivo complexo de empreendimentos
(moinho, casa comercial, fábricas e embarcações) com a casa varejista e exportadora
de Desterro em contato com a filial no município de Blumenau (CZESNAT, 1980). Foi o
seu sobrinho Carl Hoepcke quem conseguiu, ainda enquanto guarda-livros (contador),
passar a firma para o ramo atacadista e ampliar a exportação dos gêneros agrícolas
diversificando a importação de produtos das praças nacionais, européias e norte-
americanas em função da ampliação da capacidade de transporte com o fretamento de
navios à vela, o que reduziu os custos em pelo menos a metade (MÜLLER, 2007). Em
1877, Carl Hoepcke assumiu a direção da importação de mercadorias vindas da Europa
com veleiros, que antes se realizava através da agência central do Rio de Janeiro,
responsável pelo comércio ultramarítimo. A transferência do patrimônio de Hackradt aos
irmãos Carl e Paul Hoepcke para chegar ao registro inicial da firma Hoepcke, em 1883,
aconteceu dentro da própria firma em poucos anos. Em 1871, Fernand Hackradt Júnior
assume a parte que cabia ao pai como sócio comanditário (maiorista). Carl Hoepcke se
torna o maior acionista (40%) em 1881. Em 1882, entra na sociedade Carl Scharff. A
mudança da razão social tinha por finalidade dar continuidade à firma anterior, pois,
assumiu todo o ativo e passivo com capital de 492:270$000. Em 1890, Carl Scharff
retira-se da firma, ocasião em que Carl Hoepcke detinha (33%), Paul (32%) e Fernand
Hackradt Júnior (14%). Em 1892, foi a vez de Paul Hoepcke desvincular-se da empresa
e, em 1899, sai Fernand Hackradt Júnior, entrando como sócios solidários de Carl
Hoepcke, o filho Carl Hoepcke Júnior e Carlos Malburg
104
, seu genro e comerciante em
Itajaí (CZESNAT, 1980). As demais firmas desterrenses seguiram o mesmo caminho
como importadores atacadistas que, pouco a pouco, foram se especializando em
alguns setores (ENTRES, 1929).
102
Guia do Estado de Santa Catharina, 1935.
103
Boletim Comercial, set/1941.
104
Carlos Malburg, filho de Nicolau Malburg (fundador da Casa Malburg em 1860), casou-se com Helena
Hoepcke, por isso, veio a se tornar sócio da grande companhia na Capital. A propósito, através do
casamento das filhas de Carl Hoepcke, foram atraídos novos investidores, entre os quais Zipser-Molenda
e Weineck Alperstedt. E os parentes da esposa do seu filho Carl Hoepcke Júnior, Dietrich e Hans von
Wangenheim, também como diretores e principais acionistas da empresa (HERING, 1987).
75
A articulação conjunta dos comerciantes aliada às reservas de capital segurou a
ascensão mercantil durante o ano de 1879, quando o governo imperial criou uma tarifa
especial mais baixa para produtos importados pelo Rio Grande do Sul do que por Santa
Catarina, gerando alguns prejuízos ao comércio desterrense por causa do
deslocamento no aumento da balança para Porto Alegre, dada a alternativa de trazer as
mercadorias através do seu porto. A situação catarinense passou a se modificar
quando as colônias novas ganhavam mercados durante a substituição manufatureira de
importações na fase depressiva do 3º Ciclo Longo (1873-1896), período no qual os
comerciantes de Desterro também passam a se articular com os empreendedores dos
vales atlânticos ao norte, onde predominavam elementos de origem alemã como
operários das fábricas e no comando das mesmas, além do fato de que aconteceu a
inserção mais intensa no comércio da Capital de casas de import-export com dirigentes
de origem alemã, austríaca e suíça. Neste instante, os portos de São Francisco e Itajaí
respondiam por dois terços do comércio exportador (HÜBENER, 1991). Também a
partir da década de 1880, se integraram ao comércio da Capital, elementos da
comunidade grega, e na virada do século, diversas famílias sírio-libanesas, abrindo
casas de secos e molhados (CEAG, 1980).
Assim, a Capital passou a controlar, hegemonicamente, o comércio de
importação. Este processo histórico que imprimia transformações de ordem sócio-
espacial na organização portuária anterior, além do fato de que as firmas assumiram o
comércio por meio de representações estrangeiras, também está relacionado a um
excedente local na mão-de-obra de estivadores, canoeiros, timoneiros, marinheiros e
reparadores de embarcações atribuído aos “negros de ganho” como base de tais ofícios
mais do que em outros, consolidando as atividades ligadas à estrutura produtiva e, com
isso, numa divisão social do trabalho.
105
De certa forma, a existência de negros de
ganho na área portuária contribuiu para repelir o êxodo de artesãos da primeira geração
dos imigrantes alemães assentados no continente próximo, o que reforçava o arranjo
105
Cf. Cabral (1972, p.98): “Os machos davam bons marinheiros que os senhores, quando não eram êles
mesmos os armadores ou mestres de embarcação, alugavam aos que o fôssem.(...) Poucos anúncios,
entretanto, pois nas rodas marítimas sabia-se quem estava para ser vendido e quem andava buscando
comprar. Na rua augusta [hoje João Pinto] qualquer um saberia informar. Era a rua dos armadores, dos
negociantes que faziam suas transações por grosso e viviam às voltas com o comércio marítimo.” Silva
(1992) também salienta os negros de ganho se especializando nos serviços de embarcação.
76
de dois sistemas comerciais de simples troca a pequena produção mercantil
interiorana (gêneros agrícolas) e a burguesia ligada ao comércio de importação-
exportação na ilha (artigos industrializados).
Alguns investidores ligados à firma Hoepcke possuíam determinado parentesco
ou sociedade com as indústrias Renaux, Hering e Garcia, de forma que as três
auxiliaram a impulsionar o comércio da Capital, através da transferência de capital-
dinheiro (HERING, 1987). O contrário também aconteceu, migrando em sociedade para
a “Empresa Industrial Garcia”, Frederico Guilherme Busch
106
e depois, um ramo da
família Stodieck. No início das atividades, Carlos Renaux abriu sociedade com Paul
Hoepcke e August Klappoth (um agricultor de Brusque), com os quais adquiriu 26
teares na Alemanha (ENTRES, 1929; MAMIGONIAN, 1960). De acordo com a
observação de Cunha (2005), esta volatibilidade se deve à atração de capitais de risco
até o início do século XX, frente ao impulso econômico das exportações de madeira e
erva-mate em Itajaí e São Francisco do Sul, já que Florianópolis até então não
concorria na produção de artefatos em bordados, camisarias e meias.
É de se inferir, portanto, que, quando se rompe a crise, no final do século XIX
(1873-1896), com o declínio do latifúndio nas redondezas de Desterro
107
, a burguesia
comercial se preparava ao processo substituidor de importações baseado,
principalmente, na ampliação dos seus mercados através da articulação do transporte
marítimo de longo curso com o de cabotagem. Nesta fase, a firma Hoepcke está mais
afinada com o movimento nacional de substituição de importações, dada a conexão
com as fontes de capital europeu e gradualmente pelo reinvestimento, além do crédito
106
Tornou-se um investidor bastante capitalizado sob vários negócios em Blumenau. Em 1889, em
sociedade com Probst e Sachtleben, comprou a indústria Garcia de Nicolau Malburg, quando a mesma já
possuía 32 teares. Em 1903, Busch importa o primeiro veículo automotor de Blumenau. No ano seguinte,
funda o Cine Busch, um dos primeiros do país. Em 1908, inaugurou a usina hidrelétrica de Pocinho.
Também foi responsável pelo pioneirismo de exportar laticínios em escala comercial (ENTRES, 1929;
LUZ, 2000; MORITZ, 2000).
107
É preciso chamar a atenção para o fato de que, nesta época, havia uma respeitada classe de
fazendeiros abastados no município de São José, dentre os quais uma matriz política da família Ramos:
Francisco da Silva Ramos, vereador em três mandatos (1843-45, 1853-57 e 1865-69) e depois
Presidente da Câmara Municipal; sucedido nos mesmos cargos pelo seu filho Francisco da Silva Ramos
Júnior (GERLACH & MACHADO, 2007); e o filho João da Silva Ramos, foi deputado provincial (1880-83),
ano em que se tornou vereador de São José, e depois, a partir de 1893, presidente da Intendência de
Florianópolis, além de várias vezes eleito superintendente substituto (prefeito) e deputado do congresso
representativo do Estado (TANCREDO, 1998). Vale enfatizar que Francisco da Silva Ramos vem a ser
bisavô paterno de Aderbal Ramos da Silva que, além de uma carreira política bem-sucedida, assumiu
através de casamento o comando das empresas Hoepcke a partir da década de 1940.
77
necessário para a compra e instalação de máquinas e equipamentos que lhe
proporcionavam os seus fornecedores, na maioria de origem alemã, seguida de firmas
inglesas e norte-americanas.
108
Em 1895, é fundada a Empresa Nacional de Navegação Hoepcke (ENNH), com
lanchões e embarcações a vapor (Max, Meta e Ana), estas inteiramente produzidas na
Alemanha. Na virada do século XIX-XX, a firma Hoepcke representava o maior
conglomerado empresarial catarinense, mantendo filiais nas principais cidades
(Blumenau, Laguna e São Francisco do Sul) e, pouco depois, em Lages
109
, com lojas e
armazéns próprios. Carl Hoepcke inaugurou a fábrica de Pontas de Paris (pregos) em
1896, depois, em 1903, a de gelo, e em 1907, o estaleiro Arataca. Em 1917, a firma
Hoepcke comprou as ações que faltavam para comandar a fábrica de rendas e
bordados, até então partilhada com Ricardo Ebel. Porém, o principal ramo de atividade
da firma Hoepcke, continuou a ser a ampla diversificação comercial-atacadista
proporcionada pela importação marítima de máquinas e mercadorias industrializadas.
110
108
A lista de fornecedores e empresas as quais a firma representava é bastante extensa de
transportes marítimos Hamburg Südamerikanische Dampfschifffaharts-Gesellschaft e a Norddeutsche
Versicherungs-Gesellschaft, Prince Line de Liverpool, Norddeutscher Lloyd, empresa de navegação
aérea Condor Syndikat, que faziam a rota Porto Alegre-Rio de Janeiro, com escalas em Florianópolis. De
indústrias fabricantes de máquinas e equipamentos – AEG, Mannesmann, Rudolf Sack, Wanderer-Werke
A. G. Schoenau bei Chemnitz, Gasmotoren Fabrik Deutz, Kirchner & Company. De veículos e peças –
Ford Motor Company, Vacuum Oil Company, The Goodyear Tire & Rubber Company, R.Wolf,
Magdeburg, Buckau. De material para ferrovias – Orenstein & Koppel. De petróleo e combustíveis –
Anglo Mexican Petroleum Company, Standard Oil Company do Brasil. Bancos – Brasilianische Bank fur
Deutschland, London & Brazilian Bank Ltd., Banco do Brasil, Banco da Província do Rio Grande do Sul,
Deutsche Bank, Deutsche Überseeische Bank, Banco Nacional do Commércio, Banco Pelotense, Banco
Francês e Italiano, Banco Germânico da América do Sul e Banco Alemão Transatlântico (REIS et al,
1999; Carl Hoepcke & Cia. In: Carta de Ofício ao Governador. APESC, v.2, Abr/Jun, 1909, fl.84).
109
Cf. Costa (1982) Carl Hoepcke visitou Lages em 1870, para analisar as suas possibilidades
econômicas. Em 1918, abriu filial através de Walter Hoeschl, comercializando as máquinas de
beneficiamento de madeira e motoserras da marca alemã Kirchner & Cia, que, segundo SILVEIRA
(2007), respondia pelos equipamentos mais avançados da época.
110
Os anúncios de propaganda confirmam esta permanência em importação de máquinas década de
1920: representação da General Eletric do Brasil (motores, dínamos e material elétrico de toda a
espécie); década de 1930: Casa importadora de artigos estrangeiros e nacionaes por atacado de
produtos de toda espécie da Indústria Nacional. Secção especial technica com grande stock de machinas
agrícolas, motores, machinas para serrarias, officinas mecânicas, etc, etc, depósito de carvão; década de
1940: Matriz em Florianópolis e filiais em Blumenau, Cruzeiro [hoje Joaçaba], Joinville, Lages, Laguna,
São Francisco e mostruário em Tubarão. Venda de ferragens, ferro, cimento, vidros, louças, tecidos,
armarinhos, tapetes, perfumarias, máquinas em geral, material elétrico, eixos de transmissão, correias de
couro, bombas d’água, peças, pneus e câmaras para autos; gazogênio a lenha para caminhões. Fábrica
de pregos e de gelo. Estaleiro para reparo de embarcações. Navegação, Despachos, Consignações;
década de 1950: Filiais em Blumenau, Joinville, Joaçaba, Laguna, Lages, São Francisco, Tubarão,
Curitiba. Secções de máquinas, fazendas, ferragens, drogas, Autoshell, posto de serviço para
automóveis. Agências da ENNH em Laguna, Itajaí, São Francisco do Sul, Paranaguá, Antonina, Santos e
78
Os negócios de importação requeriam, segundo Dean (1991), certo número de
operações realizadas in loco fazendo com que o importador exercesse uma perícia
técnica de instalação de determinados equipamentos, o que o obrigava a completar no
local a manufatura dos artigos caros a serem embarcados totalmente transformados,
como pregos, cervejas e caldeiras. Nesse sentido, a inserção da firma Hoepcke nos
ramos industriais que implantou em Florianópolis, está ligada, efetivamente, ao
suprimento de demandas locais, como aconteceu com o prego para as necessidades
de construção, o gelo necessário ao condicionamento de pescado e outros gêneros
transportados pelos navios, o estaleiro na manutenção das embarcações da ENNH, e a
fábrica de rendas e bordados, ligada ao pioneirismo da firma referente à sua inserção
em novos mercados.
Além disso, as oscilações de câmbio, bastante freqüentes até o começo do
século XX, propiciaram oportunidades na importação de maquinários baseadas nas
reservas monetárias, sendo estas melhor retidas através do recrudescimento
empresarial. Antes mesmo da montagem de suas fábricas, a firma Hoepcke já
importava máquinas para as colônias novas, quando aquelas indústrias estavam
apenas iniciando o seu processo de implantação. O próprio Carl Hoepcke, em carta
enviada ao Dr. Blumenau então residindo na Alemanha, no ano de 1898, observou com
cautela este período de mudança cambial, diante do quadro majoritário de fazendeiros
na primeira metade da 2ª dualidade e, ao mesmo tempo, acreditando na estabilização
de sua firma:
O (arranjamento) plano financeiro Campos Salles é bom e tem condições
de melhorar a situação. Porém, isto só poderia ser definitivamente alcançado,
se fosse posto um fim na corrupção administrativa do Brasil e nisto não posso
crer. (...)
A crise de caixa eu a considero muito grave; ao meu entender teremos que
esperar uma super-produção geral. Com a melhoria do câmbio a situação
brasileira se tornará mais aguda e muitos fazendeiros irão à falência e sem
dúvida darão vultosos prejuízos aos institutos financeiros. Mas o que goza de
saúde, superará estas crises, mesmo que elas durem, conforme eu julgo,
muitos anos (HOEPCKE, 1994, p.107).
Rio de Janeiro. Secção de máquinas na rua Felipe Schmidt com enceradeiras, liquidificadores,
aspiradores de pó, batedeiras, refrigeradores, exaustores, aquecedores e demais aparelhos elétricos,
lustres de cristal (BOLETIM COMERCIAL, mar/1920, fev/1930, out/1944, jul-ago/1955).
79
A década de 1890 é marcada pelo surgimento das “Fábricas de Pontas de Paris”
em território nacional, como uma indústria pioneira de beneficiamento de metais, a
maioria delas instalada em zonas portuárias, nas cidades do Rio de Janeiro, Recife,
Joinville (1895), Belo Horizonte (1898) e Porto Alegre (1901), esta última, através da
capitalização de João Gerdau saído de um município periférico onde era vendista
(PIAZZA et al, 1981; PESAVENTO, 1994). Instalada no cais Rita Maria, a fábrica de
pregos, depois registrada como “Metalúrgica Hoepcke Ltda”, tornou-se a quinta mais
antiga do país e, provavelmente a principal do sul-brasileiro até a década de 1950,
quando começou a decrescer. Fundada com maquinário importado, compreendendo
um motor a vapor a base de lenha com 15 cavalos de força, para mover 10 máquinas
de fabrico de prego, 03 de brunição (polidores), ligadas estas por uma correia de
transmissão ao eixo acionador conectado à caldeira, além de 01 serra mecânica para
corte de madeira necessária aos caixotes para acondicionar os produtos e 01 máquina
movida à mão para cortar o material no fabrico de caixas. Inicialmente, contava com 17
operários e produzia 330 Kg/dia (PIAZZA et al, 1981).
O funcionamento e conservação do maquinário estimulou a criação de uma
oficina para troca de peça e poucas aquisições para substituí-lo, mas a linha de
produção e a área física foi aumentada na década de 1920, quando a máquina maior
que fabricava pregos de 12 polegadas passou a produzir até 1.000 Kg diários, e a
menor máquina, responsável pela produção de pregos usados em caixas de charuto
era de 20 a 30 Kg/dia (REIS et al, 1999), somente no atendimento do mercado
nacional. Até o Rio de Janeiro, a produção seguia com os navios da ENNH e, de lá, era
distribuída pelos navios do Lloyd Brasileiro e Costeira.
111
Na década de 1940, para continuar alimentando a caldeira movida à lenha,
anexou-se uma chaminé de tijolos, justificada pelo custo inferior em relação à
eletricidade que, na década seguinte, tardiamente passou a incorporar a fábrica. Em
111
Cf. Doutorando Márcio R. T. Moreira, o tipo de navegação realizado pela “Companhia Nacional de
Navegação Costeira” (fundada em 1882) e pelo “Lloyd Brasileiro” (fundado em 1890), diferencia tais
companhias. As duas refletem a amplitude das operações a partir do Rio de Janeiro, alcançando o auge
entre as décadas de 1920-50, quando o Lloyd Brasileiro foi a maior companhia armadora da América do
Sul e a Costeira possuía uma frota de 30 embarcações. O Lloyd Brasileiro foi quase toda a sua existência
uma companhia estatal atendendo, principalmente, a rotas internacionais combinadas em menor grau à
distribuição de cabotagem nacional, enquanto a Costeira, de natureza privada até a sua incorporação ao
patrimônio nacional em 1942, atendeu apenas a linhas domésticas (Informação verbal, 2008).
80
1955, havia 82 máquinas na fábrica, a maioria delas ao fabrico direto de pregos. Às
vésperas do seu fechamento durante a década de 1980, notava-se 58 máquinas de
vários tipos e procedências: 21 alemãs, 05 sem marca, 02 nacionais e 01 norte-
americana (PIAZZA et al, 1981). Uma das justificativas à estagnação que a conduziu
até a posterior decadência, está na falta de técnicos para imitar ou adaptar as
máquinas, aproveitando o momento de impulso da industrialização brasileira a partir
dos anos 1950.
Desde o início da segunda fábrica, em 1903, acoplada a de pregos, a produção
de gelo em barras num tanque por energia elétrica própria, atendia a cidade e arredores
até que se modernizasse para fabricar gelo em cubos e escamas, numa média mensal
de 75 toneladas de gelo em cubo e 63 toneladas de gelo em escama. O seu maquinário
era formado por um compressor mais antigo, de marca dinamarquesa, e três nacionais,
entre 10 e 30 HP de capacidade. Em 1999, a fábrica de gelo deixou de ser propriedade
do grupo Hoepcke, sendo que, pouco depois, encerrou as atividades (REIS et al, 1999).
A fábrica de rendas e bordados, antes de ser totalmente absorvida pelo grupo
Hoepcke, possuía 05 máquinas de bordar e 30 trabalhadores. As ampliações
começaram entre 1920-27, aumentando para 26 o número de máquinas de bordar. Às
máquinas automáticas de bordado, juntaram-se oficinas de branqueamento, pintura,
acabamento, linha de fabricação de renda de bilro, com um total de 300 operários e um
capital registrado de 900 contos de réis, sendo muitos de seus técnicos alemães ou
descendentes (ENTRES, 1929). Em 1977, instalou uma filial no bairro Roçado,
município de São José e, apenas no ano de 2000 ocorreu a transferência total de suas
instalações, daí sendo desativada a unidade de Florianópolis (DOMINGOS, 2002), até
então situada numa quadra de prédios fabris entre as ruas Conselheiro Mafra e Felipe
Schmidt, na extremidade oeste do centro urbano. Atualmente com 160 funcionários, a
“Fábrica de Rendas a Bordados Hoepcke S.A.” atende 60% a 70% da produção de
itens especiais para grandes marcas do Brasil e do exterior em segmentos de moda,
através de uma linha tradicional de barrados, entremeios, tiras e laises de cambraia,
vislumbrando implantar uma filial no município de Palhoça.
112
112
Departamento Pessoal da Hoepcke Bordados S.A. (Informação verbal, 2007); Entrevista da Sra. Silvia
Hoepcke da Silva In: BENETTI, E. Silvia lidera virada da Hoepcke para a moda. Informe Econômico.
Jornal Diário Catarinense. Florianópolis, 09 de março de 2008, p.29.
81
Cada qual, as fábricas Hoepcke criaram longevidades específicas, assinalando
um tipo de investimento ligado à oferta e procura de mercados consumidores,
principalmente alicerçado nos meios de transporte e na divisão social do trabalho. A
década de 1950 foi um marco decisivo para a desaceleração dos negócios devido à
decadência de vários portos brasileiros, fato também ocorrido com o porto de
Florianópolis, ocasião em que a firma Hoepcke, através de novas aplicações e a
retroalimentação de suas fábricas, transformou-se em única sobrevivente durante o
processo de rodoviarização brasileira. A partir daí, as fábricas se voltaram apenas para
o mercado regional, como aconteceu com as fábricas de gelo e de pregos, ou tiveram
que acompanhar as mudanças tecnológicas, como foi o caso da fábrica de rendas e
bordados.
O conglomerado Hoepcke apresentou fundamental importância para as trocas
comerciais com o capital externo, porém, outras iniciativas econômicas tiveram um
destacado papel comercial-industrial balizado nos capitais mercantis, a serem vistas
consecutivamente.
Em 1835, proveniente do Rio de Janeiro, Eduard Gottieb Otto Horn iniciou uma
farmácia em Laguna. Atuando na filantropia como médico, o mesmo abriria a farmácia
Raulino Horn (nome do seu filho) em Desterro, no ano de 1879, na rua do Príncipe,
atual rua Conselheiro Mafra. No início do século XX, o laboratório apresentava projeção
nacional por meio dos medicamentos da marca Rauliveira, com destaque para a
famosa “Camomila Rauliveira” (MEIRINHO, 1999). A farmácia até possuía uma oficina
tipográfica para rotulagem de seus produtos. Nessa época, a ilha era atendida por três
postos de gasolina, pertencentes às firmas de Eduardo Otto Horn (neto de Eduard e
sobrinho de Raulino), Carlos Hoepcke e Meyer & Cia, fornecida por bombas de
funcionamento manual, situadas ao redor da praça Floriano Peixoto e cabeceira da
Ponte Hercílio Luz (SILVA, 1995). Eduardo Horn trabalhava como agente da
“Sociedade de Seguros Marítimos e Terrestres Porto Alegrense”, cuja matriz ficava
situada na rua João Pinto e tinha também uma filial em Laguna.
Os capitais de Eduardo Horn se abriram através de outras parcerias e
trabalhando com comissões e consignações: Importação – vinho, sal, farinha de trigo,
fósforos, azeite, charque, louças, ferragens, açúcar, sardinha, soda cáustica, canela,
82
papel, etc; exportação – farinha de mandioca, polvilho, tapioca, arroz, banha, feijão,
café, frutas verdes, couros secos, cera de abelha, crina animal, etc. Passou a atuar
também no transporte marítimo de volumes por representação da The Royal Mail
Steam Packet Company London, a partir de janeiro de 1920, sendo que a firma André
Wendhausen & Cia era o agente nacional, entre os portos de Londres, Hamburgo,
Antuérpia, Paranaguá, Florianópolis e Porto Alegre. Eduardo Horn trabalhava ainda
com a venda dos automóveis Delahaye, além de manter um depósito de farinha de trigo
e de exportação em couros no Estreito. Nos anos 1920, com Pedro B. de Oliveira (um
capitalista sul-rio-grandense) montou uma fábrica denominada “Fábrica Obras de Malha
Limitada” para confeccionar camisas e meias, situada na rua Major Costa. O
estabelecimento foi adquirido da firma “Progresso Catharinense”, cujo ativo e passivo a
nova sociedade assumiu sob o nome de “Raulino Horn & Oliveira”. Na década de 1940,
a firma encontrava-se em nome da filha de Raulino, denominada “A Horn Ferro” (Axires
Horn Ferro), contendo um laboratório de produtos químicos e farmacêuticos, na rua
Conselheiro Mafra, que possuía a concorrência de “H Brüggemann”, com firma situada
na rua Saldanha Marinho.
113
O quadro de atividades desenvolvidas pela família Horn é bastante parecido com
o da família Wendhausen. Ambas as famílias apresentam a patente de coronel entre os
seus membros, que acabou se atrelando aos capitais mercantis em conseqüência de
uma vasta rede de influências que mantinham na Capital, e também do envolvimento
dos fundadores destas firmas com a Guerra do Paraguai. Membros destas famílias
tiveram também uma participação ativa nas campanhas republicana e abolicionista, que
receberam o apoio de alguns comerciantes ao lado de intelectuais e militares,
culminando, em 1887, na fundação do Clube Republicano de Desterro.
114
Esta geração
política, mais tarde, desestabilizou-se pela ação florianista (1893), ano em que Fernand
Hackradt Júnior embarcou às pressas para Europa, onde se tornou cônsul do Brasil em
Dresden e, em 1899, estabeleceu uma casa de comissões e consignações em
113
Guia do Estado de Santa Catarina (1935); Raulino J. A. Horn. In: Carta de Ofício ao Governador,
APESC, v.2, Jul/Dez, 1903, fl. 25; Boletim Comercial, mar/1920, jul/1941, set/1941 e set/1942; Corrêa
(1983).
114
Cf. IBGE (1959), entre 1884-1889, participaram de tais campanhas: José Henriques de Paiva, Carlos
Guilherme Schmidt, Francisco Margarida, Manoel da Silveira Bittencourt, Germano e André Wendhausen,
João da Cruz e Sousa, José Veiga, Raulino Horn, Severo Pereira, Fausto Werner, Emílio Blum, João F.
Régis e os irmãos Barbosa. Até então, Germano Wendhansen era um vereador municipal.
83
Hamburgo. Tornou-se o único membro do clã Hackradt-Hoepcke que participou
diretamente da política estadual no último quartel do século XIX, como deputado
provincial por três vezes e presidente da Assembléia em 1886-87. Filiado ao Partido
Conservador defendeu o regime monárquico, tendo sido um dos fundadores do Partido
Federalista de Santa Catarina ao lado de nomes como Duarte Schutel e Eliseu
Guilherme da Silva, que apesar de inimigos de Floriano Peixoto escaparam dos
fuzilamentos na Ilha de Anhatomirim.
115
A Revolução Federalista acabou provocando uma cisão política entre os
comerciantes da Capital e dos vales das colônias novas alemãs. Estes últimos,
representados especialmente por Lauro Müller e Felipe Schmidt, passaram a integrar o
pacto de poder da 2ª dualidade unidos aos latifundiários lageanos. É preciso entender
que, neste momento, a família Ramos acabou provocando boa parte das alianças entre
as classes de industriais e pecuaristas, sem que, para tanto, desintegrasse este bloco
hegemônico durante todo o período da 2ª dualidade, o que permitiu o seu domínio
político catarinense no ciclo posterior. Depois da Revolução Federalista, somente se
percebe comerciantes descendentes de alemães relacionados à política e associações
de classe em Florianópolis, a partir do início do século XX. É o caso de Eduardo Otto
Horn, que filiado ao Partido Federalista, assumiu, em 1893, a Secretaria de Governo,
retornando ao quadro político estadual somente entre 1922-24, com o mandato de
deputado estadual, certamente motivado por alianças com os Ramos, já que era
casado com uma filha de Francisco Ramos da Silva (PIAZZA, 1994). Além dele, o seu
tio Raulino, presidente do governo provisório catarinense durante a Proclamação da
República (1889), apareceu novamente na política estadual como Senador em 1900, e,
entre 1919 e 1922, enquanto deputado estadual, presidente da Assembléia e em quatro
substituições ao governador Hercílio Luz (CORRÊA, 1983).
Originária a família da região próxima à ilha e operando inicialmente com a
importação de ferragens e armarinhos, a empresa “André Wendhausen & Cia” apoiou-
se numa ampla operação bancária por meio de representações estrangeiras e da
agilização de várias atividades mandatárias e correlatas aos investimentos, dessa
maneira, ligando os negócios de natureza nacional com o exterior. Vale acrescentar
115
Piazza (1994); Reis et al (1999); Piazza et al (1981); Bronaut (2004).
84
que, em 1915, André Wendhausen juntamente com Francisco Pereira Oliveira Filho,
Emílio Blum, Paschoal Simone e Lauro Linhares, este último, representando a firma
“Carlos Hoepcke S.A.”, tornaram-se sócios fundadores da Associação Comercial e
Industrial de Florianópolis (ACIF, 2008). Além de ter sido presidente da ACIF, o
sucessor Carlos Victor Wendhausen diplomou-se deputado estadual em várias
legislaturas, entre 1910 e 1930 (PIAZZA, 1994).
As propagandas de serviços prestados pela firma “André Wendhausen & Cia”
atestam a sua ligação com diferentes escritórios financeiros e revenda comercial
1909: agentes do Banco do Brasil, correspondentes do Banco Comercial Ítalo-Brasileiro
(Rio de Janeiro e São Paulo), Banco Aliança (Porto Alegre e Rio de Janeiro), London &
River Plate Bank Ltd, Banco do Comércio (Rio de Janeiro e Porto Alegre), Banco
Italiano del Uruguay (Montevidéu), Banco de Itália & Rio de Prata (Buenos Aires),
fazendo operações em qualquer praça da Europa, América do Norte, Rio da Prata e
Brasil 1918: depósito de carvão de pedra Cardiff e Americano, agentes marítimos
com trapiche de atracação de vapores, navios e armazéns de cargas, correspondentes
do Banco de Napoli, remessas para a Itália, venda dos automóveis Overland (Willis),
tratamento na cobrança de ordenados, contas nas repartições públicas, retiradas na
Caixa Econômica, juros de apólices e dividendos, aquisição de quaisquer materiais
para empresas industriais, redes de água e esgoto, instalações elétricas, etc.
116
A firma
manteve uma agência atacadista em Lages, por um curto espaço de tempo (entre
1920-21), já que o movimento bancário local se relacionava com o do Rio Grande do
Sul (COSTA, 1982).
Nas mãos de Carlos Victor Wendhausen, a firma investiu na compra da “Fábrica
de Camisas Praia de São Luiz” (fundada em 1909), transformando-a, em 1917, na
“Fábrica Santa Catharina”, instalada em edifício próprio e movida à energia elétrica, na
rua Bocaiúva. Sob a nova administração, a produção foi triplicada em 1919, sendo
vendida para os estados do Rio Grande do Sul, Paraná e São Paulo. O volume
produzido era de 15 a 20 dúzias de camisas/dia, feitas por 26 máquinas comuns de
cozer, 02 grandes máquinas de cazear e 02 máquinas de agulhas duplas (para pregar
116
Boletim Comercial, jan/1918; André Wendhausen & Cia. In: Carta de Ofício ao Governador, APESC,
v.3, Jul/Ago, 1909, fl. 37.
85
mangas e fechar camisas).
117
A firma ainda investiu na “Companhia de Carris Urbanos”,
com bondes puxados a burro em alguns trechos da região central de Florianópolis.
O capital comercial da firma Meyer teve uma origem conturbada em Blumenau,
onde, em 1855, além da venda semi-oficial de Victor Gärtner (sobrinho de Dr.
Blumenau), havia a “Meyer & Spierling”, firma esta liquidada em 1884 devido à
oscilação de preços, causando grandes transtornos à população (HERING, 1987). Em
Desterro, a “Meyer & Cia” virou uma ampla importadora, concorrendo numa primeira
etapa com a Hoepcke e a Moellmann na venda de ferragens, louças, vidros e
cimento.
118
Diferenciava-se por comercializar jóias agregando ainda, a revenda de
veículos das marcas Hudson, Chrysler, Dodge, De Soto e Plymonth, através de uma
filial localizada em Blumenau, na rua XV de novembro. A loja instalada na rua
Conselheiro Mafra, na década de 1940, oferecia uma grande variedade de produtos,
entre os quais, ferragens em geral, ferramentas, vidros e artefatos em lâminas, louças
de pó-de-pedra e porcelana, material de construção, ferro de todos os perfis, ferro para
construção, chapas de ferro, cobre e latão, cimento Votoran, tintas e vernizes Reko,
pneus e câmaras de ar Firestone, acessórios para automóveis e caminhões, material
sanitário, óleos lubrificantes para todos os fins, lâmpadas GE e material elétrico, além
de atuar como agente depositário da Atlantic Refining Company of Brazil, através de um
posto de serviço e abastecimento.
119
A loja “Meyer & Cia” manteve-se em atividade até
a década de 1960.
A análise das atividades da “Casa Moellmann” também fornece alguns subsídios
para se perceber as raras possibilidades de ascensão no meio rural próximo a Desterro.
A família, formada por imigrantes que se instalaram na colônia de Santa Isabel (hoje um
pequeno distrito municipal de Águas Mornas), precisou economizar durante nove anos,
com base no trabalho ambulante do pai e de dois filhos como pintores, vidreiros e
fabricantes de tapetes na ilha, além dos demais membros da família na agricultura.
Contaram com a ajuda de amigos para abrir uma loja de tintas e vidros no ano de 1869,
117
Boletim Comercial, jan/1918.
118
Cf. Bittencourt (1977) entre 1828-29 é construído o “Hotel Majestic”, de Miguel Daux, sendo que este
edifício tem o mérito histórico de ter sido o primeiro de concreto armado na cidade. O seu construtor foi
Augusto Hübell e o cimento importado em barricas (possivelmente do exterior) por Ernesto Meyer.
119
Silva (1995); Guia do Estado de Santa Catharina (1935); Boletim Comercial, jul/1943, Jornal A Gazeta
15/09/1943.
86
em prédio situado na rua João Pinto. Pouco tempo depois, a empresa abriu uma filial
maior na própria região central da cidade, localizada na então rua Altino Corrêa
(Conselheiro Mafra) com fundos para a rua Felipe Schmidt e ao longo da rua Jerônimo
Coelho. A casa importadora de ferragens prosperou, principalmente em contato com
Blumenau e Joinville (SILVA, 1969).
Dotada principalmente de venda por atacado, a “Casa Moellmann” precisava
inovar em termos de variedade de produtos e foi o que aconteceu ao longo da sua
trajetória: 1917 – comércio de fazenda e armarinhos, competindo com as casas
Hoepcke e Wendhausen, além de uma fábrica de fogos de artifício e depósito de
pólvora na Ilha das Vinhas (Baía Sul); 1919 – inauguração da filial em Blumenau, na rua
XV de novembro; 1921 – fechamento da loja na rua Conselheiro Mafra; 1928 – a
“Moellmann & Cia”
120
possuía revendedora Chevrolet e Oakland; 1935 – importadora
de ferragens, louças, tintas, óleos, material sanitário, geladeiras, etc, e com a sociedade
“Moellmann & Feijó” revendia veículos da marca Volkswagen
121
; 1943 – representava a
venda de Rádios Cruzeiros
122
; 1946 – “Comercial Moellmann S.A.” revendia automóveis
e caminhões Dodge, além de peças para Ford, Chevrolet e Dodge.
123
Após a Primeira Guerra Mundial, perdera a concessão de veículos da Ford para
a firma Hoepcke, e durante a Segunda Guerra Mundial, as da Chevrolet e Volkswagen.
Durante o período de guerra, ocorreu a seguinte jogada política: a casa Hoepcke
124
cedeu a representação da Ford para “Tuffi, Amin & Irmão”, na rua Duarte Schutel, e a
casa Moellmann a Chevrolet para a firma Hoepcke (MOELLMANN, 2002). Em 1951,
quando a filial de Blumenau era o principal estabelecimento, encerrou-se a matriz em
Florianópolis vendendo a sede blumenauense a antigos funcionários e bisnetos do
fundador (Carl Moellmann), também descendentes de Ernest Stodieck (SILVA, 1969).
120
Cf. Entres (1929), neste ano, a empresa obtinha um capital registrado de 2255 contos de réis.
121
O primeiro fusca de Florianópolis foi vendido por Firmino Boaventura Feijó, um dos donos da loja.
122
Neste mesmo ano, Jorge Daux era agente autorizado da Phillips Rádio, vendendo os seus produtos
em loja situada na rua Conselheiro Mafra e Felipe Schmidt (BOLETIM COMERCIAL, ago/1942).
123
Entres (1929); Mamigonian (1960); Moellmann (2002); Silva (1969); Guia do Estado de Santa
Catharina (1935); Jornal A Gazeta, 10/09/1943; Boletim Comercial, fev/1928 e abr/1946; SILVA (1995).
124
A firma Hoepcke, ainda enquanto razão social “Hoepcke Irmão & Cia”, introduziu a revenda dos
veículos da marca Studbacker, depois passada, nos anos 1920, a Eduardo Horn e, em seguida,
assumindo Saulo Ramos. A “Hoepcke & Cia”, vendia as marcas Ford e Lincoln até que transferisse a
concessão por motivo da Segunda Guerra Mundial, quando os negócios internacionais de determinadas
firmas foram temporariamente bloqueados (BOLETIM COMERCIAL, fev/1928; SILVA, 1995).
87
Em 1978, é lançada a loja em “castelinho”, quando já atuava com a venda de artigos
têxteis e, mais tarde, uma filial em Balneário Camboriú; prosseguindo as atividades da
empresa até 1999.
Assim como Moellmann, uma outra família protestante frutificada pela
colonização alemã nas áreas fronteiras a Desterro/Florianópolis, originária de área
situada atualmente no município de Santo Amaro da Imperatriz, é a firma Busch que
ostenta a sua longevidade desde 1880.
Em 1898, as firmas “F. Y. Busch” e “Francisco Cabral & cia” assumiam a maior
clientela da firma Hoepcke em Florianópolis, com transações no valor de 100:000$000,
superando as casas de “Campos Lobo & Cia”, “Carlos Meyer”, “Viúva Ebel & Filho” e
“Rosa Medeiros Santos” (CZESNAT, 1980). Por conta dos volumes de importação no
momento em que a companhia de navegação de Carl Hoepcke estava ampliando
mercados, considera-se que as casas Busch e Meyer foram as principais parceiras do
conglomerado Hoepcke até o início do século XX (MÜLLER & RICHEN, 2007). A
sociedade “Busch & Schmithausen”, formava um expressivo negócio de artefatos em
couro, exportando sandálias para Grécia (HERING, 1987). Mais tarde, a “Busch & Cia”
comercializava artigos para seleiros e sapateiros. Em 1941, ainda revendia artigos em
calçado, concorrendo com as empresas de “Viúva J. Ribeiro” e “João B. Peluso”. Em
1943, a “Victor Busch & Cia”, com uma loja situada na rua Jerônimo Coelho,
representava a “Companhia Nacional de Papel e Celulose” no Estado.
125
A empresa se
adaptou às demandas locais, atualmente trabalhando através da matriz instalada no
centro urbano de Florianópolis e duas filiais nos municípios de São José e Biguaçú,
para venda em atacado e varejo de plásticos e espumas.
É importante perceber o fato que, nesta primeira fase de ascensão comercial, as
firmas Moellmann, Busch e Moritz se assemelham tanto na origem de capitais da região
continental próxima da ilha, como ainda, em razão de serem famílias luteranas, mais
raras nas áreas de ex-colônias alemãs que, estabelecidas em Florianópolis, puderam
congregar algumas relações de associativismo com outras firmas de origem alemã,
durante o primeiro quartel do século XX, através da “Comunidade Luterana de
125
Guia do Estado de Santa Catharina (1935); Boletim Comercial, jul/1941 e set/1941; Jornal A Gazeta,
04/09/1943.
88
Florianópolis”
126
e do “Clube Germânia”. Cabe acrescentar que, no início do século XX,
foi bastante comum acontecerem casamentos entre alguns membros de famílias dos
comerciantes florianopolitanos da época, como o laço que uniu Stodieck e Moellmann,
bem como alguns ramos de Moritz e Moellmann, sendo que estes também
apresentaram uma ligação de parentescos, através das famílias Amaral e Müller.
A primeira geração da família Moritz provém da localidade do Alto Biguaçú (hoje
situada no município de Antônio Carlos) que, em meio a várias dificuldades se mudou
para Brusque. Chegando à Capital, o patriarca Johann Moritz montou uma padaria em
1870, na rua Tiradentes, e depois, uma pequena cervejaria para obter fermento para os
pães. Com a morte do pai, Carlos assume o acervo de máquinas do estabelecimento
em 1888, anexando-o à sua padaria que funcionava na mesma rua. Com isso, João, o
outro filho, passou a trabalhar na Padaria Treska
127
, que pertencia ao seu cunhado. Em
1908, João Moritz montou uma padaria própria no bairro Figueira, hoje rua Conselheiro
Mafra, mudando-se para a rua Tiradentes em 1913. No mesmo ano, viajou a Alemanha
em busca de tecnologia avançada, adquirindo um moderno forno contínuo com
tubulação sem costura da marca Manessmann, pelo qual a queima de lenha era
substituída por um sistema de tubos aquecidos a vapor, sendo o primeiro deste tipo a
funcionar no Brasil. João Moritz também adquiriu a primeira geladeira na cidade, uma
Frigidaire da GM comprada na “Casa Moellmann”, substituindo o antigo modelo que
não fabricava gelo, semelhante a uma espécie de armário. Em 1922, pegou fogo a
então “Confeitaria e Café Modelo” de João Moritz, instalada na praça XV de Novembro,
esquina com a rua Felipe Schmidt. Por este motivo, a panificação mudou para o prédio
vizinho, ao lado do Palácio do Governo, onde comercializava pães, doces, salgados e
bebidas. Na esquina da rua Felipe Schmidt com a praça XV de Novembro, funcionou “A
Soberana” durante vários anos, considerado o primeiro sistema de auto-serviço da
cidade. Mais tarde foi comprado o “Empório Rosa”, ao lado do Palácio do Governo,
onde hoje está construído o prédio comercial denominado “João Moritz”.
126
O anexo 4 demonstra o que sobrou atualmente da área que compreendia a “Comunidade Luterana de
Florianópolis”, ou seja, a igreja e a casa da escola alemã.
127
Empreendida por Francisco Treska, austríaco que chegou aos 19 anos como ferreiro. Foi professor no
Capivari (atual São Bonifácio) e, mais tarde, fundou na Capital a Padaria Treska, na rua Deodoro,
também dono de uma grande chácara na rua José Veiga (atual avenida Mauro Ramos) e chácara em
Barreiros, no município de São José (JOCHEM, 1998).
89
Posteriormente, a “Confeitaria e Café Modelo” foi vendida para o seu irmão Henrique e
Carlos Kather, um cunhado dos mesmos, além de técnico conceituado em confeitaria
na Europa (MORITZ, 2006; MOELLMANN, 2007).
Em 1925, João Moritz dá início à fábrica de balas e bombons, retornando a
Alemanha para adquirir novas máquinas, instalando-a, dois anos depois, na rua
Tiradentes. Para isso, contratou Alfred Flach (técnico alemão) e trouxe de Porto Alegre
(RS) Arthur Kilian (outro cunhado), ex-técnico da fábrica de balas da firma “Ernesto
Neugebauer”. A partir daí, passou a fabricar algumas marcas conhecidas como Rococó,
Uva do Norte, Beijo, Língua de Gato, Azedinha, Eucaliptus, Nogatine, Rocks, entre
outras, além de doces como folheados e papo de anjo. No final dos anos 1920, as
salas-ambientes da fábrica eram equipadas com dois motores de 15 HP e uma caldeira
de vapor com pressão atmosférica, produzindo anualmente 150 toneladas de doces,
sob um gasto de 188 toneladas de farinha de trigo (MORITZ, 2006; ENTRES, 1929).
Em 1934, João Moritz, que se reunia a colegas engenheiros no antigo “Lux Hotel”,
acabou auxiliando na fundação da Associação Catarinense de Engenheiros
(MOELLMANN, 2007). Em 1935, a “Moritz & Cia” instalou a fábrica de massas
alimentícias “Divina”, situada na rua Conselheiro Mafra, além de manter um pequeno
varejo de pão, balas e biscoitos na rua Tiradentes. Neste mesmo ano, a venda dos
produtos Moritz possuía uma representação de atacado em Curitiba, onde permaneceu
até a década de 1940. Em 1943, a “Moritz & Cia” era formada por panificação elétrica,
fábrica de caramelos e fábrica de massas alimentícias. Entre uma lista de firmas
exportadoras da cidade, consta a “Moritz & Cia” com escritório e fábrica na rua
Tiradentes, além de comércio na rua Conselheiro Mafra, e a firma de “Rodolfo G.
Hickel”, na rua Almirante Lamego, dedicadas à produção de caramelos e balas.
128
Em 1947, atinge a firma Moritz um incêndio no prédio da rua Tiradentes,
destruindo mais da metade das instalações de panificação e massas alimentícias. A
partir daí, o pão passou a ser feito na padaria da Penitenciária do Estado. No mesmo
ano, a empresa se modifica juridicamente, passando a se chamar “João Moritz S.A.
Indústria e Comércio” (MORITZ, 2006). Como causas no decréscimo das fábricas
Moritz, aponta-se o fato de que o governo brasileiro criou dificuldades na importação do
128
Guia do Estado de Santa Catharina (1935); Paraná Mercantil, mai/1935; Boletim Comercial, jul/1941.
90
equipamento necessário para a renovação das mesmas após o sinistro (MOELLMANN,
2007). Em seguida, no ano de 1958, inaugurava-se o primeiro mercado no sistema de
auto-serviço para modernizar “A Soberana”, instalada agora na rua Tiradentes, sob a
administração de Charles Edgar Moritz, um dos filhos de João. Nos caixas, sob um total
de oito atendentes, seis eram mulheres, na década a qual a mulher estava ingressando
no mercado de trabalho florianopolitano (BEIRÃO FILHO, 2004). Ainda passou a ser
pioneira na rede supermercadista, sob um total de quatro lojas do “Supermercado A
Soberana”. Mais dois incêndios marcariam a trajetória dos negócios: um, em 1976,
atingindo a fábrica de balas e depósito de mercadorias, ambos na rua Tiradentes, e
outro, em 1980, numa parte do supermercado situado no bairro Estreito. Em 1997,
houve desmembramento da empresa com uma cota em nome de “João Eduardo Moritz
& Filhos Ltda” e a segunda, sob o domínio de “Charles Edgar Moritz” (MORITZ, 2006).
Ao lado dos filhos, João Moritz dedicou-se ao ramo da construção civil, inicialmente
edificando prédios nos terrenos dos anteriores imóveis comerciais no centro da cidade.
Ao mesmo tempo, no continente imediatamente fronteiriço, o bairro Estreito se
desenvolvia sob a forma de apêndice do centro da cidade, abrigando depósitos de
exportação como uma espécie de doca para as manobras de carga e descarga nos cais
Rita Maria e Badaró, ou seja, as imediações da extensão portuária da rua Conselheiro
Mafra, principal eixo comercial no início do século XX. Estes depósitos se diferenciavam
pela gama de manufaturas para exportação direta à Alemanha (Hamburgo, Havre e
Triest), chegadas por terra do planalto serrano, litoral próximo e das antigas áreas de
colonização alemã e nacional lindeiras a Florianópolis, principalmente couros, café,
cêra de abelha, crina de cavalo, chifres, tapioca, mamona, cereais, peixe e camarão
secos, etc. A partir da década de 1920, o País se engajava na substituição de
importações em bens de consumo simples, dentre as quais, através das primeiras
indústrias alimentícias. O principal impulso para a função sub-espacial dada ao Estreito,
está ligado à inauguração da Ponte Hercílio Luz que atraiu vendistas e pombeiros
independentes, munidos de veículos comprados em financiamento que para este bairro
se dirigiam a negociar os produtos entre a serra e o litoral (HATZKY, 2000). Neste caso,
a ocupação urbana se amplia através da pequena produção mercantil regional porque
os comerciantes investiram suas rendas na abertura de ruas e loteamentos no Estreito.
91
De tais comerciantes, destacaram-se Antônio Augusto Lehmkuhl, André Maykot, Ernest
Riggenbach, João Müller e Herbert Janing.
129
Antônio A. Lehmkuhl
130
, nascido em Vargem Grande (atual distrito municipal de
Águas Mornas), sucedeu a firma do seu antigo patrão, o francês Afonso Micholet,
casando-se com a filha do mesmo. Em 1920, mudou a razão social “Micholet &
Lehmkuhl” apenas para o seu nome, envolvendo-se na política municipal e na
acumulação de terrenos no começo da rua Fúlvio Aducci. Originário da localidade de
Pinheiral, situada no atual município de Major Gercino, André Maykot
131
possuía o mais
sortido “secos e molhados” ao juntar gêneros alimentícios, tintas, vidros, madeira e
venda de brinquedos em madeira. Graças ao apoio financeiro do mesmo, a igreja
católica do bairro foi instalada sobre uma colina, contendo alguns traços góticos.
132
Pioneiro em comprar uma máquina de fazer forro, importada de Santos (SP) através de
Pedro Cherem, e também, no primeiro edifício de dois pavimentos no bairro, André
Maykot loteou a rua Antônio Matos Areias e o seu irmão José, os terrenos onde passa a
rua Eduardo Dias. Ernest Riggenbach, alemão-suíço que fundou em 1924 a sua firma
exportadora, dedicava-se ainda à importação de sapatos, artigos para sapatos e
ferramentas para sapateiros e seleiros no Estreito, além de representante dos produtos
químicos Ciba S.A. e Pearson & Cia (creolina), na rua Francisco Tolentino.
133
O
comerciante João Müller, iniciando com uma oficina de jóias em ouro e loja de relógios
(ENTRES, 1929), mais tarde, incorporou o comércio do Estreito pela “Müller & Irmãos”
com revenda de autopeças. Herbert Janing era um hamburguês que trabalhando na
Casa Hoepcke capitalizou um comércio próprio (HATZKY, 2000). Vale destacar que até
os anos 1940, praticamente não havia se integrado um núcleo comercial no bairro
129
Entres (1929) e Boletim Comercial, jul/1941
130
Cf. Lopes (1926) a sua antecedência familiar provém do tenente-coronel Francisco Antônio Lehmkuhl,
eleito superintendente municipal de Palhoça em 1898, assumindo o cargo em 1899 e reeleito em 1903.
131
Na verdade, André Maykot é de origem polonesa, chegando à localidade de Pinheiral em 1900,
situada no atual município de Major Gercino. Apostou no bairro Estreito num tempo em que havia
matadouro e mau cheiro, abrindo o armazém em 1927. Fechando apenas durante a Revolução de 1930,
voltou a ser o mais expressivo comerciante do Estreito nos anos 1940-50, ampliando os negócios em
duas casas comerciais quando possuía 70 funcionários (Memórias do Dia. n.6. Jornal Notícias do Dia.
Florianópolis, 30 de agosto de 2008).
132
Vale lembrar de Peluso Júnior (1953) que trata da particularidade da influência alemã no traçado
urbano, a qual se destaca a igreja em altiplano desvinculada de uma praça e via comercial independente.
133
Soares (1990); Bastos, fev/mar 2000; Entres (1929); Hatzky, 2000; Boletim Comercial, out/1944.
92
Estreito, que ainda continha depósitos
134
, pequenos estabelecimentos ou imensas
áreas vazias e de pastagem, apesar de a terra apresentar um valor menor do que no
centro urbano insular. Porém, já havia uma filial do supermercado “A Soberana” e outra
área loteada que passou a ser empreendida por um comerciante, estabelecendo, desta
vez, o bairro Jardim Atlântico como loteamento precursor em Florianópolis,
empreendimento que teve como responsável Jacques Schweidson, proprietário das
lojas “A Modelar” (SOARES, 1990).
Havia ainda, pequenas marcenarias com predominância de descendentes de
alemães, principalmente Carlos Reinisch, Michael Tertschitsch e Paulo Schlemper. O
primeiro deles, possuía a firma situada na rua João Pinto, abrindo o seu negócio em
1894, tendo, cinco anos depois, 12 funcionários. Em 1904, adquiriu máquinas
econômicas e, em 1913, iniciou a fabricação de móveis curvados, conhecidos por
“móveis de Viena”. No final dos anos 1920, empregava 50 operários trabalhando com
modernas máquinas alemãs. Da pequena marcenaria, ergueu-se um grande negócio, a
“Carlos Reinisch S.A. Com. e Ind. de Madeiras”, que, em 1943, por motivo de doença
do proprietário, abriu sociedade com diversos comerciantes e políticos locais, tendo
como diretoria e conselho fiscal efetivo: Sidney Nocetti, Heitor Bittencourt, Laurentino da
Costa Ávila, Osvaldo Machado, Norberto Domingos da Silva, Aderbal Ramos da Silva
(com capitais Hoepcke), Ire S. Ulisséa, Charles Edgar Moritz e José Elias. Nessa
época, a empresa obtinha um capital de Cr$ 850.000,00, através da mão-de-obra de
200 operários.
135
Fundada em 1900, a marcenaria da “Terschitsch & Cia” recebeu novas máquinas
em 1909, ampliando o estabelecimento situado na rua Felipe Schmidt. Ao lado da
fabricação de móveis, havia um galpão que produzia carrocerias para automóveis de
carga. O fundador, além de cônsul da Áustria, possuía negócios de cervejaria e
134
Nos anos 1940, listava-se como firmas de exportação, possuindo depósitos no bairro Estreito ou na
avenida Hercílio Luz, rua José Veiga e na rua João Pinto, situadas no lado leste da região central da
cidade: “Antônio A. Lehmkuhl”, “Eduardo Horn”, “Ernesto Riggenbach & Cia”, “Ernesto Riggenbach
Júnior”, “Marcos D. Pinho”, “José Araújo & Cia” e “Filomeno & Cia” (BOLETIM COMERCIAL, set/1941).
Cita-se ainda, no continente limítrofe, a firma exportadora “Fett & Cia”, localizada no bairro de Coqueiros
(SOARES, 1990).
135
Entres (1929); Jornal A Gazeta, 11/09/1943; Boletim Comercial, dez/1942.
93
hotelaria.
136
A fábrica de móveis de “Paulo Schlemper” situava-se na rua Conselheiro
Mafra, na esquina com a rua Pedro Ivo. Logo no início dos anos 1940, estas três firmas
industriais de móveis citadas eram as mais fortes da cidade, aproveitando o momento
propício de exploração madeireira nas áreas de Lages, São Joaquim, Bom Retiro e dos
excedentes chegados a Florianópolis, a fim de transportar pela via marítima para os
mercados platinos, americanos e ingleses às empresas que se dedicavam
principalmente na importação de gasolina para o abastecimento das máquinas
industriais.
137
Em razão do franco crescimento do ramo madeireiro, organizaram-se outras
firmas, algumas delas por meio de alguns capitais industriais dos vales atlânticos ao
norte, como a “Sociedade Exportadora Catarinense Ltda”, com escritório localizado na
rua Felipe Schmidt, depósito e trapiche no bairro Estreito, e filiais em Itajaí e Rio de
Janeiro (RJ); a “Cia Florestal Brasileira”, com matriz na cidade de Florianópolis e filiais
em Bom Retiro e Lages; além de “José Araújo & Cia”, com escritório situado na avenida
Hercílio Luz e depósito no bairro Estreito; e “Manoel Joaquim dos Santos” (sem
informações sobre o mesmo).
138
Atrelados os capitais comerciais ao movimento portuário, os efeitos positivos dos
ciclos juglarianos em vistas do desenvolvimento de setores de produção a cada
década, acabaram se desarticulando durante os anos 1940, período transitório e
estagnador da economia regional, no qual, a partir daí, inicia um lento processo de
substituição nos ramos comerciais pela pequena produção mercantil mais recente,
voltada a promover o mercado interno regional através da expansão urbana (a ver no
capítulo 3). Neste momento, basta entender que, segundo cálculos baseados nos
dados de Dias (jul/1947), entre 1938 e 1946 o movimento de carga desembarcado, em
toneladas, decaiu (- 48,77%), e o volume embarcado, em toneladas, (- 63,58%), para o
qual também influíram as restrições da 2ª Guerra Mundial a unidades mercantes
alemãs de grande calado a aportarem em Florianópolis e a autonomia em termos de
136
O “Hotel Metropol” passou por vários proprietários, dentre eles, em 1919, Michael Tertschitsch
(BOLETIM COMERCIAL, jun/1919). No início deste século, ainda aconteceu a diversificação de negócios
na hotelaria de dois outros comerciantes descendentes de alemães: Carl Tobias e Antônio Freyesleben;
o último também um cervejeiro (ENTRES, 1929).
137
Boletim Comercial, jul/1932 e jul/1941; Dias (jul/1947).
138
Boletim Comercial, set/1946.
94
mercados consumidores dos produtos industrializados assumida pelas cidades nos
vales atlânticos ao norte. Além disso, a industrialização de São Paulo consolidou a
fabricação própria de inúmeros produtos importados, quando, a partir de 1920 a sua
economia regional substituíra a centralidade econômica exercida pelo Rio de Janeiro,
despontando, na década de 1940, como a maior aglomeração manufatureira da
América Latina naquele Estado (DEAN, 1991). Este amplo contexto de mudanças entre
tais decênios (anos 1920-40) acabou despencando os comerciantes descendentes de
alemães de Florianópolis que, líderes até então nas suas atuações de mercado, por
conseguinte, dissolveram sua articulação econômica a ser revista na seqüência.
2.2 A BURGUESIA COMERCIAL-INDUSTRIAL NA 1ª METADE DO SÉCULO XX
As firmas industriais situadas nos vales atlânticos ao norte, que escoavam a
produção de manufaturas através das áreas portuárias de Itajaí e São Francisco do Sul,
exerceram medidas e acordos protecionistas inibindo um volume de importação que
fosse capaz de engessar o desenvolvimento industrial, exportando, ao mesmo tempo,
tanto produtos industrializados quanto gêneros agrícolas (ROCHA, 1997). Num sentido
oposto, Desterro/Florianópolis supriu a maior parte das necessidades de consumo com
os artigos importados, tornando-se um comércio altamente lucrativo aos capitais
mercantis. Dessa forma, a burguesia comercial pôde ampliar livremente os negócios em
vários sentidos vertical em articulação internacional e horizontalmente por meio de
filiais pela costa catarinense , no aproveitamento das diferenças regionais existentes
entre as balanças comerciais das áreas de influência direta de Itajaí, São Francisco do
Sul e Laguna, servindo as mesmas como acesso na interiorização de mercadorias.
Tais diferenças regionais faziam com que os comerciantes reguladores de
mercado (Hoepcke, Wendhansen, Horn, Meyer, Moellmann e outros), a contento,
intermediassem a distribuição dos gêneros agrícolas, mormente produzidos na região
próxima a Laguna, como também levassem os artigos industrializados europeus,
auxiliando no processo de substituição de importações dos vales atlânticos ao norte.
Todavia, através das palavras de André Wendhausen, em carta dirigida ao governador
95
estadual de 1909, é possível notar um caráter especulativo em relação ao volume de
comercialização captado pelos atravessadores nas regiões envolvidas, favorecidos
pelas benesses do poder público: Laguna, baluarte da nossa exportação, se não em
valor o é indubitavelmente na quantidade porque a sua producção [sic] é justamente de
cereaes [sic] de baixo preço, de primeira necessidade, para os quais a primeira linha é
preciso, com o amparo das sábias disposições dos poderes públicos(...).
139
Este ofício
solicitava a intermediação do governo estadual na manutenção de linha regular de
navegação por meio de dois vapores do Lloyd Brasileiro, tendo o porto florianopolitano
como o centro de operações. Outra carta oficial, encabeçada por André Wendhausen,
citava a ameaça de retirada do Lloyd Brasileiro na linha fluvial prestadora do serviço há
mais de trinta anos, situação esta que viria a prejudicar o ingresso de máquinas e
artigos importados pelos comerciantes até os vales atlânticos ao norte. Assinaram o
pedido de intervenção ao governador vinte e cinco comerciantes da Capital, dentre
eles, “André Wendhansen & Cia”, “Ernesto Beck & Cia”, “Eduardo Horn & Cia”, “Otto
Ebel” e “Carlos Meyer”.
140
Este aspecto de aproveitar as oportunidades mercadológicas entre as regiões,
justifica, num certo sentido, o papel secundário assumido no desenvolvimento de firmas
industriais na Capital, pois, embora possuindo fábricas de artefatos em tecido,
farmacêutica e alimentícia (Wendhausen, Horn, Hoepcke, Moritz) prosperando mesmo
antes dos anos 1930, período este de expansão brasileira em tais atividades, já não
mais pôde sanar a demanda da escala paulista. É preciso entender que o aparecimento
das fábricas proveio das facilidades de financiar a importação de máquinas para
diversificação econômica que, a partir daí, passou a sofrer restrições.
141
O próprio conglomerado Hoepcke, que agregou quatro destacadas indústrias
(gelo, prego, bordados e estaleiro) à cidade, dotava-se de uma base de atuação
amplamente comercial. O efetivo comercial-industrial de Florianópolis representava uma
pequena industrialização diversamente servida de lenha, eletricidade e gasolina.
142
O
139
André Wendhausen & Cia. In: Carta de Ofício ao Governador. APESC, v.3, Jul/Ago, 1909, fl.38.
140
Ibidem, fls.87-88.
141
Cf. Müller (2007), em 1908, a Alemanha respondia por 51% das importações de Santa Catarina.
142
Cf. Peluso Júnior (1991) a indústria de bens de consumo possuía, em 1914, 606 casas comerciais,
dentre a venda de móveis, chapéus de sol, torrefação de café, telhas de cimento, vinagre, bebidas,
sabão, caramelos, fogos de artifícios, cigarros, massas alimentícias, refinação de açúcar e gelo.
96
momento da alta de preços de importação do carvão, em 1916, por exemplo,
caracterizou o seu baixo consumo concentrado nas companhias de navegação, dentre
as quais, liderava a “Carl Hoepcke & Cia”, que, sob uma demanda de 2000 a 2400
toneladas/ano, foi obrigada a cessar as suas atividades por um reduzido período,
enquanto a situação não se estabilizava. Para tanto, Carl Hoepcke Júnior enviou ofício
ao governador, a fim de que o mesmo intercedesse em tal questão.
143
É possível notar que, neste primeiro momento, a firma Hoepcke assumiu
responsabilidades perante o governo estadual, respondendo aos interesses tanto
privados quanto públicos, a exemplo da representação dos capitais alemães na
construção da “Companhia Estrada de Ferro Santa Catarina” e cotas nas sociedades
da “EMPRESUL”, “Companhia Industrial Catarinense”, “Companhia de Laticínios
Blumenau”, “Sociedade Mineradora Catarinense”, e doações aos hospitais de Caridade,
de Lázaros, “Clube 12 de Agosto” e “Colégio Bom Jesus”. Dentro dessa visão ampla de
diversificação de capitais e no suprimento das carências locais, a acumulação primitiva
pela revenda de produtos industrializados consolida o conglomerado Hoepcke como
promotor de uma situação de manutenção do seu poder econômico ao assumir um
papel aristocratizante através da deflagração de processos com a dinamização naval
pelo litoral catarinense, enquanto uma espécie de nobreza urbana.
144
Além dos
envolvimentos político-militares anteriormente abordados sobre as famílias
Wendhausen e Horn, sabe-se ainda que membros da família Moellmann
145
e Moritz
ligados à política municipal e construção civil, de certa forma, coadunaram os rumos
econômicos assumidos pelas conjunturas de Florianópolis. As famílias de comerciantes
descendentes de alemães, preferencialmente, casavam-se entre si, num círculo
143
Carl Hoepcke & Cia. In: Carta de Ofício ao Governador. APESC, v.2, Abr/Mai, 1916, fl.75.
144
Cf. Dobb (1983) dentro das burguesias urbanas residiam famílias aristocráticas nas cidades
mercantis-portuárias italianas, acumulando imóveis de terras devolutas na cidade, com o uso de direitos
exclusivos, a exemplo do comércio de longa distância, e fora dela, dominando o corpo burguês ao reter
uma identidade separada. Essas famílias representavam um elemento da sociedade feudal, mesmo
dentro da sociedade urbana que apoiadas nas redes de poder convertiam campo e cidade circundante
em áreas feudo-comerciais.
145
Cf. Moellmann (2002) José da Costa Moellmann foi engenheiro civil e político, secretário da Fazenda,
depois prefeito municipal de Florianópolis; Egberto da Costa Moellmann tornou-se vereador em
Florianópolis, sendo diretor da firma na matriz, casando-se com Rodolfina Moritz Treska.
97
fechado que reforçou o seu aspecto aristocratizante e de associativismo, beneficiando o
aumento de capital de algumas firmas.
146
O capital industrial catarinense teve íntima ligação com o comércio import-export,
o que sintonizava a substituição de importações dos vales atlânticos ao norte com
mercados de tecidos em algodão e bordados, através, principalmente, das camisarias
em malha (BOSSLE, 1988), mas, graças às políticas cíclicas implementadas pelo
Estado nacional brasileiro (SILVA, 2007). A condição de sucesso na penetração do
mercado nacional deveu-se à abertura do mercado consumidor enquanto estruturas
monopolísticas ou oligopolísticas, isto é, oferta concentrada em uma ou poucas
empresas que, concorrentes entre si, contribuíam na modernização tecnológica das
indústrias tradicionais. Numa outra frente, é possível entender que o caráter
oligopolístico dos capitais comerciais de Florianópolis, no início do século XX,
apresentou uma estrutura de mercado distributiva de mercadorias prontas e, num
menor grau, alguns casos isolados de indústrias dependentes dos movimentos
portuários, que foram gradativamente exauridos.
A pontificação dos Konder de Itajaí na potica catarinense, com Victor Konder no
ministério da Viação e Adolpho Konder no governo estadual, aliada a um investidor
uruguaio atraiu o primeiro sistema de telefones automáticos para Florianópolis, em
1927, que foi precursor de toda a América do Sul (BITTENCOURT, 1977). Nota-se que
os anseios de urbanização chegaram a Florianópolis concomitantes às simpatias
políticas principalmente ligadas a Hercílio Luz
147
, aliado político do bloco teuto-brasileiro
que, enquanto governador, promoveu a instalação da primeira ponte ilha-continente e a
ampliação Mercado Público, de certa forma, anulando a esfera municipal em relação à
instância de poder estadual. Vale lembrar que, segundo Corrêa (1984), a Ação
Integralista derrotou o Partido Republicano, além de outras organizações políticas
146
Explica esta situação o depoimento da Sra. Maria Lina Niconomus Bastos (21/08/1999): “Deixa eu te
dizer, os alemães de Florianópolis tinham status. Eles eram muito fechados, tinham a vida deles. Vou te
falar com franqueza, a sociedade mesmo de Florianópolis não se manifestava (...) porque eles gostavam
muito dos alemães. Foi a turba, a manezada, o povão insuflado que fez tudo isso” (FÁVERI, 2002). A
entrevistada refere-se, por último, aos movimentos populares da 2ª Guerra Mundial, que levaram à
desapropriação do Clube Germânia.
147
Cf. Luz (2000) até 1930, as oligarquias estaduais eram muito fortes com partidos independentes,
porém, que nacionalmente despontavam os políticos mineiros e paulistas. A chamada “política de
governadores” fortalecia os “hercilistas” apoiando Felipe Schmidt, cujos companheiros de governo, sem
uma oposição definida, seguiam fiel e vantajosamente a nova política federal.
98
importantes, conseguindo eleger prefeitos nas principais cidades catarinenses. Dessa
maneira, o Integralismo se expandiu, mas, o golpe de 1937 confinou, politicamente
suas lideranças às áreas de colonização alemã e italiana. Posteriormente, este
fenômeno gerou o principal apoio político à UDN (União Democrática Nacional) e, ao
mesmo tempo, cerceou a participação dos políticos de origem germânica no Legislativo
Estadual, que somente aparecem mais tarde, porém, fortalecidos nas suas alianças
(Konder-Bornhausen).
Quando o comércio exportador carioca se desestrutura — suplantado pela
indústria, comércio e porto paulista tanto em volume quanto em produção do mercado
nacional —, na cidade de Florianópolis permanece o mesmo esteio de operações
porque a burguesia comercial-industrial se rentabilizava nas flutuações cambiais.
Segundo Pereira (1997R), o Brasil mostrava-se capaz de expansão não somente nas
fases ascendentes constituindo uma preparação à industrialização substitutiva de
importações (na fase recessiva do 3º Kondratieff), quando, emergencialmente, com a
política de Vargas cedeu a estruturação da moeda brasileira através do confisco
cambial do café baseado na centralização do câmbio pelo governo federal, na
manutenção da taxa cambial apreciada e na forte demanda externa , já que estas
duas últimas variáveis permitiram transferir renda dos exportadores de café para os
industriais que importavam máquinas a preços baixos na medida em que o câmbio
estava valorizado, o que promoveu a redução no volume das importações para
estimular os substitutos nacionais. A partir daí, emerge um novo surto expansivo do
comércio internacional, em que, paulatinamente, vai aproximando a economia nacional
do capital financeiro americano. Por isso, a falta do funcionamento de uma hinterlândia
exógena (exportadora) em termos da região constituída pelo lugar central de
Florianópolis, pesou num gradativo desaquecimento dos comerciantes descendentes
de alemães.
148
Vale entender os reflexos da 2ª dualidade, período no qual ocorreu a composição
da classe dominante brasileira, quando, em Florianópolis, manteve-se,
148
Em Hatzky (2000) encontra-se a relação estabelecida entre os atacadistas de Florianópolis e os
demais descendentes de alemães pequeno-produtores situados nas áreas lindeiras da ilha, apenas
através de empréstimos para compra de veículos e ampliação dos negócios, além dos serviços de
transporte de mercadorias por terra.
99
simultaneamente, a guarda de relações de troca com os vales atlânticos ao norte (para
venda de máquinas e bens duráveis), vales atlânticos ao sul (compra e exportação de
gêneros agrícolas de primeira necessidade) e planalto serrano (trocas de consumo,
como gado, madeira, farinha, etc). Com o país nacionalizando a navegação de
cabotagem sem manter a concorrência estrangeira, criou-se um monopólio prejudicial à
produção nacional no sentido de expandir a sua permuta interestadual, além de
medidas protecionistas que reduziram os produtos da lavoura a serem exportados.
149
O capital comercial carioca perdeu força após a Revolução de 1930 devido à política de
substituição de importações, que favoreceu os negócios que convergiram a São Paulo,
principalmente alavancados pela superprodução cafeeira. É possível constatar que na
Capital catarinense, a partir daí, os interesses de capital privado foram tão mais de
articulação política do que em vistas de um desenvolvimento econômico.
O encerramento dessa dualidade para o posterior revezamento de papéis, pode
muito bem ser simbolizado pelo casamento de Ruth Hoepcke com Aderbal Ramos da
Silva, em 1936, que, como única herdeira do patrimônio Hoepcke conferiu ao marido o
título popular de “Conde de Monte Cristo”.
150
A vitória de Nereu Ramos e a sua
posterior intervenção, em 1937, acirrou conflitos entre Ramos e Konder-Bornhausen,
além de dentro da própria oligarquia Ramos. A partir de então, apesar da origem
latifundiário-pecuarista, e cumprindo com a idéia da dialética brasileira com relação aos
conservadores no comando das mudanças, foram os Ramos que deram início à
transformação sócio-econômica e a modernização da Capital catarinense, intensificada
pelo governo JK e pelos governos militares, favorecendo novas iniciativas empresariais,
embora que, em Florianópolis, tenha se mantido por algumas décadas uma letargia
econômica devido à falta de continuidade na boa administração dos negócios
(KRIEGER, 2007), como também aconteceu um desnivelamento no mercado
consumidor dada a concorrência com indústrias mais expressivas dentro de um plano
brasileiro de atuação.
149
Boletim Comercial, set/1932.
150
Este apelido associa-se à idéia figurada de ARS ter encontrado um “tesouro escondido” na ilha. Para
saber mais sobre a vida política e privada de ambos, consultar Tancredo (1998) e trechos do depoimento
do Prof. Domar Campos à revista Geosul em Campos (1999).
100
2.3 SITUAÇÃO URBANO-ECONÔMICA NA DÉCADA DE 1940
O filme “Bocaiúva, 42: os registros de Edla Von Wangenheim” (2006) retrata os
hábitos alemães nos anos 1920-40 incorporando um aparte da sociedade
florianopolitana, que conduziu a configuração urbana do Centro no sentido sul-norte por
meio dos desmembramentos das áreas de chácaras e preenchimento das áreas no
centro do polígono, onde o crescimento urbano tornou-as mais próximas do limite
comercial. Em 1937, notava-se 192 automóveis, 27 ônibus e 31 motociclos, num tempo
em que as preocupações de higiene, entre 1910-30, originaram a primeira avenida (av.
Hercílio Luz), anteriormente denominada rua do Saneamento. Destas áreas de chácara,
a principal delas constitui-se da “Chácara dos Molenda”, uma antiga propriedade da
família Hoepcke.
151
Segundo Peluso Júnior (1991b), na evolução do plano urbano, a
divisão das chácaras aconteceu em função dos interesses de seus proprietários. O
mapa 3 — extraído de Dias (Jan/1948) — trata do centro urbano nos anos 1940 com a
identificação de subespaços urbanos num tempo em que a cidade apresentava um
conjunto de atividades mistas voltadas ao porto, no qual foram assinalados os
limites dos bairros da Praia de Fora e do Mato Grosso, onde havia chácaras e
vivendas dos comerciantes abastados
152
, e também, a principal área comercial que se
estendia pelo prolongamento das ruas Conselheiro Mafra e João Pinto.
151
Cf. Alberton (2006) e Abreu Júnior (2004), esta área foi adquirida por Carl Hoepcke no final do século
XIX, numa extensão de 20 mil m² com testada de frente à rua Bocaiúva, onde hoje se encontra o 14º
Batalhão de Infantaria do Exército e se estendia até a rua Presidente Coutinho. A frente estava no bairro
Praia de Fora e fundos no bairro Mato Grosso. A parte dos fundos foi loteada pela então proprietária
Meta Luísa Zipser (filha de Carl Hoepcke). A parte da frente foi vendida em 1962 para a UFSC implantar
a sua Reitoria. Atualmente, a propriedade pertence ao Exército, sendo que a casa e algumas árvores se
encontram protegidas por tombamento. A parte restante dos fundos do terreno foi vendida em vários
lotes e também serviu para a abertura das ruas Barão de Batovy (antiga rua Marechal Gama D’Eça) e
Santo Inácio Loyola, ambas perpendiculares à rua Presidente Coutinho. Foram lotes muito valorizados
para a época, situados em local nobre da cidade.
152
Cf. Moellmann (2002, p.127-128), “grande parte das residências aristocráticas da cidade pertenciam a
famílias alemãs, entre elas Wendhausen, Hackradt, Hoepcke, Horn, Vahl, Moellmann, Moritz, Müller,
Beckmann, Molenda, Ebel, Ehlke, Berenhäuser, Meyer, Stodieck, Scheidemantel, Leyendecker, Busch,
Loleit e tantas outras.”
101
102
A partir da década seguinte, a forte dependência econômica com o tráfego
marítimo desmantelou os auspícios de continuidade dos atacadistas descendentes
de alemães. O Golpe de 1964 culminou na extinção de diversos portos
brasileiros de médio porte, inclusive, o porto de Florianópolis e, com ele, a maior parte
das firmas atacadistas. Todavia, é preciso ater ao fato de que foram estes
atacadistas que inicialmente participaram da modernização da Capital catarinense,
tendo em vista que o seu referencial é eminentemente urbano como espaço de
realização político-social. Conforme observa Pesavento (1994) em relação a Porto
Alegre (RS), entende-se que os descendentes de alemães estabelecidos em
Florianópolis, ao lado de outras famílias de comerciantes de origem sírio-libanesa,
árabe e grega, construíram alguns dos principais prédios comerciais ou industriais na
cidade, onde se destacam, em especial, aqueles originários da firma Hoepcke, agora
ampliando a área comercial na rua Felipe Schmidt (Vide o anexo 5).
Consta no anexo 6 uma lista dos comerciantes contribuintes do bônus de guerra,
uma espécie de arrecadação federal na meta de 3 milhões de cruzeiros, rendendo um
juro de 6%, pagável semestralmente e resgatados os valores ao final da guerra, para
evitar a criação de novos tributos e cobrir os gastos com as forças armadas.
153
Embora
de contribuição oficialmente espontânea, muitas empresas se submetiam a doações
que pudessem afastar as negativas geradas pela guerra, principalmente os
descendentes de alemães e italianos. É possível perceber, através deste anexo, os
patamares dos capitais comerciais proporcionalmente às rendas dos mesmos, onde, no
topo da lista, destacavam-se os descendentes de alemães, seguidos de descendentes
de italianos, gregos, árabes, luso-brasileiros, etc.
Ao final da 2ª Guerra Mundial, quando empresas como Hering, Renaux e
Hoepcke
154
receberam embargos de funcionamento devido aos contatos com o exterior,
153
Dá conta deste dispositivo público o Decreto-lei nº 4789, de 05 de outubro de 1942, e o Decreto-lei nº
6516, de 22 de maio de 1944, aumentando as “obrigações de guerra” para Cr$ 6.000.000,00.
154
O Jornal A Gazeta (09/09/1943, p.02) anuncia que a partir de 15/09 os navios “Ana”, “Carlos Hoepcke”
e “Max” voltariam a incorporar a “Carlos Hoepcke S.A.”. Dá conta ainda do seguinte relato: “Funcionários
de diversas filiais, foram dispensados em conseqüência da falta de adaptação aos fins nacionalistas,
costumes foram modificados, até que enfim o governo, por si só reconheceu o valor desse importante
estabelecimento e assim é que resolveu que a Companhia Nacional de Navegação Hoepcke, que
encontrava sob completo controle e fiscalização do Departamento de Marinha, voltasse a ser incorporada
103
eram pólos comerciais regionais sob a forma de um comércio atacadista atuante,
segundo Mamigonian (1960), por ordem de importância, os municípios de Blumenau,
Florianópolis e Brusque. Contudo, em 1941, o número de fábricas e ramos de atividade
estava da seguinte maneira:
TABELA 3 - Número de fábricas nos municípios catarinenses em 1941
Município Número total Principais ramos de atividade
Biguaçú 45 Banha e farinha de mandioca
Blumenau 274 Fiação e tecelagem, metalurgia e produtos químicos
Brusque 402 Fiação e tecelagem, produtos químicos e cigarrilhos
Florianópolis 89 Pregos, móveis, rendas e bordados, ladrilhos
Joinville 243 Fiação e tecelagem, metalurgia, ambalite e celulóide
Nova Trento 216 Tecelagem, móveis, cadeiras de palha
Palhoça 85 Bebidas, latas para conserva
São José 35 Calçados
Tijucas 99 Calçados, móveis, malas, produtos químicos
Fonte: Boletim Comercial, dez/1941.
Com um total de 254 fábricas, somada a quantidade de fábricas em
Florianópolis, Biguaçú, Palhoça e São José, resulta-se em praticamente o equivalente
aos números de Joinville, porém, os padrões industriais e os seus tipos diferenciam a
competitividade do último. Nota-se ainda, o domínio no mercado florianopolitano das
indústrias Hoepcke de pregos, rendas e bordados.
Visto isso, abre-se o questionamento: A posterior evolução menos agressiva da
firma Hoepcke, resultou em parte dos efeitos da guerra (1939-45)? Ao analisar os
balanços gerais da firma “Carlos Hoepcke S.A. Comércio e Indústria” nos exercícios de
1942 e 1945, relativos ao fechamento do ano até 31 de dezembro, entende-se que os
valores proporcionais do ativo e passivo apurados pelo aumento de imóveis e
propriedades no ativo imobilizado passou a relatar o valor de Cr$ 35.851.988,44 para
Cr$ 62.099.098,70, ou seja, operando a firma com quase o dobro de capitalização no
balancete (Vide o anexo 7). Esta tendência à acumulação de imóveis e propriedades
reflete, neste instante, a falta de perspectivas nas atividades produtivas, até mesmo
à referida firma.” Esta etapa foi vencida com ARS assumindo a diretoria, além de dispensar indivíduos de
origem alemã, como o Barão Dietrich Von Wangenheim. Por conta disso, o Barão em sociedade com
alguns amigos, lançou a “Fundição Sapé S.A.” no bairro Estreito, funcionando de 1947 a 1986.
104
porque, os investimentos realizados a partir de então por Aderbal Ramos da Silva,
segundo consta em Tancredo (1998), convergiram para o café “Cacique” (no norte
paranaense), a compra de jornais e emissoras de rádio em situação cambaleante,
bancos, indústrias, imóveis e terras na ilha, auxílio beneficente a entidades esportivas e
religiosas, etc, assim, dessa maneira, orientados pela sua visão político-estratégica;
também um indício de que a Capital ficou estagnada por algumas décadas.
Conforme Schmitz (1991), o complexo vendeiro proporcionou condições para a
geração de casas bancárias catarinenses. No período de 1928-48 foram estabelecidas
oito casas bancárias a partir das cidades de Rio do Sul, São Joaquim, Blumenau,
Ibirama, Itajaí e Joinville. A fundação de bancos pela iniciativa de capitais
florianopolitanos estiveram mais rarefeitos — “Banco de Crédito Popular e Agrícola de
Santa Catarina” (1927), “Banco Mercantil e Industrial de Santa Catarina S.A.” (1943) e
“Casa Bancária Carl Hoepcke S.A.” (1948). Conforme Goularti Filho (2007), entre 1945-
62 o capital-dinheiro de capital-industrial e mercantil passa a se transformar em capital-
financeiro por meio de bancos, num período transitório para a fase de integração e
consolidação da indústria catarinense. A “Casa Bancária Hoepcke” (1947-52) foi
incorporada pelo “Banespa”, e o “Banco Nacional do Paraná e Santa Catarina”
(Nossobanco), também oriundo de capitais do conglomerado Hoepcke gerido por ARS,
passou a pertencer ao “Bradesco”. Neste ínterim, vigorou como o principal banco
catarinense o Banco “INCO” de Itajaí, através da retroalimentação dos capitais
mercantis e das alianças políticas dominantes firmadas a partir da referida cidade.
Sob a égide da 3ª dualidade, a economia artesanal de pequena produção ficou a
mercê das novas tendências comerciais devido ao desenvolvimento prioritário de um
grupo de atividades ou setor industrial a cada década (ciclos juglarianos). A contradição
fundamental nesta conjuntura nacional está na lenta decadência dos atacadistas no
modelo econômico anterior (2ª dualidade) que retardou os efeitos dos ciclos juglarianos
brasileiros em relação à região de influência da Capital, como também, pode-se dizer
que arremessou o desenvolvimento até a preconização das forças produtivas situadas
na faixa litorânea limítrofe da ilha, já que o rodoviarismo veio inicialmente sem ligações
com qualquer outro centro econômico, deixando a cidade de Florianópolis fechada
105
sobre si mesma no período de 1930-50, mas, ainda necessitando do sistema de
abastecimento (madeira, carne, etc) localizado nas áreas continentais da sua região.
No período Vargas, Santa Catarina foi governada por Nereu Ramos (1935-37 e
1937-45) que iniciou a ampliação do aparelho estatal criando quatro secretarias
estaduais sediadas na Capital, alavancando a divisão social do trabalho, através dos
recursos provenientes da folha de pagamento dos servidores públicos (MARCON,
2000). Contudo, os negócios florianopolitanos permaneceram praticamente os mesmos,
que, com a perda da hegemonia do capital comercial em relação à fachada atlântica
catarinense, não satisfizeram determinadas alterações na vida de relações, a não ser,
em que pese a redução de sua área de influência de Tijucas, ao norte, até Garopaba,
ao sul, esboçando o perímetro da Região Metropolitana de Florianópolis.
Entre 1950-60, assunto inicial do capítulo 3, principalmente durante o governo de
Irineu Bornhausen aliado a JK, promove-se uma outra fase de aparelhamento estatal,
conferindo à cidade de Florianópolis a atração de instituições públicas e privadas que
desembocaram numa classe média relativamente numerosa, captando incentivos de
outras áreas que proporcionaram um ambiente ideal a pequenos negócios, além da
chegada de filiais de outras capitais brasileiras.
106
3. A PRESENÇA DE DESCENDENTES DE IMIGRANTES ALEMÃES NA
ASCENSÃO DE ALGUNS GRUPOS EMPRESARIAIS
3.1 EMERSÃO DE CAPITALISTAS A PARTIR DO MEIO RURAL PÓS-1950
Na década de 1950, com a expansão da indústria de bens de consumo duráveis,
foram abertas em Florianópolis, entre 1950-52, quatro lojas de eletrodomésticos, seis
lojas de roupas exclusivamente femininas, incluindo “A Modelar” e “A Capital” (PELUSO
JÚNIOR, 1991b). A especialização do comércio coincidiu com o declínio dos
atacadistas situados nas ruas João Pinto e Conselheiro Mafra, dada a concorrência
local daqueles comerciantes estabelecidos em praças de maior movimento, como São
Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba e Porto Alegre (DIAS, jan/1948). Dentre as novas casas,
uma das mais duradouras, “A Modelar”, cujo proprietário
155
investiu no loteamento
Jardim Atlântico, conforme tratado anteriormente, atendia, na rua Trajano, a venda de
peles, roupas feitas, tecidos e tapeçarias catarinenses.
156
Em 1956, é iniciada a rede de
fiambrerias Koerich
157
, ao lado de filiais e representações em expansão nacional no
ramo de eletrodomésticos.
Em classificação dos cem principais municípios brasileiros, segundo a ordem de
valor das vendas no comércio varejista, Florianópolis, Blumenau e Joinville, ocuparam
as seguintes posições:
155
Jacques Schweidson veio do Rio Grande do Sul, instalando, na década de 1940, a loja “A Rainha da
Moda”, o que deu início a um conglomerado de lojas (“A Rainha da Moda”, “A Grutinha” e “A Modelar).
Criou o crediário organizado em Florianópolis.
156
Boletim Comercial, ago/1942; Jornal A Gazeta, 14/09/1943. Cf. Beirão Filho (2004), a loja “A Modelar”
funcionou até a década de 1990.
157
Em fevereiro de 1956, dois filhos de Eugênio Raulino Koerich, instalaram a primeira fiambreria no
Centro; em outubro, a segunda loja também no Centro; e sucessivamente, no Estreito, Rodoviária (av.
Mauro Ramos), Mercado Público, e a sétima filial, inaugurada em 1962, com uma estrutura de
supermercado. (Informações obtidas na entrevista junto a Antônio Obed Koerich. Florianópolis,
27/11/2007).
107
TABELA 4 - Classificação das cidades segundo ordem de valor de vendas (1955)
Colocação Município Número de
Estabelecimentos
Valor das vendas no ano
de 1949 (Cr$ 1.000,00)
43º Florianópolis 564 161.417
56º Blumenau 280 127.007
72º Joinville 315 106.317
Fonte: Boletim Comercial, jul-ago/ 1955.
Esses dados refletem uma certa fraqueza em relação às casas comerciais
situadas em Florianópolis, obtendo apenas uma média, em mil cruzeiros, de 286,20 por
estabelecimento, enquanto Blumenau e Joinville, em médias maiores, de 453,59 e
337,51, respectivamente. Isto possibilita pensar que Florianópolis apresentava uma
tendência de poucas empresas de grande e moderado porte na função de atacadistas,
dividindo o mercado local com uma maioria de pequenas empresas. Muitas destas
firmas comerciais surgiram da iniciativa de pequenos produtores que tinham como
objetivo propiciar à família melhores condições de vida e possibilidade de estudo para
os filhos, caracterizando os êxodos rurais na Região Metropolitana de Florianópolis.
Para tanto, este movimento foi possibilitado pela implantação do transporte coletivo
entre 1950-60 e pela construção da BR-101 (1953-71), demarcando a mobilidade de
tráfego entre as áreas comerciais, primordialmente na inserção de comerciantes nas
cidades de São José e Florianópolis.
158
A topografia de colinas suavemente inclinadas e amplos espaços vazios do
bairro Estreito, favoreceu a implantação do transporte coletivo ao lado de lojas de
médio e grande porte (BASTOS, 2002). Além da concentração populacional na ilha
deslocada até o continente imediatamente fronteiriço no bi-nucleamento com o
Estreito
159
, a partir dos anos 1950-60, este inchaço precipitado tanto pelas atividades
públicas quanto pelas privadas trouxe efeitos à região como um todo, dividida entre um
meio urbano litorâneo e um meio rural interiorano. Preparava-se uma ascensão sócio-
econômica através de um quadro diversificado de funções comerciais: no Estreito, com
158
Cf. Machado Neto (1954, p.202): “Além da orla marítima ou fluvial, o ponto de interrupção ou
cruzamento das vias de comunicação é sítio propício ao surto urbano, em virtude de sua importância
mercantil.”
159
O distrito do Estreito pertenceu a São José até 01 de janeiro de 1944, quando passou a integrar o
perímetro urbano de Florianópolis. Cf. Dias (jan/1948) ao final da década de 1940, o Estreito detinha 1/4
da população florianopolitana.
108
a presença de madeireiras, indústrias mecânicas, fundições, oficinas, latoarias e demais
unidades de serviços; em Campinas, por meio de madeireiras; e em Palhoça, com as
olarias, o que gerava uma concentração populacional de operários nessas áreas que,
segundo Marcon (2000), despontavam como embriões do processo de metropolização
de Florianópolis. Neste período, apresentaram maior prosperidade aqueles empresários
que souberam capitalizar um conjunto de pequenas atividades.
160
Afinal, a cisão do “alemão” feirante e negociante, já abordada no item 1.2.2, é
concomitante à abertura do complexo rural, resultando, segundo Rangel (2005), na
criação do mercado, através de uma múltipla corrente de intercâmbios entre distintas
unidades, sejam elas de serviços, residenciais, industriais e, sobretudo, particularmente
o comércio e os transportes, cuja função está em possibilitar tal intercâmbio. A abertura
do complexo rural corresponde à extinção dos vendistas rurais na região, constituindo
ainda na transferência de população e mão-de-obra, do setor agrícola para os demais.
O aumento da produtividade no complexo agrícola, também é um dos seus efeitos de
longo prazo. A reestruturação no meio rural da região (enfocada no final do item 1.2)
em sistema agrícola (com especializações) e pequenos negócios proporcionou às
áreas limítrofes ao centro urbano de Florianópolis tais mudanças. Portanto, este
movimento rural-urbano se caracteriza pela transferência de indivíduos para os centros
urbanos gerando um crescimento da população induzido pelo aumento das atividades
do funcionalismo público, formando um mercado interno consumidor, tendo o centro
urbano de Florianópolis como o núcleo convergente dos maiores recursos monetários
em circulação.
161
Contribuem também para esta ampliação do mercado interno
consumidor as dificuldades do comércio externo, que favoreceu o desenvolvimento do
comércio entre as diferentes unidades da federação, iniciando um movimento de
divisão social do trabalho.
Na leitura de Bastos (fev-mar/2000), entende-se o desenvolvimento do bairro
Estreito enquanto um “divisor de águas” no contexto da decadência do comércio
tradicional ilhéu ligado ao porto (tratado no capítulo 2), e do dinamismo da pequena
160
Jorge Brüggemann, por exemplo, saiu de Santo Amaro da Imperatriz até o Estreito em 1960,
montando um comércio de cereais. Em 1965, no mesmo ponto comercial iniciou o hotel e um posto de
combustíveis (BASTOS, 1997), ainda existentes, além de um hotel de praia.
161
Cf. Dias (jan/1948), o triângulo insular circunscrito pela avenida Mauro Ramos possuía a população
mais favorecida.
109
produção mercantil da área continental influenciada pela origem colonial alemã, além
dos impulsos econômicos engendrados pelo desenvolvimento industrial que vivificaram
a Capital catarinense. É a partir da base comercial do Estreito que a parte continental
passa a apresentar a vitalidade da pequena produção mercantil através de um
complexo de unidades de novo tipo em bairros comerciais e/ou residenciais,
gradativamente justapostos ao principal corredor viário da Região Metropolitana de
Florianópolis, ou seja, no cruzamento das rodovias BR-101 e BR-282, que favoreceram
a expansão de vários núcleos urbanos situados no continente, nas proximidades da
Capital.
162
A partir da década de 1950, segundo Dias (jan/1948), o fenômeno de grandes
áreas recém-loteadas, rapidamente adquiridas por especuladores que aguardavam a
alta de preços determinada pela pressão das necessidades urbanas, é mais acentuado
na parte continental. Os setores ligados à construção civil retomam os investimentos de
longo prazo através das facilidades de financiamento dos planos governamentais,
confirmando a existência de uma 4ª renda voltada à valorização de terras tanto em
balneários quanto em centros comerciais e moradias para a classe média, localizadas
na periferia próxima da ilha. Nesse sentido, entre os anos 1950-80, definem-se como
faixas de expansão do crescimento habitacional-comercial, em ordem gradativa, o
Centro, os bairros do Estreito, Capoeiras, Campinas, Kobrasol e Ponte do Imaruim, nos
quais houve uma expressiva participação de comerciantes de origem alemã na
condução do desenvolvimento sócio-econômico local.
Para analisar a conjuntura econômica que favoreceu este polinucleamento
comercial, principalmente, entre Florianópolis e São José, é preciso entender o
processo de formação de capitais a partir de sua origem rural, a fim de que se possa
notar os graus de diferenciação na constituição empresarial que vem sendo abordada.
O mapa 4 registra os municípios de origem dos empresários descendentes de alemães
que foram analisados.
162
Cf. Bastos (out/1999), o polinucleamento urbano em tal cruzamento viário (anos 60), além da
construção da ponte Colombo Machado Salles (anos 70), permitiu o alongamento comercial das avenidas
Fúlvio Aducci, Santos Saraiva e Max Schramm (Estreito) com Ivo Silveira (Coqueiros) e com Leoberto
Leal (Barreiros), Lédio João Martins (Kobrasol) e Presidente Kennedy (Campinas), que continua pelos
bairros residenciais da Praia Comprida, Centro de São José, Ponte do Imaruim (Palhoça) e que vai até
Santo Amaro da Imperatriz ao sul. No seu lado oeste, a BR-101 realiza a conexão urbana entre Palhoça,
São José e Biguaçú.
110
111
O aperfeiçoamento capitalista pela convivência com os hábitos de poupança e
negociação dentro da família, conforme foi apontado no final do capítulo 1, ressaltando
um diferenciado sistema de heranças originou a via americana de ascensão social, à
qual a pesquisa associou os mais destacados empresários de descendência alemã na
região. Estes novos empresários, segundo Bastos (2000), praticamente não possuem
nenhuma ligação com a estrutura comercial anterior. No item 3.2, verifica-se os ciclos
juglarianos como ondas de progresso e de que maneira foram aproveitadas pelo
conjunto de doze conglomerados, empresas ou famílias de empresários analisados.
Na seqüência, são apresentados os doze casos (vide algumas ilustrações no
anexo 8), contendo, entre parênteses, o ano de nascimento da empresa,
acompanhado da relação dos locais de origem familiar com os bairros a que se
destinaram para as atividades comerciais e a caracterização do sistema de
herança/sucessório:
a) Indústria de Bebidas Leonardo Sell (1905) – pertencente à única família não-
católica (evangélica luterana)
163
pesquisada, que também permaneceu no
mesmo local de origem. O quarto de seis filhos de um artesão-cervejeiro, Alfredo
Sell, assumiu sozinho a empresa e funções políticas durante a década de 1960.
Mais tarde deixou o filho Arno como herdeiro, gerando dois filhos que
descenderam três primos, que atualmente administram a indústria de bebidas no
mesmo local de início, no município de Rancho Queimado. A divisão acionária
aconteceu na década de 1990, tendo a partilha da unidade de Imbituba (uma
distribuidora de bebidas) que veio a falir e a fábrica em Rancho Queimado.
164
b) Empresas Koerich (1929) – como vendista que alcançou a indústria de
processamento de carnes na Colônia Santana (São José), Eugênio Raulino
Koerich com os seus quatro filhos-homens, instalou uma casa comercial no
Centro de Florianópolis — motivado pelo fato de que os filhos estudavam na
163
O Censo Demográfico realizado pelo IBGE em 2000, aponta um certo equilíbrio entre católicos (1425)
e evangélicos (1117) na população residente de Rancho Queimado. Nos demais municípios da região,
prevalece uma proporção maior de católicos em relação aos evangélicos.
164
Coelho (2002); Entrevista concedida à autora por Sérgio Sell. Rancho Queimado, 05/12/2007.
112
Academia de Comércio
165
—, de onde se espalhou pela fachada atlântica
catarinense através de várias lojas. Em 1975, o grupo Koerich se associa com
Cassol e Brasilpinho para criar o bairro Kobrasol
166
. O grupo Koerich manteve-se
unido após o falecimento do fundador em 1979. Em 1993, ocorreu a cisão
consensual das empresas do grupo entre cinco dos onze filhos.
167
c) Grupo Müller (1946) – natural de Antônio Carlos, Francisco Júlio Müller deu
início ao grupo, em 1946, através de uma venda de “secos e molhados” em
Ituporanga. A sociedade com o irmão Júlio Müller Filho começou em 1959, com
a instalação de outra venda no município de Lages. Depois, os negócios se
expandiram (09 empresas) para várias cidades, tomando a trajetória a começar
pelo Oeste, Meio Oeste, Vale do Itajaí, região de Florianópolis e Sul do Estado,
que decresceu a partir de 1989. Herdaram a loja “A Barateira”, na rua João Pinto
(Florianópolis), única unidade que restou de todo o grupo, dois filhos dos irmãos
fundadores.
168
d) Grupo Philippi (1950-60) – nascido em Águas Mornas, Jair Philippi, cujos avós
foram vendeiros e locadores de pastagens em áreas situadas entre o litoral e o
Planalto, herdou os negócios pecuaristas e madeireiros da família. Em 1965,
associa-se com o irmão Rogério e, em 1969, com um cunhado, o que auxiliou na
ampliação dos negócios para fora de Bom Retiro. As atividades de serraria entre
Santa Catarina e Paraná renderam diversificações em vários setores de
165
Antônio Obed Koerich salienta que tanto ele como os irmãos sabiam que se ficassem na Colônia
Santana (São José) não cresceriam. Por isso, o estudo na Capital motivou uma nova frente de trabalho
para se mudarem de lá (Entrevista concedida à autora. Florianópolis, 27/11/2007).
166
Cf. Luz Júnior (2003), o bairro Kobrasol (1975) visava à ampliação da capacidade de residências para
atender aos trabalhadores do Distrito Industrial de São José implantado um ano depois do Kobrasol. A
definição da área industrial foi viabilizada pelo governo estadual através da Companhia de Distritos
Industriais de Santa Catarina (CODISC). Cf. Pereira (1997F) houve uma licitação estadual para conceder
a implantação do bairro Kobrasol, vencendo o grupo de empresários Koerich, Brasilpinho e Cassol,
favorecidos pelos contatos de Adroaldo Pedro Cassol, como sócio e tesoureiro do Aeroclube de Santa
Catarina, sediado no maior montante de área do referido local.
167
A trajetória do empresário... Ibidem (2001); Pereira (1999F); Endereço eletrônico
<http://www.koerich.com.br/empresa.php>; Koerich (1996).
168
Grupo Müller. Uma história de sucessos (1993); Entrevista concedida à autora por Artur Alex Muller.
Florianópolis, 28/11/2007.
113
atividade. Atualmente, além dos fundadores, seus filhos e netos se dedicam a
gerir empresas dentro do grupo ou de capital separado.
169
e) Família Scherer (1950-60) – vindo do interior do Rio Grande do Sul, onde já
atuava na extração madeireira, Antônio Scherer (pai) instalou no bairro de
Campinas (São José) a “Madeireira Brasilpinho”, na mesma época da
“Madeireira Cassol”, ou seja, entre 1958-1965. Esta última, ingressou também
no ramo de materiais de construção. A “Madeireira Brasilpinho” permaneceu no
mesmo endereço, próxima da av. Presidente Kennedy, tendo como sócio Lédio
João Martins. Em 1980, mudou-se para o bairro Aririú (Palhoça). Além de ter
participado do grupo Kobrasol até 2005, e ainda sendo sócio do grupo Koerich
no “Beiramar Shopping”, atualmente Antônio Scherer (filho) possui uma
construtora e uma academia de ginástica localizada no mesmo shopping, em
sociedade com o seu filho nadador Fernando Scherer e um outro filho.
170
f) Lojas Dominik (1951) – Domingos José Reitz, nascido em Antônio Carlos, dono
de alambique e, em seguida, de oficina mecânica, montou a “Vulcanização
Reitz” em Biguaçú. Mudou-se para Curitiba (PR) retornando para fundar a
empresa na av. Santos Saraiva (Estreito), em 1951, e no Roçado (São José) em
1979. Pai de doze filhos em dois casamentos, na maioria empresários, apenas
os dois mais velhos ficaram com as duas unidades, partilhando o patrimônio em
1975, antes do falecimento do fundador, resultando atualmente em três sócios
(netos do fundador) na unidade de São José, às margens da BR-101.
171
g) Gerber Móveis (1951) – Antônio Jonas Gerber, nascido em São José, filho de
uma professora viúva, mudou-se com a família para Lages, onde aprendeu o
ofício de estofaria. Fundou pequena fábrica de colchões de crina com manta de
algodão na av. Fúlvio Aducci (Estreito). Sem concorrência nos primeiros trinta
anos, cresceu em razão da qualidade dos produtos de fabricação própria, com
169
Informações de Jair Philippi prestadas à autora ou contidas na entrevista O Menino que venceu os
campos e as trilhas perigosas da serra. O moderno empresário conselheiro da FIESC. Revista História
Catarina. vol. IV, n.4. Lages: Editora Leão Baio, jul/ago/set 2007.
170
Pereira (1997F); Secretária Cristiane – Beiramar Shopping, e Kobrasol Empreendimentos Imobiliários
Ltda (Informações verbais, 2007); Endereço eletrônico <http://www.acif.org.br/acif/expresi
dentes.php>.
Faltam mais detalhes, pois, Antônio Scherer (filho) não aceitou responder a entrevista.
171
Informações obtidas através da entrevista concedida à autora por Rafael Reitz. São José, 22/11/2007.
114
duas unidades de venda, no Estreito e no Centro. Os três filhos trabalham em
conjunto com o fundador.
172
h) Família Kretzer (1966) – iniciaram as atividades com um atacado em São Pedro
de Alcântara (hoje um supermercado), que se tornou um atacadão de cereais às
margens da BR-101 em São José, e depois distribuidora de alimentos para 98
municípios, num raio de 200 Km entre Lages e o litoral. O fundador, Sisínio
Leopoldo Kretzer, deixou na década de 1990 a administração da distribuidora
aos dois filhos (Zulmar e Zuri). Através do parentesco de primo, há ainda um
conglomerado que responde pelo frigorífico Kretzer, pelas unidades do “Mercado
de Carnes Kretzer” (em alguns bairros de São José e Florianópolis) e pelo
Diaudi Hotel (Kobrasol).
173
i) Família Nienkötter (1960-70) – natural de Anitápolis, o patriarca da família
ascendeu de agricultor a vendista e, mais tarde, percebeu a possibilidade de
investir no transporte de pessoas até Florianópolis, construindo com os filhos um
ônibus completo. Mudou-se para Florianópolis com os sete filhos para que os
mesmos estudassem. Montou a “Auto Viação AGN”, com linhas de ônibus em
Paulo Lopes, Garopaba e Angelina. O quarto filho, Aldo Nienkötter, como
funcionário público economizou para investir em negócios (duas indústrias de
plástico) no bairro Estreito. Atualmente, possui um conglomerado formado por
uma rede de postos de combustíveis (cinco), um centro comercial em
construção no bairro Capoeiras e a representação brasileira das motos chinesas
Dayang. Dois de seus irmãos também prosperaram independentes: um,
proprietário de duas empresas de transporte coletivo (“Jotur” e “Paulotur”) e o
outro, no ramo de automóveis, tendo começado com uma empresa de
recauchutagem de pneus, possui hoje as revendas “Repecon” FIAT e Renault. O
patriarca procurou dar autonomia aos filhos para que se tornassem empresários,
172
Informações obtidas na entrevista concedida à autora por Fabiano L. Gerber. Florianópolis,
07/12/2007.
173
Endereço eletrônico <http://www.kretzer.com.br/kretzer/inst_historia.
php.>; Mercado de Carnes Kretzer (Informação verbal, 2006). Faltam detalhes, porque Zulmar Kretzer
não aceitou prestar a entrevista.
115
porém, os mesmos tomaram iniciativas individuais sem formarem um único
grupo.
174
j) Família Deschamps (1964) – os irmãos Osvaldo
175
e Dionísio Deschamps, são
filhos de agricultores que produziam cachaça, açúcar e fubá em São Pedro de
Alcântara. Com a rentabilidade de duas colheitas de batata e arroz bem-
sucedidas num terreno de planície sem geadas, auxiliadas por um engenheiro
agrônomo alemão conhecido por “Dr. Rob” — o que confirma a iniciativa do
governo estadual introduzindo técnicos alemães na década de 1960 para
orientar os agricultores — mudaram-se para Capoeiras onde construíram 30
casas baixas para vender e, em seguida, no bairro Kobrasol. Os dois irmãos
trabalharam juntos por algum tempo. Em 1983, Osvaldo dá início a uma
construtora própria acompanhado por dois de seus filhos, sendo hoje
proprietário das construtoras Deschamps, RNO e RDO. Na construtora Dionísio
Deschamps, por sua vez, trabalham, além do proprietário, um casal de filhos.
176
k) Supermercados Imperatriz (1974) – Vidal Procópio Lohn, cujo pai possuía uma
venda de “secos e molhados”, tornou-se atravessador no entreposto da serra,
vendendo açúcar mascavo, cachaça, polvilho e trazendo para o litoral a farinha
de trigo Caturrita. Sem herança alguma e pai de onze filhos, abriu o primeiro
supermercado de 100 m² de área, em 1974, no centro de Santo Amaro da
Imperatriz, e o segundo, logo depois, em 1976, na Ponte do Imaruim (Palhoça).
Em 1985, faleceu o fundador. Em 1989, na partilha dos bens, a rede de
supermercados ficou para seus seis filhos, sendo que um outro ficou com um
atacado, outro ainda com um ponto comercial na CEASA, enquanto as três filhas
assumiram outras atividades.
177
l) AM Construções (1978) – do interior de Águas Mornas, Antônio Hillescheim, o
mais novo de onze filhos, sozinho e com apenas 17 anos, resolveu se mudar
para Florianópolis, na tentativa de aprender a função de pedreiro. Trabalhou em
várias empresas ligadas ao setor da construção civil que atuavam nos bairros de
174
Informações obtidas na entrevista concedida à autora por Aldo Nienkötter. Florianópolis, 08/12/2007.
175
Cf. Deschamps (2001), Osvaldo Deschamps negociava gado com os municípios de Lages (SC) e
Pelotas (RS), tendo ainda um comércio ambulante em São Pedro de Alcântara.
176
Informações obtidas na entrevista concedida à autora por Dionísio Deschamps. São José, 06/12/2007.
177
Informações obtidas na entrevista concedida à autora por Vidal Lohn Filho. São José, 23/11/2007.
116
Coqueiros, Centro e Trindade. A “Emedaux” foi a última empresa em que
trabalhou. Construiu as primeiras casas baixas em Capoeiras, depois, passou à
incorporação de prédios em Campinas e no Kobrasol. Lançou o primeiro edifício
residencial de doze andares no Kobrasol, além do maior prédio em área
construída nos bairros de Campinas e Praia Comprida, e do primeiro prédio de
15 andares em Palhoça. Hoje, além do proprietário, trabalham na empresa seus
dois filhos.
178
Cabe destacar ainda, que todos os fundadores das empresas tratadas tiveram
que aprender novas atividades para realizar a transição campo-cidade. O capital inicial
advém da pequena produção mercantil, acrescido de capital proveniente de outros
negócios. É preciso destacar que em muitos casos não houve herança de família. Uma
significativa parcela das empresas teve suas origens ligadas ao comércio de São José,
e atualmente mantém a matriz ainda no mesmo município. Há um empate numérico
entre os que iniciaram suas atividades como artesãos (Sell, Gerber e Dominik) e os que
tiveram que aprender uma nova profissão (Nienkötter, Deschamps e AM). Observa-se
um predomínio daqueles que iniciaram com o comércio de “secos e molhados” ou como
ambulantes ou ainda pequeno-atacadistas nas áreas rurais (Koerich, Müller, Kretzer e
Imperatriz), contra uma minoria que assumiu os negócios herdados da família (Scherer,
Sell e Philippi). Apenas para Philippi e Müller, constituíram-se sociedades duradouras
entre irmão e/ou cunhado na primeira geração que empreende o negócio. Quando bem-
sucedida, a união familiar de irmãos permitiu na segunda geração, a realização de
planos mais auspiciosos a partir da empresa iniciada pelo pai, o que resultou em
conglomerados, como é o modelo de Koerich, Müller, Philippi e da rede Imperatriz. De
um modo geral, a hierarquia etária dos filhos não se tornou a principal prerrogativa na
sucessão administrativa dos negócios, visto que os atributos e as qualidades pessoais
no trato com a empresa foram também valorizados. Todavia, nem todos os filhos foram
contemplados pela herança da empresa.
Nos doze casos citados, percebe-se que a homogeneidade social do meio rural
garantiu as condições materiais para a sua realização no seio da sociedade antiga
178
Informações obtidas na entrevista concedida à autora por Antônio Hillescheim. São José, 23/11/2007.
117
(luso-brasileira) assim que amadureceram as condições materiais no aparecimento de
novas relações de produção ou, mais precisamente, quando a pequena produção
mercantil de origem alemã acabou criando meios de se inserir no contexto urbano,
através da mutação de cada indivíduo em trabalhador rural para negociante. Adotou-se
a nomenclatura de “família” para Scherer, Kretzer, Nienkötter e Deschamps porque
nesses casos não se estabeleceram grupos ou conglomerados integrados.
É importante ressaltar que os hábitos de negociação geraram uma distribuição
de renda tal que dava margem a uma pequena acumulação entre alguns produtores.
Detecta-se uma diferenciação de base familiar que aponta para a existência de uma
“cultura empresarial”, independentemente da conformação apresentada pelo sistema
sucessório ou de heranças, pois, geralmente ocorre mais de um processo de
capitalização individual dentro da mesma família.
Vale entender que o papel dos empreendedores está no diferente emprego da
oferta de meios produtivos existentes no sistema econômico que, na Região
Metropolitana de Florianópolis, é dotado de uma pequena produção mercantil
internalizada e sem uma base latifundiária atuante, condições estas que são favoráveis
à formação empresarial. Mas, esta interpretação expressa apenas uma visão
shumpeteriana
179
, relacionando o empreendedor como portador das mudanças
econômicas através da realização de algo novo?
Na verdade, os empresários investigados detiveram gradualmente os meios de
produção e, nesta condição, é que introduziram as inovações em termos da construção
civil, novas unidades comerciais, diferentes produtos de venda, promoções, crediário
próprio, marca, etc, ou seja, não se trata apenas de um pioneirismo que vem a
prosperar alavancando a empresa. Dessa forma, os meios de ascensão se situam no
plano da formação de capital, assim como a permanência comercial de trinta até mais
de cem anos é fruto de uma manutenção econômica somada ao aproveitamento das
oportunidades de incentivo público (ciclos juglarianos e planos de governo).
179
Schumpeter (1982) aborda o desenvolvimento por meio da introdução de novas combinações
diferenciadas em materiais e forças, métodos de produção, abertura de mercado, conquista de nova
fonte de matéria-prima ou estabelecendo uma nova indústria. Tais combinações formariam processos de
descontinuidade no curso dos acontecimentos, que explicam a situação de indivíduos e famílias
ascenderem e decaírem econômica e socialmente, no mecanismo de formação das fortunas privadas.
118
Entende-se que a maioria de indivíduos médios no meio rural limítrofe a
Florianópolis e a reestruturação do sistema de abastecimento agrícola da região
geraram condições favoráveis para este empreendedorismo recente.
Entre 1960-80, políticas de investimento e de financiamento implantadas pelos
governos militares deram uma nova força ao empresariado local, acelerando a
modernização e implantando novos serviços. Estas conjunturas propícias são
beneficiadas por um comportamento empresarial de reinvestimento do capital em outros
ramos de atividade, numa espécie de movimentação centrípeta que incide sobre o
aglomeramento urbano de Florianópolis e São José, o que caracteriza os empresários
que emergiram da pequena produção mercantil como altamente capitalistas, portanto,
bem mais do que inovadores/pioneiros.
3.2 TRAJETÓRIAS DE DIVERSIFICAÇÃO DOS “ALTO-CAPITALISTAS”
No Brasil, a cada década os esforços de criação de um setor industrial ao longo
dos ciclos médios (ou juglarianos) são impulsionados por mudanças institucionais
necessárias ao ajuste da sociedade e da economia à conjuntura mundial, capazes de
responder com rapidez ao centro dinâmico capitalista (MAMIGONIAN, 2000). Mais
regulares do que no resto do mundo, os ciclos juglarinos promovem a substituição de
importações setor a setor, escalonadamente (RANGEL, 1985). O preço da terra, ainda
conforme Rangel (1987), varia em função da conjuntura do ciclo juglariano brasileiro.
Seu preço sobe nas fases recessivas do ciclo (1921-25/1930-34/1951-54/1962-
67/1973-77), período também de retração dos negócios, porém, de preparação à
próxima fase ascendente, agindo tanto na mercantilização da terra (4ª renda) como na
incorporação do mercado, através das inovações tecnológicas que incidem sobre tais
áreas de terra, tornando-as, nas cidades, bens imóveis comerciais, industriais ou
residenciais.
As conjunturas dos ciclos juglarianos, isto é, os indícios econômicos em seu
estado momentâneo que provocam a acumulação capitalista, também ligados às
modificações na estrutura comercial, geram a alta de preços somente durante uma
119
superprodução agrícola (ARRUDA, 1980), por isso as conjunturas estão relacionadas
ao comportamento da pequena produção mercantil, no sentido de que as iniciativas
empresariais acompanham a recuperação e a expansão do ciclo, através de capitais
voláteis no meio urbano. Com efeito, os ciclos juglarianos promotores das atividades
dos novos empresários que emergem das áreas rurais na Região Metropolitana de
Florianópolis, iniciam-se com o setor madeireiro que viabilizou um conjunto de
possibilidades em negócios de consumo melhorados década a década.
Da década de 1950 até o final dos dois decênios de regime militar, o governo
federal promoveu, através do Instituto Brasileiro para o Desenvolvimento de Florestas
(IBDF), concessões florestais e exploração madeireira como incentivo ao plantio de
pinus e eucaliptus, a fim de elevar o crescimento habitacional nas cidades. Com as
empresas “Reflorestadora Scherer Ltda”, “Empreendimentos Massiambú Ltda” e
“Madeireira Brasilpinho Ltda”, Antônio Scherer obteve a concessão de terras da
Pinheira (Palhoça), bem como de outras áreas catarinenses e gaúchas que permitiram
a capitalização em outros negócios, além da reserva de terras nos bairros de Campinas
e Kobrasol, que atendiam aos limites geográficos na distribuição de madeira
beneficiada a Florianópolis. Este levante que permitiu a ascensão de madeireiros à
condição de capitalistas no setor de materiais de construção na Região Metropolitana
de Florianópolis, quando houve o esgotamento de pinheiros no planalto serrano,
também conta com Cassol
180
, Philippi, Capistrano, entre outros. O esgotamento
madeireiro também teve reflexos sobre a migração de dezenas de bom-retirenses que
acabaram se tornando empresários no município de São José.
181
O Grupo Philippi constitui-se de uma ampla diversificação de capitais, tanto em
nível de cidades de influência quanto em meios de produção e atividades envolvidas.
Inicialmente com madeireiras no Paraná e Santa Catarina, abriu duas novas
madeireiras em Florianópolis (1957). Entre 1965-77 atua com a exportação de madeira
através do Porto de Itajaí, para o hemisfério Norte e Argentina, e containeres de
exportação — empresa na qual o cunhado de Jair Philippi ainda continua em Itajaí —,
180
Oriundo do interior de São José, Adroaldo Pedro Cassol iniciou as suas atividades através de uma
pequena madeireira situada no município de Urubici (Eles marcaram uma época. Jornal Notícias do Dia,
20/09/2008).
181
Como alguns exemplos, é possível citar Germano Vieira (madeireiro) e os proprietários das empresas
“Eletromeris Buratto”, “Eletro Possenti”, “Tevelândia”, “Casvig”, etc.
120
entrando no ramo de materiais de construção somente em 1968. Além das lojas
“Philippi S.A.” de materiais de construção entre alguns bairros de São José e
Florianópolis, o grupo investiu na comercialização das máquinas Walmet em 1970,
fábrica de esquadrias de madeira no município de Camboriú (1971), beneficiadora de
madeira em Santa Cecília, concessionária de automóveis “Phipasa” Fiat (1976), e, por
último, expandiu para a construção civil na Região Metropolitana de Florianópolis,
com a “Phiel Construtora e Imobiliária” (1978) e “Protensul Pré-fabricados de
Concreto” (1991). O mapa 5 permite observar o direcionamento espacial da Protensul.
Com a reserva de terras na serra, produz maçãs e madeira para exportação, resultando
de 500 a 600 contratados nas colheitas. O grupo apresenta um total fixo de 700
funcionários.
182
Como reflexos da política de substituição das importações de bens duráveis,
assim como as “lojas Philippi S.A.” de materiais de construção, também as “lojas
Santa Maria” (1962)
183
e as “lojas Koerich” (1964) de eletrodomésticos, colaboraram
na departamentalização das casas comerciais na região central de Florianópolis.
Segundo Bastos (2002), com o amadurecimento das indústrias de bens duráveis
(automóveis, geladeiras, televisores, etc) acontece a aceleração do desenvolvimento
das infra-estruturas de transporte rodoviário, comunicações, eletricidade, etc, onde a
atividade comercial assume papel central na urbanização. Na década de 1970, foi a vez
das “lojas LPO” (lojas Pereira Oliveira)
184
também despontar entre as iniciativas locais.
Os anos 1980
185
marcaram o ingresso de outras redes de lojas locais, como a
“Móveis Silva”, numa fase de concorrência acirrada entre as empresas locais e as
182
Bastos (1997); Entrevista com Jair Philippi. In: O Menino que venceu... (2007).
183
Cf. Bastos (1997), as lojas Santa Maria, que decaiu na década de 1980, foi fundada pelo descendente
de alemães José Lino Schappo, filho de agricultores de Antônio Carlos.
184
A LPO iniciou em 1945, representando jornais, pasta de dente, sabonete e materiais de limpeza. Após
oito anos de funcionamento, vendia geladeiras Frigidaire, bicicletas e aparelhos elétricos (Eles marcaram
uma época. Jornal Notícias do Dia, 20/09/2008).
185
Cf. Pereira (1997F), nos anos 1980, as lojas Koerich chegaram a operar com 49 filiais distribuídas pela
fachada atlântica catarinense. De acordo com o filme “Koerich 50 anos. Uma história de sucesso” (2005),
a primeira loja fora de Florianópolis foi inaugurada em Itajaí, seguida da de Joinville. Depois, Criciúma,
expandindo-se por Araranguá, Içara, Orleans, e Tubarão, abrindo também Laguna, Imbituba, Garopaba,
voltando ao norte para Jaraguá do Sul, São Francisco do Sul, Garuva, Maçaranduba, Guaramirim,
Blumenau, Brusque, Balneário Camboriú e retornando à região em São José, Palhoça, São João Batista
e Tijucas. Para entrar em novos mercados, contava com sutilezas na propaganda valorizando as
regionalidades das áreas do sul, vales catarinenses ao norte e Florianópolis.
121
122
filiais de outras regiões brasileiras.
186
Destas empresas regionais, em termos de rede
lojista, atualmente restam apenas as “lojas Koerich”. Então, quais razões justificariam a
sobrevivência das “lojas Koerich” ?
Entre 1984-85 a “lojas Koerich” estava entre as dez maiores empresas privadas
da Região Metropolitana de Florianópolis em termos de receita operacional líquida,
ativo operacional, patrimônio líquido, lucro líquido, capital social integralizado,
desempenho e número de funcionários (KOERICH, 1996). A diversificação das lojas do
grupo em segmentos de mercado (“Koerich”, “Dular” e “Kilar”), as promoções de sorteio
de automóveis (“Plano Sorte Koerich”) desde quando foram implantadas as lojas de
eletrodomésticos, apresentaram ao público consumidor um novo padrão de marketing e
fidelização de clientes. Viabilizou-se o sorteio de automóveis através de duas empresas
— em 1968, é lançada a “Koesa”, uma revendedora Volkswagen e, em 1969, o
“Consórcio Koerich”, com linha de financiamento diretamente com a empresa. Nas
últimas décadas do século XX, porém, o processo inflacionário levou o governo
brasileiro a adotar planos econômicos que, por seis vezes, mudaram a moeda
brasileira. Estas medidas acabaram afetando o crediário, devido aos elevados índices
de inflação e de inadimplência. Contudo, o crediário próprio das “lojas Koerich”
permaneceu disponível aos seus clientes, tendo em vista que o grupo Koerich garantiu
a sua reserva de mercado apoiada nos reinvestimentos em outras atividades, tais como
a sociedade na indústria “Macedo Koerich”
187
, o bairro Kobrasol, as construtoras
“Kobrasol”
188
, “Zita”, “Koerich” e “Koprime”, “Kimoto”, “PRK Engenharia”
189
, “Beiramar
186
A rede de lojas “Germano Stein”, por exemplo, originária do capital mercantil de pequena produção de
Joinville, resultando, inclusive, numa casa bancária, operou em Florianópolis até que foi incorporada
pelas lojas Colombo em 1985 (BASTOS, 1997).
187
Cf. Alperstedt (1994), a Macedo Koerich iniciou em 1973, produzindo 300 frangos/dia, atendendo
restrita à Região Metropolitana de Florianópolis. Em 1994, a capacidade é bem maior, abatendo 48000
frangos/dia, e operando com 600 funcionários. O mercado se expandiu, em ordem cronológica, pelo
Litoral, Região Serrana e Vale do Itajaí, possuindo centrais de distribuição nos municípios de Lages,
Joinville e Içara.
188
Entre as obras executadas pela “Kobrasol Empreendimentos Imobiliários Ltda” estão o Fórum de São
José, o Beiramar Shopping, o Estádio da Ressacada, o Centro Empresarial Terra Firme e o Spazio Uno
(no bairro Itacorubi, em Florianópolis). Para se ter uma idéia da sua rentabilidade, somente o Centro
Empresarial Terra Firme, registrou, entre 2005-2007, uma valorização imobiliária de 54% (Endereço
eletrônico <http://www.softplan.com.br/siege/cases.do?id=2>).
189
Cf. Gevaerd (2002), em Florianópolis, a PRK Engenharia é iniciada em 1975. Depois, transfere-se
para São José, como “Koerich Telecomunicações Ltda”. Em 1991, assumiu significativa participação no
Programa Comunitário de Telefonia da Telesc (PCT), com atuação em todo o território catarinense,
implantando cerca de 130 mil terminais telefônicos em 105 municípios. Até 1998, o primeiro grande
123
Shopping”, entre outros. A rede de “lojas Koerich” teve a sua expansão interrompida em
vários momentos, com a estratégia de crescimento dos seus mercados em imóveis
próprios e não a diversificação da loja (KOERICH, 1996). Além disso, a falência durante
a década de 1990 de redes como a “Hermes Macedo”, “Disapel” e “Zommer”, abriu o
mercado para as lojas regionais de eletrodomésticos (SCHMITZ, 2007). A “lojas
Koerich” possui o mérito de ser, por treze anos consecutivos, a loja mais lembrada no
Estado (prêmio Top of Mind - ADVB/SC)
190
e líder em vendas entre as regionais que
atuam na Região Metropolitana de Florianópolis. O mapa 6 demonstra as filiais mais
recentes das lojas Koerich integrando a fachada atlântica catarinense.
O comércio florianopolitano, sobretudo, a sua região metropolitana como um
todo, encontra sintonia com os ciclos juglarianos das décadas de 1950 a 1970, em
vistas do fator de valorização de terras na fase recessiva de cada ciclo, momento no
qual cada empresário se vê obrigado, neste intercurso de quatro ou cinco anos (período
que também delimita uma gestão pública), a buscar de informações sobre os projetos
de expansão viária pela iniciativa das prefeituras municipais. Para combinar os
interesses privados com o direcionamento dado por obras de urbanização, os
comerciantes descendentes de alemães
191
, além de outros nomes
regionais — “Cassol”, “Casas da Água”, “Dimas”, “Eletro Santa Rita”, “Cota”, “Ibagy”,
“Brognoli”, etc
192
—, aproveitaram os momentos de expansão nos bairros Estreito,
Kobrasol e Campinas, concorreram a licitações públicas, mantiveram um estoque de
terrenos em reserva, agilizaram os pedidos de viabilidade e o aumento no gabarito de
momento da empresa foi a responsabilidade de todo o processo produtivo, desde a comercialização dos
terminais até a sua efetiva instalação, quando também já atuava implantando estações telefônicas no Rio
Grande do Sul e São Paulo. No momento em que a Telesc é privatizada pela Brasil Telecom, em 1998, a
empresa continuou prestando os mesmos serviços ao seu maior cliente, ampliando a rede de expansão
nas regiões norte (1999) e oeste (2001) catarinense. Recentemente, esta empresa possui 15 clientes de
telefonia móvel e fixa, atendendo aos estados de Santa Catarina e Paraná (Endereço eletrônico
<http://www.kch.com.br/index.php?pg=clientes>).
190
ADVB é a sigla para Associação dos Diretores de Vendas e Marketing do Brasil.
191
Bastos (2002, p.168-169) afirma que: “Basta fazer um breve exercício empírico sobre as principais
iniciativas regionais que estão operando hoje na região metropolitana de Florianópolis, logo se chega a
conclusão que os estabelecimentos mais dinâmicos tem sua origem muito modesta e nasceram nas
referidas áreas de colonização alemã, com algumas raras exceções.”
192
Cita-se a naturalidade de cada empresário fundador: Cassol – da localidade de Espinilio (São José),
Casas da Água – da localidade de Garcia (Angelina), Dimas – de Biguaçú, Eletro Santa Rita e Cota – de
Tijucas, Ibagy e Brognoli – do bairro Estreito (BASTOS, fev-mar/2000; PEREIRA, 1999F).
124
125
andares permitido na área de construção, além da mudança no zoneamento, através de
um conjunto de relações políticas entre si.
Recentemente, também é possível notar a abertura de quatro unidades das
“lojas Koerich” ao longo de uma mesma avenida vicinal no município de Palhoça,
possuindo o mesmo uma alta em número de novas edificações durante a atual gestão
municipal. Esta valorização urbana do imóvel comercial agiria beneficiando
momentaneamente nas vendas ou “aquecendo o ponto” para a sua locação
posterior.
193
Além do ramo madeireiro e dos ciclos juglarianos que dão conta das indústrias
de bens de consumo duráveis (décadas 1950-60), ativando as vendas de móveis,
eletrodomésticos e materiais de construção, de que maneira estas empresas com
origem na pequena produção obtiveram êxito diante do curso dos acontecimentos?
O Plano Nacional de Habitação (PNH) representou um esforço para mitigar o
déficit habitacional logo após o movimento político de 1964. A partir deste ano, o
governo militar criou as duas peças fundamentais para a execução deste plano,
representadas pelo Sistema Financeiro de Habitação (SFH) e pelo Banco Nacional da
Habitação (BNH), que assinalaram o início de uma nova política urbana brasileira. Este
esforço na formação de capital tentava desenvolver o campo da indústria pesada,
energética, dos serviços urbanos, transportes, etc. Neste período, a construção
residencial teve a correção monetária como meio de sustentação à queda da taxa real
de juros (RANGEL, 1985). No caso específico das habitações construídas no bairro
Kobrasol, mais de 90% delas foram financiadas pelo BNH (PEREIRA, 1999F). Assim,
as forças produtivas das imobiliárias e construtoras convergiram para o Kobrasol que se
tornou uma espécie de reduto dos novos empreendedores de origem alemã ao lado de
alguns outros — das construtoras “Kobrasol”, “Zita”, “Dionísio Deschamps”, “Cota”,
“Deschamps”, “RDO”, “RNO”, “AM”, “OK”, “Zilli”, “Santana”; das casas de materiais de
193
Verificou-se esta prática das lojas Koerich anteriormente na região central de Florianópolis, quando
duas de suas lojas situadas nas ruas Felipe Schmidt e Conselheiro Mafra, e uma terceira na av.
Presidente Kennedy, em São José, foram repassadas ao “Magazine Luiza” ou “Casas Bahia”,
concorrentes externos na clientela das mesmas camadas sociais.
126
construção “Cassol”, “Casas da Água”, “Bloco”; e das imobiliárias “José Ibagy”, “Ludvig”,
etc.
194
O período de 1967 e 1973 corresponde ao chamado “milagre econômico”
quando a produção e o produto interno bruto brasileiros subiram e ocorreu uma redução
estável da inflação. A situação mudou radicalmente a partir de 1980, quando a fase
depressiva do ciclo juglariano coincidiu com a do ciclo longo, criando uma crise
suficiente à deposição do poder militar (RANGEL, 1985). Contudo, o bairro Kobrasol
estava sendo implantado, o que gerou possibilidades de novas empresas. Os
construtores e incorporadores do Kobrasol iniciaram com prédios de 16 a 25
apartamentos simples e sem elevador, destinados à classe média. Poupando as rendas
adquiridas na venda dos imóveis, os construtores podiam reinvestir em outros lotes e
construções. Porém, o governo Sarney (1986-1989) não conseguiu inibir o aumento da
inflação de 60 a 70% ao mês, acabando com o plano empresarial e o BNH.
195
Aqueles
empresários que detiveram reservas suficientes para contar com o financiamento de
compra pela Caixa Econômica Federal ou pelo Banco do Estado de Santa Catarina
(BESC) foram crescendo mais lentamente. O lucro vinha através da venda dos
apartamentos prontos.
O boom imobiliário de Florianópolis na década de 1990, impulsionado pela
estabilização do Plano Real (a partir de 1994) respondendo aos mecanismos de
mercado, aumentou a demanda da construção civil nos bairros continentais devido ao
valor mais acessível dos imóveis, o que reaqueceu os empreendimentos dos
construtores mais fortes os quais iniciaram a construção de prédios mais altos,
provocando a rápida verticalização dos bairros do Kobrasol e de Campinas (“Zita”,
“Kobrasol”, “AM”, “Dionísio Deschamps”, “Deschamps”, “RDO”, “RNO”, “Cota” e
194
Cf. Pereira (1999F) não havia um critério para os construtores. Os mesmos deveriam preencher um
cadastro na Empresa Kobrasol para receber a indicação de crédito e, assim, requerer o financiamento do
SFH, objetivando comprar a longo prazo um ou mais lotes.
195
Cf. Moritz (2000) o longo convívio com a inflação somente foi possível devido a um sistema complexo
de correção monetária formado por um emaranhado de índices, destinado a manter atualizados os
valores dos vários ativos econômicos e financeiros. Cf. RANGEL (1985) a correção monetária tornou-se a
grande vilã da economia brasileira por causa da indexação da economia forçar o uso de reservas do
setor público para manter a queda na taxa real de juros, encontrando limites naturais no campo dos
serviços de utilidade pública. A correção monetária e a inflação são inversamente proporcionais à
formação de capital, além do que a inflação sobe ou abaixa de acordo com a conjuntura, ou seja, a
situação ascendente ou decadente do ciclo juglariano brasileiro.
127
“Santana”
196
), que atualmente realizam edificações com alto padrão de acabamento
para se diferenciar da concorrência, atendendo o perfil da área de cada bairro. Dentre
as construtoras que atuam nestas áreas atualmente, a “AM Construções” possui 200
funcionários e a “Construtora Dionísio Deschamps” gera um total de 70 empregos
diretos.
197
O período inflacionário dos planos Cruzado 1 e 2 (1986), Bresser (1987) e Verão
(1989) no governo Sarney, ainda foi responsável pela frenagem, a partir de 1989, nos
negócios do grupo Müller, outro exemplo de alta diversificação e reinvestimento de
capital que chegou a possuir um total de 1400 funcionários. A sua trajetória revela
determinados condicionantes de mercado impostos pelas oscilações da economia
brasileira, os quais não puderam ultrapassar. Entre 1959-69 a empresa cresceu através
da distribuição no território catarinense das lojas “A Barateira”, especializada na venda
de roupas prontas (com indústria de confecções em São Paulo) e artigos para o lar, nas
cidades de Lages, Ituporanga, Curitibanos, Joaçaba, Chapecó e Blumenau. Em 1972,
dá início as atividades agropecuárias nos municípios de Ituporanga e Ilhota, além de
um supermercado também em Ituporanga. Em 1976, a administração do grupo é
centralizada em Lages. Em 1978, é inaugurada a filial das lojas “A Barateira” em
Florianópolis. No ano seguinte, com a entrada em mais três ramos de atividade
(editora e gráfica, processamento de dados e transportes rodoviários), é fundada uma
holding para gerir as empresas do grupo: “Müller Administração e Participações Ltda”.
Em 1980, no comércio de móveis e madeiras, a “Mademüller” é transferida de
Ituporanga para São José. Um ano depois, as lojas “A Barateira” chegam a Joinville. A
administração de todo o grupo é transferida para São José em 1982. Quatro anos
depois, novas filiais em Itajaí e Criciúma, além de uma empresa de decorações em São
José e Ituporanga, especializada em móveis e eletrodomésticos. Em 1988, uma
empresa especializada em tecidos e confecções em Florianópolis e outra na confecção
e colocação de cortinas. Um ano depois, a “Sonoart”, fabricante na linha de edredons,
colchas e linha bebê, além de uma filial de decorações em Lages. Em 1992, é
196
Ao que tudo indica, a “Santana Administração, Construção e Incorporação de Imóveis Ltda”,
recentemente desapareceu do mercado.
197
Informações obtidas nas entrevistas concedidas à autora por Dionísio Deschamps. São José,
06/12/2007; Antônio Hillescheim. São José, 23/11/2007; PEREIRA (1999F).
128
inaugurada a segunda filial das lojas “A Barateira” em Florianópolis. Em 1993, abre-se a
terceira filial em Florianópolis, correspondendo à décima segunda loja e à primeira
experiência dentro de um shopping (Beiramar Shopping). Neste mesmo ano, o grupo
era formado por oito empresas.
198
O mapa 7 ilustra as cidades envolvidas pela
expansão lojista até o ano de 1993.
O excesso de tributos com as aberturas e fechamentos das empresas e as
gradativas demissões, além das sucessivas manobras de expansão em diversos ramos
com unidades distantes umas das outras pelas rodovias BR-282, BR-116 e BR-101,
sem pontos de distribuição regionais (a não ser pela central de São José) e a aplicação
de capitais em máquinas, são alguns dos elementos que contribuíram para a
fragmentação da empresa. As vendas a crédito de 30 a 60 dias já não conseguiam
repor os prejuízos dos preços congelados pelo governo, período no qual também
quebraram diversos lojistas de roupas feitas no país, como “Mappin”, “Mesbla”,
“Incosul”, “Grazziotin”, entre outros.
Aos empresários descendentes de alemães, assim como aos demais, entender o
mercado onde atuam e observar o momento propício para reinvestimentos, causou toda
a diferença no andamento dos negócios. Foi o que diferenciou, por exemplo, a rede de
supermercados “Imperatriz” em relação aos supermercados “Rosa”. Ambos iniciaram na
mesma época e tiveram como ponto de partida a mesma comunidade, mas os
supermercados “Imperatriz”, com apenas três anos, já instalavam a sua primeira filial no
bairro Ponte do Imaruim, município de Palhoça.
199
Dessa forma, a expansão da rede
Imperatriz acabou acontecendo dez anos antes da concorrente implantar as suas filiais,
o que as distingue em termos de área de atuação na atualidade, pois, enquanto uma
ficou restrita à região metropolitana, a outra avançou pela fachada atlântica catarinense.
198
Grupo Müller. Uma história de sucessos (1993); Entrevista concedida à autora por Artur Alex Muller.
Florianópolis, 28/11/2007.
199
Cf. Vidal Lohn Filho, o seu pai Vidal Procópio Lohn e Pedro Amaro Rosa eram amigos e moradores da
localidade de Varginha (Santo Amaro da Imperatriz), iniciando comercialmente sob as mesmas
condições. (Informações obtidas através da entrevista concedida à autora. São José, 23/11/2007).
129
130
Na década de 1980, os supermercados Imperatriz contabilizavam onze lojas,
havendo uma grande redefinição de conceito e marketing durante os anos 1990, a fim
de continuar atendendo as classes C e D, que alimentam o mercado, porém, também
as classes A e B, a partir daí. Uma destas mudanças foi a introdução do supermercado
no “Beiramar Shopping”. Atualmente com 2200 funcionários, trabalhando nas 18 lojas,
03 farmácias e um frigorífico, a maior concorrência é representada pelos
supermercadistas vindos de outras regiões catarinenses (“Angeloni”, “Bistek”, “Comper”,
“Giassi”, “Hippo” e “Xande”). Já a concorrência externa, como o “Big” (Wall Mart),
demora para descobrir costumes de consumo presentes em cada localidade de
atendimento à população litorânea catarinense. A unidade de Florianópolis é líder em
vendas entre as redes regionais, além de Top of mind, ou seja, o supermercado mais
lembrado entre os consumidores na Região Metropolitana de Florianópolis. Uma das
recentes novidades é o cartão de fidelidade, aumentando o tempo nas compras a
prazo.
200
O mapa 8 apresenta os municípios atendidos pela rede de supermercados
Imperatriz.
O ramo supermercadista ingressou em Santa Catarina a partir da década de
1960 (MORITZ, 2000), o que corresponde a uma década antes da sua expansão cíclica
brasileira, conforme analisado por Bastos (2002). A ampliação supermercadista deu-se
a partir da Lei 5760/71, do Ministério da Agricultura, que regulamentava o abate de
carnes, promovendo a formação de quatro frigoríficos fundamentais na Região
Metropolitana de Florianópolis: “Kretzer”, “Indil”, “Frigosantos” e “Osvaldo Vidal”, ao lado
de outros dois externos
201
.
Estes capitais promoveram uma multiplicação supermercadista em vários níveis
e tamanhos na região. A existência, a partir da década de 1960, de uma classe média
alta como principal incentivador no desenvolvimento da sociedade, induziu o
surgimento de uma classe média com crescente poder de consumo, propiciado pela
200
Uma rede cheia de novidades. Top of mind. Supermercados. Jornal A Notícia. Joinville, 27 de abril de
2007, p.20; endereço eletrônico <http://www.superinperatriz. com.br/www4/sobreimperatriz.php>.
201
Cf. Campos (1983) somando a produção dos frigoríficos locais Frigosantos e Indil com a dos
frigoríficos Riosulense e Frigoplan, geravam a distribuição de 50% para supermercados, 35% para
açougues e 15% a consumos diversos.
131
132
circulação dos salários provenientes do serviço público.
202
Estes fatores ainda
contribuíram na segmentação de mercado no setor de atividades em que atuam os
negócios das empresas “Distribuidora Kretzer”, “Dominik Metalcenter”, “Postos
Nienkötter”, “Gerber Móveis” e “Bebidas Leonardo Sell”.
Ao contrário de algumas empresas no ramo de alimentos que se tornaram
rentáveis através das altas taxas de inflação, entre 1987 e 1994, o “Atacadão de
Cereais Kretzer Ltda” deve o crescimento de suas operações à chegada dos
primeiros computadores (1988) e ao aumento no número de vendedores, como também
à expansão das regiões que passou a atender. Preparando-se para ampliar a sua
atividade, em 1996, a empresa passou a se chamar “DK - Distribuidora Kretzer”,
distribuindo produtos de empresas parceiras e nunca comercializando os produtos de
suas concorrentes.
203
Durante o ciclo juglariano de desenvolvimento das indústrias químicas e de
mecânica pesada nas décadas de 1960-70, as “lojas Dominik”, iniciada no bairro
Estreito, expandiu-se suprindo as necessidades de tornearia e solda como parceira das
funilarias e mecânicas locais, ao mesmo tempo em que também introduziu no mercado
a recauchutagem de pneus, a distribuição de aço e fabricação própria de fios e cabos,
correspondendo, o último, a 15% de suas atividades. Atualmente, ela concorre com as
empresas “Ferromil”, “Zinca Rápido”, “Orion” e “Gerdau” que, juntas, compreendem
70% do mercado interno e 80% das vendas fora de Santa Catarina. A loja do bairro
Roçado, sozinha, possui 108 funcionários.
204
Outra iniciativa originária deste ciclo breve (1960-70) equivale às indústrias de
plásticos criadas por Aldo Nienkötter. A primeira, logo foi vendida e não prosperou.
Iniciada em 1978, no bairro Estreito, a segunda indústria, a “INIPLASA”, ficou com o
202
Cf. Vidor (1995), até 1979, Santa Catarina estava dividida em duas regiões com as maiores médias
salariais, a primeira composta por 26 municípios de influência (Região Metropolitana de Florianópolis e
mais quatro municípios vizinhos — Bom Retiro, Ituporanga, Garopaba e Porto Belo) e a segunda, de
média salarial mais elevada, constituída por 76 municípios (vales atlânticos no entorno de Joinville,
Blumenau e Brusque). Esta hierarquização geo-salarial explica, em parte, a polarização exercida pelos
municípios de maior rentabilidade, Joinville e Florianópolis, que, apesar da diferença de desenvolvimento
industrial existente entre ambos, denota a desenvolvida rede comercial e prestadora de serviços
(sobretudo públicos) de Florianópolis, absorvendo todo o contingente de trabalhadores procedentes de
cidades próximas e distantes, cujos salários se faziam inferiores.
203
Endereço eletrônico <http://www.kretzer.com.br/kretzer/inst_historia.php.>.
204
Informações obtidas pela entrevista concedida à autora por Rafael Reitz. São José, 22/11/2007.
133
proprietário por quase trinta anos. Como empresa pioneira na fabricação de plásticos
na região, a falta de matéria-prima obrigou o proprietário a recorrer ao auxílio do
governo estadual para trazer tais insumos com menores impostos. Esta indústria
introduziu novidades em termos de materiais e máquinas, como o polietileno linear,
obtendo uma produção de 50 toneladas/mês com um total de 500 funcionários.
Dedicando-se à fabricação de embalagens personalizadas para clientes como Sadia,
Artex, entre outros, expandiu a sua área de atendimento aos estados sulinos. A fábrica
passou por um período recessivo, também ocasionado pela alta inflação no decorrer do
governo Sarney (1986-89). Em 1990, a fábrica foi transferida para o município de
Palhoça, sendo vendida em 2003.
205
O aumento populacional e na frota de veículos da
Região Metropolitana de Florianópolis, tão logo motivaram Aldo Nienkötter aos pedidos
de licença e à procura de terrenos próximos das principais rodovias a fim de implantar
cinco postos de combustíveis, possuindo hoje 150 funcionários.
206
Na década de 1980, também a “Gerber Móveis” conseguiu atender ao mercado
regional comercializando colchões ortopédicos de fabricação própria, móveis e
decoração, alcançando um total de 100 funcionários para atendimento dos segmentos
A e B. O Plano Collor 1 (1990) e 2 (1991) não chegou a afetar no seu faturamento,
embora, as suas reservas monetárias tivessem diminuído, já que a concorrência vinda
de outras áreas se tornou mais forte, a exemplo da “Formaplas”, “Florense”, etc. Entre
1998-2008, nota-se um mercado em oferta de mercadorias com crises para reduzir os
custos e no limite para manter o negócio sem expectativas. Hoje apresenta 30
funcionários, trabalhando com estofaria, marcenaria, pintura e cortinas, que resultam
em 10% de fabricação própria.
207
A “Indústria de Bebidas Leonardo Sell” representa a resistência de um
refrigerante regional que concorre com marcas mundiais. Comercializando diretamente
com todos os supermercados (exceto o “Makro”), tem ampliado a sua área de atuação,
que abrange a Região Metropolitana de Florianópolis, além de ir, ao norte, até Itapema,
ao sul, até Tubarão, e a oeste, até Bom Retiro, ou seja, buscando uma abrangência
205
Informações retiradas da entrevista concedida à autora por Aldo Nienkötter. Florianópolis, 08/12/2007.
206
Cf. Aldo Nienkötter, o primeiro terreno, em 1981 na Via Expressa; o segundo em 1985 na SC-401; em
2005 na Área Industrial de São José; em 2006 no Shopping Itaguaçú; e no bairro Coqueiros em 2007.
207
Informações da entrevista concedida à autora por Fabiano L. Gerber. Florianópolis, 07/12/2007.
134
concentrada na fachada atlântica catarinense. A empresa utiliza os maiores
fornecedores disponíveis no mercado em essências (Duas Rodas) e gás (White
Martins), tendo uma reserva de água própria. A década de 1990 marcou um período de
modernização da fábrica, do ingresso de novas máquinas engarrafadoras e rotuladoras
automáticas até o acompanhamento das garrafas pet como a nova tecnologia do ramo.
A empresa tem crescido numa média de 5% a cada cinco anos, dividindo o mercado em
que atua com 3 a 5% contra 70% da Coca-cola e 25% da Antarctica, que realizam
vendas casadas de refrigerantes e cervejas. Mantém 50 funcionários sem que tenha
ocorrido até o presente momento qualquer questão trabalhista.
208
Cabe destacar que, o crescente potencial de consumo da Região Metropolitana
de Florianópolis, em parte, é reflexo do crescimento populacional que repercute numa
concentração econômica nos setores da construção civil, supermercados, venda de
eletrodomésticos, automóveis e combustíveis, caracterizando um mercado em plena
atividade, que busca, para tanto, novas áreas de expansão urbana. Da outra parte,
deve-se a uma hierarquia de centros e a uma distribuição mais eqüitativa da demanda e
do consumo que, segundo Lobato Corrêa (2006 apud SILVA, 2007), é típica das
formações de pequena produção mercantil imigrante. Em outras palavras, a base
societária da região em questão, é a de pequenos produtores imbuídos, em si mesmos,
na tentativa de alavancar a capacidade empresarial. Neste processo, a indexação de
novas áreas urbanas ocorre devido ao próprio projeto de expansão de cada empresa.
O ramo supermercadista, por exemplo, é considerado como “saturado”, pois
atende a mais do que o dobro da média nacional.
209
A “lojas Koerich” é considerada
uma das poucas existentes em eletrodomésticos de capital regional catarinense
concorrendo com as de outros estados (por exemplo: “Casas Bahia”, “Magazine Luiza”,
“lojas Base”, etc). A construção civil está crescendo sem parar, apenas deslocando o
interesse para outras áreas, tanto na ilha como no continente. É nesse sentido que o
mercado imobiliário e esses três ramos comerciais (supermercadista, construção civil e
208
Informações da entrevista concedida à autora por Sérgio Sell. Rancho Queimado, 05/12/2007.
209
Cf. Vidal Lohn Filho, a média brasileira é de 7 mil habitantes/supermercado. A Região Metropolitana
de Florianópolis apresenta 3 mil habitantes/supermercado (Entrevista concedida à autora. São José,
23/11/2007).
135
venda de eletrodomésticos), encontram-se afinados para garantir as melhores posições
diante da concorrência externa.
As doze empresas elencadas e as demais citadas até aqui, num dado momento,
repercutiram suas ações como “rendeiros de terra”, especulando os valores dos imóveis
até que assumissem uma valorização de mercado, mas, por outro lado, através dessa
prática, também evolveram uma urbanização gradativa na região metropolitana ao
constituírem bairros comerciais de autonomia própria (em especial, Estreito, Campinas
e Kobrasol). Estes movimentos de capital poderiam ser feitos por quaisquer
empresários, pois não se constituiu numa exclusividade das doze empresas
observadas. Dessa forma, renova-se a questão crucial deste trabalho: Há algum
comportamento sócio-econômico que se vale do tipo de criação familiar, assim,
remetendo à origem de base alemã, comum entre os mesmos e capaz de caracterizar
um empresário bem-sucedido?
3.2.1 Padrões gerais obtidos pelas entrevistas
210
O resultado das nove entrevistas permitiu compor o perfil dos empresários
investigados, realizando uma análise que se coloca aquém de apenas responder a
existência ou não de uma teuto-brasilidade
211
, agregando ainda, a visão empresarial em
relação à área geográfica investigada.
Entre os entrevistados, cerca de metade deles citam de forma espontânea
Koerich ou Hoepcke como uma espécie de identificação da descendência alemã bem-
sucedida empresarialmente. A maioria dos empresários é contemporânea à trajetória do
grupo Koerich, sendo o mesmo o mais citado. Mas, quando se trata da empresa que
auxiliou nas iniciativas familiares, é feita maior referência a algum envolvimento com a
210
Embora até aqui tenham sido abordados 12 grupos empresariais, no decurso da presente pesquisa
foram entrevistados pessoalmente nove empresários, sendo que um deles respondeu as perguntas por
escrito. A base de informações são as perguntas formuladas, cujo roteiro é apresentado no apêndice 1.
São elas: “Dominik Metalcenter”, “Supermercados Imperatriz”, “AM Construções”, “Lojas Koerich”,
“Bebidas Leonardo Sell”, “Construtora Dionísio Deschamps”, “Gerber Móveis”, “Postos Nienkötter” e
“Protensul”.
211
Cf. Seyferth (2007), define-se teuto-brasileiro como o indivíduo que preserva em suas atitudes diárias
um conjunto de características transmitidas pelos seus antepassados alemães, principalmente a fala de
algum dialeto, as cantigas e os costumes na culinária familiar.
136
firma Hoepcke, seja na importação de máquinas, no auxílio da construção de uma
igreja, em empréstimos, etc.
212
A área de atuação da maioria das empresas está situada no Aglomerado Urbano
de Florianópolis e seus limites (Florianópolis, São José, Biguaçú e Palhoça). Em
segundo lugar, o atendimento da fachada atlântica catarinense (supermercados
Imperatriz, lojas Koerich e bebidas Leonardo Sell), em seguida, o território catarinense
como um todo (Dominik Metalcenter) e, por último, a região sul (Protensul). Em cinco
entrevistas, revelou-se apoio político direto ou indireto para atender aos interesses da
empresa. Destes empresários, todos têm suas empresas instaladas em imóveis
próprios, além de aplicarem suas rendas na aquisição de outros imóveis para aluguel
e/ou estoque de terrenos.
As vantagens apontadas para o estabelecimento dos negócios na Região
Metropolitana de Florianópolis devem-se às suas características sócio-econômicas,
além de um mercado promissor com elevado crescimento do consumo, situado em
torno de 10% ao ano. Verifica-se ainda, um grau de liquidez satisfatório com renda
menos concentrada e as camadas sociais mais diluídas. Nesse sentido, o crescimento
urbano interfere no conhecimento dos produtos e na aquisição de veículos elevando o
percentual do poder de compra na região. A localização privilegiada às margens das
rodovias BR-101 e BR-282 como ligação às demais rodovias brasileiras, é apontada
como uma grande vantagem apenas pela empresa Protensul. Salienta-se entre as
empresas da construção civil a aprovação mais rápida de projetos em São José do que
em Florianópolis e o fato de que, de certa forma, os novos moradores vem sendo
induzidos pela oferta turística, tendo a ilha como o ponto de atração, mas, que depois
os mesmos se deparam com o continente mais compatível para a compra. Para este
item, responderam “somente o fato de ser a Capital catarinense”, dessa maneira, sem
abordar alguma vantagem positiva, as entrevistas de Dominik e Gerber.
Quanto às principais dificuldades encontradas para se manter no mercado
florianopolitano, as respostas mais freqüentes foram: 1º) manutenção de custos, carga
212
Cabe informar que, o grupo Hoepcke, dividido em duas partes, compreendendo, de um lado, as
participações imobiliárias e, com a segunda herdeira majoritária, a indústria de rendas e bordados, além
da acumulação de diversos imóveis, mantém uma destacada tradição em novos investimentos,
principalmente na construção civil.
137
tributária e burocracia, além de investimento em marketing; 2º) encontrar e manter mão-
de-obra de qualidade; 3º) superar a concorrência; e 4º) logística rodoviária e
inadimplência. Na entrevista da indústria de bebidas Leonardo Sell, porém, a distância
da fábrica em relação ao litoral foi apontada como um elemento favorável já que
garante uma mão-de-obra considerada pelo entrevistado como melhor, no município de
Rancho Queimado. Por outro lado, há que se considerar o elevado custo dos terrenos
no Distrito Industrial de São José, o que impede a transferência da fábrica para aquele
local.
Verifica-se, por parte dos proprietários da indústria de “Bebidas Leonardo Sell”,
além de supermercados “Imperatriz”, grupo “Philippi”, “AM Construções”, “Distribuidora
Kretzer”, “Dominik Metalcenter” e “Postos Nienkötter”, um elevado grau de participação
nas diretorias e conselhos de entidades como representantes nos setores em que
atuam.
Ao serem questionados sobre os ensinamentos familiares, as respostas estão
freqüentemente associadas a: respeito, apego à família, ensinamentos adquiridos
através dos mais velhos na gestão da empresa, valorização do trabalho, aprender com
a empresa, honestidade, o valor do trabalho, do estudo e da religião, dentre outros.
Dessa forma, é possível notar que a metade se referiu ao valor familiar dado ao
trabalho, enquanto os demais caracterizaram a família como base de aprendizagem da
conduta humana. A religiosidade também preponderou em 100% das respostas
considerando fundadora dos alicerces aos valores morais de cada indivíduo,
independente de qual seja a religião.
Dentre as características relacionadas a teuto-brasilidade, apenas em dois casos
algum parente fala o idioma alemão, sete entrevistados fizeram árvore genealógica ou
procuraram a cidade de origem e parentes na Alemanha, enquanto seis possuem a
pesquisa de brasão da família e quatro já participaram de festas da família. Woortmann
(2004, p.47), refere-se a uma inversão de espaço e tempo na qual a moderna
Alemanha é motivo de orgulho, embora na época da imigração ela ainda fosse
dominada por relações de produção feudais. Os novos empresários teuto-brasileiros,
enriquecidos e já urbanizados passam a se reconhecer
138
...não como uma ruptura, mas como a conexão que os re-liga com a
Alemanha. Contudo, no plano da memória (WOORTMANN, 1994), ele remete
não à Alemanha do século XIX, com alta concentração fundiária e de renda,
subnutrição, epidemias recorrentes e uma estrutura social engessada (ELIAS,
1997), mas à Alemanha de hoje, idealizada como um país moderno,
democrático e com alto padrão de vida. É nessa Alemanha que os teuto-
brasileiros aburguesados vão procurar brasões e outros símbolos de um
passado nobilizante, em boa medida construído por genealogistas profissionais
(WOORTMANN, 2000) numa outra versão de ‘tradição inventada’
(HOBSBAWN &RANGER, 1984).
No que se refere às características empresariais, foi perguntado a cada
entrevistado se o mesmo se considera um empresário teuto-brasileiro. Seis deles
responderam afirmativamente, argumentando a existência de um comportamento
empresarial; uma “garra alemã” de fazer e acontecer; uma cultura empresarial; uma
identificação dos agricultores da região com a empresa; um comportamento que
provém da descendência européia com um trabalho diferenciado; e uma tradição de
nunca se sentir derrotado. Mesmo nas respostas negativas se identifica um argumento
para o qual se define a descendência alemã constituindo uma “cultura do trabalho”.
Pelo fator de empreendedorismo, a descendência alemã contribui para o sucesso da
empresa na opinião de quatro entrevistados (44,4% das respostas), e quando
questionados se o sobrenome presente na razão social da empresa funciona como um
indicativo de credibilidade e eficiência, as respostas também ficaram divididas (44,4%
sim; 44,4% não; 11,2% sim/não).
De acorrdo com os ensinamentos marxistas, não se deve julgar o indivíduo pela
idéia que ele faz de si próprio, mas, sim, explicar a sua consciência através das
contradições da vida material e dos conflitos entre as forças produtivas e as relações
sociais de produção (MARX, 1984b). Assim sendo, as entrevistas confirmaram a
existência de uma “cultura do trabalho” advinda das áreas rurais influenciadas pelas
bases coloniais alemãs na Região Metropolitana de Florianópolis. No entanto, a cultura
do trabalho é caracterizada por uma construção histórica e não por uma determinação
étnica. Em grande parte, estes empresários nasceram e foram criados em pequenas
comunidades interioranas (interior do interior), o que também vale para os empresários
Adroaldo Pedro Cassol (lojas “Cassol”) e José Nitro da Silva (lojas “Casas da Água”),
oriundos das mesmas áreas demarcadas no miolo do mapa 4. Esta ética do trabalho
139
que emergiu do meio rural, mais do que um conjunto privilegiado de fatores
econômicos, é produto de relações sociais determinadas.
3.3 A CULTURA DE PEQUENOS EMPREENDEDORES
A Capital não somente ascendeu economicamente beneficiada pela proximidade
do governo e das instituições públicas em várias instâncias, como ainda devido ao grau
de empreendedorismo propagado pelas áreas rurais e suas zonas de contato, pois,
segundo Peluso Júnior (1991b, p.315), Florianópolis, São José, Palhoça e Biguaçú
cresceram independentemente, todas ligadas às suas populações rurais, às quais
fornecia, bens e serviços em suas atividades de lugar central.
Assim como acontece em Santa Catarina, o contingente de empresários do setor
comercial na Região Metropolitana de Florianópolis vem apresentando estratos de
classe média e também um esteio da economia de mercado, pois uma grande parcela
das empresas comerciais são micro, pequenas e médias. Ao lado da pequena
produção mercantil evoluindo para estágios de alto-capitalismo — principalmente
Koerich, Philippi, Scherer e Imperatriz (Lohn) —, é possível notar a sobrevivência de
uma cultura de trabalho do pequeno empreendedor resistindo por meio de algumas
fases pré-definidas com o amparo de instituições sociais.
No imediato pós-2ª Guerra, os padres católicos influenciaram na organização
social das comunidades e na saída do meio rural de alguns indivíduos de maior
habilidade em determinados ofícios, inclusive, dirigindo-os a outras regiões.
213
A partir
deste período, sob a inspiração filosófico-humanista, a Igreja tentou deslocar a
consciência individual para a consciência coletiva do trabalho, onde se deveria evitar o
conflito de classes e as elites dirigentes em busca do equilíbrio entre os povos que,
segundo Souza (2001), tornou a Igreja a instituição idealizadora e modelar da nova era
capitalista, influenciando poderosamente o comportamento econômico-social.
Ora, quando se esgota o papel do vendista (década de 1960) o pequeno
produtor ainda consegue dar conta de se tornar um negociante em potencial,
213
Pedro Böeng conta que morava em São Bonifácio e, ainda solteiro, foi influenciado por um padre a se
mudar para o município de Brusque aonde trabalhou numa madeireira (Informação Verbal, 2008).
140
viabilizando, determinadas vezes, uma bem-sucedida saída do meio rural para as áreas
urbanas limítrofes a Florianópolis. A existência de diversos atravessadores no sistema
de abastecimento até a ilha proporcionou as condições materiais para a alavancagem
de diversos estabelecimentos comerciais.
A partir de 1984, com o fim do regime militar, entende-se que ocorre a reabertura
da livre iniciativa fortalecendo o associativismo de classe, bastante característico do
pequeno produtor rural. Neste intento de ascensão econômica, algumas entidades
sociais se tornaram meios para estabelecer redes de influência, como CAEPs
214
,
associações, sindicatos de trabalhadores rurais, Maçonaria e política municipal. É
também em 1984, que a comunidade católica do bairro Kobrasol, o principal reduto
comercial de São José, começa a se organizar através da intervenção de padres
descendentes de alemães, do prefeito municipal Germano João Vieira e de 300
moradores (KOERICH, 2001).
De acordo com Moritz (2000), determinados comerciantes tornaram-se
elementos de identificação na opinião pública graças ao seu contato diário por meio do
marketing e vendas.
Sobre o contato diário através da publicidade comercial, o exemplo
mais didático
na região metropolitana é “lojas Koerich”. O filme “Koerich 50 anos. Uma
história de sucesso” (2005) demonstra a tradição da marca que, entre outros elementos,
tem expressado as diversas mensagens natalinas relacionadas à religiosidade cristã.
Ainda é possível mencionar alguns panfletos que foram distribuídos pelas
“Organizações Koerich” e “Koesa”, durante a década de 1980, com mensagens sob o
tema “Dinheiro”, “Oração do Lutador” e até de Abraham Lincoln, instigando, de certa
maneira, uma ideologia do trabalho entre os seus clientes.
Para verificar o grau de importância deste empreendedorismo com relação às
bases da origem alemã, investigou-se a contagem de empresas de acordo com os
tributos lançados pelo município de São José, perfazendo os seguintes referenciais:
214
CAEP significa Comissão de Administração Econômica Paroquial.
141
QUADRO 5 - Cadastro Econômico de Empresas em São José (1980-2007)
Município
Número de
registros
Total de
Registros
Apurados
quanto à
origem
alemã
Participação
da origem
alemã
(%)
Tipo de Cadastro
Econômico
Empresas
registradas com
incidência do
sobrenome de
origem alemã na
Razão Social
Em Atividade 4782
Baixado 2906
Não optante pelo Simples 3592
São José
30515
7688
25,19
Optante pelo Simples 4096
Fonte: Prefeitura Municipal de São José - Secretaria Municipal da Receita, 2008. Contagem da autora.
Obs: A lista dos principais sobrenomes encontrados consta no apêndice 2.
Este quadro salienta uma proporção maior de empresas em atividade e com
perfil de optante pelo “Simples” (microempresa). O total de empresas nas quais o
proprietário possui um sobrenome de origem alemã alcança 1/4 no total de registros. A
seqüência de lançamentos na listagem ainda permite constatar que as empresas
iniciadas na década de 1980 apresentam uma elevada incidência de registros no
Simples que, durante a década de 1990, alcançou uma maioria de baixados, ou seja,
fora de atividade no seu campo de ação. Este dado confirma, de certa forma, que a
abertura do meio rural somente até o final de 1960-70 manifestou empreendedores
mais fortalecidos para enfrentar as conjunturas econômicas da referida região. A partir
da década de 1990, a situação é novamente favorável em vistas de uma ampliação nos
setores da construção civil e de serviços em função do crescimento populacional do
Aglomerado Urbano de Florianópolis (municípios de São José e Florianópolis).
Em relação às entidades patronais existentes na ilha e no continente, a pequena
produção mercantil originada das áreas rurais acabou propagando uma diferenciação
entre os seus representantes. Aponta Prochnov (1996), que o perfil empresarial dos
associados da ACIF apresenta o predomínio de lojistas e, na Associação Empresarial
da Região Metropolitana de Florianópolis (AEMFLO)
215
, as atividades dos associados
se referem aos setores de base da construção civil e serviços especializados. Esta
maior diversidade nos ramos de atividade reflete um empreendedorismo latente nos
municípios periféricos a Florianópolis agindo numa espécie de renovação dos capitais
215
Iniciada em 07 de junho de 1984, pela reunião esporádica de alguns empresários do Distrito Industrial
de São José, formalizou-se a AEMFLO em agosto de 1986 [AEMFLO. In: (propaganda) SOS Agenda.
São José, Samantha Editora, 1994/1995, p.155].
142
locais como resultante dos processos de ascensão social, transcorridos na segunda
parte do século XX.
143
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
É preciso reconhecer a distinção entre as duas fases de pequena produção de
origem alemã, abordadas durante os capítulos dois e três. A primeira delas (capítulo
dois), está ligada aos atacadistas de conexão com o capital internacional que, apesar
de vários nomes terem ascendido de baixo, praticavam casamentos para o aumento de
capital representando uma burguesia comercial envolvida com os hábitos elitizados.
Para diferenciar cada fase, basta entender o que representava a firma Hoepcke na
virada do século XIX-XX e atualmente. Já o empreendedorismo recente (capítulo três),
constitui-se de uma maioria de pequenos produtores que ascenderam à condição de
comerciantes regionais aproveitando as condições materiais (ciclos econômicos,
crescimento urbano, reestruturação do complexo rural) para o aumento de capital.
O conhecimento das diferenças existentes entre a pequena produção mercantil
açoriana e a pequena produção mercantil alemã na área geográfica estudada, permite
entender que o sistema de heranças e os hábitos de poupança no âmbito familiar
tornaram mais resistentes os mecanismos desta última, possibilitados por uma gama
maior de atravessadores e pontos de distribuição (complexo vendeiro), o que redundou
em chances mais favoráveis à formação de capital. Contudo, é importante frisar que
para a grande parte dos empresários entrevistados, as heranças não se constituíram
em fontes de capital inicial para a abertura dos negócios, tratando-se, na maioria das
vezes, de empreendedores sem capital os quais obtiveram rendimentos através do
aprendizado de um novo ofício, seja enquanto artesão ou vendedor ambulante/pequeno
atacadista/comerciante. Foi bem mais raro o caso de empresários bem-sucedidos que
apenas deram continuidade aos negócios da família.
A fisionomia da região não seria a mesma sem a base social de pequenos
produtores, que acabaram realizando a transição entre a economia pré-capitalista e
capitalista na região. Dobb (1983), citando Marx, verificou que esta ascensão de
capitalistas a partir das fileiras dos pequenos produtores agrícolas, através de
144
determinadas relações sociais de produção com venda direta de seus produtos,
constituiu as bases para a formação da sociedade urbana.
Ao se referir sobre a “via realmente revolucionária” de transição, Dobb (1983)
reconhece o duplo papel do pequeno produtor enquanto mercador e capitalista —
situação esta que o coloca num pertencimento campo-cidade, sem totalmente estar em
apenas um dos mesmos sistemas. Com efeito, esta abordagem fornece elementos
relevantes para explicar a formação empresarial emergente do meio rural próximo a
Florianópolis, especialmente das áreas de influência da colonização alemã.
Os empresários descendentes de alemães mais bem-sucedidos na região (os
doze casos selecionados), adaptaram-se às conjunturas econômicas brasileiras e,
através delas, estabeleceram um tipo de comportamento constante de análise do
mercado, contudo, sem esquecer os ensinamentos familiares fruto da sua origem
agrícola, o que demonstra uma ligação urbana e rural incutida nas características de
tais indivíduos.
É importante entender que a Capital catarinense como lugar central de sua
região funcional, permaneceu isolada sobre si mesma sem participar da divisão regional
do trabalho entre 1930-50, quando algum excedente econômico estadual passou a ser
carreado para si por meio de tributações, viabilizando a ampliação dos organismos
governamentais e de serviços. Somente a partir daí, as iniciativas de capitais regionais
passaram a responder pelo setor terciário na Região Metropolitana de Florianópolis. Em
outras palavras, o setor terciário se engendra intimamente dependente da
administração pública.
Apesar do seu papel modernizador a ação usurária dos atacadistas até o início
do século XX, com o arrefecimento industrial principalmente das fábricas Hoepcke,
resultou na organização de um centro tão-somente para o consumo em Florianópolis, o
qual postergou o desenvolvimento urbano-regional para as novas frentes criadas pela
iniciativa individual de pequenos produtores no continente, principalmente a partir da
década de 1950. De certa forma, a pequena produção mercantil de origem alemã pode
ser entendida como a dinâmica das áreas adjacentes a Florianópolis que se realizou
mais efetivamente no município de São José, através de uma ação centrípeta das
forças produtivas de capital privado, ou seja, a matriz da maior parte das empresas
145
permanecendo nessa cidade favoreceu a expansão de filiais em outras áreas graças à
dinâmica rodoviária. Enquanto o mercado interno da Ilha de Santa Catarina é
atualmente mais restrito à classe alta, o continente possui uma difusão de
empreendedorismo em vários graus, com predominância do nível mediano — aqui
representados no modelo para descendentes de alemães como “alto-capitalistas” (nível
elevado) e “cultura de pequenos empreendedores” (patamares de micro e pequenas
empresas).
A função de Florianópolis no contexto regional, enquanto sede do complexo
político-administrativo, ao lado das limitações da agricultura e da indústria regionais,
além do rápido processo de urbanização, levaram a um expressivo alargamento do seu
setor terciário. O rápido alastramento do setor terciário e da demanda residencial
associados às facilidades creditícias oferecidas pelo governo federal ao mercado
imobiliário, explicam a dinâmica transformadora da construção civil no cenário urbano
da Capital e municípios das redondezas (Biguaçú, São José e Palhoça). Não raro,
estas áreas urbanas foram escolhidas pelos descendentes de alemães para
empreenderem os seus negócios, adequando o aprendizado no meio rural com o
cotidiano urbano para dar origem a uma experiência empresarial.
O que vem ocorrendo na referida Região Metropolitana é, sobretudo, um
transbordamento do crescimento horizontal de Florianópolis por meio das iniciativas
públicas (ciclos juglarianos brasileiros, planos federais, estaduais e obras municipais)
conjugadas às iniciativas privadas continentais (caráter empresarial que emergiu da
pequena produção mercantil) para os espaços urbanos do aglomeramento urbano
polarizado por Florianópolis e São José, paralelamente ao aumento demográfico,
através da transferência de contingentes rurais e não-rurais para esta mesma área.
Todavia, no decorrer da pesquisa foi possível identificar algumas fases específicas dos
ajuntamentos e predomínios empresariais exercidos pelos capitais de descendentes de
alemães, conforme segue:
O primeiro momento se refere a duas realidades mercantis que pouco se
cruzaram no decurso dos acontecimentos, respondendo, de um lado, os atacadistas de
articulação internacional (liderados por Carl Hoepcke), no centro de
Desterro/Florianópolis e, num outro plano, situado nas áreas lindeiras à ilha, aos
146
vendistas em diferentes estágios de acumulação de capital acompanhados de um lastro
de pequenos produtores que se dedicavam ao plantio e artesanato de baixo preço.
Já na segunda fase, as possibilidades de saída do meio rural passaram a ser
facilitadas pelas conjunturas econômicas brasileiras incidindo na urbanização das
cidades a partir da década de 1950, época em que o ramo madeireiro assumiu um
papel importante na configuração urbana e no surgimento de novas empresas locais.
Nesta mesma etapa, cumpre em dizer que o centro urbano de Florianópolis começou a
substituir os antigos atacadistas pelos comerciantes de ramos especializados, como foi
o caso precursor das “lojas Koerich”.
Na terceira fase, a existência de linhas de ônibus até o bairro Estreito possibilitou
os deslocamentos periódicos ao centro urbano. Os pequenos produtores receberam
apoio do governo do Estado para permanecerem no campo, seja na cooperação de
técnicos vindos da Alemanha, na emancipação de pequenos municípios ou no
lançamento da CEASA em São José (1976), já que, com o fim do complexo vendista,
estes pequenos produtores tiveram que se lançarem sozinhos às áreas urbanas para
comercializar os seus gêneros agrícolas.
Em que pese as suas condicionantes, a quarta fase demonstra melhor a
transição dos indivíduos de pequeno-produtores em se tornarem empresários, onde o
espaço de sua realização foi, conforme já analisado, especialmente o bairro Kobrasol,
no município de São José. O projeto do bairro Kobrasol aconteceu na década de 1970,
conjugado à implantação do Distrito Industrial de São José. No bairro Kobrasol, a
demanda por residências atraiu o empreendedorismo de diversos descendentes de
alemães, que contaram com as reservas próprias de capital para implementar negócios
voltados à construção civil facilitados pelos financiamentos governamentais.
Na última fase, pode-se dizer que, ao ser edificado o “Beiramar Shopping”, o
primeiro da Capital, um novo ajuntamento de capitais de descendentes de alemães
passou a se constituir não somente devido aos seus sócios-proprietários, como também
ao pioneirismo de novas lojas, tais como, “A Barateira”, supermercados “Imperatriz” e
“lojas Koerich” dentro do próprio shopping. Esta última fase, durante a década de 1990,
também coincide com um novo reaquecimento do setor agrícola na região, no qual se
intensificam pequenos capitais de descendentes de alemães. Também, a partir daí, a
147
situação é novamente favorável na ampliação nos setores da construção civil e de
serviços em função do crescimento populacional do Aglomerado Urbano de
Florianópolis, que fez despontarem algumas outras empresas.
É preciso entender que o processo de enriquecimento dos doze casos
empresariais de descendentes de alemães abordados na pesquisa, atravessou,
necessariamente, as interfaces de uma pequena produção mercantil bastante adaptada
às demandas locais, tendo que, para tanto, viabilizar os meios próprios de transporte e
conexão com as áreas urbanas. A mutação campo-cidade é muito rápida: Se no meio
rural um indivíduo era considerado pequeno produtor, ao chegar a São José ou
Florianópolis o mesmo se torna um negociante. Esta dinâmica caracteriza o espaço
peri-urbano da Região Metropolitana de Florianópolis, onde ainda é visível o misto de
pequenos produtores rurais e negociantes nos mesmos indivíduos como base social no
abastecimento agrícola.
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UFSC/CCA, 2006. Disponível em: <http://www.ceasa.sc.gov.br>. Acesso em: 02 dez
2007.
IBGE – Cidades@ - Contagem da população em 2007. Disponível em:
<http://www.ibge.gov.br/cidadesat/default.php>. Acesso em: 05 jan 2008.
Kobrasol: através do SIENGE empresa se moderniza para acertar no alvo. Casos de
Sucesso. Disponível em: <http://www.softplan.com.br/siege/cases.do?id=2>. Acesso
em: 08 abr 2007.
Koerich – Empresa. Disponível em: <http://www.koerich.com.br/empresa.php>. Acesso
em: 20 out 2007.
Koerich Telecomunicações. Clientes. Disponível em: <http://www.kch.com.br/index.php
?pg=clientes>. Acesso em: 02 mai 2008.
MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES. Divisão de Atos Internacionais. Ajuste
Complementar, ao Acordo Básico de Cooperação Técnica de 30/11/1963, sobre o
Projeto "Assistência Técnica aos Pequenos Produtores Rurais no Estado de Santa
Catarina". Disponível em: <http://www2.mre.gov.br/dai/b_rfa_439_4434.htm>. Acesso
em: 10 jan 2007.
MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO. Tabela de medidas agrárias não
decimais. Disponível em: <http://www.mda.gov.br/arquivos/TABELA_MEDIDA_AG
RARIA_NÃO_DECIMAL.pdf>. Acesso em: 08 jan 2007.
Protensul. Empresa; Atuação. Disponível em: <http://www.protensul.com.br/img/atua
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SANTA CATARINA. SDR/Secretaria de Estado do Desenvolvimento Regional da
Grande Florianópolis - 18ª SDR. Caracterização Geral. Florianópolis, 09 mar 2006.
Disponível em: <http://www. soo.sdr.sc.gov.br/index.php?option=com_docman&task=
doc_download&gid=76>. Acesso em: 19 jan 2007.
SCHMITZ, C. Regionais e resistentes. Revista Empreendedor. Editora Empreendedor,
23/11/2007. Disponível em: <http://www.empreendedor.com.br/_novo/_br/?secao=Noti
cias&categoria=135&codigo=58>. Acesso em: 18 jan 2008.
. Varejista acidental. Revista Empreendedor. Editora Empreendedor,
21/08/2006. Disponível em: <http://www.empreendedor.com.br/_novo/_br/?secao=Noti
cias&categoria=162&codigo=24>. Acesso em: 18 jan 2008.
SENADO FEDERAL. Decreto-lei nº 4789, de 05 de outubro de 1942. Disponível em:
<http//www6.senado.gov.br/legislação/ListaPublicacoes.action?id=3573>. Acesso em:
18 jan 2008.
166
Supermercados Imperatriz. Nossa História. Disponível em: <http://www.superinperatriz.
com.br/www4/sobreimperatriz.php>. Acesso em: 30 nov 2007.
5 - Entrevistas, Filmes, Informações Escritas e Palestras
ALVES, R.; AWAD, V. Bocaiúva, 42: os registros de Edla Von Wangenheim. Trabalho
de Conclusão de Curso, Graduação em Jornalismo. Florianópolis, UFSC, 2006, 1
vídeodisco (30 min): color.
AZEVEDO, M. E. de.; PENNA FILHO; PIRES, J. H. N.; MAMIGONIAN, J. R.; BASTOS,
L.; FAGANELLO, C. Seo Chico: um retrato. Curtas catarinenses 2. Florianópolis, Fundo
Municipal de Cinema de Florianópolis, 2006, 1 vídeodisco (130 min): color.
Entrevista concedida à autora por Hilda (82 anos), Irma (79) e Teresinha (70) Schappo,
donas de casa, filhas do comerciante João Schappo, residentes em Garcia, Angelina.
Data: 13/09/2007.
Entrevista concedida à autora por Dalvina de Jesus Siqueira, 78 anos, educadora
aposentada e escritora, neta do comerciante João Nicolau Born, residente no Centro,
Biguaçú. Data: 10/10/2007.
Entrevista concedida à autora por Rafael Reitz, Diretor de Marketing da empresa
Dominik Metalcenter, neto de Domingos Reitz (fundador da empresa), sede no Roçado,
São José. Data: 22/11/2007.
Entrevista concedida à autora por Vidal Lohn Filho, Diretor de Marketing e Sócio da
rede de Supermercados Imperatriz, filho de Vidal Procópio Lohn (fundador da
empresa), sede central no Ipiranga, São José. Data: 23/11/2007.
Entrevista concedida à autora por Antônio Hillescheim, Proprietário e fundador da
empresa AM Construções, sede no Kobrasol, São José. Data: 23/11/2007.
Entrevista concedida à autora por Antônio Obed Koerich, Diretor Presidente das Lojas
Koerich, filho de Eugênio Raulino Koerich (fundador da empresa), matriz no Centro,
Florianópolis. Data: 27/11/2007.
Entrevista concedida à autora por Artur Alex Müller, Sócio Proprietário da Loja A
Barateira, filho e sobrinho dos fundadores do Grupo Müller, sede no Centro,
Florianópolis. Data: 28/11/2007.
Entrevista concedida à autora por Sérgio Sell, Diretor Administrativo, Jurídico, Contábil
e Sócio Proprietário da Bebidas Leonardo Sell, bisneto de Alfredo Sell (fundador da
primeira empresa), sede no Centro, Rancho Queimado. Data: 05/12/2007.
Entrevista concedida à autora por Dionísio Deschamps, Proprietário e fundador da
Construtora Dionísio Deschamps, sede no Kobrasol, São José. Data: 06/12/2007.
Entrevista concedida à autora por Fabiano L. Gerber, Diretor Comercial e sócio da
Gerber Móveis, filho de Antônio Jonas Gerber (fundador da empresa), filial no Centro,
Florianópolis. Data: 07/12/2007.
167
Entrevista concedida à autora por Aldo Nienkötter, Proprietário da rede de Postos
Nienkötter, matriz em Capoeiras, Florianópolis. Data: 08/12/2007.
Entrevista concedida à autora por Ervino Stähelin, 79 anos, caminhoneiro aposentado,
irmão de Celso Stähelin (proprietário da então fábricas Stähelin) e pai do atual prefeito
municipal, residente em Boa Parada, São Pedro de Alcântara. Data: 18/04/2008.
KOERICH 50 anos. Uma história de sucesso. 1955-2005. [produção institucional da
empresa]. Florianópolis, Lojas Koerich, 2005, 1 vídeodisco (100 min): color. (doação)
MÜLLER, M. J.; RICKEN, I. Palestra: Carl Hoepcke – Notas sobre sua contribuição para
a economia de Santa Catarina. In: II Simpósio sobre Cultura e Imigração Alemã na
Grande Florianópolis, Auditório do Tribunal de Contas do Estado de Santa Catarina,
Florianópolis, Instituto Carl Hoepcke, 14/06/2007, (50 min).
Roteiro da Entrevista (em apêndice) respondido por Jair Philippi, proprietário da
Protensul Pré-fabricados de Concreto, através do e-mail <[email protected]> para
<[email protected]>. Data: 24/06/2008, 13:24:18.
SEYFERTH, G. Palestra: O conceito de Cultura Teuto Catarinense.In: II Simpósio sobre
Cultura e Imigração Alemã na Grande Florianópolis, Auditório do Tribunal de Contas do
Estado de Santa Catarina, Florianópolis, Instituto Carl Hoepcke, 15/06/2007, (40 min).
6 - Consultas e Informações Verbais
Arquivo Público Municipal de Florianópolis (2007 e 2008).
Casa de Cultura – Prefeitura Municipal de São Pedro de Alcântara (2008).
Departamento Pessoal da Hoepcke Bordados S.A. (2007).
Instituto Carl Hoepcke (2007).
Kobrasol Empreendimentos Imobiliários Ltda (2007).
Márcio Ricardo Teixeira Moreira – Doutorando em Geografia/UFSC (2007 e 2008).
Mateus Schappo – Mestrando em Geografia/UFSC (2007).
Mercado de Carnes Kretzer Ltda (2006).
Pedro Böeng – nascido em São Bonifácio, morador de Balneário Camboriú (2008).
Professor PhD. João Klug – Departamento de História/UFSC (2006, 2007 e 2008).
Secretária Cristiane (do Sr. Antônio Scherer) – Beiramar Shopping (2007).
Serviço de Patrimônio Histórico – IPUF (2008).
168
APÊNDICE
169
Apêndice 1 - Roteiro Básico das Entrevistas junto aos Empresários
A) PERFIL DE CONSTITUIÇÃO DA EMPRESA
1 - Início histórico cidade de origem, o nome do fundador e profissão, origem do
capital inicial, local da 1ª sede, ano, mudou-se para onde, primeiros concorrentes, o
motivo (se houve mudança de ramo), as dificuldades iniciais:
2 - Momento econômico brasileiro e/ou situação local que favoreceu uma primeira
expansão da empresa.
3 - Relatar brevemente os momentos (décadas) mais importantes de crise e superação
da empresa.
4 - Houve algum pioneirismo de produtos/serviços por parte da empresa? Qual?
Quando? De onde veio o conhecimento para introduzi-lo?
5 - Houve associativismo com irmão(s)... Qual o papel da família? No caso de empresa
familiar, qual a geração que está no comando (1ª, 2ª, 3ª)? Está acontecendo
preparação do sucessor?
B) ESTRUTURA E COMPETITIVIDADE
6 - Qual a estratégia de comercialização – estrutura própria (c/ ou s/ filiais?), acordos
comerciais (venda terceirizada), em comissões (vendedor externo), franquias, etc?
7 - Patrimônio Físico: Ano de inauguração/fechamento de cada sede, indicando
bairro/cidade. Circunstâncias que o levaram a investir em outros ramos de atividade ou
na abertura de filiais:
8 - Para grupos que se dividiram
: Motivo, ano da divisão e participação acionária (%):
9 - Sobre as empresas concorrentes: Qual a proporção (%) de concorrentes de origem
local e (%) concorrentes vindos de fora da região? Possui algum tipo de contato com a
concorrência direta?
10 - A empresa já se envolveu com apoio político?
11 - Atualmente, qual o número de funcionários?
12 - Qual o percentual de produtos que a própria empresa produz e comercializa?
170
C) O MERCADO LOCAL
13 - Qual a área de atuação
da empresa?
- Aglomerado Urbano de Florianópolis (
Fpolis, São José, Biguaçú,
Palhoça)
- Grande Florianópolis (entre os 22 municípios)
- Granfpolis e outra(s) região(ões). Citar qual(is).
- Estados do Sul/ Brasil. Citar os estados.
14 - Em relação ao seu ramo de atividade
, o mercado da Grande Florianópolis está em
crescimento ou já alcançou a maturidade? Nesse caso, quando acredita que chegou?
15 - É líder em vendas ou qual a colocação no seu seguimento na Grande
Florianópolis?
16 - A matriz está situada em Florianópolis, São José ou em qual cidade?
(Fornecer um mapa com filiais, quando forem muitas)
17 - Escolha quatro
itens abaixo e ordene de 1 a 4 numa escala das principais
dificuldades encontradas para se manter na Grande Florianópolis:
a) manutenção dos custos (porque considera o mercado sazonal)
b) encontrar e manter bom nível de mão-de-obra
c) acompanhar as tendências de consumo frente ao crescimento urbano
d) negociar preços e entregas com os fornecedores
e) superar a concorrência (pois a competição é equilibrada)
f) obter empréstimos junto aos bancos
g) realizar boa parte das vendas a prazo
h) alcançar uma imagem respeitada e reconhecida
i) a valorização dada aos imóveis (terrenos, pontos e salas comerciais...)
j) logística rodoviária de atendimento à região (trânsito intenso ilha-continente e
BR-101, distância do interior...)
l) Se desejar, inclua outro:
18 - Fale sobre as vantagens de atuação na Grande Florianópolis em relação a outras
áreas catarinenses que tenha conhecimento:
171
D) SOBRE O EMPRESÁRIO
19 - Como se mantém atualizado sobre as novidades no seu ramo?
20 - Quais ensinamentos familiares foram importantes para a sua formação como
empresário?
21 - A religiosidade é fundamental na sua vida? Apóia alguma igreja ou irmandade?
22 - O Senhor e sua família preservam costumes ou alguém na mesma fala um dialeto
alemão?
23 - Já buscou fazer a árvore genealógica e/ou pesquisar brasão, cidade de origem e
parentes na Alemanha?
24 - Realiza encontros festivos com descendentes de alemães? A sua empresa é
divulgada ou já apoiou esses eventos?
25 - O Senhor se considera um “empresário teuto-brasileiro”? Porque?
26 - A descendência alemã de algum modo contribuiu para o sucesso de sua empresa?
Explique:
27 - O senhor acredita que a valorização do sobrenome de origem alemã na razão
social de uma empresa pode funcionar como um indicativo de eficiência e
credibilidade?
172
Apêndice 2 - Lista dos principais sobrenomes de origem alemã presentes na
relação de econômicos do município de São José (em ordem alfabética)
Albrecht, Alflen, Althoff, Arns, Assing, Assmann, Anderle, Annusenk, Bach, Back, Barth,
Bauer, Baumgarten, Beck, Berger, Bergmann, Beppler, Berenhauser, Berkenbrock,
Bernes, Bernhart, Besen, Bizz, Böell, Born, Brandt, Brellinger, Braunn, Broemer,
Broering, Brüggemann, Brun, Bücheler, Buss, Bunn, Conrad, Decker, Deeke,
Deschamps, Deucher, Dircksen, Eger, Egert, Ewald, Faber, Faust, Feiber, Felippe,
Feltrin, Folster, Franz, Freiberger, Friedemann, Fritzen, Fuerbach, Fuber, Gerber,
Gerlach, Gevaerd, Gipp, Goerdet, Goetz, Gorges, Grimm, Grisard, Groth, Guchert,
Grudtner, Guesser, Hablitzel, Hames, Hang, Hans, Harger, Hartmann, Hasse,
Hausmann, Heberle, Heinz, Heinzen, Hermesmeyer, Henke, Hess, Hillesheim, Hinckel,
Hirtz, Hoffmann, Horn, Hubert, Iahn, Iwersen, Jacques, Jacob, Jahn, James, Jochem,
Junckes, Justen, Juster, Juttel, Kahlenberger, Kamer, Kammes, Kill, Kirchner, Klein,
Kloeppel, Kloppel, Klueger, Knabben, Knoll, Koenig, Koerich, Kolling, Koning, Korbs,
Kolz, Kroll, Krause, Krauss, Kremer, Kretzer, Kroon, Kuerten, Kuhn, Kuhnen, Kuntze,
Lehmkuhl, Lohn, Loch, Loks, Losekann, Luchmeyer, Luckmann, Lummertz, Lutz, Maffei,
Mannes, Marschner, Martendal, Mathias, Maykot, Meinchein, Meurer, Meyer, Michels,
Momm, Moritz, Niehues, Nienkötter, Passing, Peifer, Plentz, Probst, Phillipi, Prim, Platt,
Petersen, Peters, Pirath, Pitz, Pierre, Petry, Quandt, Quint, Rachadel, Radtke, Reitz,
Richter, Rosar, Rupp, Sebold, Seidler, Sell, Sens, Schaffer, Schappo, Scheibe,
Scheidemantel, Scheitzer, Schell, Scherer, Schlemper, Schlosser, Schneider,
Schramm, Schroeder, Schmidt, Schmitt, Schmitz, Schuler, Schurhaus, Sckweitzer,
Sheidt, Somer, Speck, Spengler, Stahelin, Stein, Steinbach, Steffens, Steil, Stodieck,
Stoltz, Stulp, Teske, Thiesen, Turnes, Uldrich, Vandresen, Vilbert, Wagner, Waltrick,
Wang, Wanzeller, Weber, Weinz, Weiss, Wendhausen, Wenz, Werlang, Werlich,
Werner, Wesling, Wesller, Westphal, Wesstrupp, Wiese, Wiethorn, Wiggers, Will, Wild,
Willemann, Winckler, Winter, Zimer, Zimmermann.
Base de dados: Prefeitura Municipal de São José, 2008.
173
ANEXOS
174
Anexo 1
Álbum sobre o complexo vendeiro - Século XIX-XX
Foto 1 - O trapiche da Praia Comprida no município de São José (fins do séc. XIX)
Fonte: Gerlach & Machado, 1982.
Foto 2 - O comércio de Felippe Petry em 1922, na Praia Comprida, São José
Fonte: Gerlach & Machado, 1982.
175
Foto 3 - Vista do centro de São José (anos 1920)
Fonte: Entres, 1929.
Foto 4 - Benjamin Gerlach no seu Café Social, praça central de São José (1930)
Fonte: Gerlach & Machado, 1982.
176
Foto 5 - Estrada Geral de Coqueiros com a Escola Alemã e Salga do Fett (1926)
Fonte: Gerlach & Machado, 2007.
Obs: A Escola Alemã de Coqueiros está no centro à direita (casa com quatro janelas e porta laterais) e a
“Salga do Fett” (pertencente à firma “Fett & Cia”, mencionada no rodapé 134) é a pequena casa na ponta
que avança ao mar.
Foto 6 - A venda rural de João Schappo em 1930, na localidade de Garcia, no
município de Angelina
Fonte: Acervo da família Schappo (2007).
Obs: O município de Angelina possui como data de fundação o dia 10 de novembro de 1860.
177
Foto 7 - Cargueiros transportando produtos na estrada até Lages
Fonte: Entres, 1929.
Foto 8 - Igreja Evangélica de Confissão Luterana em Palhoça (1906)
Fonte: Gerlach & Machado, 2007.
178
Foto 9 - Rua central de Palhoça com traços arquitetônicos luso-brasileiros e, ao fundo, a
Igreja Evangélica
Fonte: Entres, 1929.
Foto 10 - Vista panorâmica de Anitápolis, então distrito de Palhoça
Fonte: Entres, 1929.
Obs: Anitápolis tornou-se município em 29 de dezembro de 1961.
179
Foto 11 - “Santo Amaro” enquanto principal distrito de Palhoça
Fonte: Entres, 1929.
Obs: Santo Amaro emancipou-se do município de Palhoça somente em 10 de julho de 1958, quando
passou a se chamar Santo Amaro da Imperatriz.
Foto 12 - Estrada entre as localidades de Caldas e Santo Amaro
Fonte: Entres, 1929.
180
Foto 14 - Vista do alto da Igreja Matriz de São Pedro de Alcântara (1929)
Fonte: Gerlach & Machado, 2007.
Foto 13 - Visita do governador Adolpho Konder ao comércio de Germano A. Kretzer, no
caminho entre São Pedro de Alcântara e Angelina (1926)
Fonte: Gerlach & Machado, 2007.
181
Foto 15 - Vista parcial do Alto Biguaçú, margeado pelo rio Biguaçú (1929)
Fonte: Entres, 1929.
182
Anexo 2
Classificação dos tipos arquitetônicos
Grupo 1 - De influência portuguesa
Foto 16 - Casa no bairro Limeira, no atual município de Antônio Carlos
Fonte: Arquivo da autora (2007).
Foto 17 - Casa no bairro Santa Filomena, em São Pedro de Alcântara
Fonte: Arquivo da autora (2007).
183
Foto 18 - Casa no bairro Garcia, município de Angelina
Fonte: Arquivo da autora (2007).
Foto 19 - Casa no bairro Vargem Grande, município de Águas Mornas
Fonte: Arquivo da autora (2007).
184
Grupo 2 - Chalés ornamentados
Foto 20 - Casa na rua Alves de Brito, Centro, Florianópolis
Fonte: Arquivo da autora (2007).
Obs: Esta rua fazia parte da chácara de José F. Alves de Brito que, por volta de 1864, doou uma área de
“180 braças de comprimento por 4 de largura” para que fosse traçada uma ligação entre a Praia de Fora
e o Mato Grosso, antigas localidades do Centro (VEIGA, 2000). Houve uma concentração de chalés
neste local, com três ainda remanescentes.
Foto 21 - Antiga casa da família Bunn, Praia Comprida, São José (demolida)
Fonte: Farias, 1999.
Obs: Demolida há menos de dez anos. No local, atualmente, existe uma revenda de veículos e drive in.
185
Foto 22 - Casa na av. Bocaiúva esq. Othon Gama D’Eça, Centro, Florianópolis
Fonte: Arquivo da autora (2007).
Foto 23 - Casa na av. Santos Saraiva esq. Marechal Câmara, Estreito, Florianópolis
Fonte: Arquivo da autora (2008).
186
Grupo 3 - Casarões de comerciantes
Foto 24 - Sobrado de João Nicolau Born (1892), Centro, Biguaçú
Fonte: Arquivo da autora (2007).
Obs: Este casarão está sendo restaurado para abrigar um centro cultural, através da iniciativa da
Prefeitura Municipal de Biguaçú.
Foto 25 - Casa que pertenceu a Fernand Hackradt (Século XIX), família Scheele e ao
barão Dietrich Freiherr von Wangenheim, Centro, Florianópolis
Fonte: Arquivo da autora (2007).
Obs: Segundo apontamentos do IPUF, havia um proprietário antes de Fernand Hackradt (VEIGA, 2000).
187
Grupo 4 - Casas comerciais-residenciais
Foto 26 - Casarão Philippi construído em 1907, Vargem Grande, Águas Mornas
Fonte: Arquivo da autora (2008).
Obs: Conforme parecer da Fundação Catarinense de Cultura, trata-se o casarão de um importante
exemplar arquitetônico com características urbanas, apesar de situado em área rural (BASTOS, 2008).
Foto 27 - Casa de Germano Kretzer construída em 1920, Santa Filomena, São Pedro
de Alcântara
Fonte: Arquivo da autora (2007).
Obs: Este casarão da foto é a parte principal de um complexo de três casas, quando Germano Kretzer
atendia os tropeiros com uma estalagem, uma cancha de bocha coberta, a sua própria residência e a
venda de “secos e molhados”.
188
Foto 28 - Antigo Comércio de Felippe Petry construído em 1908, Praia Comprida,
São José
Fonte: Arquivo da autora (2007).
Obs: O mesmo casarão aparece na foto 2, onde está posando membros da família e, atrás dela, estão as
portas originais do comércio. Hoje, esta casa é uma raridade no seu estilo amplo de armazém, que há
algumas décadas também se percebia nas vias centrais de Palhoça e Santo Amaro da Imperatriz.
Foto 29 - Comércio inicial de Eugênio Raulino Koerich (1930), Col. Santana, São José
Fonte: Arquivo da autora (2007).
Obs: Esta foi a célula inicial do Grupo Koerich. A terceira e a quarta janela, da esquerda para a direita,
davam lugar às portas comerciais do “secos e molhados” a partir de 1931, morando a família no restante
da casa. Mais tarde, à esquerda da residência, edificou-se uma loja de processamento de carnes.
189
Foto 30 - Antigo prédio de vendeiro, Centro, Rancho Queimado
Fonte: Arquivo da autora (2007).
Foto 31 - Antigo “secos e molhados” rural de João Schappo construído em 1920,
Garcia, Angelina
Fonte: Arquivo da autora (2007).
190
Foto 32 - Antiga casa vendista rural, Santa Filomena, São Pedro de Alcântara
Fonte: Arquivo da autora (2007).
Obs: A Prefeitura Municipal de São Pedro de Alcântara está buscando informações sobre o seu
funcionamento e data de construção, estimando em torno de 1920. Atualmente, há projeto de
restauração da casa que foi adquirida pelo Instituto Carl Hoepcke, a fim de torná-la um centro cultural.
Foto 33 - Casa com aparência de ex-vendista no centro de Antônio Carlos
Fonte: Arquivo da autora (2007).
191
Anexo 3
Algumas sedes comerciais ou industriais das firmas de Desterro/Florianópolis
Foto 34 - Moinho inicial de Hackradt e Ebel (séc. XIX)
Fonte: Entres, 1929.
Foto 35 - Antiga sede (ao fundo) de Hackradt e posterior de Hoepcke (séc. XIX)
Fonte: Müller, 2007.
192
Foto 36 - Seções de Fazendas (esq) e Ferragens (dir) da firma Hoepcke, rua Altino
Corrêa (Conselheiro Mafra) esquinas com a Deodoro
Fonte: Boletim Comercial, abr/1920.
Obs: Tratam as fotos 35 e 36 do mesmo local (atualmente a rua Conselheiro Mafra esquinas com a rua
Deodoro), onde é possível constatar o quadro evolutivo do comércio da firma Hoepcke. O prédio da
esquerda, décadas depois, cederia lugar para o moderno centro comercial ARS.
Foto 37 - A “Fábrica Santa Catarina” da firma Wendhausen, na rua Bocaiúva
Fonte: Boletim Comercial, mai/1920.
193
Foto 38 - Interior em funcionamento da “Fábrica Santa Catarina”
Fonte: Boletim Comercial, set/1920.
Foto 39 - Padaria Moritz (lado direito) na esquina da rua Felipe Schmidt (década 1950)
Fonte: IBGE, 1959.
194
Foto 40 - Casa Moellmann na rua XV de Novembro, em Blumenau (década 1960)
Fonte: Silva, 1969.
195
Anexo 4
A Comunidade Luterana de Florianópolis na atualidade
Foto 41 - A Igreja da Comunidade Luterana de Florianópolis
Fonte: Arquivo da Autora (2008).
Foto 42 - A Escola Alemã da Comunidade Luterana de Florianópolis
Fonte: Arquivo da Autora (2008).
196
Anexo 5
Prédios centrais edificados com capitais de descendência alemã
Foto 43 - Prédio do antigo atacado Hoepcke
Fonte: Arquivo da autora (2008).
Obs: Este prédio remete ao início do século XX, sendo o mesmo visualizado na foto 36 (lado direito).
Foto 44 - Prédio na rua Felipe Schmidt esq. com Deodoro
Fonte: Arquivo da Autora (2008).
Obs: Inicialmente, este prédio abrigou a revenda de automóveis Hoepcke. Nesta época, havia a
concorrência direta da firma “Tuffi Amin & Irmão”, situada no prédio branco ainda existente na esquina ao
lado. A partir da implantação do calçadão (década de 1970), o prédio passou a ser alugado para alguns
estabelecimentos comerciais, onde atendeu, principalmente, a loja Kilar pertencente ao grupo Koerich.
197
Foto 45 - O Centro Comercial ARS, na rua Conselheiro Mafra
Fonte: Arquivo da autora (2008).
Obs: Inaugurado em 20 de novembro de 1975, o ARS foi o primeiro centro comercial da cidade,
abrigando 57 lojas e 120 conjuntos comerciais, numa área total de 17 mil m². Viabilizou-se o
empreendimento pela parceria do grupo Hoepcke, Maguefa e Sul Brasileiro (TANCREDO, 1998).
Foto 46 - Prédio da antiga fábrica de pregos Hoepcke
Fonte: Arquivo da autora (2008).
Obs: Quando foi vendido durante a década de 1990, este prédio abrigou uma unidade dos
supermercados “Imperatriz”. Atualmente, neste local funciona uma casa de shows e eventos, a partir da
sociedade de Vidal Lohn Filho (um dos proprietários da rede Imperatriz) com um empresário de Santo
Amaro da Imperatriz, dedicado ao ramo de casas noturnas (proprietário da “New Time Danceteria”).
198
Anexo 6 - Contribuições à Campanha de Aviação Nacional até 07/09/1942
Empresa até 500$000 Valor Empresa menos de 500$000 Valor
Carlos Hoepcke S.A Ind. Com 50:000$000 Reinaldo Filomeno 300$000
Meyer & Cia Irmãos Glavan
S.A. e Comercial Moellmann
10:000$000
H. Soncini
Jorge Salum S.A. Comercial 6:000$000 Libório Soncini
250$000
Ernesto Beck & Cia José Jorge
Ernesto Riggenbach & Cia Ltd Eduardo Santos
Fernandes Neves & Cia Farmácia Esperança
Ludgren & Irmão, Lojas
Pernambucanas
5:000$000
Carlos Galuf
José Rosa Cherem & Cia João Cascais
Eduardo Horn Procópio Borja
Busch & Cia Paulo Schlemper
Felipe O. Laporta
3:000$000
Panagioti Mandalis
Syriaco T. Atherino & Irmão Miguel Mandalis
Estefano Kotzias & Filho Francisco Grillo & Filhos
Romanos & Irmão João Batista Berreta
Orlando Scarpelli Firmino Vieira
Estefano Nicolau Savas Cyriaco Christoval
R. Schnorr Viúva Antônio Perrone
200$000
Machado & Cia Limongi & Evangelista
Alberto Entres Arnoldo Heidrich
150$000
Moritz & Cia Casa Oscar Lima
Tom Wildi Farmácia Santo Agostinho
Otto Bernhardt João Atanásio
Anastácio Kotzias Pedro Xavier & Cia
Empresa Auto Viação Catarinense
2:000$000
Oscar M. Sohn
Dr. Álvaro Millen da Silveira Armando H. da Silva
Um anônimo Domingos Cardoso
Demétrio Lucas Euclides Pereira
Teodoro Ferrari Roberto Müller
J. Braunsperger Norberto Domingos da Silva
Demétrio Camburis Francisco Berka
Siríaco J. Kalafataz Paulina Silva & Filhos
Machado & Martins Nelson Di Bernardi
Milton Espezim Vieira Carione & Irmão
André Maykot Walter Moritz
José Araújo & Cia H. O. Ligock
Campos Lobo & Cia Werner Schmidt
M.A.S. Carvalho
1:000$000
Luis Batistotti
Brando & Cia Pedro Bruno
José Elias (Casa Paraíso) Faraco & Cia
Eliseu Di Bernardi Nicolau Jorge Berber
Filomeno & Cia Osmar Regueira
Gerken & Cia Francisco Evangelista
Viúva João Moura Júnior Antônio B. Pereira
Paulo T. Posito João Di Bernardi
Antônio Augusto Lehmkuhl Anônimo
Kosmos Apóstolos
500$000
Leopoldo Kraemer
100$000
199
(Continuação)
Empresa menos de 500$000 Valor
José Francisco da Silva
João da Cruz Simão
José Salem Filho
Jorge Barbato
Dr. Sílvio Ferraro
Eugênio Szpoganicz
Álvaro Soares de Oliveira
Jaci Daussen
João Abraham
L. Früberger & Cia
100$000
Lauro Mendes
João Augusto de La Martinière
João Corrêa de Amorim
J. Moreira & Cia
50$000
Fonte: Boletim Comercial, set/1942.
200
Carlos Hoepcke S. A. Comércio e Indústria
Balanço geral de 31 de dezembro de 1945
ATIVO
Imobilizado
Propriedades 2.624.837,50
Embarcações 806.808,00 3.431.645,50
Disponível
Caixa: em moeda corrente e bancos 2.349.707,20
Realizável a curto e longo prazo
Devedores 25.622.952,20
Mercadorias 27.643.677,60
Matéria-prima 1.208.590,50
Particip.,bônus guerra,apólices1.615.536,60
Diversas contas 146.989,10 56.237.746,00
Contas de compensação
Ações caucionadas 80.000,00
Cr$ 62.099.098,70
PASSIVO
Não exigível
Capital 6.800.000,00
Reserva 6.700.000,00
Fundo de Previsão 4.500.000,00
Fundo para flutuação ativo 6.000.000,00
Fundo depreciação imóveis 3.431.645,50
Fundo para participações 1.615.536,60
Fundo para contas duvidosas 2.400.000,00
Fundo de auxílio 276.523,60
Lucros suspensos 40.128,20 31.763.833,90
Exigível a curto e longo prazo
Credores 28.730.819,40
Diversas contas 708.445,40
Dividendo 816.000,00 30.255.264,80
Conta de compensação
Caução da diretoria 80.000,00
Cr$ 62.099.098,70
Anexo 7 - Balanços da firma Hoepcke nos exercícios de 1942 e 1945
Carlos Hoepcke S. A. Comércio e Indústria
Balanço geral de 31 de dezembro de 1942
ATIVO
Imobilizado
Propriedades 976.562,30
Embarcações 769.351,80 1.745.914,10
Disponível
Caixa: em moeda corrente e bancos 2.040.039,55
Realizável a curto e longo prazo
Devedores 14.678.729,59
Mercadorias 15.837.654,75
Matéria-prima 799.061,90
Participações 537.394,90
Diversas contas 93.193,65 31.946.034,79
Contas de compensação
Ações caucionadas 120.000,00
Cr$ 35.851.988,44
PASSIVO
Não exigível
Capital 6.800.000,00
Reservas 6.700.000,00
Fundo de Previsão 4.500.000,00
Fundo Especial Navegação 600.000,00
Fundo de Auxílio 297.600,00
Fundo para Contas Duvidosas 1.000.000,00
Lucros suspensos 115.298,27 20.012.889,27
Exigível a curto e longo prazo
Credores 14.687.786,07
Diversas contas 11.313,40
Dividendo 1.020.000,00 15.719.099,17
Conta de compensação
Caução da diretoria 120.000,00
Cr$ 35.851.988,44
Fonte: Boletim Comercial, Abr/1943 e Abr/1946.
201
Anexo 8
Destaques atuais dos descendentes de alemães
Foto 47 - Indústria de Bebidas Leonardo Sell, em Rancho Queimado
Fonte: Arquivo da Autora (2008).
Foto 48 - Unidade da “Lojas Koerich”, situada na rua Conselheiro Mafra, Centro,
Florianópolis
Fonte: Arquivo da Autora (2008).
Obs: Trata-se de um dos primeiros pontos comerciais que atenderam a rede de fiambrerias.
202
Foto 49 - Unidade dos supermercados “Imperatriz”, na rua Aniceto Zacchi, Ponte do
Imaruim, no município de Palhoça
Fonte: Arquivo da Autora (2008).
Obs: Instalada em 1976, esta unidade foi a primeira filial da rede de supermercados.
Foto 50 - O Bairro Kobrasol no município de São José
Fonte: Acervo da Assessoria de Imprensa de São José (2008).
Obs: Neste bairro, constituíram diversos empresários da construção civil, dentre os quais, os irmãos
Koerich, Antônio Scherer, Antônio Hillesheim, Dionísio e Osvaldo Deschamps.
203
Foto 51 - Protensul com fábrica situada no bairro Ponta de Baixo, em São José
Fonte: Arquivo da Autora (2008).
Foto 52 - Loja Dominik, marginal da rodovia BR-101, no bairro Roçado, São José
Fonte: Arquivo da Autora (2008).
204
Foto 53 - Distribuidora Kretzer, localizada na marginal da BR-101, bairro Praia
Comprida, São José
Fonte: Arquivo da Autora (2008).
Foto 54 - Posto Nienkötter, no bairro Capoeiras, Florianópolis
Fonte: Arquivo da Autora (2008).
205
Foto 55 - Loja da Gerber Móveis, na rua Anita Garibaldi, Centro, Florianópolis
Fonte: Arquivo da Autora (2008).
Foto 56 - Loja “A Barateira” na rua João Pinto, Centro, Florianópolis
Fonte: Arquivo da Autora (2008).
206
Foto 57 - O Beiramar Shopping, Centro, Florianópolis
Fonte: Arquivo da Autora (2008).
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