baseando-se no caráter lúdico e frio das ações de guerra. Posteriormente, Rapaport (1968)
procurou identificar os principais tipos de guerra: a política, a cataclísmica e a escatológica,
abrindo caminho para polêmicas considerações de caráter extracientífico, dir-se-ia mesmo
de caráter filosófico.
No entanto, dentro da visada conceitual que se pretende argüir no decorrer deste
trabalho, parece ter sido o fundador do estudo do tema nos tempos contemporâneos,
Clausewitz, quem melhor, pioneiramente, rondou o “núcleo duro” da questão, sem,
entretanto, extrair de suas próprias reflexões as conseqüências mais necessárias e
inevitáveis, donde o caráter por assim dizer atual de sua principal obra.
No estudo de qualquer fenômeno bélico, Da Guerra de Carl Von Clausewitz
(edição utilizada neste trabalho: 2003) é considerada referencial obrigatório. Nesta obra, o
autor assevera que a guerra se constitui em conflito de grandes interesses onde a solução
encontrada passa pela violência extremada, implicando em derramamento de sangue.
Clausewitz não considera a guerra como arte ou ciência. Compara-a, antes ao comércio em
grande escala, onde prevalece ora a cooperação (a busca de lucros mútuos), ora a
competição (em que um concorrente busca atender a seus interesses em detrimento dos
interesses do outro). A guerra pertence, então, ao domínio da existência humana, ao
contexto social. A guerra é uma ação eminentemente política.
Veja-se:
1. “Afirmamos, pois, que a guerra não pertence ao domínio das artes e das
ciências, mas sim ao da existência social. Ela constitui um conflito de grandes
interesses, solucionado através de sangue, e é só por isso que difere dos outros
conflitos. Seria melhor compará-la, mais que a qualquer arte, ao comércio, que
também é um conflito de interesses e de atividades humanas; assemelha-se mais
ainda à política, a qual, por sua vez, pode ser considerada, pelo menos em
parte, como uma espécie de comércio em grande escala. Além disso, a política é
a matriz na qual a guerra se desenvolve; os seus contornos, já formados de um
modo rudimentar, escondem-se nela assim como as propriedades dos seres
vivos nos seus embriões”. (Clausewitz,2003:127)
e
2. “Por isso dizemos que a guerra não pertence nem ao campo da arte ou ao
da ciência, mas ao campo social. É um conflito de grandes interesses que é
resolvido com derramamento de sangue, e só nisso difere dos outros. Em vez de
compará-lo com qualquer arte, seria melhor assemelhá-lo a uma competição de
negócios, e que é também um conflito de interesses. É uma atividade humana e é
ainda mais parecida com a política do Estado que também, por seu lado, pode
ser considerado como uma espécie de negócios em grande escala. Além disso, a
política de Estado é o ventre onde a guerra se desenvolve, onde seu contorno
jaz encoberto numa situação rudimentar, tal como as qualidades das criaturas
vivas nos seus germes”. (id.ib.)