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educação. Em Veja comparecem, no desenvolvimento desses temas as prescrições do
enunciador para os leitores, em termos de “dever-saber” e “dever-fazer” destinado aos pais e
professores, por meio de “receituários” de como agir para bem educar os filhos/alunos
segundo valores mais conservadores, via de regra, encontrados na classe média.
Freqüentemente o enunciador de Veja incorpora em seu discurso e a seu serviço as vozes
científicas, ou seja, os especialistas citados, muitas vezes em voz direta o que cria um efeito
de sentido de verdade, de simulacro da realidade e as direciona em sentidos bem determinados
para, assim, promover a adesão do enunciatário ao contrato comunicativo.
Assim, são aqui examinadas as construções discursivas sobre a educação em Veja,
considerando que por meio da apropriação de recortes da realidade ela constrói re-
interpretações para que o leitor entenda o tema com mais clareza (segundo posição da própria
revista) através de mapas cognitivos destinados a pais e educadores, explicando “como fazer”
para educar. Esta é uma das hipóteses aventadas neste trabalho.
Outra hipótese aqui lançada é a de que a revista, por meio de construções discursivas
verbo-visuais, promove a adesão ou descrédito às políticas e instituições educacionais, num
cenário em que poucos conseguem passar pelo funil educacional, provocado pela escassez das
vagas: a imagem é de que próximo à boca, larga, estão aqueles, os Outros, que ficarão
distantes de uma estreita passagem reservada a pouquíssimos privilegiados social e
financeiramente que, segundo a mídia, conseguem uma famigerada vaga nas universidades de
grife. Notamos ser recorrente a preocupação da revista com o ranking das melhores
universidades como sendo um grande problema para os filhos da classe média leitora-
enunciatária, o que Prado chama de Mesmo
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. Acreditamos que há também reportagens que
valorizam o ensino privado, em detrimento do público, que, por sua vez, só surge retratado
euforicamente quando se fala das “ilhas de excelência”. Assim, consideramos que Veja
participa fortemente, via estratégias discursivas, da modelagem da opinião pública a respeito
da educação.
Clarificados o campo do saber, o objeto, a problemática e as hipóteses, tornando-se
agora fundamental apontar os objetivos que motivaram esta pesquisa. O objetivo geral
consiste em examinar o corpus por meio dos caminhos propostos pela semiótica discursiva,
para entender as construções discursivas da revista sobre o tema educação. Para tanto
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O Mesmo refere-se a modelos aceitos, objetivados pela classe média, que criam dispositivos de identificação
por meio da valorização do crescimento e sucesso pessoal, profissional e social. Prado denomina Mesmo aos
espaços sociais em que são construídos e distribuídos valores dos usuários de dispositivos comunicacionais
sistêmicos, espectadores das diversas mídias. Existem “estratégias de visibilidade para o aparecimento das
figuras do Mesmo, dependendo da agenda temática da mídia” (Prado e Bairon, 2007).