Lucas experienciar o seu livre viver, o seu livre emocionar. É possível ajudar
Lucas, ou esse é um trabalho que deverá exercer sozinho?
“Você vai estar lá dentro, mas você vai continuar escutando tudo que os
outros falam. Você vai estar desligado do mundo, vai estar longe. Mas é como
se tivesse um alto-falante dentro da sala que transmitisse o que acontece no
mundo para você. Está tudo projetado em você. Você não vai achar a paz
nisto”. O movimento entre externo e interno é clarificado nessa fala. O alto-
falante, com as vozes, obrigações e exigências do mundo externo continuará
tocando dentro da sala, dentro de mim. Não dá para me desconectar do mundo
externo se o alto-falante insistir em funcionar. E, sim, concordamos com Lucas
ao nos dizer que não encontraremos paz se os alto-falantes não silenciarem.
Podemos perceber também, na narrativa do aluno, a dimensão de seu
autoconhecimento ao expressar em metáfora os anseios anímicos de seu viver.
Portas, chaves. Aberturas, trancas e isolamentos. O que quer dizer tudo isso?
E como podemos nos conhecer? A esta pergunta, Krishnamurti (1980)
nos responde:
Esta é uma boa pergunta. Ouçam atentamente. Como sabem o que
são? Compreendem o que interrogo? Vocês olham uma vez para o
espelho; depois de alguns dias ou algumas semanas, tornam a olhar
e dizem: “Este sou eu de novo.” Certo? Então, olhando-se
diariamente no espelho, passam a reconhecer o próprio rosto,
afirmando: “Este sou eu.” Pois bem. De igual modo, pela observação
serão capazes de saber como são? De conhecer seus gestos, a
maneira de andar, o modo de falar, como se comportam, se são
duros, cruéis, grosseiros, pacientes? É desta maneira que começam
a descobrir-se. E virão a compreender-se observando-se no espelho
do que fazem, do que pensam, do que sentem. Este é o espelho - o
sentir, o fazer, o pensar. Através dele poderão observar-se. O espelho
diz: este é o fato, mas ele não lhes agrada, e desejam alterá-lo.
Começam então a distorcê-lo, pois não querem vê-lo como é. Ora,
como eu disse antes, nós aprendemos quando existe atenção e
silêncio. É assim que ocorre o aprender. Agora, sentem-se
calmamente; não porque eu lhes estou pedindo, mas por ser este o
meio de aprender. Sentem-se e fiquem tranqüilos, não apenas
fisicamente, não só com o corpo, mas também com serenidade.
Assim, neste estado de quietude, prestem atenção. Atentem para os
ruídos que vêm de fora, para o cantar do galo, dos pássaros, para
todo e qualquer barulho; ouçam primeiro as coisas que acontecem
externamente e, depois, o que se passa na própria mente. Então,
poderão notar, nesse silêncio, se souberem escutar, que o som
interno e o interno são o mesmo som. (KRISHNAMURTI, 1980, p. 53)
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