tradição eclesiástica, Tillich não se limitou às fontes deste gênero, buscando
principalmente na cultura
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sua fonte de reflexão.
Deve-se notar que Tillich desenvolveu uma teoria que discorda, até os dias de
hoje, de um conformismo com a maneira eclesiástica de ver a vida. Ele estava em
busca de uma abertura da teologia, desvinculando-a de dogmas e do
aprisionamento dos mesmos. Estava em busca de encontrar, dentro das esferas da
vida, a expressão da substância religiosa, de modo inverso ao proposto pelas
instituições religiosas. Ou seja, tais instituições e ainda pensavam a relação
religiosa apenas dentro da esfera eclesiástica e, conseqüentemente por seus
próprios critérios e não em todos os campos da existência, como propunha Tillich.
Em suas próprias palavras: “A cultura teônoma expressa nas suas criações a
preocupação suprema e o sentido transcendental não como algo que lhe seja
estranho, mas como seu próprio fundamento espiritual”
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.
Portanto, vemos que Tillich pensava numa teologia em diálogo constante com a
cultura. E se o compreendemos bem, ele pensava a cultura enquanto cultivo do
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Num período que compreende os anos de seus estudos iniciados em 1904 na
Universidade de Hale, na Alemanha, e o início do trabalho acadêmico de Tillich em Berlim a
partir de 1919, o conceito de cultura em seu contexto, destacava-se pela sua interpretação
etimológica, tendo como significado o cultivo numa perspectiva agrícola. Este significado
ampliava-se para o âmbito do cultivo do pensamento por meio das atividades intelectuais
desenvolvidas pelo ser humano. Essa noção foi incorporada pela língua alemã grafando-a por
Cultur, mudando-se a grafia para Kultur. Nessa mesma época, surgiu também um conceito
conhecido por Kulturprotestantismus, que representava uma acomodação germânica de posturas
teológicas ao pietismo burguês, assim como um desinteresse político caracterizado pela ausência
de crítica profética. Assim, a forma como Tillich reinterpretou Kultur foi uma maneira de criticar a
aristocracia. Quando Tillich apresentou a “teologia da cultura” na palestra “Sobre a idéia de uma
teologia da cultura – 1919”, vigorava esse conceito de cultura associado ao Kulturprotestantismus,
por isso ele utilizou o termo Theologie der Kultur (teologia da cultura) em lugar de Kultur-
Theologie (algo próximo a “teologia cultural”). Para descrição detalhada incluindo a comparação
deste conceito com o de civilisation, usado por franceses e ingleses nessa época ver: CALVANI,
Carlos E.B. Teologia e MPB. São Paulo: Loyola, São Bernardo do Campo: UMESP, 1998, p. 42.
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TILLICH, Paul. A Era Protestante. Trad. Jaci Maraschin. São Paulo: IEPG, 1992, p.
85.