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Confirmação da natureza de candidatas Herbig Ae/Be:
comparação com a fase pós-ramo assintótico das gigantes
Rodrigo Georgétti Vieira
Orientadora: Profa. Dra. Jane C. Gregorio Hetem
Dissertação apresentada ao Instituto de Astronomia, Geofísica e
Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo como requisito
parcial para a obtenção do título de Mestre em Ciências.
Área: Astronomia
São Paulo
2007
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Vieira, Rodrigo Georgétti
Estrelas do PDS candidatas a pós-AGB
/Rodrigo Georgétti Vieira – São Paulo 2007 – 151p.
Dissertação (Mestrado) – Instituto de Astronomia, Geofísica e
Ciências Atmosféricas, 2007.
Orientador(a): Profa. Dra. Jane C. Gregorio Hetem
1. Estrelas pós-AGB. 2. Estrelas de pré-seqüência principal. 3. Envoltórios circunstelares
I. Título.
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Agradecimentos
Eu agradeço
ao Wilton pelos cafés e conselhos em uma época difícil
ao Adão por ter me mostrado o prazer de olhar para o céu
aos meus pais, por sempre terem me apoiado no caminho que eu escolhi
à Jane, por toda atenção e por tudo que ela me ensinou (não só Astronomia)
aos meus amigos, velhos e novos, de quem eu gosto tanto e que tanto me ajudaram
Resumo
Este trabalho tem o objetivo de estudar a natureza de uma amostra de 27 objetos observados no Pico
dos Dias Survey (PDS), uma busca por estrelas jovens. O critério de seleção empregado nesta busca, baseado
nas cores IRAS, levou à observação não só de objetos jovens, mas também a estrelas em estágios evolutivos
mais avançados, além de outros objetos interessantes. O excesso de emissão no infravermelho distante revela
uma característica da poeira contida no material envoltório do objeto que é comum tanto a estrelas embebidas
de natureza jovem quanto a objetos que já deixaram a seqüência principal e sofrem um processo severo de
perda de massa.
Desta forma, pretende-se explorar ao máximo os possíveis indicadores do estágio evolutivo destes
objetos presentes na literatura, tais como as fotometrias na faixa do óptico; infravermelho próximo, médio e
distante; distribuição espacial e possível associação com complexos de formação estelar e características
espectrais disponíveis.
Outro passo importante na direção de nosso objetivo é a modelização do envoltório circunstelar de
poeira destes objetos, a exemplo de Gauba & Parthasarathy (2004). Este modelo será gerado pelo código
DUSTY (Ivezic et al. 1999), que reproduz a distribuição espectral de energia (SED) emergente do objeto a
partir dos cálculos do transporte radiativo no ambiente deste envoltório. Os parâmetros de ajuste deste
modelo são as características físicas do envelope, tais como profundidade óptica, perfil radial de densidade, e
temperatura na superfície interna do envoltório.
Abstract
This work aims to study the nature of a sample of 27 objects observed at the Pico dos Dias Survey
(PDS), a search for young stars. The selection criteria adopted on this search, based on IRAS colours, has led
us not only to the detection of young objects, but also of stars in more evolved stages of evolution, besides
another interesting objects. The excess on the far-infrared emission reveals a feature of the dust present in the
stellar envelope wich is common to both young stars and objects which have already left the main sequence
and are suffering a severe mass-loss process.
In this manner, we intend to explore all the possible indicators of the evolutive stage of these objects
present on the literature, such as photometric data in the optical, photometry in the near, medium and far-
infrared, spacial distribution with possible association to star forming complexes and the available spectral
information.
Another important step towards our aim is the modeling of the dusty circumstellar environment of
these objects. We will confront the models generated by the DUSTY code (Ivezic et al. 1999) with those by
the two component code developed by Gregorio-Hetem & Hetem (2002). Both of them reproduce the
observed spectral energy distribution (SED) by computing the radiative transport in the modeled
circumstellar structure. The fitting parameters of these models will determine the physical quantities wich
characterize the envelope, such as optical depth, radial density profile and temperature on the inner boundary
layer of the envelope.
Sumário
Lista de Figuras i
Lista de Tabelas vi
Lista de Acrônimos ix
1 Introdução 1
1.1 As estrelas do tipo Herbig Ae/Be 4
1.1.1 Classificação de acordo com a distribuição de energia das Herbig Ae/Be 8
1.1.2 Proposta de cenário evolutivo 14
1.1.3 Considerações finais sobre as Herbig Ae/Be 17
1.2 As estrelas na fase pós-AGB 18
1.2.1 O ramo assintótico das gigantes 21
1.2.2 A fase de nebulosa planetária jovem 25
1.2.3 Classificação das pós-AGB de acordo com a distribuição de energia 28
1.2.4 Estudo do cenário evolutivo das pós-AGB no diagrama de cores IRAS 31
1.3 Identificação através das cores no infravermelho 33
2 O Pico dos Dias Survey 39
2.1 Objetivos 40
2.2 Metodologia 41
2.3 Resultados obtidos pelo PDS 41
2.4 A deteccão de estrelas jovens de massa intermediária 42
2.5 Henize 3-1475 43
2.6 Classificação segundo a distribuição espectral de energia 44
2.7 Critérios de seleção da amostra 47
3 Associação com nuvens moleculares 49
4 Análise dos dados observacionais 63
4.1 Espectroscopia e fotometria ópticas 63
4.2 Espectroscopia infravermelha 66
4.3 Fotometria infravermelha 68
4.4 Correção de Extinção 70
4.5 Classificação segundo as distribuições espectrais de energia 74
4.6 Diagramas de cores 82
4.6.1 Cores no óptico 82
4.6.2 Cores no infravermelho próximo 85
4.6.3 Cores no infravermelho médio e distante 87
5 Modelos de Envoltórios 89
5.1 O código de transferência radiativa 90
5.2 Modelo de disco mais envoltório 94
6 Conclusões 105
7 Perspectivas 109
Referências Bibliográficas 111
Apêndices
Apêndice A: Imagens IRAS em 100 μm 119
Apêndice B: Espectros obtidos pelo PDS 131
Apêndice C: Algoritmos genéticos 149
Lista de Figuras
1.1: Posição da amostra de Hillenbrand et al. (1992) no diagrama de cor-magnitude absoluta.
A linha cheia representa a idade zero de seqüência principal (ZAMS) calculada por Morton &
Adams (1968) e por Balona & Feast (1975). p. 8
1.2: SEDs típicas dos grupos definidos por Hillenbrand et al. (1992). Os pontos cheios
representam as observações terrestres, enquanto os vazios representam os fluxos IRAS. A
linha cheia representa a SED de uma estrela padrão apropriada para cada tipo espectral. A
linha pontilhada presente nos exemplos de SED do Grupo I representam o melhor ajuste do
modelo de disco proposto (lei de potência). p. 10
1.3: Excesso (V 12 m) em função da temperatura efetiva da amostra estudada porμ
Hillenbrand et al. (1992). As estrelas Be clássicas foram extraídas da compilação de Coté &
Waters (1987). p. 12
1.4: Distribuição da amostra de Malfait et al. (1998) no diagrama de cores no IR próximo e IR
médio. A linha tracejada representa a proposta de cenário evolutivo apresentada naquele
trabalho. Os números referem-se a objetos específicos da amostra. p. 15
1.5: Cenário evolutivo proposto por Malfait et al. (1998) baseado no perfil das SEDs. p. 16
1.6: Trajetória evolutiva de uma estrela de 2 M
de metalicidade solar (linha vermelha). A
linha azul representa a evolução de uma estrela com as mesmas caracterísitcas que sofre um
pulso térmico final bastante tardio (evolução do tipo born-again), deslocada de -0,2 nesta
i
escala de temperatura e de -0,5 nesta escala de luminosidade. Os valores expressos ao lado de
cada fase representam o logaritmo do tempo de sua duração aproximada (em anos). Esta
figura é adaptada do artigo de revisão de Herwig (2005). p. 19
1.7: Espectros ISO SWS e LWS combinados da amostra de Sylvester et al. (1999) e
deslocados na ordenada de acordo com sua profundidade óptica em 10 μm. Espera-se que
esta se correlacione com a taxa de perda de massa, mostrando portanto a dependência do
perfil exibido pelo silicato como função desta. p. 23
1.8: Evolução da taxa de perda de massa e da distribuição de energia, respectivamente, para
uma estrela AGB após o pulso térmico final (Steffen et al. 1998). São exibidas as SEDs
relativas aos instantes de tempo especificados na curva evolutiva da perda de massa com o
tempo. As linhas tracejadas representam os espectros intrísecos da estrela central, para cada
uma das temperaturas efetivas especificadas na legenda da figura. p. 25
1.9: SED de IC 2448, uma jovem PN. A linha pontilhada representa o modelo da emissão
contínua ligado-livre e livre-livre; a tracejada corresponde a emissão livre-livre extrapolada
das medidas em rádio; a curva descontínua da esquerda representa a emissão fotosférica e a
ponto-tracejada da direita constitui a emissão do envoltório remanescente da fase AGB. Os
vários pontos representam observações feitas do solo e tomadas pelo satélite IRAS (Zhang &
Kwok 1991). p. 26
1.10: Objetos pertencentes às categorias de PPN propostas por van der Veen et al. (1989): (a)
Classe I: IRAS19386+0155; (b) Classe II: IRAS19067+0811, (c) Classe III: IRAS 17047-
5660. Adaptado da Figura 4 de van der Veen et al. (1989). p. 29
1.11: SED da fonte IRAS19386+0155, uma pós-AGB, representante da Classe I proposta por
ii
van der Veen et al. (1989). As curvas teóricas foram calculadas adotando-se o modelo
proposto por Gregorio-Hetem & Hetem (2002), visando um estudo comparativo com as
estrelas de nossa amostra. p. 30
1.12: Diagrama das cores IRAS [12]-[25] x [25]-[60]. A curva tracejada representa a
seqüência evolutiva dos estrelas ricas em oxigênio, que ocorre da esquerda para a direita do
diagrama. A linha cheia mostra as cores associadas a um corpo negro, para várias
temperaturas. As regiões enumeradas representam o locus típico de categorias específicas de
objetos, especificadas no texto. p. 32
1.13: Diagrama de cores no IR próximo da amostra de García-Lario et al. (1997), sem
correção de extinção. A linha cheia na região I indica a posição correspondente à MSe
estrelas gigantes. A área em destaque contida na região V é referente ànebula box”, definida
por Whitelock (1985). O vetor representa o deslocamento que uma extinção de 10
magnitudes causaria na posição de um objeto. p. 35
1.14: Diagrama das cores IRAS da amostra de García-Lario et al. (1997). Sobrepostas estão as
regiões típicas de cada classe de objeto, propostas por diversos autores (descritas no texto). A
linha cheia representa a curva calculada por Bedijn (1987) associada a uma evolução com
taxa de perda de massa crescente. p. 38
2.1: SEDs dos objetos R Cr A, HD144432 e β Pictoris, típicas dos Grupos 1, 2 e 3,
respectivamente. Esta separação em grupos é definida por Sartori et al. (2003). As curvas
teóricas foram calculadas a partir de um modelo de dupla componente circunstelar, descrito
no Capítulo 5. p. 46
iii
3.1: Distribuição galáctica das estrelas da amostra e da posição central das nuvens escuras
mais próximas a estas estrelas. p. 52
3.2: Mapa de extinção produzido por Dobashi et al. (2005). Em (a) é exibido o mapa
completo e em (b) temos representada em detalhe a região central da Galáxia, onde há uma
maior concentração de nossos objetos. São sobrepostos aos mapas contornos em 0,5 mag e 3
mag, bem como as posições dos objetos da amostra. p. 55-56
3.3: Comportamento da extinção (gráfico superior) e da média do fluxo IRAS em 100 μm
(gráfico inferior), na região próxima de cada objeto, com respeito à estimativa de distância à
borda da nuvem (em escala logarítmica valores negativos omitidos). Este fluxo está
expresso em seus valores logarítmicos, afim de estabelecermos uma base de comparação com
a medida de Av (dada em magnitudes). As barras de erro referem-se ao desvio padrão dos
valores em uma área de de um grau quadrado ao redor das posições analisadas (vide texto).
p. 59
4.1: Espectros ISO SWS e LWS compostos, referentes às candidatas PDS 141, 465, 518 e 581.
p. 67
4.2: Comparação entre as extinções obtidas do tabalho de Dobashi et al. (2005) e aquelas
estimadas a partir do excesso de cor. As barras de erro representam o desvio padrão na região
de 1 grau quadrado ao redor de cada objeto no mapa de extinção de Dobashi et al. A linha
pontilhada indica o locus de coincidência entre os dois métodos. p. 74
4.3: Divisão em classes dos objetos de nossa amostra segundo a distribuição de energia.
iv
p. 76-79
4.4: Distribuição dos subgrupos propostos no diagrama de cores (J-K) x (K-[12]). p. 80
4.5: Distribuição dos objetos de nossa amostra no diagrama de cores (B-V)x(U-B). Os pontos
azuis representam as cores corrigidas como se o objeto fosse de classe V de luminosidade e
os pontos vermelhos são as cores com correção compatível com a classe Iab. Temos também
representadas as curvas referentes às distribuições típicas de estrelas com log g de 2, 3 e 4,
obtidas das tabelas de Bessel et al. (1998). p. 83
4.6: Diagrama das cores H-K x J-H (não corrigidas da extinção), no IR próximo. As regiões
representadas são as propostas pelo trabalho de García-Lario et al. (1997), descritas no
Capítulo 1. p. 86
4.7: Distribuição dos objetos de nossa amostra no diagrama de cores IRAS. As regiões em
destaque referem-se às localizações típicas de variáveis OH/IR (OH/IR), estrelas TT e HAB
(YSO), regiões de HII compactas (HII) e núcleos ativos de galáxias (AGN). A curva em preto
representa a trajetória evolutiva das estrelas OH/IR, que é seguida de uma crescente taxa de
perda de massa (vide Seção 1.3). p. 87
5.1: Ajuste da SED de PDS518 gerada pelo código DUSTY de transferência radiativa. Além
da emissão estelar, propõe-se a existência de duas componentes circunstelares. p. 93
5.2: Representação esquemática do modelo de componentes de GH02, com a especificação
de seus parâmetros geométricos. p. 97
5.3: Ajustes das SEDs da amostra obtidos através do modelo de GH02. p. 98-101
v
5.4: Comportamento da emissão “de céu” (normalizada) obtida a partir das imagens IRAS em
100 μm e a fração do fluxo do envelope com relação ao fluxo total F
e
, obtido através do ajuste
do modelo de GH02. A linha pontilhada representa o locus onde as grandezas estudadas
seriam perfeitamente correlacionadas. p. 102
vi
Lista de Tabelas
2.1: Objetos do PDS selecionados como candidatos a pós-AGB. p. 47
3.1: Posições galácticas dos objetos de nossa amostra e das nuvens mais próximas extraídas
dos catálogos de Lynds (1962) e de Feitzinger & Stüwe (1984). As três últimas colunas
referem-se respectivamente à área da nuvem (dada em graus quadrados), à distância objeto-
centro da nuvem e à distância objeto-borda da nuvem (dadas em graus). p. 51
3.2: A primeira coluna refere-se ao identificador PDS de cada objeto da amostra; a segunda
coluna é a distância fotométrica calculada por Vieira et al. (2003), dada em parsecs; a terceira
e a quarta coluna referem-se, respectivamente, às distâncias (em pc) e aos nomes das SFR
possivelmente associadas a cada objeto, compilados também por Vieira et al. (2003). A
quinta coluna exibe a extinção na posição de cada objeto, sendo a sexta coluna o desvio
padrão associado a este valor; a sétima coluna representa a média do fluxo por área (MJy/sr)
em um quadrado de 1
o
x 1
o
, na vizinhança mais próxima de cada objeto da amostra contido
nas imagens IRAS em 100 m, sendo os respectivos desvios padrões desta médiaμ
representados na última coluna. p. 57
4.1: Dados do PDS extraídos do trabalho de Vieira et al. (2003). A primeira coluna refere-se à
identificação do PDS, da segunda à sexta coluna são apresentadas as fotometrias UBV (RI)
C
observadas, a sétima coluna refere-se ao tipo espectral (Sp. Type) estimado, a oitava a
temperatura efetiva (T
ef
) correspondente segundo o trabalho de Kenyon & Hartmann (1995) e
vii
a última coluna indica a presença das linhas proibidas (F.L.) de [OI] e de [SII]. p. 65
4.2: Dados fotométricos disponíveis na literatura. J, H e K referem-se às fotometrias 2MASS,
a quinta e a sexta coluna indicam os fluxos MSX encontrados para as estrelas de nossa
amostra e as quatro últimas colunas representam os fluxos medidos pelo satélite IRAS. Os
valores de fluxo são dados em Jy. p. 70
4.3: Dados referentes à correção de extinção, compatíveis com as classes de luminosidade V
(MS) e Iab (supergigante). O valores de log g foram extraídos das tabelas de Straisys &
Kuriliene (1981) e as cores intrínsecas (V-I)
0
foram obtidas das tabelas de Bessel et al. (1998).
As extinções Av calculadas a partir destes dados são expressas para ambas as classes de
luminosidade. p. 73
5.1: Parâmetros estelares obtidos através do ajuste das SEDs, com o modelo de GH02. Veja o
texto para uma descrição mais detalhada dos parâmetros estimados pelo modelo. p. 96
6.1: Objetos da amostra que se destacaram em cada uma das análises desenvolvidas. Aqueles
marcados em Av e F
100 mμ
correspondem aos menores valores observados para estas
grandezas. Os destacados na coluna “GH02” se mostraram compatíveis com uma estrutura
circunstelar de uma única componente, segundo os resultados obtidos a partir do ajuste deste
modelo. As linhas que possuem uma cor mais forte ressaltam os objetos que se destacaram
em mais de um dos estudos realizados. p. 106
viii
Lista de Acrônimos
2MASS: Two Micron All Sky Survey
AGB: ramo assintótico das gigantes
AGN: núcleo de galáxia ativo
BB: corpo negro
CIO: Catálogo de Observações Infravermelhas
CSM: meio circunstelar
DSS: Digital Sky Survey
DUPLEX: DUst-Prominent Longitudinally-EXtended
E-AGB: early AGB
GH02: Gregorio-Hetem & Hetem (2002)
gof: goodness-of-fit
GSC: Guide Star Catalog
HAB: Herbig Ae/Be
H-R: Hertzprung-Russel
IR: infravermelho
ix
IRAF: Image Reduction and Analysis Facility
IRAS: Infrared Astronomical Satellite
ISM: meio interestelar
ISO: Infrared Space Observatory
LRS: espectro (IRAS) de baixa resolução
LWS: Long-Wave Spectrometer
MS: seqüência principal
MSX: Midcourse Space Experiment
NOAO: National Optical Astronomy Observatories
OPD: Observatório do Pico dos Dias
PAH: hidrocarboneto policíclico aromático
PDS: Pico dos Dias Survey
PMS: pré-seqüência principal
PPN: proto-nebulosa planetária
PPN1: IRAS19386+0155
PSC: catálogo de fontes puntuais
Sc: contribuição circunstelar
x
SED: distribuição espectral de energia
SFR: região de formação estelar
SOLE: Star-Obvious Low-level Elongated
SWS: Short-Wave Spectrometer
TP-AGB: thermal pulse AGB
TT: T Tauri
UV: ultravioleta
VH88: van der Veen & Habing (1988)
YSO: objeto estelar jovem
ZAMS: seqüência principal de idade zero
xi
Capítulo 1
Introdução
A confirmação da natureza de um dado objeto pode ser um problema bastante delicado
em certos casos. Os critérios de classificação propostos pelos diversos autores baseiam-se
nos dados observacionais disponíveis, os quais eventualmente são escassos ou incompletos.
Além disso, certas características observadas são comuns a outras classes de objetos que não
a de interesse. Neste caso, faz-se necessário um exame mais aprofundado dos objetos sob
estudo, já que nem sempre o resultado de uma única técnica de observação é suficiente.
Este é o caso da confusão recorrente entre as estrelas Herbig Ae/Be (HAB), que são
objetos de massa intermediária da pré-seqüência principal (PMS), e as pós-AGB, que são
estrelas que se encontram na fase após o ramo assintótico das gigantes (AGB). Embora estas
duas classes de objetos se encontrem em estágios evolutivos completamente distintos, elas
compartilham algumas características comuns. Em ambas encontra-se um excesso de emissão
na região do infravermelho (IR) do espectro estelar, originado do material circunstelar
associado a cada um destes objetos. Naturalmente, a história e a estrutura deste material são
distintas para cada uma destas classes. No entanto, em ambos os casos o gás e a poeira destes
envoltórios são responsáveis pelo processo de reemissão térmica da radiação produzida pela
1
fonte central, o que causa a emissão extra no IR.
Os fluxos IRAS (InfraRed Astronomical Satellite), medidos nas bandas do IR médio e
distante, constituem uma importante ferramenta para traçar a presença deste excesso de
emissão. Devido a esta propriedade, eles são usualmente utilizados como base dos critérios
de seleç ão de amostras tanto de HABs (e.g. Hu et al. 1991, Walker & Wolstencroft 1988,
Oudmaijer et al. 1992 e Bogaert 1994) como também de pós-AGBs (e.g. Kwok et al. 1987,
Volk & Kwok 1989, van der Veen et al. 1989, Manchado et al. 1989, Hu et al. 1993, García-
Lario et al. 1997 e van de Steene et al. 2000). Com base nas cores IRAS (em 12, 25 e 60 m)μ
típicas de estrelas jovens de baixa massa, como as T Tauri (TT), Gregorio-Hetem, Lépine e
Sanzovo (1988) estabeleceram um critério de seleção de candidatas a TT ainda não
identificadas. Um longo trabalho observacional foi realizado no Observatório Pico dos Dias
(OPD), para se obter espectros na região 650 675 nm de forma a verificar a natureza de
cerca de 900 fontes IRAS distribuídas por todo céu austral. No Pico dos Dias Survey (PDS)
foram descobertas cerca de 200 estrelas jovens que não haviam sido catalogadas
anteriormente, e outros interessantes objetos serendípitos (Gregorio-Hetem et al. 1992 PDS
I, Torres et al. 1995 – PDS II, Torres 1999).
Além de revelar muitas novas TT, o PDS também detectou uma centena de candidatas a
HAB. Tais candidatas foram assim classificadas no PDS por estarem associadas a regiões de
formação estelar, apresentarem a linha de H
α
em emissão, possuírem excesso infravermelho
semelhante ao das TT, e seus dados fotométricos indicarem que são estrelas quentes. Vieira et
al. (2003) publicaram a lista de 108 candidatas do PDS que apresentam características de
estrelas HAB. Outro resultado surpreendente foi a descoberta de objetos que não são de
2
natureza jovem. Entre eles, cerca de 20 estrelas gigantes vermelhas ricas em lítio (Gregorio-
Hetem et al. 1993, Castilho et al. 2000) e um quasar (Torres et al. 1997). Essas detecções
mostram que a seleção de candidatas a partir das cores no infravermelho distante pode revelar
condições físicas diferentes para uma mesma característica de emissão de poeira. Esse é o
caso de Hen 3-1475, uma das candidatas HAB do PDS, identificada como proto-nebulosa
planetária (Rodrigues et al. 2003). Cerca de 1/3 das candidatas a HAB detectadas pelo PDS
apresentam indícios que podem enquadrá-las no mesmo caso de Hen 3-1475. Este fato nos
motivou a estudar esta amostra em particular, buscando comparar suas propriedades com
aquelas que caracterizam os objetos nas duas fases evolutivas nas quais eventualmente
poderiam se encontrar.
As próximas seções deste capítulo pretendem estabeler as características teórico-
observacionais associadas às classes de objetos de interesse. No Capítulo 2 será dada uma
breve introdução aos objetivos e resultados do PDS, sendo posteriormente descritos os
critérios adotados para a seleção de nossa amostra. No Capítulo 3 estudaremos a associação
dos objetos da amostra com regiões de formação estelar, como um possível indício de
juventude. O quarto capítulo tratará do estudo da amostra com base nos dados observacionais
disponíveis nas várias faixas de comprimento de onda, através da análise de suas distribuições
espectrais de energia (SEDs) e de diagramas cor-cor. Atenção especial será dada à correção
de extinção aplicada às fotometrias na região do visível. O Capítulo 5 descreverá a
modelagem dos envoltórios circunstelares calculada pelo código DUSTY (Ivezic & Elitzur
1997) de transferência radiativa e a sua comparação com um modelo composto (envoltório +
disco) adotado por Gregorio-Hetem & Hetem (2002). Nos capítulos 6 e 7 desenvolveremos as
3
discussões dos resultados e as conclusões gerais, respectivamente.
Visando traçar um paralelo entre as duas categorias de objetos de interesse para o
presente trabalho, descrevemos a seguir os resultados encontrados na literatura relacionados
com o mesmo tipo de análise que desenvolvemos em nosso estudo. Nesse contexto,
apresentamos de forma sumária, tanto para as HAB como para as pós-AGB: (i) definição da
categoria; (ii) identificação através de diagramas de cores; (iii) classificação baseada no
formato da SED; e (iv) propostas de cenários evolutivos.
1.1 As estrelas do tipo Herbig Ae/Be
Os processos através do quais estrelas e planetas se formam a partir do meio interestelar
é um dos assuntos mais intrigantes da Astrofísica atual. O crescente desenvolvimento das
técnicas observacionais, bem como o refinamento dos modelos teóricos, vêm enriquecendo
este ativo debate durante as últimas três décadas. A descoberta de exoplanetas através de
medidas cada vez mais acuradas vêm levantando a questão da origem de tais sistemas
planetários.
A detecção de um excesso no IR distante na distribuição espectral de energia da estrela
Vega (Aumann et al. 1984) e de muitas outras estrelas “normais”, feita pelo satélite IRAS,
sugere a presença de poeira residual ao redor destes objetos da seqüência principal (MS). A
descoberta de um disco gasoso em torno de Pictoris (Smith & Terrile 1984), o maisβ
conhecido membro da classe de objetos tipo Vega, foi a prova da distribuição discoidal deste
material residual, ao menos para algumas destas estrelas. Argumenta-se que estrelas
4
semelhantes a Vega sejam possivelmente locais onde está ocorrendo a formação de sistemas
planetários similares ao nosso sistema solar (Waelkens et al. 1994).
Desta forma, é crescente o interesse na estrutura e a composição dos envoltórios
circunstelares de objetos estelares jovens (YSOs), sendo estes os mais prováveis precursores
de discos protoplanetários. Em particular, os indícios apontam que estrelas do tipo Vega são o
resultado da evolução de estrelas do tipo HAB.
O primeiro estudo sistemático desta classe de objetos foi feita por Herbig em 1960, que
sugeriu que ela corresponderia a um grupo de estrelas na PMS de massa intermediária, na sua
fase radiativa de contração em direção à seqüência principal. Logo estes objetos foram
reconhecidos como os análogos das estrelas do tipo TT, só que em um intervalo de massas
entre 2 e 8 M
. Os primeiros critérios observacionais propostos para a seleção das HAB são:
tipo espectral A ou mais recente, presença de linhas de emissão, localização em região
obscurecida e presença de uma nebulosa de reflexão brilhante na sua vizinhança imediata.
O primeiro critério é necessário para a seleção do intervalo de massas. O segundo e
terceiro visam assegurar que as estrelas sejam de fato jovens. O último elimina a possibilidade
da observação de estrelas somente projetadas na direção de nuvens escuras. Estes critérios
levaram Herbig a uma lista de 26 objetos candidatos a estrelas de massa intermediária na fase
PMS. A natureza jovem de muitos destes objetos foi confirmada mais tarde por Strom et al.
(1972), que posicionaram parte da lista proposta por Herbig no diagrama Hertzprung-Russell
(H-R) para estimar as idades que variam entre 0,1 e 1 Myr e massas que vão de 1,5 a 15
M
.
No entanto, Finkenzeller & Mundt (1984) argumentam que os critérios de seleção
propostos por Herbig são restritivos demais em alguns casos, levando à rejeição de objetos
5
que são muito provavelmente de natureza jovem. Malfait et al. (1998) sugerem que os dois
últimos critérios propostos por Herbig sejam substituídos por um critério envolvendo a
ocorrência de excesso no IR, tendo em vista que esta representa uma evidência da presença de
material circunstelar. Eles propõem que se houver este excesso, deve haver nebulosidade
associada, a qual poderia ser detectada através de imageamento com mais alta resolução
espacial. Um conjunto de critérios coerente com esta linha de raciocínio é o proposto por
Waters & Waelkens (1998): (i) tipo espectral A ou B com linhas de emissão, (ii) presença de
excesso na região do IR devido a poeira circunstelar quente e/ou fria e (iii) classe de
luminosidade de III a V.
O catálogo IRAS, bem como outros mapeamentos baseados em observações tomadas a
partir do solo, têm sido utilizados para selecionar várias listas de objetos de tipo espectral B,
A ou F que apresentam excesso de emissão no IR característico de um envoltório de poeira e
portanto são bons candidatos a estrelas do tipo HAB. Muitos destes objetos no entanto não se
encontram necessariamente em regiões associadas a nebulosidade, mas sim em posições
isoladas. Além disso, é comum que através destes critérios de seleção as amostras sejam
contaminadas por objetos mais evoluídos tais como as pós-AGB, caso sua classe de
luminosidade não seja conhecida ou bem determinada.
Um dos principais critérios de seleção de candidatas a HAB é a presença das linhas de
Balmer do hidrogênio. Também são comuns linhas de CaII, OI, [OI], [NII], bem como
algumas linhas metálicas em emissão. Finkenzeler & Mundt (1984) realizaram a primeira
investigação sistemática dos perfis da linha de H
α
deste grupo, mostrando que a maioria deles
se apresenta em duplo-pico, gerado pela superposição de um pico em emissão (às vezes
6
deslocado) mais uma componente de absorção (praticamente não deslocada). Também são
encontrados picos únicos de emissão, com a presença do perfil P-Cygni ou perfil P-Cygni
inverso. Em alguns casos, estes perfis de linha são altamente variáveis, na escala de tempo de
dias (Grinin et al. 1994).
A estrutura circunstelar das HAB vem geralmente sendo inferida através de meios
indiretos, pela modelagem de suas SEDs. Os excessos IR de seus espectros são reproduzidos
supondo-se a presença de discos e/ou envelopes ao redor do objeto central. Este tipo de
abordagem será discutido mais profundamente no Capítulo 5. O imageamento direto é a
maneira mais confiável de se decidir quanto à forma destes envoltórios, e vem sendo utilizado
para restringir as hipóteses adotadas nos modelos de inferência indireta através do formato
das SEDs. As medidas espectroscópicas também se mostram úteis na determinação da
estrutura circunstelar das HAB, já que os perfis de linhas podem sugerir as características
ambientais de sua produção.
A composição química destes envoltórios possui uma tal riqueza que só pôde ser
devidamente apreciada através dos resultados da missão do satélite ISO (Infrared Space
Observatory Kessler et al. 1996). Ele disponibilizou espectros de média e alta resolução de
várias HAB em uma faixa espectral que cobre desde o IR próximo em 2,4 m até o IRμ
distante em 180 m, mostrando entre outros resultados que as propriedades da poeira aoμ
redor das HAB é bastante distinta daquelas encontradas no meio interestelar (ISM). Um
estudo de observações ISO SWS (Short-Wave Spectrometer 2,4 a 45 m) e (μ Long-Wave
Spectrometer 46 a 196,8 m) disponíveis para objetos de nossa amostra será desenvolvidoμ
no Capítulo 4.
7
1.1.1 Classificação de acordo com a distribuição de energia das Herbig Ae/Be
Hillenbrand et al. (1992) realizaram um estudo baseado na análise das SEDs de uma
amostra de 47 HABs previamente catalogadas. Argumenta-se que a inclinação das SEDs na
região do IR que segue a uma lei de potência do tipo Fλ
λ
~λ
-4/3
é compatível com a presença
de um disco circunstelar geometricamente fino e opticamente espesso. A construção das
SEDs de sua amostra baseou-se em fotometrias no visível UBVRI, no IR próximo e médio
JHKLMNQ, nos fluxos IRAS em 12, 25, 60 e 100 m e no fluxo em 1,3 mm. Além disso,μ
dispunha-se de medidas polarimétricas (no óptico) de 23 objetos. A distribuição destes
objetos no diagrama de cor-magnitude asoluta pode ser visualizada na Figura 1.1:
Figura 1.1: Posição da amostra de Hillenbrand et al. (1992) no diagrama de cor-magnitude absoluta. A linha
cheia representa a idade zero de seqüência principal (ZAMS) calculada por Morton & Adams (1968) e por
Balona & Feast (1975).
A ocorrência de fontes abaixo da seqüência principal de idade zero (ZAMS linha
cheia) podem ser explicada por uma grande extinção total na banda V aliada a uma pequena
8
extinção seletiva em (B-V) (e.g., Campbell et al. 1988) ou pelo fato delas serem observadas
através de luz espalhada. É interessante notar como a distribuição dos objetos ao longo da
ZAMS (ou suas proximidades) se correlaciona com o excesso IR, indicado pelos grupos de
HAB que serão descritos a seguir. Há a tendência de objetos do Grupo III apresentarem
maiores massas, enquanto que os do Grupo II parecem ter massas menores (ou sofrem maior
extinção).
Com base na inclinação da SED, Hillenbrand et al. propõem a divisão da amostra em
três grupos:
Grupo I: Constituindo 30 objetos da amostra, é caracterizado por um forte excesso no IR que
segue a uma lei de potência do tipo Fλ
λ
~λ
-4/3
a partir de λ~2,2 m. A emissão na regiãoμ
espectral localizada entre 1,2 m e 2,2 m encontra-se ainda em excesso, porém um poucoμ μ
abaixo desta lei de potência. Finalmente, a faixa de comprimentos de onda menores do que
1,2 m é dominada pela radiação fotosférica. Dois exemplos típicos deste grupo são exibidosμ
na Figura 1.2.a. A inflexão obervada entre 1,2 m e 2,2 m é provavelmente devida àμ μ
emissão proveniente de uma região opticamente fina, localizada a alguns raios estelares na
parte interna do disco opticamente espesso.
Grupo II: Contendo 11 objetos, este grupo é caracterizado por um excesso no IR que se
apresenta achatado ou crescente na direção dos maiores comprimentos de onda (Figura 1.2.b).
Assim como no grupo anterior, temos também neste grupo a presença de uma inflexão
no IR próximo. O tipo de excesso apresentado por estes objetos pode ser explicado por uma
distribuição de poeira que abranja um ângulo sólido maior do que o interceptado por um
disco, como por exemplo um envelope esférico opticamente fino em equilíbrio térmico com o
9
Figura 1.2: SEDs típicas dos grupos definidos por Hillenbrand et al. (1992). Os pontos cheios representam as
observações terrestres, enquanto os vazios representam os fluxos IRAS. A linha cheia representa a SED de uma
estrela padrão apropriada para cada tipo espectral. A linha pontilhada presente nos exemplos de SED do Grupo I
representam o melhor ajuste do modelo de disco proposto (lei de potência).
o fluxo da radiação estelar. Outro fator que favorece esta interpretação é o fato de que a
polarização líquida deste grupo (P>5%) é muito maior do que a dos outros grupos (P<2%).
Esta alta polarização é provavelmente resultado do espalhamento luminoso causado por uma
10
distribuição estendida (e.g., Jain, Bhatt & Sagar 1990).
Desta forma o excesso observado neste grupo é devido à contribuição de um disco no IR
próximo mais um provável envelope estendido no IR distante. Além disso, observa-se
também que ele apresenta os tipos espectrais mais tardios e as menores luminosidades entre
todos os três grupos, o que sugere que a escala de tempo de evolução/dissipação do meio
circunstelar (CSM) pode ser maior para estrelas menos massivas.
Grupo III: Com apenas 6 objetos, possui o menor excesso no IR de todos os grupos. Duas
SEDs típicas deste conjunto são mostradas na Figura 1.2.c.
O formato de suas SEDs é similar àquele apresentado pelas estrelas Be clássicas, cujo
pequeno excesso no IR foi satisfatoriamente modelado por uma emissão do tipo livre-livre
gerada ou por um disco gasoso estendido ou por um vento equatorial ionizado (Waters, Coté
& Lamers 1987). Outra característica deste grupo é a presença dos objetos de tipo espectral
mais recente de toda a amostra. Os modestos excessos no IR apresentados pelo grupo III
sugerem que este não seja constituído por estrelas PMS. Entretanto, sua proximidade a
nebulosas de reflexão indica uma associação física dos objetos deste grupo com nuvens
escuras que mostram evidência de formação estelar recente. Desta forma, conclui-se que este
grupo se trata de um conjunto de estrelas jovens, de tipo B recente e com disco, cuja escala de
tempo evolutiva do CSM é pequeno quando comparado a dos outros grupos.
As diferenças entre os grupos são bem sumarizadas na Figura 1.3, que exibe o diagrama
do excesso da cor (V-12 m) como função da temperatura efetiva.μ
As cores intrínsecas foram determinadas a partir de uma estrela padrão de tipo espectral
correspondente. Vemos claramente neste diagrama que o excesso no IR dos grupos I e II são
11
significantemente maiores do que o apresentado pelo grupo III. Este por sua vez ocupa a
região povoada por estrelas do tipo Be clássicas. Além disso, também é notório que em média
o exesso do grupo II é de algumas ordens de magnitude maior do que aquele observado para
o Grupo I.
Figura 1.3: Excesso (V 12 m) em função da temperatura efetiva da amostra estudada por Hillenbrand et al.μ
(1992). As estrelas Be clássicas foram extraídas da compilação de Coté & Waters (1987).
Meeus et al. (2001) realizaram a análise dos espectros ISO SWS de uma amostra de 14 HAB
consideradas isoladas (i.e., não associadas a regiões de formação estelar).
Eles perceberam que a contribuição do contínuo da emissão IR exibida por estes
espectros pode ser reproduzida por uma lei de potência que eventualmente pode ter uma
componente extra representada pela emissão de corpo negro (BB). Esta emissão de BB é
compatível com uma faixa de temperaturas que varia entre 100 e 200 K aproximadamente.
Além disso, as características espectrais referentes aos grãos de algumas espécies mostraram-
se presentes em uns e ausentes em outros objetos da amostra.
Baseando-se neste comportamento, Meeus et al. (2001) classificaram os objetos de sua
12
amostra nos seguintes grupos:
Grupo I: objetos cujo contínuo é reproduzido por uma lei de potência mais a contribuição de
BB.
Grupo II: contínuo é bem repesentado apenas por uma lei de potência.
Além disso, define-se o subgrupo a para representar a presença de características
espectrais dos grãos, enquanto b denota sua ausência.
Para explicar a diferença entre as SEDs, Meeus et al. propõem dois modelos para a
distribuição geométrica do material circunstelar, adotando as seguintes componentes:
I: uma “atmosfera-disco” parcialmente opticamente fina, com extensão de cerca de 10 AU,
provavelmente responsável pelas emissões de silicato em 10 e 18 mμ
II: um disco geometricamente fino e opticamente espesso, responsável pela emissão contínua
do tipo lei de potência
III: uma camada de poeira geometricamente espessa e opticamente fina, que origina a
emissão de BB entre 100 e 200 K
De acordo com esta proposição, a emissão do tipo BB ocorre apenas quando a região III
é alargada o suficiente para ser acessada pela radiação do objeto central.
O fato da amostra considerada por Meeus et al. contemplar apenas as HAB isoladas faz
com que não haja um de seus grupos que seja equivalente aquele estudado pelo presente
trabalho. Os altos excessos IR encontrados em nossa amostra (a ser definida no Capítulo 2)
são mais compatíveis com o Grupo I de Hillenbrand et al., porém com níveis mais elevados
de excesso em V - 12 μm.
13
1.1.2 Proposta de cenário evolutivo
Malfait et al. (1998) realizaram o estudo de uma amostra de 45 candidatas a HAB,
selecionadas a partir de critérios baseados no tipo espectral e nos excessos encontrados nas
cores IRAS. Sua análise revela que 33 objetos são realmente tipo HAB, 9 estrelas são do tipo
Vega e 3 são possíveis binárias.
Eles reproduzem os excessos no IR dos objetos de sua amostra através de um modelo
simples, que supõe a presença de poeira opticamente fina, proposto por Waters et al. (1988).
Para reproduzir a SED observada foram adotados dois tipos de modelo: um deles considera
duas componentes (uma fria e outra quente) e o outro considera apenas uma componente fria.
Malfait et al. (1998) observam que a presença de um excesso de emissão no IR que apresenta
uma característica de duplo pico é exclusiva de estrelas PMS, não sendo observada no caso
das pós-AGB (Bogaert 1994). Além disso, eles argumentam que em sua amostra não ocorre a
presença de objetos mais evoluídos do tipo pós-AGB, por não haver entre suas candidatas
estrelas com um índice de cor [U-B] maior do que 1,75 (baseado no sistema fotométrico de
sete cores de Geneva Golay (1973)). Segundo os autores, este valor é um limite que
caracteriza uma proeminente descontinuidade de Balmer nas SEDs, a qual é tipicamente
observada nas pós-AGB.
Os modelos empregados para a reprodução das SEDs propõem um perfil de densidade
que obedece a uma lei de potência do tipo (r)~rρ
-α
. No caso dos modelos de duas
componentes, o expoente α possui um valor médio em torno de 2 para a região mais interna e
1,25 para a mais externa, o que significa que os perfis de densidade mais internos são mais
14
inclinados. Os modelos de componente única apresentam um valor intermediário entre os
valores de α ajustados para o modelo de componente dupla.
Os resultados deduzidos a partir desta modelagem levaram Malfait et al. (1998) à
proposição de um cenário evolutivo, que pode ser expresso através do diagrama de cores [12–
60] versus [H-12] apresentado na Figura 1.4.
As cores são calculadas a partir da magnitude K do catálogo 2MASS (Two Micron All
Sky Survey) e os fluxos IRAS medidos em 12 e 60 m. As cores IRAS usadas neste trabalhoμ
são aquelas definidas no IRAS Explanatory Supplement.
Figura 1.4: Distribuição da amostra de Malfait et al. (1998) no diagrama de cores no IR próximo e IR médio. A
linha tracejada representa a proposta de cenário evolutivo apresentada naquele trabalho. Os números referem-se
a objetos específicos da amostra.
A seqüência evolutiva proposta é representada pela linha tracejada no diagrama da
Figura 1.4. Ao longo desta linha, quando percorrida da direita para a esquerda, temos que os
objetos com maiores valores da cor [H-12] são bem modelados por estruturas de duas
15
componentes. Este excesso se desfaz ao longo da trajetória, ocorrendo em uma escala de
tempo menor do que o esvanecimento da contribuição mais fria (excesso em [12-60]). Os
estágios deste cenário são esquematizados na Figura 1.5.
Figura 1.5: Cenário evolutivo proposto por Malfait et al. (1998) baseado no perfil das SEDs
16
Neste cenário, o objeto jovem evolui de um estado embebido, a partir do qual se
desenvolve uma estrutura de disco através de processos de acresção e conservação de
momento angular. No decorrer da evolução do objeto, há uma eventual ruptura desta estrutura
de disco, a qual os autores especulam ser devida à formação planetária. Espera-se que o
planeta formado em uma posição intermediária do disco proporcione a retirada do gás e
poeira da sua vizinhança imediata. A partir desta fragmentação, o material circunstelar passa
a ser constituído por duas componentes, uma mais próxima ao objeto central (e portanto mais
quente) e outra localizada na parte mais externa do sistema. Esta estrutura múltipla é a
responsável pela emissão em duplo pico encontrada no excesso IR de algumas HAB, como no
exemplo mostrado na Figura 1.10.c para a estrela HD 144432. O aumento rápido em torno de
[H 12] ~ 4 no diagrama de cores sugere que a componente mais quente se desenvolve mais
rapidamente do que a região mais externa ao disco, dissipando-se portanto em uma escala de
tempo menor.
A evolução mais rápida sofrida pela componente mais interna do disco pode ser devida a
uma sucessão de eventos similares àquele formador da ruptura original do disco. O material
exterior também se esvanece com passar do tempo, só que de forma muito mais lenta. Seus
remanescentes acabam dando origem aos modestos excessos no IR distante encontrado nas
SEDs de estrelas jovens da MS, também conhecidas como estrelas do tipo Vega.
1.1.3 Considerações finais sobre as Herbig Ae/Be
Os vários cenários apresentados pelos diversos autores em essência se mostram
17
extremamente similares. A separação em grupos é feita em geral a partir do formato e da
importância do excesso IR apresentado pelas SEDs observadas. Todos estão de acordo quanto
a presença de um disco. Embora a geometria da componente mais alargada seja ainda motivo
de debate, a necessidade de uma estrutura que abranja grandes porções de ângulo sólido para
explicar o formato das SEDs observadas é evidente para a maioria dos trabalhos na literatura.
A evolução destes ambientes de gás e poeira parece ser também semelhante. A
expectativa geral é de que os objetos embebidos tenham seus envoltórios dissipados com o
tempo, possivelmente dando origem aos sistemas planetários. Outra evidência apresentada
neste sentido é a tendência de crescimento dos grãos sugerida através do estudo dos espectros
ISO, que torna concebível o processo de agregação do material circunstelar para a posterior
formação planetária.
1.2 As estrelas na fase pós-AGB
As pós-AGB são objetos luminosos de massa inicial baixa ou intermediária (entre 0,8 e
8M
) em um estágio evolutivo avançado. Elas concluíram sua evolução no ramo assintótico
das gigantes (Assymptotic Giant Branch AGB) com uma perda de massa intensa (10
-7
10
-4
M
/ano) e evoluem em uma trajetória de temperatura crescente e luminosidade praticamente
constante (Winckel 2003). Esta fase ocorre até o momento onde o objeto central é
suficientemente quente a ponto de ionizar seu envoltório desprendido (T ~ 3 10
4
K). A partir
desta situação, temos uma jovem nebulosa planetária (PN). Esta evolução é bem representada
no diagrama H-R exibido na Figura 1.6, que mostra a trajetória evolutiva de uma estrela de 2
18
M
.
As pós-AGB cobrem uma larga faixa de temperaturas efetivas, compreendida entre as
estrelas AGB extremas (e.g. estrelas OH/IR não variáveis, Habing et al. 1987) e objetos como
AFGL618, que estão prestes a ionizar o material circunstelar (Winckel 2003). Também é
comum na literatura o uso dos nomes de “pré-nebulosa planetária” ou “proto-nebulosa
planetária” (PPN), que na prática referem-se a mesma classe de objeto. A denominação PPN
é especialmente utilizada para objetos observados com uma resolução espacial mais
detalhada. No entanto, a denominação mais geral “pós-AGB” será adotada em toda a
discussão do presente trabalho.
Figura 1.6: Trajetória evolutiva de uma estrela de 2 M
de metalicidade solar (linha vermelha). A linha azul
representa a evolução de uma estrela com as mesmas caracterísitcas que sofre um pulso térmico final bastante
tardio (evolução do tipo born-again), deslocada de -0,2 nesta escala de temperatura e de -0,5 nesta escala de
luminosidade. Os valores expressos ao lado de cada fase representam o logaritmo do tempo de sua duração
aproximada (em anos). Esta figura é adaptada do artigo de revisão de Herwig (2005).
19
Esta fase de transição entre as fases AGB e PN foi por muito tempo negligenciada no
estudo da evolução de uma estrela isolada (Kwok 1993). A dificuldade na observação das
pós-AGB era devida ao pouco conhecimento do céu no IR distante. Esta situação foi superada
com os resultados obtidos pelo satélite IRAS, lançado em 1983. Houve a detecção de
milhares de objetos no IR distante e isto culminou no começo da busca por esta classe de
objeto.
Tendo em vista que o termo “pós-AGB” é amplamente utilizado na literatura, este é o
momento adequado para definirmos especificamente esta fase evolutiva. Consideraremos pós-
AGB a etapa onde a estrela se encontra no processo de transição entre as fases de AGB e NP.
Mais especificamente, no intervalo compreendido entre o término da intensa perda de massa
no AGB e o momento onde a estrela é suficientemente quente para emitir fótons energéticos o
suficiente para ionizar o envelope remanescente da fase de AGB (Kwok 1993). As
propriedades observacionais esperadas destas condições devem ser: (i) evidência clara de um
remanescente do envelope da fase AGB, o que implica a existência de um excesso no IR com
tempertaura de cor entre 150 e 300 K e a presença de emissão molecular (CO ou OH)
exibindo uma velocidade de expansão de 5 a 30 km/s, típica dos ventos da AGB; (ii) deve
haver indício de que o envelope circunstelar esteja desprendido da fotosfera e não seja
resultado de um processo de perda de massa ainda em andamento; (iii) se a estrela central for
suficientemente brilhante para revelar seu tipo espectral, este deveria se situar entre as tipos B
e G, com classe de luminosidade I; e (iv) ausência de uma variabilidade fotométrica de
grande amplitude devida à pulsação de um envelope massivo de hidrogênio (M
env
> 10
-3
M
)
sobre o núcleo degenerado de C-O.
20
Cerca de mil PN foram detectadas no mapeamento do satélite IRAS. De acordo com os
modelos de evolução de Schönberner (1983), a estrela permanece na fase de pós-AGB durante
o equivalente a aproximadamente 10% da vida de uma PN. Desta forma, espera-se a
identificação de ~100 pós-AGBs a partir do catálogo de fontes puntuais (Point Source
Catalog PSC) gerado pela missão IRAS. Esta identificação é geralmente feita ou com base
na busca de estrelas com as cores IRAS típicas, ou procurando-se pelas contrapartidas ópticas
das fontes IRAS de baixa temperatura de cor. Contudo, a análise isolada destes critérios é
responsável pela seleção de outras classes de objetos (e.g. YSOs), sendo portanto necessária a
análise de indicativos adicionais.
A fase de pós-AGB possui uma duração bastante curta, que pode variar entre 10
3
e 10
4
anos. Por este motivo, espera-se que a estrela neste estágio não só mantenha algumas das
propriedades de sua progenitora (estrela na fase AGB) como também se assemelhe à sua
descendente (PN) em muitos aspectos. Desta forma, o conhecimento das características destes
estágios evolutivos imediatamente próximos à fase de pós-AGB torna-se extremamente útil.
Dada a importância destas características no estudo comparativo realizado no presente
trabalho, revisaremos agora algumas das propriedades destas fases.
1.2.1 O ramo assintótico das gigantes
A fase AGB representa apenas uma fração menor do que 1% do tempo de vida de uma
estrela. Ela ocorre a partir do momento em que se inicia a produção energética em uma dupla
camada interna a estrela (Engels 2005). Nesta etapa ela se apresenta como uma gigante
21
vermelha fria de brilho variável devido à instabilidade de sua estrutura. Há a queima de uma
camada de hélio ao redor de um núcleo de carbono e oxigênio (C-O) com elétrons
degenerados e uma camada mais externa onde ocorre a queima de hidrogênio. O objeto então
passa por uma fase de queima quiescente (a E(arly)-AGB) que dura entre 1 e 15 10
6
anos, e
em seguida ele sofre pulsação de origem térmica (TP-AGB) durante um período de cerca de
centenas de milhares de anos. Estes pulsos térmicos são devidos a grandes perdas energéticas
geradas por um tipo de flash de hélio, que pode durar algumas centenas de anos. A estrela
perde seu envoltório devido a esta fase instável pulsante, onde ondas de choque que se
formam na fotosfera estelar fornecem energia suficiente para que o gás se eleve até regiões
frias o suficiente para ocorrer a formação de poeira. A pressão de radiação também é
importante neste mecanismo e os ventos formados por estes processos tendem a ser
esfericamente simétricos. A fase AGB encerra-se quando praticamente toda a camada externa
ao núcleo de C-O é dissipada através do processo de perda de massa.
Como resultado desta intensa perda de massa, as estrelas na fase AGB são
freqüentemente obscurecidas por seus envoltórios de poeira. A medida que o objeto estelar
ascende no ramo assintótico, tanto as taxas de perda de massa como a profundidade óptica de
seus envelopes circunstelares aumentam. A absorção da radiação estelar emitida na banda
visível e posterior reemissão energética no IR torna a estrela mais avermelhada, i.e., com uma
temperatura de cor menor. O efeito das pulsações radiais aliado à variação da opacidade
fotosférica tornam o brilho da estrela variável (Reid & Goldstone 2002). As variáveis mais
notórias nesta situação são as estrelas do tipo Mira e as OH/IR obscurecidas, embora estrelas
de pulsação irregular ou semi-irregular de baixa amplitude sejam mais freqüentes. Os
22
períodos de variação vão de cerca de 1 ano para as Miras, com amplitude menor do que 2,5
magnitudes no visível, até cinco anos no caso das estrelas OH/IR, que pode atingir uma
variação de algumas magnitudes no IR próximo (Engels et al. 1983).
As AGB ricas em oxigênio (C/O < 1) podem ser identificadas pelas características
espectrais em 9,7 e 18 μm, produzidas por silicatos. A banda em 9,7 μm (silicato) evolui de
um perfil de emissão nas E-AGB (e.g. variáveis Miras) até uma característica de absorção nas
AGB mais evoluídas (e.g. OH/IR), como sugere o comportamento da amostra estudada por
Sylvester et al. (1999) na Figura 1.7.
Figura 1.7: Espectros ISO SWS e LWS combinados da amostra de Sylvester et al. (1999) e deslocados na
ordenada de acordo com sua profundidade óptica em 10 μm. Espera-se que esta se correlacione com a taxa de
perda de massa, mostrando portanto a dependência do perfil exibido pelo silicato como função desta.
A evolução espectral do silicato de emissão para absorção é reproduzida por modelos de
transporte radiativo que levam em consideração uma taxa crescente de perda de massa ao
23
longo da fase de AGB (Bedijn 1987, Volk & Kwok 1988).
Estrelas ricas em carbono neste estágio evolutivo são caracterizadas por uma baixa
temperatura de cor (T ~ 500-1000 K) e pela presença da banda de emissão em 11,3 μm,
devida ao SiC (Chan & Kwok 1990). Estrelas deste tipo bastante evoluídas podem apresentar
uma temperatura de cor de até 300 K, exibindo um contínuo sem características espectrais
provavelmente devido ao grafite, que não apresenta bandas de emissão no IR médio (Volk et
al. 1992).
Muitas estrelas AGB ricas em oxigênio exibem um perfil de emissão de duplo-pico do
OH em 1612 MHz e em 1665/1667 MHz, o que implica em um envelope circunstelar em
expansão. Técnicas rádio-interferométricas são usadas para a resolução de alguns destes
envelopes, revelando por vezes uma geometria bipolar (Bowers 1990). No entanto, uma
simetria esférica é mais freqüentemente associada à geometria do envoltório da AGB.
O CO é a molécula mais abundante (depois do hidrogênio) na atmosfera de estrelas
tardias, sendo comum a observação de sua linha rotacional tanto nas AGB ricas em carbono
com em oxigênio (Knap et al. 1982). Perfis de pico duplo indicam o desprendimento do
envoltório molecular da fotosfera (Olofsson et al. 1988). Também são observadas emissões do
tipo maser causadas por H
2
O em 22 GHz e em 43 e 86 GHz atribuída ao SiO (Engels 2005).
A fase de AGB tem seu fim quando o processo de perda de massa remove todo o
envelope ao redor do núcleo de C-O. A transição entre a estrela OH/IR extremamente
embebida para esta nova configuração de envelope desprendido ocorre em uma escala de
tempo muito rápida (de cerca de 500 anos para o modelo de 3 M
de Steffen et al. 1998),
sendo acompanhada pela mudança do formato da SED de uma distribuição de componente
24
fotosférica embebida para um perfil de pico duplo, conforme mostra a Figura 1.8. A taxa de
perda de massa também sofre uma queda notável neste período, muito embora a velocidade
dos ventos associados à perda de massa (revelada pela emissão do CO, por exemplo) aumente
até chegar a valores da ordem de 10
3
km/s.
Figura 1.8: Evolução da taxa de perda de massa e da distribuiç ão de energia, respectivamente, para uma estrela
AGB após o pulso térmico final (Steffen et al. 1998). São exibidas as SEDs relativas aos instantes de tempo
especificados na curva evolutiva da perda de massa com o tempo. As linhas tracejadas representam os espectros
intrísecos da estrela central, para cada uma das temperaturas efetivas especificadas na legenda da figura.
1.2.2 A fase de nebulosa planetária jovem
Define-se uma PN jovem aquela que possui uma alta densidade nebular e alto brilho
superficial, o que implica em uma idade dinâmica curta, da ordem de 10
3
anos. Uma jovem
PN também ainda deve preservar o envelope remanescente da fase de AGB, que em uma fase
25
posterior terá suas moléculas destruídas pela radiação ultravioleta (UV) e sua componente de
poeira diluída pelo processo de expansão.
Como a fase de pós-AGB é extremamente curta, a PN ainda guarda consigo muitas
características espectrais das AGB. Dados IRAS de 90 PNs foram analizados por Pottasch et
al. (1984) e Iyengar (1986). Eles chegaram à conclusão de que a temperatura de cor destes
objetos decresce com o raio observado.
A SED de uma jovem PN pode ser separada em duas componentes: uma de poeira entre
10 e 100 μm e outra gasosa que vai 1 a 10 μm (Kwok et al. 1986, Zhang & Kwok 1991). A
Figura 1.9 mostra um exemplo típico deste comportamento.
Figura 1.9: SED de IC 2448, uma jovem PN. A linha pontilhada representa o modelo da emissão contínua
ligado-livre e livre-livre; a tracejada corresponde a emissão livre-livre extrapolada das medidas em rádio; a
curva descontínua da esquerda representa a emissão fotosférica e a ponto-tracejada da direita constitui a emissão
do envoltório remanescente da fase AGB. Os vários pontos representam observações feitas do solo e tomadas
pelo satélite IRAS (Zhang & Kwok 1991).
A componente de poeira é provavelmente resquício do envelope formado na fase de
26
AGB. A emissão da região IR próxima do espectro tem origem na emissão contínua ligado-
livre e livre-livre da nebulosa e a parte visível representa a radiação fotosférica do objeto
central extremamente quente.
Embora se tenha mostrado que o resfriamento da componente de poeira pode
enfraquecer as características espectrais no IR médio, já que eles situam-se na região da
queda exponencial da função de Planck para uma temperatura da ordem de 100 K (Kwok
1980), tanto a banda em 9,7 μm de silicato como em 11,3 μm de SiC foram detectadas pelo
espectrômetro de baixa resolução (LRS) do satélite IRAS (Zhang & Kwok 1990, Volk &
Cohen 1990). Estas detecções permitem determinarmos se a estrela AGB progenitora era rica
em oxigênio ou em carbono.
Entretanto, existe uma família de características espectrais IR em 3,3; 6,2; 7,7 e 11,3 μm,
não observadas em estrelas de tipo espectral tardio. Essas características são normalmente
atribuídas aos PAHs (Léger & Puget 1984) e são particularmente proeminentes em jovens PN
ricas em carbono com estrelas centrais de tipo espectral Wolf-Rayet tardio (WC12) com
grande excesso no IR. Isto se deve ao fato dos PAHs serem preferencialmente excitados por
radiação UV.
Há também a presença da molécula de CO em algumas PN, detectada pela primeira vez
na jovem NGC 7027 (Mufson et al 1975). A intensidade desta linha é particularmente forte
em PNs associadas a uma grande quantidade de poeira, como é o caso das mais jovens.
Sugere-se que a poeira “blinda” a molécula de CO e conseqüentemente impede sua
fotodissociação.
A emissão do radical OH em PNs foi comprovada por Davis et al. (1979) na jovem PN
27
Vy 2-2, a qual exibe a característica de silicato em 9,7 μm e portanto é rica em oxigênio. Em
contraste ao duplo-perfil de emissão normalmente observado nas estrelas da fase AGB,
apenas uma componente deslocada para o azul aparece no espectro das PNs. A componente
vermelha é provavelmente absorvida pelo gás ionizado da nebulosa. Diversas outras
observações análogas foram efetuadas, no entanto o número de detecções deste tipo de objeto
“OH-PN” ainda permanece baixo.
Mapeamentos de alta resolução de PNs mostram que a grande maioria apresenta uma
morfologia bipolar, com dois máximos de emissão em sua estrutura (Aaquist & Kwok 1990,
1991). Modelos de de-projeção indicam que esta geometria é resultado da formação de
envoltórios incompletos, devida aos mecanismos de interação entre os ventos mais a presença
de um vento assimétrico da fase AGB (Volk & Leahy 1992).
1.2.3 Classificação das pós-AGB de acordo com a distribuição de energia
Uma classificação de acordo com o formato da SED foi proposta por van der Veen et al.
(1989), que estudaram objetos da transição desde a fase AGB até o estágio de nebulosas
planetárias, mostrando como separam-se os objetos de acordo com a massa da estrela
progenitora, a relação C/O e a atual taxa de perda de massa. Com base no formato da SED de
uma amostra de 42 fontes IRAS, candidatas a pós-AGB, eles sugeriram uma separação em
quatro classes: (I) espectro achatado entre 4 e 25 μm e uma queda mais inclinada para os
comprimentos de onda mais curtos; (II) máximo em 25 μm e uma queda gradativa nos
comprimentos de onda mais curtos; (III) máximo ao redor de 25 μm, uma queda inclinada
28
nos comprimentos de onda mais curtos e um plateau entre 1 e 4 μm; (IV) dois picos, um ao
redor de 2 μm e outro em 25 μm. A Figura 1.10 mostra um representante de cada categoria.
Figura 1.10: Objetos pertencentes às categorias de PPN propostas por van der Veen et al. (1989): (a) Classe I:
IRAS19386+0155; (b) Classe II: IRAS19067+0811, (c) Classe III: IRAS 17047-5660. Adaptado da Figura 4 de
van der Veen et al. (1989).
29
Os maiores excessos de emissão IR encontrados nas estrelas observadas nas candidatas
HAB de nossa amostra são comparáveis preferencialmente aos dos objetos Classe I, e
eventualmente alguns da Classe II, não ocorrendo objetos com SEDs semelhantes às demais
categorias. De acordo com de van der Veen et al., as fontes com espectros das classes I e II
apresentam os núcleos estelares mais massivos (M
c
~ 0.75 M
), provavelmente originados das
massivas progenitoras (~ 4 M
). As taxas de perda de massa são da ordem de 10
-5
M
/ano. A
maioria dos objetos da Classe I não apresenta uma clara característica espectral de uma
estrela visível, porém IRAS19386+0155 está associada a uma estrela de magnitude V=11.2,
cujo espectro cai com acentuada inclinação entre 0,3 e 0,5 μm. Pela semelhança entre a SED
deste objeto e as estrelas de nossa amostra, optamos por adotar IRAS19386+0155 como
representante da categoria de pós-AGB, na análise comparativa realizada no presente
trabalho. A Figura 1.11 apresenta o resultado do ajuste da SED desta estrela, calculada pelo
modelo de disco adotado por Gregorio-Hetem & Hetem (2002), o qual será discutido em
maior detalhe no Capítulo 5.
Figura 1.11: SED da fonte
IRAS19386+0155, uma
pós-AGB, representante
da Classe I proposta por
van der Veen et al. (1989).
As curvas teóricas foram
calculadas adotando-se o
modelo proposto por
Gregorio-Hetem & Hetem
(2002), visando um estudo
comparativo com as
estrelas de nossa amostra.
30
1.2.4 Estudo do cenário evolutivo das pós-AGB no diagrama de cores IRAS
As cores IRAS são uma ferramenta bastante útil para se analisar estágios finais da
evolução estelar, como observado por van der Veen & Habing (1988 VH88 daqui em
diante). Seus diagramas são adequados para o estudo das características do envoltório destas
estrelas, podendo revelar a história da perda de massa do objeto, além de ser um indicativo de
sua composição química. Estas informações são fundamentais na determinação do status
evolutivo do objeto de interesse.
O estudo de VH88 mostra que as estrelas ricas em oxigênio que possuem um envoltório
formam uma seqüência no diagrama das cores [12] – [25] x [25] – [60], definidas por
[12] - [25] = -2,5 log(F
12
μ
m
/F
25
μ
m
)
[25] - [60] = -2,5 log(F
25
μ
m
/F
60
μ
m
)
Os autores verificam que esta seqüência representa uma linha evolutiva de estrelas no
ramo assintótico, que são sujeitas a taxas crescentes de perda de massa ao longo de sua
história. A trajetória evolutiva no diagrama de cores IRAS proposta por VH88 é representada
pela curva tracejada na Figura 1.12, a qual é percorrida da esquerda para a direita pelos
objetos estelares. Esta evolução parte da estrelas variáveis Miras, que sofrem um processo de
aumento na taxa da perda de massa e variabilidade ao longo de sua história, tornando-se uma
estrela do tipo OH-IR. Esta correlação observada entre a taxa de perda de massa e a variação
no brilho confirma a interpretação de que as ondas de choque dirigidas pelas pulsações
radiais da fase de AGB são as responsáveis pelo processo de ejeção das camadas mais
externas da estrela.
31
As regiões delineadas sobre este diagrama são fruto de um estudo estatístico de uma
amostra de 8864 objetos selecionados por VH88 a partir do PSC gerado pela missão IRAS.
Elas representam o locus típico de determinadas categorias de objetos definidas no trabalho.
Estas definições são baseadas tanto na posição no diagrama de cores de cada objeto, nos
espectros de baixa resolução entre 8 e 24 μm do catálogo LRS (Low Resolution Spectra) e o
indicativo de variabilidade dado pelo PSC. Os estágios finais representados neste diagrama
correspondem à fase de PN, as quais se encontram concentradas na Região V da Figura 1.12.
Episódios de dragagem (dredge up) são sugeridos como causadores da mudança da química
Figura 1.12: Diagrama das cores IRAS [12]-[25] x [25]-[60]. A curva tracejada representa a seqüência evolutiva
dos estrelas ricas em oxigênio, que ocorre da esquerda para a direita do diagrama. A linha cheia mostra as cores
associadas a um corpo negro, para várias temperaturas. As regiões enumeradas representam o locus típico de
categorias específicas de objetos, especificadas no texto.
dos envoltórios circunstelares. Esta mudança torna os envoltórios ricos em carbono, causando
a migração dos objetos para a região VI. A localização de objetos nesta região é indicativa da
32
coexistência de material frio (cor [25] [60] elevada) e de uma componente quente (baixos
valores de [12] [25]). Esta estrutura sugere que o processo de perda de massa ocorrido seja
episódico, devido à ação das pulsações térmicas da fase AGB. A componente mais fria é
provavelmente ejetada em uma época anterior àquela da formação do envoltó rio mais quente.
1.3 Identificação através das cores no infravermelho
O digrama de cores no IR mostra-se a ferramenta ideal para o estudo de objetos
associados à presença de material circunstelar. A fotometria no IR próximo pode ser utilizada
para verificarmos se a principal fonte de emissão é de origem fotosférica, nebulosa (i.e.,
gasosa) ou devido à presença de um envelope circunstelar (García-Lario et al. 1997). A
determinação da origem desta emissão nos permite a identificação da natureza e o estágio
evolutivo da fonte, já que cada objeto deve apresentar um fluxo característico nos
comprimentos de onda IR. Entretanto, em muitos casos a identificação de um dado objeto não
é possível através das cores no IR exclusivamente. Regiões compactas de HII, estrelas na
PMS, núcleos ativos de galáxias (AGNs) e pós-AGBs possuem cores IR bastante similares.
Neste caso, faz-se necessária a análise conjunta de outras faixas espectrais ou até mesmo o
uso de critérios adicionais. Este problema é facilmente resolvido, por exemplo, para o caso
das estrelas OH/IR, as quais podem ser caracterizadas pela presença da emissão maser de OH
em 1612 MHz, com perfil de duplo-pico. No caso das estrelas TT, temos a confirmação de
sua natureza pela detecção da linha de absorção do LiI em 6707. Porém infelizmente
assinaturas como estas não são tão evidentes nas outras classes de objetos. A emissão maser
33
normalmente não é mais observada na fase de pós-AGB e as HAB são quentes demais para
que seja possível a sobrevivência de alguma fração de sua abundância primordial de lítio em
uma escala de tempo observável.
Apesar disto, ainda assim podemos extrair informações valiosas acerca da natureza dos
objetos a partir da característica de emissão no IR. Para uma interpretação adequada do
comportamento desta faixa espectral, é interessante revisarmos algumas das principais fontes
de emissão nesta região: (i) Emissão térmica de um plasma, que consiste basicamente do
coníinuo de recombinação e de emissão livre-livre de um gás composto por hidrogênio e
hélio ionizados; (ii) Emissão térmica de poeira, originada tanto pela poeira fria presente nos
envelopes circunstelares com temperaturas características abaixo de 300 K (IR médio e
distante) como também pela poeira quente (T ~ 1000 K IR próximo) associada ou a um
episódio de perda de massa recente, no caso das pós-AGB, ou à presença de um disco
circunstelar, no caso de um YSO; (iii) Contínuo estelar, no caso de estrelas não tão
obscurecidas pela poeira circunstelar e (iv) Linhas de emissão, geradas principalmente pela
recombinação do hidrogênio e hélio. Essas linhas podem ser dominantes na região entre 1 e 2
m para envoltórios ionizados. O tripleto de HeI em 1,083 m pode ser brilhante o suficienteμ μ
para ser a principal fonte de emissão na banda J, mesmo estando na extremidade da curva de
transmissão deste filtro. Também contribuem nesta banda as linhas de recombinação de
Paschen do hidrogênio, enquanto que as linhas das séries de Brackett, Pfund e em alguns
casos a emissão molecular do hidrogênio afetam o fluxo observado nas bandas H e K.
A Figura 1.13 exibe as regiões típicas ocupadas pelas diversas classes de objetos no
digrama de cores H-K x J-H, extraído do trabalho de García-Lario et al. (1997).
34
Cerca de 2/3 das PNe da amostra estão contidas na nebula box, definida por Whitelock
(1985), indicada em destaque na Região V mostrada na Figura 1.13. As PNe também se
encontram em uma região bem separada daquela à posição de estrelas de MS e gigantes. A
dispersão desta classe de objeto com relação à banda J não deve ser devida a ocorrência de
diferentes temperaturas de plasma, já que isto produziria apenas pequenos deslocamentos dos
objetos no diagrama. Whitelock (1985) mostra que esta dispersão é provavelmente devida à
presença do tripleto de HeI em 1,083 m, especialmente intenso nas PNs da classe deμ
excitação intermediária. García-Lario et al. (1997) atribuem a localização de algumas PNs na
Região I, típica das estrelas da MS e gigantes, à contaminação por estrelas de campo ou por
uma possível companheira binária.
Figura 1.13: Diagrama de cores no IR próximo da amostra de García-Lario et al. (1997), sem correção de
extinção. A linha cheia na região I indica a posição correspondente à MSe estrelas gigantes. A área em destaque
contida na região V é referente à nebula box”, definida por Whitelock (1985). O vetor representa o
deslocamento que uma extinção de 10 magnitudes causaria na posição de um objeto.
35
As estrelas de pós-MS estão espalhadas por quase todo o diagrama. Em particular,
aquelas que ocupam a Região II apresentam emissão maser em OH e não possuem
contrapartida no óptico. Estas são características compatíveis com estrelas variáveis do tipo
OH/IR, que portanto provavelmente povoam esta região. Já nas regiões III e IV, as estrelas
mais evoluídas são sujeitas a uma forte extinção cicunstelar e geralmente não são variáveis. A
emissão maser ocorre apenas na Região III. Suas diferentes posições podem ser causadas pela
presença de poeira quente, que influencia especialmente o fluxo detectado pela banda K.
Estas características indicam que as estrelas que ocupam esta região se encontram
provavelmente em um estágio recente da fase de pós-AGB, constituindo a classe de estrelas
OH/IR não variáveis. A Região I caracteriza uma emissão do tipo estelar, compatível com as
pós-AGB em estágios mais avançados, com a conseqüente dissipação de seus envoltórios.
Nela ocorre uma pequena variabilidade irregular e a emissão maser não é observada.
Entre os YSOs, encontram-se desde os objetos mais severamente obscurecidos até
aqueles onde são detectadas estrelas brilhantes no óptico, com pouco ou nenhum excesso no
IR. As fontes sujeitas a uma alta extinção são provavelmente regiões de HII compactas e
objetos do tipo Herbig-Haro, ainda embebidos na nuvem molecular nas quais eles foram
originados. Estes objetos povoam especialmente a Região III, muito embora alguns ocupem a
Região II próxima à linha de temperaturas de cor de BB, que varia entre 800 e 1500 K. Já os
objetos visíveis nos comprimentos de onda ópticos constituem as HABs e TT da amostra.
Eles ocupam preferencialmente a Região IV, embora ainda assim há casos nas regiões I e II.
Os discos circunstelares são os mais prováveis responsáveis pelo excesso observado no IR
destas fontes (Hillenbrand et al. 1992). As galáxias presentes no diagrama de cores são em
36
sua maioria classificadas como galáxias Seyferts brilhantes. Elas em geral ocupam a
intersecção entre as regiões I e IV, confundindo-se com as outras classes de objetos. O
excesso observado no IR é originado nas regiões ao redor do núcleo galáctico, que são
provavelmente associados a uma forte atividade de formação estelar (Sanders et al. 1988,
Carico et al. 1990). Assim, as galáxias que ocupam a Região IV possuem provavelmente um
núcleo com surto de formação estelar, enquanto que aquelas que se encontram na Região I
devem corresponder a uma atividade nuclear moderada.
Podemos concluir a partir da análise das cores no IR próximo que a análise desta faixa
do espectro não é suficiente para a identificação dos objetos na maioria dos casos. Desta
forma, é necessário levar em consideração outros critérios de classificação, para serem
combinados com a informação contida no diagrama das cores no IR próximo.
O diagrama das cores IRAS fornece informação adicional em outra faixa espectral, no
IR distante. A Figura 1.14 exibe este diagrama, com as regiões típicas de várias classes de
objetos sugeridas por diversos autores, sobrepostas à amostra de García-Lario et al. (1997).
A Região (a) é associada às variáveis Miras brilhantes (Herman 1988); (b) às variáveis
OH/IR (Svagnaman 1989); (c) às estrelas TT e HAB (Harris et al. 1988); (d) aos AGNs (de
Grijp et al. 1987) e (e) às regiões de HII compactas (Antonopoulos & Pottasch 1987). A curva
exponencial presente no diagrama representa a trajetória evolutiva sofrida por um objeto com
taxa crescente de perda de massa, calculada por Bedijn (1987).
Podemos observar neste diagrama que apesar da sobreposição do locus típico das
diversas classes de objeto, ainda assim há regiões onde a identificação é possível. Além disso,
a amostra de García-Lario et al. (1997) se mostrou compatível com a distribuição esperada
37
para os alvos de natureza conhecida de sua amostra, confirmando a validade deste critério de
classificação.
Figura 1.14: Diagrama das cores IRAS da amostra de García-Lario et al. (1997). Sobrepostas estão as regiões
típicas de cada classe de objeto, propostas por diversos autores (descritas no texto). A linha cheia representa a
curva calculada por Bedijn (1987) associada a uma evolução com taxa de perda de massa crescente.
38
Capítulo 2
O Pico dos Dias Survey
Com base nas medidas de fluxos IRAS em 12, 25 e 60 μm de estrelas T Tauri (TT)
associadas a nuvens moleculares do Complexo de Chamaeleon, Gregorio-Hetem, Sanzovo e
Lépine (1988) sugeriram que as TT ocupam uma região bem definida no diagrama cor-cor
avaliado em tais bandas. Uma longa campanha observacional, realizada no OPD
(MCT/LNA), em Itajubá, MG visando a obtenção de espectros de média resolução para
verificar a presença das linhas H
α
(em emissão) e Li I (em absorção), que confirmam a
natureza jovem das candidatas. Foi assim estabelecido o projeto denominado Pico dos Dias
Survey (PDS), uma pesquisa que revelou vários objetos PMS que não haviam sido
préviamente identificados, ou seja, novas estrelas TT e estrelas HAB.
Os primeiros resultados foram publicados na forma de um catálogo por Gregorio-Hetem
et al. (1992) e Torres et al. (1995). Finalmente, C. A. Torres (1999) apresentou em sua tese de
doutorado o catálogo completo do PDS, descrevendo em detalhes o projeto, o qual será aqui
apresentado apenas de forma resumida.
39
2.1 Objetivos
A partir do IRAS PSC foram selecionadas candidatas a novas estrelas do tipo TT
(estrelas de baixa massa na fase PMS). O critério básico de seleção utilizado foi a busca pelos
objetos contidos dentro de uma região específica do diagrama de cores IRAS, determinada
pelos intervalos de fluxos 0.95<F
25
/F
12
<3.40 e 0.50<F
60
/F
25
<3.30, sendo F
12
, F
25
e F
60
as
densidades de fluxo IRAS sem correção de cor. O fluxo IRAS em 100 μm não foi utilizado
para esta seleção por ser uma banda freqüentemente dominada pela emissão devida ao cirrus
ou a nuvens de poeira (Gregorio-Hetem et al. 1992). Foram selecionadas apenas as fontes que
possuíssem medidas de fluxo de boa qualidade (flags de 2 ou 3 no IRAS PSC), ou seja,
medidas que reprsentassem um limite superior não foram consideradas. Não foram
selecionados objetos que se localizassem ao norte de 30 graus em declinação e que não
correspondessem a fontes como galáxias, quasares ou PNs conhecidas. Uma busca no Guide
Star Catalog (GSC) permitiu identificar a melhor contrapartida óptica de cada fonte IRAS,
tornando mais eficiente o processo observacional e a aquisição de espectros. Além disso,
após a publicação dos resultados de Weintraub (1990), sugerindo faixas menos restritivas
(vide Seção 2.4) para as cores IRAS típicas de estrelas jovens, foi possível estender a procura
para um número maior de candidatas. Foram selecionados apenas objetos com magnitude
mais brilhante do que 14, sendo esta estimada a partir de imagens do Digitized Sky Survey
dentro de 3.3 da incerteza da posição IRAS.σ
40
2.2. Metodologia
Os espectros foram obtidos com o espectrógrafo Coudé e o telescópio de 1,6m do OPD.
Foi utilizada a rede de 600 l/mm, que proporciona uma resolução de cerca de 0,7 Å na região
do vermelho (~6600 Å), cobrindo a região de 6500 Å a 6740 Å.
Medidas fotométricas foram obtidas nas bandas no sistema Johnson-Cousins
(UBV(RI)
c
) usando o fotômetro rápido (FOTRAP) descrito por Jablonski et al. (1994).
Para cada contrapartida óptica das fontes IRAS selecionadas de acordo com os critérios
acima descritos, foram obtidos três espectros em diferentes datas, buscando verificar a
ocorrência de variabilidade nas linhas espectrais. Note-se que muitas das fontes IRAS
apresentaram duas ou mais contrapartidas ópticas, o que possibilitou a descoberta de vários
sistemas múltiplos.
2.3 Resultados obtidos pelo PDS
O resultado desta busca em princípio direcionada a objetos jovens de baixa massa foi
bastante heterogêneo e desta forma surpreendente. Foi gerado um catálogo contendo 886
objetos, dentre os quais estão: 200 estrelas jovens ainda não catalogadas anteriormente
(Gregorio-Hetem et al. 1992; Torres et al. 1995; Torres 1999); 108 candidatas a estrelas do
tipo Herbig Ae/Be (Vieira et al. 2003); 20 gigantes vermelhas ricas em lítio (Gregorio-Hetem
et al. 1993, Castilho et al. 2003); e um quasar (Torres et al. 1997).
41
Estes resultados evidenciam a heterogeneidade dos tipos de objetos detectados a partir
dos critérios de seleção adotados pela missão do PDS. Como vimos no Capítulo 1, isso se
deve à semelhança no excesso IR observado tanto em objetos jovens como nos objetos mais
evoluídos. Este fato propiciou por exemplo a descoberta serendípita de gigantes ricas em lítio.
De la Reza et al. (1997) argumentam que todas as gigantes K normais se tornam ricas em lítio
por um curto período de tempo (de até 10
5
anos), devido a um mecanismo de mistura abrupto
que enriquece uma camada circunstelar, a qual é ejetada devido a um evento de perda de
massa episódico. Este processo é similar ao ocorrido para a conversão de camadas ricas em
oxigênio para camadas ricas em carbono (de la Reza et al. 1996).
2.4 A detecção de estrelas jovens de massa intermediária
Por apresentarem uma estrutura circunstelar semelhante às TT, candidatas a estrelas
HAB também foram selecionadas de acordo com o critério das cores IRAS. Os intervalos
adotados para as razões de fluxos IRAS, de acordo com a sugestão de Weintraub (1990),
foram: -1,35 α
1
2,0 e -1.85 α
2
1,5 definidos por:
α
1
= 3,14 log(F
25
μ
m
/F
12
μ
m
) – 1
α
2
= 3,14 log(F
60
μ
m
/F
25
μ
m
) – 1
Como mencionado acima, esses intervalos são um pouco mais abrangentes que aqueles
sugeridos por Gregorio-Hetem, Sanzovo, & Lépine (1988) como locus preferencial das TT,
permitindo que objetos com mais variadas características circunstelares ou formato da SED,
42
em especial as HABs, também fossem revelados. Como será discutido na Seção 2.6, parte da
amostra de estrelas jovens de massa intermediária observadas no PDS apresenta SEDs com
inclinações extremas (espectro crescente na região do IR distante), mais semelhante a objetos
evoluídos, como as pós-AGB, do que a estrelas PMS, tornando esse grupo especialmente
interessante para o presente trabalho.
Vieira et al. (2003) apresentaram a identificação das 108 HABs detectados pelo PDS.
Cerca de 30% dessa amostra já havia sido préviamente identificada como PMS no trabalho
realizado por Thé et al. (1994), no qual foram estudados 287 objetos, entre HAB e estrelas
relacionadas. A Tabela 1 do catálogo de Thé et al. apresenta uma centena de estrelas de tipo
Ae ou Be que até o início dos anos 90 eram reconhecidas como verdadeiras HABs, bem como
potenciais candidatas. Outros objetos, classificados como estrelas com linhas de emissão e
excesso infravermelho, ou estrelas com emissão extrema, foram apresentados em listas
separadas no referido catálogo.
Guimarães et al. (2006) estudaram a acresção circunstelar de uma amostra de 15 HABs
do PDS, determinando parâmetros estelares, metalicidade e velocidade de rotação através de
espectroscopia de alta resolução e cálculo de espectros sintéticos. Evidências de acresção
foram encontradas para quatro objetos de sua amostra, com base no deslocamento das
componentes de linhas de absorção.
2.5 Henize 3-1475
Rodrigues et al. (2003) realizaram um estudo polarimétrico de PDS465 (Henize 3-1475),
43
uma das canditatas a HAB que apresentava forte excesso far-IR, como indicado pela
inclinação da SED muito mais proeminente nas bandas IRAS que na região espectral do
visível. Uma das evidências de se tratar de objeto evoluído foi apresentada por Rieira et al.
(1995) que realizaram espectroscopia e imageamento ópticos revelando alta abundância de
nitrogênio, uma das características típicas de PN do tipo I.
Os resultados observacionais obtidos a partir da polarimetria óptica e da fotometria no
IR próximo obtidos por Rodrigues et al. (2003) confirmaram a natureza PPN de Henize 3-
1475. Com base na alta polarização intrínseca, provavelmente devida a um disco circunstelar
ópticamente espesso, e na modelização do envoltório, calculada pelo método de Monte Carlo,
foi verificada uma lei de potência com índice -3 para a distribuição de tamanhos de grãos.
Inspirados pelo fato de que outras HABs do PDS podem apresentar características
semelhantes a Henize 3-1475, tornando-as potenciais candidatas a objetos mais evoluídos,
realizamos um estudo detalhado de uma amostra selecionada de acordo com o formato da
SED, conforme os critérios descritos na Seção 2.6 a seguir.
2.6 Classificação segundo a distribuição espectral de energia
Sartori et al. (2003) propuseram um esquema de classificação das HAB a partir da
análise da SED do objeto. Ele é baseado no valor do índice espectral β e na fração da
contribuição do envoltório circunstelar sobre o espectro total emitido pela candidata. Este
índice é definido por Torres (1999) é expresso por β = 0,75 log(F
12
μ
m
/F
V
) – 1.
44
A estimativa da fração da contribuição circunstelar é feita através de um modelo que
propõe uma estrutura composta por objeto central envolvido por um disco fino oticamente
espesso e um envelope esférico de poeira (Gregorio-Hetem & Hetem 2002). Reproduz-se a
SED observada considerando-se diferentes leis de temperatura para as componentes
individuais do sistema. A partir deste modelo, pode-se calcular a porcentagem da emissão do
envoltório Sc com relação à emissão total. Desta forma, definiram-se as seguintes classes:
-Grupo 1: β > 1, indicando que a emissão no IR médio é maior que a emissão no visível. A
contribuição circunstelar Sc é maior do que 70 %.
-Grupo 2: -1 β 0 , indicativo de que a emissão no IR médio é menos importante que a
observada no óptico. A fração de sua contribuição circunstelar está em um intervalo entre
10% e 70%.
-Grupo 3: β < -1, característico de uma emissão no IR muito menor do que no óptico. Neste
caso, Sc < 10%. A Figura 2.1 mostra exemplos de SEDs de representantes destes três grupos.
Esta classificação segue a idéia de um cenário evolutivo das HAB, semelhante ao
proposto por Malfait et al. (1998). O Grupo 1 corresponde a objetos mais embebidos, como é
o caso de R Cr A, enquanto o Grupo 3 representa estrelas com discos de poeira mais
evoluídos, análogos a Vega. O Grupo 2 é a fase de transição entre estas duas categorias
extremas.
No entanto é importante notar que diferentes fases de evolução podem exibir excesso no
infravermelho distante devido à emissão circunstelar. É este fato que gera a confusão entre as
candidatas a HAB do Grupo 1 com objetos do tipo pós-AGB e outros indicativos da real
natureza das fontes devem ser levados em consideração.
45
Figura 2.1: SEDs dos objetos R Cr A, HD144432 e β Pictoris, típicas dos Grupos 1, 2 e 3, respectivamente. Esta
separação em grupos é definida por Sartori et al. (2003). As curvas teóricas foram calculadas a partir de um
modelo de dupla componente circunstelar, descrito no Capítulo 5.
46
2.7 Critérios de seleção de nossa amostra
Foram selecionados 27 objetos entre as candidatas a HAB pertencentes ao Grupo 1
descrito anteriormente. As SEDs destes objetos apresenta inclinações crescentes para maiores
comprimentos de onda, havendo um máximo de emissão no infravermelho distante. Esta
característica indica a forte contribuição na emissão devida ao envoltório circunstelar. A lista
dos objetos selecionados para este estudo pode ser visualizada na Tabela 2.1, onde podemos
encontrar as identificações destes objetos dadas pelo PDS, IRAS e a identificação mais
comum na literatura, bem como suas posições, dadas em coordenadas equatoriais (J2000). Os
outros dados disponíveis para as estrelas da amostra podem ser encontrados no Capítulo 4.
Tabela 2.1: Objetos do PDS selecionados como candidatos a pós-AGB.
47
PDS IRAS identificação R.A. DEC.
18 05513-1024
...
05 53 42,5 -10 24 01
27 07173-1733
V* DW Cma
07 19 35,94 -17 39 18,7
37 10082-5647
GSC 08607-01509
10 10 00,33 -57 02 07,4
67 13491-6318
Hen 3-938
13 52 42,9 -63 32 48
141 12496-7650
V* DK Cha
12 53 17,22 -77 07 10,6
168 04278+2253
GSC 01829-00331
04 30 50,05 +23 00 06,2
174 05044-0325
NSV 1832
05 06 55,5 -03 21 13
193 05357-0650
GSC 04779-00040
05 38 09,23 -06 49 15,9
198 05365-0718
V* V599 Ori
05 38 58,64 -07 16 45,7
204 05471+2351
EM* MWC 778
05 50 13,5 +23 52 17
207 06040+2958
GSC 01876-00892
06 07 16,1 +29 58 01
216 06210+1432
CAP 0621+14
06 23 56,16 +14 30 27,6
257 07394-1953
...
07 41 41,2 -20 00 14
290 09245-5228
GSC 08584-02884
09 26 11,8 -52 42 18
353 12196-6300
ESO 95-7
12 22 23,28 -63 17 16,7
371 13445-3624
...
13 47 31,7 -36 39 52
394 15310-6149
...
15 35 17,0 -61 59 05
406 16017-3936
GSC 07855-00815
16 05 03,93 -39 45 03,2
431 16513-4316
...
16 54 57,7 -43 21 39
465 17423-1755
Hen 3-1475
17 45 14,16 -17 56 46,6
477 17575-1647
...
18 00 29,3 -16 47 23
518 18250-0351
V* NZ Ser
18 27 39,6 -03 49 52
520 18275+0040
GS 00446-00153
18 30 06,9 +00 42 34
530 18391+0805
...
18 41 34,8 +08 08 22
543 18454+0250
...
18 48 00,4 +02 54 13
551 18528+0400
...
18 55 21,5 +04 04 29
581 19343+2926
BD +29 3662
19 36 18,41 +29 32 52,4
Capítulo 3
Associação com nuvens moleculares
A associação de um dado objeto com regiões de formação estelar pode ser um indicativo
de uma natureza jovem. As nuvens moleculares são bem conhecidos “berçários estelares”,
onde acredita-se que um processo de colapso gravitacional, desencadeado por uma eventual
perturbação do sistema, seja responsável pelo surgimento de novas estrelas. Desta forma, o
estudo desta possível associação desempenha um papel importante na identificação da
natureza dos objetos de nossa amostra.
Uma análise interessante consiste na comparação da distribuição espacial das estrelas
sob investigação e a distribuição de nuvens escuras da Galáxia. Para tanto, fez-se uma busca
nos catálogos de Lynds (1962) e de Feitzinger & Stüwe (1984) das nuvens maiores e mais
próximas às estrelas da amostra. O catálogo de Lynds é uma compilação das nuvens escuras,
registradas nas placas fotográficas no vermelho e no azul, obtidas do Atlas Celeste do
Observatório Palomar, cobrindo uma região entre 0 e 240
o
em longitudes galácticas. Já o
trabalho de Feitzinger & Stüwe baseia-se no estudo de campos contidos no Atlas Celeste ESO
(B) e SRC-J, abrangendo a região complementar entre 240
o
e 360
o
. Ambos fornecem a
posição central das nuvens, suas áreas em graus quadrados calculadas com o auxílio de um
49
planímetro e uma estimativa de suas opacidades, feita através de inspeção visual.
A Tabela 3.1 exibe os dados obtidos a partir da pesquisa nestes catálogos. A coluna 1
lista a identificação do PDS de nossas candidatas; as colunas 2 e 3 representam as
coordenadas galácticas destas candidatas; a quarta coluna exibe a identificação da nuvem
mais próxima do respectivo objeto de nossa amostra, onde a letra “L indica quando esta
entrada foi extraída do catálogo de Lynds (1962); as colunas 5 e 6 especificam a posição
central destas nuvens; a sétima coluna informa a área da respectiva nuvem, em graus
quadrados; a oitava coluna mostra a distância entre o objeto de nossa amostra e o centro da
nuvem mais próxima e a coluna 9 representa uma estimativa da distância entre o objeto PDS e
a borda da nuvem. A distância entre o objeto e o centro da nuvem é calculada através da
expressão
D = [(l
obj –
l
nuv
)
2
+ (b
obj
- b
nuv
)
2
]
1/2
onde l representa a longitude galáctica e b a latitude. A estimativa da distância da estrela à
borda da nuvem é dada por d = D – (área)
1/2
. A partir desta definição podemos interpretar que
valores negativos indicam que o objeto se encontra “dentro” da nuvem. Os erros associados às
posições em coordenadas galácticas de nossos objetos possuem um limite superior de 30”.
A distribuição galáctica das estrelas da amostra e as posições centrais das nuvens
listadas na Tabela 3.1 podem ser visualizadas na Figura 3.1. Podemos perceber através de sua
inspeção que objetos com alta latitude galáctica não se encontram necessariamente distantes
de complexos de nuvens moleculares, como é o caso de PDS174, PDS193 e PDS198. Alguns
autores argumentam que uma grande distância ao plano galáctico (|b| > 10
o
) é um indicativo
de uma natureza mais evoluída, característica de uma população estelar mais velha (e.g.,
50
Parthasarathy et al. 2000, Oudmaijer 1996, Waelkens et al. 1998). Esta afirmação deve ser
cautelosa, tendo em vista que a distribuição das nuvens na Galáxia não se restringe
necessariamente a uma região muito próxima ao plano.
Tabela 3.1: Posições galácticas dos objetos de nossa amostra e das nuvens mais próximas extraídas dos catálogos
de Lynds (1962) e de Feitzinger & Stüwe (1984). As três últimas colunas referem-se respectivamente à área da
nuvem (dada em graus quadrados), à distância objeto-centro da nuvem e à distância objeto-borda da nuvem
(dadas em graus).
A distância do objeto à borda da nuvem mais próxima representa uma medida
quantitativa da possível associação da estrela com a nuvem escura. É claro que existe a
possibilidade da ocorrência de um efeito de projeção, onde a estrela e a nuvem possuem
diferentes profundidades no céu. No entanto, aqueles objetos que não se encontram sequer
angularmente contidos nas regiões ocupadas pela nuvem, ou mesmo próximos a ela, muito
51
PDS nuvem
área D
d
18 215,83 -17,55 L1648 214,43 -17,46 1,85 1,4 0,72
27 231,75 -2,03 2 236,61 -2,44 0,47 4,9 4,19
37 282,27 -0,79 134 281,55 -0,81 1,02 0,7 0,22
67 309,68 -1,48 256 309,61 -1,85 0,42 0,4 0,05
141 303,01 -14,23 223 303,47 -14,74 0,24 0,7 0,44
168 174,76 -17,2 L1536 174,96 -16,59 1,5 0,6 0,02
174 203,48 -24,78 L1616 203,42 -25,05 0,02 0,3 0,21
193 210,62 -19,51 L1641 210,64 -19,83 6,27 0,3 -0,94
198 211,18 -19,51 L1641 210,64 -19,83 6,27 0,6 -0,63
204 184,86 -1,77 L1560 183,72 4,58 2,3 6,4 5,69
207 181,47 4,58 L1557 181,23 4,21 1,04 0,4 -0,07
216 196,91 0,62 L1600 198,95 1,18 0,4 2,1 1,8
257 236,32 1,4 2 236,61 -2,44 0,47 3,8 3,51
290 274,63 -1,5 114 274,56 0,13 0,14 1,6 1,45
353 299,61 -0,6 194 299,75 -1,35 0,32 0,8 0,48
371 315,19 24,89 274 315,09 4,28 0,83 20,6 20,16
394 320,93 -4,98 298 321,61 -4,3 0,43 1 0,63
406 338,5 9,45 348 338,95 9,5 0,44 0,5 0,12
431 342,33 0,16 372 344,05 -0,42 0,15 1,8 1,62
465 9,34 5,84 475 6,44 2,12 0,22 4,7 4,48
477 12,15 3,33 L320 12,26 3,69 1,42 0,4 -0,21
518 26,81 3,54 L511 26,62 4,28 0,81 0,8 0,32
520 31,07 5,17 L578 31 4,99 0,01 0,2 0,15
530 39,06 5,91 L637 39,01 6,17 0,03 0,3 -0,09
543 35,07 2,18 L621 35,23 2,56 45 0,4 -2,94
551 36,91 1,15 L628 36,67 0,21 2 1 0,26
581 64,07 4,31 L811 63,78 3,41 0,25 0,9 0,69
l
obj
b
obj
l
nuv
l
nuv
Figura 3.1: Distribuição galáctica das estrelas da amostra e da posição central das nuvens escuras mais próximas
a estas estrelas.
52
provavelmente não estão associados a esta estrutura.
Toda esta análise baseia-se em áreas e posições estimadas do catálogos de Lynds e de
Feitzinger & Stüwe, constituindo portanto apenas uma abordagem preliminar. Para um estudo
mais detalhado, devemos levar em consideração a geometria irregular apresentada pelas
nuvens, a qual em geral possui uma estrutura filamentar. A determinação das distâncias às
bordas da nuvens só podem nos revelar ordens de grandeza, já que o formato detalhado da
nuvem não foi levado em consideração nesta estimativa preliminar.
Uma alternaltiva para levarmos em conta a posição específica de cada objeto neste
estudo de associação com SFRs é a utilização de um modelo de extinção galáctica, como por
exemplo o proposto por Amôres & Lépine (2005). No entanto, pelo fato de não dispormos de
medidas de distância confiáveis para nossos objetos, decidimos estudar a real extensão das
estruturas interestelares através do mapa da extinção galáctica produzido por Dobashi et al.
(2005). Estes autores são responsáveis pela construção de um atlas e um catálogo de nuvens
escuras, a partir da base de dados no óptico do Digitized Sky Survey I (DSS). Através da
análise de 1043 placas contidas no DSS, eles produziram um mapa em Av (extinção visual)
que cobre toda a região galáctica, no intervalo definido por |b| 40
o
. Este mapa possui
versões em resoluções de 6' e 18', que podem ser encontradas na página http://darkclouds.u-
gakugei.ac.jp/astronomer/astronomer.html em formato “.fits”. Entre outros resultados, este
trabalho registrou 2448 nuvens escuras e 2841 clumps nelas contidos.
A partir da versão de mais alta resolução deste mapa galáctico, obtivemos o valor da
extinção na posição de cada objeto da amostra. Além disso, também calculamos o desvio
padrão dos valores contidos em um quadrado de 1
o
x 1
o
, centrado na posição da estrela da
53
amostra, com auxílio da tarefa imstat do pacote IRAF (Image Reduction and Analysis
Facility disponibilizado por National Optical Astronomy Observatories (NOAO)). Desta
forma, podemos ter uma idéia de como se comporta a variação do valor da extinção nas
vizinhanças de cada objeto. O valor da extinção na posição galáctica do objeto representa
uma medida quantitativa da sua associação com as nuvens escuras, sendo portanto bastante
útil para nossa análise. Estes valores são apresentados na Tabela 3.2. A Figura 3.2.a exibe a
distribuição galáctica de nossos objetos neste mapa em Av, sobre o qual estão sobrepostos os
contornos de mesma extinção em Av = 0,5 mag e Av = 3 mag. Na Figura 3.2.b podemos
visualizar com um maior grau de detalhamento a região central da Galáxia, onde podemos
observar uma certa concentração de nossos objetos. No Capítulo 4 faremos um estudo
comparativo entre as extinções obtidas do trabalho de Dobashi et al. (2005) e aquelas
estimadas a partir do excesso de cor no óptico observado para cada objeto.
O estudo em Av permite a análise da influência das nuvens escuras na região do óptico,
onde a extinção circunstelar pode desempenhar um papel dominante. Afim de estudarmos
uma característica mais intrínseca ao ISM, também desenvolvemos um estudo análogo ao
anterior, só que com base na região espectral do IR distante. Para tanto, analizamos imagens
obtidas pelo satélite IRAS em 100 μm. Elas possuem uma extensão angular de 12,5
o
x 12,5
o
,
com uma resolução espacial de 0,025 graus/pixel. Estas imagens revelam especialmente as
propriedades da emissão devida ao cirrus interestelar, sofrendo pouca influência causada pela
emissão dos envoltórios circuntelares. Para relizarmos um estudo quantitativo a partir destas
imagens, calculamos a contagem média e o desvio padrão de regiões quadradas de 1
o
x 1
o
.
Estas regiões foram escolhidas de forma que evitasse a contaminação causada pela presença
54
55
Figura 3.2: Mapa de extinção produzido por Dobashi et al. (2005). Em (a) é exibido o mapa completo e em (b)
temos representada em detalhe a região central da Galáxia, onde há uma maior concentração de nossos objetos.
São sobrepostos aos mapas contornos em 0,5 mag e 3 mag, bem como as posições dos objetos da amostra.
de fontes puntuais e ao mesmo tempo que não se distaciassem mais do que 1
o
do objeto de
interesse. Os valores obtidos podem ser encontrados na Tabela 3.2. Nesta tabela também
pode-se encontrar alguns resultados do trabalho de Vieira et al. (2003), no qual foram
calculadas as distâncias fotométricas para as estrelas da amostra supondo que elas se
encontrem na MS, o que representa uma boa aproximação para o caso das HAB. Além disso,
eles produziram uma compilação das possíveis regiões de formação estelar (SFR) às quais os
objetos provavelmente encontram-se associados, bem como de suas distâncias, disponíveis na
literatura. As referências podem ser encontradas com detalhe em seu trabalho. As imagens
IRAS em 100 μm podem ser visualizadas no Apêndice A. Sobre elas, foram traçados
56
isocontornos de fluxo em 15 e 60 MJy/sr e as posições dos objetos da amostra.
Os objetos PDS465 e PDS581 não possuem estimativa de distância ou sugestão de
associação com qualquer SFR no trabalho de Vieira et al. (2003). Seus autores argumentam
Tabela 3.2: A primeira coluna refere-se ao identificador PDS de cada objeto da amostra; a segunda coluna é a
distância fotométrica calculada por Vieira et al. (2003), dada em parsecs; a terceira e a quarta coluna referem-se,
respectivamente, às distâncias (em pc) e aos nomes das SFR possivelmente associadas a cada objeto, compilados
também por Vieira et al. (2003). A quinta coluna exibe a extinção na posição de cada objeto, sendo a sexta
coluna o desvio padrão associado a este valor; a sétima coluna representa a média do fluxo por área (MJy/sr) em
um quadrado de 1
o
x 1
o
, na vizinhança mais próxima de cada objeto da amostra contido nas imagens IRAS em
100 μm, sendo os respectivos desvios padrões desta média representados na última coluna.
que estas estrelas sejam PPN confirmadas pelos trabalhos de García-Hernández et al. (2002) e
de Castro-Carrizo et al. (2002), respectivamente. Vale lembrar que PDS465 trata-se da Hen 3-
1475, discutida no Capítulo 2 e também confirmada como PPN por Rodrigues et al. (2003)
através de um estudo polarimétrico. De qualquer forma, devemos manter um olhar crítico
57
PDS SFR Av
18 380 300-700 Ori A 1,29 0,34 19,6 2,3
27 1100 1200-1300 CMa 1,22 0,19 20,2 2,8
37 720 800 DC 282.4+0.5 2,81 0,38 156,2 41,2
67 1700 1500-2300 Cen OB1 1,39 0,32 299,9 101,2
141 ... 140-200 DC 303-14 3,83 0,84 14,1 2,1
168 130 130-150 LDN 1536 0,88 0,59 13,8 1,2
174 1700 460 G203.4-24.7 0,50 0,21 5,9 0,5
193 600 300-700 Ori A 2,62 0,61 11,3 1,5
198 190 300-700 Ori A 2,57 0,64 11,3 1,5
204 2600 1100 WB711 0,88 0,35 12,8 0,7
207 600 3000-4400 LDN 1557 0,25 0,49 16,0 1,7
216 2700 850-1150 Mon OB1 0,80 0,15 15,2 1,3
257 3000 4300 G236.4+1.49 0,59 0,13 21,0 2,5
290 1800 1800-2190 Vela OB1 1,60 0,22 37,2 9,5
353 1200 900-1400 Coalsack 1,30 0,23 80,3 26,2
371 6000 ... ... 0,10 0,09 4,6 0,2
394 670 400-600 Circinus 0,69 0,22 49,0 5,4
406 1200 1000-1400 Norma 0,83 0,47 34,0 4,4
431 1300 1000-1400 Norma/Ara 1,60 0,41 372,7 105,4
465 ... ... ... 0,58 0,24 14,1 0,6
477 2900 900-1500 Sgr R1 2,64 0,41 120,1 13,6
518 230 220 Scutum 5,37 0,95 104,8 11,2
520 180 200-350 Serpens 5,52 0,84 78,5 26,2
530 1000 600-1000 W50 0,99 0,27 38,0 5,3
543 414 ≥1000 LDN616 4,61 0,64 163,9 46,9
551 3500 2000 CO 38+2 6,30 0,67 195,6 43,4
581 ... ... ... 0,00 0,05 20,9 3,5
d
fotom
d
SFR
σ
Av
<F
100 μm
> σ
100 μm
sobre estas estimativas de distância, já que ela pressupõem uma natureza de MS. As pós-AGB
possuem classe de luminosidade característica de supergigantes, sendo portanto muito
luminosas. Para se ter uma idéia do erro que pode estar sendo cometido com a hipótese
adotada por Vieira et al., analisemos valores típicos para uma estrela do tipo A0, extraídos das
tabelas de Straizys & Kuriliene (1981). Uma estrela de MS deste tipo espectral (log g ~ 4,0)
possui M
V
~ 0,8 mag, enquanto que uma supergigante (classe Iab log g ~ 2,0) de mesmo
tipo espectral apresenta M
V
~ -6,4. Sendo o módulo de distância dado por m - M=-5 + 5 log
d, esta diferença significa que a distância da segunda seria cerca de 30 vezes maior do que a
primeira. Esta ordem de grandeza é suficiente para não podermos estar seguros com respeito
a nenhuma das associações com nuvens sugeridas pela Tabela 3.2.
O comportamento dos valores médios de Av e do fluxo em 100 μm com a distância à
borda da nuvem estimada pode ser visualizada na Figura 3.3. No segundo gráfico desta
figura, foram utilizados os valores logarítmicos dos fluxos IRAS. Isto porque desejamos
estabelecer uma base de comparação entre estes valores e a extinção em Av, a qual é expressa
em magnitudes. As barras de erro representam o desvio padrão observado nas regiões
analisadas.
Podemos notar a partir destes gráficos uma certa tendência de anti-correlação entre os
valores de Av e as distâncias às bordas (em escala logarítmica), a qual também é observada
para o caso do fluxo em 100 μm. Podemos verificar portanto que apesar das medidas de Av e
de <F
100
μ
m
> estarem associadas a faixas espectrais distintas, ambas representam bem o
comportamento apresentado pelo ISM. O valor de Av está relacionado com a região óptica do
espectro eletromagnético, dominada especialmente pela radiação fotosférica estelar. Já o
58
Figura 3.3: Comportamento da extinção (gráfico superior) e da média do fluxo IRAS em 100 μm (gráfico
inferior), na região próxima de cada objeto, com respeito à estimativa de distância à borda da nuvem (em escala
logarítmica valores negativos omitidos). Este fluxo está expresso em seus valores logarítmicos, afim de
estabelecermos uma base de comparação com a medida de Av (dada em magnitudes). As barras de erro referem-
se ao desvio padrão dos valores em uma área de de um grau quadrado ao redor das posições analisadas (vide
texto).
fluxo no IR deve ser devido a uma componente mais fria do ISM, com temperaturas da ordem
de 30 K segundo a lei de deslocamento de Wien.
A anti-correlação observada entre as grandezas estudadas é bastante coerente com a
expectativa de que quanto maior a proximidade à nuvem, maiores serão os indicadores de sua
presença, sejam eles a extinção Av ou o fluxo em 100 μm. É claro que não podemos ignorar o
espalhamento considerável dos valores representados nos gráficos. No entanto, não devemos
nos esquecer que estas distâncias representam uma aproximação bastante simples, que não
leva em consideração o formato específico da nuvem. Além disso, a própria definição da área
destas nuvens envolve medidas aproximadas, feitas através de inspeção visual. Outro fator que
contribui para esta dispersão é o comportamento de Av e de F
100
μ
m
, que podem apresentar
59
mudanças abruptas em seus valores em uma escala angular por vezes menor do que as
distâncias às bordas das nuvens calculadas, como mostram as barras de erro referentes às suas
flutuações dentro de uma região de um grau quadrado.
A partir desta análise, podemos destacar alguns objetos interessantes de nossa amostra.
As candidatas que sofrem as menores extinções são as PDS 174, 207, 371 e 581, apresentando
valores menores do que 0,5 mag. Já na região do IR distante, as menos afetadas pela emissão
do cirrus interestelar (F
100
μ
m
< 12 MJy/sr) são as PDS 174, 193, 198 e 371.
As maiores extinções são encontradas nas posições dos objetos PDS 518, 520, 543 e 551,
com Av por volta de 5 mag. As estrelas que possuem as regiões próximas mais brilhantes em
100 μm (F
100
μ
m
> 100 MJy/sr) são as PDS 37, 67, 431, 477, 518, 543 e 551. Embora apenas as
duas últimas coincidam com aquelas do grupo de maior extinção associada, devemos
observar que existe um grande desvio padrão associado à medida no IR distante para estes
casos de mais intensa emissão.
Por ser uma medida no óptico, o parâmetro Av revela as propriedades de um material
mais quente, possivelmente mais próximo à estrela, enquanto que a emissão em 100 μm
revela as características de um material a temperaturas típicas de SFR e do ISM em geral, da
ordem de dezenas de Kelvin. Por isso, a não coincidência entre os objetos de maior extinção
com os associados aos maiores valores de <F
100
μm
> sugere que a presença de material
interestestelar quente não é necessariamente acompanhada pela presença de uma componente
fria e vice-versa.
Em resumo, podemos dizer que as estrelas mais embebidas são PDS 477, 543 e 551,
considerando que apresentam dois ou mais indicativos de associação à uma nuvem (altos Av
60
e/ou <F
100
μ
m
>, menor distância até a borda da nuvem). As mais isoladas são PDS 174, 204 e
371. por apresentarem baixos Av e/ou F
100
μ
m
e estarem mais distantes das nuvens.
Note-se que a partir desta análise não se pretende decidir se há realmente associação
com as nuvens escuras, mas sim destacar aqueles objetos mais ou menos prováveis de estarem
associados, já que não dispomos de medidas confiáveis de distância. Esta probabilidade de
associação, quantificada neste contexto pelos valores de Av e do fluxo em 100 μm, será
combinada com os outros indícios revelados através das análises posteriores, que em conjunto
se mostrarão condizentes com uma natureza jovem ou um estágio mais avançado da evolução
estelar. A estratégia principal deste trabalho consiste na não restrição a apenas um tipo de
observação, mas sim na combinação dos vários dados observacionais disponíveis.
61
Capítulo 4
Análise dos dados observacionais
Trataremos agora da apresentação e análise dos dados observacionais disponíveis na
literatura acerca das candidatas de nossa amostra. Eles compreendem os dados obtidos pelo
PDS (espectros e fotometria UBV (RI)
C
), dados fotométricos no IR próximo obtidos pelo
2MASS e fluxos no IR médio e distante presentes nos catálogos MSX e IRAS. Também
desenvolveremos uma breve discussão sobre os espectros ISO encontrados para PDS 141, 465,
518 e 581.
A partir dos dados fotométricos apresentados, realizaremos as correções de extinção
necessárias para eliminar o efeito do avermelhamento causado pela absorção e espalhamento
da radiação estelar. Dada esta correção, apresentaremos uma proposta de separação em
grupos baseada no formato da SEDs observadas e discutiremos os diagramas de cores
interessantes para nosso estudo.
4.1 Espectroscopia e fotometria ópticas
Os dados obtidos no PDS consistem de espectros de baixa e média resolução em torno
63
da linha de H
α
e de fotometria UBV (RI)
C
, conforme descrito no Capítulo 2. A partir destes
espectros, Vieira et al. (2003) estimaram o tipo espectral das candidatas a HAB propostas em
seu trabalho, bem como identificaram a presença de linhas proibidas de [OI] em 6300 Å e
6364 Å e de [SII] em 6716 Å e 6731 Å. Em seu artigo também encontra-se especificada a
classificação dos perfis de emissão da linha de H
α
segundo os critérios definidos por
Reipurth et al. (1996). Na tese de doutoramento de Torres (1999), podemos encontrar uma
estimativa da largura equivalente desta linha, que deve ser tomada apenas como um valor
indicativo dada a diversidade de perfis nos quais ela se apresenta e a sua grande variabilidade.
No Apêndice B exibimos os espectros obtidos na missão do PDS, com suas várias
características de emissão. No presente trabalho nos restringiremos apenas a apresentação
destes espectros, já que não desenvolvemos aprofundamento algum em seu estudo. A Tabela
4.1 mostra os dados extraídos do trabalho de Vieira et al. (2003). A estimativa do tipo
espectral foi baseada na comparação das faixas espectrais observadas com uma grade de
espectros de estrelas classificadas na literatura, segundo o procedimento descrito por Torres
(1999). Ele argumenta que a incerteza nesta determinação é de um sub-tipo espectral para as
estrelas do tipo B e de dois sub-tipos espectrais para estrelas do tipo A e F. No entanto, o uso
de uma faixa espectral tão estreita como base de comparação pode introduzir erros de até
cinco sub-tipos espectrais, segundo Vieira et al. (2003).
O trabalho de Vieira et al. (2003) também analisa o posicionamento de suas candidatas a
HAB no diagrama H-R, confrontando-o com as posições das trajetórias evolutivas de PMS e
das curvas isócronas calculadas por Mazitelli (1989), Mazitelli et al. (1995) e Ventura et al.
(1998). As distâncias são estimadas a partir da hipótese de que as estrelas da amostra se
64
Tabela 4.1: Dados do PDS extraídos do trabalho de Vieira et al. (2003). A primeira coluna refere-se à
identificação do PDS, da segunda à sexta coluna são apresentadas as fotometrias UBV (RI)
C
observadas, a
sétima coluna refere-se ao tipo espectral (Sp. Type) estimado, a oitava a temperatura efetiva (T
ef
) correspondente
e a última coluna indica a presença das linhas proibidas (F.L.) de [OI] e de [SII].
encontrem muito próximas à MS, como descrito no Capítulo 3. A partir deste estudo, eles
verificaram que as estrelas PDS 204, 67 e 193 possuem posições totalmente inesperadas no
diagrama H-R, mesmo quando consideramos as barras de erro, merecendo portanto um
estudo mais detalhado.
A discordância deste posicionamento pode indicar que as hipóteses adotadas pelo
trabalho de Vieira et al. (2003) não correpondam à verdadeira natureza destes objetos. Note-
se que os três foram selecionados a partir dos critérios de seleção adotados em nosso
trabalho, descritos no Capítulo 2.
65
PDS V U-B B-V V-R R-I Sp. Type F.L.
18 13,40 0,69 1,48 1,05 1,12 B7? 4,114 [OI]+[SII]
27 13,00 0,29 1,32 1,00 1,02 B2? 4,340 [OI]
37 13,54 0,50 1,52 1,16 1,17 B2? 4,340 -
67 13,50 0,30 1,53 1,15 1,04 O9? 4,500 [OI]
141 - - - - - A? - ?
168 17,30 - - 2,20 1,65 F1 3,850 -
174 12,84 -0,11 0,81 0,66 0,76 B3 4,272 -
193 13,85 - 1,50 1,02 1,07 A5 4,021 -
198 13,72 1,00 1,62 1,08 1,10 F0 3,857 -
204 12,80 -0,27 0,92 0,82 0,68 B1? 4,405 [OI]+[SII]
207 14,01 - 1,29 0,87 1,01 B2 4,000 -
216 14,67 0,00 1,00 0,94 0,74 B2 4,342 [OI]
257 15,45 - 0,90 0,66 0,73 B3 4,000 [OI]
290 14,51 -0,07 0,69 0,48 0,55 B7 4,000 -
353 13,21 0,11 0,82 0,76 0,68 B5? 4,188 [OI]+[SII]
371 15,70 - 1,50 0,95 0,99 O9? 4,500 [OI]+[SII]
394 13,54 0,37 0,81 0,52 0,55 F0V 3,857 -
406 13,93 0,62 0,61 0,39 0,41 A5V 3,914 [OI]
431 13,42 0,21 0,57 0,40 0,43 A0 3,979 -
465 12,87 -0,03 0,97 0,88 0,85 B7 4,340 [OI]
477 14,42 0,13 1,12 0,94 0,95 B1 4,477 [OI]
518 12,18 1,29 2,10 1,96 1,42 B0 4,500 [OI]
520 14,69 - 1,65 1,30 1,20 F3V 3,829 [OI]
530 14,04 0,37 0,57 0,42 0,50 F0V? 3,910 [OI]+[SII]
543 12,52 0,47 2,04 1,27 1,29 B1 4,477 -
551 16,60 - - 1,50 1,27 O9? 4,500 [OI]
581 11,65 -0,29 0,67 0,62 0,54 B0.5IV 4,410 [OI]+[SII]
log T
ef
4.2 Espectroscopia infravermelha
Apenas os objetos PDS 141, 465, 518 e 581 possuem espectro na base de dados
produzida pelo satélite ISO. Como já mencionado no Capítulo 1, este espectro é separado em
duas regiões: os comprimentos de onda detectados pelo SWS (Short-Wave Spectrometer2,4
m a 45 m) e aqueles observados pelo LWS (μ μ Long-Wave Spectrometer 43 m a 196,8μ
m). Os espectros ISO podem revelar as características espectrais da região do IR,μ
correspondentes à composição química da estrutura circunstelar de nossos objetos. A
detecção destas características permite o estudo tanto da composição da poeira contida nestes
ambientes, como também da sua evolução (e.g., Meeus et al. 2001). A Figura 4.1 exibe os
espectros encontrados para nossa amostra.
Podemos ressaltar algumas características interessantes presentes nestes espectros. O
espectro SWS de PDS141, por exemplo, apresenta uma banda de absorção na região entre
12,5 e 16 m. Este intervalo é em geral dominado pela presença de olivina (mistura deμ
silicato de ferro e silicato de magnésio (Fe-Mg)
2
SiO
4
), segundo Malfait et al. (1998b). Se
este for o caso, o material circunstelar deste objeto é provavelmente opticamente espesso a
esta característica espectral. A presença da olivina também pode ser detectada na região entre
19 e 33 m, sob a forma de banda de absorção. O óxido de ferro (FeO) também pode afetar aμ
região localizada em 23 m, de acordo com Meeus et al. (2001). Na faixa compreendida peloμ
espectro LWS, temos a presença de algumas linhas de emissão, como por exemplo em 40 m.μ
Malfait et al. (1998b) atribuem a emissão nesta posição ao piroxeno cristalino.
Podemos observar no espectro SWS de PDS465 uma emissão fraca em torno de 6 m,μ
66
Figura 4.1: Espectros ISO SWS e LWS compostos, referentes às candidatas PDS 141, 465, 518 e 581.
que pode ser causada pela presença de PAH (Meeus et al. 2001). Há também uma emissão
pouco intensa em torno de 12 m, que pode ser originada pela forsterite cristalina (Malfait etμ
al. 1998b). Parece haver indícios da presença de H
2
O sob a forma de gelo, emitindo na região
de 43 m (Malfait et al. 1998b). As características encontradas no espectro de PDS465 sãoμ
muito semelhantes àquelas de PDS581.
PDS518 apresenta um perfil de absorção largo em 10 m, o que pode caracterizar aμ
presença de silicato amorfo em um meio opticamente espesso nesta região de comprimentos
de onda. A emissão em torno de 40 m também é observada para este objeto. Na faixa de seuμ
67
espectro LWS, podemos enconcontrar uma emissão em torno de 158 m, a qual pode serμ
explicada pela linha proibida de [CII] segundo Okada et al. (2003).
Finalmente, podemos observar um perfil de emissão em 6 m no espectro da PDS581,μ
similar ao encontrado no caso da PDS465. Temos novamente o indício de uma absorção larga
na região espectral de 10 m e a presença da linha em 40 m, já relatadas anteriormente.μ μ
Apesar da riqueza de informações proporcionada pela análise destes espectros, é
importante observarmos que os próprios responsáveis pela disponibilização dos dados ISO
advertem que a sua utilização para o uso científico deve ser feita com cautela. Uma análise
mais aprofundada destes espectros demandaria de um cuidado especial com relação à redução
e análise destas observações, as quais foram feitas em geral apenas de uma forma preliminar
pela equipe responsável pelos dados ISO.
4.3 Fotometria infravermelha
Obtivemos as medidas fotométricas para nossas candidatas referentes à faixa do IR a
partir dos dados disponíveis na literatura. A busca e utilização de medidas nesta região
espectral possui grande importância, pois além do fato dos objetos sob estudo possuírem
grandes excessos de emissão nestes comprimentos de onda, um estudo nas várias faixas
espectrais pode ser extremamente útil para a identificação da natureza da amostra (García-
Lario et al. 1997).
Uma de nossas fontes foi a base de dados 2MASS, responsável pela cobertura de 70%
do céu e pela detecção de 5700 fontes no IR próximo. Este catálogo disponibiliza medidas
68
nas bandas J (1,25 m), H (1,65 m) e K (2,17 m), nas quais os excessos causados pelaμ μ μ
emissão térmica do material circunstelar desempenham um papel importante. Suas medidas
foram encontradas para todos os objetos da amostra, havendo sempre a preferência pela
contrapartida mais próxima à posição IRAS. Todavia, este critério não garante a escolha da
fonte 2MASS correta, já que à posição IRAS estão associados erros de até 2'. Além disso,
ainda existe a possibilidade de uma natureza binária dos objetos da amostra.
Também utilizamos dados obtidos a partir do catálogo astrométrico MSX (Midcourse
Space Experiment), que contém 177,860 estrelas, entre as quais 61,242 possuem contrapartida
no PSC do IRAS e no Catálogo de Observações Infravermelhas (CIO), confirmadas por
coincidência de posição e de cor. Sua resolução espacial é 30 vezes superior à obtida pelo
satélite IRAS e seu limite de detecção é de 8 mag no comprimento de onda de 8 m. Nesteμ
trabalho, foram encontradas para nossos objetos observações nas bandas centradas em 8,28 e
12,13 m, sendo a última muito próxima da banda IRAS em 12 m. Foram encontradasμ μ
medidas deste catálogo para 14 de nossos objetos.
Por fim, dispomos também dos fluxos IRAS em 12, 25, 60 e 100 m. Como jáμ
mencionado no Capítulo 2, o diagrama de cores baseado nas três primeiras bandas constituiu
o conjunto de critérios de seleção da amostra do PDS. A missão IRAS representou uma
revolução no estudo da região IR do espectro eletromagnético, gerando uma base de dados
com cerca de 350 mil fontes.
Os dados fotométricos obtidos através de nossa busca na literatura podem ser
visualizados na Tabela 4.2.
69
Tabela 4.2: Dados fotométricos disponíveis na literatura. J, H e K referem-se às fotometrias 2MASS, a quinta e a
sexta coluna indicam os fluxos MSX encontrados para as estrelas de nossa amostra e as quatro últimas colunas
representam os fluxos medidos pelo satélite IRAS. Os valores de fluxo são dados em Jy.
4.4 Correção de extinção
Antes de prosseguirmos com nossas discussões acerca da identificação desta sub-
amostra do PDS, devemos nos preocupar com a correção do avermelhamento sofrido pela
radiação observada. A ação causada tanto pelo meio interestelar como também pelos
ambientes circunstelares presentes nestes objetos pode afetar severamente as medidas de que
dispomos. Por isto devemos levar em consideração os efeitos relacionados aos processos de
absorção e espalhamento devidos ao gás e a poeira presentes ao longo da trajetória radiativa.
Para estimarmos o efeito da extinção, preferimos utilizar o excesso de cor E(V I), por
70
PDS J H K
18 9,80 7,64 5,96 ... ... 17,50 25,73 28,11 51,87
27 9,23 7,76 6,44 8,88 13,60 14,99 32,59 51,83 53,78
37 10,22 8,36 6,97 6,39 8,89 8,70 22,67 56,80 143,40
67 9,23 7,64 6,15 8,06 7,45 7,22 7,24 5,78 38,15
141 9,32 7,00 5,19 ... ... 39,32 85,59 104,90 87,43
168 8,78 7,04 5,86 ... ... 10,35 12,28 8,10 8,23
174 9,89 9,13 8,49 ... ... 13,10 38,57 232,40 381,80
193 9,94 8,97 7,98 ... ... 2,82 3,28 5,31 31,33
198 9,62 8,60 7,59 ... ... 0,78 3,74 10,06 17,76
204 10,18 8,95 7,73 3,86 5,36 6,40 40,36 97,49 133,80
207 10,62 9,45 8,23 ... ... 3,77 6,70 34,35 71,10
216 11,59 10,27 8,99 1,62 2,11 2,27 3,07 19,85 32,63
257 12,63 11,43 10,22 0,35 ... 0,53 0,73 3,74 13,39
290 12,96 12,60 12,32 0,56 1,20 1,43 1,82 15,55 40,93
353 9,96 8,65 7,48 5,86 7,61 9,26 14,07 88,37 200,10
371 12,57 10,83 9,52 ... ... 0,45 0,77 0,70 1,00
394 11,63 11,12 10,60 ... ... 3,67 14,79 7,75 17,92
406 12,02 10,95 9,89 ... ... 0,77 1,60 9,51 9,25
431 11,92 11,76 11,59 5,32 7,61 8,82 55,41 456,60 1394,00
465 9,64 8,29 6,81 ... ... 7,05 28,31 63,68 33,43
477 10,59 9,16 7,96 1,76 2,02 2,78 4,07 4,05 25,87
518 6,13 4,39 3,04 152,90 142,20 158,70 224,10 913,80 1803,00
520 9,83 8,61 7,52 ... ... 1,97 3,76 5,82 12,31
530 12,39 10,80 9,14 ... ... 1,37 2,21 2,07 13,22
543 8,38 7,90 7,50 2,12 2,38 4,22 24,67 36,00 31,32
551 11,46 9,93 8,67 1,17 1,37 2,50 4,21 7,09 206,10
581 9,91 7,93 6,21 18,78 17,05 17,52 59,76 118,40 67,99
A
8,28 μm
C
12,13 μm
F
12 μm
F
25 μm
F
60 μm
F
100 μm
este ser menos afetado pelo excesso UV que altera mais sensivelmente a cor B–V (Strom et
al. 1975). Este excesso de cor é calculado através da expressão:
E(V – I) = (V – I) – (V – I)
0
O segundo termo do lado direito desta equação representa a cor intrínseca, calculada
através de espectros sintéticos baseados em modelos de atmosferas. Para nosso trabalho,
fizemos uso dos valores calculados por Bessel et al. (1998) para o sistema de fotométrico
Johnson-Cousins-Glass. Entretanto, a escolha da cor intríseca adequada para a estimativa do
excesso de cor depende da temperatura efetiva da estrela e de sua gravidade superficial, o que
em outras palavras significa que existe uma dependência com relação ao seu tipo espectral e à
sua classe de luminosidade. A temperatura efetiva possui uma estimativa baseada nos
espectros observados no PDS e portanto não representa uma fonte de preocupação. No
entanto, a escolha de uma classe de luminosidade a priori para calcularmos esta correção é
um tanto quanto delicada, tendo em vista que esta classificação é sob certo aspecto o produto
final deste trabalho. A escolha arbitrária de uma gravidade superficial típica de uma classe de
objetos produziria um viés indesejável em nossa análise, a qual busca em última instância a
identificação da natureza dos objetos de interesse. Afim de evitarmos este tipo de problema,
decidimos calcular o avermelhamento para os dois casos. As HAB devem possuir uma
gravidade superficial muito próxima daquela encontrada para as estrelas de MS, enquanto as
pós-AGB possuem um log g característico das supergigantes. Para fazermos a escolha
adequada dos parâmetros dos quais dependem a cor intrínseca, supomos uma classe de
luminosidade V para as HAB e Iab para as pós-AGB. Desta forma, verificamos os valores de
gravidade superficial para cada caso, adotando as temperaturas efetivas estimadas pelo PDS.
71
Estes valores foram extraídos das tabelas de Straisys & Kuriliene (1981) e podem ser
visualizados na Tabela 4.3. Dado o conhecimento destes pares de valores T
ef
e log g, podemos
fazer a escolha conveniente para a cor intrínseca. Dada esta escolha, devemos efetuar a
conversão do excesso em (V I) para E(B V), através da relação calculada por Schultz &
Wiemer (1975) para estrelas quentes:
E(B – V) = E(V – I)/(1,60 ± 0,03)
Sendo conhecido o excesso em (B V), finalmente podemos calcular o valor da
extinção Av. Para tanto, assumimos uma constante de avermelhamento Rv de (3,14 ± 0,10), a
qual representa o valor médio da extinção interestelar para as várias direções da Galáxia
estudadas por Schultz & Wiemer (1975). A extinção na banda visual é dada por
Av = Rv E(B – V)
Os valores obtidos através desta expressão também se encontram na Tabela 4.3, para as
duas possibilidades de classe de luminosidade sugeridas. Nela podemos notar que os valores
de Av calculados são bastante próximos para os dois casos. Visualizaremos mais claramente a
importância desta distinção quando estudarmos o diagrama de cores ópticas da Seção 4.6.1.
A extinção nas outras bandas espectrais foram calculadas a partir dos valores obtidos de
Av, adotando-se a lei de extinção média <A( )/Av> do trabalho de Cardelli et al. (1989).λ
Uma comparação interessante consiste no confronto entre as extinções calculadas
através dos excessos de cor e aquelas calculadas por Dobashi et al. (2005), apresentadas no
Capítulo 3. A Figura 4.2 exibe a comparação entre os resultados obtidos pelos dois métodos.
72
Tabela 4.3: Dados referentes à correção de extinção, compatíveis com as classes de luminosidade V (MS) e Iab
(supergigante). O valores de log g foram extraídos das tabelas de Straisys & Kuriliene (1981) e as cores
intrínsecas (V-I)
0
foram obtidas das tabelas de Bessel et al. (1998). As extinções Av calculadas a partir destes
dados são expressas para ambas as classes de luminosidade.
O gráfico desta figura mostra que os valores calculados através do excesso de cor são em
geral maiores do que aqueles determinados por Dobashi et al., os quais se baseiam na técnica
tradicional de contagem de estrelas para a determinação da extinção. Isto significa que esta
determinação revela uma característica de extinção associada à região próxima da estrela, mas
não dela em si, já que este método possui essencialmente um valor estatístico. Em
contrapartida, o valor da extinção calculado a partir do excesso de cor está relacionado a uma
característica intrínseca da estrela, sendo basicamente restrito à sua posição. E como os
73
Classe V Classe Iab
PDS log g Av log g Av
18 4,07 -0,11 4,41 2,29 -0,079 4,36
27 4,06 -0,23 4,36 2,84 -0,218 4,34
37 4,06 -0,23 4,96 2,84 -0,218 4,94
67 4,00 -0,31 4,83 3,44 -0,282 4,79
141 ... ... ... ... ... ...
168 4,26 0,43 6,63 1,39 0,312 6,85
174 4,06 -0,20 3,13 2,68 -0,172 3,08
193 4,03 -0,05 4,15 2,04 0,000 4,05
198 4,28 0,37 3,50 1,39 0,249 3,74
204 4,00 -0,26 3,40 2,04 -0,241 3,37
207 4,03 -0,03 3,71 2,01 0,012 3,62
216 4,06 -0,23 3,70 3,01 -0,218 3,68
257 4,03 -0,03 2,76 2,01 0,012 2,67
290 4,03 -0,03 2,06 2,01 0,012 1,97
353 4,10 -0,14 3,06 2,40 -0,118 3,02
371 4,00 -0,31 4,35 3,44 -0,282 4,31
394 4,28 0,37 1,35 1,39 0,249 1,59
406 4,26 0,16 1,24 1,74 0,096 1,36
431 4,07 -0,01 1,62 1,96 0,024 1,56
465 4,06 -0,23 3,80 2,84 -0,218 3,77
477 4,00 -0,30 4,24 3,44 -0,283 4,21
518 4,00 -0,31 7,14 3,44 -0,282 7,10
520 4,26 0,48 3,91 1,22 0,367 4,13
530 4,26 0,16 1,47 1,74 0,096 1,60
543 4,00 -0,30 5,54 3,44 -0,283 5,51
551 4,00 -0,31 5,96 3,44 -0,282 5,91
581 4,00 -0,27 2,76 3,19 -0,244 2,72
(V - I)
0
(V - I)
0
Figura 4.2: Comparação entre as extinções obtidas do tabalho de Dobashi et al. (2005) e aquelas estimadas a
partir do excesso de cor. As barras de erro representam o desvio padrão na região de 1 grau quadrado ao redor
de cada objeto no mapa de extinção de Dobashi et al. A linha pontilhada indica o locus de coincidência entre os
dois métodos.
objetos de nossa amostra são muito provavelmente associados à presença de material
circunstelar, os valores calculados a partir deste método serão naturalmente maiores.
Por fim, os fatores necessários para a conversão de magnitudes para fluxos foram
obtidos dos trabalhos de Bessel (1979) e de Bessel et al. (1998) para as bandas UBV (RI)
C
. Os
fluxos de magnitude zero das fotometrias obtidas pelo 2MASS foram encontradas no trabalho
de Cohen et al (2003). Os fluxos MSX e IRAS foram convertidos de Jy para W/m
2
/ m.μ
4.5 Classificação segundo as distribuições espectrais de energia
Dada a correção da extinção e a conversão das magnitudes em fluxo, pudemos construir
as SEDs dos objetos de nossa amostra. Com isso, constatamos que algumas destas
74
distribuições guardam certas semelhanças entre si, provavelmente devida a uma possível
similaridade na estrutura circunstelar. Por esta razão, decidimos propor uma separação em
subgrupos, os quais na prática representam uma subdivisão do Grupo 1 proposto por Sartori
et al. (2003). Por isso, em princípio ela não possuirá paralelo algum com outras classificações
propostas na literatura. A Figura 4.2 exibe a distribuição de energia dos vários objetos da
amostra pertencentes a cada subgrupo. Nesta figura também podem ser visualizadas as
candidatas que não se identificam com nenhum dos subgrupos propostos ou não possuem
fotometrias no óptico. Para esta visualização, apresentamos os fluxos não corrigidos da
extinção. Este fato não compromete a nossa classificação, posto que ela é essencialmente
baseada na região IR do espectro eletromagnético. Esta região praticamente não sofre os
efeitos causados pela extinção, a qual afeta especialmente os comprimentos de onda ópticos e
ultravioletas.
Podemos ressaltar algumas peculiaridades que caracterizam cada um dos subgrupos
definidos. Os objetos que pertencem ao Subgrupo 1a possuem um grande excesso nas regiões
do IR médio e distante e uma inclinação decrescente no IR próximo. Já o comportamento do
Subgrupo 1b apresenta tipicamente uma tendência de crescimento entre 1 e 12 m, comμ
inclinação positiva no IR próximo. Por fim, no Subgrupo 1c observamos uma inclinação
crescente entre as bandas J e K, havendo havendo um aparente decréscimo na distribuição de
energia até a região de 12 m.μ
Podemos ver também que os objetos que não estão associados a nenhum dos subgrupos
possuem comportamentos bastante peculiares. Mesmo com a ausência de medidas no óptico,
a SED de PDS141 sugere que se trata de um objeto bastante embebido em sua própria
75
Figura 4.3: Divisão em classes dos objetos de nossa amostra segundo a distribuição de energia.
76
Figura 4.3: Continuação.
77
Figura 4.3: Continuação.
78
Figura 4.3: Continuação.
estrutura circunstelar, já que este objeto não se encontra muito próximo de nuvens escuras
como vimos no Capítulo 3. A mesma predominância na emissão IR observada para o caso da
PDS168, com a diferença de que seu excesso IR aparentemente é gerado por uma componente
mais quente, provavelmente mais próximo da estrela. Finalmente, a SED referente a PDS543
possui um comportamento bastante distinto dos dois últimos casos. Sua emissão no óptico é
dominante quando comparada com a componente IR de sua distribuição de energia. Além
disso, seu excesso IR parece ser produzido por uma componente de material frio,
provavelmente distante do objeto central.
O diagrama das cores (J – K) x (K – [12]) da Figura 4.4 exibe algumas características da
separação em subgrupos proposta. A cor (K – [12]) é definida por:
79
K – [12] = -2,5 log(F
K
/F
12
μm
)
Figura 4.4: Distribuição dos subgrupos propostos no diagrama de cores (J-K) x (K-[12]).
Este diagrama é baseado nas principais bandas levadas em consideração para nossa
divisão em subgrupos. Ele mostra uma clara separação entre os objetos do Subgrupo 1a e os
demais, que por sua vez apresentam uma transição mais contínua entre si. PDS543 possui
uma posição bastante distinta daquela ocupada pelo restante da amostra neste diagrama,
ressaltando seu comportamento peculiar.
Não devemos nos esquecer que a construção destas SEDs é baseada em observações não
necessariamente simultâneas, o que introduz alguma incerteza em qualquer conclusão
resultante de sua análise. Nada garante que esta distribuição de energia global caracteriza um
80
mesmo contexto, de uma mesma época, e devemos ter consciência desta limitação.
Baseados nas características gerais de cada conjunto, podemos perceber que os membros
do Subgrupo 1a parecem possuir uma estrutura circunstelar de uma única componente fria,
enquanto os objetos pertencentes ao Subgrupo 1b apresentam indícios de uma estrutura de
dupla-componente. O excesso encontrado no IR próximo das SEDs do Subgrupo 1b é
indicativo da presença de material quente e próximo à estrela. Este material pode tanto
possuir a natureza de um um disco de acresção associado a um YSO como também pode
evidenciar um episódio recente de perda de massa. A região do óptico dos objetos do
Subgrupo 1c mostra-se bastante importante na distribuição global de suas SEDs. Seus
excessos causados provavelmente pela presença de material circunstelar possuem um máximo
na região do IR próximo e depois caem suavemente, também sugerindo uma estrutura de
componente única em alguns casos.
O fluxo em 100 m parece em alguns casos estar muito acima do esperado, i.e., eleμ
apresenta um crescimento abrupto na distribuição de energia. Isto pode ser devido ao fato de
que esta região espectral é fortemente afetada pela emissão do cirrus interestelar. Em
particular, baseado em nossos resultados do Capítulo 3, este deve ser o caso das PDS 37, 67 e
551. Estes objetos mostraram se encontrar em regiões de emissão intensa em 100 m, daμ
ordem de 10
2
MJy/sr. Isto seria uma possível explicação para os “saltos” observados na faixa
do IR distante de suas SEDs.
81
4.6 Diagramas de cores
Os diagramas cor-cor podem se apresentar como ferramentas bastante úteis para o
estudo de vários estágios da evolução estelar. Diagramas no infravermelho podem revelar
estágios mais ou menos embebidos na fase de PMS, como mostra Malfait et al. (1998), bem
como também para classificação entre os vários estágios de pós-seqüência principal (Van der
Veen & Habing 1988). Em particular, esses diagramas podem ser interessantes para a
identificação de objetos de natureza distinta, baseado em regiões típicas habitadas por cada
tipo de fonte (García-Lario 1997), conforme visto no Capítulo 1.
Em nosso estudo, analisaremos na região do óptico através do diagrama (B–V)x(U–B).
Diagramas no IR próximo, médio e distante serão analisados dentro do contexto proposto por
García-Lario et al. (1997), descrito no Capítulo 1.
4.6.1 Cores no óptico
A região do espectro representada pelo diagrama (B–V) x (U–B) é dominada
especialmente pela radiação fotosférica, o que o torna ideal para o estudo da natureza da fonte
central. Infelizmente, não dispomos de medidas na banda U para todos os objetos de nossa
amostra, sendo estas disponíveis para 19 de nossas candidatas. Este digrama pode ser
visualizado na Figura 4.5. Superposto à distribuição de nossos objetos neste diagrama, temos
representadas as curvas onde se esperam objetos com log g de 2, 3 e 4, obtidas das tabelas de
Bessel et al. (1998).
82
Figura 4.5: Distribuição dos objetos de nossa amostra no diagrama de cores (B-V)x(U-B). Os
pontos azuis representam as cores corrigidas como se o objeto fosse de classe V de
luminosidade e os pontos vermelhos são as cores com correção compatível com a classe Iab.
Temos também representadas as curvas referentes às distribuições típicas de estrelas com log
g de 2, 3 e 4, obtidas das tabelas de Bessel et al. (1998).
Como já discutido no Capítulo 1, as HAB possuem log g ~ 4, enquanto as pós-AGB
apresentam uma gravidade superficial da ordem de 2, típica de supergigantes. Por isso, a
maior proximidade a uma determinada curva poderia ser um indicativo da possível natureza
do objeto. No entanto, vemos que as curvas dos modelos de Bessel et al. são praticamente
coincidentes na região de (B-V) menor do que zero, onde há a maior concentração de nossos
objetos. Além disso, o espalhamento dos pontos ao redor dessas curvas calculadas é muito
grande, provavelmente devido à incerteza associada aos valores da correção de extinção.
Na região do diagrama de (B-V) positivo, as curvas de Bessel et al. já não são tão
83
coincidentes, devido especialmente à influência da descontinuidade de Balmer. Esta
descontinuidade é tanto maior quanto menor for a gravidade superficial do objeto, sendo
responsável pelo alto valor de (U-B) encontrado para as supergigantes. No entanto, ela só
permite a estimativa do log g de objetos não tão quentes, na região de (B-V) negativo do
diagrama em questão. Mas mesmo quando este é o caso, o espalhamento causado pela
incerteza na correção de extinção ainda torna difícil esta estimativa.
Através da análise da distribuição dos objetos neste digrama de cores ópticas, podemos
notar que o desvio entre as estimativas de extinção para as duas classes de luminosidade se
torna mais relevante para os mais altos valores de (U-B), sendo menos importante para
menores valores desta cor. Este comportamento pode estar correlacionado ao fato das curvas
de Bessel et al. (1998) para diferentes gravidades superficiais serem menos coincidentes nesta
região. Já na faixa de menores valores de (U-B) as posições dos modelos para gravidades
distintas são bastante coincidentes, o que significa que as cores intrínsecas para ambas as
classes de luminosidade admitidas para o cálculo da extinção são bastante próximas.
Mesmo com o espalhamento associado à incerteza nas estimativas de extinção e o fato
de que as curvas teóricas para gravidades distintas serem praticamente coincidentes na região
de (B-V) negativo, ainda podemos destacar alguns comportamentos interessantes. Temos por
exemplo o caso de PDS543, que aparentemente teve sua correção de cor subestimada. Este
fato deve ser provavelmente devido à presença de uma estrutura circunstelar distinta das
demais, cuja influência provavelmente causa uma extinção anômala. Devemos nos lembrar
que a SED associada a este objeto foi considerada “Peculiar” na classificação proposta na
Seção 4.5, o que reforça nosso argumento. Outro caso notório é o de PDS406, que mesmo
84
apesar de toda incerteza associada à sua posição do diagrama de cores ópticas, o alto valor de
sua cor (U-B) indica que ela realmente possui uma baixa gravidade superficial. Este é um
indicativo que favorece a identificação de uma natureza típica das pós-AGB.
A posição de PDS518 também se apresenta bastante distinta das demais. Ela sugere que
este objeto seja muito quente e possui uma cor (U-B) maior do que as demais. Das
estimativas presentes no trabalho de Vieira et al. (2003), baseadas nos espectros medidos pelo
PDS, temos que sua temperatura efetiva é de cerca de 31600 K, a qual é compatível com
aquela encontrada na transiç ão entre uma pós-AGB e uma jovem PN. O valor de (B-V)
também indica que a emissão seja proveniente de um objeto central sujeito a uma temperatura
bastante elevada.
4.6.2 Cores no infravermelho próximo
Como já discutido no Capítulo 1, o diagrama de cores no IR próximo pode revelar as
características de um material circuntelar quente, típico de um disco de acresção no caso de
estrelas jovens ou de um episódio recente de perda de massa, no caso de um objeto mais
evoluído. A Figura 4.6 exibe a distribuição de nossa amostra no diagrama de cores (H-K) x
(J-H), sendo nela também representadas as regiões propostas por García-Lario et al. (1997). A
exemplo do trabalho destes autores, apresentamos as cores não corrigidas da extinção.
Podemos observar neste diagrama que a maior parte de nossos objetos se concentra nas
regiões III e IV propostas por García-Lario et al., as quais apresentam uma superposição entre
as posições esperadas para as HAB e para as pós-AGB (vide Capítulo 1). Por isso, não
85
Figura 4.6: Diagrama das cores H-K x J-H (não corrigidas da extinção), no IR próximo. As regiões
representadas são as propostas pelo trabalho de García-Lario et al. (1997), descritas no Capítulo 1.
podemos obter nenhuma informação conclusiva a respeito destas candidatas. No entanto,
vemos também que alguns de nossos objetos ocupam a Região I, a qual é caracterizada por
emissão do tipo estelar. Esta região é típica de objetos de natureza pós-AGB em estágios
avançados de evolução. Nela estão contidas as estrelas PDS 290, 431 e 543, entre as quais
apenas a PDS 543 possui uma temperatura suficientemente elevada para supostamente estar
em um estágio de pós-AGB avançado, da ordem de 3 10
4
K. Notemos que este objeto
apresentou um comportamento especial não só nesta análise, mas também pelo formato
peculiar de sua SED e pela sua posição no digrama óptico. Ele é portanto um caso que
merece atenção especial em nossa análise.
86
4.6.3 Cores no infravermelho médio e distante
Passemos agora para o estudo da região do IR médio e distante em nosso estudo multi-
bandas, através da análise do diagrama de cores IRAS. Estas cores revelam as características
de uma componente mais fria e mais externa dos envoltórios circunstelares, geralmente
associada a um envelope estendido ao redor do objeto estelar. A Figura 4.7 exibe a
distribuição de nossas candidatas neste diagrama, bem como as regiões típicas de ocupação
de cada classe de objeto descritas no trabalho de García-Lario et al. (1997).
Figura 4.7: Distribuição dos objetos de nossa amostra no diagrama de cores IRAS. As regiões em destaque
referem-se às localizações típicas de variáveis OH/IR (OH/IR), estrelas TT e HAB (YSO), regiões de HII
compactas (HII) e núcleos ativos de galáxias (AGN). A curva em preto representa a trajetória evolutiva das
estrelas OH/IR, que é seguida de uma crescente taxa de perda de massa (vide Seção 1.3).
87
Como descrito no Capítulo 1, estes autores também utilizaram o diagrama de cores
IRAS para o estudo da natureza de uma amostra de objetos não identificados. Podemos
perceber na distribuição de nossa amostra que parte deles se encontra em uma região sujeita à
superposição de várias classes de objetos, em [25] [60] < 1. No entanto, podemos perceber
que PDS 465, 198, 204 e 543 se encontram fora da região associada aos YSOs, o que favorece
portanto a natureza de pós-AGB. Já o restante de nossa amostra possui uma localização que
ultrapassa os limites propostos por García-Lario et al.. Este fato sugere que a região típica
associada às HAB extrapola a área proposta pelo trabalho de García-Lario et al.. Isto significa
que os YSOs ocupam uma região bem maior do que aquela proposta por Harris et al. (1988),
tendo em vista que o PDS adotou a região proposta por Weintraub (1990). Uma observação
importante para este tipo de análise é que a definição da distribuição esperada para as
diversas classes de objetos se baseia em um estudo estatístico realizado a partir de uma
amostra restrita, a qual eventualmente pode estar sujeita a algum viés observacional.
88
Capítulo 5
Modelos de envoltório
O estudo das condições físicas de envoltórios circunstelares pode revelar informações
interessantes para a determinação do status evolutivo dos objetos de interesse. A geometria e
composição destes estruturas é um tema recorrente na literatura, tanto com respeito às HAB
(Meeus e al. 2001, Vinkovic et al. 2003) como também para as pós-AGB (Meixner et al.
1997). Para o caso das HAB, alguns autores argumentam em favor da presença de um disco
fragmentado, predecessor dos sistemas protoplanetários (Malfait et al. 1998). Outros
defendem uma estrutura de um disco mais um halo (Miroshnichenko et al. 1999, Vinkovic et
al. 2003, Gregorio-Hetem & Hetem 2002) ou até mesmo a existência de um disco alargado
(tipo flared Meeus et al. 2001, Hetem & Gregorio-Hetem 2007). Já quanto às pós-AGB, os
processos responsáveis pela transição de um objeto simetricamente esférico da fase de AGB
para um objeto preferencialmente axi-simétrico no estágio de PN são pouco conhecidos.
Meixner et al. (1997) argumentam que esta quebra de simetria é devida à ação de super ventos
de simetria axial na fase de pós-AGB. Esses autores também defendem a existência de dois
tipos de PPN, a chamada DUst-Prominent Longitudinally-EXtended (DUPLEX) com uma
estrutura de dois lobos, e a Star-Obvious Low-level Elongated (SOLE), com uma única
89
estrutura contínua. Su et al. (2001), em contrapartida, defendem a hipótese de que estas
diferenças morfológicas observadas no óptico são devidas a ângulos de inclinação distintos
destes objetos com relação à linha de visada. Gauba et al. (2003) por sua vez modelam os
envoltórios de pós-AGBs quentes com envoltórios esféricos, remanescentes da intensa perda
de massa sofrida no ramo assintótico. Vemos portanto que para ambas as classes de objetos
ainda há várias divergências quanto à morfologia de suas estruturas circunstelares.
No presente capítulo, apresentaremos a descrição do código DUSTY de transferência
radiativa (Ivesic & Elitzur 1998) e alguns resultados preliminares obtidos através de sua
implementação. Como veremos, este modelo propõe um envoltório de poeira simetricamente
esférico. Também descreveremos o modelo de envoltório proposto por Gregorio-Hetem &
Hetem (2002 – GH02 daqui em diante), que supõe a coexistência de um disco
geometricamente fino e opticamente espesso e de um halo esférico.
Ambos os modelos tentam reproduzir os parâmetros fundamentais destes ambientes
circunstelares, através do ajuste da SED observada. O conhecimento destes parâmetros, e
mais do que isto, a compatibilidade do modelo proposto com as observações, poderá nos
auxiliar na identificação dos objetos sob estudo.
5.1 O código de transferência radiativa
Desenvolvido por Ivesic et al. (1997), o código DUSTY resolve o problema do
transporte radiativo em um ambiente de poeira. Com ele é possível a modelagem tanto de
uma geometria esférica quanto planar e dadas as propriedades da fonte radiativa e da região
90
de poeira, são calculados a distribuição de temperaturas e o campo de radiação emergente.
Seu método baseia-se na solução de uma equação auto-consistente para a densidade de
energia radiativa, incluindo espalhamento, absorção e emissão causados pela poeira, sem
serem tomadas aproximações. Isto significa que a solução é exata dentro da precisão
numérica especificada.
O DUSTY dispõe de uma biblioteca que contém as propriedades ópticas dos tipos mais
comuns de poeira astronômica, além de muitas outras espécies de grãos. Estes grãos mais
comuns são os silicatos 'quentes' e 'frios' de Ossenkopff et al. (1992), grãos de silicato e
grafite de Draine & Lee (1994), carbono amorfo de Hanner (1988) e o SiC dado por Pègouriè
(1988). O código também fornece várias formas analíticas de distribuição de densidade e
pode realizar um cálculo dinâmico completo para os ventos originados pela pressão radiativa
ao redor de estrelas do tipo AGB.
Pode-se especificar a distribuição espectral de energia da fonte analiticamente tanto por
uma Planckiana como por uma lei de potências seccionalmente contínua. Além disso, ainda é
possível a especificação das propriedades ópticas da poeira, distribuições de densidades e
radiação externa através de arquivos fornecidos. Outra vantagem disponível no código é que
sua malha de comprimentos de onda pode ser modificada para acomodar características
espectrais específicas.
Para desenvolvermos os ajuste de nossas SEDs, adotamos as seguintes hipóteses:
radiação externa dada por uma planckiana; distribuição de tamanhos dada pela lei de
potências de Mathis, Rumpl e Nordsieck (1977) com limites definidos, dada por n(a)~a
-q
, para
a
min
a a
max
, sendo q = 3.5, a
min
= 0.005 m μ e a
max
= 0.25 m; frações idênticas para todosμ
91
os tipos de grão disponíveis e um envelope que se estende por um raio mil vezes maior do que
o raio de sua casca mais interna. Escolheu-se utilizar uma química de grãos homogênea, já
que o número de medidas de fluxo disponíveis não é suficiente para o ajuste adequado de
suas frações dentro da composição total de grãos.
Os parâmetros livres a serem ajustados são a temperatura da camada interna do
envoltório, T
int
; o expoente de decaimento da lei de distribuição da densidade e a
profundidade óptica na banda V,
V
. A temperatura do objeto central, T
fonte
,, foi fixada a partir
dos valores calculados por Vieira et al. (2003) para nossos objetos.
Inicialmente pretendíamos fazer este ajuste de uma forma sistemática, utilizando a
técnica de algoritmos genéticos. No entanto, só foi possível desenvolver esta abordagem de
maneira preliminar, de forma que o estudo completo deverá ser desenvolvido em trabalhos
futuros. O leitor interessado em uma introdução aos fundamentos do uso destes algoritmos
deve dirigir-se ao Apêndice C.
O único ajuste desenvolvido foi o de PDS518, o qual foi um dos objetos destacados da
análise da distribuição de nossa amostra no diagrama de cores ópticas. Percebemos ao longo
desta modelagem a necessidade da combinação de duas componentes circunstelares, sendo
uma única não suficente para reproduzir a distribuição de energia observada. Este fato é
compatível com o modelo proposto por GH02, que será apresentado na Seção 5.2, só que com
a diferença que aqui supõe-se a existência de uma estrutura de duas cascas esféricas,
desprendidas do objeto central. Os resultados do ajuste com o código DUSTY podem ser
visualizados na Figura 5.1, onde o modelo reproduz a SED com correção de extinção
92
Figura 5.1: Ajuste da SED de PDS518 gerada pelo código DUSTY de transferência radiativa. Além da emissão
estelar, propõe-se a existência de duas componentes circunstelares.
compatível com uma classe de luminosidade V.
Os parâmetros utilizados para o ajuste da SED de PDS518 são uma temperatura de 31600
K para o objeto central, 1400 K para a componente circunstelar mais quente e 85 K para a
mais fria. A lei de distribuição da densidade cai com o quadrado da distância para o
envoltório mais quente, com uma profundidade óptica de 0,04, enquanto que a densidade da
camada mais fria segue uma lei de 1/r, sendo compatível com um
V
de 0,025.
A distinção entre os parâmetros das duas componentes circunstelares evidencia que
esta distribuição de energia é realmente compatível com uma estrutura de dupla componente,
com características físicas particulares. Este resultado acaba portanto justificando a hipótese
da existência de duas componenentes distintas. Como já discutimos anteriormente, modelos
de dupla componente são freqüentemente propostos na literatura, tanto para as estrelas jovens
93
(e.g. Meeus et al. 2001) como também para as pós-AGB (Gauba & Parthasarathy 2004).
Malfait et al. (1998) argumentam que uma distribuição de energia de pico único no IR
é indicativa de uma natureza de pós-seqüência principal, sendo esta verificação um fator
determinante para a distinção entre este grupo e aquele constituído pelas HABs, que possuem
tipicamente duplo pico na região do IR. No entanto, Gauba & Parthasarathy (2004) possuem
um relato de um modelo de dupla componente para um objeto na fase de pós-AGB, a qual é
creditada a um possível processo de perda de massa ainda em andamento. Outra possibilidade
é a ocorrência de pulsos térmicos da fase de AGB, que tornam a história da perda de massa
descontínua (Van der Veen & Habing 1988). Esses episódios são os responsáveis pelo
processo de dragagem (dredge up), que pode enriquecer com carbono um ambiente
circunstelar rico em oxigênio, em processo análogo àquele proposto por de la Reza et al.
(1996) para o enriquecimento de lítio observado em gigantes vermelhas de tipo K.
5.2 Modelo de disco mais envoltório
Com o objetivo de estimar a contribuição da emissão circunstelar no fluxo total
emitido para todas as estrelas de nossa amostra, adotamos um modelo simples que supõe a
presença de um disco ao redor da estrela central, ambos circundados por um envoltório de
poeira. Considerando que tal modelo foi originalmente proposto para estrelas do tipo TT
(GH02), no presente trabalho não pretende-se explorar a dedução dos parâmetros
circunstelares, tendo em vista que as características físicas do modelo adotado muito
provavelmente não correspondam à estrutura circunstelar de nossas candidatas. Apesar disso,
94
do ponto de vista geométrico, trata-se de uma boa aproximação para os objetivos do presente
trabalho, considerando a geometria esférica adotada para envoltório, e a presença de duas
componentes (fria e quente) propostas por GH02.
É interessante notar que tal modelo foi construído a partir da proposta adotada por
Gregorio-Hetem, Lépine e Ortiz (1990, 1991), cujas simulações numéricas foram baseadas no
código de transferência radiativa utilizado por Epchtein, Le Bertre e Lépine (1990) para
reproduzir os dados IR de estrelas carbonadas. Naquele modelo admite-se que a estrela
encontra-se rodeada por um envelope de poeira simétricamente esférico, cujo raio interno é
definido pelo balanço de energia nos grãos de poeira. Portanto, a menos da presença de disco
que foi considerada por GH02, o modelo aqui utilizado tem similaridades aos modelos
geralmente adotados para reproduzir a SED das estrelas evoluídas,
Para calcular a SED sintética e ajusta-la aos dados observados, GH02 usaram o
modelo de um disco geometricamente fino e opticamente espesso, que re-irradia a energia
absorvida da estrela, causando um excesso IR mesmo na ausência de acresção. A componente
fria neste modelo é atribuida ao envoltório esférico de poeira, opticamente fino, cuja
opacidade atenua a emissão do disco e da estrela. A profundidade óptica () em 1 m do
sistema é um dos parâmetros do modelo e se correlaciona com a extinção por A
= 1.086 
(m). A distribuição de temperaturas é dada por T r
-3/4
para o disco (Adams & Shu 1986) e
T r
-0.4
para o envoltório (Rowan-Robinson 1980).
O método de ajuste dos dados observados procura pelo conjunto de parâmetros: raios
da estrela, do disco e do envoltório, profundidade óptica e ângulo de inclinação, que
proporcionam o menor
2
. Os resultados obtidos por este modelo se encontram na Tabela 5.1.
95
Tabela 5.1: Parâmetros estelares obtidos através do ajuste das SEDs, com o modelo de GH02. Veja o texto para
uma descrição mais detalhada dos parâmetros estimados pelo modelo. Foram inluídas algumas estrelas que não
fazem parte da amostra para fins de comparação
A segunda coluna da tabela representa as temperaturas efetivas, estimadas a partir da
calibração entre o tipo espectral e a temperatura efetiva proposta por de Jager &
Nieuwenhuijzen (1987) para estrelas na MS; a sexta coluna corresponde aos valores da
profundidade óptica em 1 μm; a oitava coluna indica a qualidade do ajuste (goodness-of-fit),
que representa o menor
2
obtido entre o modelo e as observações, sendo tanto melhor quanto
mais próximo de zero for seu valor; F
d
e F
e
correspondem à fração do fluxo total emitido pelo
disco e pelo envelope, respectivamente. Os demais parâmetros possuem natureza geométrica,
96
PDS gof
18 12660 244 2,5E+02 4,03 3 0,48 69 21
27 21460 1800 1,8E+03 3,47 2 0,23 58 37
37 20780 891 9,2E+02 3,42 1 0,13 52 43
67 11628 0,4 1,2E+02 2,29 90 0,73 0 97
141 16250 28 2,8E+01 8,47 20 0,15 67 29
168 6685 97 9,7E+01 6,51 74 0,22 73 0
174 18780 359 1,9E+03 2,45 0 1,11 1 98
193 8916 782 7,9E+02 3,58 2 0,19 52 4
198 7372 151 2,8E+02 2,54 18 0,02 48 33
204 25440 1400 1,5E+03 2,80 50 0,16 23 73
207 11080 594 6,9E+02 3,44 0 0,17 41 48
216 20780 23 2,4E+01 3,56 82 0,51 17 72
257 10000 715 8,0E+02 3,24 2 0,44 52 31
290 10110 1 4,1E+03 1,52 58 1,97 1 91
353 16750 33 3,3E+01 3,91 0 3,57 74 0
371 8467 22 2,8E+01 2,99 2 0,04 23 46
394 9380 7 2,6E+04 1,70 90 0,32 0 93
406 9015 0 1,7E+04 0,92 0 0,59 11 65
431 12860 123 3,6E+07 2,53 0 1,9 0 99
465 16860 670 8,0E+02 2,90 2 0,24 33 62
477 25530 550 5,5E+02 3,52 69 0,26 76 12
518 20060 219 2,2E+02 5,12 66 2,74 91 0
520 10120 111 1,2E+02 3,61 4 0,5 39 33
530 9995 0 4,9E+06 1,33 89 0,52 0 92
543 30000 6000 6,0E+03 4,33 88 0,24 21 53
551 9562 51 6,7E+01 4,13 0 0,49 16 74
581 11930 50 2,9E+03 1,79 0 0,5 8 86
ppn1 19060 339 3,6E+02 2,48 17 0,05 54 35
R Cr A 10780 21440 2,3E+04 3,62 0 0,84 60 27
BetaPic 8300 1612 3,1E+03 0,05 89 0,26 0 0
HD144432 8193 26 2,1E+02 0,57 64 0,09 15 14
T
ef
(K) R
d
(AU) R
e
(AU) τ
1m
Ɵ (
o
)
F
d
(%) F
e
(%)
sendo especificados na Figura 5.2.
Figura 5.2: Representação esquemática do modelo de componentes de GH02, com a especificação de seus
parâmetros geométricos.
Na Tabela 5.1 também foram incluídos alguns objetos interessantes, para fins de
comparação. Temos “ppn1” (IRAS19386+0155), como o protótipo de estrela na fase de pós-
AGB, e R Cr A, HD144432 e Beta Pictoris como representantes dos grupos propostos por
Sartori et al. (2003 – veja Capítulo 2).
Valores grandes do parâmetro gof são indicativos de que o modelo proposto falha em
ajustar a SED, provavelmente por não ser compatível com uma estrutura circunstelar
composta por um disco mais um halo, fato o qual será discutido logo a seguir. Podemos
visualizar os ajustes das SEDs produzidos pelo modelo de GH02 na Figura 5.3. Nesta figura,
as SEDs são ordenadas de acordo com a separação em subgrupos proposta no Capítulo 4.
As medidas dos fluxos IRAS podem ser contaminadas pela emissão do meio interestelar,
especialmente na região de 100 μm. A partir dos ajustes das SEDs dos objetos de nossa
97
Subgrupo 1a
Subgrupo 1b
Figura 5.3: Ajustes das SEDs da amostra obtidos através do modelo de GH02.
98
Subgrupo 1b
Subgrupo 1c
Figura 5.3: Continuação.
99
Subgrupo 1c
Figura 5.3: Continuação.
100
Peculiares
Figura 5.3: Continuação.
amostra, vemos que esta região é dominada especialmente pela contribuição do envelope
circunstelar proposto pelo modelo. Portanto, uma maneira de estudarmos o efeito desta
contaminação é através da verificação de uma possível correlação entre a fração do fluxo
emitido pelo envelope circunstelar e a emissão em 100 μm da região vizinha à posicão do
objeto da amostra, calculado no Capítulo 3. Para fazermos esta comparação entre estas duas
grandezas, normalizamos os valores de <F
100
μ
m
> pelo seu valor máximo calculado e
observamos seu comportamento com relação à contribuição do envoltório. Esta relação pode
ser visualizada na Figura 5.4.
Neste gráfico vemos que para a maioria dos objetos de nossa amostra, não há correlação
101
Figura 5.4: Comportamento da emissão “de céu” (normalizada) obtida a partir das imagens IRAS em 100 μm e
a fração do fluxo do envelope com relação ao fluxo total F
e
, obtido através do ajuste do modelo de GH02. A
linha pontilhada representa o locus onde as grandezas estudadas seriam perfeitamente correlacionadas.
entre a emissão do ISM e a contribuição da componente mais fria do modelo. Isto significa
que estas bandas no IR distante são pouco afetadas pela contaminação devida ao cirrus
interestelar. No entanto, as medidas dos fluxos IRAS do objetos PDS 37, 67, 353, 431, 477,
518, 543 e 551 são passíveis de terem sofrido contaminação, pois possuem os mais altos
valores de <F
100
μ
m
> e F
e
, estando próximos ou acima da linha que indica correlação entre estas
grandezas.
Os ajustes proporcionados pelo modelo de GH02, além de fornecer estimativas dos
parâmetros circunstelares de nossos objetos, evidenciam quais deles possuem ou não uma
distribuição de energia compatível com a estrutura circunstelar proposta. Em especial, os
102
objetos PDS 67, 174, 394 , 431, 530 e 551 parecem possuir predominantemente uma
contribuição devida ao halo esférico do modelo, apresentando frações do fluxo total devido à
componente de disco praticamente desprezíveis. Mas como alguns destes objetos possuem
grandes chances de terem seus fluxos IRAS contaminados na região do IR distante, só
podemos afirmar este comportamento para os casos de PDS 174, 394 e 530. Estruturas de
disco são típicas de objetos jovens, ainda em fase de acresção de matéria, e portanto
caracterizam uma natureza jovem. Já a presença de apenas uma componente mais fria é
compatível com a existência de um envelope simetricamente esférico remanescente da fase de
AGB, devida à intensa perda de massa sofrida neste estágio evolutivo. Portanto, a observação
de uma distribuição de energia de duplo pico, compatível com a presença de um halo de gás e
poeira desprendido do objeto central, favorece a interpretação de uma natureza de pós-AGB.
Porém, é interessante notar que, como já mencionado anteriormente, a recíproca não é
necessariamente verdadeira. Episódios de perda de massa recente são sugeridos por Gauba &
Parthasarathy (2004) para explicar uma possível contribuição mais quente presente na SED
de um objeto em fase posterior ao ramo assintótico.
103
Capítulo 6
Conclusões
O estudo de nossa amostra exigiu a análise dos mais diversos tipos de observações
disponíveis na literatura, tendo em vista que a consideração de apenas um ou outro critério de
classificação pode nos levar à confusão entre objetos que possuem algumas características
observacionais coincidentes. Como vimos, este é o caso das HABs e das pós-AGB, que
podem apresentar excesso de emissão no IR bastante similares. As buscas descritas na
literatura destas classes de objeto possuem sistematicamente este excesso como critério de
classificação, especialmente a partir da disponibilização da base de dados gerada pela missão
do satélite IRAS.
Ao longo deste trabalho, estudamos vários possíveis indicativos da natureza dos objetos
selecionados em nossa amostra. Analisamos a possível associação com SFRs, a distribuição
dos objetos da amostra em diagramas de cores nas faixas do óptico, IR próximo, médio e
distante, e a compatibilidade da distribuição espectral com uma estrutura circunstelar de uma
ou duas componentes. Os objetos que apresentaram algum destaque em cada uma destas
análises são exibidos na Tabela 6.1.
105
Tabela 6.1: Objetos da amostra cujos resultados das análises favorecem uma natureza de pós-AGB. A coluna de
“maior d” aponta os objetos que se encontram mais distantes das nuvens escuras; (F
e
)
0
indica as estrelas que
aparentemente não sofrem contaminação devida ao cirrus interestelar (“fluxo intrínseco devido ao envoltório”).
As cores IRAS referem-se ao diagrama [12]-[25] x [25]-[60]. Os objetos cuja linha possui uma cor mais forte
são os que se destacaram em três ou mais das análises.
(1)
Nesta coluna estão contidos os objetos apontados pela análise do diagrama das cores J-K x K-[12] que não
possuem Tef menor que 10000 K.
(2)
Esta temperatura foi estimada pelo modelo de GH02, ao contrário das outras, que forma obtidas do trabalho
de Vieira et al. (2003).
(3)
Apesar de serem exibidos apenas dois indícios em favor de uma natureza evoluída para esta candidata, ela
também deve ser destacada devido ao comportamento observado em seu espectro ISO, o qual é extremamente
similar ao encontrado para a PDS465 (Hen 3-1475).
Nesta tabela, reproduzimos os valores de temperatura efetiva calculados por Vieira et al.
(2003), exceto para o caso de PDS141, para o qual utilizamos o valor de T
ef
obtido através do
modelo de GH02. Uma maior distância a borda da nuvem (d) e uma menor extinção Av
106
PDS
B-V x U-B H-K x J-H cores IRAS
18 13002
27 21878
37 21878
67 31623
141
168 7079
174 18707
193 10495
198 7194
204 25410
207 10000
216 21979
257 10000
290 10000
353 15417
371 31623
394 7194
406 8204
431 9528
465 21878
477 29992
518 31623
520 6745
530 8128
543 29992
551 31623
25704
Tef (K)
maior d menor Av
(F
e
)
0
J-K x K-[12]
(1)
16250
(2)
581
(3)
(obtido a partir do mapa galáctico de Dobashi et al. (2005)) são indicativas de uma não
associação a SFRs, o que é esperado para as pós-AGB. A coluna (F
e
)
0
exibe os objetos com as
menores suspeitas de contaminação devida ao cirrus interestelar, facilmente identificados na
Figura 5.4 (Capítulo 5). Esta figura evidencia as contribuições de emissão do envoltório
circunstelar (F
e
) que estejam possivelmente contaminadas pela emissão do ISM em 100 μm.
O restante das colunas indica os objetos que foram ressaltados a partir do estudo dos
digramas de cores no óptico, IR próximo, médio e distante.
Em especial, para o caso do diagrama J-K x K-[12], só foram considerados os objetos
que se destacaram nesta análise que apresentam temperaturas maiores do que 10000 K. Isto
porque, com exceção de PDS543, todos os objetos que exibiram um comportamento distinto
do demais neste estudo apresentam uma distribuição de energia de duplo-pico, com uma
inclinação decrescente na faixa do IR próximo. Esta característica é típica do Subgrupo 1a
definido no Capítulo 3. No caso das pós-AGB, este tipo de distribuição indica um estágio
evolutivo mais avançado, onde o envoltório já teve tempo suficiente para se afastar do objeto
central. Porém, também se espera que estes objetos que apresentem uma temperatura mais
elevada, o que significa que a estrela central está mais próxima de ser capaz de ionizar o
material de seu ambiente circunstelar para se tornar uma PN. Por isso, esperamos que estas
estrelas sejam quentes.
O objeto PDS543 é um objeto bastante interessante, pois apesar de apresentar evidências
de associação às nuvens moleculares, ele exibe características típicas do estágio de pós-AGB,
de acordo com o estudo nos diagramas de cores. Sua distância fotométrica é de 414 pc
segundo o trabalho de Vieira et al. (2003), que assume que sua posição no diagrama H-R
107
esteja próxima da MS. A distância da nuvem possivelmente associada a este objeto é maior
do que 1 kpc (Tabela 3.2), o que significa que ele se encontre fora desta estrutura no caso de
ser uma HAB. Quando consideramos a possibilidade de uma natureza de pós-AGB, esta
distância deve ser cerca de 30 vezes maior do que a estimada por Vieira et al. (Capítulo 3), o
que também implica que ela não se encontre fisicamente associada à nuvem. Desta forma,
PDS543 deve se tratar ou de uma HAB isolada extremamente embebida em seu próprio
material circunstelar, ou de uma pós-AGB a uma distância muito grande (~1,2 kpc).
Destacamos também PDS581 na Tabela 6.1 pelo fato de seu espectro ISO ser
extremamente semelhante ao observado para PDS465. Este último objeto se trata de uma
PPN confirmada (Hen 3-1475 vide o Capítulo 2), constituindo portanto um protótipo de
estrela na fase de pós-AGB.
Desta forma, os objetos mais prováveis de se encontrarem na fase de pós-AGB de acordo
com a metodologia adotada são PDS 174, 204, 290, 371, 465, 543 e 581. Eles constituem o
grupo de estrelas mais interessantes desta amostra, sendo portanto merecedoras de estudos
posteriores mais detalhados. O presente trabalho apenas destaca os objetos de comportamento
mais incompatível com uma natureza jovem, não pretendendo afirmar que elas se encontrem
no estágio de pós-AGB, mas sim apontando para os objetos mais prováveis de estarem neste
estágio, dentro das limitações dos métodos empregados. Certamente, uma ou outra possível
pós-AGB pode ter sido deixada de lado, tendo em vista que nenhum de nossos resultados é
decisivo quanto a natureza do objeto, mas sim apenas indicativo de uma certa natureza.
108
Capítulo 7
Perspectivas
Dado que as evidências apresentadas por este trabalho são apenas indicativas da
natureza dos objetos da amostra, não permitindo uma classificação decisiva, a perspectiva
natural deste projeto é o estudo mais detalhado ds objetos que se destacaram em nossas
análises. Uma forma de confirmarmos esta natureza seria através de um estudo
espectroscópico, a exemplo do trabalho desenvolvido por Pereira & Miranda (2007). Neste
tipo de análise, é interessante a observação de linhas sensíveis à gravidade superficial, as
quais podem determinar a classe de luminosidade de nossos objetos. Enquanto as HAB
apresentam um log g típico de aproximadamente 4, as pós-AGB possuem uma gravidade
baixa, típica de supergigantes (classe I). Espectroscopia também poderia ser utilizada para a
inspeção de um possível super-enriquecimento de elementos produzidos pelo processo-s, o
qual ocorre na fase de AGB. Seria interessante portanto a determinação das abundâncias dos
elementos Ba e Sr, típicamente produzidos neste processo (Parthasarathy 2000).
Outra perspectiva deste trabalho é a obtenç ão dos ajustes dos modelos gerados pelo
código DUSTY, primeiramente para as candidatas a pós-AGBs destacadas por nosso trabalho
e em seguida para todas as estrelas da amostra. Pretende-se realizar esta tarefa através da
109
implementação dos algoritmos genéticos, afim de dispormos de uma técnica otimizada e
sistemática de ajuste dos parâmetros propostos pelo modelo. Os resultados obtidos através do
DUSTY podem ser confrontados com aqueles obtidos através do modelo de GH02, afim de
verificarmos não só a coerência entre os parâmetros ajustados como também estudarmos a
compatibilidade de cada objeto com uma ou outra proposta de estrutura circunstelar.
110
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Zhang, C. Y., Kwok, S. 1991, A&A, 250, 179
118
Apêndice A
Imagens IRAS em 100 mμ
Nesta seção, são exibidas as imagens IRAS em 100 μm, obtidas com auxílio do
aplicativo de busca Aladin, disponibilizado pelo CDS (Centre de Donnés Astronomique de
Strasbourg). Elas possuem um campo de 12,5
o
x 12,5
o
, com uma resolução espacial de 0,025
graus/pixel. Seus valores são expressos em MJy/sr e suas coordenadas são dadas em
Ascensão Reta e Declinação de 1950.
Sobrepostos às imagens, encontram-se isocontornos de fuxo em 15 e 60 MJy/sr, além
da posição dos objetos da amostra. A análise e discussão das informações extraídas destas
imagens podem ser encontradas no Capítulo 3.
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Apêndice B
Espectros obtidos pelo PDS
Neste apêndice apresentamos os espectros de baixa e média resolução obtidos no
PDS. Os de baixa resolução possuem uma cobertura espectral de tanto a tanto, enquanto os de
média resolução cobrem a região entre tanto e tanto. Estas observações visam a detecção da
linha de Balmer do hidrogênio (H
α
), cuja presença pode ser indício de uma natureza jovem, e
da linha de LiI em 6707 Å, tipicamente encontrada em estrelas do tipo TT. As linha de [OI] e
[SII] também podem ser encontradas nestes espectros, como mostra o trabalho de Vieira et al.
(2003).
Tanto estes espectros, como também aqueles referentes às outras candidatas a HAB
propostas por Vieira et al. (2003), podem ser encontrados em formato “.fits” na página
http://www.fisica.ufmg.br/~svieira, mantida por Sérgio Vieira.
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Apêndice C
Algoritmos genéticos
A teoria moderna da evolução das espécies é baseada nas idéias de seleção natural, o
que cria o princípio básico de genética de população: a variedade de indivíduos em um dado
grupo de oganismos ocorre devido à mutação e a recombinação genética. Este princípio foi
desenvolvido na primeira metade no século XX por biólogos e matemáticos. Ultimamente,
muitas simulações computacionais têm sido utilizadas para testar e desenvolver a teoria. O
trabalho Adaptation in Natural and Artificial Systems (Holland 1992) introduz os métodos de
Algoritmos Genéticos (GA), que logo se tornam alvo de interesse pela comunidade científica
e tecnológica. Desde então ela os têm aplicado satisfatoriamente em um grande número de
problemas, tais como otimização, busca de soluções e aprendizado de máquina.
O GA é essencialmente uma família de modelos computacionais inspirados em evolução
natural. Ele se baseia em admitir uma solução potencial para um dado problema, a qual é
tratada como uma estrutura cromossômica que sofre a aplicação de operadores genéticos
(mutação, crossover, adaptação e evolução). Demonstra-se formalmente sua robustez e
convergência, mesmo em problema onde as outras técnicas falham (Holland 1992).
A implementação do GA começa com uma geração aleatória de cromossomos (ou
149
indivíduos) [X
1
, X
2
, ..., X
n
] conjuntos de possíveis soluções que são avaliados por uma
probabilidade de adaptação p
i
e a ela associados. Os valores de p
i
classificam as soluções
(cromossomos) em ordem de “aptidão” para resolver o problema, sendo dados pela função de
avaliação. Desta forma, a probabilidade de adaptação exprime o quão perto está um
determinado indivíduo da solução ideal e é usada para decidir a chance dele ser selecionado
para se reproduzir e construir a próxima geração (Bentley & Corne 2002). Os operadores que
podem atuar sobre os indíviduos de uma dada população são cópia (mantém cromossomo),
crossover (troca de características entre indivíduos), mutação (uma característica é alterada
randomicamente) e extermínio (nenhum de seus “genes” se perpetuará na próxima geração).
A ação escolhida é expressa pelo parâmetro T
i
, associado a cada indivíduo. Baseado neste
conjunto de operações, podemos mapear a k-ésima população para a próxima (k+1) através
de uma certa transformação G. Formalmente:
[X
1
, X
2
, ..., X
n
]
k+1
= G{[(X
1
,T
1
), (X
2
,T
2
), ..., (X
n
, T
n
]}
A partir do momento em que a nova geração está pronta, a função de avaliação é
novamente aplicada e o algoritmo repete as ações descritas, até que uma certa condição pré-
estabelecida seja satisfeita. Esta pode se basear tanto no número de iterações como também
na qualidade destas.
O algoritmo pode ser resumido pelos seguintes passos:
Entrada dos parâmetros
Criação da primeira geração
Enquanto tal condição não for satisfeita
150
Repita
Avaliação (cálculo de p
i
)
Julgamento (ranking dos indivíduos)
Execução (criação da nova geração)
Fim do Repita
Fim do Enquanto
151
Livros Grátis
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