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Compreendeu-se que o tipo de entrevista indicado para este estudo de caso
específico era a entrevista semi-estruturada.
1
Quanto à modalidade da entrevista,
com base na orientação de Marconi e Lakatos (2004), foi adotada a semidiretiva
2
,
em que o entrevistado tem liberdade de manifestar livremente suas opiniões e
sentimentos em torno dos pontos levantados.
Trabalhar com a relação entre os conceitos de liderança e de confiança envolve uma
forma peculiar de lidar com a subjetividade humana. Tassara e Rabinovich (2001),
embora focalizando contexto diverso daquele em que se realiza o presente estudo,
sugerem uma estratégia para acessar esse nível da subjetividade humana: o apelo
ao poético, referindo-se à possibilidade metodológica de utilizar o fenômeno da
poïesis (da expressão criativa, desencadeada, por exemplo, pela apresentação de
certas fórmulas, como certas imagens) para acessar a dimensão subjetiva.
Tassara e Rabinovich (2001) afirmam que a imagem contém as dimensões afetiva e
cognitiva, as quais se exteriorizam tendo como veículo e representação a linguagem
enquanto representante do social. Nesse sentido, antes da linguagem haveria o
pensamento e antes do pensamento, as imagens. Desse modo, da mesma forma
que não há imagem exteriorizável sem alguma forma de discurso (seja verbal ou
não), também não poderá haver discurso sem imagem. Oferecendo primazia às
imagens e associando-as à condição humana e à subjetividade, as autoras propõem
a validade do “reconhecimento empírico deste pathos
3
por meio da identificação,
1
Nesse contexto, torna-se importante utilizar a forma semi-estruturada de entrevista, apesar do grau de
liberdade desejado para a expressão dos entrevistados, por um outro motivo: existe a necessidade de se
construir um referencial de comparação entre os materiais obtidos de diferentes sujeitos. De acordo com Paula
(2005, p. 118), “o
roteiro utilizado nesse tipo de entrevista serve a esse fim, constituindo-se num importante
instrumento de avaliação dos resultados das entrevistas ao conduzir ao assunto que se pretende ser abordado
pelos entrevistados, sem impedir que surjam outros assuntos durante a entrevista”. Desse modo, continua o
autor, o que “aparenta ser uma conversa fora do tema torna-se, ocasionalmente, imprescindível para que se
saiba interpretar com mais profundidade as informações relatadas, compreender os valores e o contexto dos
entrevistados e mesmo redirecionar o enfoque, conforme sua importância”.
2
A entrevista semidiretiva, conduzindo o entrevistado à conversa sobre o tema em estudo e permitindo-lhe
posicionar-se livremente sobre ele, contribui para um conhecimento maior do caso e a obtenção de dados mais
profundos e detalhados. “Essa modalidade permite ainda a flexibilidade de acrescentar ou excluir questões,
contribuindo para a obtenção de uma grande quantidade de informações para a descrição e entendimento dos
casos estudados” (PAULA, 2005, p.118).
3
Palavra grega que diz respeito à expressão apaixonada, a um sentimento comovedor ou a uma experiência
psíquica intensa, por vezes agitada e sofredora. Vincula-se, ainda, à idéia de paixão: ser afetado primariamente
por alguma coisa ou objeto e, além disso, desejá-la com ardor.