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RAIKA LENISA BUENO FERNANDES
CONFIANÇA E LIDERANÇA:
AS REPERCUSSÕES DO EXERCÍCIO DA LIDERANÇA
NO DESENVOLVIMENTO DA CONFIANÇA EM RELAÇÕES INTERPESSOAIS
UM ESTUDO DE CASO
Dissertação apresentada ao curso de Mestrado
Profissional em Administração das Faculdades
Integradas de Pedro Leopoldo, como requisito
parcial para a obtenção do título de Mestre em
Administração.
Área de concentração: Gestão da inovação e
competitividade
Orientador: Prof. Dr. Lúcio Flávio Renault de
Moraes, Ph.D
Co-orientador: Prof. Dr. Cláudio Paixão
Anastácio de Paula, Ph.D
Pedro Leopoldo
Faculdades Integradas de Pedro Leopoldo
2008
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11
Dedico este trabalho às pessoas mais significativas da minha
vida: meu marido, Adelci; minha mãe, Vilma; e meus filhos,
Lorenzo e Pietro.
Em nenhum momento estive nessa caminhada. Eles
estiveram ao meu lado, apoiando-me, incentivando-me e
fazendo com que eu nunca fraquejasse.
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AGRADECIMENTOS
A todos os profissionais das Faculdades Integradas de Pedro Leopoldo, que sempre
se mostraram disponíveis, especialmente à Heliete, pessoa de grande talento e
presteza;
Ao professor Dr. Lúcio Flávio Renault de Moraes, Ph.D, pela atenção, carinho e
incansável dedicação, principalmente por sua disponibilidade em saciar a minha
sede de conhecimento;
Ao professor Dr. Cláudio Paixão Anastácio de Paula, Ph.D, que foi imprescindível à
construção deste trabalho. Seu empenho, sua competência e sua paciência fizeram
com que eu conseguisse me desdobrar para que esta pesquisa se desenvolvesse e
se concretizasse;
À minha colega de docência Ms. Flávia de Cássia César, que esteve sempre ao meu
lado, suportando minhas angústias e medos, acolhendo, incentivando e apostando
no meu trabalho;
Às Faculdades Pitágoras, que confiaram em meu profissionalismo, permitindo-me
fazer parte de seu corpo docente, em especial ao meu coordenador Jefferson
Thompsom, e a sua assistente, Mirelle Paiva, que sempre se mostraram disponíveis;
À Unifenas, que primeiramente me abriu as portas como professora universitária,
realizando um dos meus maiores sonhos profissionais, e que hoje novamente me
desafia oferecendo-me a oportunidade de crescer no campo acadêmico, mediante a
docência na pós-graduação;
A todos que durante essa trajetória se mostraram amigos e parceiros nessa
empreitada no ilimitado campo do conhecimento.
13
Nem a necessidade nem o desejo, mas o amor pelo poder, é o
demônio da humanidade.
Dê-se aos homens todo o possível – saúde, alimento,
Abrigo, prazer – e eles continuam infelizes e
Caprichosos, porque o demônio está sempre
à espreita; e ele precisa ser satisfeito.
Tire-se dos homens tudo o mais e satisfaça-se esse
demônio; então eles serão quase felizes – tão
felizes quanto podem ser homens e demônios.
Friedrich Nietzsche
14
RESUMO
Este estudo, realizado em uma organização de saúde da cidade de Divinópolis
(MG), aqui identificada como Alfabeto, teve por objetivo analisar como o exercício da
liderança pode repercutir no desenvolvimento da confiança em relações
interpessoais. Constitui um estudo de caso descritivo-explicativo de natureza
qualitativa, realizado por meio de entrevistas semi-estruturadas com líder e
liderados. Fundamentado nos construtos
confiança transacional e confiança
transformadora, de Reina e Reina (2006), e liderança contingencial, de Fiedler
(1981). Aplicou ao líder, como recurso metodológico, o questionário “Colaborador
Menos Desejado” (Least Preferred Co-worker – LPC), para avaliar as características
do exercício de sua liderança. Os resultados obtidos demonstraram que o exercício
da liderança era baseado, sobretudo, em tarefas e resultados, relegando a segundo
plano as relações interpessoais. Ficou evidente o gradual processo de desestímulo e
a ausência de confiança dos liderados. Não se identificaram atributos da confiança
transacional nem da confiança transformadora na organização estudada,
comprovando as repercussões do exercício da liderança no desenvolvimento da
confiança nas relações interpessoais.
Palavras-chave: Liderança. Confiança. Confiança interpessoal. Relações
interpessoais.
15
ABSTRACT
The present study has been aimed to analyze the influence of leadership in trust
building in interpersonal relationships. It was carried out at a health organization,
identified as “Alfabeto”, in Divinópolis, MG. It is a descriptive/explicative case study
with a qualitative basis, which has been developed through semi-structured
interviews with leaders and workers. It is based on the theory of transactional trust by
Reina and Reina (2006), and Fieldler’s contingency theory of leadership (1981). The
questionnaire “Least Preferred Co-worker” (LPC) has been used as a methodological
resource to evaluate the leadership performance. The results demonstrate that the
leadership was task motivated and interpersonal relationship was considered as
secondary. The gradual process of discouraging and workers’ lack of trust became
clear. It has not been possible to identify the characteristics of transactional trust in
the analyzed organization, which has proved the influence of leadership performance
in the building of trust in interpersonal relationships.
Key words: Leadership, Trust, Interpersonal trust, Interpersonal relationships.
16
LISTA DE QUADROS
1 - Primeiro eixo teórico sobre confiança ..................................................................37
2 - Segundo eixo teórico sobre confiança ................................................................ 38
3 -Terceiro eixo teórico sobre confiança: confiança e a suposição de expectativa.. 39
4 - Confiança transacional e confiança transformadora ............................................49
5 - Análises da confiança transformadora .................................................................73
6 - Analogias apresentadas pelos liderados com o mundo da música em relação
à figura do líder .......................................................... ………………………........77
7 - Postura do líder e sua relação com seus subordinados ..................................... 78
8 - Analogia das imagens de animais dos liderados em relação ao líder ................ 79
9 - Analogia do líder entre imagens de animais e seus liderados ........................... .80
17
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................... 10
2 REFERENCIAL TEÓRICO...................................................................... 17
2.1 Liderança e suas abordagens ............................................................... 17
2.2 Estudos sobre confiança ........................................................................ 30
2.2.1 Conceituação de confiança .................................................................... 31
2.2.2 Confiança interpessoal ...........................................................................
40
3 METODOLOGIA .................................................................................... 53
3.1 Natureza da pesquisa ............................................................................. 53
3.1.1 Natureza da pesquisa: quanto aos fins e aos meios .............................. 54
3.2 Análise dos dados .................................................................................. 55
3.2.1 Elaboração do instrumento de pesquisa ................................................ 55
4 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS ..................................... 60
4.1 Análise dos resultados ........................................................................... 60
4.2 Organização pesquisada ........................................................................ 61
4.3 Relações de confiança entre líder e liderados ....................................... 62
4.3.1 Análise da confiança transacional .......................................................... 62
4.3.1.1 A confiança de comunicação na Alfabeto ............................................. 62
4.3.1.2 A confiança de competência na Alfabeto ............................................... 66
4.3.1.3 A confiança contratual na Alfabeto ......................................................... 68
4.3.2 Confiança transformadora ..................................................................... 70
4.3.2.1 Liderados na Alfabeto ............................................................................ 70
18
4.3.3 O estilo de liderança e o desenvolvimento da confiança ...................... 74
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................... 81
REFERÊNCIAS ...................................................................................... 89
APÊNDICES............................................................................................ 99
ANEXO ................................................................................................... 103
10
1 INTRODUÇÃO
Ao longo da história humana, é muito freqüente que estudiosos de uma geração
critiquem aqueles que o sucederam, apontando as mudanças que ocorrem
naturalmente no processo de transformação ao qual a sociedade está submetida.
Essas mudanças são, muitas vezes, vistas como negativas e costumam apontar
para a dificuldade que os seres humanos têm de abandonar velhos hábitos e
condicionamentos. No entanto, um número significativo de estudiosos, como
Baumann (1999, 2001a, 2001b); Castels (1999a, 1999b, 2004); Habermas (1983,
2000); Harvey (1993); Jameson (2002, 2003); Lipovetsky (1983); Lyotard (1986,
1987) têm atribuído a uma série de modificações nas estruturas sociais, políticas e
econômicas da contemporaneidade a responsabilidade (ou, pelo menos, a co-
responsabilidade) por uma onda de instabilidade que tem interferido em vários níveis
das relações humanas. Uma das leituras mais evidentes é aquela que destaca o
desequilíbrio nas relações interpessoais nas organizações (DRUMMOND, 2007).
Este estudo parte da abordagem de duas categorias de personagens das relações
interpessoais os líderes e os liderados para analisar como os processos de
liderança e o sentimento de confiança se interpenetram no contexto das
transformações que cercam uma organização contemporânea.
A escolha do conceito de confiança como um dos focos deste trabalho deve-se a
uma percepção da autora. Embora alguns teóricos tenham se referido às
transformações que vêm ocorrendo nas sociedades atuais utilizando vários termos
diferentes e outros discordem veementemente da percepção de que hoje se vive
uma época de mudanças (ou, mesmo, uma mudança de época), o fato é que um
dos elementos inequívocos do contexto atual é uma desestabilização das relações
de confiança.
11
Desse modo, o conceito de confiança, até recentemente considerado intangível,
encontra-se hoje, numa época que enfatiza o sucesso e a sustentabilidade
organizacionais, como um substrato que o torna mensurável (COVEY, 2008).
Considerando essas pontuações, que se referem ao contexto organizacional atual,
faz-se necessário buscar definições de liderança para que se possa delinear o
estudo e, a partir daí, introduzir e desenvolver essa inter-relação dos construtos
teóricos que este trabalho visa aprofundar. Nesse sentido, apoiando-se em Hersey;
Blanchard (1986), encontra-se que liderança pode ser apresentada como o processo
de influenciar as atividades de um indivíduo ou grupo, visando atingir objetivos
específicos em situações determinadas. No entanto, como pontua o autor – de forma
um tanto óbvia até , tal competência pode ser desenvolvida com pessoas e por
intermédio das pessoas. O fato de este construto ser sustentado e construído no
universo interpessoal recebe um impacto direto da condição atual do ambiente
organizacional, de onde surgiram “severas dificuldades em termos de constituição e
fortalecimento do caráter do indivíduo, de manutenção de sua saúde e integridade
psicológica” (DRUMMOND, 2007). Essa situação vem reforçar sobremaneira o papel
do líder como um elemento potencial para auxiliar a formação e a sustentação de
vínculos sociais saudáveis e produtivos.
Nesses termos, a figura do líder assume o contorno de um diferencial no
estabelecimento de uma estruturação organizacional eficiente. Estudos sobre
liderança e sobre a capacidade dos líderes de estabelecer conexões entre os
indivíduos podem fornecer subsídios para que as organizações construam relações
confiáveis, capazes de proporcionar às equipes de trabalho o suporte necessário à
busca do sucesso, tanto individual quanto organizacional. Tal sucesso deve povoar
as expectativas dos indivíduos-agentes que lutam para compatibilizar os desejos (e
modismos) impostos pelas tendências de gestão com os desafios propostos pela
conjuntura desse início de milênio.
A valorização do capital humano-social estruturado em relações baseadas na
confiança indica que lidar com eficácia nessa trama constitui, hoje, um dos maiores
12
desafios do exercício da liderança nas organizações (FUKUYAMA,1996 apud
DRUMMOND, 2007).
As idéias sobre liderança sempre foram assunto de questionamento. No entanto,
apenas a partir da década de 1930 é que se começa a estudar os estilos e as
características de liderança de maneira mais sistemática e conforme dos critérios
científicos (BOWDITCH; BUONO, 1992).
Ao longo dos anos, muitas teorias têm tentado compreender a dinâmica da liderança
num contexto organizacional, cada uma focando algo em especial: ora traços, ora
comportamento, ora situação. Outras ainda buscam interagir com todas as
citadas, para conseguir, de fato, reconhecer a postura de um líder nas organizações.
Mais recentemente, os teóricos têm buscado ampliar cada vez mais a percepção do
líder nas relações organizacionais. Nesse contexto, percebe-se a ênfase na
necessidade de um líder construir uma cultura organizacional que se baseie em
princípios voltados ao aprendizado e que seja flexível às mudanças (COVEY, 2002).
Nessa perspectiva, um líder deve oferecer toda sua criatividade e talento em suas
relações interpessoais no ambiente organizacional, valorizando, sobretudo, os
princípios norteadores dos comportamentos.
Diante das elucidações apresentadas, fica claro o que Drummond (2007) ratifica em
seus trabalhos: a partir do reconhecimento do mundo organizacional e das atuais
demandas da globalização, é possível vislumbrar a dimensão da influência do papel
da liderança e dos sentimentos de confiança entre líderes e liderados nas empresas,
tanto nas situações objetivas quanto nas relações interpessoais.
Handy, (1995); Jones e George (1998); Kramer; Brewer; Hanna (1996); Lane (2000);
Lawer III (2000 apud NOVELLI, 2004); Lewicki e Bunker (1996); O`Reilly III e Pfeffer
(2000) salientam que os relacionamentos cooperativos nas organizações
apresentam-se como imprescindíveis. Assim, afirmam a existência de associações
13
entre o nível de confiança interpessoal e os aspectos de melhoria do clima e da
satisfação organizacional (CONDREY, 1995; FLAHERTY; PAPPAS, 2000;
BRAESHEARB et al. (2003 apud NOVELLI, 2004)). Promovem, portanto, a melhoria
de performance na empresa (aspectos financeiro e mercadológico) (KRAMER, 1999;
SAKO, 2000; ZAHEER; McEVILY; PERRONE,1998 apud NOVELLI, 2004). Dessa
maneira, gera-se vantagem competitiva (DAVIS et al. 2000; HOSMER, 1995;
MAYER; DAVIS, 1999 apud NOVELLI, 2004); além do aperfeiçoamento do processo
de gestão de crises conjunturais (WEB, 1996
apud NOVELLI, 2004).
Tudo isso revela o quanto as atividades laborativas encontram-se intrincadas na
postura de uma liderança e, ao que tudo indica, nas relações de confiança
estabelecidas em uma organização entre líder e liderados.
Confiança é um conceito que apresenta uma diversidade ampla de definições,
possibilitando com isso muitas significações. Lane e Bachmann (1996) esclarecem
que, mesmo diante de tantas definições, pode-se perceber que a maioria dos
conceitos de confiança pessoal possui três elementos comuns. Primeiro, os
indivíduos estabelecem um grau de interdependência entre aquele que oferece
confiança e aquele que confia
 ou seja, nas relações sociais é necessário o
estabelecimento da confiança. Segundo, a hipótese de que nas relações de
confiança são propostas maneiras de lidar com o risco ou a incerteza no intercâmbio
das relações. Terceiro, na relação de confiança deve existir a crença ou expectativa
de que a vulnerabilidade resultante da aceitação do risco não será utilizada como
vantagem pela outra parte do relacionamento.
Lane e Bachmann (1996) observam que confiar é um salto para além daquilo que a
razão por si garantiria. Assim, confiança torna-se um componente vital em todo e
qualquer sistema de interação. Como as relações organizacionais, em uma análise
ampla, constituem também um sistema de interação, elas dependem, portanto, da
qualidade da confiança estabelecida para se manterem qualificadas e produtivas.
Considerando as relações entre líderes e liderados, pode-se observar que em
14
situações em que exista o princípio da confiança como pilar sustentador tem-se um
governo mais eficiente.
Costa (2000
apud CUNHA, 2004) afirma que a confiança num ambiente
organizacional apresenta-se como imprescindível. No entanto, vale ressaltar que os
líderes desenvolvem um papel de destaque na formação e manutenção do nível de
confiança.
É consenso acadêmico estabelecer que o exercício da liderança se apresenta como
uma condição chave para o sucesso das organizações, principalmente em uma
época em que se reconhece que o capital humano é o grande diferencial entre as
empresas de sucesso. As relações interpessoais, portanto, mostram-se como pilares
de sustentação. No entanto, diante da diversidade humana, é imprescindível a
existência de uma gestão eficaz para a condução desse capital humano. Sendo
assim, alguns princípios devem nortear essas relações entre líder e liderados para
que as relações interpessoais sejam desenvolvidas da maneira mais producente
possível, em nível tanto pessoal quanto organizacional (COVEY, 2008).
Curiosidades, portanto, eclodem: “Que princípios norteiam as relações que
promovem sucesso?”, “Qual é o papel do líder na condução das relações
interpessoais nas empresas?” e “Qual é a importância de relações confiáveis no
ambiente das organizações?”
Diante de tantos questionamentos, a confiança pode ser eleita como um princípio
básico nas interações humanas. Concebendo essa constatação, delineia-se o
desejo de analisar a postura do líder em relação ao sentimento de confiança entre
os membros de uma organização e suas repercussões.
A partir daí, é intenção deste trabalho mostrar como se estabelecem e desenvolvem
as relações entre o exercício da liderança e o sentimento de confiança entre líderes
e liderados em um ambiente organizacional. Busca-se, também, explicitar de que
15
maneira a liderança pode influenciar a construção e o desenvolvimento desse
sentimento de confiança e, assim, procurar responder ao seguinte questionamento:
Como o exercício da liderança pode repercutir no desenvolvimento das
relações de confiança estabelecidas em uma organização?
Nesse intento, estabelece-se como objetivo geral deste trabalho: Descrever a
repercussão do exercício da liderança no desenvolvimento da confiança em relações
interpessoais nas organizações.
Neste contexto geral, procurar-se-á também compreender, como objetivos
secundários, os seguintes tópicos:
a) identificar as possíveis conseqüências nas relações interpessoais decorrentes
da confiança estabelecida entre líder e liderados;
b) analisar o nível de confiança entre líder e liderados na referida organização;
c) identificar fatores propiciadores e dificultadores no processo do
estabelecimento da confiança entre líder e liderados; e
d) analisar as características do exercício da liderança.
Para o desenvolvimento dessa proposta, que pretende inter-relacionar o exercício da
liderança e o sentimento de confiança desenvolvido nos liderados, foram delimitados
como marco teórico o viés contingencial de liderança apresentado por Fiedler (1981)
e os conceitos de confiança de Reina e Reina (2006), que analisam confiança
transacional (tem de dá-la para obtê-la) e confiança transformadora (qualquer que
seja a confiança oferecida, muito maior será o retorno de confiança) em um
ambiente organizacional.
Buscando compreender as interfaces dessas relações, elegeu-se uma organização
de saúde composta por profissionais liberais parceiros sem relação de subordinação
direta, mas com a presença de um proprietário que se coloca em uma condição
16
hierarquicamente de liderança. A escolha dessa organização foi promovida mediante
observações realizadas acerca das relações interpessoais estabelecidas entre líder
e liderados, em que foi percebida uma modificação de comportamento, se
considerados os momentos iniciais. Na abertura da empresa, todos os profissionais
demonstravam bastante interesse em crescer, muitos projetos estavam sendo
criados e uma relação de integração podia ser sentida. Entretanto, no desenrolar do
ano de 2007 os profissionais foram gradualmente alterando seus comportamentos.
Diante dessa situação, surgiu a hipótese de que as relações encontravam-se em um
processo de modificação, devido às dificuldades na interação entre líder e liderados,
considerando principalmente as relações de confiança. Dessa maneira, foi
instaurado o interesse em reconhecer como são estabelecidas essas relações,
considerando o exercício dessa liderança no desenvolvimento da confiança em seus
liderados nessa específica organização.
A dissertação encontra-se estruturada em cinco capítulos, incluindo esta Introdução,
em que se demonstra a percepção geral do assunto estudado, referenciando o
problema, sua justificativa e seus objetivos. No segundo capítulo, descreve-se o
referencial teórico revisado, incluindo a literatura sobre liderança e confiança,
enfatizando as concepções da liderança contingencial, de Fiedler (1981), e de
confiança transacional e transformadora, de Reina e Reina (2006), em um ambiente
organizacional. No terceiro capítulo, aborda-se a metodologia utilizada na pesquisa e
no desenvolvimento da dissertação. No quarto capítulo, apresentam-se as análises
dos dados. No quinto capítulo, formulam-se as conclusões e recomendações.
17
2 REFERENCIAL TEÓRICO
Este capítulo está subdividido em três seções. A primeira seção corresponde à
construção histórica das abordagens sobre liderança e sua importância, em que é
ressaltada uma trajetória de estudos. Parte-se do construto oferecido pela teoria de
traços, percorrendo a corrente de estilos de liderança e a corrente situacional,
dando-se especial ênfase ao modelo de liderança apresentada por Fiedler (1981),
até citações de autores contemporâneos que escrevem sobre o que eles intitulam
“liderança do futuro”. A segunda seção aborda os conceitos sobre confiança,
apresentando alguns recortes sociais, psicológicos e econômicos. Enfatiza-se
sobretudo, o marco teórico de confiança transacional e de confiança trasformadora
de Reina e Reina (2006). A terceira seção busca analisar as relações interpessoais
contextualizadas organizacionalmente, identificando, principalmente, como se
estabelecem as relações de confiança entre líder e liderados, e suas implicações no
ambiente de trabalho.
2.1 Liderança e suas abordagens
Ao longo da história, vários conceitos tentaram definir líder e liderança. Essa busca
conceitual justifica-se pela importância do exercício da liderança nas organizações,
como já afirmado por Hersey; Blanchard (1986).
A liderança envolve o ato de influenciar pessoas a fim de se alcançar objetivos que
são importantes tanto individualmente quanto organizacionalmente. Pode ser
também definida como uma habilidade que inspire confiança e apoio entre
indivíduos de cuja competência e compromisso dependem o desempenho. Líderes
eficazes devem estar preparados para lidar com mudanças, desenvolvendo e
formulando uma visão do futuro, assim como estabelecendo uma direção para essa
visão (DUBRIN, 2006).
18
Vergara (1999) estabelece que sem liderança não há empresa. Essas conceituações
delineiam a importância e o reconhecimento por parte dos autores citados da
importância do trabalho do líder e do desempenho de sua liderança nas
organizações, além de enunciar o papel fundamental de influenciador nas relações
(HERSEY; BLANCHARD, 1986)
É necessário, portanto, a partir deste momento, categorizar as abordagens teóricas
que se construíram ao longo da trajetória científica acerca de liderança.
Azevedo (2002) estabelece que grande parte das teorias sobre liderança pode ser
reunida em quatro categorias básicas:
a) até os anos de 1940 enfatizou-se o estudo dos traços de personalidade.
Pode também ser chamada de “egocêntrica”;
b) dos anos de 1940 aos anos de 1960 a ênfase foi dada no comportamento.
Também conhecida como “alocêntrica”, esta abordagem trata dos estilos de
liderança voltados aos grupos de liderados;
c) dos anos de 1960 aos anos de 1980  surge a abordagem contingencial. Visa
analisar os fatores situacionais e de contexto; e
d) a partir dos anos de 1980 desponta a abordagem neocarismática.
Desenvolvem-se as idéias de liderança carismática, visionária e
transformacional.
Trabalhando cada uma dessas abordagens de maneira mais efetiva, pode-se dizer
que a teoria de traços é considerada como pioneira no que tange às abordagens
sobre liderança. Seus estudos científicos marcam a década de 1930. Esta
abordagem concentra-se nas características e atributos pessoais, físicos, mentais e
culturais do líder.
Dubrin (2006) esclarece que tal teoria sustenta que um líder deve ter habilidades
cognitivas apropriadas, ou seja, habilidade mental e conhecimento, e traços e
19
padrões de personalidade. As características de liderança seriam, portanto, internas
ao líder. Essas qualidades internas, então, é que proporcionariam que os liderados
os enxergassem como verdadeiros líderes.
Reforçando essas idéias, Bowditch (1992) associa essa abordagem à teoria da
liderança das “Grandes Personalidades”, a qual alega que os líderes se diferem
bastante das pessoas comuns em relação a várias características físicas e de
personalidade.
Também Bergamini (2006) retrata que os estudos sobre a teoria dos traços
pretendiam apresentar as diferenças de características pessoais entre líderes e
liderados.
Partindo da suposição de que líderes eficazes nascem assim, era
suficiente avaliar aqueles que estavam em posição de comando, tomando
como referencial um conjunto de atributos físicos, psicológicos e sociais. Os
teóricos dessa corrente queriam confirmar a crença de que os líderes
deveriam possuir algumas características especiais que os distinguissem do
restante das pessoas comuns. Essas características iriam fazê-los emergir
do grupo e seriam as responsáveis por mantê-los em posição de destaque
com relação aos demais, durante determinado período de tempo
(BERGAMINI, 2006, p. 43).
Constrói-se a idéia de que, segundo a teoria dos traços, tem que se estudar o que
um líder ideal deve ter, e não o que realmente acontece na prática do exercício da
liderança (BERGAMINI, 2006).
Grande parte dessa pesquisa é criticada por apresentar um viés reducionista e um
quadro incompleto e simplista (ROBBINS, 2005). No entanto, vale ressaltar que
mesmo a teoria de traços não pode ser totalmente abandonada. Ela carece é de
uma forma de pesquisa mais sistematizada e em situações focais organizacionais
para que consiga, de fato, relacionar, com eficácia, a identificação de alguns traços
específicos dos líderes.
20
Desenvolvendo a trajetória de teorias de liderança, chega-se a uma perspectiva
chamada de “comportamental e funcional“ (alocêntrica), que pretende compreender
como ocorre o processo de liderança por meio de estilos de comportamento e como
estes afetam o grupo.
Essa abordagem enfatiza um padrão de comportamento consistente que caracteriza
o estilo de um líder. Acredita-se que cada estilo se mantém consistente, pois baseia-
se na personalidade de cada líder (DUBRIN, 2006).
Buscando compreender essa perspectiva, uma das primeiras e mais famosas
pesquisas sobre estilo de liderança foi realizada por Lewin; Lippitt; White (1939 apud
FIEDLER, 1981). Esses pesquisadores formaram alguns números de clubes
patrocinados entre meninos em idade escolar. Os líderes eram homens e adultos,
estudantes de psicologia social. Cada líder, segundo Bouditch (1992), foi treinado
para comportar-se de acordo com os seguintes estilos de liderança:
a) liderança autocrática (liderada pelo comando);
b) liderança democrática (liderança por meio da geração de idéias e da tomada
de decisões pelo grupo); e
c) liderança laissez-faire, ou tolerante (liderança por meio da participação
mínima do líder e total liberdade ao grupo).
Nessa pesquisa, identificou-se que os grupos orientados por líderes democráticos
eram os mais satisfeitos e funcionavam mais ordenados. os grupos liderados por
comportamentos autocráticos possuíam atos mais agressivos. No entanto, em
termos de produtividade, foram menos claros. O que esses dados apresentam é que
os grupos liderados autocraticamente gastavam mais tempo em suas atividades e
necessitavam da presença constante de seu condutor. Todavia, essas descobertas
não podem ser analisadas como corroborativas da perspectiva segundo a qual os
estilos de liderança que valorizam a participação das pessoas e que sejam flexíveis
e orientados para as relações humanas sempre terão resultados eficazes (FIEDLER,
1981).
21
Essas pesquisas sobre liderança conceituam estilo como um conjunto de
comportamentos de relativa duração que caracterizam o indivíduo,
independentemente da situação. Chega-se, desta maneira, à expressão “estilo de
liderança”. Essa concepção foca o que o líder faz, e não aquilo que ele é.
Essa corrente comportamental proporcionou várias pesquisas que enfatizavam o
que um líder faz para contribuir com o desempenho e satisfação do grupo. O foco
deslocou-se das características particulares do líder para o seu comportamento, em
relação à eficácia na condução de seus liderados (CHELLADURAI; RIEMER, 1997).
Como exemplos desta corrente, Dubrin (2006) descreve alguns estudos, como o
denominado “Teoria de Ohio State e Michigan”, no qual são enfatizadas duas
dimensões da liderança: a estrutura de iniciação e a consideração.
A estrutura de iniciação procura enfatizar o quanto o líder define as atividades e
designa tarefas e procedimentos (centrado na produção e tarefas). Ou seja,
relaciona-se com planejamento e organização do trabalho e das tarefas.
A estrutura de consideração enfatiza o quanto o líder se preocupa em desenvolver
um ambiente de apoio emocional, conforto e confiança em seus liderados (centrado
nas pessoas). Refere-se às relações.
A estrutura de iniciação se volta primordialmente para o esclarecimento de rotinas,
compromissos e métodos, com o objetivo de estabelecer padrões. A consideração
valoriza sobretudo o comportamento do líder voltado para a amizade, as relações
interpessoais e o desenvolvimento individual.
Outras pesquisas também foram desenvolvidas pelas Universidades de Michigan e
Harvard, em 1947. Apesar de algumas diferenças, de maneira ampla, sustentam o
22
mesmo estilo de comportamento. Sua principal confluência encontra-se nas
variáveis de tarefa e relações (REDDIN, 1981).
Com a progressão dos estudos sobre liderança, novas configurações foram se
apresentando, focando tarefas e pessoas, e analisando comportamentos eficazes ou
ineficazes (MAXIMIANO, 2000). No entanto, como salienta Reddin (1981), não se
conseguiu provar ainda que um estilo é melhor que outro. As escolhas de conduta
baseiam-se, portanto, em preferências individuais.
Nesse mesmo viés, Mouton e Blake (2000) estudaram uma abordagem que indica
uma atitude reativa do líder em relação aos seus liderados ou às situações, ao invés
de proativa. Estes autores desenvolveram um modelo chamado “Grid de liderança”,
cuja estrutura pretende analisar simultaneamente o enfoque no líder, com a
realização da tarefa, e nas pessoas. O Grid pode ser utilizado como sistema de
treinamento de liderança e desenvolvimento da organização. Este modelo
fundamenta-se em uma visão bidimensional capaz de promover a eficácia do líder. A
grade gerencial é, segundo os autores, formada por dois eixos: um vertical,
considerando as pessoas; e um horizontal, analisando a produção. Esses eixos são
divididos em uma escala de nove pontos, resultando em 81 estilos de liderança. O
objetivo é atingir o estilo 9.9, considerado o nível máximo de excelência.
Hersey e Blanchard (1986) e diversos autores estudiosos de liderança afirmam que
também outras teorias foram construídas, apresentando algumas divergências, mas
sempre preservando pontos comuns.
Todas essas teorias se baseiam na crença de que o estilo de líder é o
principal fator determinante do processo de liderança. Em segundo lugar,
cada um desses pontos de vista supõe que duas funções primárias da
liderança: 1) uma orientação para a estrutura da tarefa, da direção e da
produção; e 2) uma orientação para as pessoas, e um apoio às suas
necessidades de manutenção dos grupos. (BOWDITCH; BUONO, 1992, p.
121)
23
Essas teorias não conseguiram abranger de maneira totalizante as perspectivas
necessárias a uma análise do elemento organizacional liderança. Outras pesquisas
continuaram em busca de mais compreensões conceituais.
Surgem, então, as teorias situacionais, ou contingenciais. Esta corrente representou
um grande avanço em relação às correntes antecedentes, na medida em que
pressupõe a não existência de um padrão único para uma liderança qualificada. A
importância desses modelos reside no fato de explicarem como os estilos de
liderança, para serem realmente eficazes, devem variar de acordo com as
demandas da situação. A amplitude de padrões varia segundo a especificidade
solicitada pela contingência. Dessa forma, o líder é eficaz quando adapta seu estilo
às demandas da situação, valorizando, assim, tanto o grupo liderado quanto a
situação (CHELLADURAI; RIEMER, 1997).
As teorias contingenciais desenvolvem o conceito de que o melhor estilo de
liderança depende de fatores relacionados aos membros do grupo e ao ambiente de
trabalho. Podem ser elucidados os estudos de autores Hersey e Blanchard (1986),
nos quais é salientado que para cada tipo de situação um estilo de liderança
diferente será demandado, para alcançar eficácia nas atividades laborativas e, ao
mesmo tempo, obter um desempenho qualificado dos liderados.
Fiedler (1981) aborda essa perspectiva desenvolvendo a idéia de que a efetividade
da liderança será dependente do estilo de interação com o grupo e a situação.
Assim, pode-se dizer que a liderança passa a ser dependente da situação. Ou seja,
o estilo de liderança é contingencial, considerando três elementos chaves: líderes,
liderados e situação. Ele propõe que uma liderança eficaz baseie-se no grau de
ajuste entre o estilo de um líder e o ponto até o qual uma situação específica permite
que ele exerça influência do grupo  ou seja, a favorabilidade de uma situação.
Ao definir situação, o autor explica que este termo refere-se, de maneira ampla, aos
aspectos do ambiente capazes de afetar o indivíduo na organização, os quais
24
podem contemplar desde objetos físicos a relações sociais. Essas relações sociais
podem ser com os colegas, os clientes e os seus superiores. Finaliza o autor
declarando que a situação pode constituir-se de atitudes ou percepções comuns em
uma organização, considerando tanto as variáveis intra-organizacionais como as
extra-organizacionais. O autor destaca a existência de três variáveis contingenciais,
que apresentam maior ou menor favorabilidade de uma situação para os líderes: o
relacionamento estabelecido com o grupo; o grau de estruturação das tarefas; e o
poder conferido ao líder (BOWDITCH; BUONO, 1992).
Pode-se dizer que, considerando as relações entre líder e membros do grupo, deve-
se observar o relacionamento pessoal que o líder estabelece com os membros de
seu grupo, analisando os critérios de confiança e respeito. Em relação ao grau de
estruturação das tarefas, faz-se importante observar aque ponto a tarefa do grupo
encontra-se definida ou seja, de maneira clara e objetiva ou de maneira, muitas
vezes, incoerente e/ou ambígua. esclarecendo a posição de poder, vale ressaltar
a análise do grau de poder e influência que um líder possui em relação aos seus
liderados.
Infere-se que a situação favorável ao líder é a aquela em que o relacionamento com
o grupo é satisfatório, as tarefas são bem planejadas e organizadas, e a ele é
destinado algum poder. O contrário desse cenário implica uma situação desfavorável
ao exercício da liderança, comprometendo a sua eficácia.
Para avaliar essas relações, construiu-se o questionário LPC - Least Preferred Co-
worker colaborador menos desejado (ANEXO A), buscando mensurar o estilo de
liderança, que se baseia em estilos voltados para tarefas ou para o relacionamento.
Os resultados deste questionário sugerem que uma pessoa com alto nível LPC tem
por objetivo básico “relacionar- se”. Ou seja, é uma pessoa que procura estabelecer
fortes laços emocionais e afetivos com as demais pessoas na situação de trabalho.
Uma pessoa com baixo LPC tem por objetivo básico realizar uma tarefa.
25
Analogicamente, um líder com baixo LPC valoriza sobremaneira a realização da
tarefa. Conhecendo a tarefa desenvolvida, ele poderá apresentar-se de forma
amistosa. um líder com alto LPC tende a valorizar as relações, acreditando que
seus liderados concluirão suas tarefas.
Um líder com alto LPC se dedicará a ações que desenvolvam a autonomia, o
reconhecimento e o status de seus liderados, assumindo responsabilidades com
eles na distribuição das tarefas organizacionais. Líderes com baixo LPC tendem a
ser mais diretivos e orientados por metas. Eles perseguirão a conclusão da tarefa a
qualquer preço, mesmo que isso signifique sacrificar as relações afetivas no
ambiente organizacional.
Além de Fiedler (1981), Hersey e Blanchard (1986) podem também ser
considerados como expoentes dessa abordagem situacional.
Eles defendem a idéia de que a maturidade dos liderados compreende a
capacidade e a disposição das pessoas em assumir as responsabilidades
necessárias para conduzir seu próprio comportamento. Eles apresentam duas
dimensões, que definiram da seguinte maneira: maturidade do trabalho, ou
capacidade; e maturidade psicológica, considerando a disposição. Liderança
situacional, nesse viés, pode ser traduzida como uma inter-relação entre a
quantidade de orientação e condução oferecida pelo líder e a quantidade de
sustentação socioemocional e o grau de prontidão dos liderados na realização de
uma atividade ou tarefa.
Os autores defendem que o comportamento da liderança estabelecido estará
dependente do nível de maturidade do liderado a ser influenciado. Sendo assim,
conforme salientado, não pode existir um comportamento ideal de liderança, mas
pode ser defendida a idéia de que quanto mais os líderes conseguirem adequar sua
26
postura às contingências maior será seu poder de influência (HERSEY;
BLANCHARD, 1986).
Na atualidade, continua-se a buscar modelos cada vez mais eficazes de liderança.
Dessa maneira, algumas considerações contemporâneas sobre liderança se fazem
pertinentes.
Pode-se falar em liderança transformacional, ou liderança carismática, que
propõe que líder é aquele que auxilia tanto as pessoas quanto a organização a
promoverem mudanças positivas no modo como conduzem suas atividades.
Encontra-se estreitamente ligada à liderança estratégica, que provê direção e
inspiração. Um dos principais fatores valorizados por este estudo é o carisma:
habilidade em lidar com os outros, baseada em magnetismo, inspiração e emoção
(CARLESS; WEARING; MANN, 2000).
Esses estudos retomam parcialmente os construtos da teoria de traços, pois um dos
focos da análise encontra-se nas características pessoais do líder. Os líderes
carismáticos são mestres em comunicação e em inspirar confiança por meio de sua
ampla visão.
Como as organizações estão se tornando multiculturais e globais, tais circunstâncias
demandam dos líderes atuais a capacidade de agir com eficácia diante de culturas,
valores, crenças e expectativas das mais diversas. Isso significa que eles devem
oferecer um tratamento cada vez mais particular e personalizado às pessoas e/ou
aos grupos. Daí a importância da maestria em comunicar e do estabelecimento de
relações confiáveis.
Considerando que liderança é a capacidade de utilizar diferentes formas para
influenciar seus seguidores, tal habilidade exige muita criatividade, paciência,
disciplina, humildade, respeito e compromisso. É, portanto, papel do líder propiciar
que os talentos de seus liderados sejam despertados e desenvolvidos, para que
27
haja uma contribuição qualificada tanto para a organização quanto para a realização
pessoal de cada colaborador.
Percebe-se o quão delicada é a função de um líder no contexto atual, quando se
sabe da importância do capital humano de cada organização. As características
comportamentais do líder são colocadas à prova a todo momento, requerendo dele a
necessidade de reagir tanto a suas exigências individuais como às interações entre
as várias exigências que sua função demanda.
Assim, o desafio da liderança para este novo século é o autoconhecimento, o
reconhecimento das emoções e o equilíbrio, qualidades muito valorizadas no
processo interpessoal.
Pensando estrategicamente e com orientação para o futuro, é perceptível a
importância de princípios fundamentais no norteamento do comportamento humano.
O líder deve conhecer seus valores e vivenciá-los; reconhecer suas falhas e pedir
desculpas; assumir responsabilidades pelos erros de sua equipe e repassar os
créditos do sucesso a seus seguidores; e cumprir suas promessas com seus
liderados, mesmo que tenha de desgastar-se com seus superiores e com sua
organização. Só assim se sustenta uma relação de confiança.
Enfim, fica enunciado que o resgate dos princípios apresenta-se como uma grande
ferramenta capaz de estabelecer relações saudáveis entre líder e liderados num
contexto organizacional globalizado (HESSELBEIN; GOLDSMITH; BECKHARD,
1996).
Nessa mesma perspectiva, Covey (2002) reforça que o líder deve construir uma
cultura de trabalho com base em princípios voltados para o aprendizado, mostrando-
se flexível às mudanças. Somente assim sua organização conseguirá permanecer
em crescimento.
28
É exigência global a constante qualificação, em que se faz necessário que as
organizações acompanhem as mudanças se transformando.
Covey (2002) argumenta que não se tem conseguido a transformação necessária,
de uma maneira efetiva, pois permanece a dificuldade de manter a confiança nos
relacionamentos entre as pessoas. Para ele, princípios como delegação de poder
(empowerment), confiança e fidelidade sustentam o sucesso que as organizações
desejam. Assim, um líder eficaz deve estruturar sua atuação segundo um modelo de
liderança baseada em princípios.
Considerando que as pessoas são regidas por valores internos, que as comandam,
as organizações devem encontrar-se em consonância com estes princípios e neles
basear suas relações interpessoais.
A liderança organizacional deve estabelecer suas relações entre líder e liderados a
partir de princípios fundamentais como:
a) imparcialidade;
b) presteza;
c) igualdade;
d) justiça;
e) integridade ;
f) honestidade; e
g) confiança.
Esses princípios favorecem a identificação entre as pessoas, facilitando a relação de
influência exercida pelo líder, qual serve de modelo, combinando caráter (quem você
é como pessoa) e competência (o que você pode fazer).
29
De acordo com a abordagem, o exercício da liderança enfatiza três funções básicas,
identificadas como: função de explorar; função de alinhar; e função de delegar poder
(empowerment).
a) Função de explorar pressupõe a necessidade de considerar um olhar mais
amplo, um propósito transcendente em relação ao responder às demandas tanto do
cliente como de outros grupos envolvidos. Ou seja, consiste em estabelecer um
plano estratégico.
b) Função de alinhar consiste na idéia da integração entre estrutura
organizacional, sistemas e processos na realização da missão, atendendo à
demanda dos clientes e de qualquer outro grupo envolvido. Assim, quando alinham
missão, visão e estratégias, as pessoas conseguem compreender necessidades
tanto do mercado quanto da organização, além de suas próprias demandas.
c) Função de delegar poder (empowerment) pressupõe que as pessoas possuam
enorme talento, habilidade, inteligência e criatividade, embora grande parte ainda
esteja adormecida. Dessa maneira, quando se obtém o alinhamento entre
organização, pessoas e mercado, é instaurado um despertar, que promove o
desenvolvimento das missões em conjunto.
Missão e objetivos individuais se mesclam à missão da organização.
Quando estes dois propósitos se sobrepõem, uma grande sinergia é
gerada. Uma fagulha se acende no interior dessas pessoas e desperta
talentos, habilidade e criatividade latentes para fazerem o que for
necessário e coerente com os princípios acordados, a fim de realizar seus
valores, visão e missão de atender clientes e demais grupos de interesse.
Isso é o que entendemos por dar autonomia (empowerment) (COVEY,
2002, p. 162).
Este modelo da liderança combina habilidades sinérgicas (flui da qualidade do
relacionamento amizade, confiança e amor que une as pessoas) com a
perspectiva atual de interdependência. Essa combinação favorece a conquista da
vantagem competitiva. O líder valoriza a humildade, reconhece não estar no
30
controle. O que governa e controla são os princípios. Para isso, é necessária muita
coragem. Dessa relação entre coragem e humildade nasce a integridade.
Assim, é papel do líder internalizar esses princípios condutores e construir seu
trabalho coerentemente.
Concluindo essa trajetória de estudos sobre liderança nas organizações, fica
evidenciado que as percepções contemporâneas estão se voltando para os
princípios pessoais e interpessoais na interação entre líder e liderado. Constata-se
que as relações qualificadas são de grande valor e que estas são enfatizadas como
um grande diferencial no desenvolvimento humano e conseqüentemente,
organizacional.
Interligando essas constatações acerca dos estudos contemporâneos sobre o
exercício da liderança e suas relações interpessoais, é possível vislumbrar com
clareza a importância dos princípios norteadores do comportamento.
Diante dessa pesquisa, é visto o enfoque do construto
confiança nessa trama
relacional entre líder e liderados como fundamental na construção e manutenção
dessas relações interpessoais no âmbito tanto pessoal quanto organizacional.
Considerando esse enunciado, faz-se, portanto, imprescindível a compreensão
desse princípio nessa interface pontuada.
2.2 Estudos sobre confiança
É consenso dizer que relações de confiança têm sido colocadas como
imprescindíveis ao comprometimento e, como conseqüência, ao estabelecimento de
interações entre as pessoas e as organizações, proporcionando, assim, um
ambiente favorável ao trabalho, à produção e à inovação (DRUMMOND, 2007).
31
Mariotti; Swirski; Souza (2005, p. 2), analisando várias pesquisas, concluem também
que:
[...] confiança é importante na ordem de atividades organizacionais e
processos tais como: trabalho em equipe, liderança, estabelecimento de
objetivos compartilhados, avaliação de desempenho e comportamentos
cooperativos em geral.
Várias definições são formuladas sobre o conceito da confiança, variando sutilmente
de acordo com o viés social, econômico, filosófico, psicológico ou organizacional.
Essas definições e concepções de confiança são numerosas e, muitas vezes,
contraditórias (LANE; BACHMANN, 1996). É propósito deste trabalho, apresentá-las.
2.2.1 Conceituação de confiança
Conceituar o construto confiança pressupõe percorrer sinteticamente os vários
sentidos oferecidos à palavra. Assim, pode-se começar investigando os significados
do termo em obras tradicionais de referência.
O Dicionário Aurélio apresenta que confiança pode ser definida como
segurança íntima de procedimento. 2. Crédito, fé. 3 Boa forma. 4.
Segurança e bom conceito que inspiram as pessoas de talento, discrição”. A
mesma obra afirma que confiar é: “
V.int. 1. Ter confiança; Ter fé, esperar. T.
2. Ter esperança (em alguém ou algo) .
O Dicionário Houaiss assim define confiança: “Crença na probidade moral, na
sinceridade afetiva, nas qualidades profissionais de outrem, que torna incompatível
imaginar um deslize, uma traição, uma demonstração de incompetência de sua
parte”.
O Webster Dictionary define o termo trust como significando “a crença firme na
honestidade e confiabilidade de outrem”.
32
O termo confiança também é conceituado como atributo situacional e/ou relaciona,
como assinalam Novelli; Fischer; Mazzon (2005, p. 64):
O termo CONFIANÇA é recorrente no uso popular, abrangendo desde as
justificativas corriqueiras para episódios cotidianos da vida pública e
privada, até tentativas de análise e compreensão de atitudes complexas,
crenças profundas e fatos sociais que trazem impactos junto à opinião
pública.
No campo do conhecimento das organizações complexas na sociedade
contemporânea, os autores ora empregam a confiança simplesmente no sentido de
senso comum para descrever aspectos do ambiente organizacional, ora se dedicam
à tarefa de tratá-la como um construto diferenciado, de concepção multidisciplinar.
Em algumas definições, são apresentados termos que apontam para a relação entre
o juízo moral e a confiança. La Taille (2006) afirma que sempre nessa relação de
confiança se fazem necessárias considerações acerca da moralidade do sujeito com
o qual se estabelece a relação. Ou seja, para se confiar em alguém são criadas
hipóteses qualificadas sobre o outro enquanto pessoa moral. Se tais associações
não forem construídas, as relações sociais passam a basear-se na desconfiança, e
assim cria-se uma sucessão em que pensamentos são estabelecidos com a
formatação de que não se pode confiar no outro. Dessa forma, também não é
necessário fazer-se confiável. Isso posto, as pessoas, a organização e a sociedade
começam a ser questionadas moralmente. Não bastam regras ou regulamentos
norteadores; são imprescindíveis pessoas em quem se possa acreditar para que
esses regulamentos se efetivem respeitosamente e com veracidade. Ou seja,
também se faz necessário, de acordo com esta análise, que existam pessoas boas.
Enlaçando as idéias de La Taille (2006), pode-se considerar o que Locke (2001) e
Rousseau (1998
apud NOVELLI, 2004) desenvolvem quando apresentam
perspectivas sobre confiança, abraçando algumas visões primordiais nesse
contexto.
33
Em uma primeira análise, o autor propõe uma visão de natureza sociológica, em que
é salientado que confiança é um produto de longo prazo, de padrões históricos de
associativismo, compromisso cívico e interações extrafamiliares. em uma visão
de natureza econômica, é pontuada a idéia de que confiança pode ser entendida
como um comportamento de interesse próprio, de longo prazo, que calcula os custos
e benefícios de atores maximizadores de utilidade.
Nesse campo econômico, pode-se pontuar que o foco encontra-se em estimar
ganhos e perdas nas relações de troca (confiança como causa potencial na escolha
de algum cenário segundo experiências anteriores).
Quando se enfatiza o caráter psicológico, vê-se que os atributos situam-se no papel
de confiado e confiante, em que a confiança é analisada com foco na personalidade
individual e no seu desenvolvimento específico.
Retomando o campo sociológico, percebe-se que a ênfase situa-se na análise de
propriedades incorporadas nas relações sociais. Assim, confiança pode ser vista
como resultado de arranjos institucionalmente estabelecidos.
Em um processo de fusão entre essas perspectivas, numa visão psicossocial, a
confiança deve manifestar-se como elemento moderador de relacionamentos, nos
níveis pessoa com pessoa e organização com organização.
“Chama-se essa confiança de relacional, em razão de derivar de interações
repetidas no tempo entre confiado e confiante ou informações disponíveis pelo
confiante acerca do confiado” (ROUSSEAU, 1998 apud NOVELLI, 2004, p. 399).
34
A partir dessas elucidações conceituais, é possível buscar elementos comuns das
teorias sobre as quais se pretende desenvolver um arcabouço acerca desse
construto identificado como confiança.
As teorias organizacional, social e econômica estabelecem uma importante
interdependência entre aquele que oferece confiança e aquele que confia. Também
existe a possibilidade de que a confiança desenvolva uma maneira de lidar com o
risco ou a incerteza na trama das relações e de que confiança seja uma crença ou
uma expectativa de que a vulnerabilidade resultante da aceitação do risco não terá
vantagem pelo outro lado do relacionamento.
As expectativas sobre o valor da confiança somente se tornam relevantes
quando a conclusão das atividades de alguém depende da ação ou
cooperação prioritária de outra pessoa (LUHMANN, 1979
apud OLIVEIRA,
2004, p. 63).
Buscando estabelecer contrapontos nessas abordagens, percebe-se a identificação
de estruturações sociais, em que as expectativas podem se construir, dependendo
sutilmente também do paradigma da natureza humana e/ou da interação social
contida nas constatações teóricas, no objeto da confiança e no contexto no qual a
inter-relação de confiança encontra-se efetivada.
Para Luhmann (1979 apud OLIVEIRA, 2004), a confiança vincula a suspensão do
auto-interesse em favor de uma orientação de coletividade ou seja, a confiança
vem de valores compartilhados. Expectativas em relação ao outro são construídas e
estruturadas a partir de cálculos que analisam o custo-benefício de certas ações
para o que propõe a confiança. Esse viés baseia-se na percepção de um sujeito
como um ator racional, em que o indivíduo escolhe o curso da ação provável de
conseguir sua utilidade máxima. Nessa perspectiva, Marioti, Swirski e Souza (2005)
estabelecem em que confiança é uma decisão de risco. Mesmo percebendo as mais
diversas constatações acerca de confiança, segundo Tzafrir e Harel (2002 apud
MARIOTI; SWIRSKI; SOUZA, 2005), eles ressaltam que a confiança,
35
independentemente do viés estabelecido, possui três pontos importantes para sua
análise, os quais podem ser estruturados da seguinte maneira:
a) questões associadas à vulnerabilidade/risco;
b) o problema da reciprocidade; e
c) a dinâmica das expectativas.
Considerando as questões associadas à vulnerabilidade/risco, a definição de
confiança mais usualmente estudada encontra-se associada à disposição de alguém
ser vulnerável em relação ao outro cujos comportamentos não podem ser
controlados ou ao fato de estruturar-se na crença de que o outro é competente,
franco e responsável.
Para Marioti, Swirski e Souza (2005), os comportamentos de confiança oferecem
segurança às organizações e às pessoas para assumirem riscos.
Dessa maneira, a propensão a arriscar aparece na literatura sobre o construto
confiança como uma das poucas características que podem ser consideradas
comuns a todas as situações de confiança. Sendo assim, o risco é a condição
considerada essencial em conceitualizações psicológicas, sociológicas e
econômicas de confiança.
A análise da questão da reciprocidade considera que a história de relações
saudáveis tende a aumentar o nível de confiança entre as pessoas, como uma
espécie de mecanismo autofortalecedor. Essas relações positivas mútuas entre as
pessoas conduzem à construção de expectativas em longo prazo.
Em relação à dinâmica da expectativa, pode-se dizer que a confiança traz
internalizada uma expectativa, normalmente, positiva. A expectativa do resultado da
outra parte forma um elemento central na definição de confiança. Sendo assim, a
36
disposição para assumir riscos é estruturada na expectativa de que a outra parte
cumprirá uma determinada ação importante para aquele que confia.
Tzafrir e Harel (2002
apud MARIOTI; SWIRSKI; SOUZA, 2005) estabelecem uma
definição de confiança que envolve a noção de voluntariedade em aumentar a
vulnerabilidade com relação a uma outra parte, com base em uma expectativa
positiva, resultado de interações mútuas positivas passadas.
Analisando os estudos sobre confiança, Lane; Bachmann (1996) e Zucker (1986)
buscam identificar três eixos fundamentais:
a) Primeiro refere-se à natureza dos relacionamentos: calculável, normativa e
cognitiva.
b) Segundo
 refere-se ao nível de análise: pessoal, sistêmico (organizacional) e
na sociedade.
c) Terceiro  refere-se à suposição de expectativas: baseado em características,
em processos e institucionalmente.
Elucidando esses eixos, nos QUADROS 1-3 é possível perceber as formulações
desenvolvidas por essas categorizações propostas para os estudos acerca da
confiança.
37
QUADRO 1
Primeiro eixo teórico sobre confiança
CONFIANÇA CALCULÁVEL
Natureza econômica (escolha racional), na qual prepondera o interesse
próprio, legitimamente reconhecido.
Referência ao cálculo da relação custo/benefício das transações, segundo as
expectativas que têm entre si, confiado e confiante, orientadas
principalmente para situações repetidas e relações duradouras.
Indivíduos escolhem o curso de ação, voltados a acumularem ganho máximo
de utilidade.
CONFIANÇA NORMATIVA
Natureza social, em que se destaca a existência de responsabilidade entre
os indivíduos que comungam os mesmos referenciais culturais.
Referência ao compartilhamento, pelos indivíduos, de valores determinados
coletivamente, com papéis e regras de comportamentos rigidamente
estabelecidos.
Perspectiva de atores é agir segundo obrigações de lealdade e
responsabilidade com a coletividade.
CONFIANÇA COGNITIVA
Natureza social.
Referência à compreensão de expectativas numa estrutura geral de
comportamento, baseada em respostas previsíveis de uma parte em relação
à outra.
Perspectiva de atores é reduzir as complexidades nas interações sociais.
Fonte: Elaborado a partir de Chiles; McMackin (1996 apud NOVELLI, 2004); Fukuyama (1996);
Giddens (1997); Luhmann (1979
apud NOVELLI, 2004); Misztal (1995 apud NOVELLI,
2004); Wlliamson (1993);
38
Este eixo de confiança refere-se à natureza dos relacionamentos ou seja,
apresenta características pessoais no que se refere às interações estabelecidas
entre as pessoas considerando as relações de confiança.
QUADRO 2
Segundo eixo teórico sobre confiança
CONFIANÇA PESSOAL
Nível micro.
Referência à confiança baseada nas interações familiares entre indivíduos,
derivadas de membros de um mesmo grupo social.
Perspectiva dos atores é estabelecer um processo interativo a partir de laços
informais.
CONFIANÇA SISTÊMICA
Nível meso (intra e interorganizacional).
Referência à construção da confiança baseada em experiências positivas e
contínuas do uso dos sistemas de interação disponíveis na sociedade
moderna.
Controle de mecanismos da confiança mais complexos que na confiança
pessoal; porém, a perspectiva dos atores também é a resolução de
problemas, segundo a crença no funcionamento de sistemas especialistas ou
na expectativa de comportamentos repetidos (esperados) na relação entre
pessoas.
CONFIANÇA NA SOCIEDADE
Nível macro.
Referência à noção generalizada de confiança segundo padrões culturais
entre os membros de uma comunidade, podendo chegar até à nação.
Perspectiva dos atores é a solidariedade baseada em certos princípios ou
certos sistemas abstratos de confiança.
Fonte: Elaborado a partir de Barney e Hansen (1994 apud NOVELLI, 2004); Giddens (1997);
Luhmann (1979
apud NOVELLI, 2004); Peyrefitte (1999 apud NOVELLI, 2004).
39
Este eixo apresenta considerações acerca da confiança em uma análise pessoal,
percepções do conceito de maneira sistêmica (organizacional) e observações
acerca do construto confiança no âmbito da sociedade.
QUADRO 3
Terceiro eixo teórico sobre confiança
Confiança e a suposição de expectativa
CONFIANÇA BASEADA EM CARACTERÍSTICAS
Caráter de produção determinístico, de acordo com cultura, ética e religião
comuns a determinado grupo social.
Pressuposição de características atribuídas que não são criadas
deliberadamente, mas encontradas em comunidades que convivem e
preservam seu isolamento.
CONFIANÇA BASEADA NO PROCESSO
Caráter de produção incremental, orientada para um processo gradual de
construção de confiança.
Pressuposição de certo grau de estabilidade nos relacionamentos, contexto
de homogeneidade na formação de cada um de seus membros e mudanças
lentas.
CONFIANÇA INSTITUCIONAL
Caráter de produção deliberado, orientado para a estruturação de
relacionamentos segundo mecanismos legais ou de interesses
compartilhados entre pessoas, dentro ou entre as organizações, sendo
comum nas relações entre pessoas nas sociedades modernas.
Pressuposição de existência de confiança além de fronteiras de grupos, fora,
portanto, do círculo de familiaridade/intimidade.
Fonte: Elaborado a partir de Zucker (1986 apud NOVELLI, 2004)
40
Este eixo visa analisar como se estabelecem as expectativas nas relações entre
confiado e confiante, considerando que confiança é uma condição fundamental para
o desenvolvimento de sistemas socioeconômicos complexos.
Diante desses estudos e considerando o contexto de globalização, pode-se inferir
que a construção de confiança se processa de maneira gradual e que a quantidade
de confiança é desenvolvida nas relações passo a passo. Subentende-se que as
relações interpessoais têm cada vez mais sido envolvidas pelas concepções e
percepções sobre confiança num ambiente organizacional (NOVELLI, 2004), além
de ratificar que o construto confiança, de fato, pode ser considerado um conceito
multinível, apresentando um viés tanto organizacional quanto interpessoal.
O enfoque da confiança interpessoal é o substrato básico deste presente trabalho.
Para tanto, é chegado o momento de adentrar mais efetivamente neste contexto.
2.2.2 Confiança interpessoal
Confirmando as nuanças elucidadas, numa perspectiva sociológica, Luhman
(1979 apud OLIVEIRA, 2004) acredita que as relações sociais carecem de
estruturas que funcionem como diminuidores das incertezas e que favoreçam as
pessoas, proporcionando-lhes a possibilidade de criar expectativas quanto ao
comportamento posterior dos outros. Sendo assim, confiar, neste viés, passa a ser a
possibilidade de prever o comportamento das pessoas, acreditando que elas não
agirão de forma oportunista.
Essa perspectiva de interação social é analisada como “princípio da reciprocidade”.
Oliveira (2004) define reciprocidade como uma norma segundo a qual as pessoas
devem ajudar aquelas que as ajudaram e não devem prejudicar seus benfeitores.
Essa reciprocidade pode ser um mecanismo de construção da confiança nas
relações interpessoais.
41
Na linha sociológica, confiança, normas morais e ética se intrincam. Esses valores
pontuados encontram-se muito discutidos no contexto organizacional atual,
principalmente no que tange à gestão de pessoas (COVEY, 2002).
Retornando a concepção do construto, Giddens (1997, p.23) define confiança como:
[...] a crença na credibilidade de uma pessoa ou sistema, tendo em vista um
dado conjunto de resultados ou eventos, em que essa crença expressa uma
na probidade ou amor do outro, ou na correção de princípios abstratos
(conhecimento técnico).
Apoiado nas definições apresentadas em relação às organizações, Mariotti, Swirski
e Souza (2005) alegam que durante uma trajetória organizacional o desempenho, a
eficácia e a eficiência podem sofrer alterações negativas se as relações não
estiverem estruturadas em aspectos como comprometimento, lealdade, percepção
de valores e ganhos mútuos. Sendo assim, confiança é um elemento chave na
relação entre pessoas e organizações.
Dessa forma, a confiança pode ser considerada como um enlace relacional que,
quando efetivo, torna menos importante a necessidade de controles e regras formais
e burocráticas. Assim, se as pessoas confiam umas nas outras e em seus líderes
tornam-se habilitadas a realizar seu trabalho de forma agregadora.
Nessa perspectiva, em que confiança é defendida unanimemente por diversos
autores pesquisados como primordial nas relações, podem-se buscar as relações
entre líder e liderados nas organizações.
42
Nos estudos de Mariotti, Swirski e Souza (2005) pode-se observar que a confiança
de líderes em seus liderados adquire valor, que é capaz de promover agilidade e
eficácia nas decisões e ações.
Robbins (2002), analisando as relações interpessoais nas organizações, define que
confiar é, de fato, a disposição de assumir riscos, característica enunciada por
outros autores neste trabalho. Propõe-se nesse contexto a existência de dimensões
básicas na fundamentação da confiança nas organizações:
a) integridade  refere-se à honestidade e à confiabilidade;
b) competência abarca habilidades e conhecimentos técnicos e interpessoais
do sujeito. Não é possível confiar em alguém cujas habilidades você não
valoriza. É necessário acreditar que a pessoa possua os conhecimentos
necessários para realizar as tarefas que lhe foram solicitadas;
c) consistência relaciona-se com segurança, previsibilidade e capacidade de
julgamento que alguém demonstra diante das situações. A ambivalência entre
a fala e a ação reduz a relação de confiança;
d) lealdade  é a disposição de proteger e defender uma outra pessoa;
e) abertura visa analisar que se você acredita que a outra pessoa possui total
confiança em você.
A confiança parece ser um atributo essencial associado à liderança...
Parece cada vez mais evidente que é impossível liderar pessoas que não
confiam em você (ROBBINS, 2002, p. 126).
Quando os liderados confiam em seu líder, estão dispostos a se colocarem
em vulnerabilidade em razão das ações deste – eles confiam que seus
direitos e interesses não serão prejudicados (ROBBINS, 2002, p. 127).
43
Em confluência com os estudos de Robbins (2002 apud MARIOTTI; SWIRSKI;
SOUZA, 2005) e Tzafrir; Harel (2002 apud MARIOTTI; SWIRSKI; SOUZA, 2005),
também se estabelecem cinco atributos da confiança:
a) confiabilidade estrutura-se nos comportamentos e procedimentos
sistemáticos e consistentes, que são fortalecidos quando as promessas e os
compromissos são cumpridos. O comportamento previsível como positivo
reforça o nível de confiança em uma relação;
b) capacidade  é a autoridade, a habilidade e o conhecimento para fazer o que
é necessário de maneira eficaz e adequada;
c)
transparência é a clareza, a exatidão no compartilhamento de
informações, bem como a disponibilidade para a comunicação. Tendem a
fortalecer os laços de confiança;
d)
cuidado confiar implica acreditar que o outro não adotará atitudes
oportunistas, que uma parte não tirará vantagem individualmente da outra,
que uma parte terá cuidado e será benevolente com relação a outra;
e) identidade valores compartilhados são o veículo fundamental por meio do
qual os indivíduos experimentam a confiança. Uma combinação positiva de
sentimentos, interesses, opiniões, objetivos e valores nas relações de trabalho
cria a identidade necessária para atingir a confiança. Significa harmonia,
congruência, adesão e aceitação. Em situações nas quais há identidade entre
as partes as expectativas aumentam, bem como a disposição de assumir
riscos.
As colocações dos autores citados comprovam o quanto o construto confiança, nos
tempos atuais, encontra-se intrincado nas relações organizacionais.
Assim, confiança mostra-se, de fato, segundo Drummond (2007), como um aspecto
de diferencial nas empresas. Dessa maneira, é importante reconhecer a confiança
interpessoal no âmbito das organizações e compreender como este construto se
inter-relaciona com o processo de liderança, premissa básica de discussão desse
trabalho.
44
Como enfatizado por Novelli (2004), numa visão psicossocial, a confiança se
manifesta como um elemento moderador de relacionamentos, tanto no nível pessoa
versus pessoa quanto no nível organização versus organização. Assim, confiança
tem como característica primordial o fato de implicar investimento de risco (de
retorno) oferecido a alguém (pessoa) para agir em favor de outro.
Nas organizações, os líderes exercem um papel fundamental na construção de
relações confiáveis e, sendo assim, construtivas.
Assim, ao conceito de confiança, incorporam-se os seguintes pressupostos:
a confiança reduz a complexidade do ambiente, na medida em que propõe
ao indivíduo a garantia da realização de determinado compromisso que
isoladamente ele não teria condições ou informação suficiente para fazer;a
confiança se numa relação que envolve riscos, calculados ou não, de
frustração (NOVELLI, 2004, p. 70).
Criar um ambiente de confiança nas organizações tem por objetivo apresentar
opções para lidar com a complexidade do contexto e diminuir a sensação de
vulnerabilidade do sujeito na vida social, principalmente nas relacões interpessoais,
viabilizando a atividade e desenvolvendo a interação qualificada no trabalho
(NOVELLI, 2004).
É nesse quadro que se discute a imprescindibilidade da confiança como
fator fundamental para os propósitos de obtenção de colaboração nas
organizações, por favorecer o estabelecimento de redes sólidas para
relacionamentos produtivos, com a diminuição de custos transacionais
(DRUMMOND, 2007, p. 5).
É evidente a importância deste conceito nas organizações. Dessa forma, várias
abordagens foram desenvolvidas, sendo que nenhum consenso absoluto foi
construído.
45
Nas organizações, é perceptível que na análise das relações são observados
componentes afetivos e emocionais no estudo da confiança.
Krammer (1999) sustenta que confiança apresenta uma natureza complexa, e por
isso deve ser entendida de maneira multidimensional, inter-relacionando aspectos
cognitivos e aspectos racionais, como também os afetivos e os emocionais.
Zanini (2007) reforça que o atual estilo de gestão, segundo relações de confiança,
deve ser fruto de normas e regras, formais e informais, e de valores compartilhados
que governam as interações humanas, podendo gerar níveis de cooperação
espontânea de inestimável valor econômico.
Portanto, vale ressaltar que a confiança interpessoal “refere-se à confiança entre
indivíduos, e suas bases são as percepções pessoais ou do grupo em relação aos
motivos e intenções de outros indivíduos” (COSTA, 2000, p. 292).
O autor baseia-se na ênfase da importância do conhecimento personalizado, que
viabiliza a possibilidade de prever-se o comportamento do outro verificando a
estabilidade do comportamento e, assim, propondo uma relação de identificação
entre o indivíduo confiante e o depositário da confiança.
Lane e Bachmann (1996) discutem que a confiança pode ser entendida como uma
disposição do indivíduo em aumentar sua vulnerabilidade às ações do outro, cujo
comportamento ele não pode controlar. Confiar é, portanto, uma decisão que
pertence ao indivíduo. No entanto, suas conseqüências não dependem do
comportamento do outro. Para este autor, o indivíduo encontra-se ciente de sua
dependência do outro e da situação. Desse modo, quando se confia no outro para
fazer algo pressupõe-se que este outro possui consciência da confiança que nele foi
depositada.
46
Pode-se ainda considerar confiança interpessoal como a probabilidade de que o
sujeito com o qual se estabelece uma relação desenvolverá alguma ação favorável
ou, pelo menos, não prejudicial e que é elevada o suficiente para que o outro
indivíduo se considere integrado de alguma maneira numa relação de cooperação
para com o outro (OLIVEIRA, 2004).
Os estudos de Oliveira (2004) defendem que a confiança interpessoal transmite à
pessoa a sensação de que ela está segura e disposta a agir, considerando como
referencial as palavras, ações e decisões dos outros.
Esse autor estabelece duas formas distintas de confiança interpessoal: a primeira
baseada na cognição; e a segunda, no afeto.
Segundo Oliveira (2004), a confiança baseada na cognição pode ser caracterizada
pela escolha do indivíduo em quem confiar, em relação a determinados conteúdos e
em certos contextos. A escolha é feita considerando como critério as “boas razões”
que comprovam a decisão da escolha. As “boas razões” não são objetivas, e sim
subjetivas. Portanto, carecem singularmente do próprio indivíduo.
A confiança baseada no afeto deve estruturar-se por meio do vínculo emocional
entre os indivíduos. O depósito emocional destinado às relações de confiança
denuncia a preocupação e o cuidado sincero com o bem-estar de seus parceiros.
Dessa maneira, acredita-se que sentimentos dessa ordem devem ser recíprocos.
Numa trajetória conceitual, é importante citar que Reina e Reina (1999) construíram
um estudo relevante sobre confiança e as relações interpessoais quando realizaram
uma pesquisa com 125 líderes organizacionais de 67 empresas nos Estados Unidos
e Canadá, em 1995. Como resultado foi identificada a existência de um baixo nível
de confiança nessas organizações. Em contrapartida, percebeu-se que essa baixa
confiança afetava diretamente a saúde das pessoas, o seu desempenho profissional
e os resultados empresariais. Os autores argumentam que o processo de
47
construção da confiança baseia-se no exercício da confiança transacional, em que
toda relação é originada de uma transação e da confiança transformadora, a
confiança que desenvolve e fortalece as relações interpessoais, considerando que
sempre a confiança transacional se estabelece antes da transformadora.
Os autores sustentam que a confiança transacional impede que seja instalado um
ambiente de não confiança, embora não suficientemente capaz de desenvolver um
ambiente de confiança. a confiança possui as características necessárias para
construir uma espiral de confiança interpessoal. Ambas trabalham em esquema de
interação.
Citando Novelli (2004 apud ARAÚJO, 2007), a confiança transacional pode ser
descrita por fatores que expressam uma relação de troca entre os indivíduos. a
confiança transformadora pode ser apresentada por fatores que potencializam a
manifestação da confiança, independente das relações de troca.
Nessa perspectiva, destaca-se a existência de três tipos de confiança transacional: a
contratual, a comunicativa e a de competência. Delas se esperam características de
comportamentos peculiares, que contribuirão para estabelecer a infra-estrutura dos
relacionamentos confiáveis no ambiente organizacional. A confiança transformadora
demanda a doação e o recebimento de confiança, a partir de experiências
antecedentes, provocando o seguinte efeito, conforme elucidado por Novelli (2004,
p. 86), “qualquer que seja a confiança oferecida, muito maior será o retorno de
confiança”. Assim, ela pode ser descrita a partir de fatores que mostrem convicção,
coragem, compaixão e responsabilidade para com seu grupo. Este tipo de confiança
desenvolve um processo ininterrupto de qualificação dos relacionamentos, que se
traduz na superação de desafios atuais e comprometimento com os futuros.
Zanini (2007) também sustenta que relações de confiança ocorrem inseridas em um
determinado contexto social. Portanto, além das características individuais
envolvidas numa específica relação de confiança entre dois agentes, estas têm
48
dimensões exclusivas, relacionadas ao contexto social em que se manifestam e ao
nível de institucionalização das relações de confiança. Zanin (2007) propõe três
dimensões relacionadas a um investimento de confiança:
a)
confiança interpessoal ocorre num determinado momento e resulta das
informações adquiridas no passado e no presente, do relacionamento entre
agentes de interação ou de informações que podem ser adquiridas por meio
de terceiros sobre a reputação dos agentes;
b) confiança sistêmica diz respeito ao grau de confiabilidade que um
indivíduo percebe em um sistema social de menor escala, como uma
organização. Numa sociedade de menor escala, indivíduos podem aferir
comportamentos na interação com alguns agentes deste sistema e usar esta
informação como a confiabilidade percebida para futuras interações com
outros agentes;
c)
confiança institucionalizada quando se vêem em ambientes mais
complexos, as pessoas fazem uso deste tipo de confiança institucionalizada
para reduzir a complexidade do desempenho de outros indivíduos. No nível
institucional, confiança é parte de instituições formais e informais, construídas
socialmente, que emanam das macroestruturas sociais.
Retornando às observações de Reina e Reina (2006), e enfatizando o contexto que
se estrutura este trabalho, o qual se baseia na confiança interpessoal, pontuam-se
no QUADRO 4 as principais características da “confiança transacional” e da
“confiança transformadora”, com seus atributos chaves.
49
QUADRO 4
Confiança transacional e confiança transformadora
CONFIANÇA TRANSACIONAL
CONTRATUAL
(Compreensão entre os
indivíduos sobre tudo
aquilo que as partes farão
e esperarão das demais.)
COMUNICATIVA
(Envolvimento do desejo
do compartilhamento da
informação.)
COMPETÊNCIA
(Respeito às habilidades
dos outros.)
Gerir expectativas.
Estabelecer
fronteiras.
Delegar.
Cumprir acordos.
Comportar-se
consistemente.
Compartilhar
informação.
Dizer a verdade.
Admitir erros.
Dar e receber
feedback.
Manter
confidencialidade.
Respeitar
conhecimento e
habilidades dos
demais.
Respeitar o
julgamento e a
avaliação dos
demais.
Ajudar os demais a
aprender.
CONFIANÇA TRANSFORMADORA
CONVICÇÃO CORAGEM COMPAIXÃO RESPONSABILIDADE
PARA COM O
GRUPO
Consciência do
que é realmente
significativo na
manutenção de
acordos, na
consistência de
comportamentos
e confrontos
sobre valores.
Atitudes em favor
da autonomia dos
demais, da
delegação de
responsabilidades,
da expressão de
valores e da
assunção de
adversidades.
Abertura e
honestidade nos
diálogos, bem
como abertura de
oportunidades
para a
contribuição de
outros.
Cooperação recíproca
e implementação de
solidariedade
Fonte: Adaptado de Reina e Reina (1999 apud NOVELLI, 2004)
50
Analisando as observações apresentadas por Reina e Reina (2006), é possível
compreender o que Zanini (2007) ilustra com exemplo de um empregado que é
contratado por uma empresa. Ele é orientado a uma determinada atividade, com
tarefas preestabelecidas. Para desenvolvê-las, precisará do auxílio de outros
elementos da organização. Este novo colaborador enfrenta uma intensa
complexidade, pois conhece quase nada de seus colegas. Entretanto, sabe que
haverá a necessidade de certa dose de confiança em seus colegas e em suas
competências. Assim, deverá correr um risco inicial, devendo buscar adquirir
conhecimentos sobre os outros e, dessa forma, descobrir, gradualmente, em quem
poderá ou não confiar. A partir desse primeiro momento e com essas formulações
acerca de seus colegas, de seu líder e de sua organização, estará apto a interagir
melhor em seu ambiente de trabalho.
Passado esse momento inicial, a complexidade se reduz. Tal constatação implica
que com o desenrolar do tempo as pessoas se ajustam melhor às normas e
regulamentos da empresa e adaptam-se de maneira mais coerente e consistente
aos padrões de comportamento adotados naquele espaço inter-relacional.
Entretanto, vale ressaltar que essa adequação será influenciada, sobremaneira, por
relações de reciprocidade e trocas confiáveis nesse contexto de trabalho.
Zanini (2007) desenvolve a idéia de que muitas atitudes de cooperação tornam-se
hábitos ou padrões de comportamento relacionados às diversas rotinas diárias que
quase não são mais percebidas. Por exemplo: os pais, muitas vezes, confiam seus
filhos a uma funcionária doméstica enquanto vão trabalhar ou se divertir; os
cônjuges compartilham seus bens; um colaborador confia a seu líder a condução de
sua evolução profissional; e parceiros de trabalho confidenciam idéias e sentimentos
pessoais ou, até mesmo, um segredo a uma determinada pessoa de suas relações
cotidianas.
Diante dessas considerações, pode-se inferir que o sentimento de confiança
instaurado promove mais eficiência nas negociações e nas relações interpessoais,
viabilizando aos parceiros de interação maior flexibilidade e adaptação às mudanças
51
que porventura se apresentarem. Haverá, portanto, uma predisposição para se
oferecer concessões e resolver conflitos atuais, acreditando que o outro usará de
reciprocidade no futuro (ZANINI, 2007).
Dessa maneira, nas organizações em que se percebe um alto nível de confiança
entre os parceiros e entre as relações hierárquicas é comum ocorrer a ausência,
mesmo que parcial, de regulamentos burocráticos e de supervisão controladora. A
monitoração e o controle formal demandam excessivo gasto de tempo, razão pela
qual os relacionamentos que se estruturam em torno de uma alta dose de confiança,
com certeza, demandarão menos monitoração, tempo e energia. Nesse viés, os
líderes podem se dedicar mais aos processos de decisão, implementação,
planejamento e atitudes estratégicas, ao invés de se colocarem como eternos
supervisores, gerenciando, dessa forma, relações de baixa confiança (ZANINI,
2007).
Nesse ambiente de confiança, é importante que seja instaurado e desenvolvido um
investimento de confiança nos parceiros de interação, em que interesses mútuos ou
compatíveis sejam valorizados, ao menos em alguma questão. Isso implica que o
sujeito deposita confiança e que quem recebe deve possuir, pelo menos, certo nível
de envolvimento comum em relação à referida questão. Tal envolvimento pode estar
relacionado a ganhos financeiros ou de status, ao reconhecimento ou,
simplesmente, à manutenção do relacionamento.
Reina e Reina (2006, p. 32) desenvolvem os seguintes comentários a esse respeito:
[...] ação comprometida, não palavras vazias, constrói relações de confiança
contratuais entre indivíduos, nas equipes e nas empresas”. As palavras
ajudam a articular expectativas, mas as ações demonstram confiabilidade.
Outro comportamento é a manutenção da confidencialidade. “Espero de
você o mesmo grau de integridade e confidência que eu trago a você”. É a
expressão que sintetiza confidencialidade. “Quando uma pessoa confia uma
informação particular em outra, esta tem a obrigação de honrar aquela
confiança.
52
Com base nas análises propostas pelas considerações da confiança interpessoal,
este trabalho visa compreender como se estabelecem as relações entre líder e
liderados no que tange ao desenvolvimento da confiança em suas relações
interpessoais na unidade de pesquisa estabelecida.
53
3 METODOLOGIA
Inúmeros estudos sobre liderança têm sido propostos ao longo deste século. Em
cada pesquisa, este tema se inter-relaciona com variáveis distintas. Esse trabalho
não foge a essa regra. O viés escolhido prende-se à análise da relação entre
liderança e o construto confiança, buscando identificar como o papel da liderança
pode repercutir nas relações de confiança estabelecidas entre as pessoas em uma
organização. Para tal análise, esta pesquisa irá se sustentar, principalmente, nos
pressupostos de Fiedler (1981) sobre liderança contingencial e nos conceitos de
Reina e Reina (2006) sobre confiança transacional e confiança transformacional.
3.1Natureza da pesquisa
A abordagem utilizada nesta pesquisa é qualitativa. Com o intuito de alcançar os
objetivos propostos, a abordagem qualitativa justifica-se porque, segundo Godoy
(1995, p. 62),
a pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como fonte direta de dados e
o pesquisador como instrumento fundamental [...] a pesquisa qualitativa é
descritiva [...] o significado que as pessoas dão às coisas e à sua vida são
preocupação essencial do investigador [...] pesquisadores utilizam o
enfoque indutivo na análise de deus dados.
A pesquisa qualitativa caracteriza-se por inserir o pesquisador na organização
estudada, por valorizar fortemente a interpretação dos próprios administradores
sobre a organização, por atribuir grande importância ao contexto, por enfatizar no
processo a investigação de eventos sobre o mesmo fenômeno em uma dada
organização e por oferecer uma produção teórica a priori com a ausência de
hipóteses. A teoria é construída paralelamente à evolução da pesquisa mediante
fontes de dados diversificadas (BRYMAN, 1995).
O pesquisador, ao basear-se na abordagem qualitativa, formula um problema de
pesquisa a partir da realidade percebida e, posteriormente, contextualiza-o na
54
literatura. Ele aborda a realidade sob uma ótica teórica, que define elementos de
operacionalização da pesquisa, estabelecendo uma compreensão dos dados
coletados e respondendo às questões formuladas. Com isso, amplia o conhecimento
do assunto, articulando-o ao contexto do qual faz parte.
A pesquisa qualitativa pode assumir várias formas. No caso presente, procurou-se
realizar uma pesquisa descritivo-explicativa, que tem por objetivo identificar o
impacto da liderança organizacional nas relações de confiança estabelecidas entre
líder e liderados na organização estudada.
3.1.1 Natureza da pesquisa: quanto aos fins e aos meios
Para este estudo, optou-se por uma pesquisa de natureza descritivo-explicativa,
identificando elementos que, analisados e contextualizados, relacionem-se com as
referências teóricas levantadas e as percepções dos profissionais envolvidos nas
relações interpessoais desenvolvidas nas organizações no que tange aos construtos
confiança e liderança. Dessa forma, busca-se identificar como se estabelecem essas
relações de confiança entre líder e liderados nas organizações.
De acordo com Selltiz et al. (1967), as pesquisas descritivo-explicativas têm por
objetivo primordial descrever e explicar as características de determinada população
ou fenômeno e estabelecer relações entre variáveis.
Esta pesquisa consiste em um estudo de caso. Segundo Ludke e André (1986, p.
18), tal proposta apresenta características que são definidas por: visar à descoberta,
mesmo que partindo de pressupostos teóricos iniciais; enfatizar a interpretação em
contexto em que se situa; buscar retratar a realidade de forma completa e profunda;
usar uma variedade de fontes de informação; revelar experiência vicária e permitir
generalizações naturalísticas; procurar representar os diferentes e, às vezes,
conflitantes pontos de vista presentes numa situação social; e utilizar uma linguagem
e uma forma mais acessível do que os outros relatórios de pesquisa, num estilo
55
informal, narrativo, ilustrado por figuras de linguagem, citações, exemplos e
descrições. Dessa forma, completam Ludke e André (1986, p. 21), o objeto de
estudo é tratado como único, uma representação singular da realidade, que é
multidimensional e historicamente situada.
3.2 Análise dos dados
Com base nesses princípios, esta pesquisa conta, principalmente, com entrevistas e
observações diretas. O objetivo final de uma análise de estudo de caso é, segundo
Yin (2001, p. 133), tratar as evidências de uma maneira justa, produzir conclusões
analíticas irrefutáveis e eliminar interpretações alternativas.
Para a coleta de dados, tendo em vista a definição das fontes utilizadas, pode-se
afirmar que “as evidências para um estudo de caso podem vir de seis fontes
distintas: documentos, registros em arquivo, entrevistas, observação direta,
observação participante e artefatos físicos". O uso dessas seis fontes requer
habilidades e procedimentos metodológicos sutilmente diferentes (YIN, 2001, p.
105). Na pesquisa, a coleta de dados deu-se por meio de entrevistas semi-
estruturadas e observação direta.
3.2.1 Elaboração do instrumento da pesquisa
Marconi e Lakatos (2004, p. 279) ensinam diversos tipos de entrevistas, que variam
em sua utilização, conforme os interesses e o propósito do investigador.
56
Compreendeu-se que o tipo de entrevista indicado para este estudo de caso
específico era a entrevista semi-estruturada.
1
Quanto à modalidade da entrevista,
com base na orientação de Marconi e Lakatos (2004), foi adotada a semidiretiva
2
,
em que o entrevistado tem liberdade de manifestar livremente suas opiniões e
sentimentos em torno dos pontos levantados.
Trabalhar com a relação entre os conceitos de liderança e de confiança envolve uma
forma peculiar de lidar com a subjetividade humana. Tassara e Rabinovich (2001),
embora focalizando contexto diverso daquele em que se realiza o presente estudo,
sugerem uma estratégia para acessar esse nível da subjetividade humana: o apelo
ao poético, referindo-se à possibilidade metodológica de utilizar o fenômeno da
poïesis (da expressão criativa, desencadeada, por exemplo, pela apresentação de
certas fórmulas, como certas imagens) para acessar a dimensão subjetiva.
Tassara e Rabinovich (2001) afirmam que a imagem contém as dimensões afetiva e
cognitiva, as quais se exteriorizam tendo como veículo e representação a linguagem
enquanto representante do social. Nesse sentido, antes da linguagem haveria o
pensamento e antes do pensamento, as imagens. Desse modo, da mesma forma
que não imagem exteriorizável sem alguma forma de discurso (seja verbal ou
não), também não poderá haver discurso sem imagem. Oferecendo primazia às
imagens e associando-as à condição humana e à subjetividade, as autoras propõem
a validade do “reconhecimento empírico deste pathos
3
por meio da identificação,
1
Nesse contexto, torna-se importante utilizar a forma semi-estruturada de entrevista, apesar do grau de
liberdade desejado para a expressão dos entrevistados, por um outro motivo: existe a necessidade de se
construir um referencial de comparação entre os materiais obtidos de diferentes sujeitos. De acordo com Paula
(2005, p. 118), “o
roteiro utilizado nesse tipo de entrevista serve a esse fim, constituindo-se num importante
instrumento de avaliação dos resultados das entrevistas ao conduzir ao assunto que se pretende ser abordado
pelos entrevistados, sem impedir que surjam outros assuntos durante a entrevista”. Desse modo, continua o
autor, o que “aparenta ser uma conversa fora do tema torna-se, ocasionalmente, imprescindível para que se
saiba interpretar com mais profundidade as informações relatadas, compreender os valores e o contexto dos
entrevistados e mesmo redirecionar o enfoque, conforme sua importância”.
2
A entrevista semidiretiva, conduzindo o entrevistado à conversa sobre o tema em estudo e permitindo-lhe
posicionar-se livremente sobre ele, contribui para um conhecimento maior do caso e a obtenção de dados mais
profundos e detalhados. “Essa modalidade permite ainda a flexibilidade de acrescentar ou excluir questões,
contribuindo para a obtenção de uma grande quantidade de informações para a descrição e entendimento dos
casos estudados” (PAULA, 2005, p.118).
3
Palavra grega que diz respeito à expressão apaixonada, a um sentimento comovedor ou a uma experiência
psíquica intensa, por vezes agitada e sofredora. Vincula-se, ainda, à idéia de paixão: ser afetado primariamente
por alguma coisa ou objeto e, além disso, desejá-la com ardor.
57
mesmo que projetiva” (TASSARA;E RABINOVICH, 2001, p. 217).
Assim, concluem Tassara e Rabinovich (2001, p. 217):
[Se a] relação entre experiência, linguagem, pensamento e imagem for
essa, podemos ter acesso à poética, que se expressa naquela
subjetividade, mediante um reconhecimento lingüístico do
pathos presente
nas figuras de linguagem.
Dessa forma, buscar-se-ia a subjetividade da expressão poética por meio daquilo
que emerge do pathos, por meio da linguagem, na locução do falante. Tomando
como base esse raciocínio, buscou-se a construir o instrumento de entrevista
semidiretiva e semi-estruturada (APÊNDICE A-B).
De acordo com Paula (2005), ao valer-se de uma linguagem conotativa,
4
em certas
ocasiões
5
, incentiva-se o entrevistado a narrar histórias de cunho mais pessoal,
aprofundando uma descrição da relação do tema investigado com o seu meio a
empresa estudada –, oferecendo recursos para que a poética pudesse ser exercida
e, por meio dessa poética, possibilitar um acesso privilegiado ao material subjetivo.
Segundo Marconi e Lakatos (2004, p. 278):
As entrevistas qualitativas são muito pouco estruturadas. O principal interesse do
pesquisador é conhecer o significado que o entrevistado dá aos fenômenos e
eventos de sua vida cotidiana, utilizando seus próprios termos. A entrevista
permite o tratamento de assunto de caráter pessoal. Todavia, seria aconselhável o
uso de um roteiro simples, que guie o entrevistador pelos principais tópicos, caso
ele seja iniciante.
4
A linguagem conotativa pode ser mais bem compreendida se analisada em oposição à denotativa. Enquanto a
linguagem denotativa está diretamente ligada à
significação - ou seja, ao seu sentido real - a linguagem
conotativa, em oposição, trabalha com
figurações, com uma extensão do sentido literal, denotativo. Pode-se
dizer que o estudo da conotação vai além da lingüística: as conotações aparecem como um conteúdo, que tem
por plano da expressão o conjunto da linguagem de denotação. Enquanto o funcionamento denotativo da
língua é propriamente lingüístico, o jogo das conotações será superior ao nível da língua.
5
Nesse instrumento, além de questões de ordem mais convencional, foram introduzidas questões específicas, em
que se buscou impulsionar a emergência de conteúdos simbólicos mediante a utilização de metáforas.
58
Em sintonia com essa afirmativa, foi elaborada uma entrevista com estruturação
mínima, de modo a assegurar o apoio à condução das entrevistas individuais,
segundo o foco necessário. Essa estruturação prévia não estabelece limites para o
diálogo durante as entrevistas. Os entrevistados não só podem trazer as suas
compreensões e percepções sobre as questões propostas como foram ouvidos
sobre quaisquer outros aspectos que, a seu juízo, fazem parte da questão
apresentada. Esse desdobramento é totalmente imprevisível, não tendo como ser
formulado em instrumento prévio de pesquisas. Isso confirma a lição de Gil (2002, p.
54): “O estudo de caso caracteriza-se por grande flexibilidade. Isso significa que é
impossível estabelecer um roteiro rígido que determine com precisão como será
desenvolvida a pesquisa”.
A análise dos resultados é feita a partir da análise de conteúdo, uma vez que se
torna indispensável assegurar a objetividade, o que evita que as análises contenham
interpretações subjetivas. A análise de conteúdo exige uma conduta ética, um
afastamento do objeto, para que possa ser feita do ponto de vista do outro, e não do
ponto de vista do pesquisador.
Segundo Bardin (1977, p. 42), a análise de conteúdo garante a possibilidade de
fazer inferências, por ser
[...] um conjunto de técnicas de análise das comunicações, visando obter,
por procedimentos sistemáticos e objetivos, a descrição do conteúdo das
mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de
conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis
inferidas) destas mensagens.
A análise de conteúdo é composta por três momentos. O primeiro compreende: a
pré-análise, em que ocorre a escolha dos documentos que serão submetidos à
análise; a formulação dos objetivos e hipóteses; e a elaboração de indicadores que
fundamentem a interpretação final. Para isso, é necessário seguir os seguintes
passos: leitura flutuante; escolha dos documentos, por meio da exaustividade, da
representatividade e da pertinência; formulação de hipóteses e objetivos; e
colocação de indicadores e índices e preparação do material. O segundo consiste na
59
fase de exploração do material, em que ocorrem as operações de codificação; a
enumeração em função de regras previamente formuladas; e a categorização. O
terceiro refere-se ao tratamento e interpretação dos resultados, em que o
pesquisador procura tornar significativos e válidos os resultados obtidos. Podem ser
utilizadas operações estatísticas, síntese de resultados, inferências e interpretações.
Neste trabalho, utilizaram-se as estratégias de interpretações e inferências, a partir
das categorias de confiança transacional e de confiança transformadora,
apresentadas por Reina e Reina (2006). A possibilidade de fazer inferências é um
ponto a ser considerado nesta pesquisa, pois esta é uma operação lógica, pela qual
se admite uma proposição em virtude de sua ligação com outras proposições,
aceitas como verdadeiras Adverte-se que inferir é extrair uma conseqüência. Sendo
assim, para elucidar os objetivos e responder ao problema proposto, buscou-se
realizar a pesquisa tomando como universo os sujeitos que trabalham em uma
clínica de saúde da cidade de Divinópolis. Esses sujeitos são definidos como
parceiros (profissionais liberais nutricionistas, psicólogas e enfermeira), por não
possuírem vínculo empregatício. No entanto, as pessoas assumem um papel de
subordinação ao cirurgião que estruturou a equipe e é proprietário da Clínica.
O universo foi constituído de forma intencional e não probabilística, uma vez que,
para abranger os objetivos propostos, fez-se necessário entrar em contato com
todas as pessoas envolvidas no trabalho cotidiano dessa organização. Ou seja,
todos os parceiros da clínica participaram do estudo.
Portanto, a pesquisa visa identificar percepções, expectativas e sugestões da
organização estudada acerca do exercício da liderança no que tange às relações de
confiança entre líder e liderados.
Diante do exposto, justifica-se a metodologia adotada para a análise dos resultados
deste trabalho. No próximo capítulo, descrevem-se análise e a interpretação dos
resultados.
60
4 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS
Para elucidar os objetivos e responder à questão norteadora desta pesquisa,
elaboraram-se entrevistas semi-estruturadas. Antes da execução formal dessas
entrevistas, o roteiro foi submetido à apreciação de profissionais de renome, que o
analisaram e sugeriram alterações, as quais foram acatadas.
Toda a equipe de profissionais liberais da organização estudada atendeu à
solicitação das entrevistas, mostrando-se disponível ao estudo, assim como o líder.
Todos os entrevistados foram previamente informados sobre a finalidade deste
trabalho acadêmico, a partir de uma breve explanação de seus objetivos, e o sigilo
quanto a sua identidade. O pesquisador esclareceu que as anotações seriam feitas
de maneira literal, de modo a assegurar a fidelidade das informações, e que as
respostas seriam lidas para o entrevistado sempre ao final de cada registro, para
que fossem confirmadas. À medida que as respostas se apresentavam, eram
anotadas em formulário próprio. Os dados das entrevistas foram digitados em
arquivos individuais, logo após sua realização, com o objetivo de manter as
respostas o mais fiéis possível com as colocações dos entrevistados.
4.1 Análise dos resultados
Esta seção visa apresentar os resultados encontrados no estudo realizado na
organização pesquisada. Contempla a análise das relações de confiança entre líder
e liderados, e seu processo de desenvolvimento, a partir da análise de conteúdo,
estabelecida segundo as categorias de confiança de Reina e Reina (2006).
Seis participantes foram estudados na organização: duas psicólogas, que serão
identificadas doravante pelas letras A e B; duas nutricionistas, identificadas pelas
61
letras C e D; uma enfermeira, identificada pela letra E; e o líder, identificado pela
letra F.
4.2 Organização pesquisada
“Alfabeto” é o nome de fantasia construído para representar a organização
estudada, com o intuito de resguardar seu anonimato. Trata-se de uma clínica que
surgiu da idéia de profissionais liberais da área de saúde que já trabalhavam há sete
anos em conjunto. Cada um desses profissionais mantinha seus consultórios
particulares, atendendo pacientes que buscavam tratamento para a obesidade
mórbida por meio da cirurgia bariátrica. Cada um desses profissionais encarregava-
se de avaliar e preparar os pacientes para o procedimento cirúrgico, buscando
oferecer-lhes a condição mais qualificada para obter o maior e melhor resultado.
A partir dessa idéia, o cirurgião organizou uma estrutura física que acomodasse
todos os profissionais em um mesmo local, buscando oferecer maior conforto e
agilidade aos pacientes interessados nesse tipo de tratamento. A condição de
trabalho foi estabelecida como uma parceria, em que os parceiros pagariam uma
cota para entrar nessa organização. A partir dessa entrada, eles se
responsabilizariam por um pagamento mensal referente à utilização da estrutura
construída pelo cirurgião.
A Alfabeto foi inaugurada em abril de 2007, mantendo suas atividades até a data de
hoje. As relações estabelecidas entre esse líder-cirurgião e esses liderados-
profissionais liberais, considerando o desenvolvimento da confiança, é que serão
analisadas no próximo tópico.
62
4.3 Relações de confiança entre líder e liderados
Buscando compreender as repercussões do exercício da liderança no
desenvolvimento da confiança entre os membros da equipe, identificaram-se muitos
pontos relevantes para os estudos organizacionais contemporâneos, os quais serão
pontuados a partir de análises sob o viés apresentado pelos autores Reina e Reina
(2006), no que tange ao construto confiança, e pelo referencial teórico de Fiedler
(1981), no que se refere ao estilo de liderança.
4.3.1 Análise da confiança transacional
A análise da confiança transacional deve levar em consideração fatores que
demonstram que as relações baseiam-se em trocas entre os indivíduos. Ou seja, é
necessário oferecer para se receber. A relação de confiança desencadeia mais
confiança, e assim é desenvolvido um clima de trabalho apoiado em segurança. É
dessa forma que se qualifica a produtividade (REINA; REINA, 2006).
O relato a seguir, expresso pelo sujeito D, parece confirmar essa consideração:
“Confiança é acreditar um no outro. Sem existir dúvidas, é ausência de mentiras.
Confiança se relaciona com transparência”.
A confiança transacional, segundo seus autores, subdivide-se em três aspectos:
confiança de comunicação; confiança de competência; e confiança contratual,
conforme salientado. Serão analisadas, a seguir, as relações estabelecidas pelos
atores A, B, C, D, E (liderados) e F (líder) da Alfabeto.
4.3.1.1 A confiança de comunicação na Alfabeto
A Alfabeto não possui estratégias de comunicação estruturadas. Ocorrem apenas
encontros informais nos corredores da organização. Quando necessidade,
63
promovem-se reuniões para definir as questões pendentes. No período que
antecedeu a abertura da clínica, realizaram-se encontros formais, com a presença
de uma consultora, para a elaboração do código de ética, da missão, dos valores da
clínica e do planejamento de estratégias. Inaugurada a organização, toda a equipe
de profissionais liberais, juntamente com o líder, encontrava-se às sextas-feiras, à
tarde, para debater as dificuldades próprias desse momento inicial de adaptação.
Conforme pode ser visto no relato abaixo:
Durante as reuniões, todas as pontuações eram apresentadas e discutidas
por todos. O líder sempre se mostrava disponível a aceitar as sugestões. No
entanto, passado o momento da reunião, nada do que era acordado entre
todos saía da verbalização. a sensação de frustração era muito grande e
a desmotivação crescia. Pensava: “Para que reuniões se o que vai
acontecer é o que o líder quer? Tinha preguiça dessas reuniões de sexta-
feira. (A).
Tais encontros continuaram até dezembro de 2007, quando todos solicitaram a sua
extinção, por perceberem a sua improdutividade. A sensação que os profissionais
sentiam é que as reuniões se restringiam apenas à redação das atas e que as
decisões tomadas em conjunto não eram postas em prática.
Diante dessas colocações, foi possível constatar que a comunicação é algo que
passa por momentos de dificuldades na Alfabeto.
Os relatos a seguir permitem visualizar o que os liderados pensam sobre sua
organização:
É importante ter atitude da maneira adequada na hora certa. É importante
reconhecer o trabalho de seus liderados. Também é importante que ele seja
um bom observador e responder de acordo com as necessidades de seu
grupo. É fundamental ter clareza, ser ético e transparente. Não adianta
pregar valores sem efetivá-los através de seu próprio modelo de
comportamento (D)
Eu percebo que o líder não confia em nossa equipe de forma adequada.
Existe uma fala contraditória. Ou seja, seu discurso se apresenta de uma
forma, mas suas ações demonstram o contrário. (B)
64
Reina e Reina (2006) destacam a importância de comportamentos que valorizem o
compartilhamento das informações, o compactuar-se com a verdade, o trabalhar
com feedbacks construtivos, estratégias que desenvolvem confiança. Na
organização estudada, todavia, não têm ocorrido momentos para que essas
iniciativas sejam efetivadas. Dessa maneira, percebe-se que a equipe tem passado
por um momento de desânimo e apatia. No momento das entrevistas, observou-se
que os liderados sentem que suas falas não são de fato levadas em consideração e
que as reuniões são muito mais formalidades do que um interesse concreto de fazer
valer a opinião dos liderados.
É importante salientar que quando as informações são compartilhadas ou quando as
falas são valorizadas as pessoas percebem que são merecedoras de crédito, e
assim sentem-se motivadas a realizar suas atividades com mais desejo e dedicação.
Dessa forma, também é desenvolvida uma relação mútua de confiança entre todos.
Nesse caso, em especial, entre líder e liderados.
Os depoimentos a seguir revelam o quanto esses comportamentos descritos são
considerados importantes em uma relação entre líder e liderados em uma
organização:
Nem tudo podemos falar com o líder, pois não sabemos como ele vai reagir.
É melhor nos acomodar e fazer do jeito que ele deseja. Tudo que fazemos,
nunca agrada mesmo, é uma eterna insatisfação. Críticas acontecem o
tempo todo. É melhor então nem falar de nossas dificuldades com ele. O
que precisamos resolver tentamos resolver entre nós mesmos para ser mais
fácil e não corrermos o risco de sermos avaliadas o tempo todo. (B)
A sensação de não ser ouvida prejudica as relações de confiança,
chegando ao ponto de eu, um dia, ter que tomar atitudes que não gostaria
de tomar, porque as solicitações não provocam mudanças. (D)
A partir da real constatação dos liderados de que essas reuniões não estavam
produzindo o resultado esperado, passou a existir uma comunicação não oficial, em
que os liderados não mais levavam suas verdadeiras opiniões para as reuniões. As
conversas reais aconteciam apenas entre os liderados.
65
Apoiando-se em Reina e Reina (2006), fica claro o quão vital é para uma
organização que as informações sejam compartilhadas entre todos. A verdade
precisa ser mantida, para que as pessoas possam assumir seus erros sem temor.
Nesse contexto, resta a certeza de que todos vão agir com bons propósitos e, assim,
criar um ambiente para se oferecer e receber feedbacks construtivos. Quando isso
ocorre, infere-se a existência da confiança na comunicação. Dessa maneira, quanto
mais comunicação nas relações interpessoais no ambiente organizacional, maior
será o nível de confiança e o comprometimento entre os membros da referida
organização.
Nos relatos a seguir, pode-se visualizar como são estabelecidas as relações na
organização estudada:
É uma relação de dúvida o tempo todo. Isso anula a autonomia (C)
Não acredito na liderança nesse trabalho de confiança. O que ele prega não é
compatível com sua prática. Em qualquer impasse ele retira a sua fala. A fala
é diferente de suas ações. (C)
Para ser líder, você tem que se fazer confiável. E quando não se confia no
líder, não haverá confiança em nenhuma outra relação. (E)
Diante desses depoimentos, foi nítido que os liderados têm optado por não
apresentar suas observações, pelo receio das críticas e pelo controle que o líder
tenta exercer em todos os momentos, o que, segundo os liderados, tem minado a
autonomia e a criatividade.
Os resultados obtidos pelo trabalho de campo sustentam a conclusão de que os
liderados na referida organização apresentam o comportamento ilusório de que para
proteger as relações é melhor abrir mão de suas opiniões. Por um período muito
curto isso até pode funcionar, mas no longo prazo desestabiliza toda e qualquer
relação de confiança. A verdade, mesmo quando difícil, deve ser assumida, o que
faz as pessoas crescerem, ajudando-as a se adaptarem melhor às situações
(REINA; REINA, 2006).
66
4.3.1.2 A confiança de competência na Alfabeto
Como enunciado, a Alfabeto possui um setor de psicologia, composto por duas
psicólogas, um setor de nutrição, com também duas nutricionistas, e um serviço de
Enfermagem, com a presença de uma enfermeira, Todos são considerados aqui
como os liderados. Nessa estrutura, existe um cirurgião que é referenciado como
líder.
Cada serviço organizou seu protocolo de atendimento, mediante suas competências
técnicas e de acordo com o que era importante ser trabalhado com seus pacientes.
Tudo que era desenvolvido pelos liderados tinha que passar pelo aval do líder para
que as estratégias pudessem ser efetivadas.
Esse aspecto é revelado nos depoimentos de A e C:
Quando fui convidada a fazer parte desse projeto, tive muito medo, pois era
um investimento financeiro maior do que fazia em meu consultório
particular. Mas a idéia de poder criar estratégias de trabalho mais
qualificadas aos meus pacientes me motivou a arriscar. O que eu não
imaginava é que cada vez que quisesse fazer uma dinâmica ou um projeto
de sala de espera eu precisaria esperar que meu líder visse todos os dvds
ou aprovasse as dinâmicas psicológicas, mesmo sabendo que essa não era
sua área de atuação e que eu não era sua subordinada através de vínculo
empregatício. Fui aos poucos deixando meus projetos morrer. A clínica se
transformou para mim em apenas um novo consultório. Nada mais que isso.
(A)
Primeiro, o líder tem que fazer o que prega. Tem que ser verdadeiro. Se não
existir verdade em seu caráter, ele não conseguirá desenvolver confiança
entre seus liderados. É uma relação de dúvida o tempo todo. Anula a nossa
autonomia e fica sempre a questão de quando vão puxar o meu tapete. (C).
O líder, durante suas colocações, pontua que acredita na competência técnica de
sua equipe. Entretanto, fica perceptível que ele apresenta dificuldades em
descentralizar e oferecer autonomia de trabalho aos seus liderados sem antes haver
uma constante monitoração.
67
Segundo os estudos de Reina e Reina (2006), fica evidente a importância de
reconhecer a capacidade dos liderados, de modo a permitir o seu desenvolvimento
de maneira que se sintam influenciados a tomarem decisões, buscando oferecer
suas contribuições. Isso é que os incentiva a evoluírem cada vez mais. O líder deve
demonstrar que acredita verdadeiramente na competência de seus liderados. É
necessário que as atitudes comprovem essa confiança. Dessa maneira, valorizando
os conhecimentos, as habilidades, a criatividade e a iniciativa de seus liderados,
esse comportamento incidirá em seu desenvolvimento, fazendo com que se sintam
confiáveis e passem a confiar em seu líder e a produzir com mais desejo, empenho
e dedicação. Com essa relação pautada nessas características, com freqüência, o
líder se surpreende positivamente.
Os depoimentos abaixo confirmam essas pontuações:
É importante que exista uma política de delegação de funções, sem
cobrança de monitoramento. Também é importante aceitar as
diferenças de seus liderados, as limitações, pontuar pontos positivos,
elogiando e incentivando. Sinto que minha organização, em relação à
confiança, nos passa a sensação de que somos incompetentes, de
pouco valia, de insatisfação, de que nosso trabalho é sempre pouco,
que nosso desempenho está aquém, que somos parados, que
estamos fora do mercado e que nunca agradaremos. Tudo que
fazemos é insuficiente. Tenho uma sensação que, de fato, não
confiam em meu trabalho. (B)
Tenho dificuldades em falar em público e meu líder demonstra
também desconfiar de meu desempenho, apesar de inicialmente ele
incentivar. Ao final, ele sempre acaba dizendo que é complexo
mesmo o trabalho a ser realizado, e aí torno a ficar insegura. (B)
É importante que o líder tenha a atitude da maneira adequada na
hora certa. É importante reconhecer o trabalho e colocar os limites
quando conveniente for. É importante que ele seja um bom
observador e responder de acordo com as necessidades de seu
grupo. [...] Ele não consegue ter uma postura de resolução nas
relações interpessoais, quando passa por cima da maioria para
atender o seu desejo próprio. (D)
O que é evidenciado nas sensações dos liderados nessa organização demonstra a
não existência desse comportamento por parte do líder.
68
Na Alfabeto não foram encontrados nos relatos dos liderados dados que indicassem
a existência de coerência na fala do líder de que ele confiava tecnicamente na
equipe e em seus atos. Pelo contrário, aparecem na fala dos entrevistados dados
que sugerem atitudes constantes de estabelecer controle sobre todo e qualquer
projeto.
Depois que fomos para a clínica, senti uma alegria imensa por poder fazer
um trabalho diferenciado. Mas, conforme o tempo foi passando e fui vendo
o que estava acontecendo, os meus sentimentos atuais são de completo
desvalor. Não consigo me sentir bem lá dentro. (E)
Conforme salientado por Reina e Reina (2006), quando as pessoas não se vêem
participando efetivamente das decisões, sobretudo aquelas pertinentes ao seu
trabalho, sentem-se desmotivadas, frustradas, desvalorizadas e excluídas.
De fato, a centralização demonstra falta de confiança. Quando as pessoas começam
a sentir-se fora da autonomia do processo, passam por momento de apatia e de
perda do entusiasmo. Como conseqüência, há um desperdício do talento e de
potencial dos liderados. Diante das observações realizadas, pode-se inferir que na
organização Alfabeto devem estar ocorrendo tais situações.
4.3.1.3 A confiança contratual na Alfabeto
Na Alfabeto, todos sabem quais são suas atribuições e as responsabilidades dos
demais, havendo uma relação de reconhecimento e respeito entre os liderados
quanto ao trabalho que cada um executa. Entretanto, segundo as observações
coletadas, quando existiam as reuniões de sexta-feira nunca se conseguia trabalhar
efetivamente a pauta, as reuniões se prolongavam e, na maior parte das vezes, o
que se definia não era concretizado. Aconteciam com muita freqüência desvios de
foco e algumas conversas informais durante a reunião. Faltava um líder que a
coordenasse. Todos queriam esse controle, e assim não havia uma coordenação. O
que ocorria na maior parte das vezes eram projetos aprovados que nunca saíam do
69
papel e cobranças por parte da liderança para mais e mais comprometimento por
parte de todos.
O relato a seguir ilustra as observações elucidadas acima:
Durante aquelas reuniões, nunca me sentia ouvida. Parecia que o que eu
tinha a ser dito não era importante. Assim, preferia ficar calada. Eu não ia
agradar mesmo. (C)
Pelas considerações formuladas durante as entrevistas, ficou nítida a existência de
uma insatisfação por parte dos liderados em relação à incoerência constante entre a
fala do líder e seu comportamento, conforme é apresentada por estes depoimentos:
Eu percebo que o líder não confia em nossa equipe de forma adequada.
Existe uma fala contraditória. Ou seja, seu discurso se apresenta de uma
forma, mas suas ações demonstram o contrário. (B)
Durante as reuniões o líder sempre pregava um ideal de trabalho.
Concordava com nossas idéias, mas passadas as reuniões, tudo acontecia
somente do jeito dele. Penso que isso acontecia porque ele gostaria de
manter uma boa imagem com o grupo. Mas na realidade, ele tem muita
dificuldade para trabalhar em grupo e ouvir os desejos dos outros. (A)
Conforme enfatizado por Reina e Reina (2006), o fato de o líder conhecer as
expectativas dos liderados e de estes reconhecerem os desejos do líder mais o
estabelecimento de objetivos claros, de uma linguagem comum, de parâmetros, de
responsabilidades e de comprometimentos de todos são ingredientes chaves para a
existência da confiança contratual. Além de todo esse arcabouço, são
imprescindíveis a coerência e a consistência das falas e comportamentos nas
relações entre os atores dessa relação interpessoal. O comportamento do líder é o
tempo todo avaliado, e assim as conseqüências para o estabelecimento da
confiança são vitais para o desenvolvimento da organização. Comportamentos
inconsistentes podem ser sentidos como injustos e, até mesmo, como desonesto
nas relações. Dessa maneira, pode-se dizer que o desenvolvimento da confiança
nas relações interpessoais estrutura-se quando existem coerências entre os
70
discursos e as ações. Diante desse enunciado de Reina e Reina (2006), vale
novamente inferir que também não houve indícios de uma solidificação da categoria
de confiança contratual entre líder e liderados na organização Alfabeto.
4.3.2 Confiança transformadora
A confiança transacional inter-relaciona-se diretamente com a confiança
transformadora, sendo que a primeira, quando adequadamente instaurada, promove
a ausência de desconfiança nas relações organizacionais. No entanto, vale ressaltar
que os atributos que estimulam e desenvolvem os relacionamentos baseados na
confiança originam-se da categoria da confiança transformadora. Dessa maneira, é
por meio desses atributos provenientes da confiança transformadora que se
desenvolve toda uma cadeia de confiança interpessoal. As atitudes desenvolvidas
com base na confiança transformadora sustentam as relações estabelecidas pela
confiança transacional (REINA; REINA, 2006). A confiança transformadora
relaciona-se diretamente com as atitudes, posturas e disposições das pessoas em
suas relações interpessoais. Nesta seção, serão apresentadas as inferências e
interpretações construídas a partir das entrevistas estabelecidas entre líder e
liderados da Alfabeto no que tange aos fatores convicção, coragem, compaixão e
coletividade, estudados pela confiança transformadora.
4.3.2.1 Liderados na Alfabeto
Em diversos momentos da entrevista, os liderados demonstraram o desejo de pautar
suas relações segundo certos valores, aparentemente comuns ao grupo. Quando se
falava de confiança no trabalho, foram citados como importantes os seguintes
fatores: respeito, transparência, segurança e coerência:
Os relatos a seguir comprovam:
71
Confiança é acreditar um no outro, sem existir dúvidas, ausência de
mentiras, se relacionar com transparência. É importante que a sua pessoa
seja respeitada. (D)
Tem que existir respeito, segurança de que o outro não vai te deixar na
mão, não falar mal de seu profissionalismo. (C)
Apesar da ênfase dada a esses valores, pairava nas entrevistas a impressão de que
nas relações interpessoais vivenciadas na Alfabeto isso não ocorria. Os discursos
aparecem carregados de mágoa e desconfiança.
É necessário que o líder faça o que prega. Tem que ser verdadeiro e
transparente. Se em seu caráter não existir verdade e honestidade, não
conseguirá desenvolver confiança entre seus liderados. É uma relação de
dúvida e insegurança o tempo todo. Fica sempre a questão: Quando vão
me puxar o tapete? (C)
Considerando o fator coragem, que se refere a uma atitude de desenvolvimento da
autonomia e ao compromisso de assumir responsabilidades e de tomar decisões,
ficou evidenciado um desejo amplo dos liderados de efetivar esse tipo
comportamento. No entanto, diante da monitoração constante e crescente por parte
do líder, esse desejo foi morrendo e minando as potencialidades criativas de seus
liderados. As responsabilidades assumidas eram quase que automáticas e,
principalmente, no que tange às habilidades técnicas somente, quanto às relações
interpessoais, não existia a coragem suficiente de assumirem-se perante todos, pelo
receio da crítica e da cobrança. Conforme reforçado por Reina e Reina (2006), um
comportamento singular e primordial da coragem consiste em conseguir analisar os
comportamentos equivocados, os momentos e as experiências negativas e, a partir
delas, construir estratégias de crescimento e de criatividade diante das situações.
Quando o receio em apresentar os dados reais é intenso, a sabotagem do
desenvolvimento impera.
Sinto que a maneira como o líder apresenta as coisas nos passa o tempo
todo a sensação de que somos incompetentes, uma sensação de pouco
valia. (B)
72
Tenho sensações de isolamento, destruição, decepção, fracasso e
impotência. Prefiro o silêncio a correr o risco de falar. (C)
Considerando as relações entre o líder e os liderados neste estudo, identificar a
existência da consideração pelo outro, a liberdade e o respeito necessário para a
comprovação do atributo
compaixão durante as explanações nas entrevistas foi um
fator especialmente delicado de se analisar.
Sendo assim, a estratégia construída para compreender esse atributo da confiança
transformadora será apresentar as afirmações dos liderados entrevistados em sua
íntegra, por intermédio do QUADRO 5.
A partir dessas afirmações, foi possível observar que durante esse período de um
ano de existência da Alfabeto a disposição de construir um ambiente de cooperação
e coletividade foi morrendo gradualmente. Assim, cada um foi apenas assumindo
individualmente suas responsabilidades e tentando ao máximo não precisar uns dos
outros e, principalmente, precisar do aval ou apoio de seu líder.
Dessa forma, não foi possível elucidar as disposições significativas da confiança
transformadora no ambiente e nas relações interpessoais na Alfabeto.
73
QUADRO 5
Análises da confiança transformadora
ÁREA
COMENTÁRIO
Psicologia
(duas psicólogas)
“É necessário que haja transparência nas relações. É
importante que não exista competitividade. Não se pode olhar
para seu colega como concorrente, porque, se isso existir,
haverá sempre desconfiança.” (B)
“É importante acreditar na potencialidade uns dos outros. É
saber que o outro não irá nos prejudicar. É ter e oferecer
liberdade de ação.” (A)
“É necessário existir respeito, transparência, autonomia e
coerência nas atitudes.”(A)
“É importante acreditar na potencialidade uns dos outros. É
saber que o outro não irá nos prejudicar. É ter e oferecer
liberdade de ação.” (A)
“É necessário existir respeito, transparência, autonomia e
coerência nas atitudes.”(A)
Nutrição
(duas
nutricionistas)
“Tem que existir segurança de que o outro não vai te
prejudicar em nenhum momento. Não pode existir malícia.” (C)
“Tem que existir respeito, segurança de que o outro não vai te
deixar na mão, não vai falar mal de seu profissionalismo.”(C)
“A confiança é importante, pois a falta de confiança afeta todo
o restante do processo. A desconfiança proporciona a
evitação; ou seja, as pessoas se afastam.” (D)
“Às vezes tenho sentimentos de desânimo, insatisfação, raiva
e desejo de sair da organização “(D)
Enfermagem
(uma enfermeira)
“É importante poder acreditar uns nos outros”. (E)
“Deve existir liberdade de expressão, entrosamento e
respeito.” (E)
“É importante que o líder seja firme e justo. Justiça é
primordial para o desenvolvimento da confiança.”(E)
“Quando penso em minha organização tenho sentimentos de
injustiça, desmerecimento e desvalorização.” (E)
Fonte: Pesquisa de campo.
74
4.3.3 O estilo de liderança e o desenvolvimento da confiança
A partir das construções teóricas da corrente contingencial, em especial a adotada
por este trabalho, ou seja, a teoria contingencial de Fiedler (1981), é proposto que o
estilo da liderança deve obedecer a fatores situacionais. Assim, o líder desenvolve
seu exercício de acordo com a situação ocorrida.
Dessa maneira, a liderança passa a depender do estilo de interação com o grupo e a
situação vivenciada. Por isso, o estilo de liderança mostra-se como contingencial.
Três elementos chaves tornam-se fundamentais: líderes, liderados e situação.
Fiedler (1981) estabelece que uma liderança eficaz deve basear-se no nível de
ajustamento entre o estilo de um líder e o ponto até o qual uma situação específica
permite que ele desenvolva influência do grupo.
A partir dessa contextualização é que o trabalho buscou compreender o estilo de
liderança exercido na organização Alfabeto e as repercussões de sua atuação em
toda a organização, considerando, primordialmente, as relações de confiança entre
líder e liderados.
Três variáveis contingenciais podem apresentar maior ou menor favorabilidade de
uma situação para os líderes: o relacionamento estabelecido com o grupo; o grau de
estruturação das tarefas; e o poder conferido ao líder (BOWDITCH, 1992).
Considerando as relações entre líder e membros do grupo, deve-se observar o
relacionamento pessoal que o líder estabelece com os membros de seu grupo,
analisando confiança e respeito.
Considerando o vivenciado na organização Alfabeto, ficou claro que as relações se
mostram tranqüilas quando a equipe não apresenta críticas ou desejos contrários ao
75
do líder. Os liderados obedecem ao exercício dessa liderança sem questionamento,
por terem constatado que apenas mediante todo esse alto grau de controle é que o
líder se mostrará calmo, amistoso e atencioso.
Buscando analisar essas considerações, foram utilizados uma entrevista semi-
estruturada e o instrumento do modelo de Fiedler (1981): o questionário LPC
(colaborador menos desejado).
Os resultados da aplicação desse questionário apontam que uma pessoa com alto
nível LPC tem como objetivo básico “relacionar-se”. Ou seja, é uma pessoa que
procura estabelecer fortes laços emocionais e afetivos com as demais pessoas na
situação de trabalho. Entretanto, uma pessoa com baixo LPC tem como objetivo
básico realizar uma tarefa. Assim, um líder com baixo LPC valoriza sobremaneira a
realização da tarefa. Sabendo-se que a tarefa foi desenvolvida, ele poderá
apresentar-se de forma amistosa. um líder com alto LPC tende a valorizar as
relações, acreditando que seus liderados concluirão suas tarefas.
Um líder com alto LPC se dedicará a ações que desenvolvam autonomia,
reconhecimento e status de seus liderados, assumindo responsabilidades junto com
eles na distribuição das tarefas organizacionais. Essa relação de autonomia não foi
observada entre líder e liderados na Alfabeto.
Líderes com baixo LPC tendem a ser mais diretivos e orientados por metas.
Perseguirão a conclusão da tarefa a qualquer preço, mesmo que isso signifique
sacrificar as relações afetivas no ambiente organizacional.
Considerando que o líder da Alfabeto obteve uma pontuação 47 de um total de 127
pontos, depreende-se que o seu estilo de liderança mostra-se voltado para as
tarefas e resultados, pois, de fato, apresentou baixo índice de LPC.
76
Durante toda a entrevista, a grande preocupação do líder era enfatizar a importância
de regras para controlar seus liderados. Mesmo quando questionado acerca das
relações de confiança, essas eram analisadas mediante critérios que oferecessem
um instrumento de controle, para que assim ele pudesse confiar em sua equipe de
trabalho.
Dessa maneira, é possível inferir quanto às relações entre líder e liderados na
organização em que o líder apresenta-se como controlador, inibindo situações de
autonomia e, portanto, minando as interações de confiança.
Além das observações do questionário LPC, também é possível analisar a postura
do líder perante seus liderados por meio das analogias elucidadas nas entrevistas.
Algumas questões buscaram aprofundar a subjetividade do entrevistado por meio do
uso de metáforas. Esse é o caso do questionamento que propõe uma analogia da
relação estabelecida entre o líder e o mundo da música. E, novamente, essa
intenção se repete quando ele é solicitado a estabelecer uma transformação
metafórica do líder em um animal.
As respostas a essas perguntas foram bastante esclarecedoras e consistentes se
comparadas às respostas e posicionamentos apresentados pelo questionário LPC.
Os resultados integrais estão descritos no QUADRO 6.
77
QUADRO 6
Analogias apresentadas pelos liderados com o mundo da música em relação a
figura do líder
ÁREA RITMO COMENTÁRIO / JUSTIFICATIVA
Psicologia
(duas
psicólogas)
Samba
“Penso em um samba. Pois para se relacionar com ele é
necessário ter muito gingado para conseguir suportar
suas incoerências.” (A)
“Pensando pela equipe, acredito que todos afirmariam o
mesmo ritmo. Isso porque é muito difícil lidar com as
falas desconexas das atitudes. Então, temos é que
rebolar muito.” (A)
Valsa
“Penso em um ritmo de valsa. Pois é um ritmo que vai e
volta, toma lá, dá cá. É um eterno confia–desconfia. Em
relação à equipe não consigo ter outra imagem.
Continuo pensando na valsa. O tempo todo se confia
desconfiando. É um bate e volta, dois passos para um
lado e dois passos para o outro.” (B)
Nutrição
(duas
nutricionistas)
________
Samba
Samba
“Não consigo nomear o ritmo. O que sei é que é um
ritmo empolgante no início e que vai perdendo sua
intensidade conforme a música continua. (C)
“Pensando na equipe, diria que é um samba. Pois não é
permitido cair o ritmo, é necessário correr e sambar o
tempo todo. As situações são tão inseguras que me faz
pensar nessa agitação o tempo todo. É uma
intranqüilidade, uma incerteza.” (C)
“Diria um samba, por causa dos altos e baixos. Tem
hora que é preciso rebolar para suportar as situações.”
(D)
“Considerando a equipe como um todo, continuo
pensando no samba, pelos mesmos motivos.” (D)
Enfermagem
(uma
enfermeira)
Tango
“Penso em um tango. Pois é um ritmo que tem muito
glamour, mas é só. Ao final, não chega a lugar nenhum.
“ (E)
“Acredito que toda a equipe concordaria comigo, é muita
aparência para pouca realidade. As falas são diferentes
das atitudes.” (E)
Fonte: Pesquisa de campo.
78
Comparando as respostas que o próprio líder apresentou a essa questão e tomando
como referência as suas observações sobre sua equipe, dá-se início ao fechamento
da análise da postura do líder e sua relação com seus liderados (QUADRO 7).
QUADRO 7
Postura do líder e sua relação com seus liderados
Líder Bossa
nova
“Diria que é uma bossa nova. Escolhi esse ritmo
porque vivemos em harmonia e não existem muitos
altos e baixos, é um pouco rotina. Tudo tem que ser
bem curtinho o tempo todo. Assim se organiza
mais.” (F)
Fonte: Pesquisa de campo.
Diante dessa resposta, fica visível o quanto líder e liderados estão divergindo quanto
à linguagem. Existe uma nuvem de fumaça que prejudica a visão do líder, o qual
mostra sua preocupação apenas com as regras de organização e com os resultados
que ele espera. A equipe tem receios de questionar em razão de toda insegurança,
apresentada nas análises anteriores. Aos olhos do líder tudo se encontra em
perfeita harmonia.
Nessa mesma linha de observação, também foram encontradas divergências entre
as pontuações dos liderados e do líder quando foi trabalhada outra analogia contida
na questão que demanda uma comparação do líder com a imagem de um animal.
Comparando as respostas que o próprio líder apresentou a essa questão e tomando
como referência as suas observações sobre sua equipe, dá-se início ao fechamento
da análise da postura do líder e sua relação com seus liderados.
79
QUADRO 8
Analogia das imagens de animais dos liderados em relação ao líder
Área Animal Comentário / justificativa
Psicologia
(duas
psicólogas)
Pavão
“Sem dúvida, um grande pavão que gosta de ser o
centro das atenções e sempre está sozinho em sua
majestade, mas rodeado de seus súditos.” (A)
“Acho, mais uma vez que é um pavão. Acho que todos
de minha equipe concordariam comigo pelos mesmos
motivos: a necessidade de aparecer e controlar que
nosso líder tem.” (A)
Gato
“Penso em um gato. Porque ele é muito individualista.
Ele desenvolve seus projetos pensando nele. Mas
quando as coisas não estão indo bem, ele se esquiva e
transfere as responsabilidades. Pensando pela equipe,
continuo mantendo as mesmas impressões, pelos
mesmos motivos.” (B)
Nutrição
(duas
nutricionistas)
Cobra
______
Águia
“Penso em uma cobra. Sempre pronto para dar o bote.
Acontece de maneira lenta, de mansinho, mas o bote é
certeiro e letal”. (C)
Pensando na equipe, não consigo responder.
“Penso em uma águia, que voa sozinha. O projeto é um
sonho dele. E, por mais que fale do grupo, ele tem
muitas dificuldades em trabalhar em equipe.” (D)
“Pensando na equipe, acredito que todos o vêem como
muito centralizador e individualista. Por isso, continuo
com a imagem da águia.” (D)
Enfermagem
(uma
enfermeira)
Coelho
Pavão
“Penso em um coelho, porque ele está sempre
assustado, perdido e desconfiado de que alguém vai
pegá-lo de surpresa.” (E)
“Já a minha equipe, acredito que eles o vêem como uma
grande pavão. Ele gosta de aparecer mais que todos,
gosta de ser a estrela do espetáculo.” (E)
Fonte: Pesquisa de campo.
A mesma questão, quando formulada ao líder, ofereceu as seguintes respostas
(QUADRO 9):
80
QUADRO 9
Analogia do Líder entre imagens de animais e seus liderados
Líder Cachorro
“Escolheria um cachorro. Essa escolha é porque
me remete à obediência, lealdade, fidelidade. E, por
fim é confiável. Sempre vai ajudar. Está próximo e
companheiro.”
Fonte: Pesquisa de campo.
Tal resposta confirma com precisão os resultados encontrados no questionário LPC,
que denota a importância que o líder desta organização atribui às regras, aos
regulamentos, às tarefas e, sobretudo, à obediência a esse controle que seu
exercício de liderança valoriza e estabelece.
No entanto, também fica evidenciado pelas observações dos liderados que a
importância dos relacionamentos é relegada a um segundo plano, o que vem
provocando desestabilizações, inseguranças e, por fim, falta de confiança.
Considerando a questão norteadora deste trabalho, que é identificar como o
exercício da liderança pode repercutir no desenvolvimento das relações de
confiança estabelecidas em uma organização, nesse momento é possível inferir que
tal exercício é imprescindível para que as relações de confiança sejam construídas e
que quando as relações são pautadas por confiança todo o trabalho flui de maneira
coerente, eficaz e eficiente, proporcionando um ambiente de crescimento e
satisfação. Essa situação não foi encontrada nas relações entre líder e liderados na
Alfabeto.
81
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste capítulo, são apresentadas as observações finais referentes a esse estudo,
que procurou explicitar as repercussões do exercício da liderança no
desenvolvimento da confiança nas relações interpessoais em uma organização
tomada como fonte de pesquisa.
A proposta deste trabalho consistiu em identificar como se estabelecem e
desenvolvem as relações entre o exercício da liderança e o sentimento de confiança
estabelecido entre líderes e liderados em um ambiente organizacional, assim como
mostrar de que maneira a liderança pode influenciar a construção e o
desenvolvimento desse sentimento de confiança.
Procurou-se também identificar as possíveis conseqüências desse movimento para
as relações interpessoais decorrentes da confiança estabelecida entre líder e
liderados; analisar o nível de confiança entre líder e liderados na referida
organização; identificar os fatores propiciadores e dificultadores do processo do
estabelecimento da confiança entre líder e liderados; e avaliar o exercício da
liderança apresentado pelo líder.
Dois temas centrais foram abordados de maneira mais aprofundada: confiança e
liderança. Esta pesquisa baseou-se principalmente nos construtos teóricos de
Fiedler (1981) sobre liderança contingencial e nos de confiança transacional e
transformadora, de Reina e Reina (2006), visando explicitar as relações
interpessoais encontradas em uma organização, identificada pelo nome de
“Alfabeto”.
Diante dos estudos realizados, comprovou-se a possibilidade de promover uma
interação entre os conceitos de liderança e confiança, pois cada um depende do
outro.
82
A postura do líder em desenvolver as relações interpessoais demanda um
comportamento de confiança que permita o estabelecimento de relações saudáveis
no ambiente de trabalho. Caso essa postura seja baseada em controles muito
formais e burocráticos, os membros de um grupo de trabalho acabam por tornar-se
apáticos, sem iniciativa e sem o desejo de crescer de modo mais amplo, alterando,
portanto, seu comprometimento com os projetos e com a organização.
Segundo Bastos (1994), uma empresa necessita, além de atrair, manter seus
profissionais mais competentes e criativos caso deseje prosperar. Ou seja, caso a
organização não disponha de um capital humano comprometido efetivamente com
suas atividades e que nele encontre um ambiente em condições favoráveis para a
auto-realização e crescimento, com certeza toda a organização sentirá.
Assim, os resultados desta pesquisa permitiram esclarecer questões associadas ao
exercício da liderança e ao desenvolvimento da confiança nas organizações e suas
repercussões.
A confiança transacional, quando estabelecida, promove barreiras para que não seja
instaurado um ambiente de não confiança. Acredita-se que confiança gera
confiança. Quando o exercício da liderança demonstra a existência de confiança
para com seus liderados, um espiral constrói-se, um ambiente de trabalho seguro é
instaurado e as relações interpessoais tornam-se mais produtivas, com um
desempenho aumentado, além de um maior comprometimento grupal e
organizacional.
Considerando o enfoque afetivo, apresentado pela perspectiva analítica de Mowday;
Porter; Steers (1982 apud BASTOS, 1994), fica evidenciada a importância que o
indivíduo deposita nos sentimentos de lealdade, no desejo de permanência e no
esforço em prol da organização, como dimensões do comprometimento. Dessa
83
maneira, é pertinente a interação constatada na pesquisa entre confiança e
comprometimento.
Assim, quando se percebem relações qualificadas de confiança, é possível perceber
a existência de comprometimento na organização. No entanto, o seu inverso,
também pode ser inferido. Halaby; Weakliem (1989 apud BASTOS, 1994) conclui
que o apego do trabalhador não se encontra em uma dependência de “amor”, nem
de “dinheiro”, mas sim na percepção de legitimidade do regime de governo do
empregador.
Daí se percebem as repercussões da relação entre o exercício da liderança e o da
confiança.
Na organização pesquisada, as relações interpessoais refletem um quadro de
apatia, de falta de criatividade. As pessoas sentem-se o tempo todo avaliadas e
monitoradas. Tal constatação também foi identificada pelas proposições do próprio
líder, que relaciona confiança à correta realização das regras estabelecidas.
Conforme salientado por Reina e Reina (2006), existem três tipos de confiança
transacional:
a) contratual;
b) de comunicação;
c) a de competência.
A confiança contratual baseia-se na certeza de que o que foi estabelecido entre os
membros de um grupo será realizado, sem a necessidade de um constante controle
e monitoramento. Sendo assim, é imprescindível que sejam conhecidas as
expectativas, as fronteiras, o saber delegar, a consistência e o cumprimento dos
acordos. É necessária, portanto, a prática do servir mútuo.
84
Diante dessas colocações e interagindo com o exercício da liderança observado,
percebeu-se uma grande dificuldade para delegar, para cumprir acordos
preestabelecidos e para estabelecer regras que ofereçam ao líder a sensação de
segurança e, daí, instaurar uma suposta confiança.
Um mecanismo importante para se instaurar a confiança contratual, de fato, consiste
em delegar, o que implica confiar. O seu contrário promove a desconfiança.
Identificado o perfil do líder como alguém voltado para a tarefa a qualquer custo e
altamente controlador e centralizador, concluiu-se que a confiança contratual não
estava instaurada nessas relações interpessoais, na medida em que se identificaram
sensações de frustrações e desapontamentos por parte dos liderados quanto ao
comportamento de seu líder. Assim, ficou claro que quando a confiança é baixa as
pessoas tendem a se proteger e mostrar-se menos. Tal comportamento ficou
evidenciado nas relações entre líder e liderados na organização estudada.
A confiança de comunicação exige para o seu desenvolvimento o compartilhamento
das informações, o falar a verdade, a admissão de falhas e o exercício do feedback
construtivo. Apurou-se que, devido ao receio de retaliações por revelar as reais
sensações diante das situações vivenciadas naquela organização, tratou-se de
camuflá-las. Um canal implícito de comunicação foi construído. Tal decisão
estrutura-se a partir da intenção de escapar do controle e da crítica permanente por
parte do líder.
Com a instauração dessas estratégias, a confiabilidade encontra-se comprometida.
Assim, quando a energia é disponibilizada para acobertar falhas, o tempo, a
produtividade e a inovação se perdem, pois as pessoas receiam correr riscos, por
não se sentirem apoiadas a criar no ambiente organizacional.
Na organização estudada, evidenciou-se a dificuldade do líder em permitir que seus
liderados desenvolvam seus projetos de maneira autônoma. Isso fez com que seus
liderados apenas obedecessem aos projetos idealizados por ele próprio.
85
A confiança de competência se define pelo reconhecimento das potencialidades dos
liderados por parte do líder. É necessário que ele permita que seus liderados tenham
autonomia para tomar decisões e que favoreça esse crescimento desenvolvendo as
pessoas.
Quando os liderados reconhecem que seus conhecimentos são valorizados,
automaticamente, sentem-se dignos de confiança e assumem mais
responsabilidades, surpreendendo qualificadamente seus líderes. Quanto mais as
pessoas confiam em si, mais confiam no outro, gerando a instalação de um
ambiente de confiança. No entanto, conforme mostrou a pesquisa, a necessidade do
líder de controlar todas as atividades e os projetos produziu em sua organização a
sensação de que ele não consegue confiar nas habilidades de seus liderados. Daí a
necessidade de aprovação de toda e qualquer ação. A fala do líder é de alguém que
acredita nas potencialidades de seus liderados. Caso contrário, não estaria com
aquele grupo de pessoas trabalhando com ele. No entanto, seu comportamento
centralizador aponta para o sentido contrário. Um indivíduo não envolvido
verdadeiramente sente-se alienado em relação ao processo, desperdiçando seu
talento e instaurando falta de entusiasmo diante dos projetos. Tais situações foram
evidenciadas na Alfabeto.
Vale reiterar que a confiança transacional incrementa a confiança transformadora, e
essa suporta a confiança transacional, para que juntas estabeleçam um ambiente de
confiança interpessoal.
A confiança transacional não foi encontrada nas relações entre líder e liderados na
Alfabeto. O que se pôde inferir foi a dificuldade de encontrar indícios da confiança
transformadora, já que ambas se inter-relacionam.
Conforme apregoado por Reina e Reina (2006), a construção de uma confiança
sustentável faz-se a partir da utilização dos fatores de confiança transformadora:
86
a) convicção desenvolve-se quando as pessoas agem em harmonia com
seus valores, confrontando as condutas que minam a confiança e
buscando acordo reais e coerentes. No entanto, quando se analisam a
postura do líder estudado e a de seus liderados, fica claro que os acordos
eram estabelecidos até o momento em que o líder sentia-se atendido.
Esses acordos eram modificados a partir da necessidade da liderança,
havendo, dessa forma, bastante incoerência entre o dito e o realizado;
b) coragem significa a capacidade de superar o medo, implicando a
harmonização dos riscos. Para Reina e Reina (2006), ter coragem é tomar
uma decisão apesar das conseqüências; é delegar mais e controlar
menos. Correr riscos é um atributo indispensável para a construção da
confiança. No entanto, em todas as situações confirmaram-se o
comportamento centralizador do líder e seu extremo desejo de controlar
todas as ações provenientes de seus liderados em sua organização;
c) compaixão  é o fator da confiança transformadora que pressupõe que as
pessoas são íntegras em princípio e querem contribuir, significar
compreender o outro e, sobretudo, ouvi-las. Compaixão pressupõe
considerar os sentimentos do outro e ser receptivo e companheiro.
Analisando as relações interpessoais entre líder e liderados na
organização pesquisada, nada foi encontrado que comprovasse a
instauração de tal fator da confiança transformadora no discurso do líder e
tampouco nos discursos de seus liderados; e
d) coletividade significa responsabilidade para com o grupo. Deve-se
analisar a presença de comportamentos que evidenciam este fator, tais
como: cooperação espontânea e segurança de que todos cumprirão o
acordado. Diante disso, pôde-se observar que, a partir do constante
monitoramento, não havia cooperação espontânea, pois tudo era esperado
da solicitação do líder. Ou seja, a segurança dos acordos se
estabelecia se estivesse baseada em códigos ou regulamentos. Toda e
qualquer iniciativa grupal, primeiramente, deveria passar pela aprovação
do líder. Sendo assim, não se identificou a disposição do servir mútuo,
elemento característico desse fator da confiança transformadora.
87
Pôde-se identificar que, de fato, o exercício da liderança repercute intensamente no
desenvolvimento da confiança nas relações interpessoais nas organizações. Tal
repercussão pode favorecer o crescimento e o desenvolvimento das pessoas e da
organização ou proporcionar a estagnação desta.
Em um ambiente pautado pela confiança entre líder e liderados, pode-se inferir que
os liderados desenvolverão sua autonomia, criatividade e desejo de permanecerem
na referida organização. Tais sentimentos podem ser relacionados, conforme Bastos
(1994), com o de comprometimento organizacional. No entanto, se o clima de
extremo controle e centralização imperar, o contrário será instaurado; ou seja, os
liderados se tornarão apáticos, descompromissados e sem o desejo de correr riscos
pela organização.
Diante do estudo realizado acerca das pontuações de Fiedler (1981), pode-se
perceber que o líder possui um comportamento altamente centralizador, baseando
sua liderança em regras burocráticas e controladoras, atitudes sentidas por seus
liderados como um comportamento que denota ausência de confiança em suas
relações interpessoais. Tais formulações se confirmam também pelos resultados
encontrados no questionário LPC, em que o líder apresentou um baixo LPC. Um
líder assim valoriza, em primeiro lugar, a realização das tarefas. Somente após a
garantia dessa realização é que as relações interpessoais serão consideradas.
Diante da postura do líder estudado, esta pesquisa não poderá ser utilizada de
maneira eficaz e eficiente para a Alfabeto, pois os liderados solicitaram,
contundentemente, que suas observações não fossem apresentadas ao líder, devido
ao receio de retaliações.
Em termos acadêmicos, espera-se que essa pesquisa se constitua como uma
positiva contribuição para a consolidação teórica acerca dos construtos liderança e
confiança, bem como possibilite o nascimento de novos trabalhos, como o de
88
comprometimento, relacionando-o aos construtos estudados de maneira mais
aprofundada.
Assim, é imprescindível que também novos estudos sejam realizados em outras
empresas para permitir comparações. Sugere-se que nessas novas pesquisas
sejam utilizadas metodologias quantitativas ao lado das qualitativas. Isso não foi
realizado devido ao universo muito restrito da organização pesquisada. A temática é,
sobremaneira, desafiadora, interessante e vital para o sucesso das organizações.
Por isso, outras pesquisas poderão contribuir para a sua consolidação.
A limitação desta pesquisa encontra-se, primordialmente, no fato de ter sido
realizada somente em uma organização, o que inviabilizou análises e conclusões
mais consistentes. No entanto, mesmo os resultados não podendo ser generalizados
a outras empresas, os conceitos de liderança e confiança inter-relacionados neste
trabalho poderão servir de molas propulsoras para novos estudos em novas
empresas.
89
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consumo: a perspectiva gerencial. 2004. 228f. Tese (Doutorado em Administração)
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99
APÊNDICE A - Roteiro de entrevista semi-estruturada para o líder
1) Para você, o que é confiança?
2) O que é necessário existir em uma relação de trabalho para que haja
confiança?
3) Confiança é um princípio importante para um eficiente e eficaz trabalho nas
organizações? Por quê?
4) Qual a relação que você estabelece entre o exercício da liderança e o
desenvolvimento da confiança nas relações interpessoais em sua empresa?
5) De que maneira um líder pode desenvolver confiança entre seus liderados em
seu ambiente de trabalho?
6) Que tipo de sentimentos você associa à confiança quando pensa em sua
organização?
7) Que comportamentos demonstram a existência de confiança em sua
organização?
8) Conte-me uma situação em que, na sua relação com sua equipe, a questão
da confiança entre vocês tenha sido um ponto importante e cujo resultado
tenha sido
POSITIVO. Por que isso aconteceu dessa forma? Agora, conte-me
outra. Por que isso aconteceu dessa forma?
9) Conte-me uma situação em que, na sua relação com a sua equipe a questão
da confiança entre vocês tenha sido um ponto importante e cujo resultado
tenha sido NEGATIVO. Por que isso aconteceu dessa forma? Agora, conte-
me outra. Por que isso aconteceu dessa forma?
10) FALANDO EM TERMOS DE CONFIANÇA, fazendo uma analogia da relação
que você estabelece com a equipe e o mundo da música, você diria que ela
se parece mais com qual ritmo? O que o levou a escolher essa imagem?
11) NOVAMENTE FALANDO EM TERMOS DE CONFIANÇA, se você fosse
comparar a sua equipe com um animal ou um elemento da natureza, o que
ela seria? Por que você escolheu essa imagem?
12) Pensando nas relações de confiança como a construção de um edifício, em
que estágio da obra você diria que se encontram as suas relações com a sua
equipe? Por favor, fale um pouco mais sobre sua resposta.
13) Você já viveu uma experiência de sucesso como líder? Conte-me como foi.
100
14) Quando as coisas não dão certo, como você lida com o SEU fracasso?
Roteiro de entrevista adaptado de Oliveira (2004), com acréscimos sugeridos por
Paula (2005).
101
APÊNDICE B - Roteiro de entrevista semi-estruturada para os liderados
1. Para você, o que é confiança?
2. O que é necessário existir em uma relação de trabalho para que haja
confiança?
3. Confiança é um princípio importante para um eficiente e eficaz trabalho nas
organizações? Por quê?
4. Qual a relação que você estabelece entre o exercício da liderança e o
desenvolvimento da confiança nas relações interpessoais em sua empresa?
5. De que maneira um líder pode desenvolver confiança entre seus liderados em
seu ambiente de trabalho?
6. Que tipo de sentimentos você associa à confiança quando pensa em sua
organização?
7. Que comportamentos demonstram a existência de confiança em sua
organização?
8. Conte-me uma situação em que, na sua relação (ou na relação da equipe)
com o seu líder a questão da confiança na pessoa dele tenha sido um ponto
importante e cujo resultado tenha sido POSITIVO. Por que isso aconteceu
dessa forma? Agora, conte-me outra. Por que isso aconteceu dessa forma?
9. Conte-me uma situação em que, na sua relação (ou na relação da equipe)
com o seu líder a questão da confiança na pessoa dele tenha sido um ponto
importante e cujo resultado tenha sido NEGATIVO. Por que isso aconteceu
dessa forma? Agora conte-me outra. Por que isso aconteceu dessa forma?
10. FALANDO EM TERMOS DE CONFIANÇA, fazendo uma analogia da relação
que você estabelece com o seu líder com o mundo da música, você diria que
ela se parece mais com qual ritmo? Por favor, fale um pouco mais sobre isto.
E se você pensar na equipe como um todo e a confiança no líder, que ritmo
seria? O que o levou a escolher essa imagem?
11. NOVAMENTE FALANDO EM TERMOS DE CONFIANÇA, se você fosse
comparar o seu líder com um animal, que animal seria ele? Por favor, conte-
me mais sobre a sua escolha. E se você pensar na equipe como um todo e
em como a equipe o seu líder, que animal eles escolheriam para
representá-lo? Por que você pensa que eles escolheriam essa imagem?
102
12. Pensando nas relações de confiança como a construção de um edifício, em
que estágio da obra você diria que se encontram as relações da equipe com o
líder? Por favor, fale um pouco mais sobre sua resposta.
13. Você já viveu uma experiência de sucesso com o seu líder? Conte-me como
foi.
14. Quando as coisas não dão certo, como seu líder lida com o fracasso?
Roteiro de entrevista adaptado de Oliveira (2004), com acréscimos sugeridos por
Paula (2005).
103
ANEXO A - QUESTIONÁRIO LPC (Least Preferred Co-worker colaborador
menos desejado)
Antes de responder a este questionário, pense: Com quem você trabalharia
menos bem? Pode ser alguém com quem esteja trabalhando atualmente ou que
conheceu no passado. Não precisa ser a pessoa de que você menos goste, mas
aquela com quem você teve a maior dificuldade para realizar um trabalho. Descreva-
a tal qual ela lhe parece.
Agradável 8 7 6 5 4 3 2 1 Desagradável
Amistoso 8 7 6 5 4 3 2 1 Inamistoso
Rejeitador 1 2 3 4 5 6 7 8 Acolhedor
Prestativo 8 7 6 5 4 3 2 1 Frustrante
Sem
entusiasmo
1 2 3 4 5 6 7 8 Entusiasta
Tenso 1 2 3 4 5 6 7 8 Calmo
Distante 1 2 3 4 5 6 7 8 Íntimo
Frio 1 2 3 4 5 6 7 8 Caloroso
Cooperativo 8 7 6 5 4 3 2 1 Não-
cooperativo
Apoiador 8 7 6 5 4 3 2 1 Hostil
Maçante 1 2 3 4 5 6 7 8 Interessante
Desequilibrado 1 2 3 4 5 6 7 8 Equilibrado
Seguro de si 8 7 6 5 4 3 2 1 Hesitante
Eficiente 8 7 6 5 4 3 2 1 Ineficiente
Sombrio 1 2 3 4 5 6 7 8 Alegre
Expansivo 8 7 6 5 4 3 2 1 Reservado
Fonte: Adaptado de Fiedler, 1981, p. 69.
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