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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ
FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO, ATUÁRIA,
CONTABILIDADE E SECRETARIADO – FEAACS
MESTRADO PROFISSIONAL EM CONTROLADORIA
Glavany Lima Maia
CUSTOS DE CONFORMIDADE À TRIBUTAÇÃO:
UM ESTUDO DE CASO EM UMA EMPRESA ESTADUAL DE SANEAMENTO
FORTALEZA
2007
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GLAVANY LIMA MAIA
CUSTOS DE CONFORMIDADE À TRIBUTAÇÃO:
UM ESTUDO DE CASO EM UMA EMPRESA ESTADUAL DE SANEAMENTO
Dissertação submetida à Coordenação do Curso de
Mestrado Profissional em Controladoria da
Universidade Federal do Ceará, como requisito
parcial à obtenção do Título de Mestre em
Controladoria.
Orientadora: Professora Dra. Maria Naiula Monteiro Pessoa
FORTALEZA
2007
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GLAVANY LIMA MAIA
CUSTOS DE CONFORMIDADE À TRIBUTAÇÃO:
UM ESTUDO DE CASO EM UMA EMPRESA ESTADUAL DE SANEAMENTO
Dissertação submetida à Coordenação do Curso de Mestrado Profissional em Controladoria da
Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial à obtenção do Título de Mestre em
Controladoria.
Fortaleza, ______/______/______
BANCA EXAMINADORA:
________________________________________________
Prof.ª. Dra. Maria Naiula Monteiro Pessoa
Orientadora
Universidade Federal do Ceará
________________________________________________
Prof. Dra. Sandra Maria dos Santos
Coordenadora do Mestrado Profissional em Controladoria
Universidade Federal do Ceará
________________________________________________
Prof. Dr. Hugo Osvaldo Acosta Reinaldo
Universidade Federal do Ceará
AGRADECIMENTOS
A Deus, por todas as graças que me são concedidas, diariamente, e por ter colocado em minha
vida muitas pessoas especiais que tiveram grande parcela de contribuição nessa vitória.
Ao Ângelo, pelo encontro, pelo amor, estímulo e torcida, sempre. Ainda pela paciência e conforto
nas horas mais difíceis.
Aos meus pais, Socorro e Edivaldo, por terem me conduzido no caminho da dignidade e me
incentivado a prosseguir nessa jornada, enfrentando os obstáculos.
Aos meus irmãos, Gladia, Glawther, Glaucianne e Glaucilene, pela amizade, carinho,
compreensão e apoio.
Aos amigos da Vieira, Marques, Feitosa Consultores (VMF), pelo incentivo e apoio, em especial,
a Orlando Vieira e Marilene Feitosa.
Aos professores do Mestrado, pelos valiosos ensinamentos, e de modo muito especial, à
professora Naiula, minha orientadora, pela confiança e estímulo.
Aos colegas do Mestrado, pelo convívio e troca de experiências, tornando o curso mais
enriquecedor e, ao mesmo tempo, mais agradável.
Aos colaboradores da CAGECE, pela participação nesta pesquisa.
Aos amigos, por compartilharem comigo momentos importantes para a conquista desse ideal, e a
todos aqueles que, de maneira direta ou indireta, contribuíram para a realização deste trabalho.
RESUMO
Os custos de conformidade à tributação correspondem aos dispêndios incorridos pelos
contribuintes no cumprimento das determinações legais tributárias. Incluem os custos de
tempo e recursos consumidos em atividades, como cálculo e retenção de impostos e
contribuições, preenchimento de declarações, atendimento a fiscalizações, e os gastos em
planejamento tributário, pesquisas e treinamentos, entre outros. O tema tem atraído o interesse
internacional, com o desenvolvimento relativamente recente de pesquisas no mundo, mas
ainda poucos estudos no Brasil. Este trabalho objetiva, através de pesquisa bibliográfica,
documental e estudo de caso, analisar a percepção de gestores e colaboradores de uma
empresa estadual de saneamento a respeito dos custos de conformidade à tributação. Os
resultados obtidos através de questionários estruturados e entrevistas semi-estruturadas
mostram que uma percepção intuitiva da existência dos custos de conformidade à
tributação, e de seu crescimento, principalmente em decorrência da complexidade e
instabilidade das normas fiscais, pois não há apuração ou controle desses custos na empresa
pesquisada. Embora haja o reconhecimento dos pesquisados sobre a importância do tema,
ainda o se trata de um assunto discutido dentre as questões tributárias da companhia, que
prioriza o planejamento fiscal para a redução dos tributos.
Palavras-chave: Tributos. Carga tributária. Custos de conformidade à tributação.
ABSTRACT
The compliance costs of taxation correspond to the costs incurred by taxpayers in meeting the
legal tax requirements. They include the costs of time and resources consumed in activities,
such as the calculation and retention of taxes and contributions, filling the returns, dealing
with the tax authority audit, and expenses on tax planning, research and training, among
others. The subject has attracted international interest, with the relatively recent development
of researches around the world, but there are still few studies about this topic in Brazil. This
work aims, by means of bibliographical and documental research and case study, to assess the
perception of managers and collaborators of a state company of sanitation with respect to the
compliance costs of taxation. The results obtained with structured questionnaires and semi-
structured interviews show that since there is no investigation or control of the compliance
costs of taxation in the evaluated company, there is an intuitive perception of not only the
existence of these costs but also their growth, mainly due to the complexity and instability of
fiscal rules. Although the interviewed people agree on the importance of the subject, it is still
not a tax matter usually discussed within the evaluated company, which prioritizes the fiscal
planning aiming the taxes reduction.
Keywords: Taxes. Tax burden. Tax compliance cost.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Custos dos tributos...................................................................................................
39
Figura 2 Principais tipos de custos de conformidade (econômicos) na tributação da renda
pessoal......................................................................................................................
41
Figura 3 Principais tipos de custos de conformidade (econômicos) na tributação das
empresas...................................................................................................................
42
Figura 4 Tributos e competências tributárias no Brasil..........................................................
55
Figura 5 Representação da Diretoria Colegiada da CAGECE...............................................
87
Figura 6 Diretoria de Planejamento e Controle......................................................................
94
Figura 7 Diretoria de Gestão Empresarial..............................................................................
95
Figura 8 Diretoria da Presidência...........................................................................................
96
LISTA DE QUADROS
Quadro 1
Comparação ranking dos países.............................................................. 33
Quadro 2
Principais programas federais em saneamento na década de 1990..........................
65
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1
Evolução da carga tributária brasileira.................................................................... 28
Gráfico 2
Carga Tributária Bruta: 2000 a 2005.......................................................................
29
Gráfico 3
Distribuição da Carga Tributária Global 2005 por maiores tributos.......................
30
Gráfico 4
Evolução da carga tributária federal e do PIS-COFINS..........................................
75
Gráfico 5
Impacto do PIS e da COFINS nos investimentos das CESB...................................
76
Gráfico 6
Resultado líquido da CAGECE no período 2002 a 2005........................................ 88
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Carga tributária mundial em relação ao PIB......................................................... 31
Tabela 2 Incidência de custos de conformidade e de administração sobre o PIB no
Congresso IFA 1988..............................................................................................
50
Tabela 3 Estimativa dos custos de conformidade do imposto de renda federal das
empresas nos Estados Unidos................................................................................
52
Tabela 4 Custos de conformidade das companhias abertas – incidência sobre o PIB.........
57
Tabela 5 Organização da prestação dos serviços de saneamento básico.............................
68
Tabela 6 Níveis de atendimento urbano com água e esgotos dos prestadores de serviços
participantes do SNIS em 2005, segundo a região geográfica..............................
69
Tabela 7 Dados gerais de abastecimento de água Ceará e Região Metropolitana de
Fortaleza – 1998-2004...........................................................................................
72
Tabela 8 Domicílios particulares permanentes, segundo as formas de esgotamento
sanitário – 1998-2004............................................................................................
73
Tabela 9 Relação entre a função exercida na empresa e a formação acadêmica................. 97
Tabela 10 Fontes de complexidade da legislação tributária...................................................
97
Tabela 11 Ações da empresa para lidar com as alterações da legislação tributária...............
99
Tabela 12 Grau de participação das áreas da empresa nas questões tributárias.....................
99
Tabela 13 Nível de recursos destinados aos serviços externos voltados às questões
tributárias...............................................................................................................
100
Tabela 14 Principais atividades relacionadas aos custos de conformidade à tributação........
101
Tabela 15 Percepções sobre o cenário tributário brasileiro e sobre os custos de
conformidade à tributação.....................................................................................
102
LISTA DE ABREVIATURAS
ABRASCA Associação Brasileira das Companhias Abertas
AESBE Associação das Empresas de Saneamento Básico Estaduais
ARCE Agência Reguladora de Serviços Públicos Delegados do Estado do Ceará
ATAX Programa de Estudos da Tributação Australiana
BID Banco Interamericano de Desenvolvimento
BNH Banco Nacional da Habitação
CAGECE Companhia de Água e Esgoto do Ceará
CENOFISCO
Centro de Orientação Fiscal
CEP Coordinated Examination Program
CESB Companhia Estadual de Saneamento Básico
CIC Coordinated Industry Case program
CIDE Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico
CIT Corporate Income Tax
CND Certidão Negativa de Débito
COFINS Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social
COGERH Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos
CPMF Contribuição sobre Movimentações Financeiras
CSLL Contribuição Social sobre o Lucro Líquido
DACON Demonstrativo de Apuração de Contribuições Sociais
DARF Documento de Arrecadação de Receitas Federais
DCTF Declaração de Débitos e Créditos Tributários Federais
DDS Declaração Digital de Serviços
DGE Diretoria de Gestão Estratégica (da CAGECE)
DIPJ Declaração de Informações Econômico-fiscais da Pessoa Jurídica
DIRF Declaração do Imposto de Renda Retido na Fonte
DPC Diretoria de Planejamento e Controle (da CAGECE)
EUA Estados Unidos da América
FGTS Fundo de Garantia do Tempo de Serviço
FMI Fundo Monetário Internacional
GCONT Gerência de Controladoria (da CAGECE)
GESEF Gerência de Estudos e Estratégia Econômico-Financeira (da CAGECE)
GFIN Gerência Financeira (da CAGECE)
GST Goods and Services Taxes
IBPT Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário
ICMS Imposto sobre Circulão de Mercadorias e Serviços
IDH Índice de Desenvolvimento Humano
IFA Internacional Fiscal Association
II Imposto sobre a Importação
IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
IPECE Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará
IPI Imposto sobre Produtos Industrializados
IPTU Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana
IPVA Imposto sobre a Propriedade de Veículo Automotores
IRPJ Imposto de Renda das Pessoas Jurídicas
IRS Internal Revenue Service
ISS Imposto sobre Serviços
OECD Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
OGU Orçamento Geral da União
OMS Organização Mundial de Saúde
PAES Parcelamento Especial
PAT Programa de Alimentação do Trabalhador
PEF Plano de Estabilização Fiscal
PERDCOMP
Pedido Eletrônico de Restituição ou Ressarcimento e da Declaração de
Compensação
PIB Produto Interno Bruto
PIS Contribuição ao Programa de Integração Social
PIT Personal Income Tax
PLANASA Plano Nacional de Saneamento
PMSS Programa de Modernização do Setor Saneamento
RFB Receita Federal do Brasil
SAAE Serviço Autônomo de Água e Esgoto
SEINFRA Secretaria da Infra-estrutura
SEMAG Secretaria de Macroavaliação Governamental
SFH Sistema Financeiro da Habitação
SFS Sistema Financeiro do Saneamento
SISAR Sistema de Saneamento Rural
SNIS Sistema Nacional de Informações Sociais
SRF Secretaria da Receita Federal
SRH Secretaria dos Recursos Hídricos
TCU Tribunal de Contas da União
VAT Value Added Tax
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO........................................................................................................... 13
2. PANORAMA TRIBUTÁRIO BRASILEIRO............................................................. 18
2.1.Evolução histórica do Sistema Tributário Nacional............................................ 19
2.2.Definição conceitual de carga tributária.............................................................. 24
2.3. Evolução e composição da carga tributária brasileira........................................ 27
2.4. Carga tributária brasileira no contexto internacional.......................................... 31
2.5. Competitividade e carga tributária...................................................................... 33
3. CUSTOS DE CONFORMIDADE À TRIBUTAÇÃO................................................ 37
3.1. Conceito de custos de conformidade à tributação................................................
38
3.2. Evolução dos estudos sobre custos de conformidade à tributação.......................
45
3.3. Custos de conformidade à tributação no mundo.................................................. 51
3.4. Custos de conformidade à tributação no Brasil....................................................
54
3.5. Questões relacionadas à identificação dos custos de conformidade à tributação 58
4. CARACTERIZAÇÃO DO SETOR DE SANEAMENTO.......................................... 61
4.1. Perspectiva histórica do saneamento.................................................................. 61
4.2. Breve panorama da prestação de serviços de saneamento no Brasil.................. 67
4.3. O saneamento no Estado do Ceará..................................................................... 70
4.4. Aspectos tributários do setor de saneamento...................................................... 73
5. METODOLOGIA DA PESQUISA............................................................................. 78
5.1. Natureza e tipo de pesquisa................................................................................ 79
5.2. Fonte de dados.................................................................................................... 81
5.3. Instrumentos e técnicas de coleta de dados........................................................ 82
5.4. Técnicas de análise de dados.............................................................................. 83
6. ESTUDO DE CASO.................................................................................................... 85
6.1. A Companhia de Água e Esgoto do Ceará – CAGECE..................................... 85
6.2. Aspectos tributários da CAGECE...................................................................... 89
6.3. Aplicação da pesquisa......................................................................................... 93
6.3.1. Análise dos resultados – Questionários estruturados.................................... 96
6.3.2. Análise dos resultados – Entrevistas semi-estruturadas................................ 105
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................... 110
REFERÊNCIAS................................................................................................................ 114
APÊNDICE A - Questionário estruturado....................................................................... 124
APÊNDICE B - Roteiro de entrevista semi-estruturada.................................................. 130
ANEXO A - Resumo dos principais estudos de custos operacionais da tributação por
referência de localização geográfica.................................................................................
131
1. INTRODUÇÃO
Desde algum tempo até os dias atuais, muito se discute a respeito do excessivo ônus
tributário imposto às empresas brasileiras. Os meios de comunicação revelam que a carga
tributária brasileira está em constante ascensão e figura entre as maiores do mundo. Porém, os
percentuais da carga tributária divulgados levam em consideração uma parte dos custos
totais relacionados à tributação.
Quando se faz referência à carga tributária, fala-se apenas do montante de tributos
(impostos, taxas e contribuições) arrecadados. Entretanto, além do peso da arrecadação sobre
o Produto Interno Bruto (PIB), de se considerar também os gastos com o gerenciamento e
controle das atividades tributárias. O Sistema Tributário Nacional é complexo, com a
existência de leis, regulamentos e normas constantemente alterados.
Para Bertolucci (2003), trata-se de questões distintas, tendo em vista que qualquer país
pode ter uma carga tributária muito alta e um sistema tributário racional, como pode ter uma
carga tributária baixa e um sistema tributário caótico. Todavia, no Brasil, existe a combinação
de carga excessiva com sistema tributário de má qualidade.
Bertolucci (2003) cita os quatro princípios da boa prática tributária propostos por
Adam Smith, em 1776, como uma preocupação pioneira com a qualidade dos sistemas
tributários: eqüidade, certeza, conveniência e economia. Na economia, Adam Smith (1776
apud BERTOLUCCI, 2003) assim se expressa:
IV – Cada tributo deveria ser articulado de forma tal a tirar dos bolsos das pessoas o
mínimo possível acima do que entra no tesouro do Estado. Um tributo pode tirar dos
bolsos das pessoas muito mais do que leva ao tesouro de quatro formas.
Inicialmente, sua cobrança pode exigir uma grande quantidade de pessoas cujos
salários poderão consumir uma boa parte do produto do tributo e cujas remunerações
complementares poderão impor um tributo adicional sobre as pessoas. Em segundo
lugar, pode obstruir a iniciativa das pessoas desencorajando-as a se dedicarem a
certos ramos de negócios que poderiam dar-lhes sustento e criarem empregos... Em
terceiro lugar, as penalidades que incidem sobre os indivíduos que, sem sucesso,
tentam evadir os tributos podem arruiná-los e eliminar a vantagem que a
comunidade poderia ter com a utilização de seus capitais. Um tributo sem bom senso
oferece uma grande tentação à evasão... Em quarto lugar, ao sujeitar as pessoas às
visitas freqüentes e às odiosas fiscalizações dos coletores de tributos poder-se-á estar
expondo essas pessoas a muito problema desnecessário, vexação e frustração; e,
apesar de vexação não ser, falando estritamente, uma despesa, ela é certamente
equivalente à despesa que todo homem gostaria de evitar. É em um ou alguns destes
quatro aspectos que os tributos são freqüentemente mais onerosos às pessoas do que
14
eles são benéficos ao soberano (BERTOLUCCI, 2005, p. 18) [tradução do autor].
A tributação envolve certos custos que não devem ser desconsiderados, por exemplo,
os custos com que os contribuintes têm que arcar para que os tributos sejam pagos e também
para o cumprimento do que o Código Tributário Nacional Lei n.º 5.172, de 25/10/1966,
denomina obrigações tributárias acessórias.
Os sacrifícios de recursos necessários somente para atender às disposições legais são
denominados, no exterior, compliance costs of taxation. Os custos de conformidade à
tributação normalmente incluem os custos do trabalho ou tempo consumido na conclusão de
atividades tributárias, tais como, cálculo de impostos, preenchimento de declarações, retenção
de tributos, conservação de documentos fiscais, atendimento a fiscalizações, bem como os
dispêndios de recursos em pesquisas e planejamento tributário, treinamentos, contratação de
consultorias e outros gastos incorridos para compreender e cumprir todas as formalidades que
são exigidas pela legislação tributária.
Para o professor e pesquisador do Programa de Estudos da Tributação Australiana
(ATAX), da Universidade de New South Wales, Chris Evans (2003), até meados do século
XX muito pouco havia sido feito em pesquisas sobre os custos de conformidade à tributação.
Entretanto, Evans et al (2000) ressaltam que o cenário de negligência inicial da
pesquisa tem mudado no contexto internacional, pois tem havido um ininterrupto crescimento
do interesse, particularmente entre países da Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OECD), nos custos de conformidade à tributação, tanto por
pesquisadores acadêmicos quanto pelos governos.
Em conseqüência, uma literatura internacional extensiva e variada disponível que
pode fornecer um ponto de referência útil para os estudos que se relacionam ao peso e à
qualidade da regulamentação tributária.
Contudo, no Brasil, embora a carga tributária seja um tema contemporâneo de
discussão no meio acadêmico e empresarial, poucos autores brasileiros se debruçaram sobre a
questão da conformidade tributária, que, certamente, poderia levar à economia de recursos nas
empresas e no País.
Bertolucci (2003) destaca que não é uma prática comum aos contribuintes dar aos
custos de conformidade à tributação um tratamento sistemático e que esse fenômeno é
15
mundial. O autor (2003) enfatiza que as empresas não estão preparadas para levantar somente
a parte de custos das várias áreas da empresa que tem recursos voltados ao atendimento de
normas tributárias, mas esses custos são percebidos de forma instintiva, pelo tempo
envolvido, preocupações ou despesas em que cada um incorre.
Assim, a presente pesquisa procurará responder ao seguinte problema:
Qual a percepção dos gestores e colaboradores sobre os custos de conformidade à
tributação em uma empresa estadual de saneamento?
O estudo apresenta o seguinte objetivo geral: analisar a percepção dos gestores e
colaboradores de uma empresa estadual de saneamento a respeito dos custos de conformidade
à tributação.
Para o alcance do objetivo geral, foram elaborados os seguintes objetivos específicos:
Apresentar conceitos de custo de conformidade à tributação e as principais
questões inerentes ao tema;
Verificar os principais pontos geradores de custos de conformidade na empresa
estudada;
Identificar as áreas internas e externas à empresa estudada envolvidas na realização
das atividades relacionadas à conformidade tributária.
Para responder ao problema apresentado e atender aos objetivos propostos, foram
estabelecidos pressupostos da pesquisa, como a seguir:
Embora não haja controle de quanto representam em termos monetários para a
empresa, os custos de conformidade estão sendo percebidos pelos gestores como
uma questão muito significativa, tornando-se motivo de preocupação contínua;
A instabilidade da legislação tributária, somada à complexidade do texto legal, são
identificadas como as principais causas dos custos de conformidade à tributação;
Os custos de conformidade internos surgem em diversas áreas da empresa, mas são
identificados principalmente na área de Controladoria.
16
A realização de um estudo de caso, desenvolvido na Companhia de Água e Esgoto do
Ceará (CAGECE), pretende aprofundar a compreensão sobre o assunto e estabelecer uma
relação entre a teoria e o contexto real. A definição da empresa a ser pesquisada fundamenta-
se nos indícios de que os custos de conformidade à tributação seriam facilmente identificados,
por exemplo, aqueles gerados pela modalidade de apuração e cálculo do Imposto de Renda e
Contribuição Social sobre o Lucro Líquido a que a companhia está obrigada (apuração pelo
Lucro Real) e pela incidência não-cumulativa da Contribuição ao Programa de Integração
Social (PIS) e da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (COFINS), que
exige um maior controle dos créditos legais e pedidos de compensação ao Fisco federal,
gerando mais custos de conformidade. Ademais, embora a empresa goze de benefício fiscal
do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre suas operações e o
seja contribuinte do Imposto sobre Serviços (ISS), a mesma está obrigada a prestar
informações ao Fisco e cumprir outras obrigações acessórias impostas pela legislação, o que
gera custos de conformidade para a organização, como tempo e pessoal dedicado para a
realização destas atividades.
Estima-se que o embasamento teórico e prático obtido e as conclusões desta pesquisa
possam oferecer contribuições sobre o tema. Este estudo também se justifica pela intenção de
contribuir na geração de futuras pesquisas nesta área, bem como no desenvolvimento de
hipóteses ou metodologias a serem pesquisadas futuramente.
Além deste capítulo da introdução, que evidencia o reconhecimento da importância
dos custos de conformidade à tributação, com a justificativa da escolha do tema, e apresenta a
questão da pesquisa, pressupostos e objetivos, geral e específicos, o trabalho está estruturado
como a seguir.
No capítulo 2, é apresentado um panorama tributário brasileiro com informações sobre
o histórico do Sistema Tributário Nacional, a evolução da carga tributária brasileira, a carga
tributária no contexto internacional e a relação da tributação com a competitividade
empresarial.
O capítulo 3 aborda o conceito de custos de conformidade à tributação e apresenta
pesquisas realizadas no exterior e no Brasil sobre os custos de conformidade dos
contribuintes, bem como as principais questões inerentes ao tema.
17
O setor de saneamento está caracterizado no capítulo 4, que traz uma perspectiva
histórica do saneamento e um panorama da prestação de serviços de saneamento no Brasil e
no Estado do Ceará. Aspectos tributários do setor também são tratados nesse capítulo.
O capítulo 5 expõe os aspectos metodológicos que orientam este trabalho, definindo-o
quanto aos objetivos como uma pesquisa exploratório-descritiva, do tipo bibliográfica,
documental e estudo de caso único, realizado na Companhia de Água e Esgoto do Ceará
(CAGECE).
O capítulo 6 apresenta o estudo de caso na CAGECE e a análise dos resultados obtidos
na pesquisa com a aplicação de questionário e entrevista com gestores e colaboradores da
companhia.
No fecho do estudo, são apresentadas as considerações finais, nas quais se procura
responder o problema da pesquisa, face aos objetivos e pressupostos apresentados na
introdução, e apresentar sugestões para o prosseguimento da pesquisa. Também são
apresentadas as referências consultadas, apêndices e anexos.
2. PANORAMA TRIBUTÁRIO BRASILEIRO
A questão tributária brasileira demanda atenção no tocante à carga imposta às
empresas e à complexidade das normas tributárias, sobretudo em virtude do significativo
crescimento do ônus tributário, que tem tornado mais tensa a relação fisco/contribuinte. O fisco,
de um lado, buscando exigir cada vez mais, e o contribuinte, do outro, procurando valer-se de
todos os meios legais para minimizar seus custos e despesas.
O Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT) relaciona 61 tributos
previstos na legislação tributária brasileira, entre impostos, contribuições e taxas. A carga
tributária brasileira está em constante ascensão e figura entre as maiores do mundo. A atitude
exigente do Estado se revela também na atividade legislativa, com a edão de novas leis que,
aos poucos, além de aumento nos tributos, vão acrescentando novas obrigações acessórias.
A tributação brasileira tornou-se mais complexa ao longo do tempo. Isso reflete, em
parte, a maior complexidade que a própria economia brasileira adquiriu ao longo do processo
de desenvolvimento do País. No entanto, parte da complexidade da tributação, que cria custos
para a administração tributária e, especialmente, para o contribuinte, é desnecessária, e
poderia ser diminuída ou até mesmo eliminada.
Exemplo marcante de complexidade desnecessária é a existência de 28 diferentes
conjuntos de normas legais e administrativas regendo impostos sobre o valor adicionado,
como por exemplo, o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), federal, e o Imposto sobre
Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), de 26 estados e do Distrito Federal. Outros
exemplos são o Imposto de Renda das Pessoas Jurídicas (IRPJ) e a Contribuição Social sobre o
Lucro Líquido (CSLL), que exploram bases semelhantes com metodologias diferentes.
Cintra (2004, p.1) ressalta que “a absurda complexidade e o alto custo dos impostos
são características que imperam no Brasil e parte da sociedade já assimilou perfeitamente que
este problema é um dos principais entraves ao desenvolvimento, tanto que uma
insatisfação crescente em relação ao tema”.
19
Para a abordagem que ora se propõe, necessário se faz traçar um histórico do Sistema
Tributário Nacional, sob forma introdutória ao estudo, para um entendimento sobre a
evolução da carga tributária no Brasil.
2.1. Evolução histórica do Sistema Tributário Nacional
Conforme Varsano (2002), o sistema tributário vigente em um dado momento é fruto
de um processo de evolução que, na maior parte do tempo, é contínuo:
Com efeito, uma vez fixada sua estrutura básica, ele é capaz de adaptar-se, mediante
alterações tópicas nas normas legais e administrativas, a modificações nas condições
econômicas e sociais reinantes e, assim, operar satisfatoriamente durante períodos
relativamente longos. Mas, análogo nesse aspecto a uma máquina, o sistema
tributário sofre desgaste ao longo do tempo, tendo sua capacidade de adaptação
reduzida. Além disso, alterações profundas no ambiente econômico podem exigir
ajustes que transcendem a capacidade de adaptação da estrutura tributária básica,
requerendo sua modificação. (VARSANO, 2002, p.231).
O sistema tributário vigente no País é fruto de uma lenta evolução. Na época colonial e
imperial, a tributação era extremamente confusa, desarticulada e não havia um sistema
tributário propriamente dito. A partir da República, surgiu uma estruturação tributária
sistemática, com a adoção do regime de separação das fontes tributárias, discriminando
impostos federais, estaduais e, posteriormente, municipais, tendo em vista a instauração do
federalismo no Brasil.
Bordin (2003) revela que, na época colonial, a administração tributária era
compartilhada pelo poder público e pela iniciativa privada, a qual se associava
contratualmente ao monarca. Nos primeiros anos, os tributos arrecadados formavam um leque
diversificado, que incluía “o quinto do pau-brasil”, o “quinto” sobre as pedrarias, as “dízimas”
de todos os produtos e os “direitos alfandegários” que incidiam sobre toda mercadoria
importada ou exportada.
Bordin (2003) destaca que, no período colonial, os tributos cobrados no Brasil,
coadunados aos princípios mercantilistas que norteavam a expansão e a administração
portuguesas no território brasileiro, visavam garantir a participação do Estado nas riquezas
extraídas das regiões coloniais ou simplesmente minimizar os gastos com a manutenção de
zonas periféricas.
20
Conforme Bordin (2003), a primeira organização tributária no Brasil surgiu ao tempo
das Capitanias Hereditárias, em 1534, quando o governo de Portugal nomeou os primeiros
funcionários tributários encarregados de arrecadar os impostos, tributos e foros devidos à
Fazenda Real. O controle da Fazenda Real na colônia ficava a cargo do Provedor-mor da
Fazenda, diretamente subordinado ao Conselho da Fazenda no Brasil, o qual era parte do
Conselho de Fazenda do Reino. Subordinados ao Provedor-mor, estavam os provedores
parciais de cada capitania, os quais serviam de juízes executores dos contratos.
A partir de 1761, com a criação do Erário Régio e as demais reformas da
administração pública iniciadas pelo Marquês do Pombal, o cargo de Provedor foi extinto e,
progressivamente, foram sendo criadas juntas da Fazenda em cada capitania, as quais eram
subordinadas diretamente ao Erário sediado em Lisboa e, posteriormente, no Rio de Janeiro
(com a chegada da família real em 1808).
Bordin (2003) afirma que a independência brasileira, em 1822, não trouxe a ruptura
com o sistema e com a administração tributária do período colonial. A Constituição Imperial
de 1824 estabeleceu a monarquia constitucional como forma de governo, mas centralizada
através do poder moderador. A distribuição de rendas no período do império também era
extremamente centralizada. Foi apenas com a decretação do Ato Adicional, em 1834, que a
partilha de rendas foi melhor definida e que foram traçados os limites e os fundamentos do
Direito Tributário Nacional.
Varsano (1996) aponta que, em um primeiro estágio, no Império e nos primeiros anos
da República, os impostos sobre comércio exterior eram predominantes, coadjuvados por
imposto sobre imóveis e por um conjunto de tributos, de pouca importância, incidentes
sobre bens, alguns rendimentos e servos prestados pelo governo. Posteriormente,
predominou o imposto de consumo que, modificando-se ao longo do tempo, transformou-se
no IPI e no ICMS.
No mesmo sentido, Bordin (2003) expõe que até 1930, o sistema tributário brasileiro
foi assentado em bases tributárias relacionadas com o comércio exterior. Apenas a partir da
Constituição de 1934, é que o País começa a explorar as bases sobre o consumo e, a partir de
1946, a tributação brasileira passou a repousar sobre bases internas.
Assim, percebe-se que o perfil tributário do País, contando com as bases legais
fornecidas pelas Constituições de 1934 e 1937, mudou em relação à Primeira República. A
21
nova realidade econômica, calcada na atividade interna, deslocou a base de arrecadação do
comércio exterior para o comércio interno.
Segundo Brasileiro (1973 apud BORDIN, 2003), duas tendências, aparentemente
antagônicas, marcaram o período que se inicia a partir da queda de Getúlio Vargas do poder,
em 1945: a vitória sobre o totalitarismo no mundo ocidental aliada à reação nacional contra o
centralismo dominante do Estado Novo, permitiu o ressurgimento dos ideais liberais. Por
outro lado, as profundas alterações introduzidas no País, resultantes de um processo acelerado
de urbanização, de transformações na sua estrutura produtiva e do avanço tecnológico
pressionaram no sentido de uma maior centralização do poder tanto no sentido político quanto
financeiro, na esfera federal.
A Constituição de 1946 incorporou essas tendências antagônicas, e na área tributária,
suas maiores inovações consistiram na inclusão, na competência federal, dos impostos únicos
sobre combustíveis, energia elétrica e minerais e do mecanismo de compensação financeira
aos Estados e Municípios consubstanciado no sistema de partilha tributária.
Em 1964, as crises política e econômica acabaram por determinar uma reorganização
profunda das forças políticas do País. Os militares assumiram um papel ativo no comando do
processo político, influenciando na criação da nova ordem econômica e na reestruturação do
aparelho governamental.
Um novo sistema tributário foi paulatinamente implantado entre 1964 e 1967,
concedendo-se prioridade para as medidas que, de um lado, contribuíssem de imediato para a
reabilitação das finanças federais, e, de outro, atendessem de forma mais urgente os reclamos
de alívio tributário dos setores empresariais, que constituíam a base política de sustentação do
regime.
Varsano (2002) cita a Emenda Constitucional nº. 18/65 que, com algumas alterações,
incorporou-se ao texto da Constituição de 1967, e o Código Tributário (Lei nº. 5.172, de 25 de
outubro de 1966) como os documentos legais que marcam o fim dos trabalhos dessa reforma
tributária.
Bordin (2003) destaca que a Reforma Tributária de 1967 representou um marco na
problemática das relações intergovernamentais:
22
O desenho tributário dela decorrente se caracterizou pela centralização do poder
decisório e pela institucionalização do sistema de transferências. Mesmo assim, a
Reforma de 1967 modernizou o sistema tributário vigente com a introdução na
competência dos Estados de um imposto do tipo “valor agregado” - o ICM - no lugar
do cumulativo imposto estadual sobre Vendas e Consignações [...]. Na União, o IPI,
sucedâneo do Imposto de Consumo, e o Imposto de Renda passaram a ser as
principais receitas tributárias da União. As Contribuições Sociais para o
financiamento da Seguridade Social também começam a ser representativas na
arrecadação federal no período de 1964 a 1988. (BORDIN, 2003, p.36-37).
Essa estrutura, no entanto, sofreu modificações e gerou uma série de distorções ao
longo dos anos; entre elas, a perda crescente da autonomia financeira das esferas estaduais e
municipais:
Para assegurar a não-interferência das unidades subnacionais na definição e no
controle do processo de crescimento, o seu grau de autonomia fiscal foi severamente
restringido. Assim, o poder concedido aos estados para legislar em matéria relativa
ao ICM foi limitado, de modo que o imposto gerasse arrecadação sem que pudesse
ser usado como instrumento de política; e os recursos transferidos foram, em parte,
vinculados a gastos compatíveis com os objetivos fixados pelo governo central.
Depois de concluída a reforma, em 1968, o Ato Complementar nº. 40 reduziu o
montante das transferências e condicionou a entrega dos recursos a diversos fatores,
inclusive à forma de utilização dos mesmos, reduzindo ainda mais a autonomia
fiscal dos estados e municípios. (VARSANO, 2002, p. 239).
Foi nesse ambiente de reivindicação e de desconcentração tributária por parte dos
entes subnacionais que se deu início, em 1987, ao processo de elaboração da nova
Constituição Federal.
De maneira a atenuar os desníveis e as distorções existentes na estrutura tributária
brasileira, foi concebida a Reforma Constitucional de 1988, na qual houve uma importante
reformulação na repartição das receitas públicas no sentido da desconcentração dos recursos
tributários da União em favor dos Estados e, principalmente, dos Municípios.
Todavia, o governo federal, para enfrentar o seu desequilíbrio financeiro, adotou
sucessivas medidas que agravaram a qualidade da tributação e dos serviços prestados e tais
ações governamentais acabaram por tornar o sistema tributário nacional numa “colcha de
retalhos”. Werneck (2002) destaca que ao perder parte significativa da sua arrecadação, a
União fez o possível para recuperar as perdas que lhe foram impostas, persistentemente,
buscando as mais variadas e exóticas formas de tributação, capazes de gerar receitas não
compartilhadas com Estados e Municípios.
Do mesmo modo, Vianna et al (2000) afirmam que a principal característica do
período posterior à Constituição de 1988, no que respeita à política tributária empreendida
pelo governo federal, tem sido a adoção de sucessivas medidas para compensar suas perdas e
23
enfrentar seu desequilíbrio fiscal crônico. “Normalmente, tais medidas têm girado em torno
da criação de novos tributos e da elevação das alíquotas dos existentes, especialmente
daqueles que não constituem objeto de partilha com estados e municípios.” (VIANNA et al.,
2000, p.15).
São exemplos disso a criação da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), a
Contribuição sobre Movimentações Financeiras (CPMF), além das sucessivas majorações da
alíquota da Contribuição para Financiamento da Seguridade Social (atual COFINS, ex-
Finsocial).
Para Bordin (2003), o avanço das contribuições sociais e das contribuições de
intervenção no domínio econômico - “CIDEs” acarretou enorme perda de qualidade técnica
no sistema tributário nacional. Representou, também, um grande retrocesso em relação à
reforma tributária de 1967, quanto à tributação em cascata. Vianna et al (2000) concordam
que esses movimentos de reação do governo federal à ordem tributária instituída pela
Constituição de 1988 acarretaram uma piora na qualidade do sistema tributário, uma vez que,
a tributação com incidência cumulativa cresceu significativamente em importância nas fontes
de financiamento federais.
Silva (2005) ressalta que, mesmo depois das mudanças recentes ocorridas na
contribuição para o Programa de Integração Social (PIS) e na Contribuição para o
Financiamento da Seguridade Social (COFINS), com a criação do regime não-cumulativo
para essas contribuições, através das Leis n.º 10.637/02, n 10.833/03 e n.º 10.865/04, o
montante arrecadado no Brasil com tributos cumulativos ainda é elevado.
No mesmo sentido, segundo Werneck (2002, p.8), “houve, nesse aspecto, uma
involução deplorável, marcada pela exploração cada vez mais intensa de formas primitivas de
tributação que, mais de trinta anos, pareciam ter sido definitivamente extintas no país, pela
reforma tributária de meados dos anos sessenta”.
No atual sistema tributário brasileiro, Varsano (2002) observa que uma tributação
antagônica ao desenvolvimento, que impõe desvantagem competitiva ao setor produtivo
nacional, tanto no mercado externo como no mercado interno; distorce fortemente as decisões
de alocação de recursos, prejudicando a eficiência econômica; onera bens de capital,
desestimulando o investimento. A tributação brasileira é complexa, a ponto de dificultar a
harmonização tributária internacional; facilita ou mesmo estimula a evasão, gerando
24
iniqüidade e competição desigual; e propicia guerras fiscais, criando conflito na federação,
enquanto o desenvolvimento requer cooperação e harmonia entre os entes federados
(VARSANO, 2002).
Silva (2005) afirma que, atualmente, existe um certo consenso em torno da
necessidade de aprofundamento das reformas estruturais na economia brasileira e expõe que
os principais problemas do sistema tributário nacional dentre eles, a cumulatividade dos
impostos e contribuições, oneração das exportações e dos investimentos, guerra fiscal, alta
carga tributária e elevada complexidade do sistema tributário – reduzem a eficiência da
economia e a competitividade da produção nacional e, conseqüentemente, o crescimento.
Observa-se que, dentre as inúmeras objeções que m sido feitas ao sistema tributário
vigente no País, encontra-se a alegação de que a carga tributária brasileira é excessiva,
principalmente se comparada à carga tributária de outros países e à qualidade da tributação e
dos serviços públicos.
2.2. Definição conceitual de carga tributária
A carga tributária é um indicador citado com freqüência no noticiário nacional,
especialmente por parte dos contribuintes, que alegam ser ela demasiadamente elevada. Tão
polêmico quanto o seu patamar é o próprio conceito que define esse indicador.
Etimologicamente, tributo vem do latim tribŭtum, ‘tributo, imposto’, do verbo lat.
tribuĕre, ‘dar, conceder, atribuir’, do latim tribus, ‘tribo, povo, povoação’, visto que,
primitivamente, a palavra tributo servia para designar as exigências, em coisas e serviços, que,
em seguida a uma guerra, as tribos vencedoras faziam às vencidas.
O conceito jurídico de tributo está expresso no Código Tributário Nacional (CTN), em
seu artigo 3°, sendo essa definição legal predominante dentre diversos doutrinadores
consultados:
Art. 3°. Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor
nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e
cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada.
De outro modo, a literatura especializada não se preocupa em definir a expressão
“carga tributária”. Bordin (2003) destaca que o termo carga” é pouco usual na literatura
25
internacional:
Alguns economistas latinos preferem utilizar a expressão “coeficiente de pressão
tributária”. Outros, no entanto, consideram inadequadas tanto a denominação de
“carga” como a de pressão”, por acharem que nestes conceitos está embutida a
conotação de “sacrifício” ou sofrimento” que deve suportar a população. Sabaini e
Cano, por exemplo, citados por Afonso (1998), argumentam que os que adotam
estes termos desconsideram que os recursos extraídos da sociedade são direcionados
para gastos públicos. Estes autores preferem a denominação de “coeficiente de
tributação” para definir a relação entre a receita tributária e o produto interno.
Muitos órgãos internacionais apenas se referem à relação como “receita tributária
(ou corrente) em percentagem do PIB (ou do PNB)”. (BORDIN, 2003, p.47).
De acordo com o Tribunal de Contas da União (TCU), através de sua Secretaria de
Macroavaliação Governamental (SEMAG), a carga tributária de um país representa a parcela
de recursos que o Estado retira compulsoriamente dos indivíduos e empresas, como forma
principal de financiar o conjunto das atividades do governo.
Assim, na maioria das vezes, a carga tributária está associada à idéia de sacrifício, uma
vez que, o consumo privado individual é compulsoriamente reduzido para dar espaço à
provisão de bens públicos.
Seguindo a linha da metodologia utilizada pelo TCU, inspirada no art. do Código
Tributário Nacional, o Ministro Relator Benjamin Zymler, em seu voto ao Acórdão 902/2005,
definiu carga tributária como “a taxa que mede o sacrifício financeiro, que não constitua
sanção por ato ilícito, exigido compulsoriamente da população pelo Estado, ainda que
destinado a entes privados”.
Observa-se que a mensuração da carga tributária busca determinar o peso do Estado na
economia de determinado país. No Brasil, a carga tributária é usualmente entendida como o
quociente entre a receita tributária total e o valor do Produto Interno Bruto (PIB) do país, em
determinado exercício fiscal, indicando a participação do Estado na economia nacional.
Afonso e Araújo (2004) ratificam o conceito de carga tributária como sendo
equivalente à arrecadação de todos os tributos coletados no país em proporção ao PIB: “ou
seja, dividindo-se tudo aquilo que o governo arrecada a título de tributos pelo valor nominal
do PIB em determinado período chega-se a uma medida da parcela do produto interno que é
apropriada pelo setor público através da cobrança de tributos” (AFONSO; ARAÚJO, 2004,
p.).
Outra questão reside na inexistência de uma metodologia oficial de lculo da carga
26
tributária. Distintos órgãos e entidades públicos e privados seguem critérios próprios de
apuração da carga tributária, gerando diferenças entre os valores divulgados pelos mesmos,
contudo, visando o objetivo principal de prestar informações sobre o montante de recursos
transferidos da economia para os poderes públicos federal, estadual e municipal. Também por
esta razão, a definição de carga tributária para os órgãos e entidades que a mensuram
conforma-se à metodologia que adotam para seu cálculo.
Bordin (2003) ressalta que, no Brasil, os institutos que medem a carga tributária
apresentam a relação receita tributária e o PIB no seu conceito bruto (total) e amplo,
englobando tanto os tributos definidos pelo Código Tributário Nacional (impostos, taxas e
contribuições de melhoria), como as contribuições sociais que financiam o sistema de
Seguridade Social do País. Os órgãos internacionais, tais como, Fundo Monetário
Internacional (FMI), Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
(OECD), Banco Mundial, costumam apresentar a carga de tributos apenas do nível central de
governo (sem incluir o nível local de governo no caso de países unitários ou os níveis estadual
e local no caso de países federativos) e, quase sempre, sem considerar a parafiscalidade.
Considerando a relevância da discussão relativa ao montante de impostos e
contribuições pagos no Brasil, a Coordenação-Geral de Política Tributária da Receita Federal
do Brasil (RFB), antiga Secretaria da Receita Federal (SRF), estabeleceu, em estudo
publicado em seu site, o significado de dois parâmetros divulgados oficialmente pelo órgão
a carga tributária para fins orçamentários, cujo cálculo é realizado a partir da arrecadação
líquida de restituições, incluídos juros e multas, e que tem por finalidade subsidiar a
elaboração da proposta orçamentária e a execução das receitas; e carga tributária sob o
conceito econômico, que representa, de forma ampla e no âmbito nacional, a relação entre
arrecadação tributária e o PIB. O estudo da RFB (2005) explicita que, por tratar-se de
conceito bruto, não estão descontadas as restituições ou ressarcimentos e, condizente com o
conceito econômico de carga tributária, não entram no seu cômputo multas e juros pagos.
A metodologia utilizada pelo TCU adota a conceituação de tributo mais ampla que o
stricto sensu, constante da Constituição Federal. Assim, é considerada no cálculo a receita
tributária propriamente dita, de acordo com o art. do Código Tributário Nacional, ou seja,
os impostos, taxas e contribuições de melhoria; as contribuições sociais; os valores
arrecadados a título de Parcelamento Especial (PAES), de que trata a Lei n.º 10.684/03; as
contribuições de intervenção no domínio econômico; as contribuições de interesse das
27
categorias profissionais e os depósitos efetuados pelos empregadores ao Fundo de Garantia do
Tempo de Serviço (FGTS). Os valores considerados pelo TCU referem-se ao principal de
cada tributo, líquido de retificações, restituições e incentivos fiscais e o incluídos as multas
e juros de mora.
O IBPT (2006a) esclarece, em seus estudos para o acompanhamento regular da carga
tributária, que considera todos os valores arrecadados pelas três esferas de governo (tributos
mais multas, juros e correção), inclusive receitas de contribuições sindicais, a entidades de
fiscalização do exercício profissional e custas judiciais.
A mensuração da carga tributária tem sido uma oportunidade de conhecimento do
ônus tributário imposto à sociedade brasileira. Todavia, Machado (2005) alerta que a carga
tributária não tem sido definida com a transparência necessária para que seja entendida pela
imensa maioria e não se sabe exatamente qual é o peso dos impostos para os brasileiros.
Ressalta-se ainda que os conceitos e metodologias de cálculo, ora expostos, não
consideram no cômputo da carga tributária o custo dos recursos necessários ao cumprimento
das determinações legais tributárias, denominados custos de conformidade à tributação, que
são objeto de estudo da presente pesquisa.
2.3. Evolução e composição da carga tributária brasileira
A evolução da carga tributária brasileira ao longo do tempo foi intensamente
influenciada pelas modificações na economia e no Sistema Tributário Nacional e apresenta, a
despeito de algumas quedas e períodos de estabilidade, uma trajetória ascendente desde
quando foi inicialmente medida.
Varsano (1998) aponta que, em 1947, quando teve início o registro sistemático das
contas nacionais do Brasil, a carga tributária brasileira era de 13,8% do Produto Interno
Bruto (PIB). Desde então, apresentou um crescimento lento até atingir 18,7% do PIB em 1958.
Bordin (2003) indica que, após 1958, o percentual da carga foi sendo reduzido
gradativamente até chegar novamente a 16% em 1963. Em 1964, o governo militar, de forma
emergencial, reformou o imposto de renda e, com isto, conseguiu elevar a carga para 18,82%
em 1965 e, no ano seguinte, para 20,64%.
28
Nos anos seguintes, marcados pela reforma tributária pela qual passou o País, a carga
tributária recuperou sua tendência ascendente. Bordin (2003) afirma que com a moderna
estrutura tributária, criada com a reforma de 1966, o objetivo governamental de expansão da
carga tributária bruta foi plenamente atingido, conforme demonstra o crescimento de 20,50%
para 24,90%, entre 1967 e 1969. Em 1970, essa participação subiu para 25,99%, situando-se,
em média, durante a toda década de 70 (período de 1971 a 1980), em 25,22%, percentual este,
bem superior à média da década de 60, que ficou em 19,94%.
A cada de 80 (anos de 1981 a 1990), a despeito da fase de declínio, como nos anos
de 1987 e 1988 (23,8% e 22,4% do PIB, respectivamente), e de arrecadações atípicas (28,8%
do PIB), em 1990, durante o Plano Collor, apresentou uma carga tributária dia de 25,23%
num patamar praticamente idêntico ao da década anterior.
Com a estabilização da economia decorrente do Plano Real, a carga tributária voltou a
crescer, atingindo 29,8% do PIB em 1994. Bordin (2003) aponta que, em 1999, com a criação
do Plano de Estabilização Fiscal (PEF), que aumentou a alíquota da CPMF e da COFINS, a
carga fiscal brasileira extrapolou a barreira dos 30%, atingindo 31,70%, igualando os níveis
de pressão tributária de países altamente desenvolvidos como Estados Unidos e Japão.
No período recente, esse percentual está em plena ascensão, conforme levantamentos
da evolução da carga tributária brasileira, realizados pelo IBPT e pela Receita Federal,
apresentados nos gráficos 1 e 2, a seguir:
Gráfico 1 – Evolução da carga tributária brasileira
Fonte: Adaptado de Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (2006a)
De acordo com o gráfico 1, elaborado com base na tabela de evolução da carga
tributária apresentada pelo Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT), a carga
Evolução da carga tributária brasileira
37,82
35,84
35,54
36,80
32,84
33,68
30,00
31,00
32,00
33,00
34,00
35,00
36,00
37,00
38,00
39,00
2000 2001 2002 2003 2004 2005
% sobre o PIB
"% Tributos/PIB
Linha de Tendência (Linear)
29
brasileira atingiu, em 2005, 37,82% do Produto Interno Bruto (PIB), representando um
crescimento de 1,02 ponto percentual em relação a 2004.
Gráfico 2 – Carga Tributária Bruta: 2000 a 2005
Fonte: Adaptado de Secretaria da Receita Federal (2006)
Por sua vez, o levantamento da Receita Federal do Brasil (RFB) mostra que a carga
tributária brasileira, em 2005, foi de 37,37% do PIB, que corresponde, na parcela relativa à
União, a um acréscimo de 1,18 ponto percentual em relação ao ano anterior. Segundo o
estudo elaborado pela RFB (2006), o resultado da parcela correspondente à União pode ser
atribuído, principalmente, à maior lucratividade de setores importantes da economia, com
reflexo positivo no Imposto de Renda e na Contribuição sobre o Lucro Líquido; à elevação
continuada do grau de eficiência da administração tributária; à adoção de medidas legais que
permitiram maior eficiência no controle, como a obrigatoriedade de retenção na fonte nos
pagamentos efetuados a empresas prestadoras de serviços; e à recuperação de débitos em
atraso por conta do trabalho de fiscalização e cobrança.
Em suma, a tendência de crescimento da carga fiscal é nitidamente ascendente ao
longo das últimas décadas. O crescimento da carga tributária tem sido, de forma geral, lento e
gradual, com algumas incidências importantes que produziram mudanças rápidas para
patamares mais elevados de pressão fiscal.
Vianna et al (2000) observam que a evolução da estrutura tributária também é
marcada por uma mudança de perfil no que se refere a participação na arrecadação dos
tributos diretos e dos tributos indiretos:
[...] no período recente, a estrutura tributária brasileira adquiriu um padrão que se
baseia predominantemente na tributação indireta. Esta, por sua vez, tem o
crescimento de sua participação na carga tributária explicado em grande medida pelo
aumento relativo da arrecadação de impostos cumulativos, como a COFINS e o PIS.
Essa evolução tem representado uma piora na qualidade da tributação, na medida em
Carga Tributária Bruta: 2000 a 2005
37,37
32,55
34,01
35,61
35,88
34,92
30,00
32,00
34,00
36,00
38,00
2000 2001 2002 2003 2004 2005
% sobre o PIB
Carga tributária
Linha de Tendência (Linear)
30
que a eficiência econômica é prejudicada, pois os tributos cumulativos distorcem
preços relativos e induzem à integração vertical da produção, elevando os custos e
os preços finais das mercadorias com que se deparam os consumidores. Dessa
forma, a atual estrutura tributária contribui para a redução da competitividade dos
produtos nacionais em relação aos estrangeiros, tanto no mercado interno quanto no
externo. (VIANNA et al., 2000, p.16).
No mesmo sentido, Afonso e Araújo (2004) afirmam que a distribuição da carga
tributária por bases de incidência comércio exterior, bens e serviços, patrimônio, renda e
folha de salários mostra-se desequilibrada, sendo muito forte a participação dos tributos
sobre bens e serviços na arrecadação total.
Os autores (2004) revelam que, a despeito do grande número de tributos existentes no
país, a arrecadação concentra-se em poucos deles, e destacam o crescimento expressivo das
contribuições sociais, tais como a COFINS, o PIS e a CPMF, em sua participação na
tributação de bens e serviços quanto na carga tributária global, como pode ser percebido no
gráfico 3:
Gráfico 3 – Distribuição da Carga Tributária Global 2005 por maiores tributos
Fonte: Adaptado de Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (2006a)
Para Bordin (2003), esse padrão de tributação é um aspecto característico de países em
desenvolvimento, que dependem muito dos impostos sobre o consumo de bens e serviços. O
autor destaca ainda que, apesar da dificuldade em estabelecer padrões de tributação, a
diferenciação quanto à composição dos impostos está intimamente ligada ao estágio de
desenvolvimento, muito embora existam oscilações em países de média e de baixas rendas,
em decorrência de fatores históricos e culturais.
Outras
receitas
estaduais
4%
Receitas
municipais
4%
II
1%
IPI
4%
IR
17%
CPMF
4%
COFINS
12%
PIS
3%
CSLL
4%
Outras
receitas
federais
Previdência
Social
16%
FGTS
4%
ICMS
21%
31
2.4. Carga tributária brasileira no contexto internacional
Em que pesem as dificuldades de proceder a comparações internacionais devido a
diferenças metodológicas, não se pode negar que a evolução histórica da carga tributária
brasileira apresentou crescimento de proporções importantes.
Jayme Jr. e Santos (2003, p.7) observam que, após a estabilização de 1994, a trajetória
é de aumentos sistemáticos e, mais do que isso, que o Brasil passa a deter uma carga tributária
em níveis de países desenvolvidos: “de fato, países como o México, Argentina, Chile ou
Costa Rica possuem uma Carga Tributária Bruta da ordem de 22%, ao passo que alguns
países desenvolvidos como Espanha, Austrália, Japão ou Estados Unidos possuem valores
semelhantes ao Brasil”.
A tabela 1 apresenta a carga tributária mundial, em um conjunto selecionado de países:
Tabela 1 – Carga tributária mundial em relação ao PIB
País ano 2004
Suécia 50,7%
Noruega 44,9%
França 43,7%
Itália 42,2%
Brasil (IBPT) 36,8%
Brasil (RFB) 35,91%
Espanha 35,1%
Alemanha 34,6%
Canadá 33,0%
Suíça 29,4%
Estados Unidos 25,4%
Argentina 21,9%
Chile 19,2%
Fonte: Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (2006a)
Segundo análise do IBPT (2006a), observa-se que dentre os países que compõem as
maiores economias mundiais, somente França e Itália têm cargas tributárias maiores que a
brasileira. Outros países, como Suécia e Noruega, que têm cargas tributárias superiores, não
têm economias maiores que o Brasil.
Secco (2003, p.36) aponta que muitos países que trabalham com carga tributária alta
têm em comum o fato de serem países ricos, o que gera um alerta para o Brasil: “esses países
cresceram graças à carga tributária alta ou aumentaram a carga tributária depois de ter
crescido? Pois é. A história não registra um caso de país que tenha crescido num ambiente
de tributos elevados”.
32
Contudo, Varsano (1998, p.14) registra que a comparação de cargas tributárias de
diferentes países é um exercício de precário poder analítico, pois o nível da carga tributária
não é um conceito absoluto, e uma mesma carga tributária pode ser baixa para uma sociedade
e excessiva para outra, dependendo das respectivas capacidades contributivas e provisões
públicas de bens: “são tantas as diferenças entre os sistemas tributários e, principalmente,
entre as sociedades sobre as quais as cargas incidem que pouco se pode concluir da mera
comparação de números que as representam”.
O autor (1998) reforça que as características que distinguem as sociedades e que
explicam diferenças nas cargas tributárias não podem ser detectadas pela simples avaliação de
números globais, sendo necessárias maiores informações para afirmar que a carga de
determinado país é alta, baixa ou adequada.
Por outro lado, o crescimento contínuo da carga de tributos, verificado nos últimos
anos no Brasil, razão aos que criticam a contrapartida oferecida pelo Estado em termos de
serviços públicos:
A propósito desse crescimento da carga tributária é interessante observarmos que o
Estado vem se tornando a cada dia mais pesado e ineficiente. Cobra-nos tributo
exagerado e não nos oferece os serviços públicos essenciais, como deveria. Nunca se
arrecadou tanto, mas não há dinheiro para nada. (MACHADO, 2005, p.28).
De fato, para Bordin (2003), o aumento da carga fiscal, que fez com que se atingisse
patamares de receita semelhantes aos de países desenvolvidos, não determinou um acréscimo
de qualidade na prestação de serviços públicos, especialmente no que se refere às despesas de
natureza social que beneficiam as camadas de mais baixa renda. O autor (2003) revela que, ao
contrário, estudos recentes de órgãos de pesquisa, como, por exemplo, o Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada (IPEA), demonstraram que as funções ditas sociais (saúde, educação,
saneamento) estão perdendo espaço na composição dos orçamentos públicos federal e
estaduais nos últimos anos.
Em estudo elaborado pelo IBPT sobre a carga tributária brasileira no ano de 2005, vê-
se que o Brasil, embora esteja entre os primeiros colocados na lista de maiores cargas
tributárias mundiais, está bem atrás de países com carga semelhante à sua, quando os critérios
de avaliação são melhores índices de desenvolvimento humano (IDH) e menores taxas de
corrupção e burocracia (quadro 1):
33
País IDH Corrupção Burocracia
Noruega 1º. 8 º. 5 º.
Islândia 2 º. 1 º. 12 º.
Austrália 3 º. 9 º. 6 º.
Luxemburgo 4 º. 13 º. N/T
Canadá 5 º. 14 º. 4 º.
Suécia 6 º. 6 º. 14 º.
Irlanda 7 º. 19 º. 11 º.
Suíça 8 º. 7 º. 17 º.
Bélgica 9 º. 20 º. 18 º.
Estados Unidos 10 º. 17 º. 3 º.
Brasil 63 º. 62 º. 119 º.
Quadro 1 – Quadro de comparação ranking dos países
Fonte: Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (2006a)
Varsano (2003a) reforça que a carga brasileira seria tolerável, não fosse a qualidade da
tributação e dos serviços públicos, visto que países europeus onde a carga está próxima a
50% do PIB e cujos níveis de bem-estar e competitividade são indiscutivelmente elevados.
Para o autor, o problema não é, portanto, o tamanho da carga, mas sua qualidade incompatível
com a participação do Brasil na economia global.
Com a globalização dos mercados e formação de blocos econômicos regionais,
ganharam importância preocupações com o impacto da política tributária sobre decisões de
produção e investimento, ampliando-se o esforço para a harmonização fiscal, na qual as
políticas tributárias locais passam a ser pautadas por práticas internacionais.
Varsano (2003b) alerta que, nessas circunstâncias, o Brasil, cuja carga tributária se
aproxima dos 40% do PIB, precisa minimizar os efeitos perversos da tributação sobre a
competitividade para retomar o crescimento econômico, sob pena de ser alijado do processo
de decisões de investimentos mundiais.
2.5. Competitividade e carga tributária
A modernidade impõe ao mundo empresarial uma constante adequação ao perfil
exigido pelo mercado. O ambiente de competição entre as empresas tomou novos espaços
com a globalização e maior ritmo pelo avanço tecnológico, pelos modernos sistemas de
informação e com a rápida evolução do conhecimento. As tendências de competitividade
requerem cada vez mais esforços criativos, inovadores e dinâmicos para o êxito das
estratégias das organizações.
34
Segundo Oliveira (1999), existem variáveis ambientais que afetam a organização e
devem ser selecionadas e avaliadas através da análise de cenários, revelando as oportunidades
e ameaças do macroambiente e ambiente operacional. Essas variáveis podem apresentar
oportunidades de aumentar sua competitividade ou significar ameaças de interferência,
influência ou interação das forças do ambiente (concorrentes, políticas sociais, legais,
tecnológicas, econômicas).
Em sua teoria, Porter (1986) apresenta a análise da competitividade das empresas,
focando as cinco forças determinantes do ambiente (entrantes potenciais, produtos substitutos,
poder de negociação dos fornecedores, poder dos compradores e rivalidade entre os
competidores). Desta forma, objetiva encontrar a posição na qual a organização possa
defender-se das maneiras possíveis contra as forças competitivas, ou influenciá-las a seu
favor.
A organização define, então, estratégias e posicionamentos de sucesso diante das
forças influenciadoras, que pode se fundamentar na redução do custo dos produtos ou serviços
ou na diferenciação dos mesmos, numa vantagem competitiva frente aos demais.
Na maior parte das vezes, diferenciais competitivos implicam em aumento dos custos
nos processos de produção e comercialização. Essa conseqüência se desdobra em outra
decorrência: o repasse de tais custos no preço do produto ou do serviço. Dessa forma, é
preciso gerenciar os custos quanto a sua utilidade de agregar valor para o cliente.
Cardoso (2004) destaca que dentre os custos que são repassados para o preço final do
produto, da mercadoria ou do serviço e, certamente, um dos mais elevados, encontra-se a
carga tributária que, muito embora seja repassada para o adquirente final do bem, poderá, se
muito elevada, restringir ou até mesmo, inviabilizar a atividade empresarial.
Outrossim, deve-se frisar que o custo tributário em nada contribui para a agregação de
valor ao produto ou serviço, ou seja, sua repercussão econômica implica em aumento de preço
sem qualquer contrapartida em diferenciais competitivos.
Essa característica torna o ônus tributário alvo constante de equalização e
administração, visando a diminuir seu impacto na produção ou oferta de serviços, tendo em
vista que o objetivo das empresas é a obteão do resultado final lucrativo.
35
Assim sendo, o exercício da atividade empresarial no contexto do sistema jurídico-
tributário brasileiro reclama atenção especial para o conhecimento do custo tributário e seu
melhor gerenciamento, o que pode resultar em redução desse custo na composição do preço
final do produto e conseqüente otimização dos resultados, bem como pode significar melhoria
no fluxo de caixa da empresa.
Na análise das cinco forças competitivas básicas, Porter (1986) considera o governo
um influenciador que afeta a concorrência através dessas forças competitivas. Também
Mintzberg et al (2000) analisam os poderes influenciadores nas organizações e classificam o
governo e o ambiente entre as quatro potenciais influências externas sobre as organizações.
De fato, a tributação, como instrumento de intervenção do Estado nas atividades
econômicas, é mais que fonte de receita pública, tendo implicações importantes para o
desenvolvimento do setor empresarial no país. Cintra (2006) acrescenta que o
comprometimento da competitividade está intimamente ligado à derrama fiscal observada nos
últimos anos.
Miranda e Lemos (2004) apontam que já se impõe um ônus econômico ao setor
empresarial pela necessidade de acompanhar a dinâmica legislativa, vez que diuturnamente
tem sido objeto de modificações quanto às suas normas, mediante uma exagerada produção
legislativa, normativa, de regime, de orientações, e de tantas outras exigências.
Ademais, normas que tratam de aspectos que vão além do conceitual e impõem às
organizações a necessidade de absorver as decorrências econômicas advindas da estrita
obediência às mesmas, forçando, por conseguinte, a inclusão de tais custos no cálculo dos
preços dos produtos e serviços.
Portanto, além da elevada carga representada pelos tributos, há que se considerar
também os gastos administrativos com o gerenciamento e controle das atividades tributárias.
Oliveira et al (2003) destacam que, dependendo do porte e da complexidade das atividades de
uma empresa, certas situações em que são altos os gastos e investimentos em profissionais
especializados em tributos, funcionários administrativos, sistema de informática, espaço físico
etc., o que, em muitas circunstâncias, representam parcelas relevantes de sacrifícios dos
recursos econômicos e financeiros das corporações, somente para atender a todas as
obrigações acessórias impostas pelas diversas legislações tributárias.
36
Esses custos estão relacionados à obrigatoriedade da empresa se conformar às
disposições impostas pelo Fisco. Bertolucci (2003) denomina o custo dos recursos necessários
ao cumprimento das determinações legais tributárias de custos de conformidade à tributação,
objeto do próximo capítulo.
3. CUSTOS DE CONFORMIDADE À TRIBUTAÇÃO
No Brasil, um dos principais temas de discussão no campo tributário tem sido o peso
da arrecadação sobre o PIB, que atingiu 35,21% no ano de 2006, conforme estudo do IBPT
(2007), refletindo a alta carga tributária do País. Contudo, as medidas de carga tributária,
esboçadas no capítulo anterior, o fornecem uma imagem completa do impacto dos tributos
na sociedade ou na economia. Quando se faz referência a carga tributária excessiva, fala-se
apenas do montante de tributos (impostos, taxas e contribuições) arrecadados. Entretanto, a
tributação envolve outros custos que não devem ser desconsiderados, por exemplo, os custos
com que fisco e contribuintes têm que arcar para que os tributos sejam pagos e também para
que sejam cumpridas todas as obrigações acessórias da tributação.
Declarações relativas a impostos, informações ao fisco federal, estadual e municipal, a
inclusões e exclusões realizadas por determinações das normas tributárias, ao atendimento a
fiscalizações, a alterações da legislação, a autuações e processos administrativos e judiciais,
quanto custam os recursos que se dedicam a essas atividades nas empresas? (BERTOLUCCI,
2003, p. 15).
A conformidade à tributação, sendo, conforme Franzoni (1998), um fenômeno
complexo, pode ser dirigida por uma variedade de perspectivas. A postura do contribuinte é
influenciada por muitos fatores, incluindo sua posição em relação às instituições públicas, a
eqüidade que é percebida nos tributos, as normas sociais prevalecentes e as chances de uma
não-conformidade ser detectada ou punida.
Sem questionamentos sobre a relevância de motivações sociológicas e éticas, o
presente capítulo aborda os custos decorrentes da conformidade do setor privado à tributação,
apresentando os principais conceitos e qualificações referentes aos denominados tax
compliance costs.
Como pode ser percebido pela bibliografia utilizada, a literatura sobre custos de
conformidade à tributação é composta, principalmente, de estudos internacionais, pois poucos
autores brasileiros se debruçaram sobre a questão da conformidade tributária; e o
38
desenvolvimento das pesquisas é muito recente, o que gera alguns pontos controversos nas
questões de identificação e mensuração relacionadas a esses custos.
3.1. Conceito de custos de conformidade à tributação
Os estudos iniciais sobre custos da tributação trazem diversas abordagens sobre os
custos gerados pelos tributos. Bertolucci (2003) resume as idéias de Cedric Sandford,
professor emérito de Economia Política da Universidade de Bath, no Reino Unido, e Chefe
do Centro de Estudos Fiscais daquela universidade, para quem os custos de tributos podem
ser classificados em três categorias:
a) Os mais óbvios são os próprios impostos que representam sacrifícios da renda
em troca das despesas que o poder público faz com essa arrecadação.
b) Os custos de distorção, ou seja, as mudanças do comportamento na economia
em virtude da existência de tributos, alterando preços de produtos e dos fatores
de produção.
c) Os custos dos recursos empregados para operar o sistema tributário, ou um
tributo individual, e que poderiam ser poupados se os tributos não existissem.
Denominam-se custos operacionais tributários. (BERTOLUCCI, 2003, p.20-21)
[tradução do autor]
.
Essa última categoria tem sido usada para representar a soma dos custos
administrativos e dos custos de conformidade na tributação.
Os custos administrativos compreendem o custo de funcionamento e manutenção de
agências arrecadadoras e controladoras, incluindo salários, aposentadorias e pensões,
acomodações e outras despesas relativas ao Poder Executivo. Eles também compreendem os
custos do Poder Legislativo relativos ao sistema tributário (para formulação de políticas ou
outras regras tributárias) e custos do Poder Judiciário para julgar questões relativas aos
tributos.
Os custos de conformidade são os custos impostos aos contribuintes como resultado
do cumprimento de suas obrigações tributárias. Normalmente, eles incluem os custos do
trabalho ou tempo consumido na conclusão de atividades tributárias, os custos de consultoria
especializada para auxiliar na realização dessas atividades e despesas incorridas para cumprir
todas as formalidades que lhes são exigidas pela legislação tributária. O custo da
conformidade na tributação também pode ser referido como um custo do setor privado.
39
Bertolucci (2003) demonstra, na figura 1, a classificação feita por Sandford:
Custos operacionais
tributários
Tributos
Custos de
distorção
Custos de conformidade
Pessoas físicas e jurídicas
Empenho de recursos
Custos de administração
Executivo
Legislativo
Judiciário
Custos dos tributos
Figura 1 – Custos dos tributos
Fonte: Bertolucci (2003, p. 24)
Slemrod (2006) expõe que os tributos são somente uma transferência do poder de
compra do setor privado para o setor público e que os custos que surgem para os agentes
envolvidos em facilitar essa transferência de recursos para o Fisco são denominados custos de
conformidade.
Evans et al (2000) afirmam que os custos de conformidade foram tratados por muito
tempo como “custos ocultos” da tributação e que um consenso a respeito do significado
preciso do termo compliance costs of taxation somente começou a emergir na literatura
aproximadamente 25 anos.
Bertolucci (2003) destaca que o termo é ambíguo tanto em inglês como em português,
mas deve ser compreendido como o custo de conformar sua atividade às normas tributárias,
assumindo a forma estabelecida pelo Poder Público.
No Brasil, os custos de conformidade são designados, em parte, pelo Código
Tributário Nacional, como obrigações acessórias, no art. 113:
Art. 113. A obrigação tributária é principal ou acessória.
§1º. A obrigação principal surge com a ocorrência do fato gerador, tem por objeto o
pagamento de tributos ou penalidade pecuniária e extingue-se juntamente com o
crédito dela decorrente.
§2º. A obrigação acessória decorre da legislação tributária, tem por objeto as
prestações, positivas ou negativas, nela previstas no interesse da arrecadação ou da
fiscalização dos tributos.
§3º. A obrigação acessória, pelo simples fato da sua inobservância, converte-se em
obrigação principal relativamente à penalidade pecuniária.
40
Entretanto, os estudos sobre os custos de conformidade revelam que estes têm uma
abrangência maior que os simples custos das obrigações acessórias. Bertolucci (2003)
apresenta uma lista de alguns custos de conformidade, que correspondem ao que as empresas
devem fazer em relação ao Fisco, ou seja, obrigações relativas a:
a) Impostos incidentes sobre vendas de produtos que a empresa tem que calcular,
registrar, informar à administração tributária e pagar.
b) Cálculo de renda tributável, observando que os conceitos de lucro da lei
societária são diferentes da legislação tributária, fazendo os registros e ajustes
definidos pela legislação, preenchendo declarações, controlando vencimentos
das obrigações e realizando seus pagamentos.
c) Retenção de impostos como contribuinte substituto quando assim definido pela
legislação e sua entrega ao Fisco.
d) Recolhimento de contribuições previdenciárias e de Imposto de Renda na fonte
por conta de seus funcionários [e prestadores de serviços].
e) Controle de preços de transferência nas transações com empresas ligadas dentro
dos padrões estabelecidos pelas normas dos países envolvidos.
f) Arquivo e guarda de documentos por prazos superiores aos que seriam
necessários para o negócio, para cumprir aos múltiplos prazos definidos pela
legislação tributária.
g) Manutenção de advogados dedicados ao contencioso tributário da empresa.
h) Processamento de dados com geração de informações tributárias rotineiras,
geração de arquivos a serem conservados, alterações decorrentes de mudanças
na legislação, relatórios especiais decorrentes de intimações fiscais.
i) Redação de normas internas relativas à tributação e a procedimentos necessários
ao atendimento de determinações tributárias.
j) Registros da empresa e seus estabelecimentos nos fiscos federal, estaduais e
municipais.
k) Contratação de assessores tributários advogados, economistas, contadores
para discutir, executar e controlar aspectos da tributação.
l) Treinamento de pessoal interno para realização de tarefas relativas a impostos.
m) Compra de livros, revistas e jornais especializados.
n) Tempo dedicado pelo Conselho de Administração, Conselho Fiscal, Diretoria,
Controladoria, Jurídico, Compras, Vendas, Produção, Logística, dentre outros, à
discussão de temas tributários.
o) De forma um pouco diferente, a participação de funcionários da empresa em
grupos de trabalho, discutindo propostas para o aperfeiçoamento da legislação
tributária, também pode ser classificada como custos de conformidade.
(BERTOLUCCI, 2003, p.22-23)
A literatura sobre custos de conformidade na tributação distingue ainda qualificações e
subdivisões que precisam ser levadas em conta em qualquer definição de custos de
conformidade.
Os custos de conformidade à tributação compreendem custos monetários e não
monetários. Os custos monetários, que são capazes de estimação ou avaliação em termos
monetários, embora às vezes com certa dificuldade, consistem nos custos de recursos
econômicos e de tempo voltados ao cumprimento das exigências das autoridades fiscais.
41
Conforme Warburton e Hendy (2006), custos monetários são aqueles que estão
incorporados ao desempenho financeiro dos negócios e estão provavelmente refletidos no
lucro da empresa. Eles incluem o custo de: adquirir o conhecimento necessário dos aspectos
relevantes do sistema tributário; compilação de arquivos; aquisição e manutenção de sistemas
contábeis e fiscais; preenchimento de formulários fiscais; avaliação da eficácia tributária de
transações alternativas ou métodos alternativos no cumprimento das exigências legais; e reter
e recolher impostos cobrados dos empregados e dos negócios.
Segundo Sandford (1989 apud BERTOLUCCI, 2003, p.21), os custos monetários
“podem corresponder, para pessoas físicas, à contratação de profissionais que as apóiem no
preenchimento de declarações tributárias ou, nas pessoas jurídicas, aos recursos internos ou
externos necessários à realização das atividades exigidas pelo Fisco”.
Pope (2000) aponta que, para os indivíduos (pessoas naturais), esses custos incluem o
custo de tempo gasto por um contribuinte em arquivos e preenchimento de formulários ou na
preparação de informações para o agente fiscal ou contador; os honorários pagos a um
consultor profissional; e os custos variados, tais como correios, telefonemas, manuais de
impostos, e, de modo crescente, software de computador, representados no esquema da figura
2:
Figura 2 – Principais tipos de custos de conformidade (econômicos) na tributação da renda pessoal
Fonte: Figura adaptada de Pope (2000, p.6)
CUSTOS DE CONFORMIDADE
N
A TRIBUTAÇÃO DA RENDA PESSOAL
CUSTOS MONETÁRIOS TEMPO GASTO EM
HONORÁRIOS
DE
CONSULTORIA
CUSTOS
INCIDENTAIS,
POR EXEMPLO,
TELEFONE
MANUTENÇÃO
DE
INFORMAÇÕES
PREENCHIMENTO
DE FORMULÁRIOS
FISCAIS
PLANEJAMENTO
TRIBUTÁRIO
42
Para as empresas, os custos monetários incluem gastos com honorários profissionais
de contadores, advogados e outros consultores; e o custo de tempo do pessoal interno na
manutenção de informações fiscais ao longo do ano; preenchimento de declarações fiscais
próprias ou na preparação de informações para profissionais de consultoria; relações com as
autoridades fiscais (figura 3).
Figura 3 – Principais tipos de custos de conformidade (econômicos) na tributação das empresas
Fonte: Figura adaptada de Pope (2000, p.7)
Por sua vez, os custos de conformidade o monetários o custos intangíveis
provocados pela operação do sistema tributário, que, embora sejam difíceis de quantificar,
provavelmente, também estão refletidos nos resultados das empresas.
O custo de consultoria tributária de fontes externas é facilmente estabelecido.
Grande parte das empresas pode estabelecer os custos de pessoal relacionados às
suas atividades tributárias. [...] Mas custos de conformidade que não são
prontamente quantificados em termos monetários. Em particular, é preciso
considerar também os custos psicológicos da obediência às obrigações fiscais. Os
custos psicológicos nesse contexto referem-se à ansiedade e à frustração no
aprendizado e no cumprimento as mudanças tributárias. (EVANS; TRAN-NAM,
2001, p.7-8) [tradução nossa].
Pope (2000) afirma que os custos não-monetários incluem os custos psicológicos de
estresse e ansiedade provenientes da obediência a um tributo específico ou a uma atividade
relacionada a tributo, tal como auditoria de uma autoridade fiscal.
Sandford (1989 apud BERTOLUCCI, 2003, p.22) expõe que os custos psicológicos
“correspondem ao stress existente em certas situações nas quais o contribuinte honesto e
cumpridor é intimado pelo Poder Público e, mesmo tendo cumprido as disposições tributárias,
CUSTOS DE CONFORMIDADE NA TRIBUTAÇÃO DAS EMPRESAS
EXTERNOS
CUSTOS
DE TEMPO
MONETÁRIOS
CUSTOS DE
PESSOAL
CUSTOS VARIADOS,
POR EXEMPLO,
TELEFONE, CORREIOS
MONETÁRIOS
HONORÁRIOS
PROFISSIONAIS
CONTADOR
ADVOGADO
OUTROS
DIRETORIA/
GERÊNCIA
CONTABILIDADE
INFORMÁTICA
JURÍDICO
SECRETARIA
OUTROS
INTERNOS
43
pode ficar em estado de ansiedade sem saber se, sem perceber, poderia ter errado em alguma
das declarações feitas”.
Pope (2000, p.3) ressalta que “a existência de tais custos não-econômicos é
reconhecida, embora normalmente ignorada” [tradução nossa].
De fato, Evans e Tran-Nam (2001) relatam que, infelizmente, nenhum estudo
conseguiu ainda quantificar com êxito esses custos psicológicos, embora esteja ocorrendo
pesquisa nessa área, com Robin H. Woellner e outros.
Das-Gupta (2003) menciona que os custos de conformidade incluem elementos
obrigatórios e voluntários. Custos obrigatórios são aqueles que os contribuintes precisam
incorrer para atender as obrigações tributárias tais como conservação de livros fiscais;
preenchimento de certos tipos de relatórios; autorizações e permissões exigidas pela lei, ou
estar apto a comprovar deduções pretendidas. Custos voluntários são principalmente
associados com planejamento tributário ou elisão fiscal empreendida pelos contribuintes para
reduzir o ônus fiscal, tendo em vista que tais custos são presumivelmente menores que as
conseqüentes reduções nas suas obrigações tributárias (EVANS et al, 2000, p. 235).
Os custos voluntários o custos adicionais que o contribuinte pode optar por
incorrer para determinar ou minimizar suas obrigações fiscais. Por exemplo,
contribuintes podem escolher avaliar métodos alternativos de obedecer a legislação
para determinar quais produzem resultados fiscais mais favoráveis. Eles podem
também buscar recomendações para identificar maneiras tributárias eficientes para
estruturar suas transações. (WARBURTON; HENDY, 2006, p.386) [tradução
nossa].
Essa distinção entre custos de conformidade voluntários (tax planning costs) e
involuntários ou inevitáveis (computational costs) foi feita introdutoriamente na literatura por
Kenneth Stanton Johnston, em 1963, em estudo apresentado a Universidade de Ohio.
Conforme Evans e Tran-Nam (2001), computacional compliance costs
compreenderiam aqueles custos necessariamente incorridos na determinação da obrigação
fiscal por exemplo, o custo para calcular o ganho de capital. Em contraste, tax planning
costs poderiam compreender pagamentos por recomendações com as quais uma transação
poderia ser estruturada de modo a produzir um ganho de capital tributado concessionalmente
ao invés de um ganho tributado mais pesadamente.
44
Contudo, Evans e Tran-Nam (2001) destacam que essa divisão tem causado
controvérsia que ainda não foi (e possivelmente nunca será) completamente resolvida, pois há
quem insista que somente os custos obrigatórios constituem medidas legítimas de custos de
conformidade na tributação.
Os autores, que compõem o time de pesquisadores do Programa de Estudos da
Tributação Australiana (ATAX), da Universidade de New South Wales, afirmam que seguem
a maioria dos pesquisadores da área tributária que preferem uma definição abrangente de
custos de conformidade a qual inclui custos voluntários e involuntários. A visão dos autores é
a de que:
[...] a linha entre custos evitáveis e inevitáveis será sempre embaçada e seria
impossível distinguir completamente atividades e custos relacionados ao
planejamento tributário e aqueles relacionados a satisfazer a conformidade exigida
pelo sistema tributário. Ambos os tipos de despesas são legitimamente incorridos
por contribuintes no cumprimento das exigências legislativas. (EVANS; TRAN-
NAM, 2001, p.7) [tradução nossa].
Sandford, Godwin e Hardwick (1989) distinguem ainda os custos de conformidade nas
categorias de custos transitórios ou recorrentes. O termo custos transitórios é comumente
usado para referir-se a custos de início de tributos (commencement or start-up costs) e a
custos temporários (temporary costs). Os custos recorrentes ou regulares (recurrent or
regular costs) são os que se mantêm, depois da fase inicial de aprendizado. Uma vez que a
legislação tributária tende a mudar continuamente, os custos de início e os custos recorrentes
existem, simultaneamente, no sistema tributário como um todo.
Evans e Tran-Nam (2001) indicam que os custos iniciais podem incluir o treinamento
inicial de funcionários para lidar com as mudanças tributárias propostas. O custo temporário
pode ser um tempo adicional requerido pela equipe para cumprir com as novas regras
enquanto ainda está se familiarizando com as nuances das alterações tributárias. E o custo
recorrente pode ser o tempo que se leva para cumprir com as mudanças da legislação
tributária, uma vez que o pessoal interno está familiarizado com elas.
Os custos de conformidade transitórios podem, portanto, incluir: os custos de
aprendizado e suas implicações (tempo e custos de treinamento de pessoal); a análise das
mudanças e eventuais pagamentos a consultores tributários externos; a aquisição de novos
softwares fiscais ou sua atualização para adaptar-se às mudanças; e outras modificações
necessárias de sistemas contábeis e gerenciais. Os custos recorrentes compreendem os custos
45
que permanecem depois que as rotinas são incorporadas à cultura da entidade e quando a
empresa já atingiu o nível de eficiência adequado.
Outra convenção presente na literatura sobre conformidade tributária é a distinção
entre os custos de conformidade brutos e líquidos. Os custos de conformidade líquidos são
iguais aos custos de conformidade brutos menos o valor de benefícios da conformidade
tributária (EVANS et al, 2000; DAS-GUPTA, 2003).
Esses benefícios, segundo Evans et al (2000), incluem:
Benefícios gerenciais, que proporcionam uma base para melhorar a tomada de
decisões das empresas ou indivíduos. Esses benefícios podem originar-se da
necessidade de se ter uma rigorosa manutenção de arquivos a fim de obedecer às
exigências das leis fiscais. Esses benefícios teoricamente existem, mas são difíceis
de quantificar, e normalmente são omitidos nos estudos empíricos;
Benefícios de fluxo de caixa, que surgem quando as empresas têm o uso dos
tributos por um período anterior ao que devam ser remetidos às autoridades fiscais;
Benefícios da dedutibilidade fiscal, pois alguns sistemas tributários reconhecem
certas atividades de conformidade tributária como fonte de legítimas despesas
dedutíveis de impostos.
Conceitualmente uma distinção também pode ser feita entre os custos de
conformidade sociais (social compliance costs) e os custos de conformidade dos contribuintes
(taxpayer compliance costs). Para Evans e Tran-Nam (2001), os custos de conformidade
sociais referem-se aos custos incorridos por toda a economia no cumprimento da legislação.
Os custos de conformidade dos contribuintes referem-se aos custos incorridos por
contribuintes na obediência à legislação, depois de levados em conta benefícios (se houver),
tais como subsídios, dedutibilidade fiscal, fluxo de caixa e benefícios gerenciais.
3.2. Evolução dos estudos sobre custos de conformidade à tributação
O reconhecimento da existência e do impacto dos custos operacionais tributários
(custos administrativos e custos de conformidade na tributação) não é um fenômeno recente.
Evans (2003) ressalta que, tão antigas quanto o século XVIII, as famosas quatro máximas de
46
boas práticas tributárias (eqüidade, certeza, conveniência e economia), de Adam Smith,
apresentadas em seu An inquiry into the nature and causes of the wealth of nations, de 1776,
enfatizaram o impacto dos custos operacionais tributários no sistema tributário.
Evans (2003) acrescenta que a literatura contém muitas referências históricas à carga
imposta aos contribuintes em conseqüência de suas obrigações tributárias. Evans (2003) cita,
como exemplo, a obra de William Cobbett, de 1826 - meio século após o discurso de Smith,
em que se observou que os fazendeiros enfrentavam não somente o custo de pagamento dos
impostos, mas também as despesas para atender a esse pagamento, tais como as regras a que
eles eram compelidos a obedecer na secagem e no ensacamento, e que lhes causavam grande
dispêndio.
Contudo, se o reconhecimento não é novo, pesquisas sobre custos operacionais
tributários têm desenvolvimento mais recente:
Os custos administrativos, como uma parte dos custos do setor público, foram
naturalmente sujeitos a algum grau de medida por governos em toda a parte, embora
o padrão e a abrangência dessa mensuração tenham variado consideravelmente por
muito tempo e entre governos. Mas muito pouco foi feito no sentido de avaliar e de
medir custos de conformidade até meados do século XX. (EVANS, 2003, p.1).
Evans et al (2000) afirmam que, a despeito da questão dos custos de conformidade na
tributação ser discutida, explicitamente, no nascimento da economia moderna, a primeira
tentativa de medir os custos de conformidade só aconteceu em 1935, com Robert M. Haig. Os
autores elencam diversas razões para esta relativa negligência:
Os custos de conformidade tributária têm sido considerados insignificantes;
Não há um modelo pronto e formal para a minimização dos custos de conformidade;
As estimativas de custos de conformidade tributária normalmente exigem pesquisas
meticulosas envolvendo a coleta de grande quantidade de dados indisponíveis em
fontes publicadas.
Entretanto, Evans et al (2000) ressaltam que tem havido um ininterrupto crescimento
do interesse internacional, particularmente entre países da Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OECD), nos custos de conformidade à tributação, tanto por
pesquisadores acadêmicos quanto pelos governos. Sandford (1995 apud EVANS, 2003)
47
identifica seis fatores aos quais podem ser atribuídom o aumento do interesse e o
envolvimento nas questões relacionadas aos custos de conformidade:
A poderosa influência das mudanças na tecnologia (e especialmente nos
computadores), permitindo a pesquisadores e governos empreenderem estudos
maiores e mais confiáveis em custos de conformidade;
a introdução de regimes de impostos sobre valor adicionado em diversos países.
Os altos custos operacionais associados a tais impostos aumentaram o interesse em
identificar e quantificar o potencial impacto;
o crescimento da cultura das organizações e aumento da importância para
economias modernas das pequenas empresas (onde os custos de conformidade são
particularmente onerosos);
a crescente complexidade dos sistemas tributários modernos e a carga que eles
impõem aos contribuintes que têm sido expostos a uma grande diversidade de
tributos;
o aumento da ênfase pelos governos em conseguir a conformidade voluntária os
fez mais conscientes do ônus que eles impõem aos contribuintes; e
as medidas tomadas desde a década de 80 para reduzir custos administrativos
(como parte das políticas para reduzir gastos públicos) podem ter aumentado o
peso dos custos de conformidade, e, possivelmente assim, aumentaram de maneira
geral os custos dos recursos à sociedade.
Dessa forma, nos últimos anos, esta área de pesquisa tributária tem florescido. Pope
(2000) afirma que, de maneira geral, até o início da década de 90, havia mais de cinqüenta
estudos conhecidos sobre custos de conformidade na tributação, incluindo Reino Unido,
Estados Unidos, Canadá, Nova Zelândia, Holanda e Austrália. Além disso, o autor enfatiza
que o interesse no tema cresce, seja em termos do número de pesquisadores investigando
custos de conformidade pela primeira vez em vários países e continuando investigações, seja
na forma de novas pesquisas, atualização de pesquisas anteriores ou na simulação de estudos,
por pesquisadores firmados em seus respectivos países. Pope (2000) acrescenta que o
interesse começa a se espalhar além dos países europeus e anglo-saxões, com estudos sendo
48
realizados em Cingapura, Malásia e Hong Kong e interesse pelo tema em países como Japão,
Índia e Croácia.
Sandford, Godwin e Hardwick (1989) pressupõem três grandes fases nas tentativas de
identificar e medir custos operacionais tributários - uma fase norte-americana que dura da
década de 30 a década de 60; uma fase européia nos anos 60 e 70; e uma fase mundial dos
anos 80 em diante.
O estudo de 1935 de Haig envolveu uma pesquisa postal dos custos de conformidade à
tributação encontrados em cerca de 1.500 grandes empresas nos Estados Unidos da América
(EUA). Isso provocou uma série de estudos sobre custo da conformidade de menor escala,
freqüentemente sem rigor científico, na América do Norte até o final da década de 1960.
Evans (2003) revela que esses estudos eram empreendidos por pesquisadores de diversas
formações acadêmicas, incluindo ciência administrativa, estudo dos negócios, contabilidade e
economia. A metodologia utilizada incluía aproximações de estudo de caso e exames postais.
Segundo Evans (2003), os estudos norte-americanos sobre custos operacionais o
foram tão prolíficos nos últimos 20 anos comparados àqueles primeiros, mas ainda tem
havido alguns estudos importantes nos EUA e no Canadá, nos anos recentes, e há evidência
de que o interesse está sendo reinflamado.
Evans (2003) ressalta que alguns estudos de custos de conformidade ocorreram na
Europa quase ao mesmo tempo que a onda norte-americana inicial, mas tenderam a ser de
pequena escala. Entretanto, o autor destaca que essa foi uma região onde muita atividade de
pesquisa ocorreu nos últimos 20 anos. Curiosamente, apesar dessa difusão recente da
atividade, somente um pequeno número de diferentes países (Reino Unido, Irlanda,
Alemanha, Holanda, Suécia e Espanha) devotaram-se aos estudos europeus.
Evans (2003) afirma que, antes de 1990, não havia nenhum estudo de custo
operacional publicado na Australasia” ou no Sudeste Asiático. Por conseguinte, a literatura
sobre custos operacionais do sistema tributário brotou rapidamente, com estudos publicados
na Austrália, Nova Zelândia, Malásia e Hong Kong e o período desde então não tem sido
menos prolífico.
Evans (2003) destaca ainda a existência de uma lista pequena, mas crescente, de
estudos em diversos países como Tanzânia, Brasil (com Bertolucci, em 2002) e Índia, bem
49
como também a evidência do interesse dos órgãos supra-nacionais, tais como a OECD, na
produção de estudos comparativos de custos da conformidade.
Um fator importante que contribuiu para o crescimento do interesse (e que reflete esse
crescimento) de pesquisadores e governos foi uma série das conferências e simpósios
considerando o assunto nas últimas duas décadas. Bertolucci (2003) destaca três congressos,
que são: o Congresso do Rio de Janeiro, em 1988; o Congresso da Oxford, em 1994 e o
Congresso de Sydney, em 2000.
A Internacional Fiscal Association (IFA) fez dos custos administrativos e custos de
conformidade na tributação o assunto principal para sua conferência de 1988. Bertolucci
(2003) relata que os representantes dos vários países deviam fornecer todo tipo de detalhes
sobre os custos operacionais dos impostos e indicações da natureza e direção desses custos.
Além disso, os estudos deviam concentrar-se sobre três tipos de impostos: Imposto de Renda
das Pessoas Físicas (inclusive ganhos de capital), Imposto de Renda das Pessoas Jurídicas e
Imposto sobre Vendas.
Para Bertolucci (2003), apesar da principal conclusão do Congresso mostrar que
faltavam informações abrangentes e confiáveis tanto sobre os custos administrativos - que são
os custos do Poder Público para controlar e arrecadar impostos quanto, menos ainda, sobre
custos de conformidade do contribuinte, esse foi um marco nos estudos de conformidade
tributária, pois, até então, não havia a conscientização da importância do estudo no mundo
acadêmico.
Os anais do Congresso listaram estudos de variados tamanhos e rigor em nove países
(Argentina, Bélgica, Canadá, Alemanha, Holanda, Suécia, Suíça, Reino Unido e EUA). Além
desses estudos, Israel e Noruega tentaram cálculos rudimentares sobre custos de
conformidade. Bertolucci (2003) apresenta um resumo desse Congresso, exposto na tabela 2,
e mostra o conjunto de informações disponíveis e evidencia, principalmente, as não
disponíveis:
50
Tabela 2 – Incidência de custos de conformidade e de administração sobre o PIB no Congresso IFA 1988.
País
Custos de
conformidade
Custos de
administração
Custos operacionais
tributários
Alemanha
2,36% 0,56% 2,92%
Argentina
1
1,25% ND ND
Brasil
ND ND ND
Canadá
ND 0,4% ND
Espanha
ND ND ND
Estados Unidos
2
ND ND ND
França
ND 1,5% ND
Israel
1,1% 0,5% 1,6%
Itália
ND ND ND
Japão
ND ND ND
Noruega
ND ND ND
Holanda
0,67% ND ND
Portugal
ND 0,73% ND
Reino Unido
1,0% 0,5% 1,5%
Suécia
0,5% 0,5% 1,0%
Suíça
ND 0,65% ND
Fonte: Bertolucci (2003, p. 52)
(1) Empresas médias
(2) Há muitos dados, mas nada abrangendo o total da federação.
Em 1994, um importante simpósio foi realizado na faculdade de St John, Oxford, na
Inglaterra, atraindo a maioria dos principais pesquisadores do mundo na área. Sandford (1995
apud BERTOLUCCI, 2003) afirmou que o Congresso tinha como principal objetivo discutir a
metodologia de medição dos custos de conformidade e como poderia ser melhorada a
definição de políticas de tributação. Sandford (1995) fez um retrospecto dos estudos sobre
custos de conformidade e afirmou que foi no final do século XX que se deu real
importância a esse tema, com a conferência da International Fiscal Association, no Rio de
Janeiro, em 1988, cujos anais foram editados em 1989.
Os anais do Congresso de Oxford foram publicados em um livro - Tax Compliance
Costs Measurement and Policy (SANDFORD, 1995), mostrando que muitos daqueles países
citados no Congresso de 1988 tinham empreendido estudos adicionais. Além disso, Austrália,
Espanha e Nova Zelândia foram adicionados à lista dos países que empreendiam estudos
importantes.
Em abril de 2000, foi realizado em Sydney, Austrália, um simpósio internacional
sobre custos de conformidade:
51
Nota-se o progresso feito no período pelo fato de terem sido apresentados 21
trabalhos com um nível muito maior de sofisticação do que nos congressos
anteriores, principalmente em relação ao do Rio de Janeiro em 1988, quando o
assunto era praticamente desconhecido pelos participantes. (BERTOLUCCI, 2003,
p. 94).
Bertolucci (2003) acrescenta que os temas tratados em Sydney evoluíram também de
forma qualitativa; passou-se da discussão de Oxford, de como fazer a pesquisa dos custos de
conformidade, para análises como a avaliação dos custos psíquicos ou a relação entre os
custos de conformidade e a própria conformidade tributária. Instrumentos mais sofisticados de
estatística para modelagem foram utilizados, e os participantes, que em Oxford eram
principalmente economistas, passaram a ser também contadores, administradores e
advogados, ampliando o raio de ação dos estudos.
O autor (2003) destaca ainda a participação das administrações tributárias de vários
países quanto à preocupação com os custos de conformidade, com patrocínio de pesquisas e
inclusão desse tema entre os estudados nas alterações dos tributos.
3.3. Custos de conformidade à tributação no mundo
O cenário de negligência inicial da pesquisa em custos operacionais tributários (custos
administrativos e custos de conformidade na tributação) tem mudado no contexto
internacional. Questões relacionadas a essa área de pesquisa deslocaram-se da periferia para
uma posição mais central. Em conseqüência, agora uma literatura extensiva e variada
disponível que pode fornecer um ponto de referência útil para os estudos que se relacionam ao
peso da regulamentação tributária.
Um resumo dos maiores (e de alguns menores) estudos dos custos administrativos e de
conformidade, que foram publicados desde 1980, foi elaborado pelo professor e pesquisador
do Programa de Estudos da Tributação Australiana (ATAX), da Universidade de New South
Wales, Chris Evans, e está contido, com propósito ilustrativo, no anexo A.
Os principais resultados dos estudos identificados por Evans (2003) sugerem que os
custos de conformidade são altamente significativos para os impostos sobre a renda e sobre o
valor adicionado - tais como o Personal Income Tax (PIT), Corporate Income Tax (CIT),
Value Added Tax (VAT)/Goods and Services Taxes (GST). Os estudos sugerem que os custos
52
de conformidade de tais impostos estão normalmente entre 2% e 10% do rendimento
produzido por aqueles impostos e, no total, até 2,5% do PIB.
A pesquisa também aponta para a regressividade dos custos de conformidade desses
tributos, particularmente dos impostos sobre o valor adicionado. Evans (2003) destaca que o
tamanho da empresa é um fator chave na determinação dos custos de conformidade e que a
maioria dos estudos confirma que as empresas menores suportam custos de conformidade,
desproporcionalmente, mais elevados.
No mesmo sentido, as pesquisas realizadas por Slemrod e Blumenthal (1993) e
Slemrod (1997) com grandes companhias do que era antes conhecido como Coordinated
Examination Program (CEP), e que atualmente denomina-se Coordinated Industry Case
program (CIC), do Internal Revenue Service (IRS) que é a administração tributária federal
dos Estados Unidos sugerem que o tamanho das firmas é um importante determinador dos
custos de conformidade. Os resultados estão resumidos na tabela 3:
Tabela 3 - Estimativa dos custos de conformidade do imposto de renda federal das empresas nos Estados Unidos
Estudo Ano
Companhias
abrangidas
Custo de
Conformidade
por Firma
Custo de
Conformidade
Total
% da
Receita
Slemrod e
Blumenthal
(1993)
1992
~1300 maiores
companhias
americanas
$1.55 milhões $2.02 bilhões 2.7
Slemrod (1997) 1996
~1300 maiores
companhias
americanas
$1.80 milhões $2.34 bilhões
não
calculado
Slemrod e
Venkatesh
(2002)
2000
Menores que as
1300 maiores,
mais que $5
milhões de ativos
$104,000 -
$110,000
$23.0 - $24.4
bilhões
não
calculado
Fonte: Slemrod (2006, p.36)
Os pesquisadores (2006) concluíram que, enquanto firmas com mais ativos incorrem
em maiores custos de conformidade, há uma clara economia de escala, e os custos de
conformidade, em proporção ao tamanho da empresa, decrescem à medida que o tamanho dos
ativos da empresa aumenta. Assim, embora as grandes firmas geralmente incorram em custos
de conformidade mais altos que firmas médias e pequenas, os custos de conformidade são
regressivos no sentido de que firmas menores enfrentam maiores custos de conformidade na
proporção de seu faturamento que empresas maiores.
Os estudos listados por Evans (2003) também apontam o fato que os custos de
conformidade estão sendo percebidos como uma questão muito significativa para a maioria
53
das empresas, tornando-se motivo de preocupação contínua. Todavia, apesar de algumas
tentativas de determinados governos, projetadas para reduzir o peso enfrentado pelos
contribuintes, o problema persiste. A complexidade das legislações junto a freqüência da
mudança legislativa são identificadas como as principais causas de custos de conformidade
elevados.
O CNN Money.com publicou notícia, em 10 de janeiro de 2006, intitulada The high
cost of tax compliance, em que apresentou estudo realizado pela Tax Foundation, instituição
norte-americana de pesquisas tributárias, no qual se estima que a complexidade do sistema
tributário, especialmente do código do imposto de renda federal, custa aos contribuintes
US$0,22 (vinte e dois centavos de dólar) para cada dólar arrecadado pelo governo americano.
Segundo a notícia, o estudo apurou que indivíduos, empresas e entidades sem fins lucrativos
gastaram mais de seis bilhões de horas em 2005 conformando-se ao código do imposto de
renda, o que representou um custo de US$265.1 bilhões. Os contribuintes pagaram US$1.2
trilhões em tributos federais em 2005. O estudo também concluiu que o custo de
conformidade tem crescido nos últimos anos e ainda há expectativa de aumento.
Em relação a estudos internacionais comparativos, Warburton e Hendy (2006) expõem
que poucos estudos e a principal razão para isso é que comparações entre países são
difíceis de conduzir e precisam ser tratadas com cautela.
As dificuldades na produção significativa de comparações de custos de conformidade
à tributação decorrem de muitos aspectos que podem influenciar a mensuração desses custos
entre os países, tais como diferenças na qualidade dos resultados, por exemplo, nas variações
das taxas de resposta, questões ou procedimentos de validação; questões conceituais
resultantes de diferenças nas percepções do que se constitui um custo de conformidade;
diferenças na estrutura tributária, incluindo variações na compensação de tributos; a
composição da população tributada, preferências por despesas tributárias sobre despesas
diretas, em que benefícios são fornecidos pelo sistema tributário, entre outros.
Entretanto, Warburton e Hendy (2006) afirmam que as limitações anteriormente
delineadas, não significam que comparações internacionais não possam ser feitas. Pope
(2000) apresenta dados internacionais de pesquisas conduzidas por si e por Evans et al (2000)
para o ano de 1994-95, em que os custos de conformidade à tributação para indivíduos variam
de 3,6% da receita tributária e 0,38% do PIB no Reino Unido, para 7,9% e 1,05%,
54
respectivamente, na Austrália. Os números para os Estados Unidos são 6,1% e 1,00%,
respectivamente. Os custos de conformidade na tributação da renda das empresas são
estimados entre 16% e 23% da receita tributária na Austrália comparado com cerca de 2% no
Reino Unido.
Do mesmo modo, Pope (2000) observa que as usuais recomendações de cautela
aplicam-se a tais comparações internacionais.
3.4. Custos de conformidade à tributação no Brasil
Desde algum tempo até os dias atuais, muito se discute a respeito da carga tributária
brasileira. Discute-se também, mas com menos intensidade, a complexidade das regras e
normas tributárias existentes no atual sistema tributário brasileiro.
Entretanto, a tributação, como discutido neste capítulo, envolve outros custos que
pesam na economia e que não podem ser desconsiderados, como por exemplo, os custos de
conformidade dos contribuintes.
Bertolucci (2003) expõe que não encontrou bibliografia brasileira voltada
especificamente aos custos de conformidade e que os autores brasileiros demonstram
preocupação com relação ao tema, mas sempre dentro do âmbito maior que tem sido a
reforma tributária. Ele destaca que, no Brasil, as partes envolvidas contribuintes,
administração tributária e o meio acadêmico ainda não se debruçaram sobre a questão do
custo de conformidade que, certamente, poderá levar à economia de grandes recursos pelo
País.
Para Bertolucci (2003), um aspecto que influencia os custos de conformidade no
Brasil é o próprio pacto federativo e a forma como a Constituição Federal define a
competência tributária.
No Brasil, cada uma das pessoas jurídicas de direito público, vale dizer, a União, os
Estados, o Distrito Federal e os Municípios têm sua competência tributária, e, portanto,
competência legislativa, atribuída constitucionalmente pelos artigos 153 a 156: “[...] a
Constituição Federal delimita, com razoável precisão, a matéria fática de que se pode valer o
legislador na instituição de tributos” (MACHADO, 2005, p. 273).
55
Bertolucci (2003) resume os tributos e as competências tributárias no esquema da
figura 4:
Sistema Tribut
ário
no Brasil
Estados e
Distrito Federal
União Municípios
Impostos
Renda
Importação-Exportação
Produtos Industrializados
Operações Financeiras
Territorial Rural
Grandes Fortunas
Circulação de
Mercadorias e Serviços
Causa Mortis e Doações
Propriedade Veículos
Automotores
Propriedade Urbana
Transferência de Bens
Imóveis
Serviços
Contribuições Sociais
Cofins
Folhas de Pagamento
Lucro Líquido
PIS
Movimentação Financeira
Loterias
Salários do
Funcionalismo
Salários do Funcionalismo
Contribuições sobre o Domínio Econômico
Transferência de
Tecnologia
Petróleo
Taxas
Lixo
Licença de
Funcionamento
Propaganda Visual
[...]
Contribuições de Melhoria
Empréstimos Compulsórios
Contribuições de Categorias Profissionais
Figura 4 – Tributos e competências tributárias no Brasil
Fonte: Bertolucci, 2003, p.115
Bertolucci (2003) entende que a descentralização da legislação tributária representa
um alto custo para os contribuintes e que se os Constituintes tivessem determinado que os
impostos fossem de competência de vários entes, mas impondo uma legislação federal e
homogênea, as empresas não seriam tão oneradas. O autor (2003, p.118) destaca que, da
forma atual, “os impostos dos Estados terão a legislação multiplicada por 27 e, no limite, as
leis dos Municípios serão cerca de 5.000, que é o número aproximado de municípios no país”.
56
Condorcet Rezende, advogado tributarista, em artigo intitulado “Pandemônio
Tributário”, ressalta que:
Se a ninguém é lícito escusar-se do cumprimento da lei alegando seu
desconhecimento, torna-se imperioso que o contribuinte leia e entenda a legislação
tributária que possa afetá-lo; e a expressão ‘legislação tributária’, nos termos do art.
96 do Código Tributário Nacional, compreende as leis, os tratados e as convenções
internacionais, as medidas provisórias, os decretos e as normas complementares
(abrangendo estas últimas os atos normativos tais como portarias, resoluções,
instruções normativas e outros atos menores). (REZENDE, 2004, p.8).
Outro aspecto que influencia os custos de conformidade no Brasil é a instabilidade das
normas tributárias brasileiras e a complexidade gerada também pelo volume e pelas
constantes mudanças na legislação.
Becker (1989) observa, ironicamente, que “tal como estão formuladas as leis fiscais
[...], elas exigem que esta terra seja habitada exclusivamente por gênios matemáticos e
inventivos, todos filhos naturais de Pascal e Descartes”.
Em recente levantamento do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT,
2006b) para apurar a quantidade de normas editadas nos 18 anos de vigência da Constituição
Federal de 1988, verificou-se um total de 229.616 regras tributárias editadas nos três níveis de
governo. Em relação à complexidade, o estudo destaca que, em média, cada norma tributária
editada tem 11,23 artigos, cada artigo tem 2,33 parágrafos, 7,45 incisos e 0,98 alíneas. Foram
editados nesse período 2.578.588 artigos, 6.008.111 parágrafos, 19.210.484 incisos e
2.527.017 alíneas e, até a data do referido estudo, estavam em vigor 181.275 artigos, 422.370
parágrafos, 1.350.497 incisos e 177.649 alíneas.
Assim, custos de conformidade podem ser gerados em decorrência da instabilidade da
legislação tributária, somada à complexidade do texto legal, que impõem às empresas
dispêndios de recursos em atividades, como pesquisas e planejamento tributário,
treinamentos, contratação de consultorias, além das tarefas de conformidade fiscal, bem como
questionamentos no contencioso administrativo e judicial.
Bertolucci (2003) ressalta que é importante reconhecer que uma parte da
administração tributária no Brasil tem demonstrado sensibilidade para o tema, como
demonstrado nos pontos relatados pelo autor:
A criação do "Simples" como forma de apuração dos impostos a serem recolhidos
pelas microempresas e empresas de pequeno porte;
57
A implantação de sistemas amigáveis de lculo, apuração, transmissão e pagamento
de imposto de renda das pessoas físicas e jurídicas com redução dos tempos de estudo,
cálculo e preenchimento de declarações de renda;
A criação da modalidade de cálculo do lucro presumido, que pode simplificar muito
sua apuração de resultado com grande redução de custo de conformidade.
Em seu livro “Quanto Custa Pagar Tributos”, originalmente dissertação de Mestrado,
Bertolucci (2003) apresenta pesquisa pioneira sobre custos de conformidade no Brasil,
levantados junto às companhias abertas associadas da Associação Brasileira das Companhias
Abertas (ABRASCA). A pesquisa foi realizada mediante envio de questionário por e-mail às
empresas associadas à ABRASCA e a criação de um site também contendo o questionário,
cujas perguntas referiam-se ao exercício de 1999. Através dos resultados obtidos,
correspondentes a 12% da população, verificou-se que os custos dos contribuintes os custos
de conformidade à tributação correspondem a 0,75% do PIB na média das companhias
abertas e pode alcançar 5,82% do PIB nas companhias abertas com receita bruta anual de até
R$ 100 milhões por ano.
Bertolucci (2003) apresenta tabela com os custos de conformidade levantados na
pesquisa, no qual as empresas estão separadas por categorias de receita bruta e cujos custos de
conformidade, em relação ao seu valor adicionado (que corresponde a seu PIB), assim, se
apresentaram (tabela 4):
Tabela 4 – Custos de conformidade das companhias abertas – incidência sobre o PIB
CATEGORIA DE RECEITA BRUTA
INCIDÊNCIA SOBRE O
VALOR ADICIONADO (PIB)
ATÉ R$ 100 MILHÕES 5,82%
DE R$ 100 A 1.000 MILHÕES 1,88%
DE R$ 1.000 A 5.000 MILHÕES 1,25%
ACIMA DE R$ 5.000 MILHÕES 0,24%
TODAS AS EMPRESAS 0,75%
Fonte: Bertolucci, 2003, p.139
O autor (2003) destaca nas conclusões da pesquisa aspectos como a regressividade dos
custos de conformidade, que se mostra muito acentuada nas empresas menores, e o
desperdício de recursos:
O valor global dos custos incide em 0,32% da receita bruta na média das empresas
pesquisadas, mas, nas empresas menores, com faturamento bruto anual de até R$100
milhões, essa incidência aumenta para 1,66%. Calculando a incidência sobre o PIB
dessas empresas, chega-se a 0,75% do total das companhias abertas e, considerando
58
apenas as empresas menores, a 5,82%. Assumindo que essas incidências sejam
válidas para toda a economia, poder-se-ia afirmar que o Brasil desperdiça, no
mínimo, R$7,2 milhões por ano para cumprir as determinações das leis tributárias
em vez de alocá-los à atividade produtiva. (BERTOLUCCI, 2003, p.16).
3.5. Questões relacionadas à identificação dos custos de conformidade à tributação
É preciso reconhecer que algumas questões de identificação e mensuração
relacionadas aos custos de conformidade à tributação permanecem controversas em
determinados aspectos.
Isso decorre, principalmente, do fato de que, como observado na evolução dos estudos
dos custos de conformidade à tributação, embora o reconhecimento da existência e do
impacto desses custos não seja novo, o desenvolvimento de pesquisas nesse campo é muito
recente: reporta-se a meados do século XX.
Bertolucci (2003) ressalta que os custos de conformidade são percebidos pela maioria
dos contribuintes de maneira instintiva e que o faz parte da cultura dar-lhes um tratamento
sistemático e esse fenômeno é mundial, pois mesmo nos países mais desenvolvidos, não é
prática comum criar mecanismos e dispositivos para apurá-los ou controlá-los.
O autor (2003) destaca que o levantamento dos custos de conformidade passa por dois
tipos de problemas, o conceitual - quais são os itens que o compõem e o prático como
apurá-los:
Para melhor avaliar a dificuldade conceitual que se tem para definir os itens que
compõem os custos de conformidade, já se verificou que os Regulamentos de ICMS
Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços dos vários estados foram
tão modificados por medidas ad hoc, feitas para atender a determinadas situações,
que se perdeu o controle sobre todos os aspectos dessas legislações em virtude do
emaranhado atual. Saber o que compõe o custo de cumprir uma legislação que o
próprio Fisco estadual reconhece que não conhece em todos os seus detalhes é
realmente difícil. (BERTOLUCCI, 2003, p.25).
Sob o aspecto prático, o autor (2003) aponta que a dificuldade existente diz respeito ao
modo como as empresas organizam seus sistemas de informação, ou seja, para tratar os dados
existentes dentro dos padrões estabelecidos pela Contabilidade e Finanças:
Estes sistemas levantam balanços patrimoniais, demonstrações de resultado e fluxos
de caixa; apuram custos de fabricação e distribuição, margens de contribuição;
fazem controles de custos fixos, controlam o orçamento de cada centro de custo e de
resultado da organização, mas não estão preparados para levantar somente a parte
dos custos das várias áreas da empresa que tem recursos voltados ao atendimento de
normas tributárias. Desde o Conselho de Administração quando toma decisões de
59
natureza tributária, passando pela Diretoria, Conselho Fiscal, Controladoria,
Jurídico, Recursos Humanos, Marketing, Vendas, Compras, Informática, Normas,
Almoxarifados, Expedição de Produtos Acabados e Portarias, todos tem parte de
suas funções relacionadas com o cumprimento de obrigações tributárias.
(BERTOLUCCI, 2003, p.25).
Oliveira et al (2003) também argumentam que a contabilidade atualmente praticada no
Brasil contribui muito pouco para a discussão da questão do real custo dos tributos e dos
encargos sociais sobre os salários e seus impactos nas diversas atividades empresariais. “Qual
é o custo da tributação, incluindo as obrigações acessórias, investimentos em informática,
manutenção de equipe especializada etc.? Esse tipo de informação não é dado aos diversos
usuários das demonstrações contábeis e demais relatórios gerenciais” (OLIVEIRA et al, 2003,
p.16-17).
Pope (2000) discute a questão do tratamento dispensado às despesas gerais, o qual
afirma que a literatura muito tem reconhecido a dificuldade de alocação dessas despesas,
tais como aluguel, energia, aquecimento/refrigeração, equipamentos de informática, usados no
trabalho de conformidade tributária, nas empresas onde um “uso conjunto” com as
atividades normais dos negócios.
Sandford, Godwin e Hardwick (1989 apud POPE, 2000) adotam a visão de que o
percentual de despesas gerais alocáveis ao trabalho de conformidade tributária aumenta
conforme aumentam o tamanho da empresa e a complexidade do trabalho fiscal. As empresas
maiores podem ter um departamento fiscal exclusivo do qual todas as despesas gerais podem
ser alocadas ao trabalho de conformidade tributária. Para os autores, outro problema é o de
alocação de despesas gerais entre diferentes tributos. A convenção adotada na maioria das
pesquisas de custos de conformidade é deixar a alocação de despesas gerais implícita,
eliminando qualquer estimativa arbitrária.
Uma questão que permanece um “problema espinhoso” na literatura é apontada por
Pope (2000): a questão da valoração do tempo do contribuinte, sendo essa uma área onde
diferentes abordagens têm sido adotadas pelos estudiosos desse campo. A questão essencial
destacada pelo autor é o que o contribuinte está sacrificando ao realizar um trabalho de
conformidade tributária e como isso deve ser avaliado em termos monetários.
Pope (2000) destaca ainda quanto à mensuração dos custos de conformidade da
tributação que a convenção usual nos estudos é medir os custos de conformidade em termos
monetários absolutos e como um percentual do rendimento tributável; muito embora, um
60
importante estudo apresentado por Arthur D. Little Corp., em 1988, tenha medido os custos
de conformidade somente em termos de tempo, expressando uma estimativa total em bilhões
de horas.
Uma medida alternativa ou adicional para a medida em percentual do rendimento
tributável apresentada pelo autor e utilizada em algumas pesquisas no Reino Unido e na
Austrália é expressar os custos de conformidade como um percentual do Produto Interno
Bruto (PIB).
Sandford, Godwin e Hardwick (1989 apud BERTOLUCCI, 2003) percebem as
dificuldades e limitações desse levantamento, contudo, afirmam que embora não haja uma
solução perfeita para esse problema, entende-se que pode haver soluções que não levarão a
um resultado exato até o último dígito, mas que podem servir para uma base valiosa para
decisões de política tributária.
Objetivando caracterizar o setor em que está inserida a empresa estudo de caso da
presente pesquisa, o próximo capítulo contextualiza o ambiente de saneamento, apresentando
a atual situação sanitária no Brasil e no Estado do Ceará.
4. CARACTERIZAÇÃO DO SETOR DE SANEAMENTO
A discussão sobre a universalização dos serviços de água e esgoto vem ganhando
relevância, paralelamente, ao reconhecimento da importância que o saneamento possui na
qualidade de vida do ser humano e em seu meio ambiente. Essa preocupação com o
saneamento e suas relações com a saúde da população remonta às mais antigas civilizações
humanas, onde egípcios, gregos e romanos cuidavam de suas águas e dejetos.
No Brasil, ameados do século passado, eram proeminentes as deficiências quanto à
quantidade e à qualidade no abastecimento de água. Foi entre os anos 70 e 80 que se expandiu
notavelmente a oferta de serviços de saneamento básico, como resultado dos mecanismos
institucionais e financeiros postos em marcha pelo Plano Nacional de Saneamento
(PLANASA), em que se constituíram as companhias estaduais de saneamento, as quais, até
hoje, controlam a maior parte das operações no setor (ARRETCHE, 2004).
Apesar dos grandes avanços verificados nos índices de abastecimento de água e, mais
modestamente, na coleta e tratamento de esgotos, ainda um déficit importante a superar
para a universalização ansiada. Contudo, segundo a Associação das Empresas de Saneamento
Básico Estaduais (AESBE, 2006), nos últimos anos, no sentido contrário das necessidades do
setor, não os investimentos fiscais em saneamento vêm caindo, como vem subindo
significativamente a tributação imposta aos prestadores de serviços de saneamento básico.
No presente capítulo, são apresentados a evolução política do setor de saneamento
básico das últimas décadas, a atual situação sanitária do Brasil e, especificamente, do Estado
do Ceará e aspectos importantes no que se refere à carga tributária incidente.
4.1. Perspectiva histórica do saneamento
A Organização Mundial de Saúde (OMS) (1993 apud OHIRA, 2005) define
saneamento como o controle de todos os fatores do meio sico do Homem que exercem ou
podem exercer efeito deletério sobre seu bem-estar físico, mental e social.
62
O setor de saneamento abrange uma gama de atividades, tais como: abastecimento de
água potável, esgotamento sanitário, limpeza urbana, manejo de resíduos sólidos, drenagem e
manejo das águas pluviais urbanas. Dentre os serviços industriais de utilidade pública, os de
saneamento básico têm uma relação incontestável com a saúde pública, o meio ambiente e a
qualidade de vida.
Pena e Abicalil (2007) ressaltam que a ausência ou inadequação dos serviços de
saneamento constituem riscos à saúde pública e que a implantação desses serviços tem forte
impacto na redução dessas doenças e das taxas de mortalidade infantil.
Pena e Abicalil (2007) também destacam a importância dos serviços de saneamento
para o meio ambiente e a qualidade de vida da população, que é sentida de forma mais
evidente nos contextos de urbanização ou industrialização acelerada em que a ausência de
tratamento adequado dos resíduos constitui a principal causa de degradação ambiental. A
poluição das águas nessas áreas limita os usos múltiplos dos recursos hídricos (abastecimento
de água, paisagismo, lazer e turismo, entre outros) e repercute negativamente na economia das
regiões afetadas.
Portanto, o serviço de saneamento é considerado serviço essencial, seja sob o aspecto
sanitarista, baseado nos fatores que impactam na saúde pública, seja sob o enfoque ambiental
e ecológico, dada a escassez de recursos naturais, sendo esse último uma preocupação mais
recente.
Ohira (2005) enfatiza que, desde o início das civilizações, a preocupação com a infra-
estrutura, ou sistemas de tratamento de água e esgoto doméstico, é um assunto importante na
qualidade de vida e saúde pública. A autora menciona antigos relatos de que os egípcios e
cretenses apresentavam em suas civilizações noções de armazenamento e tratamento de água.
A civilização greco-romana também se destacou nas práticas sanitárias coletivas,
tendo como marco a Cloaca Máxima de Roma, capaz de drenar o esgoto urbano e livrar o
centro cívico da cidade das ameaças de inundações e possível contaminação urbana.
No Brasil, Ogera e Phillip Jr. (2005) consideram que a estruturação dos serviços de
água e esgoto e intervenções de saneamento são, notadamente, marcadas por três grandes
períodos: o primeiro, a partir da segunda metade do século XIX, quando estava em andamento
o processo de industrialização e seus reflexos no país e em que a implantação dos sistemas de
63
saneamento ocorreu, juntamente com outros sistemas de infra-estrutura, como estradas de
ferro, geração de energia, iluminação pública e transportes urbanos, dentre outros.
Ohira (2005) destaca que nesse período ocorreu uma estruturação das ações de
saneamento sob o paradigma do higienismo, isto é, como uma ação de saúde, contribuindo
para a redução da morbi-mortalidade por doenças infecciosas, parasitárias e, amesmo, o
infecciosas, bem como a organização dos sistemas de saneamento como resposta a situações
epidêmicas.
Conforme Ogera e Phillip Jr. (2005), o segundo período teve início na década de 1930,
marcada pela transformação do Estado brasileiro, que abandonou a oligarquia das terras e
iniciou, em 1937, um período de centralização do governo, que levou a uma ditadura.
Faria e Faria (2004) destacam como marco histórico da política nacional de recursos
hídricos o Decreto Federal n.º 24.643, de 10.07.1934, o Código de Águas. Esse Código
preconizava assegurar o uso gratuito de qualquer corrente ou nascente de água para as
primeiras necessidades da vida de qualquer indivíduo, desde que obedecesse aos
regulamentos administrativos. Estabeleceu como prioridade o abastecimento humano e
considerou ilícito qualquer tipo de contaminação da água que prejudique a terceiros,
responsabilizando os infratores pelo dano.
Para Ogera e Phillip Jr. (2005), o Código das Águas foi de fundamental importância
para a gestão pública do setor de saneamento, pois estabeleceu os primeiros instrumentos de
controle do uso dos recursos hídricos e lhe dava o poder de fixar as tarifas.
O terceiro período é marcado pela criação do Sistema Financeiro da Habitação (SFH),
através da Lei n.º 4.380, de 21 de agosto de 1964, e do Banco Nacional da Habitação (BNH),
que seria o gestor do SFH. Posteriormente, em 04 de setembro de 1968, o Governo Federal,
através da Portaria n.º 273, do Ministério do Interior, promoveu a instituição do Sistema
Financeiro do Saneamento (SFS) do qual, o Banco Nacional da Habitação, foi designado
órgão central, com competências definidas de disciplinar e estimular as atividades desse
sistema e, em 1971, instituiu o Plano Nacional de Saneamento (PLANASA).
Faria e Faria (2004) expõem que o PLANASA constituiu um modelo de gestão
centralizado de política de abastecimento urbano de água e esgoto, cujos recursos financeiros
eram originados do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), do Orçamento Geral da
64
União (OGU), dos Estados e dos municípios, bem como do próprio BNH, de empréstimos
externos junto a agências multilaterais de fomento e empréstimos internos.
Para Faria e Faria (2004), o PLANASA tinha como principais objetivos: aumentar
cobertura dos serviços de abastecimento urbano de água e coleta de esgotos em um curto
espaço de tempo, instituir uma política tarifária com valores reais para o setor de saneamento
e concentrar a prestação dos serviços sob a coordenação das Companhias Estaduais de
Saneamento Básico (CESBs).
O PLANASA representou um grande marco do crescimento dos índices de
abastecimento de água e, em menor grau, da coleta de esgotos no país. Arretche (2004)
destaca que, em 1980, a população atendida pelo Plano, com os serviços de abastecimento de
água, era de cerca de 50 milhões de pessoas, ou 42% da população total, então de 119 milhões
de pessoas. Os serviços de esgotamento sanitário, apesar de números mais modestos, cobriam
cerca de 17,5 milhões de pessoas.
Contudo, a partir de meados dos anos 80, as condições institucionais e financeiras de
operação do PLANASA apresentaram evidentes sinais de erosão. A extinção do BNH em
1986 implicou o início de um longo período de indefinição institucional para o setor de
saneamento.
Turolla (2002) destaca que, em meio à crise do setor de saneamento, a Constituição
Federal de 1988 introduziu dispositivos referentes ao saneamento básico. O artigo 21
estabelece a competência da União:
Art. 21. [...]
XX - Instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habitação,
saneamento básico e transportes urbanos.
O artigo 23 estabelece competência comum da União, dos Estados e Distrito Federal e
dos Municípios quanto à melhoria das condições de saneamento básico:
Art. 23. [...]
IX – promover programas de construção de moradias e melhoria das condições
habitacionais e de saneamento básico.
O texto constitucional do artigo 30 define que compete aos municípios:
Art. 30. [...]
V organizar e prestar, diretamente ou sob regime de concessão e permissão, os
serviços públicos de interesse local, incluído o de transporte coletivo, que tem
caráter essencial.
65
Pena e Abicalil (2007) ressalvam que, embora a titularidade dos serviços de interesse
local esteja claramente expressa na Constituição, sendo uma atribuição dos municípios, não
há clara definição constitucional nos casos em que predomina o interesse comum na prestação
dos serviços, como nas regiões metropolitanas, nas quais os sistemas o total ou
parcialmente integrados. Os mesmos autores destacam que essa situação tem gerado intenso
debate e criado dificuldades em reformas na prestação e regulação dos serviços.
Dentro desse arcabouço legalinstitucional, segundo Faria e Faria (2004), o município
pode prestar os seus serviços diretamente (por meio de Departamentos ou Serviços
Autônomos de Água e Esgoto) ou indiretamente, por meio de concessões às CESBs (como
sugerido no PLANASA) ou a empresas privadas que se encarreguem do abastecimento e do
sistema de esgotamento sanitário.
Para Turolla (2002), o PLANASA foi o único mecanismo articulado de financiamento
e de modernização do setor de saneamento no Brasil. Após o seu colapso, as iniciativas
governamentais revelaram-se pontuais e desarticuladas, enquanto a Política Nacional de
Saneamento permaneceu por toda a década de 1990 sem regulamentação.
Turolla (2002) afirma que as políticas públicas relativas ao saneamento, na década de
1990, apresentaram um padrão comum, caracterizado pela ênfase na modernização e na
ampliação marginal da cobertura dos serviços. Os recursos disponíveis no período vieram dos
programas federais, do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e das instituições de
fomento, principalmente, o Banco Mundial (Bird) e o Banco Interamericano de
Desenvolvimento (BID). O quadro 2 apresenta os principais programas federais
implementados na década de 1990:
Programa Período Financiamento Benefícios/Desdobramentos
PRONURB 1990/1994 FGTS e contrapartida
População urbana, em geral, com
prioridade a baixa renda.
PRÓ-SANEAMENTO
1995 FGTS e contrapartida
Preponderantemente, em áreas com
famílias com renda de até 12 salários
mínimos.
PASS 1996
OGU e contrapartida
BID e Bird
População de baixa renda em
municípios com maior concentração de
pobreza.
PROSEGE
1992/1999
BID e contrapartida
População de baixa renda,
privilegiando comunidades com renda
de até 7 salários mínimos.
FUNASA-SB
-
OGU e contrapartida
Apoio técnico e financeiro no
desenvolvimento de ações com base
em critérios epidemiológicos e sociais
66
Programa Período Financiamento Benefícios/Desdobramentos
PMSS I
1992/2000
Bird e contrapartida
Estudos e assistência técnica aos
estados e municípios em âmbito
nacional; investimentos em
modernização empresarial e aumento
de cobertura dirigidos a Casan,
Embasa e Sanesul.
PMSS II
1998/2004
Bird e contrapartida
Passa a financiar companhias do
Norte, Nordeste e Centro-Oeste e
estudos de desenvolvimento
institucional.
PNCDA
1997-
OGU e contrapartida
Uso racional de água em prestadores
de serviço de saneamento,
fornecedores e segmentos de usuários.
FCP/SAN
1998-
FGTS, BNDES e
contrapartida
Concessionários privados em
empreendimentos de ampliação de
cobertura em áreas com renda de até
12 salários municípios.
PROPAR
1998
BNDES
Estados, municípios e concessionários
contratando consultoria para
viabilização de parceria público-
privada.
PROSAB
1996 -
Finep, CNPq, Capes
Desenvolvimento de pesquisa em
tecnologia de saneamento ambiental.
Quadro 2 – Principais programas federais em saneamento na década de 1990
Fonte: Turolla (2002, p. 15)
Bezerra (2003) enfatiza que o setor de saneamento carecia de uma política nacional e,
ao mesmo tempo, sentia de forma muito intensa a exigüidade de recursos para expansão dos
serviços de água e esgotos. Por conseguinte, a sociedade brasileira passou a discutir o
estabelecimento de uma política para o setor de saneamento, particularmente, com relação à
regulação da prestação dos serviços de saneamento.
Este ano, o presidente reeleito Luís Inácio Lula da Silva sancionou a Lei n.º 11.445, de
5 de janeiro de 2007, que estabelece as diretrizes nacionais para o saneamento básico e para a
política federal de saneamento básico.
A lei foi considerada um avanço necessário para o segmento no País, no sentido de
refletir a nova consciência nacional sobre o saneamento, que é o de universalizar este serviço,
e criar um marco regulatório que propicie uma maior atração de investimentos públicos e
privados, no intuito de reduzir o atual déficit dos serviços do setor.
Todavia, permanece um importante ponto de discórdia: a questão da competência
entre estado e município. Observa-se que a lei aprovada o define a questão da titularidade
dos serviços de água e esgoto, ficando a cargo dos governos estaduais e prefeituras, por meio
67
de comissões e agências reguladoras, elaborar planos diretores que fixem metas a atingir. Isso
se deve ao fato de que, num país federal, é a Constituição, e não a legislação que lhe é
subalterna, quem tem o papel de distribuir as competências entre os diversos entes
federativos. Com isso, os eventuais conflitos existentes acerca das competências deverão ser
solucionados pela própria Constituição, cabendo a interpretação que a ela conferir o Supremo
Tribunal Federal.
4.2. Panorama da prestação de serviços de saneamento no Brasil
Os serviços de saneamento básico são, atualmente, prestados em uma diversidade de
arranjos institucionais, em que convivem prestadores municipais, estaduais e privados. Além
disso, o setor apresenta uma grande diversidade nos veis de qualidade, regulação e
desempenho dos serviços prestados (BRASIL, MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2005).
Moreira (1998) afirma que a prestação dos serviços de saneamento encontra-se, ainda
hoje, concentrada principalmente em operadores públicos: as companhias estaduais de
saneamento sico (CESBs) e os sistemas municipais. Pena e Abicalil (2007) ressaltam que a
participação privada no setor é recente e ainda bastante incipiente, limitando-se a concessões
concentradas na região Sudeste.
Segundo o Ministério das Cidades, através da Exposição de Motivos n.º 07/2005, a
situação atual deriva, em boa parte, do Plano Nacional de Saneamento (PLANASA),
instituído durante os anos 70-90. Nesse modelo, os serviços seriam prestados por empresas
estaduais de saneamento, por meio de contratos de concessão celebrados com os municípios.
Em algumas cidades, os serviços já eram prestados por órgãos estaduais que foram sucedidos
pelas empresas do PLANASA, sem qualquer espécie de contrato.
Nesse contexto, Ogera e Phillip Jr. (2005) destacam que, embora os serviços de
saneamento no Brasil sejam prestados mediante essas três modalidades (estados, municípios e
empresas privadas), as companhias estaduais de saneamento básico (CESBs) ainda são
responsáveis pelo atendimento da maior parte dos municípios no País, como apresentado na
tabela 5, a seguir:
68
Tabela 5 – Organização da prestação dos serviços de saneamento básico
Número de municípios com serviços de água (redes) com serviços de esgoto (redes)
5.560 5.444 2.875
População urbana
atendida
138,42 81,24
Cobertura % 92% 54%
CESBs Locais Microrregionais CESBs Locais Microrregionais
Número municípios 3.887 1.537 20 893 1.971 11
População urbana dos
municípios
109,30 35,94 0,59 81,02 68,75 0,35
População urbana
atendida - milhões
103,30 34,53 0,59 45,04 36,08 0,12
% da população urbana
atendida
74,63 24,95 0,43 55,44 44,41 0,15
% médio de cobertura
urbana
94,51 96,08 100,00 55,59 52,48 34,29
Fonte: AESBE (2006, p.2)
Conforme o Diagnóstico dos Serviços de Água e Esgoto-2005, elaborado no âmbito
do Programa de Modernização do Setor Saneamento (PMSS) (2006), os prestadores de
serviços de abrangência local são as entidades legalmente constituídas para administrar
serviços e operar sistema(s) no município em que está sediada. Estão compreendidos os
serviços municipais (públicos ou privados). Os prestadores de serviços de abrangência
microrregional são as entidades legalmente constituídas para administrar serviços e operar
sistema(s), atendendo a mais de um município, com sistema(s) isolado(s) ou integrado(s),
normalmente adjacentes e agrupados em uma pequena quantidade. Estão aí compreendidos os
consórcios intermunicipais.
Os índices de atendimento dos serviços de abastecimento de água e esgotamento
sanitário no Brasil estão ainda distantes da universalização pretendida e necessária. Em que
pesem os incrementos verificados na oferta dos serviços nas últimas décadas, persiste uma
demanda não atendida, especialmente nos extratos sociais de mais baixa renda, nos
municípios menores, nas pequenas localidades e na área rural.
Mota e Moreira (2005) concordam que a cobertura dos serviços de saneamento no
Brasil teve grandes avanços, nos últimos 30 anos, no segmento de oferta de água e está acima
dos níveis verificados em países de renda per capita equivalente. Por outro lado, os mesmos
autores destacam que a cobertura de esgotamento sanitário dobrou no mesmo período, mas
ainda há um déficit no segmento de coleta e tratamento de esgotos.
69
Segundo dados do Diagnóstico dos Serviços de Água e Esgoto, em 2005, o índice
médio de atendimento urbano dos prestadores de serviços participantes do Sistema Nacional
de Informações Sociais (SNIS) foi de 96,3% para água e 47,9% para coleta de esgotos. Em
relação ao tratamento dos esgotos, os resultados são ainda mais preocupantes. Para o ano em
referência, o índice médio nacional foi de apenas 31,7%.
A pesquisa destaca os resultados dos índices de atendimento, segundo a distribuição
por regiões geográficas do País (tabela 6):
Tabela 6 Níveis de atendimento urbano com água e esgotos dos prestadores de serviços participantes do SNIS
em 2005, segundo a região geográfica
Índice de atendimento urbano (%)
Abrangência
Água Coleta de esgotos Tratamento dos esgotos gerados
Norte 68,5 6,7 10,0
Nordeste 98,6 26,7 36,1
Sudeste 96,8 69,4 32,6
Sul 100,00 33,7 25,3
Centro-oeste 100,00 45,4 29,7
Brasil 96,3 47,9 31,7
Fonte: PMSS (2006, p.89)
A Associação das Empresas de Saneamento Básico Estaduais (AESBE) (2006)
reconhece que um dos desafios atuais para o setor de abastecimento de água e esgotos é a
estrutura da demanda pelos serviços e, por conseguinte, de necessidades de financiamento:
A universalização dos serviços de água e esgotos requer investimentos médios
anuais da ordem de R$11,0 bilhões até o ano 2024 – 0,6% do PIB. Nos últimos anos,
os investimentos realizados se situaram próximos de R$3,0 bilhões, ou 0,2% do PIB
(melhor ano foi 1998, com 0,37% do PIB). A última década foi marcada por um
curto período de forte expansão dos investimentos (1995-1998), seguido por queda
acentuada em 1999 e manutenção em patamar semelhante até 2006. Neste período
recessivo, destaca-se ampliação dos recursos do OGU em 2001 e 2002 (Projeto
Alvorada), e a contratação de novas operações de crédito firmadas nos anos de 2003,
2004 e 2006. Estas últimas, entretanto, além de serem em volume insuficiente,
tiveram procedimentos e normas que travaram e burocratizaram sua realização e
politizaram o processo de seleção de crédito, resultando em veis de desembolso
(investimento realizado) muito baixos [...] (AESBE, 2006, p. 4-5).
A geração de empregos no setor de saneamento é muito significativa. Há, nos
prestadores de serviços, segundo dados do SNIS, no ano de referência 2005, 117 mil
empregados próprios aos quais se somam 57 mil terceirizados. A pesquisa ainda ressalta a
importância de se considerar que, além desses postos de trabalho, a atividade de prestação de
serviços de água e esgotos gera empregos na indústria de materiais e equipamentos, na
execução de obras, na prestação de outros serviços de engenharia e nas áreas de projetos e
consultoria (PMSS, 2006).
70
Em relação a dados financeiros de receitas e despesas do setor de saneamento,
conforme Diagnóstico dos Serviços de Água e Esgoto, no conjunto, os prestadores de serviços
participantes do SNIS, em 2005, obtiveram receita operacional total de R$20,2 bilhões, dos
quais, 81,6% correspondem às companhias estaduais, e as despesas totalizaram R$18,8
bilhões, 14,7% maior que observada em 2004 (R$16,4 bilhões).
4.3. O saneamento no Estado do Ceará
O clima do Ceará, na região Nordeste do Brasil, é caracterizado por um regime de
chuvas escassas, irregulares e concentradas em um curto período de três ou quatro meses, sob
a forma de precipitações intensas de curta duração. A este quadro extremamente adverso vem
somar-se o fenômeno da seca. Em um ano qualquer, as chuvas não se iniciam ou são tão
escassas que não permitem o crescimento das plantações ou o armazenamento de água nos
açudes.
Em conseqüência da adesão ao PLANASA, criou-se a Companhia de Água e Esgoto
do Ceará - CAGECE, pela Lei n.º 9.499, de 20 de julho de 1971, formada com o objetivo de
prestar serviço público de abastecimento de água e esgotamento sanitário em todo o território
estadual, mediante contratos de concessão firmados com os municípios (CAGECE, 2007).
Reconhecendo a importância da garantia da oferta de água, como fator determinante
para o desenvolvimento econômico e social do Ceará, o governo estadual criou, em 1987, a
Secretaria dos Recursos Hídricos (SRH), órgão responsável pelo desenvolvimento das
políticas públicas do setor. Em 1993, foi criada a Companhia de Gestão dos Recursos
Hídricos (COGERH), vinculada àquela secretaria, cuja missão é o gerenciamento dos recursos
hídricos de domínio do Estado, incentivando o uso racional, social e sustentado da água.
(CEARÁ, SRH, 2007).
A água e o saneamento são também fatores importantes para a situação da saúde,
podendo afetar as taxas de mortalidade infantil e a qualidade de vida. Nesse aspecto, o Ceará
também começou com níveis mais elevados de déficit, mas tem conseguido reverter a
situação. Para a Secretaria da Infra-estrutura (SEINFRA) (2007), o marco dessas mudanças
foi o Programa de Infra-Estrutura Básica de Saneamento de Fortaleza - Programa
SANEFOR/SANEAR, que atuou de forma integrada na área de saneamento ambiental, na
região metropolitana de Fortaleza, construindo e implantando aterros sanitários, executando
71
obras de drenagem, preservação ambiental e de esgotamento sanitário, elevando o índice de
cobertura do sistema de esgotamento sanitário da capital de 18%, em 1993, para 60%, em
2000, com investimentos da ordem de US$314 milhões.
Outros programas foram e vêm sendo desenvolvidos no Estado, implantando,
ampliando ou melhorando diversos sistemas de abastecimento de água, esgotamento sanitário
e destinação final de resíduos, através da construção de aterros, centros de triagem e
abatedouros públicos.
A prestação de serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário compete: a
CAGECE, atuando em 149 municípios do Estado; ao Serviço Autônomo de Água e Esgoto
(SAAE), atuando em 27 municípios do Estado; às Prefeituras Municipais, atuando
diretamente em 8 municípios do Estado; e às associações comunitárias com apoio do Sistema
de Saneamento Rural (SISAR), atuando no gerenciamento de sistemas de abastecimento de
água de pequenas localidades com até 400 domicílios (CEARÁ, SEINFRA, 2007).
Com a criação de uma autarquia, denominada Agência Reguladora de Serviços
Públicos Delegados do Estado do Ceará (ARCE), em 30 de dezembro de 1997, os serviços
prestados passaram a ser fiscalizados por essa agência reguladora, que tem como finalidade
promover e zelar pela eficiência econômica e técnica dos serviços públicos, propiciando aos
seus usuários as condições de regularidade, continuidade, segurança, atualidade e
universalidade.
Arretche (2004) enfatiza que ao instituir a agência regulatória, independente da
companhia estadual, o governo do Estado do Ceará está adotando um caminho fortemente
recomendado pelo PMSS e pelo Governo Federal, isto é, separar as atividades de prestação de
serviços daquelas relativas à sua regulação. Nesse sentido, as atividades da companhia
estadual estariam subordinadas à supervisão de um órgão independente, o que pode vir a
representar incentivo para que paute suas decisões gerenciais em critérios de operação
definidos segundo o interesse público.
No esforço para a concretização da universalização do abastecimento de água,
segundo a publicação “Ceará em números 2005”, elaborada pelo Instituto de Pesquisa e
Estratégia Econômica do Ceará (IPECE), ostenta-se um expressivo índice de crescimento no
período 1998-2004, haja vista que, para o total do Estado, essa variável cresceu 50,11%,
contando com um número de usuários (economias) do sistema de água tratada, em 2004, da
72
ordem de 1.167.831, dos quais 716.735 estavam localizados na região metropolitana de
Fortaleza (RMF).
O IPECE (2006) enfatiza que o grande consumidor desse bem é o setor habitacional: o
consumidor residencial responde por 94,54% do número total de usuários no Estado e 94,18%
na região metropolitana. Corroborando o expressivo aumento no número de usuários no
período 1998-2004, tem-se que a extensão da rede de abastecimento de água cresceu 13,71%
para o Estado como um todo, e 27,73% para a região metropolitana de Fortaleza (tabela 7):
Tabela 7 – Dados gerais de abastecimento de água – Ceará e Região Metropolitana de Fortaleza – 1998-2004
Ceará Região Metropolitana de Fortaleza
Discriminação
1998 2004 1998 2004
Economias 777.992
1.167.831
521.908
716.735
Residencial 729.334
1.104.101
487.649
674.994
Comercial 37.165
50.334
28.622
36.022
Industrial 1.754
2.060
1.366
1.556
Pública 9.739
11.336
4.271
4.163
Ligações reais 881.465
1.095.766
466.017
607.960
Ligações ativas ...
1.010.654
...
569.844
Volume produzido (m³) 247.354.671
295.548.042
175.226.875
204.895.606
Volume faturado (m³) 163.226.670
189.275.740
116.163.140
120.426.603
Extensão da rede (m) 7.708.978
8.765.697
4.215.928
5.384.862
Fonte: IPECE, 2006, p.121
No que diz respeito ao esgotamento sanitário, este serviço apresentou, no período
1998-2004, taxas de crescimento quanto à extensão da rede coletora de 24,57% para o Ceará e
2,74% para a região metropolitana de Fortaleza. Para o IPECE (2006), esse aumento na
extensão da rede refletiu de imediato no comportamento do número de domicílios ligados à
rede de saneamento básico. Estes, no Estado, passaram de 203.293, em 1998, para 508.462,
em 2004; enquanto na região metropolitana o salto foi de 164.957 para 411.625. Em termos
percentuais esses aumentos foram de 150,11% e 149,53%, para o Estado e para a região
metropolitana, respectivamente.
73
Tabela 8 – Domicílios particulares permanentes, segundo as formas de esgotamento sanitário -1998-2004
1998 2004
Ceará Ceará
Discriminação
Total Urbana Rural
RMF
Total Urbana Rural
RMF
Esgotamento Sanitário
Rede
coletora
203.293
203.293
-
164.957
508.462
507.958
504
411.625
Fossa
séptica
312.365
295.995
16.370
156.500
291.877
267.007
24.870
119.893
Outra forma
643.604
508.729
134.875
291.503
960.057
741.710
218.347
303.437
Sem
declaração
710
710
-
206
-
-
-
-
Não tinham 484.570
124.352
360.218
39.640
292.878
95.222
197.656
32.140
Fonte: IPECE, 2006, p.124
Apesar do esforço realizado no Ceará, os índices de cobertura dos serviços de
saneamento básico precisam ser ampliados para valores compatíveis com o nível de vida que
a população anseia. O IPECE (2006) conclui que há, ainda, muito a ser feito no Estado:
Os dados de 2004, por exemplo, revelam que 67,60% dos moradores em domicílios
particulares usufruíam rede geral com canalização de água; mas apenas 23,13%
desses moradores contavam com o serviço de rede coletora de esgotamento
sanitário. Por outro lado, 84,27% dessa população tinham banheiro ou sanitário em
suas residências, enquanto somente 53,50% contavam com o serviço de coleta direta
de lixo. (IPECE, 2006, p.120).
4.4. Aspectos tributários do setor de saneamento
Um dos aspectos importantes da equação financeira necessária ao alcance da meta da
universalização dos serviços se refere à carga tributária incidente. No sentido contrário das
necessidades do setor, não os investimentos fiscais em saneamento vêm caindo, como vem
subindo significativamente a tributação imposta aos prestadores de serviços de saneamento
básico (AESBE, 2004).
O Governo Federal, ao invés de criar condições para ampliação dos investimentos,
com um marco regulatório que incentive investimentos, aumentando os seus
investimentos fiscais, para atender às famílias, municípios e regiões mais pobres do
país, onde se concentra o déficit e onde as tarifas não cobrem os custos e os
investimentos, reduz significativamente os seus investimentos e aumenta os
impostos sobre o setor. Em 2003 e 2004, enquanto os impostos subiram, caíram os
investimentos fiscais. (AESBE, 2004, p. 4).
O Projeto de Lei n.º 7.361, de 2006, que originou a Lei n.º 11.445/2007, que
estabelece diretrizes nacionais para o saneamento básico, traz em seu artigo 54 incentivo
fiscal ao setor de saneamento. Todavia, esse artigo foi vetado por configurar óbvia renúncia
de receita tributária”, na medida em que previa a utilização como créditos, para efeito de
74
apuração da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (COFINS) e da
contribuição ao PIS/PASEP, dos valores correspondentes a investimentos em ativo
permanente.
A mensagem de veto n.º 9, de 5 de janeiro de 2007, expõe que essa medida poderia
trazer graves repercussões sobre o alcance das metas de equilíbrio fiscal e que permitir
desoneração adicional de tributos significaria dificuldades para a manutenção das despesas
sociais em níveis satisfatórios, reduziria a capacidade de o Estado investir e geraria riscos
adicionais para o cumprimento das metas fiscais compatíveis com a redução da dívida
pública.
Segundo afirmou o economista e professor Frederico Turolla, em notícia veiculada
pelo Valor Econômico, em 09/01/2007, o veto da isenção de PIS e COFINS para investimento
das empresas de saneamento se constitui em “uma política social às avessas, porque o
governo ao mesmo tempo em que tem programas de transferência de renda, tributa demais o
setor e impede os investimentos em locais pobres” (IZAGUIRRE, 2007).
Em 2003, o Governo Federal reconheceu a importância de reduzir a tributação do setor
de saneamento por meio da mensagem de veto n.º 362, de 31/07/2003, que vetou da Lista de
Serviços relativa à Lei Complementar n.º 116/2003, que dispõe sobre o Imposto sobre
Serviços de Qualquer Natureza, de competência dos Municípios e do Distrito Federal, dentre
outros, os itens 7.14 (saneamento ambiental, inclusive purificação, tratamento, esgotamento
sanitário e congêneres) e 7.15 (tratamento e purificação de água) e, por razões de técnica
legislativa, também os incisos X e XI do art. 3.º do Projeto de Lei. O Governo considerou
como razões para o veto que:
a incidência do imposto sobre serviços de saneamento ambiental, inclusive
purificação, tratamento, esgotamento sanitários e congêneres, bem como sobre
serviços de tratamento e purificação de água, não atende ao interesse público. A
tributação poderia comprometer o objetivo do Governo em universalizar o acesso a
tais serviços básicos. O desincentivo que a tributação acarretaria ao setor teria como
conseqüência de longo prazo aumento nas despesas no atendimento da população
atingida pela falta de acesso a saneamento básico e água tratada. (BRASIL, 2003,
grifo nosso).
A AESBE (2004) ressalta que, embora os serviços de saneamento básico não sejam
tributados pelo Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), uma série
de outros impostos incidentes sobre os serviços de saneamento básico, como o Imposto sobre
75
Produtos Industrializados (IPI) e o ICMS sobre produtos, materiais e equipamentos utilizados
na prestação dos serviços e na execução de obras e instalação de equipamentos:
Embora os serviços de saneamento o sejam tributados pelo ICMS, os insumos o
são, como energia elétrica, comunicações e produtos químicos. Se somados estes e
outros tributos incidentes sobre o setor, cerca de 19% de toda a receita anual das
empresas prestadoras dos serviços de saneamento são consumidos com impostos.
Ou seja, a cada ano, os usuários dos serviços pagam o equivalente a 2,3 meses de
tarifas apenas para cobrir tributos (impostos, taxas e contribuições). (AESBE, 2004,
p. 4).
A AESBE (2004) afirma ainda que, desde 2003, o setor saneamento experimentou
uma significativa elevação da carga tributária federal, em função da elevação das alíquotas da
COFINS e do PIS, representando 7% das receitas das empresas (R$1,1 bilhão/ano), ou mais
de 30% dos investimentos realizados (gráficos 4 e 5):
Carga Tributária em Saneamento
%Receita Operacional Bruta
3,48 3,49
4,11
6,65
7,13
13
11,98
11,85
16,25
17,44
0
5
10
15
20
2001 2002 2003 2004 2005
PIS-COFINS % carga tributária federal
Gráfico 4 – Evolução da carga tributária federal e do PIS-COFINS
Fonte: AESBE, 2006, p.15
76
CESBs - Investimentos e Pis-Cofins
2.792,4
2.651,1
2.437,6
3.004,8
3.400,0
521,7
391,0
348,6
923,5
1.090,0
12,5
14,7
21,4
30,7
32,1
-
500,00
1.000,00
1.500,00
2.000,00
2.500,00
3.000,00
3.500,00
4.000,00
2001 2002 2003 2004 2005
(Em milhões R$)
-
5,0
10,0
15,0
20,0
25,0
30,0
35,0
Investimentos PIS-COFINS %
Gráfico 5 – Impacto do PIS e da COFINS nos investimentos das CESB
Fonte: AESBE, 2006, p.15
Conforme a AESBE (2004), as mudanças na legislação tributária relativa ao PIS e à
COFINS elevaram, sobremaneira, a carga tributária das empresas de saneamento, subtraindo
recursos necessários aos esforços do setor, inclusive do próprio Governo Federal, para
ampliação dos investimentos. As alterações contidas nas Leis n.
os
10.637/2002, 10.833/2003 e
10.865/2004, com a instituição do regime o-cumulativo das contribuições para o
PIS/PASEP e a COFINS, acarretaram, segundo a AESBE (2004), um significativo aumento
na carga tributária do setor. Enquanto as receitas nominais cresceram 41,1%, entre 2001 e
2004, a COFINS subiu 162,8%, e o PIS/PASEP subiu 183,9%.
A justificativa para a redução da carga tributária pleiteada por empresários e
representantes do setor é a de que o saneamento necessita de subsídios e subvenções para
cumprir com seus objetivos sociais a universalização, em especial, o atendimento dos mais
pobres, e que, ao invés de recebê-los, vem subsidiando o Governo com o pagamento de
impostos e contribuições.
O aumento das alíquotas de PIS e COFINS, portanto, da carga tributária do setor, é
considerado a principal razão da elevação de tarifas de serviços de água e esgoto, segundo
estudo da área de assessoria tributária da consultoria KPMG, feito a pedido do Jornal do
Brasil. O levantamento do estudo, publicado em de maio de 2005, focalizou a variação da
carga tributária incidente sobre os 20 produtos de maior peso na cesta que compõe o Índice de
Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e concluiu que a voracidade fiscal foi mais forte sobre
produtos e serviços que têm preços administrados pelo governo (tarifas públicas). A maior
77
elevação ocorreu na tributação do serviço de água e esgoto: em dez anos, a carga passou de
2,9% para 9,63% (alta de 232%).
Os resultados do Sistema Nacional de Informações Sociais (SNIS), quanto às despesas
fiscais e tributárias, no ano de referência 2005, revelaram o total de R$ 2,0 bilhões, valor
26,9% superior ao verificado em 2004, que foi de R$1,6 bilhão. Desse montante, 91,7%
foram despesas dos prestadores de serviços regionais (as companhias estaduais).
Acrescenta-se que o custo dos recursos necessários ao cumprimento das determinações
legais tributárias, denominado custo de conformidade à tributação, não é, em regra,
considerado no cômputo das despesas fiscais, visto que os custos de conformidade são
percebidos pela maioria dos contribuintes de forma instintiva; contudo, não faz parte da
cultura dar-lhes um tratamento sistemático e não é prática comum criar mecanismos e
dispositivos para apurá-los e controlá-los (BERTOLUCCI, 2003, p. 123).
Ressalta-se, assim, que, além da elevada carga representada pelos tributos, que se
considerar também os gastos administrativos com o gerenciamento e controle das atividades
tributárias, que podem representar parcelas relevantes de sacrifícios dos recursos econômicos
e financeiros das corporações, somente para atender a todas as obrigações acessórias impostas
pela legislação tributária. Entretanto, não foram encontradas pesquisas voltadas aos custos de
conformidade da tributação das empresas do setor de saneamento.
O capítulo seguinte abordará os aspectos metodológicos do trabalho. A empresa
estadual de saneamento que constitui o estudo de caso da pesquisa será caracterizada no
capítulo 6.
5. METODOLOGIA DA PESQUISA
Para obter novos conhecimentos no campo da realidade e da prática, a pesquisa
científica é um importante recurso. Gil (1996) afirma que a mesma é um processo de
descoberta para problemas elencados mediante o emprego de procedimentos científicos e
através de um processo formal e sistemático.
Demo (2000) enfatiza que para que um trabalho possa ser reconhecido como científico
precisa ser lógico, sistemático, coerente e, sobretudo bem argumentado. Isso o distancia de
outros conhecimentos, como o senso comum, sabedoria, ideologia.
De acordo com Ruiz (1996), “pesquisa científica é a realização concreta de uma
investigação planejada, desenvolvida e redigida de acordo com as normas da metodologia
consagrada pela ciência”. A pesquisa é desenvolvida mediante o concurso dos conhecimentos
disponíveis e a utilização cuidadosa de métodos, cnicas e outros procedimentos científicos.
Na realidade, a pesquisa desenvolve-se ao longo de um processo que envolve inúmeras fases,
desde a adequada formulação do problema até a satisfatória apresentação dos resultados (GIL,
1996).
Analisar a percepção de uma empresa estadual de saneamento do Ceará, a respeito dos
custos de conformidade à tributação, constitui-se o principal objetivo deste estudo. A
fundamentação teórica realizada demonstrou que os estudos sobre o tema são relativamente
recentes, mas que as empresas percebem, ainda que de maneira instintiva e não sistematizada,
o peso provocado pelo cumprimento das obrigações acessórias da tributação. Assim, para
atingir os objetivos propostos, o método de pesquisa desenvolvido busca aliar as concepções
teóricas relativas ao tema às necessidades práticas da coleta de dados.
O presente capítulo apresenta uma visão geral da metodologia que orienta esta
pesquisa. Nesta exposição, são definidos o tipo de pesquisa e a natureza das variáveis
pesquisadas, as fontes de dados, as técnicas de coleta de dados e técnicas de análise utilizadas.
79
5.1. Natureza e tipo de pesquisa
Quanto à natureza das variáveis, a pesquisa classifica-se como um estudo qualitativo e
quantitativo. Esse procedimento é recomendado por Thiollent (1997) ao observar que as
estruturas do conhecimento científico não excluem o quantitativo e o qualitativo. Para o autor:
o qualitativo remete, no fundo, a uma questão de semântica da linguagem com a
qual o descritas as situações observadas. O quantitativo, por sua vez, é voltado
para a medição. Mas medição sem conceito ou sem apreensão qualitativa dos
fenômenos não faz sentido. (THIOLLENT, 1997, p. 136).
A abordagem metodológica adotada é predominantemente qualitativa, compatível com
o objetivo do estudo, à medida que a pesquisa qualitativa permite analisar aspectos subjetivos,
como percepções, compreensão do contexto da organização e dinâmica das interações grupais
através de seus significados para as pessoas (RICHARDSON, 1999). Neste estudo, utiliza-se
a abordagem quantitativa no tratamento estatístico, tabulação e análise dos dados obtidos na
empresa.
Para a classificação da pesquisa, utilizam-se as terminologias propostas por Gil (1996)
e Vergara (2000) que a qualifica quanto aos fins ou objetivos e quanto aos meios e
procedimentos técnicos.
Quanto aos fins e aos objetivos, a pesquisa pode ser considerada como exploratória,
uma vez que a bibliografia sobre tributação e sobre reforma tributária é extremamente rica,
mas relativamente poucos autores têm dedicado atenção aos custos operacionais tributários, e
mais especificamente, aos custos de conformidade à tributação.
A pesquisa exploratória tem como objetivo proporcionar maior familiaridade com o
tema, com vistas a torná-lo mais explícito, aumentando a experiência em torno de um
determinado problema (GIL, 1996; TRIVIÑOS, 1987). Além disso, usa-se também a pesquisa
exploratória para o aprimoramento de idéias, a descoberta de intuições, a clarificação de
conceitos e a verificação da existência de pesquisas semelhantes realizadas (GIL, 1996).
Contudo, a pesquisa pode ser considerada também como descritiva, porque busca
descrever as características de determinada população ou fenômeno; examinar opiniões,
atitudes e crenças de uma população; descobrir ou verificar a existência de associações,
relações entre variáveis (GIL, 1996). Os estudos descritivos exigem do pesquisador uma série
de informações sobre o que se deseja pesquisar e são, juntamente com os estudos
80
exploratórios, os que habitualmente realizam os pesquisadores sociais preocupados com a
atuação prática (TRIVIÑOS, 1987; GIL, 1996).
Quanto aos meios ou ao escopo, a pesquisa classifica-se como um estudo de caso
único, desenvolvido na Companhia de Água e Esgoto do Ceará (CAGECE). Segundo
Triviños (1987), o estudo de caso tem por objetivo aprofundar a descrição de determinada
realidade. Essa técnica contribui, de forma inigualável, para a compreensão de fenômenos
individuais, organizacionais, sociais e políticos; e permite uma investigação que preserva as
características holísticas e significativas dos eventos da vida real (YIN, 2005).
Além disso, o estudo de caso apresenta uma série de vantagens, como: o estímulo a
novas descobertas, em virtude da sua flexibilidade; a simplicidade dos procedimentos; bem
como os instrumentos de coleta de dados podem ser diversificados, dando flexibilidade à
análise dos dados (GIL, 1996; YIN, 2005).
O estudo de caso tem por objeto analisar com profundidade uma unidade, que pode ser
um sujeito, uma pessoa ou empresa, ou uma situação. Ele procura estabelecer uma relação
entre a teoria e a prática. Essa técnica é adequada quando o pesquisador quer responder a
questões do tipo “como” e “por quecertos fenômenos ocorrem; quando pouco controle
sobre os eventos estudados; e quando o interesse é um fenômeno atual que só pode ser
analisado dentro de um contexto de vida real (GODOY, 1995; YIN, 2005).
O interesse em reconhecer o contexto e as particularidades, principalmente no que
concerne às motivações, estratégia utilizadas, e os impactos financeiros, resultaram na decisão
de utilizar o método de estudo de caso. Yin (2005) detalha cinco aplicações diferentes para o
estudo de caso, que são explicar vínculos causais em intervenções da vida real; descrever uma
intervenção e o contexto na vida real em que ela ocorre; ilustrar tópicos de uma avaliação de
forma descritiva; explorar situações em que o fenômeno que está sendo avaliado não
apresenta um conjunto simples e claro de resultados; e propiciar um estudo de avaliação.
A decisão de elaborar um estudo de caso único foi adotada com lastro nas observações
de Yin (2005), de que o estudo de caso único pode representar um projeto típico, a partir do
qual podem ser extraídas lições sobre as experiências na instituição.
De acordo com Godoy (1995), o estudo de caso tem enfoque exploratório e descritivo.
O autor (1995) acrescenta que o pesquisador deve estar sempre com a mente aberta para
81
novas descobertas, pois novos elementos podem surgir ao longo da pesquisa. As cnicas
fundamentais de pesquisa são a observação e a entrevista. Nesse sentido, o estudo de caso
produz relatórios que apresentam um estilo mais informal, narrativo, ilustrado com citações,
exemplos e descrições fornecidas pelos sujeitos. Apesar de o estudo de caso ter em essência
caráter qualitativo, ele pode conter dados quantitativos para aclarar algum aspecto da questão
investigada, não tem, porém, um tratamento estatístico sofisticado. Os dados, de forma geral,
são coletados através de entrevistas, observações e documentos. O pesquisador deve procurar
observar e registrar o máximo de informações que interessam ao trabalho.
5.2. Fontes de dados
Segundo Mattar (1999), os dados podem ser:
Primários: ainda não coletados, de posse dos pesquisados. Suas fontes são pessoas,
pessoas com informações sobre o objeto de pesquisa, e outros;
Secundários: já coletados, tabulados e até mesmo analisados para outros fins.
Fontes típicas são publicações, relatórios etc.
Martins e Lintz (2000) manifestam que a pesquisa bibliográfica busca conhecer e
analisar as contribuições científicas sobre determinado tema. Procura explicar e discutir um
tema ou problema com base em referências teóricas publicadas em livros, revistas e
periódicos.
Procurando-se conhecer as concepções existentes sobre os custos de conformidade à
tributação, efetuou-se uma pesquisa da bibliografia nacional e estrangeira sobre o tema,
exposta no referencial teórico deste estudo. Entendimentos mais recentes puderam ser
localizados via pesquisa na Internet, base de dados de universidades, artigos científicos,
revistas e jornais.
Dados coletados no campo, junto aos assessores, gerentes, supervisores e outros
colaboradores da empresa pesquisada, também compõem as fontes de dados desta pesquisa.
82
5.3. Instrumentos e técnicas de coleta de dados
A coleta de dados desta pesquisa contemplou mais de uma fonte de evidência,
caracterizando assim o processo de “triangulação” (YIN, 2005, p.125). O objetivo é que as
análises, sob diferentes pontos de vista e a partir de diferentes vieses, possam levar a
conclusões mais consistentes. Neste estudo, foram utilizadas como fontes de evidências, a
pesquisa bibliográfica e documental, o questionário estruturado (Apêndice A) e roteiro de
entrevista semi-estruturada (Apêndice B).
A técnica de questionário se adeqüa a esta pesquisa por ser capaz de descrever as
características e conhecer determinadas variáveis de uma realidade. A escolha do questionário
justifica-se por ser uma técnica de investigação composta por um número mais ou menos
elevado de questões apresentadas por escrito às pessoas, e por ter como objetivo o
conhecimento de opiniões, crenças, sentimentos, interesses, expectativas, situações
vivenciadas dentre outros aspectos (GIL, 1994).
Os questionários foram enviados via Internet (e-mail, correio eletrônico) aos
colaboradores das áreas de Análises e Controles Contábeis, subordinada à Gerência de
Controladoria, Gestão de Fluxos e Disponibilidades, subordinada à Gerência Financeira, e
Planejamento Econômico-financeiro, subordinada à Gerência de Estudos e Estratégia
Econômico-financeira, sendo três supervisores, um de cada área, e seis funcionários sem
função de chefia.
As perguntas do questionário são estruturadas e baseadas na literatura estudada. O
questionário está dividido em quatro partes, assim compostas:
Primeira parte: aspectos sócio-demográficos objetiva caracterizar o respondente quanto
ao cargo, ao tempo de atuação na empresa, à formação acadêmica, entre outros aspectos;
Segunda parte: questões gerais sobre o peso da conformidade tributária procura
identificar os fatores que contribuem para o aumento dos custos de conformidade à
tributação a partir de questões sobre aspectos da legislação fiscal vigente e pontos
geradores de custos de conformidade dentre os encontrados na bibliografia pesquisada;
Terceira parte: custos de conformidade internos e externos - procura identificar, a partir de
uma variação da escala Likert, do nível 1 nenhum/não se aplica a 4 alto, o grau de
83
participação das diversas áreas da empresa e o vel de recursos aplicados em serviços
externos no cumprimento da legislação tributária; bem como busca enumerar as atividades
relacionadas à tributação em que há maior emprego de tempo e recursos da empresa;
Quarta parte: percepções sobre os custos de conformidade à tributação - procura conhecer
as opiniões dos respondentes, a fim de avaliar a intensidade com que concordam ou
discordam com afirmativas propostas a respeito da qualidade da regulamentação fiscal,
dos custos de conformidade à tributação e estratégias da empresa para conviver com a
complexidade tributária.
As entrevistas semi-estruturadas (Apêndice B) foram desenvolvidas a partir de um
roteiro construído com perguntas abertas, baseado no referencial teórico da pesquisa. Foram
realizadas seis entrevistas nos níveis de assessoria da Presidência e assessoria jurídica da
companhia e gerência nas áreas de Controladoria, Financeira e Gestão de Pessoas.
A formulação das perguntas da entrevista semi-estruturada está alicerçada nos
seguintes blocos temáticos:
Estratégias da empresa para enfrentar/conviver com a complexidade e a
instabilidade das normas tributárias;
Aspectos que contribuem para aumentar os custos de conformidade tributária;
Relação entre a empresa e o Fisco;
Sugestões para simplificação do sistema tributário e redução dos custos de
conformidade à tributação.
5.4. Técnicas de análise de dados
Essa etapa, segundo Marconi e Lakatos (1999), realizada após a coleta dos dados,
envolve a seleção, a codificação e a tabulação. A seleção é o exame minucioso dos dados e
tem como objetivo detectar falhas, informações confusas ou incompletas. A codificação é a
classificação dos dados, agrupando-os sob determinadas categorias, seja por semelhança ou
por afinidade. A tabulação, por sua vez, é a disposição dos dados em tabelas, possibilitando
uma melhor visualização e interpretação destes. Para as autoras (1999), a análise é a tentativa
84
de evidenciar as relações entre o fenômeno estudado e outros fatores, procurando dar um
significado para o material coletado em relação aos objetivos propostos.
A análise de dados do presente estudo constitui-se de uma abordagem quantitativa e de
uma qualitativa. Na análise das respostas obtidas com a aplicação do questionário, optou-se
pelo uso de variáveis de estatística descritiva, como somatórias e percentagens. Os dados
gerados pelas entrevistas foram analisados de maneira qualitativa. Considera-se que os
entrevistados demonstram na sua fala experiências, percepções, sentimentos e exemplos ricos
para análise e que vêm subsidiar, juntamente com outras evidências, a resposta aos objetivos
da pesquisa. A análise das entrevistas busca obter, através da descrição do conteúdo das
mensagens, expressões e idéias relacionadas ao tema ora estudado.
Os resultados estão apresentados de forma descritiva e divididos de acordo com os
blocos temáticos, destacando aspectos que merecem maior atenção segundo o pesquisador.
Contudo, por tratar-se de um estudo de caso, na análise dos resultados, leva-se em
consideração que quaisquer conclusões refletem um determinado momento, uma determinada
questão, e são passíveis de serem superadas por pesquisas ou afirmações futuras.
6. ESTUDO DE CASO
Reconhecida a importância do estudo de caso para a pesquisa científica, este capítulo
apresenta, inicialmente, a Companhia de Água e Esgoto do Estado do Ceará (CAGECE),
tratando do seu histórico, sua atuação no Estado e aspectos institucionais e tributários da
companhia.
Em seguida, apresenta-se a análise dos resultados obtidos com o questionário aplicado
com supervisores e colaboradores de áreas subordinadas à Gerência de Controladoria, à
Gerência Financeira e Planejamento econômico-financeiro. Os dados são descritos conforme
os blocos do questionário e são apresentados, em sua maioria, em tabelas com as freqüências
de resposta.
A análise dos resultados também contempla as entrevistas realizadas com assessores
da Presidência e da Procuradoria jurídica da companhia e gerentes das áreas mencionadas, no
intuito de cumprir com os objetivos desta pesquisa e apurar seus pressupostos.
6.1. A Companhia de Água e Esgoto do Ceará - CAGECE
A Companhia de Água e Esgoto do Cea(CAGECE) é uma sociedade de economia
mista, criada pela Lei estadual n 9.499, de 20 de julho de 1971, e tem por objetivo o
tratamento e a distribuição de água tratada, a coleta e o tratamento de esgotos sanitários no
Estado do Ceará. O Governo do Estado do Cea, como acionista controlador, detém 84,07%
do capital votante da companhia.
A criação da companhia estadual foi conseqüência da adesão ao Plano Nacional de
Saneamento (PLANASA), que previa a expansão da oferta de serviços de saneamento básico
no Brasil, com base na constituição de um modelo que se pretendia único e homogêneo para o
território nacional.
Arretche (2004) destaca que, embora o PLANASA tenha viabilizado a expansão dos
níveis de cobertura dos serviços de saneamento básico no País, a universalização da cobertura
exigiria ainda grandes investimentos.
86
Nesse sentido, Arretche (2004) expõe que, visando aumentar suas taxas de cobertura e
sua eficiência operacional, a CAGECE, entre os anos de 1995 e 1998, elevou o número de
economias de água em aproximadamente 30% e de esgoto em cerca de 60%. Paralelamente, a
empresa instalou cerca de 178.500 hidrômetros, passando de uma taxa de hidrometração de
34,62 % para 73,35%, e reduziu o índice de perdas de 43,81% para 31,67%.
Além disso, a empresa ampliou sua presença no meio rural. No ano de 1998, a
CAGECE incorporou 19 novos municípios que aentão não dispunham de nenhum serviço
de distribuição de água e coleta de esgotos. A empresa buscou dar um salto comercial
aumentando o faturamento obtido nos municípios do interior: de 5%, em 1991, para 20%, em
1995, embora as receitas tarifárias da companhia ainda sejam altamente dependentes da região
metropolitana de Fortaleza (ARRETCHE, 2004).
Nos últimos anos, a CAGECE tem buscado alcançar um patamar de destaque no setor
de saneamento brasileiro, através de um processo crescente de modernização administrativa e
profissionalização de sua gestão. A empresa destaca-se pela utilização de moderna tecnologia.
O macro sistema de distribuição de água de Fortaleza e o sistema de pré-condicionamento de
esgoto são automatizados, operando através de sensores inteligentes que indicam em tempo
real quaisquer ocorrências nos sistemas. A empresa também implantou o sistema de conta em
Braille, e foi a pioneira no Estado em termos de leitura em código de barras (CAGECE,
2007).
No que se refere à regulação dos serviços, com o advento da Lei federal n.º
11.445/2007, tornou-se obrigatória a existência de uma entidade reguladora para os
prestadores de serviços de saneamento, objetivando, entre outros, estabelecer padrões e
normas para a adequada prestação dos serviços e para a satisfação dos usuários e garantir o
cumprimento das condições e metas estabelecidas. A AESBE (2006) destaca que cinco
empresas já estavam submetidas a agências reguladoras, dentre elas, a CAGECE.
Em 1997, o Governo do Estado do Ceacriou uma autarquia denominada Agência
Reguladora de Serviços Públicos Delegados do Estado do Ceará (ARCE), que tem como
finalidade promover e zelar pela eficiência econômica e técnica dos serviços públicos, entre
outros, o saneamento, propiciando aos seus usuários as condições de regularidade;
continuidade; segurança; atualidade; e universalidade.
87
Atualmente, a empresa está presente em cerca de 243 localidades, de 149 municípios,
do Estado do Ceará. A companhia encerrou o ano de 2005 garantindo água tratada a 5,9
milhões de cearenses e beneficiando, aproximadamente, 2,1 milhões de pessoas com os
serviços de esgotamento sanitário, presentes em 81% dos municípios cearenses com serviços
de água e em 28% com o esgotamento sanitário. O índice de cobertura de água no Ceará é de
95,74% e o de esgotamento sanitário é de 33,63% - em Fortaleza, a cobertura de água é
96,39% e a de esgoto é 48,42%, sendo que 100% dos esgotos coletados são tratados
(CAGECE, 2007).
A CAGECE atua na capital e interior através de unidades de negócios e serviços. São
oito Unidades de Negócios do interior, quatro Unidades de Negócios da capital, além das
Unidades de Serviços e da administração da empresa instalada na sede, em Fortaleza.
A Administração Superior é composta pela Assembléia Geral e pelos Órgãos de
Administração (Conselho de Administração, Diretoria Colegiada e Conselho Fiscal). A
Direção Executiva é composta por cinco diretorias, que formam um Colegiado, a saber:
Diretoria da Presidência, Diretoria de Planejamento e Controle, Diretoria de Gestão
Empresarial, Diretoria de Operações, Diretoria de Engenharia e Diretoria Comercial,
representadas na figura 5:
Figura 5 – Representação da Diretoria Colegiada da CAGECE
Fonte: CAGECE, 2007
88
Em relação aos resultados financeiros da companhia, o exercício de 2005 refletiu a
consolidação do processo de reestruturação administrativa focada no aumento da eficiência da
companhia. O gráfico 6 demonstra a reversão dos resultados negativos apresentados até 2002,
o que evidencia um movimento de crescimento significativo e consistente:
Gráfico 6 – Resultado líquido da CAGECE no período 2002 a 2005
Fonte: CAGECE, 2007
A lucratividade reflete solidez econômico-financeira para a companhia. A CAGECE
encerrou o exercício de 2005 com um lucro líquido de R$35 milhões, representando um
aumento significativo frente ao resultado de 2004, no qual a empresa havia alcançado R$16,6
milhões. Vale salientar que esse indicador evolui desde o exercício de 2003, quando o ciclo de
prejuízos de anos anteriores foi interrompido com um lucro líquido de R$1,06 milhão.
A CAGECE tem seu histórico marcado por diversas premiações. Em reconhecimento
às ações sociais desenvolvidas, a companhia foi contemplada, em 2005, com o IV Prêmio
Balanço Social, promovido pelo Instituto Ethos. O Guia Exame 2005 de Boa Cidadania
Corporativa atribuiu ao projeto da construção do Centro de Pesquisa sobre Reuso de Água,
em Aquiraz-CE, desenvolvido em parceria com o Centro de Tecnologia da Universidade
Federal do Ceará, o primeiro lugar do prêmio nacional de práticas de gestão em meio
ambiente. Merece também destaque o prêmio Delmiro Gouveia, do qual a CAGECE
participou de todas as edições, sendo contemplada desde 2001 na categoria Desempenho
Social (CAGECE, 2007).
(9.621,00
)
1.062,00
16.627,00
35.001,00
(20.000,00)
0,00
20.000,00
40.000,00
2002 2003 2004 2005
Resultado líquido (em R$1.000,00)
89
6.2. Aspectos tributários da CAGECE
Na esfera federal, a empresa está sujeita a incidência do Imposto sobre a Renda (IR),
Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), Contribuição ao PIS e Contribuição para
o Financiamento da Seguridade Social (COFINS).
O Imposto sobre a Renda e Proventos de Qualquer Natureza está previsto na
Constituição Federal de 1988, em seu artigo 153, inciso III, e é regulamentado pelo Decreto
n.º 3.000, de 26 de março de 1999. A Contribuição Social sobre o Lucro Líquido, instituída
pela lei n7.689/88, também é de competência exclusiva da União e está prevista no artigo
149, do texto constitucional.
A CAGECE determina seu imposto de renda segundo as regras aplicáveis ao regime
de tributação com base no Lucro Real, em que a base de cálculo do imposto é apurada
segundo os registros contábeis e fiscais efetuados, de acordo com as leis comerciais e fiscais.
Entretanto, em conformidade com a legislação fiscal, a empresa efetua pagamentos mensais
do imposto, determinados sobre uma base de cálculo estimada mediante a aplicação do
percentual da atividade previsto na legislação sobre a receita bruta auferida.
Aplicam-se à CSLL as mesmas normas de apuração e de pagamento estabelecidas para
o imposto de renda, mantidas a base de cálculo e as alíquotas previstas na legislação em vigor.
Visando minimizar a carga tributária incidente, a empresa busca incentivos fiscais de
redução e isenção do imposto de renda, calculados com base no lucro da exploração, e
incentivos fiscais de deduções do imposto, tais como, adesão ao Programa de Alimentação do
Trabalhador (PAT) e incentivos de caráter cultural e artístico e à atividade audiovisual.
A Contribuição para o PIS e a COFINS têm como fato gerador o faturamento mensal,
assim entendido, o total das receitas auferidas pela pessoa jurídica, independentemente de sua
denominação ou classificação contábil.
A incidência da Contribuição ao PIS e a COFINS na CAGECE se sujeita a não-
cumulatividade, conforme instituído pelas leis n.º 10.637, de 2002, e n.º 10.833, de 2003, o
que significa que do valor apurado das contribuições poderão ser descontados os créditos
permitidos pela legislação fiscal.
90
Entre as obrigações acessórias impostas pela legislação federal, estão as exigências de
manter escrituração contábil completa; de conservar em boa guarda e ordem, enquanto não
decorrido o prazo decadencial e não prescritas eventuais ações que lhes sejam pertinentes,
todos os livros obrigatórios pela legislação fiscal, bem como os documentos que serviram de
base para escrituração comercial e fiscal; e de efetuar as retenções e recolhimentos do imposto
de renda e das contribuições na fonte, previstos na legislação vigente.
A empresa se sujeita ainda à entrega de diversas declarações previstas pela legislação
fiscal, tais como:
Declaração de Informações Econômico-fiscais da Pessoa Jurídica (DIPJ), de
periodicidade anual;
Declaração do Imposto de Renda Retido na Fonte (DIRF), de periodicidade anual;
Declaração de Débitos e Créditos Tributários Federais (DCTF), de periodicidade
mensal;
Demonstrativo de Apuração de Contribuições Sociais (DACON), de periodicidade
mensal;
Pedido Eletrônico de Restituição ou Ressarcimento e da Declaração de Compensação
(PERDCOMP)
A CAGECE é contribuinte do Imposto sobre as operações relativas à Circulação de
Mercadorias e Serviços (ICMS), de competência estadual, previsto no artigo 155, inciso II, da
Constituição Federal.
Entretanto, a empresa é contemplada com uma redução de 100% na base de cálculo do
ICMS, nas operações de fornecimento de água natural, conforme preceitua o artigo 44, do
Decreto n.º 24.569/97 – Regulamento do ICMS do Ceará (RICMS-CE).
Art.44 A base de cálculo do ICMS nas operações de fornecimento de água natural
por órgãos, empresas públicas ou sociedades de economia mista nas quais o Estado
seja o sócio majoritário controlador será reduzida em 100% (cem por cento)
[Convênios ICMS 7/95 e 112/95b - indeterminado]
91
É oportuno esclarecer que é vedado à empresa apropriar-se de crédito relativo às
entradas de insumos utilizados no tratamento da água natural vendida à população, em virtude
do disposto no art. 65, V:
Art. 65. Fica vedado o creditamento do ICMS nas seguintes hipóteses:
[...]
V - entrada de mercadoria e respectivo serviço, quando for o caso, recebida para
integrar o processo de industrialização ou de produção rural ou neles ser consumida
e cuja ulterior saída do produto dela resultante ocorra sem débito do imposto, sendo
esta circunstância conhecida na data da entrada;
Contudo, embora os serviços de saneamento não sejam tributados pelo ICMS,
incidência do imposto sobre produtos, materiais e equipamentos utilizados na prestação dos
serviços, tais como, a energia elétrica.
Ressalte-se que não obstante a empresa seja beneficiada com a redução de 100% na
base de cálculo nas operações de saída de água natural tratada que realiza, o que equivale, em
termos quantitativos, a uma isenção fiscal, uma vez que o tributo a recolher nessas
operações, a companhia está obrigada a cumprir as obrigações acessórias impostas aos
contribuintes do ICMS, tais como, registrar os valores totais de suas entradas e saídas em sua
escrita fiscal e apresentar declarações de informações econômico-financeiras ao Fisco
estadual.
Dentre os tributos de competência municipal, definidos no artigo 156, da Carta
Magna, destaca-se que o Imposto sobre Serviços (ISS) não incide sobre os serviços prestados
por empresas de saneamento, tendo em vista que foram vetados da lista de serviços, anexa à
Lei Complementar n.º 116/2003, os itens referentes à prestação de serviços de saneamento
ambiental, inclusive purificação, tratamento, esgotamento sanitário e congêneres e de
tratamento e purificação de água. O Governo Federal considerou como razões para o veto
que:
a incidência do imposto sobre serviços de saneamento ambiental, inclusive
purificação, tratamento, esgotamento sanitários e congêneres, bem como sobre
serviços de tratamento e purificação de água, não atende ao interesse público. A
tributação poderia comprometer o objetivo do Governo em universalizar o acesso a
tais serviços básicos. O desincentivo que a tributação acarretaria ao setor teria como
conseqüência de longo prazo aumento nas despesas no atendimento da população
atingida pela falta de acesso a saneamento básico e água tratada. (BRASIL, 2003).
Não obstante a companhia não seja contribuinte do ISS, a mesma está obrigada a
efetuar retenções do imposto daqueles a quem ela toma serviço, obrigando-se ainda a prestar
92
informações ao Fisco Municipal mediante apresentação da Declaração Digital de Serviços
(DDS), de periodicidade mensal.
Ferreira (2002) expõe que foi com o advento do Código Tributário Nacional que se
inaugurou a fundamentação legal do regime de substituição tributária, através da sujeição
passiva por responsabilidade, disciplinada pelo art. 128 do citado diploma legal:
Art. 128. Sem prejuízo do disposto neste Capítulo, a lei pode atribuir de modo
expresso a responsabilidade pelo crédito tributário a terceira pessoa, vinculada ao
fato gerador da respectiva obrigação, excluindo a responsabilidade do contribuinte
ou atribuindo-a a este em caráter supletivo do cumprimento total ou parcial da
referida obrigação.
Com tal fundamento, que autoriza a atribuição a terceira pessoa, que não o próprio
contribuinte, da responsabilidade, não pelo encargo do tributo em si, mas pela retenção e
recolhimento deste, surgiu a figura do contribuinte substituto.
A legislação fiscal vigente e aplicável à empresa estudada atribui de modo expresso a
responsabilidade pelo recolhimento e retenção de IR, CSLL, PIS, COFINS e ISS de terceiros.
Embora objetivando minimizar ou evitar a evasão fiscal e facilitar o controle administrativo
do Fisco, essa prática gera custos de conformidade para a organização, como, por exemplo,
tempo dedicado e pessoal para a realização das tarefas.
Quanto às contribuições previdenciárias, a empresa, além de contribuir sobre sua folha
de salários e demais rendimentos das pessoas por ela contratadas, também é obrigada a
recolher as contribuições a cargo de seus empregados e dos prestadores de serviço, mediante
desconto da remuneração a eles paga.
Ademais, sem prejuízo do cumprimento de outras obrigações acessórias previstas na
legislação previdenciária, a empresa está obrigada a informar mensalmente, em Guia de
Recolhimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço e Informações à Previdência Social
(GFIP), os seus dados cadastrais, os fatos geradores das contribuições sociais e outras
informações de interesse do INSS; e a prestar ao órgão todas as informações cadastrais,
financeiras e contábeis de interesse do mesmo, na forma por ele estabelecida, bem como os
esclarecimentos necessários a eventuais fiscalizações.
Outros tributos previstos pela Constituição Federal e pelo Código Tributário, além dos
impostos e contribuições mencionados, embora não estejam diretamente relacionados à
atividade da companhia, como o Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana
93
(IPTU) e Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA), também geram
gastos administrativos com seu gerenciamento e controle.
6.3. Análise dos resultados da pesquisa
Depois de realizada a revisão bibliográfica sobre o cenário tributário brasileiro, a
questão dos custos de conformidade e o setor de saneamento, procedeu-se a análise
documental, com o levantamento de dados nos documentos internos disponíveis na CAGECE,
no site da companhia e informações prestadas pela Gerência de Controladoria, através de e-
mails e visitas à empresa, durante o período de agosto a setembro de 2006 e maio a julho de
2007.
Conforme descrito no capítulo que trata dos aspectos metodológicos da pesquisa, a
verificação da percepção a respeito dos custos de conformidade à tributação foi realizada
através de coleta de dados junto à assessoria da Presidência e assessoria da Procuradoria
Jurídica da companhia e aos gerentes, supervisores e colaboradores, dentre as seguintes áreas:
Gerência de Controladoria (GCONT) subordinada à Diretoria de Planejamento e
Controle (DPC), a GCONT tem, entre outras, as atribuições de planejar e organizar as
atividades contábeis; emitir os demonstrativos contábeis, de acordo com a legislação
vigente; realizar o planejamento e controle dos tributos; atender às demandas de
auditorias interna e externa, bem como dos órgãos de fiscalização municipal, estadual
e federal; disponibilizar informações gerenciais e análises de resultados corporativos e
setoriais, visando subsidiar o processo decisório na CAGECE.
Supervisão de Análises e Controles Contábeis – subordinada à GCONT, é responsável
pela apuração dos tributos; manutenção da regularidade junto aos órgãos de
fiscalização tributária; atualização e adequação contábil e fiscal às legislações
pertinentes; planejamento e controle das oportunidades para redução da carga
tributária através de mecanismos legais; relacionamento com instituições e órgãos de
fiscalização para cumprimento de obrigações acessórias; escrituração e arquivo dos
livros contábeis e fiscais; atendimento às auditorias interna e externa; arquivo e
controle dos documentos contábeis; entre outras atribuições.
94
CONTROLE DA
QUALIDADE DOS
SERVIÇOS
GECOS
PLANEJAMENTO
DE EXPANSÃO
GPLAN
CONTROLADORIA
GCONT
UNIDADE
EXECUTORA DO
PROGRAMA UEP
KFWII
UE
P KF
WII
UNIDADE DE
GERENCIAMENTO
DO PROJETO
ALVORADA
UG
PA
UNIDADE DE
GESTÃO DO
PROGRAMA
SANEAR II
U
GP S
ANEA
R II
P
LAN
EJAM
ENTO
E C
ONT
ROLE
DIRETOR ADJUNTO
D P C
ANÁLISES E
CONTROLES
CONTÁBEIS
INFORMAÇÕES
GERENCIAIS
ANÁLISES E
CONTROLES
PATRIMONIAIS
A figura 6 mostra a posição no organograma da Diretoria de Planejamento e Controle
da GCONT:
Figura 6 – Diretoria de Planejamento e Controle
Fonte: CAGECE, 2007
Gerência de Pessoas (GEPES) - subordinada à Diretoria de Gestão Empresarial
(DGE), tem as atribuições de gerenciar a aplicação da legislação trabalhista,
previdenciária e tributária vigente, e de aplicar e acompanhar a atualização das normas
aplicáveis à administração de pessoas; de realizar controles das obrigações sociais; e
de prestar informações e esclarecimentos aos órgãos governamentais e fiscalizadores;
entre outras.
Gerência Financeira (GFIN) – subordinada à DGE, a GFIN tem, entre outras, as
atribuições de controlar o fluxo financeiro e as disponibilidades da companhia,
fornecendo informações gerenciais para tomada de decisão pela diretoria; de assegurar
o cronograma de pagamentos dos tributos federais, estaduais e municipais através de
acompanhamento dos prazos previstos em Lei; e de administrar o fluxo de caixa diário
da companhia, a fim de equacionar os pagamentos.
Supervisão de Gestão de Fluxos e Disponibilidades - subordinada à GFIN, é
responsável por controlar o fluxo financeiro e as disponibilidades da companhia,
fornecendo informações gerenciais para tomada de decisão pela diretoria; por validar
os processos de pagamento com recursos próprios e financiados, observando os
seguintes aspectos: documentação, retenção de tributos, consistência dos valores e
autorizações pelas instâncias competentes; por prestar informações aos fornecedores,
quanto à situação de pagamento e retenção de tributos; entre outras atribuições.
95
A figura 7 mostra a posição no organograma da Diretoria de Gestão Empresarial da
GEPES e da GFIN:
Figura 7 – Diretoria de Gestão Empresarial
Fonte: CAGECE, 2007
Gerência de Estudos e Estratégia Econômico-Financeira (GESEF) vinculada à
Diretoria da Presidência da instituição, a GESEF tem, entre outras, as atribuições de
elaborar e acompanhar o planejamento econômico-financeiro; de acompanhar e
implementar o orçamento corporativo; de fornecer à Presidência relatórios, estudos,
avaliações, pareceres e informações econômicas da companhia para instruir decisões.
Supervisão de Planejamento Econômico-financeiro subordinada à GESEF, tem
como atribuição o planejamento, controle e supervisão do desenvolvimento do
processo orçamentário e da programação financeira da companhia, em consonância
com as políticas, diretrizes e prioridades estabelecidas pela diretoria da companhia,
entre outras.
LOGÍSTICA
GELOG
TRANSPORTE
GTRAN
FINANCEIRA
GFIN
SUPORTE
ADMINISTRATIVO
GESAM
GERÊNCIA
DE PESSOAS
GEPES
GESTÃO EMPRESARIAL
DIRETOR ADJUNTO
D GE
GESTÃO DE
FLUXOS E
DISPONIBILIDADES
TESOURARIA
GESTÃO
FINANCEIRA DE
CONTRATOS
RELAÇÕES
TRAB. E
RESP.
SOCIAL
GETRA
INFORMÁTICA
GINF
96
A figura 8 mostra a posição da GESEF no organograma da Diretoria da Presidência da
CAGECE:
Figura 8 – Diretoria da Presidência
Fonte: CAGECE, 2007
6.3.1. Análise dos resultados - Questionários estruturados
Os questionários foram enviados via Internet (e-mail, correio eletrônico) aos três
supervisores das áreas de (1) Análises e Controles Contábeis, (2) Gestão de Fluxos e
Disponibilidades e (3) Planejamento Econômico-financeiro, e a seis funcionários sem função
de chefia, lotados nas áreas mencionadas. Para aqueles que inicialmente o apresentaram
resposta, o questionário foi aplicado na própria organização, através de um contato direto com
os respondentes, de acordo com sua disponibilidade, no período de 1º a 29 de junho de 2007.
A pesquisa era acompanhada por uma carta de apresentação da autora, explanando os
objetivos do estudo. A carta enfatizava que as questões da pesquisa referiam-se aos custos de
conformidade à tributação e apresentava uma pequena explanação sobre o tópico (Apêndice
A).
GERÊNCIA DE
DESENVOLVIMENTO
EMPRESARIAL
GDEMP
GERÊNCIA DE
ESTRATÉGIA DE
EXPANSÃO
GETEX
GERÊNCIA DE ESTUDOS
E ESTRATÉGIA
ECONÔMICO-
FINANCEIRA
GESEF
- Planejamento
econômico-financeiro
- Estudos e análises
econômicas de
projetos
AUDITORIA INTERNA
AUDIN
PRESIDÊNCIA
D P R
GABINETE DA
PRESIDÊNCIA
GAPRE
ASSESSORIA DE
IMPRENSA
ASIMP
PROCURADORIA
JURÍDICA
PROJU
DIRETORIA
COMERCIAL
DIC
DIRETORIA DE
GESTÃO
EMPRESARIAL
DGE
DIRETORIA
DE
OPERAÇÕES
DDO
DIRETORIA DE
PLANEJAMENTO E
CONTROLE
DPC
DIRETORIA
DE
ENGENHARIA
DEN
97
Dos nove questionários enviados, oito foram respondidos, pois um supervisor optou
por não participar da pesquisa.
Inicialmente, buscou-se caracterizar o respondente, quanto ao cargo, tempo de
empresa e formação acadêmica, entre outros. Todos os respondentes têm até cinco anos de
empresa. A tabela 9 mostra os resultados quanto à formação acadêmica e à função exercida na
empresa:
Tabela 9 – Relação entre a função exercida na empresa e a formação acadêmica
Supervisor Colaborador sem função de chefia
Superior incompleto - 1
Superior completo - 1
Formação
acadêmica
Especialização 2 4
Fonte: Dados da pesquisa
Em seguida, a pesquisa apresentou questão para determinar que aspectos da legislação
tributária vigente seriam as maiores fontes de complexidade. Os pesquisados foram
questionados sobre oito aspectos do Código Tributário e legislação correlata; eles poderiam
marcar mais de uma alternativa, se aplicável, bem como indicar outras opções. Os aspectos
citados como maiores fontes de complexidade pelo maior número de respondentes (seis)
foram as regras relativas à determinação da base de cálculo e do valor devido e isenções,
reduções e deduções do imposto. A tabela 10 mostra as respostas:
Tabela 10 – Fontes de complexidade da legislação tributária
Aspectos Freqüência %
Determinação da base de cálculo e do valor devido 6 75,0
Isenções, reduções e deduções do imposto devido 6 75,0
Tributação na fonte 3 37,5
Imunidades, isenções e não incidências 2 25,0
Outros
1
2 25,0
Compensação e restituição de tributos pagos 1 12,5
Depreciação de bens / Depreciação acelerada incentivada 1 12,5
Fonte: Dados da pesquisa
(1) Outros: Interpretação das normas tributárias
O outro aspecto mencionado por dois respondentes como fonte de alta complexidade
foi a interpretação das normas tributárias. De fato, considerando o grande quantitativo de
normas tributárias, incluídas leis, decretos, medidas provisórias, portarias, resoluções,
instruções normativas, convênios, pareceres, entre outras, e o modo como o texto legal é
formulado e redigido, torna-se difícil uma compreensão precisa por parte do contribuinte.
Objetivando identificar os fatores que mais contribuem para o aumento dos custos de
conformidade, foram apresentados aspectos diversos para que os respondentes classificassem,
98
numa escala de 1 a 10, aqueles que mais gerariam esses custos. Para os oito (100%)
pesquisados, a complexidade da legislação tributária foi considerada o principal fator gerador
de custos de conformidade, corroborando a questão anterior de que a dificuldade de
interpretação das normas é fonte de custos. Em seguida, ficou a alternativa sobre as alterações
das normas tributárias, indicada, em segundo lugar, por sete (87,5%) respondentes.
Percebe-se que os resultados corroboram o estudo de Green (1994 apud EVANS,
2003), realizado no Reino Unido, no qual se constatou que havia um aumento dos custos de
conformidade associado diretamente ao sistema tributário, e as causas identificadas dessa
tendência foram a complexidade do sistema tributário e as deficiências no processo
legislativo.
Hall (1994) reforça que, juntamente com a rotina de tarefas de conservação de
arquivos, preparação de relatórios financeiros, preenchimento de formulários fiscais e
atendimento a auditorias fiscais, o alto custo de conformidade tributária resulta dos esforços
dos contribuintes para compreender, e adaptar-se a, questões fiscais complexas, e
freqüentemente modificadas.
A complexidade da legislação tributária brasileira pode ser evidenciada pela
quantidade de normas vigentes. O Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT)
levantou a quantidade de regras editadas nos 18 anos da Constituição Federal de 1988. Até a
data do referido estudo, o IBPT (2006b) verificou que estavam em vigor 181.275 artigos,
422.370 parágrafos, 1.350.497 incisos e 177.649 alíneas. Em média, cada norma tributária
editada tem 11,23 artigos, cada artigo tem 2,33 parágrafos, 7,45 incisos e 0,98 alíneas.
Quanto à instabilidade das normas, o levantamento do IBPT (2006b) constatou um
total de 229.616 regras tributárias editadas nos três níveis de governo. Foram editados nesse
período 2.578.588 artigos, 6.008.111 parágrafos, 19.210.484 incisos e 2.527.017 alíneas.
Os resultados obtidos na questão 3, que aborda as ações da empresa frente à
instabilidade das normas tributárias, mostraram que a empresa lida com as freqüentes
alterações na legislação, principalmente, através de treinamento de pessoal interno (sete
respondentes), leitura da legislação fiscal e dos manuais (cinco) e da contratação de
consultoria externa (quatro). A tabela 11 apresenta as ações mais utilizadas pela empresa, na
percepção dos pesquisados, que poderiam indicar até três opções:
99
Tabela 11 – Ações da empresa para lidar com as alterações da legislação tributária
Aspectos Freqüência %
Treinamento de pessoal interno 7 87,5
Leitura da legislação fiscal e dos manuais 5 62,5
Contratação de consultoria externa 4 50,0
Participação em seminários, congressos, simpósios 3 37,5
Troca de informações entre a equipe de trabalho 3 37,5
Acesso a plantões fiscais 2 25,0
Fonte: Dados da pesquisa
A terceira parte do questionário objetivava identificar custos de conformidade gerados
dentro da empresa e aqueles gerados pelas atividades relacionadas à tributação realizadas por
profissionais externos.
Os principais custos de conformidade internos, na visão dos respondentes, são
identificados na Controladoria, no qual foi considerado um alto grau de participação no
estudo, discussão e cumprimento da legislação tributária pelos oito (100%) pesquisados. Em
seguida, ficaram os setores Financeiro, Jurídico e Gestão de Pessoas. Os resultados obtidos
são demonstrados a seguir, na tabela 12:
Tabela 12 – Grau de participação das áreas da empresa nas questões tributárias
Grau de participação da área no estudo, discussão
ou cumprimento da legislação tributária
Áreas da empresa
Nenhum /
não se aplica
Baixo Moderado Alto
Conselho de Administração 5
(62,5%)
2
(25,0%)
1
(12,5%)
-
Conselho Fiscal 3
(37,5%)
4
(50,0%)
-
1
(12,5%)
Diretoria
-
2
(25,0%)
5
(62,5%)
1
(12,5%)
Controladoria
- - -
8
(100%)
Jurídico
-
1
(12,5%)
4
(50,0%)
3
(37,5%)
Informática
-
7
(75,0%)
2
(25,0%)
-
Arquivo 4
(50,0%)
1
(12,5%)
2
(25,0%)
1
(12,5%)
Recursos Humanos/Gestão de pessoas
-
3
(37,5%)
2
(25,0%)
3
(37,5%)
Tesouraria/Financeiro
- -
2
(25,0%)
6
(75,0%)
Auditoria interna 1
(12,5%)
3
(37,5%)
3
(37,5%)
1
(12,5%)
Fonte: Dados da pesquisa
100
Entre outras atribuições relacionadas ao cumprimento das disposições tributárias, a
gerência de Controladoria da CAGECE realiza o planejamento, cálculo dos tributos e controle
de obrigações acessórias; a gerência Financeira efetua e presta informações sobre pagamento
e retenções na fonte de tributos (INSS, PIS, COFINS, CSLL, IR) dos serviços prestados por
terceiros; a gerência de Pessoas calcula e controla os tributos incidentes sobre a folha de
pagamento (INSS, Salário-educação, SAT, INCRA, SENAI, SESI, SEBRAE, FGTS) e a
retenção de tributos na fonte de seus empregados. Por sua vez, a Procuradoria Jurídica
assessora todas as unidades organizacionais da empresa; pronunciando-se sempre que
solicitada a respeito dos assuntos tributários em pauta ou remetendo questões de maior
complexidade para escritório de advocacia especializado.
Nos custos externos, o predomínio é nos custos com advogados, auditoria, informática
e treinamentos. A empresa mantém contrato com escritório de advocacia empresarial,
especializado na prestação de serviços de acompanhamento de questões tributárias, para
orientações preventivas até defesas nas esferas administrativas e judiciais, e com empresa de
consultoria e auditoria externa. A companhia adquire de uma empresa responsável por
desenvolvimento de softwares o sistema ERP que atende as áreas contábil-fiscal e financeira,
entre outras. A tabela 13 abaixo apresenta os resultados obtidos:
Tabela 13 – Nível de recursos destinados aos serviços externos voltados às questões tributárias
Nível de recursos destinados à contratação de
serviços externos voltados ao estudo e
atendimento da legislação tributária
Serviços externos
Nenhum /
não se
aplica
Baixo Moderado Alto
Auditores e consultores
-
3
(37,5%)
3
(37,5%)
2
(25,0%)
Advogados
-
1
(12,5%)
3
(37,5%)
4
(50,0%)
Assinatura de jornais / revistas / livros
-
6
(75,0%)
2
(25,0%)
-
Treinamento / seminários / congressos etc.
-
1
(12,5%)
6
(75,0%)
1
(12,5%)
Arquivos terceirizados 6
(75,0%)
2
(25,0%)
- -
Informática / desenvolvimento de sistemas 1
(12,5%)
1
(12,5%)
6
(75,0%)
-
Fonte: Dados da pesquisa
Os principais custos externos identificados pelos respondentes (custos com auditores,
consultores e advogados) podem ser considerados, segundo a classificação apresentada por
101
Das-Gupta (2003), Warburton e Hendy (2006) e Evans et al (2000), como custos de
conformidade voluntários, pois estão, principalmente, associados ao planejamento tributário, à
tentativa de reduzir as obrigações fiscais e apelações fiscais. A participação dos setores de
Controladoria e Financeiro na geração de custos de conformidade internos está, normalmente,
relacionada ao custo do cumprimento da legislação tributária (custos obrigatórios), como
manutenção de livros fiscais, preenchimento de formulários, obtenção de registros e
permissões requeridas pela legislação, entre outras atividades exigidas pela lei.
A questão proposta no item 6 do questionário objetivava identificar em que atividades
relacionadas à tributação a empresa emprega maiores esforços de tempo e recursos, sendo
permitida a escolha de até cinco opções. Para sete (87,5%) respondentes as atividades que
mais geram custos de conformidade são aquelas referentes ao cálculo e recolhimento dos
tributos incidentes sobre a atividade da empresa e a efetuar as retenções e recolhimentos de
tributos retidos na fonte. Foram marcadas por seis (75%) pesquisados, as alternativas que se
referiam às ações de treinamento de pessoal interno para a realização de tarefas relacionadas a
impostos, corroborando o resultado obtido na tabela 11, de que a empresa investe em
treinamento para lidar com a instabilidade tributária, e também o item prestação de
informações à administração tributária através do preenchimento e entrega de declarações.
A tabela 14 provê informações sobre a alocação da empresa de seus custos internos de
conformidade à tributação:
Tabela 14 – Principais atividades relacionadas aos custos de conformidade à tributação
Aspectos Freqüência %
Calcular e recolher os tributos incidentes sobre a atividade da empresa 7 87,5
Efetuar as retenções e recolhimentos de tributos retidos na fonte 7 87,5
Prestar informações à administração tributária através do preenchimento e
entrega de declarações
6 75,0
Treinar pessoal interno para a realização de tarefas relativas a impostos 6 75,0
Contratar assessores tributários advogados, auditores, contadores,
economistas
4 50,0
Manter escrituração completa e livros registrados e autenticados 2 25,0
Responder intimações e notificações fiscais e atender fiscalizações 2 25,0
Inscrever a pessoa jurídica e seus estabelecimentos em cadastros fiscais 1 12,5
Arquivar e conservar livros e comprovantes fiscais 1 12,5
Pesquisar e planejar ações de elisão fiscal (planejamento tributário) 1 12,5
Adquirir e/ou alterar sistemas informatizados em decorrência de mudanças na
legislação fiscal
1 12,5
Preparar dados e relatórios relativos aos tributos, solicitados pelos profissionais
externos
1 12,5
Fonte: Dados da pesquisa
102
Observa-se que as atividades relacionadas à tributação em que a empresa emprega
maiores esforços, conforme sete (calcular e recolher tributos incidentes sobre a atividade da
empresa, efetuar as retenções e recolhimentos de tributos retidos na fonte) e seis dos
pesquisados (prestar informações à administração tributária através do preenchimento e
entrega de declarações), são as que Slemrod e Blumenthal (1993) classificam como filing
activites, nas quais os custos de conformidade decorrem das próprias atividades de coleta de
dados, preparação de declarações fiscais e cálculo dos tributos.
A atividade de treinamento de pessoal interno para a realização de tarefas relativas a
impostos, apontada por seis respondentes, pode ser considerada, conforme a classificação de
Slemrod e Blumenthal (1993), como pre-filing activite, cujos custos de conformidade surgem
do planejamento tributário, obtenção de orientação tributária e de informações, e manutenção
de arquivos relacionados à matéria fiscal. A contratação de consultoria especializada, indicada
por quatro pesquisados, também pode ser classificada como atividade geradora de pre-filing
costs.
A quarta e última parte do questionário apresentava alternativas acerca da qualidade da
regulamentação tributária, a relevância dos custos de conformidade e as estratégias da
empresa para conviver com a complexidade tributária. Os respondentes deveriam indicar o
grau de concordância ou discordância com as afirmações propostas. A tabela 15 apresenta os
resultados obtidos:
Tabela 15 – Percepções sobre o cenário tributário brasileiro e sobre os custos de conformidade à tributação
Discorda
Totalmente
Discorda
mais que
concorda
Concorda
mais que
discorda
Concorda
Totalmente
Item
Qtde % Qtde
% Qtde
% Qtde
%
a) As autoridades têm incrementado
continuamente o ônus tributário dos
contribuintes.
- - - - 4 50,0 4 50,0
b) As autoridades têm aumentado a
complexidade do sistema tributário ano
após ano, tornando o cumprimento das
normas cada vez mais difícil e,
consequentemente, mais custoso.
-
-
1 12,5 2 25,0 5 62,5
c) As exigências tributárias impostas
aos contribuintes tornaram-se mais
técnicas e dinâmicas, levando-os a
recorrer a serviços de especialistas.
-
-
1 12,5 3 37,5 4 50,0
103
Discorda
Totalmente
Discorda
mais que
concorda
Concorda
mais que
discorda
Concorda
Totalmente
Item
Qtde % Qtde
% Qtde
% Qtde
%
d) Além dos tributos incidentes, os
contribuintes estão obrigados a um
excessivo número de obrigações
acessórias e isso tem interferido na
competitividade das empresas.
- - 1 12,5 3 37,5 4 50,0
e) O tempo e o esforço empregados em
atividades como preenchimento de
declarações, retenção de tributos,
manutenção de arquivos, consomem
importantes recursos da empresa e
geram pouco ou nenhum benefício para
os negócios.
- - 2 25,0 1 12,75
5 62,5
f) Os custos de conformidade em nada
contribuem para a agregação de valor
de produto ou serviço, ou seja, sua
repercussão econômica pode implicar
em aumento do preço sem qualquer
contrapartida em diferenciais
competitivos.
- - 2 25,0 2 25,0 4 50,0
g) Os custos de conformidade são
considerados insignificantes, por isso
não se configuram uma preocupação
desta empresa.
3 37,5 4 50,0 1 12,5 - -
h) Embora haja a percepção de que os
custos de conformidade representam
um ônus para a empresa, a mesma não
possui nenhum controle em relação a
esses custos.
1 12,75
1 12,75
6 75,0 - -
i) Os custos de conformidade surgem
em diversas áreas desta empresa, isto é,
não se restringem ao setor contábil ou
Controladoria.
- - - - 5 62,5 3 37,5
j) A contabilidade atualmente praticada
no Brasil não contribui para a
discussão do real custo da tributação.
Esse tipo de informação não é dado aos
usuários das Demonstrações contábeis
e demais relatórios gerenciais.
- - 2 25,0 3 37,5 3 37,5
k) Faz-se necessária uma maior
atenção aos custos de conformidade à
tributação nas políticas tributárias
adotadas no Brasil.
- - - - 2 25,0 6 75,0
l) A descentralização da legislação
tributária (legislação federal, estadual e
municipal) representa um alto custo
para os contribuintes.
- - 2 25,0 3 37,5 3 37,5
104
Discorda
Totalmente
Discorda
mais que
concorda
Concorda
mais que
discorda
Concorda
Totalmente
Item
Qtde % Qtde
% Qtde
% Qtde
%
m) Se a legislação tributária não
mudasse mais, haveria uma
significativa redução de custos nesta
empresa.
1 12,75
2 25,0 3 37,5 2 25,0
Fonte: Dados da pesquisa
Conforme os resultados apresentados, observa-se que os supervisores e colaboradores
das áreas pesquisadas na empresa concordam que o ônus tributário imposto aos contribuintes
tem aumentado e, para sete respondentes, a complexidade das normas torna o seu
cumprimento mais difícil, mais custoso e sua dinâmica leva às empresas a recorrerem a
serviços de profissionais especialistas.
Dentre os pesquisados, sete concordam, no todo ou em parte, que, além dos tributos
incidentes, os contribuintes estão obrigados a um excessivo número de obrigações acessórias
e isso tem interferido na competitividade das empresas.
Nesse sentido, matéria veiculada na Gazeta Mercantil, em 29 de setembro de 2006,
expõe que as empresas brasileiras têm de entregar mensalmente cerca de 30 obrigações
acessórias à Receita Federal, e a estimativa é que elas tenham que preencher entre 200 e 300
DARFs por mês. A consultora do Centro de Orientação Fiscal (Cenofisco), Terezinha
Massambani, declarou ao jornal que a burocracia, aliada à elevada carga tributária, é
responsável pelo desinteresse dos empreendedores na busca de novos investimentos no País.
Para cinco (62,5%) respondentes, o tempo e o esforço empregados em atividades
como preenchimento de declarações, retenção de tributos, manutenção de arquivos,
consomem importantes recursos da empresa e geram pouco ou nenhum benefício para os
negócios. Dois (25%) dos pesquisados discordaram parcialmente dessa afirmativa. O
resultado encontra correspondência em Evans et al (2000), que identifica benefícios
gerenciais na conformidade tributária, ao afirmar que a necessidade de se ter uma rigorosa
manutenção de arquivos, a fim de obedecer às exigências das leis fiscais, pode proporcionar
uma base melhor para a tomada de decisões na empresa.
Os pesquisados concordaram que os custos de conformidade surgem em diversas áreas
desta empresa e não na Controladoria, corroborando os resultados apresentados na tabela
105
10, em que é apontado o grau de participação das áreas da empresa no estudo e no
cumprimento da legislação tributária.
Seis (75%) dos respondentes concordaram, parcialmente, que, embora haja a
percepção de que os custos de conformidade representam um ônus para a empresa, a mesma
não possui nenhum controle em relação a esses custos. O resultado fortifica a afirmação de
Bertolucci (2003), de que as organizações não estão preparadas para levantar somente a parte
dos custos das várias áreas da empresa que têm recursos voltados ao atendimento de normas
tributárias e que, mesmo nos países mais desenvolvidos, não é prática comum criar
mecanismos ou dispositivos para apurar ou controlar os custos de conformidade.
Todos os respondentes estão de acordo, sendo que seis (75%) concordam totalmente e
dois (25%) concordam mais que discordam, que se faz necessária uma maior atenção aos
custos de conformidade à tributação nas políticas tributárias adotadas no Brasil. Tendo em
vista a quantidade de obrigações acessórias previstas nas legislações federal, estaduais e
municipais, o tema merece espaço e discussão das autoridades governamentais, no sentido de
adotar medidas capazes de reduzir os custos de conformidade dos setores mais afetados e
evitar a simples transferência de custos administrativos aos contribuintes.
6.3.2. Análise dos resultados – Entrevistas semi-estruturadas
As entrevistas semi-estruturadas foram desenvolvidas a partir de um roteiro construído
com perguntas abertas, apresentado no Apêndice B. A análise das entrevistas, através do
exame do conteúdo das mensagens, expressões e idéias obtidas dos entrevistados, busca
subsidiar, juntamente com outras evidências, a resposta aos objetivos da pesquisa.
Foram realizadas seis entrevistas nos níveis de assessoria e gerência da companhia,
tendo como entrevistados duas assessoras técnicas da Presidência, a assessora da Procuradoria
Jurídica, o gerente de Controladoria, o gerente Financeiro e a gerente de Pessoas. O gerente
da área de estudos e estratégias econômico-financeira optou por não participar da pesquisa.
Os cargos de direção, por serem cargos de confiança, são indicados a cada gestão do
Governo do Estado. Portanto, optou-se por não entrevistar os diretores de Planejamento e
Controle e de Gestão Empresarial, que assumiram seus cargos no ano de 2007, visando
106
manter uniformidade entre os entrevistados. Ressalta-se que as duas assessoras entrevistadas
ocuparam os cargos diretivos na DPC e DGE na gestão anterior.
Ao serem informados sobre o tema da pesquisa, todos os entrevistados se mostraram
interessados, ressaltando a originalidade do estudo. Embora todos reconhecessem a existência
de custos de conformidade na empresa e a importância de se conhecer as determinantes e as
conseqüências desses custos, afirmaram que ainda não se tratava de um assunto discutido
dentre as questões tributárias da companhia.
Quando questionados sobre as estratégias da companhia para enfrentar ou conviver
com a crescente complexidade tributária, dada a limitação de orçamento da empresa, os
entrevistados enfatizaram a constante capacitação dos colaboradores da companhia, através de
treinamentos. As assessoras técnicas frisaram que, embora os gastos com treinamento se
caracterizem como custos de conformidade, a capacitação pode gerar benefícios no sentido de
despertar uma postura pró-ativa dos colaboradores para o planejamento tributário. Para as
assessoras, a participação dos funcionários em eventos relacionados à área tributária provoca
troca de experiências e insigths para ações que visem minimizar a carga incidente.
O gerente financeiro ressaltou que, além dos recursos aplicados em cursos e
treinamentos, há também que se considerar o impacto gerado pela ausência do funcionário em
treinamento, dado o reduzido quadro de pessoal nessa área da companhia.
O entrevistado destacou ainda a dificuldade para lidar com as leis orgânicas dos
diversos municípios onde há prestação de serviços, para efeito da retenção do ISS. Ele
mencionou um plano de ação da empresa que visa operacionalizar as retenções nas próprias
unidades do interior do Estado, o que certamente demandará recursos em treinamento,
contratação de pessoal e sistemas, mas facilitará o cumprimento das obrigações com o Fisco
municipal, tendo em vista que grande parte do serviço está atualmente centralizada na sede
administrativa.
Ainda sobre as estratégias da companhia para enfrentar a crescente complexidade
tributária, os entrevistados informaram que a empresa dispõe de consultoria e assessoria de
um escritório especializado nas questões tributárias, de modo a promover planejamento
tributário, por meio de alternativas legais para redução do ônus fiscal, até demandas nas
esferas administrativas e judiciais. Sobre os custos de conformidade associados ao
planejamento tributário, Evans et al (2000) destacam que as ações de elisão fiscal são
107
empreendidas pelos contribuintes, tendo em vista que seus custos são presumivelmente
menores que as conseqüentes reduções nas suas obrigações tributárias.
Os entrevistados mencionaram também, como estratégias para conviver com a
complexidade, a assinatura de revistas especializadas na área fiscal, consultas a plantões
fiscais e a melhoria do controle informatizado, que minimiza eventuais falhas humanas.
Quando indagadas sobre a existência de algum procedimento que reduziria o total da
obrigação tributária, mas que a empresa deixou de fazer por causa da complexidade, as
assessoras entrevistadas afirmaram que a empresa sempre busca alternativas legais para
minimizar a carga tributária, independente do grau de dificuldade para obtenção do benefício.
O gerente de Controladoria destacou que a empresa utiliza benefícios fiscais
permitidos pela legislação, tais como, adesão ao Programa de Alimentação do Trabalhador
(PAT), incentivos de caráter cultural e artístico, à atividade audiovisual e doações dedutíveis
do imposto de renda. No ano de 2006, a companhia destinou parte do seu Imposto de Renda
ao patrocínio de eventos, como o Cine Ceará, Festival de Jazz e Blues e Bienal do Livro.
O entrevistado acrescentou que a empresa evita as operações que possam gerar riscos
de contingência fiscal e que procura sempre, em parceria com empresas de consultoria
contratadas, ver novas formas legais de redução da carga tributária.
Ao supor a possibilidade da legislação tributária não mudar mais, os entrevistados
citaram os seguintes pontos em que poderia haver redução de gastos na empresa:
A atualização de softwares se tornaria desnecessária ou menos freqüente e os
gastos diminuiriam, tendo em vista que o suporte em decorrência de alterações na
legislação fiscal não está incluso no contrato inicial;
Redução dos gastos com treinamentos direcionados tão-somente a tratar das
alterações na legislação e mudanças nos formulários e declarações prestadas pela
empresa;
Redução do tempo dedicado à leitura de novos manuais e adaptação a novas regras
pelos funcionários;
Redução no contrato de assessoria e consultoria tributária.
108
O gerente financeiro ressaltou que a estabilidade das normas tributárias permitiria
também uma maior segurança quanto ao planejamento financeiro e orçamentário elaborado
pela empresa.
Quando questionado sobre se, de um modo geral, a empresa está satisfeita com sua
interação com o Fisco (federal, estadual e municipal), o gerente de Controladoria destacou as
exigências para a obtenção do alvará de funcionamento das Prefeituras e a dificuldade dos
órgãos federais em emitirem Certidões Negativas de Débitos (CND), especialmente, se
débitos questionados judicialmente, situação esta também mencionada pela assessora jurídica.
Essa queixa se coaduna com o levantamento da Pricewaterhouse Coopers (2006),
realizado com 117 grupos empresariais brasileiros, que constatou que 92,7% dos empresários
retardaram ou perderam negócios devido à dificuldade de conseguir a tempo a Certidão
Negativa de Débito (CND), documentação exigida de quem quer participar de licitação, obter
financiamento ou empréstimo bancário.
A gerente de Pessoas fez menção aos custos de conformidade gerados pelas
fiscalizações, com os gastos de tempo e recursos no atendimento aos fiscais, na preparação de
relatórios, expedição de cópias, e, porventura, dispêndios com advogados para apelações
fiscais.
Foram solicitadas dos entrevistados sugestões para simplificação do sistema tributário
e/ou para a redução dos custos de conformidade à tributação. As assessoras da Presidência
destacaram que o ponto fundamental seria uma maior participação do setor de saneamento no
processo legislativo, através do monitoramento, discussão e apresentação de propostas para o
aperfeiçoamento da legislação tributária aplicável ao setor.
As assessoras enfatizaram que, dada a relevância do setor para o país, especialmente
no que se refere ao caráter social de suas atividades, esse assunto deveria ser pauta nas
políticas tributárias para o setor, de maneira que as empresas de saneamento pudessem
concentrar seus esforços e recursos no alcance das metas de universalização dos serviços de
água e esgoto. As entrevistadas sugeriram ainda a existência de incentivos fiscais que
permitissem a aplicação integral dos tributos pagos diretamente nas atividades sociais
desempenhadas pela companhia.
109
A assessora da Procuradoria Jurídica expôs que regras mais claras e formulários mais
simples facilitariam a vida dos contribuintes. A redução do número de tributos e da
quantidade de obrigações acessórias foi a sugestão emitida pela gerente de Pessoas para a
simplificação do sistema tributário e redução dos custos de conformidade à tributação.
O gerente de Controladoria defendeu a criação de um imposto único para cada ente
federativo (União, Estados e Municípios). A proposta do imposto único é sustentada por
Cintra (1994) que estima que “a economia de custos da máquina arrecadadora do poder
público e dos custos de pessoal administrativo do setor privado poderá chegar a 20% da
arrecadação tributária bruta, acarretando uma participação de 4,4% do PIB”. Cintra (1994)
ressalta que esses recursos poderiam ser canalizados para investimentos produtivos e
alavancar o crescimento econômico.
Em síntese, os resultados obtidos revelam que os gestores e colaboradores da empresa
pesquisada reconhecem a existência dos custos de conformidade à tributação e seu
crescimento nos últimos anos, principalmente, em decorrência da complexidade e
instabilidade das regulamentações fiscais. Há a percepção de que os principais custos internos
são os da Controladoria e Financeiro e decorrem do cumprimento de obrigações previstas na
legislação fiscal. Os custos de conformidade externos estão relacionados, principalmente, ao
planejamento tributário e apelações fiscais.
Embora os pesquisados reconheçam a importância dos custos de conformidade à
tributação e entendam que o assunto deva figurar na agenda política do País, visando o
aperfeiçoamento da legislação tributária brasileira, as ações e preocupações da empresa, no
âmbito fiscal, estão voltadas para a redução dos tributos pagos. Não informações sobre os
itens que compõem os custos de conformidade nem mecanismos e dispositivos para apurá-los
ou controlá-los.
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tendo em vista o problema, os objetivos e os pressupostos apresentados, o trabalho foi
estruturado e desenvolvido a partir da revisão de literatura, pesquisa documental e dos
resultados obtidos no estudo de caso realizado na Companhia de Água e Esgoto do Ceará
(CAGECE). Neste capítulo, são apresentados os comentários finais e recomendações da
pesquisa.
Conforme observado durante o estudo, a carga tributária brasileira está entre as
maiores do mundo e, em constante ascensão, atingiu 35,21% do PIB no ano de 2006.
Contudo, as medidas da carga tributária não fornecem uma imagem completa do impacto da
tributação na economia nacional. Além dos tributos (impostos, taxas e contribuições) pagos, a
tributação envolve outros dispêndios, por exemplo, aqueles com que os contribuintes têm que
arcar para que sejam cumpridas as exigências da legislação tributária, tais como,
preenchimento de declarações, retenção de tributos, conservação de documentos fiscais,
atendimento a fiscalizações, bem como gastos com treinamentos, pesquisas e planejamento
tributário – são chamados custos de conformidade à tributação.
Em relação à contribuição do referencial teórico consultado, verifica-se que os estudos
sobre os custos de conformidade à tributação têm desenvolvimento recente em todo o mundo.
Tais custos foram por muito tempo tratados como hidden costs (custos ocultos), tendo em
vista que as empresas não têm informações sobre os itens que compõem esses custos e não há
uma metodologia pronta e formal para apurá-los ou controlá-los. O crescimento do interesse
internacional pelo tema gerou literatura disponível que forneceu um ponto de referência útil
para este estudo, com destaque para as pesquisas de Cedric Sandford, no Reino Unido; Chris
Evans, Tran-Nam e Jeff Pope, na Austrália; e Joel Slemrod, nos Estados Unidos.
No Brasil, embora a questão tributária seja amplamente discutida no meio acadêmico e
no meio empresarial, ainda há pouca bibliografia voltada especificamente aos custos de
conformidade à tributação, destacando-se os estudos de Aldo Bertolucci.
Através do referencial teórico, atinge-se o primeiro objetivo específico que é
apresentar conceitos de custos de conformidade à tributação. A palavra custo empregada na
111
presente pesquisa não segue o conceito da terminologia contábil de um gasto relativo a
consumo na produção de bens ou serviços. O termo “custo de conformidade” advém dos
termos em inglês tax compliance cost ou compliance cost of taxation, compreendidos como os
gastos incorridos pelos contribuintes para se conformar às leis e disposições tributárias. No
Código Tributário Nacional, são designados como obrigações tributárias acessórias,
diferenciando-se das obrigações principais, que consistem no próprio tributo.
Em relação ao problema da pesquisa e ao objetivo geral, observa-se que os gestores e
colaboradores da empresa estadual de saneamento pesquisada, a Companhia de Água e
Esgoto do Ceará (CAGECE), reconhecem a existência de custos de conformidade na empresa
e a importância de se conhecer as determinantes e as conseqüências desses custos, mas esse
não é um assunto discutido dentre as questões tributárias da companhia. A percepção dos
gestores e colaboradores a respeito dos custos de conformidade é instintiva, de acordo com as
experiências e vivências de cada respondente, tendo em vista que a companhia não monitora
seus custos de conformidade em seu sistema de informações.
O primeiro pressuposto estabelecia que, embora o haja controle de quanto
representam em termos monetários para a empresa, os custos de conformidade estão sendo
percebidos pelos gestores como uma questão muito significativa, tornando-se motivo de
preocupação contínua. Esse pressuposto foi corroborado parcialmente, pois os resultados
obtidos revelaram que não na empresa pesquisada mecanismos de controle e apuração dos
custos de conformidade à tributação, mas seus gestores e colaboradores reconhecem a
existência desses custos, seu crescimento nos últimos anos, e a importância da inclusão do
tema na agenda política brasileira. Entretanto, as ações e preocupações da empresa, no âmbito
fiscal, não priorizam a questão da conformidade tributária; estão mais voltadas à obtenção de
incentivos fiscais e ao planejamento tributário, visando a redução dos tributos pagos.
A pesquisa identificou que os fatores que mais contribuem para o aumento dos custos
de conformidade, na visão dos pesquisados, são a complexidade da legislação tributária, que
gera dificuldade na interpretação das normas, e as freqüentes alterações das regras tributárias,
decorrentes da instabilidade na regulamentação brasileira. Os resultados corroboram o
segundo pressuposto que estabelecia que a instabilidade da legislação tributária, somada à
complexidade do texto legal, são identificadas como as principais causas dos custos de
conformidade à tributação, e atingem o segundo objetivo específico, que é identificar os
principais pontos geradores de custos de conformidade.
112
Em relação ao terceiro e último pressuposto, que trata do surgimento de custos de
conformidade internos à empresa, verifica-se que há por parte dos gestores e colaboradores da
empresa pesquisada a percepção de que diversas áreas da companhia participam do estudo,
discussão ou cumprimento da legislação tributária, com maior ou menor grau de
envolvimento, o que gera custos de conformidade dentro de toda a organização. Os resultados
obtidos mostraram que os principais custos de conformidade internos são os da Controladoria,
seguido pelo setor Financeiro, e decorrem da rotina de tarefas exigidas pela legislação fiscal,
como calcular e recolher tributos incidentes sobre a atividade da empresa, efetuar as retenções
e recolhimentos de tributos retidos na fonte e prestar informações à administração tributária
através do preenchimento e entrega de declarações. Os custos de conformidade externos,
gerados pela realização de atividades relacionadas à tributação por profissionais
especializados, estão relacionados, principalmente, ao planejamento tributário e às demandas
no contencioso administrativo fiscal e na esfera judicial. Dessa forma, corrobora-se o último
pressuposto e atinge-se o último objetivo específico, ao identificar as áreas interna e externa à
empresa envolvidas na realização de atividades relacionadas à conformidade tributária.
Assim, conclui-se que uma percepção intuitiva da existência dos custos de
conformidade à tributação na empresa pesquisada, pois não há informações sobre os itens que
compõem esses custos, nem mecanismos e dispositivos para apurá-los ou controlá-los. Os
pesquisados reconhecem a importância do assunto e entendem que essa matéria deva figurar
na agenda política do País, visando o aperfeiçoamento da legislação tributária brasileira e
minimização do ônus imposto ao contribuinte.
É importante reconhecer que a administração tributária brasileira demonstra
preocupação com o tema, no sentido de que busca desenvolver sistemas mais amigáveis para
o cálculo, transmissão e pagamento de tributos e em iniciativas como o Simples Nacional
(“Super Simples”), que consiste em um regime especial unificado de arrecadação, que prevê
tratamento diferenciado e favorecido às microempresas e empresas de pequeno porte no que
se refere, especialmente, á apuração e recolhimento dos impostos e contribuições da União
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, inclusive obrigações acessórias.
Todavia, tendo em vista que o assunto é contemporâneo, tendo despertado o interesse
de pesquisadores no âmbito internacional, e aplica-se à realidade tributária brasileira, sugere-
se que novos estudos sejam realizados, ampliando o alcance desta pesquisa, como
desenvolver metodologias de apuração dos custos de conformidade, estudos sobre custos de
113
conformidade de tributos específicos e pesquisas que visem apresentar propostas para reduzir
esses custos e, por conseguinte, reduzir o desperdício de recursos para cumprir determinações
das leis tributárias em vez de serem alocados à atividade produtiva.
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UFC – Universidade Federal do Ceará
FEAAC – Faculdade de Economia, Administração, Atuária e Contabilidade
MPC – Mestrado Profissional em Controladoria
________________________________________________________________________________________
UFC-FEAAC-MPC
Caro(a) respondente,
No Brasil, além dos impostos, taxas e contribuições pagos pelos contribuintes, a
tributação envolve também outros dispêndios que não devem ser desconsiderados, por
exemplo, os gastos incorridos para que sejam cumpridas todas as obrigações acessórias e
exigências da legislação fiscal – são chamados custos de conformidade à tributação.
Normalmente, eles incluem os custos do trabalho ou tempo consumido na conclusão
de atividades tributárias, tais como, preenchimento de declarações, retenção de tributos,
conservação de documentos fiscais, atendimento a fiscalizações, bem como os dispêndios de
recursos em pesquisas e planejamento tributário, treinamentos, contratação de consultorias e
outros gastos incorridos para cumprir todas as formalidades que são exigidas pela legislação
tributária.
Os estudos internacionais têm reconhecido a importância dos custos de conformidade
e aumentado o interesse no desenvolvimento de novas pesquisas sobre o tema.
Em vista do exposto, com o objetivo de verificarmos a percepção de gestores e
colaboradores da companhia a respeito dos custos de conformidade à tributação, solicitamos a
sua participação neste estudo ora desenvolvido para dissertação de Mestrado em
Controladoria.
Ao completar sua pesquisa, favor enviar o questionário para [email protected].br
Ressalte-se que este estudo, sob a orientação da Prof.ª Dr.ª Maria Naiula Monteiro
Pessoa, tem caráter exclusivamente acadêmico.
Grata,
Glavany Lima Maia
Aluna do Mestrado Profissional em Controladoria
Universidade Federal do Ceará – UFC
Mestrado Profissional em Controladoria
Aluna: Glavany Lima Maia
125
Parte I - Sobre o respondente:
Sexo ( ) M ( ) F Cargo exercido na empresa: ________________________________
Tempo de atuação na empresa: _________ Tempo de atuação no cargo: ____________
Formação acadêmica:
( ) Ensino médio incompleto ( ) Ensino médio completo
( ) Graduação Informe o curso:______________________
( ) Pós-graduação. Qual?____________________________
Parte II - Questões gerais sobre o peso da conformidade tributária
Esta seção visa identificar os fatores que contribuem para o aumento dos custos de
conformidade à tributação.
1. Que aspectos da legislação vigente são os maiores responsáveis pela complexidade
tributária? Por favor, marque os que mais se aplicarem.
( ) Determinação da base de cálculo e do valor devido
( ) Compensação e restituição de tributos pagos
( ) Isenções, reduções e deduções do imposto devido
( ) Tributação na fonte
( ) Imunidades, isenções e não incidências
( ) Depreciação de bens / Depreciação acelerada incentivada
( ) Decadência e prescrição
( ) Penalidades e acréscimos moratórios
( ) Outros: cite_______________________________________________________
2. Classifique, numa escala de 1-10 (sem repetição), os principais pontos geradores de custos
de conformidade apresentados abaixo:
(Nota: 1, para a opção que, na sua opinião, MAIS gera custos de conformidade e 10, para a
opção que MENOS gera esses custos):
___ Complexidade da legislação tributária / dificuldade de interpretação das normas
___ Número de declarações/guias/formulários e seu nível de detalhamento
___ Alterações das normas tributárias
___ Intimações, fiscalizações e processos administrativos/judiciais
Universidade Federal do Ceará – UFC
Mestrado Profissional em Controladoria
Aluna: Glavany Lima Maia
126
___ Divergência entre os conceitos contábeis, societários e fiscais
___Necessidade de responder a várias jurisdições (múltiplas competências tributárias)
___ Regras aplicáveis aos contribuintes substitutos
___ Atualização dos sistemas informatizados
___ Arquivo e conservação de livros e comprovantes fiscais
___ Outros: cite____________________________________________________
3. Como a empresa lida com as alterações ocorridas na legislação tributária? Por favor,
marque até 3 (três) opções:
( ) Treinamento de pessoal interno
( ) Contratação de consultoria externa
( ) Assinatura de jornais e revistas especializadas
( ) Leitura da legislação fiscal e dos manuais
( ) Acesso a sites especializados
( ) Participação em seminários, congressos, simpósios
( ) Acesso a plantões fiscais
( ) Troca de informações entre a equipe de trabalho
( ) Outros: cite_______________________________________________________
Parte III - Custos de conformidade internos e externos
Esta seção refere-se aos recursos internos ou externos necessários à realização das
atividades relacionadas à conformidade tributária.
4. Indique o GRAU DE PARTICIPAÇÃO das diversas áreas internas da empresa no estudo,
discussão ou cumprimento da legislação tributária:
1 – Nenhum / não se aplica 2 – baixo 3 – moderado 4 – alto
Áreas da empresa
Nenhum /
não se aplica
Baixo Moderado Alto
Conselho de Administração 1 2 3 4
Conselho Fiscal 1 2 3 4
Diretoria 1 2 3 4
Controladoria 1 2 3 4
Universidade Federal do Ceará – UFC
Mestrado Profissional em Controladoria
Aluna: Glavany Lima Maia
127
Áreas da empresa
Nenhum /
não se aplica
Baixo Moderado Alto
Jurídico 1 2 3 4
Informática 1 2 3 4
Arquivo 1 2 3 4
Recursos Humanos 1 2 3 4
Tesouraria/Financeiro 1 2 3 4
Auditoria interna 1 2 3 4
Outros: cite 1 2 3 4
5. Indique o NÍVEL DE RECURSOS destinados à contratação de serviços externos voltados
para o estudo e atendimento da legislação tributária:
1 – Nenhum / não se aplica 2 – baixo 3 – moderado 4 – alto
Serviços externos
Nenhum /
não se
aplica
Baixo Moderado Alto
Auditores e consultores 1 2 3 4
Advogados 1 2 3 4
Assinatura de jornais / revistas / livros 1 2 3 4
Treinamento / seminários / congressos etc. 1 2 3 4
Arquivos terceirizados 1 2 3 4
Informática / desenvolvimento de sistemas 1 2 3 4
Outros: cite 1 2 3 4
6. Em que atividades relacionadas à tributação a empresa emprega maiores esforços de tempo
e recursos? Por favor, marque até 5 (cinco) opções:
( ) Inscrever a pessoa jurídica e seus estabelecimentos em cadastros fiscais
( ) Arquivar e conservar livros e comprovantes fiscais
( ) Manter escrituração completa e livros registrados e autenticados
( ) Pesquisar e planejar ações de elisão fiscal (planejamento tributário)
( ) Treinar pessoal interno para a realização de tarefas relativas a impostos
( ) Comprar livros, revistas, jornais especializados
( ) Calcular e recolher os tributos incidentes sobre a atividade da empresa
Universidade Federal do Ceará – UFC
Mestrado Profissional em Controladoria
Aluna: Glavany Lima Maia
128
( ) Efetuar as retenções e recolhimentos de tributos retidos na fonte
( ) Prestar informações à administração tributária através do preenchimento e entrega de
declarações
( ) Adquirir e/ou alterar sistemas informatizados em decorrência de mudanças na legislação
fiscal
( ) Contratar assessores tributários – advogados, auditores, contadores, economistas
( ) Preparar dados e relatórios relativos aos tributos, solicitados pelos profissionais externos
( ) Retificar declarações e formulários fiscais
( ) Responder intimações e notificações fiscais e atender fiscalizações
( ) Monitorar e participar do processo legislativo fiscal, discutindo e apresentando propostas
para o aperfeiçoamento da legislação tributária aplicável ao setor
Parte IV - Percepções sobre os custos de conformidade à tributação
Esta seção busca verificar a percepção da empresa a respeito da qualidade da
regulamentação tributária, dos custos de conformidade à tributação e estratégias para
conviver com a complexidade tributária.
7. Indique o grau de concordância para cada afirmação abaixo:
1 - discordo totalmente 2 - discordo mais que concordo 3 - concordo mais que discordo
4 - concordo totalmente
Discordo
totalmente
Discordo
mais que
concordo
Concordo
mais que
discordo
Concordo
totalmente
a) As autoridades têm incrementado
continuamente o ônus tributário dos
contribuintes.
1 2 3 4
b) As autoridades têm aumentado a
complexidade do sistema tributário
ano após ano, tornando o cumprimento
das normas cada vez mais difícil e,
consequentemente, mais custoso.
1 2 3 4
c) As exigências tributárias impostas
aos contribuintes tornaram-se mais
técnicas e dinâmicas, levando-os a
recorrer a serviços de especialistas.
1 2 3 4
d) Além dos tributos incidentes, os
contribuintes estão obrigados a um
excessivo número de obrigações
acessórias e isso tem interferido na
competitividade das empresas.
1 2 3 4
Universidade Federal do Ceará – UFC
Mestrado Profissional em Controladoria
Aluna: Glavany Lima Maia
129
Discordo
totalmente
Discordo
mais que
concordo
Concordo
mais que
discordo
Concordo
totalmente
e) O tempo e o esforço empregados
em atividades como preenchimento de
declarações, retenção de tributos,
manutenção de arquivos, consomem
importantes recursos da empresa e
geram pouco ou nenhum benefício
para os negócios.
1 2 3 4
f) Os custos de conformidade em nada
contribuem para a agregação de valor
de produto ou serviço, ou seja, sua
repercussão econômica pode implicar
em aumento do preço sem qualquer
contrapartida em diferenciais
competitivos.
1 2 3 4
g) Os custos de conformidade são
considerados insignificantes, por isso
não se configuram uma preocupação
desta empresa.
1 2 3 4
h) Embora haja a percepção de que os
custos de conformidade representam
um ônus para a empresa, a mesma o
possui nenhum controle em relação a
esses custos.
1 2 3 4
i) Os custos de conformidade surgem
em diversas áreas desta empresa, isto
é, não se restringem ao setor contábil
ou Controladoria.
1 2 3 4
j) A contabilidade atualmente
praticada no Brasil não contribui para
a discussão do real custo da tributação.
Esse tipo de informação não é dado
aos usuários das Demonstrações
contábeis e demais relatórios
gerenciais.
1 2 3 4
k) Faz-se necessária uma maior
atenção aos custos de conformidade à
tributação nas políticas tributárias
adotadas no Brasil.
1 2 3 4
l) A descentralização da legislação
tributária (legislação federal, estadual
e municipal) representa um alto custo
para os contribuintes.
1 2 3 4
m) Se a legislação tributária não
mudasse mais, haveria uma
significativa redução de custos nesta
empresa.
1 2 3 4
APÊNDICE B - ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA
EMPRESA: COMPANHIA DE ÁGUA E ESGOTO DO CEARÁ
ENTREVISTADO:
FUNÇÃO:
TEMPO DE EMPRESA:
DATA:
1. Quais as estratégias da companhia para enfrentar ou conviver com a crescente
complexidade tributária, dada a limitação de orçamento da empresa?
2. algum procedimento que reduziria o total da obrigação tributária, mas que a
empresa deixou de fazer por causa da complexidade?
3. Suponhamos que a legislação tributária não mudasse mais, que redução de custos
poderia haver para a empresa?
4. De um modo geral, a empresa está satisfeita com sua interação com o Fisco (federal,
estadual e municipal)?
5. Quais suas sugestões para simplificação do sistema tributário e/ou para redução dos
custos atualmente incorridos pela empresa para atender às exigências fiscais de
preenchimento de declarações, retenção de tributos, manutenção de livros e documentos
fiscais, entre outras obrigações acessórias?
131
ANEXO A – RESUMO DOS PRINCIPAIS ESTUDOS DE CUSTOS OPERACIONAIS DA TRIBUTAÇÃO POR
REFERÊNCIA DE LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA
North American Studies
1. Methodology
2. Sample frame
3. Respondents
4. Response rate
1. Postal survey
2. 2,000
3. 653
4. 33%
1. Estimate, based on
assumptions applied to
provincial tax statistics
2. Not relevant
3. Not relevant
4. Not relevant
1. Documentary
analysis for
administrative costs;
for compliance costs
(a) face to face
interviews (using
survey instrument)
with large firms (b)
postal survey for other
firms
2. (a) 76 (b) 1,600
3. (a) 36 (b) 171
4. (a) 47% (b) 11%
1984 (1982)
Compliance costs that would
be associated with the
introduction of a personal
income tax system in Ontario
would be roughly C$150m or
C$42 per taxpayer
Not addressed
Slemrod &
Sorum
Personal
income taxes
Compliance costs were 5% to
7% of revenue yield;
self
employed incur relatively
higher costs
Not addressedUSA
(Minnesota
residents)
1984 (1979) Canada
(Ontario
personal
taxpayers)
Arthur
Andersen &
Co for the
Department of
Finance
Federal sales
and excise
taxes
Canada
(Canadian
businesses)
Thompson Personal
income taxes
Compliance costs were
C$731.4m or 7.56% of revenue
yield; significant variation
depending on size of firm, with
compliance costs being higher
for smaller firms
Administrative costs
were C$76.4m or
0.8% of revenue yield
Year of
publication
(Year(s)
under
review)
Author(s)
Country
(population
studied)
Taxes studied
Major outcomes
Compliance costs Administrative costs
1985 (1984)
132
1. Documentary
analysis for
administrative costs;
postal survey for
compliance costs
2. 600
3. 43
4. 7%
1. (a) diary study of
750 individuals (b)
postal survey of 6,200
individuals (c) postal
survey of 4,000
businesses
2. (a) 750 (b) 6,200 (c)
4,000
3. (a) 750 (b) 3,831 (c)
1,474
4. (a) 100% (b) 62% (c)
37%
1. (a) Interviews (face
to face) with
questionnaire for
individuals (b) postal
survey for employers
2. (a) 2,040 (b) 4,196
3. (a) 2,040 (b) 385
4. (a) 100% (b) 9%
Administrative costs
were C$39.9m or
0.6% of revenue yield
Arthur
Andersen &
Co for the
Department of
Finance
Ontario retail
sales tax
Compliance costs were 5.85%
of revenue yield; significant
variation depending on size
of
firm, with compliance costs
being higher for smaller firms
1985 (1984) Canada
(Ontario
businesses)
Arthur D Little
Inc
Federal taxes Total estimated taxpayer
paperwork burden increased
from 4,342m hours in 1983 to
5,427m hours in 1985; record
keeping accounted for 50%
of
this time and form preparation
29%; high degree of correlation
between the total time spent on
record keeping, learning,
preparation and sending time
associated with filing
individual tax returns and the
number of line items present on
the tax return
Not addressed1988
(1983-1985)
USA (USA
individuals and
businesses)
1989 (1986
& 1987)
Canada
(Canadian
individual
taxpayers and
employers)
Vaillancourt
Personal
income taxes
& payroll
taxes
Individuals’ compliance costs
were C$1.95b, or 2.5%
of
revenue yield, with the tax
complexity of the taxpayer
situation being the main
determinant; employers’
compliance costs were
C$2.75b, or 3.5% of revenue
yield, with a decreasing cost-
size relationship
Administrative costs
were C$0.77b, or 1%
of revenue yield
133
1. Postal survey
2. 2,000
3. 826
4. 40%
1. Simulation: estimate
based on line count of
items on individual
returns
2. Not relevant
3. Not relevant
4. Not relevant
1. Interviews (face to
face) conducted by
accountants with
questionnaire
2. 200
3. 200
4. 100%
Not addressed1993 (1993) Plamondon Goods and
services tax
Compliance costs were not as
high as previous studies had
shown, but were regressive;
businesses using computers for
accounting routines had
compliance costs 20% to 40%
lower than those operating
manually
Canada
(Canadian
small
businesses)
Canada
(Ontario
personal
taxpayers)
Blumenthal &
Slemrod
Personal
income taxes
Upward drift in compliance
costs 1989 compared to 1982
survey by Slemrod & Sorum;
Tax Reform Act 1986 did not
stem this growth
Not addressed1992 (1989) USA
(Minnesota
residents)
Erard &
Vaillancourt
Personal
income taxes
Introducing a personal income
tax system to Ontario would
increase net steady state
compliance costs for taxpayers,
employers and financial
institutions by between
C$244.5m and C$372.5m
(between 2% and 3.1%
of
provincial revenue yield),
depending on the model
adopted
Not addressed1992 (1991)
134
1. Estimate of
administrative costs of
a value added tax
2. Not relevant
3. Not relevant
4. Not relevant
1. Case study
2. Not relevant
3. Not relevant
4. Not relevant
1. Face to face or
telephone interviews
with survey instrument
2. 111
3. 51
4. 46%
Not addressed Recurrent
administrative costs
of
a value added tax
would be between
US$1.22b and
US$1.83b, with 70%
of those costs related
to audit work;
transitional costs
of
introducing a value
added tax would be
US$800m; costs
would vary with key
design features of the
tax, and a simple
single rate, broad-
based VAT would
minimise
administrative costs
1993 (1995) USA (Federal
administration)
Friedman &
Waldfogel
Road tolls1995 (1994)
General
Accounting
Office (US)
Value added
tax
Operating costs of tolls in the US are between 15% and
42% of revenue yield during rush hour, and between
11% and 19% of revenue yield over an entire weekday.
USA
(Massachusetts
& New Jersey
toll road users)
Gunz,
Macnaughton
&
Wensley
Tax
expenditures
(scientific
research and
experimental
development
(SRED)
initiatives)
Compliance costs of SRED
initiatives were quite low in
aggregate, representing less
than 1% of the credits claimed;
compliance costs not regressive
based on firm size, but were
highly regressive based on the
size of the claim
Not addressed1995 (1994) Canada
(Ontario
corporations)
135
1. Interviews (face to
face) conducted by
accountants with
questionnaire
2. 200
3. 200
4. 100%
1. Postal survey
2. 1,329
3. 365
4. 27%
1. Postal survey
2. 250
3. 59
4. 24%
1995 (1995)
Not addressed
Plamondon Goods and
services tax
(Quick method
of accounting
for GST)
Small businesses were not
using the Quick method
of
accounting for GST due to a
lack of awareness; those who
knew of it but did not use it
were not overly concerned
about compliance costs;
savings in tax were more
important than savings in
compliance costs
Not addressedCanada
(Canadian
small
businesses)
1997 (1995)
Slemrod &
Blumenthal
Federal and
sub-federal
corporation
income taxes
Compliance costs of 1,329
largest US corporations
US$2.1b, or 3.2% of revenue
yield; the state ratio (5.6%) is
higher than the federal (2.6%),
reflecting non-uniformity
of
state tax systems; Tax reform
Act 1986 increased compliance
costs
1996 (1992) USA (largest
US
corporations)
Erard Federal and
provincial
corporate
income and
capital taxes
Compliance costs of top 500
corporations were C$250m, or
between 4.6% and 4.9%
of
revenue yield; the compliance
burden increases with firm size,
but less than proportionately;
foreign operations and
involvement in the mining, oil
and gas industries likely to lead
to relatively higher compliance
costs
Not addressedCanada (large
Canadian
corporations)
136
1. Estimation of
compliance costs
followed by panel
discussion and poll
2. Not relevant
3. Not relevant
4. Not relevant
1. Postal surveys or
telephone interviews
2. 11,086
3. 6,366 (2,551 by post
and 3,815 by
telephone)
4. 57%
1. Postal surveys of (a)
corporations and (b)
tax advisers
2. (a) 2,499 (b) 1,824
3. (a) 225 (b) 218
4. (a) 9% (b) 12%
Administrative costs
of Federal &
Provincial business
tax system estimated
to be C$2.2b; a single
tax administration
would reduce annual
administrative costs
by between C$97m
and C$162m
2002 (1998
and 1999)
Plamondon &
Zussman
Canadian
federal &
provincial
business taxes
Compliance costs for Canadian
business estimated at C$3.4b,
or 0.4% of GDP, 1.5%
of
revenue yield; a single tax
administration would reduce
annual compliance costs by
between C$171m and C$285m
1998 (1996) Canada
(Canadian
business
taxpayers)
Personal
income taxes
Business taxes Compliance costs are
regressive; compliance costs
of
corporations required to file as
“non-US corporations” were,
on average, higher than for
other similar sized
corporations; compliance costs
of firms in the media,
communications and
technology industry had the
highest average total
compliance costs and those in
the retail, food and healthcare
group had the lowest average
amount
Not addressed
Not addressedThe objective is to develop an
improved methodology for
measuring and modelling the
compliance burden. The initial
report does not provide any
estimates; only details of the
microsimulation model used
2002 (2001)
USA (large and
mid-size
businesses)
Stavrianos &
Greenland
(PwC
Consulting)
Slemrod &
Venkatesh
USA
(individuals
with wage and
investment
income)
137
European studies
1. Methodology
2. Sample frame
3. Respondents
4. Response rate
1.Documentary
analysis for
administrative costs;
for compliance costs
(a) postal survey,
followed by (b)
telephone and personal
interviews and (c)
interviews with
advisers (sample and
responses not
published for this
element)
2. (a) 9,094 (b) 445
3. (a) 2,799 (b) 263
4. (a) 31% (b) 59%
1. Postal survey
2. 300
3. 119
4. 40%
Value added
tax
Leonard &
O’Hagan
Pay as you
earn and Pay
related social
insurance
(PRSI)
Total operating costs of PAYE/PRSI were IR£108m,
or 4.6% of revenue yield; compliance costs exceeded
the administrative costs by a factor of three;
compliance costs were regressive gross cost per
employee decreased as firm size increased; firms
employing more than 100 staff enjoyed a net
compliance benefit as a result of cash flow benefits
from operating PAYE
Gross compliance costs for VAT estimated as £392m
in 1977-78, and administrative costs £85m. Total
operating costs of c. £480m represented 11% of VAT
revenue; VAT compliance costs “exceptionally
regressive in their incidence” (and administrative costs
also likely to be regressive); cash flow benefits (£73m)
and managerial benefits (difficult to quantify)
exacerbate the regressiveness; net compliance costs
affected by size of firm, sector (relatively lower
compliance costs in primary production and higher in
financial and services sector), payment or repayment
situation
1981 (1978-
1980)
UK (UK VAT
registered
traders and
their advisers)
Year of
publication
(Year(s)
under
review)
Author(s)
Country
(population
studied)
Taxes studied
Major outcomes
Compliance costs Administrative costs
1985 (1983) Ireland
(employers)
Sandford,
Godwin,
Hardwick &
Butterworth
138
1. Postal survey with
some (17) interviews
2. 3,039
3. 783
4. 29%
1.Postal survey
followed by
anonymised matching
data from Inland
Revenue
2. 4,241
3. 1,776
4. 43%
1.Postal survey of
alcohol industry (a),
and interviews with
tobacco (7) & oil (3)
companies and others
2. (a) 369
3. (a) 99
4. (a) 30%
Sandford,
Godwin &
Hardwick
Excise duties “Administrative and compliance costs of the main
excises are outstandingly low in absolute and
proportional terms” (but estimates somewhat
speculative); for 1986-87 administrative costs were
£41.9m and compliance costs were £33.3m; total
operating costs of £75.2m were 0.45% of revenue
yield; some regressiveness, but not as pronounced as
with VAT studies
1989 (1983
& 1988)
UK (UK
alcohol ,
tobacco and oil
companies)
Compliance costs in 1983-84
were £1.15b, or 3.6%
of
revenue yield; impact was
regressive for the
self
employed, though they enjoyed
cash flow benefits; the most
important factors determining
the level of compliance costs
were size of income and
category of employment; CGT
was an important source
of
high compliance costs but
affected relatively few
taxpayers
Not addressed1989 (1983-
84)
UK (UK
personal
taxpayers)
Sandford,
Godwin &
Hardwick
Personal
income taxes
Sandford,
Godwin &
Hardwick
Pay as you
earn and
national
insurance
contributions
Aggregate compliance costs in
1981-82 were £449m, or just
over 1% of combined revenue
yield from PAYE and NIC; the
impact of compliance costs was
regressive; substantial cash
flow benefit of £878m, which
probably wiped out compliance
costs for the larger firms
Administrative costs
were just under 1%
of
the revenue yield
UK (UK
employers)
1989 (1981-
82)
139
1. Postal survey
2. 14
3. 9
4. 64%
1. Postal survey
2. 3,000
3. 680
4. 24%
1. Postal survey
2. 3,000
3. 680
4. 24%
Sandford,
Godwin &
Hardwick
Compliance costs in 1986-87
were £5.25m, or 0.44%
of
revenue yield; low revenue
yield in 1986-87 makes this
ratio particularly unreliable; but
compliance costs are relatively
low (compared to other central
government taxes)
Administrative costs
1986-87 were £1.4m,
or 0.12% of revenue
yield
1989 (1986-
87)
UK (UK oil
companies)
1989 (1986-
87)
UK (UK VAT
registered
traders)
Corporation
tax (part of
value added
tax survey
below)
Petroleum
revenue tax
Aggregate compliance costs
were £791m (3.69% of revenue
yield) and cash flow benefits
(disproportionately enjoyed by
larger firms) were £580m; net
compliance costs were 1%
of
revenue yield; compliance
costs very regressive;
compliance costs fallen since
1977-78
Administrative costs
of £220m in 1986-87
were 1.03%
of
revenue yield
Sandford,
Godwin &
Hardwick
In 1986-87 compliance costs were £300m (2.22%
of
revenue yield) and administrative costs were £70.3m
(0.52% of revenue yield); total operating costs were
2.74% of revenue yield; roughly 50% of compliance
costs were external fees to advisers; compliance costs
were regressive; cash flow benefits exceeded
compliance costs
1989 (1986-
87)
UK (UK VAT
registered
traders)
Sandford,
Godwin &
Hardwick
Value added
tax
140
1. Postal survey (a) UK
and (b) Germany, with
very limited telephone
follow up (15 calls in
each country)
2. (a) 600 (b) 800
3. (a) 262 (b) 197
4. (a) 44% (b) 25%
1.(a) postal survey for
business compliance
costs; (b) commercial
postal polling for non-
business costs;
(administrative costs
determined by way of
documentary analysis)
2. (a) 5,252
(b) Not known
3. (a) 1,116
(b) 10,992
4. (a) 21%
(b) 44%
1.Update of earlier
VAT surveys
conducted by Sandford
et al (1981 & 1989)
2. Not relevant
3. Not relevant
4. Not relevant
Bannock &
Albach
Value added
tax
1994 (1990) The
Netherlands
(Dutch
individuals)
Dissatisfaction with VAT
system was much greater
among smaller firms in the UK
than in Germany, and
compliance costs for smaller
traders were significantly
higher in the UK than in
Germany
Not addressed1989 (1987)
UK & Germany
(UK and
German
businesses)
Compliance costs of VAT were
£1.6b off set by compliance
benefits (cash & management)
of £750m; compliance costs
regressive
Administrative costs
were £399m
Allers Total Dutch
tax-benefit
system
Total operating costs of the Dutch tax-benefit system
amounted to 15.3b Guilders, or 3% of GDP. The
operating costs of the tax system alone were in the
region of 11b Guilders, or 2.1% of GDP. Most (60%)
operating costs were incurred by the private sector
(compliance costs), with businesses accounting for
about 80% of those costs. Regressivity of compliance
costs confirmed, and self employed also typically
incurred high compliance costs.
1994 (1992-
93)
UK (UK VAT
traders)
National Audit
Office
Value added
tax
141
1. Postal survey
2. c. 6,000
3. c. 1,500
4. c. 25%
1.(a) Postal survey of
individuals 1986, 1989
& 1992 (b) personal
interviews of
individuals 1983, 1985,
1986, 1987, 1988,
1989, 1992 & 1993 (c)
postal survey of
individuals and
companies 1993
2. (a) 12,000 (b)1,000
(c) 1,000
3. (a) 8,040 (b) 1,000
(c) 599
4. (a) 67% (b) 100% (c)
60%
1. Interviews (face to
face) with
questionnaire
2. 2,500
3. 2,355
4. 94%
Green Income tax
(including
national
insurance),
corporation
Tax and
capital taxes
1995 (1983-
1993)
Sweden
(Swedish
individuals and
businesses)
Practitioners perceived that
there were increasing
compliance costs associated
with the UK direct tax system;
the causes of this trend were
the complexity of the tax
system and deficiencies in the
legislative process
Not addressed1994 (1992) UK (UK tax
practitioners)
Personal
income taxes
Compliance costs were 3.3%
of
revenue yield, with time costs
comprising 73% and monetary
costs 27%
Not addressed
Malmer Personal
income taxes
and business
taxes
Swedish tax reform in 1990 and 1991 resulted in lower
operating costs; compliance costs for individuals were
reduced, but employers faced higher compliance costs;
compliance costs were twice as high as administrative
costs; total operating costs of the Swedish tax system
estimated at SEK14b, or 1% of GDP and 2%
of
revenue yield; income tax accounts for 62% of this
amount and VAT for 29%; VAT is the most expensive
of the major taxes by reference to revenue yield
1995 (1991) Spain (Spanish
taxpayers)
Diaz &
Delgado
142
1. Postal survey
2. 1,200
3. 266
4. 22%
1. (a) Postal survey
followed by (b) in-
depth face to face
interviews
2. (a) 4,168 (b) 310
3. (a) 1,338 (b) 310
4. (a) 32% (b) Not
relevant
1. Interviews (face to
face) with
questionnaire
2. 2,500
3. 2,388 (1998);
2,449 (1999)
4. 96% (1998);
98% (1999)
1996 (1991-
96)
UK (UK listed
companies)
KPMG
Pay as you
earn and
national
insurance
contributions
Compliance costs were £1.32b,
or 1.3% of revenue yield;
compliance costs highly
regressive (bottom 30% pay
75% of compliance costs);
labour costs account for
approximately half
of
compliance costs
Not addressed
Total compliance costs for UK
listed companies estimated to
be £265m; tax compliance
costs have increased by 33.6%
in the period 1991-96; major
causes were complex, uncertain
and badly drafted legislation
Not addressedCorporate
taxes
2001 (1998
& 1999)
Spain (Spanish
individuals)
1998 (1995-
96)
UK (UK
employers)
Delgado Lobo,
Salinas-
Jiminez &
Sanz Sanz
Collard,
Green,
Godwin &
Maskell
Compliance costs were 1.8%
of
revenue yield in 1998 and 1.3%
in 1999. Reduction due to PIT
reform operative from 1 Jan
1999; psychological costs also
fell
Not addressedPersonal
income taxes
143
1. Postal survey
2. 6,232
3. 1,449
4. 23%
Australasian and South East Asian Studies
1. Methodology
2. Sample frame
3. Respondents
4. Response rate
1. Postal survey
2. 6,737
3. 1,098
4. 16%
Value added
tax
Increased compliance costs are
associated with increased
turnover, newly registered
businesses, increased
complexity and perceived
psychological costs; no
significant differences in
patterns of core compliance
costs and planning costs;
businesses with computerised
systems faced relatively higher
compliance costs than
businesses with manual
procedures
Not addressed2002 (2000) UK (business
taxpayers)
Year of
publication
(Year(s)
under
review)
Author(s)
Country
(population
studied)
Hasseldine &
Hansford
Compliance costs of PIT were
between $2.8b and $3.8b, or
between 7.9% and 10.8%
of
revenue yield; they were
relatively higher than countries
with comparable PIT systems;
they were regressive; main
determinants were level
of
income and type of return
submitted
Not addressed
Taxes studied
Major outcomes
Compliance costs Administrative costs
1990 (1986-
87)
Australia
(Australian
registered
voters)
Pope, Fayle &
Duncanson
Personal
income taxes
144
1. Postal survey
2. 1,837
3. 298
4. 16%
1. Postal surveys of (a)
employers and (b)
businesses
2. (a) 4,743 (b) 9,541
3. (a) 1,887 (b) 2,954
4. (a) 40% (b) 31%
1.Case study (using
diaries and face to face
interviews)
2. 12
3. 12
4. Not relevant
Pope, Fayle &
Chen
Companies
income tax
Not addressed
Gross compliance costs
of
public companies were
between $0.65b and $1.3b, or
between 11.4% and 23.7%
of
revenue yield; cash flow
benefits were $0.95b, or 16.9%
of revenue yield; compliance
costs were regressive and
higher than other comparable
countries
Not addressed1991 (1986-
87)
Australia
(Australian
public
companies)
Business taxes
Sandford &
Hasseldine
Business taxes
(employers
and business
income tax and
GST)
Compliance costs of business
taxes were large and
cumulative in impact (2.5%
of
GDP); and they were
regressive, falling with
disproportionate severity on
smaller businesses
1993 (Nov.
1991-Nov
1992)
Australia
(Australian
small
businesses)
1992 (1989-
90 & 1990-
91)
New Zealand
(New Zealand
businesses)
Wallschutzky
& Gibson
With the exception
of
Wholesale Sales Tax,
participants found taxes neither
difficult to deal with nor time-
consuming. Outcomes caused
researchers to question their
initial assumption that
compliance costs were
significant
Not addressed
145
1. Postal survey
2. 2,739
3. 745
4. 27%
1. Postal survey
2. 2,467
3. 593
4. 24%
1. Postal survey
2. 2,531
3. 571
4. 23%
1. Two personal
interviews
2. 200
3. 14
4. Not relevant
The compliance costs
of
employers’ PAYE and payroll
tax were reasonable by
international standards (1.7%
of revenue yield compared to
Canada’s 3.5%); FBT
compliance costs were
relatively high (10.9%
of
revenue yield); high burden
of
employment related taxes on
small businesses noted
Not addressed1993 (1989-
90)
Australia
(Australian
businesses)
Pope, Fayle &
Chen
Wholesale
sales tax
1993 (1990-
91)
Pope, Fayle &
Chen
Employer
related taxes
(pay as you
earn, fringe
benefits tax,
prescribed
payment
system,
payroll tax)
Net compliance costs of WST
were $201m, or 2.1%
of
revenue yield; compliance
costs were highly regressive;
WST generated a cash flow
cost overall rather than a
benefit
Not addressed
Pope, Fayle &
Chen
Companies
income tax
Net compliance costs
of
companies were $2.05b, or
14.5% of revenue yield;
compliance costs were
regressive
Not addressed
Australia
(Australian
businesses)
Prebble Companies
subject to
controlled
foreign
company
regime
Compliance costs for
controlled foreign companies
are relatively lower than
compliance costs for domestic
companies of a comparable size
Not addressed
1994 (1990-
91)
Australia
(Australian
companies)
1995 (1991
& 1992)
New Zealand
(New Zealand
companies)
146
1. Postal survey
2. 200
3. 65
4. 33%
1. Postal survey of (a)
business taxpayers and
(b) personal taxpayers
2. (a) 7,496 (b) 1,867
3. (a) 2,464 (b) 936
4. (a) 33% (b) 50%
1. Telephone
interviews (commercial
opinion poll)
2. 1,200
3. 1,200
4. 100%
Corporate
income taxes
Compliance costs were
“reasonable” compared to other
countries, but the large element
of fixed costs caused them to
be particularly regressive
Not addressed
Australia
(Australian
business and
personal
taxpayers)
1995 (1994) Singapore
(Singapore
Stock
Exchange listed
corporate
taxpayers)
Evans, Ritchie,
Tran-Nam &
Walpole
1996 & 1997
(1994-95)
Ariff, Loh &
Talib
Federal taxpayer compliance
costs (after taking into account
the value of tax deductibility
of
certain costs and the value
of
cash flow benefits) were $6.2b
(1.4% of GDP or 7%
of
revenue yield); compliance
costs were regressive, and
larger businesses actually
enjoyed net compliance
benefits rather than costs
Not addressed
All taxes Small businesses spend 832
hours pa (16 hours per week)
on financial accounts, invoices,
tax and other compliance
matters; tax element is less than
25% (3 hours per week); the
hours a firm spent on tax
matters increased directly with
the size of the firm, the number
of taxes involved and the sector
of activity; one third of all
small businesses considered the
time spent on tax compliance to
be excessive
Not addressed
All federal
taxes
1996 (1996)
Australia (small
businesses)
Yellow Pages
Small
Business Index
147
148
1. Postal survey
2. 234
3. 62
4. 26%
1. Postal survey
2. 300
3. 80
4. 27%
1. Postal survey
2. 496
3. 75
4. 15%
Corporate
income taxes
Limited reduction in
compliance costs of larger
firms as a result
of
simplification, compared to
1994 study; most of the
reduction was due to lower
computational (as opposed to
planning) costs
Not addressed1997 (1995) Singapore
(Singapore
Stock
Exchange listed
corporate
taxpayers)
Ariff, Ismail &
Loh
Loh, Ariff,
Ismail,
Shamsher &
Ali
Corporate
income taxes
Compliance costs were
regressive, and primarily
comprised computational costs
(59%) as opposed to planning
costs (41%)
Not addressed
Chan, Cheung,
Ariff & Loh
Corporate
income taxes
Established a positive
relationship between company
size and compliance costs;
compliance costs were
regressive; average compliance
costs were relatively high
compared to Singapore and
Australia (as a result of low
administrative costs,
difficulties with territorial
source basis and higher level
of
external costs); no major
industry variations in patterns
of compliance costs
Not addressed
1997 (1995) Malaysia
(Malaysian
Stock
Exchange listed
corporate
taxpayers)
1999 (1995-
96)
Hong Kong
(Hong Kong
Stock
Exchange listed
corporate
taxpayers)
149
1. Postal survey
2. 3,199
3. 868
4. 27%
1. Case study
2. 31
3. 31
4. Not relevant
1. Case study
2. 40
3. 40
4. Not relevant
1. Telephone
interviews of (a) small
businesses and (b) tax
Rametse &
Pope
Start-up costs
of the Goods
and Services
Tax (GST)
Estimated GST start-up
compliance costs for small
businesses were AUD$7,600;
this included owner/manager
time of 131 hours; start-up
costs were considerably higher
than official government
estimates
Not addressed
Tran-Nam &
Glover
Transitional
costs of the
Goods and
Services Tax
(GST),
Australian
Business
Number
(ABN), Pay
As You Go
(PAYG) and
Business
Activity
Statement
(BAS)
Small businesses incurred net
transitional compliance costs
of
AUD$4,853 (mean) or
AUD$2,393 (median); (median
was preferred); in addition to
monetary costs, small business
taxpayers appeared to suffer
substantial psychological costs
during the transitional period
Not addressed
Australia (small
business
taxpayers)
Business taxes Many businesses, particularly
non-employers, have
experienced
little
change
in
Not addressed
Evans, Tran-
Nam & Jordan
Tax Value
Method
(TVM)
There would be significant
transitional compliance costs
for businesses of all sizes and
in all sectors if the Tax Value
Method of identifying and
calculating assessable income
were to be introduced.
Practitioners and businesses
were unable to identify any
recurrent compliance benefits
that would offset these
transitional costs over the
longer term after the
introduction of the Tax Value
Method
Not addressed
2002 (1998-
2000)
Australia
(Western
Australian
business
taxpayers)
2002 (Jun
1999- Jun
2001)
CPA Australia
2002 (2002) Australia
(business
taxpayers)
2003 (2003)
Australia (small
business
taxpayers)
150
1. Postal survey of (a)
Australian and (b) UK
tax practitioners for
compliance costs and
documentary analysis
for administrative costs
2. (a) 321 (b) 320
3. (a) 94 (b) 89
4. (a) 29% (b) 28%
International Studies and Studies from the Rest of the World
1. Methodology
2. Sample frame
3. Respondents
4. Response rate
1. Hand-delivered
survey (supplemented
with semi structured
interviews with firms
and tax officials)
2. 14
3. 9
4. 64%
Personal
capital gains
tax
Operating costs in both countries are high (by
reference to the amount of tax payable on capital gains,
revenue yield, GDP and relative to other types of tax),
have not reduced over time and are both horizontally
and vertically inequitable; the primary factors causing
the high operating costs are legislative complexity and
frequency of legislative change, together with record
keeping and valuation requirements; that there was
relatively greater concern among UK practitioners
about CGT compliance costs issues compared to their
Australian counterparts.
2003 (2002) Australia and
the UK (tax
practitioners)
Year of
publication
(Year(s)
under
review)
Author(s)
Country
(population
studied)
Evans
Excise duties Compliance costs of excise
duties were relatively high
(15.57% of revenue yield)
compared to developed
countries; some evidence
of
regressive nature of compliance
costs
Not addressed
Taxes studied
Major outcomes
Compliance costs Administrative costs
1999 (1995-
96)
Tanzania
(Tanzanian
large
businesses)
Shekidele
151
1. Postal survey
2. 22,544
3. 7,859
4. 35%
1. Email & postal
survey
2. 211
3. 25
4. 12%
1. Postal survey
2. 5,435
3. 128
4. 2%
1. Postal survey
2. 3,913
3. 45
4. 1%
Corporate and
business taxes
Compliance costs were R$7.2b,
or 0.75% of GDP; highly
regressive; internal compliance
costs approximately 80% of all
costs
Administrative costs
estimated as 0.2% of
GDP (but only on very
unscientific basis of
being 25% of
compliance costs)
Cordova-
Novion & De
Young
Business taxes Tax regulations impose high
compliance costs on
businesses; regressive nature
of
compliance costs confirmed;
compliance costs appear to be
increasing over time
Not addressed
Income taxes
of companies
Gross compliance costs for
companies were between 5.6%
and 14.5% of revenue yield
(but negative when cash flow
benefits and tax deductibility
of
certain costs are taken into
account; regressive
Not addressed
Chattopadhyay
& Das-Gupta
Personal
income taxes
Compliance costs for
individuals were
“extraordinarily high” (between
49% and 56% of revenue
yield); high for salary earners
and “excessive” (7-10 times
higher) for non-salaried
taxpayers; regressive
Administrative costs
estimated as 2.49% of
individual income tax
collected
2001 (1998-
99)
Multi-country
(Australia,
Austria,
Belgium,
Finland,
Iceland,
Mexico, New
Zealand,
Norway,
Portugal, Spain
and Sweden)
(businesses)
2002 (2000-
2001)
India (Indian
corporate
taxpayers)
2002 (1999) Brazil
(Brazilian
public
companies)
2002 (2001) India (Indian
personal
taxpayers)
Chattopadhyay
& Das-Gupta
Bertolucci
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