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“quando publiquei o ‘Cerco da primavera’, já tinha sofrido o impacto das
literaturas espanhola, italiana, francesa entre outras” (OLIVEIRA, 1997,
s/p). Mendes. Costa e Silva (1986, p. 13-14) comenta que:
Marly [...] afirma: ‘Eu não nasci só de mim’. Mas de
Campos. Trás-os-Montes, Gênova, Camões, Pessoa,
Montale. E poderia acrescentar Cecília e Vinícius, a cuja
estirpe, de verdade, pertence, pela limpidez da linguagem,
pelo vocabulário de tradição camoneana, pelo visualismo
das imagens, pela preferência por certo tipo de dicção
romântica. Ainda que intelectualmente Marly se afine com
Jorge Guillén e João Cabral de Melo Neto, é outra a sua
família poética, é outra a forma de clareza para a qual foi
afetivamente conduzida, no seu belo, no seu belíssimo saber
fazer, derramada ou concisa, ‘pensierosa’ ou atenta às
minúcias do mundo, tranqüila em sua sensualidade e
aguçada em sua aspiração mística, senhora do verso e do
corte da estrofe, luminosa, precisa e sempre emocionada.
Há momentos em que a poeta se intratextualiza, ou seja, faz
alusão aos trabalhos passados. Marly de Oliveira rememora suas palavras
dialogando com obras de outros autores, produzindo, assim, várias vozes
num mesmo poema. Em A Vida Natural (1967, p.85), ela escreve: “Chega-
se ao nada ultrapassando tudo”. Trinta e três anos após — conforme data
de edição —, a poeta, em O Deserto Jardim (1990, p.59) coloca: “Chega-se
assim ao nada./ Chega-se assim ao tudo”. Marly de Oliveira, mesmo em se
tratando de seus textos, retoma-os de maneira diferenciada:
O retorno aos versos antigos, que são ou não são o que
podiam ter sido, se faz num plano distinto: o da nova
criação poética. Não se tem aqui uma abordagem
puramente crítica da obra [...] mas uma investigação poética,
um julgamento poético. O poeta relê-se; e da releitura faz
novos poemas. Reescrevendo alguns. Juntando partes de
outros para formar um novo todo. Comentando.
Discordando. Acrescentando sonhos de hoje a experiências
de ontem. Não fica, porém, apenas na leitura: revê-se,