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RESUMO
De um lado, há no Brasil uma escassez de estudos sobre o tema “Identidade” no campo dos
estudos organizacionais, sobretudo quando se trata de seu entendimento a partir de uma
perspectiva não instrumental; de outro, há o reconhecimento de que os estudos existentes
abordam, geralmente, o tema a partir de uma mesma perspectiva, considerando os critérios
de centralidade, distintividade e temporalidade como os únicos elementos da análise do
conceito de identidade. Além disso, identificou-se que os conceitos de identidade
focalizam, sobremaneira, a questão da temporalidade em detrimento do espaço.
Considerando que a tentativa de dissociação dessas duas dimensões não passa de um
sofisma, pois ambas só podem existir em conjunto, este estudo teve por objetivo analisar e
interpretar como se arquiteta a relação entre o espaço, físico e simbólico, e a construção da
identidade institucional da Feira do Jubileu do Bom Jesus, realizada na cidade de
Congonhas (MG). Para tanto, recorreu-se a uma ampla revisão teórica sobre os temas
“Identidade” e “Espaço”, que constituíram os pilares do esquema teórico deste estudo. O
tema “Identidade” foi considerado a partir de suas principais correntes de estudo, desde a
filosofia, passando pelas ciências sociais, até chegar ao campo organizacional. Também foi
considerada a questão da institucionalização da identidade como um dos processos
explicativos de construção da identidade social. Em relação ao tema “Espaço”,
consideraram-se inicialmente as suas perspectivas de análise, seja do ponto de vista da
distribuição espacial, seja do ponto de vista da produção do espaço. Nesta perspectiva,
trabalhou-se a espacialidade enquanto um conceito guarda-chuva, como essência das
práticas sociais de produção do espaço, que, por sua vez, envolveria outros elementos,
como a organização do espaço, a circulação de fluxos, as práticas de territorialidade e a
própria percepção do espaço como um espaço simbólico. Assim, foi possível construir um
esquema teórico de análise em que se propôs focar a identificação e a análise da identidade,
a partir de uma visão em que se acrescentou a dimensão espacial, aqui denominada de
“espacialidade”, aos três critérios clássicos de identidade: centralidade, distintividade e
temporalidade. Uma vez formulado esse esquema teórico de análise, procedeu-se a sua
observação empírica a partir do estudo de Feira do Jubileu do Senhor Bom Jesus de
Matosinhos, na cidade de congonhas. Essa Feira foi escolhida como locus de estudo por
vários motivos, dentre os quais se destacam: o fato de ser uma instituição bicentenária;
trata-se de um evento, ou seja, ser realizada apenas uma vez por ano, durante determinado
período de tempo; ter passado por várias alterações no espaço físico ocupado ao longo de
sua história, inclusive estando, no momento inicial da pesquisa, sofrendo mais uma
intervenção, o que se julgou relevante para verificar a pertinência do esquema teórico de
análise. Dessa forma, uma vez escolhida a Feira e a partir do problema proposto, recorreu-
se à estratégia de pesquisa qualitativa, uma vez que ela tem sido apontada como a mais
adequada para captar a manifestação de fenômenos sociais e propor a sua explicação. Nesse
contexto, a Feira foi abordada como uma instituição formada por distintos atores, sejam
sociais ou organizacionais, que têm contribuído para a construção de uma narrativa
identitária e espacial, institucionalizada ao longo do tempo. Em virtude da impossibilidade
de contato com todos eles, selecionou-se intencionalmente um conjunto não-probabilístico
de vinte sujeitos de pesquisa a partir de sua tipicidade, de sua antigüidade, segundo o
método bola de neve. A partir das entrevistas semi-estruturadas com esses sujeitos de
pesquisa, realizou-se e análise desses dados utilizando a técnica da Análise do Discurso,